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10 Sermões VOL. II, por Robert Murray M'cheyne

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Traduzido dos originais em Inglês

The Sermons of the Rev. Robert Murray M'Cheyne

Minister of St. Peter's Church, Dundee.

&

A Basket of Fragments

By R. M. M'Cheyne

Tradução e Revisão por William Teixeira e Camila Almeida

Capa por William Teixeira

1ª Edição: Janeiro de 2015

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, sob a licença Creative

Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,

desde que informe o autor, a fonte original e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

nem o utilize para quaisquer fins comerciais.

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Sumário

Prefácio ................................................................................................................................. 4

Reformação Pessoal e Na Oração Secreta ............................................................................... 5

Sermão 1 — A Voz do Meu Amado........................................................................................ 15

Sermão 2 — O Constrangedor Amor de Cristo ....................................................................... 25

Sermão 3 — Pai, Eu Quero ................................................................................................... 35

Sermão 4 — Olhe Para Cristo Traspassado ........................................................................... 49

Sermão 5 — Cristo, o Único Refúgio ...................................................................................... 56

Sermão 6 — Pode Uma Mulher Esquecer? ............................................................................ 65

Sermão 7 — Gloriando-se na Cruz de Cristo .......................................................................... 71

Sermão 8 — Feliz És Tu, Ó Israel .......................................................................................... 78

Sermão 9 — Cristo, A Porta Para A Igreja .............................................................................. 87

Sermão 10 — Motivos Para Agarrar-se a Jesus ...................................................................... 91

Referências dos sermões que compõem este volume: .............................................................. 94

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Prefácio

Nosso coração transborda de gratidão e nossa boca de riso, pois alegre e reverentemente

reconhecemos: “Senhor, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas

obras. E seja sobre nós a formosura do Senhor nosso Deus, e confirma sobre nós a obra das

nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos” (Isaías 26:12; Salmos 90:17).

Este é o segundo volume da série “10 Sermões, por Robert Murray M'Cheyne. Os primeiros 10

sermões têm sido abençoadores, o nosso forte anseio é que estes sejam tanto quanto ou mais

do que aqueles, e prosperem naquilo que a Deus aprouver.

Estes sermões são muito preciosos aos nossos olhos, cada um deles nos traz doces lembran-

ças e excelentes meditações. A pena do mui amado Sr. M’Cheyne é como que cheia da luz do

conhecimento de Deus e do calor da piedade bíblica. Aqui há a doutrina que é segundo a

verdadeira piedade.

Muito anelamos que mais e mais almas possam se beneficiar desses sermões simples, mui

bíblicos e por isso belos, confortadores, edificantes. Aqui há amor e um coração fervendo com

palavras boas ao Noivo de nossas almas. Acredito que a maior necessidade de nossos dias é

de homens que amem a Cristo mais do que tudo, e sejam constrangidos por este amor a ponto

de O seguirem em todo o tempo, com espadas de dois fios nas mãos e com os altos louvores

nas gargantas, com vestes alvas e óleo puro sobre suas cabeças. Onde estão os homens que

amam a Jesus Cristo mais do que tudo? Deus o sabe.

O desejo de nosso coração é que a trombeta que soou por Dundee, na Escócia, há quase

duzentos anos atrás com toque suave e impetuoso, toque outra vez, mas agora no Brasil, que

a suavidade console os santos; e o estrugir impetuoso desperte os mortos de seu sono terrível,

e os descuidados de Sião sejam alertados pelo som certo, solene e urgente do Evangelho de

nosso Senhor Jesus Cristo.

Que o Senhor lhe conceda Sua livre a soberana graça, para que te lembres destas palavras na

glória e bem-aventurança eterna, no Céu, ao lado de nosso mui Amado Senhor e Salvador

Jesus Cristo; e não no inferno na companhia de Satanás e seus demônios, e não em tormen-

tos eternos. Nas palavras do piedoso pregador escocês: “Pode ser verdadeiramente dito para

todo pecador que lerá estas palavras, que você foi agora chamado, advertido, convidado a

escapar da ira vindoura, e para lançar-se a Cristo, que está posto diante de você. Se você não

obteve o suficiente para salvar-se, você obteve o suficiente para condenar-te”.

William Teixeira.

10 de maio de 2014.

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Reformação Pessoal e Na Oração Secreta

[Trecho de “A Biografia de Robert Murray M'Cheyne”, por Andrew A. Bonar • Editado]

O Sr. M'Cheyne intitula o exame de seu coração e vida de “Reforma” e este começa assim:

É dever dos ministros neste dia, que comecem a reforma da Religião e de suas vidas, famí-

lias e etc., com confissão de pecados passados, fervente oração por direção, graça e pleno

propósito de coração. “Ele purificará os filhos de Levi” (Malaquias 3:3). Os ministros são

colocados à parte, por um tempo para esta finalidade.

I. Reforma Pessoal.

Estou convencido de que obterei a maior quantidade de felicidade presente, farei mais para

a glória de Deus e o bem do homem, e terei a plena recompensa na eternidade, através da

manutenção de uma consciência sempre lavada no sangue de Cristo, por ser cheio do

Espírito Santo em todos os momentos e por obter mais de toda a semelhança com Cristo

em mente, vontade e coração, que seja possível para um pecador redimido alcançar neste

mundo.

Estou convencido de que, sempre que algo exteriormente, ou o meu coração interiormente,

a qualquer momento, ou em qualquer circunstância, contradiz isto — se alguém deve insi-

nuar que não é para a minha felicidade presente e eterna, e para a glória de Deus e minha

utilidade, a manutenção de uma consciência lavada pelo sangue, o ser completamente

cheio do Espírito e ser totalmente conforme à imagem de Cristo em todas as coisas — é a

voz do Diabo, o inimigo de Deus, o inimigo da minha alma e de todo o bem, a mais tola,

ímpia e miserável de todas as criaturas. Veja Provérbios 9:17: “As águas roubadas são

doces”.

1. Para manter uma consciência livre de ofensa, estou convencido de que eu devo confes-

sar mais os meus pecados. Eu penso que eu devo confessar o pecado no momento em

que eu perceba que isto seja pecado. Se eu estiver no trabalho, ou em estudo, ou mesmo

na pregação, a alma deve lançar um olhar de aversão ao pecado. Se eu continuar com o

serviço, deixando o pecado não confessado, eu prossigo com a consciência sobrecarre-

gada, e acrescento pecado a pecado. Eu penso que devo, em certos momentos do dia, em

meu melhor momento, digo, depois do almoço e depois do chá, confessar solenemente os

pecados das horas anteriores, e buscar a sua remissão completa.

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Encontro que o Diabo frequentemente faz uso da confissão de pecado para incitar nova-

mente à pratica do mesmo pecado confessado, de modo que eu tenho temo confiar na

confissão. Devo solicitar Cristãos experientes sobre isso. No momento, eu acho que devo

me esforçar contra este terrível abuso da confissão, em que o Diabo tenta me assustar ao

confessar. Eu devo obter todos os métodos para perceber a vileza dos meus pecados. Eu

devo me considerar como um descendente condenado de Adão, como participante de uma

natureza oposta a Deus desde o ventre materno (Salmos 51), como tendo um coração cheio

de toda a maldade, que contamina cada pensamento, palavra e ação, durante toda a minha

vida, desde o nascimento até a morte.

Eu devo confessar muitas vezes os pecados da minha mocidade, como Davi e Paulo, meus

pecados antes da conversão, os meus pecados desde a conversão, pecados contra a luz

e conhecimento, contra o amor e a graça, contra cada pessoa da Divindade.

Eu devo olhar para os meus pecados à luz da santa Lei, à luz da face de Deus, à luz da

cruz, à luz do trono de julgamento, à luz do inferno, à luz da eternidade.

Eu devo examinar os meus sonhos, meus pensamentos vagueantes, minhas predileções,

minhas ações recorrentes, meus hábitos de pensamento, sentimento, palavra e ação; as

calúnias de meus inimigos e as reprovações e até gracejos dos meus amigos, para des-

cobrir os traços de meu pecado predominante, como assunto para a confissão.

Eu devo ter um dia estabelecido de confissão, com jejum, digamos, uma vez por mês.

Eu devo ter um número de escritos assinalados, para trazer o pecado à lembrança.

Eu devo fazer uso de todas as aflições do corpo, do julgamento interior, das carrancas da

providência sobre mim mesmo, da casa, da paróquia, da igreja, ou do país, como apelos

de Deus para a confissão de pecado. Os pecados e aflições dos outros homens devem me

chamar para o mesmo.

Eu devo, nas noites de Sabath, e nas noites de Comunhão de Sabath, ter um cuidado espe-

cial para confessar os pecados de coisas sagradas.

Eu devo confessar os pecados de minhas confissões, suas imperfeições, objetivos pecami-

nosos, tendência hipócrita e etc., e olhar para Cristo como tendo confessado meus pecados

perfeitamente sobre Seu próprio sacrifício. Eu devo ir a Cristo para o perdão de cada

pecado. Ao lavar o meu corpo, eu devo lavar cada parte. Devo ser menos cuidadoso ao

lavar a minha alma?

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Eu devo ver o golpe que foi feito nas costas de Jesus por cada um dos meus pecados. Eu

devo ver a infinita pontada impressa através da alma de Jesus como uma eternidade de

meu inferno por meus pecados, e por todos eles. Eu devo ver que naquele derramamento

de sangue de Cristo há um infinito pagamento excessivo por todos os meus pecados. Em-

bora Cristo não tenha sofrido mais do que a justiça infinita exigiu, contudo Ele não poderia

sofrer de modo algum, sem, antes, estabelecer um resgate infinito.

Quanto eu peco, sinto uma relutância imediata para ir a Cristo. Tenho vergonha de ir. Sinto

como se não fizesse nenhum bem em ir, como se estivesse fazendo de Cristo um ministro

do pecado, indo direto do cocho do suíno para a melhor veste, e mil outras desculpas; mas

estou certo de que essas são todas mentiras vindas direto do inferno. João argumenta o

caminho oposto: “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai” [1 João 2:1];

Jeremias 3:1 e mil outras Escrituras são contra isso. Estou certo de que não há nem paz

nem segurança provinda do mais profundo pecado, mas em ir diretamente ao Senhor Jesus

Cristo. Este é o caminho de Deus, da paz e da santidade. É tolice para o mundo e para o

coração obscurecido, mas este é o caminho.

Eu jamais devo considerar um pecado pequeno demais a ponto de não necessitar da aplica-

ção imediata do sangue de Cristo. Se eu lançar fora uma boa consciência, eu farei naufrágio

na fé. Nunca devo pensar que os meus pecados são tão grandes, tão graves, tão presun-

çosos como quando feitos de joelhos, ou na pregação, ou em um leito de morte, ou durante

uma doença perigosa, para me impedir de fugir para Cristo. O peso dos meus pecados

deve agir como o peso de um relógio: quanto mais pesado ele é, mais rápido ele o faz ir.

Eu não devo apenas me lavar no sangue de Cristo, mas vestir-me da obediência de Cristo.

Para cada pecado de omissão em mim, que eu possa encontrar uma obediência Divina-

mente perfeita e pronta para mim em Cristo. Para cada pecado de comissão em mim, que

eu não apenas possa encontrar um golpe ou uma ferida em Cristo, mas também uma

perfeita prestação de obediência em meu lugar, para que a Lei seja magnificada, a sua

maldição mais do que cumprida, sua demanda mais do atendida.

Muitas vezes a Doutrina de Cristo parece-me comum, bem conhecida, não tendo nada de

novo nela. E sou tentado a passar por ela e ir para alguma Escritura mais atrativa. Isto é o

Diabo de novo; uma mentira como uma brasa viva. Cristo é para nós sempre novo, sempre

glorioso. “Riquezas incompreensíveis de Cristo” [Efésios 3:8]; um objeto infinito e o único

para uma alma culpada. Eu devo ter certas Escrituras disponíveis, que conduzam a minha

alma cega diretamente para Cristo, tal como Isaías 45 e Romanos 3.

2. Para ser cheio do Espírito Santo, estou certo de que eu devo estudar mais a minha pró-

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pria fraqueza. Que eu devo ter um número de Escrituras prontas para serem meditadas tais

como Romanos 7 e João 15, para convencerem-me de que eu sou um verme desamparado.

Sinto-me tentado a pensar que eu sou agora um Cristão confirmado, que eu venci este ou

aquele desejo há muito tempo, que eu adquiri o hábito da graça oposta, de modo que não

há temor; que eu posso aventurar-me muito perto da tentação, mais perto do que os outros

homens. Isto é uma mentira de Satanás. A pólvora não pode adquirir por hábito, um poder

de resistir ao fogo, de modo a não produzir a faísca. Enquanto o pó está molhado, ele re-

siste à faísca, mas quando ele se torna seco, está pronto a explodir ao primeiro toque. En-

quanto o Espírito habita em meu coração, Ele me amortece para o pecado, de modo que,

se legalmente chamado a passar pela tentação, eu posso confiar que Deus me conduz.

Mas quando o Espírito me deixa, eu sou como pólvora seca. Oh, uma percepção disso!

Sinto-me tentado a pensar que há alguns pecados pelos quais não tenho gosto natural,

como a bebida forte, linguagem profana e etc., de forma que eu não preciso temer a tenta-

ção por tais pecados. Isto é uma mentira, uma mentira orgulhosa, presunçosa. As sementes

de todos os pecados estão em meu coração, e talvez de todas as mais perigosas são as

que eu não vejo.

Eu deveria orar e trabalhar pela mais profunda sensibilidade de minha fraqueza e impo-

tência do que jamais um pecador foi levado a sentir. Estou desamparado em relação a cada

concupiscência que sempre esteve, ou sempre estará no coração humano. Sou um verme,

um animal diante de Deus. Muitas vezes eu tremo ao pensar que isso é verdade. Eu sinto

como se não fosse seguro a mim, renunciar a toda força que habita interiormente, como se

fosse perigoso que eu sinta (o que é verdade) que não há nada em mim guardando-me do

pecado mais grosseiro e mais vil. Esta é uma ilusão do Diabo.

Minha única segurança é saber, sentir e confessar minha impotência, para que eu possa

pendurar-me no braço da Onipotência. Eu diariamente desejo que o pecado seja erradica-

do do meu coração. Eu digo: “por que Deus permite a raiz de lascívia, orgulho, raiva e etc.

no meu peito? Ele odeia o pecado, e eu o odeio também; por que Ele não o purifica?”. Eu

conheço muitas respostas a isto que satisfazem completamente o meu julgamento, mas

ainda assim, não me sinto satisfeito. Isso é errado. É correto estar cansado de estar pecan-

do, mas não é correto contender com meu presente “bom combate da fé”.

As quedas em pecado de professos me fazem tremer. Eu tenho sido afastado da oração, e

sobrecarregado de uma forma temerosa por ouvir ou ver o seu pecado. Isso é errado. É

correto tremer, e fazer de cada pecado de todo professo uma lição da minha própria impo-

tência, mas isso deveria levar-me mais para Cristo. Se eu estivesse mais profundamente

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convencido de meu completo desamparo, penso que não ficaria tão alarmado quando ouço

das quedas de outros homens.

Eu devo estudar aqueles pecados em que sou mais impotente, em que a paixão se torna

como um furacão e eu como uma palha. Nenhuma figura de linguagem pode representar a

minha absoluta falta de poder para resistir à torrente de pecado. Eu devo estudar mais a

onipotência de Cristo: Hebreus 7:25, 1 Tessalonicenses 5:23, Romanos 6:14; 5:9; cap. 10

e Escrituras semelhantes deveriam estar sempre diante de mim.

O espinho de Paulo (2 Coríntios 12), é a experiência da maior parte da minha vida. Isso

deve estar sempre diante de mim. Existem muitos métodos auxiliares de buscar a liberta-

ção dos pecados, que não devem ser negligenciados, como: casamento (1 Coríntios 7:2);

fuga (1 Timóteo 6:11, 1 Coríntios 6:18); vigiar e orar (Mateus 26:41); a Palavra, “está escrito,

está escrito”, assim, Cristo Se defendeu em Mateus 4. Mas a defesa principal é lançar-me

nos braços de Cristo como uma criança indefesa, e suplicar-Lhe que me encha com o

Espírito Santo. “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. João 5:4-5 é uma passa-

gem maravilhosa.

Eu devo estudar mais sobre Cristo como um Salvador, como um Pastor, carregando a ove-

lha que Ele encontra; como um Rei, reinando nas e sobre as almas que Ele redimiu; como

um Capitão, lutando contra aqueles que lutam comigo (Salmos 35); como Aquele que se

comprometeu a conduzir-me através de todas as tentações e provações, mesmo impossí-

veis para a carne e sangue.

Muitas vezes sou tentado a dizer: “Como pode este Homem nos salvar? Como Cristo no

céu pode livra-me das paixões furiosas que sinto em mim, e das redes que sinto prendendo-

me?” Isto é o pai da mentira novamente! “Ele pode salvar perfeitamente” [Hebreus 7:5].

Eu devo estudar sobre Cristo como um Intercessor. Ele orou mais por Pedro, que era o

mais tentado. Eu estou em Seu peitoral. Se eu pudesse ouvir Cristo orando por mim na sala

ao lado, eu não temeria um milhão de inimigos. Contudo, a distância não faz diferença; Ele

está orando por mim.

Eu devo estudar mais sobre o Consolador, Sua Divindade, Seu amor, Sua onipotência.

Tenho encontrado por experiência que nada me santifica tanto quanto meditar sobre o

Consolador (João 14:16). E ainda assim, como é raro que eu faça isso! Satanás me afasta

disso. Muitas vezes sou como aqueles homens que disseram que não sabiam que havia

algum Espírito Santo. Eu nunca devo esquecer que meu corpo é habitado pela terceira

pessoa da Trindade. Somente pensar nisso, deve fazer-me tremer a pecar (1 Coríntios 6).

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Eu nunca devo esquecer que o pecado entristece o Espírito Santo, irrita e extingue-O. Se

eu quero ser cheio do Espírito Santo, sinto que devo ler mais a Bíblia, orar mais e vigiar

mais.

3. Para obter plena semelhança com Cristo, eu devo ter uma alta estima da bem-aventu-

rança disso. Estou persuadido de que a alegria de Deus está inseparavelmente ligada à

Sua santidade. Santidade e alegria são como luz e calor. Deus nunca provou dos prazeres

do pecado.

Cristo teve um corpo como o que eu tenho, mas Ele nunca provou um dos prazeres do

pecado, e por toda a eternidade, ele nunca provará um dos prazeres do pecado. Ainda

assim, a sua felicidade é completa. Seria minha maior felicidade ser desde já inteiramente

como Ele. Cada pecado é algo que me distancia do meu maior prazer. O Diabo se esforça

dia e noite para me fazer esquecer disso ou não acreditar nisso. Ele diz: Por que você não

desfruta deste prazer, tanto quanto Salomão ou Davi? Você pode ir para o céu também.

Estou convencido de que isso é uma mentira. Que a minha verdadeira felicidade seja

prosseguir e não mais pecar.

Eu não devo adiar o abandono de pecados. Agora é o tempo de Deus. “Apressei-me, e não

me detive” [Salmos 119:60]. Eu não deveria poupar os pecados, porque eu tenho há muito

tempo consentido com eles como enfermidades, e outros achariam estranho se eu devesse

mudar tudo de uma vez. Que ilusão miserável de Satanás isto é!

Tudo o que eu percebo ser pecado, eu devo, a partir desta hora, colocar toda a minha alma

contra ele, usando todos os métodos bíblicos para mortificá-lo, como as Escrituras, oração

especial pelo Espírito, jejum e vigilância.

Eu deveria observar rigorosamente as ocasiões em que eu caí, e evitar a ocasião, tanto

quanto o próprio pecado.

Satanás muitas vezes me tenta a ir tão perto quanto possível das tentações, sem cometer

o pecado. Isto é temeroso, pois isso tenta a Deus e entristece o Espírito Santo. É uma trama

profunda colocada por Satanás.

Eu devo fugir de toda a tentação, de acordo com Provérbios 4:15: “Evita-o; não passes por

ele; desvia-te dele e passa de largo”. Eu devo, constantemente, derramar o meu coração a

Deus, orando por inteira conformidade com Cristo, para que toda a lei seja escrita no meu

coração. Eu devo resoluta e solenemente entregar meu coração a Deus, entregar o meu

tudo em Seus braços eternos, de acordo com a oração de Salmos 31: “Nas tuas mãos

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entrego o meu espírito”, suplicando-Lhe para não deixar que qualquer iniquidade, secreta

ou presunçosa, tenha domínio sobre mim e me encha de toda graça que está em Cristo no

mais elevado nível que for possível para um pecador redimido recebê-la, e em todos os

momentos, até a morte.

Eu devo meditar muitas vezes no Céu como um mundo de santidade, onde todos são san-

tos, onde a alegria é uma alegria santa, a obra uma obra santa; de modo que, sem a san-

tidade pessoal, eu nunca posso estar ali. Eu devo evitar a aparência do mal. Deus me

ordena, e eu encontro que Satanás tem uma arte singular em associar a aparência e a

realidade, confundindo-as.

Eu encontro que falar de alguns pecados contamina a minha mente e me leva à tentação,

e encontro que Deus proíbe até mesmo os santos de falarem das coisas que são feitas por

eles em oculto. Eu deveria evitar isso.

Eva, Acã, Davi, todos caíram através da concupiscência dos olhos. Eu devo fazer uma

aliança comigo, e orar: “Desvia os meus olhos de contemplar a vaidade”. Satanás torna os

homens não-convertidos como a víbora surda, ao som do Evangelho. Eu devo orar para

ser feito surdo pelo Espírito Santo a todos que querem me seduzir ao pecado.

Um de meus momentos mais frequentes de ser levado à tentação é esse: Eu digo que é

necessário para o meu ofício que eu escute isso, ou olhe para isso, ou fale disso. Até agora,

isto é verdadeiro; ainda assim, tenho certeza que Satanás tem sua parte nesse argumento.

Eu devo procurar a direção Divina para resolver o quanto isso será benéfico para o meu

ministério, e quão maligno para a minha alma, para que eu possa evitar este último.

Estou convencido de que nada está prosperando na minha alma a menos que isso esteja

acontecendo: “Crescei na graça”, e “Senhor: Acrescenta-nos a fé”, e “Esquecendo-me das

coisas que atrás ficam”. Estou convencido de que eu deveria estar perguntando a Deus e

ao homem que graça eu necessito, e como eu posso tornar-me mais semelhante a Cristo.

Eu devo lutar por mais pureza, humildade, mansidão, paciência sob o sofrimento e amor.

“Faça-me semelhante a Cristo em todas as coisas” deve ser a minha constante oração.

“Enche-me com o Espírito Santo”.

II. Reforma na Oração Secreta.

Eu não devo omitir qualquer uma das partes da oração: confissão, adoração, ação de

graças, petição e intercessão.

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Há uma temerosa tendência de omitir a confissão, proveniente dos baixos pontos de vista

sobre Deus e Sua lei, débeis visões de meu coração e pecados passados de minha vida.

Isso deve ser resistido. Há uma tendência constante para omitir a adoração, quando eu

esqueço com Quem eu estou falando, quando eu corro descuidadamente da presença do

Senhor, sem lembrar-me de Seu nome e caráter temíveis, quando eu tenho pequena visão

de Sua glória, e pouca admiração por Suas maravilhas. “Onde está o sábio?”. Tenho a

tendência natural do coração para omitir a ação de graças. Ainda assim isto é especial-

mente ordenado em Filipenses 4:6. Muitas vezes, quando o coração está egoísta, insen-

sível para a salvação dos outros, eu omito a intercessão. Embora, este é especialmente o

espírito do grande Advogado, que tem o nome de Israel sempre em Seu coração.

Talvez nem toda oração precise ter todas estas, mas com certeza, um dia não deveria pas-

sar sem algum tempo fosse dedicado a cada uma.

Eu deveria orar antes de ver qualquer pessoa. Muitas vezes, quando eu durmo muito, ou

encontro-me com outros logo cedo, e depois, tenho a oração familiar, e café da manhã, e

pessoas que me procuram pela manhã, frequentemente são onze horas ou meio-dia, antes

que eu comece a oração secreta. Isto é um sistema miserável. Isto é antibíblico. Cristo

ressuscitou antes do amanhecer, e foi para um lugar solitário. Davi diz: “Pela manhã ouvirás

a minha voz, ó Senhor; pela manhã apresentarei a ti a minha oração, e vigiarei” [Salmos

5:3]. Maria Madalena foi ao sepulcro, sendo ainda escuro. A oração familiar perde muito de

sua força e doçura; e eu não posso fazer nada de bom por aqueles que vêm me procurar.

A consciência sente-se culpada, a alma em jejum, a lâmpada não avivada. Então, quando

a oração secreta vem, a alma está muitas vezes fora de sintonia. Eu sinto que é muito

melhor começar com Deus, ver Seu rosto primeiro, aproximar a minha alma dEle, antes

que eu me aproxime de outrem. “Quando acordo ainda estou Contigo” [Salmos 139:18].

Se eu dormi por muito tempo, ou viajar cedo, ou se o meu tempo é de qualquer forma abre-

viado, é melhor vestir-me apressadamente, e ter alguns minutos a sós com Deus do que

dar isto por perdido.

Mas, em geral, é melhor ter pelo menos uma hora a sós com Deus, antes de se envolver

em qualquer outra coisa. Ao mesmo tempo, tenho que ter cuidado para não contar a comu-

nhão com Deus por minutos ou horas, ou pela solidão. Tenho me debruçado sobre a minha

Bíblia e de joelhos por horas, com pouca ou nenhuma comunhão, e meus momentos de

solidão têm sido, muitas vezes, os de maior tentação.

Quanto à intercessão, eu devo interceder diariamente pela minha própria família, conheci-

dos, parentes e amigos; também pelo meu rebanho: os crentes, os despertados, os descui-

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dados, os doentes, os enlutados, os pobres, os ricos, meus anciãos, os professores da

Escola Dominical, professores da escola diária, crianças e distribuidores de sermões; para

que todos os meios sejam abençoados: a pregação e ensino de Sabath, a visita aos

doentes, a visita de casa em casa; providências e sacramentos.

Eu devo diariamente interceder brevemente por toda a cidade, pela Igreja da Escócia, por

todos os ministros fiéis, pelas congregações, pelos estudantes de teologia e etc., pelos que-

ridos irmãos nominalmente, por missionários enviados aos judeus e Gentios, e para este

fim, eu preciso compreender a inteligência missionária regularmente, e familiarizar-me com

tudo o que estão fazendo em todo o mundo. Isso deveria me estimular a orar com um mapa

diante de mim. Tenho que ter um esquema de oração, também os nomes dos missionários

marcados no mapa. Eu devo interceder, em geral, mais na manhã e noite de Sabath, das

sete às oito.

Talvez eu também possa tomar diferentes partes em diferentes dias; eu apenas devo plei-

tear diariamente por minha família e rebanho. Eu devo orar sobre tudo. “Não estejais inquie-

tos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus

pela oração e súplica, com ação de graças” [Filipenses 4:6]. Muitas vezes eu recebo uma

carta me solicitando para pregar, ou algum pedido semelhante. Encontro-me respondendo

antes de ter pedido conselho a Deus. Ainda mais frequentemente uma pessoa me chama

e me pede alguma coisa, e eu não solicito direção. Muitas vezes eu saio para visitar uma

pessoa doente com pressa, sem pedir Sua bênção, o que por si só pode fazer a visita de

alguma utilidade. Estou convencido de que eu nunca devo fazer nada sem oração, e, se for

possível, especial oração secreta.

Ao ler a história da Igreja da Escócia, eu vejo o quanto seus problemas e tribulações têm

sido relacionados com a salvação das almas e a glória de Cristo. Eu devo orar muito mais

por nossa igreja, por nossos principais ministros nominalmente, e pela minha própria clara

orientação no caminho correto, para que eu não seja levado a desviar-me, ou me conduza

de modo a desviar-me de seguir a Cristo. Muitas questões difíceis podem ser forçadas

sobre nós para as quais eu não estou totalmente preparado, como a legalidade das alian-

ças. Eu deveria orar muito mais em dias de paz, para que eu possa ser guiado corretamente

quando os dias de tribulações vierem.

Eu devo passar as melhores horas do dia em comunhão com Deus. Este é a minha mais

nobre e mais frutífera ocupação, e isto não deve ser empurrado para qualquer canto. As

primeiras horas da manhã, de seis às oito, são as mais ininterruptas, e, portanto, devem

ser assim empregadas, se eu puder evitar a sonolência. Um pouco de tempo após o almoço

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pode ser dedicado à intercessão. Após o chá é o meu melhor horário, e este deve ser

solenemente dedicado a Deus, se possível.

Eu não devo abandonar o velho e bom hábito de orar antes de ir para a cama; mas a vigi-

lância deve ser mantida contra o sono; planejar as coisas que devo pedir é o melhor remé-

dio. Quando eu despertar no meio da noite, eu devo levantar-me e orar, como Davi e como

John Welsh fizeram.

Eu devo ler três capítulos da Bíblia, em segredo, todos os dias, no mínimo.

Eu devo, no Sabath, pela manhã, olhar todos os capítulos lidos durante a semana, e especi-

almente os versículos marcados. Eu devo ler em três diferentes lugares, e devo também ler

de acordo com os temas, biografias e etc.

Ele, evidentemente, deixou isso inacabado, e agora ele O conhece como também é conhe-

cido.

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1

A Voz do Meu Amado

“Esta é a voz do meu amado; ei-lo aí, que já vem saltando sobre os montes,

pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do

veado; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando

pelas grades. O meu amado fala e me diz: Levanta-te, meu amor, formosa minha, e

vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem as flores

na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra.

A figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma;

levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Pomba minha, que andas pelas fendas

das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz,

porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa. Apanhai-nos as raposas, as

raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor. O

meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios.

Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante

ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter.” (Cânticos 2:8-17)

Não há nenhum livro da Bíblia que proporcione um melhor teste da profundidade do Cristia-

nismo de um homem do que o Cântico dos Cânticos. (1) Se a religião de um homem estiver

toda em sua cabeça, uma estrutura bem definida de doutrinas, construída como trabalho

de pedreiro, pedra sobre pedra, mas não exercer nenhuma influência sobre o seu coração,

este livro não pode deixar de ofendê-lo; pois, nele não há declarações rígidas de doutrina

sobre as quais a sua religião sem coração possa ser construída. (2) Ou, se a religião de um

homem for toda em sua imaginação; se, como Flexível em O Peregrino, ele seja levado

pela beleza exterior do Cristianismo; se, como a semente lançada sobre o solo rochoso, a

sua religião é estabelecida apenas nas faculdades superficiais da mente, enquanto o

coração permanece rochoso e impassível; embora ele desfrute deste Livro, mais do que o

primeiro homem, ainda assim, há um ar misterioso de íntima comoção nele, em que não

pode senão fazê-lo tropeçar e ofender-se. (3) Mas se a religião de um homem for a religião

do coração; se ele não tem não apenas doutrinas em sua cabeça, mas o amor de Jesus

em seu coração; se ele não tem somente ouvido e lido do Senhor Jesus, mas tem sentido

a sua necessidade dEle, e foi levado a apegar-se a Ele, como o primeiro entre dez mil, e

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totalmente desejável, então este livro será inestimavelmente precioso para sua alma; pois

contém os mais ternos suspiros do coração do crente pelo Salvador, e os mais ternos

desejos do coração do Salvador em direção ao crente.

“O seu assunto é totalmente sublime, espiritual e místico; e as formas de sua composi-

ção, universalmente alegóricas” — John Owen.

Há uma concordância entre os melhores intérpretes deste Livro — (1) Que ele consiste não

de um cântico, mas de muitas canções; (2) que esses cânticos estão em uma forma

dramática; e (3) que, como as parábolas de Cristo, elas contêm um significado espiritual,

sob a veste e ornamentos de alguns episódios poéticos.

A passagem que eu li compõe um destes cânticos dramáticos, e o tema deste é uma visita

repentina que uma noiva oriental recebe de seu senhor ausente. A noiva é representada

para nós como sentada sozinha e desolada em um quiosque, ou bosque oriental — um

lugar seguro e de retraimento nos jardins do Oriente — descrito por viajantes modernos

como “um bosque cercado por um muro verde, coberto por videiras e jasmins, com janelas

de gelosias”.

Os montes de Beter (ou, como estão no limiar, os montes da divisão), os montes que a

separam de seu amado, parecem quase intransponíveis. Eles parecem tão íngremes e

escarpados, que ela teme que ele nunca mais consiga vir por sobre eles para visitá-la. Seu

jardim não possui nenhuma beleza que a atraia a seguir adiante. Toda a natureza parece

participar de sua tristeza; o inverno reina por fora e por dentro; nenhuma flor aparece na

terra; todos os pássaros canoros parecem estar tristes e silenciosos sobre as árvores; e a

voz de amor da rola não é ouvida na terra.

É enquanto ela está sentada, assim, solitária e desolada que a voz de seu amado alcança

o seu ouvido. O amor é rápido em ouvir a voz que é amada; e, portanto, ela ouve mais rápi-

do do que todas as suas donzelas, e o cântico inicia com a sua exclamação impetuosa:

“Esta é a voz do meu amado!”. Quando ela sentou-se em sua solidão, as montanhas entre

ela e seu senhor pareciam quase intransponíveis, elas eram tão elevadas e íngremes; mas

agora ela vê com que rapidez e facilidade ele salta estes montes, de forma que ela pode

compará-lo a nada além de um gamo, ou ao jovem cervo, as criaturas mais formosas e

mais rápidas das montanhas. “O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do veado”.

Sim, enquanto ela está falando, ele já chegou ao muro do jardim; e agora, eis que “ele olha

pelas janelas, espreitando pelas grades”. A noiva, a seguir, nos relata o convite suave, que

parece ter sido o cântico de seu amado vindo tão rapidamente sobre os montes. Enquanto

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ela se sentava solitária, toda a natureza parecia morta, o inverno reinava; mas agora ele diz

a ela que ele trouxe o tempo da primavera, juntamente consigo. “Levanta-te, meu amor, for-

mosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem

as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A

figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, meu

amor, formosa minha, e vem”.

Movida por este convite premente, ela sai de seu lugar de retraimento para a presença de

seu senhor, e se apega a ele como uma temerosa pomba das fendas das rochas; e, em se-

guida, ele se dirige a ela com estas palavras da mais terna e delicada afeição: “Pomba mi-

nha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face,

faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa”. Alegremente

concordando em ir adiante com seu senhor, ela ainda lembra que esta é a época de maior

perigo para as vinhas, devido as raposas que mordiscam a casca das vinhas; e, portanto,

ela não sairá sem deixar o comando de cautela para as suas donzelas: “Apanhai-nos as

raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”.

Ela, então, renova a aliança de seu casamento com o seu amado, com estas palavras de

pertinente afeição: “O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre

os lírios”. E por fim, por ela saber que esta temporada de comunhão íntima não durará, já

que o seu amado deve sair novamente sobre os montes, ela não suportará que ele vá, sem

rogar-lhe que frequentemente renove estas visitas de amor, até que amanheça aquele dia

feliz em que eles não mais precisaram estar separados: “Até que refresque o dia, e fujam

as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre

os montes de Beter”.

Podemos muito bem desafiar o mundo inteiro de gênios para produzirem em qualquer

idioma um poema como este — tão pequeno, tão abrangente, tão delicadamente bonito.

Porém, o que é muito mais para o nosso atual propósito, não há nenhuma parte da Bíblia

que desvele mais lindamente um pouco da experiência mais íntima do coração do crente.

Olhemos, então, agora para a parábola como uma descrição de uma dessas visitas que o

Salvador muitas vezes faz às almas crentes, quando Ele manifesta-se a eles de forma

diferente do que o faz ao mundo.

I. QUANDO O CRENTE ESTÁ SOZINHO.

Quando Cristo está longe da alma do crente, ele se sente solitário.

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Nós vimos na parábola, que quando o seu senhor foi embora, a noiva estava sentada

sozinha e desolada. Ela não se importou com a juventude e alegria para animarem as suas

horas solitárias. Ela não solicitou a harpa do menestrel para acalmá-la em sua solidão. Não

havia flauta, nem adufe, nem vinho em suas festas. Não, ela sentou-se sozinha. Os montes

pareciam quase intransponíveis. Toda a natureza participou de sua tristeza. Se ela não

podia estar feliz sem à luz da face do seu senhor, ela estava decidida a não alegrar-se com

mais nada. Ela sentou-se solitária e desolada. Exatamente assim é com o verdadeiro crente

em Jesus. Quaisquer que sejam os montes de Beter que estejam entre a sua alma e Cristo,

se ele foi seduzido por velhos pecados, de forma que as suas iniquidades fazem separação

entre ele e o seu Deus; e os seus pecados encobrem o Seu rosto dele, para que não lhe

ouça [Isaías 59:2]; ou se o Salvador retirou por um momento, a luz consoladora de Sua

presença para a simples prova da fé de Seu servo, para ver, se ele, quando anda em trevas,

e não tem luz nenhuma, confia no nome do Senhor, e firma-se sobre o seu Deus [Isaías

50:10].

Quaisquer que sejam os montes de separação, é a evidência segura de um crente que ele

se assentará desolado e sozinho. Ele não consegue rir, longe de seus intensos cuidados,

como os homens mundanos podem fazer. Ele não consegue mergulhar-se na taça da

intemperança, como os miseráveis homens cegos podem fazer. Mesmo o inocente vínculo

da amizade humana não traz nenhum bálsamo para a sua ferida, ou melhor, até mesmo a

comunhão com os filhos de Deus agora é desagradável para a sua alma. Ele não consegue

apreciar o que ele gostava antes, quando aqueles que temiam ao Senhor falavam um com

o outro. Os montes entre ele e o Salvador parecem tão vastos e intransponíveis, que teme

que Ele nunca mais o visitará. Toda a natureza participa de sua tristeza, o inverno reina por

fora e por dentro. Ele senta-se sozinho, e fica desolado. Estando aflito, ele ora; e o peso de

sua oração é o mesmo daquele de um velho crente: “Senhor, se eu não posso me contentar

com a luz de Tua face, que me concedas não ser feliz com nada mais; pois a alegria sem

Ti é morte”.

Ah! meus amigos, vocês conhecem algo sobre esse sofrimento? Vocês sabem que é, as-

sim, sentar-se sozinho e estar desolado, porque Jesus está fora da vista? Se vocês o sa-

bem, então se alegrem, se é possível, mesmo em meio a vossa tristeza! Pois, essa mes-

ma tristeza é uma das marcas que vocês são crentes, de forma que vocês encontram toda

a vossa paz e toda a vossa alegria na união com o Salvador.

Mas ah, quão oposto é o caminho da maioria de vocês! Vocês não conhecem nada dessa

tristeza. Sim, talvez vocês zombem disso. Vocês conseguem estar felizes e contentes com

o mundo, mas vocês nunca tiveram uma visão de Jesus. Vocês podem estar felizes com

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seus companheiros, embora o sangue de Jesus nunca tenha sussurrado paz à tua alma.

Ah, quão evidente é que vocês estão se apressando para o lugar onde “não há paz para os

ímpios, diz o meu Deus” [Isaías 57:21].

II. A VINDA DE CRISTO ATÉ O CRENTE.

A vinda de Cristo até o crente desolado é, muitas vezes, súbita e maravilhosa.

Nós vimos na parábola, que foi quando a noiva estava sentada sozinha e desolada que ela

ouviu, de repente, a voz do seu senhor. O amor é rápido em ouvir, e ela exclama: “A voz

do meu amado!”. Antes, achava as montanhas quase intransponíveis; mas agora ela pode

comparar a rapidez dele a nada, a não ser ao gamo, ou ao filho do veado. Sim, enquanto

ela fala, ele está na parede, na janela, mostrando-se através da grade. Muitas vezes, exata-

mente assim ocorre com o crente. Enquanto ele se senta sozinho e desolado, os montes

da separação parecem uma barreira vasta e intransponível para o Salvador, e ele teme que

Cristo nunca volte. Os montes de provocações de um crente são frequentemente mui gran-

des. “Que eu tenha pecado novamente, eu que fui lavado no lavado no sangue de Jesus.

É pouco que os outros homens pequem contra Ele; eles nunca O conheceram, nunca O

amaram como eu amei. Certamente eu sou o maior dos pecadores, e pequei demais, meu

Salvador. Os montes de minhas provocações cresceram até o céu, e Ele nunca mais poderá

voltar para mim”. Assim é que o crente escreve coisas amargas contra si mesmo; e nessa

ocasião, é que muitas vezes ele ouve a voz de seu Amado. Algum texto da Palavra, ou

alguma palavra de um amigo Cristão, ou alguma parte de um sermão, mais uma vez revela

Jesus em toda a Sua plenitude, o Salvador dos pecadores, até mesmo do principal. Ou pode

ser que Ele se dá a conhecer à alma desconsolada no partir do pão, e quando Ele fala as

palavras gentis: “Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós... Tomou o cálice,

dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que

beberdes, em memória de mim” [1 Coríntios 11:24-25]; então, ele exclama: “A voz do meu

amado! Eis que vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros”.

Ah! meus amigos, vocês conhecem alguma coisa desta alegre surpresa? Se conhecem,

por que vocês sempre sentam-se em desespero, como se a mão do Senhor estivesse

encolhida de forma que Ele não possa salvar, ou como se Seus ouvidos estivessem

agravados de forma que Ele não possa ouvir? Na hora mais tenebrosa digam: “Por que

estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois

ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus” [Salmos 42:11]. Venham

com expectativa à Palavra. Não venham com essa indiferença apática, como se nada que

um verme companheiro possa dizer seja digno de sua audição. Esta não é a palavra do

homem, mas a Palavra do Deus vivo. Venham com grandes esperanças, e então vocês

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encontrarão a promessa verdadeira, que Ele enche os famintos com coisas boas, embora

Ele despeça os ricos de mãos vazias.

III. A VINDA DE CRISTO MUDA TODAS AS COISAS.

A vinda de Cristo muda todas as coisas para o crente, e Seu amor é mais suave do que

nunca.

Nós vimos na parábola que, quando a noiva estava desolada e sozinha, toda a natureza

estava mergulhada em tristeza. Seu jardim não possuía encantos para levá-la adiante, pois

o inverno reinava dentro e fora. Mas quando o seu senhor veio tão rapidamente sobre os

montes, ele trouxe a primavera junto com ele. Toda a natureza é alterada enquanto ele

avança, e seu convite é: “Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Porque eis que

passou o inverno”. Exatamente assim é com o crente, quando Cristo está ausente: tudo é

inverno na alma. Mas, quando Ele vem novamente sobre os montes da provação; Ele traz

uma temporada de feliz primavera junto consigo. Quando esse sol da justiça surge de novo

na alma, não apenas os Seus raios alegrantes caem sobre a alma do crente, mas toda a

natureza se alegra com a sua alegria. As montanhas e colinas irrompem em cânticos diante

dEle, e todas as árvores do campo batem palmas. É como uma mudança de estação para

a alma. É como que a súbita mudança das chuvas torrenciais de inverno sombrio para a

plena primavera colorida, que é tão peculiar aos climas do sol.

O mundo natural é totalmente modificado. Em lugar do espinheiro surge a faia, e em lugar

da sarça surge a murta. Cada árvore e campo possuem uma beleza nova para a alma feliz.

O mundo da graça é totalmente transformado. Antes a Bíblia estava completamente seca

e sem sentido; agora, que inundação de luz é derramada sobre as suas páginas! Quão

plena, quão revigorante, quão rica em significado, como suas frases mais simples tocam o

coração! Antes a casa de oração estava completamente triste e melancólica antes, os seus

serviços eram áridos e insatisfatórios; mas agora, quando o crente vê o Salvador, como ele

O viu no interior do santo lugar, seu clamor é: “Quão amáveis são os teus tabernáculos,

SENHOR dos Exércitos! Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil” [Salmos 84:1,

10]. Antes o jardim do Senhor estava todo triste e desanimado; agora a ternura em direção

aos não-convertidos brota revigorada, e o amor ao povo de Deus arde no peito, aqueles

que temem ao Senhor falam-se frequentemente. O tempo de cantar os louvores de Jesus

chega, e a voz amorosa da rola a Jesus é mais uma vez ouvida na terra; a videira do Senhor

frutifica, e a romã floresce, e a voz de Cristo para a alma é: “Levanta-te, meu amor, formosa

minha, e vem”.

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Como a pomba temerosa perseguida pela águia, e quase feita uma presa, com asa vibrante

e ansiosa, esconde-se mais profundamente do que nunca nas fendas das rochas, e nos

lugares secretos do precipício, assim o crente caído, a quem Satanás desejou capturar,

para que pudesse peneirá-lo como trigo, quando ele é restaurado mais uma vez com a pre-

sença toda-graciosa do seu Salvador, apega-se a Ele com fé vibrante, desejosa, e esconde-

se mais profundamente do que nunca nas feridas de seu Salvador. Foi assim com Pedro

ao cair, quando ele tão gravemente negou o seu Senhor, ainda assim, quando trazido nova-

mente à visão de seu Salvador, de pé sobre a terra, foi o único dos discípulos que se cingiu

com sua capa de pescador, e lançou-se ao mar para nadar até Jesus; e assim como aquele

apóstolo caído, quando mais uma vez ele se escondeu na Rocha Eterna, descobriu que o

amor de Jesus era mais terno em relação a ele do que nunca, quando ele começou aquela

conversa, que, mais do que todas as outras na Bíblia, combina a mais amável das

reprovações com o mais amável dos incentivos: “Simão, filho de Jonas, amas-me mais do

que estes?” [João 21:15]. Exatamente assim cada crente caído encontra que quando

novamente ele está escondido nas feridas recém-abertas do seu Senhor, a fonte de Seu

amor começa a fluir renovada, e o ribeiro de bondade e afeição é mais pleno e transbor-

dante do que nunca, porque a Sua palavra é: “Pomba minha, que andas pelas fendas das

penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua

voz é doce, e a tua face graciosa”.

Ah, meus amigos, vocês conhecem alguma coisa disto? Vocês já experimentaram essa vin-

da de Jesus sobre o monte de vossas provocações, enquanto fez uma mudança de estação

em vossa alma? E você, crente caído, encontrado, quando se escondeu nova e mais pro-

fundamente do que nunca nas fendas das rochas — como Pedro cingindo sua capa de

pescador, e lançando-se ao mar — você encontrou o Seu amor mais terno do que nunca

em sua alma? Então, isto não deveria ensinar-lhe o arrependimento rápido quando você

cai? Por que manter-se por um momento sequer longe do Salvador? Você está esperando

até que você mesmo limpe as manchas de sua veste? Ai! o que a purificará, senão o sangue

que você está desprezando? Você está esperando até que torne a si mesmo digno da graça

do Salvador? Ai! Embora você espere por toda a eternidade, você nunca poderá tornar-se

mais digno. O seu pecado e miséria são sua única súplica. Venha, e você encontrará com

que ternura Ele curará as suas rebeliões, e o amará voluntariamente, e dirá: “Pomba minha”

e etc.

IV. CRISTO DESPERTA TEMOR, AMOR E ESPERANÇA.

Eu observo a tríplice disposição de temor, amor e esperança, que esta visita do Salvador

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desperta no seio do crente. Estes três formam, por assim dizer, um cordão no coração do

crente restaurado, e um cordão de três dobras não se quebra facilmente.

1. Temor Filial.

Em primeiro lugar, há temor. Como a noiva na parábola não sairia para desfrutar a comu-

nhão com seu senhor, sem deixar a ordem para que suas donzelas apanhassem as rapo-

sas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, assim cada crente sabe e sente que o tempo

da íntima comunhão é também o momento de maior perigo. Quando o Salvador foi batizado,

e o Espírito Santo, como uma pomba, desceu sobre Ele, e uma voz, disse: “Este é o meu

Filho amado, em quem me comprazo” [Mateus 3:17], foi, então, que Ele foi conduzido ao

deserto, para ser tentado pelo Diabo; e exatamente assim é quando a alma está recebendo

seus maiores privilégios e consolos, que Satanás e seus ministros estão mais próximos,

estes são as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas.

(1) O orgulho espiritual está próximo. Quando a alma está se escondendo nas feridas do

Salvador, e recebe grandes sinais de Seu amor, então o coração começa a dizer: Certa-

mente eu sou alguém, o quão acima eu estou da média crentes! Esta é uma das raposi-

nhas que comem a vida da piedade vital.

(2) Aqui há um valer-se de Cristo pelos seus consolos — olhando para seus consolos, e

não para Cristo — inclinando-se sobre eles, e não sobre o seu amado. Esta é outra das

raposinhas.

(3) Existe a falsa noção de que agora certamente você deve estar livre do pecado, e aci-

ma do poder da tentação, agora você pode resistir a todos os inimigos. Este é o orgulho

que vem antes da queda e é outra das raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas.

Nunca esqueçam, eu vos suplico, que o temor é uma evidência da segurança de um crente.

Mesmo quando vocês sentirem que é Deus quem opera em vocês, ainda assim, a Palavra

diz: “operai a vossa salvação com temor e tremor” [Filipenses 2:12]. Mesmo quando a vossa

alegria for transbordante lembrem-se do que está escrito: “alegrai-vos com tremor” [Salmos

2:11], e lembrem-se também do cuidado da noiva, e digam: “Apanhai-nos as raposas, as

raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”.

2. Apropriando-se do Amor.

Mas se o temor cauteloso é uma marca de um crente em tal período, ainda mais é o apro-

priar-se do amor. Quando Cristo vem novamente dos montes da provação, e revela-Se à

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alma livre e plenamente como sempre, de uma forma diferente do que o faz ao mundo,

então, a alma pode dizer: “O meu amado é meu, e eu sou dele”. Eu não digo que o crente

pode usar essas palavras em todas as estações. Em tempos de escuridão e em tempos de

pecado a realidade da fé de um crente deve ser medida antes por sua tristeza do que por

sua confiança. Mas eu digo, que nas temporadas em que Cristo revela-Se de novo à alma,

brilhando como o sol atrás de uma nuvem, com os raios do amor soberano, imerecido,

então nenhuma outra palavra satisfará o verdadeiro crente, senão estas: “O meu amado é

meu, e eu sou dele”. A alma vê Jesus como um Salvador tão gratuito, que tanto anseia que

todos venham a Ele e tenham vida, estendendo Suas mãos o dia todo, não tendo nenhum

prazer na morte do ímpio, clamando a os homens: “Convertei-vos, convertei-vos, por que

morrereis?”.

A alma vê Jesus como um Salvador tão apropriado, a própria cobertura que a alma neces-

sita. Quando ela primeiramente escondeu-se em Jesus, O encontrou adequado para todas

as suas necessidades, a sombra de uma grande rocha em terra sedenta. Mas, agora, ele

descobre uma nova adequação no Salvador, como Pedro, quando ele se cingiu com sua

capa de pescador, e lançou-se ao mar. Ela encontra que Ele é um Salvador adequado para

um crente caído; que Seu sangue pode apagar até mesmo as manchas daquele que, depois

de ter comido pão com Ele, ainda levantou o calcanhar contra Ele.

A alma vê Jesus como um Salvador pleno, concedendo ao pecador não apenas perdão,

mas transbordando perdões imensuráveis, concedendo não somente a justiça, porém a

justiça que é mais do que mortal, pois ela é totalmente Divina; concedendo não somente o

Espírito, mas derramando água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca. A alma vê tudo

isso em Jesus, e não pode deixar de escolhê-lO e deleitar-se nEle com amor renovado e

apropriado, dizendo: “O meu amado é meu”. E, se alguém perguntar, Como podes tu, verme

pecaminoso, chamar tal Divino Salvador de teu? A resposta está aqui: Porque eu sou dEle.

Ele me escolheu desde a eternidade, senão eu nunca O teria escolhido. Ele derramou Seu

sangue por mim, senão eu nunca teria derramado uma lágrima por Ele. Ele chorou por mim,

mas eu nunca teria suspirado por Ele. Ele procurou por mim, mais eu nunca O teria pro-

curado. Ele me amou, portanto, eu O amo. Ele me escolheu, por isso eu sempre O escolho.

“O meu amado é meu, e eu sou dele”.

3. Esperança Orante.

Mas, por fim, se o amor é uma marca do verdadeiro crente em tal temporada, assim também

é esperança em oração. Foi a palavra de um verdadeiro crente, em uma hora de comunhão

elevada e maravilhosa com Jesus: “Senhor, bom é estarmos aqui” [Mateus 17:4].

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Meu amigo, você não é crente se Jesus nunca Se manifestou à sua alma em suas devoções

secretas, na casa de oração ou no partir do pão, em forma tão doce e avassaladora, que

você clamou: “Senhor, é bom para mim estar aqui!”. Contudo, embora isso seja bom e muito

agradável, como a luz solar para os olhos, ainda assim, o Senhor vê que não é mais sábio

e melhor sempre estar ali. Pedro tem que descer novamente do monte da glória, e combater

o bom combate da fé em meio à vergonha e afronta de um mundo frio e desdenhoso.

E assim é com cada filho de Deus. Nós ainda não estamos no céu, o lugar da visão plena

e gozo eterno. Esta é a terra, o lugar da fé, da paciência e da esperança para o céu indicado.

Uma grande razão pela qual o júbilo próximo e íntimo do Salvador não pode ser constante-

mente efetuado no seio do crente é para dar espaço para a esperança, a terceira corda que

forma o cordão de três dobras. Até mesmo os crentes mais esclarecidos estão andando

aqui em uma noite tenebrosa, ou crepúsculo, no máximo. E as visitas de Jesus para a alma

apenas servem para fazer a escuridão ao redor mais visível. Mas a noite é passada, e o dia

é chegado. O dia da eternidade está rompendo no oriente. O sol da justiça está apressando-

se a subir sobre o nosso mundo, e as sombras estão se preparando para fugir. Até então,

o coração de cada crente verdadeiro, que conhece a preciosidade da estreita comunhão

com o Salvador, suspira em fervorosa oração, que Jesus frequentemente venha de novo,

assim, orvalhante e subitamente o ilumine em sua sombria peregrinação.

Ah! sim, meus amigos, que todo aquele que ama ao Senhor Jesus com sinceridade, junte-

se agora à bendita oração da noiva: “Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta,

amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter”.

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“A Voz do Meu Amado” é extraído de Memórias e Lembranças do Reverendo Robert Murray

M´Cheyne, por Andrew Bonar. Primeiramente publicado em 1844, (reimpresso, Edimburg:

Oliphant, Anderson, & Ferrier), p. 431-440. Este Sermão foi pregado por M´Cheyne em 14

de Agosto de 1836, em St. Peter, Dundee. Ele, nesta época, era candidato ao ministério, e

posteriormente tornou-se ministro de St. Peter.

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2

O Constrangedor Amor de Cristo

“Porque o amor de Cristo nos constrange.” (2 Coríntios 5:14)

De todas as características do caráter de São Paulo, a sua atividade incansável foi a mais

marcante. Desde o início da história de Paulo, nos é dito de seus esforços pessoais em

perseguir a Igreja nascente, quando ele era um “blasfemo, e perseguidor, e injurioso” [2

Timóteo 3:2], é bastante óbvio que esta era a característica proeminente de sua mente

natural. Mas, quando aprouve ao Senhor Jesus Cristo manifestar nele toda a longanimidade

e torná-lo um padrão para aqueles que se haviam crer nEle, é bonito e muito instrutivo ver

como os recursos naturais deste homem ousadamente mau tornaram-se não apenas

santificados, mas revigorados e ampliados; assim é verdade que os que estão em Cristo

são uma nova criação: “As coisas velhas passam, e tudo se fez novo” [2 Coríntios 5:17];

“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Per-

seguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” [2 Coríntios 4:8-9]; este

era um retrato fiel da vida de Paulo quando convertido. Conhecendo os terrores do Senhor,

e a situação temerosa de todos os que estavam ainda em seus pecados, ele deixou o

negócio de sua vida para persuadir os homens; esforçando-se, para que por qualquer meio,

pudesse recomendar à verdade às suas consciências. “Porque, se enlouquecemos, é para

Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós” (v. 13).

Se o mundo pensa que nós somos sábios ou loucos, por causa de Deus e das almas huma-

nas serem a causa em que investimos todas as energias do nosso ser, quem, então, não

está pronto para investigar a fonte secreta de todos estes trabalhos sobrenaturais? Quem

não desejaria ter ouvido da boca de Paulo, o poderoso princípio de que o impeliu a tantas

labutas e perigos? Que poder tinha tomado posse desta poderosa mente, ou que invisível

influência planetária, com poder incessante, ele baseou-se para atravessar todos os desâ-

nimos, indiferente tanto ao pavor do riso do mundo quanto ao medo do homem; despreo-

cupado tanto em relação ao desprezo do ateniense cético quanto à carranca do promíscuo

coríntio e da raiva do tacanho judeu? O que o apóstolo diz de si mesmo? Temos a sua pró-

pria explicação do mistério nas palavras que estão diante de nós: “O amor de Cristo nos

constrange”.

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I. O Constrangedor Amor de Cristo.

Isto se refere ao amor de Cristo pelo homem, e não o nosso amor pelo Salvador. Isso é

bastante óbvio, a partir da explicação que se segue, onde a Sua morte por todos é apon-

tada como o exemplo do Seu amor. Foi a admirável visão de que a compaixão do Salvador

— levando-O a morrer por e em lugar de Seus inimigos, suportando os pecados deles e

provando a morte por todos — impulsionou Paulo a cada trabalho, e fez com que todos os

seus sofrimentos se tornassem leves para ele, que os mandamentos não fossem penosos

e ele “correu com paciência a carreira que lhe foi proposta”. Por quê? Porque ele olhou para

Jesus, e viveu como um homem “crucificado para o mundo e o mundo crucificado para ele”.

Usando que meios? Olhando para a cruz de Cristo.

Assim como o sol natural nos céus exerce uma poderosa energia atrativa e incessante

sobre os planetas que giram ao redor dele, assim fez o Sol da justiça, que havia, de fato,

raiado sobre Paulo com um brilho superior ao do sol do meio-dia, e exercia em sua mente

uma energia contínua e onipotente, constrangendo-o a viver a partir de agora não mais

para si, mas para Aquele que por ele morreu e ressuscitou. E, observe, que não era uma

energia temporária e irregular que foi exercida sobre o seu coração e vida, mas uma atração

permanente e contínua; pois ele não diz que o amor de Cristo uma vez o constrangeu; ou

que o amor de Cristo ainda o constrangeria; ou que, em tempos de grande ânimo, nos

períodos de oração ou devoção peculiar, o amor de Cristo o havia constrangido. Ele disse

simplesmente que o amor de Cristo o constrange. Este é o poder sempre presente, perma-

nente e ativo que constitui a mola mestra de todos os seus trabalhos; de modo que se isso

fosse tirado suas energias se esgotariam, e Paulo se tornaria fraco como os outros homens.

Não há ninguém lendo isto cujo coração é desejoso de possuir apenas um princípio impul-

sionador como este? Não há ninguém que tenha chegado a essa mais interessante de

todas as etapas de conversão em que você está suspirando por um poder para lhe renovar?

Você entrou pela porta estreita da crença. Você viu que não há paz para o não-justificado;

e, portanto, se revestiu de Cristo para a sua justiça; e já sente um pouco da alegria e da

paz da crença. Você pode olhar para trás em sua vida passada, vivida sem Deus, sem

Cristo e sem o Espírito no mundo; você pôde ver-se um pária condenado, e você disse:

“Ainda que eu pudesse lavar as mãos em água de neve, ainda assim as minhas próprias

vestes me abominam”. Você pode fazer tudo isso, com vergonha e autocensura, é verdade,

mas ainda sem desânimo e sem desespero; pois o seu olho olhou com fé para Aquele que

foi feito pecado por nós, e está convencido de que, como aprouve a Deus imputar todas as

vossas iniquidades no Salvador, Ele está pronto, e sempre foi disposto, para imputar toda

a justiça do Salvador a você. Sem desespero, eu disse? Ou melhor, com alegria e canto;

porque, se, de fato, você creu de todo o seu coração, então você se tornou o homem bem-

aventurado a quem Deus imputa a justiça sem as obras; ao qual Davi descreve, dizendo:

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“Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-

aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade” [Salmos 32:1-2].

Esta é a paz do homem justificado. Mas essa paz é um estado de bem-aventurança per-

feita? Não há nada deixado a desejar? Faço um apelo para aqueles de vocês que sabem

o que é ser crente. O que é que ainda obscurece o semblante, que reprime a exultação do

espírito? Por que não juntar-se sempre na canção de ação de graças: “Bem-dize, ó minha

alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Ele é o que perdoa

todas as tuas iniquidades” [Salmos 103:2-3]! Se nós recebemos em dobro por todos os

nossos pecados, assim nunca deveria ser necessário para nós arguir como o faz o salmista:

“Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?” [Salmos

42:11a]. Meus amigos, não há um homem entre vós que realmente crê, que não tenha

sentido o pensamento inquietante do qual eu estou falando agora. Pode haver alguns de

vocês que se sentirão tão dolorosamente, como que tendo sido obscurecidos com uma

nuvem pesada, a doce luz da paz evangélica, o brilho do rosto reconciliado sobre a alma.

O pensamento é este: “Eu sou um homem justificado; mas, ai de mim! eu não sou um

homem santificado. Eu posso olhar para a minha vida passada, sem desespero; mas como

eu posso olhar para a frente, para o que está por vir?”.

Não há uma paisagem moral mais pitoresca no universo do que a alma de um desses pre-

sentes. Tendo todas as suas ofensas passadas perdoadas, o olho contempla o interior, com

uma clareza e uma imparcialidade desconhecidas anteriormente, e lá ele olha para suas

afeições há muito estimuladas ao pecado, e que, como os rios antigos, tem usado um canal

profundo para o coração. Suas declarações periódicas de paixão, até então irresis-tível e

avassaladora, como as marés do oceano; suas perversidades de temperamento e de hábi-

tos tortos e inflexíveis como os galhos retorcidos de um carvalho atrofiado. Que cena está

aqui; que antecipação do futuro! Que pressentimentos de uma luta vã contra a tirania da

luxúria! contra velhas maneiras de agir, e de falar, e de pensar! Se a esperança da glória

de Deus não fosse um dos direitos adquiridos do homem justificado, ele ficaria surpreso se

essa visão de terror fizesse um homem voltar trás, como um cão ao seu vômito, ou como a

porca lavada volta a chafurdar na lama?

Agora assim é com o homem precisamente nesta situação, clamando pela manhã e à tarde:

“Como poderei ser feito de novo?”. Que bem deverá o perdão dos meus pecados passados

fazer a mim, se eu não for liberto do amor ao pecado? Assim é com o homem que nós ire-

mos agora, com toda a seriedade e afeição, apontar o exemplo de Paulo, e o poder secreto

que operou nele. “O amor de Cristo”, diz Paulo, “nos constrange”. Nós também somos ho-

mens, de natureza semelhante a vocês; essa mesma visão que você vê com desânimo

dentro de você, foi de igual modo revelada em nós em todo o seu poder desanimador. De

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quando em quando a mesma visão horrenda dos nossos próprios corações é revelada a

nós. Mas nós temos um encorajamento que nunca falha. O amor do Salvador sangrante

nos constrange. O Espírito é dado para os que creem, e este agente todo-poderoso tem

um argumento que nos move continuamente: o amor de Cristo.

Meu presente objetivo é mostrar como esse argumento, na mão do Espírito, move o crente

a viver para Deus; como tão simples verdade do amor de Cristo ao homem, continuamente

apresentada à mente pelo Espírito Santo, deve capacitar qualquer homem a viver uma vida

de santidade evangélica. Se há um homem entre vós, cuja a grande dúvida é: “Como serei

salvo do pecado, como andarei como um filho de Deus?”. Este é o homem dentre todos os

outros, cujo ouvido e o coração eu estou ansioso para alcançar.

II. Seu Amor Remove Nosso Ódio.

O amor de Cristo ao homem constrange o crente a viver uma vida santa, pois essa verdade

tira todo o seu medo e ódio de Deus.

Quando Adão ainda não havia caído, Deus era tudo para sua alma; e tudo era bom e dese-

jável para ele, somente na medida em que tinha a ver com Deus. Cada veia do seu corpo,

de modo que foi assombrosa e maravilhosamente formado, cada folha que farfalhava nos

caramanchões do Paraíso, a cada novo sol que se erguia, regozijando-se como um herói,

a correr a sua corrida, levou-o todos os dias novos temas de pensamentos piedosos e de

admiráveis louvores; e foi só por isso que ele podia se encantar a olhar para eles. As flores

que apareceram sobre a terra, o canto dos pássaros e a voz da rola ouvida em toda a terra

feliz, a figueira produzindo seus figos verdes, e as vinhas com as uvas dando um cheiro

bom, tudo isso combinado trazia a ele por todos os poros uma grande e variada sensação

de felicidade. E por quê? Só porque eles traziam para a alma comunicações ricas e variadas

da multiforme graça de Jeová. Pois, assim como você pode ter visto uma criança na terra

dedicada a seu pai terreno, satisfeita com tudo quando ele está presente, e valorizando

cada dom da mesma forma que serve para demonstrar ainda mais a ternura do coração de

seu pai, assim também era com essa genuína criança de Deus. Em Deus, ele viveu, e

moveu-se, e existiu; e não mais certo seria que a extinção do sol nos céus tirasse essa luz

que é tão agradável aos olhos, do que seria a ocultação da face de Deus ter-lhe tirado a luz

de sua alma, e deixado a natureza em um deserto escuro e desolado.

Mas, quando Adão caiu, o ouro fino tornou-se opaco, o seu processamento mental e gostos

foram invertidos. Em vez de desfrutar de Deus em tudo, e tudo em Deus, tudo agora parecia

odioso e desagradável para ele, justamente na medida em que tinha a ver com Deus.

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Quando o homem pecou, passou a temer, e odiar Aquele a quem temia; e fugiu para todo

o pecado apenas para fugir dAquele a quem ele odiava. De modo que, assim como você

pode ter visto uma criança que penosamente transgrediu contra um pai amoroso fazendo

todo o possível para esconder-se da vista de seu pai, fugindo de sua presença e mergu-

lhando em outros pensamentos e ocupações só para livrar-se do pensamento de seu pai

justamente ofendido; na mesma forma, quando Adão caiu ouviu a voz do Senhor Deus, que

passeava no jardim pela viração do dia, aquela voz que antes de pecar era música celestial

em seus ouvidos, então “esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus,

entre as árvores do jardim” [Gênesis 3:8]. E da mesma maneira todo homem natural foge

da voz e da presença do Senhor, não para esconder-se sob as folhas grossas do Paraíso,

mas para enterrar-se em cuidados, e negócios, e prazeres, e farras. Qualquer retiro é agra-

dável, desde que Deus não esteja lá; qualquer ocupação é tolerável, desde que Deus não

esteja nos pensamentos.

Agora, tenho a certeza que muitos de vocês podem ouvir essa acusação contra o homem

natural com uma indiferença incrédula, ou até mesmo com indignação. Você não sente que

você odeia a Deus, ou teme a Sua presença; e, portanto, você diz que isso não pode ser

verdade. Mas quando Deus diz a respeito de seu coração que é “desesperadamente

corrupto” [Jeremias 17:9], quando Deus reivindica para si o privilégio de conhecer e esqua-

drinhar o coração; não é presunçoso, em tais seres ignorantes como nós que devamos

dizer que não é verdade em relação a nossos corações o que Deus afirma ser verdade,

simplesmente porque não estamos conscientes disso?

Deus diz que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” [Romanos 8:7], que a própria

semente e substância de uma mente não-convertida é o ódio contra Deus, um ódio absoluto

e implacável contra Aquele em quem vivemos, nos movemos e existimos. É bem verdade

que não sentimos esse ódio dentro de nós; mas isso é apenas um agravamento do nosso

pecado e do nosso perigo. Temos assim bloqueado as vias de autoexame, há tantas voltas

e voltas antes que possamos chegar aos verdadeiros motivos de nossas ações, que o

nosso medo e ódio de Deus, que levam o homem a pecar, e que são as grandes forças

impulsoras quais os aguilhões de Satanás sobre os filhos da desobediência; os verdadeiros

motivos de nossas ações estão totalmente escondidos de nossa vista, e você não pode

convencer um homem natural que eles estão realmente ali. Mas, a Bíblia testemunha que

destas duas raízes mortais, do temor e do ódio de Deus, cresce a densa floresta de pecados

com que a terra está enegrecida e coberta. E se há alguém entre vós, que foi despertado

por Deus para saber o que está em seu coração, eu tomo esse homem hoje para teste-

munhar que seu clamor amargo, tendo visto todos os seus pecados, tem sido: “Contra ti,

contra ti somente pequei” [Salmos 51:4].

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Se, então, o temor e o ódio de Deus, são a causa de todos os nossos pecados, como deve-

mos ser curados do amor ao pecado, senão por tirarmos a causa? Como você mais

efetivamente mata a erva daninha? Não é atacando a raiz? No amor de Cristo ao homem,

então — neste admirável e inefável dom de Deus, quando Ele deu a Sua vida por Seus

inimigos, quando morreu o justo pelos injustos para levar-nos a Deus —, você não vê um

objeto que, se realmente crido pelo pecador, tira todo o seu medo e todo o seu ódio de

Deus? A raiz do pecado é separada do seu tronco, deste duplo fundamento de todos os

nossos pecados, vemos a maldição levada, vemos Deus reconciliado. Por que devemos

temer? Não tema, por que devemos odiar a Deus ainda? Não odeie Deus, o que mais de

desejável podemos ver no pecado? Descanse sobre a justiça de Cristo, estamos nova-

mente no lugar onde Adão esteve, com Deus como nosso amigo. Nós não temos nenhum

motivo para pecar; e, portanto, nós não nos importamos com o pecado.

No sexto capítulo de Romanos, Paulo parece falar do crente pecando, como se a própria

proposição fosse absurda. “Nós, que estamos mortos para o pecado”, isto é, nós que já

fomos punidos em Cristo, “como viveremos ainda nele?” [v. 2]. E novamente ele diz muito

corajosamente: “O pecado não terá domínio sobre vós”, é impossível na natureza das

coisas, “pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” [v. 14]; você não está mais

sob a maldição de uma Lei violada, temendo e odiando a Deus; você está debaixo da graça;

sob um sistema de paz e amizade com Deus.

Mas há alguém pronto para objetar-me que se essas coisas são assim, se nada mais do

que isso é necessário para trazer um homem à paz com Deus e à uma vida e conversação

santa, como os crentes ainda cometem pecado? Eu respondo, é de fato muito verdadeiro

que os crentes pecam; mas é igualmente verdade que a incredulidade é a causa de seu

pecado. Se você e eu estivéssemos vivendo com o olho tão próximo em Cristo suportando

tanto por todos os nossos pecados, oferecendo gratuitamente a todos uma justiça em dobro

por todos os nossos pecados; e se esta visão do amor de Cristo fosse constantemente

mantida dentro de nós, como certamente seria se olhássemos com um olho simples, a paz

de Deus que excede todo o entendimento — a paz que não repousa em nenhum de nós,

mas inteiramente sobre Cristo —, então eu digo que, frágeis e indefesos como somos, nós

nunca pecaríamos nem teríamos a menor motivação para pecar. Todavia não é desta forma

conosco. Quantas vezes durante o dia o amor de Cristo é completamente esquecido!

Quantas vezes está obscurecido para nós! Às vezes se oculta de nós pelo próprio Deus,

para nos ensinar o que somos. Quantas vezes somos deixados sem o sentido do que é a

completude da Sua oferta, a perfeição de Sua justiça, e ficamos sem vontade ou sem

confiança para afirmar nosso interesse nEle! Quem maravilha-se, então, que onde há tanta

incredulidade, medo e ódio por Deus haverá mais e mais deformação, e o pecado irá muitas

vezes exibir sua cabeça venenosa?

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A questão é muito simples, se apenas nós tivéssemos olhos espirituais para vê-la. Se vivês-

semos uma vida de fé no Filho de Deus, então iríamos certamente viver uma vida de santi-

dade. Eu não digo que devemos fazê-lo; mas eu digo, deveremos, como uma questão de

consequência necessária. Mas na medida em que não vivemos uma vida de fé, viveremos

uma vida de impiedade. É por meio da fé que Deus purifica o coração; e não há outra ma-

neira.

Existe algum de vocês, então, desejoso de ser feito novo, de ser liberto da escravidão de

hábitos e afeições pecaminosas? Não podemos apontar-lhe nenhum outro remédio, senão

o amor de Cristo. Vede como Ele o amou! Veja o que Ele suportou por você; coloque o

dedo, por assim dizer, nas marcas dos cravos, e coloque a mão no seu lado; e não sejas

incrédulo, mas crente. Sob um senso de seu pecado, fuja para o Salvador dos pecadores.

Como a pomba temerosa voa para esconder-se nas fendas das rochas, assim fuja para se

esconder nas feridas de Seu Salvador; e depois de tê-lO encontrado como a sombra de

uma grande rocha em terra sedenta; quando você se sentar sob Sua sombra, com grande

prazer; você vai achar que Ele matou toda a inimizade, que Ele findou todas as tuas guerras.

Deus agora é por você. Plantado juntamente com Cristo na semelhança da Sua morte, você

será também na semelhança da Sua ressurreição. Morto para o pecado, você deverá estar

vivo para Deus.

III. Seu Amor Desperta O Nosso Amor

O amor de Cristo ao homem constrange o crente a viver uma vida santa; porque esta

verdade não somente remove o medo e o ódio, mas desperta o nosso amor.

Quando somos levados a ver a face do Deus reconciliado em paz, este é um grande privi-

légio. Mas como podemos olhar para Aquela face, reconciliando e reconciliado, e não amar

Aquele que assim nos amou? Amor gera amor. Dificilmente podemos deixar de estimar

aqueles no mundo que realmente nos amam, embora eles possam não servir a nossos

interesses. Mas quando estamos convencidos de que Deus nos ama, e convencidos de tal

forma pelo dom de Seu Filho por todos nós, como iremos, senão amar Aquele em quem

estão todas as excelências, tudo aquilo que evoca o amor?

Eu já mostrei que o Evangelho é um esquema de restauração; ele nos traz de volta para o

mesmo estado de amizade com Deus que Adão desfrutava, e, assim, tira o desejo do peca-

do. Mas agora eu irei mostrar a você, que o Evangelho faz muito mais do que nos restaurar

ao estado do qual caímos. Se correta e consistentemente apreendido por nós, ele nos

coloca em um estado muito melhor do que Adão. Ele nos constrange por um motivo muito

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mais poderoso. Adão não tinha esse forte amor de Deus ao homem, derramado em seu

coração; e, portanto, ele não tinha esse poder constrangedor para fazê-lo viver para Deus.

Mas os nossos olhos viram esta grande visão. Diante de nós Cristo foi demonstrado crucifi-

cado. Se realmente acreditamos que, Seu amor trouxe-nos à paz, por meio do perdão; e

porque estamos perdoados e em paz com Deus, o Espírito Santo nos é dado. Para quê?

Ora, exatamente para derramar esta verdade sobre os nossos corações, para nos mostrar

mais e mais desse amor de Deus por nós, para que possamos ser atraídos a adorar Aquele

que nos amou, viver para Aquele que morreu e ressuscitou por nós.

É realmente admirável ver como a forma bíblica de nos fazer santos é adequada à nossa

natureza. Se Deus tivesse proposto nos atemorizar para vivermos uma vida santa, quão

inútil teria sido essa tentativa! Os homens têm sempre uma ideia, que se alguém vivesse

dos mortos para nos contar sobre a realidade das regiões onde os espíritos dos condena-

dos habitam em tristeza e miséria sem fim; que isso iria constrangê-los a viver uma vida

santa; mas que ignorância isso mostra da nossa natureza misteriosa!

Suponha que Deus nesta hora desvendasse diante dos nossos olhos os segredos dessas

moradas terríveis aonde há esperança inexiste; suponha, se fosse possível, que você foi

realmente levado a sentir por algum tempo as dores reais do lago de fogo e experimentado

a agonia, e o verme que nunca morre; e depois que você foi trazido de volta à terra, e

colocado em sua velha situação, entre seus velhos amigos e companheiros; você realmente

acha que haveria qualquer chance de você caminhar com Deus como um criança? Eu não

duvido que você iria ter um termo correto de seus pecados; e nem a taça do prazer sem

Deus cairia de sua mão; nem você estremeceria com a blasfêmia, nem você tremeria diante

uma mentira, simplesmente pelo fato de você ter visto e sentido algo do tormento que

aguarda o bêbado, o blasfemador e o mentiroso, no mundo além-túmulo. Você realmente

acha que você iria viver para Deus mais do que você vive, que você iria servi-lo melhor do

que antes? É bem verdade que você pode ser levado a ser mais caridoso; sim, a dar todos

os seus bens para sustento dos pobres, e seu corpo para ser queimado; que você pode

viver com rigor e seriedade, a com o maior medo de quebrar um dos mandamentos por to-

do o resto de seus dias, mas isso não seria viver para Deus, você não iria amá-lo um pou-

quinho mais. Infelizmente vocês estão cegos para os vossos corações, se você não sabe

que o amor não pode ser forçado; nenhum homem jamais chegou a amar por ter sido ate-

morizado, e, portanto, nenhum homem jamais poderá se tornar santo por causa do temor.

Mas, três vezes bendito seja Deus, pois Ele inventou uma maneira mais poderosa do que

o inferno e todos os seus terrores; um argumento mais forte do que os espíritos dos conde-

nados e do que até mesmo a visão daqueles tormentos. Ele inventou uma maneira de nos

atrair para a santidade; ao mostrar-nos o amor de Seu Filho, Ele suscita nosso amor. Ele

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conhecia a nossa estrutura; lembrou-se de que somos pó. Ele conhecia todas as peculiari-

dades do nosso coração traiçoeiro; e, portanto, Ele adequou Sua maneira de santificar a

criatura que deveria ser santificada. Assim, o Espírito não faz uso do terror para nos

santificar, mas do amor: “O amor de Cristo nos constrange”. Ele nos atrai com “com cordas

humanas, com laços de amor” [Oséias 11:4]. O que o pai faz para conhecer a verdadeira

forma de ganhar a obediência de um filho, não é ganhar o afeto da criança? E você acha

que Deus, que nos deu essa sabedoria, Ele mesmo não sabe disso? Você acha que Ele

iria determinar obter a obediência de seus filhos, sem antes de tudo ganhar sua afeição?

Para obter nossas afeições, que por natureza perambulam pela face do mundo e em nada

repousa, senão nEle; Deus enviou o Seu Filho ao mundo para suportar a maldição de

nossos pecados. “Sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza

enriquecêsseis” [2 Coríntios 8:9].

Se há apenas um de vocês que irá neste dia, sob um senso de aniquilação, fugir para o

refúgio, para o Salvador, para encontrar nEle o perdão de todos os pecados passados, eu

sei muito bem que a partir de hoje em diante você vai ser como aquela pobre mulher, que

era uma pecadora, que estava aos pés de Cristo, atrás dele, chorando e começou a lavar

os Seus pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça, e beijava os Seus

pés e os ungia com unguento. Quando você for muito perdoado, muito amará; amando

muito, você vai viver para o serviço dAquele a quem você ama. Este é o grande princípio

do qual falamos; esta é a fonte secreta de toda a santidade dos santos.

A vida de santidade não é o que o mundo falsamente representa, uma vida de rigidez e de

fadiga, na qual um homem se priva da toda afeição de sua natureza. Não existe tal coisa

como a abnegação no sentido papista desta palavra na Religião da Bíblia. O sistema de

restrições e autoflagelação é o próprio sistema que Satanás criou como uma falsificação do

caminho da santificação de Deus. É assim que Satanás atemoriza milhares contra a paz e

a santidade propostas no Evangelho; como se para ser um homem santificado o homem

devesse ser privado de todos os desejos do seu ser, e devesse fazer que fosse desagra-

dável e desconfortável para ele. Meus amigos, o nosso texto nos mostra claramente que

não é assim. Somos constrangidos à santidade pelo amor de Cristo; o amor dAquele que

nos amou, é a única corda pela qual estamos vinculados ao serviço de Deus. O flagelo dos

nossos afetos é o único flagelo que nos leva ao novo dever. Doces laços e gentis flagelos!

Quem não gostaria de estar sob o Seu poder?

IV. O Perseverante Amor de Cristo.

Finalmente, se o amor de Cristo por nós é o objeto que o Espírito Santo faz uso, no início,

para nos atrair para o serviço de Cristo, é por meio deste mesmo objeto que Ele nos chama

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a perseverar até o fim. Assim, que se você é visitado com temporadas de frieza e indiferen-

ça; se você começar a se cansar, ou ficar para trás no serviço de Deus. Eis, aqui está o re-

médio: Olhe novamente para o Salvador sangrante. Este Sol da justiça é o grande centro

de atração, em torno do qual todos os Seus santos se movem rapidamente, e em conjunto

harmonioso e suave, “não sem música”. Enquanto o olho crente se fixar sobre o Seu amor,

o caminho do crente é fácil e desimpedido; pois este amor sempre constrange. Mas, desvie

o olho, crente, e o caminho se torna impraticável e a vida de santidade um cansaço.

Quem, então, deseja viver uma vida de perseverança na santidade, mantenha o olhar fixo

no Salvador. Enquanto Pedro olhou apenas para o Salvador, ele caminhou sobre o mar em

segurança, para ir a Jesus; mas quando ele olhou ao redor e sentiu o vento forte, teve me-

do, e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!”, justamente assim será com você.

Enquanto você olhar com fé para o Salvador, que te amou, e entregou a Si mesmo por

você, desde então você poderá pisar nas águas do mar agitado da vida, e as solas dos pés

não serão molhadas. Entretanto, se porventura você olhar ao redor para os ventos e as

ondas que o ameaçam em cada lado, e, como Pedro, você começar a afundar, clame: “Se-

nhor, salva-me!”. Quão justamente, então, podemos dirigir a você a repreensão do Salvador

a Pedro: “Ó, homem de pouca fé, por que duvidaste?”. Olhe novamente para o amor do

Salvador, e contemple o amor que constrange a viver não mais para si, mas por Aquele

que morreu por você e ressuscitou.

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3 Pai, Eu Quero

I

SERMÃO

“Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver,

também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste;

porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” (João 17:24)

I. A FORMA DESTA ORAÇÃO

“Pai, eu quero”.

Esta é a mais maravilhosa oração que alguma vez elevou-se da terra para o trono de Deus,

e esta petição é a mais maravilhosa da oração. Nenhuns lábios humanos jamais oraram

assim antes: “Pai, eu quero”. Abraão era amigo de Deus, e ficou muito perto de Deus em

oração; mas ele orou como pó e cinzas. “E respondeu Abraão dizendo: Eis que agora me

atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza” [Gênesis 18:27]. Jacó lutou com Deus e

prevaleceu, mas a sua palavra mais ousada foi: “Não te deixarei ir, se não me abençoares”

[Gênesis 32:26]. Daniel foi um homem muito amado, e teve respostas imediatas às orações,

e ainda assim ele clamou a Deus como um pecador: “Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó

Senhor, atende-nos e age” [Daniel 9:19]. Paulo foi um homem que esteve muito perto de

Deus, e ainda assim ele diz: “Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso

Senhor Jesus Cristo” [Efésios 3:14]. Porém quando Cristo orou, clamou: “Pai, eu quero”.

Por que Ele ora assim?

Ele era companheiro de Deus: “Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o

homem que é o meu companheiro” [Zacarias 13:7]. Apesar disso, Ele não usurpou o ser

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igual a Deus. Foi Ele quem disse: “Haja luz, e houve luz”. Portanto, agora Ele diz: “Pai, eu

quero”.

A Sua vontade e a vontade do Pai era uma: “Eu e o Pai somos um” [João 10:30]. Um só

Deus, um só coração e vontade. É verdade, Ele tinha uma santa alma humana, e, portan-

to, uma vontade humana; mas Sua vontade humana era uma com a Sua vontade Divina. A

corda humana em seu coração estava sintonizada na mesma corda da Sua vontade Divina.

Queridos filhos de Deus, aprendam quão seguramente esta oração será respondida. É im-

possível que esta oração fique sem resposta. É a vontade do Pai e do Filho. Se Cristo quer,

e se o Pai quer, vocês podem ter certeza de que nada pode impedir isso. Se a ovelha está

na mão de Cristo, e na mão do Pai, ela jamais perecerá.

II. POR QUEM ELE ORA.

“Aqueles que me deste”.

Seis vezes neste capítulo Cristo chama o seu povo por este nome: “Aqueles que me deste”.

Esta parece ter sido uma expressão favorita de Cristo, especialmente quando os conduzia

sobre Seu coração diante do Pai. A razão parece significar que Ele lembra ao Pai que eles

são tanto do Pai como eles são Seus próprios; que o Pai tem o mesmo interesse que Ele

por eles, tendo-lhes dado a Ele antes que o mundo existisse. E assim Ele o repete no

versículo 10: “E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas”. Antes que

o mundo existisse, o Pai escolheu um povo deste mundo. Ele os entregou na mão de Cristo,

ordenando-Lhe que não perdesse nenhum, e que Ele suportaria os seus pecados em Seu

próprio corpo no madeiro, e os ressuscitasse no último Dia. E, consequentemente, Ele diz:

“Dos que me deste nenhum deles perdi” [João 18:9].

Há algum sinal daqueles que são dados a Cristo? Eles não são melhores do que os outros,

pelo contrário, às vezes Ele escolhe os piores, mas há uma outra resposta: “Todo o que o

Pai me dá virá a mim [João 6:37]. Uma das marcas seguras de todos os que foram dados

a Cristo é que eles vêm a Jesus. Todos eles vêm “a Jesus, o Mediador de uma nova aliança,

e ao sangue da aspersão” [Hebreus 12:24]. Você veio a Cristo? O seu coração foi aberto

para receber a Cristo? Cristo tornou-se precioso para você? Então você pode ter a certeza

que você foi dado a Cristo antes da fundação do mundo. Seu nome está no Livro da Vida

do Cordeiro, e seu nome está no peitoral de Cristo. É por você que Ele ora: “Pai, eu quero

que esta alma esteja comigo”. Cristo nunca perderá você. O Pai, que deu você a Ele é

maior do que todos, e ninguém pode arrebatar você da mão do Pai.

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III. O ARGUMENTO.

“Porque tu me amaste”. Cristo lembra o Pai de Seu amor por Ele, antes que o mundo

existisse. Quando não havia terra, nem sol, nem lua, nem anjo, quando Ele estava ao lado

dEle.

Então, “tu me amaste”. Quem pode compreender esse amor, o amor de um Deus não criado

ao Seu Filho não criado? O amor de Jônatas por Davi era muito grande, ultrapassando o

amor das mulheres. O amor de um crente a Cristo é muito grande, porque ele vê que Cristo

é totalmente desejável. O amor de um santo anjo por Deus é muito ardente, porque eles

são como labaredas de fogo. Mas estes todos são amores da criatura; Estes são apenas

córregos; mas o amor de Deus por Seu Filho é um oceano de amor. Há de tudo em Cristo

para atrair o amor do Pai. Agora discirnam Seu argumento: Se Tu me amas, faça isso pelo

Meu povo.

Assim como Ele disse a Paulo: “Por que me persegues?”. Sentindo-se Um com Seus

membros aflitos sobre a Terra. Deste modo Ele dirá no último dia: “Em verdade vos digo

que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” [Mateus

25:40]. Ele reconhece os crentes como parte de Si mesmo; aquilo que é feito a eles é feito

a Cristo. Então, aqui, quando Ele os conduz ao Seu Pai, este é todo o Seu argumento: “Tu

me amas”. Se Tu me amas, os ama, pois eles são parte de Mim. Veja, amado, quão

seguramente a oração de Cristo por você será respondida. Ele não alega que você é bom

e santo; Ele não alega que você é digno; Ele só pleiteia a Sua própria amabilidade aos

olhos do Pai. Não olhe para eles, diz Ele, mas olhe para mim. Tu me amaste, antes da

fundação do mundo. Aprendam a usar o mesmo argumento com Deus, queridos crentes,

isto é, pedir em nome de Cristo, por amor do Senhor. Esta é a oração que nunca é recusada.

Cuidem para que vocês não venham em seu próprio nome, senão vocês serão rejeitados.

Venham assim, para a Sua mesa. Diga ao Pai: me aceite, pois Tu O amas, desde a funda-

ção do mundo.

IV. A ORAÇÃO EM SI.

Duas partes.

1. Que eles estejam comigo.

(1) O que Cristo quer dizer. Ele não quer dizer que devemos estar atualmente retirados

deste mundo. Alguns de vocês que têm vindo a Cristo podem, neste dia, ser favorecidos

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com tanto de Sua presença e do amor do Pai, tanto da alegria do céu, e um tal pavor de

voltar a trair Cristo estado no mundo, que vocês podem estar desejando que esta casa fos-

se realmente aquele portão do céu; vocês podem desejar serem transportados da mesa de

baixo para a mesa de cima. “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de

partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” [Filipenses 1:23]. Cristo ainda

não deseja isto. “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” [João 17:15].

“Para onde eu vou não podes agora seguir-me” [João 13:36]. (Como aquela mulher no

Diário de David Brainerd: “Ó bendito Senhor! Leve-me; permita-me morrer e ir com Jesus

Cristo. Tenho medo de que, se eu viver, eu pecarei novamente”).

(2) O que Ele quer dizer. Ele quer dizer que, quando a jornada acabar, estaremos com Ele.

Todo aquele que vem a Cristo tem uma jornada para realizar neste mundo. Alguns têm uma

jornada longa, e alguns têm uma jornada curta. Esta jornada é através de um deserto. Cristo

ainda ora para que, no final, você possa estar com Ele. Todo aquele que vem a Cristo tem

suas doze horas para trabalhar para Cristo. “Convém que eu faça as obras daquele que me

enviou, enquanto é dia” [João 9:4]. Mas quando isso é feito, Cristo ora para que você esteja

com Ele. Ele quer dizer que você deve vir para a casa de Seu Pai, com Ele. “Na casa de

meu Pai há muitas moradas” [João 14:2]. Você deve morar na mesma casa com Cristo.

Você nunca é muito íntimo de uma pessoa até que você a veja em sua própria casa, até

que você a conheça em casa. Isto é o que Cristo quer de nós, que estejamos com Ele em

Sua própria casa. Ele quer que estejamos no seio do mesmo Pai com Ele. “Eu subo para

meu Pai e vosso Pai” [João 20:17]. Ele quer que estejamos no mesmo sorriso com Ele, que

sentemos no mesmo trono com Ele, que nademos no mesmo oceano de amor com Ele.

Aprenda quão seguro você estará, em breve, quando estiver com Cristo. Esta é a vontade

do Pai, esta é a vontade do Filho. É a oração de Cristo. Se você realmente foi levado a

Cristo, você nunca perecerá. Você pode ter muitos inimigos opondo-se a você em seu

caminho para a glória. Satanás deseja ter você para peneirar como trigo. Seus amigos do

mundo farão todo o possível para impedi-lo. Ainda assim você estará com Cristo. Veremos

o seu rosto na mesa da glória. Você tem um coração duro incrédulo e enganoso acima de

todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Muitas vezes você acha que o seu coração

levará você a trair Cristo. Ainda assim você estará com Cristo. Se você está em Cristo hoje,

você estará para sempre com o Senhor. Você tem vivido uma vida má. Você tem pecados

terríveis sobre os quais olhar. Ainda assim, se você veio a Jesus, esta é a Sua palavra para

ti: “Tu estarás comigo no paraíso”. Na verdade, Cristo não pode perder você. Você é a Sua

joia, a Sua coroa. O Céu não seria Céu para Ele, se você não estivesse ali. Isso pode lhe

dar coragem ao vir para a mesa do Senhor. Alguns de vocês têm medo de vir a esta mesa,

porque, se vocês se unirem a Cristo hoje, têm medo que possam traí-lO amanhã. Mas

vocês não precisam ter medo. “Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até

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ao dia de Jesus Cristo” [Filipenses 1:6]. Vocês devem sentar-se à mesa de cima, onde

Cristo estará na cabeceira. Vocês não precisam ter medo de vir a esta mesa.

2. Para que vejam a minha glória que me deste.

Há três estágios na glória de Cristo. Esta será a ocupação do céu: a contemplação de todas

elas.

Primeiro. A glória original de Cristo. Esta é a Sua glória não derivada, não criada, como

igual ao Pai. Ela é mencionada em Provérbios 8:30: “Então eu estava com ele, e era seu

arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo”. E,

novamente, nesta oração: “aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (v.

5). Dessa glória nenhum homem pode falar, nenhum anjo, nem arcanjo. Somente de uma

coisa sabemos, que devemos honrar o Filho, bem como devemos honrar o Pai. Ele

compartilha com o Pai em ser o Único todo-perfeito, quando não havia nada para admirar,

ninguém para adorar, nem anjos com harpas de ouro, nem serafins a cantar Seu louvor,

nem querubins a clamar: “Santo, santo, santo”. Antes que todas as criaturas existissem, Ele

era Um com o Deus infinitamente perfeito, bom e glorioso. Ele era, então, tudo o que Ele

mais tarde evidenciou ser. A criação e redenção não O mudaram. Elas apenas só revelaram

o que Ele era anteriormente. Elas apenas forneceram os objetos para que aqueles raios de

glória repousassem, de forma que brilhavam tão plenamente como antes, desde toda a

eternidade. A eternidade será tomada com o louvor a Deus, à medida que Ele revelou a Si

mesmo absolutamente; assim mesmo Ele sairá do retraimento de Sua amável e bem-

aventurada eternidade.

Segundo. Quando Ele se tornou carne. “O Verbo se fez carne” [João 1:14]. Cristo não

obteve mais glória, tornando-se homem, mas Ele manifestou a Sua glória de uma nova

maneira. Ele não ganhou uma perfeição maior, tornando-se homem; Ele tinha todas as

perfeições de Deus anteriormente. Mas agora essas perfeições eram derramadas através

de um coração humano. A onipotência de Deus agora movia-se em um braço humano. O

amor infinito de Deus agora bateia em um coração humano. A compaixão de Deus pelos

pecadores agora brilhava em um olho humano. Deus era amor antes, mas Cristo foi o amor

coberto com carne. Assim como quando você vê o sol brilhando através de uma janela

colorida, e contudo a mesma luz do sol, ainda que brilha com um brilho agradável, de modo

semelhante em Cristo habita toda a plenitude da Divindade. A perfeição da Divindade

brilhou por todos os poros, por meio de toda a ação, palavra e olhar, as mesmas perfeições,

somente estavam brilhando com um brilho ameno. O véu do templo era um tipo de sua

carne, porque ele cobria a luz brilhante do santo dos santos. Mas, assim como a luz

brilhante da Shekiná muitas vezes brilhou através véu, assim ocorreu, pois à Divindade do

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próprio Cristo irrompeu-se através do coração do homem Jesus Cristo. Havia muitas aber-

turas do véu quando a glória resplandecente brilhava.

1. Quando Cristo transformou a água em vinho. Ele manifestou a Sua glória e os Seus

discípulos creram nEle. A Onipotência falou com uma voz humana, e o amor de Deus,

também, brilhou na mesma; pois Ele mostrou que Ele veio para transformar toda a nossa

água em vinho.

2. Quando Cristo chorou sobre Jerusalém. Isso foi uma grande demonstração da Sua glória.

Havia muita coisa que era humana nEle: Os pés que ficavam sobre o Monte das Oliveiras

eram humanos. Os olhos que desprezaram a cidade deslumbrante eram humanos. As

lágrimas que caíram no chão eram humanas. Mas havia a ternura de Deus batendo debaixo

daquele manto! Olhem e vivam, pecadores. Olhem e vivam. Eis o vosso Deus! Aquele que

vê a Cristo chorando, viu o Pai. Este é Deus manifestado em carne. Alguns de vocês temem

que o Pai não queira que vocês venham a Cristo e sejam salvos. Mas vejam aqui, Deus

está manifestado em carne. Aquele que vê o Filho vê o Pai. Veja aqui o coração do Pai e o

coração do Filho desvelados. Oh! Por que vocês duvidam? Cada uma dessas lágrimas

escorre do coração de Deus.

3. Na cruz. As feridas de Cristo foram as maiores demonstrações de Sua glória que já

existiram. A glória Divina brilhou mais através de Seus ferimentos do que através de toda

a Sua vida antes. O véu foi então rasgado em dois, e pelo que todo o coração de Deus

permitiu comunicar-se. Este era um corpo humano que se contorcia, pálido e torturado,

sobre o madeiro maldito; eram mãos humanas que foram furadas tão rudemente pelos

cravos; era carne humana que suportou aquele golpe mortal sobre o lado; era sangue

humano que fluía de mãos e pés, e lado; o olho que humildemente se virou para o Seu Pai

era um olho humano; a alma que suspirou sobre Sua mãe era uma alma humana. Mas oh,

havia glória Divina fluindo através de tudo. Cada ferida era uma boca para falar da graça e

do amor de Deus!

A santidade Divina brilhou: O infinito ódio ao pecado estava ali quando Ele se ofereceu,

assim, um sacrifício sem mácula a Deus! A sabedoria Divina brilhou: todos os seres criados

não poderiam ter concebido um plano pelo qual Deus seria justo e justificador. O amor

Divino: cada gota de sangue que caiu veio como um mensageiro do amor de Seu coração

para contar sobre o amor da fonte. Este foi o amor de Deus. Aquele que vê a Cristo cruci-

ficado, vê o Pai. Oh, olhem para o pão partido, e vocês ainda verão essa glória fluindo! Aqui

está o coração de Deus desvelado, Deus se manifestou em carne. Alguns de vocês estão

debruçados sobre o seu próprio coração, examinem seus sentimentos, observando sua

doença. Desviem o olhar de tudo no interior. Eis-me aqui, eis-me! — Cristo clama — Olhem

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para mim, e sejam salvos. Contemplem a glória de Cristo! Há muita dificuldade sobre o seu

próprio coração, mas não há trevas sobre o coração de Cristo. Olhem através de Suas

feridas; acreditem no que vocês veem nEle.

Terceiro. A glória de Cristo assunto. Eu não posso falar disso. Eu confio que um dia, em

breve, eu verei isto. Ele não deixou de lado a glória que Ele tinha na terra. Ele ainda é o

Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Mas Ele tem mais glória agora. Sua

humanidade não é mais um véu para esconder qualquer um dos raios de Sua Divindade.

Deus brilha ainda mais claramente através dEle. Agora, Ele obteve muitas coroas, o óleo

de alegria, o cetro de justiça.

O Céu será gasto em contemplar a Sua glória. Veremos o Pai eternamente nEle. Olharemos

em Seu rosto, e em Seu olho humano leremos o terno amor de Deus por nós, para sempre.

Ouviremos de Seus santos lábios humanos claramente do Pai. “Chega, porém, a hora em

que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai” (João

16:25). Olharemos em Suas cicatrizes, saradas, porém evidentes e abertas em Suas mãos,

e os pés, e o lado, e a fronte de brilho celeste, e leremos ali eternamente o ódio de Deus

contra o pecado, e o Seu amor por nós que O levou a morrer por nós. E, às vezes, talvez,

possamos inclinar a nossa cabeça onde João inclinou-se, sobre Seu santo seio. Oh! se o

Céu deve ser desfrutado dessa forma, o que farão vocês, que nunca viram a Sua glória?

Ó, amados, se sua eternidade deve ser gasta assim, passem muito de seu tempo desta for-

ma! Se vocês devem estar assim comprometidos com a mesa acima, estejam assim com-

prometidos agora com a mesa de baixo.

Comunhão de Sabath, 19 de janeiro de 1840.

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I I

PROTEGENDO AS MESAS

“Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma proprieda-

de, e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a deposi-

tou aos pés dos apóstolos. Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu

coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?

Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste

este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus. E Ananias, ouvindo

estas palavras, caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram. E,

levantando-se os moços, cobriram o morto e, transportando-o para fora, o sepultaram. E,

passando um espaço quase de três horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que

havia acontecido. E disse-lhe Pedro: Dize-me, vendestes por tanto aquela herdade? E ela

disse: Sim, por tanto. Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para

tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e

também te levarão a ti. E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os moços, acharam-

na morta, e a sepultaram junto de seu marido. E houve um grande temor em toda a igreja,

e em todos os que ouviram estas coisas. E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o

povo pelas mãos dos apóstolos. E estavam todos unanimemente no alpendre de Salomão.

Dos outros, porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles; mas o povo tinha-os em grande

estima. E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada

vez mais” (Atos dos Apóstolos 5:1-14).

Houve hipócritas na igreja de Cristo desde o início. Havia um Judas, mesmo entre os doze

apóstolos; e na igreja apostólica houve um Ananias e uma Safira. Observem:

1. O seu pecado: uma mentira. Quando tanto do Espírito foi dado, todos tiram um só cora-

ção e alma. Aqueles que tinham propriedades, as venderam, trouxeram o preço, e o deposi-

taram aos pés dos apóstolos. Foi uma amável visão para contemplar. Entre o restante veio

um Ananias, ele era rico. Por algum motivo mundano, ele se juntou aos Cristãos, marido e

mulher, ambos sem Cristo, almas sem a graça. Ele vendeu suas posses para ser parecido

como o restante, e trouxe uma parte, e disse que era o seu tudo! Ele fingiu ser um Cristão,

ele fingiu que a graça estava em seu coração. Não mentiu ao homem somente, mas ao

Espírito Santo; pois ele estava declarando que Deus havia feito uma mudança em sua alma,

quando não havia nenhuma. Ele ainda era o velho Ananias.

2. Sua punição: Eles caíram e entregaram o espírito. Oh! É algo terrível quando os pecado-

res morrem no ato do pecado, com a mentira na sua boca, com a blasfêmia sobre a sua

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língua. Assim foi com os miseráveis Ananias e sua esposa. Em um momento, num piscar

de olhos, eles estavam no lugar para onde todos os mentirosos vão.

3. O efeito: um grande temor veio sobre todos eles. Ninguém ousava juntar-se à companhia

dos apóstolos.

Queridos amigos, estas coisas estão escritas para nosso ensino. Não há ninguém que veio

aqui hoje com a mentira de Ananias em seu coração?

O pão partido e o vinho derramado representam o corpo partido e o sangue derramado de

Cristo. Oh! é o suficiente para derreter o coração do mais forte que olhar para eles. Tomar

este pão e vinho é declarar que você tem comunhão com Cristo, que você O toma como

seu Salvador, que Deus abriu seu coração para crer. No casamento, a aceitação da mão

direita é uma declaração solene, por sinal, que você aceita a noiva ou o noivo; e assim na

Ceia do Senhor. Se não é assim com você, então isto é uma mentira; e é uma mentira para

o Espírito Santo. Ananias veio declarando que ele tinha a obra do Espírito em seu coração.

Esta era uma época em que muito do Espírito de Deus havia sido concedido (vv. 31 e 32).

É provável que ele e sua esposa tivessem algumas convicções. Mas uma vez que isto era

falso, uma vez que ele não era realmente o que ele fingia ser, é dito: “mentiu ao Espírito

Santo”. Assim, queridos amigos, o Espírito Santo está particularmente presente nesta orde-

nança. Ele glorifica a Cristo. Ele converteu muitos neste lugar. Pecar hoje, é mentir contra

o Espírito Santo. Ao vir para a mesa, você professa que você está sob o ensinamento do

Espírito. Se você não estiver, você mente ao Espírito Santo!

Agora, você sabe que não veio a Cristo? Você sabe que não é convertido? E você sentar-

se-á ali e tomará o pão e o vinho? Tome cuidado, Ananias! Tu não mentes a um homem,

mas a Deus.

Talvez haja um dentre vocês alguém que está secretamente viciado em beber, a blasfemar,

a ser impuro. Você vai vir e tomar o pão e o vinho? Tome cuidado, Ananias!

Talvez haja dois dentre vós, marido e mulher, que sabem que nenhum de vocês jamais fo-

ram convertidos. Vocês nunca oram juntos, e ainda assim vocês concordam em conjunto a

virem aqui. Tomem cuidado, Ananias e Safira!

Não existe nenhum dentre vós que seja um perseguidor? Suponha um pai, cujos filhos têm

vindo a Cristo, mas em seu coração você odeia a mudança deles; você se opõe a isso com

palavras amargas; e, ainda assim, com um semblante suave, você chegou a sentar-se ao

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lado deles à mesma mesa! Ó, hipócrita, tome cuidado para que não caia morto! Retire a

sua a mão para que ela não fique mirrada! Se pudéssemos ver o copo cair de sua mão, e

olho envidraçar, e os pés se tornarem frios, ó, onde estaria a sua alma?

Queridos filhos de Deus, não desanimem de vir a esta mesa sagrada. Esta é propagada

aos pecadores que veem Jesus. “Ó, venha e coma”. Alguns de vocês dizem: “Eu não conhe-

ço o caminho para esta mesa”. Jesus diz: “Eu sou o caminho”. Alguns de vocês dizem: “Eu

sou cego; eu não consigo ver os meus pecados, nem meu Salvador”. Vão lavar-se no

tanque de Siloé. Alguns de vocês dizem: “Eu sou nu”. Jesus diz: “Aconselho-te que de mim

compres... roupas brancas, para que te vistas”. Vocês estão contaminados em seu próprio

sangue; mas Cristo lançou a Sua orla sobre vocês? Então não tenham medo; venham com

o Seu manto sobre vocês. Venham assim, e vocês são bem-vindos.

I I I

SERVIÇO DE MESA

(Este é o único exemplar de seu Serviço de Mesa, encontrado em seu próprio escrito à

mão, mas sem data).

“O meu amado é meu, e eu sou dele” (Cânticos 2:16).

1. Nos braços de minha fé, Ele é meu. Eu já fui do mundo, frio e descuidado com a minha

alma. Deus me despertou e me fez sentir que eu estava perdido. Eu tentei tornar-me bom,

consertar a minha vida; mas eu tentei isto em vão, pois fiquei mais perdido do que antes.

Eu fui, então, alertado a crer no Senhor Jesus. Então, eu tentei me fazer acreditar. Eu li

livros sobre a fé, e tentei inclinar minha alma a crer, para que eu fosse para o Céu, porém

tudo isso em vão. Eu encontrei isto escrito: “A fé é um dom de Deus” (Efésios 2:8). “Ninguém

pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” (1 Coríntios 12:3). Então eu

fiquei mais perdido do que nunca. Enquanto eu estava assim, indefeso, Jesus se aproxi-

mou, com Suas vestes mergulhadas em sangue. Ele havia esperado muito tempo em minha

porta, mas eu não sabia disto. Sua cabeça estava “cheia de orvalho, os seus cabelos das

gotas da noite” (Cânticos 5:2). Ele tinha cinco feridas profundas, e Ele disse: “Eu morri no

lugar de pecadores; e qualquer pecador pode ter-me como Salvador. Você é um pecador

desamparado; você terá a Mim?”. Como posso resisti-lO? Ele é tudo o que eu preciso! Eu

O segurei, e não O deixei ir. “Meu amado é meu”.

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2. Nos braços do meu amor, Ele é meu. Outrora eu não sabia o que as pessoas queriam

dizer por amar a Jesus. Eu queria perguntar como eles poderiam amar alguém a quem eles

nunca haviam visto; mas foi respondido: “Ao qual, não o havendo visto, amais” [1 Pedro

1:8]. Mas agora que eu tenho me escondido nEle, agora que eu estou apegado a Ele, agora

eu sinto que não posso deixar de amá-lO; e eu espero vê-lO, para que eu possa amá-lO

mais. Muitas vezes eu caio em pecado, e isso remove a sensação de segurança em Cristo.

A escuridão vem, tudo está nublado, Cristo está ausente. Ainda assim, nessa ocasião, eu

estou doente de amor. Cristo não é luz e paz para mim; mas eu O sigo diligentemente em

meio à escuridão, Ele é precioso para mim; e apesar de eu estar em trevas, Ele ainda é o

meu amado: “Tal é o meu amado, e tal o meu amigo” (Cânticos 5:16).

3. Ele é meu no sacramento. Muitas vezes, eu disse a Ele em oração: Tu és meu. Muitas

vezes, quando as portas se fecharam, e Jesus veio mostrando Suas feridas, dizendo: “Paz

seja convosco”, minha alma apegou-se a Ele, e disse: “Meu Senhor e meu Deus!”. Meu

amado, Tu és meu! muitas vezes tenho encontrado com Ele em lugares solitários, onde

não havia olhos de homens. Muitas vezes tenho chamado as rochas e árvores para teste-

munharem que eu O tomei para ser o meu Salvador. Ele me disse: “desposar-te-ei comigo

para sempre”, e eu Lhe disse: “O meu amado é meu”. Muitas vezes tenho saído com algum

amigo Cristão, e nós derramamos nossos trêmulos corações juntos, consultando um ao

outro como para saber se tínhamos liberdade para nos aproximarmos de Cristo ou não; e

nós juntos chegamos a esta conclusão: que se nós apenas fôssemos pecadores desam-

parados, tínhamos o direito de nos aproximar do Salvador dos pecadores. Nós nos apega-

mos a Ele e O chamamos de nosso. E agora, viemos para tomá-lO publicamente, para

chamar um mundo ímpio para testemunhar, para chamar o céu e a terra para um registro

de nossa alma, que nós realmente nos aproximamos de Cristo. Vejam-nO entregando-se a

nós no pão! Nós O aceitamos ao aceitarmos este pão. Deem testemunho, homens e anjos,

dê testemunho todo o universo: “O meu amado é meu”.

(Os comungantes, em seguida, participaram do pão partido e do cálice de bênção).

(Era seu costume, depois de terem participado da Ceia do Senhor, falar brevemente sobre

alguns textos apropriados, antes de despedi-los das mesas. No Sabath de 19 de janeiro,

os textos eram: “Amai-vos uns aos outros”, “Tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu

nome, ele vo-lo há de dar” e “Em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições” [João 15:12;

14:13; 16:33].

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I V

DISCURSO DE CONCLUSÃO DO DIA

“Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos

irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória.” (Judas 1:24)

Não há fim para as ansiedades de um pastor. Nosso primeiro cuidado é para que vocês

estejam em Cristo; e o próximo, é que vocês sejam guardados de cair. Eu tenho uma boa

esperança, amados, que um bom número de vocês uniu-se hoje ao Senhor. Mas agora

uma nova ansiedade começa: levá-los a andar em Cristo, a caminhar segundo o Espírito.

Aqui nós lhes dizermos o que Deus, nosso Salvador é capaz de fazer por vocês:

Primeiramente, os guarda de cair por todo o caminho; em segundo lugar, vos apresentará

irrepreensíveis por fim.

I. GUARDÁ-LOS DE TROPEÇAR.

(1) Nós mesmos não somos capazes de guardar alguém de cair. Aqueles que se apoiam

em ministros, apoiam-se em uma cana agitada pelo vento. Quando uma alma recebeu a

mensagem salvífica por meio de um ministro, ela frequentemente pensa que será mantido

de cair pelos mesmos meios. Ele pensa: “Ah, se eu tivesse esse amigo sempre ao meu

lado para me advertir, para me aconselhar!”. Não; ministros não estão sempre próximos,

nem amigos piedosos. Vossos pais, onde estão eles? E os profetas, eles viverão para

sempre? Nós em breve poderemos ser retirados de vocês, e pode vir a fome do pão. E,

além disso, nossas palavras nem sempre informam. Quando a tentação e as paixões são

fortes, vocês não darão ouvidos a nós.

(2) Vocês nem sempre são capazes de guardarem a si mesmos de cair. No momento vocês

sabem pouco da fraqueza ou maldade de seu próprio coração. Não há nada mais enganoso

do que sua estimativa de sua própria força. Oh, se vocês vissem a sua alma em toda a sua

enfermidade; se vocês vissem como todo pecado tem a sua fonte no seu coração; se vocês

vissem que mera cana vocês são, vocês clamariam: “Senhor, dirige os meus passos”

[Salmos 17:5]. Vocês podem estar fortes, no momento, mas esperem até que uma com-

panhia convidativa apareça; esperem até uma oportunidade secreta. Oh, quantos cairiam,

então! No momento vocês se sentem fortes, como se seus pés fossem como os das corsas.

Assim fez Pedro à mesa do Senhor. Mas esperem até que esta explosão de sentimento

passar; esperem até que vocês sejam convidados a juntar-se em algum jogo profano; espe-

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rem até alguma oportunidade completamente invisível, secreta de pecar, até que alguma

provocação amarga desperte a sua raiva, e vocês encontrarão que vocês são fracos como

a água, e que não há pecado em que não possam cair.

(3) Deus, Nosso Salvador é capaz de guarda-los de cair. Cristo nos trata como vocês fazem

com os seus filhos. Eles não podem andar sozinhos; vocês os seguram; o mesmo acontece

com Cristo por meio de Seu Espírito. “Eu ensinei a andar a Efraim; tomando-os pelos seus

braços” (Oséias 11:3). Suspirem esta oração: “Senhor, leve-me pelos braços”, diz John

Newton. Quando uma mãe está ensinando seu filho a andar sobre um tapete macio, ela,

às vezes, o deixa ir, e ele cairá, para ensiná-lo sobre a sua fraqueza; mas não chegaria a

tanto se estivesse à beira de um precipício. Assim o Senhor, às vezes, os deixa cair, como

Pedro nas águas, mas não para seu dano. O pastor carrega a ovelha em seu ombro; não

importa quão grande a distância seja; não importa quão altas as montanhas, quão áspero

o caminho; nosso Deus Salvador é um Pastor Onipotente. Alguns de vocês têm montanhas

em seu caminho para o céu, alguns de vocês têm montanhas de luxúrias em seus corações,

e alguns de vocês têm montanhas de oposição; não importa, apenas deitem no ombro. Ele

é capaz de guardá-los; mesmo no vale sombrio Ele não tropeçará.

II. APRESENTAR-VOS IRREPREENSÍVEIS

(1) Irrepreensíveis em justiça. Enquanto vocês vivem em vosso corpo mortal, vocês serão

repreensíveis em si mesmos. Acreditar em qualquer outra coisa é um erro capaz de arruinar

a alma. Oh! se vocês fossem sábios, olhariam muitas vezes para debaixo do manto da

justiça do Redentor para ver sua própria deformidade! Isto manterá vocês mais rapidamente

sob Seu manto, e os manterá lavando-se na fonte. Agora, quando Cristo lhes trouxer diante

do trono de Deus, Ele vestirá você com o Seu próprio linho fino, e vos apresentará

irrepreensíveis. Oh, é doce para mim pensar em quão breve vocês terão a justiça de Deus

nEle. Que justiça gloriosa, que pode permanecer à luz da face de Deus! Às vezes, uma

peça de roupa parece branca com pouca luz; quando vocês a trazem para a luz do sol pode

ver as manchas. Oh! louvem, então, a justiça Divina, que é a vossa cobertura.

(2) Irrepreensíveis em santidade. Meu coração às vezes adoece quando eu penso sobre

os defeitos dos crentes; quando eu penso em um Cristão sendo amante da vida social,

outro vaidoso, outro dado à maledicência. Oh! anelem por serem Cristãos santos! Cristãos

luminosos, resplandecentes. O céu está mais adornado pelas grandes constelações bri-

lhantes do que por muitas estrelas insignificantes; assim Deus pode ser mais glorificado por

um único Cristão brilhante do que por muitos indiferentes. Anelem por ser este único.

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Em breve, seremos irrepreensíveis. Aquele que começou, o concluirá. Seremos seme-

lhantes a Ele, porque O veremos como Ele é. Quando vocês deixarem este corpo, podem

dizer: Adeus para sempre concupiscência; adeus meu odioso orgulho; adeus odioso egoís-

mo; adeus luta e inveja; adeus, vergonha de Cristo. Oh! isso torna a morte doce, de fato!

Oh! anelem partir e estar com Cristo!

III. A ELE SEJA A GLÓRIA

(1) Se algo tem sido feito por sua alma, deem a Ele a glória! Não louvem nenhum outro,

deem todo o louvor a Ele.

(2) E deem o domínio a Ele também. Apresentai-vos a Ele, alma e corpo.

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“Pai, eu quero” é extraído de Memórias e Lembranças do Reverendo Robert Murray

M'Cheyne, pelo Reverendo Andrew Bonar. Publicado pela primeira vez em 1844,

(Reimpresso, Edinburgh: Oliphant, Anderson, e Ferrier, 1883), páginas 419 a 431.

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4 Olhe Para Cristo Traspassado

“Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém,

derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem

traspassaram; e prantearão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e

chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito...

Naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de Davi, e para os habitantes de

Jerusalém, para purificação do pecado e da imundícia.” (Zacarias 12:10; 13:1)

Nestas palavras você tem uma descrição da conversão dos judeus, que ainda está por vir;

um evento que dará vida a este mundo morto. Mas o método de Deus é o mesmo na con-

versão de uma alma. A conversão é a obra mais gloriosa de Deus. A criação do sol é uma

obra muito gloriosa; quando Deus primeiramente o fez se mover em chamas pelo céu,

espalhando adiante bênçãos de ouro em cada margem. A mudança na primavera é mui

maravilhosa; quando Deus faz a grama que desaparecera reviver, as árvores mortas

expõem as folhas verdes, e as flores aparecem na terra. Porém, muito mais gloriosa e

maravilhosa é a conversão de uma alma! Isto é a criação de um sol que deve brilhar pela

eternidade; é a primavera da alma que não conhecerá o inverno; o plantio de uma árvore

que deve florescer com beleza eterna no paraíso de Deus.

I. A fonte da conversão. A mão de Cristo: “derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e

olharão para mim, a quem traspassaram”. O Espírito Santo vem da própria mão que foi

perfurada pelo cravo no maldito madeiro. De fato, a fonte mais íntima do Espírito parece

ser o coração do Pai. Jesus o chama de “o Espírito da Verdade, que procede do Pai”, e em

1 Coríntios 2:11 diz-se que Ele vem do coração de Deus, como o espírito de um homem

está no coração do homem. Ele é o amigo que habitava desde a eternidade no seio do Pai

e do Filho. Mas ainda é bem verdade que o Pai deu o Espírito a Cristo: “Porque foi do

agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse” [Colossenses 1:19]. Jesus obteve o dom

do Espírito Santo, como recompensa de Seu trabalho. É justo que Aquele que morreu pelos

pecadores deva ter o Espírito para dispensar a quem Ele quer; e assim uma de Suas últimas

palavras aos Seus discípulos foi: “Vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo

do pecado” [João 16:7-8].

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1. Isto ensina, almas despertas, de onde vêm as suas convicções. Alguns de vocês sen-

tem que têm sido despertados para preocuparem-se em relação às suas almas? Vocês

foram traspassados por uma seta de convicção. Olhem para a seta; ela saiu do arco de

Cristo. Foi Cristo que a tirou de Sua aljava, Cristo apontou para o seu coração e Cristo fez

que ela traspassasse seu coração. A pena está marcada com o sangue da mão perfurada.

Essa flecha veio das mãos de amor, da mão que foi pregada na cruz. Ah! Em seguida, leve-

a como uma prova de que Cristo quer te salvar. Ele está começando a lidar com vocês. Ah!

não virem as costas, não arranquem a flecha, não curem a ferida superficialmente. Vão

para Ele mesmo, e a mesma mão que vos perfurou os curará. Senhor, se eu não puder ter

paz em Ti, concede-me que eu não a obtenha de mais ninguém.

2. Quando você vê outros gravemente feridos, você deve reconhecer a mão de Cristo. Acho

que alguns reconhecem a mão do ministro, mas não a mão de Cristo. Esta é uma desonra

dolorida para o nosso glorioso Emanuel! Dizia-se dos Erskines, os pais da Secessão, que

Deus tirou grande parte da bênção de seus trabalhos, pois as pessoas não podiam ver

Cristo sobre suas cabeças. Eu encontro muito disto entre vocês. O Senhor te ensina a olhar

acima das cabeças dos ministros, para o nosso glorioso Redentor, montado em Seu cavalo

branco; enviando as Suas setas de convicção!

3. Ore para que Cristo faça isso. Se Ele derrama o Espírito, quem o pode impedir? Eu não

tenho dúvida de que muitos de vocês que vieram hoje, teriam permanecido longe se imagi-

nassem que Cristo hoje converteria sua alma. Temo que haja alguns entre vocês que fe-

cham os olhos, tapam suas orelhas e endurecem o coração para que não se convertam, e

Cristo vos cure. Vocês não gostariam de serem feitos crentes pranteadores, orantes e hu-

mildes, em Jesus. Mas, ó, se Cristo derrama o Espírito hoje, então mesmo vocês serão

derretidos; mesmo vocês serão levados a prantear e clamar: “O que eu devo fazer para ser

salvo?”.

Em um momento em que Cristo não está derramando o Espírito, os ministros falam e se

esforçam, mas em vão; é como falar com os ventos, ou com as ondas furiosas do mar. Mas

quando Cristo se levanta de Seu trono e derrama o Espírito, então os meios mais fracos

são infinitamente poderosos. A Palavra de Deus não vem apenas em palavra. A queixada

de um jumento era uma espada muito fraca para matar os homens, porém na mão de

Sansão era poderosa e ele matou mil homens com ela.

Uma funda e uma pedra eram armas muito fracas para se opor a um gigante armado, e,

contudo, quando Davi atirou a pedra, ele a cravou na testa do gigante, e este caiu com o

rosto em terra. Orem, queridos crentes, para que a funda e a pedra possam estar hoje na

mão de nosso glorioso Davi; que a Palavra possa penetrar nos corações duros deste povo;

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para que mesmo os gigantes em pecado possam ser reduzidos ao pó. Ah! Temo que muitos

de vocês estejam armados até os dentes contra a Palavra de Deus; vocês estão armados

da cabeça aos pés, em todos os pontos. Vocês estão escarnecendo, talvez, em sua segu-

rança; ainda assim, olhem para cima, queridos amigos, para o braço de Emanuel, Ele pode

derrubar o mais orgulhoso. Orem para que Ele se agrade em derramar o Espírito. Eu

acredito que as orações humildes de um único crente podem obter uma obra profunda e

pura de Deus em uma cidade. Se houvesse homens entre nós, como Noé, Jó e Daniel

poderíamos esperar uma chuva de bênçãos.

II. É o Espírito que converte.

1. O Espírito da graça, Ele é assim chamado porque a Sua vinda a qualquer alma, e tudo o

que Ele faz na alma, é por livre graça. Quando o Espírito de Deus visita pela primeira vez

uma alma, Ele não encontra nada o convidando para vir ou para permanecer; Ele encontra

a alma como os ossos secos no vale aberto, sem qualquer forma ou formosura, sem qual-

quer desejo de vida. Todo homem natural não tem mais beleza do que um esqueleto seco,

nem mais desejo de graça do que uma carcaça morta. Não, mais, há tudo para conduzir o

Espírito à distância. Ele é um Espírito Santo, mas Ele encontra o coração em um poço de

corrupções, cheio das mais repugnantes luxúrias e paixões. Ele é um Espírito de amor, mas

Ele encontra o coração do homem cheio de rebeldia e terrível inimizade contra Deus. Ele é

um Espírito zeloso, mas Ele encontra o coração do homem uma câmara de imagens, repleto

de abominações. Eu posso imaginar o Espírito Santo olhando para alguns dos seus

corações, e dizendo: “Por que eu deveria aproximar-me de tal alma? Ele não quer que eu

o converta. Ele quer ser deixado em paz. Ele prefere servir às suas paixões; por que eu

deveria incomodá-lo? Eu vou deixá-lo sozinho”. Permaneça, permaneça, bendito Espírito

de graça! Venha, por livre graça. Venha, não porque ele deseja a Ti, mas porque és gra-

cioso. Venha e faça mesmo esses ossos secos levantarem-se e invocarem o nome de

Jesus.

Alguns de vocês sabem que foi assim que Ele veio até você. Ele encontrou você como um

rebelde, e Ele fez-lhe um filho obediente. Oh! você nunca se desesperou por nada, até Ele

que converteu seu coração! Há alguns entre vocês, queridos amigos, de quem o homem

poderia se desesperar, homens e mulheres que têm vivido por muito tempo em velhos peca-

dos formalistas, para os quais receber o Senhor nesta mesa é um antigo empreendimento.

Não nos desesperemos dos tais! O Espírito é o Espírito da graça. Convide-O para vir, pobre

alma morta.

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2. O Espírito de súplicas. Porque Ele ensina a orar. Dificilmente pode ser dito de um homem

natural que ele está orando. É verdade que ele tem frequentemente uma forma comum

para clamar na hora da angústia; mas será que ele sempre clama a Deus? Uma alma

ansiosa não pode orar com uma forma, pois ela diz: “Ninguém jamais foi como eu”. Mas um

homem ora realmente quando o Espírito vem à sua alma. Ele conduziu um ímpio Manassés

aos seus joelhos. Manassés havia muitas vezes dobrado os joelhos na juventude no colo

de seu pai piedoso, muitas vezes tinha orado aos seus ídolos sanguinários, ele tinha muitas

vezes orado ao Diabo; mas agora, quando o Espírito veio, ele começou a orar verdadeira-

mente. Ele conduziu um blasfemo Paulo aos seus joelhos. Muitas vezes, Paulo havia orado

aos pés de Gamaliel. Na sinagoga e nos cantos das ruas, ele fez longas orações, por pre-

tensão; mas agora, despertado pelo Espírito de Deus: “eis que ele está orando” [Atos 9:11].

Você foi ensinado a orar pelo Espírito de Deus? Você já teve uma forma, ou orou por

pretexto, ou você orou a ídolos; mas você foi levado a orar pelo Espírito Santo? Então, você

pode estar certo de que Ele começou a trabalhar em seu coração. Se algum dentre vocês

não foi levado a orar em secreto, o tal pode estar certo de que está em “fel de amargura e

laço de iniquidade”. Uma alma sem oração é uma alma adormecida muito perto do fogo.

Alguns pedaços de madeira queimarão muito mais facilmente do que outros; alguns peda-

ços são verdes e não são facilmente apanhados pela chama, mas um pedaço de madeira

seca é facilmente incendiado. As almas sem oração são pedaços secos de madeira que

estão prontos para a queima.

III. Onde a alma busca por conversão: “Eles olharão para mim, a quem traspassaram”.

Quando o Espírito de Deus está trabalhando realmente no coração, Ele faz o homem olhar

para um Cristo traspassado. Por onde passa, este é o objeto de destaque em Seu olho:

Cristo, aquele que foi traspassado. Satanás quer fazer um homem olhar para qualquer lu-

gar, em vez de Cristo. Há tal coisa como falsa conversão. Satanás às vezes atiça as pes-

soas para que se preocupem com suas almas. Ele faz com que busquem por ministros, ou

livros, ou reuniões, ou deveres a sentimentos, por se aplicarem na oração e etc. Ele vai

deixá-los olhar para qualquer coisa no universo, exceto para um objeto: a cruz de Cristo. A

única coisa que ele esconde é o Evangelho, o glorioso Evangelho de Cristo. Quando é o

Espírito de Deus, Ele não vai deixar a alma olhar para qualquer outra coisa, senão para

Cristo, para um Cristo traspassado.

O que uma alma despertada vê ali?

1. A alma vê que ela traspassou o Filho de Deus por seus pecados. Isto dá-lhe uma sensa-

ção terrível da grandeza infinita do pecado. Um homem natural não pensa nada a respeito

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do pecado. Uma blasfêmia ou uma mentira é tão leve como uma pluma em muitas de suas

consciências. Você não sente que isso seja um fardo, mesmo que houvesse um milhão

deles colocados sobre a sua alma. Você pode dormir com facilidade em todos os seus

pecados. Entretanto, se os seus olhos se abrissem para olhar para um Cristo traspassado,

você veria que o peso é infinito. Ah! Veja ali que Deus não poupou a Cristo, embora Ele

mesmo não tivesse pecado nenhum, senão pecados imputados. Veja a infinita ira derra-

mada sobre Ele! Vê que lanças perfuraram sua santa alma! Os cravos perfuraram suas

mãos e pés inculpáveis, mas todas as flechas de Deus bebiam de Seu espírito. Deus pou-

pará você, se você morrer em seus próprios pecados, quando estes pecados são os seus

próprios atos e ações?

Pense novamente: Cristo era Deus. Este sofredor pálido é o “Deus Forte, Pai da Eternidade,

Príncipe da Paz”; veja ainda como Ele afunda sob o peso; veja; no Getsêmani, como Ele

fica trêmulo, suando grandes gotas de sangue; veja-o no Calvário, como Seus ossos estão

fora das juntas, como sua cabeça está inclinada morrendo em agonia. Você é apenas um

verme. Você pode suportar esta ira? “Porventura estará firme o teu coração? Porventura

estarão fortes as tuas mãos, nos dias em que eu tratarei contigo?” [Ezequiel 22:14]. Olhem

para Cristo, pecadores busquem por um Cristo traspassado, e lamentem. Nada quebrantará

o vosso coração, senão uma visão de Cristo traspassado por seus pecados.

2. A alma vê que ela traspassou o Filho de Deus por meio da incredulidade. Quando o

Espírito revela Cristo à alma, isto é geralmente um unguento amargo. Um homem não

despertado não pensa nada sobre a incredulidade, ele não se importa de ter rejeitado a

Cristo por vezes sem número. Os ministros têm pregado até esgotar o fôlego, rogando-lhe

para converter-se e viver; Cristo tem permanecido todo o dia com as mãos estendidas;

Deus lamentou sobre esse homem e adiou lançá-lo no inferno; ainda assim, ele é um

rebelde endurecido. Ah! quando o Espírito desperta aquele homem, que visão ele vê em

um Cristo traspassado! Alguns de vocês estão dizendo hoje: Eu tenho desprezado esse

Alguém glorioso. Ele com frequência quis me acolher, e eu não quis. Deus tem esperado

por mim há anos. Jesus tem batido em minha porta, e eu nunca quis deixá-lO entrar; e

agora eu sinto que Ele se foi para sempre. Sim, alguns de vocês podem sentir que o seu

coração não está disposto a obtê-lO, está tão duro e morto. Quanto mais formoso Ele

parece, mais o seu coração é traspassado, porque você O tem rejeitado. Ah, não há dor

como a de olhar para um Cristo traspassado!

(1) Há uma tristeza amarga. Você já viu os pais de luto pela perda de seu filho único, ou de

seu primogênito? É uma tristeza inefável. Tal é a angústia de quem olha para um Cristo

traspassado. De fato, alguns têm agonia mais profunda do que outros; mas todos os que

verdadeiramente olham para Cristo estão em amargura.

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(2) Há uma tristeza solitária. Na verdade, esta não estará restrita em nenhum lugar; e estão

errados aqueles que condenam precipitadamente a intensa ansiedade manifestada mesmo

em público; mas esta dor procura a sombra, a alma atingida procura estar a sós com Deus,

ou com alguns de semelhante espírito. David Brainerd menciona que em uma ocasião,

quando ele estava pregando a Cristo traspassado aos seus índios, o poder de Deus desceu

entre eles como um vento impetuoso: “A preocupação deles foi tão grande, cada um por si,

de modo que nenhum parecia se importar com aqueles ao seu redor. Eles estavam, à sua

própria apreensão, tão retraídos como se estivessem sozinhos no deserto mais espesso.

Cada um estava orando à parte, e, ainda assim, todos juntos”.

Ó queridos amigos, se vocês realmente olhassem para um Cristo traspassado, vocês esta-

riam em angústia de alma a fim de obter uma participação nEle. Vejam como vocês O tem

menosprezado nos dias passados. Na juventude, na Escola Dominical, quando criancinhas,

como vocês O recusaram! Quando vocês vieram pela primeira vez à mesa do Senhor, Ele

permaneceu um Salvador traspassado diante de seus olhos; mas vocês O negligenciaram,

e O pisotearam. E vocês estão chegando ao dia de hoje para perfurar-Lhe mais uma vez,

para enfiar novamente os cravos em Suas mãos, a lança em Seu lado e os espinhos em

Sua testa? Pare, pecador! Tu estás perfurando Alguém que te ama, matando o Príncipe da

Vida, negligenciando o único Salvador. Se você O rejeitar hoje, você pode jamais vê-lO

novamente até que O veja nas nuvens do céu, e lamente-se por causa dEle.

Caros crentes, lembrem-se de como vocês O traspassaram; deixem que ervas amargas

adocem a sua páscoa, permitam que uma lembrança amarga do pecado passado faça de

Cristo muitíssimo mais precioso.

IV. Uma fonte é vista em um Cristo traspassado.

O primeiro olhar a Cristo faz o pecador lamentar-se; o segundo olhar a Cristo o faz alegrar-

se. Quando a alma primeiramente olha para Cristo, ela vê metade da verdade, ela vê a ira

de Deus contra o pecado, que Deus é santo, e deve vingar o pecado, por que Ele de ne-

nhuma forma inocenta o culpado, ela vê que a ira de Deus é infinita. Quando ela olha para

Cristo novamente, ela vê a outra metade da verdade, o amor de Deus pelos perdidos, que

Deus providenciou uma segura libertação a todos. É isso que enche a alma de alegria. Oh!

é estranho que o mesmo objeto deva ferir o coração e curá-lo! Um olhar para as feridas de

Cristo, um olhar para Cristo cura. Muitos, eu temo, têm apenas olhado pela metade para

Cristo, e isso causa apenas tristeza. Muitos são tardos de coração para crer em tudo o que

se fala a respeito de Jesus. Eles acreditam em tudo, exceto que Ele é gratuito para eles [...].

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Quando o Espírito está ensinando, Ele concede uma visão plena de Cristo, um olhar para

Ele somente por justiça. O que o pecador vê? As feridas de Cristo, uma fonte para o pecado

e para a impureza. Ó, trêmulos pecadores, venham e obtenham este olhar para Cristo!

Venham e vejam uma fonte para o pecado e para a impureza, aberta no Calvário há mil e

oitocentos anos atrás. “Eu não posso, pois os meus pecados são muito grandes”. Você é

todo pecado e impureza, nada além de pecado, uma massa de pecado? Em sua vida, em

seu coração, você é um feixe de luxúrias? Aqui está uma fonte aberta para você; olhe para

Cristo traspassado, e pranteie; olhe para Cristo traspassado, e seja feliz. “Eu não consigo

me lavar”. Olhar é lavar. Tão logo o olho se volta, as vestes imundas caem.

A fonte está aberta nesta casa de Deus hoje. No próprio aproximar-se das mesas, Jesus

se levanta e diz: “E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida”

[Apocalipse 22:17]. Você está disposto? Você busca somente por Ele para a justiça? Então,

venha, assim lavado para a mesa do Senhor, na mesma veste que você usará na glória.

Sente-se e volte os seus olhos para a fonte. Valorize isso altamente! O que você não deve

a Quem te salva da perdição!?

Alguém poderia passar da fonte para a mesa. Cuidado, homem ímpio! Você se atreverá a

sentar-se ali com o pecado não perdoado sobre você? Você se arriscará a tocar o pão, sem

que sua alma esteja lavada? Ah, você se arrependerá amargamente um dia! Alguns, eu

confio se lembrarão deste dia na glória; alguns, receio, se lembrarão deste dia no inferno.

São Pedro, 19 abril de 1840.

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5 Cristo, o Único Refúgio

“Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti;

esconde-te só por um momento, até que passe a ira.” (Isaías 26:20)

Esta passagem é uma palavra em tempo oportuno ao povo de Deus em toda época de

calamidade iminente. A forma de expressão é evidentemente tomada a partir daquela noite

terrível quando Deus passou pela terra do Egito para ferir todos os primogênitos dos

egípcios, desde o primogênito de Faraó que estava assentado sobre o trono, até o

primogênito do cativo que estava na masmorra. E Faraó levantou-se de noite, ele e todos

os seus servos, e todos os Egípcios, e houve um grande clamor no Egito, porque não havia

casa em que não houvesse um morto. Mas Deus tinha ordenado o Seu próprio Israel a

matar o cordeiro pascal, o tipo do Senhor Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, e a tomar um

molho de hissopo, e mergulhá-lo no sangue, e pô-lo na verga da porta e em ambas as

ombreiras, com sangue: “porém nenhum de vós saia da porta da sua casa até à manhã”

[Êxodo 12:22]. “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre

ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.

Pode ser difícil determinar a que tempo de indignação o profeta aqui se refere. A profecia

foi dada no início do reinado de Ezequias, quando muita destruição ainda estava por vir

sobre a terra de Israel. A invasão por Senaqueribe, o assírio, estava prestes a acontecer, e

pode ser primariamente referido a isto. A invasão por Nabucodonosor, e cativeiro de setenta

anos também estavam vindo; e também podia referir-se a isso. E a invasão pelos Romanos,

na qual Jerusalém foi destruída, e os judeus finalmente dispersos pelo mundo inteiro,

também podia remeter-se a isso. E em todas essas iminentes indignações, a Palavra de

Deus ao seu povo foi, para que se escondessem em seus aposentos, no refúgio em que

Ele lhes tinha designado, até que a ira passasse.

Porém, acima de tudo, esta profecia refere-se à grande tempestade de ira que Deus ainda

trará sobre o mundo, antes que venha o fim. Quando o Senhor Jesus virá uma segunda

vez, sem pecado para salvar; quando Ele virá novamente, não mais um pobre homem,

vestido com uma túnica sem costura, mas glorioso em Seu traje, marchando na plenitude

da Sua força: “quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu

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poder, com labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que

não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; quando vier para ser

glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que creem

(porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)” [2 Tessalonicenses 1:7, 8, 10]. Naquele

dia de terrível tribulação, que a não ser que fosse encurtado, nenhuma carne se salvaria,

Deus reunirá os Seus como se fosse em câmaras, e os guardará escondidos até que a

tempestade passe.

Como no dilúvio Ele conduziu Seu pequeno rebanho para o interior da Arca, e está escri-

to: “o Senhor o fechou dentro” [Gênesis 7:16], Ele fechou as portas sobre eles, até que o

dilúvio de Sua ira passou; como na destruição de Jericó, a família de Raabe foi toda reunida

dentro das portas, e salvos da ira que veio sobre todos; como na destruição dos primogê-

nitos do Egito, Deus guardou o Seu próprio Israel escondido em segurança nas suas habi-

tações; assim, na última tempestade que cairá sobre este miserável mundo que perece,

Deus reunirá os seus eleitos em segurança sob a palma da mão, dizendo: “Vai, pois, povo

meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um

momento, até que passe a ira”.

A doutrina a ser aprendida a partir desta passagem é muito simples, a saber, que em todos

os tempos de calamidade Deus nos ordena e a nossas famílias a encontrarmos refúgio em

Cristo. Não há segurança em qualquer outro lugar.

Cristo é um refúgio completo em cada tempestade.

Em outras partes da Bíblia, Cristo é comparado a “um esconderijo contra o vento, e um re-

fúgio contra a tempestade e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta” [Isaías

32:2]; Ele é comparado a uma “torre forte” [Provérbios 18:2] ou “alto refúgio” [Salmos 18:2],

para o qual nós podemos fugir e estar a salvos. Ele é comparado a uma “macieira entre as

árvores do bosque”, sob a sombra da qual, podemos sentar, e seu fruto é doce ao nosso

paladar [Cânticos 2:3], mas a comparação aqui é bem diferente, ele é aqui comparado ao

nosso próprio quarto com a porta fechada: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e

fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.

Agora Cristo é como o nosso próprio quarto com a porta fechada, em muitos aspectos:

(1) Porque há segurança nEle. Não há lugar em todo o mundo para o qual olhamos com

mais frequência em uma hora de perigo, como um refúgio e lugar de segurança, mais do

que a nossa própria casa, o quarto interior, com a porta fechada. Irmãos, precisamente

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assim é Cristo. Há segurança nEle: “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo

Jesus” [Romanos 8:1].

(2) Porque há sossego e descanso nEle. No mundo nós olhamos para a agitação e preocu-

pação dos negócios, mas quando entramos em nosso quarto e fechamos a porta para o

mundo inquieto, tudo é tranquilidade e paz. Irmãos, exatamente assim é Cristo. NEle o “can-

sado está em repouso”. Nós estamos “sem inquietações” temos “repouso e segurança para

sempre”.

(3) Porque a nossa casa é um refúgio de prontidão, de acesso próximo e fácil. Quando bus-

camos a nossa casa, não temos que subir com a águia até o topo das rochas escarpadas,

nem como a pomba que se aninha nos lados da boca da caverna, nem temos que cavar a

terra, para que possamos esconder nossa cabeça ali. Nossa casa está próxima de nós.

Irmãos, precisamente assim é Cristo. Ele é um Salvador de prontidão que está próximo e

não distante. Nós não temos que subir, para trazer Cristo do alto, nem temos que descer

para a profundeza, para trazer Cristo, novamente, dentre os mortos. Mas a palavra está

perto de ti, na tua boca e no teu coração. Oh! Ele é um Salvador próximo; Ele não está

longe de cada um de nós. Agora, este é o refúgio para o qual Deus ordena ao Seu povo

fugir, em cada tempestade: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas

portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. E oh! Ele é um refúgio

todo-suficiente em cada tempestade.

I. Cristo é um refúgio completo durante as tempestades da consciência. A grande maioria

dos homens não-convertidos estão vivendo mui seguros em seus pecados; indo de um dia

para o outro sem a menor ansiedade, embora a ira de Deus permaneça sobre eles. A razão

é que os cálices da ira estão suspensos sobre suas cabeças, mas ainda não foram derrama-

dos; as chamas do inferno estão queimando debaixo de seus pés, mas eles ainda não

sofreram por tocá-las. Deus é longânimo, não querendo que ninguém pereça. Mas quando

Deus desperta a alma para conhecer a sua verdadeira condição, então surge, no interior,

uma tempestade da consciência. Ó irmãos! então, não há mais segurança para aquela

alma. Ela não sente a repugnância do pecado como um filho de Deus, mas sente o terror

da ira. O Espírito a convenceu do pecado. Cada pecado de sua vida passada se le-vanta

atrás dela, e parecem clamar vingança. Todos os pecados de suas mãos roubando as

coisas que não eram suas, manipulando as coisas ilegalmente, e escrevendo coisas

abomináveis e tolas; os pecados de seus pés, velozes para derramar sangue, rápidos para

levá-lo para os antros do pecado; os pecados de seus olhos, cheios de adultério, e que não

poderiam deixar de pecar; os pecados da língua amando e praticando a mentira, expres-

sando palavras de murmúrio, maledicência, calúnia e amargura, falando palavras vergonho-

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sas na escuridão, coisas as quais até mesmo o citar é uma vergonha; os pecados do seu

coração, pois este deve ter sido sempre como uma fonte jorrando desejos abomináveis e

afeições repugnantes em direção à criatura, ao passo que o Criador era desprezado,

embora seja o mais amorável de todos.

Ó irmãos! quando um homem realmente sente que a ira de Deus está posta sobre ele por

toda uma vida de pecado, quem pode suportar a tempestade? e, o pior de tudo: quando o

Espírito convence do pecado, “porque ele não crê em Jesus”. Quando o pecador sente que

Jesus estendeu a Sua mão o dia todo, e ele não considerou; que o gentil Salvador o cha-

mou, e ele recusou; que ele desprezou as ofertas de misericórdia pisoteando-as, e des-

prezou o Espírito da graça, em seguida, a tempestade de consciência sobe em um turbilhão.

Os temores da ira caem duramente sobre a alma; eles são como ondas e vagas passando

por cima dele. Agora, sua esposa e filhos não podem animá-lo nem seus companheiros de

pecado podem fazê-lo rir de seus medos. Ó irmãos, se alguma vez vocês já viram o sem-

blante triste e abatido de um pecador convencido por Deus, vocês não esquecerão disto

tão cedo. Ele não tem certeza, se seu próximo passo não pode ser o inferno. Quando ele

adormece, ele não sabe, se ele não pode acordar no inferno.

Oh! se há uma alma aqui, assim despertada, aflita, na tempestade e desconsolada, ouça

esta palavra: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti;

esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. É verdade, esta é uma palavra, princi-

palmente para o povo de Deus, que já está escondido em Cristo, mas Cristo é tão livre para

você como para eles. NEle há uma segurança perfeita. NEle há tranquilidade e descanso.

Ele é um Salvador próximo. Seus braços são tão abertos para recebê-lo como é a sua

própria casa. Vinde, pobres pecadores, entrem neste quarto. Todo aquele que está agora

em Cristo, já esteve na tempestade, como você está. Quando um homem é surpreendido

ao cair da noite em um pântano sombrio, quando o vento gelado sopra amargamente sobre

ele, e a neve abundante retarda cada passo seu, onde é que ele deseja estar? Que lugar

em todo o mundo está frequentemente em sua desejosa imaginação? É sua casa, em seu

quarto com a porta fechada. Se ele apenas estivesse ali, estaria seguro. Ó pobre alma,

exatamente assim é você, e precisamente assim, como uma casa, é Cristo, que não dis-

tante, mas próximo. Crê no Senhor Jesus e serás salvo. Esconda-se nEle, pois Ele é um

esconderijo contra o vento.

II. Cristo é um refúgio completo em uma tempestade de providência.

Quando as providências são todas favoráveis, é assombroso como quão descuidados os

homens não-convertidos são em relação a Deus e às coisas da eternidade.

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Quando o esplendor da saúde estampa o seu rosto, eles começam a viver como se fossem

viver para sempre, como se não houvesse morte e nem inferno. Quando o seu negócio con-

tinua próspero de semana a semana, eles começam sentir-se como senhores do universo,

como se esse mundo fosse seu, como se as suas casas, terras e dinheiro fossem todos

seus próprios, e eles nunca poderiam abrir mão. E é ainda mais surpreendente ver quão

mais descuidados até mesmo os filhos de Deus são nestes tempos de prolongada e contí-

nua prosperidade; como a morte e a eternidade, e o estar com Cristo e o crescer em seme-

lhança com Ele se tornaram coisas menos desejáveis do que uma vez foram. Quão pare-

cidos eles se tornam com o mundo, ao supor que o ganho é piedade. Como os pobres e

miseráveis bens deste mundo parecem, por um tempo, estar no meio e interceptar a visão

da herança que é incorruptível, incontaminável, imperecível. Como o deslumbre e o brilho

deste presente mundo vil ofuscam os seus os olhos, e escurecem a sua visão da contem-

plação do Rei em Sua formosura, e da terra que está mui distante.

Agora, é profundamente interessante e instrutivo observar o pânico que vem sobre a face

da sociedade, quando Deus faz uma súbita mudança de providências; quando, de repente,

o céu está nublado, o trovão distintamente começa a retinir, e a tempestade da providência

progride. Quando aqueles acidentes súbitos ocorrem no mundo comercial, quando a ava-

lanche das montanhas nevadas desce sobre alguma aldeia infeliz e sufoca famílias inteiras

em meio à sua alegria irracional. Quando essas catástrofes esmagadoras descem, envol-

vendo famílias inteiras em ruína e miséria, é estranho ver como o mundo fica espantado, a

sua sabedoria é totalmente frustrada e confundida. Ou quando Deus envia um tempo de

doença generalizada e morte; quando Ele parece envenenar a própria atmosfera; quando

somos visitados pela peste que anda na escuridão e pela mortandade que assola ao meio-

dia; quando caem mil nosso lado, e dez mil à nossa direita. Oh! é estranho ver o pânico que

vem sobre os homens, e a palidez sobre todos os rostos.

É como quando um conjunto de barcos de pesca saiu em uma excursão quando o vento

era bom, e o sol brilhava alegremente, e as ondas azuis ondulavam suavemente por todos

os lados, e tudo é alegria e despreocupação em cada barco, quando de repente o céu fica

nublado, o vento ruidoso sobe, uma terrível tempestade se aproxima, e a morte olha os ho-

mens no rosto. Ah! então, que pânico se apodera da tripulação em cada barco? Que

rizadura das velas! que avidez no leme! como alguém procura correr para o litoral, outro

para o interior! Assim é o pânico que vem sobre os homens não-convertidos em um momen-

to de calamidade generalizada. E oh! quão religiosos eles agora se tornam! como olham

para a sepultura, e abandonam seus gracejos e conversas licenciosas, e pensam que isto

é religião! Eles são como Israel no passado: “Quando os matava, então o procuravam; e

voltavam, e de madrugada buscavam a Deus. E se lembravam de que Deus era a sua

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rocha, e o Deus Altíssimo o seu Redentor. Todavia lisonjeavam-no com a boca, e com a

língua lhe mentiam. Porque o seu coração não era reto para com ele, nem foram fiéis na

sua aliança” [Salmos 78:34-37].

Agora, irmãos, em tal tempestade da providência Divina, Cristo é um refúgio completo; e

embora os filhos de Deus, em tais momentos, mesmo eles, parecem estar em dúvida e sob

perigo, porque não sabem o que pensar e nem para onde fugir, ainda assim eles podem

ouvir a Palavra de Deus acima da tempestade: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos,

e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira” [Isaías

26:20]. Assim como o nosso próprio quarto, com as portas fechadas sobre nós, é o lugar

onde temos sossego e descanso, e a tempestade pode se enfurecer lá fora, mas não a sen-

tiremos; e o mundo pode estar chorando em voz alta, contudo, nós não o ouviremos, assim

o Senhor Jesus é um refúgio perfeito para o crente, em todas as tempestades da providência.

Os homens tendem a pensar que o único bem em esconder-se em Cristo é salvar as nossas

almas, de forma que quando um pecador despertado se esconde no Senhor Jesus, ele en-

contra o perdão de todos os pecados e paz com Deus, porém nada mais. Mas toda a Bíblia

mostra que há muito mais em Cristo, de modo que, quando nós nos escondemos nEle, nós

somos salvos de todas as nossas angústias, de nossos problemas de saúde, do dinheiro,

do mundo. No Salmo 34, é mencionado quatro vezes, que quando nos aproximamos de

Cristo, somos salvos, e não de um problema, mas de todos os nossos problemas: “Busquei

ao Senhor, e ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores” (v. 4). “Clamou este

pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias” (v. 6). “Os justos clamam,

e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas angústias” (v. 17). “Muitas são as aflições

do justo, mas o Senhor o livra de todas” (v. 19). E a razão é simples: quando nos esconde-

mos em Jesus, o Deus de provisão torna-se o nosso Deus e Pai, e nós sabemos que todas

as coisas cooperam para o nosso bem. O Senhor é nosso pastor e nada nos faltará.

Qualquer temporal pode ser afastado, nós sabemos que nosso bem eterno está seguro:

“porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu

depósito até àquele dia” [2 Timóteo 1:12].

Ó meus amigos crentes, por que vocês deveriam estar desencorajados neste tempo de

peste grandemente disseminada e calamidade? por que vocês estariam abatidos, como se

Deus estivesse lhes cobrindo com uma nuvem em Sua ira? Estas nuvens podem ser

algumas gotas da ira vindoura de Deus sobre o mundo, elas podem ser como o primeiro

trovejar da chuva; mas para vocês, elas falam na linguagem do amor. Deus quer que vocês

se escondam mais profundamente em Cristo, Ele quer vocês mais separados do mundo:

“Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti”.

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Nós nunca conheceríamos a bênção de uma casa, se não houvesse as neves e os ventos

invernais para nos fazer em multidão ficar em volta da lareira feliz! Exatamente assim, cren-

te, você não conhece a bênção de tal quarto como é Cristo, se não houvesse enfermidades

e providências escuras eminentes para fazê-los viver mais nEle. Venha então, crente, que

cada gota de ira que cai em torno de você fale com o novo poder à sua alma, dê nova luz

à fé pela qual você se apegará a Jesus. Deixe que cada suspiro que você ouve, seja como

se fosse uma voz de Deus, dizendo: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos”.

E vocês, pobres almas sem Cristo, ah! para onde vocês correrão, pobres ovelhas que não

têm pastor, indefesas e perdidas no deserto deste mundo? Vocês não têm casa. Entrem

em vossos quartos mais seguros e fechem a porta, mas, ainda assim, a vingança pode

chegar ali. Deus está contra você, Sua ira está habitando sobre você. O dia do Senhor é

trevas e não luz para você. Onde quer que você vá você é uma alma perdida. “É como se

um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele o urso; ou como se entran-

do numa casa, a sua mão encostasse à parede, e fosse mordido por uma cobra” [Amós

5:19]. Ó irmãos! Vocês são homens, vocês têm tendes entendimento, não fugireis da ira

vindoura? Será que essas enfermidades assoladoras não vos convencem de que Deus é

mais forte do que vocês, que vocês serão como nada nas mãos de um Deus irado? Até

mesmo para vocês, Cristo, a porta da salvação, ainda está aberta, escancarada. Vinde,

pobres pecadores, entrem neste quarto e fechem as tuas portas sobre vocês. “Esconde-te

só por um momento, até que passe a ira”.

III. Há apenas duas observações que gostaria de fazer, em conclusão:

1. Esta passagem ordena que nos escondamos em Cristo, e não isoladamente, mas em

famílias. Na libertação que Deus operou por Israel no Egito, Ele ensinou isso mui notável-

mente, pois Ele não reuniu Israel em alguma grande torre onde eles poderiam estar segu-

ros, mas ordenou que cada família permanecesse dentro de sua própria casa, apenas as-

pergindo suas portas com o sangue. E assim, ao salvar Noé, Deus não salvou a alma de

um indivíduo, mas a família inteira. E assim, na salvação de Ló, Deus salvou a Ló, e a todos

os que estavam com ele. E assim, na salvação de Raabe, ela e toda a sua parentela foram

reunidos e salvos. Meus amigos, Deus ainda é o Deus das famílias, e Ele ainda quer que

famílias inteiras sejam salvas; e Ele diz assim nas palavras diante de mim: “Vai, pois, povo

meu, entra nos teus quartos”. Ai! meus amigos, nós vivemos em dias quando a religião de

família está prostrada no chão. Os homens são muito orgulhosos para ser como Abraão, e

ordenar os seus filhos e seus servos depois deles. Os homens atuais tomam as palavras

de Caim, e dizem: “Sou eu o guardião de meu irmão?”. Ah! Onde estão os nossos Andrés

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agora? André primeiro achou seu próprio irmão, Pedro, e disse a ele: “Achamos o Cristo; e

levou-o a Jesus”.

O quê!? há um de vocês que pensa de si mesmo ser um filho de Deus, e ainda se envergo-

nha de ajoelhar-se no meio de sua família e orar? Ai! meu amigo, você pode sonhar que é

um filho de Abraão, mas lembre-se que você não faz as obras de Abraão. Ah irmãos, famí-

lias inteiras precisam ser salvas, pois famílias inteiras estão em perigo do inferno.

Então, você que conhece o Senhor, as suas entranhas não suspiram pela sua parentela

perecendo? Você não pode empenhar-se em algo, penso eu, para ganhá-los para Cristo?

Você não fortalecerá nossas mãos, no mínimo, pelas suas palavras e orações, e pela aber-

tura do caminho para que o ministro de Cristo entre no seio de suas famílias não-conver-

tidas? Ah! neste tempo de angústia, você não insistirá com eles, como os anjos fizeram

com Ló? Ouça! o Senhor vos chama: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha

as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.

2. Eu observo que os perigos a que estão expostos o crente são apenas passageiros. Deus

diz: “Esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. Foi assim naquela noite quando

Deus feriu os primogênitos do Egito. Era apenas por uma noite que eles tiveram que

esconder-se em suas casas: “nenhum de vós saia da porta da sua casa até à manhã”. Foi

assim na destruição de Jericó, Raabe e sua parentela esconderam-se por sete dias, até

que o perigo passasse. E justamente assim, os problemas dos crentes agora são por um

curto período: “nossa leve e momentânea tribulação” [2 Coríntios 4:17]. E também a ira que

há de vir sobre o mundo será, apenas por um momento, que em breve passará.

(1) As tribulações temporais são apenas por um momento. Estas tristes doenças e calami-

dades não durarão para sempre, um pouco de tempo e este corpo será livre do poder da

dor e de suas misérias. Eu sei que se algum de vocês tivesse provado a doçura de estar

em Cristo, estaria contente em esconder-se nEle por toda a eternidade. Seja bem-vinda uma

eternidade de problemas exteriores, se apenas eu estiver escondido em Cristo. Mas você

não é solicitado a fazer isso: “Esconde-te só por um momento”. Viva apenas mais alguns

anos na fé, e tu viverás o restante em glória: “Se sofrermos, também com ele reinaremos”

[2 Timóteo 2:12].

(2) A ira do último dia será apenas por um momento. Dias de ira estão chegando, meus

amigos, tal como o mundo nunca conheceu antes; é vão esconder-se. E se esses dias não

fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria, mas por causa dos escolhidos serão abre-

viados, para que aconteçam por pouco tempo. Se estes dias de tribulação se darão em

nossos dias, eu não sei, pois não sabemos o dia nem a hora em que o Filho do Homem vi-

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rá. Mas isso eu sei, que não há segurança nem por outra noite para qualquer alma que não

esteja escondida no Salvador. Eu repito isto, meus amigos, se vocês deitarem em sua cama

nesta noite sem de Cristo, o Filho do Homem pode vir antes da manhã, e vocês serão arrui-

nados, e terão o seu quinhão com os hipócritas, onde há choro e ranger de dentes.

Mas, ó crente escondidos na Rocha, permanecei nEle. Enquanto o céu escurece ao vosso

redor, escondam-se mais profundamente nEle. Isto é apenas por um curto período como

uma nuvem sombria e escura, mas virá luz do sol eterno acima de uma grande onda de

vingança, e um oceano infinito de glória.

Filhinhos, permanecei nEle, para que quando Ele se manifestar tenhais confiança, e não

fiqueis confundidos diante dEle na Sua vinda: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quar-

tos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.

Dundee, 15 de janeiro de 1837.

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6 Pode Uma Mulher Esquecer?

“Porém Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de

mim. Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não

se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele,

contudo eu não me esquecerei de ti.” (Isaías 49:14-15)

Estas palavras aplicam-se, em primeiro lugar, ao antigo povo de Deus, os judeus. Antes de

sua conversão final, acredito que seus olhos serão abertos para ver o seu pecado e mi-

séria. Eles olharão para Aquele a quem traspassaram, e lamentarão. Quando eles ouvem

as ofertas gloriosas de misericórdia, eles não são capazes de acreditar nelas: “Sião dirá:

Já me desamparou o Senhor, o meu Deus se esqueceu de mim”. Mas Deus vai responder-

lhes que, não obstante todos os seus pecados e aflições passadas, Ele ainda os amará, e

será o seu Deus: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria,

que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse

dele, contudo eu não me esquecerei de ti”. Estas palavras são igualmente verdadeiras para

todos os crentes.

I. Investigue nesses momentos em que casos os próprios crentes pensam estar abando-

nados.

1. Em tempos de aflição dolorosa. Assim foi com Noemi, ela havia perdido seu amado

marido e seus dois filhos na terra de Moabe. E agora, quando ela voltou, apoiando-se em

sua nora, até o monte de Belém, toda a cidade se alvoroçou, e eles disseram: “Não é esta

Noemi? Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande

amargura me tem dado o Todo-Poderoso. Cheia parti, porém vazia o Senhor me fez tornar;

por que pois me chamareis Noemi? O Senhor testifica contra mim, e o Todo-Poderoso me

tem feito mal” [Rute 1:19-21]. Assim, foi com Ezequias. Quando o Senhor lhe disse: “Assim

diz o SENHOR: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás. Então virou

Ezequias o seu rosto para a parede, e orou ao Senhor... E chorou Ezequias muitíssimo.

Como o grou, ou a andorinha, assim eu chilreava, e gemia como a pomba; alçava os meus

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olhos ao alto; ó Senhor, ando oprimido, fica por meu fiador” [Isaías 38:1-3, 14-15]. Assim

com Jó, quando Jó perdeu seus rebanhos, e seus dez filhos em um único dia, quando a

sua saúde corporal foi destruída, e ele sentou-se entre as cinzas, então, abriu Jó a sua

boca, e amaldiçoou o seu dia: “Pereça o dia em que nasci. Por que se dá luz ao miserável,

e vida aos amargurados de ânimo? Ah! que Deus quisesse quebrantar-me, e soltasse a sua

mão, e me acabasse!” [Jó 3:3, 20; 6:9].

Ah! É uma coisa triste quando a alma enfraquece sob as repreensões de Deus. Elas foram

intencionadas a conduzir de forma mais íntima a Cristo, a um fruir mais pleno de Deus. Não

desmaies quando fores repreendido por Ele. Quando uma alma vem a Cristo, ela espera

ser levada para o céu em um caminho verdejante, suave, sem espinhos. Pelo contrário, ela

é levada à escuridão; a miséria olha em seu rosto, ou a perda deixa-lhe sem filhos, ou as

perseguições amarguram a sua vida. E agora sua alma se lembra do absinto e do fel. Ela

esquece o amor e a sabedoria que está lidando com ela, ela diz: “Eu sou aquele homem

que viu a aflição, já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”.

2. Quando eles caem em pecado. Enquanto um crente anda humildemente com o seu

Deus, sua alma está em paz. A lâmpada do Senhor brilha sobre sua cabeça. Ele caminha

na luz, como Deus está na luz, e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho purifica-o de todo o

pecado. Mas no momento em que a incredulidade o atinge, ele é levado ao pecado; como

Davi, ele cai muito baixo. Um crente geralmente cai mais baixo do que o mundo; e agora

ele cai na escuridão.

Quando Adão caiu, ele temeu, e ele escondeu-se de Deus, entre as árvores do jardim, e

ele fez uma cobertura de folhas. Ai! quando um crente cai, ele também tem medo; ele se

esconde de Deus. Agora, ele perdeu uma boa consciência; ele teme se encontrar com

Deus; ele não ama a casa de oração; o seu coração está cheio de dúvidas. “Se fosse um

filho de Deus, Deus me deixaria entregue às concupiscências do meu próprio coração?”,

diz ele e se recusa a voltar. “Não há esperança; porque amo os estranhos, após eles anda-

rei” [Jeremias 2:25]. Embora Deus nunca tenha sido um deserto, nem uma terra de

escuridão para a alma, ainda assim ela diz: “Temos determinado; não viremos mais a ti?”

[Jeremias 2:31]. “Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”. Ah!

este é o mais amargo de todos os tipos de deserção. Se você lançar fora a fé e uma boa

consciência, você fará um naufrágio.

3. Em tempo de deserção. Deserção é Deus retirando-se da alma do crente, de modo que

a Sua ausência é sentida. O mundo não conhece nada sobre isso, e ainda assim é verdade.

Deus tem maneiras de revelar a Si próprio de outra maneira do que Ele faz para o mundo:

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“O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança”

[Salmos 25:14].

Jesus está frequente e pessoalmente com eles. Eles sentem a Sua presença, seus cora-

ções ardem dentro deles. Eles, às vezes, sentem que Ele cumpre essa palavra: “Não vos

deixarei órfãos; voltarei para vós” [João 14:18]. O Pai é o seu próprio refúgio. Eles sentem

Seus braços eternos debaixo deles, eles sentem Seu olho contemplando-os, sentem o Seu

amor sendo derramado sobre eles como um raio de luz do céu.

O Espírito Santo está dentro dele. Ele às vezes sente o seu sopro, às vezes ele sente que

tem o Espírito dentro dele, clamando: “Aba, Pai”. Oh! Este é o céu sobre a terra, alegria ple-

na, satisfatória. Às vezes agrada a Deus retirar-se da alma, principalmente, eu creio: Pri-

meiro, para nos humilhar ao pó; segundo, para revelar alguma corrupção não mortificada e

terceiro, para nos conduzir a mais fome por Ele.

Tal era a condição de Davi quando ele escreveu o salmo 42: “Direi a Deus, minha rocha:

Por que te esqueceste de mim? Por que ando lamentando por causa da opressão do

inimigo? Com ferida mortal em meus ossos me afrontam os meus adversários, quando todo

dia me dizem: Onde está o teu Deus? Assim como o cervo brama pelas correntes das

águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!”. Ah, muito mais do que a sede natural

do cervo ferido, pelas correntes de águas, é a sede espiritual da alma abandonada por

Deus. Tal era o sentimento de Jó, quando ele clamou: “Porque as flechas do Todo Poderoso

estão em mim”. E novamente: “Ah! quem me dera ser como eu fui nos meses passados,

como nos dias em que Deus me guardava!” [Jó 29:2]. Ele tem uma lembrança amarga de

sua alegria passada, um amargo senso de que meios não podem trazer sua alma de volta

para o descanso. Tal foi o sentimento da noiva: “De noite, em minha cama, busquei aquele

a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei” (Cânticos 3:1). Ah irmãos, se você

alguma vez conheceu algo disto, você saberá o sentimento miserável da distância de Deus,

de ter montanhas entre a alma e Ele, implícitas nestas palavras: “Já me desamparou o

Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”.

II. Deus não pode esquecer uma alma em Cristo: “Porventura pode uma mulher esquecer-

se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas

ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti”.

1. O amor de Deus é como um amor de mãe. Não há amor neste mundo semelhante ao

amor de uma mãe. É um amor livre, sem comparação, altruísta. Por mais dor que ela tenha

sofrido por causa de seu filho, apesar dos muitos problemas que ela tenha que suportar por

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ele, de noite e de dia, enquanto ele se pendura em seu seio, para ela isto é mais precioso

do que o ouro. Há algo em seu coração que se apega ao seu filho fraco, adoentado, ou me-

lhor, até mesmo ao débil. O amor de Deus por uma alma em Cristo é mais forte do que es-

se amor. O Salmista o compara ao de um pai: “Assim como um pai se compadece de seus

filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem” [Salmos 103:13]. E Malaquias

3:17: “poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve”. Novamente, em

Isaías 66:3: “Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei; e em Jeru-

salém vós sereis consolados”.

Este amor de uma mãe por seu filho é natural para ela. Ela não consegue explicá-lo. Você

não pode mudá-lo. Você deve quebrar em pedaços o coração da mãe antes que possa

alterar o seu amor por seu filho. E ainda existem algumas almas miseráveis tão deforma-

das por Satanás, com seus corações tão brutalizados, que podem se esquecer de seus

filhos. A mãe indiana pode dançar sobre o túmulo de seu filho, e a assassina pode levantar

a mão contra a vida de seu pequenino: “Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo

eu não me esquecerei de ti”.

O amor de Deus por uma alma em Cristo é um amor natural. É um amor enraizado em Sua

natureza. O Pai ama o Filho; e este é o mesmo amor com o qual Ele ama a alma que está

em Cristo. Ele não pode esquecê-lo. Ele O ama porque Ele é totalmente desejável, Ele O

ama porque Ele é digno de ser amado, Ele O ama porque Ele deu a Sua vida pelas ovelhas.

Tudo o que há em Deus leva-O a amar Seu Filho, Sua santidade, Sua justiça, Sua verdade;

e portanto, tudo o que há em Deus leva-O a amar a alma que está em Cristo.

Irmãos, não estejam prostrados em aflição. Almas abandonadas, o amor de Deus não pode

mudar, a menos que Sua natureza mude. Não até que Deus deixe de ser santo, justo e

verdadeiro, Ele deixará de amar a alma que se esconde sob as asas de Jesus.

2. Amor do Pai é o amor pleno. O amor de uma mãe é o maior amor que temos na Terra.

Ela ama com todo seu coração. Mas não há amor pleno, senão o de Deus para com seu

Filho; Deus ama a Jesus totalmente; todo o coração do Pai, por assim dizer, continuamente

se derrama em amor pelo Senhor Jesus. Não há nada em Cristo, exceto o que atraia o

amor infinito de Deus. NEle Deus vê Sua própria imagem perfeita, Sua própria Lei cumprida,

Sua própria vontade feita. O Pai ama o Filho plenamente; mas quando a alma vem a Cristo,

o mesmo amor repousa sobre aquela alma: “Para que o amor com que me tens amado

esteja neles” [João 17:26].

É verdade, uma criatura não pode receber o amor de Deus, como Jesus pode, mas é o

mesmo amor que brilha sobre nós e sobre Ele; amor pleno, satisfatório, sem limites. Quando

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o sol derrama seus feixes no largo oceano e em uma pequena flor, ao mesmo tempo, é a

mesma luz do sol que é vertida em ambos, embora o oceano tenha muitíssimo maior capa-

cidade de receber os seus gloriosos feixes; assim, quando o Filho de Deus recebe o amor

de Seu pai, e um pobre verme culpado esconde-se nEle, é o mesmo amor que vem para o

Salvador e para o pecador, embora Jesus seja capaz de conter mais.

Como Deus pode esquecer o que Ele ama plenamente? Se Deus plenamente te ama, Ele

não te esqueceu; Ele não pode esquecer-te. O amor da criatura pode falhar, pois o que é a

criatura? Um vaso de barro, um sopro que passou e não volta. Mas o amor do Criador não

pode falhar; Ele é amor pleno em direção a um objeto infinitamente digno de Seu amor, em

Quem tu o compartilhas.

3. O amor de Deus é um amor imutável. O amor de uma mãe, dentre o amor de todas as

criaturas, é o mais imutável. Um menino deixa a casa de seu pai, ele atravessa mil mares,

ele trabalha sob um céu estrangeiro. Mas quando ele volta, encontra sua mãe idosa mu-

dada, a cabeça está grisalha, a respeitável testa está franzida com a idade, mas ele ainda

sente, enquanto ela o aperta contra o seu peito, que o coração dela é o mesmo. Mas, ah!

muito mais imutável é o amor de Deus por Cristo, e por uma alma em Cristo: “Eu sou o Se-

nhor; eu não mudo”. O Pai que ama não apresenta mutabilidade. Jesus, que é amado, é o

mesmo, ontem, hoje e para sempre. Como é possível que o amor mude? Ele fluiu antes do

mundo existir e fluirá quando o mundo passar.

Se você está em Cristo, este amor brilha sobre você: “Com amor eterno eu te amei” [Jere-

mias 31:3]. “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os

principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profun-

didade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo

Jesus nosso Senhor” [Romanos 8:38-39].

(1) Um consolo para crentes abatidos. Muitos de vocês podem estar abatidos, e suas almas

inquietas. Vocês pensam que Deus tem lidado amargamente com vocês; Ele vos deixou

sem filhos, ou Ele encontrou-se com vocês como um leão e com uma ursa privado de seus

filhotes, ou Ele feriu a vossa aboboreira, ou Ele os abandonou, assim, vocês O buscam, e

não O encontram. Olhem para Cristo, o amor de Deus brilha nEle; nada pode separar Jesus

deste amor; nada pode vos separar. No momento em que Sião dizia: “O meu Senhor se

esqueceu de mim”, no mesmo momento Deus estava dizendo: “eu não me esquecerei de ti”.

Suas aflições e deserções apenas provam que você está sob a mão do Pai. Não há mo-

mento em que o paciente seja um objeto de tão terno cuidado do cirurgião, como quando

ele está sob o bisturi; assim, você pode ter certeza, se você está sofrendo sob a mão de

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Deus, que o olho dEle está ainda mais focado em você. “O Deus eterno é a tua habitação,

e por baixo estão os braços eternos” [Deuteronômio 33:27].

(2) Um convite a pobres pecadores para que venham e provem desse amor. É algo doce

ser amado. Suponho que a maioria de vocês provou do amor de uma mãe. Você sabe o

que é ser embalado em seus braços, ser observado por seu olho gentil, ser acariciado por

seu sorriso; mas, ó, irmãos, isso não é nada em comparação ao amor de Deus. O olho da-

quela querida mãe se fechará na morte; aquele braço amável dela será desfeito no pó. Oh!

venha e prove do amor dAquele que não pode morrer.

Há apenas um lugar em que o amor de Deus continuamente cai livremente: é na cabeça

de Jesus: “O Pai ama o Filho”. Ele O ama plenamente. Todos os tesouros do amor que es-

tão no infinito seio de Jeová são derramados continuamente no seio de seu próprio Filho,

que Ele ama imutavelmente; nenhuma nuvem jamais pode se interpor, nenhum véu e nem

distância. Mas isso é para mim? É tudo para você, pecador. Jesus permanece um refúgio

para pecadores, pronto para receber até mesmo a ti. Fuja para Ele, permaneça nEle, e

aquele amor permanecerá sobre você. Você é um verme, mas você pode entrar no gozo

de seu Senhor. Você pode compartilhar do amor de Deus com Jesus, de uma forma que

os santos anjos não podem fazer.

Ó pecador, você prefere ficar sob a ira de Deus? “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna;

mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”

[João 3:36]. “Deus está irado com o ímpio todos os dias” [Salmos 7:11], mas, ah! “Esta é

uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar

os pecadores, dos quais eu sou o principal” [1 Timóteo 1:15].

Oh! É doce passar da ira para o amor, da morte para a vida. Aquele pobre assassino pularia

de alegria em sua cela, quando chegasse a notícia de que ele não morreria a morte do as-

sassino; mas, ah! dez mil vezes mais doce seria para você, se Deus neste dia lhe persua-

disse a abraçar a Cristo livremente, como oferecido no Evangelho.

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7 Gloriando-se na Cruz de Cristo

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz

de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado

para mim e eu para o mundo.” (Gálatas 6:14)

Doutrina: Gloriando-se na cruz.

I. O assunto aqui falado por Paulo e á a cruz de Cristo. Essa palavra é usada em três sentidos

diferentes na Bíblia. É importante distingui-los:

1. Ela é usada para significar a cruz de madeira, o madeiro sobre o qual o Senhor Jesus foi

crucificado. A punição da cruz foi uma invenção Romana. Era usada apenas no caso de escra-

vos, ou malfeitores mui notórios. A cruz era feita de duas vigas de madeira que se cruzavam.

Ela era colocada no chão e o criminoso, estendido sobre ela. Um cravo era pregado em cada

mão, e outros dois em ambos os pés. Em seguida, a cruz era levantada na posição vertical, e

deixada cair em um buraco, em que era presa. O homem crucificado era então era deixado

para morrer, pendurado por suas mãos e pés. Esta foi a morte a que Jesus se rebaixou. “Ele

suportou a cruz, desprezando sua ignomínia”. “Tornando-se obediente até a morte, e morte

de cruz” (Mateus 27:40, 42; Marcos 15:30, 32; Lucas 23:26; João 19:17, 19, 25, 31; Efésios

2:16).

2. Ela é usada para significar o caminho da salvação por Jesus Cristo crucificado. Assim, em

1 Coríntios 1:18: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós,

que somos salvos, é o poder de Deus”, em comparação com o versículo 23: “Mas nós prega-

mos a Cristo crucificado...”. Aqui é evidente que a pregação da cruz e a pregação de Cristo

crucificado são a mesma coisa. Este é o significado da passagem diante de nós: “Mas longe

esteja de mim gloriar-me...”. Este é o nome dado a todo o plano de salvação pelo Redentor

crucificado. Essa pequena palavra implica toda a obra gloriosa de Cristo por nós.

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Esta palavra implica o amor de Deus em dar o Seu Filho (João 3:16); o amor de Cristo em

entregar a Si mesmo (Efésios 5:25); a encarnação do Filho de Deus; Sua Substituição, um por

muitos, seus sofrimentos expiatórios e morte. Toda a obra de Cristo está incluída nessa pe-

quena expressão: a cruz de Cristo. E a razão é simples; Sua morte na cruz foi o ponto mais

baixo de Sua humilhação. Foi ali que Ele clamou: “Está consumado”, o trabalho da minha obe-

diência está consumado! Meus sofrimentos terminaram, a obra da Redenção está completa,

a ira do meu povo está extinta. E, então, Ele reclinou a cabeça, entregou o espírito. Daí toda

a Sua obra consumada é chamada de: a cruz de Cristo.

3. Cruz também é uma palavra usada para significar os sofrimentos suportados por aqueles

que seguem a Cristo.

“Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-

me” (Mateus 16:24). Quando um homem se determina a seguir a Cristo, ele deve abandonar

seus prazeres e suas companhias pecaminosas. Ele encontra escárnio, zombaria, desprezo,

ódio e perseguição dos antigos amigos. O seu nome e desprezado como mau. “E também

todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições”. Agora, en-

contrar-se com tudo isso é “tomar a cruz”. “E quem não toma a sua cruz, e não segue após

mim, não é digno de mim” [Mateus 10:38].

Na passagem diante de nós as palavras são usadas no segundo sentido, o plano de salvação

por meio de um Salvador crucificado.

Queridos amigos, é isso que está diante de vocês no pão partido e vinho derramado; toda a

obra de Cristo para a salvação dos pecadores. O amor e a graça do Senhor Jesus estão todos

reunidos em um foco ali. O amor do Pai, o Pacto com o Filho, o amor de Jesus, Sua encarna-

ção, obediência, morte todas estão postas diante de vocês nestes pão e vinho partidos. É um

sermão doce, silencioso. Muitos sermões não contêm Cristo do começo ao fim. Muitos O

mostram com ar de dúvida e imperfeitamente. Mas aqui não há outra coisa senão Cristo e

este crucificado. A mais rica e eloquente ordenança! Orem para que a própria visão deste pão

partido possa quebrantar seus corações, e faça-os fugir para o Cordeiro de Deus. Orem por

conversões a partir da visão do pão partido e vinho derramado. Olhem com atenção, queridas

almas e crianças pequenas, quando o pão é partido e o vinho vertido. É uma visão que afeta

o coração. Que o Espírito Santo abençoe isso. Caros crentes, olhem vocês com atenção, para

que obtenham visões mais profundas, mais plenas do caminho do perdão e da santidade.

Um olhar dos olhos de Cristo quebrou e derreteu o coração orgulhoso de Pedro; ele saiu e

chorou amargamente. Orem para que um único olhar deste pão partido possa fazer o mesmo

por vocês. Quando o centurião romano, que velava ao lado da cruz de Jesus, O viu morrer, e

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rochas se fenderam, ele bradou: “Verdadeiramente este era Filho de Deus!” [Mateus 27:54].

Olhe para este pão partido, e você verá a mesma coisa, e que seu coração seja levado a

clamar por pelo Senhor Jesus. Quando o ladrão moribundo olhou o rosto pálido de Emanuel,

e viu a Majestade santa que sorriu com Seus olhos agonizantes, clamou: “Senhor, lembra-te

de mim!” [Lucas 23:42]. Este pão partido revela a mesma coisa. Que a mesma graça seja

dada a você, e que possa suscitar o brado: “Senhor, lembra-te de mim!”. Oh! obtenham visões

mais plenas de Cristo, queridos crentes. O milho da safra, às vezes, amadurece mais em um

dia do que em semanas anteriores. Assim, alguns Cristãos ganham mais graça em um dia do

que durante os meses anteriores. Orem para que este possa ser um dia de colheita e de

amadurecimento em suas almas.

II. Os sentimentos de Paulo em relação à cruz de Cristo: “Longe de mim…”.

1. Está implícito que ele absolutamente havia deixado o caminho da justiça pelas obras da

Lei. Todo homem natural busca a salvação através tentar melhorar a si mesmo aos olhos de

Deus. Ele tenta consertar sua vida, ele coloca um freio na língua, ele tenta comandar seus sen-

timentos e pensamentos, tudo para tornar-se melhor aos olhos de Deus. Ou, então ele irá mais

longe: tenta cobrir pecados passados por meio de observâncias religiosas. Ele se torna um

homem religioso; ora, chora, lê e participa dos sacramentos, fica profundamente ocupado com

a religião, e tenta colocá-la em seu coração, tudo para tornar a si mesmo, na aparência, bom

aos olhos de Deus, para que ele possa colocar Deus sob dívida para perdoá-lo e amá-lo.

Paulo tentou este plano por muito tempo. Ele era um Fariseu, segundo a justiça que há na lei,

irrepreensível; ele viveu uma vida exteriormente inculpável, e foi altamente considerado como

um homem dos mais religiosos. “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo”

[Filipenses 3:7]. Quando aprouve a Deus abrir os seus olhos, ele abandonou esta forma de

justiça própria para todo o sempre; ele não tinha mais qualquer paz em olhar para dentro: “e

não confiamos na carne” [Filipenses 3:3]; ele se despediu para sempre dessa forma de buscar

a paz. Ele a pisoteou: “E as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” [Fili-

penses 3:8]. Oh! é uma coisa gloriosa, quando um homem é levado a pisotear a sua justiça pró-

pria, esta é a coisa mais difícil do mundo.

2. Ele dirigiu-se ao Senhor Jesus Cristo. Paulo teve tal visão da glória, brilho e excelência do

caminho da Salvação por meio de Jesus, que isso preencheu todo o seu coração. Todas as

outras coisas afundaram em pequenez. Todo monte e outeiro foi abatido, o torto foi endireita-

do, os lugares ásperos aplainados, e a glória do Senhor foi revelada. Como o nascer do sol

faz com que todas as estrelas desapareçam, assim a ascensão de Cristo sobre a sua alma

fez todo o restante desaparecer. Os sofrimentos de Jesus por nós encheram os seus olhos e

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o seu coração. Ele viu, creu e alegrou-se. Cristo, supriu todas as suas necessidades. Da cruz

de Cristo um raio de luz celestial inflamou a sua alma, enchendo-o de luz e alegria indizíveis.

Ele sentiu que Deus foi glorificado, e ele foi salvo. Ele abriu caminho para o Senhor com todo

o propósito do coração. Como Jonathan Edwards diz: “eu estava inefavelmente satisfeito”.

3. Ele se gloriava na cruz. Ele confessou a Cristo diante dos homens, ele não tinha vergonha

de Cristo diante daquela geração adúltera. Paulo se vangloriou de que este era o caminho do

perdão, da paz e da santidade. Ah! que mudança! uma vez ele blasfemou contra o nome de

Jesus, e perseguia até a morte aqueles que invocavam o Seu nome; agora esta é toda a sua

jactância: “E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus” [Atos 9:20].

Uma vez ele se gloriou de sua vida inculpável, quando ele estava entre os Fariseus; agora ele

se gloria no fato de que ele é o principal dos pecadores, mas que Cristo morreu por tais como

ele. Uma vez ele se gloriou de sua erudição, que ele se sentou aos pés de Gamaliel; agora

ele se gloria em ser considerado como louco por amor de Cristo, em ser uma criancinha condu-

zida pela mão de Jesus. À mesa do Senhor, entre seus amigos, nas cidades pagãs, em Ate-

nas, em Roma, entre os sábios ou insensatos, diante de reis e príncipes, ele se gloria nisto

como a única coisa digna de ser conhecida: o caminho da salvação por Jesus Cristo e este

crucificado.

Queridos amigos, vocês foram levados a se gloriarem somente na cruz de Cristo?

1. Você se desprendeu do antigo caminho da salvação pelas obras da Lei? Seu coração

natural está firmado sobre este caminho. Você está sempre buscando se tornar melhor e

melhor até que você possa colocar Deus sob a obrigação de perdoá-lo. Você está sempre

olhando para dentro de si mesmo, buscando por justiça ali. Você está olhando para a suas

convicções, para sua tristeza pelos pecados passados, para suas lágrimas e orações ansio-

sas. Ou você está olhando para o seu interior, para sua honestidade, para o abandono dos

conselhos dos ímpios e para as lutas por uma nova vida. Ou, então você está olhando para

os seus próprios exercícios religiosos, para o seu fervor e coração, para o crescimento em

oração ou na frequência à casa de Deus. Ou você está olhando para a obra do Espírito Santo

em você, para as graças do Espírito. Ai! Ai! A cama é mais curta do que você possa esticar-

se sobre ela, a cobertura é mais estreita do que você possa cobrir-se nela. Desespere-se por

perdão neste caminho. Desista para sempre. Seu coração é desesperadamente corrupto.

Cada justiça que há em seu coração vem acompanhada de vileza e corrupção, e não pode

aparecer diante da vista de Deus. Considere tudo como perda, trapos de imundícia, refugo,

para que você possa ganhar a Cristo.

2. Vá ao Senhor Jesus Cristo. Acredite no amor do Senhor Jesus Cristo. Ele se deleita na

misericórdia; Ele está pronto para perdoar, misericórdias fluem dEle. Ele justifica o ímpio. Você

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já viu a glória da cruz de Jesus? Isto atraiu o seu coração? Você se sente inexplicavelmente

satisfeito com esse caminho de Salvação? Você vê que Deus é glorificado quando você é

salvo? que Deus é um Deus de majestade, verdade, santidade imaculada e justiça inflexível,

e ainda assim você é justificado? Será que a cruz de Cristo preenche o seu coração? Isto

produz uma grande calma em sua alma, um descanso celestial? Você ama essa expressão:

“a justiça de Deus”; “a justiça que é pela fé”, a justiça sem as obras? Você contempla a cruz?

Será que a sua alma descansa ali?

3. Glorie-se apenas na cruz de Cristo. Observe, não pode haver um Cristão secreto. A graça

é como perfume escondido na mão, ela denuncia a si mesma. Um Cristão vivificado não pode

manter o silêncio. Se você realmente sente a doçura da cruz de Cristo, você será constrangido

a confessar a Cristo diante dos homens. É como “o bom vinho... que se bebe suavemente, e

faz com que falem” [Cânticos 7:9]. Você O confessa em sua família? Você dá a conhecer ali

que você é de Cristo? Lembre-se, você deve ser resoluto em sua própria casa. A marca do

hipócrita é ser um cristão em todos lugares, exceto em sua própria casa. Entre os seus com-

panheiros, você tem a Cristo por um amigo a quem você encontrou? Na loja e no mercado,

você está disposto a ser conhecido como um homem lavado no sangue do Cordeiro? Você

almeja que todos os seus negócios estejam sob as doces regras do Evangelho? Venha, então,

à mesa do Senhor e confesse Aquele, que salvou a sua alma. Oh! Permita que esta possa ser

uma verdadeira, livre e plena confissão. Jesus Cristo é o meu doce alimento, meu cordeiro,

minha justiça, meu Senhor e meu Deus, meu tudo em todos. “Mas longe esteja de mim gloriar-

me, a não ser na cruz”. Uma vez você se vangloriou nas riquezas, amigos, fama, pecado; mas,

agora, em um Jesus crucificado.

III. Os efeitos. “O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. “Se alguém está em

Cristo Jesus, nova criatura é...” [2 Coríntios 5:17]. Quando o mendigo cego de Jericó teve seus

olhos abertos pelo Senhor, este mundo estava todo modificado para ele, e ele para o mundo.

Assim foi com Paulo, não mais depressa ele elevou-se de seus joelhos, com a paz de Jesus

em seu coração, que o mundo foi definitivamente desprezado aos seus olhos. Enquanto ele

corria sobre as pedras lisas nas ruas de Damasco, ou olhava para baixo do telhado plano de

sua casa sobre os belos jardins nas margens de Abana, o mundo e todo o seu deslumbrante

espetáculo pareciam aos seus olhos uma coisa pobre, murcha, crucificada. Uma vez isto foi o

seu tudo. Uma vez suas lisonjas macias e escorregadias eram agradáveis como música ao

seu ouvido. Uma vez o coração de Paulo esteve posto sobre tudo que o olho natural: riquezas,

beleza e prazeres; mas no momento em que ele creu em Jesus, tudo isto começou e definhar.

É verdade que eles não foram mortos definitivamente, mas estavam pregados em uma cruz.

Eles não tinham mais aquela atração viva para eles, a qual uma vez tiveram; e agora todos os

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dias eles começavam a perder o seu poder. Como um homem morrendo na cruz enfraquece

a cada momento, enquanto o sangue do seu coração escorre a partir das suas feridas

profundas de suas mãos e pés, aquilo que uma vez foi o seu tudo, começou a perder a cada

momento seu poder de atração. Ele provou tanta doçura em Cristo: o perdão, o acesso a

Deus, o sorriso de Deus, o Espírito habitando nEle, e por isso a cada dia o mundo tornava-se

mais insípido para ele.

Outro efeito foi: “Eu para o mundo”. Enquanto Paulo colocava a mão sobre o seu próprio peito,

ele sentia que esse também havia sido transformado. Ele uma vez foi um corajoso cavalo de

corrida que corre com ímpeto e não pode ser freado; uma vez Ele foi uma raposa caçadora

ao aroma impaciente da cólera; outra vez seu coração corria atrás de fama, honra e elogios

do mundo; mas agora estava pregado na cruz, com o coração quebrantado e contrito. É ver-

dade que ele ainda não estava morto e que muitos vacilos despertaram sua velha natureza,

fato que o levou aos seus joelhos e o fez clamar por graça para auxílio; porém, ainda assim,

quanto mais ele olhou para a cruz de Jesus, mais o seu velho coração foi mortificado. A cada

dia ele sentia menos desejo de pecar e mais desejo por Cristo, por Deus e por perfeita san-

tidade.

Alguns podem descobrir que nunca vieram a Cristo. Será que o mundo está crucificado para

você? Uma vez que este era o seu tudo: o seu louvor, suas riquezas, suas canções, e felizes

inclinações? Isso já foi pregado na cruz em sua visão? Oh! coloque a mão em seu coração.

Foi-se o seu desejo ardente por coisas terrenas? Os que são de Cristo crucificaram a carne

com as suas paixões e concupiscências.

Você sente que Jesus crucificou as suas paixões? Você deseja que elas sejam mortificadas?

Que resposta vocês podem dar, filhos e filhas do prazer, para quem a dança e música, o

espelho e as respostas chistosas são a soma da felicidade? Vós não sois nada de Cristo.

Que resposta vocês podem dar, amantes do dinheiro, sórdidos fazedores de dinheiro, que

preferem ser um pouco mais soberanos do que ter a graça de Deus em seu coração? Que

resposta vocês podem dar, gratificadores da carne, caminhantes da noite, amantes da escuri-

dão? Vós não sois de Cristo. Vocês não vieram a Cristo. O mundo está completamente vivo

para vocês, e vocês estão vivos para o mundo. Vocês não podem se gloriar na cruz, e amar

o mundo. Ah! pobres almas iludidas, vocês nunca viram a glória do caminho do perdão por

Jesus. Vão em frente; amem o mundo, agarrem cada prazer, reúnam montes de dinheiro,

alimentem e engordem as suas concupiscências, saciem-se. Do que isso adiantará a vocês

quando perderem sua própria alma?

Alguns estão dizendo: Oh, que mundo fosse crucificado para mim e eu para o mundo! Que o

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meu coração fosse tão morto quanto uma pedra para o mundo, e vivo para Jesus! Você real-

mente deseja isso? Então, olhe para a cruz. Contemple o maravilhoso dom do amor. A salva-

ção é prometida a um olhar. Sente-se como Maria, e contemple a Jesus crucificado. Assim o

mundo se tornará uma coisa ofuscada e moribunda. Quando você olha o sol isso faz com que

todas as outras coisas escureçam; quando você prova o gosto de mel, isso faz com que todo

o mais se torne amargo. Semelhantemente, alimentar-se de Jesus retira a doçura de todas as

coisas terrenas: elogios, prazeres, desejos carnais, todos estes perdem a sua doçura. Mante-

nha um olhar contínuo. Corra, olhando para Jesus. Olhe, até que o caminho da salvação por

Jesus preencha todo o horizonte, tão glorioso e em linguagem de paz. Então, o mundo estará

crucificado para você, e você para o mundo.

25 de Outubro de 1840.

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8

Feliz És Tu, Ó Israel

“Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem é como tu? Um povo salvo pelo Senhor, o

escudo do teu socorro, e a espada da tua majestade; por isso os teus inimigos te

serão sujeitos, e tu pisarás sobre as suas alturas.” (Deuteronômio 33:29)

Estas são as últimas palavras de Moisés, o homem de Deus. Ele estava agora com cento

e vinte anos; seus olhos não estavam obscurecidos nem lhe fugira o vigor. Por quarenta

anos ele liderou o povo em meio ao deserto. Ele cuidou deles, e orou por eles, e os liderou

como um pastor lidera seu rebanho. E agora, quando Deus disse que ele deveria deixá-los,

ele determinou separar-se deles abençoando-os. E, a esse respeito, como em muitos ou-

tros, ele prenunciou o Salvador, de quem está escrito, que “e levou-os fora, até Betânia; e,

levantando as suas mãos, os abençoou. E aconteceu que, abençoando-os ele, se apartou

deles e foi elevado ao céu” [Lucas 24:50-51].

Em primeiro lugar, podemos entender essas palavras literalmente como a bênção de

Moisés ao povo de Israel. Ele olhou por cima do deserto através do qual ele os levou, e

este era todo brilhante cravejado com as coisas maravilhosas que Deus fizera por eles. Ele

se lembrou da mão elevada e do braço estendido com os quais Ele os tirara do Egito.

Lembrou-se também de como abriu um caminho para eles através do Mar Vermelho,

quando seus inimigos afundaram como chumbo nas águas impetuosas, permaneceu lem-

brando como Ele foi adiante deles em uma coluna de nuvem de dia, e uma coluna de fogo

à noite. Moisés lembrou-se de como Ele adoçou as águas de Mara, pois eles estavam

sedentos e também lembrou-se de como Ele os alimentou com maná do alto, o homem

comeu a comida dos anjos. Moisés recordou como ele feriu a rocha em Refidim, e águas

jorraram; como ele ergueu as mãos para o pôr-do-sol, e Israel prevaleceu contra Amaleque;

como ele recebeu a Lei da própria mão de Deus para eles. Ele feito brotar de novo a água

da pederneira em Meribá e também lembrou-se de como ele erguera a serpente de bronze

no deserto.

E olhando para trás sobre toda esta trajetória de maravilhas de quarenta anos, durante a

qual as suas vestes não tinham envelhecido, nem a fraca sola de seu pé havia inchado, co-

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mo poderia ele apenas abençoá-los? Ele sentiu-se como Balaão: “Benditos os que te aben-

çoarem, e malditos os que te amaldiçoarem”. E nesse sentido, quando ele tinha visto a cada

uma das tribos separadamente, deixando a cada uma a sua bênção profética, ele resume

o todo nestas palavras gloriosas: “Não há outro, ó Jesurum, semelhante a Deus” [Deutero-

nômio 33:26].

Mas, em segundo lugar, estas palavras podem ser entendidas tipicamente como a bênção

de Moisés ao povo de Deus para o fim dos tempos. Nenhum homem pode ler o Antigo

Testamento de forma inteligente, sem ver que o povo de Israel era um povo típico, que a

retirada de Seus escolhidos para fora do Egito, o trazê-los através do Mar Vermelho, e

através do deserto e sua condução à terra da promessa, eram todos tipos da maneira com

a qual Deus traz Seus escolhidos para fora de seus pecados, e os conduz através mundo

de pecado e miséria para a Canaã celestial, o descanso que resta para o povo de Deus.

Se, então, a escravidão, a libertação, a incredulidade, os inimigos, as jornadas, a orientação

e o remanescente dos israelitas, eram todos tipos do relacionamento de Deus com o Seu

próprio povo para o fim dos tempos, estamos bastante justificados por compreender estas

palavras como a bênção de Moisés, o homem de Deus, a todos os verdadeiros filhos de

Deus.

“Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem é como tu? Um povo salvo pelo Senhor, o escudo do

teu socorro, e a espada da tua majestade; por isso os teus inimigos te serão sujeitos, e tu

pisarás sobre as suas alturas”. A partir destas palavras, eu extraio o seguinte:

Doutrina. Que o povo de Deus é um povo feliz, porque eles são salvos pelo Senhor.

I. Israel é um povo feliz porque é escolhido pelo Senhor.

1. Isto foi verdadeiro no que se refere ao antigo Israel. Moisés lhes disse claramente: “O

Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do

que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos;

mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais”

[Deuteronômio 7:7-8a]. Aqui há algo estranho que o mundo não pode entender. Ele os

amou porque Ele os amou, não porque eles eram melhores, ou maiores, ou mais dignos do

que outra nação, mas por que Ele os amou. Peculiar, soberano, inexplicável amor! Ele não

presta contas de Seus assuntos, assim, “pois, isto não depende do que quer, nem do que

corre, mas de Deus, que se compadece” [Romanos 9:16].

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2. Isto é verdadeiro para todo o povo de Deus até os dias atuais. Davi diz: “Bem-aventurado

aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti” [Salmos 65:4]. Cristo diz: “Não me esco-

lhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” [João 15:16]. E Paulo diz: “Bendito o Deus e

Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais

nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do

mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Efésios 1:3-4).

Ah! sim, meus amigos, o nosso Deus é um Deus soberano: “Logo, pois, compadece-se de

quem quer, e endurece a quem quer” [Romanos 9:18].

Cada crente é uma testemunha disso. Existe algum crente aqui? Bem, eu tomo você para

testemunhar. Você era morto e descuidado com sua alma, você poderia ser feliz com o

mundo, embora estivesse não perdoado e não santificado. Como você foi levado a fugir da

ira vindoura? Você despertou a si mesmo do sono? Ah! não, você sabe bem que se Deus

o tivesse deixado você estaria disposto a permanecer dormindo. Como o preguiçoso, você

teria dito: “Um pouco a dormir, um pouco a cochilar; outro pouco deitado de mãos cruzadas,

para dormir” [Provérbios 24:33]. Mas Deus despertou você, pela Sua Palavra, pelos Seus

ministros, ou pela Sua providência; e Ele não o teria deixado ir até que clamasse: “O que

devo fazer para ser salvo?”. Outrossim, você foi trazido da convicção de pecado à convicção

de justiça; de uma consciência perturbada a um coração em paz ao crer. Como ocorreu

isso, você veio por si mesmo a Jesus, ou você foi trazido pelo Pai? Ah! Vocês bem sabem

que não receberam isto de um homem, nem por meio de um homem Deus os conduziu à

visão de Jesus. Ele que, primeiro, trouxe às trevas a luz que brilhou em seus corações, e

incitou vocês ao ato de fé em Jesus; e assim, vocês foram salvos; pois, “ninguém pode ir a

Cristo se o Pai não o trouxer”. Do início ao fim, a obra é de Deus. Pela graça sois salvos; e

bem-aventurado, de fato, é “aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti”.

Objeção. Mas alguém pode objetar que esta doutrina ministra ao orgulho; que fazer um ho-

mem acreditar que ele é um escolhido e favorito de Deus faz com ele fique inchado de

orgulho.

A isto eu respondo que esta é própria verdade que corta o orgulho pelas raízes. Como está

escrito: “Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o

recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” [1 Coríntios 4:7]. Se há

um crente dentre vocês:

(1) Eu proponho a ele olhar em volta daqueles da sua própria família que permanecem sem

Cristo e sem Deus no mundo. Talvez você seja o único em sua casa que conhece e ama o

Salvador. Agora, eu pergunto a você: Quem te fez diferente? Você é por natureza algo

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melhor do que sua parentela, para que fosse escolhido e eles deixados? Como, então, você

pode ser orgulhoso?

(2) Ou, olhe em volta de sua vizinhança, você verá embriaguez e contaminação, você ouvirá

perjúrios e profanidade. Agora eu pergunto: Quem te fez diferente? Ou em que você era

melhor do que eles? Pode você, então, ser orgulhoso?

(3) Ou, olhe em volta do mundo Papista e Pagão afogado na mais tenebrosa ignorância

sem ninguém para lhes falar sobre o claro caminho de Salvação por Jesus. Olhe sobre

nove décimos do mundo que carecem da pura luz do Evangelho, e diga-me: Quem te fez

sobressair? E como você pode ser orgulhoso?

(4) Ou, olhe além deste horizonte mundano, olhe para baixo para os reinos das trevas e da

morte eterna, e veja os anjos que caíram “Longe outra vez contemple em êxtase, Milhões

de espíritos que por uma só falta foram banidos do Céu, e dos esplendores eternos arre-

messados por sua rebeldia”. Olhe para estas inteligências majestosas “guardado sob ter-

vas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia”, e diga-me: Quem te fez diferente?

Em que melhor é você, por natureza, do que demônios? Homens não-convertidos são filhos

do Diabo. Não há luxúria no coração do Diabo que não esteja em cada coração natural. E

ainda assim Deus passou por eles, e veio para salvar-te. Deus veio e o acordou quando

você estava em uma condição natural, e não melhor do que demônios, sim, ele passou

pelos Pagãos, assim ele tem deixado seus vizinhos em seus pecados, seus próprios filhos

não despertados, mas ele tem despertado você.

Oh! mui misterioso amor eletivo! Você bem pode clamar com Paulo: “Ó profundidade das

riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus

juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” [Romanos 11:33]. E isto o faz orgulhoso?

Antes, isto não faz você enterrar a sua cabeça no pó, e nunca mais erguer os seus olhos?

E isto não o faz feliz? “Bem-aventurado tu, ó Israel! Um povo salvo pelo Senhor”.

Não oferece a você nenhum júbilo, sentir que Deus pensou sobre você em amor antes da

fundação do mundo? Que quando Ele estava sozinho desde toda a eternidade, Ele deu a

você o Seu Filho para ser redentor? “Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes

que saísses da madre, te santifiquei” [Jeremias 1:5]. Não dá nenhuma alegria a você pensar

que o Filho de Deus pensou em você com amor antes que o mundo existisse: “achando as

minhas delícias com os filhos dos homens” [Provérbios 8:31], que ele veio ao mundo carre-

gando o seu nome sobre o Seu coração, que Ele orou por você na noite de Sua agonia: “E

não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em

mim”? [João 17:20]. Não oferece júbilo saber que Jesus pensava em você durante o Seu

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suor sangrento; que Ele pensou em você quando estava na cruz, e intencionou aqueles

sofrimentos para estar em seu lugar? Ó, filhinhos como isto deveria elevar os seus corações

em santo arrebatamento acima do mundo; acima de seus cuidados irritantes; de suas brigas

mesquinhas; de seus prazeres contaminantes; se vocês guardassem esta santa alegria

interiormente; acolhendo a própria palavra de seu Senhor: “Pai, aqueles que me deste que-

ro que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que

me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo” [João 17:24].

Ó mundo incrédulo! Vocês não conhecem nada desta alegria. É tudo presunção frenética

aos seus olhos, e isso é exatamente o que a Bíblia diz: Um estranho não participa da alegria

do crente. Isto é exatamente o que Cristo disse: “Mas vós não credes porque não sois das

minhas ovelhas” [João 10:26]. Levem esta coisa com vocês: “Nós erámos uma vez exata-

mente o que você é agora (cada crente falará a você) nós éramos exatamente tão insensí-

veis e incrédulos como você é. Nós, uma vez, desprezamos e rimos de cada pessoa com

as quais nós somos um agora no Senhor; mas nós fomos despertados por Deus, e fugimos

para Cristo, e somos redimidos e felizes conhecendo a nossa eleição de Deus”. Oh! que

esta seja a sua história, e então, você conhecerá o significado destas palavras: “Bem-

aventurado tu, ó Israel!”.

II. Israel é um povo feliz, porque eles são justificados pelo Senhor: “O Deus eterno é a tua

habitação” (v. 27). “Ele é escudo que te socorre” (v. 29).

Antes de tudo, isto é verdade por que Cristo é o nosso refúgio e proteção, e Cristo é Deus.

(1) É dito sobre Ele: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era

Deus”. (2) E outra vez, é dito sobre Ele: “...O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e:

Cetro de equidade é o cetro do seu reino” [Hebreus 1:8]. (3) Também está escrito: “Porque

nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam

tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e

para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” [Colossen-

ses 1:16-17]. (4) Novamente, é dito sobre Ele: “o qual é sobre todos, Deus bendito eterna-

mente” [Romanos 9:5]. (5) Mais uma vez, Tomé disse sobre Ele: “Meu Senhor, e meu

Deus”. (6) E Ele é chamado Deus “manifestado na carne” [1 Timóteo 3:16]. Assim, então,

Ele é de fato, “Emanuel, Deus conosco”. Ele é o Criador do mundo, o Deus de provisão, o

Deus dos anjos. E este é o Ser que veio para ser o Salvador de pecadores, até mesmo do

principal!

Agora, irmãos, eu desejo que vejam a utilidade do Salvador sendo Deus, e quanto do pleno

consolo e júbilo do crente é encontrado nisto. Tudo o que Deus faz é infinitamente perfeito:

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Ele nunca falha em nada que Ele promete. Tudo, portanto, que o Salvador fez foi infinita-

mente perfeito. Ele não podia, e nem poderia, falhar em algo que Ele prometeu.

(1) Cristo Jesus prometeu suportar a ira de Deus em lugar dos pecadores. Seu coração foi

estabelecido sobre isso desde toda a eternidade, pois, antes que o mundo fosse feito, Ele

nos diz: “achando as minhas delícias com os filhos dos homens” [Provérbios 8:31]. Para

este fim Ele tomou sobre si a nossa natureza; tornou-se um homem de dores e experimen-

tado no sofrimento. De Seu berço na manjedoura até a cruz, a nuvem escura da ira de Deus

esteve sobre Ele, e, especialmente, em direção ao fim de Sua vida, a nuvem passou a ser

a mais escura, ainda assim, ele alegremente sofreu tudo “como me angustio até que venha

a cumprir-se!” [Lucas 12:50]. O cálice da ira de Deus foi dado a Ele sem mistura; ainda

assim Ele disse: “não beberei eu o cálice que o Pai me deu?” [João 18:11]. Agora, nós po-

demos estar bem certos que desde que Ele é o Filho de Deus, Ele sofreu tudo o que os

pecadores deveriam ter sofrido. Se Ele tivesse sido um anjo, Ele poderia ter deixado alguma

parte inacabada; mas desde que Ele era Deus, Sua obra deve ser perfeita. Ele mesmo

disse: “Está consumado”; e uma vez que Ele era Deus que não pode mentir, nós estamos

bem seguros que todo o sofrimento é consumado, que nem Ele nem seu corpo podem

sofrer algo mais por toda a eternidade.

(2) Porém, mais uma vez, ficou comprometido a obedecer à Lei em lugar dos pecadores. O

homem não só tinha quebrado a Lei de Deus, mas havia falhado em obedecê-la. Agora,

como o Senhor Jesus veio para ser um Salvador completo, Ele não apenas sofreu a maldi-

ção da Lei quebrada, mas obedeceu a Lei em lugar dos pecadores. Através de toda a Sua

vida e fez do fazer a vontade de Deus Sua comida e bebida. Agora, podemos ter a certeza

de que uma vez que Ele era o Filho de Deus, Ele fez tudo o que os pecadores deveriam ter

feito. Sua justiça é a justiça de Deus; assim, que nós podemos estar certos, que cada

pecador que obtém esta justiça é mais justo do que se o homem jamais houvesse caído;

mais justo do que os anjos, tão justo quanto Deus. “Quem intentará acusação contra os

eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” [Romanos 8:33].

Ó pecadores descuidados! Este é o Salvador que nós estamos sempre pregando para

vocês, este é o Divino Redentor a quem vocês têm sempre pisoteado. Você pensaria ser

uma grande coisa se o rei deixasse o seu trono, e batesse à sua porta, e lhe suplicasse

para aceitar um pouco de ouro; mas, oh! quanto maior coisa há aqui. O Rei dos reis deixou

Seu trono, e morreu, o justo pelos injustos, e agora bate à sua porta. Pecador descuidado,

você ainda permanece resistente?

Almas despertadas e ansiosas! Este é o Salvador que sempre vos oferecemos; Este é o

refúgio, a rocha que tem seguido você. Você está ansioso por sua alma; e por que, então,

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não vem se esconder aqui? Você acha que honra a Cristo por duvidar se o Seu sangue e

justiça são suficientes para cobri-lo? Você acha que honra a Deus, fazendo-O de menti-

roso, e recusando-se a acreditar no testemunho que Ele tem dado de seu Filho? Oh! Não

duvide mais dEle. Outro dia, e pode ser tarde demais. Fuja como os homens que têm um

inferno eterno perseguindo-os, e um refúgio eterno diante deles. Tome o céu por violência.

“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar

e não poderão”.

E você que já correu para o refúgio, para o Salvador: “Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem

é como tu? Um povo salvo pelo Senhor”. O Deus eterno é teu refúgio; e a quem você pode

temer? Lembre-se, habite nEle. Nas horas escuras do pecado e tentação, Satanás sempre

tenta fazer você sair deste refúgio. Ele tentará fazer você duvidar se Cristo é Deus; se a

Sua obra é uma obra consumada; se pecadores podem esconder-se nEle; se um apóstata

pode esconder-se nEle; mas não lance fora a sua confiança. Rapidamente corra para

Cristo; e então, o Deus eterno será teu refúgio. Na hora da morte, você pode terá um vale

sombrio para atravessar; você pode perder de vista todas as suas evidências; você pode

sentir que todas as suas graças partiram, e clamar: “Todas estas coisas estão contra mim”.

Permaneça, como um necessitado pecador, corra para o Deus Salvador. Jogue fora a ques-

tão se você jamais acreditou ou não, e diga: “Eu acreditarei agora”; e assim, agora à noite,

raiará a luz, e você morrerá com o Deus eterno e seu refúgio. Os seus olhos fecharão para

este mundo apenas para abrirem para o mundo aonde não há dúvida, e nem medo, e nem

morte.

III. Israel é um povo feliz, porque é santificado pelo Senhor: “por baixo estão os braços

eternos” e “a espada da tua majestade”.

No capítulo anterior (32:11-12), Deus compara o Sua condução de Israel a uma águia e

seus filhotes: “Como a águia desperta a sua ninhada, move-se sobre os seus filhos, estende

as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, assim só o Senhor o guiou; e não

havia com ele deus estranho”. Novamente, em Isaías, é dito: “Em toda a angústia deles ele

foi angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor, e pela sua compaixão

ele os remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade” [63:9]. Mais uma vez,

na história da ovelha perdida, encontramos que o Salvador não apenas encontrou a ovelha

perdida, mas, “achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo”. Este é exatamente o

mesmo significado como o do texto: “por baixo estão os braços eternos”, e, novamente, “a

espada da tua majestade”.

Quando um novo crente encontrou a paz em Jesus, ele, então, começa a anelar por cami-

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nhar santamente. Tão logo ele encontre a doce calma de uma alma perdoada, ele começa

a conhecer a amarga ansiedade de uma alma que teme o pecado: “É verdade, eu vim a

Cristo, e devo ter paz, mas agora eu começo a temer que não serei capaz de confessar a

Cristo diante dos homens. Agora começo a ver que o mundo inteiro está contra mim, que

todas as coisas estão me tentando a pecar, e eu temo voltar para o mundo. Temo ser enla-

çado novamente. Meus companheiros, como posso resisti-los? e Satanás, como posso lutar

contra ele?”.

Este é o momento em que o novo crente começa a fazer um grande número de resoluções

em sua própria força. Se ele somente pudesse manter-se fora do caminho da tentação, e

separar-se do mundo, ele acha que poderia manter-se santo, mas Deus logo lhe ensina a

insuficiência de sua própria força. Suas resoluções são todas quebradas inteiramente; seus

hábitos de andar estreitamente desaparecem como fumaça diante do sopro da tentação; e

o filhinho de Deus senta-se para chorar por causa da chaga de seu próprio coração, e a

clamar: “Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?”.

Se aqui há alguém assim me ouvindo, permita-me, peço-te, recomendar um novo plano, de

longe um caminho melhor. Entregue a si mesmo aos braços eternos. Quando o pecado sur-

gir; quando o mundo vem como uma inundação; quando a tentação chega de repente sobre

você; se incline para trás sobre o Espírito todo-poderoso, e você está seguro. O que faz

uma criancinha que tem sido colocada sobre o chão para caminhar, quando percebe que

seus pequenos membros estão se desequilibrando, de forma que o primeiro sopro do vento

a derrubará? Será que ela não se lança aos braços da de sua mãe? Quando ela não con-

segue ir, ela consente em ser conduzida; e assim deve ser com você, débil filho de Deus.

Deus concedeu a você que pela fé se apegue a Cristo somente por justiça; e assim obter a

paz do justificado. Ore agora, para que Deus dê a você fé resignada, para que você possa

confiar nEle somente por força, para que você possa render a si mesmo aos braços eternos.

Vá e aprenda o que isto significa: Jeová Nossa Justiça é o mesmo Jeová Nossa Bandeira.

Então, mas não até então, você conhecerá plenamente o significado desta bênção: “Bem-

aventurado tu, ó Israel! Quem é como tu? Um povo salvo pelo Senhor”.

Objeção: Eu não vejo, nem ouço ou sinto o Espírito, como posso render-me aos Seus

braços?

Resposta. Esta é a própria descrição Bíblica da obra do Espírito: “O vento sopra onde quer,

ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é

nascido do Espírito” [João 3:8]. Você não vê o vento, nem compreende como ele sopra, e

ainda assim você estende a vela para pegar a brisa; e assim, o alto navio é sustentado so-

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bre um mar muito agitado até o porto de descanso. Somente incline-se sobre o Espírito,

embora você não compreenda o Seu agir. Embora, agora, você não O veja, ainda assim

creia nEle. E você se alegrará com júbilo inefável e cheio de glória; você será sustentado

sobre as ondas ásperas deste mundo até o porto de descanso. Você também não conhece

como o manancial brota; você não compreende o funcionamento pelo qual os mananciais

de água não falham; e ainda assim, você leva o cântaro até a fonte, e nunca volta com ele

vazio. Então, dependam do suprimento invisível do Espírito; tomem uma provisão diária

para necessidades diárias; vão confiantes aos mananciais da salvação, e vós tirareis água

com alegria. “Se alguém tem sede, venha a mim e beba”. “Bem-aventurado tu, ó Israel!

Quem é como tu?”. Tende bom ânimo. Nós confiamos que Aquele que começou a boa obra

em vós, há de aperfeiçoá-la até o Dia de Cristo Jesus.

Mas, ah! pobres almas sem Cristo, não há promessa do Espírito para vocês. Todas as

promessas são sim e amém em Cristo. Fora de Cristo não há promessa; não há outra coisa

senão ira. Não há braços eternos debaixo de vocês. Vocês são sensuais, não têm o

Espírito. Não há pecado no qual vocês não possam incorrer, até naquelas que fazem os

homens estremecerem e empalidecerem. Em nenhum lugar Deus prometeu guarda-los

destes pecados. Vocês não têm o Espírito, não podem amar a Deus, ou fazer qualquer boa

obra, vocês podem apenas pecar. Ó almas miseráveis! que continuam pertencendo à

linhagem do velho Adão, vocês não podem deixar de dar maus frutos; e o fim será a morte.

Oh! que vocês fossem embora e chorassem por sua miserável condição, e clamassem a

Deus para trazê-los para fazer parte de Seu bem-aventurado Israel, que é escolhido,

justificado, santificado e salvo pelo Senhor!

Igreja de São Pedro, 29 de Janeiro de 1837.

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9 Cristo, A Porta Para A Igreja

“Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que

lhes dizia. Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que

eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e

salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta; se alguém entrar por

mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a

roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com

abundância.” (João 10:6-10)

Cristo é o mais gentil de todos os mestres. Ele estava falando a uma multidão de judeus

ignorantes e preconceituosos, e ainda quão gentilmente Jesus lida com eles. Ele disse-lhes

uma parábola, mas eles não compreenderam. “Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles

não entenderam o que lhes dizia. Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes”. E ainda, nos é contado

que Cristo disse-lhes novamente. Ele lhes deu uma descrição de um verdadeiro e de um

falso pastor, e da porta para o aprisco das ovelhas; mas eles pareciam estar perdidos para

compreender o que significava a porta, portanto, ele diz: “Em verdade, em verdade eu vos

digo: eu sou a porta das ovelhas”. Vejam vocês quão gentilmente Ele tenta instrui-los. Meus

irmãos, Cristo ainda é o mesmo tipo de mestre. Não há muitas pessoas estúpidas, e precon-

ceituosas aqui? E ainda Ele não lhes deu “mandamento sobre mandamento, mandamento

sobre mandamento, regra sobre regra, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali”

(Isaías 28:10). Ele tem partido o pão por você.

Examinemos agora esta parábola explicativa: (1) Cristo é a porta para a Igreja. (2) O convite

aqui é feito para entrar. (3) A promessa para aqueles que entram.

I. Cristo é a porta para a Igreja. “Eu sou a porta”. O único caminho para a Igreja de Deus,

seja para ministros ou membros é por Cristo e pela fé nEle. Muitos entram pelo conheci-

mento; o conhecimento não deve ser desprezado, contudo ele não é a porta. Há muitos

que entram no ministério, por terem dons eminentes, mas estes não são a porta, e aqueles

que entram de tal forma são ladrões e salteadores, pois não entram pela porta. Mais uma

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vez, muitos entram pela porta do favor mundano, alguns pelo favor dos ricos, alguns pela

vida das pessoas comuns, alguns pelo favor do patrono; mas ainda assim eles continuam

sendo ladrões e salteadores, pois não entram pela porta.

Lembrem-se, então, e nunca esqueçam, que o caminho certo para o ministério é através

de Jesus Cristo. Ninguém pode falar do pecado, senão aqueles que sentiram o seu fardo.

Ninguém pode falar de perdão, senão aqueles que provaram disso. Ninguém pode falar do

poder de Cristo para santificar, a não ser aqueles que têm a santidade em seus corações.

Irmãos, se apeguem a isso em reverência, fujam de todos os outros, eles podem ter o

conhecimento, eles podem ter dons, eles podem ter os elogios das pessoas comuns, mas

eles são ladrões e salteadores.

Mas, além disso, há muitos membros que entram no rebanho de outra forma; eles também

são ladrões e salteadores. Há muitos que entram pela porta do conhecimento, eles estão

familiarizados com conhecimento da Bíblia, eles podem falar sobre como o pecador pode

ser aceito por Deus; mas se você não entrou no rebanho por ser lavado no sangue de

Cristo, você é um ladrão e salteador.

Alguns entram no rebanho por uma boa vida. No tocante à lei, eles são como Paulo, irrepre-

ensíveis. Você não é um ladrão, você não é um blasfemador, você não é um bêbado, você

acha que tem o direito de entrar, o direito de sentar-se à mesa do Senhor; mas Cristo diz

uma e outra vez que você é um ladrão e salteador. Ah, irmãos, lembrem-se de que se vocês

são admitidos no rebanho por causa de vossa moralidade, vossa decência exterior, vossa

boa vida, vocês são ladrões e salteadores. Irmãos, há um dia vindouro, quando aqueles que

entraram no aprisco das ovelhas, porém não pela porta, mas de alguma outra forma, em que

olharão para trás e verão sua culpa quando eles entrarem em uma eternidade de perdição.

Observem, porém, irmãos, antes de eu deixar esta parte do assunto, que Cristo é uma en-

trada presente. Irmãos, há um tempo na sua história em que a porta do aprisco está aberta

para você: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á”, mas o tempo passará.

É apenas um momento em comparação com a eternidade. Esta é uma verdade solene.

Irmãos, se eu pudesse prometer-lhes que a porta ficará aberta por cem anos, mas ainda

seria sábio para vocês entrarem agora; mas eu não posso garantir que ela ficará aberta

nem por um ano, eu não posso garantir nem por um mês, nem um dia ou sequer por uma

hora; tudo o que eu posso garantir é: ela está aberta agora, amanhã pode estar fechada

para sempre.

II. Venho agora para segunda coisa proposta, que é: mostrar-lhes o convite de Cristo.

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“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á”. Há muitos convites doces para os

pecadores na Bíblia. Frequentemente tenho sentido serem estas palavras as mais doces.

Há convites amorosos endereçados para aqueles que têm sede. Diz-se em Isaías: “Ó vós,

todos os que tendes sede, vinde às águas” (Isaías 55:1a). Cristo disse, no último dia, aquele

grande dia da festa: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37). E Ele diz, pró-

ximo ao final do livro do Apocalipse: “A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da

fonte da água da vida” (21:6). Há também alguns convites que são endereçadas para aque-

les que têm um fardo: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos

aliviarei” (Mateus 11:28). Há também alguns que são dirigidos para aqueles que estão

presos: “Voltai à fortaleza, ó presos de esperança” (Zacarias 9:12).

Mas este me parece o mais doce de todos, pois é dito: “Se alguém”. Não é dito, se algum

homem sedento, se algum homem cansado ou se alguém com um fardo, mas é dito: se

alguém entrar, ele será salvo. Eu tenho visto as portas de certo homem rico, onde ninguém

podia entrar, senão o rico; e onde o mendigo deveria permanecer no portão. Mas a porta

de Cristo está aberta a qualquer pessoa, qualquer que seja a sua vida, qualquer que seja

o seu caráter. Cristo não é como a porta de algumas igrejas, onde ninguém pode entrar,

exceto os ricos; a porta de Cristo está aberta aos pobres: “Aos pobres é anunciado o Evan-

gelho” (Mateus 11:5). Alguns, talvez, podem dizer: “Eu sou o mais vil nesta congregação”,

mas Cristo diz: “Entre”. Alguns, talvez, podem dizer: “Pequei mais do que todas as outras

pessoas; pequei contra meu pai, pequei contra minha mãe, pequei contra as misericórdias

e contra os julgamentos, contra os convites do Evangelho, e contra a luz”, ainda assim,

Cristo diz: “Entre”.

Sigam ainda mais longe, e observem que o convite não é para olhar para a porta, mas para

entrar. Há muitos que ouvem sobre a porta, mas isso não é suficiente, deve-se entrar nela.

E há muitos que gostam de ouvir sobre a porta, mas, ainda assim, eles não entram. Ah,

meus irmãos, isto é uma grande fraude do Diabo. Estou convencido de que muitos de vocês

vão embora hoje mui satisfeitos porque ouviram falar sobre a porta, mas vocês não entram.

Há muitos que dão um passo a mais, eles olham para a porta, contudo, eles não entram.

Eu acredito que muitos de vocês são muitas vezes trazidos para lá; mas quando chegam

ao ponto, que vocês devem deixar os seus ídolos, que devem deixar seus pecados, vocês

não entram. “Se alguém entrar por mim, salvar-se-á”.

Mais uma vez, há alguns que veem as outras pessoas entrarem, mas eles mesmos não

entram. Você, talvez, tem visto um pai, ou uma mãe, ou um vizinho entrar; você já viu a

transformação que veio sobre eles, e a paz apoderou-se de suas mentes, e você diz: “Eu

gostaria de ser como eles”, mas você não entra. Ah! se você deseja ser salvo, você deve

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entrar pela porta; convicções, lágrimas e semelhantes não lhe farão entrar pela porta. E

esta é a razão pela qual muitos de vocês não são felizes: vocês não entram.

III. Agora, eu venho ao terceiro e último ponto, e é este: a promessa.

“Se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens... eu vim

para que tenham vida, e a tenham com abundância”.

A primeira parte da promessa é: “Eles serão salvos”. Cristo empenha a Sua Palavra nisso:

aqueles que entram serão salvos. Aqueles que não entrarem serão condenados. Se você

não é de Cristo, você está fora, e “ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prosti-

tuem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira” (Apocalipse

22:15). Mas aqueles que entram serão salvos.

Há perdão imediato. Não haverá, mesmo agora, nenhuma condenação para os que estão

em Cristo Jesus. Ó, meus irmãos, é perdão imediato que lhe oferecemos da parte do Pai:

“Se alguém entrar, salvar-se-á”. E, em seguida: “entrará, e sairá, e achará pastagens”. Ou

seja, vocês terão todos os privilégios de uma ovelha; ela sai para o poço e para o pasto.

Então, se vocês são dEle, vocês podem entrar e sair para encontrar pastagens. Meus que-

ridos irmãos, pode chegar um tempo na Escócia, em que haja pouco, quando não haverá

sub-pastor, quando as testemunhas serão assassinadas. Contudo, o Senhor será o vosso

Pastor, Ele vos alimentará. Vocês “sairão e entrarão, e acharão pastagens”. Amém.

Manhã de Sabath, 11 de setembro de 1842.

Extraído da edição de 1975 de Um Cesto de Fragmentos.

Editado pela Christian Focus Publications.

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10 Motivos Para Agarrar-se a Jesus

“Apartando-me eu um pouco deles, logo achei aquele a quem ama a minha

alma; agarrei-me a ele, e não o larguei, até que o introduzi em casa de minha mãe,

na câmara daquela que me gerou.” (Cânticos 3:4)

Você encontrou Aquele a quem a sua alma ama? Neste dia, você já viu a Sua beleza, ouviu

a Sua voz, acreditou no relato sobre Ele, sentou-se sob a Sua sombra, encontrou comunhão

com Ele? Então, agarre-O, e não O deixe ir.

I. Motivos.

1. Porque a paz deve ser encontrada nEle. Justificados pela fé, temos paz com Deus, e não

a paz com nós mesmos, não a paz com o mundo, com o pecado, com Satanás, mas a paz

com Deus. A verdadeira paz Divina deve ser encontrada apenas em crer, apenas em

agarrar-se rapidamente a Cristo. Se você O deixar ir, você deixará escapar a sua justiça;

pois este é o Seu nome. Você fica, então, sem justiça, sem abrigo da ira de Deus, sem um

caminho para o Pai. A Lei novamente te condenará; a carranca de Deus voltará a lhe ofus-

car; você terá novamente terrores de consciência. Segure-O, então, e não O deixe ir. Não

importa o que você deixe ir; não permita que Cristo se vá, pois Ele é a sua paz, creia não

no conhecimento e nem nos seus sentimentos, mas creia nEle somente.

2. A santidade flui dEle. Não há santidade verdadeira neste mundo, senão a que brota dEle.

Um Cristo vivo é a fonte de santidade para todos os Seus membros. Enquanto nós O agar-

ramos, e não O deixamos ir, nossa santidade está segura. Ele está comprometido em nos

impedir de cair. Ele nos ama muito para nos deixar cair sob o poder dominador do pecado.

Sua palavra está empenhada: “E porei dentro de vós o meu Espírito” [Ezequiel 36:27]. Sua

honra estaria manchada se alguém que se apega a Ele padecesse por viver em pecado.

Se você O deixar ir, você cairá em pecado. Você não tem força, nem estoque de graça,

nem poder para resistir a mil inimigos e nem promessas. Se Cristo estiver com você, quem

pode ser contra você; mas se você sair de Seus braços, onde você fica?

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3. A esperança da glória está nEle. Nós nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Se

você encontrou Jesus neste dia, você encontrou um caminho para a glória. “Mais alguns

passos”, você pode dizer, “e eu estarei para sempre com o Senhor”. Serei livre da dor e

tristeza; livre do pecado e da fraqueza; livre de inimigos. Contanto que você agarre a Cristo,

você pode ver o seu caminho para o tribunal: “Guiar-me-ás com o teu conselho, e depois

me receberás na glória” [Salmos 73:24]. Isto oferece tanta alegria e fortes desejos condu-

tores para o mundo celestial. Mas deixe Cristo ir, e isto desaparecerá. Deixe Cristo ir, e

como você pode morrer? A sepultura está coberta de nuvens de ameaça. Deixe-O ir, e

como você pode ir para o julgamento, como poderá aparecer?

II. Meios.

1. Cristo promete manter você agarrado a Ele. Se você está realmente segurando a Cristo

neste dia, você está na mais abençoada condição, pois Cristo se compromete em manter

você apegando-se a Ele: “A minha alma te segue de perto; a tua destra me sustenta”

[Salmos 63:8]. Aquele que é o Criador deste mundo é também sustentador dele, assim

Aquele que cria a nova alma a mantém em seu existir. Isto nunca deve ser esquecido. Não

somente a Igreja se apoia em seu amado, mas Ele coloca a sua mão esquerda sob a cabe-

ça dela, e a sua mão direita a abraça [Cânticos 2:6]. “Todavia, eu ensinei a andar a Efraim;

tomando-os pelos seus braços, mas não entenderam que eu os curava” [Oséias 11:3]. É

bom para um filho segurar-se no pescoço da mãe, mas ah! que apoio fraco seria, se o braço

materno não envolvesse a criança, e a apertasse contra o seu peito. A fé é boa, mas ah!

não é nada sem a graça que a concedeu. “Porei o meu temor nos seus corações” [Jeremias

32:40].

2. A fé em Cristo. A única maneira de agarrar-se é crer mais e mais. Obtenha uma maior

familiaridade com Cristo, com a Sua Pessoa, obra e caráter. Cada página do Evangelho

desvela uma particularidade de Seu Caráter, cada linha das Epístolas mostra as profunde-

zas de Sua obra. Obtenha mais fé, e você terá uma sustentação mais firme. Uma planta

que tem uma única raiz pode ser facilmente desarraigada pela mão, ou esmagada pelo pé

de um animal selvagem, ou derrubada pelo vento; mas uma planta que tem mil raízes finca-

das no chão não será facilmente arrancada. A fé é como a raiz, muitos acreditam um pouco

a respeito de Cristo. Cada nova verdade sobre Jesus é uma nova raiz fincada para baixo.

Acredite mais intensamente. Uma raiz pode estar em uma direção certa, mas, não aprofun-

dada, e então será facilmente arrancada. Ore por fé profundamente enraizada. Ore para

ser confirmado, fortalecido e estabelecido. Olhe intensa e longamente para Jesus, muitas

e muitas vezes. Se você quisesse reconhecer um homem novamente, e ele estivesse indo

embora, você olharia intensamente para o seu rosto. Então, olhe para Jesus profundamente,

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intensamente, até que cada característica seja gravada em seu coração. Thomas Scott

superou o medo da morte, olhando intensamente para o seu filho morto, que havia morrido

no Senhor.

3. A oração. Jacó em Betel. Isaías 27:5: “se apodere da minha força”. Você deve começar

a orar de maneira diferente da que você tem feito. Que seja uma relação verdadeira com

Deus, como Ezequias, Jacó, Moisés e outros.

4. Não ofendendo-O. Primeiro, por meio da preguiça. Quando a alma se torna sonolenta ou

descuidada, Cristo vai embora. Nada é mais ofensivo para Cristo do que a preguiça. O amor

é algo cada vez mais ativo, e quando ele está no coração nos manterá acordados. Por mui-

tas noites o Seu amor por nós O manteve acordado. Agora, você não pode vigiar com Ele

por uma hora? (Cânticos 5:2). Segundo, por meio de ídolos. Você não pode segurar os dois

ao mesmo tempo. Se você estiver segurando Cristo hoje, e lançar mão de um ídolo amanhã,

Cristo não pode permanecer. Ele é um Deus zeloso. Você não pode manter companheiros

mundanos e também a Cristo. “O companheiro dos tolos será destruído” [Provérbios 13:20].

Quando a arca entrou na casa de Dagon, fez o ídolo cair ao chão. Terceiro, por não estar

disposto a ser santificado. Quando Cristo nos escolhe e nos atrai para Si, é para que Ele

possa nos santificar. Cristo está muitas vezes entristecido e distante, por causa de nosso

desejo de preservar um pecado. Quarto, por uma casa profana. “O introduzi em casa de

minha mãe”. Lembre-se de levar Cristo com você para casa, e deixe-O governar sua casa.

Se você andar com Cristo no exterior, mas nunca O levar para casa, você logo se apartará

deste Divino companheiro para sempre.

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Referências dos Sermões que Compõe Este Volume:

Todas as seguintes obras foram traduzidas e publicadas em Português pelo website

oEstandarteDeCristo.com, e estão sob a licença Creative Commons Attribution-

NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer

formato, desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não

altere o seu conteúdo nem o utilize para quaisquer fins comerciais.

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Reformação Pessoal & na Oração Secreta:

Via: Gutenberg.Org • Excerto da obra original, em Inglês: The Biography of Robert Murray M'Cheyne,

by Andrew A. Bonar • Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 1 — A Voz do Meu Amado:

Via: Reformation-Scotland.org.uk • Título em Inglês: The Voice of My Beloved

Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 2 — O Constrangedor Amor de Cristo:

Via: ChapelLibrary.org • © Copyright 2000 Chapel Library • Título em Inglês: Christ’s Constraining

Love • Tradução por William Teixeira • Revisão por Camila Almeida

Sermão 3 — Pai, Eu Quero:

Via: Reformation-Scotland.org.uk • Título em Inglês: Father, I Will

Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 4 — Olhe Para Cristo Traspassado:

Via: Archive.org • Título em Inglês: Look to a Pierced Christ

Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

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Sermão 5 — Cristo, o Único Refúgio:

Via: Archive.org • Título em Inglês: Christ The Only Refuge

Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 6 — Pode Uma Mulher Esquecer?

Via: Archive.org • Título em Inglês: Can A Woman Forget

Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 7 — Gloriando-se Na Cruz de Cristo:

Via: Archive.org • Título em Inglês: Glorying in the Cross

Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 8 — Feliz És Tu, Ó Israel:

Via: Archive.org • Título em Inglês: Happy Are Thou, Israel!

Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 9 — Cristo, A Porta para A Igreja:

Via: The-Highway.com • Título em Inglês: Christ The Door Into The Church

Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 10 — Motivos Para Agarrar-se a Jesus:

Via: Archive.org • Título em Inglês: Motives for Laying Hold of Jesus

Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

OUTRAS LEITURAS QUE RECOMENDAMOS Baixe estes e outros e-books gratuitamente no site oEstandarteDeCristo.com.

— Sola Fide • Sola Scriptura • Sola Gratia • Solus Christus • Soli Deo Gloria —

Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.