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24/05/16 1 1. KALECKI: DEMANDA EFETIVA, CICLO E TEND ÊNCIA 1.3. Inovação, Desenvolvimento e Tendência SCHUMPETER I : Desenvolvimento, Crédito, Lucro e Ciclo Econômico NAPOLEONI, C. (1970). “Schumpeter e a Teoria do Desenvolvimento Econômico”. In: A Teoria Econômica no Século XX. Trad. port. Lisboa: Ed. Presença, 1973. SCHUMPETER, J. (1997[1911]). A Teoria do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda. Caps. 1,2,3,4,6

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1.KALECKI:DEMANDAEFETIVA,CICLOETENDÊNCIA

1.3.Inovação,DesenvolvimentoeTendência

SCHUMPETER I:Desenvolvimento,Crédito,LucroeCicloEconômico

NAPOLEONI,C.(1970).“SchumpetereaTeoriadoDesenvolvimentoEconômico”.In:ATeoriaEconômicanoSéculoXX.Trad.port.Lisboa:Ed.

Presença,1973.

SCHUMPETER, J.(1997[1911]).ATeoriadoDesenvolvimentoEconômico.SãoPaulo:EditoraNovaCulturalLtda.Caps.1,2,3,4,6

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Fluxo circular de renda: rotinas

CAPÍTULO I - O Fluxo Circular da Vida Economica Enquanto Condicionadopor Circunstancias Dadas

“Como o fluxo circular dos períodos economicos — queé o mais notável dosritmos economicos — marcha relativamente rápido e como em todo períodoeconomico ocorre essencialmente a mesma coisa, o mecanismo da trocaeconomica se opera com grande precisão.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]),p.26)

“As famílias e as empresas tomadas individualmente agem, então, de acordocom elementos empiricamente dados e de uma maneira tambémempiricamente determinada. Obviamente, isso não significa que não possahaver alguma mudanca em sua atividade economica. Os dados podem mudare todos agirão de acordo com essa mudanca, logo que for percebida. Mastodos se apegarão o mais firmemente possível aos métodos economicoshabituais e somente se submeterão à pressão das circunstancias se fornecessário. Assim, o sistema economico não se modificará arbitrariamentepor iniciativa própria, mas estara sempre vinculado ao estado precedente dosnegócios.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.28)

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Fluxo circular x rupturas que alteram o “curso tradicional”.

CAPÍTULOII- OFenomeno FundamentaldoDesenvolvimentoEconomico

“Nosso problema é o seguinte. A teoria do capítulo I descreve a vidaeconomica do ponto de vista do “fluxo circular”, correndo essencialmentepelos mesmos canais, ano após ano — semelhanteà circulação do sanguenum organismo animal. Ora, esse fluxo circular e os seus canais alteram-secom o tempo e aqui abandonamos a analogia com a circulação do sangue.Pois embora esta também mude ao longo do crescimento e do declínio doorganismo, so o faz continuamente, ou seja, muda por etapas das quaispodemos escolher um tamanho menor do que qualquer quantidadedefinível, por menor que seja, e sempre muda dentro do mesmo limite. Avida economica também experimenta tais mudancas, mas experimentaoutras que não aparecem continuamente e que mudam o limite, o própriocurso tradicional. Essas mudancas não podem ser compreendidas pornenhuma análise do fluxo circular, embora sejam puramente economicas eembora sua explicação esteja obviamente entre as tarefas da teoria pura.”(SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.72-3)

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Fluxo circular: tendência à posição de equilíbrio (nunca atingida), dadas ascondições existentes x mudança nos “dados” que deslocam a posição deequilíbrio.

“A mesma coisa pode ser colocada de maneira um tanto diferente. Ateoria do capítulo I descreve a vida economica do ponto de vista datendencia do sistema economico para uma posição de equilíbrio,tendencia que nos dá os meios de determinar os precos e asquantidades de bens, e pode ser descrita como uma adaptação aosdados existentes em qualquer momento. Em contraste com ascondições do fluxo circular, isso não significa por si so que ano após ano“as mesmas” coisas acontecam; pois apenas significa que concebemosos vários processos do sistema economico como fenomenos parciais datendencia para uma posição de equilíbrio, mas não necessariamentepara a mesma. A posição do estado ideal de equilíbrio do sistemaeconomico, nunca atingido, pelo qual continuamente se “luta” (é claroque não conscientemente), muda porque os dados mudam. E a teorianão está desarmada frente a essas mudancas dos dados.”(SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.73)

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Análise estática (posição de equilíbrio) não contempla mudançasdescontínuas, revoluções associadas ao fenômeno fundamental dedesenvolvimento, intrínseco à dinâmica econômica.

“Mas a análise “estática” não é apenas incapaz de predizer asconsequencias das mudancas descontnuas na maneira tradicional defazer as coisas; não pode explicar a ocorrencia de tais revoluçõesprodutivas nem os fenomenos que as acompanham. So pode investigara nova posição de equilíbrio depois que as mudancas tenham ocorrido.Essa ocorrencia da mudanca “revolucionária” é justamente o nossoproblema, o problema do desenvolvimento economico num sentidomuito estreito e formal. (...)

Entenderemos por “desenvolvimento”, portanto, apenas as mudancasda vida economica que não lhe forem impostas de fora, mas que surjamde dentro, por sua própria iniciativa.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]),p.73-4)

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Teoria do desenvolvimento: trata dos fenômenos e processos inerentes àdinâmica econômica que deslocam o estado de equilíbrio existente

“O desenvolvimento, no sentido em que o tomamos,é um fenomenodistinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxocircular ou na tendencia para o equilíbrio. É uma mudancaespontanea e descontnua nos canais do fluxo, perturbação doequilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbriopreviamente existente. Nossa teoria do desenvolvimento nãoé nadamais que um modo de tratar esse fenomeno e os processos a eleinerentes.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.75)

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Produção = combinar materiais e forçasDesenvolvimento ≠ Novas combinações por ajuste contínuo e marginalDesenvolvimento = novas combinações causadoras de descontinuidade

“Produzir significa combinar materiais e forcas que estão ao nossoalcance (cf. capítulo I). Produzir outras coisas, ou as mesmas coisas commétodo diferente, significa combinar diferentemente esses materiais eforcas. Na medida em que as “novas combinações” podem, com otempo, originar-se das antigas por ajuste contnuo mediante pequenasetapas, há certamente mudanca, possivelmente há crescimento, masnão um fenomeno novo nem um desenvolvimento em nosso sentido.Na medida em que não for este o caso, e em que as novas combinaçõesaparecerem descontinuamente, então surge o fenomeno quecaracteriza o desenvolvimento. Por motivo da conveniencia deexposição, quando falarmos em novas combinações de meiosprodutivos, so estaremos nos referindo doravante ao último caso. Odesenvolvimento, no sentido que lhe damos, é definido então pelarealização de novas combinações.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.76)

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Desenvolvimento = novas combinações descontínuas = inovações (novo bemou qualidade, método de produção, mercado, nova fonte de matéria-prima,organização industrial)

“Esse conceito engloba os cinco casos seguintes: 1) Introdução de umnovo bem — ou seja, um bem com que os consumidores ainda nãoestiverem familiarizados — ou de uma nova qualidade de um bem. 2)Introdução de um novo método de produção, ou seja, um método queainda não tenha sido testado pela experiencia no ramo próprio daindústria de transformação, que de modo algum precisa ser baseadanuma descoberta cientificamente nova, e pode consistir também emnova maneira de manejar comercialmente uma mercadoria. 3) Aberturade um novo mercado, ou seja, de um mercado em que o ramo particularda indústria de transformação do país em questão não tenha aindaentrado, quer esse mercado tenha existido antes, quer não. 4) Conquistade uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de benssemimanufaturados, mais uma vez independentemente do fato de queessa fonte ja existia ou teve que ser criada. 5) Estabelecimento de umanova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posiçãode monopólio (por exemplo, pela truswficação) ou a fragmentação deuma posição de monopólio.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.76)

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Desenvolvimento: “nova combinação” = “emprego diferente da oferta demeios produtivos existentes no sistema econômico”.

“Como regra, a nova combinação deve retirar os meios de produçãonecessários de algumas combinações antigas — e, por razões jamencionadas, suporemos que sempre o fazem, para dar um nítidorelevo ao que consideramos ser a linha essencial de contorno. Arealização de combinações novas significa, portanto, simplesmente oemprego diferente da oferta de meios produtivos existentes nosistema economico — o que pode fornecer uma segunda definição dedesenvolvimento, no sentido em que o tomamos.” (SCHUMPETER, J.(1997[1911]), p.78)

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Nova combinação depende de acesso a créditoCrédito é fornecido pelo capitalista

“(O) possuidor da riqueza, mesmo que seja o maior dos cartéis, deverecorrer ao crédito se desejar realizar uma nova combinação, que nãopode, como numa empresa estabelecida, ser financiado pelos retornosda produção anterior. Fornecer esse crédito é exatamente a funçãodaquela categoria de indivíduos que chamamos de “capitalistas”.É óbvioque esseé o método característico do tipo capitalista de sociedade — esuficientemente importante para servir de sua differentia specifica —para forcar o sistema economico a seguir por novos canais, para colocarseus meios ao servico de novos fins, em contraste com o método de umaeconomia que não seja de trocas, do tipo que consiste simplesmente emexercer o poder de comando do órgão dirigente.” (SCHUMPETER, J.(1997[1911]), p.79)

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O problema não é a existência de meios produtivos para serem alocados emnovas combinações, mas a disponibilidade de crédito que viabiliza arealocação.

“A teoria aceita ve um problema na existencia dos meios produtivosnecessários para processos produtivos novos, ou, na verdade, paraqualquer processo produtivo, e, portanto, essa acumulação torna-se umafunção ou servico distinto. Não reconhecemos de modo algum esseproblema; parece-nos que eleé criado por uma análise defeituosa. Nãoexiste no fluxo circular, porque o funcionamento deste pressupõequantidades dadas de meios de produção. Mas, tampouco existe para arealização de combinações novas, porque os meios de produçãorequeridos por estas são retirados do fluxo circular, quer ja existam naforma desejada, quer tenham que ser produzidos primeiro pelos outrosmeios de produção la existentes. Ao invés desse problema, existe paranós um outro: o problema de destacar meios produtivos (ja empregadosem algum lugar) do fluxo circular ealocá-los nas novas combinações. Issoé feito pelo crédito, por meio do qual quem quer realizar novascombinações sobrepuja os produtores do fluxo circular no mercado dosmeios de produção requeridos.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.80-1)

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Empreendimento: realização de novas combinaçõesEmpresário: aquele que realiza novas combinaçõesInexistentes no fluxo circular

“Chamamos “empreendimento” à realização de combinações novas;chamamos “empresários” aos indivíduos cuja funçãoérealizá-las. (...)

A tendenciaé de que o empresário não tenha nem lucro nem prejuízono fluxo circular — ou seja, ele não tem ali nenhuma função de tipoespecial, simplesmente ele não existe; mas em seu lugarhá dirigentesde empresas ou gerentes de negócios de um tipo diferente, eé melhorque não sejam designados pelo mesmo termo.” (SCHUMPETER, J.(1997[1911]), p.83-4)

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Fluxo circular: combinações dadas e ajustes marginais acessíveis a todos.Desenvolvimento: novas combinações introduzidas por empresários – tipoespecial, capaz de inovar.

“Portanto, ao descrever o fluxo circular deve-se tratar as combinaçõesde meios de produção (as funções de produção) como dados, comopossibilidades naturais, e admitir apenas variações pequenas namargem, tais que todo indivíduo pode realizar ao adaptar-se àsmudancas em seu ambiente economico, sem desviar-se materialmentedas linhas habituais. Portanto, a realização de combinações novas éainda uma função especial, e o privilégio de um tipo de pessoa queémuito menos numeroso do que todos os que tem a possibilidade“objetiva” de faze-lo. Portanto, finalmente, os empresários são um tipoespecial (...).” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.88)

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Crédito: criação de poder de compra transferida ao empresário, que viabilizaacesso a forças produtivas mediante contração de dívida.

CAPÍTULOIII- Crédito eCapital

“Nesse sentido, portanto, definimos o cerne do fenomeno do crédito daseguinte maneira: o créditoé essencialmente a criação de poder de compracom o propósito de transferi-lo ao empresário, mas não simplesmente atransferencia de poder de compra existente. A criação de poder de compracaracteriza, em princípio, o método pelo qual o desenvolvimentoé levado acabo num sistema com propriedade privada e divisão do trabalho. Através docrédito, os empresários obtem acessoà corrente social dos bens antes quetenham adquirido o direito normal a ela. Ele substitui temporariamente, porassim dizer, o próprio direito por uma ficção deste. A concessão de créditoopera nesse sentido como uma ordem para o sistema economico seacomodar aos propósitos do empresário, como um comando sobre os bens deque necessita: significa confiar-lhe forcas produtivas. É so assim que odesenvolvimento economico poderia surgir a partir do mero fluxo circular emequilíbrio perfeito. E essa função constitui a pedra angular para a modernaestrutura de crédito.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.111)

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O capital concedido sob a forma de crédito permite o deslocamento dasforças produtivas de sua aplicação original para o uso em novas combinações.

“Jaé tempo de dar expressão a um pensamento que esteve longamenteàespera de formulação e que é familiar a todo homem de negócios. Aeconomia capitalistaé a forma de organização economica na qual os bensnecessáriosà nova produção são retirados de seu lugar estabelecido nofluxo circular pela intervenção de poder de compra criado ad hoc,enquanto aquelas formas de economia em que isso acontece por meio dequalquer tipo de poder de comando ou por meio de um acordo de todosos interessados representam a produção não-capitalista. O capital nãoénada mais do que a alavanca com a qual o empresário subjuga ao seucontrole os bens concretos de que necessita, nada mais do que um meiode desviar os fatores de produção para novos usos, ou de ditar uma novadireção para a produção. Essa é a única função do capital e por ela secaracteriza inteiramente o lugar do capital no organismo economico.”(SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.118)

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Desenvolvimento,Crédito,LucroeCicloEconômicoLucro é a diferença entre receitas e despesas.Crédito viabiliza novas combinaçõesEmpresário busca novas combinações como forma de obter lucro

CAPÍTULOIV- OLucroEmpresarial

“O lucro empresarialé um excedente sobre os custos. Do ponto de vista doempresário,é a diferenca entre receitas e despesas no negócio, como nos foidito por grande número de economistas.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]),p.129)

“A questão então aparece da seguinte maneira. Se alguém num sistemaeconomico, no qual a indústria textil produza apenas com trabalho manual, vea possibilidade de fundar um negócio que use teares mecanicos, se se senteàaltura da tarefa de transpor todas as inumeráveis dificuldades, e tomou adecisão final, então, antes de tudo, precisa de poder de compra. Toma-oemprestado de um banco e cria o seu negócio. É absolutamente irrelevante seconstrói ele mesmo os teares mecanicos ou se manda uma outra empresaconstruí-los, de acordo com suas diretrizes, para se limitar auwlizá-los. Se umtrabalhador pode com esse tear produzir agora seis vezes mais do que umtrabalhador manual num dia, é óbvio que, dadas tres condições, o negóciodeve render um excedente sobre os custos, uma diferenca entre receitas edespesas.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.130)

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Condições para obtenção de lucro pelo empresário: receitas excederemdespesas, considerando impactos sobre preço do produto, custo do salário edos demais fatores de produção.

“Primeiro, o preco do produto não deve cair quando a nova oferta aparecer, ou então não devecair numa proporção tal que o produto maior por trabalhador não produza receitas maiores agorado que o produto menor obtenível pelo trabalho manual produzia anteriormente. Em segundolugar, os custos do tear mecanico por dia precisam ficar abaixo dos salários diários dos cincotrabalhadores despedidos ou então abaixo da soma que permanece depois de abater a possívelqueda no preco do produto e deduzir o salário do trabalhador requerido. A terceira condiçãosuplementa as outras duas. Essas duas cobrem os salários dos operários que trabalham junto aosteares e os salários e a renda que vão em pagamento aos teares.Até agora tomei o caso em queesses salários e rendas são simplesmente aqueles que imperavam antes que o empresáriopreparasse seus planos. Se a sua demanda for relativamente pequena, podemos nos contentarcom isso. Se não for, porém, os precos dos servicos do trabalho e da terra se elevam por causa danova demanda. Pois os outros estabelecimentos texteis, de início, continuam funcionando e osmeios de produção necessários não precisam ser retirados diretamente deles, mas da indústria emgeral. Isso ocorre por meio de um aumento de precos. E, portanto, o homem de negócios, quedeve antever e estimar a alta de precos no mercado de bens de produção que se segue ao seuaparecimento, não pode simplesmente incluir em seus cálculos os salários e rendas anteriores,mas deve acrescentar um montante apropriado, de modo que ainda um terceiro item deve serdeduzido. Apenas se as receitas excederem as despesas após o abatimento dos tres conjuntos demudancasé que havera um excedente sobre os custos.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.130-1)

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Se as condições são satisfeitas, o empresário realiza lucro pela diferençaentre a receita associada ao preço vigente e menores custos.

“Se as condições forem cumpridas, contudo, o excedente realizado éipso facto um lucro líquido. Pois os teares geram um produto xsicomaior do que poderiam gerar, com o método anterior, os servicos daterra e do trabalho neles contidos, embora, no caso de precosconstantes dos bens de produção e dos produtos, esse último métodotambém permitisse que a produção fosse realizada sem perda. Alémdisso, os teares obviamente estão disponíveis para o nosso empresáriopelo preco de custo — desprezamos a possibilidade de patenteamento,por julgá-la incompreensível sem outras considerações. Assim temorigem uma diferenca entre as receitas, que são determinadas deacordo com os precos que eram de equilíbrio, ou seja, o custo, quandoso o trabalho manual estava sendo utilizado, e as despesas, que agorasão essencialmente menores por unidade de produto do que para osoutros estabelecimentos.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.131-2)

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O lucro do empresário inovador estimula a reorganização da indústria pormeio de imitação, que difunde a inovação na estrutura produtiva,estabelecendo a tendência a uma nova posição de equilíbrio, quando oexcedente do empresário é eliminado.

“Mas agora vem o segundo ato do drama. O encantoestá quebrado e os novosestabelecimentos estão surgindo continuamente sob o impulso dos lucrossedutores. Ocorre uma reorganização completa da indústria, com aumento deprodução, luta concorrencial, superação dos estabelecimentos obsoletos, possíveldemissão de trabalhadores etc. Cuidaremos melhor desse processo mais adiante.Apenas uma coisa nos interessa aqui: o resultado final deve ser uma nova posiçãode equilíbrio, na qual, com os novos dados, reine novamente a lei do custo, demodo que os precos dos produtos agora sejam de novo iguais aos salários e rendasdos servicos do trabalho e da terra que estão incorporados nos teares, mais ossalários e rendas dos servicos do trabalho e da terra que ainda devem colaborarcom os teares para que o produto possa vir a existir. O incentivo a produzir mais emais produtos não cessará antes que se alcance essa condição, nem antes que opreco caia como resultado do crescimento da oferta.

Consequentemente, o excedente do empresário em questão e de seus seguidoresimediatos desaparece. Não em seguida,é verdade, mas, em regra, apenas após umperíodo maior ou menor de diminuição progressiva.” (SCHUMPETER, J.(1997[1911]), p.132)

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Inovações de processo e inovações organizacionais são exemplos deinovações introduzidas com o objetivo de se obter lucro (aumentar adiferença entre receitas e despesas)

“Assim como a introdução de tearesé um caso especial da introduçãode maquinaria em geral, também a introdução de maquinariaé umcaso especial de todas as mudancas no processo produtivo no sentidomais amplo, cujo objetivo é produzir uma unidade de produto commenos dispendio e assim criar uma discrepancia entre o seu precoexistente e seus novos custos. Muitas inovações na organização dosnegócios e todas as inovações nas combinações comerciais seincluem nisso. Para todos esses casos se pode repetir o que foi dito,palavra por palavra. A introdução de estabelecimentos industriais delarga escala, num sistema economico no qual eram anteriormentedesconhecidos,é representativa do primeiro grupo.” (SCHUMPETER,J. (1997[1911]), p.133)

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Busca pela inovação é um processo arriscado e o lucro remunera seu sucesso,mas, ao mesmo tempo, estimula a imitação por parte dos demais empresários.

“Como exemplo dos casos de combinações comerciais, pode-se citar aescolha de uma fonte nova e mais barata para o fornecimento de um meiode produção, talvez uma matéria-prima. Essa fonte de fornecimento nãoexistia anteriormente para o sistema economico. Não existia nenhumaconexão direta e regular com o seu país de origem — se fosse estrangeira,por exemplo, nem linha de navegação a vapor, nem correspondentesestrangeiros. A inovação é arriscada, impossível para a maioria dosprodutores. Mas se alguém estabelece um negócio relacionado com essafonte de fornecimento, e tudo vai bem, então pode produzir uma unidadede produto de modo mais barato, ao passo que de início os precosvigentes continuam substancialmente a existir. Então tem um lucro. Denovo não contribuiu com nada mais do que vontade e ação, não fez nadamais do que recombinar fatores existentes. De novo se trata de umempresário, seu lucro é lucro empresarial. E novamente este último, etambém a função empresarial enquanto tal, aparece no vértice daconcorrencia que segue atrás deles. Vem aqui o caso da escolha de novasrotas de comércio.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.133-4)

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Todos os tipos de inovação são fonte potencial de lucro.

“Análogo aos casos de simples aperfeicoamento do processo deprodução é o caso da subswtuição de um bem de produção ouconsumo por outro, que serve para o mesmo propósito, ouaproximadamente ao mesmo, sendo, porém, mais barato. (...)

A criação de um novo bem que satisfaca mais adequadamente asnecessidades existentes e anteriormente satisfeitasé um caso um tantodiferente. (...)

A busca de novos mercados nos quais um artigo ainda não tenha setornado familiar e no qual não é produzido é uma fonteextraordinariamente rica de lucro empresarial, e antigamente eramuito duradoura. (...)

O que foi dito acima abrange ao mesmo tempo o caso da produção deum bem completamente novo. Um tal bem deve antes de tudo serimposto aos consumidores, talvez até ser dado gratuitamente.”(SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.134-5)

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Lucro e desenvolvimento são interdependentes e viabilizam a acumulaçãode riqueza no sistema econômico.

“Sem o desenvolvimento não há nenhum lucro, sem o lucro, nenhumdesenvolvimento. Para o sistema capitalista deve ser acrescentado aindaque sem lucro não haveria nenhuma acumulação de riqueza.”(SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.150)

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Desenvolvimento econômico não ocorre de maneira uniforme, pois asinovações aparecem de maneira descontinuada e agrupadas.

CAPÍTULO VI - O Ciclo Economico

“Aquela pergunta pode agora ser formulada da seguinte maneira: porque é que o desenvolvimento economico, como o definimos, nãoavanca uniformemente como cresce uma árvore, mas, por assim dizerespasmodicamente; por que apresenta ele esses altos e baixos que lhesão característicos?

§ 2. A resposta não pode ser mais curta e precisa: exclusivamenteporque as combinações novas não são, como se poderia esperarsegundo os princípios gerais de probabilidade, distribuídasuniformemente através do tempo — de tal modo que intervalos detempo iguais pudessem ser escolhidos, a cada um dos quais caberia arealização de uma combinação nova — mas aparecem, se é que ofazem, descontinuamente, em grupos ou bandos.” (SCHUMPETER, J.(1997[1911]), p.210-1)

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O ciclo econômico (boom e depressão) ocorre devido ao fato de a) asinovações não serem distribuídas uniformemente no tempo, relativamentepequenas e incapazes de perturbar o fluxo circular.

“(a) Se os novos empreendimentos, em nossa concepção,aparecessem independentemente um do outro, não haveria nenhumboom ou depressão enquanto fenomeno especial, reconhecido,notável, regularmente recorrente. Pois o seu aparecimento seriaentão, em geral, contnuo; eles seriam distribuídos uniformemente notempo e as mudancas que seriam efetuadas por eles no fluxo circularseriam cada uma delas relativamente pequenas, assim asperturbações teriam importancia apenas local e seriam facilmentesuperadas pelo sistema economico como um todo. Não haverianenhuma perturbação considerável do fluxo circular e portantonenhuma perturbação do crescimento.” (SCHUMPETER, J.(1997[1911]), p.210-1)

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O ciclo econômico (boom e depressão) ocorre devido ao fato de a) asinovações não serem distribuídas uniformemente no tempo. O efeito dasinovações em bloco é ampliado pelo fato de: i) as novas combinaçõesaparecerem paralelamente às combinações existentes, gerando processode ajuste que dita a amplitude da flutuação; ii) ...

“Tres circunstancias aumentam o efeito do aparecimento em conjuntodos novos empreendimentos, sem serem, no entanto, causas reaisiguais a ele. Em primeiro lugar, nossa argumentação no capítulo II nospermite esperar — e a experiencia o confirma— que a grandemaioriadas combinações novas nãobrotará das empresas antigas nemtomaráimediatamente o seu lugar, masaparecerá a seu lado ecompewrá comelas. Do ponto de vista da nossa teoria, esse elemento não é novonem independente; nem é essencial para a existencia de booms edepressões, embora seja obviamente muito importante na explicaçãoda amplitude do movimento em forma de onda.” (SCHUMPETER, J.(1997[1911]), p.212)

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O ciclo econômico (boom e depressão) ocorre devido ao fato de a) asinovações não serem distribuídas uniformemente no tempo. O efeito dasinovações em bloco é ampliado pelo fato de: i) as novas combinaçõesaparecerem paralelamente às combinações existentes, gerando processode ajuste que dita a amplitude da flutuação; ii) o aumento do poder decompra direcionado aos negócios iniciar um boom secundário quecontamina a economia; e iii)...

“Em segundo lugar, o fato de que a demanda empresarial aparece enmasse significa um aumento muito substancial do poder de comprapor toda a esfera dos negócios. Isso inicia um boom secundário, que seespraia por todo o sistema economico eé o veículo do fenomeno daprosperidade geral — que so pode ser completamente entendidodesse modo e não pode ser explicado satisfatoriamente de outramaneira.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.212-3)

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O ciclo econômico (boom e depressão) ocorre devido ao fato de a) asinovações não serem distribuídas uniformemente no tempo. O efeito dasinovações em bloco é ampliado pelo fato de: i) as novas combinaçõesaparecerem paralelamente às combinações existentes, gerando processode ajuste que dita a amplitude da flutuação; ii) o aumento do poder decompra direcionado aos negócios iniciar um boom secundário quecontamina a economia; e iii) haver erros cometidos pelos agentes.

“Em terceiro lugar, segue-se de nossa argumentação que os errosdevem desempenhar um papel considerável no comeco do boom e nocurso da depressão. (...) Uma vez que tenha comecado por outrasrazões, a depressão certamente transtorna muitos planos queanteriormente eram perfeitamente razoáveis e torna perigosos certoserros que, de outro modo, seriam facilmente retificados. (...) Se o tracocaraterístico de um período de boom nãoé meramente a ampliaçãoda atividade economica enquanto tal, mas a realização decombinações novas e ainda não experimentadas, fica entãoimediatamente claro, como ja foi mencionado no capítulo II, queaí oerro deve desempenhar um papel especial, qualitativamente diferentedo seu papel no fluxo circular. (...) Na verdade, ele é um elementoacidental de apoio e reforco, mas não uma causa primária necessáriaàcompreensão do princípio.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.214)

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Desenvolvimento,Crédito,LucroeCicloEconômicoO ciclo econômico (boom e depressão) ocorre devido ao fato de a) as inovaçõesnão serem distribuídas uniformemente no tempo...; o que é explicado, emgrande parte, pelo b) aparecimento de empresários “líderes” facilitar oaparecimento de outros empresários, pois i) o empresário inovador é um tipoespecial.

“(b) Por que os empresários aparecem, não de modo contnuo, ou seja,individualmente, a cada intervalo escolhido apropriadamente, mas aos magotes?Exclusivamente porque o aparecimento de um ou de poucos empresários facilita oaparecimento de outro, e estes provocam o aparecimento de mais outros, em númerosempre crescente.

Isso significa, primeiro, que, pelas razões explicadas no capítulo II, a realização decombinações novasé dixcil e acessível apenas a pessoas com certas qualidades, comose ve melhor por um exemplo dos tempos antigos ou por uma situação economica noestágio que mais se parece a uma economia sem desenvolvimento, a saber, o estágiode grande estagnação. Apenas poucas pessoas tem essas qualidades de lideranca e soalgumas podem ter sucesso nesse sentido numa tal situação, ou seja, numa situaçãoque em si ainda nãoé um boom. Contudo, se um ou alguns tiverem avancado comexito, muitas dificuldades desaparecem. Outros podem então seguir esses pioneiros,como o farão certamente, sob o estmulo do sucesso agora awngível. O seu sucessotorna ainda mais fácil para mais pessoas seguirem o exemplo, mediante remoçãocada vez mais completa dos obstáculos analisados no capítulo II,até que finalmente ainovação se torna habitual e sua aceitação uma questão de livre escolha.”(SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.214-5)

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O ciclo econômico (boom e depressão) ocorre devido ao fato de a) ...; o que éexplicado, em grande parte, pelo b) aparecimento de empresários “líderes”facilitar o aparecimento de outros empresários, pois i) o empresário inovadoré um tipo especial; ii) há o surgimento de novos empresários capazes de“imitar”.

“Em segundo lugar, uma vez que, como vimos, a qualificação empresarialé algo distribuído num grupo etnicamente homogeneo, segundo a lei doerro, como muitas outras qualidades, aumenta continuamente o númerode indivíduos que satisfazem padrões em diminuição progressiva nesseaspecto. Assim, desprezando casos excepcionais — dos quais seria umexemplo a existencia de uns poucos europeus numa população negra —com a progressiva simplificação da tarefa, cada vez mais pessoaspoderão tornar-se empresários e o farão, razão pela qual o aparecimentobem-sucedido de um empresário é seguido pelo aparecimento nãosimplesmente de alguns outros, mas de um número cada vez maior deempresários, embora progressivamente menos qualificados.É assim quese dá na prática, cujo testemunho meramente interpretamos.”(SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.215)

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Desenvolvimento,Crédito,LucroeCicloEconômicoO ciclo econômico (boom e depressão) ocorre devido ao fato de a) ...; o que é explicado,em grande parte, pelo b) aparecimento de empresários “líderes” facilitar o aparecimentode outros empresários, pois i) o empresário inovador é um tipo especial; ii) há osurgimento de novos empresários capazes de “imitar”; iii) os pioneiros removemobstáculos para outras imitações e adaptações que não se restringem ao setor de origemda inovação.

“Em terceiro lugar, isso explica que os empresários aparecam em grupos, na verdadea ponto de eliminar o lucro empresarial, antes de tudo no ramo da indústria em queaparecem os pioneiros. A realidade também revela que todo boom normal comecaem um ou em poucos ramos da indústria (construção de ferrovias, indústrias químicase elétricas etc.) e que recebe o seu caráter das inovações na indústria em que seinicia. Mas os pioneiros removem os obstáculos para os outros, não apenas no ramoda produção em que primeiro aparecem, mas também ipso facto em outros ramos,devido à natureza desses obstáculos. Muitas coisas podem ser copiadas por essesoutros; o modelo enquanto tal também age sobre eles; e muitos empreendimentostambém servem diretamente a outros ramos, como por exemplo a abertura de ummercado estrangeiro, deixando-se inteiramente à parte as circunstancias deimportancia secundária que logo aparecem — precos crescentes etc. Assim, osprimeiros líderes são eficientes além da sua esfera imediata de ação e desse modo ogrupo de empresários cresce ainda mais e o sistema economicoé impulsionado maisrápida e completamente do que o seria por qualquer outro meio para o processo dereorganização tecnológica e comercial que constitui o significado dos períodos deboom.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.215-6)24/05/16 31

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O ciclo econômico (boom e depressão) ocorre devido ao fato de a) ...; o que éexplicado, em grande parte, pelo b) aparecimento de empresários “líderes”facilitar o aparecimento de outros empresários, pois i) o empresário inovadoré um tipo especial; ii) há o surgimento de novos empresários capazes de“imitar”; iii) os pioneiros removem obstáculos para outras imitações eadaptações que não se restringem ao setor de origem da inovação; iv) adiminuição progressiva dos obstáculos pode suavizar o movimento cíclico.

“Em quarto lugar, quanto mais o processo de desenvolvimento se tornacomum e é visto como um simples problema de cálculo para todos osinteressados, e quanto mais fracos se tornam os obstáculos, no correr dotempo, menor a “lideranca” que sera necessária para suscitar inovações.Assim se tornará menos pronunciado o aparecimento conjunto dosempresários e mais suave o movimento cíclico.” (SCHUMPETER, J.(1997[1911]), p.216)

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Desenvolvimento,Crédito,LucroeCicloEconômicoO ciclo econômico (boom e depressão) ocorre devido ao fato de a) ...; o que éexplicado, em grande parte, pelo b) aparecimento de empresários “líderes” facilitaro aparecimento de outros empresários, pois i) o empresário inovador é um tipoespecial; ii) há o surgimento de novos empresários capazes de “imitar”; iii) ospioneiros removem obstáculos para outras imitações e adaptações que não serestringem ao setor de origem da inovação; iv) a diminuição progressiva dosobstáculos pode suavizar o movimento cíclico; e v) o estímulo gerado pelasinovações cria poder de compra e demanda que difundem a prosperidade por todo osistema econômico.

“Em quinto lugar, o aparecimento de novas combinações em conjunto explica fácil enecessariamente os tracos fundamentais dos períodos de boom. Explica por que oaumento do investimento de capitalé o primeiro sintoma do boom que chega, porque as indústrias produtoras de meios de produção são as primeiras a apresentareswmulação acima do normal, e, acima de tudo, por que aumenta o consumo deferro. Explica o aparecimento em grande volume, de novo poder de compra, comisso o aumento característico dos precos durante os booms, o que obviamentenenhuma referencia a aumento das necessidades ou a aumento dos custos podesozinha explicar. Além disso, explica o declínio do desemprego e a elevação dossalários, a elevação da taxa de juros, o aumento dos fretes, a crescente pressãosobre os saldos e as reservas bancárias etc., e, como dissemos, a produção de ondassecundárias — a difusão da prosperidade por todo o sistema economico.”(SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.216)24/05/16 33

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O ciclo econômico (boom e depressão) ocorre devido ao fato de a) as inovaçõesnão serem distribuídas uniformemente no tempo...; o que é explicado, emgrande parte, pelo b) aparecimento de empresários “líderes” facilitar oaparecimento de outros empresários; tendo como consequência c) uma“perturbação espasmódica” no sistema econômico.

“§ 3. (c) O aparecimento de empresários em grupos, queé a única causa doboom, tem sobre o sistema economico um efeito qualitativamente diferentedo de um aparecimento contnuo, distribuído uniformemente no tempo, namedida em que não significa, como esse último aparecimento, umaperturbação contnua, e mesmo imperceptvel, da posição de equilíbrio,mas uma perturbação espasmódica, uma perturbação de uma ordem degrandeza diferente.

Esse processoé a essencia das depressões periódicas, que portanto podemser definidas, do nosso ponto de vista, como o combate do sistemaeconomico no sentido de uma nova posição de equilíbrio, sua adaptaçãoaos dados alterados pela perturbação trazida pelo boom. (...)”(SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.217)

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Essência da perturbação se deve: i) à elevação da demanda associada à novacombinação dos meios de produção que elevam os preços.

“Contudo, a essencia da perturbação causada pelo boom não reside nofato de que amiúde transtorna os cálculos dos empresários, mas nas trescircunstancias seguintes.

Em primeiro lugar, a demanda do novo empresário por meios deprodução, queé baseada sobre o novo poder de compra — a conhecida“disputa pelos meios de produção” (Lederer) num período deprosperidade — eleva os precos destes. (...) Na verdade, apenas aatmosfera que paira sobre o período de boom esconde o fato de que logoem seu comeco e na medida em que é expresso simplesmente nademanda aumentada, o boom significa dificuldades para muitosprodutores, embora ele diminua novamente quando entra em cena aelevação dos precos de seus produtos. Essas dificuldades são uma formado processo pelo qual os meios de produção são retirados das empresasantigas e colocadosà disposição de novos propósitos, comoestá explicadono capítulo II.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.217-8)

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Essência da perturbação se deve: i) à elevação da demanda associada à novacombinação dos meios de produção que elevam os preços; ii) à consequenteelevação de custos e posterior queda de preços com a difusão, pondo fim aoboom, podendo levar à crise e iniciando a depressão.

“Em segundo lugar, os novos produtos chegam ao mercado depois dealguns anos ou mais cedo e concorrem com os antigos; o complementoem mercadoria do poder de compra criado previamente —teoricamente mais do que contrabalancando este último — entra nofluxo circular. (...) No início do boom os custos se elevam nas empresasantigas; mais tarde suas receitas são reduzidas, primeiramente nasempresas com as quais concorre a inovação, mas, depois, em todas asempresas antigas, na medida em que a demanda dos consumidores sealtera em favor da inovação. (...) Esse aparecimento dos novos produtosocasiona uma queda dos precos, que, por sua vez, põe fim ao boom,pode levar a uma crise, deve levar a uma depressão e inicia todo oresto.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.218-9)

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Essência da perturbação se deve: i) à elevação da demanda associada ànova combinação dos meios de produção que elevam os preços; ii) àconsequente elevação de custos e posterior queda de preços com adifusão, pondo fim ao boom, podendo levar à crise e iniciando a depressão;iii) é acentuada pelo pagamento das dívidas, sem contração de novoscréditos, o que reduz poder de compra paralelo à elevação da produção.

“Em terceiro lugar, o aparecimento dos efeitos dos novosempreendimentos leva a uma deflação creditcia, porque agora osempresários estão em condição de pagar suas dívidas — e tem todo oincentivo para isso; e, uma vez que não entram em seu lugar outrostomadores, isso leva ao desaparecimento do poder de compra criadohá pouco, exatamente quando surge o seu complemento em bens eque doravante pode ser produzido repetidamente,à maneira do fluxocircular.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.219)

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Desenvolvimento,Crédito,LucroeCicloEconômicoEssência da perturbação se deve: i) à elevação da demanda associada à novacombinação dos meios de produção que elevam os preços; ii) à consequenteelevação de custos e posterior queda de preços com a difusão, pondo fim aoboom, podendo levar à crise e iniciando a depressão; iii) é acentuada pelopagamento das dívidas, sem contração de novos créditos, o que reduz poder decompra paralelo à elevação da produção; e iv) ao esgotamento que ocorrenaturalmente, sem novos empresários à procura de crédito, com a progressivaqueda nos preços e elevação dos custos.

“Finalmente, ainda se deve explicar por que outros empresáriosà procura decrédito não entram sempre no lugar dos que liquidam sua dívida. Há duasrazões, às quais na prática se adicionam outras que podem ser descritas, sejacomo consequencias dos elementos que chamamos de fundamentais, sejacomo acidentais, seja como influencias que operam a partir de fora, e, nessesentido, como secundárias, não essenciais ou acessórias. Em primeiro lugar, se,sob o estmulo do sucesso na indústria em que ocorre o boom, brotam tantosempreendimentos novos, que produziriam, em atividade plena, umaquantidade de produto que eliminaria o lucro empresarial, pela queda nosprecos e elevação dos custos — o que naturalmente ocorre, mesmo se aindústria em questão obedecerà chamada lei dos rendimentos crescentes —então se esgota o impulso para um avanco a mais nessa direção.”(SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.220)24/05/16 38

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Desenvolvimento,Crédito,LucroeCicloEconômico

Essência da perturbação se deve: i) à elevação da demanda associada à novacombinação dos meios de produção que elevam os preços; ii) à consequenteelevação de custos e posterior queda de preços com a difusão, pondo fim aoboom, podendo levar à crise e iniciando a depressão; iii) é acentuada pelopagamento das dívidas, sem contração de novos créditos, o que reduz poder decompra paralelo à elevação da produção; e iv) ao esgotamento que ocorrenaturalmente, sem novos empresários à procura de crédito, com a progressivaqueda nos preços e elevação dos custos, combinada à elevação da incerteza nocálculo de novos empreendimentos.

“A segunda razão explica por que simplesmente não se segue um novoboom: porque a ação do grupo de empresários alterou, nesse meiotempo, os dados do sistema, transtornou o seu equilíbrio, e assim deuinício a um movimento aparentemente irregular do sistema economico,que concebemos como uma luta por nova posição de equilíbrio. Isso emgeral torna impossível o cálculo preciso mas especialmente para oplanejamento de novos empreendimentos. Na prática, apenas o últimoelemento — a incerteza característica que resulta das novas criações doboom — é sempre imediatamente observável; o primeiro limitemencionado se manifesta na maioria das vezes apenas em pontosisolados.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.220-1)

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Desenvolvimento,Crédito,LucroeCicloEconômicoO boom permite a obtenção de lucros, mas leva muitas empresas a operaremcom prejuízo e causa queda de preços, acentuada pelo pagamento de créditos,o que engendra a depressão que se difunde pelo sistema econômico,caracterizada pela queda de demanda, emprego e juros.

“O que foi dito leva diretamente à compreensão de todos os aspectosprimários e secundários do período de depressão, que agora aparecemcomo parte de um único nexo casual. O boom em si necessariamente levamuitas empresas a funcionar com prejuízos, causa uma queda dos precosalém da que é devida à deflação, e adicionalmente provoca deflaçãomediante a contração do crédito — fenomenos esses que crescemsecundariamente no curso dos acontecimentos. Além disso, explica-setanto a diminuição do investimento de capital e da atividade empresarial,como, por isso, a estagnação das indústrias produtoras de meios deprodução (...). Com a queda da demanda de meios de produção, tambémcaem o volume de emprego e a taxa de juros — se for removido ocoeficiente de risco. Com a queda das rendas monetárias, que remonta,em termos causais,à deflação, mesmo que seja aumentada pelas falenciasetc., a demanda de outras mercadorias finalmente cai e então o processotera penetrado todo o sistema economico. O quadro da depressão estácompleto.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.222)

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Depressão: adaptação a uma nova situação resultante de mudançarápida e significativa causadora de incerteza e irregularidade.

“O curso dos acontecimentos em períodos de depressão apresentaum quadro de incerteza e irregularidade que interpretamos doponto de vista de busca de um novo equilíbrio, ou de adaptação auma situação geral que mudou de maneira relativamente rápida econsiderável. A incerteza e a irregularidade são bastantecompreensíveis. Os dados costumeiros se alteram para todos osnegócios. A extensão e a natureza da mudanca, contudo, so podemser apreendidas com a experiencia.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]),p.223)

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Depressão conduz a nova posição de equilíbrio...

“§ 5. Embora seja evidente que o processo de ajustamento e reabsorçãoque compõe o período de depressão causa incomodos aos elementosmais vigorosos do sistema economico, os que fazem mais no sentido decriar o estado de espírito do mundo de negócios, e embora tal processoaniquile necessariamentemuitos valores e existencias, mesmo que tudoocorra com perfeição ideal, sua natureza e seus efeitos, no entanto,seriam captados inadequadamente se fossem vistos apenas peloaspecto da cessação do impulso à prosperidade ou descritosmeramente por características negativas. Há nela mais aspectosagradáveis que são muito mais característicos dela do que as coisas queacabamos de indicar.

Primeiro, a depressão conduz, como ja foi colocado, a uma nova posiçãode equilíbrio.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.225-6)

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Depressão conduz a nova posição de equilíbrio com mais bens, produzidosde maneira mais eficiente, com menores custos e maiores rendas.

“Em segundo lugar,à parte a assimilação das inovações que acaba deocupar a nossa atenção, o período de depressão faz algo mais que nãosalta tanto à vista quanto os fenomenos aos quais deve o seu nome:cumpre o que o boom prometeu. E esse efeitoé duradouro, ao passoque os fenomenos sentidos como desagradáveis são temporários. Acorrente de bensé enriquecida, a produção parcialmente reorganizada,os custos de produção diminuídos e o que a princípio aparece comolucro empresarial incrementa depois as rendas reais permanentes deoutras classes.” (SCHUMPETER, J. (1997[1911]), p.228)

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