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SECRETARIA DA COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTO ISSN 0103-3905 FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser A revista Indicadores Econômicos FEE é uma publicação trimestral da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser que divulga análises socioeconômicas de caráter conjuntural no âmbito das economias gaúcha, nacional e internacional. EDITOR Octavio Augusto Camargo Conceição SECRETÁRIA EXECUTIVA Lilia Pereira Sá Trimestral CONSELHO DE REDAÇÃO Octavio Augusto Camargo Conceição Adalberto Alves Maia Neto André Luis Forti Scherer Jéferson Daniel de Matos Maria Lucrécia Calandro Teresinha da Silva Bello CONSELHO EDITORIAL Octavio Augusto Camargo Conceição Álvaro Antônio Louzada Garcia Maria Aparecida Grendene de Souza Pedro Cezar Dutra Fonseca Otília Beatriz K. Carrion Dercio Garcia Munhoz Leda Paulani Maurício Coutinho Luiz G. Belluzzo Indic. Econ. FEE Porto Alegre v. 34 n. 3 p. 1-170 2006

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SECRETARIA DA COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTO ISSN 0103-3905FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser

A revista Indicadores Econômicos FEE é uma publicação trimestral da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser que divulga análisessocioeconômicas de caráter conjuntural no âmbito das economias gaúcha, nacional e internacional.

EDITOROctavio Augusto Camargo Conceição

SECRETÁRIA EXECUTIVALilia Pereira Sá

Trimestral

CONSELHO DE REDAÇÃOOctavio Augusto Camargo ConceiçãoAdalberto Alves Maia NetoAndré Luis Forti SchererJéferson Daniel de MatosMaria Lucrécia CalandroTeresinha da Silva Bello

CONSELHO EDITORIALOctavio Augusto Camargo ConceiçãoÁlvaro Antônio Louzada GarciaMaria Aparecida Grendene de SouzaPedro Cezar Dutra FonsecaOtília Beatriz K. CarrionDercio Garcia MunhozLeda PaulaniMaurício CoutinhoLuiz G. Belluzzo

Indic. Econ. FEE Porto Alegre v. 34 n. 3 p. 1-170 2006

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SECRETARIA DA COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTOFUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel HeuserCONSELHO DE PLANEJAMENTO: Antonio Carlos C. Fraquelli (Presidente), André Luis Campos, Ernesto Dornelles Saraiva, Leonardo Ely Schreiner, Nelson MachadoFagundes, Pedro Silveira Bandeira e Thômaz Nunnenkamp.CONSELHO CURADOR: Carla Giane Soares da Cunha, Flávio Pompermayer e Lauro Nestor Renck.DIRETORIA

PRESIDENTE: ANTONIO CARLOS C. FRAQUELLIDIRETOR TÉCNICO: ÁLVARO ANTÔNIO LOUZADA GARCIADIRETOR ADMINISTRATIVO: ANTONIO CESAR GARGIONI NERY

CENTROSESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS: Marinês Zandavali GrandoPESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO: Roberto da Silva WiltgenINFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS: Adalberto Alves Maia NetoINFORMÁTICA: Antônio Ricardo BeloEDITORAÇÃO: Valesca Casa Nova NonnigRECURSOS: Alfredo Crestani

Indicadores Econômicos FEE está indexada em:Ulrich's International Periodicals DirectoryÍndice Brasileiro de Bibliografia de Economia (IBBE)International Bibliography of The Social Sciences (IBSS)Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades (CLASE)Cambridge Science Abstracts (CSA)Hispanic American Periodicals Index (HAPI)

INDICADORES ECONÔMICOS FEE / Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser. — v. 16, n. 2 (1988) - . - Porto Alegre: FEE, 1988 - . - v.- Trimestral

Continuação de: Indicadores Econômicos RS, v. 16, n. 2, 1988. Índices: 1973-1988 em v. 17, n. 1; 1973-1990 em v. 19, n. 1; 1973-1992 em v. 21, n. 4; 1992-1994 em v. 23, n. 3.

ISSN 0103-3905

1. Economia - periódicos. 2. Estatística - periódicos. I. Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser. CDU 33(05) CDU 31(05)

Tiragem: 530 exemplares.

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores.

Toda correspondência para esta publicação deverá ser endereçada à: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser (FEE)Revista Indicadores Econômicos FEE - Secretaria

Rua Duque de Caxias, 1691 - Porto Alegre, RS — CEP 90010-283Fone: (51) 3216-9132 Fax: (51) 3225-0006E-mail: [email protected] Home Page: www.fee.rs.gov.br

Secretaria da Coordenação e Planejamento

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Sumário

A CONJUNTURA NO TRIMESTRE ..................................................................................................

Política econômica

Notas sobre o Governo Lula: ambigüidades e perplexidades — André Luís Forti Scherer e André LuísContri ...........................................................................................................................................

Remessas de lucros e dividendos de investimento estrangeiro direto (IED): determinantes e sustentabi-lidade — Martinho Roberto Lazzari ...............................................................................................

Análise setorial

AgropecuáriaAgricultura familiar: força revigorada — Elvin Maria Fauth ................................................................

IndústriaUma panorâmica do emprego industrial em 2005: instantâneos da PNAD e da RAIS — Maria Isabel H. daJornada ..........................................................................................................................................

Relações internacionaisAmpliação do Mercosul: a adesão da Venezuela — Sônia Unikowski Teruchkin ..............................

Mercado de trabalho

Mercado de trabalho na RMPA: queda do desemprego e da ocupação e leve recuperação dos rendimen-tos — Jéferson Daniel de Matos ....................................................................................................

Políticas públicas

A popularização da telefonia no RS — Renato Antonio Dal Maso .....................................................

Indicadores socioeconômicos

Taxa de câmbio efetiva real para o Rio Grande do Sul — 1996-05 — Eduardo Lamas ..............................

INDICADORES SELECIONADOS DO RS .........................................................................................

ARTIGOS DE CONJUNTURA ...........................................................................................................

Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil — André Moreira Cunha,Daniela Magalhães Prates e Marcos Tadeu Caputi Lélis ................................................................

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Pacote cambial: alguns aspectos da MP 315 — Teresinha da Silva Bello ........................................

Mudança nas estruturas de mercado da agricultura brasileira pós-abertura econômica da década de 90do século XX — Alberto Silva Dutra, Régis Rathmann e Marco Antonio Montoya ..........................

Evolução e perfil populacional da população residente nos aglomerados subnormais, na RegiãoMetropolitana de Porto Alegre — 1991-00 — Rosetta Mammarella ........................................................

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 7-14, dez. 2006

7Notas sobre o Governo Lula: ambigüidades e perplexidades

O primeiro mandato do Presidente Lula estáchegando ao seu final, e começa a se fazer necessáriauma reflexão sobre o significado político e econômicodesse período. Sem termos a pretensão de esgotar umtema sobre o qual se irão ocupar muitos autores até oprimeiro trimestre do próximo ano, propomo-nos a realizar,neste artigo, ainda sem todos os elementos disponíveis,uma primeira avaliação do Governo que possibilite lançarluz sobre as bases a partir das quais o País terá deavançar no período subseqüente.

Assim, na primeira parte do presente artigo, seráfeita uma apreciação do significado político do GovernoLula, a qual será, em um segundo momento,complementada por uma sucinta avaliação da políticaeconômica do período, a partir de sua conformação e deseus resultados.

1 O que representou o Governo Lula? A maestria do cálculo político

A análise política do Governo Lula inicia-se com asquestões que marcaram sua eleição em 2002 (quandonão nos remete às suas três tentativas frustradas dealcançar anteriormente o cargo). Além de sua lógicatemporal, essa forma de abordar o tema advém de umapauta habilmente introduzida tanto pela oposição comopelo Governo desde o início do mandato presidencial. Énecessário ter em mente que mostrar o Presidente Lula

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Notas sobre o Governo Lula: ambigüidadese perplexidades*

André Luís Forti Scherer** Economista da FEE e Professor do Departamento de Economia da PUCRS

André Luís Contri*** Economista da FEE e Professor do Departamento de Economia da PUCRS

* Artigo recebido em 1º nov. 2006.

** E-mail: [email protected]

*** E-mail: [email protected]

como alguém “responsável” era, naquele momento, dointeresse tanto da elite econômica identificada com aoposição quanto dos defensores do Governo. Dada essaconvergência de interesses, não é de estranhar asrepetidas menções à Carta ao Povo Brasileiro1, símboloda guinada lulista — e petista — rumo à confiabilidadepara os “mercados”, expressa especialmente napassagem do documento, assinado pelo então candidatoà Presidente, que afirma textualmente o compromissode “[...] preservar o superávit primário o quanto fornecessário para impedir que a dívida interna aumente”.

Para bom entendedor, o jogo, dessa parte, estavajogado desde aí, pois a necessidade de manutenção dejuros reais elevados era, por si só, evidente na péssimasituação em que se encontrava o País, sendo essacombinação a que garantiria — como de fato garantiu —a preservação dos ganhos de caráter rentista que marcama trajetória econômica brasileira após os anos 80.2

1 A Carta ao Povo Brasileiro, de 22 de junho de 2002, trata-se deum estratagema político para, em combinação com a elitefinanceira do País e do exterior, mostrar que o então candidatoLula e seu partido haviam definitivamente aceito as regrastotalitárias de condução da política econômica impostas peloconjunto de interesses e de interessados que formam o chamado“mercado financeiro” no Brasil. Sem entrar no mérito dadiscussão da existência de alternativas viáveis para aquelemomento, tratou-se, portanto, de uma rendição antecipada donovo governo ao status quo, que, valendo-se de uma crisefinanceira e de seu poder sobre as dívidas interna e externa,garantiu, junto ao novo governo, a preservação de políticas quecontinuassem a atender a seus interesses. É interessante notarque, apesar dos vagos apelos ao crescimento econômico nelaembutidos, a referida carta jamais se destinou ao “povobrasileiro”, tal como foi chamada, mas, sim, ao “mercadofinanceiro”, dado seu conteúdo (disponível emhttp://www.iisg.nl/collections/carta_ao_povo_brasileiro.pdf).

2 Uma quantificação desses ganhos rentistas, decorrentesprincipalmente do alto patamar no qual permaneceu a taxa dejuros, ao mesmo tempo em que se ressalta sua forte elevaçãono Governo Lula, pode ser visto em Bruno (s. d.).

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8 André Luís Forti Scherer; André Luís Contri

Politicamente, essa postura responde a outrocálculo, desta vez por parte do Presidente Lula, que semostraria, com o tempo, absolutamente correto. Uma vezdetendo quase o monopólio da identificação simbólicacom a “esquerda democrática” após três eleições perdidas,tendo, ao longo de duas décadas, praticamente acabadocom o “brizolismo” e tendo à sua esquerda apenas ospartidos abertamente revolucionários, o Presidente Lula,inspirado na experiência de sucesso eleitoral dasesquerdas européias3, não precisava fazer quasenenhuma concessão à esquerda brasileira, dado seuprojeto de minimização — e, até mesmo, de negação —dos conflitos de classe. A ela bastava, em geral, o fatode Lula ter ascendido ao poder. Com a honrosa ebarulhenta exceção da pequena dissidência que formouo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que,naturalmente, nasceu pequeno e sem condições deameaçar imediatamente o seu projeto de reeleição, Lulanão foi fustigado desse ponto de vista, destruindo, assim,a credibilidade e o potencial de transformação do principalpartido de esquerda brasileiro, o PT, cuja perspectivatransformadora foi reduzida praticamente a zero.

Ademais, com os sindicatos e os movimentossociais brasileiros atrelados, em grande parte, ao seupartido e dispondo dos recursos federais para viabili-zar em parte os projetos reclamados por essasorganizações — ao menos aqueles que não ameaçassemos interesses imediatos da burguesia nacional, comopolíticas de treinamento e assistência técnica aostrabalhadores do campo e da cidade, por exemplo —, oPresidente também teve sua atuação facilitada nessesegmento. Aqui, temos, provavelmente, o maissignificativo retrocesso da atuação do Governo Lula paraa consolidação da luta democrática no Brasil, uma vezque sindicatos e movimentos sociais se dividiram entreo apoio e a oposição às políticas governamentais, comimensas dificuldades para uma reorganização de suabase de apoio, agora bastante desencantada com apotencialidade transformadora da ação política.

Nesse contexto, com a aproximação das novaseleições e com o Governo seguindo uma política dointeresse da grande associação existente entre aburguesia nacional e a internacional, com a políticaeconômica sendo gerida pelos imensamente“responsáveis” Palocci e Meirelles, fica evidente que, para

a oposição tradicional, qualquer perspectiva eleitoralpassava pela necessidade de criação de fatos políticosque viessem “de fora” do sentido da condução mesmada política governamental. Essa era incriticável do pontode vista da elite nacional, prestando-se apenas àstradicionais e impotentes acusações de “incompetência”e “partidarização” da máquina pública, reclamações queocultam, de fato, que o Governo seguia exatamente oprojeto do agrado da oposição.4 Em outras palavras, oGoverno aplicou o projeto da oposição, sendo seu únicopecado, aos olhos desta, o fato de serem outros osexecutores da política — e da ocupação dos cargos e dotráfico de influências — que os partidos tradicionalmenteno poder, no País, gostariam, eles mesmos, de estaremrealizando.

Foi assim que surgiu, a calhar e com fortemediatização, o caso conhecido como “mensalão”, ouseja, o pagamento extraordinário de membros doCongresso Nacional para que votassem matérias deinteresse do Governo com dinheiro de “caixa 2” do Partidodos Trabalhadores. Esse foi o “elemento externo” quepermitiu dar conteúdo político a uma oposição perplexacom a atitude de um governo que executava o cerne deseu projeto ainda melhor do que ela seria capaz — eteria condições políticas — de realizar. No entanto, nemesse fato era original. Tratava-se, uma vez mais, de práticaque apenas ampliava e aperfeiçoava aquilo que ospartidos situacionistas tinham praticado durante seusgovernos e como modus operandi de suas campanhaseleitorais, o que diminuía o impacto político da“descoberta”. O “escândalo do mensalão” teve seu apelopolítico simbolicamente diminuído, por paradoxal quepareça, pelo fato de finalmente igualar o PT aos demaispartidos tradicionais no campo da ética, ou seja, o PTnão apenas executava a política da elite, como seutilizava dos mesmos métodos dela, o que oindiferenciava ainda mais dos partidos tradicionalmentesituacionistas, ao mesmo tempo em que diminuía oimpacto político do fato em si. De fato e de direito, o PTtornou-se, aos olhos da elite brasileira — e da parte “culta”da população, como preconceituosamente se

3 Podemos pensar, mais remotamente, em Miterrand na França e,mais recentemente, em Tony Blair na Inglaterra, embora esterealize, internamente, uma política bastante mais progressistado que aquela aplicada por Lula no Brasil, dadas as condiçõesestruturais daquele país.

4 A única área cuja dimensão política foi questionada pela oposiçãofoi a política externa. Esse foi o setor no qual o Governo imprimiuuma marca ligeiramente distinta da administração que oantecedeu, acentuando seu caráter “exportador-desenvol-vimentista” mesclado a um projeto para dar maior visibilidadeexterna ao País em fóruns multilaterais, sem, contudo, implicarguinadas bruscas, como se pode atestar pelo fato de uma dasprioridades ter sido sempre se mostrar como interlocutorindispensável e confiável para os norte-americanos nas questõeslatino-americanas.

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9Notas sobre o Governo Lula: ambigüidades e perplexidades

convencionou chamar a parcela que tem acesso aosjornais e às revistas semanais de informação —, umpartido como os demais e que utilizava, tanto quanto osoutros, os mesmos métodos para a manutenção do poder.

O leitmotiv da oposição estava, entretanto, dado,e, se não era substancialmente consistente, era, aomenos, algo que permitia encarar abertamente o combatecom alguma chance eleitoral. Ademais, suscitava aesperança de manter o Governo na defensiva, desde quenovos fatos viessem à tona. Isso ocorreu ao final doprimeiro turno, com a abortada compra de um dossierpor parte de petistas, já abalados em sua credibilidade,que prejudicaria a candidatura situacionista em São Paulo.Intensamente mediatizado, o novo elemento provocou aunião da elite nacional em torno da candidatura Alckmin,ainda que ao final do primeiro turno, mas revelou-seimpotente para mudar o rumo eleitoral.

Podemos identificar que, do ponto de vista daliderança do Presidente e de suas possibilidades políticaspara o futuro, sua estratégia foi extraordinariamente bem--sucedida. Em caso de vitória, ele teria assegurado areeleição — objetivo único —, mas mais uma vez semqualquer originalidade, dado que o Presidente FernandoHenrique Cardoso, no seu primeiro mandato, perseguiu amesma meta. Em caso de derrota, teria esfaceladoqualquer possibilidade de surgimento de uma força políticaameaçadora à sua esquerda. No campo dos derrotadosestão seu partido, o PT, cuja aura foi quebrada e a unidaderompida. Entretanto devemos notar que o derrotado nãofoi o PT da cúpula, apesar dos rearranjos no núcleo diretivodo partido que se vêm processando. Derrotada foi amilitância petista, fortemente ligada aos sindicatos e aosmovimentos sociais. Estes, por tabela, também saíramderrotados, pela estratégia extraordinariamente bem--sucedida, do ponto de vista pessoal, de Lula.

A vitória de Lula tem ao menos o mérito de permitirao Brasil, passados os quatro anos de seu próximomandato, “livrar-se” da ação política do Presidente, quetermina seu primeiro mandato “confiável” para a burguesiae com prestígio bastante elevado junto à parcela maispobre da população brasileira, mantendo-se, assim, comolíder “em símbolo” da esquerda brasileira.5 Lula poderá,em seu segundo mandato, acentuar qualquer uma das

duas faces. Temos, assim, um político que, ao marcarsua ação pela ambigüidade, conseguiu angariar perplexose envergonhados apoios à direita, sem permitir, até omomento, o surgimento de qualquer alternativa viável àesquerda.

2 A política econômica de Lula e seus resultados: um pouco melhor do que FHC, bastante pior do que o mundo

É sabido que o Governo Lula herdou uma situaçãoeconômica bastante difícil, dada a crise econômica quese abateu sobre o País, em 2002. Sua opção, entretanto,foi clara: não só não mudou em nada o núcleo da políticaeconômica anterior, como aprofundou muitos de seusaspectos mais discutíveis.

A partir de 1999, com a crise que resultou nadesvalorização do real, a política econômica do GovernoFHC articulou-se em torno de três eixos complementares:o regime de câmbio flexível, a política de metas para ainflação futura e o anúncio de metas mínimas para aobtenção de superávits primários nas contasconsolidadas dos governos e das empresas estatais. Achamada “âncora cambial” foi substituída por essaarticulação de políticas destinada simultaneamente aconter a inflação e a obter o equilíbrio externo.

Nesse conjunto de instrumentos, a taxa de jurospassa a ser, praticamente, a responsável solitária porcompatibilizar esses dois equilíbrios, o que faz com queela seja bastante resistente às quedas. Isso reforça suaimportância, mas introduz um elemento contraditório noarcabouço da política econômica: na medida em que essataxa tem de se manter elevada, a profundidade do ajustefiscal necessário para a manutenção da relação dívidainterna/PIB cresce. O aumento da carga tributária é,nesse contexto, praticamente a única forma de nãodesmoralizar a política econômica como um todo e garantira obtenção das metas fiscais.6 Tomada em conjunto emsuas interações, apenas a política cambial pode exercer5 Longe de nós, em qualquer momento, confundir a estratégia

política personalista do Presidente Lula, aliada à sua políticaeconômica pró-mercadista, com qualquer projeto consistenteque pudesse minimamente ser qualificado como representandoalgo “à esquerda” no espectro político. De fato, a eleição, desseponto de vista, foi efetivamente disputada, em seu segundoturno, por dois projetos distintos, mas marcadamente burguesese que não tocavam em nada na essência da luta de classes.

6 É nesse contexto que a elevação da carga tributária deve serentendida. A “gritaria” pela redução de impostos parecedesconsiderar que a elevação da carga tributária não é umacidente e tampouco incompetência, mas, antes, um princípioda atual política econômica.

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10 André Luís Forti Scherer; André Luís Contri

influência positiva no sentido do crescimento econômicoa partir do estímulo às exportações, com as políticasfiscal e monetária tendendo a influenciar negativamenteo consumo e o investimento, quer sejam estes públicosou privados. Por isso, trata-se uma política econômicaque privilegia a estabilidade, mas tem por conseqüênciaa manutenção da lentidão no crescimento da produção edo consumo. Esse arranjo consiste, assim, em verdadeira“macroeconomia da estagnação”.

No segundo mandato do Governo FernandoHenrique Cardoso, os resultados obtidos pelaimplementação dessa política foram, com boa vontade,medíocres. A existência de fatores de pressão externos,como a crise argentina e o atentado de 11 de setembrode 2001, bem como a recessão norte-americanasubseqüente e os abalos freqüentes por que passaramdiversos mercados financeiros, sem dúvida, trouxeramprejuízos a uma execução exitosa desse arcabouçomacroeconômico. Mas a combinação de baixíssimocrescimento econômico, elevação sem precedentes dacarga tributária e progressivo ajuste externo forçou umaforte ascensão da taxa de juros e impediu que melhoresresultados fossem alcançados. E, pior, ao final de 2002,nem mesmo a estabilidade dos preços estava garantida,os resultados obtidos ficaram sistematicamente acimadas metas programadas para a inflação, que registravauma trajetória crescente.

Essa política teve continuidade durante o GovernoLula, dessa vez com mais acerto, sem, contudo,conseguir lançar o País em um novo ciclo de crescimento,como prometido. A variável-chave para a compreensãoda política econômica seguiu sendo a taxa de juros, quese manteve, a despeito das quedas nominais por quepassou naquele ano, em níveis sempre superiores aosdois dígitos no período.

A novidade positiva veio com a consolidação doajuste externo, que permitiu, a partir da valorização docâmbio e do seu efeito positivo sobre a inflação, iniciarum ciclo recente de redução da taxa nominal de juros. Avalorização cambial, que se deu de forma mais intensaa partir de 2004, teve como suporte um ambientefinanceiro mundial marcado pela elevada liquidez — oque se traduziu em baixos juros internacionais e em umamenor aversão ao risco — e pelo aumento do preço dascommodities primárias, também a partir de 2004.7 Essesdois fatores, em conjunto com a elevada atratividade dos

7 A respeito dos motivos da valorização cambial e seus efeitos,ver Scherer e Contri (2006). Sobre o comportamento dos preçosdas commodities e, em particular, a importância da economiachinesa para esse desempenho, ver UNCTAD (2006).

papéis brasileiros, possibilitada pelos elevados jurosinternos em combinação com a estrita observância dasmetas fiscais, foram suficientes para consolidar aestabilidade externa, a partir da formação de elevadossuperávits comerciais e de inédita seqüência de saldospositivos em transações correntes.

Apesar da manutenção da política adotada após1999 e da ênfase dada à reestabilização dos preços em2003, seus resultados foram superiores aos do Governoanterior, corroborando o discurso político do Governo Lulade que fez mais do que o seu antecessor. No entanto, ataxa de investimentos, medida pela formação bruta decapital fixo (FBKF), continua bastante instável, semapresentar, até o momento, qualquer sinal de algo quepossa se assemelhar a um ciclo duradouro decrescimento. Sua importância na determinação dos ciclospelos quais vem passando a economia brasileira podeser claramente verificada no Gráfico 1. Tal comportamentodos investimentos parece apresentar pequena correlaçãocom as variações nas taxas de juros, sejam elasnominais, sejam reais. O que fica evidente nesta análiseé que, dados os elevados patamares dos juros no Brasil,os investimentos têm apresentado uma sensibilidademuito pequena às suas variações. E, faz-se mistersalientar, isso ocorre sem a presença de uma restriçãoexterna mais significativa e sem pressão inflacionáriasignificativa, ou seja, sem as pressões que marcaram operíodo anterior.

O elemento distintivo da política econômica doGoverno Lula esteve por conta de dois aspectos. Emprimeiro lugar, pela promoção de certa distribuição derenda, associada à implementação do Programa Bolsa--Família, bem como à posterior ampliação de suaabrangência. Em segundo lugar, pelo estímulo aoconsumo das famílias através do crédito consignado. Defato, observando-se o desempenho do consumo, verifica--se que, nos últimos três anos, o mesmo vemapresentando recorrentes taxas positivas de crescimento,ainda que modestas (Gráfico 2).

Assim sendo, a ambigüidade permanece tambémna política econômica. Por um lado, o Governo estimulauma tímida distribuição de renda através do ProgramaBolsa-Família, de fato, o seu maior cabo eleitoral. Poroutro lado, mantém uma política fiscal e uma políticamonetária “estagnacionistas”, que impedem umcrescimento mais elevado dos investimentos e,conseqüentemente, da renda.

Esse desempenho fica ainda mais evidente quandose compara o crescimento brasileiro com a média daeconomia mundial. Nesse caso, verifica-se que o primeiroesteve bem aquém do último (Gráfico 3). Enquanto o

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 7-14, dez. 2006

11Notas sobre o Governo Lula: ambigüidades e perplexidades

Brasil cresceu a uma taxa média anual de 2,6% nosúltimos 15 anos, a média mundial foi de 3,7%. Seconsiderarmos apenas os últimos sete anos, essadiferença fica ainda maior: 2,5% contra 4,1%. E, dada aelevação do crescimento da economia mundial nosúltimos três anos, podemos considerar, nessacomparação, o desempenho da economia brasileira comobastante aquém de sua potencialidade em um contextotão favorável.8

A grande vantagem — potencial ainda — doprocesso eleitoral para a economia brasileira reside nofato de que a temática do crescimento superou emimportância, pela primeira vez, a agenda da estabilidadedepois da redemocratização. Desde setembro de 2005,o Banco Central tem reduzido sistematicamente a taxade juros. Embora a justificativa apresentada seja a de

8 Ao ressaltar que, entre 2002 e 2005, as economias mundial,norte-americana, chinesa e brasileira cresceram,respectivamente, a taxas de 4,3%, 3,0%, 9,8% e 2,4%, Macedoe Silva mostram que, na continuidade dos anos 90, o eixodinâmico da economia mundial continua se deslocando emdireção ao Estados Unidos e à Ásia, em um processo que aindaestá a exigir uma mais aprofundada reflexão quanto aos seusefeitos para as demais economias periféricas (Silva, abr. 2006).

que a inflação tem estado sob controle e dentro das metasprojetadas, o fato é que diversos setores da sociedadetêm pressionado o Governo no sentido de reduzi-las,pressão esta que tem partido, inclusive, de diversosmembros do primeiro escalão do próprio Governo. Oargumento principal daqueles que defendem a reduçãoda taxa Selic é a necessidade da retomada da atividadeeconômica em taxas mais elevadas de crescimento dosinvestimentos e do próprio PIB, evitando, assim, aquiloque se desenha desde já como a “terceira década perdida”.

A questão central, no entanto, refere-se à taxa delongo prazo, a qual somente começou a ser reduzida apartir de janeiro do corrente ano. A política de reduçãodas taxas de juros parece ser uma condição necessária,mas não suficiente, para garantir a retomada docrescimento contínuo da economia brasileira.

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acumulada em 12 meses, no Brasil — 1993/06(%)

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 7-14, dez. 2006

12 André Luís Forti Scherer; André Luís Contri

FONTE: IBGE.FONTE: FMI.

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FONTE: IBGE.

Gráfico 2

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Brasil Mundo

Gráfico 3

Taxas anuais de crescimento do PIB das economias brasileira e mundial — 1992-05

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 7-14, dez. 2006

13Notas sobre o Governo Lula: ambigüidades e perplexidades

3 Considerações finais

Neste artigo, buscamos iniciar uma análise dosignificado político e econômico do Governo Lula.Salientamos a convergência existente entre asestratégias políticas e a política econômica adotada peloGoverno entre 2003 e 2006. A preservação dos ganhosrentistas em conjunto com a ênfase dada à estabilidadeinterna e externa casou perfeitamente com a estratégiapolítica de “governante responsável” desenvolvida peloPresidente Lula. A produção de ambigüidades e deperplexidades em aliados e opositores esteve no centrodessa dinâmica, sem dúvida bem-sucedida do ponto devista político.

Entretanto a retomada, no segundo turno, do temacrescimento como central mostra que, para um segundomandato, apenas a modificação de uma políticamacroeconômica que leva à estagnação da economiapoderá proporcionar os resultados prometidos. Desde aimplementação do Plano Real, o argumento apresentadoé que seria necessário o País encontrar uma estabilidademonetária, para, posteriormente, buscar o crescimentoeconômico. Para tanto, as elevadas taxas de jurostornaram-se o instrumento principal. O fato é que, comexceção de 2002, o País já vem convivendo com níveisrelativamente baixos de inflação e nem por isso temousado dar um passo adiante rumo ao crescimento.

Sem muita esperança, podemos desejar que essasmudanças necessárias se iniciem já em 2007, com aaceleração da queda nos juros e a possibilidade demaiores investimentos estatais, sem os quais estaremosinexoravelmente fadados à “terceira década perdida”.

Referências

BRUNO, Miguel. Rentier Share, financeirização eacumulação de capital produtivo no Brasil pós--liberalização: uma análise empírica das restriçõesmacroeconômicas ao crescimento sustentado. [Rio deJaneiro, s. d.]. (Trabalho apresentado no XI EncontroNacional de Economia Política; mimeo).

SCHERER, André Luís Forti; CONTRI, André Luís.Controvérsias sobre o “real forte” e seus efeitos.Indicadores Econômicos FEE, Porto Alegre, v. 34, n.1,p. 7-14, jul. 2006.

SILVA, Antônio Carlos Macedo e. A montanha em movi-mento: uma notícia sobre as transformações recentesda economia global. Política Econômica em Foco;Campinas, n. 7, nov. 2005/abr. 2006. Disponível em:http://www.eco.unicamp.br/aspscripts/boletim_cecon/Acesso em: 10 out. 2006.

UNCTAD. Trade and Development Report. Genebra,2006.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 7-14, dez. 2006

14 André Luís Forti Scherer; André Luís Contri

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 15-24, dez. 2006

15Remessas de lucros e dividendos de investimento estrangeiro direto (IED): determinantes e sustentabilidade

Introdução

Durante os oito primeiros meses de 2006, houveum aumento de 34,2% nas remessas de lucros edividendos de investimentos estrangeiros diretos1 emrelação ao mesmo período do ano anterior. Essecrescimento é ainda mais expressivo, quando seconsidera que, em 2005, o aumento da referida conta jáhavia sido de 67,1%. Os mais recentes Relatórios deInflação (2006, 2006a) do Banco Central (Bacen) mostramque as previsões sobre o superávit da conta correnteforam frustradas pelo aumento do déficit da conta quecontabiliza as remessas de lucros e dividendos.

Esse aumento do déficit da balança de serviços jáera esperado, uma vez que, ao longo da última década,a economia brasileira foi receptora de importantesinvestimentos de empresas transnacionais (ET), queforam atraídas pela estabilização de preços a partir doPlano Real, pelas perspectivas de aumento da demandainterna e pelas privatizações ocorridas, principalmente,na segunda metade dos anos 90. No entanto,determinantes de ordem conjuntural, como o aumentodos lucros das empresas e a apreciação cambial,parecem estar pesando mais na explicação para o recenteaumento das remessas.

Por outro lado, as condições de financiamento daconta de remessas não são das melhores. A associaçãoentre IED e geração de divisas não tem sido muitoimportante, ao mesmo tempo em que as entradas líquidasde IED diminuíram consideravelmente após o fim dasprivatizações.

Remessas de lucros e dividendos de investimento estrangeirodireto (IED): determinantes

e sustentabilidade*

Martinho Roberto Lazzari** Economista da FEE

* Artigo recebido em 10 out. 2006.

** O autor agradece as sugestões feitas ao texto pelos colegasPedro Almeida e Roberto Marcantonio, isentando-os, no entanto,de qualquer erro porventura remanescente.E-mail: [email protected]

1 Dada a extensão do nome, essa conta será, ao longo do texto,substituída ora por remessas de lucros e dividendos, orasimplesmente por conta de remessas.

Para atender ao objetivo principal deste artigo, queé analisar mais profundamente o resumido acima, o textodivide-se como segue. No item 1, são apresentados osdados da evolução das remessas totais de lucros edividendos, bem como a evolução por setores e porpaíses. No item 2, são analisados os determinantes daforte elevação que essa conta experimentou em 2005 e2006, chamando atenção para os fatores conjunturais.No item 3, apresenta-se uma discussão sobre ascondições de sustentabilidade dessa conta, destacandoo crescente comprometimento do saldo comercial comas remessas de lucros e dividendos e as condições deautofinanciamento das ET, no que diz respeito à suacapacidade de geração de divisas frente ao aumento dasremessas. Nas Considerações finais, evidenciam-se ospontos mais importantes do texto.

1 Dados gerais

O saldo brasileiro da conta de remessas de lucrose dividendos do balanço de pagamentos tem-se mostradoestruturalmente negativo ao longo do tempo, decorrêncianatural de ser o País um receptor líquido de investimentosestrangeiros diretos. No que se refere ao interesse desteartigo, segundo dados do Banco Central, o passivo líquidodo item participação no capital era de US$ 133,6 bilhõesem março de 2006, resultado de ativos brasileiros noexterior de US$ 59,8 bilhões e de ativos estrangeiros noPaís de US$ 193,4 bilhões.2

Quando se analisam os dados de remessas desde1995, percebe-se que, após a elevação que estasexperimentam em 1997 (Gráfico 1), iniciou-se um período,daquele ano até 2003, de certa estabilidade nos valores.Em 2004 e, principalmente, em 2005, o crescimento foiexcepcional, dobrando em apenas dois anos. Pode-se

2 Dados do Banco Central do Brasil. Totalizando-se todos os tiposde investimentos, o passivo líquido era de US$ 399,2 bilhões emmarço de 2006.

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16 Martinho Roberto Lazzari

notar, ainda, que 2005 representou um verdadeiro saltonas remessas, com um crescimento de 67,1% em relaçãoao ano anterior, alcançando US$ 9,8 bilhões, valor quase10 vezes maior que a média da década de 80.3

Nos primeiros meses de 2006, a SociedadeBrasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e daGlobalização Econômica (Sobeet) não esperava que ocrescimento de 2005 se repetisse em 2006. Assim, emfevereiro deste ano, análise da referida instituição indicavaque “[...] o cenário mais provável nos parece ser o deremessas ainda elevadas em 2006, [mas] próximas ao

3 Apenas para não deixar o número sem comparação, o valor dasexportações de 2005 é cinco vezes maior que a média dasexportações dos anos 80.

nível de 2005” (B. Sobeet, 2006, p. 2). Entretanto, atéagosto, a conta de remessas alcançou US$ 7,6 bilhões,34,2% maior que a do mesmo período do ano anterior,acima, portanto, das expectativas. Mesmo o BancoCentral teve suas previsões frustradas pelo aumento dasremessas que se verifica em 2006. Em várias de suasnotas mensais para a imprensa relativas ao setor externo,durante o ano, o Bacen informou valores para a conta deremessas maiores que os esperados pela instituição,resultando em superávits da conta corrente aquém doprevisto inicialmente.

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Gráfico 1

Remessas de lucros e dividendos do Brasil — 1995-ago./06

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

(US$ milhões)

Pode-se analisar a conta de remessas por setoresda economia. Tanto em todo o ano de 2005 como duranteos primeiros oito meses de 2006, o setor que remeteumais lucros e dividendos ao exterior foi o de intermediaçãofinanceira (Tabela 1). Em 2005, esse setor foi seguido deperto pelo de produtos alimentícios e bebidas, logo à

frente do de serviços prestados a empresas. Chamaatenção, nesse ano, os relativamente baixos valores dasremessas dos setores de correio e telecomunicações ede fabricação e montagem de veículos automotores. Oprimeiro foi o que mais recebeu investimentos estrangeirosdiretos durante os anos 90, em razão da privatização dosistema Telebrás, ocorrida no período. No entanto, tal setornão apresentou, em 2005, um fluxo de remessascondizente com seu expressivo estoque de IED. Omesmo vale para o segundo setor, talvez o mais maduroem atividade no Brasil, mas que não apresentou grandeslucros nesse ano.

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17Remessas de lucros e dividendos de investimento estrangeiro direto (IED): determinantes e sustentabilidade

Em 2006, as remessas do setor de intermediaçãofinanceira devem ultrapassar o valor já alto de 2005,apresentando-se tal setor novamente como o líder dasremessas, algo até certo ponto esperado, visto osvultosos investimentos estrangeiros que recebeu nosúltimos anos e dada sua expressiva taxa de lucro.O valor das remessas ligadas ao setor de fabricação emontagem de veículos automotores recuperou-se em2006, impulsionado pelo envio de recursos para asmatrizes em dificuldades (casos de GM e Ford

Tabela 1

Remessas de lucros e dividendos, por setores, do Brasil — 2005/06

SETORES E TOTAL JAN-AGO/05 (US$ milhões)

(A)

2005 (US$ milhões)

(B)

JAN-AGO/06 (US$ milhões)

(C)

VARIAÇÃO % C/A

Intermediação financeira .............................................. 560 1 200 1 085 93,8 Fabricação e montagem de veículos automotores (1) 351 498 894 154,7 Eletricidade, gás e água quente ................................... 226 337 809 258,0 Produtos químicos ....................................................... 383 648 564 47,3 Metalurgia básica (2) .................................................... 509 692 554 8,8 Serviços prestados a empresas.................................... 509 855 482 -5,3 Produtos alimentícios e bebidas .................................. 540 1 032 510 -5,6 Celulose, papel e produtos do papel ........................... 317 515 308 -2,8 Comércio ...................................................................... 425 692 294 -30,8 Correio e telecomunicações ......................................... 240 440 258 7,5 Outros .......................................................................... 1 624 2 874 1 872 15,3 TOTAL ......................................................................... 5 684 9 783 7 630 34,2

FONTE: Banco Central do Brasil. (1) Inclui indústria de peças automotivas. (2) Inclui siderurgia.

4 Segundo dados do Banco Central do Brasil, entre as remessasa partir de US$ 10,0 milhões, a parcela da indústria foi de 50,7%em 2005 e 50,9% em 2006, contra 43,8% e 46,5% dos serviçosrespectivamente. Os restantes couberam aos setoresagropecuária e de extrativa mineral.

♦ ♦ ♦

notadamente). Mas o maior crescimento coube ao setorde eletricidade, gás e água quente, que, até agosto, maisque dobrou as remessas dos 12 meses de 2005.

Ainda merece nota o fato de que, embora o setorde serviços tenha sido o que concentrou o recebimentodo IED dos últimos 10 anos, principalmente viaprivatizações, ele está atrás do segmento industrial emlucros e dividendos remetidos ao exterior, mesmo quepor pequena margem.4

Dentre os países receptores das remessas,destacam-se os Estados Unidos e a Espanha, não poracaso os dois que mais tiveram investimentos feitos apartir de empresas sediadas em seus territórios entre1996 e 2006. Em 2005, os Estados Unidos foram oprincipal destino das remessas brasileiras, representando25,0% do total (Tabela 2). Contribuiu decisivamente paraisso a Lei de Repatriação dos Estados Unidos (HomelandInvestment Act), vigente naquele ano, que concedeuincentivos fiscais (redução do ônus tributário dos usuais35,0% para 5,25%) às companhias norte-americanas querepatriassem lucros e dividendos de suas subsidiáriasno exterior (B. Sobeet, 2006). Tanto isso é verdade queas remessas aos Estados Unidos em 2006, até agosto,

são as únicas que apresentam redução em relação aomesmo período do ano anterior. A Espanha foi o segundodestino em 2005, afora os paraísos fiscais em conjunto,e está em primeiro lugar em 2006. As remessasassociadas a esse país são influenciadas grandementepelos enormes lucros do setor bancário, onde sedestacam os investimentos do Banco Santander.

A relação dos 10 principais destinos das remessasguarda grande semelhança com a relação dos paísesque mais investiram no Brasil, nos últimos anos. As

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 15-24, dez. 2006

18 Martinho Roberto Lazzari

únicas exceções são Bélgica e Portugal. A primeira nãoapresenta grandes investimentos no País, mas umaimportante fusão no setor alimentos e bebidas e apresença de uma empresa belga no setor eletricidade(exatamente o que mais aumentou suas remessas em2006) garantem o valor de US$ 390,0 milhões de lucros

e dividendos remetidos de janeiro a agosto de 2006.Quanto a Portugal, seus investimentos em setoresprivatizados, ao longo dos últimos anos, ainda não setransformaram em lucros a ponto de classificá-lo entreos 10 primeiros quanto ao destino das remessasbrasileiras.

2 Determinantes

Uma causa estrutural, o aumento do estoque deIED, e duas conjunturais, a elevação dos lucros das ETe a apreciação cambial, são, pode-se dizer, os principaisdeterminantes do crescimento recente das remessas delucros e dividendos ao exterior. Tais hipóteses estão deacordo com análises da Sobeet e do próprio BancoCentral.

Aumento do estoque de IED

O valor médio do estoque de IED, entre 2000 e 2003,era de US$ 101,3 bilhões. Em 2004, subiu para US$ 142,5bilhões e, ao final de 2005, já atingia a cifra de US$ 177,0bilhões. Os fluxos que alimentaram tal estoque seconcentraram nos anos posteriores a 1995, recentementeportanto. A maturação de tais investimentos não tardaria

a gerar lucros e dividendos para suas matrizes, fazendoaumentar a conta de remessas. Era esperado, porconseguinte, que o valor das remessas se elevasse aolongo do tempo, como resultado do crescimento doestoque de investimentos estrangeiros diretos no País.O que chama atenção é a quebra tendencial, observávelno Gráfico 1, que se deu no crescimento do valor dasremessas em 2005 e que prossegue em 2006. Oexpressivo crescimento nesses anos é mais queproporcional ao aumento do estoque de IED. O Gráfico 2mostra a razão entre o fluxo de remessas do ano t e oreferido estoque do ano t - 1. A média dos últimos cincoanos fica em 5,2%, em linha com taxas médias dealgumas outras economias emergentes, como asverificadas no Chile (8,0% de 1998 a 2004), na Rússia(5,3% de 2001 a 2005) e na Argentina (5,0% de 2003 a2004) (Relatório..., 2005, p. 74). A novidade é o flagrantecrescimento dessa razão em 2005, quando alcançouquase 7,0%.

Tabela 2

Remessas de lucros e dividendos, por países, do Brasil — 2005/06

PAÍSES E TOTAL JAN-AGO/05 (US$ milhões)

(A)

2005 (US$ milhões)

(B)

JAN-AGO/06 (US$ milhões)

(C)

VARIAÇÃO % C/A

Espanha ............................................. 676 1 316 1 111 64,3 Estados Unidos .................................. 1 426 2 483 1 096 -23,1 Holanda .............................................. 641 1 338 827 29,0 Paraísos fiscais (1) ............................. 724 993 834 15,2 Itália .................................................... 119 249 515 332,8 Suíça .................................................. 332 547 492 48,2 França ................................................ 325 543 456 40,3 Bélgica ................................................ 79 98 390 393,7 Alemanha ........................................... 318 452 358 12,6 Japão .................................................. 282 400 338 19,9 Outros ................................................. 762 1 364 1 213 59,2 TOTAL ............................................... 5 684 9 783 7 630 34,2

FONTE: Banco Central do Brasil.

(1) Luxemburgo, Ilhas Cayman, Ilhas Virgens, Bahamas, Bermudas, Uruguai e Panamá.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 15-24, dez. 2006

19Remessas de lucros e dividendos de investimento estrangeiro direto (IED): determinantes e sustentabilidade

Dito de outra forma, em 2005 e 2006, ocorre umcrescimento extraordinário das remessas, que não éexplicável pelo aumento natural do estoque de IED, umavez que a razão entre remessas e estoque se elevou.Essa inflexão na tendência de crescimento deve,portanto, ser explicada a partir da conjuntura, pois odeterminante estrutural (estoque de IED) não sofreu

5 O regime de bandas cambiais adotado pelo Banco Central teveinício em março de 1995 e durou até dezembro de 1998.

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Gráfico 2

Razão entre remessas de lucros e dividendos e estoque de IED do Brasil — 2001-05(%)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

alteração suficiente para afetar tão drasticamente o valordas remessas em tão curto período. Os fatoresconjunturais que acabaram por determinar que asempresas remetessem ao exterior um fluxo maior delucros e dividendos como proporção do estoque foram oaumento dos lucros das empresas e, principalmente, aapreciação cambial verificada no período recente.

Aumento do lucro dasempresas

Há indicações de que a lucratividade incidente sobreo crescente estoque se tenha elevado nos últimos anos.Evidências disso são os aumentos, em 2005, de 28,9%e 31,0% da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido(CSLL) e do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ)respectivamente. Entre janeiro e agosto de 2006, ocrescimento desses tributos, entretanto, diminuiu para8,8% e 14,6% respectivamente. O suposto menorcrescimento dos lucros em 2006 pode ser parte daexplicação para a também redução da taxa decrescimento das remessas neste ano.

Apreciação cambial

Sabe-se que uma apreciação cambial tem efeitodireto sobre a conta de remessas de lucros e dividendosao exterior, pois um real forte permite a compra de umvolume maior de dólares. O Gráfico 3 mostra ofuncionamento desse efeito, e também do seu inverso,na economia brasileira, durante os últimos 11 anos.

Entre o início de 1996 e dezembro de 1998 (fase Ido Gráfico 3), a taxa de câmbio real permaneceupraticamente estável ao longo do tempo. Nesse período,quando vigorava o regime de bandas cambiais5, asremessas apresentaram crescimento nos anos de 1997e 1998, possivelmente em conseqüência da elevação

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20 Martinho Roberto Lazzari

do estoque de IED, da evidência, cada vez mais forte,de que o real se encontrava apreciado e das crisesexternas do período. Merece destaque o forte crescimentodas remessas nos meses que antecederam a mudançado regime cambial no início de 1999. A depreciação quese seguiu (fase II do Gráfico 3) e que durou até dezembrode 20026 desestimulou o envio de lucros e dividendospor parte das ET aqui instaladas. Mesmo que o estoquede IED continuasse aumentando, o valor médio dasremessas manteve-se relativamente estável,apresentando apenas oscilações normais para esse tipode conta. A partir de janeiro de 2003, iniciou uma fase (aIII do Gráfico 3) de apreciação do real que prossegue atéos dias atuais. Nesse período, ocorre um movimentoinequívoco de aumento das remessas, evidenciando umaestreita relação entre as duas variáveis no períodorecente.

Além do efeito direto, a apreciação da taxa decâmbio parece ter contribuído com outros incentivos paraa elevação das remessas, marcadamente em 2005 e2006. O primeiro deles é de origem expectacional. Ahipótese é que os dirigentes das ET entenderam o períodode apreciação como uma janela de oportunidade eaumentaram as remessas. Isto porque esperavam que aapreciação não fosse sustentável, prevendo, para osmeses seguintes, depreciação da taxa de câmbio.Calculando a partir das séries históricas das expectativasde mercado do Banco Central, chega-se à conclusão deque, durante 2005, a expectativa média de depreciaçãoda taxa de câmbio era de 9,6% para os 12 meses àfrente. Essa expectativa pode, sim, portanto, terestimulado as ET a remeterem uma proporção maior deseus lucros ao longo do ano. Nos primeiros oito mesesde 2006, a expectativa média caiu para 4,6%, o que podeajudar a explicar a redução da taxa de crescimento dasremessas neste ano, na comparação com a taxa do anoanterior.

Por outro lado, mesmo que houvesse umadepreciação de 10,0%, a nova taxa de câmbio seria aindamuito baixa para estimular reinvestimentos de lucros deempresas exportadoras, já que a moeda nacionalapreciada é um grande desestímulo para suas decisõesde produção. Havia-se ensaiado um movimento deinvestimentos em plantas para exportação, notadamentenos setores alimentício e automotivo, mas o valor dodólar parece ter desestimulado tais operações. Parte doslucros que poderiam ser reinvestidos tomou o rumo das

matrizes ou de outros países mais atraentes do pontode vista das possibilidades competitivas.

6 Houve um período de apreciação entre novembro de 2001 eabril de 2002, mas que não se sustentou.

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21Remessas de lucros e dividendos de investimento estrangeiro direto (IED): determinantes e sustentabilidade

3 Sustentabilidade

Mesmo que condições conjunturais possam vir, nofuturo, a desincentivar o envio de lucros e dividendospara fora do País, a duradoura condição de receptorlíquido de investimento estrangeiro direto induz a pensarque o Brasil continuará a apresentar crescimento da contade remessas no longo prazo. A partir disso, é importanteanalisarem-se as condições de sustentabilidade dessasituação e sua influência sobre o balanço de pagamentos.Pode-se ver essa questão a partir de duas formas: aprimeira diz respeito ao desempenho da conta deremessas e sua influência sobre a conta corrente,enquanto a segunda analisa as condições definanciamento dos déficits a partir da entrada de IED edas estratégias das ET.

Deixando de lado a conta de transferênciasunilaterais, pode-se analisar o desempenho da conta detransações correntes (TC) do Brasil a partir dos resultadosda balança comercial (BC) e da balança de serviços erendas (BSR), presentes na Tabela 3. Em 2003 e 2004, osaldo positivo e crescente da TC é resultado de uma BCtambém positiva e crescente e de uma BSRrelativamente estável. Em 2005, o superávit das TCcontinuou a aumentar, mas sem a mesma intensidade,pois o resultado negativo da BSR começou a pesar,apresentando uma taxa de crescimento superior à daBC.7 Até agosto de 2006, o resultado da TC encolheu4,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Issose deveu a um crescimento de 10,0% do déficit da BSRe a um aumento de 4,8% no superávit da BC. Para tais

7 Nesse ano, o valor do déficit da balança de serviços e rendascresceu 35,4% contra 33,0% da balança comercial.

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250

Remessas (US$ milhões) Índice da taxa de câmbio efetiva real

Gráfico 3

Médias trimestrais das remessas de lucros e dividendos e do índice da taxa de câmbio efetiva real — jan./96-ago./06

(US$ milhões)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. IPEA.NOTA: Os índices têm como base jan./96 = 100.

Legenda:

0

Índice

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 15-24, dez. 2006

22 Martinho Roberto Lazzari

resultados da BSR, muito contribuíram os aumentosverificados nos valores da conta de remessas de lucrose dividendos, cujas taxas de crescimento já foramnotadas.8

Pode-se ver mais na Tabela 4: a razão entreremessas e saldo comercial, que era de 1,40 em 2001,caiu para 0,17 em 2004, principalmente em decorrênciado forte aumento do superávit comercial no período.Entretanto essa razão inverteu a tendência e cres-ceu em 2005 e 2006, expressando um maiorcomprometimento dos saldos comerciais com asremessas de lucros e dividendos. Os dados indicam que,de janeiro a agosto de 2006, o valor líquido das remessasconsumiu 26,0% do valor do saldo comercial, contra17,0% em 2004. É claro que a situação das contasexternas brasileiras ainda é muito confortável, mastambém é claro que a conta de remessas de lucros edividendos, nos últimos anos, vem comprometendoparcela cada vez maior dos saldos comerciais.

A partir de 1995, quando se deu o início da novaonda de entrada de IED no Brasil, vários economistasmostraram-se preocupados com o efeito da atividade dasET sobre as contas externas. Segundo a constataçãofeita em vários estudos, empresas com interesses emvários países trabalham com um volume de importaçõessobre a produção maior que empresas nacionais.9 Issoquer dizer que o aumento de IED leva ao crescimentodas importações, sem, necessariamente, elevar asexportações. Além disso, o investimento estrangeirodireto, reproduzindo-se no País, gera lucros e dividendos,que são remetidos à matriz no exterior. Essa necessidadede recursos em moeda estrangeira poderia sercontrabalançada pelo aumento das exportações ou pelasubstituição de importações por parte dessas empresas.Logo, em prazos mais alongados, a sustentabilidadedessa equação dependeria, em última instância, dacapacidade exportadora das ET, a qual é resultado daestratégia das referidas empresas num ambiente deincentivos, que dependem, em grande parte, da políticaeconômica.

O presente texto não tem por objetivo analisar todaessa relação, mas tão-somente observar alguns dadosúteis que auxiliem na compreensão do financiamento dasremessas de lucros e dividendos. O valor das remessasnão é um problema em si, desde que, por exemplo, elas

8 A importância da conta de remessas na balança de rendas eserviços vem aumentando ininterruptamente desde 2003. Nesseano, sua parcela era de 20,6%, crescendo para 31,5% no períodojan.-ago./06.

9 Ver De Negri e Laplane (2003).

sejam financiadas pela entrada contínua de novosinvestimentos estrangeiros ou pela expansão dasexportações. Sendo assim, é preocupante o casobrasileiro, pois a razão entre as remessas e as entradaslíquidas tem aumentado nos últimos anos, até atingir 75,1no período jan.-ago./06. Ou seja, o valor das remessasjá representa três quartos do valor das entradas líquidasde IED. Isso se deve muito mais à redução das entradasde novos investimentos do que ao aumento dasremessas, em parte esperado.

Como já analisado anteriormente, a apreciaçãocambial vem tanto incentivando o aumento de remessasquanto desincentivando novos investimentos em setoresexpor tadores, o que coloca em questão oautofinanciamento da expansão das ET em termos dedivisas. Além da questão cambial, o crescimentoeconômico, que deveria ser o principal atrativo aos novosinvestimentos após o fim das privatizações, não tem tidomagnitude capaz de influenciar muitos novos projetosde investimento.

A associação entre investimentos estrangeirosdiretos e geração de divisas não se tem mostrado muitoestreita no caso brasileiro. Isso se deve, simplesmente,pela preponderância de investimentos em serviços,sabidamente um setor de não comercializáveis. Entre1996 e 2000, o IED que entrou no País se concentroufortemente no setor de serviços (80,2%), atraído pelasprivatizações de empresas dos setores detelecomunicações, de eletricidade e financeiro. No mesmoperíodo, o setor industrial recebeu tão-somente 18,1%dos investimentos. Mesmo com o fim das entradas deinvestimentos atraídos pelas privatizações, o setor deserviços continuou a ser o destino da maior parte do IEDentre janeiro de 2001 e agosto de 2006. Nesse período,sua parcela média foi ainda de 54,3%, restando à indústria38,1% dos investimentos e 7,6% aos setores agrícola ede extrativa mineral. A relação entre IED e geração dedivisas ressente-se, ainda, do fato de ser reduzida aparticipação de investimentos industriais que possuamcomo estratégia dominante a produção para exportação.Esse aspecto se agravou com a apreciação cambial, jádescrita anteriormente.

Como é sabido, a política econômica em vigor temlevado a baixas taxas de crescimento econômico econtribuído para a valorização cambial. Ambasdesestimulam a entrada de novos investimentosestrangeiros, e a segunda dificulta a realização deinvestimentos voltados às exportações ou à substituiçãode importações por parte das ET. Assim, a políticaeconômica acaba por colaborar com a imposição de umambiente em que a expansão das transnacionais é

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23Remessas de lucros e dividendos de investimento estrangeiro direto (IED): determinantes e sustentabilidade

incapaz de autofinanciar-se em termos de geração dedivisas.

Por outro lado, o baixo crescimento econômico e aapreciação cambial estão incentivando as empresasnacionais a aumentarem seus investimentos no exterior.

De janeiro de 2004 até agosto de 2006, empresassediadas no Brasil investiram US$ 15,3 bilhões em paísesestrangeiros. O recebimento de lucros e dividendostambém aumentou em anos recentes. No mesmo período,as receitas somaram US$ 2,4 bilhões.

Tabela 3

Decomposição das contas de transações correntes do balanço de pagamentos no Brasil — 2003-ago./06

(US$ milhões)

CONTAS DE TRANSAÇÕES CORRENTES 2003 2004 2005 JAN-AGO/05 JAN-AGO/06

Transações correntes .................................... 4 063 11 669 14 193 8 628 8 225

Balança comercial ............................................ 24 825 33 693 44 748 28 319 29 684

Balança de serviços e rendas .......................... -23 628 -25 293 -34 113 -21 992 -24 188

Serviços ....................................................... -5 076 -4 773 -8 146 -5 013 -5 926

Rendas ........................................................ -18 552 -20 520 -25 967 -16 979 -18 263

Lucros e dividendos ............................... -4 836 -5 853 -9 783 -5 684 -7 630

Transferências unilaterais ................................ 2 867 3 268 3 558 2 301 2 729

FONTE: Banco Central do Brasil.

4 Considerações finais

Tratou-se, aqui, da análise da elevação recente dovalor da conta de remessas de lucros e dividendosassociados ao investimento estrangeiro direto no Brasil.Foram apontadas as suas principais causas e ascondições que podem influenciar sua sustentabilidadeno futuro. O aumento das remessas ao exterior não estásendo muito notado, em razão do ótimo estado em que

se encontram as contas externas nacionais. Mas,mesmo encobertos, os danos podem ser medidos, e é oque se tentou mostrar neste artigo. Viu-se que o déficitoriginado na conta de lucros e dividendos estáaumentando rapidamente sua importância na conta detransações correntes e que a sustentabilidade dessaconta pode ser um foco de preocupação no futuro, quandoas condições hoje vigentes na economia internacionaldeixarem de ser tão favoráveis.

Tabela 4

Remessas de lucros e dividendos, saldo comercial e entrada líquida de IED no Brasil — 2001-ago./06

PERÍODOS REMESSAS

(US$ milhões) (A)

SALDO COMERCIAL (US$ milhões)

(B)

ENTRADA LÍQUIDA DE IED (US$ milhões)

(C)

A/B (%)

A/C (%)

2001 3 702 2 650 22 457 1,40 16,5 2002 4 891 13 121 16 590 0,37 29,5 2003 4 836 24 794 10 144 0,20 47,7 2004 5 853 33 641 18 146 0,17 32,3 2005 9 783 44 748 15 066 0,22 64,9

Jan.-ago./06 7 630 29 684 10 155 0,26 75,1

FONTE: Banco Central do Brasil.

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24 Martinho Roberto Lazzari

Referências

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DE NEGRI, Fernanda; LAPLANE, Mariano. Impactos dasempresas estrangeiras sobre o comércio exteriorbrasileiro: evidências da década de 90. Brasília: IPEA,2003. (Texto para discussão, n. 1002).

FERNANDES, Adriana. Câmbio estimula remessas dedólar. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 21 abr. 2006.

INVERSIÓN extranjera en América Latina y el Caribe —2005, LA. Santiago: CEPAL, abr. 2006.

NAKAGAWA, Fernando. Saldo em conta corrente recuaem junho. Gazeta Mercantil, São Paulo, 21 jul. 2006.

NUNES, Vicente. Remessa de lucros bate recorde.Correio Braziliense, Brasília, 22 fev. 2006.

NUNES, Vicente. Remessas ao exterior crescem 42%.Correio Braziliense, Brasília, 18 ago. 2006.

RELATÓRIO de inflação Brasília: BACEN, 2005.Disponível em: http://www.bcb.gov.br Acesso em: 04 set.2006.

RELATÓRIO de inflação Brasília: BACEN, 2006.Disponível em: http://www.bcb.gov.br Acesso em: 04 set.2006.

RELATÓRIO de inflação Brasília: BACEN, 2006a.Disponível em: http://www.bcb.gov.br Acesso em: 04 set.2006.

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Agricultura familiar: força revigorada

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 25-34, dez. 2006

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Análise setorialAnálise setorialAnálise setorialAnálise setorialAnálise setorial

Agropecuária

Agricultura familiar: força revigorada*

Elvin Maria Fauth** Economista da FEE

Introdução

Cerca de 20% da população brasileira é rural, eestima-se em quatro milhões o número deestabelecimentos agrícolas familiares, o que representa85% do total de estabelecimentos agrícolas no País(dados elaborados e estimados a partir do CensoAgropecuário 1995/1996). Essas famílias de agricultorese novos produtores também familiares, oriundos deprojetos de reforma agrária, são o contingentepopulacional que tem feito parte de um rural diferentedesenhado para o Brasil a partir do final do séculopassado. Segundo dados do Programa Nacional deFortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), essesegmento produtor é responsável por 67% da produçãonacional de feijão, por 97% da do fumo, por 84% da damandioca, por 31% da do arroz, por 49% da do milho,por 52% da do leite, por 59% da de suínos, por 40% dade aves e ovos, por 25% da do café e por 32% daprodução nacional de soja.

Novas atividades econômicas são, no entanto, cadavez mais presentes na realidade do meio rural, como,por exemplo, turismo e lazer, artesanato, serviçosprofissionais especializados, etc. Ao mesmo tempo, aatividade agropecuária está mais dinâmica tanto peloaspecto tecnológico quanto em relação ao mercado,exigindo agricultores capazes de gerir comcompetitividade seus agronegócios. Já não é suficienteagregar valor à produção por meio de agroindústrias; épreciso verticalizá-la, tendo sempre uma visão deconjunto da economia.

O presente artigo tem por objetivo enfocar aimportância da agricultura familiar e das políticas públicasvoltadas para esse segmento nos últimos anos, emespecial o Pronaf. Primeiramente, são apresentadosalguns números que colocam em evidência essesegmento produtor tanto no Brasil como na Região Suldo País, para, logo em seguida, examinar a evoluçãodos financiamentos via Pronaf, principal programa definanciamento da agricultura familiar. Por fim, referencia--se o significado de novas políticas dirigidas para osagricultores familiares.

1 A agricultura familiar como uma importante forma de produzir

Antes de iniciar este artigo, é necessário esclarecero que se entende por agricultura familiar. A utilizaçãodesse conceito traz a vantagem de poderem ser excluídasquaisquer formas de organização produtiva apoiadas notrabalho assalariado. Esse termo não implica questõesrelacionadas à propriedade da terra e dos equipamentosou mesmo a questões sobre a administração ouorganização das atividades. Refere-se exclusivamenteàs formas de produção onde os agricultores gerenciamas atividades produtivas, utilizando o trabalho familiar.Aceita-se essa expressão como a que melhor se aplicaa uma diversidade característica do meio rural brasileiroe a que exclui seguramente as formas de produçãofundamentadas na separação entre o trabalho e apropriedade dos meios de produção, principalcaracterística da agricultura patronal.

* Artigo recebido em 11 out. 2006.

** A autora agradece as observações e sugestões das colegasMarinês Zandavali Grando e Maria Helena Antunes de Sampaio.

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Elvin Maria Fauth

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 25-34, dez. 2006

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A opção brasileira por uma estratégia dedesenvolvimento rural baseada na constituição degrandes fazendas e no trabalho assalariado (instituídano século XIX), que resultou nos conhecidos fluxosmigratórios campo—cidade das décadas de 60 e 70 doséculo XX, parece não ser mais a única e suprema formade desenvolvimento para o campo. Em anos maisrecentes, a agricultura familiar tem mostrado suaimportância na produção, em especial na de alimentos.Um exemplo elucidativo, extraído de análise recente sobrea agricultura familiar (Guilhoto, 2005), é a participaçãoestimada desse segmento e das cadeias produtivas aele interligadas em cerca de 30% do PIB agrícolabrasileiro, no período compreendido entre 1995 e 2003.Sendo de um terço essa participação, é bastantesignificativo, portanto, o peso do segmento da agriculturafamiliar na produção da riqueza gerada no campo. Note--se também que um grande contingente de famílias ruraistem viabilizado, por meio das atividades produtivasdesenvolvidas, a criação de oportunidades de trabalho ede renda, uma vez que a agricultura familiar é responsávelpor sete de cada 10 empregos gerados no campo.

A representatividade desse segmento ainda é maiorquando associado à noção de segurança alimentar, comofoi definida no relatório brasileiro à Cúpula Mundial deAlimentação, em 1996 (Brasil, 1996), cujo enfoque versaa respeito “[...] da garantia de acesso da população aalimentos básicos de qualidade e em quantidadessuficientes de modo permanente [...]”, o que pode implicarreflexos diretos nos volumes produzidos pela agriculturafamiliar. Esse tema, a propósito, virou lei, como se verámais adiante.

Apesar de quase dois séculos de predomínio daagricultura patronal, as vantagens de uma estratégia dedesenvolvimento via estímulo à agricultura familiar têmsido percebidas pela sociedade, visto que a forma deprodução mais privilegiada no Brasil tem empregadomenos trabalhadores e vem possibilitando, assim,concentração de renda e exclusão social. A título deilustração, um estudo comparativo sobre típicaslocalidades agrícolas nos EUA, realizado pela GeógrafaAnne Buttimer (Veiga, 1998), mostra que

[...] onde predominou a agricultura patronal,há poucas escolas, igrejas, clubes,associações, jornais, empresas e bancos.Nessas localidades, as condições demoradia são precárias, quase não existemequipamentos de lazer, e a delinqüênciainfanto-juvenil é alta, ao contrário do queocorre onde predominou a agricultura familiar.

No caso do Brasil, o alijamento de agricultores familiaresdos direitos políticos e de cidadania no decorrer do

processo de desenvolvimento, bem como o acessorestrito aos serviços, aos mercados, à infra-estrutura eàs políticas públicas, dificultou e até mesmo impediu oavanço desse segmento produtor.

Mais recentemente, a força da agricultura familiarnas atividades produtivas revela-se quando do confrontoentre o número de estabelecimentos familiares e o depatronais. Segundo informações contidas na Tabela 1,coletadas no âmbito de um projeto de cooperação técnicaFAO/Incra (1994), os estabelecimentos organizados combase familiar, no País, somam cerca de 85,2% do totalde estabelecimentos agrícolas. Na Região Sul, aparticipação da agricultura familiar no total de estabeleci-mentos agrícolas é maior, perfazendo 90,5%. Para asdemais regiões do Brasil,observa-se a mesma preponde-rância em relação aos estabelecimentos familiares, emcada uma delas. Ou seja, pode-se afirmar que essesegmento familiar se vem constituindo em uma dasformas predominantes de produção nas regiões do Paísonde há maior incidência de atividades agrícolasinterligadas em cadeias produtivas.

As outras variáveis da Tabela 1 que evidenciam aimportância do segmento familiar na produção agrícolasão a área dos estabelecimentos e o valor da produção.Quanto à área, observa-se que, para o Brasil, a participa-ção das áreas desse segmento beira os 30% do total dehectares utilizados na agropecuária. Os dados por regiãorevelam que a maior participação da agricultura familiarno total das áreas regionais é superior a 40% e se situanas Regiões Sul e Nordeste. Por sua vez, o valor brutoda produção (VBP) das atividades desenvolvidas pelosagricultores familiares é expressivo nas Regiões Norte eSul, onde são registrados 58,3% e 57,1%, respectiva-mente, do total do VBP de cada uma dessas regiões.Para o Brasil, esse percentual é de 37,9%.

Para o Rio Grande do Sul, um dos principais estadosprodutores de alimentos, um estudo proposto peloMinistério do Desenvolvimento Agrário e realizado pelaFundação Instituto de Pesquisas Econômicas daUniversidade de São Paulo (FIPE-USP) (Guilhoto, 2005)mostra que a agricultura familiar se tem revelado muitoimportante como geradora de riquezas e de oportunidadesde emprego, chegando a participar com cerca de um terçodo PIB gaúcho (dados para 2003). A média departicipação da agricultura familiar nesse PIB (23,5%),no período entre 1995 e 2003, é 2,5 vezes superior àmédia nacional (9,3%). A partir dessas evidências, pode--se dizer que a predominância desse segmento produtorno Estado se deve, principalmente, à política decolonização e imigração nacional, que oportunizou a vindade colonos alemães e italianos para o Rio Grande do

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Agricultura familiar: força revigorada

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 25-34, dez. 2006

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Sul, os quais contribuíram grandemente para aconstituição da agricultura em moldes familiares deprodução, distinguindo-o dos demais estados daFederação. Além do mais, não se pode deixar de

mencionar que boa parte do segmento da agriculturafamiliar no Estado ainda se encontra atrelado às indústriasa jusante.

Tabela 1

Número de estabelecimentos agrícolas familiares, área e Valor Bruto da Produção (VBP) e participação percentual nos totais de estabelecimentos, na área e no VBP

da agricultura, nas Regiões e no Brasil — 1995-96

REGIÕES E PAÍS

NÚMERO DE ESTABELECI- MENTOS

PERCENTUAL SOBRE O TOTAL DE ESTABELE- CIMENTOS

ÁREA TOTAL

(ha)

PERCENTUAL SOBRE A

ÁREA TOTAL

VBP (R$ 1 000)

PERCENTUAL SOBRE O VBP

TOTAL

Nordeste ............... 2 055 157 88,3 34 043 218 43,5 3 026 897 43

Centro-Oeste ........ 162 062 66,8 13 691 311 12,6 1 122 696 16,3

Norte ..................... 380 895 85,4 21 860 960 37,5 1 352 656 58,3

Sudeste ................ 633 620 75,3 18 744 730 29,2 4 039 483 24,4

Sul ........................ 907 635 90,5 19 428 230 43,8 8 575 993 57,1

Brasil ................... 4 139 369 85,2 107 768 450 30,5 18 117 725 37,9

FONTE: Mattei, Lauro. Impactos do Pronaf: análise de indicadores. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2005. p. 16. (Estudos Nead, n. 11). Disponível em: http://www.nead.org.br Acesso em: 15 ago. 2006.

2 A evolução do Pronaf

O desafio maior das políticas públicas agrícolastem sido o de combinar, simultaneamente, o aumento dadisponibilidade interna de alimentos e a geração de divisasvia exportações. Com relação ao mercado interno, oPronaf, instituído há 10 anos, tem, inegavelmente,contribuído para as condições reais de aumento dacapacidade produtiva, além de ter possibilitado aconquista de uma vida digna para os integrantes daagricultura familiar, quesitos fundamentais para odesenvolvimento rural sustentável. A articulação entreos diferentes instrumentos de apoio do Pronaf, comocrédito, garantia de preços e estímulos ao associativismo,e a possibilidade de ampliação do valor agregado pelosprodutores através de agroindústrias de pequeno e médioportes promoveram oportunidades à inserção produtivae à inclusão social. A idéia de alavancar odesenvolvimento sustentável através do fortalecimentoda agricultura familiar, ampliando e até criando novasatividades agrícolas e não agrícolas, tem, de fato,colaborado para que as famílias permaneçam ou se fixemno meio rural.

A instituição do Pronaf representou, de algumaforma, a legitimação desse “novo” segmento social atéentão excluído do acesso às políticas públicas. Em suacurta existência, as modificações operacionais ocorridasno Pronaf, a exemplo da diferenciação de categorias deprodutores segundo seus níveis de renda familiar,possibilitaram regras de financiamento mais adequadasà realidade desses segmentos sociais para efeito detomada de crédito, facilitando o acesso de produtorescom menores faixas de renda e com maiores dificuldadesprodutivas. A maior abrangência deste programa nocontexto nacional permitiu aumentos do número decontratos e do volume de recursos, basicamente a partirde 2003, como pode ser visto na Tabela 2.

As informações do Pronaf desagregadas porregiões do Brasil, por sua vez, mostram que a estruturaparticipativa do número de contratos e do volume derecursos sempre foi concentrada na Região Sul, apesarde esses números e valores apresentarem uma quedagradativa das participações após 2001. Embora ocorramalterações na estrutura do Pronaf a partir desse ano,principalmente quanto ao número de contratos para asduas regiões mais beneficiadas, nota-se a continuidadede liderança do Pronaf na Região Sul para os recursosdestinados aos financiamentos (Gráficos 1 e 2).

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Para o Rio Grande do Sul, os dados são ainda maisreveladores quanto à concentração do Pronaf. OsGráficos 3 e 4 mostram que, apesar de o crédito viaPronaf para o Estado apresentar uma média de 292 milcontratos por ano entre 1999 e 2005, o volume nominaldos recursos sempre se mostrou crescente,estabilizando somente no final do período. Nesseintervalo de tempo, os valores do Pronaf para o RSapresentaram um crescimento de 180%, enquanto ainflação medida pelo IGP-DI para o mesmo período foide 126%, o que demonstra acrés-cimos reais para omontante de recursos aplicados nas atividades daagricultura familiar gaúcha.

No entanto, a evolução da estrutura aponta umamudança importante no direcionamento dos recursosquanto às finalidades do crédito. A partir de 2001,os va-lores financiados voltaram-se mais para os investimen-tos agrícolas e menos para o custeio das lavouras(Gráfico 5).

De qualquer modo, o custeio agrícola sempre foi alinha de crédito mais financiada pelo Pronaf. E osprodutos que mais detêm recursos para esse fim são osapontados no Gráfico 6, onde observa-se uma acentuadaqueda da participação dos recursos direcionados para o

custeio do fumo desde 1999, enquanto os produtores demilho e soja passaram a obter aumentos expressivosna participação dos financiamentos de custeio para suaslavouras de 2001 em diante.

Contudo, nem mesmo a estabilização dos contratose dos valores para o Rio Grande do Sul nos últimos anosfez com que o Estado deixasse de participar com cercade metade dos recursos destinados à Região Sul doBrasil, enquanto, relativamente ao total do Pronaf no País,essa participação nunca foi menor que 20% em todo operíodo analisado.

Outro dado relevante para mostrar o papel do Pronafno Rio Grande do Sul é a distribuição do financiamentopara a agricultura familiar entre os 100 municípiosbrasileiros maiores tomadores de crédito, apresentadana pesquisa de Mattei (2005). O estudo revela que os 10primeiros municípios beneficiados pelo Pronaf sãogaúchos, detendo 23,3% do número de contratos e 18,5%dos valores de crédito entre os 100 maiores. Canguçu,Erechim, Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul são osmunicípios que detiveram, no período compreendido entre2001 e 2004, quase a metade dos recursos destinadosaos primeiros 10 municípios do ranking. Estes dados sãomostrados na Tabela 3.

Tabela 2

Número de contratos e valor do crédito rural do Pronaf no Brasil — 1999-05

ANOS NÚMERO DE CONTRATOS VALORES (R$)

1999 802 849 1 829 731 597,98

2000 969 727 2 188 635 003,31

2001 910 466 2 153 351 258,79

2002 953 247 2 404 850 769,99

2003 1 138 112 3 806 899 245,48

2004 1 611 463 5 761 475 996,11

2005 1 671 183 6 404 190 129,32

FONTE: Brasil. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Secretaria da Agricultura Familiar. Disponível em: http://smap.mda.gov.br/credito/anofiscal/anofiscal.asp. Acesso em: 26 set. 2006.

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Agricultura familiar: força revigorada

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0

10

20

30

40

50

60

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Centro-Oeste Norte Nordeste Sul Sudeste

(%)

Gráfico 1

Estrutura do número de contratos do crédito Pronaf por regiões do Brasil — 1999-05

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Secretaria da Agricultura Fami- liar. Disponível em: http://www.smap.mda.gov.br/credito/anofiscal/anofiscal.asp Acesso em: 26 set. 2006.

Legenda:

0

10

20

30

40

50

60

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Centro-Oeste Norte Nordeste Sul Sudeste

Gráfico 2

Estrutura dos valores do crédito Pronaf por regiões do Brasil — 1999-05

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Brasil. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Secretaria da Agricultura Familiar. Dispo- nível em: http://smap.mda.gov.br/credito/anofiscal/anofiscal.asp. Acesso em: 26 set. 2006.

Legenda:

(%)

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30

272300 286 278 265

323323

0

50

100

150

200

250

300

350

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Gráfico 3

Número de contratos do crédito Pronaf para o Rio Grande do Sul —1999-05

(1 000)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Brasil. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Secretaria da Agricultura Familiar. Dis- ponível em: http://smap.mda.gov.br/credito/anofiscal/anofiscal.asp. Acesso em: 26 set. 2006.

0,45 0,52 0,590,73

0,86

1,261,25

0,000,200,400,600,801,001,201,40

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Gráfico 4

Valores nominais do crédito Pronaf para o Rio Grande do Sul — 1999-05

(R$ bilhão)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Brasil. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Secretaria da Agricultura Familiar. Dis- ponível em: http://smap.mda.gov.br/credito/anofiscal/anofiscal.asp Acesso em: 26 set. 2006.

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Agricultura familiar: força revigorada

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(%)

05

101520253035404550

1999 2000 2001 2002 2003 2004

Arroz FumoMilho SojaTrigo Outras lavouras

Evolução da estrutura do valor do custeio agrícola do Pronaf para os principais produtos do Rio Grande do Sul — 1999-04

(R$ bilhão)

Gráfico 6

FONTE DOS DADOS BRUTOS: ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CRÉDITO RURAL. Disponível em: www.bcb.gov.br Aces- so em: 26 set. 2006.

Legenda:

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1999 2000 2001 2002 2003 2004

Custeio agrícola Custeio pecuário

Investimento agrícola Investimento pecuário

Gráfico 5

Evolução da estrutura do valor do crédito Pronaf, por finalidade, no Rio Grande do Sul — 1999-04

(R$ bilhão)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CRÉDITO RURAL. Disponível em: www.bcb.gov.br Acesso em: 26 set. 2006.

Legenda:

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3 Novas leis evidenciam agricultura familiar

Dada a relevância social e econômica da agricultu-ra familiar, é evidente a necessidade de políticas públi-cas específicas que atentem para esse segmento deagricultores, cuja produção vem tendo participação con-siderável na geração de riqueza do País, o que pode serconstatado por estudos realizados tanto no meio acadê-mico como por técnicos especializados na área (Mattei,2005; Guilhotto, 2005; Veiga, 1998, dentre outros). Tantoé que uma nova medida com teor de lei foi recentementesancionada pelo Governo Federal, com a pretensão deotimizar e de dar continuidade aos programas já existen-tes e voltados para o desenvolvimento rural sustentável,a exemplo do Pronaf, o que possibilita, de forma siste-mática, a inclusão de agricultores familiares comobeneficiários de políticas públicas. É o mesmo que afir-mar que toda ação direcionada para as atividades de-senvolvidas por essa categoria produtiva tem a força deuma política nacional, com plena garantia de execução.

A Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, editada no DiárioOficial da União nº 141, estabelece os conceitos, princí-pios e instrumentos que nortearão as políticas públicasdirecionadas à agricultura familiar e também aos empre-endimentos familiares rurais. A idéia de articular as fa-ses de formulação e implementação das medidas noâmbito da política agrícola e das demais políticas volta-das para a reforma agrária dá uma mostra do engajamentoprevisto para a operacionalização dos benefícios. Para oenquadramento dos beneficiários, a nova lei estabeleceparâmetros essenciais de limitação do contingente deprodutores agrícolas que poderá desfrutar das medidasadotadas: tamanho da área em no máximo quatro módulosfiscais; utilização predominante da mão-de-obra familiar;renda vinculada predominantemente a atividadeseconômicas desenvolvidas no próprio estabelecimentoou empreendimento; e gerenciamento das atividades jun-tamente com sua família. Essa lei abrange, em confor-midade com o Pronaf, quatro outros tipos de produtores,como silvicultores, desde que promovam o manejo sus-tentável; aqüicultores que explorem reservatórios hídricosde até dois hectares; extrativistas artesanais, excetuados

Tabela 3

Número e valor dos contratos dos 10 primeiros municípios tomadores de crédito do Pronaf no Brasil — 2001-04

NÚMERO DOS CONTRATOS VALOR REAL DOS CONTRATOS MUNICÍPIOS

Número Percentual Valor (R$) Percentual

Canguçu ............................... 37 567 21,65 89 131 521,28 15,14 Erechim ................................. 14 307 8,24 67 827 177,00 11,52 Venâncio Aires ...................... 17 372 10,01 65 757 953,63 11,17 Santa Cruz do Sul ................. 18 703 10,78 62 975 606,70 10,70 Crissiumal ............................. 17 516 10,09 53 453 043,06 9,08 Pelotas .................................. 12 581 7,25 53 304 191,14 9,05 Candelária ............................ 15 907 9,17 52 182 210,26 8,86 São Lourença do Sul ............ 12 683 7,31 50 604 510,23 8,59 Soledade ............................... 13 014 7,50 47 002 742,05 7,98 Camaquã .............................. 13 891 8,00 46 530 551,74 7,90 Total dos 10 maiores (A) ...... 173 541 100,00 588 769 507,09 100,00 Total dos 100 maiores (B) .... 744 547 - 3 183 671 763,86 - A/B ........................................ - 23,31 - 18,49

FONTE: Mattei, Lauro. Impactos do Pronaf: análise de indicadores. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2005. p. 76. (Estudos Nead, n. 11). Disponível em: http://www.nead.org.br Acesso em: 15 ago. 2006.

NOTA: Dados do total do período.

(1) Valores de março de 2005, deflacionados a partir do IGP-DI.

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Agricultura familiar: força revigorada

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garimpeiros e faiscadores; e pescadores que exerçam aatividade artesanalmente. Os princípios que nortearão aPolítica Nacional da Agricultura Familiar e Empreendi-mentos Familiares Rurais, como está sendo denomina-da, se fundamentam na descentralização, na sustentabi-lidade ambiental, social e econômica, na eqüidade deaplicação das medidas e na participação dos agriculto-res familiares e de suas organizações sociais. Pelo cor-po da Lei, a agricultura familiar passa a ser vista comouma nova categoria social de produção.

Uma outra lei sancionada em agosto instituiu oSistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional(Sisan) e está fundamentada em estatísticas da PNAD2004, onde os dados revelam que o Brasil conta comcerca de 70 milhões de indivíduos em situação deinsegurança alimentar. O significado da regulamentaçãodessa lei orgânica para a agricultura familiar reside naotimização de políticas públicas, uma vez que possibilitaa legitimação de ações e de instituições engajadas nabusca pelo desenvolvimento rural sustentável.

Para que essas leis possam, com efeito, promovera agricultura familiar, é preciso, em consonância comopiniões de técnicos diretamente vinculados à execuçãodas políticas públicas, que os Governos Estadual eFederal tenham papéis eminentemente normativos,deixando sua operacionalização para legítimos agentesdo desenvolvimento rural sustentável em esferas locaiseou municipais. De igual forma, vale dizer que a efetivaçãodessas medidas poderia ser inspecionada pela própriacategoria de agricultores familiares, que, nesse novomundo rural, precisam dispor de serviços e infra-estruturaque lhes permitam manter competitividade; daí serimprescindível a participação deles nos processos dedesenvolvimento local.

Além do mais, qualquer ação necessária à continui-dade da consolidação da agricultura familiar deveria par-tir da avaliação dos efeitos do Pronaf e também dereformulações que contemplassem a ampliação do Pro-grama com vistas à dinamização do novo rural e da pluria-tividade, o que já está em debate atualmente. É oportu-no dizer, contudo, que o desenvolvimento rural sustentá-vel não se resume à expansão e ao fortalecimento daagricultura familiar; ele inclui também a questão da inclu-são social, da melhoria das condições de vida de muitosindivíduos e do processo de regeneração e conservaçãodo meio ambiente.

Referências

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BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Progra-ma Nacional Agricultura Familiar. Disponível em:<www.pronaf.gov.br>. Acesso em: set. 2006.

GUILHOTO, Joaquim J. M. Agricultura familiar naeconomia: Brasil e Rio Grande do Sul. Brasília: Minis-tério do Desenvolvimento Agrário, 2005. (Estudos Nead,n. 9). Disponível em: <http://www.nead.org.br>. Acessoem: 15 ago. 2006.

IBGE. Censo Agropecuário 1995/1996: Brasil. Rio deJaneiro: IBGE, 1998.

INCRA. Diretrizes de política agrária e desenvolvi-mento sustentável para a pequena produção fami-liar, Brasília, 1994. Disponível em:<http://www.incra.gov.br/>. Acesso em: 26 set. 2006.

MALUF, Renato S. Políticas agrícolas e de desenvolvi-mento rural e a segurança alimentar. In: Leite, Sérgio(Org.). Políticas públicas e agricultura no Brasil. PortoAlegre: Ed. da Universidade, 2001. p. 145-168.

MATTEI, Lauro. Impactos do Pronaf: análise deindicadores. Brasília: Ministério do DesenvolvimentoAgrário, 2005. (Estudos Nead, n. 11). Disponível em:http://www.nead.org.br Acesso em: 15 ago 2006.

PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍ-LIOS: Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, v. 25, 2004.

VEIGA, José Eli da. Diretrizes para uma nova políticaagrária. [S. l.], 1998. (mimeo).

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Uma panorâmica do emprego industrial em 2005: instantâneos da PNAD e da RAIS

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 35-44, dez. 2006

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O presente artigo pretende traçar um panorama domercado de trabalho na indústria do Rio Grande do Sul,em 2005, em contraste com a indústria no Brasil, exami-nando, em paralelo, o universo dos ocupados e osegmento dos empregados formalizados. As fontes dedados utilizadas são a Pesquisa Nacional por Amos-tra de Domicílios (PNAD), do IBGE, e a RelaçãoAnual de Informações Sociais (RAIS), do Ministériodo Trabalho e Emprego (MTE). Deve-se ter presente, parao bom entendimento da análise, que as duas fontes nãosão comparáveis entre si, em virtude de diferençasmetodológicas e conceituais, por isso, o recomendávelé não buscar relacioná-las. A primeira é uma pesquisadomiciliar de caráter abrangente, que levanta informa-ções sobre a população; e a segunda é uma base dedados gerada a partir de registros administrativos infor-mados pelas próprias empresas. A PNAD cobre a totali-dade do mercado de trabalho, contemplando todas asformas de inserção, diferentemente da RAIS, que captaexclusivamente o emprego formal, trazendo uma riquezaenorme de informações sobre o mercado de trabalho re-gulamentado, com desagregações setoriais e intra-setoriais, o que não se encontra na PNAD. Daí o interesseem utilizar as duas fontes, pois uma mostra a ocupaçãocomo um todo, mas não permite que se conheça o interiorda indústria, enquanto a outra permite decompor a indús-tria, mas cobre somente o emprego com vínculo legal.

1 O quadro geral em 2005

Apesar do crescimento medíocre da economia em2005, o mercado de trabalho brasileiro teve um compor-

tamento bem mais favorável do que seria o esperado.Os dados da PNAD (2005) e os da RAIS (2005) mostramum crescimento continuado no nível de ocupação, em2005, o que foi expressivo no caso do emprego formal,ainda que evidenciem uma desaceleração no mercadode trabalho. Tomando-se o total da ocupação, a taxa decrescimento acusada pela PNAD em 2005, frente ao anoanterior, foi de 2,9%, ao passo que o emprego com vín-culos legais, captado pela RAIS, teve uma expansão de5,8%, performance que pode ser considerada excepcio-nal, se for levado em conta que a economia cresceu2,3% nesse ano.1 Para a totalidade do mercado de traba-lho, isso equivale à geração líquida de 2.493.682 postosno ano de 2005, enquanto, no segmento formalizado,foram adicionados 1.831.041 postos (1,474 milhão devagas pela CLT e 357.000 estatutárias) (Tabelas 1 e 2).Para bem avaliar esses números, é preciso ter presenteque a base de comparação é alta; no ano de 2004, o PIBteve um crescimento de 4,9%, enquanto a ocupação e oemprego formal cresceram 5,5% e 6,3% respectivamen-te, um comportamento tido como notável para o atualpadrão de crescimento do País.

Indústria

Uma panorâmica do emprego industrial em 2005:instantâneos da PNAD e da RAIS*

Maria Isabel H. da Jornada** Socióloga da FEE

* Artigo recebido em 19 out. 2006.

** A autora agradece as pertinentes observações e sugestõesdas colegas Sheila Sara W. Sternberg, Áurea Breitbach e Bekyde Macadar, bem como o apoio técnico da estagiária deEconomia Cristiane Fumegalli.

1 A tendência de crescimento do emprego regulamentado emritmo maior do que o do PIB — já detectado no final dosanos 90 — pode ser atribuída a uma maior formalização dasrelações de trabalho, associada, em larga medida, ao cresci-mento do agronegócio, à interiorização da indústria — já que aindústria é o lócus do emprego regulamentado — e à maiorfiscalização do Ministério do Trabalho no comércio e em servi-ços especialmente. Pode-se inferir que parcela desses novosingressos seja de pessoas que transitaram da informalidadepara uma inserção regulamentada no mercado de trabalho. Semdúvida, esse fenômeno requer uma detida reflexão, constituin-do-se em motivo de uma profícua discussão entre os analistasdo mundo do trabalho. Recomenda-se, dentre outros, a instiganteanálise de Paulo Baltar, José D. Krein e Amilton Moretto (2006),que enfoca a recuperação do nível de ocupação após a desva-lorização cambial de 1999, notadamente o crescimento do em-prego formal, revertendo a tendência observada ao longo dadécada de 90, que era a da diminuição da participação dessaforma de inserção no total dos ocupados.

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Maria Isabel H. da Jornada

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 35-44, dez. 2006

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Todos os setores de atividade no Brasil registraramaumento de contingente em 2005, quer se trate do totalda ocupação, quer se trate do emprego formalizado. Aindústria de transformação, que é o foco da presenteanálise, apresentou um comportamento diverso do veri-ficado para o agregado do mercado de trabalho: no âmbi-to do total da ocupação, cresceu mais intensamente(5,1%) e, no âmbito do emprego formal, cresceu menos(3,5%). No primeiro caso, trata-se da incorporação de598.645 trabalhadores à indústria em 2005 (formais einformais); no segundo, da adição de 206.204 emprega-dos com vínculos legais. O número de empregos cria-dos na indústria de transformação, embora positivo, foibem inferior ao dos gerados em 2004 — 846.238 (PNAD,2004) e 570.698 (RAIS, 2004) —, confirmando as dificul-dades enfrentadas pela indústria de transformação em2005. Em termos relativos, o contraste também é acen-tuado. Em 2003 e 2004, o total da ocupação na indústriacresceu 7,8%, e o emprego formal, 10,6%, acompanhan-do o ritmo de crescimento da produção industrial, que foide 8,5% para a indústria de transformação e de 8,3%para a indústria em geral, conforme a Pesquisa Indus-trial Mensal — Produção Física (PIM-PF) (2006), doIBGE. Já em 2005, verificou-se um recuo acentuado dataxa de crescimento da atividade industrial, que sesituou em 2,7% na indústria de transformação e em 3,1%na indústria em geral.

O Rio Grande do Sul, abatido pela quebra de safrae pelo câmbio valorizado, que prejudicou as exportações,ficou bem aquém do desempenho nacional.2 O contin-gente de ocupados, na sua totalidade, experimentou umincremento de 1,2%, enquanto o segmento com vín-culos legais atingiu 1,9%. De qualquer forma, é um re-sultado que também surpreende, em razão do cresci-mento negativo do PIB gaúcho em 2005 (-4,8%). Emtermos absolutos, está-se falando na incorporação de71.107 trabalhadores, tratando-se da totalidade do mer-cado de trabalho, e de 42.141 no segmento formalizado,bem abaixo das cifras de 2004 (98.114 e 113.519 res-pectivamente), quando o PIB do RS cresceu 3,6%.

No Estado, esse movimento no mercado de traba-lho não foi uniforme; alguns setores de atividade conse-

guiram manter números positivos, enquanto outros tive-ram números negativos em 2005. A indústria de transfor-mação ainda conseguiu algum ganho no tocante ao totalda ocupação (0,4%), mas perdeu postos no empregoformal (-3,0%), em nítido contraste com o ano anterior,em que a ocupação industrial cresceu 5,1%, e o empre-go formal, 9,1%. A atividade industrial, que apresentaraum impulso em 2004, com um crescimento de 6,4% naprodução física, declinou em 2005, com uma taxa de-3,5%, refletindo os efeitos da crise no campo, que atin-giu em cheio o segmento de máquinas e implementosagrícolas3, e do regime cambial, que comprometeu asexportações.

O quadro dos rendimentos, em 2005, tambémreserva surpresa. O pífio crescimento da economia nãoimpediu uma melhora em relação a 2004. A PNAD (2005)mostra um aumento na renda do trabalhador, em 2005,que foi de 4,5% no Brasil e de 1,8% no RS, elevando orendimento médio real para R$ 789,76 no Brasil e paraR$ 860,63 no RS. A RAIS (2005) evidencia um movi-mento mais contido no segmento formal: 2,0% no Brasile 1,5% no RS. Em média, cada empregado com vín-culos legais recebeu R$ 1.148,00 no Brasil e R$ 1.149,00no RS, um valor bem acima do verificado para o totaldos ocupados. A indústria de transformação, conforme aPNAD (2005), apresentou um quadro menos alvissareirono Brasil, onde o rendimento médio real se elevou emapenas 0,5%, e mais promissor no RS, que registrou umincremento de 6,4%, o que resultou em um rendimentomédio real de R$ 774,43 na indústria de transformaçãobrasileira e de R$ 811,56 na sul-rio-grandense. Tratando--se do emprego formal, o Brasil seguiu o mesmo ritmo(0,7%), enquanto, no RS, o ganho salarial foi muito me-nor (0,6%) do que o da totalidade do mercado de traba-lho. Com isso, o rendimento médio dos empregados con-tratados na indústria situou-se em R$ 1.177,00 no Brasile em R$ 1.030,00 no RS.

2 Deve-se ter presente que o Setor Primário conserva expressãona estrutura produtiva do Estado e mantém vínculos estreitoscom a indústria — veja-se a importância da agroindústria noRS — e que importantes segmentos de atividade na matrizprodutiva do Estado se voltam, prioritariamente, ao mercadoexterno. Foram especialmente atingidos nessa conjuntura oagronegócio — no qual se destaca o complexo soja, prejudica-do pela estiagem e pela queda dos preços no mercado interna-cional — e o setor coureiro-calçadista.

3 A indústria de máquinas e implementos agrícolas, no Estado,era responsável por 29,5% dos empregos formais na mecâni-ca, em 2005. Os prejuízos contabilizados pelo segmento podemser creditados à perda de competitividade no mercado interna-cional e à situação dos produtores rurais, com dificuldades parainvestimento em máquinas.

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Tabela 1

Indicadores selecionados para o mercado de trabalho no Brasil e no Rio Grande do Sul — 2004 e 2005

2004

2005 ∆% 2004-05 DISCRIMINAÇÃO

BR RS BR RS BR RS

Posição na ocupação (número de trabalhadores)

Total .............................................................................. 84 596 294 5 726 933 87 089 976 5 798 040 2,9 1,2

Empregados .............................................................. 46 699 957 2 982 033 47 985 988 3 034 420 2,8 1,8

Com carteira de trabalho assinada ....................... 25 692 468 1 888 346 27 046 296 1 933 077 5,3 2,4

Militares e estatutários .......................................... 5 571 200 355 895 5 490 792 364 726 -1,4 2,5

Outros ................................................................... 15 435 870 737 373 15 448 900 736 617 0,1 -0,1

Sem declaração .................................................... 419 419 - - - -

Trabalhadores domésticos ........................................ 6 472 484 334 389 6 658 627 355 929 2,9 6,4

Conta-própria ............................................................ 18 574 690 1 245 798 18 831 511 1 273 871 1,4 2,3

Empregadores ........................................................... 3 479 064 286 633 3 683 355 269 018 5,9 -6,1

Trabalhadores na produção para próprio consumo 3 387 184 328 828 3 894 016 337 695 15,0 2,7

Trabalhadores na construção para próprio uso ........ 99 633 9 220 122 576 5 643 23,0 -38,8

Não remunerados ..................................................... 5 883 282 540 032 5 913 903 521 464 0,5 -3,4

Rendimento médio do trabalho principal (R$) (1)

Total .............................................................................. 755,88 845,38 789,76 860,63 4,48 1,80

Masculino .................................................................. 860,47 967,22 893,49 990,03 3,84 2,36

Feminino .................................................................... 599,53 657,76 633,66 668,58 5,69 1,65

Distribuição setorial (número de trabalhadores)

Agrícola ......................................................................... 17 733 835 1 434 809 17 813 802 1 400 528 0,45 -2,39

Indústria ........................................................................ 12 402 692 1 076 747 12 998 419 1 076 479 4,80 -0,02

Indústria de transformação ........................................ 11 723 640 1 030 889 12 322 285 1 034 674 5,11 0,37

Construção .................................................................... 5 354 375 306 658 5 635 753 342 776 5,26 11,78

Comércio e reparação ................................................... 14 653 228 894 204 15 484 670 921 284 5,67 3,03

Alojamento e alimentação ............................................. 3 023 059 152 118 3 183 527 175 553 5,31 15,41

Transporte, armazenagem e comunicação ................... 3 894 249 233 113 3 962 153 235 326 1,74 0,95

Administração pública ................................................... 4 203 854 257 643 4 262 366 254 417 1,39 -1,25

Educação, saúde e serviços sociais ............................. 7 409 338 461 990 7 651 694 449 045 3,27 -2,80

Serviços domésticos ..................................................... 6 472 484 334 389 6 658 627 355 929 2,88 6,44

Outros serviços coletivos, sociais e pessoais ............... 3 498 316 187 528 3 297 403 199 376 -5,74 6,32

Outras atividades .......................................................... 5 723 438 367 153 5 943 416 365 494 3,84 -0,45

Atividades mal definidas ou não declaradas ................. 227 426 20 581 198 146 21 833 -12,87 6,08 FONTE: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS — PNAD. Rio de Janeiro: IBGE, 2004/2005. Disponível em: <http:/sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: out. 2006. (1) Rendimento médio, em setembro, em valores reais, calculado com base no INPC do IBGE, a preços de ago./06.

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Tabela 2

Número de empregados formais e rendimento médio no Brasil e no Rio Grande do Sul — 2004 e 2005

2004

2005 ∆% 2004-05

DISCRIMINAÇÃO

BR RS BR RS BR RS

Distribuição setorial (número de trabalhadores) Total ................................................................................. 31 407 576 2 193 332 33 238 617 2 235 473 5,8 1,9

Extrativa mineral ........................................................... 140 519 4 785 147 560 4 831 5,0 1,0 Indústria de transformação ........................................... 5 926 857 623 639 6 133 461 604 695 3,5 -3,0

Indústria de produtos minerais não-metálicos .......... 293 209 14 716 308 861 14 654 5,3 -0,4 Indústria metalúrgica ................................................. 588 738 59 351 603 961 55 758 2,6 -6,1 Indústria mecânica .................................................... 350 640 50 695 366 600 48 881 4,6 -3,6 Indústria do material elétrico e de comunicações 210 559 14 621 225 437 15 030 7,1 2,8 Indústria do material de transporte ........................... 385 305 34 119 411 394 35 811 6,8 5,0 Indústria da madeira e do mobiliário ......................... 450 011 49 846 429 044 48 009 -4,7 -3,7 Indústria do papel, papelão, editorial e gráfica ......... 324 878 26 057 338 155 27 918 4,1 7,1 Indústria da borracha, fumo, couros, peles, simila- res, indústrias diversas ............................................

275 326

51 428

277 578

45 814

0,8

-10,9

Indústria química de produtos farmacêuticos, vete- rinários, perfumaria, etc. .......................................... 610 457 44 835 635 730 46 575 4,1 3,9

Indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos .... 796 482 27 927 833 365 27 538 4,6 -1,4 Indústria de calçados ................................................ 312 579 143 022 298 659 126 784 -4,5 -11,4 Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico ..............................................................

1 328 673

107 022

1 404 677

111 923

5,7

4,6

Serviços industriais de utilidade pública ....................... 327 708 19 356 341 991 21 912 4,4 13,2 Construção civil ............................................................ 1 118 570 73 792 1 245 395 71 328 11,3 -3,3 Comércio ...................................................................... 5 587 263 395 193 6 005 189 411 944 7,5 4,2 Serviços ........................................................................ 9 901 216 609 062 10 510 762 637 773 6,2 4,7 Administração pública .................................................. 7 099 804 393 028 7 543 939 409 727 6,3 4,2 Agropecuária extrativa vegetal, caça e pesca .............. 1 305 639 74 477 1 310 320 73 263 0,4 -1,6

Rendimento médio (R$) (1) Total ................................................................................. 1 125 1 132 1 148 1 149 2,0 1,5

Masculino ..................................................................... 1 216 1 232 1 237 1 244 1,7 1,0 Feminino ....................................................................... 988 999 1 016 1 025 2,8 2,6

Rendimento médio na indústria de transformação (R$) (1)

Total ................................................................................. 1 168 1 025 1 177 1 030 0,7 0,6 Masculino ..................................................................... 1 316 1 201 1 324 1 205 0,6 0,3 Feminino ....................................................................... 801 702 815 708 1,8 0,8

FONTE: RELAÇÃO ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS — RAIS. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2004/2005. (CD-ROM). (1) Rendimento médio, em dezembro, em valores reais, calculado com base no INPC do IBGE, a preços de ago./06.

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O comportamento dos salários em 2005 estáassociado aos reajustes salariais acima da inflação e aoaumento real do salário mínimo de 8,8% no ano, o queajudou a elevar a renda. Deve-se levar em conta que ovalor do salário mínimo tem um impacto enorme no ren-dimento médio, em razão de um número expressivo detrabalhadores recebê-lo e pelo fato de as remuneraçõesmais baixas estarem a ele vinculadas de acordo comum “efeito farol”,4 ou seja, o mínimo funciona com umbalizador do reajuste salarial de outra faixas.

4 Ver Corseuil e Carneiro (2001).

Esse panorama dos rendimentos em 2005 não deveobscurecer a realidade de que o processo de criação deempregos no Brasil esconde um mecanismo perversode rebaixamento salarial, especialmente em períodos dedificuldades econômicas. Basta ver que os postosadicionados, tanto no plano nacional quanto no estadual,se concentraram nas faixas de rendimento inferiores —até dois salários mínimos. As faixas acima de dois salá-rios suprimiram vagas5 no âmbito do total da ocupação edo mercado formal (Tabela 3).

Tabela 3 Variação do número de ocupados e do número de empregados formais, por faixa salarial,

no Brasil e no Rio Grande do Sul — 2004-05 (%)

BRASIL RIO GRANDE DO SUL NÚMERO DE SALÁRIOS

MÍNIMOS Total da Ocupação Emprego Formal Total da Ocupação Emprego Formal

Até ½

Total ............................................ 12,3 17,1 22,5 19,2

Indústria de transformação ..... 22,7 16,7 35,6 27,4

Mais de 1/2 a 1

Total ............................................ 14,3 15,4 19,6 18,2

Indústria de transformação ..... 19,9 16,2 22,0 12,8

Mais de 1 a 2

Total ............................................ 3,2 16,9 1,9 15,3

Indústria de transformação ..... 5,3 15,5 1,1 15,3

Mais de 2 a 5

Total ............................................ -4,8 -1,4 -2,9 -5,4

Indústria de transformação ..... -7,1 -2,1 -12,8 -12,2

Mais de 5 a 10

Total ............................................ -7,7 -1,5 -16,7 -6,3

Indústria de transformação ..... -7,6 -6,6 1,2 -13,2

Mais de 10

Total ............................................ -16,3 -6,4 -21,0 -10,0

Indústria de transformação ..... -16,5 -11,5 5,8 -20,2 FONTE: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS — PNAD. Rio de Janeiro: IBGE, 2004/2005. Disponível em:

<http:/sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: out. 2006. RELAÇÃO ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS — RAIS. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2004/2005. (CD-ROM).

5 Infelizmente, essas bases de dados não permitem verificar se eonde se reempregaram os desligados das faixas salariais maisaltas. Pode-se apenas supor que esses trabalhadores tenhamretornado ao mercado de trabalho com salários inferiores aosque recebiam no posto que ocupavam anteriormente.

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2 A ocupação industrial em 2005: PNAD

No Brasil, em 2005, a indústria era responsável por14,9% dos ocupados, sendo que a indústria de transfor-mação, isoladamente, respondia por 14,1% dos postosde trabalho, constituindo-se no terceiro setor em impor-tância sob a ótica da ocupação. À frente, encontrava-seo setor agrícola, com 20,4% dos ocupados, seguido porcomércio e reparação, com 17,8%.6 No RS, a indústriaera mais expressiva, com 18,6% da população ocupada(17,8% na indústria de transformação), abaixo apenasdo setor agrícola, que abrigava 24,2% do total de traba-lhadores. Comércio e reparação ocupava o terceirolugar, com 15,9%. Observa-se que, no RS, as atividadesprimárias e a indústria de transformação têm uma impor-tância relativa maior do que no plano nacional(Tabela 1).

O contingente de trabalhadores na indústria de trans-formação, no Brasil, em 2005, era de 12.322.285, amaior parte composta por homens (62,3%), uma partici-pação masculina maior do que no agregado do mercadode trabalho (57,9%). No Estado, eram 1.034.674 traba-lhadores industriais, sendo 59,4% deles homens, umpercentual superior ao do percentual no total dos ocupa-dos (55,8%).

A condição de ocupação desses trabalhadores éinformada pelos dados relativos à posição na ocupação(Tabela 4). No Brasil, em 2005, 72,9% das pessoas quetrabalhavam na indústria de transformação eram empre-gadas; 19%, trabalhadores por conta própria; 4,3%, em-pregadores; e 3,8%, não-remunerados. No RS, a propor-ção de empregados era maior (80,5%), aqueles que tra-balhavam por conta própria eram 13,3%, os empregado-res eram 4,6%, e os não-remunerados, 1,5%.7 Infeliz-mente, a PNAD não disponibiliza, no âmbito setorial,dados desagregados para empregados com e sem car-teira, o que impede que se mensure essa parcela detrabalhadores industriais à margem de qualquer amparolegal. Considerando-se a totalidade do mercado de tra-balho, os empregados com carteira assinada perfaziam

31,1% do total dos ocupados no Brasil e 33,3% no RS,enquanto os sem carteira (agrupados sob a denomina-ção “outros”) eram 17,7% no País e 12,7% no Estado.

O exame da ocupação sob a ótica da posição naocupação revela a outra face do crescimento: a qualida-de dos postos gerados. A maior parte das vagas acres-cidas na indústria de transformação, no Brasil, em 2005(46,2% de ocupados por conta própria e 32,7% de nãoremunerados), pode ser associada à informalidade ou auma condição de precarização, dependendo da catego-ria conceitual que se utilize. Foram essas “posições” quetiveram as maiores variações no ano: os conta-própria(13,4%) e os não-remunerados (70,2%). Já na indústriagaúcha, só o grupo dos trabalhadores por conta próprialogrou expansão, com uma taxa de 10,2%. Um movi-mento completamente distinto do verificado para o agre-gado do mercado de trabalho, em que os conta-própriacresceram 1,4% no Brasil e 2,3% no RS; e os não-remu-nerados, 0,5% no País e -3,4% no Estado.

6 Registraram-se os setores mais expressivos, os outros deti-nham, cada um, menos de 10% do total dos ocupados.

7 Para balizar com a realidade do agregado do mercado de traba-lho, tem-se que, no País, os empregados representam 55,1% e,no Estado, 52,3%; os ocupados por conta própria, 21,6% noBrasil e 22,0% no RS; os empregadores, 4,2% no Brasil e 4,6%no RS; e os trabalhadores não remunerados, 6,8% no País e9,00% no Estado. As outras posições na ocupação sãoinexistentes na indústria.

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3 O emprego formal na in- dústria, em 2005: RAIS

Na estrutura setorial do emprego formal no Brasil,em 2005, a indústria de transformação praticamente seigualava ao comércio (18,4% e 18,1% respectivamen-te), dividindo a terceira posição em ordem de importân-cia. O setor serviços era quem liderava, com 31,6% dosempregos com vínculos legais, secundado pela admi-nistração pública (22,7%).8 No Rio Grande do Sul, aindústria de transformação tem uma representatividademaior, ocupando o segundo lugar no ranking, responsá-vel por 27,0% do total dos empregados formais. O setorserviços lidera, com 28,53% dos empregados, enquantoo comércio (18,4%) e a administração pública (18,3%)compartilham a terceira posição (Tabela 2).9

A indústria de transformação, em 2005, empregava6.133.461 trabalhadores no Brasil e 604.695 no RS, amaior parte composta de homens (71,1% no Brasil e64,8% no RS), uma presença masculina, em termosrelativos, superior à da totalidade do mercado de traba-

lho formal (59,7% no Brasil e 56,8% no RS), o quecorresponde a uma condição histórica na indústria, emque a participação das mulheres sempre foi menosexpressivas do que em outros setores.

A decomposição da indústria de transformação porsubsetores de atividade evidencia os contrastes e asdiferenciações intra-setoriais, bem como põe em relevoas diferenças estruturais entre o plano nacional e o esta-dual.10 No Brasil, os subsetores que mais pesavam naestrutura do emprego industrial, em 2005, eram a indús-tria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico(22,9%), a têxtil, do vestuário e artefatos de tecidos(13,4%), a química, produtos farmacêuticos, veteriná-rios e perfumaria (10,4%) e a metalúrgica (9,8%), segui-das por madeira e mobiliário (7,0%), material de trans-porte (6,7%), mecânica (6,0%), papel, papelão, editoriale gráfica (5,5%), indústria de calçados (4,9%) e produ-tos minerais não-metálicos (5,0%). Os outros segmen-tos não atingiam 5,0% de participação cada um: borra-cha, fumo, couros, peles, similares, indústrias diversas(4,5%), material elétrico e de comunicações (3,7%).

No Rio Grande do Sul, predomina um segmentoque tem no mercado externo o seu fator dinamizador, aindústria de calçados, responsável por 21,0% do total de

Tabela 4

Ocupados, por posição na ocupação e rendimento médio, na indústria de transformação do Brasil e do Rio Grande do Sul — 2004 e 2005

2004

2005 ∆% 2004-05 DISCRIMINAÇÃO

BR RS BR RS BR RS

Posição na ocupação

Total .............................................. 11 723 640 1 030 889 12 322 285 1 034 674 5,1 0,4

Empregados .............................. 8 861 950 836 716 8 980 773 833 409 1,3 -0,4

Conta-própria ............................ 2 060 688 124 941 2 335 978 137 746 13,4 10,2

Empregadores .......................... 523 634 53 399 533 559 47 808 1,9 -10,5

Não-remunerados ..................... 277 368 15 833 471 975 15 711 70,2 -0,8

Rendimento médio (R$) (1)

Total ............................................. 770,30 763,04 774,43 811,56 0,5 6,4 FONTE: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS — PNAD. Rio de Janeiro: IBGE, 2004/2005. Disponível em: <http:/sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: out. 2006. (1) Rendimento médio, em setembro, em valores reais, calculado com base no INPC do IBGE, a preços de ago./06.

8 Os demais setores têm importância menor, figurando com me-nos de 4% do emprego cada um.

9 Assim como no plano nacional, os demais setores são de poucaexpressão, com menos de 4% do emprego.

10 Só é possível conhecer a estrutura interna da indústria no que tange ao emprego formal, pois a PNAD não permite a desagre gação da indústria de transformação.

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empregos, próxima da indústria de produtos alimentí-cios, bebidas e álcool etílico (18,5%). Seguem-nas, àdistância, a metalúrgica (9,2%), a mecânica (8,1%), ade madeira e mobiliário (7,9%), a química, produtos far-macêuticos, etc. (7,7%), a de borracha, fumo, etc. (7,6%),a de material de transporte (5,9%), a de papel, papelão,etc. (4,6%) e a têxtil, do vestuário e artefatos de tecidos(4,5%). Por fim, a de material elétrico e de comunicações(2,5%) e a de produtos minerais não-metálicos (2,4%).

O comportamento do emprego no interior da indús-tria é bastante diferenciado, respondendo à natureza eaos condicionantes de cada segmento produtivo. Asmedidas de política econômica impactaram a atividadeindustrial de forma diversa, inibindo e constrangendo al-guns tipos de indústrias e estimulando e favorecendooutros. O exame da variação no nível do empregoexpressa bem esses rebatimentos.

No âmbito nacional, dois segmentos experimenta-ram redução no estoque de empregados, em 2005 —calçados (-4,5%) e madeira e mobiliário (-4,7%) —,observando-se também o pequeno incremento no grupoheterogêneo formado pelas indústrias de borracha, fumo,couros, peles, similares e indústria diversas (0,8%),segmentos produtivos que foram duramente atingidospelas políticas de juros e câmbio que restringiram acompetitividade dessas indústrias. No outro extremo,liderando o crescimento do emprego, encontram-se ma-terial elétrico e de comunicações (7,1%) e material detransporte (6,8%). Produtos alimentícios, bebidas eálcool etílico e a indústria têxtil do vestuário e artefatosde tecidos, de maior peso na estrutura industrial do em-prego formal, tiveram crescimento de 5,7% e 4,6%respectivamente. Cabe, ainda, um registro para ametalúrgica, que mostrou a segunda mais baixa taxa decrescimento (2,6%).

No RS, diferentemente do Brasil, a maior parte dossegmentos revelou retração. A maior empregadora, aindústria de calçados, registrou queda de 11,4%, elimi-nando 16.238 postos, o que equivale a 55,0% das vagassuprimidas pela indústria de transformação. A trajetóriade queda foi acompanhada pelas indústrias de borracha,fumo, etc. (-10,9%), metalúrgica (-6,1%), madeira e mo-biliário (-3,7%), mecânica (-3,6%), indústria têxtil do ves-tuário e artefatos de tecido (-1,4%) e de produtos mine-rais não metálicos (-0,4%). A indústria de produtosalimentícios, bebidas e álcool etílico, a segunda emimportância no ranking do emprego industrial, alcançouum resultado positivo (4,6%), um pouco abaixo da dematerial de transportes (5,0%). O segmento de papel,papelão, editorial e gráfica experimentou o maior incre-mento (7,1%).

A situação desvantajosa do RS frente ao agregadonacional é explicável pela crise agrícola e pelo impactodo câmbio valorizado sobre a competitividade de indús-trias importantes no Estado, como a de calçados, a demóveis e a têxtil, que sofreram duplamente com o realforte: as exportações tornaram-se menos competitivase foi impulsionada a substituição da produção domésti-ca pelos importados. As dificuldades enfrentadas pelosegmento moveleiro gaúcho, em 2005, devem-se aindaa fatores logísticos, como o custo do transporte, quecoloca o Estado em desvantagem frente a outros pólosmoveleiros mais próximos dos grandes mercados con-sumidores e fornecedores de insumos e matérias-pri-mas.11

A avaliação geral, acompanhando os vários analis-tas, é a de que o desempenho do mercado de trabalhono Brasil, em 2005, embora marque uma desaceleraçãofrente a 2004, impressiona pelo ritmo de crescimento —notadamente do emprego formal — em um ano de baixataxa de crescimento da economia e que terminou sobfortes críticas à política econômica do Governo. Toda-via, na indústria de transformação, os dados são inquie-tantes, tendo em vista que, no Brasil, a maior parte dototal dos postos acrescidos no setor, em 2005, se loca-lizou no grupo dos trabalhadores por conta própria e nodos não remunerados, categorias que costumam serassociadas a uma condição de precarização e deausência de amparo legal. No RS, onde a ocupaçãoindustrial cresceu quase nada, só o contingente de tra-balhadores por conta própria logrou expansão.

Os resultados do mercado de trabalho, em termostanto de geração de empregos quanto de aumento daremuneração média dos trabalhadores e de redução dainformalidade, dependem de a economia brasileira entrarem um círculo virtuoso de crescimento econômico, semo que persistirão os avanços e recuos nos índices dedesempenho da atividade econômica. É forçoso, pois,que se façam as mudanças demandadas pela socieda-de na política econômica, que tem impedido o cresci-mento sustentado da economia brasileira.

11 A futura instalação no Estado de uma fábrica de MDF damultinacional Masisa, em 2007, e a entrada em operação danova fase da planta industrial da Fibraplac (empresa gaúcha dogrupo Isdra que produz chapas de MDF) deverão trazer maiscompetitividade para a indústria moveleira gaúcha, mudando ocusto de logística das matérias-primas, que hoje ainda são bus-cadas em outros estados.

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Uma panorâmica do emprego industrial em 2005: instantâneos da PNAD e da RAIS

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Ampliação do Mercosul: a adesão da Venezuela

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A adesão da Venezuela ao Mercosul, em julho de2006, suscitou inúmeras manifestações tanto favoráveisquanto desfavoráveis a seu ingresso como o quintopaís-membro do bloco, já integrado por Argentina, Bra-sil, Paraguai e Uruguai. Entretanto deve-se ter claro quea entrada desse país vem sendo preparada desde 2001,ano em que o Presidente Hugo Chávez solicitou que seupaís se tornasse associado ao Mercosul, o que ocorreuem julho de 2004. A partir daí, a Venezuela passou a tera mesma condição do Chile, do Peru e da Bolívia, e,logo em seguida, iniciaram as negociações para a suainclusão plena ao Mercosul.

Este artigo visa discutir algumas das principais re-percussões do ingresso da Venezuela no bloco. Sãoexpostos os aspectos mais relevantes das negociações,bem como as distintas óticas que devem ser considera-das. Destas, salientam-se as relações comerciais doMercosul com a Venezuela, com as conseqüências parao Brasil, e os efeitos nas relações intrabloco eextra-Mercosul. Por fim, são colocadas as consideraçõesfinais.

As negociações

Em dezembro de 2005, na reunião de cúpula doMercosul, em Montevidéu, ficou decidido acelerar ainclusão da Venezuela no bloco, tornando-a “sócio plenoem processo de adesão”, categoria inexistente até aqueladata (Venezuela..., 2006).

A rapidez do processo é explicada, por uns, pelaparticipação ativa do Presidente Chávez e, por outros,pelo grande interesse do Presidente argentino na ade-são da Venezuela, tendo em vista que esse país é “o

Relações internacionais

Ampliação do Mercosul: a adesão da Venezuela*

Sônia Unikowsky Teruchkin** Economista da FEE

* Artigo recebido em 09 out. 2006.

** A autora agradece os comentários e as contribuições dasEconomistas Teresinha Bello e Beky Moron de Macadar aotexto preliminar, bem como ao estagiário Anderson Casa Novaa coleta dos dados utilizados.

maior comprador individual de títulos da dívida públicaargentina” (Venezuela..., 2006). Até julho de 2006, aVenezuela1 comprou US$ 3,3 bilhões em bônus daArgentina, o que possibilitou a recuperação de suas re-servas logo após ter quitado a dívida junto ao FMI; tam-bém adquiriu US$ 100 milhões em bônus do Paraguai efinanciou vários projetos no Uruguai e na Bolívia(Cumbre..., 2006).

Assim, em 4 de julho de 2006, foi assinado o Pro-tocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul,2 no qual foifixado um prazo para a Venezuela adotar a Tarifa ExternaComum (TEC) e as demais normas do Mercosul, o queocorrerá de forma gradativa. Igualmente, ficou estabele-cido que a liberalização comercial ocorrerá de forma gra-dual, levando em conta as assimetrias entre osmembros.

Tendo-se em vista os diferentes graus de desen-volvimento das economias dos países do bloco, os pra-zos fixados para alcançar o livre-comércio com aVenezuela foram menores para Argentina e Brasil (2010)do que para Paraguai e Uruguai (2013). Já para aVenezuela, o prazo firmado para a eliminação total dasbarreiras tarifárias e não tarifárias nas exportações comtodos integrantes do bloco foi 2012. As exceções forampara os principais produtos da oferta exportável doParaguai e do Uruguai, que terão livre acesso ao merca-do venezuelano imediatamente. E, para produtos sensí-veis, os prazos previstos poderão ser ampliados até 2014(Protocolo..., 2006). Assim, existe um período de transi-ção, para que sejam extintas todas as barreiras tarifáriasda Venezuela com os demais membros.

Contudo, a partir da subscrição do Protocolo, emjulho de 2006, a Venezuela passou a integrar as nego-

E-mail: [email protected]

1 As abundantes divisas da Venezuela para investir nos paísesvizinhos são provenientes do superávit comercial gerado, basi-camente, por suas exportações de petróleo, atualmentefavorecidas pela alta no seu preço internacional.

2 Para entrar em vigência, é necessária a incorporação do Proto-colo na Associação Latino-Americana de Integração (ALADI),bem como a sua internalização às legislações dos países--membros.

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ciações com outros países e blocos, com todos os direi-tos e obrigações, pois, de acordo com o Protocolo (Pro-tocolo..., 2006, art.8), “As Partes acordam que, a partirda subscrição do presente Protocolo, e até a data de suaentrada em vigor, a República Bolivariana de Venezuelaintegrará a Delegação do MERCOSUL nas negociaçõescom terceiros”.

A adesão sob distintasóticas

A incorporação da Venezuela deve ser analisadasob distintas perspectivas. De um lado, existem os queacreditam que ela será prejudicial ao Mercosul, devidoaos elevados custos políticos de sua adesão, maioresque os benefícios a serem auferidos. Tal fato deve-se,principalmente, aos temores que vem suscitando pelascaracterísticas atuais de seu Presidente, que a está tor-nando uma nova fonte de politização tanto intra comoextrabloco. De outro, estão aqueles que acham que aVenezuela proporcionará elevados ganhos: pela amplia-ção do mercado, por ser a maior fonte petrolífera do con-tinente e dispor de recursos para serem aplicadosintrabloco, por aumentar o poder de barganha do Mercosulnas negociações com terceiras partes, dentre outros.

As relações comerciaisVenezuela-Mercosul

Sob o ponto de vista comercial, a adesão daVenezuela ao Mercosul pode ser encarada como um fatorpositivo, embora seja fruto muito mais de razões políti-cas do que comerciais.

A incorporação só foi possível com a sua saída daComunidade Andina de Nações (CAN), tendo comojustificativa o fato de a Colômbia e o Peru terem assina-do tratados de livre comércio com os Estados Unidos.Este último país, apesar de ser o principal destino dasexportações e a principal origem das importaçõesvenezuelanas, com uma participação média anual de47,1% e 32,2%, respectivamente, de 2001 a 2004, é tra-tado, pelo seu Presidente, como “país inimigo”.

A corrente de comércio venezuelana com os mem-bros da CAN — Bolívia, Colômbia, Equador e Peru —,da qual a Venezuela fazia parte, tem sido significativa-mente superior à verificada com o Mercosul, onde se

destacam as relações com Colômbia e Peru.3 Enquantoas exportações da Venezuela para o Mercosul diminuí-ram a sua representatividade sobre o total transacionadode 3,1% no biênio 2001-02 para 1,1% em 2003-04, aparticipação do bloco nas importações totais elevou-sede 2,5% para 10,5%, quando se comparam os doissubperíodos. Como decorrência, a Venezuela vem man-tendo saldos negativos e crescentes com o Mercosul.

No período 1994-00, o comércio Brasil-Venezuelafoi deficitário para o Brasil. Mas, a partir de 2001, asituação reverteu-se, e o Brasil passou a ter saldossuperavitários, que atingiram, em 2005, um valor próxi-mo a U$ 2 bilhões. Isso ocorreu porque, no período2000-05, o elevado crescimento das vendas brasileiras(195%) foi acompanhado de uma diminuição de 81% dasimportações venezuelanas pelo Brasil. Assim, ao mes-mo tempo em que as aquisições originárias da Venezuelacaíram4, as vendas do Brasil para esse país aumenta-ram, em especial nos dois últimos anos, fazendo comque empresários brasileiros festejassem a entrada daVenezuela no Mercosul, pela ampliação do mercado,principalmente para os produtos manufaturados.

Estudo realizado pela Confederação Nacional daIndústria (CNI) mostra que o Brasil tem possibilidade deaumentar sua participação no mercado venezuelano emitens agroindustriais, como os derivados de soja, açúcare carnes, além dos manufaturados, como compressorespara frigoríficos, máquinas para agricultura, chassis commotor para automóveis, calçados de couro e pasta dedente. Também é destacado que a Venezuela tem maischances de elevar suas vendas para o Brasil do que ooposto. Isso ocorre porque o incremento da exportaçãode produtos brasileiros para aquele mercado pareceestar limitado pela sua dimensão e pelo já elevadomarket-share brasileiro nos produtos em que o Brasil émais competitivo. Mesmo assim, há “[...] interesses aserem considerados nos segmentos industriais e agrí-colas que apresentam barreiras tarifárias e não tarifáriasna Venezuela, bem como a oportunidade de maior parti-cipação brasileira na prestação de serviços e em licita-ções públicas naquele país” (CNI..., 2006).

Os empresários venezuelanos, por sua vez, acre-ditam que a entrada no Mercosul representa uma séria

3 A participação na corrente de comércio da Venezuela com osmembros da CAN, de 2001 a 2004, variou entre 6,3% e 7,5%,enquanto a representatividade do Mercosul esteve situadaentre 3,4% e 5,6%, no mesmo período.

4 A perda de importância da Venezuela no comércio brasileiropode ter ocorrido devido ao crescimento da produção nacionalde petróleo, o que acarretou uma redução das compras brasi-leiras do produto.

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ameaça ao seu setor industrial. Por isso, o PresidenteExecutivo da Confederación Venezolana de Industriales(Conindustria) sustenta que os industriais não devem sepreocupar com o que podem exportar para o Mercosul,mas, sim, em como se proteger ante a abertura dosmercados, em especial os setores vulneráveis, como oagrícola, o de veículos e o da indústria láctea (Barreiro,2006). Ademais, os venezuelanos estão apreensivos comdois tipos de assimetrias entre os parceiros: astecnológicas, pois consideram que Brasil e Argentinaestão tecnologicamente mais desenvolvidos, e as daspautas de exportação. Isto porque, enquanto, naVenezuela, predominam as vendas externas de maté-rias-primas, com destaque para petróleo, ferro e alumí-nio, no Brasil prevalecem os produtos manufaturados,como terminais portáteis de telefonia celular, automó-veis, tratores e suas partes.

As relações intrabloco

Em 2006, o aprofundamento da integração doMercosul resultou comprometido por vários fatores, den-tre os quais podem-se destacar: as salvaguardas solici-tadas pela Argentina, com destaque para o Mecanismode Adaptação Competitiva (MAC)5; o aumento da insa-tisfação de Paraguai e Uruguai quanto aos benefícios doprocesso recebidos; e o crescimento das disputas entreos países-membros.

Paraguai e Uruguai têm demonstrado sua insatisfa-ção no que tange às assimetrias intra-Mercosul6 e àsatitudes protecionistas dos parceiros maiores, além deoutras manifestações de descontentamento. Suas quei-xas intensificaram-se devido aos déficits acumulados,desde 2000, no comércio com o Brasil e a Argentina.

Fruto desse descontentamento, Paraguai e Uruguaiapresentaram um pedido para que fosse permitida anegociação individual de acordos de livre comércio compaíses extrabloco, sem renunciar ao Mercosul, o que nãofoi aceito, porque significaria um recuo no processo deintegração. Portanto, os acordos a serem realizados comterceiros países deverão ser menos ambiciosos do queum tratado de livre comércio.

Visando diminuir as assimetrias intrabloco, foi apro-vada a criação do Fundo Para a Convergência Estruturaldo Mercosul (Focem), bancado, em sua maior parte, peloBrasil e pela Argentina e destinado, principalmente,a Uruguai e Paraguai. A adesão da Venezuela, ao repre-sentar uma atenuação das disparidades regionais e umafonte de recursos, poderá amenizar essa situação. E, aodiminuir a gravitação do Brasil no Mercosul, poderáfavorecer os sócios menores.

Segundo Arocena et al. (2005), a Venezuela parecedisposta a desempenhar também um papel regional rele-vante tanto nos investimentos diretos — principalmentenas áreas petrolíferas e conexas — como nas inversõesem portfólio. Com a sua adesão, espera-se uma acelera-ção nos investimentos, por ser esse país um potencialconstrutor e financiador de gasodutos na América do Sul.

A Venezuela tem uma grande importância estraté-gica para o Mercosul, pois, além de compartilhar a Ama-zônia, pode dar acesso ao Caribe. Também tem grandepeso econômico, devido às suas reservas energéticas,como gás e petróleo. E é exatamente nesse setor queesse país pode contribuir para o crescimento do bloco.Por conseguinte, a Venezuela poderá provocar significa-tivos efeitos na agenda do setor energético do Mercosul,além de contribuir com recursos financeiros aos parcei-ros, devido à abundância de divisas, fruto das exporta-ções de petróleo com preços elevados.

As relações extra-Mercosul

Enquanto as tarifas de importação entre Venezuelae demais parceiros do bloco serão reduzidas de formagradativa e, portanto, as repercussões comerciais sedarão ao longo do processo, a participação da Venezuelanas negociações externas foi imediata, a começar daassinatura de sua adesão, em julho de 2006.

Assim, a Venezuela passa a tomar parte em todasas negociações, podendo influir nos seus desdobramen-tos, dado seu poder de voto. Essa situação tem resulta-do em manifestações dos que acreditam que ela podefortalecer o Mercosul nos foros internacionais e dos quepensam que pode gerar problemas políticos.

Com a entrada da Venezuela, há uma ampliação doMercosul, o que poderá estimular novas relações comer-ciais e aumentar o poder de barganha nas negociaçõesexternas. O bloco passa a ter mais de 250 milhões dehabitantes e seu Produto Interno Bruto (PIB) superaUS$ 1,1 trilhão, sendo de 12% a representatividade daVenezuela no triênio 2003-05. O PIB per capita corrigido

5 O MAC tem como objetivo proteger a indústria nacional, quandoas importações de um determinado produto originário do outropaís aumentarem substancialmente, prejudicando — real oupotencialmente — a produção local. Entretanto, devido às alte-rações nas conjunturas de ambos os países, esse mecanismonão foi ainda adotado.

6 Para uma análise mais detalhada das assimetrias do Mercosul,ver estudo Uruguay (2006).

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pela paridade do poder de compra da Venezuela, em 2005,atingiu a US$ 6.186, apenas superior ao do Paraguai(US$ 4.887).

As manifestações oficiais da Argentina e do Brasilsão de que a Venezuela tem um papel importante nocontinente e de que sua adesão ao Mercosul pode cola-borar com o processo de integração e projeção da Amé-rica do Sul, possibilitando a construção de associaçõesmais ambiciosas.

Contudo a Venezuela também pode contribuir parao aumento da incerteza no bloco, pois as decisões de-pendem de negociações intergovernamentais, de acor-do com a vontade dos dirigentes dos países-membros.Nesse caso, o Mercosul pode deixar de ser economica-mente interessante para alguns investidores externos,pelo fato de o Presidente Chávez ter posições contráriasaos Estados Unidos e à globalização. E essas posiçõespoderão dificultar ou, até mesmo, significar o fim dasnegociações da Área de Livre Comércio das Américas(ALCA).

Mas, de acordo com Hirst (2006), em vez de afir-mar que a presença da Venezuela no Mercosul significa-rá o fim da ALCA, seria importante perguntar se nãoteria sido o distanciamento do Brasil e do Mercosulda ALCA um fator que favoreceu o ingresso da Venezuelano bloco? E essa é mais uma questão quedeverá ser considerada pelos críticos da ampliação dobloco.

Como os poderes de voto e de veto são iguais paratodos os membros, qualquer negociação extra-Mercosuldependerá dos interesses de um associado com supos-tas pretensões de liderança política na América do Sul.Isso poderá gerar um temor de que haja um maior extre-mismo político no bloco, o que poderá criar situações deconfronto com os demais sócios, aumentando as dificul-dades para manter a sua unidade. Nesse sentido, váriosdiplomatas e políticos dos países-membros têm mani-festado sua preocupação pela entrada da Venezuela noMercosul.

Conforme Barbosa (2006), “[...] o presidente doParaguai havia anteriormente declarado que a entradada Venezuela poderá transformar o Mercosul num fórumde maniqueísmo político ou na exacerbação de confron-tos ideológicos ou dogmáticos”. Também enfatizou que,apesar da entusiástica defesa da entrada da Venezuela,Celso Amorim teria admitido que ela pode trazer “compli-cações políticas”. Ainda salientou que existe um riscode o Presidente venezuelano usar o Mercosul apenaspara seus próprios projetos, tais como o endosso à

candidatura ao Conselho de Segurança da ONU,7 a ani-mosidade em relação aos EUA, em especial no tocanteà ALCA, e o projeto alternativo da Alternativa BolivarianaPara a América (Alba)8, concretizado pelo Tratado deComércio dos Povos entre Bolívia, Cuba e Venezuela.

Segundo o ex-Ministro da Economia da Argentina,Roberto Lavagna, a Venezuela é bem-vinda como mem-bro, porém deve-se ter o cuidado para que seu governonão troque a agenda econômica, comercial e financeirapor uma agenda populista, política e militar (Mercosur...,2006).

Do exposto, depreende-se que a maior crítica àentrada da Venezuela no Mercosul se deve às caracte-rísticas pessoais de seu Presidente, devido à suaimprevisível conduta. Contudo deve-se ter presente queos objetivos de um processo de integração abrangemum horizonte de tempo muito maior do que o período deum mandatário no poder.

Considerações finais

A Venezuela é uma economia importante, com gran-des reservas petrolíferas e financeiras, além de sua im-portância estratégica na Bacia Amazônica. Sua incorpo-ração amplia a integração política e econômica doMercosul, fortalece a segurança energética dos mem-bros do bloco e representa um acréscimo de mercado.Se, de um lado, poderá provocar efeitos consideráveisna agenda do setor energético do bloco, de outro, nãodeverá ocasionar impacto relevante a ponto de alterar operfil econômico e comercial dos países que o integram.

A entrada da Venezuela no Mercosul tambémsignifica um importante passo para o aprofundamentoda integração econômica da América Latina, prevista noTratado de Assunção, e pode representar um grande es-tímulo para que os demais países da América do Sulpleiteiem, igualmente, seu acesso. Isso vem ao encon-tro da Comunidade Sul-Americana de Nações (CSN), querepresenta, para a diplomacia brasileira, uma estratégiade grande importância na conformação de um projetoeconômico próprio para a região e pode servir parabarganhas políticas nas negociações com terceiros.

7 Na América do Sul, apóiam a candidatura da Venezuela a mem-bro não permanente do Conselho de Segurança da ONU noperíodo 2007-08 os países do Mercosul (Brasil, Argentina,Paraguai e Uruguai) e a Bolívia (Jardim, 2006).

8 A Alba é um modelo de integração dos povos do Caribe e daAmérica Latina, que surge como uma alternativa ao modelodenominado, por Chávez, neoliberal. Para maiores detalhes,ver Alternativa Bolivariana Para a América — Alba (2006).

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Se alguns reflexos do ingresso da Venezuela noMercosul ainda vão demorar a aparecer, tendo em vistaque existem prazos para a incorporação de todas asnormas vigentes, nas negociações externas eles serãosentidos mais rapidamente. E, ao integrar todos os forosde discussão e de decisão de política externa do bloco,imediatamente, a Venezuela poderá afetar as negocia-ções em andamento, o que vem causando algumaspreocupações, face às atitudes e às características doseu Presidente.

Contudo não se pode pensar em um processointegracionista baseado nos seus atuais representantes.O Mercosul já existe há 16 anos e, durante esse perío-do, enfrentou várias crises internas, muitas das quaisdevido a mandatários com posições que geravam de-sentendimentos. Mas os objetivos e os interesses en-volvidos no processo abrangem um prazo muito maiordo que o do mandato dos presidentes, e, nesse caso, aadesão da Venezuela deve ser analisada tendo-se emvista a relação benefício/custo em longo prazo, sobre aqual ainda não há um consenso.

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Sônia Unikowsky Teruchkin

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 45-50, dez. 2006

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 51-56, dez. 2006

51Mercado de trabalho na RMPA: queda do desemprego e da ocupação e leve recuperação dos rendimentos

O presente texto tem o objetivo de analisar osresultados dos principais indicadores do mercado detrabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA),considerando os dados até agosto de 2006 e osresultados dos dois anos anteriores (2004 e 2005), a fimde possibilitar uma comparação entre os movimentosatuais e os observados nos mesmos períodos dos outrosdois anos.

Queda da participação nomercado de trabalhoatenua o desemprego

A taxa de desemprego total, em agosto último,atingiu 14,6% da População Economicamente Ativa(PEA). Esse indicador, apesar de registrar a quarta quedaconsecutiva (a taxa de desemprego começou a apresentarqueda a partir de maio), ainda obteve resultadodesfavorável ao longo do ano, uma vez que a taxa dedesemprego no final de 2005 era de 13,7%.

Comparando a taxa de desemprego atual com a domesmo mês do ano anterior, pode-se observar umarelativa estabilidade, pois, em agosto passado, 14,7%da PEA se encontravam na condição de desempregados,frente aos atuais 14,6%.

Analisando os movimentos da taxa de desempregoem 2006 no Gráfico 1, pode-se observar uma grandesemelhança com os do ano de 2004. Em síntese, a taxade desemprego eleva-se rapidamente até o mês de abril,caindo, a partir de maio, até o final do ano, mas comredução de intensidade para os meses entre outubro e

Mercado de trabalhoMercado de trabalhoMercado de trabalhoMercado de trabalhoMercado de trabalho

Mercado de trabalho na RMPA: queda dodesemprego e da ocupação e leverecuperação dos rendimentos*

Jéferson Daniel de Matos Estatístico da FEE

* Artigo recebido em 10 out. 2006.

dezembro. Já em 2005, a taxa de desemprego sofreumenos oscilações, os movimentos foram bem maissuaves, a elevação da taxa de desemprego estendeu-seaté junho, mas a recuperação, no segundo semestre, foisuficiente para a taxa fechar o ano em patamar menordo que o do início do ano. A única exceção de quedaabrupta na taxa de desemprego, em 2005, foi o mês dedezembro, quando, dentre outros fatores, ocorremcontratações temporárias no comércio, em decorrênciado Natal.

Considerando que a taxa de desemprego apresentamovimentos sazonais bem marcantes, calculou-se a taxalivre de movimentos sazonais. A série dessazonalizadaapresenta movimentos bem suaves no ano de 2006, ataxa de desemprego de agosto deste ano encontra-seem patamar idêntico ao do início do ano (14,3%), o quepode ser interpretado como um bom sinal, uma vez queo aumento da taxa observado no ano, de 13,2% para14,6%, é fruto essencialmente do comportamentosazonal e não de uma tendência de aumento da taxa dedesemprego.

Analisando-se o período mais recente, entre junhoe agosto de 2006, a taxa de desemprego caiu de 15,0%para 14,6% da PEA. A taxa, em agosto de 2006, voltoua ser mais baixa do que a de 2005, assim como ocorreunos primeiros dois meses do ano. Já para o período entremarço e julho, a RMPA experimentou, em 2006, taxas dedesemprego mais altas do que as observadas em 2005(Gráfico 2). Se os movimentos para a taxa de desempregode 2006 continuarem seguindo a tendência observadaem 2004, a taxa de desemprego poderá registrar, atédezembro, os seus menores níveis dos últimos 36meses.

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52 Jéferson Daniel de Matos

Apesar dos resultados favoráveis na taxa dedesemprego, no período mais recente, é preciso observarque esse resultado ocorreu basicamente pela queda donúmero de pessoas economicamente ativas, refletindoqueda da taxa de participação no período, e não pelocrescimento do número de pessoas ocupadas.

O número de pessoas economicamente ativas caiude 1.842 mil em junho de 2006 para 1.823 mil em agosto,o que representa uma retração de 1,0% na PEA, nessesdois meses. A taxa de participação apresentou quedabastante significativa nesse período, uma vez que caiude 56,4% da População em Idade Ativa (PIA) em junhopara apenas 55,7% em agosto (queda de 1,3%). Opatamar da taxa de participação observado em agostonão era tão baixo assim desde meados de 1998 (períodode forte aceleração do desemprego), o que ressalta bemque, se não fosse pela baixa pressão no mercado de

trabalho, em agosto, os resultados do período seriambastante desfavoráveis no que se refere à taxa dedesemprego, uma vez que o número absoluto de pessoasocupadas em agosto teve queda de 9 mil em relação ajunho, e, o mais grave, nos últimos 12 meses, houveuma diminuição de 26 mil ocupados na RMPA.

Se a taxa de participação de agosto de 2006apresentasse o mesmo patamar da de agosto de 2005,o número de desempregados poderia ser de 337 mil, emvez dos 266 mil observados realmente na pesquisa, oque significaria uma taxa de desemprego de 17,8%, maisde três pontos percentuais acima da constatada, que foide 14,6% da PEA. Para que a taxa de participação deago./06 fosse a mesma de ago./05, seria necessário queo mercado absorvesse mais 60 mil ocupados, a fim deque a taxa de desemprego se mantivesse em 14,6%.

Taxa de desemprego total, por mês, na RMPA — jan./04-ago./06

10

11

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14

15

16

17

18

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

2004 2005 2006

(%)

Gráfico 1

Legenda:

FONTE DOS DADOS BRUTOS: INFORME PED. Porto Alegre: FEE, v. 15, n. 8, ago. 2006.

0

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53Mercado de trabalho na RMPA: queda do desemprego e da ocupação e leve recuperação dos rendimentos

Ocupação segue emretração

O nível de ocupação na Região Metropolitana, em2006, vem sofrendo retrações consecutivas. Começouem janeiro, com 1.611 mil ocupados, atingindo, emagosto, o patamar mínimo, 1.557 mil ocupados, o querepresenta menos 54 mil postos de trabalho na RMPA,no ano. Comparando-se com o mês de agosto de 2005,hoje são menos 26 mil ocupados. Os resultados do nívelde ocupação observados em julho e agosto de 2006 estãobem abaixo dos patamares do mesmo período do anoanterior. Pelo Gráfico 3, é possível ver que o índice, atéjunho, era favorável ao ano de 2006 em relação a 2005,mas essa relação foi rompida em julho e agravada emagosto.

Analisando-se o índice de ocupação para os anosanteriores, é possível observar que, a partir de abril, seiniciou um processo de recuperação que se prolongouaté por volta de agosto e setembro, mas, no ano de 2006,esse crescimento não ocorreu, pelo contrário, houvequeda no número de pessoas ocupadas.

Segmentando a ocupação pelos grandes setoresde atividade econômica, fica claro que a queda daocupação ocorreu essencialmente na indústria e nocomércio. A indústria, que possuía 306 mil postos detrabalho em agosto de 2005, diminuiu para 301 mil postosem agosto de 2006 (5 mil postos que representam quedade 1,7%), e o setor do comércio, no mesmo período,passou de 287 mil para 271 mil postos (16 mil postosque representam queda de 5,6%). Serviços e construçãocivil não sofreram alteração no número de ocupados, nosaldo dos últimos 12 meses (Inf. PED, ago. 2006).

Na indústria, o ramo de química e plásticos foi oque apresentou maior queda nos últimos 12 meses; nocomércio, os resultados foram desfavoráveis tanto novarejista como no atacadista.

Taxa de desemprego na RMPA — ago./04-ago./06

11

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14

15

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17

Ago. Out. Dez. Fev. Abr. Jun. Ago. Out. Dez. Fev. Abr. Jun. Ago.

Série orginal Série livre de sazonalidade

2005 20062004

Gráfico 2

Legenda:

FONTE DOS DADOS BRUTOS: INFORME PED. Porto Alegre: FEE, v. 15, n. 8, ago. 2006.

Série dessazonalizada

(%)

0

Série original

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54 Jéferson Daniel de Matos

Leve recuperação dosrendimentos e diminuiçãoda desigualdade

O rendimento médio real dos ocupados na RMPAvem apresentando uma pequena recuperação no ano de2006. O rendimento médio real, em julho, chegou a R$928 contra os R$ 903 observados em janeiro de 2006(elevação de 2,8%). Analisando-se a série de rendimentosdos dois anos anteriores, é possível observar que osrendimentos sofreram menores oscilações até o mês deagosto, e, a partir de setembro, ocorreram as maioresvariações, tanto para queda como para crescimento.Comparando-se os rendimentos dos dois anos anteriores,é possível verificar movimentos de tendência bastanteantagônica, principalmente a partir de julho. Em 2004, orendimento médio apresentou queda bem acentuada entrejulho e outubro, recuperando-se nos dois últimos mesesdo ano. Em 2005, a renda dos ocupados teve crescimentointenso entre julho e setembro e uma leve queda emoutubro, para, nos últimos dois meses, apresentar umagrande retração, conforme Gráfico 4.

O rendimento médio real em janeiro de 2006 estavaem patamar mais baixo do que o observado no mesmoperíodo de 2004. Com pequenos aumentos, porémpersistentes, em julho, o rendimento médio ultrapassouo patamar de julho de 2004.

Analisando-se os rendimentos médios reais por setorde atividade e posição na ocupação, constata-se que aquase-totalidade dos segmentos obteve trajetória decrescimento, com exceção do comércio, queexperimentou retração de 2,2% no acumulado em 12meses. Considerando-se os resultados mais recentes(últimos dois meses), todos os setores apresentaramganho real.

Os setores de atividade com maior crescimento dorendimento médio foram, pela ordem: construção civil(11,1%) e indústria (7,9%); o setor de serviços, quecomporta o maior número de ocupados na RMPA, sofreupequena variação positiva (0,6%).

No que se refere à posição na ocupação, cabedestacar o resultado altamente satisfatório dosempregados domésticos, que tiveram sua renda médiaelevada em 15,8%, os assalariados sem carteira, quetiveram seus salários aumentados em 12,4%, ambos nosúltimos 12 meses, e os autônomos e os assalariados

Índice de ocupação, por mês, na RMPA — jan./04-ago./06

100

102

104

106

108

110

112

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Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

2004 2005 2006

FONTE DOS DADOS BRUTOS: INFORME PED. Porto Alegre: FEE, v. 15, n. 8, ago. 2006. NOTA: Os dados têm como base a média do ano 2000 = 100.

Gráfico 3

Legenda:

0

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55Mercado de trabalho na RMPA: queda do desemprego e da ocupação e leve recuperação dos rendimentos

com carteira, que tiveram seu rendimento médio realelevado em 4,7% no mesmo período. O resultadoobservado para os empregados domésticos encontraexplicação no fato de o aumento do salário mínimo doperíodo ter sido suficientemente maior que a inflação.

O resultado bastante favorável na renda dosempregados domésticos, no período, contribuiu para umamelhora na distribuição dos rendimentos do trabalho, ouseja, como quem teve os maiores aumentos foram osempregados domésticos, que são os com menoresrendimentos, a desigualdade na distribuição de renda foiatenuada. Essa afirmação pode ser confirmada, ao seanalisar o percentual de renda adquirida pelos quartis deocupados.

Os 25% dos ocupados que ganham menosobtiveram, em agosto de 2006, 8,54% da massa totalde rendimentos. Em agosto do ano anterior, essepercentual era de 7,86%. Desde o início da pesquisa,em junho de 1992, esse foi o maior percentual de rendaauferido pelo primeiro quartil. Por outro lado, os 25% queganham mais, em agosto de 2006, se apropriaram de56,37% da renda total, no caso, o menor percentual desdeo início da pesquisa. Essas duas constatações levam acrer que ocorreu um movimento significativo de diminuiçãona desigualdade da distribuição de renda, entre osocupados da RMPA.

Rendimento médio real dos ocupados, por mês, na RMPA — jan./04-jul./06

850,00

870,00

890,00

910,00

930,00

950,00

970,00

990,00

Janeiro Maio Julho Setembro Novembro

2004 2005 2006

FONTE DOS DADOS BRUTOS: INFORME PED. Porto Alegre: FEE, v. 15, n. 8, ago. 2006.NOTA: Valores referentes a julho de 2006.

Legenda:

Gráfico 4

(R$)

0Março

Movimentos destacáveis

A queda da participação da População em IdadeAtiva no mercado de trabalho, na RMPA, foi o fatordecisivo para que a taxa de desemprego não aumentasseno período de julho e agosto de 2006. O resultado dataxa de desemprego não pode ser tomado isoladamentepara avaliar o desempenho do mercado de trabalho, umavez que o número de ocupados também vem sofrendo

diminuições constantes. Os setores da indústria e docomércio foram os que acumularam maiores perdas nonúmero de postos de trabalho. O rendimento médio realdos ocupados da RMPA vem-se recuperando leve econtinuamente. Os empregados domésticos foram ostrabalhadores que acumularam os maiores ganhos nosúltimos 12 meses, e isso contribuiu para o melhor quadrona distribuição de rendimento dos ocupados desdemeados de 1992.

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56 Jéferson Daniel de Matos

Referências

INFORME PED. Porto Alegre: FEE, v.13, n. esp., jan.2005.

INFORME PED. Porto Alegre: FEE, v.14, n. esp., jan.2006.

INFORME PED. Porto Alegre: FEE, v.15, n. 8, ago. 2006.

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A popularização da telefonia no RS

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 57-70, dez. 2006

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PPPPPolíticas públicasolíticas públicasolíticas públicasolíticas públicasolíticas públicas

A popularização da telefonia no RS*

Renato Antonio Dal Maso Economista e Coordenador do Núcleo de Políticas Públicas da FEE

1 Introdução

O que é universalização dos serviços de telecomu-nicações? A disponibilidade e a acessibilidade a todosfundam os serviços públicos universais, que, em geral,apresentam alta relevância social e econômica. Esseatributo identifica os serviços de abastecimento de água,saneamento básico, telecomunicações, energia elétrica,transporte urbano e outros como de acesso universal.Eles têm importância estrutural no funcionamento dascidades e na organização da produção, cuja oferta deveser provida em escala massiva e adequada. A naturezaestrutural e a alta relevância social dos serviços públicossão atributos similares aos dos sistemas monetário, decrédito e da educação (Solanes, 1999, p. 11). Essarelevância dos serviços públicos implica que suasatividades sejam orientadas por política públicasgovernamentais e sujeitas à regulação em prol daproteção do interesse público.

A política nacional de telecomunicações orienta ecomplementa as atividades do setor, envolvendo asseguintes atribuições: criar um arcabouço legal; criar umórgão regulador e fiscalizador; definir um plano deuniversalização dos serviços; estabelecer um sistemade tarifas que assegure o financiamento das atividades;estabelecer o regime de funcionamento do mercado; eter uma política industrial e tecnológica setorial. No Brasil,a política de telecomunicações, definida a partir de 1995,privatizando estatais, abrindo o mercado e promovendomudanças institucionais, regulatórias e tarifárias, figuracomo bem-sucedida, por ter puxado um ciclo de expansãodos serviços, pela universalização do acesso e do usodestes e pela oferta de serviços convergentes.

*Artigo recebido em 02 out. 2006.

Este texto analisa os resultados da política nacionalde telecomunicações implementada entre 1995 e 2005.Considerando a complexidade da política e as suas inter--relações para exame neste trabalho, optou-se por focaro fenômeno da universalização no RS. Os seus principaisresultados foram a construção da rede de telefonia, auniversalização do seu acesso e a adesão maciça aosserviços. Esse fenômeno também ocorreu nos demaisestados do Brasil, porém ele se destaca no RS pelapopularização entre os gaúchos. Em 2005, para cada100 habitantes, foram disponibilizados 94 telefones, sendo64,4 acessos a telefones celulares e 29,6 a fixos. Essagrande adesão dos gaúchos aos serviços ocorre em todasas faixas de renda e só não supera a do Distrito Federal(DF), por ter área geográfica e urbana mais densa.Curiosamente, os moradores rurais destacam-se pela altaadesão, numa relação de 67 acessos por 100 habitantes.Além do fator renda, que explica a universalização datelefonia, cabe destacar a preferência pelo celular complanos pré-pagos, a capilaridade da rede de telefonia fixa,atendendo todas as localidades, e a cobertura da redecelular, que dá sinal para 95,5% da população.

Conforme o antigo Plano Geral de Metas deUniversalização (PGMU), de 1998, válido até 2005, e oatual, em vigor até 2011, a universalização é definidacomo o

[...] direito de acesso de toda pessoa ouinstituição, independentemente de sualocalização e condição socioeconômica, aoserviço telefônico fixo comutado (STFC) [...],bem como a utilização desse serviço detelecomunicações em serviços essenciais deinteresse público [...], e mediante o pagamentode tarifas estabelecidas na regulamentaçãoespecífica (Brasil, 1998).

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Renato Antonio Dal Maso

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 57-70, dez. 2006

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Qual o significado do conceito de universalizaçãoincorporado na política? O PGMU assegura o direito deacesso a todos e a obrigação, apenas das prestadorasoriginárias do sistema Telebrás e da CRT no RS, dedisponibilizar os serviços de telecomunicações restritosao telefone público (TP). Os planos estabelecem metasgenéricas de instalação de TPs e de telefones fixos porestados, a serem cumpridas progressivamente.

Cabe destacar que o PGMU de 1998 (Brasil, 1998)definiu um conjunto de obrigações de universalização,assumidas pelas prestadoras originárias, através dediversas metas para disponibilizar o acesso telefônicofixo, que são as seguintes: densidade de 8% de TPs por1.000 habitantes; nas localidades com rede instalada,disponibilizar um TP a cada 300 metros de distância até2003 e, nas instituições de ensino e de saúde,disponibilidade de acesso em uma semana; 2% dos TPsdeveriam ser adequados para atender a deficientesfísicos; 100% das localidades sem rede de telefoniadeveriam ter TP em 2005; e instalar 2.102.000 acessosfixos e 55.200 TPs até 2001 (Quadro 1).

A obrigação de universalização no RS foi umaatribuição somente da Brasil Telecom, empresa origináriada CRT. As demais prestadoras fixas e celulares nãoestão sujeitas a ele, embora tenham entregado um planode compromisso junto a Anatel, por serem novasentrantes no mercado.

Portanto, o conceito de universalização adotado noBrasil é restrito à expansão dos TPs e a uma metagenérica definida para cada estado da Federação. Nestetrabalho, tomou-se um conceito de universalização maisamplo, considerando a disponibilidade e a acessibilidadedos serviços telefônicos fixos e celulares a todos,independentemente de sua localização, mediante opagamento de tarifas estabelecidas na regulamentaçãoespecífica. Assim, considera-se o conjunto de acessostelefônicos fixos e celulares. Adota-se esse conceitoamplo para analisar o alargamento do acesso e do usoda telefonia no RS. As principais variáveis e osindicadores utilizados para evidenciar as proposições dotrabalho são os seguintes: número de acessos telefônicosdisponibilizados, também conhecidos por acessosinstalados; percentual de acessos de cada prestadora;densidade telefônica, que relaciona o número de acessospor 100 habitantes; densidade urbana, que relaciona onúmero de acessos por 100 habitantes urbanos; edensidade por faixa de renda.

O texto está organizado nos seguintes pontos, alémdesta Introdução: no item 2, faz-se uma apresentaçãosucinta sobre o novo modelo de mercado da telefonia no

Brasil e sobre o movimento recente de concentração docapital no setor, após a privatização que formou quatrograndes grupos dominantes; no item 3, apresentam-seas prestadoras que operam os serviços no RS e arespectiva participação no mercado; no item 4, analisam--se os resultados da política de telecomunicações noRS, no período de 1995 a 2005; e, por último, colocam--se as Considerações finais.

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A popularização da telefonia no RS

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2 As prestadoras de telefo- nia no RS

A seguir, examina-se o funcionamento do modelode telecomunicações no RS, identificando as prestadorasde telefonia fixa e as de celular, o número de acessosdisponibilizados e a participação no mercado.

Na telefonia fixa, operam a Brasil Telecom, a GlobalVillage Telecom (GVT) e demais pequenas operadoras.A liderança da Brasil Telecom desponta pelo controle de90,0% dos acessos em serviços, em 2005. Também con-tabiliza uma capacidade ociosa de acessos não utilizadosde 15,4%. E a GVT opera 9,9% dos acessos fixos; tendo--se uma baixa penetração das demais prestadoras. Natelefonia celular, disputam o mercado quatro prestadoras:a Vivo, operando 47,6% dos acessos celulares; a Claro,com 33,8%; a TIM, com 11,8%; e a Brasil Telecom GSM,com 6,8%. Destaca-se que a supremacia dos celulares

pré-pagos tem sido a estratégia das operadoras, buscandoincorporar usuários de baixa renda que precisam controlargastos. Esses usuários representavam 80,4% na Vivo,84,5% na Claro, 77,0% na Tim e 72,8% na Brasil TelecomGSM, em 2005. Além de serem a maioria, eles pagam odobro por minuto de ligação, ou seja, R$ 1,19, R$ 1,25,R$ 1,24 e R$ 1,18 respectivamente. A liderança dasprestadoras no mercado do RS pode ser melhor vistaatravés da participação no controle de acessos ao longodo período (Tabela 2). A maior fatia do mercado detelefonia fixa local e de longa distância fica com a BrasilTelecom. A GVT obteve ganho crescente, no mercado,nos seis anos de operação e garantiu o controle de 9,9%dos acessos fixos, cuja participação é muito efêmerapara caracterizar o regime competitivo planejado pelapolítica de telecomunicações. Inclusive não abala aliderança dominante da Brasil Telecom na operação datelefonia fixa (Tabela 2 e Gráfico 1).

Quadro 1

Plano Geral de Metas de Universalização dos TPs — 1998-05

PRAZO DE REALIZAÇÃO METAS DO PGMU

Metas de expansão dos acessos de TPs A partir de 31.12.05 A densidade deve ser de 8,0% (TPs/1.000 habitantes) ou de 3,0% dos acessos individuais instalados

Metas para TPs nas localidades com telefonia fixa (STFC)

A partir de 31.12.03 Localizados a cada 300 metros de distância, e 50% dos TPs devem estar acessíveis 24 horas por dia

Metas para TPs nos estabelecimentos de ensino regular e em instituições de saúde em localidades com STFC

A partir de 31.12.03 Deve ser atendido em uma semana

Metas para TPs para atender a solicitações de deficientes físicos

A partir de 31.12.03 Devem existir 2% dos TPs, e o atendimento deve ser em uma semana

Metas para TPs nas localidades sem STFC

Até 31.12.05 100% localidades com mais 100 habitantes devem ter TPs

Até 1999 Até 2000 Até 2001

Metas para instalar telefonia fixa individual (número de acessos telefônicos fixos) 1.623.000 1.861.000 2.102.000

FONTE: DALMAZO, Renato A. As mudanças político-institucionais nas telecomunicações brasileiras. Porto Alegre: FEE, 2002. p. 256 (Teses FEE, n. 2). DAL MASO, Renato A. A política nacional de telecomunicações entre 1995 e 2005. Porto Alegre: FEE, 2005a. (Relatório de pesquisa). BRASIL. Decreto n. 2.592, de 15 de maio de 1998. Aprova o Plano Geral de Metas de Universalização do Serviço Telefônico Fixo Comutado prestado no regime público. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 18.05.1998.

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A Brasil Telecom completou a construção da redede telefonia no RS e expandiu significativamente a ofertade acessos fixos, para cumprir as metas do PGMU até2001. Desde então, registram-se baixas taxas de variaçãoda oferta de novos telefones disponibilizados (Tabela 1).

O desempenho das prestadoras de serviçoscelulares tem sido mais dinâmico do que o dasprestadoras de telefonia fixa. A supremacia aparece nonúmero absoluto de acessos e, principalmente, nas altastaxas anuais de expansão da oferta de novos celulares(Tabela 1), sendo de 36% em 2004 e de 17,7% em 2005.Os acessos a telefones celulares representavam 69,3%do total dos acessos em jul./06. A Vivo detém a maiorfatia do mercado, controlando de 31,65% dos acessostotais; em segundo lugar, vem a Brasil Telecom GSM(27,56%), seguida da Claro, com 23,15% (Tabela 2).

Na telefonia celular, ocorreu a entrada de três novasprestadoras no mercado do RS: a Claro em 1997, a Timem 2000 e a Brasil Telecom GSM em setembro de 2004.Nesse mercado, o regime competitivo afetou a liderançada Vivo, que perdeu participação, medida em termos decontrole de acessos, embora ela tenha superado o totalde acessos fixos instalados. Em termos de acessos, aVivo controlava 94,9% desses em 1997 e 47,6% em 2005.A Claro aparece como a segunda maior prestadora,operando 33,8% dos acessos neste último ano. A TIMfigura com 11,8% dos acessos celulares; e a BrasilTelecom, com 6,8%, visto ter iniciado suas operaçõesmais tarde, como assinalado anteriormente (Tabela 2 eGráfico 1). Em relação à construção da rede no espaço

Tabela 1

Taxa de crescimento dos acessos fixos e celulares no RS — 1998-05

(%)

ANOS FIXOS CELULARES

1998 38,9 74,0

1999 8,2 77,1

2000 26,2 69,5

2001 19,6 28,7

2002 8,8 20,6

2003 2,5 34,8

2004 5,8 36,0

2005 1,5 17,7 FONTE DOS DADOS BRUTOS: Anatel (2005). Disponível

em: <www.anatel.gov.br>.

geográfico do RS, as prestadoras informam que deramcobertura para 95,3% da população em 2005, sendo quea Vivo atende a 91%; a Claro, a 93%; a TIM, a 94%; e aBrasil Telecom GSM, a 90% (Ucel, 2006).

Os dados destacados na Tabela 3 revelam arealização de dois movimentos simultâneos na telefonia,no RS, e similares ao que ocorre no plano nacional. Oprimeiro é a universalização da telefonia em todas asfaixas de renda e em todo o espaço geográfico do RS.Ela foi o resultado da conclusão da rede de telefonia fixae da cobertura das redes de celulares, principalmentepela maior adesão aos planos pré-pagos. O indicadordensidade, que relaciona o número de acessos por 100habitantes, representou 29,6% para a telefonia fixa, 64,4%para a celular e 94% para a fixa e celular. A participaçãodos celulares alterou-se significativamente, conformemostram os Gráficos 2 e 3.

O segundo movimento é a intensificação da compe-tição. A disputa no mercado trava-se entre todas asprestadoras de telefonia fixa, de telefonia celular e demaisempresas provedoras de serviços convergentes deinternet, TV a cabo, etc. A competição através dos dife-rentes serviços convergentes desencadeou também ummovimento de concentração de capital nas prestadoras,para criar capacidade para provê-los. Outro fato a destacarfoi o rearranjo institucional no ano 2000, que estabeleceuque a área de concessão das prestadoras de telefonesfixos seria também a área das prestadoras de celulares.Esse arranjo liberou a entrada de novas empresas e aconcentração das prestadoras, que agora têm um braço(empresa) para operar a telefonia fixa, outro para atelefonia celular e outros ainda para operar os demaisserviços convergentes de telecomunicações. Assim, acompetição trava-se entre poucos grupos (Brasil Telecom,Telefônica-Vivo, Claro-Embratel, Telemar-Oi), que prestamtodos os serviços convergentes (telefonia fixa, celular,internet, comunicação de dados, TV a cabo, etc).

Um resultado expressivo dos movimentos apon-tados ocorreu na modalidade celular pré-pago, que explo-diu após a construção da rede de infra-estrutura da telefo-nia fixa e da de cobertura celular no RS. Essas condiçõesabriram caminho para os usuários exercerem maciçamen-te a preferência pelo pré-pago e pelos demais serviçosconvergentes em relação à telefonia fixa.

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Tabela 2

Prestadoras de serviços de telefonia e número de acessos no RS — 2005 e jul./06

2005 JUL/06

DISCRIMINAÇÃO Número de Acessos

Composição dos Acessos

por Moda-lidade

(%)

Composição do Total dos

Acessos (%)

Número de

Acessos

Composição dos Acessos

por Moda-lidade

(%)

Composição do Total dos

Acessos (%)

Fixa (Local, LDN e LDI)

Brasil Telecom ............................. 2 905 616 90,0 28,3 2 871 604 89,9 27,5

Global Village Telecom ................ 322 000 9,9 3,1 (1)322 000 (1)10,0 (1)3,1

Tmais S/A; Transit Telecom S/A 2 000 0,1 0,0 (1) 2 000 (1) 0,1 (1)0,0

Subtotal ...................................... 3 229 616 100,0 31,4 3 195 604 100,0 30,7

Celular

Telefônica Celular (Vivo) ............. 3 333 859 47,6 32,5 3 298 029 45,6 31,6

Telet S/A (Claro) .......................... 2 372 614 33,8 23,2 2 412 488 33,4 23,1

TIM S/A ........................................ 826 629 11,8 8,1 959 217 13,2 9,2

Brasil Telecom Celular GSM ....... 478 169 6,8 4,8 553 283 7,6 5,3

Subtotal ...................................... 7 011 271 100,0 68,6 7 223 017 100,0 69,3

Telefonia de LDN e LDI

Embratel ...................................... ... ... ... ... ... ...

Intelig ........................................... ... ... ... ... ... ...

TOTAL DE ACESSOS ................ 10 240 887 - 100,0 10 418 621 - 100,0

FONTE: Anatel (2005). Disponível em: <www.anatel.gov.br>. Teleco. Telefonia celular no Brasil 2005: relatório. Disponível em: < www.teleco.com.br>. Teleco. Telefonia fixa no Brasil 2005: relatório. Disponível em: <www.teleco.com.br>. (1) Número estimado.

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FONTE DOS DADOS BRUTOS: Tabela 2

9,9%0,1%

90,0%

Brasil Telecom

GVT

Outras

Legenda:

47,6%

33,8%

11,8%

6,8%

Vivo

Claro

Tim

Brasil Telecom GSM

Legenda:

33,1%

32,4%

23,2%

8,1%3,1% 0,1%

Brasil Telecom

Vivo

Claro

Tim

GVT

Outras

Legenda:

Gráfico 1

Participação das prestadoras nas telefonias fixa e celular, no RS — 2005

a) telefonia fixa

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Tabela 2.

b) telefonia celular

c) telefonia fixa e celular

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Tabela 3

Densidade da telefonia fixa e celular no RS — 1994-05 e jul./06

NÚMERO DE ACESSOS/ /100 HABITANTES

NÚMERO DE ACESSOS/ /100 HABITANTES URBANOS

ANOS

TAXA DE UTILIZA-

ÇÃO (1)

Fixos e Celulares

Fixos Celulares Fixos e Celulares

Fixos Celulares

TPs/1 000 HABITANTES

1994 90,4 8,3 8,5 0,5 9,1 7,3 1,0 1,4

1995 87,2 9,2 8,1 1,5 10,4 7,8 1,5 1,6

1996 82,5 11,0 8,9 2,2 12,8 8,8 2,2 1,8

1997 88,8 17,1 10,6 4,2 17,5 12,0 4,0 3,1

1998 92,3 23,1 16,5 5,7 28,8 20,6 8,2 3,5

1999 92,9 29,6 17,7 11,8 36,6 21,9 14,8 4,0

2000 89,2 42,1 22,1 15,2 51,6 27,1 24,5 5,4

2001 87,5 51,7 26,2 19,4 62,9 31,9 31,1 7,0

2002 90,7 58,6 28,2 34,1 70,8 34,0 36,7 7,1

2003 92,2 68,2 28,2 40,0 83,0 34,3 48,7 6,8

2004 88,5 83,9 29,5 55,2 102,1 35,9 66,2 6,7

2005 86,1 94,0 29,6 64,4 114,4 36,1 78,3 6,7

Jul./2006 ... ... ... 65,93 ... ... ... ...

FONTE: IBGE. Disponível em: http: www.ibge.gov.br (1) Número de acessos em serviço sobre o número de acessos instalados (disponíveis).

Evolução das densidades telefônica fixa e celular no RS — 1994-05

0

20

40

60

80

100

120

140

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fixa e celular Fixa Celular

Gráfico 2

(%)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Tabela 3.

Legenda:

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Percentual de moradores urbanos que tinham telefone,com até três salários mínimos mensais, no RS — 1998-2004

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1998 1999 2001 2002 2003 2004

(%)

Gráfico 3

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Tabela 4.

Até 1SM

Mais de 1 a 2SMsMais de 2 a 3SMs

3 A universalização da tele- fonia no RS

O PGMU (Brasil, 1998) foi um instrumento decisivopara a universalização dos serviços de telefonia fixa nasmodalidades de TPs, em todas as localidades, e para atelefonia fixa. O Plano estabeleceu metas para o aten-dimento das solicitações de telefone, para a adaptaçãode TPs para pessoas portadoras de deficiência e para agratuidade de chamadas para os serviços de emergência.A realização dessas metas foi da maior importância paracompletar a construção da rede infra-estrutura de teleco-municações no RS e, assim, disponibilizar o acesso atodos os demais serviços convergentes de telecomunica-ções. Ou seja, em todas as localidades do RS foraminstalados TPs, e, naquelas que dispunham da rede, foidisponibilizado um montante de 7,0 TPs para cada 1.000habitantes residentes.

Em relação às metas de acessos individuais paraas telefonias fixa e celular, projetou uma densidade de

32,6 telefones para cada 100 brasileiros, em todos osestados, para o ano 2005. No RS, a densidade da telefoniafixa alcançou a marca de 29,6 acessos disponíveis paracada 100 habitantes nesse ano. Na telefonia celular, aadesão aos serviços superou em dobro aquela meta,sendo a densidade de 64,4 para cada 100 gaúchos.

A Tabela 3 mostra a evolução dos indicadores dedensidade sobre as telefonias fixa e celular entre 1994 e2005. A expansão da planta de acessos aos telefonesnesse período pode ser demonstrada pelo indicador dedisponibilidade de acessos à população em geral, bemcomo pela densidade nas cidades ou nos centros urbanos.Tomam-se como medida as relações entre acessos epopulação urbana e entre acessos e domicílios urbanos.Quanto à densidade telefônica, têm-se dois movimentosdistintos, sendo que um reflete a gestão pública da presta-dora CRT, e outro, a gestão privada pós-privatização. Agestão pública da telefonia fixa realizou pesados investi-mentos na expansão da rede entre 1995 e meados de1998. Isso se revela pela disponibilidade de acessos,que dobrou a densidade de 8,1 para 16,5 em cada 100

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habitantes. Em seqüência, sob gestão privada, houveum aumento significativo da oferta de acessos entre 2000e 2005, e a densidade alcançou 29,6 para cada 100pessoas. Na telefonia celular, as altas taxas de expansãoocorreram desde 1995, sob gestão pública, ganhandomais dinamismo com a entrada das prestadoras privadasna Banda B (a Telet-Claro), em 1997, e, posteriormente,em meados de 1998, com a venda (privatização) daprestadora CRT para a Vivo (Banda A). Porém a reestrutu-ração do mercado de celulares com a implantação doSistema Móvel Pessoal, cuja área de operação passoua ter a mesma abrangência das áreas operadas pelasprestadoras da telefonia fixa, e a entrada de novosprestadores nas Bandas D e E (a TIM e a Brasil TelecomCelular GSM) promoveram maior cobertura da redecelular e adesão explosiva aos serviços.

Portanto, sob gestão pública, a disponibilidade deacessos fixos e celulares quase foi triplicada entre 1995e 1998. O número de acessos instalados cresceu 20,6%em 1996 e 38,9% em 1998. Esse desempenho contoutambém com a prioridade da política de telecomunicaçõesdo Governo Federal, tendo como um dos aspectosdecisivos o aumento das tarifas.

Sob gestão privada, a partir de agosto de 1998, aexpansão do setor manteve-se dinâmica, pela iniciativadas prestadoras para ocupar o mercado e cumprir ostermos do contrato em relação ao PGMU. Os indicadoresde densidade são reveladores, pois a densidade fixa maisa celular somam 94,0 em cada 100 pessoas, em 2005(Tabela 3 e Gráfico 2). O aumento da oferta de telefonesfixos instalados concentrou-se nos anos de 2000 e 2001,sendo de 26% e 19,6% respectivamente. Após a inflexãona disponibilidade de acessos, passou-se a evidenciarcrescente ociosidade de telefones, sendo a taxa deutilização de 93% em 2003 e de 86% em 2005. Issosignifica que muitos usuários devolveram as linhas deacesso à prestadora por motivos de custos dos serviçosou por falta de controle nos gastos com o uso da telefoniafixa. Porém a construção da infra-estrutura de rede e agrande disponibilidade de acessos instalados expandirama oferta dos serviços de telecomunicações convergentes,como comunicação de dados e internet.

Os indicadores de densidade urbana são os quemelhor representam a universalização da telefonia, poisos centros urbanos são, de fato, o tradicional reduto dasredes de telefonia e o mercado potencial. Conforme dadosda Tabela 3, a densidade urbana total representa umadisponibilidade de 114,4 acessos para cada 100 habitan-tes do RS, sendo que a rede fixa disponibilizava 36,1acessos, e a celular, 78,3, para cada 100 habitantes urba-nos, em 2005. Atualmente, as novas tecnologias permiti-

ram maior penetração nas áreas rurais, cuja populaçãofica mais dispersa e em locais remotos. Mesmo assim,os centros urbanos são, de fato, o mercado potencial epreferencial das prestadoras de telefonia. Por isso, osindicadores de densidade urbana são mais representa-tivos do fenômeno da adesão maciça aos serviços detelefonia.

4 A adesão maciça à tele- fonia

A seguir, examina-se a adesão aos serviços detelefonia pelos moradores urbanos e rurais por classesde rendimento mensal domiciliar, conforme estimativasda Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios daFundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(PNAD-IBGE). As informações agregadas para o RSprojetam alta densidade nas áreas urbana e rural,especialmente da telefonia celular. A grande adesão àtelefonia celular no espaço urbano e, surpreendente-mente, no meio rural representa uma das maiores doBrasil. As Tabelas 4, 5 e 6 revelam as classes de rendados moradores urbanos e rurais “que tinham” e dos que“não tinham telefone” no RS, de 1995 a 2004.

Sob gestão pública das prestadoras, os moradoresque tinham telefone no período referenciado se concen-travam nas classes de rendimento superiores a cincosalários mínimos (SMs) basicamente. Desde então, oacesso e o uso da telefonia propagaram-se por todas asclasses de renda, até 1998. Porém o grupo dos moradorescom mais de dois a cinco SMs que “tinham telefone”duplicou, e as demais classes com acesso elevaram-seem mais de 100% (Tabela 4 e Gráfico 3).

No período entre 1999 e 2004, a incorporação deusuários à rede de serviços telefônicos foi massiva,especialmente ocorrendo um extraordinária procura nasclasses de até três SMs, bem como ampliação da densi-dade nas classes com maior renda, onde quase 100%dos moradores dispõem de telefone. Portanto, a universali-zação nos centros urbanos teve alta adesão dosmoradores aos serviços, especialmente nas classes deum e dois SMs, onde 57,2% e 66,1% dos moradorestêm telefone.

A universalização entre os moradores rurais foi maissurpreendente, considerando aqui as condições dapopulação dispersa geograficamente e as dificuldadesnaturais para a expansão das redes nas regiões remotase não econômicas. Porém a incorporação de usuáriosrurais às redes também foi expressiva no RS. No período

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entre 1995 e 1998, os moradores com disponibilidade detelefones concentravam-se nas classes com cinco oumais SMs, mas também aumentou significativamente onúmero de moradores com telefone nas faixas de dois acinco SMs, pois eram 21,5% e passaram a representar39,8%. Essa participação aumentou em torno de 85,3%para o total de moradores (Tabela 4). A partir de 1999, aprocura por telefone foi explosiva, especialmente nasclasses que declararam ter rendimento mensal domiciliaraté cinco SMs. Dentre os moradores com até um SM,apenas 0,8% tinham telefone em 1998, grupo que cresceue já representava 34,3% em 2004. O número de morado-res nas faixas de um a dois SMs e de três a cinco SMsque declarou ter telefones aumentou 2.621,9% e 885,4%respectivamente (Tabela 5 e Gráfico 4). Verifica-setambém uma condição de plena universalização nas áreasrurais nas classes de maior rendimento. Certamente, essealargamento dos serviços resulta da cobertura de sinaldas redes das prestadoras de telefonia celular, que,atualmente, atendem mais de 95,5% da população doRS. Lembra-se que, nos anos de 1997 e 2000, entraramno mercado a Claro e a TIM, nessa ordem, respectiva-mente, e que, em setembro de 2004, a nova entrante foia Brasil Telecom Celular GSM.

A grande adesão à telefonia revela-se pelos dadossobre os moradores que possuíam telefone, agregadosapenas para algumas classes de renda: até 10SMs emais de 10SMs. Os dados confirmam a proposição daalta adesão dos gaúchos à telefonia e reafirmam a maiorpreferência pelo telefone celular, especialmente o pré--pago. Infelizmente, a agregação dos dados impossibilitaobservar o principal fato que está a ocorrer, que é a altaadesão dos usuários de menor renda. Destaca-se que,dentre os moradores com renda até 10SMs, um montantede 36,6% tinha somente telefone celular, e 12,6% tinhamsomente fixo. Mas os que tinham ambas as modalidadesrepresentavam 31,9% dos moradores em 2004. Tomando--se por base os indicadores de densidade dos acessosaos telefones fixos instalados (26,0) e dos celulares (55,2),eles sugerem que mais da metade dos gaúchos tinhatelefone celular em 2004. Por sua vez, os sul-rio--grandenses com rendimento mensal de mais de 10SMscom telefone somam um montante de 99,5%, demons-trando, assim, que os grupos que tinham somente aces-sos a fixos, ou a celulares, eram poucos, 4,8% e 8,8%respectivamente. Porém a maioria possuía os dois tipos(85,8%) — Tabela 6.

Por último, apresenta-se apenas um indicador deuniversalização da telefonia em nível municipal, tendoem vista a grande base de dados sobre os 496 municí-

pios. Os dados disponíveis referem-se apenas à telefoniafixa, incluindo os TPs.

Demonstrou-se acima que a universalização datelefonia nas áreas urbanas e rurais ocorreu pela adesãoexpressiva em todas classes de renda. Esse fenômenorepresenta também o espraiamento das redes detelefonia fixa e celular em nível municipal. Cabe distinguira Região Metropolitana de Porto Alegre em relação aosdemais municípios, por apresentar maiores densidadeseconômica e social, cujas características aumentam ademanda por serviços, razão pela qual sempre têmdesfrutado de infra-estrutura de rede mais desenvolvida.

Por extensão, os municípios mais desenvolvidosna indústria e no comércio e com maiores população erenda per capita também desfrutam de maior densidadetelefônica. Uma das razões para isso, certamente, éporque esses fatores tornam mais lucrativas as redesde telefonia fixa e celular. Por sua vez, aqueles geografi-camente distantes e em locais remotos deverão termenor índice de acesso. Assim, a presença dos fatoresdesenvolvimento econômico, população urbana, rendaper capita, proximidade dos grandes centros, etc. afetao mercado desses serviços e o maior ou menor acessoe uso dos usuários.

Para mostrar o fenômeno da universalização emnível municipal, tomaram-se indicadores sobre a densida-de média da telefonia fixa por faixa de habitantes. O indica-dor relaciona o número de acessos aos telefones fixosinstalados no município por 100 habitantes urbanos, queexpressa a oferta disponível de acesso, embora o númerode acessos telefônicos em serviço ou em funcionamentoseja menor. Não se dispõe de dados de acessos daprestadora GVT por absoluta falta de dados em nívelmunicipal.

Os dados da Tabela 7 revelam o alargamento doacesso e do uso da telefonia em nível municipal, agrupan-do as unidades por faixas de população. No início doperíodo, os municípios menos populosos apresentavamdensidades médias menores em relação aos maispopulosos. Certamente, eles representam mercados maisdensos e lucrativos e, por isso, obtiveram prioridade naexpansão da rede de telefonia. Recentemente, a políticade telecomunicações promoveu a construção da infra--estrutura de rede também para os municípios menospopulosos, como bem revela a crescente densidadeespecialmente após 1998 (Tabela 5).

Também se pode relacionar o alargamento dauniversalização em todos os municípios. A gestão públicaexpandiu mais que o dobro da planta disponível deacessos, e, sob a gestão privada, as densidades dobra-ram de valor. Em alguns casos, a oferta de telefone

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superou em muito essas marcas; em outros, registraram--se densidades bem abaixo da média do RS. Notada-mente, em ambos os casos, registrou-se ociosidade naplanta instalada de acessos. Isso sugere a substituiçãode acessos fixos pelos celulares pré-pagos, bem comouma restrição dada pelo nível de renda.

No essencial, a universalização em nível municipal,medida pelos indicadores da densidade do sistema de

telefonia fixa, demonstra grande adesão. Ou seja, a maiordensidade revelada resulta da presença dos fatores de-senvolvimento econômico, maior população urbana, maiorrenda per capita, proximidade dos grandes centros, etc.Ocorrem também, em alguns municípios, registros debaixa densidade e de alta ociosidade de acessosdisponíveis.

Tabela 4

Percentual de moradores urbanos que tinham telefone, por faixa de renda, no RS — 1995-2004

CLASSES DE RENDIMENTO

MENSAL 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004

VARIAÇÃO 1998/1995

VARIAÇÃO 2004/1998

Total de moradores 21,5 25,7 29,3 39,8 49,4 73,9 80,6 83,1 87,4 85,3 119,7

Até 1SM ................... 3,5 4,5 2,3 7,2 8,9 23,9 36,1 39,7 57,2 106,0 696,8

Mais de 1 a 2SMs .... 3,8 4,1 5,2 8,7 11,6 38,5 53,7 62,4 66,1 126,7 663,5

Mais de 2 a 3SMs .... 3,7 5,7 7,6 11,8 23,9 59,6 70,0 72,0 80,4 218,4 582,0

Mais de 3 a 5SMs .... 7,4 9,5 11,1 22,4 33,4 72,8 82,9 87,8 91,1 204,3 307,2

Mais de 5 a 10SMs 16,6 17,7 26,3 41,1 58,7 90,0 94,7 96,3 96,8 147,7 135,8

Mais de 10 a 20SMs 37,5 39,3 52,5 71,1 82,7 98,7 99,7 99,5 99,7 89,4 40,2

Mais de 20SMs ........ 76,2 76,6 86,9 94,8 96,3 100,0 100,0 100,0 100,0 24,5 5,5

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Disponível em: http: www.ibge.gov.br NOTA: Desconsideraram-se os dados sobre os moradores sem rendimentos e sobre os sem declaração.

Tabela 5

Percentual de moradores em domicílios rurais com telefone, por faixa de renda, no RS — 1995-2004

CLASSES DE RENDIMENTO

MENSAL 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004

VARIAÇÃO 1998/1995

VARIAÇÃO 2004/1998

Total de moradores 10,1 9,6 14,0 14,7 18,2 42,1 52,3 60,7 68,6 45,5 367,8

Até 1SM .................... 2,4 2,9 - 0,8 0,9 11,9 22,4 21,9 34,3 - 4 269,0

Mais de 1 a 2SMs ..... - 2,1 5,5 2,1 3,8 25,3 30,4 52,3 55,8 - 2 621,9

Mais de 2 a 3SMs ..... 3,7 3,4 4,0 6,7 9,1 38,0 51,7 48,3 66,5 81,0 885,4

Mais de 3 a 5SMs ..... 6,7 8,4 7,4 12,7 17,1 46,3 57,1 71,1 71,1 89,7 459,6

Mais de 5 a 10SMs ... 15,3 9,0 24,4 23,2 35,3 69,0 80,0 82,2 90,4 52,1 289,3

Mais de 10 a 20SMs 44,6 35,0 49,4 47,9 51,4 99,1 100,0 99,0 95,3 7,4 99,0

Mais de 20SMs ......... 53,9 52,1 78,1 92,1 87,0 100,0 92,7 100,0 100,0 71,0 8,6

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Disponível em http: www.ibge.gov.br NOTA: Desconsideraram-se os dados sobre os moradores sem rendimentos e sobre os sem declaração.

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Renato Antonio Dal Maso

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Tabela 6

Percentual de moradores em domicílios particulares com telefone, no RS — 2004

(%)

MORADORES DOMICÍLIOS

DISCRIMINAÇÃO Total do RS

Até 10SMs Mais de 10SMs

Total do RS

Até 10SMs Mais de 10SMs

TOTAL ............................................... 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Não tinham telefone ........................ 16,2 18,9 0,5 17,5 20,3 0,4

Tinham telefone ............................... 83,8 81,1 99,5 82,5 79,7 99,6

Somente celular ................................. 32,3 36,6 8,8 30,5 34,4 8,5

Somente fixo ...................................... 11,4 12,6 4,8 13,5 14,7 6,2

Celular e fixo ...................................... 40,1 31,9 85,8 38,5 30,6 84,9

FONTE: IBGE. Disponível em: http: www.ibge.gov.br NOTA: Omitiram-se os dados sobre os moradores sem rendimento e sobre os sem declaração.

Percentual de moradores rurais que tinham telefone, com renda mensal até três salários mínimos, no RS — 1998-2004

0

10

20

30

40

50

60

70

1998 1999 2001 2002 2003 2004

(%)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Tabela 5.

Até 1SM

Mais de 1 a 2SMs

Mais de 2 a 3SMs

Gráfico 4

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A popularização da telefonia no RS

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69

5 Considerações finais

A política pública de telecomunicações no períodode 1995 a 2005 foi bem-sucedida para a construção darede, para a universalização do acesso à telefonia e paraa ampliação da oferta dos serviços convergentes. Osresultados no RS mostram a adesão maciça aos serviçosem todas as classes de renda. A densidade no RS atingiu94,4 acessos disponíveis para cada 100 gaúchos. Aplanta instalada superou 10.240 mil acessos fixos e celu-lares. A maior preferência, atualmente, recai sobre o tele-fone celular, tendo uma densidade de 64,4 para cada100 habitantes, sendo que a dos telefones fixos era de29,9 para cada 100 habitantes em 2005 e, a nas áreasurbanas, chegou a 32 acessos por 100 habitantes.

O fato novo ocorreu em relação à população rural,cujos indicadores de densidade acusam alta adesão deusuários, pois 68,6% dos moradores rurais do RS tinhamtelefone, sendo que 55% deles na classe de renda deaté três SMs e 62,8% na classe de até 10SMs.

A telefonia celular tem fechado a universalizaçãodos serviços com altas taxas de adesão de usuários apartir de 1999 e especialmente após 2002, quando asoperadoras passaram a ofertar os planos de acessospré-pagos. A participação dessa modalidade, que poucoorigina chamadas telefônicas, utilizando largamente asredes para receber ligações, recados, informaçõesrápidas, representa mais de 80,0% dos acessos dasprestadoras em 2005. Os pré-pagos têm a preferência

dos usuários que desejam ter controle dos gastos emligações mensais. Com esse perfil, o pré-pago atende àsnecessidades de acesso e de uso dos serviços segundoas condições dos orçamentos dos usuários e dodoméstico, bem como, gera parte significativa dasreceitas das prestadoras com a cobrança da tarifa VU-M(Valor de Uso da rede Móvel).

Por que a grande adesão à telefonia no RS? Alémdo fator renda, que explica a universalização da telefoniae demais serviços convergentes, cabe destacar a explo-são da oferta de acessos celulares. Nessa modalidade,os planos pré-pagos são os mais dinâmicos e preferidosdos usuários urbanos e rurais. Outros fatores são acapilaridade da rede de telefonia fixa, atendendo a todasas localidades, e a cobertura da rede celular, que dá sinalpara 95,5% da população do RS. As vantagens do telefonecelular, que reúne qualidades de mobilidade, agilidade econtrole de gastos, conquistaram a preferência dosusuários.

A tendência é aumentar essas marcas pela amplia-ção do acesso celular. Porém tais vantagens não seaplicam às classes de menor renda. Nesse caso, a univer-salização do acesso está limitada à renda dos usuários,e não se coloca a necessidade de prover acesso e uso atodos. Assim, a política de telecomunicações deveriaestabelecer metas de acesso aos serviços convergentes,por serem fundamentais a todos, devido à sua inter--relação com a educação, com a saúde, com o lazer ecom o bem-estar. Esse é o espaço da política pública nabusca da universalização da telefonia e dos serviços

Tabela 7

Densidade telefônica, por faixas da população urbana, no RS — 1994-2005

TELEFONES POR 100 HABITANTES URBANOS POPULAÇÃO URBANA

NÚMERO DE MUNICÍPIOS

EM 2005 1994 1996 1998 2000 2003 2005

Rio Grande do Sul ........................ 496 9,4 11,2 19,0 23,8 29,6 32,0

Até 1 mil habitantes ....................... 128 18,4 19,1 26,9 30,1 38,1 (1)53,0

Mais de 1 mil a 5 mil habitantes ..... 193 10,0 13,3 15,3 18,9 25,8 28,9

Mais de 5 mil a 10 mil habitantes ... 47 7,7 8,4 14,1 18,8 25,6 27,9

Mais de 10 mil a 20 mil habitantes 49 7,4 8,8 14,0 20,4 26,1 27,2

Mais de 20 mil a 50 mil habitantes 41 7,4 8,6 14,0 19,4 25,2 25,9

Mais de 50 mil habitantes .............. 39 7,2 8,3 15,4 20,1 26,8 28,8

FONTE DOS DADOS BRUTOS: FEE. Disponível em: www.fee.com.br (1) A alta densidade foi influenciada pela contagem da população urbana.

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Renato Antonio Dal Maso

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70

convergentes, especialmente para os usuários não econô-micos, para as escolas, para os centros comunitários epara as repartições públicas prestadoras de serviços

Referências

ANATEL (2005). Disponível em: <www.anatel.gov.br>.

BRASIL. Decreto n. 2.592, de 15 de maio de 1998. Aprovao Plano Geral de Metas de Universalização do ServiçoTelefônico Fixo Comutado prestado no regime público.Diário Oficial da República Federativa do Brasil, PoderExecutivo, Brasília, DF, 18.05.1998.

DAL MASO, Renato A. A política nacional detelecomunicações entre 1995 e 2005. Porto Alegre:FEE, 2005a. (Relatório de pesquisa).

DAL MASO, Renato A. A universalização da telefoniano RS entre 1995 e 2005. Porto Alegre: FEE, 2005.(Relatório de pesquisa)

DALMAZO, Renato A. As mudanças político--institucionais nas telecomunicações brasileira. PortoAlegre: FEE, 2002. (Teses FEE, n. 2)

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICASIEGFRIED EMANUEL HEUSER — FEE. Disponívelem: <www.fee.com.br>.

IBGE. Disponível em: <http: www.ibge.gov.br>.

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TELECO. Telefonia celular no Brasil 2005: relatório.Disponível em: <www.teleco.com.br>.

TELECO. Telefonia fixa no Brasil 2005: relatório.Disponível em: <www.teleco.com.br>.

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71Taxa de câmbio efetiva real para o Rio Grande do Sul — 1996-05

* Artigo recebido em 10 out. 2006.

** O autor agradece a excelente assistência do estagiário JoãoHenrique Ferreira Flores.

Indicadores socioeconômicosIndicadores socioeconômicosIndicadores socioeconômicosIndicadores socioeconômicosIndicadores socioeconômicos

Taxa de câmbio efetiva real para o Rio Grandedo Sul — 1996-05*

Eduardo Lamas** Economista da FEE e Professor da Univates

1 Introdução

A taxa de câmbio é uma variável macroeconômicacentral para as finanças internacionais. A taxa de câm-bio nominal de um país é o preço de uma unidade demoeda estrangeira em termos de moeda nacional. Suasvariações estão associadas a variáveis nominais, comotaxa de inflação dos países, taxa de juros, oferta demoeda, etc. A taxa de câmbio real pode ser definida comoa razão entre os níveis de preços dos países, expressanuma mesma unidade monetária. No longo prazo, essavariável deve estar associada apenas a variáveis reais.Na medida em que um país comercializa bens e servi-ços com vários países, a taxa de câmbio real (bilateral)pode ser substituída pela taxa de câmbio efetiva real(multilateral), em que se pondera a participação de cadaparceiro comercial, resultando num indicador adequadode competitividade. A partir daí, há maior precisão naanálise de sua influência sobre exportações, importa-ções, fluxos de capital e demais tipos de transaçõesexternas. Por exemplo, uma queda global do dólar deveser menos danosa para a competitividade de uma eco-nomia, se os EUA não forem um parceiro comercial signi-ficativo desta. Ou seja, o real pode estar valorizando-seem relação ao dólar, mas não em relação às moedasdos outros parceiros comerciais. A queda do dólar emrelação ao euro e a outras moedas, entre 2002 e 2004,levanta essa questão.

Pode-se avançar um pouco mais, quando há dispo-nibilidade de informações, ao se regionalizar a taxa decâmbio efetiva real (TCER), na medida em que os par-ceiros comerciais e suas participações diferem regional-mente em relação aos parceiros nacionais. Os maioresparceiros comerciais de uma região podem não ser os

mesmos do país ou de outras regiões. Conseqüentemen-te, as variações da taxa de câmbio terão impactos diver-sos.

Considerando-se a importância do comércio exte-rior para a economia do Estado do Rio Grande do Sul, érelevante construir um indicador para a TCER de formaregionalizada (TCER-RS), possibilitando um aprofun-damento na investigação dos determinantes do comér-cio exterior do Estado.

Este artigo procura calcular um índice para a TCER--RS, usando três métodos de cálculo no que diz respeitoaos deflatores da taxa de câmbio: (a) Índice de Preçosao Consumidor/Índice de Preços ao Consumidor (IPC//IPC), em que os deflatores dos parceiros comerciais edoméstico são índices de preços ao consumidor; (b) Ín-dice de Preços no Atacado/Índice de Preços no Atacado(IPA/IPA), em que os deflatores dos parceiros comerci-ais e doméstico são índices de preços no atacado; e (c)IPA/IPC, em que o deflator dos parceiros comerciais é oíndice de preços no atacado e o deflator doméstico é oíndice de preços ao consumidor. Esta última abordagemé denominada tradeables-non-tradeables (TNT).

Este artigo é composto por três seções, além des-ta Introdução. Na seção 2, é apresentada a metodolo-gia de cálculo da TCER-RS, e os resultados são apre-sentados na seção 3. Uma pequena Conclusão finalizao artigo.

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72 Eduardo Lamas

2 Metodologia de cálculo

A taxa de câmbio efetiva real é cotada pelo métododireto, ou seja, quantidade de moeda nacional por unida-de de moeda estrangeira1, transformada em índice2.Quanto maior (ou menor) é este índice, mais (ou menos)desvalorizada está a moeda doméstica em termos re-ais.

A parte central deste trabalho é estabelecer as pon-derações regionais de países que são parceiros comer-ciais. Há vários critérios, porém não há como escapar deum trade-off entre o ideal teórico e a disponibilidadecomputacional dos dados.3 Aqui, optou-se pela disponi-bilidade computacional. Selecionaram-se os 15 paísesmaiores parceiros comerciais do Estado do Rio Grandedo Sul,4 por destino das exportações,5 em valor, no perí-odo jan./96-dez./05, com dados da AliceWeb do Ministé-rio do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior(Quadro A.1). A principal razão para o limite no númerode países é a disponibilidade de informações sobre paí-ses que, eventualmente, representam muito pouco emtermos de destino de exportações. A seguir, utilizou-seuma ponderação correspondendo à participação de cadapaís em relação ao total dos 15 maiores, atualizadamensalmente pelo valor das exportações. O critério deescolha dos pesos não é algo trivial, de acordo comBrodsky (1982), pois existem inúmeros critérios teóricosde escolha. O Gráfico 1 ilustra o peso dos 15 paísesmaiores parceiros comerciais do Rio Grande do Sul emrelação ao total de exportações do Estado, ao longo doperíodo.

1 O Reino Unido utiliza o método inverso, no qual a taxa de câmbiocorresponde à quantidade de moeda estrangeira por unidadede moeda nacional.

2 A transformação em índice é necessária, em razão dainexistência de unidade de medida da variável taxa de câmbioefetiva real.

3 Sobre considerações teóricas, ver Ellis (2001).4 Os 15 países maiores parceiros comercias do Rio Grande do

Sul, no total do período jan./96-dez./05, são EUA, Japão, Argen-tina, China, Reino Unido, Alemanha, Itália, Holanda, Bélgica,Espanha, Paraguai, Uruguai, Rússia, Chile e México.

5 Freqüentemente, a ponderação é extraída da corrente de co-mércio (soma de exportações e importações). Para análise re-gional, os dados de importações facilmente ficam distorcidos,em função da dissociação entre local de nacionalização e localde utilização final. Por exemplo, as importações brasileiras deveículos da Argentina que entram pelo porto de Rio Grandeentrarão como importações do Rio Grande do Sul, quando, naverdade, esses veículos terão como destino final outros esta-dos. Por isso, optou-se por extrair as ponderações apenas pordestino de exportações.

O peso destes 15 países em relação ao total deexportações corresponde a uma média de 70,4%, comum máximo de 80,2% e um mínimo de 59,8%, o quegarante uma boa representatividade. As oscilações nospesos entre os países parceiros devem-se basicamenteà volatilidade cambial de alguns, que, por conseguinte,impactam as relações de comércio. Por exemplo, a fortedesvalorização do peso argentino, em 2001-02, reduziusignificativamente o comércio, alterando, assim, seu pesocomo parceiro comercial, o que valeu tanto para o Brasilquanto para o Rio Grande do Sul. Além disso, outro paísentre os 15 maiores parceiros comerciais, a Rússia, en-frentou uma forte desvalorização do rublo em agosto de1998, fazendo seu peso oscilar. Uma alternativa seriamanter fixos os pesos por um período de tempo, porém,assim, seria mais difícil captar atualizadamente mudan-ças entre os parceiros comerciais.

Individualmente, podem-se ilustrar os pesos dospaíses parceiros comerciais em relação ao grupo dos 15maiores, no início e no final do período de análise (Tabe-la 1).

Há uma mudança significativa nos pesos dos paí-ses, no período jan./96-dez./05, com destaque para aqueda de participação dos EUA, de 35% para 24,53%, epara o aumento extraordinário na participação da China,de 0,46% para 19,7%, assumindo o lugar de segundomaior destino das exportações gaúchas. Além disso, aqueda da participação do Uruguai e do Paraguai, apesardo aumento da participação da Argentina, sinaliza a pa-ralisia do Mercosul.

A questão mais importante no cálculo do índice daTCER-RS é a escolha dos deflatores. Não existe deflatorideal, respeitando-se as restrições na disponibilidade dedados. Além disso, no curto prazo, IPA e IPC podemdivergir bastante.6 O IPA tende a ser mais volátil que oIPC, na medida em que os preços das commodities va-riam mais intensamente que os dos serviços. Isso trazimplicações para o cálculo da TCER. Utilizaram-sedeflatores, de acordo com a disponibilidade, para cadapaís, separando-os por IPA7 e IPC8. O índice de maiorabrangência seria o deflator implícito do PIB, porém suadisponibilidade é freqüentemente limitada entre os paí-ses, além de ter uma enorme defasagem em relaçãoaos outros índices. Além disso, qualquer separação en-tre IPA e IPC é um pouco arbitrária, em razão da compo-sição relativa entre bens comercializáveis e não

6 Mesmo no longo prazo, pode não haver convergência. 7 Denotando genericamente Índice de Preços no Atacado. 8 Denotando genericamente Índice de Preços ao Consumidor.

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73Taxa de câmbio efetiva real para o Rio Grande do Sul — 1996-05

( )P

PETCER

itw

ititi

tRS

*15

== , com∑=

=15

1

1i

itw e Wit

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Jan.

/96

Mai

o/96

Set

./96

Jan.

/97

Mai

o/97

Set

./97

Jan.

/98

Mai

o/98

Set

./98

Jan.

/99

Mai

o/99

Set

./99

Jan.

/00

Mai

o/00

Set

./00

Jan.

/01

Mai

o/01

Set

./01

Jan.

/02

Mai

o/02

Set

./02

Jan.

/03

Mai

o/03

Set

./03

Jan.

/04

Mai

o/04

Set

./04

Jan.

/05

Mai

o/05

Set

./05

Peso dos 15 países maiores parceiros em relação ao total exportado do RS — jan./96-dez./05

Gráfico 1

(%)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Fundo Monetário Internacional.FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

países no período t; Eit, a taxa de câmbio nominal do

país i no período t; Pt*, o nível de preços do país i no

período t; e Pit, o nível de preços do Brasil no período t.

A taxa de câmbio real é um caso especial da TCER,quando w

it = 1. Sendo a TCER-RS calculada a partir de

uma média geométrica do peso dos parceiros comer-ciais, ela assume um comportamento mais volátil emrazão de as variações, tanto nas taxas de câmbio nomi-nais quanto nos índices de preços externos, seremmagnificadas por impactos exponenciais. A variabilida-de mensal dos pesos também contribui para a volatidadedo índice. Alternativamente, poder-se-ia utilizar uma médiaaritmética, porém esta, ao contrário da geométrica, ésensível ao período-base, com a única vantagem de sermenos volátil do que a média geométrica.

≥ ≥ ≥ ≥ ≥ 0

comercializáveis. O IPA tem residualmente em sua com-posição bens não comercializáveis, assim como o IPCtem residualmente em sua composição benscomercializáveis. Além disso, as cestas de produtos quecompõem os índices diferem bastante entre os países.

A fórmula utilizada para calcular a taxa de câmbioefetiva real, em índice, para o Estado do Rio Grande doSul é baseada no método da paridade do poder de com-pra, sendo representada por:

onde TCERRSt

representa a taxa de câmbio efetiva realdo Estado do Rio Grande do Sul no período t; ∏, o ope-rador produtório; w

it, o peso do país i em relação aos 15

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74 Eduardo Lamas

3 Resultados

Os resultados do trabalho são apresentados atra-vés dos Gráficos 2 a 7, segundo os diferentes deflatoresda taxa de câmbio, sempre em comparação com o índi-ce da taxa de câmbio real, calculada com a mesma abor-dagem. O Gráfico 2 mostra a trajetória do índice da TCER--RS, no período jan./96-dez./05, deflacionado pelo IPC.

No período inicial, jan./96-jan./99, durante a vigên-cia do regime de bandas cambiais, o índice da TCER-RSoscilou em torno de um nível que caracterizou certa es-tabilidade da variável. Esse foi o resultado de desvalori-zações nominais do real, próximas do diferencial da in-flação dos parceiros comerciais e a inflação doméstica.Logo após, observou-se um salto na TCER-RS, em ja-neiro de 1999, seguindo a forte desvalorização da taxade câmbio nominal do real. Ou seja, o real desvalorizou--se em relação a todas as moedas dos parceiros comer-ciais, e, além disso, houve a mudança do regime de ban-das cambiais em direção ao regime de câmbio flutuante.O novo patamar da variável durou até o final de 2002,com uma maior volatilidade do que no período anterior,

Tabela 1

Pesos individuais dos países em relação aos pesos dos 15 maiores parceiros comerciais do Rio Grande do Sul — jan./96 e dez./05

(%)

PAÍSES JAN/96 DEZ/05

EUA ........................................................ 35,00 24,53 China ...................................................... 0,46 19,70 Argentina ................................................ 13,11 16,45 Chile ........................................................ 4,62 4,58 Reino Unido ............................................ 7,25 4,38 Japão ...................................................... 2,35 4,18 Alemanha ................................................ 5,18 3,74 Rússia ..................................................... 1,93 3,62 México .................................................... 0,43 3,61 Holanda .................................................. 2,89 3,56 Itália ........................................................ 6,60 2,77 Espanha .................................................. 5,47 2,54 Uruguai ................................................... 7,14 2,52 Bélgica .................................................... 3,56 2,15

Paraguai ................................................. 3,98 1,66

TOTAL .................................................... 100,00 100,00

FONTE: ALICEWEB. Disponível em: <www.portaldoexportador.gov.br>. Acesso em: set. 2006.

com uma trajetória clara de valorização da TCER-RSdesde então. Comparando o início com o final do perío-do, observa-se que, apesar da valorização recente daTCER-RS, com perda de competitividade, a variável ain-da se apresenta mais favorável no final do que no iníciodo período.

Pode-se comparar o comportamento do índice daTCER-RS com a taxa de câmbio real no mesmo período,deflacionadas por IPCs, de acordo com o Gráfico 3.

Em primeiro lugar, observa-se que essa variável ésensível a choques ou variações bruscas da taxa decâmbio nominal. É importante destacar que a utilizaçãode pesos (w

it) variáveis mês a mês, com média geomé-

trica, torna a série mais volátil, em razão de esses pe-sos por países mudarem em resposta às variações dastaxas de câmbio, sendo que w

it e E

it tendem a variar no

mesmo sentido. Com wit fixo, haveria menor volatilidade.

Além disso, os choques transmitem-se mais facilmentepara a taxa de câmbio nominal do que para os índices depreços no curto prazo, o que provoca, conseqüentemen-te, variações fortes na TCER-RS. Observa-se um com-portamento semelhante das variáveis, particularmente

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 71-82, dez. 2006

75Taxa de câmbio efetiva real para o Rio Grande do Sul — 1996-05

em momentos de estresse, como as desvalorizaçõesdo real, em janeiro de 1999 e no segundo semestre de2002. Os eventuais descolamentos entre a taxa de câm-bio real e TCER-RS têm duas origens: mudanças nasponderações dos parceiros comerciais ou variação dodólar em relação às outras moedas dos parceiros. O Grá-fico 4 mostra o comportamento do dólar frente ao euro eao iene.

Vale lembrar que o euro começou a circular a partirde janeiro de 1999, desvalorizando-se inicialmente emrelação ao dólar. Percebe-se uma clara desvalorizaçãonominal do dólar, diante do euro e do iene, do início de2002 até o final 2004. Considerando-se que o Japão e aZona do Euro têm participação expressiva como parcei-ros comerciais gaúchos, a valorização do real torna-semenos significativa para a economia gaúcha.

A outra alternativa de cálculo é a TCER-RSdeflacionada por IPAs.9 O Gráfico 5 ilustra o seu com-portamento no período.

Chama atenção o comportamento da taxa de câm-bio real, também deflacionada pelo IPA, mostrando umviés de estabilidade, coerente com o que é requerido nateoria pela paridade do poder de compra. Embora a TCER--RS seja menos estável do que a taxa de câmbio real,ela acaba estando quase todo o período acima da últi-ma, a partir do início de 1999, num movimento que dife-re da abordagem IPC/IPC.

Uma terceira maneira de calcular a TCER-RScorresponde à abordagem TNT, que considera a taxa decâmbio real como um reflexo da razão entre o nível depreços dos bens comercializáveis (tradeables) e o nívelde preços dos bens não comercializáveis (non-tradeables)produzidos localmente. Isso implica que a fórmula decálculo da TCER-RS deve ser modificada apenas nosentido de usar como deflator dos parceiros comerciaisos seus índices de preços por atacado, enquanto odeflator local é o IPC. O Gráfico 6 mostra o comporta-mento do índice da TCER-RS segundo essa abordagem,comparando-o com o índice da taxa de câmbio real.

O índice da TCER-RS sob a abordagem TNT se-guiu um comportamento similar ao das outras aborda-gens, permanecendo sempre acima da taxa de câmbioreal a partir de janeiro de 1999. Vale lembrar que, na abor-dagem TNT, uma desvalorização cambial significa umamudança de preços relativos em favor dos benstradeables, fazendo com que o IPA tenda a aumentarmais do que o IPC.

9 Nesse cálculo, a China teve que ser excluída, em razão da in-disponibilidade de um índice de preços por atacado que cobris-se o período analisado.

A principal diferença observada nos Gráficos 3 a 7está relacionada ao comportamento da taxa de câmbioreal, que tendeu a ser mais estável sob as abordagensIPA/IPA e IPA/IPC do que sob a abordagem IPC/IPC.Isso se deve à diferença no comportamento relativo en-tre índices de preços ao consumidor e índices de preçosno atacado, em relação a Brasil e EUA somente.

O Gráfico 7 descreve conjuntamente o índice daTCER-RS sob as três abordagens.

Observa-se um comportamento muito semelhanteentre as séries durante o período, seja em nível, seja emvariação, quase se sobrepondo. A convergência das di-ferentes abordagens para a TCER-RS é o resultado daconvergência dos diferentes índices de preços utiliza-dos, já que os pesos dos parceiros comerciais são osmesmos.

Podem-se comparar quantitativamente as correla-ções do comportamento da TCER-RS sob os diferentesdeflatores. A Tabela 2 apresenta as correlações entre astaxas de variação mensais das três diferentes aborda-gens de cálculo da TCER-RS, através dos coeficientesde correlação total.

Os movimentos estão fortemente correlacionados,ou seja, as variações são muito próximas entre as trêsdiferentes abordagens para cálculo do índice da TCER--RS. Isso mostra uma trajetória convergente, no período,entre os índices de preços, seja ao consumidor, seja noatacado, que faz com que o índice da TCER-RS se apre-sente robusto.

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Gráfico 2

Índice da TCER-RS deflacionado por IPC/IPC — jan./96-dez./05

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Fundo Monetário Internacional.FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.NOTA: Os dados têm como base jan./96 = 100.

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TCER-RS (IGPM) Taxa de câmbio real (IPC/IPC)

Gráfico 3

Índice da TCER-RS deflacionado pelo IGPM e taxa de câmbio real deflacionada por IPC/IPC — jan./96-dez./05

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Fundo Monetário Internacional.FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.NOTA: Os dados têm como base jan./96 = 100.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 71-82, dez. 2006

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Taxa de Câmbio Real (IPA/IPA) TCER-RS (IPA)

Gráfico 5

Índice da TCER-RS deflacionado por IPA e taxa de câmbio real deflacionada por IPA/IPA — jan.96-dez.05

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Fundo Monetário Internacional. FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: Os dados têm como base jan./96 = 100.

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1,2

1,3Câmbio Nominal (iene/US$) Câmbio Nominal (US$)

Gráfico 4

(iene/US$)

Comportamento do dólar diante do euro e do iene — jan./96-dez./05

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Fundo Monetário Internacional. FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

(euro/US$)

0

Câmbio nominal iene/US$ Câmbio nominal euro/US$

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Taxa de Câmbio Real (IPA/IPC) TCER-RS (IPA/IPC)

Gráfico 6

Índice da TCER-RS e taxa de câmbio real deflacionados por IPA/IPC — jan./96-dez./05

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Fundo Monetário Internacional.FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.NOTA: Os dados têm como base jan./96 = 100.

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TCER-RS (IPC/IPC) TCER-RS (IPA/IPA) TCER-RS (IPA/IPC)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Fundo Monetário Internacional.FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.NOTA: Os dados têm como base jan./96 = 100.

Gráfico 7

Índice da TCER-RS deflacionado por IPC/IPC, IPA/IPA e IPA/IPC — jan./96-dez./05

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 71-82, dez. 2006

79Taxa de câmbio efetiva real para o Rio Grande do Sul — 1996-05

Tabela 2

Matriz de correlação

DISCRIMINAÇÃO TCER-RS (IPC/IPC)

TCER-RS (IPA/IPA)

TCER-RS (IPA/IPC)

TCER-RS (IPC/IPC) .............................. 1 0,9918 0,9911

TCER-RS (IPA/IPA) .............................. 0,9918 1 0,9994

TCER-RS (IPA/IPC) .............................. 0,9911 0,9994 1 FONTE DOS DADOS BRUTOS: Fundo Monetário Internacional. Banco Central do Brasil.

4 Conclusão

Este artigo procurou construir um índice de taxa decâmbio efetiva real para o Estado do Rio Grande do Sulsob diferentes critérios de cálculo, de modo a oferecerum indicador de competitividade mais preciso que a taxade câmbio real ou a taxa de câmbio efetiva real calcula-da para o Brasil. A TCER-RS pode ser utilizada paramensurar a resposta do comércio exterior gaúcho àsvariações na taxa de câmbio, mostrando o seu nível decompetitividade. Isso é particularmente importante, emrazão da variação do dólar em relação a outras moedasde parceiros comerciais e também em razão da relevân-cia do comércio exterior para a economia gaúcha. Trêsabordagens distintas foram apresentadas no que diz res-peito ao deflacionamento da taxa de câmbio, com com-portamentos muito semelhantes entre elas. Ou seja, oíndice da TCER-RS parece ser robusto em relação àescolha dos deflatores utilizados.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 71-82, dez. 2006

80 Eduardo Lamas

Apêndice Quadro A.1

Fontes primárias dos dados

SÉRIE PAÍS BASE DE DADOS DESCRIÇÃO

Número-índice EUA IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice EUA IFS-FMI CPI All ITEMS CITY AVERAGE

Número-índice Reino Unido IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Reino Unido IFS-FMI CPI: ALL ITEMS

Número-índice Bélgica IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Bélgica IFS-FMI CPI:ALL GROUPS, 62 CENTERS

Número-índice Alemanha IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Alemanha IFS-FMI CPI Unified Germany

Número-índice Itália IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Itália IFS-FMI CPI: ALL ITALY

Número-índice Holanda IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Holanda IFS-FMI CPI: WAGE EARNERS, MEDIAN INC.

Número-índice Japão IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Japão IFS-FMI CPI: ALL JAPAN-485 ITEMS

Número-índice Espanha IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Espanha IFS-FMI CPI: (NO SPECIFICS AVAIL.)

Número-índice Argentina IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Argentina IFS-FMI CONSUMER PRICES

Número-índice Chile IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Chile IFS-FMI CPI: SANTIAGO-ALL INC

Número-índice México IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice México IFS-FMI CPI: ALL COUNTRY COMM.&SERVICE

Número-índice Paraguai IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Paraguai IFS-FMI CPI: GT ASUNCION-WORKERS'H'HLD

Número-índice Uruguai IFS-FMI PPI / WPI

Número-índice Uruguai IFS-FMI CPI: MONTEVIDEO-EMPLOYEES

Número-índice Rússia IFS-FMI PPI % CHG. OVER PREVIOUS PERIOD

Número-índice Rússia IFS-FMI CONSUMER PRICE INDEX

Número-índice China IFS-FMI CPI % CHANGE

Câmbio nominal Todos IFS-FMI -

Número-índice Brasil Banco Central IPA-M, IGPM FONTE: IFS-FMI. Bacen.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 71-82, dez. 2006

81Taxa de câmbio efetiva real para o Rio Grande do Sul — 1996-05

Referências

ALICEWEB. Disponível em:<www.portaldoexportador.gov.br>. Acesso em: set.2006.

BAYOUMI, Tamim; LEE, Jaewoo; JAYANTHA, Sarma.New rates from new weights. Washington, D. C.: IMF,2005. (Working Paper, n. 05/99).

BRODSKY, David A. Arithmetic versus geometriceffective exchange rates. Weltwirtschaftisches Archiv,v. 118, n. 3, p. 546-562, 1982.

CHINN, Menzie D. A primer on real effective exchangerates: determinants, overvaluation, trade flows andcompetitive devaluation. Open Economies Review,n. 17, p. 5-143, 2006.

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Indicadores selecionados do RS*

* Tabelas compiladas por Marilene Gauer (coordenação), Ana Maria de Oliveira Feijó e Jussara Lima do Nascimento, pertencentes ao Núcleode Dados do Centro de Informações Estatísticas da FEE.

Tabela 1

Taxas de crescimento da produção, da área colhida e da produtividade dos principais produtos da lavoura no Rio Grande do Sul — 2005/06

(%)

2005/2004 2006/2005 (1) PRODUTOS

Produção Área Produtividade Produção Área Produtividade

Arroz .................................. -3,7 -3,7 0,0 11,2 1,7 9,3 Banana .............................. 13,5 1,2 12,2 9,2 8,0 1,1 Batata-inglesa .................... -3,7 -9,0 5,9 18,0 2,2 15,4 Cana-de-açúcar ................. -11,4 1,6 -12,8 28,4 2,6 25,1 Cebola ............................... -13,8 -6,0 -8,4 7,4 3,0 4,3 Feijão ................................. -43,9 -20,4 -29,5 60,2 12,1 43,0 Fumo ................................. -10,9 5,6 -15,6 9,8 0,6 9,3 Laranja ............................... -12,5 0,1 -12,6 7,7 0,8 6,9 Maçã .................................. -15,1 11,3 -23,7 9,4 2,0 7,3 Mandioca ........................... -8,5 -1,1 -7,5 14,8 0,4 14,4 Milho .................................. -56,0 -19,5 -45,4 205,1 45,3 109,9 Soja ................................... -55,9 -5,9 -53,1 209,2 3,5 198,6 Trigo .................................. -32,6 -24,9 -10,2 -48,2 -30,2 -25,7 Uva .................................... -12,2 5,2 -16,5 2,0 4,4 -2,3

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE/LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro, IBGE. (1) Dados de out./06.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 83-90, dez. 2006

86

Tabela 2

Taxas de crescimento da produção da indústria de transformação, segundo os setores de atividade, no Rio Grande do Sul — 2005/06

(%)

SETORES 2005 2004

1º TRIM/06 1º TRIM/05

2º TRIM/06 2º TRIM/05

3º TRIM/06 3º TRIM/05

ACUMULADO ATÉ O 3º

TRIMESTRE Alimentos ...................................................................... 4,0 5,4 3,5 9,0 6,0 Bebidas ......................................................................... -0,2 9,8 3,1 8,7 6,8 Borracha e plástico ....................................................... -7,2 5,2 4,3 4,5 4,7 Calçados e artigos de couro ......................................... -5,2 -2,4 -15,2 -7,4 -8,5 Celulose, papel e produtos do papel ............................ -1,2 4,0 4,4 10,3 6,2 Edição, impressão e reprodução de gravações ........... 2,0 -2,1 -11,2 4,7 -2,9 Fumo ............................................................................ -3,8 7,8 -15,0 -5,7 -8,2 Máquinas e equipamentos ........................................... -19,1 -16,1 -20,6 -18,9 -18,4 Metalurgia básica ......................................................... -2,9 -2,6 3,7 -2,2 -0,3 Mobiliário ...................................................................... -11,3 -4,3 7,2 5,6 3,1 Outros produtos químicos ............................................ -5,8 -3,0 -1,5 1,6 -0,9 Produtos de metal — exceto máquinas e equipamen-tos ................................................................................. -0,5 -11,6 -9,1 -13,3 -11,3 Refino de petróleo e álcool ........................................... 6,3 -3,8 -11,9 -2,8 -6,1 Veículos automotores ................................................... -2,4 -0,3 7,5 4,0 3,8 Total ............................................................................. -3,6 -1,7 -5,8 -1,3 -3,0 FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL: produção física. Rio de Janeiro, IBGE.

Tabela 3 Taxas de crescimento do volume real das vendas do comércio varejista,

segundo os setores de atividade, no Rio Grande do Sul — 2005/06 (%)

SETORES 2005 2004

1º TRIM/06 1º TRIM/05

2ºTRIM/06 2ºTRIM/05

3ºTRIM/06 3ºTRIM/05

ACUMULADO ATÉ O 3º TRIMESTRE

Combustíveis e lubrificantes ......................................... -20,1 -10,8 -2,4 1,7 -4,0 Supermercados, hipermercados, produtos alimentí-cios, bebidas e fumo ..................................................... 0,9 -8,4 -0,4 0,4 -2,9 Tecidos, vestuário e calçados ...................................... -8,8 -5,6 -0,6 -3,8 -3,0 Móveis e eletrodomésticos ........................................... 0,6 6,6 5,7 5,8 6,0 Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfu-maria e cosméticos ....................................................... 2,7 6,2 8,2 9,1 7,9 Equipamento e material para escritório, informática e comunicação ................................................................. 24,5 38,6 28,8 24,5 29,8 Livros, jornais, revistas e papelaria .............................. 7,1 -12,2 -15,2 -14,6 -13,7 Outros artigos de uso pessoal e doméstico .................. 18,5 13,2 8,6 8,3 9,9 Comércio varejista ...................................................... -2,1 -3,7 1,8 2,6 0,3 Veículos, motos, partes e peças ................................... -9,8 -10,6 -5,1 4,5 -3,9 Material de construção ................................................. -11,1 -6,5 -5,7 2,2 -3,4 Comércio varejista ampliado (1) ................................ -4,8 -5,6 -0,4 3,0 -1,0

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA MENSAL DO COMÉRCIO. Rio de Janeiro, IBGE. (1) Inclui os itens do comércio varejista, mais as atividades de veículos, motos, partes e peças e as de material de construção, que abarcam varejo e atacado.

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Tabela 4

Exportações do Brasil e dos principais estados — jan.-out./06

JAN-OUT/06 JAN-OUT/05

(%) BRASIL E PRINCIPAIS

ESTADOS VALOR

(US$ 1 000) PARTICIPAÇÃO

%

Valor Volume Preço

Brasil ........................................................ 113 370 335 100,00 17,3 15,6 1,5 São Paulo .................................................. 37 729 985 33,28 21,0 95,3 -38,1 Minas Gerais ............................................. 12 847 396 11,33 17,6 6,3 10,7 Rio Grande do Sul .................................... 9 732 146 8,58 13,3 4,7 8,2 Rio de Janeiro ........................................... 9 454 041 8,34 47,4 29,0 14,3 Paraná ...................................................... 8 252 300 7,28 -0,4 -6,2 6,2 Bahia ......................................................... 5 601 889 4,94 18,2 1,5 16,4 Espírito Santo .......................................... 5 584 555 4,93 23,9 8,1 14,6 Pará ........................................................... 5 413 424 4,77 39,8 15,7 20,9 Santa Catarina .......................................... 4 897 509 4,32 6,3 0,8 5,5 Mato Grosso .............................................. 3 738 416 3,30 4,7 2,2 2,5 Demais ...................................................... 10 118 674 8,93 - - - FONTE DOS DADOS BRUTOS: Brasil. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria do Comér-FONTE DOS DADOS BRUTOS: cio Exterior.

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 83-90, dez. 2006

87

Tabela 5

Exportações, segundo os principais setores de atividade, do Rio Grande do Sul — jan.-out./06

JAN-OUT/06 JAN-OUT/05

(%) SETORES VALOR (US$ 1 000)

PARTICIPAÇÃO %

Valor Volume Preço

Agricultura, pecuária, silvicultura e explora-ção florestal ..................................................... 721 195 7,41 339,9 364,5 -5,3 Outros grãos de soja, mesmo triturados ........... 639 328 88,65 514,8 577,8 -9,3 Outros bovinos vivos ......................................... 14 718 2,04 175,3 136,7 16,3 Maçãs frescas ................................................... 11 429 1,58 -30,5 -36,8 9,9 Fumo não manufaturado, não destalado, em folhas secas, etc., tipo "virgínia" ........................ 14 493 2,01 -11,8 -31,0 27,9 Trigo (exceto trigo duro ou para semeadura) e trigo com centeio ............................................... 8 843 1,23 - - - Milho em grão, exceto para semeadura ........... 5 643 0,78 82 656,2 82 302,6 0,4 Demais produtos ............................................... 26 742 3,71 23,1 ... ... Indústria de transformação ............................ 8 819 926 90,63 6,2 -2,5 8,9 Produtos alimentícios e bebidas ....................... 2 064 180 23,40 21,1 13,7 6,5 Couros e fabricação de artefatos de couro, ar-tigos de viagem e calçados ............................... 1 544 657 17,51 1,7 -8,0 10,5 Produtos químicos ............................................ 1 144 813 12,98 7,0 -5,1 12,7 Fabricação de produtos do fumo ...................... 1 109 278 12,58 -0,1 -11,8 13,3 Máquinas e equipamentos ................................ 817 074 9,26 -14,6 -20,7 7,6 Veículos automotores, reboques e carrocerias 572 068 6,49 -2,2 -10,2 9,0 Móveis e indústrias diversas ............................. 281 531 3,19 -2,7 -5,1 2,6 Demais atividades ............................................. 1 286 325 14,58 - - - Demais setores ............................................... 191 025 1,96 - - - TOTAL .............................................................. 9 732 146 100,00 13,3 4,7 8,2

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Brasil. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria do Comércio Exterior. NOTA: Principais atividades segundo informação até out./06.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 83-90, dez. 2006

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Tabela 7 Taxas de crescimento do nível de ocupação, segundo os setores de atividade,

na Região Metropolitana de Porto Alegre — 2005/06 (%)

2005 SETORES

2004 1º TRIM/06 1º TRIM/05

2º TRIM/06 2º TRIM/05

3º TRIM/06 3º TRIM/05

ACUMULADO ATÉ O 3º TRIMESTRE

Indústria de transformação ..................... 7,6 1,3 1,5 -1,1 0,6 Comércio ................................................. 3,9 6,7 4,5 -2,4 2,8 Serviços ................................................... 2,6 2,2 0,0 -0,5 0,6 Construção civil ....................................... -8,2 10,5 -0,4 5,7 5,3 Serviços domésticos ............................... -0,6 1,3 8,9 2,3 4,0 Total ........................................................ 3,0 -2,8 27,1 4,1 8,0

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP e DIEESE.

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Brasil. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria do Comér- cio Exterior. NOTA: Principais atividades segundo informação até set./06.

Tabela 6

Taxas de crescimento do volume físico das exportações, segundo os principais setores de atividade, do Rio Grande do Sul — 2005/06

(%)

SETORES 2005 2004

1º TRIM/06 1º TRIM/05

2º TRIM/06 2º TRIM/05

3º TRIM/06 3º TRIM/05

ACUMULADO ATÉ O 3º

TRIMESTRE

Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal ................................................................... -79,7 0,4 2 931,6 356,4 402,9 Outros grãos de soja, mesmo triturados .................. -80,0 -95,1 8 440,6 459,9 659,0 Outros bovinos vivos ................................................ - 152,1 50,1 136,1 113,2 Maçãs frescas .......................................................... -46,1 -76,3 27,6 42,1 -36,8 Fumo não manufaturado, não destalado, em folhas secas, etc., tipo "virgínia" ......................................... -16,9 15,0 -47,7 -24,3 -29,5 Trigo (exceto trigo duro ou para semeadura) e trigo com centeio .............................................................. -100,0 - - - - Milho em grão, exceto para semeadura ................... -100,0 - 166 031,9 -68,6 - Indústria de transformação ................................... 2,3 -11,0 -3,1 1,8 -3,7 Produtos alimentícios e bebidas .............................. 5,1 -11,0 15,8 30,9 11,7 Couros e fabricação de artefatos de couro, artigos de viagem e calçados .............................................. -9,0 -9,5 -6,2 -9,1 -8,4 Produtos químicos ................................................... 14,5 -17,4 -6,4 1,2 -7,5 Fabricação de produtos do fumo ............................. 1,9 -28,1 -11,4 -9,4 -13,1 Máquinas e equipamentos ....................................... 2,8 -25,8 -20,4 -16,7 -21,0 Veículos automotores, reboques e carrocerias ........ -1,1 -4,4 -5,6 -19,6 -11,2 Total ......................................................................... -5,3 -10,6 5,9 14,5 4,1

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 83-90, dez. 2006

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Tabela 8

Taxas de crescimento do nível de emprego, do rendimento real e da massa de rendimentos reais dos ocupados e dos assalariados na Região Metropolitana de Porto Alegre — 2005/06

(%)

DISCRIMINAÇÃO 2005 2004

1º TRIM/06 1º TRIM/05

2º TRIM/06 2º TRIM/05

3º TRIM/06 3º TRIM/05

ACUMULADO ATÉ O 3º TRIMESTRE

Ocupados Emprego ............................................................. 3,2 2,7 1,3 -0,8 1,0 Rendimento real ................................................. 1,3 1,9 0,7 -0,8 0,6 Massa de rendimentos reais .............................. 4,6 4,7 1,9 -1,6 1,6 Assalariados Emprego ............................................................. 4,9 3,6 3,5 -0,9 2,0 Rendimento real ................................................. 0,3 0,5 1,4 0,5 0,8 Massa de rendimentos reais ............................... 5,3 4,1 5,1 -0,4 2,8

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS/SINE-RS, SEADE-SP e DIEESE.

Tabela 9 Taxas reais de crescimento do ICMS arrecadado, segundo os setores de atividade, no Rio Grande do Sul — 2005-06

(%)

2005 1º TRIM/06 2º TRIM/06 SETORES 2004 1º TRIM/05 2º TRIM/05

3º TRIM/06 3º TRIM/05

ACUMULADA ATÉ O 3º TRIMESTRE

Produção animal e extração vegetal ................... -36,9 -27,4 -11,7 6,6 -12,7 Extrativa mineral ................................................. -12,9 27,0 13,6 1,8 14,7 Indústria de transformação ................................. 2,8 20,0 0,2 -12,0 1,6 Comércio varejista .............................................. 9,8 32,5 6,3 -4,0 11,1 Comércio atacadista ........................................... 19,7 21,8 27,8 10,7 19,9 Serviços e outros ................................................ 38,2 12,9 -6,8 23,7 10,5 Total ................................................................... 11,3 20,5 6,8 0,2 8,5 FONTE DOS DADOS BRUTOS: Rio Grande do Sul. Secretaria Estadual da Fazenda.

NOTA: ICMS deflacionado pelo IGP.

Tabela 10

Inflação mensal acumulada no ano e nos últimos 12 meses, na Região Metropolitana de Porto Alegre — 2005/06 (%)

PERÍODOS IPC-IEPE INPC-IBGE

Dez./04-dez./05 ................................................................. 4,3 5,8 Ago./06 .............................................................................. 0,4 -0,1 Set./06 ............................................................................... 0,1 0,1 Out./06 ............................................................................... 0,4 0,4 Acumulada no ano de 2006 ............................................... 2,3 2,8 Acumulada nos últimos 12 meses ..................................... 2,6 3,3 FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. IEPE.

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91Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

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92 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

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93Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

Ajuste das contas externas e demanda precaucionalpor reservas no Brasil*

André Moreira Cunha** Professor do PPGE-UFRGS e Pesquisador do CNPq

Daniela Magalhães Prates*** Professora do Instituto de Economia da Unicamp e Diretora Adjunta do Cecon-Unicamp

Marcos Tadeu Caputi Lélis**** Mestre em Economia pelo IE-UFRJ, Doutorando do PPGE-UFRGS e Professor da Unisinos

ResumoNos últimos anos, a economia brasileira vem experimentando um processointenso de ajuste das contas externas. Depois de uma década de déficits,o País tem tido superávits em conta corrente. A dívida externa vemdiminuindo, e os indicadores de vulnerabilidade externa melhoraram. Emparalelo, o Banco Central do Brasil (Bacen) tem adotado uma estratégiamais intervencionista nos mercados cambiais, a despeito de adotar “dejure” um regime de câmbio flutuante. Isso parece refletir um típicocomportamento defensivo associado à demanda precaucional por reservas.A literatura teórica e empírica argumenta que a demanda precaucionalpor reservas é um comportamento racional em um mundo de mercadosfinanceiros voláteis. Foram encontradas algumas evidências de que oBacen tem adotado esse tipo de estratégia.

Palavras-chave: política cambial; gestão de reservas; Banco

Central.

AbstractOver the last few years the Brazilian economy has experienced aremarkable external accounts adjustment. After a decade of huge currentaccount deficits the country has had surpluses. External debt hasdiminished and liquidity and solvency external indicators have improved.

* Artigo recebido em 21 set. 2006.

Os autores agradeçem o apoio financeiro do CNPq na pesquisaCrises Financeiras e Gestão Macroeconômica: As Experiên-cias da Coréia do Sul e Brasil. Este trabalho explora algunsdos seus resultados.

**E-mail: [email protected]

***E-mail: [email protected]

****E-mail: [email protected]

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94 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

At the same time, Central Bank has adopted more interventionist strategiesin foreign exchange markets, despite a de jure free-floating regime. Thisseems to reflect a defensive precautionary reserves accumulation strategy.Theoretical and empirical literature has argued that precautionary reservesdemand can be a rational strategy in a world of financial instability. Wefound evidences that Brazilian Central Bank has adopted such kind ofstrategy.

1 Introdução

O ajuste das contas externas vem-se revelandocomo um dos aspectos mais marcantes da evoluçãorecente da economia brasileira. Se, entre 1995 e 2002, oPaís experimentou significativos déficits em contacorrente, que se traduziram em ampliação dos passivosexternos, depois de 2003 tal quadro reverteu-se de formasensível. A partir da adoção do regime de câmbio flutuante,a conta corrente do balanço de pagamentos (BP) passoua reagir positivamente aos estímulos de uma moeda maiscompetitiva e, depois de 2003, de um ambiente internacio-nal mais favorável.

Na atual etapa de desenvolvimento das economiascapitalistas, onde há uma crescente interpenetração dosmercados e o predomínio de um ambiente de desregula-mentação, especialmente no setor financeiro, o principaldeterminante da evolução dos BPs dos países, de formageral, tem sido o desempenho da conta financeira. Nocaso dos países periféricos — como o Brasil — com umelevado passivo externo (seja de curto, seja de médio elongo prazos), essa relação de causalidade é ainda maisacentuada. Isto porque esses países dependem doingresso de fluxos líquidos de capitais privados para fecharsuas contas externas, os quais são altamente voláteis.A volatilidade dos fluxos de capitais direcionados paraos países emergentes não está associada somente aofato de esses fluxos serem determinados, em últimainstância, por uma dinâmica exógena e intrinsecamenteinstável — aquela dos mercados financeiros internacio-nais globalizados, que depende, por sua vez, da fase dociclo econômico e do patamar das taxas de juros dospaíses centrais —, mas também à sua forma particularde inserção nesses mercados. Por um lado, apesar docrescimento do volume absoluto dos fluxos de capitaisdirecionados para esses países nos anos 90 do séculoXX, a sua participação nos fluxos globais ainda émarginal, o que os torna mais vulneráveis às mudançasnas expectativas dos investidores estrangeiros, uma vezque a venda das moedas e dos ativos financeiros emitidospor esses países tem efeitos igualmente marginais sobrea rentabilidade dos portfólios desses agentes. Por outro

lado, os títulos emitidos pelos países emergentes,principalmente por aqueles com maior prêmio de risco,classificados como sem grau de investimento(sub-investment grade) pelas agências de rating, integramum mercado mais amplo, o de papéis de alta rentabili-dade (high yield bonds), cuja dinâmica é inerentementeespeculativa e, conseqüentemente, volátil (World Bank,2005; Prasad et al., 2003; Global Financial Stability Rep.,2003; Eichengreen, 2004; Dooley; Folkerts-Landau;Garber, 2005).

Depois das crises financeiras do México (1994) eda Ásia (1997-98), a ampliação na demanda precaucionalpor reservas por parte das autoridades monetárias temsido um componente marcante das estratégias macroeco-nômicas dos países emergentes (Aizenman; Lee; Rhee,2004; Dooley; Folkerts-Landau; Garber, 2004 e 2005;Eichengreen, 2004). Mesmo com a adoção de regimescambiais de livre flutuação — ao menosde jure —, asintervenções constantes e, em alguns casos, expressi-vas, através da compra de divisas, pareceram respondera dois determinantes estreitamente vinculados: (a) abusca de redução na vulnerabilidade externa, pelaampliação da capacidade potencial de sustentação daliquidez externa por meio do aumento do estoque dereservas oficiais; e (b) o “medo de flutuar”, vale dizer, atentativa de sustentação da taxa de câmbio em níveiscontrários aos que seriam produzidos por condiçõescompetitivas dos mercados cambiais. Entre 1998 e 2002,tal padrão foi mais nítido no caso das economias asiáticas,todavia, depois de 2003, várias economias latino-ameri-canas parecem estar replicando a estratégia asiática deacumulação de reservas com vistas à modificação doperfil de liquidez e solvência externa (World Econ. Outlook,2006; BIS, 2006). O Brasil encaixa-se nesse quadro maisgeral, por apresentar uma melhoria sensível em sua contacorrente e nos indicadores externos que medem o graude vulnerabilidade financeira, conforme é analisado noitem 2.

Assim, o presente trabalho procura, para o casobrasileiro recente: (a) analisar o ajuste das contasexternas depois da mudança de regime cambial, em 1999;e (b) verificar se tal mudança alterou o padrão de acumula-ção das reservas internacionais. Como se sabe, em um

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95Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

modelo puro de livre flutuação, não há a necessidade deas autoridades monetárias manterem reservas. Todaviaa literatura recente tem sugerido que, no contexto dasfinanças globalizadas e desregulamentadas, a demandaprecaucional por reservas pode ser uma estratégiaracional. Assim, analisa-se, no item 3, a evolução dasreservas internacionais em dois subperíodos, que coinci-dem com os regimes de câmbio administrado e flutuante,seus principais determinantes e dinâmica. Constata-seque a taxa de crescimento da tendência das reservasnão se alterou significativamente na comparação dos doisperíodos, o que autoriza a sugerir que, mesmo no contextode um regime de câmbio flutuante, houve uma aparenteestratégia de recomposição de reservas, cujo ritmo foisemelhante estatisticamente ao verificado no período deadministração da taxa de câmbio por meio das bandaspreanunciadas. Ademais, os investimentos estrangeirosem carteira parecem exercer uma influência maispronunciada sobre o comportamento das reservasinternacionais. No período de flutuação cambial, verificou--se que as reservas tenderiam a aumentar nos momentosde apreciação cambial. Tais fatos levam a considerar quetem relevância a discussão da hipótese de que haveriauma demanda precaucional por reservas no casobrasileiro. Da mesma forma, os resultados parecemsinalizar que a dinâmica da conta financeira teria particularrelevância para a compreensão do padrão de inserçãoexterna da economia brasileira, hipótese desenvolvidano item 2.

2 O ajuste das contas externas brasileiras com ênfase no período de flutuação cambial

A inserção externa da economia brasileira sofreumudanças importantes desde 1999, cuja síntese podeser apreendida pela evolução das duas principais contasdo balanço de pagamentos nesse período. Como mostraa Tabela 1, o resultado das transações correntes tornou--se superavitário (fato inédito desde 1992), ancorado naobtenção de superávits comerciais crescentes a partirde 2001. Já a conta capital e financeira, de resultadospositivos até 2003, tornou-se deficitária nos dois anossubseqüentes. Esse déficit, no entanto, deve ser analisadocom cuidado, pois ele encobre o comportamento de doistipos de fluxos de capitais, subordinados a dinâmicas

distintas: os capitais voluntários e as operações deregularização com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em 2004, as condições de liquidez internacionalfavoráveis aliviaram a restrição externa e permitiram opagamento dos compromissos com o FMI, mas os fluxosde capitais voluntários entre o País e o exteriorcontinuaram negativos em termos líquidos. Já em 2005,esses fluxos apresentaram resultado positivo, ancoradonão somente no ingresso de investimentos externosdiretos (IEDs), mas também nos investimentos de port-fólio. A conta capital e financeira foi negativa, em maisde US$ 9 bilhões, devido ao pagamento de amortizaçõesa esse organismo multilateral (registrado nas “operaçõesde regularização”), realizado a partir de divisas adquiridaspela autoridade monetária no mercado de câmbio, o queexplica o menor resultado global do balanço de paga-mentos. As performances das duas principais contas dobalanço de pagamentos — reflexo da evolução da inser-ção externa no período — estão associadas a algumasmedidas tomadas ainda no segundo governo de FernandoHenrique Cardoso (FHC), como a adoção do regime decâmbio flutuante após a crise cambial de 1998/99, o acor-do com o FMI, as desvalorizações cambiais em 2001 e2002 e o aprofundamento da abertura financeira. Todaviaessas mudanças vinculam-se estreitamente ao cenárioexterno benigno, no âmbito do comércio e das finançasinternacionais, vigente no período (World Econ. Outlook,2006; BIS, 2006). Aqui, optou-se pela análise dos ajustesdas contas externas, enfatizando o comportamento daconta capital e financeira. Isto porque se trabalha com ahipótese de que o grau de abertura financeira e asdecisões de alocação de portfólio dos investidoresestrangeiros exercem uma influência decisiva nosmovimentos da taxa de câmbio nominal e, assim, sobrea taxa de câmbio real, um dos condicionantes centraisda inserção comercial.

Em sua dimensão financeira, a inserção internacio-nal da economia brasileira vem sendo determinada peladinâmica externa dos ciclos de liquidez do tipo feast orfamine (Global Financial Stability Rep., 2003). Desdemeados de 2003, tal inserção financeira está condicio-nada, essencialmente, por três fatores: o novo ciclo deliquidez internacional para os países periféricos; o regimede câmbio flutuante e a gestão da política cambial noperíodo; e o aprofundamento da abertura financeira. Estadiz respeito à facilidade com que os residentes podemadquirir ativos e passivos denominados em moedaestrangeira e ao acesso de não-residentes ao mercadofinanceiro doméstico, envolvendo, assim, tanto a liberali-zação dos movimentos de capitais quanto a permissãode transações monetárias e financeiras em moeda estran-

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geira no espaço nacional. O primeiro nível de aberturafinanceira diz respeito às inward transactions — entradade não-residentes no mercado financeiro doméstico ecaptação de recursos externos pelos residentes —; osegundo nível de abertura financeira refere-se à liberali-zação das outward transactions — saída de capitais pelosresidentes e endividamento de não-residentes no merca-do financeiro doméstico. Já o terceiro nível refere-se àconversibilidade interna da moeda, ou seja, à permissãode transações em moeda estrangeira (ou assim denomi-nadas) no espaço nacional, como depósitos no sistemabancário doméstico e emissão de títulos indexados àvariação cambial. No caso dos países periféricos quenão possuem moeda conversível, essa opção resultageralmente numa dolarização progressiva das economias(World Bank, 2005).

A ampliação da abertura financeira da economiabrasileira iniciou-se no final dos anos 80 do século XX,ainda no Governo José Sarney (1985-90), e foi aprofun-dada nos Governos Collor-Itamar (1990-94) e FHC (1995--02). Essa ampliação envolveu, essencialmente, os doisprimeiros níveis de abertura, sendo que a liberalizaçãodas inward transactions foi bem mais ampla em relaçãoàs outward transactions. O Governo Lula (desde 2003)deu continuidade a esse processo. Duas medidas recentesmerecem destaque: (a) a unificação dos mercados decâmbio livre e flutuante e a extinção da Conta de Não--Residentes (CC5) em março de 2005, que significou umaliberalização adicional das outward transactions, ao elimi-nar os limites para que pessoas físicas e jurídicas conver-tam reais em dólares e os remetam ao exterior; e (b) aconcessão de incentivos fiscais aos investidores estran-geiros para a aquisição de títulos da dívida pública interna.O objetivo dessa medida é exatamente reduzir essescustos e, assim, estimular o aumento da demanda portítulos públicos internos pelos investidores estrangeiros.

A influência da dinâmica da economia internacionalsobre a composição dos fluxos de capitais para aeconomia brasileira após 1999 fica evidente nos Gráficos1 e 2. Nessa análise, vale lembrar a lógica diferenciadados fluxos financeiros vis-à-vis aos fluxos de investimentoexterno direto — vinculados às perspectivas de cresci-mento econômico nos países de origem e de destino,bem como às estratégias das empresas transnacionais(ETs). No período 1999-02, enquanto as condições deliquidez internacional desfavoráveis resultaram na quedados investimentos de portfólio e de outros investimentos,a retração do crescimento nos países centrais e dasoperações de fusões e aquisições em âmbito globalrefletiram-se nos fluxos de investimento externo, queapresentaram tendência de queda após 2001. Nesse

contexto, os empréstimos do FMI (contabilizados nasoperações de regularização) cumpriram o papel de suprirliquidez em moeda estrangeira a partir de 2000. No períodosubseqüente — que corresponde aos três primeiros anosdo Governo Lula —, as condições internacionais maisfavoráveis, em termos de liquidez e crescimento, resulta-ram na retomada dos fluxos de capitais voluntários epermitiram o pagamento das operações de regularizaçãocom o FMI. O crescimento dos fluxos de IED após 2004insere-se num movimento de retomada desses investi-mentos para os países periféricos. Já as duas modalida-des de fluxos financeiros têm um movimento mais instá-vel, apresentando uma trajetória de recuperação consis-tente a partir de 2005: fluxos positivos, no caso dosinvestimentos de portfólio, e redução do saldo negativo,no caso dos outros investimentos (que apresentamingresso líquido somente em 2006).

O novo ciclo de liquidez internacional que emergiuem 2003 teve impacto diferenciado sobre as diferentesmodalidades de investimento estrangeiro de portfólio noperíodo 2003-05. Somente as aquisições de ações naBolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) apresentaramuma recuperação significativa e persistente, que seintensificou em 2005. Nesse ano, além do rally pratica-mente generalizado nos mercados acionários dos paísescentrais e emergentes, tanto da Ásia quanto da AméricaLatina — fomentado pelo contexto de ampla liquidez —,esses investimentos foram atraídos pelas perspectivasde lucro com as ações negociadas no mercado acionáriodoméstico e com a apreciação da taxa de câmbio doreal. No caso das ações negociadas no exterior, as aquisi-ções de American Depositary Receipts (ADRs) no merca-do primário mantiveram-se num patamar estável e baixo(o que explica o pequeno ingresso líquido de divisas),mas o volume negociado com ADRs de empresasbrasileiras na Bolsa de Valores de Nova Iorque (mercadosecundário) atingiu um valor recorde no primeiro trimestrede 2006 (impulsionado pelas perspectivas de lucro deempresas produtoras de commodities, como Petrobrás,CSN e Usiminas), ocupando a posição de liderança nessabolsa. Já as aplicações em títulos de renda fixa negocia-dos no País mantiveram fluxos líquidos praticamentenulos até janeiro de 2006. Todavia, com a edição da MP281 em meados de fevereiro, que concedeu incentivostributários aos investidores estrangeiros, essa modalidadede investimento de portfólio apresentou uma recuperaçãosignificativa e praticamente instantânea.

Já a modalidade emissões líquidas de títulos derenda fixa no exterior apresentou um comportamento bemmais volátil, com fluxos negativos na maior parte do perío-do. Algumas hipóteses podem ser levantadas para

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97Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

explicar esse comportamento. O condicionante mais geralé o regime de câmbio flutuante, que desestimulou ademanda por endividamento externo, ao implicar maiorrisco cambial e custo de hedge potencialmente maiselevado. Ademais, essa demanda também deve ter sidoabalada pelas três crises cambiais que eclodiram numcurto intervalo de tempo (1999, 2001 e 2002), pelapercepção da dinâmica volátil do mercado financeirointernacional (caracterizada por miniciclos de feast orfamine) e pelo ambiente de estagnação econômica quepredominou nos últimos anos. Do ponto de vista dasinstituições financeiras, em momentos de elevado diferen-cial de juros e expectativa de valorização cambial, a altarentabilidade das operações de arbitragem pode contraba-lançar o menor apetite pela captação de recursos externose estimulá-la, como ocorreu no primeiro semestre de 2003.Contudo, com a queda do chamado “cupom cambial”,essa rentabilidade diminuiu, e os bancos passaram aquitar seu endividamento externo de curto prazo,contribuindo para as menores taxas de rolagem e, assim,para a queda da dívida externa em 2004 e 2005. Alémdisso, a apreciação do real desde 2004 certamenteestimulou empresas e bancos a quitarem parte de seuendividamento externo. A contração do endividamentosecuritizado foi acompanhada pelo surgimento de novasmodalidades de captação (em reais, bônus perpétuos,etc.), viabilizadas pelo contexto de elevado apetite porrisco (BIS, 2006). Em 2005, as condições de liquidezfavoráveis possibilitaram, igualmente, a realização deoperações de administração de passivo pelos governosde vários países emergentes. No Brasil, o setor públicoseguiu o caminho do México e do Chile e aproveitou essascondições para reestruturar sua dívida externa, reduzir oseu endividamento líquido e pré-financiar compromissosexternos de 2006.1 Em 2006, essa estratégia tevecontinuidade, com o programa de médio prazo de uso dereservas internacionais para recompra de títulos brasileirosem circulação no mercado internacional, implementadopelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central do Brasilcomo seu agente financeiro. A intenção do Governo éreduzir o custo da dívida externa, já que esses títulosforam emitidos quando o Risco-Brasil era muito alto e,assim, embutem elevados prêmios de risco.

No caso da modalidade outros investimentos, ospagamentos ao FMI explicam a trajetória cadente dosempréstimos à autoridade monetária. Simultaneamente,

os créditos comerciais recuperaram-se diante do cresci-mento das exportações e da busca de operações rentá-veis pelos bancos internacionais, dada a queda dos lucrosnos países centrais. Já os empréstimos e financiamentosde longo prazo recuperaram-se, ligeiramente, no final de2005 e no início de 2006, devido ao crescimento dosempréstimos bancários sindicalizados (BIS, 2006). NaAmérica Latina e no Brasil, as empresas dos setores decommodities, que usufruíram windfall gains devido à altarecente dos preços, foram especialmente favorecidas.Todavia essa tendência não se refletiu em ingresso líquidode recursos.

Nesse quadro, foi possível, nos últimos três anos,melhorar sensivelmente os indicadores de solvênciaexterna e de liquidez externa — que constituem “medidas”convencionais da vulnerabilidade externa nos médio elongo prazos e no curto prazo respectivamente. A trajetó-ria dos indicadores de solvência externa2 constitui umreflexo da interação entre as mudanças quantitativas equalitativas no passivo externo e a evolução da capaci-dade de geração de divisas, ou seja, das exportações. Atendência de melhora do indicador dívida externa total//exportações iniciou-se logo após a adoção do regimede câmbio flutuante, em 1999, e esteve associada, naque-le momento, principalmente à redução da dívida externaprivada. A partir de 2003, as elevadas taxas de crescimen-to das exportações e a queda da dívida externa públicaem termos líquidos reforçaram essa tendência. Já atrajetória do indicador mais amplo, passivo externo líquido//exportações, não foi tão favorável, devido ao crescimentodos estoques de investimento externo direto e de investi-mento de portfólio no período. Os indicadores de liquidezexterna3 somente apresentaram melhora (ou seja, queda)a partir de 2003, quando as condições de liquidez externase tornaram favoráveis aos países “emergentes”. Amudança no cenário internacional possibilitou não somen-

1 Essa estratégia foi perseguida mediante a aquisição de divisasno mercado de câmbio (pelo Banco Central (Bacen) e peloTesouro Nacional por intermédio do Banco do Brasil) e a emissãode títulos soberanos em março e setembro de 2005.

2 São indicadores que relacionam os estoques de passivo externo(dívida e investimento estrangeiro) e as exportações, emanalogia com os indicadores de capacidade de pagamentoutilizados na análise econômico-financeira de empresas. NoBrasil, entre 2002 e 2005, a razão dívida externa líquida sobreexportações passou de 3,0 para 1,0. A queda da razão dívidaexterna líquida mais estoque de investimentos sobre asexportações passou, no mesmo período, de 5,2 para 4,0 (Pol.Econ. Foco, 2005/2006).

3 Tais indicadores trazem, no numerador, medidas do passivoexterno (dívida de curto prazo, estoque de investimentos emcarteira, etc.) e, no denominador, o estoque de reservas oficiais.No caso brasileiro recente, os passivos externos mais líquidoscomo proporção das reservas, que estavam em uma razãosuperior a 2,0 antes de 2000, chegaram a algo entre 1,0 e 1,5em 2005 (Pol. Econ. Foco, 2005/2006).

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 93-118, dez. 2006

98 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

te o aumento do estoque de reservas internacionaispróprias (que sintetiza a capacidade de pagamento dopaís no curto prazo e, por isso, compõe o denominador

Tabela 1

Balanço de pagamentos do Brasil — 1999-05 (US$ milhões)

DISCRIMINAÇÃO 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Transações correntes .................................. -25 335 -24 225 -23 215 -7 637 4 177 11 738 14 199 Balança comercial .......................................... -1 199 -698 2 650 13 121 24 794 33 666 44 757 Serviços e rendas .......................................... -25 825 -25 048 -27 503 -23 148 -23 483 -25 197 -34 115 Transferências unilaterais correntes .............. 1 689 1 521 1 638 2 390 2 867 3 268 3 558 Conta capital e financeira ............................ 17 319 19 326 27 052 8 004 5 111 -7 356 -8 808 Conta capital .................................................. 338 273 -36 433 498 339 663 Conta financeira ............................................. 16 981 19 053 27 088 7 571 4 613 -7 696 - 9 470 Capitais voluntários ..................................... 14 016 29 377 20 331 -3 909 -156 -3 333 13 801 Operações de regularização (FMI) ............. 2 966 -10 323 6 757 11 480 4 769 -4 363 -23 271 Erros e omissões ......................................... 194 2 637 -531 -66 -793 -2 137 -1 072 Resultado global .......................................... -7 907 -2 262 3 307 302 8 496 2 244 4 319

FONTE: Banco Central do Brasil.

dos indicadores de liquidez), mas também a redução doestoque da dívida de curto prazo (Pol. Econ. Foco, 2005//2006).

- 40 000

- 30 000

- 20 000

- 10 000

0

10 000

20 000

30 000

40 000

Jan.

/99

Mar

./99

Mai

o/99

Jul./

99

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./99

Nov

./99

Jan.

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Mar

./00

Mai

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Jul./

00

Set

./00

Nov

./00

Jan.

/01

Mar

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./01

Nov

./01

Jan.

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Mar

./02

Mai

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Jul./

02

Set

./02

Nov

./02

(US$ milhões)

Investimento estrangeiro diretoInvestimento estrangeiro em carteiraOutros investimentos estrangeirosOperações de regularização (líquido)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

Composição dos fluxos de capitais acumulados em 12 meses para o Brasil — 1999-02Gráfico 1

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99Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

4 Para avaliar a hipótese de que há uma demanda precaucional dereservas no caso brasileiro, parte-se da metodologia deinvestigação desenvolvida a partir dos trabalhos de Frenkel(1983) e Edwards (1983) e atualizada por Flood e Marion (2002),Aizenman e Marion (2004) e Aizeman, Lee e Rhee (2004), dentreoutros, para o contexto das características recentes dos merca-dos financeiros globalizados e desregulamentados. Os trabalhosoriginais de Frenkel (1983) e Edwards (1983) enfatizavam aimportância das reservas oficiais das autoridades monetáriaspara a gestão de regimes de câmbio administrado. Os trabalhosposteriores procuraram adaptar tal motivo transacional parademanda por reservas ao contexto onde países que apresentamum acesso potencialmente limitado a empréstimos internacionaispodem buscar constituir reservas como forma de reduzir seurisco soberano e, assim, sua exposição aos custos reais decrises financeiras originadas por mudanças súbitas de avaliaçãopor parte dos credores. Nesse segundo sentido, racionaliza-sea constituição de reservas, mesmo em regimes de câmbioflexível, como uma demanda precaucional para países comacesso limitado ao crédito internacional.

5 Nessa seção, segue-se de perto a estratégia de investigaçãode Aizenman e Marion (2004).

6 Definiu-se a periodicidade deste trabalho como mensal, onde asreservas são aquelas conceituadas como reservasinternacionais — conceito de liquidez internacional. Os dadosforam obtidos no Banco Central do Brasil (www.bcb.gov.br).

7 O estimador utilizado é de máxima verossimilhança.

- 30 000

- 20 000

- 10 000

-

10 000

20 000

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Jan.

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05

Ago

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Set

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Jan.

/06

Fev

./06

(US$ milhões)

Investimento estrangeiro diretoInvestimento estrangeiro em carteiraOutros investimentos estrangeirosOperações de regularização (líquido)

0

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

Composição dos fluxos de capitais acumulados em 12 meses para o Brasil — 2003/06

Gráfico 2

3 Demanda precaucional de reservas4: uma análise exploratória dos dados e das estratégias

Esta seção5 tem como objetivo apresentar os resul-tados estatísticos do exercício econométrico que visa

delimitar os condicionantes das variações nas reservasexternas para o Brasil, no período delimitado por jan./95e maio/06.6 Com efeito, apresenta-se, em um primeiromomento, a decomposição da série que será objeto deinvestigação sob componentes não observáveis. Em se-guida, tem-se a proposta de modelo estrutural que visa àidentificação dos determinantes das reservas. De maneirageral, pode-se especificar uma série econômica em quatrocomponentes básicos: tendência, sazonalidade, irregulari-dade e ciclos. O componente tendencial definiu-se comoaleatório, decompondo-o em nível aleatório e declividadealeatória; a sazonalidade, da mesma maneira concebidapara os elementos anteriores, foi caracterizada comoaleatória durante o período. Não se buscou assinalar umcomponente cíclico nas reservas, em função do númerode anos limitado para se originar uma particularizaçãodesse tipo. Assim, estabelece-se que as reservas sãoexplicadas, essencialmente, pela tendência (aleatória),pela sazonalidade (aleatória) e por suas irregularidades.

Esse tipo de especificação atinge uma convergên-cia forte após 14 interações.7 O resultado alcançado jápermite uma leitura mais detalhada de quais componen-

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100 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

tes, definidos anteriormente, tiveram significância esta-tística. A Tabela 2 indica que os dois únicos componentesnão observáveis das reservas que apresentaram relevân-cia estatística são o nível e a sazonalidade, os doisexplicitados estocasticamente. No entanto, a estatísticaDurbin-Watson (DW) indica a possibilidade de autocor-relação nos resíduos, possibilidade esta confirmada peloteste de Box-Ljung Q-statistic (BL), o qual apresenta ump-valor de 0,0224, levando a não rejeitar a presença daautocorrelação nos resíduos.

Antes de buscar a correção da autocorrelação, érecomendável atentar para o comportamento dosresíduos dos componentes não observáveis do modeloaté aqui apresentado. Esse comportamento auxilia adetectar e distinguir os outliers e as mudanças estruturaisnos elementos explicativos da série das reservas (GráficoA.1)8. Notam-se valores elevados para os resíduos dasirregularidades exatamente no período próximo àdesvalorização do real, estendendo-se para alguns mesesseguintes (março de 1998 até março de 1999). Essemesmo movimento, no referido período, ocorre quandosão observados os resíduos do nível da tendência. Asreservas passam de aproximadamente US$ 74 bilhõesem abril de 1998 para US$ 33 bilhões em março de 1999(Gráfico A.2). Já a declividade da tendência nãoapresentou valores elevados para os seus resíduos.

Ainda analisando os resíduos dos componentes nãoobserváveis da série de reservas no Banco Central doBrasil, delimitam-se os outliers de cada componente nãoobservável. Quando se utiliza a especificação de 3,5desvios padrões, encontram-se grandes valores para osresíduos da irregularidade e do nível da tendência emsetembro 1998 (Tabela A.1). No período de agosto esetembro de 1998, há uma queda de aproximadamenteUS$ 21 bilhões nas reservas (Gráfico A.2). Objetivandoreforçar a afirmação de que os outliers das reservas estãolocalizados entre março de 1998 e março de 1999,buscam-se novos grandes valores para os resíduos,relaxando-se a especificação anterior; então, o novo limitetorna-se 2,5 desvios padrões (Tabela A.2). Como jápoderia ser esperado, todos os outliers das irregularidadesconcentram-se entre agosto de 1998 e março de 1999.Por sua vez, para o nível da tendência, têm-se indicadodois meses delimitados no interior do período já apontadode forte turbulência, março de 1998 e setembro de 1998.Outros dois momentos merecem destaque: (a) em abrilde 1999, as reservas brasileiras receberam um reforço

via empréstimos do Fundo Monetário Internacional,determinando uma variação nesse indicador, depois deum longo período de queda;9 (b) abril de 2000, com novosdesembolsos de recursos do FMI, é um ponto de inflexãoa partir do qual as reservas voltam a apresentar umatrajetória de acumulação, indicando uma mudança nonível dessa tendência (Brasil, 2005) (Gráfico A.2). O outlierapontado para a declividade da tendência das reservasfigura apenas no início do período demarcado por estetrabalho, no mês de outubro de 1995, momento em queocorre um movimento de declínio na taxa de crescimentode acumulação de reservas.

Dadas as grandes variações ocorridas entre marçode 1998 e março de 1999, determina-se uma intervençãono mês de setembro de 1998, apontado como um dosoutliers para os componentes nível da tendência e irregula-ridade. Essa intervenção será inserida apenas para o nívelda tendência, uma vez que esse componente teve suaaleatoriedade estatisticamente significativa. Ademais,mais duas modificações serão propostas: (a) a introduçãode um componente auto-regressivo, visando corrigir aautocorrelação dos resíduos; e (b) a exclusão do compo-nente sazonal aleatório — apesar da significância esta-tística para esse componente, não se espera que asreservas internacionais tenham comportamento aleatórionesse elemento. Definiu-se, porém, um componentesazonal fixo, originado pelo comportamento das expor-tações brasileiras. Nessa nova estruturação para adecomposição das reservas em componentes nãoobserváveis, incorporam-se os seguintes elementos:irregularidades, o nível da tendência aleatório, a declivi-dade da tendência aleatória, um componente AR(1), sazo-nalidade fixa e a intervenção já indicada.

Os resultados dessa nova especificação sãoexpostos na Tabela 3. Não houve problemas com aconvergência nesse novo modelo, atingida após 17interações. Novamente, a irregularidade e a aleatoriedadeda declividade da tendência não apresentaramsignificância estatística. A definição de que a declividadenão se caracterizou como randômica leva à concepçãode que a taxa de crescimento da tendência das reservasno Brasil se manteve praticamente estável no períododemarcado por esse exercício, sendo que apenasocorreram mudanças significativas no seu nível, comoassinalado pelo razão Q. Essa indicação oferecida pelostestes estatísticos sugere que o Bacen não alterou seupadrão de acumulação de reservas, mesmo depois da

8 Não se pode observar a Figura A.1 para a identificação deautocorrelação, essa não cumpre esse papel.

9 As reservas, de março a abril de 1999, aumentaram em torno deUS$ 10 bilhões (Gráfico A.2).

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mudança de regime cambial. Ou seja, independentementedo regime cambial adotado pelo Bacen, as variações dataxa de crescimento da tendência das reservas são asmesmas, alterando-se apenas o seu nível.

Com relação ao ajuste geral do modelo, tem-se quea presença do componente AR(1) solucionou o problemade autocorrelação nos resíduos, a estatística DW elevou--se, quando comparada com a especificação anterior, e,além disso, rejeitou-se a autocorrelação residual pelo testeBL. Continuando a comparar os dois modelos propostospara a decomposição da série das reservas em seuscomponentes não observáveis, nota-se, pelos resultadosdos critérios de informações de Akaike (AIC) e deSchwartz (BIC), que esse segundo exercício está maisbem ajustado. Já verificados quais os componentes nãoobserváveis que tiveram relevância estatística para asérie das reservas, o próximo passo deste trabalho ébuscar quais os agregados econômicos que auxiliam nacompreensão das variações dessa série. Para tanto,trabalha-se com dois subperíodos. O primeiro vai dejaneiro de 1995 até agosto de 1998. Nele predominou oregime de câmbio administrado por meio de bandaspreanunciadas. Nesse modelo 1, optou-se por nãoestender a periodicidade até dezembro de 1998, dada apresença de um outlier significativo em setembro de 1998,como já foi indicado pelos testes anteriores. Assim,excluíram-se todos os meses posteriores a esse,evitando as perturbações excessivas quando daproximidade da desvalorização do câmbio. O segundoperíodo, aqui denominado modelo 2, coincide com oregime de câmbio flutuante, indo de janeiro de 1995 atémaio de 2006.10 De maneira geral, os dois modeloseconométricos estimados são:

já definido anteriormente.12 Antes de se partir para adeterminação dos coeficientes da equação (1), é funda-mental aplicar os testes estatísticos de raiz unitária nasséries utilizadas neste trabalho. Foram praticadas trêsespecificações de teste: o estatístico de Dickey-Fullerampliado (ADF), o estatístico de Phillips-Perron (PP) e oestatístico de raiz unitária de Zivot-Andrews (ZA). Para acaracterização dos dois primeiros testes, ver Enders(2004); já para o terceiro, consultar Zivot e Andrews(1992).13 Para as séries utilizadas no modelo 1, as respos-tas encontradas pelos três métodos apresentaram umadiversidade.14 Porém não se pode rejeitar a presença deraiz unitária nas por qualquer especificação, sendoessa série I(1). Por seu turno, rejeita-se a presença deraiz unitária, I(0), para o e para o , quando seleva em consideração qualquer das caracterizações. Essetipo de resultado imprime uma necessidade de utilizar aequação (1) em forma de diferenças.

ttttt IECIDETCRS εββββ ++++= ... 3210(1)

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10 A opção pelo término em maio de 2006 é dada pela disponibilidadede dados.

11 Todas essas séries tiveram como fonte de dados brutos oBacen. Ademais, está-se tratando de modelos estruturais e, porconseqüência, não se pretende prever os movimentos dasreservas, sendo mais claro caracterizar como variáveisomitidas.

12 O método utilizado foi de diferença das médias móveis aditivas, implementado pelo pacote estatístico Eviews 5.0.

13 O teste estatístico de raiz unitária de Zivot-Andrews considera a presença de uma quebra nas séries a serem testadas, quebra esta determinada endogenamente.

14 Por simplificação, omitiu-se a apresentação detalhada dos testes, que poderão ser disponibilizados, por e-mail, para os interes- sados.

A Tabela 4 apresenta a identificação dos parâmetrose suas respectivas estatísticas t-student do modelo 1,já se valendo da expressão (1.a).

A estatística-F, alcançada no modelo 1, indica que,ao menos, uma das variáveis explicativas se ajusta às . Salienta-se que não se espera um valor elevadopara o R2, pois não se busca uma previsão para .Assim, um valor de 0,312 para essa estatística éaceitável, quando se procura identificar relações entrevariáveis. Pela observação da significância estatísticadas variáveis explicativas, nota-se que a única queconseguiu não ser rejeitada foi o . Todavia a es-tatística DW indica presença de autocorrelação residual.Objetivando solucionar esse problema, insere-se umtermo AR(1) na especificação anterior; tem-se agora omodelo 1.A, exposto na Tabela 5.

De modo geral, a inclusão do termo AR(1) propiciouuma melhora na caracterização do modelo como um todo.A estatística-F atingiu um valor maior, ocorreu uma mini-

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IDETCRS

εββββ

+∆++∆+∆+=∆

)(.

)(.)(.)(

3

210

(1.a)

RS

IEC

ε

101Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

Onde representa as reservas; , o saldoem transações correntes; , o saldo do investimentodireto estrangeiro; , o saldo do investimento estran-geiro em carteira; e o representa os efeitos das va-riáveis não incluídas no modelo.11 Para as séries das do , buscou-se um ajuste sazonal, pelo motivo

ε

IEC

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102 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

mização do AIC e do BIC, e a estatística DW indica,agora, a não-autocorrelação dos resíduos. Além disso,no modelo 1.a, não se rejeita a hipótese de homoscedasti-cidade nos distúrbios estocásticos, (Quadro A.1). Oscomponentes que tiveram seus parâmetros identificadosestatisticamente foram o termo AR(1) e o , esteúltimo presente nas duas caracterizações. Ou seja, nostermos do modelo estimado, a variação no investimentoestrangeiro em carteira foi o principal determinantedas alterações nas reservas brasileiras, no período delimi-tado por jan./95 e ago./98, onde uma entrada líquida positi-va especificava um aumento nas reservas e vice-ver-sa. O termo AR(1) sugere que um choque nas reservasem (t-1) levava a uma nova alteração desse agregado noperíodo (t), no mesmo sentido do primeiro movimento.

Com a intenção de buscar variáveis que poderiaminterferir nas reservas e melhorar o ajuste do modelo 1.a,efetuaram-se testes de omissão de variáveis para ocâmbio nominal ( )15, o saldo da balança comercial( )16, outros investimentos líquidos ( )17 e o graude abertura da economia brasileira ( )18. Esse tipo deteste ajuda a verificar se um subconjunto de variáveisadicionadas à equação aqui trabalhada tem contribuiçãosignificante na explicação da variação da variáveldependente ( ). Os testes de raiz unitária para essasnovas séries apresentadas indicam que , e são estacionárias nas três abordagens propostas,já se identifica como I(1), quando se utilizam oADF e o ZA. Ademais, tem-se como não estacioná-ria, o que leva a utilizar as demais variáveis em diferença.Não se rejeita a hipótese nula de que , e não são estatisticamente significantes para expli-car as variações nas . Já no caso do , tem-sea necessidade estatística de acrescentá-lo ao modelo1.a (Quadro A.2), ou seja, não se rejeita a hipótese deque ela é uma variável omitida, conforme pode ser vistona Tabela 6.

A Tabela 6 apresenta os resultados estatísticos parao modelo 1.a com a inclusão da variável , a qual

foi caracterizada estatisticamente como omitida. Houveuma melhora na especificação, das apontadas pe-los novos valores de AIC e BIC, além da estatística-F. Aestatística DW atingiu um valor de 1.864, podendo indicarautocorrelação nos resíduos. No entanto, nessa espe-cificação, rejeita-se a hipótese de homoscedasticidadedos resíduos (Quadro A.3). Para solucionar o problemada heteroscedasticidade, aplica-se o estimador de White(matriz de variância e covariância de White). A respostadas novas estatísticas é apresentada na Tabela 7.

Quando se leva em consideração a presença deheteroscedasticidade nos resíduos e se busca suaponderação via matriz de White, tem-se que a variável perde a significância estatística. Com efeito, volta--se ao modelo 1.a sem a presença dos outros investimen-tos líquidos (Tabela 5), pois essa especificação apresentatodas as hipóteses clássicas válidas com respeito aocomportamento dos distúrbios estocásticos, tornando osresultados mais robustos estatisticamente.

Já definida a principal variável que provoca altera-ções nas , passa-se a especificar a relação causalentre elas. Para tanto, é necessário testar a co-integraçãoentre o e as antes de especificar o teste decausalidade de Granger, uma vez que, sendo essasvariáveis co-integradas, é importante introduzir esse vetorde co-integração na especificação do teste.19 Sabe-se,no entanto, que as variáveis foram definidasestatisticamente como I(0); já a série das apresen-tou-se como I(1). Essa particularização assinala a não--co-integração. Assim, a estruturação do teste de causali-dade de Granger foi feita sem nenhum tipo de vetor co--integrante. A relação entre e que emerge noteste de causalidade de Granger indica que eles sãomutuamente dependentes no sentido de Granger. Aprobabilidade de que as variações nas reservas causem,no sentido de Granger, as alterações no investimentoestrangeiro em carteira é de aproximadamente 92%.Quando se propõe o sentido inverso, estabelece-se umaprobabilidade de causa, no sentido de Granger, por voltade 93%. Objetivando uma melhor compreensão dessarelação de causalidade, busca-se adicionar novasvariáveis: os fluxos de crédito ( ) e de débito( ) dos investimentos estrangeiros em carteira,isto é, a abertura do em seus fluxos de entrada esaída de divisas.

Essas duas novas variáveis foram caracterizadascomo I(0) pelas três especificações utilizadas para testar

15 Foi utilizada a série de câmbio nominal (R$/US$, média mensal) em nível, disponibilizada pelo Banco Central (www.bcb.gov.br).

16 Da mesma maneira que se fez com o , o e o passaram por um ajuste sazonal.

17 Internamente a essa conta do balanço de pagamentos,encon- tram-se os empréstimos oriundos do FMI.

18 O conceito de grau de abertura aproxima-se de corrente de comércio; tem-se, então, a soma da entrada e da saída de investimento estrangeiro em carteira ponderado pelo valor do PIB em dólares (este teve como fonte o Banco Central do Brasil, o qual disponibiliza uma série mensal).

CA CO

CACO OIL

GA

RSCA OIL

GA

RSCO

CA COGA

RS OIL

OIL

RS

OIL

RS

IEC RS

IECRS

IEC RS

IECCREIECDEB

IEC

19 Ver Granger, Huang e Yang (2000).

ε

IEC

TC

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103Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

raiz unitária.20 O teste de variáveis omitidas aplicado sobreelas individualmente indicou a rejeição da hipótese deque estas estariam sendo omitidas no modelo. Essa foia mesma resposta quando se testou a omissão conjuntadas mesmas. Esse tipo de conclusão estatística não énenhuma surpresa, uma vez que a variável jáestava incluída no modelo. Porém, quando se busca arelação entre e somente e , en-contra-se significância estatística, isto leva a testar acausalidade de Granger do e o con-tra as ,21 lembrando-se que não é possível a co--integração entre as e ou .

O teste de causalidade de Granger (Tabela A.4)aponta uma probabilidade bastante significativa (94%)de que as variações no causam, no senti-do de Granger, as variações nas , ou seja, a entra-da de provoca um aumento nas reservas. Comrelação à causalidade entre o e as , nãose tem uma verificação com tamanha consistência. Asvariações nas não causam, no sentido de Granger,as variações no , com uma probabilidade depraticamente 96%. Por outro lado, a probabilidade deo causar variações nas , no sentido deGranger, é próxima de 21%, sendo o sentido inverso maisprovável. A relação positiva entre o e as e essa dificuldade na determinação da relação decausa podem estar associadas ao regime cambialpraticado no período. Na ótica do Banco Central, a deman-da precaucional por reservas justificava-se, para garantirque as pressões potencialmente geradas pelas saídasde não se traduzissem em movimentos de des-valorização da moeda nacional superiores aos estabele-cidos nas bandas. Como as saídas de são inde-pendentes das variações nas reservas,22 não cau-sariam , e haveria uma relação positiva entre es-sas duas variáveis. Ademais, não se pode esperar que

cause as variações nas , exatamente poressa relação positiva; o que se tem é que oestaria causando, no sentido de Granger, as variaçõesnas , aí, sim, com uma relação positiva.

Então, para o modelo 1.a, onde se considera operíodo jan./95-ago./98, tem-se que as reservas foraminfluenciadas principalmente pelos movimentos deinvestimentos estrangeiros em carteira. E, ainda, asentradas dessa modalidade de capitais causariam, nosentido de Granger, as reservas.

O modelo 2, como já definido, cobre o período quese inicia em janeiro de 1999, estendendo-se até maio de2006. Novamente, as variáveis utilizadas na expressão(1) tiveram graus de co-integração tanto I(0) como I(1).23

Agora, no entanto, têm-se algumas divergências entreas três estruturas de teste de raiz unitária apresentada.O especifica-se como I(1) pelo ADF e pelo ZA, eI(0), pelo PP. Levando em conta a dinâmica dessa sériedurante os meses do modelo 2 e sabendo que o teste deZA já considera uma quebra estrutural, estipula-se o

como não estacionário em nível. Já para o casodas , tem-se uma resposta do ADF e do PP comoI(1), sendo que o teste de ZA a apresenta como I(0).Nesse caso, podem-se considerar as como esta-cionárias, em nível, uma vez que, controlada a quebraidentificada em abril de 2000,24 elas se tornam I(0). Por-tanto, a caracterização dos testes de raiz unitária apontaa utilização das séries em diferenças (equação 2).

A Tabela 8 exibe os resultados estatísticos domodelo 2. O valor indicado pela estatística-F delimitaque, no mínimo, uma variável explicativa apresentarelação com a variável explicada no modelo 2. Visto queo valor da estatística de DW se aproxima de 2,00, e essaé maior que o R2, rejeita-se a presença de autocorrelaçãonos resíduos. Salienta-se, mais uma vez, que não éobjetivo deste trabalho alcançar valor elevado para o R2,pelo motivo já observado. O teste geral de heteroscedas-ticidade de White possibilitou a não-rejeição de homosce-dasticidade na especificação econométrica exposta naTabela 8 (Quadro A.4). Não diferentemente do modelo 1,o foi a única variável a apresentar uma relaçãoestatística significativa com as nesse modelo 2.

20 Por simplificação, omitiu-se o detalhamento dos testes, cujosresultados poderão ser disponibilizados, por e-mail, para osinteressados.

21 O termo Ar(1) foi inserido, devido à presença de autocorrelaçãonos resíduos; além disso, não se detectou a presença deheteroscedasticidade (Tabela A.3).

22 Pode-se argumentar que uma perda de reservas causa um mo-vimento expressivo de saída de , elevando-se o ,mas é importante lembrar duas observações: (a) no modelo 1.a,o único componente que se tornou significativo estatisticamentena explicação das variações das foi o , onde, em umasegunda especificação, o tem uma relação positivacom as , ou seja, uma queda nas diminuiria o ,movimento contrário ao argumentado aqui; e (b) osmeses em que ocorreu um forte movimento de saída de ,levando a desvalorização da moeda nacional, não estãopresentes na periodicidade do modelo 1.a.

IEC

RS IECCRE IECDEB

IECCREIECDEB

RSRS IECCRE IECDEB

IECCRERS

IECIECDEB RS

RSIECDEB

IECDEB RS

IECDEBRS

IEC

IECRS

IEC

IECDEB RSIECCRE

RS

TC

TCRS

RS

IECRS

23 Por simplificação, omitiu-se o detalhamento dos testes, cujos resultados poderão ser disponibilizados, por e-mail, para os interessados.

24 Lembra-se que esse mês já foi identificado anteriormente como o de uma mudança no nível da tendência, momento em que se inicia uma tendência expressiva de acumulação de reservas.

IEC IECDEB

RS IECIECDEB

RS RSIECDEB

IEC

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104 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

Os testes de variáveis omitidas para , , e prescrevem que não se pode rejeitar ahipótese de omissão das três primeiras variáveis, respostanão válida para o (Quadro A.5). Porém, nacaracterização em que se inclui o no modelo 2,tem-se uma identificação negativa entre essa variável eas , isto é, uma elevação no saldo comercial provocauma queda nas reservas, por conseqüência, pode estarocorrendo uma relação espúria entre essas duas séries(Quadro A.5). Apesar dessa sinalização, o teste devariável omitida conjunta para , e nãopode ser rejeitado, tal que a arquitetura do modelo 2,com a inclusão dessas três variáveis, torna o parâmetrorelativo ao saldo comercial positivo, mas não significativoestatisticamente, confirmando a suspeita anterior (TabelaA.6). Então, o que se tem como variáveis omitidas nomodelo 2 são o e o (o teste conjunto delasconfirma essa hipótese).

Como se pode observar pela Tabela 9, ocorreu umamelhora nos resultados estatísticos como um todo,manifestados nas seguintes estatísticas: AIC, BIC, R2 eestatística-F. Todavia, agora, tem-se autocorrelaçãoresidual (DW) e heteroscedasticidade (Quadro A.5).Procurou-se corrigir a autocorrelação das perturbaçõesestocásticas com a inserção de termos AR até com 12defasagens, pois se trabalha com dados mensais, nãoatingindo sucesso. Os problemas de autocorrelação eheteroscedasticidade podem estar associados à presençade outliers. Isso poderia estar acontecendo porque a série

inclui os fluxos de recursos associados aos pro-gramas de financiamento liderados pelo FMI. Com efeito,incorporam-se duas variáveis dummies no modelo, umapara os meses com fluxos de saída de divisas ( )e outra para os meses com movimentos de entrada dedivisas ( ), assinaladas na subconta FMI, nobalanço de pagamentos, sacrificando a variável .

A inclusão dessas variáveis dummies e, porconseguinte, a exclusão dos acaba por proporcio-nar a não-autocorrelação dos resíduos: o DW passou para1,806 (Tabela 10).25 Todavia a heteroscedasticidadepermaneceu (Quadro A.7), levando a introduzir o estima-dor de White no modelo 2. Com essa nova especificação,não se perde muito no ajustamento do conjunto do modelo,sendo que, em comparação com os resultadosapresentados na Tabela 8, tem-se um ganho. As duasdummies tornaram-se significativas estatisticamente e

apresentaram sinais de acordo com o esperado. Essasignificância assinala que os recursos provenientes eenviados ao FMI tiveram importância para explicar asvariações nas reservas, no período do modelo 2.Ademais, o e os também são relevantes naexplicação das variações das . Na seqüência, apli-ca-se o teste de causalidade de Granger, para que sepossam interpretar os parâmetros.

Os resultados estatísticos do teste de causalidadede Granger delimitam uma forte probabilidade (em tornode 70%) de que as variações no câmbio nominal causam,no sentido de Granger, as variações nas reservas; daperspectiva inversa, tem-se uma probabilidade deaproximadamente 10% (Tabela A.7). Visto que se obteveuma relação inversa entre o e as , conclui-seque, em momentos de depreciação cambial, ocorre umaperda de reservas. Quando o câmbio se está apreciando,o Banco Central aumenta suas reservas.

Já para se especificar a relação de causalidadeentre o e as , foi importante testar se essasséries são co-integradas. A regressão simples aplicadapara essas duas variáveis, em nível, assinala uma não--significância estatística entre elas, levando à conclusãode que as mesmas não são co-integradas. O teste decausalidade de Granger acaba por indicar que a probabili-dade de as variações no não causarem, no senti-do de Granger, as variações nas é de praticamente90%.Amesma relação no sentido das para o atinge uma probabilidade próxima de 93%. Essesresultados dificultam a identificação de relação decausalidade entre essas duas variáveis. No entanto, aosubdividir o período do modelo 2, partindo-se de abril de2004 — mês onde foi identificada uma quebra no compor-tamento das reservas — até maio de 2006, tem-se umresultado mais evidente para a relação entre as e o (Tabela A.8). As variações no cau-sam, no sentido de Granger, as variações nas reservascom uma probabilidade de aproximadamente 73%. Já aprobabilidade de as causarem variações no ,no sentido de Granger, chegam a apenas 9%. Então,sabendo da relação positiva encontrada entre as eo , tem-se que a entrada de investimento estrangeiroem carteira é o componente do balanço de pagamentosque proporciona mais divisas para a economia brasileirano período do modelo 2. Por sua vez, a sua saídaconfigura-se a principal fonte de pressão para a reduçãonas reservas.

Os resultados encontrados até aqui sugerem que:(a) nos dois períodos, com distintos regimes cambiais,houve uma tendência de incremento nas reservas; (b) onível da tendência alterou-se entre 1995 e 2006, tendo

CO CAOIL

CO

GA

GA

CO

RS

CA OIL

CA OIL

OIL

DEBFMI

CREFMIOIL

25 Adicionalmente, observou-se o gráfico de dispersão dosresíduos, confirmando a hipótese da não-correlação dos termosestocásticos.

OIL

CA IECRS

CA RS

IEC RS

RSRS

IEC

RS IEC IEC

RS IEC

RSIEC

IEC

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105Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

como o principal ponto de ruptura o período de instabilida-de financeira que antecedeu a crise cambial de 1999,vale dizer, entre setembro e dezembro de 1998; (c) éinteressante notar que a taxa de crescimento da tendên-cia das reservas não se alterou significativamente nacomparação dos dois períodos, o que autoriza a sugerirque, mesmo no contexto de um regime de câmbio flutuan-te, houve uma aparente estratégia de recomposição dereservas, cujo ritmo foi semelhante estatisticamente aoverificado no período de administração da taxa de câmbiopor meio das bandas preanunciadas; e (d) tanto no regimede câmbio administrado quanto no de câmbio flutuante,os investimentos estrangeiros em carteira revelaram-seo principal fluxo a influenciar as variações de reserva.Ademais, a partir de 1999, parece ter havido uma associa-ção entre as variações cambiais e o nível de reservas,em um sentido que reforça a hipótese de uma estratégiade demanda precaucional por reservas do Banco Central,

qual seja: momentos de apreciação cambial coincidiriamcom a elevação das reservas.

A estratégia de demanda precaucional tornou-semais explícita a partir de abril de 2000. Os testes realiza-dos para o subperíodo que compreende aquele momentoe maio de 2006 apresentaram os resultados mais robus-tos em termos da causalidade entre variações de reservase variações dos investimentos estrangeiros em carteira.A importância dos recursos do FMI foi capturada pelasdummies introduzidas. É importante lembrar que, após acrise cambial de 1999, os pacotes de socorro financeirosliderados pelo FMI foram vitais para a recomposição daliquidez externa, conforme argumentado no item 2 destetrabalho. Depois de 2005, o retorno de uma política maisexplícita de leilões cambiais acelerou esse processo. Essefato parece estar sendo capturado pela mudança no nívelda tendência, em dezembro de 2005.

Tabela 2

Estimativa dos desvios padrões das perturbações das reservas do Brasil — jan./05-maio/06

COMPONENTES ESTIMATIVA Q-RATIO

Irregularidades .................................................................. 0,000 0,0000

Nível (estocástico) ............................................................ 3 690,2 1,0000

Declividade (estocástico) .................................................. 0,000 0,0000

Sazonalidade (estocástica) ............................................... 33,610 0,0091

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: 1. Critério de informação de Akaike: 16,6653. 2. Critério de informação de Schwartz: 17,0063. 3. Durbin-Watson: 1,7574. 4. Box-Ljung Q-statistic Q(10,7): 16,316, estatística Py 0,0224 — teste para correlação serial dos resíduos, baseado nas primeiras 10 autocorrelações residuais testadas, levando em conta uma distribuição Q-quadrado com 7 graus de liberdade.

Tabela 3

Estimativa dos desvios padrões das perturbações das reservas com a inclusão da AR (1), no Brasil — jan./05-maio/06

COMPONENTES ESTIMATIVA Q-RATIO

Irregularidades ................................................................ 0,000 0,0000

Nível (estocástico) ........................................................... 2 036,2 0,8665

Declividade (estocástico) ................................................ 0,000 0,0000

Auto-regressivo (AR (1)) ................................................. 2 349,9 1,0000

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: 1. Critério de informação de Akaike: 16,2065. 2. Critério de informação de Schwartz: 16,3558. 3. Durbin-Watson: 1,8718. 4. Box-Ljung Q-statistic Q(10,6): 4,8990, estatística Py 0,5568.

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106 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

Tabela 4

Resultados das estimativas do modelo 1.a no Brasil — jan./95-ago./98

VARIÁVEIS iβ t-student

Constante ........................................................... 416,52 0,1382

)(TC∆ ………………………………………….…. 0,7408 1,4536

)(IDE∆ ............................................................ 0,5279 0,0827

)(IEC∆ ............................................................. 0,2358 4,0876

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: 1. R2: 0,312. 2. Critério de informação de Akaike: 18,737.7 3. Critério de informação de Schwartz: 18,9016. 4. Durbin-Watson: 1,149. 5. Estatística-F: 5,908.

Tabela 5

Resultados das estimativas do modelo 1.a com a inclusão de Ar (1), no Brasil — jan./95-ago./98

VARIÁVEIS iβ t-student

Constante ............................................................ 697,30 1,0408

)(TC∆ …………………………………………...…. 0,3663 1,5953

)(IDE∆ .................................................................... 0,3809 0,1324

)(IEC∆ ..................................................................... 0,2188 4,1887

Ar (1) .................................................................... 0,1559 2,7089

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: 1. R2: 0,441. 2. Critério de informação de Akaike: 18,5962. 3. Critério de informação de Schwartz: 18,8030. 4. Durbin-Watson: 2,024. 5. Estatística-F: 7,294.

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107Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

Tabela 7

Resultados das estimativas do modelo 1.a com a inclusão de OIL e do estimador de White, no Brasil — jan./95-ago./98

VARIÁVEIS iβ t-student

Constante ....................................................……..... 650,48 650,48

)(TC∆ ………………………………………….......… 0,5365 0,5365

)(IDE∆ .................................................................. 0,3773 0,3773

)(IEC∆ .................................................................. 0,8289 0,8289

Ar (1) ....................................................................... 0,5179 0,5179

)(OIL∆ ................................................................... 0,2809 0,2809

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: 1. R2: 0,498. 2. Critério de informação de Akaike: 18,5362. 3. Critério de informação de Schwartz: 18,7854. 4. Durbin-Watson: 1,864. 5. Estatística-F: 7,141.

Tabela 6

Resultados das estimativas do modelo 1.a com a inclusão de OIL , no Brasil — jan./95-ago./98

VARIÁVEIS iβ t-student

Constante ....................................................…….... 650,48 0,8440

)(TC∆ ………………………………………….......… 0,5365 1,6065

)(IDE∆ ................................................................. 0,3773 0,9915

)(IEC∆ .................................................................. 0,8289 4,0117

Ar (1) ....................................................................... 0,5179 3,2547

)(OIL∆ .................................................................. 0,2809 2,0501

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: 1. R2: 0,498. 2. Critério de informação de Akaike: 18,5362. 3. Critério de informação de Schwartz: 18,7854. 4. Durbin-Watson: 1,864. 5. Estatística-F: 7,141.

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108 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

Tabela 8

Resultados das estimativas do modelo 2 no Brasil — jan./99-maio/06

VARIÁVEIS iβ t-student

Constante ........................................................... 151,44 0,4721

)(TC∆ …………………………………………...… 0,3513 0,8284

)(IDE∆ ............................................................. 0,3860 1,4892

)(IEC∆ .............................................................. 0,4405 3,0726

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: 1. R2: 0,118. 2. Critério de informação de Akaike: 18,9089. 3. Critério de informação de Schwartz: 19,0208. 4. Durbin-Watson: 1,935. 5. Estatística-F: 3,787.

Tabela 9

Resultados das estimativas do modelo 2 com inclusão de CA e OIL , no Brasil — jan./99-maio/06

VARIÁVEIS iβ t-student

Constante ....................................................……..... 192,33 0,8756

)(TC∆ ………………………………………….......… 0,8838 2,9900

)(IDE∆ .................................................................. 0,4482 2,5346

)(IEC∆ .................................................................. 0,5545 5,4817

)(CA∆ .................................................................... -4134,0 -2,1380

)(OIL∆ ................................................................... 0,4675 9,5641

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: 1. R2: 0,560. 2. Critério de informação de Akaike: 18,1633. 3. Critério de informação de Schwartz: 18,3310. 4. Durbin-Watson: 1,266. 5. Estatística-F: 24,894.

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109Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

Tabela 10

Resultados das estimativas do modelo 2 com a inclusão de CA , dummies e estimador de White, no Brasil — jan./99-maio/06

VARIÁVEIS iβ t-student

Constante ....................................................…….... 303,03 1,2664

)(TC∆ ………………………………………….......… 0,6528 1,6439

)(IDE∆ .................................................................. 0,3700 1,8624

)(IEC∆ .................................................................. 0,3318 2,4456

)(CA∆ .................................................................... -6989,3 -2,618

CREFMI .................................................................. 4192,4 4,2258

DEBFMI .................................................................. -3439,8 -3,5715

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: 1. R2: 0,5090. 2. Critério de informação de Akaike: 18,3913. 3. Critério de informação de Schwartz: 18,5871. 4. Durbin-Watson: 1,806. 5. Estatística-F: 14,146.

4 Considerações finais

Em um ambiente financeiro caracterizado pelarecorrência de ciclos curtos de entrada e saída de capi-tais — feast or famine (Global Financial Stability Rep.,2003) —, que são determinados, em última instância,pela dinâmica dos mercados financeiros dos paísesavançados, muitos países emergentes passaram a adotarestratégias defensivas de acumulação de reservasinternacionais — war chest (Dooley; Folkerts-Landau;Garber, 2005). Tal processo parece ter sido mais intensonas economias asiáticas, depois da crise financeira de1997. Recentemente, com a ocorrência de um ciclo exter-no excepcionalmente favorável, que, a partir de 2003,gerou uma ampla liquidez financeira global, um forte cres-cimento da renda e do comércio das economias-chave euma ampliação no preço das commodities, as economiaslatino-americanas reverteram os déficits em conta corren-te que as caracterizaram na década anterior e aceleraramseus ajustes externos. Redução de endividamento eampliação das reservas oficiais também passaram a com-por o quadro de muitos países latino-americanos. É inte-ressante notar que essas políticas defensivas ocorrerammesmo entre países que formalmente adotaram regimesde câmbio flutuante, como no caso brasileiro. O “medo

de flutuar” e, mais, o “medo da instabilidade” gerada exter-namente, associados à oportunidade cíclica produzidapela abundância de liquidez e à queda nos prêmios derisco de todas as classes de ativos financeiros, criaramas condições favoráveis para que as autoridadesmonetárias reduzissem, intencionalmente, os níveis deendividamento externo e/ou alterassem o perfil de liquideze solvência externa capturados por indicadores querelacionam, respectivamente, os passivos externos(dívida e estoque de investimentos estrangeiros) comos níveis oficiais de reservas ou com as exportações(World Econ. Outlook, 2006; BIS, 2006; Dooley; Folkerts--Landau; Garber, 2005). Ainda assim, o ajuste externodas economias latino-americanas foi muito menos intensodo que o verificado na Ásia em desenvolvimento.26 Para

26 Em 1998, as reservas oficiais da Ásia eram de US$ 275 bilhõescontra US$ 153 bilhões na América Latina. Em 2005, tais valoreseram de, respectivamente, US$ 1,2 trilhão e US$ 253 milhões.Em 1998, a relação dívida externa/exportações era de 129% naÁsia e de 269% na América Latina. Em 2005, esses mesmosindicadores foram de 54% e 142%. Em 1998, o serviço da dívidaexterna equivalia a 19% das exportações asiáticas e a 49% daslatino-americanas, tendo passado a 7% e 36% em 2005. A relaçãodívida externa/PIB era de 35% na Ásia e de 39% na AméricaLatina, em 1998, passando a 21% e 33% em 2005 (Wed Econ.Outlook, 2006).

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 93-118, dez. 2006

110 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

se colocar em perspectiva, as reservas oficiais do con-junto dos países latino-americanos equivalem às reser-vas de somente um país asiático, a Coréia do Sul (WorldEcon. Outlook, 2006).

Nesse contexto, procurou-se analisar o processorecente de ajuste das contas externas do Brasil. De fato,conforme verificado no item 2, o País passou por umasensível mudança na configuração de suas contasexternas, especialmente depois de 2003. Houve umamelhora expressiva do perfil de financiamento externo etambém dos indicadores de vulnerabilidade. Tal processodeu-se em meio a um ciclo real e financeiro particular-mente favorável. Apesar de os níveis de reservas oficiaisno Brasil não se assemelharem aos verificados naseconomias asiáticas, que estão sendo apontadas comoexemplos da adoção de estratégias de “demandaprecaucional” por reservas (Aizenman; Lee; Rhee, 2004;Eichengreen, 2004; Dooley; Folkerts-Landau; Garber, 2004e 2005), buscou-se, no item 3 deste trabalho, avaliar aevolução desse indicador e de seus potenciaisdeterminantes nos contextos de câmbios administradoe flutuante. Verificou-se que, apesar das mudanças denível, a tendência de acumulação de reservas não seriaestatisticamente distinta nos dois períodos, o que foiinterpretado como uma sinalização da validade dahipótese de demanda precaucional por reservas no casobrasileiro. Ademais, os capitais de curto prazo parecemafetar mais as variações das reservas. Por fim, no períodode flutuação cambial, as reservas tenderam a aumentarnos momentos de apreciação cambial, o que levou aconsiderar, mais uma vez, o comportamento do BancoCentral como consistente com a hipótese de que amelhora no quadro de liquidez financeira internacionalcontribuiu para a alteração no perfil de vulnerabilidadeexterna.

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Apêndice

Gráfico A.1

Resíduos dos componentes não observáveis especificados para a série das reservas internacionais no Brasil — jan./95-maio/06

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

-2,5

0,0

2,5 Irregularidade

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 -5,0

-2,5

0,0

2,5 Nível

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

-2

0

2 Declividade

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil 111

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 93-116, dez. 2006

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Tabela A.1 Grandes valores para os resíduos, delimitados por 3,5 desvios padrões, na série

das reservas, no Brasil — jan./05-maio/06

IRREGULARIDADES

NÍVEL (tendência) PERÍODO SELECIONADO

Valor Estatística Py Valor Estatística Py

Set./98 -3,6631 0,0002 -5,7804 0,0000

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

Tabela A.2 Grandes valores para os resíduos, delimitados por 2,5 desvios padrões,

na série das reservas, no Brasil — jan./05-maio/06

a) irregularidades

PERÍODOS SELECIONADOS VALORES ESTATÍSTICA PY

Ago./98 3,3380 0,0005

Set./98 -3,6631 0,0002

Dez./98 2,6324 0,0047

Mar./99 -2,6753 0,0042

b) nível (tendência)

PERÍODOS SELECIONADOS VALORES ESTATÍSTICA PY

Mar./98 2,5696 0,0056

Set./98 -5,7804 0,0000

Abr./99 3,0680 0,0013

Abr./00 -2,8429 0,0026

Dez./05 -2,5084 0,0066

c) declividade (tendência)

PERÍODO SELECIONADO VALOR ESTATÍSTICA PY

Out./95 -2,5831 0,0054

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

20 00030 00040 00050 00060 00070 00080 000

1995

2

Ago

./95

1996

2

1996

8

Fev

./97

1997

8

1998

2

1998

8

1999

2

Ago

./99

2000

2

2000

8

2001

2

2001

8

Fev

./02

2002

8

2003

2

2003

8

2004

2

Ago

./04

2005

2

2005

8

2006

2

Gráfico A.2

(US$ milhões)

0

Reservas internacionais, pelo conceito de liquidez internacional, no Banco Central do Brasil — ago./94-

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis112

Ago

./94

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 93-118, dez. 2006

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 93-118, dez. 2006

113Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

Tabela A.3

Resultados das estimativas do modelo RS = f(CREIEC, DEBIEC) no Brasil — jan./95-ago./98

VARIÁVEIS iβ t-student

Constante ………………………………….………… 705,36 0,280

)( IECCRE∆ ........................................................ 0,6742 2,679

)( IECDEB∆ ........................................................ 0,8176 3,618

Ar (1) .................................................................... 0,3741 2,426

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: 1. R2: 0,374. 2. Critério de informação de Akaike: 18,663. 3. Critério de informação de Schwartz: 18,828. 4.Durbin-Watson: 2,037. 5. Estatística-F: 7,555. Tabela A.4

Teste de causalidade de Granger para o modelo 1.a com uma defasagem, no Brasil — jan./95-ago./98

HIPÓTESE NULA ESTATÍSTICA-F P-VALOR

)(IEC∆ não causam, no sentido de Granger, )(RS∆ ....................... 3,231 0,080

)(RS∆ não causam, no sentido de Granger, )(IEC∆ ....................... 3,418 0,072

)( IECCRE∆ não causam, no sentido de Granger, )(RS∆ ................. 3,865 0,057

)(RS∆ não causam, no sentido de Granger, )( IECCRE∆ ................. 0,129 0,721

)( IECDEB∆ não causam, no sentido de Granger, )(RS∆ ................ 0,075 0,785

)(RS∆ não causam, no sentido de Granger, )( IECDEB∆ ................. 0,003 0,957

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

Tabela A.5

Resultados das estimativas do modelo 2 com a inclusão de CO , no Brasil — jan./99-maio/06

VARIÁVEIS iβ t-student

Constante …………… 191,96 0,6128

)(TC∆ ..................... 1,4657 2,2643

)(IDE∆ ................... 0,4572 1,9486

)(IEC∆ .................... 0,4821 3,0985

)(CO∆ ..................... -2,2446 -2,4289

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 93-118, dez. 2006

114 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

Tabela A.6

Resultados das estimativas do modelo 2 com a inclusão de CO , CA e OIL , no Brasil — jan./99-maio/06

VARIÁVEIS iβ t-student

Constante ……….…. 185,82 0,8401

)(TC∆ .................... 0,7121 1,4699

)(IDE∆ .................. 0,4380 2,4446

)(IEC∆ .................. 0,5504 5,3935

)(CA∆ .................... -4 141,87 -2,131

)(CO∆ ................... 0,3614 0,4487

)(OIL∆ .................. 0,4756 9,0869

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

Tabela A.7

Teste de causalidade de Granger para o modelo 2 com uma defasagem, no Brasil — jan./99-maio/06

HIPÓTESE NULA ESTATÍSTICA-F P-VALOR

)(IEC∆ não causam, no sentido de Granger, )(RS∆ ....................... 0,016 0,900

)(RS∆ não causam, no sentido de Granger, )(IEC∆ ....................... 0,008 0,928

)(CA∆ não causam, no sentido de Granger, )(RS∆ ......................... 1,106 0,295

)(RS∆ não causam, no sentido de Granger, )(CA∆ ......................... 0,017 0,896

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

Tabela A.8

Teste de causalidade de Granger para o modelo 2 com uma defasagem, no Brasil — abr./04-maio/06

HIPÓTESE NULA ESTATÍSTICA-F P-VALOR

)(IEC∆ não causam, no sentido de Granger, )(RS∆ ................... 1,213 0,274

)(RS∆ não causam, no sentido de Granger, )(IEC∆ ................... 0,012 0,913

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil. NOTA: Considerando-se RS = 43845,02 + 0,551 IEC. (0,000) (0,354)

Quadro A.1

Teste de heteroscedasticidade de White com produto cruzado (modelo 1.a), no Brasil — jan./05-ago./06

Estatística-F 0,4867 p-valor 0,8726

Obs R2 5,057 p-valor 0,2934

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 93-118, dez. 2006

115Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

Quadro A.2

Teste para variáveis omitidas no modelo 1.a, no Brasil — jan./95-ago./98

VARIÁVEIS ESTATÍSTICAS VALORES ESTATÍSTICAS VALORES

CA Estatística-F 0,7782 p-valor 0,3835

Log likelihood ratio 0,8982 p-valor 0,3432

CO Estatística-F 0,0093 p-valor 0,9238

Log likelihood ratio 0,0108 p-valor 0,9171

GA Estatística-F 0,0841 p-valor 0,7733

Log likelihood ratio 0,0981 p-valor 0,7541

OIL Estatística-F 4,0911 p-valor 0,0506

Log likelihood ratio 4,5208 p-valor 0,0335

CREIEC Estatística-F 1,9450 p-valor 0,1717

Log likelihood ratio 2,2100 p-valor 0,1371

DEBIEC Estatística-F 0,9797 p-valor 0,3289

Log likelihood ratio 1,1277 p-valor 0,2882

DEBIEC e CREIEC Estatística-F 2,5666 p-valor 0,0911

Log likelihood ratio 5,7480 p-valor 0,0565

Quadro A.3

Teste de heteroscedasticidade de White com produto cruzado (modelo 1.a com OIL),

no Brasil — jan./95-ago./98

Estatística-F 2,2751 p-valor 2

Obs R2 22,731 p-valor 5

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

Quadro A.4

Teste de heteroscedasticidade de White com produto cruzado (modelo 2), no Brasil — jan./99-ago./06

Estatística-F 0,2090 p-valor 0,9924

Obs R2 2,0701 p-valor 0,9903

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 93-118, dez. 2006

116 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

Quadro A.5

Teste para variáveis omitidas no modelo 2, no Brasil — jan./99-maio/06

VARIÁVEiS ESTATÍSTICAS VALORES ESTATÍSTICAS VALORES

CA Estatística-F 4,1077 p-valor 0,0458

Log likelihood ratio 4,2492 p-valor 0,0393

CO Estatística-F 4,3023 p-valor 0,0411

Log likelihood ratio 4,4455 p-valor 0,0350

GA Estatística-F 0,0081 p-valor 0,9283

Log likelihood ratio 0,0086 p-valor 0,9260

OIL Estatística-F 91,541 p-valor 0,0000

Log likelihood ratio 65,598 p-valor 0,0000

CO, CA, OIL Estatística-F 33,081 p-valor 0,0000

Log likelihood ratio 70,588 p-valor 0,0000

CA, OIL Estatística-F 50,002 p-valor 0,0000

Log likelihood ratio 70,369 p-valor 0,0000

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

Quadro A.6

Teste de heteroscedasticidade de White com produto cruzado (modelo 2 com inclusão de CA e

OIL ), no Brasil — jan./99-maio/06

Estatística-F 4,4673 p-valor 0,0000

Obs R2 50,537 p-valor 0,0002

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

Quadro A.7

Teste de heteroscedasticidade de White com produto cruzado (modelo 2 com inclusão de CA e

dummies), no Brasil — jan./99-maio/06

Estatística-F 2,3029 p-valor 0,0042

Obs R2 41,242 p-valor 0,0157

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Banco Central do Brasil.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 93-118, dez. 2006

117Ajuste das contas externas e demanda precaucional por reservas no Brasil

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 93-118, dez. 2006

118 André Moreira Cunha; Daniela Magalhães Prates; Marcos Tadeu Caputi Lélis

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 119-132, dez. 2006

119Pacote cambial: alguns aspectos da MP 315

Pacote cambial: alguns aspectos da MP 315*

Teresinha da Silva Bello** Economista da FEE

ResumoO presente texto analisa alguns aspectos da Medida Provisória (MP) nº315, que liberou parcialmente a cobertura cambial das exportações. Nele,é enfatizado que a única forma de o País obter dólares, sem compro-misso de remessas futuras via amortizações, juros ou remessa de lu-cros e dividendos, é através das exportações, e, por isso, a Medida podeter efeitos negativos sobre a vulnerabilidade externa do País, em caso decrise cambial. Outrossim, mostra que as maiores beneficia-das serão as grandes empresas que exportam e também importam eque a MP pouco beneficiou o setor agropecuário e as pequenas empre-sas — por serem ambos, em sua maioria, basicamente, só exporta-dores — e ainda as empresas com uso intensivo de mão-de-obra. Dessemodo, são destacados os seguintes itens: os limites do repatriamento; orisco dessa MP para as reservas; os efeitos sobre o Risco-País; as alte-rações nas cadeias produtivas; e a concentração das exportações.

Palavras-chave: câmbio; exportações; vulnerabilidade externa.

AbstractThis text analyzes some aspects of the Provisional Measure (PM) whichpartially releases exporters from the obligation of converting export dollarsto reais. It shows that the only way for the country to obtain dollars withouta future obligation of returning them (through amortization, interest orprofit) is through exports. Therefore, this action may have negative effectson the country’s external vulnerability, in case of an exchange crisis. Italso shows that the largest gain will be by the large companies, whichexport and import, and that the PM was of little benefit to the agriculturalsector and to small companies, which are, in their majority, only exporters,as well as to labor intensive companies. Thus, the following items arehighlighted: repatriation limits, the risks of the action to the reserves, theeffect on external vulnerability, the changes in the productive chains andconcentration of exports.

* Artigo recebido em 09 out. 2006.

** A autora agradece às colegas Beky Macadar e Sonia Teruchkinpelas críticas e sugestões apresentadas após leitura prévia dotexto e ao estagiário Anderson Casa Nova pela confecção dastabelas.

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120 Teresinha da Silva Bello

1 Introdução

Dentre as medidas adotadas em relação ao câm-bio, a que despertou maior interesse por parte da im-prensa e dos analistas foi a da liberação de repatriamentode parte dos recursos provenientes das exportações.Elogiado pela classe exportadora e pelas associaçõesempresariais, pouco tem sido comentado, sobre algunsaspectos, o novo pacote cambial levado a termo atravésda Medida Provisória (MP) nº 315, de 03 de agosto de2006 (Brasil, 2006).

Não se pode negar que a MP significa redução decustos financeiros para as empresas e para as pessoasfísicas que exportam bens e serviços, já que, além dereduzir o pagamento aos bancos de taxas referentes aoperações cambiais, isenta os valores não repatriadosda Contribuição Provisória Sobre Movimentação Finan-ceira (CPMF) e do Imposto Sobre Operações Financei-ras (IOF), permitindo, ainda, maior agilidade às empre-sas em suas negociações com o exterior. Entretantooutros aspectos devem ser abordados, levando-se emconta não apenas os interesses da classe exportadora.Tal é o caso da questão da vulnerabilidade externa doPaís. Assim, esta última constitui o principal objetivo dopresente texto, e, embora também sejam feitas algumasreflexões sobre outros temas, a questão davulnerabilidade externa deverá sempre estar implícita aolongo do mesmo.

Em primeiro lugar, é preciso destacar que a entra-da de recursos em moeda estrangeira proveniente dasexportações de bens e serviços pelo País é a única for-ma de se obterem divisas sem a implicação de compro-missos posteriores. Isto porque a captação de dólarespor outras fontes, via empréstimos, investimentos emcarteira e mesmo investimentos diretos, pressupõe al-gum tipo de compromisso de reembolso de moeda aoexterior em algum tempo futuro. No caso de emprésti-mos em moeda, além do pagamento da amortização,devem ser pagos juros sobre o capital emprestado. Osinvestimentos em carteira, sejam eles ações, títulos derenda fixa, derivativos, etc., além da volatilidade que oscaracteriza, também implicam algum tipo de remunera-ção. Mesmo os investimentos externos diretos, tão ne-cessários, vão exigir, futuramente, a remessa de lucrose de dividendos ao exterior. Assim, fora as transferên-cias unilaterais que se dirigem para o Brasil e cujo valornão pode ser considerado tão significativo, são as ex-portações que garantem um fluxo de moeda teoricamen-te sem compromissos de remessas futuras, e essas

considerações iniciais devem estar subjacentes ao queserá dito a seguir.

2 Os limites para o repatria- mento

Apesar de o artigo 1º da MP 315 estabelecer quehaverá limites fixados pelo Conselho Monetário Nacio-nal (CMN) — órgão máximo do Sistema Financeiro Nacio-nal — para o não-repatriamento, no artigo 2º da mesmaé dito que:

O Conselho Monetário Nacional poderá esta-belecer formas simplificadas de contrataçãode operações simultâneas de compra e devenda de moeda estrangeira, relacionadas arecursos provenientes de exportações, semprejuízo do disposto no art. 23 da Lei nº 4.131,de 3 de setembro de 1962.

Parágrafo único. Na hipótese do caput, os re-cursos da compra e da venda da moeda es-trangeira deverão transitar, por seus valoresintegrais, a crédito e a débito de conta corren-te bancária no País, de titularidade do contra-tante da operação (Brasil, 2006).

Ou seja, desde que sejam pagos os tributos e astaxas devidos na operação, todos os recursos proveni-entes da exportação poderão, no mesmo momento, en-trar e sair do País, via contratação simultânea de opera-ções de compra e venda de moeda estrangeira pelamesma cotação, em operações conhecidas como “batee volta” (Safatle, 2006a, p. C-2). Empresas exportado-ras que são também importadoras poderão realizar asduas operações concomitantes, pela mesma cotaçãocambial, evitando custos (CPMF e IOF) e riscos (dife-rença entre as taxas de compra e venda de dólar).

Assim, não apenas 30% das receitas de exporta-ção poderão permanecer no exterior, conforme fixado peloCMN, mas até 100% das mesmas “[...] para a realiza-ção de investimento, aplicação financeira ou pagamentode obrigação próprios do exportador [...]” (Brasil, 2006,art. 1º, § 2º). Para tanto, basta que sobre os restantes70% sejam pagos os custos da operação, como CPMFe comissão ao banco intermediário. Ou seja, essa per-missão para operações simultâneas de compra e vendade dólares será dada para os casos em que o exportadortiver de quitar compromissos externos cujo volume su-pere os 30% do valor das exportações que poderão ficarfora do País. Tal medida deverá beneficiar mais as gran-des empresas exportadoras que também importam mui-

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to e que, na prática, poderão deixar no exterior até 100%de suas receitas de exportação. Com isso, apesar deafirmar que o decreto que instituiu a cobertura cambial,datado de 1933, não seria revogado, o novo pacote cam-bial, na prática, acabou por quase esvaziá-lo. Conformerelata Safatle (2006a, p. C-2), o Secretário de PolíticaEconômica do Ministério da Fazenda afirmou: “[...] fize-mos isso para não perder arrecadação da CPMF”. Ouseja, não fosse pela perda de arrecadação, a dispensade internalização dos dólares das exportações poderiater sido total.

Enquanto o fluxo de dólares se mantiver positivo,os efeitos da medida praticamente se limitarão aos be-nefícios que ela proporciona às exportações, sem maio-res prejuízos para o País como um todo. Entretanto cabelembrar que, no ano 2002, o movimento de câmbio noBrasil registrou déficit, com as saídas do câmbio finan-ceiro superando o saldo comercial. Mais recentemente,no mês de junho de 2006, pela primeira vez no ano, ocor-reu fato semelhante, embora, em julho, o fluxo novamentetenha voltado a apresentar superávit (Tabela 1).

Paralelamente, também em junho deste ano, a po-sição comprada1 de câmbio dos bancos reduziu-se bas-tante em relação ao registrado em maio, indicando umaantecipação, por parte dos banqueiros, de uma melhorana evasão de dólares do País, o que acabou se confir-mando. Na Tabela 1, pode-se observar que a venda dedólares do câmbio financeiro pelo Banco Central se re-duziu de aproximadamente US$ 23 bilhões em junho paraUS$ 14 bilhões em julho. Em maio, quando os bancosesperavam uma maior demanda por dólares — confir-mada posteriormente, em junho —, sua posição com-prada elevou-se sobremaneira, como pode ser visto naTabela 2, o que permite pressupor uma forte relação en-tre o movimento de câmbio e a posição de câmbio dosbancos, esta última com uma certa antecipação em re-lação ao movimento do câmbio, por se tratar de um mer-cado futuro.

E, conforme também pode ser visto na Tabela 2, jáem agosto, os bancos voltaram à posição vendida, oque não ocorria desde janeiro. Mas, caso haja algum re-

1 “A posição ‘vendida’ representa uma quantidade de moeda que ainstituição se compromete a vender, no futuro, a uma cotaçãopredefinida. Na posição ‘comprada’, compromete-se a compraruma quantidade de moeda também a uma cotação predefinida.Assim, a manutenção de grandes posições vendidas costumasinalizar que a expectativa dessa instituição é de queda dessamoeda. O oposto vale para a compra.” (Bello, 2006, p. 33).

vés no câmbio — o que não é improvável, dado o histó-rico de penúria cambial do País —, a permissão para osexportadores manterem seus dólares lá fora agravaráainda mais a situação.

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Tabela 2

Posição de câmbio dos bancos no Brasil — 2000/06 (US$ milhões)

MERCADO LIVRE PERÍODOS

Comprada Vendida

Dez./00 - 3 709,8 Dez./01 1 455,3 - Dez./02 - 4 395,2 Dez./03 - 2 781,0 Dez./04 - 1 368,1 Dez./05 - 4 110,8 2006 Jan. - 4 691,3 Fev. 200,0 - Mar. 5 603,4 - Abr. 3 742,9 - Maio 7 165,2 - Jun. 4 390,9 - Jul. 1 781,1 - Ago. - 979,4

FONTE: Banco Central do Brasil.

Tabela 1 Movimento de câmbio no Brasil — 2000/06

(US$ milhões)

COMERCIAL FINANCEIRO (1)

PERÍODOS Exportações (A)

Importações (B)

Saldo (C)

Compras (D)

Vendas (E)

Saldo (F)

SALDO C + F (G)

OPERAÇÕES COM

INSTITUIÇÕES NO EXTERIOR

(líquido) (2) (H)

SALDO G + H

(I)

2000 51 699 46 069 5 629 99 290 92 971 6 319 11 948 -7 269 4 680

2001 58 036 47 248 10 789 85 710 93 350 -7 640 3 149 -6 110 -2 962

2002 60 083 39 756 20 327 69 780 93 990 -24 209 -3 882 -9 107 -12 989

2003 73 203 44 848 28 355 72 118 98 094 -25 976 2 379 -1 661 718

2004 93 466 56 794 36 672 84 622 109 369 -24 747 11 925 -5 563 6 362

2005 123 021 71 248 51 772 120 241 152 703 -32 462 19 310 -492 18 819

2006

Jan. 9 410 6 261 3 149 13 631 14 831 -1 200 1 949 0 1 949

Fev. 10 582 5 647 4 935 16 813 13 998 2 815 7 750 0 7 750

Mar. 12 334 6 797 5 537 17 252 14 797 2 456 7 993 0 7 993

Abr. 10 116 6 792 3 325 11 128 13 844 -2 715 609 0 609

Maio 14 080 6 750 7 330 17 372 17 199 174 7 504 0 7 504

Jun. 11 144 7 568 3 575 16 689 22 940 -6 251 -2 676 0 -2 676

Jul. 11 831 7 036 4 795 11 575 13 878 -2 303 2 492 0 2 492

Ago. 12 379 8 554 3 824 14 410 16 944 -2 533 1 291 0 1 291

Jan.-ago./05 78 531 44 956 33 575 72 412 94 707 -22 295 11 281 -492 10 789

Jan.-ago./06 91 876 55 405 36 471 118 871 128 429 -9 558 26 912 0 26 912

FONTE: Banco Central do Brasil. (1) Exclui operações interbancárias e operações externas do Banco Central. (2) Movimentações relacionadas com transferências internacionais em reais, no País, de domiciliados no exterior.

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123Pacote cambial: alguns aspectos da MP 315

2 De acordo com o Fundo Monetário Internacional, são conside-rados reservas aqueles ativos externos que estão prontamentedisponíveis para as autoridades monetárias e são por elas con-trolados, permitindo-lhes financiar, diretamente, o balanço depagamentos ou, indiretamente, via intervenção no mercado decâmbio, atuando sobre a taxa cambial (Reserves..., 1999).

3 Um risco para as reservas

Observando-se a Tabela 1, é possível constatar queas exportações de mercadorias são a fonte de dólaresdo País, daí a necessidade de manter-se a balança co-mercial com superávits elevados, sob pena de se esvaí-rem as reservas em divisas, até porque a entrada dedólares pelo lado financeiro está muito atrelada aos al-tos juros aqui praticados. Caso os juros internacionaisse elevem, ou caia a taxa interna, ou, o que seria o pior,ambos ocorram simultaneamente, o acesso à moedaestrangeira por essa via ficará bem mais difícil.

E, em uma hora dessas, como evitar que o expor-tador aja como um especulador? Enquanto houversobreoferta de moeda estrangeira, em parte pelo saldocomercial e em parte pelo juro alto, o exportador, mes-mo podendo deixar seus dólares no exterior, preferiráadiantar a liquidação de seus contratos de câmbio, paraaplicar os reais no mercado financeiro local. Mas, se,por qualquer motivo, ocorrer escassez devido a uma cri-se no balanço de pagamentos, o Banco Central perderáseu mais importante aliado, seu maior fornecedor de di-visas para enfrentar ataques ou corridas, pois quem irágarantir o ingresso desses dólares provenientes das ex-portações? Os exportadores, em uma situação dessas,estando protegidos, enquanto o resto do País estará emdefault, não irão querer correr riscos colocando seusdólares à disposição da Nação — a não ser que sejamobrigados — para se contrapor à fuga de capitais.

A saída do Banco Central seria, então, apelar paraas seguintes alternativas, que poderiam ser aplicadasindividualmente ou em conjunto: utilizar as reservas; au-mentar fortemente a taxa interna de juros; recorrer nova-mente ao Fundo Monetário Internacional em busca derecursos.

Atualmente, esse risco de default parece não exis-tir, e a flexibilização na cobertura cambial das exporta-ções até agora não afetou nem a cotação da moeda nor-te-americana no Brasil nem o nível das reservas interna-cionais do País. Isto porque, apesar de o prazo para osexportadores internalizarem os dólares de suas exporta-ções ser de 210 dias, o intervalo médio tem sido de 120dias (Safatle, 2006, p. A-2). Com o diferencial de juros,os dólares ingressam no País para beneficiar-se das ta-xas aqui vigentes. Segundo estudo da Federação dasIndústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em funçãodas taxas internas de juros e da arbitragem com o mer-cado futuro, os grandes exportadores têm conseguidouma taxa de câmbio de até R$ 2,50 por dólar, valor bemacima das cotações oficiais (Nassif, 2006, p. B-4).

Mas até quando vai perdurar essa fase? Inúmerosfatores de risco podem causar turbulências na economiamundial, com destaque para o maior deles: o comporta-mento da economia norte-americana. Medidas de ajustenos déficits gêmeos (fiscal e comercial), na bolha depreços dos imóveis, nas taxas de inflação, dentre outrasadotadas pelo Governo dos Estados Unidos, certamen-te terão reflexo sobre o fluxo de capital e sobre a balan-ça comercial brasileira, afetando o nível das reservas.

É bom lembrar que o Brasil sempre se caracterizoupor apresentar déficits em transações correntes e reser-vas baixas e que os dólares em mãos do setor privado,conceitualmente, não são reservas.2 E a última vez, an-tes de 2006, que as reservas brasileiras superaram osUS$ 70 bilhões foi em meados de 1998, quando houveuma profunda mudança nas condições de liquidez inter-nacional, a partir da crise cambial russa. Nessa ocasião,o Brasil viu suas reservas caírem praticamente pelametade em seis meses.

Mesmo com um regime de câmbio flexível, onde,teoricamente, os choques se refletiriam mais no preçodo câmbio e menos nas reservas, é preciso ter cautela.Isto porque, em 2002, já com o regime de câmbio flexí-vel, não só o câmbio real se depreciou, como as reser-vas, no conceito de reservas líquidas ajustadas, isto é,sem os dólares do Fundo Monetário Internacional, caí-ram mais de US$ 11 bilhões, conforme pode ser vistona Tabela 3.

Apesar de, em caso de crise, o CMN poder alterara MP 315 a qualquer momento, reduzindo ou até mesmoeliminando a permissão de manter os dólares no exte-rior, isso implicará custos políticos e dificuldades futu-ras, principalmente na forma de pressão, exercida pelosexportadores, contra a anulação da medida que possibi-lita a manutenção de suas receitas em contas no exte-rior.

Até a implementação da Medida Provisória nº 315,cabia ao Banco Central a responsabilidade de fiscalizare de aplicar as penalidades em caso de ilícitos cam-biais. Agora, essa função passou para a Secretaria daReceita Federal, por sugestão do próprio Banco Central,que, ao livrar-se da obrigatoriedade de fiscalizar e puniros infratores, poderá elaborar contratos de câmbio bemmais simplificados, com menos informações e de reali-zação mais rápida; ou seja, diminuirá o controle sobre o

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fluxo de dólares para o País. Já a Receita Federal terásuas funções ampliadas e deverá criar mecanismos es-pecíficos para esse tipo de controle, visto que a Medidaabre uma brecha para as multinacionais fazerem paga-mentos diretos às suas empresas no exterior, camuflan-do remessas de lucros e, com isso, escapando do Im-posto de Renda.

Vale alertar, ainda, que se poderá acentuar a práti-ca de aumentar o preço declarado das mercadorias im-

portadas, com a intenção de se obterem coberturasindevidas para as operações permitidas na MP 315, bemcomo a de diminuir o preço declarado das exportações,com vistas a reter mais dólares no exterior; ou seja, umsubfaturamento das exportações e um superfaturamentodas importações, apesar de o artigo 11 da MP estabele-cer que o aumento no preço das mercadorias importa-das para obtenção de coberturas indevidas será passí-vel de pena.

Tabela 3

Reservas internacionais no Banco Central do Brasil — 1992/06

LIQUIDEZ INTERNACIONAL RESERVAS LÍQUIDAS AJUSTADAS (1)

PERÍODOS Posição (US$ milhões)

Variação de Posição

(US$ milhões)

NÚMERO DE MESES DE

IMPORTAÇÃO DE BENS

Posição (US$ milhões)

Variação de Posição

(US$ milhões)

1992 23 754 14 348 14 16 944 29 979

1993 32 211 8 457 15 25 214 8 271

1994 38 806 6 595 14 37 887 12 673

1995 51 840 13 034 13 50 918 13 030

1996 60 110 8 270 14 60 059 9 142

1997 52 173 -7 937 10 52 106 -7 953

1998 44 556 -7 616 9 34 362 -17 744

1999 36 342 -8 214 9 23 861 -10 501

2000 33 011 -3 331 7 31 541 7 679

2001 35 866 2 855 8 27 797 -3 743

2002 37 823 1 957 10 16 339 -11 458

2003 49 296 11 473 12 20 525 4 186

2004 52 935 3 639 10 27 541 7 016

2005 53 799 864 9 0 0

2006

Jan. 56 924 3 124 9 0 0

Fev. 57 415 491 9 0 0

Mar. 59 824 2 410 9 0 0

Abr. 56 552 -3 272 9 0 0

Maio 63 381 6 829 10 0 0

Jun. 62 670 -710 9 0 0

Jul. 66 819 4 149 10 0 0

Ago. 71 478 4 658 10 0 0

Set. 73 330 1 852 9 0 0

FONTE: Banco Central do Brasil. (1) As reservas líquidas ajustadas denominadas em dólares consideram as paridades do mês anterior para mensurar os ativos denominados em outras moedas que não o dólar norte-americano. Desde a liquidação da dívida junto ao FMI, ocorrida em dezembro de 2005, não mais se aplica esse conceito.

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3 Vale ressaltar, entretanto, que já existem acordos sobre investi-mentos com vários países, que garantem, em caso de morató-ria ou centralização, que as empresas desses países terãogarantido o direito de remessa de valores.

4 Efeitos sobre o Risco- -País

No que se refere aos efeitos que o pacote cambialpoderá ter sobre o Risco-País, cabe destacar duas si-tuações contraditórias: tanto poderá reduzi-lo quantoelevá-lo, dependendo do tomador de moeda estrangeira.

Para os exportadores que forem tomar emprésti-mos em bancos estrangeiros, um dos efeitos do pacotepoderá ser uma queda na taxa de risco, sob o argumentode que, ao eliminar o risco de conversibilidade, benefi-ciaria seus credores externos. As empresas poderiamobter custos menores no financiamento às importaçõesou para capital de giro, sem o chamado risco de conver-sibilidade ou de transferência de recursos, importantecomponente do Risco-País, já que não haveria o temorde, em uma moratória ou centralização cambial, o Go-verno impedir essas empresas de fazerem operaçõesde câmbio ou de transferirem recursos para o exterior.3

Assim, as dívidas dos exportadores estariam livres daobrigatoriedade de converterem totalmente suas recei-tas de dólares para reais. O próprio exportador, e nãomais o Governo, garantiria a existência dos dólares parahonrar seus compromissos. Sob esse aspecto, as em-presas exportadoras que mais se beneficiariam seriamaquelas com elevado conteúdo de componentes impor-tados, como, por exemplo, as dos setores petrolífero,petroquímico, automotivo, aeronáutico e siderúrgico.

No caso de empresas que são “grau de investimen-to”, isto é, que têm o selo de investimento nãoespeculativo, uma queda na taxa de risco para os finan-ciamentos seria praticamente marginal, pois já teriamalcançado redução nos spreads. Assim, aquelas empre-sas exportadoras que estão próximas de chegar ao “graude investimento” seriam as maiores beneficiadas.

Contudo, para o País em geral, em caso de crisescambiais, a permissão para que as receitas dos expor-tadores permanecessem em contas no exterior, parapagamento de suas dívidas, reduziria a internação dedólares no País, com efeito negativo sobre as reservasem moeda estrangeira. E tal dificuldade refletir-se-ia ne-gativamente nas taxas de risco para os demais segmen-tos da economia, não beneficiados pela MP 315.

É importante destacar, porém, que uma fuga aorisco já vem sendo observada pelas empresas não ex-portadoras. Entre 2000 e 2005, as empresas de capitalaberto atingiram seu máximo de endividamento em moe-da estrangeira, em 2001, com sua dívida nesse tipo demoeda representando 46% da sua dívida total. A partirde 2002, quando se elevou a cotação do dólar no Brasil,reduziram seu endividamento, chegando a 30% em 2005.Entretanto essa queda deveu-se, principalmente, àsempresas não exportadoras, cuja participação caiu de42% em 2002 para 13% em 2005, enquanto as exporta-doras praticamente mantiveram uma participação emtorno de 50%, conforme pode ser visto no Gráfico 1.

Ou seja, a partir da experiência de 2002, as empre-sas não exportadoras parecem mostrar-se bem mais cau-telosas em relação à tomada de recursos no exterior.Conforme Nascimento:

Os resultados apresentados sinalizam umaevolução saudável das empresas abertas emtermos de menor endividamento líquido e demaior equilíbrio entre suas receitas e seuspagamentos denominados em moeda estran-geira. As empresas exportadoras compen-saram a valorização da taxa de câmbio au-mentando sua dívida externa, medida emmoeda estrangeira, respeitando seu hedgenatural. Já as firmas não exportadoras res-gataram parte substantiva de endividamentoem moeda estrangeira, reduzindo sua expo-sição ao risco cambial (Nascimento, 2006,p. 5).

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FONTE: NASCIMENTO, Marcelo Machado. Empresas abertas ganham fôlego para investir. Visão do Desen- volvimento, Rio de Janeiro: BNDES, n. 8, p. 4, ago. 2006. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/visao/visao_08.pdf>. Acesso em: 19 set. 2006.

5 Alterações nas cadeias produtivas

Outro efeito pouco comentado da Medida Provisó-ria nº 315 (Brasil, 2006) é que a possibilidade de escapardos custos da conversão cambial (estimados em aproxi-madamente 4% do custo total) pode estimular os expor-tadores a substituírem, no processo produtivo, insumosnacionais por importados, elevando o coeficiente de pe-netração das importações (importações/consumo apa-rente) em determinados setores e enfraquecendo as ca-deias produtivas nacionais. Nesse caso, as maiores be-neficiadas serão aquelas empresas exportadoras, commaior percentual de insumos e matérias-primas importa-dos na composição de seus produtos, embora, talvezem menor escala, também possa haver substituição decomponentes nacionais por importados para algumasempresas exportadoras que antes utilizavam apenascomponentes nacionais. Vale salientar que o efeito dataxa de câmbio valorizada há muito já vem contribuindo

para o aumento no coeficiente de penetração das impor-tações e para a fragilidade das cadeias produtivas e queo pacote cambial apenas pode agravar o fenômeno. Es-tudo realizado por Puga (2006) mostra que, em 2005, ocoeficiente das exportações industriais (exportações//produção) foi de 27%, ante 19% registrado em 2002,havendo igualmente um aumento no coeficiente de pe-netração das importações industriais: de 17% em 2002para 20% em 2005 (Tabela 4).

Em 2005, os setores com maiores coeficientes deexportação, acima da média da indústria, foram: indús-tria extrativa; extrativa de minerais metálicos; madeira;calçados e artigos de couro; outros equipamentos de trans-porte; veículos automotores; máquinas e equipamentos;metalurgia básica; papel e celulose; material eletrônico ede comunicações; e alimentos e bebidas. Para essessetores, apesar da taxa de câmbio valorizada, as expor-tações apresentam uma importância maior que a médiada indústria em relação à produção, ou seja: são os maisvoltados para o mercado externo.

59

5349 50 49 51

4137

2116 1320

35

4642

33 29 30

0

10

20

30

40

50

60

70

2000 2001 2002 2003 2004 2005

Exportadoras Não exportadoras Total

Participação do endividamento em moeda estrangeira no endividamento total das empresas abertas, no Brasil — 2000-05

Legenda:

Gráfico 1

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127Pacote cambial: alguns aspectos da MP 315

4 “Para a obtenção do coeficiente, foram identificadas as empre-sas que exportaram em 2003. Essa escolha deveu-se ao fatode ser o ano mais recente para o qual foi possível obter asinformações necessárias ao cálculo.

Para cada firma, foram obtidos os dados de exportação e impor-tação no ano. Os valores foram agrupados segundo os

setores das empresas, e, finalmente, foi obtida a relação entreas importações e exportações. Para o setor de veículosautomotores, por exemplo, os valores exportados compreen-dem as vendas ao exterior de automóveis, ao passo que nasimportações estão incluídas as compras de bens de outrossetores, tais como: máquinas, componentes eletrônicos eestofamentos.” (Puga, 2006a, p. 2).

No mesmo ano, os que apresentaram os maiorescoeficientes de penetração das importações, tambémacima da média da indústria, foram: indústria extrativa;material eletrônico e de comunicações; extrativa de mi-nerais metálicos; máquinas e equipamentos; outros equi-pamentos de transporte; produtos químicos; e máquinas,aparelhos e materiais elétricos. Ou seja, à primeira vis-ta, seriam os que mais estariam substituindo produçãodoméstica por importações.

Para melhor avaliar os setores que mais se benefi-ciarão da Medida, é interessante analisar, em conjunto,os aumentos do seu coeficiente de exportação e do seucoeficiente de penetração das importações. Assim, en-tre 2002 e 2005, aqueles setores com aumento no coe-ficiente de penetração das importações acima da médiada indústria, que tiveram aumento no coeficiente de ex-portação também acima da média da indústria, foram:material eletrônico e de comunicações; minerais não--metálicos; têxtil; vestuário e acessórios; veículosautomotores; e borracha e plástico. Por isso, de acordocom Puga:

[...] os coeficientes de penetração das impor-tações confirmam o aumento da participaçãodos importados na demanda doméstica em2005, em diferentes setores da indústria. En-tretanto, nem todos os aumentos estão li-gados diretamente à substituição de produ-ção doméstica por importados, mas sim aopróprio desempenho exportador.

A reestruturação da indústria brasileira frenteao comércio exterior não deve, portanto, servista fundamentalmente como uma respostareativa às flutuações nos preços externos ouà taxa de câmbio. Existem estratégias em-presariais em curso que merecem ser leva-das em consideração.” (Puga, 2006, p. 5).

Nesse aspecto, também é útil, para avaliar quemefetivamente deverá beneficiar-se do pacote cambial, quese analise o coeficiente de comércio exterior das firmas(CCEF), também elaborado por Puga (2006a), para a in-dústria de transformação, que mede a relação importa-ção/exportação das empresas exportadoras de cada setorem 2003 (Tabela 5).4

Assim, valores do CCEF acima de uma uni-dade indicam que a perda de faturamento dasempresas exportadoras do setor com as ven-

das externas é mais do que compensada pelaredução de custos na importação de insumos(em parte associada à produção para o mer-cado doméstico). Trata-se, por tanto, desetores beneficiados por valorizações do câm-bio. Inversamente, valores do CCEF abaixode um e quanto mais próximos de zero indi-cam que as empresas exportadoras do setortendem a ser mais fortemente prejudicadaspor valorizações do câmbio. (Puga, 2006a,p. 2).

Aqueles setores com CCEF maior do que 1 —máquinas de escritório e informática; instrumentos mé-dicos e óticos; química; e material eletrônico e de comu-nicações — tenderão a ser os mais beneficiados pelaMP. Já favorecidos pelo real forte, agora poderão valer--se também da redução de custos nas operações de câm-bio de suas exportações. Vale lembrar, porém, que osbenefícios da MP apenas serão concedidos àqueles queexportam e importam, ou seja, pela mesma pessoa jurí-dica ou física.

Por outro lado, quatro setores apresentaram umCCEF menor do que 1, ou seja, apenas uma pequenaparte de sua produção provém de importações, sendopouco demandantes de produtos importados: madeira;couro e calçados; alimentos e bebidas; e papel e celulo-se. Nesse caso, os benefícios da Medida Provisória se-rão menores.

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128 Teresinha da Silva Bello

Tabela 4

Coeficientes de exportação e de penetração das importações no Brasil — 2002-05

EXPORTAÇÃO/PRODUÇÃO IMPORTAÇÃO/CONSUMO APARENTE

SETORES 2002 2003 2004 2005 ∆ %

2005/2002 2002 2003 2004 2005 ∆ %

2005/2002

Indústria geral ........................................ 19 23 25 27 42,1 17 17 19 20 17,6 Indústria extrativa ................................... 71 76 89 88 23,9 71 75 91 86 21,1 Extrativa de minerais metálicos ............. 76 76 90 87 14,5 22 21 53 38 72,7 Indústria de transformação .................... 18 21 23 25 38,9 15 15 17 17 13,3 Alimentos e bebidas ............................... 21 24 27 30 42,9 4 4 4 4 0,0 Têxtil ....................................................... 11 16 17 18 63,6 8 9 9 11 37,5 Vestuário e acessórios ........................... 5 7 8 8 60,0 3 3 4 6 100,0 Calçados e artigos de couro .................. 41 49 52 52 26,8 6 7 8 9 50,0 Madeira .................................................. 55 62 72 71 29,1 3 5 7 6 100,0 Papel e celulose ..................................... 24 29 29 31 29,2 9 8 10 10 11,1 Refino de petróleo e álcool .................... 10 12 12 14 40,0 12 10 10 10 -16,7 Produtos químicos ................................. 10 12 13 13 30,0 23 25 27 25 8,7 Borracha e plástico ................................ 9 11 11 13 44,4 11 12 14 15 36,4 Minerais não-metálicos .......................... 11 14 18 19 72,7 5 6 7 7 40,0 Metalurgia básica ................................... 33 34 32 34 3,0 11 10 9 11 0,0 Produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos .........................................

5

7

9

9

80,0

8

8

9

9

12,5

Máquinas e equipamentos ..................... 20 27 32 35 75,0 31 33 32 36 16,1 Máquinas, aparelhos e materiais elé-tricos .......................................................

11

13

15

17

54,5

28

26

24

22

-21,4

Material eletrônico e de comunicações .. 16 20 17 31 93,8 25 34 40 50 100,0 Veículos automotores ............................ 23 30 32 36 56,5 15 16 16 19 26,7 Outros equipamentos de transporte ....... 42 31 54 42 0,0 26 21 32 28 7,7 Mobiliário ................................................ 14 17 19 19 35,7 6 6 6 7 16,7 FONTE: PUGA, Fernando Pimentel. O que mudou nas exportações e importações da indústria. Visão do Desenvolvimento, Rio de Janeiro, BNDES, n. 4, p. 3-4, jul. 2006. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/visao/visao_04.pdf>. Acesso em: 19 set. 2006.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 119-132, dez. 2006

129Pacote cambial: alguns aspectos da MP 315

agosto de 2006, segundo o Ministério do DesenvolvimentoIndústria e Comércio, as 40 principais empresas expor-tadoras concentraram 42,60% do valor das vendas bra-sileiras ao exterior (Brasil, 2006a). E, enquanto as recei-tas das exportações totais do País, no mesmo período,se elevaram 15,88% em relação a igual período de 2005,as vendas externas das 40 maiores empresas cresce-ram 19,11%, indicando um aumento na concentração.

Além disso, analisando-se a lista dessas 40 em-presas no período em apreço, observa-se que 17 delastambém compõem a lista das 40 principais empresasimportadoras do País e que a representatividade dasimportações nas exportações dessas 17 empresas, nasua totalidade, é de 67%. Dentre as empresas arroladasna Tabela 6, a maior relação entre as importações e as

6 Concentração das ex- portações

Pelo fato de beneficiar quase com exclusividadeas grandes empresas — em especial as que exportam eimportam, ou as multinacionais, estrangeiras ou brasi-leiras, com investimentos no exterior —, pode-se dedu-zir que o pacote deverá aumentar ainda mais a concen-tração do número de empresas exportadoras, conseqüên-cia não desejável para o País, já que exportações diluí-das em um maior número de empresas diminuem osriscos de colapsos em produtos e mercados específi-cos. Para melhor avaliar quão concentradas estão asexportações brasileiras, destaque-se que, de janeiro a

Tabela 5

Coeficiente de comércio exterior das firmas (CCEF) brasileiras — 2003

EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SETORES Valor

(R$ milhões) % Valor

(R$ milhões) %

CCEF

Setores com CCEF > 1 Máquinas de escritório e de informática .... 280 0,4 1 242 3,4 4,44 Instrumentos médicos e óticos .................. 253 0,4 530 1,4 2,10 Química ..................................................... 4 473 6,7 9 173 24,8 2,05 Material eletrônico e de comunições ......... 2 070 3,1 3 687 10,0 1,78 Total do grupo ......................................... 7 075 10,6 14 633 39,6 2,07 Setores com: 0,25 < CCEF < 1 Produtos de metal ..................................... 665 1,0 621 1,7 0,93 Materiais elétricos ...................................... 1 241 1,9 1 124 3,0 0,91 Máquinas e equipamentos ........................ 3 725 5,6 3 299 8,9 0,89 Refino de petróleo e álcool ........................ 2 268 3,4 1 974 5,3 0,87 Borracha e plásticos .................................. 1 151 1,7 1 001 2,7 0,87 Aviação, ferroviário, embarcações e motos .........................................................

2 390

3,6

2 004

5,4

0,84

Demais móveis, edição ............................. 1 208 1,8 650 1,8 0,54 Veículos automotores ................................ 11 138 16,7 6 233 16,9 0,56 Têxtil .......................................................... 1 129 1,7 562 1,5 0,50 Produtos de minerais não-metálicos ......... 1 128 1,7 469 1,3 0,42 Vestuário ................................................... 374 0,6 143 0,4 0,38 Metalurgia .................................................. 7 765 11,6 1 972 5,3 0,25 Total do grupo ......................................... 34 183 51,2 20 053 54,3 0,59 Setores com CCEF < 0,25 Papel e celulose ........................................ 2 961 4,4 359 1,0 0,12 Alimentos e bebidas .................................. 14 901 22,3 1 437 3,9 0,10 Couro e calçados........................................ 5 542 8,3 372 1,0 0,07 Madeira....................................................... 2 102 3,1 76 0,2 0,04 Total do grupo ......................................... 25 506 38,2 2 244 6,1 0,09 TOTAL DA INDÚSTRIA DE TRANSFOR-MAÇÃO .....................................................

66 764

100,0

36 930

100,0

0,55

FONTE: PUGA, Fernando Pimentel. Câmbio afeta exportadores de forma diferenciada. Visão do Desenvolvimento, Rio de Janeiro, BNDES, n. 9, p. 3, ago. 2006. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/visao/visao_09.pdf>. Acesso em: 19 set. 2006.

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130 Teresinha da Silva Bello

exportações ficou a cargo da Motorola Industrial Ltda.,com um coeficiente de 1,37, sendo que, das 17 empre-sas listadas, quatro delas apresentaram coeficiente maiorou igual a 1, ou seja, as importações superam ou igua-lam as exportações.

Nesse caso, a partir do estabelecido na MP 315,essas empresas não só poderão deixar fora do País atéo valor total de suas exportações, como deverão benefi-ciar-se da MP bem mais do que as demais.

7 Considerações finais

Sem se negar a importância da MP para a reduçãode custos financeiros para aqueles que exportam e im-portam e/ou que pretendam fazer investimentos se utili-zando de moeda estrangeira, pode-se esperar que a me-dida afete negativamente a vulnerabilidade externa doPaís, já que uma parcela das receitas de exportaçãoficará livre da obrigatoriedade da cobertura cambial. Comoconseqüência, em caso de crise cambial, agravar-se-á o

Risco-País para aqueles setores não beneficiados pelamedida, já que, frente a dificuldades cambiais, os expor-tadores poderão optar por manterem no exterior o maiorvolume de dólares que lhes for permitido.

A longo prazo, a MP 315 (Brasil, 2006) tambémpoderá afetar as cadeias produtivas internas, diante damaior facilidade para importar insumos, matérias-primase bens de capital — fruto dos menores custos financei-ros decorrentes tanto da conversão cambial quanto daqueda nos spreads para financiamento externo —, emuitas empresas poderão optar por se abastecerem des-

Tabela 6

Principais empresas exportadoras e importadoras do Brasil — jan.-ago./06

EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES

EMPRESAS Valor

(US$ FOB)

Posição no

Ranking (1)

Valor (US$ FOB)

Posição no

Ranking (2)

IMPORTAÇÃO/ /EXPORTAÇÃO

Petróleo Brasileiro S/A (Petrobrás) ............... 7 266 113 741 1 7 237 880 247 1 1,00 Companhia Vale do Rio Doce ....................... 3 719 425 774 2 521 997 407 11 0,14 Volkswagen do Brasil Indústria de Veículos Automotivos ...................................................

1 509 685 786

4

476 223 826

15

0,32

Embraer - Empresa Brasileira de Aeronáu-tica S/A ..........................................................

1 269 377 750

5

866 010 414

4

0,68

General Motors do Brasil Ltda. ...................... 1 089 084 090 7 272 997 779 29 0,25 Ford Motor Company Brasil Ltda. .................. 960 719 338 8 466 949 364 16 0,49 Motorola Industrial Ltda. ................................ 904 188 466 9 1 242 034 566 3 1,37 Daimlerchrysler do Brasil Ltda. ...................... 854 947 567 11 571 846 764 9 0,67 Caterpillar Brasil Ltda. ................................... 767 065 050 15 454 017 277 18 0,59 Embraer - Empresa Brasileira de Aeronáu-tica S/A ..........................................................

662 225 649

18

516 744 559

12

0,78

Scania Latin América Ltda. ............................ 609 149 704 20 275 257 934 28 0,45 Braskem S/A .................................................. 590 995 489 23 507 916 409 13 0,86 Fiat Automóveis S/A ...................................... 565 632 359 25 224 108 729 39 0,40 Robert Bosch Limitada .................................. 460 466 533 33 281 028 681 27 0,61 Companhia Siderúrgica Nacional .................. 415 439 573 36 529 021 909 10 1,27 Nokia do Brasil Tecnologia Ltda. ................... 405 353 296 38 461 298 907 17 1,14 Volvo do Brasil Veículos Ltda. ....................... 389 999 416 40 232 953 227 36 0,60 Subtotal ........................................................ 22 439 869 581 - 15 138 287 999 - 0,67 Demais empresas .......................................... 65 723 797 552 - 43 451 451 175 - 0,66 TOTAL ........................................................... 88 163 667 133 - 58 589 739 174 - 0,66

FONTE: MDIC/Secex. (1) Posição no ranking das 40 principais empresas exportadoras. (2) Posição no ranking das 40 principais empresas importadoras.

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131Pacote cambial: alguns aspectos da MP 315

ses bens no exterior. Ademais, poderá haver um aumen-to na concentração das exportações, visto que os maio-res beneficiários serão os grandes exportadores.

Voltado especificamente para as grandes compa-nhias que atuam no comércio exterior nas duas mãos, opacote cambial pouco ofereceu ao setor agropecuário eàs pequenas empresas, por serem ambos basicamenteexportadores. Além disso, pequenas empresas tambémrepresentam um desafio para a regulamentação, já quemuitas delas não têm capacidade técnica nem volumesuficiente de exportações para manter uma conta emdólares no exterior. As empresas intensivas no uso demão-de-obra nacional também pouco se beneficiarão damedida, visto que uma parte substancial de suas recei-tas em dólares tem de ser convertida para reais, para opagamento de salários e de outros encargos trabalhis-tas.

Por tudo isso, são os setores com duas vias nocomércio exterior e que já vinham reduzindo suas per-das com a valorização do real através de diminuição noscustos dos componentes importados os que agora maisrecebem o estímulo da nova regulamentação da con-versibilidade.

Referências

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NASCIMENTO, Marcelo Machado. Empresas abertasganham fôlego para investir. Visão do Desenvolvimen-to, Rio de Janeiro, BNDES, n. 8, ago. 2006. Disponívelem:<http://www.bndes.gov.br/conhecimento/visao/>.Acesso em: 19 set. 2006

NASSIF, Luís. A nova lei cambial. Folha de São Paulo,São Paulo, p. B-4, 27 jul. 2006.

PUGA, Fernando Pimentel. Câmbio afeta exportadoresde forma diferenciada. Visão do Desenvolvimento, Riode Janeiro, BNDES, n. 9, 18 ago. 2006a. Disponível em:<http://www.bndes.gov.br/conhecimento/visao/>. Aces-so em: 19 set. 2006

PUGA, Fernando Pimentel. O que mudou nas exporta-ções e importações da indústria. Visão do Desenvolvi-mento, Rio de Janeiro, BNDES, n. 4, 14 jul. 2006. Dispo-nível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/visao>.Acesso em: 19 set. 2006.

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SAFATLE, Cláudia. Liberalização cambial deve ser par-cial. Valor Econômico, São Paulo, 30 jun./02 jul. 2006,p. A-2.

SAFATLE, Cláudia. MP prevê casos em que é possíveldeixar 100% dos dólares no exterior. Valor Econômico,São Paulo, 03 ago. 2006a, p. C-2.

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133Mudança nas estruturas de mercado da agricultura brasileira pós-abertura econômica...

Mudança nas estruturas de mercado da agricultura brasileirapós-abertura econômica da década de 90 do século XX*

Alberto Silva Dutra** Mestrando do Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócio (CEPAN) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Régis Rathmann*** Mestrando do CEPAN e Graduado da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS

Marco Antonio Montoya**** Professor Doutor da Universidade de Passo Fundo

ResumoEm um cenário de abertura econômica, inovação tecnológica eimportância do agronegócio para a economia do País, questionam-sequais seriam as estruturas de mercado dos setores com os quais aagricultura mantém relações de troca, tanto na compra de bens e insumosquanto na venda de sua produção. Em virtude disso, tem-se como objetivocaracterizar as estruturas de mercado dos setores a montante e a jusanteda agricultura brasileira, bem como sua tendência, no período 1990-02.Nesse contexto, todos os setores avaliados, à exceção do açúcar,apresentaram não só uma crescente concentração econômica comotambém um incremento na desigualdade da distribuição de receitas entresuas empresas. Logo, conclui-se que a agricultura brasileira vem sofrendopressões tanto dos setores dos quais adquire seus insumos (a montante)quanto dos com os quais negocia a sua produção (a jusante).

Palavras-chave: agricultura; estruturas de mercado; índices de

concentração.

AbstractIn a context of economic openness, technological innovation and ofrelevance of agribusiness for the Brazilian economy, we have examinedwhat would be the market structures of the sectors with which agriculturemaintains exchange relations both in the purchase of inputs and in thesale of its output. So our objective was to characterize the marketstructures of the Brazilian agriculture, as well as its tendency, in the periodfrom 1990 to 2002. In this context, all of the appraised sectors, except for

* Artigo recebido em 30 ago. 2006.

** E-mail: [email protected]

*** E-mail: [email protected]

**** E-mail: [email protected]

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sugar, not only they presented a growing economic concentration butalso an increase in the inequity of revenue distribution among theircompanies. Therefore we conclude that the Brazilian agriculture has beenunder pressure from both the sectors from which it acquires its inputs andthe sectors with which it negotiates its output.

2 Referencial teórico e metodologia

A distribuição dos meios de produção tem sofridomudanças significativas na economia capitalista. Aolongo do tempo, constata-se que a riqueza social seavoluma progressivamente com a acumulação de capitale que, ao mesmo tempo, o capitalismo competitivo cedelugar a estruturas de mercado mais concentradas.

Além da tendência natural à concentração nosmercados industriais, a forma como se deu o processode industrialização brasileiro manifestou-se como umaforça adicional a esse evento. A decisão política de umaindustrialização acelerada forjou uma estrutura industrialcom maior propensão à concentração, dada, especial-mente, pela elevada participação do Estado, pela buscade economias de escala e pela generalizada utilizaçãode reservas de mercado, peças que compunham ummodelo que procurava substituir importações.

Dentro dos arcabouços da ciência econômica,porém, segundo Barros (1993), essa situação deconcentração deve, com maior ou menor ímpeto, provocarperdas de bem-estar social, dependendo do grau decontestabilidade do mercado, por reduzir sua eficiência,ou seja, os resultados econômicos que decorrem dofuncionamento da indústria como um agregado de firmas,que é, em primeira instância, determinado pela estruturade mercado.

Embora não seja desejável que isso ocorra emnenhum mercado, a concentração econômica pressiona,a montante (setores dos quais se demandam insumos)e a jusante (setores aos quais se ofertam produtos), umsetor específico. De acordo com Bain (1968), essaconcentração pode ser caracterizada conforme o tipo deproduto ofer tado: (a) indústrias com produtoshomogêneos (concorrenciais); (b) indústrias com produtosdiferenciados (concorrenciais e/ou oligopolizadas).

1 Introdução

A globalização e o processo de abertura econômicaocorrido no Brasil, no final dos anos 80 e com maisintensidade nos anos 90 do século XX, são fatosirreversíveis, que mudaram o ambiente em que asorganizações estão inseridas, ao gerarem contornosdiferenciados nos sistemas de trocas entre as empresase os setores da economia, tornando o mercado cada vezmais competitivo e dinâmico.

Nesse novo cenário econômico, o agronegóciobrasileiro destaca-se, uma vez que vem contribuindosignificativamente para o superávit da balança comerciale, em grande parte, para o crescimento econômico obtidopelo País nos últimos anos, em virtude do constanteaumento de produtividade, aliado à adoção de técnicasde produção e gestão cada vez mais eficientes eeficazes. Tudo isso porque, no agronegócio, a agriculturapassou a se integrar aceleradamente à dinâmica daprodução industrial do País, ou seja, a produção ruraldas décadas de 80 e 90 passou a se situar,economicamente, entre as indústrias produtoras de bense insumos para a agricultura (a montante) e as indústriasprocessadoras e de serviços de base agrícola (a jusante).

Nesse cenário de abertura econômica, inovaçãotecnológica e importância do agronegócio para aeconomia do País, questiona-se: quais são as estruturasde mercado dos setores com os quais a agriculturamantém relações de troca tanto na compra de bens einsumos (a montante) quanto na venda de sua produção(a jusante)? Essas estruturas de mercado beneficiam ouprejudicam o produtor rural? Quais são as tendênciasestruturais dos mercados agroindustriais? O nível deoligopolização dos mercados agroindustriais aumentouou diminuiu a partir da abertura econômica dos anos 90?

Responder a essas questões permite caracterizaralguns aspectos competitivos da indústria, bem comoestabelecer o meio ambiente em que está inserida aagricultura nacional. Assim, este trabalho tem comoobjetivo caracterizar as estruturas de mercado dos setoresa montante e a jusante da agricultura brasileira, bem comosua tendência no período 1990-02.

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Isso é corroborado pelo Modelo de Gardner1, quetrata o sistema de comercialização interligado com aagricultura como um processo de produção de bens (umprocesso de produção que envolve matéria-prima einsumos de comercialização em três níveis de mercado,produtor, intermediário e consumidor). Esse modeloestabelece que, dentre suas interligações, as diferentesestruturas de mercado se apropriam tanto da renda daagricultura quanto da do serviço de comercialização.

Nesse contexto, a hipótese deste trabalho consisteem que as estruturas de mercado são um dos fatoresdeterminantes da conduta e do desempenho da indústria.Isso significa que os padrões de concorrência entre asempresas pertencentes a um setor, bem como os padrõesde relação desse setor com a agricultura, são definidosde acordo com o tamanho das empresas, sua respectivaparticipação e seu poder de mercado.

Assim, quanto mais imperfeitas forem as estruturasde mercado com as quais a agricultura negocia, menoresserão os preços e as quantidades para o seu produto. Oconhecimento dessa complexa rede de inter-relações dasestruturas dos mercados agrícolas e o aperfeiçoamentodo seu funcionamento resultarão em uma maior racionali-dade na produção, menores preços ao consumidor emaiores níveis de emprego.

O aprimoramento dessas relações é relevante paraa dinamização da economia por, pelo menos, trêsaspectos realçados por Santana (1994). Primeiramente,a produção, a industrialização e a exportação de produtosprimários formam as cadeias produtivas, tidas como osprincipais eixos de desenvolvimento econômico futuro.Por outro lado, a agroindústria processadora determina operfil das transformações da agricultura, vincula-sediretamente ao fluxo de tecnologia e é o núcleo emissordo progresso tecnológico na agricultura. Além disso, aagroindústria é uma maneira eficaz de se adicionar valor,porque cria mercados, aprofunda relações inter-setoriais,gera empregos e renda.

2.1 Modelo operacional

Para caracterizar a estrutura de mercado dos seto-res que apresentam ligações com a agricultura, foramcalculadas medidas de concentração — Razão deConcentração das oito maiores empresas (CR8) e Índicede Hirschman-Herfindahl (H) — e medidas de desi-gualdade — o Índice de Gini (G) e a Discrepância Máxima(D).

A idéia básica para o uso das medidas de concen-tração e desigualdade neste estudo é a de — embora ossetores utilizados apresentem dados extremamenteagregados, na maioria das vezes implicando a agregaçãode indústrias nem sempre plenamente competitivas ouempresas de atuação geográfica distintas — seinterpretarem os resultados como uma tendênciaestrutural. Assim, pressupõe-se que o comportamentodo macroambiente, com menor ou maior ênfase,direcionará o comportamento das empresas queparticipam de mercados que mantêm relaçõescomplementares entre si.

Ao se analisarem os dados de um determinadoperíodo, estes apenas demonstrarão se as indústrias emtorno da agricultura se tornaram mais, ou menos,concentradas, bem como mais ou menos desiguais entresi. Porém a importância dessa análise, acredita-se, estáem reconhecer os resultados como uma tendência quepode ser favorável, ou contrária, ao objetivo do bem-estarsocial. Nesse sentido, foram calculadas a taxa decrescimento e a Razão de Concentração média dossetores no período em estudo.

O interesse deste estudo está, portanto, naconcentração econômica, utilizando-se a receitaoperacional líquida como variável fundamental, conceitoeste que consiste na receita bruta deduzida de impostosincidentes sobre vendas e de devoluções e abatimentos.

2.1.1 Fonte e natureza dos dados

Para o cálculo dos coeficientes de concentração edesigualdade, fez-se uso dos dados disponíveis noBalanço Anual Gazeta Mercantil, edições de 1991,1994, 1997, 2000 e 2003, que disponibilizam os dadosreferentes aos exercícios de 1990, 1993, 1996, 1999 e2002 respectivamente. Esses dados apresentam algumascaracterísticas, tais como: são contábeis; referem-se àsempresas de sociedades anônimas, que, por lei, sãoobrigadas a divulgar seus balanços, e às limitadas que,embora não sejam obrigadas a fazê-lo, submeteram seusbalanços à análise. As empresas estão agrupadas em56 setores, e estes, por sua vez, agrupam mais de 262subsetores, segundo Balanços Anuais da GazetaMercantil. Na edição de 2003, foram publicados dadosde 10.000 empresas. Cabe ressaltar que foi utilizada umaamostra das principais empresas, sendo que o universodas mesmas, em cada setor, não foi considerado, motivopelo qual cabe relativizar que a análise se baseia nessemétodo que foi empregado.

1 Para maiores detalhes, ver Gardner (1975).

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Para efeito deste trabalho, alguns setores foram se-lecionados como um todo, ou utilizou-se desagregaçãoao nível de seus subsetores, ou, ainda, utilizou-se apenasum subsetor de um setor específico. O critério para essasdistinções foi procurar obter uma amostra que espelhasseas relações econômicas insumo-produto relevantes paraa agricultura. Como resultado, os setores selecionadosforam: plásticos e borracha, açúcar e álcool, fertilizantese defensivos, alimentos, bebidas e fumo, equipamento eimplementos agrícolas, produtos farmacêuticos eveterinários, papel e celulose e têxteis e couro.

Na Tabela 1, apresenta-se o tamanho da amostratotal e seu grau de precisão para cada ano analisado, e,na Tabela 2, são apresentadas essas informações emnível de setores e de subsetores selecionados. Os setoresestão explicitados na Figura 1, onde a amostra foi divididaentre setores a montante e a jusante da agricultura.

Cabe salientar que os setores selecionados fazemparte daqueles utilizados, por Montoya e Guilhoto (1999,p. 184) e Furtuoso (1998), para o cálculo do PIB doagronegócio brasileiro. No seu conjunto, os setoresselecionados compõem-se de 8.011 empresas (Tabelas1 e 2), cuja receita operacional líquida conjunta, conformea Tabela 3, representou, em média, para os anos emanálise, 12,8% do Produto Interno Bruto (PIB) a preçosbásicos.

Cabe salientar, finalmente, que o período 1990-02foi escolhido porque nele se intensificou o processo deabertura econômica do Brasil, do qual se esperavam ummaior nível de concorrência dos mercados e, certamente,um nível menor de concentração dos mercadosagroindustriais. Fato este, foco deste trabalho.

Tabela 1 Número de empresas analisadas e grau de precisão da amostra anual do Brasil — 1990-2002

NÚMERO DE EMPRESAS ANALISADAS GRAU DE PRECISÃO DA AMOSTRA

ANOS E TOTAL

Amostra Universo Significância (%) Margem de Erro Amostra/

/Universo (%)

1990 1 481 2 092 95 1,3 70,8

1993 1 318 1 658 95 1,4 79,5

1996 1 250 1 682 95 1,4 74,3

1999 734 1 249 95 1,8 58,8

2002 1 317 1 330 95 1,4 99,0

TOTAL 6 100 8 011 95 0,6 76,1

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

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Montante Jusante

Figura 1

Setores analisados a montante e a jusante da agricultura no Brasil — 1990-2002

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

Plásticos e borracha

Adubos, fertilizantes e defensivos

Produtos Farmacêuticos e

veterinários

Equipamentos e implementos

agrícolas

Alimentos

Açúcar e álcool

Bebidas e fumo

Têxteis e couro

Papel e celulose

Agricultura

Tabela 2

Número de empresas analisadas e grau de precisão da amostra setorial do Brasil — 1990-2002

NÚMERO DE EMPRESAS ANALISADAS POR SETOR GRAU DE PRECISÃO DA AMOSTRA

SETORES E TOTAL

Amostra Universo Significância

(%) Margem de

Erro Amostra/

/Universo (%)

Plásticos e borracha ........................................ 627 823 95 2,2 76,2

Açúcar e álcool ................................................ 663 840 95 1,9 78,9

Fertilizantes e defensivos ................................ 169 216 95 3,8 78,2

Alimentos ........................................................ 1662 2 039 95 1,2 81,5

Bebidas e fumo ............................................... 512 574 95 2,2 89,2

Equipamento e implementos agrícolas ........... 162 209 95 3,9 77,5

Produtos farmacêuticos e veterinários ............ 279 417 95 3,0 66,9

Papel e celulose .............................................. 428 611 95 2,4 70,0

Têxteis e couro ................................................ 1 598 2 282 95 1,3 70,0

TOTAL ............................................................ 6 100 8 011 95 0,6 76,1

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

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3 Resultados e discussões

O interesse da mensuração da concentração dosmercados em termos agregados é um exercício que ajudaa construir uma intuição sobre as característicascompetitivas da indústria. Assim, para esses efeitos, osdados estimados são analisados segundo dois ângulosdistintos: em primeiro lugar, implementa-se uma visãoestática da distribuição por tamanho (medido pela receitaoperacional líquida total) das empresas; em seguida,analisam-se as mudanças ocorridas na distribuição dasreceitas, no período 1990-02.

Essa abordagem deve ser entendida da seguintemaneira: quanto mais alta for a concentração, maior seráa interdependência entre as firmas, havendo probabilidadede que elas se comportem como um oligopólio. Issotambém é válido para o incremento das desigualdadesna distribuição das receitas operacionais líquidas, já queindica a existência de precondições para a diminuiçãoda competição entre as empresas. Assim, o interessecentral da concentração industrial do ponto de vistaeconômico é que ela torna possível o exercício do poderdo oligopólio, ou, mais genericamente, do poder de

mercado, em estruturas industriais não competitivas(Montoya; Martins; Marques, 1996, p. 13).

3.1 Estruturas de mercado a montante da agricultura brasileira — 1990-02

Analisando-se os coeficientes de concentração edesigualdade dos setores selecionados a montante daagricultura, percebe-se seu nítido perfil oligopolista geral(Tabela 4). Com base nas taxas de crescimento doscoeficientes de concentração (Tabela 5), pode-se afirmarque existe uma tendência de aumento da oligopolizaçãodesses setores, em consonância com um processoobservado mundialmente. Este pode ser observado apartir da abertura de mercado iniciada em meados dadécada de 80, que passou a ocorrer, no Brasil, a partirdo início da década de 90, o que favoreceu a concentra-ção e a internacionalização do capital nos segmentos amontante e a jusante da agricultura brasileira.

Deve-se mencionar que o setor plásticos e borrachaé considerado, para este estudo, como localizado amontante da agricultura, pois as empresas avaliadas sãofornecedoras de produtos agrícolas primários.

O setor produtos farmacêuticos e veterináriosexperimentou, nos diversos anos da análise, oscilaçõesnos índices de concentração e de desigualdade.Entretanto, quando se analisa o período 1990-02 comoum todo, verifica-se um incremento na CR

8, que passa

de 0,41 para 0,46 (Tabela 4), o que perfaz um crescimen-to anual de 0,96% no período (Tabela 5). Esse incrementoda concentração é corroborado pelo Índice H, que tambémcresceu em torno de 1% a.a. no período. A desigualdadeentre as empresas, visualizada a partir do crescimentodo Índice de Gini e da Discrepância Máxima (Tabela 4),mostra que existe uma tendência de maior desigualdadena distribuição das receitas entre as empresas. Com basenisso, pode-se afirmar que a indústria farmacêuticaapresenta uma estrutura de mercado concentrada eoligopolista, com tendência a maiores ganhos de poderde mercado.

Esse fato, segundo Capanema e Palmeira Filho(2004), ocorre em virtude de que essa indústria estásujeita a barreiras à entrada de novos competidores, emfunção da proteção de patentes, da necessidade de altosinvestimentos em P&D, do controle do fornecimento deprincípios ativos, dentre outros fatores. Dessa forma,pode-se caracterizar o setor produtos farmacêuticos eveterinários como sendo um oligopólio diferenciado, uma

Tabela 3

Participação relativa do universo no PIB do Brasil — 1990-2002

ANOS E MÉDIA UNIVERSO/PIB (%)

1990 15 1993 14 1996 11 1999 11 2002 13

Média 12,8

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL 1991, São Paulo, Gazeta Mer-cantil, 1991.

BALANÇO ANUAL 1994, São Paulo, Gazeta Mer-cantil, 1994.

BALANÇO ANUAL 1997, São Paulo, Gazeta Mer-cantil, 1997.

BALANÇO ANUAL 2000, São Paulo, Gazeta Mer-cantil, 2000. BALANÇO ANUAL 2003, São Paulo, Gazeta Mer-cantil, 2003.

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vez que, além da elevada concentração, apresentaprodutos diferenciados, cujo processo de diferenciaçãoconsiste em elevados níveis de investimentos,caracterizando barreiras técnicas. Pode-se observar,conforme o Quadro 1, a mobilidade ocorrida entre asmaiores empresas do setor produtos farmacêuticos eveterinários no período 1990-02.

Além do desenvolvimento de produtos veterináriospara a agricultura, segundo Benetti (2004, p. 142), essasempresas estão buscando uma integração vertical nacadeia, o que envolve não só as de medicamentos, comotambém as de defensivos, sementes e biotecnologia.Dessa forma, percebe-se que tais empresas se estariamutilizando de um mecanismo substitutivo das incertezasdo mercado utilizado pelas indústrias, de modo a reduziros enormes riscos dos pesados investimentos empesquisa tecnológica.

Nessa linha de raciocínio, Steindl (1983, p. 38-42)afirma que existe um campo específico no qual aseconomias de escala só podem ser conseguidas porgrandes empresas. Trata-se do campo da pesquisatecnológica, onde as vantagens e a superioridadeconferidas a uma empresa, na forma de patentes, sãoóbvias. Seus custos, porém, são de tal monta que sóestão ao alcance de empresas muito grandes.

O setor equipamentos e implementos agrícolasapresentou um perfil de concentração estável entre 1990e 1999, período no qual suas oito maiores empresasconcentravam 0,76 das receitas líquidas totais (Tabela4). O grande salto de concentração ocorreu entre 1999 e2002, quando a Razão de Concentração do setor passoude 0,76 para 0,91. O Índice H vem confirmar essaevolução, na medida em que apresenta um crescimentode 1,85% a.a. (Tabela 5).

Os indicadores de desigualdade vinhamapresentando uma redução entre 1990 e 1999, o queindicava uma melhoria nas condições de competição entreas empresas deste setor, devido à melhor distribuiçãodas receitas entre essas firmas. Porém, acompanhandoa concentração econômica, entre 1999 e 2002, essesíndices sofreram um acréscimo, o que mostra que existeuma tendência de maior concentração das receitas empoucas empresas, bem como de uma distribuição dasreceitas menos igualitárias entre os agentes industriaisdesse setor.

Dentre os setores a montante da agriculturabrasileira, o setor equipamentos e implementos agríco-las — que contempla empresas fabricantes de tratores,colheitadeiras, pulverizadores, equipamentos dearmazenagem e irrigação, implementos agrícolas em

geral, etc. — é o que apresenta a maior concentraçãoeconômica. Ele experimentou, no período em estudo, umprocesso de internacionalização, uma vez que existe umapredominância de empresas de capital estrangeiro, quese inseriram no mercado nacional no decorrer dos últimosanos.

Nessa indústria, os competidores multinacionaisque possuem plantas industriais no Brasil contemplam aquase-totalidade das vendas do setor. Em 2002, asmaiores empresas de equipamentos e implementosagrícolas foram as seguintes: CNH (41% das receitastotais do setor), Agco (19%), seguidas das demais,conforme o Quadro 2.

O setor adubos, defensivos e fertilizantes partiude uma elevada Razão de Concentração, 0,59 em 1990para 0,79 em 2002 (Tabela 4), o que representa umcrescimento de 2,43% a.a. nesse índice (Tabela 5). Essefato vem a ser confirmado pelo elevado aumento do ÍndiceH, que apresentou um crescimento de 6,11% a.a. noperíodo em análise.

O Índice de Gini e a Discrepância Máxima, por suavez, indicam que, embora tenha ocorrido uma reduçãonesses índices entre 1990 e 1996, a partir daí até 2002 adesigualdade entre as empresas vem sendo acentuanda,o que implica uma tendência de maior concentraçãoeconômica.

Segundo Benetti (2004, p. 147), fertilizantes básicossão típicas commodities, uma vez que são produtosfabricados segundo padrões tecnológicos homogêneos,apresentam baixo valor agregado, e a competição se dávia preços, o que acarreta a necessidade de grandesescalas de operação. Em um país com dimensõescontinentais como o Brasil, com uma produçãodiversificada e desconcentrada espacialmente, onde oscustos de logística e comercialização estão diretamenterelacionados à competitividade desses insumos nomercado, a redução desses custos, por sua vez, podeser vista como um poderoso argumento para explicar aentrada de grandes tradings multinacionais debeneficiamento e comercialização de commoditiesagropecuárias nesse mercado.

Aliado a isso, pode-se afirmar que as aquisiçõesdos grandes grupos internacionais no Brasil nãoobjetivaram apenas o controle de mercado do segmentoindustrial formado pelas misturadoras de fertilizantes, ouseja, pelas empresas localizadas no final da cadeiaprodutiva de fertilizantes. Elas visaram, através daaquisição de misturadoras, controlar as fontes derecursos naturais e a produção das matérias-primasbásicas para a formulação de adubos. E isto porque as

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formuladoras estão constituídas em uma empresaholding, que controla as jazidas minerais domésticas(Benetti, 2004).

Cabe ressaltar que os movimentos de fusões eaquisições nesse setor se intensificaram entre 1996 e2000, o que justifica o considerável aumento daconcentração de mercado das oito maiores empresas,demonstrado na Tabela 4, que passou de 0,56 em 1996para 0,79 em 2002.

De acordo com Benetti (2004, p. 147-148), a empresaBunge e Born, líder absoluta em receitas, no ano de 2002,detendo aproximadamente 28% das receitas totais dosetor, efetuou a aquisição de cinco empresas deconsiderável participação de mercado. A Cargill, com 8%das receitas em 2002, por sua vez, também adquiriu trêsempresas. A Dow AgroSciences efetuou a aquisição dequatro empresas de sementes, e, no ano de 2002, figurouna segunda posição no ranking das maiores, detendoem torno de 9% das receitas líquidas totais do setor(Quadro 3).

Por fim, analisando o comportamento do setoradubos, fertilizantes e defensivos entre 1990 e 2002,pode-se caracterizá-lo como um oligopólio concentrado,uma vez que poucas empresas detêm grande fatia dasreceitas totais em um setor que apresenta elevadasbarreiras técnicas e um produto de baixo grau dediferenciação.

No setor plásticos e borracha, pode-se observar umaumento da concentração de mercado de 0,27 em 1990para 0,43 em 2002 (Tabela 4), tendo esse índice sofridoum acréscimo de 3,88% a.a. (Tabela 5) nesse período.Esse significativo aumento de concentração de mercadoé corroborado pelo incremento no Índice H, que cresceua uma taxa de 4,48% a.a. (Tabela 5). Os indicadores dedesigualdade igualmente sofreram incrementos noperíodo em estudo, o que caracteriza um mercado comdistribuição de receitas cada vez mais desigual.

Conforme o Quadro 4, percebe-se uma pequenamobilidade entre as empresas líderes no setor, o quedemonstra que essas companhias adotaram estratégiasde crescimento orgânico de seus negócios, com aconquista de novos mercados e com investimentos empesquisa e desenvolvimento de novos produtos.

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141Mudança nas estruturas de mercado da agricultura brasileira pós-abertura econômica...

Tabela 4

Razão de Concentração (CR8), Índice de Hirschmann-Herfindahl (H), Índice de Gini (G) e Discrepância Máxima(D) dos setores a

montante da agricultura brasileira — 1990-2002

ANOS E ÍNDICES PRODUTOS

FARMACÊUTICOS E VETERINÁRIOS

EQUIPAMENTOS E IMPLEMENTOS

AGRÍCOLAS

ADUBOS, FERTILIZANTES E

DEFENSIVOS

PLÁSTICOS E BORRACHA

1990 CR8 0,41 0,76 0,59 0,27 H 0,035 0,1829 0,0583 0,0194 G 0,9656 0,9394 0,9356 0,985 D 0,3629 0,5488 0,3458 0,3655 1993 CR8 0,54 0,75 0,61 0,31 H 0,0623 0,1135 0,0632 0,0225 G 0,9314 0,9445 0,9231 0,9857 D 0,3372 0,5352 0,3415 0,4657 1996 CR8 0,49 0,72 0,56 0,35 H 0,0441 0,0817 0,0574 0,0317 G 0,9623 0,9394 0,9574 0,9826 D 0,4648 0,4865 0,4552 0,4427 1999 CR8 0,60 0,76 0,62 0,45 H 0,0688 0,1478 0,0698 0,0461 G 0,9546 0,9232 0,9379 0,971 D 0,4773 0,4831 0,3926 0,4536 2002 CR8 0,46 0,91 0,79 0,43 H 0,0394 0,2283 0,1214 0,0332 G 0,9789 0,9412 0,9394 0,9882 D 0,5743 0,694 0,5507 0,5257

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

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142 Alberto Silva Dutra; Régis Rathmann; Marco Antonio Montoya

Quadro 1

Oito maiores empresas do setor de produtos farmacêuticos e veterinários, por receita operacional líquida, no Brasil — 1990-2002

RANKING 1990 1993 1996 1999 2002

1º Roche Sandoz Roche Novartis Roche

2º Sandoz Roche Ache Roche Novartis

3º Merrel Lepetit Bristol M-Squibb Bristol M-Squibb Ache Aventis

4º Squibb Aché Cyanamid Bristol M-Squibb Pfizer

5º Aché Biogalênica Pfizer Aventis Pharma Aché

6º Tortuga Schering-Plough Boehringer Boehringer Ing. Bristol M-Squibb

7º Schering-Plough Sarsa Schering-Plough Schering-Plough Janssen

8º Abbott Prodome Biogalência Glaxo Wellcome Schering-Plough

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

Tabela 5

Média e taxa de crescimento da Razão de Concentração (CR8) do Índice de Hirschmann-Herfindahl (H), do Índice de Gini (G) e da Discrepância Máxima (D) dos setores

a montante da agricultura brasileira — 1990-2002

PRODUTOS FARMACÊUTICOS E

VETERINÁRIOS

EQUIPAMENTOS E IMPLEMENTOS

AGRÍCOLAS

ADUBOS, FERTILIZANTES E DEFENSIVOS

PLÁSTICOS E BORRACHA ÍNDICES

Média Taxa (%) Média Taxa (%) Média Taxa (%) Média Taxa (%)

CR8 0,50 0,96 0,78 1,50 0,63 2,43 0,36 3,88

H 0,04992 0,99 0,15084 1,85 0,07402 6,11 0,03058 4,48

G 0,95856 0,11 0,93754 0,02 0,93868 0,03 0,9825 0,03

D 0,4433 3,83 0,54952 1,96 0,41716 3,88 0,45064 3,03

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

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143Mudança nas estruturas de mercado da agricultura brasileira pós-abertura econômica...

Quadro 3 Oito maiores empresas do setor de adubos, fertilizantes e defensivos,

por receita operacional líquida, no Brasil — 1990-2002

RANKING 1990 1993 1996 1999 2002

1º Trevo Copebrás Manah Serrana Bunge Fertilizantes

2º Copebrás Ultrafértil Solorrico Manah Dow AgroSciences

3º Ultrafértil Trevo Copas Ultrafértil Cargill Fertilizantes

4º Ipiranga Serrana Ipiranga Serrana Heringer Fosfértil Ultrafértil

5º Nitrofértil Manah Dowelanco Milênia Heringer

6º Takenaka IAP Adubos Trevo Heringer Adubos Trevo

7º Manah Copas IAP Solorrico Fosfértil

8º Copas Takenaka Mitsui Zeneca Milênia

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

Quadro 2

Oito maiores empresas do setor de equipamentos e implementos agrícolas, por receita operacional líquida, no Brasil — 1990-2002

RANKING 1990 1993 1996 1999 2002

1º Maxion Valmet Tatu SLC John Deere CNH

2º Valmet Agrale New Holand Valtra Agco

3º Agrale SLC Valtra Kepler e Weber John Deere Brasil

4º Tatu Tatu Fiat Allis Agrale Valtra

5º Yanmar Kepler e Weber SLC John Deere Semeato Jacto

6º Jacto Jacto Kepler e Weber Yanmar Kepler e Weber

7º Baldan Baldan Semeato Jumil Justino Morais Semeato

8º SLC Semeato Baldan Valmont Jumil

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

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144 Alberto Silva Dutra; Régis Rathmann; Marco Antonio Montoya

3.2 Estruturas de mercado a jusante da agricultura brasileira — 1990-02

Consideram-se a jusante da agricultura ossubsetores do setor produtos alimentares — açúcar eálcool, alimentos e bebidas e fumo — e os setores têxteise couro e papel e celulose, conforme esquematizado naFigura 1. Barreiras à entrada decorrentes de economiasde escala e de custos de acesso à matéria-prima sãocomuns a todos os setores selecionados.

Da análise dos dados da Tabela 6, fica evidenteque, no período 1990-02, houve um aumento generalizadonos níveis de concentração das agroindústrias,acompanhado de um nível elevado de desigualdade nadistribuição do faturamento entre as empresas. Com basenesses fatos, percebe-se, por um lado, um perfiloligopolista nos setores a jusante da agricultura e, poroutro, a deterioração das precondições para um maiorgrau de concorrência nesses mercados. Segundo Benetti(2004, p. 147), isso pode ser explicado, em parte, pelomovimento de fusões e aquisições na indústria deprodutos alimentares, ocorrido, no Brasil, entre 1992 e2000, que totalizou 250 operações.

Os principais fatores que impulsionaram as fusõese aquisições nesses setores foram os movimentos deconsolidação ocorridos nas redes varejistas, bem comoa saturação de mercados em países desenvolvidos e o

aumento dos custos com propaganda. Durante esseperíodo, fica evidenciado o fato de que esses setoresreceberam grandes investimentos estrangeiros,justificados pelo maior poder de consumo de alimentos,conferido à população brasileira com a estabilizaçãoeconômica, bem como pela alta elasticidade-renda nademanda por alimentos no Brasil.

O setor alimentos, que mantém fortes ligações coma agricultura brasileira, apresentou elevado aumento deconcentração entre 1990 e 2002 (Tabela 6). Partindo deuma concentração de 0,30 no primeiro ano em análise,esse setor passou por acentuados movimentos deconsolidação, tendo a Razão de Concentração evoluídoa uma taxa de 4,74% a.a. (Tabela 7), passando as oitomaiores empresas a deterem 0,53 da receita operacionallíquida total do setor no ano de 2002.

Esse crescimento da Razão de Concentração érealçado pelo aumento do Índice H, que sofreu umaelevação de 8% a.a. No que tange à desigualdade entreas empresas, pode-se dizer que persiste uma tendênciade aumento, uma vez que, analisando-se o Índice deGini, este sofreu uma pequena redução entre 1990 e 1999,e, daí até 2002, veio a aumentar novamente.

O setor alimentos apresenta características de umoligopólio competitivo, uma vez que existe altaconcentração, com presença de franja competitiva,produtos diferenciados e barreiras de diferenciação(Benetti, 2004, p. 152).

Quadro 4

Oito maiores empresas do setor de plásticos e borracha, por receita operacional líquida, no Brasil — 1990-2002

RANKING 1990 1993 1996 1999 2002

1º Tigre Tigre Tigre 3M Tigre

2º Coperbo Merrel Lepetit Petroflex Tigre Videolar

3º Vulcan Itap Itap Petroflex Amanco

4º Itap Coperbo Providência Dixie Toga Vipal

5º Besa Vulcan Grace Videolar Providência

6º Plavinil Tecnocerio Vipal Faber Castell Dixie Toga

7º Tecnocerio Dacarto Akros Vipal Votocel

8º Vinasto Vinasto Sansuy Bic Sansuy

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

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145Mudança nas estruturas de mercado da agricultura brasileira pós-abertura econômica...

Merecem destaque, no setor alimentos, as estraté-gias adotadas por empresas como a Parmalat, que, noperíodo 1991-00, adquiriu 23 empresas nacionais, sendoque 18 delas na indústria de laticínios. Outros casos sãoos das empresas Bunge e Born, que adquiriu oito, Macri,que comprou sete, e Louis Dreyfus, que também comprouquatro outras, ressaltando que a atuação dessasempresas, dentre outras, foi fundamental para aconsolidação do setor durante a década de 90, o que severifica na mobilidade das maiores empresas, como édemonstrado no Quadro 5 (Benetti, 2004, p. 63).

O setor bebidas e fumo pode ser caracterizadocomo o que tem o maior grau de concentração entre ossetores a jusante da agricultura brasileira analisadosneste estudo. Com as oito maiores empresas detendo0,47 da receita operacional líquida total do setor em 1990,a concentração econômica dessa indústria cresceu a umataxa de 3,89% a.a., passando para 0,75 de concentraçãoeconômica em 2002 (Tabela 6). Aumento de concentraçãoconfirmado pelo elevado crescimento do Índice H, naproporção de 11,82% a.a.

A desigualdade entre as empresas desse setor,embora elevada em 1990, vinha experimentando umaleve redução até o ano de 1999, a partir do qual demonstracrescimento até 2002, caracterizando uma tendência deaumento da desigualdade das indústrias pertencentes aesse mercado. Fato relevante nesse setor foi a fusãodas cervejarias Antarctica, Brahma e Skol, formando aAmbev, líder absoluta no mercado de cervejas e detentorade 40% de participação no setor de bebidas e fumo, noano de 2002, conforme o Quadro 6.

Dessa forma, pode-se concluir que o setor bebidas,mais especificamente, passou de um oligopólio compe-titivo para um oligopólio concentrado em um pequenonúmero de empresas, fato este que reduz em muito aprobabilidade de desenvolvimento de práticas de livreconcorrência nesse mercado.

No setor fumo, por sua vez, a disputa ocorre entretrês grandes empresas que concentram a quase-tota-lidade desse mercado: a Souza Cruz e a Philip Morris,que figuram no ranking das maiores empresas desde1990, tendo, a partir de 1999, a companhia da empresaUniversal Leaf.

O setor das indústrias processadoras de cana-de--açúcar, que contemplam o setor açúcar e álcool, alémde apresentar a menor concentração econômica entreos setores a jusante da agricultura brasileira, no período1990-02, é o único setor analisado que demonstra umatendência, embora tímida, de redução da concentraçãoindustrial e de desigualdade na distribuição das receitasentre as firmas.

Em 1990, as oito maiores empresas detinham 0,26das receitas líquidas totais desse setor. Já em 2002,essa razão de concentração passou para 0,27 (Tabela6). Se se considerar que a margem de erro da amostraem estudo é de 0,6% para mais ou para menos, pode-secrer que as condições de concentração nesse setorpermaneceram as mesmas, o que o caracteriza comoum oligopólio competitivo.

O Índice H, por sua vez, apresentou um acréscimode 1,18% a.a., que não se refletiu em concentração demercado. A Discrepância Máxima indica que ocorreuum pequeno aumento, de 0,84%, da ocorrência dereceitas marginais nesse setor.

O Índice de Gini, que indica o grau de desigualdadeentre as empresas analisadas, sofreu um decréscimode 0,02% a.a., o que mostra que as perspectivas quantoàs precondições de competição entre as empresas dessesetor têm melhorado com o passar dos últimos anos,culminando em uma tendência de menor concentraçãoe, espera-se, de melhores condições de negociação paraa agricultura brasileira (Quadro 7).

O setor têxteis e couro apresentou a maior variaçãode concentração de mercado a jusante da agriculturabrasileira, durante os anos em análise. Em 1990, suasoito maiores empresas detinham 0,16 sobre as receitastotais, ou seja, existiam boas condições de concorrênciaentre as firmas, uma vez que o setor é característico deum elevado número de empresas de vários tamanhos.Com o passar dos anos, esse índice foi crescendo demaneira acentuada, na casa dos 6,28 pontos percentuaisao ano, o que fez com que o seu grau de concentraçãodobrasse, passando para 0,34 em 2002 (Tabela 6).

O aumento da Razão de Concentração é corrobo-rado pelo aumento proporcional do Índice H, que sofreuum acréscimo de 6,84% a.a. Analisando-se os índicesde desigualdade, o Índice de Gini praticamente perma-neceu inalterado, sofrendo uma redução de apenas 0,01%a.a. entre 1990 e 2002, o que poderia vir a indicar umapequena tendência à redução das desigualdades entreas empresas e uma conseqüente melhoria nas condiçõesde concorrência.

Porém a Discrepância Máxima, por sua vez, revelaum aumento de 2,09% a.a., o que demonstra o aumentode empresas com receitas marginais nesse setor, vindoa caracterizar uma tendência de aumento das desigual-dades entre as firmas competidoras.

Com a abertura econômica ocorrida no início dadécada de 90, essas empresas viram a necessidade deinvestimento e aprimoramento de processos, tanto demanufatura quanto administrativos. Considerando-se queé característico do setor o elevado número de empresas,

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146 Alberto Silva Dutra; Régis Rathmann; Marco Antonio Montoya

pequenas e médias em sua maioria, estas sentiram asdificuldades de atuação em um mercado aberto e,portanto, mais competitivo. Dessa forma, aliando-se aoelevado custo do capital, muitas empresas ou uniramforças para sobreviver, ou foram excluídas do processo.

Segundo Ferraz, Kupfer e Haguenauer (1997, p.231), “[...] a estratégia predominante no setor têxtil, ondeas necessidades de capital são crescentes, é a fusãoentre empresas, na busca de economias de escalatécnicas e econômicas”.

O setor de têxteis e couro é caracteristicamenteum oligopólio diferenciado, uma vez que seus competi-dores dependem de um elevado grau de flexibilidade paraatender de forma adequada às demandas, cada vez maisdinâmicas (Quadro 8).

No setor papel e celulose, as oito maiores empresasconcentravam 44% das receitas do setor em 1990 (Tabela6). Essa indústria, que já apresentava características deoligopólio, sofreu um acréscimo de 2,99 pontos percen-tuais ao ano no seu índice de concentração, passando adeter 63% das receitas totais em 2002 (Tabela 7).

O Índice H, por sua vez, vem confirmar essasituação, uma vez que, da mesma forma que a Razãode Concentração, cresceu a uma taxa de 3,7% a.a. entre1990 e 2002. Na medida em que o setor se tornou cadavez mais oligopolizado nos últimos anos, foi possívelconstatar um pequeno incremento nos níveis dedesigualdade entre as empresas que competem nessemercado segundo o Índice de Gini e a DiscrepânciaMáxima calculados, o que demonstra uma tendêncianatural a uma concentração cada vez maior, uma vezque a distribuição das receitas entre essas empresas setem tornado cada vez mais desigual.

Pode-se caracterizar como ponto determinante deuma maior concentração nesse setor, nos últimos anos,o fato de que as empresas procuraram concentrar suasatividades em um menor número de produtos,conquistando, cada vez mais, maiores fatias de mercadoem segmentos específicos (Mattos, 1999, p. 262).

Mediante a análise da mobilidade entre as maioresempresas desse setor no período 1990-02 (Quadro 9),pode-se constatar que ocorreram modificações signifi-cativas no que tange apenas à liderança no setor, com aalternância da empresa líder entre as empresas queocupam as primeiras posições no ranking.

Sendo assim, pode-se caracterizar o setor papel ecelulose como tendo uma estrutura de mercado comuma um oligopólio concentrado, onde predominam elevadaconcentração, necessidade de altas escalas de produção,

produtos homogêneos (commodities) ou de baixadiferenciação e elevadas barreiras técnicas para a entradade novos competidores.

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147Mudança nas estruturas de mercado da agricultura brasileira pós-abertura econômica...

Tabela 7

Média e taxa de crescimento da Razão de Concentração (CR8), do Índice de Hirschmann-Herfindahl (H), do Índice de Gini (G) e da Discrepância Máxima (D) dos setores

a jusante da agricultura brasileira — 1990-2002

ALIMENTOS BEBIDAS E FUMO PAPEL E CELULOSE TÊXTEIS E COURO AÇÚCAR E ÁLCOOL ÍNDICES

Média Taxa (%) Média Taxa (%) Média Taxa (%) Média Taxa (%) Média Taxa (%)

CR8 0,39 4,74 0,58 3,89 0,51 2,99 0,25 6,28 0,26 0,31

H 0,02976 8,03 0,0843 11,82 0,0482 3,70 0,01514 6,84 0,0224 -1,20

G 0,99354 -0,01 0,97928 -0,05 0,97642 0,04 0,99302 -0,01 0,98158 -0,02

D 0,59458 1,85 0,59214 2,33 0,56258 1,94 0,4681 2,09 0,38594 0,84

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

Tabela 6

Razão de Concentração (CR8), Índice de Hirschmann-Herfindahl (H), Índice de Gini (G) e Discrepância Máxima (D) dos setores a jusante da agricultura brasileira — 1990-2002

ANOS E ÍNDICES ALIMENTOS BEBIDAS E FUMO

PAPEL E CELULOSE

TÊXTEIS E COURO

AÇÚCAR E ÁLCOOL

1990 CR8 0,30 0,47 0,44 0,16 0,26 H 0,0185 0,0465 0,0408 0,0092 0,0208 G 0,9953 0,9836 0,9756 0,9952 0,9888 D 0,5453 0,519 0,5061 0,4287 0,3634 1993 CR8 0,31 0,54 0,5 0,24 0,28 H 0,0206 0,0584 0,0486 0,0139 0,0212 G 0,9943 0,9831 0,9733 0,9951 0,9848 D 0,565 0,5804 0,5402 0,4801 0,411 1996 CR8 0,36 0,54 0,46 0,23 0,26 H 0,0222 0,0566 0,041 0,0127 0,0168 G 0,9944 0,9832 0,9773 0,9931 0,9866 D 0,5941 0,6274 0,5662 0,4603 0,3736 1999 CR8 0,47 0,58 0,53 0,28 0,25 H 0,039 0,068 0,047 0,019 0,0352 G 0,9897 0,9692 0,9759 0,9882 0,9608 D 0,5877 0,5475 0,5619 0,4208 0,38 2002 CR8 0,53 0,75 0,63 0,34 0,27 H 0,0485 0,192 0,0636 0,0209 0,018 G 0,994 0,9773 0,98 0,9935 0,9869 D 0,6808 0,6864 0,6385 0,5506 0,4017

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

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148 Alberto Silva Dutra; Régis Rathmann; Marco Antonio Montoya

Quadro 5

Oito maiores empresas do setor de alimentos, por receita operacional líquida, no Brasil — 1990-2002

RANKING 1990 1993 1996 1999 2002

1º Nestlé Nestlé Nestlé Nestlé Bunge Alimentos

2º Sadia Sadia Ceval Ceval Cargill

3º Ceval Ceval Santista Cargill Nestlé

4º Sanbra Cargill Sadia Sadia Sadia

5º Perdigão Perdigão Cargill Perdigão Coinbra

6º Frigobrás Refinações Brasil Parmalat Santista Perdigão

7º Refinações Brasil Sanbra Perdigão Parmalat Seara

8º Fleischmann Frigobrás Frigobrás Arisco Bertin

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

Quadro 6

Oito maiores empresas do setor de bebidas e fumo, por receita operacional líquida, no Brasil — 1990-2002

RANKING 1990 1993 1996 1999 2002

1º Souza Cruz Souza Cruz Souza Cruz Brahma Ambev

2º Brahma Brahma Brahma Souza Cruz Souza Cruz

3º Cutrale Spal Spal Coinbra Coca-Cola Spal

4º Spal Philip Morris Philip Morris Coca-Cola Spal Universal Leaf

5º Antarctica Paulista Kaiser Brasil Antarctica Paulista Universal Leaf Coca Spaipa

6º Q-Refres-Ko Antarctica Paulista Kaiser Citrosuco Paulista Philip Morris

7º Skol Caracu Q-Refres-Ko Antarctica-RJ Philip Morris Coca Vonpar

8º Philip Morris Cebrasp Coinbra Antarctica Paulista Coinbra Frutesp

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

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149Mudança nas estruturas de mercado da agricultura brasileira pós-abertura econômica...

Quadro 8

Oito maiores empresas do setor de têxteis e couro, por receita operacional líquida, no Brasil — 1990-2002

RANKING 1990 1993 1996 1999 2002

1º SP Alpargatas SP Alpargatas Azaléia Vicunha NE Vicunha Têxtil

2º Tatuapé Tatuapé Alpargatas Santista SP Alpargatas Coteminas

3º Hering Azaléia SP Alpargatas Coteminas Grendene

4º Teka Hering Têxtil Vicunha NE Azaléia Santista Têxtil

5º Grendene Teka Hering Têxtil Grendene Sobral SP Alpargatas

6º Guararapes Vicunha NE Teka Teka Braspelco

7º Alnor Grendene Grendene Sobral Hering Azaléia

8º Corrente Elizabeth Artex De Millus Teka

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

Quadro 7

Oito maiores empresas do setor de açúcar e álcool, por receita operacional líquida, no Brasil — 1990-2002

RANKING 1990 1993 1996 1999 2002

1º União União União Santa Elisa Cosan

2º Piedade Usina da Barra Usina da Barra São Martinho Usina Caeté

3º São Martinho São Martinho Piedade União Usina da Barra

4º Santa Elisa Piedade Santa Elisa Corona Nova América

5º Barra Grande Zillo Lorenzetti São Martinho Zillo Lorenzetti Energ. Santa Elisa

6º Corona Santa Elisa Corona Itamarati São Martinho

7º São João Corona Zillo Lorenzetti Irmãos Biagi Coruripe

8º Irmãos Biagi Barra Grande Costa Pinto Coruripe Irmãos Biagi

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

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Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 133-152, dez. 2006

150 Alberto Silva Dutra; Régis Rathmann; Marco Antonio Montoya

Quadro 9

Oito maiores empresas do setor de papel e celulose, por receita operacional líquida, no Brasil — 1990-2002

RANKING 1990 1993 1996 1999 2002

1º Klabin Bahia Sul Klabin VCP Klabin

2º Suzano Klabin Aracruz Celulose Aracruz Celulose VCP

3º Champion Suzano Suzano Klabin Aracruz Celulose

4º Aracruz Celulose Aracruz Celulose Celucat Suzano Suzano

5º Papel Simão Champion Champion Cenibra Cenibra

6º Cenibra Ripasa Ripasa Bahia Sul Bahia Sul

7º Riocell Papel Simão Bahia Sul Champion International Paper

8º Ripasa Celpav Igaras Ripasa Ripasa

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BALANÇO ANUAL, 1991, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1991. BALANÇO ANUAL, 1994, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1994. BALANÇO ANUAL, 1997, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1997. BALANÇO ANUAL, 2000, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2000. BALANÇO ANUAL, 2003, São Paulo, Gazeta Mercantil, 2003.

4 Considerações finais

Este estudo procurou caracterizar as estruturas demercado com as quais a agricultura negocia, sejacomprando insumos, seja vendendo sua produção,utilizando-se, para isso, do cálculo de medidas deconcentração e desigualdade dos setores analisados.

É, de certa forma, senso comum que a indústriaexerce sobre a agricultura pressão pelo lado dos insumosque o setor produtivo adquire e, a jusante, por relaçõescontratuais restritivas com os setores pós-porteira. Oefeito disso pode ser a deterioração das relações de trocada agricultura. Nesse contexto, entre 1990 e 2002, todosos setores a montante da agricultura analisados nesteestudo apresentaram não só uma crescente concentraçãoeconômica como também um incremento na desigualdadeda distribuição de receitas entre suas empresas, o que,em última instância, implica precondições para menoresníveis de competitividade nas estruturas de mercado. Noponto de vista do agropecuarista, é um fenômeno quedeteriora sua capacidade de negociação na compra deinsumos, que, ao final, refletirá em sua estrutura de custosde produção.

Por sua vez, as estruturas a jusante da agricultura,mais claramente a agroindústria, manifestaram tendênciapredominante de concentração e incremento dasdesigualdades de receitas. Porém ressalta-se que tambémforam registradas tendências opostas, embora tímidas,

no setor açúcar e álcool. Novamente, na perspectiva daprodução agropecuária, pode-se concluir que ascondições de negociação na venda de produtos ficamcomprometidas, o que resultará em preços menores, queacabarão por desestimular o produtor.

Pelo lado da indústria de insumos, foi identificadooligopólio diferenciado para os setores produtosfarmacêuticos e veterinários e plásticos e borracha, bemcomo oligopólio concentrado para os setoresequipamentos e implementos agrícolas e adubos,fertilizantes e defensivos.

Não fugindo à caracterização de oligopólio, ossetores pós-porteira caracterizaram-se da seguintemaneira: os setores papel e celulose e bebidas e fumoforam identificados como oligopólios concentrados e osetor têxteis e couro como oligopólio diferenciado. Já ossetores alimentos e açúcar e álcool caracterizaram-secomo oligopólios competitivos.

Finalmente, pode-se concluir que a agriculturabrasileira vem sofrendo pressões tanto dos setores dosquais adquire seus insumos, quanto dos setores com osquais negocia a sua produção. Essa pressão, além dedeteriorar as condições de negociação da agricultura,vindo a refletir tanto na estrutura de custos quanto nasreceitas dessa atividade, pode vir a determinar umatransferência de renda da agricultura brasileira para ossetores que estão a montante e a jusante, no médio prazo.Isto porque as estruturas de mercado determinam a

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151Mudança nas estruturas de mercado da agricultura brasileira pós-abertura econômica...

conduta e o desempenho das empresas, que, inseridasem ambientes oligopolistas, tendem a praticar preçoselevados, não condizentes com seus custos de produção.

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152 Alberto Silva Dutra; Régis Rathmann; Marco Antonio Montoya

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153Evolução e perfil populacional da população residente nos aglomerados subnormais...

Evolução e perfil populacional da população residente nosaglomerados subnormais, na Região Metropolitana

de Porto Alegre — 1991-00*

Rosetta Mammarella** Pesquisadora da FEE e do Observatório das Metrópoles- -Instituto do Milênio-CNPq

ResumoEste estudo visa analisar a evolução, entre 1991 e 2000, do perfilocupacional e social da população que vive nos aglomerados subnormaisda RMPA, comparativamente à situação metropolitana, utilizando osCensos Demográficos. O fato de os moradores de aglomerados teremou não potenciais oportunidades de vida semelhantes às da populaçãometropolitana é uma das preocupações presentes nas análises. O estudoenfoca dois pontos: o primeiro diz respeito ao modo como se inserem nomundo do trabalho, a partir da análise do perfil ocupacional; o segundoatém-se à identificação das características demográficas e sociais. Oque se pode concluir é que, apesar de uma relativa melhora afetando operfil geral da população que vive em aglomerados subnormais,comparativamente às médias metropolitanas, persistem padrões queperpetuam as diferenciações e as segregações social e espacial.

Palavras-chave: aglomerados subnormais; segregação social;

favelas.

AbstractIn this paper we analyze the professional and occupational profile of thepopulation living in impoverished areas in the RMPA in the years 1991//2000. For the analysis of such evolution, we compared our findings withdata obtained from the Demographic Census during the same period.The

Artigo recebido em 02 out. 2006.

** A autora agradece aos colegas do Núcleo de Estudos Regionaise Urbanos pelas sugestões recebidas e, em particular, àSocióloga Tanya M. de Barcellos pelo apoio constante para queesse trabalho se concretizasse. Os problemas porventuraremanescentes são de inteira responsabilidade da autora.E-mail: [email protected]

* Este artigo foi desenvolvido no quadro do programa de pesqui-sa do Observatório das Metrópoles-Instituto do Milênio-CNPQ.

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154 Rosetta Mammarella

analysis focused on two main points: the first was concerned with theway people living in slums participate in the work force; the second triedto identify the social and demographic characteristics of such group.Thefindings suggest that although there has been some improvement in theirprofile, the patterns that perpetuate social and spatial segregation stillpersist.

Introdução

Este trabalho integra as pesquisas que estão emandamento no Núcleo de Estudos Regionais e Urbanosda Fundação de Economia e Estatística (NERU-FEE) efoi desenvolvido no âmbito do programa de pesquisa doObservatório das Metrópoles1, dando seqüência a umestudo anterior, em que o enfoque central da problemáticada moradia recaía sobre o déficit habitacional(Mammarella, 2004). Já nessa ocasião, havia sido feitoum diagnóstico amplo do perfil social da população quevivia nos aglomerados subnormais, em 2000, na RegiãoMetropolitana de Porto Alegre (RMPA), tendo como baseas informações censitárias.

Neste momento, o objetivo é ampliar esseconhecimento, analisando a evolução, entre 1991 e 2000,do perfil socioocupacional e de algumas característicasdemográficas sociais da população que vive nosaglomerados subnormais2 da RMPA frente às médiasmetropolitanas. A base de dados é a dos CensosDemográficos, e, para considerar as mudanças ocorridasentre um ano e outro, a composição da RegiãoMetropolitana foi ajustada para a conformação existenteem 1991.

No referido artigo (Mammarella, 2004), salientam--se as dificuldades encontradas para trabalhar com acategoria “aglomerados subnormais”, da variável tipo de

1 Uma versão simplificada foi apresentada no Seminário Latino--Americano Gestão do Solo Urbano: Inovações, Instrumentos eExperiências, promovido pelo Lincoln Institute e realizado naUFRGS/PROPUR, em 29 de maio de 2006, em Porto Alegre.

2 Aglomerados subnormais, favelas e vilas irregulares sãodenominações que se referem ao mesmo fenômeno. SegundoPreteceille e Valladares (2000, p. 377-378), foi em 2000 que, pelaprimeira vez, o IBGE incluiu, na contagem da população brasileiraa noção de aglomerado subnormal. Para o último levantamentocensitário, foi definido como sendo o “[...] conjunto (favelas eassemelhados) constituído por unidades habitacionais(barracos, casas, etc.), ocupando, ou tendo ocupado, até períodorecente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular),dispostas, em geral, de forma desordenada e densa, e carente,em sua maioria, de serviços públicos essenciais” (IBGE, 2002).

setor, levantada pelo IBGE, particularmente no que dizrespeito às limitações que os dados oficiais oferecem,quando se pretende conhecer de modo efetivo o montantede população que vive nessas condições. Mas aexistência da informalidade na área da moradia, no Brasil,é uma realidade instalada há muitas décadas, e ofenômeno da favelização é de amplo conhecimento dosórgãos decisórios de políticas da área, haja vista aquantidade de estudos que têm sido realizados.3 Órgãosoficiais, tanto da União como dos estados e municípios,realizam levantamentos de tempos em tempos, com ointuito de conhecer a extensão da informalidade na áreada moradia. Malgrado a maior ou menor precisão dosnúmeros levantados, a divulgação do tamanho dasfavelas, seja no plano nacional, seja no regional, temestado presente nos meios de comunicação, calcada emestatísticas oficiais. Por exemplo, em 2003, umlevantamento do IBGE contabilizava a existência de16.000 favelas cadastradas no Brasil (Brasil..., 2003).Poucos anos antes, como resultado do CensoDemográfico 2000, foram identificados 222.705domicílios em aglomerados subnormais, no Rio Grandedo Sul, 58.763 a mais do que os levantados no Censo de1991. Desse total, cerca de um quarto (52.663) localizava--se na Região Metropolitana de Porto Alegre, em 2000.Portanto, o problema, amplamente conhecido, permanecesem solução.

A favelização é um problema social que, atualmente,parece tomar feições de insolubilidade (Mammarella,2004). Instaura-se como o resultado de múltiplosprocessos e mecanismos de ordem econômica e política,que, de modo intrínseco, estruturam a sociedadecapitalista. O modelo econômico excessivamenteconcentrador de renda, a saída do Estado da economiae o fim dos benefícios sociais, resultando na implantaçãodo modelo neoliberal — que implicou, dentre outrasmedidas, a privatização de estatais, a desregulamentação

3 Alguns estudos mais recentes sobre vilas ou favelas estão em:Moraes e Anton (2000), Perfil... (2004), Taschner (2001), Lagoe Ribeiro (2001), Souza (2001), Mapa... (1997), Guimarães(2000) e Preteceille e Valladares (2000).

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de setores até então restritos a empresas do Governo(Oliveira, 2006) —, agravaram os problemas sociaishistoricamente instalados. Dentre outras conseqüênciasdesses condicionantes, encontram-se o desempregoestrutural4, a seletividade no mercado imobiliário, ocrescimento da violência, o aumento e a manutenção dapobreza urbana e o padrão de urbanização segregadorque se tem estabelecido ao longo do tempo, constituindoos mais graves problemas encontrados nas cidadesbrasileiras. Ou seja, as causas estruturais vinculadas aopadrão desigual de produção, acumulação e distribuiçãode renda no País, somadas às formas de governabilidadetradicionais ainda predominantes e à ação especulativados mercados imobiliários, estão fortemente associadasàs formas de segregação, fragmentação e segmentaçãosocioterritorial nas cidades (Ribeiro, 2000), onde afavelização se apresenta como exponente.

Os espaços de favela não são povoados apenaspelo contingente de desempregados. São compartilhadospor trabalhadores que têm um lugar próprio na divisãosocial do trabalho, independentemente do grau deformalização de sua vinculação ao mercado de trabalho.Tal é o caso dos empregados domésticos, dos operáriosda construção civil, dos faxineiros, dos trabalhadores deserviços gerais, dos vendedores, etc., cuja renda éinsuficiente para morar dentro dos parâmetros dalegalidade (pagamento de aluguel, compra de casa própria)e que não encontram outra alternativa de acesso à terraou à moradia urbana.5

A favelização nas grandes cidades e nas metrópolesocorre de forma muito dinâmica, a partir de processosalgumas vezes espontâneos, outras vezes dirigidos6,associados a uma série de fatores: aumento do desem-prego e da pobreza; aumento do custo de vida e baixacapacidade de arcar com despesas de aluguel e reduzidaou quase inexistente oferta de terra para a população debaixa renda dentro dos mecanismos formais (Cenecorta;Smolka, 2000). Também concorrem para isso osmecanismos informais de acesso a um lote urbano e/oumoradia, que fomentam um mercado imobiliário ilegal eque acabam se legitimando e sendo socialmentetolerados. Outro fator reside na existência de terrasurbanas disponíveis, tanto públicas como privadas, quesão mantidas em reserva para valorização. Quanto a esteúltimo aspecto, não se pode perder de vista que, dado oprocesso desordenado de crescimento urbano--metropolitano, mesmo aquelas localidades que estãodesprovidas de infra-estrutura mínima e são de difícilacesso, na medida em que vão sendo ocupadas, come-çam a gerar progressiva valorização pela incorporação,ao longo do tempo, de benefícios urbanos. Ou seja, aterra que sofre processos espontâneos de ocupação paramoradia e que é urbanizada vai, ao longo do tempo,adquirindo valor de mercado. Isso ocorre tanto pela açãodos moradores, que dispõem de seu tempo e energiapara realizar melhorias mínimas de infra-estrutura (como,por exemplo, atividades de mutirão para abrir valões paraescoamento de esgoto), quanto pela interferência do poderpúblico, quando aloca serviços como água encanada,escolas, posto de saúde, linhas de ônibus, etc. nessasáreas (Singer, 1979). Recebendo esses benefícios, essasáreas são valorizadas e passam a ser comercializadas,não obstante sua condição de informalidade. Dessa forma,mantém-se a condição sistêmica de inviabilidade para aaquisição de moradia através de meios formais para umagrande parcela da população, induzindo-a à ocupação deterras disponíveis, que, no curso do tempo, pelas melho-rias que lhe vão sendo adicionadas, provocam sua valo-rização e mercantilização (formal ou informal). O ciclo

4 O desemprego estrutural está relacionado à substituição detrabalho humano por processos mecanizados, acarretandoperda de postos de trabalho em todos os setores da economia.Não é um fenômeno inteiramente novo na atual economia, masparticulariza-se pelas velocidade e intensidade com que asmudanças ocorrem, associado às redefinições do papel do“Estado-patrão”. São maiores e mais específicas as exigênciade ingresso e manutenção no mercado de trabalho: “[...] se nadécada de 60 ou 70 uma boa instrução poderia garantir umsustento razoável, hoje uma boa instrução pode apenas daruma chance melhor no mercado de trabalho. Nem mesmocarreiras tradicionais, como medicina, direito ou engenharia,estão ilesas às incertezas dos tempos da informação. Com oritmo das mudanças acelerado, muitas profissões deixam deexistir, e o medo do novo pode não eliminar sua profissão, mastalvez eliminar o seu emprego” (Oliveira, 2006).

5 Não se desconhece também que, nas favelas ou nas áreas deocupação irregular, exista certa mistura social, como sedepreende dos relatos dos beneficiados pelo ProgramaIntegrado Entrada da Cidade (PIEC), que formam o LoteamentoPôr do Sol, em Porto Alegre (Teixeira, 2005). Em Cenecorta eSmolka, encontra-se: “Embora a pobreza seja responsável poruma parte significativa dos arranjos informais existentes, amagnitude e a persistência da informalidade observadas nãopodem ser explicadas somente pela pobreza. De fato, apesarda alta correlação encontrada entre pobreza urbana e assen-

tamentos informais, nem todos os ocupantes dos assentamentosinformais podem ser classificados como pobres [...] mesmopara quem não é pobre, pode ainda ser muito caro comprarlotes no mercado formal, uma vez que o comprador pode nãoestar qualificado para a compra (por falta de credenciais legaisou outras formalidades) [...]” (Cenecorta; Smolka, 2000, p. 90 e92).

6 A ampla literatura sobre os movimentos sociais dos anos 70 e80 é pródiga nos relatos de processos de ocupação de terrasurbanas; para uma ampla bibliografia a respeito, ver Mammarella(1996).

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156 Rosetta Mammarella

tem sua continuidade com novas expulsões, novasocupações, em processos de retroalimentação.

Algumas questões são orientadoras das reflexões:qual é o perfil ocupacional dessa população? Em quemedida suas condições e oportunidades de vida acompa-nham, minimamente, o padrão médio metropolitano?Existem evidências que permitam afirmar que, na décadade 90, as possibilidades de acesso aos meios para umamelhor qualidade de vida se ampliaram? Ou, ao contrário,persistem os padrões que perpetuam as diferenciaçõese a segregação social e espacial?

1 Características ocupacio- nais e sociais da popula- ção em aglomerados sub- normais, na Região Me- tropolitana de Porto Alegre7

1.1 Perfil socioocupacional

A análise das características demográficas esociais dos moradores em aglomerados subnormais écomplementada levando-se em consideração a posiçãoque eles ocupam, tendo como referência básica a catego-ria trabalho. Para tanto, foi construída uma classificaçãohierárquica, a partir das informações levantadas pelo Cen-so Demográfico 2000 (IBGE, 2002), sobre a ocupação

da população.8 Essa classificação foi feita com base emalguns princípios de divisão que retratam as principaisoposições que fundamentam a organização social dassociedades capitalistas (Ribeiro; Lago, 2000). Opressuposto básico que orientou a organização dasocupações é que o trabalho desempenha um papelfundamental para a organização da sociedade. Nessesentido, o lugar ocupado pelas pessoas na divisão socialdo trabalho é um indicativo importante de sua posiçãona estrutura social, com reflexos sobre os rendimentose ganhos. Nessa perspectiva, e com base nos indicadoresdisponíveis, a variável “ocupação” levantada nasestatísticas oficiais “[...] tem um conteúdo material e derepresentação social que permite reconhecer, a partir dela,uma hierarquia social, um esboço da estrutura social”(Mammarella; Barcellos; Koch, 2000). No trabalhoclassificatório, foram identificadas 24 categoriassocioocupacionais, ou conjunto de ocupações, queconformam uma estrutura que traduz a posição hierár-quica dos ocupados na sociedade.9

A Região Metropolitana de Porto Alegre apresentauma estrutura socioocupacional cujas principaiscaracterísticas se relacionam ao peso dos trabalhadoresdo Secundário e das ocupações médias, que detêm umaparticipação quase igual na conformação da estruturasocial metropolitana, reunindo, cada um dessesconjuntos, mais de um quarto dos ocupados, comdestaque para os operários da indústria tradicional, noprimeiro caso, e para os que exercem ocupações emescritório, no segundo.

A análise dessa mesma estrutura considerandoapenas a população dos aglomerados subnormais foirealizada no intuito de detectar se existem, ou não,especificidades frente ao conjunto metropolitano. Ou seja,trata-se de saber se é possível estabelecer algumarelação entre o perfil ocupacional e o espaço da moradia,marcado pela quase-ausência de condições deurbanidade e legalidade.

7 Para a análise comparativa, o território metropolitano foi ajustadode acordo com sua conformação em 1991, ou seja, 22 municípios:Alvorada, Cachoeirinha, Campo Bom, Canoas, Dois Irmãos,Eldorado do Sul, Estância Velha, Esteio, Glorinha, Gravataí,Guaíba, Ivoti, Nova Hartz, Novo Hamburgo, Parobé, Portão,Porto Alegre, São Leopoldo, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Triunfoe Viamão. Em alguns municípios da Região Metropolitana, nãoforam identificados aglomerados subnormais pelo IBGE: paraCachoeirinha e Viamão, não há informações em 1991, e, paraEsteio e Parobé, não há em 2000. Em alguns casos, o tamanhoda população em aglomerados é muito reduzido, o que ocasionaalgumas distorções, quando se analisa o dado municipal. Porisso, a preferência será considerar as médias metropolitanas,construídas sobre 22 municípios.

8 Na Documentação dos Microdados da Amostra do CensoDemográfico 2000, a ocupação está assim definida: “[...]entende-se por ocupação a função, cargo, profissão ou ofíciodesempenhado por uma pessoa numa atividade econômica,referindo-se sempre ao trabalho principal” (IBGE, 2002). Vertambém Mammarella e Barcellos (2005a, 2006b).

9 Para efetuar a análise sobre as mudanças na estruturasocioocupacional entre 1991 e 2000, foram feitos todos osajustes técnicos necessários que permitissem, pelo menos, umacomparabilidade relativa, uma vez que a definição da variável“ocupação” no Censo 2000 difere da de 1991 (Mammarella;Barcellos, 2005b).

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157Evolução e perfil populacional da população residente nos aglomerados subnormais...

Nessa comparação, é preciso ter presente que,tendo em vista a aplicação dos critérios oficiais nolevantamento censitário, a população residente nosaglomerados fica muito reduzida, representando, em2000, 5,73% do total da Região. Quando se consideraapenas o universo dos ocupados nos aglomerados,informação obtida nos resultados da amostra, lida-se comum contingente populacional sempre menor. Em 2000, opercentual de ocupados nos aglomerados correspondiaa 48,23% da PIA (Tabela 1). Apesar dessas limitações,é possível, assim como ocorre com os indicadores acimaanalisados, traçar um perfil da estrutura ocupacionalnessas áreas, que correspondem, basicamente, aoslocais de moradia dos mais pobres.

Em 1991, o percentual de ocupados em relação àpopulação de 10 anos e mais era levemente superior àmédia metropolitana, mas, em 2000, esse diminuiu maisdo que três pontos percentuais nos aglomerados e, noconjunto metropolitano, não se alterou em relação a 1991(um pouco acima de 51%). Segundo os dados da Tabela1, em 2000, aumentou relativamente a população nosaglomerados, e diminuiu o percentual de ocupados. Eesse não é apenas um problema estatístico, tendo emvista que a desocupação proveniente do desempregoassume um sentido social de estigma e se constitui numardil: as pessoas são moradoras em áreas irregulares,porque não têm emprego, pelo menos estável e bemremunerado, e encontram dificuldades para se empregar,porque sofrem a discriminação de viver em vilas, favelas.

Partindo para a análise da estrutura social nosaglomerados, a primeira constatação que se faz é a deque os trabalhadores do Secundário ocupam uma posiçãomuito privilegiada nessa estrutura, representando 37%em 2000, apenas um ponto percentual abaixo do seupeso em 1991, diferentemente do conjunto metropolitano,em que essa categoria representa cerca de um quartodos ocupados (Tabela 2). Outra diferença entre uma eoutra estrutura é que, enquanto são os trabalhadores daindústria tradicional que predominam no conjuntometropolitano (representando 13% e 9% em 1991 e 2000,respectivamente), nos aglomerados, a maior contribuiçãopara a constituição dessa categoria deve ser atribuídaaos operários da construção civil, que representam emtorno de 16% dos ocupados nos dois anos.

A segunda categoria que tem um peso muitosignificativo para a conformação da estrutura ocupacionalnos aglomerados é a dos trabalhadores do Terciário NãoEspecializado, com um percentual de 29,31% (que,somados aos trabalhadores do Secundário, atingem acifra de 66% do total de ocupados nos aglomerados).Entre os trabalhadores do Terciário Não Especializado,

destaca-se a presença dos trabalhadores domésticos(13,58%), seguidos dos prestadores de serviços nãoespecializados (9,82%), que são compostos portrabalhadores em serviços de manutenção de edifícios,auxiliares, guardas e vigias, entregadores, em serviçosde manutenção e conservação de vias permanentes.Portanto, o problema está mesmo nos aglomeradossubnormais, onde predomina a moradia dos trabalhadoresque tradicionalmente se inserem nos setores mais sujeitosa precariedades, seja em termos de remuneração, sejaem termos de proteção social (sem carteira assinada).

Um terceiro ponto diz respeito à presença relativamaior de trabalhadores do Terciário Especializado nosaglomerados frente à média metropolitana, constatando--se uma ligeira elevação entre 1991 e 2000. Nessa cate-goria, são os prestadores de serviços especializados10

que têm maior peso (9,65% em 1991 e 11,19% em 2000).Em síntese, o perfil da população ocupada nos

aglomerados não se alterou significativamente, e ascategorias mais elevadas na estrutura social estãoausentes, sendo que as ocupações médias têm umarepresentação muito pequena (12%). Portanto, as tênuesmudanças ocorridas entre 1991 e 2000 mantiveram operfil predominante dos ocupados nos aglomerados, queé composto, basicamente, por trabalhadores cujas ocupa-ções são de menor reconhecimento social.

10 A categoria dos prestadores de serviços especializados é com-posta por ocupações relacionadas a tarefas que, sem serem denível técnico, exigem uma certa especialização, como é o caso,por exemplo, dos reparadores de equipamentos fotográficos,de equipamentos e instrumentos médico-hospitalares,deaparelhos domésticos, de equipamentos de escritório; dosvidreiros e ceramistas; dos trabalhadores nos serviços deadministração de edifício ou nos serviços de higiene eembelezamento; e assim por diante.

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158 Rosetta Mammarella

Tabela 1

População, total e ocupada, metropolitana e dos aglomerados subnormais da RMPA — 1991 e 2000

RMPA (1) (A)

AGLOMERADO SUBNORMAL (2) (B)

B/A (%) POPULAÇÃO

1991 2000 1991 2000 1991 2000

Total ........................... 3 022 583 3 496 583 128 378 200 473 4,25 5,73

PIA (10 anos e mais) .. 2 413 825 2 886 878 92 340 147 695 3,83 5,12

Ocupada ..................... 1 233 987 1 475 683 47 657 71 239 3,86 4,83

Ocupada/PIA ............. 51,12 51,12 51,61 48,23 - -

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d. IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

(1) Estão considerados os 22 municípios relativos a 1991. (2) Não há dados relativos à população em aglomerados de Ca-choeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000.

Tabela 2

Distribuição relativa das categorias socioocupacionais da RMPA e dos aglomerados subnormais da RMPA — 1991 e 2000

RMPA (1) AGLOMERADOS SUBNORMAIS (2) NÚMERO CATEGORIAS SOCIOOCUPACIONAIS

1991 2000 1991 2000

Dirigentes ................................................................ 1,47 1,39 0,23 0,19

CAT21 Grandes empregadores ............................................ 1,18 0,80 0,23 0,08

CAT22 Dirigentes do setor público ....................................... 0,10 0,27 0,00 0,06

CAT23 Dirigentes do setor privado ....................................... 0,19 0,32 0,00 0,05

Intelectuais .............................................................. 5,84 7,61 0,51 0,79

CAT41 Profissionais autônomos de nível superior ............... 1,20 2,12 0,29 0,26

CAT42 Profissionais empregados de nível superior ............. 1,19 2,83 0,16 0,30

CAT43 Profissionais estatutários de nível superior .............. 1,48 0,72 0,02 0,07

CAT44 Professores de nível superior ................................... 1,98 1,93 0,04 0,16

Pequenos empregadores ....................................... 3,47 3,23 0,94 0,84

CAT31 Pequenos empregadores ......................................... 3,47 3,23 0,94 0,84

Ocupações médias ................................................. 29,39 26,94 11,36 12,22

CAT51 Ocupações de escritório ........................................... 11,80 9,29 4,68 4,81

CAT52 Ocupações de supervisão ........................................ 5,06 4,48 1,37 1,51

CAT53 Ocupações técnicas ................................................. 6,40 6,39 2,37 2,34

CAT54 Ocupações médias da saúde e educação ................ 2,90 3,60 1,08 1,64

CAT55 Ocupações de segurança pública, Justiça e correios 2,08 1,95 1,13 1,01

CAT32 Ocupações artísticas e similares .............................. 1,16 1,24 0,73 0,92

(continua)

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159Evolução e perfil populacional da população residente nos aglomerados subnormais...

Tabela 2

Distribuição relativa das categorias socioocupacionais da RMPA e dos aglomerados subnormais da RMPA — 1991 e 2000

RMPA (1) AGLOMERADOS SUBNORMAIS (2) NÚMERO CATEGORIAS SOCIOOCUPACIONAIS

1991 2000 1991 2000

Trabalhadores do Terciário Especializado .......... 14,85 17,42 17,38 19,29

CAT61 Trabalhadores do comércio ...................................... 8,39 8,73 7,74 8,11

CAT62 Prestadores de serviços especializados ................... 6,47 8,69 9,65 11,19

Trabalhadores do Secundário ............................... 29,26 27,35 38,00 36,89

CAT71 Trabalhadores da indústria moderna ........................ 6,98 6,36 6,28 6,65

CAT72 Trabalhadores da indústria tradicional ...................... 12,91 8,90 12,21 8,57

CAT73 Operários dos serviços auxiliares ............................. 3,07 4,89 3,42 6,05

CAT74 Operários da construção civil ................................... 6,30 7,20 16,09 15,62

Trabalhadores do Terciário Não Especializado ... 14,01 14,70 30,72 29,31

CAT63 Prestadores de serviços não especializados ........... 5,25 4,56 12,28 9,82

CAT81 Trabalhadores domésticos ....................................... 6,48 6,73 14,60 13,58

CAT82 e 83 Ambulantes e catadores ........................................... 2,29 3,41 3,83 5,91

Agricultores ............................................................. 1,70 1,35 0,86 0,46

CAT10 Agricultores ............................................................... 1,70 1,35 0,86 0,46

TOTAL DA RMPA .................................................... 100,00 100,00 100,00 100,00

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d. IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

(1) Estão considerados os 22 municípios relativos a 1991. (2) Não há dados relativos à população nos aglomerados de Cachoeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000.

1.2 Características demográ- ficas e sociais

No que diz respeito às características da populaçãoque sofre os efeitos de viver em áreas irregulares,interessa averiguar quais as mudanças que ocorreramno seu perfil demográfico e social e em algumascondições da moradia. Para tanto, serão utilizadosindicadores de sexo, idade, cor, escolaridade, anos deestudos, renda, densidade domiciliar e saneamento, todosvis-à-vis ao conjunto metropolitano. Partindo da idéia deTorres e Marques (2001) de que a implementação deinvestimentos e programas sociais dirigidos aos espaçose aos moradores das periferias urbanas não trouxesignificativas melhorias a essa população, busca-seaveriguar, a partir dos indicadores selecionados, se, naRMPA, as diferenças de padrões existentes entre osmoradores dos aglomerados e os do conjunto daMetrópole se tornaram, ou não, mais intensas entre 1991e 2000.

Em 1991, a população em aglomerados subnormaisna Região Metropolitana correspondia a 4,24% dapopulação total e, em 2000, passou para 5,73% (Tabela3). Porto Alegre e Portão são recordes, em termosproporcionais, na relação entre a população que vive nosaglomerados frente à total, tendo, em 2000, ultrapassadoos 10%. No entanto, a situação entre esses doismunicípios é bem distinta, uma vez que, em Porto Alegre,isso equivale a mais de 142.000 pessoas e, no outromunicípio, representa apenas cerca de 2.600 pessoas.A dinâmica de crescimento da população entre 1991 e2000 (Tabela 3) foi bem mais intensa nos aglomeradosdo que na Região, sendo caracterizada por uma taxa trêsvezes maior do que a do conjunto metropolitano (5,08%a.a. e 1,62% a.a. respectivamente). Mas esse cresci-mento não foi homogêneo.

Em Gravataí, a população em favelas cresceu demodo vertiginoso na década — 23,42% a.a. —, enquantoa população total do município cresceu 2,83% a.a.; emNovo Hamburgo e São Leopoldo, as taxas ficaram entre11% e 12% a.a., também muito superiores às taxas

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municipais, de 1,55% a.a. e 1,59% a.a. respectivamente.Esse crescimento tão expressivo da população queprocurou aglomerados subnormais situados nesses trêsmunicípios pode estar associado a processos econômicosespecíficos que ocorreram ao longo da década: instalaçãoda GM em Gravataí, momentos de melhoras nodesempenho da indústria calçadista durante os anos 90,expansão do setor de serviços, em especial em NovoHamburgo e São Leopoldo. Além disso, na última década,nestes três últimos municípios, ocorreu um importantedinamismo do mercado imobiliário (Barcellos, 2004), setorque emprega muita mão-de-obra de baixa remuneração.Em outros casos, como em Estância Velha e Sapiranga,a taxa de crescimento da população em aglomerados foinegativa, o que pode estar associados a diversas causas,dentre as quais a implementação de algumas políticaspúblicas (de retenção ou expulsão) ou pela preferênciaem se instalar nos municípios maiores do Vale do Sinos,tendo em vista as maiores opções de ocupação.

Na população da Região, predomina o contingentefeminino. Nos aglomerados também, mas de forma maisequilibrada (Tabela 4). O equilíbrio entre a populaçãomasculina e a feminina foi rompido nos aglomerados dequatro municípios (Eldorado do Sul, Portão, São Leopoldoe Gravataí), sendo que, em Gravataí, o percentual demulheres passou de 39,08% em 1991 para 51,99% em2000. Essa é uma especificidade da população emaglomerados subnormais, tendo em vista que, para oconjunto do município, a proporção de homens e mulheresé estável.

No que diz respeito à distribuição da populaçãosegundo a cor (Tabela 4), fica evidente a proeminênciados pretos e pardos nesses aglomerados, principalmenteem 2000. Entre 1991 e 2000, a população de pretos epardos mais do que duplicou sua participação no totaltanto da região como dos aglomerados. No caso destesúltimos, porém, esse contingente atingiu percentuais bemmais elevados. Em 2000, a maior proporção de populaçãopreta e parda encontrava-se nos aglomerados de PortoAlegre (34,76%), seguindo-se Guaíba (30,48%), Gravataí(28,04%) e Canoas (25,51%). Nesses municípios, oaumento em relação a 1991 foi significativo. Apesar de aRMPA não ser tão marcada pela diferenciação racialcomparativamente a outras regiões metropolitanasbrasileiras, aqui também são os pretos e pardos quesofrem com maior intensidade e mais diretamente osefeitos das desigualdades econômicas e da segregaçãosocial e espacial.

A análise do perfil etário revela que a proporção decrianças e adolescentes (até 14 anos) é bem maior entreos moradores de aglomerados do que na Região

Metropolitana como um todo (Tabela 5), tendo havido,entre 1991 e 2000, uma redução nessa proporção decerca de quatro pontos percentuais em ambos os casos.No outro extremo, entre a população classificada comomadura e idosa (com idade acima de 45 anos), verifica--se que houve um aumento relativo também nos doiscasos, um pouco mais acentuado nos aglomerados,embora essa faixa da população seja bem menor, emtermos absolutos, nessas áreas. É importante destacaressas duas faixas etárias, pois nelas estão contidas asparcelas de população que tendem a sofrer maioresvulnerabilidades, demandando políticas específicas nasáreas de educação, saúde e previdência. Em 2000, oMunicípio de Sapiranga destacou-se por registrar, entrea população que vive nos aglomerados, o menor índicede crianças e adolescentes (25,47%) e o maior percentualde população acima de 45 anos (26,62%). Nosaglomerados de Canoas, ainda em 2000, encontrava-sea maior proporção de crianças (41,86%), e, nos de PortoAlegre, a menor acima de 45 anos (10,51%).

Em termos evolutivos, entre 1991 e 2000, chamaatenção que, nos aglomerados de São Leopoldo e Portão,a proporção de população até 14 anos aumentousignificativamente, com a conseqüente redução dapopulação de mais de 45 anos em termos relativos.11

Em relação às faixas etárias mais propensas a seinserirem no mercado de trabalho (de 15 a 24 anos e de25 a 44 anos), destacam-se as mudanças que ocorreramnos aglomerados de Estância Velha e Portão, queganharam mais população entre 15 e 24 anos, e emPortão, Gravataí e São Leopoldo, onde o maior aumentofoi na faixa entre 25 e 44 anos. É muito provável queesses movimentos estejam associados à busca doemprego tanto industrial como nos setores de serviços.

A condição de saber ler e escrever (Tabela 6)constitui-se numa das exigências fundamentais para ainserção social de modo não discriminado, emboraatualmente já não seja mais condição suficiente paraingresso no mercado de trabalho. De modo geral, tantona Região Metropolitana como nos aglomerados, verifica--se uma significativa melhora em todos os municípios,entre 1991 e 2000. Porém ainda é grande a proporção depessoas analfabetas nos aglomerados, em 2000 (emmédia, 15% e variando entre 10% e 17% nos municípios).

11 Em Portão, a população de mais de 45 anos que mora em aglo-merados passou de 59,09% em 1991 para 10,51% em 2000; emSão Leopoldo, esses percentuais ficaram em 47,85% e 11,25%respectivamente.

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161Evolução e perfil populacional da população residente nos aglomerados subnormais...

A distribuição relativa da população segundo osanos de estudo permite conhecer quais os níveis deescolaridade que a população dos aglomerados alcança,tendo como parâmetro a média metropolitana. Em termosgerais, até 10 anos de estudo equivale ao fundamentalcompleto e ao médio incompleto; mais de 10 anos deestudo abrange o ensino médio, mesmo que incompleto,e daí em diante.12

As desvantagens dos moradores em aglomerados,no tocante aos níveis superiores de ensino, sãocomprovadas, quando se analisa a distribuição dapopulação de 15 anos e mais que tem acima de 10 anosde estudo (Tabela 7): em 2000, apenas 6,75% dos quemoram em aglomerados apresentavam essa condição,contra 27,77% do conjunto metropolitano (Tabela7).Certamente, pode ser observada uma melhora, masextremamente tímida, frente à situação de 1991, quandoapenas 3,68% das pessoas com mais de 15 anos nosaglomerados chegavam a ter além de 10 anos de estudo.Afora isso, não se pode desconsiderar que, nos dois anos,somente cerca de um quarto da população de 15 anos emais da Região Metropolitana chegou a mais de 10 anosde estudo.

É certo que, nos aglomerados, a disparidade quese faz presente em todos os municípios é muito maior erevela o quanto a universalização do ensino em todos osníveis ainda se constitui numa utopia. Sem o efetivoacesso universal aos bancos escolares, com ensino dequalidade para todas as classes sociais e tendo comoprincípio a garantia de igualdade de oportunidades, atendência é a de produzir e agudizar, ao longo do tempoe de modo institucionalizado, os efeitos de segregaçãosocial.

O indicador de renda mais apropriado para mediras diferenças sociais é a renda real. Contudo a variávelcensitária que mede o rendimento pessoal e que temcomparabilidade entre 1991 e 2000 é a renda totalnominal13, que foi transformada em salários mínimos.Mesmo assim, ela deve ser tomada com cuidado, pois opoder de compra de um salário mínimo em tempo de

12 Para calcular a proporção de população com até 10 anos de estudo, tomou-se como referência a população de cinco anos e mais, conforme foi levantado no Censo de 1991; para a proporção de população com mais de 10 anos de estudo, o cálculo foi feito para a população de 15 anos e mais. Para ambos os casos, foram desconsideradas do total as variáveis “sem instrução” e “não determinado”.

13 A renda total nominal da população de 10 anos e mais corres- ponde à soma dos rendimentos brutos da ocupação principal, de outra ocupação, de aposentadoria ou pensão e outros.

inflação alta, como era em 1991, é bem menor do queem tempo de inflação baixa, como tem sido após 1994.Mas, tendo em vista que, em períodos inflacionários,existem mecanismos e dispositivos de correção, paraefeitos analíticos, está-se considerando que o valor decompra de um salário mínimo tem uma equivalênciaaproximada nos dois anos.

Conforme pode ser visto na Tabela 8, a renda dapopulação de 10 anos e mais que vive em aglomeradossegue o mesmo movimento que ocorre, em média, empraticamente todas as faixas: diminui o percentual depopulação com renda até dois salários mínimos eaumenta nas demais faixas. Porém destaca-se que, em2000, na faixa de até dois salários mínimos, ospercentuais nos aglomerados são praticamente o dobrodos observados na Região (62,52% e 39,79%respectivamente). Ou seja, pode-se afirmar a existênciade uma relação muito próxima entre condição social(nesse caso, medida pela renda) e território (aglomeradossubnormais).

Essa relação reforça-se quando a análise recaisobre a população com renda acima de cinco saláriosmínimos, visto que a proporção de população a partirdessa faixa é muito baixa. Já na faixa de renda entredois e cinco salários mínimos, observam-se algunsmovimentos interessantes. Em termos regionais, aproporção de população situada nesse intervalo nãoaumentou muito entre 1991 e 2000 (passou de 30,00%para 32,00% entre 1991 e 2000), mas o percentual médionos aglomerados sofreu um aumento mais significativodo que na Região (de 21,89% em 1991 foi para 30,53%em 2000). Esse fato merece que se teçam algumasconsiderações.

Primeiramente, levanta-se como hipótese queestaria havendo a conformação de um perfil com maiormistura social entre os moradores dos aglomerados, oque poderia ser comprovado se parte dos setores médiosda população estivessem transferindo suas moradiaspara essas áreas. Para testar essa hipótese, foi analisadaa modificação na participação das ocupações médias,conforme sua posição na hierarquia socioocupacional dosaglomerados, entre 1991 e 2000 (Tabela 2). Verificou-seque as mudanças foram tênues para justificar essamelhoria em termos de rendimentos. As ocupaçõesmédias representavam 11,36% do perfil socioocupacionaldos aglomerados em 1991 e passaram para 12,22% em2000. Portanto, não parece ter sido a migração de setoresmédios da população a causa dessa melhora.

Um segundo aspecto que pode ser conjecturadofrente à melhoria da faixa de população com renda entredois e cinco salários mínimos nos aglomerados é que

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poderia estar havendo um aumento na capacidade deconsumo dessa população. Essa hipótese foi testadalevando-se em consideração alguns indicadores relativosà posse de bens classificados como de média difusão,14

como é o caso de máquina de lavar roupas, automóvel etelefone, bens que foram levantados nos Censos de 1991e 2000. Verificou-se que houve um acréscimo significativona posse desses bens entre a população que mora nosaglomerados (Tabela 9). Se a isso se acrescentar que osalário mínimo tem como referência a cesta básica dealimentos, então, com o controle da inflação, o poder decompra aumentou relativamente, ficando, assim,fortalecida a hipótese de elevação na capacidade deconsumo da população em geral, incluída aquela quevive nos aglomerados.

Contudo essa interpretação tem que serconsiderada com certo cuidado, pois a posse de bensnum determinado momento do tempo tem um significadorelativo. Como se vive numa sociedade em que o apeloao consumo é muito intenso, atuando inclusive em nívelsubliminar15, cria-se, em todos os estratos sociais dapopulação, uma “necessidade de consumo” que éestimulada pelas oportunidades de crédito. Mas asfacilidades oferecidas, em especial pelo comércio, nemsempre são sustentadas no médio ou no longo prazo,gerando um contingente considerável de devedores. Umbalanço das inadimplências no comércio balizaria melhoressa hipótese.

Os aspectos acima considerados, referentes aoaumento relativo da renda, associados ao crescimentoda população em aglomerados, entre 1991 e 2000,revelam que a melhoria em termos de rendimentos podeser, em alguma medida, fator desencadeador de relativaascensão social ou mesmo de acréscimo na capacidadede consumo das pessoas, mas não se constitui emalternativa suficiente para retirá-las da informalidade emtermos de moradia.

A densidade de moradores por dormitório (Tabela10), medida que aponta a qualidade das condições demoradia, é outro indicador que revela que houve umarelativa melhora, entre 1991 e 2000, para os moradoresdos aglomerados. Aumentou o percentual de populaçãoque vive em domicílios com baixa densidade (existência

14 Classificação adotada no Metrodata-Desigualdades Intra--Urbanas nas Metrópoles Brasileiras. Disponível em:<http://www.ippur.ufrj.br/observatorio/cdmetrodata.htm>.

15 Em linguagem de psicologia, diz respeito a um estímulo que nãoé suficientemente intenso para que o indivíduo tome consciênciadele, mas que, repetido, atua no sentido de alcançar um efeitodesejado (Ferreira, 2004).

de uma a duas pessoas por dormitório na casa) e, porconseguinte, diminuiu a proporção com média (entre duase três pessoas por dormitório) e com alta densidade(acima de três moradores por dormitório). No entanto,mantém-se muita elevada a proporção de pessoas quevivem em domicílios com alta densidade nos aglomerados(em média 31,15% em 1991 e 24,25% em 2000), emrelação à Região (11% em 1991 e 8,91% em 2000). Em2000, Novo Hamburgo era o município onde se encontravaa menor proporção de população vivendo em condiçõesdesfavoráveis (12,01%), e Gravataí, a maior proporção(28,27%).

Finalmente, para completar essa caracterizaçãosocial dos moradores em aglomerados, foram avaliadasas condições de inadequação no saneamento (ausênciade conexão à rede geral e de fossa séptica), que,seguindo a mesma tendência dos demais indicadores,apresentou relativa melhora entre 1991 e 2000 (passoude 66,73% para 29,90%). Mas essa melhoria se mostrouinsuficiente para alcançar o padrão metropolitano, quefoi de 27,91% no primeiro ano e de 10,73% no segundo(Tabela 11). O município melhor situado é Sapiranga, que,em 2000, se manteve com apenas 3% dos moradoresvivendo em condições inadequadas nos aglomerados,enquanto o caso mais extremo ocorre em Gravataí, emque 81,63% dessa população ainda não conquistou direitoao saneamento de modo adequado. Em Porto Alegre,pode-se dizer que os dados refletem as políticasimplementadas na década, pois a melhoria nas condiçõesde saneamento dos aglomerados foi significativa, vistoque o percentual de população que vivia em situaçõesinadequadas caiu de 64,33% para 25,88%. Assim mesmo,em 2000, ainda estava muito longe da média da Cidade,que foi de 7,99% de inadequação. Mas não se pode deixarde registrar que, em nível municipal, em Viamão, Gravataíe Eldorado do Sul, mais de 20% da população vivem emcondições inadequadas em termos de saneamento.Portanto, em se tratando de infra-estrutura desaneamento, ainda existem, na Região Metropolitana,municípios onde esse serviço é insuficientementeprestado pelo poder público.

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163Evolução e perfil populacional da população residente nos aglomerados subnormais...

Tabela 3

População total e taxa de crescimento municipal e em aglomerados subnormais, na RMPA — 1991 e 2000

POPULAÇÃO MUNICIPAL (A)

POPULAÇÃO EM

AGLOMERADOS (1) (B)

B/A (%)

TAXA DE CRESCIMENTO (%) MUNICÍPIOS COM

AGLOMERADOS SUBNORMAIS

1991 2000 1991 2000 1991 2000 Municipal Em aglome-rados (2)

Cachoeirinha .............. 88 195 107 564 - 3 133 - 2,91 2,23 - Canoas ....................... 279 127 321 843 7 992 8 576 2,86 2,66 1,59 0,79 Eldorado do Sul .......... 17 703 27 268 1 195 1 737 6,75 6,37 4,92 4,24 Estância Velha ........... 28 190 35 132 780 601 2,77 1,71 2,48 -2,86 Esteio ......................... 70 547 80 048 1 523 - 2,16 - 1,41 - Gravataí ..................... 181 035 232 629 325 2 160 0,18 0,93 2,83 23,42 Guaíba ........................ 83 102 94 307 767 1 267 0,92 1,34 1,42 5,74 Novo Hamburgo ......... 205 668 236 193 8 121 23 064 3,95 9,76 1,55 12,30 Parobé ........................ 31 995 44 776 662 - 2,07 - 3,80 - Portão ......................... 19 489 24 657 1 647 2 627 8,45 10,65 2,65 5,32 Porto Alegre ............... 1 263 403 1 360 590 100 106 142 773 7,92 10,49 0,83 4,02 São Leopoldo ............. 167 907 193 547 3 664 9 747 2,18 5,04 1,59 11,48 Sapiranga ................... 58 675 69 189 1 596 1 216 2,72 1,76 1,85 -2,98 Viamão ....................... 169 176 227 429 - 3 570 - 1,57 3,34 - TOTAL DA RMPA (2) 3 026 819 3 496 583 128 378 200 471 4,24 5,73 1,62 5,08

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d. IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

(1) Não há dados relativos à população nos aglomerados de Cachoeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000. (2) Estão considerados os 22 municípios relativos a 1991.

Tabela 4 Distribuição relativa da população, segundo o sexo e a cor, municipal e em aglomerados subnormais

da RMPA — 1991 e 2000

MULHERES PRETA OU PARDA

População Municipal População em Aglomerados (1)

População Municipal População em Aglomerados (1)

MUNICÍPIOS COM AGLOMERADOS SUBNORMAIS

1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000

Cachoeirinha ................ 50,89 51,20 - 47,91 3,61 10,42 - 12,00 Canoas ......................... 51,01 51,26 49,77 49,77 4,83 11,42 6,46 25,51 Eldorado do Sul ........... 49,48 49,81 50,04 53,02 5,05 14,01 1,67 17,11 Estância Velha ............. 49,70 50,00 46,54 45,76 1,79 7,97 - 5,66 Esteio ........................... 51,04 50,08 48,85 - 5,64 10,53 28,56 - Gravataí ....................... 50,42 50,64 39,08 51,99 6,02 11,18 16,98 28,04 Guaíba ......................... 50,73 51,14 54,24 51,54 6,48 14,41 7,04 30,48 Novo Hamburgo ........... 50,69 51,13 49,70 48,02 2,48 7,60 2,29 11,85 Parobé ......................... 49,04 49,77 48,79 - 1,22 7,41 4,23 - Portão .......................... 49,37 49,72 48,82 52,15 4,13 7,58 4,13 13,28 Porto Alegre ................. 53,34 53,27 50,46 50,39 7,19 16,63 16,46 34,76 São Leopoldo ............... 50,75 51,08 46,67 50,27 3,36 8,94 3,38 17,17 Sapiranga ..................... 49,31 49,85 47,18 44,16 2,02 9,59 1,31 - Viamão ......................... 50,51 50,94 - 49,24 7,94 19,04 - 20,65 Total da RMPA (2) ....... 51,67 51,78 50,13 50,04 5,80 13,69 14,01 29,43

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d. IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

(1) Não há dados relativos à população nos aglomerados de Cachoeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000. (2) Estão considerados os 22 municípios relativos a 1991.

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164 Rosetta Mammarella

Tabela 5

Distribuição relativa da população em aglomerados subnormais, segundo a idade, na RMPA — 1991 e 2000

ATÉ 14 ANOS DE 15 A 24 ANOS

População Municipal População em Aglomerados (1)

População Municipal

População em Aglomerados (1)

MUNICÍPIOS COM AGLOMERADOS SUBNORMAIS

1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000

Cachoeirinha ...................... 31,99 27,46 - 37,73 17,49 18,44 - 20,43 Canoas ............................... 31,66 27,35 41,49 41,86 16,87 18,79 17,57 18,89 Eldorado do Sul .................. 34,89 30,72 43,31 34,16 16,75 18,45 22,49 19,12 Estância Velha ................... 31,66 27,70 40,58 36,21 18,90 17,94 17,89 27,24 Esteio ................................. 31,19 26,03 36,65 - 16,65 18,86 19,95 - Gravataí ............................. 33,25 28,06 33,61 37,55 16,94 19,28 25,07 21,34 Guaíba ............................... 32,57 28,15 34,94 39,31 16,89 18,58 14,30 17,21 Novo Hamburgo ................. 30,68 27,38 40,00 36,88 18,67 18,08 23,41 18,27 Parobé ................................ 33,37 30,77 31,79 - 21,19 18,65 28,01 - Portão ................................. 31,77 27,71 19,91 35,63 17,83 18,20 8,53 18,20 Porto Alegre ....................... 26,94 23,05 41,12 37,09 16,44 18,30 19,47 20,47 São Leopoldo ..................... 31,76 27,68 22,88 39,59 17,82 18,63 12,59 19,55 Sapiranga ........................... 31,50 29,22 40,43 25,47 21,43 18,99 18,44 21,94 Viamão ............................... 32,99 29,34 - 35,40 17,79 18,45 - 20,53 Total da RMPA (2) ............ 29,97 26,19 41,10 37,12 17,30 18,53 19,79 20,07

DE 25 A 44 ANOS 45 ANOS E MAIS

População Municipal População em Aglomerados (1) População

Municipal População em Aglomerados (1)

MUNICÍPIOS COM AGLOMERADOS SUBNORMAIS

1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000

Cachoeirinha ...................... 32,94 32,22 - 30,86 17,59 21,88 - 10,98 Canoas ............................... 32,45 30,62 30,26 27,43 19,02 23,23 10,69 11,82 Eldorado do Sul .................. 31,49 30,63 22,58 34,22 16,87 20,21 11,62 12,50 Estância Velha ................... 34,41 34,85 33,25 23,75 15,03 19,51 8,28 12,79 Esteio ................................. 33,45 31,17 32,05 - 18,71 23,94 11,36 - Gravataí ............................. 32,85 30,54 18,46 29,26 16,96 22,11 22,87 11,85 Guaíba ............................... 33,06 31,17 26,84 26,60 17,47 22,09 23,92 16,89 Novo Hamburgo ................. 32,90 32,85 26,78 32,05 17,75 21,68 9,82 12,80 Parobé ................................ 31,86 34,21 24,38 - 13,58 16,38 15,82 - Portão ................................. 32,07 32,23 12,47 35,67 18,33 21,86 59,09 10,51 Porto Alegre ....................... 32,66 30,62 29,09 27,74 23,96 28,03 10,32 14,70 São Leopoldo ..................... 33,26 32,27 16,68 29,61 17,16 21,43 47,85 11,25 Sapiranga ........................... 31,15 33,54 25,00 25,97 15,92 18,25 16,13 26,62 Viamão ............................... 30,41 29,83 - 28,45 18,81 22,37 - 15,63 Total da RMPA (2) ............ 32,51 31,13 29,00 28,54 20,22 24,15 10,12 14,27

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d. IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

(1) Não há dados relativos à população nos aglomerados de Cachoeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000. (2) Estão considerados os 22 municípios relativos a 1991.

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165Evolução e perfil populacional da população residente nos aglomerados subnormais...

Tabela 6

Distribuição relativa da população de cinco anos e mais que não sabe ler e escrever, nos municípios e em aglomerados subnormais da RMPA — 1991 e 2000

POPULAÇÃO MUNICIPAL POPULAÇÃO EM AGLOMERADOS (1) MUNICÍPIOS COM AGLOMERADOS SUBNORMAIS 1991 2000 1991 2000

Cachoeirinha ..................................... 11,30 7,40 - 12,49 Canoas .............................................. 11,38 7,39 23,37 14,33 Eldorado do Sul ................................. 14,76 10,73 23,11 14,62 Estância Velha .................................. 10,97 6,73 13,38 10,33 Esteio ................................................ 9,93 6,35 29,41 - Gravataí ............................................. 11,71 8,09 32,31 15,55 Guaíba ............................................... 12,62 8,42 28,59 17,63 Novo Hamburgo ................................ 11,23 8,22 19,83 15,21 Parobé ............................................... 14,25 10,06 17,07 - Portão ................................................ 16,74 8,51 40,85 15,53 Porto Alegre ...................................... 8,61 6,29 23,67 15,45 São Leopoldo .................................... 12,58 8,03 32,41 15,31 Sapiranga .......................................... 13,19 9,52 26,39 16,75 Viamão .............................................. 14,70 9,11 - 11,84 Total da RMPA (2) ............................ 10,75 7,47 23,92 15,26

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d. IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

(1) Não há dados relativos à população nos aglomerados de Cachoeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000. (2) Es-tão considerados os 22 municípios relativos a 1991. Tabela 7

Distribuição relativa da população de cinco anos e mais e de 15 anos e mais na população municipal e na de aglomerados subnormais, segundo os anos de estudo, na RMPA — 1991 e 2000

ATÉ 10 ANOS DE ESTUDO DA POPULAÇÃO DE CINCO ANOS E MAIS MAIS DE 10 ANOS DE ESTUDO DA

POPULAÇÃO DE 15 ANOS E MAIS (1)

População Municipal População em Aglomerados (2) População Municipal População em

Aglomerados (2)

MUNICÍPIOS COM AGLOMERADOS SUBNORMAIS

1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000

Cachoeirinha ..................... 88,00 78,11 - 93,58 13,05 21,89 - 6,42 Canoas .............................. 85,37 80,72 96,17 96,05 15,86 22,62 4,07 3,95 Eldorado do Sul ................. 92,13 84,00 99,45 94,63 8,52 19,28 0,59 5,37 Estância Velha .................. 89,22 84,47 100,00 100,00 11,43 16,00 0,00 - Esteio ................................ 83,30 74,67 98,55 - 18,25 15,53 1,47 - Gravataí ............................ 88,70 81,02 100,00 97,70 12,38 10,67 0,00 2,30 Guaíba .............................. 89,46 80,97 100,00 95,36 11,45 18,98 0,00 4,64 Novo Hamburgo ................ 86,26 79,43 98,75 97,03 14,72 13,98 1,31 2,97 Parobé ............................... 96,71 89,74 96,40 - 3,53 20,57 3,75 - Portão ................................ 93,20 87,01 100,00 99,53 7,22 10,26 0,00 0,47 Porto Alegre ...................... 66,30 59,25 96,07 91,94 36,14 12,99 4,18 8,06 São Leopoldo .................... 83,10 77,12 99,07 97,79 18,14 19,08 0,99 2,21 Sapiranga .......................... 92,98 87,44 100,00 92,65 7,49 22,88 0,00 7,35 Viamão .............................. 89,72 82,17 - 91,61 11,15 15,53 - 8,39 Total da RMPA (3) ............ 78,70 72,23 96,54 93,25 22,95 27,77 3,68 6,75

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d. IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

NOTA: Foram excluídos da tabela os sem instrução e os não determinados. (1) Foi feito o corte de até 10 anos de estudo, por corresponder ao ensino fundamental completo e ao médio incompleto. (2) Não há dados relativos à população nos aglomerados de Cachoeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000. (3) Estão considerados os 22 municípios relativos a 1991.

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166 Rosetta Mammarella

Tabela 8

Distribuição relativa da população de 10 anos e mais do total dos municípios e dos aglomerados subnormais, segundo as faixas de renda total nominal, na RMPA — 1991 e 2000

ATÉ DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS ENTRE DOIS E CINCO SALÁRIOS MÍNIMOS

População Municipal População em Aglomerados (1)

População Municipal População em Aglomerados (1)

MUNICÍPIOS COM AGLOMERADOS SUBNORMAIS

1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000

Cachoeirinha .................. 56,39 40,98 - 67,87 31,37 36,87 - 30,84

Canoas ........................... 53,07 40,04 72,04 63,84 32,11 35,21 24,73 31,43

Eldorado do Sul ............. 63,97 51,83 88,82 75,42 27,06 32,07 11,18 23,17

Estância Velha ............... 56,62 45,48 81,84 75,77 31,28 36,55 18,16 24,23

Esteio ............................. 50,61 38,40 75,61 - 33,92 35,19 22,09 -

Gravataí ......................... 55,26 43,59 84,09 78,91 33,26 35,98 15,91 21,09

Guaíba ........................... 58,93 45,82 83,90 70,45 30,55 34,90 11,99 25,71

Novo Hamburgo ............. 55,34 46,04 80,84 65,94 29,05 31,65 18,66 30,29

Parobé ............................ 63,95 50,73 73,78 - 30,45 38,06 26,22 -

Portão ............................. 65,60 49,28 93,61 78,24 27,01 34,20 6,39 19,89

Porto Alegre ................... 40,31 31,83 73,40 61,06 30,23 28,75 23,05 30,93

São Leopoldo ................. 57,79 42,37 87,92 63,65 28,10 33,21 11,48 31,50

Sapiranga ....................... 70,46 57,58 91,14 63,03 22,64 28,48 8,86 29,18

Viamão ........................... 63,87 48,70 - 55,84 27,47 34,16 - 31,50

Total da RMPA (2) ......... 50,46 39,79 75,07 62,52 30,00 32,00 21,89 30,53

ENTRE CINCO E 10 SALÁRIOS MÍNIMOS MAIS DE 10 SALÁRIOS MÍNIMOS

População Municipal População em Aglomerados (1) População Municipal População em

Aglomerados (1)

MUNICÍPIOS COM AGLOMERADOS SUBNORMAIS

1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000

Cachoeirinha .................. 9,04 16,60 - 1,29 3,21 5,56 - 0,00

Canoas ........................... 10,52 16,24 2,08 4,73 4,30 8,51 1,15 0,00

Eldorado do Sul ............. 6,06 10,57 0,00 0,00 2,90 5,53 0,00 1,42

Estância Velha ............... 8,85 13,01 0,00 0,00 3,26 4,96 0,00 0,00

Esteio ............................. 10,63 17,49 0,86 - 4,85 8,92 1,43 -

Gravataí ......................... 9,19 15,17 0,00 0,00 2,28 5,27 0,00 0,00

Guaíba ........................... 7,81 13,16 4,11 1,62 2,71 6,12 0,00 2,23

Novo Hamburgo ............. 10,02 14,01 0,50 3,39 5,59 8,30 0,00 0,38

Parobé ............................ 4,15 8,41 0,00 - 1,45 2,80 0,00 -

Portão ............................. 5,52 11,21 0,00 1,03 1,86 5,31 0,00 0,84

Porto Alegre ................... 16,47 19,56 2,63 6,38 12,99 19,86 0,92 1,62

São Leopoldo ................. 8,96 15,39 0,60 4,10 5,15 9,03 0,00 0,75

Sapiranga ....................... 4,93 9,86 0,00 7,79 1,97 4,08 0,00 0,00

Viamão ........................... 6,52 12,80 - 10,99 2,14 4,34 - 1,67

Total da RMPA (2) ......... 11,90 16,28 2,24 5,64 7,64 11,93 0,80 1,31

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d. IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

NOTA: 1. Foram excluídos os sem rendimento. 2. A renda total nominal é o somatório de todos os rendimentos das pessoas de 10 anos e mais de idade. (1) Não há dados relativos à população nos aglomerados de Cachoeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000. (2) Estão considerados os 22 municípios relativos a 1991.

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167Evolução e perfil populacional da população residente nos aglomerados subnormais...

Tabela 9

Distribuição relativa da população, segundo a posse de bens de consumo, nos municípios e nos aglomerados subnormais da RMPA — 1991 e 2000

RMPA (1) AGLOMERADOS SUBNORMAIS (2) BENS

1991 2000 1991 2000

Máquina de lavar roupa ................................... 38,94 67,49 7,66 46,64

Linha de telefone ............................................. 19,18 45,70 1,14 22,47

Automóvel ....................................................... 33,17 45,64 5,90 18,64

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d.

IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

(1) Estão considerados os 22 municípios relativos a 1991. (2) Não há dados relativos à população nos aglomerados de Ca-choeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000.

Tabela 10

Distribuição relativa da população em aglomerados subnormais, segundo o grau de densidade de moradores por dormitório, na RMPA — 1991 e 2000

POPULAÇÃO MUNICIPAL

Alta (2) Média (3) Baixa (4)

MUNICÍPIOS COM AGLOMERADOS

SUBNORMAIS

1991 2000 1991 2000 1991 2000

Cachoeirinha ................................. 11,49 8,44 24,39 17,53 64,11 74,03 Canoas .......................................... 10,66 9,31 24,36 19,10 64,98 71,59 Eldorado do Sul ............................. 13,72 12,36 26,72 22,81 59,56 64,83 Estância Velha ............................... 12,11 5,71 21,51 11,85 66,38 82,44 Esteio ............................................. 10,11 7,23 20,89 16,95 69,00 75,82 Gravataí ......................................... 10,00 7,34 23,31 19,00 66,69 73,65 Guaíba ........................................... 9,37 8,66 26,13 21,32 64,50 70,02 Novo Hamburgo ............................. 10,29 7,14 21,01 16,33 68,70 76,53 Parobé ........................................... 14,11 7,37 24,08 14,27 61,81 78,36 Portão ............................................ 11,81 5,01 21,09 15,31 67,09 79,68 Porto Alegre ................................... 9,85 9,32 20,52 15,74 69,62 74,94 São Leopoldo ................................. 12,30 6,81 20,99 18,20 66,71 75,00 Sapiranga ....................................... 11,48 9,27 24,20 15,78 64,32 74,95 Viamão ........................................... 16,16 12,20 26,32 22,11 57,52 65,69 Total da RMPA (5) ........................ 11,00 8,91 22,39 17,50 66,62 73,74

(continua)

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168 Rosetta Mammarella

Tabela 10

Distribuição relativa da população em aglomerados subnormais, segundo o grau de densidade de moradores por dormitório, na RMPA — 1991 e 2000

AGLOMERADOS SUBNORMAIS (1)

Alta (2) Média (3) Baixa (4)

MUNICÍPIOS COM AGLOMERADOS

SUBNORMAIS

1991 2000 1991 2000 1991 2000

Cachoeirinha .................................. - 26,80 - 30,88 - 42,32 Canoas ........................................... 29,57 25,02 33,97 36,09 36,45 38,89 Eldorado do Sul ............................. 37,87 21,89 26,96 42,05 35,17 36,06 Estância Velha ............................... 38,21 26,17 23,85 28,17 37,95 45,67 Esteio ............................................. 39,09 - 25,82 - 35,09 - Gravataí ......................................... 37,35 28,27 48,15 33,55 14,51 38,18 Guaíba ........................................... 41,67 23,28 28,52 23,92 29,82 52,80 Novo Hamburgo ............................. 26,36 12,01 37,83 26,58 35,81 61,41 Parobé ........................................... 24,92 - 23,72 - 51,36 - Portão ............................................ 37,70 19,03 36,79 25,68 25,50 55,29 Porto Alegre ................................... 30,62 26,75 31,29 26,96 38,10 46,29 São Leopoldo ................................. 38,52 18,03 26,10 37,99 35,38 43,98 Sapiranga ....................................... 53,63 17,42 14,54 9,12 31,83 73,46 Viamão ........................................... - 21,54 - 25,71 - 52,75 Total da RMPA (5) ........................ 31,15 24,25 31,42 27,95 37,43 47,80

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d. IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

(1) Não há dados relativos à população nos aglomerados de Cachoeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000. (2) Densidade alta corresponde a mais de três pessoas por dormitório. (3) Densidade média corresponde a duas ou três pessoas por dormitório. (4) Densidade baixa corresponde a uma ou duas pessoas por dormitório. (5) Estão considerados os 22 municípios relativos a 1991.

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169Evolução e perfil populacional da população residente nos aglomerados subnormais...

Tabela 11

Distribuição relativa da população municipal e em aglomerados subnormais, segundo a condição de saneamento inadequado, na RMPA — 1991 e 2000

POPULAÇÃO MUNICIPAL POPULAÇÃO EM AGLOMERADOS (1) MUNICÍPIOS COM AGLOMERADOS

SUBNORMAIS 1991 2000 1991 2000

Cachoeirinha .............................. 11,56 5,19 - 30,78 Canoas ....................................... 18,43 8,45 70,62 37,57 Eldorado do Sul .......................... 64,06 20,02 94,16 10,12 Estância Velha ............................ 22,14 7,07 11,92 10,48 Esteio .......................................... 18,67 5,33 100,00 - Gravataí ...................................... 33,11 21,15 91,67 81,63 Guaíba ........................................ 27,38 10,74 86,05 74,14 Novo Hamburgo ......................... 27,07 11,68 69,33 41,51 Parobé ........................................ 50,98 11,58 85,65 - Portão ......................................... 63,80 17,50 95,45 39,28 Porto Alegre ................................ 19,56 7,99 64,33 25,88 São Leopoldo ............................. 21,82 9,09 77,67 39,13 Sapiranga ................................... 23,00 11,15 82,03 3,37 Viamão ....................................... 83,74 23,07 - 38,81 Total da RMPA (2) ..................... 27,91 10,73 66,73 29,90

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE. Censo Demográfico 1991: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, s. d. IBGE. Censo Demográfico 2000: documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

NOTA: Considera-se inadequado o domicílio que não tem rede geral e fossa séptica. (1) Não há dados relativos à população nos aglomerados de Cachoeirinha e Viamão, em 1991, e nos de Esteio e Parobé, em 2000. (2) Estão considerados os 22 municípios relativos a 1991.

2 Considerações finais

Deste breve balanço das condições de vida dapopulação que habita os aglomerados subnormais daRegião Metropolitana de Porto Alegre, podem serdestacadas algumas idéias centrais.

Os estudos sobre favela têm, reiteradamente,destacado as limitações impostas pelos dadoscensitários ao conhecimento efetivo das favelas ou vilasirregulares. Essa é uma lacuna muito importante noconhecimento dessa problemática, que assumecontornos alarmantes, principalmente nas grandescidades e metrópoles. Com isso, mesmo que hajavontade política por parte dos governantes, fica difícil aadoção de medidas eficazes para enfrentar o problemaque não sejam meramente de natureza pontual e limitada.

Certamente, programas específicos, como os deregularização fundiária, são importantes e bem-vindos,mas não são suficientes, se não houver perspectivas demudanças estruturais (crescimento da economia,

disposição política, instrumentos jurídicos, reestruturaçãourbana, oferta de emprego, dentre outros). Se forconsiderado que “[...] a velocidade da ocupação irregular//ilegal é maior do que a capacidade dos governos deacompanhá-la” (Cenecorta; Smolka, 2000), torna-se cadavez mais urgente a adoção de políticas claras e precisasque priorizem, além do aumento das oportunidades deemprego, as ações voltadas para a questão da moradiaurbana. O fato é que, mantidas as atuais condiçõesestruturais da sociedade, um grande contingente defamílias continuará a buscar esse tipo de alternativa paramorar.

Os reiterados processos de valorização do solourbano nas grandes cidades também pesam sobremaneirana manutenção das vilas irregulares, uma vez queacabam repercutindo nas áreas onde essas vilas seencontram. Isso é válido, em especial, se as mesmasestão próximas a espaços “nobres”. Nesse caso, essapopulação acaba sofrendo forte pressão para se desalojare, muitas vezes, é impelida a buscar outros sítios maisdistantes (em alguns casos, há resistência à pressão).

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170 Rosetta Mammarella

Quanto ao perfil da população ocupada residenteem aglomerados subnormais, os dados apontam umasituação inalterada entre 1991 e 2000, com predominânciados trabalhadores cujas ocupações não requerem muitasespecializações, são de baixa remuneração e altopotencial de informalidade, como é o caso dostrabalhadores da construção civil, seguido pelo dos dasocupações domésticas. Essa é uma distinção importante,quando comparada à situação média da metrópole, emque as ocupações enfatizadas estão distribuídas entreos trabalhadores do Secundário (em especial, os ligadosà indústria tradicional), as ocupações médias e ostrabalhadores do Terciário Especializado, entre os quaistendem a predominar relações formais de trabalho.

No que diz respeito às mudanças no perfil socialda população que vivia em aglomerados subnormais,entre 1991 e 2000, constatou-se que ela se tornou menosjovem e mais idosa, mais preta e parda e, também, quemelhorou em termos da alfabetização, tendo, inclusive,aumentado seus anos de estudo e melhorado o acessoà renda. Mas é inegável que, quando comparadas comas condições gerais da Região, essas mudançaspositivas ficam muito aquém das necessidades dessapopulação, não se podendo falar em um padrão de vidacondigno nessas áreas. Fica, portanto, marcadamenteexpressa a permanência da desigualdade e da segregaçãosocial na RMPA.

Referências

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Concentração e especialização em setores industriais...

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7 - As citações devem ser feitas no próprio texto, com a respectiva fonte: sobrenome do autor, ano de publicação enúmero da página entre parênteses (Vanin, 1980, p. 8). As citações em língua estrangeira devem vir traduzidas,ficando a critério do autor a publicação do original em nota de rodapé.

8 - As referências bibliográficas devem conter o nome completo do autor, o título da obra, o local e a data de publi-cação, o nome do editor e o número de páginas, enquadrando-se em uma das situações a seguir referidas:

a) livro - POCHMANN, Márcio. O emprego na globalização: A nova internacionalização do trabalho e os cami-a) livro - nhos que o Brasil escolheu. São Paulo: Boitempo, 2001. 151p. CASTRO, Antônio B. de; SOUZA, Francisco E. P. de. A economia brasileira em marcha forçada. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1985. 217p.

b) capítulo ou artigo de livro - MIRANDA, José Carlos da Rocha. Dinâmica financeira e política macroeconô-b) capítulo ou artigo de livro mica. In: TAVARES, M. C.; FIORI, J. L. (Org.). Poder e dinheiro: uma economiab) capítulo ou artigo de livr o - política da globalização. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 243-275.c) periódico - CONJUNTURA ECONÔMICA. Rio de Janeiro: FGV, n. 12, dez. 2000.

d) artigo de periódico - BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. O declínio de Bretton Woods e a emergência dos mercados "globalizados". Economia e Sociedade, Campinas, n. 4, p. 1-20, 1997. PARTICIPAÇÃO do Brasil nos investimentos diretos mundiais. Carta da SOBEET, São Paulo, v. 1, n.4 , set./out. 1997.

e) artigo de jornal - SALGUEIRO, Sônia. Autopeças brasileiras conquistam mercado externo. Gazeta Mercan-e) artigos de jorn istil, São Paulo, p. A-4, 6-8 mar. 2000.e) artigos de joris - PARTICIPAÇÃO de salários no PIB cai para 38%. Folha de São Paulo, São Paulo, p. 2-5, 12 dez. 1997.

f) informação ou texto obtidos pela internet - livro eletrônico (monografia)DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam informática,1988. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlDLPO Acessoem: 8 mar. 1999.periódico eletrônico (revista, anuário, etc.)

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BOLETIM INFORMATIVO DE PESSOAL. Porto Alegre: Secreta-ria da Fazenda/RS, n. 31, jul. 2001. Disponível em:http://www.sefaz.rs.gov.br Acesso em: 14 dez. 2001.artigo de periódico em meio eletrônicoO IED no Brasil e no mundo: principais tendências. Sinopse Econô-mica. Disponível em: http://www.bndes.gov.br/sinopse/poleco.htmAcesso em: 21 mar. 2000.banco de dadosIBGE-SIDRA. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br Acessoem: mar. 2001.home page institucionalBRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Disponívelem: http://www.mec.gov.br Acesso em: 22 mar. 2004.

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