16
Dia de comemorar a literatura brasileira O Dia da Literatura Brasileira é comemorado no dia do aniversário de um importante escritor brasileiro, José de Alencar, que despontou como um expoen- te do romantismo no Brasil. A data homenageia nossos grandes escritores e suas vastas e ricas obras que sinalizam cada época literária da nossa história. HUMANIZADOS A tecnologia conecta rapidamente as pessoas que estão do outro lado do mundo, aplicativos permitem enviar mensagens instantâneas, vídeos conferências, whatsapp, fa- cebook, instagram, com ela evitam-se reuniões presenciais, trânsi- tos, economizando tempo e dinheiro. Ano XII - Edição 138 - Maio de 2019 Distribuição Gratuita CULTURAonline BRASIL Palestras e boa música Palestras: - Cultura - Educação - Meio Ambiente - Cidadania Baixe o aplicativo Google Play no site www.culturaonlinebr.org POR DENTRO DA PARANOIA OLAVISTA DO NOVO MINISTRO DA EDUCAÇÃO, ABRAHAM WEINTRAUB “OS COMUNISTAS ESTÃO no topo do país. Eles são o topo das organizações financeiras. Eles são os donos dos jornais. Eles são os donos das grandes empre- sas. Eles são os donos dos monopólios”. Quem fala uma bobagem dessas jamais poderia estar junto na mesma sentença com a palavra “educação”, mas são frases saídas da boca do no- vo chefe do Ministério da… Educação. Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar A escravidão no mundo contemporâneo “Ninguém será mantido em escra- vidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em to- das as suas formas.” Artigo IV da DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Proclamada pela da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 De acordo com a lei a escravidão não existe mais. A direita, a esquerda e a tolerância em favor do bem comum Afinal, quem é dono da razão e da verdade? No eixo do espectro político, qual das posi- ções políticas se comprovou ser infalível? NÃO DEIXE QUALQUER COISA SUBIR À CABEÇA Vivíamos na casa de minha avó, numa fa- zendinha bem simples onde ela criava vá- rios animais. Éramos de várias faixas etá- rias, desde as criancinhas, adolescentes, jovens, adultos e os mais velhos que eram nossos pais, avós e bisavós. POR UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA PARA O SÉCULO XXI. Segunda-feira de manhã, o celular desperta, acordamos sempre sobressaltados. Engoli- mos o café sem que nem ao menos houves- se tido tempo para sentir o gosto, enchemos o carro ou a mochila de bugigangas e livros, encaramos o trânsito e finalmente adentra- mos à escola. Após vencermos os primeiros obstáculos da semana, ouvimos a cirene, adentramos à sala de aula, nos deparamos com 30, 40 ou 50 alunos...

138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

Dia de comemorar a literatura brasileira

O Dia da Literatura Brasileira é comemorado no dia do aniversário de um importante escritor brasileiro, José de Alencar, que despontou como um expoen-te do romantismo no Brasil. A data homenageia nossos grandes escritores e suas vastas e ricas obras que sinalizam cada época literária da nossa história.

HUMANIZADOS

A tecnologia conecta rapidamente as pessoas que estão do outro lado do mundo, aplicativos permitem enviar mensagens instantâneas, vídeos conferências, whatsapp, fa-

cebook, instagram, com ela evitam-se reuniões presenciais, trânsi-tos, economizando tempo e dinheiro.

Ano XII - Edição 138 - Maio de 2019 Distribuição Gratuita

CULTURAonline BRASIL

Palestras e boa música

Palestras:

- Cultura

- Educação

- Meio Ambiente

- Cidadania

Baixe o aplicativo Google Play no site

www.culturaonlinebr.org

POR DENTRO DA PARANOIA OLAVISTA DO NOVO MINISTRO DA EDUCAÇÃO,

ABRAHAM WEINTRAUB

“OS COMUNISTAS ESTÃO no topo do país. Eles são o topo das organizações financeiras. Eles são os donos dos jornais. Eles são os donos das grandes empre-

sas. Eles são os donos dos monopólios”. Quem fala uma bobagem dessas jamais poderia estar junto na mesma sentença com a palavra “educação”, mas são frases saídas da boca do no-vo chefe do Ministério da… Educação.

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A escravidão no mundo contemporâneo “Ninguém será mantido em escra-vidão ou servidão, a escravidão e

o tráfico de escravos serão proibidos em to-das as suas formas.”

Artigo IV da DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Proclamada pela da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 De acordo com a lei a escravidão não existe mais.

A direita, a esquerda e a tolerância em favor do bem comum

Afinal, quem é dono da razão e da verdade? No eixo do espectro político, qual das posi-ções políticas se comprovou ser infalível?

NÃO DEIXE QUALQUER COISA

SUBIR À CABEÇA

Vivíamos na casa de minha avó, numa fa-zendinha bem simples onde ela criava vá-rios animais. Éramos de várias faixas etá-rias, desde as criancinhas, adolescentes, jovens, adultos e os mais velhos que eram nossos pais, avós e bisavós.

POR UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA PARA O SÉCULO

XXI. Segunda-feira de manhã, o celular desperta, acordamos sempre sobressaltados. Engoli-mos o café sem que nem ao menos houves-se tido tempo para sentir o gosto, enchemos o carro ou a mochila de bugigangas e livros, encaramos o trânsito e finalmente adentra-mos à escola. Após vencermos os primeiros obstáculos da semana, ouvimos a cirene, adentramos à sala de aula, nos deparamos com 30, 40 ou 50 alunos...

Page 2: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

Dia de comemorar a literatura brasileira

O Dia da Literatura Brasileira é comemorado no dia do aniversário de um impor-

tante escritor brasileiro, José de Alencar, que despontou como um expoente do romantis-

mo no Brasil. A data homenageia nossos grandes escritores e suas vastas e ricas obras

que sinalizam cada época literária da nossa história. O Brasil é um país que tem sido

marcado por uma intensa abundância cultural, A multiculturalidade permite que a nossa

literatura adquira várias expressões, conforme os costumes, e as crenças de cada região

do Brasil. A partir do fim da censura á imprensa, séc. XIX, nossa literatura passa a contar

com mais autores dispostos a espalhar suas poesias, seus contos e histórias, seus ro-

mances. Finalmente podem ver sua obra impressa em jornais e livros. Nossa literatura

sofre influências do contexto mundial e nossa produção literária tem um valor considerá-

vel. Temos no Brasil inúmeros escritores que através de sua obra representam a identi-

dade cultural de um lugar.

Entre tantos meios de expressão disponíveis, a literatura é uma das vias de ex-

pressão mais utilizadas em todo mundo, através dela todas as descobertas e declara-

ções foram devidamente registradas em textos e livros, possibilitando assim que vários

temas sejam tratados, de forma fantasiosa ou não, falando de tudo que a imaginação

inventar, todas as fantasias e realidades são permitidas.

Um aspecto inerente à linguagem literária diz respeito aos muitos sentidos que a

leitura de um texto pode trazer ao leitor, inspirando a capacidade de pensar, sentir, e de

se apropriar de novas linguagens e ideias. Essa multissignificação estimula nossa capa-

cidade intelectual e nossa curiosidade. Nossa literatura sofreu influência marcante dos

escritores e da cultura portuguesa, visto que as primeiras manifestações dessa ordem

ocorreram entre 1500 e 1822, período colonial. Somente a partir de 1720, no período

barroco, o Brasil começou a fundar academias literárias e a criar uma literatura própria,

onde começava a despontar o nacionalismo e o orgulho da terra natal.

Percebemos a literatura como um campo fértil e fomentador de transformações. E

nessa ficção elaborada pela nossa imaginação, tudo que permeia a existência humana,

hábitos, modo de vida, crenças ganham um novo significado diferente do que se apre-

senta habitualmente, concedendo ao homem um novo jeito de se perceber.

Esse dia é importante na medida em que nos lembra do valor e da magnitude de

nossos vários autores, da importância de todas as escolas literárias que marcaram a

nossa história, como o Quinhentismo (séc. XVI) é o marco inicial da nossa literatura. O

Barroco ( séc. XVII) onde o destaque era para o sagrado, uma luta entre o sagrado e o

profano. O Arcadismo (séc XVIII) tinha uma característica mais reformista, baseava-se

nos ideais iluministas, na busca pela perfeição e pelo equilíbrio. O Romantismo ( séc.

XIX) era uma oposição ao que existia na época, uma volta a natureza e ao âmago da al-

ma humana.O Parnasianismo (séc.XIX-metade) movimento poético na sua essência. O

Modernismo (séc. XX primeira metade) foi um movimento de experimentações, de liber-

dade estética, que rompia com o tradicional.

A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-

vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores e de

sua importância, e de como devemos alimentar o amor pelos livros. A literatura está dire-

tamente relacionada à comunicação, a transmissão de conhecimentos, a sociedade. É

um importante instrumento de comunicação e até mesmo de transformação social.

Estimular o interesse pela leitura é algo indispensável para formar cidadãos

conscientes e capazes de refletir criticamente sobre o mundo que o rodeia. Come-

morar a literatura só pode nos trazer benefícios.

“Literatura é liberdade” -Susan Sontag Mariene Hildebrando Especialista em Direitos humanos Presidente do Mil Brasil

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 3

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A Gazeta Valeparaibana é um jornal mensal gratuito distribuído mensalmente para download na web

Diretor, Editor e Jornalista responsável Filipe de Sousa - FENAI 1142/09-J

Colunistas Fixos: Mariene Hildebrando Genha Auga Filipe de Sousa Loryel Rocha Fábio Luiz de Souza João Paulo E. Barros

Colaboradores desta edição: Eduardo de Paula Barreto. Carlos A. Lopes estrategiaglobal.org Luiz Fernando Veríssimo James Petras Paulo Kliass Simone Guimarães

IMPORTANTE

Todas as matérias, reportagens, fotos e demais conteúdos são de inteira responsa-bilidade dos colaboradores que assinam as

matérias, podendo seus conteúdos não corresponderem à opinião deste Jornal.

Colaboraram nesta edição

PRECISA-SE de voluntário revisor de textos - Contato: [email protected]

Mitomania

Por Eduardo de Paula Barreto.

Moralistas sem moral Capitalistas sem dinheiro Caridosos que não sabem qual É a carência dos companheiros Religiosos sem disposição Para amar sem discriminação Quem pensa diferente E patriotas que se alegram Quando os políticos entregam Nossas riquezas a outras gentes. Intelectuais sem opinião própria Filósofos que só citam sábios mortos Governos civis que calçam botas Donzelas puras que fazem aborto Somos membros de uma espécie Que nunca amadurece E assim não adquire supremacia Porque somos seres doentes Que vivem constantemente Infectados com a mitomania.

Neste mundo a mentira Recebe animados aplausos Da plateia que faz fila Para subir no palco E com abraços calorosos Elogiar os mentirosos E dar-lhes os parabéns Por serem os ídolos Daqueles tolos indivíduos Que adoram mentir também.

Page 3: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

01 - Dia do Trabalhador 01 - Dia da Literatura Brasileira 03 - Dia Internacional da Liberdade de Imprensa 03 - Dia Internacional do Sol 03 - Dia do Sertanejo 03 - Dia do Pau-Brasil 05 - Dia da Língua Portuguesa 05 - Dia Nacional do Líder Comunitário 05 - Dia Nacional das Comunicações 05 - Dia Nacional do Expedicionário 06 - Dia da Coragem 07 - Dia do Silêncio 08 - Dia Nacional do Turismo 10 - Dia do Campo 13 - Dia das Mães 13 - Abolição da Escravatura 13 - Dia da Fraternidade 15 - Dia Internacional da Família 17 - Dia Mundial das Telecomunicações 17 - Dia da Sociedade da Informação 17 - Dia Internacional Contra a Homofobia 18 - Dia Internacional dos Museus 18 - Dia Nac. de Combate à Expl. Sexual Infantil 19 - Dia do Defensor Público 19 - Dia do Estudante de Direito 20 - Dia do Pedagogo 22 - Dia Internacional da Biodiversidade 22 - Dia do Abraço 25 - Dia Nacional da Adoção 25 - Dia Internacional das Crianças Desaparecidas 25 - Dia Nacional do Respeito ao Contribuinte 27 - Dia Nacional da Mata Atlântica 27 - Dia do Serviço de Saúde 28 - Dia Mundial dos Meios de Comunicação 29 - Dia Mundial da Energia 30 - Dia do Desafio

HUMANIZADOS

A tecnologia conecta rapidamente as pessoas que estão do outro lado do mundo, aplicativos permitem enviar mensagens instantâneas, vídeos conferências, what-sapp, facebook, instagram, com ela evitam-se reuniões presenciais, trânsitos, e-conomizando tempo e dinheiro.

Com o avanço da informática e ter disponibilizadas ferramentas que flexibilizam o dia a dia alavancando maiores oportunidades de trabalho, tornou realmente bas-tante positivo por facilitar a vida de todos, sem contar que a geração nascida den-tro da era da internet possui maior destreza, raciocínio rápido e a possibilidade de alcançar rapidamente informações, amigos e novas pesquisas.

Porém, o outro lado desse positivismo é que as pessoas estão ficando presas a um mundo virtual, isoladas em seus pensamentos, atreladas a mensagens diárias que são repassadas rapidamente, nem sempre bem lidas e dando a impressão de que “ser curtido”, significa conexão profunda e cria a ilusão de que a pessoa pare-ce ser muito mais importante do que realmente é.

Com isso, ao invés das pessoas aceitarem seus dons e defeitos, esse comple-mento útil que é a tecnologia, tornou-se a vida e o cotidiano de todos.

Avaliar relacionamentos, fortalecer laços, libertar-se um pouco do mundo virtual e aproximar-se daqueles que a vida lhe presenteou, aprender com aqueles que não te faz tão bem e enfrentar os sentimentos tóxicos, o descaso que possa sentir por alguém e descobrir, por muitas vezes, que o olho no olho, as palavras ditas no ar, o semblante de quem conversa contigo é o que verdadeiramente irá mostrar a verdade de cada um.

Sentir que a realidade não está no virtual, mas na luz que direciona as palavras, o tocar-se, estar presente, é o que lhe permitirá ser melhor para espalhar o bem e amar e o próximo.

Importante que o mundo da informática e virtual avance e te leve a mais histórias, a mais lugares sem precisar sair do lugar e a menos estresse por conta de horas de trabalho, mas, não deixar a energia se exaurir apenas com coisas e contatos superficiais, é fundamental para se ter qualidade de vida.

A vida não é fácil, mas melhorar ou piorar depende de cada um, saber escolher pessoas e ajudar a quem realmente merecer. Dedicar o tempo a causas nobres e a menos boatos, contribuirá para seu engrandecimento.

Ainda existem muitos lugares para se conhecer, encontrar pessoas e relacionar-se presencialmente, tanto no amor como nas amizades, ao invés de, descompas-sadamente, fragilizar-se com quem não se vê, com as ostentações, corpo perfeito e colocar-se à semelhança da felicidade e perfeição midiática e virtual.

Sim, precisamos expandir com a tecnologia da informação, mas, sem esquecer o ritmo da alma e coração, sem descuidar dos sentimentos nobres.

Não é preciso mostrar felicidade o tempo todo nas redes sociais, engolir o choro para mostrar-se forte e, muito menos sofrer em silêncio quando se tem dois ou mais corpos para se encontrar e conversar.

Romper o silêncio, mostrar sua verdade, sua fragilidade e prestar atenção como todos precisam da mesma coisa é um ato de superação e acreditar que as pen-dências emocionais não podem crescer e sufocar as forças, crenças e a esperan-ça.

Descansar a cabeça, o corpo cansado e aproximar-se de quem te ama verdadei-ramente fará com que tua alma não fique exausta.

Divertir-se, livrar-se do círculo vicioso do mundo virtual não te fará tão mal como viver isolado do mundo real e suportar chatos que nem se conhece.

Mundo virtual é necessário para o progresso, mas, o abraço ainda é o melhor re-médio para continuarmos humanizados.

Genha Auga – Jornalista MTB:15.320

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 2

ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS (+ Datas? Visite nossa biblioteca no site)

Parabéns trabalhador! Tem dias que a gente acorda cheio de energia, e 24 horas parecem insuficientes para executarmos todas as nossas metas.

Em outros momentos, reduzimos o ritmo e o desâni-mo toma conta. Mas há aqueles dias em que senti-mos que tudo vale a pena, e que não estamos aqui por acaso.

Temos uma missão, pessoal e profissional, que nos motiva a enfrentar os desafios e pensar:

ESTOU FAZENDO O MEU MELHOR!

Amamos as nossas mães quase sem o saber e só nos damos conta da pro-fundidade das raízes desse amor no momento da derradeira separação.

Guy Maupassant

Page 4: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

O MODUS OPERANDI DO GOVERNO BOLSONARO: O QUE OS 100 PRIMEIROS DIAS REVELAM SOBRE O

FUTURO DO GOVERNO?

Matheus Mendes – Passados os primeiros 100 dias do novo gover-no, já é possível avaliar com suficiente clareza a natureza da admi-nistração Bolsonaro. Compreender as ações e o papel dos perso-nagens em evidência nos municia de elementos constitutivos desse não-tão-novo governo de traços autoritários e flagrantemente entre-guista.

Em primeiro lugar, cumpre relatar a divisão ministerial. O governo Bolsonaro é dividido em quatro frentes de ação. A primeira delas é a frente ultraliberal, cumpridora das metas do mercado estipuladas antes mesmo das eleições, a par com as diretrizes privatistas e com a a diminuição de direitos dos trabalhadores do governo Te-mer. Essa frente de ação tem como personagem principal o gros-seiro Paulo Guedes que, inconsequente e ignorante da administra-ção federal, fala apenas em vender o máximo possível de bens, empresas e ativos estatais, independentemente da receita (tanto fiscal quanto em lucros) que empresas públicas podem render ou de sua importância para a cadeia produtiva brasileira.

Na segunda frente de ação está o grupo de ministérios operacio-nais, ligado à infra-estrutura e à atividade executivo-administrativa federal. Por sua importância estratégica e necessidade de funcio-namento, este grupo de ministérios encontra-se, quando não dirigi-do, tutelado diretamente por uma cúpula militar. Como é comum em governos militares, o poder governamental não está concentra-do em uma única figura, mas coordenado numa cúpula ou junta, que divide as atribuições administrativas. Neste rol de ministros, percebe-se o quanto estes personagens foram vinculados à missão brasileira no Haiti, a MINUSTAH. Entre eles, encontramos o super-ministro da infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que, embora não seja militar, é egresso das escolas militares, tendo trabalhado na missão do Haiti, o braço-direito do presidente nas forças arma-das, o Gen. Augusto Heleno do GSI, antigo chefe da MINUSTAH, o ministro da Defesa, Gen. Luna e Silva, e uma série de militares no segundo escalão, responsáveis pela operacionalidade direta do go-verno. É possível compreender que esta frente operacional se arti-cula com as demais, na medida em que ela viabiliza executivamen-te o que está na ordem do dia nas demais frentes administrativas, como por exemplo os leilões realizados pelo ministério da Infraes-trutura. A cúpula militar no governo da União se presta ao serviço de “mão amiga, braço forte” da ideologia ultraliberal de Paulo Gue-des.

Em terceiro lugar, temos o ministro da “justiça” Sérgio Moro, ex-juiz e algoz do opositor político Lula. O alçado a superministro, aparen-temente intocável e protegido politicamente pela mídia até às últi-mas consequências, representa o projeto autoritário-policial da área de segurança. O projeto é simples e evidente: avançar com o esta-do policialesco em todos os setores da vida brasileira. Para tanto, busca-se tornar o lavajatismo um modelo, importando técnicas cri-minais estrangeiras, tais como o plea bargain, a recompensa finan-ceira por operações bem sucedidas e o excludente de ilicitude por uso de força policial. O arco da criminalização ainda se fecha com a pretensão de majorar as penas e em dificultar a progressão de regime dos apenados. O lavajatismo em Moro é explícito quando observamos que a PF de Curitiba trabalha agora em Brasília. Mais grave ainda é a coordenação que o Department of Justice america-no exerce nos rumos da Justiça brasileira por meio de acordos de colaboração bilaterais entre polícias e entre promotorias. Moro es-teve na sede da CIA a troco de quê? Foi receber novas instruções ou receber congratulações pelo serviço bem prestado?

Por fim, a quarta frente de ação do governo é a frente ideológica, sem nenhum superministro, mas povoada de ministros sem-noção

ou incompetentes. Nela, estão os ministros olavistas, como Ernesto Araújo e o recém-demitido Vélez Rodríguez, bem como os minis-tros neopentecostais, como Damares e outros, assim como os não-ministros de Twitter, os filhos Eduardo Bolsonaro e Carlos Bolsona-ro. Destas bocas saem os maiores impropérios, responsáveis por colocar lenha na fogueira das assim ditas “guerras culturais”. Esta frente ideológica, que não tem a função de governar a administra-ção, ao contrário do que pode parecer, é muito eficiente em sua função: seus próceres servem para povoar a mídia de nonsense, fazendo cortina de fumaça para a oposição e movimentos sociais, de modo com que esses atores gastem energia e tempo desmen-tindo fake news e combatendo a bobagem, enquanto a articulação política trabalha para amarrar acordos de votação com o centrão fisiológico, do qual Bolsonaro e seu partido PSL fazem parte — o famoso toma-lá-dá-cá. Dessa forma, as “guerras culturais”, existen-tes tão-somente no discurso bolsonarista, se propagam no imaginá-rio comum, ganhando aparência de uma “ameaça iminente”, facil-mente identificável com o inimigo da vez — o feminismo, imigran-tes, a esquerda, gays, negros, favelados, etc.

Embora possam parecer amadores nos assuntos técnicos dos mi-nistérios a que têm acesso, o núcleo ideológico exerce uma função fiduciária das ações bolsonaristas. Se algo soar mal na mídia, o nú-cleo articuladamente cria alguns baits para a mídia que, afoita, logo cai na armadilha. Foi assim com a troca de comando do MEC. Quando a inoperância de Vélez Rodríguez criou uma crise no siste-ma do FIES, a Globo e demais grupos de pressão da área educa-cional privada (grupo Kroton, Fundação Lemann, etc) obrigaram Bolsonaro a demití-lo. E o presidente de fato o demitiu, tanto que a experiente jornalista da GloboNews, Eliane Cantanhêde, deu furo da decisão. No entanto, aproveitando-se da situação, o governo desmentiu a jornalista, acusando a Globo de fake news, invertendo a situação e saindo-se como vítima de uma mentira, de uma só vez desmoralizando a mídia e criando um fato político para seu discur-so ideológico de perseguição. Com essa tática, Bolsanaro alcança dois objetivos: ganha tempo para acomodar aliados em caso de cri-se e atiça sua militância, que vai ganhando aos poucos maior espa-ço no governo, mesmo em áreas técnicas. O caso do Ministério da Educação é exemplar: enquanto Vélez Rodríguez esquentava a cadeira, punha em prática uma cortina de fumaça responsável por testar os limites constitucionais da função ministerial, como no caso da incitação às crianças nas escolas entoarem o slogan de campa-nha bolsonarista após cantarem o Hino Nacional. Era questão de tempo a inoperância administrativa se mostrar patente, quando en-tão entrou Abraham Weintraub, antigo aluno de Olavo de Carvalho e militante da causa ultraliberal dos think tanks de São Paulo-Miami (como o Instituto von Mises, de também saiu Leticia Catalani, braço-direito do 4chanceler Ernesto Araújo) e gestor econômico da área privada, capaz de acomodar os interesses empresariais na pasta educacional.

Ao restante do butim ministerial, como as áreas de meio ambiente e fundiária, cabe uma divisão de poderes entre mercado e militares, com algumas migalhas distribuídas para partidos fisiológicos meno-res.

Assim se comporta a governamentalidade bolsonarista. Assim se revelam as táticas ideológicas e mercadológicas do governo. “Non ducor, duco”, não sou conduzido, conduzo. O brocardo que é tam-bém lema da cidade de São Paulo talvez revele o que é a essência do governo: agir, conduzir, fazer acontecer. E isto Bolsonaro está sabendo fazer.. Agora, resta a oposição despertar para estas táti-cas importadas dos manuais confidenciais da NSA e da CIA de Guerra Híbrida, já há muito revelados pelo Wikileaks de Assange e Snowden, mas pouco assimilado pelas organizações dos trabalha-dores. É o imperialismo, estúpido!

Por: estrategiaglobal.org

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 4

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Fascismo é um regime autoritário criado na Itália, que deriva da palavra italiana fascio, que remetia para uma "aliança" ou "federação". Originalmente o fascismo foi um movimento político fundado por B. Mussolini em 23 de

Março de 1919 e no seu início era composto por unidades de combate (fasci di combattimento).

Page 5: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 5

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Muitas vezes é melhor viver errando, pois isso é quase sempre sinônimo de quem tenta fa-zer. A grande formação é derivada da quanti-dade e valorização diante dos obstáculos de-safiados, enfrentados e que persistentemente

poderão ser superados e vencidos.

Estar em evolução é se sentir mudado e co-nectado, mantendo o que a atividade física propícia e compensando-a com um entendi-

mento evolutivo e mental cada vez mais atual.

Se o mundo foi contaminado pelo individualis-mo quando das oportunidades, classificando-se em blocos, de ricos e pobres, desenvolvi-dos e em desenvolvimento, resta-nos um ca-minho que não depende tanto do se enqua-

drar nesse ou naquele sistema, mas do se a-dequar unindo o que se quer com o que de

melhor pode se fazer para ser parte disso no plano real.

O exercício da lógica, enriquece a produtivida-de e por consequência a qualidade evolutiva das nossas ações, fazendo-nos dar credibili-dade e confiança aos próprios objetivos, que se iniciam sempre quando criamos manobras

para solucionar ou contornar obstáculos.

O que tem importância no cenário empresari-al, não é mais ter a visão de um grande pro-duto a ser lançado, mas dispor de uma gran-

de potencialidade humana no sentido de construí-lo e demonstrá-lo nos mínimos deta-lhes em relação as suas qualificações e dife-

renças adicionais.

Um bom treinamento deve quebrar barreiras, extraindo do potencial individual, a forma cole-tiva para que seja convertida em ações criati-vas, inovadoras, de consenso pelo próprio en-

volvimento, preparando pessoas para que vençam seus desafios, melhorando e acredi-tando na sua capacidade, necessidade, visão

e integração.

Não importa o que façamos ou com quantos façamos, o que vale é a relação do nosso pró-prio nome com a qualidade da recepção que

obtemos por onde atuamos.

Tudo que somos vem de uma combinação do que conseguimos traduzir em instrumentos facilitadores e os resultados dessa constru-ção. Cada um de nós tem um estilo próprio,

mas num caminho aonde estratégias, planos, metas e legislação sempre estabelecerão as

regras do como seguir os passos para os resultados.

500 milhões de abelhas mortas em 3 meses

Nos últimos três meses, mais de 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas por apicultores apenas em quatro estados brasileiros, revela reportagem de Pedro Guigori para a Agência Pública e Repórter Brasil. Foram 400 milhões no Rio Grande do Sul, 7 milhões em São Paulo, 50 milhões em Santa Catarina e 45 milhões em Mato Grosso do Sul, segundo estimativas de Associações de apicultura, secretarias de Agricultura e pesquisas realizadas por universidades.

O principal causador, afirmam especialistas e pesquisas laboratoriais analisadas pela reportagem, é o contato com agrotóxicos à base de neonicotinoides e de Fipronil, pro-duto proibido na Europa há mais de uma década. Esses ingredientes ativos são insetici-das, fatais para insetos, como é o caso da abelha, e quando aplicados por pulverização aérea se espalham pelo ambiente, relata o texto.

A importância das abelhas para o meio ambiente

“As abelhas são as principais polinizadores da maioria dos ecossistemas do planeta. Voando de flor em flor, elas polinizam e promovem a reprodução de diversas espécies de plantas. No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana e produção animal, cerca de 60% dependem em certo grau da polinização deste inseto. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem das abelhas.

Os principais inimigos das abelhas são os agrotóxicos neonicotinoides, uma classe de inseticidas derivados da nicotina, como por exemplo o Clotianidina, Imidacloprid e o Tia-metoxam. A diferença para outros venenos é que ele tem a capacidade de se espalhar por todas as partes da planta. Por isso, costuma ser colocado na semente, e tudo aca-ba com vestígios: flores, ramos, raízes e até no néctar e pólen. Eles são usados em di-versas culturas como de algodão, milho, soja, arroz e batata”, afirmam os especialistas. (Para ver reportagem completa sobre as abelhas acesse Agência Pública).

É possível produzir alimentos para o Brasil sem agrotóxicos?

O mote de vários grupos de pesquisa comprometidos com as cadeias produtivas é a busca constante de alternativas de controle de pragas que sejam cada vez menos de-pendentes dos produtos químicos. No entanto, essas alternativas devem merecer a confiança do produtor e ter custo competitivo. Até que possamos abrir mão definitiva-mente dos agrotóxicos, situação que, com muito otimismo, levará ainda muitos anos, é realista pensar que a Embrapa, as universidades e os institutos estaduais de pesquisa vêm diligentemente procurando essas alternativas. Tratam-se de pesquisas sobre medi-das de controle pautadas em ensaios com o devido rigor científico: substituição de pro-dutos muito tóxicos por outros menos tóxicos (químicos ou biológicos), obtenção de cul-tivares resistentes ou tolerantes às pragas, uso racional da água em diferentes sistemas de irrigação, rotação de culturas, vazio fitossanitário, tecnologias de aplicação de produ-tos, solarização do solo, correção e adubação do solo, sistemas de produção de se-mentes e mudas sadias, cultivo protegido, entre outras. A adoção dessas medidas den-tro da filosofia de controle (ou manejo) integrado, certamente reduzirá a necessidade do uso de agrotóxicos, independente do modelo de produção (convencional, orgânico, a-groecológico, biodinâmico etc.).

Melhores resultados poderiam advir da continuada capacitação de produtores e extensi-onistas nessas práticas de cultivo, muitas delas já fartamente divulgadas pela pesquisa. No que se refere à ciência básica, é necessário ainda desenvolver e aperfeiçoar técni-cas de detecção de resíduos para fins de monitoramento dos alimentos, apoiar as em-presas de agrotóxicos no desenvolvimento e avaliação de produtos menos tóxicos, a-lém de incentivar e fortalecer no ambiente acadêmico a cultura da importância de pro-duzir alimentos saudáveis.

(Excerto de É possível produzir alimentos para o Brasil sem agrotóxicos?, de Carlos A. Lopes – Pesquisador na Embrapa Hortaliças. Doutor em fitopatologia pela Universidade da Flórida).

Page 6: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

.A direita, a esquerda e a tolerância em favor do bem comum

Afinal, quem é dono da razão e da verdade? No eixo do espectro político, qual das posições políticas se comprovou ser infalível? Conforme a reportagem no site Último Segundo no dia 23 de Abril de 2019, deputada federal paulista Tabata Amaral, do PDT, se en-controu com o governador paulista para conversar sobre alguns te-mas políticos como educação pública e a controversa reforma da previdência. Ambos foram muito criticados na internet.

É decepcionante ver tanta gente com uma imensa dificuldade de ser compreensiva! A deputada federal Tabata Claudia Amaral de Pontes é uma jovem que abandonou a faculdade de Astrofísica em Havard e se formou em ciências políticas, e escolheu lutar para me-lhorar a qualidade da educação escolar no Brasil. Ela é uma perso-nalidade nova no meio político brasileiro.

Certa vez, o ex-presidente Lula apertou a mão do Maluf. Também, disse em linguagem figurada que, no Brasil, “Jesus teria que se ali-ar a Judas”. E nisso o ex-presidente Lula está coberto de razão. E tendo esse bom senso de que se deve ser tolerante às pessoas que tenham ideologia divergente, a Tabata Amaral foi conversar com o governador paulista João Dória, e as pessoas parecem fazer confusão achando que tratar com respeito e gentileza é “ser amigo pessoal” ou “ter afinidades”. A deputada federal e o governador es-tadual são pessoas públicas e precisam dar publicidade aos seus atos políticos. A política é a ciência da governança de um Estado e também de uma Nação. E, principalmente no regime democrático, uma arte de tentar compatibilizar interesses de pessoas divergen-tes ideologicamente, relacionados com aquilo que diz respeito ao espaço público e ao bem comum dos cidadãos, uma vez que a de-mocracia concede o direito às várias ideologias serem representa-das no grupo dos legisladores que possam ter influência em políti-cas públicas.

Assim como qualquer ser humano, a deputada federal em questão não é perfeita, não sabe de tudo, e fez o que acredita ser o correto a se fazer, acompanhar também os feitos do executivo estadual mesmo que o governante seja de um partido rival ao dela. Muitas pessoas no Brasil demonstram ser autoritárias e muito intolerantes a opiniões, ideias e crenças diferentes das suas. Pode parecer ma-ravilhoso para nós ter poder de impor à nossa vontade através do poder do Estado. Mas, e quando os outros impõem regras contrá-rias à nossa vontade? Dialogar ou tentar dialogar com alguém de viés diferente ou oposto não é traição aos eleitores ou à ideologia! No meio político, é imprescindível o diálogo com políticos de parti-dos oponentes. Democracia combina com flexibilidade e paciência.

João Paulo E. Barros

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 6

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

DEBAIXO DA CAMA

Uma cama larga, simbolizando o país. Sobre a cama, não me per-gunte como, um reacionário, simbolizando as classes dominantes, sua mulher frívola e infiel, simbolizando a inconsciência nacional, e um doido, simbolizando um doido. Fala o doido: -- Esse ruído... -- Que ruído? – pergunta o reacionário. -- Debaixo da cama. -- Não ouvi ruído nenhum. -- Exatamente. Não é estranho? O jacaré está quieto. – Que jacaré? – O jacaré embaixo da cama. A mulher frívola e infiel dá um grito abafado. O reacionário diz: -- Não há jacaré nenhum embaixo da cama. O doido faz uma cara triunfante e pergunta: -- Se não há um jacaré embaixo da cama, então o que é que está em silêncio? A lógica do argumento é inatacável. E, a julgar pelo tamanho do silêncio, o jacaré é enorme. -- Por que será que ele está quieto? – pergunta o reacionário. -- Não sei – diz o doido. – A não ser que ele tenha comido al-guém... A mulher frívola e infiel leva as mãos à boca mas deixa escapar um

nome: -- Danilo! -- O quê? – dizem o reacionário e o doido juntos. -- Nada, nada... Mas ela desaparece sob o lençol para chorar seu amante. Danilo, comido por um jacaré embaixo da cama! E com o pijama novo que ela lhe deu. -- O jacaré deve ter comido o comunista – diz o reacionário. -- Que comunista? -- Tem sempre um comunista debaixo da cama. -- Depois eu é que sou doido...Não tem comunista nenhum debaixo da cama. -- Se o jacaré comeu, não tem mesmo. --Só há uma maneira de sabermos o que realmente aconteceu – diz o doido, sensatamente. Olharmos debaixo da cama. Os dois espiam embaixo da cama e vêem um moço de pijama no-vo, que sorri sem jeito. O reacionário endireita-se na cama e começa a refletir. Olha para o doido, depois olha para sua mulher que chora. Aos poucos, vai se dando conta da situação. -- Meu Deus! – exclama. -- O quê? – diz o doido, pensando que é com ele. -- O comunista comeu o jacaré.

Luiz Fernando Veríssimo(1983)

Estado laico e Estado confessional

Um Estado laico ou Estado secular é um Estado neutro, imparcial em relação às religiões, de forma geral. O Estado laico não apoia e nem faz oposição a nenhuma das religiões e formas de crenças espiritualistas. O oposto do Estado laico é o Estado confessional, que reconhece uma religião (ou mais de uma) como oficial (ou oficiais) do Estado, como alguns exemplos no mundo atual, o Rei-no Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte é um Estado oficial-mente cristão anglicano, o Vaticano é um Estado católico romano, o Irã é um Estado islâmico xiita, e o Butão é um Estado budista vajraina.

A neutralidade do Estado laico não faz dele necessariamente a-teu ou agnóstico. Na verdade, ser religioso e crente ou ser ateu ou ser agnóstico, só é possível para pessoas físicas, e o Estado é pessoa jurídica regulado por pessoas físicas através de leis. Da mesma forma, nem todo Estado confessional restringe a liberda-de de crença ou de descrença dos indivíduos. Ninguém no Reino Unido é punido por não ser anglicano, os indivíduos têm liberdade religiosa e também para serem ateus e agnósticos.

No Brasil, o Estado é laico, mas não é ateu. A própria Constitui-ção Federal brasileira, promulgada em 1988, se apresenta como elaborada "sob a proteção de Deus". Isso significa que o Estado brasileiro não nega a existência de Deus, ou deuses e divindades de um modo amplo. No entanto, no Brasil, os dogmas de crenças religiosas não podem determinar os atos do Estado. Segundo a legislação brasileira, concepções morais religiosas não podem guiar as decisões de Estado, mesmo que as tais sejam aprova-das pela maioria da população. O Estado laico aceita e protege na forma de lei tanto o direito individual à crença religiosa quanto o direito individual à descrença religiosa, conforme o artigo 5.º, inciso VI da Constituição Federal. A artigo 208 do Código Penal brasileiro também protege as religiões.

O Estado laico é uma importante conquista da liberdade do ser humano e da democracia nas nações, de forma que as pessoas não precisem viver com medo de punições por seguirem uma reli-gião ou como medo de serem forçadas a seguirem alguma religi-ão que não queiram seguir. Mesmo em alguns Estados confessio-nais que permitem liberdade de crença aos indivíduos, a liberda-de individual em si é uma conquista muito importante e funda-mental para a felicidade de cada ser humano. Para termos os nossos direitos respeitados, é imprescindível respeitarmos os di-reitos das outras pessoas.

João Paulo E. Barros

Page 7: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

NÃO DEIXE QUALQUER COISA SUBIR À CABEÇA

Vivíamos na casa de minha avó, numa fazendinha bem simples onde ela criava vários animais. Éramos de várias faixas etárias, desde as criancinhas, adolescen-tes, jovens, adultos e os mais velhos que

eram nossos pais, avós e bisavós.

A rotina era acordar cedo, alimentar-se em mesa farta e bem cuidada pelas mu-lheres, que depois passavam o dia cuidando dos afazeres da casa, roupas, plantas, refeições e principalmente das traquinagens das crianças.

Vida humilde e feliz, educação era dada em casa e só depois de algum tempo poderíamos frequentar a escola com o respeito que aprendemos a ter pelo pro-fessor, profissão considerada mais importante, e com eles aprender a cartilha que era motivo de orgulho e esperança para os mais velhos.

Em tempo de criança importante eram as brincadeiras, o corre-corre, as gulosei-mas, conhecer os animais e principalmente os cavalos que sonhava em montar assim que as pernas crescessem. As meninas preocupavam-se com as bone-cas e como imitar as mães na cozinha; já os mais crescidos, de ambos os sexos pensavam mais em passeios, confessar os pecados aos domingos para repeti-los na segunda com mais leveza e flertar sonhando com o primeiro beijo e o to-car de mãos.

Os adultos cuidavam dos filhos, dos mais velhos e as mulheres adoravam com-prar panos para fazer vestidos novos, enquanto os homens tomavam cachaça e proseavam sobre tudo.

E veio a modernidade, os compradores de terras gerando empregos e novida-des no estudo com professores que vinham da cidade e até mesmo um posto médico que deixou as avós benzedeiras resistentes.

Com essa mudança o pequeno lugar até já crescera, mudou também as conver-sas, veio a desconfiança porque os patrões incitavam a cada um querer crescer e ser melhor, gerando o progresso e também a disputa, quando comecei a ouvir uma conversa que antes nunca tinha escutado: - cuidado não deixe qualquer coisa subir na cabeça -

Pensava eu: “Que diabo é isso que precisava tomar tanto cuidado pra não subir na cabeça”?

Com o passar do tempo, alguns morreram de doença e pela resistência aos doutores, outros estudaram e de lá se mudaram deixando uma “saudade tristo-nha” naqueles que ficavam e, principalmente quando havia alguma das moças interessadas naquele que partiu. Eu crescia, mas ainda não entendia tão bem o que se passava e, uma noite ouvi o choro da minha mãe que falava novamente em tomar cuidado com aquilo que subia à cabeça e que ninguém iria querer fi-car perto de gente assim...

Pensava que era uma doença e que talvez aquilo pegasse, fosse contagioso, mas quando resolvi perguntar a minha mãe, ela me disse que era assunto de menino maior e quando eu fosse para escola entenderia melhor o que seria su-bir à cabeça e que tanto mal fazia a ponto de separar as pessoas.

Eis que chegou meu tempo de ir para os estudos e aprender um pouco de tudo e principalmente entender o enigma que me despertava tanta curiosidade.

Conheci a cartilha, novos amigos, uniforme, professores respeitosos e mais na-da...

Um dia, a professora me mandou de volta pra casa com um bilhete para a mãe e fiquei tão nervoso que me coçava tanto que parecia que eu tinha alergia.

Chegando em casa, ela leu o bilhete que dizia, “deixe seu filho em casa e cuide dele para não contagiar os outros”. Ela olhou incrédula para minha cabeça e to-da envergonhada por achar que a professora iria duvidar dos seus cuidados e limpeza, dizendo: “Menino, onde foi arrumar esse piolho”?

Ah! Finalmente entendi o que é que não deveria deixar subir na cabeça e que me preocupou por tanto tempo – um maldito piolho – e pensei: “É só isso”?

Genha Auga Jornalista MTB: 15.320

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 7

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

MÃES E FILHOS

Genha Auga

A mãe que te gerou,

Embalou-te no colo,

Amamentou e te fez adormecer,

Com a melhor canção que encontrou no coração.

Seu leite acalentou tua alma,

Viu o dia amanhecer,

Noites mal dormidas,

Incertezas inundavam sua vida.

Cantou, rezou, chorou!

Sonhou muito olhando para você,

Projetou em ti o futuro dela.

Era esse acalanto entre você e ela.

Mães são sempre assim...

Um dia acorda e vê os filhos crescidos,

Alguns para serem aplaudidos,

Outros pra derramar lágrimas em vão!

“Braços de mãe são feitos de ternura

Para que neles, filhos durmam profundamente.”

E as mães?

Não dormirão nunca mais...

Mães deveriam ser dignas e respeitadas.

Mas, nem todas tem essa sorte,

Por quê?

Que tipo de filho você é ou foi?

Quem errou e quem acertou?

Não importa,

Mães e filhos,

Estão acima disso tudo.

Page 8: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 8

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A América tem as maiores desigualdades, a maior taxa de mortalidade, a maioria dos im-postos regressivos e os maiores subsídios públicos para banqueiros e bilionários de qualquer país capitalista desenvolvido.

Como os bilionários se tornam bilionários

Ao contrário da propaganda promovida pela imprensa de negócios, entre 67% e 72% das corporações tinham zero obrigações tributá-rias após créditos e isenções … enquanto seus trabalhadores e empregados pagavam entre 25% a 30% em impostos. A taxa para a minoria de corporações, que pagou qual-quer imposto, foi de 14%.

De acordo com a Receita Federal dos EUA, a evasão fiscal bilionária equivale a US$ 458 bilhões em receitas públicas perdidas a ca-da ano – quase um trilhão de dólares a cada dois anos por essa estimativa conservadora.

As maiores corporações americanas abriga-ram mais de US$ 2,5 trilhões de dólares em paraísos fiscais no exterior, onde não paga-ram impostos ou taxas de imposto de um único dígito.

Enquanto isso, corporações americanas em crise receberam mais de US$ 14,4 trilhões em dinheiro de ajuda pública, divididos entre o Tesouro dos EUA e o Federal Reserve, principalmente de contribuintes americanos, que são esmagadoramente trabalhadores, empregados e aposentados.

Os banqueiros recebedores investiram seus fundos de resgate americanos sem juros ou com juros baixos e ganharam bilhões em lucros, a maioria resultante de execuções hipotecárias de famílias da classe trabalha-dora.

Através de decisões legais favoráveis e exe-cuções ilegais, os banqueiros despejaram 9,3 milhões de famílias. Mais de 20 milhões de pessoas perderam suas propriedades, muitas vezes devido a dívidas ilegais ou fraudulentas.

Um pequeno número de trapaceiros finan-ceiros, incluindo executivos dos principais bancos de Wall Street (Goldman Sachs, J. P. Morgan, etc.), pagou multas – mas nin-guém foi preso por causa da gigantesca fraude que levou milhões de americanos à miséria.

Há outros banqueiros trapaceiros, como o atual secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, que se enriqueceram ao excluir ilegalmente milhares de proprietários de casas na Cali-fórnia. Alguns foram julgados; todos foram exonerados, graças à influência dos líderes políticos democratas durante os anos de O-

bama.

O Vale do Silício e seus bilionários inovado-res descobriram uma maneira inovadora de evitar impostos usando paraísos fiscais no exterior e baixas fiscais domésticas. Eles aumentam sua riqueza e seus lucros corpo-rativos pagando salários de nível de pobreza aos trabalhadores e trabalhadores locais. Os executivos do Vale do Silício “ganham” mil vezes mais do que seus trabalhadores de produção.

As desigualdades de classe são reforçadas por divisões étnicas. Multi-milionários bran-cos, chineses e indianos exploram trabalha-dores afro-americanos, latino-americanos, vietnamitas e filipinos.

Bilionários nos conglomerados comerciais, como o Walmart, exploram trabalhadores pagando salários de pobreza e fornecendo poucos benefícios, se é que existem. O Wal-mart obtém US$ 16 bilhões por ano em lu-cros pagando a seus funcionários entre US$ 10 e US$ 13 por hora e contando com assis-tência estadual e federal para prestar servi-ços às famílias de seus trabalhadores empo-brecidos por meio de Medicaid e cupons de alimentação. O plutocrata amazônico Jeff Bezos explora os trabalhadores ao pagar US$ 12,50 por hora, enquanto acumula mais de US$ 80 bilhões em lucros. O CEO da UPS, David Albany, fatura US$ 11 milhões por ano explorando trabalhadores a US$ 11 por hora. Fred Smith, CEO da Federal Ex-press, recebe US$ 16 milhões e paga US$ 11 por hora aos trabalhadores.

A desigualdade não é um resultado de “tecnologia” e “educação” – eufemismos contemporâneos para o culto da superiorida-de da classe dominante – como liberais e economistas conservadores e jornalistas gostam de afirmar. As desigualdades resul-tam de baixos salários, baseados em gran-des lucros, fraudes financeiras, doações pú-blicas multibilionárias e evasão fiscal multibi-lionária. A classe dominante dominou a “tecnologia” de exploração do estado, atra-vés de sua pilhagem do tesouro e da classe trabalhadora. A exploração capitalista de tra-balhadores com baixos salários de produção fornece bilhões adicionais para que as fun-dações familiares bilionárias “filantrópicas” refinem sua imagem pública – usando outro artifício de evasão fiscal – “doações” auto-glorificantes.

Os trabalhadores pagam impostos despro-porcionais para educação, saúde, serviços sociais e públicos e subsídios para bilioná-rios.

Bilionários da indústria de armas e conglo-merados de segurança / mercenários rece-bem mais de US $ 700 bilhões do orçamen-to federal, enquanto mais de 100 milhões de trabalhadores norte-americanos carecem de cuidados de saúde adequados e seus filhos são alojados em escolas em deterioração.

Trabalhadores e chefes: taxas de mortalida-de

Bilionários e multimilionários e suas famílias desfrutam de vidas mais longas e saudáveis do que seus trabalhadores. Eles não preci-sam de apólices de seguro de saúde ou

hospitais públicos. O CEO vive em média dez anos a mais que um trabalhador e des-fruta de mais vinte anos de vida saudável e sem dor.

Clínicas privadas e exclusivas e os melhores cuidados médicos incluem o tratamento mais avançado e medicação segura e com-provada que permite que bilionários e seus familiares tenham uma vida mais longa e saudável. A qualidade de seus cuidados mé-dicos e as qualificações de seus prestadores de serviços médicos apresentam um forte contraste com o apartheid de assistência à saúde que caracteriza o restante dos Esta-dos Unidos.

Os trabalhadores são tratados e maltratados pelo sistema de saúde: eles têm tratamento médico inadequado e muitas vezes incom-petente, exames superficiais realizados por assistentes médicos inexperientes e acabam sendo vítimas da generalizada prescrição excessiva de narcóticos altamente viciantes e outros medicamentos. A prescrição exces-siva de narcóticos por “provedores” incom-petentes contribuiu significativamente para o aumento das mortes prematuras entre os trabalhadores, o aumento dos casos de o-verdose de opiáceos, a incapacidade devido ao vício e a queda na pobreza e na falta de moradia. Essas práticas irresponsáveis geraram bilhões de dólares adicionais em lucros para a elite das empresas de segu-ros, que podem cortar suas pensões e res-ponsabilidades de saúde à medida que os feridos, deficientes e viciados abandonam o sistema ou morrem.

A expectativa de vida reduzida para os tra-balhadores e seus familiares é celebrada em Wall Street e na imprensa financeira. Mais de 560.000 trabalhadores foram mortos por opiáceos entre 1999-2015, contribuindo para o declínio da esperança de vida dos traba-lhadores assalariados e assalariados e redu-zindo as responsabilidades com pensões de Wall Street e da Administração da Seguran-ça Social.

As desigualdades são cumulativas, interge-racionais e multissetoriais.

Famílias bilionárias, seus filhos e netos, her-dam e investem bilhões. Eles têm acesso privilegiado às escolas e instalações médi-cas de maior prestígio e, convenientemente, se apaixonam por companheiros igualmente privilegiados e bem relacionados para unir suas fortunas e formar impérios financeiros ainda maiores. Sua riqueza compra uma co-bertura de mídia de massa favorável e até bajuladora e os serviços dos advogados e contadores mais influentes para cobrir suas fraudes e evasão fiscal.

Os bilionários contratam inovadores e ge-rentes de MBA para criar mais maneiras de reduzir os salários, aumentar a produtivida-de e garantir que as desigualdades aumen-tem ainda mais. Os bilionários não precisam ser as pessoas mais brilhantes ou inovado-ras: tais indivíduos podem simplesmente ser comprados ou importados no “mercado livre” e descartados à vontade.

CONTINUA NA PÁGINA 11

Page 9: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

POR DENTRO DA

PARANOIA OLAVISTA DO NOVO MINISTRO DA EDUCAÇÃO, ABRAHAM

WEINTRAUB

“OS COMUNISTAS ESTÃO no topo do país. Eles são o topo das

organizações financeiras. Eles são os donos dos jornais. Eles são

os donos das grandes empresas. Eles são os donos dos monopó-

lios”. Quem fala uma bobagem dessas jamais poderia estar junto

na mesma sentença com a palavra “educação”, mas são frases saí-

das da boca do novo chefe do Ministério da… Educação.

“Trocaram um pseudo olavete por um verdadeiro olavete”, comen-

tou um sorridente Olavo de Carvalho sobre a troca de ministros do

MEC. O guru de araque do bolsonarismo continuará sendo o princi-

pal influenciador do ministério que tem o segundo maior orçamento

do governo.

Desde antes da posse já estava claro que o obscurantismo tomaria

conta do MEC. Bolsonaro chegou a convidar Mozart Ramos, um

especialista na área com experiência na administração pública,

mas foi obrigado a desconvidar após veto da bancada evangélica.

Mozart não representaria bem a chucrice bolsonarista. Vélez então

foi o nome indicado por Olavo e, em três meses, destruiu o ministé-

rio. Sem nenhuma competência para o cargo, o ex-ministro nada

fez a não ser jogar uma crise por semana no colo do governo. A

falta de experiência e o excesso de ideologização foram as princi-

pais causas para o desastre. E o que fez o presidente para fazer a

máquina voltar a andar? Colocou em seu lugar Abraham Wein-

traub, uma nova marionete de Olavo sem nenhum serviço prestado

na área da educação. É tecnicamente impossível haver um nome

com experiência no setor que seja olavista. São coisas de nature-

zas incompatíveis.

O maior problema do MEC hoje se chama Olavo de Carvalho, mas

o diagnóstico de Bolsonaro para o desastre da gestão Vélez foi a

“falta de gestão”. Weintraub foi escolhido por sua experiência em

gestão na área financeira. Foi executivo do Banco Votorantim e

membro do comitê da BM&FBovespa. É um especialista em previ-

dência e mercado financeiro. Sua única experiência em educação

foi dando aula de Ciências Contábeis. A gestão na área financeira

não tem nada a ver com gestão pública da educação de um país. É

claro que a experiência em um setor pode ajudar em outro, mas

muito pouco. São mundos completamente diferentes.

Apesar dessa pequena vantagem técnica em relação ao ministro

anterior, tudo indica que Weintraub irá pisar o pé no acelerador do

olavismo. O novo ministro bebe da mesma groselha lisérgica do

anterior, com o agravante de ser mais determinado em colocar as

loucuras em prática. Ele se vê como um gladiador anti-globalista

em uma cruzada ideológica contra o marxismo cultural que lava a

cabeça das nossas criancinhas. Algumas falas do “verdadeiro ola-

vete” mostram que essa visão esquizofrênica de mundo continuará

norteando a administração do MEC:

“O socialista é a Aids; e o comunista, a doença oportunista”

“Quando um esquerdista chegar para você com o papo ‘nhoim

nhoim’, xinga. Faz como o Olavo de Carvalho diz para fazer. E

quando você for dialogar, não pode ter premissas racionais”

“Hoje, a América do Sul, e o Brasil em particular, faz parte do espa-

ço vital de uma estratégia clara para a tomada de poder por grupos

totalitários socialistas e comunistas. (…) O crack foi introduzido no

Brasil de caso pensado. Vejam os arquivos, está na internet!”

Onde sobra ideologia costuma faltar conhecimento. E a falta de co-

nhecimento de Weintraub sobre a área que vai assumir é gritante.

No ano passado, ele afirmou que o Brasil investe em educação co-

mo os países ricos, mas tem o mesmo resultado dos países po-

bres. Não é verdade. E nem é preciso ser um especialista na área

para saber disso. Basta estar atento ao noticiário. O valor gasto pe-

lo Brasil é menos da metade da média gasta pelos países da OC-

DE. O investimento por estudante é muito menor do que o de paí-

ses ricos. O homem que vai comandar o MEC desconhece essa

informação básica.

Bom, se o novo ministro não manja nada do setor, seria prudente

contratar gente que entende do riscado para trabalhar com ele, não

é mesmo? Mas bom senso não é algo que se possa esperar de um

discípulo de Olavo. Todos os novos secretários anunciados nunca

tiveram um mínimo contato com políticas educacionais. A única se-

cretaria que manteve o titular foi a da Alfabetização, que tem um ex

-aluno de Olavo de Carvalho no comando.

A nomeação de Weintraub deixou as universidades federais preo-

cupadas. Nada mais natural. O discurso autoritário do novo ministro

é, sim, motivo para apreensão. Nós sabemos muito bem o que pen-

sa um olavista sobre as universidades. Somado a isso, há o históri-

co recente de perseguição da Polícia Federal às universidades. Co-

mo esquecer do caso Cancellier, o reitor da UFSC que foi preso

sem provas pela Polícia Federal, destruindo sua reputação e o le-

vando ao suicídio? Mesmo depois de provada a sua inocência, Sér-

gio Moro, que agora comanda a Polícia Federal, premiou a delega-

da responsável pelo caso com um cargo no seu ministério. Há moti-

vos de sobra para as universidades federais temerem o governo

Bolsonaro.

Nada indica que Weintraub será um parceiro das universidades fe-

derais, muito pelo contrário. Ele inclusive já disse que foi persegui-

do por professores e alunos na universidade federal onde leciona

por apoiar Bolsonaro. Como será que os reitores das federais serão

tratados por aquele que afirma que todos eles são comunistas? Ele

já disse que não se deve debater com esquerdistas, apenas xingar.

O ex-ministro do MEC de Temer, Mendonça, se aconselhava com

Mozart Ramos, o ministro que Bolsonaro desconvidou. Um dos

conselhos foi evitar conflitos com universidades para que o país

não entrasse num clima de greve geral. Um conselho valoroso que

Weintraub provavelmente não seguirá, já que acredita que é preci-

so “vencer o marxismo cultural nas universidades”. E, para um bom

olavista, qualquer um que não seja olavista é um agente propaga-

dor do marxismo cultural. Não tem como não dar errado.

Durante a cerimônia de posse de Weintraub, Bolsonaro discursou:

“Os nossos ministros são como uma corrente que tem que puxar o

Brasil pra frente. E não tem ministério mais forte que o elo mais fra-

co dessa corrente”. A frase não faz o menor sentido e, por isso, de-

fine bem a atuação do governo Bolsonaro na área da educação até

aqui.

O MEC é provavelmente o ministério mais difícil de administrar. As

demandas administrativas da pasta são muito específicas e com-

plexas, além de estar cercada por disputas políticas em vários ní-

veis que precisam ser respeitadas. O caminho que está sendo to-

mado é ruim. Weintraub não apresentou nada relevante em seu

discurso de posse a não ser a ladainha ideológica e as platitudes

bolsonaristas de sempre. Não apresentou planos, metas, nada de

concreto. A prioridade é o combate ao comunismo. Ele luta contra

os mesmos moinhos de vento que atormentavam Vélez, só que

com mais fervor e disposição. A coisa pode piorar. Um olavete

cheio de iniciativa em posição de poder é uma arma de destruição

em massa.

Autor: João Filho

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 9

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Page 10: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 10

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

O museu e sua função cultural

O homem está sempre preocupado em pre-servar sua história e sua memória, colecio-nando artefatos. Ele tem acesso ao seu pas-sado através de relatos ou depoimentos de testemunhas oculares, textos, enfim docu-mentos. Quando se defronta com a coleção de imagens e objetos, particularidades da vida social, signos que habitam um museu, caverna moderna onde o homem urbano fi-xa nas paredes os enigmas de sua passa-gem no tempo ou no mundo. Com isso, não quero dizer que o museu é um caminho em direção ao passado, ele é um lugar de pos-síveis diálogos entre passado, presente e futuro. Olhar o passado é “estabelecer uma continuidade entre o que aparentemente deixou de ser e o que ainda vai ser”, (Frederico Morais). Um abrigo do velho e do novo. Mas do que uma instituição de festas e inaugurações de exposições, ele tem um papel cultural impor-tante, além, abrigar os registros do tempo, manifestações culturais de uma região, país ou de um determinado povo, objetos que testemunham o trabalho humano, é um veí-culo a serviço do conhecimento, da educa-ção e da informação que contribui para o desenvolvimento da sociedade. Os museus são instituições com tipologias diferentes que guardam acervos, peças integrantes da memória cultural de uma cidade, de um pa-ís. O ato de colecionar foi uma das ações que estimulou o seu surgimento e a própria coleção vai educando o olhar, impondo exi-gências, critérios, qualidades, exigindo es-paços adequados, etc. e a necessidade de ser vista. Vai se constituindo num patrimônio que precisa ser preservado. Seu destino é o museu.

2006 é o ano nacional de museus determi-nado pelo Ministério da Cultura. Como pen-sar os museus e sua função cultural nos tempos difíceis que estamos vivendo? Eles passam por problemas como: falta de recur-sos, de profissionais especializados, sem instalações adequadas, enfim falta uma polí-tica pública para os museus que os vejam não como dispositivos da indústria de entre-tenimentos. Mas se a própria universidade, o lugar da produção de conhecimento, vem perdendo a intimidade com a reflexão e se transformado numa fábrica de mão de obra especializada, o que podemos esperar de uma instituição museológica, neste contex-to? Para um pré-socrático chamado Parmê-nides: saber é um discernir, para Sócrates e Platão (alegoria da caverna), um discernir sobre o que é real e sua sombra projetada na parede da caverna. Aprendemos com Es-pinosa que se não há pensamento não há liberdade. O homem é escravo do que não conhece. Esquecemos os gregos, despreza-mos a filosofia e o exercício da reflexão e estamos construindo uma cultura descartá-vel. Não há mais questão cultural em jogo, mas um jogo de interesses da sociedade do

espetáculo e da indústria cultural.

Desde quando a política e a economia re-servaram à cultura um espaço quase que insignificante, dentro das prioridades da vida urbana, interesses alheios comprometeram o funcionamento das instituições culturais. A cidade precisa de tecnologias, partidos polí-ticos, técnicos, políticos, empresários, espe-cialistas em áreas diversas, etc., mas acima de tudo, precisa de uma tradição cultural e do exercício da cidadania, para que ela pró-pria signifique. Um museu guarda mais do que obras e objetos de valor e de prestígio social, uma situação, um fragmento da histó-ria, portanto um problema cultural. Tudo que nele é exibido deve ter um compromisso com o conhecimento, a memória e a refle-xão. Sua programação não deveria ser deci-dida por patrocinadores que tem como obje-tivo final vender produtos muitas vezes até desnecessários, e circular uma imagem de que está cont r ibu indo para o “desenvolvimento cultural”.

Estas instituições não são fantasmas do mundo civilizado alimentadas pelo olhar a-pressado das câmaras fotográficas do turis-ta curioso ou do olhar atraente e mundano do público das vernissages. Estão a serviço do pensamento crítico da sociedade e sua história, portanto um laboratório reservado a estudos, experimentações, integrando pro-dutores e consumidores de produtos cultu-rais. Vinculadas a um saber especifico, que toda comunidade tem direito ao seu acesso, mas na prática são espaços restritivos do ponto de vista intelectual, principalmente em cidades sem uma “tradição cultural museo-gráfica”.

Sua localização geográfica é fundamental no sentido de facilitar o acesso de estudan-tes, curiosos, turistas, do público em geral que lida com as diversas formas de saber. Em cidades como Salvador, um museu po-deria ser um agente de contribuição na revi-talização do centro da cidade, quando ele está próximo dos serviços urbanos ofereci-dos, como sistema de transportes coletivos e segurança. Bom para a cidade e bom para o museu. É preciso inventar soluções com-patíveis e possíveis com os poucos recursos disponíveis, para garantir sua vitalidade.

O que é visitar um museu? O que se busca nele? Um museu é um centro de informação e reflexão, onde o homem se reencontra com as possíveis invenções da estética, a história e a memória. Seu conceito foi ampli-ado e renovado nos fins do século XVIII, com o advento da revolução francesa. Mas sem um projeto cultural que valorize seu próprio acervo e o que nele é exposto, sem deixar que eles se transformem em suportes para marcas publicitárias, o museu é apenas um lugar que atrai olhares dispersos, sem interesses culturais.

Sem recursos financeiros e depois que a responsabilidade cultural foi transferida para a iniciativa privada que tem como principal critério de seus patrocínios o impacto na mí-dia, muitos museus vêm se transformando em instituições de entretenimento para atrair grandes públicos consumidores de subpro-dutos culturais, quem sabe também futuros

consumidores das marcas que patrocinam os seus eventos.

Os museus, em particular os de arte, ultra-passaram a simples função de guardar e preservar bens culturais e assumiram várias tarefas e outras funções como o ensino livre da arte, foram equipados com bibliotecas, auditórios para debates, conferências, cine-mateca. Umas das principais vanguardas brasileiras na arte o “Neo-Concretismo” sur-giu praticamente no curso do prof. Ivan Ser-pa no Museu de Arte Moderna do Rio de Ja-neiro. As oficinas de arte Museu de Arte Mo-derna da Bahia vêm prestando um trabalho social e educativo na formação de artistas e público. A prática museológica tende a se ampliar e integrar o desenvolvimento urba-no, seu objeto de estudo diz respeito tam-bém à paisagem urbana, ruas, praças, quar-teirões. “Museu é o mundo; é a experiência cotidiana…”, (Hélio Oiticica). As cidades, principalmente as cidades históricas são es-paços museográficos.

Por: Almandrade

Bom o texto de Almandrade.

Porem desejo fazer uma corrigenda.

Na época em que surgiu o Neoconcretismo, o mestre Ivan Serpa, -cujas brilhantes aulas frequentei- manteve-se fiel aos princípios da Arte Concreta.. Foi o meu outro mestre, Alui-sio Carvão que iniciou uma ruptura com o Concretismo, estabelecendo um princípio semiorgânico na representação de seu revo-lucionário Cubo de Cor, apresentado no iní-cio de 1962. já o Ivan Serpa tempos depois desligou-se da Arte Concreta, passando a criar dentro da área do figurativismo expres-sionista. Ivan Serpa NUNCA aderiu ao Neo-concretismo.

Este período, de 1950 até 1975 é dos mais ricos da arte brasileira. Até podia ser que houvesse algum mundanismo em torno das exposições no MAM aqui do Rio, mas até este possível mundanismo era irrelevante, porque o debate cultural era muito maior e mais intenso. Este debate cultural era análo-go à representatividade do país. Existe uma relação entre produções artísticas e desen-volvimento, mas isto não é explicável agora. Porem, com certeza, artesanato popular não tem nada a haver com desenvolvimento e relações internacionais.

Costumo explicar que um museu é um local para guardar valores, coisas de significado importante para a memória. e visão reflexi-va,. Um museu é de imenso valor para a co-munidade, representando um lastro espiritu-al de outras riquezas. É um local de culto semiprofano. Cito um país rico como a Ho-landa, com o seu principal banco, onde está o dinheiro da país. Mas o grande dinheiro do banco da Holanda de pouco valeria sem o lastro em ouro. O dinheiro do Banco da Ho-landa é garantido pelo imenso lastro em ou-ro. Porem o lastro moral desta riqueza mate-rial da Holanda é o Museu do Reino, com seus Rembrandt, Van der Weyden, Verme-er. Logo, museus e cidades museográficas se constituem como lastro moral de identida-de de um país, alem claro, de patrimônio.

Filipe de Sousa

Page 11: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

Como os bilionários se tornam bilionários (continuação)

Bilionários compraram ou formaram joint ventures entre si, criando diretorias interligadas. Bancos, TI, fábricas, armazéns, alimentos e eletrodomésticos, produtos farmacêuticos e hospitais estão ligados diretamente às elites políticas que passam por portas de nomea-ções rotativas dentro do FMI, Banco Mundial, Tesouro, bancos de Wall Street e firmas de advocacia de prestígio.

Consequências das Desigualdades

Em primeiro lugar, bilionários e seus associados políticos, legais e corporativos dominam os partidos políticos. Designam os líderes e os principais nomeados, garantindo assim que orçamentos e políti-cas aumentarão seus lucros, corroerão os benefícios sociais para as massas e enfraquecerão o poder político das organizações po-pulares.

Em segundo lugar, o ônus da crise econômica é transferido para os trabalhadores que são demitidos e depois recontratados como mão-de-obra contingente em tempo parcial. Os salvamentos públicos, fornecidos pelo contribuinte, são canalizados para os bilionários sob a doutrina de que os bancos de Wall Street são grandes de-mais para fracassar e os trabalhadores são fracos demais para de-fender seus salários, empregos e padrões de vida.

Os bilionários compram as elites políticas, que nomeiam funcioná-rios do Banco Mundial e do FMI encarregados de instituir políticas para congelar ou reduzir salários, reduzir as obrigações corporati-vas e de saúde pública e aumentar os lucros privatizando empresas públicas e facilitando a mudança corporativa para países com bai-xos salários e baixos impostos.

Como resultado, os trabalhadores assalariados são menos organi-zados e menos influentes; eles trabalham por mais tempo e por me-nos salários, sofrem maior insegurança no local de trabalho e le-sões – físicas e mentais – caem em declínio e incapacidade, caem fora do sistema, morrem mais cedo e mais pobres e, no processo, proporcionam lucros inimagináveis para a classe bilionária. Até mesmo seu vício e mortes proporcionam oportunidades de lucro enorme – como atesta a família Sackler, fabricantes de Oxycontin.

Os bilionários e seus acólitos políticos argumentam que uma tribu-tação regressiva mais profunda aumentaria os investimentos e os empregos. Os dados falam o contrário. A maior parte dos lucros re-patriados é direcionada para recomprar ações para aumentar os dividendos para os investidores; eles não são investidos na econo-mia produtiva. Impostos mais baixos e maiores lucros para os con-glomerados significam mais aquisições e maiores saídas para paí-ses de baixos salários. Em termos reais, os impostos já são menos da metade da taxa global e são um fator importante que aumenta a concentração de renda e poder – causa e efeito.

As elites corporativas, os bilionários do complexo global do Vale do

Silício-Wall Street, estão relativamente satisfeitos com o fato de que suas ambiciosas desigualdades são garantidas e se expandem sob os presidentes democratas-republicanos – à medida que os “bons tempos” avançam.

Longe da ‘elite bilionária’, ‘os de fora’ – capitalistas domésticos – clamam por maiores investimentos públicos em infraestrutura para expandir a economia doméstica, impostos mais baixos para aumen-tar os lucros e subsídios estatais para aumentar a formação da for-ça de trabalho enquanto reduzem os fundos para cuidados de saú-de e educação pública. Eles são alheios à contradição.

Em outras palavras, a classe capitalista como um todo, globalista e doméstica, persegue as mesmas políticas regressivas, promovendo desigualdades e lutando contra as participações dos lucros.

Cento e cinquenta milhões de contribuintes assalariados e assalari-ados são excluídos das decisões políticas e sociais que afetam di-retamente sua renda, emprego, taxas de tributação e representa-ção política.

Eles entendem, ou pelo menos experimentam, como o sistema de classes funciona. A maioria dos trabalhadores sabe da injustiça dos falsos acordos de “livre comércio” e do regime tributário regressivo, que pesa sobre a maioria dos assalariados.

No entanto, a hostilidade e o desespero dos trabalhadores são diri-gidos contra os “imigrantes” e contra os “liberais” que apoiaram a importação de mão-de-obra qualificada e semi-especializada barata sob o disfarce de “liberdade”. Essa imagem “politicamente correta” da mão-de-obra importada encobre uma política que serviu para reduzir os salários, os benefícios e os padrões de vida dos traba-lhadores americanos, estejam eles na área de tecnologia, constru-ção ou produção. Os conservadores ricos, por outro lado, se opõem à imigração sob o disfarce de “lei e ordem” e para reduzir os gastos sociais – apesar do fato de todos usarem babás, tutores, enfermei-ras, médicos e jardineiros importados para atender suas famílias. Seus servos sempre podem ser deportados quando for convenien-te.

A questão pró e anti-imigrante evita a causa básica da exploração econômica e da degradação social da classe trabalhadora – os do-nos bilionários que operam em aliança com a elite política.

Para reverter as práticas tributárias regressivas e a evasão fiscal, o baixo ciclo salarial e as crescentes taxas de mortalidade resultantes de narcóticos e outras causas evitáveis, que beneficiam segurado-ras e bilionários farmacêuticos, é preciso forjar alianças de classe ligando trabalhadores, consumidores, aposentados, os estudantes, os deficientes, os proprietários hipotecados, os inquilinos despeja-dos, os devedores, os subempregados e os imigrantes como uma força política unificada.

Mais cedo dito do que feito, mas nunca tentei! Tudo e todos estão em jogo: vida, saúde e felicidade.

Autor: James Petras

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 11

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

O QUE É “Estado de bem estar social” Estado de bem-estar social, ou welfare state, é um modelo de governo no qual o Estado se compro-mete a garantir o bem-estar econômico e social da população.

Características do Estado de bem-estar social

O Estado de bem-estar social não é um modelo fixo de governo, logo, se apresenta de diversas

formas ao redor do mundo. No entanto, entre as características ge-rais do welfare state estão:

Adota medidas de natureza socialista: mesmo em países capitalis-tas, as medidas assistencialistas do Estado de bem-estar social são de natureza socialista, pois visam a redistribuição equitativa de renda e a igualdade de oportunidades para todos. Entre as princi-pais medidas desse tipo estão as pensões, bolsas, seguros e ou-tras concessões assistencialistas.

Possuem legislação protetiva: como forma de proteger os direitos dos cidadãos vulneráveis, o Estado de bem-estar social conta com legislações voltadas à proteção dos seus direitos, a exemplo de sa-

lário-mínimo, segurança e saúde no trabalho, férias, restrições a trabalho infantil, etc.

Intervenção do Estado na economia: para garantir os direitos dos cidadãos, o Estado de bem-estar social atua de forma ativa na eco-nomia.

Estatização de empresas: o Estado de bem-estar social tende a estatizar empresas em setores estratégicos para que o governo te-nha as ferramentas necessárias para promover serviços públicos. Entre as áreas mais visadas estão a de moradia, saneamento bási-co, transporte, lazer, etc.

O Estado de bem-estar social no Brasil

No Brasil, o Estado de bem-estar social se manifestou no governo de Getúlio Vargas, na década de 1940. O período foi marcado pelo estabelecimento das leis trabalhistas, sobretudo o salário-mínimo. A partir disso, o país seguiu a tradição de proteger os direitos soci-ais, seja através de legislação ou de medidas assistencialistas.

Atualmente, o Brasil conta com diversas medidas características do Estado de bem-estar social, tais como licença maternidade, cotas raciais, seguro-desemprego, segurança social, etc.

Filipe de Sousa

Page 12: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 12

A velha roupa esfarrapada da “austeridade” Afinal, qual crise fiscal?

O governo do capitão continua insistindo na tecla da chamada crise fiscal. Para além de todas as translouquices e das trapalhadas dos integrantes de seu primeiro escalão, existe um time sério e perigo-so no comando do Ministério da Economia. Não devemos nos dei-xar enganar pelas inimagináveis propostas e ações que terminam por depor contra a própria imagem do nosso País no exterior. O go-verno Bolsonaro não se resume a Ernesto Araújo nas Relações Ex-teriores, a Damares na Família, a Vélez na Educação, aos filhos irresponsáveis ou a Olavo Carvalho infernizando a vida de todos por aqui a partir de torpedos disparados lá dos Estados Unidos.

Um dos principais fatores para a vitória eleitoral do defensor decla-rado da tortura em outubro passado foi sua capacidade de conven-cer parcela expressiva de nossas classes dominantes a respeito da viabilidade de seu projeto. Setores do empresariado compraram esse verdadeiro estelionato por seu valor de face, impulsionados por seus colegas que atuam no mercado financeiro. A mítica gera-da em torno da figura de Paulo Guedes recuperava um pouco a a-desão incondicional de nossa burguesia ao golpeachment contra Dilma Rousseff e o cheque em branco conferido a Michel Temer lá em 2016. Afinal, valia tudo para tirar o PT do poder e entregar o co-mando da economia para gente “técnica e competente”. E lá vi-nham Henrique Meireles e Ilan Goldfajn, a duplinha dinâmica res-pondendo pelos interesses do Bank of Boston e do Banco Itaú. Triste ilusão!

A desgraça que se abateu sobre nossa economia e nossa socieda-de nós estamos sentindo até agora. A maior recessão de nossa História entre 2015 e 2016, seguida por mais dois anos em que a economia ficou andando de lado, praticamente estagnada. Um de-semprego oficial impressionante de 13 milhões de pessoas, às quais se somam outras dezenas de milhões em situação de desa-lento ou trabalhando menos do que gostariam e em condições de intermitência ou informalidade nas relações trabalhistas.

Bolsonaro & Guedes: austeridade na veia

O início de 2019 não altera em nada o quadro. Afinal, o diagnóstico oficial equivocado continua sendo exatamente o mesmo de antes. O governo de Guedes & Bolsonaro se recusa a mexer uma palha na direção de flexibilizar as regras draconianas da Lei de Respon-sabilidade Fiscal (LRF) de 2001 e da Emenda Constitucional 95/-2016. Afinal, o rigor da austeridade fiscal é o tempero que mais de-licia os prazeres do povo do mundo do financismo. Enchem a boca para exigir sacrifícios dos outros e dos mais pobres. Os gastos or-çamentários da União nas áreas sociais e dos investimentos se-guem congelados por longos 20 anos. Os entes da federação, co-mo Estados e Municípios, estão absolutamente estrangulados em tomar iniciativas para solucionar suas dificuldades por conta das ameaças constantes na LRF. A eterna ameaça de cassação de mandatos de prefeitos e governadores por desobediência às nor-mas previstas nessa lei.

E agora o mantra da vez é a necessidade da Reforma da Previdên-cia. Uma loucura! Onze em cada dez colunistas e “especialistas” ouvidos pelos grandes meios de comunicação responsabilizam a crise geral dos nossos tempos pela não votação das mudanças nas regras previdenciárias. E tudo isso por conta de uma suposta com-pressão da capacidade de recuperação da economia provocada pelo tal do descontrole das contas públicas. Os representantes do sistema financeiro martelam que a desgraça de nossos sucessivos PIBinhos se deve à ausência de votação dessa famosa reforma. Uma enganação!

Pois bem, mas de qual crise fiscal estariam eles falando? Em pri-meiro lugar, seria bom esclarecer que, em tese, o equilíbrio entre receitas e despesas nas contas públicas de um país é sempre re-comendável. Ocorre que tudo começa de forma enviesada no de-bate proposto pelo povo que se deixa dirigir pelos interesses da banca. Afinal, todos nós estamos cansados de ouvir ad nauseam a lenga-lenga relativa ao superávit primário. E aqui começa todo o malfeito. A tal da responsabilidade fiscal tão falada e sempre invo-cada se refere apenas e tão somente aos gastos sociais – educa-ção, saneamento, previdência, pessoal, saúde, investimentos, etc. As despesas financeiras estão fora da conta e do esforço. O País

pode gastar livre e solto os valores do Orçamento da União com juros da dívida, pois isso não seria um problema de acordo com es-sa abordagem que se diz séria e competente.

Cadê o trilhão que estava aqui?

Assim, por exemplo, os R$ 380 bilhões gastos em 2018 com esse tipo de rubrica dos juros realizados pelo governo federal não inco-modam. Mas o torniquete se volta para as despesas “estruturalmente deficitárias” de um modelo de previdência que pa-ga a fortuna de um salário mensal para 99% dos aposentados do campo e para quase 65% dos que se aposentaram depois de déca-das de trabalho no ambiente urbano. Ou que dirige esse mesmo valor idosos ou pessoas deficientes cujas famílias tenham uma ren-da per capita de ¼ do salário mínimo. Esses são os critérios que norteiam a prática desse tipo de responsabilidade fiscal.

Por outro lado, a menção recorrente ao fato de que o governo não tem recursos não se sustenta em pé. Basta olhar as contas da Uni-ão junto ao Banco Central (BC). Ali estão registrados os valores lí-quidos que o Tesouro Nacional mantém junto àquele órgão. Sabe qual o valor disponível ali? O saldo positivo é superior a R$1 trilhão. Aliás, não por acaso, esse é o valor sobre o qual Guedes enche o peito orgulhoso de satisfação junto aos seus amiguinhos da confra-ria financeira. Diz ele que com a Reforma da Previdência, o gover-no faria uma economia de R$ 1 trilhão ao longo de 10 anos. E man-tém um sorriso matreiro no rosto, pois esse esforço todo recairia apenas sobre os mais pobres. Ou seja, nem uma única palavra a respeito de imposto sobre grandes fortunas, taxação de lucros e dividendos nem outras generosidades a favor do grande capital.

Qual a crise fiscal?

As contas da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) evi-denciam que existe uma dívida tributária superior a R$ 1,5 trilhão a ser cobrada, em especial junto a grandes conglomerados industri-ais e empresariais. Qual a crise fiscal? As nossas reservas interna-cionais estão próximas a 380 bilhões de dólares, podendo o gover-no lançar mão de uma pequena parcela desse total para transformá-lo em instrumentos de financiar os investimentos tão necessários. Qual a crise fiscal?

A maior parte dos países capitalistas conseguiu superar a recessão imposta pela crise econômico-financeira, que se iniciou a partir da crise de 2008/9, a partir de mudanças nesses dogmas fiscalistas que só interessam ao sistema financeiro. Isso porque ficou claro para os articuladores das políticas econômicas nos Estados Unidos e no interior da União Europeia que a manutenção dos fundamen-tos do neoliberalismo em sua forma mais extremada não tiraria os seus países da crise. Assim, houve uma espécie de relaxamento dos entendimentos contra a presença do Estado na economia e u-ma certa flexibilização a respeito do conceito de rigor fiscal.

Flexibilizar a política fiscal

Essa transformação não foi fácil nem indolor. Afinal, haviam sido décadas de defesa arraigada dos preceitos do conservadorismo da ortodoxia que tiveram de ser deixados um pouco de lado. Econo-mistas renomados, faculdades de referência e centros de pesquisa econômica de ponta, jornalistas e analistas de economia. Tudo isso passou a ser colocado em xeque a partir do momento em que a po-lítica fiscal dos EUA passou a ser expansionista – ó santa heresia! Tudo isso passou a ser reavaliado quando o governo norte-americano passou a injetar recursos que até então “não tinha” para estimular a atividade econômica e salvar grandes grupos empresa-riais em situação falimentar. Uma virada importante na pátria mãe do receituário da austeridade.

Mas como nós temos dificuldades em acompanhar algumas dessas inovações que ocorrem no âmbito das instituições que defendem a política econômica no mundo contemporâneo, ficamos para trás nesse debate. E nossas elites do financismo tupiniquim insistem no discurso que já ficou ultrapassado até mesmo no próprio centro do capitalismo atual. Essa coisa de imobilismo na economia por conta da suposta impossibilidade fiscal é um tremendo de um engodo. Essa ideia de comprimir gastos sociais e de investimento público com a enganação de que tal “gesto nobre” vai promover a retoma-da da economia não se sustenta em pé.

CONTINUA NA PÁGINA 14

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Page 13: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

A data é uma homenagem aos grandes escritores e às suas belís-simas obras, que passam por uma extensa e rica diversidade de escolas literárias, marcando cada período social e intelectual da história do Brasil. Entre as vanguardas e escolas literárias mais significativas para a literatura brasileira está o Quinhentismo, Barroco, Neoclassicismo ou Arcadismo, Romantismo, Realismo, Parnasianismo, Simbolis-mo, Pré – Modernismo, Modernismo e o Neo – Realismo.

A data celebra o direito de todos os profissionais da mídia de inves-tigar e publicar informações de forma livre. Informação é poder, e por isso a tentativa de controlar os meios de comunicação sempre existiu e se chama censura. A Censura é o contrário da Liberdade de Imprensa, e é comum nos regimes ditato-riais não democráticos. Mas a luta pela liberdade de imprensa é constante, porque mesmo nos regimes democráticos a censura po-de aparecer, de variadas maneiras. Historicamente foram cometidos muitos crimes contra a liberdade de imprensa, principalmente durante a Ditadura Militar no Brasil.

Esta data celebra a importância cultural e histórica da língua portu-guesa para toda a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) Durante esta data, os países que formam a CPLP promovem even-tos especiais na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Esta data foi criada a partir de uma resolução da XIV Reunião Ordi-nária do Conselho de Ministros da CPLP, em 20 de julho de 2009, em Cabo Verde.

Esta data visa homenagear o indivíduo responsável por ser o “porta-voz do povo”, uma figura de grande importância no âmbito popular, pois ajuda a representar as preocupações e vontades da popula-ção perante os poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciá-rio). Para que o líder comunitário desenvolva o seu trabalho correta-mente, este deve estar a par das necessidades reais da comunida-de que representa, ouvindo a todos de modo igualitário e sem pre-conceitos. O líder comunitário também deve seguir os preceitos básicos dos direitos humanos e da Constituição Federal que rege a sua locali-dade.

A Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu "adicionar" o Dia Mundial da Sociedade da Informação em 2005, a uma data come-morativa que já existia, oDia das Telecomunicações. A primeira vez que a data foi comemorada em conjunto foi em 17 de maio de 2006. No Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade da Informa-ção as Nações Unidas procuram incentivar ações que chamem a atenção das pessoas para as mudanças que acontecem com a internet e outras formas de telecomunicação. Acabar com a ex-clusão digital e e promover a segurança na internet são algumas das ideias discutidas.

De acordo com dados da Secretaria de Direitos Humanos, é assus-tador o número de casos de violência sexual contra crianças e ado-lescentes no país. Por isso, foi criada esta data com o intuito de a-judar a combater este mal que destrói a vida de milhares de jovens

todos os anos.

Como surgiu o Dia Nacional Contra o Abuso e Exploração Se-xual Infantil A escolha desta data é em memória do “Caso Araceli”, um crime que chocou o país na época. Araceli Crespo era uma menina de apenas 8 anos de idade, que foi violada e violentamente assassina-da em 18 de maio de 1973. Este crime, apesar de hediondo, ainda segue impune. Normalmente, nesta data, são realizadas diversas atividades, se-jam nas escolas e demais espaços sociais, como por exemplo pa-lestras e oficinas temáticas sobre a prevenção contra a violência sexual. O Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Cri-anças e Adolescentes é o grupo responsável por organizar e pro-mover nacionalmente esta data. No Brasil, o Disque 100 é um serviço gratuito disponibilizado pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República que registra denúncias anônimas de jovens que se sintam ameaçados ou que sofreram qualquer tipo de abuso ou exploração sexual. Abuso sexual x Exploração sexual Não apenas o abuso sexual (que normalmente acontece no seio familiar do jovem), mas também a exploração sexual é combatida nesta data. Muita gente confunde o significado do abuso sexual com a explora-ção sexual. São duas coisas diferentes. A exploração sexual con-siste em usar a criança ou o adolescente como meio de faturar di-nheiro, oferecendo o menor como “ferramenta” de satisfação sexu-al.

A data, celebrada anualmente, homenageia os profissionais res-ponsáveis por ajudar na educação, formação e aconselhamento de crianças e adolescentes. A data surge como uma oportunidade para discutir o papel da famí-lia e da escola no desenvolvimento das crianças, além de delimitar papéis de responsabilidade.

Frases e Homenagens para o Dia do Pedagogo "A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mu-

dar o mundo" (Nelson Mandela)

"Ensina a criança o caminho que deve andar e ainda quando for

velho, não se desviará dele" (Provérbios 22:6)

"Educar e educar-se, na pratica da liberdade, é tarefa daqueles que

pouco sabem, por isto sabem que sabem algo e podem assim che-

gar a saber mais, em diálogo com aqueles que, quase sempre,

pensam que nada sabem, para que estes, transformando o seu

pensar, que nada sabem em saber que nada sabem, possa igual-

mente saber mais" (Paulo Freire).

"Ser pedagogo é ter uma responsabilidade muito grande nas mãos.

Talvez até mesmo o futuro..."

O principal objetivo desta data é motivar a população a prática de atividades físicas, seja para melhorar a saúde física como também a mental. Nesta data, as comunidades de diferentes cidades do Brasil e toda a América Latina se reúnem para disputar, amistosamente, compe-tições e desafios que estimulam o corpo. A proposta é que cada pessoa faça qualquer tipo de exercício físico por pelo menos 15 minutos, fazendo desta ação um hábito diário. Origem do Dia do Desafio

Originalmente, o Dia do Desafio foi criado no começo da década de

1980, no Canadá.

Com o passar dos anos, o espírito do Dia do Desafio se consolidou

e espalhou-se por todo o mundo.

No Brasil, o Dia do Desafio foi realizado pela primeira vez em 1995

Colaboração: Callendar

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 13

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS

05 - Dia Nacional do Líder Comunitário

20 - Dia do Pedagogo

03 - Dia Internacional da Liberdade de Imprensa

17 - Dia da Sociedade da Informação

01 - Dia da Literatura Brasileira

05 - Dia da Língua Portuguesa

18 - Dia Nac. de Combate à Expl. Sexual Infantil

VISITE NOSSO SITE - Lá terá todas as datas comemorativas

30 - Dia do Desafio

Page 14: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

A velha roupa esfarrapada da “austeridade”

(continuação) A questão fiscal, como os economistas heterodoxos não nos can-samos de escrever há muito tempo, tem que ser abordada como uma equação. Existem as despesas e as receitas. Não há razão para focar e insistir apenas no corte dos gastos. Ninguém da ban-cada abre a boca para falar a respeito das alternativas de recupera-ção das fontes de receita, os tributos. Pelo contrário, não cessam de rosnar contra a suposta “carga tributária excessiva”. Mas recla-mam de boca cheia, pois os setores do topo de nossa pirâmide de desigualdade são justamente os mais beneficiados por essa estru-tura tributária regressiva. O sistema penaliza os mais pobres e i-senta os mais ricos. Qual crise fiscal? Aquela onde os que mais têm renda e patrimônio nada recolhem aos cofres públicos, mas nos momentos de crise bradam contra as “injustiças” de um siste-ma público de saúde, educação e previdência social que oferece esse tipo de serviço públicos para a maioria da população.

Recuperar o protagonismo do Estado

A recuperação da atividade só será possível se o Estado recuperar seu papel preponderante como protagonista no processo econômi-co. Isso significa que deverá ser levada a cabo uma flexibilização profunda nessa ortodoxia burra, que impede o PIB de voltar a cres-cer. O Brasil possui os meios para promover tal virada. O que se faz necessário é a vontade política de consolidar essa nova abor-dagem da questão da política econômica em geral e da política fis-cal em particular.

E para comprovar que não se trata de elucubrações malucas de alguns bolivarianos desvairados, vale recordar aqui as recentes

contribuições do economista André Lara Resende a essa discus-são. O banqueiro e tucano está promovendo uma importante auto-crítica a respeito dos equívocos cometidos ao longo das últimas dé-cadas em nome dessa visão da ortodoxia. Além de considerar erra-da a estratégia de juros estratosféricos praticados desde sempre em nome de consertar os desequilíbrios da macroeconomia, o pro-fessor e intelectual tucano agora derruba as teses da “austeridade fiscal” a qualquer custo. No resto do mundo, essa abordagem ga-nhou a alcunha chique em inglês de “modern monetary theory” – MMT. Algo equivalente a teoria monetária moderna em nossa lín-gua. Ainda vai dar muito no que falar. Aguardemos.

Para Resende, a obsessão canônica com o suposto excesso de endividamento público não se justifica. Nos momentos de crise, a sociedade espera do Estado justamente o contrário que do pro-põem Guedes e sua equipe. Trata-se daquilo que o economês cha-ma de medidas contracíclicas. O setor público precisa adotar políti-cas de estímulo à atividade econômica, por via direta ou indireta. Mas qualquer uma delas implica em aumentar os gastos no curto prazo. Desse fenômeno não há como se escapar. Se isso significa uma elevação da dívida pública num primeiro momento, mais à frente tudo voltaria a se equaciona por conta dos frutos da retoma-da do crescimento. Esse é o único caminho capaz de prover recei-tas tributárias ao Estado. O atual superministro da economia sabe muito bem disso. Mas sua competência e seriedade estão voltadas tão somente para resolver os interesses da banca e não orientadas para solucionar os verdadeiros problemas do Brasil.

O debate está lançado. Afinal, qual crise fiscal?

Autor: Paulo Kliass

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 14

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Bebês negros eram usados como iscas para caçar jacarés nos EUA

Durante a escravidão e até meados do século vinte, bebés negros foram usados como isca de jacaré no Norte e Centro da Florida nos Estados Unidos de América.

Os caçadores de jacarés roubavam os filhos quando as mães, muitas delas escravas es-tavam ocupadas com seus afazeres diários. Algumas seriam crianças de um ano de vida ou menos. Outras crianças eram roubadas à noite mediante ataques brutais contra seus pais, de seguida amarravam uma corda em volta do pescoço e ao redor de seu torso junto de uma árvore no pântano ou deixavam-nas em gaiolas como se fossem galinhas.

Como as crianças choravam e gritavam os jacarés apareciam rápido para devora-las, em questões de minutos os jacarés estavam sobre elas. O caçador que se mantinha distante não dava conta da presença do jacaré, já que a caça era realizada a noite, então somente quando o animal atacava a criança e tentava arrasta-la no pântano para devorar ou quan-do começava a come-la viva é que os caçadores conseguiam se aperceber da presença

do mesmo através dos movimentos e esticar da corda. Somente nesta altura que eles partiam em direção ao bebe e matavam o animal.

A revista Time, em 1923, relatou que os caçadores da cidade de Chipley, Flórida, praticavam tais atos, mas a cidade negou-o como “uma mentira boba, falsa e absurda.”

A prática tem sido documentada em pelo menos em três filmes: “Alligator Bait” (1900) e “O ‘Gator eo pickaninny” (1900). E a história de dois meninos negros que serviam de isca de jacaré foi contada em “Fúria Untamed” (1947).

Na verdade, o termo “isca de jacaré” era comum em todo o Sul dos estados unidos, pelo menos, da década de 1860 até ao ano de 1960 foi um insulto racial e uma ameaça que os brancos usavam para “domesticar” as crianças negras resilientes.

Mas na década de 1940 no Harlem, em New York “isca de jacaré” era aplicada aos negros de qualquer idade – particularmente aque-les que eram da Flórida.

Finalmente, em termos de iconografia, a partir de, pelo menos, a década de 1890 até os anos 1960, as crianças negras eram frequente-mente retratado como isca de jacaré nos brinquedos para as crianças brancas, saboneteiras, escovas de dentes, cinzeiros e, especial-mente, em cartões postais enviados através do correio dos EUA.

Quem quiser saber mais sobre o assunto só visitar os links abaixo:

http://www.authentichistory.com/diversity/african/3-coon/7-alligator/

http://www.urbandictionary.com/define.php?term=Alligator+Bait

http://www.authentichistory.com/diversity/african/3-coon/7-alligator/

Por: Simone Guimarães

Três filmes “Alligator Bait” (1900) e “O ‘Gator eo pickaninny” (1900) e “Fúria Untamed” (1947) retratam histórias de bebês negros foram usados como isca de jacaré no Norte e Centro da Florida nos Estados Unidos de América.

PARA NÃO ESQUCERMOS!

Page 15: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 15

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

POR UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA

PARA O SÉCULO XXI.

Segunda-feira de manhã, o celular desperta, acordamos sempre sobressaltados. Engoli-mos o café sem que nem ao menos houves-se tido tempo para sentir o gosto, enchemos o carro ou a mochila de bugigangas e livros, encaramos o trânsito e finalmente adentra-mos à escola. Após vencermos os primeiros obstáculos da semana, ouvimos a cirene, adentramos à sala de aula, nos deparamos com 30, 40 ou 50 alunos e a difícil tarefa de entretê-los por mais uma semana. Ensina-mos português, matemática, história ou geo-grafia. E parece que algo ficou faltando.

Você já parou para observar como tudo pa-rece prender a atenção deles mais do que as nossas aulas? Os burburinhos dos cole-gas, a movimentação nos corredores, o ba-rulho na sala ao lado, as voltas do ventila-dor, o desejo insaciável de sair da sala todo o tempo parecem ser mais interessantes do que nós. Aos trancos e barrancos consegui-mos fazer o nosso trabalho, isso quando conseguimos. Ao término do dia só resta, além do anseio pela sexta-feira, o sentimen-to de frustração.

Tão desafiador quanto dominar o conteúdo, é entrar em uma sala de aula e despertar o interesse deles para aquilo que queremos abordar. Se pararmos para observar as TICs, aumenta ainda mais o sentimento de impotência. Como competir com os smartfo-nes e tablets? A era digital proporcionou o acesso em tempo real, e com apenas um único clique, a toda uma gama de conteúdo e informações que nós jamais teremos con-dições de oferecer. Em outras palavras, o meu aluno não precisa mais de mim para conhecer as causas que levaram ao fim da Monarquia no Brasil, basta apenas pesqui-sar no Google. Você conseguiu perceber o tamanho da encrenca?

O modelo de educação, como está posto, não desperta o interesse dos jovens porque este nos torna em meros reprodutores de conteúdo que está acessível a eles de forma muito mais atrativa, gratuitamente, a qual-quer momento, em qualquer lugar, de forma ilimitada. Ou seja, a nossa aula, na mentali-dade deles, perde o significado e se torna sem sentido, pois o sistema não atende às aspirações destes adolescentes e jovens.

Mas não quero, pelo menos desta vez, en-trar no mérito das políticas públicas. Quero trazer uma abordagem pragmática refletindo como nós, enquanto educadores, podemos rever as nossas práticas em torno de uma educação significativa, crítica e libertadora. Todos nós sabemos dos problemas estrutu-rais que corroem a educação a décadas, po-rém, não podemos tão somente cruzar os braços e esperar as coisas acontecerem. Nós, dentro de nosso habitat que é a sala de aula, podemos nos apropriar dos poucos re-cursos que temos, planejar e executar, de fato, um trabalho mais eficiente e que a lon-go prazo resultará em melhores resultados.

Para tanto, precisamos refletir sobre um questionamento: Qual é o nosso papel en-quanto educador? Já vimos anteriormente que o novo mundo em que vivemos no sé-culo XXI e as suas transformações exigem mais do que um mero reprodutor de conteú-do. Precisamos compreender o mundo que está a nossa volta e as necessidades do sé-culo presente a fim de desenvolvermos um modelo de ensino que prepare os nossos alunos para os desafios desta era.

Nas décadas anteriores, novos caminhos e novos horizontes foram redesenhados por meio de fóruns mundiais e discussões com especialistas da área da educação, em torno da seguinte questão: Quais rumos a educa-ção deverá tomar no século XXI?

A Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI da UNESCO emitiu um relatório editado em forma de livro: “Educação: Um tesouro a descobrir” em que abordou quatro pilares fundamentais à edu-cação para a nossa era. Esta abordagem reflete sobre aprendizagens direcionadas para a aquisição de instrumentos de com-preensão, raciocínio e execução. Ou seja, a prática pedagógica deve prever uma forma-ção contínua em que estes pilares serão de-senvolvidos.

Não obstante, o Fórum Mundial de Educa-ção, realizado no ano de 2015, pela UNES-CO, em Incheon, celebrou uma nova agen-da internacional para a educação. Dentre as cinco pautas discutidas, vale destacar o di-reito à educação, a educação de qualidade e a educação contínua. Resultado deste e-vento foi a Declaração de Incheon, um com-promisso internacional pautado no 4º ítem dos Objetivos de Desenvolvimento Susten-tável.

A defesa de uma educação que vá além do ler, escrever e fazer cálculos; a defesa de uma educação inclusiva, equitativa, que for-me no individuo a cidadania de global; a de-fesa de uma educação que construa indiví-duos para o século XXI foi a bandeira de Ban Ki-Moon, o então Secretário-Geral da ONU.

Ao longo das duas últimas décadas, a forma como se ensinava e a forma como se avalia-va sofreu profundas transformações com a substituição dos conteúdos tradicionais pelo desenvolvimento de habilidades e compe-tências fundamentais na preparação do alu-no para enfrentar os problemas do mundo atual.

Afinal, como bem pontuou Paulo Freire: “Ensinar, não é transferir conhecimento,

mas criar as possibilidades para a sua pró-

pria produção ou a sua construção”.

O dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, define como competência “a qualidade de

quem é capaz de apreciar e resolver certo

assunto, fazer determinada coisa, capacida-

de, habilidade, aptidão, idoneidade”.

Atualmente, muito se discute sobre as com-petências socioemocionais. São elas em

conjunto com a neurociência que fundamen-tam a famigerada Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Considera-se que elas são fundamentais para reconectar o indiví-duo com o mundo onde ele vive, desenvol-vendo nele atitudes e práticas que o permita controlar suas emoções, alcançar seus obje-tivos, demonstrar empatia, construir rela-ções sociais saudáveis, tomar decisões de maneira responsável, analisar o mundo a partir do senso crítico, entre outros.

Todas essas discussões nos comprovam que o mundo mudou, a sociedade mudou e a educação necessita acompanhar esta mu-dança. Nossas práticas não podem ficar es-tagnadas no saudosismo. Repensar em um processo de ensino-aprendizagem significa-tivo demonstra uma preocupação com aque-le que sempre foi o objetivo máximo da edu-cação: fazer dela, um processo de formação integral do indivíduo.

Esses novos rumos para a educação do sé-culo XXI não implicarão em abandonar as competências cognitivas com as quais já tra-balhávamos, até mesmo porque elas estão correlacionadas às competências socioemo-cionais. Implica simplesmente em compre-endermos que o nosso papel enquanto edu-cador vai além do conteúdo. Somos media-dores entre o aluno e a aprendizagem.

Você há de convir que a sociedade atual e-xige mais do que um indivíduo que conheça sobre as regras gramaticais, a rosa dos ven-tos e as capitanias hereditárias. Certamente, eu posso te afirmar que não é este o grande desafio. O mundo do século XXI exige indi-víduos dotados de senso crítico e que inte-raja com as demandas políticas, econômi-cas e sociais. O mundo do século XXI exige pessoas esclarecidas, amadurecidas e soli-dárias; pessoas que saibam trabalhar em equipe, que desenvolvam diálogo, que sai-bam lidar com situações-problemas, que pensem coletivamente. A sociedade neces-sita de indivíduos produtivos, que transfor-mem o meio em que estão inseridos e cabe nós, educadores, prepará-los para isso.

Em suma, é preciso mudar o nosso olhar sobre o papel da educação. Precisamos a-dotar práticas que tornem o aluno em prota-gonista do processo de ensino-aprendizagem. Precisamos pensar em aulas que desenvolvam competências socioemo-cionais, que levem o aluno à pesquisa, à discussão, à reflexão e à práxis. É necessá-rio cada um de nós, pensarmos dentro de nossas áreas de conhecimento, em como podemos planejar aulas que articulem o conteúdo e o currículo aos saberes neces-sários para formar um aluno que seja um cidadão do século XXI. Desta forma, não apenas obteremos novos resultados para a educação, como também formaremos uma nova geração de indivíduos que irão impac-tar o ambiente em que vivem.

Por: Fábio Luiz de Souza

P

Page 16: 138 - MAIO - 2019 · A importância de comemorar esse dia salienta a necessidade de incentivar a con-vivência com o que é produzido nacionalmente, nos coloca a par de nossos autores

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A escravidão no mundo contemporâneo “Ninguém será mantido em escravidão ou

servidão, a escravidão e o tráfico de escra-vos serão proibidos em todas as suas for-

mas.”

Artigo IV da DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Proclamada pela da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro

de 1948

De acordo com a lei a escravidão não existe mais. O último país a abolir a escravidão foi a Mauretânia em 1981. Porém a escravidão continua em muitos países, pois as leis não são aplicadas. Elas fo-ram somente feitas pela pressão de outros países e da ONU, mas não representam a vontade do governo do respectivo país. Hoje em dia tem pelo menos 27 milhões escravos no mundo.

Quando falamos de trabalho escravo, a imagem que temos é de uma lembrança do passado, restrita aos livros de História. Infeliz-mente isso não é verdade. A escravidão permanece até os dias de hoje, não apenas nos países pobres como nos desenvolvidos. Pro-duto da desigualdade e da impunidade, ela é uma grave doença social. Em sua forma contemporânea apresenta-se nas mais diver-sas formas: da prostituição infantil ao tráfico de órgãos, do tráfico internacional de mulheres à exploração de imigrantes ilegais e à servidão por dívida.

A legislação moderna proíbe a escravidão, mas isso não tem impe-dido que pessoas inescrupulosas se beneficiem do trabalho de pessoas cativas. Nenhuma região do planeta está livre desse flage-lo.

O número de trabalhadores escravizados no Brasil varia de 25 mil, segundo cálculo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) a 40 mil, pe-la estimativa da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agri-cultura(Contag). Pecuária e desmatamento respondem por três quartos da incidência de trabalho escravo. Atividades agrícolas, de extração de madeira e produção de carvão também registram mui-tos casos.

Em março de 2003 foi lançado no Brasil o Plano Nacional para Er-radicação do Trabalho Escravo que constituiu uma comissão nacio-nal para colocá-lo em execução. O plano reúne 76 medidas de combate à prática. Entre elas, projetos de lei para confiscar terras em que for encontrado trabalho escravo, suspender o crédito de fazendeiros escravocratas e transferir para a esfera federal os cri-mes contra os direitos humanos.

Nos países árabes e em outros países muçulmanos existem tam-bém escravos tradicionais. A caça de escravos negros, visando a captura de moças e crianças bonitas para serem escravas domésti-cas ou ajudantes para vários trabalhos, existe principalmente no Sudão. Na escravatura branca (tráfico humano para a prostituição forçada) se encontram presas milhões de moças, principalmente de países pobres como Ucrânia, Moldávia, Rússia, África, Índia e paí-ses, que a prostituição tem tradicionalmente muito peso, como a Tailândia e as Filipinas. As meninas são aliciadas com falsas pro-messas, vendidas e tem que prostituir-se até a dívida (o preço pelo compra e adicionais) é paga. Muitas vezes a mulher escravizada é vendida a seguir e tudo começa de novo. Um círculo vicioso sem conseguir escapar.

Infelizmente, nessas estatísticas não são contadas milhões de mu-lheres e meninas, que pela tradição ou até as leis em muitos países muçulmanos e outras regiões são consideradas propriedade de seus maridos ou pais.

É difícil saber quantos africanos foram trazidos para o Brasil ao lon-go de três séculos de tráfico negreiro.

Muitos registros que poderiam tornar os dados mais precisos foram perdidos ou destruídos. As estimativas indicam que entre 3.300.000 e oito milhões de pessoas desembarcaram nos portos brasileiros para serem vendidas como escravas, de meados do século XVI até 1850, quando o tráfico foi efetivamente abolido pela Lei Eusébio de Queiroz.

As quatro principais rotas dos navios negreiros que ligaram o conti-nente africano ao Brasil foram as da Guiné, Mina, Angola e Moçam-

bique. Elas concentravam o comércio de seres humanos que, na maioria dos casos, eram aprisionados em guerras feitas por chefes tribais, reis ou sobas africanos para esse fim. Os traficantes, princi-palmente portugueses, mas também de outras nações europeias e posteriormente brasileiros, obtinham os prisioneiros em troca de armas de fogo, tecidos, espelhos, utensílios de vidro, de ferro, taba-co e aguardente, entre outros. Os navios, dependendo do tipo, tra-ziam de 300 a 600 cativos por vez. Entre 10% e 20% deles morriam na viagem.

Rota da Guiné No século XVI, a Alta Guiné foi o principal núcleo de obtenção de africanos para serem escravizados pelos traficantes portugueses. De Cabo Verde, saíam navios com cativos vindos principalmente da região onde hoje se situam Guiné-Bissau, Senegal, Mauritânia, Gâmbia, Serra Leoa, Libéria e Costa do Marfim. Essa área era ha-bitada por diferentes povos, entre os quais os balantas, fulas, man-dingas, manjacos, diolas, uolofes e sereres.

O destino desses prisioneiros, no Brasil, eram as regiões Nordeste e Norte. Mas a Rota da Guiné teve menor impacto sobre a forma-ção da população brasileira do que as outras rotas, pois a necessi-dade de mão-de-obra nas Américas ainda era pequena no primeiro século da colonização.

Rota da Mina A fortaleza de São Jorge da Mina foi erguida pelos portugueses por volta de 1482 na costa da atual Gana, para proteger o comércio de ouro na região. Embora tomada pelos holandeses em 1632, ela se tornaria, ainda no século XVII, um importante entreposto do tráfico de africanos escravizados para o Brasil e outros países.

Os africanos embarcados na Mina (ou Elmina) e nos outros portos do Golfo da Guiné eram principalmente dos grupos axanti, fanti, io-rubá, hauçá, ibô, fon, ewe-fon, bariba e adjá. Além de Gana, eles eram trazidos dos atuais territórios de Burkina Faso, Benim, Togo, Nigéria, sul do Níger, Chad, norte do Congo e norte do Gabão, para atender à crescente demanda por mão-de-obra ocasionada pelo desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar no Brasil e no Cari-be. Os portos brasileiros, do Maranhão ao Rio de Janeiro, com des-taque para Salvador, foram abastecidos por essa rota até a primei-ra metade do século XIX.

Rota de Angola Essa rota forneceu cerca de 40% dos 10 milhões de africanos trazi-dos para as Américas. No caso do Brasil, os navios que partiam da costa dos atuais territórios do Congo e de Angola se destinavam principalmente aos portos de Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Os povos da África Central Atlântica, como os ovimbundos, bacongos, ambundos e muxicongos, pertenciam ao chamado grupo linguístico banto, que reúne cerca de 450 línguas.

O tráfico dessa região para o Brasil começou ainda no século XVI. Foi inicialmente marcado pela aliança entre os portugueses e o rei-no do Congo. Mas, para escapar do monopólio do rei congolês no fornecimento de africanos escravizados, Portugal passou a concen-trar esforços na região mais ao sul, onde hoje se situa Angola. De lá, veio a maior parte dos africanos que entraram no Brasil, princi-palmente pelo Rio de Janeiro, no período colonial.

Rota de Moçambique No início do século XIX, a Inglaterra passou a pressionar Portugal no sentido de acabar com o tráfico negreiro, o que resultou nos tra-tados de 1810 entre os dois países. Para escapar ao controle britâ-nico na maior parte do Atlântico, muitos traficantes se voltaram pa-ra uma rota até então pouco explorada, que partia da África Orien-tal. Os navios saíam principalmente dos portos de Lourenço Mar-ques (atual Maputo), Inhambane e Quelimane, em Moçambique, e se dirigiam ao Rio de Janeiro.

Africanos embarcados nesses portos pertenciam a uma diversidade de povos, entre os quais os macuas, swazis, macondes e ngunis, e ganhavam no Brasil a designação geral de "moçambiques". Entre 18% a 27% da população africana no Rio do século XIX era de mo-çambiques. No entanto, nem todos vinham da colônia portuguesa e, sim, de regiões vizinhas – onde hoje estão Quênia, Tanzânia, Malauí, Zâmbia, Zimbábue, África do Sul e Madagascar. O grupo linguístico majoritário era o banto.

Da redação

Maio de 2019 ÚLTIMA PÁGINA