5
CHEGADA NA CASA-DE-SANTO Parece-me de bom costume que o filho-de-santo, independentemente do seu tempo de iniciado, entre na “Roça” e fique em local reservado para “Esfriar o Corpo” (exemplo: uns 15 a 20 minutos) e bebendo um pouco de água fresca. Logo depois, tomar o seu banho de asseio, seguido de banho litúrgico (variável de casa para casa) e, depois, colocar a roupa litúrgica específica para ocasião e dentro dos costumes pertinentes ao sua idade de iniciado. Banho tomado e roupa trocada, cumprimentar ritualisticamente aos Minkisi da Casa e os locais de “Firmeza”. Feito isso, iniciam-se os cumprimentos às dignidades presentes, começando pelas mais antigas de iniciação até os de sua idade. Terminado, os mais novos do que aquele que chegou, vão cumprimentá-lo. Cabe lembrar que os cumprimentos aos mais velhos deve iniciar pelo Zelador/Zeladora da Casa. Os cumprimentos deverão ser em conformidade com os nossos rituais, ou seja, em posição de “debulé” ou “dobale”, batendo makó, beijando a mão e solicitando que o mais velho nos abençoe na forma dialética da nossa Raiz. Atenta-se para o detalhe que não se cumprimenta seus familiares religiosos ou dignidades de outras Raízes de pé ou com a cabeça alta. Isto só é aceitável em condições igualitárias da hierarquia sacerdotal, ou seja, ndumbe com ndumbe, Muzenza com Muzenza com o mesmo tempo de iniciação e todos os tipos de Kota, com ou sem cargo, com o mesmo tempo de iniciação.  Lembrem-se que tomar a benção a um mais velho não é somente uma obrigação, mas UM DIREITO ADQUIRIDO por todos que fazem parte de uma Casa-de-Santo. O direito que temos de receber de uma pessoa mais velha de iniciação, que nos abençoe naquele momento. PRESENÇA JUNTO AOS MAIS VELHOS Não se passa entre duas pessoas mais velhas, por exemplo, quando estão conversando, sem que antes se peça licença de forma ritualística e de acordo com os costume da Raiz a que pertença, sempre de cabeça inclinada, num gesto de respeito (NÃO SUBMISSÃO). Não se senta em condição de igualdade e na mesma altura que pessoas mais velhas de iniciação, a não ser em condições de excepcionalíssima necessidade e com a devida permissão. Lembre-se que a CADEIRA é um mobiliário que faz parte das tradições e hierarquia de nossas comunidades. Por mais presunção que seja de minha parte, o contrário também vale, ou seja, um mais velho se juntar aos mais novos de forma contumaz e corriqueira. Isso o estimulará a não compreender o que é hierarquia e quando ele estiver com o mesmo tempo de iniciação que o seu, não se sentirá prestigiado quando o mesmo acontecer com ele. Isso não é ser pedante nem ter humildade, mas saber mostrar ao mais novos, ESPONTANEAMENTE, COM EDUCAÇÃO e SIMPLICIDADE a importância de ser mais velho e que hierarquia é para ser praticada. Sentar-se à mesa com o Zelador/Zeladora, desnecessário detalhar que somente aqueles que possuem “Cargo” (e confirmados) e as dignidades que o Zelador/Zeladora convidar. O gesto de servir alimentos e bebidas é privilégio e obrigação das filhas-de-santo que são iniciadas para Minkisi considerados como energias femininas. Munzenzas do sexo masculino, porém com Nkisi “feminino” não serve nos almoços, jantares, cafés da manhã, somente muzenzas do sexo feminino, iniciadas para Nkisi de “energia feminina”. Aos iniciados do sexo masculino deverão estar destinados os trabalhos mais pesados, com, por exemplo, as faxinas do caramanchão e terreno da Roça, a limpeza dos quartos-de-santo

12 muzenza

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 12 muzenza

8/6/2019 12 muzenza

http://slidepdf.com/reader/full/12-muzenza 1/4

CHEGADA NA CASA-DE-SANTO

Parece-me de bom costume que o filho-de-santo, independentemente doseu tempo de iniciado, entre na “Roça” e fique em local reservado para“Esfriar o Corpo” (exemplo: uns 15 a 20 minutos) e bebendo um pouco de

água fresca. Logo depois, tomar o seu banho de asseio, seguido de banholitúrgico (variável de casa para casa) e, depois, colocar a roupa litúrgicaespecífica para ocasião e dentro dos costumes pertinentes ao sua idade deiniciado.

Banho tomado e roupa trocada, cumprimentar ritualisticamente aos Minkisida Casa e os locais de “Firmeza”. Feito isso, iniciam-se os cumprimentos àsdignidades presentes, começando pelas mais antigas de iniciação até os desua idade. Terminado, os mais novos do que aquele que chegou, vãocumprimentá-lo. Cabe lembrar que os cumprimentos aos mais velhos deveiniciar pelo Zelador/Zeladora da Casa.

Os cumprimentos deverão ser em conformidade com os nossos rituais, ouseja, em posição de “debulé” ou “dobale”, batendo makó, beijando a mão esolicitando que o mais velho nos abençoe na forma dialética da nossa Raiz.Atenta-se para o detalhe que não se cumprimenta seus familiares religiososou dignidades de outras Raízes de pé ou com a cabeça alta. Isto só éaceitável em condições igualitárias da hierarquia sacerdotal, ou seja,ndumbe com ndumbe, Muzenza com Muzenza com o mesmo tempo deiniciação e todos os tipos de Kota, com ou sem cargo, com o mesmo tempode iniciação.

 Lembrem-se que tomar a benção a um mais velho não é somente uma obrigação, mas UMDIREITO ADQUIRIDO por todos que fazem parte de uma Casa-de-Santo. O direito que temos

de receber de uma pessoa mais velha de iniciação, que nos abençoe naquele momento.

PRESENÇA JUNTO AOS MAIS VELHOS

Não se passa entre duas pessoas mais velhas, por exemplo, quando estão conversando, semque antes se peça licença de forma ritualística e de acordo com os costume da Raiz a quepertença, sempre de cabeça inclinada, num gesto de respeito (NÃO SUBMISSÃO).

Não se senta em condição de igualdade e na mesma altura que pessoas mais velhas deiniciação, a não ser em condições de excepcionalíssima necessidade e com a devidapermissão. Lembre-se que a CADEIRA é um mobiliário que faz parte das tradições ehierarquia de nossas comunidades. Por mais presunção que seja de minha parte, o contráriotambém vale, ou seja, um mais velho se juntar aos mais novos de forma contumaz ecorriqueira. Isso o estimulará a não compreender o que é hierarquia e quando ele estivercom o mesmo tempo de iniciação que o seu, não se sentirá prestigiado quando o mesmoacontecer com ele. Isso não é ser pedante nem ter humildade, mas saber mostrar ao maisnovos, ESPONTANEAMENTE, COM EDUCAÇÃO e SIMPLICIDADE a importância de ser maisvelho e que hierarquia é para ser praticada. Sentar-se à mesa com o Zelador/Zeladora,desnecessário detalhar que somente aqueles que possuem “Cargo” (e confirmados) e asdignidades que o Zelador/Zeladora convidar.

O gesto de servir alimentos e bebidas é privilégio e obrigação das filhas-de-santo que sãoiniciadas para Minkisi considerados como energias femininas. Munzenzas do sexo masculino,porém com Nkisi “feminino” não serve nos almoços, jantares, cafés da manhã, somentemuzenzas do sexo feminino, iniciadas para Nkisi de “energia feminina”.

Aos iniciados do sexo masculino deverão estar destinados os trabalhos mais pesados, com,por exemplo, as faxinas do caramanchão e terreno da Roça, a limpeza dos quartos-de-santo

Page 2: 12 muzenza

8/6/2019 12 muzenza

http://slidepdf.com/reader/full/12-muzenza 2/4

e todas as tarefas que necessitem de força mais bruta.

É de boa prática que copos de bebidas (água, refrigerantes, café, etc.) sejam servidos aosmais velhos ou visitantes ilustres, com um prato ou bandeja sob a base do copo, caneca,xícara, etc.

Fumar na presença de mais velhos e visitantes é terminantemente proibido. Apor cinzeirossobre as cadeiras dos mais velhos ou dos Minkisi é ato de falta gravíssima. Dentro dos “quartos sacralizados”, entendo que não merece nem comentários a respeito.

Em dia de festividades e no momento de distribuição dos alimentos, é de bom tom que se dêpreferência a que os visitantes sejam primeiramente servidos, principalmente aqueles que sedestacam como dignidades comprovadas, em retribuição a honra que eles nos fizeram pelassuas presenças.

O uso de bebidas alcoólicas dentro de uma Casa-de-Santo, quer seja em dia de festividadesou não, se for utilizada, deverá ser com o máximo de moderação. Lembrar que aqueles queestão de “obrigação”, assim como os nossos Minkisi merecem o máximo de nosso respeito e,com toda certeza, bebida alcoólica não faz um bom par com Nkisi.

Se não solicitado, um irmão mais novo não tira e nem faz conclusões e nem dá opiniões emroda de irmãos mais velhos. Quantos de nós já não presenciamos ou vivenciamos situaçõesconstrangedoras a esse respeito e, em algumas ocasiões, com pessoas que não fazem partede nossas casas?

IDUMENTÁRIA, ADEREÇOS, SÍMBOLOS E OBJETOS SAGRADOS.

A indumentária religiosa é um dos fatores que fazem a distinção e mostram a posiçãohierárquica assumida por uma pessoa dentro da Casa-de-Santo, de acordo com as tradições.Essa distinção é feita tanto em nosso país como em terras africanas.

No Brasil, por questões culturais e que também foram absorvidas pelos costumes

europeus, tomaram características diferentes daquelas do continenteafricano, mas, mesmo assim, formaram um modelo que diferenciam desde oNdumbe até a mais alta dignidade de sua Casa.

Roupas limpas e bem passadas, são condições indiscutíveis em qualquercondição da hierarquia sacerdotal. Os homens devem estar trajados de“Roupa de Ração”, ou seja, calças amarradas com cadarço e camisas commangas (podendo ser camiseta). Algumas casas dão preferência ao tecidodo tipo morim, fustão e cretone, variando de casa para casa. O uso destetipo de vestimenta deverá ser destinado para os rituais internos. O uso debermudas e “shorts” não fazem parte de nossos rituais. O uso de batas deveser destinado aos que possuem 7 ou mais anos de iniciação e com suas“Obrigações” em dia e correspondente a esta idade.

O uso de roupas coloridas não é proibitivo aos iniciados com menos de 7anos, porém deve obedecer aos critérios da Casa que, normalmente liberameste tipo de estamparia em dias de festividades, dependendo de que tipo éeste comemoração. A cor branca sempre é bem aceita em qualquer tipo deocasião e ritual.

Quanto às mulheres, JAMAIS DEVEM USAR CALÇAS COMPRIDAS dentro daCasa-de-Santo. Os cauçolões devem estar sob as saias.

Uma Ndumbe deve usar poucas anáguas. À medida que é iniciada e vaiganhando tempo de iniciada, o número de anáguas vai aumentando.

O uso de chinelos deverá ser após ter completado e pago a “Obrigação de

Page 3: 12 muzenza

8/6/2019 12 muzenza

http://slidepdf.com/reader/full/12-muzenza 3/4

Três Anos”. As Kotas poderão usar sapatos com saltos e maquiagem, poréma discrição, o bom senso e o bom gosto, combinados, não fazem mal algumpara escolha destes complementos, pelo contrário, tornam harmoniosa aimagem da pessoa.

O pano-de-cabeça é obrigatório para os filhos-de-santo do sexo feminino,independentemente se for de Santo Masculino ou Santo Feminino. Emconjunto com o pano-de-cabeça, indispensável o uso do pano-da-costa, quedeverá estar com um laço em forma de borboleta para as iniciadas de SantoFeminino e em forma de gravata para as iniciadas de Santo Masculino.

Aos iniciados com mais de 7 anos e com “Obrigação” paga, será permitido ouso de brincos (do tipo: argolas, búzios, corais, monjolos, dependendo doNkisi para que foi iniciada), da mesma forma a permissão para o uso depulseiras e braceletes.

As filhas-de-santo que têm permissão para usarem a Bata, deverão estar

com seus panos-da-costa colocados na altura do peito ou arrumados naaltura da cintura, porém, nunca em forma de faixa enrolada na cintura, poisnão é o costume certo e nem elegante para a vestimenta. A quem defenda,em casas mais antigas e tradicionais que o pano-da-costa deverá estarsobre o peito ou na cintura, quando da participação da filha-de-santo emtrabalhos ritualísticos. Caso contrário, em dias de festividades, o pano-da-costa deverá estar sobre o ombro direito, caindo para frente e para trás. Opano-da-costa é uma peça do vestuário feminino indispensável paraqualquer ocasião que se esteja na Roça-de-Santo ou em visita a uma outraCasa. Talvez seja ele e o pano-de-cabeça sejam as peças mais tradicionaisda indumentária feminina em nossos candomblés, oriundo de terrasafricanas, enquanto o camisu e as anáguas fazem parte do legado doscostumes europeus.

A dixisa, tanto utilizada em nossas casas jamais devem ser arrastadas pelo chão. Sobre elanão se fuma e nem se bebe bebida alcoólica. Elas fazem parte do conjunto de objetossagrados de nosso culto. Os membros da casa do sexo feminino devem carregar as esteirasdebaixo do braço e os de sexo masculino devem carregá-las sobre o ombro. As mulheresiniciadas para Minkisi de “energia feminina” é que devem esticar as esteiras para o dobale deseus irmãos do sexo masculino. Somente em último caso que as mulheres de “santomasculino” estendem as esteiras para os seus irmãos realizarem o dobale.

Às filhas-de-santo é proibido utilizarem os atabaques para tocarem ou mesmo removê-los deseus locais. Da mesma forma a regra serve para outros instrumentos do tipo gã (ganzá),berimbau, reco-reco, xequerê, maracá e outros. Esta atividade é destinada aos Kambondos,

confirmados para este fim.

Todos os filhos da Casa, independentemente do tempo de iniciado, ao passarem na frentedas cadeiras dedicadas aos Minkisi, atabaques ou pessoas mais velhas, devem fazê-loabaixando o corpo.

A formação da roda de filhos-de-santo que estarão dançando para os Minkisi deve seguir ahierarquia dos anos de iniciação e postos ocupados na Roça. Não devemos esquecer que adança também faz parte dos nossos rituais e louvação aos nossos ancestrais, numa forma dereveFinalmente, há que se chamar à atenção para que os mais velhos sempre tenham em menteque a hierarquia sacerdotal serve para diferenciar os tempos de iniciação, mas que jamaisdeverão servir aos propósitos da humilhação de seus irmãos mais novos. Que a hierarquia,posturas e costumes servem para ser utilizados entre os componentes de uma comunidade enunca de nós para com os nossosMinkisi. Para estes, seremos sempre munzenzas, e quebom que seja assim, pois desta forma seremos sempre agraciados por suas dádivas,

Page 4: 12 muzenza

8/6/2019 12 muzenza

http://slidepdf.com/reader/full/12-muzenza 4/4

orientações e ensinamentos.renciá-los e reviver suas passagens por nossas terras. Sair daroda sem um motivo justificado denota uma falta de respeito e pouco caso com os nossosdeuses.

Sei que poderia continuar apontando outras questões que por si só justificariam anecessidade de continuarmos mantendo e sustentando a defesa, de que a postura e oscostumes ensinados pelos nossos mais velhos e que hoje estamos abandonando em nome deuma igualdade inexistente, fazem parte das tradições afro-brasileiras e só enriquecem osnossos cultos. Ao contrário de muitos de irmãos nossos que pelo Brasil afora estãoconfundindo educação e tradição com anarquia.