11 SSI 2012 Gestão Do Conhecimento

Taxonomia Corporativa e Aprendizagem

Organizacional: caminho para a Ambidestria

Corporate Taxonomy and Organizational Learning: Path to

Ambidexterity

Eloi Juniti Yamaoka1, Isamir Machado de Carvalho

2, Fernando Ostuni Gauthier

3

1 Doutorando do Programa de Ps-Graduao em Engenharia e Gesto do Conhecimento da

Universidade Federal de Santa Catarina PPGEGC/UFSC e Analistas do Servio Federal de

Processamento de Dados SERPRO

[email protected] / [email protected] 2 Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Engenharia e Gesto do Conhecimento da

Universidade Federal de Santa Catarina PPGEGC/UFSC e Analistas do Servio Federal de

Processamento de Dados SERPRO

[email protected] / [email protected] 3 Professor Dr. do Departamento de Engenharia e Gesto do Conhecimento da Universidade

Federal de Santa Catarina (DEGC/UFSC) Bolsista do CNPq - Brasil

[email protected]

Resumo. Este artigo descreve o processo de construo de uma Taxonomia

corporativa e sua utilidade para uma organizao da sociedade do conhecimen-

to. Foi adotada a estratgia de pesquisa qualitativa. Uma Taxonomia um mapa

de conhecimento - uma classificao ordenada das informaes - geralmente

concretizada como um vocabulrio controlado de termos e frases. O objetivo

deste estudo foi compreender a construo de uma Taxonomia Corporativa. Pa-

ra verificao emprica foi analisada empresa pblica que adota Taxonomia

Corporativa. Foi possvel constatar que, durante o processo de 10 anos de cons-

truo, houve Aprendizagem Organizacional. O resultado foi uma Taxonomia

denominada rvore de conhecimento, adotada de forma til ao dar suporte

aos sistemas informatizados relacionados Gesto por Competncias e Gesto

de Contedos da empresa. Tambm se constatou que ao envolver a gerao e

utilizao de conhecimentos, a rvore de conhecimento torna-se uma ferramen-

ta que contribui para a Ambidestria da organizao, isto , aes que envolvem

exploration e exploitation. Para estudos futuros recomenda-se investigar outros

sistemas informatizados desenvolvidos pela empresa que foram influenciados

por mecanismos relacionados Taxonomia Corporativa. Tambm se recomenda

mensurar as aes de Ambidestria realizadas em outras organizaes.

Palavras-chave. Taxonomia Corporativa, Aprendizagem Organizacional, Am-

bidestria Organizacional, Exploitation, Exploration, Gesto por Competncia,

Gesto de Contedos.

10 Simposio sobre la Sociedad de la Informacin, SSI 2012

41JAIIO - SSI 2012 - ISSN: 1850-2830- Pgina 128

Abstract. This article describes the process of building a corporate taxonomy

and its usefulness to an organization of the knowledge society. The strategy of

qualitative research was adopted. Taxonomy is a knowledge map - an orderly

classification of the information - usually implemented as a controlled vocabu-

lary of terms and phrases. The objective of this study was to understand the

construction of a corporate taxonomy. For empirical verification was analyzed

corporate taxonomy adopts by a public company. It was found that, during the

10 years of construction Organizational Learning existed. The result was a tax-

onomy called "tree of knowledge", adopted in a useful way to support the in-

formation systems related to Management for Competency and Enterprise Con-

tent Management. Also found that involving the generation and use of

knowledge, the tree of knowledge becomes a tool that contributes to the Organ-

ization's Ambidexterity, i.e. actions that involve exploration and exploitation.

Recommended for future studies investigations of others information systems

developed by the company who were influenced by mechanisms related to Cor-

porate Taxonomy. It is also recommended to measure the actions of Ambidex-

terity held in other organizations.

Keywords. Corporate Taxonomy, Organizational Learning, Organizational

Ambidexterity, Exploitation, Exploration, Management for Competency, Con-

tent Management.

1 Introduo

Proporcionar facilidades de acesso, uso e reso das informaes e conhecimentos nas

organizaes so tarefas desafiadoras. A complexidade deste tema envolve aspectos

relativos ao volume, compartimentalizao, desorganizao, forma e local de armaze-

namento no universo digital. Adicionalmente, o ambiente corporativo exige decises

rpidas para a inovao contnua.

As dificuldades em localizar e acessar as informaes e conhecimentos existentes

leva a prejuzos, tais como: o dispndio de tempo procurando informaes, o retraba-

lho, a redescoberta e a perda de oportunidade por no localizar informao. Este

ltimo especialmente difcil de ser mensurado considerando a equao fundamental

do conhecimento de Brookes (1980), expressa pela frmula: K[S] + I = K[S + S] onde uma estrutura de conhecimento K[S] modificada para uma nova estrutura K[S

+ S] pela informao I que produz o efeito de modificao S (BROOKES, 1980). Esta equao conhecida como equao fundamental da Cincia da Informao e explicita de forma compacta que para criao de um novo conhecimento necessrio

o acesso informao, levando inferncia que inovao tambm dependente dessa

acessibilidade.

lcito, portanto relacionar a recuperabilidade da informao aos conceitos do ex-

ploitation e exploration. Buscar o equilbrio entre exploration de novas possibilidades

e exploitation de velhas certezas essencial para as organizaes (MARCH, 1991).

Exploitation relacionado eficincia, aumento de produtividade, controle e certezas.

Exploration relacionado busca, descobertas e inovao. Ambidestria fazer am-

bos (OREILLY III; TUSHMAN, 2008).



A Taxonomia Corporativa um mapa de conhecimento - uma classificao orde-

nada das informaes - geralmente concretizada como um vocabulrio controlado de

termos e frases (WASON, 2006).

O objetivo deste estudo foi compreender a construo de uma Taxonomia Corpora-

tiva. Para verificao emprica foi investigada uma empresa pblica brasileira que

desenvolveu e adotou uma Taxonomia denominada rvore de conhecimento. Trata-se do SERPRO, empresa pblica de Tecnologia da Informao e Comunicaes

(TIC), vinculada ao Ministrio da Fazenda, do governo federal brasileiro.

2 Ambidestria em organizaes

Para sobreviver s alteraes ambientais, organizaes devem buscar constante-

mente adaptaes e mudanas. A habilidade das organizaes de integrar, construir e

reconfigurar as competncias internas e externas para responder s mudanas ambien-

tais denominado de capacidade dinmica (TEECE; PISANO; SHUEN, 1997). Esta

capacidade pode ser alcanada com a Ambidestria que a habilidade das organiza-

es realizarem, simultaneamente, exploration e exploitation (OREILLY III;

TUSHMAN, 2008).

Exploration abrange pesquisa, descobrimento, variao, risco, experimentao, jo-

go, flexibilidade, descoberta, inovao, mudana - est associado s atividades de

busca de novos conhecimentos, de coisas que possam vir a ser conhecidas. Exploita-

tion est relacionado eficincia, refinamento, escolha, produo, seleo, implemen-

tao, execuo, isto , refere-se ao uso e desenvolvimento de coisas que j se conhe-

ce (MARCH, 1991; OREILLY III e TUSHMAN, 2008; LEVINTHAL e MARCH,

1993).

As organizaes normalmente buscam a especializao na exploitation, ao usar

com mais eficincia o que j sabe. O retorno incerto e mais demorado de exploration

o torna vulnervel comparado a exploitation (MARCH, 1991). A organizao que

foca somente na exploitation tende obsolescncia e a organizao que tem envolvi-

mento exclusivo na exploration no tem retorno do seu conhecimento (LEVINTHAL

e MARCH, 1993).

No contexto da gesto do conhecimento, organizaes tem se tornado ambidestras

ao adotarem aes que envolvem exploitation (transferncia de conhecimento, troca

de experincia e otimizao) e tambm aes que abrangem exploration (desenvolvi-

mento de novos produtos e estratgias de insero em novos mercados) (FILIPPINI;

GTTEL; NOSELLA, 2012).

3 Procedimentos Metodolgicos

A estratgia de investigao adotada foi a de pesquisa qualitativa (CRESWELL,

2007). Foi realizada pesquisa dos termos referentes ao tema estudado. Para a coleta

dos dados foram utilizadas como fontes e instrumentos: entrevista e anlise de docu-

mentos organizacionais (YIN, 2001). A entrevista foi do tipo aberta.

Para verificao emprica foi investigada uma empresa pblica brasileira que adota

Taxonomia Corporativa denominada rvore de conhecimento. Trata- se do



SERPRO, empresa pblica, de Tecnologia da Informao e Comunicaes (TIC),

vinculada ao Ministrio da Fazenda, do governo federal brasileiro. A entrevista e a

anlise de documentos foram realizadas no primeiro trimestre de 2012. O estudo foca

anlise no nvel organizacional. O pblico alvo envolvido foram os especialistas res-

ponsveis pela implementao da Taxonomia na empresa.

O tratamento e a anlise dos dados relatam o processo de construo. A discusso

da entrevista, a anlise dos documentos e a bibliografia apontam os principais resulta-

dos para atender ao objetivo do estudo. O acesso aos documentos para levantamento

de informaes foi fator preponderante para as anlises realizadas. O envolvimento de

mais pessoas da organizao poderia permitir outros achados. Assim, as limitaes

deste estudo incluem a no participao de outros especialistas das diversas reas,

nem a verificao de solues inovadoras desenvolvidas pela empresa que foram

influenciadas pelos mecanismos relacionados Taxonomia Corporativa.

4 Taxonomia

Taxonomia uma forma de vocabulrio controlado, que uma lista de termos se-

lecionados, de forma a eliminar ambiguidades, evitando o uso de mesmo termo com

diferentes conceitos. Quando diferentes vocbulos possuem o mesmo conceito, o

termo preferido deve ser eleito e os outros identificados como sinnimos. Deste mo-

do, uma Taxonomia uma coleo de termos organizado em uma estrutura hierrqui-

ca, onde cada termo est em uma ou mais relao pai/filho ou genrico/especfico

para outro termo da Taxonomia (National Information Standards Organization,

2005). A complexidade estrutural dos vocabulrios controlados definido na norma

americana NISO Z39.19 (National Information Standards Organization, 2005) em 4

nveis de complexidade , conforme mostra a Figura 1.

Figura 1. Complexidade estrutural do vocabulrio controlado

Fonte: Adaptado de National Information Standards Organization (2005)

A Taxonomia estabelece o conjunto de termo de uso preferencial para uma corpo-

rao ou grupo, os organiza hierarquicamente - do geral (pai) para o especfico (filho).

Se necessrio, possvel a adoo da polihierarquia, quando permitida a presena de

um termo mais de uma vez. Nesse caso, um termo pode ter mais de um pai. As se-

guintes caractersticas diferenciam as Taxonomias dos tradicionais esquemas de clas-

sificao: a) como ferramenta de navegao suportam estrutura, contedo e aplica-

es; b) so criadas da amalgamao e racionalizao de diferentes tesauros e ndices;



c) so adaptadas para refletir a linguagem, cultura e objetivos de empreendimentos

particulares; d) so frequentemente criadas usando a combinao de esforos huma-

nos e software especializado; e) podem fazer referncia a diferentes recursos de in-

formao (EDOLS, 2001).

A Taxonomia desenvolvida com objetivo de prover uma estrutura comum de

conceitos e as relaes entre esses conceitos para estruturar os elementos lxicos da

linguagem, produzindo uma rede semntica que permita o mesmo entendimento pela

comunidade usuria. Ela estabelece um vocabulrio para recuperar a informao,

criar metadados, alm de fornecer esquemas que orientam estruturas e leiaute de p-

ginas web. (CONWAY; SLIGAR, 2002).

Nos ltimos anos, a Taxonomia um termo que se popularizou devido a sua utili-

zao na arquitetura da informao, em websites e portais da web. Uma Taxonomia

bem construda permite ir muito alm destas aplicaes, pois possibilita organizar o

conhecimento corporativo para a sua gesto e recuperao.

5 Aprendizagem Organizacional

A literatura apresenta diversos estudos a respeito deste tema podendo-se destacar

uma abordagem abrangente, conforme mostrado a seguir. A Aprendizagem Organiza-

cional pode ser entendida como o processo de mudana do pensamento e da ao do

indivduo influenciado pela organizao (VERA e CROSSAN, 2005). Acontece du-

rante a busca para o alcance dos propsitos organizacionais, de forma compartilhada

entre os membros da organizao, apontam Crossan, Lane e White (1999). Os autores

explicam que tal mudana significa a assimilao de novos conhecimentos (explora-

tion) e o uso do que foi aprendido (exploitation), conforme preconizado por March

(1991), considerando que a Aprendizagem Organizacional acontece em multinvel

(individual, grupal e organizacional). Crossan, Lane e White (1999) afirmam que os

resultados da aprendizagem se verificam nas mudanas ocorridas na organizao ao

envolver, principalmente, sistemas, estruturas, procedimentos e cultura. Os autores

explicam que este processo envolve aspectos psicolgicos e sociais que afetam a cog-

nio e a ao, de modo recproco. Tais aspectos so denominados: Intuio, Interpre-

tao, Integrao e Institucionalizao. Para representao destes aspectos propem o

modelo 4I, conforme Figura 2.



Figura 2. - Aprendizagem Organizacional como um processo dinmico

Fonte: Adaptado de Crossan, Lane e White (1999)

De acordo com o modelo 4I, a Intuio e a Interpretao ocorrem no nvel do in-divduo; a Interpretao tambm ocorre no nvel do grupo alm da Integrao. No

nvel organizacional acontece de modo semelhante, a Integrao alm da Instituciona-

lizao. Para completar o ciclo, surge o feedback em um fluxo inverso - parte do

nvel organizacional, passa pelo grupo at envolver novamente o indivduo. Deste

modo, a aprendizagem promove mudanas na organizao ao gerar resultados durante

o processo. As entradas e resultados dos processos esto apontados na Tabela 1.



Tabela 1. Aprendizagem Organizacional - quatro processos interligando trs nveis

Fonte: Adaptado de Crossan, Lane e White (1999)

Reconhecer e administrar a tenso entre exploration e exploitation so dois desafi-

os crticos de renovao organizacional, argumentam Crossan, Lane e White (1999).

Os autores explicam que o processo dinmico dos 4I da Aprendizagem Organizaci-onal acarreta em demandas significativas para pesquisadores e gestores ao provoca-

rem a busca para novos entendimentos. Apontam que um olhar crtico permite perce-

ber tambm as tenses inerentes aos processos de feedback. Estas tenses necessitam

de solues que requerem vnculos entre gesto de recursos humanos, gesto estrat-

gica, gesto de tecnologia da informao e sistemas como meios para facilitar o fluxo

de aprendizagem. Assim, o processo dinmico de Aprendizagem Organizacional pode

produzir importantes insights estratgicos de renovao estratgica - um dos desafios

centrais de uma organizao.

6 Gesto de Contedo e Gesto por Competncia

A gesto do conhecimento trata o recurso conhecimento o novo fator de pro-duo da economia contempornea. North (2010) argumenta que a gesto do conhe-

cimento uma forma de aproveitar os conhecimentos existentes, desenvolvendo-os e

transformando-os em novos produtos, processos e campos da atividade econmica.

Ainda, explica que o capital intelectual, tal como o capital financeiro, pode elevar o

valor de uma empresa ao envolver clientes, fornecedores, parceiros, ou seja, abrange

aspectos internos e externos da empresa.

Dentre as definies apontadas pela literatura destaca-se que a Gesto do conheci-

mento compreende os processos de: Identificao, Criao, Armazenagem, Comparti-

lhamento, e Aplicao do Conhecimento (APO, 2009). Entretanto, estes processos

implicam na adoo de prticas e modelos organizacionais que visam o alcance de

objetivos estratgicos. Em meio s prticas organizacionais esto a Gesto de Conte-

do e a Gesto por Competncias (BATISTA, 2005).



A Gesto de Contedo a capacidade de gerir e rastrear a localizao do contedo

da organizao possibilitando o uso e o reuso (ROCKLEY; KOSTUR; MANNING,

2003). Contedo a informao registrada em algum suporte que pode ir do tradicio-

nal papel s mdias magnticas e tica ou transmitida atravs de um meio de comuni-

cao. As organizaes recebem e criam grande quantidade de contedo e sua gesto

e reuso tem sido um grande desafio. Os sistemas de arquivos das corporaes usual-

mente possibilitam somente a recuperao sinttica e os usurios necessitam saber em

qual repositrio o contedo est armazenado. Os sistemas de Gesto de Contedo

corporativo evoluem e os recursos de organizao e representao do conhecimento

como Taxonomias, tesauros e ontologias permitem significativos aprimoramentos dos

processos de gesto e recuperao da informao e do conhecimento.

A Gesto por Competncia constitui modelo gerencial que se prope a orientar es-

foros para planejar, captar, desenvolver e avaliar, nos diferentes nveis da organiza-

o (individual, grupal e organizacional), as competncias necessrias consecuo

de seus objetivos (BRANDO e GUIMARES, 2002). A competncia est associa-

da noo de aprendizagem, uma vez que resulta da aplicao de conhecimentos,

habilidades e atitudes adquiridas pela pessoa em processos de aprendizagem, sejam

eles naturais ou induzidos. A aprendizagem representaria o processo pelo qual se

adquire a competncia, enquanto o desempenho da pessoa no trabalho representaria

uma expresso de suas competncias, uma manifestao do que o indivduo aprendeu

ao longo de sua vida (FREITAS e BRANDO, 2005). A competncia constitui deste

modo, um conceito complexo e multifacetado, que pode ser analisado sob diferentes

perspectivas. Para viabilizar um modelo de Gesto por Competncia as organizaes

contam com apoio da tecnologia da informao.

Assim, o conhecimento representa recurso fundamental na Gesto de Contedo e

Gesto por Competncia.

7 Caso de uma empresa pblica: rvore SERPRO de

Conhecimento

Empresas pblicas no Brasil esto investindo em mtodos, prticas e tecnologias

que envolvem o recurso conhecimento. o caso do SERPRO, empresa pblica de

Tecnologia da Informao e Comunicaes (TIC), que tem desempenhado importante

papel no atual contexto da sociedade do conhecimento. A empresa ocupa posio de

vanguarda tecnolgica, referncia nacional e internacional em sua rea de atuao.

A sede est localizada no Distrito Federal, possui 11 regionais nas principais capitais

do pas, e 17 escritrios em diferentes cidades. Possui 7.027 indivduos em sua fora

de trabalho (Dezembro/2011) distribudos geograficamente.

Porque construir uma Taxonomia Corporativa ou rvore de conhecimento para a

empresa? Responder a esta pergunta uma tarefa desafiadora, pois muitas so as

possibilidades e aplicaes. No caso desta empresa pblica, inicia-se o relato com a

explicao do que se considera uma rvore de conhecimento e para que serve. Depois,

se descreve quando foi estruturada e quem foram os envolvidos. Finalmente, como foi

feita, incluindo as principais fontes utilizadas, e as caractersticas relevantes.

A rvore SERPRO de Conhecimento uma estrutura que organiza assuntos hie-

rarquicamente de conceitos mais abrangentes para mais especficos, composta de



assuntos relacionados empresa. Sua composio dinmica, permite aprimoramen-

to constante, tornando sua estrutura cada vez mais representativa e atualizada em

relao cultura e necessidade da empresa.

A finalidade foi conceber uma Taxonomia para apoiar a Gesto de Contedo e a

Gesto por Competncia. Em ltima anlise, visa melhorar o aproveitamento do co-

nhecimento organizacional para a constante inovao da empresa. utilizada pelos

empregados por meio dos sistemas corporativos. No atual sistema de currculos sua

aplicao facilita a localizao de empregados e especializao em conhecimentos

especficos. Tambm permite a identificao de perfis adequados para a composio

de grupos de trabalho, equipes de projetos e formao de reas funcionais. De outro

modo, auxilia os processos organizacionais. Por exemplo, no nvel individual, pode

facilitar a interao entre empregados com conhecimentos e reas de interesses co-

muns propiciando o compartilhamento de conhecimento. J no nvel organizacional,

pode apoiar na formulao de estratgias da empresa, ao auxiliar na identificao de

novos conhecimentos para capacitao de empregados visando, por exemplo, a solu-

o de problemas, novos servios ou inovao.

Em 1996, foi lanada na empresa uma semente da rvore de conhecimento. Na

poca, no havia a definio de uma base conceitual para o adequado entendimento

de Gesto do Conhecimento, Gesto por Competncia ou construo e uso de Taxo-

nomias Corporativas. Em iniciativa pioneira, uma rea de negcio da empresa deu

incio a um mapeamento de conhecimento para subsidiar o planejamento do treina-

mento de suas equipes compostas por mais de 100 empregados. A pergunta era:

Quem precisa de treinamento e em qual assunto?. Para apoiar a resposta foi conce-bido um sistema standalone para fazer mapeamento, tabulao e resposta. Este sis-

tema, considerado pequeno, evoluiu para um sistema maior e multiusurio. Aps dois

anos, foi transformado em um sistema corporativo baseado em tecnologia web, deno-

minado sistema Perfil. Assim, o sistema que comeou com cerca de cem usurios, passou a ter em torno de oito mil usurios. No entanto, uma necessidade ainda persis-

tia: a carncia de conhecimento especfico para construir um esquema de classificao

do conhecimento para a empresa que atua em segmento especfico - o governo. Os

assuntos tinham vrios domnios, no restrito a um domnio do conhecimento. Os

assuntos identificados se referiam ao domnio de tecnologia da informao e comuni-

caes, porm surgiram assuntos de outros domnios, que envolviam o negcio dos

clientes da empresa, por exemplo, administrao fazendria, tributria, financeira,

logstica, patrimonial, legal, dentre outros. Essa necessidade impulsionou a busca por

conhecimentos para elaborao de esquemas de classificao, teorias, tcnicas e m-

todos para a construo de Taxonomias e tesauros.

A primeira verso da rvore SERPRO de Conhecimento foi lanada em 2001. A

construo no foi apoiada pelas teorias e princpios para construo de vocabulrios

controlados (Taxonomias e tesauros). Essa verso da rvore foi organizada em quatro

nveis: macro-processos, temas empresariais, ramos de conhecimento e assuntos. A

rvore espelhava a estrutura organizacional da empresa, principalmente nos nveis

macroprocessos e temas empresariais. Essa relao entre a estrutura e a rvore cau-

sou efeitos indesejados, pois a cada reestruturao da empresa implicava em alterao

do primeiro e segundo nvel da rvore. A rvore foi utilizada para a indexao do

contedo da base de conhecimento, integrante do portal corporativo e tambm para a

identificao do conhecimento dos empregados no sistema Perfil. No perodo de



2002 a 2007 foram feitas atualizaes (incluses, excluses e alteraes) na medida

em que as reas apontavam assuntos necessrios.

Em 2008, a rvore foi reformulada considerando o estabelecimento de princpios e

objetivos, o que envolveu consulta s diversas reas da empresa e vrios documentos

internos e externos. Esta reformulao foi de fundamental importncia para o atual

uso da rvore na empresa. Em 2010, uma reviso complementou algumas lacunas ao

contemplar contribuies especiais da rea de centro de dados da empresa, alm das

contribuies recebidas de empregados durante o ano. Para conduzir estas atividades

foram formados grupos de trabalho especficos, com especialistas, que envolveram, a

cada necessidade, gerentes e empregados, especialistas e no especialistas. Este pro-

cesso de construo - concepo, reformulao e reviso - da rvore de conhecimento

foram realizados durante o perodo de 2001 a 2011, perfazendo 10 anos.

As principais fontes utilizadas para a reformulao da rvore de conhecimento so

apresentadas na Tabela 2.

Verso preliminar da rvore SERPRO de Conhecimentos; Trilhas da proposta do plano de carreira da empresa; Lista de Assuntos do Governo Federal (LAG) - Taxonomia padro do go-

verno eletrnico brasileiro;

Constituio Federal do Brasil (1988); Plano de Capacitao Tecnolgica (Plancap) do SERPRO; Tabela das reas do conhecimento, da Comisso Especial de Estudos

CNPq, CAPES, FINEP (Verso preliminar, setembro 2005);

Quadro de exemplos de tipos de segredos de negcios, da proposta de Norma de Propriedade Intelectual do SERPRO;

Prottipo do Sistema de Gesto do Banco de Talentos idealizado por uma equipe de desenvolvimento de solues tecnolgicas do SERPRO (regio-

nal Salvador, Bahia);

Classificao Decimal Universal - CDU. Braslia: Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia, 2007;

Mapeamento de processos do Grupo Integrao do SERPRO (2006); Projeto Compartilhamento de Conhecimento 2005 do SERPRO (conheci-

mentos associados s pessoas chave e segredos de negcio);

Edital do concurso pblico (2008) do SERPRO; Procedimentos do clculo do ndice de Perda de Capital Humano IPCH

do SERPRO (ativos de conhecimentos e pessoas chave);

Stios da internet (foco em classificaes de temas pertinentes); Dicionrios; Consulta aos especialistas em assuntos especficos.

Tabela 2. Principais fontes utilizadas para atualizao da rvore SERPRO de Conhecimento.

Oportuno destacar que, a reviso da rvore de conhecimento foi calcada na busca

da resposta seguinte pergunta: Quais so os conhecimentos dos empregados relati-

vos ao desempenho das atividades do SERPRO? De modo objetivo e pragmtico



foram feitas reflexes para tornar a Taxonomia Corporativa representativa do conhe-

cimento pertinente ao contexto (interno e externo) da empresa. A reviso envolveu

pessoas de diversas reas organizacionais de modo a tornar o vocabulrio mais ade-

quado e legtimo, isto , visou garantir a percepo da utilidade da rvore de conhe-

cimento. As caractersticas da rvore de conhecimento so apresentadas na Tabela 3.

Eliminao da estruturao em macroprocessos, temas empresariais, ra-mos de conhecimento e Assuntos;

Utilizao de princpios para construo de vocabulrio controlado; Estabelecimento de at cinco nveis de assuntos na rvore; Considerao dos processos organizacionais de uma empresa de TIC; Adoo de termos universais, no que foi possvel; Considerao dos clientes e das reas de atuao da empresa, com uma

segmentao de assuntos exclusivamente como de processos de clientes.

Por exemplo, quanto diferenciao entre Comunicao e Comunicao

Social destaca-se que: Comunicao est contextualizada na Administra-

o Pblica de modo semelhante aos temas: Recursos Humanos, Reforma

Agrria, Sade, Trabalho, que fazem parte das polticas pblicas;

Alinhamento das reas cientficas aos processos organizacionais; Desvinculao da estrutura organizacional da empresa.

Tabela 3. - Caractersticas da rvore SERPRO de Conhecimento.

Deste modo, buscou-se uma estrutura consistente e mais estvel para a rvore

SERPRO de Conhecimento. As atualizaes ocorrem em virtude de acrscimos de

novos termos identificados como pertinentes para o propsito dessa Taxonomia Cor-

porativa.

8 Discusso e Anlise

A construo da rvore de conhecimento da empresa estudada suscita trs anlises

principais: a primeira houve Aprendizagem Organizacional; a segunda, o conheci-

mento assume status diferentes; e a terceira, a utilidade da rvore de conhecimento se

torna mais efetiva (maturidade) na Gesto de Contedo e na Gesto por Competncia

propulsionando a empresa para a Ambidestria.

Em primeira anlise, quanto a Aprendizagem Organizacional, foi possvel consta-

tar a existncia de relao entre as etapas da construo da rvore SERPRO de co-

nhecimento e os processos do modelo 4I da Crossan, Lane e White (1999). Tam-bm se percebe associao das entradas e resultados de tal modelo s etapas. A Tabe-

la4 mostra na linha do tempo esta relao. Nota-se que na etapa de Concepo a nfa-

se se d nos processos de Intuio e Interpretao devido troca de experincias entre

especialistas e a elaborao de mapas cognitivos. Na etapa de Criao a nfase se

verifica no processo de Institucionalizao, momento em que a empresa torna formal

em suas rotinas o uso da rvore SERPRO de Conhecimento no Portal Corporativo,



conforme mencionado no estudo de caso. Regras e procedimentos tambm se consti-

tuem em orientaes organizacionais na empresa. A etapa de uso, no perodo de 2002

a 2007, a empresa passa pelos processos de Intuio e Interpretao da Taxonomia

adotada ao exercitar a troca de experincias e conversas entre as reas e proceder a

ajustes. A etapa de Reformulao pode ser considerada a mais intensa, foco na Inter-

pretao, incluindo releituras de contexto, o que implicou no estabelecimento de crit-

rios claros e definio de novas caractersticas da rvore SERPRO de Conhecimento.

um marco significativo medida que no ano seguinte ocorreu a etapa de Reviso,

devido demanda de uma rea especfica da empresa, o que significa a percepo de

valor e utilidade. Deste modo, a etapa de reviso enfatiza oprocesso de Integrao ao

envolver o compartilhamento de entendimentos, ajustes de assuntos e novos sistemas

com base na Taxonomia.

Nova etapa de Institucionalizao verificada no ano de 2011 quando a empresa

reformula seus sistemas, modifica suas rotinas, atualiza regras e procedimentos o que

denota efetivo uso ou maturidade da rvore SERPRO de Conhecimento, uma Taxo-

nomia Corporativa.

Proces-

sos

Intuio

Interpre-

tao

Instituci-

onaliza-

o

Intuio

Inter-

pretao

Inter-

preta-

o

Intuio

Interpre-

tao

Integra-

o

Integra-

o

Institu-

cionali-

zao

Etapas Concep-

o

Criao Uso Re-

formu-

lao

Uso Reviso Uso

Anos 1996-

2000

2001 2002-

2007

2008 2009 2010 2011

Tabela 4. Relao entre Etapas da rvore SERPRO de Conhecimento e Processos do Modelo

4I de Crossan, Lane e White (1999).

Em segunda anlise, em relao ao conhecimento e diferentes status se observam

alguns achados. A construo de uma Taxonomia Corporativa, tal como a rvore

SERPRO do Conhecimento, de considervel complexidade devido diversidade de

conhecimento requerido para os servios desenvolvidos pela empresa. Embora inici-

almente a nfase tenha sido nos conhecimentos necessrios para execuo dos servi-

os em produo, percebeu-se a importncia em tambm identificar os conhecimentos

existentes na empresa no utilizados. Essa deciso aumentou ainda mais a abrangn-

cia dos domnios cobertos pela rvore. O diagrama da Figura 3 representa os tipos de

conhecimentos considerados para a reformulao da rvore em 2008, tendo sido

adotadas as seguintes definies:

Conhecimento existente na empresa - aquele que algum empregado da empresa

possui;

Conhecimento no existente na empresa aquele que nenhum empregado da empresa possui, necessrio para desenvolvimento de novos produtos, servios ou a

realizao de inovao na empresa;



Conhecimento requerido o conhecimento utilizado para a consecuo de pro-dutos ou servios em produo;

Conhecimento potencial o conhecimento no utilizado, mas que poder no fu-turo ser a fonte para o desenvolvimento de novos produtos, servios ou inovao.

Figura 3. Tipos de conhecimento para a rvore SERPRO do conhecimento

No presente estudo, em uma releitura da Figura 3, foi possvel observar que na

poca, embora no tenha sido considerada a viso da Ambidestria organizacional, a

deciso de incluir os conhecimentos potenciais foi um passo nessa direo. A Figura

4 apresenta essa releitura, com a reorganizao do diagrama para agrupar os elemen-

tos relacionados aexploitation e exploration. O conhecimento requerido tipicamente

utilizado nas aes de exploitation e o conhecimento potencial e o conhecimento novo

possibilitam explorar as aes de exploration.

A partir dessa constatao possvel deduzir que no contexto do conhecimento a

definio de exploitation pode ser distinta daquela usada em recursos tangveis. Nes-

se contexto, exploitation o melhor uso possvel do conhecimento recurso intang-vel. Por outro lado, o melhor uso possvel dos conhecimentos existentes na organiza-

o pode viabilizar o desenvolvimento de novos produtos, servios e inovaes, isto

, a exploration. Esse entendimento tambm possvel na anlise do Modelo 4I de Crossan, Lane e White (1999). O conhecimento potencial individual pode ser institu-

cionalizado na organizao passando pelos processos de Interpretao e Integrao.

Em resumo, o novo conhecimento organizacional necessariamente no precisa ser buscado fora da organizao.



Figura 4. Relao entre Conhecimento e Exploration e Exploitation

Finalmente, a terceira anlise aponta que a Aprendizagem Organizacional, a Ges-

to de Contedo e a Gesto por Competncia podem proporcionar contribuies no

caminho da empresa para a Ambidestria. O conhecimento organizacional, por meio de

diversas prticas e tecnologias, tratado no mbito da Gesto do Conhecimento e da

Organizao e Representao do Conhecimento. No ano de 2011, as prticas e os

sistemas concebidos para apoiar a Gesto por Competncia na empresa permitem

identificar e localizar pessoas com conhecimentos especficos na organizao. De

modo semelhante, os sistemas de Gesto de Contedo facilitam a localizao dos

contedos informacionais. Assim, ambos so apoiados por um vocabulrio comum,

estabelecido pela rvore SERPRO de Conhecimento. Estas relaes resultantes desta

anlise so representadas na Figura 5.



Figura 5. Resultado da anlise do caso SERPRO

9 CONSIDERAES FINAIS

A experincia na construo de uma Taxonomia Corporativa ou rvore de conhe-

cimento em uma empresa pblica de TIC uma singularidade. Foi possvel perceber

o processo de Aprendizagem Organizacional. E ainda, o efetivo uso da Taxonomia

Corporativa permitiu a obteno de resultados na Gesto do Conhecimento, especifi-

camente, a Gesto por Competncia e Gesto de Contedo, em uma perspectiva evo-

lutiva significativa. Essa evoluo pavimenta o caminho em direo Ambidestria

tornando a empresa cada vez mais alinhada a uma organizao da sociedade do co-

nhecimento. Para estudos futuros recomenda-se investigar outros sistemas informati-

zados desenvolvidos pela empresa que foram influenciados por mecanismos relacio-

nados Taxonomia Corporativa. Tambm se recomenda investigar a possibilidade de

mensurar as aes de Ambidestria realizadas em outras organizaes.

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11 SSI 2012 Gestão Do Conhecimento