16
Língua Portuguesa “Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela Amo-se assim, desconhecida e obscura Tuba de algo clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!", E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!” (Olavo Bilac) Com a Lei nº 11.310, de 12 de junho de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o projeto de lei do Senado n. 149/04, de autoria do Senador Papaléo Paes (AP) que institui o dia 5 de novembro como Dia Nacional da Língua Portuguesa no Brasil. O sétimo idioma mais falado no mundo com, aproximadamente, 178 milhões falan- do Português. Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os paí- ses que têm a Língua Portuguesa como idi- oma oficial, compondo, assim, a- Comunidade dos Países de Língua Por- tuguesa. A Língua Portuguesa também é um dos idiomas oficiais da Guiné Equatori- al e da região administrativa especi- al chinesa de Macau. Este foi escolhido em homenagem ao ani- versário de nascimento de Ruy Barbosa, membro fundador da Academia Brasileira de Letras e importante intelectual da sua época, além de um grande estudioso do nosso idioma. A data comemorativa foi ins- tituída no Brasil através da Lei nº 11.310, de 12 de junho de 2006, quando o presi- dente Luís Inácio Lula da Silva sancionou o projeto de lei do Senado n. 149/04, de auto- ria do Senador Papaléo Paes, do Amapá. Propriedade coletiva de um povo e a maior das construções humanas, a língua é a ex- pressão da identidade e da cultura de um povo; em nosso caso, o português foi trazi- do para o Brasil durante a colonização e aqui se misturou com as palavras dos diale- tos indígenas e, principalmente, africanos; por esta razão, alguns estudiosos da Lín- gua Portuguesa, no Brasil, defendem a idei- a de que nós, brasileiros, falamos uma es- pécie de Português Africano. Por: Filipe de Sousa Cadê a flor? Ainda que caminhe por décadas, séculos, verás presente o ontem neste corpo que insiste - só Deus dimensiona como - em ser, ain- da, um enorme ontem mesmo na presença do hoje. Ainda que bra- dem outros tempos, alguém tem guardado numa caixa no peito o jeito truculento e feroz de falar e ser. Leia mais > Página 4 É preciso humanizar nossa Saúde Na história da Medicina Ocidental dissecou- se o corpo humano e o estudou por partes, tal como uma máquina. As doenças ou desequilíbrios que o afetam foram tratadas observando-se os sintomas e medicando-os. Leia mais > Página 5 Ano XI - Edição 132 - Novembro 2018 Distribuição Gratuita CULTURAonline BRASIL - Boa música Brasileira - Cultura - Educação - Cidadania - Palestras Baixe o aplicativo no site www.culturaonlinebr.org O Direito a Alimentação O direito humano à alimentação está entre os di- reitos sociais no "Art. 6º da Constituição Federal - São direitos sociais a educação, a saúde, a ali- mentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segu- rança, a previdência social, a proteção à materni- dade e à infância, a assistência aos desampara- dos, na forma da constituição. Leia mais > Página 8 “Trumpismo” x “Bolsonarismo” O que mais preocupa são certas semelhan- ças que não parecem mera coincidência. Mas o problema é a petezada. Nos dois casos, políticos de extrema-direita têm explorado, de maneira oportuna, para fins eleitorais, as expectativas frustradas de milhões de pessoas em situações crescentes de vulnerabilidade social e econômica. Nos EUA, o “sonho americano” está cada vez mais distante para a maioria da população, num contexto de efeitos perversos de um ca- pitalismo cada vez mais globalizado associa- dos a políticas neoliberais promovidas tanto por governos democratas como republicanos. Leia mais > Página 6 O deputado eleito com fake news que abriu caminho para o nazismo Hermann Ahlwardt era um diretor de escola alemão de origem simples. Em 1889, deses- perado com as dívidas que só aumentavam, cometeu um crime que parecia feito sob en- comenda para chocar: afanou o dinheiro do cofrinho reservado para a festa de Natal das crianças da escola. Não deu certo, ele foi descoberto e demitido. Leia mais > Página 7 Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar RADUAN NASSAR SE LEVANTA CONTRA O FASCISMO BOLSONARISTA O escritor Raduan Nassar, um dos maiores escritores brasileiros da atualidade, em entrevista ao jornal por- tuguês Público, avaliou com incredulidade a situação política do Brasil, que vive uma ascensão do fascis- mo na candidatura de Jair Bolsonaro; ele acredita que a vitória de Bolsonaro irá trazer "perseguição" a quem pensa de forma diferente, mas não pretende desviar-se do seu ativismo; "Vou continuar com as mi- nhas posições. Dê no que der"

132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

  • Upload
    doandat

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

Língua Portuguesa “Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela

Amo-se assim, desconhecida e obscura Tuba de algo clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!", E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!”

(Olavo Bilac)

Com a Lei nº 11.310, de 12 de junho de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da

Silva sancionou o projeto de lei do

Senado n. 149/04, de autoria do Senador Papaléo Paes (AP) que institui o dia 5 de novembro como Dia Nacional da Língua

Portuguesa no Brasil.

O sétimo idioma mais falado no mundo com, aproximadamente, 178 milhões falan-do Português. Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os paí-

ses que têm a Língua Portuguesa como idi-oma oficial, compondo, assim, a- Comunidade dos Países de Língua Por-

tuguesa. A Língua Portuguesa também é um dos idiomas oficiais da Guiné Equatori-al e da região administrativa especi-al chinesa de Macau.

Este foi escolhido em homenagem ao ani-versário de nascimento de Ruy Barbosa, membro fundador da Academia Brasileira de Letras e importante intelectual da sua época, além de um grande estudioso do nosso idioma. A data comemorativa foi ins-tituída no Brasil através da Lei nº 11.310, de 12 de junho de 2006, quando o presi-dente Luís Inácio Lula da Silva sancionou o projeto de lei do Senado n. 149/04, de auto-ria do Senador Papaléo Paes, do Amapá.

Propriedade coletiva de um povo e a maior das construções humanas, a língua é a ex-pressão da identidade e da cultura de um povo; em nosso caso, o português foi trazi-do para o Brasil durante a colonização e aqui se misturou com as palavras dos diale-tos indígenas e, principalmente, africanos; por esta razão, alguns estudiosos da Lín-gua Portuguesa, no Brasil, defendem a idei-a de que nós, brasileiros, falamos uma es-pécie de Português Africano.

Por: Filipe de Sousa

Cadê a flor?

Ainda que caminhe por décadas, séculos, verás presente o ontem neste corpo que insiste - só Deus dimensiona como - em ser, ain-da, um enorme ontem mesmo na presença do hoje. Ainda que bra-dem outros tempos, alguém tem guardado numa caixa no peito o jeito truculento e feroz de falar e ser.

Leia mais > Página 4

É preciso humanizar nossa Saúde

Na história da Medicina Ocidental dissecou-se o corpo humano e o estudou por partes, tal

como uma máquina. As doenças ou desequilíbrios que o afetam foram tratadas observando-se os sintomas e medicando-os.

Leia mais > Página 5

Ano XI - Edição 132 - Novembro 2018 Distribuição Gratuita

CULTURAonline BRASIL

- Boa música Brasileira

- Cultura

- Educação

- Cidadania

- Palestras

Baixe o aplicativo no site

www.culturaonlinebr.org

O Direito a Alimentação

O direito humano à alimentação está entre os di-reitos sociais no "Art. 6º da Constituição Federal - São direitos sociais a educação, a saúde, a ali-mentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segu-rança, a previdência social, a proteção à materni-dade e à infância, a assistência aos desampara-dos, na forma da constituição.

Leia mais > Página 8

“Trumpismo” x “Bolsonarismo”

O que mais preocupa são certas semelhan-ças que não parecem mera coincidência.

Mas o problema é a petezada.

Nos dois casos, políticos de extrema-direita têm explorado, de maneira oportuna, para fins eleitorais, as expectativas frustradas de milhões de pessoas em situações crescentes de vulnerabilidade social e econômica. Nos EUA, o “sonho americano” está cada vez mais distante para a maioria da população, num contexto de efeitos perversos de um ca-pitalismo cada vez mais globalizado associa-dos a políticas neoliberais promovidas tanto por governos democratas como republicanos.

Leia mais > Página 6

O deputado eleito com fake news que abriu caminho para o

nazismo

Hermann Ahlwardt era um diretor de escola alemão de origem simples. Em 1889, deses-perado com as dívidas que só aumentavam, cometeu um crime que parecia feito sob en-comenda para chocar: afanou o dinheiro do cofrinho reservado para a festa de Natal das crianças da escola. Não deu certo, ele foi descoberto e demitido.

Leia mais > Página 7

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

RADUAN NASSAR SE LEVANTA CONTRA O FASCISMO BOLSONARISTA

O escritor Raduan Nassar, um dos maiores escritores brasileiros da atualidade, em entrevista ao jornal por-tuguês Público, avaliou com incredulidade a situação política do Brasil, que vive uma ascensão do fascis-mo na candidatura de Jair Bolsonaro; ele acredita que a vitória de Bolsonaro irá trazer "perseguição" a quem pensa de forma diferente, mas não pretende desviar-se do seu ativismo; "Vou continuar com as mi-nhas posições. Dê no que der"

Page 2: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 2

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS 04 - Início do Horário de Verão 05 - Dia Nacional da Língua Portuguesa 07 - Dia do Radialista 12 - Dia do Diretor de Escola 14 - Dia do Bandeirante 14 - Dia Nacional da Alfabetização

15 - Proclamação da República 16 - Dia Internacional da Tolerância 17 - Dia da Criatividade 17 - Dia Internacional dos Estudantes

19 - Dia da Bandeira 19 - Dia Internacional do Homem

20 - Dia Nacional da Consciência Negra 25 - Dia do Doador Voluntário de Sangue 28 - Dia do Soldado Desconhecido

Desde algum tempo, especialmente depois do golpe de 2016, que nos depara-mos com as diversas manifestações que se espalham pelas capitais e cidades do país. Todas elas demonstram a insatisfação dos brasileiros com a política, economia e os problemas sociais no geral.

O que mais ouvimos no café, no supermercado, nas paragens de ônibus ou mes-mo no trânsito são frases do tipo: “Aonde vamos parar”, “Isso é culpa do PT”, “Estamos afundando” “O preço das coisas aumentam e nosso salário nunca”.

Essa frases proferidas pelos mais diversos tipos de brasileiros nos indicam que a insatisfação e a crise econômica cresce cada vez mais no país, e os que tem possibilidades (mínima parcela) estão deixando o Brasil para terem vidas melho-res longe da nação verde e amarelo e acreditem muitos escolhem Portugal, um País atualmente administrado por um regime socialista.

Mas será que essa é a solução? Vale ressaltar que muitos dos que deixam o pa-ís têm conhecimentos superficiais sobre a política e a economia e, na maioria das vezes, são os mais preconceituosos com os nortistas e nordestinos.

Sabemos que a chave para a solução dos problemas instaurados no país, de or-dem social, política e econômica tem somente uma alternativa: o investimento em políticas públicas voltadas para o desenvolvimento educativo no país, sobre-tudo da implementação de disciplinas que abordem as questões sobre diversida-de, pluralidade e gênero, além de termos uma educação que faça do individuo uma criatura pensante.

Mas isso é somente a ponta do iceberg. Ou seja, a solução não é deixar o país, mas lutar para a melhoria do nosso Brasil, que se deparou com o iceberg e quer mudar o curso. A frase “salve-se quem puder” deve ser mudada para “salvemos o nosso país todos juntos”.

Por: Filipe de Sousa

O Dia Internacional do Homem é celebrado em vários países no dia 19 de novembro, data conhecida por International Men's Day. O Dia do Homem começou a ser comemorado em 1999, em Trini-dad e Tobago, pelo Dr. Jerome Teelucksingh, que com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), criou a data com o intuito de conscientizar as pessoas sobre os cuidados da saúde e igualda-de de gênero masculino. Durante todo o mês de novembro é celebrado a nível internacional o chamado "Novembro Azul" ou "Movember" (uma combinação de “Moustache”, que significa “bigode”, e “November” que quer dizer “novembro”), uma iniciativa que também busca reforçar a consciên-cia da preservação da saúde do indivíduo do sexo masculino.

O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novem-bro em todo o país. A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. Mais tarde ele voltaria para sua terra natal e seria líder do Quilom-bo dos Palmares. Zumbi morreu em 20 de novembro de 1695. O objetivo do Dia da Consciência Negra é fazer uma reflexão sobre a importância do povo e da cultura africana no Brasil. Também ser-ve para analisarmos o impacto que tiveram no desenvolvimento da identidade cultural brasileira. A música, a política, a religião e a gastronomia entre várias outras áreas foram profundamente influenciadas pela cultura negra. Este é um dia de comemorar e valorizar a cultura afro-brasileira.

O Dia do Doador Voluntário de Sangue é comemorado anual-mente em 25 de novembro no Brasil. A data, além de homenagear as pessoas que reservam um tempi-

nho do seu dia para doar sangue, também serve para informar e conscientizar a população sobre a importância de ser um doador de sangue. Doar sangue é um ato de solidariedade humana, que ajuda a sal-var milhares de vidas todos os dias, através das transfusões de sangue. Atualmente no Brasil, são doadas cerca de 3,6 milhões de bolsas de sangue por ano, segundo dados do Pró-Sangue. No Dia Nacional do Doador de Sangue, os Bancos de Sangue de todo o país realizam atividades lúdicas e mutirões de coleta em es-colas, hospitais, shoppings, praças e demais espaços de acesso público. Origem do Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue O Dia do Doador Voluntário de Sangue foi estabelecido através do Decreto de Lei nº 53.988, de 30 de junho de 1964, assinado pe-lo presidente Castello Branco, definindo o dia 25 de novembro - da-ta do aniversário da fundação da Associação Brasileira de Doado-res Voluntários de Sangue - como a data oficial do doador de san-gue no Brasil. Os doadores também podem celebrar o digno ato de doar sangue no dia 14 de junho, o Dia Mundial do Doador de Sangue.

O Dia do Soldado Desconhecido é celebrado no dia 28 de Novem-bro. Esta data tem como propósito de honrar a memória dos solda-dos que perderam as suas vidas lutando pelas suas pátrias mas cujos corpos não foram identificados. Na ocorrência de uma guerra, é comum que alguns soldados que morrem em combate não sejam transportados para a sua terra natal para que seja organizado um funeral. Desta forma, muitos países prestam homenagem a estes heróis anônimos através da construção de monumentos, que são muitas vezes conhecidos como "Túmulo do Soldado Desconhecido". Mui-tos desses monumentos são simbólicos, porém alguns guardam os restos mortais de alguns desses soldados.

Fonte: Callendar.

19 - Dia Internacional do Homem

20 - Dia Nacional da Consciência Negra

25 - Dia do Doador Voluntário de Sangue

28 - Dia do Soldado Desconhecido

Page 3: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

Qual o nosso limite?

DO LAMENTÁVEL episódio em que cinco rapazes de classe média, moradores da Barra da Tijuca, roubaram e espancaram brutalmente uma empregada doméstica, vale destacar a atitude do pai de um deles, que correu imediatamente em defesa do filhinho de 19 anos. A-legou que aqueles rapagões, sarados e violentos, eram "crianças que estudam" e por isso não deviam ficar presos, uma vez que, na pri-são, seriam misturados com bandidos.

Deve-se concluir que, embora sendo capazes de roubar e espancar mulheres, rapazes que moram em condomínio da Barra da Tijuca não são bandidos, já que bandido é quem mora em favela. Isso ajuda a entender o filho que ele tem.

Se não é justo atribuir essa atitude a todos os pais de classe média, é impossível não ver nela o sinal de uma visão que se generalizou e que, de certo modo, explica o grau de impunidade que caracteriza a sociedade brasileira.

Na frase daquele "paizão", está implícita a noção de que o respeito às normas sociais é coisa secundária e mesmo condenável, porque, no fundo, encobre o ranço repressivo que herdamos do passado e a vontade de vingança contra os criminosos. Isso é uma coisa que estou cansado de ouvir da boca de advogados e até de ministros da Justiça, muitos deles herdeiros da lição rebelde dos anos 60-70: "É proibido proibir", "Não acredito em ninguém que tenha mais de 30 anos".

Tudo isso era muito divertido, mas a verdade é que contribuiu para minar o princípio de que a sociedade necessita de normas, já que, sem elas, mergulharíamos no arbítrio, na violência e no caos.

Ainda não chegamos lá, nem chegaremos, porque a maioria das pessoas sabe, sem ter lido os juristas, que o respeito às normas é con-dição básica do convívio social. A Justiça não nasce no fundo do quintal, ela foi inventada pelo homem que necessita dela como do ar que respira. Mas isso não impede que, como no caso do Brasil, o respeito à Justiça e a aplicação das leis sejam vistos como expressão de intolerância e repressão.

Isso se percebe a cada momento e às vezes na boca daqueles que deveriam defender a aplicação rigorosa do princípio de justiça. Não consigo me esquecer das declarações do então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos defendendo o abrandamento da punição dos crimes hediondos, sob a alegação de que seu agravamento não fizera diminuir esse tipo de crime.

Ao ler tais declarações de um jurista, pensei comigo: se esse argumento é válido, então deveríamos revogar o Código Penal, já que sua vigência não impede que se pratiquem crimes no país.

Como se sabe, o condenado por crime hediondo, que até então não usufruía do direito de cumprir apenas um sexto da pena, agora usu-frui, graças a uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, bandidos queimam vivas dezenove pessoas dentro de um ônibus, são condenados a 400 anos mas, como a pena máxima no Brasil é de 30 anos, poderão estar soltos depois de cumprir apenas cinco anos, isto é, um sexto da pena. Noutras palavras: em muitos casos, a pena máxima, no Brasil, é de cinco anos.

Parece brincadeira. E isso tudo é decidido apoiado em argumentos de difícil compreensão para nós, leigos, que não gozamos da sapi-ência jurídica. O fraseado estrambótico escapa à nossa compreensão, enquanto sua conclusão nos deixa indignados. Dá a impressão de que o aparelho jurídico que montamos e que nos custa tão caro existe para dificultar a aplicação da Justiça e beneficiar os crimino-sos.

Certamente não é assim, já que a maioria dos juízes defende a vigência da Justiça. Não obstante, na prática, prevalece a impunidade. A garantia da impunidade conta com todo um aparato, que vai desde a falta de escrúpulos do advogado de defesa -cuja função parece ser impedir que se faça justiça- até as minudências jurídicas que, na hora H, anulam o processo.

- Mas por quê, meritíssimo?

- Ele pôs vírgula entre o sujeito e o verbo! Dura lex sed lex.

Isso sem falar naquele juiz que adulterou o parecer do colega para permitir que se libertasse um dos maiores traficantes internacionais. Condenado a 20 anos por tráfico de drogas e respondendo a processos por evasão de divisas, contrabando, falsificação e apropriação indébita, foi solto por ter, segundo o referido juiz, bons antecedentes.

Bons? Pois eu diria ótimos antecedentes, levando-se em conta a noção de ética que vai tomando conta do país.

Autor: Ferreira Gullar

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 3

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A Gazeta Valeparaibana é um jornal mensal gratuito distribuído mensalmente para download na web

Diretor, Editor e Jornalista responsável Filipe de Sousa - FENAI 1142/09-J

Genha Auga

Mariene Hildebrando

Loryel Rocha

João Paulo E. Barros

Filipe de Sousa

Guigo Ribeiro

Rod Oliveir

Martonio Mont’Alverne

Lenio Luiz Streck

Clarissa Tonini Martin

Cristina Moreno de Castro

Evânia E. Reich

Felipe van Deursen

Ferreira Gullar

Guilherme Ribeiro de Santana

Luciana Ferro

Boaventura de Sousa Santos

IMPORTANTE

Todas as matérias, reportagens, fotos e demais conteúdos são de inteira responsa-bilidade dos colaboradores que assinam as

matérias, podendo seus conteúdos não corresponderem à opinião deste Jornal.

Colaboraram nesta edição

PRECISA-SE de voluntário para revisar textos

Page 4: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

Cadê a flor?

Ainda que caminhe por décadas, séculos, verás presente o ontem neste corpo que insiste - só Deus dimensiona como - em ser, ainda, um enorme ontem mesmo na presença do hoje. Ainda que bradem outros tempos, alguém tem guardado numa caixa no peito o jeito truculento e feroz de falar e ser. Ainda que as cores to-mem as ruas e muros, a predominância do vermelho se fará pre-sente no chão, no pedaço de pau ou na bala que rasga o peito e a alma. Talvez as flores foram uma miragem em meio ao cinza do mundo que chuta as cores para alguma caixa de lápis de cor es-condida numa mochila infantil. Vai ver que o mundo fez na explo-são um ser errante de passado e futuro igual. Confuso quanto ao que se entende como progresso. Confuso quanto ao que se aplica como novas formas. Confuso quanto ao que se põe como intenção. Confuso?

Os fatos nos ensinam algo? Quando se detêm à imagem de um tempo em que barbas jogavam seus braços para o alto e lá mantinham em sinal de ser superior, o sangue lavava o chão como limpeza. Essa é a tal da purificação? Os fatos nos ensinam algo? Quando nos apresentam pequenos correndo em choro e a guerra que queimava. Quando a lágrima alivia não só um peito que grita, mas também a pele do rosto que arde. Quando se caça gente co-mo bicho na mata e rasga a carne da gente como se pra matar fo-me, como se pra exterminar homem e alma.

As fotos nos ensinam algo? Quando é mostrado em porões ratos colocando homens e mulheres para falar enquanto caminham sorrindo por métodos pra fazer falar. Quando há um homem “enforcado” numa janela. Quando um homem é enforcado numa janela. Quando bombas explodem países. Quando o afeto é decidi-do na moral, nas palavras de um Cristo que não é o Cristo que fala e falou do amor. Quando o livro sagrado pune, joga para o inferno e não estende a mão para caminhos plenos. Quando se mostra que sempre, e desde sempre, a arma nunca trouxe silêncio e cal-ma. Só estourou e pólvora. Só tiro, tiro e tiro. O som te agrada?

Os livros se fazem claros? Essas linhas que te contam tan-tas coisas de um dia em que homens falavam grosso pela ordem e usaram das próprias mãos para a dor na justificativa de ordem. Or-dem? Ordem pra quem? Ordem não é o bem? Os livros contam. Contam que, por poder e pra poder, usam de tudo que puderem. A força bruta quer mandar e a pele rasgada tem que obedecer. Assim é a lógica que usam. Sabia?

Me fala um pouco dessa escuridão que está. Preciso enten-der. Preciso saber o que te faz aplaudir a arma em punho, sabe? Quantas e quais esperanças suas caíram pelos cantos de uma rua vazia. Quero saber o porquê que tanto é dito no momento em que você insiste em tapar os ouvidos. Quero te contar o que li, vi e vejo de pessoas que usam dessa mesma estratégia. Não sei se perce-

be, mas nós não estamos bem. E é neste período que não estamos bem que surgem pessoas oportunistas para nos lembrar que não estamos bem e apontar um culpado. Dessa forma, nossa fragilida-de nos abre para alguma solução. Entendo a necessidade de Mes-sias, mas ele não. Ele não é. Ele bebe da fonte do ódio. Ele come a carne da tragédia e se banha nas águas do descaso. Ele propaga seu desprezo e dorme em paz. Quando quem quer algo pra seu povo expõe uma criança, a ensina a arma como saída? Como quem se dispõe ao posto máximo da nação não consegue elabo-rar, falar sobre o que pretende fazer? Como se sente tranquilo em dizer todas as barbaridades que diz? Como dizem claramente que as minorias devem se curvar e conquistam apreço? Estamos tão atordoados assim? Como é aceito (e aplaudido) que seus compar-sas (covardes) rasguem a placa com o nome de Marielle? Como o silêncio sobre isso ainda é predominante? Cadê as respostas? Co-mo é aceito que rasguem as regras, que desconsiderem o suor de quem lutou?Que façam o que bem entendem? Como?

É tempo de decisão! De escolha por trilhar caminhos de es-colhas, de mudanças e liberdade. Ou a opção de se permitir ser agarrado pelas mãos do horror. É tempo de entender que as mu-danças são sim pra bem. É tempo de plantar. De aproveitar que a terra convida ao melhor e plantar. Pegar suas sementes boas, as que darão frutos, as que darão sombra e colocar na terra melhor preparada. De cuidar de toda semente como se cuida de uma cri-ança. De dedicar o tempo para essa semente como se dedica ao pequeno ou pequena. Que entre na terra mais vidas e não corpos. Que jardins sejam mais frequentes do que cemitérios. Que cada pessoa de cada casa e canto faça seu próprio jardim. Um jardim regado pelo amor, um jardim que exala a vida. Que os homens que entendem o mundo como um campo de negócio passem logo. Pra longe e rápido! Rápido! Peguem seu ódio e voltem para o canto es-curo em que estavam antes. Que sumam. Sumam porque as mino-rias não vão se curvar como nunca se curvaram! Sumam porque o país não precisa de pessoas quem pensem em metralhar, e sim, de pessoas que pensem e se dediquem a cuidar, construir, abrir possi-bilidades. Sumam porque o povo não quer mentiras! O povo não concorda com alguém que se presta aos esforços de espalhar notí-cias falsas e vergonhosas. Que o país não precisa de alguém que fale o absurdo, que “não estupra uma mulher porque ela não mere-ce”. Porque o país não precisa de alguém que apresenta uma frus-tração pela quantidade de mortes abaixo do que queria e faria na ditadura. O país não precisa de um candidato que tem um vice cujo diz que um lar sem pai é fábrica de desajustados. Desajustada é sua intenção pelo país. Desajustada é a maneira que olha o mun-do. Aqui não! Ele não! Ele nunca! Porque de tudo que quer, não se faz presente o futuro. De tudo que quer e pretende plantar, tudo se resume à violência. De tudo que quer plantar, me diz, cadê a flor?

Autor: Guilherme Ribeiro de Santana

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 4

O Dia do Bandeirante é comemorado anualmente em 14 de Novembro, no Brasil.

A data homenageia os personagens responsáveis por desbravar e ajudar a conquistar e proteger grande parte do território brasileiro durante o período da colonização portuguesa: os bandeirantes.

Bandeirantes eram chamados os exploradores que saiam do litoral em direção ao interior do Brasil, uma região até então inexplorada,

em busca de ouro e pedras preciosas. Foram responsáveis pela expansão do território nacional, mas ao mesmo tempo, um dos principais inimigos dos indígenas da época.

Os bandeirantes caçavam os índios e negros e escravizavam-os durante as expedições. Foram um dos grandes protagonistas do sistema escravocrata no período do Brasil Colonial.

As expedições organizadas por grupos particulares (senhores do engenho, fazendeiros, comerciantes) eram chamadas de Bandeiras, já os grupos de desbravadores enviados pelo gover-no recebiam o nome de Entradas.

Origem do Dia do Bandeirante

O Dia do Bandeirante é celebrado em 14 de Novembro, no entanto não há um registro que oficialize a data ou que explique o motivo para a sua escolha.

Mas, as comemorações acontecem em todo o país, principalmente nas escolas. Os alunos realizam atividades que lembram a impor-tância que estes personagens tiveram para a construção da história do Brasil.

Fonte: Callendar

14 - Dia do Bandeirante

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Page 5: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

É preciso humanizar nossa Saúde

Foto: Maurício dos Santos

Na história da Medicina Ocidental dissecou-se o corpo humano e o estudou por partes, tal como uma máquina. As doenças ou de-sequilíbrios que o afetam foram tratadas observando-se os sintomas e medicando-os.

Mas, de acordo com estudos cada vez mais frequentes, levando em consideração a visão holística e quântica, temos que levar em conta os sentimentos, pensamen-tos e as emoções que influenciam a saúde e o corpo mesmo sem poder ser vistos.

Este novo paradigma holístico é aceito pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que recomenda o Reiki e outras práticas ener-géticas como complementares à medicina tradicional. Cada uma delas atua em dife-rentes campos unindo forças para melhorar as condições de vida dos seres humanos. Essas terapias não substituem a medicina convencional e vice-versa.

A OMS reconhece que 85% das doenças conhecidas poderiam ser tratadas sem o uso de medicamentos alopáticos, principal-mente com a mudança de hábitos, de pos-turas e de atitudes.

No Brasil, desde 2006, o Ministério da Saú-de vem implantando no Sistema Único de Saúde (SUS) o atendimento gratuito em Terapias Complementares e Integrativas.

Ao todo, já são 29 práticas (confira logo abaixo), focadas na prevenção, cuidando do paciente para que este faça mudanças sau-dáveis em seu estilo de vida e também atu-ando junto a formas tradicionais de trata-mento, complementando o processo de cura, de modo mais natural.

Por seus baixos custos de implementação e toda a gama de tratamentos naturais, estas técnicas trazem ganhos amplos à popula-ção, aos profissionais de saúde e ao gover-no.

O Reiki entrou em 2018 nesta lista como terapia complementar. É uma técnica japo-nesa baseada na canalização de energias curativas, através da imposição de mãos, do sopro, do toque sutil e do olhar. O Reiki transforma-se num instrumento de autoco-nhecimento, autocura e equilíbrio, resgatan-do a essência, acalmando a mente e as emoções.

Tem por objetivo restabelecer o equilíbrio energético vital de quem o recebe, restau-rando o estado de equilíbrio natural (emocional, físico e espiritual). Atua na complementaridade de outras formas con-vencionais de tratamento, ajudando a elimi-nar doenças e promover saúde integral.

Confira abaixo as lista de terapias e verifi-que na sua cidade quais já são oferecidas pelo SUS*:

Apiterapia – Prática terapêutica que con-siste em usar produtos derivados de abe-lhas – como apitoxinas, mel, pólen, geleia real, própolis – para promoção da saúde e fins terapêuticos.

Aromaterapia – Prática terapêutica que utiliza as propriedades dos óleos essenci-ais, concentrados voláteis extraídos de ve-getais, para recuperar o equilíbrio e a har-monia do organismo visando à promoção da saúde física e mental, ao bem-estar e à higiene.

Arteterapia – Prática expressiva artística, visual, que atua como elemento terapêutico na análise do consciente e do inconsciente e busca interligar os universos interno e externo do indivíduo, por meio da sua sim-bologia, favorecendo a saúde física e men-tal.

Ayurveda – De origem indiana, é conside-rado uma das mais antigas abordagens de cuidado do mundo e significa Ciência ou Conhecimento da Vida. Os tratamentos ayurvédicos consideram a singularidade de cada pessoa, e utilizam técnicas de relaxa-mento, massagens, plantas medicinais, minerais, posturas corporais (ásanas), pra-nayamas (técnicas respiratórias), mudras (posições e exercícios) e cuidados dietéti-cos.

Biodança – Prática expressiva corporal que promove vivências integradoras por meio da música, do canto, da dança e de atividades em grupo, visando restabelecer o equilíbrio afetivo e a renovação orgânica, necessários ao desenvolvimento humano.

Bioenergética – Visão diagnóstica que, aliada a uma compreensão etiológica do sofrimento/adoecimento, adota a psicotera-pia corporal e os exercícios terapêuticos em grupos, por exemplo, os movimentos sincro-nizados com a respiração. Trabalha o con-teúdo emocional por meio da verbalização, da educação corporal e da respiração, utili-zando exercícios direcionados a liberar as tensões do corpo e facilitar a expressão dos sentimentos.

Constelação familiar – Método psicotera-pêutico de abordagem sistêmica, energética e fenomenológica, que busca reconhecer a origem dos problemas e/ou alterações trazi-das pelo usuário, bem como o que está encoberto nas relações familiares para, por meio do conhecimento das forças que atu-am no inconsciente familiar e das leis do relacionamento humano, encontrar a or-dem, o pertencimento e o equilíbrio, criando condições para que a pessoa reoriente o seu movimento em direção à cura e ao crescimento.

Cromoterapia – Prática terapêutica que utiliza as cores do espectro solar para res-taurar o equilíbrio físico e energético do corpo.

Dança circular – Prática expressiva corpo-ral, ancestral e profunda, geralmente reali-zada em grupos, que utiliza a dança de roda – tradicional e contemporânea –, o canto e o ritmo para favorecer a aprendiza-gem e a interconexão harmoniosa e promo-ver a integração humana, o auxílio mútuo e a igualdade visando o bem-estar físico, mental, emocional e social.

Geoterapia – Terapêutica natural que con-siste na utilização de argila, barro e lamas medicinais, assim como pedras e cristais (frutos da terra), com objetivo de amenizar e cuidar de desequilíbrios físicos e emocio-nais por meio dos diferentes tipos de ener-gia e propriedades químicas desses ele-mentos.

Hipnoterapia – Conjunto de técnicas que, por meio de intenso relaxamento, concen-

tração e/ou foco, induz a pessoa a alcançar um estado de consciência aumentado que permita alterar uma ampla gama de condi-ções ou comportamentos indesejados, co-mo medos, fobias, insônia, depressão, an-gústia, estresse, dores crônicas. Pode favo-recer o autoconhecimento e, em combina-ção com outras formas de terapia, auxilia na condução de uma série de problemas. Homeopatia- Envolve tratamentos com ba-se em sintomas específicos de cada indiví-duo e utiliza substâncias altamente diluídas que buscam desencadear o sistema de cura natural do corpo

Imposição de mãos – Prática terapêutica secular que implica um esforço meditativo para a transferência de energia vital (Qi, prana) por meio das mãos com intuito de reestabelecer o equilíbrio do campo energé-tico humano, auxiliando no processo saúde-doença.

Medicina antroposófica/antroposofia

aplicada à saúde – Abordagem terapêutica que integra as teorias e práticas da medici-na moderna com conceitos específicos an-troposóficos. Fundamenta-se em um enten-dimento espiritual-científico do ser humano que considera bem-estar e doença como eventos ligados ao corpo, mente e espírito do indivíduo, realizando abordagem holísti-ca com foco em fatores que sustentam a saúde por meio de reforço da fisiologia do paciente e da individualidade, ao invés de apenas tratar os fatores que causam a do-ença.

Medicina Tradicional Chinesa – acupuntu-ra – A MTC é uma abordagem terapêutica milenar que utiliza como procedimentos terapêuticos, acupuntura, ventosaterapia, moxabustão, plantas medicinais, práticas corporais e mentais, dietoterapia chinesa. A acupuntura é uma tecnologia de interven-ção em saúde que faz parte dos recursos terapêuticos da medicina tradicional chinesa (MTC) e estimula pontos espalhados por todo o corpo, ao longo dos meridianos, por meio da inserção de finas agulhas, visando à promoção, manutenção e recuperação da saúde, bem como a prevenção de agravos e doenças. A auriculoterapia é uma técnica terapêutica que promove a regulação psí-quico-orgânica do indivíduo por meio de estímulos nos pontos energéticos localiza-dos na orelha por meio de agulhas, esferas de aço, ouro, prata, plástico, ou sementes de mostarda, previamente preparadas para esse fim.

Meditação – Prática mental individual mile-nar, que consiste em treinar a focalização da atenção de modo não analítico ou discri-minativo, a diminuição do pensamento repe-titivo e a reorientação cognitiva, promoven-do alterações favoráveis no humor e melho-ra no desempenho cognitivo, além de pro-porcionar maior integração entre mente, corpo e mundo exterior

Musicoterapia – Prática conduzida em grupo ou de forma individualizada, que utili-za a música e/ou seus elementos num pro-cesso facilitador e promotor da comunica-ção, da relação, da aprendizagem, da mobi-lização, da expressão, da organização, en-tre outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de atender necessidades físicas, emocionais, mentais, espirituais, sociais e cognitivas do indivíduo ou do grupo. Naturopatia – Prática terapêutica que adota visão ampliada e multidimensional do pro-cesso vida-saúde-doença e utiliza um con-

junto de métodos e recursos naturais no cuidado e na atenção à saúde. Osteopatia – Prática terapêutica que adota uma abordagem integral no cuidado em saúde e utiliza várias técnicas manuais para auxiliar no tratamento de doenças, entre elas a da manipulação do sistema musculo-esquelético, do stretching, dos tratamentos para a disfunção da articulação temporo-mandibular (ATM), e da mobilidade para vísceras.

Ozonioterapia – Prática que utiliza a apli-cação de uma mistura dos gases oxigênio e ozônio, por diversas vias de administração, com finalidade terapêutica, e promove me-lhoria de diversas doenças.

Plantas medicinais – fitoterapia – É um tra-tamento terapêutico caracterizado pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal.

Quiropraxia – Prática que atua no diagnós-tico, tratamento e prevenção das disfunções mecânicas do sistema neuromusculoesque-lético e seus efeitos na função normal do sistema nervoso e na saúde geral.

Reflexoterapia – Prática terapêutica que utiliza estímulos em áreas reflexas – pés, mãos e orelhas – para auxiliar na elimina-ção de toxinas, na sedação da dor e no relaxamento.

Reiki – Prática terapêutica que utiliza a imposição das mãos para canalização da energia vital visando promover o equilíbrio energético, necessário ao bem-estar físico e mental.

Shantala – Prática terapêutica que consis-te na manipulação (massagem) para bebês e crianças pelos pais, composta por uma série de movimentos que favo-recem o vínculo entre estes e proporcio-nam uma série de benefícios decorren-tes do alongamento dos membros e da ativação da circulação.

Terapia Comunitária Integrativa – Prática terapêutica coletiva que atua em espaço aberto e envolve os mem-bros da comunidade numa atividade de construção de redes sociais solidárias para promoção da vida e mobilização dos recursos e competências dos indiví-duos, famíl ias e comunidades. Terapia de florais – Prática terapêutica que utiliza essências derivadas de flores para atuar nos estados mentais e emo-cionais.

Termalismo social/crenoterapia –

Prática terapêutica que consiste no uso da água com propriedades físicas, tér-micas, radioativas e outras como agente e m t r a t a m e n t o s d e s a ú d e . Yoga – Prática corporal e mental de origem oriental utilizada como técnica para controlar corpo e mente, associada à meditação. Trabalha os aspectos físi-co, mental, emocional, energético e es-piritual do praticante com vistas à unifi-cação do ser humano em si e por si mesmo.

*As descrições foram retiradas do

site do Ministério da Saúde.

Autora: Luciana Ferro

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 5

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Page 6: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

O naufrágio de um belo sonho

O militante petista típico é apaixonado pelo PT, vê o seu Partido como se fosse uma “linda namorada” sem defeitos, só presta atenção nos seus aspectos agradá-veis. O militante petista dá de si pelo seu Partido, principalmente aquele militante que dedicou anos de sua vida pelos ideais petistas, acaba não querendo acreditar que tenha algo de errado com o PT, principalmente com a hipótese do Lula ser culpado. E há poucos que não são desse grupo conseguem compreender a rela-ção sentimental do petista com o PT e o Lula. E é claro que esse tipo de senti-mento existe em outros partidos também. Um Partido fundado por um grupo de pessoas corajosas em São Paulo. Uma consequência da aproximação de vários sindicatos na região do ABC paulista cuja finalidade é lutar para que os trabalha-dores empregados assalariados viessem a ter dias melhores, o PT está tendo um fim melancólico. É evidente na sociedade o sentimento de cansaço em relação ao Partido dos Trabalhadores.

Na política há necessidade de empatia com o eleitorado e, de não deixar transpa-recer perturbação ou comoção, principalmente quando o Partido tem muitos desa-fetos. O Lula teve a oportunidade de ser o maior líder político da história do conti-nente americano, e ao lado de Mandela, um dos dois maiores líderes do hemisfé-rio sul da Terra. O Lula podia ter sido o primeiro brasileiro a ganhar um prêmio Nobel. O Lula teve os ventos da economia a seu favor. Houve um grande cresci-mento econômico devido à valorização das commodities, a crise econômica muito forte nos países desenvolvidos, e o Lula conseguiu reduzir a desigualdade social, conseguiu ajudar a melhorar a vida dos menos favorecidos, e preservou a sua popularidade. Mesmo em política externa, Lula conseguiu fazer do Brasil um im-portante ator geopolítico e a ele mesmo ser tido como um estadista. Tudo indicava que o PT finalmente iria cumprir o seu desígnio existencial, que é reduzir a desi-gualdade social e trazer dias muito melhores aos empregados.

Contudo, membros do partido cometeram um erro terrível e desastroso, cujas con-sequências políticas ainda impactam para o Partido. Permitiram que o nome do PT fosse associado a escândalos de corrupção. E o Lula escolheu para sucedê-lo uma pessoa que não tem perfil político. Uma pessoa que não soube dialogar e nem teve habilidade o suficiente na presidência. Mas não foi só o nome do PT estar relacionado à corrupção que deu motivação para aquelas patroas que fica-ram raivosamente revoltadas e indignadas porque os filhos das empregadas esta-

vam na faculdade e porque as empregadas estavam nas filas de aeroportos com as patroas. E nem a imprensa criticar severamente o PT, também. Não foram só isso. Não há unanimidade de opiniões por parte da população brasileira, mas há uma tendência conservadora quanto a costumes e crenças profundas. Muita gen-te tem o entendimento de que criminosos devem ser severamente punidos e trata-dos sem misericórdia, que a norma das relações sexuais é a norma heterossexu-al, que se baseia em suas convicções religiosas e espirituais, não admite e não introjeta leis que afrontem o que elas entendem como moralmente correto por se tratar de crenças profundas. E qualquer político que vier a criar leis divergentes dos costumes e crenças dessa gente, essa gente não vai admitir tais leis e vai se rebelar contra tal político e apoiar outro com quem se identifica. O que explica a alta popularidade de um homem que diz coisas aterrorizantes que assustam a qualquer pessoa civilizada e realmente democrática, mas que parece ser o anseio da maioria. Mas por que uma pessoa tão rude, tão truculenta tem tanta populari-dade? Porque o voto infelizmente é passional. O eleitor vota se baseando em sen-timentos, e não na razão, e vota no candidato com quem ele se identifica. Para muitos brasileiros, segurança pública contra criminalidade, a defesa da família tradicional e sociedade de modelo patriarcal com valores judaico-cristãos têm pri-mazia sobre pautas sociais defendidas pela Esquerda política e, sobre direitos humanos. Há mudanças que a maioria ainda não aceita. O verdadeiro desafio para a Esquerda no Brasil é convencer a população a concordar com as mudan-ças que a Esquerda política deseja. Para conseguir ser eleito em 2002, o Lula teve que publicar uma carta aos brasileiros com a finalidade de acalmar o merca-do financeiro. O Brasil já provou que não é um país para principiantes. É uma so-ciedade muito difícil de se transformar. E para complicar mais ainda, tem um siste-ma político-eleitoral-partidário plenamente desfavorável para quem quer mudar o Brasil para melhor.

Talvez seja exagero afirmar que o PT está morrendo. Talvez só esteja diminuindo de tamanho. Mas o sonho petista já naufragou! O PT tomou uma posição, defen-deu aquilo que acreditava ser o certo e não ficou em cima do muro. Mas muito dos ideais do PT e da Esquerda não são os ideais da maioria dos brasileiros, e o PT também pisou em falso e torceu o tornozelo.

Autor: João Paulo E. Barros

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 6

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

“Trumpismo” e do “Bolsonarismo” O que mais preocupa são certas semelhanças que não

parecem mera coincidência. Mas o problema é a petezada.

Nos dois casos, políticos de extrema-direita têm explorado, de maneira oportuna, para fins eleitorais, as expectativas frustradas de milhões de pessoas em situa-ções crescentes de vulnerabilidade social e econômica. Nos EUA, o “sonho ameri-cano” está cada vez mais distante para a maioria da população, num contexto de efeitos perversos de um capitalismo cada vez mais globalizado associados a polí-ticas neoliberais promovidas tanto por governos democratas como republicanos. Apesar de importantes avanços do governo de Barack Obama, a campanha de Hillary sofreu com a herança de políticas neoliberais como o Nafta, lançado no governo do marido, que acirraram desigualdades sociais e econômicas. Para pio-rar a situação, quando candidata à presidência, a ex-senadora, deu relativamente pouca atenção ao eleitorado de estados como Michigan, antigo polo da indústria automobilística que tem sofrido com o agravamento do desemprego e os baixos salários provocados pela desindustrialização. (As ligações dos Clinton com Wall Street tampouco ajudaram a combater a pecha de elite política do establishment de Washington). Nessas condições, abriu-se espaço para que um bilionário popu-lista de direita se caracterizasse como campeão entre os trabalhadores “esquecidos” pelo partido democrata.

No Brasil, a grave crise econômica e os megaescândalos de corrupção envolven-do partidos tradicionais como o DEM, PP, MDB, PSDB e PT revelados pela Ope-ração Lava Jato geraram nos eleitores, inclusive nos mais pobres, uma revolta generalizada contra a classe política, o que prejudicou não apenas a candidatura de Fernando Haddad, mas também de outros políticos com perfil de centro-esquerda que no passado tiveram vínculos com o PT, como Ciro Gomes e Marina Silva. Assim como nos Estados Unidos, uma candidatura da extrema-direita no Brasil soube explorar espaços abertos pelo crescimento de desigualdades e erros cometidos por partidos tradicionais da social-democracia.

Uma tática comum entre o trumpismo e o bolsonarismo é a pregação da nostalgia de um passado idealizado que o “candidato-herói” promete trazer milagrosamente de volta. A campanha de Trump adotou como lema “Make America great again”, desconsiderando alguns detalhes da história norte-americana, como o genocídio de povos indígenas, a escravidão e os longos períodos de discriminação contra mulheres, negros e imigrantes. Por sua vez, o “mito” Bolsonaro revela uma nostal-gia dos anos de chumbo, inclusive das práticas de tortura que marcaram a ditadu-

ra militar no Brasil.

Um pilar das estratégias do trumpismo e do bolsonarismo é o incentivo ao medo, à raiva e ao ódio, com apologia à violência e a escolha de indivíduos e grupos minoritários para transformá-los em inimigos, que passam a ser culpados por todo mal que aflige a sociedade. Para o trumpismo, os alvos prediletos têm sido, entre outros, populações de novos imigrantes — caracterizando mexicanos como “estupradores” e mulçumanos como “terroristas” —, negros e, claro, adversários democratas, especialmente lideranças como Hillary Clinton e Barack Obama.

Para o bolsonarismo, a extensa lista de inimigos da nação inclui, além de petistas e “comunistas”, os povos indígenas, quilombolas, movimentos LGBT, ambientalis-tas, movimentos sociais como o MST, defensores dos direitos humanos, institui-ções como Ibama, ICMBio, “ativistas” em geral e por aí vai. Tanto no trumpismo como no bolsonarismo destacam-se também comportamentos sexistas, propagan-do desrespeito e violência contra mulheres.

Outra semelhança marcante entre os dois é o antagonismo dirigido a veículos da grande imprensa que assumem posturas independentes (CNN , The New York Times , Folha de S.Paulo etc.). Acusações raivosas de fake news aparecem quan-do notícias veiculadas revelam verdades inconvenientes, contrariando seus inte-resses político-eleitorais. Enquanto isso, informações distorcidas e falsas, apelan-do para o medo, o preconceito e a raiva contra adversários, são disseminadas em massa via mídias sociais.

No Brasil, já começaram a aparecer atos graves de violência praticados por corre-ligionários de Bolsonaro, como a morte do mestre capoeira Moa do Katendê, as-sassinado a facadas por um partidário do capitão reformado. Enquanto isso, sur-gem ameaças à imprensa brasileira, como no caso da Folha de S. Paulo após a publicação de matéria sobre a contratação milionária, por empresários ligados ao bolsonarismo, de serviços para a divulgação em massa, via aplicativo WhatsApp, de notícias falsas sobre a candidatura de Haddad — o que resultou num pedido de proteção policial para seus jornalistas.

Outra semelhança entre os dois é flerte com de igrejas evangélicas conservadoras com discursos moralistas sobre temas como a proibição do aborto e do casamen-to gay. Ambos acenam com vantagens econômicas para as igrejas e seus líderes (quase sempre homens brancos).

Mas o problema mesmo é o PT né não?

Por: Filipe de Sousa

Page 7: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

O deputado eleito com fake news que abriu caminho para o nazismo

Hermann Ahlwardt era um diretor de escola alemão de origem simples. Em 1889, deses-perado com as dívidas que só aumentavam, cometeu um crime que parecia feito sob en-comenda para chocar: afanou o dinheiro do cofrinho reservado para a festa de Natal das crianças da escola. Não deu certo, ele foi descoberto e demitido.

Hermann não parou por aí. Buscou alguém para culpar por tudo de ruim que acontecera a ele e aos seus. Sobrou para os judeus. No fim do século 19 e começo do 20, a comuni-dade judaica do Império Alemão era uma minoria que se misturava cada vez mais à população, graças à eliminação de leis que suprimiam seus direitos. O casamento civil havia sido introduzido e o número de matri-mônios entre judeus e cristãos aumentava ano a ano. Uma grande mudança após sé-culos de isolamento. “De minoria religiosa em ostracismo, a comunidade judaica lenta-mente transformava-se em um dentre muitos grupos étnicos de uma sociedade cada vez mais multicultural, ao lado de minorias como poloneses, dinamarqueses, alsacianos, so-rábios e outras”, escreveu o historiador britâ-nico Richard J. Evans em A Chegada do Terceiro Reich, primeira parte de sua trilogia sobre o nazismo. “Entretanto, diferente da maioria dos outros grupos, em geral a comu-nidade judaica era bem-sucedida economi-camente”.

Judeus estavam no lado mais progressista da economia, da sociedade e da cultura, o que os tornou um alvo fácil para apontado-res de dedos. Pessoas inescrupulosas como Hermann se aproveitavam da situação e de-dicavam seu discurso àqueles mais fragiliza-dos pelos novos tempos, desempregados ou pessoas em situação econômica frágil. Eram pessoas que desejavam o retorno a um mo-do de vida mais regrado, seguro, ordenado e hierarquizado – “como imaginavam ter e-xistido no passado”, frisa Evans. A comuni-dade judaica representava o oposto disso. Ela simbolizava a modernidade cultural e social, o que ficava ainda mais em evidência

em Berlim, cidade que, em 1873, sofreu feio com uma crise econômica mundial, provoca-da pela falência dos investimentos nas ferro-vias americanas. Muitas pequenas empre-sas foram atingidas e fecharam as portas em Berlim, e pregadores começaram a es-palhar o boato de que a culpa era de finan-cistas judeus.

Ao longo da década de 1880, diversos líde-res antissemitas saíram do armário. Era o caso de Adolf Stöcker, que fundou o Partido Social Cristão (nada a ver com a contempo-rânea União Democrata-Cristã, de Angela Merkel), legenda de plataforma explicita-mente contra os judeus, e de Ernst Henrici, que tinha um discurso tão virulento que seus seguidores provocaram um incêndio em u-ma sinagoga na Pomerânia.

Com essa laia Hermann começou a se en-volver. Ele publicou um livro que dizia que o banqueiro judeu Gerson von Bleichröder comprara o governo alemão. A publicação continha uma série de documentos que comprovariam o envolvimento ilícito. Com-provariam, caso os documentos não tives-sem a veracidade de um “É verdade esse bilete”. O próprio Hermann escreveu as su-postas provas, foi desmascarado mais uma vez e acabou condenado a quatro meses de prisão.

Caricatura de Hermann Ahlwardt, em 1892. O texto escrito no instrumento é uma refe-rência aos motins Hep-Hep, em que houve ataques a judeus em muitas cidades, em 1819.

Caricatura de Hermann Ahlwardt, em 1892. O texto escrito no instrumento é uma refe-rência aos motins Hep-Hep, em que houve ataques a judeus em muitas cidades, em 1819. (Reprodução/Domínio Público)

Ao sair do xadrez, ele armou mais uma. Cri-ou um arsenal de informações falsas e sen-sacionalistas que dizia que um fabricante de armas judeu forneceu ao governo rifles deli-beradamente danificados, o que ajudaria u-ma conspiração franco-judaica a derrubar as Forças Armadas alemãs. Mais uma vez, Hermann foi desmascarado e condenado. Agora, a cinco meses. Mas ele nunca cum-priu a pena.

Em vez disso, virou deputado e ganhou imu-nidade.

Ao longo do processo, Hermann fez discur-sos em um distrito rural de Brandemburgo, bastante marcado pela crise. Acabou eleito para o Reischstag graças a uma campanha baseada em mentiras. As dificuldades eco-

nômicas pelas quais os camponeses passa-vam foram causadas por uma queda mundi-al dos preços de produtos agrícolas, mas ele jogou a culpa toda nos judeus, e a lorota pe-gou. Era muito mais fácil “explicar” um pro-blema complexo concentrando a culpa em um grupo específico de pessoas do que em conceitos etéreos, intelectualizados e con-traintuitivos (o que não mudou muito de lá para cá, convenhamos). Se o grupo aponta-do fosse uma minoria religiosa distante, que habita os grandes centros financeiros e havi-a séculos já era alvo de preconceito, mais fácil ainda. Um antissemitismo embalado es-pecialmente para aqueles que se sentiam desamparados pelo governo e se viam como a alma da cultura germânica.

A plataforma racista e mentirosa garantiu o assento a Hermann no Parlamento e, de quebra, a imunidade parlamentar (que ainda existe na Alemanha). A ele se juntaram ou-tros congressistas outsiders que se pauta-vam pelo antissemitismo. Na década de 1890, essa bancada chacoalhou a estrutura dos partidos tradicionais. A hegemonia do Partido Conservador nas zonas rurais esta-va ameaçada, e a legenda acabou por apro-var o combate “à influência judaica ampla-mente desagregadora e importuna em nos-sa vida popular”.

Após a virada do século, os desentendimen-tos entre os deputados independentes antis-semitas e a reação dos partidos tradicionais acabaram por jogá-los de escanteio no jogo político. As legendas nanicas desaparece-ram, mas sua pauta não. O Partido de Cen-tro, uma das mais influentes agremiações políticas do império, se engajou em uma re-tórica antissemita parecida. Conforme os ju-deus se misturavam mais à sociedade, o an-tissemitismo ganhou nova forma. O precon-ceito religioso estava fora de moda e dava lugar ao racial. Não é que os judeus, “que deixaram Jesus morrer”, tinham que ser to-talmente assimilados pela cultura alemã. A-gora eles deveriam ser exterminados.

Hermann seguiu uma vida turbulenta. Brigou com colegas antissemitas, foi viver nos Esta-dos Unidos, voltou para combater a maçona-ria. Os constantes problemas financeiros o levavam a tramoias e mais tramoias até que ele morreu em um acidente de trânsito em 1914. Um racista patético que ajudou a levar a semente do mal para o centro do poder na Alemanha. O resultado todos conhecemos. Veio das urnas, em 1933, com a ascensão de outra legenda até então inexpressiva: o Partido Nazista.

Autor: Felipe van Deursen

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 7

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

RADUAN NASSAR SE LEVANTA CONTRA O FASCISMO BOLSONARISTA

O escritor Raduan Nassar, um dos maiores escritores brasileiros da atualidade, em entrevista ao jornal português Público, avaliou com incredulidade a situação política do Brasil, que vive uma ascensão do fascismo na candidatura de Jair Bolsonaro; ele acredita que a vitória de Bolsonaro irá trazer "perseguição" a quem pensa de forma diferente, mas não pretende desviar-se do seu ativismo; "Vou continuar com as minhas posições. Dê no que der"

Page 8: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

O Direito a Alimentação

O direito humano à alimentação está entre os direitos sociais no "Art. 6º da Constituição Federal - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a seguran-ça, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma da constituição.

O direito à alimentação também está no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e se encontra em vários outros do-cumentos internacionais.

O direito a alimentação deve ser garantido a todas as pessoas, e para que isso seja possível é necessário que elas tenham como se sustentar por seus próprios meios. Ao Estado cabe garantir e pro-mover os meios para que isso aconteça, através de políticas públi-cas que sejam direcionadas principalmente para a população mais carente. No direito a alimentação está incluído o direito de acesso a água, sendo que o direito a alimentação deve estar adequado ao contexto de cada pessoa. Ter direito a uma alimentação digna, não passar fome é um direito do ser humano essencial à dignidade hu-mana, ao desenvolvimento e à sobrevivência da pessoa. Passar fome é uma violação dos Direitos Humanos. Esses interesses cha-mados de difusos ou coletivos são de todos, e são protegidos pelo direito.

Junto com o direito à alimentação estão garantidos outros direitos importantes, por isso dizemos que ele é pluridimensional, como o direito à vida, a moradia, etc. É um direito indispensável que ratifica outros direitos fundamentais, como a dignidade humana, a liberda-de, a igualdade, sendo o direito à vida imprescindível para que pos-samos usufruir de todos os demais direitos. Cabe ao Estado promo-ver a consumação desses direitos básicos e a nós, cidadãos cobrar do Estado o seu cumprimento.

A pobreza e a fome são uma realidade brasileira e mundial. Mais de 13 milhões de brasileiros estão em situação de vulnerabilidade em relação à fome. As classes mais atingidas são as populações que vivem na periferia das grandes cidades, mulheres, negros e pardos,e a população nordestina, estão entre os mais necessitados de alimentos. Esse número se origina de várias causas, entre elas, a grave crise econômica que o país atravessa nos últimos anos, o

aumento do número de desempregados, e, consequentemente is-so afeta o investimento em programas sociais, o que pode nos fa-zer voltar a fazer parte do mapa da fome da ONU( Organização das Nações Unidas) do qual conseguimos sair em 2013, onde menos de 5% da população sofria com a fome. Infelizmente a grave crise que atravessamos fez esse número aumentar de maneira conside-rável, e a miséria dificulta o acesso ao alimento, junto com outros fatores. Aumenta a pobreza, consequentemente outros problemas surgem em razão disso, como vários tipos de doenças, desnutrição, distúrbios e doenças causados pela falta de vitaminas, aumento da mortalidade infantil, baixo desempenho escolar e outros. O proble-ma não é que não haja alimentos suficientes, são vários os motivos pelos quais algumas pessoas não conseguem ter acesso ao ali-mento, um deles é a má distribuição dos recursos básicos para que as pessoas consigam ter acesso aos alimentos, à infraestrutura in-suficiente dificulta o contato com os centros urbanos. Outro proble-ma é a enorme desigualdade social, que faz com que algumas pes-soas não tenham uma renda que lhes permita comprar alimentos.

A Fome no Brasil e no mundo é uma realidade, são milhões de pes-soas no mundo que se encontram na faixa dos subnutridos. O pro-blema aqui não é apenas a saúde, mas a desigualdade que faz com que esse problema seja de difícil solução. È necessário apli-car mais em políticas públicas para evitar o avanço desse mal. Pro-gramas sociais, inclusão, geração de empregos, metas viáveis atra-vés de um esforço conjunto, em que a prioridade seja a dignidade da pessoa humana.

Combater à fome, a miséria, promover o acesso aos alimentos de maneira mais igualitária é questão prioritária que envolve a ética, o exercício da cidadania, a saúde pública. O Estado democrático de Direito deve salvaguardar e garantir a todo ser humano igualdade de condições e uma existência digna.

Uma sociedade mais igualitária em todos os sentidos, e que se pre-ocupa com o outro, que preza a igualdade como um direito precioso do qual não podemos prescindir, é o caminho para a concretização do sonho de um Estado verdadeiramente democrático.

Autora: Mariene Hildebrando

e-mail: [email protected]

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 8

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A fábula do menino de 10 anos que aprendeu a andar de bicicleta

Luiz está com 2 anos e 10 meses. Há uns seis meses, começou a ir para a pracinha com o pai, pela manhã, levan-do uma bicicleta de e-quilíbrio que ganhou no aniversário de 2 anos. A bicicleta de equilíbrio é sem pedal e dizem os entendidos que as

crianças que aprendem a andar com ela pegam o jeito rapidinho, passando direto para a bike tradicional, sem precisar usar rodinhas.

Nas primeiras duas vezes que o Luiz andou, foi quase arrastando. Não é nem que ele caía, simplesmente saía pouco do lugar. É co-mo se estivesse tentando caminhar com uma bicicleta no meio.

Na terceira vez, já estava desenvolvendo mais, colocando menos o pé no chão.

E assim foi: a cada ida à pracinha, a evolução era maior. Começou a descer morrinhos, ganhando mais agilidade e autoconfiança. Ho-je, ele anda pra lá e pra cá, na maior felicidade.

No começo desta semana, num desses passeios, um pai que esta-va com seu filho de 10 anos observou o Luiz e ficou impressionado: como um garotinho de menos de 3 anos estava andando tão bem de bicicleta e o filho dele, de 10 anos, ainda estava usando rodi-

nhas?

Foi até o carro, buscou umas ferramentas, tirou as rodinhas e co-meçou a ensinar o filho a andar de bike também, a exemplo do Lu-iz, 7 anos mais novo.

Não precisou de muito tempo: logo o garoto tinha aprendido.

A história acima é real, foi relatada pelo meu marido. Mas é das histórias reais que podemos tirar as melhores reflexões. Qual é a "moral da história"? Pensei de imediato em três:

As pessoas podem até não ter nascido com um dom ou talento es-pecial, mas tudo é aprendido com a prática e a persistência.

Se ninguém ensinar algo ao seu filho, vai ser bem mais difícil de ele aprender sozinho.

Nunca é tarde demais para se aprender algo novo, por mais difícil que pareça.

E isso vale para tudo. Ensine seu filho, desde cedo, a interpretar textos corretamente. Isso será fundamental para ele na vida toda. Ensine seu filho, desde cedo, a ter empatia. Ensine seu filho, desde cedo, a respeitar quem é diferente dele. Ensine seu filho, desde ce-do, que a violência não é a melhor resposta nunca. Ensine seu fi-lho, desde cedo, que mulheres têm os mesmos direitos que os ho-mens.

Se você não ensinar, ele pode até aprender de outras formas, mas sempre haverá pessoas tentando ensinar o contrário também. Lem-bre-se disso.

Autora: Cristina Moreno de Castro

Page 9: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

As democracias também morrem democraticamente

Habituamo-nos a pensar que os regimes políti-cos se dividem em dois grandes tipos: democra-cia e ditadura. Depois da queda do Muro de Ber-lim em 1989, a democracia (liberal) passou a ser quase consensualmente considerada como o único regime político legítimo. Pese embora a diversidade interna de cada um, são dois tipos antagônicos, não podem coexistir na mesma sociedade, e a opção por um ou outro envolve sempre luta política que implica a ruptura com a legalidade existente.

Ao longo do século passado foi-se consolidando a ideia de que as democracias só colapsavam por via da interrupção brusca e quase sempre violenta da legalidade constitucional, através de golpes de Estado dirigidos por militares ou civis com objetivo de impor a ditadura. Esta narrativa, era em grande medida, verdadeira. Não o é mais. Continuam a ser possíveis rupturas violen-tas e golpes de Estado, mas é cada vez mais evidente que os perigos que a democracia hoje corre são outros, e decorrem paradoxalmente do normal funcionamento das instituições democrá-ticas.

As forças políticas antidemocráticas vão-se infil-trando dentro do regime democrático, vão-no capturando, descaracterizando-o, de maneira mais ou menos disfarçada e gradual, dentro da legalidade e sem alterações constitucionais, até que em dado momento o regime político vigente, sem ter formalmente deixado de ser uma demo-cracia, surge como totalmente esvaziado de conteúdo democrático, tanto no que respeita à vida das pessoas como das organizações políti-cas. Umas e outras passam a comportar-se co-mo se vivessem em ditadura. Menciono a seguir os quatro principais componentes deste proces-so.

A eleição de autocratas

Dos EUA às Filipinas, da Turquia à Rússia, da Hungria à Polônia têm vindo a ser eleitos demo-craticamente políticos autoritários que, embora sejam produto do establisment político e econô-mico, se apresentam, como anti-sistema e anti-política, insultam os adversários que consideram corruptos e vêem como inimigos a eliminar, re-jeitam as regras de jogo democrático, fazem a-pelos intimidatórios à resolução dos problemas sociais por via da violência, mostram desprezo pela liberdade de imprensa e propõem-se revo-gar as leis que garantem os direitos sociais dos trabalhadores e das populações discriminadas por via etno-racial, sexual, ou religião.

Em suma, apresentam-se a eleições com uma ideologia anti-democrática e, mesmo assim, conseguem obter a maioria dos votos. Políticos autocráticos sempre existiram. O que é nova é a frequência com que estão a chegar ao poder.

O vírus plutocrata

O modo como o dinheiro tem vindo a descarac-terizar os processos eleitorais e as deliberações democráticas é alarmante. Ao ponto de se dever questionar se, em muitas situações, as eleições são livres e limpas e se os decisores políticos são movidos por convicções ou pelo dinheiro que recebem. A democracia liberal assenta na ideia de que os cidadãos têm condições de ace-der a uma opinião pública informada e, com ba-se nela, eleger livremente os governantes e ava-liar o seu desempenho. Para que isso seja mini-mamente possível, é necessário que o mercado das ideias políticas (ou seja, dos valores que não têm preço, porque são convicções) esteja totalmente separado do mercado dos bens eco-nômicos ( ou seja, dos valores que têm preço e nessa base se compram e vendem).

Em tempos recentes, estes dois mercados têm-se vindo a fundir sob a égide do mercado econô-mico, a tal ponto que hoje, em política, tudo se compra e tudo se vende. A corrupção tornou-se endêmica. O financiamento das campanhas elei-torais de partidos ou de candidatos, os grupos de pressão (ou lobbies) junto dos parlamentos e governos têm hoje em muitos países um poder decisivo na vida política. Em 2010, o Tribunal Supremo dos EUA, na decisão Citizens United v. Federeal Election Commission, desferiu um golpe faltal na democracia norte-americana ao permitir o financiamento irrestrito e privado das eleições e decisões políticas por parte de gran-des empresas e de super-ricos. Desenvolveu-se assim o chamado “Dark Money”, que não é ou-tra coisa senão corrupção legalizada. É esse mesmo “dark money” que explica no Brasil uma composição do Congresso dominada pelas ban-cadas da bala, da bíblia e do boi, uma caricatura cruel da sociedade brasileira.

As fake news e os algoritmos

A internet e as redes sociais que ela tornou pos-sível foram durante algum tempo vistas como possibilitando uma expansão sem precedentes da participação cidadã na democracia. Hoje, à luz do que se passa nos EUA e no Brasil, pode-mos dizer que elas serão as coveiras da demo-cracia, se entretanto não forem reguladas. Refi-ro-me em especial a dois instrumentos. As notí-cias falsas sempre existiram em sociedades a-travessadas por fortes clivagens e, sobretudo, em períodos de rivalidade política. Hoje, porém, é alarmante o seu potencial destrutivo através da desinformação e da mentira que espalham. Isto é sobretudo grave em países como a Índia e o Brasil, em que as redes sociais, sobretudo o Whatsapp (o conteúdo menos controlável por ser encriptado), são amplamente usadas, a pon-to de serem a grande, ou mesmo a única, fonte de informação dos cidadãos (no Brasil, 120 mi-lhões usam o Whatsapp). Grupos de investiga-ção brasileiros denunciaram no New York Times (17 de Outubro) que das 50 imagens mais divul-gadas (virais) dos 347 grupos públicos do What-sapp em apoio de Bolsonaro só 4 eram verda-deiras. Uma delas era uma foto da Dilma Rous-seff, candidata ao Senado, com o Fidel Castro na Revolução Cubana. Tratava-se, de fato, de uma montagem feita a partir do registo de John Duprey para o jornal NY Daily News em 1959. Nesse ano Dilma Rousseff era uma criança de 11 anos. Apoiado por grandes empresas inter-nacionais e por serviços de contra-inteligência militar nacionais e estrangeiros, a campanha de Bolsonaro constitui uma monstruosa montagem

de mentiras a que dificilmente sobreviverá a de-mocracia brasileira.

Este efeito destrutivo é potenciado por outro ins-trumento: o algoritmo. Este termo, de origem árabe, designa o cálculo matemático que permi-te definir prioridades e tomar decisões rápidas a partir de grandes séries da dados (big data) e de variáveis tendo em vista certos resultados (o su-cesso numa empresa ou numa eleição). Apesar da sua aparência neutra e objetiva, o algoritmo contem opiniões subjetivas (o que é ter êxito? Como se define o melhor candidato?) que per-manecem ocultas nos cálculos. Quando as em-presas são intimadas a revelar os critérios, de-fendem-se com o segredo empresarial. No cam-po político, o algoritmo permite retroalimentar e ampliar a divulgação de um tema que está em alta nas redes e que, por isso, o algoritmo consi-dera ser relevante porque popular. Acontece que o que está em alta pode ser produto de uma gigantesca manipulação informacional levada a cabo por redes de robôs e de perfis automatiza-dos que difundem a milhões de pessoas notícias falsas e comentários a favor ou contra um candi-dato tornando o tema artificialmente popular e assim ganhar ainda mais destaque por via do algoritmo.

Este não tem condições para distinguir o verda-deiro do falso e o efeito é tanto mais destrutivo quanto mais vulnerável for a população à menti-ra. Foi assim que em 17 países se manipularam recentemente as preferências eleitorais, entre eles os EUA (a favor de Trump) e agora, no Bra-sil (a favor de Bolsonaro) numa proporção que pode ser fatal para a democracia. Sobreviverá a opinião pública a este tóxico informacional? Terá a informação verdadeira alguma chance de re-sistir a esta avalanche de falsidades?

Tenho defendido que em situações de inunda-ção o que faz mais falta é a água potável. Com a preocupação paralela a respeito da extensão da manipulação informática das nossas opini-ões, gostos e decisões, a cientista de computa-ção Cathy O’Neil designa os big data e os algo-ritmos como armas de destruição matemática (Weapons of Math Destruction, 2016).

A captura das instituições O impacto das práticas autoritárias e antidemo-cráticas nas instituições ocorre paulatinamente. Presidentes e parlamentos eleitos pelos novos tipos de fraude (fraude 2.0) a que acabo de alu-dir têm o caminho aberto para instrumentalizar as instituições democráticas, e podem fazê-lo supostamente dentro da legalidade, por mais evidentes que sejam os atropelos e interpreta-ções enviesadas da lei ou da Constituição. Em tempos recentes, o Brasil tornou-se um laborató-rio imenso de manipulação autoritária da legali-dade. Foi esta captura que tornou possível a chegada ao segundo turno do neo-fascista Bol-sonaro e a sua eventual eleição. Tal como tem acontecido noutros países, a primeira instituição a ser capturada é o sistema judicial. Por duas razões: por ser a instituição com poder político mais distante da política eleitoral e por constitu-cionalmente ser o órgão de soberania concebido como “árbitro neutro”. Noutra ocasião analisarei este processo de captura. O que será a demo-cracia brasileira se esta captura se concretizar, seguida das outras que ela tornará possível? Será ainda uma democracia?

Autor: Boaventura de Sousa Santos Sociólogo, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 9

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Page 10: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

A corrupção no cenário brasileiro

Exercício da cidadania e apatia

política

Introdução

Dentre as inúmeras variáveis que favorecem a perpetuação da corrupção no Brasil está a enorme distância entre a lei e realidade da população brasileira. De fato, a realidade da efetivação das garantias constitucionais está bem distante para aqueles que até possuem cidadania "política", mas sequer estão próxi-mos de atingir de fato a cidadania "civil". Pa-ra estes que estão à margem da sociedade brasileira, a lei é uma realidade distante. O presente artigo tem como finalidade expor os fatos que levaram a inserção e a legitima-ção da corrupção no Brasil tendo como am-paro o modelo desigual de acesso à justiça aos menos favorecidos.

O papel da apatia política da sociedade como forma de legitimação da corrupção

no Brasil

A corrupção decididamente não é um fato que surgiu nos últimos anos, na verdade es-tá presente no Brasil há muitos séculos e acompanha desde então as discussões em todos os âmbitos do país. Segundo Emer-son Garcia, a corrupção, em seus aspectos mais basilares, reflete a infração de um de-ver jurídico posicional e a correlata obtenção de uma vantagem indevida (Garcia, 2011, p.1).

Portanto, a corrupção é uma velha conheci-da da sociedade brasileira, desde a época do império passando pela República e Era Getúlio até os dias atuais, conforme descrito por Carvalho no seguinte fragmento de tex-to,

No século XIX, os republicanos acusavam o sistema imperial de corrupto e despótico. Em 1930, a primeira república e seus políti-cos foram chamados de carcomidos. Getúlio Vargas foi derrubado em 1954 sob acusa-ção de ter criado um mar de lama no Catete. [...] (Carvalho, 2009, p.1)

Logo, desde sempre a corrupção vagueia pelos meandros da nossa sociedade, atin-gindo todos os tipos de classes sociais, so-bretudo as menos favorecidas.

Infelizmente existe um abismo muito grande entre a lei, ou seja, aquela que está positiva-da na Constituição da Republica Federativa do Brasil e a realidade das classes sociais menos favorecidas, que sobremaneira não tem acesso a cidadania e justiça na prática.

Este também é um problema que permeia a história do Brasil, conforme citado por Car-valho:

Até a metade do século XX, para quase toda a população rural, que era majoritária, a lei do Estado era algo distante e obscuro. O que essa população conhecia bem era a lei do proprietário. (Carvalho, 2009, p.2)

Na verdade, sempre foi assim, aqueles que têm maior poder de troca, a favor da maqui-naria capitalista são favorecidos e tem aces-

so à justiça, já aqueles que não contribuem para a reprodução do capital têm pouco ou nenhum acesso à justiça e menos ainda di-reito de requerer participação política.

Faz se mister aqui ressaltar a importância de separar dois significados de acesso à justi-ça: primeiramente como acesso ao poder judiciário e em segundo como acesso à justi-ça como valor. Logo, conforme os ensina-mentos de Mauro Cappelletti, acesso à Jus-tiça é (1988, p.8)

[...] o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e ou resolver seus litígios sob os auspícios do Estado. [...] deve ser igualmente acessível a todos [...].

Por conseguinte, conforme visto ao longo da história do Brasil, desde os primórdios, sem-pre existiram aqueles que têm "verdadeiro" acesso à justiça e aqueles que não sabem sequer seus direitos, muito distantes de ter efetivo acesso à justiça.

Carvalho (2009, p.2) destaca a distorção da semântica de “agente da lei” em diferentes âmbitos da sociedade,

"Nas grandes cidades, sobretudo em suas periferias, o agente da lei próximo à popula-ção era, e ainda é, o policial militar ou civil, cujo arbítrio e violência são conhecidos".

A luz disso pode-se concluir que nas periferi-as, ao contrário do que acontece nos bairros nobres, há uma inversão do papel de agente da lei, não como aquele que protege e dá segurança, e sim, como aquele que repreen-de e aplica a violência. Para este povo aces-so ao poder judiciário é uma utopia.

No texto de Boaventura de Souza Santos, isto é bem evidenciado quando perguntado aos moradores de “Pasárgada” por qual mo-tivo eles não chamam a polícia quando tem problemas. Este relato é observado no tre-cho de "Notas sobre a história jurídico social de Pasárgada" (1980, p. 111),

[...] "a polícia continua a desempenhar um papel mínimo na prevenção e na resolução de conflitos. Não obstante os seus esforços no sentido de uma aceitação mais positiva por parte da comunidade, continua a ser vis-ta por esta como uma força hostil investida de funções estritamente repressivas".

Para os moradores da favela do Rio de Ja-neiro, a polícia não está lá para protegê-los, ao contrário do que pensaria, por exemplo, um morador do Leblon. Na verdade, a polí-cia cumpre o papel de repreendê-los e está ali para vigiá-los, além disso, eles próprios se sentem distanciados e se vêem como marginalizados.

Logo, fica claro que a eficácia da norma jurí-dica alcança somente determinada classe social. Esse problema tem raízes profundas, ou seja, são frutos da herança colonial como cita José Murilo de Carvalho em Cidadania no Brasil – um longo caminho,

"A herança colonial pesou mais na área dos direitos civis. O novo país herdou a escravi-dão, que negava a condição humana do es-cravo, herdou a grande propriedade rural, fechada à ação da lei, e herdou um Estado c o m p r o m e t i d o c o m o p o d e r p r i va -do" (Carvalho, p.45, 2004).

Percebe-se que a negação dos direitos fun-damentais, principalmente os civis, encontra seu fundamento de validade nas raízes po-dres da herança colonial e da escravidão, que se dissipou ao longo dos anos até legiti-

mar a ação dos mais “poderosos” na prática da corrupção, subjugando os menos podero-sos a sorte da lei que para eles não é aplica-da com o ideal de justiça, qual seja dar aqui-lo que cada um merece.

Logo, diante da crescente diferença entre as classes abarcadas pelo modelo capitalista infiltrado na sociedade, o grande marco foi a busca desenfreada por mais e mais lucros. E por que não lucrar em cima dos mais fra-cos?

A sociedade brasileira sofre os abusos das classes altas que geralmente são aquelas que representam a maior parte dos mem-bros do Congresso Nacional. Ao contrário do que vislumbrava Rousseau, "uma democra-cia como ideal que protege a política dos usurpadores e incentiva a participação po-pular", é instalada na sociedade brasileira, a apatia política. Neste contexto segundo Rousseau (1983):

"Há uma sociedade desigual cuja igualdade vai se concretizar no Estado, local onde os elementos desiguais acordam entre si para a criação de um Estado da natureza capaz de suprimir os elementos limitativos da desi-gualdade reinante entre os homens".

Originariamente, o brasileiro sempre foi con-siderado por muitos como politicamente apá-tico, e neste sentido parecia não se importar com o crescimento desenfreado da corrup-ção. Entretanto, o que se espera diante dos últimos acontecimentos no cenário da políti-ca brasileira, é um verdadeiro despertar so-cial no sentido de cobrarmos verdadeira-mente uma democracia participativa que se dê de forma consciente e atuante.

Os laços sociais precisam ser definitivamen-te reestabelecidos e acabar de vez com a institucionalização do individualismo, com o interesse privado ou individual se sobrepon-do ao interesse coletivo. De fato, os repre-sentantes do povo brasileiro no Congresso Nacional defendem os interesses de uma minoria, eles próprios. É claramente o opos-to do que Durkheim (1893) esperaria visto que o coletivismo deveria sobrepor os inte-resses individuais.

Por conseguinte, é árduo o caminho que le-va a efetivação do acesso à justiça e à e-mancipação política para a maioria da popu-lação brasileira. Entretanto somente quando esse marco for atingido, será possível pen-sar no fim da corrupção, pois sem a partici-pação efetiva de toda sociedade brasileira, especialmente daqueles que não tem aces-so nenhum à justiça, o sistema político cor-rupto continuará esmagando as velhas en-tranhas apáticas do povo brasileiro.

Considerações finais

Independente de nossas raízes, o problema da corrupção é um mal que pode ser comba-tido se houver uma mudança de atitude da popu lação b ras i le i ra no sen t ido de “descapitalizar” os ideais, ou seja, nunca conseguiremos uma democracia de fato se continuarmos apáticos politicamente. A nor-ma jurídica deve ter o alcance equivalente para todas classes sociais sem fazer distin-ção de cor, raça, sexo, conforme os direitos fundamentais da Carta Constitucional, pro-porcionando desta forma acesso à justiça com efetividade a todos.

Autora: Clarissa Tonini Martin

Colaborador: Dr. Miguel Ângelo Martin Advogado e Administrador de Empresas.

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 10

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Page 11: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

2+2=22, KKK é de esquerda e temas como "galera, onde tem blitz?"

Resumo: “Clarinha está lá atrás, esperando as outras malas. Sabe como é, trouxemos muitas coisas de Maiame e vamos passar sepa-rados na alfândega; assim é mais difícil de nos pegarem”. Binguís-simo!

As redes sociais revelam a ambiguidade fundamental de nossa condição. Democratizam o acesso à informação, mas também per-mitem a disseminação de todo tipo de boato e notícia falsa; aumen-tam muito a possibilidade de diálogo e troca intersubjetiva, mas também reduzem a linguagem, em sua sagrada complexidade, a emojis (repristinando os acadêmicos de Lagado d’As Viagens de Gulliver, que pretendiam trocar as palavras por objetos); facilitam a pesquisa e incitam a curiosidade, mas simplificam tanto o caminho de forma a promover a idiotização e o emburrecimento coletivo. É a nesciontologia que assume lugar dominante.

A culpa, é óbvio, não é das redes sociais em si. Felizmente, ainda — ainda — é possível compartilhar coisas úteis, interessantes, e não só fake news de candidato. Recebi, dia desses, um interessan-tíssimo vídeo que, depois, descobri tratar-se do curta Alternative Math — Matemática Alternativa.

Recomendo que assistam, de forma que não pretendo transcrever o vídeo todo aqui — o final é hilário e vale a pena. Em vez de per-der tempo em uatiszap da família, brigando com o primo imbecil ou a tia que acha que Darwin era um charlatão, assista ao vídeo.

Mas, resumindo (mas não contarei o final), para chegar em meu ponto, é o seguinte: na escola, um menino é repreendido pela pro-fessora ao escrever que 2 + 2 = 22. Nada mais normal, certo? Um aluno ou aluna em idade escolar chega na resposta errada, o pro-fessor ou professora corrige.

Pois é. Acontece que, talvez, já não mais seja bem assim. Os pais do aluno perguntam à professora: “Ora, quem é você pra dizer que sua resposta é certa, e a dele, errada?” O caso chega na direção da escola, nos outros professores, na mídia local, enfim... Long story short, a professora é demitida e a mídia repercute a demissão de uma “professora ativista que reprime o aluno por suas visões pessoais”.

A distopia do vídeo é genial porque mostra precisamente o estado da arte do direito brasileiro. “Ora, quem é você pra dizer que sua resposta é certa, e a dele, errada?”

Nem preciso dizer que o motivo central de estarmos mergulhados nessa crise judiciária é o relativismo semelhante ao 2+2=22-e-essa-é-a-minha-opinião. Os pais dos alunos venceram aqui no Brasil.

“Ora, quem é você pra dizer que sua resposta é certa, e a dele, er-rada?” Não é o aluno que está errado. Errada está a professora que enche o saco. Por que 2 + 2 não pode ser 22? Por que é errado sustentar interpretar é um ato de vontade? Por que é errado sus-tentar que direitos humanos são só para humanos direitos? Ora, pois.

Como chegamos a isso? Como chegamos a esse sushi jurídico? Nós engendramos esse tipo de imaginário em nossa prática jurídica a partir do momento em que aceitamos a tese de que, bem, “tudo é relativo”. “Não há verdades”. “É questão de opinião”. Como no caso do menino, seus pais e a pobre da professora.

Acontece que nem tudo é relativo. Há verdades, e, mais do que is-so, há critérios a partir dos quais se pode dizer qual é a verdade. Direitos humanos, direitos fundamentais, devido processo legal são conquistas civilizatórias. Se eu digo que não há verdades, como posso sustentar que é verdade que não há verdades? Se digo que todos mentem, sou um mentiroso; se digo que se pode dizer qual-quer coisa sobre qualquer coisa, estou dizendo aos leitores que o que digo nada significa.

Chegamos nessa estupidez institucionalizada porque permitimos que se deflagrasse, no Direito, a ideia de que respeitar o texto da lei significa uma aplicação mecânica, que proíbe a interpretação. Ora, é justamente e somente a partir da interpretação que se chega

na verdade! Acreditar na possibilidade da “letra fria” [sic] da lei é coisa ainda do século XIX. Não se trata disso.

Da ideia de que estamos condenados a interpretar não se segue que vale tudo, e que o intérprete seja livre pra atribuir ao texto o sentido que quiser. Interpretar autenticamente significa respeitar a autoridade da tradição a partir da qual se pode chegar na resposta correta.

A quem interessa essa ideia de que se pode dizer qualquer coisa? É simples. Àqueles a quem cabe dizer essa coisa, seja ela qual for. Engana-se quem acha que o relativismo é uma arma da democraci-a, que permite a pluralidade de ideias; é justamente o contrário: é o relativismo que autoriza que, aquele que detém o poder, diga o que bem entender, o que bem quiser, e o azar é todo nosso. Porque dissemos que tudo era relativo.

Quem diz o que quer e atribui o significado que deseja a qualquer coisa é Humpty Dumpty, de Alice Através do Espelho. Pior: Humpti-es Dumpties segurando a concha de O Senhor das Moscas. Para quem não sabe, no livro de Golding, os meninos que sobrevivem a um desastre aéreo e passam a habitar uma ilha instituem — ao me-nos enquanto sua pequena democracia resiste — que só pode falar aquele que tiver a concha nas mãos.

Pois é. Humpty Dumpty, no Brasil, segura a concha. De forma insti-tucionalizada. 2 + 2 = 22, e ai de quem disser o contrário. Este país é incrível. Vamos ganhar o prêmio Ignóbil. Um deputado entrou com projeto, em 2018, para permitir que as pessoas andem arma-das a bordo de aviões (aqui). Poxa. Se o mundo soubesse disso, já de há muito não haveria sequestros e atos terroristas. Si vis pacem parabellum. E eu vou estocar alimentos. Ou vou abrir uma loja de armas.

Vejam em que pé estamos no 2+2=22: já há quem diga — li isso na grande mídia (e não na deep internet) — que a proteção de direitos humanos é inimiga da polícia. Incrível ou crível? E um vereador de São Paulo afirma que a KKK — Ku Klux Klan — é de esquerda (ver aqui). A comunidade negra norte-americana deve ficar feliz com es-se “achado histórico” do vereador paulista, por sinal, negro como os perseguidos — e mortos — pela KKK. Como a gente aprende coi-sas... Bom já sabíamos que os negros foram os culpados por sua escravidão (os portugueses, disse-se, “nem pisaram na África”), a-gora sabemos mais um capítulo da história oficial (além do fato de já termos admoestado — e humilhado — os alemães por estes não entenderem nada de nazismo!). O vereador paulista deve ter estu-dado isso na Bullshit University II, no livro How to Offend the US Black Community, da Extreme Right Press. Da mesma editora, o mais recente livro How to teach the art of white supremacy to KKK? And KKK is not laughing emoji. Taí a explicação: o “grande historia-dor contemporâneo” — nosso preclaro vereador paulista — achou que KKK era um emoji. Bingo. Meu Deus.

E competindo para o Prêmio Ignobil, um delegado de polícia do RS afirma, de pés-juntos, que a suástica é um símbolo hindu. Vai ver que também pensou que era um emoji. E, pior: nada disso é fake news. Creiam. Ah: a terra é redonda, sim. Não é plana.

Post scriptum: Arquétipo do brasileiro médio 1: 23h59 min — “Eu prefiro ser revistado a cada esquina do que ser assaltado”. Um mi-nuto depois: “Galera, onde tem blitz?”. Bingo. Arquétipo do brasilei-ro 2: Fila de espera de bagagem no aeroporto internacional. O su-jeito classe média critica veemente o Brasil. “Assim não dá. Espe-rando faz 20 minutos as malas. Só no Brasil, mesmo. Falta lei e or-dem”, e outras sandices. E o sujeito ao lado, interlocutor do “indignado”: “Onde está sua esposa, a Clarinha”?”. E o “indignado”: “Clarinha está lá atrás, esperando as outras malas. Sabe como é, trouxemos muitas coisas de Maiame e vamos passar separados na alfândega; assim é mais difícil de nos pegarem”. Binguíssimo!

E 2+2 dá..., mesmo, 22! E, na livraria, um best seller: "Como assar melhor o bacon". O prefácio é da lavra de um porco gordinho.

Autor: Lenio Luiz Streck

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 11

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Page 12: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

A Constituição Federal e seus 30 Anos

Exemplo do constitucionalismo da modernidade, a Constituição Fe-deral de 1988 resultou influenciada pelo chamado constitucionalis-mo dirigente, egresso da Segunda Guerra e que teve sua inspira-ção ainda no período entre as duas guerras mundiais: a Constitui-ção Mexicana de 1917 e a de Weimar de 1919.

Ambas procuraram dirigir o Estado e seu papel no desenvolvimento econômico, na ampliação de direitos a todos, na defesa das rique-zas nacionais, num compromisso mínimo capaz de oferecer digni-dade a trabalhadores e ao povo em geral. Com forte intervenção no direito de propriedade – “terrível, não era necessário que fosse um direito” – a Constituição de Weimar, por exemplo, sucumbiu, no que pese o reconhecimento dos grupos e partidos políticos democráti-cos em sua defesa.

Comunistas, democratas, socialistas e sociais-democratas viram-me impotentes ante um inimigo tão poderoso e que contou com amplo apoio de atores institucionais como conglomerados financei-ros e da imprensa, militares, judiciário, que permitiram o sucesso do nazismo e sua tragédia, apesar de todas as advertências.

O compromisso mínimo de 1988 previu o Estado social, onde a so-berania econômica teria destaque, o que se materializou pelo art. 170 de nossa Constituição. Um extenso rol de direitos e garantias fundamentais, com determinação evidente de que o Brasil estraria inserido no panorama internacional de defesa dos direitos huma-nos, terminava por fechar um arco de objetivas pretensões da Constituição que não deixava dúvidas sobre sua opção.

Se nossos atores políticos democráticos tiveram capacidade de re-alizar uma assembleia constituinte, de promulgar a Constituição, parece que não tiveram a mesma capacidade diante de inimigos tão poderosos como os que terminaram por relativizar os pontos centrais de nossa Constituição.

A dilatação da atuação do Poder Judiciário, amparada num apoio nunca visto da grande mídia, esvaziou o sentido democrático da política em tal alcance, que membros do STF não hesitam em falar abertamente de que ao Poder Judiciário cabe a vanguarda “iluminista”, ou “a refundação da República e da Nação”. Igualmen-te, o mesmo Judiciário e os órgãos de investigação como o Ministé-rio Público tornam-se os primeiros a defenderem a relativização do sentido de garantias constitucionais como aquela do art. 5º, LVII – a presunção da inocência – exatamente num ponto em que a Constituição definiu de forma inequívoca esta garantia como cláu-sula eterna.

O STF também permitiu que uma Presidente da República fosse destituída do cargo sem crime de responsabilidade, enquanto po-deria intervir, pelo menos para figurar perante a história noutro pa-tamar, a que nunca havia chegado.

Porque a melhor das Constituições que tivemos não foi capaz de impedir o regresso? Talvez ainda seja cedo para organizar a com-plexa explicação. Porém, parece-me possível que reflita sobre o papel de nossa sociedade. E vem do maior representante do pen-samento conservador autoritário brasileiro, Oliveira Vianna, o olhar sobre a sociedade; não sobre o Estado. Somos escravocratas; oli-garcas, preferimos o privilégio dos estamentos sociais; gostamos de ser servidos; nossas elites econômicas são incapazes de abdi-carem de sua posição subalterna ao capitalismo internacional. Te-mos enormes dificuldades com a igualdade de todos perante a lei. Como almejar uma República?

O desgaste da Constituição Federal de 1988 não foi obra do povo brasileiro: foi o resultado de políticas antidemocráticas e antipovo. Quando se viram os primeiros resultados de políticas concretas de inclusão e diminuição de desigualdade entre os brasileiros, a rea-ção não tardou e deixou-se fantasiar de discursos, como o da meri-tocracia, na vã tentativa de disfarçar o desprezo de uma elite que tem vergonha de seu povo; ao contrário da benfazeja falta de ver-gonha que Constituição de 1988 exibiu neste sentido. Decorridos 30 anos, nossa tarefa é dura, pois consiste em resgatá-la, o que significa o enfrentamento decisivo contra o passado.

Autor: Martonio Mont’Alverne

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 12

Resumo sobre a Proclamação da República Brasileira, causas, lideran-ça, crise da monarquia, movimento republicano

Introdução

O regime monárquico existiu no Brasil entre os anos de 1822 a 1889. Neste período o pa-ís teve dois imperadores: D. Pedro I e D. Pedro II.

Causas

- Crise e desgaste da Monarquia - o sistema monárquico não correspondia mais aos an-seios da população e às necessidades sociais que estava em processo. Um sistema em que houvesse mais liberdades econômicas, mais democracia e menos autoritarismo era desejado por grande parte da população urbana do país.

- Forte interferência de D. Pedro II nas questões religiosas, que provocou atritos com a Igreja Católica.

- Censura imposta pelo regime monárquico aos militares. O descontentamento dos milita-res brasileiros também ocorria em função dos rumores de corrupção existentes na corte.

- Classe média e profissionais liberais desejavam mais liberdade política, por isso muitos aderiram ao movimento republicano, que defendia o fim da Monarquia e implantação da República.

- Falta de apoio da elite agrária ao regime monárquico, pois seus integrantes queriam mais poder político.

- Fortalecimento do movimento republicano, principalmente nas grandes cidades do Su-deste.

A Proclamação

Na capital brasileira (cidade do Rio de Janeiro) em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca liderou um golpe militar que derrubou a Monarquia e instaurou a Re-pública Federativa e Presidencialista no Brasil. No mesmo dia foi instaurado o governo provisório em que o Marechal Deodoro da Fonseca assumiu a presidência da República.

Por: Filipe de Sousa

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Page 13: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

O Horário Brasileiro de Verão 2018-2019 começa às00h do dia 04 de novembro de 2018.

A partir da meia-noite do dia 04 de novembro, os relógios brasilei-ros serão ADIANTADOS em 1 horanos estados em que o Horário de Verão é válido.

Este ano o Horário de Verão começa mais tarde por conta das Elei-ções 2018. Embora tenha sido cogitado um segundo adiamento do início do horário de verão para o dia 18 de novembro (com o objeti-vo de não interferir com o Exame Nacional do Ensino Médio), este não se concretizou.

O Dia Nacional da Língua Portuguesa é celebrado anualmente em 5 de novembro no Brasil. Atualmente, a língua portuguesa é o 5º (quinto) idioma mais falado do planeta. Origem do Dia Nacional da Língua Portuguesa No Brasil, o Dia Nacional da Língua Portuguesa foi criado a partir do decreto de lei nº 11.310, de 12 de junho de 2006, estipulando a celebração para o dia 5 de novembro. A escolha desta data é uma homenagem ao escritor e político bra-sileiro Ruy Barbosa, que nasceu em 5 de novembro de 1849, e é considerado um grande estudioso da língua portuguesa.

O Dia do Radialista é comemorado oficialmente no Brasil em 7 de novembro. Na verdade, em 21 de setembro também se comemora o Dia do Radialista. Isso acontece porque o dia já era comemorado em setembro até que a lei nº 11.327, de 27 de julho de 2006, instituiu a nova data. Esta data homenageia o profissional responsável em apresentar os programas e informativos radiofônicos, que entretêm os ouvintes com suas características vozes marcantes. Parabéns aos professores da CULTURAonline BRASIL que volun-tariamente democratizam o seu conhecimento.

O Dia do Diretor de Escola, ou simplesmente Dia do Diretor, é comemorado em 12 de novembro. Esta data celebra o profissional responsável em gerir e administrar as decisões da escola, colaborando para construir um bom ambien-te para os professores, alunos e demais colaboradores dos colé-gios. Em alguns estados brasileiros, o Dia do Diretor Escolar é comemo-rado em 18 de outubro. Em São Paulo, por exemplo, a Lei nº 10.927, de 11 de outubro de 2001, declara o dia 18 de outubro co-mo o dia oficial do Diretor de Escola no estado.

O Dia Nacional da Alfabetização é comemorado anualmente em 14 de Novembro, no Brasil. A data tem o objetivo de conscientizar a população sobre a impor-tância da implantação de melhores condições de ensino e aprendi-zagem no país. A alfabetização não se baseia unicamente no ato de aprender a ler e a escrever, mas também no desenvolvimento da capacidade de compreensão, interpretação e produção de conhecimento.

O Dia da Proclamação da República do Brasil é comemorado anualmente dia 15 de novembro e é considerado um feriado nacio-nal. A Proclamação da República do Brasil foi realizada em 15 de no-vembro de 1889. O evento aconteceu no Rio de Janeiro, a então capital do país, por

um grupo de militares liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, que deu um golpe de estado no Império.

O Dia Internacional da Tolerância é comemorado anualmente em 16 de Novembro. A data tem o objetivo de promover o bem estar, o progresso e a li-berdade de todos os cidadãos, assim como fomentar a tolerância, o respeito, o diálogo e cooperação entre diferentes culturas, religiões, povos e civilizações. O Dia Internacional da Tolerância combate qualquer tipo de intole-rância e preconceito, seja ele religioso, sexual, econômico ou cultu-ral. Com a globalização, a pluralidade cultural que existe no mundo se tornou ainda mais interligada, exigindo uma maior compreensão das pessoas em respeitar os diferentes modos de viver de cada ci-dadão. Isso, no entanto, não significa que devemos aceitar as idei-as ou doutrinas de todas as sociedades, mas apenas aprender a respeitá-las e conviver com as diferenças.

O Dia da Criatividade é celebrado no dia 17 de novembro. A criatividade é considerada como uma aptidão para inventar ou criar coisas novas. Uma pessoa criativa é uma pessoa inovadora, que tem ideias originais. Esta característica pode se revelar em várias áreas diferentes, co-mo a música, poesia, pintura, etc. Em algumas profissões a criativi-dade é um elemento essencial, como nas agências de publicidade e design. Além disso, a criatividade também pode estar relacionadas com á-reas como a engenharia (nas suas várias vertentes). Isto porque a criatividade é uma atitude de alguém que cria soluções para resol-ver um determinado problema. A criatividade está relacionada com a capacidade de fazer pergun-tas e procurar respostas para essas perguntas, usando para isso a capacidade de imaginação. Uma pessoa criativa é uma pessoa pioneira, que tenta fazer coisas que nunca foram feitas antes. A criatividade faz o mundo avançar, o pensamento criativo do ser humano foi o motor que capacitou grandes invenções e descobertas.

O Dia Internacional dos Estudantes é celebrado anualmente em 17 de novembro. Esta data é uma homenagem a memória e bravura de um grupo de estudantes da antiga Tchecoslováquia, que lutaram corajosamente contra as tropas nazistas que invadiram o país durante a Segunda Guerra Mundial. Em 17 de novembro de 1939, a Federação Central de Estudantes Tchescolovacos foi invadida pelos nazistas. Vários dirigentes estu-dantis foram assassinados e outros levados para campos de con-centração, onde sofreram com as cruéis torturas do Holocausto.

No dia 19 de novembro de 1889, o re-cém-instalado governo republicano do Brasil trocou a antiga bandeira imperial pela bandeira da República. A nova bandeira, desenhada por Décio Vilares, foi adotada pelo decreto nº 4 no dia 19 de novembro de 1889. No dia 11 de maio de 1992 a bandeira

brasileira passou a ter 27 estrelas, no lugar de 22, de forma a inclu-ir os novos estados da federação. A Bandeira do Brasil simboliza a pátria e a união entre os estados e desde o início serviu para aumentar o sentimento de união entre

todos os brasileiros. Fonte: Callendar

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 13

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

16 - Dia Internacional da Tolerância

05 - Dia Nacional da Língua Portuguesa

04 - Início do Horário de Verão

15 - Proclamação da República

07 - Dia do Radialista

12 - Dia do Diretor de Escola

14 - Dia Nacional da Alfabetização

17 - Dia da Criatividade

17 - Dia Internacional dos Estudantes

19 - Dia da Bandeira

Page 14: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

CONHECIMENTO COMO ARMA DE DEFESA CONTRA A

DESINFORMAÇÃO. A ILUSÃO POLÍTICA DA CLASSE MÉDIA.

Já foi dito que o conhecimento é a arma mais poderosa que existe. Logo, podemos perceber que foi dito conhecimento ao invés de in-formação. É que o conhecimento trata da compreensão da realida-de, já a informação, constituída sobre significado transitório e atre-lada a finalidade, perde sua função quando consumada a finalida-de. É tal qual um meio para um fim, se atualiza e desatualiza e po-de ser manipulada a partir da fonte. Numa explicação simplificada, o conhecimento fica na fonte, mas a informação transcorre dela.

O problema com a informação está em que pode ser distorcida a fim de se desviar a exatidão da realidade dos fatos, a isso se cha-ma desinformação. É disso que trata, por exemplo, a manipulação do entendimento político das pessoas. E a desinformação é prática comum empreendida pela mídia que assistimos e lemos. Essa mí-dia funciona como agente de desinformação da sociedade condu-zindo à in-

compreensão da real política uma vez que damos legalidade a ela para nos informar.

Em geral, o distanciamento da realidade causado pelo hábito de sermos consumidores de mídia nos permitiu o vivenciamento auto-mático da expectação de dias melhores. Sem nos importarmos com a sazonalidade bipolar típica do tratamento político oferecido ao e-leitorado. Tendo a mídia como anestésico para as mentes fomos impedidos da compreensão política contextualizada que hoje não nos convida para a reflexão mas nos distancia dela.

E esse distanciamento da realidade política permitiu a derrocada a conta gotas da sociedade. Tivéssemos levantado a nossa voz em uníssono quando nos restava poder, quando corporações empresa-riais ainda dependiam do indispensável trabalhador, quando a nos-sa força de trabalho foi essencial e ignorar esse clamor teria sido grande transtorno para o sistema, estaríamos a vivenciar um país diferente.

Estaríamos libertos totalmente do complexo brasileiro potencializa-do pela TV, de que o que vem de fora é melhor. Pagamos por essa atrofia do entendimento político.

Para resolver essa e outras questões e sermos protagonistas da nossa história precisamos entender a necessidade do conhecimen-to. Estar consciente para depois fazer escolhas, essa é a atitude de maior eficiência nas tomadas de decisão em qualquer situação. A esse saber inseparável dos acontecimentos, num determinado mei-o, e inescapável ao entendimento mais amplo, a isso chamo conhe-cimento da realidade.

Uma pessoa não pode obter as respostas certas se não souber fa-zer as perguntas certas. Enquanto jornalistas da mídia são agentes da desinformação nos meios de comunicação de massa, também estão na folha de pagamentos de um poder maior para propagar informações erradas que distanciam as pessoas da realidade dos fatos.

Esse poder nunca noticiado, cujas intenções, práticas, e identidade nunca é divulgada, permanece sem ser pego pela verdade à medi-da que o conhecimento da realidade é negado ao público. Sendo assim, não é surpreendente muitos governos já terem sido arranca-dos à força do poder, por meio de uma revolução ou golpe jurídico-midiático, tendo já isso antecipadamente decidido no círculo do po-der dominante.

A ilusão política das classes média e baixa.

Uma ferramenta a muito empregada com sucesso tem sido a polari-zação da política, em dois lados, sob a ótica míope de que alguma escolha é feita a partir do suposto antagonismo de direita x esquer-da. A esse fenômeno denomino a grande ilusão política dos consu-midores de mídia, em exposição aqui, a classe média e baixa.

A polarização da sociedade para travar seus debates sobre proje-tos opostos serve para minar as forças de união dessas classes e impedir que poucos governem sobre muitos.

É uma engenharia social empregada com êxito sobre as pessoas fazendo a ditadura de poucos ter a aparência da democracia de muitos. E quem governa de fato mantêm o poder vitalício para si sem ser visto.

Todo governo visível é averiguável numa democracia real, ou pelos cidadãos que acompanham os atos do poder executivo, juntamente com a mídia, ou pelos poderes legislativo e judiciário segundo a constituição. Mas quando o governo eleito é governado pela ditadu-ra de poucos, esta ditadura usa aquele governo para fazer seu tra-balho, tirando o poder do público enquanto corrompe os outros po-deres constituídos.

Para não provocar a oposição da sociedade, o governo eleito assu-me as aparências de um governo democrático e se algo ocorrer de errado durante o processo de obediência às ordens ou escapar do sistemático aparato de controle do sistema, o governo é tido como falho e é trocado.

A cada crise econômica ocorre por imposição o enfraquecimento de empresas atraentes para o mercado. Assim uma gradativa transfe-rência do poder do Estado acontece para a iniciativa privada e suas grandes corporações. Investidores de risco e grandes acionistas se aproveitam da situação favorável e compram a preço muito baixo ou através de leilões facilitados pelo governo visível. Isso acontece a cada crise econômica, com a desculpa de desonerar o poder pú-blico, a cada governo que sobe ou cai. E quando ocorrem mudan-ças na conjuntura política esse cenário é propício para sair às com-pras, de parlamentares a juízes e ONGs, conforme já disse David Rockefeller: “Dá-me o controle sobre a economia e não importará quem faz as leis.”

Autor: Rod Oliveir

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 14

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Page 15: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

O QUE É UMA MONARQUIA PARLAMENTARISTA?

O PAPEL DA COROA, DAS CORTES, DO MONARCA E DA FAMÍLIA REAL

Uma Monarquia de verdade tem 3 Instituições independentes que se interrelacionam: a COROA, o MONARCA + a FAMÍLIA REAL e as CÔRTES. Nesta estrutura, tudo, gira em torno da COROA.

Este modelo de Monarquia onde o poder político estava diretamen-te conectado com e ao poder religioso e, jamais pode ser entendido ou faz sentido sem essa conexão, no Brasil vigorou até 1822. No resto do mundo, varia de acordo com os movimentos revolucioná-rios. Este modelo é chamado inapropriadamente pela historiografia de "absolutista" passando a falsa impressão que o Monarca é um ditador e que reina sozinho. No caso então da Coroa Portuguesa, essa bizarrice atinge escalas cósmicas, sobretudo porque o Monar-ca português nunca ADMINISTROU o Reino, isso ficava à encargo das Côrtes compostas pela nobreza civil, eclesiástica, militar e por representantes do POVO, isso mesmo, do POVO.

Pois bem, depois que os movimentos revolucionários explodiram mundo afora a partir de 1717, as Monarquias tradicionais foram derrubadas e substituídas por Monarquias Parlamentaristas. O que é isso? É um modelo de Estado e de governação onde existe o Mo-narca e o Parlamento. A Instituição da COROA e das CÔRTES foi para as calendas da história. No mundo moderno a única Monarqui-a que conseguiu manter-se de modo tradicional foi a Inglesa onde existem as 3 Instituições independentes (a COROA, o MONARCA + a FAMÍLIA REAL e as CÔRTES) conjugadas com o Parlamento inglês. Esse modelo existiu em Portugal até 1910 e, NUNCA existiu no Brasil pós 1822, ou seja, o Império do Brasil é uma Monarquia MAÇÔNICA, um dos modelos de Estado previsto dentro do concei-to de República Maçônica Universal.

As Monarquias da Comunidade Européia de hoje são, todas, exce-to a Inglesa, Monarquias fake, ou seja, elas tem Monarca e Parla-mento. O Monarca é um fantoche, um símbolo vazio. Quem reina absoluto é o Parlamento Europeu, que obedece à Senhores do Mundo que ninguém sabe quem são. Veja o que aconteceu com a Europa pós segunda guerra mundial e os tipos de Monarquias que foram criadas. Com uma dose mínima de bom senso se pode cons-tatar o que é de verdade uma Monarquia Parlamentarista, com CO-ROA e sem CÔRTES. Olhe para a Europa de hoje e veja o multi-culturalismo que foi enfiado goela abaixo das Monarquias, pelos metacapitalistas, os verdadeiros donos do Parlamento.Top of Form

À guisa de exemplo histórico da relação entre as instituições da COROA com o MONARCA cito. Em 10 de dezembro de 1936, Eduardo VIII, rei da Inglaterra e da Irlanda do Norte e imperador da Índia, "abdicou" do trono para se casar com a plebeia americana, duas vezes divorciada, Wallis Warfield Simpson. Ele comunicou su-a "decisão" à nação depois de ter o seu pedido de casamento ne-gado pelo Conselho Britânico. Esse episódio abriu uma crise na li-nha de sucessão, muito embora seu irmão George fosse o imediato na linha de sucessão.

O que está em pauta aqui? A relação da COROA com o MONAR-CA. ACOROA tem regras, leis específicas internas que não são ne-cessariamente as leis da Nação e nas quais se inclui o direito e as regras de e para a sucessão ao Trono. O Trono NÃO é a COROA, está submetido à ela; do mesmo modo, o Monarca serve à Coroa, à Nação, ao povo. A "escolha" do rei Eduardo VIII infringiu a COROA e portanto, ele foi DEPOSTO pela própria COROA e pelo Conselho Britânico (espécie de CÔRTES). Na verdade, sua deposi-ção foi em razão dele ser nazista, nazista mesmo. O caso com Simpson foi um belo e elegante arranjo para dar volta numa situa-ção espinhosa para a Coroa.

NENHUMA Monarquia de verdade está centrada na pessoa do Mo-narca. Há uma coisa muitíssimo mais importante do que o Monar-ca: a instituição da COROA. Todo o discurso no Brasil sobre o re-torno da Monarquia é uma bizarrice sem fim porque está integral-mente focado na pessoa do MONARCA, e não na COROA. Se o Monarca for doido quem protegerá o país da sua loucura? Dizem que o Parlamento. BULUFAS que é o Parlamento! Este papel con-cerne às CORTES e à COROA em si. Imaginem o Renam Calhei-ros, a Vanessa Graziotine, o Fufuca, etc cuidando da preservação da Coroa, das Côrtes e do Monarca? Eis a continuidade da mesma FRAUDE histórica que está sendo imputada, mais uma vez, ao po-vo brasileiro.

O projeto de Império proposto atualmente no Brasil pela Família Im-perial é um re-nascimento do mesmo projeto maçônico de 1822. Se vai ser proposto um modelo de Monarquia que ela NÃO seja maçônica, nem liberal, nem materialista, nem anti-cristã. Que so-bretudo tenha COROA e CORTES e fora das garras do Parlamen-to. O Império do Brasil (1822) é uma CONSTRUÇÃO MAÇÔNICA anti-cristã. É uma Monarquia FAKE, autoritária, centrada na pessoa do MONARCA, onde inexiste a instituição da COROA e das CÔRTES.

Portugal teve 34 monarcas ao longo de 4 Dinastias: Borgonha, A-vis, Filipina (Coroa Espanhola) e Bragança. Desde o início da na-cionalidade com o primeiro rei de Portugal D. Afonso Henriques as CÔRTES DE LAMEGO estabeleceram as leis de herança, su-cessão e administração do Reino. Sempre que havia uma crise na Coroa eram convocadas CÔRTES. A própria Dinastia de Bra-gança foi entronizada pelas CÔRTES.

D. Pedro I e José Bonifácio mandaram para os quintos dos Infernos as CÔRTES e o papel que desempenham junto à salvaguar-da e manutenção da instituição da COROA. Em 1822 o que se cri-ou foi uma Monarquia com IMPERADOR sem COROA, sem FAMÍ-LIA REAL e sem CORTES. A história do Império do Brasil é um EMBUSTE, uma FRAUDE maçônica de proporções monumentais.

Autor: Loryel Rocha

Novembro de 2018 Gazeta Valeparaibana Página 15

REGIMES POLÍTICOS

Um regime político é um conjunto de estru-turas políticas que compõem um estado. Um regime político também pode ser conhecido como uma forma de governo, um sistema estadual ou um sistema político. O termo regime político também pode, por vezes, re-ferir-se a um governante específico ou con-junto de governantes dentro de um sistema político.

Um sistema político é a forma como um país é governado, como o governo está organiza-do e como o governo faz suas políticas.

Democracias

Um dos sistemas políticos mais falados é uma democracia representativa. Este é um sistema em que os representantes são elei-tos diretamente pelos cidadãos, e esses re-presentantes então tomam decisões políti-

cas para o povo, com a suposição de que suas decisões refletirão a vontade geral da república. Isso pode ser comparado a uma democracia direta, na qual os cidadãos vo-tam diretamente sobre todas as questões de importância.

Repúblicas

A república é um dos sistemas de governo mais comuns do mundo, embora tenha mui-tas formas diferentes. Por exemplo, uma re-pública pode ser associada a uma religião, como no caso de uma república islâmica; um sistema econômico, como em uma repú-blica socialista; ou um procedimento político, como uma república parlamentar.

Governos dinásticos

Os sistemas dinásticos de governo consis-tem em todos os líderes do país provenien-tes de uma família. Tipos comuns deste go-

verno incluem monarquias, emirados e im-périos dinásticos, como o da China Imperi-al.

Regimes autoritários e totalitários

Em regimes políticos autoritários e totalitá-rios, uma pessoa, entidade ou partido tem controle total sobre os assuntos do Estado, sem o contribuição ou consentimento da po-pulação. Às vezes, eles são acompanhados por um culto de personalidade em torno do líder ou líderes, como no caso de Adolf Hi-tler, o líder da Alemanha nazista.

As formas comuns de regimes autoritários ou totalitários incluem juntas militares. .

Outra forma é uma ditadura, em que uma pessoa governa o país sem ser responsável perante qualquer um e depois passa seus poderes para outra pessoa após a morte.

Fonte: Web

Page 16: 132 - NOV - 2018 - gazetavaleparaibana.com · A data homenageia Zumbi, um africanos que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade. ... Zumbi morreu em 20 de novembro

NOVEMBRO 2018

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A desigualdade social no Brasil imposta pelos dominantes e aceita

pelos dominados

Alessandro Pinzani. Professor de filosofia política da UFSC, entrevista Evânia E. Reich é doutora em Filosofia pela UFSC – Pesqui-sa do pós-doutorado em Filosofia Política

pela UFSC.

Você tem trabalhado com a questão do so-frimento social na filosofia, e em um de seus trabalhos você fala de doutrinas to-talizantes que causariam sofrimento aos indivíduos, que você chama de sofrimen-to sistêmico. Poderia explicar esses dois conceitos?

O sofrimento social pode ser chamado as-sim por duas razões: porque suas causas são sociais e porque é o sofrimento de um grupo social (como no caso do sofrimento de negros ou homossexuais provocado pelo racismo ou pela homofobia). É sistêmico quando as causas sociais não dependem unicamente do comportamento de certos atores sociais (como quando, por ex., os re-presentantes de uma instituição discriminam ou violam os direitos de um grupo social), mas se encontram na própria estrutura soci-al, isto é, na maneira em que a sociedade está organizada e em que o poder (social, político, econômico, epistêmico etc.) está distribuído nela. Quando esta estrutura que provoca sofrimento se perpetua ao longo do tempo, apesar de sofrer mudanças parciais (por ex. na distribuição do poder entre gru-pos sociais), podemos falar de sofrimento sistêmico. Este é o caso, por exemplo, dos pobres no Brasil: sua pobreza tem raízes profundas que remetem ao tempo da colônia e da escravidão. A Lei Áurea de 1888 repre-senta uma mudança social que, de fato, não modificou muito a situação dos agora ex-escravos e os deixou numa situação de a-bandono institucional e de extrema indigên-cia, pois não foi acompanhada por uma re-distribuição dos recursos e por uma política de inserção cidadã (a inserção econômica, pelo contrário, continuou na forma de traba-lhos precários, pesados e mal pagos e da dependência material da “benevolência” dos coronéis). Não é possível entender a pobre-za no Brasil atual sem considerar suas cau-sas históricas, bem como sua relação com a distribuição do poder (não somente daquele econômico) na sociedade brasileira ao longo da história do país.

Ora, o que chama a atenção é o fato de que esta situação tenha sido aceitada (e ainda o seja) quase sem revolta por parte das pró-prias vítimas, isto é, pelos pobres. Isso não pode ser explicado somente apontando para a repressão violenta de qualquer revolta por parte do Estado e de suas instituições. Cabe antes buscar uma explicação que leve em conta também o discurso dominante sobre a pobreza e suas causas – discurso que tende a considerar a pobreza como um problema individual e, portanto, a responsabilizar pela sua condição os indivíduos pobres. Tal dis-curso se insere no contexto mais amplo de um conjunto de convicções sobre o mundo social, de valores e de normas e práticas

sociais fundamentadas em tais convicções e valores. Esse conjunto eu denomino de dou-trina totalizante quando pretende explicar e regulamentar todo e qualquer aspecto da vida social e individual. As religiões são um bom exemplo, mas também o são o neolibe-ralismo ou o próprio liberalismo clássico. No caso do Brasil, temos uma mistura de ele-mentos liberais (mais recentemente, neoli-berais) e de uma visão tradicional centrada nas relações de dependência pessoal e na convicção de que existe naturalmente uma hierarquia social imutável. O resultado é não somente a naturalização da pobreza e da desigualdade que a provoca, mas sua acei-tação como consequência da incapacidade pessoal dos pobres de saírem de sua condi-ção. Isso pode explicar porque no primeiro turno das eleições, bem como na eleição para governos estaduais e para deputados e senadores estaduais e federais os membros de grupos sociais que são prejudicados pelo status quo (que são, então, vitimas de sofri-mento sistêmico) acabaram votando em candidatos que defendem o status quo.

Você fala que as doutrinas totalizantes em uma sociedade podem provocar con-flitos internos e levar até a desagregação e ao colapso da sociedade. Você imagina um quadro desse tipo para a sociedade brasileira, na atual conjuntura?

Não vejo um risco de desagregação na soci-edade brasileira. Há conflito, há o risco in-clusive de explosões de violência que po-dem até ser extensas e extremas, mas a so-ciedade brasileira pode sobreviver a isso, assim como ela sobreviveu por séculos ao fato de que uma parcela relevante da popu-lação passava fome e ficava às margens do corpo político e social. A maioria dos brasi-leiros parece compartilhar a doutrina totali-zante mencionada acima e considerar não somente natural, mas justo que existam for-tes desigualdades econômicas e sociais e que o poder seja distribuído conforme tais diferenças de posição. Bolsonaro representa esta doutrina de forma extrema, mas ele é o espelho de uma visão de mundo e de valo-res amplamente compartilhados no interior da sociedade brasileira, em todas as clas-ses. É um sintoma, não a própria doença, por assim dizer. Seu discurso leva às últi-mas consequências ideias e políticas que já foram formuladas e implementadas por ou-tros políticos de direita: pensemos na impu-nidade da violência policial em muitos esta-dos, nas privatizações selvagens, nos cortes brutais em serviços essenciais como saúde ou educação, entre outros, e na maneira em que tais políticas foram aceitas pela maioria da população, apesar de importantes fenô-menos de revolta (como a ocupação das es-colas em São Paulo, que, contudo, não im-pediu o enésimo triunfo eleitoral do PSDB na cidade e no estado).

Estamos presenciando no Brasil (mas não somente) a escolha de um presidente cujo projeto de governo é extremamente danoso para a mesma parcela da popula-ção que provavelmente o elegerá, a clas-se média brasileira. A partir deste concei-to que você usa, “doutrina totalizante”,

seria possível explicar esse fenômeno?

Neste caso específico, temo que a explica-ção tenha a ver mais com a “ignorância” dos eleitores, isto é, com o fato de que pouquís-simos entre eles tomaram conhecimento concreto do programa do candidato e enten-deram suas consequências. Geralmente, se limitam a apoiar os pontos que consideram positivos, sem sequer refletir sobre sua im-plementação concreta ou sobre os possíveis aspetos negativos (armar todo mundo pode levar a um aumento da violência em vez de uma diminuição, por ex.). Muitos votam em Bolsonaro porque ele promete combater a corrupção e a violência, poucos se pergun-tam como isso vai acontecer e como isso vai influenciar suas vidas. Outros votam nele pensando exclusivamente em seus interes-ses, como no caso das áreas amazônicas (da Rondônia, por ex.), onde seu programa de redução dos vínculos ambientais fez com que ele recebesse forte apoio por parte de quem aproveita da destruição da floresta (proprietários como lavradores). Em suma, não devemos pensar que todos seus eleito-res compartilhem totalmente suas ideias e seus valores, embora isso não os justifique ou não os torne menos responsáveis por su-a decisão de votar nele.

Por ultimo, você considera que a educa-ção pública no Brasil estaria ameaçada caso Jair Bolsonaro seja eleito?

Com certeza, se levarmos a sério as decla-rações de seus assessores sobre o assunto (ele mesmo não se pronunciou sobre o te-ma: em geral não se pronunciou sobre qua-se nenhum tema e preferiu fugir dos deba-tes, deixando que falassem seus assesso-res; até o Mourão foi mais loquaz, ainda que nem sempre de forma a favorecer o próprio Bolsonaro). Na visão do candidato e de seus assessores, a escola e a universidade deve-riam unicamente preparar os alunos para sua inserção na vida econômica; a educa-ção se reduz à mera formação profissional, sem que haja necessidade de desenvolver outros interesses ou outras habilidades que as necessárias para trabalhar ou para tornar-se empreendedor; em particular, a universi-dade deveria servir unicamente a produzir um saber imediatamente aplicável na prática econômica (patentes, fundamentalmente). Isso vai contra tudo o que a universidade foi se tornando ao longo dos séculos, a saber, não somente um lugar de produção de sa-ber, mas também um lugar onde se forma a consciência crítica da sociedade. Deste pon-to de vista, não há inimigo pior para quem compartilhe a visão de mundo e os valores de Bolsonaro, mas também de Alckmin, de Doria, da bancada ruralista, da bancada e-vangélica etc. O pensamento crítico incomo-da todos estes políticos que, ironicamente, não perdem ocasião para atacar os gover-nos de Cuba e da Venezuela por oprimir seus críticos.

Autora: Evânia E. Reich Doutora em Filosofia pela UFSC – Pesquisa do pós-doutorado em Filosofia Política pela UFSC.