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1 SECRETARIA DO PLANEJAMENTO E GESTÃO ISSN 0103-3905 FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser A revista Indicadores Econômicos FEE é uma publicação trimestral da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser que divulga análises socioeconômicas de caráter conjuntural no âmbito das economias gaúcha, nacional e internacional. EDITOR Luiz Augusto Estrella Faria SECRETÁRIA EXECUTIVA Lilia Pereira Sá Trimestral CONSELHO DE REDAÇÃO Luiz Augusto Estrella Faria Adalberto Alves Maia Neto André Luis Forti Scherer Jéferson Daniel de Matos Maria Lucrécia Calandro Teresinha da Silva Bello CONSELHO EDITORIAL Luiz Augusto Estrella Faria Octavio Augusto Camargo Conceição Maria Aparecida Grendene de Souza Pedro Cezar Dutra Fonseca Otília Beatriz K. Carrion Dercio Garcia Munhoz Leda Paulani Maurício Coutinho Luiz G. Belluzzo Indic. Econ. FEE Porto Alegre v. 35 n. 4 p. 1-158 2008

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SECRETARIA DO PLANEJAMENTO E GESTÃO ISSN 0103-3905FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser

A revista Indicadores Econômicos FEE é uma publicação trimestral da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser que divulga análisessocioeconômicas de caráter conjuntural no âmbito das economias gaúcha, nacional e internacional.

EDITORLuiz Augusto Estrella Faria

SECRETÁRIA EXECUTIVALilia Pereira Sá

Trimestral

CONSELHO DE REDAÇÃOLuiz Augusto Estrella FariaAdalberto Alves Maia NetoAndré Luis Forti SchererJéferson Daniel de MatosMaria Lucrécia CalandroTeresinha da Silva Bello

CONSELHO EDITORIALLuiz Augusto Estrella FariaOctavio Augusto Camargo ConceiçãoMaria Aparecida Grendene de SouzaPedro Cezar Dutra FonsecaOtília Beatriz K. CarrionDercio Garcia MunhozLeda PaulaniMaurício CoutinhoLuiz G. Belluzzo

Indic. Econ. FEE Por to Alegre v . 35 n. 4 p. 1-158 2008

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SECRETARIA DO PLANEJ AMENTO E GESTÃOFUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Eman uel HeuserCONSELHO DE PLANEJAMENTO: Adelar Fochezatto (Presidente), André Luis Campos, Ernesto Dornelles Saraiva, Leonardo Ely Schreiner, Nelson MachadoFagundes, Pedro Silveira Bandeira e Thômaz Nunnenkamp.CONSELHO CURADOR: Carla Giane Soares da Cunha, Flávio Pompermayer e Lauro Nestor Renck.DIRETORIA

PRESIDENTE: ADELAR FOCHEZATTODIRETOR TÉCNICO: OCTAVIO AUGUSTO CAMARGO CONCEIÇÃODIRETOR ADMINISTRATIVO: NÓRA ANGELA GUNDLACH KRAEMER

CENTROSESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS: Roberto da Silva WiltgenPESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO: Míriam De ToniINFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS: Adalberto Alves Maia NetoINFORMÁTICA: Luciano ZanuzEDITORAÇÃO : Valesca Casa Nova NonnigRECURSOS: Alfredo Crestani

Indicadores Econômicos FEE está indexada em:Ulrich's International Periodicals DirectoryÍndice Brasileiro de Bibliografia de Economia (IBBE)International Bibliography of The Social Sciences (IBSS)Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades (CLASE)Cambridge Science Abstracts (CSA)Hispanic American Periodicals Index (HAPI)

INDICADORES ECONÔMICOS FEE / Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser. — v. 16, n. 2 (1988) - . - Porto Alegre: FEE, 1988 - . - v.- Trimestral

Continuação de: Indicadores Econômicos RS, v. 16, n. 2, 1988. Índices: 1973-1988 em v. 17, n. 1; 1973-1990 em v. 19, n. 1; 1973-1992 em v. 21, n. 4; 1992-1994 em v. 23, n. 3.

ISSN 0103-3905

1. Economia - periódicos. 2. Estatística - periódicos. I. Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser. CDU 33(05) CDU 31(05)

Tiragem: 300 exemplares.

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores.

Toda correspondência para esta publicação deverá ser endereçada à: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser (FEE)Revista Indicadores Econômicos FEE - Secretaria

Rua Duque de Caxias, 1691, Porto Alegre, RS — CEP 90010-283Fone: (51) 3216-9132 Fax: (51) 3216-9134E-mail: [email protected] Home Page: www.fee.rs.gov.br

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Sumário

ANÁLISE DO TRIMESTRE ............................................................................................................

Contas regionais

O desempenho da economia gaúcha em 2007 — Maria Conceição Schettert ...................................

Política econômica

Setor externo da economia brasileira: mudança de rumos? — André Luís Forti Scherer .....................

Tempo de mudaças para a política monetária — Edison Mar ques Moreira ........................................

Tópicos setoriais

Agricultura gaúcha em 2007: principais produtos da lavoura temporária — Maria Helena Antunes deSampaio e Suzana Ribeiro Boeckel ...............................................................................................

Agricultura familiar: evolução favorável em anos recentes — Elvin Maria Fauth ....................................

Bom desempenho da indústria gaúcha em 2007: expansão ou recuperação? — Maria Lucrécia Calandroe Silvia Horst Campos ...................................................................................................................

As exportações gaúchas em 2007 — Álv aro Antônio Gar cia .............................................................

Políticas púb licas

O desempenho das finanças públicas estaduais em 2007 — Alfredo Meneghetti Neto ..........................

A universalização da água tratada no RS — Renato Antonio Dal Maso ..............................................

Trabalho e emprego

Mercado de trabalho da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em 2007: expansão econômicaeleva o nível ocupacional e reduz o desemprego — Raul Luís Assumpção Bastos ....................................

5-116

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INDICADORES SELECIONADOS DO RS .........................................................................................

TEMAS DE CONJUNTURA ............................................................................................................

Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07 — Marcelo FranciscoMelo , Dayani Cris de Aquino , Ruth M. Hofmann e Victor P elaez .....................................................

Um fundo soberano brasileiro: é o momento? — Teresinha da Silv a Bello .......................................... 151

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 7-20, 2008

7O desempenho da economia gaúcha em 2007

A Fundação de Economia e Estatística, como pro-cedimento sistemático, publica anualmente, neste volu-me, as estimativas para o Rio Grande do Sul do ProdutoInterno Bruto (PIB), do Valor Adicionado Bruto (VAB) esuas taxas de crescimento, globais e setoriais, divulgadasao final de cada ano. Essas estimativas se referem aodesempenho da economia gaúcha em 2007 e às revi-sões de 2006, ainda em caráter preliminar.1 Nessa opor-tunidade, também está sendo publicada a nova série2002-05 do produto regional, que incorporou uma gran-de revisão, consistente com aquela feita pela FundaçãoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2 paraas Contas Nacionais.

Conforme essas estimativas, o PIB do Estado, oquarto no ranking do País, teve um crescimento, em ter-mos reais, de 7,0% em 2007, atingindo o valor de R$175,2 bilhões. O PIB per capita, por sua vez, cresceu5,9%, atingindo o valor de R$ 15.812,55. Esse cresci-mento do PIB estadual superou o do Brasil após trêsanos consecutivos (2004-06) crescendo abaixo da mé-dia brasileira. No País, as estimativas do PIB até o ter-ceiro trimestre de 2007 chegaram a um crescimento acu-mulado anual de 5,2% (IBGE, 2007). E, de acordo com oInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em

Contas regionaisContas regionaisContas regionaisContas regionaisContas regionais

O desempenho da economia gaúcha em 2007*

Maria Conceição Schettert** Economista da FEE

sua Carta de Conjuntura de dezembro (Carta Conj.,2007), a projeção da taxa de crescimento brasileira é de5,2% para 2007 (Tabela 1).

Essa boa performance da economia gaúcha em2007 logrou alcançar os maiores patamares produtivosda série 2002-073 e deve recuperar a participação emtorno de 7% (média da série) sobre a economia brasileira(Tabela 2). Deve-se salientar que, com a revisãometodológica que gerou as novas séries regionais, o RSperdeu participação em relação ao Brasil, em todo o pe-ríodo, comparativamente à série anterior. Os cálculosdessas novas séries são resultantes de modificaçõesconceituais adotadas pela revisão e de incorporação denovas bases de dados, as quais implicaram alteraçõesem termos de participações relativas entre as unidadesda Federação. Contudo, a despeito da perda de partici-pação do RS, foi mantida sua posição no ranking nacio-nal como a quarta economia do País, depois de SãoPaulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Dentre as diferenças observadas pela recente revi-são da série, salientam-se as alterações de ganhos eperdas relativas em termos setoriais. Como caso gene-ralizado entre as economias regionais e a nacional, es-tão o ganho de peso relativo do setor serviços e, emcontrapartida, a perda de participação da agropecuária eda indústria.4 No caso do RS, esses dois setores sus-tentaram o crescimento expressivo do PIB em 2007. Obom desempenho da economia gaúcha nesse ano, deum modo geral, deveu-se, principalmente, à continuadarecuperação da produção agrícola iniciada em 2006, apósa grave estiagem do biênio 2004-05, e à recuperação da

* Artigo recebido em 16 jan. 2008.

** E-mail: [email protected] Os cálculos foram efetuados pelo Núcleo de Contabilidade So-

cial (NCS) do Centro de Informações Estatísticas (CIE) da FEE,com os seguintes integrantes: Adalberto Maia Neto (Supervisordo CIE), Carlos Gouveia, Eliana Figueiredo da Silva, JuarezMeneghetti (Coordenador do NCS), Lívio Luiz Soares de Olivei-ra, Maria Conceição Sá e Sousa Schettert, Maria Helena Antunesde Sampaio e Sérgio Fischer.

2 O IBGE, como responsável pelas estatísticas oficiais brasilei-ras, também é o coordenador geral das Contas Regionais, atra-vés de convênio firmado entre as instituições estaduais de es-tatística, que, no caso do RS, é a FEE. Nesse sentido, ele norteouessa recente revisão metodológica, que adotou novas basesde dados, além do refinamento metodológico pertinente, o queimplicou algumas mudanças relevantes nos agregadoseconômicos dos estados.

3 Examinando-se a evolução dos índices de volume do VAB e doPIB na Tabela A.4, onde é apresentada a série 2002-07 dosagregados econômicos regionais, constata-se essa evolução.

4 Com a adoção da nova série, a participação da agropecuáriaperdeu, em média, uns cinco pontos percentuais, e a da indús-tria chegou a cair quase 10 pontos percentuais — tradicional-mente, a participação desta oscilava em torno de 40% do PIB.Já o setor serviços, cuja participação relativa anterior se situa-va em torno de 45%, superou, presentemente, os 60%.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 7-20, 2008

8 Maria Conceição Schettert

indústria de transformação, que tem estreitos vínculoscom a agricultura no Estado. A economia gaúcha tam-bém se beneficiou pela dinâmica favorável de suas ex-portações e pela própria expansão da economia brasilei-ra nesse mesmo ano.

A demanda externa é um decisivo fator de estímu-lo às atividades produtivas no Estado, e, considerandoos dados acumulados até outubro de 2007 (Brasil, 2008),cotejados com igual período do ano anterior, observou--se um crescimento nominal de 28,9% das vendas ex-ternas do RS, superando o incremento das exportaçõesbrasileiras de 16,5% no mesmo período. Dentre os prin-cipais itens da pauta exportadora estão os bens inter-mediários, que apresentaram um incremento em suasvendas de 38,3%. Sob um outro enfoque, fazendo-seum corte setorial, as exportações industriais represen-taram cerca de 90% do valor exportado; e as agrícolas,cerca de 9%. Destacaram-se alguns produtos pela rele-vância de seu peso participativo e pelo aumento do va-lor exportado, a saber, grãos de soja (131,1%), fumo(38,3%), peças e acessórios para veículos (14,7%),tratores (30,8%) e, como o boom da pauta, combustí-veis e lubrificantes (206,5%).

Examinando-se o desempenho dos setores quecompõem o produto global — a agropecuária, a indús-tria e os serviços —, observa-se que todos concorrerampositivamente para a formação da taxa global5. Aagropecuária (19,2%) praticamente repetiu o crescimen-to do ano anterior (19,9%), mas com mais expressividade,dado que, nesse ano de 2007, a comparação se refere auma base produtiva já elevada. A indústria (7,2%) rever-teu a trajetória descendente que se delineava nos últi-mos dois anos, e o setor serviços (5,2%) respondeu aosestímulos dos outros dois setores produtivos (Tabelas3 e 4).

O setor agropecuário, com uma participação de8,5% na estrutura produtiva da economia gaúcha, porsua vez, teve seu desempenho creditado principalmenteao excelente resultado da lavoura, cujo incremento realdo valor de produção (15,0%) refletiu os aumentos ex-pressivos das safras de trigo (113,7%), milho (32,3%) esoja (31,5%), sendo as três importantes pela sua parti-cipação na estrutura produtiva referente às lavouras tem-porárias. Esses crescimentos produtivos se deram comaumento de produtividade dessas culturas: trigo (54,8%),milho (36,1%) e soja (30,6%). Outra cultura de peso, o

arroz, foi o destaque negativo (-6,5%), explicado pelaretração de sua área colhida, provocada pelas cotaçõesde preços deprimidas desde a safra de 2004. É impor-tante também destacar, no que se refere às lavouraspermanentes, os incrementos de produção de maçã(43,7%) e uva (13,0%), também com aumentos de pro-dutividade de 34,1% e 10,3% respectivamente (Tabelas5, 6 e 7).

A pecuária, a segunda atividade mais importanteda agropecuária no Estado, tem-se caracterizado por umcrescimento sem grandes oscilações e, em 2007, apre-sentou uma elevação de produção (1,7%) condizente como ritmo de expansão característico desse subsetor, quetem, na criação de rebanhos de corte — a bovinocultura,a suinocultura e a criação de aves — a sua atividadepreponderante (Tabela 5). O crescimento modesto em2007 da produção animal não contribuiu significativamentepara elevar a participação da agropecuária na estruturaprodutiva gaúcha, que, na nova série6, conforme já refe-rido, diminuiu sua participação com as mudançasmetodológicas e com as perdas da agricultura nas sa-fras de 2004 e 2005, em uma das mais severas estia-gens sofridas pelo RS. Tradicionalmente, o setor agríco-la tem sido relevante na economia gaúcha e, com a re-cuperação dos níveis produtivos dos dois anos posterio-res, deverá galgar sua importância relativa. Ademais, suarelevância deve-se, especialmente, ao vínculo estreitocom o setor industrial.

A indústria gaúcha, com uma participação em tor-no de 30% do PIB, teve um crescimento expressivo de7,2%, cabendo à indústria de transformação o maior cré-dito pelo bom desempenho (7,9%), pois, além desse in-cremento, é o segmento mais pesado do setor. Essecrescimento do parque fabril gaúcho está em consonân-cia com o ritmo da indústria brasileira, destacando-secomo a segunda maior expansão industrial no País, noresultado acumulado até novembro (IBGE, 2008). Den-tre as atividades industriais mais relevantes, destaca-ram-se, pelo crescimento verificado, máquinas e equipa-mentos (31,7%), refino de petróleo e álcool (30,1%), ve-ículos automotores (26,8%) e alimentos (4,5%). Aindadentre as com maior participação, os destaques negati-vos foram calçados e artigos de couro (-7,2%) e mobili-ário (-4,6%), onde o primeiro vem enfrentando a concor-rência chinesa e dificuldades com o câmbio valorizado(Tabela 8). É importante referir que o desempenho positi-

5 Para efeito de comparação, o IPEA projetou para a economiabrasileira, em 2007, uma taxa de crescimento de 4,3% naagropecuária, de 6,0% na indústria e de 4,7% nos serviços.

6 A participação média da agropecuária no PIB gaúcho deve situ-ar-se em torno de 10%, examinando-se o peso do setor nasérie antes da débâcle do biênio 2004-05.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 7-20, 2008

9O desempenho da economia gaúcha em 2007

vo da indústria de alimentos tem reflexos sobre o contro-le inflacionário e que o incremento em máquinas e equi-pamentos, assim como no desempenho da indústria bra-sileira, cujo destaque foi em bens de capital, reflete oaumento de investimento na economia, o que é essen-cial para a continuidade do crescimento.

O outro segmento do setor industrial que deu umacontribuição expressiva ao desempenho do setor comoum todo foi o da construção civil, cujo crescimento em2007 (5,7%) deu continuidade ao crescimento ocorridoem 2006 (6,6%), que acompanhou a conjuntura nacionalde excelente desempenho e investimentos de montanessa atividade. O cenário conjuntural que favoreceu essefenômeno de vultosas inversões na construção civil bra-sileira e na regional permaneceu e se firmou em 2007.As razões, basicamente, foram a continuada trajetóriadescendente dos juros internos, a estabilidade econômicae a minimização de riscos no mercado imobiliário, atra-vés da vigência de uma nova regulamentação jurídica,que deu maior segurança a esse mercado. De resto, ocrédito mais farto nas duas pontas, a do investidor e ado comprador, estimulado pela liquidez do mercado, in-clusive pela liquidez do mercado internacional, represen-tado pelo movimento de capitais dos grandes fundos depensão, garantiu a continuidade do crescimento da cons-

trução civil. A crise internacional ocorrida em 2006, en-gendrada no boom do mercado imobiliário norte-ameri-cano e debitada aos títulos hipotecários de alto risco,não chegou a atingir os negócios da construção civil noBrasil. A natureza do processo interno de crescimentodessa atividade é diferente, existe um mercado produti-vo real, uma oferta ascendente e uma enorme demandareprimida por moradias populares. Esse foi o nicho demercado para o qual se voltou esse ciclo produtivo.

O setor serviços, o mais pesado do PIB (62,44%),que agrega uma gama de atividades diferenciadas, cujoelo comum é a intangibilidade da mercadoria final, temalguns de seus segmentos mais importantes com vín-culos mais estreitos com os setores produtores de bens.Assim, por exemplo, o aquecimento da economia gaú-cha e, por extensão, da brasileira e da mundial, refletiu--se sobre os crescimentos, em 2007, do comércio (7,5%)e da atividade de transportes e armazenagem (5,2%). Ocomércio, particularmente, foi a atividade que mais sebeneficiou da expansão do crédito ao consumidor e doaumento da massa salarial ocorrido com a queda da taxade desemprego7. Em razão do peso estrutural do setorserviços e do bom desempenho (5,3%), já referido, foi osetor que, individualmente, mais contribuiu para a ex-pansão da economia gaúcha em 2007.

7 Conforme divulgado, a “[...] taxa de desocupação cai em no-vembro e atinge o menor valor da série histórica da pesquisa”(IBGE, 2008a). Com relação a novembro do ano anterior, houve

Tabela 1

Produto Interno Bruto, total e per capita, e suas taxas de crescimento no Brasil e no Rio Grande do Sul — 2002-07

RIO GRANDE DO SUL (1) BRASIL

PIB Taxas de Crescimento (%) PIB Taxas de Crescimento (%)

ANOS

Total (R$ milhões)

Per capita (R$)

Total Per capita Total

(R$ milhões) Per capita

(R$) Total Per capita

2002 105 487 10 057 - - 1 477 822 8 378 2,7 1,2 2003 124 551 11 742 1,7 0,5 1 699 948 9 498 1,1 -0,3 2004 137 831 12 850 3,4 2,3 1 941 498 10 692 5,7 4,2 2005 144 344 13 310 -2,8 -3,8 2 147 239 11 658 3,2 1,7 2006 155 511 14 185 2,7 1,6 2 332 936 12 491 3,8 2,3 2007 175 209 15 813 7,0 5,9 - - (2)5,2 3,8

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE. Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. CARTA DE CONJUNTURA. Brasília: IPEA, dez. 2007. (1) Estimativas preliminares para 2006 e 2007. (2) Projeção do IPEA.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 7-20, 2008

10 Maria Conceição Schettert

Tabela 2

Participação do PIB do Rio Grande do Sul no do Brasil — 2002-06

ANOS PARTICIPAÇÃO %

2002 7,14 2003 7,33 2004 7,10 2005 6,72

2006 (1) 6,67

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. (1) Estimativas preliminares.

acréscimo (3,5%) no contingente de população ocupada, signi-ficando 717 mil pessoas a mais no mercado de trabalho brasilei-ro. Ainda, conforme a Pesquisa de Emprego e Desempregona Região Metropolitana de Porto Alegre (FEE, 2008), hou-ve crescimento da ocupação (3,4%) da População Economica-mente Ativa (PEA) no período nov./06-nov./07, sendo que a taxade desemprego (desempregados/PEA) caiu (-13,1%).

Tabela 3

Taxas de crescimento do VAB, por setores de atividade, e do PIB do Rio Grande do Sul e do Brasil — 2007

(%)

BRASIL DISCRIMINAÇÃO RIO GRANDE DO SUL

IPEA (1) IBGE (2)

Agropecuária ........ 19,2 19,2

4,3 4,3 Indústria ................ 7,2 6,0 5,1 Serviços ................ 5,2 4,7 4,7 PIB ........................ 7,0 5,2 5,3

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. CARTA DE CONJUNTURA. Brasília: IPEA, dez. 2007. NOTA: Estimativas preliminares. (1) Projeção para o ano. (2) Taxa acumulada até o terceiro trimestre.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 7-20, 2008

11O desempenho da economia gaúcha em 2007

Tabela 4

Taxas de crescimento do VAB, por setores de atividade, e do PIB do Rio Grande do Sul — 2006 e 2007 (%)

DISCRIMINAÇÃO 2006 2007

Agropecuária ....................................................................................... 19,9

19,2 Indústria ............................................................................................... -0,7 7,2 Indústria de transformação ................................................................... -2,3 7,9 Indústria extrativa mineral ..................................................................... - - Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana ................................................................................................... 1,4 4,2 Construção civil ..................................................................................... 6,6 5,7 Serviços ............................................................................................... 2,4 5,2 Comércio ............................................................................................... 3,4 7,5 Transportes e armazenagem ............................................................... 4,7 5,2 Administração pública .......................................................................... 1,1 1,9 Demais serviços ................................................................................... 2,1 5,8 VAB ..................................................................................................... 2,7 7,0 PIB ....................................................................................................... 2,7 7,0

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. NOTA: 1. Considera-se a taxa do PIB igual à do VAB. 2. Estimativas preliminares.

Tabela 5

Taxas de crescimento do valor da produção da agropecuária, da lavoura e da produção animal no Rio Grande do Sul — 2006 e 2007

(%)

ATIVIDADES 2006 2007

Agropecuária ................................... 14,4 10,5 Lavoura ............................................. 27,2 15,0 Produção animal .............................. 1,0 1,7

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. NOTA: Estimativas preliminares.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 7-20, 2008

12 Maria Conceição Schettert

Tabela 6 Produção e variação anual dos principais produtos da lavoura do Rio Grande do Sul — 2003-07

PRODUÇÃO (t) VARIAÇÃO % PRODUTOS

2003 2004 2005 2006 2007 (1) 2006 2007

Arroz ....................................................... 4 697 151 6 338 139 6 103 289 6 784 236 6 342 256 11,2 -6,5 Banana .................................................... 114 685 95 340 108 187 118 174 110 133 9,2 -6,8 Batata-inglesa ......................................... 313 157 294 912 284 137 335 212 386 396 18,0 15,3 Cana-de-açúcar ...................................... 1 136 114 1 025 756 908 930 1 166 717 1 429 238 28,4 22,5 Cebola ..................................................... 123 325 158 094 136 211 146 329 161 563 7,4 10,4 Feijão ...................................................... 137 865 133 709 75 004 120 159 142 432 60,2 18,5 Fumo ....................................................... 322 078 482 968 430 347 472 726 482 658 9,8 2,1 Laranja .................................................... 354 700 356 398 311 745 339 765 340 956 9,0 0,4 Maçã ....................................................... 329 461 353 140 299 972 328 091 471 602 9,4 43,7 Mandioca ................................................ 1 315 223 1 234 546 1 129 500 1 297 191 1 392 475 14,8 7,3 Milho ....................................................... 5 426 124 3 376 862 1 485 040 4 528 143 5 991 497 204,9 32,3 Soja ......................................................... 9 579 297 5 541 714 2 444 540 7 559 291 9 938 821 209,2 31,5 Trigo ........................................................ 2 395 557 2 061 410 1 389 731 823 062 1 758 986 -40,8 113,7 Uva .......................................................... 489 015 696 599 611 868 623 878 705 263 2,0 13,0

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. (1) Estimativas preliminares.

Tabela 7

Área colhida e produtividade dos principais produtos da lavoura do Rio Grande do Sul — 2006 e 2007

2006 2007(1) TAXA DE CRESCIMENTO (%) PRODUTOS Área Colhida

(ha) Produtividade

(t/ha) Área Colhida

(ha) Produtividade

(t/ha) Área Colhida Produtividade

Arroz ......................... 1 023 074 6,63 940 965 6,74 -8,0 1,6 Banana ..................... 11 344 10,42 11 544 9,54 1,8 -8,4 Batata-inglesa .......... 24 143 13,88 19 643 19,67 -18,6 41,7 Cana-de-açúcar ........ 33 277 35,06 35 768 39,96 7,5 14,0 Cebola ...................... 10 894 13,43 11 164 14,47 2,5 7,7 Feijão ........................ 121 670 0,99 116 961 1,22 -3,9 23,3 Fumo ........................ 243 065 1,94 229 621 2,10 -5,5 8,1 Laranja ..................... 27 476 12,37 27 020 12,62 -1,7 2,0 Maçã ......................... 15 260 21,50 16 360 28,83 7,2 34,1 Mandioca .................. 87 396 14,84 88 737 15,69 1,5 5,7 Milho ......................... 1 403 218 3,23 1 364 343 4,39 -2,8 36,1 Soja .......................... 3 863 726 1,96 3 890 585 2,55 0,7 30,6 Trigo ......................... 607 269 1,36 838 432 2,10 38,1 54,8 Uva ........................... 44 298 14,08 45 383 15,54 2,4 10,3

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. (1) Estimativas preliminares.

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13O desempenho da economia gaúcha em 2007

Tabela 8

Taxas de crescimento da produção da indústria de transformação, por atividade, do Rio Grande do Sul — 2005/07 (%)

ATIVIDADES 2005 2006 2007 (1)

Alimentos .......................................................................................... 4,0 4,7 4,5 Bebidas ............................................................................................. -0,2 7,3 5,4 Borracha e plástico ........................................................................... -7,2 6,1 5,0 Calçados e artigos de couro ............................................................. -5,2 -8,8 -7,2 Celulose, papel e produtos de papel ................................................. -1,2 4,1 -0,3 Edição, impressão e reprodução de gravações ................................ 2,0 -1,6 1,8 Fumo.................................................................................................. -3,8 -7,3 -6,2 Máquinas e equipamentos ................................................................ -19,1 -16,3 31,7 Metalurgia básica .............................................................................. -2,9 -0,4 6,2 Mobiliário ........................................................................................... -11,3 5,0 -4,6 Produtos químicos ............................................................................ -5,8 0,8 0,6 Produtos de metal — exclusive máquinas e equipamentos ............. -0,5 -10,7 1,2 Refino de petróleo e álcool ............................................................... 6,3 -2,8 30,1 Veículos automotores ....................................................................... -2,4 7,1 26,8

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. (1) Taxa projetada para o ano, a partir dos dados do IBGE até outubro.

Anexo estatístico Tabela A.1

Composição do Produto Interno Bruto, a preço de mercado corrente, do Rio Grande do Sul — 2002-07

(R$ milhão)

ANOS VALOR ADICIONADO BRUTO IMPOSTOS SOBRE

PRODUTOS, LÍQUIDOS DE SUBSÍDIOS (+)

PRODUTO INTERNO BRUTO

2002 92 011 13 476 105 487

2003 108 739 15 812 124 551

2004 119 703 18 128 137 831

2005 123 869 20 476 144 344

2006 (1) 133 451 22 060 155 511

2007 (1) 150 355 24 854 175 209

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. (1) Estimativas preliminares.

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14 Maria Conceição Schettert

Tabela A.2

Valor Adicionado Bruto a preço básico corrente, por setores de atividade, do Rio Grande do Sul — 2002-06

(R$ milhão)

SETORES 2002 2003 2004 2005 2006 (1)

Valor Adicionado Bruto total ..................................................... 92 011 108 739 119 703 123 869 133 451 Agropecuária ............................................................................... 9 242 13 936 12 674 8 765 11 352 Agricultura, silvicultura e exploração florestal ............................... 6 619 10 707 9 166 5 046 - Pecuária e pesca .......................................................................... 2 622 3 229 3 508 3 718 - Indústria ....................................................................................... 25 745 30 599 37 670 37 475 38 771 Indústria extrativa mineral ............................................................. 185 249 305 345 362 Indústria de transformação ........................................................... 19 887 24 156 29 358 28 412 28 773 Construção civil ............................................................................. 3 510 3 784 5 028 5 654 6 257 Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana .............................................................................. 2 163 2 411 2 979 3 064 3 378

Serviços ....................................................................................... 57 024 64 205 69 358 77 629 83 328 Comércio e serviços de manutenção e reparação ........................ 11 837 14 530 15 917 16 656 17 166 Serviços de alojamento e alimentação ......................................... 1 491 1 389 1 729 1 778 - Transportes, armazenagem e correio ........................................... 5 132 5 246 5 905 7 117 7 698 Serviços de informação ................................................................. 2 477 2 580 3 433 3 606 - Intermediação financeira, seguros e previdência complementar .. 6 346 6 101 6 001 7 910 - Serviços prestados às famílias e associativos .............................. 2 320 2 567 2 638 3 161 - Serviços prestados às empresas .................................................. 2 572 3 653 3 603 4 502 - Atividades imobiliárias e aluguel ................................................... 8 586 9 367 9 868 10 884 - Administração, saúde e educação públicas .................................. 11 589 14 077 14 940 16 449 18 012 Saúde e educação mercantis ........................................................ 3 723 3 634 4 176 4 257 - Serviços domésticos ..................................................................... 953 1 061 1 149 1 307 - Demais serviços ............................................................................ - - - - 40 452

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. (1) Estimativas preliminares.

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15O desempenho da economia gaúcha em 2007

Tabela A.3

Estrutura do Valor Adicionado Bruto, por setores de atividade, do Rio Grande do Sul — 2002-06 (%)

SETORES 2002 2003 2004 2005 2006 (1)

Valor Adicionado Bruto total ..................................................... 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Agropecuária .............................................................................. 10,04 12,82 10,59 7,08 8,51 Agricultura, silvicultura e exploração florestal .............................. 7,19 9,85 7,66 4,07 - Pecuária e pesca .......................................................................... 2,85 2,97 2,93 3,00 - Indústria ...................................................................................... 27,98 28,14 31,47 30,25 29,05 Indústria extrativa mineral ............................................................ 0,20 0,23 0,25 0,28 - Indústria de transformação ........................................................... 21,61 22,21 24,53 22,94 21,56 Construção civil ............................................................................ 3,81 3,48 4,20 4,56 4,69 Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana ............................................................................. 2,35 2,22 2,49 2,47 2,53 Serviços ....................................................................................... 61,98 59,04 57,94 62,67 62,44 Comércio e serviços de manutenção e reparação ....................... 12,86 13,36 13,30 13,45 12,86 Serviços de alojamento e alimentação ......................................... 1,62 1,28 1,44 1,44 - Transportes, armazenagem e correio .......................................... 5,58 4,82 4,93 5,75 5,77 Serviços de informação ................................................................ 2,69 2,37 2,87 2,91 - Intermediação financeira, seguros e previdência complementar 6,90 5,61 5,01 6,39 - Serviços prestados às famílias e associativos ............................. 2,52 2,36 2,20 2,55 - Serviços prestados às empresas ................................................. 2,79 3,36 3,01 3,63 - Atividades imobiliárias e aluguel .................................................. 9,33 8,61 8,24 8,79 - Administração, saúde e educação públicas ................................. 12,60 12,95 12,48 13,28 13,50 Saúde e educação mercantis ....................................................... 4,05 3,34 3,49 3,44 - Serviços domésticos .................................................................... 1,04 0,98 0,96 1,06 - Demais serviços ........................................................................... - - - - 30,31

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. (1) Estimativas preliminares.

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16 Maria Conceição Schettert

Tabela A.4

Índice de volume do Valor Adicionado Bruto, por setores de atividade, e do Produto Interno Bruto do Rio Grande do Sul — 2002-07

SETORES 2002 2003 2004 2005 2006 (1) 2007 (1)

Produto Interno Bruto ............................................................... 100,00 101,66 105,12 102,21 104,98 112,33 Valor Adicionado Bruto total .................................................... 100,00 101,80 104,91 101,77 104,53 111,84 Agropecuária ............................................................................. 100,00 116,44 104,10 86,01 103,16 122,93 Agricultura, silvicultura e exploração florestal ............................. 100,00 123,85 106,93 79,90 - - Pecuária e pesca ......................................................................... 100,00 97,73 97,31 100,50 - - Indústria ....................................................................................... 100,00 100,89 107,82 103,39 102,69 110,09 Indústria extrativa mineral ........................................................... 100,00 102,12 104,24 106,70 - - Indústria de transformação ...................................................... 100,00 101,04 108,08 102,45 100,07 107,95 Construção civil ........................................................................... 100,00 100,09 107,75 107,38 114,44 120,99 Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana ............................................................................ 100,00 100,66 105,98 105,55 107,02 111,50 Serviços ...................................................................................... 100,00 99,85 104,03 104,28 106,78 112,38 Comércio e serviços de manutenção e reparação ...................... 100,00 99,07 106,64 104,27 107,78 115,84 Serviços de alojamento e alimentação ........................................ 100,00 104,38 107,72 112,04 - - Transportes, armazenagem e correio ......................................... 100,00 98,42 101,45 104,56 109,47 115,20 Serviços de informação ............................................................... 100,00 106,53 116,93 120,89 - -

Intermediação financeira, seguros e previdência complementar 100,00 96,18 97,58 95,56 - - Serviços prestados às famílias e associativos ............................ 100,00 89,49 93,26 79,40 - - Serviços prestados às empresas ................................................ 100,00 100,40 104,65 103,90 - - Atividades imobiliárias e aluguel ................................................. 100,00 103,03 106,32 110,19 - - Administração, saúde e educação públicas ................................ 100,00 101,18 104,12 105,25 106,40 108,37 Saúde e educação mercantis ...................................................... 100,00 99,37 101,08 103,86 - - Serviços domésticos .................................................................... 100,00 97,73 97,79 102,59 - -

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. (1) Estimativas preliminares.

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17O desempenho da economia gaúcha em 2007

Tabela A.5 Taxas de crescimento do Valor Adicionado Bruto, por setores de atividade, e do

Produto Interno Bruto do Rio Grande do Sul — 2003-07 (%)

SETORES 2003 2004 2005 2006 (1) 2007 (1)

Produto Interno Bruto ................................................................. 1,7 3,4 -2,8 2,7 7,0 Valor Adicionado Bruto total ...................................................... 1,8 3,1 -3,0 2,7 7,0 Agropecuária ................................................................................ 16,4 -10,6 -17,4 19,9 19,2 Agricultura, silvicultura e exploração florestal ................................ 23,9 -13,7 -25,3 - - Pecuária e pesca ........................................................................... -2,3 -0,4 3,3 - - Indústria ........................................................................................ 0,9 6,9 -4,1 -0,7 7,2 Indústria extrativa mineral .............................................................. 2,1 2,1 2,4 - - Indústria de transformação ............................................................ 1,0 7,0 -5,2 -2,3 7,9 Construção civil .............................................................................. 0,1 7,7 -0,3 6,6 5,7 Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana ............................................................................ 0,7 5,3 -0,4 1,4 4,2 Serviços ........................................................................................ -0,2 4,2 0,2 2,4 5,2 Comércio e serviços de manutenção e reparação ........................ -0,9 7,6 -2,2 3,4 7,5 Serviços de alojamento e alimentação .......................................... 4,4 3,2 4,0 - - Transportes, armazenagem e correio ............................................ -1,6 3,1 3,1 4,7 5,2 Serviços de informação ................................................................. 6,5 9,8 3,4 - - Intermediação financeira, seguros e previdência complementar ... -3,8 1,5 -2,1 - - Serviços prestados às famílias e associativos ............................... -10,5 4,2 -14,9 - - Serviços prestados às empresas ................................................... 0,4 4,2 -0,7 - - Atividades imobiliárias e aluguel .................................................... 3,0 3,2 3,6 - - Administração, saúde e educação públicas ................................... 1,2 2,9 1,1 1,1 1,9 Saúde e educação mercantis ........................................................ -0,6 1,7 2,8 - - Serviços domésticos ...................................................................... -2,3 0,1 4,9 - -

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. (1) Estimativas preliminares.

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18 Maria Conceição Schettert

Tabela A.6

Deflator implícito do Valor Adicionado Bruto, por setores de atividade, e do Produto Interno Bruto do Rio Grande do Sul — 2002-07

SETORES 2002 2003 2004 2005 2006 (1) 2007 (1)

Produto Interno Bruto ............................................................... 100,00 116,15 124,30 133,88 140,43 147,87 Valor Adicionado Bruto total .................................................... 100,00 116,09 124,01 132,29 138,76 146,11 Agropecuária ............................................................................. 100,00 129,50 131,74 110,26 119,07 103,35 Agricultura, silvicultura e exploração florestal ............................. 100,00 130,59 129,50 95,42 - - Pecuária e pesca ......................................................................... 100,00 126,00 137,49 141,08 - - Indústria ..................................................................................... 100,00 117,81 135,71 140,79 146,65 146,66 Indústria extrativa mineral ........................................................... 100,00 132,12 158,35 175,18 - - Indústria de transformação .......................................................... 100,00 120,21 136,59 139,44 144,65 144,65 Construção civil ........................................................................... 100,00 107,70 132,95 150,03 155,62 155,63 Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana ............................................................................ 100,00 110,71 129,97 134,18 145,91 145,91 Serviços ...................................................................................... 100,00 112,77 116,92 130,55 136,85 145,44 Comércio e serviços de manutenção e reparação ...................... 100,00 123,90 126,10 134,95 134,55 143,00 Serviços de alojamento e alimentação ........................................ 100,00 89,26 107,65 106,42 - - Transportes, armazenagem e correio ......................................... 100,00 103,86 113,42 132,63 137,02 145,63 Serviços de informação ............................................................... 100,00 97,79 118,54 120,46 - - Intermediação financeira, seguros e previdência complementar 100,00 99,96 96,92 130,45 - - Serviços prestados às famílias e associativos ............................ 100,00 123,62 121,91 171,57 - - Serviços prestados às empresas ................................................ 100,00 141,48 133,89 168,51 - - Atividades imobiliárias e aluguel ................................................. 100,00 105,89 108,10 115,05 - - Administração, saúde e educação públicas ................................ 100,00 120,05 123,81 134,85 146,07 155,24 Saúde e educação mercantis ...................................................... 100,00 98,25 110,99 110,10 - - Serviços domésticos .................................................................... 100,00 113,97 123,28 133,71 - -

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. (1) Estimativas preliminares.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 7-20, 2008

19O desempenho da economia gaúcha em 2007

Tabela A.7

Produto Interno Bruto e deflator implícito do Rio Grande do Sul — 2002-07

ANOS

VALORES CORRENTES (R$ milhão)

ÍNDICE DE VOLUME (1)

VARIAÇÃO % DEFLATOR IMPLÍCITO (1)

VARIAÇÃO %

2002 105 487 100,00 - 100,00 - 2003 124 551 101,66 1,7 116,15 16,1 2004 137 831 105,12 3,4 124,30 7,0 2005 144 344 102,21 -2,8 133,88 7,7 2006 (2) 155 511 104,98 2,7 140,43 4,9 2007 (2) 175 209 112,33 7,0 147,87 5,3

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. (1) Os dados têm como base 2002 = 100. (2) Estimativas preliminares.

Referências

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria eComércio Exterior — MDIC. Disponível em:<http://www.mdic.gov.br/sitio>. Acesso em: jan. 2008.

CARTA DE CONJUNTURA. Brasília: IPEA, dez. 2007.

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICASIEGFRIED EMANUEL HEUSER — FEE. Dispo-nível em: <http://www.fee.rs.gov.br>. Acesso em: jan.2008.

IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Aces-so em: dez. 2007 e jan. 2008.

IBGE. Pesquisa Mensal de Emprego. Taxa de desocu-pação cai em novembro e atinge o menor valor dasérie histórica da pesquisa . Disponível em:<http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: jan. 2008a.

Tabela A.8

Produto Interno Bruto per capita do Rio Grande do Sul — 2002 e 2007

ANOS VALORES CORRENTES (R$)

ÍNDICE DE VOLUME (1)

VARIAÇÃO (%)

2002 10 057 100,00 -

2003 11 742 100,52 0,5

2004 12 850 102,79 2,3

2005 13 310 98,85 -3,8

2006 (2) 14 185 100,44 1,6

2007 (2) 15 813 106,33 5,9

FONTE: FEE/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade Social. IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Contas Nacionais. (1) Os dados têm como base 2002 = 100. (2) Estimativas preliminares.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 7-20, 2008

20 Maria Conceição Schettert

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21Setor externo da economia brasileira: mudança de rumos?

PPPPPolítica econômicaolítica econômicaolítica econômicaolítica econômicaolítica econômica

Setor externo da economia brasileira:

mudança de rumos?*

André Luís Forti Scherer** Economista, Técnico do NEPE-FEE e Professor do Departamento de Economia da FACE-PUCRS

A economia brasileira tem apresentado algunsdesenvolvimentos surpreendentes e, até mesmo, inéditosa partir de meados da corrente década. A aceleração docrescimento — embora este ainda se apresente moderadoem termos absolutos —, concomitantemente ao controleda inflação, conforma uma situação nova nos últimos 30anos. Quando se acrescenta a existência de superávitscontinuados e, há até bem pouco tempo, crescentes emtransações correntes, essa conjuntura virtuosa torna-seinédita na história econômica do País. E mais, grandeparte do ajuste citado deu-se com apreciação cambial,ou seja, sem que se possa falar em melhorias “artificiais”nas relações entre os preços internos e os externos.

No ano de 2007, os três fatores anteriormenteapontados tomaram direções contraditórias. Enquanto ocrescimento do produto, até então o elo mais fraco dacadeia, se mostrou mais acelerado, a inflação e oequilíbrio da conta de transações correntes do balançode pagamentos apresentaram desempenho inferior àqueleobtido em 2006. Também em meados do ano, tornou-seevidente a eclosão de uma crise econômico-financeirana principal economia capitalista, os Estados Unidos,com potencial de duração prolongada e profundidade aindadesconhecida, o que turva um cenário externo que seapresentou tranqüilo nos últimos cinco anos.

Este artigo busca entender até que ponto a inflexãonas contas correntes brasileiras, esboçada no segundosemestre de 2007, pode vir a se constituir em mudançae tendência a partir de 2008. Caso isso ocorra, estaráameaçada a sustentação de um ritmo de crescimento

econômico mais elevado, como tantas vezes ocorreu nopassado. Para tanto, em um primeiro momento, analisam--se as forças que permitiram o ajustamento externobrasileiro a partir de 1999/2000, para, posteriormente,passar-se às mudanças observadas em 2007. Busca--se, assim, identificar até que ponto as mudanças jáobservadas tendem a se aprofundar nos próximos anos.Por último, analisam-se o cenário da economia mundialpara o ano de 2008 e as possibilidades de a crisefinanceira, ao se generalizar, solapar alguns dosfundamentos do ajuste externo brasileiro.

1 O ajuste externo brasilei- ro, a t axa de câmbio e o ambiente econômico internacional

O ajuste externo, que proporcionou elevados saldoscomerciais e, por extensão, a reversão do crônico déficitem transações correntes que afetou historicamente aeconomia brasileira, decorreu de três fatores princi-pais — a mudança do regime cambial, o crescimentoeconômico e o cenário econômico interrnacional — e podeser dividido em duas etapas.

Em um primeiro momento, houve a estabilizaçãodo déficit em transações correntes e a reversão dosdéficits comerciais no período que vai de 1999 até 2002.Esse primeiro sinal de melhoria em uma relação que seencontrava bastante deteriorada pela apreciação cambiale pelo elevado endividamento no período 1994-98 podeser atribuído principalmente à mudança do regime cambialem 1999 e à fraqueza da demanda interna. Esses doisfatores direcionaram os reduzidos investimentos

* Artigo recebido em 14 jan. 2008.

** E-mail: [email protected] O autor agradece ao colega Pedro Fernandes Cunha de Al- meida os estudos iniciais que possibilitaram a realização des- te trabalho, eximindo-o de eventuais erros nele contidos.

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22 André Luis Forti Scherer

realizados no período para o setor exportador, com adinamização da agroindústria, bem como balizaram osesforços das empresas já instaladas na busca de umamaior participação no mercado externo. Tratou-se de ummomento de ajuste externo “clássico”, onde a mudançanos preços relativos internos e externos trazidos peladesvalorização cambial e a forte condução da políticamonetária — no Brasil, poder-se-ia dizer fortíssima —direcionaram os investimentos e os esforços dasempresas para o mercado externo, ao mesmo tempo emque as importações foram contidas pela baixa demandae pelo pequeno volume dos investimentos. No queconcerne aos fluxos de capitais, o período é marcadopela redução da entrada de capitais de portfolio,parcialmente compensado até o ano 2000 pelaintensificação das privatizações (investimentos diretos).O subproduto é o pequeno crescimento econômico, oque, de fato, se verificou no período em análise, semque o avanço nas contas externas tenha impedido aeclosão de nova crise cambial em 2002.

Nesse período, observa-se uma melhora progres-siva nos indicadores de vulnerabilidade externa, sem,contudo, permitir, ainda, vislumbrar a possibilidade deafastamento completo da possibilidade de crise cambial,ou seja, essa melhoria é tímida e apresenta limites parasua continuidade. O reduzido crescimento que caracterizaessa etapa do ajuste não permite falar em estabilidadeeconômica, embora fique evidente o impacto desse fracodesempenho para a melhoria das contas externas atéentão obtida.

Um segundo momento, bastante distinto, iniciou--se em 2003 e perdura até 2007. Nesse período, oambiente econômico internacional modificou-se de formapeculiar, com uma mudança nos termos de intercâmbiofavorável aos países exportadores de produtos básicos.Essa modificação é decorrente, principalmente, do maiorcrescimento econômico mundial, tendo como elementosdinamizadores a dupla EUA-China. Ao mesmo tempo, omercado financeiro apresentou-se em momento deexcepcional liquidez e reduzidas taxas de juros, comabundância de crédito, inclusive para países queapresentavam anteriormente maior risco, dada aescassez de oportunidades lucrativas apresentadas aosgestores de fundos dos países desenvolvidos. Issopropiciou à economia brasileira a chance de, mesmo comapreciação cambial expressiva, consolidar um crescentesaldo em transações correntes e reduzir significativa-mente os indicadores de vulnerabilidade externa, aomesmo tempo em que aumentava o ritmo do crescimento

econômico a partir de 2004.1 Não se pode esquecer quea apreciação cambial foi importante para a redução dataxa de inflação, possibilitando a queda posterior dosjuros nominais, concorrendo para o aumento do créditoque caracteriza o atual ciclo de crescimento da economianacional.

Ou seja, o cenário externo favorável permitiu oaprofundamento do ajuste externo e o acúmulo dereservas mesmo em um contexto de grande valorizaçãocambial e de aceleração do crescimento econômico, como setor externo deixando de ser um empecilho para aelevação do consumo interno e do investimento, o quecaracterizaria uma economia bem mais “estável” do pontode vista de suas relações macroeconômicas.

A evolução do comportamento de duas das variá-veis centrais — a taxa de câmbio e a balança comer-cial — para a compreensão da análise proposta, em linhasgerais, anteriormente, pode ser observada no Gráfico 1.Fica claro que, a partir de meados de 2002, o comporta-mento do saldo comercial, que antes respondia em suatendência aos estímulos advindos da variação cambial(aqui medida em sua taxa efetiva, que agrega aponderação da variação cambial dos 15 principais paísesimportadores de produtos brasileiros, deflacionada peloÍndice de Preços no Atacado), passa a evoluir de modocontraditório ao comportamento do câmbio, em especialno triênio 2004-06. O ajuste externo pôde, assim,consolidar-se com a redução dos indicadores devulnerabilidade externa nesse período. Também é possívelnotar que a convergência entre essas variáveis começaa se restabelecer em meados de 2007, o que seráanalisado posteriormente.

É necessário reconhecer a existência dedefasagens temporais entre as variações do câmbio e ocomportamento do comércio internacional. Entretanto operíodo de tempo decorrido evidencia que adesvalorização causada pela crise de 2002, emborapossa ter influenciado o desempenho em 2003, não éresponsável pela evolução extremamente favorável do

1 O ano de 2005 merece um tratamento peculiar, pois o fracodesempenho da economia brasileira pode ser inteiramenteatribuído ao injustificado aumento das taxas de juros promovidoem 2004, o qual apreciou significativamente o câmbio e abortouo incipiente crescimento nos investimentos que então seesboçava. É importante ressaltar que esse aumento se deu emmomento excepcional para a economia mundial, sem ameaçade crise externa, o que o torna ainda mais injustificável.

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23Setor externo da economia brasileira: mudança de rumos?

saldo comercial após 2004, em um contexto devalorização cambial. O Gráfico 2 mostra que o PIBmundial passou por uma evolução favorável após 2003e que esse desempenho foi particularmente influenciadopelo crescimento dos países em desenvolvimento.

O bom desempenho da economia mundial dá-seem um ambiente caracterizado pela tranqüilidadefinanceira, tendo como eixo dinâmico as relações entreas economias dos EUA e da China. Essa relação écaracterizada pelo aprofundamento dos chamados“desequilíbrios globais”, onde a economia norte--americana possui elevadíssimos déficits em transaçõescorrentes, os quais correspondem ao aumento dasreservas oficiais dos principais países exportadores, comdestaque para a China. Ao manterem essas reservasdenominadas em dólar, os governos desses paísesdesempenham papel essencial para a continuidade dofinanciamento de tais déficits, sem gerar tensões maiores,que poderiam comprometer a evolução da economianorte-americana e a continuidade do ciclo expansivo.

Essas relações e suas conseqüências são bastantecomplexas para serem exploradas neste artigo, cabendosalientar que, nesse jogo, a economia chinesadesempenha um papel de primeira ordem de importância.O dinamismo da economia mundial, dos países emdesenvolvimento em especial, passa pelo aumento danecessidade de importações de parte da economiachinesa. Essa evolução pode ser vista no Gráfico 3.

Decorrente da própria expansão econômica(crescimento médio superior a 10% ao ano ao longo dosúltimos 20 anos, sem dar sinais de arrefecimento até omomento), bem como das mudanças institucionaisocorridas a partir dos compromissos assumidos nosacordos que garantiram a entrada do País na OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC), as importações chinesas,em especial de alimentos e de matérias-primas de origemnatural, têm modificado os termos de intercâmbiomundiais em direção não tradicional, ou seja, com umaelevação dos preços das commodities vis-à-vis aospreços dos produtos manufaturados. A Tabela 1 mostraque, entre 2002 e 2006, o preço dos produtos básicosvariou 88,8%, com destaque para os preços dos mineraise dos metais, que chegou a 219,9%. Enquanto isso, nomesmo período, o preço internacional das manufaturascresceu apenas 25,3%, consolidando o adágio de que,no século XXI, os produtos que a China exporta têmseus preços estáveis ou cadentes, enquanto os produtosque o País importa têm seus preços fortementeaumentados. Também é interessante notar que o ano de2006 apresentou um forte crescimento dos preços das

commodities, indicando que, mantido o cenário externo,o ciclo de elevação pode estar ainda longe do esgota-mento. Isso, de certo modo, vem sendo corroborado pelosconstantes aumentos na cotação do petróleo, que, noinício de 2008, atingiu, pela primeira vez, a marca deUS$ 100,00 o barril, com apostas realizadas no mercadofuturo de que o produto poderá dobrar esse valor ao longodo ano.2

2 Um indicador de como essa realidade influencia a balançacomercial brasileira pode ser visto no fato de que, até novembrode 2007, os preços dos produtos exportados cresceram 9,8%,enquanto as quantidades exportadas se elevaram 6,5% ao longodo ano. Já para as importações, a situação é oposta, com ospreços aumentando 5,8%; e as quantidades, 23,3% (B. Com.Ext., 2007).

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Saldo da balança comercial Taxa de câmbio efetiva real (IPA-DI)

(US$ milhões) Índice

Gráfico 1

Legenda:

FONTE: Bacen. NOTA: A taxa de câmbio efetiva real é medida no eixo à direita e tem por base jun./94 = 100, utilizando-se como deflator o Índice de Preços no Atacado-Disponibilidade Interna (IPA-DI).

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Saldo da balança comercial e taxa de câmbio efetiva real do Brasil — jan./94-nov./07

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Mundo Países desenvolvidos Países em desenvolvimento Brasil

Crescimento mundial do PIB — 1991-07(%)

Gráfico 2

Legenda:

FONTE: UNCTAD. NOTA: Os dados de 2007 são estimativas.

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Mundo Países desenvolvidos Países em desenvolvimento China

Variação percentual anual do crescimento das importações mundiais — 2001-06

Gráfico 3

(%)

Legenda:

FONTE: UNCTAD.

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2 O que mudou nas cont as externas em 2007?

O ano de 2007 trouxe mudanças, que, se nãoreverteram ainda os ganhos obtidos anteriormente — asprojeções indicam um saldo em transações correntespositivo em 2007, sendo que, até novembro, o acumuladodo ano apresentava um superávit de US$ 4,7 bilhões(0,4% do PIB) —, apontam desde já a possibilidade davolta dos déficits correntes em 2008.3

Essa possibilidade tornou-se clara ao longo de 2007,notadamente no segundo semestre desse ano. Como sepode observar no Gráfico 4, a queda no saldo correntedecorre tanto de um saldo comercial inferior àquele de2006, uma vez que o avanço das importações tem,sistematicamente, superado o crescimento dasexportações, quanto do aumento nos déficits em serviçose rendas. Assim, o superávit comercial acumulado entrejaneiro e novembro de 2007 (US$ 36.404 milhões)apresentou redução de 12,08% frente ao mesmo períodode 2006, enquanto o déficit em serviços e rendas (US$35.775 milhões) apresentou expansão de 11,2%. Como

resultado, o superávit em transações correntesacumulado no período caiu 68,77%, quebrando atendência de acréscimos constantes presente após 2003.

Esse resultado relativamente pior do superávit emtransações correntes em 2007 foi compensado por umdesempenho excepcional da conta financeira, comentrada líquida de capitais superior aos US$ 84 bilhõesentre janeiro e novembro de 2007. Tanto as entradaslíquidas de investimentos diretos quanto as entradas deinvestimento em carteira apresentaram-se excepcional-mente dinâmicas em 2007, o que permitiu ao Paíscontinuar acumulando reservas em ritmo record ao longodo ano. Os indicadores de endividamento externoprosseguiram sua trajetória de melhoria acentuada, comas reservas representando 90,2% da dívida total emnovembro de 2007 frente a 22,9% em 2003.

Pode-se, assim, notar que a trajetória do ajusteexterno não foi interrompida em 2007. No entanto, nota--se claramente que o grau de apreciação cambial,concomitantemente ao avanço da demanda e dosinvestimentos que caracterizaram 2007, começa a pesarsobre as contas externas, revertendo o saldo emtransações correntes.4 Essa evolução advém tanto da

Tabela 1

Variação do preço das commodities no mundo — 2001-06

(% a.a.)

GRUPO DE COMMODITIES 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2002-06

Total .......................................................... -3,6 0,8 8,1 19,4 12,2 30,4 88,8

Comida e bebida tropicais ......................... 0,4 0,4 2,3 13,2 8,8 17,8 48,4

Soja ........................................................... -7,5 8,6 24,1 16,1 -10,4 -2,2 26,3

Insumos agrícolas ...................................... -3,9 -2,4 19,8 9,9 7,2 15,0 62,3

Minerais e metais ....................................... -10,8 -2,7 12,4 40,7 26,2 60,3 219,9

Ferro ....................................................... 4,5 -1,1 8,5 17,4 71,5 19,0 160,0

Cobre ...................................................... -13,0 -1,2 14,1 61,0 28,4 82,7 331,1

Manufaturas (1) ........................................ -2,1 0,7 9,2 8,3 2,5 3,3 25,3

FONTE: UNCTAD. Trade and development report (TDR): regional cooperation for development, Genebra, 2007. Disponível em: <www.unctad.org>. Acesso em: 09 jan. 2008.

(1) Dado inserido a título de comparação.

3 As projeções quanto à amplitude desse déficit vão desde osUS$ 3,5 bilhões admitidos em dezembro pelo Banco Central atéos US$ 9 bilhões esperados por economistas ligados ao mercadofinanceiro.

4 É importante levar-se em conta que a Funcex salienta que osmelhores desempenhos, no ano de 2007, dentre as categoriasde produtos de exportação e de importação, foram,respectivamente, os dos produtos básicos e os dos bens deconsumo duráveis (B. Com. Ext., 2007).

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27Setor externo da economia brasileira: mudança de rumos?

balança comercial quanto do avanço na remessa derendas, os dois fatores relacionados ao nível do câmbioe às possibilidades abertas pelo crescimento econômico.No ano de 2007, essa incipiente deterioração, que seacelerou, mês a mês, ao longo do segundo semestre, foiplenamente compensada pelo avanço dos investimentosdiretos (impulsionados pelas perspectivas de maiorcrescimento econômico e pelo avanço das aquisiçõesde empresas com participação dos fundos de privateequity) e pelos investimentos em carteira (impulsionadospelos juros relativamente elevados frente aos padrões

internacionais, pelo desempenho da bolsa de valores epela perspectiva de valorização cambial). Sem essedesempenho na conta financeira, o acúmulo de reservasna proporção verificada ao longo de 2007 não seriapossível, o que torna as perspectivas para 2008 — dadoque a projeção de déficit em transações correntes parece,neste início do ano, um cenário praticamente irreversí-vel — mais dependentes da continuidade do cenáriointernacional benigno verificado ao longo dos últimos anos.Isso remete a uma análise da crise de crédito que eclodiunos EUA, ao longo do segundo semestre de 2007.

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Saldo das transações correntes em 2006 Saldo das transações correntes em 2007

Saldo da balança comercial em 2006 Saldo da balança comercial em 2007

Serviços + rendas em 2006 Serviços + rendas em 2007

Evolução do saldo em transações correntes do Brasil — jan.-nov./06 e jan.-nov./07

(US$ milhões)

Legenda:

FONTE: Bacen.

Gráfico 4

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3 As mudanças no cenário externo em 2007: a evolu- ção da crise de crédito global e suas repercus- sões potenciais 5

A crise que abalou as bolsas norte-americanas em2000/2001 (notadamente a Bolsa Nasdaq, especializadaem empresas voltadas à alta tecnologia) foi superada apartir de grandes reduções nas taxas de juros daquelepaís, orquestradas pelo então “maestro” Alan Greenspan,chairman do Federal Reserve (FED), o Banco Centraldos EUA. Isso incitou, de parte das famílias, umaretomada em seu endividamento. Com a confiança nasbolsas de valores abalada pelas recentes perdas, osnovos empréstimos direcionaram-se especialmente aosetor imobiliário, o que elevou os preços dos imóveis. Namedida em que esses preços aumentaram, foi possívelàs famílias refinanciar esses empréstimos e tomar maisrecursos, tendo como contrapartida seus imóveis,destinando parte desses recursos ao consumo em geral,o que possibilitou uma nova rodada de crescimento,baseada na elevação da demanda sustentada pelaexpansão do crédito.

Com o passar do tempo, com os preços dos imóveisem elevação, as exigências para concessão de créditoforam relaxadas, ao mesmo tempo em que se criaramnovos “produtos”, com facilidades iniciais de pagamentoaos tomadores de empréstimos, que se constituem emverdadeiras “bombas-relógio”, com contratos quecontemplam a abrupta possibilidade de elevação nospreços das prestações, passado um prazo de carênciainicial (geralmente, entre dois e cinco anos da assinaturado contrato). Esses contratos são revendidos aos bancos,que conformam com eles novos títulos, denominadosAsset Backed Securities (ABSs), ou Mortgage BackedSecurities (MBSs), para serem novamente revendidosaos fundos e aos bancos de investimento. Os bancos deinvestimento misturam esses títulos vendidos pelosbancos comerciais a outros ABSs originados dasecuritização de dívidas de cartões de crédito, dofinanciamento do mercado automobilístico e do

financiamento de imóveis comerciais (dentre outraspossibilidades), criando um novo papel, denominadoCollateralized Debt Obligation (CDO).6 Os CDOs, por suavez, foram revendidos aos fundos do mundo todo, com a“benção” das agências de notação, que garantiram a notade crédito AAA para muitos desses papéis constituídosa partir de papéis de notação inferior. Esses fundos, muitasvezes, tomam novos empréstimos, dando como garantiatais papéis. Pode-se notar que esses aplicadores estãobastante distantes dos compradores dos imóveis quederam origem ao primeiro contrato de hipoteca, o quepossibilita comportamentos “agressivos” quanto ao riscode todos os envolvidos nessa cascata de títulos.

Com o declínio no preço dos imóveis a partir de2006 e o aumento da inadimplência nas hipotecas, todoo ciclo reverte-se. O valor dos títulos emitidos a partirdas hipotecas (MBSs e CDOs) cai abruptamente, umavez que o fluxo de pagamentos gerado por essesempréstimos se torna mais instável. As perdasacumulam-se, e “pipocam” casos de falência de fundose problemas bancários em várias partes do mundo(Alemanha, Inglaterra, França, Canadá, Nova Zelândia,Austrália, etc.). Fica claro o comportamento irresponsávele ganancioso das agências de notação ao certificar a“segurança” dos títulos emitidos a partir da revenda dashipotecas. Os mercados monetários fecham-se, os jurosde curto prazo sobem, e os bancos passam a desconfiaruns dos outros, evitando a concessão de empréstimosentre si.

Para evitar o colapso, resta apenas a intervençãoestatal, seja a partir de empréstimos dos bancos centrais,aceitando como garantia os títulos podres a preçossuperavaliados, seja a partir de fundos “soberanos”pertencentes a países emergentes — Sovereign WealthFunds (SWFs7) —, criados para garantir uma maiorremuneração ao imenso volume de reservas que seconstitui a partir da elevação do preço das commoditiese da ampliação dos déficits comerciais norte-americanos.

Em novembro/dezembro, ocorreu uma nova rodadada crise de crédito, com os bancos tendo que administrara volta ao seu balanço de CDOs, dantes alocados emVeículos de Propósito Especial — dentre os quais,

5 Esta seção se inspira, revisa e atualiza parcialmente Scherer(2007). Para uma explicação mais detalhada quanto aofuncionamento das instituições e dos instrumentos financeirosenvolvidos na crise de crédito, ver Capone (2008).

6 O processo de securitização não pára por aí, com a criação deCDOs originados em CDOs, os chamados CDOs Square, euma miríade de outros “produtos financeiros”.

7 Os fundos soberanos (SWFs) administram cerca de US$ 3trilhões e pertencem, sobretudo, a países exportadores depetróleo (Arábia Saudita, Kwait, Emirados Árabes Unidos,Noruega, dentre outros) e aos países asiáticos com elevadonível de reservas, como China, Hong Kong e Cingapura.

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29Setor externo da economia brasileira: mudança de rumos?

destacam-se os Structured Investment Vehicles(SIVs) —, constituídos com o objetivo de “exportar” aspartes mais arriscadas dos CDOs para entidades parale-las, fora dos balanços dos bancos. Assim, os bancoscomerciais criaram SIVs tomando recursos nos mercadosde curto e médio prazos — basicamente, através davenda de Asset Backed Commercial Papers (ABCPs) afundos monetários — a juros mais baixos, investindo-osem CDOs, de prazo mais longo e maior rendimento,colocando em risco mercados monetários essenciais parao dia-a-dia financeiro das empresas produtivas. Ao sentira possibilidade de default, o mercado de ABCPs colapsou,abandonado pelos fundos que demandavam esses títulos,caindo de US$ 1,2 trilhão para pouco mais de US$ 700bilhões entre agosto e dezembro de 2007, obrigando osbancos a desmontarem grande parte dos SIVs e aincorporarem o prejuízo em seus balanços, em umprocesso que se encontra em andamento neste início de2008. Os mecanismos de funcionamento dos SIVs e seupotencial deletério sobre o balanço dos bancosencontram-se descritos na Figura 1.

O prejuízo causado pelo retorno dos ativos de menorqualidade ao balanço dos bancos justifica a intervençãoconjunta dos bancos centrais norte-americano, inglês eeuropeu a partir de dezembro de 2007, na tentativa dedar a liquidez necessária para a volta à normalidade dosdiversos mercados. Mas a confiança está quebrada; acrise imobiliária norte-americana, apenas em seu início;existe uma desconfiança generalizada quanto aosinstrumentos que possibilitaram o desenvolvimento domercado de crédito nos últimos anos e sua regulação,entregue principalmente às agências de rating.

Pior, os bancos centrais não conseguem alcançartodos os integrantes do sistema. Com atuação e riscossimilares aos bancos em sua essência, criou-se umamiríade de shadow banks na forma de fundos hedge, deSIVs e de outras entidades que não podem ser socorridaspelos bancos centrais, pois não se encontram sob suajurisdição regulatória. Ora, não se conhecem as reservasdessas instituições, sabe-se apenas que elas foramconstituídas para operar de modo ultra-alavancado, ouseja, com um mínimo de capital em caixa e empréstimosque perfazem um múltiplo desse capital. Isso introduzuma desconfiança generalizada no sistema, pois éimpossível saber-se com certeza quais instituições estãoenvolvidas e em que montantes, tendendo, assim, ahaver um congelamento das relações interbancárias.

Isso introduz um elemento de ineficácia insuperávelàs intervenções dos bancos centrais. Os mais de US$500 bilhões já colocados à disposição dos bancos pelosbancos centrais aliviam, mas não solucionam, o proble-

ma. E cada writedown de ativos, nos quais os bancossão forçados a assumir prejuízos crescentes, força-os a“passar o pires” pelo mundo, em busca de novos recursosjunto aos SWFs dos países emergentes “superlíquidos”.

O início de 2008 parece marcar a entrada do cenárioeconômico em conjunção com a turbulência financeira,tornando ainda mais complexo um quadro já bastantedeteriorado. Os indicadores de final de ano tornam ocenário recessivo praticamente inevitável nos EUA, em2008. Sem falar no agora depressivo mercado imobiliário,as baixas vendas de Natal e de automóveis, a queda naconfiança do consumidor, a redução no volume de cargase encomendas e o aumento do desemprego — o qualatingiu a marca de 5% — são alguns dos indicadoresque levaram a um “choque de realidade” no sentimentopredominante naquele país.

Resta determinar o tamanho e a duração da recessãoe suas possíveis interações com o mercado financeiro.Estimativas quanto aos prejuízos financeiros são muitas,variadas e têm sido sistematicamente revisadas paracima, ao longo dos últimos seis meses. Apenas comtítulos originados no mercado imobiliário (prime esubprime), estimam-se perdas entre US$ 500 bilhões eUS$ 1 trilhão, dependendo do tamanho e da velocidadeda queda nos preços dos imóveis (as estimativas sãode uma queda entre 25% e 40% nos preços dos imóveis,frente ao seu pico em 2006).

A isso podem-se somar perdas causadas pelasecuritização de ativos e o aumento da inadimplêncianos mercados de imóveis comerciais, financiamentosde automóveis e inadimplência de dívidas com cartõesde crédito. A possibilidade de default das empresas nopagamento de seus bônus também tem geradopreocupações, estimando-se que a volta a uma inadim-plência “normal” de parte das empresas em 2008 — em2006 e 2007, os volumes de não-pagamento dos jurosde parte das empresas estiveram bastante abaixo damédia histórica — trará prejuízos em torno de US$ 250bilhões adicionais, o que se pode multiplicar muitasvezes, no caso de os defaults assumirem proporçõesconsistentes com aquelas verificadas em outrasrecessões, como as de 1991 e de 2001, por exemplo.8

Para os propósitos deste artigo, focado exclusiva-mente nas repercussões que essas mudanças trarão

8 O Bank for International Settlements (BIS) estima em US$ 43trilhões o volume nacional de crédito envolvido em Credit DefaultSwaps (CDSs). Bill Gross, Presidente da Pacific InternationalManagement Company (Pimco), a maior administradora de títulosde renda fixa do mundo, estima, conjuntamente com outrosanalistas, ser este o mercado que pode ser a “bola da vez” em2008/2009. Ver, a esse respeito, Pimco (2008).

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30 André Luis Forti Scherer

sobre o cenário externo para a economia brasileira, éimportante admitir-se que se está envolvido em elevadograu de incerteza. O certo é que se passou de um cenáriofinanceiro marcado pela extrema liquidez e por elevadoendividamento dos operadores financeiros para umcenário de progressiva restrição ao crédito, marcado,sobretudo, pela falta de confiança e pela necessidade da“desalavancagem” forçada, que poderá deixar muitasinstituições pelo caminho.

Pelo lado econômico, a queda da atividade no Japãoe nos EUA já é uma realidade, com a confiança dosconsumidores na Europa deteriorando-se rapidamente.O comportamento da economia chinesa será determi-nante para os rumos das demais economias “emergentes”,não apenas em 2008, mas também em 2009. Ainda écedo para se conhecer o grau de abalo que a recessãonorte-americana poderá causar na economia chinesa. Écerto que a política econômica dos EUA tentará abreviarao máximo a queda na atividade, sendo, assim,esperadas novas quedas nas taxas de juros.

O cenário benigno aponta uma leve continuidadena depreciação do valor do dólar e a continuidade daexpansão no preço das commodities. No entanto, orecrudescimento da crise em dimensão global poderátrazer o fortalecimento do dólar em um processo de buscade segurança e forças depressivas que reduzam os

preços das commodities, cenário no qual sedesmancharia por completo o ambiente que tantocontribuiu para o bom desempenho externo da economiabrasileira a partir de 2004. Essa pode ser a resultante deum processo que envolva exacerbada demanda porliquidez, onde a busca do “retorno DO capital” tenda aprevalecer ante a busca pelo “retorno SOBRE o capital”.

Ainda é muito cedo para que se possa vislumbrarcom clareza quais forças irão prevalecer, mas é certoque se está diante de uma crise de virulência inédita nosúltimos 30 anos e que o Governo dos EUA se encontralimitado — dólar já bastante desvalorizado internacional-mente, elevado déficit fiscal e taxas de juros reaismoderadas — em suas opções para ultrapassar rapida-mente esse novo desafio. Infelizmente, as conseqüênciasde um eventual fracasso não ficarão restritas às fronteirasnorte-americanas. É impensável uma crise norte--americana que não se torne global no capitalismofinanceiro do início do século XXI, mas não deixa de serirônico ver os bancos de investimento norte-americanos,que sempre pregaram para empresas e países as virtudesda transparência, da alavancagem e das privatizações,serem salvos por fundos estatais oriundos de mercadosemergentes, em um contexto no qual a incrível opacidadede seus balanços impede outra solução.

Fundo vende CommercialPapers - curto prazo, taxa baixa

Investe em ativos de alto

rendimento - longo prazo

-Collateralised debt obligations-Mortgage - backed securities oriundas

de hipotecas subprime.

Saturação do Mercado

Aumento da percepção do risco

Fundo incapaz de refinanciaros Commercial Papers

Banco obrigado a buscarfundos.

Títulos de menor qualidade entramno balanço.

deterioração doBalanço

rating do bancose deteriora

Risco de "Corrida Bancária"

Aperto nas regras para conceder crédito

BANCO CENTRAL DÁLIQUIDEZ (REDESCONTO)

Banco

Fundo

Figura 1

Structured Investment Vehicles (SIVs), Collateralized Debt Obligation (CDOs)e a crise de crédito global

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31Setor externo da economia brasileira: mudança de rumos?

4 Considerações finaisEste artigo mostra que o ajuste externo brasileiro

foi promovido em duas etapas. A primeira foi tributáriada mudança de regime cambial e do pequeno crescimentoda economia brasileira, podendo ser compreendida comoum processo de “ajuste incompleto”, dada a lentidão naredução da vulnerabilidade externa, da qual é própriaexpressão a crise cambial de 2002. Já a segunda etapaapresentou a consolidação desse ajuste e decorreu daaceleração do crescimento econômico internacional, como aprofundamento da nova divisão internacional dotrabalho, liderada pela dupla EUA-China. Nessa segundafase, os indicadores de endividamento externo apresen-taram rápida e sensível melhoria, ao mesmo tempo emque o câmbio se valorizou, sendo o elemento marcantedessa nova etapa a consolidação de um consistente ecrescente superávit em transações correntes.

O ano de 2007 marcou uma inflexão nessa trajetóriado superávit corrente, seja pelo maior crescimento dasimportações frente ao avanço das exportações, seja peloprogressivo aumento dos déficits nas contas de serviçose de rendas. Essa situação piorou ao longo do ano, sendopossível especular que o nível elevado de valorizaçãocambial, conjuntamente com a elevação da demanda edo investimento promovidos pelo ritmo de crescimentomais acelerado, tenha levado a essa deterioração.Entretanto esse ano também marcou uma extraordináriaelevação das reservas cambiais do País, possibilitadopelo expressivo resultado da conta financeira. Maisimportante ainda, o principal pilar do expressivo resultadocorrente começou a se deteriorar. O ambiente externotende a não reproduzir, sob nenhuma forma, a calmariareinante a partir de 2003. A crise de crédito que atinge osEUA solapa todos os pilares que constituem o modernosistema financeiro que se constituiu a partir dos anos90, constituindo-se, por excelência, em uma crise daglobalização financeira e de sua regulação eminente-mente privada. O crescimento econômico mundialencontra-se ameaçado, sob a perspectiva do que pareceser uma inevitável recessão nos EUA, acompanhada deuma desaceleração do crescimento no Japão e na Europa.O comportamento da economia chinesa será, em grandeparte, determinante para a maior gravidade, ou não, dessaredução no ritmo de atividade da economia mundial.Também reina incerteza quanto ao avanço nos preçosdas commodities, essencial para o bom desempenho dosetor externo brasileiro após 2003.

Assim, apesar do elevado grau de incerteza aindareinante no cenário internacional, pode-se concluir que o

ciclo iniciado em 2003 deve ter se encerrado, ao menosna forma em que se apresentou em 2007. Asconseqüências dessa reversão dependerão daprofundidade e dos rumos da crise internacional. Umacrise de curta duração, que não abale a consolidação daChina como elo de transmissão da demanda dos paísescentrais aos demais países em desenvolvimento, pareceser a possibilidade mais positiva. Nesse caso, as reservasbrasileiras deverão ser mais do que suficientes frente àsnecessidades que se apresentarão, dado o curto prazode duração da dificuldade.

Entretanto não se pode descartar a prevalênciade forças deflacionistas e de uma recessão que abalede forma duradoura a demanda e o preço dascommodities. A redução nos preços dos ativos nos paísesdesenvolvidos poderá forçar uma liquidação das posiçõessuperavitárias mantidas, no País, pelas instituições emdificuldades, levando à reversão no fluxo de capitaisfinanceiros, tal qual se apresentou em 2006 e em 2007.Nesse caso, a continuidade do ritmo de crescimento daeconomia brasileira estará novamente ameaçada pelasrestrições externas que se colocarão, sendo ainda maisimportante a adoção de políticas que preservem asreservas já obtidas até o momento.

ReferênciasBANCO CENTRAL DO BRASIL — BACEN. Nota para aImprensa: setor externo. Brasília, 19 dez. 2007. Disponívelem: <http://www.bcb.gov.br/?ECOIMPEXT>. Acesso em:10 jan. 2008.

BOLETIM DE COMÉRCIO EXTERIOR. Rio de Janei-ro: Funcex, v. 11, n. 12, dez. 2007. Disponível em:<http://www.funcex.com.br/material/boletins/>. Acessoem: 10 jan. 2008.

CAPONE, Elisa Parisi. Structured finance glossar y:making sense of the alphabet soup, Jan 7, 2008.Disponível em: <www.rgemonitor.com>. Acesso em: 10jan. 2008.

PIMCO. Investment outlook: pyramids crumbling. Jan2008. Disponível em:<http://media.pimco-global.com/pdfs/pdf>. Acesso em:09 jan. 2008.

SCHERER, A. L. F. A crise de crédito global: uma criseda globalização financeira. Jornal Página 50 , ano 1, n.2, p. 6-7, out. 2007.

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32 André Luis Forti Scherer

UNCTAD. Trade and de velopment repor t (TDR): regionalcooperation for development, Genebra, 2007. Disponívelem: <www.unctad.org>. Acesso em: 09 jan. 2008.

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33Tempo de mudanças para a política monetária

Tempo de mudanças para a política monetária*

Edison Marques Moreira** Economista da FEE e Professor da PUCRS

Num momento em que a economia brasileiracaminha para encerrar 2007 com uma estimativa decrescimento em torno de 5,0%, com perspectiva demanter um ritmo aproximado em 2008, algunseconomistas começam a apontar a necessidade de oBanco Central (Bacen) interromper, por um longo período,ou mesmo reverter, o processo de flexibilização da taxaSelic em curso desde setembro de 2005. A razão, dentreoutras, seria o rápido estreitamente do hiato do produ-to — isto é, da diferença entre o crescimento efetivo doPIB e o seu crescimento potencial —, que estaria pondoem risco o cumprimento da meta de inflação em 2008 e2009. Por outro lado, há dificuldades em avaliar a extensãotemporal dessa situação, pelo fato de que a políticamonetária opera com defasagens, isto é, o efeito máximosobre a economia devido a mudanças na taxa de jurosbásica não ocorre imediatamente, face à existência demecanismo de transmissão da política monetária.

O objetivo deste texto é mostrar a importância dese considerarem o hiato do produto e o mecanismo detransmissão da política monetária na conjuntura atual decontrole da inflação. Para isso, é introduzida, inicialmente,a idéia de produto potencial, sendo, logo após, esclarecidoo mecanismo de transmissão da política monetária e, aseguir, analisada a situação atual dessa política. Porúltimo, são realizadas algumas Considerações finais .

1 O Produto Interno Bruto (PIB) potencial

O PIB potencial, usualmente, é definido como onível máximo de produção que uma economia poderiaalcançar, sem gerar pressões inflacionárias. Porconseguinte, trata-se de variável de importânciafundamental para o arcabouço que fundamenta aformulação, a análise e a avaliação da política monetária.Em geral, entretanto, o produto potencial é indiretamente

introduzido nesse arcabouço, isto é, por meio dasestimativas do hiato do produto. Nesse sentido, aofuncionar como indicador de flutuações econômicas, essehiato proporciona aos formuladores de política monetáriaa oportunidade de antecipar potenciais pressões dedemanda sobre os preços. Esse arcabouço analítico temsido utilizado pelos principais bancos centrais, e o BancoCentral do Brasil não é exceção. Muito simplificadamente,a oferta de uma economia deve crescer pari passu coma sua demanda, para que a inflação não se acelere. Aexpansão da oferta, portanto, é o determinante básicodo PIB potencial. E ela depende, como ensina a teoriaeconômica, da acumulação de fatores e do crescimentoda produtividade. Os fatores podem ser divididos emcapital humano, que é a força de trabalho e a suaqualidade, derivada principalmente da educação, e emcapital físico, que são as máquinas, os equipamentos ea infra-estrutura. A produtividade total dos fatores (PTF),o elemento residual da equação do PIB potencial, estáligada a itens como tecnologia e qualidade dasinstituições.

O crescimento do PIB potencial não é, comoparecem sugerir alguns críticos do Bacen, uma variávelque a autoridade monetária utiliza, de forma rígida eabsoluta, para regular a taxa de juros. Nessa visãosimplista, os membros do Comitê de Política Monetária(Copom) têm em mente um valor preciso do PIB potenciale, a cada vez que o ritmo da economia ameaçaultrapassá-lo, elevam a taxa básica de juros, a Selic,independentemente do que esteja acontecendo com ainflação, com as expectativas inflacionárias e com umasérie de outros indicadores da economia real.

Não é assim que o sistema funciona, a começarpelo fato de que o Banco Central sabe que estimar o PIBpotencial é, talvez, uma das questões mais complexase fugidias em Economia e que, portanto, se aterinflexivelmente a um determinado cálculo é uma receitacerta para cometer erros de política monetária — que,aliás, podem significar tanto uma recessão desnecessáriaquanto mais inflação. O sistema de metas de inflação,diga-se a propósito, ao usar instrumentos como asexpectativas inflacionárias e ao ter a própria inflaçãoacontecida como teste contínuo do acerto das decisõesde políticas monetárias passadas — sinalizando a

* Artigo recebido em 10 jan. 2008.

**E-mail: [email protected]

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34 Edison Marques Moreira

necessidade de mudanças, para cima ou para baixo, natrajetória do juro básico —, foi concebido para lidar coma grande incerteza que sempre cerca o PIB potencial.Na verdade, o PIB potencial e os conceitos delederivados, como o hiato do produto, são importantesvariáveis dos modelos econométricos que embasam —mas não automatizam — as decisões de políticamonetária no sistema de metas de inflação.

É importante esclarecer que, embora o conceito decrescimento potencial do PIB seja claro, a sua estimaçãoempírica padece de sérias limitações. Em primeiro lugar,ela tem de se basear em estimativas, sempre frágeis ediscutíveis, relativas à depreciação do estoque de capitale à produtividade total dos fatores — variável queincorpora ganhos de eficiência da economia como umtodo, bem como em choques de oferta (como quebrasde safra).

As estimativas do crescimento potencial tambémpadecem do problema conhecido como estimação em“tempo real”, associado aos fatos de que: (a) os dadosdo PIB somente são conhecidos cerca de 70 dias depoisde findo o trimestre de referência; (b) na nova metodologiadas contas nacionais, os números definitivos de umtrimestre somente são conhecidos quase dois anosdepois, podendo ser revistos várias vezes, nesse ínterim;e (c) os filtros econométricos utilizados na estimação doPIB potencial são altamente sensíveis à incorporaçãode novas observações, especialmente nos resultadosdo final da amostra (que são, justamente, os que maisinteressam à autoridade monetária). Não bastasse todasessas dificuldades para aquilatar o crescimento potencial“pelo retrovisor”, projetá-lo é uma tarefa ainda maiscomplicada.

Mesmo que esses problemas pudessem serignorados, é importante apontar que o PIB potencial édinâmico, alterando-se de acordo com a variação donúmero de pessoas ocupadas economicamente, doinvestimento e da produtividade.

Por outro lado, a dificuldade de se prever a extensãodo efeito de uma determinada medida de políticamonetária sobre o hiato do produto dá-se em função daexistência de mecanismos de transmissão da políticamonetária, que promovem uma maior ou menordefasagem no mecanismo.

O item 2 tem o objetivo de esclarecer a atuaçãodos mecanismos de transmissão da política monetária.

2 O mecanismo de trans- missão da política mone- tária

Com a determinação da taxa primária de juros, porum processo de arbitragem no mercado financeiro,determinam-se as taxas de prazo mais longo, em funçãodas quais são pautadas, notadamente, as decisões deinvestimento, poupança, produção e consumo de bensduráveis.

Ao definir a taxa Selic, o Banco Central influenciaindiretamente as taxas de médio e longo prazos, quetambém dependem de fatores fora de seu controle, comomargens de lucro na intermediação financeira, risco decrédito e expectativas quanto ao desempenho futuro daeconomia e quanto ao comportamento da própria taxaprimária, dentre outros.

Conseqüentemente, variações na taxa básicapropagam-se por toda a estrutura a termo da taxa dejuros, que é o conjunto das taxas de juros para todos osprazos praticados na economia.

Mas de que maneira a determinação da taxa Selicpelo Bacen impacta a taxa de inflação? Na realidade, apolítica monetária afeta a trajetória dos preços porintermédio de diferentes canais. Os principais são oproduto e/ou a atividade, a taxa de câmbio, o crédito, omercado de ativos em geral e as expectativas do rumoda economia. Cada canal tem seu tempo deprocessamento. A intensidade do efeito da políticamonetária também pode variar de acordo comdeterminados condicionantes institucionais. Por exemplo,em economias em que o crédito é parcela insignificantedo PIB, o canal de crédito é menos importante.

O mecanismo de transmissão da política monetáriaocorre da seguinte forma: variações na taxa Selic, aoafetarem as cinco variáveis citadas, influenciam asdecisões de investimento e de consumo de bens duráveise as exportações líquidas, que, por sua vez, afetam ademanda agregada e, por fim, o nível geral de preços.

O canal do produto é o canal mais tradicional e oque opera com maior defasagem. Variações na taxa dejuros alteram o ritmo de expansão econômica por meio,principalmente, da demanda agregada, afetando, comisso, a disposição de os agentes aumentarem ou

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35Tempo de mudanças para a política monetária

diminuírem preços. Esse canal também atua sobre o pro-cesso de negociação salarial, repercutindo, assim, aindaque indiretamente, sobre os custos das empresas. Areação do hiato do produto acontece inicialmente comum trimestre de defasagem em relação a variações dataxa de juros, e a primeira reação da inflação ao hiato doproduto, por sua vez, ocorre somente dois ou trêstrimestres depois da variação da taxa de juros. Issosignifica que a inflação corrente reflete, predominante-mente, decisões de política monetária tomadas há novemeses.

O canal da taxa de câmbio tende a operar commenos defasagem. Variações nessa taxa exercemimpacto sobre a inflação diretamente (ou por meio deefeitos primários) e indiretamente (ou pelos efeitossecundários). Os efeitos primários decorrem da influênciada taxa de câmbio sobre o comportamento do preço dosbens e serviços que fazem parte da composição do ÍndiceNacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA): benstransacionáveis com o exterior (notadamente ascommodities); serviços de energia elétrica; serviços detelefonia; e derivados de petróleo.

Os efeitos secundários sobre o IPCA surgem namedida em que muitos setores utilizam insumosimportados, bem como utilizam os serviços supramencio-nados e derivados de petróleo na produção de bens eserviços finais. Nesse caso, o canal da taxa de câmbiotende a operar mais rapidamente que o canal do produto,pois o primeiro afeta diretamente o custo das empresas.Com isso, as variações na taxa de câmbio tendem aafetar a inflação já no trimestre corrente ou no trimestreseguinte. Entretanto essa defasagem dependerá muitoda percepção dos agentes sobre quão persistente é avariação na taxa de câmbio. Por exemplo, se um aumento,ou uma diminuição, da taxa de câmbio for consideradotemporário, haverá menor incentivo para os agentes orepassarem aos preços. Isso pode gerar um comporta-mento de “aguardar para ver”, gerando, assim, uma maiordefasagem no mecanismo. Existem evidências tambémde que a rapidez do repasse cambial depende da posiçãoda economia no ciclo econômico. Isso significa, porexemplo, que uma depreciação cambial ocorrida emmomento de demanda aquecida tende a ter impacto maisrápido sobre os preços do que em períodos de atividadeeconômica moderada.

Enfim, no caso brasileiro, o canal de transmissãoda política monetária via taxa de câmbio é extremamenterelevante, quando há uma desvalorização cambial, poisum conjunto significativo de preços está, direta ouindiretamente, vinculado à taxa de câmbio, o que aumenta

ainda mais o potencial de repasse da elevação da taxade câmbio para os preços domésticos (passthrough). Por sua vez, variações na taxa Selic impactam ataxa de câmbio, notadamente ao influenciar o fluxo decapitais externos para o País. Assim, uma elevação dataxa Selic — ao tornar os títulos brasileiros relativamentemais rentáveis — tende a aumentar a entrada de capitaisde curto prazo, determinando uma valorização cambialque exerce uma pressão (direta e indireta) de baixa sobreo nível geral de preços.

O terceiro canal de transmissão da política mone-tária é o do crédito, que é definido na literatura comorelacionado aos efeitos do balanço patrimonial e do canalde empréstimos de bancos. Esse canal de crédito temmaior relevância nos países industrializados do que noBrasil, embora ele venha, ultimamente, aumentando deimportância no País, devido à expansão do volume decrédito em relação ao PIB. O Bacen, ao diminuir a taxade juros e elevar o volume de reservas bancárias, fazaumentar a quantidade de recursos disponíveis paraempréstimos. Caso exista demanda por crédito reprimida,haverá uma expansão do volume de empréstimo nosistema bancário. Conseqüentemente, haverá umaumento dos gastos com investimento e consumo debens duráveis, determinando uma ampliação da demandaagregada e, finalmente, pressionando o nível geral depreços para cima.

O canal seguinte, o dos ativos financeiros, defineque variações nos preços dos mesmos, ao alterarem oestoque de riqueza dos agentes econômicos, podeminfluenciar as decisões de consumo. Vale notar que essecanal não é tão relevante no Brasil quanto, por exemplo,nos Estados Unidos (EUA) e na Inglaterra.

Uma redução da taxa básica de juros, ao estimularo crescimento econômico, aumenta a expectativa de lucrodas empresas, gerando, provavelmente, uma elevaçãodos preços das ações. Além disso, o preço dos títulospré-fixados aumenta. Diante do volume maior de riquezafinanceira, decorrente do aumento do valor dos títulos edas ações, é possível que os agentes econômicos sedisponham a gastar mais. Dessa forma, uma redução dataxa primária de juros, ao incentivar o consumo — pormeio do efeito riqueza —, também amplia a demandaagregada, pressionando para cima o nível geral depreços.

Finalmente, há de se considerar o canal dasexpectativas, que está relacionado a todos os outroscanais. Ele se refere ao fato de as expectativas dosagentes sobre a evolução futura da inflação (e, portanto,a evolução futura do produto, da taxa de câmbio e, em

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última análise, da própria política monetária e fiscal)afetarem o comportamento corrente de preços. Aodefinirem preços, as empresas geralmente tomam emconsideração o ambiente prospectivo. A importância docanal de expectativas depende de quão relevante é paraos agentes a avaliação do cenário futuro nas suasdecisões e da maior ou menor presença de mecanismosinstitucionais com cláusulas voltadas para o passado.Por sua vez, a defasagem com a qual esse mecanismoopera depende do grau de rigidez de preços. Em outraspalavras, depende da freqüência com que os preços sãoreajustados.

A mensuração precisa das defasagens é difícil, poismodelos são apenas aproximações da realidade, eestimativas envolvem um razoável grau de imprecisão.Entretanto a evidência empírica para um conjunto depaíses, em geral, aponta uma defasagem de três a cincotrimestres entre o momento de uma mudança na taxa dejuros e o efeito total sobre a inflação ter alcançado 50%.O Banco da Inglaterra, por exemplo, estima que, somenteapós cerca de um ano, se pode observar o efeito máximode um ajuste da taxa de juros básica sobre a atividadeeconômica — a defasagem do efeito sobre a inflaçãoseria bem mais longa, cerca de dois anos.

A defasagem no mecanismo de transmissão temimplicações importantes para a condução da políticamonetária. Nessas condições, ela tem de ser conduzida“olhando para a frente”, isto é, o banco central deve atuar,buscando fazer com que a previsão de inflação seencontre ao redor da meta de inflação vários trimestresadiante. Desenvolvimentos recentes da economia devemser avaliados não somente do ponto de vista do seuimpacto sobre a inflação corrente, mas, especialmente,considerando seus desdobramentos e efeitos futuros.

Se a autoridade monetária desconsiderar asdefasagens existentes, ter-se-ão, pelo menos, duasconseqüências importantes. A primeira delas é a não--antecipação de possíveis desdobramentos futuros dainflação, apesar de, correntemente, existirem indicadoresou elementos antecedentes apontando nesse sentido. Porexemplo, pressões sobre a utilização da capacidadeinstalada ou sinais de superaquecimento do mercado detrabalho tendem a ser seguidos por aumento da inflaçãono futuro. Se o banco central desprezar essesmovimentos e reagir somente quando a inflação seefetivar no futuro, devido à defasagem dos mecanismosde transmissão, ele não conseguirá evitar tempestiva-mente esse aumento da inflação. No regime de metaspara a inflação, o resultado pode ser o não--cumprimento das metas.

A segunda conseqüência é a geração de desne-cessária instabilidade na economia, ao se reagir somenteà inflação corrente. Em particular, isso ocorre quando osmovimentos correntes da inflação têm natureza tempo-rária. Um exemplo pode ser uma diminuição no preço dealimentos, devido a condições excepcionais da safraagrícola, reduzindo, assim, a inflação corrente. Se o Bacendesconsiderar que se trata de fenômeno temporário — eque, portanto, no futuro, a inflação não mais se beneficiaráde tal fator — e praticar uma política monetária leniente,essa política poderá afetar mais intensamente a inflação,quando aqueles efeitos positivos, mas temporários, sobrea inflação estiverem esgotados. O resultado será ageração de pressões inflacionárias no futuro. Nesseinstante, o banco central reagirá novamente, gerando umnovo ciclo. O resultado será movimentos oscilatórios dainflação e do produto, que poderiam ter sido evitados,caso a autoridade monetária atuasse olhando para afrente. Gera-se, assim, instabilidade desnecessária naeconomia, num movimento de stop and go da políticamonetária.

Uma situação semelhante ocorre ao longo de umciclo de afrouxamento, ou de endurecimento, da políticamonetária. Diante de uma melhora nas perspectivas paraa inflação, a autoridade monetária inicia um processo deredução da taxa de juros. Em determinado ponto doprocesso, em virtude das defasagens existentes, osefeitos sobre a inflação efetivam-se apenas parcialmente,dando margem para se inferir que é necessária acontinuidade do ciclo, sem levar em consideração osefeitos que ainda estão por vir. Se essa percepção forusada para a condução da política monetária, a inflaçãofutura pode ultrapassar o valor perseguido (overshooting),gerando a necessidade de um novo ciclo de endureci-mento monetário e, conseqüentemente, maior instabili-dade na economia.

Em resumo, a existência de defasagens temporaisimportantes no mecanismo de transmissão requer que apolítica monetária seja voltada para o futuro e que osbancos centrais privilegiem estratégias preventivas e nãomeramente reativas.

3 Panorama atual da políti- ca monetária

A aceleração do crescimento da demanda agregada,pelo lado tanto do consumo quanto do investimento, e ogradual aumento nos níveis de utilização da capacidade

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instalada na indústria têm reduzido o hiato do produto evêm sinalizando a necessidade de uma atuação maiscautelosa por parte do Bacen na fixação da taxa de juros.Essa preocupação deriva, em parte, do fato de que orelaxamento da política monetária — iniciado emsetembro de 2005 — já dura dois anos, período no qual ataxa Selic caiu, de forma contínua, 8,25 pontospercentuais. Em especial, considerações relativas àsdefasagens com que opera a política monetária levaramo Copom a reduzir o ritmo de queda dos juros, nasreuniões, entre janeiro e abril de 2007, de 0,5 pontopercentual para 0,25 ponto percentual por reunião, antesde voltar ao ritmo anterior, no encontro de junho. Esseretorno, em junho e julho, ao ritmo anterior, mais acelerado,justificou-se principalmente pela sinalização positivaderivada do comportamento esperado para a taxa decâmbio e pelo fato de que as expectativas de inflaçãofutura continuavam a apontar uma trajetória em que ainflação se mantinha abaixo da meta até o final de 2008(Gráfico 1).

A mudança do panorama externo adicionou novasincertezas ao cenário prospectivo que informa asdecisões de política monetária. Ela começou em meadosde julho de 2007, com a percepção de que a inadimplênciano mercado norte-americano de hipotecas subprime haviacrescido acentuadamente, o que gerou fortedesvalorização dos títulos lastreados por essescontratos, que compunham as carteiras dos fundos deinvestimento. Diante do elevado grau de alavancagemcom que esses fundos operam e com a ampla utilizaçãode instrumentos derivativos — que, embora permitamuma diluição do risco, também tornam opaco quem é odetentor final —, houve empoçamento da liquidez, forteajuste para baixo nos preços dos ativos, em especialnas bolsas de valores, e um início de aperto no mercadode crédito. O aumento da aversão ao risco levou à quedados preços dos títulos soberanos dos países emergen-tes — o Brasil inclusive — e acabou por afetar a taxa decâmbio, desvalorizando-a relativamente à trajetória entãoprevalecente. A partir de meados de agosto do mesmoano, houve certo abrandamento das condições financeirasexternas, mas a percepção dos investidores quanto aosriscos permaneceu aguçada. Como decorrência dessamaior instabilidade, a possibilidade de uma desaceleraçãoda economia mundial significou uma fonte potencial depressão adicional sobre o câmbio, além daquela que járesultaria de um eventual fechamento do diferencial dejuros, da tendência da redução dos superávits em contacorrente e da redução (queda) dos fluxos de capitalexternos.

Ainda que os efeitos mais intensos da eclosão dacrise no segmento de alto risco do setor imobiliário dosEstados Unidos sobre os mercados financeiros pareçamter sido superados, desde setembro, entretanto,permanece um quadro de incerteza. De um lado, diversosindicadores de volatilidade e de aversão ao riscoexperimentaram significativa melhora. Por outro, asituação nos mercados interbancários das economiasmaduras ainda não se normalizou, e os desdobramentosdessa crise sobre a economia real estão-sematerializando e são de magnitude ainda não totalmenteconhecida — em especial, seus efeitos sobre ocrescimento da economia dos EUA e, em menor escala,das economias européias. Não obstante as dificuldadesremanescentes nos mercados financeiros e a incertezaquanto à evolução da economia global, a recuperaçãodo apetite por risco vem sendo relativamente rápida,inclusive no que se refere aos ativos brasileiros. De fato,o comportamento dos preços desses ativos neste últimoepisódio de estresse nos mercados financeirosinternacionais, assim como os verificados em fevereiroe março de 2007 e em maio e junho de 2006, evidencia aconsolidação da confiança dos investidoresinternacionais na economia nacional.

Os principais bancos centrais reagiram à turbulênciafinanceira, assegurando adequada provisão de liquidezno interbancário e, no caso dos EUA, flexibilizando apolítica monetária, com vistas a minimizar o risco deque o impacto das dificuldades do setor imobiliário sobreas condições de crédito levasse a uma desaceleraçãoeconômica mais pronunciada. Por sua vez, asexpectativas de inflação nos EUA (derivadas a partir deativos financeiros) elevaram-se, reagindo aoenfraquecimento do dólar frente às principais moedas eà tendência de alta dos preços de matérias-primas, maso fizeram para patamares ainda modestos. Em suma, olongo ciclo de aperto monetário nos EUA chega ao fim, ea discussão atual parece centrar-se no timing e namagnitude das reduções adicionais da taxa de juros. NaEuropa e nas grandes economias asiáticas, a atividadeeconômica continua robusta, a despeito do aumento dorisco de desaceleração, de um lado, causado pelo quepode ocorrer com o cenário macroeconômico nos EUAe, de outro, pelo impacto das dificuldades do setorimobiliário norte-americano sobre as instituições finan-ceiras, e das condições de crédito nessas regiões. Nessecontexto, cabe adicionar que o atual vigor das economiasemergentes se tem constituído em importantecontraponto à desaceleração da economia dos EUA.

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A economia brasileira, especificamente, não pareceter sido impactada de forma significativa pela turbulênciarecente, isto é, não se percebeu um aumento da aversãoao risco para investimentos no Brasil, fundamentalmentedevido ao crescimento econômico. A Bolsa de Valoresde São Paulo (Bovespa) continuou sua trajetória de alta,fechando a 63.006 pontos no dia 30 de novembro de2007, com valorização de 15,84% em relação a junho domesmo ano. O volume negociado continuou apresentandomáximas históricas. Foram negociados R$ 10,702 bilhõesno dia 9 de setembro. O valor das empresas integrantesdo Ibovespa atingiu R$ 1.792,8 bilhões em outubro —um aumento de 45,85% no ano. É relevante destacar olançamento de ações da Bovespa na própria Bovespa.Com um volume total de R$ 6,6 bilhões, a oferta públicainicial (IPO, na sigla em inglês), no dia 26 de outubro,tornou-se a maior já feita na América Latina. O recordeanterior pertencia à companhia Argentina de petróleo YPF.Foi ainda a quinta maior do mundo no ano (Carta Conj.,2007).

A expectativa de o Brasil receber o investment grade(grau de investimento) em 2008 corrobora esse cenário,que inclui o lançamento primário de ações da Bolsa deMercadorias & Futuros (BM&F) e a realização de 102IPOs desde 2004 até outubro de 2007 (Carta Conj., 2007).Essa expectativa é conseqüência do consenso de grandeparte dos analistas financeiros, que esperam um aumentoexpressivo dos investimentos em ações decorrente dapossível participação dos grandes fundos de pensãoexternos, os quais somente podem operar nos paísescom o grau de investimento. Vale notar que uma pequenaparcela dos analistas financeiros não concorda com essapossibilidade. Em outro cenário, os fundos de pensãoexternos já estariam direcionando recursos para o País,via investimento direto estrangeiro, adquirindo empresase depois realizando o lucro via IPOs. Nessa ótica, aBovespa não estaria canalizando a poupança externapara investimentos no setor produtivo, e o mercadoacionário poderia ter movimentos mais suaves eestáveis, após receber o grau de investimento. Portanto,provavelmente, não produziria nenhum impactosignificativo sobre o lado real da economia.

Sob esse cenário, o Risco-País chegou a 157 pontosem outubro de 2007 e voltou para 205 pontos em meadosde dezembro do mesmo ano. A taxa de câmbioapresentou uma trajetória semelhante: o dólar comercialfoi cotado a R$ 1,74 para venda no final de outubro e

fechou em R$ 1,79 no dia 14 de dezembro (Carta Conj.,2007).

Mesmo considerando a boa absorção da criseexterna pela economia brasileira, o Copom, nas suasúltimas atas, tem avaliado que se elevou a probabilidadede pressões inflacionárias, devido ao aquecimento dademanda agregada, o que pode ensejar aumento norepasse de pressões sobre os preços. Adicionalmente,cabe notar que, embora o setor externo tenha o efeito demoderar a inflação no setor transacionável, o aquecimentoda demanda doméstica pode desencadear pressõesinflacionárias no setor não transacionável.

A autoridade monetária ressalta, também, que hádefasagens importantes entre a implementação dapolítica monetária e seus efeitos sobre o nível de atividadee sobre a inflação. Desde o início do ciclo de flexibilizaçãoda política monetária, parcela substancial da redução dataxa Selic ocorreu de janeiro a setembro de 2007. Assim,parte importante dos efeitos dos cortes de juros aindanão se refletiu no nível de atividade, e tampouco os efeitosda atividade sobre a inflação tiveram tempo de sematerializarem. Dessa forma, a avaliação de decisõesalternativas de política monetária deve concentrar-se,necessariamente, na análise do cenário prospectivo paraa inflação e nos riscos a ele associados, em vez deprivilegiar os valores correntes observados para essavariável.

Isto porque, aos efeitos defasados dos cortes dejuros sobre uma demanda agregada que já cresce a taxasrobustas, se somarão outros fatores que continuarãocontribuindo, de maneira importante, para a sua expansão.Essas considerações se tornam ainda mais relevantes,quando se levam em conta os nítidos sinais de demandaaquecida e o fato de que as decisões de política monetáriativeram efeitos bastantes limitados sobre 2007, sendoprevisto o impacto, predominantemente, a partir de 2008.

Nesse contexto, diante das incertezas associadasao mecanismo de transmissão da política monetária eao ritmo de crescimento prospectivo da oferta e dademanda agregadas, aliado ao fato de que, em novembrode 2007, após dois meses de queda, a inflação acumuladaem 12 meses voltou a mostrar leve aceleração, segundoo IPCA, registrando alta de 4,2%, o Copom resolveucontinuar a pausa no processo de flexibilização dapolítica monetária iniciado em outubro, mantendo a taxaSelic, também em dezembro, em 11,25% ao ano (CartaConj., 2007).

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10,0

10,5

11,0

11,5

12,0

12,5

13,0

13,5

Jan. Mar. Abr. Jun. Jul. Set. Out. Dez.

FONTE: Bacen.

Evolução da taxa Selic no Brasil — 2007

Gráfico 1

(%)

4 Considerações finaisDevido aos constrangimentos associados à redução

do hiato do produto e à defasagem com que opera apolítica monetária através de seus mecanismos detransmissão, é provável que as decisões futuras quantoà trajetória dos juros sejam pautadas por mais parcimônia,não se descartando, a exemplo dos últimos três mesesde 2007, a manutenção da interrupção das reduções poralguns meses, em 2008, visando avaliar o impacto dociclo de relaxamento dos dois últimos anos. Em funçãodisso, a prudência passa a ter papel ainda mais importantedentro desse processo, pois, em momentos como o atual,a deterioração do balanço dos riscos inflacionários reduza margem de segurança da política monetária.

ReferênciasBANCO CENTRAL DO BRASIL — BACEN. Comitê dePolítica Monetária. Ata da Reunião 131 do COPOM.Brasília, D. F.: Bacen 24 dez. 2007. Disponível em:<http://www.bcb.gov.br/?COPOM>. Acesso em: 10 dez.2007.

BANCO CENTRAL DO BRASIL — BACEN. Relatóriode inflação . Brasília: BACEN, dez. 2007. Disponívelem: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 03 jan. 2008.

BOLETIM DE CONJUNTURA. Brasília: IPEA, n. 78, set.2007. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br>. Acessoem: 11 nov. 2007.

CARTA DE CONJUNTURA. Brasília: IPEA, dez. 2007.Disponível em: <http://www.ipea.gov.br>. Acesso em:jan. 2008.

MODENESI, André de M. Regimes monetários: teoriae a experiência do real. São Paulo: Manole, 2005. 438p.

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41Agricultura gaúcha em 2007: principais produtos da lavoura temporária

* Artigo recebido em 23 jan. 2008.

** E-mail: [email protected]

*** E-mail: [email protected]

Tópicos setoriaisTópicos setoriaisTópicos setoriaisTópicos setoriaisTópicos setoriais

Agricultura gaúcha em 2007: principais produtos

da lavoura temporária*

Maria Helena Antunes de Sampaio** Economista da FEE

Suzana Ribeiro Boeckel*** Economista da FEE

Introdução

Com a divulgação, no mês de dezembro, pelaFundação de Economia e Estatística (FEE), dasestimativas preliminares sobre o desempenho do ProdutoInterno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul em 2007,confirmou-se o ótimo resultado da agropecuária gaúcha,como antecipavam as sucessivas previsões docomportamento das safras, realizadas pela CompanhiaNacional de Abastecimento (Conab) e pela FundaçãoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aolongo do ano e, como já era indicado pela FEE, no primeirotrimestre do ano findo (Boeckel, 2007).

Assim, nas estimativas do PIB divulgadas pelaFundação, coube à agropecuária um papel importantepara o crescimento da ordem de 7,0%, em termos reais,do Produto Interno gaúcho.

O setor agropecuário, com uma participaçãode 8,51% no Valor Adicionado Bruto (VAB)estadual, foi o destaque positivo do ano emcurso, com um crescimento estimado em19,2%, o que permite ao Setor Primáriogaúcho ficar acima dos níveis de produçãode 2003, recuperando as perdas do biênio2004-2005. Devido à sua importância relativana estrutura agrícola do RS, no que se refereàs lavouras temporárias, devem serdestacados os aumentos na produção de trigo(113,7%), milho (32,3%) e soja (31,5%). Oprincipal destaque negativo foi a queda naprodução de arroz (-6,5%), explicado pelaretração na sua área plantada (-7,9%). (FEE,2008).

Este texto apresenta os resultados dos principaisprodutos, já citados, da lavoura temporária na safra de2007, no Rio Grande do Sul e no Brasil, em termos deprodução, área colhida e produtividade; situa a produçãodos mesmos no contexto mundial; apresenta, também,algumas informações sobre o mercado internacional, bemcomo sobre preços externos e domésticos; evidencia,ainda, alguns aspectos das políticas governamentais dosetor agropecuário, no que diz respeito ao crédito rural eàs dívidas dos produtores. Por fim, são apresentadas asConsiderações finais .

Resultados da safra 2007

A produção brasileira dos quatro principais pro-dutos — arroz, milho, soja e trigo —, para a safra de2007, foi de 124,9 milhões de toneladas; portanto, umacréscimo de 14,4% em relação à safra anterior. No RioGrande do Sul, a produção foi da ordem de 24,0 milhõesde toneladas — 22,0% superior à anterior —, repre-sentando 19,2% da oferta nacional desses produtos.Mesmo com essa expressiva produção, fica clara a perdade importância relativa da agricultura gaúcha,considerando que o Estado já chegou a produzir mais deum quarto do total desses grãos produzido no País, noinício dos anos 90. Deve-se salientar que essa perda deimportância não é resultante da queda dos volumesproduzidos no Estado, mas reflexo do aumento daprodução em outras unidades da Federação.

Se, entretanto, se considerar a participação dosprodutos selecionados do RS nos do Brasil (Tabela 1),na safra de 2007, em relação à anterior, verifica-se que,à exceção do arroz, cuja participação diminuiu, osdemais — milho, soja e trigo — ampliaram para, respecti-vamente, 11,6%, 17,1% e 44,0% da produção do País.

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42 Maria Helena Antunes de Sampaio; Suzana Ribeiro Boeckel

O volume da produção nacional de soja atingiu 58,2milhões de toneladas. O RS participou com, aproximada-mente, 9,9 milhões desse total, o que correspondeu aum acréscimo de 31,5% em relação à safra de 2006(Tabela 2). Deve-se ressaltar que esse aumentosignificativo na produção gaúcha é resultado do ganhode 30,6% no rendimento por hectare e não do incrementona área colhida (Tabela 3), já que esta se mantevepraticamente no mesmo patamar da safra anterior(Levant. Sist. Prod. Agric., 2007).

A produção mundial de soja, estimada pelo UnitedStates Department of Agriculture (USDA) para 2007, foide 235,8 milhões de toneladas. O Brasil participou com,aproximadamente, 24,7%, ficando com a segundacolocação no ranking, seguido pela Argentina, com umaparticipação em torno de 20,0%. Juntos, Brasil eArgentina alcançaram 105,4 milhões de toneladas,volume este bastante superior ao da produção dos EUA,maior produtor desse grão, estimada em 86,8 milhões detoneladas.

Em 2007, a produção de milho no Estado obteveum incremento de 32,3% em relação à safra de 2006,atingindo, praticamente, 6,0 milhões de toneladas, emuma área colhida 2,8% menor que a do ano anterior. Esseaumento significativo de produção deveu-se,principalmente, ao rendimento médio, que cresceu 36,1%(Tabela 4). Essa cultura participou com 11,6% naprodução brasileira, a qual, nesta última safra, atingiu51,6 milhões de toneladas, com crescimento de 20,9%em relação à do ano que passou. Nacionalmente, aprodutividade teve um incremento de 10,3% em área,sendo 9,6% maior do que a de 2006 (Levant. Sist. Prod.Agric., 2007).

Quanto ao trigo, o Brasil é o maior importador daAmérica Latina, e, embora se espere, para a safra de2007, uma produção da ordem de 4,0 milhões detoneladas, manter-se-á a necessidade de importação emvolumes significativos. Não obstante o crescimento de61,0% na produção, esta continua insuficiente paraatender à demanda interna, que gira em torno de 10,0milhões de toneladas. Do trigo brasileiro, 44,0% foi colhidono RS, que, nesta última safra, teve um crescimento de113,7% na produção e de 38,1% na área colhida. Aprodutividade cresceu 54,8%, em grande parte asse-gurada pelas condições climáticas, que foram favoráveispara o desenvolvimento da cultura.

A produção gaúcha de arroz para a safra de 2007,diferentemente do que ocorreu com os demais produtosanalisados, reduziu-se em 6,5%, atingindo 6,3 milhõesde toneladas, tendo sido obtido o rendimento médio de6,7 kg/ha. O RS participou com 57,2% na produção

nacional, que foi de 11,1 milhões de toneladas, valor esteque corresponde a uma queda de 3,9%. Com relação àárea colhida, no Brasil, houve um decréscimo de 2,4%,enquanto, no Estado, este foi bem mais acentuado, emtorno de 8,0%. Deve-se essa redução à conjuntura depreços vivenciada pelos orizicultores nas últimas safras,bem como a fatores climáticos desfavoráveis na ocasiãodo plantio, especialmente nas regiões maiores produtorasdo Rio Grande do Sul.

A safra expressiva de grãos teve repercussão nasexportações. Em 2007, o valor exportado peloagronegócio, no Brasil, foi de US$ 58,4 bilhões. O RioGrande do Sul participou com 15,1% desse total, ficandocom o segundo lugar no ranking dos estados, perdendoapenas para São Paulo.

Assim, no período jan.-dez./07, as exportações doagronegócio, no Estado, foram de US$ 8,8 bilhões, comvariação nominal positiva de 27,0% em relação às doano anterior. O complexo soja teve um crescimento de85,6% em relação ao mesmo período e participou com28,7% no segmento. Desse montante, a soja em grãoparticipou com 18,2%, ficando os 10,5% restantesdistribuídos entre óleos de soja bruto e refinado (5,2%) efarelo (5,3%) (Tabela 5).

Quanto a cereais, farinhas e preparações, o valorexportado, no mesmo período, foi de US$ 151,8 milhões,com uma participação de 1,7% na pauta das exportaçõesestaduais do agronegócio. Desse montante, 96,9%correspondem à exportação de milho, arroz e trigo. Entreesses produtos, os maiores valores provêm daexportação de milho, com US$ 69,5 milhões, e de arroz,US$ 48,4 milhões; juntos, esses dois segmentos têmuma participação de 77,7% no total dos cereais, farinhase preparações exportados. Cabe salientar-se que tanto oRio Grande do Sul quanto o Brasil não tinham tradiçãonas exportações de milho, arroz e trigo. Foi a partir dasafra de 2001 que o País passou da condição deimportador para a de exportador de milho, em decorrênciada supersafra — conseqüência dos preços no mercadoexterno que estimularam o plantio de milho em detrimentoao da soja (Brasil, 2008).

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43Agricultura gaúcha em 2007: principais produtos da lavoura temporária

Tabela 1

Participação percentual da produção de produtos selecionados da lavoura do Rio Grande do Sul na do Brasil — 2006-07

PRODUTOS AGRÍCOLAS 2006 2007

Arroz em casca ....................................... 58,86 57,24 Milho em grão (1) .................................... 10,61 11,61 Soja em grão ........................................... 14,41 17,08 Trigo em grão .......................................... 33,12 44,00

FONTE: FEE/Núcleo de Contabilidade Social. (1) Primeira e segunda safras.

Tabela 2

Produção de produtos selecionados da lavoura no Brasil e no Rio Grande do Sul — 2006-07 (t)

BRASIL RIO GRANDE DO SUL PRODUTOS AGRÍCOLAS E TOTAL 2006 2007 Variação % 2006 2007 Variação %

Arroz em casca ............. 11 526 685 11 079 849 -3,88 6 784 236 6 342 251 -6,51 Milho em grão (1) .......... 42 661 677 51 589 721 20,93 4 528 143 5 991 497 32,32 Soja em grão ................. 52 464 640 58 197 297 10,93 7 559 291 9 938 817 31,48 Trigo em grão ................ 2 484 848 3 998 072 60,90 823 062 1 759 093 113,73 TOTAL .......................... 109 139 856 124 866 946 14,41 19 694 732 24 031 658 22,02

FONTE: LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro: IBGE, dez. 2007. FEE/Núcleo de Contabilidade Social.

(1) Primeira e segunda safras.

Tabela 3

Área colhida de produtos selecionados da lavoura no Brasil e no Rio Grande do Sul — 2006-07 (ha)

BRASIL RIO GRANDE DO SUL PRODUTOS AGRÍCOLAS 2006 2007 Variação % 2006 2007 Variação %

Arroz em casca .............. 2 970 918 2 901 232 -2,35 1 023 074 940 964 -8,03 Milho em grão (1) .......... 12 613 094 13 827 500 9,63 1 403 218 1 364 343 -2,77 Soja em grão ................. 22 047 349 20 637 643 -6,39 3 863 726 3 890 583 0,70 Trigo em grão ................ 1 560 175 1 817 882 16,52 607 269 838 432 38,07

FONTE: LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro: IBGE, dez. 2007. FEE/Núcleo de Contabilidade Social. (1) Primeira e segunda safras.

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44 Maria Helena Antunes de Sampaio; Suzana Ribeiro Boeckel

Tabela 4

Rendimento médio de produtos selecionados da lavoura no Brasil e no Rio Grande do Sul — 2006-07

(t/ha) BRASIL RIO GRANDE DO SUL PRODUTOS

AGRÍCOLAS 2006 2007 Variação % 2006 2007 Variação % Arroz em casca .............. 3,88 3,82 -1,57 6,63 6,74 1,64 Milho em grão (1) .......... 3,38 3,73 10,31 3,23 4,39 36,09 Soja em grão ................. 2,38 2,82 18,50 1,96 2,55 30,57 Trigo em grão ................ 1,59 2,20 38,09 1,36 2,10 54,80

FONTE: LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro: IBGE, dez. 2007. FEE/Núcleo de Contabilidade Social.

(1) Primeira e segunda safras.

Tabela 5

Exportações de produtos selecionados do agronegócio do Rio Grande do Sul e do Brasil — 2006-07

VALOR (US$) DISCRIMINAÇÃO

Jan.-Dez./06 Jan.-Dez./07 VARIAÇÃO %

2007/2006

AGRONEGÓCIO DO BRASIL ................................. 49 423 585 426 58 420 428 050 18,2 Agronegócio do Rio Grande do Sul ..................... 6 948 777 620 8 827 530 817 27,0 Complexo soja ......................................................... 1 365 665 011 2 535 087 033 85,6

Soja em grão ...................................................... 738 188 903 1 605 241 064 117,5 Óleo de soja em bruto ........................................ 295 705 329 458 331 977 55,0 Óleo de soja refinado ......................................... 322 995 3 977 680 1 131,5 Farelo de soja ..................................................... 331 447 784 467 536 312 41,1

Cereais, farinhas e preparação ................................ 68 818 308 151 811 793 120,6 Somatório ........................................................... 66 368 667 147 171 938 121,7

Milho .............................................................. 5 726 956 69 501 361 1 113,6 Arroz .............................................................. 51 753 271 48 448 011 -6,39 Trigo ............................................................... 8 842 500 29 133 914 229,5

Preparação à base de cereais ........................... 1 759 173 3 051 193 73,4 Produtos e subprodutos da indústria moageira .. 690 468 1 588 662 130,1

FONTE: BRASIL/Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. FEE/Núcleo de Contabilidade Social.

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45Agricultura gaúcha em 2007: principais produtos da lavoura temporária

Preços domésticos versuspreços internacionais ecomercialização

Os preços dos grãos, à exceção do arroz,apresentaram, nessa safra, comportamento muitofavorável. O IPEA já apontava ter havido, desde osegundo semestre de 2006, “[...] uma elevação abruptados preços internacionais dos grãos, devido aos novosestímulos anunciados pelo governo americano à expansãoda produção de etanol derivado do milho” (B. Conj., 2007).

No que se refere à soja, observa-se que os preçosdomésticos acompanharam o movimento dos preçosinternacionais; porém, ainda que tenham apresentado umcrescimento expressivo de 53,8%, evoluíram, no períodoconsiderado, aquém do incremento nos preçosinternacionais, que foi de 95,9% (Gráfico 1). A cotaçãoda soja na Bolsa de Chicago era de US$ 199,85 atonelada em setembro de 2006, passando para US$391,59 a tonelada em novembro de 2007; em PassoFundo, situada em região grande produtora no RS, a soja(saca de 60kg) estava cotada em R$ 26,17 e R$ 40,24,respectivamente, no mesmo período.

A análise do IPEA também identificou que “[...]ocorreu um claro pass through da alta desses preçosinternacionais para os preços domésticos, emboravariando de grau de produto a produto” (B. Conj., 2007).¹

A alta no comportamento do preço dos grãosfoi impulsionada pelo mercado internacionalda soja. Desde a implantação da políticaamericana de produção de etanol à base demilho, os Estados Unidos diminuíram 16% daárea colhida e, como conseqüência, aprodução para os demais grãos. Outro fatoragravante para a soja foi a quebra de safra naChina, e uma expectativa de perda de 4milhões de toneladas do produto. (Carta Conj.,2007).

Além dos fatores mencionados, também oclima — em função do fenômeno La Niña, que, em 2007,comprometeu parte da lavoura norte-americana —possibilitou à soja um quadro de preços favoráveis. Talcomportamento poderá dar um fôlego ao produtorbrasileiro, que está saindo de três safras consecutivasde maus resultados. No mercado gaúcho, o preço médiode comercialização no primeiro semestre de 2007 foi da

ordem de R$ 27,08 a saca de 60kg; já em dezembro domesmo ano, a soja estava sendo comercializada por,aproximadamente, R$ 39,26, superior em 38,3% ao preçode dezembro de 2006. Cabe ressaltar-se que, apesar doaumento dos preços nos últimos meses, o preço decomercialização ficou próximo ao do patamar de 2002.

No que se refere ao milho, a comercializaçãoaconteceu gradativamente, em razão da expectativa deaumento no preço do produto, no período da entressafra,impulsionado pela pressão das demandas interna eexterna. No mês de novembro de 2007, a tonelada domilho foi comercializada, no Estado, por R$ 404,83, comum crescimento de 37,4% em relação ao mesmo mêsdo ano anterior.

Quanto ao comportamento dos preços do trigo, emdezembro de 2007 houve queda de 5,8% relativamenteao mesmo mês do ano anterior.

Para o arroz, se forem comparados os preçospraticados em 2007 com os do ano de 2004, quando asaca de 50kg era vendida por um preço médio (períodode janeiro a novembro) de R$ 30,96, tem-se umadefasagem de 32,8% no preço médio de comercializaçãodo arroz em casca no ano de 2007. Em 2006, o preço doarroz foi o mais baixo desde 2004, atingindo um patamarde R$ 19,10. Já nesta última safra, houve umarecomposição do preço em relação à safra de 2006, de8,9%, alcançando R$ 20, 80, ainda inferior aos preçosdo ano de 2004 (IRGA, 2007).

1 Para discussão mais abrangente, ver Abreu, Medeiros eWerneck (2003).

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46 Maria Helena Antunes de Sampaio; Suzana Ribeiro Boeckel

O Plano Agrícola e Pecuário(PAP) e as principais medi-das da política agrícola

Para cumprir os cinco objetivos elencados noPlano Agrícola e Pecuário 2007/2008 (Brasil, 2007), oGoverno propôs as seguintes medidas: aumentar a ofertade recursos do sistema oficial de crédito rural, reduzir astaxas de juros, ampliar os limites do crédito rural portomador, intensificar o apoio à média agricultura, garantirrecursos para equalização do Prêmio de Seguro Rural,continuar o esforço de consolidação do Seguro Rural,encaminhar ao Congresso Nacional projeto de lei decriação do Fundo de Catástrofe, garantir recursos para oapoio à comercialização antes e após o plantio e estimularas operações de hedge.

Considera o Governo que “[...] a adoção dessasmedidas, sobretudo as referentes ao aumento no volumede recursos e à redução de taxas de juros, terão amplarepercussão em termos de modernização do setor e

elevação da renda do produtor rural”. O PAP informa,ainda, que

[...] o volume de crédito rural destinado àagricultura empresarial e familiar quasetriplicou ao longo do atual Governo, passandode R$ 24,7 bilhões em 2002/2003 para R$ 70bilhões, conforme programado para a safra2007/2008. Esse montante representa umcrescimento de 16% em relação ao volumede recursos programados para a safra 2006//2007, cujo valor era de R$ 60 bilhões (Brasil,2007).

Programação e aplicaçãode recursos nas safras2006/2007 e 2007/2008

Apresentam-se, na Tabela 6, os recursos progra-mados, segundo os planos agrícolas de 2006/2007 e2007/2008, e efetivamente aplicados nas referidas safras,

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

Jan.

/06

Fev

./06

Mar

./06

Abr

./06

Mai

o/06

Jun.

/06

Jul./

06

Ago

./06

Set

./06

Out

./06

Nov

./06

Dez

./06

Jan.

/07

Fev

./07

Mar

./07

Abr

./07

Mai

o/07

Jun.

/07

Jul./

07

Ago

./07

Set

./07

Out

./07

Nov

./07

(US$/t)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45(R$/saca)

Bolsa de Chicago (US$/t) Passo Fundo-RS (R$/saca)Legenda:

Cotações da soja na Bolsa de Chicago e em Passo Fundo, no RS — 2006/07

5

0

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Abiove.

Passo FundoBolsa de Chicago

Gráfico 1

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47Agricultura gaúcha em 2007: principais produtos da lavoura temporária

considerados os períodos respectivos de julho anovembro (dados preliminares calculados pelo MAPA em21.12.2007) — Tabela 6.

Como se pode observar, o volume de créditodestinado à agricultura empresarial, na safra 2007/2008,no montante de R$ 58 bilhões, é 16,0% superior ao dasafra anterior, participando o crédito para custeio ecomercialização com 84,7% e o de investimento com15,3% do total programado. Em relação aos recursosaplicados, verifica-se que, no período jul.-nov./07, foramdesembolsados R$ 24,8 bilhões, significando um valor22,9% superior ao que foi aplicado na safra 2006/2007,no mesmo período.

O total de recursos com taxas de juros controladasterá um aumento de 25,8%, atingindo R$ 37,8 bilhões,em comparação aos R$ 30,1 bilhões programados nasafra 2006/2007. A participação desses recursos, na safra2007/2008, no volume de crédito para custeio ecomercialização é de 77,1%, contra os 72,7% obser-vados na safra anterior.

Do PAP, tem-se também a informação de que

[...] a taxa anual de juros controlada do créditorural permaneceu no mesmo patamar de8,75% desde o Plano Agrícola e Pecuário de1998/1999, enquanto as taxas de juros Selice TJLP foram reduzidas substancialmente.Além disso, a elevação da taxa real controladade juros do crédito rural, decorrente da quedada inflação, aumentou o custo financeirodesse crédito (Brasil, 2007).

Como forma de corrigir essas distorções, astaxas anuais de juros com recursoscontrolados, tanto para custeio quanto paracomercialização, foram reduzidas de 8,75%para 6,75% na safra 2007/2008, o que significauma diminuição de 22,9% no custo dessesfinanciamentos para o produtor rural. A taxade juros do Programa de Geração deEmprego e Renda (Proger Rural) também foireduzida de 8% para 6,25% ao ano. (Brasil,2007).

Parte desse ganho, porém, será afetada pelaintrodução da alíquota de 0,38% do Imposto SobreOperações Financeiras (IOF) no crédito rural, medida estaanunciada pelo Governo através do Decreto nº 6.339,publicado em edição extraordinária do Diário Oficial daUnião, no dia 3 de janeiro de 2008, para compensarparcialmente o fim da cobrança da Contribuição ProvisóriaSobre Movimentação Financeira (CPMF) a partir de janeirode 2008. A incidência ocorrerá na abertura de créditonos financiamentos de custeio e comercialização, bemcomo nos investimentos com recursos do Banco Nacionalde Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e nos

Empréstimos do Governo Federal (EGF), realizados aoamparo da Política de Garantia de Preços Mínimos.Incidirá, ainda, nas operações de crédito para coope-rativas, entre cooperativas de crédito e seus associados,de Adiantamento Para Custeio e Câmbio (ACC) paraexportação. Ficam fora da incidência as operações deseguro rural, que já eram isentas.

Dos recursos com juros controlados, o desembolsorelativo, no período jul.-nov./07, foi de R$ 18,7 bilhões,significando quase a metade do que foi programado parao período e com acréscimo de 26,2% em relação aodesembolsado em igual período do ano anterior.

Em relação aos recursos para investimento, osprogramas do BNDES tiveram um acréscimo de 38,0%nas aplicações de julho a novembro de 2007, contra igualperíodo do ano anterior, e atingiram R$ 1,3 bilhão. E osdemais programas — Fundos Constitucionais, FinameAgrícola Especial e Proger Rural (BB) — aumentaram15,8% o desembolso dos recursos relativamente aosmesmos períodos referidos anteriormente.

Também a ampliação dos limites de financiamentode custeio, investimento e EGF anunciada no PlanoAgrícola foi outra medida importante em benefício dosprodutores.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 41-50, 2008

48 Maria Helena Antunes de Sampaio; Suzana Ribeiro Boeckel

Tabela 6 Programação e aplicação de recursos do Crédito Rural no Brasil — safras 2006/2007 e 2007/2008

SAFRA 2006/2007 SAFRA 2007/2008

FONTES DE RECURSOS

OU

PROGRAMAS

Programação Jul./06- -Jun./07

(R$ millhões) (A)

Aplicação Jul.-

-Nov./06 (R$

millhões) (B)

Desembolso Relativo (%)

(B/A)

Programação Jul./07- -Jun./08

(R$ millhões) (C)

Aplicação Jul.-

-Nov./07 (R$

millhões) (D)

Desembolso Relativo (%)

(D/C)

COMPARATIVO DE APLICAÇÕES

(∆%) (D/B)

A - Custeio e comercialização ............. 41 400,0 18 257,4 44 49 100,0 22 365,4 46 23 A.1 - A juros controlados ........................ 30 100,0 14 788,0 49 37 850,0 18 667,5 49 26

Exigibilidade (6,75% a.a.) (1) ......... 20 400,0 9 175,1 45 28 400,0 13 903,5 49 52 Poupança Rural (6,75% a.a.) (2) ... 8 000,0 4 481,2 56 5 500,0 3 769,3 69 -16 Funcafé (7,5% a.a.) ........................ 1 000,0 963,5 96 1 750,0 723,7 41 -25 Proger Rural (6,25% a.a.) ….…….. 700,0 168,2 24 2 200,0 271,0 12 61

Banco do Brasil (BB) .................. 300,0 87,2 29 1 800,0 209,8 12 141 Banco do NE .............................. - - 0 - - 0 0 Bancos cooperativos .................. 380,0 81,0 21 400,0 61,2 15 -24 Banco da Amazônia ................... 20,0 - 0 - - 0 0

A.2 - A juros livres ................................... 11 300,0 3 469,4 31 11 250,0 3 697,9 33 7 Poupança Rural (MCR 6-4) (3) ...... 6 000,0 337,9 6 2 600,0 508,7 20 51 Recursos livres (4) ......................... 2 300,0 929,1 40 2 300,0 712,1 31 -23 CPR Aval/Compra .......................... 3 000,0 703,1 23 2 000,0 511,6 26 -27 BB — Agroindustrial ....................... - 1 499,3 0 4 350,0 1 965,5 45 31

B – Investimento ................................... 8 600,0 1 923,3 22 8 900,0 2 436,5 27 27 B.1 - Programas do BNDES .................. 6 100,0 938,9 15 6 100,0 1 296,3 21 38

Moderfrota ..................................... 3 000,0 504,6 17 3 000,0 767,4 26 52 Moderagro (5) ............................... 1 850,0 252,5 14 1 850,0 270,6 15 7 Moderinfra ..................................... 500,0 76,5 15 500,0 46,8 9 -39 Propflora ........................................ 100,0 18,8 19 100,0 20,0 20 6 Prodecoop ..................................... 450,0 83,8 19 450,0 185,0 41 121 Prolapec ........................................ 200,0 2,7 1 200,0 6,5 3 141

B.2 - Demais linhas e/ou programas ...... 2 500,0 984,4 39 2 800,0 1 140,2 41 16 Fundos constitucionais (5,0% a 9,0% a.a.) (6) ..................................

2 200,0

964,0

44

2 500,0

1 090,0

44

13

Finame agrícola especial (12,35% a.a.) ................................................

200,0

5,9

3

200,0

3,5

2

-41

Proger (BB) .................................... 100,0 14,5 15 100,0 46,7 47 222 C - Agricultura empresarial (A + B) ..... 50 000,0 20 180,7 40 58 000,0 24 801,9 43 23 D - Agricultura familiar (Pronaf) (7) ..... 10 000,0 4 177,9 42 12 000,0 4 050,3 34 -3 E - Agricultura total (C + E) .................. 60 000,0 24 358,6 41 70 000,0 28 852,2 41 18 F - Outros créditos ................................ 3 000,0 2 172,3 72 - 149,8 - -93 F.1 - FAT Giro Rural …………………… 3 000,0 2 140,0 71 - 149,8 - -93

Banco do Brasil ............................. 2 500,0 2 056,1 82 - 36,9 - -98 Demais bancos (8) ........................ 500,0 83,9 17 - 112,9 - 35

F.2 - Coopgiro FAT — Banco do Brasil .. 32,3 0 - - - -100 F.3 - FCO Comercialização .................... - - 0 - - - 0 G - TOTAL GERAL (E + F) .................... 63 000,0 26 530,9 42 70 000,0 9 002,0 41 9

FONTE: BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: fev. 2008.NOTA: Esta tabela foi elaborada pelo DEAGRI-SPA-MAPA, com data de 21.12.2007 e a partir de dados preliminares. Para visualizá-la na íntegra, acessar <www.agricultura.gov.br>. (1) Informações do Bacen/Recor (custeio, investimento e comercialização) deduzidos Pronaf fonte das exigibilidades (BB, Sicredi, Bancoob, BASA e BNB). (2) Recursos controlados: informações do BB e do Sicredi (custeio, investimento e comercialização). (3) Informações do BB, do BNB, do BASA, do Sicredi e do Bancoob (custeio, investimento e comercialização). (4) Informações do Bacen/Recor (custeio, investimento e comercialização). (5) A partir da safra de 2007/2008, o novo Moderagro engloba os antigos Moderagro, Prodefruta e Prodeagro. (6) Informações do BB, do BNB e do BASA (custeio, investimento e comercialização); FNE comercialização = R$ 11,01 milhões. (7) Informações do BB, do BNB, do BASA, do Sicredi e do Bancoob. (8) Informações do BNDES.

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49Agricultura gaúcha em 2007: principais produtos da lavoura temporária

O endividamento

O endividamento do setor rural tem sido umaquestão recorrente e que perpassa os temas emdiscussão nas diversas instâncias que têm relação como problema.

Em março do ano findo, a Confederação daAgricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estimava que asdívidas do campo, incluindo os débitos já rolados e osatuais, somavam R$ 110 bilhões, o equivalente ao valordo custeio de uma safra. “Parte é endividamento antigo,como a securitização e o Programa de Saneamento deAtivos (Pesa) já renegociado, outra parcela equivale aocusteio da safra passada e outra, aos custeios jáprorrogados”. A Assessoria Técnica da CNA explicou,naquela ocasião, que, dependendo do caso, haviaprodutores com obrigação de pagar cinco a seis parcelasdiferenciadas: o Pesa, a securitização, a parcela doinvestimento, a do custeio prorrogado do ano de 2006(20% a 60%), o custeio do banco ou trading e 30% daparcela da safra de 2004, renegociada. Com isso, a CNAestimou que apenas em débitos rolados e não pagos —ou seja, atrasados — sejam R$ 7 bilhões. Valor igual foirefinanciado no ano passado (2006), referente às perdasdas safras por questões climáticas e cambiais, desde atemporada 2004-05 (Endividamento..., 2007).

Para amenizar essa situação, o Banco Central editouas Resoluções nº 3.495, nº 3.496 e nº 3.497, todas em30 de agosto de 2007. A primeira dispõe sobre concessãode prazo para pagamento de prestações de investimentocom vencimento em 2007 e sobre prorrogação de parcelacom vencimento em 2007 dos créditos de custeioprorrogados referentes às safras de 2003/2004, 2004//2005 e 2005/2006; a segunda tem o objetivo de concederrebate (bônus) e prorrogação das parcelas deinvestimento com vencimento em 2007; e a terceiradispõe sobre a concessão de rebate de que trata oDecreto nº 6.200, de 2007, e sobre a permissão paraprorrogação parcial de parcelas de financiamento aoamparo do Programa Nacional de Fortalecimento daAgricultura Familiar (Pronaf).

Posteriormente, em 28 de setembro de 2007, aResolução nº 3.500 do Banco Central, alterou asresoluções antes mencionadas, modificando algunsartigos, introduzindo novas condições e prazos parapagamentos.²

Em 20 de dezembro, o Conselho Monetário Nacional(CMN) aprovou, mediante a Resolução nº 3.523 — quecomplementa as de números 3.496 e 3.497 —, aprorrogação das prestações das dívidas dos produtoresrurais que venceram dia 17 de dezembro de 2007 para15 de fevereiro de 2008, definindo a forma de concessãode bônus de adimplência sobre as parcelas comvencimento em 2007 de financiamentos rurais. O CMNainda postergou, de 28 de dezembro de 2007 para 31 demarço de 2008, as negociações sobre o endividamentodo setor (CMN..., 2007).

E, no apagar das luzes de 2007, o Governo editoua Medida Provisória nº 410, prorrogando, para 30 de abrilde 2008, o prazo de contratação das operações do Fundode Recebíveis do Agronegócio (FRA), que encerraria em28 de dezembro de 2007. O programa permite arenegociação dos débitos do setor rural com fornecedoresde insumos referentes às safras 2004/2005 e 2005/2006(Governo..., 2008).

Considerações finais

O crescimento de 22,0% na produção de grãos doRio Grande do Sul resultou em um faturamento brutopara o produtor de, aproximadamente, R$ 12,4 bilhões(FEE/Núcleo de Contabilidade Social), superior ao dasafra de 2006 em 42,0%. Em relação ao valor da produçãodo conjunto de produtos considerados neste artigo, pode--se observar que a lavoura de arroz foi a única que teveum Valor Bruto da Produção 19,1% menor que o da safraanterior; as demais tiveram crescimento: o milho cresceu81,7%; a soja, 80,9%; e o trigo, embora com preço 6,4%inferior ao da safra anterior, apresentou um aumento de98,1%, assegurado pelo significativo crescimento daprodução (EMATER, 2007).

Em razão da performance da última safra, estima--se, para a safra brasileira de 2008, de acordo com oTerceiro Levantamento da Safra Brasileira de Grãos ,realizado pela Conab (dezembro de 2007), um aumentona área plantada de 46,5 milhões de hectares, tendocomo produtos selecionados o caroço de algodão, oamendoim (1ª e 2ª safras), o arroz, a aveia, o centeio, acevada, o feijão (1ª, 2ª e 3ª safras), o girassol, a mamonae o milho (1ª e 2ª safras), a soja, o sorgo, o trigo e otriticale, com um incremento de 0,6% em relação àanterior. Em relação às culturas de soja, de milho (1ª e2ª safras) e de arroz, estimam-se acréscimos na áreaplantada de, respectivamente, 1,3%, 1,5% e 0,8%. A seconfirmar essa estimativa, a produção de grãos no País2 Para ver todas as medidas, consultar <www.cna.org.br>.

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50 Maria Helena Antunes de Sampaio; Suzana Ribeiro Boeckel

poderá atingir 134,8 milhões de toneladas. Esseincremento na área de milho e de soja se deve principal-mente à elevação dos preços de comercialização, queforam pressionados pelo aumento das demandas internae externa.

No Rio Grande do Sul, espera-se um comporta-mento similar ao nacional, com um aumento de 2,2% naárea total plantada. Para esse incremento, colaboraramo milho e o arroz, com aumento na área de 2,1% e 10,0%respectivamente. Diferentemente desses produtos, paraa cultura da soja, na safra em andamento, é esperadaredução de 1,7% na área plantada.

A ampliação dos recursos destinados ao créditopelo sistema oficial de crédito rural, a redução das taxasde juros e as demais medidas previstas no PAP podemdar uma contribuição importante para os resultados dasafra de 2008, que está em andamento. Também asmedidas adotadas para refinanciar ou alongar as dívidasdos produtores, relativas às safras passadas, se nãosolucionaram de todo, foram importantes para amenizara questão do endividamento. Os produtores negociaramcom o Governo ao longo de todo o ano de 2007; nãoobstante isso, algumas questões importantespermanecem pendentes.

Entretanto dois fatores tiveram influência decisivana obtenção do expressivo desempenho na safra de 2007:os preços domésticos e externos e o clima favorável.

Certamente, continuarão a balizar a safra de 2008.

Referências

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51Agricultura familiar: evolução favorável em anos recentes

1 Introdução

O setor agropecuário no Brasil, como no restanteda América Latina, compõe-se de grupos de produtoresque diferem enormemente entre si, dependendo do capi-tal, dos ativos, do tipo de posse da terra, da fonte derenda, da utilização da mão-de-obra e do destino da pro-dução. Em função dessas diferenças, “[...] têm-se dife-renciado tradicionalmente na agricultura [...] dois tiposbásicos de unidades produtivas: as empresasagropecuárias e as unidades agrícolas familiares“(Chiriboga, 2002, tradução nossa), estabelecendo umaestrutura agrária bimodal nessa região do mundo.

No interior desses distintos grupos, existe um quese caracteriza como uma das principais fontes de produ-ção de alimentos, de renda e de emprego para a popula-ção rural, conhecido como agricultura familiar. Está claroque essa definição engloba grupos com uma amplaheterogeneidade de recursos físicos, financeiros, huma-nos e sociais, que podem variar em cada país ou região.

Agricultura familiar: evolução favorável em anos recentes*

Elvin Maria Fauth** Economista da FEE

“O desenvolvimento re-duz as aflições ocasionadaspela doença e pela pobreza,não só pelo aumento da ex-pectativa de vida, mas peloaumento da vitalidade davida [...] fica claro que umaestratégia de desenvolvimen-to deve ser dirigida a facili-tar a transformação da so-ciedade, a identificar as bar-reiras, bem como os poten-ciais agentes catalisadoresdessas mudanças [...]” Joseph E. Stiglitz (1988)

Isso tem importância por ocasião de avaliações ou aná-lises sobre esse segmento, na medida em que requerema exata e prévia definição do objeto a ser investigado.

Para fins deste artigo, considerou-se agriculturafamiliar como sendo a estrutura produtiva agrícola ba-seada na utilização de mão-de-obra familiar, que tem, naexploração agrícola, o local de moradia, e a maior parteda sua renda, agrícola ou não, provém das atividadesdesenvolvidas no estabelecimento, independentementede sua extensão de área.

A forma como se reveste a agricultura familiar noBrasil mostra processos produtivos multivariados decultura (vegetal e animal), que, bem articulados, trazemimensas vantagens comparativas sob o aspectoambiental. Os agricultores familiares, como atores da tran-sição à economia sustentável, ao mesmo tempo em quesão produtores de alimentos e de outros produtos agrí-colas, podem desempenhar a função de guardiões domeio ambiente. Dessa forma, a agricultura familiar vemse mostrando como uma das melhores formas de ocu-pação do espaço rural, podendo favorecer o cumprimen-to de exigências sociais, como a geração de emprego erenda, e ambientais, como a conservação da biodiver-sidade. Além do que, na atual condição brasileira, ondeparte da população vive com rendas abaixo da linha depobreza, a agricultura familiar pode desempenhar umpapel fundamental nas metas de segurança alimentar enutricional que permanecem na pauta de discussões dasautoridades governamentais.

Por isso, os benefícios de uma estratégia de de-senvolvimento rural que dê espaço à agricultura familiarjá começam a ser percebidos pela sociedade. Os agri-cultores familiares situam-se num contexto de grandese urgentes transformações do meio rural; novas atividadeseconômicas surgem no cotidiano dessa população (in-dústrias, turismo, lazer, comércio, artesanato, serviçosprofissionais especializados, etc.), ao mesmo tempo emque a atividade agropecuária é mais dinâmica, exigindoum produtor cada vez mais “empresário”. Nessas circuns-tâncias, não é só importante agregar valor à produçãopor meio do beneficiamento e da transformação caseiraou artesanal, mas também promover uma inserção nomercado de forma competitiva e ter presente a visão dacadeia de valor do produto.

* Artigo recebido em 24 jan. 2008.

** A autora agradece os comentários e sugestões de ClarisseChiappini Castilhos, Maria Helena A. de Sampaio e MartinhoLazzari. Os erros que eventualmente tenhamm permanecidossão de inteira responsabilidade da autora.

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52 Elvin Maria Fauth

Como bem aponta Pochmann (2007), “[...] este é omomento de escolher se o Brasil irá inserir-se na econo-mia mundial como mero fornecedor de matéria-prima, combaixo valor agregado, baixo conteúdo tecnológico e bai-xo custo de mão-de-obra, ou se quer produzir bens eserviços de melhor qualidade”. Em outras palavras, oque Pochmann (2007) sustenta “[...] é que a políticaeconômica precisa levar em conta uma política de bem--estar social. Esse é o grande dilema das economiasmodernas, especialmente as que estão em desenvolvi-mento: como conciliar a competitividade global e suasassimetrias com o combate eficaz às desigualdadessociais?”.

Tendo em conta as observações anteriores, pre-tende-se apontar os acontecimentos recentes mais im-portantes e que dizem respeito ao segmento da agricul-tura familiar, que é o tema deste artigo.

2 Acontecimentos que favoreceram a a gricultura familiar

No decurso de 2007, além das negociações envol-vendo medidas do Governo Federal sobre a rolagem dadívida agrícola,1 outros assuntos relevantes pautaramas notícias do setor relativamente à agricultura familiar.Um diz respeito às novidades anunciadas no Plano Sa-fra da Agricultura Familiar (Brasil, 2007a) para o período2007/2008, e outros, igualmente significativos, referem--se à III Conferência do Conselho Nacional de SegurançaAlimentar e Nutricional (Consea) (Maluf, 2007) e à divul-gação de um número especial do Banco Mundial (2007)voltado à agricultura.

Um importante documento internacional, o Infor-me Sobre o Desen volvimento Mundial 2008 (IDM,2008) do Banco Mundial (2007), em sua trigésima edi-ção, está especialmente dedicado ao meio rural, sob otítulo Agricultura P ara o Desen volvimento . Altamenteinfluente, esta publicação é utilizada por organizaçõesmundiais e por governos nacionais como apoio em to-madas de decisão.2

1 Sobre esse assunto, ver Agricultura gaúcha em 2007: princi-pais produtos da lavoura temporária , de Maria Helena A. deSampaio e Suzana Ribeiro Boeckel, nesta edição.

2 A última vez que o Banco Mundial dedicou um informe dessaimportância para a agricultura foi em 1982.

A mensagem central do IDM 2008 (Banco Mundial,2007) é o reconhecimento de que a agricultura como umtodo é fundamental para o desenvolvimento, com metade redução de 50% da proporção de pessoas que vivemem situação de extrema pobreza até o ano de 2015. Essedocumento, dentre outros itens, contém orientações decomo colocar em prática programas de desenvolvimentopara a agricultura que resultem em melhorias para mi-lhões de pessoas de baixa renda que vivem no meiorural. De cada quatro pessoas pobres nos países emdesenvolvimento, três situam-se em zonas rurais e de-pendem direta ou indiretamente da agricultura, o que tor-na urgente a expansão de políticas públicas para os seg-mentos desse tipo de agricultura familiar.

Outro importante evento que marcou 2007 foi a re-alização da III Conferência Nacional de Segurança Ali-mentar e Nutricional, organizada pelo Consea, instânciado Governo Federal com ampla participação social. Essaconferência foi precedida de encontros preparatórios es-taduais e municipais. A principal atribuição da III Confe-rência foi propor as diretrizes e as prioridades para a cons-trução do Sistema Nacional de Segurança Alimentar eNutricional (SAN) e implementar a Política Nacional deSegurança Alimentar e Nutricional, conforme prevê a LeiOrgânica da Segurança Alimentar e Nutricional (Brasil,2006).

Para tanto, foram destaque na Conferência as polí-ticas sociais de transferência de renda e proteção so-cial, como Bolsa-Família, Benefícios de Prestação Con-tinuada e Previdência Rural, dentre outras. Algumas açõesigualmente citadas foram a expansão do Programa Na-cional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf),a criação do Programa de Aquisição de Alimentos daAgricultura Familiar, a reorientação do Programa Nacio-nal de Alimentação Escolar e a retomada da PolíticaNacional de Alimentação e Nutrição, todos fortementeatrelados à produção agrícola familiar. Para o cumprimentode meta desses programas, foram enfatizados temascomo a reforma agrária e a promoção da agricultura fa-miliar enquanto políticas estratégicas de desenvolvimento,oportunizando aos agricultores familiares condições parafortalecer sua capacidade de produzir alimentos diversi-ficados e para regular e limitar o avanço das monoculturas(Leite, 2007).

As questões apontadas reforçam a importância darealização periódica de conferências para a construçãode uma agenda pública no País, com formulação,implementação, monitoramento e controle das políticaspúblicas. A realização periódica de conferências comoessa tornou-se uma importante prática de consulta, comvistas a avaliar programas públicos, apresentar deman-

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53Agricultura familiar: evolução favorável em anos recentes

das sociais e sugerir prioridades de ação. A experiênciatem igualmente mostrado que a participação social nosfóruns de discussão pública é tão mais eficaz quantomaior a capacidade de organização da sociedade civilatravés de movimentos e de redes sociais.

Quanto ao Plano Safra Para a Agricultura Familiar2007/2008 (Brasil, 2007a), observou-se um acréscimona provisão dos recursos via Pronaf de 95%, quandocomparados ao montante de R$ 10 bilhões efetivamenteaplicado no ano anterior. Além dessa favorável provisãode recursos, foram editados a redução das taxas de ju-ros de 1% para 0,5% para os produtores de mais baixarenda que fizerem uso do Pronaf e o aumento dos limi-tes de financiamento para os produtores dos grupos A,B, C e D do Pronaf 3, ou seja, para agricultores cujasparcelas da renda geradas no estabelecimento, de acor-do com as regras de exigibilidade para fins de tomada docrédito, são menores.

Em toda a história brasileira, somente a partir de1996, com a criação do Pronaf, os agricultores familia-res tiveram uma atenção maior do Governo Federal. Apartir de então, nota-se uma crescente inclusão dos in-teresses da agricultura familiar nas políticas públicas,fato que refletiu a capacidade de organização dos produ-tores e acarretou mudanças importantes na orientaçãodada pelo Governo Federal, a partir de 2003, com rela-ção a esse segmento da agricultura. Foi criada, assim,“[...] uma convergência favorável para uma nova gera-ção de políticas agrícolas que vêm sendo concebidas eimplementadas por meio do diálogo e da participaçãosocial” (Brasil, 2007).

A importância desse segmento produtivo para aeconomia reflete-se, já há algum tempo, na divisão doMinistério da Agricultura em dois ministérios, o Ministé-rio da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e oMinistério do Desenvolvimento Agrário (MDA), cada umcom a finalidade de atender aos distintos segmentos queestão envolvidos na atividade agropecuária: o empresa-rial e o familiar. Essa nova organização poderá significarcontrovérsias por ocasião de uma intervenção pública

3 As regras de exigibilidade para o enquadramento dos agriculto-res familiares no Pronaf compõem-se dos seguintes grupos: A,composto pelos agricultores assentados pelo PNRA com rendabruta anual de, no máximo, R$ 14.000,00; B, formado pelosagricultores familiares com, no mínimo, 30% da renda agrícola,ou não agrícola, gerada no estabelecimento; C, formado pelosagricultores com, no mínimo, 60% da renda agrícola, ou não,gerada no estabelecimento; D, composto pelos agricultores fa-miliares com, no mínimo, 70% da renda agrícola, ou não agríco-la, gerada no estabelecimento; e E, formado pelos agricultoresfamiliares com, no mínimo, 80% da renda agrícola, ou não agrí-cola, gerada no estabelecimento.

no setor; no entanto, tem se mostrado fundamental parao alcance dos propósitos para os quais eles foram sepa-rados; isso, por ser o MAPA um ministério historicamen-te mais afeito aos interesses e às especificidades dagrande propriedade rural ou do setor empresarial daagropecuária.

A atuação desses ministérios não envolve unica-mente a oferta de recursos financeiros às atividadesagrícolas de custeio, investimento e comercialização,através de bancos públicos, como o Banco do Brasil, oBanco do Nordeste e o BNDES, que são os principaisresponsáveis pelo financiamento do setor rural. Tambémenvolve gastos diretos com programas e ações gover-namentais no setor, sendo que a prática desses progra-mas dirigidos a agricultores familiares, assentados, co-munidades nativas, agricultores extrativistas, etc., comoo Pronaf, ainda é relativamente recente no caso bra-sileiro.

Como principal instrumento de apoio à agriculturafamiliar, a análise que segue, referente aos recursoscreditícios do Pronaf, pode mostrar a importância e ocrescimento desse programa para o Rio Grande do Sul.

3 O Pronaf no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul é a unidade da Federação queapresenta o maior número de unidades agrícolas familia-res. Faz sentido, portanto, a afirmação de que a totalida-de da riqueza gerada com as atividades das cadeias pro-dutivas vinculadas ao meio rural soma 50% do PIB esta-dual, sendo que o segmento da agricultura familiar con-tribui com mais da metade desse valor. Essas informa-ções estão contidas em estudo solicitado à FundaçãoInstituto de Pesquisas Econômicas da Universidade deSão Paulo (FIPE-USP) pelo MDA para o ano de 2003,com o objetivo de “[...] definir e quantificar a renda gera-da pelas cadeias produtivas articuladas à agricultura fa-miliar” (Brasil, 2005). A referida distribuição percentualpode ser visualizada no Gráfico 1.

A Tabela 1, elaborada no âmbito do projeto INCRA--FAO, com dados do Censo Agr opecuário 1995/96(INCRA, 2000), mostra algumas características dasatividades do segmento agrícola familiar para o Estado.Inicialmente, é preciso fazer duas observações: a pri-meira é a de que a ordenação dos itens produzidos foidada em função dos valores de produção de cada umdos 10 principais produtos levantados; e a segunda é ade que a área média dos estabelecimentos considera-

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dos se encontra em torno de 22 hectares para esses 10itens (Tabela 2).

A comparação entre os valores produzidos e asrendas obtidas nos estabelecimentos mostra que estasnão correspondem à ordenação dos valores de produ-ção, com exceção do item galinhas , que, além de so-mar o maior valor de produção, tem também a maior ren-da, fato que deve estar, provavelmente, associado amenores custos (consumo intermediário), uma vez quegrande parte das unidades familiares tem produção pró-pria dos insumos utilizados nessa criação.

Notoriamente, os estabelecimentos familiares queapresentam as menores rendas totais são os que culti-vam arroz, soja e fumo; são também os que detêm asmenores extensões de área.4

Uma análise complementar feita por meio da Tabe-la 2 revela que as unidades familiares produtoras de fumo,arroz e soja proporcionam valores de produção unitáriosmaiores. No entanto, com exceção do cultivo de fumo, oarroz e a soja deixam de figurar entre os primeiros colo-cados e posicionam-se na quinta e na sétima colocação,quando observadas as rendas por unidade de área. Talsituação pode decorrer do fato de que o cultivo dessesdois produtos requer insumos que não podem ser produ-zidos no interior dos estabelecimentos familiares, e, as-sim, o consumo deles encontra-se, necessariamente,atrelado aos preços praticados pelas indústrias a mon-tante.

De outra forma, ao se considerarem os resultadosde rendimento econômico dos estabelecimentos, obti-dos através do valor total da produção por unidade deárea para cada um dos produtos listados na Tabela 1,verifica-se uma alteração na ordem dos itens, tal comoestão apresentados na Tabela 2. Essas informações re-velam que o fumo, a mandioca, os suínos e as hortali-ças são os que, por ordem de importância, mais geramriqueza nas unidades familiares de produção. Segue-os,nessa mesma ordem, o arroz, as galinhas, a soja, a pe-cuária de leite, o milho e, por último, a pecuária de corte.

O desempenho da agricultura familiar descrito atéaqui está notadamente associado ao Programa Nacionalde Fortalecimento da Agricultura Familiar, que tem de-monstrado ser um apoio de fundamental importância paraesse segmento. No Rio Grande do Sul, os recursos do

Pronaf perfizeram, ao longo do período analisado — 2000a 2006 —, uma média de participação de 20% no valortotal nacional. O Gráfico 2, onde é mostrada a evoluçãodo número de contratos e dos valores concedidos peloPronaf para o Rio Grande do Sul, dá suporte àconstatação dessa importância.

Embora se registre uma queda no número de con-tratos até o ano de 2003, a reformulação que sofreu oPronaf a partir desse ano, como já mencionado, foi bas-tante favorável aos agricultores familiares gaúchos, quetiveram um aumento de contratos próximo a 20% em2004, relativamente ao ano anterior.

As regras de exigibilidade para o enquadramentodos agricultores familiares no Pronaf estão unicamentebaseadas nas rendas agrícola e/ou não agrícola geradasno estabelecimento. Nos Gráficos 3 e 4, a evolução donúmero de contratos e do valor, segundo o enquadramentopara os agricultores familiares, revela que os grupos C eD são os que, ao longo do período, demandaram maiscrédito do Pronaf no Rio Grande do Sul. O grupo C dete-ve mais da metade do número de contratos até 2005,perdendo em espaço, a partir de então, para o grupo D.Em termos monetários, no entanto, o grupo D sempredeteve o maior montante de recursos em todo os anosda série, o que significa que o valor do Pronaf por contra-to sempre foi significativamente superior para os agricul-tores que têm, no mínimo, 70% de sua renda originadana unidade de produção familiar.

Nota-se, ainda, que, a partir das reformulações noprograma em 2003, começam a participar do Pronaf aque-les produtores familiares cuja renda agrícola, ou não,gerada no estabelecimento é de, no mínimo, 80%, ouseja, os do grupo E. Esse grupo de produtores inicia suapresença no Programa perfazendo cerca de 3% (7,4 mil)dos contratos para o Rio Grande do Sul em 2003 e, trêsanos depois, já somava 9% do total (27,8 mil con-tratos).

Os índices de valor médio por contrato do Pronafentre os grupos C e D, os mais significativos para o RioGrande do Sul, revelam, por sua vez, um crescimentoao longo de toda a série para ambos os grupos, comopode ser observado no Gráfico 5. Entre 2000 e 2006, ogrupo C teve um crescimento de 112,7% no valor médiopor contrato, e o grupo D registrou aumento de 145,9%.

De qualquer maneira, o Rio Grande do Sul sempredeteve maior atenção de parte do Programa, uma vezque detêm a liderança no número de agricultores familia-res no País.

4 Resultados mais atuais deverão ser obtidos através de dadosdo novo Censo Agropecuário do IBGE, ainda em fase de ela-boração. Se forem mantidas essas variáveis com tendênciasdeclinantes para os três produtos, uma nova agricultura familiarterá despontado e representará uma importante conquista emfavor da diversidade produtiva.

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55Agricultura familiar: evolução favorável em anos recentes

Tabela 1

Número, área total, valor da produção e renda dos estabelecimentos, segundo os principais produtos da agricultura familiar, no Rio Grande do Sul — 1995-96

NÚMERO DE

ORDEM PRODUTOS

NÚMERO DE

ESTABELE-CIMENTOS

ÁREA TOTAL

(1 000ha)

VALOR DA PRODUÇÃO

DO PRODUTO (R$ 1 000)

VALOR DA PRODUÇÃO TOTAL

DO ESTABELECIMENTO

(R$ 1 000)

RENDA TOTAL DO

ESTABELECIMENTO (R$ 1 000)

1° Galinhas ............... 307 898 6 607,49 530 022,45 3 038 468,29 1 769 852,03 2° Soja ...................... 135 271 3 008,92 509 757,57 1 379 220,97 810 330,36 3° Pecuária de leite .. 266 079 6 200,89 374 161,18 2 817 017,33 1 649 739,98 4° Fumo .................... 58 394 936,86 353 360,32 627 618,42 422 589,60 5° Milho .................... 294 244 6 370,32 300 017,62 2 840 425,51 1 655 181,77 6° Suínos .................. 243 406 5 158,89 241 157,02 2 616 033,20 1 524 884,34 7° Pecuária de corte 216 522 6 233,12 216 137,20 2 466 399,02 1 437 157,12 8° Mandioca ............. 195 185 3 764,48 186 840, 37 1 911 798,97 1 194 386,45 9° Arroz .................... 44 118 1 144,43 123 927,28 539 200,08 310 415,85

10° Hortaliças ............. 265 423 5 454,44 79 422,80 2 759 737,84 1 608 143,94

FONTE: IBGE. Censo Agropecuário 1995/1996 (Censos econômicos 1995/1996). Rio de Janeiro, 1995-1997. (Tabulações especiais). FONTE: INCRA. Projeto de cooperação técnica INCRA/FAO. Novo retrato da agricultura familiar: o Brasil redescoberto. Brasília, 2000.

Participação das cadeias produtivas no PIB total do RS — 2003

27%

23%

50%

Agricultura familiar

Agricultura patronal

Outros setores da economia

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. NEAD. PIB da agricultura familiar: Brasil-Estados. Brasília, 2007.

Gráfico 1

Legenda:

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56 Elvin Maria Fauth

Tabela 2

Área média, rendimento econômico total e por produto e rentabilidade dos principais produtos da agricultura familiar no Rio Grande do Sul —1995-96

NÚMERO DE

ORDEM PRODUTOS

ÁREA MÉDIA (ha)

RENDIMENTO POR PRODUTO (VPP/ha)

(1)

RENDIMENTO TOTAL (VP/ha)

(2)

RENTABILIDADE (RT/ha)

(3)

1° Fumo .......................... 16,04 377,18 669,92 451,07 2° Mandioca .................... 19,29 49,63 507,85 317,28 3° Suínos ........................ 21,19 46,75 507,09 295,58 4° Hortaliças ................... 20,55 14,56 505,96 294,83 5° Arroz ........................... 25,94 108,29 471,15 271,24 6° Galinhas ..................... 21,46 80,22 459,85 267,86 7° Soja ............................ 22,24 169,42 458,38 269,31 8° Pecuária do leite ........ 23,30 60,34 454,29 266,05 9° Milho ........................... 21,65 47,10 445,88 259,83

10° Pecuária do corte ....... 28,79 34,68 395,69 230,57

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Tabela 1. (1) Valor da produção do produto por hectare. (2) Valor da produção total por hectare. (3) Renda total por hectare.

Legenda:

0

50

100

150

200

250

300

350

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

200

400

600

800

1 000

1 200

1 400

1 600

Número de contratos Valor dos contratos

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. SAF. PRONAF. Disponível em: <www.mda.gov.br/saf>. Acesso em: ago. 2007a.

Número(1 000)

Valor(R$ milhões)

Estrutura evolutiva do número de contratos e do valor corrente do crédito PRONAF para o Rio Grande do Sul — 2000-06

800

600

0

200

400

Gráfico 2

Legenda:

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57Agricultura familiar: evolução favorável em anos recentes

Evolução da participação do número de contratos dos grupos C, D e E do Pronaf no Rio Grande do Sul — 2000-06

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Grupo C Grupo D Grupo E

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. SAF. PRONAF. Disponível em: <www.mda.gov.br/saf>. Acesso em: ago. 2007a.

Legenda:

Gráfico 3

(%)

Evolução da participação do valor dos contratos dos grupos C, D e E do Pronaf no Rio Grande do Sul — 2000-06

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Grupo C Grupo D Grupo E

Gráfico 4

FONTE: Ministério do Desenvolvimento Agrário. SAF. PRONAF. Disponível em: <www.mda.gov.br/saf>. Acesso em: ago. 2007a.

Legenda:

(%)

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58 Elvin Maria Fauth

Evolução do índice de valor médio dos contratos dos grupos C, D e do total do PRONAF no Rio Grande do Sul — 2000-06

80

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220

240

260

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Grupo C Grupo D Total

Gráfico 5

FONTE: Ministério do Desenvolvimento Agrário. SAF. PRONAF. Disponível em: <www.mda.gov.br/saf>. Acesso em: ago. 2007a.

Legenda:

Índice

0

4 Considerações finais

Considera-se, a partir das colocações feitas, que aagricultura familiar tem se tornado cada vez mais evi-dente no espaço rural, graças, em parte, ao apoio rece-bido em termos de políticas públicas. A continuidadedesse apoio tenderá a viabilizar esse segmento comoum dos mais aptos e capazes de abastecer mercados,de sustentar a biodiversidade e de prover necessidadeselementares, como alimento e trabalho, para um númeroconsiderável de pessoas pelo interior do País.

No Rio Grande do Sul, onde a concentração deunidades familiares de produção é maior, nota-se osério comprometimento das políticas públicas, como oPronaf, ao direcionar majoritariamente seus recursos paraprodutores cujas rendas, em sua maior parcela, são ori-ginadas no estabelecimento, a exemplo dos grupos C eD. Essas unidades de produção, como não poderia serdiferente num mundo globalizado, constituem-se em uni-dades não unicamente agropecuárias, mas também es-

tão voltadas à diversificação e à agregação de valor emsetores vinculados ao meio rural, como serviços e in-dústrias de transformação.

Contudo é oportuno afirmar que qualquer propostade desenvolvimento sustentável para o campo recai, ne-cessariamente, na desconcentração do processo produ-tivo e na dinamização da vida econômica, social e po-lítica do meio rural. Nesse contexto, o espaço rural devecomeçar a ser observado sob a ótica de quatro dimen-sões principais: de espaço produtivo, de residência, deserviços e de espaço patrimonial. E uma forma que en-globa essas quatro dimensões é a agricultura familiar.

Referências

BANCO MUNDIAL Informe sobre el desarrollo mun-dial 2008: agricultura para el desarrollo. Washington,D. C., out. 2007.

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59Agricultura familiar: evolução favorável em anos recentes

BRASIL. Lei n. 11346, de 15 de setembro de 2006. Criao Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricio-nal — SISAN, com vistas a assegurar o direito humanoà alimentação adequada e dá outras providências. Diá-rio Oficial da Repúb lica Federativ a do Brasil , PoderExecutivo, Brasília, D. F., 16 set. 2006.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. SAF.PRONAF. Disponível em: <www.mda.gov.br/saf>. Aces-so em: ago. 2007a.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. NEAD.PIB da agricultura familiar: Brasil-Estados. Brasília,2007.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. NEAD.PIB das cadeias produtivas da agricultura familiardo Rio Grande do Sul . Brasília, 2005.

CHIRIBOGA, M. Desafios de la pequeña agricultura fa-miliar frente a al globalización. Boletín InterCambios ,Santiago de Chile, v. 2, n. 13, abr. 2002.

INCRA. Projeto de cooperação técnica INCRA/FAO. Novoretrato da a gricultura familiar: o Brasil redescoberto.Brasília, 2000.

LEITE, Sérgio Pereira. Agricultura familiar: chave paracriar e manter emprego no campo. Carta Maior , 04 ago.2007.

LEITE, Sérgio Pereira. Dilemas do financiamento da agri-cultura brasileira. Carta Maior , 01 ago. 2007a.

MALUF, Renato S. Diretrizes para a segurança alimen-tar. Carta Maior , 08 ago. 2007.

POCHMANN, Márcio. Política econômica tem de ter com-promisso com emprego. Carta Maior , 07.08.2007.

SACHS, Ignacy. Brasil rural: da redescoberta à in-venção. Estudos A vançados , São Paulo, v. 15, n. 43,p. 75-82, 2001.

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61Bom desempenho da indústria gaúcha em 2007: expansão ou recuperação?

Estimativas preliminares realizadas pelo IPEA apon-tam uma taxa acumulada de 5,2% para o PIB brasileirono ano de 2007, estendendo, dessa forma, a fase deexpansão econômica iniciada no primeiro trimestre de2005. Com essa perfomance, a economia brasileira re-pete, praticamente 20 anos depois, um período de cres-cimento econômico prolongado e ininterrupto, como oque ocorreu no período 1984-87 (Carta Conj., 2007).Essa atual fase de crescimento vem sendo sustentadapor um vigoroso aumento do consumo doméstico e doinvestimento, o qual se realimenta através da ampliaçãoda capacidade produtiva e de elevações no nível deemprego e na demanda interna. O consumo interno cres-ceu alimentado pelos juros baixos, pelo crédito abun-dante e barato e, sobretudo, pelo alongamento dos pra-zos de financiamento. Os investimentos, avaliados pe-las taxas de formação bruta de capital fixo (FBCF), apre-sentaram, pelo terceiro ano consecutivo, taxas de cres-cimento acima do PIB (Casarin, 2007).

Parte desses investimentos pode ser creditada aonotável aumento do volume de recursos externos queentrou no País, em patamar bem acima do previsto namaioria das análises conjunturais, as quais, de acordocom Bacha, subestimaram o grau de atratividade do Brasil(Dantas, 2008). Esses recursos na forma de IDE e deoutros tipos de capitais de portfólio, tais como emprésti-mos, aplicações financeiras, bolsas, títulos públicos,dentre outros, foram canalizados, em boa parte, paranovos projetos, mas não tanto para fusões e aquisições,como ocorreu na década de 90. Pelo lado da demanda,também segundo Bacha “[...] a abundância de recursosexternos propiciou uma grande liquidez interna, quealavancou uma forte expansão do crédito e alimentou oconsumo” (Dantas, 2008, p. B-12).

A maior parte dos recursos foram canalizados paraos setores de energia elétrica e construção civil, recupe-

Bom desempenho da indústria gaúcha em 2007:

expansão ou recuperação?*

Maria Lucrécia Calandro** Economista da FEE e Professora da FACE-PUCRS

Silvia Horst Campos*** Economista da FEE e Professora da FACE-PUCRS

rando, em parte, o atraso nos investimentos em infra--estrutura, e isso “[...] pode ilustrar a importância que ainfra-estrutura voltou a ter nas decisões de investimen-to, tanto por parte do setor público quanto por parte dosetor privado” (Casarin, 2007, p. 23).

Outros indicadores macroeconômicos também apre-sentaram bom desempenho. A taxa de inflação (IPCA)de 4,46%, apesar da pressão dos preços dos alimentos,especialmente leite e derivados, soja, feijão e carnes,ficou abaixo do centro da meta estabelecida pelo Gover-no; a taxa de juros (Selic) passou por sucessivas redu-ções ao longo do ano, mantendo-se em patamar próximode 10% (11,25%) no final de 2007, taxa ainda maior doque as praticadas nos países estáveis (Celoto; Melo,2008); a relação dívida líquida do setor público/PIB man-teve a tendência de redução pelo quarto ano seguido; eo saldo em conta corrente, embora em queda no ano emanálise, foi superavitário.

O desempenho da economia brasileira em 2007 foifavorecido pelas performances dos três setores: a in-dústria mantém a trajetória de crescimento iniciada em2005 e, dessa forma, vem impulsionando o crescimentodos demais setores econômicos1; o setor serviços cres-ce assentado no desempenho do comércio e daintermediação financeira; e a agricultura vive um bommomento, com safra recorde e preços em alta.

O setor serviços, com taxa de crescimento previs-ta de 4,7% (Carta Conj., 2007), teve como destaque oextraordinário aumento das vendas no varejo: o crédito“farto e barato” e o alongamento dos prazos de financia-mento, associados a um aumento da massa salarial ede gastos públicos, incorporaram novas classes de con-sumidores (C e D) e impulsionaram, sobretudo, as ven-

* Artigo recebido em 25 jan. 2008.

** E-mail: [email protected]

*** E-mail: [email protected]

1 A evolução da produção da indústria de transformação é utiliza-da para fazer previsões a respeito do comportamento do PIB,isto porque ela “[...] é o segmento cujo crescimento exercemaior poder de alavancar o crescimento dos demais setores e,portanto, com mais potencial para contribuir para o crescimentoda produtividade da economia” (Primeiro..., 2007, p. 1 apud Cam-pos, 2007, p. 7).

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 61-72, 2008

62 Maria Lucrécia Calandro; Silvia Horst Campos

das de bens industriais. Alguns ramos industriais já tra-balham próximos do limite da capacidade instalada, comoé o caso da indústria automobilística. O nível de utiliza-ção da capacidade instalada em 2007, medido pela CNI,ficou em 82,9% (Balanço..., 2007).

Segundo a Associação Nacional das Instituiçõesde Crédito e Investimento (Acrefi), em 2007, o volumede crédito ao consumidor foi o melhor dos últimos 10anos, apoiado na concessão de prazos mais longos, emtaxas de juros menores e em um cenário macroeconômicofavorável.2

A agricultura, pelo segundo ano, apresenta bonsresultados, decorrentes do momento favorável vivido pelosetor: preços e produção elevados. Está prevista a co-lheita da maior safra brasileira de grãos, calculada em145,8 milhões de toneladas, o que representa um cresci-mento de 3,1% em relação ao volume colhido no anoanterior, segundo estimativa do IBGE (De Chiara, 2008).Em termos de valor, esses números assumem maiormagnitude, favorecidos pela elevação nos preços dascommodities. O aumento da renda agrícola daí decor-rente terá impactos positivos em 2008, estimulando oconsumo e o aumento dos investimentos tanto na agri-cultura quanto em outros segmentos produtivos.3

Confirmados e festejados os bons resultados de2007, resta a questão relativa à sustentação dessatrajetória de crescimento assentada na expansão da de-manda interna (consumo e investimento), uma vez queé incerta a evolução de algumas variáveismacroeconômicas importantes, tais como a inflação e ataxa de câmbio, em um ambiente de recessão norte--americana e ameaça de crise energética.

É no setor externo que se encontram as maioresincertezas a respeito da continuidade do crescimentoeconômico com base no padrão atual, isto porque o au-mento da demanda doméstica em um ritmo superior aoda oferta interna requer importações crescentes. Comoas importações, estimuladas pelo real valorizado, ten-dem a crescer mais do que as vendas externas, a ten-dência para os próximos meses é de redução do superá-vit. Já há previsões de déficit em conta corrente no anode 2008. Ressalte-se, porém, que nem tudo é negativo

2 Para maiores informações a respeito do desempenho da agri-cultura brasileira e mais especificamente da gaúcha, ver textoespecífico nesta mesma edição da revista.

3 Deve-se ressaltar que o crescimento no consumo domésticovem sendo sustentado pelo aumento do endividamento via fi-nanciamentos de longo prazo, uma vez que o aumento do nú-mero de novos empregos e dos salários dos trabalhadores vemcrescendo menos do que o crédito.

nesse cenário, uma vez que parte do aumento de impor-tações ocorre no segmento de bens de capital e podeestar sendo utilizada para aumentar a capacidade produ-tiva e a produtividade da indústria brasileira.

O objetivo deste artigo é analisar o desempenhodas indústrias brasileira e gaúcha com base no índicede evolução da produção física (PIM-IBGE), no períodojan.-nov./07, examinando os segmentos responsáveispelas elevadas taxas de crescimento atingidas por essesetor produtivo. Após esta Intr odução , avalia-se o de-sempenho da produção física da indústria brasileira, agru-pada por categorias de uso e por atividade, e o desem-penho da atividade fabril do ponto de vista da distribui-ção espacial. A última parte do artigo é dedicada à aná-lise do desempenho da indústria gaúcha em nível global,comparado com o da indústria nacional, e tambémdesagregada segundo as principais atividades.

Desempenho da produçãofísica da indústria brasileira

A produção industrial brasileira, avaliada pelo índi-ce de produção física (PIM-IBGE), acumulou, no perío-do jan.-nov./07, um crescimento de 5,5%, sustentadopelo desempenho dos segmentos produtores de bens decapital e de consumo duráveis. Em novembro, último dadodisponível para 2007, a queda de 1,8% na produção in-dustrial decorreu da retração da atividade produtiva damaioria dos ramos pesquisados. A exceção coube à ca-tegoria bens de capital, que manteve o comportamentoexpansionista, acumulando uma taxa de 8,6% nos 11meses de 2007 (Ind. IBGE, 2007). Uma nova queda naprodução industrial aparece nas estimativas do IPEA(-2% em comparação com novembro), fechando o anocom um taxa acumulada de 5,2%. Esses dois mesesde retração da atividade produtiva podem ser considera-dos resultado de uma acomodação natural do nível deprodução após um período de crescimento acelerado edo menor número de dias úteis de dezembro e, segundoo IPEA, não indicam uma reversão da trajetória de cres-cimento (Indicador IPEA..., 2008).

O Gráfico 1 apresenta a evolução do índice de pro-dução física da indústria brasileira, agrupada por cate-gorias de uso, no período jan./06-nov./07. As informa-ções do Gráfico 1 mostram que a forte expansão da pro-dução industrial vem sendo liderada pelos segmentosprodutores de bens de consumo duráveis e de capital,estes últimos registrando taxas acumuladas superioresa 15% no período analisado.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 61-72, 2008

63Bom desempenho da indústria gaúcha em 2007: expansão ou recuperação?

No segmento produtor de bens de capital, o desta-que é a produção de bens agrícolas e de peças agríco-las, com taxas acumuladas (jan.-nov./07) de 47,2% e169,3% respectivamente (Ind. IBGE, 2007). Esse seg-mento foi beneficiado pela recuperação da agricultura epelo o conseqüente aumento da renda agrícola após doisanos consecutivos de quebra de safra. Informações daAnfavea (Carta Anfavea, 2008) mostram que foram pro-duzidas 65,0 mil unidades de máquinas agrícolasautomotrizes no ano de 2007, o que representa um cres-cimento de 41,0% em relação ao montante registradoem 2006. A maior parcela foi vendida no mercado inter-no, que teve um aumento de 49,2%, enquanto as expor-tações tiveram uma expansão de 20,6%, ambos os au-mentos registrados na comparação com igual períododo ano anterior.

A categoria bens de consumo não duráveis teve opior desempenho no período analisado, o que pode serexplicado, em larga medida, pelo comportamento de seg-mentos tradicionais que exportam parcelas expressivasda produção. Esses fabricantes estão encontrando difi-culdades em concorrer tanto no mercado externo quantono interno, devido às perdas de competitividade ocasio-nadas principalmente pela valorização cambial.

A Tabela 1 apresenta o desempenho da produçãofísica brasileira, agregada por atividade econômica, noperíodo jan.-nov./2007, evidenciando a trajetória de cres-cimento da indústria ao longo do período em análise. Osmelhores desempenhos ficaram por conta dos segmen-tos produtores de bens de capital, secundados pelos fa-bricantes de veículos automotores (115,1%) e equipa-mentos de transporte (115,1%).

O cenário é desfavorável para os fabricantes deprodutos tradicionais. Para se adaptarem às mudançasem curso na indústria calçadista internacional, os produ-tores brasileiros estão realizando um esforço de altera-ção na forma de inserção externa, através da diversifi-cação de compradores, da agregação de valor ao calça-do e da crescente diferenciação de modelos, que incor-poram design e conteúdo de moda. O objetivo é “[...]fugir da concorrência asiática em terceiros mercados ecompensar a perda de rentabilidade pela moeda desfa-vorável às exportações” (Fabricantes..., 2008, p.1). Al-guns produtores, em razão do real valorizado e do au-mento do consumo doméstico, redirecionaram suas ven-das para o mercado interno, estratégia que evitou o fe-chamento de algumas empresas calçadista. Desse es-forço de reestruturação e de redirecionamento da produ-ção para mercados de calçados mais sofisticados resul-tou que, ao longo de 2007, embora tenha havido umaqueda na quantidade de pares exportados, o preço mé-

dio do calçado comercializado aumentou 4,1% em rela-ção a 2006. De janeiro a novembro do ano passado, “[...]o Brasil exportou 163 milhões de pares, uma queda de1,4% em relação ao mesmo período de 2006. Mas, porconta do aumento do preço médio, o faturamento comas vendas externas cresceu 2,6%” (Fabricantes..., 2008,p.1).4

No esforço de reinserção externa, os fabricantesde calçados valem-se de programas desenvolvidos porentidades de classe com a ajuda do Governo Federal,como é o caso do Brazilian Footwear, programa desen-volvido pela Associação Brasileira da Indústria de Cal-çados (Abicalçados) e pela Agência de Promoção deExportações (Apex-Brasil). Os principais eventos do setorsão: a Couromodas, realizada no mês de janeiro, e aFrancal, que ocorre no mês de junho.

Outro destaque negativo é o desempenho do seg-mento de alimentos, não pela modesta taxa de cresci-mento acumulada de 2,6% no período jan.-nov./07, maspela forte elevação de preços, que resultou em aumentoda taxa de inflação, medida pelo IPCA, de 4,46% (IPCA),revertendo a trajetória de desaceleração do nível de pre-ços iniciada em 2003.

Entre os bens duráveis, a ênfase deve ser dada àprodução de autoveículos (leves, caminhões e ônibus)montados e desmontados, que cresceu 13,9% em 2007,em comparação com o ano anterior, totalizando 2,97milhões de unidades (Carta Anfavea, 2008), superandoo recorde histórico de 1997. O crescimento da demandapor veículos impulsionou a produção de autopeças, for-çando esses fabricantes a aumentarem a utilização dacapacidade instalada — mediante a contratação de mão--de-obra e o aumento dos turnos de trabalho — e, emalguns casos, a realizarem investimento em infra-estru-tura. As previsões de integrantes desse segmento pro-dutivo são de que, em 2008, um novo recorde de vendasde veículos será atingido.

Do ponto de vista espacial da atividade fabril, ob-serva-se a generalização da tendência de crescimentoda produção física industrial verificada em nível nacio-

4 Em 2007, o calçado brasileiro foi vendido no exterior a US$10,41, em média, o par. As previsões de faturamento para o anode 2008, a julgar pelos resultados comerciais da 30ª Couromodas,são bastante animadoras em relação às vendas tanto no mer-cado interno quanto nos principais países de destino: houve umcrescimento de 11,11% sobre o valor comercializado no anoanterior. O preço médio do calçado exportado elevou-se paraUS$ 35,00. No caso dos Estados Unidos, principal destino doscalçados brasileiros, o preço médio do par subiu para US$ 15,80,quase o dobro do preço do calçado chinês, que se situa emtorno de US$ 8,00 (Valor..., 2008, p. 12).

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nal em 2007 (Ind. IBGE, 2007a). Os indicadores relati-vos ao mês de novembro (mensal, acumulado no ano eacumulado em 12 meses), quando comparados com osde 2006, assinalam taxas de crescimento positivas emtodos os 14 locais pesquisados pelo IBGE, com exceçãoda comparação mensal com novembro do ano anteriorno caso do Estado do Pará. Com desempenhos acimada média nacional, destacam-se Minas Gerais, Rio Gran-de do Sul, Espírito Santo, São Paulo e Paraná, estadosem que a estrutura industrial revela forte presença desegmentos produtores de bens de capital (especialmen-te para uso agrícola, de informática e de transportes) ede bens de consumo duráveis (particularmente veículosautomotores e autopeças), além de setores tipicamenteexportadores (minério de ferro, açúcar, complexo soja ecarnes). Assim, os principais fatores que sustentaram aexpansão da indústria brasileira em 2007 — ampliaçãodo consumo doméstico, beneficiado pelas boas condi-ções de crédito; crescimento do investimento, aumen-tando a capacidade produtiva; e dinamismo das vendasexternas, apoiado principalmente na maior exportaçãode commodities — afetaram esses estados de maneiradiferenciada.

As indústrias estaduais também acompanharam ocontínuo crescimento do índice de média móvel trimes-tral da indústria nacional, que acumulou expansão de9,3% desde junho de 2006. Rio Grande do Sul, MinasGerais e São Paulo vêm liderando essa expansão comtaxas acima da média nacional: respectivamente, 12,8%,12,1% e 9,7% (Ind. IBGE, 2007a). Construído com basena série de índices da produção industrial livre deinfluências sazonais, a evolução do indicador trimestralpermite uma melhor visualização da trajetória deexpansão que caracterizou a indústria no Brasil, nosúltimos dois anos.

Esses resultados tão favoráveis não se mantêm,quando se considera a série dessazonalizada de índicesda produção industrial na comparação com o mês ime-diatamente anterior. Na passagem de outubro para no-vembro, os índices regionais mostraram queda em setedos 14 locais pesquisados, acompanhando, assim, orecuo da indústria nacional (-1,8%). Espírito Santoregistrou a maior expansão na produção (2,6%); e oParaná, a maior queda (-9,1%). O Rio Grande do Sul apre-sentou um crescimento de 0,6%. De um modo geral, pode--se argumentar que as taxas de novembro se ressenti-ram de uma base de comparação elevada, uma vez queos resultados de outubro apresentaram vários recordesde produção.

O Rio Grande do Sul ocupou o segundo lugar emtermos do desempenho acumulado no ano até novem-

bro (8,0%) e do indicador anualizado (7,4%) — acumula-do nos últimos 12 meses — e a terceira posição, com8,7%, no ranking das taxas de crescimento do indicadormensal (comparação com o mesmo mês do ano ante-rior).5 Embalado pela boa performance de importantes erepresentativos segmentos da agroindústria e pelo am-biente econômico favorável, o Estado exibe taxas decrescimento superiores à média nacional. Destaca-se aespetacular expansão da produção de bens de capitalpara fins agrícolas, a fabricação de veículos automotores,ônibus, reboques e semi-reboques e a atividade de refi-no de petróleo e álcool.

5 É importante lembrar que parte da boa performance da indústriagaúcha em 2007 se deve à base de comparação deprimida. Em2006, o Rio Grande do Sul registrou queda de 1,98% na produ-ção industrial, o segundo pior resultado dentre os locaispesquisados pelo IBGE.

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65Bom desempenho da indústria gaúcha em 2007: expansão ou recuperação?

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Bens de capital Bens intermediáriosBens de consumo duráveis Bens de consumo não duráveisIndústria geral

Evolução do índice da produção física da indústria, por categorias de uso, no Brasil — jan./06-nov./07

Índice

Legenda:

0 =

FONTE: INDICADORES IBGE: pesquisa industrial mensal: produção física Brasil. Rio de Janeiro, nov. 2007. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/industria/ pimpfbr/default.shtm>. Acesso em: 08 jan. 2008. NOTA: Índices mensais de base fixa (2002 = 100); série com ajuste sazonal; média móvel trimestral.

Gráfico 1

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66 Maria Lucrécia Calandro; Silvia Horst Campos

A indústria gaúcha em2007: expansão ourecuperação?

Segundo estimativas preliminares da Fundação deEconomia e Estatística (FEE), a economia gaúcha cres-ceu 7,0% em termos reais, em 2007, portanto, acima da

taxa de crescimento projetada para o Brasil. A indústria,que participa com 29,05% do Valor Agregado Bruto (VAB)do RS, expandiu-se 7,2%, depois de dois anos consecu-tivos de taxas negativas. O melhor desempenho foi daindústria de transformação: 7,9% (FEE, 2007).

No Gráfico 2, são apresentadas as taxas de cres-cimento da produção física industrial no Brasil e no RioGrande do Sul, em bases tanto trimestrais como men-sais. De imediato, têm-se duas observações a fazer. A

Tabela 1

Indicadores da produção industrial, por seções e atividades de indústria, no Brasil — 2007

∆% ACUMULADO SEÇÕES E ATIVIDADES DE INDÚSTRIA Jan.-

-Set. Jan.- -Out.

Jan.- -Nov.

Indústria geral ................................................................................................................. 105,35 105,90 105,98 Indústrias extrativas ........................................................................................................ 105,80 105,63 105,43 Indústria de transformação ............................................................................................. 105,32 105,92 106,01 Alimentos ........................................................................................................................ 102,32 102,81 102,56 Bebidas ........................................................................................................................... 105,25 105,55 105,41 Fumo ............................................................................................................................... 91,83 91,83 91,94 Têxtil ............................................................................................................................... 102,93 103,36 103,50 Vestuário e acessórios .................................................................................................... 103,63 104,58 104,54 Calçados e artigos de couro ........................................................................................... 96,92 98,09 98,31 Madeira ........................................................................................................................... 97,44 97,80 97,42 Celulose, papel e produtos de papel .............................................................................. 100,10 100,44 100,55 Edição, impressão e reprodução de gravações .............................................................. 99,44 100,41 100,45 Refino de petróleo e álcool ............................................................................................. 101,49 102,43 102,72 Farmacêutica .................................................................................................................. 102,36 101,90 101,54 Perfumaria, sabões, detergentes e produtos de limpeza ............................................... 106,57 105,81 105,36 Outros produtos químicos ............................................................................................... 105,76 105,89 105,73 Borracha e plástico ......................................................................................................... 104,07 104,96 105,68 Minerais não metálicos ................................................................................................... 105,05 105,39 105,33 Metalurgia básica ............................................................................................................ 106,66 106,60 106,70 Produtos de metal — exclusive máquinas e equipamentos ........................................... 105,39 105,75 105,83 Máquinas e equipamentos .............................................................................................. 117,29 117,71 117,76 Máquinas para escritório e equipamentos de informática .............................................. 115,28 116,13 115,89 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos ..................................................................... 111,87 113,20 113,84 Material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações ................................. 94,79 96,25 97,30 Equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, ópticos e outros ...................... 99,95 101,68 103,19 Veículos automotores ..................................................................................................... 112,52 114,26 115,08 Outros equipamentos de transporte ............................................................................... 118,43 117,48 115,09 Mobiliário ......................................................................................................................... 109,54 109,37 108,21 Diversos .......................................................................................................................... 99,60 99,42 99,24

FONTE: IBGE. Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Indústria.

NOTA: 1. Os dados têm por base igual período do ano anterior = 100.

2. Ponderação realizada através da PIA 1998/2000.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 61-72, 2008

67Bom desempenho da indústria gaúcha em 2007: expansão ou recuperação?

primeira refere-se ao patamar em que elas se movem,sensivelmente mais elevado no caso da indústria nacio-nal, que chegou em novembro de 2007 com crescimentoacumulado de 25% sobre a média de 2002, 15 pontospercentuais superior ao obtido pela indústria gaúcha.Embora sem ser constante ao longo do período conside-rado, a diferença de patamares reflete principalmente oimpacto dos ajustes efetuados pela indústria gaúcha àsalterações de política macroeconômica nacional, emespecial da política cambial (a partir de meados de 2004),e os efeitos da crise do setor agrícola desencadeada pordois anos de forte estiagem (2004 e 2005).6 A diminui-ção da renda e da demanda na agricultura reduziu a ca-pacidade financeira dos produtores e atingiu negativa-mente as carteiras de crédito das principais cooperati-vas da região sul e a indústria fornecedora de matéria--prima e bens de capital (basicamente máquinas agríco-las). Essa situação, juntamente com a valorização docâmbio e as restrições de créditos aos exportadores,“[...] estendeu a crise na economia do Estado para ou-tros segmentos industriais, como o complexo coureiro--calçadista, moveleiro e a indústria de alimentos e bebi-das” (Balanço..., 2007, p. 71).

A segunda observação ressalta o contraste entreas trajetórias das taxas de crescimento de ambas asindústrias. Esse movimento, que é relativamente contí-nuo e ascendente no caso brasileiro, apresenta oscila-ções pronunciadas no âmbito da indústria estadual, con-figurando, inclusive, taxas negativas no primeiro semes-tre de 2006. A forte dependência das cadeias produtivasligadas ao agronegócio explica boa parte dessa evolu-ção. A retomada da atividade industrial iniciou depois dasafra 2005/2006 e ganhou força com a ocorrência deuma segunda boa safra em 2006/2007. Ressalte-se, con-tudo, que só recentemente esses impulsos,potencializados por um ambiente econômico, nacional eregional, favorável, têm logrado posicionar a atividadeindustrial gaúcha próxima dos patamares que antecede-ram o período de crise. Em conseqüência, pode-se afir-mar que a indústria gaúcha ainda se encontra em fasede consolidação de um processo de recuperação: “[...] aindústria ainda não recuperou as perdas acumuladas de2005 e 2006 [...] o crescimento efetivo da atividade in-

6 Considerando a série histórica total disponível (1991-07), ob-serva-se uma alternância entre os patamares das taxas decrescimento trimestrais das indústrias nacional e estadual, man-tendo uma relativa proximidade entre os mesmos até agosto de2004, a partir de quando a diferença ampliar-se significativa-mente, atingindo seu ponto máximo em abril de 2006,correspondendo a 17 pontos percentuais.

dustrial no Estado, mantida a tendência atual, deveráiniciar apenas em 2009” (Indústria..., 2008).

Conforme já foi sinalizado anteriormente, neste ar-tigo, o desempenho da indústria gaúcha é largamentebalizado pela sua estreita vinculação com o agronegócioe também com o setor exportador. Em conseqüência, éimportante considerar o seu perfil estrutural, ao analisara performance dos vários segmentos industriais. A Tabe-la 2 inclui a estrutura do Valor da Transformação Indus-trial (VTI) e do emprego industrial no Rio Grande do Sul,ambos com base na Pesquisa Industrial Anual (PIA) de2005.

Examinado em nível das atividades produtivas in-dustriais, o crescimento da indústria gaúcha acumuladono período jan.-nov./07, comparado com o mesmo perío-do de 2006, foi alavancado principalmente por atividadesdo complexo metal-mecânico, em especial pela produ-ção de máquinas e equipamentos (33,28%) e fabricaçãoe montagem de veículos automotores (27,21%) e pelorefino de petróleo e álcool (31,49%). Juntas, elas res-pondem por 20,78% do VTI e 14,30% do emprego indus-trial (Tabela 2). Observa-se que essas também são asatividades que vêm obtendo os maiores acréscimos deprodutividade no período recente, impulsionados essen-cialmente pelo aumento da demanda doméstica, que,por sua vez, deriva da ampliação da capacidade instala-da, a qual é decorrência de investimentos realizados, darecuperação da agropecuária e da recomposição da ren-da do produtor rural, da diminuição das taxas de juros,da elevação da renda e do emprego e da expansão docrédito (Campos, 2007). Dentro do complexo metal-me-cânico, destacaram-se também a fabricação de produ-tos de metal — exclusive máquinas e equipamentos(1,71%) e a metalurgia básica (6,67%), que, juntas, res-pondem por 9,52% do VTI e 8,31% do emprego na in-dústria de transformação.

O Rio Grande do Sul é o maior pólo produtor nacio-nal de máquinas e implementos agrícolas, e a fabrica-ção de tratores e de colheitadeiras assume grande im-portância na matriz industrial local. O Estado sedia trêsfábricas de tratores e duas de colheitadeiras, com pre-dominância de capital multinacional. A crise que se aba-teu sobre o agronegócio em 2005 e 2006 repercutiu for-temente no desempenho dessa indústria, comprometen-do metas de produção e a rentabilidade do setor. A ma-nutenção dos elevados níveis de exportação tambémse mostrou inviável frente à valorização do real e à per-da de competitividade do produto brasileiro no mercadoexterno.

Essa situação começou a ser revertida em 2007,com as empresas gaúchas aproveitando o bom momen-

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68 Maria Lucrécia Calandro; Silvia Horst Campos

to vivenciado pelo setor agrícola nacional (boas safrasde grãos, alta de preços das commodities, reflexos dademanda por agroenergia, dentre outros fatores) e pas-sando a direcionar a maior parte de sua produção para omercado interno. As vendas internas aumentaram 49,2%,as exportações cresceram 20,6% em volume e 13,9%em valor, e a produção expandiu-se 41%, mas esse bomdesempenho ainda está muito aquém do potencial domercado e da capacidade de produção dessa indústriano Brasil, que é de 98 mil unidades. O maior incrementoocorreu em colheitadeiras, máquinas de grande porte demaior preço unitário, segmento liderado pelo Rio Grandedo Sul e que foi o mais atingido com as quebras de sa-fra. A produção cresceu 120,4%; as vendas internas,131,2%; e as exportações, principalmente de tratores,49,1% , mas ainda há postos de trabalho a serem recu-perados (Carta Anfavea, 2008).

A reedição do programa Moderfrota, com a redu-ção dos juros dos financiamentos agrícolas e o lança-mento de programas estaduais e federais que facilitamfinanciamentos para os pequenos produtores, trouxe umalento adicional para essa indústria. Paralelamente, háainda um espaço significativo para mecanização nas la-vouras brasileiras e a necessidade de suprir o déficit demáquinas agrícolas. Segundo a Anfavea, a frota brasilei-ra de tratores é de 337 mil unidades; e a de colheitadeiras,de 4 mil, sendo necessários cerca de 40 mil novas má-quinas por ano no Brasil (São Paulo..., 2007).

Outra contribuição importante para o bom desem-penho da indústria gaúcha em 2007 veio da atividade defabricação e montagem de veículos automotores e deimplementos rodoviários. Conforme já comentado na pri-meira parte deste artigo, o desempenho da produção edas vendas de autoveículos foi espetacular em 2007,por conta do aquecimento da demanda interna. O RioGrande do Sul beneficiou-se sobretudo da expansão dosegmento de autopeças e de fabricação de veículos pe-sados, carroçarias de ônibus e implementos rodoviários.Empresas como Marcopolo, Randon e Agrale superaram,em grande medida, as projeções iniciais e realizaraminvestimentos com vistas à ampliação da produção.

Ainda no corte por ramos industriais, uma contri-buição positiva importante para a formação da médiaglobal da indústria gaúcha vem da produção de alimen-tos e bebidas. Mais intensiva em mão-de-obra, essaatividade empregou 16,92% do total do emprego formalindustrial e respondeu por 17,50 % do VTI gerado em2005. Um aspecto muito positivo é o fato de que essaindústria expandiu tanto o emprego formal quanto a pro-dução nos últimos dois anos. No Rio Grande do Sul, osramos individuais mais representativos são abate e pre-

paração de carnes e moagem, fabricação de produtosamiláceos e de rações balanceadas para animais.

A performance dessa indústria poderia ter sidoainda melhor, não fosse o aumento de custos das maté-rias-primas, principalmente dos grãos. Deve-se observartambém que ela foi muito favorecida pelo aquecimentoda demanda interna, que aumentou por conta do cresci-mento dos níveis de emprego e da renda. Conforme aAssociação Brasileira das Indústrias de Alimentação(ABIA), “[...] 75% da produção do setor estão voltadospara o mercado interno, refletindo, pois, diretamente asvariações do poder de compra da população” (Custo...,2008). Um segmento produtivo que tem dado uma con-tribuição positiva em 2007, no Rio Grande do Sul, é o deabates e exportações de carnes de frango e suínos, comoforma de compensar as quedas dos abates de carnebovina.

As mais importantes contribuições negativas paraa formação da taxa global da indústria gaúcha foram dadaspela indústria do fumo e pela fabricação de calçados eartigos de couro. Destaca-se que as taxas negativas de2007 recaem sobre uma base já enfraquecida, agravan-do ainda mais a situação de crise que permeia essasatividades, especialmente quando se observa que 2004foi o último ano em que ocorreu uma taxa anual positiva.

Ambos os segmentos são representativos no Es-tado e também em nível nacional, de sorte que tambémapresentaram desempenho negativo, quando se consi-dera a indústria brasileira. Por tratar-se de atividadesmuito voltadas para o mercado externo, é compreensí-vel que seu desempenho seja afetado pela política cam-bial vigente. Assim, enquanto predominou a política dedesvalorização do real, as exportações de calçados ede fumo estavam em alta e garantiam a rentabilidade e acompetitividade do produto nacional. Na situação atual,que já se prolonga por cerca de três anos, esses seg-mentos têm encontrado dificuldades para assimilar osimpactos da valorização do real frente ao dólar.

Na indústria coureiro-calçadista, a estratégia pre-dominante é agregar valor ao produto final, para poderexportá-lo numa faixa de preço mais elevado, ainda nãoocupada pelas exportações chinesas. Em pesquisarealizada junto a diversas empresas calçadistas gaúchas,foi possível observar o esforço em busca de um produtode moda, com design criativo e diferenciado. Também foiobservado um certo clima de otimismo com relação aofuturo da indústria no Estado e no Brasil, com base napercepção da superação da fase de acomodação e ajus-te à nova situação. Essa perspectiva de recuperação éparticularmente relevante, quando se considera o com-plexo coureiro-calçadista, tendo em vista o elevado vo-

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69Bom desempenho da indústria gaúcha em 2007: expansão ou recuperação?

plexo coureiro-calçadista, tendo em vista o elevado vo-lume de emprego que ele absorve. Conforme a PIA —2005, a atividade de curtimento de couros e fabricaçãode calçados e de artigos de couro respondeu por 25,91%do total de empregos gerados na indústria de transfor-mação gaúcha, superando, em larga escala, arepresentatividade da indústria do fumo, que foi de ape-

nas 1,04% (Tabela 2).Na indústria do fumo, a estratégia precisa ser ou-

tra, pois o que se exporta é fumo processado, uma dasprimeiras etapas do beneficiamento do fumo. Nesse caso,mostra-se imprescindível a redução de custos para ga-rantir a competitividade do produto no mercado interna-

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BR - média móvel trimestral RS - média móvel trimestralBR - base fixa mensal RS - base fixa mensal

Taxas de crescimento da produção física industrial no Brasil e no Rio Grande do Sul — jan./04-nov./07 Gráfico 2

(%)

Legenda:

FONTE: IBGE. Produção física industrial: número-índice. Rio de Janeiro: IBGE, 2006/2007. Disponível em: FONTE: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 jan. 2008. NOTA: Índices de base fixa (2002 = 100) com ajustamento sazonal.

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70 Maria Lucrécia Calandro; Silvia Horst Campos

Tabela 2 Taxas de crescimento da produção física e do emprego formal , por seções e atividades da indústria, e estrutura setorial do

VTI e do emprego no Rio Grande do Sul — 2005/07 (%)

PRODUÇÃO EMPREGO FORMAL

Taxa Acumulada no Ano (2)

Taxa Acumulada no Ano (2)

SEÇÕES E ATIVIDADES Nov./07 (1)

Jan.- -nov./06

Jan.- -nov./07

ESTRUTURA DO VALOR DA TRANS- FORMAÇÃO INDUSTRIAL

EM 2005

Nov./07 (1) Jan.-

-nov./ /06

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ESTRUTU-RA DO

EMPRE- GO INDUS- TRIAL EM

2005

Indústria de tranformação........ 8,70 -2,14 8,00 100,00 2,29 -8,66 -0,11 100,00

Alimentos e bebidas ............... ... ... ... 17,50 -2,80 4,03 4,72 16,92

Alimentos................................. 15,43 5,50 5,26 14,57 ... ... ... 15,55

Bebidas.................................... -8,50 8,47 4,44 2,93 ... ... ... 1,37

Fumo....................................... 0,39 -7,30 -5,84 5,42 -9,58 -7,77 -9,70 1,04

Calçados e artigos de couro.... -0,43 -8,44 -7,32 9,77 -13,28 -22,46 -13,30 25,91

Papel e gráfica ........................ ... ... ... ... 3,22 -2,22 -0,07 ...

Celulose, papel e produtos de

papel........................................ 10,54 4,12 -0,09 1,88 ... ... ... 1,58

Edição, impressão e reprodu-

ção de gravações.................... 5,03 -2,47 3,25 1,94 ... ... ... 2,65

Refino de petróleo e álcool...... 18,92 -2,99 31,49 3,24 2,89 4,39 3,62 0,19

Outros produtos químicos....... -5,86 0,78 0,48 13,66 10,06 0,59 11,69 2,14

Borracha e plástico.................. 1,48 5,32 5,83 4,28 5,48 -12,59 -0,93 4,93

Metalurgia básica.................... 7,30 -0,51 6,67 4,47 0,32 -1,61 -2,12 1,83

Produtos de metal – exclusive

máquinas e equipamentos...... 7,44 -10,97 1,71 5,05 45,28 -2,13 34,86 6,48

Máquinas e equipamentos...... 37,31 -17,43 33,28 9,29 16,10 -10,40 2,96 8,29

Veículos automotores.............. 12,83 5,92 27,21 8,25 14,06 1,59 9,20 5,82

Mobiliário................................. -9,22 4,40 -5,00 2,79 ... ... ... 4,84

Demais atividades .................. ... ... ... 12,46 ... ... ... 17,58

FONTE: IBGE. Pesquisa Industrial Mensal Emprego e Salário ; número-índice. Rio de Janeiro: IBGE, 2006/2007. Disponí- vel em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 14 jan. 2008. IBGE. Produção física industrial ; número-índice. Rio de Janeiro: IBGE, 2006/2007. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 jan. 2008. PESQUISA INDUSTRIAL ANUAL 2005 — PIA. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/pia/empresas/emp2005.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2007. NOTA: Sem ajustamento sazonal. (1) Os dados têm como base igual mês do ano anterior. (2) Os dados têm como base igual período do ano anterior.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 61-72, 2008

71Bom desempenho da indústria gaúcha em 2007: expansão ou recuperação?

Considerações finais

Sustentado pelas elevadas taxas de crescimentodos investimentos e pela expansão da demanda interna,o PIB brasileiro alcançou uma taxa acumulada, no pe-ríodo jan.-nov./2007, bem acima das previsões realizadaspor analistas econômicos e por representantes de enti-dades empresariais. Os preços, de um modo geral, vêmapresentando evolução compatível com as metas pre-vistas pelo Governo, e seu comportamento irá determi-nar, em larga medida, a condução da política monetárianos próximos meses.

A taxa de crescimento estimada de 5,2% recolocaa economia brasileira na trajetória de expansão. Contri-buíram para esse bom desempenho a recuperação daatividade industrial, a excelente safra agrícola de 2007 eo extraordinário crescimento do setor serviços, espe-cialmente o do segmento de comércio varejista, que vemsendo estimulado pelo alongamento dos prazos de fi-nanciamento e pela ampliação do gasto público (gastosocial e aposentadorias).

A indústria brasileira cresceu apoiada no desempe-nho da categoria de bens de capital e de consumo durá-veis, sobretudo automóveis e eletrodomésticos, cujasprestações menores, em virtude dos prazos de paga-mento mais longos, passaram a caber nos orçamentosde um número maior de pessoas. Os piores desempe-nhos ficaram por conta de alguns segmentos produtoresde bens tradicionais, especialmente calçados, atingidospela concorrência asiática nos principais mercados ex-ternos e também no mercado interno.

No caso do Rio Grande do Sul, destaca-se um de-sempenho global superior ao da média nacional, fruto deum cenário econômico favorável e de ausência de ad-versidades climáticas no Estado, fator importante para amanutenção da renda no campo e para o fornecimentode matérias-primas e produtos industriais para o setor.Paralelamente, os juros menores estimularam e deverãocontinuar estimulando a demanda por bens de capital,favorecendo os setores produtores de máquinas e equi-pamentos, de grande importância na matriz industrialgaúcha. Já o desempenho negativo de calçados e arti-gos de couro e de fumo refletiu, em grande medida, osimpactos da prolongada valorização do real. Em termosglobais, observou-se que a indústria gaúcha chegou aofinal de 2007 no mesmo patamar de crescimento do pri-meiro semestre de 2004, a partir de quando se configu-rou um quadro de crise, inclusive com taxas de cresci-mento negativas. O bom desempenho de 2007, portan-to, ainda não representou uma efetiva expansão da in-dústria gaúcha.

A perspectiva para 2008 é que o PIB cresça emtorno de 4,5% — com a indústria mantendo a trajetóriade crescimento iniciada em 2005 —, o que depende dealguns fatores. Em primeiro lugar, o próprio padrão decrescimento atual pode se constituir em um obstáculoao alcance dessa taxa. O crescimento do consumo in-terno a taxas superiores às do PIB vem sendo sustenta-do por um aumento das importações, que, por sua vez,estão crescendo em um volume superior ao das expor-tações. A manutenção dessa diferença já sinaliza a mu-dança de superávit para déficit em conta corrente. Emsegundo lugar, o crescimento do PIB depende dos des-dobramentos da crise norte-americana e de sua intensi-dade. Em nível interno, aparecem ainda outras questões,cujas resoluções terão maior ou menor impacto sobre aatividade econômica. Como será compensada a perdada receita arrecadada com a CPMF? O aumento dasalíquotas do IOF e da CSLL serão acompanhados deoutras medidas, seja de aumento de receita, seja de re-dução de gastos?

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73As exportações gaúchas em 2007

As exportações gaúchas em 2007*

Álvaro Antônio Garcia** Economista da FEE

* Artigo recebido em 18 jan. 2008.

** E-mail: [email protected] O autor agradece as colegas Beky Macadar, Sonia Teruchkin e

Teresinha Bello pelos comentários e sugestões e ao estagiárioGustavo Meira Carneiro pelo apoio técnico na elaboração dosdados.

1 Os dados apresentados neste texto, quando não citadanominalmente a fonte, foram obtidos ou elaborados a partir doSistema Alice do Ministério de Desenvolvimento, Indústria eComércio Exterior (MDIC).

IntroduçãoAo longo de 2007, as exportações gaúchas cres-

ceram, em valor, aproximadamente 27%.1

Trata-se de um ótimo desempenho, mesmo conside-rando uma base comparativa um pouco deprimida, dadasas frustrações das safras agrícolas de 2004 e 2005, cujosvolumes não foram integralmente recuperados em 2006.Essa taxa de crescimento supera o aumento das exporta-ções brasileiras, de 17% no mesmo período, e asestimativas para 2007 do crescimento do PIB e docomércio mundial, de 5% e 14% respectivamente, con-forme o FMI, e das exportações latino-americanas, de12% segundo a CEPAL.

Os US$ 15,0 bilhões exportados pelo Rio Grandedo Sul no período acima referido colocam-no na terceiraposição entre as unidades da Federação, abaixo de SãoPaulo e Minas Gerais — com US$ 51,7 bilhões e US$18,4 bilhões respectivamente — e acima do Rio de Janeiroe do Paraná — com US$ 14,3 bilhões e US$ 12,3 bilhões.Embora não tenha alterado sua posição no ranking dasexportações brasileiras, o Rio Grande do Sul aumentousua participação, alcançando 9,3% em 2007, contra os8,6% obtidos no ano anterior. Os principais compradoresexternos da produção gaúcha foram os Estados Unidos,com 12% do total, e, depois, a China e a Argentina, amboscom cerca de 10% (Tabela 1).

A seguir, comenta-se sobre os principais produtosda pauta exportadora gaúcha, procurando explicitar algunsfatores responsáveis pelo desempenho de cada um deles.

Principais produtos

Complexo soja

As exportações gaúchas do complexo sojaapresentaram um ótimo desempenho em 2007. Foramexportados US$ 1.606 milhões de soja em grão, US$466 milhões de farelo e US$ 462 milhões de óleo desoja, valores superiores ao do ano anterior em 117%,41% e 56% respectivamente. Os principais mercadoscompradores foram, no caso da soja em grão, a China,com 54% do total, no caso do farelo, a Indonésia, com17%, e, no caso do óleo, o Irã, com 35% (Tabela 1).

A origem desse comportamento está na excelentesafra do ano agrícola 2006/07, quando foram colhidas noEstado 9,67 milhões de toneladas dessa oleaginosa, 28%acima do registrado no ano anterior. Essa produçãoconstituiu-se em novo recorde histórico, sendo superiorinclusive à produção de 2003, que alcançara 9,57 milhõesde toneladas. Além da safra farta, os produtores tambémforam beneficiados pela excelente procura mundial, graçasà forte demanda chinesa e à alta dos preços do petróleono mercado internacional, que realimentou a busca defontes alternativas de energia. Os Estados Unidos, porexemplo, passaram a incentivar a produção de etanol apartir do milho, induzindo a uma redução da área plantadacom soja e, assim, puxando para cima os preços tantodo cereal quanto da oleaginosa. Por essas razões, em2007, os produtores gaúchos obtiveram, em média, umaremuneração, em dólares, superior à do ano anterior em30% no caso da soja em grão, em 22% no caso do fareloe em 47% no do óleo, tendo o preço deste último produtoquebrado seu recorde histórico na Bolsa de Chicago(Alto..., 2007).

Essa tendência altista dos preços do grão e demaisderivados da soja teve um pequeno arrefecimento, quandoda crise imobiliária dos Estados Unidos, devido à retiradade recursos na Bolsa de Chicago por parte de algunsfundos de investimento. Mas, passada a turbulência, osfundos voltaram a investir em commodities agrícolas, eo preço da soja retomou a escalada ascendente, tendo odo grão chegado ao final do ano num patamar próximoao do seu recorde histórico (Meira, 2008).

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Há que se ressaltar, no entanto, que o excelentevolume de produção e o bom comportamento dos preçosno mercado internacional foram contrabalançados, maisuma vez, pela desvalorização do dólar frente ao real.Através desse mecanismo, os sojicultores têm sofridoimportantes perdas de renda ao longo dos últimos anos.Entre 2003 e 2007, por exemplo, o dólar desvalorizou-se37% e, entre 2006 e 2007, cerca de 11%.2 Além disso,em 2004, e principalmente em 2005, os produtores desoja tiveram acentuadas frustrações de safra, de modoque parecem corretas suas afirmativas de que, apesardo sucesso desses dois últimos anos — em especial ode 2007 —, ainda não recuperaram integralmente as per-das anteriores.

Para os próximos anos, a tendência é de manu-tenção dos preços em patamares mais elevados do queo da média histórica, seja pela forte demanda chinesa,que não dá ares de arrefecimento, seja pelo crescimentoda produção de combustíveis alternativos em diversaspartes do mundo. Alguns desses combustíveis ouconcorrem em área com a soja, ou são elaborados apartir dela, como é o caso da produção de biodiesel noBrasil. Nesse sentido, dificilmente se terá no mercadoexterno um excesso de oferta, podendo, entretanto, ospreços dessa oleaginosa caírem momentaneamente emfunção de algum fato relevante, como uma crisefinanceira internacional que leve os fundos de investimentoa reduzirem suas posições no mercado de commoditiesagrícolas.

Se os preços da soja se mantiverem em níveisrelativamente elevados, pode-se esperar para o Brasilum aumento na área plantada com essa oleaginosa. Jáno Rio Grande do Sul, devido ao esgotamento da fronteiraagrícola, a expansão da soja fica condicionada à reduçãodo plantio de outras culturas de verão, dentre elas, omilho, para o qual, a expectativa também não é de reduçãode área, devido aos ótimos preços que o cereal vemalcançando no mercado externo, pelas razões jámencionadas. Assim, um crescimento expressivo novalor nas exportações de soja parece condicionado anovos recordes de produtividade e/ou à seqüência naescalada de seus preços. Mas a produtividade de 2007dificilmente será reproduzida em 2008, porque oresfriamento das águas do Pacífico na costa do Peru —

fenômeno conhecido como La Niña —, historicamente,traz pouca chuva para a área produtora de soja no RioGrande do Sul, prejudicando sua colheita (Castro, 2007).Os preços dessa oleaginosa, por sua vez, já seencontram num patamar elevado. Em suma, se, em 2008,o complexo soja repetir o resultado de 2007, já terá sidoum feito considerável.

2 Para esse cálculo, foi considerada a taxa de câmbio média decada ano a partir dos valores diários da Ptax, fornecida peloBanco Central do Brasil. Se fossem considerados para o cálculoapenas os valores do início (01.01.03) e do fim do período(31.12.07), a desvalorização da moeda norte-americana seriade 50%.

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75As exportações gaúchas em 2007

As exportações gaúchas em 2007

Tabela 1

Valor e variação percentual dos primeiros produtos e participação dos maiores mercados nas exportações do RS — 2007

CÓDIGOS SUBCAPÍTULOS VALOR

(US$ 1 000)

VARIAÇÃO ∆% 2007 2006

PRINCIPAIS MERCADOS

2401 Fumo não manufaturado......................... 1 615 651 34,5 Bélgica (18%), China (17%), Estados Unidos (15%) e Alemanha (8%)

1201 Soja, mesmo triturada............................. 1 605 973 117,2 China (54%), Tailândia (13%), Irã (6%) e Holanda (5%)

6403 Calçados de couro natural...................... 1 036 843 -6,6 Estados Unidos (46%), Reino Unido (16%), Itália (7%) e Canadá (3%)

0207 Carne de aves......................................... 920 799 28,6 Arábia Saudita (13%), Japão (11%), Emirados Árabes (11%) e Hong Kong (7%)

3901 Polímeros de etileno em formas primá-rias .........................................................

642 754

11,2

Argentina (37%), Chile (11%), Bélgica (8%) e China (4%)

0203 Carne suína............................................. 639 217 13,8 Rússia (90%), Hong Kong (3%), Argentina (2%) e Cingapura (1%)

2710 Óleos de petróleo ou de minerais betui-nosos ......................................................

551 995

121,5

Paraguai (28%), Antilhas Holandesas (26%), Argentina (22%) e Uruguai (17%)

2304 Farelo de soja ........................................ 467 536 41,1 Indonésia (17%), Austrália (16%), Coréia do Sul (14%) e Espanha (12%)

1507 Óleo de soja ........................................... 462 310 56,2 Irã (35%), China (26%) Bangladesh (14%) e Índia (9%)

8701 Tratores................................................... 400 098 31,6 Argentina (22%), México (14%), Venezuela (11%) e Estados Unidos (10%)

4107

Couros preparados, após curtimenta, de bovinos e de eqüídeos (couro cabado) ..

284 906

-5,3

Hong Kong (19%), Estados Unidos (15%), China (12%) e Alemanha (7%)

8708

Partes e acessórios para veículos ......... 267 916

15,3

Estados Unidos (28%), Argentina (14%), México (9%) e África do Sul (9%)

9403 Móveis e suas partes.............................. 263 137 8,3 Reino Unido (15%), Estados Unidos (11%), Argentina (9%) e Chile (8%)

8707 Carrocerias para veículos....................... 253 660 5,7 México (18%), Chile (18%), Argentina (17%) e Peru (15%)

4104

Couros e peles de bovinos e eqüídeos pré-parados (wet blue e crust) ...............

227 833

20,9

Itália (28%), Estados Unidos (17%), China (12%) e Hong Kong (7%)

8433 Máquinas e aparelhos agrícolas............. 223 234 47,5 Argentina (57%), Paraguai (11%), Venezuela (4%) e Alemanha (4%)

2902 Hidrocarbonetos cíclicos......................... 196 607 26,0 Estados Unidos (57%), Argentina (39%), China (2%) e Chile (1%)

1602

Preparações e conservas de carne, miu-dezas ou de sangue................................

173 795

34,9

Reino Unido (20%), Alemanha (16%), Holanda (16%) e Estados Unidos (9%)

3902 Polímeros de propileno e outras olefinas 162 089 38,9 Argentina (36%), Bélgica (11%), Turquia (7%) e Nigéria (7%)

8716 Reboques e semi-reboques.................... 161 178 42,9 Venezuela (29%), Chile (19%), Argentina (12%) e Reino Unido (8%)

Subtotal ................................................. 10 557 530 32,7 - Outros .................................................... 4 460 144 16,0 - TOTAL ................................................... 15 017 674 27,2 Estados Unidos (12%), Argentina

(10%), China (10%) e Rússia (5%)

FONTE: MDIC/Secex/Sistema Alice.

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Carnes

Carne de aves

As exportações gaúchas de carne de aves alcança-ram, em 2007, o valor de aproximadamente US$ 921 mi-lhões, um crescimento de 29% sobre o mesmo períododo ano anterior. O volume comercializado foi 7% superiorao de 2006, e o preço médio da carne de aves esteve21% acima do alcançado naquele ano.

As duas principais mercadorias comercializadas —o frango em pedaços congelado e o frango inteirocongelado — apresentaram crescimento de receita daordem de 26% e 43% respectivamente, saltando de US$440 milhões para US$ 556 milhões no caso do frangoem pedaços e de US$ 228 milhões para US$ 327 milhõesno caso do frango inteiro. O principal mercado para oprimeiro foi o Japão, com 19% do total, e, para o segundo,a Arábia Saudita, com 26% do total. Para as aves comoum todo, os três maiores compradores foram a ArábiaSaudita, com 13% do total, seguida pelo Japão e pelosEmirados Árabes, ambos com 11% do total (Tabela 1).3

Um dos motivos dos dados positivos de 2007 é afraca base de comparação, visto que o ano de 2006 nãofoi bom para as exportações gaúchas. Naquele ano, alémde a gripe aviária, na Europa e na Ásia, ter retraído ademanda mundial, o aparecimento da doença deNewcastle no Estado provocou o embargo parcial ou totalde compras do frango in natura por parte de diversospaíses. Esses fatores acarretaram queda de preços equantidades em 2006 — de 17,6 % e 13,9 % respecti-vamente.

Em 2007, a demanda internacional retomou o pata-mar pré-crise, e também os preços recuperaram-se, nãosó pelo crescimento da procura, mas igualmente devidoao expressivo aumento no preço do milho, o principalinsumo da produção aviária. O preço médio da toneladaexportada de frango em pedaços aumentou 20%, e a dofrango inteiro subiu 27%. Ademais, cresceram bastanteas quantidades exportadas para Hong Kong e Rússia,no caso do frango em pedaços, e para a Arábia Sauditae os Emirados Árabes, no caso do frango inteiro. Para aAssociação Brasileira dos Produtores e Exportadores deFrango (Abaf), três fatores aumentaram a demanda

externa por esse produto. Nos países do Extremo Oriente,foi a substituição de parte do consumo de carne suínapor carne de aves, devido ao aparecimento da doençada orelha azul em suínos (ver sobre carne suína). Alémdisso, também contribuíram a elevação do preço da carnebovina no mercado externo e a redução de matrizes porparte dos produtores europeus em função da gripe aviáriade 2006 (Exportação..., 2007).

Tudo isso, no entanto, não foi suficiente para garantiruma boa rentabilidade para os produtores e para aindústria do frango, uma vez que, além da continuadavalorização do real, que fez o País perder competitividadefrente a importantes concorrentes, como a Tailândia, 2007foi um ano, como já mencionado, de grande elevação nopreço do milho.

Carne suína

As vendas externas de carne suína — fresca, refri-gerada e congelada — atingiram, em 2007, o valor deUS$ 639 milhões, o que representou um acréscimo de14% sobre os US$ 562 milhões obtidos em igual períododo ano anterior (Tabela 1). Esse é um resultado muitobom, uma vez que, no ano de 2006, no Rio Grande doSul, ao contrário do Brasil, o valor das exportações desseproduto já havia tido um crescimento expressivo, de102%. O comportamento de 2007 deveu-seexclusivamente ao aumento de 15% no volumecomercializado no exterior, já que o preço médioapresentou uma queda de 1%. O principal, e quase único,mercado comprador da carne suína gaúcha foi a Rússia,que adquiriu 90% do total (Tabela 1).

Das mercadorias que compõem esse agregado, amais vendida no mercado externo pelo Estado foi a carnesuína congelada, que alcançou, no referido período, valorde US$ 442 milhões, 7% a mais que em igual período doano anterior. Aqui também o preço médio teve umdecréscimo de 1%, mais do que compensado peloaumento de 17% no volume. O excelente desempenhodas exportações gaúchas de carne suína em 2006 e amanutenção desse comportamento em 2007, embora empatamar menor, foram conseqüência de uma realocaçãoda produção brasileira voltada ao exterior. Com efeito, adescoberta de focos de febre aftosa no Mato Grosso doSul, em 2005, fez com que a Rússia, a maior compradorada carne suína brasileira, vetasse a importação desseproduto oriundo de alguns estados brasileiros, dentre elesSanta Catarina e Paraná, dois grandes exportadores.Disso se beneficiou o Rio Grande do Sul, que, livre doembargo russo, pôde aumentar consideravelmente as

3 Os dados sobre carne de aves — posição 0207 da NCM —referem-se basicamente à carne de frango — posição 02071 daNCM. Por exemplo, em 2007, dos US$ 921 milhões exportadoscom carne de aves, USS 883 milhões ou 96% do totalcorresponderam à exportação de carne de frango.

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vendas para aquele mercado em 2006 e ainda crescerum pouco mais em 2007, tornando-se o maior exportadornacional desse tipo de carne.

Registre-se ainda que, apesar da exageradadependência do mercado russo para a carne suínagaúcha, em 2007 o Rio Grande do Sul viu crescer emcerca de 40% suas exportações para Hong Kong. Essemercado, abastecido, em parte, pela China, necessitouampliar as compras de outros fornecedores, visto queuma pequena parcela do rebanho suíno chinês, o maiordo mundo, teve de ser eliminada, porque contraiu umvírus letal, que causa uma enfermidade conhecida como“doença da orelha azul” (Hong Kong..., 2007). O própriomercado chinês é cobiçado pelos exportadoresbrasileiros, e não só para a carne suína, mas tambémpara a de aves e a bovina. Nesse sentido, ocorreramalguns encontros entre autoridades de ambos os paísesao longo de 2007, mas, ao que tudo indica, a ampliaçãodo acordo comercial bilateral só será possível apósa próxima reunião da Comissão Sino-Brasileira de AltoNível (Cosban) — comandada pelos vice-presidentes dosdois países —, marcada para ocorrer no Brasil, em 2008(China..., 2007).

Carne bovina

As vendas externas de carne bovina sofreram umaqueda expressiva em 2007. Considerando as carnescongeladas, refrigeradas ou frescas, houve uma quedade 59%, uma vez que seu valor caiu de cerca de US$232 milhões em 2006 para algo em torno de US$ 95milhões em 2007.4 A principal mercadoria desse agrega-do — a carne bovina desossada congelada — teve suareceita diminuída de US$ 178 milhões para US$ 51milhões, o que significa uma redução de 71%. A outramercadoria mais vendida — a carne bovina desossadafresca ou refrigerada — também apresentou uma reduçãonas vendas ao exterior, com US$ 53 milhões em 2006contra US$ 43 milhões em 2007, ou seja, queda de 19%.Esses modestos números resultaram, basicamente, docomportamento dos volumes comercializados, porque adiminuição nos preços internacionais foi poucosignificativa.

O fraco desempenho das exportações gaúchas decarne bovina em 2007, conforme mostrado acima,decorreu de alguns fatores. Um deles foi o fato de a basede comparação, o ano anterior, estar elevada. Isto porque,no ano de 2006, o Rio Grande do Sul se aproveitou doembargo de diversos países à carne bovina de outrosestados brasileiros — devido ao foco de febre aftosaocorrido no Mato Grosso do Sul — e exportou umaquantidade muito acima de sua média dos últimos anos.Ou seja, em 2006, o Rio Grande do Sul “substituiu” outrosestados brasileiros no fornecimento desse produto nomercado internacional, apresentando um crescimento dasexportações da ordem de 164% (Bello; Teruchkin, 2007).Determinante para a péssima performance de 2007, noentanto, foi a falta de carne bovina para abate no Estado.Essa escassez, por sua vez, ocorreu devido tanto a uminverno rigoroso, que enfraqueceu as pastagens eemagreceu o gado, com também às restrições sanitárias,que impediram o ingresso, no Estado, de boi vivo e carnecom osso provenientes de outros estados da Federação.Assim, os frigoríficos locais acabaram pagando um preçopela arroba da carcaça, em média, 20% acima do preçonacional, o que lhes retirou competitividade nos mercadosinterno e externo, sendo que, neste último, ainda tiveramde conviver com a desvalorização do dólar frente à moedabrasileira (Guedes, 2007). 5

Fumo

Mesmo considerando a comparação com uma baserelativamente baixa — em 2006, houve uma queda nareceita da ordem de 14% —, em 2007, o desempenho dosetor exportador fumageiro gaúcho pode ser consideradomuito bom. Em termos de valor, a exportação de fumonão manufaturado — que representou cerca de 96% totaldo Capítulo 24 da NCM, Fumo e seus sucedâneosmanufaturados — teve um crescimento de 35%, sendo10% a alta no preço médio e 23% a elevação no volumecomercializado. Os países que mais adquiriram o produtoforam a Bélgica, com 18% do total, a China, com 17%, eos Estados Unidos, com 15% (Tabela 1).

Esse resultado foi conseqüência de uma excelentesafra tanto em termos de produtividade quanto de quali-

5 A crise que se abateu sobre os frigoríficos gaúchos em 2007 foitão forte que, do início do ano até o final de agosto, já haviamsido demitidos 2.000 trabalhadores, ou 25% da força de trabalhoempregada no final do ano anterior. A previsão era de 1,5 milhãode abates para 2007 contra 2,2 milhões verificados em 2006(Guedes, 2007).

4 A título de ilustração, registre-se que até mesmo as exportaçõesde bovinos vivos, inexpressivas no cômputo geral dasexportações gaúchas, tiveram sensível redução em 2007: foramcerca de 9 mil animais contra 43 mil no ano de 2005 e 69 mil node 2006.

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dade do fumo, graças às condições climáticas favoráveisque prevaleceram no sul do Brasil, principal regiãoprodutora do País. Em 2007, do total de fumo beneficiadopela indústria, 50% vieram do Rio Grande do Sul, 33%,de Santa Catarina; e 17%, do Paraná. O Brasil, segundomaior produtor e maior exportador mundial de fumo, em2007 bateu o recorde nas vendas externas desseproduto, tanto em termos de volume comercializado comode receita obtida, que foi superior a US$ 2,2 bilhões. Jáno Rio Grande do Sul, a exportação foi recorde somenteem termos de valor, talvez porque uma grande empresaexportadora, a Universal Leaf Tabacos, tenha, em 2006,transferido uma de suas plantas processadoras deVenâncio Aires (RS) para Joinville (SC) e passado aexportar parte de sua produção pelo estado vizinho.

Há que se ressaltar, no entanto, que esse recordenas vendas, em dólares, não significou, para as empre-sas exportadoras, ganhos de rentabilidade na mesmaproporção. A valorização do real obrigou-as a trabalhardentro de margens reduzidas, e o problema cambial sónão causou maior estrago porque, paralelamente, tambémocorreram valorizações nas moedas de alguns paísesconcorrentes, como África do Sul e Zâmbia (Bueno, 2007).

Calçados

As exportações gaúchas de todo tipo de calçadode couro natural — posição 6403 da NCM — mostraramque a receita obtida com esse produto confirma odesempenho pífio verificado ao longo dos últimos anos,caindo de US$ 1.110 milhões em 2006 para US$ 1.037milhões em 2007, quer dizer, redução em torno de 7%.Manteve-se também a tendência de elevação do preçomédio, de 16%, e de diminuição na quantidade exportada,de 20%. Os Estados Unidos ainda são o principalmercado para esse produto, com 46% do total, seguidopelo Reino Unido e pela Itália, com 16% e 7% respecti-vamente (Tabela 1).

Quando se analisa o conjunto da produção decalçados — que inclui, além dos de couro, os sapatosde borracha, de plástico, de tecido e suas partes —,observa-se uma redução nas perdas, ou seja, o Capítulo64 da NCM mostra uma variação de US$ 1.317 milhõespara US$ 1.291 milhões entre os dois anos supracitados,significando uma queda de apenas 2% no valor exportado.Assim, esses outros tipos de calçados e suas partesvariaram positivamente, o que serviu para amenizar aqueda no agregado como um todo.

Como é sabido, há um bom tempo o calçadogaúcho — e o de boa parte do Brasil — vem perdendo

mercado externo para o produto chinês, devido ao baixocusto da mão-de-obra naquele país asiático. Também nãose duvida de que esse é um processo irreversível paraos calçados de baixo preço, porque, mesmo que venhaa ocorrer um encarecimento relativo da mão-de-obrachinesa, o mundo globalizado permite que as empresasencontrem outros locais com mão-de-obra mais barata.6

Diante desse quadro, a indústria calçadista gaúcha tentasobreviver de diversas maneiras, dentre elas, pedindoredução de tributos, deslocando-se para outros locaisdo País e do exterior em busca de mão-de-obra maisbarata e protegendo-se da concorrência externa viabarreiras alfandegárias — como a conquista recente daelevação da Tarifa Externa Comum do Mercosul para 35%na importação de calçados. Por outro lado, aqueles quedesejam manter suas plantas no Estado e continuarexportando estão em busca de um novo nicho no mercadointernacional de calçados, de preço mais elevado,próximo, por exemplo, daquele obtido pelo calçadoespanhol. Para tanto, os empresários têm priorizado adiversificação de mercados e a incorporação de maiorvalor agregado com alta tecnologia, design e marcaspróprias. Nesse processo de transição, o que se podeconcluir até agora é que a queda nas exportações decalçados gaúchos — relativamente ao crescimento domercado internacional desse produto — vem sendoapenas parcialmente amortecida pela elevação de seupreço médio.

Couros

As exportações totais de couros do Rio Grande doSul, em 2007, atingiram US$ 530 milhões, um valor 4%superior ao do ano anterior. Quando se separa odesempenho dos couros acabados daquele dos courospreparados — estes últimos abrangendo o crust e o wetblue —, percebe-se que a receita dos primeiros teve umaredução de 5%, caindo de US$ 301 milhões em 2006para US$ 285 milhões em 2007, enquanto as vendasdos couros preparados cresceram 21%, passando de US$188 milhões em 2006 para US$ 228 milhões em 2007. Oprincipal comprador dos couros acabados foi Hong Kong,com 19% do total, e o dos couros preparados foi a Itália,com 28% do total (Tabela 1).

6 Atualmente, um dos países mais procurados pela indústriaintensiva em mão-de-obra é o Vietnã, onde o preço da horatrabalhada é mais barato que na China e a quarta parte da médiabrasileira (Landim, 2007).

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79As exportações gaúchas em 2007

A performance exportadora dos curtumes gaúchos,embora positiva, não foi alentadora, tendo em vista que,no mesmo período, as vendas externas de todos os tiposde couros do Brasil cresceram, entre 2006 e 2007, cercade 17%. Os empresários do setor, no Estado,reclamaram, ao longo do ano, de sua descapitalização,devido principalmente à impossibilidade de transferircréditos de ICMS nas compras realizadas em outrosestados, de onde vem cerca de 80% do couro trabalhadonos curtumes gaúchos. Além disso, um outro fator paraexplicar o resultado assinalado acima foi o baixo númerode abates de bovinos no próprio Rio Grande do Sul, em2007 (ver carne bovina), e, por conseguinte, a menordisponibilidade do couro produzido localmente.

Há alguns anos, a exportação de couros vemapresentando uma tendência de substituição de produtosde menor valor por produtos de maior valor agregado paripassu a uma alteração no mercado comprador, com ocrescimento das vendas para as indústriasautomobilística e mobiliária — para a fabricação deestofamentos —, em detrimento das tradicionaisindústrias calçadista, do vestuário e de artefatos. Dessaforma, pode causar estranheza que, em 2007, a posição4107 da NCM — couro acabado — tenha sofrido umaqueda, enquanto cresceram as exportações da posição4104 — couro crust e wet blue. Mesmo assim, noentanto, o processo de substituição por produtos de maiorvalor agregado continuou. Essa tendência pode sercomprovada com mais dados sobre o desempenho dasexportações gaúchas na posição 4104: o crescimento jámencionado de 21% só foi alcançado graças ao aumentodo preço médio da tonelada exportada, de 45%, umavez que o volume comercializado caiu em 16%. Assim,ainda que o preço médio do couro tenha se elevado nomercado internacional, a extraordinária variação do preçomédio só foi possível porque ocorreu uma substituição,“dentro” da posição 4104, de um produto de menor valor,o wet blue, por outro de maior valor agregado, o crust.

Produtos petroquímicos

Dentre as exportações de produtos petroquímicos,destacam-se as dos polímeros de etileno em formasprimárias — posição 3901 da NCM —, cuja receita subiu11% entre 2006 e 2007, quando atingiu US$ 643 milhões,e as dos polímeros de propileno e outras olefinas —posição 3902 da NCM —, que alcançaram US$ 162milhões em 2007, um valor 39% superior ao do anoanterior. No primeiro caso, o resultado foi puxado pelopreço médio, que cresceu 12% contra uma queda de 0,5%

no volume, e, no segundo, pelo volume, que aumentou26% contra 10% no preço médio. Tradicionalmente, o maiormercado para os produtos petroquímicos gaúchos é aArgentina, o que foi confirmado em 2007, quando aquelepaís platino contribuiu, respectivamente, com 37% e 36%das receitas obtidas com as vendas no exterior depolímeros de etileno e de polímeros de propileno.

O bom resultado alcançado pela petroquímicagaúcha é conseqüência de um mercado externo aquecido,especialmente o argentino, e da maior disponibilidade depolímeros de propileno, graças ao aumento da ofertainterna da matéria-prima utilizada na sua elaboração. Umfator que ajudou na manutenção dos preços internacionaisdos produtos petroquímicos foi a confirmação do atrasopara o início das operações de algumas unidadesprodutoras de resinas termoplásticas no Oriente Médio.Entre os especialistas, a avaliação é a de que a demandaexterna por produtos petroquímicos se manterá nopatamar atual, se for confirmado o crescimento do PIBmundial em níveis satisfatórios, dado que o potencial deaumento da demanda por esses produtos é de três vezesa evolução do PIB (Mudança..., 2007).

Móveis

As exportações de móveis e suas partesalcançaram o valor de US$ 263 milhões em 2007,registrando um crescimento de 8% sobre o mesmoperíodo do ano anterior. O Reino Unido, com 15% do total,foi o maior comprador dos móveis gaúchos, seguido dosEUA, com 11%, e da Argentina, com 9%.

A elevação de 8% nas vendas externas de móveispode ser considerada um resultado razoável. A indústriamoveleira vem diversificando mercados como forma desobreviver ao câmbio baixo e à concorrência chinesa,ocorrendo esta principalmente no mercado norte--americano. Essa diversificação vem sendo obtida atravésde inovações utilizadas pelas empresas exportadoras,como, por exemplo, a busca de mercados emergentes ea criação de novos produtos, além de mudanças noscanais de comercialização através da abertura defranquias e de lojas próprias, bem como de uma maiorparticipação em feiras, o que proporciona um contatodireto com os lojistas.

Ainda nesse sentido de melhorar a competitividade,um fato alentador aconteceu em meados de 2007: aChina suprimiu o benefício fiscal que concedia às suasempresas quando da importação de insumos a seremutilizados na exportação de móveis, o que, a médio prazo,aumentará o preço dos produtos oriundos daquele país,

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possibilitando às empresas gaúchas a recuperação dasvendas em alguns mercados externos (Arruda, 2007).Caberia ainda assinalar que, sendo a indústria moveleiragaúcha menos dependente do mercado externo do que,por exemplo, a indústria moveleira de Santa Catarina,nela são menos sentidos os efeitos da valorização doreal e da concorrência com produtores que trabalhamcom escala e mão-de-obra barata, como é o caso daChina.

Demais produtos relevantes

Dentre os outros produtos que compõem a pautaexportadora gaúcha, o maior destaque coube àsexportações de óleo diesel e gasolina — agregadas naposição 2710 da NCM —, que, em 2007, cresceram122%, alcançando a soma de US$ 552 milhões (Tabela1). Se forem considerados os combustíveis mineraiscomo um todo — posição 27 da NCM —, constata-seque o crescimento foi ainda maior, de 130%, tendo ovalor comercializado no exterior atingido a cifra de US$587 milhões. Esse desempenho é fruto da ampliação de50% da capacidade de produção da Refinaria AlbertoPasqualini (Refap), cujos investimentos atingiram US$1,1 bilhão e permitiram, dentre outras coisas, umamudança na capacidade de processamento do óleonacional — mais pesado que o importado —, que passoude 15% para 80% do total processado. Essa e outrasalterações logísticas tornaram viável à Refinaria exportarcerca de 12% de sua produção em 2007, pretendendochegar a 20% em 2008 (Refap..., 2007).

Caberia assinalar ainda o comportamento dasvendas externas de tratores, máquinas e implementosagrícolas e carrocerias. Os dois primeiros — posições8701 e 8433 da NCM — tiveram incremento de 32% ereceita de US$ 400 milhões e aumento de 48% e receitaUS$ 223 milhões respectivamente. Como não poderiadeixar de ser, o comércio de tratores e máquinas eimplementos agrícolas tem sua performance vinculadaà renda no campo e, no caso das empresas do RioGrande do Sul, ao campo da América Latina, o grandemercado para esses produtos. Assim, como o preço dascommodities agrícolas teve bom desempenho em 2007,isso se refletiu na comercialização desses produtos,especialmente no mercado argentino, responsável pelaaquisição de 22% das exportações gaúchas de tratorese 57% das de máquinas agrícolas (Tabela 1).

Em relação às carrocerias, verificou-se um in-cremento de 6%, com as vendas externas dessamercadoria alcançando US$ 254 milhões em 2007. Esse

foi um resultado razoável, considerando que a valorizaçãodo real frente ao dólar reduziu bastante a competitividadedo setor no mercado externo. A Marcopolo, por exemplo,a principal produtora de carrocerias no Estado, viu adiadosseus planos de montar no Brasil um grande sistema deprodução de CDK, kits para montagem no exterior, sejaem convênios com outras montadoras, seja em suaspróprias unidades produtivas localizadas em outros países(Marcopolo..., 2007).7

Por fim, ainda que sem um peso expressivo nocomércio exterior do Rio Grande do Sul, deve-se registraro salto vertiginoso nas exportações de milho: esse cerealteve sua receita com exportação aumentada, de 2006 a2007, de US$ 7,4 milhões para US$ 76,5 milhões, ouseja, um crescimento de 934%. As condições de ofertainterna e, principalmente, o alto preço do produto nomercado externo — devido à frustração da safra emalgumas regiões produtoras e à utilização desse cerealna produção de combustível — são os fatores que ex-plicam o desempenho supracitado.

Considerações finais

Dentre os principais produtos exportados, cabedestacar a excelente performance daqueles do complexosoja — grão, farelo e óleo —, do fumo, das carnes deaves e de suínos e dos produtos petroquímicos. Desteso melhor desempenho foi o da soja em grão, porque,além de uma colheita recorde, houve expressivo cres-cimento dos preços no mercado internacional. Nem todoesse ganho, entretanto, foi transferido ao produtor rural,devido à continuidade do processo de valorização cambial,que impediu o crescimento em igual proporção da receitaem reais. Pela sua importância no comércio exportadorgaúcho, chama atenção novamente o fraco desempenhodas exportações de calçados, cujos produtores, há umbom tempo, tentam escapar da concorrência chinesa,buscando novos nichos de mercado, agregando valor aoseu produto. Observou-se que, até o momento, o preçomais elevado não tem sido suficiente para compensar aredução na quantidade de pares exportados.

Dos outros produtos relevantes, verificou-se o cres-cimento nas vendas externas de móveis, cuja indústriavem diversificando mercados como forma de sobreviverao câmbio baixo e à concorrência chinesa. Embora em

7 A Marcopolo exporta para mais de 100 países e possui linha demontagem na Colômbia, no México, em Portugal, na África doSul, na Rússia e na Índia.

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menor escala, também aumentaram as vendas de couros,onde continua o processo de substituição de produtosde menor valor pelos de maior valor agregado. Comodestaque negativo, teve-se a queda nas vendas externasde carne bovina, devido à escassez de animais para abatee ao seu elevado preço no Estado. Como destaquepositivo, salienta-se o salto vertiginoso nas exportaçõesde combustíveis minerais — óleo diesel e gasolina —,fruto de alterações logísticas e da ampliação na capaci-dade de produção da refinaria Alberto Pasqualini.

Existe, nas vendas externas do RS, uma tendênciaao aumento da especialização em produtos intensivosem recursos naturais em detrimento daqueles intensivosem trabalho.8 Nos últimos anos, das três principaisindústrias exportadoras de produtos intensivos emtrabalho no Estado — a de calçados, a de móveis e a decouros —, apenas a de couros vem acompanhando ocrescimento do seu mercado internacional, enquanto ade calçados vem perdendo espaço nos mercadostradicionais desde os anos 90, a de móveis apresentouum excelente desempenho entre 1996 e 2004, mas,desde então, vem encontrando dificuldades em segurara fatia de mercado externo ganha anteriormente. Assim,a manter-se o mesmo patamar da taxa de câmbio noBrasil e a continuar o aprofundamento da divisãointernacional do trabalho, ficará cada vez mais difícil àsproduções oriundas do Rio Grande do Sul competiremno custo da mão-de-obra com produções de outrospaíses, como a China, a Índia e o Vietnã.

Por outro lado, a perspectiva de crescimento naprodução mundial de biocombustíveis, aliada à neces-sidade crescente da China e de outros países emdesenvolvimento por proteínas animal e vegetal, deverámanter em patamar elevado os preços dos produtosintensivos em recursos naturais, como a soja e o milho,além dos diversos tipos de carnes. Ademais, projeta-separa os próximos anos a implantação de três grandesfábricas de celulose no Estado, o que deverá aumentarem muito a exportação desse produto, também intensivoem recursos naturais. A dúvida que fica é a de saber emque medida a produção do Rio Grande do Sul poderáaproveitar plenamente essas oportunidades que omercado internacional provavelmente oferecerá. Istoporque, além dos problemas climáticos, a fronteiraagrícola estadual está esgotada. Nesse caso, a “falta deespaço” poderá acirrar a concorrência entre os produtosintensivos em recursos naturais, limitando a expansãode todos, ao mesmo tempo, na pauta exportadora gaúcha.

8 Sobre a classificação dos diferentes produtos, ver Puga (2007).

Referências

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82 Álvaro Antônio Garcia

REFAP consolida ampliação e inicia novos projetos.Jornal do Comér cio , p. 19, 25 maio 2007.

SAFRA nacional de fumo alcança 760 mil toneladas.Jornal do Comér cio , Porto Alegre, p. 10, 28 ago. 2007.

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83O desempenho das finanças públicas estaduais em 2007

* Artigo recebido em 22 jan. 2008.

** E-mail: [email protected] Site:<http://alfredomeneghetti.googlepages.com>. O autor agradece os comentários e as sugestões dos colegas

Renato Antônio Dal Maso, Roberto da Silva Wiltgen e MariaLuiza Blanco Borsatto, bem como a colaboração da estagiáriaIara Welle. Além disso, o texto foi enriquecido pelo fornecimentode dados da Contadoria e Auditoria Geral do Estado da Secretariada Fazenda (CAGE-Sefaz), através de Marilene Lopez Cortesde Meirelles. Os erros que eventualmente tenham permanecidosão de inteira responsabilidade do autor.

1 A análise baseia-se nas receitas e nas despesas da Adminis-tração Direta, compreendendo tanto aquelas decorrentes daexecução orçamentária propriamente dita quanto os repassesfinanceiros havidos para as autarquias e fundações supervi-sionadas.

PPPPPolíticas públicasolíticas públicasolíticas públicasolíticas públicasolíticas públicas

O desempenho das finanças públicas estaduais em 2007*

Alfredo Meneghetti Neto** Economista, Técnico da FEE e Professor da PUCRS

Este texto analisa o desempenho das finanças públi-cas do Rio Grande do Sul durante o ano de 2007. A gestãodas finanças públicas do primeiro ano do GovernoEstadual foi conflituosa, mas meritória. Apesar de nãoter tido sucesso em aprovar aumento de impostos emduas tentativas, a condução focada em boas medidas(que foram desde cortes de despesa até a venda de açõesdo Banrisul) ajudou a execução orçamentária dosrecursos do Tesouro.1 Mesmo que a crise fiscal do RScontinue, pela primeira vez nos últimos cinco anos, oGoverno não teve que recorrer a um empréstimo parapagar o 13º salário do funcionalismo.

Para detalhar como isso aconteceu, inicialmente,são examinados os fatos mais relevantes das finançaspúblicas, depois, no item 2, o comportamento do ICMS,principal tributo da receita estadual. No item 3, apresenta--se a arrecadação do ICMS por setores da economiagaúcha; e, por fim, no item 4, demonstra-se a execuçãoorçamentária estadual.

1 Os fatos mais relevantes 2

Para enfrentar a difícil situação financeira doEstado,3 o Governo encaminhou, antes mesmo da suaposse, um conjunto de projetos que faziam parte de umprograma de reestruturação das finanças públicas,preparado pela equipe de transição de governo.4 O maisimportante deles era o que prorrogava as alíquotas deICMS para o setor elétrico, os combustíveis e as teleco-municações.5

Entretanto quase todos os projetos apresentadosforam rejeitados pela Assembléia Legislativa emdezembro de 2006, com exceção de dois: a contrataçãoemergencial de técnicos para uma empresa estadual e a

2 É Importante chamar atenção para o fato de que foramdestacadas (de forma resumida) somente aquelas atividadesfazendárias desenvolvidas pelo Governo do Estado que forammarcantes ao longo do ano de 2007. Para isso, foi seguida acronologia que está apresentada no link Notícias do site daSecretaria da Fazenda (Rio Grande do Sul, 2008a).

3 Há mais de 30 anos, é difícil a situação financeira do Estado,que ocorre em função tanto do caráter crônico do déficit primáriocomo também do crescente aumento da dívida pública estadual.Várias estratégias financeiras têm sido implementadas peloExecutivo, como saques do Caixa Único, operações de crédito,renegociação de dívida, aumento do ICMS, privatizações deestatais, alienações de bens e uso de recursos dos depósitosjudiciais (Meneghetti Neto, 2007, p. 101).

4 Esses projetos tinham um conteúdo fiscal e administrativo eenvolviam o corte de cargos de confiança, o represamento dereajustes para o funcionalismo público e o aumento das alíquotasdo ICMS de três setores.

5 Esse projeto procurava, na realidade, manter as alíquotas deICMS em um patamar elevado, as quais haviam vigorado, noRS, de abril de 2005 a dezembro de 2006. O aumento dasalíquotas do ICMS havia sido de 25% para 30% nesses trêsprodutos, que são vitais para o Rio Grande do Sul, poiscontribuem enormemente para as finanças públicas. Existe umextraordinário grau de concentração do ICMS gaúcho. Aparticipação desses três setores — combustíveis (27,5%),comunicações (10,3%) e energia elétrica (9,3%) — chega quaseà metade do ICMS total (47,11%) do RS (Meneghetti Neto, 2007,p. 104).

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 83-92, 2008

84 Alfredo Meneghetti Neto

autorização para o Estado recuperar as dívidas com aUnião, referentes a investimentos feitos pelo GovernoEstadual em rodovias federais.

Mas, logo após a posse, foi novamente anunciadauma série de ações para buscar o reequilíbrio das contaspúblicas. Dentre elas, podem ser destacadas a adoçãodo regime de caixa6, a suspensão, por 100 dias, de váriostipos de despesas7 e a obrigação de todas as secretariasde diminuir em 20% as despesas com cargos emcomissão (CCs) e em 30% as despesas de custeio,levando em conta as suas prioridades.

Ainda em janeiro, foi anunciado outro conjunto deações e medidas para ampliar a receita e ajudar no esforçode equilibrar as finanças públicas. O objetivo das medidasfoi incentivar a competitividade e o crescimento econô-mico no Rio Grande do Sul, e a estimativa era de umareceita de R$ 500 milhões, dos quais R$ 200 milhõesviriam da modernização da Receita8 e outros R$ 300milhões de uma adequação tributária9. Além disso, foiimportante a continuação dos programas de educaçãofiscal e A Nota é Minha, que fazem com que o contribuintepossa ter boas práticas de cidadania.

Em maio, foi criado um grupo formado por repre-sentantes da Receita Estadual e da Procuradoria Geraldo Estado (PGE), para agilizar a cobrança da dívida ativa.Ficou definido que haveria a implantação, pela ReceitaEstadual, de um banco de dados com informações

patrimoniais e de endereço dos devedores, para posteriorrepasse das informações à PGE, com vistas à utilizaçãonas ações de execução fiscal, para agilizar a localizaçãoe a penhora de bens.10

Outro fato importante que ocorreu na metade de2007 foi a aprovação, pelo Tribunal de Contas do Estado(TCE), da gestão financeira de 2006 do Poder Executivo.Esse parecer do TCE é fundamental, porque ofereceamplo material ao Poder Legislativo, que deve aprovar,ou rejeitar, as contas do Executivo.11 O relatório teve 27ressalvas, algumas administrativas, mas a grande maioriadelas está estreitamente relacionada à difícil situaçãofinanceira do Governo Estadual, o que acaba trazendodificuldades para cumprir as determinações dasConstituições Estadual e Federal sobre gastos com saúdee educação (Rel. Parec. Prév. Contas Gov. Est., 2007, p.377).

Também ao longo do primeiro semestre, o Banrisulprocedeu à uma longa trajetória para aumentar seu capitalpor meio de uma emissão de ações no mercado. Emassembléia geral, os acionistas aprovaram as mudançasno estatuto social, que prepararam o Banco para esseevento, que ocorreu em agosto de 2007. O leilão deações preferenciais do Banrisul levantou R$ 1,2 bilhão,sendo que o Governo destinou essa receita à instituiçãode dois fundos, o Fundo de Equilíbrio Previdenciário (FE--Prev) e o Fundo de Garantia da Previdência PúblicaEstadual (FG-Prev).12 Os recursos dos fundos tiveram

6 O regime de caixa significa que a autorização de gastos serádada somente quando houver recursos disponíveis para efetuá--los. Isso evita que ocorram repasses e pagamentos sem receitasefetivas. Com isso, o Governo pode somente pagar asprioridades ou as despesas emergenciais.

7 Essas despesas se referem a contratos, convênios, diárias,aquisição de passagens, abertura de concursos e contrataçãode pessoal.

8 No que diz respeito às ações de modernização da Receita,podem ser destacadas três delas. A primeira refere-se aoprograma de estímulo aos setores econômicos, com reduçõesde alíquotas setoriais. A segunda é a formação de um grupo detrabalho para recuperação de créditos da dívida ativa, envolvendoa Secretaria da Fazenda, a Procuradoria Geral do Estado, oMinistério Público e o Tribunal de Justiça. E a terceira é amodernização da gestão da administração tributária, com autilização das ferramentas e dos controles existentes sobre oscontribuintes, com vistas à redução da sonegação fiscal,ampliando a arrecadação potencial do Estado.

9 Três ações podem ser destacadas. A primeira é a mudança noscritérios de transferência de saldo credor de exportação,estimulando a compra de matéria-prima dentro do RS. A segundaé a equiparação dos produtores rurais aos consumidoresurbanos de baixa renda, estabelecendo a cobrança do ICMSsobre o consumo residencial no limite de 100kw/mês, com aaplicação da alíquota de 12%. E a terceira é a reavaliação dosbenefícios fiscais (isenção, créditos presumidos e reduções dabase de cálculo), bem como a imposição de novas condições.

10 Aliás, esse é sempre um ponto para o qual que o TCE chamaatenção, pois o Estado somente conseguiu cobrar em 2006menos do que 1,5% dos R$ 13,8 bilhões que existem de créditoda dívida ativa. Além disso, o Estado quase nunca conseguiu irmuito além desse patamar de cobrança. Em 2001, resgatousomente 2,7% do total e, nos anos seguintes, 3,4%, 3,9%, 2,2%e 3,2%, respectivamente, de 2002 a 2005 (Rel. Parec. Prév.Contas Gov. Est., 2007, p. 185). Contudo existe a informação daProcuradoria Geral do Estado de que é possível cobrar apenasR$ 3,1 bilhões, ou 15,2% desse total. O resto, R$ 17,2 bilhões(84,8%), seria “moeda podre”, de difícil recuperação, ou seja,são massas falidas, processos de cobranças superiores hácinco anos, empresas que já deram baixa na Fazenda eexecuções fiscais em fase de recurso há mais de 10 anos(Barcelos, 2007, p. 6).

11 O parecer do TCE é fundamental, porque analisa de maneiraglobal o desempenho das ações do Governo do Estado emseus aspectos orçamentário, financeiro, patrimonial, econômicoe operacional, referentes a cada exercício financeiro.Invariavelmente, o TCE tem aprovado sempre com ressalvas erecomendações as prestações de contas dos últimos anos, emrazão do déficit estrutural gaúcho.

12 O Fundo de Garantia da Previdência Pública Estadual destina--se a gastos para as futuras aposentadorias e será constituídocom 10% do produto líquido da venda das ações preferenciaisdo Banrisul, do resultado de suas aplicações e de outras rendas

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85O desempenho das finanças públicas estaduais em 2007

contas específicas, cujos saldos estão sendo divulgadosmensalmente, sendo proibida a sua aplicação no SistemaIntegrado de Administração de Caixa (SIAC), o chamado“Caixa Único”.

Em setembro, o Governo enviou à AssembléiaLegislativa o Projeto de Orçamento de 2008, cuja propostaele convencionou chamar de “orçamento realista”, pois odocumento apresentava um déficit de R$ 1,3 bilhão. Noentender do Governo, isso era fundamental, pois umorçamento realista apresenta uma programação dedespesas e receitas reais, a qual o Governo cumpreefetivamente. Mas a bancada parlamentar de oposiçãoviu nisso uma manobra para facilitar a aprovação deaumento de impostos e ingressou no Tribunal de Justiçado Estado com um pedido de liminar. Foi solicitada umaretificação do Orçamento, apontando as fontes derecursos para cobrir o déficit. A Justiça aceitou essepedido e determinou que o Governo reenviasse o projetode orçamento com essas alterações.

Em outubro de 2007, o Governo encaminhou umconjunto de projetos de maior impacto fiscal ainda doque o rejeitado no final do ano passado. O elenco demedidas incluiu aumento de alíquota de ICMS, criaçãodo fundo para pagamento de precatórios, Lei de Respon-sabilidade Fiscal Estadual, extinção de cargos emcomissão e regras para aposentadoria de novosservidores. Porém, apesar da intensa articulação com amídia e principalmente com os deputados, o principalprojeto (o de aumento de alíquotas) foi rejeitadonovamente pela Assembléia, sendo que os demaisseguem tramitando.

E, no início de dezembro, o Governo não precisoupedir empréstimo ao Banrisul para pagar o 13º salário,pois a Assembléia lhe havia autorizado retirar cerca deR$ 400 milhões dos fundos previdenciários da venda deações do Banrisul. Como condição, o Governo impôsa si próprio o compromisso de recolocar o dinheiro noFE-Prev em seis parcelas, entre maio e outubro de 2008.Na realidade, pela primeira vez nos últimos cinco anos,o Governo adotou outra estratégia para pagar o 13ºsalário.13

Concluindo, com exceção dos dois projetos deaumento das alíquotas de ICMS, que geraram muitodesgaste político, todos os demais projetos de aportefiscal tiveram impacto importante nas finanças públicas.A série de ações executadas para o reequilíbrio dascontas públicas no início do Governo, o conjunto demedidas de modernização da Receita e de adequaçãotributária, a venda de ações do Banrisul, os programasde educação fiscal e A Nota é Minha e, por fim, aagilização da cobrança da dívida ativa permitiram redefiniros procedimentos administrativos e aumentar a receita.

Também a aprovação das contas do Executivo peloTCE ajudou a legitimar as ações do mesmo, além deoferecer um ótimo subsídio ao Legislativo e à sociedadeem geral. E, finalmente, a idéia do “orçamento realista”,mesmo que tenha sido frustrada mais tarde, foiimportante, porque a sociedade não pode ser confrontadacom orçamentos que não retratam a realidade dasfinanças estaduais.

De certa forma, todas as medidas tomadas pelaequipe executiva tiveram efeitos concretos, tanto parahonrar os compromissos, como para mostrar a gravidadeda situação fiscal do Rio Grande do Sul. A seguir,detalham-se o comportamento das receitas e, depois, aexecução orçamentária.

2 O comportamento do ICMS

Para medir a evolução do principal tributo naarrecadação estadual, o ICMS, entre os anos 2000 e2007, procurou-se seguir duas metodologias jádesenvolvidas em estudo anterior (Meneghetti Neto,2007). Em primeiro lugar, foram contrapostas as taxasde crescimento da economia gaúcha (medidas peloProduto Interno Bruto) com as do ICMS14, e, depois,mediu-se a arrecadação do ICMS do ano de 2007 emrelação à o do ano anterior.

que a ele sejam destinadas. Já o Fundo de Equilíbrio Financeirotem como objetivo garantir o provimento de recursos adicionais,para auxiliar no financiamento do déficit do atual regime própriode previdência do Estado. Será constituído por 90% do resultadoda venda das ações preferenciais do Banrisul e rendimentos desuas aplicações financeiras. Os repasses mensais desse fundoao regime próprio de previdência social do Estado ocorrerãopor, no mínimo, sete anos a partir de sua implantação (RioGrande do Sul, 2008b).

13 O empréstimo do Banrisul foi o meio mais utilizado nos últi-mos anos, a ponto de, no ano de 2006, o Tribunal de Contas do

Estado chegar a questionar o Governo por deixar despesaspara a sucessora sem dinheiro reservado para cobri-las, o quepoderia ferir a Lei da Responsabilidade Fiscal (Rel. Parec. Prév.Contas Gov. Est., 2007, p. 380). Mas, em todos os anos desde2003, o TCE nunca chegou a invalidar o procedimento, pois nãohá irregularidade, uma vez que sempre foi encaminhado pedidode autorização legislativa.

14 A estatística da arrecadação do ICMS desse item não consideraa dívida ativa, os juros de mora e as multas por pagamentos ematraso. Ao se adotar esse procedimento, busca-se uma precisãomaior no monitoramento do ICMS. Por essa razão, ela é diferentedaquela apresentada no item 3.

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86 Alfredo Meneghetti Neto

Tabela 1

Taxa de crescimento (base móvel) do ICMS e do PIB do RS — 2003-07

(%)

ANOS ICMS PIB

2003 -4,0 1,7 2004 -2,0 3,4 2005 9,0 -2,8 2006 5,1 2,7 2007 -1,2 7,0

FONTE: FONTE: RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Fazenda. Arrecadação do ICMS no Rio Grande do Sul . Disponível em: <http://www.sefaz.rs.gov.br>. Aces- so em: 14 jan. 2008.

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER. Disponível em: <http://www.fee.tche.br>. Acesso em: 14 jan. 2008.

Quando se compara a arrecadação do ICMS como desempenho do PIB gaúcho, é importante ter presenteque a composição das duas variáveis tem muitas peculia-ridades, o que pode distorcer a interpretação.15 Entretanto,mesmo assim, julgou-se oportuno compará-las,seguindo-se os mesmos procedimentos já usuais no RioGrande do Sul, como o do Tribunal de Contas do Estado(Rel. Parec. Prév. Contas Gov. Est., 2007, p. 46). A Tabela1 apresenta a evolução das duas variáveis nos últimosseis anos.

Praticamente, as duas variáveis tiveram variaçãodistinta, com sinais contrários, com exceção do ano de2006. O PIB aumentou nos anos de 2003 (1,7%), 2004(3,4%) e 2007 (7%), e a arrecadação do ICMS caiu -4%,-2% e -1,2% respectivamente. É interessante notar que,nos dois anos (2005 e 2006) em que o Governo podecontar com alíquotas do ICMS majoradas em três produtos(combustíveis, energia elétrica e telecomunicações),houve aumento de arrecadação.

No ano de 2007, a economia teve um desempenhomelhor do que o do ano anterior (7,0%), pois foi ajudadapela safra, que acabou repercutindo no aumento daprodução de soja, milho e trigo, e também pelodesempenho da indústria16, que lhe garantiu maior fôlego.Entretanto a arrecadação do ICMS caiu 1,2%, pois estásendo comparada com a do ano anterior, que tem umabase maior, devido ao aumento das alíquotas.

Outra forma de comparar o desempenho do ICMSé contrapor a arrecadação mensal de um ano em relaçãoà do ano anterior. Pela Tabela 2, pode-se observar opéssimo desempenho da arrecadação do ICMS ao longodo ano de 2007, principalmente em março (-10,3%),setembro (-8,7%), junho (-7,7%) e outubro (-7,4%), emvalores atualizados para primeiro de dezembro de 2007.

Dois meses podem ser considerados excelentes(agosto e dezembro), apresentando um aumento de ICMSde 9,7% e 14,1% em relação ao mesmo período do anoanterior. Mas esses poucos meses de resultadospositivos não foram suficientes para compensar asperdas, e o resultado do ICMS anual caiu 1,2% em relaçãoao do ano anterior, alcançando somente R$ 12,3 bilhões.Certamente, o fato de não se ter conseguido aprovar oaumento das alíquotas do ICMS repercutiu negativamentenas finanças estaduais, justamente em função da altaparticipação desses produtos na arrecadação.

O Gráfico 1 mostra a evolução da arrecadação doICMS gaúcho. Pode-se observar que a arrecadação doICMS do ano de 2007 ficou abaixo daquela de 2006durante boa parte do ano. Essa fraca performance emrelação à do ano anterior dificultou muito a gestão fiscal,especialmente quanto às despesas de custeio(pagamento do funcionalismo) e ao serviço da dívida.

15 Especificamente, elas possuem uma estrutura bem diversificadanas suas composições e, além disso, foram atualizadas pordeflatores distintos. Obviamente, o melhor seria considerar aevolução de todos os setores do PIB que são tributados peloICMS, uma vez que as exportações estão desoneradas doimposto. Entretanto, como essa estatística é difícil de ser obtida,tem-se adotado a comparação pura e simples do PIB e do ICMS.Considerando-se uma série maior, de 1970 a 2007, fica evidentea defasagem das duas variáveis: o PIB cresceu 278%; e oICMS, somente 195% no período. Isso fica também comprovadono teste da elasticidade-renda do ICMS, dividindo-se a série emquatro períodos e considerando-se como variável independenteo PIB e como variável dependente o ICMS. Especificamente nosanos 70, a elasticidade-renda do ICM gaúcho ficou em 0,9, oque significa dizer que, para cada variação de 1% no PIB, o ICMrespondeu (positivamente) com 0,9%. Uma performance melhorainda foi verificada nos anos 80, quando a elasticidade-renda doICMS saltou para 1,41, devido à reforma tributária que alargou abase desse tributo. Entretanto, nos anos 90, a elasticidade--renda foi negativa em 0,48, devido às perdas causadas pelainflação do período 1991-93. A partir de 2000, o ICMS voltou aapresentar um coeficiente positivo em 0,59, mas bem abaixo dodos anos 70 e 80, o que leva a concluir que, atualmente, oEstado está tendo cada vez menos condições de acompanharo crescimento da economia.

16 De acordo com o IBGE (Indic. IBGE, 2008), a produção físicaindustrial, no acumulado de janeiro a novembro de 2007, chegouà ótima performance de um crescimento de 8% em relação aomesmo período do ano anterior, somente superada por MinasGerais (8,8%). Conseqüentemente, o problema da queda dearrecadação do ICMS não foi devido ao desempenho da indústria.

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87O desempenho das finanças públicas estaduais em 2007

Tabela 2

Evolução da arrecadação do ICMS no RS — 2006 e 2007

VALORES (R$ milhões) MESES E TOTAL

2006 2007 VARIAÇÃO %

Janeiro 1 186 1 174 -1,0

Fevereiro 961 921 -4,2

Março 955 856 -10,3

Abril 1 021 1 009 -1,1

Maio 970 999 2,9

Junho 1 111 1 025 -7,7

Julho 981 953 -2,8

Agosto 944 1 036 9,7

Setembro 1 119 1 022 -8,7

Outubro 1 105 1 024 -7,4

Novembro 1 092 1 142 4,6

Dezembro 982 1 121 14,1

TOTAL 12 428 12 282 -1,2

FONTE: RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Fazenda. Arrecadação do ICMS no Rio Grande do Sul . Disponível em: <http://www.sefaz.rs.gov.br>. Acesso em: 14 jan. 2008.

NOTA: Os valores do ICMS estão a preços de 1º de dezembro de 2007 e foram deflacionados pelo IGP-DI.

FONTE: RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Fazenda. Impostos estaduais/ICMS/Desempenho. Disponível em: <http://www.sefaz.rs.gov.br/SEF_ROOT/SAR/SAR-WEB-ARR-DES_1.asp?p_menu=8>. Acesso em: 29 jan. 2008.

0

200

400

600

800

1 000

1 200

1 400

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

(R$ milhões)

2006

Evolução da arrecadação do ICMS no RS — 2006 e 2007 Gráfico 1

2007

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88 Alfredo Meneghetti Neto

Tabela 3

Arrecadação do ICMS, por setores, no RS — 2006 e 2007

VALORES (R$ 1 000) SETORES DA ECONOMIA E TOTAL

2006 2007

VARIAÇÃO %

Produção animal e extração vegetal ..................................................................... 72 642 75 542 4,0 Indústria extrativa mineral ..................................................................................... 35 839 40 153 12,0 Indústria de transformação .................................................................................... 5 238 534 5 104 177 -2,6 Indústria de beneficiamento .................................................................................. 361 108 405 858 12,4 Indústria de montagem .......................................................................................... 62 901 125 775 100,0 Indústria de acondicionamento e recondicionamento ........................................... 8 658 8 260 -4,6 Comércio atacadista .............................................................................................. 3 579 826 3 608 066 0,8 Comércio varejista ................................................................................................. 1 412 713 1 547 937 9,6 Serviços e outros ................................................................................................... 1 866 660 1 565 568 -16,1 TOTAL ................................................................................................................... 12 638 880 12 481 337 -1,2

FONTE: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. Arrecadação do ICMS por setores . Disponível em: <http://www.fee.tche.br>. Acesso em: 14 jan. 2008.

NOTA: Os valores do ICMS estão a preços de 1º de dezembro de 2007 e foram deflacionados pelo IGP-DI.

3 A arrecadação do ICMS por setores

Através da Tabela 3, pode-se analisar o desem-penho da arrecadação do ICMS dos principais setoresda economia gaúcha em 2007, em relação ao mesmoperíodo do ano anterior.17

Nota-se que a composição dos setores que dãoorigem à arrecadação do ICMS gaúcho está toda centradana indústria de transformação (quase a metade do totaldo ICMS), vindo, logo a seguir, o comércio atacadista,os serviços e outros e o comércio varejista. Por esse

motivo, o fato de esse setor ter apresentado um desem-penho negativo de 2,6% fez a arrecadação do ICMS totalcair em relação à do ano anterior. Isso se deu mesmocom o aumento de seis setores do ICMS: produçãoanimal, indústria extrativa, indústria de beneficiamento,montagem, comércio atacadista e varejista. O aumentoda arrecadação desses setores não conseguiucontrabalançar a queda da indústria, pois, em seuconjunto, a arrecadação do ICMS caiu 1,2% em relaçãoà do mesmo período do ano anterior. As dificuldades decaixa do Executivo foram enormes, ainda que a execuçãoorçamentária dos recursos do Tesouro tenha sidosuperavitária, como pode ser visto no item seguinte.

17 Convém salientar que a estatística da arrecadação do ICMSdesse item considera a dívida ativa, os juros de mora e asmultas por pagamentos em atraso. Por essa razão, é diferentedaquela do item anterior.

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89O desempenho das finanças públicas estaduais em 2007

4 A execução orçamentária

Através da Tabela 4, pode-se notar a execuçãoorçamentária do ano de 2007.18 As receitas correntes,que englobam as receitas tributárias, as patrimoniais, asindustriais e as provenientes de transferências correntes,alcançaram R$ 18,9 bilhões. Dessas receitas, sãoexcluídas as despesas do Fundo de Manutenção eDesenvolvimento do Ensino Fundamental e deValorização do Magistério (Fundef) e as despesascorrentes. Às primeiras corresponde a provisão de R$1,8 bilhão que todos os estados e municípios devemdestinar ao Fundef. Já as despesas correntes atingiramR$ 15,8 bilhões e englobam os gastos com pessoal ematerial de consumo, dentre outros. O resultadoorçamentário foi superavitário em R$ 1,3 bilhão.

Entretanto o resultado do orçamento de capital foideficitário em R$ 573 milhões. Isso pode ser explicadopelo fato de as receitas (com o auxílio da União, de R$22,8 milhões, e das vendas das ações do Banrisul, novalor de R$ 1,2 bilhão) terem sido superadas pelasdespesas (pressionadas pelas amortizações da dívida,que chegaram a R$ 1,6 bilhão).

Totalizando-se essas rubricas, nota-se que oExecutivo conseguiu equilíbrio orçamentário, tendochegado, no ano de 2007, a uma situação superavitáriade R$ 710 milhões, o que foi conseguido justamente emfunção das melhorias na arrecadação, dos cortes dasdespesas de custeio e, principalmente, através da vendade ações do Banrisul, como pode ser visto no Gráfico 2.

Ao longo do ano de 2007, quase todos os resultadosorçamentários foram negativos (principalmente nosmeses de fevereiro, março, abril e setembro). A exceçãofoi o mês de julho, quando ingressaram os recursos davenda de ações do Banrisul. Entretanto esses recursosnão puderam ser utilizados, pois foram destinados àcriação do Fundo de Equilíbrio Previdenciário e do Fundode Garantia da Previdência Pública Estadual.19

Dois itens têm dificultado a execução orçamentáriado RS: o gasto com o pessoal e o pagamento da dívida.O comprometimento com o pagamento de pessoal (ativos,inativos e pensionistas e as transferências às autarquiase fundações), incluído nas despesas correntes, chegoua um patamar de R$ 9,5 bilhões em 2007. Esse montantede despesa apresenta sérias dificuldades para serexecutado, não só pelo alto patamar de gasto exigidocomo também pela sua rigidez e pelo fato de que osgastos com inativos e pensionistas já representam ametade do pagamento do pessoal total. Além disso, onúmero de matrículas dos servidores inativos e dospensionistas das Administrações Direta e Indireta vemgradativamente aumentando nos últimos anos, como podeser visto no Gráfico 3.

Enquanto os servidores ativos diminuíram de228.000 (1991) para 204.000 (2006), os inativos aumenta-ram de 79.000 para 127.000; e os pensionistas, de 48.000para 51.000 no mesmo período.

A dívida é outra dificuldade que absorveu R$ 1,8bilhão no ano de 2007, incluindo amortização e pagamen-to dos encargos.20 Esse montante representa quase duasarrecadações mensais de ICMS. Além disso, o estoqueda dívida pública gaúcha é enorme, chegando a R$ 49,4bilhões, e está distribuído em parcelas com vencimentosa serem pagos até o ano 2028, como pode ser visto noGráfico 4.21

Essas duas rubricas (pessoal e dívida), por seremrígidas e cada vez maiores, diminuem as possibilidadesdo Governo Estadual de realizar investimentos, que aindaestão em um nível muito baixo (de R$ 332 milhões),representando somente 1,7% das receitas correntes.Conforme dados de 2006 da Secretaria do TesouroNacional, o Estado tem o mais baixo investimento percapita do País: somente R$ 56,00.22

Finalmente, cabe salientar ainda que, ao seobservar uma série histórica da execução orçamentáriados recursos do Tesouro, nota-se que as dificuldades das

18 A execução orçamentária estadual é apresentada mensalmente,de forma bem mais detalhada, pela Secretaria da Fazenda (RioGrande do Sul, 2008), e tem-se optado em considerar a despesaempenhada como sendo a interpretação mais próxima da realsituação das contas públicas.

19 De acordo com Zachia (2007), a aprovação, pela AssembléiaLegislativa, desses dois fundos é um marco sem precedentes eé o começo de um ajuste estrutural de médio e longo prazos queeliminará uma das fontes de desequilíbrio das contas públicas,o pagamento de aposentadorias e pensões, que representa52% dos gastos com pessoal. Depois do Banrisul, o Governodeve começar a preparar empresas de porte como o da CEEE,e o da Corsan, respeitando a autonomia administrativa e o regimejurídico de cada uma delas, para o encaminhamento do seucapital através da oferta de ações na Bovespa.

20 Os valores do gasto com pessoal, das transferências e dadívida estão a preços correntes e fazem parte da demonstraçãocontábil da CAGE (Rio Grande do Sul, 2008). Eles não foramapresentados discriminadamente na Tabela 4, para deixa-lá maissimplificada.

21 Outro detalhe é que, nos próximos quatro anos, vencem R$ 7,7bilhões de parcelas da dívida gaúcha, que o Estado deveránegociar para alongar o seu prazo, pois não existem recursosdisponíveis.

22 Os estados que mais investiram foram Acre (R$ 790,00 percapita), Tocantins (R$ 467,00 per capita), Roraima (R$ 335,00per capita) e Distrito Federal (R$ 297,00 per capita), e os quemenos investiram foram Bahia (R$ 74,00 per capita), Alagoas(R$ 72,00 per capita) e Goiás (68,00 per capita) (Brasil, 2008).

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 83-92, 2008

90 Alfredo Meneghetti Neto

Tabela 4 Execução orçamentária dos recursos do Tesouro do RS — 2007

TÍTULOS VALOR

A - Receitas correntes ........................................................................................... 18 883 458 B - Deduções para Fundef .................................................................................... -1 785 426 C - Despesas correntes ......................................................................................... 15 814 212 D - Resultado do orçamento corrente (A - B) - C .............................................. 1 283 820 E - Receitas de capital ........................................................................................... 1 347 215 F - Despesas de capital.......................................................................................... 1 920 586 G - Resultado do orçamento de capital (E - F) .................................................. -573 371 H - Resultado (D - G) ........................................................................................... 710 449

FONTE: RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Fazenda. Contadoria e Auditoria Geral do Estado. Execução Orçamentária da Administração Direta . Disponível em: <http://www.sefaz.rs.gov.br>. Acesso em: 14 jan. 2008.

NOTA: Os valores da execução orçamentária estão a preços correntes. Também é importante salientar que, além das receitas e despesas orçamentárias da Administração Direta, esse demonstrativo contempla, na despesa, as dotações e os empenhos efetuados por autarquias e fundações à conta do Tesouro do Estado.

finanças estaduais foram as mesmas, ou seja, quasesempre o Governo gastou mais do que arrecadou.Basicamente, os superávits dos últimos 11 anos foramconseguidos de três maneiras: ou o Estado ganhourecursos com as privatizações (anos de 1996, 1997 e1998), ou cancelou a conta Restos a Pagar23 (ano de

23 Nesse ano, as dívidas do Estado foram suspensas, por estaremprescritas, pois tinham mais de cinco anos.

2002), ou, ainda, quando vendeu as ações do Banrisul(ano de 2007). Concluindo, o Estado sempre temconseguido superávit de forma “paliativa” e não duradoura,a qual se daria através da arrecadação da sua basetributária.

FONTE: RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Fazenda. Contadoria e Auditoria Geral do Estado. Análise da Recei- ta Orçamentária. Disponível em: <http://www.sefaz.rs.gov.br/SEF_ROOT/INF/SEF-DemContabeis.htm>. Acesso em: 14 jan. 2008.

- 400 000

- 200 000

0

200 000

400 000

600 000

800 000

1 000 000

1 200 000

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

(R$ 1 000)

Evolução do resultado orçamentário do RS — 2007 Gráfico 2

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91O desempenho das finanças públicas estaduais em 2007

FONTE: RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Fazenda. Finanças estaduais/Demonstrações contábeis/Balanço Ge- ral do Estado. Disponível em: <http://www.sefaz.rs.gov.br/SEF_ROOT/>. Acesso em: 14 jan. 2008.

0,0

7,7 7,98,6

9,4

15,9

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

2006 2007-10 2011-14 2015-18 2019-22 2023-28

(R$ bilhões)

Vencimentos da dívida pública do RS — 2006-28Gráfico 4

0

50 000

100 000

150 000

200 000

250 000

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Gráfico 3

Número de matrículas dos servidores ativos, dos inativos e dos pensionistas do RS — 1991-06

Pensionistas

Inativos

Ativos

FONTE: RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Fazenda. Finanças estaduais/Documentos. Disponível em: <http://www.sefaz.rs.gov.br/SEF_ROOT/INF/SEF-Documentos.htm>. Acesso em: 14 jan. 2008.

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92 Alfredo Meneghetti Neto

5 Considerações finais

A gestão de finanças públicas, apesar de ter sido,no primeiro ano do Governo, muito conflituosa, teve mérito.Mesmo que a arrecadação do ICMS não tenha tido umaboa performance — até porque, na base de compa-ração do ano anterior, estão embutidas alíquotas maiselevadas —, as diversas ações implementadas peloExecutivo tiveram sucesso. A venda de ações do Banrisule as medidas tanto de cortes de despesas como demelhoria nos procedimentos tributários contribuíram paraas disponibilidades de caixa no encerramento doexercício. A execução orçamentária acumulada em 2007foi superavitária, possibilitando ao Governo não ter queassumir empréstimo para pagar o 13º salário do funcio-nalismo.

Dois itens dificultaram a execução orçamentária: ogasto com o pessoal e o pagamento da dívida, quechegaram, respectivamente, a patamares de R$ 9,5bilhões e R$ 1,8 bilhão no ano de 2007. Esses dois itens,somados com as despesas do Fundef, as transferênciasaos municípios e as despesas de manutenção da máquinaadministrativa, alcançaram a quase-totalidade dosrecursos de que dispunha o Executivo, reduzindo, assim,a possibilidade de aumentar os investimentos públicos,que ainda estão em um patamar muito baixo.

Essa situação desfavorável das finanças deve impora continuidade do esforço, para que o Executivo busquealternativas de receitas extras, tanto para chegar ao finaldo ano com equilíbrio orçamentário, como também pararesolver o permanente déficit estrutural das finançaspúblicas gaúchas.

Referências

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93A universalização da água tratada no RS

1 Introdução

A política de saneamento básico nos anos recen-tes priorizou a construção da infra-estrutura de abasteci-mento de água, com o objetivo de buscar auniversalização do acesso da população urbana à águatratada. A política é definida pelos Governos Federal,Estadual e Municipais, constituindo-se através de pla-nos, programas, projetos, arcabouço legal e regulatórioe outras iniciativas. Em geral, os Governos estaduais emunicipais executam a política, porém a definição e agestão da política nacional de saneamento básico exer-cem grande influência nas políticas estaduais e munici-pal. A principal influência vem através da forma de finan-ciamento, da oferta de recursos oficiais do orçamentofiscal, do crédito dos fundos públicos (FGTS, FAT, etc.),bem como de recursos externos dos organismos inter-nacionais. Nos últimos anos, a política nacional têm seconstituído num instrumento determinante do desempe-nho das prestadoras estaduais e municipais de sanea-mento básico.

O conceito amplo de saneamento básico compre-ende os serviços públicos de abastecimento de água,de esgotamento sanitário, de coleta e tratamento dosresíduos sólidos e de assoreamento urbano. Aintegralidade desses serviços assegura, para a popula-ção urbana, a salubridade ambiental, que é um direitoessencial da vida. O conceito de universalização refere--se à disponibilidade e à acessibilidade para todos aosserviços públicos, que são as condições que fundamen-tam os serviços universais, cujas características bási-cas se destacam pela alta relevância social e econômica,pela importância estrutural no funcionamento das cida-des e do sistema de produção e pela disponibilidade dosbens públicos em escala massiva e adequada. Essesatributos de alta relevância dos serviços, vitais einsubstituíveis para a população, exigem que suas

A universalização da água tratada no RS*

Renato Antonio Dal Maso** Economista e Coordenador do Núcleo de Políticas Públicas da FEE

* Artigo recebido em 11 jan. 2008.

** E-mail: [email protected] O autor agradece o apoio de Roberto Roncheti Caravantes à

pesquisa.

atividades sejam orientadas por políticas públicas e su-jeitas à regulação governamental em prol da proteção dointeresse público e da provisão de serviços adequados.Neste texto, tomou-se a noção de universalização queconsidera, especificamente, a disponibilidade e a aces-sibilidade para a população urbana e para os domicíliosurbanos dos serviços de abastecimento de água.

Portanto, a intenção deste texto é analisar os re-sultados da política de saneamento básico em relaçãoao seu objetivo maior, que é a universalização do abas-tecimento de água para a população urbana no RS, exe-cutada pelo Governo do Rio Grande do Sul e pelos go-vernos municipais. O Governo Estadual executa-a atra-vés dos programas e dos projetos da Secretaria de Es-tado de Obras Públicas e, principalmente, pelasatividades desenvolvidas pela Companhia Riograndensede Saneamento (Corsan), que atende a 317 municípiosdentre os 496 existentes em 2006. Os demais 179 muni-cípios são atendidos pelas prestadoras municipais. Des-te grupo, analisaram-se as informações sobre os seteque possuem maior concentração urbana, que são osseguintes: em Porto Alegre, o Departamento Municipalde Água e Esgoto (DMAE); em Caxias do Sul, a Secre-taria Municipal de Água e Esgoto (Semae); em Pelotas,a Secretaria de Saneamento de Pelotas (Sanep); em SãoLeopoldo, a Secretaria Municipal de Água e Esgoto(Semae); em Novo Hamburgo, a Companhia Municipalde Saneamento (CMS); em Santana do Livramento, oDepartamento de Água e Esgoto (DAE); e, em Bagé, oDepartamento de Água e Esgoto de Bagé (DAEB).

O Ministério da Saúde desenvolve papel importan-te através do Fundo Nacional de Saúde (Funasa), queproporciona aporte financeiro e assessoria à gestão dosserviços de abastecimento para os municípios com até50 mil habitantes. Entretanto não se dispõe de informa-ções sobre as ações desse fundo nesses municípios,nem das condições da abrangência dos serviços de sa-neamento.

O trabalho conta com as informações sobre todo ouniverso do Censo Demográfico 2000 (IBGE, 2002) eda Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios(PNAD, 1996/2007), contendo dados amostrais para operíodo de 1995 a 2006. Conta também com informa-

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 93-106, 2008

94 Renato Antonio Dal Maso

ções importantes das próprias prestadoras referentes àárea de abrangência regional da Corsan e às áreas dosmunicípios selecionados. Essas informações represen-tam mais de 95% da população urbana do RS e com-põem a base de dados do Sistema Nacional de Informa-ções Sobre o Saneamento (SNIS). Portanto, busca-seconstruir um quadro real da universalização do abasteci-mento de água para a população urbana do RS, emboranão se disponha de dados específicos sobre as condi-ções do atendimento atual dos demais 144 pequenosmunicípios. Apesar disso, os dados censitários mostramque a maioria deles desfruta de serviços de abasteci-mento de água por rede geral.

O texto está estruturado da seguinte forma: no item2, abordam-se os indicadores da forma de abastecimen-to de água dos municípios e os dados agregados daPNAD sobre os serviços no RS e na Região Metropolita-na de Porto Alegre (RMPA); no item 3, examinam-se osindicadores de atendimento na área de abrangência re-gional da Corsan e na área das prestadoras municipais.Por fim, apresentam-se as Considerações finais .

2 A universalização do abastecimento de água

A seguir, analisa-se o fenômeno da universalizaçãoatravés dos indicadores de abastecimento de água porrede geral, calculados com os dados censitários do ano2000 (IBGE, 2002) e com os da PNAD (1996/2007). Ostrês indicadores examinados abarcam o universo da po-pulação urbana do RS e da RMPA. Os indicadores agre-gados são os seguintes: percentual médio da forma deabastecimento de água (por rede geral, poço ou nascen-te e outra forma) dos domicílios urbanos dos municípiosclassificados, por tamanho da população urbana, no ano2000; percentual de domicílios urbanos com abasteci-mento de água (ou não), em relação ao total de domicí-lios urbanos, entre 1995 e 2006; e percentual de domicí-lios urbanos com abastecimento de água (ou não), porclasse de rendimento mensal domiciliar, em relação aototal de domicílios urbanos, entre 1995 e 2006.

Conforme o Censo 2000 (IBGE, 2002), o abasteci-mento de água médio por rede geral beneficiava 92,6%dos domicílios urbanos no RS, os que utilizavam poçosou nascentes representavam 5,6%, e 1,9% tinha outrasformas de acesso à água (rio, carro-pipa, água da chuva,reservatório, etc.). Portanto, em termos médios, umaparcela de 7,4% dos domicílios urbanos não tinha abas-tecimento de água por rede geral. Estratificando-se os

municípios segundo o tamanho da população urbana, têm--se diferenças entre eles, transparecendo a pior situaçãodas pequenas cidades. Ou seja, quanto menor for o ta-manho da população urbana dos municípios, menor seráo percentual de domicílios urbanos atendidos por redegeral de água (Tabela 1), e, vice-versa, quanto maior fora população urbana, maior será o abastecimento por redegeral. Não se afirma existir carência de rede geral emtodas as cidades pequenas, pois, na maioria delas, arede geral abastece os domicílios urbanos, mas, sim,que a maior carência de rede geral de água ocorre preci-samente nelas.

Citam-se, como exemplos, a situação de 31 muni-cípios onde não existia rede geral de água e o caso deoutros 30, onde o percentual de atendimento por reded’água era baixíssimo no ano 2000 (IBGE, 2002) — Ta-bela 3. Por sua vez, em Porto Alegre, o acesso à redegeral atingia 98,7% dos domicílios urbanos, apenas 0,4%utilizava água de poço ou nascente; e 0,9%, outras for-mas. Nas classes das cidades com mais de 50.000 emenos de 500.000 habitantes, que somavam 35 municí-pios e abrigavam 51,6% do total dos domicílios urbanosdo RS, o índice de acesso à rede geral era de 93,6%. Naclasse de municípios com população urbana entre 10.000e 50.000, que incluía 87 cidades e abrigava 22,2% dosdomicílios, o percentual de domicílios ligados à rede geralera em torno de 89,3%, elevando-se para 9% os abaste-cidos por poço ou nascente. Em alguns municípios, oacesso à rede geral de água dos domicílios urbanos eramuito baixo, reduzindo a média de atendimento, inclusi-ve no estrato de cidades de 5.000 a 10.000 habitantes(IBGE, 2002)1 — Tabela 1.

Por último, a menor classe de municípios — até5.000 habitantes urbanos —, formada por 327 cidades eabarcando 6,2% do total da população urbana, apresen-tava maior carência de serviços, pois apenas 82,1% dosdomicílios urbanos tinham atendimento por rede geral deágua, sendo que 8,7% deles utilizavam poço ou nascen-te, e 9,1% tinham outra forma de abastecimento (IBGE,

1 Os municípios do estrato entre 10.000 e 50.000 habitantes urba-nos com baixo atendimento por rede geral e alta utilização depoço ou nascente eram Nova Hartz (5,2% tinham acesso àrede geral, e 94% tinham poço ou nascente), Nova Santa Rita(20,1% e 78,8% respectivamente), Portão (25,8% e 72,9%),Parobé (44,4% e 54,1%), Estância Velha (64,5% e 34,7%), Ro-lante (65,7% e 31,8%), dentre outros; no estrato entre 5.000 e10.000 habitantes urbanos, os municípios com baixo atendi-mento por rede geral eram Arroio do Sal (30,8% e 68,3%), CapelaSantana (32,8% e 66,2%), Balneário Pinhal (45% e 54%),Mostardas (52,1% e 47,4%), Palmares (45,9% e 51,3%), etc.(IBGE, 2002).

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95A universalização da água tratada no RS

2002) — Tabela 1. Portanto, a maior incidência da faltade infra-estrutura de rede geral de água ocorria, basica-mente, na classe dos municípios com cidades pe-quenas.

Para melhor análise, reclassificaram-se as duasprimeiras classes de municípios, por apresentaremmaior carência de serviços (Tabela 2). No estrato comaté 1.000 habitantes, existiam 139 municípios, e opercentual médio dos domicílios atendidos por rede ge-ral representava 63,7%, enquanto 26,4% o eram por ou-tra forma. Dentre os primeiros, existiam 80 municípiosque tinham abastecimento por rede geral que atendia,em média, mais de 80% dos domicílios. Em outros 12municípios, o atendimento por rede geral representavaentre 52% e 79% do total, e, nos demais 47 municípios,revelava-se a total falta de serviços de abastecimentode água por rede geral no ano 2000. Portanto, os estra-tos de municípios com menor população urbana apre-sentavam a pior situação de abastecimento de água porrede geral, onde residiam 2,3% da população urbana to-tal (IBGE, 2002).

Na faixa seguinte, referente a 86 municípios e cujascidades tinham entre 1.001 e 2.000 habitantes, opercentual médio de domicílios urbanos atendidos porrede geral aumentou para 79,7%, caindo para 13% naoutra forma de abastecimento e para 7,3% na dos queutilizavam poço ou nascente. Curiosamente, o abasteci-mento por rede geral em 73 cidades e/ou municípios aten-dia mais de 60% dos domicílios urbanos e, nas demais13, era insignificante ou não existia (Tabela 2). Nos de-mais estratos de municípios com cidades mais populo-sas, a participação dos domicílios urbanos abastecidospor rede geral era crescente, embora a utilização de po-ços ou nascentes mantivesse participação em torno de9,4% (IBGE, 2002).2

Em suma, a maior carência de abastecimento porrede geral nos 348 municípios pequenos ocorre entreaqueles que tinham até 7.000 habitantes urbanos, sendoque 31 deles não tinham rede geral de água; em outros30, o percentual de atendimento dos domicílios urbanos

era inferior a 10%; em oito deles, o atendimento repre-sentava entre 30% e 52%, e os restantes desfrutavamde rede geral que universalizava a distribuição d´água(IBGE, 2002) — Tabela 3. Portanto, havia um expressi-vo déficit de infra-estrutura de rede geral de água, princi-palmente nos municípios pequenos, e, por conseqüên-cia, havia carência de abastecimento com água tratada.Nos demais municípios que já tinham rede geral de água,o déficit verificava-se nas periferias das cidades e nasáreas urbanas mais dispersas. A população urbana dasperiferias das cidades sem acesso à rede geral certa-mente era maior do que a das cidades pequenas semrede geral. O objetivo da universalização do acesso àrede geral de água implicou estender as redes para asperiferias urbanas, construir sistemas nas pequenas ci-dades e fazer pequenos sistemas isolados.

Os dados da PNAD (1996/2007) sobre as caracte-rísticas dos domicílios urbanos com acesso (ou não) aoabastecimento de água por rede geral para o período de1995 a 2006 confirmam o fenômeno da universalizaçãono RS e a maior carência de atendimento e de infra--estrutura de rede geral nas classes de domicílios urba-nos de menor rendimento mensal. Os dados revelam aparticipação dos domicílios urbanos com acesso à redegeral por classe de rendimento mensal domiciliar. Essasinformações estão agregadas para o total do RS, permi-tindo, assim, tirarem-se conclusões gerais e apresen-tando uma informação qualitativa adicional sobre o aten-dimento por rede geral de água por classes de rendimen-to domiciliar mensal.

No ano de 1995, as redes de água atendiam 89,3%do total de domicílios urbanos, sendo que 6,5% utiliza-vam outra forma de captação (poço, nascente, carro-pipa,etc.), e o percentual dos restantes representava 4,2%(Tabela 4). Esses mesmos indicadores melhoraram parao ano 2001, cujas participações eram de 92,6%, 5,2% e2,2% respectivamente. O fenômeno da universalizaçãocontinuou crescente até o ano de 2006, pois a rede geralatendia 93,2% dos domicílios urbanos, sendo que 5,8%deles ainda utilizavam outras formas; e apenas 1,0%, osrestantes (PNAD 1996/2007).

Portanto, o atendimento por rede geral de abasteci-mento de água foi universalizado para os domicílios ur-banos do RS, embora se constate ainda a utilização depoço, nascente e outros nas pequenas cidades e nasperiferias das grandes cidades. Essa carência de servi-ços nos domicílios que compõem os grupos com outraforma e sem outra forma qualificou-se com informaçõessobre os domicílios urbanos por classe de rendimentomensal.

2 O percentual médio da faixa entre 3.001 e 4.000 habitantesurbanos sofre influência da situação do Município de Araricá,em que 92,2% dos domicílios urbanos utilizavam poço ou nas-cente, e só 3% tinham rede geral. Na faixa de 4.001 a 5.000habitantes, também ocorre essa situação nos Municípios deMorro Reuter, Santa Maria do Herval, Três Cachoeiras e Bozano.Na faixa entre 5.001 e 7.000 habitantes, os domicílios urbanosdos Municípios de Arroio do Sal e Capela Santana tinham abas-tecimento por poço ou nascente de 68,3% e 66,2% respectiva-mente e apenas 30,8% e 33,2% o tinham, respectivamente, porrede geral (IBGE, 2002).

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96 Renato Antonio Dal Maso

O acesso à rede geral de água foi disponibilizado,progressivamente, para todas as classes de rendimentodomiciliar mensal dos domicílios urbanos ao longo doperíodo de 1995 a 2006, porém as classes que apresen-tam menor percentual de acesso à rede geral são as quepossuem menor rendimento. Por exemplo, os percentuaisde domicílios urbanos nas classes de até um saláriomínimo (SM) e de um a dois SMs que tinham acesso àrede geral representavam 76,1% e 80,2% respectivamen-te, no ano de 1995, mas as participações das classesentre cinco e 10SMs e de mais de 10 a 20SMs represen-tavam 92,3% e 95,3% respectivamente (Tabela 5). Aocorrência de domicílios com outra forma de abasteci-mento (poço, nascente, carro pipa, etc.) não apareceapenas nas classes de menor rendimento, mas a maiorparticipação dá-se entre as classes de três a 10SMs.Esse fato pode ser explicado pelo alargamento da áreaurbana metropolitana onde se localizam condomínios,localidades e área urbanas mais distantes com domicí-lios urbanos com rendimento mensal mais alto. Esse casotambém representa uma situação de déficit, tendo emvista o conceito de universalização adotado, porém asformas alternativas de abastecimento d’água não podemser qualificadas como precariedade dos serviços.

Os dados do ano de 2006 ilustram a proposição dofenômeno da universalização do acesso à rede geral deágua. Os indicadores de acesso dos domicílios urbanosaproximam-se daqueles dados censitários citados ante-riormente. Observou-se que as redes de abastecimentode água das cidades atendiam 93,2% do total de domicí-lios urbanos, outros 5,8% utilizavam poço, nascente,carro-pipa, etc. Também aumentou um pouco a partici-pação dos domicílios beneficiados nas faixas de maiorrendimento domiciliar mensal e foi zerada a participaçãodos domicílios sem rede geral.

Essas mesmas informações para a Região Metro-politana de Porto Alegre reafirmam o fenômeno dauniversalização, bem como mostram ser insignificante aparticipação dos domicílios sem acesso à rede geral. Nocaso da RMPA, as cidades apresentam maior concen-tração urbana, e, portanto, espera-se maior acesso à redegeral de água. No ano de 1995, os domicílios urbanosabastecidos por rede geral representavam 88,1%, sendoque 8,3% utilizavam outra forma, e os restantes 3,5%não tinham qualquer serviço público de água (Tabela 6).Nas classes de maior rendimento mensal dos domicí-lios, verifica-se maior acesso à rede geral de água, bemcomo a redução para 4,2% dos que utilizavam poço,nascente, etc. Assim, a falta de acesso à rede geral eramais expressiva nos domicílios de baixa renda (Ta-bela 7).

No ano de 2006, essas características se altera-ram um pouco, pois aumentou a participação do acessoà rede geral de água para 91,0%, e o desabastecimentoficou por conta dos domicílios com menor rendimentoaté três SMs. Porém, a participação dos domicílios queutilizavam poço, nascente, carro-pipa, etc. é maior naRMPA comparativamente ao total do RS. A maior utiliza-ção de outras formas de acesso à água é uma peculiari-dade do abastecimento da RMPA, que também está as-sociada às classes de baixa renda dos domicílios urba-nos. Ou seja, no espaço metropolitano, ao mesmo tem-po em que se espraiam os domicílios com maior renda,também a concentração urbana na periferia das cidadesé relativamente maior. Os dados censitários iluminam,em parte, essa questão, pois o espaço metropolitanoconcentra municípios com mais de 50 mil habitantes ur-banos, nos quais a participação dos domicílios que utili-zavam outras formas era de 1,6%. Assim, o abasteci-mento d‘água ocorre, basicamente, por rede geral e, emtorno de 6,5%, por poços ou nascente.

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97A universalização da água tratada no RS

Tabela 1

Classificação dos municipios por tamanho da população urbana, segundo a forma de abastecimento de

água dos domicílios urbanos, no RS — 2000

FORMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DOS DOMICÍLIOS URBANOS POPULAÇÃO URBANA

Número Participação no Total (%) CLASSIFICAÇÃO DOS

MUNICÍPIOS E ESTADO NÚMERO

Número % Total Rede geral

Poço ou nascente

Outra forma

Rede geral

Poço ou nascente

Outra forma

Rio Grande do Sul ....... 496 8 328 847 100,0 2 512 558 2 326 017 139 496 47 042 92,6 5,6 1,9 Até 5 000 hab. ............... 327 515 465 6,2 156 922 128 910 13 692 14 317 82,1 8,7 9,1 De 5 001 até 10 000 hab. ............................... 47 336 344 4,0 98 793 87 477 9 816 1 500 88,5 9,9 1,5 De 10 001 até 20 000 hab. ............................... 50 734 010 8,8 222 003 197 047 21 080 3 876 88,8 9,5 1,7 De 20 001 até 50 000 hab. ............................... 37 1 117 034 13,4 331 850 297 439 28 952 5 459 89,6 8,7 1,6 De 50 001 até 100 000 hab. ............................... 21 1 411 102 16,9 417 836 393 727 17 317 6 792 94,2 4,1 1,6 De 100 001 até 500 000 hab. ............................... 14 2 894 153 34,7 855 930 797 936 46 772 11 222 93,2 5,5 1,3 Mais de 500 000 hab. .... 1 1 320 739 15,9 429 224 423 481 1 867 3 876 98,7 0,4 0,9 FONTE: IBGE. Indicadores sociais municipais 2000 . Rio de Janeiro, 2002.

Tabela 2

Classificação dos municipios com até 10.000 habitantes urbanos segundo a forma de abastecimento de água dos domicilios urbanos, no RS — 2000

FORMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DOS DOMICÍLIOS URBANOS

Número Participação no Total (%) CLASSIFICAÇÃO DOS

MUNICÍPIOS NÚMERO POPULAÇÃO

URBANA Total Rede

geral Poço ou nascente

Outra forma

Rede geral

Poço ou nascente

Outra forma

Até 1 000 hab. ..................... 139 74 540 23 081 14 696 2 292 6 090 63,7 9,9 26,4

De 1 001 até 2 000 hab. ...... 86 120 341 39 141 31 209 2 839 5 093 79,7 7,3 13,0

De 2 001 até 3 000 hab. ...... 53 130 930 38 955 34 613 3 060 1 282 88,9 7,9 3,3

De 3 001 até 4 000 hab. ...... 29 101 443 30 364 26 259 3 016 1 089 86,5 9,9 3,6

De 4 001 até 5 000 hab. ...... 20 88 211 25 381 22 133 2 485 763 87,2 9,8 3,0

De 5 001 até 7 000 hab. ...... 21 118 993 35 530 30 296 4 412 822 85,3 12,4 2,3

De 7 001 até 10 000 hab. .... 26 217 351 63 263 57 181 5 404 678 90,4 8,5 1,1 FONTE: IBGE. Indicadores sociais municipais 2000 . Rio de Janeiro, 2002.

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98 Renato Antonio Dal Maso

Tabela 3 Classificação dos municípios com até 7.000 habitantes urbanos, segundo o percentual de atendimento por

rede geral de água dos domicílios urbanos, no RS — 2000

FORMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DOS DOMICÍLIOS URBANOS

Número Participação no Total (%) DISCRIMINAÇÃO NÚMERO

POPULAÇÃO URBANA

Total Rede geral

Poço ou nascente

Outra forma

Rede geral

Poço ou nascente

Outra forma

Sem rede geral ........ 31 17 243 5 525 0 945 4 580 0,0 17,1 82,9

Com rede geral

De 0,1% até 10% ..... 30 31 139 8 225 182 2 207 5 836 2,2 26,8 71,0

De 10,1% até 20% ... 0 0 0 0 0 0 0,0 0,0 0,0

De 20,1% até 50% ... 8 28 121 8 549 3 155 4 896 498 36,9 57,3 5,8

Mais de 50% ............ 279 557 955 170 153 155 869 10 056 4 225 91,6 5,9 2,5 FONTE: IBGE. Indicadores sociais municipais 2000 . Rio de Janeiro, 2002.

Tabela 4

Formas de abastecimento de água dos domicílios urbanos no Rio Grande do Sul — 1995-2006 (%)

CARACTERÍSTICAS DOS DOMICÍLIOS URBANOS

1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006

TOTAL ........................................ 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com canalização interna .......... 95,77 96,81 97,47 97,58 97,84 97,85 98,47 98,61 98,90 99,06 99,01

Com rede geral ........................... 89,27 91,42 91,89 92,33 93,14 92,62 93,77 93,06 94,03 93,21 93,18

Com outra forma ......................... 6,50 5,38 5,58 5,25 4,71 5,23 4,71 5,56 4,87 5,85 5,83

Sem canalização interna .......... 4,23 3,19 2,53 2,42 2,16 2,15 1,53 1,39 1,10 0,94 0,99

Sem rede geral ............................ 2,84 1,66 1,41 1,58 1,14 1,35 0,60 0,69 0,50 0,51 0,41

Sem outra forma ......................... 1,39 1,53 1,12 0,84 1,02 0,80 0,93 0,69 0,60 0,43 0,58

FONTE: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS — PNAD 1995/2006. Rio de Janeiro: IBGE, 1996/2007.

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99A universalização da água tratada no RS

Renato Antonio Dal Maso Tabela 5

Forma de abastecimento de água dos domicílios urbanos, segundo as classes de rendimento mensal domiciliar, no RS — 1995-2006

(%)

CLASSES DE RENDIMENTO MENSAL DOMICILIAR

CARACTERÍSTICAS DO DOMICÍLIOS URBANOS TOTAL

Até 1SM Mais de 1 a 2SMs

Mais de 2 a 3SMs

Mais de 3 a 5SMs

Mais de 5 a

10SMs

Mais de 10 a

20SMs

Mais de 20SMs

Outros (1)

1995 ............................................. 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com canalização interna .............. 95,77 81,10 87,39 92,58 95,79 99,11 100,00 100,00 96,26

Com rede geral ........................ 89,27 76,08 80,16 83,19 88,34 92,29 95,30 96,52 91,42

Outro ........................................ 6,50 5,02 7,22 9,39 7,44 6,81 4,70 3,48 4,84

Sem canalização interna .............. 4,23 18,90 12,61 7,42 4,21 0,89 - - 3,74

Sem rede geral ......................... 2,84 13,39 8,69 5,56 2,20 0,48 - - 3,74

Outro ........................................ 1,39 5,51 3,93 1,86 2,01 0,41 - - -

1998 ............................................. 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com canalização interna .............. 97,58 87,75 91,97 96,26 98,68 99,58 100,00 100,00 96,68

Com rede geral ........................ 92,33 85,14 85,87 87,95 91,63 94,40 96,27 98,50 95,07

Outro ........................................ 5,25 2,61 6,10 8,30 7,05 5,18 3,73 1,50 1,60

Sem canalização interna .............. 2,42 12,25 8,03 3,74 1,32 0,42 - - 3,32

Sem rede geral ........................ 1,58 7,11 5,34 2,99 0,74 0,23 - - 2,54

Outro ........................................ 0,84 5,15 2,69 0,75 0,58 0,19 - - 0,79

2002 ............................................. 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com canalização interna .............. 98,45 90,91 96,54 98,97 99,66 99,83 99,64 100,00 96,49

Com rede geral ........................ 93,77 85,80 92,35 92,82 93,45 95,34 96,42 98,74 91,23

Outro ........................................ 4,72 4,55 4,20 5,90 6,03 4,49 3,23 1,26 5,26

Sem canalização interna .............. 1,51 9,09 3,21 1,03 0,34 0,17 0,36 - 3,51

Sem rede geral ........................ 0,60 3,41 1,48 0,51 0,17 0,00 0,36 - 3,51

Outro ........................................ 0,94 6,25 1,98 0,51 0,17 0,17 - - 1,75

2006 ............................................. 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com canalização interna .............. 99,01 94,31 97,42 99,59 99,85 100,00 100,00 100,00 95,83

Com rede geral ........................ 93,18 88,15 91,07 93,39 93,40 94,39 94,74 97,03 95,83

Outro ........................................ 5,83 6,16 6,35 6,20 6,45 5,45 5,26 2,97 0,00

Sem canalização interna .............. 0,99 5,69 2,58 0,41 0,15 - - - 4,17

Sem rede geral ......................... 0,41 1,90 1,19 0,21 - - - - 4,17

Outro ........................................ 0,58 3,79 1,39 0,21 0,15 - - - - FONTE: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS — PNAD 1995/2006. Rio de Janeiro: IBGE, 1996/2007. (1) Sem declaração e sem rendimento.

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100 Renato Antonio Dal Maso

Tabela 7 Formas de abastecimento de água dos domicílios urbanos, segundo as classes de

rendimento mensal, na RMPA — 1995-2006 (%)

CLASSES DE RENDIMENTO MENSAL DOMICILIAR CARACTERÍSTICAS DO DOMICÍLIOS URBANOS

TOTAL Até 1SM

Mais de 1 a 2SMs

Mais de 2 a 3SMs

Mais de 3 a 5SMs

Mais de 5 a 10SMs

Mais de 10 a

20SMs

Mais de 20SMs

Outros (1)

1995 ............................................ 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com canalização interna ............. 96,45 77,15 92,24 91,80 95,86 98,94 100,00 100,00 89,37

Com rede geral ........................ 88,11 66,29 81,55 81,09 85,92 89,69 94,30 95,79 78,74

Outro ........................................ 8,34 10,85 10,68 10,70 9,94 9,25 5,70 4,21 10,63

Sem canalização interna ............. 3,55 22,85 7,76 8,20 4,14 1,06 - - 10,63

Sem rede geral ........................ 2,33 14,28 5,34 5,70 2,60 0,49 - - 10,63

Outro ........................................ 1,23 8,57 2,43 2,51 1,54 0,57 - - -

1998 ............................................ 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com canalização interna ............. 97,72 88,78 90,10 96,80 97,72 99,40 100,00 100,00 99,87

Com rede geral ........................ 89,74 80,61 80,19 85,90 87,59 91,32 93,95 96,30 94,88

Outro ........................................ 7,98 8,16 9,90 10,90 10,13 8,08 6,05 3,70 4,99

Sem canalização interna ............. 2,28 11,22 9,90 3,20 2,28 0,60 - - 0,13

Sem rede geral ........................ 1,24 5,61 5,89 2,14 1,09 0,30 - - -

Outro ........................................ 1,04 5,61 4,01 1,07 1,19 0,30 - - 0,13

2002 ............................................ 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com canalização interna ............. 98,15 88,07 95,49 98,62 99,29 99,64 100,00 100,00 91,53

Com rede geral ........................ 89,21 75,28 83,25 87,54 88,85 91,23 95,58 97,81 86,44

Outro ........................................ 8,93 12,78 12,24 11,08 10,44 8,41 4,42 2,19 5,10

Sem canalização interna ............. 1,85 11,93 4,51 1,38 0,71 0,36 - - 8,47

Sem rede geral ........................ 0,54 4,26 1,16 0,13 0,16 0,07 - - 5,08

Outro ........................................ 1,31 7,67 3,35 1,26 0,55 0,29 - - 3,39

2006 ............................................. 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com canalização interna ............. 99,14 94,87 97,01 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com rede geral ........................ 91,01 87,18 87,06 90,82 90,69 92,54 92,56 98,33 90,00

Outro ........................................ 8,13 7,69 9,95 9,18 8,97 7,46 7,44 1,67 -

Sem canalização interna ............. 0,86 3,85 2,99 0,51 - - - - -

Sem rede geral ........................ 0,23 1,28 1,00 - - - - - -

Outro ........................................ 0,55 3,85 1,99 0,51 - - - - -

FONTE: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS — PNAD 1995/2006. Rio de Janeiro: IBGE, 1996/2007. (1) Sem declaração e sem rendimento.

Tabela 6 Formas de abastecimento de água dos domicílios urbanos na RMPA — 1995-2006

(%)

CARACTERÍSTICAS DOS DOMICÍLIOS URBANOS

1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 TOTAL ........................................ 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Com canalização interna ......... 96,45 96,82 97,40 97,72 97,82 97,71 98,15 98,31 98,62 98,75 99,14

Com rede geral ........................... 88,11 89,25 89,71 89,74 89,94 87,58 89,21 88,12 89,04 87,92 91,01

Com outra forma ......................... 8,34 7,57 7,69 7,98 7,88 10,13 8,93 10,19 9,58 10,82 8,13

Sem canalização interna .......... 3,55 3,18 2,60 2,28 2,18 2,29 1,85 1,69 1,38 1,25 0,86

Sem rede geral ........................... 2,33 1,31 1,39 1,24 0,73 1,23 0,54 0,66 0,47 0,53 0,23

Sem outra forma ......................... 1,23 1,87 1,21 1,04 1,45 1,06 1,31 1,03 0,91 0,72 0,55

FONTE: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS — PNAD 1995/2006. Rio de Janeiro: IBGE, 1996/2007.

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101A universalização da água tratada no RS

3 As prestadoras universa- lizam o atendimento

Os indicadores fornecidos pelas própriasprestadoras sobre o atendimento da população urbanarevelam a situação real do abastecimento de água, es-pecialmente a universalização do acesso da populaçãourbana do RS. Os dados analisados referem-se à áreade abrangência regional da Corsan e à área dasprestadoras municipais de Bagé, Caxias do Sul, Pelotas,Porto Alegre, Santana do Livramento, São Leopoldo eNovo Hamburgo.

Analisam-se três indicadores: o índice de atendi-mento da população urbana, que relaciona a populaçãourbana atendida com abastecimento de água e a popula-ção urbana dos municípios atendidos; o índice defluoretação de água, igual ao volume de água fluoretadosobre o volume de água produzido; e os consumo médiode água por economia, medido em metros cúbicos pormês, e consumo médio per capita, medido por litros porhabitante/dia. Esses dados não especificam as formasde abastecimento de água, o tipo de rede geral e outrasformas utilizadas pela população urbana.

Na área de abrangência regional da Corsan, opercentual de atendimento representava 97,3% da popu-lação urbana dos municípios em 1995, mas se mantevenesse patamar até 1999, atingindo 100% dos habitan-tes urbanos em 2001. Portanto, a prestadora estadualuniversalizou o acesso à água tratada nos 342 municí-pios onde tem a concessão dos serviços (Tabela 8). Ofenômeno da universalização veio acompanhado por doisfatos fundamentais para os gestores da política de sa-neamento básico no RS: um é o fato em si dedisponibilizar os serviços públicos de água para acessoa toda a população urbana; o outro é a distribuição deágua tratada, como mostra o índice de fluoretação, queatingiu 99,6% da água distribuída em 2006. Cabe aindaponderar que a distribuição de água tratada não se com-pletou por meio de rede geral unicamente, pois parte doabastecimento ocorre ainda por outra forma, fato revela-do pelos dados do Censo e da PNAD.

Os indicadores das prestadoras municipais tambémregistram abastecimento de água para 100% da popula-ção urbana em Bagé, Pelotas e Porto Alegre. Nas Cida-des de São Leopoldo e Caxias do Sul, as prestadorasprogressivamente universalizaram os serviços, pois oatendimento da população urbana com água tratada re-presentava, em 2006, 99,6% e 98% respectivamente. OGoverno Municipal de Novo Hamburgo assumiu os ser-

viços de saneamento básico em 2003 e, atualmente,atende 97,5% dos habitantes urbanos. Em Santana doLivramento, a rede geral de água beneficiava 98,8% dapopulação urbana no ano 2000. Os dados sobre águatratada são recentes, mas indicam que 100% da águadistribuída pelas prestadoras municipais passou por pro-cesso de fluoretação em 2006 (SNIS, 2007) — Tabela 9.

Por último, destaca-se outro fato também notável,concomitante ao fenômeno da universalização, relacio-nado às reduções do consumo médio de água por eco-nomia e do consumo médio. Os dados sobre a reduçãono consumo de água mostram (exceto para o ano de2005, por causa da grande estiagem) uma economia,em média, de 13,1m3 de água por mês no início do perí-odo, tendo-se reduzido para 10,5m3 por mês em 2006; oconsumo médio per capita de água, na área deabrangência da Corsan, reduziu-se de 142 litros por ha-bitante/dia no inicio do período para 115 litros em 2006.Esse fato importante também se observa na evoluçãodo consumo médio dos municípios analisados (Tabe-la 9). A queda no consumo está relacionada à racionali-zação no uso, ao maior controle sobre o consumo medi-do pelas prestadoras, às melhorias nas redes de distri-buição, às tarifas elevadas, além das campanhas deconscientização da população.

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102 Renato Antonio Dal Maso

Tabela 8

Indicadores de abastecimento de água nos municípios atendidos pela Corsan no RS — 1995-06

ANOS ÍNDICE DE

ATENDIMENTO URBANO DE ÁGUA

ÍNDICE DE FLUORETAÇÃO DE

ÁGUA

CONSUMO MÉDIO DE ÁGUA POR ECONOMIA

(1)

CONSUMO MÉDIO PER CAPITA DE ÁGUA (2)

1995 97,3 ... ... 142,0

1996 97,4 ... ... 144,5

1997 98,3 ... ... 125,5

1998 97,5 ... 13,1 140,5

1999 96,9 ... 12,6 135,1

2000 99,6 ... 12,8 133,5

2001 100,0 ... 12,6 129,7

2002 99,0 ... 12,3 128,7

2003 100,0 98,7 12,1 125,9

2004 100,0 98,7 10,8 112,4

2005 100,0 99,6 14,1 146,5

2006 100,0 99,8 10,5 115,0

FONTE: SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE O SANEAMENTO — SNIS. Disponível em: <www.snis.gov.br/index.htm>. Aces- so em: dez. 2007. (1) Em metros cúbicos por mês, por economia. (2) Em litros por habitante/dia.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 93-106, 2008

103A universalização da água tratada no RS

Tabela 9 Indicadores de abastecimento de água de alguns municípios do RS — 1995-2006

MUNICÍPIOS E ANOS ÍNDICE DE ATENDIMENTO URBANO DE ÁGUA (%)

CONSUMO MÉDIO DE ÁGUA POR ECONOMIA (1)

CONSUMO MÉDIO PER CAPITA DE ÁGUA (2)

ÍNDICE DE FLUORETAÇÃO DE

ÁGUA (%)

Caxias do Sul

1995 93,9 ... 216,7 ...

1996 97,6 ... 214,1 ...

1998 ... ... ... ...

1999 ... ... ... ...

2000 100,0 11,3 115,1 ...

2001 100,0 11,8 122,9 ...

2002 100,0 11,8 120,3 ...

2003 99,9 10,0 105,5 ...

2004 99,9 9,4 103,4 98,2

2005 99,0 9,4 103,3 98,2

2006 98,0 9,1 99,9 98,4

Pelotas

1995 97,2 ... 158,3 ...

1996 ... ... 302,8 ...

1997 100,0 ... 284,3 ...

1998 100,0 ... ... ...

1999 100,0 ... ... ...

2000 100,0 ... ... ...

2001 100,0 13,4 134,4 ...

2002 100,0 15,5 152,2 ...

2003 95,4 14,7 159,5 ...

2004 100,0 11,4 122,8 100,0

2005 100,0 11,8 120,4 100,0

2006 100,0 14,2 145,3 100,0

São Leopoldo

1995 100,0 ... 393,9 ...

1996 94,0 ... 382,2 ...

1997 95,4 ... 386,7 ...

1998 98,0 17,8 180,0 ...

1999 97,2 17,3 176,4 ...

2000 98,0 16,5 169,0 ...

2001 96,9 16,4 168,6 ...

2002 99,3 17,8 184,8 ...

2003 99,5 17,3 179,5 ...

2004 98,3 17,0 177,0 98,9

2005 98,7 17,9 186,9 100,0

2006 99,6 17,2 179,5 100,0

Novo Hamburgo

2003 91,6 12,4 122,3 ...

2004 86,6 11,9 122,5 98,2

2005 97,5 11,5 115,3 100,0

2006 97,5 11,5 108,5 100,0

(continua)

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 93-106, 2008

104 Renato Antonio Dal Maso

Tabela 9

Indicadores de abastecimento de água de alguns municípios do RS — 1995-2006

MUNICÍPIOS E ANOS ÍNDICE DE ATENDIMENTO URBANO DE ÁGUA (%)

CONSUMO MÉDIO DE ÁGUA POR ECONOMIA (1)

CONSUMO MÉDIO PER CAPITA DE ÁGUA (2)

ÍNDICE DE FLUORETAÇÃO DE ÁGUA (%)

Bagé

1995 ... ... ... ...

1996 ... ... ... ...

1998 100,0 ... ... ...

1999 100,0 16,9 165,3 ...

2000 94,0 14,7 199,9 ...

2001 ... ... ... ...

2002 ... ... ... ...

2003 100,0 19,1 232,4 ...

2004 100,0 19,1 215,5 90,2

2005 100,0 19,1 215,4 88,8

2006 100,0 13,9 167,3 100,0

Porto Alegre

1995 100,0 ... 223,1 ...

1996 100,0 ... 231,4 ...

1997 100,0 ... 239,4 ...

1998 100,0 19,8 232,7 ...

1999 100,0 20,3 237,0 ...

2000 99,6 19,2 239,6 ...

2001 99,5 18,0 236,5 ...

2002 99,5 17,1 223,2 ...

2003 100,0 16,3 214,9 ...

2004 100,0 14,8 194,6 100,0

2005 100,0 14,8 193,7 100,0

2006 100,00 14,7 192,5 100,0

Santana do Livramento

1995 ... ... ... ...

1996 ... ... ... ...

1997 94,2 ... 136,8 ...

1998 94,3 18,9 190,3 ...

1999 96,8 16,9 171,7 ...

2000 98,8 14,2 143,9 ...

2001 98,5 14,4 146,2 ...

2002 96,3 15,7 158,7 ...

2003 95,2 14,2 143,2 ...

2004 92,9 13,5 136,1 100,0

2005 91,7 12,0 119,3 100,0

2006 85,9 13,7 135,6 60,0

FONTE: SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE O SANEAMENTO — SNIS. Disponível em: <www.snis.gov.br/index.htm>. FONTE: Acesso em: dez. 2007. (1) Em metros cúbicos por mês, por economia. (2) Em litros por habitante/dia.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 93-106, 2008

105A universalização da água tratada no RS

4 Considerações finais

A política de saneamento básico é uma tarefa com-partilhada pelos Governo Federal, especialmente atra-vés da provisão de créditos não oneroso e oneroso ofi-ciais, Governo do RS, através da Secretaria de Estado eda prestadora Corsan, e governos municipais. A execu-ção da política de maior envergadura no RS é realizadapela Corsan e pelas prestadoras municipais de PortoAlegre, Caxias, Pelotas, Novo Hamburgo, Bagé, SãoLeopoldo e Santana do Livramento.

A conclusão mais geral é a revelação do fenômenoda universalização do acesso da população urbana aosserviços públicos de abastecimento de água tratada porrede geral no RS. A universalização do acesso à redegeral d´água fica demonstrada pelos dados do IBGE e,especialmente, pelas informações das própriasprestadoras no RS: Corsan, DMAE, Semae, Sanep,Semae, CMS, DAE e DAEB. O fenômeno ocorreu a par-tir do ano 2000, na área de abrangência regional daCorsan, nas Cidades de Caxias do Sul e São Leopoldo;em Porto Alegre e Bagé, já tinha ocorrido desde 1995;em Pelotas, verificou-se a partir de 1997; e, em NovoHamburgo, no ano de 2005.

Cabe a ressalva de que as redes de abastecimentonem sempre atendem plenamente à área urbana, tendoem vista a distância das periferias e a de algumas áreasurbanas, que, em geral, são atendidas por pequenos sis-temas de rede de água. Há também domicílios localiza-dos em áreas urbanas de difícil acesso, cujo atendimen-to pode ocorrer de diversas formas, como carro-pipa,reservatório, etc. Portanto, a universalização do abaste-cimento de água tratada beneficia a área urbana atendi-da por rede geral basicamente. Nesse sentido, os dadoscensitários do ano 2000, embora estejam um pouco de-fasados, registram que 6% dos domicílios urbanos utili-zavam outras formas de abastecimento que não a redegeral. Esse percentual é representativo dos 145 peque-nos municípios que têm cidades com até sete mil habi-tantes, sobre as quais se dispõe apenas das informa-ções censitárias.

Registra-se ainda o fato, notável e surpreendente,de redução no consumo médio de água, que está rela-cionada à maior racionalização no uso pelos usuários,ao maior controle sobre o consumo medido pelasprestadoras, às tarifas elevadas, às melhorias nas re-des e às campanhas de conscientização da populaçãoem geral.

Referências

DAL MASO, Renato Antonio (2007). Infra-estrutura desaneamento básico no RS entre 1995 e 2006 . PortoAlegre: FEE, 2007. (Relatório de pesquisa, mimeo).

IBGE. Indicadores sociais municipais 2000 . Rio deJaneiro, 2002.

PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍ-LIOS — PNAD 1995/2006. Rio de Janeiro: IBGE, 1996//2007.

SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE OSANEAMENTO — SNIS. Disponível em:<www.snis.gov.br>. Acesso em: dez. 2007.

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106 Renato Antonio Dal Maso

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 107-116, 2008

107Mercado de trabalho da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em 2007:...

De acordo com diversas fontes, a economia brasi-leira apresentou uma performance positiva em 2007.Nesse sentido, segundo o IBGE, o crescimento acumu-lado do PIB do País até set./07, frente ao mesmo perío-do do ano anterior, foi de 5,3%. Por sua vez, o IPEAestava a projetar uma taxa de crescimento de 5,2% parao País em 2007, desempenho este bastante superior aoverificado em 2006, ano em que a taxa de elevação doPIB havia sido de 3,7% (Carta Conj., 2007).

No âmbito nacional, evidências claras de expan-são da atividade econômica em 2007 advieram da in-dústria. Assim, de acordo com a Produção IndustrialMensal -Produção Física (PIM-PF) do IBGE (2008), aprodução desse setor registrou crescimento de 6,0% noacumulado de jan.-nov./07, ante igual período do ano an-terior. Nessa mesma base comparativa, a produçãode bens de capital elevou-se 19,5%, indicando um au-mento nas despesas com investimento, o que deve re-percutir favoravelmente sobre a trajetória de crescimen-to da economia do País.

No Rio Grande do Sul, há diversas evidências dedesempenho favorável da economia em 2007. A esserespeito, a estimativa preliminar da Fundação de Econo-mia e Estatística de crescimento do PIB do Estado em

Trabalho e empregoTrabalho e empregoTrabalho e empregoTrabalho e empregoTrabalho e emprego

Mercado de trabalho da Região Metropolitana

de Porto Alegre (RMPA) em 2007: expansão

econômica eleva o nível ocupacional

e reduz o desemprego*

Raul Luís Assumpção Bastos** Economista da Fundação de Economia e Estatística e Professor do Departamento de Economia da PUCRS

2007 foi de 7,0%, contra uma taxa de crescimento de2,7% no ano anterior (FEE, 2008). De acordo com essamesma fonte, estima-se que a agropecuária do RS cres-ceu 19,2%; a indústria, 7,2%; e os serviços, 5,2%. Quantoao setor externo, não obstante o processo de apreciaçãocambial, o desempenho também foi bastante favorável:o valor das exportações do Estado elevou-se 27,7% noacumulado de jan.-nov./07, frente a idêntico período doano anterior (Garcia, 2008, p.1). Esses dados estão acorroborar que a economia do RS também teve maiordinamismo em 2007, comparativamente ao que haviasido observado no ano de 2006.

Tendo como referência o contexto macroeconômicoacima esboçado, este texto tem o objetivo de abordar ocomportamento do mercado de trabalho da Região Me-tropolitana de Porto Alegre ao longo de 2007, valendo-seda base de dados da Pesquisa de Emprego e Desempre-go na Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA).Como será mostrado ao longo da exposição, de modogeral, o desempenho relativo à ocupação, ao desempre-go e aos rendimentos foi favorável na Região, coadunan-do-se à melhora da performance da economia do País edo RS no ano em foco.

Crescimento do nívelocupacional

A expansão da atividade econômica trouxe consi-go maior dinamismo do mercado de trabalho da RMPAem 2007. No que se refere à ocupação, a sua performancefoi mais satisfatória do que aquela registrada no ano de2006.

* Artigo recebido em 10 jan. 2008.

O autor agradece aos colegas Eduardo Miguel Schneider,Elisabeth Kurtz Marques, Irene Maria Sassi Galeazzi, NormaHermínia Kreling e Walter Arno Pichler as críticas e sugestõesa uma versão preliminar deste trabalho. Erros e omissões poracaso remanescentes são de responsabilidade do autor.

Trabalho elaborado com dados disponíveis até a data entregado trabalho.

** E-mail: [email protected]

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 107-116, 2008

108 Raul Luís Assumpção Bastos

Observando-se o comportamento do nível de ocu-pação na RMPA, ao longo de 2007, constata-se que esteevidenciou recuo de janeiro a junho, em movimento habi-tual para esses meses, tendo passado de 1.643 mil para1.609 mil indivíduos ocupados (Gráfico 1). A partir domês de jul./07, o estoque de ocupados ingressou emuma trajetória de elevação, até atingir 1.697 mil indiví-duos em nov./07. Naquele mês, o nível ocupacional naRMPA encontrava-se 3,3% acima do registrado em nov.//06, o que representou um aumento de 55.000 postos detrabalho. A par desse aspecto, é importante ressaltar,quando se coteja a evolução do nível de ocupação du-rante 2007 em relação ao ano anterior, que este semprese situou em patamares mais favoráveis, corroborandoa compreensão de que, em 2007, o desempenho domercado de trabalho foi mais vigoroso.

No âmbito dos principais setores de atividadeeconômica , os desempenhos dos níveis de ocupaçãoforam positivos na RMPA, ainda que diferenciados (Ta-bela 1). O maior destaque em termos relativos foi a cons-trução civil, a qual apresentou, na comparação da varia-ção acumulada de jan.-nov./07 com igual período do anoanterior, um crescimento de 6,3% do seu nível de ocu-pação. Para esse desempenho, concorreram diversos fa-tores, como a expansão do crédito para a construção e acompra de imóveis no País, a ampliação do prazo depagamento dos financiamentos dos imóveis e o proces-so de redução das taxas de juros (Breitbach, 2007, p. 7;Siqueira; Pinheiro, 2007).

Por sua vez, o setor de serviços registrou a segun-da melhor performance do nível de ocupação na RMPA,em 2007, com crescimento de 5,0% no acumulado dejan.-nov./07, ante igual período do ano anterior (Tabela1). Esse desempenho do nível ocupacional nos serviçosé de grande relevância em termos absolutos, dado queesse setor representa mais da metade de toda a ocupa-ção da Região. No âmbito do Setor Terciário, o comércioapresentou crescimento de 1,6% do seu estoque de ocu-pados no acumulado de jan.-nov./07, em comparação aodo mesmo período de 2006. Em alguma medida, essedesempenho do nível ocupacional no comércio deve serconsiderado modesto frente à performance do setor, cujocrescimento do PIB estimado pela FEE, no RS, foi de7,5% em 2007 (FEE, 2008).1

Quanto à indústria de transformação, esta eviden-ciou relativa estabilidade do seu nível ocupacional naRMPA, no acumulado de jan.-nov./07, frente a igual pe-ríodo do ano anterior (Tabela 1). Como se estima, de acor-do com a FEE, que o setor registrou crescimento de7,2% no RS, em 2007, isso sugere que o seu desempe-nho não foi comandado por ramos de produção que sãointensivos em trabalho, o que acabou limitando a suacapacidade de absorção de mão-de-obra (Contri, 2007;Schneider; Matos; Toni, 2007). A par desse aspecto, oprocesso de apreciação cambial vem prejudicando so-bremaneira uma atividade da indústria de transformaçãoque tem grande relevância em termos ocupacionais, queé a de calçados e artigos de couro. A esse respeito, se-gundo os dados da PIM-PF do IBGE, no acumulado dejan.-out./07, ante igual período do ano anterior, essaatividade apresentou redução de 8,1% em seu nível deprodução, no RS.

Por posição na ocupação , utilizando-se como basecomparativa a variação acumulada no período jan.-nov.//07, em relação a igual período do ano anterior, pode-seidentificar que o comportamento foi favorável para todasas modalidades de inserção na estrutura ocupacional,na RMPA (Tabela 1). Os melhores desempenhos coube-ram ao emprego assalariado, com uma taxa de cresci-mento de 3,8%, e ao agregado demais posições — queengloba empregadores, profissionais universitáriosautônomos, donos de negócio familiar, etc. —, com 4,1%.No que diz respeito aos assalariados, o crescimento doemprego no setor público (5,4%) foi superior ao do setorprivado (3,5%) — nesse caso, deve-se ponderar que oprimeiro desses setores possui um estoque de empregobastante menor que o último. No âmbito do setor privado,assinale-se o desempenho positivo do emprego comcarteira de trabalho assinada (3,6%), que superou o in-cremento ocorrido entre os sem carteira (3,3%).2 Comperformances mais modestas dos seus níveisocupacionais, estiveram os empregados domésticos eos autônomos, cujos incrementos foram de 2,6% e 1,7%respectivamente.

1 Uma hipótese explicativa para o desempenho modesto da ocu-pação no comércio da RMPA está associada ao aumento dehoras-extras realizadas pelos trabalhadores do setor em 2007.De acordo com os dados da PED-RMPA, o percentual médio detrabalhadores que trabalharam mais de 44 horas no período

jan.-nov. elevou-se de 52,5% em 2006 para 54,2% em 2007, oque pode ter limitado o impacto da expansão das vendas sobreo nível de ocupação setorial.

2 De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregadose Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Empre-go do Governo Federal, no período jan.-nov./07, houve recordena criação de empregos com vínculos formais no País, cujoincremento foi de 7,0%.

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109Mercado de trabalho da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em 2007:...

Tabela 1

Nível de ocupação total, por posição na ocupação e setor de atividade econômica, na RMPA — nov./06 e nov./07

DISCRIMINAÇÃO NOV/06 (1 000 pessoas)

NOV/07 (1 000 pessoas)

NOV/07 NOV/06

(%)

JAN-NOV/07 JAN-NOV/06

(%)

TOTAL .…………………………. 1 642 1 697 3,3 3,4 Por posição na ocupação Assalariados .............................. 1 103 1 155 4,7 3,8

Setor público ........................ 210 205 -2,4 5,4 Setor privado ........................ 893 950 6,4 3,5

Com carteira .................... 744 779 4,7 3,6 Sem carteira .................... 149 171 14,8 3,3

Autônomos ................................ 276 270 -2,2 1,7 Empregados domésticos ........... 108 112 3,7 2,6 Demais posições (1) ................. 155 160 3,2 4,1 Por setor de atividade Indústria de transformação ....... 286 307 7,3 0,2 Comércio ................................... 289 273 -5,5 1,6 Serviços .................................... 872 906 3,9 5,0 Construção civil ......................... 82 93 13,4 6,3

Serviços domésticos ................. 108 112 3,7 2,6 FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio PMPA. (1) Englobam empregadores, profissionais universitários autônomos, donos de negócio familiar, etc.

1 540

1 560

1 580

1 600

1 620

1 640

1 660

1 680

1 700

1 720

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

11,0

11,5

12,0

12,5

13,0

13,5

14,0

14,5

15,0

15,5

16,0

Ocupação em 2006 Ocupação em 2007

Taxa de desemprego em 2006 Taxa de desemprego 2007

Legenda:

0

Gráfico 1 Contingente de ocupados e taxa de desemprego na RMPA — jan./06-nov./07

Ocupados (1 000 pessoas)

Taxa de desemprego (%)

FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio PMPA.

0

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 107-116, 2008

110 Raul Luís Assumpção Bastos

Redução no desemprego

A taxa de desemprego na RMPA apresentou umatrajetória de crescimento até jun./07, tendo se elevadode 12,2% em jan./07 para 14,4% naquele mês (Gráfico1). A partir do mês de jul./07, esse indicador experimen-tou um movimento de declínio, que fez com que atin-gisse 11,9% em nov./07. De forma semelhante, o con-tingente de desempregados elevou-se de 228.000 pes-soas em jan./07 para 271.000 em jun./07 e, a partir dejul./07, passou por um processo de queda, até se situarem 229.000 pessoas em nov./07 (Inf. PED, 2007). Quan-do se coteja a evolução da taxa de desemprego ao longode 2007, comparativamente ao ano anterior, pode-seconstatar que o seu processo de redução começou a sedar um pouco depois daquele verificado em 2006 (na-quele ano, tal processo iniciou em maio). Não obstante,ao longo de todo o ano de 2007, a taxa de desempregosituou-se em um patamar bastante inferior ao observadono ano anterior. Deve-se também assinalar que, nos últi-mos meses de 2007, a taxa de desemprego se aproxi-mou dos seus menores níveis desde o início da Pesqui-sa, em 1992 (Inf. PED, 2007).

Para se identificarem os efeitos da intensidade doengajamento da População em Idade Ativa (PIA) ematividades laborais sobre o comportamento do desem-prego na RMPA, passa-se a examinar a evolução da suataxa de par ticipação durante o ano passado. Conformese pode constatar, tanto no início de 2007 quanto no seufinal, esse indicador se situava em níveis inferiores aosde 2006 (Gráfico 2). Somente nos meses de junho a se-tembro de 2007, a taxa de participação atingiu um pata-mar levemente superior ao do ano anterior. Assim, pode--se trabalhar com o entendimento de que a inexistênciade uma tendência de aumento da taxa de participaçãoem 2007, vis-à-vis ao ano anterior, em um contexto deexpansão dos níveis de ocupação, favoreceu a reduçãoda incidência do desemprego na RMPA.

Decompondo-se o desemprego por tipo , constata--se que ocorreu recuo tanto da taxa de desemprego abertoquanto da taxa de desemprego oculto em 2007, na RMPA(Tabela 2). Em termos de variação acumulada no perío-do jan.-nov./07, ante igual período do ano anterior, a taxade desemprego oculto apresentou uma queda de 18,9%;e a taxa de desemprego aberto, de 6,1%. Dada a maiormagnitude da redução da taxa de desemprego oculto,pode-se afirmar que se está em um contexto de mudan-ça na composição do desemprego na RMPA, na qual seamplia a parcela relativa de indivíduos na condição dedesemprego aberto.

Segmentando-se a força de trabalho por sexo , per-cebe-se que a redução do desemprego foi muito maisacentuada para o contingente masculino na RMPA (Ta-bela 2). No acumulado de jan.-nov./07, ante igual perío-do do ano anterior, a taxa de desemprego dos homensteve queda de 22,6%; e a das mulheres, de apenas 4,8%,o que está aumentando o peso relativo do contingentede mulheres no total de desempregados da Região.

Em termos de grupos etários , houve queda gene-ralizada do desemprego na RMPA, em 2007, ainda quecom intensidades distintas (Tabela 2). Para as criançase os adolescentes de 10 a 17 anos, que apresentam amaior incidência de desemprego, a redução da taxa dedesemprego, no acumulado de jan.-nov./07, frente a igualperíodo do ano de 2006, foi de 11,3%; para os jovens de18 a 24 anos, também com elevada incidência do de-semprego, a redução foi de 10,1%; para os adultos de 25a 39 anos, o declínio da taxa de desemprego foi bemmais modesto, de apenas 6,0%; e, para os trabalhado-res adultos de 40 anos e mais, a redução do desempre-go atingiu 10,4%.

Quanto ao recorte da força de trabalho por cor , aredução do desemprego na RMPA foi mais intensa entreos indivíduos de cor não branca do que entre os de corbranca: para os primeiros, a queda da taxa de desempre-go, no acumulado jan.-nov./07, comparativamente a igualperíodo do ano anterior, foi de 11,9%; e, para os últimos,de 9,3% (Tabela 2). Com esses comportamentos, redu-ziu-se a diferença desfavorável aos indivíduos de cornão branca vis-à-vis aos de cor branca, em termos deincidência do desemprego no mercado de trabalho daRegião.

Finalmente, no que diz respeito à posição no do-micílio , ocorreu maior recuo do desemprego entre oschefes em relação aos demais membros do domicílio:no acumulado jan.-nov./07, em comparação ao mesmoperíodo do ano anterior, a redução foi de 10,9% para osprimeiros e de 8,9% para os últimos (Tabela 2). No quese refere à incidência do desemprego sobre os indiví-duos na condição de chefes do domicílio, cujaimportância em termos de estratégias familiares éinegável, cabe destacar-se que, ao se tomar o mês denovembro como referência comparativa na série de dadosque se inicia em 1992, somente em 1994 a taxa dedesemprego dessa posição no domicílio foi inferior àobservada em novembro de 2007 (5,7% e 6,0%respectivamente) (Inf. PED, 2007).

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111Mercado de trabalho da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em 2007:...

55,0

55,5

56,0

56,5

57,0

57,5

58,0

58,5

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

2006 2007Legenda

(%)

Gráfico 2

Taxa de participação da População em Idade Ativa no mercado de trabalho da RMPA — jan./06-nov./07

0

FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio PMPA.

Tabela 2

Taxas de desemprego, por tipo e atributo pessoal, na RMPA — nov./06 e nov./07 (%)

DISCRIMINAÇÃO NOV/06 NOV/07 NOV/07 NOV/06

JAN-NOV/07 JAN-NOV/06

Total …………………………………….. 13,7 11,9 -13,1 -9,7 Tipo

Aberto ............................................... 10,0 9,2 -8,0 -6,1 Oculto ............................................... 3,7 2,7 -27,0 -18,9

Sexo Homens ........................................... 11,3 9,0 -20,4 -22,6 Mulheres .......................................... 16,5 15,4 -6,7 -4,8

Idade 10 a 17 anos ..................................... 43,1 42,9 -0,5 -11,3 18 a 24 anos ..................................... 24,1 21,8 -9,5 -10,1 25 a 39 anos ..................................... 12,3 10,5 -14,6 -6,0 40 anos e mais ................................. 7,3 6,1 -16,4 -10,4

Cor Branca ............................................. 12,9 11,2 -13,2 -9,3 Não branca ...................................... 18,8 15,8 -16,0 -11,9

Posição no domicílio Chefe ............................................... 8,1 6,0 -25,9 -10,9 Demais membros ............................ 18,3 16,9 -7,7 -8,9

FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio PMPA.

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112 Raul Luís Assumpção Bastos

Melhora nos rendimentosdos ocupados

Observando-se as séries de rendimentos médiosreais dos ocupados na RMPA, constata-se que esse in-dicador se situou, ao longo de 2007, em um patamarmais elevado do que no ano anterior, o que lhe permitiuacumular um incremento de 2,6% até o mês de outubro(Gráfico 3). Para esse desempenho, concorrem aspec-tos como o maior dinamismo da economia em 2007, quetrouxe consigo um aumento na demanda de trabalho e,conseqüentemente, dos rendimentos dos ocupados,assim como o êxito das negociações coletivas na ob-tenção de reajustes salariais superiores à inflação(Schneider; Matos; Toni, 2007). Sobre o comportamentodos preços, este foi um fator que limitou uma melhoramais acentuada nos rendimentos, dado que houve maiorinflação em 2007, comparativamente, a 2006: a taxaacumulada de variação do Índice de Preços ao Consu-midor do IEPE-UFRGS, para o Município de Porto Ale-gre, no período de janeiro a novembro, foi de 1,9% em2006 e de 6,2% em 2007.

Quanto aos rendimentos dos ocupados nos princi-pais setores de atividade econômica , na RMPA, noacumulado de jan.-out./07, ante idêntico período do anoanterior, o movimento geral foi de elevação, à exceçãoda indústria de transformação, em que houve relativaestabilidade do indicador em análise (Tabela 3). Os me-lhores comportamentos do rendimento médio real foramno comércio e na construção civil, com elevações de4,9% e 4,3% respectivamente, enquanto, nos serviços,o incremento foi de menor magnitude (2,5%).

De acordo com a posição na ocupação , ocorreumelhora generalizada dos rendimentos no período acu-mulado de jan.-out./07, na RMPA, à exceção dos ocupa-dos inseridos no agregado outros, que inclui donos denegócio familiar, profissionais universitários autônomos,etc. Os melhores desempenhos foram registrados pelasinserções cujos rendimentos se encontram em menoresníveis, quais sejam: trabalhadores autônomos, empre-gados domésticos e assalariados no setor privado semcarteira de trabalho assinada, com incrementos de 5,1%,3,1% e 2,8% respectivamente.3

3 No que se refere aos empregados domésticos, estes têm acobertura, no RS, do piso regional, que foi reajustado em 5,98%no mês de junho de 2007, sendo tal reajuste retroativo a maio.Com isso, o piso regional para essa categoria elevou-se de R$405,95 para R$ 430,23.

No que se refere aos rendimentos, outro indicadorque teve um comportamento positivo na RMPA em 2007foi a massa de rendimentos reais dos ocupados (Grá-fico 4). Conforme se constata, esta se elevou 6,3% emjan.-out./07, frente a igual período do ano anterior, sendotal desempenho muito superior ao verificado em 2006. Ocomportamento da massa de rendimentos reais em 2007foi resultado tanto da elevação do nível ocupacional quan-to do rendimento médio real, os quais, na mesma basecomparativa, tiveram incrementos de 3,4% e de 2,6%respectivamente. A esse respeito, pode-se trabalhar coma compreensão de que a elevação da massa de rendi-mentos reais, ao se traduzir em maior demanda por bensde consumo, acabou também contribuindo para um maiordinamismo da economia do RS em 2007.

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113Mercado de trabalho da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em 2007:...

Tabela 3

Rendimento médio real, por posição na ocupação e setor de atividade econômica, na RMPA — out./06 e out./07

DISCRIMINAÇÃO

OUT/06 (R$)

OUT/07

(R$)

OUT/07 OUT/06

(%)

JAN-OUT/07 JAN-OUT/06

(%)

TOTAL DE OCUPADOS (1) ................ 1 015 1 026 1,1 2,6 Por posição na ocupação Assalariados ......................................... 1 037 1 035 -0,2 2,5

Setor público..................................... 1 711 1 707 -0,2 1,7 Setor privado .................................... 885 899 1,6 2,2

Com carteira ................................ 931 953 2,4 2,0 Sem carteira ................................ 644 642 -0,3 2,8

Autônomos ........................................... 811 858 5,8 5,1 Empregados domésticos ...................... 452 469 3,8 3,1 Outros (2) ............................................. 1 704 1 568 -8,0 -2,6 Por setor de atividade Indústria de transformação ................... 963 985 2,3 -0,1 Comércio .............................................. 842 870 3,3 4,9 Serviços ................................................ 1 036 1 047 1,1 2,5 Construção civil .................................... 768 872 13,5 4,3

Serviços domésticos ............................. 452 469 3,8 3,1

FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio PMPA. NOTA: O inflator utilizado foi o IPC-IEPE; valores em reais de out./07. (1) Exclusive os assalariados e empregados domésticos que não tiveram remuneração no mês, os trabalhadores familiares sem remuneração e os trabalhadores que ganham exclusivamente em espécie ou benefício. (2) Incluem donos de negócio familiar, profissionais universitários autônomos, etc.

950

970

990

1 010

1 030

1 050

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

2006 2007

Gráfico 3 Rendimento médio real dos ocupados na RMPA — jan./06-out./07

Legenda:

FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FTGAS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio PMPA.NOTA: O inflator utilizado foi o IPC-IEPE; valores em reais de out./07.

(R$)

0

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114 Raul Luís Assumpção Bastos

1,4

0,3

1,7

3,4

2,6

6,3

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

Ocupação Rendimento médio real Massa de rendimentos reais

Jan.-out./06 Jan.-out./07

Gráfico 4 Variação da ocupação, do rendimento médio real e da massa de rendimentos reais, na RMPA — jan.-out./06 e jan.-out./07

Legenda:

(%)

FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP, DIEESE e apoio PMPA.

Considerações finaisDe acordo com o que foi mostrado neste texto, o

mercado de trabalho da RMPA teve uma performancefavorável em 2007, pois houve elevação do nívelocupacional, redução do desemprego e melhora nos ren-dimentos dos ocupados. Esse comportamento esteveassociado ao crescimento das economias brasileira edo RS, que trouxe consigo impactos positivos sobre osprincipais indicadores do mercado de trabalho. A par des-ses aspectos, foi identificado que a incidência do de-semprego na Região, nos meses finais de 2007, estavase aproximando dos menores níveis de toda a série daPesquisa, iniciada em 1992. Caso se confirme a conti-nuidade no processo de expansão das economias doPaís e do RS em 2008, pode-se ter a expectativa de queo mercado de trabalho da RMPA venha a apresentar no-vamente um desempenho no sentido da melhora de seusprincipais indicadores.

ReferênciasBASTOS, R. Redução do nível ocupacional e elevaçãodo desemprego na Região Metropolitana de Porto Ale-gre. Indicadores Econômicos FEE , Porto Alegre, v. 35,n. 2, 2007.

BOLETIM DE CONJUNTURA. Brasília: IPEA, set. 2007.

BREITBACH, A. Construção: o “sonho” da casa própria eos bancos. Carta de Conjuntura FEE , Porto Alegre, ano16, n. 10, p. 7, 2007.

CARTA DE CONJUNTURA. Brasília: IPEA, dez. 2007.

CONTRI, A. A intensidade tecnológica da produção gaú-cha. Carta de Conjuntura FEE . Porto Alegre, ano 16,n. 8, p. 1, 2007.

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115Mercado de trabalho da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em 2007:...

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICASIEGFRIED EMANUEL HEUSER. PIB-RS. Disponívelem: <http://www.fee.rs.gov.br/sitefee/pt/content/>. Aces-so em: jan. 2008.

GARCIA, A. Crescem as exportações gaúchas em 2007.Carta de Conjuntura FEE , Porto Alegre, ano 17, n. 1,p. 1, 2008.

IBGE. Produção Industrial Mensal — Produção Físi-ca. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home>.Acesso em: jan. 2008.

INFORME PED. Porto Alegre: FEE, ano 12, n. 11, nov.2007.

PROSSEGUE o desempenho positivo do mercado detrabalho em novembro. Informe PED, Porto Alegre,ano 16, n. 11, 2007.

SCHNEIDER, E.; MATOS, J.; TONI, M. De. O mercadode trabalho da RMPA responde com defasagem à recu-peração da economia do Estado, em 2007. IndicadoresEconômicos FEE , Porto Alegre, v. 35, n. 3, 2007.

SIQUEIRA, A.; PINHEIRO, M. O céu é o limite. CartaCapital , São Paulo, ano 13, n. 448, p. 10-15, 2007.

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IN

DIC

AD

OR

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S

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Indicadores selecionados do RS*

* Tabelas compiladas por Marilene Gauer (coordenação), Ana Maria de Oliveira Feijó e Jussara Lima do Nascimento, pertencentes ao Núcleode Dados do Centro de Informações Estatísticas da FEE.

Tabela 1

Produção, área colhida e produtividade dos principais produtos da lavoura no Rio Grande do Sul — 2006-07

2006 2007 (1) PRODUTOS

Produção (t) Área (ha) Produtividade

(kg/ha) Produção (t) Área (ha) Produtividade

(kg/ha)

Arroz ....................... 6 784 231 1 023 074 6 631 6 342 251 940 964 6 740 Banana ................... 118 174 11 344 10 417 110 153 11 544 9 540 Batata-inglesa ......... 335 209 24 143 25 624 386 393 24 259 28 455 Cana-de-açúcar ...... 1 166 717 33 277 35 061 1 426 978 35 768 39 959 Cebola .................... 146 325 10 894 13 432 161 559 11 164 14 471 Feijão ...................... 120 156 121 670 2 057 142 428 116 958 2 376 Fumo ....................... 472 720 243 065 1 945 482 652 229 618 2 102 Laranja .................... 339 765 27 476 12 366 347 138 27 020 12 619 Maçã ....................... 328 091 15 260 21 500 471 602 16 360 28 827 Mandioca ................ 1 297 191 87 396 14 843 1 378 895 88 737 15 692 Milho ....................... 4 528 143 1 403 218 3 227 5 991 497 1 364 343 4 391 Soja ........................ 7 559 288 3 863 726 1 956 9 938 817 3 890 583 2 555 Trigo ........................ 823 112 607 304 1 355 1 729 469 836 432 2 020 Uva ......................... 623 847 44 298 14 083 705 228 45 381 15 540

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE/LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro, IBGE. (1) Dados de jan./08.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 119-122, 2008

Tabela 2

Taxas de crescimento da produção, da área colhida e da produtividade dos principais produtos da lavoura no Rio Grande do Sul — 2006-07

(%)

2006/2005 2007/2006 (1) PRODUTOS

Produção Área Produtividade Produção Área Produtividade

Arroz .......................... 11,2 1,7 9,3 -6,5 -8,0 1,6 Banana ...................... 9,2 8,0 1,1 -6,8 1,8 -8,4 Batata-inglesa ........... 18,0 2,2 14,8 15,3 0,5 11,0 Cana-de-açúcar ........ 28,4 2,6 25,1 22,3 7,5 14,0 Cebola ....................... 7,5 3,0 4,4 10,4 2,5 7,7 Feijão ........................ 60,2 12,1 87,0 18,5 -3,9 15,5 Fumo ......................... 9,8 0,6 9,3 2,1 -5,5 8,1 Laranja ...................... 9,0 1,0 7,9 2,2 -1,7 2,0 Maçã ......................... 10,6 2,0 8,4 43,7 7,2 34,1 Mandioca ................... 14,9 0,4 14,4 6,3 1,5 5,7 Milho .......................... 204,9 45,3 109,8 32,3 -2,8 36,1 Soja ........................... 209,2 3,5 198,6 31,5 0,7 30,6 Trigo .......................... -40,8 -28,1 -17,8 110,1 37,7 49,1 Uva ............................ 2,0 4,4 -2,3 13,0 2,4 10,3

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE/LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro, IBGE. (1) Dados de jan./08.

Tabela 3 Taxas de crescimento da produção da indústria de transformação, segundo

os setores de atividade, no Rio Grande do Sul — 2006-07 (%)

SETORES 2006 2005

1º TRIM/07 1º TRIM/06

2º TRIM/07 2º TRIM/06

3º TRIM/07 3º TRIM/06

4º TRIM/07 4º TRIM/06

2007 2006

Alimentos ............................................................ 4,7 5,8 4,1 0,4 2,2 3,1 Bebidas ............................................................... 7,3 5,7 13,2 -4,8 -1,4 3,5 Borracha e plástico ............................................. 6,1 8,6 2,0 8,1 -0,9 4,3 Calçados e artigos de couro ............................... -8,8 -16,2 -5,8 -6,2 -2,1 -7,6 Celulose, papel e produtos do papel .................. 4,1 0,4 -4,0 -11,0 15,9 -0,2 Edição, impressão e reprodução de gravações -1,6 2,9 13,6 -3,7 -2,5 2,2 Fumo ................................................................... -7,3 10,0 -2,9 -25,0 2,7 -5,7 Máquinas e equipamentos .................................. -16,3 14,5 47,5 35,1 38,2 33,3 Metalurgia básica ................................................ -0,4 7,0 4,7 6,8 13,4 7,9 Mobiliário ............................................................. 5,0 8,9 -9,2 -7,8 -12,2 -6,1 Outros produtos químicos ................................... 0,8 5,1 4,5 -2,7 -3,8 0,5 Produtos de metal — exceto máquinas e equi-pamentos ............................................................ -10,7 -5,5 -3,0 7,0 9,0 1,8 Refino de petróleo e álcool ................................. -2,8 18,2 56,5 36,1 16,9 30,7 Veículos automotores ......................................... 7,1 31,2 25,7 30,8 17,8 26,1 Total .................................................................... -2,0 6,3 10,4 5,8 7,3 7,4

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL: produção física. Rio de Janeiro, IBGE.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 119-122, 2008

121

Tabela 4

Taxas de crescimento do volume real de vendas dos comércios varejista e atacadistas, segundo os setores de atividade, no Rio Grande do Sul –— 2006-07

(%)

SETORES 2006 2005

1º TRIM/07 1º TRIM/06

2º TRIM/07 2º TRIM/06

3º TRIM/07 3º TRIM/06

4º TRIM/07 4º TRIM/06

2007 2006

Total .................................................................. 1,6 7,7 8,8 6,8 10,3 8,5 Comércio varejista ............................................. 2,6 5,6 6,6 3,1 10,3 6,5

Produtos alimentícios, bebidas e fumo .......... 9,4 7,7 4,6 -0,8 3,1 3,5 Produtos alimentícios — hipermercados e su-permercados ................................................... 9,5 9,2 6,9 1,9 3,3 5,2 Combustíveis e lubrificantes .......................... -6,1 -3,8 -0,4 -6,7 6,6 -1,0 Veículos, motocicletas, partes, peças e aces-sórios .............................................................. 2,7 11,6 17,7 18,6 27,1 19,0 Materiais de construção ................................. 0,9 7,3 10,9 9,0 13,2 10,2 Tecidos, vestuário e calçados ........................ -4,1 -2,4 3,2 -2,0 -0,1 -0,1 Móveis e eletrodomésticos ............................. 1,4 8,8 7,6 2,0 13,9 8,3 Artigos farmacêuticos, médico, ortopédicos, perfumaria e cosméticos ................................ 4,0 1,3 2,7 -1,6 1,2 0,9 Equipamentos e material para escritório, in-formática e comunicação ............................... 24,8 15,7 5,6 -7,6 22,3 8,6 Livros, jornais, revistas e papelaria ................ -7,0 -6,0 -7,7 -7,1 4,9 -3,9 Outros artigos de uso pessoal e doméstico ... 2,6 9,3 11,1 14,5 17,4 13,4

Comércio atacadista 0,5 10,4 11,3 11,3 10,4 10,9 Produtos alimentícios, bebidas e fumo .......... 3,3 7,4 7,2 5,6 5,1 6,3 Combustíveis ................................................. -10,3 9,4 13,1 10,7 12,2 11,4 Veículos, motocicletas, partes, peças e aces-sórios .............................................................. 1,4 5,4 12,6 10,2 14,5 10,7 Material de construção, madeira, ferragens e ferramentas .................................................... 1,2 2,5 11,9 11,5 13,5 9,9 Artigos de usos pessoal e doméstico ............. 6,3 13,4 12,6 7,4 8,0 10,2 Produtos intermediários industriais ................ 2,5 6,7 5,7 10,5 10,6 8,5 Máquinas, aparelhos e equipamentos ........... 9,6 15,0 20,9 21,6 29,0 21,9 Matérias-primas agropecuárias ...................... 17,0 26,8 13,5 27,3 11,1 18,7 Mercadorias em geral (outros) ....................... 1,9 5,7 11,5 10,5 14,2 10,6

FONTE: FEE/NPE. NOTA: Indicadores calculados com base em dados primários oriundos da Secretaria da Fazenda-RS.

Tabela 5

Taxas de crescimento do nível de ocupação, segundo os setores de atividade, na Região Metropolitana de Porto Alegre — 2006-07

(%)

SETORES 2006 2005

1º TRIM/07 1º TRIM/06

2º TRIM/07 2º TRIM/06

3º TRIM/07 3º TRIM/06

4º TRIM/07 4º TRIM/06

2007 2006

Indústria de transformação ............ -1,1 -3,3 -2,9 2,2 7,6 0,8 Comércio ........................................ 3,7 2,0 2,4 2,5 -4,1 0,7 Serviços ........................................ 1,6 5,6 5,1 5,5 4,1 5,0 Construção civil .............................. 7,0 -3,0 11,1 10,8 12,5 7,6 Serviços domésticos ...................... 4,0 0,0 0,0 7,6 4,3 3,0 Total ............................................... 1,7 2,3 3,0 4,8 3,8 3,5

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP e DIEESE.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 119-122, 2008

Tabela 7

Taxas reais de crescimento do ICMS arrecadado, segundo os setores de atividade, no Rio Grande do Sul — 2006-07

(%)

SETORES 2006 2005

1º TRIM/07 1º TRIM/06

2º TRIM/07 2º TRIM/06

3º TRIM/07 3º TRIM/06

4º TRIM/07 4 TRIM/06

2007 2006

Produção animal e extração vegetal ...... -9,7 5,6 8,6 9,4 -9,9 3,7 Extrativa mineral .................................... 9,9 2,8 15,2 2,9 27,3 11,6 Indústria de transformação .................... -3,8 -10,6 -0,6 5,9 2,7 -0,8 Comércio varejista ................................. 3,3 -5,8 1,5 18,9 28,4 9,2 Comércio atacadista .............................. 18,0 10,0 -2,4 -2,3 -2,0 0,5 Serviços e outros ................................... 0,0 -11,9 -7,3 -35,7 -3,6 -16,4 Total ...................................................... 2,9 -4,8 -1,7 -2,7 2,8 -1,6

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Rio Grande do Sul. Secretaria Estadual da Fazenda. NOTA: ICMS deflacionado pelo IGP.

Tabela 8

Inflação mensal, acumulada no ano e nos últimos 12 meses na Região Metropolitana de Porto Alegre — 2006-07

(%)

PERÍODOS IPC-IEPE INPC-IBGE

Dez./06-dez./07 ............................ 7,1 4,3

Out./07 …………………………….. 0,0 0,1

Nov./07 ……………………………. 1,1 0,5

Dez./07 ……………………………. 0,8 0,5

Acumulada no ano ....................... 7,1 4,3

Acumulada nos últimos 12 meses 7,1 4,3

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. FONTE DOS DADOS BRUTOS: IEPE.

Tabela 6

Taxas de crescimento do nível de emprego, do rendimento médio real e da massa de rendimentos reais dos ocupados e dos assalariados na Região Metropolitana de Porto Alegre — 2006-07

(%)

SETORES 2006 2005

1º TRIM/07 1º TRIM/06

2º TRIM/07 2º TRIM/06

3º TRIM/07 3º TRIM/06

4º TRIM/07 4º TRIM/06

2007 2006

Ocupados Emprego ......................................... 1,6 2,5 3,3 4,9 3,9 3,7 Rendimento real ............................. 1,1 2,3 3,5 2,4 1,2 2,3 Massa de rendimentos reais .......... 2,7 4,8 7,1 7,4 5,1 6,1 Assalariados Emprego ......................................... 2,3 4,3 2,4 4,3 4,5 3,9 Rendimento real ............................. 1,0 3,2 3,6 1,5 0,6 2,2 Massa de rendimentos reais .......... 3,3 7,5 5,9 5,9 5,1 6,1

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP e DIEESE.

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123Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

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124 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

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125Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva

da madeira — 2000-07*

Marcelo Francisco Melo** Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas e Pesquisador da Divisão de Extensão Tecnológica do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar)Dayani Cris de Aquino*** Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universdade Federal do Paraná (UFPR) e Pesquisadora da Divisão de Extensão Tecnológica do TecparRuth M. Hofmann**** Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná e Pesquisadora da Divisão de Extensão Tecnológica do TecparVictor Pelaez***** Doutor em Ciências Econômicas pela Université de Montpellier I e Professor do Departamento de Economia da UFPR

ResumoO presente trabalho faz uma análise do fluxo de comércio da cadeiaprodutiva da madeira no Brasil, segundo seus três elos, a saber: madeira,máquinas para madeira e móveis de madeira. Utilizam-se, para tanto, osdados estatísticos de importação e exportação do Sistema Integrado deComércio Exterior (Siscomex) referentes ao período 2000-07. Foramidentificados os principais países de origem e de destino dos produtoscompreendidos em cada elo. Verificou-se que, no período considerado,as exportações da cadeia aumentaram em relação às importações. Osprincipais destinos do ramo da madeira foram os EUA, o Reino Unido, aChina, a França e a Bélgica. No que se refere à indústria de máquinaspara madeira, identificou-se uma tendência deficitária declinante na balançacomercial, ao longo do período. As importações brasileiras de máquinasprovieram sobretudo da Alemanha, da Itália, da Finlândia, dos EUA e daSuécia. O ramo de móveis revelou-se o elo mais dinâmico da cadeia,com as exportações superando as importações em todo o período. Osprincipais importadores de móveis brasileiros foram os EUA, a França, oReino Unido, os Países Baixos e a Alemanha.

** E-mail: [email protected]

*** E-mail: dayani @ufpr.br

**** E-mail: [email protected]

***** E-mail: [email protected]

Este trabalho foi realizado no âmbito do Projeto de Gestão de Inovação Tecnológica em Empresas (Projeto Gite II), desenvolvido pela Divisão de Extensão Tecnológica (Dext) do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) em parceria com o Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

* Artigo recebido em jan. 2008.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 125-150, 2008

126 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

Palavras-chave: madeira, máquinas para madeira, móveis.

AbstractThis paper analyses the trade of the Brazilian wood productive chainaccording to its three main branches: wood, woodworking machinery andwood furniture. The statistical data of import and export, concerning the2000-2006 period, were gathered from Siscomex. The main origin anddestiny countries of each branch was identified. In such a period thechain exports rose vis-à-vis the imports. The main destiny countries ofthe Brazilian exports were the USA, United Kingdom, China, France andBelgium. In the case of the woodworking machinery it was identified adeficitary declining tendency in the trade balance during the period. TheBrazilian imports of woodworking machinery came specially fromGermany, Italy, Finland, USA and Sweden. The furniture branch is themost dynamic of them, where exports exceeded imports all over theperiod. The main furniture importers from Brazil were the USA, France,United Kingdom, Netherlands and Germany.

1 IntroduçãoOs programas governamentais de apoio à indústria

têm sido cada vez mais norteados por uma perspectivasetorial e integrada, que privilegia o conjunto de atividadesarticuladas necessárias para o processamento e para oconsumo de bens e serviços industriais. A promoção dacompetitividade industrial, nesse sentido, passa peladefinição dos gargalos e das potencialidades inerentesàs diferentes etapas da cadeia produtiva. Uma cadeiaprodutiva compreende o conjunto de atividades integradasreferentes ao processamento e ao consumo final dedeterminados produtos. As análises de cadeiasprodutivas dão margem a um entendimento mais completodo comportamento de aspectos econômicos e detendências de mercado, possibilitando a identificação dossegmentos mais dinâmicos e com maior potencialcompetitivo.

A cadeia produtiva da madeira abrange as atividadesflorestais de cultivo e extração madeireira, processamentomecânico e transformação de madeira em papel ecelulose, artigos de movelaria, marcenaria, construçãocivil, etc. O fluxo de comércio mundial dessa cadeia

movimenta, em média1, US$ 180 bilhões por ano. Aindústria de móveis é a mais representativa, sendoresponsável por 52% desse total, seguida pela indústriamadeireira, com 44%. A indústria de máquinas paramadeira é a menos significativa da cadeia, sendoresponsável pelos 4% restantes.

O presente trabalho tem por objetivo identificar osprincipais fatores responsáveis por sustentar o aumentodas exportações da cadeia da madeira no Brasil, noperíodo 2000-07, mesmo diante do processo devalorização cambial observado a partir de 2002. Essacadeia será delimitada segundo três elos: madeira,máquinas para madeira e móveis de madeira. Para tanto,foram utilizadas as estatísticas de importação eexportação do Sistema Integrado de Comércio Exterior(Siscomex) referentes ao período 2000-07.

O artigo privilegia os principais países de origem ede destino das importações e das exportações brasileirasdos produtos da cadeia da madeira. Na seção 2, sãoapresentados os critérios metodológicos que nortearamas análises. A seção 3 discute a relação entre o câmbio

1 Média do período 2000-07.

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127Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

e o saldo comercial. Nas seções 4, 5 e 6, apresentam--se os dados referentes ao fluxo de comércio de madeira,de máquinas para madeira e de móveis de madeirarespectivamente. A última seção apresenta asConsiderações finais do trabalho.

2 MetodologiaPara a análise do fluxo de importações e exporta-

ções dos três elos da cadeia produtiva da madeira, foramutilizadas as estatísticas do Siscomex, sistema queadministra o comércio exterior brasileiro, disponibilizadaspelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e ComércioExterior (MDIC) por meio do Sistema de Consulta deDados Acriweb2. Cada elo é caracterizado por um conjuntode códigos da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM),que abrange os produtos resultantes de suas respectivasatividades.

O elo definido como madeira é delimitado peloscódigos contemplados no Capítulo 44 da NCM, denomina-do Madeira, carvão vegetal e obras de madeira, compostopelas posições descritas no Quadro 1. O elo definidocomo máquinas para madeira é delimitado por umconjunto de códigos contemplados nos Capítulos 82(Ferramentas, artefatos de cutelaria e talheres, e suaspartes, de metais comuns) e 84 (Reatores nucleares,caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecâni-cos e suas partes) — Quadro 2. O elo definido comomóveis de madeira é delimitado por um conjunto decódigos contemplados no Capítulo 94, intitulado Móveis;mobiliário médico-cirúrgico; colchões, almofadas esemelhantes; aparelhos de iluminação não especificadosnem compreendidos em outros capítulos; anúncios, carta-zes ou tabuletas e placas indicadoras, luminosos e artigossemelhantes; construções pré-fabricadas (Quadro 3).

Para cada um dos elos da cadeia são apresentadosos principais países de destino e de origem dasexportações e das importações brasileiras. O critério deordenação que permitiu apontar os cinco países maisrepresentativos foi a média dos valores (em US$ FOB)para o período 2000-07. As taxas de evolução do fluxo

de comércio foram calculadas com base fixa, sendo oano de 2000 o período de referência.

Para a análise cambial foi utilizado o índice da taxade câmbio efetiva real para exportações (IPA-OG, média2000 =100) calculado pelo Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (IPEA). Esse índice é uma medidada competitividade das exportações brasileiras,calculada pela média ponderada do índice de paridadedo poder de compra dos 16 maiores parceiros comerciaisdo Brasil. A paridade do poder de compra é definida peloquociente entre a taxa de câmbio nominal (em R$//unidade de moeda estrangeira) e a relação entre o Índicede Preço por Atacado (IPA) do país em questão e o Índicede Preços por Atacado-oferta global (IPA-OG) daFundação Getúlio Vargas (FGV) do Brasil. As ponderaçõesutilizadas são as participações de cada parceiro no totaldas exportações brasileiras, em 2001.

2 O Acriweb é uma interface de consulta de dados desenvolvida,no âmbito do Projeto de Gestão de Inovação Tecnológica emEmpresas (Projeto Gite II), pela Divisão de Extensão Tecnológicado Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Esse sistematrabalha com os dados da base Siscomex, gerando gráficos erelatórios de comércio internacional.

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128 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

Quadro 1

Códigos NCM que compõem o elo madeira CÓDIGOS DESCRIÇÃO

44.01 Lenha em qualquer estado; madeira em estilhas ou em partículas; serragem, desperdícios e resíduos, de madeira, mesmo aglomerados em bolas, briquetes, pellets ou em formas semelhantes.

44.02 Carvão vegetal (incluído o carvão de cascas ou de caroços), mesmo aglomerado. 44.03 Madeira em bruto, mesmo descascada, desalburnada ou esquadriada. 44.04 Arcos de madeira; estacas fendidas; estacas aguçadas, não serradas longitudinalmente;

madeira simplesmente desbastada ou arredondada, não torneada, não recurvada nem trabalhada de qualquer outro modo, para fabricação de bengalas, guarda-chuvas, cabos de ferramentas e semelhantes; madeira em fasquias, lâminas, fitas e semelhantes.

44.06 Dormentes de madeira para vias férreas ou semelhantes. 44.07 Madeira serrada ou fendida longitudinalmente, cortada transversalmente ou desenrolada,

mesmo aplainada, polida ou unida pelas extremidades, de espessura superior a 6mm. 44.08 Folhas para folheados (incluídas as obtidas por corte de madeira estratificada), folhas para

compensados (contraplacados) ou para madeiras estratificadas semelhantes e outras madeiras, serradas longitudinalmente, cortadas transversalmente ou desenroladas, mesmo aplainadas, polidas, unidas pelas bordas ou pelas extremidades, de espessura não superior a 6mm.

44.09 Madeira (incluídos os tacos e frisos de parquê, não montados) perfilada (com espigas, ranhuras, filetes, entalhes, chanfrada, com juntas em “V”, com cercadura, boleada ou semelhantes) ao longo de uma ou mais bordas, faces ou extremidades, mesmo aplainada, polida ou unida pelas extremidades.

44.10 Painéis de partículas, painéis denominados oriented strand board (OSB) e painéis semelhantes (por exemplo, waferboard), de madeira ou de outras matérias lenhosas, mesmo aglomeradas com resinas ou com outros aglutinantes orgânicos.

44.11 Painéis de fibras de madeira ou de outras matérias lenhosas, mesmo aglomeradas com resinas ou com outros aglutinantes orgânicos.

44.12 Madeira compensada (contraplacada), madeira folheada, e madeiras estratificadas semelhantes.

44.15 Caixotes, caixas, engradados, barricas e embalagens semelhantes, de madeira; carretéis para cabos, de madeira; paletes simples, paletes-caixa e outros estrados para carga, de madeira; taipais de paletes de madeira.

44.18 Obras de marcenaria ou de carpintaria para construções, incluídos os painéis celulares, os painéis montados para revestimento de pavimentos (pisos) e as fasquias para telhados (shingles e shakes), de madeira.

44.20 Madeira marchetada e madeira incrustada; cofres, escrínios e estojos para joalheria e ourivesaria, e obras semelhantes, de madeira; estatuetas e outros objetos de ornamentação, de madeira; artigos de mobiliário, de madeira, que não se incluam no Capítulo 94.

44.21 Outras obras em madeira.

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior — MDIC. Códigos e descrições NCM . Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1095#I>. Acesso em: 02 jan. 2008.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 125-150, 2008

129Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

Quadro 2

Códigos NCM que compõem o elo máquinas para madeira

CÓDIGO DESCRIÇÃO 8205.30.00 Plainas, formões, goivas e ferramentas cortantes semelhantes, para trabalhar madeira. 8208.20.00 Facas e lâminas cortantes, para máquinas ou para aparelhos mecânicos para trabalhar

madeira. 8419.32.00 Secadores para madeiras, pastas de papel, papéis ou cartões. 8465.10.00 Máquinas-ferramenta capazes de efetuar diferentes tipos de operações sem troca de

ferramentas. 8465.91.10 Máquinas-ferramenta (incluídas as máquinas para pregar, grampear, colar ou reunir por

qualquer outro modo), de fita sem fim, para trabalhar madeira, cortiça, osso, borracha endurecida, plásticos duros ou matérias duras semelhantes.

8465.91.20 Máquinas-ferramenta (incluídas as máquinas para pregar, grampear, colar ou reunir por qualquer outro modo) circulares para trabalhar madeira, cortiça, osso, borracha endurecida, plásticos duros ou matérias duras semelhantes.

8465.91.90 Outras máquinas-ferramenta (incluídas as máquinas para pregar, grampear, colar ou reunir por qualquer outro modo) circulares para trabalhar madeira, cortiça, osso, borracha endurecida, plásticos duros ou matérias duras semelhantes.

8465.92.11 Fresadoras com comando numérico para madeira, cortiça, osso, borracha endurecida, plásticos duros ou matérias duras semelhantes.

8465.92.19 Outras máquinas de comando numérico para desbastar ou aplainar; máquinas para fresar ou moldurar.

8465.92.90 Outras máquinas para desbastar ou aplainar; máquinas para fresar ou moldurar. 8465.93.10 Lixadeiras para madeira, cortiça, osso, borracha endurecida, plásticos duros ou matérias

duras semelhantes. 8465.93.90 Outras máquinas-ferramenta para esmerilar, lixar ou polir. 8465.94.00 Máquinas-ferramenta para arquear ou para reunir madeira, cortiça, osso, borracha

endurecida, plásticos duros ou matérias duras semelhantes. 8465.95.11 Máquinas-ferramenta para furar madeira, cortiça, osso, borracha endurecida, plásticos

duros ou matérias duras semelhantes. 8465.95.12 Máquinas-ferramenta com comando numérico para escatelar madeira, cortiça, osso,

borracha endurecida, plásticos duros ou matérias duras semelhantes. 8465.95.91 Outras máquinas-ferramenta para furar madeira, cortiça, osso, borracha endurecida,

plásticos duros ou matérias duras semelhantes. 8465.95.92 Outras máquinas-ferramenta para escatelar madeira, cortiça, osso, borracha endurecida,

plásticos duros ou matérias duras semelhantes. 8465.96.00 Máquinas-ferramenta para fender, seccionar ou desenrolar madeira, cortiça, osso,

borracha endurecida, plásticos duros ou matérias duras semelhantes. 8465.99.00 Outras máquinas-ferramenta para trabalhar madeira, cortiça, osso, borracha endurecida,

plásticos duros ou matérias duras semelhantes. 8466.92.00 Partes e acessórios de máquinas-ferramenta para trabalhar madeira, cortiça, osso,

borracha endurecida, plásticos duros ou matérias duras semelhantes. 8479.30.00 Prensas para fabricação de painéis de partículas, de fibras de madeira ou de outras

matérias lenhosas, e outras máquinas e aparelhos para tratamento de madeira ou de cortiça.

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior — MDIC. Códigos e descrições NCM . Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1095#I>. Acesso em: 02 jan. 2008.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 125-150, 2008

130 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

3 Saldo comercial e taxa de câmbio

A relação entre as variações cambiais e asvariações no saldo comercial é estabelecida pela teoriaeconômica por meio da conhecida “condição Marshall--Lerner”. Essa condição assegura que uma mudança nataxa real de câmbio afetará inversamente os resultadosda balança comercial, se a soma das elasticidades dasimportações e das exportações, com relação à taxa realde câmbio, for maior do que 1. Se essa condição severificar, então, uma desvalorização cambial (realdesvalorizado) provocará um aumento das exportaçõesfrente às importações, gerando, com isso, uma melhorano saldo comercial. Inversamente, uma valorizaçãocambial (real valorizado) implica uma piora do saldocomercial (Krugman; Obstfeld, 2000).

Além disso, a relação entre saldo comercial e taxade câmbio envolve uma defasagem temporal conhecidana literatura como curva J. Esta surgiu da observaçãoempírica de que, diante de uma desvalorização cambial,o primeiro efeito é uma queda no saldo comercial, e,somente após certa defasagem temporal, ocorre suamelhora. Estudos para a economia brasileira revelam queo efeito de uma desvalorização cambial leva cerca dequatro a 19 meses para se dissipar (Teles, 2005).

Apesar dessas relações teóricas, a análise gráficamostra que, em dois elos da cadeia da madeira (madeirae móveis), o saldo comercial foi positivo e apresentoutendência crescente ao longo do período 2000-07, isto é,as exportações superaram as importações, a despeitoda valorização cambial observada a partir de novembrode 2002 (Gráficos 1 e 2). Mesmo com uma valorizaçãode cerca de 50% na taxa de câmbio real entre nov./02 edez./07, as exportações brasileiras de madeira e móveisaumentaram em 80,94% e 59,51%, respectivamente, nomesmo período. Ao mesmo tempo, as importaçõesaumentaram 166,90% e 247,89% respectivamente. Nocaso de máquinas para madeira, em que o Brasil étradicionalmente um importador (Gráfico 3), o saldocomercial foi positivo em apenas seis meses, no decorrerde todo o período (dez./01, maio/05, jun./05, set./06, out.//06 e set./07). Mesmo assim, as exportações e asimportações de máquinas para madeira aumentaram em233,07% e 299,27% respectivamente.

Esses dados sugerem a existência de fatores decaráter conjuntural, institucional e concorrencial quesuperaram a influência do câmbio sobre o desempenhodo saldo comercial na cadeia da madeira, de modo asustentar as exportações mesmo diante do realvalorizado. As seções seguintes procuram identificar ediscutir quais são esses fatores de acordo com cada eloda cadeia.

Quadro 3

Códigos NCM que compõem o elo móveis de madeira

CÓDIGO DESCRIÇÃO 9401.30.10 Assentos giratórios de madeira, de altura ajustável. 9401.40.10 Assentos de madeira transformáveis em camas, exceto material de acampamento ou de

jardim. 9401.61.00 Estofados com armação de madeira. 9401.69.00 Outros assentos com armação de madeira. 9401.90.10 Partes de assentos de madeira. 9403.30.00 Móveis de madeira, do tipo utilizado em escritórios. 9403.40.00 Móveis de madeira, do tipo utilizado em cozinhas. 9403.50.00 Móveis de madeira, do tipo utilizado em quartos de dormir. 9403.60.00 Outros móveis de madeira. 9403.90.10 Partes de móveis de madeira. 9406.00.91 Com estrutura de madeira e paredes exteriores constituídas essencialmente dessa

matéria.

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior — MDIC. Códigos e descrições NCM . Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1095#I>. Acesso em: 02 jan. 2008.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 125-150, 2008

131Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

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Taxa de câmbio efetiva real — IPA-OG-exportações

Exportações brasileiras de móveis (Cap. 94 NCM)

Índice da taxa de câmbio

Exportações (US$ milhões FOB)

Gráfico 2

Legenda:

=

FONTE: IPEA. Séries macroeconômicas . Disponível em: <www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 11 fev. 2008.NOTA: Os índices têm como base a média de 2000 = 100.

Evolução da taxa de câmbio real e do saldo comercial de móveis de madeira no Brasil — 2000-07

30405060708090

100110120130140150

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130

180

230

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Taxa de câmbio efetiva real — IPA-OG-exportações

Saldo comercial brasileiro de madeira

= 80

Legenda:

Gráfico 1

Índice da taxa de câmbio

Saldo comercial (US$ milhões FOB)

FONTE: IPEA. Séries macroeconômicas . Disponível em: <www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 11 fev. 2008. NOTA: Os índices têm como base a média de 2000 = 100.

Evolução da taxa de câmbio real e do saldo comercial da cadeia de madeira no Brasil — 2000-07

0

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 125-150, 2008

132 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

4 Madeira

As florestas plantadas ocupam, atualmente, umaárea aproximada de 5,74 milhões de hectares no Brasil,ou 0,5% do território nacional. O valor bruto da produçãobrasileira da indústria de florestas plantadas3 ultrapassou,em 2006, R$ 57 bilhões. Segundo estimativas daAssociação Brasileira de Produtores de FlorestasPlantadas (Abraf) (Anu. Estat. ABRAF, 2007), em 2006 aprodução de móveis e painéis reconstituídos contribuiucom R$ 7 bilhões (12%) e R$ 4,6 bilhões (8%)respectivamente. A fabricação de produtos de madeirasólida foi responsável, nesse mesmo período, por,aproximadamente, 250 mil empregos diretos e indiretos(11% na cadeia), enquanto a produção de móveis foiresponsável por mais de 314.000 (13%). A seguir, seráapresentado o panorama mundial do comércio do elomadeira, com os principais países de destino e de origemdas exportações e das importações brasileiras demadeira.

4.1 Principais países exporta- dores de madeira

As exportações mundiais de madeira, no período2000-06, totalizaram mais de US$ 556 bilhões.Aproximadamente 45% desse montante correspondemàs exportações de cinco países (Tabela 1). O Canadá éo principal exportador, sendo responsável por 17,87%do total. Os EUA ocupam a segunda posição, com 7,26%,seguidos por Alemanha (6,77%), China (5,51%) e Rússia(5,05%). O Brasil foi o 11º maior exportador de madeirano período, com 2,88% do valor mundial.

3 Inclui papel e celulose, indústria madeireira, móveis, painéisreconstituídos e siderurgia (Anu. Estat. ABRAF, 2007).

30405060708090

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Out

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-33-30-27-24-21-18-15-12-9-6-303

Taxa de câmbio efetiva real — IPA-OG-exportações

Saldo comercial brasileiro de máquinas para madeira

Índice da taxa de câmbio

Saldo comercial (US$ milhões FOB)

Legenda:

=

Gráfico 3

FONTE: IPEA. Séries macroeconômicas . Disponível em: <www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 11 fev. 2008.NOTA: Os índices têm como base a média de 2000 = 100.

Evolução da taxa de câmbio real e do saldo comercial de máquinas para madeira no Brasil 2000-07

30

-3-6-9

-12-15-18-21-24-27-30-33

Índice da taxa

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 125-150, 2008

133Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

4.2 Principais países de desti- no das exportações brasi- leiras de madeira

As exportações brasileiras de madeira somarammais de US$ 19 bilhões no período 2000-07. Desse total,36,43% devem-se a Santa Catarina, principal estadoexportador, seguido por Paraná (31,13%), Pará (19,88%),Rio Grande do Sul (5,18%) e São Paulo (4,06%). Asdemais unidades federativas responderam pelos 3,31%restantes.

Os produtos mais representativos da pauta deexportações brasileiras desse elo são as madeirasserradas e/ou cortadas, com 29,76% do total exportado,seguidas pelas madeiras compensadas (24,7%), pelasmadeiras perfiladas (12,4%) e pelos demais produtos demadeira (33,14%). Os grupos de madeiras serradas e/oucortadas e de madeiras perfiladas podem serconsiderados os responsáveis por sustentar ocrescimento do valor das exportações no elo madeira,entre 2002 e 2007, com taxas de crescimento de 60,71%e 503,57% respectivamente.

Nesses dois grupos, vale destacar a participaçãodas madeiras de coníferas, que representam 14,62% dototal das exportações do elo madeira. As crescentesrestrições de caráter ambiental ao uso de madeiras delei têm aumentado substancialmente a importância das

madeiras de reflorestamento4 no comércio internacional.O mercado de móveis de madeira de lei tende a serlimitado com a vigência da norma ISO-140005. Odesenvolvimento tecnológico nessa atividade tempermitido a superação dos empecilhos inerentes ao usode madeiras menos nobres — os equipamentos de cortedesenvolvidos recentemente permitem a extração dosnós que comprometiam a qualidade de itens produzidoscom esse tipo de madeiras. Além disso, novas técnicasde acabamento permitem a fabricação de móveis dequalidade a partir de madeiras obtidas a partir do plantioflorestal, como o pínus (Gorini, 1998).

O atendimento dessa demanda ambiental refletiu--se no aumento das exportações das madeiras deconíferas. Embora, entre 2002 e 2007, a quantidadeexportada de madeiras de coníferas serradas e/oucortadas tenha diminuído cerca de 13%, a quantidadeexportada de madeiras de coníferas perfiladas aumentoucerca de 594%. Isso indica, por outro lado, uma estratégiada indústria madeireira de aumentar a exportação deprodutos com maior valor agregado.

O segmento de madeiras compensadas temenfrentado condições econômicas adversas com adesaceleração do mercado imobiliário nos Estados

Tabela 1

Evolução das exportações de madeira de países selecionados — 2000-06

(US$ bilhões FOB)

PAÍSES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 (1) TOTAL

Canadá .............. 13,39 12,35 12,11 12,63 16,91 16,76 15,37 99,52 EUA ................... 6,34 5,28 5,10 5,18 5,87 6,09 6,54 40,40 Alemanha .......... 3,48 3,79 4,41 4,93 6,11 7,24 7,75 37,71 China ................. 2,10 2,30 2,83 3,47 5,01 6,41 8,57 30,70 Rússia ................ 2,42 2,45 2,94 3,47 4,52 5,69 6,64 28,14 Outros ................ 36,45 36,38 39,15 45,16 53,78 56,34 53,05 320,31 TOTAL .............. 64,20 62,55 66,54 74,84 92,20 98,53 97,92 556,78

FONTE: NAÇÕES UNIDAS. Commodity Trade Statistics Database — COMTRADE. Commodity list . Disponível em: <comtrade.un.org>. Acesso em: 02 jul. 2007. (1) Os resultados são parciais, pois os seguintes países não entregaram os relatórios anuais: Japão (5,12%), França (4,27%), Holanda (3,16%), Espanha (2,25%), Cingapura (2,13%), outros países asiáticos (1,78%), Arábia Saudita (1,23%), Índia (1,23%), Suíça (1,14%) e Outros (14,25%). Os percentuais entre parênteses correspondem à participação do país no comércio mundial. Nesses casos, imputou-se, para esse ano, a média dos últimos seis anos (2000-05), com o objetivo de tornar consistente a posição de cada país no ranking mundial.

4 Sobretudo pínus e eucalipto.5 Trata-se de um conjunto de normas que estabelecem diretrizes

para a gestão ambiental dentro de empresas.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 125-150, 2008

134 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

Unidos, principal comprador do compensado brasileirousado na construção civil (Rios, 2006). Esse fato,associado ao câmbio valorizado, refletiu-se numa quedadas exportações, entre 2004 e 2007, de 22%, embora operíodo 2002-07 acumule um crescimento de 58,84% novalor das exportações. Cabe ainda mencionar odesempenho dos produtos de madeira que compõem oCódigo 4418.20.00 da NCM (Brasil, 2008), denominadoPortas, caixilhos, alizares e soleiras de madeira. Essesprodutos representam cerca de 7,36% das exportaçõesdo elo madeira e alcançaram uma taxa de crescimentode 95,88% entre 2002 e 2007.

Do total de madeira exportada pelo País, 42,53%destinaram-se aos Estados Unidos, 6,35% ao ReinoUnido, 5,06% à França, 4,47% à China e 4,04% à Bélgica,enquanto os 37,55% restantes destinaram-se aos demaispaíses (Tabela A.1).

O Gráfico 4 apresenta a evolução das exportaçõesbrasileiras de madeira, segundo os principais países dedestino. Nota-se que os EUA, principal importador noperíodo, aumentaram as importações de 2000 a 2004,passando de US$ 490 milhões em 2000 para mais deUS$ 1,4 bilhão em 2004, cerca de 199%. Cabe mencionarque esse crescimento significativo coincide com adesvalorização cambial iniciada em 2000. A taxa decâmbio6, que era de mais de R$ 1,80/US$ em janeiro de2000, passou para R$ 3,80/US$ em outubro de 2002, oque representa uma desvalorização do real de 111%(IPEA, 2008). Por outro lado, a queda das importaçõesnorte-americanas de madeira brasileira de 2006 para 2007reflete o desaquecimento do mercado imobiliário dosEUA, cuja construção civil (principal demandante demadeira compensada brasileira, cerca de 34% total entre2000 e 2007) foi um dos setores mais afetados, comqueda de 12% no número de novas construções de casasde 2005 para 2006 e de 24% de 2006 para 2007 (NaçõesUnidas, 2008).

O Reino Unido, segundo maior importador,apresentou aumento das importações em 2004, chegandoa US$ 197 milhões, acima dos US$ 135 milhõesimportados no início do período, valor reduzido para poucomais de US$ 178 milhões em 2007. A participação dosdemais países (Outros) foi ascendente ao longo doperíodo, passando de US$ 680 milhões em 2000 paraUS$ 946 milhões em 2007, com destaque para Holandae Espanha, que tiveram taxas de crescimento dasimportações de madeira brasileira de 370% e 233%,respectivamente, entre 2000 e 2007.

A China ocupa o quarto lugar entre os principaisdestinos da madeira brasileira, como pode ser visto noGráfico 4 e na Tabela A.1. O principal motivo desseaumento nas importações chinesas de madeira é arestrição legal imposta pelo Governo chinês, a partir de1998, para exploração de recursos naturais, especial-mente florestais. Essa restrição no corte florestal foi umamedida tomada para evitar que se repitam enchentesextensivas decorrentes da devastação ambiental, comoa ocorrida em 1998, cujos impactos foram o deslocamentohumano em grande escala, danos agrícolas, econômicose de infra-estrutura. Com essa proibição legal no cortede madeira, a China tornou-se o segundo maior importadorde madeira do mundo, ficando atrás apenas dos EstadosUnidos (Burma..., 2004).

6 Taxa de câmbio comercial para venda.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 125-150, 2008

135Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

4.3 Principais países de origem das importações brasileiras de madeira

No período 2000-07 o Brasil importou, aproximada-mente, US$ 627 milhões em madeira, o que equivale a3,3% do valor das exportações desse produto. AArgentina foi o principal país de origem, com 54,98%,seguida por Paraguai (10,28%), EUA (7,40%), China(4,48%) e Itália (3,84%). Os demais países exportaramos 19,01% restantes para o Brasil (Tabela A.2).

O Gráfico 5 apresenta a evolução das importaçõesbrasileiras de madeira, segundo os principais países deorigem. Verifica-se que a Argentina, principal exportadorde madeira para o Brasil, apresentou queda nasexportações de 2000 (US$ 29 milhões) para 2001 (US$19 milhões), a qual foi mais do que compensada naseqüência, com crescimento para U$S 70 milhões em2007, ou seja, um incremento de 138%,7% no períodoconsiderado. Esse aumento significativo na taxa decrescimento das exportações argentinas para o Brasiljustifica-se pela busca das empresas moveleiras,

especialmente as do Rio Grande do Sul e de SantaCatarina, por matéria-prima mais barata. Com adesvalorização cambial entre 2000 e 2002, o preço dosmóveis brasileiros no exterior reduziu-se, enquanto opreço das madeiras brasileiras sofreu pressão de altadevido a dois fatores: (a) escassez de madeira geradapela competição entre os segmentos moveleiro, de papele celulose e siderúrgico; e (b) oligopolização do setormadeireiro (Suardi, 2006). Essa alta no preço interno damadeira forçou as moveleiras a buscarem fontes alternati-vas de matéria-prima a preços mais competitivos,notadamente na Argentina, onde estes chegaram a ser10% menores em 2000 (Maciel, 2000).

Além da manutenção das importações de madeirada Argentina, o mercado interno continua buscandoabastecimento em outros países vizinhos, como oParaguai, cuja taxa de crescimento das importações entre2000 e 2007 foi de 136%. As exportações dos EUA caíramde 2000 para 2001, passando de US$ 6 milhões paraUS$ 4,5 milhões, porém recuperaram-se a partir daí eencerraram o período em mais de US$ 7,9 milhões. Outrospaíses aumentaram suas vendas para o Brasil,especialmente Alemanha e Bolívia.

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Estados Unidos Reino Unido França China Bélgica Outros

Gráfico 4

Evolução da taxa de câmbio real e do saldo comercial de máquinas para madeira, no Brasil — 2000-07

Exportações(US$ bilhões FOB)

Legenda:

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados . Disponível em: <http//everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan.2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via Acriweb).NOTA: 1. O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. 2. Outros corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 125-150, 2008

136 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

5 Máquinas para trabalhar madeira

Concentrada na Região Sul do País, a indústriabrasileira de máquinas para madeira conta, atualmente,com a atividade de 195 empresas. São, ao todo, 45estabelecimentos no Estado do Rio Grande do Sul, 43no Paraná e outros 42 em Santa Catarina. Somados, ostrês estados agregam 67% das empresas do ramo noBrasil (Hofmann et al., 2007).

5.1 Principais países exporta- dores de máquinas para trabalhar madeira

Entre 2000 e 2006, as exportações mundiais demáquinas para madeira somaram, aproximadamente, US$48 bilhões, dos quais 68,52% originaram-se de cinco

países (Tabela 2). A Alemanha ocupou a primeira posiçãodo ranking, exportando 28,49% do total. A Itália, emsegundo lugar, foi responsável por 22,05%, seguida doJapão (6,46%), dos Estados Unidos (6,34%) e da China(5,18%). A liderança da Alemanha e da Itália no mercadomundial de máquinas para madeira está ligada à elevadacapacidade inovativa das empresas desse ramo e aoelevado grau de coordenação desses mercados. Talcoordenação reflete-se na forte atuação desses doispaíses nos comitês de normalização europeu einternacional, permitindo que estes ditem os padrõestecnológicos, de segurança e de qualidade em nívelinternacional (Aquino et al., 2007).

O Brasil permaneceu na 25a colocação, no período,com 0,32% das exportações mundiais (cerca de US$156 milhões).

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Argentina Paraguai Estados Unidos China Itália Outros

Importações(US$ bilhões FOB)

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados . Dis- ponível em: <http//everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan.2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via Acriweb). NOTA: 1. O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. 2. Outros corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

Legenda:

Gráfico 5

Evolução das importações de madeira, segundo os principais países de origem, do Brasil — 2000-07

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35 n. 4, p. 125-150, 2008

137Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

Tabela 2

Evolução das exportações de máquinas para madeira de países selecionados — 2000-06

(US$ bilhões FOB)

PAÍSES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 (1) TOTAL

Alemanha ........... 1,65 1,59 1,56 1,92 2,11 2,33 2,56 13,70 Itália .................... 1,40 1,40 1,25 1,36 1,68 1,64 1,89 10,61 Japão .................. 0,54 0,29 0,30 0,40 0,59 0,53 0,44 3,11 EUA .................... 0,52 0,42 0,38 0,35 0,40 0,51 0,46 3,05 China ................. 0,14 0,19 0,25 0,33 0,44 0,52 0,62 2,49 Outros ................. 1,81 1,74 1,71 2,06 2,46 2,75 2,61 15,14 TOTAL ............... 6,06 5,63 5,46 6,41 7,67 8,28 8,59 48,10

FONTE: NAÇÕES UNIDAS. Commodity Trade Statistics Database — COMTRADE. Commodity list . Disponível em: <comtrade.un.org>. Acesso em: 02 jul. 2007. (1) Os resultados são parciais, pois os seguintes países não entregaram os relatórios anuais: Japão (5,12%), França (4,27%), Holanda (3,16%), Espanha (2,25%), Cingapura (2,13%), outros países asiáticos (1,78%), Arábia Saudita (1,23%), Índia (1,23%), Suíça (1,14%) e Outros (14,25%). Os percentuais entre parênteses correspondem à participação do país no comércio mundial. Nesses casos, imputou-se, para esse ano, a média dos últimos seis anos (2000-05), com o objetivo de tornar consistente a posição de cada país no ranking mundial.

5.2 Principais países de desti- no das exportações brasi- leiras de máquinas para trabalhar madeira

A indústria de máquinas para madeira é a menosdinâmica da cadeia da madeira no Brasil. Do ponto devista inovativo, a aquisição formal de tecnologia prevalecenas empresas de porte médio, posto que estasapresentam maior capacidade de financiamento e/ou dearticulação com empresas inovadoras estrangeiras. Aengenharia reversa parece ser uma prática difundida,principalmente entre as micro e pequenas empresas, emfunção do regime de apropriação fraco desse tipo deatividade produtiva. As mudanças tecnológicas sãodeterminadas principalmente pelos fornecedores decomponentes e de insumos químicos (como tintas evernizes) e pelas empresas líderes de mercado, sediadasem países como a Alemanha, a Itália e os EUA, refletindo--se num reduzido número de patentes registradas nesseramo. O baixo interesse por esse tipo de mecanismo deapropriação está relacionado principalmente a três fatores:aos entraves burocráticos do processo de patenteamento,às possibilidades de quebra de patentes pelosconcorrentes (em especial de dispositivos que podemser facilmente copiados e melhorados) e às dificuldades

de monitorar o desvio de conduta dos concorrentes e amorosidade dos processos judiciais (Hofmann et al.,2007).

Esse baixo dinamismo tecnológico justifica apequena participação do Brasil no comércio mundial demáquinas para madeira (25º posição no ranking), fazendocom que esse ramo seja predominantemente umfornecedor para o mercado interno.

No período 2000-07, as exportações brasileiras demáquinas para o processamento de madeira somaramcerca de US$ 205 milhões. O Estado do Paraná foiresponsável por 28,51% desse total, sendo seguido porSanta Catarina, com 24,7% (US$ 50,8 milhões), RioGrande do Sul, com 23,63% (US$ 48,6 milhões), e SãoPaulo, com 20,2% (US$ 41,5 milhões). Os demais estadosforam responsáveis pelos 2,96% restantes.

Do total exportado entre 2000 e 2007, os produtosmais representativos foram secadores para madeiras (epara pastas de papel), com participação de 20,72%,máquinas-ferramenta para trabalhar madeira de diversostipos (e para cortiça, osso, etc.), com 20,1%, máquinas--ferramenta para serrar madeira de diversos tipos (cortiça,osso, etc.), com 16,09%, e máquinas-ferramenta paraarquear e/ou para reunir madeira (cortiça, osso, etc.),com 7,15%. Desses produtos, destacam-se asmáquinas-ferramenta para serrar madeira e os secadoresde madeira, com crescimento de 772% e 516%,respectivamente, no período 2000-07.

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138 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

Os Estados Unidos foram o principal destino dasexportações brasileiras de máquinas para oprocessamento mecânico de madeira no período 2000--07, respondendo por 17,7% do total exportado pelo Brasil(Tabela A.3). O segundo maior importador do período foio Chile, com 9,31%, seguido por Argentina, com 6,97%,Itália, com 6,14%, e México, com 5,52%. Os 54,36%restantes foram exportados para os demais países.

O Gráfico 6 apresenta os dados referentes àevolução das exportações brasileiras de máquinas parao processamento de madeira no período 2000-07,segundo os principais países de destino. O destaqueforam as exportações para o Chile, que iniciaram o períodono patamar de US$ 409.000, alcançaram mais de US$7,5 milhões em 2006 e caíram, significativamente, paraUS$ 1,8 milhão em 2007. As exportações para os EUA

oscilaram entre US$ 3,9 milhões (2000) e US$ 8,3 milhões(2007).

As exportações para os EUA cresceram a taxasmenores do que as do Chile. Enquanto a maior taxa norte--americana foi de 111,05% entre 2000 e 2007, o Chileapresentou uma taxa de 1.751,63% entre 2000 e 2006,com queda para 343,17% em 2007. A Itália tambémapresentou altas taxas de crescimento, passando de686,05% entre 2000 e 2001 para 1.334,39% em 2007.Os demais países mantiveram suas taxas inferiores adois dígitos. Dentre os países que compõem o grupoOutros, a Rússia e Venezuela foram os que mais sedestacaram, passando, respectivamente, de US$ 1,7 mil(2000) para US$ 2,2 milhões (2007) e de US$ 221.000(2000) para US$ 3,6 milhões (2007).

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Estados Unidos Chile Argentina Itália México Outros

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados . Dis- ponível em: <http//everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via Acriweb).NOTA: 1. O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. 2. Outros corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

Legenda:

Exportações(US$ bilhões FOB)

Evolução das exportações de máquinas para madeira, segundo os principais países de destino, do Brasil — 2000-07

Gráfico 6

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139Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

5.3 Principais países de origem das importações brasileiras de máquinas para trabalhar madeira

O Brasil importou, de 2000 a 2007, cerca de US$714 milhões em máquinas para processar madeira (TabelaA.4), o que corresponde a 347% do valor exportado demáquinas para madeira no mesmo período. Desse total,40,49% provieram da Alemanha, principal exportadordesse tipo de bem de capital para o Brasil. A Itália foi osegundo maior exportador do período, com 23,72%,seguida por Finlândia (9,15%), EUA (6,14%) e Suécia(3,22%). Os 17,28% restantes foram importados dosdemais países.

A evolução das importações brasileiras de máquinaspara trabalhar madeira é apresentada no Gráfico 7. As

exportações alemãs para o Brasil reduziram-senotoriamente a partir de 2001, caindo de US$ 59 milhõespara US$ 18 milhões em 2004. Ainda que no ano seguintetenha havido aumento, em 2006 verificou-se nova queda,para US$ 13,6 milhões, com forte recuperação para US$43,5 milhões em 2007. A Finlândia apresentoucrescimento significativo em 2001, passando de US$ 6milhões para US$ 17,4 milhões em 2007.

As exportações finlandesas tiveram quedarepresentativa de 2001 para 2002, partindo de uma taxapositiva de 166,50% para -51,60%. Contudo tornaram acrescer de 2004 para 2005, quando apresentaram taxasde -10,89% e 45,42% respectivamente. A Alemanha,principal exportador para o Brasil, apresentou somentetaxas negativas a partir de 2003, enquanto a Itália asapresentam já a partir de 2002. Os EUA apresentaramtaxas negativas ao longo de todo o período, passandodos -35,70% iniciais para -72,17% em 2006 e para -3,59%em 2007.

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007Alemanha Itália Finlândia Estados Unidos Suécia Outros

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados . Dis- ponível em: <http//everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via Acriweb).NOTA: 1. O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. 2. Outros corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

Legenda:

Importações(US$ bilhões FOB)

Evolução das importações de máquinhas para madeira, segundo os principais países de destino, do Brasil — 2000-07

Gráfico 7

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6 Móveis de madeira

A indústria moveleira no Brasil está concentradanas Regiões Sul e Sudeste e caracteriza-se pelapredominância de pequenas e médias empresas, queatuam em um mercado bastante segmentado. Trata-sede um ramo de atividade intensivo em mão-de-obra, queapresenta baixo valor adicionado (por unidade de mão--de-obra) em comparação com outros ramos de atividade(Gorini, 1998). Em termos institucionais, o elo móveis émais bem organizado que o elo máquinas para madeira,característica que lhe permite maior influência naformulação de políticas públicas setoriais.7

As estratégias de expansão do ramo moveleiro noBrasil têm sido orientadas, cada vez mais, pelo investi-mento no design dos produtos, variável-chave no aumentodo valor agregado e na determinação da competitividadeinternacional do ramo. Como as restrições ambientaisaplicadas ao elo madeira têm comprometido o forneci-mento da principal matéria-prima dessa atividade, verifica--se também uma crescente preocupação com odesenvolvimento e com a utilização de novos materiais.

7 A articulação institucional é promovida sobretudo por entidadescomo a Associação Brasileira das Indústrias de Móveis de AltaDecoração (ABIMAD), o Sindicato das Indústrias do Mobiliário(SINDMÓVEIS), a Associação das Indústrias de Móveis doEstado do Rio Grande do Sul (MOVERGS) e a AssociaçãoBrasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL).

Analogamente ao elo madeira, o desempenho doelo móveis de madeira é determinado, em boa medida,pelo dinamismo do setor imobiliário — nacional einternacional.

6.1 Principais países exporta- dores de móveis de madeira

As exportações mundiais de móveis ultrapassaramUS$ 672 bilhões no período 2000-06. Os cinco principaisexportadores responderam por 49,36% desse total. Asexportações chinesas superaram US$ 104 bilhões, oequivalente a 15,60% do total. A Itália, segundo maiorexportador, foi responsável por 12,09% do total, seguidade Alemanha (8,81%), EUA (6,65%) e Canadá (6,21%).O Brasil respondeu por 0,81% do total (US$ 5,4 bilhões),cabendo-lhe a 24º posição no ranking de exportaçãomundial de móveis (Tabela 3).

Tabela 3 Evolução das exportações de móveis de países selecionados — 2000-06

(US$ bilhões FOB)

PAÍSES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 (1) TOTAL

China ............. 7,02 7,56 9,85 12,90 17,32 22,36 27,96 104,96 Itália ................ 9,89 9,92 10,23 11,57 13,25 13,01 13,49 81,35 Alemanha ...... 6,04 6,59 6,97 8,06 9,37 10,70 11,55 59,27 EUA ................ 6,54 6,11 5,73 5,65 6,26 6,86 7,56 44,71 Canadá ........... 5,79 5,36 5,46 5,64 6,23 6,59 6,68 41,74 Outros ............ 39,67 37,48 42,31 49,82 57,92 60,94 52,51 340,66 TOTAL ........... 74,95 73,01 80,56 93,64 110,34 120,46 119,73 672,69

FONTE: NAÇÕES UNIDAS. Commodity Trade Statistics Database — COMTRADE. Commodity list . Disponível em: <comtrade.un.org>. Acesso em: 02 jul. 2007. (1) Os resultados são parciais, pois os seguintes países não entregaram os relatórios anuais: Japão (5,12%), França (4,27%), Holanda (3,16%), Espanha (2,25%), Cingapura (2,13%), outros países asiáticos (1,78%), Arábia Saudita (1,23%), Índia (1,23%), Suíça (1,14%) e Outros (14,25%). Os percentuais entre parênteses correspondem à participação do país no comércio mundial. Nesses casos, imputou-se, para esse ano, a média dos últimos seis anos (2000-05), com o objetivo de tornar consistente a posição de cada país no ranking mundial.

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141Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

6.2 Principais países de desti- no das exportações brasi- leiras de móveis

O Brasil exportou aproximadamente US$ 5,3 bilhõesem móveis de madeira no período 2000-07. Mais dametade desse total (55,28% ou US$ 2,9 bilhões) tevecomo origem o Estado de Santa Catarina, principalexportador. O Rio Grande do Sul contribuiu com 28,59%(US$ 1,5 bilhão); a Bahia, com 5,28% (US$ 282 milhões);São Paulo, com 4,52% (US$ 241 milhões); e o Paraná,com 2,93% (US$ 156 milhões). Os demais estados foramresponsáveis pelos 3,40% (US$ 181 milhões) restantes.

Os principais importadores de móveis brasileirosno período foram os EUA, 36,43% do total, a França(11,88%), o Reino Unido (8,60%), os Países Baixos(4,62%) e a Alemanha (4,41%). Os 34,06% restantesdestinaram-se aos demais países (Tabela A.5).

O Gráfico 8 apresenta a evolução das exportaçõesbrasileiras de móveis no período 2000-07, segundo osprincipais países de destino. Observa-se que asexportações para os EUA foram crescentes até 2005,deixando o patamar inicial de US$ 108 milhões em 2000para US$ 343 milhões em 2004, pouco abaixo dos US$369 milhões importados em 2005, antes da queda paraUS$ 283 milhões em 2006. Novamente, verifica-se oimpacto negativo da crise imobiliária norte-americana.As importações francesas aumentaram de 2002 para2005, passando, respectivamente, de US$ 65 milhõespara US$ 95 milhões.

Os principais produtos da pauta de exportaçãobrasileira do elo móveis de madeira foram os artigoscontemplados no Código 9403.60.00 da NCM (outrosmóveis de madeira), com 37,31% do total de móveis demadeira exportados de 2000 a 2007. Os dormitórios demadeira responderam por outros 35,10% do total doperíodo. Os assentos estofados com armação de madeiraforam os produtos que apresentaram as maiores taxasde crescimento, aumentando de 7,26% em 2001 paramais de 340% em 2007. Partes de madeira para móveistambém apresentaram taxas notórias de crescimento (de38,45% em 2001 para 121,55% em 2007), assim como omobiliário de madeira para cozinhas (de -11,10% para109,53% no período 2001-07).

As maiores taxas de variação das exportaçõesbrasileiras de móveis referem-se aos EUA, cuja taxaaumentou dos 30,68% entre 2000 e 2001 para 242,12%em 2005. Cabe destaque ao Reino Unido, que apresentouqueda de 3,70% entre 2000 em 2001, aumentando para

123,27% em 2004. Além disso, os países que nãofiguraram entre os cinco principais importadores, ao longodo período (a categoria Outros), também tiveram taxaselevadas, crescendo 176,43% entre 2000 e 2007. Angolafoi um dos países com taxa de crescimento acentuada:7.404% de 2000 a 2007. O equivalente ocorreu com aEspanha: 2.105% de 2000 a 2007.

Convém mencionar que, como resultado daarticulação empresarial e institucional do ramo moveleiro,importantes projetos de apoio à exportação8 foramencetados no período, a exemplo do Brazilian Furniture,da Apex-Brasil, programa criado, em 2005, para ampliara visibilidade de móveis brasileiros no mercado externo(APEX-BRASIL, 2008). Essas iniciativas têm por objetivoestreitar as relações comerciais já existentes e explorarnovos mercados. Além disso, várias missõesempresariais têm sido organizadas por esse ramo deatividade, visando aos mercados europeu e árabe.

8 São exemplos de projetos de apoio à exportação o CapacitaçãoGerencial em Comércio Exterior, o Projeto Adequação de PlantasFabris, o Projeto de Sensibilização a ISO 9000, o ProjetoSensibilização ISO 14000, o Projeto Selo Verde, o Projeto ABNTCB-15 e o Projeto Programa Brasileiro de Qualidade eProdutividade (PBQP) (ABIMÓVEL, 2008).

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6.3 Principais países de origem das importações brasileiras de móveis

De 2000 a 2007, o Brasil importou cerca de US$ 44milhões em móveis de madeira, o equivalente a 0,83%do valor das exportações mundiais. As importaçõesvieram, sobretudo, da Itália (país responsável por 21,04%do total), da Espanha (14,78%), dos EUA (13,82%), daChina (10,21%) e da Indonésia (8,63%). Os 31,52%restantes (US$ 14 milhões) foram importados dos demaispaíses (Tabela A.6).

No Gráfico 9, verifica-se que as exportaçõesitalianas de móveis para o Brasil reduziram-se,significativamente, a partir de 2001, caindo de US$ 2,2milhões para US$ 1,1 milhão em 2002, chegando a US$566.000 em 2006. As importações de móveis dos EUAtambém apresentaram queda importante de 2000 para2001, passando de US$ 2,3 milhões para US$ 999 mil.Em 2006, as exportações norte-americanas de móveisnão atingiram US$ 350 mil.

Observa-se que, à exceção de 2001, as taxas devariação das importações brasileiras de móveis da Itáliaforam negativas, enquanto as taxas norte-americanasforam negativas ao longo de todo o período. A Espanha,ao contrário, teve predominantemente taxas positivas ecrescentes, destacando-se o aumento de 52,60% em2005 para 227,80% em 2006. Cabe destaque à China,cuja taxa de crescimento das exportações de móveispara o Brasil superou 1.585% no período.

O aumento das importações de móveis a partir de2004 (ano da inflexão da tendência até então decrescente)coincide com a aceleração do aumento de preços damadeira (serrada e em lâmina), fato que provocou oaumento dos custos internos de produção e,conseqüentemente, do produto final. De 2003 a 2006, oíndice de preços de madeira serrada bruta aumentou em56%, enquanto a variação do índice de madeira emlâminas cresceu em mais de 19% (IPT, 2008). Somando--se a isso, verifica-se que a tendência de aumento dasimportações de móveis acompanhou a queda da taxa decâmbio.

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Estados Unidos França Reino Unido Países Baixos (Holanda) Alemanha Outros

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados. Dis- ponível em: <http//everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via Acriweb).NOTA: 1. O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. 2. Outros corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

Legenda:

Exportações(US$ bilhões FOB)

Evolução das exportações de móveis, segundo os principais países de destino, do Brasil —2000-07

Gráfico 8

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143Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

7 Saldo comercial brasileiro da cadeia da madeira

Considerando-se a cadeia da madeira como umtodo, verifica-se que o Brasil é predominantemente umexportador, sobretudo devido ao desempenho comercialdos elos madeira e móveis (Tabela 4). O elo máquinaspara madeira é, ao contrário, um importador, deficitárioao longo de todo o período (2000-06).

Como evidencia o Gráfico 10, o saldo corresponden-te ao elo madeira foi positivo e crescente ao longo dequase todo o período, analogamente ao comportamentodo saldo referente a móveis de madeira . Embora, de2000 a 2007, o saldo de máquinas para madeira tenhasido negativo, nota-se uma tendência de redução dodéficit ao longo de todo o período.

A redução do déficit desse ramo de bens de capitalpode ser identificada no Gráfico 11. Depois de se acentuarde 2000 para 2001, o déficit de máquinas para madeirafoi atenuado, finalizando o período com redução de-82,13%. Os saldos de madeira e móveis de madeira

apresentaram tendência de crescimento do superávitcomercial, sendo determinantes do desempenho positivoda cadeia como um todo.

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Itália Espanha Estados Unidos China Indonésia OutrosLegenda:

Importações(US$ bilhões FOB)

Evolução das importações de móveis, segundo os principais países de destino, do Brasil — 2000-07

Gráfico 9

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados. Disponível em: <http//everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via Acriweb). NOTA: 1. O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. 2. Outros corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 125-150, 2008

144 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

Tabela 4

Saldo da balança comercial da cadeia produtiva da madeira no Brasil — 2000-07

( US$ bilhões FOB) DISCRIMINAÇÃO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 TOTAL

Madeira .................................... 1,41 1,44 1,72 2,02 2,97 2,95 3,05 3,21 18,76 Máquinas para madeira ........... -0,09 -0,11 -0,08 -0,06 -0,04 -0,04 -0,02 -0,08 -0,51 Móveis ...................................... 0,42 0,41 0,49 0,60 0,84 0,88 0,82 0,85 5,31 TOTAL ..................................... 1,74 1,74 2,14 2,56 3,77 3,79 3,85 3,97 23,56

FONTE DOS DADOS BRUTOS: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados . Disponível em: <http://everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via Acriweb).

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Madeira Máquinas para madeira Móveis

Evolução do saldo da balança comercial da cadeia da madeira do Brasil — 2000-07

(US$ bilhões FOB)

Gráfico 10

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados . Disponível em: <http//everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via Acriweb).

Legenda:

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145Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

O total de importações brasileiras de madeiracorrespondeu a apenas 3,27% das exportações desseelo no período. O crescimento das exportações desseelo foi sustentado fundamentalmente pelas madeirasserradas e/ou cortadas e perfiladas. As madeiras deconíferas, nesse contexto, foram as maisrepresentativas, em razão, sobretudo, das restriçõesambientais que se têm estabelecido no comérciointernacional. Especificamente no caso das exportaçõesde madeira para os EUA, verificou-se que a criseimobiliária norte-americana teve forte impacto negativoem madeiras compensadas. No caso da China, o notávelcrescimento das importações de madeira brasileiraaparece como conseqüência da restrição legal deexploração de madeira chinesa.

No que se refere à indústria de máquinas paramadeira , ramo da indústria de bens de capital,identificou-se uma tendência deficitária declinante aolongo do período definido. Em 2000, as exportações demáquinas eram equivalentes a 16,86% das importações.Já em 2007, o valor exportado alcançou 38,86% do totalimportado. Dos cerca de US$ 714 milhões importados

8 Considerações finaisPartindo da segmentação da cadeia produtiva da

madeira em três ramos de atividade (elos)interdependentes, este trabalho analisou o fluxo deimportações e de exportações brasileiras de madeira,máquinas para o processamento de madeira e móveisde madeira no período 2000-07. Verificou-se, de maneirageral, que as importações da cadeia declinaramproporcionalmente às exportações. Enquanto, em 2000,as importações correspondiam a 9,62% das exportações,em 2006 o percentual foi de 4,49%. Mesmo diante davalorização cambial no período, o desempenho exportadorda cadeia como um todo foi positivo, indicando que ascausas para esse bom desempenho estão além de umasimples explicação de equilíbrio macroeconômico, focadona taxa cambial como variável independente.

No ramo da madeira, o Brasil é predominantementeexportador (saldo superior a US$ 16,76 bilhões de 2000a 2007), principalmente para EUA (42,53%), Reino Unido(6,35%), França (5,06%), China (4,47%) e Bélgica (4,04%).

-100

-50

0

50

100

150

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Madeira Máquinas para madeira Móveis

Gráfico 11

(%)

Taxa da evolução do saldo da balança comercial da cadeia da madeira do Brasil — 2000-07

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados . Dis- ponível em: <http//everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via Acriweb).

Legenda:

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146 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

de 2000 a 2007, 40,49% provieram da Alemanha,principal exportador desse tipo de bem de capital para oBrasil, seguida de Itália (23,72%), Finlândia (9,15%), EUA(6,14%) e Suécia (3,22%).

O ramo definido como móveis de madeira podeser considerado o elo mais dinâmico da cadeia. Seudesempenho foi análogo ao do ramo madeira . Asexportações brasileiras de móveis superaram asimportações em todo o período, verificando-se um saldoacumulado de mais de US$ 5 bilhões de 2000 a 2007.Nesse período, as importações foram muito inferioresàs exportações, correspondendo a 0,83% destas. Osprincipais importadores de móveis brasileiros no períodoforam os EUA, 36,43% do total, a França (11,88%), oReino Unido (8,60%), os Países Baixos (4,62%) e aAlemanha (4,41%). A maior organização institucional

desse ramo de atividade e os investimentos em designe aperfeiçoamento dos produtos figuram comoimportantes fatores de sustentação das exportações aolongo do período.

Pode-se perceber, dessa forma, que o desempenhoexportador da cadeia produtiva da madeira no Brasil estárelacionado, por um lado, a mudanças institucionaisglobais, notadamente em termos de restrições regulatóriasde caráter ambiental, e a uma crise conjuntural em espe-cial — a do mercado imobiliário norte-americano —, queinfluenciou a reconfiguração do destino das exportaçõesde produtos de madeira. Por outro lado, esse desempenhoda balança comercial reflete o resultado das estratégiasadotadas por parte da indústria nacional, de adaptaçãoàs demandas dos novos padrões de consumo e deinserção em novos mercados consumidores.

Apêndice Tabela A.1

Evolução das exportações de madeira, segundo os principais países de destino, do Brasil — 2000-07

(US$ bilhões FOB)

PAÍSES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 TOTAL

EUA ....................... 0,49 0,55 0,74 0,90 1,47 1,50 1,47 1,12 8,25 Reino Unido ........... 0,14 0,12 0,14 0,14 0,20 0,16 0,17 0,18 1,23 França ................... 0,08 0,07 0,06 0,08 0,12 0,14 0,17 0,25 0,98 China ..................... 0,03 0,05 0,08 0,12 0,14 0,15 0,17 0,13 0,87 Bélgica ................. 0,06 0,06 0,06 0,08 0,13 0,11 0,12 0,17 0,78 Outros (1) ............... 0,68 0,65 0,68 0,76 0,99 0,98 1,06 1,48 7,28 TOTAL .................. 1,48 1,49 1,77 2,08 3,04 3,03 3,16 3,34 19,39

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados . Disponível em: <http://everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via ACRIWEB).

NOTA: O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. (1) Corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

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147Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

Tabela A.3

Evolução das exportações de máquinas para madeira, segundo os principais países de destino, do Brasil — 2000-07

(US$ FOB) PAÍSES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 TOTAL

EUA .............. 3 955 727 2 692 988 4 205 068 3 999 670 5 123 583 4 618 961 3 485 259 8 348 450 36 429 706 Chile .............. 409 575 457 237 2 545 438 1 053 536 1 969 471 3 314 546 7 583 820 1 815 096 19 148 719 Argentina ...... 1 572 586 1 679 924 1 407 054 1 587 160 2 046 136 2 578 794 1 655 543 1 806 389 14 333 586 Itália .............. 183 986 1 446 213 2 130 901 695 600 1 470 032 1 739 202 2 332 124 2 639 070 12 637 128 México .......... 1 194 531 649 398 1 165 040 1 593 073 2 990 500 1 408 223 1 057 683 1 300 851 11 359 299 Outros (1) ...... 10 319 643 6 522 883 3 919 535 9 314 168 8 595 254 15 775 256 23 160 102 34 247 392 111 854 233 TOTAL .......... 17 636 048 13 448 643 15 373 036 18 243 207 22 194 976 29 434 982 39 274 531 50 157 248 205 762 671

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados. Disponível em: <http://everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via ACRIWEB). NOTA: O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. (1) Corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

Tabela A.2

Evolução das importações de madeira, segundo os principais países de origem, do Brasil — 2000-07

(US$ FOB) PAÍSES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 TOTAL

Argentina ........ 29 470 440 19 031 029 19 093 763 35 103 986 53 188 084 52 710 711 65 871 009 7 737 621 282 206 643 Paraguai ......... 7 211 753 8 696 021 6 045 518 3 706 629 4 768 323 6 681 662 10 309 575 8 876 018 56 295 499 EUA ................ 6 064 542 4 573 211 4 971 011 6 528 601 4 794 201 4 645 604 6 864 469 4 886 953 43 328 592 Itália ................ 4 083 413 3 653 085 3 501 262 2 366 339 1 889 298 1 889 725 2 950 712 3 622 498 23 956 332 Alemanha ....... 1 870 357 3 898 047 1 804 513 890 316 1 350 910 2 378 799 4 762 552 5 750 007 22 705 501 Outros (1) ....... 21 076 731 14 350 629 9 343 409 9 601 821 11 315 562 10 933 258 19 374 316 16 831 200 112 826 926 TOTAL ............ 69 777 236 54 202 022 44 759 476 58 197 692 77 306 378 79 239 759 110 132 633 47 704 297 541 319 493

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados. Disponível em: <http://everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via ACRIWEB).NOTA: O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. (1) Corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

Tabela A.4

Evolução das importações de máquinas para madeira, segundo os principais países de origem, do Brasil — 2000-07

(US$ FOB)

PAÍSES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 TOTAL

Alemanha.... 45 150 503 59 011 506 51 068 207 35 355 327 18 544 498 23 167 261 13 626 634 43 530 139 289 454 075 Itália .......... 21 800 283 21 973 013 17 362 047 24 368 824 16 474 842 16 060 088 16 897 341 34 647 733 169 584 171 Finlândia ... 6 061 266 16 153 393 2 933 416 2 412 156 5 400 935 8 814 544 6 132 550 17 498 360 65 406 620 EUA .......... 10 379 527 6 674 071 7 070 105 4 600 882 5 225 025 4 141 668 2 888 668 2 888 086 43 868 032 Suécia ....... 5 813 250 10 333 845 229 668 960 165 3 505 664 178 835 153 895 1 806 397 22 981 719 Outros (1) 15 795 292 13 842 657 11 816 979 13 076 820 8 516 256 16 584 251 15 190 704 28 695 954 123 518 913 TOTAL ..... 105 000 121 127 988 485 90 480 422 80 774 174 57 667 220 68 946 647 54 889 792 129 066 669 714 813 530

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados. Disponível em: <http://everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via ACRIWEB). NOTA: O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. (1) Corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

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148 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

Tabela A.5

Evolução das exportações de móveis, segundo os principais países de destino, do Brasil — 2000-07

(US$ bilhões FOB) PAÍSES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 TOTAL

Estados Unidos ..................... 0,11 0,14 0,23 0,25 0,34 0,37 0,28 0,23 1,95 França ................................... 0,07 0,06 0,07 0,08 0,09 0,10 0,08 0,08 0,64 Reino Unido .......................... 0,04 0,04 0,04 0,06 0,08 0,06 0,07 0,07 0,46 Países Baixos (Holanda) ....... 0,03 0,02 0,03 0,03 0,04 0,03 0,03 0,03 0,25 Alemanha .............................. 0,04 0,02 0,02 0,03 0,04 0,03 0,03 0,03 0,24 Outros (1) .............................. 0,15 0,14 0,11 0,16 0,25 0,29 0,33 0,40 1,82 TOTAL .................................. 0,43 0,42 0,49 0,61 0,84 0,88 0,83 0,85 5,35

FONTE: SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR — SISCOMEX. Sistema de consulta de dados . Disponível em: <http://everest4.tecpar.br/sic/acriweb/>. Acesso em: 02 jan. 2008. (Consulta realizada à base de dados Siscomex via ACRIWEB). NOTA: O critério de ordenação dos cinco principais países é a média dos valores para o período. (1) Corresponde à agregação dos valores referentes aos demais países.

Tabela A.6

Evolução das importações de móveis, segundo os principais países de origem, do Brasil — 2000-07

(US$ FOB) PAÍSES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 TOTAL

Itália ................... 2 113 560 2 246 429 1 167 164 767 479 666 997 942 089 565 552 922 779 9 392 049 Espanha ............. 525 498 726 493 780 452 879 940 122 840 801 926 1 722 591 1 038 658 6 598 398 EUA .................... 2 353 155 999 114 654 876 164 890 757 399 677 053 348 827 212 802 6 168 116 China .................. 152 924 142 010 85 442 70 030 270 392 440 044 822 200 2 577 376 4 560 418 Indonésia ........... 491 917 454 799 416 453 328 878 436 979 413 011 573 705 737 472 3 853 214 Outros (1) ........... 2 735 642 2 567 297 1 606 237 1 414 651 638 823 1 613 692 1 575 060 1 921 865 14 073 267 TOTAL ............... 8 372 696 7 136 142 4 710 624 3 625 868 2 893 430 4 887 815 5 607 935 7 410 952 44 645 462

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149Importações e exportações brasileiras da cadeia produtiva da madeira — 2000-07

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 35, n. 4, p. 125-150, 2008

150 Marcelo Francisco Melo; Dayani Cris de Aquino; Ruth M. Hofmann; Victor Pelaez

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151Um fundo soberano brasileiro: é o momento?

Um fundo soberano brasileiro: é o momento?*

Teresinha da Silva Bello** Economista da FEE

ResumoO texto tem por finalidade explicar o que são fundos de riqueza soberana(Sovereign Wealth Funds) e sua importância crescente no atual momentodo capitalismo mundial, bem como fazer algumas considerações sobre aconveniência, ou não, de o Brasil vir a criar um fundo soberano brasileiro.

Palavras-chave: fundos soberanos; reservas internacionais;

países emergentes.

AbstractThis text explains what are Sovereign Wealth Funds, their growingimportance in the current state of worldwide capitalism, and discussesthe pros and cons of creating a Brazilian Sovereign Wealth Fund.

Introdução

Nos últimos cinco anos, graças à excessiva liquidezinternacional, grande parte dos países emergentes saiudo sufoco cambial crônico no qual se encontrava desdeos anos 80. Com isso, muitas de suas dívidas foramquitadas, total ou parcialmente, em especial, comorganismos internacionais, como o Fundo MonetárioInternacional (FMI), por exemplo, e, até mesmo, foi-lhespossível acumular um volume recorde de reservasinternacionais. Junto com a liquidez internacional,coexistem uma volatilidade e uma mobilidade crescentesdos fluxos de capitais, o que tem feito da acumulaçãode reservas uma necessidade para aqueles países que,no passado, enfrentaram crises cambiais. Nesse grupo,

incluem-se vários países da América Latina, inclusive oBrasil. Este não só equacionou a questão desua dívida como, após quitar seus maiores compro-missos com os organismos internacionais, destacando--se o com o FMI, passou a acumular reservasem uma velocidade inédita na história econômicado País.

As reservas em moeda estrangeira tradicionalmenteforam aplicadas pelos países em ativos bastanteconservadores, principalmente em títulos do Tesouronorte-americano, devido à sua segurança e liquidez, que,por isso mesmo, apresentam uma baixa rentabili-dade. Mas países com reservas excedentes, quepodem, assim, correr maiores riscos, têm optado pelacriação de fundos soberanos com parte desses recursose com critérios menos rígidos de aplicação destesúltimos, permitindo-lhes auferir maiores ganhos e, aomesmo tempo, garantindo-lhes a manutenção dessesativos.

Desse modo, os fundos soberanos estão passando,cada vez mais intensamente, para o centro das atençõesdo mercado financeiro internacional.

* Artigo recebido em 24 jan. 2008.** E-mail: [email protected] A autora agradece às colegas Sonia Teruchkin e Beky Macadar

os comentários e sugestões apresentadas ao texto.

países emergentes.

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Os fundos soberanos

Os fundos soberanos, também conhecidos comoSovereign Wealth Funds (SWF) ou Fundos de RiquezaSoberana, surgiram a partir de uma situação em que asreservas internacionais de alguns países ultrapassaramo volume considerado necessário e suficiente para queestes enfrentassem choques e emergências financeirasexternas. São, pois, um patrimônio em moeda estrangeira,em geral aplicado fora do país. Administrados pororganismo estatal, geralmente são utilizados no apoio àprodução nacional ou em projetos internacionais deinteresse do governo que os detém.

Embora venham ganhando visibilidade nos últimosanos, os primeiros fundos soberanos surgiram na décadade 50, criados por países exportadores de petróleo (Kwait,em 1953). O segundo mais antigo teve origem em 1956,quando a administração da colônia britânica nas IlhasGilbert criou um fundo para investir os royalties damineração de fosfato. Se, até 1990, existiam 10 SWFs,hoje, esse número já passa dos 40, com mais de US$ 3trilhões em carteira. E a expectativa é a de que, nospróximos 10 anos, esse valor triplique (Carvalho, 2007).

Mesmo tendo seu crescimento deslanchado nosúltimos anos, para entender esse processo, é precisoremontar à globalização financeira dos últimos 30 anos,a qual foi acompanhada de crises profundas. No dizer deLacerda (2007, p. A-3):

A globalização financeira ancorada no dólarnorte-americano criou duas categoriasdistintas de países. Aqueles possuidores demoedas conversíveis, ou seja, aceitasinternacionalmente, e, de outro lado, o blocodos países não possuidores de moedasconversíveis, do qual fazemos parte.

Favorecidos pelo crescimento da economia mundial,que estimulou o aumento da demanda e dos preçosinternacionais, muitos dos países que haviam amargadoa crise cambial agora apresentavam superávits nos seusbalanços de pagamentos e aumento de suas reservas.E aqueles que não tiveram problemas de endividamentoexterno, como foi o caso da China, e que já contavamcom um volume razoável de reservas, viram estas seelevarem ainda mais.

Se, até há alguns anos atrás, os SWFs eramutilizados principalmente por países exportadores depetróleo, na última década, com o incremento daacumulação de reservas internacionais por parte dospaíses emergentes, houve uma intensificação dessetipo de fundo, contribuindo ainda mais para a expansãoda liquidez internacional. Os fundos soberanos não sóse multiplicaram como também ficaram mais agressivos

e diversificaram sua carteira de investimentos. Deixaramde comprar apenas títulos de países desenvolvidos epassaram a canalizar seus recursos para opções maisrentáveis, como a compra de imóveis, de ouro e de açõesde grandes companhias, dentre outras opções deaplicação dos seus recursos em moeda estrangeira.

De acordo com Loyola (2007), os fundos soberanos,seguindo a taxonomia do FMI, estariam assim classifi-cados:

a) fundos de estabilização - típicos de países ricosem recursos naturais que buscam evitar que osciclos favoráveis de receitas afetem a macroeco-nomia. Normalmente, são veículos para umaatuação contracíclica, poupando em época defartura para gastar em épocas de menorabundância;

b) fundos de poupança - o objetivo precípuo dessetipo de fundo é a transferência de riqueza entregerações, principalmente quando essa riquezase baseia em recursos não renováveis;

c) fundos de “investimento” - neste caso, a meta éapenas reduzir o custo de carregamento dasreservas internacionais, através da diversificaçãodas aplicações para categorias mais rentáveisde ativos;

d) fundos de desenvolvimento - servem paraalocação de recursos para projetos prioritários,como infra-estrutura;

e) fundos de reserva - para custeio futuro depassivos fiscais de longo prazo, como osrelativos à previdências social.

O caso clássico de SWFs é o das economiasexportadoras de commodities finitas, que são fortementedependentes dessas receitas. Os países árabes, porexemplo, desde os anos 50, investem no exterior suasreceitas com petróleo. Mas não são os únicos. Além dospaíses do Oriente Médio, outros, como a Noruega e aRússia, por exemplo, possuem fundos soberanosoriginados das exportações de petróleo e gás. Tambémo Chile e Botsuana, exportadores de cobre e diamante,respectivamente, possuem SWFs. Economiasavançadas, como a norte-americana, com um sofisticadoe eficiente sistema previdenciário, com fundos queprecisam diluir riscos e maximizar retornos, tambémpossuem fundos soberanos. Em outra categoria, estãoaqueles países com elevados superávits fiscais e nobalanço de pagamentos, como a China e a Coréia doSul, que têm investido seus recursos excedentes noexterior, em busca de melhor rentabilidade, especialmentepara suas reservas internacionais, que têm financiadoseu investimento direto no exterior.

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153Um fundo soberano brasileiro: é o momento?

Com um capital total de quase US$ 3 trilhões,superando os hedge funds (US$ 1,5 trilhão) e os fundosde private equity (US$ 1 trilhão) (Landim, 2007), os maisde 40 fundos soberanos já instituídos representam umaparcela substancial das reservas cambiais mundiais (detodos os países), estimadas em US$ 7 trilhões em 2007,das quais US$ 1,3 trilhão pertence à China; US$ 416bilhões, à Rússia; US$ 255 bilhões, à Coréia do Sul; eUS$ 230 bilhões, à Índia (Lacerda, 2007) — Quadro 1.

Para melhor avaliar o potencial dos fundossoberanos, basta comparar os quase US$ 3 trilhões dosSWFs com o montante de investimentos no PlanoMarshall, o plano de recuperação da Europa após aSegunda Guerra Mundial: em valores atuais, o PlanoMarshall equivaleria a US$ 100 bilhões. Já a ofertamundial de ações está avaliada em US$ 55 trilhões, e ostítulos chegam a um montante similar. Os fundossoberanos podem tornar-se os maiores compradoresdesses ativos, considerando-se que, incluída aapreciação do capital, o montante de recursos dos SWFspoderá atingir US$ 12 trilhões em 2015 (The world’s...,2007).

Até recentemente, a atuação dos fundos soberanosno mundo das finanças passava despercebida,concentrando-se nos títulos do Tesouro dos EstadosUnidos. Mas, à medida que aqueles têm se voltado paraa aquisição de bancos e grandes empresas, têm geradopreocupação nos países desenvolvidos (especialmentenos Estados Unidos e nos da Europa), receosos de queesses fundos busquem posições dominantes, ou, atémesmo, a propriedade total de empresas estratégicas.Isto porque, na visão desses países, esse controle deempresas pode ir além da lógica econômica e ter comoobjetivo o domínio de tecnologias em setores-chave, comoo de defesa, e a “estatização” de empresas privadasestratégicas de um determinado país por outro. Até porqueos SWFs, assim como os fundos de hedge, não sãoregulamentados. Não existe um organismo internacionalpara controlar suas operações e nem são obrigados adivulgar relatórios. A China e os países árabes são osque mais têm despertado os temores.1 A primeira, por

exemplo, aplica US$ 300 bilhões em ações, comparticipação em bancos e em empresas estratégicas,com o objetivo de garantir as matérias-primas necessáriaspara o seu crescimento econômico, como é o caso dosinvestimentos chineses na África, visando ao forneci-mento de combustíveis e minerais.

Complementarmente, dado o porte dos SWFs, otemor na Europa e nos Estados Unidos também é o deque os fundos soberanos, caso passem a atuar comojogadores no mercado financeiro mundial, possam setransformar em mais uma fonte de instabilidade nosistema. Afora o protecionismo comercial semprepraticado e raramente admitido pelos países maisdesenvolvidos, atualmente, parece estar em curso umprotecionismo no mercado de capitais. Em outubro de2007, o Grupo dos Sete pediu ao FMI que elaborasseum projeto de monitoramento dos SWFs, no qual seriadeterminado o que eles poderiam, ou não, comprar. Atéporque esses fundos, aproveitando-se da crise financeiraque ronda os Estados Unidos, pretendem investir maisno sistema financeiro internacional, especialmente embancos.2

Assim, paradoxalmente, as teorias preconizando aconveniência de abertura irrestrita da conta de capitalpor parte dos países em desenvolvimento, bem comoos benefícios trazidos pela aceitação incondicional dosinvestimentos diretos estrangeiros em seus territóriospor parte desses mesmos países, no momento, têm sidoabandonadas por aqueles que prescreviam a receita,levando a um contraste entre a doutrina e a prática nasnações mais avançadas.

É dentro desse quadro externo que, no Brasil, tem--se falado em também criar um fundo soberano.

1 “Duas tentativas de compra de empresas americanas nossetores de petróleo e de portos por parte de companhias estataisda China e dos Emirados Árabes fracassaram em 2005, levandoo governo americano a aprovar, neste ano, uma nova Lei deInvestimento Estrangeiro e Segurança Nacional.” (Romero,2007). “O governo alemão, por exemplo, teme que o fundo dogoverno russo compre o controle de vastas redes de petróleoe gás na Europa.” (Ming, 2007).

2 “O Citigroup e o banco de investimento Merrill Lynch estão emdiscussão para receber injeções adicionais de capital deinvestidores estrangeiros, principalmente governos [...] As duasinstituições foram duramente atingidas pelos problemas nomercado imobiliário americano, trocaram seus presidentes e járeceberam investimentos de fundos soberanos estrangeiros[...] Governos estrangeiros já investiram cerca de US$ 27 bilhõesno Merrill Lynch, no Citigroup, no UBS e no Morgan Stanley.”(Fundos..., 2008).

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O fundo brasileiroA idéia da criação de um fundo soberano brasileiro

vem tomando corpo, tendo em vista o elevado volumede reservas cambiais acumuladas pelo País nos últimosanos e a melhora na situação de sua dívida externa.

No final de 2000, as reservas internacionais doBrasil, no conceito de liquidez internacional, totalizavampouco mais de US$ 33 bilhões em valores correntes e,em dezembro de 2007, superavam a marca de US$ 180bilhões. Já sua dívida externa total (pública mais privada),acrescida dos empréstimos intercompanhia, que fechouo ano 2000 avaliada em aproximadamente US$ 236bilhões, ao final de 2007, girava em torno de US$ 243bilhões. Assim, a relação reservas/dívida externa, queera de cerca de 14% em dezembro de 2000, passou paraquase 74% em 2007, denotando uma grande melhoriana vulnerabilidade externa do País, conforme pode servisto na Tabela 1.

Embora tanto a origem dos recursos quanto oobjetivo do fundo soberano brasileiro ainda não estejam

bem esclarecidos, já é possível perceber que o SWFdo Brasil será menos ambicioso que os dos paísesemergentes que possuem fundos soberanos. De acordocom o Ministério da Fazenda, o fundo brasileiro não temcomo objetivo o controle acionário de empresasestrangeiras, embora deva investir em ativos estratégicose financeiros de interesse do Governo, e seu aporte inicialseria de US$ 10 bilhões.

Mas, antes de decidir sobre onde empregar osrecursos do fundo, é preciso um acordo sobre a origemde seus recursos. Depois de ser dito, inicialmente, queos recursos desse fundo sairiam das reservas, o Governovoltou atrás, afirmando que o dinheiro viria de captaçõesno exterior, por meio de emissões de títulos do TesouroNacional.3 Ou seja, o Tesouro compraria os dólares

Quadro 1 Os 12 maiores fundos de riqueza soberana do mundo — mar./07

PAÍSES FUNDOS ATIVOS ESTIMADOS

(US$ bilhões) INÍCIO

Emirados Árabes Unidos ADIA 875 1976

Cingapura GIC 330 1981

Arábia Saudita Saudi Arabian Funds of Various Types 300 …

Noruega Government Pension Fund – Global 300 1996

China

State Foreign Exchange Investment Corp + Central Huijin

300

2007

Cingapura Temasek Holdings 100 1974

Kuwait Kuwait Investment Authority 70 1953

Austrália Australian Future Fund 40 2004

Estados Unidos Permanent Fund Corporation 35 1976

Rússia Stabilisation Fund 32 2003

Brunei Brunei Investment Agency 30 1983

Coréia do Sul Korea Investment Corporation 20 2006

FONTE: THE WORLD’S most expensive club. The Economist , Londres, p. 79-80, 26 May 2007.

3 O plano original, cuja idéia foi lançada a público em outubro de2007, previa que o fundo tiraria seus recursos das reservasinternacionais, o que provocou uma controvérsia nos bastidoresdo Ministério da Fazenda e do Banco Central, pois estediscordava da idéia de se utilizarem as reservas.

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excedentes, que seriam transferidos para o fundo, emvez de irem para as reservas do Banco Central.4 Atéporque, segundo o Bacen, as reservas têm sua destina-ção prevista por lei e devem ser aplicadas em títulosseguros, de risco próximo a zero, como é o caso dospapéis emitidos pelo Tesouro norte-americano. Como seurisco é mínimo, sua remuneração também é baixa. ViaTesouro Nacional, os recursos seriam aplicados, maisagressivamente, em projetos de maior risco e menorliquidez, mas com retorno mais elevado. Para que essacaptação se tornasse mais barata, a idéia do Governoera de que o Tesouro só iniciaria o processo de captaçãoapós o Brasil já ter alcançado o “grau de investimento”(uma espécie de selo de bom pagador), o qual o Paísainda está esperando. Isto porque, a partir dessaclassificação, o custo de tomada de empréstimos noexterior pelo País deverá baratear expressivamente.

Assim como a fonte, o destino dos recursos dessefundo ainda é motivo de debate, mas a idéia mais difundidaé a de que esses sejam usados para financiar empresasbrasileiras no exterior5 ou para comprar títulos (debêntures)de empresas estrangeiras de primeira linha, isto é, bemadministradas e rentáveis. Os empresários nacionais queprecisassem de dinheiro para realizar novos projetospoderiam emitir papéis no exterior, que seriam compradospelo fundo. Também foi sugerido que o SWF brasileiropoderia adquirir papéis lançados no exterior pelo BNDES,com isso ajudando o Banco a financiar projetos de infra--estrutura na América do Sul.

Desse modo, levando-se em conta o tipo deaplicação que o Governo espera fazer com os recursos,caso fossem usadas as reservas, o Bacen estariadesempenhando funções de fomento, fora de sua naturezade autoridade monetária, ou seja, de defender a

moeda.Como as reservas administradas pelo Bacen nãopodem ser usadas para financiamento de despesapública, ainda que de boa qualidade, o fundo teria de seradministrado, por exemplo, ou pelo Ministério doDesenvolvimento, ou pelo da Fazenda.

Além disso, mesmo que fosse possível utilizar asreservas na capitalização do fundo, via mudança nalegislação, essas, ainda que em volume recorde,continuam insuficientes para cobrir os compromissos dadívida externa, como visto na Tabela 1. Se essas reservasfossem empregadas em aplicações de maior risco emenor liquidez, o Risco-País provavelmente dispararia,elevando o custo de captação externa. Caso parte dasreservas fosse colocada em um SWF e houvesse umaqueda nas exportações, devido a alguma crise econômicamundial, por exemplo, o País poderia ter necessidade deusar esses recursos rapidamente e estaria impossibilitado,em razão de sua aplicação no fundo. Esse não é o casodos países emergentes que possuem fundos soberanos,cujas reservas ultrapassam o valor de sua dívida externa.A China, por exemplo, tem reservas de US$ 1,3 trilhão euma dívida externa estimada em US$ 300 bilhões.

No Brasil, as reservas sequer cobrem o total dadívida externa, são um seguro e podem ser úteis não sópara pagar essa dívida, mas também para permitir aoPaís enfrentar colapsos como, por exemplo, umadesaceleração da economia mundial e a decorrentediminuição nos preços das commodities, que, nomomento, vêm dando sustentação à pauta exportadorabrasileira. Além disso, diante de uma crise mundial, ofluxo de capitais externo que para cá se dirige pode sereverter, exigindo o uso das reservas.

Por outro lado, se, para adquirir esses dólares, oTesouro tivesse de emitir títulos públicos no exterior, adívida externa pública cresceria na mesma proporção, oque exigiria também a compra de mais reservas, paraque a equivalência entre elas e a dívida se mantivesse.E, caso o Tesouro resolvesse comprar os dólaresprovenientes das exportações ou dos investimentosestrangeiros aqui realizados, ele precisaria de recursosorçamentários para fazê-lo, o que também é problemático.Ademais, ao adquirir esses dólares, o Tesouro estariaapropriando-se de valores que, se fossem adquiridos peloBacen, fariam parte do lastro garantidor da dívida.

O Governo, na pessoa do Ministro da Fazenda, temdito que os recursos seriam captados pelo Tesouro noexterior e repassados ao BNDES, que os emprestaria àsempresas brasileiras, ou a um importador estrangeiro parapagamento de uma exportação brasileira (Haddad, 2007).Entretanto o que não ficou claro é por que o BNDES

4 Outra idéia surgida — e que parece ter sido descartada depronto — foi a de se buscarem os recursos através da criaçãode um imposto de exportação assentado sobre a taxa cambial.“Sempre que a cotação do dólar ultrapassasse certo nível, aReceita Federal confiscaria o excedente e, com ele, obteria osrecursos para o fundo.” (Ming, 2007). Ou seja, com os recursosque excedessem o valor pré-fixado para o dólar (em reais), oGoverno compraria os dólares a serem utilizados no fundo. Talmedida só seria interessante no caso de o real estardesvalorizado. Como isso não ocorre no momento, pensar emconfisco cambial sobre as exportações, nos dias de hoje, seriapraticamente inadmissível.

5 De acordo com o Banco Central, ao final de 2006,o estoque decapitais brasileiros no exterior era de US$ 152 bilhões, assimdistribuídos: US$ 114 bilhões em investimentos diretos brasileirosno exterior, US$ 14 bilhões em investimentos em carteira, US$17 bilhões em depósitos e US$ 6 bilhões em outros (Bacen,2008).

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precisaria recorrer a esses dólares captados pelo Tesouro,quando ele próprio tem cacife para buscar recursos noexterior, sem necessidade de recorrer a intermediários,mediante o lançamento de títulos, o que já faz atualmente.

Outra questão a ser levantada diz respeito àutilização desse fundo para financiar, principalmente,empresas brasileiras no exterior. Nesse caso, mais doque aumentar a rentabilidade de suas reservas, comotem feito a maioria dos países com SWFs, o fundobrasileiro estaria atuando como um fundo de desenvolvi-mento para empresas nacionais.

Embora importante e até mesmo necessário, essetipo de aplicação em ativos (dívida ou ações) ligados aempresas nacionais não necessariamente protegeria oPaís contra uma reversão cíclica. Isto porque, apesar deo investimento direto estrangeiro (IDE) ser utilizado pelas

6 “Além do risco cambial, o IDE é utilizado como instrumento paramitigar riscos de outras naturezas: (i) permite diversificarmercados e reduzir a exposição ao risco de flutuações nademanda, em função de fatores macroeconômicos; (ii) facilita aentrada em mercados verticalmente relacionados, reduzindo aexposição à flutuação de margens numa mesma cadeia deprodução; (iii) facilita a diversificação da produção, reduzindo aexposição ao risco de flutuação dos preços de commodities; e(iv) permite reduzir a exposição a riscos políticos, reduzindo,assim, o custo de acesso a capital.” (Fleury; Fleury, 2007, p.138).

156 Teresinha da Silva Bello

empresas como um instrumento de minimização deriscos,6 caso a matriz brasileira viesse a enfrentarproblemas decorrentes de dificuldades na economiabrasileira, eles poderiam estender-se às filiais no exterior,ou estas poderiam ser solicitadas a socorrer a matriz.Nesse caso, estariam movendo-se em linha com osfundamentos brasileiros. Ou seja, a empresa brasileirano exterior poderia acompanhar o mau comportamentoda economia brasileira. Assim, no dizer de Schwartsman,“[...] equivale a guardar os ovos em duas cestas e umadentro da outra” (Schwartsman, 2007).

Assim, se o objetivo fosse apenas melhor remunerarsuas reservas, deveria, como aconselham todos osmanuais de aplicação financeira, evitar a concentraçãode riscos geográfica ou setorialmente.

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Tabela 1 Reservas cambiais e dívida externa brasileira — 2000-07

ANOS RESERVAS

INTERNACIONAIS (US$ milhões)

DÍVIDA EXTERNA TOTAL MAIS EMPRÉSTIMOS INTERCOMPANHIAS

(US$ milhões)

RESERVAS/DÍVIDA (%)

2000 33 011 236 157 13,98 2001 35 866 226 067 15,87 2002 37 823 227 689 16,61 2003 49 296 235 414 20,94 2004 52 935 220 181 24,04 2005 53 799 187 987 28,62 2006 85 839 199 372 43,05 2007 180 334 243 871 73,95

FONTE: Banco Central do Brasil.

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Conclusão

A polêmica ultrapassa as questões burocráticassobre quem e como se deve administrar o fundo. Mesmovivendo um bom momento, tanto interno quanto externo,a economia brasileira ainda não está pronta para a criaçãode um SWF, visto não dispor das condições necessáriaspara tanto. O Brasil vive uma situação diferente da dospaíses emergentes que criaram fundos soberanos a partirdo excesso de divisas em moeda estrangeira. Ao contráriodesses, com excesso de recursos em caixa, o País teriade buscar esses recursos comprando dólares nomercado. Criaria um fundo com aumento da dívida e nãocom sobra de recursos, motivação principal dosurgimento dos fundos soberanos. Mais do quediversificar a aplicação das reservas, o fundo brasileiroestaria voltado à assistência a empresas nacionais quese deslocam para o exterior.

Embora importante e necessária — tanto é assimque praticamente todos os países com excedentescambiais têm fundos soberanos —, a criação de umdestes pelo Brasil parece prematura. Caso o SWFbrasileiro, se criado, esteja mesmo voltado aos interessesdas empresas brasileiras no exterior, o grau de exposiçãoa riscos dos recursos desse fundo poderá ser maior doque se houvesse uma diversificação de suas aplicações.Porém, no momento atual, a espera pela concessão do“grau de investimento” deve retardar a criação desse fundopelo Brasil. Mais que isso, essa modalidade de aplicaçãosó deveria ocorrer quando a relação reservas/dívidaexterna brasileira fosse bem maior que a unidade, demodo a não comprometer os recursos necessários aopagamento dos compromissos internacionais, evitando,desse modo, aumentar o grau de desconfiança doscredores da dívida externa do País.

Assim, parece que, mais uma vez, o Brasil vaiperder o bonde da história.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 33, n. 3, p. 163-174, dez. 2005

Concentração e especialização em setores industriais...

ORIENTAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE ARTIGOS

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3 - Devem ser apresentadas as palavras-c have do texto, no número máximo de três, em português e inglês.

4 - Os artigos devem vir acompanhados do nome completo do autor, de sua titulação acadêmica e do nome dasinstituições a que está vinculado, além do endereço para contato, do e-mail, do telefone ou do fax.

5 - Devem ser encaminhadas três cópias impressas dos artigos, com as páginas numeradas na margem superiordireita e não excedendo 25 laudas de 24 linhas, em espaço duplo, fonte Times New Roman, tamanho 12, incluin-do notas, bibliografia e outras referências. As cópias impressas devem vir acompanhadas do arquivo correspon-dente em MS-Word.

6 - As notas de rodapé devem conter apenas informações explicativas ou complementares e devem ser apresentadasem ordem seqüencial.

7 - As citações devem ser feitas no próprio texto, com a respectiva fonte: sobrenome do autor, ano de publicação enúmero da página entre parênteses (Vanin, 1980, p. 8). As citações em língua estrangeira devem vir traduzidas,ficando a critério do autor a publicação do original em nota de rodapé.

8 - As referências bibliográficas devem conter o nome completo do autor, o título da obra, o local e a data de publi-cação, o nome do editor e o número de páginas, enquadrando-se em uma das situações a seguir referidas:

a) livr o - POCHMANN, Márcio. O emprego na globalização: A nova internacionalização do trabalho e os cami-a) livr o - nhos que o Brasil escolheu. São Paulo: Boitempo, 2001. 151p. CASTRO, Antônio B. de; SOUZA, Francisco E. P. de. A economia brasileira em mar cha forçada . 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1985. 217p.

b) capítulo ou ar tigo de livr o - MIRANDA, José Carlos da Rocha. Dinâmica financeira e política macroeconô-b) capítulo ou ar tigo de livr o mica. In: TAVARES, M. C.; FIORI, J. L. (Org.). Poder e dinheir o: uma economiab) capítulo ou ar tigo de livr o - política da globalização. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 243-275.c) periódico - CONJUNTURA ECONÔMICA. Rio de Janeiro: FGV, n. 12, dez. 2000.

d) artigo de periódico - BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. O declínio de Bretton Woods e a emergência dos mercados "globalizados". Economia e Sociedade , Campinas, n. 4, p. 1-20, 1997. PARTICIPAÇÃO do Brasil nos investimentos diretos mundiais. Carta da SOBEET , São Paulo, v. 1, n. 4, set./out. 1997.

e) artigo de jornal - SALGUEIRO, Sônia. Autopeças brasileiras conquistam mercado externo. Gazeta Mercan-e) artigos de jorn is til , São Paulo, p. A-4, 6-8 mar. 2000.e) artigos de joris - PARTICIPAÇÃO de salários no PIB cai para 38%. Folha de São P aulo , São Paulo, p. 2-5, 12 dez. 1997.

f) informação ou texto obtidos pela internet - livro eletrônico (monografia)DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam informática,1988. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlDLPO>. Acessoem: 8 mar. 1999.periódico eletrônico (revista, anuário, etc.)-

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9 - As tabelas e os gráficos apresentados no artigo devem ser numerados e apresentar título e fonte completos. Os gráficos devem ser gerados no MS-Excel, com formatação em preto e branco. O arquivo do MS-Excel deve ser encaminhado à revista Indicadores Econômicos FEE contendo as tabelas dos dados vinculadas aos gráfi- cos gerados.

10 - Os artigos encaminhados à revista Indicadores Econômicos FEE serão submetidos à apreciação do Conse- lho de Redação, sendo os autores informados da aceitação ou recusa de seus trabalhos.

11 - Em se tratando de artigos aprovados, o Conselho de Redação reserva-se o direito de introduzir as modifica- ções editoriais que julgar convenientes.

12 - O envio espontâneo de qualquer colaboração implica, automaticamente, a cessão integral dos direitos autorais à FEE.

13 - Toda correspondência deverá ser enviada à:

Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel HeuserRevista Indicadores Econômicos FEERua Duque de Caxias, 1691CEP 90010-283 — Porto Alegre — RSE-mail: [email protected]: (0XX51) 3216-9132Fax: (0XX51) 3216-9134

BOLETIM INFORMATIVO DE PESSOAL. Porto Alegre: Secreta-ria da Fazenda-RS, n. 31, jul. 2001. Disponível em:<http://www.sefaz.rs.gov.br>. Acesso em: 14 dez. 2001.artigo de periódico em meio eletrônicoO IED no Brasil e no mundo: principais tendências. Sinopse Econô-mica . Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/sinopse/poleco.htm>.Acesso em: 21 mar. 2000.banco de dadosIBGE-SIDRA. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>.Acesso em: mar. 2001.home page institucionalBRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Disponívelem: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 22 mar. 2004.

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Concentração e especialização em setores industriais...

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Super visão: Valesca Casa Nova Nonnig. Secretária: Vera Lúcia Dalberto. Expedição: Lisete Maria Girotto.RevisãoCoordenação: Roselane Vial.Revisores: Breno Camargo Serafini, Rosa Maria Gomes da Fonseca, Sidonia Therezinha Hahn Calvete e Susana Kerschner.EditoriaCoordenação: Cirei Pereira da Silveira.Composição, diagramação e arte final: Denize Maria Maciel, Ieda Terezinha Koch Leal e Rejane Maria Bondanza Lopes.Conferência: Lourdes Teresinha dos Santos, Rejane Schimitt Hübner e Vera Sonia Silva Castro.Impressão: Cassiano Osvaldo Machado Vargas e Luiz Carlos da Silva.Capa: Ezequiel Dias de Oliveira.

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