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1 SECRETARIA DO PLANEJAMENTO E GESTÃO ISSN 0103-3905 FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser A revista Indicadores Econômicos FEE é uma publicação trimestral da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser que divulga análises socioeconômicas de caráter conjuntural no âmbito das economias gaúcha, nacional e internacional. EDITOR Luiz Augusto Estrella Faria SECRETÁRIA EXECUTIVA Lilia Pereira Sá Trimestral CONSELHO DE REDAÇÃO Luiz Augusto Estrella Faria Adalberto Alves Maia Neto André Luis Forti Scherer Jéferson Daniel de Matos Maria Lucrécia Calandro Teresinha da Silva Bello CONSELHO EDITORIAL Luiz Augusto Estrella Faria Octavio Augusto Camargo Conceição Maria Aparecida Grendene de Souza Pedro Cezar Dutra Fonseca Otília Beatriz K. Carrion Dercio Garcia Munhoz Leda Paulani Maurício Coutinho Luiz G. Belluzzo Indic. Econ. FEE Porto Alegre v. 35 n. 3 p. 1-154 2008

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SECRETARIA DO PLANEJAMENTO E GESTÃO ISSN 0103-3905FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser

A revista Indicadores Econômicos FEE é uma publicação trimestral da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser que divulga análisessocioeconômicas de caráter conjuntural no âmbito das economias gaúcha, nacional e internacional.

EDITORLuiz Augusto Estrella Faria

SECRETÁRIA EXECUTIVALilia Pereira Sá

Trimestral

CONSELHO DE REDAÇÃOLuiz Augusto Estrella FariaAdalberto Alves Maia NetoAndré Luis Forti SchererJéferson Daniel de MatosMaria Lucrécia CalandroTeresinha da Silva Bello

CONSELHO EDITORIALLuiz Augusto Estrella FariaOctavio Augusto Camargo ConceiçãoMaria Aparecida Grendene de SouzaPedro Cezar Dutra FonsecaOtília Beatriz K. CarrionDercio Garcia MunhozLeda PaulaniMaurício CoutinhoLuiz G. Belluzzo

Indic. Econ. FEE Por to Alegre v . 35 n. 3 p. 1-154 2008

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SECRETARIA DO PLANEJ AMENTO E GESTÃOFUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Eman uel HeuserCONSELHO DE PLANEJAMENTO: Adelar Fochezatto (Presidente), André Luis Campos, Ernesto Dornelles Saraiva, Leonardo Ely Schreiner, Nelson MachadoFagundes, Pedro Silveira Bandeira e Thômaz Nunnenkamp.CONSELHO CURADOR: Carla Giane Soares da Cunha, Flávio Pompermayer e Lauro Nestor Renck.DIRETORIA

PRESIDENTE: ADELAR FOCHEZATTODIRETOR TÉCNICO: OCTAVIO AUGUSTO CAMARGO CONCEIÇÃODIRETOR ADMINISTRATIVO: NÓRA ANGELA GUNDLACH KRAEMER

CENTROSESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS: Roberto da Silva WiltgenPESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO: Míriam De ToniINFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS: Adalberto Alves Maia NetoINFORMÁTICA : Luciano ZanuzEDITORAÇÃO : Valesca Casa Nova NonnigRECURSOS: Alfredo Crestani

Indicadores Econômicos FEE está indexada em:Ulrich's International Periodicals DirectoryÍndice Brasileiro de Bibliografia de Economia (IBBE)International Bibliography of The Social Sciences (IBSS)Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades (CLASE)Cambridge Science Abstracts (CSA)Hispanic American Periodicals Index (HAPI)

INDICADORES ECONÔMICOS FEE / Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser. — v. 16, n. 2 (1988) - . - Porto Alegre: FEE, 1988 - . - v.- Trimestral

Continuação de: Indicadores Econômicos RS, v. 16, n. 2, 1988. Índices: 1973-1988 em v. 17, n. 1; 1973-1990 em v. 19, n. 1; 1973-1992 em v. 21, n. 4; 1992-1994 em v. 23, n. 3.

ISSN 0103-3905

1. Economia - periódicos. 2. Estatística - periódicos. I. Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser. CDU 33(05) CDU 31(05)

Tiragem: 250 exemplares.

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores.

Toda correspondência para esta publicação deverá ser endereçada à: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser (FEE)Revista Indicadores Econômicos FEE - Secretaria

Rua Duque de Caxias, 1691, Porto Alegre, RS — CEP 90010-283Fone: (51) 3216-9132 Fax: (51) 3216-9134E-mail: [email protected] Home Page: www.fee.rs.gov.br

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Sumário

ANÁLISES DO TRIMESTRE ..........................................................................................................

Política econômica

A máquina de crescimento econômico internacional: arquitetura, avanço, fragilidades e crise — PedroFernando Cunha de Almeida ........................................................................................................

Tópicos setoriais

Indicadores da formação de uma plataforma exportadora de celulose no Rio Grande do Sul — MariaD. Benetti ......................................................................................................................................

Os investimentos diretos no exterior dos países em desenvolvimento e a experiência brasileira recente —Beky Moron de Macadar .................................................................................................................

Indústria em 2007: produção e produtividade do trabalho em alta — Silvia Horst Campos ...................

Tópicos regionais

Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05 — Sheila S. WagnerSternberg ......................................................................................................................................

Políticas púb licas

Déficit da Previdência: a verdade que se encerra — Calino Pacheco Filho ........................................

Os estrangulamentos do setor elétrico do Rio Grande do Sul — 2010-20 — Jaques Alberto Bensussan

Trabalho e emprego

O mercado de trabalho da RMPA responde com defasagem à recuperação da economia do Estado em2007 — Eduardo Miguel Sc hneider , Jéferson Daniel de Matos e Míriam De Toni ................................

INDICADORES SELECIONADOS DO RS .........................................................................................

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TEMAS DA CONJUNTURA ..............................................................................................................

Condomínios fechados: as novas configurações do urbano e a dinâmica imobiliária — Mirian ReginaKoch .............................................................................................................................................

Caracterização do comércio externo da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina em 1996-05: uma aná-lise conjuntural — Orlando Arenghi , Silvio Antonio Ferraz Cario e Ricardo Lopes Fernandes ..........

Milagre exportador, preços relativos e o Mal Brasileiro — Duilio de A vila Bêrni , Henrique Morr one eDaniel Koshiyama ........................................................................................................................

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7A máquina de crescimento econômico internacional:...

* Artigo recebido em 07 nov. 2007.

** E-mail: [email protected]

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A máquina de crescimento econômico internacional:arquitetura, avanço, fragilidades e crise*

Pedro Fernando Cunha de Almeida** Mestre em Economia pela Unicamp e Economista da FEE

Entre 2003 e 2006, a economia internacional viveuuma excepcional conjuntura, da qual resultou umcrescimento médio de 4,9% a.a. (Tabela 1). O movimentoteve, pelo menos, duas peculiaridades que se devemdestacar. Em primeiro lugar, envolveu a recuperação daeconomia norte-americana da crise que a abalou em 2001e 2002, em conseqüência de rápido arrefecimento doprocesso especulativo com ativos relacionados com omercado das “.com”. A recuperação substituiu o objetopreferencial da especulação financeira, passando dosativos referentes à informática para aqueles derivadosda construção civil nos EUA. Em segundo lugar, o mesmomovimento conteve peculiar relação mantida entre osEUA e a China, a qual beneficiou ambos. A economianorte-americana contou com as pressões antiinflacio-nárias provenientes de suas volumosas importações daChina. Esta última, por sua vez, tirou proveito não só dademanda efetiva decorrente de suas vendas aos EstadosUnidos, como também do fortalecimento financeiroexterno ocasionado pelo acúmulo de reservasinternacionais em dólares que resultou das mesmasvendas.

No entanto, já no segundo trimestre do corrente ano,começaram a aparecer consideráveis problemasrelacionados ao excesso de acumulação de capital soba forma de imóveis nos EUA, assim como aocomprometimento da extensa e complexa cadeia demecanismos que provê o fluxo de financiamento para amesma acumulação. Os referidos problemas tornaram--se notórios, à medida que, dada sua importância, fo-ram, em algum grau, divulgados na mídia internacional(talvez não de forma clara o suficiente para explicitartoda a gravidade da situação).

Este artigo assume dois objetivos. O primeiro é ode apresentar interpretação relativa às característicasmais importantes da expansão, iniciada em 2003, daseconomias norte-americana e, em conseqüência,internacional. Como segundo, o texto destina-se a ofereceroutra interpretação, através da qual se conclui que osnotórios problemas referidos derivaram para a crise docrescimento econômico a que se fez menção. Ainda queseja impossível delinear os contornos mais precisos danova conjuntura, pretende-se argumentar que ela trarátempos de crise. Se mais branda ou mais aguda, o tempodirá.

A respeito do que trará a nova conjunturainternacional, é importante lembrar que Keynes (1982)ensinou que o futuro é incerto. No que se refere a ele, opensamento humano tem reduzida capacidade deprevisão, especialmente quando se trata de realidadesde natureza tão complexa como o comportamento futurode determinada economia nacional ou da economiainternacional. Isto é, os métodos existentes para tantosão, de tal forma, precários, que talvez não seja adequadoadjetivá-los como científicos. Mais apropriado seriadenominá-los especulações. Embora precárias, elas sãoindispensáveis para aqueles que pensam e decidem sobreo futuro. Nesses casos, simplesmente não há melhoresalternativas. Assim, quando o texto se referir àscaracterísticas mais decisivas da nova conjunturainternacional, não estará explicitando mais do que aespeculação que nele se faz acerca das mesmascaracterísticas.

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8 Pedro Fernando Cunha de Almeida

1 Ver, a respeito, Braga (1997; 2004), Tavares (1997) e Tavares eMelin (1997).

2 Na verdade, os interesses públicos e privados existentes nointerior de cada economia dão à integração dos mercadosprodutivos maior liberdade ao investimento produtivo do que aocomércio internacional. Isto é, dá-se espaço ao investimentoestrangeiro, mas dificulta-se a absorção do mercado local porprodutores localizados no exterior da economia. No entanto,em direção oposta, a estratégia das grandes empresasinternacionais exige a produção internacionalizada, ou seja,

Tabela 1

Taxa média do PIB mundial em regiões e países selecionados — 1990/07 (%)

PERÍODOS MUNDO EUA ECONOMIAS AVANÇADAS

ECONOMIAS EMERGENTES

CHINA

1990-00 3,3 3,3 2,8 4,2 10,4 2001-02 2,8 1,2 1,4 4,6 8,7 2003-06 4,9 3,0 2,6 7,4 10,4 1990-06 3,7 2,9 2,6 5,1 10,2 2007 5,2 2,6 2,5 7,5 11,5

FONTE DOS DADOS BRUTOS: WORLD ECONOMIC OUTLOOK. Washington: IMF, Oct 2007.

1 Os supostos da análiseUma análise como a pretendida neste artigo não

pode partir de considerações abstratas a respeito darealidade. Para ter validade, ela exige levar em conta osmais importantes processos em curso no mundo realsubjacentes à interpretação pretendida. Dito de outraforma, é necessário considerar os resultados específicosdo movimento histórico que condicionam a problemáticatratada.

Para explicitar esses processos, fez-se uso deespecífica bibliografia, que produziu as seguintesconclusões a respeito dos referidos processos.1 Nomundo real, desde o pós-guerra, vem ocorrendo oprocesso de globalização produtiva e financeira do capitalem nível internacional, embora o mesmo tenha sofridodois grandes impulsos: o primeiro na segunda metadedos anos 60 do século XX, e o segundo a partir do inícioda década de 80 do mesmo século. Com o evoluir doprocesso de globalização: (a) verificou-se rápido movi-mento de unificação dos mercados produtivos efinanceiros de todo o mundo, por intermédio de progressivaqueda de barreiras ao comércio e ao investimentoprodutivo2 e de firme tendência à liberalização financeira,

esta última referida tanto ao abrandamento de regraspreexistentes no âmbito das diferentes nações quanto àsuperação dos empecilhos impostos no passado ao fluxointernacional de capitais; (b) o ouro deixou de exercer afunção de reserva internacional de valor, função esta que,desde 1980, passou a caber ao dólar norte-americano, apartir da potência que lhe advém da força da economia,das finanças e do Estado nos EUA;3 e (c) o movimentoexpansivo do capital passou a, predominantemente,perseguir sua valorização sob a forma de ganhos decapital nos mercados financeiros organizados, ao invésde fazê-lo, como no passado, via acumulação derendimentos esperados na esfera produtiva.

Nesse contexto, as finanças e o Estado norte--americanos colocam-se como líderes do processo deglobalização produtiva e financeira descrito, dados oslugares centrais ocupados por eles nesse processo.

aquela que conta com a contribuição de partes e componentesmais vantajosa para elas. Isso quer dizer que as empresasinternacionais exigirão a liberdade para adquirir os insumosnecessários ao seu processo produtivo nos países onde melhorlhes convier. Essas estratégias impõem o desenvolvimentoacelerado do comércio internacional, como comprovam asestatísticas a respeito.

3 A capacidade do dólar em constituir-se no padrão de reservainternacional de valor explica-se, como se disse, pelas potênciasda economia, das finanças e do Estado norte-americanos. Mas,para constituir-se como reserva internacional de valor, o dólardeve ser administrado de forma específica. A especificidadeconsiste em política monetária destinada a manter o valor damoeda norte-americana no longo prazo. Por isso, diz-se que odólar toma a forma de uma moeda financeira. Além disso, nãoé demais lembrar que, até o momento, só os EUA dispuseramdas necessárias potências da economia, das finanças e doEstado para emitir a moeda que constitui o padrão de reservainternacional de valor.

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9A máquina de crescimento econômico internacional:...

2 Da crise à recuperação: a arquitetura e o avanço da máquina de crescimento econômico internacional

Assumindo os supostos explicitados no item ante-rior, apresenta-se, neste, uma exposição esquemáticada arquitetura do movimento que, a partir do início de2003, viabilizou a recuperação da economia norte-ame-ricana, apoiada na especulação financeira empreendidaem torno de ativos reais ligados ao mercado imobiliáriodos EUA (Tabela 1). Anteriormente, a economia dos EUAhavia vivido longo período de expansão entre 1992 e 2000;desta feita, foi estimulada pela especulação nos merca-dos de alguma forma relacionados à área de computa-ção eletrônica, a chamada Nova Economia. No intervalode tempo que envolveu os anos de 2001 e 2002, preva-leceu a crise que correspondeu ao esgotamento da ex-pansão de 1992 a 2000.

O movimento especulativo e o crescimentoeconômico relacionados aos ativos do mercado imobiliáriomaterializaram-se através de extensa e complexa cadeiade relações (Figura 1), que envolveu: (a) as reduzidastaxas de juros vigentes nos Estados Unidos, entre o finalde 2001 e o início de 2005, praticadas pelas autoridadesmonetárias com a intenção de contrapor a forte contraçãoda atividade produtiva (hard landing), que, então, sepoderia impor naquele país, a partir do primeiro ano citado,como resultado do fim da expansão relacionada à NovaEconomia (Tabela 2, coluna E); (b) a aceleração, já noinício de 2002, do movimento de especulação imobiliárianorte-americana (Tabela 2, coluna H), em decorrênciatanto da desilusão verificada na área das “.com” quantoda aludida redução das taxas de juros;4 (c) a alavancagemda capacidade de investimento de compradores deimóveis, com ou sem tradição no mercado de capitais,via obtenção, pelos mesmos, de crédito a longo prazo,sob a forma de hipotecas assinadas junto a bancoscomerciais; (d) a formação de considerável estoque de

dívida hipotecária, que reuniu tomadores com e sem tra-dição no mercado de capitais, constituindo os mercadosprime de hipotecas e subprime de hipotecas respec-tivamente; (e) o provimento de fundos, aos bancos co-merciais, para a concessão de crédito hipotecário pormeio da consolidação das dívidas hipotecárias em seupoder em Mortgage Backed Securities (MBS) e sua vendaaos bancos de investimentos, os quais dispõem dapossibilidade de renegociá-los no respectivo mercadosecundário; (f) o provimento de recursos aos bancos deinvestimento, através de nova consolidação de dívidas,que, agora, envolve a reunião dos MBS em CollateralizedDebt Obligation (CDO), repassados a fundos institu-cionais de investimento não só dos EUA, mas tambémde importantes praças financeiras da Europa; (g) ainexistência de mercado secundário de títulos para osCDOs; (h) o dito no item anterior ocorreu juntamente coma difusão de processo convencional alternativo para oestabelecimento de preços dos ativos negociados, nocaso, os CDOs, que consiste em precificação que sebaseia na classificação de risco feita por Credit RatingAgencies (CRA), constituindo nova e perigosa forma desecuritização, a que dispensa a presença do referidomercado secundário; (i) a quase-impossibilidade dedetecção prévia dos riscos de default das hipote-cas integrantes dos títulos estruturados — os MBS e osCDOs — por bancos comerciais e de investimento, soba chancela das agências de classificação de riscos; (j) avenda, pelos fundos institucionais, de cotas dos títulosestruturados em seu poder ao público — pessoas físicas,bancos comerciais, bancos de investimento ou até outrosfundos institucionais —, em troca da promessa de parcelado fluxo de renda que se espera derive do vencimento edo pagamento das hipotecas que dão início à cadeiadescrita; e (l) o incremento do consumo que resultou tantodo acréscimo de renda conseqüente da expansão daprodução de imóveis quanto do efeito riqueza originadona elevação dos preços dos mesmos, elevação esta quetornou ainda mais elástico o crédito imobiliário.5

Em resumo, através da cadeia de relaçõesdescritas, entende-se que a expansão da economia norte--americana iniciada em 2003, pelo menos parcialmente,derivou da força propulsora da busca especulativa deganhos de capital a partir de ativos imobiliários naquele

5 Embora a descrição aqui apresentada do movimento espe-culativo possa parecer complexa, tem-se consciência de que arealidade o é ainda mais. Muitas figuras e combinações entreelas sequer foram descritas. Aqui, trata-se apenas de apresentarum esquema geral que permita a compreensão do texto.

4 A especulação de que se fala resultou das expectativas deganhos provenientes da diferença entre o valor presente dosrendimentos relacionados à propriedade de imóveis e o custode produção dos mesmos. Do ponto de vista conceitual, taisexpectativas correspondem aos lucros do fundador definidospor Hilferding (1985) ou às expectativas de ganhos de capitalque podem derivar da diferença entre o “preço da demanda dosbens de capital” e o seu “preço de oferta” (ou, ainda, seu custode reposição), especificados por Keynes (1982).

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10 Pedro Fernando Cunha de Almeida

país. Com tal especulação, os preços dos imóveis cres-ceram continuamente (Tabela 2, coluna I), impulsionan-do a construção civil. Considerando como construçãocivil somente sua parcela relativa às casas para umafamília, chega-se ao resultado de que a participação dosetor nos EUA incrementou-se de 2,0% em 2001 para2,8% em 2005 (Tabela 2, coluna J). Como subproduto, aprodução de bens de consumo também se acelerou, nãosó em decorrência do incremento da renda na constru-ção civil, mas também do refinanciamento hipotecárioviabilizado pela continuidade da elevação dos preçosdos imóveis na economia norte-americana.

Já o financiamento do crescimento econômicoencetado pela construção civil contou com fontes dediferentes origens. No que diz respeito ao âmbitoespecífico da construção civil, houve a absorção juntoao público — pessoas físicas, bancos comerciais,bancos de investimento e, mesmo, outros fundos deinvestimentos — de recursos captados por fundosinstitucionais constituídos nos EUA e em importantespaíses da Europa. A captação de recursos europeus paraa especulação imobiliária nos Estados Unidos não devesurpreender, mas ser vista como algo normal. Conformeanunciado no item relativo aos supostos da análise destetrabalho, a normalidade a que se faz referência deriva dofato de que, pelo menos desde 1980, a economiainternacional se caracteriza pela submissão da produçãoaos ganhos de caráter financeiro e que a globalizaçãofinanceira vem evoluindo rapidamente. No referente àeconomia norte-americana como um todo, o crescimentoencontrou uma fonte de financiamento, pelo menosparcial, na política monetária vigente até meados de 2005,no País.

Na conjuntura internacional que vigorou até então,à expansão nos EUA vinculou-se diretamente ocrescimento econômico da China (Tabela 2, colunas C eN). De um lado, a expansão norte-americana contou como suprimento antiinflacionário das exportações chinesas.De outro, a China valeu-se da demanda efetiva derivadadas importações norte-americanas. No tocante aosaspectos relativos ao balanço de pagamentos, os EUAfinanciaram seus déficits em transações correntesatravés do crescimento das reservas em dólaresmantidos pela China e por muitos outros países no mundo.É ainda decisivo destacar que a China contou comvolumoso montante de recursos para a ampliação de seuaparato produtivo que proveio do investimento diretoexterno (IDE), atraído pelas possibilidades de lucrosoferecidas pelo crescimento econômico extraordinário emseu território. Por fim, mas não menos importante, ocrescimento conjunto dos Estados Unidos e da China

levaram o mundo à aceleração econômica (Tabela 2,colunas A, L e P).6

Assim, pode-se dizer que, entre 2003 e o início de2007, as finanças norte-americanas impulsionaram suascongêneres européias em movimento especulativo queenvolveu a atividade imobiliária nos EUA, no mesmoperíodo. O vínculo entre as duas finanças localizadasnos Estados Unidos e na Europa só foi possível dado oestágio avançado da globalização financeira naatualidade. Desse movimento especulativo, redundou aconstituição de específica máquina de crescimentoeconômico de âmbito internacional, da qual derivou oconcomitante aumento dos investimentos residenciais edo consumo norte-americanos; o financiamento doscrescentes déficits em transações correntes dos EUA;as pressões antiinflacionárias no mesmo país, impostaspelas importações provindas da China; a aceleração davelocidade de expansão da atividade produtiva, bemcomo o fortalecimento financeiro externo da economiachinesa; e, a partir da dinamização das economias nor-te-americana e chinesa, o impulso das demais economi-as avançadas e em desenvolvimento do planeta.

6 A descrição que aqui se fez do crescimento econômico mundiala partir de 2003 constitui exercício de propositada abstração.Abstrações são sempre problemáticas, porque podem excluirimportantes aspectos da realidade. Isso é especialmenteverdadeiro neste artigo. Excessos de abstração foramcometidos, ao se considerar a especulação imobiliária comoexplicativo único para o crescimento recente dos Estados Unidose ao se descrever a aceleração do crescimento chinês comodecorrência exclusiva de seu comércio superavitário com osEUA, quando se sabe que o investimento na China ocupa lugarcentral no movimento expansivo de sua economia; algo similarvale para os processos de expansão nas demais economiasavançadas e em desenvolvimento. Tem-se consciência disso.Mas, com as abstrações feitas, não se pretende mais queexplicitar características importantes do objeto em estudo.

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12 Pedro Fernando Cunha de Almeida

Tabela 2

Indicadores de conjuntura econômica internacional nos EUA e no mundo — 1990/07

ANOS

TAXAS DE CRESCIMENTO

DO PIB MUNDIAL (%) (A)

TAXAS DE CRESCIMENTO DO COMÉRCIO

INTERNACIONAL DE BENS E

SERVIÇOS (%) (B)

TAXAS DE CRESCIMENTO

DO PIB NOS EUA (%) (C)

SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES

DOS EUA (US$

BILHÕES) (D)

TAXAS BÁSICAS

DE JUROS NOS EUA (% a.a.)

(E)

ÍNDICE MÉDIO NOS ÚLTIMOS 12

MESES DA TAXA DE CÂMBIO

EFETIVA REAL DO DÓLAR POR

MOEDA ESTRANGEIRA (1)

(F)

1990 2,9 15,0 1,9 -79,0 8,1 89,8 1991 1,6 3,3 -0,2 2,9 5,7 87,2 1992 2,4 6,8 3,3 -50,1 3,5 85,4 1993 2,4 -0,6 2,7 -84,8 3,0 88,4 1994 3,8 11,7 4,0 -121,6 4,2 86,8 1995 3,7 18,8 2,5 -113,6 5,8 80,1 1996 4,1 5,9 3,7 -124,8 5,3 81,9 1997 4,2 4,0 4,5 -140,4 5,5 86,3 1998 2,7 -1,8 4,2 -213,5 5,4 91,6 1999 3,7 3,9 4,4 -299,8 5,0 90,6 2000 4,8 11,2 3,7 -417,4 6,2 100,0 2001 2,5 -3,4 0,8 -384,7 3,9 103,6 2002 3,1 5,0 1,6 -459,6 1,7 105,2 2003 4,0 16,4 2,5 -522,1 1,1 95,0 2004 5,3 21,2 3,6 -640,2 1,4 85,9 2005 4,9 13,6 3,1 -754,9 3,2 85,1 2006 5,4 14,6 2,9 -811,5 5,0 84,3

2007 (3) 5,2 14,2 2,6 -784,3 5,0 82,9

(continua)

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13A máquina de crescimento econômico internacional:...

Tabela 2

Indicadores de conjuntura econômica internacional nos EUA e no mundo — 1990/07

ANOS

TAXAS ANUAIS DE INFLAÇÃO

NOS EUA (%) (G)

QUANTIDADE DE CASAS

NOVAS VENDIDAS

(1 000 UNIDADES)

(H)

PREÇOS MÉDIOS DAS

CASAS NOVAS VENDIDAS NOS EUA

(US$ 1 000) (2) (I)

PARTICIPAÇÃO DAS VENDAS DE CASAS NOVAS NO PIB NORTE-

-AMERICANO (%) (J)

TAXAS DE CRESCIMENTO

DO PIB NAS ECONOMIAS

AVANÇADAS (%) (L)

SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES

NAS ECONOMIAS AVANÇADAS

(US$ BILHÕES) (M)

1990 6,1 - - - 3,1 -92,6 1991 3,1 - - - 1,5 -36,5 1992 2,9 - - - 2,2 -33,1 1993 2,7 - - - 1,4 56,0 1994 2,7 - - - 3,4 16,7 1995 2,5 683 172,5 1,6 2,8 33,7 1996 3,3 794 175,7 1,8 2,9 28,2 1997 1,7 805 181,7 1,8 3,4 74,3 1998 1,6 958 186,3 2,0 2,5 20,7 1999 2,7 916 196,0 1,9 3,5 -107,9 2000 3,4 927 208,1 2,0 4,0 -265,7 2001 1,6 898 225,4 2,0 1,2 -204,5 2002 2,4 976 238,5 2,2 1,6 -211,1 2003 1,9 1 087 261,1 2,6 1,9 -208,9 2004 3,3 1 184 276,6 2,8 3,2 -220,6 2005 3,4 1 282 272,9 2,8 2,5 -431,6 2006 2,5 1 063 290,1 2,3 2,9 -508,8 2007 (3) 2,4 867 288,0 1,8 2,5 -499,8

(continua)

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Tabela 2

Indicadores de conjuntura econômica internacional nos EUA e no mundo — 1990/07

ANOS

TAXAS DE CRESCIMENTO

DO PIB NA CHINA (%)

(N)

SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES

DA CHINA (US$ BILHÕES)

(O)

TAXAS DE CRESCIMENTO

DO PIB DE PAÍSES

EMERGENTES (%) (P)

FLUXOS DE CAPITAL PARA

PAÍSES EMERGENTES (US$ BILHÕES)

(Q)

MÉDIA ANUAL DO EMERGENT

BOND INDEX (pontos-base)

(R)

MÉDIA ANUAL DO

EMERGENT BOND INDEX

PARA A AMÉRICA LATINA

(pontos-base) (S)

1990 3,8 12,0 2,8 39,4 - - 1991 9,2 13,3 1,9 119,7 - - 1992 14,2 6,4 2,6 127,4 - - 1993 14,0 -11,9 4,0 162,6 - - 1994 13,1 7,7 4,4 118,0 - - 1995 10,9 1,6 5,0 160,3 - - 1996 10,0 7,2 5,7 222,2 - - 1997 9,3 37,0 5,3 193,2 510,0 472,0 1998 7,8 31,5 3,0 62,6 809,4 700,0 1999 7,6 15,7 4,1 74,6 1 111,6 853,3 2000 8,4 20,5 6,0 56,7 752,2 668,2 2001 8,3 17,4 4,3 70,2 837,2 882,4 2002 9,1 35,4 5,0 88,3 774,6 995,0 2003 10,0 45,9 6,7 173,3 562,2 724,5 2004 10,1 68,7 7,7 238,6 437,5 536,5 2005 10,4 160,8 7,5 257,2 316,6 374,5 2006 11,1 249,9 7,9 255,8 199,5 218,7

2007 (3) 11,5 379,2 7,5 258,7 179,3 195,7

FONTE: WORLD ECONOMIC OUTLOOK. Washington: IMF, Oct 2007. FONTE: IPEADATA. FONTE: U. S. Bureau of Economic Analysis — BEA. FONTE: U. S. Census Bureau. Disponível em: <http://www.census.gov/newshomesales>. Acesso em: 14 out. 2007. (1) Os índices têm como base 2000 = 100. (2) A participação do valor de vendas no PIB norte-americano resultou de estimativa do autor. (3) Os valores constantes nessa linha constituem previsões para o ano de 2007. Em geral são as encontradas no World Economic Outlook, de outubro de 2007, publicado pelo FMI. Fazem exceção a essa regra as estimativas da variação percentual do PIB norte-americano, das vendas de casas novas, das taxas de juros básicas nos EUA e aquelas referentes ao Emergent Bond Index (EMBI+). No primeiro caso, considerou-se, para o cálculo da variação do PIB de 2007, o nível do Produto Interno Bruto nos 12 meses encerrados em setembro de 2007; no segundo, trata-se da taxa de variação das vendas das casas referidas nos últimos 12 meses encerrados em setembro de 2007 em relação aos 12 meses imediatamente precedentes. Nos outros dois casos, as estimativas são do autor. As taxas de juros básicas norte-americanas correspondem à média das taxas de juros operadas com tais fundos nos 12 meses que se encerrarão em dezembro de 2007. A mesma média considera, de um lado, os valores observados para as referidas taxas até o mês de agosto e, de outro, o valor de 4,75% a.a. para os meses seguintes. Esse é o valor que corresponde à meta estabelecida, pelo Federal Open Market Committee (FOMC), para as taxas anuais dos fundos em questão no mês de setembro do corrente ano.

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3 Da expansão à crise: as fragilidades e a crise da máquina de crescimento

Obviamente, essa máquina de crescimentoeconômico mundial sempre teve seus pontos fracos, que,mais cedo ou mais tarde, haveriam de emergir.

Aqui neste texto, dentre eles, destacam-se seis,os quais parecem estar no centro das turbulências quepovoam a conjuntura internacional nos últimos meses:(a) o caráter especulativo da acumulação de capital quedeu materialidade para expansão centrada no crescimentoda construção civil nos EUA; (b) a estreiteza daacumulação de capital no mercado imobiliário norte-americano; (c) a reduzida viabilidade da mesmaacumulação em relação às taxas normais de juros daeconomia norte-americana; (d) a necessidade de preservaro dólar como moeda de reserva de valor em nívelinternacional; (e) a inclusão do segmento subprime domercado de capitais na cadeia de financiamentohipotecário da construção de moradias nos EUA; e (f) ainexistência de mercados secundários para os CDOs,os quais dividiriam prejuízos e proveriam liquidez entreos integrantes da cadeia de financiamento imobiliário, nocaso de inadimplência hipotecária.

Como não poderia deixar de ser, no início do séculoXXI, o crescimento mundial a que se alude resulta deprocesso especulativo cuja finalidade é a de transformardinheiro em mais dinheiro, através do circuito financeiroda economia. Processos como esses já foram descritosem Marx (1980), Hilferding (1985), Keynes (1982) eMinsky (1986), dentre muitos outros. Em Keynes (1982)e, ainda mais claramente, em Minsky (1986), taisprocessos derivam em movimentos de expansão daprodução social, em que, em meio à incerteza, vão-seproduzindo ganhos de capital, que, supostamente,correspondem ao enriquecimento da sociedade. Esseenriquecimento, na verdade, em elevadíssima proporção,nada tem a ver com a realidade, tratando-se apenas decriação fictícia de riqueza. A fantasia vai até o dia emque, necessariamente, a realidade cobra seu preço,impondo a desilusão. Por essa razão, o ciclo expansivocom base na especulação imobiliária, como todos osprocessos dessa natureza, teria, algum dia, que encontrarseu fim.

O segundo ponto fraco da máquina de crescimentomundial em referência diz respeito à estreiteza daacumulação imobiliária nos EUA. O U. S. Department ofHousing and Urban Development (U. S. Census Bureau,

2007) divulga informações sobre o mercado imobiliárionorte-americano. Segundo se pode concluir da leituradas muitas edições de seu U. S. Bureau Joint Release(U. S. Census Bureau, 2007) relativas ao período emquestão, já a partir de dezembro de 2005 havia sinais deexcesso de acumulação de capital no mesmo mercado.Entre o mês citado e setembro do corrente ano, o númerode casas novas para uma família vendidas em 12 mesescaiu à taxa anualizada de 20,0%. Isso ocorreu depois deo mesmo número ter-se expandido à velocidade anualmédia de 10,2%, entre março de 2002 e dezembro de2005. (Tabela 2, coluna H). Já os preços das mesmascasas só passaram a reduzir-se mais recentemente,talvez a partir de março de 2007. Embora, desde então eaté setembro último, tenha ocorrido queda de 12,6% dospreços em questão, deve-se levar em conta que osmesmos apresentam comportamento marcadamentesazonal, com picos nos meados dos anos e vales emseus finais. De qualquer forma, a redução a partir demarço parece grande demais para ser explicada somentepela sazonalidade dos preços. Mas há evidênciasconfiáveis de queda do valor de mercado das residênciasnovas para uma família, já que, entre os meses desetembro de 2006 e de 2007, seus preços médios caíram2,8% (U. S. Census Bureau, 2007).

A queda da quantidade de residências novastransacionadas, bem como do nível de seus preços, dábase à formulação da hipótese de que, já em dezembrode 2005, a especulação imobiliária havia se traduzidoem superacumulação de capital no mercado em exame,nos EUA.

Uma característica importante da acumulação decapital no setor imobiliário daquele país, durante o períodoestudado, é a de que, embora ela tenha sidosuficientemente ampla para incrementar a velocidade deexpansão da economia norte-americana, não contou coma dimensão necessária para criar estímulos capazes deretroalimentar novas rodadas de expansão da construçãocivil. Isso é o que justifica falar em estreiteza daacumulação de capital do mercado imobiliário norte--americano. Dessa estreiteza, resulta o curto período detempo necessário para atingir a superacumulação decapital imobiliário e, portanto, para dar fim ao crescimentoeconômico nela embasado.

O terceiro ponto fraco da máquina de crescimentoeconômico refere-se à inviabilidade de aceleradaacumulação imobiliária de capital ao nível das taxasnormais norte-americanas de juros. A afirmação é válida,pelo menos, no que se refere ao período que sucedeu a2002. Não se pode deixar de levar em conta que aaceleração da construção civil nos Estados Unidos só

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teve início depois que as taxas de juros do País foramsensivelmente reduzidas a partir de seu nível normal.Esse nível se altera, à medida que são abordadasdiferentes economias e épocas. Para os Estados Unidosdo final do século passado e início deste, pode-seconsiderar como nível normal aquele correspondente àmédia dos juros praticados no período entre novembrode 1994 e fevereiro de 2001, de 5,5% a.a. Durante esseperíodo, os juros já haviam se recuperado dos baixosníveis praticados na crise de 1991, e a economiaexpandia-se a taxas satisfatórias. Pois bem, a aceleraçãoda atividade produtiva na área da construção civil teveinício em 2002, quando as taxas de juros norte-americanas já se encontravam bem abaixo de seu nívelnormal. Elas permaneceram baixas até maio de 2004,quando se encontravam no reduzido nível de 1,03% a.a.A partir de então, elas iniciaram um movimento deascensão, que só se encerrou em agosto de 2006, quandoatingiram patamar superior a 5,0% anuais, isto é, próximasdo seu nível normal. À época, a acumulação imobiliáriajá se encontrava em franca desaceleração. O descritoinduz a estabelecer a hipótese de que a expansãoimobiliária promovida pela especulação financeira só seviabilizou porque os juros norte-americanos semantiveram, durante longo período de tempo, abaixo deseu nível normal. Por isso, a contínua elevação das taxasnorte-americanas de juros, a partir de maio de 2004, emdireção ao seu nível normal constituiu-se em elementoadicional a explicar o início da desaceleração da atividadeimobiliária no mês de dezembro de 2005.

Muito vinculado à questão relativa ao nível normaldas taxas de juros nos EUA e, portanto, aos pontos fracosapresentados pela expansão embasada na especulaçãofinanceira a partir de ativos imobiliários está o quartoponto fraco da máquina de crescimento econômicointernacional vigente desde 2003, o qual se materializana necessidade de preservar o dólar como moeda dereserva de valor no âmbito internacional. Como já sedisse, ao explicitar os supostos da análise que se fazneste trabalho, o dólar exerce o papel de reservainternacional de valor. Esse papel é da maior importânciapara os Estados Unidos. Ele permite que o país financieseus déficits externos, sejam correntes, sejam decapitais, com incomparável facilidade, através daelevação de suas taxas básicas de juros ou,simplesmente, por meio de emissão. Sabe-se que o poderdos Estados Unidos para exercer o referido papel depen-de — além de suas excepcionais potências no que dizrespeito às finanças, ao Estado e à economia — depolítica monetária que mantenha a escassez da moedanorte-americana e, assim, o valor dela para os que a

possuem. Reduzidos níveis de juros praticados pelasautoridades dos EUA significam incremento da oferta dedólares no mundo. Por isso, prolongados períodos dereduzidas taxas de juros naquele País normalmentelevam à desvalorização do dólar, a qual, continuadademasiadamente no tempo, pode enfraquecer aconfiança que é necessária para que ele desempenhe opapel de reserva de valor internacional, que tão bem serveaos interesses norte-americanos. Dessa forma, as taxasde juros nos Estados Unidos, mais cedo ou mais tarde,teriam que voltar ao seu nível normal, preservando o valordo dólar em detrimento da especulação financeiraimobiliária.

O quinto ponto fraco da máquina internacional decrescimento econômico tratada neste artigo diz respeitoao relaxamento das normas prudenciais de concessãode crédito imobiliário. Ao descrever a cadeia de relaçõesque deu materialidade ao crescimento econômico norte-americano a partir de 2003, mencionou-se que, dela, fezparte a prática de facilitar o crédito hipotecário aosegmento subprime do mercado de capitais. A explicaçãopara a danosa prática encontra-se no processocompetitivo que envolveu os bancos comerciais dosEstados Unidos no sentido do aproveitamento, aomáximo, das oportunidades de ganhos que se lheofereciam com a atividade de financiamento hipotecáriopara investidores desejosos de participar da bolhaespeculativa imobiliária. Para isso, muitos bancoscomerciais passaram a conceder crédito hipotecário aopúblico sem tradição no mercado de capitais,despreocupando-se com seus cadastros e oferecendoformas de carência que protelavam, parcial ou totalmente,o início dos pagamentos. Daí resultou, é claro,considerável perda de qualidade dos ativos hipotecáriospossuídos pelos mesmos bancos.

É muito importante destacar que essa perda dequalidade dos ativos hipotecários não ficou restrita àsaúde financeira dos bancos comerciais. Isso se entendecom facilidade, se for lembrado que os mesmos ativosforam, via de regra, consolidados sob a forma de MBSse vendidos a bancos de investimentos, e que estesúltimos, normalmente, os consolidaram outra vez, agorano formato de CDOs, vendendo-os a fundos institucionaisde investimentos, cujas cotas se destinaram à comprapelo público. Dessa forma, a perda de qualidade dos ativoshipotecários contaminou os MBS os CDOs e as cotasdos fundos de investimentos. Mas isso não é tudo, poisas consolidações em MBS e CDOs tornaram muito difícila localização das hipotecas não honradas por seusemissores. Assim, aos olhos daqueles que os compram,os MBS e os CDOs perderam qualidade de maneira difusa

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e pouco transparente. Não se pode esquecer que hipote-cas, MBS, CDOs e cotas de que se fala fazem partedos ativos de bancos comerciais, bancos de investimentoe fundos institucionais. Dessa maneira, o sistema fi-nanceiro norte-americano e também o europeu — namedida em que também ele tomou parte da cadeia des-crita — restaram menos confiáveis depois que o proble-ma da generalizada inadimplência hipotecária veio àtona.

O sexto ponto fraco da máquina de crescimentoeconômico diz respeito à inexistência de mercadossecundários para os CDOs. Como é amplamenteconhecido, mercados secundários desempenham, pelomenos, uma importante função. Através da precificaçãodiária dos ativos neles negociados, provêem liquidez paraos mesmos. No caso dos CDOs, a heterogeneidade queos caracteriza impede a formação de mercadossecundários. Por isso, a precificação dos CDOs ocorre,exclusivamente, a partir das notas concedidas pelasagências de rating, constituindo, como já se disse, emsurpreendente e perigosa inovação dos processos desecuritização de ativos. O perigo está na desconfiança,justificada ou não, que se pode abater sobre as avaliaçõesemitidas pelas referidas agências. De qualquer forma, àprecificação assim realizada corresponde a inexistênciade mercados secundários, vale dizer, a inexistência deliquidez para os ativos envolvidos, no caso os CDOs.Isso quer dizer que mudanças de expectativas quantoao valor futuro dos mesmos não podem seracompanhadas de modificações da composição doportfólio de seus possuidores. Nesse caso, a repartiçãode riscos derivados da posse de ativos securitizadossimplesmente deixa de existir. Isso vale também paraas cotas de fundos de investimentos que provêm dosCDOs.

Concluindo, a máquina de crescimento econômicoem referência é prenhe da fraqueza que provém doinarredável caráter especulativo da acumulação de capitalem referência; da estreiteza da acumulação de capitalno setor imobiliário norte-americano; da dependência quea mesma máquina mantém com taxas de juros básicasabaixo do patamar normal para os Estados Unidos; danecessidade dos Estados Unidos de preservar o dólarcomo moeda de reserva de valor internacional e, portanto,de manter suas taxas básicas de juros básicas nopatamar que é normal para sua economia; dos riscosque a operação da máquina em questão signifique deimposição de crises sistêmicas no setor financeiro nor-te-americano e também do resto do mundo, em decor-rência de práticas que envolvem: (a) o relaxamento dasregras prudenciais de emissão de ativos financeiros, o

que acontece em decorrência do processo competitivoinerente, sobretudo, aos bancos comerciais; (b) ainexistência de mercados secundários para os CDOsemitidos por bancos de investimento; e (c) o processode precificação de ativos que dispensa a existência domercado secundário de ativos, o que significa abrir mãoda proteção para os aplicadores financeiros através dadivisão de riscos, por mais precário que possa ser omesmo processo.

Dados a arquitetura, os avanços e as fragilidadesdos movimentos especulativo e do crescimentoeconômico descrito, pode-se, por fim, passar à explicaçãoda fase crítica dos mesmos movimentos. De onde elaprovém? O desenvolvimento deste artigo até aqui deixouem aberto espaço para duas respostas. Elas envolvemos aspectos produtivo e financeiro desse movimentoespeculativo.

O primeiro, o aspecto produtivo, já foi descritosuficientemente. A possibilidade de acumulação decapital imobiliário tinha estreito potencial nos EUA, o qual,já em dezembro de 2005, tinha sido absorvido pelaprodução de novas moradias. Esse é um problema paraa economia norte-americana, que terá de encontrar novaforma de expansão, mas não é, nem de longe, o maisimportante.

Relevância muito maior tem o segundo fator, aqueleque diz respeito ao aspecto financeiro do movimentoespeculativo. No início do segundo trimestre do correnteano, começaram a surgir problemas de inadimplência doscompromissos assumidos junto a bancos comerciaisrelativos ao financiamento hipotecário. Isso diminuiu ovalor dos títulos sob a forma hipotecas e MBS nosrespectivos mercados secundários e pôs a nu asdificuldades de mercados, como os de CDOs e os decotas de fundos institucionais, que não dispõem dosmesmos mercados.

Assim, diante da ocorrência dos problemascausados pela inadimplência hipotecária, os proprietáriosde CDOs ou de cotas de fundos institucionaissimplesmente ficaram com o “mico na mão”.

Em tal situação, tornou-se desconhecido o valortotal dos ativos das instituições financeiras possuidorasde hipotecas, MBS, CDOs e cotas referidas. Como éinevitável, a desconfiança recaiu sobre as mesmasinstituições. Para agravar a situação, deve-se lembrarque a recorrente consolidação de títulos tornou poucotransparente a qualidade dos ativos que possuem asdiferentes instituições financeiras. Assim, a desconfiançatornou-se difusa.

Mas há ainda mais problemas para levar emconsideração. Em meio à especulação imobiliária descrita

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neste trabalho, os bancos comerciais passaram a apro-veitar a oportunidade que a eles se oferecia. A oportuni-dade em referência consistia na possibilidade de obterganhos ao captar recursos a curto prazo, de juros maisreduzidos, e aplicá-los em operações a longo prazo, comjuros mais elevados. Essa prática se consubstanciavaatravés de Structured Investiment Vehicles (SIV), fun-dos formados pelos próprios bancos comerciais. Os SIVcaptavam recursos de curto prazo, emitindo commercialpapers, recursos estes que eram utilizados para financi-ar aplicações suas de longo prazo. Obviamente, a práti-ca obrigava a recorrente contratação de novoscommercial papers, à medida que os mais antigos ven-ciam. A recorrente contratação teria que ser mantida atéa data do vencimento dos ativos de longo prazo de pro-priedade dos bancos. Ao fazê-lo, os bancos comerciaisobtinham ainda outra vantagem: o passivo representadopelos commercial papers eram incluídos, não na conta-bilidade dos bancos comerciais, mas na dos fundos poreles criados. A não-inclusão dos passivos representa-dos pelos commercial papers na contabilidade dos ban-cos comerciais criava espaço para a não-observação dasregras prudenciais de endividamento impostas aos mes-mos bancos pelas autoridades monetárias.

Dada a já anunciada perda de qualidade dos ativoshipotecários, os mesmos tornaram-se objeto dedesconfiança. Por isso, perderam liquidez. Para prover-lhes a liquidez perdida, os bancos comerciais passarama incluí-los entre os ativos pertencentes aos SIVs. Assim,também no que respeita ao financiamento hipotecário,os bancos comerciais utilizaram-se de recursos de curtoprazo para financiar o longo prazo.

Visto pelos olhos de Minsky (1986), os bancoscomerciais, ao agirem da forma descrita, estariamtornando suas estruturas financeiras cada vez maisfrágeis, isto é, estruturas que, proporcionalmente,dispõem, cada vez menos, de recursos líquidos parahonrar seus compromissos financeiros vincendos. Daíproveria a imperiosidade de promover recorrenterenegociação de suas dívidas de curto prazo durantelongo período de tempo. Assim, ficariam expostos àcrescente fragilidade financeira, a qual significa riscosde prejuízos cada vez maiores diante de alterações nascondições do mercado de crédito de curto prazo, seja noque diz respeito ao montante que pode ser captado, sejano referente aos custos dos empréstimos renegociadosem comparação com os juros ativos de suas hipotecascontratadas anteriormente. É evidente que o crescimentoda fragilidade financeira em referência põe sobdesconfiança não só a saúde financeira dos bancoscomerciais, mas, via contágio, todo o sistema financeiro

em que se inserem. Pois, com a deterioração do sistemafinanceiro derivada da inadimplência hipotecária, as con-dições de empréstimos de curto prazo se deterioram ra-pidamente. Instituições financeiras passaram a descon-fiar umas das outras. O resultado não poderia ser outro:o crédito encolheu rapidamente.

Daí resulta o espetáculo vivenciado nos últimosmeses. O Federal Reserve (Fed) e vários outros bancoscomerciais do mundo desenvolvido foram obrigados abaixar taxas e juros e a prover liquidez para as instituiçõesfinanceiras em dificuldades. Não bastando isso, grandesgrupos financeiros, como o Bank of América, o JP MorganChase e o Citigroup, pretendem criar um fundo deemergência para garantir liquidez ao mercado decommercial papers. O valor do fundo de emergênciapretendido montaria entre US$ 80 bilhões e US$ 100bilhões (Grandes..., 2007). As ações dos bancos centraise dos grandes grupos financeiros justificam-seplenamente, pois se trata de impedir a eclosão de crisefinanceira internacional de grande monta.

Pelo que se descreveu até aqui, compreende-seque, em 2007, entrou em crise a forma de crescimentoeconômico norte-americana vigente no período de 2003a 2006. A perda de dinamismo da economia dos EUAdeverá envolver o resto da economia mundial. A crise decrescimento naquele país deriva tanto dasuperacumulação de capital no setor imobiliário norte--americano quanto do abalo sofrido pelo sistema finan-ceiro no mundo desenvolvido, em decorrência do finan-ciamento que viabilizou a mesma acumulação.

4 Observações conclusivas: o futuro, objeto de difícil trato

E o futuro, o que trará? O futuro é incerto, e, porisso, não é possível responder essa questão, apenaslevantar algumas hipóteses.

Com razão, em momentos como os atuais, é semprelembrada a possibilidade de repetição da depressão quetomou conta do mundo no decorrer dos anos 30 do séculoXX, pelo menos em alguns de seus aspectos maisimportantes. Não há como descartar, a priori, a mesmapossibilidade.

Mas também não se pode esquecer que, hoje, émuito maior o conhecimento disponível a respeito decomo funcionam as economias capitalistas e de comoelas devem ser tratadas quando à beira de catástrofes

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financeiras. A esse respeito, Keynes (1982) deixou aslições básicas indispensáveis. Além disso, a partir daexperiência dos anos 30 e dos ensinamentos de Keynes(1982), montou-se todo um arcabouço institucionaldestinado a antepor-se às mesmas catástrofes. Aliás,no fundo, é exatamente essa a mensagem de Minsky(1986), em seu Stabilizing an Unstable Economy. Nosmomentos de crise financeira, o Big Government (no casodos países que o possuem) e o banco central, ou oemprestador em última instância, devem entrarrapidamente em ação, com o objetivo de fazer a economiareagir. Para Minsky (1986), as economias tendem aresponder positivamente às ações estimuladoras deambos. Haverá o custo de inflação mais elevada a sertratado mais tarde, mas a crise será superada.

Mas, perguntando novamente, o que o futuro trará?E, novamente, a resposta é a de que o futuro é incerto.No entanto, tem-se que considerar que a confiança nosistema financeiro mundial foi fortemente abalada. Nomínimo, daí se pode esperar entraves ao crescimentoeconômico mundial, enquanto a confiança não forretomada. A recuperação da confiança pode levar umlongo período de tempo e exigir modificaçõesinstitucionais importantes na área financeira. O tempoexigido para tanto pode ser de dimensões parecidasáquele necessário nos anos 30 ou, ao contrário,conformar-se ao estabelecido por Minsky (1986).

Uma última questão também não respondida nestetexto: no caso de um abalo de grandes proporções dosistema financeiro internacional e, em especial, dos EUA,qual será a possibilidade de o dólar continuar a ser amoeda de reserva de valor internacional?

Questões como essas serão respondidas pelofuturo...

ReferênciasBEALES, Richard. US niggle became global problem. TheFinancial Times, New York, 10 Aug 2007.

BELLUZO, Luiz Gonzaga de Mello. Era da turbulência.Valor Econômico, São Paulo, 18 set. 2007.

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BRAGA, José Carlos de Souza. Finanças dolarizadas ecapital financeiro: exasperação sob comando america-no. In: FIORI, José Luiz. (Org.). O poder americano.Petrópolis; Vozes, 2004.

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* Artigo recebido em 05 nov. 2007.

** E-mail: [email protected]

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Indicadores da formação de uma plataforma exportadorade celulose no Rio Grande do Sul*

Maria D. Benetti** Economista do NAS-FEE

Um fato econômico novo e gerador de novasperspectivas para a economia estadual é a sua inserçãono processo de reorganização espacial das indústriasde papel e de celulose em âmbito mundial e nacional.

O texto que segue trata desse tema, procurandomostrar a importância dos investimentos de três grandesgrupos — Aracruz, Votorantim e Stora Enso — para aexpansão e a reestruturação da cadeia de produção eexportação de celulose e de papel no Estado.

A abordagem do tema é precedida de uma brevecaracterização da cadeia produtiva em implantação e dadescrição do meio ambiente econômico em que ocorre oque se está a chamar de um ciclo de expansão em grandeescala da indústria no Rio Grande do Sul.

1 Caracterização geral da cadeia produtiva de celulose e de papel

A produção de madeiras origina-se de duas espéciesflorestais principais: as coníferas, madeiras claras,macias (softwood), de fibra longa e densidade uniforme,obtidas, por exemplo, do pínus e da araucária; e as nãoconíferas, caracterizadas, de uma forma geral, comomadeiras duras (hardwood), de fibra curta e de cor edensidade diversas, como o mogno, o freijó e o eucalipto.Elas constituem matéria-prima de várias cadeiasindustriais de base florestal, dentre as quais, cabedestacar-se a da produção de celulose e de papel. Aprodução de celulose utiliza tanto a madeira de fibra longaquanto a de fibra curta.

Um esboço da cadeia produtiva de base florestalcom suas subcadeias é apresentado na Figura 1.

Os projetos em execução no Rio Grande do Sulreferem-se à produção de celulose obtida da madeira deeucalipto; portanto, de fibra curta. Não está prevista asua transformação em papel, destinando-se a matéria--prima ao mercado externo. A agregação de valor nacadeia é interrompida após o primeiro estágio detransformação industrial.

Uma das características principais do processoprodutivo da cadeia é a forte integração entre as plantasde celulose e a base florestal, tendendo as duas a selocalizarem proximamente. É por essa razão que areorganização espacial das indústrias de celulose de quese falava na abertura do texto traz consigo, ou melhor, éprecedida da implantação das florestas. Essa instalaçãocostuma ser feita através de três formas principais: plantioem terras próprias da empresa, em terras arrendadas oumediante contratos de produção com produtoresindependentes. Nos projetos das empresas analisadas,predominam as plantações em terras próprias, naproporção de 70% a 80%.

Uma outra característica do processo produtivo dacadeia de celulose e que o diferencia das agropecuáriasem geral é o ciclo longo de produção da matéria-prima,levando uma média de sete anos, segundo os padrõesbrasileiros.

As peculiaridades referidas implicam pesadasimobilizações de capital, em prazos longos, e podemexplicar em parte importante a prevalência de grandesempresas operando no setor de celulose.

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n.3, p. , 2007Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 21-28, fev. 2008

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22 Maria D. Benetti

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23Indicadores da formação de uma plataforma exportadora de celulose no Rio Grande do Sul

2 Marco geral da instalação das indústrias de celu- lose e de papel no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul, mais especialmente sua re-gião sul, pode ser considerado um dos “novos pólos dedesenvolvimento florestal”, constituindo-se numa áreaprivilegiada de expansão de novos empreendimentos nosetor, processo liderado por importantes gruposempresariais estrangeiros e nacionais, atuantes nomercado de pasta celulósica e de papel (Anu. Estat.ABRAF, 2007).

Esse processo que ocorre em âmbito estadual seinsere em um marco de forte globalização, centralizaçãopatrimonial e concentração da produção industrial.

Globalização, de um lado, significando o incrementodos fluxos de comércio, resultante do crescimentodesigual do consumo e da produção regional madeireiraem âmbito mundial. Globalização, também do ponto devista patrimonial, considerando o deslocamento relativodas indústrias de papel e celulose — do Hemisfério Nortepara o Sul.

A seguir, reproduz-se um trecho da Carta aosAcionistas, assinada pela Presidência da Stora EnsoInternacional (uma das três empresas analisadas, porestarem executando importantes projetos de instalaçãono RS), extraído do Relatório de Gestão de 2006. Eleilustra algumas características do padrão recente decrescimento da indústria de celulose e de papel emâmbito mundial: aumento das escalas competitivas deprodução e desconcentração dos ativos no HemisférioNorte. Contém, também, proposições que permitemassociar tais mudanças a estratégias de redução decustos da produção.

Os resultados da Stora Enso melhoraram noúltimo ano, mas ainda são menores que asmetas de rentabilidade estabelecidas. Emboraa demanda pelos nossos produtos tivessesido de uma forma geral boa, enfrentamoscustos crescentes. [...] O Programa deRevisão dos Ativos (APR) desenvolveu-semuito bem, e procedemos a desinvestimentosem fábricas e máquinas fora de escala. [...]Planejamos fechar duas em 2007, Reisholzna Alemanha e Berghuizer na Holanda. (StoraEnso Company, 2006, p. 6).

É interessante mencionar, nesse contexto, que aempresa sueco-finlandesa vendeu, em setembro de 2007,

sua filial nos Estados Unidos ao grupo de investimentosCerberus (Stora Enzo..., 2007a).

A realocação espacial das atividades florestais emâmbito mundial vem privilegiando o Brasil, mas incluindo,também, o Uruguai e a Argentina. Tendo em vista ainstalação e/ou a expansão concomitante desses gruposempresariais na região sul do Rio Grande do Sul e nosdois países platinos, é possível que esteja em processode rápida constituição uma nova plataforma produtora eexportadora de celulose no Cone Sul.1

Essa globalização dos ativos e da produção ocorreem meio a um aumento da luta competitiva no mercado,onde um dos fatores estratégicos da sobrevivência e dosucesso das empresas passou a ser a produtividadefísica das florestas plantadas. Certas regiões doHemisfério Sul são fortemente atrativas nesse aspecto.Basta comparar os índices obtidos na produção demadeira de eucalipto, no Brasil, em 2006 — 38m3 a41m3/ha/ano —, com os registrados em outros impor-tantes produtores, a Austrália e a região sul dos EstadosUnidos, onde os rendimentos atingiam níveis beminferiores, de 25m3/ha/ano e 6m3/ha/ano respectivamente(Anu. Estat. ABRAF, 2007).2 As empresas trabalham coma expectativa de que a produtividade atinja facilmente45m3/ha/ano no curto prazo.

A internacionalização da cadeia de base florestalbrasileira pode ser apreciada na Figura 2, que focalizaos três grupos econômicos em expansão no Rio Grandedo Sul.3 Ela estampa, e muito claramente, a presençade grandes grupos estrangeiros no setor, bem comoalgumas das formas privilegiadas de sua expansão e/ou

1 No Uruguai, por exemplo, foram implantadas fábricas de papel ede celulose da Espanha, da Finlândia e da Suécia; a áreaplantada com florestas aumentou, em 15 anos, de 30.000 para800.000 hectares. Na Argentina, a base florestal da indústriaatingiu 1 milhão de hectares (Inf. CEPEA, 2007). Em favor doargumento da formação do eixo, assinale-se a expansão,coincidente no tempo, da Stora Enso na fronteira sudoeste doRio Grande do Sul, no Uruguai e na Argentina. A empresa estáconstruindo uma fábrica de celulose no Departamento de RioNegro, no Uruguai, na altura onde o Rio da Prata se tornanavegável.

2 Com relação às espécies coníferas (pinho), também se observaa diferença de produtividade favorável ao Brasil: 27m3/ha/ano;22m3 na Nova Zelândia e 4m3 na Suécia (Anu. Estat. ABRAF,2007).

3 Não fazem parte do esquema, portanto, outros grandes grupos,como o Cenibra Celulose Nipo-Brasileira S/A — de capitaljaponês —, instalado em Minas Gerais, e que se constituíaanteriormente em sociedade com a Cia. Vale do Rio Doce; tambéma Klabin e a Suzano, todas produtoras de celulose branqueadade eucalipto.

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24 Maria D. Benetti

instalação: aquisições, troca de ativos, associações,joint ventures, etc., no Brasil.4 Mostra, também, asprofundas imbricações entre os interesses econômicosdos grupos estrangeiros e dos nacionais. Como exemplos,destacam-se a participação da Votorantim no capital socialda Aracruz e a desta última na construção da fábricaVeracel C&P em associação com a Stora Enso. Mas,além da complexidade das relações, quando sãoretratadas, impressiona, e muito, a velocidade com quesão feitas, desfeitas e refeitas, ademais, que tenhamcomeçado a ser tecidas muito recentemente, a partir doano 2000.

É importante registrar que a Aracruz é a primeiraprodutora nacional de celulose e que a Votorantim é asegunda; esta, por seu turno, ocupa a terceira posiçãona produção de papel, mas tem negócios, sob a formade associação, participação no capital, etc., com aSuzano e a Ripasa S/A Celulose e Papel, que figuramnos segundo e quinto lugares no ranking dos maioresprodutores de papel no País.

A Stora Enso (maior produtora européia de papel),que iniciou suas atividades produtivas no Brasil maistardiamente, em 2006, através da aquisição da ArapotiInd. de Papel Ltda., nesse mesmo ano, mediante essemecanismo, já ocupava a oitava posição no ranking douniverso das maiores empresas no mercado nacional.Recém se completava o desenho da arquitetura dasrelações empresariais, e sobreveio a informação (di-vulgada em setembro de 2007) de que a empresa sueco--finlandesa e a maior fabricante de produtos florestais noChile, a Celulosa Arauco y Constitución, haviam cele-brado uma parceria de troca de ativos e participaçãoconjunta em outros que incluíam parte dos que haviamsido adquiridos recentemente pela Stora Enso da norte--americana International Paper no Brasil.

Além da concentração patrimonial e de controle domercado, observa-se uma considerável convergênciaespacial na indústria brasileira de celulose e de papel.Os grandes grupos — tanto os recém-chegados quantoos estabelecidos, independentemente da nacionalida-de — haviam privilegiado o eixo São Paulo—EspíritoSanto para instalação, com alguma dispersão para osEstados da Bahia, do Paraná e de Minas Gerais, e rele-gado o Rio Grande do Sul a uma posição marginal.

4 Chama-se atenção, de um lado, para o fato de que a Figura 2estampa apenas as vinculações econômico-institucionais dastrês empresas com projetos estratégicos de expansãoimportantes no Rio Grande do Sul, deixando de incluir os eventosrelacionados a outros grupos relevantes, como são o Suzano eo Klabin.

São esses mesmos grupos globais que lideram, nomomento, o processo de desconcentração geográfica dosinvestimentos para o Rio Grande do Sul.

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26 Maria D. Benetti

3 Indicadores da importân- cia econômica dos novos investimentos para a ca- deia produtiva de celulo- se de eucalipto e de papel do Rio Grande do Sul

O segmento de florestas plantadas no Rio Grandedo Sul corresponde, praticamente a metade, à espéciedas não coníferas (eucalipto). No Brasil, mais de 60%das florestas estão associadas ao plantio do eucalipto.

Uma explicação para essa diferença pode encontrar--se no peso relativo das subcadeias produtoras demóveis, de celulose e de papel nos dois âmbitos. No RioGrande do Sul, a presença importante da indústria demóveis na economia de base florestal daria maiorembasamento ao plantio das espécies florestaisconíferas, enquanto a localização das grandes plantasde celulose e de papel em São Paulo, Minas Gerais,Espírito Santo e Paraná explicaria a relação favorável aoplantio dos eucaliptos no agregado nacional.

Cabe registrar, no entanto, que, na região nordestedo RS, está instalada uma empresa produtora de celulosee de papel (Cambará), que trabalha com a matéria-primaobtida do pinus taeda.5 Ela produz um tipo específico depapel para o mercado interno e em escala pequena deprodução. Já a Aracruz, a outra produtora de celulose noEstado, localizada em Guaíba, utiliza a madeira deeucalipto para a produção de celulose para exportação,não fabricando papel em sua planta estadual. De qualquermaneira, a Cambará e a Aracruz são as duas produtorasda matéria-prima no Estado, todavia com importânciasmuito diferentes com relação ao volume produzido. Veja--se que a Aracruz, sozinha, responde por 93,5% dafabricação da pasta celulósica.

Considerando as novas plantações de pínus e osprogramas de fomento ao seu plantio na região nordestedo Estado, como também as instalações de eucalipto naregião sul do Rio Grande do Sul, uma vez maturados osinvestimentos a elas associados, ter-se-ia a constituiçãode duas regiões bem distintas do ponto de vista da

silvicultura: a nordeste, produtora de pínus, e a sul, deeucalipto.

De qualquer forma, hoje e em termos globais, istoé, considerando os dois grupos principais de espéciesflorestais, o Rio Grande do Sul conta com, apenas, 7%da área das florestas plantadas brasileiras. No que dizrespeito à produção de celulose, o Estado contribui comapenas 4,3% do volume da produção industrial. São Pauloe Espírito Santo, onde se localizam os investimentosindustriais da Aracruz e da Votorantim, concentram maisda metade da produção (51,4%); os Estados da Bahia,de Minas Gerais, do Paraná e de Santa Catarinaparticipam, cada um, com quase 10%, com isso, che-gando perto dos 40%, os quais, somados aos doisestados líderes, totalizam 91% do volume da pastacelulósica.

No que se refere à produção de papel, aconcentração regional é ainda maior, uma vez que SãoPaulo, sozinho, detém 45,6% do volume produzido, eParaná e Santa Catarina logram uma participação de19,5% e 18,5% respectivamente. Os três juntosrespondem por 83,5% do papel produzido no Brasil. Apresença do Rio Grande do Sul é ainda menos expressiva,pois seu peso no agregado é de tão-somente 2,4%.

Assim, em resumo, em cada elo da cadeia, hoje émarginal a presença do Rio Grande do Sul, importânciarelativa que, como se acabou de ver, até diminui, namedida em que se avança na cadeia de agregação devalor: participação de 5,5% na área plantada comeucalipto, de 4,3% na produção de celulose e de 2,4%na de papel.

De qualquer forma, implantados e maturados osinvestimentos das empresas analisadas, o quadro atualalterar-se-ia profundamente, passando o Estado decoadjuvante muito secundário para protagonistaimportante nesse mercado.

A área relacionada ao plantio de florestas deeucalipto declaradas e que fazem parte do projeto deimplantação e/ou de expansão das empresas (360.000hectares) corresponderia a duas vezes a atual (180.000hectares) e equivaleria à área total plantada com pínus eeucalipto (365.000) hoje. No que diz respeito à baseflorestal, é indiscutível a relevância dos investimentos(Tabela 1).

Veja-se, ainda, que o plantio das áreas de eucalipto,efetivando-se na forma declarada nos projetos, permitiriaaumentar a produção dos atuais 2,6 milhões de m3 detoras de madeira para 13,7 milhões, ou seja, umincremento de mais de cinco vezes. Com esse volumede madeira, estima-se que poderiam ser produzidos cercade 3,8 milhões de toneladas de celulose, volume 8,5

5 Trata-se da empresa Cambará S/A Produtos Florestais, queproduz celulose sulfito fibra longa branqueada e papel tissuepara fins sanitários.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 21-28, fev. 2008

27Indicadores da formação de uma plataforma exportadora de celulose no Rio Grande do Sul

vezes maior do que o de 446.000 toneladas registradoem 2005.6

Com os novos investimentos, estima-se que asexportações de celulose estaduais poderiam passar das353.000 toneladas para algo em torno de 3,000 milhões

de toneladas. Estas, multiplicadas pelos preços médiosem dólares por tonelada exportada de celulose peloEstado em 2005, somariam mais de US$ 950 milhões,equivalendo a 8,5 vezes o valor das vendas externas noano.

6 A diferença significativa no aumento estimado da produção demadeira é explicada tanto pelo incremento da área plantadacomo também, e de forma muito importante, pelos aumentos daprodutividade. Estes, por sua vez, podem ser associados tantoa melhorias no processo de produção das mudas de eucalipto ede gestão da silvicultura em geral quanto a fatores naturais,como o clima.

Tabela 1

Indicadores da importância dos novos investimentos para a expansão da cadeia de celulose de eucalipto e de papel, por empresas

selecionadas, no Brasil e no Rio Grande do Sul — 2005 RIO GRANDE DO SUL

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Novos Investimentos (1)

(C) ∆% C/B

Área de florestas plantadas com eucalipto (ha) ....... 3 407 204 179 690 5,27 360 100 200,40

Madeira para papel e celulose (m3) (2) ........................ 54 698 479 2 561 881 4,68 13 700 000 534,76

Celulose (t) (2)

Produção.......................................................................... 10 352 000 446 073 4,31 3 752 760 841,29

Balança comercial

Exportações................................................................. 5 441 000 352 634 6,48 2 966 669 841,29

Importações ................................................................ 310 000 18 169 5,86 0 -

Saldo............................................................................ 5 131 000 334 465 6,52 2 966 669 886,99

Papel (t)

Produção.......................................................................... 8 597 307 204 149 2,37 (3)- -

Balança comercial

Exportações................................................................. 2 039 000 59 299 2,91 - -

Importações ................................................................ 770 000 91 010 11,82 - -

Saldo............................................................................ 1 269 000 -31 711 - - -

FONTE: ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA ABRAF 2007 — Ano-Base 2006. Brasília: Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas, FONTE: 2007. Disponível em: <http://www.abraflor.org.br/estatisticas.asp>. Acesso em: out. 2007. FONTE: ARACRUZ CELULOSE. Disponível em: <http://www.aracruz.com.br>. Acesso em: out. 2007. FONTE: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CELULOSE E PAPEL — BRACELPA. Relatório Estatístico 2006/2007. São Paulo, 2007. FONTE: IBGE/SIDRA. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: out. 2007. FONTE: STORA ENSO COMPANY. Disponível em: <http://www.storaenso.com>. Acesso em: out. 2007. FONTE: VOTORANTIM. Disponível em: <http://www.votorantim.com.br/ptb>. Acesso em: out. 2007. NOTA: Estimativas com base nos coeficientes registrados em 2005. (1) Relacionam-se à produção esperada pelas empresas Aracruz, Votorantim e Stora Enso. (2) Corresponde à madeira e à celulose de pínus e eucalipto para o Brasil e o Rio Grande do Sul em 2005; os novos investimentos relacionam-se à produção e ao processamento apenas da madeira do eucalipto. (3) Não há previsão de produção de papel nos projetos analisados.

♦ ♦ ♦

Antes de finalizar, deseja-se realçar, brevemente,algumas conclusões que aparecem dispersas no texto.

Os investimentos associados aos projetos de ex-pansão dos três grupos empresariais levam àestruturação de um considerável setor produtor decelulose e competitivo internacionalmente no Rio Grandedo Sul.

Isso ocorre dentro de um processo de reorganizaçãoespacial da cadeia de celulose e papel em âmbito mundiale nacional, liderado por grandes grupos globalizados eque integra a região sul do Estado ao mercadointernacional, na condição de plataforma de exportaçãoda matéria-prima. Tal movimento resulta de estratégias

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28 Maria D. Benetti

empresariais concebidas nos centros de decisão des-sas empresas, situados fora do Rio Grande do Sul.

ReferênciasANUÁRIO ESTATÍSTICO DA ABRAF 2007 — Ano-Base2006. Brasília: Associação Brasileira de Produtoresde Florestas Plantadas, 2007. Disponível em:<http://www.abraflor.org.br/estatisticas.asp>. Acessoem: out. 2007.

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STORA ENSO e Arauco fecham parcerias no Brasil.Valor OnLine, São Paulo, 28 set. 2007a. Disponívelem: <http://www.valoronline.com.br>. Acesso em: out.2007.

STORA ENSO COMPANY. Letter to shareholders.Finlândia, 2006. p. 6. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Stora_Enso>. Acesso em:out. 2007.

VOTORANTIM. Disponível em:<http://www.votorantim.com.br/ptb>. Acesso em: out.2007.

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* Artigo recebido em 10 out. 2007.

** E-mail: [email protected] A autora agradece a leitura atenta e crítica, bem como as sugestões, de Álvaro Antônio Louzada Garcia, Sônia Uni- kowski Teruchkin e Teresinha da Silva Bello, isentando-os por eventuais equívocos remanescentes.

Os investimentos diretos no exterior dos países emdesenvolvimento e a experiência

brasileira recente*

Beky Moron de Macadar** Economista e Doutora em Administração

Os investimentos diretos no exterior (IDEs) são umaestratégia de crescimento já consagrada entre asempresas transnacionais originárias dos paísesdesenvolvidos. Entretanto verificou-se que, na últimadécada, e cada vez mais, a mesma estratégia vem sendopraticada por empresas dos países em desenvolvimento(PEDs), visando aumentar sua competitividade. À medidaque as economias em desenvolvimento vão se tornandomais abertas, suas empresas têm que enfrentar aconcorrência com as transnacionais de outros países,tanto no mercado interno quanto no externo. Desse modo,os investimentos diretos no exterior aumentaram emimportância e estão sendo utilizados com diversasfinalidades: contornar as restrições estabelecidas poralguns países sobre produtos importados, fortalecer acompetitividade através das economias de escala,usufruir dos efeitos da especialização e do aprendizado,ter acesso aos mercados financeiros internacionais emcondições mais favoráveis, ou atingir um patamartecnológico mais avançado, dentre outros.

De fato, o processo de internacionalização dasempresas assume duas formas não excludentes: o aten-dimento de mercados externos via exportação e oinvestimento direto no exterior, seja para alavancarexportações, seja para implantar unidades produtivas.Freqüentemente, as estratégias para o aumento dasexportações via investimento direto no exterior visamsuperar diversos obstáculos que interferem na ampliaçãodas vendas, tais como barreiras não tarifárias,institucionais ou culturais. Além das despesas emprospecção de mercados, as empresas investem em redede distribuição, armazenamento do produto, logística de

transporte e cumprimento de requisitos técnicos ou dedemandas específicas do mercado.

Uma pesquisa realizada por Iglésias e Veiga (2002)registrou que, de um conjunto de empresas exportadorasbrasileiras de capital nacional com investimento diretono exterior, cerca de 85% das filiais são utilizadas ematividades de comércio e distribuição de produtos,enquanto os investimentos em unidades produtivasrepresentam 12% do total da amostra e estãoconcentrados nos setores têxtil, químico, metalurgiabásica e autopeças. Através dessa constatação, pode--se deduzir que uma parte dos investimentos registradosno Banco Central, no setor de serviços, é voltada paradar apoio às exportações de empresas industriaisbrasileiras (Coutinho; Hiratuka; Sabbatini, 2003).

Os objetivos deste trabalho são examinar os dadospublicados pela Conferência das Nações Unidas Para oComércio e Desenvolvimento (UNCTAD) no WorldInvestment Report 2006 (UNCTAD, 2006) em relaçãoaos investimentos diretos no exterior dos países emdesenvolvimento e analisar a situação do Brasil nessecontexto, utilizando os dados do censo CapitaisBrasileiros no Exterior (Bacen, 2006).

As motivações para a inter-nacionalização

De acordo com a UNCTAD (2006), a tendênciarecente à internacionalização de empresas dos paísesem desenvolvimento é pautada por quatro tipos de fatores.Primeiro, os fatores relacionados com o mercado, quetêm um peso importante no estímulo aos investimentosexternos. A excessiva dependência do mercado interno,a necessidade de obter novos clientes para produtosespecializados e o interesse em superar as barreiras aocomércio exterior encorajam a internacionalização.Segundo, o aumento dos custos de produção no país deorigem, principalmente o custo da mão-de-obra, que

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constitui um estímulo adicional à expansão no exterior.Terceiro, as pressões competitivas exercidas pelosfabricantes asiáticos — com seus produtos de mais baixocusto — sobre as empresas de outros países em desen-volvimento, que também impulsionam o deslocamentode investimentos para o exterior. Quarto, as normas dopaís de origem e do país receptor, bem como as políticasde apoio ao IDE e as privatizações, que são, igualmente,fatores que exercem sua influência nas decisões deinvestimento no exterior.

Ao mesmo tempo em que as empresas trans-nacionais de alguns países em desenvolvimento setransformam em importantes atores regionais e mundiais,as normas aplicadas pelos países desenvolvidos e pelospaíses em desenvolvimento aos IDEs vêm sofrendograndes modificações. Por um lado, há uma maiorconsciência de que existe uma forte relação entrecomércio exterior e investimentos diretos no exterior. Poroutro, há um reconhecimento de que a internacionalizaçãoé fundamental para o fortalecimento das empresas e paraa competitividade dos países em um ambiente onde aconcorrência ocorre em nível global (Alem; Cavalcanti,2005).

As empresas de capital nacional com investimentosdiretos no exterior pesquisadas por Iglésias e Veiga (2002)manifestaram que as necessidades de logísticaconstituem a principal motivação para realizarem IDE. Osegundo fator mais importante consiste no costume dasempresas de comprarem, preferencialmente, de outrasempresas já instaladas no país. O terceiro fatormencionado é a necessidade de acompanhar astendências do mercado, para adaptar produtos.

Por que a internacionaliza-ção das empresas de capitalnacional é necessária?

Na década de 90, quando começaram a ser sentidosos efeitos da abertura econômica no Brasil, ficou cadavez mais claro que as empresas brasileiras de capitalnacional deveriam fazer um esforço para se tornaremcompetitivas em nível global, visando manter suaparticipação no mercado interno e ampliar seus negóciosno mercado internacional. Através dessa estratégia deinternacionalização, o fortalecimento da empresa poderiaelevar o número de empregos da economia, ao contráriodo que ocorreria, caso uma empresa não internacio-

nalizada viesse a fechar suas portas pela impossibi-lidade de concorrer com outras empresas do exterior.

Por outra parte, em um ambiente de acirradaconcorrência internacional, o desempenho do próprio paísdepende da competitividade das firmas nacionais emmercados estrangeiros. Assim, a internacionalização dasempresas nacionais torna-se fator fundamental paraincrementar a competitividade internacional e parapromover o desenvolvimento do país, facilitando o acessoa recursos e mercados.

As empresas podem responder aos desafios daconcorrência utilizando suas vantagens competitivas parase internacionalizarem, usufruindo de vantagensespecíficas relacionadas com a propriedade de ativos,por exemplo, tecnologias, marcas ou algum outro tipo depropriedade intelectual. Já aquelas empresas cujos ativossão insuficientes para enfrentar a concorrência globalpodem optar por uma estratégia diferente, adquirindonovos ativos no país de destino, para melhorar suacompetitividade, tais como: tecnologias da informação,redes de distribuição, conhecimentos em pesquisa edesenvolvimento e competências na gestão dos negóciosque talvez sejam inexistentes no país de origem.

De acordo com a UNCTAD (2006), as experiênciasinternacionais dos países tanto desenvolvidos quanto emdesenvolvimento evidenciam o efeito positivo dainternacionalização sobre as exportações do país deorigem dos recursos. Além disso, observa-se umacorrelação positiva entre o aumento das exportações dafirma doméstica e a participação da produção de suasfiliais na sua produção total.

A internacionalização das empresas é importantetambém para garantir e expandir os mercados para seusbens e serviços. Tendo acesso a mercados maiores, asempresas podem usufruir de economias de escala e deescopo e adquirir conhecimentos que lhes permitamreduzir custos, fortalecer suas finanças e reinvestirlucros. Esses benefícios poderão reverter para outrasempresas do país de origem, graças aos efeitos detransbordamento, onde a empresa que abre o caminhopassa a demandar bens e serviços de outras empresasnacionais, estabelecendo, com isso, novos padrões dequalidade e competitividade.

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Panorama mundialDe acordo com o relatório da UNCTAD (2006), em

2005, o fluxo de investimentos diretos no exteriororiginários das economias em desenvolvimento alcançouo nível recorde de US$ 133 bilhões, representando 17%do total mundial. A maioria desses investimentos tevecomo destino outros países em desenvolvimento,favorecendo o crescimento e a interação Sul-Sul. Alémdisso, entre 1990 e 2005, o número de países emdesenvolvimento com um fluxo anual de saída de IDEsuperior a US$ 5 bilhões aumentou de seis para 25.

Essa maior participação das empresas transna-cionais dos PEDs reflete o reconhecimento da neces-sidade de elas se instalarem em alguns países-chave,para manter ou ampliar sua participação de mercado emnível mundial, diante da intensificação da concorrênciainternacional. De acordo com a UNCTAD (2006), oestoque acumulado de saídas de IDE originadas nospaíses em desenvolvimento, em 2005, alcançou uma cifrapróxima a US$ 1,4 trilhão, ou 13% do total mundial. Nessemesmo ano, 71% do estoque de investimentos diretosno exterior dos PEDs originou-se de Hong Kong, IlhasVirgens Britânicas, Federação Russa, Cingapura, Taiwane Brasil (Tabela 1). Saliente-se que, dentre todos os paíseslatino-americanos listados, o estoque de IDE brasileiro éo mais elevado. Entretanto os fluxos de IDE origináriosdo Brasil são ainda muito pequenos, quando comparadosao tamanho de sua economia e à formação bruta decapital fixo do País.

As regiões e as economias de origem das maioresempresas transnacionais dos países em desenvolvimentomudaram muito pouco nos últimos 10 anos, embora asoriginárias da Ásia em desenvolvimento tenhamaumentado sua importância. Em 2004, Hong Kong (China)e Taiwan, juntas, possuíam 40 das 100 maiorestransnacionais dos PEDs, seguidas por Cingapura, com14, e China, com 10. Nesse ano, 77 das 100 maioresempresas transnacionais dos PEDs eram asiáticas. Dasoutras 23 listadas, 10 eram da África do Sul; oito, doMéxico; três, do Brasil1; uma, da Venezuela; e uma, doEgito (UNCTAD, 2006).

Apesar do crescimento acelerado das trans-nacionais dos PEDs, ainda existe um abismo entre essas

e as procedentes de países desenvolvidos. Para ilustrara diferença, basta mencionar que o conjunto dos ativosexternos das 100 maiores transnacionais dos PEDs nãoconseguiu superar, em 2004, o total de ativos externosda General Electric.

Uma parcela significativa dos IDEs é originada emparaísos fiscais, sendo as Ilhas Virgens Britânicas o maiorexpoente dessas operações. A UNCTAD (2006) estimaque, em 2005, US$ 123 bilhões de IDE foram realizados,indiretamente, através dessas ilhas. A circulação de IDEutilizando a intermediação de paraísos fiscais dificulta aelaboração de estatísticas do volume real deinvestimentos realizados por determinado país ouempresa. Isso também acontece com os IDEs brasileiros,dos quais mais da metade do estoque foi direcionadapara esses locais.

A UNCTAD (2006) esclarece que nem todos osfluxos de IDE registrados pelos países-hóspedes sãorecursos externos para investimento nesses países, sejaporque podem ter sido originados no próprio paíshospedeiro e fizeram a viagem de ida e volta (round--tripping), seja porque estão destinados a serem aplicadoscomo IDE em terceiros países (trans-shipping).

O tratamento diferenciado dado por alguns paísesa investidores estrangeiros em relação aos nacionais eos diferenciais de impostos explicam a existência dasviagens de ida e volta. O exemplo mais notável é o daChina e de Hong Kong. No caso da China, parte dasviagens de ida e volta são realizadas via Hong Kong.Estima-se que entre 25% e 50% dos ingressos de IDEnaquele país provêm das próprias empresas chinesas,que visam aproveitar os incentivos governamentaisconcedidos aos investimentos estrangeiros. Issoexplicaria a classificação atingida por Hong Kong comoa principal economia dentre os PEDs, em termos deestoque de saída de IDE, em 2005.

Uma outra parcela de IDE é investida em holdingsou organizações do gênero, não só em paraísos fiscais,mas também em países desenvolvidos, tais comoLuxemburgo, França, Alemanha e Portugal. No caso dospaíses desenvolvidos, é difícil calcular o percentual detriangulação dos IDE, mas, quando se trata de paraísosfiscais, a UNCTAD (2006) estima que a maior parte dosingressos é redirecionada para terceiros países.

Considerando a dificuldade de acompanhar inte-gralmente a circulação dos IDEs, a UNCTAD (2006)recomenda que a interpretação dos dados leve emconsideração essas questões e as complemente comoutras informações estatísticas das atividades dastransnacionais e de suas filiais, tais como vendas,emprego, comércio e P&D.

1 As três empresas brasileiras que constam na lista das 100maiores transnacionais dos PEDs são a Petrobrás, a CompanhiaVale do Rio Doce e a Metalúrgica Gerdau S/A, classificadas em12º, 25º e 33º lugar respectivamente, de acordo com o valordos ativos externos.

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Quanto às atividades mais procuradas pelos IDEsdos países em desenvolvimento, as preferências recaemsobre o Setor Terciário, tais como o comércio, as finançase os serviços relacionados com o comércio. Contudo osinvestimentos no setor manufatureiro e no Setor Primárionão são desprezíveis.

Vantagens e desvantagensdos IDEs

Os IDEs dos países em desenvolvimento podembeneficiar não só os países receptores, mas também ospaíses de origem. Na medida em que a empresa seexpande no exterior, aumentam o conhecimento adquirido,a experiência e a capacidade de lidar com o resto do

mundo. As vantagens específicas podem ser apro-fundadas, com reflexos na competitividade e nosresultados. Os IDEs podem ser a forma mais direta demanter e ampliar sua participação de mercado e, quandoexistem barreiras ao comércio, ou quando a empresatransnacionalizada fornece serviços não comerciali-záveis, os IDEs podem ser a única forma de ampliar seumercado em determinados países.

As empresas que investem no exterior tendem aser mais competitivas do que aquelas que servem apenaso mercado interno (Iglésias; Veiga, 2002; Arbix; Salerno;De Negri, 2005; Salerno; De Negri, 2005; Coutinho;Hiratuka; Sabbatini, 2003). Além disso, os benefícios dainternacionalização nem sempre se restringem ao paíshospedeiro ou às próprias empresas investidoras. Oaumento da competitividade e dos lucros poderátransbordar para outras empresas e agentes econômicosdo país de origem, tais como universidades e centros depesquisa, e refletir-se não só na transferência deconhecimentos, mas também no emprego, nasexportações e no balanço de pagamentos.

Por outra parte, a saída de IDE não deixa deapresentar alguns riscos potenciais para o país deorigem, uma vez que pode ocasionar a redução deexportações e do investimento interno e causar a perdade empregos em alguns setores. Contudo, mesmo quandoa instalação de uma unidade produtiva no exteriorocasiona, inicialmente, a redução das exportações damatriz, é possível que, a médio e longo prazos, talsituação seja revertida. Considerando que, no comérciointernacional, o intrafirma é uma das categorias quecresce mais rapidamente, existe o potencial de ampliaçãodas exportações do país de origem a partir do comércioentre a matriz e a sua filial.

Além disso, é necessário levar em conta os efeitosdinâmicos dos IDEs e a importância destes para asobrevivência das empresas de capital nacional, oaumento da competitividade do país e a redução davulnerabilidade externa (Alem; Cavalcanti, 2005). OsIDEs, por exemplo, ao ampliarem os mercados paraprodutos e serviços das empresas nacionais através dasdiversas formas de internacionalização, podemproporcionar as condições para se atingirem aseconomias de escala necessárias para competirglobalmente. Além do mais, aqueles países cujosmercados internos são relativamente competitivos e nosquais existe a capacidade para aproveitar tecnologiasmais avançadas estão mais aptos a usufruir dosbenefícios dos IDEs realizados por suas empresas.

Via de regra, no início, o saldo líquido dos fluxosfinanceiros tende a ser negativo para o país de origem,

Tabela 1

Principais economias em desenvolvimento classificadas em função do montante acumulado

de saída de IDE — 2005

ORDEM PAÍS VALOR (US$ bilhões)

1° Hong Kong, China ………. 470

2° Ilhas Virgens Britânicas .... 123

3° Federação Russa .............. 120

4° Cingapura ......................... 111

5° Taiwan .............................. 97

6° Brasil ................................. 72

7° China ................................. 46

8° Malásia .............................. 44

9° África do Sul ..................... 39

10° Coréia do Sul .................... 36

11° Ilhas Cayman .................... 34

12° México …………………….. 28

13° Argentina …………………. 23

14° Chile ………………………. 21

15° Indonésia …………………. 14

Outros …………………….. 122

TOTAL ……………………. 1 400 FONTE: UNCTAD. World Investment Report 2006: FDI FONTE: from developing and transition economies: implications for development. New York: United FONTE: Nations, 2006.

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mas, posteriormente, a situação gradativamente seinverte. O resultado final dos efeitos econômicos e nãoeconômicos no país de origem vai depender da própriaeconomia desse país e dos motivos e das estratégiasque levaram as empresas a investirem no exterior.2

Apesar de os IDEs envolverem a saída de capitalem direção ao exterior, também podem representar umingresso de capitais na forma de lucros e royalties porexemplo, bem como contribuir para o aumento dasexportações ao país hospedeiro, geralmente através docomércio intra-indústria.

Nos casos em que a empresa internacionalizadaprocura recursos naturais, o investimento no estrangeiropode gerar, no país de origem, um aumento dasimportações desses recursos e das exportações dosinsumos necessários à sua extração. Quando a procuraé por mercados, isso pode favorecer a exportação deprodutos intermediários e de bens de capital do país deorigem em direção ao país receptor. Se a motivação é aeficiência ou a redução de custos, o investimento podetrazer benefícios tanto às exportações quanto àsimportações, em função do comércio intrafirma e deatividades de produção internacional integradas.

No que diz respeito ao emprego, os resultadostambém dependem da motivação do investimento. OsIDEs motivados pela busca da eficiência podem acarretarmuitos problemas sob a ótica do país de origem. Mesmoquando aumentam a demanda por trabalhadoresespecializados no país de origem, o efeito sobre ostrabalhadores não especializados pode ser negativo. Osdados levantados pela UNCTAD (2006) em relação aalgumas economias asiáticas, como Hong Kong eCingapura, indicam que os investimentos no exteriorpodem gerar, no país de origem, empregos para técnicose administradores, mas reduzi-los para os trabalhadoresnão especializados.

Diante das evidências de uma relação custo//benefício positiva como resultado dos IDEs dasempresas nacionais, os países em desenvolvimentobuscam, cada vez mais, eliminar os obstáculos para asaída de IDE. Inclusive, vários governos, principalmente

na Ásia, fomentam suas empresas a investirem noexterior através de uma série de medidas de apoio, taiscomo o repasse de informações, atividades deintermediação, incentivos financeiros e fiscais e coberturade seguro para os investimentos no exterior. Embora oBrasil ainda não tenha definido medidas oficiais de apoioà internacionalização das empresas de capital nacional,já assinou acordos de proteção de investimentos comdiversos países. Além disso, o BNDES tem uma linhade crédito específica para o financiamento deinvestimentos ou projetos que contribuam para promoveras exportações brasileiras.

Os investimentos diretosbrasileiros no exterior

Diversas pesquisas confirmaram os benefíciostrazidos pelos IDEs e a relação positiva entre IDE eexportações. No entanto, os IDEs das empresasbrasileiras de capital nacional ainda são muito baixos.Iglésias e Veiga (2002) atribuem esse fato a três fatores:ao processo macroeconômico, pouco favorável aoaumento do investimento global da economia; a algumascaracterísticas das exportações brasileiras (tipo deproduto exportado, origem do capital dos exportadoresem que são necessários os investimentos, concentraçãode destinos); e ao baixo coeficiente de exportação damaioria dos exportadores brasileiros de manufaturados.A pesquisa de Iglésias e Veiga (2002) também mostrouque o principal motivo pelo qual 40% das empresasexportadoras de capital nacional da amostra nãoinvestem no exterior é porque não têm necessidade, sejapelas características do produto exportado (commoditiespor exemplo), seja pelas características do mercado dedestino, seja por fatores sobre os quais a empresa nãotem controle.

As empresas brasileiras acumulam ativosespecíficos, que estão relacionados à maior dotação derecursos naturais e à mão-de-obra da economia brasileira,quando comparada com outras economias. Nossegmentos industriais mais intensivos nesses fatoresde produção, a capacidade de diferenciação do produtoe a inovação da firma tendem a ser menores, portanto,os ativos específicos que viabilizam a internacionalizaçãoda empresa são a escala de produção e o know-how deproduzir bens padronizados de menor custo e preço.Pesquisa realizada por Salerno e De Negri (2005) confirmaque a escala de produção das firmas brasileiras cominvestimento direto no exterior é significativamente

2 Por exemplo, diante da valorização do real, algumas empresascalçadistas brasileiras emigraram para a China, buscando aredução de custos através do uso da mão-de-obra mais baratanesse país. Em conseqüência, os efeitos imediatos foram oaumento do número de desempregados nas regiões produtorase a transferência de recursos para o exterior. Entretanto, se ascondições locais voltassem a favorecer a produção de calçadosno Brasil, algumas empresas voltariam a investir no País, trazendoum acúmulo de conhecimentos adquiridos no exterior que iriaaumentar sua competitividade.

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superior à daquelas que não investem no exterior e,inclusive, superior à das firmas transnacionais. Arbix,Salerno e De Negri (2005, p. 184), por sua vez, testando,através de um modelo econométrico, os fatoresexplicativos da probabilidade de a firma industrial brasi-leira realizar investimentos no exterior, concluíram que“[...] a inovação tecnológica de produto novo para omercado é positiva e fortemente correlacionada com acondição de as firmas industriais brasileiras realizaremID [investimento direto]”.

Prochnik, Esteves e Freitas (2006) testaram ecomprovaram para o Brasil que as empresas industriaisde capital brasileiro que realizam IDE têm produtividademuito mais elevada que as congêneres que somenteexportam. A produtividade destas últimas, por sua vez,é significativamente maior que a daquelas que nãoexportam nem investem. Os autores concluem que “[...]a estratégia de inovação, a política de recursos humanosdas empresas e o seu porte e produtividade sãodimensões relevantes para explicar o grau deinternacionalização das firmas brasileiras” (Prochnik;Esteves; Freitas, 2006, p. 342) e ressaltam que a variávelmais importante é o percentual de pessoas ocupadasem P&D.

Com base no censo Capitais Brasileiros noExterior (Bacen, 2006) — série iniciada pelo BancoCentral a partir da declaração de 2001 —, é possívelanalisar, em detalhe, algumas características dasoperações internacionais de empresas brasileiras.Conforme os dados censitários de 2001 a 2005, oscapitais brasileiros no exterior passaram de US$ 68,6bilhões para US$ 111,7 bilhões. Desses totais, a parcelacorrespondente ao estoque de investimento diretobrasileiro no exterior aumentou de US$ 49,7 bilhões paraUS$ 79,3 bilhões, considerando as participações nocapital de empresas no exterior superiores a 10%, alémdos empréstimos intercompanhia (Tabela 2).

No que se refere ao ramo de atividade receptorados investimentos brasileiros diretos, o censo de 2005— repetindo o padrão de anos anteriores — evidencia aabsoluta predominância do investimento em serviços(91%), sendo intermediação financeira e atividadesauxiliares da intermediação financeira, seguros e pre-vidência complementar responsáveis por 49,1% do total.Quanto aos serviços prestados às empresas,predominam, nessa rubrica, que representa 36,1% dosIDEs em serviços, as despesas na constituição deholdings no exterior, para administrar os negóciosinternacionais de instituições financeiras e empresas.

Investimentos diretos declarados como sendodestinados especificamente à indústria totalizavam

apenas US$ 5,2 bilhões em 2005 (cerca de 8% dos IDE),dos quais US$ 3,4 bilhões foram para a indústria extrativa,e US$ 1,8 bilhão, para a indústria de transformação. Aconstrução civil, que, em 2002, representava 3,5% dosIDEs, teve sua participação reduzida para 0,9%. Essesdados confirmam que os investimentos produtivosbrasileiros no exterior são muito baixos e que a maiorparte dos investimentos registrados no Banco Centralestá direcionada aos serviços de intermediação financeirae aos serviços prestados às empresas.

Confrontando as informações dos ramos deatividade com as informações sobre os países de destinodo investimento, infere-se que uma elevada parcela dosinvestimentos diretos brasileiros no exterior estárelacionada, em todos os anos censitários, com a buscade ganhos de capital através de vantagens fiscais,cambiais e financeiras em paraísos fiscais. Prova dissoé que — repetindo o comportamento dos censosanteriores —, no censo de 2005, três dos quatro principaispaíses detentores do estoque de IDEs brasileiros sãoparaísos fiscais: as Ilhas Cayman na liderança (com US$15,1 bilhões), seguidas pela Dinamarca (US$ 9,5 bilhões),Ilhas Bahamas (US$ 7,5 bilhões) e Ilhas VirgensBritânicas (US$ 7,3 bilhões). Esses quatro países eramresponsáveis por 60,2% do estoque total de inves-timentos diretos brasileiros no exterior, em 2005, mastudo leva a crer que boa parte desses recursos foiredirecionada para outros países. Estados Unidos,Luxemburgo, Espanha, Argentina e Uruguai são paísesque também mantêm importantes estoques de IDEbrasileiro. No que diz respeito aos empréstimosintercompanhias, em 2005, 82,3% do total continuaramconcentrados nas Ilhas Cayman, no valor de US$ 11,4bilhões.

Não obstante o Banco Central ainda não terdivulgado os dados censitários para o ano de 2006, asinformações constantes no Boletim do Bacen (2007)permitem inferir algumas informações relevantes sobreos IDEs. A constituição líquida de novos investimentosbrasileiros diretos no exterior, em 2006, atingiu o valorrecorde de US$ 28,2 bilhões, influenciada por umamegaoperação no setor de mineração.3 Com isso, osfluxos de IDE superaram, pela primeira vez, a entradade investimentos estrangeiros diretos no País, cujos

3 O resultado de 2006 foi marcado pela compra da mineradoracanadense Inco por parte da Companhia Vale do Rio Doce. Aoperação, pelo valor de US$ 17,8 bilhões, representou,aproximadamente, 65% do total dos investimentos diretosbrasileiros no exterior, nesse ano.

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35Os investimentos diretos no exterior dos países em desenvolvimento e a experiência brasileira recente

ingressos líquidos totalizaram US$ 18,8 bilhões. Do totaldas remessas líquidas, US$ 23,4 bilhões referiram-se aaumento de participações no capital, enquanto osempréstimos de empresas brasileiras a subsidiárias noexterior alcançaram o valor de US$ 4,8 bilhões.

Nos primeiros seis meses de 2006, o resultadolíquido dos investimentos diretos brasileiros no exteriorapresentou uma saída líquida de capital da ordem deUS$ 4,5 bilhões, ao contrário do primeiro semestre de2007, quando o retorno desses investimentos ultrapassoua saída, resultando em uma entrada líquida de US$ 3,5bilhões. Entretanto o comportamento das participaçõesno capital não se alterou substancialmente no primeirosemestre de 2007, em relação ao mesmo período doano anterior, visto que, em ambos os períodos, houve

uma saída líquida de US$ 4,6 bilhões e US$ 4,5 bilhõesrespectivamente. A principal diferença ocorreu nosempréstimos intercompanhias, onde as subsidiárias deempresas brasileiras no exterior reverteram a direção dosfluxos de anos anteriores e, no lugar de tomar emprestadoda matriz, passaram a fornecer recursos para a mesma.Assim, no primeiro semestre de 2007, houve um ingressolíquido de empréstimos intercompanhias de US$ 8,0bilhões, enquanto, no mesmo período de 2006, essa contaapresentou um saldo líquido de apenas US$ 23 milhões.Tal comportamento estaria sinalizando a busca devantagens financeiras na arbitragem cambial e nodiferencial de juros, mais elevados no Brasil do que noexterior.

Tabela 2

Estoque de investimento direto no exterior do Brasil — 2001-05

DISCRIMINAÇÃO 2001 2002 2003 2004 2005

TOTAL ........................................................................................ 49 689 54 423 54 892 69 196 79 259

Investimento direto (participação acionária superior a 10%) ...... 42 584 43 397 44 769 54 027 65 418

Empréstimos intercompanhia (1) ................................................ 7 104 11 026 10 123 15 169 13 842

FONTE: Banco Central do Brasil. (1) Inclui empréstimos, financiamento e leasing e/ou arrendamento.

Considerações finaisO aumento dos IDEs dos países em desenvolvi-

mento está produzindo a emergência de novos atorestransnacionais de peso, que disputam espaços antesocupados de forma quase inconteste pelas transnacionaisdos países desenvolvidos. Os países da Ásia são osparticipantes mais ativos na corrida pela internacio-nalização de suas empresas e estão vários passos àfrente em relação ao Brasil e a outros países latino--americanos. Embora a internacionalização de empresasbrasileiras tenha avançado bastante nos últimos anos,como mostram os dados censitários do CapitaisBrasileiros no Exterior (Bacen, 2006), os IDEs aindacontinuam sendo pequenos em relação ao PIB e àformação bruta de capital fixo do País.

A forte heterogeneidade estrutural prevalecente naeconomia brasileira manifesta-se nas significativasdiferenças de produtividade entre as empresas que não

se internacionalizam, aquelas que apenas exportam eas que investem no exterior. Além das persistentesincertezas macroeconômicas da economia brasileira, dascaracterísticas do comércio exterior do País e da baixarelação entre exportações e faturamento das empresas,outros aspectos devem ser considerados: é possível queas restrições mais relevantes para a maiorinternacionalização das empresas brasileiras sejam suabaixa capacidade de poupança interna, as restrições domercado de capitais doméstico e as dificuldades deacesso ao financiamento externo.

Além disso, o Brasil, por ser um país continental,ainda continua tendo uma economia relativamentefechada, quando comparada com a de outros PEDs.Apesar da abertura econômica praticada a partir dos anos90, a maior parte das empresas está voltada para omercado interno. Para que as empresas exportadorasbrasileiras de capital nacional intensifiquem seus IDEs,a parcela das exportações em relação ao faturamento

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36 Beky Moron de Macadar

necessariamente terá que ser muito mais significativa.Ademais, maior investimento em inovação de produtose processos, bem como uma oferta mais diversificadade produtos exportados, são condições sine qua non parao aumento de ativos proprietários que sustentem acompetitividade dessas empresas no exterior.

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37Indústria em 2007: produção e produtividade do trabalho em alta

Indústria em 2007: produção e produtividade dotrabalho em alta*

Silvia Horst Campos** Economista da FEE e Professora da FACE-PUCRS

O terceiro trimestre de 2007 foi conturbado emtermos do cenário financeiro internacional. Após umperíodo favorável, propiciado, em parte, pela trajetória dastaxas de juros de longo prazo norte-americanas e pelobom crescimento do comércio mundial e das economiasemergentes, eclodiu uma forte turbulência financeira,decorrente da inadimplência no crédito imobiliário de maiorrisco, nos Estados Unidos, com prováveis repercussõessobre o lado real da economia.

O desempenho da economia brasileira até o iníciodo mês de outubro, contudo, dava sinais de não ter sidomuito afetado pela crise financeira internacional, mesmoporque esta ainda não se havia alastrado efetivamentepara o lado real da economia. Com relação à indústria,os parâmetros estabelecidos pela política econômicagarantiram, em grande parte, a expansão do nível deatividade industrial em 2007. Fatores como a continuidadeda trajetória de redução da taxa de juros básica (Selic), aampliação do gasto público, a expansão do crédito, oaumento da renda e a elevação dos investimentosprodutivos, dentre outros, foram decisivos para asustentação da taxa de crescimento acumulada no anoaté agosto.

Neste artigo, efetuam-se inicialmente brevescomentários sobre a conjuntura econômica nacional efaz-se a análise dos principais indicadores de desempenhoda indústria. Na seqüência, examina-se o comportamentoda indústria gaúcha em comparação com o da indústriabrasileira, finalizando com uma análise da evoluçãorecente da produtividade do trabalho em nível global edas atividades industriais.

Conjuntura nacional edesempenho da indústriabrasileira

O bom resultado do PIB no segundo trimestre e asprojeções de crescimento em 2007, juntamente com ocomportamento da indústria geral — Pesquisa IndustrialMensal-Produção Física (PIM-PF) — em agosto,alimentaram o otimismo presente em diversos segmentosda sociedade brasileira, em torno do atual ciclo expansivoda economia nacional. Esse ciclo é o terceiro desde 1999,o quinto desde a implementação do plano Real e, talcomo os demais, também tem a política monetária comoseu principal determinante, sendo a atividade econômicaextremamente sensível à taxa de juros (Prates, 2007).

Um aspecto a ser destacado refere-se ao incre-mento mais acentuado da demanda interna (consumomais investimento), bastante alimentado pela expansãodas importações, impulsionadas pela valorização cambial.Majoritariamente de bens intermediários e de bens decapital, representando, respectivamente, 59,5% e 13,9%do total importado no acumulado de janeiro a agosto,1

essas importações, de um lado, fazem parte de umconjunto de estratégias adotadas pelo setor empresa-rial na tentativa de compensar parte da perda de competi-tividade do produto brasileiro decorrente da desvalorizaçãodo dólar frente ao real e, de outro, porém, significam queuma parte representativa da demanda não vem sendosuprida por incremento da produção interna de bensindustriais. Além do papel das importações, destaca-se,

1 Essa situação é diferente da ocorrida em 2000 e 2004, quando ocrescimento do PIB superou o da demanda doméstica, tendosido acompanhado por uma expansão das exportações superiorà das importações (Prates, 2007). Conforme a Fundação Centrode Estudos do Comércio Exterior (Funcex), as importaçõesbrasileiras cresceram 27,8% nos primeiros oito meses de 2007,na comparação com o mesmo período em 2006, com uma taxade crescimento 11,6 pontos percentuais maior que a expansãode 16,2% das exportações (B. Com. Ext., 2007).

* Artigo recebido em 31 out. 2007.

**E-mail: [email protected] autora agradece à colega Clarisse Chiappini Castilhos oscomentários efetuados à versão preliminar deste artigo e aoestagiário em Economia Gustavo Meira Carneiro o apoio téc-nico na elaboração das tabelas e gráficos.

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ainda, a contribuição fortemente positiva da formação brutado capital fixo, do aumento do mercado interno —estimulado pela expansão do crédito, pela redução dosjuros e pelo alongamento dos prazos de financia-mentos — e da ampliação do gasto público (Lanzana,2007).

As projeções de crescimento do PIB em 2007apontam uma taxa de até 5%, em parte apoiada nodesempenho da indústria, um importante indicadorantecedente do PIB.2 De fato, a comparação das taxasde crescimento desses dois agregados mostra umaevolução quase sempre na mesma direção, embora empatamares diferentes. A trajetória ascendente dosindicadores de produção física acumulados mensalmenteao longo do ano, calculados pelo IBGE, chegando aagosto com acréscimos de 5,3% para o período de janeiroa agosto e de 4,5% para os últimos 12 meses, econtinuando a tendência de recuperação iniciada nosegundo semestre de 2006, serve de base para a referidaprojeção de expansão do PIB.

Esse comportamento favorável da indústria brasileirano período jan.-ago./07 foi fortemente influenciado pelosavanços de 17,6% na produção de bens de capital,principalmente máquinas e equipamentos agrícolas eequipamentos industriais, e de 6,9% na fabricação debens de consumo duráveis, impulsionados pelo aumentona produção de veículos automotores. Ambos os setoresvêm sendo beneficiados pelo incremento da demandainterna e pela melhora das expectativas dos empresários.Também com taxas positivas, porém inferiores à médiaglobal de 5,3%, tem-se a produção de bens intermediários(4,2%) e a de bens de consumo semi e não duráveis(3,2%) (Indic. IBGE, 2007). Por sua vez, na série livre deinfluências sazonais, no mês de agosto, manteve-se atrajetória de crescimento da indústria geral brasileira(quebrada apenas no mês de julho), tendo crescido 1,3%frente a julho, reflexo de taxas positivas observadas em17 dos 22 ramos considerados na pesquisa.

O bom desempenho medido pelos indicadores doIBGE também foi acompanhado pelos dados gerados pelaConfederação Nacional das Indústrias (CNI). Todas asvariáveis pesquisadas pela instituição registraram variaçãopositiva no acumulado de jan.-ago./07, frente ao mesmoperíodo do ano anterior (Indic. Industr., 2007). O destaque

é o comportamento das vendas reais da indústria, quecresceram 4,3% nessa comparação, acompanhadas pelaexpansão das horas trabalhadas na produção, emboracom taxas levemente inferiores, e pelo aumento no nívelde utilização da capacidade instalada da indústrianacional para 83,6%, um nível considerado “[...] baixodemais para ameaçar a inflação, mas alto o bastantepara incentivar novas decisões de investir” (Indústria...,2007, p. 1).

Esse crescimento da indústria no Brasil tem sidoacompanhado por um aumento expressivo na produti-vidade do trabalho. Como se sabe, a modernização doprocesso produtivo faz-se usualmente com a incor-poração de tecnologia mais sofisticada, que garante umamaior produção com menor necessidade de mão-de-obra.

Produção e produtividadedo trabalho na indústriagaúcha

A indústria de transformação no Rio Grande do Sulapresentou, em agosto, variação negativa de 0,2% emrelação ao mês anterior, no qual havia crescido 0,5%, nasérie livre de influências sazonais. Contudo, nascomparações com o ano anterior, os resultados têm sidosempre positivos, confirmando a trajetória de recuperaçãoda indústria gaúcha e desfazendo a imagem altamentedesfavorável de 2006, quando o RS foi o que menoscresceu dentre os estados brasileiros pesquisados peloIBGE. De fato, na comparação com o ano anterior, nomês de agosto de 2007, houve um crescimento de 6,0%,e o resultado acumulado no período jan.-ago./07 avançou8,1%. Por sua vez, a taxa anualizada, indicadoracumulado nos últimos 12 meses, confirma a trajetóriaascendente que se vinha mostrando nos últimos meses,crescendo inclusive mais do que a indústria brasileiradesde junho do ano em curso, conforme pode servisualizado no Gráfico 1.

Mas foi só depois de um longo período de taxasanualizadas negativas (jul./05-mar./07) que a indústria detransformação gaúcha passou a refletir a melhoria dodesempenho mensal, já detectado na série livre deinfluências sazonais. A obtenção de uma boa safra agrícolaem 2007, além das excelentes perspectivas para 2008,aliada à melhoria da renda agrícola em razão darecuperação desse setor (intensamente afetado pela secado verão de 2005), a queda da taxa de juros, a expansãodo crédito (novas linhas e melhores condições de

2 A indústria, em especial a de transformação, é considerada umindicador antecedente do PIB, devido às suas características deprodução. Além disso, é o “[...] segmento cujo crescimento exercemaior poder de alavancar o crescimento dos demais setores e,portanto, com mais potencial para contribuir para o crescimentoda produtividade da economia” (Primeiro..., 2007, p. 1).

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39Indústria em 2007: produção e produtividade do trabalho em alta

financiamento), o aumento do emprego, da massa derendimentos real e da renda interna e o bom desempenhodas exportações destacam-se como os principaisresponsáveis pela atual recuperação da indústria gaúcha.E o desempenho poderia ser melhor, se não fosse amanutenção da valorização cambial, que, devido àexistência de importantes atividades produtivas comgrande inserção no comércio internacional, tem restringidoo seu crescimento.

No âmbito das atividades pesquisadas,considerando-se todos os indicadores, conformeapresentado na Tabela 1, destacam-se refino de petróleoe álcool, máquinas e equipamentos e fabricação deveículos automotores. Em termos de produtos, têm-se,respectivamente, produção de gasolina, naftas parapetroquímica, ferramentas hidráulicas de motor nãoelétrico, semeadores, automóveis e semi-eixos e outraspeças para transmissão.

As maiores quedas ocorreram em fumo, couro ecalçados, celulose, produtos de metal — exclusivemáquinas e equipamentos e mobiliário. A pior situação éa da fabricação de calçados e artigos de couro, umaatividade duramente atingida pela valorização do real eque tem tido a sua competitividade afetada no mercadointernacional, devido à ameaça representada pelosprodutos asiáticos, principalmente chineses, muito maisbaratos. Uma estratégia adotada pelos empresários dosetor é a produção de sapatos de maior valor agregado,comercializados em faixas de preço mais elevadas, commarca própria, ou sob o conceito de marca Brasil.

A performance relativamente positiva da indústriagaúcha em 2007 também repercutiu favoravelmente sobreos índices locais de produtividade industrial. Medida pelarazão entre o índice da quantidade de itens produzidos eo índice do número de horas pagas, ela aumentou 9,3%,nos primeiros oito meses de 2007, no Rio Grande doSul, um resultado 4,2 pontos percentuais superior ao domesmo período em 2006, conforme pode ser observadona Tabela 2. De modo geral, contribuiu para essedesempenho, além do crescimento econômico, a adoçãode políticas e estratégias empresariais que buscamampliar a absorção de tecnologia, maior incentivo àinovação, maior inserção exportadora e produtiva naeconomia mundial.

Esse aumento, que supera, inclusive, o obtido em2004, ano em que a produção física industrial gaúchacresceu 6,4%, e a produtividade, 7,1%, deve ser creditado,em larga medida, à expansão da produção industrial(8,1%), tendo em vista a redução no indicador de horaspagas (-1,1%). Trata-se de uma situação diferente daobservada na indústria de transformação nacional, onde

o crescimento da produtividade acumulado no ano (3,9%),quase um ponto percentual acima do aumento médio de3% nos últimos quatro anos, se deu com ampliaçãodessas duas variáveis e também do pessoal ocupadoassalariado.

O crescimento mais intenso da produção industrialem 2007, em detrimento da expansão do emprego, vemsendo impulsionado pelo bom desempenho dasatividades menos intensivas em mão-de-obra, taiscomo máquinas e equipamentos, veículos automotorese refino de petróleo e álcool. Os investimentos em bensde capital, particularmente, aumentam a capacidadeinstalada, mas também modernizam seus equipamentos,conseqüentemente afetando a geração de novos postosde trabalho. Além disso, há que se considerar asubstituição de bens industriais antes produzidosinternamente por importados, favorecida pelo câmbiovalorizado, diminuindo a demanda de mão-de-obra dosetor industrial. É importante lembrar, também, que oemprego costuma apresentar uma reação defasada comrelação ao aumento da produção industrial, pois depende,dentre outros fatores, da confiança dos empresários nacontinuidade do crescimento da economia (Salgado,2007).

Os resultados negativos relativos ao pessoalocupado assalariado e ao número de horas pagas naindústria de transformação gaúcha de janeiro a agostode 2007, que se somam ao fraco desempenho do anoanterior, contudo, têm sido compensados pelocrescimento da renda dos trabalhadores no setor. A folhade pagamentos real, que é um indicador da evolução dossalários industriais, já cresceu 7,2% entre janeiro e agostodeste ano, na comparação com o mesmo período de 2006.

O crescimento da produtividade industrial no RioGrande do Sul ocorreu em sete das 10 atividadespesquisadas, cinco delas acompanhadas de incrementosna produção física, mas apenas uma delas — veículosautomotores — experimentou também expansão nonúmero de horas pagas. Essa constatação reforça oargumento de que a elevação da produtividade na indústriade transformação gaúcha vem acontecendo em razão deum processo de expansão da produção física, conformepode ser observado nas Tabelas 1 e 2.

Os maiores acréscimos de produtividade ocorreramem refino de petróleo e álcool (50,5%), máquinas eequipamentos (33,3%), veículos automotores (17,4%) eborracha e plástico (10,2%), que são os ramos em quese observaram excepcionais taxas de crescimento daprodução física nos primeiros oito meses de 2007 (comexceção de borracha e plástico) e que respondiam porcerca de 25% do valor da transformação industrial (VTI)

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do Rio Grande do Sul, medido pela Pesquisa IndustrialAnual (PIA-IBGE) de 2005 (Indic. IBGE, 2007). Fatorescomo o aumento da capacidade instalada, em decorrênciade investimentos realizados, a recuperação daagropecuária, a recomposição da renda do produtor rural,a diminuição das taxas de juros e as condições favoráveisdo crédito têm impulsionado a produção nessas atividadesindustriais.

Também com acréscimos de produtividade, emboraabaixo da média da indústria de transformação, situam-sefabricação de fumo (7,0%), calçados e artigos de couro(7,6%) e metalurgia básica (8,7%). Principalmente comrelação às duas primeiras atividades, que contribuem com15,1% do VTI, é preciso cuidado no exame do significadodesses incrementos de produtividade. Na verdade, tantoa produção física quanto o número de horas diminuíramexpressivamente no período em análise, sendo um reflexoda situação de crise por que passam essas indústrias. Avalorização da taxa de câmbio iniciada no segundosemestre de 2004 e intensificada em 2007 afetounotadamente o seu desempenho, tendo em vista o seuperfil marcadamente exportador no Rio Grande do Sul.

Sobressai aqui o caso da indústria coureiro-calçadista,pelo seu enorme potencial gerador de empregos, umavez que emprega 25,9% da mão-de-obra industrial,segundo a PIA de 2005, e que vem desempregando nosúltimos dois anos, face à diminuição das quantidadesproduzidas para exportação.

O último grupo é composto por aquelas atividadescom taxas negativas de variação da produtividade(alimentos e bebidas (-4,5%), outros produtos químicos(-7,1%) e produtos de metal — exclusive máquinas eequipamentos (-31,4%)), que, juntas, respondiam por36,5% do VTI e por 26,3% do pessoal ocupado na indústriado Estado, em 2005. Nesses casos, foi observada umaexpansão maior no número de horas pagas,acompanhada de uma evolução também positiva noemprego industrial. O conjunto de resultados positivosda indústria de alimentos e bebidas é significativo para aeconomia gaúcha, por ser uma importante empregadorade mão-de-obra e, conforme alertam Breitbach e Castilhos(2007, p. 78), “[...] pelo fato de ser uma atividaderelativamente bem distribuída no território, contribuindopara o dinamismo das economias locais”.

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Brasil RS

(%)

FONTE: IBGE. Produção Física Industrial; número-índice (2006/2007). Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: FONTE: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 out. 2007.NOTA: Os índices são acumulados dos últimos 12 meses.

Taxas de crescimento da produção física da indústria de transformação do Brasil e do Rio Grande do Sul — jan./04-ago./07

Gráfico 1

Legenda:

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41Indústria em 2007: produção e produtividade do trabalho em alta

Tabela 1

Taxas de crescimento da produção física, por seções e atividades da indústria, no Rio Grande do Sul — ago./06 e ago./07

(%)

MENSAL (1) ACUMULADA NO ANO

ACUMULADA EM 12 MESES

ATIVIDADES INDUSTRIAIS

Ago./06 Ago./07 Jan.- -Ago./06

Jan.- -Ago./07

Até Ago./06

Até Ago./07

Indústria de transformação ..................................... -2,5 6,0 -3,5 8,1 -3,6 5,8 Alimentos e bebidas ................................................ 9,4 -1,2 5,8 4,0 5,7 3,9 Fumo ....................................................................... -14,2 -27,7 -8,8 -5,9 -7,0 -4,7 Calçados e artigos de couro ................................... -1,6 -3,9 -7,8 -10,0 -10,8 -10,3 Celulose, papel e produtos de papel ....................... 7,8 -9,3 5,1 -4,0 1,3 -2,1 Edição, impressão e reprodução de gravações ...... 21,8 -19,4 -3,8 4,2 -2,5 3,8 Refino de petróleo e álcool ..................................... -13,3 44,6 -9,5 41,4 -0,3 30,2 Outros produtos químicos ....................................... 2,4 -2,9 -1,2 2,9 -2,4 3,5 Borracha e plástico ................................................. 8,4 4,1 4,8 6,1 1,4 7,0 Metalurgia básica .................................................... -12,0 13,6 -0,7 8,0 -1,4 5,4 Produtos de metal — exclusive máquinas e equi-pamentos ................................................................ -18,0 8,3 -12,2 -1,3 -11,2 -3,2 Máquinas e equipamentos ...................................... -16,6 35,0 -18,2 31,8 -17,7 14,3 Veículos automotores ............................................. 1,1 30,8 3,6 29,6 1,4 24,5 Mobiliário ................................................................. 0,5 -3,2 3,0 -1,9 -3,0 1,8

FONTE: IBGE. Produção Física Industrial; número-índice (2006/2007). Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 out. 2007. (1) Sem ajustamento sazonal; os dados têm como base igual mês do ano anterior.

Tabela 2 Taxas de crescimento da produtividade industrial na indústria de transformação, segundo as atividades,

no Brasil e no Rio Grande do Sul — jan.-ago./06 e jan.-ago./07 (%)

BRASIL RIO GRANDE DO SUL

Produtividade (1) Produtividade (1) Indicadores (jan.-ago./07) ATIVIDADES INDUSTRIAIS

Jan.- -ago./06

Jan.- -ago./07

Jan.- -ago./06

Jan.- -ago./07

Produção física

Número de horas pagas

Folha de pagamento

real

Pessoal ocupado

assalariado

Indústria de transformação ........ 2,5 3,9 5,1 9,3 8,1 -1,1 7,2 -0,9 Alimentos e bebidas .................. -4,3 -1,5 9,0 -4,5 4,0 8,9 11,7 6,6 Fumo ......................................... 11,5 7,3 -0,8 7,0 -5,9 -12,1 -14,3 -10,2 Calçados e artigos de couro ...... 4,5 5,6 5,6 7,6 -10,0 -16,3 -5,1 -13,3 Refino de petróleo e álcool ........ -8,7 -7,2 -12,3 50,5 41,4 -6,0 8,6 3,2 Outros produtos químicos .......... -4,1 3,7 0,7 -7,1 2,9 10,9 23,9 11,9 Borracha e plástico .................... 4,2 4,2 19,7 10,2 6,1 -3,7 8,1 -3,5 Metalurgia básica ....................... 2,3 2,0 3,1 8,7 8,0 -0,7 -3,5 -2,5 Produtos de metal — exclusive máquinas e equipamentos ........ 0,2 -0,3 -4,5 -31,4 -1,3 43,9 44,3 32,1 Máquinas e equipamentos ......... 9,1 11,9 -9,1 33,3 31,8 -1,1 5,0 -0,5 Veículos automotores ................ -0,8 5,2 3,4 17,4 29,6 10,4 13,9 7,3

FONTE: IBGE. Produção Física Industrial; número-índice (2006/2007). Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: FONTE: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 out. 2007. FONTE: IBGE. Pesquisa Industrial Mensal: emprego e salário (PIMES); número-índice (2006/2007). Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: FONTE: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 13 out. 2007. (1) Produção física/horas pagas.

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42 Silvia Horst Campos

Considerações finaisO desempenho das indústrias brasileira e gaúcha

nos primeiros oito meses de 2007 — respectivamente,5,3% e 8,1% — mostrou recuperação frente ao mesmoperíodo em 2006, num contexto de uma políticamacroeconômica que favoreceu a atividade industrial,exceção feita aos segmentos que enfrentam perdas decompetitividade decorrentes do processo de valorizaçãocambial em curso.

A análise setorial dos resultados deixou evidenteque o aumento da produtividade tem relação com ocrescimento da produção. No Rio Grande do Sul, isso éparticularmente visível, mesmo porque aqui não houveexpansão das horas pagas na mesma intensidade doocorrido na indústria brasileira. Tanto o aumento daprodução industrial quanto o de produtividade ocorreramnas três atividades que alavancaram o desempenho daindústria gaúcha (onde também houve redução ou umacréscimo menor das horas pagas): refino de petróleo eálcool, máquinas e equipamentos e veículos automotores.Dentre os fatores que impulsionaram essa expansão,destacam-se a queda na taxa de juros, a melhoria dascondições de crédito, o aumento da massa derendimentos real, a ocorrência de uma boa safra agrícolaem 2007 e a também muito importante elevação deinvestimentos produtivos na economia brasileira.

ReferênciasBOLETIM DE COMÉRCIO EXTERIOR. Rio de Janeiro:FUNCEX, ano 11, n. 9, set. 2007.

BOLETIM DE CONJUNTURA. Rio de Janeiro: IPEA, n.78, set. 2007.

BREITBACH, Áurea C. de M.; CASTILHOS, Clarisse C.Indústria: sinalização de mais uma década perdida?Indicadores Econômicos FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 4,p. 73-82, mar. 2007.

IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acessoem: 13 out. 2007.

INDICADORES IBGE: pesquisa industrial mensal:produção física Brasil. Rio de Janeiro, ago. 2007.Disponível em:<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores>.Acesso em: 08 out. 2007.

INDICADORES INDUSTRIAIS: Sumário Executivo.Brasília: CNI, ano 18, n. 8, ago. 2007.

INDÚSTRIA — o crescimento é o mais importante.Análise IEDI, São Paulo, n. 2, out. 2007.

LANZANA, Antonio. Nível de atividade. InformaçõesFipe, São Paulo, Fundação Instituto de PesquisasEconômicas, n. 324, p. 8-10, set. 2007.

PRATES, Caio. Panorama macroeconômico. Economia& Conjuntura, Rio de Janeiro, UFRJ, Instituto deEconomia, ano 7, n. 83, p. 5-16, set. 2007.

PRIMEIRO semestre de produtividade industrial em alta.Carta IEDI, n. 279, set. 2007.

SALGADO, Raquel. Produtividade cresce 3,9% atéagosto com alta do emprego. Valor Econômico, SãoPaulo, p. A5, 16 out. 2007.

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43Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05

Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05*

Sheila S. Wagner Sternberg** Engenheira Química da FEE

O presente artigo, que faz um balanço da evoluçãodo mercado de trabalho formal no Rio Grande do Sul, noperíodo 1994-05, contemplando as distintas trajetóriasregionais, integra o projeto intitulado Identificação eRegionalização das Estruturas Produtivas e PadrõesDinâmicos dos Municípios e Territórios do Rio Grandedo Sul na Transição Para o Século XXI1, desenvolvidono Núcleo de Estudos Regionais e Urbanos da FEE. Osresultados apresentados procuram contribuir para oentendimento da dinâmica recente do emprego formalno Estado, identificando os setores de atividade e asregiões nas quais vem ocorrendo a geração, ou adestruição, de postos de trabalho.

O tratamento analítico considera as 35 micror-regiões da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE)2 que compõem o RS como unidadede análise e vale-se da Relação Anual de InformaçõesSociais (RAIS), uma base de dados do Ministério doTrabalho e Emprego (MTE), que fornece informaçõessobre o emprego formal em 31 de dezembro de cadaano. Ainda que restrita ao mercado formal de trabalho,essa base apresenta informações bastante detalhadassobre essa parcela de trabalhadores, contemplandoclassificações setoriais, atributos dos trabalhadores,rendimento, dentre outros, constituindo-se em fontevaliosa e, por isso mesmo, obrigatória para se conhecera dinâmica do emprego. Além disso, por permitir aabertura dos dados no nível dos municípios, possibilita a

apreensão da dinâmica dos mercados regionais detrabalho no período mais recente.3

Sem deixar de reconhecer a riqueza e a importânciados dados da RAIS, é preciso que se façam algunscomentários a respeito de suas limitações. Conformeadverte o Ministério do Trabalho e Emprego, essa base éconstituída por registros administrativos e, por isso,passíveis de apresentarem erros, decorrentes, especial-mente, do fato de as informações oriundas das empresasrespondentes não sofrerem crítica. Muitos dos errosexistentes na base devem-se ao preenchimento incorretoe/ou à omissão de campos dos formulários, especialmen-te no caso de municípios menores e de alguns setores esubsetores da economia. Evidentemente, quanto maisdesagregada a informação que se busca na base, maioré a margem de erro, o que recomenda cautela na utilizaçãodesses dados.

O texto está organizado em três seções, além dasConsiderações finais. A primeira trata da evolução doemprego no agregado estadual. A segunda e a terceiraseções analisam o comportamento do emprego nasmicrorregiões em que o Estado se subdivide,considerando inicialmente a totalidade do emprego e, aseguir, a sua desagregação nos principais setores deatividade. Finalmente, as conclusões apontam asprincipais evidências sobre o comportamento do mercadode trabalho formal no Estado e nas suas microrregiões.

O comportamento do em-prego no agregado esta-dual

No período 1994-05, o emprego formal no RioGrande do Sul avançou de cerca de 1,8 milhão para algo

3 O Censo Demográfico do IBGE também fornece informaçõessobre o mercado de trabalho nos municípios. Nesse caso,contudo, o último dado disponível é o de 2000.

Tópicos regionais Tópicos regionais Tópicos regionais Tópicos regionais Tópicos regionais

* Artigo recebido em 04 out. 2007.

** E-mail: [email protected]

1 Esse projeto conta com financiamento do CNPq, através do Edital MCT/CNPq 50/2006 — Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas.

2 As microrregiões geográficas foram instituídas pela Resolução da Presidência do IBGE (IBGE, s. d.).

A autora agradece a cuidadosa leitura e as sugestões dos co- legas Maria Isabel H. da Jornada, Guilherme Xavier de F. Sobrinho, Mirian R. Koch, Ricardo Brinco, Rosetta Mammarella,Tanya Barcellos, Ivan Tartaruga e Maria Heloísa Lenz. Agradece ainda ao estagiário de Geografia Rodrigo Araújo.

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44 Sheila S. Wagner Sternberg

em torno de 2,2 milhões de indivíduos, acusando ageração líquida de aproximadamente 450,8 mil postos,com uma variação de 25,3% (Tabela 1). Tal crescimento,por si só bastante significativo, ganha maior destaquese se considerar que, no período analisado, no Estado, apopulação4, a População em Idade Ativa (PIA) e aPopulação Economicamente Ativa (PEA)5 tiveramaumentos de 13,9%, 22,6% e 18,5% respectivamente.

O contingente empregado cresceu em praticamentetodos os anos — apenas em 1995 houve retração, e, em1996, relativa estabilidade —, destacando-se o ano de2004 como o de maior variação positiva, tanto em termosabsolutos (acréscimo de 114,2 mil postos de trabalho)como percentuais (variação de 5,5% em relação a 2003).Além disso, é possível observar que, de 1994 a 1998, aperformance do emprego foi pior do que a registrada apartir de 1999. Esse movimento reflexo das mudançasna política econômica6, evidencia a retomada de fôlegodo segmento formal após a mudança do regime cambial,confirmando a tendência de diminuição do nível deinformalidade nos anos mais recentes, já apontada emdiversos estudos sobre o mercado de trabalho nacionale também estadual.7

O comportamento setorial (Tabela 1) evidenciatambém, na quase-totalidade dos setores, um melhordesempenho nos anos finais do período estudado (a partirde 1999). A única exceção é a agropecuária8, em que onúmero de postos gerados até 1999 (7.822 postos)superou o que foi acrescido nos anos subseqüentes (477postos), resultando, em termos globais, no acréscimode 8,3 mil postos, o que corresponde a uma variação de12,8%. Ao final do período estudado, esse setor abrigava73,3 mil trabalhadores formais.

O comportamento dos setores que compõem o Ter-ciário — comércio, serviços e administração pública —

chama especial atenção pelo volume de postos criadosno período. Em conjunto, esses setores incorporaram422,7 mil novos trabalhadores, o que corresponde a umavariação de 40,8% entre os anos extremos do período.Dentre esses setores, o serviços foi o que mais sedestacou, com elevação de contingente em praticamentetodos os anos, registrando, no cômputo total do período,a maior variação do Terciário em termos tantos absolutos(incorporação de 220,1 mil empregados) como percentuais(52,7%). No comércio, que exibiu queda nos doisprimeiros anos e crescimento nos demais, foramacrescidas, entre os anos extremos do período, 133,6mil vagas, com uma variação de 48,0%. A administraçãopública, que alternou recuos e avanços do nível deemprego, chegou a 2005 com um acréscimo de 20,3%,pela, incorporação de 69 mil indivíduos.

O Setor Secundário, com queda do nível de empregoaté 1998 e elevação nos anos seguintes, contabilizou,ao final do período, um acréscimo de 15,8%, pela adiçãode cerca de 96 mil novos postos de trabalho. Dos setoresque compõem o Secundário, a saber, indústria detransformação, construção civil, extrativa mineral eserviços industriais de utilidade pública (SIUP), apenasos dois últimos9 setores, que têm pequena representati-vidade no emprego estadual,10 apresentaram queda de-13,1% e -21,0% respectivamente, enquanto os demais,tiveram elevação do número de empregados.A construção civil acusou, no cômputo total do período,aumento de 17,1% no pessoal empregado. A indústriade transformação11, setor mais severamente atingidopelas medidas de política econômica12, ostentou quedado nível de emprego até 1998, expansão até 200413 enova queda em 2005, resultando em um saldo líquido de92,1 mil postos gerados, o que corresponde a umavariação de 18,0% entre 1994 e 2005.

4 Dados populacionais informados pelo IBGE e pelo Núcleo deIndicadores Sociais da FEE.

5 Os dados de População em Idade Ativa e de PopulaçãoEconomicamente Ativa têm como fonte a Pesquisa Nacionalpor Amostragem de Domicílios (PNAD) do IBGE e referem--se ao período 1993-2005, já que, em 1994, não houve PNAD.

6 Para mais detalhes sobre o movimento do emprego estadual,ver Jornada (2004) e Sternberg (2005).

7 A esse respeito, ver, dentre outros, Ramos e Ferreira (2005),Jornada (2004) e Sternberg (2005; 2007).

8 Lembre-se que, em função do baixo nível de formalização derelações de trabalho existente na agropecuária, a RAIS não é afonte mais adequada para o acompanhamento do emprego nestesetor. Assim sendo, neste artigo, fazem-se apenas algunspoucos comentários sobre o emprego na agropecuária.

9 Observe-se que esses dois setores foram os únicos, dentre osnove considerados, a apresentar diminuição de contingente noperíodo analisado.

10 A extrativa mineral representou, em todo o período, algo emtorno de 0,2% do emprego estadual; e o SIUP, cerca de 1%.

11 Esse setor, por seu peso no emprego do Secundário (cerca de85% ao longo do período analisado), acaba por determinar omovimento do emprego do agregado setorial.

12 Sobre o comportamento do emprego industrial no RS, no períodoanalisado, ver textos sobre o Plano Real.

13 Também na indústria de transformação, assim como no empregototal, o ano de 2004 foi o que apresentou o melhor desempenho,com o acréscimo de 51,8 mil postos e uma variação de 9,1% emrelação a 2003.

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45Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05

O Gráfico 1, ao explicitar o movimento do empregonos principais setores de atividade14, em cada um dosanos do período estudado, deixa mais clara a contribuiçãode cada um deles para a geração de vagas no agregadoestadual. Como se vê, na maior parte dos anos, aperformance dos setores do Terciário — capazes de gerarpostos de trabalho mesmo em um contexto de baixocrescimento e, por vezes, de recuo do emprego indus-trial —, especialmente a do setor serviços, foi a granderesponsável pelo crescimento do emprego formal. Do totalde postos acrescidos no período,15 41,3% deveram-seao setor serviços; 25,0%, ao comércio; 17,3%, à indústriade transformação; e 12,9%, à administração pública,evidenciando o significativo peso do Setor Terciário nageração de vagas, responsável por 79,2% do total depostos de trabalho acrescidos ao mercado formal do RSno período 1994-05.

Refletindo as distintas intensidades de variação doemprego em cada um dos setores, ao final do período, aestrutura setorial do emprego no RS modificou-se. O setorserviços, que, em 2005, contava com 637,8 mil emprega-dos formais, ampliou sua participação em 5,1 pontospercentuais, abrigando, nesse ano, 28,5% dos trabalhado-res do RS, assumindo o lugar da indústria de transforma-ção, como maior absorvedor de mão-de-obra formal noEstado. A indústria de transformação, que experimentourecuo em sua participação, passando de 28,7% em 1994para 27,1% em 2005, contava, no último ano, com 604,7mil empregados. A administração pública, com recuo de0,8 ponto percentual em sua participação, e o comércio,com ganho de 2,8 pontos percentuais chegam a 2005com praticamente a mesma ponderação no empregoestadual, abrigando, respectivamente, 18,3% (409,7 miltrabalhadores) e 18,4% (411,9 mil trabalhadores) dosempregados formais estaduais. Os demais setoresmantiveram-se com pouca expressão na estrutura doemprego estadual.

14 Consideram-se apenas indústria de transformação, comércio,serviços e administração pública, já que esses foram os setoresque concentraram a maior parcela dos empregados formais noRS, abrigando, em conjunto, cerca de 90% do total ao longo doperíodo analisado.

15 Consideram-se aqui apenas os setores com saldo positivo deemprego no período analisado.

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46 Sheila S. Wagner Sternberg

Tabela 1

Evolução do emprego formal, por setores de atividade, no RS — 1994-05

ANOS

EXTRATIVA MINERAL

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

SERVIÇOS INDUSTRIAIS DE

UTILIDADE PÚBLICA

CONSTRUÇÃO CIVIL

COMÉRCIO

1994 5 559 512 577 27 732 60 934 278 396 1995 4 172 478 693 25 690 63 779 268 601 1996 3 929 477 778 23 691 63 671 262 694 1997 4 565 463 703 21 802 72 854 279 946 1998 4 577 454 168 18 611 75 645 287 844 1999 4 257 480 281 16 214 67 709 305 107 2000 4 800 514 104 18 711 68 538 312 527 2001 4 793 540 664 19 160 73 238 334 576 2002 4 397 558 083 18 844 67 109 352 343 2003 4 452 570 851 21 673 67 719 365 471 2004 4 770 622 693 19 349 72 188 394 740 2005 4 831 604 695 21 910 71 328 411 942

ANOS SERVIÇOS ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

AGROPECUÁRIA OUTROS/ /IGNORADO

TOTAL

1994 417 660 340 679 64 964 76 171 1 784 672 1995 470 071 330 336 74 979 12 847 1 729 168 1996 471 754 354 515 73 993 3 771 1 735 796 1997 491 178 350 318 73 225 1 076 1 758 667 1998 507 575 364 676 70 870 347 1 784 313 1999 505 122 363 722 72 786 31 1 815 229 2000 539 861 365 139 70 020 89 1 893 789 2001 560 860 378 766 67 480 0 1 979 537 2002 573 259 378 167 69 502 0 2 021 704 2003 575 744 395 187 71 696 0 2 072 793 2004 608 893 390 483 73 859 0 2 186 975 2005 637 772 409 727 73 263 0 2 235 468

FONTE: RAIS-MTE.

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47Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05

pouco mais de dois terços do emprego formal do Estado.17

Nesse ano, as demais microrregiões tinham,individualmente, participação inferior a 2,5% no empregoestadual (Tabela 2).

Ao longo do período analisado, a trajetória doemprego, na maior parte das microrregiões, foi, em linhasgerais, convergente com a apresentada pelo agregadoestadual. Ainda assim, as diferentes intensidades devariação em cada uma das microrregiões, em cada umdos anos analisados, bem como eventuais divergênciasde trajetória em alguns contextos, fizeram com que, aofinal do período, o resultado líquido observado nasmicrorregiões se diferenciasse (Tabela 2).

Apenas duas microrregiões — Campanha Central(-4,7%) e Jaguarão (-1,8%) — tiveram retração docontingente formalmente empregado, tendo sidoresponsáveis, em conjunto, pela supressão de 1177postos de trabalho no período analisado. As demais 33microrregiões, seguindo o comportamento do agregadoestadual, exibiram aumento do pessoal com vínculo

16 Uma análise mais acurada do emprego regional necessitariaque se incorporassem dados sobre a População em Idade Ativa,a População Economicamente Ativa, o total de ocupados, osníveis de informalidade, dentre outros, o que, contudo, não épossível, já que o Censo Demográfico, única fonte que seriacapaz de fornecer tais informações para as microrregiões, nãocobre o período analisado.

17 De acordo com informações do Núcleo de Indicadores Sociaisda FEE, em 1994, as Microrregiões Porto Alegre, Caxias do Sul,Pelotas, Lajeado-Estrela e Gramado-Canela abrigavam 32,7%,6,1%, 4,7%, 2,7% e 2,1% da população estadual respectiva-mente, concentrações que são inferiores àquelas que o empregoformal ostenta em cada uma dessas regiões.

-8,0

-3,0

2,0

7,0

12,0

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Indústria de transformação ComércioServiços Administração públicaTotal

Gráfico 1

Variação percentual do emprego formal nos principais setores de atividade do RS — 1995-05

FONTE: RAIS-MTE.

Legenda:

O comportamento do em-prego por microrregiões

Em 1994, os cerca de 1,8 milhão de trabalhadoresformais existentes no RS encontravam-se distribuídosde maneira bastante heterogênea no território,observando-se uma forte concentração espacial doemprego.16 Nesse ano, a Microrregião Porto Alegrerespondia por pouco menos da metade dos empregadosformais do Estado (48,6%). A Microrregião Caxias doSul, com peso no emprego estadual 5,6 vezes inferiorao da Microrregião Porto Alegre, aparecia na segundaposição, abrigando 8,7% dos empregados estaduais. Aseguir, com participações muito próximas entre si eocupando a terceira, a quarta e a quinta posições nahierarquia do emprego estadual, encontravam-se,respectivamente, as Microrregiões Pelotas (3,5%),Gramado-Canela (3,4%) e Lajeado-Estrela (2,9%). Emconjunto, essas cinco microrregiões respondiam por

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18 Ao final do período analisado, a participação da MicrorregiãoPorto Alegre no emprego estadual era 4,6 vezes maior que a daMicrorregião Caxias do Sul, uma diferença menor do que aregistrada em 1994.

19 Também ao final do período, conforme dados do Núcleo deIndicadores Sociais da FEE, essas cinco microrregiões tinhammenor participação na população estadual do que no empregoformal. Em 2005, a Microrregião Porto Alegre, diferentementedo que ocorreu com o emprego formal, aumentou suaparticipação na população estadual, respondendo por 34,1%,enquanto as outras quatro microrregiões abrigavam,respectivamente, 6,8%, 2,7%, 2,7% e 4,6% da populaçãoestadual.

formal de trabalho, distinguindo-se, contudo, duassituações, de acordo com a intensidade da variação. Oitomicrorregiões — Litoral Lagunar (3,0%), Cachoeira doSul (3,2%), Pelotas (8,2%), Santo Ângelo (8,9%),Campanha Ocidental (9,8%), Campanha Meridional(10,0%), Porto Alegre (16,2%) e Santa Rosa (24,2%) —tiveram crescimento do emprego em patamar inferior aodo conjunto do Estado. Dentre elas, destaca-se a Microrre-gião Porto Alegre, com o maior crescimento absoluto depostos de trabalho (140,3 mil), que, por seu expressivopeso no emprego estadual, foi responsável por poucomenos de um terço das vagas acrescidas no Estado,entre 1994 e 2005.

As demais 25 microrregiões tiveram variação igualou superior à do agregado do RS, o que configura umasituação favorável no contexto estadual. Nelas, as taxasde crescimento ficaram compreendidas entre 25,3% naMicrorregião Camaquã e 88,7% na Guaporé. Nesse grupo,encontra-se a Microrregião Caxias do Sul, que teve osegundo maior saldo líquido de postos de trabalho, umacréscimo de cerca de 64 mil novas vagas, respondendopor 14,2% da geração estadual. Ainda com algumaimportância no crescimento do emprego, no RS,encontram-se, também nesse grupo, as MicrorregiõesLajeado-Estrela, Gramado-Canela e Passo Fundo, quetiveram participação de 5,5%, 5,4% e 5,2% no acréscimodo período, respectivamente.

Como decorrência das distintas variações, ao finaldo período, observaram-se alterações na participação dasmicrorregiões no emprego do RS. Destaque-se, contudo,que, em muitos casos, o pequeno peso de algumasmicrorregiões no emprego estadual fez com que asvariações ali experimentadas, ainda que com impactoimportante no âmbito regional, não fossem capazes deproduzir perceptível mudança em sua participação nocontexto estadual. O Gráfico 2 sintetiza as mudançasocorridas nas participações das microrregiões no empregoestadual.

Nove microrregiões — as duas que ostentaramqueda do emprego formal (Jaguarão e Campanha Central)e as sete com menor crescimento do emprego do que odo RS (Campanha Meridional, Santo Ângelo, Cachoeirado Sul, Campanha Ocidental, Litoral Lagunar, Pelotas ePorto Alegre) — diminuíram sua participação no empregoestadual. A redução mais significativa foi a daMicrorregião Porto Alegre, que perdeu 3,5 pontospercentuais. As demais microrregiões desse grupotiveram perdas de participação compreendidas entre 0,5ponto percentual na Microrregião Pelotas e 0,1 pontopercentual na Campanha Meridional e também naMicrorregião Jaguarão.

Dez microrregiões — uma com variação do empregoinferior à do RS (Santa Rosa) e nove com variações doemprego superiores à do Estado (Restinga Seca, Serrasde Sudeste, Sananduva, São Jerônimo, Cruz Alta, Não--Me-Toque, Santiago, Cerro Largo e Camaquã) —chegaram a 2005 com a mesma ponderação no empregoestadual do início do período.

As demais 16 microrregiões (Soledade, Carazinho,Santa Maria, Vacaria,. Ijuí, Três Passos, FredericoWestphalen, Santa Cruz do Sul, Erechim, Gramado--Canela, Guaporé, Montenegro, Lajeado-Estrela, PassoFundo, Osório e Caxias do Sul), todas com crescimentodo emprego em patamar igual ou superior ao do conjuntodo Estado, ampliaram sua participação no empregoestadual. A Microrregião Caxias do Sul foi a que ostentouo maior crescimento de participação, com uma variaçãode 1,1 ponto percentual. Nas demais microrregiões dessegrupo a, ampliação de participação oscilou entre 0,1 pontopercentual nas Microrregiões Soledade, Carazinho, SantaMaria, Vacaria, Ijuí e Três Passos e de 0,6 pontopercentual nas Microrregiões Osório e Passo Fundo.

Ainda que as variações experimentadas não confi-gurem alterações profundas no mapa do emprego esta-dual, é possível identificar algumas mudanças. Em 2005,percebe-se uma leve tendência à diminuição da concen-tração espacial do emprego estadual. Ao final do períodoanalisado, a Microrregião Porto Alegre, com expressivaperda de participação, como já mencionado, concentravaainda a maior parcela dos empregados estaduais,abrigando cerca de 45% deles. A Microrregião Caxias doSul, que ampliou sua participação e se aproximou damicrorregião anterior, mantinha-se na segunda posição,abrigando 9,8% dos empregados estaduais.18 Na terceirae na quarta posições, encontravam-se, respectivamente,as Microrregiões Gramado-Canela (3,8%) e Lajeado--Estrela (3,4%), que, com aumento de participação,ascenderam uma posição cada uma, enquanto aMicrorregião Pelotas, que perdeu participação, caiu duasposições, passando para o quinto lugar (3,0%).19 Ao final

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graças ao expressivo crescimento do emprego alivivenciado.

Assim, ao final do período, é possível identificaruma “mancha” de maior concentração de emprego quevai desde a Microrregião Porto Alegre, ocupa a partecentral do Estado de maneira quase contínua, passa pelaMicrorregião Caxias do Sul e vai em direção ao norte doRS, atingindo as Microrregiões Passo Fundo e Erechim(Mapa 1).

Tabela 2

Emprego formal, por microrregiões, do RS — 1994 e 2005

NÚMERO DE EMPREGADOS MICRORREGIÕES E TOTAL

1994 2005

VARIAÇÃO ABSOLUTA

VARIAÇÃO PERCENTUAL

Santa Rosa ....................................... 19 018 23 612 4 594 24,2 Três Passos ...................................... 14 267 20 992 6 725 47,1 Frederico Westphalen ....................... 10 167 16 191 6 024 59,3 Erechim ............................................. 26 888 40 466 13 578 50,5 Sananduva ........................................ 4 622 6 170 1 548 33,5 Cerro Largo ....................................... 5 213 6 592 1 379 26,5 Santo Ângelo .................................... 21 935 23 888 1 953 8,9 Ijuí ..................................................... 23 195 31 895 8 700 37,5 Carazinho .......................................... 17 611 24 080 6 469 36,7 Passo Fundo ..................................... 41 044 64 469 23 425 57,1 Cruz Alta ........................................... 16 427 20 826 4 399 26,8 Não-Me-Toque .................................. 5 942 7 647 1 705 28,7 Soledade ........................................... 4 487 6 747 2 260 50,4 Guaporé ............................................ 14 859 28 034 13 175 88,7 Vacaria .............................................. 20 501 27 972 7 471 36,4 Caxias do Sul .................................... 154 688 218 975 64 287 41,6 Santiago ............................................ 9 634 12 143 2 509 26,0 Santa Maria ....................................... 43 476 56 653 13 177 30,3 Restinga Seca ................................... 4 565 6 671 2 106 46,1 Santa Cruz do Sul ............................. 39 473 52 922 13 449 34,1 Lajeado-Estrela ................................. 51 067 75 748 24 681 48,3 Cachoeira do Sul ............................... 17 330 17 887 557 3,2 Montenegro ....................................... 28 994 48 041 19 047 65,7 Gramado-Canela ............................... 60 826 85 416 24 590 40,4 São Jerônimo .................................... 16 510 21 045 4 535 27,5 Porto Alegre ...................................... 866 773 1 007 043 140 270 16,2 Osório ................................................ 28 457 49 017 20 560 72,2 Camaquã ........................................... 11 150 13 971 2 821 25,3 Campanha Ocidental ........................ 42 390 46 549 4 159 9,8 Campanha Central ............................ 22 819 21 747 -1 072 -4,7 Campanha Meridional ....................... 21 384 23 524 2 140 10,0 Serras de Sudeste ............................ 10 333 13 643 3 310 32,0 Pelotas .............................................. 62 734 67 899 5 165 8,2 Jaguarão ........................................... 5 920 5 815 -105 -1,8 Litoral Lagunar .................................. 39 973 41 178 1 205 3,0 TOTAL .............................................. 1 784 672 2 235 468 450 796 25,3

FONTE: RAIS-MTE.

do período, eram ainda as cinco maiores microrregiõesdo ranking de 1994 que se mantinham na liderança doemprego estadual. Em 2005, contudo, essas cincoregiões abrigavam 65,1% dos empregados estaduais,uma concentração de 1,9 ponto percentual inferior à doinício do período.

Dentre as demais microrregiões, destacam-seMontenegro, Osório, Passo Fundo e Erechim, quepassaram a ter, em 2005, maior relevo no cenário estadual,

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OsórioPasso Fundo

Lajeado-EstrelaMontenegro

GuaporéGramado-Canela

ErechimSanta Cruz do SulFrederico WestphalenTrês PassosIjuíVacariaSanta MariaCarazinho

SoledadeRestinga SecaSerras de SudesteSananduvaSão JerônimoCruz AltaNão-Me-ToqueSantiagoCerro LargoCamaquã

Santa RosaJaguarão

Campanha MeridionalSanto Ângelo

Cachoeira do SulCampanha Ocidental

Campanha CentralLitoral Lagunar

PelotasPorto Alegre

Caxias do Sul

-4,0 -3,0 -2,0 -1,0 0,0 1,0

Gráfico 2

Variação percentual da participação das microrregiões no emprego do RS — 1994-05

FONTE: RAIS-MTE.

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51Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05

O comércio, cuja participação no emprego regionalia de 8,5% na Microrregião Guaporé a 26,8% na Não--Me-Toque, era o setor com maior relevância em setemicrorregiões (Não-Me-Toque, Cruz Alta, Carazinho, Ijuí,Campanha Ocidental, Osório21 e Campanha Meridional).

A administração pública, com participação de 6,8%na Microrregião Gramado-Canela a 34,6% na MicrorregiãoFrederico Westphalen, concentrava a maior parcela deempregados formais em 10 microrregiões (FredericoWestphalen, Soledade, Sananduva, Santiago, RestingaSeca, Cerro Largo, Três Passos, Serras de Sudeste,Campanha Central e Santo Ângelo).

Mapa 1

Distribuição do emprego formal, por microrregiões, no RS — 2005

20 Para efeitos desta análise, consideram-se apenas os principaissetores de atividade, isto é, a indústria de transformação,comércio, serviços e administração pública.

21 Nessa microrregião, a indústria de transformação tinhapraticamente o mesmo peso que o comércio.

Comportamento setorial doemprego nas microrregiões

No início do período analisado, a distribuição doemprego formal por setores de atividade20 evidenciavaque, na maior parte das microrregiões, era alguma dasatividades ligadas ao Setor Terciário que concentrava amaior parcela dos empregados formais (Tabela 3). Têm--se, nesse ano, 21 microrregiões nas quais um dossetores que compõem o Terciário — comércio, serviçose administração pública — abrigava a maior parcela dosempregados formais.

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O setor serviços, cujo peso no emprego regionalestava compreendido entre 9,7% na MicrorregiãoGramado-Canela e 30,4% na Litoral Lagunar, respondiapela parcela mais expressiva dos vínculos formais emapenas quatro microrregiões: Litoral Lagunar, Pelotas,Porto Alegre e Santa Maria.

A indústria de transformação, que registrava a suamenor expressão na Microrregião Jaguarão (3,2%) e amaior na Gramado-Canela (68,2%), era o setor queabrigava a maior parcela dos empregados formais em 13microrregiões (Gramado-Canela, Caxias do Sul, Lajeado--Estrela, Montenegro, Guaporé, Santa Cruz do Sul, SãoJerônimo, Erechim, Vacaria, Santa Rosa, Camaquã,Passo Fundo e Cachoeira do Sul). Destaque-se que, nasMicrorregiões Gramado-Canela, Caxias do Sul, Lajeado--Estrela e Montenegro, o setor industrial abrigava maisda metade dos empregados formais.

Ainda que não seja propósito deste estudo enfocaro emprego na agropecuária, deve-se mencionar asituação peculiar da Microrregião Jaguarão, que, em 1994,tinha a maior parcela de seus empregados formais(31,8%) alocados nesse setor.

Nos setores do Terciário e também na indústria detransformação, assim como se viu para a totalidade doemprego, havia, no início do período, uma forteconcentração espacial dos trabalhadores formalmenteempregados. A Microrregião Porto Alegre era a quedetinha as maiores fatias de empregados formais nocomércio, em serviços, na administração pública e naindústria de transformação, abrigando, respectivamente,41,7%, 57,2%, 59,7% e 42,1% do total estadual em cadaum deles. A Microrregião Caxias do Sul, ainda que comparticipação bastante inferior, era a segunda maiorabsorvedora de mão-de-obra estadual nesses setores,respondendo por 6,6%, 6,8%, 3,4% e 16,8% dosempregados do comércio, de serviços, da administraçãopública e da indústria de transformação respectivamente.

Ao se tratar da evolução do emprego nasmicrorregiões, nos principais setores de atividade,verifica-se que, no cômputo total do período, de maneirageral, o comportamento foi convergente com o docongênere estadual (Tabela 4).

Nos setores que compõem o Terciário, houveelevação de contingente, no período analisado, na maiorparte das microrregiões. Nesses três setores, aMicrorregião Porto Alegre destacou-se, registrando osmaiores acréscimos absolutos de postos de trabalho noperíodo analisado. Essa microrregião, que teveincorporados 45.000 mil trabalhadores no comércio,116.000 em serviços e 27,5 mil na administração pública,

respondeu por 33,7%, 52,8% e 38,6% dos postos geradosem cada um dos setores, no Estado, respectivamente.

No comércio, todas as microrregiões exibiramcrescimento do emprego, com variações compreendidasentre 8,6% na Microrregião Campanha Central e 156,2%na Guaporé, encontrando-se 19 microrregiões (Guaporé,Sananduva, Osório, Serras de Sudeste, São Jerônimo,Santa Cruz do Sul, Soledade, Passo Fundo, Lajeado--Estrela, Caxias do Sul, Vacaria, Frederico Westphalen,Restinga Seca, Montenegro, Gramado-Canela, Erechim,Camaquã, Santiago e Ijuí) com variação superior à médiaestadual do setor. Tais variações provocaram aumentoquase generalizado do peso do comércio nas micror-regiões — apenas na Microrregião Três Passos ocomércio diminuiu sua participação. Como se observano Gráfico 3, a variação da participação desse setor noemprego das diversas regiões ficou compreendida entre-4,8 pontos percentuais na Microrregião Três Passos e10,9 pontos percentuais na Microrregião Sananduva,observando-se, na maior parte dos casos, expressivaampliação de participação.

Em 2005, o comércio registrou sua menor participa-ção na Microrregião Guaporé (11,5%) e a maior na CruzAlta (29,2%), encontrando-se 11 microrregiões nas quaisesse setor abrigava a maior parcela dos empregadosformais: Camaquã, Carazinho, Ijuí, Cachoeira do Sul,Campanha Ocidental, Santiago, Santo Ângelo, CampanhaCentral, Santa Rosa, Osório e Cruz Alta (Tabela 5).

O setor serviços teve elevação de contingente empraticamente todas as microrregiões — a única exceçãofoi Jaguarão, com queda de 7,0% —, encontrando-se 15microrregiões (Gramado-Canela, Três Passos,Montenegro, Passo Fundo, Frederico Westphalen, Caxiasdo Sul, Lajeado-Estrela, Guaporé, Santa Cruz do Sul,Erechim, Osório, Soledade, Ijuí, São Jerônimo, SantaMaria) em que a variação superou a do congênereestadual. As Microrregiões Gramado-Canela (130,1%) eCampanha Ocidental (14,1%) destacaram-se como asde maior e menor crescimento respectivamente (Tabela4). Esse setor, em que a amplitude de variação daparticipação no emprego regional ficou compreendidaentre -2,4 pontos percentuais e 8,0 pontos percentuais(Gráfico 4), teve sua participação diminuída em apenastrês microrregiões: Guaporé, Jaguarão e Sananduva.

Assim, em 2005, a participação do setor serviçosno emprego regional (Tabela 5) ficou compreendida entre12,2% na Microrregião Guaporé e 36,4% na LitoralLagunar. Nesse ano, encontravam-se cinco microrregiões(Santa Maria, Porto Alegre, Campanha Meridional, Pelotase Litoral Lagunar) nas quais esse setor concentrava a

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maior parcela de trabalhadores, além de outra (PassoFundo) em que tinha a mesma ponderação da indústriade transformação, dividindo com esse setor a liderançana absorção de mão-de-obra formal.

O número de empregados na administração públicadiminuiu em apenas três microrregiões — Cachoeira doSul (-10,0%), Campanha Central (-30,4%) e CampanhaMeridional (-0,5%). Nas demais, com aumento docontingente empregado, o acréscimo ficou compreendidoentre 0,4% na Microrregião Santo Ângelo e 126,1% naSão Jerônimo, observando-se que, na maior parte doscasos (24 microrregiões), a variação superou a docongênere estadual. Nas Microrregiões Porto Alegre, TrêsPassos, Vacaria, Passo Fundo, Santiago, Caxias do Sul,Jaguarão e Santo Ângelo, a variação positiva do empregona administração pública ficou abaixo da registrada noRS (Tabela 4).

Como decorrência das distintas variações, o pesoda administração pública no emprego regionalexperimentou alterações compreendidas entre -7,2 pontospercentuais e 9,4 pontos percentuais (Gráfico 5),encontrando-se 19 microrregiões (Serras de Sudeste,Porto Alegre, Sananduva, Não-Me-Toque, FredericoWestphalen, Caxias do Sul, Santo Ângelo, CampanhaMeridional, Erechim, Cachoeira do Sul, Vacaria,Montenegro, Restinga Seca, Soledade, Guaporé, PassoFundo, Santiago, Três Passos e Campanha Central) nasquais esse setor teve queda de participação. Em 2005, aparticipação desse setor ia de 5,7% na MicrorregiãoCaxias do Sul até 33,4% em Frederico Westphalen, encon-trando-se, além desta última, outras quatro microrregiões(Sananduva, Cerro Largo, Soledade e Serras de Sudeste)em que esse setor respondia pela maior parcela dosempregados formais (Tabela 5).

Também na indústria de transformação, na maiorparte das microrregiões, o sentido de variação doemprego acompanhou o do agregado estadual (Tabela4). Em sete microrregiões (Sananduva, Porto Alegre,Campanha Ocidental, Cachoeira do Sul, CampanhaCentral, Pelotas e Jaguarão), houve queda do empregonesse setor, destacando-se as Microrregiões Sananduva(-2,0%) e Jaguarão (-35,8%) como as de menor e maiorretração respectivamente. Nas demais 28 microrregiões,houve elevação do contingente empregado, comvariações compreendidas entre 0,9% na Microrregião emSanta Rosa e 127,2% na Guaporé, encontrando-seapenas oito microrregiões — Santo Ângelo, Serras deSudeste, Cerro Largo, Camaquã, Santa Cruz do Sul, SãoJerônimo, Vacaria e Santa Rosa — com variação inferiorà do RS.

A Microrregião Caxias do Sul foi a que experimentouo maior crescimento absoluto de pessoal empregado naindústria de transformação, com um acréscimo de 24,5mil postos de trabalho, praticamente um quarto do totalde vagas acrescidas na indústria de transformação doRS, no período analisado. No extremo oposto, encontram--se as Microrregiões Porto Alegre22 e Pelotas23, com asmaiores perdas de pessoal no período. A primeira, com adiminuição de 4,5 mil trabalhadores, e a outra, com asupressão de 2,8 mil postos, responderam, respectiva-mente, por 52,7% e 32,9% das vagas fechadas naindústria de transformação estadual, entre 1994 e 2005.

A grande discrepância entre as taxas de variaçãodo emprego na indústria de transformação, nas diversasregiões, fez com que o espectro das variações departicipação desse setor no emprego regional fosse omais amplo dentre os setores considerados, ficandocompreendido entre -10,1 pontos percentuais e 9,4 pontospercentuais (Gráfico 6).

Ao final do período, a indústria de transformação,que aumentou seu peso em 17 microrregiões (Guaporé,Restinga Seca, Três Passos, Não-Me-Toque, PassoFundo, Frederico Westphalen, Santiago, CampanhaMeridional, Litoral Lagunar, Santa Maria, Ijuí, Carazinho,Erechim, Soledade, Montenegro, Santo Ângelo e CruzAlta), registrou sua menor participação na MicrorregiãoJaguarão (2,1%) e a maior na Gramado-Canela (60,1%).Nesse mesmo ano, esse setor respondia pela maiorparcela dos empregados formais em 10 microrregiões —Três Passos, Erechim, Não-Me-Toque, Guaporé, Caxiasdo Sul, Restinga Seca, Santa Cruz do Sul, Lajeado--Estrela, Montenegro e Gramado-Canela — e, naMicrorregião Passo Fundo, como já citado, dividia aliderança com a administração pública (Tabela 5).

Mesmo que não se esteja analisando o empregona agropecuária, é preciso mencionar que, em 2005, emduas microrregiões — Vacaria e Jaguarão24 — esse setorconcentrava a maior parcela de empregados formais, componderações de 26,3% e 31,0% respectivamente.

22 Na Microrregião Porto Alegre, a supressão de postos de trabalhona indústria de transformação deveu-se fundamentalmente àindústria de calçados, segmento fortemente ligado ao mercadoexterno, que, no período analisado, eliminou cerca de 9000 postosde trabalho.

23 Na Microrregião Pelotas, foi o segmento de alimentos e bebidasque sofreu os maiores cortes de pessoal no período analisado.

24 Lembre-se que, no início do período, nessa microrregião, aagropecuária já abarcava a maior parcela dos empregadosformais.

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As variações do emprego, em cada um dos setoresconsiderados, ainda que, como se viu, tenham influídona estrutura setorial do emprego regional, nem sempreprovocaram alteração relevantes da participação dasmicrorregiões no congênere estadual.

Nos setores que compõem o Terciário, comomostram os Gráficos 7, 8, e 9, na maior parte dos casos,as variações de participação foram pequenas,encontrando-se, além disso, várias microrregiões quemantiveram participação inalterada no período analisado.

No comércio, as maiores variações de participaçãoem relação ao congênere estadual foram registradas pelasMicrorregiões Porto Alegre (-2,6 pontos percentuais) eCaxias do Sul (1,2 pontos percentuais), que, juntamentecom a Microrregião Osório (1,1 ponto percentual), foramas únicas a atingir variação de participação superior a 1ponto percentual. Nesse setor, 15 microrregiões (Caxiasdo Sul, Osório, Passo Fundo, Santa Cruz do Sul, Lajea-do-Estrela, Guaporé, Gramado-Canela, Montenegro,Vacaria, São Jerônimo, Serras de Sudeste, FredericoWestphalen, Sananduva, Erechim e Soledade) tiveramaumento de participação; 14 microrregiões (Não-Me--Toque, Cruz Alta, Jaguarão, Carazinho, Cachoeira do Sul,Litoral Lagunar, Santa Maria, Santo Ângelo, Três Passos,Pelotas, Campanha Meridional, Campanha Central,Campanha Ocidental e Porto Alegre) diminuíram suaparticipação, e as outras 10 chegaram a 2005 com amesma participação no congênere estadual que ostenta-vam em 1994 (Gráfico 7).

Em serviços, apenas duas microrregiões, PortoAlegre e Caxias do Sul, exibiram variação de participaçãosuperior a 1 ponto percentual Ambas, com variação de1,5 ponto percentual — a primeira negativa e a outrapositiva — , registraram, respectivamente, a maior quedae a maior elevação de participação. Nesse setor, 11microrregiões, além da já citada Caxias do Sul, tiveramcrescimento de participação; 12 não tiveram variação departicipação, e as outras 10, além da Microrregião PortoAlegre, diminuíram sua participação (Gráfico 8).

Na administração pública, no período 1994-05, 17microrregiões tiveram aumento de participação, setemantiveram participação inalterada, e outras 11diminuíram sua participação. Apenas a Microrregião PortoAlegre, com queda de 3,3 pontos percentuais tevevariação de participação superior a 1 ponto percentual(Gráfico 9).

A indústria de transformação foi o setor em que asvariações de participação das microrregiões em relaçãoao congênere estadual foram mais significativas. Nessesetor, em que a variação de participação foi positiva em19 microrregiões, negativa em 10 e igual a zero em outras

seis, o intervalo de variação das participações ficou com-preendido entre -7,1 pontos percentuais, na microrregiãode Porto Alegre e 1,5 ponto percentual na de Caxias doSul (Gráfico 10).

Ao final do período analisado, observa-se também,nos principais setores de atividade, uma ligeiradesconcentração do emprego formal.

A Microrregião Porto Alegre, apesar da significativaperda de participação nos quatro setores considerados,mantinha-se como a maior absorvedora de mão-de-obraem todos eles. Em 2005, abrigava 34,9% dos empregadosestaduais da indústria de transformação, 39,1% dosalocados no comércio, 55,7% dos em serviços e 56,3%do total dos trabalhados da administração pública.

A Microrregião Caxias do Sul, que ampliou suaparticipação no comércio, em serviços e na indústria detransformação, mantinha-se na segunda posição, componderações ainda distantes das da Microrregião PortoAlegre, registrando 7,9%, 8,2% e 18,3% respectivamente.Na administração pública, a pequena perda departicipação da Microrregião Caxias do Sul fez com queela caísse para a terceira posição, abrigando, em 2005,3,0% dos empregados formais do setor.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 43-66, fev. 2008

55Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05

Tabela 3

Distribuição setorial do emprego formal, por microrregiões, do RS — 1994

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO COMÉRCIO SERVIÇOS

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MICRORREGIÕES

E TOTAL

Valor

Absoluto % Valor

Absoluto % Valor

Absoluto % Valor

Absoluto %

Santa Rosa ......................... 5 617 29,5 4 536 23,9 4 389 23,1 2 123 11,2 Três Passos ........................ 2 992 21,0 3 553 24,9 2 657 18,6 3 848 27,0 Frederico Westphalen ......... 1 416 13,9 2 233 22,0 1 571 15,5 3 521 34,6 Erechim ............................... 8 398 31,2 4 817 17,9 4 602 17,1 4 286 15,9 Sananduva .......................... 1 135 24,6 736 15,9 868 18,8 1 484 32,1 Cerro Largo ......................... 879 16,9 1 249 24,0 960 18,4 1 469 28,2 Santo Ângelo ...................... 2 891 13,2 5 160 23,5 4 782 21,8 5 479 25,0 Ijuí ....................................... 4 997 21,5 5 499 23,7 5 012 21,6 3 568 15,4 Carazinho ........................... 3 096 17,6 4 351 24,7 3 314 18,8 3 045 17,3 Passo Fundo ....................... 10 124 24,7 8 747 21,3 9 943 24,2 6 157 15,0 Cruz Alta ............................. 1 230 7,5 4 287 26,1 2 948 17,9 3 686 22,4 Não-Me-Toque .................... 1 421 23,9 1 593 26,8 685 11,5 1 166 19,6 Soledade ............................. 824 18,4 911 20,3 675 15,0 1 451 32,3 Guaporé .............................. 6 863 46,2 1 256 8,5 1 894 12,7 2 303 15,5 Vacaria ................................ 6 154 30,0 2 774 13,5 3 137 15,3 3 269 15,9 Caxias do Sul ...................... 86 064 55,6 18 496 12,0 28 340 18,3 11 717 7,6 Santiago .............................. 688 7,1 2 221 23,1 1 436 14,9 2 910 30,2 Santa Maria ........................ 3 910 9,0 9 986 23,0 11 249 25,9 7 604 17,5 Restinga Seca .................... 943 20,7 818 17,9 691 15,1 1 308 28,7 Santa Cruz do Sul ............... 17 383 44,0 6 655 16,9 7 444 18,9 4 514 11,4 Lajeado-Estrela ................... 27 178 53,2 6 846 13,4 7 404 14,5 3 846 7,5 Cachoeira do Sul ................ 3 944 22,8 3 428 19,8 3 014 17,4 3 593 20,7 Montenegro ......................... 15 421 53,2 4 112 14,2 3 231 11,1 3 799 13,1 Gramado-Canela ................ 41 470 68,2 7 057 11,6 5 882 9,7 4 138 6,8 São Jerônimo ...................... 5 976 36,2 1 603 9,7 3 366 20,4 2 009 12,2 Porto Alegre ........................ 215 626 24,9 116 054 13,4 238 983 27,6 203 253 23,4 Osório ................................. 6 365 22,4 6 433 22,6 6 032 21,2 5 793 20,4 Camaquã ............................ 2 815 25,2 2 186 19,6 1 816 16,3 2 208 19,8 Campanha Ocidental .......... 4 024 9,5 9 950 23,5 9 501 22,4 6 605 15,6 Campanha Central .............. 1 761 7,7 5 628 24,7 4 437 19,4 6 103 26,7 Campanha Meridional ......... 2 134 10,0 4 748 22,2 4 174 19,5 4 432 20,7 Serras de Sudeste .............. 1 322 12,8 1 344 13,0 2 112 20,4 2 774 26,8 Pelotas ................................ 13 900 22,2 11 547 18,4 17 954 28,6 9 223 14,7 Jaguarão ............................. 187 3,2 1 113 18,8 994 16,8 1 423 24,0 Litoral Lagunar .................... 3 429 8,6 6 469 16,2 12 163 30,4 6 572 16,4

TOTAL ................................ 512 577 28,7 278 396 15,6 417 660 23,4 340 679 19,1

FONTE: RAIS-MTE.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 43-66, fev. 2008

56 Sheila S. Wagner Sternberg

Tabela 4

Variação do emprego formal nos principais setores de atividade, por microrregiões, do RS — 1994-05

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

COMÉRCIO SERVIÇOS ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

MICRORREGIÕES E TOTAL

Variação Absoluta

Variação Percentual

Variação Absoluta

Variação Percentual

Variação Absoluta

Variação Percentual

Variação Absoluta

Variação Percentual

Santa Rosa ........................... 51 0,9 2 148 47,4 1 120 25,5 1 806 85,1

Três Passos .......................... 2 780 92,9 673 18,9 2 942 110,7 504 13,1

Frederico Westphalen .......... 1 542 108,9 1 644 73,6 1 395 88,8 1 890 53,7

Erechim ................................ 5 281 62,9 2 817 58,5 3 648 79,3 1 363 31,8

Sananduva ........................... -23 -2,0 916 124,5 141 16,2 463 31,2

Cerro Largo .......................... 70 8,0 548 43,9 341 35,5 471 32,1

Santo Ângelo ........................ 512 17,7 1 508 29,2 927 19,4 23 0,4

Ijuí ......................................... 2 775 55,5 2 666 48,5 3 012 60,1 1 583 44,4

Carazinho ............................. 1 801 58,2 1 718 39,5 1 698 51,2 1 182 38,8

Passo Fundo ........................ 8 737 86,3 6 612 75,6 8 936 89,9 630 10,2

Cruz Alta .............................. 451 36,7 1 784 41,6 1 256 42,6 1 216 33,0

Não-Me-Toque ..................... 843 59,3 525 33,0 312 45,5 258 22,1

Soledade .............................. 546 66,3 698 76,6 484 71,7 490 33,8

Guaporé ................................ 8 733 127,2 1 962 156,2 1 530 80,8 991 43,0

Vacaria ................................. 67 1,1 2 054 74,0 1 599 51,0 387 11,8

Caxias do Sul ....................... 24 520 28,5 13 941 75,4 24 224 85,5 711 6,1

Santiago ............................... 579 84,2 1 100 49,5 689 48,0 205 7,0

Santa Maria .......................... 2 797 71,5 4 177 41,8 6 058 53,9 4 139 54,4

Restinga Seca ...................... 984 104,3 595 72,7 335 48,5 371 28,4

Santa Cruz do Sul ................ 569 3,3 5 196 78,1 6 006 80,7 2 046 45,3

Lajeado-Estrela .................... 11 597 42,7 5 171 75,5 6 012 81,2 3 119 81,1

Cachoeira do Sul .................. -577 -14,6 1 251 36,5 897 29,8 -359 -10,0

Montenegro .......................... 11 056 71,7 2 835 68,9 3 510 108,6 865 22,8

Gramado-Canela .................. 9 876 23,8 4 332 61,4 7 652 130,1 2 404 58,1

Sao Jerônimo ....................... 107 1,8 1 491 93,0 1 915 56,9 2 533 126,1

Porto Alegre ......................... -4 458 -2,1 44 947 38,7 116 282 48,7 27 495 13,5

Osório ................................... 1 674 26,3 7 546 117,3 4 472 74,1 4 554 78,6

Camaquã .............................. 147 5,2 1 094 50,0 580 31,9 983 44,5

Campanha Ocidental ............ -260 -6,5 2 272 22,8 1 340 14,1 2 177 33,0

Campanha Central ............... -286 -16,2 483 8,6 938 21,1 -1 854 -30,4

Campanha Meridional .......... 969 45,4 612 12,9 1 555 37,3 -22 -0,5

Serras de Sudeste ................ 126 9,5 1 336 99,4 865 41,0 844 30,4

Pelotas .................................. -2 784 -20,0 3 957 34,3 4 704 26,2 4 109 44,6

Jaguarão ............................... -67 -35,8 244 21,9 -70 -7,0 51 3,6

Litoral Lagunar ...................... 1 383 40,3 2 693 41,6 2 807 23,1 1 420 21,6

TOTAL .................................. 92 118 18,0 133 546 48,0 220 112 52,7 69 048 20,3

FONTE: RAIS-MTE.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 43-66, fev. 2008

57Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05

Tabela 5

Distribuição do emprego formal nos principais setores de atividade, por microrregiões, do RS — 2005

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

COMÉRCIO SERVIÇOS ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MICRORREGIÕES

E TOTAL

Valor Absoluto %

Valor Absoluto %

Valor Absoluto %

Valor Absoluto %

Santa Rosa ..................... 5 668 24,0 6 684 28,3 5 509 23,3 3 929 16,6 Três Passos .................... 5 772 27,5 4 226 20,1 5 599 26,7 4 352 20,7 Frederico Westphalen .... 2 958 18,3 3 877 23,9 2 966 18,3 5 411 33,4 Erechim .......................... 13 679 33,8 7 634 18,9 8 250 20,4 5 649 14,0 Sananduva ..................... 1 112 18,0 1 652 26,8 1 009 16,4 1 947 31,6 Cerro Largo .................... 949 14,4 1 797 27,3 1 301 19,7 1 940 29,4 Santo Ângelo .................. 3 403 14,2 6 668 27,9 5 709 23,9 5 502 23,0 Ijuí ................................... 7 772 24,4 8 165 25,6 8 024 25,2 5 151 16,1 Carazinho ....................... 4 897 20,3 6 069 25,2 5 012 20,8 4 227 17,6 Passo Fundo .................. 18 861 29,3 15 359 23,8 18 879 29,3 6 787 10,5 Cruz Alta ......................... 1 681 8,1 6 071 29,2 4 204 20,2 4 902 23,5 Não-Me-Toque ............... 2 264 29,6 2 118 27,7 997 13,0 1 424 18,6 Soledade ........................ 1 370 20,3 1 609 23,8 1 159 17,2 1 941 28,8 Guaporé .......................... 15 596 55,6 3 218 11,5 3 424 12,2 3 294 11,8 Vacaria ........................... 6 221 22,2 4 828 17,3 4 736 16,9 3 656 13,1 Caxias do Sul ................. 110 584 50,5 32 437 14,8 52 564 24,0 12 428 5,7 Santiago ......................... 1 267 10,4 3 321 27,3 2 125 17,5 3 115 25,7 Santa Maria .................... 6 707 11,8 14 163 25,0 17 307 30,5 11 743 20,7 Restinga Seca ................ 1 927 28,9 1 413 21,2 1 026 15,4 1 679 25,2 Santa Cruz do Sul .......... 17 952 33,9 11 851 22,4 13 450 25,4 6 560 12,4 Lajeado-Estrela .............. 38 775 51,2 12 017 15,9 13 416 17,7 6 965 9,2 Cachoeira do Sul ............ 3 367 18,8 4 679 26,2 3 911 21,9 3 234 18,1 Montenegro .................... 26 477 55,1 6 947 14,5 6 741 14,0 4 664 9,7 Gramado-Canela ............ 51 346 60,1 11 389 13,3 13 534 15,8 6 542 7,7 São Jerônimo ................. 6 083 28,9 3 094 14,7 5 281 25,1 4 542 21,6 Porto Alegre .................... 211 168 21,0 161 001 16,0 355 265 35,3 230 748 22,9 Osório ............................. 8 039 16,4 13 979 28,5 10 504 21,4 10 347 21,1 Camaquã ........................ 2 962 21,2 3 280 23,5 2 396 17,1 3 191 22,8 Campanha Ocidental ...... 3 764 8,1 12 222 26,3 10 841 23,3 8 782 18,9 Campanha Central ......... 1 475 6,8 6 111 28,1 5 375 24,7 4 249 19,5 Campanha Meridional .... 3 103 13,2 5 360 22,8 5 729 24,4 4 410 18,7 Serras de Sudeste .......... 1 448 10,6 2 680 19,6 2 977 21,8 3 618 26,5 Pelotas ............................ 11 116 16,4 15 504 22,8 22 658 33,4 13 332 19,6 Jaguarão ......................... 120 2,1 1 357 23,3 924 15,9 1 474 25,3 Litoral Lagunar ................ 4 812 11,7 9 162 22,2 14 970 36,4 7 992 19,4

TOTAL ............................ 604 695 27,1 411 942 18,4 637 772 28,5 409 727 18,3

FONTE: RAIS-MTE.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 43-66, fev. 2008

58 Sheila S. Wagner Sternberg

Serras de SudesteCachoeira do Sul

Litoral LagunarOsório

Santa Cruz do SulSão Jerônimo

JaguarãoSanta RosaPelotasSanto Ângelo

SantiagoCamaquã

VacariaSoledade

Campanha CentralCerro LargoRestinga Seca

Cruz AltaGuaporé

Caxias do SulCampanha Ocidental

Porto AlegrePasso FundoLajeado-Estrela

Santa MariaFrederico WestphalenIjuí

Gramado-CanelaErechimNão-Me-Toque

Campanha MeridionalCarazinho

MontenegroTrês Passos

Sananduva

-6,0 -4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

Gráfico 3

Variação percentual da participação do comércio no emprego das microrregiões do RS — 1994-05

FONTE: RAIS-MTE.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 43-66, fev. 2008

59Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05

Três PassosPorto Alegre

Santa Cruz do SulGramado-Canela

Litoral LagunarCaxias do Sul

Campanha CentralPasso Fundo

Campanha MeridionalPelotasSão JerônimoSanta Maria

Cachoeira do SulIjuí

ErechimLajeado-Estrela

MontenegroFrederico Westphalen

SantiagoCruz Alta

SoledadeSanto Ângelo

CarazinhoVacaria

Não-Me-ToqueSerras de SudesteCerro Largo

Campanha OcidentalCamaquã

Santa RosaRestinga SecaOsório

GuaporéJaguarão

Sananduva

-4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0

Gráfico 4

Variação percentual da participação do setor serviços no emprego das microrregiões do RS — 1994-05

FONTE: RAIS-MTE.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 43-66, fev. 2008

60 Sheila S. Wagner Sternberg

Santa RosaPelotas

Campanha OcidentalSanta Maria

CamaquãLitoral Lagunar

Lajeado-EstrelaJaguarãoCerro Largo

Cruz AltaSanta Cruz do Sul

Gramado-CanelaIjuíOsório

CarazinhoSerras de Sudeste

Porto AlegreSananduva

Não-Me-Toque

Caxias do SulSanto Ângelo

Campanha MeridionalErechim

Cachoeira do SulVacaria

MontenegroRestinga Seca

SoledadeGuaporé

Passo FundoSantiago

Três PassosCampanha Central

Frederico Westphalen

São Jerônimo

-8,0 -6,0 -4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0

FONTE: RAIS-MTE.

Gráfico 5

Variação percentual da participação da administração pública no emprego das microrregiões do RS — 1994-05

Page 61: 1 SECRETARIA DO PLANEJAMENT O E GESTÃO ISSN 0103 …cdn.fee.tche.br/indicadores/rie3503.pdf · nárias provenientes de suas volumosas importações da China. Esta última, por sua

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 43-66, fev. 2008

61Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05

Santa Cruz do SulGramado-Canela

VacariaSão Jerônimo

SananduvaOsórioPelotas

Santa RosaCaxias do Sul

CamaquãCachoeira do Sul

Porto AlegreCerro Largo

Serras de SudesteLajeado-Estrela

Campanha OcidentalJaguarão

Campanha CentralCruz Alta

Santo ÂngeloMontenegroSoledade

ErechimCarazinhoIjuíSanta Maria

Litoral LagunarCampanha MeridionalSantiago

Frederico WestphalenPasso Fundo

Não-Me-ToqueTrês Passos

Restinga SecaGuaporé

-11,0 -6,0 -1,0 4,0 9,0

Gráfico 6

Variação percentual da participação da indústria de transformação no emprego das microrregiões do RS — 1994-05

FONTE: RAIS-MTE.

Page 62: 1 SECRETARIA DO PLANEJAMENT O E GESTÃO ISSN 0103 …cdn.fee.tche.br/indicadores/rie3503.pdf · nárias provenientes de suas volumosas importações da China. Esta última, por sua

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 43-66, fev. 2008

62 Sheila S. Wagner Sternberg

Caxias do SulOsório

Passo FundoSanta Cruz do Sul

Lajeado-EstrelaGuaporé

Gramado-CanelaMontenegro

VacariaSão JerônimoSerras de Sudeste

Frederico Westphalen

ErechimSoledadeRestinga Seca

CamaquãSantiagoIjuí

Santa RosaCerro Largo

Não-Me-ToqueCruz AltaJaguarão

CarazinhoCachoeira do Sul

Litoral LagunarSanta Maria

Santo ÂngeloTrês Passos

PelotasCampanha MeridionalCampanha Central

Campanha OcidentalPorto Alegre

Sananduva

-3,0 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5

Gráfico 7

Variação percentual da participação das microrregiões no emprego do comércio do RS — 1994-05

FONTE: RAIS-MTE.

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63Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05

Caxias do SulGramado-Canela

Passo FundoLajeado-EstrelaSanta Cruz do Sul

MontenegroTrês Passos

OsórioErechim

IjuíSão JerônimoSanta MariaSoledade

Restinga SecaCarazinho

Não-Me-ToqueVacaria

SantiagoCerro Largo

Serras de SudesteCruz Alta

SananduvaCamaquã

JaguarãoCampanha Meridional

Cachoeira do SulSanta Rosa

Campanha CentralSanto Ângelo

Litoral LagunarCampanha Ocidental

PelotasPorto Alegre

Frederico WestphalenGuaporé

-1,7 -1,2 -0,7 -0,2 0,3 0,8 1,3

Gráfico 8

Variação percentual da participação das microrregiões no emprego do setor serviços do RS — 1994-05

FONTE: RAIS-MTE.

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64 Sheila S. Wagner Sternberg

OsórioSanta Maria

Lajeado-EstrelaPelotas

São JerônimoGramado-Canela

Santa RosaFrederico WestphalenSanta Cruz do Sul

IjuíCampanha Ocidental

CarazinhoCamaquãGuaporéErechimCruz Alta

Serras de SudesteSoledadeCerro LargoSananduvaRestinga SecaMontenegroLitoral LagunarNão-Me-Toque

JaguarãoVacaria

Três PassosSantiago

Passo FundoCampanha Meridional

Cachoeira do SulSanto Ângelo

Caxias do SulCampanha Central

Porto Alegre

-3,5 -3,0 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

Gráfico 9

Variação percentual da participação das microrregiões no emprego da administração pública do RS — 1994-05

FONTE: RAIS-MTE.

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65Diferenciais regionais na evolução do emprego formal no RS, no período 1994-05

Considerações finaisOs dados apresentados permitem identificar a

diversidade de comportamento do emprego formal nasmicrorregiões que compõem o Rio Grande do Sul, quese expressa nas distintas taxas de variação do empre-go — em termos tanto globais como setoriais — de cadauma delas.

O crescimento mais expressivo e quasegeneralizado do emprego no comércio e em serviços fezcom que esses setores, responsáveis pela maior parceladas vagas geradas, no período analisado, ampliassem

sua participação no emprego, em praticamente todas asmicrorregiões. Já a indústria de transformação, commenor crescimento ou, até mesmo, com diminuição docontingente empregado, teve sua participação diminuídaem um número significativo de microrregiões.

Espacialmente, verifica-se, no período estudado,que a maior geração de vagas se dá na porção do territórioque vai da Microrregião Porto Alegre até a MicrorregiãoCaxias do Sul, cobrindo praticamente toda a parte centraldo Estado e apontando em direção ao norte, atingindoas Microrregiões Passo Fundo e Erechim. É tambémnesse espaço que se encontra a maior concentração de

Caxias do SulMontenegro

GuaporéPasso FundoLajeado-Estrela

ErechimGramado-CanelaTrês PassosSanta MariaIjuí

Frederico WestphalenCarazinho

Restinga SecaLitoral LagunarNão-Me-ToqueCampanha MeridionalOsórioSantiagoSoledadeCruz AltaSanto Ângelo

Cerro LargoJaguarão

Serras de SudesteSananduva

CamaquãCampanha Central

Santa RosaSão Jerônimo

Campanha OcidentalVacaria

Cachoeira do SulSanta Cruz do Sul

PelotasPorto Alegre

-7,5 -6,5 -5,5 -4,5 -3,5 -2,5 -1,5 -0,5 0,5 1,5 2,5

Gráfico 10

Variação percentual da participação das microrregiões no emprego da indústria de transformação do RS — 1994-05

FONTE: RAIS-MTE.

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66 Sheila S. Wagner Sternberg

empregados formais do RS. Nesse período, contudo,observa-se uma tendência, ainda que tênue, àdesconcentração do emprego estadual, que se deve,fundamentalmente, à perda de participação daMicrorregião Porto Alegre. Ainda assim, essamicrorregião, que respondeu pela maior parcela de vagasgeradas, era, em 2005, a que detinha as maioresconcentrações de empregados formais nos setoresanalisados e também na totalidade do emprego estadual.

Tem-se, pois, um quadro bastante desigual, tantoem termos de geração de oportunidades de empregocomo especialmente no que diz respeito à distribuiçãoespacial do emprego, o que traz à tona a necessidade ea importância de que se avance no conhecimento dasespecificidades que condicionam os diferentescomportamentos regionais.

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RAMOS, L.; FERREIRA, V. Geração e realocaçãoespacial do mercado de trabalho brasileiro — 1992--2002. Rio de Janeiro: IPEA, 2004. (Texto para discussão,n.1027).

RAMOS, L.; FERREIRA, V. Padrão espacial da evoluçãodo emprego formal — 1995-2003. Rio de Janeiro: IPEA,2005. (Texto para discussão, n.1102).

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67Déficit da Previdência: a verdade que se encerra

PPPPPolíticas públicasolíticas públicasolíticas públicasolíticas públicasolíticas públicas

Déficit da Previdência: a verdade que se encerra*

Calino Pacheco Filho** Economista da FEE

IntroduçãoO presente texto tem como objetivo analisar a

questão atual do (des)equilíbrio das contas do sistemaprevidenciário brasileiro. A primeira seção trata dosurgimento do Seguro Social na Europa até a suaampliação como seguridade social e traça uma breveevolução histórica da Previdência Social brasileira,passando pelas mudanças introduzidas pela Constituiçãode 1988 até a situação atual. A segunda seção mostra,num primeiro momento, como o sistema previdenciárioparticipou do financiamento do processo de crescimentoeconômico e, num segundo momento, a discussão acercado déficit previdenciário no Brasil. A terceira seção enfocaa seguridade social e as desvinculações de seuorçamento para outros fins. E, por fim, ressalta-se que,com um crescimento econômico expressivo e com a novametodologia do Governo na apresentação das contas daPrevidência, o sistema pode caminhar para o equilíbrio.

1 Seguro Social versus seguridade social

Até meados do século XIX, o sistema capitalista,já consolidado em sua fase industrial, não oferecianenhum tipo de proteção social aos trabalhadores, taiscomo assistência médica, aposentadorias e pensões,além de os mesmos estarem submetidos a saláriosaviltados e a condições muito precárias de trabalho. Asrevoltas populares e as greves, apesar de duramentereprimidas, proliferavam e constituíam motivo de sériapreocupação para os governantes dos países da Europa.

Esse contexto tornou necessária a intervenção doEstado, para construir formas de proteção social através

* Artigo recebido em 16 out. 2007.

** E-mail: [email protected]

das quais os trabalhadores tivessem uma integração, comalguma segurança, ao sistema produtivo e, dessa forma,fossem reduzidos os conflitos sociais.

Na década de 80 do século XIX, na Alemanha, soba inspiração do Chanceler Otto Von Bismark, foi criada aLei dos Seguros Sociais, que instituía o Seguro-Doença(1883), o Seguro Contra Acidente de Trabalho (1884) e oSeguro Contra a Invalidez e a Velhice (1889). O custeiodesse sistema securitário tinha sustentação nascontribuições de empregados e do Estado. Bismarkargumentava que “[...] por mais caro que pareça o segurosocial, resulta menos gravoso que os riscos de umarevolução” (Pereira Junior, 2005, p. 2). Esse sistema deseguros sociais obrigatórios, abrangendo os trabalhadoresda indústria e do comércio, financiado por um esquemade contribuições tripartite, colocava o Estado como oadministrador responsável pelo mesmo. Assim, estavaconfigurada a base da moderna previdência social.

O Seguro Social espalhou-se pela Europa e pelosEstados Unidos e foi sofrendo alterações no final doséculo XIX e ao longo do século XX. Na década de 40do século XX, o Governo inglês, premido pelo esforçode guerra e orientado pelo princípio da união na luta pelasua sobrevivência, criou uma comissão com o objetivode elaborar um relatório sobre o sistema de proteçãosocial. Presidida pelo economista liberal Sir WilliamBeveridge, a comissão construiu o arcabouço do queficou conhecido como Estado de Bem-Estar Social(Welfare State), cujas premissas básicas, conformeBoschetti (2003, p. 10), definem a responsabilidadeestatal na manutenção das condições de vida doscidadãos, por meio da regulação da economia de mercado,a fim de manter elevado nível de emprego e de prestaçãopública de serviços sociais universais, como educação,seguridade social, assistência médica e habitação.

A seguridade social concebida no bojo do Estadode Bem-Estar Social não pode ser confundida com oconceito de seguro social ou mesmo de previdência social.O Seguro Social é guiado pelos riscos sociais oriundosde seu esforço produtivo (doença, invalidez, acidente,velhice) que acometem os trabalhadores e tem uma lógica

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68 Calino Pacheco Filho

contributiva — contribuir no presente, a fim de gozar umbenefício no futuro. Já a seguridade social tem comoobjeto o cidadão, trabalhador, ou não, portador de umanecessidade social e prevê benefícios sem contrapartidacontributiva.

A concepção de previdência social no Brasil tomouforma com a Lei Eloy Chaves, em 1923, quando foramcriadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs),que se constituíram nas primeiras instituiçõesprevidenciárias do País. Assim, a proteção social passoua contar com uma instituição que oferecia pensão eaposentadoria, além de assistência médica e auxíliofarmacêutico. As CAPs eram sociedades civis que tinhamabrangência por empresas, mas não possuíam umaorganização geográfica, e sua administração realizava--se por meio de um colegiado composto por empregadose empregadores com ingerência mínima do poder público.

Na década de 30 do século XX, com o processo decrescimento industrial e com a ampliação das classesassalariadas urbanas, o Estado brasileiro passou a intervirnas relações trabalhistas, de forma a conciliar os conflitosentre capital e trabalho. Desse modo, no que tange àproteção social, o Estado emergiu como o responsávelpelo sistema previdenciário, substituindo as CAPs porInstitutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), autarquiasorganizadas por categorias profissionais, abrangendotodo o território nacional, com um sistema de custeioatravés de contribuições paritárias dos empregados, dosempregadores e do Estado. Segundo Gentil (2006, p. 96),no Brasil, há uma nítida diferença na organização dosseguros sociais, antes e depois de 1930. Ao final dadécada de 40, tínhamos 10 vezes mais segurados doque em 1934.

A criação da Lei Orgânica da Previdência Social,em 1960, veio promover a uniformização legislativa dosIAPs. A partir daí, a União passou a não participar maisdo custeio da proteção social, mas tornou-se responsávelpelas despesas de administração geral, financeira e depagamento de pessoal. Porém a unificação da gestão dosistema previdenciário só foi levada a efeito com a criaçãodo Instituto Nacional de Previdência Social, em 1966.

Em 1971, foi criado o Fundo de Amparo aoTrabalhador Rural (Funrural), que concedeu, pela primeiravez, ao trabalhador rural, benefícios previdenciários:aposentadoria por velhice e invalidez e pensão por morte;além disso, incluía Auxílio-Funeral, serviços de saúde eserviço social. A aposentadoria correspondia, então, a50% do salário mínimo. Ao longo da década de 70, foramocorrendo importantes avanços na proteção social: ainclusão dos empregados domésticos e dos trabalhadoresautônomos no sistema previdenciário e a criação da

Renda Mensal Vitalícia para os idosos pobres com maisde 70 anos.

A previdência social no Brasil, ainda que tenhaapresentado avanços até a década de 80, não conseguiuse afastar do enfoque do Seguro Social, cujo pressupostoé a contribuição compulsória dos empregados formais ede seus empregadores. A Constituição de 1988 tentoudar um passo além desse contexto, rumando para aconcepção da seguridade social.

O fim da ditadura militar, em 1985, resultou numamplo processo de discussão dos problemas sociaisrepresados por mais de 20 anos de cerceamento àsliberdades democráticas. A convocação de umaAssembléia Nacional Constituinte deu origem a uma cartaconstitucional que incluiu transformações fundamentaisno sistema de proteção social do País. No artigo 194 daConstituição Cidadã, foi inserido o conceito de seguridadesocial como o “[...] conjunto integrado de ações deiniciativa dos poderes públicos e da sociedade relativosà saúde, à previdência social e à assistência social”. Nocaso da previdência, ao conjugar Seguro e seguridadesocial, ampliou a sua cobertura, de modo a incluir parcelada população até então não atendida pelo sistema. É ocaso dos trabalhadores rurais, que passaram a ter plenoacesso aos benefícios previdenciários. A premissa básicaera a ampliação da proteção social, do seguro para aseguridade social, determinando a subordinação de umaconcepção previdenciária estrita, que permaneceu, a umamais abrangente (Gentil, 2006, p. 115).

Novos direitos sociais, como os benefíciosassistenciais para idosos e deficientes carentes e aexpansão dos benefícios previdenciários dostrabalhadores da agricultura familiar, exigem uma basefinanceira mais ampla do que as contribuições diretasde trabalhadores e empregadores. Para tanto, as fontesde financiamento do sistema de seguridade social foramprevistas no artigo 195 da Constituição Federal ecompreendem, além das contribuições previdenciáriasde empregados e empregadores, as seguintescontribuições sociais: Contribuição Sobre oFinanciamento da Seguridade Social (Cofins),Contribuição Sobre o Lucro Líquido (CSLL), Concurso dePrognósticos, recursos provenientes do Orçamento daUnião e, mais tarde, a Contribuição Provisória SobreMovimentação Financeira (CPMF).

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69Déficit da Previdência: a verdade que se encerra

2 Financiamento do siste- ma previdenciário brasi- leiro

2.1 O sistema previdenciário fi- nancia o Estado

Os sistemas previdenciários, em sua fase inicial,tiveram como característica apresentar um ritmo decrescimento tanto de suas despesas como do aumentode segurados contribuintes. Nessa fase, as suasobrigações com o pagamento de benefícios aumentaramem uma proporção bem menor do que a proporção decrescimento dos segurados. No Brasil, a massa desegurados ativos era de 22.991 em 1923, cresceu para142.464 em 1930, alcançando 2.762.822 segurados em1945 (Andrade, 1999, p. 48). Ainda assim, poucostrabalhadores haviam adquirido o direito de seaposentarem, o que significava que as receitas dosistema eram superiores às suas despesas.

Em 1936, foi criado o Fundo Geral de Garantia eCompensação das Caixas e Institutos de Aposentadoriase Pensões, com o objetivo de cobrir a eventualidade dedéficits no futuro. Os recursos seriam aplicados eminvestimentos rentáveis pelo Conselho Nacional doTrabalho. Dessa forma, ficou instituída a combinação deum regime de repartição (onde o custeio seria garantidopelas contribuições de empregados, empregadores eEstado) com um de capitalização de reservas (Andrade,1999, p. 50). Desse modo, estavam criadas as condiçõespara a constituição de um sólido sistema previdenciário,com reservas que poderiam prover as dificuldades futuras.O Fundo não se viabilizou, e o Estado, além de não entrarcom a sua parcela de contribuição, tratou de desviar asreservas da Previdência para outras finalidades.

O Estado brasileiro, em sua estratégia de indus-trialização e de crescimento econômico, criou meca-nismos para controlar os elevados superávits do sistema.Em 1939, autorizou os fundos previdenciários a efetuaremempréstimos a pessoas físicas ou jurídicas emprocessos de reflorestamento, papel e celulose e materialbélico. Também tratou de impor a subscrição de açõespreferenciais de empresas como a CompanhiaSiderúrgica Nacional, a Companhia Hidrelétrica do SãoFrancisco, a Companhia Nacional de Álcalis e a FábricaNacional de Motores. No decreto de criação do BancoNacional de Desenvolvimento, em 1952, constou umartigo onde era exigida das instituições previdenciárias

a concessão de empréstimos compulsórios em montantefixado pelo Ministério da Fazenda.

De acordo com dados levantados por Andrade(1999, p. 47), o montante das reservas financeiras dosistema de previdência teve uma trajetória de superávitsno período 1930-97. De 1930 a 1949, a relação despesa//receita — recursos necessários para o pagamento dototal de benefícios — foi de 43,33%, ou seja, mais dametade da arrecadação (56,67%) constituía-se emresultado positivo do sistema previdenciário. A partir de1950, o sistema passou a viver problemas típicos dafase de maturidade: as contribuições e benefícios passama crescer de forma desproporcional. No período 1950-69,a relação despesa/receita subiu para 71,93% e, de 1970a 1997, subiu ainda mais (77,82%), porém ainda semantendo superavitária. A partir da segunda metade dadécada de 90, o saldo previdenciário — arrecadaçãooriunda das contribuições de trabalhadores eempregadores menos o pagamento de benefícios asegurados e pensionistas — passou a tornar-se negativo.

Os recursos previdenciários, que, na primeirametade do século XX, contribuíram para o processo definanciamento do crescimento econômico do País,continuaram, na segunda metade do século, colaborandocom o financiamento do Estado brasileiro na construçãode Brasília, da ponte Rio-Niterói, da Usina Hidrelétricade Itaipu, da estrada Transamazônica e das UsinasNucleares de Angra dos Reis. A professora daUniversidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Eli GurgelAndrade (B. Inf. UNAFISCO..., 2003) estima que o volumetotal de recursos da Previdência utilizados para ofinanciamento do Estado era equivalente a 69,7% do PIBdaquele ano (2003). Dessa forma, com um volumeimportante de reservas, a Previdência Social, a partir dadécada de 30, é transformada em “sócia” do Estado nofinanciamento do processo de industrialização ecrescimento econômico do País.

2.2 O discurso do déficit previ- denciário

Desde o início da década de 90, predomina, noBrasil, uma concepção defendida por empresários,parlamentares e pelo Governo Federal de que o grandeimpedimento ao crescimento sustentado da economiabrasileira é o desequilíbrio fiscal, do qual o “déficitexplosivo” da Previdência Social é o principal responsável.Um exemplo dessa idéia está assim expresso no editorialdo jornal Zero Hora de 20.11.06 (Entrave..., 2006):

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70 Calino Pacheco Filho

O problema do déficit previdenciário, que égrave e que a curto prazo inviabiliza o equilíbriodas contas públicas, além de comprometer acapacidade do governo de investir em outrasáreas essenciais, não pode deixar de ser umtema urgente e preocupante para a própriaestratégia de longo prazo.

As medidas de curto prazo propostas por essessetores para serem implementadas através de umareforma na Previdência seriam, dentre outras, oestabelecimento de idade mínima para as aposentadoriasdo Regime Geral de Previdência Social (RGPS), adesvinculação entre benefícios previdenciários e saláriomínimo e o fim do regime especial de aposentadoriaspara professores e trabalhadores da agricultura familiar.Essa posição, fortemente repercutida na mídia (jornais,revistas e TV), formou um consenso nacional, cujahegemonia só foi parcialmente quebrada com asdiscussões no Fórum Nacional de Previdência Social(FNPS), instalado pelo Governo Lula no início de 2007,com o objetivo de fazer uma avaliação da situação daPrevidência Social no País, o qual é formado porrepresentantes do Governo Federal, por centraissindicais, por aposentados, por empregadores e porespecialistas da área previdenciária.

No FNPS, o contraponto ao discurso do déficitsurgiu, de forma categórica, a partir dos sindicatos edas associações de aposentados, e a mídia viu-se naobrigação de ceder algum espaço para esses setores.Para estes, a proteção social deve ser traduzida emprincípios redistributivistas baseados na intervençãoestatal. Defendem o sistema de seguridade socialimplantado pela Constituição de 1988 e argumentam queo orçamento desse sistema apresentaria um superávitsignificativo, por conseguinte, a Previdência também nãoseria deficitária.

Na década de 90, vamos encontrar a combinaçãode dois fatores: o “amadurecimento” do sistemaprevidenciário — que aumenta, mais que proporcional-mente, o número de aposentados e pensionistas queauferem benefícios em relação número de contribuin-tes — e uma política econômica recessiva que grassadesde a década de 80, aumentando o desemprego e ainformalidade, e que produz um impacto negativo na basecontributiva do sistema. Em conseqüência, o saldoprevidenciário do RGPS passou a mostrar resultadosnegativos a partir de 1999, situação que persiste até osúltimos dados consolidados (Tabela 1).

Os resultados negativos do saldo previdenciário sãoconsiderados pelo Governo e pela mídia como o déficitdo sistema de previdência social. Ocorre que o saldoprevidenciário é a soma das receitas provenientes das

contribuições de empregados e empregadores deduzidosos benefícios pagos aos aposentados e pensionistas.Constituem-se em um resultado parcial do fluxo de caixado Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), cujoresultado final é o saldo operacional. O saldoprevidenciário inscreve-se dentro da noção de SeguroSocial, onde a cobertura dos benefícios deve sersustentada estritamente pelo volume de contribuiçõesde trabalhadores e patrões.

O saldo operacional está ligado à noção deseguridade social e envolve o subsistema previdenciáriorural e os benefícios assistenciais (auxilio à velhice e adeficientes pobres), que configuram gastos semcontrapartida contributiva e que, segundo o dispositivoconstitucional de 1988, deveriam ser financiados pelasreceitas advindas das contribuições sociais, como aCofins, a CSLL e a CPMF, criada em 1994.

O “explosivo” déficit da Previdência Social expressono saldo previdenciário é, portanto, resultado de algunsitens das receitas do fluxo de caixa do INSS que provêmestritamente das contribuições previdenciárias deempregados e empregadores, cotejadas com a totalidadedos benefícios pagos. O saldo operacional, por sua vez,é a arrecadação líquida proveniente do recebimento detodas as fontes de recursos da Previdência deduzido dototal das despesas, conforme podemos verificar na Tabela1, onde constatamos que, de 1999 a 2006, só ocorreudéficit em 2003 (R$ 1,13 bilhão) e, mesmo assim, demagnitude bem menor do que o déficit apresentado nosaldo previdenciário (R$ 26,40 bilhões). Porém essessuperávits operacionais registrados oficialmente no fluxode caixa do INSS são ignorados pela grande mídia e nãosão divulgados para a população como sendo o resultadofinal das contas da Previdência Social.

O fluxo de caixa do INSS poderia apresentarresultados ainda mais favoráveis, se não ocorresse ainserção de gastos que não são característicos daPrevidência Social, como os benefícios assistenciaispagos a idosos e deficientes pobres. Além disso, tambémé incluída, no fluxo de caixa, a folha de pagamento dosservidores do Ministério da Previdência Social (MPS).Em 2003, os benefícios assistenciais e a folha depagamento dos funcionários do Ministério totalizaram umadespesa de R$ 8,22 bilhões, valor que cobriria, com muitafolga, o déficit operacional daquele ano, que foi de R$1,13 bilhão. Tais atribuições são de competência da Uniãoe deveriam ser atendidas diretamente com recursos doTesouro Nacional.

Outra peculiaridade do fluxo de caixa do INSS éque as receitas próprias do orçamento da seguridadesocial, como a Cofins, a CSLL, a CPMF e as receitas

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71Déficit da Previdência: a verdade que se encerra

das loterias federais, são computadas comoTransferências da União, ou seja, são apropriadas peloMinistério da Fazenda e depositadas no Banco Central.Como a receita das contribuições previdenciárias éinsuficiente para pagar as despesas com benefícios, oGoverno Federal “transfere” recursos que, originalmente,são próprios da seguridade social por determinaçãoconstitucional, para tapar o “rombo” causado pelo déficitda Previdência Social (Tabela 2).

Em 2006, o Ministério da Previdência Social inovou,ao apresentar o resultado das contas do Regime Geralde Previdência Social agregando importantesmodificações, tais como o reconhecimento da parcelada CPMF constitucionalmente determinada comofazendo parte das receitas do RGPS, o desconto dadespesa com o subsistema de previdência rural como

política social de distribuição de renda a ser arcadadiretamente pela União e a admissão das renúnciasprevidenciárias como despesa do sistema. Assim, noano de 2006, o saldo previdenciário, com déficit de R$42 bilhões, passou, com a nova metodologia propostapelo Governo, a ter um déficit de R$ 3,8 bilhões. Dessaforma, segundo a Associação Nacional dos AuditoresFiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) (B. Not. ANFIP,2006, p. 63), em 2006, o déficit caiu de 1,8% para 0,95%do PIB. Se projetarmos um crescimento econômicovariando entre 4,5% e 5%, o RGPS, dentro dessametodologia, chegaria, em 2010, com um déficit de 0,38%do PIB. Essa forma mais transparente de apresentaçãodo resultado previdenciário foi aprovada por consensono FNPS.

Tabela 1

Saldo previdenciário e saldo operacional do fluxo de caixa do INSS no Brasil — 1999-06 (R$ bilhão)

RUBRICAS 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Saldo previdenciário ....... -9,412 -10,072 -16,999 -16,998 -26,404 -31,985 -37,576 -42,065

Saldo operacional ........... 0,190 0,711 2,969 2,969 -1,132 8,259 0,921 1,246

FONTE: BRASIL. Ministério da Previdência Social.

Tabela 2 Resumo do fluxo de caixa do INSS no Brasil — 2002-06

(R$ bilhão)

RUBRICAS 2002 2003 2004 2005 2006

Recebimentos ........................... 105,035 122,229 160,000 172,719 201,756

Arrecadação líquida .................. 71,027 80,730 93,765 108,434 123,520

Pagamentos .............................. 102,066 123,361 151,741 171,798 200,510

Benefícios previdenciários ........ 88,026 107,134 125,750 146,010 165,585

Saldo previdenciário ................. -16,999 -26,404 -31,985 -37,576 -42,065

Saldo operacional ..................... 2,969 -1,132 8,259 0,921 1,246

FONTE: INSS.

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72 Calino Pacheco Filho

3 Orçamento da seguridade social e suas desvincula- ções

A Cofins e a CSLL foram criadas, no bojo da Cons-tituição de 1988, como fontes específicas de financia-mento do sistema de seguridade social. A CPMF veiodepois, com a finalidade de financiar o setor da saúde;posteriormente, porém, ficou decidido que os seus re-cursos seriam assim distribuídos: 42,1% para a saúde,21,5% para a Previdência Social, 21,5% para o Fundode Erradicação da Pobreza e 15,8% para o orçamentofiscal através da Desvinculação de Receitas da União(DRU). A CPMF é a única das contribuições sociais quetem uma distribuição percentualmente detalhada para asdistintas áreas da seguridade social; as demais (Cofinse CSLL), além da destinação genérica para a seguridadesocial, só têm definição no que tange à desvinculaçãode 20% pela DRU. Já o PIS-Pasep destina 60% desuas receitas para a seguridade social(Seguro--Desemprego e Abono Salarial), sendo que os restantes40% têm como destinatário o Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES), paraaplicação em projetos de desenvolvimento econômico.

A Anfip realiza anualmente uma detalhada análiseda seguridade social no País, à luz dos artigos 194 e195 da Constituição Federal, demonstrando, através deum balanço com todas as receitas comparadas comtodas as despesas, que o sistema se mostrousuperavitário no período de 1995 a 2006, sendo que,somente nos dois últimos anos, o orçamento daseguridade social registrou um superávit acumulado decerca de R$ 105 bilhões (Tabela 3).

Porém existe um mecanismo utilizado para retirarrecursos do orçamento da seguridade social para outrasáreas de interesse do Governo. A Desvinculação dasReceitas da União, estabelecida através de emendaconstitucional, autoriza o Governo a utilizar 20% dosrecursos arrecadados, livre de vinculação a despesasespecíficas. Dessa forma, receitas próprias da seguridadesocial são desviadas para o Orçamento Fiscal. Segundoa Anfip (2007, p. 12):

Historicamente, a DRU se mostra como umdos vários mecanismos utilizados para retirarrecurso de diversas áreas e programações,principalmente seguridade, educação e infra--estrutura de transportes. Ao contrário do queé usualmente afirmado, a DRU não é umaresposta ao engessamento causado peloconjunto de vinculações orçamentárias. Ela

não afeta a vinculação existente para as des-pesas financeiras, a maior de todas. Somentepara os pagamentos do valor principal e dosencargos da dívida, foram executados no or-çamento, em 2006, mais de R$ 600 bilhões —desse total, cerca de R$ 138 bilhões são ju-ros reais e R$ 462 bilhões são amortizações.Isto é, mais do dobro do que se gastou com aseguridade social, por exemplo. O alvo da DRUsempre foi a desvinculação de obrigações doEstado para com as diversas despesas so-ciais e de infra-estrutura.

Segundo Gentil (2006, p. 54), houve desvios paraalém dos 20% previstos legalmente pela DRU: de 1995 a2005, foram subtraídos R$ 267 bilhões dos recursos daseguridade social, sendo R$ 160 bilhões através da DRUe R$ 107 bilhões além do legalmente estabelecido. Outrodesvio apontado pela autora (Gentil, 2006, p. 58) é opagamento de aposentadorias e pensões do RegimePróprio de Previdência Social (RPPS), sem qualquerprevisão legal. De acordo com a Constituição, o órgãoque representa a Previdência no sistema de seguridadeé o RGPS, administrado pelo INSS. O RPPS é o sistemaprevidenciário próprio dos servidores da União, dosestados e dos municípios, inclusive do Legislativo e doJudiciário, que têm suas aposentadorias e pensões —cujos valores são mais elevados do que os praticadosno RGPS — financiadas, em grande parte, pelas receitasda seguridade social. Trata-se de categorias regidas peloestatuto dos servidores públicos, amparadas poraposentadoria integral e paridade, que possuemcapacidade contributiva para bancar o pagamento de seusbenefícios, e, em caso de déficit, a responsabilidadedeveria caber ao Governo Federal.

Frente ao surgimento, cada vez mais freqüente, docontraponto ao discurso do “rombo na Previdência”, estepassa a ser substituído pelo discurso do excessivo gastoprevidenciário, que seria um obstáculo ao crescimentoeconômico, na medida em que utiliza recursos quepoderiam ser transformados em investimento. Segundoo economista especializado em política fiscal FranciscoLopreato (B. Not. ANFIP, 2006):

O setor produtivo tem dois interessesparticulares na reforma da previdência:redução da carga tributária e aumento deinvestimentos, porque isso faz a demandacrescer. Se o governo conseguir segurar osgastos com previdência, poderia relaxar acarga tributária.

O setor financeiro, hoje com uma associação cadavez mais íntima com segmentos do chamado setorprodutivo, vem aplaudindo, com forte repercussão namídia, a política do Governo Federal com relação ao

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73Déficit da Previdência: a verdade que se encerra

superávit primário, porém com a ressalva de que a ma-nutenção deste no patamar atual só foi alcançadagraças ao aumento da carga tributária, quando deveriaser realizada através do corte das despesasprevidenciárias. De acordo com Lopreato (B. Not. ANFIP,

2006), “[...] quem defende a reforma da previdência nãoquer questionar nem a dívida pública, nem os juros. Háuma resistência muito forte para que se reduza a taxade juros, porque ela favorece o sistema bancário”.

Tabela 3

Receitas e despesas da seguridade social no Brasil — 2002-06 (R$ bilhão)

RUBRICAS 2002 2003 2004 2005 2006

A - Total das receitas ............... 157 400 180 440 220 340 278 104 303 028

B - Total das despesas ............. 124 440 148 710 177 800 221 222 255 171

C - Resultado (A - B) ................ 32 960 31 730 42 540 56 882 47 857

FONTE: Anfip.

4 Considerações finaisAo analisarmos o comportamento das contas do

RGPS estritamente pelo saldo previdenciário —contribuições resultantes do emprego formalizado e damassa salarial —, vamos verificar que, a partir da segundametade da década de 90, iniciou-se uma trajetória deresultados negativos. Estes foram decorrentes de umapolítica econômica restritiva, caracterizada por uma médiade crescimento pífia: de 1995 a 2005, o PIB cresceu auma taxa de 2,7% ao ano. A taxa de desempregoaumentou de 5,8% em 1995 para 12,3% em 2003,chegando, em 2005, a um patamar menor (9,8%). Orendimento médio real dos assalariados, que era de R$302,65 em 1995, subiu para R$ 1.139,10 em 2002,retraindo-se para R$ 1.004,32 em 2005. A relaçãopessoas empregadas com carteira assinada sobre o totalde pessoas ocupadas caiu de 49,7% em 1995 para 45%em 2005 (Gentil, 2006, p. 220).

Mesmo com a tímida recuperação econômica dobiênio 2004-05 e apesar dos significativos aumentos reaisdo salário mínimo nesse período, as receitasprevidenciárias — contrariando a tendência históricaverificada de crescimento das despesas acima docrescimento das receitas — tiveram, em 2006, umaimportante reação: as receitas aumentaram 13,9% comrelação a 2005, ao passo que as despesas cresceram13,4% (ANFIP, 2007, p. 19). Tal fato não ocorria desde oPlano Real.

Ao se realizarem os prognósticos de crescimentoda economia em torno de 5% nos próximos anos, comuma inclusão significativa de novos contribuintes, mesmodentro da concepção estrita de saldo previdenciário, ascontas do RGPS, com a nova metodologia proposta peloGoverno, tendem a se tornar auto-suficientes sem anecessidade de uma reforma previdenciária.

ReferênciasANDRADE, Eli Iola Gurgel Andrade. (Des)equilíbrio daprevidência social brasileira 1945-1997. Tese(Doutorado)—Centro de Desenvolvimento e PlanejamentoRegional da Faculdade de Ciências Econômicas FACE//UFMG, Departamento de Demografia, Belo Hori-zonte,1999.

ASSOCIAÇÃO DOS AUDITORES FISCAIS DA RECEITAFEDERAL DO BRASIL — ANFIP. Análise daseguridade social 2006. Brasília, 2007. Disponível em:<www.anfip.org.br>. Acesso em: set. 2007.

BOLETIM DE NOTÍCIAS DA ANFIP. Brasília: ANFIP, 28ago. 2006. Disponível em: <www.anfip.org.br>. Acessoem: ago. 2006.

BOLETIM INFORMATIVO UNAFISCO-SINDICAL. Bra-sília: Sindicato Nacional do Auditores Fiscais da Recei-ta Federal. 2003. Disponível em:<www.unafisco.org.br>. Acesso em: set. 2007.

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74 Calino Pacheco Filho

BOSCHETTI, Ivanete. Implicações da reforma da pre-vidência na seguridade social. Porto Alegre, 2003.Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: set.2007.

ENTRAVE previdenciário, O. Zero Hora, Porto Alegre,20 nov. 2006.

GENTIL, Denise Lobato. A política fiscal e falsa criseda previdência social brasileira: análise financeira doperíodo 1990-2005. Tese (Doutorado)—Instituto deEconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.Programa de Pós-Graduação, 2006.

PEREIRA JÚNIOR, Aécio. Evolução histórica daprevidência social e os direitos fundamentais.Teresina, 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br>.Acesso em: jul. 2007.

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75Os estrangulamentos do setor elétrico do Rio Grande do Sul — 2010-20

* Artigo recebido em 17 out. 2007.

**E-mail: [email protected] Tais como energia eólica, solar, etc.

Os estrangulamentos do setor elétrico doRio Grande do Sul — 2010-20*

Jaques Alberto Bensussan** Doutor em Planejamento Energético pela Unicamp, Economista da FEE

1 IntroduçãoEste trabalho, baseado em um estudo prospectivo,

tem por objeto enfocar a possibilidade de estrangulamentodo setor elétrico frente às questões do crescimento daeconomia brasileira e seus rebatimentos nos fluxos deenergia, restringido à dimensão espacial relativa aoEstado do Rio Grande do Sul e amarrado, temporalmente,ao limiar do novo século.

Assim, o artigo propõe-se a expressar, de um lado,a capacidade da infra-estrutura energética do setorelétrico em 2010, considerando a infra-estrutura atual-mente existente, adicionada dos projetos e das obrasem andamento, e, de outro, os fluxos do setor,prospectivamente projetados a partir de um cenáriotendencial de crescimento com três taxas diversas, jáinfluenciadas pelo Programa de Aceleração doCrescimento (PAC) — 2007-10 (Brasil, 2007) do GovernoFederal (Souza, 2007).

Dessa relação entre a infra-estrutura do setorelétrico e seus fluxos de energia, poder-se-ão detectaros pontos de estrangulamento do sistema em qualquerponto no horizonte de tempo, alertando para a confecçãodos ajustes, quando necessários, com a devida ante-cedência, dentro da idéia de um planejamento global eestratégico.

Na verdade, essa proposição abre uma porta paradiversos trabalhos futuros, tais como a cenarizaçãosimultânea da matriz e da infra-estrutura energética,privilegiando diversos tipos de funções objetivasmultiperiódicas, tais como a minimização do custo detodo o sistema de energia, ou a minimização de seusimpactos ambientais, ou, ainda, a participação crescentedos energéticos novos-renováveis¹ na transição para

uma era pós-petróleo, considerando-se os diversos epertinentes elencos de restrições.

Trata-se, enfim, embora restrita ao setor elétrico,de uma tentativa, de uma incursão para o entendimentodo setor energético como um dos módulos de que sereveste a sociedade, mantendo com ela vínculos deinterdependência, cuja resultante é determinada pelo seuestilo e pelos vetores políticos, jurídicos, científicos,tecnológicos, educacionais, dentre outros, que lhe dãodinamicidade e lhe imprimem a direção, revelando,explicitamente, ou não, a qualidade e a intensidade deseu movimento.

2 Objetos do estudoO estudo propõe-se a cotejar a capacidade da infra-

-estrutura levantada, inclusive a estimada, com os fluxosda cenarização de eletricidade na matriz energética, emum dado horizonte temporal do Rio Grande do Sul —entre 2010 e 2020.

Os objetos específicos são:a) estimar os requerimentos de energia elétrica no

Rio Grande do Sul, conforme três variantesdo cenário tendencial;

b) determinar a capacidade de geração de energiaelétrica para o Rio Grande do Sul; e

c) detectar os pontos de estrangulamento entre osfluxos de energia elétrica e sua infra-estrutura.

3 Dimensões espaço- -temporais

As dimensões temporais do trabalho variarãoconforme os objetos da pesquisa acima enumerados. Adimensão espacial do trabalho restringir-se-á ao territóriocorrespondente ao Estado do Rio Grande do Sul. O tempoprospectivo corresponderá ao período que vai de 2010 a2020.

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76 Jaques Alberto Bensussan

4 Dos modelos de análiseA idéia destacada neste trabalho restringe-se a um

cenário tendencial e a três variantes de crescimento daeconomia brasileira, que condicionarão o crescimento daeconomia gaúcha e seus requerimentos de energia. Asvariantes adotadas são de 3,5%, 4,5% e 5,5% ao ano eatendem a uma imposição social do desempenhoesperado da economia brasileira a partir do PAC,simulando uma certa pressão sobre os requerimentosenergéticos, para o período prospectivo de análise.

Foram feitas várias regressões entre o PIB do RioGrande de Sul (PIBRS) e o do Brasil (PIBBR) para umasérie que vai de 1970 a 2002, escolhendo-se, dentre elas,a função Log-Log que apresentou os melhores resultados,conferidos a partir de seus parâmetros, tais como ocoeficiente de determinação ajustado, a análise da variân-cia, os testes de hipótese com nível de significância de5% e o de Durbin-Watson.

Mais especificamente, para fins deste trabalho, oconceito dos requerimentos de energia, medido emJoules, para o conjunto de todos os fluxos e usos ener-géticos, corresponde a um balanço entre a disponibilidadeglobal e a demanda total. Pelo lado da disponibilidadeglobal, tem-se a soma da produção, da importação e doestoque inicial contrapondo-se à demanda total, que incluia demanda intermediária, a demanda interna, a demandaexterna, as perdas em transporte e armazenagem e oestoque final.

Foram feitas diversas regressões entre os reque-rimentos de energia e o PIBRS para o período com-preendido entre 1979 e 2002, escolhendo-se, dentre elas,a função Log-Log que apresentou os melhores resultados,conferidos a partir de seus parâmetros, tais como ocoeficiente de determinação ajustado, a análise da variân-cia, os testes de hipótese com nível de significância de5% e o de Durbin-Watson.

4.1 Do modelo para estimar os fluxos da nova matriz

Os levantamentos que cobrem a infra-estruturaforam obtidos através da literatura pertinente e deentrevistas e se constituem nas variáveis do tipo estoque,que quantificam a intensidade dos fluxos de energiadurante o período prospectivo.

[Mi,hc,t] = λλλλλhc,t * [Ai,hc,t] , em que:

[Mi,hc,t] = matriz energética dos fluxos de cada

energético i, da hipótese h do cenáriotendencial c, no tempo t (Bensussan, 2000), emJoule;

Os requerimentos totais de energia, que vêm a sero escalar λhc,t, são obtidos conforme o modelo paraencontrar pontos de estrangulamento.

A matriz [Ai,hc,t] é calculada, dividindo-se o fluxodo energético i, da hipótese h do cenário tendencial c,no tempo t, em Joules, pelos requerimentos totais deenergia, em Joules, conforme o modelo para detectarpontos de estrangulamento descrito abaixo.

4.2 Para determinar a capacida- de de geração de energia elétrica para o Rio Grande do Sul no período 2003-10

Foram levantadas as capacidades das usinas deenergia elétrica do Estado do Rio Grande do Sul em2002 e adicionados os projetos em planejamento e emandamento para o período de 2003 a 2010.

4.3 Do modelo para detectar os pontos de estrangulamento entre os fluxos de energia elétrica e sua infra-estrutura em 2002-20

De posse das estimativas e dos cálculos dasvariáveis do tipo fluxo obtidos e da projeção da infra--estrutura energética a partir dos projetos em planejamentoe em andamento para o mesmo período de análise econforme cada uma das três hipóteses do cenáriotendencial, por diferença, identificam-se os estran-gulamentos.

λλλλλhc,t = escalar dos requerimentos totais de energiada hipótese h do cenário tendencial c, notempo t (Bensussan, 2000), em Joule;

[Ai,hc,t] = matriz dos coeficientes dos fluxos decada energético i (Bensussan, 2000)da hipótese h do cenário tendencial c,no tempo t.

energético i, da hipótese h do cenáriotendencial c, no tempo t (Bensussan,2000), em Joule;

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77Os estrangulamentos do setor elétrico do Rio Grande do Sul — 2010-20

5 Resultados e conclusõesA transição será marcada pela entrada do gás na-

tural na matriz energética, influindo quer na geração deeletricidade, como insumo, competindo com o carvão,abstraindo-se os mercados cativos, quer na suadestinação para a demanda final, abarcando diversossetores, dentre eles, o industrial, o residencial e oautomotivo.

Sem a entrada do gás na matriz energética, osindicadores energéticos² (Bensussan, 2000) ou seestabilizam, ou rumam em direção à convergência, o quemanteria a estrutura matricial, independentemente docrescimento do PIB. Entretanto, o gás, ao romper oequilíbrio, provoca perturbação nos indicadoresenergéticos, reencaminhando a matriz para um outropatamar de inércia ao longo do tempo.

Assim, o método adotado em Bensussan et al.(2003), ao tentar desenhar a prospectiva da matriz emtodos os seus fluxos, encontrou dificuldade na definiçãoda participação dos energéticos que irão compor atermeletricidade. Tal dificuldade foi provisoriamentecontornada, ao se considerar a eletricidade de formaagregada, simulando-se situações para as participaçõesdos carvões e do gás natural.

O estudo, ao se referir aos fluxos energéticos damatriz, deixa em aberto, como foi dito, a questão do gáse dos carvões como insumos para a geração de energiaelétrica. Por outro lado, propõe várias simulações deutilização do gás natural e dos carvões para finstermelétricos. Quanto à hidroeletricidade, são feitas váriassimulações dos regimes hidrológicos, para darflexibilidade, para baixo, ao conceito de disponibilidadegarantida3.

Diante de tal complexidade para a determinação dadisponibilidade energética,4 mesmo nesse cenário

tendencial, destacam-se cinco simulações a comentar,num total de 688, conforme Bensussan et al. (2003):

- a primeira simulação admite que os fatores dedisponibilidade5 das termelétricas a carvão, a gás,da hidroeletricidade e de outros6 se mantêm em100% de sua proposição originalmente calculada;

- a segunda simulação admite, para as usinas agás e a carvão, 100% de seus fatores dedisponibilidade originais, 85% para os dahidroeletricidade e 100% para os dos demais;

- a terceira simulação admite, para as usinas agás e a carvão, 75% de seus fatores de dis-ponibilidade originais, 85% para os da hidro-eletricidade e 100% para os das demais;

- a quarta simulação admite, para as usinas a gáse a carvão, 50% de seus fatores de disponibilidadeoriginais, 85% para os da hidroeletricidade e 100%para os das demais; e

- a quinta simulação admite, para as usinas a gás,50% e, para as a carvão, 40%7 de seus fatoresde disponibilidade originais, 85% para os dahidroeletricidade e 100% para os dos demais.

Essas cinco simulações são conjugadas com astaxas de crescimento da economia brasileira, cujosrebatimentos no PIB e nos requerimentos de energia, noRio Grande do Sul — ver resultados estatísticos nosQuadros 1 e 2 —, permitem as descrições conclusivasa seguir, sintetizadas nas Tabelas 1 a 5 e no Gráfico 1.

A Simulação 1 (Tabela 1), observando-se osnúmeros em negrito, revela os seguintes estran-gulamentos:

- em 2016, hipótese 3, de crescimento de 5,5% aoano da economia brasileira; e,

- em 2018, hipótese 2, de crescimento de 4,5% aoano da economia brasileira.

A Simulação 2 (Tabela 2), observando-se osnúmeros em negrito, revela os seguintes estrangula-mentos:

- em 2015, hipótese 3, de crescimento de 5,5% aoano da economia brasileira; e,

- em 2018, hipótese 2, de crescimento de 4,5% aoano da economia brasileira.

2 Os indicadores energéticos foram desenhados para revelar ocomportamento das variáveis da matriz energética, para sentira sua tendência ou uma ruptura na inércia esperada.

3 Energia assegurada é definida pela Agência Nacional de EnergiaElétrica (Aneel), conforme Resolução nº 268, de 13.08.98. Paraas termelétricas a carvão, não foram utilizadas as suas médiashistóricas, pois subestimariam a disponibilidade potencial.

4 Os projetos eólicos, por não pertencerem à idéia que se encerrano conceito de cenário tendencial, foram preteridos neste estudo,aguardando-se a sua participação quando da inclusão decenários alternativos, que permitirão a quantificação da matrizenergética cenarizada, sobretudo os de orientação ecológica,em uma próxima pesquisa. Mesmo assim, registram-se osinteresses da Woben, Gamesa, Enerfin, Elebrás e Petrobrás,com 16 usinas, totalizando 1.117,7MW de potência, com baseno Atlas Eólico do RS (Rio Grande do Sul, 2002).

5 Fator de disponibilidade é a relação entre potência asseguradaou passível de ser garantida e a potência efetiva. Vale para todoo período de análise.

6 Outros compreendem as usinas baseadas na casca de arroz eem resíduos de madeira.

7 Para as usinas a carvão, 40% do fator de disponibilidade original,que é de 90%, resulta em 36%, que é a média histórica deutilização do carvão — 35% a 36%.

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78 Jaques Alberto Bensussan

A Simulação 3 (Tabela 3), observando-se os nú-meros em negrito, revela os seguintes estran-gulamentos:

- em 2013, hipótese 3, de crescimento de 5,5% aoano da economia brasileira;

- em 2016, hipótese 2, de crescimento de 4,5% aoano da economia brasileira; e,

- em 2019, hipótese 1, de crescimento de 3,5% aoano da economia brasileira.

A Simulação 4 (Tabela 4), observando-se os núme-ros em negrito, revela os seguintes estrangulamentos:

- em 2011, hipótese 3, de crescimento de 5,5% aoano da economia brasileira;

- em 2013, hipótese 2, de crescimento de 4,5% aoano da economia brasileira; e,

- em 2015, hipótese 1, de crescimento de 3,5% aoano da economia brasileira.

A Simulação 5 (Tabela 5), observando-se osnúmeros em negrito, revela os seguintes estrangula-mentos:

- em 2010, hipótese 3, de crescimento de 5,5% aoano da economia brasileira;

- em 2012, hipótese 2, de crescimento de 4,5% aoano da economia brasileira; e,

- em 2014, hipótese 1, de crescimento de 3,5% aoano da economia brasileira.

O Gráfico 1, da quinta simulação, a mais históricade todas, reforça, em imagem, o conteúdo da Tabela 5.

A combinação dos energéticos dentro da pros-pectiva matricial depende de seus preços relativos, deseus custos, da eficiência tecnológica, da legislaçãoambiental e de outras decisões que a sociedade podetomar ou preterir.

De qualquer modo, considerando-se um cenáriotendencial, essas cinco simulações esboçadas já dãouma idéia das limitações impostas pelas taxas maiselevadas de crescimento da economia brasileira à matrizenergética do Rio Grande do Sul .

Ao mostrar uma projeção predominantementetérmica nas primeiras quatro simulações, muitas usinaspoderão operar de forma independente, isto é, fora dosistema da Operadora Nacional de Sistemas (ONS), oque poderá gerar fluxos de importação, não obstante aexistência de excedentes líquidos de energia, sobre osrequerimentos, pelo menos até 2015.

Outra questão a ser levantada é relativa aos custos,podendo a ONS deixar de requisitar serviços de certasusinas, deixando-as na ociosidade, e os excedentes deenergia esperados poderiam ser questionados.

Há que se considerar a possibilidade deestrangulamentos para o sistema nacional como um todo.Nesse caso, deverão prevalecer as simulações 1, 2 e 3,com custos muito mais elevados que os atuais e aumentoconsiderável dos impactos ambientais, devido à presençasignificativa das usinas térmicas a carvão e a gás natural.

Quadro 1

Resultados estatísticos do modelo logarítmico PIBRS(t) em função do PIBBR(t-1) — 2010-20

Coeficiente de determinação ajustado 0,947

Erro-padrão 0,043

Número de observações 32

F = 1 435,251 Significância de F = 6,794E-27

Coeficientes Erro-padrão Teste t Probabilidade de b = 0

Intercepto = ln a = 0,000

Variável independente b = 0,874 3,848E-04 2 271 1,674E-82

Estatística de Durbin-Watson 1,246

FONTE: BENSUSSAN, J. A. Algumas notas de planejamento prospectivo do Rio Grande do Sul 2003-2020; Parte 1: Eletricidade. Technologia, Canoas, v. 5, n. 2, p. 17-26, jul./dez. 2004.

NOTA: 1. PIBRS (t) = PIB do Rio Grande do Sul no tempo t. NOTA: 2. PIBBR (t) = PIB do Brasil no tempo (t-1).

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79Os estrangulamentos do setor elétrico do Rio Grande do Sul — 2010-20

Quadro 2

Resultados estatísticos do modelo logarítmico REQRS(t) em função do PIBRS(t) — 2010-20 Coeficiente de determinação ajustado 0,917

Erro-padrão 0,0693

Número de observações 22

F = 232,1526551 Significância de F = 1,80E-12

Coeficientes Erro-padrão Teste t Probabilidade de ln a = 0 e b = 0

Intercepto = ln a = -13,88830875 1,802500951 -7,705021591 2,07E-07

Variável independente b = 1,590634039 0,1043959 15,23655654 1,80E-12

a = 9,29788E-07

Estatística de Durbin-Watson 1,141419661

FONTE: BENSUSSAN, J. A. Algumas notas de planejamento prospectivo do Rio Grande do Sul 2003-2020; parte 1: Eletricidade. Technologia, Canoas, v. 5, n. 2, p. 17-26, jul./dez. 2004.

NOTA: 1. REQRS (t) = requerimentos de energia no Rio Grande do Sul no tempo t. NOTA: 2. PIBRS(t) = PIB do Rio Grande do Sul no tempo t. Tabela 1

Simulação 1(S1): requerimentos (REQ) e geração de energia elétrica do Rio Grande do Sul — 2010-20

(1 000 MWh)

REQUERIMENTOS E GERAÇÃO 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

REQH1 (1) ………….… 30 056 31 528 33 073 34 693 36 393 38 176 40 046 42 008 44 067 46 226 48 490

REQH2 (2) ………….… 33 004 35 087 37 302 39656 42 159 44 819 47 648 50 655 53 852 57 250 60 864

REQH3 (3) ………....…. 36 210 39 008 42 023 45 270 48 769 52 538 56 598 60 972 65 684 70 761 76 229

Geração (S1) ................ 53 829 53 829 53 829 53 829 53 829 53 829 53 829 53 829 53 829 53 829 53 829

FONTE DOS DADOS BRUTOS: SILVEIRA, Eberson J. T. Balanço energético consolidado do Estado do Rio Grande do Sul 1999- -2000. Porto Alegre: Secretaria de Energia, Minas e Comunicações, 2004. 266p.

(1) H1 = taxa de crescimento da economia brasileira a 3,5% ao ano. (2) H2 = taxa de crescimento da economia brasileira a 4,5% ao ano.(3) H3 = taxa de crescimento da economia brasileira a 5,5% ao ano.

Tabela 2 Simulação 2 (S2): requerimentos (REQ) e geração de energia elétrica do Rio Grande do Sul — 2010-20

(1 000 MWh)

REQUERIMENTOS E

GERAÇÃO 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

REQH1 (1) …..…...… 30 056 31 528 33 073 34 693 36 393 38 176 40 046 42 008 44 067 46 226 48 490

REQH2 (2) ……….…. 33 004 35 087 37 302 39 656 42 159 44 819 47 648 50 655 53 852 57 250 60 864

REQH3 (3)……….….. 36 210 39 008 42 023 45 270 48 769 52 538 56 598 60 972 65 684 70 761 76 229

Geração (S2) ............. 52 061 52 061 52 061 52 061 52 061 52 061 52 061 52 061 52 061 52 061 52 061

FONTE DOS DADOS BRUTOS: SILVEIRA, Eberson J. T. Balanço energético consolidado do Estado do Rio Grande do Sul 1999-2000. Porto Alegre: Secretaria de Energia, Minas e Comunicações, 2004. 266p.

(1) H1 = taxa de crescimento da economia brasileira a 3,5% ao ano. (2) H2 = taxa de crescimento da economia brasileira a 4,5% ao ano. (3) H3 = taxa de crescimento da economia brasileira a 5,5% ao ano.

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80 Jaques Alberto Bensussan

Tabela 5

Simulação 5 (S5): requerimentos (REQ) e geração de energia elétrica do Rio Grande do Sul — 2010-20 (1 000 MWh)

REQUERIMENTOS E GERAÇÃO 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

REQH1 (1) .................. 30 056 31 528 33 073 34 693 36 393 38 176 40 046 42 008 44 067 46 226 48 490

REQH2 (2) .................. 33 004 35 087 37 302 39 656 42 159 44 819 47 648 50 655 53 852 57 250 60 864

REQH3 (3) .................. 36 210 39 008 42 023 45 270 48 769 52 538 56 598 60 972 65 684 70 761 76 229

Geração (S5) ............. 36 057 36 057 36 057 36 057 36 057 36 057 36 057 36 057 36 057 36 057 36 057

FONTE DOS DADOS BRUTOS: SILVEIRA, Eberson J. T. Balanço energético consolidado do Estado do Rio Grande do Sul 1999-2000. Porto Alegre: Secretaria de Energia, Minas e Comunicações, 2004. 266p.

(1) H1 = taxa de crescimento da economia brasileira a 3,5% ao ano. (2) H2 = taxa de crescimento da economia brasileira a 4,5% ao ano. (3) H3 = = taxa de crescimento da economia brasileira a 5,5% ao ano.

Tabela 3

Simulação 3 (S3): requerimentos (REQ) e geração de energia elétrica do Rio Grande do Sul — 2010-20

(1 000 MWh)

REQUERIMENTOS E GERAÇÃO

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

REQH1 (1) …………… 30 056 31 528 33 073 34 693 36 393 38 176 40 046 42 008 44 067 46 226 48 490

REQH2 (2) …………… 33 004 35 087 37 302 39 656 42 159 44 819 47 648 50 655 53 852 57 250 60 864

REQH3 (3) …………… 36 210 39 008 42 023 45 270 48 769 52 538 56 598 60 972 65 684 70 761 76 229

Geração (S3) ............. 44 866 44 866 44 866 44 866 44 866 44 866 44 866 44 866 44 866 44 866 44 866

FONTE DOS DADOS BRUTOS: SILVEIRA, Eberson J. T. Balanço energético consolidado do Estado do Rio Grande do Sul 1999-2000. Porto Alegre: Secretaria de Energia, Minas e Comunicações, 2004. 266p. (1) H1 = taxa de crescimento da economia brasileira a 3,5% ao ano. (2) H2 = taxa de crescimento da economia brasileira a 4,5% ao ano. (3) H3 = taxa de crescimento da economia brasileira a 5,5% ao ano.

Tabela 4

Simulação 4 (S4): requerimentos (REQ) e geração de energia elétrica do Rio Grande do Sul — 2010-20 (1 000 MWh)

REQUERIMENTOS E GERAÇÃO 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

REQH1 (1) .................. 30 056 31 528 33 073 34 693 36 393 38 176 40 046 42 008 44 067 46 226 48 490

REQH2 (2) .................. 33 004 35 087 37 302 39 656 42 159 44 819 47 648 50 655 53 852 57 250 60 864

REQH3 (3) .................. 36 210 39 008 42 023 45 270 48 769 52 538 56 598 60 972 65 684 70 761 76 229

Geração (S4) ............. 37 671 37 671 37 671 37 671 37 671 37 671 37 671 37 671 37 671 37 671 37 671

FONTE DOS DADOS BRUTOS: SILVEIRA, Eberson J. T. Balanço energético consolidado do Estado do Rio Grande do Sul 1999-2000. Porto Alegre: Secretaria de Energia, Minas e Comunicações, 2004. 266p.

(1) H1 = taxa de crescimento da economia brasileira a 3,5% ao ano. (2) H2 = taxa de crescimento da economia brasileira a 4,5% ao ano.(3) H3 = taxa de crescimento da economia brasileira a 5,5% ao ano.

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81Os estrangulamentos do setor elétrico do Rio Grande do Sul — 2010-20

6 RecomendaçõesO principal resultado revelado na pesquisa e que

interessa ao desenvolvimento do Estado (Bensussan,2004) é detectar os pontos de estrangulamento entre osfluxos de energia do cenário tendencial, com a infra--estrutura correspondente, para a proposição de umprograma de investimentos no setor, pertinente aohorizonte de tempo demarcado.

Dessa forma, recomenda-se um novo projeto depesquisa em continuidade a este, que deverá incluir:

- a definição de cenários alternativos, além dotendencial, de modo similar aos apresentados noConselho Mundial de Energia, em 2000 (WorldEnergy Council, 2000), e nos estudos do PewCenter on Global Climate Change, em 2000;

- a proposição de um modelo de programação linearmultiperiódico, para o período 2010-30, queminimize o valor presente dos custos do sistemaenergético, sujeito a um elenco de restrições deoferta e de demanda de energia, e que leve em

consideração a questão ambiental, os rendi-mentos tecnológicos existentes e em P&D, oscustos e os preços relativos entre os energéticos,permitindo a confecção de uma matriz cenarizada,dentro do horizonte temporal de análise. Dessaforma, a questão dos energéticos, o gás naturale os carvões, na composição da termeletricidadepoderia ser precisada, conforme cada cenárioproposto e com as suas respectivas variantes;

- a disponibilização da matriz energética cenarizada,com todos os seus fluxos, para o período 2010-30; e

- a proposta de um programa de investimentos emenergia para o Estado do Rio Grande do Sul, parao período 2010-30.

00 000

10 000

20 000

30 000

40 000

50 000

60 000

70 000

80 000

90 000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Requerimentos: hipótese 1 Requerimentos: hipótese 2

Requerimentos: hipótese 3 Geração

(1 000 MWh)

Legenda:

0

Simulação 5: requerimentos e geração de energia elétrica do Rio Grande do Sul — 2002-20

Gráfico 1

FONTE DOS DADOS BRUTOS: SILVEIRA, Eberson J. T. Balanço energético consolidado do Estado do Rio Grande do Sul 1999-2000. Porto Alegre: Secretaria de Energia, Minas e Comunica- ções, 2004.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 75-82, fev. 2008

82 Jaques Alberto Bensussan

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 83-90, fev. 2008

83O mercado de trabalho da RMPA responde com defasagem à recuperação da economia do Estado em 2007

Trabalho e empregoTrabalho e empregoTrabalho e empregoTrabalho e empregoTrabalho e emprego

O mercado de trabalho da RMPA responde com defasagem àrecuperação da economia do Estado em 2007*

Eduardo Miguel Schneider** Economista do DIEESEJéferson Daniel de Matos*** Estatístico da FEEMíriam De Toni**** Socióloga da FEE

Em 2007, o mercado de trabalho da RegiãoMetropolitana de Porto Alegre (RMPA) apresentou umcomportamento pouco favorável em seus principaisindicadores, especialmente no primeiro semestre. Em quepese tal comportamento ser típico dos primeiros mesesdo ano, observando-se os dados do período de janeiro aagosto, constata-se queda na ocupação e elevação dataxa de desemprego até o mês de junho, registrando-serecuperação desses indicadores apenas a partir de julho.De modo inverso, o rendimento médio real dostrabalhadores apresentou evolução positiva no período.

À primeira vista, tais resultados parecem contrastarcom o desempenho favorável da economia gaúcha nesteano, conforme atestado por vários indicadores da atividadeeconômica. Nesse contexto, o presente artigo tem comoobjetivo analisar o mercado de trabalho metropolitano apartir de informações da Pesquisa de Emprego eDesemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre(PED-RMPA), confrontando seu comportamento com odesempenho da economia regional. A partir de recortesanalíticos distintos, busca-se contemplar tanto a evoluçãodesse mercado ao longo de 2007 quanto sua situaçãoneste ano, comparativamente ao mesmo período do anoanterior, em que os indicadores mostram um quadrofavorável, indicando, portanto, direção semelhante àregistrada para a economia regional.

*Artigo recebido em 11 de out. 2007.

Os autores agradecem os comentários e sugestões dos co-legas Irene Maria S. Galeazzi e Raul A. Bastos e o auxílio deAna Paula Sperotto, Estatística do DIEESE, na organizaçãodos dados.

**E-mail: [email protected]

***E-mail: [email protected]

****E-mail: [email protected]

1 O mercado de trabalho na RMPA, em 2007

Segundo os dados mensais da PED-RMPA, oprimeiro semestre de 2007 caracterizou-se pela constantequeda no nível de ocupação, o que se refletiu no aumentoda taxa de desemprego, no período. De outra sorte, osrendimentos apresentaram evolução positiva, tendoregistrado ganhos reais no período (Tabela 1).

Como se pode depreender da análise da Tabela 1, ocontingente de ocupados caiu em 2007 até junho —todavia com um ritmo cada vez menor ao longo dosmeses —, a partir de quando esboçou uma recuperação.Cabe destacar que essa reação positiva do nívelocupacional aconteceu um tanto tardiamente, neste ano,tendo em vista que, em períodos anteriores, ocorrianormalmente em maio ou junho. Contudo, ao comparar--se com a estimativa de ocupados em dezembro de 2006,em que pesem efeitos sazonais, verifica-se que essarecuperação recente da ocupação nos últimos dois mesesainda não foi capaz de reverter o declínio no número depostos de trabalho observados ao longo do primeirosemestre do ano, de modo que se registra um decréscimoacumulado, no ano, de 8,5% na ocupação.

Esse desempenho da ocupação foi determinantena explicação do comportamento da taxa de desempregototal neste ano, que aumentou, de forma continuada, entreos meses de fevereiro e junho. A retomada da geraçãode postos de trabalho nos últimos dois meses da série(julho e agosto) impactou favoravelmente a taxa dedesemprego total, que passou a decrescer, atingindo13,4% em agosto. Todavia, de modo semelhante aosupracomentado a respeito da ocupação, em queinterferiram efeitos de sazonalidade, esse declíniorecente da taxa de desemprego total ainda não logrou

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 83-90, fev. 2008

84 Eduardo Miguel Schneider; Jeferson Daniel de Matos; Míriam De Toni

retornar ao patamar mais favorável registrado em dezembrode 2006, quando o indicador se situava em 12,9% daPopulação Economicamente Ativa (PEA).

O rendimento médio real dos ocupados, por suavez, observou evolução positiva, apresentandocrescimento contínuo no período fev.-jun./07 eestabilizando-se em junho e julho do mesmo ano. Assim,até julho de 2007, o rendimento registrou crescimentoreal de 3,6% sobre o valor vigente em dezembro de 2006,alcançando R$ 1.054,00. Essa evolução positiva dorendimento médio real dos ocupados em 2007 conferecontinuidade à tendência de lenta recuperação desseindicador verificada desde 2005, sendo especialmentesignificativa, pois consolida a inflexão na trajetória deforte queda registrada nos sete anos imediatamenteanteriores.

Uma vez analisados os resultados pouco favoráveisdo mercado de trabalho na RMPA, ao longo de 2007,notadamente em seu primeiro semestre, faz-senecessário qualificar a abordagem, contornando os efeitosda sazonalidade e sinalizando o sentido tendencial domercado de trabalho metropolitano. Assim, orienta-se ofoco analítico dos principais indicadores para o resultadoacumulado no primeiro semestre de 2007,comparativamente ao mesmo período do ano anterior, apartir dos dados apresentados na Tabela 2 e no Gráfico1.

Em termos do nível ocupacional, verifica-se que ototal de ocupados na RMPA, no primeiro semestre desteano, superou em 47.000 postos de trabalho o resultadoregistrado no primeiro semestre de 2006 — significandoum aumento de 3,0% no nível de ocupação entre osperíodos (Tabela 2).

Quanto à estrutura ocupacional setorial, mantendo--se a mesma base de comparação semestral, observa--se que a indústria foi o único setor que apresentou quedana ocupação — foram eliminados 14.000 postos detrabalho, o que representa uma redução de 4,5%.Contribuiu para tal resultado o desempenho desfavorávelda indústria de calçados, que, sozinha, foi responsávelpor mais da metade da redução observada — foramcortados 8.000 postos de trabalho nesse ramo. Essaindústria em particular, muito voltada ao mercado externo,ressente-se dos efeitos de uma taxa de câmbiodesfavorável frente à intensificação da competiçãointernacional, como será detalhado adiante.

Já os outros setores apresentaram geração depostos de trabalho na comparação do primeiro semes-tre de 2007 com o mesmo período de 2006. O setorserviços — cabe sublinhar que é que mais emprega naRMPA — aumentou em 6,2% o seu contingente de

ocupados; foram gerados 49.000 postos de trabalho nosetor. O comércio aumentou em 1,8% o seu contingentede ocupados; foram criados 5.000 postos de trabalho nosetor. Esse setor está estimulado tanto pela taxa cambial,que torna mais acessíveis os produtos importados (dentreeles, eletrodomésticos e eletroeletrônicos), quanto pelaqueda na taxa de juros, que incentiva o crédito e arealização de compras parceladas (como as vendas deautomóveis).

Contudo o principal vetor explicativo da recuperaçãoobservada no comércio, bem como de outros setores, éa retomada do crescimento dos rendimentos, que, emparalelo à recuperação do emprego, repercute no aumentoda massa de renda disponível para consumo.1 Essaretomada dos rendimentos pode ser explicada ainda poroutros fatores, tais como os resultados favoráveis dasnegociações salariais no primeiro semestre deste ano,uma vez que pesquisa do DIEESE (2007) indica que 100%das negociações acompanhadas pelo Departamento noRS registraram índices de reajustes iguais ou superioresao INPC, e o fato de que os reajustes concedidos em2007 ao salário mínimo nacional (8,57%) e ao pisoregional gaúcho (5,98%) atingiram percentuais bem acimada inflação.

No caso da construção civil na RMPA, além daelevação da renda disponível, o incremento da ocupaçãopode ser explicado também por várias medidas que vêmsendo tomadas, com vistas a estimular o nível deatividades nesse setor, tais como: aumento na oferta decrédito imobiliário, redução nos juros dos financiamentos,alongamento nos prazos dos empréstimos, redução dasexigências na contratação das aquisições de imóveis,além de medidas de incentivo à construção civil no âmbitodo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), queprevê a liberação de R$ 1,6 bilhão em projetos para o RioGrande do Sul (Barcelos; Brum, 2007). Este foi o setorque mais aumentou, em termos relativos, o seucontingente de ocupados no primeiro semestre de 2007frente ao mesmo semestre do ano anterior, com umcrescimento de 7,7% na ocupação, refletindo a ampliaçãode 6.000 postos de trabalho.

Esse desempenho favorável da ocupação nacomparação semestral, ou seja, expurgando-se os efeitossazonais, refletiu-se também na performance da taxa de

1 Deve-se mencionar que dados da Serasa (Situação..., 2007)atestam queda de 1,6% na inadimplência, no primeiro semestredeste ano, comparado ao primeiro semestre de 2006, sinalizandoque parcela da massa de rendimentos está sendo utilizada nopagamento das dívidas, o que poderá ter efeitos benéficos sobreo risco dos empréstimos e, conseqüentemente, apoiar umaqueda nas taxas de juros no crédito pessoal.

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85O mercado de trabalho da RMPA responde com defasagem à recuperação da economia do Estado em 2007

desemprego total. Mantendo-se a mesma base decomparação, evidencia-se que ela declinou de 15,0% noprimeiro semestre de 2006 para 13,6% nos primeiros seismeses de 2007. Essa taxa mais baixa em 2007 resultade taxas de desemprego mensais em patamares sempreinferiores aos verificados nos mesmos meses em 2006,como visualizado no Gráfico 1.

Por fim, quanto aos rendimentos médios reais dosocupados, constata-se aumento de 3,0% em termos

reais, comparando-se os resultados para o primeirosemestre de 2007 com os do mesmo período do anoanterior. Em termos setoriais, apenas o rendimento médioreal do setor industrial apresentou queda (-2,6%). Já omelhor resultado foi registrado pelo setor comércio, queaumentou em 5,7% seu rendimento médio real, seguidopelos setores serviços (3,8%), construção civil (3,4%) eemprego doméstico (2,6%).

Tabela 1

Evolução dos ocupados, da taxa de desemprego total e do rendimento médio real dos ocupados na RMPA – ago./06-ago./07

OCUPADOS RENDIMENTO MÉDIO REAL DOS OCUPADOS ANOS E MESES

Número (1) Índice (2)

TAXA DE DESEMPREGO TOTAL (%) (3)

Valor (4) Índice (2)

2006 Ago. 1 557 108,4 14,6 977 87,6 Set. 1 583 110,2 14,3 997 89,4 Out. 1 618 112,7 14,2 1 012 90,8 Nov. 1 642 114,3 13,7 1 026 92,0 Dez. 1 651 115,0 12,9 1 017 91,2 2007 Jan. 1 643 114,4 12,2 987 88,5 Fev. 1 634 113,8 12,3 992 89,0 Mar. 1 619 112,7 12,9 997 89,4 Abr. 1 616 112,5 13,6 1 013 90,9 Maio 1 610 112,1 14,1 1 020 91,5 Jun. 1 609 112,0 14,4 1 054 94,5 Jul. 1 621 112,9 13,8 1 054 94,5 Ago. 1 637 114,0 13,4 … …

FONTE: PED-RMPA – Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio RMPA. (1) Estimativa em 1.000 pessoas. (2) Os dados têm como base a média de 2000 = 100. (3) Desempregados/População Economicamente Ativa (PEA). (4) Inflator utilizado: IPC-IEPE; valores em reais de jul./07.

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86 Eduardo Miguel Schneider; Jeferson Daniel de Matos; Míriam De Toni

Tabela 2

Estimativa dos ocupados, segundo setores de atividade econômica, na Região Metropolitana de Porto Alegre – 1º sem./06 e 1º sem./07

VARIAÇÕES ESTIMATIVAS

(1 000 pessoas) SETORES DE ATIVIDADE

ECONÔMICA

1º sem./06 1º sem./07

Absoluta 1º sem./07 1º sem./06

(1 000 pessoas)

Relativa 1º sem./07

1º sem./06 (%)

Total de ocupados ........... 1 567 1 614 47 3,0 Indústria ........................... 309 295 -14 -4,5 Comércio .......................... 274 279 5 1,8 Serviços (1) ...................... 794 843 49 6,2 Construção civil ................ 78 84 6 7,7 Emprego doméstico ......... 107 107 0 0,0 Outros .............................. (2)- (2)- - - FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio PMPA. (1) Inclui o ramo de atividade serviços de administração pública, forças armadas e polícia. (2) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

13,6

14,9 14,914,6

14,3 14,2

13,7

12,9

14,4

13,813,4

13,2

15,015,4

15,5

14,1

13,6

12,9

12,312,2

11,5

12,0

12,5

13,0

13,5

14,0

14,5

15,0

15,5

16,0

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

2006 2007Legenda:

Evolução da taxa de desemprego total na RMPA — jan.-dez. 2006-07

Gráfico 1

FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio PMPA.

(% sobre PEA)

0,0

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87O mercado de trabalho da RMPA responde com defasagem à recuperação da economia do Estado em 2007

2 Confrontando desem- penhos: o mercado de trabalho da RMPA e a economia do RS

O desempenho do mercado de trabalho da RMPAno decorrer de 2007, até o mês de agosto, traz comocaracterística, relativamente ao comportamentoobservado em anos anteriores, uma recuperação maistardia de dois de seus principais indicadores. Como jáanalisado, a ocupação passou a crescer apenas a partirde julho, mês em que o desemprego também apresentouo primeiro movimento de redução.

Tendo-se presente que vários indicadores dedesempenho da economia gaúcha para 2007 vêmacusando retomada expressiva no crescimento daeconomia regional, emergem questões a respeito dasrazões que teriam levado a ocupação a responder maistardiamente aos estímulos da economia registradosespecialmente no primeiro semestre do ano, bem comoao fato de a ocupação na indústria ter declinado, quandose compara o contingente ocupado no primeiro semestrede 2007 com aquele do mesmo período do ano anterior.

Dentre os indicadores relativos à economia doEstado, dois merecem ser destacados. O maisabrangente deles, o Índice Trimestral da AtividadeProdutiva (ITAP)2, apresentou um crescimento de 8,9%no primeiro semestre do corrente ano, em relação a igualperíodo do ano passado, refletindo o crescimento de10,1% da agropecuária e de 8,5% da indústria detransformação. Ressalve-se, doravante, que essecrescimento ocorreu sobre uma base comparativadeprimida, dado o fraco desempenho da economiaestadual nos últimos dois anos. No primeiro semestre de2007, contribuíram positivamente para a boa performanceda indústria os ramos de atividade de veículosautomotores e de máquinas e equipamentos, enquantoo destaque negativo coube à indústria coureiro-calçadista.

Ao lado do ITAP, o desempenho do comércio noEstado e na RMPA reforça a recuperação da economiagaúcha neste ano de 2007, na comparação com o mesmoperíodo do ano anterior. No caso da RMPA, o Índice deVendas do Varejo (IVV) acusou variação positiva de 5,6%

no acumulado do ano até o mês de junho, frente aomesmo período de 2006 (FEE, 2007b).

Comparando-se o desempenho da economia gaúchacom os dados apresentados para o mercado de trabalhoda RMPA, cabe tecer alguns comentários que podemser tomados como vetores explicativos para ocomportamento do mercado de trabalho regional.

No que concerne à evolução desfavorável domercado de trabalho da RMPA no decorrer deste ano —notadamente em seu primeiro semestre —, é precisoreferir que, acompanhando as características estruturaisda matriz produtiva brasileira, a economia gaúcha e, maisespecificamente, a da RMPA têm, historicamente, umpadrão de sazonalidade que repercute sobre o mercadode trabalho de forma bem definida: a ocupação geralmentetende a cair no primeiro semestre do ano e a se recuperarno segundo semestre, ocorrendo comportamento inversoem relação à taxa de desemprego, como se podeobservar no Gráfico 2. O comportamento sazonal estáassociado, em boa medida, ao aquecimento do nível deatividade da economia no segundo semestre, o que acabatendo reflexos positivos sobre o mercado de trabalho.Essa situação está ligada tanto à reposição de estoquese ao atendimento da maior demanda do comércio, dadaa expectativa de aumento do consumo vinculado às datascomemorativas do período final do ano, quanto a umacerta dinamização das atividades do setor serviçosnesse período.

Entretanto, ao se analisarem os dados para omercado de trabalho metropolitano, comparando-se oprimeiro semestre de 2007 com o mesmo período doano anterior, os resultados, tanto para o nível ocupacionalquanto para o desemprego, indicam uma situação maisfavorável neste ano, acompanhando, portanto, a direçãoevidenciada pelos indicadores sobre a economia gaúcha,os quais utilizam base comparativa similar.

Contudo o descompasso manifesto em especial noque respeita ao desempenho negativo do nívelocupacional da indústria da RMPA, frente à elevação daprodução nesse setor, registrada pelo ITAP, merece umexame mais detalhado, através do qual se busca explicartanto a queda da ocupação na indústria quanto a retomadarelativamente tardia do aumento da ocupação regional,verificada neste ano.

Detendo-se no setor industrial, sobressai a criseda indústria de calçados, que vem apresentando quedana produção e no nível de emprego, sendo emblemático,nesse contexto, o fechamento de uma das maioresexportadoras de calçados do Estado, a CalçadosReichert, com mais de 70 anos no mercado (Dutra, 2007).Tais fatos tornam-se mais graves em razão da impor-

2 O ITAP é um índice agregado da produção de dois setoresrelevantes da economia gaúcha — a agropecuária e a indústriade transformação, com participações, respectivamente, de 20%e 80% na composição do índice (FEE, 2007).

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88 Eduardo Miguel Schneider; Jeferson Daniel de Matos; Míriam De Toni

tância dessa indústria no parque fabril da RMPA e napauta exportadora do RS — o setor ocupa em torno deum quarto do total da mão-de-obra da indústria detransformação da RMPA (Inf. PED, 2007) e detém osegundo lugar em termos de valor das exportações noEstado (FEE, 2007c)3. A crise nesse setor decorre,fundamentalmente, do fato de que, no mercado externo,ele vem sentindo os impactos negativos da valorizaçãoda taxa cambial e da concorrência de fabricantesinternacionais — especialmente a China, que respondepor cerca de 70% do volume de pares de calçadosimportado pelo País —, sem que a demanda internacompense a perda de competitividade no mercadointernacional.4 Tendo em vista que esse é um setor maisintensivo em mão-de-obra, as reduções na produção têmefeitos negativos imediatos e fortes sobre o contingentede trabalhadores ocupados.

Ainda em relação ao desempenho negativo daocupação na indústria, cabem outras considerações, que,em conjunto, acabam por interferir no nível ocupacionaldo setor. Embora, na discussão realizada a seguir, boaparte das informações se refira ao Estado, seu impactoé relevante para o setor industrial da RMPA, considerandoque ele concentra mais da metade do Produto InternoBruto da indústria do RS (Alonso, 2001).

Nesse sentido, destaca-se o estudo de Contri(2007), que, utilizando uma classificação das atividadesda indústria por intensidade tecnológica, constata que aretomada da indústria gaúcha neste ano tem sidoalavancada pelos setores de média-alta e média-baixatecnologias, mais intensivos na utilização do fator capitale pouco demandantes do fator trabalho. Ao contrário, ossetores de baixa tecnologia, que usam maisintensivamente o fator trabalho, registraram queda naprodução, sendo que o setor de couros e calçadosregistrou o maior declínio, de 10,9% no acumulado até

jul./07.5 Além desse fator, outros elementos tambémpodem ser tomados como responsáveis pela tardiaretomada da contratação de mão-de-obra no mercadometropolitano, tais como os elevados estoques deprodutos finais industriais, depois de quase dois anos decrise nas vendas industriais6, e o baixo patamar do nívelmédio de utilização da capacidade instalada da indústria.7

A julgar pelas informações da PED-RMPA, essa reduçãona capacidade ociosa industrial vem sendo, inicial-mente, propiciada pela ampliação do expediente dashoras-extras — no período ago./06-ago./07, o percentualde trabalhadores industriais que trabalharam mais de 44horas semanais ampliou-se de 24,8% para 28,2% (Inf.PED, 2007).

3 Considerando-se a indústria de transformação, a participaçãodo setor couros e fabricação de artefatos de couro, artigos deviagem e calçados alcançou 15,9% do valor das exportaçõesno período jan.-jun./07 — em primeiro lugar está o setor produtosalimentícios e bebidas (24%) —, tendo registrado, no entanto,queda de 66,0% no volume exportado (FEE, 2007c).

4 Conforme estudo de Calandro (2007), a taxa acumulada daprodução de calçados, no Estado, vem sendo negativa desde2005, situação que se viu agravada neste ano de 2007, comredução de 15% na produção (período jan.-abr./07). Bello (2007),por sua vez, afirma que as empresas exportadoras maisafetadas negativamente pela valorização cambial são as que secaracterizam por uso mais intensivo em mão-de-obra e/ou pelautilização de insumos e matérias-primas nacionais, dentre asquais estão incluídas as produtoras de couro e calçados.

5 No acumulado do ano até jul./07, registraram-se crescimentopara as indústrias de média-alta tecnologia (19,2%) e de média--baixa tecnologia (17,9 %) e queda de 1,2% para as de baixatecnologia (Contri, 2007).

6 Em um índice que varia entre zero e 100, o nível de estoquesestava em 56 no segundo trimestre de 2005, caiu para 51 nosegundo trimestre de 2006 e, agora, no segundo trimestre de2007, encontra-se em 49 (Sond. Ind., 2007).

7 Em um índice que varia de zero a 100, no segundo trimestre de2006 esse indicador estava em 74 e agora, no segundo trimestrede 2007, aumentou para 76 (Sond. Ind., 2007).

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89O mercado de trabalho da RMPA responde com defasagem à recuperação da economia do Estado em 2007

3 Considerações finaisConsiderando-se os aspectos analisados quanto à

evolução dos principais indicadores do mercado detrabalho da RMPA no decorrer de 2007, até o mês deagosto, e os dados sobre a economia gaúcha apontadospara este ano, pode-se esperar um cenário mais favorável,no que respeita às perspectivas para o mercado detrabalho regional nos próximos meses de 2007.Ressalvada a questão do impacto cambial no setorcalçadista e das características da indústria gaúchaquanto à intensidade tecnológica, espera-se que aeconomia do Estado mantenha o curso positivo registradono primeiro semestre de 2007, reforçando a trajetória derecuperação do mercado de trabalho regional iniciada emjulho último.

Para tanto, deverão contribuir, além de elementossazonais ligados ao nível de atividade da economia nosegundo semestre do ano, fatores tais como: asexpectativas de um crescimento industrial maissustentado, levando as empresas a contratarem maistrabalhadores para prosseguir na redução da capacidadeociosa ou até mesmo na ampliação da capacidadeinstalada no médio ou no longo prazo, a depender dofôlego do crescimento projetado; as várias medidas deincentivo à construção civil, quer no mercado imobiliário,quer no âmbito do PAC; e, não menos importante, osbons resultados que o setor agropecuário vemapresentando e as perspectivas alvissareiras para a safra2007/2008, o que é particularmente relevante no âmbitodo Estado, dado o peso desse setor na economiaregional.

70,0

75,0

80,0

85,0

90,0

95,0

100,0

105,0

110,0

115,0

Jan.

/04

Mar

./04

Mai

o./0

4

Jul./

04

Set

./04

Nov

./04

Jan.

/05

Mar

./05

Mai

o./0

5

Jul./

05

Set

./05

Nov

./05

Jan.

/06

Mar

./06

Mai

o./0

6

Jul./

06

Set

./06

Nov

./06

Jan.

/07

Mar

./07

Mai

o./0

7

Jul./

07

Ocupação Desemprego

Índice

Legenda:

0,0

Evolução do índice da estimativa do número de ocupados e do índice da taxa de desemprego na RMPA — jan./04-ago./07

FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio RMPA. NOTA: Os índices tem como base a média de 2004 = 100.

Gráfico 2

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Entretanto cabe certa cautela quanto à continuidadede elevação dos rendimentos do trabalho, considerando--se a possibilidade de reversão dessa tendência,conforme sinaliza a estabilização desse indicador noúltimo mês, no que pesou a alta da inflação. Esse cenáriomenos favorável traria repercussões negativas sobre oconsumo das famílias e, em conseqüência, sobre aeconomia e o mercado de trabalho. Ademais, deve-seatentar para possíveis rebatimentos sobre a economia,advindos de turbulências nos mercados financeirosdesencadeadas pela crise no mercado imobiliário dosEUA, bem como para a situação crítica em que seencontram as finanças públicas estaduais, mais uma vezexposta na proposta do Orçamento do Estado para 2008,recentemente enviada à Assembléia Legislativa. Todaviaacredita-se que repercussões mais fortes desses fatorespoderão ser sentidas, de modo mais efetivo, no próximoano, pois, para o presente exercício, as principaisdecisões em termos de investimento e de consumo jáforam tomadas.

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CONTRI A. L. A intensidade tecnológica da produçãoindustrial gaúcha. Carta de Conjuntura FEE, PortoAlegre, v. 16, n. 8, ago. 2007.

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DUTRA, Carla. Crise calçadista — fechamento deempresa pode deixar mais de 5 mil sem emprego. ZeroHora, Porto Alegre, p. 20, 30 maio 2007.

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICASIEGFRIED EMANUEL HEUSER — FEE. Índice deVendas do Comércio (IVC). Disponível em:<http://www.fee.rs.gov.br/sitefee/pt/content/estatisticas>.Acesso em: ago. 2007b.

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Indicadores selecionados do RS*

* Tabelas compiladas por Marilene Gauer (coordenação), Ana Maria de Oliveira Feijó e Jussara Lima do Nascimento, pertencentes ao Núcleode Dados do Centro de Informações Estatísticas da FEE.

Tabela 1

Produção, área colhida e produtividade dos principais produtos da lavoura no Rio Grande do Sul — 2006/07

2006 2007 (1) PRODUTOS Produção

(t) Área (ha)

Produtividade (kg/ha)

Produção (t)

Área (ha)

Produtividade (kg/ha)

Arroz ....................... 6 784 231 1 023 074 6 631 6 342 251 940 964 6 740 Banana ................... 118 174 11 344 10 417 110 133 11 544 9 540 Batata-inglesa ......... 335 209 24 143 25 624 386 393 24 259 28 455 Cana-de-açúcar ...... 1 166 717 33 277 35 061 1 429 238 35 768 39 959 Cebola .................... 146 325 10 894 13 432 161 559 11 164 14 471 Feijão ...................... 120 156 121 670 2 057 142 428 116 958 2 376 Fumo ....................... 472 720 243 065 1 945 482 652 229 618 2 102 Laranja .................... 339 765 27 476 12 366 340 956 27 020 12 619 Maçã ....................... 328 091 15 260 21 500 471 602 16 360 28 827 Mandioca ................ 1 297 191 87 396 14 843 1 392 475 88 737 15 692 Milho ....................... 4 528 143 1 403 218 3 227 5 991 497 1 364 343 4 391 Soja ........................ 7 559 288 3 863 726 1 956 9 938 817 3 890 583 2 555 Trigo ........................ 823 112 607 304 1 355 1 689 593 836 432 2 020 Uva ......................... 623 847 44 298 14 083 705 228 45 381 15 540

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE/LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro, IBGE. (1) Dados de out./07.

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Tabela 2

Taxas de crescimento da produção, da área colhida e da produtividade dos principais produtos da lavoura no Rio Grande do Sul — 2006/07

(%)

2006/2005 2007/2006 (1) PRODUTOS

Produção Área Produtividade Produção Área Produtividade

Arroz .......................... 11,2 1,7 9,3 -6,5 -8,0 1,6 Banana ...................... 9,2 8,0 1,1 -6,8 1,8 -8,4 Batata-inglesa ........... 18,0 2,2 14,8 15,3 0,5 11,0 Cana-de-açúcar ........ 28,4 2,6 25,1 22,5 7,5 14,0 Cebola ....................... 7,5 3,0 4,4 10,4 2,5 7,7 Feijão ........................ 60,2 12,1 87,0 18,5 -3,9 15,5 Fumo ......................... 9,8 0,6 9,3 2,1 -5,5 8,1 Laranja ...................... 9,0 1,0 7,9 0,4 -1,7 2,0 Maçã ......................... 10,6 2,0 8,4 43,7 7,2 34,1 Mandioca ................... 14,9 0,4 14,4 7,3 1,5 5,7 Milho .......................... 204,9 45,3 109,8 32,3 -2,8 36,1 Soja ........................... 209,2 3,5 198,6 31,5 0,7 30,6 Trigo .......................... -40,8 -28,1 -17,8 105,3 37,7 49,1 Uva ............................ 2,0 4,4 -2,3 13,0 2,4 10,3

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE/LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro, IBGE. (1) Dados de out./07.

Tabela 3 Taxas de crescimento da produção da indústria de transformação, segundo os setores de atividade,

no Rio Grande do Sul — 2006/07 (%)

SETORES 2006 2005

1º TRIM/07 1º TRIM/06

2º TRIM/07 2º TRIM/06

3º TRIM/07 3º TRIM/06

ACUMULADA ATÉ O 3º

TRIMESTRE

Alimentos ........................................................................ 4,7 5,8 4,1 -1,9 2,6 Bebidas ........................................................................... 7,3 5,7 13,2 -4,8 5,6 Borracha e plástico ......................................................... 6,1 8,6 2,0 8,1 6,2 Calçados e artigos de couro ........................................... -8,8 -16,2 -5,8 -6,4 -9,6 Celulose, papel e produtos do papel ............................... 4,1 0,4 -4,0 -11,0 -4,9 Edição, impressão e reprodução de gravações .............. -1,6 2,9 13,6 -3,7 3,8 Fumo ............................................................................... -7,3 10,0 -2,9 -25,0 -6,6 Máquinas e equipamentos .............................................. -16,3 14,5 47,5 35,0 31,5 Metalurgia básica ............................................................ -0,4 7,0 4,7 6,8 6,1 Mobiliário ......................................................................... 5,0 8,9 -9,2 -7,7 -3,5 Outros produtos químicos ............................................... 0,8 5,1 4,5 -2,7 2,0 Produtos de metal — exceto máquinas e equipamentos -10,7 -5,5 -3,0 5,3 -1,0 Refino de petróleo e álcool ............................................. -2,8 18,2 56,5 36,1 36,3 Veículos automotores ..................................................... 7,1 31,2 25,7 30,8 29,2 Total ................................................................................ -2,0 6,3 10,4 5,2 7,3

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL: produção física. Rio de Janeiro, IBGE.

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Tabela 4

Taxas de crescimento do volume real de vendas dos comércios varejista e atacadista, segundo os setores de atividade, no Rio Grande do Sul — 2006/07

(%)

SETORES 2006 2005

1º TRIM/07 1º TRIM/06

2º TRIM/07 2º TRIM/06

3º TRIM/07 3º TRIM/06

ACUMULADA ATÉ O 3º

SEMESTRE

TOTAL ....................................................................................... 1,6 6,9 7,6 5,5 6,7 Comércio varejista ................................................................... 2,6 4,2 4,4 0,6 3,0 Produtos alimentícios, bebidas e fumo ...................................... 9,4 7,5 4,4 -1,5 3,3 Produtos alimentícios — hipermercados e supermercados ...... 9,5 9,1 6,7 1,4 5,6 Combustíveis e lubrificantes ...................................................... -6,1 -10,0 -9,9 -17,1 -12,3 Veículos, motocicletas, partes, peças e acessórios .................. 2,7 11,4 17,4 18,0 15,7 Materiais de construção ............................................................. 0,9 7,1 10,7 8,8 8,8 Tecidos, vestuário e calçados .................................................... -4,1 -3,5 1,5 -3,7 -1,7 Móveis e eletrodomésticos ........................................................ 1,4 7,4 5,6 -0,3 4,1 Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos ................................................................................ 4,0 1,3 2,6 -1,8 0,6 Equipamentos e material para escritório, informática e comu-nicação ....................................................................................... 24,8 10,6 -1,2 -14,1 -2,8 Livros, jornais, revistas e papelaria ........................................... -7,0 -6,0 -7,7 -7,6 -7,1 Outros artigos de uso pessoal e doméstico ............................... 2,6 8,9 10,5 13,7 11,1 Comércio atacadista ................................................................ 0,5 10,4 11,3 11,3 11,0 Produtos alimentícios, bebidas e fumo ...................................... 3,3 7,4 7,2 5,6 6,7 Combustíveis ............................................................................. -10,3 9,4 13,1 10,7 11,1 Veículos, motocicletas, partes, peças e acessórios .................. 1,4 5,4 12,6 10,2 9,4 Material de construção, madeira, ferragens e ferramentas ....... 1,2 2,5 11,9 11,5 8,6 Artigos de usos pessoal e doméstico ........................................ 6,3 13,4 12,6 7,4 11,0 Produtos intermediários industriais ............................................ 2,5 6,7 5,7 10,5 7,7 Máquinas, aparelhos e equipamentos ....................................... 9,6 15,0 20,9 21,6 19,3 Matérias-primas agropecuárias ................................................. 17,0 26,8 13,5 27,3 21,0 Mercadorias em geral (outros) ................................................... 1,9 5,7 11,5 10,5 9,3

FONTE: FEE/NPE. NOTA: Indicadores calculados com base em dados primários oriundos da Secretaria da Fazenda-RS.

Tabela 5 Taxas de crescimento do nível de ocupação, segundo os setores de atividade,

na Região Metropolitana de Porto Alegre — 2006/07 (%)

SETORES 2006 2005

1º TRIM/07 1º TRIM/06

2º TRIM/07 2º TRIM/06

3º TRIM/07 3º TRIM/06

JAN-OUT/07 JAN-OUT/06

Indústria de transformação .................... -1,1 -3,3 -2,9 2,2 -0,4 Comércio ................................................ 3,7 2,0 2,4 2,5 2,4 Serviços .................................................. 1,6 5,6 5,1 5,5 5,1 Construção civil ...................................... 7,0 -3,0 11,1 10,8 5,6 Serviços domésticos .............................. 4,0 0,0 0,0 7,6 2,5 Total ....................................................... 1,7 2,3 3,0 4,8 3,4

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP e DIEESE.

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Tabela 6

Taxas de crescimento do nível de emprego, do rendimento médio real e da massa de rendimentos reais dos ocupados e dos assalariados na Região Metropolitana de Porto Alegre — 2006/07

(%)

DISCRIMINAÇÃO 2006 2005

1º TRIM/07 1º TRIM/06

2º TRIM/07 2º TRIM/06

3º TRIM/07 3º TRIM/06

ACUMULADA ATÉ O 3º

TRIMESTRE

Ocupados Emprego .................................................... 1,6 2,5 3,3 4,9 3,6 Rendimento real ........................................ 1,1 2,3 3,6 2,4 2,8 Massa de rendimentos reais .................... 2,7 4,8 7,0 7,4 6,4 Assalariados Emprego .................................................... 2,3 4,3 2,4 4,3 3,7 Rendimento real ........................................ 1,0 3,2 3,5 1,5 2,7

Massa de rendimentos reais .................... 3,3 7,6 6,0 5,9 6,5

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP e DIEESE.

Tabela 7

Taxas reais de crescimento do ICMS arrecadado, segundo os setores de atividade, no Rio Grande do Sul — 2006/07

(%)

SETORES 2006 2005

1º TRIM/07 1º TRIM/06

2º TRIM/07 2º TRIM/06

3º TRIM/07 3º TRIM/06

JAN-OUT/07 JAN-OUT/06

Produção animal e extração vegetal ...... -9,7 5,6 8,6 9,4 6,2 Extrativa mineral .................................... 9,9 2,8 15,2 2,9 8,5 Indústria de transformação .................... -3,8 -10,6 -0,6 5,9 -3,9 Comércio varejista ................................. 3,3 -5,8 1,5 18,9 5,8 Comércio atacadista .............................. 18,0 10,0 -2,4 -2,3 1,9 Serviços e outros ................................... 0,0 -11,9 -7,3 -35,7 -20,1 Total ...................................................... 2,9 -4,8 -1,7 -2,7 -3,5

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Rio Grande do Sul. Secretaria Estadual da Fazenda. NOTA: ICMS deflacionado pelo IGP.

Tabela 8

Inflação mensal, acumulada no ano e nos últimos 12 meses, na Região Metropolitana de Porto Alegre — 2006/07

(%)

PERÍODOS IPC-IEPE INPC-IBGE

Dez./05-dez./06 ...................................... 2,4 2,3 Ago./07 .................................................. 0,2 0,4 Set./07 ................................................... 0,1 0,1 Out./07 ................................................... 0,0 0,1 Acumulada no ano de 2007.................... 5,0 3,4 Acumulada nos últimos 12 meses (1) ... 6,1 4,0

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. IEPE.

(1) Dados de out./07.

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97Condomínios fechados: as novas configurações do urbano e a dinâmica imobiliária

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98 Mirian Regina Koch

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99Condomínios fechados: as novas configurações do urbano e a dinâmica imobiliária

* Artigo recebido em 29 jun. 2007. Uma versão preliminar deste texto foi apresentada no II Semi-

nário Nacional Metrópole: Governo, Sociedade e Território, emjulho de 2007, na Cidade do Rio de Janeiro.

** E-mail: [email protected] pesquisadora integra igualmente o núcleo de Porto Alegredo Observatório das Metrópoles–Instituto do Milênio–CNPq. Aautora agradece aos colegas do NERU-FEE os comentáriose as sugestões a uma primeira abordagem deste texto, exi-mindo-os, entretanto, de aventuais incorreções porventura re-manescentes.

Condomínios fechados: as novas configurações do urbano ea dinâmica imobiliária*

Mirian Regina Koch** Arquiteta, Pesquisadora do Núcleo de Estudos Regionais e Urbanos da Fundação de Economia e Estatística (NERU-FEE)

ResumoNeste texto, examinam-se os condomínios horizontais residenciais loca-lizados em espaços da Cidade de Porto Alegre, na área polarizada peloShopping Center Iguatemi, compreendendo os Bairros Boa Vista, Cháca-ra das Pedras, Três Figueiras e Vila Jardim. Procura-se verificar em quemedida a dinâmica de estruturação dos estoques residenciais nessesbairros foi influenciada por forças de atração e repulsão que esse tipo deequipamento comercial produz, envolvendo a valorização imobiliária e asestratégias que a construção civil utiliza para convencer as famílias a sedeslocarem para determinados locais — convenção urbana conforme asinovações espaciais (diferenciação do bem moradia). Os principais resul-tados encontrados apontam algumas conexões entre as alterações naconvenção urbana e a difusão da inovação espacial referente ao estoqueresidencial. Esse movimento evidencia a tendência de que o processode estruturação dos estoques residenciais está intimamente ligado àscaracterísticas urbanas e às suas possíveis transformações.

Palavras-chave: condomínios horizontais residenciais; dinâ-mica intra-urbana; mercado imobiliário.

AbstractThis text examines the located residential horizontal properties jointlyowned in spaces of Porto Alegre city, in a polarized area by ShoppingCenter Iguatemi enclosing the quarters, Boa Vista, Chácara das Pedras,Três Figueiras and Vila Jardim. It aims to verify how the residential suppliesstructural dynamics in these quartes was influenced by attraction andrepulsed forces that these commercial companies produce, involving the

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100 Mirian Regina Koch

real estates and the strategies that the civil construction uses to convincefamilies to dislocate for definitive places — urban convention as spaceinnovations (differentiation of well housing).The main results found pointus some conecctions detected between the alterations in the urbanconventions, and the diffusion of the referring space innovation to theresidential supply. This movement evidences the trend that the residentialsupplies structural process is closely conected to the urban characteristicsand its possible transformations.

Nos anos mais recentes, vem aumentando signifi-cativamente a presença dos condomínios horizontaisfechados na paisagem urbana. São crescentes as dis-cussões acerca de suas origens, causas e conseqüên-cias. Neste trabalho, objetiva-se discutir esse novo mo-delo de espaço residencial que se consolidou nos anos90, na Cidade de Porto Alegre, bem como algumas par-ticularidades morfológicas desses conjuntos, relacionandoesses processos aos fatores econômicos e sociaisadvindos dessas intervenções. Aqui, a temática é anali-sada sob as óticas da estruturação urbana, do mercadoimobiliário e da tipologia construtiva.

É no interior das áreas urbanas que os efeitos dastransformações produzidasnos âmbitos socioeconômicose físico-espaciais se reproduzem, materializando, porexemplo, um modelo de desenvolvimento urbano funda-mentado na redefinição dos espaços públicos e no acrés-cimo da urbanização privada e fechada. Assim, a mora-dia, enquanto produto, apresenta modificações em seusprincípios de produção, com o surgimento dos condomí-nios fechados — residências unifamiliares ou prédios deapartamentos com acesso controlado.

O desenvolvimento desses empreendimentos co-incide com o aprofundamento da fragmentação do espa-ço social, ao se implantarem na cidade como unidadesautônomas, e manifesta-se através dos aspectos físi-cos de descontinuidade entre superfícies (fragmentos) eda segregação, por meio da diversidade dos elementosmorfológicos e tipológicos, e, ainda, através de fatoresfuncionais vinculados às disparidades nos níveis de infra--estrutura e serviços. Os condomínios fechados ocupamparcelas significativas da malha urbana, alterando aestrutura morfológica do tecido urbano, reduzindo o nú-mero de lotes previstos para a área e substituindo asfachadas das edificações por barreiras físicas, alteran-do as relações existentes entre os espaços público eprivado. Eles constituem os chamados enclaves fortifi-cados: “[...] espaços privatizados, fechados emonitorados, para residência, consumo, lazer e trabalho”(Caldeira, 2000, p. 211).

Os impactos dos condomínios fechados no espa-ço urbano podem ser de diferentes níveis, sendo os maiscitados na literatura sobre o assunto1 a segregação e asexclusões social e espacial, a privatização do espaçopúblico, a perda da vida pública e do significado do espa-ço público, a fragmentação e a segmentação do tecidourbano, o enfraquecimento do poder público em funçãoda privatização dos serviços públicos, dentre outros.Nesses trabalhos, discutem-se as causas sociais,econômicas e políticas que influenciam o surgimento ea expansão dos condomínios fechados, havendo pou-cos estudos que examinam uma linha relacionada à ques-tão dos fatores individuais envolvidos na mobilidade deresidência e das estratégias que orientam os empreen-dedores imobiliários a apresentarem novos produtos.

Não é pretensão, neste texto, fazer uma aborda-gem detalhada sobre a economia urbana e o mercadoimobiliário, mas, sim, a partir da dinâmica intra-urbana,associada a fatores que atraem ou dispersam os inves-timentos imobiliários, traçar um panorama de como sedesenha essa produção imobiliária em bairros previamen-te definidos, na Cidade de Porto Alegre. A importânciadas estratégias dos agentes em orientar e “convencer”os segmentos de poder aquisitivo médio e alto a opta-rem pela vida em condomínios fechados foi também aquiconsiderada.2

Enfocam-se os condomínios horizontais fechadosde uso exclusivo residencial, circundados por barreirasfuncionais e visuais, encontrados no interior da malhaurbana em zonas de tecido consolidado, com os lotesadjacentes ocupados por edificações e/ou espaços pú-blicos definidos, situados nos Bairros Boa Vista, Cháca-

1 Ver, dentre outros, Ueda (2004), Capelani e Ueda (2006), Barcellose Mammarella (2007), Ribeiro (1997), Ugalde (2002), Caldeira(2000), Andrade (2001), Souza (2003) e Salgado (2000).

2 Neste texto, foi realizada uma avaliação que contempla apenasfragmentos da análise maior, que será objeto do produto final dapesquisa.

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101Condomínios fechados: as novas configurações do urbano e a dinâmica imobiliária

ra das Pedras, Três Figueiras e Vila Jardim, no entornodo Shopping Center Iguatemi (SCI), em Porto Alegre.

A partir de algumas reflexões sobre a estrutura ur-bana e a dinâmica imobiliária, o texto desenvolve-se emtrês outros tópicos: primeiramente, apresenta-se um pa-norama das adjacências da área estudada, através dasquestões locacionais e da legislação; depois, descreve--se o caso em análise, detalhando a tipologia construtivae as especificidades do mercado imobiliário; e, por fim,no item A título de conclusão, assinalam-se os pontosque se destacam nessa fase do estudo.

Os temas centrais: a estru-tura urbana e a dinâmicaimobiliária

O eixo estruturador da temática aqui desenvolvidatem origem na pesquisa intitulada Grandes Equipamen-tos Comerciais e Alterações na Estrutura Urbana: oCaso do Shopping Center Iguatemi em Porto Alegre”3

(Koch, 2004), onde se destacam a difusão dos grandesequipamentos comerciais e sua inserção na estruturaurbana, desencadeando um processo de alteração noterritório. Vários autores apontam as transformações dasáreas comerciais associadas a mudanças nas áreasresidenciais, valorizando novos espaços e alterando atipologia construtiva das áreas, modificando odirecionamento da ocupação residencial e promovendoo surgimento de um comércio nas principais vias que sesituam no entorno do shopping center, devido ao aumen-to no tráfego de veículos e aos reflexos em termos daacessibilidade de toda a região.

Segundo Hirschfeldt (1986), os shopping centerssão importantes instrumentos de descentralização urba-na e incorporam novas áreas no seu processo de desen-volvimento. Cada tipo de shopping center atrai para seuentorno uma localização residencial de diferente nívelde renda.

Gaeta (1992, p. 48), em sua análise sobre a im-plantação de shopping centers em metrópoles como São

Paulo, afirma que essa implantação “[...] provoca umarepercussão profunda na geografia da cidade. Não sóesses equipamentos induzem as transformações, masaparecem associados e fazem parte dessas transfor-mações”. Ainda, segundo esse autor,

[...] na inovação shopping center, há uma au-têntica subversão da estrutura urbana atéentão existente. Em função do surgimento denovos e importantes pontos de atração, alte-ram-se os eixos de circulação, que sãoreorientados, e são formadas novas áreas,como, por exemplo, áreas nobres em locaisisolados, condomínios, etc.

Na pesquisa realizada anteriormente (Koch, 2004),foram apontados como principais fatores determinantesdas alterações na configuração urbana da área de estu-do aqui contemplada a dinâmica imobiliária e a alteraçãono padrão de acessibilidade, produzindo um avanço noprocesso de urbanização, caracterizado pela ocupaçãodos vazios, pela ampliação dos usos residenciais quali-ficados, pelo surgimento de novos usos comerciais pe-culiares voltados à alta renda, pela densificação e pelanova tipologia construtiva (torres e condomíniosresidenciais).

A escolha individual da localização residencial ba-seia-se na previsão das possíveis localizaçõesresidenciais dos futuros vizinhos, e essa escolha se re-flete na divisão social do espaço urbano4, nas tipologiasque passam a ser construídas, nos valores dos terre-nos, na verticalização e na densificação do uso do soloe na especulação imobiliária. No processo de expansãourbana, face ao sistema capitalista de valorização dosolo, o crescimento da cidade e o processo de acumula-ção de capital são fatores fundamentais da dinâmicasocioespacial.

A expansão urbana realizada pelos agentes produ-tores do espaço urbano (mercado imobiliário e produçãoestatal) implica condições diferenciadas de acesso aosolo, o que propicia distintos modos de uso e ocupaçãodesse solo, levando a diversidades sociais, refletidastanto no modo de quanto no acesso a apropriação e usoda terra.

Harvey (1985), em sua teoria do desenvolvimentodesigual, a partir das leis de confrontação entre as for-ças de atração e repulsão, aponta:

3 O Shopping Center Iguatemi, em Porto Alegre, inaugurado em1983, localiza-se no Bairro Passo d’Areia. Na pesquisa de 2004,foram considerados os bairros do entorno, Boa Vista, Três Fi-gueiras, Chácara das Pedras e Vila Jardim em sua totalidade, eparte dos Bairros Passo d’Areia, Cristo Redentor e Vila Ipiranga,em função da metodologia utilizada para definir a área deinfluência do SCI.

4 Tendo como pressuposto que as relações de classe sãoreproduzidas de forma concreta na morfologia da cidade e sen-do o mercado residencial altamente estratificado, pode-seconjeturar que a diferenciação entre as residências pode refor-çar distinções intraclasses pelo estilo de vida adotado.

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102 Mirian Regina Koch

[...] a força centrífuga (repulsão) é encontra-da na contínua procura de novos locais quepermitem aumentar o lucro. Do outro lado, aforça centrípeta (atração) é encontrada nacompetição de mercado que dirige empreen-dedores a compartilhar o desenvolvimento denovos locais.

O fato de essas forças gerarem um desenho fun-damentado no crescimento de “ilhas de desenvolvimen-to” leva à assertiva de que a produção do espaço atra-vés da inovação favorece a obtenção de uma altalucratividade, dinamizando a atividade imobiliária.

Para Abramo (2001, p. 167), o ordenamentoresidencial configura-se como um movimento de valori-zação-desvalorização de localizações por convenção,pois “[...] os indivíduos são investidores e não apenasconsumidores, ou seja, a escolha pela localização teriaum aspecto de antecipação especulativa, o indivíduoprocuraria morar em locais onde as externalidades devizinhança lhe fossem favoráveis”.

O autor também levanta a questão da inovaçãoespacial, enquanto elemento que estimula os empresá-rios a persuadirem certos grupos familiares e que surgecomo uma estratégia para atrair seletivamente os diver-sos tipos de famílias que compõem o mercado da loca-lização residencial.

O aumento da densidade, da verticalidade e doscondomínios residenciais no entorno dos shoppingcenters, por exemplo, pode ser entendido como resulta-do do uso da inovação espacial pelos investidores paraa obtenção de lucro em escala. Nesse sentido, os em-presários urbanos são vistos como participantes do pro-cesso da emergência de uma convenção urbana — “[...]uma representação cognitiva de um padrão físico doestoque residencial de uma determinada área-localiza-ção e também uma indicação do tipo de uso e caracte-rísticas socioeconômicas e culturais de seus morado-res” (Abramo, 2001, p. 171) — acerca da estrutura urba-na do futuro, e não mais como simples estipuladores depreços.

No circuito urbano, a confiança depositada na con-venção urbana deverá ser capaz de servir de referênciana coordenação dos agentes econômicos (oferta e de-manda) interessados na alteração da configuraçãoresidencial pretendida. A convenção urbana é, portanto,um mecanismo de coordenação espacial das decisõesem uma determinada localização.

Considerando a convenção urbana “[...] uma cren-ça referente ao tipo de família que, supostamente, vaise instalar numa determinada localização (externalidadesde vizinhança), conforme as inovações espaciais (dife-renciações do bem moradia), propostas pelos capitalis-

tas” (Abramo, 2001, p. 169), o autor sugere que a mudan-ça dessa convenção pode ocorrer quando o estoqueresidencial se aproximar da representação veiculada pelaconvenção urbana (incerteza dos investidores quanto àoportunidade de continuar a produzir estoquesresidenciais) e quando uma inovação, que resultará emuma nova convenção urbana, induzir o deslocamento dedeterminadas famílias para um novo local.

Espacialmente, essa estratégia evidencia que adinâmica do espaço urbano estaria relacionada a ummovimento contínuo de diferenciação dos estoquesresidenciais. Por outro lado, a prática imitativa proporcio-na o deslocamento da diferenciação produzida por essainovação através do espaço residencial urbano. Isso dáorigem a uma configuração em que diversos estoquesresidenciais apresentam características semelhantes.

A difusão de uma mesma inovação espacial (notempo e no espaço) mostra dois movimentos: (a) permi-te a modificação das tipologias residenciais dentro deuma localização (diferencia-se das moradias em relaçãoao estoque passado) e (b) contribui para o surgimento deuma certa homogeneidade das característicasresidenciais da ordem urbana, mediante a reproduçãoem diversas localizações (Abramo, 2001, p. 177).

Considerando que a convenção urbana possibilitaanalisar o estoque residencial através da inovação es-pacial, no desenvolvimento deste texto, examina-se emque medida a dinâmica de estruturação dos estoquesresidenciais em áreas no entorno do SCI foi influenciadapor forças de atração e repulsão que esse tipo de equi-pamento produz, envolvendo a valorização imobiliária einfluenciando na escolha da localização residencial pordeterminados estratos de renda.

O entorno da área estuda-da: a localização e a legisla-ção urbana

Neste item, mostra-se um panorama da área pro-posta para o estudo, abordando-se as questõeslocacionais e os principais aspectos referentes à legisla-ção urbana vigente.

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A delimitação da área

A delimitação da área para o estudo reproduz aquelautilizada na pesquisa anterior (Koch, 2004), onde o siste-ma viário principal, definido pelas artérias de escoamen-to (Nilo Peçanha, João Wallig e Teixeira Mendes) e peloanel de suporte (Protásio Alves, Carlos Gomes, PlínioBrasil Milano, Assis Brasil, Avenida do Forte e Saturninode Brito), determinou o âmbito geográfico de análise.Nesse raio de influencia do SCI, elegeram-se para o es-tudo, conforme já salientado, os Bairros Boa Vista, Chá-cara das Pedras, Três Figueiras e Vila Jardim (Figura 1),por serem esses os que concentram o maior número deocorrências da tipologia construtiva “condomínio horizon-tal” dentre os dessa circunvizinhança.

Villaça (2001, p. 203), estudando a estruturaçãointra-urbana de Porto Alegre, mostra a tendência de des-locamento de um dos eixos de expansão dos estratosde alta renda, a partir do centro urbano em direção aoleste da Cidade (o outro eixo seria no caminho da orla dorio). A área ora em questão segue um eixo de prestígio jáconsolidado, incluindo os Bairros Independência, Moinhosde Vento, Mont’Serrat, Bela Vista, Três Figueiras, Cháca-ra das Pedras e Boa Vista. Em termos de equipamentosurbanos, infra-estrutura viária de acesso e marcos sim-bólicos, esse eixo materializa a apropriação do espaçourbano pelos mais elevados patamares de renda.

Nos Bairros Três Figueiras, Chácara das Pedras eBoa Vista, predomina o uso residencial de alta renda,porém com uma certa heterogeneidade. Observam-seconcentração de residência unifamiliar, edifícios de altopadrão e condomínios residenciais. É nesse espaço ondese localizam também os Colégios Farroupilha, Anchietae Província de São Pedro, freqüentados pelas elites daCidade. Ao longo das principais vias de acesso, apareceo uso misto (comércio e serviços) e prédios de maioraltura. Contíguos ao Country Club, existem dois aglome-rados de subabitação: o primeiro, Vila Luiz Cosme, édelimitado pelas Ruas André Arjonas Guillen, Luiz Cosmee Ramis Galvão, e o outro, Vila Caddie, localiza-se naextensão da Avenida Frei Caneca. Próximo à Rua JoãoCaetano, aparecem remanescentes do aglomerado Becodo Resvalo, localizados em parte do espaço da ChácaraLimongi, antiga denominação da área que hoje constituio Bairro Três Figueiras.

O Bairro Vila Jardim, caracterizado como de clas-se baixa (Koch, 2004), onde a presença de um núcleo desubabitação contabilizava em torno de 1.200 domicílios,em seus aglomerados, em 2000, foi o bairro que sofreu amaior alteração em sua conformação. Nota-se ali, emuma área de vazio urbano, no limite com o Bairro Cháca-

ra das Pedras, uma ocupação que demonstra uma mu-dança no padrão residencial do bairro. No decorrer desteestudo, voltar-se-á a essa questão. Um outro espaçodesocupado nos limites dos Bairros Vila Jardim e VilaIpiranga, na área fronteiriça ao núcleo de habitações pre-cárias, onde existia o loteamento Germânia, foiurbanizado. Aí surgiu um parque de 15ha, e está em im-plantação um projeto residencial (“um novo bairro”, se-gundo o apelo publicitário), com a previsão da edificaçãode 34 torres residenciais. Atualmente, encontra-se emandamento a construção de três prédios (Riserva Cipriani,Cipriani Nuova Architettura e Karpathos), e está em fasede lançamento a quarta torre residencial denominadaAlizé Parc Residence. Esse evento se traduziu em umagrande transformação da área, atingindo inclusive partede um núcleo de subabitação do Bairro Vila Jardim.

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104 Mirian Regina Koch

Figura 1

Entorno do Shopping Center Iguatemi e localização dos condomínios estudadosem Porto Alegre — 2007

FONTE: Google Earth. Acesso em: maio 2007.

A legislação urbana atual

No Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano eAmbiental (PDDUA-1999) de Porto Alegre (Porto Alegre,2000)5, o conjunto de diretrizes classifica o território quecompreende a área em estudo como Macrozona 3 - Ci-dade Xadrez6. No quesito mobilidade, o destaque é aAvenida Carlos Gomes (Terceira Perimetral), via que com-põe o Eixo de Integração Metropolitana. Também as Ave-nidas Assis Brasil, Nilo Peçanha e Anita Garibaldi têm

5 Atualmente, encontra-se em discussão a proposta de revisãodo PDDUA-1999 de Porto Alegre.

6 “Constitui a cidade a ser ocupada através do fortalecimento datrama macroestruturadora xadrez, do estímulo ao preenchi-mento dos vazios urbanos e da potencialização de articulações

metropolitanas e novas centralidades”. São marcosestruturadores os três Corredores de Centralidade: Sertório//Assis Brasil, Anita Garibaldi/Nilo Peçanha e Ipiranga/ BentoGonçalves (Porto Alegre, 2000).

7 Zonas onde se estimulam principalmente o comércio varejista, aprestação de serviços e demais atividades compatíveis.

papel estruturador importante e são classificadas comoeixos de mobilidade dos corredores de centralidade.

Quanto ao zoneamento de usos, são permitidos,basicamente, o uso residencial (no interior das Unidadesde Estruturação Urbana (UEUs)) e misto7 (nas vias arte-riais e coletoras). No que tange ao regime volumétrico,no quesito alturas, essas variam de 9,00m (nas áreasresidenciais) a 52,00m (nas vias estruturadoras). Já ataxa de ocupação (relação entre as projeções máximasde construção e as áreas de terreno sobre as quais as-

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105Condomínios fechados: as novas configurações do urbano e a dinâmica imobiliária

cendem as construções) situa-se no intervalo compre-endido entre 66,6% e 90%.

Regulamentado no PDDUA-1999 e instituído pelaLei Complementar n° 315/94, o Solo Criado é um instru-mento urbanístico com origem na Lei Orgânica do Muni-cípio e é condicionado por uma série de objetivos eparâmetros estabelecidos por essas legislações. Esseinstrumento, cujo conceito já se encontrava no 1º PlanoDiretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), regula o usodo solo e possibilita ao empreendedor construir acimado coeficiente (índice construtivo privado) que lhe é as-segurado por lei, adquirindo-o do Município. Em algumaszonas da Cidade, o índice privado somado ao Solo Cria-do8 poderá chegar a 2,00 e, em outras, a 3,00, desdeque atendidos os parâmetros de densificação estabele-cidos pelo PDDUA-1999.9

No que diz respeito à legislação sobre loteamentose condomínios, cabe apenas salientar que o loteamentoé regulamentado pela Lei Federal nº 6.766/79 (que dispõesobre o parcelamento do solo urbano), modificada par-cialmente pela Lei Federal nº 9.785/99, e representa adivisão do solo em lotes, com aberturas de vias elogradouros públicos, estando implícito, nessa legislação,que 35% da área do loteamento será de domínio público.Ou seja, a acessibilidade não pode ser estrita a seusmoradores, o que torna o termo “loteamento fechado”incorreto.

O condomínio, por sua vez, não é contemplado pelalegislação federal, que não prevê nenhum tipo de limita-ção física para tais empreendimentos10. Em Porto Ale-gre, o mesmo fica sujeito à legislação urbana municipal(PDDUA-1999), onde, basicamente, são regulados o ta-manho dos empreendimentos (limitando-os em 22.500m2

em zonas consolidadas e sem restrição em áreas perifé-ricas) e alguns aspectos relacionados ao seu interior,como tamanho dos lotes, quantidade mínima de árealivre e densidade (Ugalde, 2002).

Os condomínios e a dinâ-mica de estruturação dosestoques residenciais: atipologia construtiva e omercado imobiliário

Neste item, após serem mostradas algumas ca-racterísticas gerais dos condomínios residenciais hori-zontais na cidade, abordam-se as tipologias construti-vas encontradas nos condomínios analisados dos bair-ros previamente selecionados. Num segundo momento,com informações oriundas dos censos imobiliários doSindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon--RS) de 2000 a 2006, traça-se um panorama do movi-mento do mercado imobiliário na área em estudo.

Os condomínios residenciais horizontais fechadosestão disseminados na Cidade, localizando-se, em maiornúmero, na zona sul, denominada Cidade Jardim peloPDDUA de 1999, mas também são encontrados no nú-cleo mais consolidado, bem como em zonas mais peri-féricas. Esses condomínios diferem entre si pelo porte etipo de habitação construída: térrea, em geral isolada nolote; e sobrados, tanto isolados quanto geminados ouem fita.

De acordo com o PDDUA-1999 (Porto Alegre, 2000),podem ser construídos, na Zona de Ocupação Intensiva,condomínios de até 22.500,00m2 ou até 40.000,00m2,desde que ocupem no máximo um quarteirão (art. 156,Lei Complementar n° 434, 1999). Os de metragem maiordevem localizar-se na Zona de Ocupação Rarefeita, aosul da Cidade, não tendo limitação de área. Classifi-cam-se como de pequeno porte os condomínios de 500m2

a 1.500m2 de área; de médio porte, aqueles com até40.000,00m2; e os acima dessa metragem são classifi-cados como de grande porte.

No caso de Porto Alegre, são reduzidos os exem-plos de condomínios de grande porte. O maior deles,Terra Ville11, ocupa uma área de 143ha com 463 residên-cias unifamiliares e alguns serviços. Ainda podemos ci-

autônomas destinadas à edificação, às quais correspondemfrações ideais das áreas de uso comum dos condôminos, sen-do admitida a abertura de vias de domínio privado e vedada a delogradouros públicos internamente ao perímetro do condomí-nio”.

11 Uma análise que contempla grandes empreendimentos de altopadrão em Porto Alegre pode ser encontrada em Ueda (2006,p. 107).

8 Com a venda do Solo Criado, o poder público monitora a cidadepara que seus espaços sejam preenchidos de forma organiza-da e controlada. Ao mesmo tempo, promove uma melhor distri-

buição de renda urbana, pois os recursos obtidos são canaliza-dos para o Fundo Municipal de Desenvolvimento (FMD) e des-tinados, em sua maior parte, à produção de habitações de carátersocial.

9 A utilização do Solo Criado é controlada pelo monitoramento dadensificação, que indica os locais onde, em função da infra--estrutura disponível, pode ocorrer maior concentração de pes-soas e negócios.

10 Encontra-se em tramitação, na Câmara Federal, o projeto de Leinº 3.057/2000, que “[...]dispõe sobre o parcelamento do solopara fins urbanos e dá outras providências”, onde, nas Consi-derações Gerais, em seu art. 3, item XII, estabelece o condomí-nio urbanístico como: “[...] a divisão de imóvel em unidades

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106 Mirian Regina Koch

tar, como exemplos, o Jardim do Sol e o Parque Knorr,os primeiros condomínios horizontais fechadosconstruídos na cidade. Todos estão localizados na zonasul, são habitados por grupos de alto nível econômico,com unidades residenciais isoladas no terreno, gerandobaixas densidades e possuindo grandes áreas verdesde lazer e recreação privativas.

Verifica-se a construção de condomínios para asdiversas categorias de renda, diferenciando-se entre sipela tipologia habitacional e pelo tamanho das residên-cias e das áreas de lazer. Nas faixas de renda mais al-tas, as tipologias geralmente são isoladas nos terrenoscom áreas acima de 150m2, cada unidade, e nas inter-mediárias, em geral, aparecem sobrados em fita, comcasas em torno de 60m2 a 150m2. A tipologia mais en-contrada na cidade é a de condomínios de pequeno emédio portes, tipo sobrado, geminado ou em fita.

Nesta pesquisa, enfocam-se especificamente con-domínios horizontais fechados de uso residencial, deporte médio, ou seja, que possuem de 1.500m2 a22.500,00m2, localizados na zona de tecido urbano con-solidado, na área de influência do Shopping CenterIguatemi. Configuram-se como bairros residenciais dota-dos de boa acessibilidade viária, rede de transporte pú-blico e infra-estrutura completa. Esses bairros possuemresidências unifamiliares, edifícios de apartamentos evários condomínios.

O perfil dos moradores é de população de categori-as de renda média e alta, sendo que o Bairro Três Figuei-ras é o de mais alto perfil.

No Gráfico 1, visualiza-se o comportamento da ren-da mensal em salários mínimos (SMs) dos moradoresdos bairros em estudo, segundo os Censos Demográfi-cos 1991 e 2000 (IBGE, 1996; 2003).

FONTE: IBGE.Censo Demográfico 1991: Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: IBGE, 1996. IBGE. Censo Demográfico 2000: Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: IBGE, 2003.NOTA: Os dados de 1991 baseiam-se nos resultados da amostra; e os de 2000, nos resultados do universo.

Gráfico 1

Distribuição percentual dos moradores, por classes de rendimento nominal mensal,em bairros selecionados de Porto Alegre — 1991 e 2000

0

10

20

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imen

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1991 2000

Boa Vista Chácara das Pedras Três Figueiras Vila JardimLegenda:

(%)

Legenda:

(%)

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107Condomínios fechados: as novas configurações do urbano e a dinâmica imobiliária

Tipologia construtiva dos con-domínios

Neste segmento, realiza-se uma abordagem acer-ca das especificidades, do ponto de vista de suas ca-racterísticas físico-espaciais, encontradas nos condo-mínios estudados nos Bairros Boa Vista, Chácara dasPedras, Três Figueiras e Vila Jardim, de tipologia cons-trutiva diversa e com moradores com perfil de rendatambém diferenciado, mostrando como os mesmos seinserem na morfologia desses bairros.

Inicia-se por um conjunto de condomínios, em obrase concluídos, implantados em uma área até recentementecaracterizada como de vazio urbano, localizado no Bair-ro Três Figueiras. Essa escolha se dá em função do efei-to impactante ocorrido na paisagem urbana, devido, prin-cipalmente, à transformação na configuração desse lo-cal.

Trata-se da porção sul da Chácara Limongi, que tevesua viabilidade urbanística de loteamento aprovada noinício dos anos 90, onde estão sendo implantados qua-tro condomínios residenciais e um quinto está em lança-mento. Esses condomínios, todos pertencentes a ummesmo empreendedor imobiliário, apresentam alto pa-drão construtivo, sob a forma de unidades isoladas noterreno ou conjuntas, e com características totalmentediferenciadas dos demais condomínios residenciais exis-tentes no entorno.

O maior deles, Alathea, entregue em janeiro de2004, possui área total de 12.193,66m2 e é composto deoito casas isoladas nos lotes. O segundo, concluído emmaio de 2006, Amalfi, é o menor desse conjunto, comárea de 1.493m2 e com padrão construtivo diferenciado,com casas implantadas no interior de um grande lote.Em fase final de obras, encontram-se os condomíniosStanza, com 9.453,24m2 de área total, e Alpha, com7.841m2 de área total. O quinto está em fase de lança-mento e é totalmente diferenciado dos demais, denomi-nando-se Biltmore TownHouses (segundo o apelo publi-citário, “um estilo inglês de morar”) e dispondo de 13 ca-sas e de uma área verde preservada de 3.000m2.

Ainda neste bairro, no seguimento desse espaçoem direção à Avenida Nilo Peçanha, observa-se a im-plantação de outros três condomínios, concluídos ou emobras, todos também pertencentes a uma única empre-sa construtora, porém com tipologia construtiva diferen-ciada dos anteriores, tipo sobrado. São os condomíniosVilla Gardena (15 unidades residenciais), Sagaró Villas(13 unidades) e Piccola Cittá (24 unidades). Aparecem

ainda os lançamentos imobiliários Villagio Di Cavalcanti(10 casas) e Malibú.

No Bairro Boa Vista, com reduzidos exemplaresdessa tipologia no período mais recente, foi selecionadoo condomínio Jardim Provence, com entrega previstapara novembro de 2007. O mesmo localiza-se na RuaTomaz Gonzaga, esquina com 14 de Julho, em uma áreaque, desde o final da década de 90, sofreu alteraçõesem sua configuração com a implantação de inúmeroscondomínios horizontais de pequeno e médio portes.Muito próximo ao Jardim Provence, localiza-se o condo-mínio Alameda França, ocupando um quarteirão inteiroda malha urbana há 10 anos.

As 16 casas do Jardim Provence, segundo o proje-to, serão implantadas em pátios individuais, cada umacom área total de 740m2, estando também prevista aconstrução de um clube com infra-estrutura completa.

Na área de entorno desse condomínio, onde atipologia construtiva predominantemente tem a mesmaconformação, são restritos os espaços vazios e aindadisponíveis na vizinhança. Praticamente, a totalidade dasáreas não ocupadas pertence a escolas e a clubes exis-tentes nas imediações.

No Bairro Chácara das Pedras, o condomínio exa-minado, também em fase final de obras, é o La Quadra,cujo empreendimento irá ocupar uma quadra inteira en-tre as Ruas Francisco de Paula Cidade, Estácio de Sá eProfessor Ulisses Cabral, com previsão de conclusãode obras para outubro de 2007.

As unidades do La Quadra estarão distribuídas emoito pequenas torres de apenas quatro e cinco andares,denominadas “torretas”. Esse condomínio contará comunidades térreas, com terraço privativo integrado à áreasocial, chamadas de Terrazas; unidades térreas com doispisos (Duplex); e as Viviendas, com sacada, nos anda-res elevados.

A escolha desse exemplo nesse bairro se deve aocaráter de “inovação” apresentado pelo empreendedor,ou seja, de “[...] um novo conceito de condomínio fecha-do de alto padrão: um projeto que une o clima de umacasa com a comodidade e a segurança de um aparta-mento” (Goldsztein, 2007), como forma de reverter a ten-dência, que se desenha no bairro, de descenso dos in-vestimentos imobiliários residenciais. A maioria dos exem-plares de unidade residencial sob a forma de condomí-nios aí existentes é de pequeno porte, do tipo sobradogeminado, e sua construção data, em média, de seis asete anos.

Por fim, no Bairro Vila Jardim, foram eleitos doiscondomínios, ambos pertencentes à mesma empresa

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construtora. O primeiro, já concluído, Principado deFirenze, localizado na esquina das Ruas São Leopoldo eAraruama, é formado por sobrados dispostos em fita,com 284m2 de área privativa e terraço social integradoao pátio. O outro, em lançamento, denominado Principa-do Passadena, está localizado nas imediações do ante-rior, na Rua Araruama esquina com Cananéia, dispondode dois pisos, além de terraço, contabilizando seis uni-dades em terrenos individuais. Ainda pode-se apontar ocondomínio Conde da Figueira, tipo sobrado, um dos pri-meiros exemplares dessa tipologia construtiva, implan-tado nesse bairro em 2005.

É importante ressaltar que a preferência em mos-trar os exemplares desse bairro teve como objetivo de-monstrar a tendência de direcionamento do mercadoimobiliário em procurar oferecer produtos diferenciados,aproveitando as externalidades de vizinhança e dirigindoa oferta a um público situado em patamares intermediá-rios de renda.

Uma visão do mercado imobi-liário

A partir de informações oriundas dos censos imo-biliários do Sinduscon-RS (2000/2006), inicia-se este blococom uma rápida abordagem sobre o posicionamento docomportamento do mercado imobiliário na Cidade, emtodas as tipologias construtivas. Na seqüência, mostra--se um panorama do movimento do mercado imobiliáriona área estudada, no que se refere às unidadesresidenciais novas ofertadas para a venda e suas res-pectivas faixas de valor. É importante salientar que, apesarde o universo da pesquisa do Sinduscon contemplar aquase-totalidade dos imóveis novos em oferta, para essecaso em análise, se consideraram somente os imóveisresidenciais.

Para a Cidade de Porto Alegre (Gráfico 2), faze-sereferência, a título de ilustração, às informações de to-das as modalidades construtivas novas ofertadas paraa venda no período 2000-06, onde se destacam astipologias apartamento e casa. Os apartamentos repre-sentam a maioria das unidades em oferta, com cresci-mento de forma contínua, sofrendo uma pequena inflexãono último ano considerado, fato este que se repete emtodas as tipologias ofertadas para a venda na Cidade.As casas, por sua vez, atingem o ápice de ofertas em2004, mostrando um movimento de descenso a partirdesse ponto. É importante observar que a tipologia “casa”,

que aparece na pesquisa do Sinduscon-RS (2000/2006),se refere a unidades localizadas em condomínios.12

Fazendo um recorte na análise e dirigindo o enfoquepara os bairros em estudo, visualizam-se, num primeiromomento, as ofertas de imóveis novos por tipologia decasa, de três ou quatro dormitórios, na série 2000-06(Gráfico 3). Deve ser dado destaque para o Bairro TrêsFigueiras, que desponta como o que possui as maioresofertas no tipo casa de três dormitórios, atingindo o augeem 2005. O Bairro Vila Jardim, por sua vez, confirma arecente mudança em sua configuração, mostrando, apartir de 2003, um movimento ascendente na tipologiacasa de quatro dormitórios, com pequeno descenso apartir de então, seguindo a tendência geral da Cidade.Nas ofertas do Bairro Boa Vista, nota-se, a partir do ano2004, um movimento semelhante ao verificado no BairroTrês Figueiras, porém, neste último, as ofertas situam--se em um patamar inferior, onde ressalta o tipo casa detrês dormitórios.

Na seqüência, trazem-se informações sobre astipologias casa e apartamento nos bairros relacionados,agora segundo as faixas de valor ofertadas13 no merca-do imobiliário.

Salienta-se que foram consideradas, nesse conjun-to, também as ofertas de apartamentos, devido ao fatode os mesmos serem os grandes responsáveis pelasvendas de unidades residenciais novas tanto na Cidadecomo nos bairros estudados. Deve-se, além disso, res-saltar que, para a análise considerando faixa de valor, foireduzido o período estudado, devido a alterações nametodologia de pesquisa.14

No Bairro Boa Vista (Gráfico 4), a tipologia casa,cuja oferta se concentrou nos anos finais do período ena maior faixa, teve, no ano de 2005, o melhorposicionamento da série. No tipo apartamento, nota-seque a maior parte das ofertas está nas faixas intermedi-árias de valor. Houve um declínio da disponibilidade de

12 Informação obtida junto ao Sinduscon-RS.13 Na pesquisa do Sinduscon, a informação do preço para a ven-

da é opcional, o que acarreta um desencontro entre o númerototal de unidades ofertadas e as unidades ofertadas segundo asfaixas de valor. O percentual dessa diferença varia de acordocom o ano estudado, encontrando-se no intervalo de 8,58% a0,67%, na série apresentada.

14 Até 2002, os resultados eram divulgados em reais e, a partir de2003, em Custo Unitário Básico da construção (CUB-RS). Hou-ve condições de compatibilizar as faixas a partir de 2002, sen-do, portanto, esse ano o período inicial considerado. O CUB/m2--RS ponderado habitacional válido para o mês de junho de 2007é de R$ 919,60.

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imóveis, ao mesmo tempo em que aumentou, entre 2002e 2004, a oferta de apartamentos na faixa de maior va-lor, que decresceu a partir de 2004. Essa provável satu-ração do mercado residencial nesse bairro pode ter ex-plicação na indisponibilidade de terrenos, o que sugereum momento de consolidação de um padrão. Pode-seconjeturar ainda sobre uma possível alteração no quadrode motivações das camadas de mais alto poder aquisiti-vo.

Mais recentemente, examinando-se os classifica-dos dos jornais e das imobiliárias, essa tendência é con-firmada. Praticamente, inexistem lançamentos imobiliá-rios de tipo “casa”, e as unidades ofertadas para a vendasão, em sua maioria, de imóveis usados.

No Bairro Chácara das Pedras, a oferta da tipologiacasa, encontrada quase exclusivamente na faixa demaior valor, apresenta um movimento de decréscimo noperíodo considerado. Por outro lado, a oferta de aparta-mentos, cujo auge ocorreu em 2002, nas faixas interme-diárias de valor, destaca-se em 2006, revertendo a ten-dência, com maior número de unidades ofertadas, des-sa vez na maior faixa de valor, conforme podemos ob-servar no Gráfico 5.

Esse movimento pode estar sinalizando o proces-so de transformação que o bairro está vivenciando. Tam-bém nesse bairro, repetindo o que se visualiza no BairroBoa Vista, em pesquisa dos classificados recentemen-te, são reduzidos os lançamentos e a disponibilidade deunidades residenciais à venda, inclusive em condomí-nios. As ofertas concentram-se, quase exclusivamente,em imóveis usados.

A presença dos condomínios residenciais no Bair-ro Três Figueiras (Gráfico 6), representada pela oferta decasas, aparece na série de forma evidente, com desta-que para a maior faixa de valor pesquisada. A tipologiaapartamento, não obstante isso, apresenta uma ofertaexpressiva em 2003. É importante notar que, dos bairrosestudados, este último apresenta o maior valor do m2

construído e, a partir de 2003, se eleva consideravel-mente o número de imóveis residenciais em oferta. É aí,praticamente, que se concentram todas as ofertas delançamento e venda de unidades residenciais, a maioriadelas novas, disponíveis nos bairros em estudo.

Como já foi comentado anteriormente, Vila Jardimé o bairro que sofreu a maior alteração em sua configura-ção espacial no período estudado. São ali crescentes asofertas de imóveis nos maiores estratos de valor, comdestaque para a tipologia casa, onde, no ano de 2006, jáapareceram ofertas na maior faixa de valor (Gráfico 7).

Esse bairro, de conformação heterogênea, despon-ta como aquele que, segundo os critérios de Abramo

(2001), apresenta características de inovação, ou seja,“[...]diferenciação dos estoques com relação ao ciclo devida, e por um processo de homogeneização da estrutu-ra residencial real, no que diz respeito à dinâmica espa-cial”. Nele, o valor dos imóveis ainda não atingiu o pata-mar dos bairros vizinhos, já aparecendo ofertas de uni-dades habitacionais de padrões diferenciados, desdemédio elevado, até de um preço mais baixo e acessível.Essas ofertas se direcionam para as categorias não clas-sificadas nos estratos mais altos de renda, que procu-ram uma opção de moradia semelhante a que se encon-tra nos bairros de mais alto padrão.

Para melhor se entenderem os resultados apresen-tados pelas informações obtidas através do Sinduscon--RS, mostram-se, a seguir, os dados referentes à evolu-ção de áreas vistoriadas nos bairros selecionados,disponibilizados pela Prefeitura Municipal de Porto Ale-gre (PMPA) (Gráfico 8). Esse indicador também oferecesubsídios importantes para se observar o comportamentodo mercado imobiliário em Porto Alegre.

Tendo em vista a não-disponibilidade das informa-ções para o período completo, focaliza-se a análise nosanos 2000, 2001, 2004 e 2006. Como os dados mos-tram a evolução do total de áreas vistoriadas nos bair-ros, em todas as modalidades construtivas, pode-se pre-sumir que o movimento examinado esteja apontando al-terações na tipologia edificada, notadamente no BairroChácara das Pedras. Aí, a tendência de crescimento dasáreas vistoriadas, associada à análise realizada no itemanterior, parece sinalizar uma oferta mais consistentede imóveis comerciais, principalmente nas categoriassalas e outros. Esse movimento reproduz o observadona evolução das ofertas de imóveis para o total da Cida-de (Gráfico 2).

É importante afirmar, ao finalizar a abordagemempírica deste bloco, que, apesar de a mesma repre-sentar uma amostra ainda reduzida do escopo da pes-quisa, traz elementos que se mostram eficientes para acompreensão da dinâmica investigada.

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Apartamento Cobertura Casa Flats

Sala/conjunto Loja Outros Total

Gráfico 2

Evolução de unidades novas ofertadas para a venda, por tipo, em Porto Alegre — 2000-06

Índice

FONTE: ANUÁRIO ESTATÍSTICO 2001. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2002.FONTE: ANUÁRIO ESTATÍSTICO 2002-2004. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2005.FON : ECONOMIAS vistoriadas por bairros 2006. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2007. (Dados fornecidos pela PMPA).

NOTA: Índice de base fixa de 2000 = 100.

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Boa Vista - casa de três dormitóriosChácara das Pedras - casa de três dormitóriosChácara das Pedras - casa de quatro dormitóriosTrês Figueiras - casa de três domitórios Três Figueiras - casa de quatro dormitóriosVila Jardim - casa de três dormitóriosVila Jardim - casa de quatro dormitórios

Legenda:

Gráfico 3

Unidades em oferta, por tipologia de casa, em bairros estudados de Porto Alegre — 2000-06

FONTE: SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL — SINDUSCON-RS. Censo do Mercado Imobilário de Porto Alegre: imóveis novos (III; IV; V; VI; VIII; IX). Porto Alegre: SINDUSCON-RS, 2000/2006.

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111Condomínios fechados: as novas configurações do urbano e a dinâmica imobiliária

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CasaApartamento

Unidades ofertadas, por faixa de valor, no Bairro Chácaras das Pedras, em Porto Alegre — 2002-06

Gráfico 5

FONTE: SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL — SINDUSCON-RS. Censo

do Mercado Imobiliário de Porto Alegre: imóveis novos ( V; VI; VII; VIII; IX). Porto Alegre: SINDUSCON-RS, 2002/2006.

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CasaApartamento

Gráfico 4

Unidades ofertadas, por faixa de valor, no Bairro Boa Vista, em Porto Alegre — 2002-2006

Legenda:

Legenda:

FONTE: SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL — SINDUSCON-RS. Censo

do Mercado Imobiliário de Porto Alegre: imóveis novos ( V; VI; VII; VIII; IX). Porto Alegre: SINDUSCON-RS, 2002/2006.

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112 Mirian Regina Koch

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CasaApartamento

Unidades ofertadas, por faixa de valor, no Bairro Três Figueiras, em Porto Alegre — 2002-06

Gráfico 6

Legenda:

FONTE: SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL — SINDUSCON-RS. Censo

do Mercado Imobiliário de Porto Alegre: imóveis novos ( V; VI; VII; VIII; IX). Porto Alegre: SINDUSCON-RS, 2002/2006.

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2002 2003 2004 2005 2006

Casa

Apartamento

Unidades ofertadas, por faixa de valor, no Bairro Vila Jardim, em Porto Alegre — 2002-06

Gráfico 7

Legenda:

FONTE: SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL — SINDUSCON-RS. Censo

do Mercado Imobiliário de Porto Alegre: imóveis novos ( V; VI; VII; VIII; IX). Porto Alegre: SINDUSCON-RS, 2002/2006.

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113Condomínios fechados: as novas configurações do urbano e a dinâmica imobiliária

A título de conclusãoAs considerações aqui apresentadas traduzem uma

primeira incursão na questão dos efeitos provocadosnuma área polarizada por um grande equipamento co-mercial, o shopping center. Não são posições consolida-das, mas uma prévia das possíveis correlações existen-tes, que a pesquisa, ainda em andamento, poderá aportar.

Sendo o entorno do SCI um espaço para onde mui-tas atividades econômicas se direcionaram, a presençade investimentos em estoques residenciais (dinâmicaimobiliária) teve um papel fundamental. A densificação,a verticalização e a nova tipologia construtiva (Koch,2004), juntamente com a esfera comercial e a acessibi-lidade, foram os elementos responsáveis pelas grandesalterações e pela atual conformação dessa área.

Essa região da Cidade de Porto Alegre surgiu comoo local preferencial de categorias sociais mais abasta-das e que, em função da acessibilidade crescente, indu-ziu à inserção de atividades comerciais nas principaisvias de acesso. Iniciaram-se, assim, mudanças na con-figuração de uso do solo, que se traduziram principal-mente no padrão edificado da principal via de acesso,

Avenida Nilo Peçanha, e também, em escala diferencia-da, nos bairros analisados.

As “leituras” dos resultados, em conjunto com asprincipais linhas teóricas que embasaram a investiga-ção, permitem apontar algumas tendências para a áreaem questão.

No que se refere aos Bairros Boa Vista e Chácaradas Pedras, pode-se conjeturar que o declínio verificadona oferta de imóveis residenciais novos, assim como onúmero reduzido de lançamentos do tipo “casa”, podeestar representando uma “incerteza urbana” que os in-vestidores estejam entrevendo em relação a essaslocalidades. Isso significa que existe a possibilidade deestar ocorrendo a proximidade entre a configuração reale aquela prevista pela convenção urbana.

No Bairro Três Figueiras, os resultados apontadosna pesquisa podem sinalizar dois processos: (a) o refle-xo da especulação imobiliária, que deixou grandes glebassem construir até recentemente; e (b) a indicação de quea convenção urbana está em pleno auge, quando se re-lacionam, por exemplo, as famílias de maior poder aqui-sitivo (externalidades de vizinhança) aos condomínioshorizontais de luxo (bens de moradia). Essa tendência é

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Boa Vista Chácara das PedrasTrês Figueiras Vila JardimTotal dos bairros Total da Cidade

Índice

Legenda:

Evolução de áreas vistoriadas em bairros selecionados de Porto Alegre — 2000-2006

Gráfico 8

FONTE: ANUÁRIO ESTATÍSTICO 2001. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2002.FONTE: ANUÁRIO ESTATÍSTICO 2002-2004. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2005.FONTE: ECONOMIAS vistoriadas por bairros 2006. Porto Alegre, 2007. (Dados fornecidos pela PMPA). NOTA: Índice de base fixa 2000 = 100.

Legenda:

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114 Mirian Regina Koch

confirmada, quando se constata o elevado número delançamentos nos últimos anos.

Por fim, em relação ao Bairro Vila Jardim, que éaquele que detém crescentes ofertas de estoquesresidenciais, principalmente no que se refere a casas(inovação da tipologia sugerindo um novo público), res-saltam-se fatos que podem estar apontando o surgimentode uma nova convenção urbana nessa área.

Em síntese, a dinâmica urbana observada remetea uma reflexão sobre possíveis conexões detectadasentre as alterações na convenção urbana e a difusão dainovação espacial referente aos estoques residenciais,a serem melhor explorados na próxima etapa deste es-tudo.

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* Artigo recebido em 09 abr. 2007.

** E-mail: [email protected]

*** E-mail: [email protected]

Caracterização do comércio externo da indústria têxtil--confecção de Santa Catarina em 1996-05:

uma análise conjuntural*

Orlando Arenghi Bacharel em Economia pela Universidade Federal de Santa CatarinaSilvio Antonio Ferraz Cario** Professor Doutor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Santa CatarinaRicardo Lopes Fernandes*** Mestrando em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina

ResumoA indústria têxtil-confecção constitui um dos setores que contribui para aformação da pauta exportadora catarinense, considerada a sexta maiordo País. As vendas para o mercado externo foram da ordem de US$ 350milhões em 2005, sendo os principais produtos comercializados osartefatos têxteis confeccionados. Os Estados Unidos e a Argentina sãoresponsáveis por 60% do valor obtido com as exportações. Por sua vez,as importações catarinenses somam cerca de US$ 138 milhões, sendoo algodão, de 1996 a 2000, e os filamentos sintéticos ou artificiais, de2000 a 2005, os produtos mais importantes comprados no exterior.Argentina, EUA e Paraguai perderam espaços para China, Taiwan e Índiacomo países de origem das importações. Conclui-se que os valoresdas exportações de têxtil-confecção se mantiveram praticamenteestáveis no período em estudo, enquanto as importações decresceramao longo do tempo, contribuindo, assim, para a formação do saldo positivoda balança comercial brasileira na presente década.

Palavras-chave: indústria têxtil-confecção; comércio exterior dosetor têxtil-confecção; comércio exterior catarinense.

AbstractThe industry textile-confection constitutes one of the sectors thatcontribute for the formation of the catarinense exporting guideline,considered 6ª. bigger of the country. The sell for the external market is ofthe USS order 350 million in 2005, being the main commercialized product,the confectioned textile articles. The United States and Argentina areresponsible for 60% of the value gotten with the exportations. In turn, thecatarinenses importations add about USS 138 million, being the cotton,

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of 1996 the 2000, and the synthetic or artificial filaments, of 2000 the2005, the product more important bought in the exterior. The Argentina, U.S. A. and Paraguay lose spaces for China, Taiwan and India as nativecountries of the importations. One concludes that the values of theexportations textiles-confections practically keep steady in the period instudy, while the importations decrease it the long one of the time,contributing, thus, for the formation of the surplus of the Brazilian tradebalance in years 2000.

1 IntroduçãoA indústria têxtil-confecção constitui uma dos

principais segmentos produtivos do ramo tradicional daindústria de transformação de Santa Catarina. Ela seinsere no contexto da formação histórica industrial doEstado, ocupa posição de destaque no valor datransformação industrial, constitui-se em setorabsorvedor de emprego, sobretudo nos elos finais dacadeia produtiva, possui forte representação econômicaem espaços regionais localizados e é reconhecidanacionalmente pela presença de grandes empresasofertantes de produtos no mercado.

A mudança no marco regulatório, no início dos anos90, expôs essa indústria a um forte processoconcorrencial, cujo resultado, em seus primeiros anos,foi a perda de posição das empresas têxtil-confecçãono mercado. Em resposta, tais empresas promoveramprocessos de reestruturação produtiva e organizacional,segundo os parâmetros ditados pelo padrão produtivointernacional vigente nesse segmento. Assim sendo,adquiriram máquinas e equipamentos modernos,promoveram a desverticalização produtiva, orientaram--se para a produção diversificada, criaram novas formasde comercialização interna, procuraram inserir-se nomercado internacional, dentre outras medidas.

Nesse sentido, este texto tem como objetivoanalisar o resultado apresentado pelo comércio externoda indústria têxtil-confecção de Santa Catarina, noperíodo 1996-05, sob uma perspectiva analíticaconjuntural, no sentido de contribuir com elementos parauma avaliação econômica setorial. O estudo está divididoem cinco seções, sendo que, nesta primeira, se faz aapresentação; na segunda, apontam-se as principaiscaracterísticas da estrutura dessa indústria em nívelnacional; na terceira, caracterizam-se as exportaçõesdo segmento têxtil-confecção de Santa Catarina; naquarta, discute-se o perfil das importações desse setorem nível estadual; e, por fim, na quinta seção, listam-seas conclusões.

2 Estrutura e padrão de concorrência da indústria têxtil-confecção do Brasil: características principais

A mudança no marco regulatório concorrencial queocorreu, no Brasil, no início dos anos 90 afetou fortementea indústria têxtil-confecção. Isso aconteceu de formaabrupta, e não se estabeleceram mecanismos imediatospara proteger as empresas pertencentes a essa indús-tria contra as importações subfaturadas e o dumpingcomercial. Em resposta às medidas de redução dasbarreiras tarifárias e não tarifárias e de política cambialapreciativa, estimuladoras da importação de produtosconcorrentes, as empresas empreenderam processosreestruturantes, voltados a criar melhores condiçõescompetitivas no mercado.

Para tanto, modernizaram a planta industrial,adquirindo, principalmente, teares computadorizados,equipamentos eletrônicos para tinturaria e máquinas decostura, de bordar e de acabamentos automatizadas. Nomesmo sentido, adotaram novas práticas organizacionais,em sintonia com procedimentos que ocorrem em nívelinternacional. Dentre elas, destacam-se as técnicasmodernas de gestão, como círculo de controle dequalidade, Just-in-Time, Kanban, célula de produção,terceirização da produção, novas relações comfornecedores, aproximação com clientes, processodecisório participativo, dentre outras.

Esse processo alcançou todos os portes em-presariais, ainda que de forma diferenciada. Em maiorgrau, médias e grandes empresas e, em menor nível, aspequenas empresas procuraram reestruturar-se. Nessecurso, registra-se a convivência de máquinas eequipamentos de níveis tecnológicos diferenciadosexecutando operações produtivas, bem como a adoçãode técnicas modernas de gestão em paralelo aos

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procedimentos administrativos já existentes. A con-vivência do novo com o velho equipamento e da nova eda velha prática organizacional é uma característicamarcante desse processo reestruturante da indústria têxtil--confecção.

No âmbito produtivo, esse processo é impulsionadopelo setor de bens de capital, fornecedor de máquinas eequipamentos. Os controles microeletrônicos dasmáquinas, cada vez mais aperfeiçoados, tornam asoperações mais rápidas, e os avanços em corte edesenho constantes nos equipamentos aumentam acapacidade de os designers exercerem o poder de criação.No campo organizacional, difundem-se as best practiceadotadas pelas empresas, impulsionadas por orientaçõesde empresas de consultorias externas, modernos cursosgerenciais, workshops empresariais, divulgação depráticas virtuosas em congressos e semináriosacadêmicos, dentre outras referências.

No conjunto, observa-se um movimento detransformação no interior da indústria têxtil-confecção.Nas fases produtivas de fiação, tecelagem e tinturaria, aindústria deixa de ser intensiva em trabalho para serintensiva em capital, porém, na fase do vestuário,mantém-se intensiva em absorção de trabalho, ainda queprocessos reestruturantes ocorram. Nesta última fase,dadas as suas características de baixas barreiras àentrada, padrão tecnológico difundido, fácil acesso àtecnologia, reduzido volume de recursos parainvestimento, disponibilidade de fonte de financiamento,etc., novas empresas são criadas e novos trabalhadoressão contratados.

Nesse contexto, o movimento de criação deempresas intensifica-se por conta do crescimento dadesverticalização produtiva no âmbito das médias e dasgrandes empresas. Muitas fases e etapas do processode fabricação dessas empresas passam a ser executadaspelas pequenas empresas, em regime de subcontratação.Empresas subcontratadas comprometem-se a entregartodo ou partes do produto. Para tanto, recebem, adquirem,ou recebem matéria-prima e têm garantida a compra deseus produtos. Ao participarem desse processo, taisempresas especializam-se em determinada etapa doprocesso produtivo e criam maior adensamento na divisãode trabalho empreendida.

Por sua vez, a prática de cooperação interem-presarial não se restringe somente à área dosaglomerados produtivos, onde, geralmente, estãoconcentradas as empresas desse segmento, masestende-se para fora da região industrial especializada.Em muitos casos, as relações de cooperação atingemâmbito internacional, através do processo de compra e

venda entre empresas situadas em países diferentes.Vínculos formam-se entre empresas produtoras de maiorporte e grandes produtores e varejistas mundiais,controladores da cadeia global de produção têxtil--confecção.

Ao transferir parte do processo produtivo para outrasempresas subcontratadas, as médias e grandesempresas passam a dar ênfase à marca, ao design, àdistribuição e à comercialização, às etapas consideradasde criação e de apropriação de maior valor agregadogerado nessa atividade. Em particular, o design torna-seum fator competitivo importante e base da diferenciaçãode produto. Nesse sentido, empresas buscam,crescentemente, realizar investimentos em tendênciase inovar em moda e estilo, visando à consolidação deum estilo diferenciado no mercado.

As empresas, sobretudo as médias e as grandes,estão-se concentrando cada vez mais nas etapas quegarantem maior comando e apropriação dos ganhosdecorrentes dessa atividade. Nesse contexto, a estratégiade diferenciação de produto constitui elemento central.Com isso, as empresas alcançam novos espaços nomercado, ampliando o número de consumidores, e fogemda concorrência de produtos padronizados. Para tanto,procuram manter a planta industrial atualizada em termostecnológicos, treinar e qualificar mão-de-obra, garantirrecursos para pesquisa e desenvolvimento, dentre outrosesforços de capacitação para inovação de produto.

Destaca-se, no campo das estratégias adotadas, ofirmamento de marcas. As empresas entendem queprodutos com marca são um referencial de qualidade nomercado. Procuram, assim, associar a diferenciação doproduto e a qualificação de marcas, com foco emsegmentos específicos do mercado consumidor. Outrosprocedimentos estão presentes, como oferecer produtoslicenciados por marcas internacionais famosas, ouatravés de agentes, instituições, atores e cantores comgrande aceitação no gosto do consumidor nacional.Através dessa prática, as empresas esperam firmar amarca e explorar a fidelidade do consumidor,considerando que, em cada marca, há umarepresentação específica.

As estratégias de comercialização das empresasmostram-se distintas, dependendo da natureza doproduto e do foco do mercado a ser atingido. Há formasde comercialização através de grandes redes dedistribuição, como supermercados, hipermercados e redesespecializadas de varejo de roupa, assim como algumasempresas recorrem à criação de lojas próprias e a lojasfranqueadas, que vendem produtos diferenciados de

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marca e portadores de maior valor agregado, geralmenteestabelecidas em shopping centers.

As relações com os consumidores assumemimportância entre as estratégias desenvolvidas pelasempresas do ramo têxtil-confeção. Nesses termos, asrelações ultrapassam o simples mecanismo mercantilde compra e venda. As empresas procuram ter canalaberto direto com seus consumidores, as quais opinamsobre a concepção e a qualidade dos produtos, a formade atendimento das lojas próprias e das franqueadas, apossível tendência de mercado, dentre outros aspectos.

Segue-se, no quadro atual, a adoção de estratégiasempresariais direcionadas a promover melhoratendimento pela rede de distribuição dos produtos daindústria têxtil-confecção aos consumidores no mercado.Entre as medidas adotadas, estão os programas detreinamento de balconistas, revendedores e repositoresdos seus clientes no varejo, bem como a promoção depalestras e cursos e a distribuição de informativos eimpressos on-line, via internet, para a rede dedistribuidores de seus produtos.

No âmbito do mercado externo, as empresasprocuram participar do movimento de internacionalizaçãoda produção e do consumo; para tanto, criam e melhoramcondições estruturais para inserção ativa nesse espaço.Dentre as estratégias, destacam-se a criação de lojascomerciais próprias e franqueadas e a abertura deescritórios de representação em mercados tradicionais.As empresas buscam, ainda, realizar pesquisa própriaou contratar empresas de consultoria, no intuito deconhecer gostos e preferências de consumidores emmercados externos a serem conquistados.

No curso desses acontecimentos, a estrutura demercado dessa indústria altera-se, em decorrência demuitas empresas entrarem em processos de fechamentoou serem adquiridas por grupos maiores, em paralelo àcriação de outras empresas (Gorini, 2000). A mudançana disposição do número de empresas por segmento podeser visualizada na Tabela 1, tendo destaque as unidadesprodutoras de têxteis, que passaram de 5.728 em 1995para 3.847 em 2004, registrando uma redução de maisde 1.800 unidades. O setor de confecções, ao contrário,apresentou aumento de quase 2.000 unidades nesseperíodo.

O segmento têxtil, de acordo com a Tabela 2,apresenta trajetória de redução de valor da produção nosanos considerados, com exceção, principalmente, do anode 2004. Esse movimento se verifica também nosegmento do vestuário, porém a reversão de trajetória jáocorria de forma acentuada em 2003. Citam-se comomotivos para o reinício do crescimento da produção o

aquecimento do consumo no mercado interno e a maiorvenda de produtos para o mercado externo, ainda quedevam ser considerados, nesse momento, a apreciaçãoda moeda nacional em relação ao dólar e ocomportamento dos preços/kg do produto em cadasegmento.

O registro do aumento no volume produzido detêxteis, no período correspondente a 1995 a 2000 — dequase 500.000 toneladas —, e o do segmento de con-fecções — de mais de 400.000 toneladas — encontram--se expressos na Tabela 3. Tais ocorrências estãofortemente relacionadas ao processo de reestruturaçãoprodutiva empreendido na segunda metade dos anos 90,que levou ao aumento da produtividade de ambos ossubsegmentos industriais.

No âmbito da distribuição regional da produção,observa-se o crescimento da produção de têxtil--confecção na maioria das regiões do País, conforme aTabela 4. A Região Sudeste é a única que apresenta quedade mais de 10% na participação produtiva deconfeccionados. O deslocamento das empresas daRegião Sudeste para a Região Nordeste e para o sul deMinas Gerais faz parte da estratégia de recuperação dacompetitividade e está relacionado aos baixos custosde mão-de-obra e a incentivos fiscais proporcionados poressas regiões (Massuda, 2002). Esse processo foiincentivado por crédito oficial, pois, segundo Gorini (2000),os maiores financiamentos realizados pelo programa têxtildo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico eSocial (BNDES) foram destinados às empresas voltadaspara a produção de fios e tecidos, em altas escalas decommodities de algodão, localizadas nas RegiõesSudeste e Nordeste.

No âmbito do comércio mundial, o Brasil tem umaparticipação muito pequena nas transações ali realizadas.O segmento têxtil, em 1995, participou com 0,90% dasexportações mundiais, e, em 2000, esse valor reduziu-se para 0,71%. O mesmo ocorreu com o segmento deconfecção, que, em 1995, participou com apenas 0,24%das exportações mundiais e, em 2000, apresentou umafração menor ainda, 0,17% (Lupatini, 2004). Dentro dessequadro, é importante salientar que as exportaçõesbrasileiras se concentram no segmento têxtil menosdinâmico da cadeia mundial têxtil-confecção, como ostecidos planos. O aumento das exportações deconfeccionados a partir do ano 2000 deve-seprincipalmente ao segmento cama, mesa e banho, querepresentou mais de 50% das exportações do segmentode confecção em 2002.

Os valores das exportações têxtil-confecçãoapresentaram-se estáveis, em relação aos valores totais,

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até 2003, quando passaram a se elevar, sobretudo em2004, conforme a Tabela 5. Isso se deveu a algumasrazões, dentre as quais se destacam o crescimento docomércio intrablocos, tais como o NAFTA, o aumento deexportações do México aos EUA, a perda decompetitividade do produto nacional no mercado detêxteis, devido ao câmbio defasado, e o atendimento pelaTurquia e pela União Européia de mercadostradicionalmente abastecidos por produtos brasileiros.

Para Gorini (2000), vários fatores contribuíram paraque as importações tivessem um crescimento tãoexpressivo no Brasil. Em 1992, o País deixou de ser umgrande produtor de algodão e, em pouco tempo, passoua ser um dos maiores importadores mundiais.Conjugaram-se para tal ocorrência, de um lado, a faltade barreiras e de proteção maior ao setor e, de outro, apolítica cambial de cunho apreciativo da moeda nacional.As importações brasileiras de têxteis, em 1995,superaram os US$ 800 milhões, um número consideradoalto, se se levar em consideração que, em 1990, elasalcançaram a cifra de US$ 147 milhões, conforme aTabela 6.

Em 2000, as importações do segmento têxtil foramda ordem de US$ 581 milhões, um valor bem inferior aoregistrado em 1995, redução que está relacionada aalguns fatores, tais como a desvalorização cambial de1999 e o crescimento da produção de algodão a partir de1997. Os anos 2001, 2002 e 2003 continuaramcontabilizando quedas nas importações, sendo que, em2003, esse valor se reduziu para US$ 436 milhões. Oano de 2004 apresentou uma elevação, no volume deimportações, de mais de US$ 100 milhões em relação a2003, em grande parte impulsionada pela apreciaçãocambial, que torna baixa a relação R$/US$.

O segmento de confecções, em 1995, também seconfrontou com um grande volume de importações, tendosido esse considerado um momento de forte presençade produtos estrangeiros no País, agravando-se aindamais a crise no setor após a abertura comercial iniciadaem 1990. Os registros desta década apontam valoresanuais inferiores ao registrado em 1995, ainda que o anode 2004 revele movimento de elevação nos valores dosprodutos importados superior aos de 2002 e 2003,sustentado pelos mesmos motivos que impulsionaramas importações têxteis.

O saldo da balança comercial brasileira da cadeiatêxtil-confecção, em 1995, apresentou um déficit de US$850 milhões, ocasionado principalmente pelo volume deimportações, já que as exportações permaneceram semgrandes alterações. A Tabela 7 mostra um saldo negativo,no segmento têxtil-confecção, de US$ 230 milhões em

1995, que continuou apresentando déficits em 2000, 2001e 2002, os quais, porém, não ultrapassaram US$ 50milhões anuais. Entretanto houve reversão desse quadroem 2003 e 2004, quando a totalidade do saldo superouos US$ 350 milhões. Com comportamento diferente, osegmento de confeccionados, desde 1990, apresentavalores positivos. A trajetória dos valores positivos, nestadécada, mostra curso crescente, atingindo US$ 554milhões em 2004, superior aos US$ 361 milhõesregistrados em 2000. Os dois últimos anos emconsideração, tanto para o segmento têxtil como para ode confecção, representam uma mudança no balançocomercial desse setor, em contraponto aos resultadosdos anos 90, quando esse balanço se mostrou negativo.

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Tabela 1

Número de empresas do setor têxtil-confecção, por segmento, no Brasil — 1990-2004

SEGMENTOS 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Têxteis ................................... 7 244 5 278 4 463 4 500 4 503 4 130 3 847 Fiações .................................. 1 179 661 360 360 363 364 359 Tecelagens ............................ 1 481 984 434 425 431 437 448 Malharias ............................... 3 766 3 019 3 195 3 250 3 261 2 874 2 546 Beneficiamento ...................... 818 614 474 465 448 455 494 Confeccionados ................... 15 368 17 066 18 797 18 438 17 766 18 060 19 042 Vestuários .............................. 13 283 13 908 15 634 15 367 14 767 15 156 16 531 Meias e acessórios ................ 731 1 235 1 235 1 290 1 256 1 189 995 Linha lar ................................. 1 062 1 498 1 501 1 325 1 291 1 255 1 020 Outros (1) ............................... 292 425 427 456 452 460 496 TOTAL ................................... 22 612 22 344 23 260 22 938 22 269 22 190 22 889

FONTE: RELATÓRIO setorial da cadeia têxtil brasileira. Brasil Têxtil 2005, São Paulo: Free Press: Instituto de Estudos e FOFONTMarketing Industrial, v. 5, p. 180, ago. 2005. (1) Artigos técnicos e industriais.

Tabela 2

Valor da produção da indústria têxtil-confecção, por segmento, no Brasil — 1990-2004

(US$ milhões)

SEGMENTOS 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Têxtil .................................... 18 839,3 18 216,4 16 249,0 14 009,8 12 571,6 12 887,9 15 857,7 Fios ....................................... 5 206,3 4 547,5 4 266,0 3 249,4 2 970,7 3 109,5 3 835,7 Tecidos .................................. 10 515,8 10 383,7 8 378,9 7 953,4 7 102,7 7 227,1 9 035,6 Malhas ................................... 3 117,2 3 285,2 3 604,1 2 807,0 2 498,2 2 551,3 2 986,4 Confeccionados ................. 30 174,1 30 456,6 28 752,6 21 750,4 18 870,2 20 047,6 23 397,3 Vestuário ............................... 23 056,9 23 419,3 21 475,7 16 146,4 12 799,3 13 078,6 15 320,5 Meias e acessórios ............... 638,5 644,7 495,7 412,8 458,8 502,9 587,6 Linha lar ................................ 2 304,2 1 975,1 2 284,3 1 684,7 1 751,9 1 953,6 2 343,0 Outros ................................... 4 174,5 4 417,5 4 496,9 3 506,5 3 860,2 4 512,5 5 146,2 TOTAL .................................. 49 013,4 48 673,0 45 001,6 35 760,2 31 441,8 28 423,0 39 255,0

FONTE: RELATÓRIO setorial da cadeia têxtil brasileira. Brasil Têxtil 2005, São Paulo: Free Press: Instituto de Estudos e Marketing Industrial, v. 5, p. 180, ago. 2005. NOTA: Valores calculados a partir do preço médio à vista dos artigos na fábrica, sem ICMS, custos de frete e vendas.

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Tabela 3

Volume da produção da indústria têxtil-confecção, por segmento, no Brasil — 1990-2004

(1 000t)

SEGMENTOS 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Filamentos (1) .............. 168,1 224,1 294,5 280,1 279,4 299,2 318,0 Têxtil (2) ........................ 1 309,6 1 291,0 1 738,5 1 576,2 1 505,2 1 472,1 1 574,6 Fios ................................ 1 141,5 1 066,9 1 444,0 1 296,1 1 225,8 1 172,9 1 256,6 Tecidos .......................... 803,0 875,2 1 084,7 1 232,4 1 219,8 1 179,4 1 313,0 Malhas ........................... 319,3 350,8 497,0 490,2 477,4 443,8 453,9 Confeccionados (3) ..... 820,0 1 229,7 1 635,9 1 624,2 1 699,5 1 683,8 1 739,7 Vestuário ....................... 467,0 796,0 1 053,3 1 041,5 1 017,7 994,9 1 022,5 Meias e acessórios ........ 11,4 20,2 20,4 20,5 22,5 21,9 22,1 Linha lar ......................... 188,3 243,2 367,1 346,9 410,8 411,7 429,0 Outros ............................ 153,3 170,3 195,1 215,3 248,5 255,3 266,1 TOTAL ........................... 2 129,6 2 520,7 3 374,4 3 200,4 3 204,7 3 155,9 3 314,3

FONTE: RELATÓRIO setorial da cadeia têxtil brasileira. Brasil Têxtil 2005, São Paulo: Free Press: Instituto de Estudos e FONTE: Marketing Industrial, v. 5, n. 5, p. 180, ago. 2005.

ONTE: Associação Brasileira de Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas. ONTE: Associação Brasileira dos Produtores de Fibras Poliolefínicas (2005).

(1) Produção de filamentos têxteis; incluem polipropileno/polietileno. (2) A produção total têxtil, por critério, é medida pelo volume de fios mais filamentos têxteis. (3) Produção calculada a partir do consumo de suas matérias-primas básicas (tecidos planos, malhas, etc.).

Tabela 4

Participação percentual das regiões na indústria têxtil-confecção, por setores, do Brasil — 1990 e 2004

REGIÃO NORTE

REGIÃO NORDESTE

REGIÃO SUDESTE

REGIÃO SUL

REGIÃO CENTRO-OESTE

SETORES E MÉDIA

1990 2004 1990 2004 1990 2004 1990 2004 1990 2004

TOTAL

Fios .................. 2,7 0,7 24,9 37,0 55,2 35,6 17,2 26,5 0,0 0,2 100,0 Tecidos ............ 3,1 2,9 17,6 20,8 65,6 62,8 12,8 12,9 0,9 0,6 100,0 Malhas ............. 0,2 0,2 2,8 9,2 39,9 30,8 55,7 58,9 1,4 0,9 100,0 Confeccionados 2,8 4,3 8,0 12,4 66,6 54,7 21,6 24,8 1,0 3,8 100,0 Média ............... 2,2 2,0 13,3 19,9 56,8 45,9 26,8 30,8 0,9 1,4 100,0

FONTE: RELATÓRIO setorial da cadeia têxtil brasileira. Brasil Têxtil 2005, São Paulo: Free Press: Instituto de Estudos e FONT E: Marketing Industrial, v. 5, n. 5, p. 180, ago. 2005.

Page 124: 1 SECRETARIA DO PLANEJAMENT O E GESTÃO ISSN 0103 …cdn.fee.tche.br/indicadores/rie3503.pdf · nárias provenientes de suas volumosas importações da China. Esta última, por sua

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 117-136, fev. 2008

124 Orlando Arenghi; Silvio Antonio Ferraz Cario; Ricardo Lopes Fernandes

Tabela 5

Valor das exportações de produtos da cadeia têxtil-confecção, por segmentos, do Brasil — 1990-2004

(US$ 1 000 FOB)

SEGMENTOS 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Fibras/filamentos 292 180 245 245 133 732 247 593 220 023 372 124 604 022 Têxteis ................. 524 075 656 639 534 148 500 629 440 942 639 425 736 015 Fios/linhas ............ 273 134 194 255 137 840 105 850 111 819 173 737 159 717 Tecidos ................. 156 710 260 316 214 977 243 328 197 144 277 226 316 355 Malhas .................. 4 961 10 800 30 278 27 754 28 683 39 441 53 179 Especialidades ..... 89 270 191 268 151 053 123 697 103 296 149 021 206 764 Confeccionados .. 426 978 539 606 554 191 557 875 524 521 644 732 739 380 Vestuário .............. 228 000 273 855 263 573 266 363 211 183 283 216 333 677 Meias e acessórios 1 928 7 700 10 355 7 158 3 568 5 956 6 710 Linha lar (1) .......... 178 137 227 447 247 376 251 202 279 547 324 136 348 276 Outros .................. 18 913 30 604 32 887 33 152 30 223 31 424 50 717 TOTAL ................. 1 243 233 1 441 490 1 222 071 1 306 097 1 185 486 1 656 281 2 079 417

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em:FONTEgFONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007.

FONTE RELATÓRIO setorial da cadeia têxtil brasileira. Brasil Têxtil 2005, São Paulo: Free Press: Instituto de Estudos e FONTE: Marketing Industrial, v. 5, n. 5, p. 180, ago. 2005.

(1) Inclui tapetes e carpetes. Tabela 6

Valor das importações de produtos da cadeia têxtil-confecção, por segmentos, do Brasil — 1990-2004

(US$ 1 000 FOB)

SEGMENTOS 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Fibras/filamentos ...... 262 265 1 026 272 831 505 512 593 424 723 496 696 669 852 Têxteis ....................... 147 962 886 847 581 569 521 275 467 111 436 635 567 880 Fios/linhas .................. 41 696 136 477 78 220 45 071 31 267 32 593 74 361 Tecidos ....................... 60 906 534 409 222 970 239 320 244 263 213 531 262 383 Malhas ........................ 2 470 43 775 62 868 39 790 15 907 8 829 16 243 Especialidades ........... 42 890 172 186 217 511 197 094 175 674 181 682 214 893 Confeccionados ....... 58 639 378 738 193 007 198 818 141 589 128 391 184 497 Vestuário .................... 43 164 286 359 123 499 140 632 100 134 90 264 134 547 Meias e acessórios ..... 3 863 23 510 17 302 13 301 9 552 9 859 13 685 Linha lar (1) ................ 7 365 53 797 33 400 28 865 19 228 15 979 18 962 Outros ......................... 4 247 15 072 18 806 16 020 12 675 12 289 17 303 TOTAL ....................... 468 866 2 291 857 1 606 081 1 232 686 1 033 423 1 061 722 1 422 229

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em: FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007.

FONTE: RELATÓRIO setorial da cadeia têxtil brasileira. Brasil Têxtil 2005, São Paulo: Free Press: Instituto de Estudos e FONTE: Marketing Industrial, v. 5, n. 5, p. 180, ago. 2005.

(1) Inclui tapetes e carpetes.

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125Caracterização do comércio externo da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina em 1996-05:...

3 Características das expor- tações da indústria têxtil- -confecção de Santa Cata- rina

A participação do Estado de Santa Catarina no totaldas exportações brasileiras, no período 1994-04, situa--se em torno de 5%, participação esta que o coloca emquinto lugar, em alguns anos, e na sexta posição, emoutros, entre os estados exportadores nacionais. Por suavez, tem-se registrado mudança na contribuição dossetores produtivos, no total das exportações desseestado, em particular no setor têxtil-confecção. De acordocom a Tabela 8, em 1989, o setor têxtil ocupava a décimaposição nas exportações, representando 2,02% do totalexportado estadual, enquanto o segmento de confecção,calçados e artefatos ocupava a primeira posição, comparticipação de 20,18%. Apresentando trajetóriadecrescente de participação na composição setorial, em2004, o setor têxtil estava em décimo terceiro lugar, com0,79%, e o setor de confecção, calçados e artefatospassou a ocupar a quinta posição, representando de6,92% do total das exportações.

Por sua vez, outros segmentos apresentaramcrescimento significativo de participação no total dasexportações, durante esse período. Produtos alimentaresobteve um relevante aumento na composição dasexportações catarinenses, correspondendo a pouco maisde 15% em 1989, próximo de 25% em 1996 e 28% dototal exportado estadual em 2004. Segmentos produtivos

como mecânica, madeira e mobiliário tiveram, também,um excelente desempenho exportador. Essa evoluçãopercentual em determinados setores indica a exportaçãode produtos com maior valor agregado, notadamente osligados aos segmentos de mecânica e mobiliário, alémda própria indústria alimentícia, que não exporta somentecarne abatida, mas produtos com maior transformaçãoindustrial, dentre os quais congelados e embutidos.

O Estado de Santa Catarina concentra a maiorparte de suas exportações do setor têxtil-confecçãoem produtos do segmento confeccionados, tais como:vestuário e seus acessórios de malha, vestuário e seusacessórios, exceto malha (ternos, saias, vestidos,camisas, etc.) e artefatos têxteis confeccionados (artigosde cama, mesa, cozinha, etc.). Tais produtos representamem torno de 90% dos valores obtidos em dólares com asexportações dessa indústria, como justificam ospercentuais de 90,60% em 1996, 93,03% em 2000 e88,20% em 2005.

Segundo a Tabela 9, o ano de 1996 apresentou omelhor resultado em exportações de têxtil-confecçãodos últimos 10 anos, atingindo um patamar superior aUS$ 400 milhões. Nos anos seguintes, não se observaramvalores superiores, sendo o menor valor obtido — US$280 milhões — registrado em 2000. No período 2003-05,as exportações desse setor apresentaram recuperação,em decorrência de as decisões empresariais darem maiorênfase para o mercado externo, concomitantemente àocorrência de condições conjunturais favoráveis dospaíses importadores dos produtos da indústria têxtil--confecção catarinense. Cumpre salientar que, ao longo

Tabela 7

Saldo da balança comercial da indústria têxtil-confecção, por segmento, no Brasil — 1990-2004

(US$ 1 000 FOB)

SEGMENTOS 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Fibras/filamentos ........ 29 915 -781 027 -697 773 -265 000 -204 700 -124 572 -65 830 Têxteis ........................ 376 113 -230 208 -47 421 -20 646 -34 060 202 790 168 135 Confeccionados (1) ..... 368 339 160 868 361 184 359 057 390 823 516 341 554 883 TOTAL ........................ 774 367 -850 367 -384 010 73 411 152 063 594 559 657 188

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em: FONTE <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007. FONTERELATÓRIO setorial da cadeia têxtil brasileira. Brasil Têxtil 2005, São Paulo: Free Press: Instituto de Estudos e FFONTE: Marketing Industrial, v. 5, n. 5, p. 180, ago. 2005. (1) Incluem tapetes e carpetes.

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126 Orlando Arenghi; Silvio Antonio Ferraz Cario; Ricardo Lopes Fernandes

do período, as exportações obtiveram taxa média decrescimento negativa (-1,04%), ainda que não acentuada.

Em relação ao destino das exportações dosegmento têxtil-confecção catarinense, registra-se comoprincipal cliente os Estados Unidos, seguido por Argentinae Alemanha. Em 1996, o mercado norte-americanoimportou produtos equivalentes ao valor de US$ 67,9milhões, representando em torno de 20% do totalexportado pelo Estado, conforme a Tabela 10. Em 1997,1998, 1999 e 2000, as exportações para o mercado norte--americano continuaram em ritmo crescente, chegando,em 2000, a ultrapassar US$ 100 milhões. O maiordestaque do período de 1996-05 refere-se ao ano de 2003,quando as exportações para aquele país atingiram US$144 milhões, representando 47,17% do total exportado.

A Argentina também é um importante mercado daindústria têxtil-confecção catarinense. Entre 1996 e 2005,essas exportações oscilaram entre US$ 51 milhões em1996 e US$ 54 milhões em 2005. Apesar da aparenteregularidade das exportações do setor têxtil-confecçãopara esse país, em 2002 houve uma drástica redução dovolume exportado, em decorrência de crise econômica,expressa por forte queda do PIB, falência do regimecambial, decretação de moratória externa, mecanismocompulsório de retenção de moeda interna, dentre outros.Todavia, com a recuperação econômica do País, asexportações voltaram a apresentar valores crescentes,justificados nas participações de 9,57% em 2003, 13,75%em 2004 e 15,42% em 2005, do total exportado.

As exportações de têxtil-confecção destinadas aosblocos econômicos regionais apontam o NAFTA, a partirde 1998, como o principal comprador de Santa Catarina,posição até então ocupada pela União Européia, segundoo Gráfico 1. As exportações para o Mercosul apresentamtrajetória praticamente estável até 2001, queda acentuadaem 2002 e crescimento nos últimos anos, justificado pelarecuperação econômica da maioria dos países e pelosincentivos dos governos nacionais em promover maiorintegração comercial entre os parceiros que compõemesse bloco regional.

As exportações de Santa Catarina, sob a ótica dasquantidades físicas comercializadas na segunda metadedos anos 90, registram valores abaixo de 30.000 miltoneladas, conforme a Tabela 11. Porém, após adesvalorização do real em 1999 e a demonstração decrescimento da economia mundial na presente década,as vendas para o mercado externo sofreram estímulo,promovendo trajetória de crescimento do volume do valorexportado.

Avaliando o setor têxtil-confecção no Gráfico 2,observa-se que a curva que representa o preço médiodos artefatos têxteis confeccionados aponta uma quedaconstante no período 1996-05, e as curvas querepresentam os itens vestuário e seus acessórios demalha e vestuário e seus acessórios exceto malhaindicam uma queda nos preços médios, a partir de 1998até 2002. Somente em 2003, os preços médioscomeçaram a reagir novamente e, em 2005, atingiramvalores próximos aos pagos em 1996, mas abaixo doápice do preço médio alcançado em 1997.

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127Caracterização do comércio externo da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina em 1996-05:...

Tabela 8

Composição das exportações da indústria de transformação, por setores, de Santa Catarina — 1989, 1996 e 2004

1989 1996 2004 SETORES

Valor (US$) % Valor (US$) % Valor (US$) %

Minerais não-metálicos .................... 71 238 534 4,97 124 501 243 4,72 208 868 529 4,30 Metalúrgica ...................................... 34 817 319 2,43 47 469 354 1,80 103 223 211 2,13 Mecânica ......................................... 189 607 437 13,23 352 522 510 13,37 776 941 078 16,01 Material elétrico ............................... 35 166 180 2,45 114 884 690 4,36 318 966 246 6,57 Material de transporte ...................... 15 300 858 1,07 62 390 215 2,37 109 425 339 2,25 Madeira ............................................ 44 128 065 3,08 207 250 740 7,86 569 634 324 11,74 Mobiliário ......................................... 11 649 484 0,81 178 990 409 6,79 441 084 864 9,09 Papel e papelão ............................... 62 601 281 4,37 101 323 885 3,84 164 067 015 3,38 Borracha .......................................... 165 407 0,01 539 722 0,02 827 323 0,02 Couros e peles ................................. 7 457 332 0,52 11 190 074 0,42 20 328 055 0,42 Química ........................................... 32 243 0,00 8 163 584 0,31 51 691 312 1,07 Produtos farmacêuticos ................... 10 182 0,00 920 005 0,03 1 300 586 0,03 Produtos de perfumaria e sabão ..... 1 529 976 0,11 996 403 0,04 3 357 055 0,07 Produtos de matérias plásticas ........ 3 152 529 0,22 14 632 658 0,55 29 795 703 0,61 Têxtil ................................................ 28 934 398 2,02 30 497 056 1,16 38 214 002 0,79 Vestuário, calçados e artefatos ....... 289 269 701 20,18 314 060 420 11,91 335 961 081 6,92 Produtos alimentares ....................... 215 581 030 15,04 652 850 590 24,75 1 366 097 201 28,15 Bebidas ............................................ 417 965 0,03 1 552 941 0,06 710 250 0,01 Fumo ................................................ 93 527 988 6,52 140 673 823 5,33 133 423 676 2,75 Editorial e gráfica ............................. 159 616 0,01 100 241 0,00 2 785 793 0,06 Diversas ........................................... 328 925 681 22,94 271 797 269 10,31 176 803 787 3,64 TOTAL ............................................. 1 433 673 206 100,00 2 637 307 832 100,00 4 853 506 430 100,00

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio. Secex. In: KROETZ, M. A mudança do paradigma e FONTE: seus impactos sobre o desenvolvimento de Santa Catarina. Maringá, PR, 2006. Dissertação (Mestrado em Econo- FONTE: mia)—Universidade Estadual de Maringá. p. 107.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 117-136, fev. 2008

128 Orlando Arenghi; Silvio Antonio Ferraz Cario; Ricardo Lopes Fernandes

Tabela 9

Valor das exportações da indústria têxtil-confecção, por produtos, de Santa Catarina — 1996-05

VALORES (US$ milhões FOB) PRODUTOS

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

VARIAÇÃO %

Algodão ............................. 24,44 22,45 17,05 13,10 13,46 10,58 9,46 15,8 19,34 20,2 -2,64 Filamentos sintéticos ou ar-tificiais .............................. 0,12 0,37 0,36 0,35 0,57 0,89 0,44 1,49 1,34 1,30 23,31 Pastas, feltros e falsos te-cidos; fios especiais; cor-déis, cordas e cabos; arti-gos de cordoaria .............. 1,61 1,46 1,56 1,52 1,36 1,00 0,65 0,85 1,14 1,30 -5,79 Tecidos especiais; tecidos tufados; rendas; tapeça-rias; pássamanarias; bor-dados ............................... 6,82 5,25 5,52 5,38 5,32 4,68 4,46 4,06 9,93 9,30 3,00 Tecidos impregnados, re-vestidos, recobertos ou es-tratificados; artigos para usos técnicos de mate-riais têxteis ..................... 2,73 1,83 1,44 0,82 2,04 1,45 1,31 2,24 3,62 3,60 6,38 Tecidos de malha ............. 0,87 0,12 0,72 0,94 0,34 0,67 0,11 1,49 3,21 3,90 20,76 Vestuário e seus acessó-rios de malha ................... 86,86 70,52 61,24 61,04 92,74 89,10 59,07 90,23 105,90 96,00 3,36 Vestuário e seus acessó-rios, exceto de malha ........ 47,65 46,85 47,79 38,59 40,15 35,08 26,54 24,03 25,03 25,40 -8,93 Artefatos têxteis confeccio-nados; sortidos; etc. .......... 231,42 229,74 184,07 179,96 183,79 172,74 177,44 186,87 195,56 188,00 -1,83 Outros ............................... 1,36 1,46 1,44 0,70 0,68 0,78 1,20 0,96 1,14 1,80 0,26 Total .................................. 403,90 380,10 321,20 302,40 340,40 317,00 280,70 328,00 366,20 350,80 -1,04

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em: FONTE: FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007.

NOTA: Dados deflacionados de acordo com a taxa de inflação norte-americana no período, com base em 2005.

Tabela 10

Destino das exportações da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina — 1996-05

VALORES (US$ milhões FOB)

PAÍSES 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 VARIAÇÃO

%

Estados Unidos ..... 67,9 72,1 73,4 80,4 103,5 97,8 127,8 144,9 139,2 124,5 6,59

Argentina ............... 51,3 66,7 46,9 49,1 62,4 58,5 7,0 29,4 48,7 54,1 -8,41

Alemanha .............. 65,1 39,4 29,1 28,4 26,9 25,9 29,2 28,5 27,3 22,1 -9,85

Chile ...................... 13,4 10,5 11,2 10,6 13,5 10,8 10,8 11,3 14,1 16,3 -0,13

Uruguai .................. 10,1 13,3 13,9 12,5 14,5 18,3 10,6 9,5 13,9 14,2 -1,64

França ................... 14,9 10,7 8,1 8,5 8,9 9,6 10,3 14,7 18,08 13,5 1,51

Paraguai ................ 16,0 18,3 16,7 11,4 11,9 10,7 5,5 5,9 8,7 12,0 -11,64

Outros ................... 86,8 80,5 68,2 57,7 59,2 63,5 56,4 62,6 83,7 93,7 -2,05

Total ...................... 325,5 311,5 267,5 258,6 300,8 295,1 257,6 306,8 353,68 350,4 -1,04

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em: FONTE: FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007.

NOTA: Dados deflacionados de acordo com a taxa de inflação norte-americana no período, com base em 2005.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 117-136, fev. 2008

129Caracterização do comércio externo da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina em 1996-05:...

Tabela 11

Volume das exportações da indústria têxtil-confecção, por produtos, de Santa Catarina — 1996-05

VOLUME (1 000t) PRODUTOS

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 VARIAÇÃO

%

Algodão .............................. 2,0 1,8 1,3 1,2 1,4 1,1 1,2 2,7 3,0 2,8 3,69 Vestuário e seus acessó-rios de malha ...................... 3,8 2,9 2,7 3,5 5,7 6,3 4,8 6,8 6,7 5,5 6,62 Vestuário e seus acessó-rios, exceto malha .............. 2,5 2,3 2,6 2,4 2,6 2,6 2,3 1,8 1,6 1,6 -7,54 Artefatos têxteis sortidos .... 17,8 18,5 15,6 17,4 19,8 19,8 22,0 25,6 26,8 28,0 3,59 Outros ................................. 1,7 1,4 1,3 1,5 1,7 1,8 1,5 2,3 3,8 3,8 8,01 Total ................................... 28,1 27,1 23,7 26,3 31,4 31,8 32,0 39,4 42,0 41,9 3,56

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em: FONTE: FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007.

020406080

100120140160

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

NAFTA Mercosul União Européia Outros

Exportações da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina para blocos econômicos regionais — 1996-05

Legenda:

Gráfico 1

(US$ milhões FOB)

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em:FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007. NOTA: Dados deflacionados de acordo com a taxa de inflação norte-americana no período, com base em 2005.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 117-136, fev. 2008

130 Orlando Arenghi; Silvio Antonio Ferraz Cario; Ricardo Lopes Fernandes

4 Perfil das importações da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina

As importações catarinenses nesse setor somaramUS$ 230 milhões em 1996, como indica a Tabela 12,sendo que esse número se elevou para US$ 295 milhõesem 1997, considerado o ano de maior valor registrado noperíodo 1996-05. A partir de 1998, o volume importadocomeçou a declinar e, em 2003, alcançou a cifra de US$53 milhões. Entretanto, como o câmbio no Brasil, a partirde 2004, passou a ser atrativo, as importaçõesapresentaram sensível elevação, registrando os valoresde US$ 99 milhões e US$ 138 milhões, respectivamente,em 2004 e 2005.

O algodão foi o principal produto importado por SantaCatarina até o ano 2000, chegando a representar maisde 60% do total de produtos importados pelo setor têxtil--confecção. Tal volume de importação ocorreu em funçãode uma drástica redução da produção nacional nos anos90. Porém, ainda no final dessa década, a produção desseinsumo recuperou-se, principalmente depois que osestados da Região Centro-Oeste passaram a produzir

em larga escala (Ferreira Filho et al., 2004, p. 3). Por suavez, o valor do algodão importado pelo setor têxtil--confecção, na presente década, reduziu-se de formasignificativa, comparativamente aos valorescontabilizados nos anos 90. O somatório dos valoresimportados a partir de 2000 iguala-se ao do valor obtidoem apenas um ano, 1996, e é inferior ao registrado em1997.

Ainda que a produção brasileira — e principalmentea catarinense — esteja baseada na produção de produtostêxteis de fibras naturais, notadamente o algodão (Gorini;Siqueira, 2002, p. 11), os filamentos e as fibras sintéticastêm um papel importante como matéria-prima e grandeparticipação na gama de produtos importados do setor.Em 1996, os produtos sintéticos representavam em tornode 15% do total importado e, em 1998, mais de 23%, oequivalente a US$ 56 milhões dos US$ 241 milhõesdestinados à importação. Nos anos seguintes, essaparticipação continuou se elevando, chegando, em 2005,a ultrapassar os 45% do total importado pelo setor têxtil--confecção naquele ano. Um dos fatores responsáveispela importação de filamentos e fibras sintéticas, segundoo Relatório Setorial da Cadeia Têxtil Brasileira(RELATÓRIO..., 2005, p. 42), decorre do fato de o Brasilser pouco competitivo na produção desse insumo.

3579

111315171921

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Vestuário e acessórios de malhaVestuário e acessórios, exceto malhaArtigos têxteis sortidos

Preço médio dos três principais produtos exportados da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina — 1996-05

Legenda:

0

Gráfico 2

(US$/kg)

FONTE: BRASIL. Ministério doDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em: FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. NOTA: Dados deflacionados de acordo com a taxa de inflação norte-americana no período, com base em 2005.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 117-136, fev. 2008

131Caracterização do comércio externo da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina em 1996-05:...

Os principais países de origem das importaçõesde produtos do setor têxtil-confecção, em 1996, eram oParaguai e a Argentina, com valores de US$ 70 milhõese US$ 39 milhões, respectivamente, seguidos por EUA,com o registro de US$ 32 milhões, conforme a Tabela 13.A expressividade desses países na pauta de importaçõescatarinense continuou em 1997, alcançando os valoresde US$ 36 milhões, US$ 81 milhões e US$ 20 milhões,respectivamente, para os países citados. Porém, nestadécada, outros países se destacam como fornecedoresinternacionais, tais como Taiwan, China e Índia, reduzindo,em compensação, a participação dos países tradicionaisofertantes de produtos para Santa Catarina. A conjugaçãodos fatores melhores preços oferecidos pelos novosofertantes e baixas barreiras à importação foideterminantes para tal ocorrência.

Tais dados indicam que, no decorrer do período 1996--05, os países asiáticos aumentaram gradativamente suaparticipação no mercado catarinense, confirmando seuforte poder competitivo no mercado internacional,principalmente da China, que, em 2005, participou commais de 10% do total das importações catarinenses dosetor têxtil-confecção. O registro das taxas decrescimento negativas dos Estados Unidos (-20,4%), daArgentina (-29,31%) e do Paraguai (-33,54%) comprovama perda de participação desses países no mercadoimportador da indústria têxtil-confecção catarinense aolongo do período analisado.

Quanto aos produtos importados vistos sob aperspectiva de volume físico, os dados revelam que, em1996, houve aquisições da ordem de 72.000 toneladas,sendo que, desse total, 60.000 eram de algodão, conformea Tabela 14. A partir de 1998, o volume de importaçãodesse setor apresentou quedas sucessivas até 2003,com a recuperação sendo estimulada, em grande monta,pelo retorno da apreciação cambial, porém em patamaresabaixo do registrado no passado. Verifica-se, por outrolado, que os filamentos sintéticos ou artificiais, desde1996, vêm aumentando gradativamente sua participaçãonas importações catarinenses. Esse produto, em 1996,somava 5.000 toneladas; em 1997, o volume duplicoupara 10.000 toneladas, e, em 2005, foram importadas22.000 toneladas, representando cerca de 40% do totalimportado pelo setor. Entretanto o resultado final mostrou--se positivo, em face de a variação das importações noperíodo 1996-05 ser negativa (-121,64%).

Considerando o preço médio dos três principaisprodutos importados para o setor têxtil-confecção,entre 1996 e 2005, segundo o Gráfico 3, constata-se que,a partir de 1997, o preço das fibras sintéticas ou artificiaisapresentaram queda constante até 2002. A partir deste

último ano, os preços do algodão e das fibras sintéticasou artificiais descontínuas tiveram recuperação gradualaté 2005. Em contrapartida, os preços médios dosfilamentos sintéticos ou artificiais, que vinham declinandoaté 2003, mantiveram-se estáveis nos últimos dois anosda série em estudo. Tais ocorrências são, em muito,justificadas pelo aumento da produção, pela redução doscustos de produção e pelo acirramento concorrencial nomercado.

O Mercosul é o bloco econômico regional commaiores valores registrados de importação de têxtil--confecção por Santa Catarina, comparativamente aoscontabilizados para o NAFTA e a União Européia, con-forme a Tabela 15. Os registros apontam valores elevadosno início do período — US$ 98 milhões em 1996 e US$106 milhões em 1997. Em 1998-03, as importaçõesoriundas desse mercado regional sofreram quedasseguidas, atingindo o menor patamar em 2003, quando ovalor importado alcançou a cifra de US$ 7,6 milhões, emgrande parte justificado pela crise econômica dos paísesdesse bloco, em particular da Argentina. Porém os dadosapresentados por “outros países” são mais significativosem termos comparativos. Neles, incluem-se ascrescentes importações procedentes de países comoChina, Taiwan e Índia, os quais não estão organizadosformalmente como um bloco regional de comércio.

Em relação ao saldo comercial externo do setortêxtil-confecção do Estado de Santa Catarina, este éconsiderado positivo desde 1996, conforme evoluçãoapresentada no Gráfico 4. Nota-se que, no período emanálise, se destaca o aumento da diferença entre osvalores de exportação e importação, à medida que seaproxima dos últimos anos. Os valores obtidos com asexportações, grosso modo, mantiveram-se estabilizadosao longo da maioria dos anos, logo, a diferença deve-seà queda acentuada das importações. Esse fato decorreda menor demanda por algodão importado, compensadapela disponibilidade desse produto no mercado interno.Por sua vez, nos últimos anos, diminuiu o saldocomercial, em virtude do crescimento das importaçõesde fibras sintéticas, estimulado pela política cambial emvigor.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 117-136, fev. 2008

132 Orlando Arenghi; Silvio Antonio Ferraz Cario; Ricardo Lopes Fernandes

Tabela 12

Valor das importações da indústria têxtil-confecção, por produtos, de Santa Catarina — 1996-05

VALORES (US$ milhões FOB) PRODUTOS

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

VARIAÇÃO %

Algodão ............................. 165,90 199,73 152,49 108,87 76,01 28,40 10,01 9,40 21,10 21,00 -34,10 Filamentos sintéticos ou ar-tificiais ...............................

23,58

36,85

36,98

39,64

48,97

33,75

34,16

15,06

23,58

22,20

5,44

Fibras sintéticas ou artifi-ciais descontínuas .............

11,79

19,89

20,89

13,45

11,76

10,36

8,49

11,75

26,37

42,30

5,50

Pastas, feltros e falsos te-cidos; fios especiais; cor-déis, cordas e cabos; arti-gos de cordoaria ...............

1,12

1,95

2,52

2,10

1,92

2,56

1,96

1,71

1,96

2,70

3,70 Tecidos especiais; tecidos tufados; rendas; tapeçarias; passamanarias; bordados

1,24

2,44

3,36

2,22

0,68

0,56

0,44

0,43

1,86

7,50

-0,67 Tecidos impregnados, re-vestidos, recobertos ou es- tratificados; e para usos técnicos de materiais têx-teis ....................................

6,33

5,86

5,40

3,98

3,96

3,34

3,26

3,20

3,83

5,00

-5,13 Tecidos de malha .............. 1,86 3,29 2,16 4,33 6,56 0,67 0,22 0,21 0,62 2,50 -19,30 Vestuário e seus acessó-rios de malha .....................

1,86

3,29

2,16

0,58

0,57

1,11

0,87

0,21

0,62

2,50

-11,35

Vestuário e seus acessó-rios, exceto de malha ........

8,81

14,15

10,21

4,09

2,94

2,90

1,41

1,92

3,31

9,80

-12,58

Artefatos têxteis confeccio-nados; sortidos, etc...........

3,60

2,56

2,04

0,94

2,15

1,67

0,44

0,64

1,96

2,80

-7,55

Outros ............................... 3,47 5,61 3,24 2,69 1,70 1,89 1,09 9,29 14,17 20,50 15,22

Total ................................. 230,55 295,63 241,47 182,88 157,21 87,21 62,34 53,82 99,38 138,80 -14,25

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em: FO FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007. NOTA: Dados deflacionados de acordo com a taxa de inflação norte-americana no período, com base em 2005.

Tabela 13

Valor das importações, por principais países de origem, de produtos têxtil-confecção de Santa Catarina — 1996-05

VALORES (US$ milhões FOB)

PAÍSES

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

VARIAÇÃO

%

Estados Unidos ............. 32,26 20,13 8,29 4,79 6,56 5,35 4,46 3,63 3,21 5,30 -20,40 Argentina ....................... 39,96 81,99 66,04 26,31 19,68 7,13 3,26 2,35 9,00 14,80 -29,31 Alemanha ...................... 2,98 2,68 1,92 1,17 1,70 2,00 1,41 0,85 2,07 0,60 -11,85 China ............................. 1,12 1,83 0,84 1,17 0,57 1,56 3,48 2,56 4,65 14,80 24,00 Uruguai ......................... 8,81 11,47 11,77 7,02 5,99 1,45 0,54 0,21 0,09 0,50 -53,73 Taiwan (Formosa) ......... 5,58 7,81 6,00 10,17 14,48 9,24 4,13 3,74 8,79 7,20 -1,40 Paraguai ........................ 70,48 36,48 33,14 40,69 25,34 9,24 5,00 5,45 10,13 2,50 -33,54 Índia .............................. 3,10 8,54 9,13 7,02 7,58 4,01 1,96 2,14 7,14 5,70 -4,55 Outros ........................... 66,26 124,69 104,34 84,54 75,33 47,22 38,08 32,89 54,29 87,40 -7,24 Total ............................. 230,55 295,63 241,47 182,88 157,21 87,21 62,34 53,82 99,38 138,80 -14,25

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em: FONTE: FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007.

NOTA: Dados deflacionados de acordo com a taxa de inflação norte-americana no período, com base em 2005.

Page 133: 1 SECRETARIA DO PLANEJAMENT O E GESTÃO ISSN 0103 …cdn.fee.tche.br/indicadores/rie3503.pdf · nárias provenientes de suas volumosas importações da China. Esta última, por sua

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 117-136, fev. 2008

133Caracterização do comércio externo da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina em 1996-05:...

0,4

0,9

1,4

1,9

2,4

2,9

3,4

3,9

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

AlgodãoFilamentos sintéticos ou artificiaisFibras sintéticas ou artificiais, descontínuas

0,0

(US$/kg)

Gráfico 3

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em:FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. NOTA: Dados deflacionados de acordo com a taxa de inflação norte-americana no período, com base em 2005.

Preço médio dos três principais produtos têxteis-confecção importados por Santa Catarina — 1996-05

Tabela 14

Volume das importações de produtos têxtil-confecção em Santa Catarina — 1996-05

VOLUME (1 000t) PRODUTOS

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 VARIAÇÃO

%

Algodão .......................... 60,8 81,3 66,6 58 47,3 17,2 6,2 4,9 7,9 6,5 -37,40

Filamentos sintéticos ou artificiais .........................

5,1

10,4

10,9

16,1

24,4

17,7

20

14,1

22,8

22,2

9,95

Vestuário e seus acessó-rios exceto malha ...........

0,2

0,4

0,1

0,1

0,3

0,5

0,2

0,1

0,5

1,6

114,84

Fibras sintéticas ou arti-ficiais descontínuas ........

3,5

4,2

5,0

4,0

4,5

4,6

4,7

6,5

14,1

20,6

135,33

Outros ............................ 3,0 3,5 3,1 2,7 4,5 1,8 1,1 1,5 3,8 7,2 -16,38 Total ............................... 72,6 99,8 85,7 80,9 8,1 41,8 32,2 27,1 49,1 58,1 -121,64

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em: FON TE: FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007.

Tabela 15 Valor das importações de produtos têxtil-confecção, segundo blocos econômicos regionais, de Santa Catarina — 1996-05

VALORES (US$ milhões FOB) BLOCOS

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

VARIAÇÃO %

NAFTA ......................... 27,4 21,2 11,2 4,6 6,2 5,6 4,3 3,7 3,8 5,9 -21,58 Mercosul ...................... 98,0 106,6 92,5 63,5 45,3 16,1 8,2 7,6 18,6 17,9 -30,97 União Européia ............ 12,9 13,5 13,0 9,2 9,6 8,7 6,1 5,3 8,0 10,0 -9,50 Outros .......................... 47,5 101,0 84,4 148,3 77,9 102,2 94,4 33,8 65,7 108,8 -0,07 Total ............................ 185,8 242,3 201,1 225,6 139 132,6 113 50,4 96,1 142,6 -14,25

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em: FONT: FONE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007. NOTA: Dados deflacionados de acordo com a taxa de inflação norte-americana no período, com base em 2005.

Legenda:

Page 134: 1 SECRETARIA DO PLANEJAMENT O E GESTÃO ISSN 0103 …cdn.fee.tche.br/indicadores/rie3503.pdf · nárias provenientes de suas volumosas importações da China. Esta última, por sua

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 117-136, fev. 2008

134 Orlando Arenghi; Silvio Antonio Ferraz Cario; Ricardo Lopes Fernandes

230,55

403,90 380,06

321,20

302,39

340,44316,97

280,68

328,04366,19 350,80

87,2162,34

53,8299,38

138,80157,21182,88

241,47

295,63

050

100150200250300350400450

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Exportações ImportaçõesLegenda:

Evolução da importação e da exportação de produtos têxteis-confecção de Santa Catarina — 1996-05

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secex. Sistema Alice. Disponível em:FONTE: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/default.asp>. Acesso em: 15 jan. 2007.NOTA: Dados deflacionados de acordo com a taxa de inflação norte-americana no período, com base em 2005.

(US$ milhões FOB)

Gráfico 4

5 ConclusõesA abertura comercial ocorrida, no Brasil, na década

de 90 foi o marco inicial do processo de reestruturação emodernização contemporânea da indústria têxtil--confecção. No período 1995-04, o setor têxtil brasileiroapresentou uma redução de mais de 1.400 empresas,enquanto o setor de confeccionados registrou umincremento próximo a 2.000 empresas. A produçãobrasileira de têxtil-confecção, em seu último registro —2004 —, era de US$ 39 bilhões, sendo o setor deconfecções responsável por 61,5% desse valor, e osegmento de têxtil, por 38,5%. Houve um acréscimo dequase 800.000 toneladas na produção brasileira têxtil--confecção, no período 1995-04, indicando significativoaumento da produção, mesmo com a redução do númerode empresas. Por sua vez, o número de empregadosdecresceu em mais de um milhão, nesse período,sinalizando profunda mudança na estrutura produtiva dosetor, relacionada ao processo de modernização do parquede máquinas e equipamentos.

Nesse cenário, as exportações e importações daindústria têxtil-confecção de Santa Catarina mostraramtrajetórias distintas nos últimos 10 anos. As exportaçõesapresentaram um curso sem grandes oscilações nosvalores obtidos, demonstrando, ao longo do período,taxa de crescimento de -1,04%. Considerando o últimoano de análise — 2005 —, as exportações alcançaram a

cifra de US$ 350 milhões, sendo fortemente concentradaem dois subsegmentos: artefatos têxteis confeccionadose vestuário e seus acessórios, com 53,70% e 34,28%respectivamente. Quanto aos principais destinos dasexportações catarinenses, pouco mais de 60% são paraos EUA e a Argentina. Destaca-se o NAFTA comoprincipal bloco econômico demandador, posição mantida,desde 1998, entre os mercados regionais. Por sua vez,observa-se redução no valor pago aos produtosexportados, sendo referência os têxtil-confeccionados,cujo valor, em 1996, era de US$ 10,42/kg, e, em 2005,alcançou o valor de US$ 6,69/kg.

As importações catarinenses dos produtos têxtil--confecção tiveram trajetória descendente ao longo dotempo. Em 1996, somavam US$ 230 milhões, cerca deUS$ 90 milhões acima dos US$ 138 milhões importadosem 2005. A taxa média de crescimento de 1996 a 2005foi de -14,25%, redução causada pela diminuição dasimportações de algodão e vestuário e seus acessórios.Os principais países exportadores de produtos têxtil--confecção para Santa Catarina, em 2005, eram China,Argentina e Taiwan, sendo que, de 1996 a 2000, o Paraguaifoi o principal exportador. Registra-se, ao longo do período,perda de espaço dos produtos provenientes de Argentina,Paraguai e EUA no mercado catarinense para osprocedentes de países do continente asiático,principalmente para China e Taiwan.

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135Caracterização do comércio externo da indústria têxtil-confecção de Santa Catarina em 1996-05:...

Em termos físicos, Santa Catarina importava, em1996, 72.000 toneladas, sendo que, em 2005, essemontante não ultrapassou as 58 toneladas. No período1996-00, o algodão era o principal produto na pauta deimportações; a partir de 2000 até 2005, os filamentossintéticos ou artificiais eram os produtos com maiorvolume de importação no setor têxtil-confecção. Osfilamentos sintéticos ou artificiais importados por SantaCatarina sofreram reduções constantes de preços desde1996, quando o preço era de US$ 3,66/kg, caindo, em2005, para US$ 0,99/kg.

Conclui-se que o setor exportador catarinense, noperíodo 1996-05, não sofreu grandes alterações noconjunto de suas exportações, uma vez que estas semantiveram estáveis; e as importações foram reduzidasao longo do período. Observa-se uma redução nos preçosdos produtos exportados e importados, indicando ummaior acirramento da concorrência internacional emostrando que a modernização do parque produtivo e aredução de custos de produção são fundamentais para aconcorrência nos mercados internacionais.

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136 Orlando Arenghi; Silvio Antonio Ferraz Cario; Ricardo Lopes Fernandes

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137Milagre exportador, preços relativos e o Mal Brasileiro

Milagre exportador, preços relativos e o Mal Brasileiro*Duilio de Avila Bêrni** Professor do PPGE-PUCRS e Doutor em Economia pela Oxford UniversityHenrique Morrone*** Economista do INCRA e Mestre em Economia do Desenvolvimento pelo PPGE-PUCRSDaniel Koshiyama**** Economista pela UFRGS e mestrando em

Economia do Desenvolvimento pela PUCRS

Resumo

Buscando contribuir para o debate sobre o papel do protecionismo e aquestão da reprimarização da pauta da economia brasileira, analisamosos efeitos de duas simulações. A primeira consiste na exclusão dos im-postos indiretos do sistema tributário nacional. A segunda examina oefeito de um aumento exógeno das exportações sobre a formação depreços do sistema. Retirando os impostos indiretos, o que implicou (porconstrução) redução do Produto Interno Bruto, vimos que as famíliaspobres e as exportações são as menos afetadas. Com isso, entendemosque, na economia aberta, algumas questões alocativas serão resolvidasem favor dos pobres e dos exportadores. Com a segunda simulação,sugerimos que as exportações são vitais no processo de crescimento doPaís, sendo que os setores exportadores exibiam “linkages” que não per-mitem chamá-los de “setores atrasados”, ainda que, naturalmente, al-guns deles — direta ou indiretamente — exportem primários.

Palavras-chave: eficiência econômica; regressividade da tribu-tação indireta; modelo de preços de Leontief.

Abstract

The paper has made an attempt to contribute to two issues concernedwith the present interpretations of the Brazilian economy: the role ofprotectionism and the so called reprimarization of the exports profile. Ourexercise consisted of performing two simulations, the first dealing withthe consequences of the exclusion of all indirect taxes from the economy,

Os autores agradecem os comentários dos pareceristasanônimos da revista Indicadores Econômicos FEE, cujosconteúdos levaram ao aperfeiçoamento do texto original. Seerros houver daqui para frente, debite-se a responsabilidadeaos três autores, uma vez que seus julgamentos de valor são,logicamente, objeto de discordâncias de outra natureza.

* Artigo recebido em 03 abr. 2007. ** E-mail: [email protected]

*** E-mail: [email protected]

**** E-mail: [email protected]

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while the other appraised what would happen if exports received animportant exogenous expansion, particularly as regards the price dimensionof the working of the system. The withdrawal of indirect taxes from theeconomy — although, by simple arithmetic reasons reducing grossdomestic product — would be relatively less harmful to the poor familiesand exporting firms. We interpret these results as indicating that, in theopen economy, some allocative questions will be solved for the benefit ofthese two sub-economies. The second simulation allowed us to find someevidence pointing to the vital role of exports in the process of growth ofthe country, as far as the linkages derived from the exporting sectors donot allow us to dub them as backward, even though, of course, some ofthem — directly or indirectly — export primary products.

1 IntroduçãoO ano de 1808 começa a reanunciar-se com a pre-

visão de comemorações dos 200 anos da abertura dosportos previstas para o ano vindouro. Desde então, pe-riódicas dores de cabeça associadas ao setor externopassaram a fazer parte do cenário econômico da Colô-nia, do Vice-Reinado, do Império e da República. Duzen-tos anos depois, portanto, estamos em condições defazer uma avaliação apenas levemente positiva daperformance do sistema econômico nacional, inclusivede seu setor externo. Ou seja, instalou-se na Colônia —e não mais esvaeceu — a dificuldade do aparatoeconômico local em lidar com os abalos emanados “defora”. Ainda que, em determinados momentos, as ven-das no exterior tenham exercido papel sinalizador degeneralizada expansão da demanda total, soma-se à suamanutenção e à sua expansão a forma como o sistemalida com o binômio preço-quantidade. A simples expan-são quantitativa pode resultar de movimentos fortuitosou deliberados tanto na economia nacional quanto na-quela de seus atuais ou futuros parceiros comerciais. Noprimeiro caso, é proverbial a descoberta de novas jazi-das de recursos minerais, ao passo que modificaçõesna constelação de fatores dos parceiros lhes podem abrirnovas formas de visualizarem as oportunidades inseridasna fronteira de possibilidades de produção do Brasil. Porexemplo, o ouro de Marabá poderia ter gerado resultadossimilares aos da Califórnia. Mais concretamente, as no-vas possibilidades criadas com o domínio da tecnologiade produção de biocombustível devem-se a um fato por-tador de certa ironia. O preço do petróleo, que transtor-nou a economia brasileira após 1973, foi o aliado quepermitiu a recentemente conquistada equalização entreprodução e consumo nacional. Outros exemplos poderi-am ser buscados para reforçar essa noção.

No que diz respeito à componente dos preços,emerge a possibilidade de distorção criada pela escolhafeita pelos dirigentes dos órgãos reguladores do sistemamonetário sobre o regime cambial associada, ou não, àcompetitividade da economia nacional (Bello, 2005), valedizer, distorções sobre o grau de eficiência com que estautiliza sua constelação de fatores de produção. Aindaque a adoção de um regime de câmbio livre possa servirpara expandir o grau de abertura da economia, o quantumde desejabilidade que os diferentes atores e analistaseconômicos lhe atribuem tem sido bastante variado. Damesma forma, as medidas protecionistas costumam servistas com dualidade equivalente. Sob a argumentaçãoda importância da criação de incentivos à indústria nas-cente e mesmo sob a interpretação da trajetória da for-ma que assumiu a inserção internacional das economi-as hoje vistas como bem-sucedidas,1 a criação de sal-vaguardas tarifárias também costuma receber avaliaçõesextremas.

O modelo de Leontief, inspirador da maior parte dosresultados quantitativos a serem analisados no presenteartigo, permite rastrearmos a variação dos preços relati-vos intersetoriais. Com isso, podemos inferir que tipo deinfecção endógena pode resultar da elevação dos cus-tos em determinado setor sobre os demais componen-tes do sistema. Por seu turno, a elevação exógena dos

1 Assumindo uma postura pacifista, consideramos que a defesado sucesso das políticas protecionistas de países como osEstados Unidos e a Coréia do Sul deveriam ser evitadas a todocusto. No primeiro caso, a violência das armas foi invocada, emdiversas oportunidades, para promover as exportações do im-pério norte-americano. No segundo, convém referir que as con-dições subjacentes ao vertiginoso crescimento da Coréia doSul, a saber, o rescaldo do imperialismo japonês e a guerra civilcoadjuvada pela intervenção estrangeira, requereram medidasradicais de canalização da poupança nacional.

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custos de um determinado setor resulta do aumento daparticipação de seus insumos primários (PIB mais im-portações) na oferta total setorial.2 Nessa identidade,vemos explícito o papel das importações, mas tambémpodemos pensar na relação entre as exportações (defi-nida como uma das componentes da demanda final) e oimpacto que estas provocam na geração de emprego eno PIB (Bêrni, 2006; Lewis, 1954).

Nesse sentido, podemos criar uma cadeia de racio-cínios, iniciando com o exame do perfil exportador dediferentes setores, passando pelo cálculo de como eleafeta a estrutura de geração do PIB, e aportar na avalia-ção quantitativa de quanto este último afeta o sistemade preços. Tal tipo de encaminhamento pode contribuirpara o entendimento do mais recente ímpeto exportadorexperimentado pela economia brasileira. Dirão os primei-ros: “Exportar é o que importa”, sendo redargüidos peloscolegas de discussão: “Exportar primários é reprimarizar”.

Buscando evidência que permita darmos por cer-tas as afirmações dos dois grupos digladiantes, preten-demos, no presente artigo, sugerir que a chamadareprimarização da pauta verificada nos anos recentespode estar calcada num mecanismo basal simples. Tra-tar-se-ia da busca dirigida por certo determinismoeconômico de exportar o que de mais valioso é produzi-do, ou seja, os produtos aos quais o sistema é capaz deadicionar maior quantidade de valor (PIB). No que dizrespeito a 2002, nossa base de dados clama por novosestudos, que permitam emitirmos julgamentos mais fir-mes sobre a hipótese recém-levantada. Em 2002, a eco-nomia brasileira exibia um déficit de transações corren-tes de 1,5% do PIB, transformado nos vigorosossuperávits visíveis em 2006. Novas pesquisas esposan-do metodologias assemelhadas permitirão verificarmosse, no ano do bicentenário da abertura dos portos, areprimarização prosseguirá no estilo explícito do café,ou se assumiu o estilo insidioso da produção e da manu-tenção das câmaras frigoríficas dos navios que trans-

portam (CIF) o grão de soja metamorfoseado emfilezinhos de frango.

Na seção 2, faremos algumas considerações so-bre os jogos de coordenação e a erupção da DutchDisease, criando o ambiente para, na seção seguinte,diagnosticarmos uma seqüela patrícia, que viremos achamar de Mal Brasileiro. A seção 4 apresenta um ligeiroretrospecto sobre o modelo de insumo-produto, que seráencarregado de gerar os resultados, na seção seguinte,da modelagem selecionada. Como Conclusão, a seçãofinal fará algumas considerações adicionais, buscandointerpretar certas evidências colhidas no desenrolar dotrabalho empírico.

2 Jogos de coordenação e o Mal Holandês

Diz um bordão internacionalista que “Exportar é oque importa”, cujo duplo sentido também pode escon-der, ao contrário do internacionalismo (“Exportar financiaimportações”), seu oposto, ou seja, a geração de políti-cas comerciais inspiradas nas doutrinas mercantilistasdestinadas a restringir as importações (“Exportar é quese faz importante”). No sentido contábil, além de paga-mentos e recebimentos realizados entre dois agenteseconômicos, as transferências unilaterais podem permi-tir-nos pensar que um país como a Eritréia irá importarsem se preocupar excessivamente com as exportações,que, de outro modo, iriam desequilibrar seu balanço depagamentos.3

O papel das importações, sob o ponto de vista dosconsumidores (de bens e serviços de utilização final ouintermediária, chineses, ou não), é saudado com o mes-mo entusiasmo que o protecionismo recebe por parte doprodutor do “similar nacional”, a base da política de cres-cimento pela via da substituição de importações. As pro-priedades curativas das exportações, sempre tidas comoinquestionáveis, passaram a ser tratadas com mais cau-tela desde a erupção da chamada Dutch Disease. O MalHolandês foi provocado, na terra da Royal Dutch Shell,pela desvalorização do câmbio, estimulada pelo exces-so de divisas carreadas ao aparato econômico local pelaextração do petróleo do Mar do Norte. Ou seja, um su-

2 Estamo-nos referindo aqui a uma tecnicalidade. Por um lado,estamos apenas refraseando a noção de que o aumento efetivodo preço de um insumo, ou seja, modificações no cerne dachamada tabela de transações, ao recalcular os coeficientestécnicos daquele setor, estaria retirando a legitimidade da reali-zação de comparações. Por outro, modificações nos insumosprimários, por alterarem exclusivamente a componente exógenado sistema de preços do modelo de Leontief (como pode-remos constatar ao examinarmos a matriz F’ da equação (5))vão infectar, por meio da ação da transposta da matriz inversade Leontief (lá modificada pela inserção da matriz de deprecia-ção do estoque de capital), a estrutura de custos de todos osdemais setores.

3 Dois artigos clássicos de avaliação do ajuste do balanço depagamentos e o desenvolvimento econômico brasileiro encon-tram-se em Bonelli e Malan (1976) e Tavares e Serra (1972).

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cesso mal-administrado também pode se transformar emfracasso. No caso, boa administração não deveria serentendida como a criação de sobretaxas às exportações,mas como a busca do equilíbrio no balanço de paga-mentos por meio do aumento de importações ou de in-vestimento... na Eritréia.

Nesse recorte não kaldoriano de mundo, portanto,sucesso pode gerar fracasso, se algumas medidas nãoforem tomadas para garantir a sadia verificação de sim-ples identidades contábeis.4 Vale dizer, é preciso enten-dermos, de forma um tanto menos cavilosa, que “Impor-tar é o que exporta”. Em outras palavras, a busca decondições que ex ante garantam o equilíbrio no balançode pagamentos exige que o sucesso no programa expor-tador seja acompanhado de um programa de aberturacomercial. Ou seja, 200 anos depois de D. João VI, aabertura dos mercados nacionais à concorrência inter-nacional volta à espreita. Seria essa a vacina para o com-bate frontal ao Mal Holandês, pois não é legítimo pen-sarmos que os parceiros comerciais transigirão na exi-gência de promoção de suas próprias exportações. Oincremento no volume de importações, nesse ambientemercantilista, cujo foco é a acumulação de divisas, le-varia ao aumento de produtividade, seja por meio de ga-nhos de aprendizado, seja mesmo com a elevação doinvestimento. Em Agénor (2000), Frankel e Romer (1999),Koshiyama, Alencastro e Fochezatto (2007), Romer(1994) e Wälde e Wood (2004), encontramos evidênciainternacional de que tanto o crescimento do volume deexportações como o de importações apresentam fortecorrelação com o crescimento do PIB e, conseqüente-mente, com o investimento.5

Em particular, o artigo de Paul Romer (1994) permi-te-nos sustentar esse tipo de regularidade empírica. Naseção 2 de Koshiyama, Alencastro e Fochezatto (2007),é feito um resgate sistemático da evidência empírica edas perspectivas teóricas relativas à ligação entre o co-mércio externo e o crescimento do PIB, a qual nos levaa entender que a importação de insumos, bens interme-diários e tecnologias modernas tende a elevar a produti-vidade total da economia. Com efeito, o modelo de PaulRomer (1994) explora as conseqüências provocadas pelaabertura comercial sobre o aumento da variedade de bens

disponíveis aos agentes domésticos. Concluímos queeconomias abertas experimentarão elevação em suaprodutividade total, por se beneficiarem da importaçãode bens de consumo intermediário e de capital mais ba-ratos e de melhor qualidade. Em uma economia sujeita arestrições comerciais, apenas uma estreita faixa de bensintermediários ou de capital especializado pode ser pro-duzida de forma lucrativa. Nesse caso, o conjunto com-pleto de possibilidades tecnológicas, que depende de umconjunto mais amplo de insumos, não pode ser eficien-temente explorado. Na medida em que esse ganho deprodutividade se tranforma em maior competitividadeexterna, haverá estímulos às exportações, também astornando uma variável endógena a esse tipo de modelo.Assim, em uma perspectiva dinâmica, somos autoriza-dos a concluir que as importações do período correntepromovem as exportações de períodos futuros.

Além dos problemas intrínsecos à manipulação dataxa de câmbio, o artifício periodicamente aplicado noBrasil, a saber, fazer desvalorizações, a fim de conquis-tar maior competitividade internacional, pode criar ou-tras dificuldades comerciais. No caso, ao considerarmosos cânones da concorrência que regem a produção deum grande número de mercadorias, as empresas impor-tadoras do produto doméstico poderão forçar a conces-são de abatimentos no preço dos produtos em negocia-ção. Ou seja, o fruto dessa medida acabará sendo com-partilhado por compradores e vendedores, deixando comosaldo distorções no sistema de preços doméstico.

Abandonando as possíveis bifurcações para o tra-tamento das questões de importações e quantidades,vamos fixar-nos, no presente artigo, no binômio preços--exportações. No que diz respeito às últimas, nossamotivação reside no exame dos desdobramentos de umdos jogos de coordenação que têm perturbado a buscade ideais luzidios por parte da economia brasileira. Nosjogos de coordenação, como sabemos, a interação es-tratégica entre agentes é portadora de múltiplas solu-ções de equilíbrio, alguns virtuosos e outros, por con-traste, condutores de alta morbidade. No primeiro caso,podemos citar a Petrobrás e a auto-suficiência nacionalna produção de petróleo alcançada no ano eleitoral de2006. No segundo, podemos citar... a Petrobrás e a utili-zação privada que a imperatriz das estatais confere aoslucros extraordinários alcançados num mercado milioná-rio e monopolístico.6

Por exemplo, dois países podem coordenar seusmovimentos comerciais de duas maneiras. De acordo

4 Sobre as leis de Kaldor (1966; 1975), ver também Rowthorn(1975; 1979) e Thirwall (1983).

5 Ao falarmos de exportações e importações, naturalmenteestamos nos referindo aos movimentos de bens e serviços(inclusive os serviços dos fatores), como destaca o contextoda literatura citada, pois a importação de serviços às empresastem assumido importância crescente nas pautas mundiais.

6 O artigo de Sofia e D’Amorim (2006) revela que o recolhimentodo lucro das empresas estatais ao Tesouro Nacional tem por

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com a primeira, podem aplicar, nos “setores sensíveis”,tarifas de parte a parte, o que restringe o comércio, trans-fere renda dos consumidores ao governo e ainda solapaum dos pilares emuladores do crescimento harmônicodo grau de eficiência entre os diferentes setores. Se-guindo a segunda, ao invés de um saldo comercial, diga-mos, nulo, com parcelas de D$ 100 e D$ 100, eles pode-riam coordenar sua ação para alcançar a mesma nulida-de, com um minuendo de H$ 110 e, no subtraendo, ou-tros H$ 110. Importar é o que exporta. Ao importarmosum automóvel japonês, estamos favorecendo as expor-tações de produtos ferrosos da indústria extrativa mine-ral. Se a indústria mineira se liga à paulista produtora deesteiras, elevadores, motores elétricos, etc., estará fe-chado o círculo virtuoso. Ou seja, supera-se o tradicio-nal modelo de enclave, contexto em que a atividadeeconômica não cria encadeamentos internos na econo-mia, como, por exemplo, a exploração mineral belga naÁfrica e, mais recentemente, as “maquiladoras” norte--americanas que se instalaram no México.

Nossa linha de argumentação transita, assim, domodelo de Paul Romer (1994) para a magnitude dos en-cadeamentos existentes e a serem criados nas relaçõesinterindustriais. Nesse caso, acorre à mente do observa-dor a linha de argumentação inicialmente entendida comoantagônica, que tem crescentemente sido vista comocomplementar. Ela foi criada pela dupla formada pelopolonês Paul Rosentein-Rodan (Rodan, 1943) e peloteuto-americano Albert Hirshman (1958), que pareciamse referir ao mesmo jogo de coordenação, enfatizandoposições de equilíbrio diversas (Ray, 1998, cap.16-18).Para o autor holandês, o Big Push representa precisa-mente a possibilidade de escolha deliberada por partedos agentes do equilíbrio mais nobre. Por contraste, po-demos pensar que Hirshman desconsiderava a possibili-dade de ação coordenada por parte dos agentes priva-dos, o que requereria viva interferência estatal, na linhado bordão “Get the prices wrong.” Se o mercado fossecapaz de put them back right, ingressaríamos no melhordos mundos. Em qualquer caso, podemos esperar que odesequilíbrio provocado pela ação externa gere uma ex-pansão conducente a um novo e mais nobre equilíbrio.Ao mesmo tempo, por ser nobre, esse novo equilíbriodeve alterar a constelação de fatores, provocando cres-cimento setorial desigual. Ou seja, desequilíbrio, novo

equilíbrio, etc., num permanente jogo entre forças centrí-fugas e centrípetas.

A componente dos preços concernente ao binômiopreços-exportações exibe duas dimensões adicionais,cujo confronto interessa aqui realizar. A primeira asso-cia-se à adequação de um regime de livre-cambismo,examinado sob a perspectiva de impactos das oscila-ções nas exportações sobre o sistema de preços local.A segunda diz respeito ao grau com que a propagaçãointersetorial de movimentos na demanda sobre os pre-ços pode ser usada para expandir ou reduzir acompetitividade internacional. Mais especificamente, in-teressa-nos entender como o impacto provocado no sis-tema de preços pelas exportações é absorvido tantopelos diferentes setores econômicos quanto pelas diver-sas instituições (famílias, empresas nacionais e estran-geiras e governo). Nossa intenção é trazer a dimensãodas relações intersetoriais para o debate sobre areprimarização da economia brasileira. São visíveis asimplicações no julgamento a ser feito sobre a eficáciadas políticas protecionistas destinadas a estimular o cres-cimento de setores específicos.

3 Importações e o Mal Brasileiro

Nossa ponte entre o passado e o futuro — o ano de2002 — é realmente um divisor de águas, como atesta aseguinte contextualização do artigo de Cunha, Prates eLélis (2006, p. 94):

Se, entre 1995 e 2002, o País experimentousignificativos déficits em conta corrente, quese traduziram em ampliação dos passivosexternos, depois de 2003 tal quadro rever-teu-se de forma sensível. A partir da adoçãodo regime de câmbio flutuante, a conta cor-rente do balanço de pagamentos (BP) pas-sou a reagir positivamente aos estímulos deuma moeda mais competitiva e, depois de2003, de um ambiente internacional mais fa-vorável.

Essa observação é referendada por Marcantonio(2006, p. 26), que salienta a elevação da participaçãobrasileira no comércio mundial, entre 2003 e 2005. O autorassinala uma dramática elevação de quase mais de 30%(de 0,8% para 1,1%), alertando que,

[...] para melhor avaliar o novo potencial com-petitivo/exportador do País, há que se espe-rar o transcurso de um tempo em que, pelaqueda do crescimento do comércio mundial,a expansão das exportações brasileiras se

base o fato de que “O valor do dividendo é fechado com oTesouro e, nos últimos anos, seguiu o padrão de 35% do lucro”.Ou seja, existe uma tabela que permite às empresas estataisreter privadamente cerca de 65% de seu lucro extraordinário(isto é, acima do custo de oportunidade do uso de seu capital).

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depare com mercados menos receptivos ecompetidores mais hostis. Isso e taxas doPIB nacional mais elevadas permitirão melhorconhecer a nova capacidade produtiva doPaís.

Há certo contraste com a proposição de Scherere Contri (2006, p. 7, grifos nossos), reproduzida com nossodestaque, ao citarem:

[...] [a] frase muitas vezes repetida de que “Obom do câmbio flutuante é que ele flutua”. “Ver-dade” esta comprovada no cotidiano por to-dos aqueles que têm o custo de seus ne-gócios com o exterior aumentado pelavolatilidade excessiva da taxa de câmbio,que os obriga a contratarem sistematicamen-te hedge nos mercados cambiais futuros, re-partindo seus ganhos com um sócio minoritáriofinanceiro compulsoriamente presente em to-das suas transações sob risco de pesadasperdas. Isso sem lembrar os competidoresda Ásia, onde, graças a acentuadas interven-ções governamentais, quase nunca o câm-bio flutuante significa elevada volatilidade cam-bial.

Ainda que a importação de salitre culmine por afetara quantidade consumida de, digamos, óleo de soja porparte das famílias pobres, não parece que, no final desuas contas, elas tenham seus negócios com o exteriorafetados pelas variações cambiais, em virtude da dilui-ção do preço desse insumo ao longo da cadeia de valorda indústria de alimentos. Sob o ponto de vista contábil,não lhes interessa escriturar a distribuição do excedenteamealhado por seu fornecedor de soja entre si próprio eseus banqueiros. Qualquer que seja o vencedor, grãosde soja e quanta de energia elétrica podem ser substi-tuídos, em alguma medida, por similares nacionais. Nes-se caso, para dar um tom bilaquiano à observação, tal-vez a família pobre não tenha luz na cabana em quehabita. Se o componente importado do grão de sojainflaciona o preço da leguminosa, vibrará o produtor na-cional de inhame, cuja lavoura usa insumos made inBrazil, de baixa correlação com o cassino financeiro in-ternacional. Em outras palavras, o subsídio carreado aoprodutor de soja pela defesa do câmbio estabiliza-lhe onegócio num nível admirável, particularmente no ano emque corre, mas ajuda o produtor de inhame a manter--se nos grotões do subdesenvolvimento, pois seu produ-to alcança um preço relativo menos palatável. Talvez sejapor esse tipo de falha de coordenação que as famíliasbrasileiras consomem quantidades maiores de pão detrigo do que de pão de mandioca.

A inserção produtiva da soja, do trator, do inhame,da mandioca e das foices usadas para seu cultivo, bemcomo peculiaridades do orçamento das famílias, pode

ser examinada com o auxílio dos modelos multissetoriais.A primeira questão relacionada à temática deste traba-lho passa a utilizar a matriz de contabilidade social doBrasil, tentando contribuir para o entendimento das im-plicações do superávit do balanço de transações corren-tes do Brasil no ano de 2002. O modelo abaixo desenvol-vido permite realizarmos uma simulação de certas con-seqüências das mudanças de algumas dessas variáveisde política sobre o orçamento das diferentes instituiçõesintegrantes do sistema. Na medida em que as importa-ções de salitre e todas as demais têm, para o modelo deinsumo-produto aqui utilizado, o mesmo caráter que osimpostos indiretos líquidos de subsídios (cobrados aosprodutores, que os repassam às instituições), veremoso que ocorreria se eles fossem completamente banidos.7

Ora, o principal sintoma do Mal Holandês é a perdade competitividade dos demais produtos da economiaprovocada pela elevação da taxa de câmbio e, com ela,do preço do produto importado. No caso, tal elevação nocâmbio resultou da descoberta de uma nova fonte derecursos naturais. De modo equivalente, tal fenômenotambém poderia ter ocorrido em resposta à valoração deum insumo destinado ao comércio mundial. Desse modo,países como a Holanda e a Grã-Bretanha, em um pas-sado não muito remoto — mesmo não apresentando pro-blemas no que tange à conta de serviços —, sofreramproblemas sérios de competitividade externa de seusprodutos. Tal ocorreu, pois houve uma drenagem dos re-cursos para o novo setor pujante. Além disso, a valori-zação cambial proveniente das exportações desses pro-dutos gerava a perda de competitividade externa dosdemais setores da economia. Esse processo pode con-tribuir para a desindustrialização de uma economia. Nes-se sentido, no período em que o café era um dos produ-tos brasileiros mais valorizados externamente, ocorreuum vigoroso desestímulo às atividades que não lhe eramvinculadas. Ao buscarmos avaliar o impacto dos impos-tos indiretos sobre os preços setoriais, estamosmensurando o montante de infecção de custos provocadaàs transações intermediárias domésticas.

7 Para alegria dos grupos de interesses beneficiários da arreca-dação de impostos indiretos (contadores, fiscais, importadoresde produtos estrangeiros ingressando em certos estágios daprodução, etc.), nosso exercício não é a proposta de destrui-ção completa desse imposto distorcivo. Temos clara a existên-cia de benefícios na vigência de uma tarifa básica, em torno daqual haveria sub e sobretaxações, destacando bens de demérito,como o açúcar, e bens de mérito, como as frutas tropicais.Nesse sentido, ao reduzir e ao aumentar, respectivamente,seus consumos, a distorção dos preços relativos é desejávelsob o ponto de vista social.

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Ou seja, em ambos os casos, na condição deinsumos primários do sistema doméstico, os impostosindiretos líquidos de subsídios e as importações8 sãoqualitativamente idênticos, podendo diferir apenas emtermos quantitativos. Em termos mais estritos, estamosbuscando evidências quantitativas para afirmar que, aexemplo do Mal Holandês, a estrutura tributária brasilei-ra provoca desestímulo generalizado às exportações deoutros setores, o que pode, dependendo da situação, nãogerar impactos na atividade interna, não havendo econo-mias de escala induzidas, muito menos ganhos no au-mento da produtividade, o que poderá aumentar as ex-portações. Nesse contexto, a Tabela 1, obtida a partir damatriz de contabilidade social da Tabela A.1 do Anexo,mostra resultados interessantes. O corte abrupto dosimpostos indiretos revela o Mal Brasileiro, ou seja, umainfecção de custos nos setores econômicos, que, sefosse eliminada, geraria um aumento de demanda de11,1% para as famílias pobres e de 17,0% para as ricas.Em outras palavras, a estrutura tributária em vigor ofere-ce essa superioridade de 17/11 para as famílias ricas!

Examinemos com mais detalhe este ponto. Destaúltima, foram retirados todos os impostos indiretos, to-dos os impostos indiretos foram retirados do quadranteda distribuição primária da renda (na verdade, do Produ-to Interno Bruto). Ou seja, o Produto Interno Bruto origi-nal (remuneração dos empregados e dos autônomos apreços de 2002) era, em bilhões de reais:

PIB = 548,4 + 639,7 + 152,9Dele, retiramos a última cifra, que corresponde aos

impostos indiretos líquidos de subsídios. Ainda assim,mantivemos as cifras originais das contas da poupança(mesmo os valores negativos) e do investimento. As ci-fras resultantes foram submetidas à distribuição propor-cional carreada pela aplicação do Método RAS. Isso im-plica que os ajustes e as realocações que geram novamatriz de contabilidade social mostram a resposta me-cânica do sistema a variações localizadas. A grande vir-tude desse ajuste mecânico é que ele revela a existên-cia de diversas posições para o equilíbrio geral do siste-ma. Nossa intenção é demonstrar que a atual estruturatributária conduz à grande ineficiência distributiva, numjogo de coordenação cuja posição de equilíbrio poderiaser substituída por outra de maior eficiência alocativa,produtiva e distributiva.

Naturalmente, de acordo com a definição de valoradicionado mensurado pela ótica do produto, ao retirar-

mos impostos indiretos líquidos de subsídios de todosos setores, estamos, ipso facto, reduzindo o valor desseagregado mesoeconômico, especificamente aquele apro-priado pelo Governo. Retiramos, assim, R$ 153,1 bilhõesdessa receita governamental, causando uma redução de11,4% no PIB. Com uma distribuição setorial muito irre-gular, ela se mostra expressiva em setores importantes,como os três complexos industriais, a construção, ostransportes e as comunicações, além dos serviços pres-tados às famílias.

Esses 11,4% retirados do PIB impactam a deman-da final em 8,7%, também se distribuindo de forma irre-gular pelos setores, dada a estrutura tributária vigenteno Brasil. Em termos relativos, destaca-se a tributaçãosobre insumos energéticos e transportes e comunica-ções, mas, nos demais setores, tampouco é desprezí-vel. As indústrias extrativas não colocam montantesexpressivos diretamente aos consumidores finais, aindaque suas vendas estejam longe de se alterarem margi-nalmente. Por fim, a construção, que vende apenas parao investimento, não foi modificada, em virtude da formacomo o experimento foi delineado.

A primeira coluna da Tabela 1 já mostra o viés intro-duzido no sistema pela tributação indireta. Com sua eli-minação, os ajustes do Método RAS fizeram comque as exportações — cujas isenções têm sido mar-cantes — tivessem uma queda de 2,2%, muito inferioraos 8,7% médios da economia. Ainda assim, existe umaperda de competitividade do produto exportado, a qualfoi criada e mantida pelos legisladores e por seus asso-ciados no Poder Executivo da República. Mas é nas trêscolunas finais da Tabela 1, principalmente no contrasteentre os orçamentos das famílias pobres e ricas, que odiabólico mal exibirá toda sua peçonha. Sem impostos,ao reduzir-se o PIB, todos ficariam mais pobres, mas adistribuição do empobrecimento é bastante desigual en-tre as três instituições familiares.

Se os pobres perderiam menos, isso significa queos ricos — que perderiam mais — são relativamentebeneficiados no atual status quo, onde os 11,1% e os17,0% mostram uma relação de desigualdade de maisde uma vez e meia. Usando informações da matriz decontabilidade social da Tabela A.1, da nova matriz simu-lada, conforme descrevemos acima, e do número de fa-mílias informado pela PNAD, pudemos calcular o índicede Gini das despesas de consumo familiar resultantedas situações “com” e “sem” Mal Brasileiro. No caso con-creto da economia brasileira, o índice de Gini, ou seja,da desigualdade do consumo interfamílias, exibia o va-lor de 0,52, um pouco mais baixo do que os conhecidosíndices de concentração de renda obtidos nos anos re-

8 Vamos tratá-las como “não competitivas”, para efeito da aplica-ção do modelo de insumo-produto.

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centes com os dados da PNAD. Ainda assim, poucospaíses do mundo igualariam nosso índice, a julgar pelos0,31 da Holanda. Retirados os impostos, de acordo comnosso exercício contrafactual, todas as famílias ficarammais pobres, mas a desigualdade no consumo medidapelo índice de Gini caiu 12%.

O principal resultado de nosso exercício contra-factual é que a distribuição da demanda final (ou seja,PIB mais importações) é acometida pela Brazilian Disease.Com efeito, diferentemente da Dutch Disease, o Mal Bra-sileiro não é o fato de os impostos indiretos cá e asexportações lá afetarem a estrutura de custos dos setoresprodutivos, mas fazer com que as famílias ricas sejamrelativamente menos afetadas pelos impostos do que asfamílias pobres.

Usando um modelo de jogo “com inveja”, esse malfaz com que redistribuições de renda via destruição dosimpostos indiretos não sejam realizadas9, pois poderiambeneficiar os pobres e os exportadores! Câmbio livre eprotecionismo, assim, começam a mostrar a patologiada união siamesa, na medida em que a matriz de conta-bilidade social permitiu vermos os meandros do funcio-namento das instituições (famílias, governo, empresasinvestidoras domésticas e empresas do exterior impor-tadoras do produto doméstico). A questão doprotecionismo diz respeito ao isolamento, é claro, mastem implícita uma teoria da cooperação. Ao recomendaro protecionismo, um estudioso considera que a relaçãointernacional traz exploração, ou que a economia fecha-da promove maior sinergia entre a ação dos agentes lo-cais, culminando com maior geração de valor adiciona-do. Ao recomendar o livre-cambismo, o outro estudioso,escudado pelas novas teorias das redes, considera quea abertura pode incentivar alianças estratégicas locaispara alcançar os mercados externos. Nenhum setor serácompetitivo externamente, se não o for internamente,pois existe uma diferença entre as inclinações nas cur-vas de oferta e demanda externas comparativamente àscorrespondentes curvas do mercado interno. No merca-do internacional, naturalmente, essas curvas exibem in-clinação mais suave, refletindo precisamente maiorespressões competitivas, dado o aumento do número deofertantes e de produtos substitutos.

9 A fim de não destruir o PIB, poderíamos ter transferido os impos-tos indiretos líquidos de subsídios, por exemplo, aos trabalha-dores, ou distribuí-los entre trabalhadores e capitalistas. Mes-mo sem o fazer, nosso exercício marca seu ponto: a tributaçãoindireta é responsável por uma parcela significativa da desigual-dade brasileira.

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Tabela 1 Incidência setorial dos impostos indiretos e conseqüências de sua retirada de componentes selecionados

da demanda final no Brasil — 2002

(%)

QUEDA NA DEMANDA FINAL APÓS A ELIMINAÇÃO DOS TRIBUTOS INDIRETOS

Consumo das Famílias SETORES

PARTICIPA-ÇÃO DOS TRIBUTOS INDIRETOS

NO PIB, ANTES DA

ELIMINAÇÃO

Total (1)

Exporta-ções

Pobres Remediadas Ricas

Agropecuária .................................................. 4,2 -13,6 -2,6 -19,2 -21,3 -26,3 Extrativa mineral (exceto combustíveis) ......... 10,5 -5,4 -5,3 0,0 0,0 0,0 Extrativa mineral (petróleo e gás natural, carvão e outros combustíveis) .................... 5,9 -10,2 -13,5 0,0 0,0 0,0 Transformação — complexo metal-mecânico 14,4 -10,1 -7,1 -23,0 -25,1 -29,9 Transformação — química ............................. 24,1 -20,9 -9,9 -25,3 -27,3 -32,0 Transformação — complexo agroindustrial .... 17,7 -11,0 2,5 -14,9 -17,2 -22,4 Serviços industriais de utilidade pública ......... 18,1 -24,6 -5,3 -21,4 -23,5 -28,5 Construção civil .............................................. 18,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Comércio ........................................................ 12,0 -14,5 6,1 -12,0 -14,4 -19,9 Transporte ...................................................... 21,1 -17,1 0,6 -16,6 -18,8 -24,2 Comunicações ................................................ 19,1 -18,0 3,7 -14,1 -16,3 -21,7 Instituições financeiras ................................... 8,6 -9,8 16,5 -3,6 -6,2 -12,4 Serviços prestados às famílias ....................... 20,4 -6,8 17,3 -2,8 -5,4 -11,7 Serviços prestados às empresas ................... 9,7 -11,3 -10,8 -26,2 -27,9 -32,8 Aluguel de imóveis ......................................... 1,3 -4,7 0,0 -0,5 -3,1 -9,5 Administração pública .................................... 3,6 -4,4 80,4 49,6 45,6 36,1 Serviços privados não mercantis ................... 1,9 0,0 0,0 6,3 3,6 -3,3 Total .............................................................. 11,4 -8,7 -2,2 -11,1 -12,4 -17,0 Participação no consumo com tributação ...... - - - 25,3 29,6 45,1 Participação no consumo sem tributação ...... - - - 26,2 30,2 43,6 Número de famílias ........................................ - - - 33 493 807,0 10 336 678,0 4 704 154,0

FONTE: GRIJÓ, Eduardo. Efeitos da mudança do grau de eqüidade sobre a estrutura produtiva brasileira: análise da matriz de FONTE: contabilidade social. Porto Alegre: PPGE-PUCRS, 2005. (Dissertação não publicada). (1) Inclui o consumo do Governo e o investimento das empresas.

4 Insumo-produto, subeco- nomias e sistema de pre- ços de Leontief

Na visão de Scherer e Contri (2006), não se podeafirmar que “[...] um improvável e imperceptível choquede produtividade teria elevado, de forma extraordinária, acompetitividade do setor exportador da economia brasi-leira”. Em alguma medida, essa afirmação — que, nodevido tempo, poderá ser testada para o ano dobicentenário da abertura dos portos — permite verifi-carmos o que ocorreu em 2002. Para tanto, é necessáriodirecionarmos a pesquisa para a obtenção de novos da-dos. Com o estoque de capital dos diferentes setoreseconômicos devotados à exportação, poderíamos expan-

dir as lições que até agora retiramos da Tabela 1. Commatrizes de contabilidade social mais recentes, podería-mos realizar dois tipos de diagnósticos. No primeiro, iría-mos rastrear maiores indícios sobre as conseqüênciasda infecção da economia nacional com o Mal Brasileiro,expandindo a análise sugerida com o exercíciocontrafactual aglutinado em torno da Tabela 1. No segun-do, poderíamos aprofundar a análise, que agora iniciare-mos a fazer, para o ano de 2002.

Nosso primeiro passo consiste em examinar-mos o sistema de quantidades do modelo de insumo--produto, dado pela equação (1):

x = Ax + f (1)onde x é o vetor da demanda total da economia, A é amatriz de coeficientes técnicos, e f é o vetor da deman-da final. Se, ao invés do vetor f, considerarmos a matriz

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F, em que cada coluna corresponde a uma categoria dademanda final, temos a seguinte equação reduzida:

X = (I - A)-1F. (2)Naturalmente, multiplicando (2) pela direita, pelo

vetor soma i compatível, voltamos a (1):Xi = (I - A)-1Fi = x = (I - A) –1f. (3)Diremos que cada coluna de X representa uma

“subeconomia”, correspondente a cada categoria da de-manda final. Seu elemento característico mostra como ocorrespondente da demanda final se “resolve” em ter-mos dos insumos intermediários utilizados em sua pro-dução. A equação 3 permite-nos escrever

V = vDX = vD (I - A)-1F (4)onde V é a matriz de valor adicionado (PIB) “resolvido”,ou seja, mostra o valor adicionado (PIB) por todos ossetores que produziram para entregar os montantesde F.

Nesse ambiente, podemos escrever a equação depreços do sistema como

P’ = (I - A - D)-1V’ (5)onde P’ é a matriz dos preços de Leontief, cada linhacorrespondendo à fração do preço total do produto cor-respondente à subeconomia pertinente, que foi mapeadana matriz V a partir da matriz F; D é a matriz cujo ele-mento característico mostra a depreciação (consumo decapital fixo) incidida pelo setor i, por ter usado seu capi-tal para atender à demanda que lhe fez o setor j, norma-lizada para o correspondente valor da oferta total; e após-trofe indica a operação de transposição matricial.

Ou seja, cada linha da matriz P’ corresponde a umacategoria da demanda final, por exemplo, consumo dasfamílias pobres ou remediadas, consumo do governo,etc. Com a matriz inversa de Leontief, estamos rastreandoa influência direta e indireta da geração de PIB sobre adeterminação dos preços setoriais. Aumentos nos ele-mentos da matriz V’ — ou seja, geração de mais valoradicionado por unidade de produção — implicam eleva-ções mais que proporcionais nos preços dos setoresencadeados com aquele em que o abalo original ocor-reu.

Em outros termos, ainda que não sejamos capa-zes de calcular a produtividade total dos fatores alocadosna produção setorial, o sistema de preços de Leontiefpermite-nos emitir um juízo de valor preliminar sobre osganhos de produtividade setorial relativa. A obtenção dosvalores de D no estudo empírico a ser comentado napróxima seção iniciou com o rateio da cifra de R$ 160,6milhões, correspondente ao consumo de capital fixo dascontas nacionais de 2002. Esse rateio obedeceu à esti-mativa da depreciação setorial obtida como a média arit-

mética das cifras da estrutura percentual setorial dasseguintes variáveis10:

a) compra de insumos feita pelos setores econô-micos ao setor dos serviços prestados às em-presas;

b) total das compras de insumos feitas pelos de-mais setores integrantes do sistema;

c) total das vendas de insumos feitas aos demaissetores integrantes do sistema;

d) total setorial dos salários, inclusive pagamentode trabalhadores autônomos;

e) total setorial do valor adicionado-produto;f) total setorial da demanda final; eg) oferta (e demanda) total de cada um dos 42

setores integrantes das tabelas de recursos eusos das contas nacionais.

A seleção dessas variáveis foi feita por conside-ramos, aprioristicamente, que elas se relacionamdiretamente com o tamanho da empresa e, assim, comseu estoque de capital.

Uma vez descrito o modelo, passaremos imedia-tamente a aplicá-lo.

5 Exportações, preços seto- riais e reprimarização

A seção 4 confrontou-nos com uma situação arit-meticamente interessante, para não falarmos de impli-cações sobre políticas redistributivas. Tão devastador éo resultado da eliminação completa dos impostosindiretos sobre a distribuição das oportunidades de con-sumo entre as famílias pobres e as ricas e outras variá-veis, que cabe indagarmos o que aconteceria com o sis-tema se os demais insumos primários fossem excluí-dos, em particular as importações. Como veremos adi-ante, o montante de impostos indiretos líquidos de sub-sídios imputado às exportações é muito reduzido, emvirtude dos acordos internacionais para zerar a tributa-ção dos produtos exportados. Isso significa que, na eco-nomia verdadeiramente aberta, o governo precisa bus-

10 Nossa intenção original era extrair o primeiro componente prin-cipal do espaço ocupado por elas. Todavia as cargas com queeles compareceriam na sua composição assumiriam, respecti-vamente, os valores de 0,99, 0,99, 0,98, 0,98, 1,00, 1,00 e 1,00,o que, na prática, significa fazermos o cálculo da média aritmé-tica simples entre essas percentagens. Um exemplo da aplica-ção dessa técnica (ainda que portador de pequenos erros dedigitação) encontra-se em Bêrni (1978).

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car outras fontes de financiamento de suas atividades,pois não pode penalizar o produtor nacional compara-tivamente ao concorrente estrangeiro. Ou seja, eliminarimpostos indiretos é uma tendência, ao passo que a eco-nomia aberta não funcionará sem importações deinsumos (matérias-primas, como o salitre, bens duráveis,como os automóveis, e não duráveis, como os vinhos).Menos ainda ela funcionará sem trabalhadores. Sua exis-tência sem impostos indiretos é precisamente a cura,numa época futura, do Mal Brasileiro. O que faremosagora, ao aplicarmos a equação (5) da seção anteriorsobre os dados da matriz de contabilidade social brasi-leira de 2002 (Tabela A.1), apresenta um caráter ligeira-mente diverso.

Vamos provocar um aumento exógeno nas expor-tações, no valor de toda a demanda final da economia.Ou seja, nosso novo “experimento mental” consiste eminjetarmos na economia brasileira uma nova economiade mesmo tamanho, mas totalmente destinada à expor-tação. Sob o ponto de vista operacional, adicionamos aovetor das exportações o próprio vetor da demanda final.Esse aumento na demanda final, naturalmente, aumen-ta os insumos primários na mesma cifra. Nossa equa-ção (4) permite rastrearmos esses impactos sobre o PIBsetorial e, com isso, avaliarmos o impacto do aumentona demanda final devido à extraordinária expansão dasexportações sobre os preços setoriais. Na medida emque os preços de Leontief rastreiam as inter-relações naestrutura de custos setoriais, estamos provocando umainfecção de custos generalizada. Diferentemente do jácatalogado Mal Holandês e da abordagem de Baumol(1967) sobre a expansão mais do que proporcional dosetor serviços, nosso modelo permite uma interpretaçãointeressante. Podemos afirmar que maiores preçossetoriais resultam de maior PIB por unidade de ofertasetorial total, id est, maior produtividade no uso dosinsumos. Em outras palavras, desejamos testar se ossetores exportadores exibem relações intersetoriais queos aproximam de complexos associados a produtos pri-mários, ou se, ao contrário, os produtos primários estãorecebendo maiores montantes de valor adicionado, eapenas isso é o que está sendo exportado.

A Tabela 2 reúne os resultados da simulação doefeito do aumento das exportações sobre o sistema depreços, exibindo também outro elenco de indicadores dograu de vitalidade do sistema econômico brasileiro em2002. Nela, vemos que os indicadores do comportamen-to do setor externo mostram certa virtuosidade nas ex-portações do Brasil.

Conforme a Tabela 2, os diferentes setores possu-em tamanhos variáveis (primeira coluna), e a segunda

coluna permite vermos os seus graus de abetura. Desta-cam-se os cinco blocos da extração de minerais e datransformação. Na extração do minério de ferro, essa ci-fra é maior do que 100, em virtude da diferença entre ademanda final e o PIB. Nesse caso, as compras deinsumos são maiores do que as vendas, ou seja, o setorestá absorvendo mais trabalho do que cedendo ao siste-ma. A produtividade com que usa seus insumos é menordo que a média da economia, levando-nos a sugerir queessas exportações impactam positivamente as relaçõesintersetoriais. Ou seja, os produtos primários por ela ex-portados estão carregando, com eles, outros insumosnacionais.

Na terceira e na quarta coluna da Tabela 2, vemosdois conceitos de produtividade do trabalho. Sendo odenominador comum, a diferença entre elas, a cada setor,deve-se ao conceito de PIB resolvido. Em particular, namedida em que as variáveis resolvidas carregam todosos fragmentos de produção necessários direta eindiretamente, podemos chamar atenção para as precau-ções que devem ser tomadas, ao associarmos o recen-te surto de exportações do Brasil com simplesreprimarização (Benetti, 2004; 2006), oudesindustrialização, da pauta. Mesmo dispondo de umgrande mercado, um país que se orienta para fora vê-lo--á ampliado, o que abre algumas valências a serem preen-chidas no ajuste associado à expansão generalizada norumo da harmonização do parque industrial. Digamos queo setor médio exportador aumenta a escala e resolveseu excesso de capacidade exportando 10%. Esse vetorinduz crescentemente todos os demais setores, comaumento induzido sobre a demanda do setor que rece-beu os 10%.

Relacionados entre si, não podemos apontar umdesvio sistemático relativamente aos setores mais vol-tados à produção de serviços e o mercado interno.

Por fim, a derradeira coluna mostra que o impactoda vigorosa expansão das exportações aqui postuladatambém afeta de modo irregular os preços dos diferen-tes setores, sem sugerir qualquer viés sistemático emfavor dos setores de maior coeficiente de abertura,em particular os que usam matérias-primas maispróximas à agropecuária e à extração de minerais con-vencionais.

Superada essa etapa, nossa questão passa a sera avaliação de quanto a estratégia brasileira de promo-ção de exportações pode ser vista como um meio defavorecer o Big Push, na medida em que favorece o apro-veitamento de economias de escala e escopo, retirandoo sistema de um equilíbrio retrógrado e colocando-o numaposição virtuosa. Uma forma de aquilatar essa interpre-

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tação consiste em examinarmos o papel que os setoresmais outward looking exercem na determinação do nívelde preços de economia. Na medida em que a eficiênciaprodutiva representada pelo aumento da escala de pro-dução, em virtude do atendimento da demanda externa,

Tabela 2 Indicadores setoriais da economia brasileira — 2002

SETORES

PARTICIPAÇÃO DO SETOR

NO PIB (%)

COEFICIENTE DE

ABERTURA

RAZÃO COMPRAS/

/VENDAS DE INSUMOS

PRODUTIVIDADE DO TRABALHO

(produto/trabalha- dor)

PRODUTIVI- DADE DO

TRABALHO RESOLVIDA

(produto/traba-lhador)

PREÇO DAS

EXPORTA- ÇÕES

Agropecuária ........................ 8,2 11,2 0,64 24,8 25,7 506,1 Extrativa mineral (exceto combustíveis) ..................... 0,5 128,4 1,22 34,7 36,8 290,4 Extrativa mineral (petróleo, gás, etc.) ............................. 2,5 15,2 0,20 554,1 562,8 393,5 Transformação — complexo metal-mecânico .................... 8,0 60,2 0,98 34,7 44,5 411,0 Transformação — complexo químico ................................ 6,4 23,3 0,66 135,5 186,7 458,5 Transformação — complexo agroindustrial ........................ 6,9 64,4 1,64 21,7 25,0 499,7 Serviços industriais de utili- dade pública ......................... 3,6 0,2 0,59 213,5 231,2 710,8 Construção civil .................... 8,3 0,0 3,45 28,3 29,4 1 151,6 Comércio .............................. 7,3 7,2 1,15 10,3 10,7 688,5 Transporte ............................ 2,7 17,2 0,97 13,5 16,0 561,3 Comunicações ...................... 2,7 1,2 0,71 138,5 153,0 836,0 Instituições financeiras ......... 7,0 1,1 1,03 121,7 127,1 1 293,8 Serviços prestados às famílias 5,3 8,7 2,23 7,9 8,3 886,9 Serviços prestados às em- presas .................................. 4,3 19,9 0,31 21,0 21,7 520,4 Aluguel de imóveis ............... 10,1 0,0 0,45 588,7 589,1 3 956,4 Administração pública .......... 15,0 1,0 6,52 32,6 34,3 1 396,0 Serviços privados não mer- cantis ................................... 1,1 0,0 - 2,3 2,3 8 407,2 Total ..................................... 100,0 15,3 1,00 24,7 27,0 ...

FONTE: GRIJÓ, Eduardo. Efeitos da mudança do grau de eqüidade sobre a estrutura produtiva brasileira: análise da matriz de FONTE: contabilidade social. Porto Alegre: PPGE-PUCRS, 2005. (Dissertação não publicada).

culmina por ser repassada aos consumidores (interme-diários financeiros), podemos fazer um teste para ver oimpacto das exportações num sistema com e sem ex-portações.

6 ConclusãoNa medida em que nossa principal base de dados

diz respeito ao ano de 2002, o escopo do trabalho envol-veu a avaliação de algumas condições que acompanha-ram o desenvolvimento do atual status quo. A fim deentender em que medida a baseline existente nesse anofoi propícia à criação e à manutenção do ímpeto expor-tador, precisamos ampliá-la. Precisamos, em futurosestudos, avaliar as conseqüências de sua manutenção

durante os quatro anos do primeiro mandato do Presi-dente Lula da Silva. Resta, assim, esquadrinhar o elen-co de promessas de que essa nova onda exportadoratenha desencadeado mecanismos que contribuem paraque essas vitórias (se é que vitórias houve) sejam pere-nes.

O sistema de preços do modelo de insumo-produtopermite avaliarmos a produtividade setorial relativa, poissetores com maiores coeficientes de geração de valoradicionado, ao terem sua demanda aumentada, geram

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149Milagre exportador, preços relativos e o Mal Brasileiro

mais valor adicionado e, com ele, maiores preços deLeontief. Mas os dados experimentais estão mostrandoque as exportações não têm conteúdo de valor adiciona-do por unidade de valor da produção (diretos e indiretos)discrepantes com a média da economia. Isso indica queelas podem ser um elemento central para impulsionar ocrescimento econômico, impactando positivamente asdemais variáveis relevantes ao desenvolvimento de umpaís. Além disso, elas garantem ocupação nos demaissetores internos da economia, podendo estes usufruí-rem dos ganhos decorrentes de economias de escala eescopo. Logo, o efeito das exportações é bastante pode-roso, pois estimula a produtividade interna da economiade diversas maneiras, seja por seus encadeamentos in-ternos, seja pela importação que estimula ganhos deeficiência para a economia. Por contraste, um regime decâmbio fixo exige que algumas questões sejam respon-didas: quem vai determinar a taxa de câmbio fixa, definiro tempo de duração da proteção, definir exatamente oque é infant industry, e por aí vai. É mais sensato tiraresse papel das mãos de um único indivíduo e disseminá--lo por milhões de agentes dos mais variados porteseconômicos.

Concluindo, permanece sem resposta a questãoda razão que impede que o livre-comércio tenha aceita-ção generalizada e incondicional. Se todos os agentes epaíses considerassem que as virtudes de longo prazosão maiores do que o protecionismo, nada impediria aunião planetária. Mas a recusa mantém-se pelo mesmotipo de motivo que faz com que a emissão desmesuradade dinheiro leve à inflação, ou que a redução dos gastosgovernamentais leve ao desgoverno. Todos sabem, masseus grupos de interesse acham que o sistema aindanão está preparado para ver a solução redentora. Aindaassim, fica pendente a principal questão que circunscre-ve a problemática geral tratada no presente trabalho. Foio protecionismo que referendou a enorme desigualdadeque perpassa a sociedade brasileira desde os temposcoloniais, ou, ao contrário, foi precisamente a sociedadedesigualitária que criou o protecionismo?

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Anexo Tabela A.1

Matriz de contabilidade social do Brasil — 2002 (R$ bilhões)

PRODUTORES ORDEM CONTAS

1 2 3 4 5 6 7 8 9

1 Agropecuária.................... 29,7 - - 1,8 5,6 82,8 - - - 2 Extrativa mineral (exceto

combustíveis) ................... 0,4 1,0 - 2,8 0,5 0,7 - 0,5 - 3 Extrativa mineral (petró-

leo e gás natural, carvão, etc.) ................................. - - - 0,1 34,8 - 0,1 - -

4 Transformação — com-plexo metal-mecânico ...... 1,1 1,5 2,1 113,9 6,3 10,7 3,3 29,2 1,0

5 Transformação — quími-ca ................................... 24,7 1,7 0,6 20,5 66,9 20,9 1,9 7,4 40,9

6 Transformação — com-plexo agroindustrial ......... 10,7 0,2 0,3 5,3 7,2 79,1 0,7 4,1 3,4

7 Serviços industriais de utilidade pública................ 1,1 0,7 0,8 8,7 4,2 7,0 24,3 0,3 3,2

8 Construção civil ............... - - 0,2 0,5 0,3 0,5 0,4 6,3 0,4 9 Comércio ......................... 6,3 0,4 0,5 8,8 4,4 15,3 0,6 7,2 3,9

10 Transporte ....................... 3,6 0,5 0,4 5,6 5,1 6,8 0,2 1,8 6,5 11 Comunicações ................ 0,1 0,1 0,2 3,9 1,7 3,7 0,2 0,6 4,3 12 Instituições financeiras .... 0,9 0,4 0,6 3,2 1,7 2,4 1,6 0,6 3,0 13 Serviços prestados às fa-

mílias ............................... - - - 0,1 0,1 0,2 0,8 - 0,4 14 Serviços prestados às

empresas ......................... 1,7 0,5 1,2 3,1 2,0 5,4 1,1 2,3 9,5 15 Aluguel de imóveis ........... - 0,1 0,1 0,8 0,4 1,3 0,6 0,2 5,6 16 Administração pública ...... 0,7 0,1 0,2 0,7 0,5 2,1 0,2 0,3 1,3 17 Serviços privados não

mercantis ......................... - - - - - - - - - 18 Remuneração do traba-

lho e autônomos............. 12,1 1,6 1,7 30,3 11,4 31,5 13,1 19,0 60,9 19 Excedente operacional

bruto ................................. 93,0 4,5 30,4 62,0 53,5 44,5 26,2 71,2 24,7 20 Governo (impostos e

transferências) .................

4,6

0,7

2,0

15,5

20,6

16,3

8,7

20,7

11,7 21 Resto do mundo (impor-

tações e outras receitas do exterior) ....................... 4,1 0,4 0,5 30,5 32,3 14,0 4,0 4,3 3,4

22 Famílias pobres (rendi-mentos até R$ 1.200,00) - - - - - - - - -

23 Famílias remediadas (rendimentos até R$ 3.000,00) .......................... - - - - - - - - -

24 Famílias ricas (rendimen-tos de mais de R$ 3.000,00) ......................... - - - - - - - - -

25 Poupança das institui-ções ................................. - - - - - - - - -

Total ................................ 194,8 14,4 41,8 318,0 259,4 345,2 87,8 175,9 183,9

(continua)

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151Milagre exportador, preços relativos e o Mal Brasileiro

Tabela A.1 Matriz de contabilidade social do Brasil — 2002

(R$ bilhões)

PRODUTORES FATORES ORDEM CONTAS

10 11 12 13 14 15 16 17 18

1 Agropecuária................... - - - 3,0 - - 3,1 0,1 - 2 Extrativa mineral (exceto

combustíveis) .................. - - - - - - - - - 3 Extrativa mineral (petró-

leo e gás natural, carvão, etc.) ................................. - - - - - - - - -

4 Transformação — com-plexo metal-mecânico ..... 3,5 2,9 0,1 4,8 0,6 0,2 2,3 - -

5 Transformação — quími-ca ................................... 20,8 0,7 0,1 5,0 0,6 0,1 2,7 0,1 -

6 Transformação — com-plexo agroindustrial ........ 1,3 0,8 1,3 14,1 7,4 0,1 9,2 0,4 -

7 Serviços industriais de utilidade ública................ 0,5 0,7 0,6 2,8 0,8 0,4 5,1 0,1 -

8 Construção civil .............. 0,4 0,6 - 0,5 0,2 5,5 1,8 - - 9 Comércio ........................ 4,9 1,0 1,1 8,6 1,4 0,1 7,8 0,1 -

10 Transporte ...................... 7,1 1,8 1,4 1,1 0,9 - 3,1 - - 11 Comunicações ................ 1,5 4,0 2,5 1,4 2,3 0,1 2,2 - - 12 Instituições financeiras ... 1,5 1,4 7,0 0,6 0,6 0,3 2,5 - - 13 Serviços prestados às fa-

mílias .............................. 0,1 1,3 3,1 0,7 0,1 - 13,4 - - 14 Serviços prestados às

empresas ........................ 2,1 3,5 9,1 2,0 4,0 0,1 17,6 0,1 - 15 Aluguel de imóveis .......... 0,5 1,3 1,6 0,4 0,7 0,1 1,7 0,1 - 16 Administração pública ..... 0,3 0,4 1,1 0,3 1,0 - 2,4 - - 17 Serviços privados não

mercantis ........................ - - - - - - - - - 18 Remuneração do traba-

lho e autônomos............

25,1

10,6

38,4

50,1

30,6

2,9

194,5

14,4

- 19 Excedente operacional

bruto ................................ 3,8 19,2 47,7 6,1 21,6 131,3 - - - 20 Governo (impostos e

transferências) ................

7,7

7,0

8,1

14,4

5,6

1,7

7,3

0,3

- 21 Resto do mundo (impor-

tações e outras receitas do exterior) ...................... 6,9 3,9 4,2 3,2 1,9 0,1 10,5 0,1 -

22 Famílias pobres (rendi-mentos até R$ 1.200,00) - - - - - - - - 118,0

23 Famílias remediadas (rendimentos até R$ 3.000,00) ......................... - - - - - - - - 165,7

24 Famílias ricas (rendimen-tos de mais de R$ 3.000,00) ......................... - - - - - - - - 264,7

25 Poupança das institui-ções ................................ - - - - - - - - -

Total ............................... 88,1 61,0 127,6 119,0 80,3 142,9 287,4 15,8 548,4

(continua)

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152 Duilio de Avila Bêrni; Henrique Morrone; Daniel Koshiyama

Tabela A.1 Matriz de contabilidade social do Brasil — 2002

(R$ bilhões)

FATORES INSTITUIÇÕES ORDEM CONTAS

19

20 21 22 23 24 25

TOTAL

1 Agropecuária..................... - - 12,3 18,4 12,9 10,3 14,7 194,8 2 Extrativa mineral (exceto

combustíveis) ................... - - 8,8 - - - -0,4 14,4 3 Extrativa mineral (petró-

leo e gás natural, carvão, etc.) ................................. - - 5,2 - - - 1,7 41,8

4 Transformação — com-plexo metal-mecânico ...... - - 64,8 6,2 9,7 17,0 36,8 318,0

5 Transformação — quími-ca ..................................... - - 19,9 7,7 8,1 9,6 -1,3 259,4

6 Transformação — com-plexo agroindustrial ......... - - 59,5 51,1 41,5 39,4 8,4 345,2

7 Serviços industriais de utilidade pública ................ - - 0,1 8,7 7,8 9,9 - 87,8

8 Construção civil ................ - - - - - - 158,1 175,9 9 Comércio .......................... - - 7,0 17,7 30,9 50,2 5,8 183,9

10 Transporte ........................ - - 6,3 9,1 10,3 15,7 0,8 88,1 11 Comunicações .................. - - 0,4 6,8 10,5 14,4 - 61,0 12 Instituições financeiras ..... - - 1,0 8,6 24,1 65,7 - 127,6 13 Serviços prestados às

famílias ........................... - - 6,1 16,7 24,5 51,2 - 119,0 14 Serviços prestados às

empresas .......................... - - 11,5 0,3 0,5 0,8 1,9 80,3 15 Aluguel de imóveis ........... - - - 39,2 39,2 49,0 - 142,9 16 Administração pública ...... - 271,0 2,0 0,7 0,8 1,1 - 287,4 17 Serviços privados não

mercantis ........................ - - - 1,9 4,9 9,0 - 15,8 18 Remuneração do traba-

lho e autônomos .............

-

-

-

-

-

-

-

548,4 19 Excedente operacional

bruto ................................ - - - - - - - 639,7 20 Governo (impostos e

transferências) ..................

69,0

106,6

3,2

21,3

29,7

70,4

12,0

465,3 21 Resto do mundo (impor-

tações e outras receitas do exterior) ....................... 15,2 29,8 0,3 7,3 8,5 13,0 27,2 225,6

22 Famílias pobres (rendi-mentos até R$ 1.200,00) 12,0 10,9 - 2,2 - 1,9 - 145,1

23 Famílias remediadas (rendimentos até R$ 3.000,00) .......................... 52,7 13,7 - - 2,8 1,9 - 237,7

24 Famílias ricas (rendi-mentos de mais de R$ 3.000,00) ......................... 324,7 41,1 - - - 6,1 - 636,6

25 Poupança das institui-ções .................................. 166,1 -7,8 16,7 -78,8 -29,9 199,7 - 266,0

Total ................................. 639,7 465,3 225,6 145,1 237,7 636,6 266,0 -

FONTE: GRIJÓ, Eduardo. Efeitos da mudança do grau de eqüidade sobre a estrutura produtiva brasileira: análise da matriz de contabilidade social. Porto Alegre: PPGE-PUCRS, 2005. (Dissertação não publicada).

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Concentração e especialização em setores industriais...

ORIENTAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE ARTIGOS

1 - A revista Indicadores Econômicos FEE é uma publicação trimestral da Fundação de Economia e Estatísti-ca Siegfried Emanuel Heuser e tem por objetivo a divulgação de artigos de caráter conjuntural no âmbito daseconomias gaúcha, nacional e internacional.

2 - Os artigos remetidos à revista Indicadores Econômicos FEE para publicação devem ser inéditos, em línguaportuguesa (Brasil), apresentados na sua versão definitiva e acompanhados de um abstract em inglês e de umresumo em português, com 10 linhas no máximo.

3 - Devem ser apresentadas as palavras-chave do texto, no número máximo de três, em português e inglês.

4 - Os artigos devem vir acompanhados do nome completo do autor, de sua titulação acadêmica e do nome dasinstituições a que está vinculado, além do endereço para contato, do e-mail, do telefone ou do fax.

5 - Devem ser encaminhadas três cópias impressas dos artigos, com as páginas numeradas na margem superiordireita e não excedendo 25 laudas de 24 linhas, em espaço duplo, fonte Times New Roman, tamanho 12, incluin-do notas, bibliografia e outras referências. As cópias impressas devem vir acompanhadas do arquivo correspon-dente em MS-Word.

6 - As notas de rodapé devem conter apenas informações explicativas ou complementares e devem ser apresentadasem ordem seqüencial.

7 - As citações devem ser feitas no próprio texto, com a respectiva fonte: sobrenome do autor, ano de publicação enúmero da página entre parênteses (Vanin, 1980, p. 8). As citações em língua estrangeira devem vir traduzidas,ficando a critério do autor a publicação do original em nota de rodapé.

8 - As referências bibliográficas devem conter o nome completo do autor, o título da obra, o local e a data de publi-cação, o nome do editor e o número de páginas, enquadrando-se em uma das situações a seguir referidas:

a) livro - POCHMANN, Márcio. O emprego na globalização: A nova internacionalização do trabalho e os cami-a) livro - nhos que o Brasil escolheu. São Paulo: Boitempo, 2001. 151p. CASTRO, Antônio B. de; SOUZA, Francisco E. P. de. A economia brasileira em marcha forçada. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1985. 217p.

b) capítulo ou artigo de livro - MIRANDA, José Carlos da Rocha. Dinâmica financeira e política macroeconô-b) capítulo ou artigo de livro mica. In: TAVARES, M. C.; FIORI, J. L. (Org.). Poder e dinheiro: uma economiab) capítulo ou artigo de livr o - política da globalização. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 243-275.c) periódico - CONJUNTURA ECONÔMICA. Rio de Janeiro: FGV, n. 12, dez. 2000.

d) artigo de periódico - BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. O declínio de Bretton Woods e a emergência dos mercados "globalizados". Economia e Sociedade, Campinas, n. 4, p. 1-20, 1997. PARTICIPAÇÃO do Brasil nos investimentos diretos mundiais. Carta da SOBEET, São Paulo, v. 1, n. 4, set./out. 1997.

e) artigo de jornal - SALGUEIRO, Sônia. Autopeças brasileiras conquistam mercado externo. Gazeta Mercan-e) artigos de jorn istil, São Paulo, p. A-4, 6-8 mar. 2000.e) artigos de joris - PARTICIPAÇÃO de salários no PIB cai para 38%. Folha de São Paulo, São Paulo, p. 2-5, 12 dez. 1997.

f) informação ou texto obtidos pela internet - livro eletrônico (monografia)DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam informática,1988. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlDLPO>. Acessoem: 8 mar. 1999.periódico eletrônico (revista, anuário, etc.)-

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9 - As tabelas e os gráficos apresentados no artigo devem ser numerados e apresentar título e fonte completos. Os gráficos devem ser gerados no MS-Excel, com formatação em preto e branco. O arquivo do MS-Excel deve ser encaminhado à revista Indicadores Econômicos FEE contendo as tabelas dos dados vinculadas aos gráfi- cos gerados.

10 - Os artigos encaminhados à revista Indicadores Econômicos FEE serão submetidos à apreciação do Conse- lho de Redação, sendo os autores informados da aceitação ou recusa de seus trabalhos.

11 - Em se tratando de artigos aprovados, o Conselho de Redação reserva-se o direito de introduzir as modifica- ções editoriais que julgar convenientes.

12 - O envio espontâneo de qualquer colaboração implica, automaticamente, a cessão integral dos direitos autorais à FEE.

13 - Toda correspondência deverá ser enviada à:

Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel HeuserRevista Indicadores Econômicos FEERua Duque de Caxias, 1691CEP 90010-283 — Porto Alegre — RSE-mail: [email protected]: (0XX51) 3216-9132Fax: (0XX51) 3216-9134

BOLETIM INFORMATIVO DE PESSOAL. Porto Alegre: Secreta-ria da Fazenda-RS, n. 31, jul. 2001. Disponível em:<http://www.sefaz.rs.gov.br>. Acesso em: 14 dez. 2001.artigo de periódico em meio eletrônicoO IED no Brasil e no mundo: principais tendências. Sinopse Econô-mica. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/sinopse/poleco.htm>.Acesso em: 21 mar. 2000.banco de dadosIBGE-SIDRA. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>.Acesso em: mar. 2001.home page institucionalBRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Disponívelem: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 22 mar. 2004.

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Supervisão: Valesca Casa Nova Nonnig. Secretária: Vera Lúcia Dalberto. Expedição: Lisete Maria Girotto.RevisãoCoordenação: Roselane Vial.Revisores: Breno Camargo Serafini, Rosa Maria Gomes da Fonseca, Sidonia Therezinha Hahn Calvete e SusanaKerschner.EditoriaCoordenação: Cirei Pereira da Silveira.Composição, diagramação e arte final: Denize Maria Maciel, Ieda Terezinha Koch Leal e Rejane Maria Lopes dosSantos.Conferência: Lourdes Teresinha dos Santos, Rejane Schimitt Hübner e Vera Sonia Silva Castro.Impressão: Cassiano Osvaldo Machado Vargas e Luiz Carlos da Silva.Capa: Ezequiel Dias de Oliveira.

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