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QUE ABALARAM O MUN

1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

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QUE ABALARAM O MUN QUE ABALARAM O MUNDO EDITOR GERAL PETER FURTADO PREFÁCIO MICHAEL WOOD O Hiroshima,6deagostode 1945,8h15. SEXTANTE 1900-1949 Agradecimentos Big Bang-1 d.C. Colaboradores 1-999 Créditos das fotos índice geral Introdução índice por país Glossário Prefácio Por Michael Wood, historiador e apresentador de televisão

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QUE ABALARAM O MUN

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1001 DIAS QUE ABALARAM O MUNDO

EDITOR GERAL PETER FURTADO PREFÁCIO MICHAEL WOOD

O H i r o s h i m a , 6 d e a g o s t o d e 1945 ,8h15 . S E X T A N T E

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Sumário

Prefácio

Introdução

índice por país

Big Bang-1 d.C.

1-999

'//////////////////////^ 1000-1499

y//////////////////M^^^ 1500-1699

1700-1899

1900-1949

^///////////////^^ atuais

Glossário

índice geral

Créditos das fotos

Colaboradores

Agradecimentos

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Prefácio Por Michael Wood, historiador e apresentador de televisão

Em 2007, tive a sorte de conseguir uma carona para o Curdistão iraquiano com uma patrulha americana que partia de Mossul. Meu objetivo era fazer uma investigação histórica. O calor do verão se apresentou ao raiar do dia, e em pouco tempo já estávamos sufocados dentro de nossos coletes blindados na cabine de um transporte de tropas abarrotado. Atravessamos o rio Tigre e pouco depois passamos pelas ruínas dos portões de Nínive, com suas lembranças do Antigo Testamento e de reis assírios, de medos e persas "abatendo-se qual um lobo sobre o rebanho". Conforme descíamos a antiga estrada para a Babilônia, era possível ver à nossa volta as diferentes camadas da história iraquiana -greco-assíria, cristã, muçulmana - com lembranças de batalhas, dos assírios aos mongóis, e hoje, talvez igualmente desastrosa, da operação Iraque 1 ivre. Enquanto eu espiava pelo posto de observação do veículo, me vi pensando que, para estar realmente viva, a História precisa ser sempre Aqui e Agora.

Depois de Mossul, um grande maciço brota da planície: é Jabal Maqlub, ou "montanha de cabeça para baixo", conhecida pelos cristãos iraquianos como Alfaf ou "a colina dos mil santos". Mais tarde no mesmo dia, subimos ao topo e deparamos com uma vista espetacular das montanhas do Curdistão. Abaixo de onde estávamos, no meio de uma vasta planície, ao lado de um leito seco de riacho, havia um morro de encosta íngreme. Hoje chamado de Tel Gomei, esse morro já abrigou uma cidade antiga batizada em homenagem à montanha sobre a qual estávamos pisando: Gaugamela, ou "Lombo de Camelo". Estávamos olhando para o local da maior batalha de Alexandre, onde - como depois alegaram os gregos -49 mil gregos derrotaram quase um milhão de homens liderados pelo imperador persa Dario. A batalha transformou Alexandre em "Senhor da Ásia", e o mundo nunca mais seria o mesmo. A data era 1"de outubro de 331 a.C

Quando eu era estudante, no fim da década de 1960, a noção convencional era a de que os grandes acontecimentos, assim como o papel do indivíduo na História, eram supervalorizados; "os dias que abalaram o mundo" eram um conceito redundante. Os historiadores de esquerda, em especial, insistiam que o que de fato constituía a História eram forças mais profundas - movimentos sociais, proletários. Um pouco mais tarde, o grande livro de Fernand Braudel sobre o Mediterrâneo nos ensinou (de maneira mais convincente, a meu ver) que a História existe em-diferentes níveis: embaixo de tudo fica a longuedurée

da paisagem e do clima, na qual se encaixam os padrões arraigados e de longo prazo da vida humana; por cima desta se sobrepõem a ascensão e a queda das civilizações; e somente no terceiro nívei é que existe a histoire événernentielle - os "simples acontecimentos", esses vaga-lumes de vida breve que iluminam por um instante a superfície da História. Tenho certeza de que Braudel está certo. Apesar

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disso, me parece também indiscutível que pessoas como Alexandre e dias como

o da Batalha de Gaugamela realmente mudaram o mundo.

É isso que torna esta compilação tão fascinante. A idéia é simples: uma

lista de 1.001 dos momentos mais importantes da história da humanidade. Não

apenas acontecimentos, mas idéias, invenções, criações artísticas. Para mim,

muitos relatos deste livro lembram minhas viagens pela História ao longo dos

anos: as caronas que peguei quando era estudante até o salto da bota italiana

para encontrar a Canas de Aníbal, ou pela costa sul da Turquia até Isso. Em Alésia,

durante as férias da faculdade, lembro-me de descobrir, para meu espanto, que

ainda se podiam distinguir tênues vestígios das imensas trincheiras com as quais

Júlio César primeiro cercou Vercingetórix para em seguida sufocá-lo. Lembro-me

também de passear pelos subúrbios em ruínas da Cidade do Méxk o à procura

de indícios físicos (ou mesmo tradições orais) da queda da cidade em 1520-1521,

que Adam Sinith considerava o acontecimento mais importante da História

e que marcou o início da conquista espanhola da Mesoamérica.

Outro aspecto intrigante são os sincronismos históricos que surgem neste

livro. Considerem por exemplo aquilo que Karl laspers denominou Era do i ixo.

A idéia de que Buda, Confúcio, Lao Tsé, os primeiros filósofos gregos e alguns

dos profetas do Antigo Testamento possam todos ter vivido na mesma época: o

significado disso para a história do pensamento humano ainda é foco de acirrados

debates. Outros sincronismos revelados nestas páginas não são menos notáveis.

No século VII, o curso de duas religiões foi radicalmente alterado: o profeta Maomé

morreu (em 632 d.C); exércitos árabes muçulmanos saíram da península Arábica

para mudar o curso da História; e Hsuan Tsang chegou à Caxemira para uma das

maiores missões culturais - levar de volta à China os principais textos do budismo,

religião que tinha então, provavelmente, o maior número de adeptos no mundo.

Trata-se, é claro, de uma lista para a nossa época. Daqui a uma ou duas

gerações, os historiadores talvez revejam esta lista e descubram tendências que

nós não detectamos: quem sabe encontrem precursores de sua própria época

que nós hoje ainda não conseguimos ver. Mas não é justamente isso, afinal de

contas, que constitui o eterno fascínio da História? Ela nunca é estática; está

sempre mudando, e, como descobri naquela tarde no Lombo de Camelo no

norte do Iraque, em seus aspectos mais fascinantes ela é sempre Aqui e Agora. E

é esse o atrativo deste belo e instigante livro.

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Introdução Por Peter Furtado, editor geral

Todos os dias, em todos os lugares do mundo, coisas acontecem. Pessoas com­

pram e vendem, constróem e destroem, brigam e negociam, vivem e morrem,

de formas grandiosas ou simplórias, sendo cada ação um acontecimento dis­

tinto. E o mundo vai se transformando pouco a pouco, na maioria das vezes de

forma imperceptível, mas algumas vezes de maneira dramática.

Todos os dias, em todos os lugares do mundo, as pessoas olham para essa

massa caótica de acontecimentos e tentam narrar alguns deles, organizá-los em

padrões, dizer quais são mais ou menos importantes. Olham para esse emara­

nhado de acontecimentos e tentam encontrar neles - ou então atribuir-lhes -

um significado, usá-los para construir histórias, trazê-los à atenção de outros a

quem possam interessar. Um dos resultados disso é o jornal impresso ou o no­

ticiário da TV, que ordenam, priorizam e explicam uma proporção minúscula da

massa de eventos, de modo a informar, educar e entreter os outros.

A tarefa de impor ordem ao caos não é simples e nunca é concluída de forma

completa ou totalmente satisfatória. Talvez um repórter descubra apenas parte da

verdade; talvez algum detalhe crucial fique escondido ou passe despercebido; tal­

vez os vínculos - o significado - sejam abrangentes ou intricados demais para que

se possa entendê-los; talvez a história se mostre indigesta do ponto de vista das

idéias preconcebidas em relação ao que deveria acontecer e por isso seja ignorada

ou suprimida. Assim dispomos de vários repórteres, cada qual trabalhando de sua

perspectiva distinta, enquanto nós, consumidores, separamos e escolhemos a ver­

são dos acontecimentos do dia que nos pareça mais cômoda ou útil.

Um aspecto-chave da busca por significado é desemaranhar as correntes de

causa e efeito, procurar vínculos entre fatos que estão acontecendo no presente

e aqueles relatados no passado. Essa busca logo leva algumas pessoas a retro­

ceder cada vez mais no tempo, tentando descobrir não apenas o que aconteceu

de fato, mas delimitar esses vínculos, identificar cuidadosamente a forma como

um acontecimento influenciou o outro. O resultado disso é a História.

Entre historiadores, a causalidade sempre foi motivo de controvérsia. É óbvio

que o mundo se transforma, mas como exatamente? Há quem enfatize as forças

subjacentes, as tendências econômicas, culturais ou intelectuais que originam os

grandes padrões de mudança nos quais todos os acontecimentos menores se

encaixam; ao passo que outros preferem ressaltar a contingência e os efeitos do

acaso, da personalidade e do erro humano. A maior guerra européia, em meados

do século XX, foi conseqüência de tensões e tendências que já vinham de muitas

décadas ou foi produto da visão de mundo de um único homem? O simples fato

de enunciar essa pergunta demonstra como a escolha é falsa: não se trata de um

ou de outro, mas sim de ambos.

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Um dos prazeres de se examinar o drama humano do passado é per­

ceber o quanto ele é abrangente e o quanto muitos de seus aspectos são

memoráveis. Toda a vida humana está ali. E, se a História oferece o maior

de todos os palcos, muitos dos personagens que nele se destacam são pes­

soas extraordinárias. Sejam eles monstros, heróis ou fracassos completos em

situações além de suas capacidades, os protagonistas do passado, com todas

as suas ambições e defeitos, proporcionam um espetáculo que ultrapassa

a imaginação até mesmo de nossos maiores dramaturgos. Se observarmos

seus dramas, as histórias de seus atos podem permanecer em nossa mente

pelo resto da vida.

Í.001 dias que abalaram o mundo apresenta uma série de cenas extraídas

desse imenso drama. A série começa bem no início - na verdade, antes da Histó­

ria, antes da criação da Terra - e vai até o século XXI. Ela abrange o mundo inteiro.

Abarca alguns dos fatos mais importantes que se desenrolaram, e outros um

tanto triviais, cujo interesse está na forma como se introduziram na consciência

popular e ali permaneceram.

Antigamente, as crianças eram obrigadas a decorar os nomes dos reis e rai­

nhas da Inglaterra, dos presidentes dos Estados Unidos, ou de todos os explora­

dores dos novos continentes. Muitas vezes, também sabiam de cor as datas de

acontecimentos famosos, de modo que bastava alguém dizer "1776" ou "1789"

para elas já entenderem que a pessoa estava se referindo à Declaração de Inde­

pendência Americana ou à Revolução Francesa. Essa prática educativa já não é

mais tão comum nos dias de hoje, e muita gente reclama que o conhecimento

desses nomes e datas do passado se perdeu. Datas memoráveis têm diversas

vantagens. Elas funcionam como uma espécie de atalho para os grandes acon­

tecimentos históricos e se organizam naturalmente em ordem cronológica. M e ­

morizar datas, portanto, dá uma noção do que vem antes e do que vem depois.

Isso é diferente de causa e efeito, mas ajuda a formar a "visão de conjunto" do

passado, em que se podem inserir conhecimentos mais detalhados sobre tópi­

cos específicos.

Este livro apresenta mil dessas datas, mais uma para dar sorte, oferecendo

assim uma espécie de "visão de conjunto". Não é uma visão perfeita ou com­

pleta - na verdade, mais do que um quadro a óleo emoldurado, trata-se de um

desenho do tipo "ligue os pontos". Esse desenho, porém, tem forma definida e,

se você tentar juntar os pontos e descobrir os padrões que existem ali, terá uma

noção de como o mundo mudou. E, caso fique intrigado o suficiente para querer

colorir alguns detalhes e pesquisar os acontecimentos que mais o marcarem,

nesse caso o livro terá cumprido bem a sua função.

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Você não precisa começar do início e ler o livro de cabo a rabo. Cada item é independente e apresenta, dentro das óbvias limitações de espaço, um vislumbre do drama ocorrido no dia em questão, onde se passou, por que motivo e quais foram suas implicações. Assim, você pode mergulhar no livro, ler sobre coisas das quais nunca tinha ouvido falar e emergir com o ins­tantâneo de um momento-chave do tempo. Mas é preciso reconhecer que, seja qual for a abrangência dos itens, é praticamente impossível contemplar, em um livro como este, tudo o que poderia ser dito sobre o passado. O que tentamos fazer foi selecionar acontecimentos memoráveis e lhes dar um contexto e uma conseqüência. Embora qualquer acontecimento pudesse ser incluído, limitamo-nos àqueles ocorridos e m um único dia ou que pelo menos atingiram seu clímax nesse dia.

Os indícios históricos podem ser incompletos, sobretudo no que diz res­peito ao passado mais remoto, de modo que nem sempre é possível ter certeza de em que dia exato de que mês exato um acontecimento específico ocorreu. Algumas vezes, mesmo para os acontecimentos mais famosos de toda a His-tória, há controvérsias quanto à data em que teriam ocorrido - o nascimento de Jesus é um exemplo disso. A falta de exatidão não significa que esses acon­tecimentos não sejam verídicos, portanto nós os incluímos. A confusão pode resultar também dos muitos sistemas diferentes de calendário usados mundo afora na época ou das diferentes formas de narrar. Até algumas centenas de anos atrás, e m termos oficiais ou jurídicos, o ano não começava no dia I a de janeiro como hoje, mas sim em 25 de março (Dia da Anunciação do Senhor ou da Anunciação a Nossa Senhora), de modo que um acontecimento que pode­mos pensar ter ocorrido, digamos, no dia 30 de janeiro de 1649 (a execução do rei Carlos I por Oliver Cromwell) era datado pelo povo da época no dia 30 de janeiro de 1648. Da mesma forma, a mudança de calendário justifica que Lenin e os bolcheviques tenham batizado sua tomada de poder revolucionária na Rússia de "Revolução de Outubro", pois segundo eles a tomada definitiva do Palácio de Inverno ocorreu em 25 de outubro, embora hoje em dia se diga que foi no dia 7 de novembro de 1917.

Como é impossível conhecer cada detalhe de tudo que aconteceu no pas­sado, algumas vezes é mais importante saber o que as pessoas achavam que tinha acontecido. Muitas vezes, por diversos motivos, aceitaram-se histórias de eventos ocorridos antigamente que hoje parecem bastante improváveis, ou mesmo impossíveis. Alguns historiadores preferem ignorar essas ocorrências e se concentrar no que de fato aconteceu. Às vezes, porém, a crença em si, por mais estranha que seja, é importante, porque leva aqueles que nela acreditam

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a atos notáveis que impactam a vida de muitos. Assim, a história dos fatos que eles pensam ter ocorrido também faz parte da História - contanto que deixemos claro que a crença t ambém faz parte da História, e não apenas o aconteci ­mento. É por isso que se poderão encontrar no livro alguns acontecimentos - , por exemplo, a "Criação do Mundo" em outubro de 4004 a.C. - que nenhum historiador moderno poderia alegar com seriedade terem ocorrido de verdade. O fato de pessoas inteligentes um dia terem acreditado que sim, e que isso tenha afetado seriamente as decisões que essas pessoas tomaram em relação à própria vida, é motivo suficiente para sua inclusão. A maioria dessas datas, como a funda­ção de Roma por Rômulo em 21 de abril de 753 a.C, depois de ele e seu gêmeo Remo terem sido criados por uma loba, está relacionada a mitologias há muito extintas, mas ainda assim são datas que desempenharam um papel importante na história das culturas a elas relacionadas.

As histórias aqui apresentadas são tanto políticas, dinásticas e militares - a matéria-prima da História, dirão alguns - quanto culturais, tecnológi ­cas e científicas. Embora comecemos na Pré-história, nossa ênfase está nos últimos 150 anos. I lá vários motivos para isso. Um deles é que, antes do desenvolvimento dos impérios ocidentais e da conseqüente globalização da História, apenas uns poucos acontecimentos ultrapassavam as fronteiras das terras onde ocorriam. Apesar de esses fatos terem sido incluídos, muitas outras ocorrências fascinantes, mas essencialmente locais, foram deixadas de fora. A partir do século XIX, acontecimentos de uma parte do mundo passaram a afetar outras partes distantes com freqüência muito maior, dal a ênfase nos dois séculos mais recentes. Outro motivo é que a História sim­plesmente se acelerou nos últimos dois séculos: mais coisas aconteceram mais depressa do que aconteciam na Idade Média, digamos, ou pelo menos ocorreram mais coisas relatadas em detalhe e cujas implicações e raízes po ­dem ser identificadas. À medida que as mudanças se aceleraram, os dias que abalaram o mundo também se tornaram mais freqüentes.

Nenhuma escolha de 1.001 dias que abalaram o mundo poderia ser definiti­va, e eu espero - mais ainda, torço para isso - que esta seleção seja questionada. Espero também, no entanto, que o leitor encontre relatos que o surpreendam e interessem. Isso tudo é bom. A História nunca é definitiva. Se você não discordar dela em alguns momentos e se ela não o surpreender ocasionalmente, é sinal de que alguma coisa está errada. Ou ela foi mal apresentada ou você acha que já sabe tudo que há para saber sobre a vida. A História é um diálogo entre todos nós - escritores, leitores, estudiosos, cidadãos - e toda ela está aberta a discus­sões. Então vamos discuti-la.

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H Á 13.700.000.000 DE A N O S

0 universo surge de uma explosão O Big Bang é o início do universo.

O Uma ilustração conceituai da explosão, feita por computador, mostra a expansão de gás e matéria que iria se tornar o nosso universo.

Não houve nenhum bang - tenha sido ele grande, big,

ou pequeno -, já que o som não dispunha de um meio no qual pudesse se propagar. Foi o início do tempo, do espaço, da matéria, da energia, de todas as coisas - tudo criado inexplicavelmente a partir de uma "singularidade" onde nada disso existia antes. Nos anos 1960, cientistas detectaram o eco do Big Bang na forma de uma radiação de fundo vinda do espaço. Eles forneceram uma expli­cação teórica do que deve ter acontecido no primeirís­simo segundo de existência do universo, quando ainda era minúsculo e extraordinariamente quente: ocorreu uma súbita expansão, e a matéria passou da diminuta escala quântica para a de um cosmos pequeno, mas em expansão. Grandes quantidades de matéria e antimaté-ria foram criadas e quase todas se aniquilaram, restando

apenas uma pequena quantidade de matéria. À medida que o universo esfriou e seus imensos níveis de energia diminuíram, partículas subatômicas se juntaram. Foram necessários mais 380 mil anos para as temperaturas caí­rem o suficiente a ponto de elétrons e prótons se unirem para produzir átomos.

Grandes nuvens de hidrogênio se acumularam, formando massas ainda mais densas que se compac­taram devido à força da gravidade até os átomos de hidrogênio do centro se fundirem e se transforma­rem em hélio, liberando uma energia que os levou a se acenderem na forma de estrelas. Quando algumas delas explodiram, tornando-se supernovas, criaram-se átomos ainda mais pesados, que formaram a matéria-prima do universo atuai. P F

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H Á 65.000.000 DE A N O S

A aniquildção dos dinossauros A colisão de um asteróide com a Terra explicaria a extinção dos animais pré-históricos?

O A fronteira K/T, uma camada preta entre as rochas cretácea eterciária, é constituída de material liberado pelo impacto de um asteróldi'.

Depois de dominar a Terra por mais de 100 milhões

d e anos, os dinossauros morreram subi tamente 65

milhões de anos atrás. Igual dest ino t iveram os

amonites, a maioria dos répteis marinhos, certas

espécies de plâncton e marsupiais. Porém, mamí ­

feros pequenos e primitivos sobreviveram, assim

c o m o aves, insetos, lagartos e anfíbios. Em a lgu ­

mas partes do mundo , a maioria das plantas t a m ­

b é m foi extinta.

O que terá acontecido? As teorias mais prová­

veis sugerem um ou vários impactos importantes

de asteróides que poder iam ter derretido a crosta

terrestre, causando graves perturbações a tmos­

féricas e gerando imensos tsunamis e incêndios,

seguidos por uma queda drástica d o nível do mar.

Um dos locais associados a esse f enômeno fli 8 próximo à costa do Yucatán, alvo do impacto de um asteróide de 10 qui lômetros de diâmetro,

No entanto, não está claro por que alguns gru pos de animais foram aniquilados enquanto outP i] sobreviveram. Animais menores e capazes de se esconder debaixo da terra foram menos afetados do que os grandes habitantes da superfície, e ,is espécies que nadavam livremente sofreram m a r . do que as criaturas que se al imentavam no fundo do mar. Mas a sobrevivência das aves sugere q u e as perturbações atmosféricas podem ter sido bai tante breves. P F

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4004 A C . 22 DE O U T U B R O 2575 A.C.

Faça-se a luz! 0 bispo de Armagh examina a Bíblia para identificar a data da criação.

"No princípio Deus criou o céu e a terra." As primei-

ras palavras do Livro do Gênesis marcaram o início

da história para milhões de cristãos e judeus por

muitos milênios - mas quando foi esse início? A n ­

tes do século XVIII, quando pesquisas geológicas

( omeçaram a sugerir que a Terra tinha muitos mi ­

lhões de anos de idade, a melhor informação que

as pessoas t inham a seu dispor eram as muitas g e ­

rações mencionadas na própria Bíblia. Usando essas

gerações e a duração da vida de alguns patriarcas

(muitas vezes extraordinariamente extensa), cru-

zando-as com os ciclos astronômicos e com o que

s e conhecia da história médio-oriental e egípcia,

Limes Ussher, bispo da cidade irlandesa de Armagh,

calculou em 1658 que "o início" ocorreu no cair da

1 mite de sábado, 22 de outubro, cerca de 4.004 anos

antes do nascimento de Jesus.

Ussher supôs que, quando a noite e o dia foram i liados, deviam ter duração equivalente, o que apon­tava para uma data próxima ao equinócio. Supôs tam-I i i ; m que para que Adão e Eva tivessem o que comer leiia de ser época da colheita no Jardim do Éden. A d,iti escolhida por Ussher foi incluída na margem de muitas Bíblias impressas do início do século XVIII até meados do século XX, tornando-se famosa.

Ussher não foi o único estudioso de sua época a lazer um cálculo assim. Alguns anos antes, o vice-' iltOl honorário de Cambridge, John Lightfoot, havia

i alculado que o céu e a terra t inham sido criados em seiembro de 3929 a.C. Antes dele, outros estudio­s o 1 . , c o m o Beda, o Veneráve l , Mar t inho Lutero e lohannes Kepler, já haviam feito cálculos compl i ­cados para chegar a conclusões parecidas, mas ne ­nhum deles obteve a mesma-aceitação universal da i fi la de criação de Ussher. P F

Conclusão da Pirâmide A Grande Pirâmide de Gizé abriga a tumba do rei Quéops.

A pirâmide de Quéops é a única das Sete Maravilhas

do Mundo Antigo que sobrevive até hoje. Construída

em 2575 a.C, ela abriga o túmulo de Quéops, faraó

que reinou durante 23 anos sobre o Alto e o Baixo

Egito. Poucos registros de seu reinado chegaram até

nós, mas algumas inscrições sugerem que ele travou

combates tanto ao sul, na Núbia, quando ao norte,

em Canaã. Apesar da escassez de informações, sua

reputação resistiu ao passar dos milênios. Quéops é

lembrado como um rei cruel, determinado a alcançar

dois importantes objetivos: assegurar a sobrevivência

de sua dinastia depois do filho Quéfren e garantir

a própria imortalidade por meio da construção da

Grande Pirâmide de Gizé, maior monumento do m u n ­

do antigo. O historiador grego Heródoto alegava que

Quéops havia forçado a filha a se prostituir de modo

a angariar fundos para sua pirâmide.

Os problemas logísticos criados por tão imensa

construção - de 146m de altura e formada por cerca

de 2,3 milhões de blocos de pedra -, em um tempo

relativamente curto, eram espantosos. No entanto,

foram claramente superados. O projeto simples da

construção, incomum no Egito por não ser coberta de

inscrições ou preces, vem fascinando os observado­

res há muitos milênios. Recentemente, a exploração

dos estreitos corredores da estrutura usando câmeras

acopladas a robôs sugeriu que a pirâmide foi construí­

da em alinhamento com a constelação de Órion, para

permitir que a alma do rei viajasse até as estrelas.

Ao lado da pirâmide havia um barco fúnebre de

43m de comprimento, no qual o rei foi levado para o

lugar de seu descanso final, e tumbas menores para os

membros de sua família - algo inédito na época. P F

O A célebre esfinge de Gizé e, ao fundo, a Grande Pirâmide.

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2334 A.C. 1760 A.C.

Sargão assume o Império Sargão derrota dois reis e se torna o primeiro governante da Mesopotâmia.

Em 2334 a.C, Sargão tornou-se o primeiro imperador tia história do mundo. De origem humilde - criado por um jardineiro -, acabou alcançando o prestigioso car­go de portador do cálice de Ur-Zababa, rei da cidade mesopotâmia de Kish. Mais tarde, Sargão travou unia guerra contra Lugalzagesi, poderoso rei de Uruk, e ao derrotá-lo tornou-se imperador da Mesopotâmia.

0 novo imperador estendeu seu domínio por toda

a região e comandou campanhas militares que se esten­

deram até a costa do Líbano e a Anatólia, a oeste. Sargão,

( i ijo nome significa "rei por direito", estabeleceu sua ca-

''Agora qualquer rei que quiser ser chamado de meu igual, que vá aonde eu fui." S a r g ã o , i m p e r a d o r da M e s o p o t â m i a

pitai em Acad, cidade nas margens do Eufrates que ja­mais foi encontrada. Ele imediatamente implantou uma grande burocracia, que assumiu o papel de atividade econômica mais importante nas cidades-templo da an-liga Suméria. Estradas foram construídas, e inventou-se um sistema postal usando selos reais. Também foi feita uma tentativa de recensear a população.

Durante os 56 anos de seu reinado, o acadiano, uma língua semítica, tornou-se a língua oficial da M e ­sopotâmia. Sargão enfrentou revoltas freqüentes, pri­meiro lideradas por Lugalzagesi, depois por cidades-estado individuais. Por volta do fim de seu reinado, Acad foi sitiada, mas quando Sargão morreu, em 2279 a.C, ele pôde deixar, para os filhos, seu império, que ainda resistiu 150 anos antes de sucumbir à anar­quia interna. P F

Código de Hamurábi Hamurábi estabelece suas 282 leis, criando um sistema jurídico duradouro.

A principal contribuição à civilização de Hamurábi, rei da Babilônia a partir de 1782 a.C, foi o estabelecimento de um código de 282 leis em 1760 a.C. Escrito na língua acadiana em uma esteia, ou coluna de basalto, ficava ex­posto em um local proeminente da cidade. As leis nele inscritas detalhavam punições para ofensas específicas (muitas envolviam a pena de morte). Violência à parte, elas representam princípios jurídicos duradouros, co­mo a importância das provas, a pressuposição de ino­cência e a necessidade de se evitar a justiça arbitrária. No alto da esteia há uma ilustração do rei recebendo as leis do deus Shamash. Talvez não seja o primeiro código jurídico, mas é o mais completo a ter sobrevivido.

Criou-se um sistema de juizes profissionais, e foi concedido ao rei o direito de apelação - embora até mesmo dele se exigisse um comportamento condi ­zente com o código de justiça de inspiração divina e, portanto, imutável. Vinganças tribais ou consuetudi-nárias não eram aceitáveis. Estabeleceu-se o direito de propriedade e um sistema de contratos, bem como os direitos dos senhores sobre os escravos e dos pro­prietários sobre os inquilinos. Também criou-se um direito matrimonial, e o casamento passou a ser tra­tado principalmente e m termos contratuais.

Além de estabelecer um código de leis, Hamu­rábi fortaleceu seu reino tanto do ponto de vista mi ­litar quanto do econômico. Até ele herdar o trono, a Babilônia era apenas mais um dos muitos pequenos Estados mesopotâmios em conflito. Depois de repe­lir um ataque dos elamitas, Hamurábi conquistou a poderosa cidade rival de Larsa para criar seu império no sul da Mesopotâmia em 1763 a.C. P F

O Uma tabuleta de pedra gravada mostra um fragmento do código

de Hamurábi, escrito em caracteres cuneiformes, c. 1760 a.C.

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CERCA DE 1620 A.C.

Uma explosão vulcânica atinge Thera O Mediterrâneo Oriental sofre um dos piores desastres naturais do mundo.

O Ânforas semi-enterradas em pedra-pomes e escórias da

erupção vulcânica na ilha de Thera.

"Em um dia e uma noite de infortúnio... a ilha de Atlântida... desapareceu." Timeu, d e P l a t ã o , c. 360 a.C.

A erupção vulcânica na pequena ilha de Thera, ou Santorini, no mar Egeu, não tem registro e m ne ­nhuma literatura conhecida, e os cientistas ainda d e ­batem se ela de fato ocorreu (em algum momento entre 1650 e 1550 a.C, sendo 1620 ou pouco depois a data triais comumen le estimada), mus suas ondas de choque foram sentidas por todo o Mediterrâneo Oriental. A provável segunda maior erupção vulcâni­ca da história humana - soltou quatro vezes mais fumaça e cinzas na atmosfera do que o Krakatoa e m 1883 e cobriu o solo marinho com uma camada de até 80m de pedra-pomes por um raio de muitos quilômetros - aparentemente provocou um imenso tsunami responsável por uma destruição de propor­ções catastróficas na civilização minoana, ao norte de Creta, que jamais se recuperou. A explosão tam­bém abriu na própria Thera uma enorme depressão vulcânica, e enterrou a cidade de Akrotiri.

Registros egípcios não sugerem que o aconte­cimento tenha tido impacto significativo no vale do Nilo. Embora alguns estudiosos tenham argumentado que as pragas bíblicas que assolaram o Egito pudes­sem estar relacionadas com as conseqüências da ex­plosão, a maioria considera que o êxodo dos judeus do Egito ocorreu muitos séculos depois. Existem, no entanto, sugestões de que condições climáticas pou­co habituais ocorridas na China na época possam es­tar relacionadas à explosão. Alguns estudiosos chega­ram até a relacionar Thera com o desaparecimento da lendária ilha de Atlântida.

A partir de 1967, escavações em Akrotiri revela­ram afrescos notáveis, indicando vínculos comerciais e culturais com o Egito, Creta e o Levante. Não foram encontrados vestígios humanos, o que sugere que os habitantes tiveram tempo suficiente para fugir, ao contrário dos de Pompéia. P F

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O faraó venera o deus do disco solar Aton Amenófis funda Amarna e reformula as regras da sucessão real egípcia.

Os reis do antigo Egito, conhecidos a partir da déc i ­ma oitava dinastia como faraós, identificavam-se uni­versalmente com o deus supremo Amon, o Oculto, e com Rá, o deus-sol. No quinto ano de seu reinado, Amenófis IV desprezou os antigos deuses em fa­vor de sua própria divindade individual e mudou o próprio nome para "Aquele que Serve a Aton".

Akenaton fundou sua capital e m Amarna, no deserto, estabeleceu um sacerdócio próprio, e criou, junto com a esposa Nefertiti, um estilo original de arte naturalista no qual o rei era retratado com um físico estranho, de traços alongados e barriga salien­te, diferente de qualquer outro monarca egípcio. Isso levou alguns estudiosos a sugerir - com base e m poucos indícios suplementares - que o faraó sofria de diversas doenças. 0 templo de Aton era aberto para deixar o sol entrar, e o rei escreveu um hino em homenagem a seu deus que foi comparado à litera­tura monoteísta contemporânea, como por exemplo os salmos judaicos.

A mudança e m relação à o rdem estabelecida foi dramática. A nova religião provocou forte o p o ­sição no Egito, e Akenaton revelou-se incapaz de proteger seu império no Or iente Méd io d e incur­sões de hititas anatólios e outros povos. Depois de sua morte, seu filho reinou por um breve período c o m o Tutancaton antes de ser forçado a mudar seu n o m e e sua fé de volta para as formas tradicionais, v i rando então Tutancâmon. Embora tenha sido um governante pouco d igno de nota sob outros aspectos, Tutancâmon tomar-se-ia o mais célebre de todos os faraós graças ao fato de sua tumba ter sido a única (até onde se sabe) a sobreviver intacta até a época moderna. P F

ti. .."J ílfl

mi.

O Um relevo gravado mostra Akenaton e sua famílm vcm-t

Aton, o disco solar (c. 1350 a.C).

"Pássaros saúdam o seu ka, e todos os rebanhos se agitam." H i n o a A t o n , insc r i ção , t u m b a d e A y

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1279 A.C.

Ramsés II é coroado no Egito É o início de um dos reinados mais longos e importantes da história do mundo.

O O que restou das colossais estátuas de Ramsés II no templo

construído por - e dedicado a - ele em Abu Simbel.

"Ataquei todos os países sozinho... já que meus carros haviam me abandonado." A n a i s d e R a m s é s II

Ramsés II iniciou seu longo reinado e m 1279 a.C, de ­pois da morte do fundador da décima nona dinastia, Seti I, que havia restaurado a importância comercial e o poder egípcio em todo o Levante, criando o mais extenso império do antigo Egito. Ramsés deu con ­tinuidade ao trabalho de Seti, travando contra os hiti-tas, e m 1275 a.C e m Kadesh, na Síria, nas fronteiras do império, uma batalha renomada, embora de resul tado duvidoso, que definiu os limites de poder dos dois Estados e foi descrita em detalhes nos muros do templo funerário do faraó em Tebas, conhecido como Ramesseum.

Mais tarde em seu reinado, Ramsés teve de e n ­frentar o poder crescente dos assírios. Ele t a m b é m deu início a uma série de vastos e arquitetonica­mente interessantes projetos de construção e m Luxor, Karnak, Ábidos e Abu Simbel. Neste último local, mandou erguer um templo escavado na ro cha supostamente dedicado ao deus Amon-Rá, mas que era precedido por duas estátuas de 20 metros de altura do próprio Ramsés sentado. Em 1959, quando a represa de Assuã foi construída no Nilo, a e levação do nível do lago Nasser encobriu o local do templo, e todo o complexo de Abu Simbel, assim c o m o suas estátuas, foi transferido para um terreno mais e levado.

O corpo mumif icado de Ramsés II foi descober­to e m Deir el-Bahri na década de 1880, e nos anos 1970 finalmente foram realizados os trabalhos de preservação necessários, possibilitando às civiliza­ções modernas um vis lumbre notável dos traços desse rei ruivo, f is icamente imponente e de nariz adunco. P F

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Moisés conduz seu povo para fora do Egito Moisés conduz os judeus para longe do cativeiro através do mar dos Juncos.

Embora a data exata seja motivo de freqüentes con ­trovérsias, foi provavelmente no início do reinado de Seti I que o povo hebreu de Canaã, sofrendo com a fome, migrou para o Egito, onde foi escravizado. Há indícios de que os hebreus tenham de fato trabalha­do na cidade de Píton, no delta do Nilo, conforme descrito na Bíblia.

Segundo o livro do Êxodo, um menino hebreu, Moisés, foi criado como egípcio na casa do rei. No entanto, depois de descobrir suas verdadeiras origens e de perceber os maus-tratos sofridos pelos hebreus, Moisés decidiu, e m 1250 a.C, conduzir seu povo para longe do cativeiro. Na companhia do irmão, Aarão, ele desafiou o novo faraó Ramsés a deixá-los partir. Quando o faraó recusou, os dois tentaram algumas demonstrações mágicas para mostrar que eram pro­tegidos pelos deuses, e então, segundo a Bíblia, o rei­no foi assolado por uma série de pragas (talvez resul­tado de uma cheia excepcionalmente forte do Nilo). A praga final foi a morte dos primogênitos de todos os lares do reino, exceto aqueles que os hebreus t i ­vessem marcado com um sinal feito com o sangue de um cordeiro sacrificado, o que significava que a praga divina "passaria por cima" da casa. Esse acontecimento foi considerado um sinal da primeira grande interven­ção divina da história judaica e é comemorado todos os anos no festival do Pessach.

Depois disso, Moisés incentivou milhares de he­breus a se mudarem para o deserto do leste. O faraó enviou numerosos soldados em seu encalço, mas Moi­sés guiou seu povo através dos pântanos do mar dos Juncos (muitas vezes equivocadamente identificado c o m o o próprio mar Vermelho), onde os carros de guerra egípcios atolaram. Seguro no monte Sinai, Moi ­sés estabeleceu a lei judaica antes de todos retornarem para a terra de Canaã, após 40 anos de exílio. P F

O Nesta ilustração do século XIV os judeus deixam o Egito, lldfl

rados por Moisés e perseguidos pelo faraó e por sua cavalai l.i

"E o Senhor... tornou o mar seco, e as águas foram partidas." Ê x o d o , 14:21

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Ji Fa alega ter recebido um mandado dos céus A dinastia Zhou torna-se a mais longeva de qualquer Estado importante da China.

O Retrato sem data e anônimo do imperador Wu , hoje

conservado no Museu do Palácio Nacional de Taiwan.

"Governar um país grande é como cozinhar um peixe pequeno." L a o Tsé , Tao Te Ching, s é cu l o V I a .C.

Os Zhou, antiga tribo nômade instalada na região do rio Wei , subiram ao poder em 1122 a.C, quando seu líder Ji Fa derrotou em batalha o último representante da dinastia Shang, Dixin, e estabeleceu uma nova ca­pital perto de Xi'an. A China havia sido unificada pelos Shang no início do segundo milênio a.C, mas Ji Fa tachou o governo Shang de corrupto, argumentando que Dixin havia se tornado cruel e despótico, mais preocupado com a construção de magníficos jardins do que com o bem-estar do povo. Além disso, afir­mou que os Shang não tinham mais justificativas para governar, enquanto a sua própria legitimidade como líder provinha de um Mandado dos Céus, conceito que durou milênios na história chinesa. Seu período de go ­verno como Filho dos Céus, sob a denominação real de Wu , e os primeiros anos da dinastia eram lembrados como uma idade de ouro da história da China.

W u criou um Estado poderoso, que inicialmente governou por meio das cidades, mas se desenvolveu graças a linhagens feudais, com grandes extensões de terras doadas aos nobres em troca de vassalagem - al ­gumas dessas terras acabaram virando reinos separa­dos e independentes. A agricultura, a vida urbana e a religião continuaram a prosperar, e o sistema de escri­ta se desenvolveu. No início, a nova dinastia preservou a continuidade cultural com os Shang: à medida que iam fundando novas cidades, os Zhou introduziam populações e ofícios artesanais dos Shang, incluindo trabalhos de alta qualidade com o bronze.

Os Zhou governaram a partir de Xi'an até 771 a.C. quando, depois de serem derrotados e pilhados por bárbaros vindos do norte, a capital foi transferida para Loyang. Depois disso, o poder do Estado declinou, inaugurando o Período dos Estados Combatentes, mas paradoxalmente esses foram anos de grande de ­senvolvimento na cultura, filosofia e arte chinesas. P F

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Davi torna-se rei de Israel Histórias bíblicas indicam que o rei Davi unificou os reinos de Israel e da Judéia.

I )epois da derrota de Israel para os filisteus, que ma­taram Saul, primeiro rei de Israel, e seu filho Jônatas, Davi foi proclamado rei e m sua região natal da J u ­déia. Ele então conquistou a cidade de Jerusalém, na Cananéia, e fez dela sua capital, levando para lá a Arca da Aliança sagrada dos judeus. Nos anos seguintes, expandiu o poder de Israel para o norte até a Síria, unindo os reinos de Israel e da Judéia.

Quando era um jovem pastor, Davi havia matado, i om sua funda, o campeão de seus inimigos, Golias. Depois de fazer amizade com Jônatas, fora acolhido na casa de Saul, mas afastara-se de lá pelo compor­tamento cada vez mais instável do rei. Davi então tor-i lou-se mercenário a soldo dos filisteus, embora tenha evitado a batalha na qual estes mataram Saul.

Apesar de suas fraquezas humanas, Davi é apre­sentado na Bíblia como um monarca eleito por Deus, cujos atos militares e políticos - bem como suas ativi­dades espirituais (diz-se que ele compôs muitos dos salmos) - são expressões de sua reação aos desejos de Deus. Seu filho Salomão expandiu a influência de Israel no Oriente Médio. Os judeus acreditavam que os reis de Israel e o Messias viriam dos descendentes de Davi. Este ocupa um lugar importante nas tradi­ções judaica, cristã e muçulmana.

Além da Bíblia, são poucos os indícios históri­cos sólidos da existência de Davi. "A casa d e Davi" é mencionada em uma inscrição aramaica de cerca de 850 a.C, e e m 2005 uma arqueóloga descobriu em Jerusalém restos do que alega ter sido o seu palácio, embora isso seja contestado por outros estudiosos. Os historiadores ainda debatem se é provável a Judéia da Idade do Bronze ter tido um controle real tão unificado quanto o apresentado nas histórias bíblicas, provavelmente escritas no fi­nal do século VII d.C. P F

O Pintura do século XV mostrando Davi e Golias, atribuíd.i .11 >

artista renascentista italiano Andréa Mantegna.

"Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre." P r o m e s s a d e J a v é a D a v i ; 2 S a m u e l 7:16

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959 A.C. 814 A.C.

A construção do templo Salomão conclui o templo de Jerusalém iniciado por seu pai, Davi.

Depois de ter feito de Jerusalém sua capital, Davi planejou a construção de um templo em homena­gem a Javé e para isso comprou um terreno dos je-buseus, hoje o monte do Templo. Ele juntou material para a construção, incluindo grandes quantidades de ouro e prata, mas coube a seu filho, Salomão, c o m ­pletar o trabalho. Hiram, rei fenício de Tiro, disponibi­lizou pedra, cedro, ouro e bronze, e emprestou seus melhores artesãos e operários, recebendo e m troca a área e m volta da Galiléia.

O templo, que tinha 29m de comprimento e 9m de largura, levou sete anos para ser concluído. Foi consagrado um ano mais tarde, em uma cerimônia durante o ano-novo que durou sete dias, e foi então que a Arca da Aliança - receptáculo sagrado das ta-buletas onde estavam os Dez Mandamentos - foi instalada no Santo dos Santos, uma sala na qual só o alto sacerdote podia entrar uma vez por ano, no Yom Kippur. O interior da sala era todo recoberto de ouro, e a Arca da Aliança, ladeada por dois querubins esculpidos em madeira de oliveira. Antes do Santo dos Santos havia o Lugar Santo, com altares para sa­crifício. Duas enormes colunas de bronze ladeavam a porta principal. A água para os banhos rituais vinha de cisternas subterrâneas.

O templo foi saqueado muitas vezes ao longo dos séculos seguintes e destruído pelo rei Nabu-codonosor II em 586 a.C. U m segundo templo foi construído e m 551 a.C, e destruído pelos romanos e m 70. Nunca foram encontrados restos incontestes do templo de Salomão, e até mesmo sua localização exata no monte do Templo é incerta. P F

O Um manuscrito com iluminuras do século XV mostra a

construção do Templo de Salomão em Jerusalém.

Dido funda Cartago Cartago tem a localização ideal para o controle do Mediterrâneo Central.

Segundo a lenda - mais conhecida graças ao é| Eneida, do poeta romano Virgílio -, Cartago foi Fun

dada após a Guerra de Tróia por Dido (princesa fenl

cia t ambém conhecida como Elissa). Dido era I

mais velha de Pigmalião, rei de Tiro, que matou marido da irmã e forçou-a a fugir para o oeste.

Quando chegou ao golfo de Túnis, em 814 a Dido pediu aos berberes que ali viviam que II» • < li sem apenas a quantidade de terra que uma pele (li • boi pudesse cobrir, mas em seguida cortou a pele i 'ii i tiras finas, o que lhe permitiu cercar uma colina Intel ra. Dido fundou a cidade nessa colina e goven i "u a até a chegada do príncipe troiano Enéias. Os dol! se apaixonaram, mas Enéias teve de seguir v i aqrm até a Itália, onde seus descendentes Rômulo e Reuu > iriam fundar Roma. Abalada, Dido amaldiçoou 11 n ilas e condenou o povo dele e o seu próprio a uma n ilml zade eterna antes de se matar.

Não existem indícios reais dessa história, e OS mal! antigos vestígios arqueológicos de Cartago têm 100 anos a mais do que a data tradicional de sua fundaçâl > A cidade foi construída em uma península coln 'i ia i Ir colinas baixas, com um lago mais atrás. O local cia d r fácil defesa, e apenas uma estreita faixa de terra Ir ia va a península ao continente. Cartago, grande rival' I'1

Roma pelo controle do Mediterrâneo Central, servia de entreposto para os fenícios da costa do I lUinn, comerciantes que desde o século X a.C. per< ninam i • Mediterrâneo Oriental. A colônia fenícia no litoral I li II te da África, perto da Túnis moderna, acabaria In am f i maior do que sua cidade-mãe, Tiro.

Ao final do século VI a.C, Roma e Cartago lutavam pelo controle da Sicília e da Sardenha, e a guerra i 'i iin as cidades continuou deforma intermitente a l e 146 B J . quando Roma destruiu completamente a rival P F

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776 A.C. J U L H O

Mais rápido, mais alto, mais forte Soo realizados os primeiros Jogos Olímpicos de que se tem registro, e a tradição de organizá-los a cada quatro anos, acompanhados de uma trégua, dura mais de mil anos.

O A personificação da Vitória entregando uma coroa de louros

a um atleta, retratada em uma antiga ânfora grega.

"Para ser vitorioso nos Jogos Olímpicos, é preciso se entregar por inteiro." E p í t e t o , s é c u l o II d .C.

Segundo um mito grego, foi Zeus quem deu início aos Jogos Olímpicos para celebrar sua vitória sobre o pai, Cronos. Embora se tenha certeza de que os Jogos já eram organizados regularmente muito antes do primeiro registro em 776 a.C, o historiador Pausânias afirma que foi o rei (fito quem "organizou os Jogos e m Olímpia e restabeleceu o festival e a trégua olímpi­cos, após uma interrupção de duração incerta. Nessa época, a Grécia estava dilacerada por lutas internas e pela peste, e (fito pediu ao deus de Delfos para libertá-la desses males. As pitonisas ordenaram que o próprio ífito e os habitantes de Élis reiniciassem os Jogos".

Os Jogos foram organizados a cada quatro anos de 776 a.C. até 394 d.C, quando foram abolidos pelo imperador cristão bizantino Teodósio, que os con ­siderava um resquício anacrônico da época pagã. Tão importantes eram os Jogos que os gregos usa­vam-nos para contar os anos. Eles aconteciam na cidade de Olímpia, no Peloponeso, em um estádio para mais de 40 mil pessoas, e eram sobretudo um festival religioso e m homenagem a Zeus, quando era declarada uma trégua para que todos os homens de íngua grega pudessem comparecer.

No início havia uma única modalidade, o Stadion, uma corrida de 200m - uma volta pela pista do es­tádio. Em 776 a.C, o vencedor foi um cozinheiro chamado Coroebus. Sua recompensa foi apenas um galho de macieira, embora campeões olímpicos gre­gos posteriores de uma lista cada vez mais extensa de modalidades tenham sido laureados com coroas de oliveira e recebido grandes recompensas f inan­ceiras. Embora os historiadores menc ionem que os atletas gregos compet iam nus, a nudez, na verdade, só foi introduzida em 720 a.C, em parte como cele­bração do corpo humano. P F

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753 A C . 21 DE ABR IL

A fundação de Roma Gêmeos brigam, e Rômulo se torna o primeiro rei de Roma.

'apostamente, a história de Roma tem suas raízes na

lenda segundo a qual os gêmeos Rômulo e Remo de ­

cidiram fundar uma cidade em uma colina com vista

para o rio Tibre. Quando estavam traçando suas fron-

ii 'iras, os irmãos começaram a brigar para decidir qual

dos dois seria o rei, briga que só terminou depois de

Rômulo matar Remo com um violento golpe na cabeça.

Rômulo tornou-se assim o primeiro rei de Roma e deu à

( idade o nome pelo qual ela é conhecida até hoje.

A história, claro, é uma lenda. Acreditava-se que

Rômulo e Remo fossem filhos de Marte, deus da guer-

ra. Sua mãe teria sido uma sacerdotisa chamada Réia

Silvia, descendente de Enéias, que fugira da cidade de

I róia após sua destruição pelos gregos. Segundoa len-

i L i , os meninos foram abandonados na floresta pouco

depois de nascerem por ordem do tio-avô Amúlio, um

rei local que temia que os sobrinhos-netos viessem a

depô-lo. Os bebês foram salvos por uma loba, que os

amamentou como se fossem seus filhotes.

Com o tempo, os gêmeos tornaram-se adultos,

depuseram e assassinaram Amúlio e puseram o avô

Numitor, o rei legítimo, de volta no trono. Precisa­

vam, então, de uma cidade só sua para governar e,

segundo a tradição, escolheram um local perto de

i >nde haviam sido abandonados, no alto do Palatino,

uma das sete colinas de Roma.

Os romanos acreditavam que a fundação da ci ­

dade datasse de 21 de abril de 753 a.C, e seu calen­

dário começava nesse dia. Com o passar dos séculos,

eles conservaram e embelezaram o mito de Rô ­

mulo e Remo. Quando, cerca de 700 anos mais tarde,

o historiador Tito Lívio escreveu sua grande história

tle Roma, ele utilizou essas lendas para mostrar que

a cidade sempre tivera reservado para si um destino

grandioso. P F

745 A.C.

No caminho da guerra Tiglath-Pileser III sobe ao trono assírio e cria um Estado unificado.

Os assírios, que segundo o poeta Byron "abatiam

se qual um lobo sobre o rebanho", dominai, im o

Oriente Médio por muitos séculos. Descritos U M M M

um dos povos mais cruéis e belicosos da Históii.i,

massacravam populações inteiras ou destruíam de

l iberadamente tribos e seus vínculos locais. I m \5

a.C, Tiglath-Pileser III, da Assíria, subiu ao poder e pas

sou ,1 dominai a Analólia.a Síria e Israel. Exp.iin liu •., -u

império conquistando e isolando Estados menuic , ,

forçando-os a lhe pagar tributos, e isolou o Iq i tn

comercial e militarmente no Levante.

"E eu levei o seu povo e todos os seus pertences para a Assíria..." Dos Anais de Guerra de Tiglath-Pileser

Tiglath-Pileser, conhec ido na Bíblia como h i l ,

um dos maiores líderes militares da história mundial

estabeleceu um Estado unificado com 80 goveri adores

de províncias, que se reportavam diretamente a ele, seu

rei. Em 728a.C,Ukin-zerda Babilônia se rebelou, l e v . n h li

Tiglath-Pileser a derrotá-lo e a assumir o trono babilônio,

Mesmo depois de sua morte, dois anos mais t,u< lc, <>

domínio e a agressão assírios continuaram. Rglatl

Pileser, ou seu sucessor Salmanasar, foi o res| -i >

pelo exílio dos judeus para a Babilônia em 722 a.C.

Os baixos-relevos e murais de Nimrud, capita

de Tiglath-Pileser, mostram um formidável exén ItO

de infantaria portando armas de ferro numa époi . t

em que a maioria dos exércitos ainda usava < > !>

Tiglath-Pileser tinha as mais sofisticadas máquin.r, < l<

cerco do mundo. P F

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597 A.C . 16 DE M A R Ç O

Os judeus são exilados Nabucodonosor bane os judeus para a Babilônia após capturar Jerusalém.

Nabucodonosor II, rei caldeu da Babilônia, na Meso ­potâmia, a partir de 605 a.C, atacou a Judéia e cap ­turou Jerusalém e m 597 a.C. Ele vinha travando uma vigorosa campanha militar no Levante, mas, depois de uma grave derrota diante dos egípc ios e m 601 a.C, perdeu o controle de alguns de seus Esta-dos-vassalos e decidiu retaliar. Conforme o costume da época, exilou o rei, Jehoiachin, assim como cerca de 10 mil judeus para a Babilônia.

Dez anos depois, os judeus remanescentes se re­

belaram contra o reinado de Zedequias, e os caldeus

"Junto aos rios da Babilônia, ali nos assentamos e choramos ao nos lembrarmos de Sião..." Sa lmo 137

deram início a outro violento ataque, destruindo o

templo dos judeus. Nabucodonosor mandou mais

milhares de judeus para o exílio, onde estes permane­

ceram - o que era incomum para a época - como um

grupo coeso, preservando sua identidade cultural até

que lhes fosse permitido voltar para casa, em 539 a.C.

O período do exílio revelou-se ao mesmo tempo

traumático e formador para os judeus. Seu Deus, Javé,

havia prometido mantê-los na Judéia, portanto era

preciso encontrar uma explicação para o fato de ele ter

permitido seu exílio. Esta foi desenvolvida pelos profe­

tas Jeremias e Ezequiel, que argumentaram, antes da

queda da cidade, que os judeus seriam punidos.

Nabucodonosor t a m b é m é lembrado pelos

Jardins Suspensos da Babilônia, construídos para

sua esposa Amitis. P F

As reformas de Sólon Uma nova constituição anuncia o nascimento da idade de ouro de Atenas.

A idade de ouro da civilização ateniense começou e m 594 a.C. quando Sólon, um nobre (e poeta) de riqueza moderada, tornou-se o principal governante da c i ­dade e introduziu reformas de escopo inédito. Um moderado que desejava proporcionar justiça e aliviar a pobreza, Sólon rejeitou as severas leis estabelecidas por Drácon em 621 a.C, abolindo a pena de morte para todas as ofensas, exceto assassinato e homicídio involuntário. Também afastou-se significativamente do viés aristocrático das antigas leis, que excluíam do governo todas as outras classes sociais e tinham prati-

"Os homens mantêm acordos quando não é vantajoso para nenhum dos dois rompê-los." Só lon

camente feito muitos agricultores, afundados em dívi­das, virarem servos em suas próprias terras. Sólon t am­bém reformou o sistema de dívidas. Embora muitos acreditassem que suas reformas fossem invalidadas pelos ricos, elas duraram muitos séculos, e Sólon rece­beu o título de um dos Sete Sábios de Atenas.

Sua nova constituição deu a todos os cidadãos, independentemente da condição social, o direito de comparecer à assembléia-geral, e a todos, exceto os mais pobres, o direito de servir no Conselho dos Quatrocentos, o conselho executivo da cidade. Ele também melhorou os direitos dos estrangeiros que trabalhavam em Atenas. Embora muitos ficassem in­satisfeitos com as reformas de Sólon, suas leis evitaram a ameaça real de revolução e estabeleceram sólidas bases para a glória da democracia ateniense. P F

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Ciro conquista a Babilônia e liberta os judeus Ciro permite que os judeus retornem à Judéia após o exílio forçado na Babilônia, ma>, i >s judeus encontram a Judéia cheia de samaritanos.

I >epois de serem expulsos da Judéia por Nabucodono­

sor em 597 a.C, os judeus permaneceram exilados na

Babilônia até a cidade ser atacada por Ciro, fundador

persa do Império Aquemênida, em 539 a.C. Ciro já havia

garantido seu domínio sobre o Irã ao derrotar os me ­

dos em 549 a.C, e sobre a Lídia, na Ásia Menor, alguns

anos depois. Em 539 a.C, ele voltou sua atenção para

a Mesopotâmia, e no dia 12 de outubro derrotou os

abilônios e m Ópis e tomou a cidade sem derramar

sangue, mudando o curso do rio Eufrates para que seus

.oldados pudessem entrar na cidade atravessando as

águas. Expulsou Nabonido, herdeiro caldeu de Nabu-

i odonosor, que havia fugido e se escondido depois de

perder o apoio até mesmo de seus próprios sacerdotes.

( iro então declarou a si mesmo Rei dos Quatro Cantos

do Mundo, reivindicando para si um império significa­

tivo, que se estendia até o Mediterrâneo.

Em um de seus primeiros atos como rei da Babi­

lônia, Ciro libertou os judeus exilados, agora 40 mil, a

maioria dos quais decidiu voltar para a Judéia. Os ju ­

deus levaram consigo os muitos tesouros que haviam

sido confiscados por Nabucodonosor e reconstruíram

a capital e o templo, mas não tiveram permissão para

reinstaurar a monarquia. Ao voltar para sua terra per­

dida, ficaram surpresos ao descobrir outro povo, não

exilado, vivendo na região e seguindo uma religião pa­

recida com a sua. Com o tempo, as disputas entre os

dois grupos se consolidaram para criar a hostilidade en ­

tre judeus e samaritanos, problema que perdurou até a

época do Novo Testamento e mais além.

Durante o exílio, os judeus haviam conservado

seu sistema de anciãos, seus rituais e suas práticas es­

senciais e desenvolvido a escrita hebraica. Passaram

a recordar Ciro com gratidão, chegando a descrevê-

lo como "ungido de Deus". P F

O Ilustração medieval de Ciro dizendo aos líderes judeus que

seu povo estava livre para voltar e reconstruir Jerusalém

"Eu despertei Ciro em justiça... ele edifícará a minha cidade e

soltará os meus cativos." Isaías, 45:13

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CERCA DE 527 A.C.

O príncipe Siddartha alcança a iluminação Após sete semanas de meditação, o príncipe Siddartha alcança a iluminação e começa a pregar uma nova religião e o movimento filosófico conhecido como budismo.

O O Buda retratado junto à árvore bodhiem Bodh Gaya, local

onde alcançou a iluminação.

"Depender dos outros para a salvação é negativo, depen­der de si próprio é positivo." G a u t a m a Buda

Aos 35 anos de idade, por volta de 527 a.C, Siddartha

Gautama, príncipe de Lumbini (na região da índia ao

norte do Ganges, onde hoje fica o Nepal), sentou-se

para meditar junto a uma árvore bhodi em um lugar

chamado Bodh Gaya. Decidiu permanecer imóvel

até alcançar a iluminação completa. Depois de sete

semanas de espera, em uma noite de lua cheia, sua

meditação abarcou todo o espectro da existência.

Desse momento e m diante, ele passou a ser chama­

do de Buda, ou o Iluminado.

A compreensão fundamental alcançada pelo

Buda passou a ser conhecida como as Quatro Nobres

Verdades, gue afirmavam a inevitabilidade da perda

e do sofrimento como produto do apego humano

às coisas e às outras pessoas. Ele percebeu que o

apego e os anseios por ele provocados podiam ser

rompidos pela adesão a um conjunto de preceitos

que estabeleceu: os Oito Caminhos.

A vida do Buda é descrita apenas na literatura

devocional e é evidentemente embelezada com d e ­

talhes milagrosos; até mesmo o século em que ele

viveu e morreu é muito incerto. Segundo as histórias,

Siddartha foi criado em um palácio sem nenhuma ex­

periência e m relação às dores da vida. Certo dia, po ­

rém, saiu do palácio e deparou pela primeira vez com

a doença, a velhice e a morte. Comovido, renunciou a

seu estilo de vida privilegiado e passou a viver como

um homem santo, asceta e andarilho. Após um perío­

do de grande austeridade, adotou um estilo de vida

mais moderado que acabou conduzindo-o às sete se­

manas de meditação e à sua iluminação.

O Buda passou os 45 anos seguintes viajando e

pregando para pessoas de todo tipo. Ao morrer, aos

80 anos, estabelecera as bases do importante movi ­

mento religioso e filosófico que perdura até hoje. P F

Page 31: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Morte de Mahavira Morre em Pawapuri o mestre cujas idéias formaram o núcleo do jainismo.

Aos 72 anos d e idade, em 527 a.C, morreu Mahavira,

(iu o "Grande Herói". Muitas vezes chamado de lun

i lador do jainismo, a terceira grande religião da (ndia,

Mahavira é mais corretamente identificado como

aquele que propagou ou codificou antigos ensi­

namentos e lhes atribuiu sua forma atual. Contem­

porâneo de Siddartha Gautama, o Buda, ele t ambém

viveu na região de Bihar, tendo nascido em Vaishali;

seus pais eram o rei Siddartha e a rainha Trishala, da

casta dos guerreiros ou kshatriya.

Aos 30 anos, Mahavira deixou esposa e família

para se tornar monge. Como outros de sua casta na

época, ele rejeitava alguns dos costumes do brama-

nismo, em especial a freqüência dos sacrifícios ani ­

mais, e passou a adotar práticas cada vez mais extre­

mas, incluindo a recusa de possuir qualquer bem a

I lonto de andar completamente nu e em permanen-

le errância. Desenvolveu a prática da ahimsa, ou não-

violência, recusando-se a maltratar qualquer criatura,

e após 12 anos alcançou o estado mais avançado de

percepção, o kevala.

Ao longo dos 30 anos seguintes, Mahavira compi-

li »u uma variedade de ensinamentos mais antigos que

disseminou como os princípios que viriam a constituir

0 núcleo do jainismo, pregando que as pessoas deve-

riam salvar a própria alma por meio da renúncia aos

1 lesejos físicos, às paixões e à violência para com qual­

quer criatura. Foi considerado o vigésimo quarto e

último dos tirthankars, ou santos, que haviam alcança-

t Io a iluminação por meio do ascetismo. Quando mor­

reu, em Pawapuri, Mahavira tinha milhares de seguido­

res. Seus sermões foram reunidos e organizados para

l< irmar uma tradição oral e escritos mil anos mais tarde.

A história da vida de Mahavira foi registrada no Kalpa-

sutra, escrito cerca de 150 anos após sua morte. P F

Tarquínio foge de Roma O líder conhecido como o último rei de Roma é derrubado por um levante popular.

Tarquínio, o Soberbo {Tarquinius Superbus e m latim),

sétimo e último rei de Roma, foi derrubado poi um

levante popular. O povo se irritou com as acusações

de que seu filho, Sexto, havia estuprado uma nobre,

Lucrécia. Tarquínio, conhecido por sua crueldade, já

governava Roma havia mais de 20 anos, depois de

assassinar o rei precedente, Sérvio Túlio, e usurpar

lhe o trono.

Tarquínio talvez fosse descendente dos etrus-cos, originários da região correspondente à Toscana moderna. Os etruscos, sob muitos aspectos mais avançados do que os romanos da época, estavam estendendo seu domínio para o sul, e foram encon tradas em Roma inscrições etruscas desse período Se for verdade, isso talvez explique por que Tarqull lio o seus piedeiessoies eram tão odiados. Assim q u e Tarquínio e Sexto (depois encontrado e morto) fugi­ram de Roma, diz-se que Lars Porsena, rei da cidade etrusca de Clúsio, tentou capturar a cidade, mas fi il repelido pela bravura dos romanos liderados poi I li > rácio Cocles, que morreu impedindo os etruscos de atravessarem a ponte sobre o rio Tibre.

Depois de mais de 200 anos de monarquia, OS romanos decidiram que era chegada a hora de gover narem a si mesmos. Dois homens, conhecidos

cônsules, foram escolhidos pelo Senado (conselho de anciãos que aconselhava o antigo rei) para agirem e m conjunto como chefes de Estado. O mandato durava apenas um ano, de modo que seu poder era intei u i< > nalmente limitado. Para os romanos de é p o c a s | » >•.

teriores, a derrubada da monarquia e a fundaçãi i da república romana eram o acontecimento mais impoi tante da história de sua cidade, assinalando o iníi ' 1 1 Ia independência de Roma da tirania e de sua ,is< e i r.. n • a uma grandeza legítima e duradoura. S K

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507 A.C.

Nasce a democracia Clístenes introduz em Atenas uma forma primitiva de governo democrático.

O homem que criou a estrutura da primeira e mais

influente democracia do mundo, Clístenes, passou

grande parte da vida lutando pelos direitos de sua

proeminente família contra as outras facções nobres

de Atenas, luta esta que incluiu várias décadas de exílio

forçado. Acabou conquistando o poder ao ficar ao lado

do povo, e buscou implementar o espírito das reformas

do legislador Sólon, que havia tentado equilibrar os in­

teresses das diferentes comunidades atenienses.

Clístenes aboliu portanto as formas tradicionais

de organização política baseadas na família e no clã,

substituindo-as pelas formas "tribais" baseadas nas

aldeias, ou demos, e criou um conselho legislativo (a

boulé) cujos membros eram escolhidos por sorteio

entre todos os cidadãos, com cotas de representan­

tes para cada d e m o entre seus 500 membros. Havia

regras estritas sobre quem era elegível e por quan ­

to tempo podia servir no conselho, e os tribunais e

comandos militares eram organizados de forma se­

melhante. Com isso, Clístenes assegurou uma partici­

pação política muito ampliada e t ambém dificultou

que pequenos grupos dominassem o Estado e g o ­

vernassem apenas e m interesse próprio. Os anos de

tirania haviam terminado.

Embora esse sistema seja muitas vezes conside­

rado o início da democracia direta, na qual todos os

cidadãos t inham participação equivalente, o próprio

Clístenes não o chamava de "democracia" (que signi­

fica "governo do povo"), mas de isonomia, ou direitos

iguais para todos. Sob muitos aspectos, ele deixou

intacta boa parte da cultura tradicional de Atenas,

mas suas reformas são vistas como o início da idade

de ouro da cidade, durante a qual a democracia se

ampliou e a cultura floresceu. Pouco se sabe de sua

vida depois da introdução das reformas. P F

A mensagem do mestre Confúcio deixa Lu para difundir a mensagem do bom governo.

Em 497 a.C, Kong Fuzi ( conhec ido no Oc idente c o m o Confúcio) deixou Lu, o n d e era ministro da Justiça, para viajar pela China à procura de um Es­tado que adotasse suas crenças nos princípios do b o m governo. Ele reprovava o compor t amen to do rei d e Lu, que não respeitava os rituais durante um sacrifício animal. Nos 13 anos seguintes, Confúcio percorreu a China aconse lhando senhores feudais. Seus ensinamentos, influentes no pensamento or i ­ental até hoje, não foram valorizados, e ele voltou para casa e m 484 a.C. sem obter sucesso.

"Riquezas e honrarias adqui­ridas por atos incorretos são como nuvem que flutua." Confúc io , Analectos, c. 497 a.C.

Confúcio passou os últimos anos de vida d i ­

tando seus pensamentos, mais tarde reunidos nos

Analectos. Neles, enfatizava a necessidade de um

compor tamento ético, do respeito pelos ancestrais

e da integridade. Antes de suas errâncias, Confúcio

era famoso por seu domínio das seis artes - ritual,

música, arco-e-flecha, condução de carruagens, ca ­

ligrafia e aritmética - e por sua familiaridade com

a tradição da poesia e da história. No entanto, só

depois de sua morte alcançou a glória. Sua cidade

natal ainda é local de peregrinações e há templos

dedicados a ele. P F

O Retrato de Confúcio; os pergaminhos que ele segura indicam

sua grande sabedoria.

Page 34: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Exército ateniense vitorioso em Maratona Os atenienses derrotam os persas na planície de Maratona, ao norte de Atenas.

O Ilustração do século XVII da Batalha de Maratona, mostrando a derrota dos persas pelos atenienses.

A causa da Batalha de Maratona remonta ao ano de

511 a.C, quando Atenas expulsou Hípias, tirano que

havia governado a cidade por muitos anos. No entan­

to, quando Dario da Pérsia tentou recolocar Hípias no

trono, Atenas envolveu-se em uma revolta das colônias

gregas jônicas da Ásia Menor contra o Império Persa.

Em 492 a.C, Dario enviou um exército comandado por

Mardônio para conquistar a Grécia e sua aliada Erétria.

A frota que acompanhava o exército foi destruída por

uma tempestade, mas uma grande frota nova foi re­

unida no ano seguinte e chegou à Eubéia.

Os atenienses enviaram um mensageiro para pedir

ajuda à sua velha inimiga Esparta, mas os espartanos

recusaram-se a combater durante um festival religioso.

Atenas ficou só com o apoio da pequena cidade de Pla­

téia. Os generais atenienses não conseguiam decidir se

deveriam atacar ou adiar. Acabaram marchando para o

norte, na direção do inimigo.

Os exércitos se confrontaram na planície de Marato­

na, ao norte de Atenas. Menos de 10 mil hoplitas (solda­

dos de infantaria) atenienses viram-se diante de 20 a 50

mil persas, que estavam de costas para o mar. Perceben­

do que a cavalaria persa não estava presente, o general

ateniense Milcíades atacou depressa, surpreendendo o

exército persa. Subjugados, os persas correram em dire­

ção à sua frota em meio a grande confusão. Segundo

Heródoto, cerca de 6.400 persas morreram em combate,

contra apenas 192 atenienses. Essa foi a primeira derrota

importante dos persas em muitos anos, e deu grande

ânimo à confiança e ao poder de Atenas. P F

Page 35: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Lêonidas e os 300 de Esparta A vitória contra os gregos tem um alto custo para o exército persa.

O Leônidas nas Termópilas, 480a.C. (c. 1814), pelo artista revolucionário francês Jacques-Louis David (1748-1825).

Ao se deparar com uma pequena força de espartanos

n.r, Termópilas, em 480 a.C, o imenso exército do rei

I crsa Xerxes obteve ao mesmo tempo urna vitória e

uma derrota. O exército de Xerxes matou todos os de ­

fensores espartanos, mas a batalha iria se tornar uma

<Jas mais importantes derrotas da história do mundo -

(|uando o poder de um déspota asiático foi contido por

grei |os de mentalidade independente.

Para vingar a derrota do pai, Dario, dez anos antes,

Xerxes reuniu um exército de 250 mil homens, acom­

panhado por vasta frota, numa tentativa de derrotar

Atenas e conquistar a Grécia. Os atenienses se concen­

traram em um combate naval, enquanto os espartanos

organizaram um exército para defender a Grécia por

terra. O rei de Esparta, Leônidas, defendia o desfiladei-

ro pelo qual passava a única estrada que ligava as

planícies da Tessália ao sul. Seu exército não contava

mais de sete mil homens, incluindo 300 espati, •

fortemente armados. Por dois dias, os defensores d e

tiveram o inimigo, mas um agricultor grego arai m u i

mostrando a Xerxes uma trilha na montanha q u e

permitiria cercá-los. Ao perceber isso, Leônidas orde

nou a retirada de seus soldados, exceto os tebanos e

espartanos. Mandou-os avançarem, mas morreu e m

combate, e os tebanos também abandonaram o r a m

po de batalha. Um último esforço dos espartano 1, res

tantes foi neutralizado por arqueiros persas.

Apesar da vitória persa, suas perdas foram siqníli

cativas, enquanto a decisão dos atenienses de resisl Ir se

reforçou. P F

Page 36: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

480 A C . 12 DE SETEMBRO 468 A C . M A R Ç O

Xerxes derrotado Os "muros de madeira"de Temístocles salvam a cidade de Atenas dos persas.

Sófocles ganha prêmio Esquilo e Sófocles competem pela coroa de hera da Grande Dionísia.

Após a vitória de Pirro contra o exército espartano nas

lermópilas, o caminho ficou livre para Xerxes invadir a

Ática e atacar Atenas. 0 comandante ateniense Temís­

tocles construiu às pressas uma grande frota, agindo

segundo os conselhos de um oráculo segundo o qual

a cidade seria salva por "muros de madeira". Atenas foi

evacuada e, quando os persas saquearam a cidade

praticamente vazia e destruíram a Acrópole, Temís­

tocles convenceu os outros gregos de que era preciso

atacar a frota persa que acompanhava o exército inva­

sor - e que o aprovisionava.

Metade da frota grega vinha de Atenas, mas 20

outras cidades também contribuíram. Mesmo assim, os

qregos estavam em desvantagem numérica de quase

dois para um. Temístocles insistiu para combater na es­

treita baía de Salamina, perto de Atenas, mas, diante do

desacordo de outros comandantes gregos, ameaçou

se retirar para a Sicília. Ao ouvirem isso (Temístocles

enviou um escravo com informações cuidadosamente

selecionadas), os persas imaginaram que a maior parte

dos defensores iria se retirar durante a noite. Isso não

aconteceu. Os persas adentraram a batalha confiantes,

com Xerxes assistindo de uma colina próxima.

O embate prossegiu com os trirremes colidindo

uns com os outros antes dos combates corpo-a-corpo

entre os soldados. A grande frota persa não conseguia

manobrar com desenvoltura e depois da morte de seu

comandante tentou bater em retirada, mas foi levada

de volta pelo forte vento. Centenas de navios persas

foram afundados e milhares de homens se afogaram.

Toda a Guarda Real persa foi morta. Xerxes não conse­

guiu mais aprovisionar seu imenso exército e deixou a

Grécia. Na reconstrução de sua cidade, os atenienses

alcançaram sofisticação cultural e habilidade política

praticamente sem rival até hoje. P F

Na Grécia antiga, o teatro - sobretudo a tragédia - era

associado a Dioniso, deus do vinho. Os dramaturgos

competiam pelo direito de terem suas peças encenadas

em uma competição anual conhecida como Grande

Dionísia. Em 468 a.C. houve uma disputa entre os dois

maiores dramaturgos de todos os tempos.

Esquilo, nascido por volta de 525 a.C, havia lutado

em Maratona e Salamina, e sua peça mais antiga a ter

sobrevivido, vencedora do prêmio e m 472 a.C, falava

das mulheres persas que sofriam após a derrota de seu

exército. O dramaturgo teve peças encenadas na Gran-

"Prefiro errar agindo bem a ganhar o dia de forma vil." S ó f o c l e s , Filocteto, 4 0 9 a .C .

de Dionísia desde 499 a.C, e ao longo de sua carreira

ganhou o prêmio - uma coroa de hera - 13 vezes.

Em 468 a.C, Esquilo se viu compet indo com o

novato Sófocles. A trilogia de Sófocles incluía uma

peça chamada Triptolemos, perdida desde então, e

sua vitória deu início a uma gloriosa carreira na qual

ele escreveu 123 dramas (apenas sete sobreviveram

integralmente) e chegou a acumular 24 vitórias, a

última delas 59 anos após a primeira, em 409 a.C. (a

peça vencedora foi Filocteto).

Talvez inconformado com a derrota, Esquilo re­

tornou no ano seguinte com sua famosa trilogia edi-

piana, da qual apenas uma peça, Sefe contra Tebas,

ainda sobrevive. Ironicamente, Sófocles é mais co ­

nhecido hoje e m dia por sua própria trilogia sobre o

desafortunado Édipo. P F

Page 37: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Os atenienses esbanjam prestígio Após a derrota dos persas, Atenas vive um extraordinário florescimento de confiança i • criatividade cultural e política.

Nada simbolizou melhor o status proeminente de Ate-

i ias do que o templo de mármore em cima de sua Acró-

I )ole e a estátua erguida dentro dele, dedicada à deusa

que protegia a cidade e lhe emprestava o nome:

Alhenas Parthenosou Palas-Atena ("donzela").

A construção, com sua geometria sutil, suas pro­

porções exatas e sua maravilhosa frisa de esculturas

(cujos resquícios estão hoje abrigados no Museu Bri-

lânico de Londres), foi obra do arquiteto Fídias, sob

encomenda do estadista Péricles e m 449 a.C. Fldias

iou o trabalho projetando a estátua da deusa

(|ue tinha no templo a sua casa, e em 438 a.C. ela foi

i oncluída e consagrada. Com cerca de 12 metros de

.ihura, a estátua tinha uma estrutura oca de madeira

< oberta de mármore (para imitar a pele), prata e mais

i le uma tonelada de ouro. Era retratada usando uma

túnica, um aegis (égide ou peitoral) e um capacete,

segurando e m uma das mãos uma Nike (deusa da v i ­

tória) e na outra, uma lança. Ao seu lado descansavam

um escudo e uma serpente.

Depois de terminar Palas-Atena, Fídias passou à

escultura de Zeus, pai de todos os deuses - a estátua

lc )i erigida e m Olímpia em 435 a.C. e tornou-se uma das

' ,i 'le Maravilhas do Mundo Antigo. Alguns anos mais tar­

de, porém, os inimigos de Fídias acusaram-no de roubar

ouro. Ele também foi acusado de impiedade pelo fato

de o seu retrato, assim como o de Péricles, aparecer no

escudo de Palas-Atena. Por causa disso, Fídias foi preso.

Aparentemente, ele morreu na prisão ou no exílio.

Em 296 a.C, o ouro da estátua foi removido e subs-

liiuído por folhas de bronze, embora ela tenha perma­

necido no Partenon por mais 800 anos. Uma nova

esiátua de Palas-Atena foi erguida em 1990 na cidade

norte-americana de Nashville, Tennessee, feita com a

maior fidelidade possível ao original de Fídias. P F

O Uma gravura francesa do século XIX mostra qual tori.i sido <

aspecto da gigantesca estátua de Palas-Atena de F ídnv

"Salve, deusa... que derro­tes sempre os inimigos com uma lança de salvação!" Orestes a Palas-Atena, na Eumênides de Esqui lo

Page 38: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Péricles elogia os mortos da Guerra do Peloponeso O grande líder político tenta instigar Atenas com sua famosa oração fúnebre.

O Ilustração sem data de Péricles fazendo sua oração fúnebre para o povo de Atenas.

Nofinal de431 a.C, Péricles fez sua famosa oração no fu­

neral coletivo organizado em Atenas em homenagem

a todos os que haviam morrido nos últimos 12 meses

na Guerra do Peloponeso. Havia 30 anos que Péricles

era uma figura importante em Atenas, onde supervi­

sionara a construção do Partenon e a chamada "idade

de ouro" da cidade, mas ele passara a favorecer o uso

de uma forma de imperialismo cada vez mais bel ige­

rante para com as outras cidades gregas, que havia

conduzido à guerra contra Esparta iniciada em 432 a.C.

O sangrento conflito ainda iria durar cerca de 30 anos

e acabaria e m derrota e destruição da democracia ate­

niense, mas em 431 a.C. Péricles tentou usar sua oratória

para dar ânimo aos cidadãos de Atenas. O historiador

Tucídides registrou como, durante a procissão fúnebre,

os ossos dos mortos foram carregados em caixões de cipreste, com um caixão vazio reservado para aque­les cujos corpos não haviam sido recuperados, até o túmulo coletivo. Péricles então fez sua oração. Não há como saber se as palavras de Péricles eram suas ou do historiador, mas elas celebravam as glórias da democra­cia, da liberdade, da igualdade e do império ateniense. No final, Péricles elogiou os mortos, e exortou os vivos a continuarem agindo com o mesmo espírito.

Apesar das belas palavras, os atenienses foram fi­cando cada vez mais infelizes com a forma como a guerra vinha sendo conduzida, sobretudo quando tiveram de enfrentrar um devastador surto de peste. Mesmo assim, Péricles permaneceu no poder até 429 a.C, quando também sucumbiu à doença. P F

Page 39: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Sócrates é forçado a tomar veneno () famoso filósofo é considerado culpado de corromper os jovens atenienses.

O A morte de Sócrates (data desconhecida), por Charles Alphonse Dufresnoy (1611-1668).

()s atenienses precisavam de um bode expiatório. Po­liticamente, a sorte da cidade estava em baixa em 399 a.C, depois de uma derrota humilhante, cinco anos antes, diante da tradicional inimiga Esparta. Havia em Atenas um homem que ganhara fama de ser estra­nho - o filósofo Sócrates. Ele gostava de fazer pegun-tas difíceis e irritantes; zombava dos que estavam no I >oder e passava seu tempo debatendo idéias com um grupo de discípulos devotos. Também era conhecido por se relacionar com alguns dos líderes desacredita­dos de Atenas. Assim, Sócrates foi julgado, acusado de não acreditar nos deuses e de corromper os jovens da ( idade. Platão, o famoso discípulo de Sócrates, deixou um relato de seu julgamento, no qual afirma que Só-i rates poderia ter se safado pagando uma multa, mas

que ele se recusou a responder às acusações que

lhe faziam alegando não ter feito nada de errado

Foi considerado culpado e condenado a morrer to

mando cicuta, uma erva tóxica que paralisa o sisi ema

nervoso. Enquanto continuava a debater questões

como a imortalidade da alma, Sócrates aceitou i a l m a

mente o veneno e sorveu-o de um só gole. A moi le

sobreveio rapidamente.

Sócrates, um dos mais importantes pens.idou". < Ia

História, ao lado de Platão e Aristóteles, foi em giam le

parte responsável pela criação da filosofia ocidental li i

teressavam-no os valores que levam as pessoas a agirem

como agem, mas ele não deixou nenhum escrito de sua

própria autoria. A maior parte do que sabemos sobre

seus ensinamentos vem dos Diálogos de Platão. SK

Page 40: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

390A.C. J U L H O

Os gauleses atacam Roma e sitiam o Capitólio Os cisnes sagrados deJuno alertam os soldados romanos e impedem uma catástrofe.

O Detalhe do quadro O Capitólio salvo pelos cisnes sagrados de

Juno, de Heinrich Merté (1838-1917).

"Apesar da escassez de pro­visões, os cisnes sagrados de Juno não haviam morrido." T i to L í v i o , História de Roma, c. 26 a .C.

A pior derrota de Roma desde sua fundação foi con ­tra os gauleses do vale do Pó, no norte da Itália. No verão de 390 a.C, um grupo de gauleses liderado por um chefe guerreiro chamado Breno derrotou um exército romano na Batalha de Ália e prosseguiu para atacar a própria Roma. Era noite, e a guarnição havia se refugiado no Capitólio, ponto mais alto da cidade, bem como seu centro religioso.

Os gauleses estavam subindo um caminho pe ­dregoso que conduzia ao Capitólio quando se ouvi ­ram grasnidos furiosos e o bater de asas. Os cisnes sa­grados criados no santuário de Juno - que haviam sido poupados apesar da falta de comida - fizeram tanto barulho que os soldados romanos foram alerta­dos da aproximação dos gauleses, e o Capitólio foi salvo. O resto da cidade foi saqueado e destruído, mas quase todos os habitantes já haviam fugido, até mes­mo as virgens vestais com sua chama sagrada. Os gau ­leses passaram sete meses sitiando o Capitólio, até Breno finalmente autorizar a retirada das tropas em troca de vultoso pagamento em ouro.

A lembrança da humilhação diante dos gauleses ainda iria assombrar os romanos por muitas gerações. Juntando seus pedaços após a derrota, o exército ado­tou novas armas e uma nova estratégia, e e m 378 a.C. uma muralha de pedra de 11 quilômetros de extensão foi construída em volta da cidade, da qual grandes tre­chos ainda continuam de pé.

A expansão militar de Roma prosseguiu, mas os romanos só se sentiram seguros quando, em 225 a.C, os gauleses foram finalmente derrotados e se subme­teram a seu domínio. Os cisnes sagrados, por sua vez, passaram a poder se aninhar uma vez por ano em almofadas de cor púrpura, enquanto os cães que v i ­giavam o Capitólio foram punidos por terem fracassa­do em dar o alerta na ocasião do ataque gaulês. S K

Page 41: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Nos bosques da Academia <) filósofo grego Platão cria a primeira esc

A escola o n d e Platão iria sistematizar a filosofia

I- ava cerca de um qui lômetro e meio ao norte da

Ai rópole de Atenas. Situada e m meio a um bos ­

que de oliveiras, gera lmente usado para festivais

religiosos e compet i ções atléticas, a escola foi ba-

tlzada de "Academia" e m h o m e n a g e m a Academo ,

personagem lendário que se dizia ter doado o

bosque à c idade.

0 local provavelmente já vinha sendo usado

I 'ira ensino e discussão algumas décadas antes de

Platão. Embora não fique claro se ele criou alguma

" iqanização formal, Platão certamente tinha uma

' asa e um pequeno jardim no local, e diz-se que le-

lonou ali por cerca de 40 anos, até sua morte, em

M8 a.C. Durante 20 anos, Aristóteles foi freqüentador

issíduo da Academia de Platão.

Platão só aceitava os alunos que considerava

"inebriados por aprender o que existe na própria

alma". Segundo indicam seus próprios escritos, ele

lecionava caminhando de um lado para outro en-

i |uanto lia seus diálogos e discursos, e presidia cultos

icligiosos e demoradas refeições durante os quais os

participantes pod iam "honrar os deuses, gozar da

< ompanhia uns dos outros e estimular o espírito com

discussões letradas". Ele t ambém construiu ali perto

um Museion (um templo às musas).

A Academia sobreviveu por centenas de anos,

lornando-se renomada pela escola de fi lósofos

( onhecida como neoplatonista. Em 86 a.C, as oliveiras

loram derrubadas por uma força de invasão romana,

mas a Academia foi poupada. Não se sabe exata­

mente quando foi fechada, embora algumas fontes

afirmem que perdurou até 526 d.C. Na época, o im­

perador Justiniano proclamou um édito mandando

lechar todas as escolas "pagas", e a Academia de Pla­

tão pode ter sido uma delas. P F

de pensamento.

O Mosaico da Academia do século I d.C, hoje no Museu

Arqueológico Nacional em Nápoles, Itália.

"A direção na qual a educação inicia um homem irá determinar sua visão futura." P l a t ã o , A República, 360 a.C.

Page 42: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

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1

Page 43: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

342 A.C. 336 A.C.

Educação de Alexandre Aristóteles é convocado para ser professor de Alexandre, futuro conquistador da Ásia.

Os gregos sempre afirmaram desprezar a Macedônia,

que consideravam um lugar atrasado e bárbaro.

Mas Filipe II, que se tornou rei da Macedônia em 356

a.C, estava determinado a mudar isso. Em 342 a.C,

convidou o ateniense Aristóteles para ir até sua capital,

Pella, ser professor particular de seu filho de 13 anos,

Alexandre. Filipe queria que a educação do filho o pre­

parasse para sou futuro papel c orno líder militar. Aris­

tóteles, que nutria verdadeira paixão pela natureza

(ele identificou mais de 500 espécies animais), passou

três anos dando aulas a Alexandre. Ensinou ao rapaz

"Filipe chamou Aristóteles, o mais culto e célebre filósofo de seu tempo." P l u t a r c o (c. 46-120), Vida de Alexandre

política, retórica, matemática, ciência, medicina e lite­ratura grega. Mais tarde, Alexandre iria encontrar inspi­ração no poema llíada, de Homero, que levava consi­go nas campanhas.

Filipe treinou o exército macedônio usando m é ­todos de combate gregos e expandiu seu reino pela íorça militar. Com 16 anos, Alexandre esmagou uma rebelião, agindo como regente da Macedônia na au ­sência do pai. Dois anos depois, em 338 a.C, lutou ao lado de Filipe na decisiva Batalha de Queronéia, onde < is macedônios tiveram uma vitória esmagadora sobre Atenas,Tebas e as outras cidades-estado. Filipe era en ­tão o único governante da Grécia. Aristóteles voltou para Atenas, onde, em 335 a.C, fundou o Liceu e pas­sou a se dedicar aos estudos. Ele é hoje reconhecido i orno o primeiro verdadeiro cientista. S K

Morte do rei Filipe II O herdeiro Alexandre, de 21 anos, vinga-se dos gregos rebelados.

A capital macedônia de Pella estava lotada para o casa­mento da filha do rei Filipe II, Cleópatra, com o rei Ale­xandre de Épiro quando tudo virou urna confusão -Filipe havia sido morto com uma punhalada a caminho do teatro onde estavam ocorrendo as celebrações. O agressor, Pausânias, um dos guarda-costas nobres do rei, foi morto ao tentar fugir da cena do crime. Algumas pessoas desconfiavam que Olímpia, esposa do rei e mãe de Alexandre, já afastada do marido, estivesse en ­volvida no complô de assassinato.

O exército macedônio imediatamente proclamou

Alexandre, que acabava de completar 21 anos, rei Ale­

xandre III. Na época de sua morte, Filipe estava pres­

tes a liderar um exército grego para invadir a Pérsia. A

maioria das cidades-estado gregas aproveitou a opor­

tunidade para romper a aliança com a Macedônia,

mas Alexandre logo tomou providências para deter a

revolta. Montou um cerco a Tebas e, quando os teba-

nos se recusaram a se render, ordenou a seus soldados

que atacassem, destruíssem a cidade e vendessem os

habitantes como escravos. As outras cidades-estado

submeteram-se imediatamente a Alexandre. Este con ­

vocou seus líderes para uma assembléia em Corinto,

onde expôs sua intenção de dar prosseguimento à

invasão da Pérsia planejada pelo pai. A campanha re­

velou-se um feito inigualável.

Em 1977, arqueólogos encontraram em Vergina, na

Grécia, o túmulo de Filipe II. Na câmara funerária desco­

briram um sarcófago de mármore, esplêndidos receptá-

culos de ouro e prata e um magnífico conjunto de arma­

dura real. Os restos mortais do rei estavam numa urna de

ouro decorada com a estrela real da Macedônia. SK

O A iluminura de um manuscrito do século XIV mostra Filipe II

da Macedônia (383-336 a.C), pai de Alexandre, o Grande.

Page 44: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

333 A.C. N O V E M B R O

Alexandre luta por Isso Dario III e seu vasto exército persa se chocam contra as forças macedônias de seu inimigo Alexandre no golfo de Isso e sofrem uma terrível derrota.

O Mosaico do século I d.C. mostrando cenas da Batalha de Isso,

na qual Alexandre derrotou os exércitos de Dario.

"Mando-te sementes de mos­tarda... para que reconheças o amargorda minha vitória." Ca r t a d e A l e x a n d r e a D a r i o I I I

A conquista do Oriente Médio por Alexandre, iniciada

com sua vitória em Granico em maio de 334 a.C, e a

conseqüente dominação da Ásia Menor tornaram-se

inevitáveis no ano seguinte, quando enfrentou e des­

truiu um exército muito maior: o de Dario III.

Diz-se que o exército persa era composto por

600 mil homens, o que é provavelmente um exage­

ro, mas, mesmo que tivesse o número mais plausível

de 100 mil soldados, ainda seria mais de duas vezes

maior do que o exército macedônio. Alexandre e seu

general Parmênio haviam juntado forças, pretenden­

do atacar os persas pelo sul, mas descobriram que

Dario já os havia ultrapassado e cortado suas linhas

de abastecimento. Os dois exércitos confrontaram-

se e m uma pequena planície na entrada do golfo de

Isso, sudeste da atual Turquia. Fato crucial: o lugar

não permitia aos persas tirarem vantagem de sua su­

perioridade numérica.

Alexandre conduziu o ataque pelo flanco direito e,

embora os primeiros embates mais importantes te­

nham ocorrido na esquerda macedônia, junto à costa,

Parmênio conseguiu conter o avanço persa por tempo

suficiente para que uma investida da cavalaria de Ale­

xandre destruísse a posição persa. O próprio Alexandre

atacou diretamente a posição de Dario e, embora os

dois possam não ter se encontrado (como mostra um

famoso mosaico de Pompéia), houve um combate de ­

sesperado em torno da carruagem do imperador. Dario

fugiu e em seguida todo o exército persa bateu em reti­

rada - durante a qual se diz que mais de 50 mil homens

morreram. Os macedônios perseguiram Dario por 24

quilômetros, capturando seu tesouro e sua família, in­

clusive sua mãe e suas duas esposas. Alexandre conti­

nuou rumo ao sul e prosseguiu pela Síria até o Egito - e

a iminente destruição do Império Aquemênida. P F

Page 45: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Fundação de Alexandria 0 lombo de camelo" Alexandre torna-se rei do Egito e funda a cidade que leva seu nome.

Depois da vitória contra Dario em Isso, Alexandre

marchou rumo ao sul e atravessou a Jordânia para

chegar ao Egito, onde a antiga civilização havia sido

reduzida à condição de província persa. O governa­

dor persa não teve como resistir, e Alexandre foi rece­

bido como um libertador. Subiu o Nilo até Mênfis,

onde sacrificou um touro a Amon, e logo depois foi

coroado rei do Egito.

Em 331 a.C, Alexandre começou a procurar um lu­

gar para fundar uma nova cidade que ligaria o Egito ao

mundo grego. Descobriu um lugar na costa do Medi-

"Existe uma ilha no esplen-doroso mar; Pharos é como a chamam os homens." H o m e r o , Odisséia, r e c o n t a d a po r A l e x a n d r e

terrâneo mencionado por Heródoto e Homero (na

Odisséia); protegido pelo mar, pelo deserto e por outros

obstáculos naturais, era uma localização central, de fácil

defesa, e de onde se podia chegar à Grécia sem dificul­

dade. Alexandre demarcou ruas, palácios, templos, mu ­

ralhas e até mesmo um complexo sistema de esgoto.

Uma história posterior descreve como, sem dispor de

y iz, ele riscou o traçado das ruas com farinha de cevada,

que foi comida por um bando de pássaros. Apesar des­

se revés, um vidente previu que a cidade mesmo assim

iria prosperar.

Pouco depois, Alexandre deixou o Egito. Nunca

chegou a ver concluída a cidade que um dia teria o

orgulho de abrigar o Farol de Alexandria (uma das Sete

Maravilhas do Mundo Antigo) e a Grande Biblioteca; só

voltaria lá 10 anos depois, dentro de um caixão. P F

Na Batalha de Gaugamela, Alexandre destrói definitivamente o Império Persa.

Em 331 a.C, Alexandre rejeitou a proposta de paz do

imperador Dario - que lhe oferecia as terras a oeste do

Eufrates, uma grande soma em dinheiro e a mão de si i, i

filha e m casamento - e atravessou o rio Tigre até o

norte da Mesopotâmia. Dario reuniu um exército, Ia

maior do que o que havia liderado em Isso. Relan >\ > l,i

época afirmam que Dario comandava até um milhão

de soldados. Estava decidido a lutar em terreno aberto

onde seu grande exército e seus 200 formidáveis carros

de combate com lâminas cortantes nos eixos tciiani

maior eficácia. O terreno onde a batalha acabou sei u l< i

"Dario, que já estava com medo antes, foi o primeiro a dar meia-volta e fugir." Ar r i ano (mor to e m 146), Anábase de Alexandre

travada, em I o de outubro, ficava próximo à aldi i i i l i 1

Gaugamela, que significa "lombo de camelo".

Apesar da grande desvantagem numérica, Alexan

dre avançou, forçando Dario a atacar com seus i . u i< >•,

pelo centro, o que permitiu a Alexandre penetrai asfl

leiras persas e atacar o inimigo pelos flancos. Ao mesmi >

tempo, Alexandre atraiu o exército inimigo p a i a . i . •

tremidades antes de fazer uma investida em forrn.i d r

cunha contra a linha de soldados persas, partindt > < i, u i

meio e ameaçando a posição do próprio Dario, que fu

giu. Alexandre permaneceu no campo de batall M.

Depois da batalha, Alexandre capturou a o m

real persa e marchou sobre a Babilônia. Em janeln i de

330 a.C, já conquistara Persépolis e proclamai,i se ict

da Pérsia. Dario escapou, mas foi assassinado por um de

seus sátrapas, que Alexandre mandou executai. P F

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323 A.C. 10 DE J U N H O

Morte de Alexandre A morte do conquistador na Babilônia dá iníck

Ao chegar à Babilônia, em 323 a.C, Alexandre estava heio de ambição e logo deu início aos planos de

enviar uma frota para invadir a Arábia. No dia 29 de maio, porém, ele caiu doente depois de um longo banquete regado a muito álcool. Já estava febril, mas ontinuou a trabalhar, sendo carregado de modo a

poder dar ordens ao seu exército. Também conti-I U O U a cumprir seus rituais e deveres religiosos, mas

de nada adiantou. Após dtias semanas de fobto, Ale xandre sucumbiu. Tinha apenas 32 anos.

Inevitavelmente, começaram a circular boatos de que ele havia sido envenenado, boatos que até hoje não cessaram. Considerando todas as informa ções, parece mais provável que Alexandre tenha morrido de causas naturais: várias fontes sugeriram que ele poderia estar com malária e que seu fim pode ter sido apressado pelos remédios receitados pelos médicos.

No dia 9 de junho, os veteranos do exército ma­cedônio passaram pela última revista diante de seu lí­der. No leito de morte, Alexandre deu seu anel ao ge ­neral Pérdicas, que perguntou sobre suas intenções em relação à sucessão, uma vez que sua esposa, Roxa-na, estava grávida. "Que vença o mais forte", foi a res­posta. No dia seguinte à sua morte, os generais discu-Mram o que fazer, e uma guerra entre eles logo se tornou inevitável, levando a uma disputa de 55 anos conhecida como as guerras dos diodochi ("sucesso-tes"). No fim, o império foi dividido entre antigônidas na Macedônia e na Grécia, selêucidas na Mesopotâ-mia e na Pérsia e ptolomeus no Egito.

O corpo embalsamado de Alexandre, e m um lu­xuoso sarcófago, foi levado para o Egito e deposita­do em Alexandria, sua cidade à beira do Mediterrâ­neo. Ali permaneceu durante todo o período romano, mas desapareceu logo depois. P F

a uma batalha sucessória.

O Detalhe de Alexandre, o Grande e Poros capturado (1673), d l

Charles le Brun (1619-1690).

O Lamento fúnebre na morte de Alexandre, o Grande, de um

manuscrito armênio do século V.

"Tu logo morrerás e serás dono apenas da terra que baste para te enterrar." S á b i o i n d i a n o D a d a m i s pa ra A l e x a n d r e

B igBang-1 d.C. •

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322 A.C. 305 A.C.

A conquista do Egito Nova base de poder Chandragupta Máuria funda o Império Mauriano.

No caos criado pela morte súbita de Alexandre e m

323 a.C, Chandragupta Máuria adquiriu uma base de

poder no noroeste da (ndia, de onde derrubou Dana,

rei de Magadá. Com apenas 20 anos, fundou sua pró­

pria dinastia mauriana e criou um imenso exército,

que usou para subjugar muitos dos sátrapas gregos

do Punjab. Estendeu seu domínio até o Afeganistão

em 305 a.C. em troca de 500 elefantes de guerra e m

um tratado com Seleuco, um dos sucessores de Ale­

xandre, que havia tentado reconquistar a índia.

Pouco se sabe sobre as origens do homem que

"Um imenso elefante selva­gem foi até Máuria e deixou-se montar por ele." J u n i a n u s J u s t i n u s , sécu lo III d.C.

criou o primeiro grande império indiano unificado. Os

boatos são variados, indo dos que afirmam que ele

nasceu e m uma linhagem real por volta de 340 a.C.

aos que sugerem que seus pais eram domadores de

pavões. Quando jovem, Máuria foi incentivado por um

brâmane a reunir um exército de guerrilha; t ambém se

diz que, quando tinha mais ou menos 16 anos, ele en ­

controu Alexandre, o Grande, a quem tentou conven-

(er a prosseguir rumo ao leste para desafiar a dinastia

Nanda, que dominava Magadá, mas Alexandre retor­

nou para o oeste.

Em poucos anos, o domínio de Máuria se estendeu

e passou a incluir a maior parte do subcontinente india­

no; sua capital, Pataliputra, tornou-se uma das maiores

cidades do mundo antigo. Chandragupta abdicou em

favor do filho Bindusara em 293 a.C. P F

O primeiro faraó ptolomaico assume o controle após a morte de Alexandre.

Depois da morte de Alexandre, três de seus princi­

pais generais dividiram o império e lutaram entre si

para ver qual deles conseguiria assumir o poder. Pto-

lomeu era macedônio, amigo de infância de Alexan­

dre. Assumiu firme controle sobre o cadáver de Ale­

xandre dentro de seu luxuoso caixão de ouro - ou

quem sabe o roubou - e o conduziu até o Egito em

uma grandiosa procissão; o plano era seguir até

Mênfis, mas Ptolomeu acabou levando-o para Ale­

xandria, onde continuou exposto por muitos sécu­

los. Pto lomeu assumiu então o título de sátrapa do

"Separe os livros sobre realeza e o exercício do poder e leia-os." Conselho do diretor da Grande Biblioteca a Ptolomeu

Egito e pode ter se casado com a filha do faraó ante­rior, Nectanebo II.

Depois de vários anos tentando assegurar o poder na Síria e da ameaça de invasão do rival Pérdicas, Ptolo­meu assumiu o título de rei do Egito em 305 a.C, fun­dando uma dinastia que passaria 300 anos no poder até a chegada dos romanos. Incentivou o muitas vezes iso­lado Egito a se abrir para a influência helenística e criou a Grande Biblioteca de Alexandria, que se tornou uma das glórias do mundo clássico, e o "museu", que se transformou na primeira universidade. Ptolomeu foi o patrono do geômetra Euclides e responsável pelo início da construção do Farol de Alexandria. P F

O Ilustração sem data de Ptolomeu I sendo coroado pelas

deusas do Baixo e do Alto Egito.

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Um tributo colossal a Hélios em Rodes A enorme estátua conhecida como Colosso de Rodes é concluída junto à barra do porto e torna-se uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.

O Gravura do Colosso de Rodes do livro As sete maravilhas do

mundo (1792).

"O artista usou tanto bronze que uma escassez desse material parecia provável." F i lo d e B i z â n c i o , s é cu lo I d.C.

Uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, o Colosso

de Rodes foi construído como resultado das guerras

internas entre dois generais de Alexandre, o Grande:

Ptolomeu e Antíqono. Os habitantes de Rodes apoia

vam Ptolomeu, rei do Egito, e estavam sitiados por

uma força de mais de 40 mil homens liderada por De-

métrios, filho de Antígono. Demétrios construiu duas

grandes torres de cerco, mas de nada adiantou - a pri­

meira foi destruída por uma tempestade e a segunda

atolou na lama quando os defensores inundaram os

fossos ao redor das muralhas da cidade.

Quando os sitiantes se retiraram, os rodianos, em

agradecimento, construíram uma estátua de 33m de

altura e m homenagem a seu deus patrono, Hélios. Ela

foi erguida sobre um pedestal junto à entrada do por­

to. Projetada por Chares de Lindos, a estátua era feita

de pedra e ferro, coberta por placas de bronze feitas

com as armas abandonadas pelos agressores. Levou

12 anos para ficar pronta, e Chares suicidou-se antes

de ela ser concluída, em 280 a.C, talvez por alguém ter

apontado uma falha na construção.

A estátua se manteve de pé durante apenas 56

anos, até 224 a.C, quando teve os dois joelhos quebra­

dos por um terremoto e desabou. Os imensos pedaços

permaneceram no chão e tornaram-se uma atração

turística. No século I d.C, Plínio, o Velho, escreveu: "Pou­

cos homens podem envolver seus polegares com os

braços, e seus dedos são maiores do que a maioria das

estátuas. No ponto onde os membros se partiram, vas­

tas cavernas podem ser vistas abrindo-se no interior."

Os restos da estátua acabaram se quebrando, e o bron­

ze foi reutilizado por invasores árabes no século VII d.C

Embora ilustrações posteriores mostrem a estátua

com uma perna de cada lado da barra do porto, enge­

nheiros e cientistas hoje negam essa informação. P F

Page 51: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

260 A.C.

Ashoka encontra a paz Chocado com o massacre da Batalha de Kalinga, Ashoka adota o budismo.

legundo s u a s próprias estimativas, 100 mil homens

M H ii r e r a m e outras 150 mil pessoas f o r a m expulsas de

MI. IS terras n a terrível violência que Ashoka, terceiro

| |i ivernante da dinastia mauriana da antiga (ndia, pro-

ii i I U a o Invadir o reino vizinho de Kalinga. Tomado

i li • i c m o r s o , Ashoka converteu-se a o budismo, r e n u n -

i ii i à guerra e declarou que sua intenção de conquista

In fruto do darma.

Os éditos de Ashoka foram inscritos e m 33 colunas

i lc1 pedra, o s Pilares de Ashoka, erigidas e m várias partes

I li • seu reino. A mais famosa delas é a Coluna de Sarnath,

"[Que todos] possam receber o bem-estar e a felicidade deste mundo e do próximo." f d i t o d e A s h o k a

que tinha mais de 15m de altura e erguia-se no local

i inde o Buda pregou seu primeiro sermão. Seu magnífi-

111 < apitei, com quatro leões virados para norte, sul, leste

- • i K ;ste, foi adotado como o emblema nacional da (ndia

i 'tn 1948. Os éditos de Ashoka estão esculpidos e m pe-

dras e paredes de cavernas em lugares distantes como

-1 vale do rio Indo, o sul de Gujarat e as margens do rio

i rlshna, no sul da índia.

As incrições descrevem a conversão de Ashoka ao

budismo e seu esforço para disseminá-lo, seus precei-

los morais e religiosos e seu respeito pela vida animal.

Para cuidar de seu povo, Ashoka ordenou a constru­

ção de hospitais e casas de repouso, a escavação de

poços e enviou missionários a lugares tão distantes

quanto o Sri Lanka. O império que ele criou ruiu 50

anos depois de sua morte, em 233 a.C. S K

260 A .C . SETEMBRO

Enterrados vivos O exército de Qin derrota o de Zhao na Batalha de Gaoping.

A criação de um Estado chinês unificado foi uma faça

nha do reino ocidental de Qin, que, no século III a.( ,

eliminou de forma implacável seus seis principais ii

vais no que ficou conhecido como o Período dos I st a

dos Combatentes. Após esses combates, Qin e seu rei

Ying Zheng não tinham mais rivais, e criou-se o impé­

rio chinês, com Ying Zheng mudando seu nome para

Shi Huangdi, o Primeiro Imperador.

A principal batalha na ascensão de Qin foi a de

Gaoping ( também conhecida como Changpinq), em

setembro de 260 a.C, quando o exército Qin, coman

dado por Wang He, invadiu o Estado de Han com a

intenção de conquistar o Forte de Shangdang, estra

leqkamonlo impoilanle. O enfraquecido Estado d l

Han cedeu Shangdang a seu vizinho do norte, o muilo

mais poderoso reino de Zhao, que passou a defende

Io. Seguiu-se um cerco de dois anos, culminando na

que se tornou uma das mais sangrentas batalhas da

história do mundo. O exército Qin, que contava apro

ximadamente meio milhão de homens, conseguiu

cercar o exército Zhao e mantê-lo preso no topo d l

uma colina durante 45 dias. Quando Zhao Kuo, o jo

vem comandante dos Zhao, foi morto tentando rom­

per o cerco, o exército Zhao se rendeu, e então Bai ()i,

comandante Qin, mandou enterrar, vivos, em uma si i

noite, todos os 400 mil homens do exército Zhao, para

evitar uma revolta coletiva. Apenas 240 soldados l< >

ram poupados para levar a notícia até Zhao.

O reino de Zhao nunca se recuperou da derrota c

foi conquistado pelo de Qin em 228 a.C. Bai Qi foi l< II

çado a cometer suicídio três anos depois, pois era con­

siderado uma ameaça ao primeiro-ministro de Qii I,

Em meados da década de 1990, arqueólogos

descobriram valas contendo um grande número de

ossos, aparentemente dessa batalha. R G

Page 52: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Eureka! No banho, Arquimedes descobre como medir a densidade.

O rei Hierão da Sicília queria descobrir se uma coroa que

havia recebido de presente era feita de ouro maciço ou

se ele havia sido enganado com uma coroa que conti­

nha prata; pediu então a Arquimedes que solucionasse

o problema. Mas como este poderia fazê-lo sem derre­

ter o metal e destruir a coroa? Enquanto tomava banho,

Arquimedes percebeu que o nível da água subia quan­

do ele entrava e concluiu que poderia determinar a

densidade de ouro da coroa pesando-a na água. Ficou

tão animado com a descoberta que dizem ter saído nu

pela rua gritando: "Eureka!" (Descobri!).

Arguimedes nasceu e m 287 a.C. na cidade-estado

grega de Siracusa, na Sicília, e a ele também se atribui

a descoberta da alavanca e do parafuso de Arquime­

des - mecanismo usado para elevar o nível da água -,

bem como o incêndio de navios romanos durante o

cerco a Siracusa usando espelhos e os raios do sol.

Quando a cidade foi tomada, e m 212 a.C, diz-se que

Arquimedes foi morto por um soldado romano por­

que ignorou uma ordem para deixar de lado seus

diagramas matemáticos.

Arquimedes era muito respeitado no mundo anti­

go, tanto como cientista prático quanto teórico. Escre­

veu sobre mecânica, hidrostática, catóptrica (retração) e

matemática. Embora grande parte do seu trabalho te­

nha se perdido, seus escritos que sobreviveram eram

conhecidos por matemáticos islâmicos da Idade Média.

Eles foram redescobertos pelos estudiosos renascentis­

tas, que tiveram grande influência no desenvolvimento

da matemática na Europa medieval. S K

Page 53: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

A China unida "por 10 mil gerações" Zheng, rei de Qin, conquista os outros Estados chineses e adota o título de Shi Huangdi.

O Vista do Exército de Terracota em Xian, uma das maiores descobertas arqueológicas jamais feitas.

| lurante mais de 200 anos, no Período dos Estados

imbatentes, a China permaneceu dividida em Esta-

|i '•. livais. O Estado ocidental de Qin já havia começado

i se destacar como o mais poderoso deles quando

heng subiu ao trono em 246 a.C, aos 13 anos. Oito

' lepois, por uma combinação de ataques-surpre-

- -| nonagem e suborno, ele começou a eliminar um

11 it ii os outros seis Estados. Qi, no nordeste, foi o último

iii, i im 221 a.C. Pela primeira vez na História, a China 1 ii nl irada sob um único governante, e Zheng procla-

I a si mesmo Shi Huangdi, o primeiro imperador.

Sua dinastia, anunciou ele, iria durar 10 mil gerações,

i mu seu novo primeiro-ministro, Li Si, Shi Huangdi

ii 11| H is i Io forma implacável um governo centralizado.

I llmlnou todas as variações regionais de pesos e

medidas, padronizou as leis e a escrita chinesa e co

meçou a abrir estradas e canais. Construiu também

uma barreira de terra para interligar as fortalezas d,i

fronteira norte - o início da Grande Muralha da ( l i m a

Shi Huangdi só temia a morte - e diz-se que V M

jou até as ilhas do Japão em busca do elixir da vida,

Foram necessários 700 mil homens para construir

seu imenso complexo funerário, tido como u n i a n •

presentação do cosmos. Em 1974 foi encontrada

uma grande vala com milhares de soldados de b a i i o

e m tamanho natural. Tratava-se da maior descol» irta

arqueológica jamais feita na China - o Exército de

Terracota de mais de sete mil guerreiros que, h a v i a

mais de dois mil anos, vinha protegendo o corp< i do

primeiro imperador. S K

Page 54: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

2 1 8 A.C. 2 1 6 A.C.

Viagem impossível O general cartaginês Aníbal lidera seus homens na travessia dos Alpes.

No outono de 218 a.C, um exército exausto e desmora­

lizado espalhava-se pelas pedras, pela neve e pelo gelo

de um alto desfiladeiro alpino. Uma força composta por

homens de tribos selvagens da Espanha, soldados de

infantaria da Líbia e cavaleiros númidas do norte da Áfri­

ca havia seguido o general Aníbal Barca, de 28 anos, na

tentativa de atravessar essa barreira montanhosa apa-

ii 1 iii 'iiH1 iie ii i i i . i i is| 'i )invi 'I.

A cidade natal de Aníbal, Cartago, onde hoje fica a

Tunísia, estava envolvida em uma disputa de vida ou

morte com a República Romana pelo controle do M e ­

diterrâneo Ocidental. Na primavera de 218 a.C, Aníbal

havia conduzido seu exército desde a Espanha para in­

vadir a Itália. Pai tira com mais de 100 mil homens, do/e

nas de milhares de cavalos e mulas e 37 elefantes de

rjuerra. Uma longa viagem por território hostil reduziu

muito seu exército mesmo antes de este chegar aos Al­

pes. Ali, avançando por trilhas estreitas e m ravinas nas

montanhas, os soldados de Aníbal foram atacados pe ­

los alóbrogos e por outras tribos locais. Levaram nove

dias para chegarão topo do desfiladeiro.

Aníbal, que compartilhara todas as dificuldades,

reuniu os soldados enregelados e famintos para a des­

cida rumo à Itália que, segundo ele, poria Roma em suas

mãos. Caminhando sobre neve e gelo, animais e ho­

mens penaram para descer a estreita trilha, temerosos

de cair pela borda escorregadia. Em certo momento,

tiveram de passar quatro dias reconstruindo a trilha,

que havia desabado. Somente cerca de 26 mil e alguns

elefantes chegaram à Itália. Mesmo assim, Aníbal havia

realizado um feito notável ao cruzar os Alpes, e podia

então avançar sobre Roma. R G

O Detalhe de Aníbal e seus elefantes de guerra cruzam os Alpes,

litografia oitocentista da escola inglesa.

Massacre romano Aníbal inflige perdas catastróficas às legiões romanas em Canas.

Apesar de travada apenas com espadas e lanças, a

sangrenta Batalha de Canas, e m 216 a.C, teve a mais

alta taxa de mortandade e m um único dia de c o m ­

bate de toda a história européia.

A liopúblic a Romana mandou oito legiões de Cl dadãos-soldados, além de aliados, para enfrentai o qenoial < aitaginês Aníbal han a, que invadira a H.h.i dois anos antes. Conduzida pelos cônsules Paulo e Varro, a força romana de 70 mil soldados de infantaria e seis mil cavaleiros confrontou Aníbal em uma plani cie entre o rio Aufido (hoje Ofanto) e o alto da colina

"Alguns... torturados pelos ferimentos... eram rapidamente liquidados pelo inimigo." Tito Lívio, História de Roma, o 26 d.C.

de Canas. Os exércitos posicionaram sua infantaria no

centro e sua cavalaria nos flancos. A infantaria de Aní

bal - líbios, espanhóis .aceitas - encontrava-se e m

grande desvantagem numérica. Aníbal pressionou os

celtas e os espanhóis e m direção às fileiras romanas,

convidando a um ataque, mas mantendo sua discipli

nada infantaria líbia nos dois flancos. Em meio a rede­

moinhos de poeira, as duas forças se f chocaram. No

início, os romanos avançaram, empurrando o centro

da formação cartaginesa. Então os líbios atacaram po

los flancos, arrasando a infantaria romana. A cavalaria

de Aníbal expulsou os cavaleiros romanos e atacou

pela retaguarda. Cercados, os romanos foram sistema­

ticamente massacrados. Mais de 48 mil soldados ro­

manos morreram. Mesmo assim, Roma recusou a paz

e a guerra prosseguiu. S K

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202 A.C

De camponês a bandoleiro e imperador O ex-camponês Liu Bang assume o controle da China e funda a dinastia Han, que permanece 400 anos no poder.

O Pintura setecentista do imperador Liu Bang, bandoleiro

camponês que fundou a dinastia Han.

"Eu sei usar as pessoas, então pude conquistar as terras sob o céu." L iu B a n g

Quando o primeiro imperador da China, Qin Shi

Huangdi, morreu em 210 a.C, seu filho não conse­

guiu conservar o poder. Em 209 a.C. iniciou-se uma

série de rebeliões contra a dinastia Qin, e um bando­

leiro, Liu Bang, foi incentivado a apoiar o príncipe do

antigo reino de Chu. Liu Bang, h o m e m de origem

camponesa que já tinha sido chefe de polícia e m

J iangsu sob os Qin, reuniu u m pequeno exército

e conquistou Guanzhong , e m Shaanxi, terra natal

dos Qin. Em 206 a.C, ele invadiu Xianyang, capital dos

Qin, I oi recompensado com o principado de Han

(atual Sichuan, Chingqing e sul de Shaanxi).

Liu Bang começou então a tentar conquistar toda a

China e, depois de abandonar o aspecto mais duro do

regime Qin, conquistou forte apoio popular para sua

campanha. Apesar das forças relativamente reduzidas,

usou a astúcia para manter sua posição contra o militar

brilhante mas politicamente ingênuo Xiang Yu, um no­

bre Chu. Liu Bang derrotou-o em 202 a.C. e Xiang Yu

então suicidou-se.

Depois da vitória, Liu Bang adotou o título de Im­

perador Gaozu, restaurou a autoridade central e, a

partir da capital de Chang'an, criou a dinastia Han,

que seguiria no poder por guase 400 anos.

Liu Bang conservou seus modos de camponês

durante todo o reinado - é notória a ocasião em que

urinou dentro do chapéu de um estudioso para mos­

trar seu desdém pela educação -, mas governava

segundo princípios confucianos. Ganhou populari­

dade ao buscar reduzir os impostos sobre os campo ­

neses, mas fez inimigos ao executar vários dos gene ­

rais que o haviam ajudado a subir ao poder. Por outro

lado, neutralizou a principal ameaça externa, a dos

nômades Xiongnu do norte, por meio de casamen­

tos estratégicos e subornos. P F

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202 A.C. 15 DE O U T U B R O

A vingança de Cipião As legiões de Cipião finalmente derrotam Aníbal e seus elefantes na Batalha de Zama.

0 general romano Públio ( ornélio ( ip ião c i a u n i M I

brevivente da carnificina do exército romano perpe

trada pelo cartaginês Aníbal em Canas, e m 216 a.C. Em

202 a.C, Cipião começou a virar a mesa. No comando

de uma invasão romana ao norte da África, ameaçou a

( idade de Cartago, forçando Aníbal a voltar de uma

prolongada campanha para defender seu território

natal. As forças de Cipião e Aníbal confrontaram-se a

oeste de Cartago na tremenda Batalha de Zama.

Consciente de que seu exército estava debilitado e de que era, naquele momento, muito inletiot à força

"Os romanos se abateram sobre o inimigo, com seu grito de guerra e seus escudos." P o l í b i o , h i s t o r i a d o r g r e g o , 205-123 a.C.

que tinha vencido seus combates anteriores, Aníbal

t ipostou no uso de elefantes de guerra, e 80 dos intimi-

< ladores animais atacaram as legiões romanas. Com o

barulho da batalha, porém, muitos dos elefantes se

assustaram e desembestaram, atacando, em sua fuga,

,i cavalaria do próprio Aníbal. Os outros elefantes passa-

ram deforma inofensiva pelas brechas que Cipião havia

aberto nas fileiras romanas. O exército de Aníbal estava

condenado: sua cavalaria foi expulsa do ( ampo de ba­

talha e sua infantaria sucumbiu ao avanço inexorável

(los legionários de Cipião. Era o fim do combate.

A vitória de Zama forçou Cartago a reconhecer a

derrota e estabeleceu Roma como a potência domi ­

nante do Mediterrâneo Ocidental. Aníbal acabou no

exílio e, ainda perseguido por seus inimigos romanos,

suicidou-se 20 anos depois. S K

168 A.C. 22 DE J U N H O

Triunfo romano A derrota macedônia em Pidna assegura a conquista romana da Grécia.

IV i Io do I 'idna, norte da Grécia, aos pés do monte Olimpo, morada mitológica dos deuses, dois exér­citos se choca ram e m u m emba te que iria decidir o futuro da civil ização mediterrânea. De um d o s lados estava o exército d e 40 mil homens do rei Perseu da Macedônia , do outro 40 mil soldados romanos l iderados por um cônsul de 60 anos, I ú cio Emíl io Paulo.

A expansionista República Romana vinha travan do havia 30 anos uma guerra intermitente contra t

M a i e i loi na, potência i lominante na Gréc Ia. i >•, ho

"Quem não iria querer saber como o mundo veio a cair sob o domínio exclusivo de Roma?" P o l í b i o , h i s t o r i a d o r g r e g o , 205-123 a.C.

mens de Perseu lutavam e m um estilo tradicional,

mas antiquado. Os soldados de infantaria, armados

com sarissas (lanças) de até 7m de comprimento,

formavam falanges muito densas - exibindo apenas

os escudos e as pontas das armas. Os legionários

romanos, porém, lutavam com lanças de arremesso

e espadas curtas e m pequenas unidades, capazes de

um combate mais flexível.

No início, os romanos não conseguiram peneirar

o muro de lanças macedônias, mas quando em i >i i

traram brechas nas falanges inimigas puderam travai

uma luta corpo-a-corpo e os macedônios tornaram-

se presas fáceis para os romanos. Cerca de 2 5 mil

morreram, contra apenas uma centena de romanos.

Perseu foi o último rei da Macedônia, que s e ti il

nou uma província romana em 146 a.C. R G

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146 A.C. 70 A.C.

Destruição de Cartago Roma extermina uma civilização rival com meticulosidade genocida.

Mais de dois mil anos antes da bomba atômica, os ro­

manos demonstraram comodestruii uma < i d a d e intei­

ra pela ação militar. Suas legiões arrasaram Cartago, na

atual Tunísia, e mataram ou escravizaram todos os seus

habitantes. Nenhuma construção foi deixada em pé.

Outrora grande rival de Roma no Mediterrâneo

Ocidental, Cartago havia sido forçada a aceitar um

acordo de paz humilhante após a derrota de Zama,

em 2 0 2 a.C. Os cartagineses perderam seu poderio

militar, mas muitos romanos continuavam desconfia-

i los dos antigos inimigos, incluindo o orador Catão, o

Velho, gue declamava com freqüência: "Cartago tem

de ser destruída!"

Depois de algum t e m p o , por m e i o de manobras,

os cartagineses foram levados a violar os termos do tra­

tado de paz. Com esse pretexto, em 1 4 9 a.C. os romanos

enviaram uma força expedicionária para sitiar a cidade,

mas Cartago tinha fortificações imponentes, e no início

,i operação romana correu mal. Em 1 4 7 a.C, subiu ao

comando do exército Cipião Emiliano, neto de Cipião

Africano, vencedor de Zama. Cipião apertou o cerco aos

I nibitantes, que logo começaram a passar fome.

Na primavera de 1 4 6 a.C, tropas romanas adentra­

ram os muros da cidade. Os cartagineses resistiram

bravamente, mas a rendição era inevitável. Cerca de

5 0 mil sobreviventes viraram escravos. Um último

núcleo de 9 0 0 resistentes morreu queimado dentro

de um templo. Após alguns dias de pilhagem, come­

çou a destruição sistemática da cidade, sobretudo

pelo fogo. Diz-se que Cipião chorou, prevendo o dia

em que Roma talvez tivesse o mesmo destino. R G

O Gravura mostrando o ataque a Birsa e a derrota dos

cartagineses.

Espártaco é derrotado Os romanos finalmente subjugam o grande líder escravo Espártaco.

Espártaco, líder da maior revolta interna contra a Re­

pública Romana, foi finalmente derrotado em 70 a.<

Espártaco era um escravo que havia sido treinado e m

uma escola de gladiadores perto de Cápua, no sul da

Itália. Em 7 3 a.C, portando facas de cozinha, ele e cerca

de 7 0 outros fugiram e criaram um grupo de fora da

lei - alguns gladiadores, outros ladrões, outros ainda

escravos foragidos - nas encostas do monte Vesúvlo,

Espártaco derrotou várias hostes enviadas para des

truí-lo, confiscando suas armas. Suas forças logo au­

mentaram para mais de 1 0 0 mil pessoas, in< luíi n li i

"Espártaco... era tão inteligente e culto que parecia grego." P l u t a r c o (c. 46-120 a . C ) , A vida de Crasso

mulheres, i rianças e velhos. Os gladiadores treinai.im

os homens menos experientes, transformando-os em

um formidável exército. Segundo historiadores rama

nos, Espártaco dividia o butim entre seus seguidores.

No início de 7 0 a.C, uma legião comandada por

Crasso encurralou o exército de escravos na Calábria.

Embora Espártaco tenha conseguido escapar, seu

exército foi destruído. O próprio Espártaco foi morto,

mas seu corpo jamais foi encontrado. Crasso reuniu

cerca de seis mil sobreviventes e mandou crucificá-los

às margens da Via Ápia de Brindisi até Roma. Os cor­

pos permaneceram pendurados durante muitos anos,

como um alerta aos escravos que pensassem em se

rebelar. Espártaco, porém, passou a ser lembrado co

mo um defensor dos que lutam contra a escravidão r

a servidão. P F

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Fundação de Silla O primeiro reino coreano, Silla, é fundado por um Filho dos Céus.

0 primeiro Estado coreano só se formou e m 57 a.C. Des­

de pelo menos o século VIII a.C, os coreanos viviam sob

a influência cultural de seu poderoso vizinho, a China. O

cultivo do arroz e as armas e ferramentas de bronze, am­

bos emprestados dos chineses, impeliram os coreanos

rumo à urbanização e à formação de um I stado. lá no

século IV a.C, pequenos Estados haviam surgido por

toda a península coreana, cada qual tendo por base uma

cidade fortificada. Guerras e alianças levaram as cidades

i o desenvolvimento de confederações informais lidera­

das pelos chefes das cidades dominantes. Os chine­

ses começaram a considerar essas confederações uma

.imeaça.ea partir de 109-106 a.C. a dinastia Hanconquis

lou a maior parte do norte e do centro da Coréia.

Nas partes que não foram conquistadas, três reinos

começaram a se desenvolver no século I a.C: Koguryo,

1'aekche e Silla. Segundo a lenda, o primeiro desses Es­

tados foi Silla, fundado em 57 a.C. pelo rei Pak Hyokkose,

um Filho dos Céus nascido de um grande ovo verme­

lho deixado na Terra por um cavalo alado. 0 povo rezou

por uma noiva igualmente notável para Hyokkose, e

uma linda bebezinha acabou por surgir debaixo da cos­

tela de um dragão-galinha. O povo ficou pasmo ao ver

que a menina tinha um bico como o de um pássaro,

mas este caiu quando ela tomou seu primeiro banho.

1 )epois de reinar por 61 anos, Hyokkose ascendeu aos

( éus e após sete dias seus restos mortais caíram à Terra;

eles estão enterrados e m um túmulo no terreno do

monastério de Tamon. Os reinados da maioria dos pri­

meiros reis de Silla também são cercados de lendas: seu

primeiro verdadeiro rei histórico foi Naemul, cujo reina­

do durou de 356 a 402 d.C. J H

O Detalhe de "Uma história dos Três Reinos", de um biombo de

oito painéis conservado no Museu Gahoe, na Coréia do Sul.

colinas brancas ao redor de Dubrae (Dover). Em vez < lc •

correr o risco de uma batalha colina acima ali mesmo,

César ordenou a seus navios que rumassem para o

norte, até uma praia mais aberta em Walmer. Osquoi

reiros britânicos, porém, foram atrás para resistir ao

desembarque. Legionários romanos pulavam de seus

navios apenas para serem atacados nas águas rasas e

na margem. Os britânicos só foram repelidos quando

os navios de guerra de César começaram a atirar nelt ••>

com ballistae (balistas, ou grandes arcos).

O desembarque fora difícil, e o mau tempo impei In i

a cavalaria de atravessar o canal e castigou a frota. Pn •< >

cupados com o abastecimento, os romanos retori laram

à Gália. César voltou em 54 a.C. e avançou até o norte < l< i

Tâmisa, mas ainda seriam necessários 90 anos para os

romanos se estabelecerem na Britânia. R G

César na Britânia A primeira força militar romana pisa o solo britânico, apenas para ser repelida.

Certa manhã de verão e m 55 a.C, uma frota de 80 na

vios transportando duas legiões romanas e escoli.u I a

por navios de combate aproximou-se da costa sul da

Britânia. A expedição - um feito ousado, pois a Htilãi H. i

ficava na extremidade mais afastada do mundo co-

nhei i d o havia pai tido à meia-noite de onde 1 I u >|i •

fica Boulogne, na França. Seu comandante, Júlio César,

nada sabia sobre a ilha, a não ser que seu povo a p o i a

va tribos hostis da Gália, no continente europeu, q u e

ele vinha tentando subjugar. A aproximação d a In >ta

romana f o i observada por guerreiros britânicos das

"Todos os bretães se pintam com glasto... e raspam... o corpo." J ú l i o César , A guerra da Gália, o 45 a .C .

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Massacre em Carras Um plutocrata romano conduz as legiões à derrota frente aos partos.

Marco Licínio Crasso era o homem mais rico de Roma

e controlava a República junto com Júlio César e Pom-

peu. Mas Crasso queria igualar a glória militar de seus

dois colegas e, para tanto, e m 53 a.C, liderou cerca de

50 mil legionários em uma itivasáo da Mesopolâmia,

parte do Império Parto. O rei parto, Orodes II, mandou

ao seu encontro um exército comandado por um aris­

tocrata conhecido como Surena.

Quando as duas forças se chocaram no deserto

perto da cidade de Carras, em 6 de junho, logo ficou

evidente que Crasso tinha avaliado muito mal a situa

"O inimigo que carregava a cabeça de Públio se aproximou com seu cavalo e mostrou-a." P l u t a r c o (c. 46-120 d . C ) , Vida de Crasso

ção militar, Enquanto a maior parte do exército roma­

no era constituída por soldados de infantaria, os par­

tos combatiam montados. Seus cavaleiros rápidos,

trajando roupas leves e armados com potentes arcos

compostos, atormentaram os legionários, galopando

para atacar e m fileiras cerradas e se afastando antes de

os romanos poderem contra-atacar. A cavalaria de

Crasso investiu, mas foi massacrada. A cabeça de Pú ­

blio, filho de Crasso, foi espetada e m uma estaca, des­

moralizando ainda mais as forças romanas.

Durante a retirada romana, ao cair da noite, mais

soldados foram mortos, incluindo Crasso, cuja cabeça

foi enviada ao rei Orodes. Cerca de 20 mil romanos

morreram e 10 mil foram capturados. A morte de Cras­

so abriu caminho para uma disputa de poder entre

Pompeu e César e para o fim da República. R G

Sem misericórdia Condenados desde o princípio, os gauleses são massacrados por Júlio César em Alésia.

"Vercingetórix, principal força motriz de toda a guerra,

depois de vestir sua melhor armadura e enfeitar seu

cavalo, saiu a galope pelos portões [de Alésia] e deu

uma volta ao redor de César, que estava sentado, e

então, depois de desmontar, tirou a armadura e foi se

sentar imóvel aos pés de César até ser levado embora."

É assim que o biógrafo grego Plutarco descreve a ren­

dição do líder da revolta fadada ao fracasso contra a

conquista romana da Gália, e m 52 a.C.

As tribos celtas da Gália Transalpina - área a oeste

do Reno e ao norte dos Alpes e dos Pireneus - haviam

se mostrado impotentes ante as campanhas conduzi­

das por César a partir de 58 a.C, e m parte devido à sua

desunião. No-início de 52 a.C, porém, Vercingetórix,

jovem chefe arverno, formou uma aliança entre as tri­

bos da Gália Ocidental e Central. Seu exército enfren­

tou as legiões romanas com táticas de guerrilha e em

batalhas mais organizadas para defender seus fortes

situados no alto de colinas.

Em setembro, César encurralou Vercingetórix, cer­

cando seu exército na cidade fortificada de Alésia, no

topo de uma colina. Os romanos formaram uma fileira

dupla de fortificações de cerco ao redor da cidade - a li­

nha interna servia para manter Vercingetórix na cidade e

a externa para se defender de um contra-ataque. Quan-

< li) as forças de apoio gaulesas chegaram e juntaram-se

à guarnição de Alésia, os romanos quase cederam.

Para os gauleses, render-se era a única opção. Os

romanos não demonstraram nenhuma clemência -

cada legionário recebeu um gaulês para vender como

escravo. Vercingetórix foi levado para Roma e executa­

do seis anos mais tarde. R G

O Cerco de Júlio César a Alésia (1533), óleo do pouco conhecido

artista Melchíor Feselen {morto em 1538).

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Pompeu é decapitado 0 foragido ex-general romano Pompeu é assassinado no Egito.

Em 48 a.C, Pompeu (Cneu Pompeu Magno), outrora o

mais bem-sucedido general de Roma e seu mais po­

deroso líder político, havia se transformado em um

desesperado fugitivo. Derrotado em Farsália, norte da

Grécia, pelo rival Júlio César, fugira por mar para o Egi­

to. De lá, Pompeu mandara um recado para o jovem

rei do país, Ptolomeu XII, pedindo refúgio. Mas os con­

selheiros do rei egípcio, chefiados pelo eunuco Potino,

eram homens cautelosos e dissimulados. Segundo

seu raciocínio, César ficaria furioso caso dessem abrigo

a Pompeu, mas Pompeu também poderia constituir

"...cortaram a cabeça de Pompeu e jogaram seu corpo nu para fora do barco." P l u t a r c o (c. 46-120 d . C ) , Vida de Pompeu

um perigo futuro caso o mandassem embora. A solu­

ção mais segura, portanto, era matá-lo.

Um membro do conselho, Aquilas, junto com dois

ex-soldados romanos, partiu em um pequeno barco

para buscar Pompeu e trazê-lo até a margem. Pom

peu subiu no barco acompanhado de seu criado Feli­

pe. Quando o barco atingiu águas rasas, Pompeu foi

apunhalado e decapitado. Os assassinos abandona­

ram seu corpo, deixando o fiel Felipe encarregado de

construir uma pira fúnebre na praia.

Quatro dias depois, César chegou ao Egito. Quan­

do lhe mostraram a cabeça de Pompeu, ele suposta­

mente virou as costas, enojado. A morte de Pompeu

abriu caminho para César se tornar líder inconteste de

Roma, bem como amante de Cleópatra, irmã e rival de

Ptolomeu XII, para ocupar o trono do Egito. R G

Calendário Juliano As reformas de César estabelecem as bases de nosso calendário moderno.

A vida cotidiana de Roma girava em torno dos festivais

sazonais e da eleição anual dos magistrados, o que

exigia um cálculo preciso das datas. Apesar disso, o

calendário romano, baseado no ano lunar de 355 dias,

era cerca de 10 dias mais curto do que o ano solar. Para

ajustar essa discrepância d o calendário, o pontífice

máximo (líder do colégio de sacerdotes) fazia um

anúncio anual do número d e dias extras a serem

acrescentados naquele ano.

No século I a.C, o pontífice máximo já era com

freqüência um político, e algumas vezes esse poder

"César convocou os melhores filósofos e matemáticos..." P l u t a r c o (c. 46-120 d . C ) , Vida de César

sobre o calendário era usado de forma inescrupulosa para prolongar a magistratura de um aliado político ou reduzir a de um rival.

Eleito pontífice máximo em 63 a.C, Júlio César só reformaria o calendário 20 anos mais tarde, ao voltar para Roma. Seguindo os conselhos do astrônomo Sosí-genes, ele introduziu um calendário juliano baseado no ano solar de 365 dias e um quarto, com um dia extra a cada quatro anos. Sosígenes, porém, havia superesti­mado a duração do ano solar e m 11 minutos e 14 se­gundos, de modo gue, em meados da década de 1550, o efeito cumulativo desse erro havia deslocado 10 dias para a frente datas sazonais como a Páscoa. Em 1582, o papa Gregório XIII retirou os dias extras e reformulou a regra para os anos bissextos, criando assim o calendário gregoriano, ainda em uso atualmente. S K

Page 65: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Morte de um ditador Júlio César é assassinado por uma conspiração de senadores em Roma, marcando o início da derrocada da República.

No dia conhecido pelos romanos como os "idos de

março", Júlio César devia comparecer a uma reunião

do Senado e m um salão anexo ao Teatro de Pompeu.

Várias indicações funestas sugeriam que o perigo era

iminente, mas César foi convencido a ignorá-las. Erro

fatal, já que de fato havia um complô para matá-lo.

Todo-poderoso e m Roma depois de derrotar

Pompeu, César havia conquistado grande popularida­

de junto ao povo - mas se afastara da aristocracia que

dominava o Senado. Cássio Longino e Marco Bruto

haviam convencido cerca de 60 senadores a participa­

rem de um complô de assassinato. A justificativa para

a conspiração era a defesa da liberdade republicana,

uma vez que César havia se declarado "ditador vitalí­

cio" e corriam boatos de que aspirava à realeza.

Quando César estava sendo carregado e m uma

liteira para o salão onde o Senado iria se reunir, um bi­

lhete avisando sobre o complô foi posto e m sua mão,

mas ele não o leu. Seu influente seguidor, Marco Antô­

nio, foi distraído por um dos conspiradores do lado de

fora do salão enquanto César entrava. Outro conspira-

dor, Tílio Cimber, inventou um pretexto para se aproxi­

mar de César e arrancou sua toga. Então, sacando

adagas escondidas, os senadores se jogaram sobre ele

por todos os lados. César resistiu até, segundo o histo­

riador Suetônio, reconhecer Bruto entre os agressores.

Aos gritos de "Até tu, Bruto?", ele parou de resistir e caiu

morto aos pés de uma estátua de Pompeu.

Confrontados com a hostilidade popular, os assassi­

nos foram forçados a fugir de Roma. Marco Antônio,

outrora um dos mais fiéis seguidores de César, assu­

miu o controle da cidade. Dois anos depois, Bruto e

Cássio estavam mortos. Longe de salvar a República, o

assassinato desencadeou uma disputa de poder que

terminou com a criação do Império Romano. R G

O Gravura que mostra Marco Antônio fazendo o discurso

fúnebre junto ao corpo de César (artista desconhecido).

"Para onde quer que se virasse, ele recebia golpes de adagas..." P l u t a r c o (c. 46-120 d . C ) , Vida de César

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"0 têmpora, o moresl" A reconciliação entre Marco Antônio e Otaviano leva ao assassinato de Cícero.

O Afresco de Cícero fazendo um de seus famosos discursos, por Cesare Maccari (1840 1919), pintado no Palazzo Madama, Roma

0 grande orador Cícero estava sendo carregado em uma titeira até o navio que o levaria para um lugai seguro quando os assassinos chegaram. I sies incluí­a m o centurião Herênio e o tribuno Popílio, que Cíce­ro já defendera de uma acusação de parricídio. Cíce­ro demonstrava cada um de seus 64 anos, com os cabelos revoltos e o rosto emaciado. Diz-se que suas últimas palavras foram: "Não há nada próprio no que estás fazendo, soldado, mas tenta matar-me de for­ma decente." Por ordem de Marco Antônio, Cícero t ambém teve as mãos cortadas.

Ninguém poderia ter previsto tal morte para Mar­co Túlio Cícero, brilhante orador, advogado e filósofo refinado que, não sendo nobre nem patrício, havia se tornado cônsul em 63 a.C. Era um homem discreto, tí­

mido até, que desaprovava a autocracia de César, mas não participou de seu assassinato. No entanto, quan­do passou a considerar Marco Antônio um tirano, Cí­cero não conseguiu continuar e m silêncio. Nas Filípi-

cas, buscou elogiar Otaviano, filho adotivo de César, e prejudicar Marco Antônio. Por pouco não conseguiu. Marco Antônio chegou a ser declarado "inimigo do Estado", mas sua reconciliação com Otaviano selou o destino de Cícero. Marco Antônio queria a língua que havia falado e a mão que havia escrito contra ele.

À medida que os assassinatos de Marco Antônio prosseguiam, os romanos recordavam o alerta de Cí­cero. Mais tarde, Otaviano derrotou Marco Antônio e relembrou Cícero como "um homem culto que amava o seu país". R P

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Antônio e Cleópatra são derrotados O futuro de Roma é decidido na Batalha de Ácio, na costa oeste da Grécia.

O A Batalha deAclo (1600), mural de Antônio Vassilacchi (1556-1629), pintado na Villa Barbarigo, próximo a Vicenza, Itália.

Nos distúrbios civis que sucederam ao assassinato de

Júlio César e m 44 a.C, seu filho adotivo, Otaviano, e

Marco Antônio, ex-braço direito de César, ascenderam

à co-liderança do mundo romano. Enquanto Otaviano

governava e m Roma, Marco Antônio instalou-se em

Alexandria, aliado tanto na política quanto no amor à

rainha ptolomaica do Egito, Cleópatra VII. Nalut.ilmen

i e, os dois homens acabaram se enfrentando para d e ­

cidir quem seria o líder único de Roma.

No verão de 31 a.C, M a n o Antônio e Cleópatra,

no comando de um grande exército e de uma grande

força naval, foram acuados por Otaviano e m Ácio, na

costa oeste da Grécia. Liderada por Marco Vipsânio

Agripa, a frota de Otaviano cortou a linha de abasteci­

mento do exército rival com o Egito, enquanto cerca

de 80 mil soldados romanos o enfrentavam e m terr.

( o n d o i i t a d o s c mu uni di 'sastre, Antônio e C i e i i p . i i i

urdiram um plano para furar o bloqueio naval de Ai | i i p

e fugir para o Egito. Encheram de soldados seu melhoi

navio e carregaram 60 embarcações mercantes corr

tesouros. Os navios manobraram para se posiciona

entre a costa e o bloqueio naval de Agripa e ali In. iran

aguardando um vento favorável. As duas frotas preci

pitaram-se em um combate confuso antes de o ventc

mudar e Cleópatra lançar os navios mercantes r u m i

ao mar aberto. Antônio conseguiu juntar-se a ela, ma:

seus 300 navios de guerra, não.

Antônioe Cleópatra voltaram para Alexandria. Dian

te da derrota iminente, ambos cometeram suicídio, dei

xando Otaviano como líder inconteste de Roma. RG

Page 68: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

30 A.C. 30 DE AGOSTO

A morte de Cleópatra A derrota do último faraó marca o fim de uma era no Egito.

Ires mil anos de um Egito unificado e independente terminaram quando - segundo Shakespeare, pelo menos - Cleópatra VII levou ao seio uma serpente ve ­nenosa. Esse ato foi provocado pela derrota de suas forças - suas e de seu amante romano, Marco Antônio

por Otaviano na Batalha de Ácio. Cleópatra foi a últi­ma dos faraós. Embora Cesário, seu filho com Júlio I ésar, tio de Otaviano, tenha sido proclamado líder I >or um breve período, ele logo foi executado e o Egito lornou-se uma província de Roma. Otaviano não de ­moraria a adotar o tílulo de Augusto, instaurando as-Sim o Império Romano.

Em 51 a.C, Cleópatra, então com 17 anos, g o ­vernava juntamente com o irmão de 10 anos, Ptolo­meu XIII. Três anos mais tarde, ela foi forçada a de i ­tar o Egito. Depois de Pto lomeu provocar a fúria de lúlio César ao mandar decapitar seu rival Pompeu , ( Jeópatra conquistou os favores de César ao ser le ­vada até seus aposentos enrolada e m um tapete. Os dois se tornaram amantes, e César ajudou a recolo-i á-la no trono egípcio.

Depois do assassinato de César em 44 a.C, Marco Antônio, um dos triúnviros, convocou Cleópatra para avaliar sua lealdade, e ela o seduziu. Os dois se casa-iam em 37 a.C. e tiveram três filhos. Supunha-se que estivessem formando um império para rivalizar com Roma, então Otaviano decidiu combatê-los, levando a derrota e ao subseqüente suicídio do casal.

A julgar por suas representações, é pouco prová­vel que Cleópatra tenha sido a beldade que a lenda imortalizou. Ela não era de origem egípcia e sim o último membro da dinastia ptolomaica grega. P F

O Detalhe de A morte de Cleópatra, pintado em 1658 pelo artista

barroco italiano GuidoCagnacci (1601-1663).

27 A.C. 13 DE J A N E I R O

Nasce um império O governo de Otaviano estabelece as bases do Império Romano.

Caio Otaviano (ou Otávio) era sobrinho-neto, filho ado

tivo e herdeiro de Júlio César. Embora tivesse apei i, i\ ln

anos quando César foi assassinado, passou a dividii 0

poder com Marco Antônio e Lépido. No entanto, quari

do Antônio casou-se com Cleópatra e buscou lundu

um império no Egito, Otaviano o enfrentou e vem eu

em Ai io, tornando-se de íato a única autoridade r m

Roma. Porém, enquanto os poderes ditatoriais de ( ésai

haviam desafiado o sistema político romano tradii lonal,

Otaviano tomou cuidado para restaurara aparência ex

terna da Constituição republicana.

"Por minha própria iniciativa, reuni um exército com o qual libertei o Estado." Feitos do divino Augusto, Inscr i ção , 14 d.C.

Em janeiro de 27 a.C, Otaviano foi ao Senado abtíi

mão de seus poderes. Como não lhe permitiram la/ê

Io, ele aceitou o comando de várias províncias e os IIIU

los de "Princeps" (primeiro cidadão, o que o tornav i d e

fato um monarca vitalício) e "Augustus" (ilustre). Em ho

menagem ao pai adotivo, acrescentou ao próprio I íiuli >

o nome de César, que com o tempo passou a signifn ai

a autoridade imperial. Uma coroa de louros foi colocada

à porta de sua casa, transformando-a na sede oficial di >

poder. O Senado então lhe prestou um juramenii > de

fidelidade como "Imperator". Com o passar dos anos,

ele se tornou cada vez mais poderoso. Como controla

va as legiões e a Guarda Pretoriana, a oposição do Sena­

do tornou-se impossível. Otaviano foi imperadot em

tudo menos no nome, e seu governo marca o ink Io do

Império Romano. P F

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A cidade de Trier é fundada em solo sagrado Trier, capital setentrional de Roma, é fundada e cresce até se tornar uma próspera cidade.

O Um dos raros afrescos, de c. 200 d.C, que sobreviveram na Villa Rústico, antiga cidade de Augusta Trevevorum.

Quando o primeiro imperador romano, Augusto, or­denou a construção da cidade de Augusta Trevevo­rum, e m 16 a.C, não poderia saber como ela um dia iria se tornar influente. Edincada no local de um san­tuário sagrado dos tréveros, antiga tribo germânica, às margens do rio Mosela, a cidade ocupava uma po ­sição estratégica importante em uma rota comercial consolidada.

Apesar de uma possível hostilidade local a essa vio­lação de um santuário, a nova cidade logo prosperou - no século II d.C.Tréveris (comoTrier era então conhe­cida) tornou-se capital da divisão belga da Gália romana antes de se transformar, no século III, na sede da corte do imperador Diocleciano e capital do Império Roma­no do Ocidente. Trier foi a cidade natal de Santo Ambró-

sio, sede de alguns dos primeiros bispados e um impor­tante centro de propagação do cristianismo.

O status da cidade como centro devocional sobre­viveu às invasões francas e ao colapso do Império Ro­mano do Ocidente. Alçada à condição de arcebispado em 815, seus arcebispos tornaram-se no século XII elei­tores do Sacro Imperador Romano.

A cidade prosperou como centro comercial e cul­tural no início do período moderno, e sua universidade foi fundada em 1473. Ocupada pelos franceses durante as guerras revolucionárias, Trier caiu sob domínio prus­siano após a derrota de Napoleão em 1815. Em 1818, ali nasceu Karl Marx. Trier hoje faz parte da região alemã da Renânia-Palatinado, e celebrou seu aniversário de dois mil anos em 1984. T B

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CERCA DE 4 A.C. 6 DE JANE IRO

0 nascimento de Jesus Cristo Nasce Jesus de Nazaré, personagem central do cristianismo.

O Adoração do menino (c. 1620), de Gerrit van Honthorst (1590-1656), também conhecido como Guerardo delle Notti.

Identificar a data exata do nascimento de Jesus Cristo

não é uma tarefa fácil. O Novo Testamento insiste que

foi durante o reinado de Herodes, governante da Judéia

por mais de 30 anos, durante os quais reconstruiu o

templo de Jerusalém e ergueu grandes palácios e forta­

lezas no deserto ao redor da cidade. Infelizmente para a

I ronologia tradicional, Herodes morreu e m 4 a.C, qua-

t to anos antes da data habitualmente aceita para o nas-

• imento de Jesus. Não existe nenhum outro indício

histórico que não as narrativas bíblicas.

O imperador romano Augusto tinha um governa­

dor na Síria chamado Quirino, que decretou que seus

( idadãos deveriam ser taxados, mas isso aconteceu

I ior volta de 6 d.C, 10 anos depois da morte de Hero­

des. E não há indícios de que ele tenha obrigado as

pessoas a voltarem para suas residências originais.

Tampouco há indícios de uma visita à Judéia p o i p a i te

de três sábios ou de um massacre de crianças perpe­

trado por Herodes.

Nada disso pretende negar que de fato tenha nasci­

do por volta dessa época um menino que se tornou um

poderoso pregador e curador e cuja morte cerca de 30

anos mais tarde conduziu a extraordinárias mudanças

A viagem para Belém, a hospedaria, os pastores, os ma

gos, a fuga para o Egito provavelmente são acréscimos

mitológicos. Os Evangelhos não fornecem nenhuma

indicação do mês - nem seguerda estação do ano - do

nascimento de Cristo. Os cristãos primitivos celebravam

a data em 6 de janeiro, mas, a partir do século IV, p a s s e >i i

a ser comemorada no dia 25 de dezembro. P F

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Massacre na floresta Três legiões romanas sucumbem na floresta de Teutoburgo.

"No centro do campo de batalha havia ossos humanos

embranquecidos... espalhados em desordem ou e m ­

pilhados. Por perto havia fragmentos de armas e patas

de cavalos, e também cabeças humanas pregadas aos

troncos das árvores." Segundo o historiador Tácito, era

essa a cena na floresta de Teutoburgo, Alemanha, no

ano 15 d.C. Seis anos antes, aquele fora o local do de ­

sastre militar mais retumbante do Império Romano.

Roma partiu para a conquista da região localizada

entre os rios Reno e Elba em 12 a.C. Parecia que as tribos

germânicas selvagens logo iriam sucumbir ao domínio

"O exército romano... tomado de tristeza e raiva, enterrou os ossos das três legiões." Tác i to (c. 56-117), Anais

romano. De fato, quando Públio Quintílio Varo coman­

dou as operações da décima sétima, décima oitava e

décima nona legiões no ano 9, seus legionários se fize­

ram acompanhar por auxiliares locais liderados por seu

chefe, Armlnio, ele próprio cidadão romano. À medida

que os legionários foram chegando perto do Reno, po ­

rém, Armínio e seus auxiliares desertaram.

Atrapalhadas por um longo comboio de baga­

gens e por numerosos seguidores, as legiões se e m ­

brenharam na floresta. Os guerreiros montados de

Armínio infernizaram a lenta coluna até a força roma­

na ficar tão fraca que foi sobrepujada. Houve poucos

sobreviventes, e Varo se matou. O idoso imperador

Augusto nunca se recuperou do choque de perder

três legiões, e o Reno continuou a dividir os mundos

romano e "bárbaro". R G

CERCA DE 30 D.C. 13 DE ABR IL

Cristo ressuscita Jesus é enterrado e, no terceiro dia, retorna dos mortos.

Embora ninguém tenha visto o que aconteceu, e pouco

mais de uma vintena de pessoas alegue ter tido qual­

quer indício direto posterior, o desaparecimenio do

corpo de Jesus do túmulo, bem como a convicção de

seus discípulos de que ele depois veio visitá-los, prova­

velmente mudou o mundo. Milhões de pessoas encon­

traram na verdade literal desse acontecimento aparen­

temente impossível uma crença direta e pessoal, com

efeitos dramáticos em sua moralidade, cultura e com­

portamento ético e político.

Jesus, carismático curador e pregador apocalíptico

itinerante da província romana da Judéia, perturbou a

estrutura religiosa judaica ao desprezar de forma deli

berada muitas práticas tradicionais e ao alegar que seus

ensinamentos suplantavam as leis de Moisés nas quais

estava baseado o judaísmo. Sua última visita a Jerusa­

lém, para o festival de Pessach (a data é inexata, mas o

mais provável é que tenha sido em 30 d.C), foi interpre­

tada como um confronto intencional. O Sinédrio e o

sumo sacerdote condenaram-no e pediram ajuda ao

governador romano, e Jesus foi morto por crucificaçâo.

Sepultado em um túmulo particular por um aliado, mas

vigiado por soldados romanos, seu corpo desapareceu

três dias depois. Nesse dia, assim c o m o e m diversas

ocasiões nos meses subseqüentes, seus amigos tiveram

certeza de tê-lo visto com vida. A primeira foi Maria Ma­

dalena, seguida por Pedro e outros discípulos.

Conseqüentemente, os seguidores de Jesus reava­

liaram seus ensinamentos e sua morte, passando a vê-

los como uma mensagem singular de Deus, poderosa,

otimista e transformadora, que continua até hoje a exer­

cer grande atração sobre as pessoas. P F

O Jesus Cristo ressuscitado resplandece em uma tapeçaria

bruxelense do século XVI, hoje no Museu do Vaticano.

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Uma luz ofuscante atinge Saulo Após uma revelação a caminho de Damasco, Saulo torna-se Paulo e começa a propagar a palavra de Cristo pelo Mediterrâneo Oriental.

Uma das histórias mais dramáticas da Bíblia é também uma das mais significativas do ponto de vista histórico. Segundo os Atos dos Apóstolos, Saulo, um fabricante de tendas deTarso, na Ásia Menor, viveu uma experiên­cia dramática quando se achava a caminho de Damas­co. Ele descreveu o ocorrido dizendo ter sido atingido por uma luz ofuscante e ouvido a voz de Jesus.

Temporariamente cego, Saulo foi levado para Da­masco, onde um adepto do cristianismo chamado Ananias o curou. I le então foi batizado com o nome Paulo e passou do mais ávido perseguidor da Igreja Cristã a seu mais incansável defensor. Quando jovem, nos primeiros anos após a crucificação de Jesus, Saulo havia decidido destruir a recém-criada comunidade cristã. Mas ele passaria o resto da vida percorrendo o Mediterrâneo Oriental para pregar a fé em Cristo, visi­tar comunidades cristãs recém-criadas e apoiá-las em seus esforços para praticar os ensinamentos de Jesus. Enquanto isso, definiu a natureza do cristianismo, fa­zendo-o ultrapassar as fronteiras da comunidade j u ­daica e tornando-o palatável para outras culturas.

Enquanto muitos dos outros líderes da Igreja primi­tiva haviam conhecido Jesus pessoalmente, a experiên­cia que Paulo tinha dele limitava-se à revelação a caminho de Damasco. Talvez como resultado disso, ele enfatizava o poder transformador da fé no Cristo ressuscitado mais do que as palavras e feitos de Jesus e m vida. Embora as cartas de Paulo sejam os registros cristãos mais antigos que se conhece, compilados uma geração antes dos Evangelhos, elas contêm um nú ­mero surpreendentemente pequeno de referências à vida e aos ensinamentos de Jesus. P F

O Conversão de São Paulo, por Ludovico Carraccí (1555-1619),

conservado na Pinacoteca Nazionale de Bolonha.

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A Britânia se rende Onze tribos britânicas se submetem ao domínio do imperador romano Cláudio.

No final do ano 43, o imperador romano Cláudio re­

cebeu a rendição de 11 tribos do sul da Britânia e m

Camulodunum (atual Colchester). Esse fato marcou o

Início da ocupação romana da Britânia, que duraria

quase 400 anos.

Havia muito tempo que a ilha já tinha contato om o mundo governado pelos romanos na Europa

Continental, e algumas tribos britânicas pagavam li butos a esses poderosos vizinhos. O pretexto para a invasão romana de 43 foi uma disputa entre chefes I ribais britânicos. Vérica, líder dos atrébates e fiel aliado de Roma, havia sido derrotado e exilado pelos < atu vellauni liderados por Carátaco. Cláudio, imperador marcadamente não-guerreiro em busca de uma opor-iunidade para demonstrar suas proezas militares, de-idiu vingar a expulsão de Vérica.

Uma grande força de invasão zarpou pelo canal da Mancha sob o comando de Aulo Pláucio. Não está claro onde os legionários desembarcaram, mas Rich-borough, em Kent, é um local possível. Apesar de con ­fiar em táticas de guerrilha para repelir os invasores, os hretões travaram duas batalhas contra o inimigo e fo-iam derrotados, em ambas primeiro no rio Medway, depois em uma passagem do Tâmisa. Quando Cláu-lio chegou, supostamente trazendo elefantes de

guerra junto com seus soldados, a capital dos catu-vellauni, Camulodunum, estava indefesa e foi ocupa­da pelo imperador sem derramamento de sangue.

Cláudio passou apenas 16 dias na Britânia, mas, segundo o biógrafo Suetônio, ao voltar para Roma "celebrou um triunfo de grande esplendor". Na Britâ­nia, a resistência à conquista romana prosseguiu, mas sem sucesso. Em quatro anos, toda a região ao sul de uma linha que ia do estuário de Humber ao rio Severn já havia sido "pacificada". R G

Regras da conversão O Concilio Apostólico decreta que os gentios podem se converterão cristianismo.

A decisão do Concilio Apostólico em 51 depermiüi qu i

gentios se convertessem ao cristianismo sem antes se

converterem ao judaísmo foi vista como um momenii i

crucial na missão da Igreja. Depois disso, ele deixou di •

ser uma seita limitada ao mundo judaico e se ti irni n I

uma religião com ensinamentos de relevância univcisal

Nos primeiros anos da Igreja Cristã houve disputas

em relação à natureza da nova fé. As mais imporlanies

diziam respeito à sua relação com o judaísmo, do qual

havia nascido. À medida que os apóstolos c o m e t a m n

a pregar a fé no Cristo além das fronteiras da comunida

de judaica, uma difícil questão surgiu. Tiago, o lusii >,

conhecido como "irmão de Jesus" e rigoroso líder da

Igreja em lerusalém, acreditava que um gentio devei ia

primeiro se converter ao judaísmo - e especificamenie

ser circuncidado - antes de se tornar cristão. Paulo, | >< >

rém, ensinava que um gentio podia se converter dirola

mente ao cristianismo.

Um concilio de apóstolos se reuniu para solucionai

a questão em Jerusalém, onde um grupo de f a i i s e u s

convertidos tinha poderosa influência sobre os assim

tos da Igreja. Após longa discussão, Pedro, nomeado

por Jesus o chefe dos cristãos, decidiu que a circui i< is, i< >

não era necessária para a conversão, e Tiago acabou

concordando. No Decreto Apostólico, o concilio dei i

diu que, embora a circuncisão não fosse obrigatória,

seria de esperar que os gentios fizessem alguns sacrifí

cios como "abster-se de alimentos conspurcados poi

ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animar, e s

trangulados e do sangue".

Esse decreto foi levado por Paulo, Barnabé e dois

outros até Antioquia, lido diante dos membros da ie

cém-criada igreja da cidade e transmitido a outras. Com

o tempo, ficou claro que o próprio Paulo era bem pou

co rigoroso em relação às restrições alimentares. P F

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64 18 DE J U L H O

Nero vê Roma arder em chamas O imperador culpa os cristãos pelo incêndio que devastou a Cidade Eterna.

Em uma noite quente de julho no ano de 64, algumas

lojas precárias pegaram fogo perto do Circo Máximo de

Roma. O fogo logo se alastrou pela cidade e ardeu du ­

rante nove dias antes de se apagar. Embora não haja

relatos contemporâneos do desastre, um relato poste­

rior do historiador Tácito, que testemunhou o incêndio

aos 9 anos de idade, afirma que dois terços da Cidade

Eterna foram destruídos, incluindo milhares de insulae

(quarteirões), que abrigavam a maioria dos habitantes.

Dez dos distritos romanos foram destruídos e

boa parte da população de dois milhões de pessoas

da cidade ficou desabrigada. Os antigos templos de

Júpiter Stator e o Atrium Vesta, residência das virgens

vestais, t ambém foram destruídos. Segundo relatos,

o imperador Nero, que gozava de uma pouco invejá­

vel reputação de megalomania e crueldade, ficou

olhando as labaredas de um ponto elevado, admiran­

do o fogo como um espetáculo estético e tocando

sua lira para acompanhar o incêndio. Seja isso verdade

ou não, ele acolheu desabrigados em seu palácio e

organizou o socorro às vítimas. Depois do incèncio,

mandou reconstruir a cidade em pedra e organizou-a

e m quarteirões, reservando um grande espaço com

cerca de 142 hectares, ou um terço da área total da ci ­

dade, para o seu luxuoso palácio, o Domus Áurea.

A causa do incèncio nunca ficou esclarecida e pode.

muito bem ter sido acidental. Muitos cidadãos acredita­

vam que o responsável fosse o próprio Nero - acusação

repetida pelo historiador Suetônio, que tinha poucas

coisas boas a dizer sobre o imperador. Tácito sugeriu

que, diante dessas acusações, o pouco popular impera­

dor culpou a seita cristã (que esperava o fim iminente do

mundo e considerava o materialista Império Romano

uma obra do demônio). Como punição, Nero deu início

a uma onda de perseguição que levou cristãos a serem

jogados aos leões pela primeira vez. P F

O Nero teria "tocado música" enquanto Roma era destruída

pelo fogo; ele culpou os cristãos pelo incêndio.

"Nero pôs a culpa e infligiu as mais cruéis torturas... aos cristãos." Tác i to (c. 56 - c. 117), Anais

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6 4 13 DE O U T U B R O

Pedro é crucificado de cabeça para baixo O "primeiro chefe visível"do cristianismo encontra seu fim em Roma.

I m 64, Pedro foi condenado à morte como um dos

muitos cristãos culpados por Nero pelo grande incên­

dio que havia destruído grande parte da cidade. Segun­

do o estudioso cristão Orígenes, ele foi pregado de ca­

beça para baixo na cruz. Supostamente, isso se deveu a

um pedido do próprio Pedro, para garantir que o seu

i lestino não reproduzisse de forma exata o do próprio

lesus. Tradicionalmente, diz-se que Paulo teria sido de-

i apitado ao mesmo tempo que Pedro era pregado na

cruz - talvez até no mesmo dia.

O pescador Simão Pedro, descrito na Bíblia como o

primeiro dos discípulos, recebeu a tarefa de ser a petrus

(a pedra) sobre a qual a igreja seria construída. Nos anos

após a morte de Jesus, ele e Paulo competiram pela II-

i lerança da comunidade cristã em seus primórdios. Pe­

dro teve papel crucial na decisão de propagar a notícia

dos ensinamentos e da ressurreição de Jesus além das

íronteiras do mundo judaico e aparentemente viajou e

pregou pela Síria e pela Grécia. Mudou-se para Roma

em 42 e provavelmente ali viveu como líder da Igreja

Romana nascente. No final da década de 40, o impera­

dor Cláudio expulsou judeus e cristãos da cidade por

causa de suas disputas, e eles só puderam retornar em

56. Pouco mais se sabe da época em que Pedro viveu

em Roma ou do local onde teria liderado a sua Igreja.

Para os primeiros cristãos, a morte de um mártir

não era buscada deliberadamente, como talvez tenha

sido o caso mais tarde no Império Romano, e tampouco

totalmente inesperada. Mas a crucificação proporcio­

nava o consolo de compartilhar o destino do mestre

lesus. O corpo de Pedro foi recolhido e enterrado por

seus seguidores, e a Basílica de São Pedro, no Vaticano,

foi construída pelo imperador Constantino no local

onde, segundo a tradição, ele havia sido sepultado. O

túmulo e seus restos mortais foram aparentemente

descobertos em 1950. P F

h 2 *

O A crucificaçáo de São Pedro (1601 -1602), por Caravaggio,

conservado na Igreja de Santa Maria dei Popolo, em Roma.

"Pedro, por inveja injustifi­cada... partiu rumo ao seu merecido lugar de glória." Clemente de Roma (morto c. 99), Primeira Epístola

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70 7 DE SETEMBRO

Tito conquista Jerusalém Os romanos forçam os rebeldes judeus a se render em Jerusalém.

0 antigo reino judaico da Judéia havia passado ao con­

trole romano direto em 4 a.C, mas os judeus tinham

uma identidade religiosa demasiado forte para pode-

lem ser assimilados ao Império Romano. Uma rebelião

estourou em 66, e em 69 Vespasiano, que acabara de

issumir o império e derrotara os rebeldes no norte da

ludéia, enviou o filho Tito para aplacar a revolta em Je-

usalém. No dia 7 de setembro de 70, após quase cinco

meses de cerco romano, a cidade se rendeu.

A população de Jerusalém contava cerca de 600

mil pessoas. I lavia em torno de /'> mil lebeldes atina

dos, liderados por Simon bar Giora e João de Gischala.

Apesar de sua experiência e m guerras de cerco, os ro­

manos penaram para subjugar a cidade, em parte por

ela ser dividida e m distritos murados que tinham de

ser invadidos um a um. Pouco depois de iniciado o

cerco, os víveres acabaram. Enlouquecidos de fome,

ilguns moradores tentaram fugir, mas foram captura­

dos pelos romanos e crucificados à vista dos defenso­

res da cidade.

Durante o mês de agosto, os romanos entraram à

força no Grande Templo, sede dos rituais da religião ju ­

daica. Ele foi incendiado, e seus receptáculos sagrados

saqueados. Alguns rebeldes sobreviventes buscaram

abrigo nos esgotos da cidade antiga, mas em 7 de se­

tembro não houve outra alternativa a não ser se render.

João de Gischala foi condenado à prisão perpétua, e

Simon bar Giora levado para Roma, onde serviu de atra­

ção no triunfo organizado por Vespasiano e Tito, sendo

em seguida estrangulado. Estima-se que 97 mil judeus

tenham sido aprisionados - e muitos usados como

mão-de-obra escrava na construção do Coliseu. R G

O Um manuscrito mostra Flávio Josefo sendo levado até diante

de Tito durante o cerco a Jerusalém em 70.

73 15 DE ABR I L

Massacre em Massada O cerco romano a um enclave judaico termina em massacre e suicídio.

Em 15 de abril de 73, em uma fortaleza no alto de

uma colina junto ao mar Morto, então parte da pro­

víncia romana da Judéia, 960 judeus tiveram uma

morte terrível ordenada por seu líder. Eles perten­

ciam a um grupo de extremistas conhecido como

sicários. Comandados por Eleazar ben Yair, desafia

ram o domínio romano na Judéia mesmo depois do

fracasso da revolta judaica de 66 a 70.

A fortaleza que os sicários ocupavam e m Massa­da parecia impenetrável. Celeiros e cisternas garan­tiam um fornecimento efk az de comida e água, per-

"Infelizes de fato foram os ho­mens cuja situação os obrigou a matar as próprias esposas." J o se fo , A guerra judaica (c. 75)

mitindo que os rebeldes sobrevivessem a um cerco de muitos anos. O único caminho para subir as coli­nas era precário e exposto a ataques. No entanto, durante o inverno de 72 para 73, os legionários roma­nos construíram uma grande rampa que subia do vale até 0 alto da colina 200 metros acima. Na prima­vera, conseguiram transportar uma torre de assalto equipada com poderosas catapultas e um aríete para derrubar muralhas.

Diante da derrota, Eleazar convenceu seus segui dores de que o suicídio era melhor do que cair nas mãos dos romanos. Dez guerreiros sicários sorteados receberam a tarefa de matar os demais e em seguida uns aos outros. Segundo o historiador judeu Josefo, os romanos ficaram "perplexos diante de tamanho desdém pela morte". R G

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79 24 DE AGOSTO

Erupção do Vesúvio mata milhares de pessoas O Império Romano assiste a um de seus piores desastres naturais na Baía de Nápoles.

O Representação da erupção do Vesúvio vista da baía de

Nápoles, por Jean-Baptiste Genillion (1750-1829).

O Molde em gesso de uma pessoa enterrada viva pela

cinza quente.

"...prenderam almofadas na cabeça para se proteger das pedras que caíam..." P l í n io , o M o ç o , r e l a to c o n t e m p o r â n e o

Fazia apenas 17 anos que a região fora vítima de um terremoto catastrófico, e os tremores de terra tinham recomeçado poucos dias antes. Mesmo assim, os ha­bitantes de Pompéia, Herculano e outras cidades e m torno da baía de Nápoles foram pegos de surpresa pela dramática explosão do aparentemente extinto vulcão pouco depois do meio-dia de 24 de agosto de 79. Uma imensa nuvem de fumaça e cinzas e le­vou-se 30 quilômetros no céu e em seguida caiu so­bre a cidade, formando uma camada de pedra-po-mes de 3 metros.

O naturalista Plínio, o Velho, almirante da marinha e m Miseno, perto dali, organizou uma operação de socorro, mas depois insistiu para ver a nuvem de perto e morreu na praia no dia seguinte. Seu sobrinho, Plínio, o Moço, lembrou o momento da erupção: "Parecia uma árvore de topa larg.i que subia até bem alio na forma de um tronco comprido e depois se abria for­mando galhos. Às vezes parecia clara, outras vezes escura e sarapintada, conforme estivesse mais ou m e ­nos impregnada de terra e cinzas."

Nesse dia, uma nuvem tóxica de gases e m c o m ­bustão cobriu a montanha e submergiu todos que haviam ficado em Pompéia. Tanto Pompéia quanto Herculano foram soterradas e passaram séculos es­quecidas. O desastre foi grande demais para que o Estado romano pudesse organizar qualquer operação de recuperação significativa. Estima-se que 20 mil pessoas tenham morrido e m dois dias, a maioria devi ­do à inalação de gases tóxicos.

As ruínas de Pompéia só foram redescobertas e m 1748, e o trabalho arqueológico prossegue desde então. Em meados do século XIX, moldes de gesso dos buracos encontrados na cinza petrificada cria­ram imagens perturbadoramente vividas dos mora­dores da cidade e m seus momentos finais. P F

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Abertura do Coliseu As multidões romanas ganham 100 dias de jogos para seu divertimento.

I grande anfiteatro da Roma antiga demorou 10 anos

-ara ser construído. Com quase 200 metros de extensão

c capacidade para mais de 50 mil espectadores senta­

dos, foi erguido e m um local que havia sido destruído

« Io incèncio durante o governo de Nero. A arena foi

inaugurada no primeiro ano do imperador Tito, iniciado

i om grandes desastres, incluindo a erupção do Vesúvio

i |ue destruiu Pompéia e Herculano e um surto de peste

i n Roma. Por esse motivo, os jogos inaugurais foram

istos como uma tentativa de reverter o ambiente de

i ise e, quem sabe, aplacar os deuses.

Os jogos duraram 100 dias. Pela manhã havia espe-

i iculos com animais nos quais diferentes espécies eram

D s t a s na arena para caçarem e lutarem umas com as

• >utras e à tarde eram apresentados combates entre gla-

i liadores. Diz-se que mais de nove mil animais foram

11 lortos durante esses jogos inaugurais.

Inicialmente chamada de Anfiteatro Flaviano, a are-

i ia tornou-se mais tarde conhecida como Coliseu em

homenagem à estátua colossal de Nero que ficava ali

erto. Primeiro anfiteatro a ser construído no coração

i Ia cidade, foi pago em parte com os tesouros trazidos

(Io Templo de Jerusalém, saqueado em 70. Mais tarde,

sob o imperador Domiciano, acrescentou-se mais um

. II idar para aumentar sua capacidade, assim como um

1 1 implexo subterrâneo de túneis ejaulas para animais.

Dizem que muitos cristãos teriam sido martirizados

1 0 Coliseu, mas existem poucos indícios dessa prática,

lambem já foi dito que a arena podia ser enchida com

ii tua para apresentar combates navais, mas muitos his­

toriadores consideram isso improvável. O Coliseu conti-

11 IOU a ser usado pelo menos até o século V. P F

O Corte em litografia do Coliseu, anfiteatro construído no

coração de Roma sob o imperador Tito.

Adriano imperador O novo governante começa a reforçar a fronteira do Império.

Adriano tornou-se imperador após a morte de Traja-

no e m 117 na Cilícia (sul da Turquia). Alguns di/em

que Trajano já havia nomeado herdeiro o pupilo e

protegido Adriano, mas, segundo o historiador Dião

Cássio, foi a imperatriz Plotina quem arquitetou a M I

cessão: ela comunicou a adoção de Adriano ao Sena­

do de Roma e só após a sucessão estar garantiria i r

velou a morte de Trajano.

Sob Trajano (que governou de 97 a 117), as froí ili 'i

ras do Império alcançaram sua maior extensão. Adria

no achava que o Império se tornara grande demais

"E partiu rumo à Britânia, pôs as coisas em ordem e construiu uma muralha." Historia Augusta, Vida de Adriano

para ser governado, e um de seus primeiros atos li il

abandonai a Dácia, território ao norte do Danúbio,

gue Trajano havia incorporado ao Império apenas I',

anos antes. Adriano também abriu mão de territórios

conquistados recentemente no leste, trazendo a fron

teira oriental d e Roma novamente para a o Eufrates

Para fortificar suas defesas setentrionais, mandou eri­

gir uma barreira de 485 km de extensão feita de terra

e madeira entre os rios Danúbio e Reno, na Alemanha,

mas é pela Muralha de Adriano que é mais lembrado.

Essa impressionante barreira d e pedra se estendia

128 km pelo norte da Britânia, com torres dispostas a

intervalos regulares para proporcionar postos d o

observação e fortes para os soldados. Grandes trechos

da muralha, que levou menos de 10 anos para ser

construída, continuam de pé até hoje. S K

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Os judeus são massacrados e forçados a fugir A Revolta de Bar Kokhba faz os romanos expulsarem os judeus de Jerusalém e o imperador Adriano banir o judaísmo.

A província romana da Judéia sempre havia sido um

problema para os romanos, mesmo depois da destrui­

ção de Jerusalém em 70. Na única guerra importante

de seu reinado, o imperador Adriano sofreu graves re­

veses durante a Revolta de Bar Kokhba, mas acabou

reconquistando Jerusalém e m 135.

Em 130, Adriano visitou as ruínas da cidade e pro­

meteu reconstruí-la. Quando os judeus se deram conta

de que ele pretendia mudar o nome da cidade para Ae-

lia Capitolina e dedicar seu principal templo a Júpiter,

rebeldes indignados iniciaram uma nova revolta e, du ­

rante dois anos, fundaram um Estado independente.

Adriano reuniu um grande exército para conter o levan­

te, conhecido como Revolta de Bar Kokhba, que deve

si s i nome ao < omandante Simão bar Kokhba, que mui

tos viam como o Messias judaico. A fortaleza de Betar foi

o último bastião de resistência dos rebeldes, que acaba­

ram subjugados e mortos. É possível que meio milhão

de judeus tenha morrido nos combates.

Adriano então decretou que o judaísmo era contra

a lei, banindo a lei da Torá e queimando o pergaminho

sagrado. Ele proibiu os judeus de entrarem em Aelia Ca­

pitolina e rebatizou a província da Judéia, que então

abrigava poucas comunidades judaicas enfraquecidas,

de Síria Palestina. Muitos judeus foram escravizados e

mandados para longe. Isso foi considerado o início da

dispersão ou diáspora dos judeus pelo Oriente Médio e

pelo mundo mediterrâneo, que caracterizou sua situa­

ção durante toda a Idade Média e até a fundação do

moderno Estado de Israel, e m 1948. P F

O Miniatura pintada em 1927 por Arthur Szyk mostrando Simão

bar Kokhba em combate contra os romanos.

O Antigo armazém subterrâneo de azeite usado pelos rebeldes

de Bar Kokhba como túnel de fuga e esconderijo.

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0 Japão seduz a China A rainha Himiko estabelece relações diplomáticas entre o Japão e a China.

1 m 238, embaixadores da rainha Himiko de Yamatai

(ou Yamaichi), da terra de Wa (Japão), chegaram à corte

l hinesa trazendo de presente quatro escravos, seis es-

< ravas e duas peças de tecido estampado para o impe­

rador chinês. Presentes como esses de governantes

I >árbaros" eram sempre considerados tributos ofereci-

i los ao imperador em sinal de submissão, e a rainha foi

recompensada com as ninharias de praxe: um título e

uma medalha de ouro. A troca marcou a saída do Ja-

I )ão da pré-história. Pouco depois, em 240, uma embai ­

xada chinesa foi visitar a rainha Himiko e saber mais

"Nós lhe conferimos assim 0 título de Rainha de Wa, Amiga dos Wei." Decreto do imperador Wudi para a rainha Himiko

sobre o seu reino. Seu relatório constitui o mais antigo

(locumento escrito detalhado sobre o Japão.

Diz-se que Himiko havia se tornado rainha lan­

ando mão de feitiçaria e magia. Embora de idade

madura, ela não era casada e raramente era vista em

1 lúblico, usando o irmão como intermediário para se

i omunicar c om os súditos. O reino de Himiko era

i ima confederação de 30 tribos unidas pela autorida­

de religiosa da soberana. Historiadores japoneses

lebatem a localização de Yamatai/Yamaichi. A maio­

ria acredita que Yamatai pode ser identificada como

Yamato, próximo a Osaka, no centro de Honshu, que

era a capital no século VI. As planícies ao redor de

Yamato são coalhadas de montes fúnebres, e acredi­

ta-se que o maior deles abrigue os restos mortais dos

I irimeiros governantes do Japão. S K

Início da nova era de Roma Jogos anunciam um novo começo, mas o futuro de Roma não é brilhante.

Em 248, os ludi saeculares (jogos seculares) organiza

dos pelo imperador Filipe, o Árabe, marcaram a co ­

memoração dos mil anos de fundação de Roma pi i|

Rômulo em 753 a.C. Tradicionalmente, o início de um

saeculum novum (nova era) - período próximo da

mais longa vida humana e m uma geração, calculado

e m diferentes épocas como 90,100 ou l l O a n o s - e r a

celebrado e m Roma com jogos que duravam três

dias. O imperador Augusto havia ressuscitado os jo ­

gos e m 17 a.C, com sacrifícios, corridas de biga, exibi

ções de caça e espetáculos teatrais.

"Passados 110 anos... não se esqueçam, romanos, de fazer as devidas oferendas." Oráculo de Sibila, Zózimo, História nova, o 500

Segundo contemporâneos, mais de mil gladia­

dores, além de centenas de animais exóticos trazidos

da África - hipopótamos, leopardos, leões, girafas a

até mesmo um rinoceronte -, foram mortos diante

do público do Coliseu em 248.

Apesar do saeculum novum, a sorte de Roma es­

tava e m baixa. Filipe foi um dos 26 imperadoi ' " , ,i

governar entre 235 e 285 por, em média, menos de

dois anos cada. Ele havia subido ao poder em 244

depois de assassinar Gordiano III, imperador adoles

cente do qual era regente. As revoltas contra Filipe

prosseguiram até mesmo durante as comemorações

do milênio de Roma. Em 249, Décio, senador de con

fiança que ele enviou para angariar lealdade das tro­

pas, foi proclamado imperador pelo exército. I lllpi

morreu e m combate em Verona. J H

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260 J U N H O

anquinho humano Jogado aos leões 0 imperador romano Valeriano é derro­tado e capturado pelos persas em Edessa.

A época era certamente propícia. O terceiro século foi

um dos mais turbulentos ria história romana. Uma

ombinação de invasões de bárbaros germânicos, in­

flação descontrolada e guerra civil havia conduzido o

Império à beira do colapso. Os romanos estavam com

pouca sorte e, em 260, o imperador Valeriano foi der-

lotado pelo rei persa Shapur I em Edessa (atual Urfa, na

Turquia). Valeriano foi preso e submetido a humilha­

ções diversas, entre as quais, diz-se, ser usado como

banquinho humano. Ele morreu no cativeiro.

Após sua < onquisia poi Alexandtc, o Gtande, no

século IV a.C, a Pérsia foi governada por dinastias es­

trangeiras até 224-226, quando os sassânidas subi­

ram ao poder. Cheios de vigor e ambição, eles pre­

tendiam recuperar o status de superpotência do qual

a Pérsia gozava sob a dinastia dos aquemênidas (559-J>30 a.C). Isso tornou inevitável um conflito com

Roma, já que a Ásia Menor, a Síria, a Palestina e o Egi­

to - todos antes governados pela Pérsia - faziam par-

te do Império Romano.

Em 258, o rei Shapur conquistou a Armênia, aliada

de Roma, e avançou rumo ao Mediterrâneo, capturando

1 cidade síria de Antioquia. O imperador romano Valeria­

no lançou um contra-ataque, reconquistando Antioquia

i ' obrigando Shapur a recuar para o outro lado do Eufra-

tes. Valeriano foi derrotado em Edessa. Depois da bata­

lha, a sorte de Roma piorou ainda mais. A Britânia e a

Gália declararam independência, e os Trinta Tiranos pas­

saram a disputar o poder no Oriente. Em 261, Shapur foi

derrotado por Odenato, rei árabe romanizado de Palmi-

ra. Os romanos recuperaram o controle da região em

274 ao derrotarem Zenóbia, a viúva de Odenato. J H

O O imperador Valeriano capturado e maltratado pelos persas,

gravura em cobre de 1630, por Mattháus Merian, o Velho.

O primeiro édito de Diocleciano contra os cristãos dá início à perseguição.

Os motivos que levaram o imperador romano Diocle­

ciano a dar início à última grande perseguição aos cris­

tãos permanecem obscuros. No total, ele emitiu quatn >

éditos contra os cristãos - o primeiro, em fevereiro de

303, exigia a destruição de todas as igrejas espalhadas

pelo Império Romano; o último, publicado em abril de

304, ordenava a todos os cristãos que fizessem sacriíí

cios aos deuses tradicionais de Roma ou então enfren

tassem a execução. Nessa época, provavelmente 10%

da população professavam o cristianismo. Punições ter

ríveis foram aplicadas a quem se recusasse a ceder, e

"Muitos líderes das igrejas resistiram heroicamente a horríveis tormentos." E u s é b i o d e Cesaré ia , História eclesiástica, c. 320

milhares de pessoas foram mortas pela espada, quei ­

madas ou jogadas aos leões. Os cristãos culparam Galé-

rio, césar (lugar-tenente e sucessor) de Diocleciano, | n 1.1

implacável perseguição no Império Oriental.

Diocleciano já era imperador desde 284. Homem

de grande energia, havia tirado o Império da crise, for

talecido suas defesas e reformado o exército e a admi­

nistração imperial. Ao perceber que o Império era

demasiado grande para ser governado por um só ho

mem, estabeleceu a tetrarquia, pela qual ele govet t n i

va como imperador (augusto) no Oriente, com Galérk >

como césar, enquanto Maximiano governava como

augusto no Ocidente, com Constâncio como césat

Em 305, Diocleciano, já com a saúde debilitada, abdi

cou, recolhendo-se ao palácio que construíra em Splil,

na costa do Adriático. SK

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'Sob este signo, vencerás" Constantino sai vitorioso da ponte Mílvia, aparentemente com a ajuda de Deus.

O Detalhe de Batalha entre Constantino e Maxèncio na Ponte

Mílvia (1613), por Peter Lastmann (1583-1633).

Por este signo salvador, eu libertei sua cidade do tirano e restaurei a liberdade." I n s c r i ç ão n o A r c o d e C o n s t a n t i n o

No ano de 312, havia apenas dois candidatos capazes

de rivalizar pelo poder no Império Romano do Oci ­

dente. Maxèncio, que mantinha o controle sobre a

Itália e a Álrk a, e C onstantino, que reivindicava autori­

dade sobre a Gália e a Espanha. Na primavera de 312,

Constantino decidiu atravessar os Alpes com um exér­

cito relativamente pequeno. Ele dominou o norte da

Itália e avançou sobre Roma. Maxèncio, de início, refu­

giou-se atrás das grandes muralhas da cidade, mas, ao

ver as modestas tropas de Constantino avançarem,

decidiu arriscar tudo em uma batalha aberta. Os dois

exércitos se encontraram na ponte Mílvia, a oeste de

Roma. Durante o avanço das forças de Constantino, a

ponte inesperadamente cedeu, matando Maxèncio e

muitos de seus. soldados enquanto tentavam nadar

para um uqui seguro no caos que se sucedeu.

No dia seguinte, o triunfante Constantino foi acla­

mado o único augusto do Ocidente. Logo depois, for­

mou uma aliança instável com Licínio, augusto do

Oriente. Em um encontro em Milão, na primavera de

313, os dois concordaram e m dividir o Império entre si,

pondo fim à longa e desgastante guerra civil iniciada

com a abdicação de Diocleciano em 305. Sua tensa

parceria durou pouco mais de uma década, até 324,

quando Constantino declarou-se único imperador e

mestre inconteste do mundo romano;

Pouco antes da Batalha da Ponte Mílvia, diz-se

que Constantino teve, ao meio-dia, a visão de uma

cruz ereta sob o sol com a inscrição "Sob este signo,

vencerás". Mais tarde, ele recebeu e m sonho a ins­

trução de usar o símbolo que havia observado no

céu e m todas as suas batalhas contra os inimigos.

Assim, ordenou que uma cruz fosse pintada nos es­

cudos de seus soldados. Os historiadores cristãos

não t itubearam e m atribuir sua vitória à ajuda mila­

grosa de Deus. S K

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>13 FEVERE IRO

0 cristianismo é tolerado - oficialmente Constantino e Licínio decidem acabar com a perseguição aos cristãos.

I oi em Milão, e m fevereiro de 313, que Constantino

e Licínio, respectivos governantes do Império Ro ­

mano do Ocidente e do Oriente, chegaram a uma

decisão importantíssima na história do m u n d o oc i ­

dental: pôr fim à perseguição generalizada aos cris­

tãos. Na carta enviada e m n o m e dos dois para os

governadores de todas as províncias romanas, eles

I oncediam a todos a liberdade de venerar a divin-

(lade gue guisessem. Garantiam plenos direitos jurí­

dicos a todos os cristãos e ordenavam a devolução

imediata de qualquer bem deles confiscado ante-

liormente. O chamado Édito de Milão não fez do

ristianismo a religião oficial do Império Romano -

isso só iria acontecer quando Teodósio I baniu os

i ultos pagãos e fechou todos os templos pagãos,

i 'im 391 -, mas, ao conceder aos cristãos os mesmos

(lireitos dos pagãos e dos adeptos de outros cultos,

a ordem revolucionou o status do cristianismo e

l IÔS fim à "era dos mártires".

Em poucos anos, o cristianismo passou de um

culto relativamente minoritário a principal religião

i Io mundo romano, graças em grande parte ao pa­

trocínio de Constantino. Este provavelmente já era

• ristão havia algum tempo antes da vitória na Batalha

i Ia Ponte Mílvia, e m 312, e, embora não tenha proibi­

do o culto aos antigos deuses (mantendo a imagem

i Io deus-sol e m suas moedas até 320), prestou auxílio

inanceiro à Igreja, construiu locais de culto, presidiu

- oncílios religiosos e promoveu cristãos a cargos Im­

portantes. Quando Licínio ordenou a prisão e execu­

ção de alguns bispos orientais e m 324, Constantino

aproveitou a oportunidade para derrubar o rival,

apresentando-se como defensor universal dos cris­

tãos. Mas só no leito de morte, em 337, deu o derra­

deiro passo: recebeu o batismo cristão. S K

O Batismo de Constantino (detalhe), por Jacopo Vignali

(1592-1664), hoje na Galleria Palatina, em Florença.

"A finalidade deste regula­mento é não menosprezar nenhuma religião." Édi to de Mi lão , 313

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Bispos discutem a natureza de Cristo O Concilio de Nicéia tenta solucionar diferenças teológicas.

O Um ícone da Escola de Novgorod, final do século XV, mostra

Constantino no Concilio de Nicéia.

"[Constantino] agiu... como um mensageiro celeste de Deus." E u s é b i o d e Cesa ré i a , Vida de Constantino, c. 320

No dia 19 de junho de 325, o imperador Constantino abriu as sessões do Concilio de Nicéia sentado em seu trono imperial. Pouco antes, ele havia se procla­mado o único imperador romano após derrotar Licí­nio, seu rival no Oriente, na Batalha de Crisópolis (18 de setembro de 324). Ansioso para impor sua autori­dade e para justificar a alegação de ter possibilitado a paz, Constantino convocou todos os bispos da Igreja Cristã ao seu palácio de Nicéia (Iznik, na lur quia). Dos 1.800 convidados, 318 compareceram. No topo da ordem do dia estava a "controvérsia ariana".

Tudo começou quando Ário, presbítero (um tipo de sacerdote da Igreja Cristã primitiva) em Alexandria, no Egito, alegou que Cristo, filho de Deus, não era igual a Deus Pai, e sim a mais nobre das criações divi­nas. Na Igreja do século IV, questões doutrinárias susci­tavam debates urgentes e acalorados, e a controvérsia ariana, como passou a ser chamada, provocou uma tempestade amarga de discussões e recriminações que repercutiu por todo o Império Oriental.

Historiadores da igreja consideram o Concilio de Nicéia o primeiro concilio ecumênico da Igreja Cristã, responsável pela criação de um atestado de fé uni ­forme sob a forma do Credo de Nicéia, com sua d e ­claração de que Pai e Filho têm a mesma substância e são co-eternos, "gerados, não feitos". Foi uma der­rota acachapante para Ário, cujas opiniões recebe­ram apenas dois votos. O concil io t a m b é m estabe­leceu que a Páscoa seria celebrada anualmente no primeiro domingo após a lua cheia da primavera do hemisfério norte, separando-a assim do Pessach j u ­daico. Ele abriu um precedente para que o impera­dor desempenhasse papel importante nas ques­tões religiosas. Entretanto, não pôs fim à controvérsia ariana, que seguiria dividindo a Igreja por muitos anos. S K

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Constantinopla - Nasce uma nova Roma Constantino celebra a consagração de sua nova capital.

A consagração da cidade que após sua morte ficaria < onhecida como Constantinopla (cidade de Constanti-! ii)) talvez tenha sido o momento mais importante do i loverno de Constantino. Fazia menos de seis anos que ' i imperador escolhera o pequeno porto grego de Bi-ancio, localizado sobre um promontório que se proje­

tava para dentro do Bósforo, o pequeno estreito que separava Europa e Ásia, como local de construção de uma capital totalmente nova para o Império Romano. Moedas fabricadas para marcar sua consagração cele-

I i r a r a m a Nova Roma, e sob muitos aspectos essa nova i ilação era uma cópia consciente da antiga M S «In in

i lusive construída sobre sete colinas e dividida em 14

i listritos administrativos, igual à cidade no Tibre. Cons-mtinopla tinha seu próprio Senado e, assim como em

li >ma, foi estabelecida uma quota de trigo (ração gra­tuita de cereal), bem como outros incentivos para enco-lajara vinda de novos habitantes.

Mas havia uma diferença importantíssima. Desde o II lício, Constantinopla foi concebida como uma cidade

i ristã, simbolizando a ruptura com o passado pagão de toma, e Constantino embelezou sua criação com nu­

merosas igrejas e basílicas. Muitas dessas estruturas -

II icluindo Hagia Sophia (Divina Sabedoria), fundada em Í25 - foram construídas no local de templos pagãos.

Constantinopla logo superou Roma em riqueza, população e importância. Durante mil anos, sob os imperadores bizantinos, a cidade foi o centro intelec-tual, religioso e comercial do mundo de língua grega, antes de ser tomada em 1453 pelos turcos otomanos, |ue por sua vez a transformaram em capital de seu

I I ipério. Eles ouviam os habitantes gregos se referirem a Constantinopla pela forma coloquial de "eis ten polin",

que significa "na cidade", e com o tempo a expressão idquiriu a forma turca "Istambul", nome pelo qual a

i idade de Constantino é conhecida até hoje. S K

O Uma xilogravura de 1493, por Hartmann Schedel, mostra

Constantinopla como uma cidade fortificada.

"...ele embelezou [a cidade] com grandes santuários aos mártires e casas esplêndidas." Euséb io d e Cesaré ia , Vida de Constantino, c. 320

1-999 • 103

Page 93: 1001 Dias que Abalaram o Mundo parte 1

Construção da Igreja do Santo Sepulcro Constantino escava a face de uma colina para fundar um santuário em Jerusalém no local tradicional do sepultamento e ressurreição de Jesus.

Por ordem de Constantino, os soldados escavaram a

fachada da caverna-túmulo. Esta foi então encastra-

da dentro de uma pequena construção e mais tarde

coberta por uma rotunda e uma cúpula. A leste,

Constantino mandou erguer uma grande basílica,

consagrada e m 335. Alguns dizem que Macário, bis­

po de Jerusalém, pediu a ajuda de Constantino para

reformar os lugares sagrados associados pelos cris­

tãos à vida e morte de Jesus. Outras fontes dizem

que, por volta de 326, a mãe do imperador, Helena,

fez uma peregrinação à Terra Santa, onde mandou

construir igrejas em Belém e no monte das Oliveiras,

e coletou relíquias. Quando lhe mostraram o local

tradicion.il do túmulo de Jesus e m Jerusalém, cober­

to por um templo romano do século II, Helena c o m e ­

çou a escavar e foi guiada milagrosamente para os

resquícios da cruz onde Jesus fora crucificado.

Santuário sagrado para os cristãos, a Igreja do San­

to Sepulcro sobreviveu a incêndio e terremoto antes

de ser quase destruída por um califa fatímida e m 1009.

O exército da Primeira Cruzada cantou um Te Deum

(hino de graças) dentro de suas paredes em ruínas

após capturar Jerusalém em 1099, e outros cruzados

mais tarde reconstruíram a igreja em estilo românico,

dando-lhe o formato que ela conserva até hoje. Ainda

restam traços da construção original de Constantino

e, embora alguns especialistas questionem a autenti­

c idade do local, um forte cont ingente de opiniões

arqueológicas aceita a tradicional identificação do

túmulo como local do sepultamento de Jesus. S K

O Entrada da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém (1822), por

Maxim Nikiforovich Vorobyev (1787-1855).

O Paisagem oitocentista da escola inglesa mostrando

Jerusalém e a Igreja do Santo Sepulcro.

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36 25 DE DEZEMBRO

0 primeiro Natal Primeiro registro de comemoração do aniversário de Jesus Cristo.

I lm calendário compilado por Fúrio Dionísio Filócalo em

i54 contém o seguinte registro para o ano de 336: "VIII

kal. lan. natus Christus in Betleem ludeae" (oitavo dia após

as calendas de janeiro [25 de dezembro], nascimento de 1 listo em Belém na Judéia). É a primeira indicação defi-

i litiva de que, em meados do século IV, os cristãos já ha­

viam estabelecido 25 de dezembro como data do nasci­

mento de Jesus. Os redatores dos Evangelhos não

mencionam em que época do ano ele nasceu.

Há várias explicações prováveis para a escolha de

25 de dezembro. Essa era a data do solstício de inver-

"Eles o chamam Nascimento do Inconquistado. Quem é mais inconquistado que o Senhor?" J o ã o C r i s ó s t o m o (c. 407) , delSoIst. Et/Equin

n o no hemisfério norte, já celebrada em Roma como

'tollnvictus (Sol Inconquistado), uma festa paga popu-

lar. Ela caía exatamente nove meses após o equinócio

i le primavera, em 25 de março, que os primeiros cris­

tãos alegavam ser o quarto dia da criação, quando fo-

ram criados os geradores de luz tais como o Sol.

l ambem era lógico considerar 25 de março a data de

concepção de Jesus.

O costume de celebrar o nascimento de Cristo

e m 25 de dezembro propagou-se de Roma para o

resto da Igreja no final do século IV, mas a maioria

.linda considerava a Epifania a mais importante fes-

ta cristã. Foi só na Idade Média que a comemoração

i Io Natal começou a tomar a forma atual, c om o boi

i • o jumento junto à manjedoura e os pastores com

ÍI iis rebanhos. S K

Triunfo bárbaro Os godos derrotam o imperador romano Valêncio em Adrianópolis.

Segundo Edward Gibbon, cronista do século XVIII que

escreveu sobre o declínio e a queda de Roma, "o 9 de

agosto [foi] um dia que mereceria ser marcado como

um dos menos auspiciosos do calendário romano". A

batalha conduzida nos arredores de Adrianópoli-, em

378 revelou a incapacidade do Império Romano de con

In il.ii ,i entrada de pi >v< >s "I lárbaros" em seu terrfrj irii

Em 376, cerca de dois milhões de visigodos e ostro

godos germânicos haviam cruzado a fronteira e entra

do no Império a oeste do mar Negro. Descontentes

com o tratamento recebido das autoridades romanas,

esses imigrantes logo deram início a saques. Conduzi­

dos pelo visigodo Fritigern, em 378 já se encontravam

acampados a 20km de Adrianópolis. O líder da metade

oriental do Impétio Romano, Valêncio, saiu marcham li >

de Constantinopla para enfrentá-los. Em vez de aguar­

dar a chegada de Graciano, imperador romano do Oci­

dente, que traria um exército para se juntar a ele, Valên­

cio partiu bem cedo na manhã de 9 de agosto para

atacar o acampamento de Fritigern.

Depois de marcharem em meio ao calor e à poeira,

os romanos encontraram os bárbaros acampados em

um círculo defensivo formado por carroças. Os formiciá

veis cavaleiros ostrogodos haviam partido em uma ex­

pedição para buscar víveres. Fritigern sugeriu uma ne­

gociação, mas, antes de iniciarem qualquer convoca,

o combate começou e Valêncio ordenou que sua infai i

taria atacasse. Sedentos, exaustos e desorganizados, os

legionários talvez tivessem tido problemas mesmo sem

a chegada repentina da cavalaria ostrogoda. Enquanto

os cavaleiros cercavam os soldados romanos a pé, guer

reiros visigodos irromperam do acampamento de car­

roças. Cercados em um espaço exíguo, os romanos

foram dizimados. Cerca de 40 mil homens morreram.

O corpo de Valêncio nunca foi encontrado. R G