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Veículo ESTADÃO WEB
Data 12/04/2015
Assunto Investigação sobre os recursos das universidades
O CAMINHO DO DINHEIRO
PRIVADO NAS
UNIVERSIDADES PÚBLICAS A falta de transparência e a inexistência de ferramentas efetivas de
controle transformam a interação do setor produtivo com a
academia em um campo fértil para ilegalidades em todo o País
SÃO PAULO - Negócios privados, contratos obscuros e intermediações feitas por fundações envolvidas
em irregularidades ganham cada vez mais espaço nas universidade públicas do Brasil. É o que revela
esta reportagem especial, fruto do esforço conjunto de cinco grandes jornais brasileiros.
Profissionais do Estado, O Globo, Zero Hora, Diário Catarinensee Gazeta do Povo fizeram uma radiografia
da virtual privatização que avança, com pouca transparência, nas instituições que são berçários do
conhecimento e da pesquisa no País.
Por meio de convênios com fundações, surgem serviços de cifras milionárias, que muitas vezes nada
têm a ver com os objetivos acadêmicos das instituições. Os clientes são empresas privadas, públicas e
governos – com contratos quase sempre sem licitação. Já os professores, alguns de regime de
dedicação exclusiva, conseguem multiplicar seus salários com esses trabalhos paralelos, mesmo que
isso signifique conflito ético ou atividade irregular. As universidades, porém, são as que menos lucram
no esquema.
As fundações privadas têm papel fundamental na “caixa-preta” das universidades. De janeiro de 2013 a
julho de 2014, elas receberam R$ 1,4 bilhão da União, segundo levantamento da ONG Contas Abertas.
Mais de 2,5 mil fundações trabalham com instituições brasileiras e são cada vez mais usadas na
intermediação de serviços. Algumas são criadas e geridas por docentes com cargo de direção nas
universidades – um potencial conflito de interesses.
Órgãos como tribunais de contas, Controladoria-Geral da União e Ministério Público questionam as
relações, mas, amparado nas brechas e na falta de transparência, o sistema prospera.
Fundações nas universidades
paulistas são investigadas
Atuação avança na USP, na Unesp e na Unicamp; órgãos de controle questionam
legalidade do modelo
Paulo Saldaña - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O avanço de um mundo paralelo, que confunde as esferas pública e privada, tem
colocado as três universidades estaduais paulistas – USP, Unesp e Unicamp – na mira de tribunais de
contas, Judiciário e Ministério Público. Intermediações de convênios federais com terceirização de
serviços, aluguel de espaço público, gestão de verbas da própria universidade e cobrança de taxas são
algumas das irregularidades que envolvem a atuação de fundações privadas ligadas às universidades. A
cobrança por cursos continua ganhando espaço.
Uma das principais fundações de apoio à Universidade de São Paulo (USP), a FUSP, foi questionada
em dezembro pela Controladoria-Geral da União (CGU). Ela é titular de um convênio com o Ministério
da Cultura para projeto de uma incubadora ligada à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP, a
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares. Além de intermediar o serviço, o que é ilegal, a
FUSP subcontrataria a ONG Capina e cobrava aluguel de R$ 79 mil por um espaço na universidade.
Após a CGU reprovar o convênio, de R$ 502 mil, a União congelou o repasse. A USP informa que
trabalha para avançar com a proposta e que a “interrupção tem acarretado desmobilização da equipe e
empreendimentos”.
Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as atribuições de uma fundação privada, a
Funcamp, se misturam com as da própria instituição, assim como a gestão dos recursos. Ela gerencia
almoxarifados, reformas e hospitais e cobra taxa de 6%. São atividades não permitidas e distantes da
finalidade da fundação. A Funcamp também recebeu recursos originários da universidade, como taxas
de inscrição em vestibulares e formaturas, comercialização de livros e publicações de periódicos, além
da venda de camundongos, softwares, mudas e plantas.
Praticamente toda a atuação da Funcamp foi considerada irregular pelo Tribunal de Contas do Estado
(TCE) em 2014. O TCE viu as ações como uma “terceirização exagerada”. Para tocar atividades, a
universidade prorroga desde 1987 um convênio com a Funcamp – o que por si só viola a lei.
Já a Universidade Estadual Paulista (Unesp) aceita que a Fundação Para o Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (FDCT) ofereça cursos pagos no câmpus Guaratinguetá. O Ministério Público questiona
o uso na Justiça (mais informações nesta página).
Fundações são alvos de investigação nas universidades estaduais paulistas
Realidade. Quase sempre criadas por professores universitários, as fundações de apoio podem firmar
convênios com empresas, governos – com dispensa de licitação – e a própria universidade. Por meio
delas, professores são contratados e pagos, mesmo que tenham vínculo que exige dedicação exclusiva.
Os ganhos podem ser até cinco vezes maiores que o salário como servidor integral, segundo a
Associação de Docentes da USP (Adusp).
Os sindicatos das estaduais e o nacional (Andes) lutam historicamente contra o processo de
privatização. “Essa relação fere a separação entre público e privado, não há transparência”, diz o
presidente da Adusp, Ciro Correia. “Um docente nessa situação está mais ligado à fundação ou à
universidade?.”
Parte do dinheiro de contratos e cursos pagos vai para as faculdades às quais as fundações são ligadas.
Em geral, a universidade fica com 5%. Em 2014, a USP recebeu R$ 4 milhões com cursos pagos
oferecidos pelas fundações – o que indica uma movimentação de R$ 88 milhões. Há formações que
custam cerca de R$ 30 mil.
A USP tem um fundo para essas taxas de cursos e convênios. Em março, o saldo era de R$ 15,4
milhões, valor irrisório perto dos negócios das fundações. Só a FUSP recebeu R$ 740 milhões em
projetos da instituição entre 2007 e 2013. Segundo a reitoria, 16 das mais de 30 fundações da USP têm
197 convênios com a própria universidade – a FUSP tem 26.
Presidente da FUSP, José Roberto Cardoso diz que o modelo é imprescindível para a agilidade de
processos de contratação na universidade e o desenvolvimento de pesquisas, intensificando o diálogo
com o setor produtivo. “As fundações surgiram como oportunidade para o professor aumentar os
ganhos na universidade e não sair para o mercado. Mas não é só o dinheiro.”
Na Unicamp, a Funcamp geriu em 2013 R$ 377 milhões de 1.183 convênios e contratos. Os cursos
cobrados se traduziram em R$ 16 milhões naquele ano. A universidade não respondeu aos
questionamentos sobre a fundação.
Nos tribunais. Pelo menos duas ações civis públicas, abertas contra a USP e a Unesp, correm na Justiça
contra a cobrança de cursos nas universidades públicas paulistas.
A primeira, de 2005, foi remetida no mês passado para análise do pleno do Tribunal de Justiça após o
desembargador ter acatado argumentos da promotoria que questionam o modelo. Em 2012, o MP
entrou com ação contra a atuação de uma fundação na Unesp. Em janeiro deste ano, o juiz deu
continuidade ao processo, mas negou liminar que pedia suspensão de cursos pagos. A Constituição
determina que o ensino deve ser gratuito nas universidades públicas.
Para o presidente da Associação dos Docentes da Unesp (Adunifesp), Milton Vieira do Prado Junior,
fundações minam o caráter público da universidade. “É um espaço público gerando produto privado.”
A Unesp defende a legalidade. “As aulas são na Unesp, mas a unidade e o departamento recebem 30%”,
diz em nota.Pelo menos duas ações civis públicas, abertas contra a USP e a Unesp, correm na Justiça
contra a cobrança de cursos nas universidades públicas paulistas.
40% dos professores que devem
exclusividade à USP têm outro
trabalho Docentes têm autorização para realizar atividades, como pesquisa para empresas
Paulo Saldaña - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Mais de 40% dos professores da Universidade de São Paulo (USP) contratados para se
dedicar integralmente ao ensino e à pesquisa na instituição são liberados para realizar outros
trabalhos. Cerca de 2,1 mil docentes têm autorização para trabalhar e receber por atividades como dar
aulas em cursos pagos e fazer pesquisas remuneradas por empresas.
Esse grupo faz parte dos 5,2 mil professores – que representam 87% do total do corpo docente da USP
– contratados pelo chamado Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP). Esse
regime tem um salário proporcionalmente 37% maior do que aquele pago a um docente da
universidade sem dedicação exclusiva, no chamado Regime de Turno Completo (RTP). Com a
flexibilização, os salários básicos não são alterados.
A dedicação exclusiva sempre foi um dos pilares do ensino superior público por dar ao professor as
condições de autonomia e de independência para a pesquisa, o ensino e a extensão. O porcentual de
profissionais nessa modalidade é critério, até mesmo, na avaliação da qualidade dos cursos de ensino
superior realizada pelo Ministério da Educação (MEC).
Ao exigir que o docente se dedique somente para a universidade, durante 40 horas semanais (o RTP
prevê 24 horas), o sistema também veta que ele seja remunerado além do que já recebe como servidor
público. Há oficialmente algumas exceções de ganhos, como bolsas das agências de fomento. A
legislação federal prevê ainda que ele faça atividades extras eventuais e com a limitação de até 240
horas anuais. A liberação e o controle, entretanto, cabem às instituições.
Na USP, isso é feito internamente pela Comissão Especial de Regimes de Trabalho (Cert). Para o
presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), Ciro Correia, o alto porcentual de professores
com essa autorização é um sinal negativo. “Ter mais de 40% dos professores nessa condição mostra o
quanto está desvirtuado o RDIDP na universidade”, afirma Correia. “Fere um princípio em que a
dedicação intelectual seja exclusiva à instituição, para melhoria da atividade acadêmica.”
Nem todos os professores com essa autorização desenvolvem atividades simultâneas, de acordo com a
universidade, assim como existem atividades que exigem essa exceção de regime, mas não são
remuneradas – como a tradução de um livro científico, por exemplo.
Crítica. Um dos problemas do modelo é que não há controle e transparência sobre as horas dedicadas a
cada atividade, segundo a Adusp. “É impossível trabalhar 40 horas em alguma coisa e depois outras 30
horas em um segundo projeto de modo responsável”, diz Correia.
As fundações de apoio ligadas às universidades, onde existem cursos pagos e projetos com empresas e
governos, são destino comum para esse segundo turno de trabalho. Muitas das fundações têm como
uma das premissas a indicação de docentes para cargos em sua direção, criando obrigação para o setor
público.
O especialista em educação Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade
(IETS) do Rio de Janeiro, discorda das críticas. Ele não só acredita na flexibilização como indica que
esse processo dever ser intensificado. “Acho que a ideia da dedicação exclusiva é equivocada. O
professor tem de ter contato para fora, ele pode trabalhar na universidade, na área empresarial. É
importante esse intercâmbio”, afirma Schwartzman. “É necessário avançar nessa flexibilização.”
Mudança. Esse processo já está em andamento na USP. O Conselho Universitário – órgão máximo da
instituição – começou a discutir em sua última reunião, na semana passada, modificações do regime de
trabalho docente.
Um grupo de trabalho criado com esse propósito sugeriu que as novas contratações da universidade
sejam no chamado Regime de Turno Parcial (RTP), de 12 horas semanais, apenas indicando uma
valorização à dedicação integral. “As unidades/departamentos deverão zelar para manter uma relação
numérica equilibrada entre docentes nos diversos regimes de trabalho e valorizando o RDIDP”,
informa o documento.
A proposta já enfrentou grande resistência na reunião por parte de docentes contrários ao modelo. O
documento ainda propõe a criação de novos regimes de trabalho, como o de 40 horas sem dedicação
exclusiva, e uma simplificação do processo de contração de docentes temporários. As discussões
continuarão na próxima reunião do conselho, que será realizada amanhã. A previsão é de que as
decisões sobre mudança na carreira docente e nos regimes de trabalho sejam implementadas até
novembro.
As fundações ganham espaço na USP. O Conselho Universitário tinha 21% de seus membros ligados a
fundações privadas em 2000. Neste ano, um terço (33%) está na mesma situação (39 dos 122
integrantes). Para o sindicato, há conflito de interesse. “Queremos que a atuação das fundações seja
extinguida, mas quem vai decidir é o conselho, que não tem isenção”, diz Ciro Correia, presidente da
Adusp. Entre 2007 e 2013, só a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (FUSP) recebeu R$
740 milhões em projetos. E mantém 26 convênios ativos com a USP. Conforme o Estado revelou
ontem, a Controladoria-Geral da União (CGU) questionou no fim de 2014 um dos convênios da FUSP.
'Instituições precisam de
flexibilidade', diz pesquisador Para o especialista Simon Schwartzman, as universidades públicas têm um modelo
burocrático que dificulta as decisões
Paulo Saldaña - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Apesar de relações polêmicas, como a oferta de cursos pagos, e críticas por falta de
transparência, a interação da universidade pública com o setor produtivo é um desafio que as
instituições precisam enfrentar. Segundo especialistas, o ensino superior precisa de instrumentos para
lidar com a burocracia e as fundações privadas de apoio acabam sendo mais ágeis.
O pouco diálogo com o mercado é apontado como um dos motivos para o baixo impacto da ciência do
Brasil no cenário internacional. Para Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e
Sociedade (Iets) no Rio de Janeiro, as universidades públicas têm um modelo burocrático que dificulta
as decisões. “O fortalecimento das fundações foi importante e fico preocupado com o movimento
contrário. As instituições precisam de flexibilidade”, diz ele, conceituado estudioso de ensino e
pesquisa. Schwartzman ressalta que desvios têm de ser resolvidos. “É necessária a transparência e,
evidentemente, há casos melhores e piores de gestão. Mas as universidades precisam desses modelos e
dos recursos.”
O economista Claudio de Moura Castro defende que o debate sobre o tema seja mais “ideológico” que
racional. “Sem as fundações não há pesquisa no País. A burocracia pública é tão terrível que não se
trata de gostar ou não do modelo”, diz ele, que já dirigiu a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes). “Ou se reforma a contabilidade pública ou não há a mais remota
possibilidade de não contar com essas opções. Sem as fundações, não há pesquisa.”
Crítico ao modelo, o professor Ciro Correia, presidente da Associação de Docentes da USP (Adusp),
indica que as universidades poderiam ser protagonistas nesse processo. “A burocracia da universidade
não é ágil. Mas o argumento é usado para garantir aumentos salariais de professores, e a maioria dos
trabalhos atendem apenas o mercado”, diz. “Por que as universidades não criam setores de convênios,
com maior transparência? Uma fundação pública é um caminho.”
Dados da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) indicam que o dinheiro
privado responde por 5,1% do financiamento de pesquisas da USP.O professor de Direito
Administrativo Carlos Ari Sundfeld pondera as vantagens e desvantagens. “Há uma crítica porque os
mecanismos de controle quase sempre são internos. Mas há benefícios indiretos dessa relação”, diz ele,
docente do curso de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O Ministério Público tem uma curadoria de fundações. Em São Paulo, o promotor Airton Grazzioli,
responsável pela fiscalização, não respondeu aos pedidos de entrevista.
Veículo O GLOBO ONLINE
Data 12/04/2015
Assunto Investigação sobre os recursos das universidades
USP: 40% dos professores com dedicação exclusiva são liberados para outras atividades
Associação critica percentual elevado de docentes com autorização para realizar trabalhos extras
POR PAULO SALDAÑA*
SÃO PAULO - Mais de 40% dos professores da Universidade de São Paulo (USP)
contratados para se dedicarem integralmente ao ensino e pesquisa na instituição são
liberados para realizar outros trabalhos. Cerca de 2,1 mil docentes têm autorização para
trabalhar em outras atividades e receber por atividades como dar aulas em cursos pagos
e fazer pesquisas remuneradas por empresas.
Esse grupo faz parte dos 5,2 mil professores - que representam 87% do total do corpo
docente da USP - contratados pelo chamado Regime de Dedicação Integral à Docência e
à Pesquisa (RDIDP). Esse regime tem um salário proporcionalmente 37% maior do
pago a um docente da USP sem dedicação exclusiva, no chamado Regime de Turno
Completo (RTC). Com a flexibilização, os salários básicos não são alterados.
A dedicação exclusiva sempre foi um dos pilares do ensino superior público por dar ao
professor as condições de autonomia e independência para pesquisa, ensino e extensão.
O porcentual de profissionais nessa modalidade é critério, inclusive, na avaliação da
qualidade dos cursos de ensino superior realizada pelo Ministério da Educação (MEC).
Ao exigir que o docente se dedique apenas para à universidade, em 40 horas semanais
(o RTP prevê 24 horas), o sistema também veta que ele seja remunerado além do que já
recebe como servidor. Há oficialmente algumas exceções de ganhos, como bolsas das
agências de fomento. A legislação federal prevê ainda que ele faça atividades extras
eventuais e com limitação de até 240 horas anuais. A liberação e controle, entretanto,
cabem às instituições.
Na USP, ela é feita internamente pela Comissão Especial de Regimes de Trabalho
(Cert). Para o presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), Ciro Correia, o
alto porcentual de professores com essa autorização é um sinal negativo.
- Ter mais de 40% dos professores nessa condição mostra o quanto está desvirtuado o
RDIDP na universidade - diz ele. - Fere um princípio em que a dedicação intelectual
seja exclusiva à instituição, para melhoria da atividade acadêmica.
Nem todos os professores com essa autorização desenvolvem atividades simultâneas,
segundo a universidade, assim como há atividades que exigem essa exceção de regime
mas não são remuneradas - como uma tradução de livro científico, por exemplo. Um
dos problemas do modelo é que não há controle e transparência sobre as horas
dedicadas a cada atividade, segundo a Adusp.
- É impossível trabalhar 40 horas em alguma coisa e depois outras 30 horas em um
segundo projeto de modo responsável - diz Correia.
As fundações de apoio ligadas às universidades, onde há cursos pagos e projetos com
empresas e governo, são destino comum para esse segundo turno de trabalho. Muitas
das fundações têm como uma das premissas a indicação de docentes para cargos em
sua direção, criando obrigação para o setor público.
O especialista em educação Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e
Sociedade (IETS) do Rio de Janeiro, discorda das críticas. Ele não só acredita na
flexibilização como indica que esse processo dever ser intensificado.
- Acho que a ideia da dedicação exclusiva é equivocada. O professor tem de ter contato
para fora, ele pode trabalhar na universidade, na área empresarial. É importante esse
intercâmbio - diz. - É necessários avançar nessa flexibilização.
Mudança. Esse processo já está em andamento na USP. O Conselho Universitário
começou a discutir em sua última reunião, na semana passada, modificações do regime
de trabalho docente. Um grupo de trabalho criado com esse propósito propôs que as
novas contratações da universidade sejam no chamado Regime de Turno Parcial (RTP)
- de 12 horas semanais - apenas indicando uma valorização à dedicação integral. “As
unidades/departamentos deverão zelar para manter uma relação numérica equilibrada
entre docentes nos diversos regimes de trabalho e valorizando o RDIDP”, assinala o
documento.
A proposta já enfrentou grande resistência na reunião por parte de docentes contrários
ao modelo. O documento ainda propõe a criação de novos regimes de trabalho, como o
de 40 horas sem dedicação exclusiva, e uma simplificação do processo de contração de
docentes temporários. As discussões continuam na próxima reunião do Conselho nesta
terça-feira. A previsão é de que as decisões sobre mudança na carreira docente e
regimes de trabalho sejam implementadas até novembro.
UM TERÇO DO CONSELHO DA USP TEM LIGAÇÃO COM FUNDAÇÕES
Enquanto persiste um impasse sobre a atuação das fundações nas universidades
públicas, elas ganham espaço na instituição de ensino superior mais importante do
País. A instância máxima de decisões da USP, o Conselho Universitário, tinha 21% de
seu membros ligados a fundações privadas em 2000. Neste ano, um terço (33%) dos
titulares do colegiado estão nessa situação. São 39 dos 122 integrantes, segundo
levantamento de fevereiro deste ano da Adusp.
A Adusp indica que essa realidade na instância máxima representa conflito de
interesses.
- Queremos que a atuação das fundações dentro da universidade seja extinguida, mas
quem vai decidir é o Conselho Universitário, que está prejudicado a priori, não tem
isenção nenhuma - diz Correia.
Como as fundações indicam servidores para cargos de direção, o reitor da USP, Marco
Antonio Zago, aparece, por exemplo, como presidente do Conselho Curador da
Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (FUSP), uma das mais atuantes dentro
da instituição. O reitor não respondeu ao pedido de entrevista. O cargo não é
remunerado.
Entre 2007 e 2013, a FUSP recebeu R$ 740 milhões em projetos da instituição. A FUSP
tem 26 convênios ativos com a universidade. Conforme a série de reportagens
“Universidades S/A” revelou no domingo, a Controladoria Geral da União (CGU)
questionou no fim do ano passado um convênio, firmado com o Ministério da Cultura,
em que a FUSP cobrava aluguel de espaço público da USP e terceirizava um serviço
para uma ONG. O repasse está congelado por conta dos questionamentos.
O Ministério Público Estadual interpelou na Justiça a atuação das fundações, sobretudo
na oferta de cursos pagos dentro da universidade pública, incluindo na USP. Criadas
por professores, as fundações privadas tem a supervisão interna dos departamentos às
quais são ligadas. Mas muitas vezes os cargos se repetem nos dois lados, o que é visto
como uma das fragilidades do modelo.
- Há problemas quando a direção da fundação espelha o órgão apoiado, por que não se
distingue as posições e começa a confundir - opina o professor de Direito
Administrativo da USP Floriano de Azevedo Marques.
*Do “Estado de S. Paulo”
Participaram da reportagem em cada veículo: O GLOBO: Lauro Neto, Antonio Gois e
William Helal Filho. “Zero Hora": Adriana Irion, Humberto Trezzi, Rodrigo Lopes e
Rodrigo Muzell. “O Estado de S. Paulo": Ana Carolina Sacoman e Paulo Saldaña.
“Gazeta do Povo": Felippe Aníbal e Marisa Boroni Valério. “Diário Catarinense”: Luis
Antonio Hangai, Mayara Rinaldi e Raquel Vieira.
Veículo ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE
Data 13/04/2015
Assunto Investigação sobre os recursos das universidades
Época Negócios
40% DOS PROFESSORES QUE DEVEM EXCLUSIVIDADE À USP TÊM OUTRO TRABALHO CERCA DE 2,1 MIL DOCENTES TÊM AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHAR E RECEBER POR ATIVIDADES COMO DAR AULAS
EM CURSOS PAGOS E FAZER PESQUISAS REMUNERADAS POR EMPRESAS
USP (FOTO: CECILIA BASTOS/ USP)
Mais de 40% dos professores da Universidade de São Paulo (USP) contratados para se dedicar
integralmente ao ensino e à pesquisa na instituição são liberados para realizar outros trabalhos.
Cerca de 2,1 mil docentes têm autorização para trabalhar e receber por atividades como dar aulas
em cursos pagos e fazer pesquisas remuneradas por empresas.
Esse grupo faz parte dos 5,2 mil professores - que representam 87% do total do corpo docente da
USP - contratados pelo chamado Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP).
Esse regime tem um salário proporcionalmente 37% maior do que aquele pago a um docente da
universidade sem dedicação exclusiva, no chamado Regime de Turno Completo (RTP). Com a
flexibilização, os salários básicos não são alterados.
A dedicação exclusiva sempre foi um dos pilares do ensino superior público por dar ao professor as
condições de autonomia e de independência para a pesquisa, o ensino e a extensão. O porcentual
de profissionais nessa modalidade é critério, até mesmo, na avaliação da qualidade dos cursos de
ensino superior realizada pelo Ministério da Educação (MEC).
Ao exigir que o docente se dedique somente para a universidade, durante 40 horas semanais (o
RTP prevê 24 horas), o sistema também veta que ele seja remunerado além do que já recebe como
servidor público. Há oficialmente algumas exceções de ganhos, como bolsas das agências de
fomento. A legislação federal prevê ainda que ele faça atividades extras eventuais e com a limitação
de até 240 horas anuais. A liberação e o controle, entretanto, cabem às instituições.
Na USP, isso é feito internamente pela Comissão Especial de Regimes de Trabalho (Cert). Para o
presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), Ciro Correia, o alto porcentual de
professores com essa autorização é um sinal negativo. "Ter mais de 40% dos professores nessa
condição mostra o quanto está desvirtuado o RDIDP na universidade", afirma Correia. "Fere um
princípio em que a dedicação intelectual seja exclusiva à instituição, para melhoria da atividade
acadêmica."
Nem todos os professores com essa autorização desenvolvem atividades simultâneas, de acordo
com a universidade, assim como existem atividades que exigem essa exceção de regime, mas não
são remuneradas - como a tradução de um livro científico, por exemplo.
Crítica
Um dos problemas do modelo é que não há controle e transparência sobre as horas dedicadas a
cada atividade, segundo a Adusp. "É impossível trabalhar 40 horas em alguma coisa e depois
outras 30 horas em um segundo projeto de modo responsável", diz Correia.
As fundações de apoio ligadas às universidades, onde existem cursos pagos e projetos com
empresas e governos, são destino comum para esse segundo turno de trabalho. Muitas das
fundações têm como uma das premissas a indicação de docentes para cargos em sua direção,
criando obrigação para o setor público.
O especialista em educação Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade
(IETS) do Rio de Janeiro, discorda das críticas. Ele não só acredita na flexibilização como indica
que esse processo deve ser intensificado. "Acho que a ideia da dedicação exclusiva é equivocada. O
professor tem de ter contato para fora, ele pode trabalhar na universidade, na área empresarial. É
importante esse intercâmbio", afirma Schwartzman. "É necessário avançar nessa flexibilização."
Mudança
Esse processo já está em andamento na USP. O Conselho Universitário - órgão máximo da
instituição - começou a discutir em sua última reunião, na semana passada, modificações do
regime de trabalho docente.
Um grupo de trabalho criado com esse propósito sugeriu que as novas contratações da
universidade sejam no chamado Regime de Turno Parcial (RTP), de 12 horas semanais, apenas
indicando uma valorização à dedicação integral. "As unidades/departamentos deverão zelar para
manter uma relação numérica equilibrada entre docentes nos diversos regimes de trabalho e
valorizando o RDIDP", informa o documento.
A proposta já enfrentou grande resistência na reunião por parte de docentes contrários ao modelo.
O documento ainda propõe a criação de novos regimes de trabalho, como o de 40 horas sem
dedicação exclusiva, e uma simplificação do processo de contração de docentes temporários. As
discussões continuarão na próxima reunião do conselho, que será realizada amanhã. A previsão é
de que as decisões sobre mudança na carreira docente e nos regimes de trabalho sejam
implementadas até novembro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Veículo REVISTA EXAME
Data 13/04/2015
Assunto Investigação sobre os recursos das universidades
40% dos professores exclusivos da USP têm outro trabalho
USP: a dedicação exclusiva sempre foi um dos pilares do ensino superior público por dar ao professor as condições de autonomia e de independência
Paulo Saldaña, do Estadão Conteúdo
São Paulo - Mais de 40% dos professores da Universidade de São Paulo (USP) contratados para se dedicar integralmente ao ensino e à pesquisa na instituição são liberados para realizar outros trabalhos.
Cerca de 2,1 mil docentes têm autorização para trabalhar e receber por atividades como dar aulas em cursos pagos e fazer pesquisas remuneradas por empresas.
Esse grupo faz parte dos 5,2 mil professores - que representam 87% do total do corpo docente da USP - contratados pelo chamado Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP).
Esse regime tem um salário proporcionalmente 37% maior do que aquele pago a um docente da universidade sem dedicação exclusiva, no chamado Regime de Turno Completo (RTP). Com a flexibilização, os salários básicos não são alterados.
A dedicação exclusiva sempre foi um dos pilares do ensino superior público por dar ao professor as condições de autonomia e de independência para a pesquisa, o ensino e a extensão.
O porcentual de profissionais nessa modalidade é critério, até mesmo, na avaliação da qualidade dos cursos de ensino superior realizada pelo Ministério da Educação (MEC).
Ao exigir que o docente se dedique somente para a universidade, durante 40 horas semanais (o RTP prevê 24 horas), o sistema também veta que ele seja remunerado além do que já recebe como servidor público.
Há oficialmente algumas exceções de ganhos, como bolsas das agências de fomento. A legislação federal prevê ainda que ele faça atividades extras eventuais e com a limitação de até 240 horas anuais. A liberação e o controle, entretanto, cabem às instituições.
Na USP, isso é feito internamente pela Comissão Especial de Regimes de Trabalho (Cert). Para o presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), Ciro Correia, o alto porcentual de professores com essa autorização é um sinal negativo.
"Ter mais de 40% dos professores nessa condição mostra o quanto está desvirtuado o RDIDP na universidade", afirma Correia. "Fere um princípio em que a dedicação intelectual seja exclusiva à instituição, para melhoria da atividade acadêmica."
Nem todos os professores com essa autorização desenvolvem atividades simultâneas, de acordo com a universidade, assim como existem atividades que exigem essa exceção de regime, mas não são remuneradas - como a tradução de um livro científico, por exemplo.
Crítica
Um dos problemas do modelo é que não há controle e transparência sobre as horas dedicadas a cada atividade, segundo a Adusp. "É impossível trabalhar 40 horas em alguma coisa e depois outras 30 horas em um segundo projeto de modo responsável", diz Correia.
As fundações de apoio ligadas às universidades, onde existem cursos pagos e projetos com empresas e governos, são destino comum para esse segundo turno de trabalho.
Muitas das fundações têm como uma das premissas a indicação de docentes para cargos em sua direção, criando obrigação para o setor público.
O especialista em educação Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) do Rio de Janeiro, discorda das críticas. Ele não só acredita na flexibilização como indica que esse processo deve ser intensificado.
"Acho que a ideia da dedicação exclusiva é equivocada. O professor tem de ter contato para fora, ele pode trabalhar na universidade, na área empresarial. É importante esse intercâmbio", afirma Schwartzman. "É necessário avançar nessa flexibilização."
Mudança
Esse processo já está em andamento na USP. O Conselho Universitário - órgão máximo da instituição - começou a discutir em sua última reunião, na semana passada, modificações do regime de trabalho docente.
Um grupo de trabalho criado com esse propósito sugeriu que as novas contratações da universidade sejam no chamado Regime de Turno Parcial (RTP), de 12 horas semanais, apenas indicando uma valorização à dedicação integral.
"As unidades/departamentos deverão zelar para manter uma relação numérica equilibrada entre docentes nos diversos regimes de trabalho e valorizando o RDIDP", informa o documento.
A proposta já enfrentou grande resistência na reunião por parte de docentes contrários ao modelo. O documento ainda propõe a criação de novos regimes de trabalho, como o de 40 horas sem dedicação exclusiva, e uma simplificação do processo de contração de docentes temporários.
As discussões continuarão na próxima reunião do conselho, que será realizada amanhã.
A previsão é de que as decisões sobre mudança na carreira docente e nos regimes de trabalho sejam implementadas até novembro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Tópicos: Educação no Brasil, Universidades, Ensino superior, USP
Veículo O GLOBO ONLINE
Data 13/04/2015
Assunto Documentário USP 7%
Documentário mostra por que USP só tem 7% de estudantes negros
Curta será exibido nesta segunda-feira na universidade; diretor critica política de cotas e programa de ingresso de estudantes
POR LEONARDO GUANDELINE
Daniel Mello (primeiro à esquerda) dirige cena do documentário: para ele, filme é sobre racismo estrutural na maior universidade do Brasil - Divulgação/ Agência O Globo
SÃO PAULO - "Um documentário sobre racismo estrutural". É assim que o jornalista
Daniel Mello define o curta-metragem "USP 7%", cujo lançamento acontece nesta
segunda-feira. O título do documentário faz alusão à quantidade de alunos negros -
pretos e pardos - matriculados na universidade em 2012, ano em que as cotas raciais
foram adotadas em todo o ensino superior federal no país. Na USP, no mesmo ano, o
governador Geraldo Alckmin (PSDB) criou o Programa de Inclusão com Mérito no
Ensino Superior Público Paulista (Pimesp), considerado insuficiente pelos movimentos
pró-cotas raciais.
No documentário, quatro personagens falam sobre como é ser negro na USP e na
sociedade brasileira. Um deles é a estudante da Saúde Pública Mônica Gonçalves,
impedida no ano passado de entrar no prédio da Faculdade de Medicina da USP,
mesmo apresentando a carteirinha de estudante. Outra fala é de Luis Carlos Santos,
fundador do Núcleo de Consciência Negra na USP, onde a pré-estreia do filme
acontecerá, que luta desde os anos 1980 pelo aumento da presença de negros em salas
de aula.
O documentário é resultado da parceria de Mello com outro jornalista, Bruno Bocchini,
e terá duas versões, de 15 e 25 minutos. Em entrevista ao GLOBO, o primeiro explica o
por que da USP, uma das maiores universidades da América Latina, ainda ser "branca"
e incapaz de reduzir desigualdades. Daniel Mello também fala do embargo ao filme,
após um promotor de Justiça do Maranhão entrar na Justiça Federal.
Porque a USP é branca?
Porque alunos negros só ingressam vindos de escolas públicas através do Pimesp (o
programa tem por objetivo garantir que, gradativamente até 2016, 50% das vagas das
USP e das demais universidades públicas paulistas, sejam destinadas a alunos egressos
do Ensino Médio público. Dessas, 35% seriam destinadas a pretos, pardos e indígenas),
um sistema para selecionar um grupo muito restrito de pessoas. A USP é uma
universidade aberta para os que estudam nas melhores escolas. Ela não está aberta para
quem mora longe, para quem tem de trabalhar.
A política de cotas raciais na universidade praticamente inexiste? Como
você mesmo falou, há apenas um bônus racial para alunos oriundos de
escolas públicas...
Há um pequeno percentual de bônus para os alunos negros. Mas ele não é capaz de
reduzir a diferença nos cursos mais concorridos, como Direito, Medicina, Jornalismo.
Hoje a universidade alega crise financeira, deixando ainda mais de lado uma política de
cotas.
E a questão do racismo na universidade? Recentemente, houve um ensaio
fotográfico mostrando isso...
O documentário é sobre racismo estrutural. Tem uma parte da sociedade que é
apartada das melhores coisas, dos empregos, e é sobre isso que a gente está falando.
Você tem uma universidade em que um grupo está na sala de aula e o outro, na faxina.
Tivemos o caso da Mônica, aluna da Saúde Pública, que foi barrada na universidade.
Você estudou na USP?
Eu, não. O Bruno (Bocchini, o outro diretor) fez História, mas o mais importante é que
o olhar venha de alguém de fora. Um dos grandes problemas na USP é que parte dos
alunos, do corpo docente, trata os assuntos como deles, fica tudo por lá, sem que sejam
prestadas contas à sociedade. Mas nós temos a CPI do estupro na USP na Alesp,
problemas financeiros terríveis conhecidos. Há uma cultura de não prestar contas.
Falando um pouco da realização do documentário, que foi vencedor de um
edital lançado em 2012 direcionado a cineastas negros, houve um embargo
por conta de um promotor de Justiça durante quase dois anos?
Em 2012 surgiu esse edital do Ministério da Cultura em parceria com a Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial voltado para diretores negros. Daí tem esse
promotor que entra sempre na Justiça contra o governo federal em ações contrárias à
União no Maranhão e em demais estados que contribuiu para o embargo do projeto
alegando discriminação. Com isso, todos os editais ficaram paralisados em 2013. Após
idas e vindas, em abril de 2014, com a liberação da verba (R$ 88 mil), começamos a
pesquisa e o trabalho junto ao Núcleo de Consciência Negra. As filmagens começaram
no início de outubro passado. Neste ano, começamos a montagem. Serão duas versões.
A primeira, de 15 minutos (que será apresentada na estreia) e a outra, com 25 minutos,
em razão do farto material que a gente tem.
A ideia, agora, é inscrever o documentário em festivais Brasil afora?
Já inscrevemos em alguns. Espero que o documentário possa contribuir para a
discussão dessa questão da universidade como coisa pública.
Veículo G1 EDUCAÇÃO
Data 11/04/2015
Assunto Documentário USP 7%
'Só há mérito com igualdade', diz diretor de
filme sobre o negro na USP 'USP 7%' destaca dificuldades de acesso de jovens negros à universidade.
Documentário sobre racismo e luta por cotas tem pré-estreia nesta segunda.
Gabriela GonçalvesDo G1, em São Paulo
O curta-metragem " USP 7%" fará sua pré-estreia nesta segunda-feira (13) no Núcleo de Consciência Negra da
Universidade de São Paulo (veja o trailer no vídeo acima). O documentário que debate o racismo e luta pela reserva de
vagas na USP surgiu da observação de dois ex-alunos da universidade que constataram que os estudantes negros são
minoria no universo acadêmico. Em 15 minutos, o filme traz o relato de quatro pessoas negras que levantam discussões
sobre o papel do negro na sociedade.
Bruno Bocchini, de 35 anos, é um dos diretores do filme. Ele explica que o interesse pelo tema apareceu quando viu em
uma pesquisa do IBGE que 2,4% dos calouros eram pretos e 11,3%, pardos. “Ou seja, uma das principais universidades
do país tinha menos de 15% de negros. Fizemos um recorte e vimos que 7% vinha de escola pública”, destaca.
O objetivo do filme é dar visibilidade à questão dos negros na USP e à dificuldade do acesso. “Olhando o filme e
parando para pensar, nós vemos que o problema sempre é com o ingresso. Seja para entrar em um prédio, para ter um
espaço no prédio ou mesmo para passar no vestibular”, define o diretor.
Cartaz do curta 'USP 7%', que será exibido pela primeira vez nesta segunda-feira (Foto: Divulgação)
Histórias
Uma das histórias apresentadas no documentário é da estudante Mônica Gonçalves. Em 2014, ela foi impedida de
entrar no prédio da Faculdade de Medicina da USP, mesmo apresentando sua carteirinha de aluna. “Ela mostra como é
ser negro na USP e quais coisas fazem ela sentir que não é bem vinda ali”, afirma Bocchini.
Fernanda Moreira também relata sua experiência. Filha de uma faxineira que trabalha na universidade, é uma das
alunas do cursinho pré-vestibular mantido pelo Núcleo de Consciência Negra. “Ela é uma vestibulanda que está
tentando fazer parte de uma faculdade. No filme, quando ela começa a falar, chora”, relata.
Também participam do filme Luís Carlos e Regina Lúcia, antigos militantes, que falam sobre a ocupação, nos anos 80,
do barracão onde hoje funciona o Núcleo de Consciência Negra e sobre os caminhos que o movimento negro fez para
se firmar dentro da universidade.
Meritocracia x desigualdade
Embora o documentário não seja sobre cotas, elas fazem parte do filme. “Fala-se muito sobre as cotas e a importância
da meritocracia, mas só existe mérito quando há pé de igualdade. A meritocracia do vestibular só seria válida se todos
tivessem tido as mesmas condições de vida”, afirma Bocchini, que acrescenta que a solução seria educação de
qualidade para todos, mas que as cotas são uma medida atenuante.
Curta-metragem acompanhou manifestação em favor de cotas raciais (Foto: Divulgação)
Em 2012, o governo federal publicou o decreto que regulamenta a lei que garante a reserva de 50% das vagas nas
universidades federais, em um prazo progressivo de até quatro anos, para estudantes que cursaram o ensino médio em
escolas públicas. O critério de seleção será feito de acordo com o resultado dos estudantes no Exame Nacional de
Ensino Médio (Enem).
A USP não faz reserva de vagas, mas adota no seu vestibular, organizado pela Fuvest, uma política de bônus para
alunos de escolas públicas que pode chegar a 15% da nota. E mais 5% para os que se autodeclaram pretos, pardos ou
indígenas.
O G1 entrou em contato com a reitoria da USP para falar sobre as histórias relatadas no filme, mas a universidade não
quis se pronunciar sobre o assunto.
Veículo ESTADÃO WEB
Data 13/04/2015
Assunto Dívida do Centro Acadêmico da FD
Dívida milionária ameaça as
atividades do XI de Agosto
Centro Acadêmico do Direito da USP deve R$ 4 milhões em IPTU de imóvel na região
do Ibirapuera, na zona sul da capital paulista
SÃO PAULO - Uma dívida milionária de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) ameaça tirar do
Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), um
imóvel de 22 mil metros quadrados na região do Ibirapuera, na zona sul da capital paulista. Diante da
execução iminente do débito pela Prefeitura, a entidade corre o risco de encerrar atividades
assistenciais na Casa do Estudante, na Avenida São João, que abriga alunos carentes, e no
Departamento Jurídico (DJ), que presta serviços jurídicos gratuitos.
Para evitar execuções fiscais das parcelas - duas já foram levadas à Justiça neste ano -, o centro
acadêmico precisa obter imunidade tributária. O pedido foi feito à Prefeitura em 2005 e apreciado pela
primeira vez no ano passado durante reunião com o prefeito Fernando Haddad (PT), que foi presidente
da entidade em 1984. O Estado apurou, no entanto, que a solicitação dos estudantes do Largo de São
Francisco deve ser negada pela administração municipal paulistana.
A pendência financeira soma hoje pelo menos R$ 4 milhões relativa apenas ao IPTU do imóvel do
Ibirapuera, doado pelo ex-aluno Jânio Quadros quando era governador em 1955. O Campo do XI,
como é conhecido, tem um campo de futebol, quadras e salões, que são alugados.
Departamento jurídico. Sem repasse do Centro Acadêmico, será o fim do serviço gratuito
Desde 1986, o centro acadêmico arrasta o débito do Campo do XI. Até 2014, a dívida era de R$ 27
milhões, mas, conforme o Estado apurou, a entidade estudantil obteve a prescrição das parcelas mais
antigas. O imbróglio começou quando a entidade perdeu a isenção de impostos, após um
recadastramento da Prefeitura, que passou a efetuar a cobrança.
Agora, apesar das sinalizações negativas da gestão Haddad, os estudantes ainda apostam na imunidade
tributária para salvar as contas e as atividades do centro acadêmico. “Sustentamos veementemente a
tese da imunidade, por causa de todas as ações que temos do centro acadêmico”, diz Erica Meireles,
estudante do 4.º ano de Direito da USP e uma das representantes do XI.
Mobilização. Presidente da Associação dos Antigos Alunos, o advogado José Carlos Madia de Souza
disse que ex-alunos também têm pressionado a Prefeitura a aprovar a imunidade fiscal, pela
importância da manutenção das entidades por ela financiadas. “Já houve algumas reuniões com a
Prefeitura. O problema é que se cria uma exceção que provavelmente vai ser pleiteada por outras
entidades”, afirma.
Para Madia, a mudança constante de gestões do centro acadêmico, com eleições anuais, dificulta a
solução do caso. O ex-aluno e atual professor de Direito Comercial Carlos Pagano Portugal Gouvêa, que
fez oposição à gestão do XI em 1999, concorda. “No nosso entendimento, existia o título de utilidade
pública em relação àquele espaço. Mas isto nem era uma grande pauta na época”, afirma Gouvêa, que
diz que as gestões anteriores acreditavam que o processo se encerraria com a obtenção da imunidade e,
por isso, deixaram de pagar as parcelas.
Em avaliação. O pedido de imunidade está em análise, segundo a Prefeitura. “Quanto à comprovação
da atividade de assistência social, é necessário que tal atividade seja preponderante entre as finalidades
essenciais da entidade”, informa a Secretaria Municipal de Finanças, em nota oficial. Para que o XI seja
incluído entre as entidades imunes ao IPTU, não pode apresentar nenhum tipo de lucro em suas
contas, ou caso o apresente em determinada atividade terá de revertê-lo para ações sociais.
A pasta não quis comentar o processo sob a alegação de que a dívida está em sigilo fiscal. “A Secretaria
de Finanças informa que dados sobre a condição fiscal de contribuintes constituem informação
protegida por sigilo fiscal”, diz, em nota.
O Movimento Resgate Arcadas, que já presidiu o XI e hoje faz oposição aos gestores atuais do Canto
Geral, critica a forma como o problema financeiro é tratado. “Até agora nada foi relatado pela atual
gestão do centro acadêmico, sendo evidenciada a falta de transparência”, diz, em redes sociais. Os
estudantes ainda propõem que o XI entre no Programa de Parcelamento Incentivado (PPI), o que não é
confirmado pela atual gestão.
Clube. O Centro Acadêmico XI de Agosto, em parceria com a Associação dos Antigos Alunos, já tentou
transformar o espaço no Ibirapuera, na zona sul da capital, em um clube. O projeto, apresentado em
2011, no entanto, foi abandonado pelas gestões posteriores.
O plano inicial era a abertura de uma estrutura com um edifício de três andares, quadras poliesportivas
e de tênis, teatro e estacionamento. O espaço seria chamado de Clube das Arcadas. “Íamos captar R$
18 milhões de investidores, mas houve dúvidas sobre algumas reformas, como a construção de um
auditório, academia e estacionamento. Com isso, eventuais investidores se retraíram”, afirma o
advogado José Carlos Madia de Souza, presidente da Associação dos Antigos Alunos.
Fundo de investimento. O XI de Agosto teme também perder a principal fonte de renda da entidade, um
fundo de investimento proveniente de um reembolso de ações da Companhia Paulista de Estradas de
Ferro. A conta rende mensalmente R$ 25 mil e, com esse dinheiro, segundo a gestão do centro
acadêmico, são custeadas as atividades assistenciais.
As receitas do fundo servem para garantir repasses à Casa do Estudante, ao Departamento Jurídico
(DJ) e ao Serviço de Assistência Jurídica (Saju), que é um grupo de extensão dos alunos. O
Departamento Jurídico, que funciona em uma sala comercial própria na Praça João Mendes, na região
central, tem cerca de 40% de seu orçamento financiado pelo XI. Em seu quadro há 200 estagiários de
Direito e dez advogados profissionais na supervisão. O órgão atende atualmente cerca de 3 mil
processos, principalmente ações cíveis e de família, de população de baixa renda. A entidade atua com
um CNPJ de filial do XI.
Já a Casa do Estudante tem cerca de 60 moradores, todos estudantes da USP de baixa renda. Dentre os
gastos estão a manutenção da casa e o pagamento de funcionários de limpeza.
Segundo uma das representantes do XI, Erica Meireles, os valores arrecadados pelo XI em eventos
servem para financiar projetos de função social, o que asseguraria ao centro a imunidade fiscal
pleiteada. “Eventual dinheiro que a gente consiga obter contribui para o orçamento e há repasses para
entidades que cumprem função social, como o próprio DJ”, afirma.
A maior dificuldade para os estudantes, no entanto, é encontrar todos os relatórios de atividades
sociais exercidas e todos os livros contábeis dos últimos 30 anos.
Veículo O ESTADO DE S. PAULO
Data 11/04/2015
Página METRÓPOLE – E1
Assunto Corte de verba nas universidades públicas
Veículo G1 EDUCAÇÃO
Data 10/04/2015
Assunto Corte de verba nas universidades públicas
USP, Unesp e Unicamp cortam gastos e
suspendem aumento e contratações Unesp aplicou programa para reduzir em R$ 36 milhões os gastos no ano.
USP aplicou plano de demissão voluntária e Unicamp congelou recursos.
Do G1, em São Paulo e Campinas
Campus da Unesp em Jaboticabal (Foto: Reprodução/EPTV)
Seguindo os passos da Universidade de São Paulo (USP), que adotou um plano de demissão voluntária e outras
medidas para cortar gastos, as outras duas universidades estaduais paulistas, Unesp e Unicamp, também estão
colocando em prática medidas de contenção de despesas, como a suspensão de aumento para professores e técnicos e a
contratação de novos funcionários.
A Unesp pretende reduzir em R$ 36 milhões o orçamento este ano. Entre as medidas para reduzir gastos, se encontram:
diminuição em material de consumo e revisão dos contratos nas unidades de ensino, redução nas horas-extras, redução
nos investimentos e nas obras previstas. A universidade diz que a queda na arrecadação do ICMS de 2014 (as
universidades recebem 9,5% da cota do estado de São Paulo) e a projeção para 2015 levaram a instituição a adotar estas
medidas.
Nos planos da universidade estão a redução de R$ 32 milhões com despesas na folha de pagamento sem cortar a massa
salarial. A Unesp vai suspender temporariamente a progressão de carreira dos professores. Outros R$ 2 milhões serão
cortados nas despesas da reitoria e mais R$ 2 milhões nas unidades universitárias.
Sobre a suspensão temporária de ascenção profissional para professores e técnicos-administrativos, a Unesp explica que
os planos de carreiras vão passar por readequações, "já que ao longo dos últimos cinco anos todos foram contemplados
durante o processo de avaliação. Foi uma decisão administrativa de suspender temporariamente para corrigir problemas
apontados inclusive pelos próprios docentes e funcionários administrativos durante os cinco anos. É uma decisão
temporária e deverá ser discutida nos órgãos colegiados competentes".
A Unesp explica que o benefício individual por ascender na carreira de funcionário técnico-administrativo é de 5%. Do
segmento docente, pode ser de 3,5% ou 9,6%, dependendo da categoria e do nível em que ele se encontra.
Funcionários da Universidade de São Paulo (USP) fizeram greve de 114 dias no ano passado (Foto: Nelson Antoine/Frame/Estadão Conteúdo)
Na USP, o plano de demissão voluntária lançado pela reitoria em setembro de 2014 obteve 1.452 adesões consideradas
aptas, segundo relatório divulgado pela Coordenadoria de Administração Geral (Codage) da instituição.
De acordo com a USP, os cortes vão representar uma redução de 4,4% dos gastos com folha de pagamento e de 8,5%
no quadro total de servidores e técnicos administrativos. O investimento da USP no programa será de cerca de R$ 300
milhões.
Em meio à crise econômica agravada pela queda no financiamento, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
decidiu conter despesas com servidores e trabalha um plano para diminuir as contas de água e energia. A resolução
assinada pelo reitor, José Tadeu Jorge, determina contigenciamento de verbas para contratações ou aumentos salariais
aos servidores por meio de progressão de carreira, além da redução de horas-extras e economia durante as manutenções
de prédios e infraestrutura do campus.
Além disso, o reitor da Unicamp determinou congelamento de reservas previstas ao quadro de vagas/recursos de
servidores de carreira - 100% aos órgãos da administração central, 50% em unidades da área de saúde e 25% nos
institutos, faculdades e colégios técnicos.
Unicamp projeta canalizar até água de ar condicionado (Foto: Reprodução/ EPTV)
Veículo FOLHA UOL
Data 10/04/2015
Assunto Corte de verba nas universidades federais
Universidades federais pedem que União
não corte verba da área DE SÃO PAULO
Instituições ligadas à educação, coordenadas por reitores das universidades federais,
lançam nesta sexta-feira (10) manifesto contra corte orçamentário federal para a área.
Desde o início do ano, as instituições federais reclamam da insuficiência nas verbas de custeio.
"Como ainda não saiu o decreto orçamentário [do governo federal], não sabemos se
haverá cortes. Nossa defesa é que não haja", disse a reitora da Unifesp (federal de SP), Soraia Smaili.
"A educação é um direito. E a própria presidente Dilma defende que não pode haver redução de direitos", completou.
Entretanto, o novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, já reconheceu que a
pasta terá que dar contribuição ao ajuste fiscal.
Devem participam do lançamento do manifesto, na sede da Unifesp (zona sul de SP), reitores, secretários de Educação e ONGs.
CORTE DE GASTOS
Em meio a cenário de crise orçamentária, universidades públicas paulistas cortam gastos. Unicamp e Unesp decidiram suspender contratações ou aumentos salariais via
progressão na carreira. As medidas são semelhantes às tomadas pela USP no ano passado –e que estão mantidas para 2015.
Há o temor entre os reitores de que ocorra queda neste ano nos repasses do governo
estadual, principal fonte de renda dessas universidades públicas. Nos últimos meses, já cresceram menos do que a inflação, devido ao desaquecimento econômico.
As universidades recebem 9,57% da cota do Estado no ICMS (principal imposto estadual). Com desaquecimento da economia, desde agosto de 2014 essa arrecadação
cresce menos que a inflação.
Verba reduzida faz Unifesp cortar
funcionários terceirizados
A Unifesp afirmou nesta sexta (10) que teve de fazer cortes de funcionários terceirizados devido à escassez de recursos liberados pela União.
Segundo a universidade, a redução afeta serviços como limpeza e segurança, num corte
entre 20% e 30% dos funcionários.
Unifesp cortou funcionários devido à escassez de recursos; imagem mostra a reitora Soraya Smaili
Nestes primeiros meses do ano, o governo Dilma Rousseff tem liberado mensalmente
1/18 dos recursos para as universidades federais, em vez dos tradicionais 1/12.
A política é adotada enquanto o decreto de execução orçamentária do ano não é publicado pelo governo, que vive momento de redução de despesas.
Segundo a reitoria, a redução de funcionários terceirizados foi tomada para evitar
prejuízos diretos às atividades-fim da universidade (ensino, pesquisa e serviços à comunidade).
O temor da universidade é que o governo faça restrição ainda mais severa às instituições federais.
Numa tentativa de se defender de um eventual novo corte, reitores das federais e de
outras entidades da educação lançaram nesta sexta manifesto para pedir para que não haja redução orçamentária para a educação pública.
O movimento defende que o Orçamento do Ministério da Educação não sofra redução.
Mas, se for preciso, que sejam preservadas verbas para o ensino público.
"É na rede pública que o investimento público se enraíza. Não podemos ficar
dependendo de Fies, Prouni", disse a reitora da Unifesp, Soraya Smaili, em referência a programas federais que beneficiam alunos em instituições privadas.
O manifesto foi assinado até o momento pela Unifesp, instituto federal de educação de
São Paulo, Universidade Federal de Itajubá (MG), SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
UNIVERSIDADES ESTADUAIS
Em meio a cenário de crise orçamentária, universidades públicas paulistas também
estão cortando gastos. Unicamp e Unesp decidiram suspender contratações ou aumentos salariais via progressão na carreira. As medidas são semelhantes às tomadas
pela USP no ano passado –e que estão mantidas para 2015.
Há o temor entre os reitores de que ocorra queda neste ano nos repasses do governo estadual, principal fonte de renda dessas universidades públicas. Nos últimos meses, já
cresceram menos do que a inflação, devido ao desaquecimento econômico.
As universidades recebem 9,57% da cota do Estado no ICMS (principal imposto
estadual). Com desaquecimento da economia, desde agosto de 2014 essa arrecadação cresce menos que a inflação.
Veículo G1 RIBEIRÃO E FRANCA
Data 12/04/2015
Assunto Inauguração de laboratório na FMRP
'Pacientes artificiais' ajudam alunos de
medicina a melhorar atendimentos Laboratório de R$ 1,5 milhão foi instalado no campus da USP em Ribeirão.
Manequins computadorizados possuem sinais vitais, falam e até respiram.
Do G1 Ribeirão e Franca
A Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da Universidade de São Paulo (USP), inaugurou na sexta-feira
(10) um laboratório de simulação preparado para treinar as habilidades médicas dos alunos antes de atender os
pacientes. Em mais de 100 manequins controlados por computadores, os estudantes poderão realizar inúmeros
procedimentos de acordo com os sintomas simulados pelo boneco. O investimento foi de R$ 1,5 milhão.
Os manequins foram importados dos Estados Unidos da Noruega e possuem uma tecnologia que imita um paciente
real. Eles falam o que estão sentido, respiram e possuem sinais vitais, como pressão arterial, oxigênio e frequência
cardíaca.
Por meio dos indicadores, os alunos devem identificar o problema e realizar o procedimento mais adequado – desde a
aplicação de injeção e coleta de material para exames até cirurgia e reanimação cardiorrespiratória.
Aprendizagem
“O contato com o simulador ajuda a desenvolver a nossa confiança e aprimorar a técnica. Os bonecos são
extremamente avançados e servem para que possamos dar um melhor atendimento ao paciente O atendimento se torna
mais objetivo, mais claro”, diz o estudante do terceiro ano de medicina, Giovani Rosa. Ele ressalta, porém, que o
boneco nunca vai substituir o paciente.
Segundo o reitor da USP, Marco Antônio Zago, o Laboratório de Simulação (Labsim) é uma metodologia que permite
ao estudante de medicina aprimorar suas habilidades em diferentes técnicas sem colocar pacientes em risco durante o
processo de aprendizagem.
Alunos treinam reanimação cardiorrespiratória em manequim 'realista' (Foto: Cláudio Oliveira/EPTV)
"Se trata de treinar antes de encontrar o paciente, mas de uma maneira muito realista. Portanto, é um benefício para o
estudante de medicina, para a universidade, e também para a população”, explica. Ainda segundo ele, os equipamentos
são uma forma de aprimoramento do ensino para formar médicos cada vez melhores.
Além dos futuros médicos, alunos de outras áreas de saúde também realizarão atividades no laboratório.
Monitoramento
O coordenador do laboratório, Antônio Pazin Filho, destaca que o método também é importante porque permite aos
professores controlarem os sintomas do “paciente” de forma a testar as reações dos alunos e monitorar seu desempenho.
O “cérebro” dos manequins fica dentro de salas isolada da área de atendimentos, de onde docentes e assistentes também
monitoram os estudantes por meio das câmeras. No total, são 10 espaços diferentes. O monitoramento gera um registro
de dados, que detalha os procedimentos realizados.
“É interessante porque, no calor do atendimento, nem todo mundo percebe tudo o que está acontecendo. Então, você
mostra para o aluno que, naquele momento que ele acha que fez alguma coisa, não fez e ele se corrige”, afirma. Para o
coordenador, a técnica de ensino valoriza a prática profissional, já que testa o conhecimento sem deixa-lo restrito aos
livros.
Bonecos possuem sinais vitais, respiram e, no caso de bebês, até choram (Foto: Cláudio Oliveira/EPTV)
Veículo FOLHA UOL
Data 10/04/2015
Assunto Testes de vacina contra a dengue
Butantan pede para iniciar última fase de
testes de vacina contra a dengue
O Instituto Butantan protocolou nesta sexta-feira (10) um pedido à Anvisa para iniciar a terceira e última fase de estudos de uma vacina contra a dengue.
Na nova etapa, a vacina será testada em 17 mil voluntários, em todas as regiões do
Brasil. Dois terços deles receberão a vacina e um terço o placebo.
Se autorizada pela Anvisa e pelos comitês de ética - órgãos que avaliam o protocolo do
ponto de vista ético, ou seja, se os direitos e a segurança dos voluntários estão preservados e mantidos–, a medida pode antecipar em até dois anos o final dos estudos,
fazendo com que a vacina esteja disponível, na melhor das hipóteses, em 2016. A previsão inicial era 2018.
Segundo Alexander Precioso, diretor da divisão de ensaios clínicos e farmacovigilância
do instituto e pesquisador do departamento de pediatria da Faculdade de Medicina da USP, a principal função desta etapa é saber se a vacina protege contra os quatro tipos de
vírus da dengue.
"Já demonstramos que a vacina é segura. Já tem sido demonstrado que a vacina faz com que as pessoas desenvolvam uma resposta imunológica contra os quatro vírus.
Agora é saber se, com essa resposta imunológica, as pessoas se tornam protegidas contra os quatro vírus", diz.
Também de acordo com Precioso, é difícil prever quando a aprovação sairá, mas ele acredita que, como a dengue é um problema de saúde pública, o processo de análise
deve ocorrer "de uma forma bastante acelerada, para que se obtenha a aprovação o mais rápido possível".
Jorge Kalil, diretor do instituto, lembra da importância que a vacina, pioneira no
mundo, teria para a prevenção da doença no Brasil.
"Ainda não existe no mundo uma vacina licenciada contra a doença. Além da qualidade comprovada que o Butantan imprime aos seus produtos, para o Brasil é extremamente
relevante ter uma instituição nacional que produza uma vacina eficaz contra a dengue, pois é garantia de autossuficiência na produção da vacina e, portanto, possibilidade de
ampla oferta e proteção aos brasileiros", afirma.
Editoria de Arte/Folhapress
Após os estudos da terceira fase, o Instituto deve pedir à Anvisa o registro da vacina, o que possibilitaria que ela fosse disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS).
Atualmente, o Instituto Butantan tem capacidade para produzir 500 mil doses da vacina por ano, mas já tem projeto para construir uma fábrica que poderá produzir
mais de 60 milhões anualmente.
A fabricação das doses pode ter seu ritmo acelerado ou reduzido de acordo com o que for concluído na nova fase de testes.
A vacina é produto de uma parceria entre o Instituto Butantan e os Institutos Nacionais
de Saúde dos Estados Unidos e tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES).