13º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Janeiro 2013

Boletim Informativo

Selecção de Notícias publicadas entre Janeiro de 2012

e Dezembro de 2012.

Foram monitorizados 10 jornais de referência: 3 de

âmbito regional (Campeão das Províncias, Diário As

Beiras e Diário de Coimbra) e 7 de âmbito nacional

(Diário de Notícias, Jornal I, Jornal de Notícias, O

Expresso, O Público, Primeiro de Janeiro e Sol).

Nesta edição:

1. Editorial,

2. Definição de Ciganofobia

3 - 7. Notícias e análise

10. Pela Positiva, Sugestões de Leitura, Na Internet,

Créditos

IN OTHER WORDS é um projecto financiado com o apoio da Comissão Europeia. A informação contida nesta publicação (comunicação)

vincula exclusivamente o autor, não sendo a Comissão responsável pela utilização que dela possa ser feita.

POR OUTRAS PALAVRAS

Boletim Informativo Temático

CIGANOFOBIA N.º 13, Janeiro 2013

POR OUTRAS PALAVRAS?

No decorrer de um ano de monitorização e de análise de notícias da

imprensa escrita em Portugal foram analisadas 8 notícias sobre questões

relacionadas com a ciganofobia. Este boletim informativo vai ao encontro

dessas mesmas notícias, acabando por marcar os seus pontos essenciais.

Começamos por apresentar a definição de Anti-Ciganismo ou Ciganofo-

bia, proposta por Thomas Hammerberg (Comissário para os Direitos

Humanos do Conselho da Europa). De seguida, destacamos cinco linhas

de análise que espelham as representações mediáticas na imprensa

escrita monitorizada, sobre as comunidades ciganas e que se argumenta

contribuírem activamente para a perpetuação de uma narrativa racista.

Por fim, salienta-se que também há notícias (ainda que insuficientes)

que contribuem para uma abertura de pensamento e de debate sobre as

comunidades ciganas, através do reconhecimento da existência de discri-

minação face estas populações e pela visibilização - ainda que fugaz - da

luta contra a ciganofobia, em Portugal e na Europa.

N.º 13, Janeiro 2013 Página 2

“O Anti-Ciganismo [Ciganofobia] é um termo que

define a expressão de um conjunto de enviesa-

mentos, preconceitos e estereótipos que funda-

mentam o comportamento de muitos membros do

grupo maioritário face às comunidades Ciganas/

Roma e Viajantes, profundamente enraizado na

Europa. É comum que muitos Europeus que nunca interagiram com Ciganos/Roma ou

Viajantes tracem um conjunto de descrições estereotipadas sobre os mesmos, relaciona-

das com o seu comportamento e aparência, baseados num conjunto de asserções prove-

nientes do senso comum.

A proliferação de estereótipos anti-ciganos, em toda a Europa – tais como a ideia de que

os Ciganos/Roma ou Viajantes são excessivamente dependentes do estado social, ou que

são os perpetradores de um conjunto de crimes – colocam obstáculos significativos na

superação de atitudes negativas em relação aos mesmos. Neste sentido, o comissário

[Thomas Hammerberg] sublinhou, repetidas vezes, que o anti-ciganismo é um obstáculo à

inclusão dos Ciganos/Roma na sociedade e que, por este motivo, o esforço central na pro-

moção da sua integração deve consistir numa acção resoluta contra esta discriminação

(...). Assim, os esforços feitos para a inclusão dos Ciganos/Roma e Viajantes devem tam-

bém ser acompanhados por medidas de erradicação do anti-ciganismo no seio da socieda-

de (...).

O Anti-Ciganismo reflecte-se no uso de retóricas estigmatizantes no espaço público,

designadamente, no discurso político e mediático. A internet, por sua vez, é utilizada tan-

to como plataforma de divulgação do anti-ciganismo como para a organização de grupos

que o promovem. A ausência generalizada de conhecimento sobre a história e a cultura

cigana – tanto na população em geral, como a nível político – inclusivamente, a ausência

de reconhecimento que os Ciganos/Roma foram vítimas de genocídio durante a segunda

guerra mundial tem vindo a contribuir ainda mais para a proliferação da Ciganofobia na

Europa”.

Thomas Hammerberg (Comissário para os Direitos Humanos do Conselho da Europa),

Direitos Humanos dos Ciganos/Roma e Viajantes na Europa (2012)

definição de ciganofobia


No decorrer da análise efectuada pela Unidade Local de Imprensa (ULAI)

foram constituídas um conjunto de linhas de análise que espelham as represen-

tações mediáticas dominantes na imprensa escrita, no que toca às comunidades

ciganas. A partir desta análise, argumenta-se que, em geral, os media contri-

buem activamente para a perpetuação de uma narrativa racista, no que respei-

ta às comunidades ciganas, uma vez que:

a) o factor etnia é sistematicamente mencionado sempre que se trata de uma minoria

caso a notícia esteja, de alguma forma, relacionada com criminalidade. Quando a etnia

não é referida, recorre-se a outro tipo de marcadores distintivos, tais como, a referência a

espaços que se encontram ampla e socialmente etnicizados (e.g. ideia de ‘acampamento’,

‘parques nómadas’). Argumenta-se que este tipo de discurso contribui para a reiteração

de uma gramática racista e ciganófoba, designadamente, através de uma maior ênfase

nas ‘características’ do sujeito do que nos acontecimentos. A menção sistemática da etnia

contribui para a (re)construção da ideia de que existem diferenças incomensuráveis entre

‘uns’ e ‘outros’;

notícias e análise

in Diário de Coimbra, 02/06/2012

Página 4 POR OUTRAS PALAVRAS



in Expresso, 23/10/2012

in Diário das Beiras, 08/03/2012

in Diário de Notícias, 23/04/2012



in Jornal de Notícias, 06/04/2012


in Diário de Notícias, 12/04/2012


b) a diferença é fixada de forma determinista, através do recurso a um conjunto de disposi-

tivos linguísticos e metafóricos fundados em preceitos biológicos ,que procuram fixar gene-

ticamente a diferença. Estes discursos criam por um lado, a ideia de que é urgente que o

‘outro’ mude e, por outro a ideia de impossibilidade de mudança. A utilização deste tipo de

léxico encerra um paradigma de pensamento assente na ideia obsoleta de ‘raça’ e na exis-

tência de diferenças raciais;





c) as notícias recorrem, muitas vezes, a um género literário, ficcional e policial, através da

utilização de um conjunto de dispositivos linguísticos, que contribuem para traçar um

determinado plano de leitura dos eventos;





d) alguns artigos concorrem para a ideia de que há um perigo iminente – uma ameaça ao

‘corpo da nação’ – através da criação da ideia de ‘redes criminosas’, nacionais e internacio-

nais. Isto acontece sob a esteira de uma ligação mediática entre comunidades ciganas e cri-

minalidade, o que contribui activamente para a (re)produção da ciganofobia, em Portugal;



in Expresso, 23/10/2012


e) os media contribuem para a naturalização da exclusão e da desigualdade social através

do silenciamento da discriminação institucional e historicamente perpetrada contra as

comunidades ciganas. Em particular, quando são redigidas notícias que procuram reportar

a relação entre estas populações ciganas e o Estado, recorre-se à utilização de um tom cari-

tativo. Os media retratam a actuação do Governo como voluntarista e piedosa, como se este

excedesse as suas obrigações na ajuda àqueles/as que precisam. É necessário esclarecer que

a actuação governamental não repressiva face às comunidades ciganas é escassa e quando

acontece é, maioritariamente, fruto de um conjunto de pressões de organizações e institui-

ções de defesa dos direitos humanos, face às constituições nacionais e a acordos internacio-

nais de respeito pela dignidade humana e não-discriminação, pela liberdade e mobilidade;



in Público, 23/08/2012


Entre um conjunto de notícias, foram seleccionadas algumas que se acredita con-

tribuírem para uma abertura de pensamento e de debate sobre as comunidades

ciganas, em Portugal e na Europa, através do:

a) reconhecimento da existência de discriminação face às populações ciganas e visibilização

- ainda que fugaz - da luta contra a ciganofobia em Portugal e na Europa. Embora, geral-

mente, estas notícias revelem pouca investigação jornalística sobre o tema o que, em con-

junto com as representações dominantes, impede o estabelecimento de um debate sobre a

historicidade e a contemporaneidade da ciganofobia, perante os discursos que imperam nos

media, entende-se que estas podem produzir dissonâncias interessantes, na narrativa

hegemónica.

pela positiva

in Público, 25/10/2012 in Diário de Coimbra, 30/05/2012 in Público, 14/09/2012

sugestões de leitura

- Araújo, Marta; Maeso, Sílvia (2011), “‘Civilising’ the Roma/Gypsies. Public policies, employability and the depoliticisation of (anti-)

racism in Portugal”, Centro de Estudos Sociais, Novembro. Disponível em < http://www.ces.uc.pt/projectos/ tolerace/media/Working%

20paper%203/Civilisingacute%20the%20RomaGypsies.%20Public%20policies%20employability%20and%20the%20depoliticisation%20of%

20%28anti-%29racism%20in%20Portug al.pdf > (Consultado a: 7 Janeiro 2013).

- Bastos, José Gabriel P. (org.)(2012), Portugueses Ciganos e Ciganofobia em Portugal, Lisboa: Edições Colibri.

- Gonçalves, Bruno (2011), “A História do Ciganinho Chico”, Coimbra: Centro de Estudos Ciganos.

- SOS Racismo (org.) (2001), Ciganos: números, abordagens e realidades, Lisboa: SOS Racismo.

na internet

créditos Edição: IEBA Centro de Iniciativas Empresariais e Sociais, Janeiro 2013

Revisão: ULAI Unidade Local de Análise de Imprensa - APPACDM Coimbra, APAV, GRAAL, NÂO TE PRIVES, SOS RACISMO

Contactos: IEBA Parque Industrial Manuel Lourenço Ferreira, Lote 12 - Apartado 38, 3450-232 Mortágua, [email protected]

Visite o website do projecto IN OTHER WORDS em: http://www.inotherwords-project.eu/

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Conheça a política e actividades da Comissão Europeia na área da Justiça em: http://ec.europa.eu/justice/index_en.htm

http://www.ces.uc.pt/

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