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 1  2013.2 Profº: Geraldo Gomes FITOPATOLOGIA

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    2013.2

    Prof: Geraldo Gomes

    FITOPATOLOGIA

  • Fitopatologia www.ifcursos.com.br Geraldo Gomes Rocha

    CONCEITO E HISTRIA DA FITOPATOLOGIA

    1. CONCEITO

    Fitopatologia uma palavra de origem grega (phyton = planta, pathos = doena e logos =

    estudo), podendo ser definida como a cincia que estuda:

    Os organismos e as condies ambientais que causam doenas em plantas;

    Os mecanismos pelos quais esses fatores produzem doenas em plantas;

    A interao entre agentes causando doenas e a planta doente;

    Os mtodos de preveno ou controle de doenas, visando diminuir os danos causadas por

    estas.

    Portanto, Fitopatologia a cincia que estuda as doenas de plantas, abrangendo todos os seus

    aspectos, desde a diagnose, sintomatologia, etiologia, epidemiologia, at o seu controle. No inicio, a

    Fitopatologia era uma cincia ligada diretamente Botnica, tornando-se uma disciplina autnoma

    somente no sculo passado. Embora autnoma, a Fitopatologia usa os conhecimentos bsicos e

    tcnicas de Botnica, Microbiologia, Micologia, Bacteriologia, Virologia, Nematologia, Anatomia Vegetal,

    Fisiologia Vegetal, Ecologia, Bioqumica, Gentica, Biologia Molecular, Engenharia Gentica, Horticultura,

    Solos, Qumica, Fsica, Meteorologia, Estatstica e vrios outros ramos da cincia.

    2. HISTORIA DA FITOPATOLOGIA

    A historia da Fitopatologia pode ser dividida em cinco fases ou perodos: Perodo Mstico, Perodo

    da Predisposio, Perodo Etiolgico, Perodo Ecolgico e Perodo Fisiolgico.

    CONCEITO E IMPORTNCIA DAS DOENAS DE PLANTAS

    1. CONCEITO DE DOENA

    A doena o tema central da Fitopatologia. Desde os trabalhos de De Bary, em 1853, quando se

    comprovou a natureza parasitria das doenas de plantas, estabelecendo a Fitopatologia como cincia,

    muitas definies e conceitos foram propostos para doenas de plantas. Ao tentar definir doena, os

    fitopatologistas esbarram em algumas dificuldades, entre elas como estabelecer os limites entre o que

    normal ou sadio e o que anormal ou doente; como separar doena de uma simples injria fsica ou

    qumica; como separar doena de praga ou de outros fatores que afetam negativamente o

    desenvolvimento das plantas; como aceitar que fatores do ambiente, como falta dgua, possam causar

    doena. Estas questes levam-nos a entender a doena como um fenmeno de natureza complexa, que

    no tem uma definio precisa. Algumas definies clssicas, encontradas na literatura, servem para

    ilustrar a impreciso do conceito de doena de planta, entre as quais destacamos:

    Khn (1858): As doenas de plantas devem ser atribudas a mudanas anormais nos seus processos

    fisiolgicos, decorrentes de distrbios na atividade normal de seus rgos.

    Whetzel (1935): Doena em planta consiste de uma atividade fisiolgica injuriosa, causada pela

    irritao contnua por fator causal primrio, exibida atravs de atividade celular anormal e expressa

    atravs de condies patolgicas caractersticas, chamadas sintomas.

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    Horsfall & Diamond (1959): Doena no uma condio (...). Condio um complexo de sintomas

    (...). Doena no o patgeno (...). Doena no o mesmo que injria (...). Doena resulta de

    irritao contnua e injria de irritao momentnea

    (...). Doena um processo de mal funcionamento que resulta em algum sofrimento para a planta.

    Agrios (1988): Doena o mal funcionamento de clulas e tecidos do hospedeiro que resulta da sua

    contnua irritao por um agente patognico ou fator ambiental e que conduz ao desenvolvimento de

    sintomas. Doena uma condio envolvendo mudanas anormais na forma, fisiologia, integridade

    ou comportamento da planta. Tais mudanas podem resultar em dano parcial ou morte da planta ou

    de suas partes

    Figura 1. Diagrama esquemtico de formas e tamanhos de certos patgenos de plantas em relao

    ao tamanho da clula vegetal [adaptado de Agrios (1997)].

    Dentre as causas de natureza no infecciosa destacam-se as condies desfavorveis do ambiente

    (temperatura excessivamente baixa ou alta, deficincia ou excesso de umidade, deficincia ou excesso de

    luz, deficincia de oxignio, poluio.

    CLASSIFICAO DE DOENAS DE PLANTAS

    1. INTRODUO

    Doena resultante da interao entre hospedeiro, agente causal e ambiente. Diversos critrios,

    baseados no hospedeiro e/ou no agente causal, tm sido usados para classificar doenas de plantas.

    Quando o hospedeiro tomado como referncia, a classificao rene as doenas que ocorrem numa

    determinada espcie botnica. Desta forma tem-se, por exemplo, as doenas do feijoeiro, do

    tomateiro, da cana-de-acar, etc. Esse tipo de classificao tem um carter eminentemente prtico,

    pois de interesse dos tcnicos envolvidos com cada cultura especfica. Outra possibilidade, ainda ligada

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    ao hospedeiro, classificar doenas de acordo com a parte ou idade da planta atacada. Assim, as

    doenas podem ser agrupadas, por exemplo, em doenas de raiz, de colo, de parte area, etc.

    A classificao de doenas tomando por base a natureza dos patgenos define os grupos de doenas

    causadas por fungos, por bactrias, por vrus, etc. Este sistema de classificao tem como ponto

    desfavorvel agregar, num mesmo grupo, patgenos que, apesar da proximidade taxonmica, atuam de

    forma diferente em relao planta. Como evidncia, pode-se mencionar o contraste entre uma bactria

    que provoca murcha (Ralstonia solanacearum, por exemplo), cujo controle estaria mais prximo de uma

    murcha causada por fungo (Fusarium oxysporum, por exemplo), e outra bactria que causa podrido em

    rgos de armazenamento (Erwinia carotovora, por exemplo). Esta ltima teria, do ponto de vista do

    controle, maior similaridade com um fungo causador de podrido, como Rhizopus, por exemplo. O

    processo doena envolve alteraes na fisiologia do hospedeiro. Com base neste aspecto, George L.

    McNew, em 1960, props uma classificao para as doenas de plantas baseada nos processos

    fisiolgicos vitais da planta interferidos pelos patgenos. Os processos fisiolgicos vitais de uma planta,

    em ordem cronolgica, podem ser resumidos nos seguintes:

    I - Acmulo de nutrientes em rgos de armazenamento para o desenvolvimento de tecidos

    embrionrios.

    II - Desenvolvimento de tecidos jovens s custas dos nutrientes armazenados.

    III - Absoro de gua e elementos minerais a partir de um substrato.

    IV - Transporte de gua e elementos minerais atravs do sistema vascular.

    V - Fotossntese.

    VI - Utilizao, pela planta, das substncias elaboradas atravs da fotossntese.

    Assim, de acordo com McNew, o desenvolvimento de uma planta a partir de uma semente contida

    num fruto envolveria vrias etapas seqenciais, como o apodrecimento do fruto para a liberao da

    semente; o desenvolvimento dos tecidos embrionrios da semente a partir das reservas da mesma; a

    formao dos tecidos jovens, como radcula e caulculo, ainda a partir das reservas nutricionais da

    semente; a absoro de gua e minerais pelas razes; o transporte de gua e nutrientes minerais

    atravs dos vasos condutores; o desenvolvimento das folhas, que passam a realizar fotossntese,

    tornando a planta independente das reservas da semente; o desenvolvimento completo da planta,

    tanto vegetativa como reprodutivamente, graas aos materiais sintetizados por ela.

    Considerando que estes processos vitais podem sofrer interferncias provocadas por diferentes

    patgenos, McNew props grupos de doenas correspondentes:

    Grupo I - Doenas que destroem os rgos de armazenamento

    Grupo II - Doenas que causam danos em plntulas

    Grupo III - Doenas que danificam as razes

    Grupo IV - Doenas que atacam o sistema vascular

    Grupo V - Doenas que interferem com a fotossntese

    Grupo VI - Doenas que alteram o aproveitamento das substncias fotossintetizadas

    Esta classificao conveniente pois, apesar de diferentes patgenos atuarem sobre um mesmo processo

    vital, o modo de ao dos mesmos em relao ao hospedeiro envolve procedimentos semelhantes

    (Tabela 1). Assim, diversos fungos e diversas bactrias podem causar leses em folhas; a doena

    provocada por estes patgenos, porm, interfere no mesmo processo fisiolgico vital, ou seja, a

    fotossntese. Em adio, doenas pertencentes a um mesmo grupo apresentam caractersticas

    semelhantes quanto s diversas fases do ciclo de relaes patgeno-hospedeiro, no raro apresentando

    idnticas medidas para seu controle.

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    Tabela 1. Grupos de doenas segundo a classificao de McNew, baseada no processo fisiolgico interferido pelo

    patgeno.

    - Hemileia

    vastatrix - Rotao de

    cultura ______

    Tabela 1. Continuao.

    Grupo Processo Interferido Doenas/Sintomas Patgeno Controle

    6 Utilizao das substncias elaboradas

    a) Carves Parasitas obrigados

    - Ustilago scitaminea.

    - Ustilago maydis

    - Entyloma spp.

    b) Galhas Parasitas obrigados e facultativos

    - Plasmodiophora brassicae

    - Agrobaterium tumefaciens

    Grupo Processo Interferido Doenas/Sintomas Patgeno C

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    Armazenamento de nutrientes

    Doenas ps-colheita, podrides moles ou secas em sementes, frutos, etc.

    Parasitas facultativos ou acidentais

    - Rhizopus spp. - Penicillium spp. - Erwinia spp.

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    2 Formao de tecidos jovens Damping-off ou tombamento de plntulas

    Parasitas facultativos

    - Pythium spp. - Rhizoctonia solani - Phytophthora spp.

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    3 Absoro de gua e nutrientes Podrides de razes e do colo Parasitas facultativos

    - Fusarium solani - Sclerotium rolfsii - Thielaviopsis basicola

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    4 Transporte de gua e nutrientes Murchas vasculares com sintomas externos e internos

    Parasitas facultativos

    - Fusarium oxysporum - Verticillium albo-atrum - Ralstonia solanacearum

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    5 Fotossntese a) Manchas e crestamentos Parasitas facultativos

    - Alternaria spp. - Cercospora spp. - Colletotrichum

    gloeosporioides - Xanthomonas spp.

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    b) Mldios Parasitas obrigados

    - Plasmopara viticola - Bremia lactucae - Pseudoperonospora

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    c) Odios Parasitas obrigados

    - Oidium spp.

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    d) Ferrugens Parasitas obrigados

    - Puccinia spp. - Uromyces spp.

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    - Meloidogyne spp.

    c) Viroses Parasitas obrigados

    - Tobacco mosaic virus TMV

    - Cucumber mosaic virus - CMV

    - Rotao de cultura

    - Cultivares resistentes

    - Tratamento de sementes

    - Medidas de sanitizao

    - Cultivares resistentes

    - Rotao de cultura

    - Medidas de sanitizao

    - Tratamento do solo

    - Controle biolgico

    - Cultivares resistentes

    - Controle de vetores

    - Eliminao de hospedeiros alternativos

    - Amarelos Fitoplasmoses Espiroplasmoses

    Parasitas obrigados

    - Fitoplasmas

    - Spiroplasma citri

    - Cultivares resistentes

    - Controle de vetores

    - Eliminao de hospedeiros alternativos

    - Uso de tetraciclin

    Finalmente, este sistema de classificao permite, tambm, uma ordenao dos agentes causais de

    doena segundo os graus de agressividade, parasitismo e especificidade (Fig. 1). Assim, de um modo

    geral, medida que se caminha do grupo I para o grupo VI, constata-se menor grau de agressividade

    no patgeno, maior grau de evoluo no parasitismo e maior especificidade do patgeno em relao

    ao hospedeiro. Em relao agressividade, os patgenos dos grupos I e II apresentam alta capacidade

    destrutiva, pois em curto espao de tempo provocam a morte do rgo ou da planta atacada; so

    organismos saprofticos que, atravs de toxinas, levam, antes, o tecido morte para, depois, coloniz-

    lo. Quanto evoluo do parasitismo, os patgenos encontrados nos grupos V e VI so considerados

    mais evoludos, pois convivem com o hospedeiro, no provocando sua rpida destruio; ao invs de

    toxinas, estes patgenos, geralmente, produzem estruturas especializadas em retirar nutrientes

    diretamente da clula sem, no entanto, provocar sua morte imediata. A especificidade dos patgenos em

    relao ao hospedeiro tambm aumenta do grupo I para o VI. Nos primeiros grupos comum a

    ocorrncia de patgenos capazes de atacar indistintamente uma grama de diferentes hospedeiros; por

    outro lado, nos ltimos grupos esto presentes patgenos que causam doena apenas em determinadas

    espcies vegetais. A ocorrncia de raas patognicas, com especificidade a nvel de cultivar, so de

    comum ocorrncia nesses grupos superiores.

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    1. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

    BALMER, E.; GALLI, F. Classificao das doenas segundo a interferncia em processos fisiolgicos da

    planta. In: GALLI, F. (Ed.). Manual de fitopatologia: Principios e conceitos. 2. ed. So Paulo:

    Agronmica Ceres, 1978. v.1, p.261-288.

    BEDENDO, I.P. Classificao de doenas. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.).

    Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1,

    p.805-809.

    BEDENDO, I.P. Podrides de rgos de reserva. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L.

    (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1,

    p.810-819.

    BEDENDO, I.P. Damping off. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual

    de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.820-

    828.

    BEDENDO, I.P. Podrides de raiz e colo. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manua

    de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.829-837.

    BEDENDO, I.P. Doenas vasculares. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.).

    Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1,

    p.838-847.

    BEDENDO, I.P. Manchas foliares. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual

    de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.849-

    858.

    BEDENDO, I.P. Mldios. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de

    fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.859-865.

    BEDENDO, I.P. Odios. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de

    fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.866-871.

    BEDENDO, I.P. Ferrugens. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de

    fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.872-880.

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    SINTOMATOLOGIA DE DOENAS DE PLANTAS

    1. CONCEITOS

    Sintomatologia a parte da Fitopatologia que estuda os sintomas e sinais, visando a diagnose de

    doenas de plantas. Sintoma qualquer manifestao das reaes da planta a um agente nocivo,

    enquanto sinais so estruturas do patgeno quando exteriorizadas no tecido doente. A seqncia

    completa dos sintomas que ocorrem durante o desenvolvimento de uma doena constitui o quadro

    sintomatolgico. Na maioria dos casos, estuda-se a sintomatologia de uma maneira objetiva

    considerando-se apenas os sintomas perceptveis pela viso, tato, olfato e paladar, visto que a finalidade

    da sintomatologia se restringe rpida diagnose da doena. A resposta de um vegetal ao ataque de um

    patgeno varivel e muitas vezes semelhante a reaes provocadas por outros agentes no

    infecciosos. Este fato faz com que a diagnose de uma doena infecciosa seja uma tarefa rdua,

    requerendo um conhecimento bastante slido das interferncias que uma planta ou populao de

    plantas pode estar sujeita em um determinado ambiente.

    2. CLASSIFICAO DOS SINTOMAS

    Os sintomas de doenas de plantas podem ser classificados de acordo com vrios critrios.

    Entretanto, qualquer que seja o critrio, ele sempre arbitrrio, no sendo possvel separar

    completamente os sintomas em classes ou grupos definidos, pois no existem sintomas isolados, uma

    vez que so resultantes de alteraes fisiolgicas ao nvel de clulas e tecidos, estando todos

    interligados dentro do quadro sintomatolgico. Contudo, como a sintomatologia visa a diagnose da

    doena, para facilitar essa atividade os sintomas so padronizados e agrupados.

    Os sintomas podem ser classificados conforme a localizao em relao ao patgeno, as alteraes

    produzidas no hospedeiro e a estrutura e/ou processos afetados. Conforme a localizao dos sintomas

    em relao ao patgeno, podem ser separados em sintomas primrios, resultantes da ao direta do

    patgeno sobre os tecidos do rgo afetado (Ex.: manchas foliares e podrides de frutos), e

    sintomas secundrios ou reflexos, exibidos pela planta em rgos distantes do local de ao do

    patgeno (Ex.: subdesenvolvimento da planta e murchas vasculares). A doena pode provocar

    alteraes no hbito de crescimento da planta, como superbrotamento, nanismo, esverdeamento das

    flores e escurecimento dos vasos, sendo denominados sintomas habituais. Em outros casos, os sintomas

    caracterizam-se por leses na planta ou em um de seus rgos, como manchas necrticas, podrides e

    secas de ponteiro, sendo denominados sintomas lesionais. Um dos critrios mais utilizados na

    classificao de sintomas se baseia nas alteraes da estrutura e/ou de processos do hospedeiro,

    podendo ser separados em sintomas histolgicos, sintomas fisiolgicos e sintomas morfolgicos.

    2.1. Sintomas Histolgicos

    Quando as alteraes ocorrem a nvel celular, incluindo:

    Granulose: produo de partculas granulares ou cristalinas em clulas degenerescentes do

    citoplasma. Ex.: melanose em folhas e frutas ctricas, causada por Diaporthe citri.

    Plasmlise: perda de turgescncia das clulas, cujo protoplasma perde gua devido aos distrbios na

    membrana citoplasmtica. Ex.: podrides moles de rgos de reserva causadas por Erwinia spp.

    Vacuolose: formao anormal dos vacolos no protoplasma das clulas, levando

    degenerao.

    2.2. Sintomas Fisiolgicos

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    Quando as alteraes ocorrem na fisiologia do hospedeiro, incluindo:

    Utilizao direta de nutrientes do patgeno: todos os patgenos, por serem heterotrficos, so

    incapazes de sintetizar seu prprio alimento, necessitando de carbohidratos e protenas do

    hospedeiro para seu desenvolvimento. Ex.: Em centeio, a produo de gros inversamente

    proporcional produo de esclercios de Claviceps purpurea, agente do esporo.

    Aumento na respirao do hospedeiro: todo o processo infeccioso nos tecidos do hospedeiro gera na rea

    lesionada um aumento na taxa de respirao das clulas atacadas e adjacentes. Ex.: plantas de trigo

    atacadas por Ustilago tritici, agente do carvo, apresentam um aumento de 20% na taxa de respirao

    em relao a plantas sadias . Alterao na transpirao do hospedeiro: conforme o estdio de

    colonizao pelo patgeno, o hospedeiro pode apresentar aumento ou reduo na taxa de transpirao.

    Ex.: plantas de bananeira e tomateiro, quando infectadas por Fusarium oxysporum, agente de murchas

    vasculares, exibem nos primeiros dias do ataque um aumento na taxa de transpirao e, mais tarde,

    quando a murcha est avanada, ocorre uma baixa taxa de respirao e inibio do sistema de

    transpirao.

    Interferncia nos processos de sntese: a interferncia pode se processar diretamente, como na

    maior parte das doenas foliares, em que ocorre a destruio da superfcie da folha pela ao direta do

    patgeno, ou indiretamente, uma vez que os processos so sempre acompanhados de interferncia nas

    vias metablicas do hospedeiro. Essas interferncias podem se manifestar como distrbios que

    resultam do acmulo ou falta de hidrato de carbono, aminocidos, sais minerais, hormnios, enzimas

    ou at mesmo no balano energtico da planta. Ex.: em tomateiro atacado por Ralstonia solanacearum,

    ocorre a descolorao vascular (resultado do acmulo de melanina) e a produo de razes adventcias

    (excessiva produo de auxinas sob o estmulo da bactria).

    2.3. Sintomas Morfolgicos

    Quando as alteraes exteriorizam-se ao nvel de rgo, com modificaes visveis na forma ou na

    anatomia. Dependendo do tipo de modificao exibida pelo rgo afetado, os sintomas morfolgicos

    podem ser qualificados como necrticos ou plsticos.

    2.3.1. Sintomas Necrticos

    Necroses so caracterizadas pela degenerao do protoplasma, seguida de morte de clulas,

    tecidos e rgos. Sintomas necrticos presentes antes da morte do protoplasma so chamados

    plesionecrticos, enquanto so denominados holonecrticos aqueles expressos aps a morte do

    protoplasma.

    a) Sintomas Plesionecrticos

    Caracterizam-se pela degenerao protoplasmtica e desorganizao funcional das clulas, sendo

    mais freqentes:

    Amarelecimento: causado pela destruio da clorofila (destruio do pigmento ou dos

    cloroplastos), sendo mais freqente nas folhas e com intensidade variando desde leve descoramento do

    verde normal at amarelo brilhante. Ex.: halo amarelado ao redor de manchas causadas por

    Cercospora spp.

    Encharcamento: tambm conhecido por "anasarca", a condio translcida do tecido

    encharcado devido expulso de gua das clulas para os espaos intercelulares. a primeira

    manifestao de muitas doenas com sintomas necrticos, principalmente daquelas causadas por

    bactrias.

    Murcha: estado flcido das folhas ou brotos devido falta de gua, geralmente causada por

    distrbios nos tecidos vasculares e/ou radiculares. As clulas das folhas e de outros rgos areos

    perdem a turgescncia, resultando em definhamento do tecido ou rgo. A murcha pode ser

    permanente, resultando na morte dos rgos afetados, ou temporria, com plantas murchas nos

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    perodos quentes do dia, mas recuperando a turgidez durante a noite. Ex.: murchas causadas por

    patgenos vasculares, como Fusarium e Ralstonia solanacearum (Fig. 1).

    b) Sintomas Holonecrticos

    Podem se desenvolver em qualquer parte da planta doente e so caractersticos da morte das

    clulas, provocando mudanas de colorao do rgo afetado. Dentre os sintomas holonecrticos

    mais comuns podem ser citados:

    Cancro: caracterizado por leses necrticas deprimidas, mais freqentes nos tecidos corticais de

    caules, razes e tubrculos. Eventualmente este tipo de sintoma observado em folhas e frutos. Ex.:

    cancro em folhas e frutos de plantas ctricas, causado por Xanthomonas campestris pv. citri (Fig.1).

    Crestamento: tambm denominado "requeima", refere-se necrose repentina de rgos areos

    (folhas, flores e brotaes). Ex.: crestamento das folhas do tomateiro, causado por Phytophthora

    infestans (Fig.1).

    Tombamento: tambm denominado "damping- off", caracteriza-se pelo tombamento de plntulas,

    resultado da podrido de tecidos tenros da base do caulculo. Se a podrido ocorrer antes da

    emergncia da planta, caracterizando uma reduo no estande de semeadura, denominado

    "tombamento de pr-emergncia", enquanto se ocorre aps a emergncia da planta denominado

    "tombamento de ps-emergncia". Ex.: tombamentos causados por fitopatgenos habitantes do solo,

    como Rhizoctonia solani e Pythium spp.

    Escaldadura: caracterizado pelo descoramento da epiderme e de tecidos adjacentes em rgos

    areos, parecendo que este foi escaldado por gua fervente. Ex.: escaldadura da folha da cana-de-

    acar, causado por Xanthomonas albilineans.

    Estria: leso alongada, estreita, paralela nervura das folhas de gramneas. Ex: folhas de cana-de-

    acar com estria vermelha

    Pseudomonas rubrilinean

    Gomose: exsudao de goma a partir de leses provocadas por patgenos que colonizam o crtex

    ou o lenho de espcies frutferas. Ex.: frutos de abacaxi com gomose, causada por Fusarium

    subglutinans.

    Mancha: morte de tecidos foliares, que se tornam secos e pardos. A forma das manchas foliares

    varia com o tipo de patgeno envolvido, podendo ser circular, com pronunciadas zonas concntricas (Ex.:

    mancha de Alternaria em tomateiro), angular, delimitada pelos feixes vasculares (Ex.: mancha angular do

    feijoeiro, causada por Phaeoisariopsis griseola) ou irregular (Ex.: helmintosporiose do milho, causada

    por Exserohilum turcicum). Embora manchas sejam mais comuns em folhas, podem estar presentes em

    flores, frutos, vagens ou ramos (Fig. 1).

    Morte dos ponteiros: morte progressiva de ponteiros e ramos jovens de rvores. Ex: morte

    descendente da mangueira, causada por Lasiodiplodia theobromae (Fig. 1).

    Mumificao: aparece nas fases finais de certas doenas de frutos, caracterizando-se pelo

    secamento rpido de frutos apodrecidos, com conseqente enrugamento e escurecimento, formando

    uma massa dura, conhecida como mmia. Ex.: podrido parada do pessegueiro, causada por Monilinia

    fructicola.

    Perfurao: queda de tecidos necrosados em folhas, provocada pela formao de uma camada

    de abciso ao redor dos sintomas. Ex: folha de pessegueiro com chumbinho, causado por Stigmina

    carpophila.

    Podrido: aparece quando o tecido necrosado encontra-se em fase adiantada de desintegrao.

    Dependendo do aspecto da podrido, pode-se especificar o sintoma como podrido mole, podrido

    dura, podrido negra, podrido branca, etc. (Fig. 1).

    Pstula: caracterizado por pequena mancha necrtica, com elevao da epiderme, que se rompe por

    fora da produo e exposio de esporos do fungo. Ex: ferrugens em vrios hospedeiros.

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    Resinose: exsudao anormal de resina das leses em conferas.

    Seca: secamento e morte de rgos da planta, diferenciando-se do crestamento por se processar

    mais lentamente. Alguma vezes pode atingir toda a parte area da planta. Ex.: seca da mangueira,

    causada por Ceratocystis fimbriata.

    2.3.1. Sintomas Plsticos

    Anomalias no crescimento, multiplicao ou diferenciao de clulas vegetais geralmente levam a

    distores nos rgos da planta. Essas anomalias so conhecidas como sintomas plsticos.

    Quando as plantas apresentam subdesenvolvimento devido reduo ou supresso na multiplicao ou

    crescimento das clulas, os sintomas so denominados hipoplsticos. Nos casos em que ocorre

    superdesenvolvimento, normalmente decorrente de hipertrofia (aumento do volume das clulas) e/ou

    hiperplasia (multiplicao exagerada das clulas), os sintomas so denominados hiperplsticos.

    a) Sintomas Hipoplsticos

    Sintomas hipoplsticos mais comuns em doenas de plantas so:

    Albinismo: falta congnita da produo de clorofila, apresentando-se, geralmente, como

    variegaes brancas nas folhas, mas podendo, em certos casos, tomar todo o rgo. Ex.: folha de cana-

    de-acar com escaldadura, causada por Xanthomonas campestris pv. albilineans .

    Clorose: esmaecimento do verde em rgos clorofilados, decorrente da falta de clorofila.

    Diferencia-se do albinismo pelos rgos no ficarem totalmente brancos.

    Estiolamento: sintoma complexo, que embora seja classificado como hipoplstico pela falta de

    produo de clorofila, envolve hiperplasia das clulas, com alongamento do caule.

    Enfezamento: tambm conhecido por "nanismo", refere-se reduo no tamanho da planta toda

    ou de seus rgos. Ex.: plantas de milho com nanismo, causado pelo vrus do nanismo do milho.

    Mosaico: em reas clorticas aparecem intercaladas com reas sadias (verde mais escuro) nos

    rgos aclorofilados. Sintoma tpico de algumas viroses. Ex.: plantas de cana-de-acar com mosaico,

    causado pelo vrus do mosaico da cana-de-acar.

    Roseta: caracteriza-se pelo encurtamento dos entrens, brotos ou ramos, resultando no

    agrupamento de folhas em rosetas. Ex.: plantas de abacaxi infectadas por Fusarium subglutinans.

    b) Sintomas Hiperplsticos

    Os sintomas hiperplsticos mais freqentes em doenas de plantas so:

    Bolhosidade: caracteriza-se pelo aparecimento, no limbo foliar, de salincias de aparncia bolhosa.

    Ex.: bolhosidade causada pelo vrus do mosaico severo em folhas de caupi.

    Bronzeamento: mudana de cor da epiderme, que fica com cor de cobre (bronzeada) devido ao

    de patgenos. Ex.: plantas de tomateiro infectadas pelo vrus do vira-cabea, no estdio inicial da

    doena.

    Calo cicatricial: caracteriza-se pela hiperplasia de clulas da planta em torno de uma leso.

    Constitui a reao da planta na tentativa de

    cicatrizar o ferimento.

    Enao: desenvolvimento de protuberncias, similares a folhas rudimentares, sobre as nervuras da

    folha, decorrente da infeco por alguns vrus.

    Encarquilhamento: tambm conhecido como "encrespamento", representa uma deformao de

    rgos da planta, resultado do crestamento (hiperplasia ou hipertrofia) exagerado de clulas,

    localizado em apenas uma parte do tecido. Ex.: folhas de pessegueiro com crespeira, causada por

    Taphrina deformans.

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    Enao: desenvolvimento de protuberncias, similares a folhas rudimentares, sobre as nervuras da

    folha, decorrente da infeco por alguns vrus.

    Encarquilhamento: tambm conhecido como "encrespamento", representa uma deformao de

    rgos da planta, resultado do crestamento (hiperplasia ou hipertrofia) exagerado de clulas,

    localizado em apenas uma parte do tecido. Ex.: folhas de pessegueiro com crespeira, causada por

    Taphrina deformans.

    Epinastia: curvatura da folha ou do ramo para baixo, devido rpida expanso da superfcie

    superior desses rgos.

    Fasciao: estado achatado, muito ramificado e unido de rgos da planta.

    Galha: desenvolvimento anormal de tecidos de plantas resultante da hipertrofia e/ou hiperplasia de

    suas clulas. Ex.: galhas nas razes de vrios hospedeiros causadas por Meloidogyne spp. e galha em

    rosceas, causada por Agrobacterium tumefaciens (Fig. 1).

    Intumescncia: tambm conhecido como tumefao, consiste em pequena inchao ou erupo

    epidrmica resultante da hipertrofia pronunciada das clulas epidermais ou subepidermais, devido ao

    acmulo excessivo de gua, goma sob a epiderme ou outras causas. Ex.: em batata com canela preta,

    causada por Erwinia spp., ocorre o intumescimento das gemas axiais com a formao de tubrculos

    areos no caule.

    Superbrotamento: ramificao excessiva do caule, ramos ou brotaes florais. Algumas vezes, os

    rgos afetados adquirem formato semelhante ao de uma vassoura, sendo ento denominado

    "vassoura-de-bruxa". Ex.: plantas de cacaueiro com vassoura-de-bruxa, causada por Crinipellis

    perniciosa.

    Verrugose (sarna): crescimento excessivo de tecidos epidrmicos e corticais, geralmente modificados

    pela ruptura e suberificao das paredes celulares. Caracteriza-se por leses salientes e speras em

    frutos, tubrculos e folhas. Ex.: verrugose em frutos ctricos, causada por Elsinoe spp.)

    Virescncia: formao de clorofila nos tecidos ou rgos normalmente aclorofilados. Ex.: tubrculos

    de batata armazenados com presena de luz.

    A importncia relativa de cada sintoma pode variar, dependendo da sua durao e intensidade, bem

    como do hbito ou forma de vida da planta afetada (Fig. 1).

    1. SINAIS

    Sinais so estruturas ou produtos do patgeno, geralmente associados leso. Alm de estruturas

    patognicas (clulas bacterianas, miclio, esporos e corpos de frutificao fngicos, ovos de

    nematides, etc.), exsudaes ou cheiros provenientes das leses podem ser considerados como sinais.

    Em geral, os sinais ocorrem num estdio mais avanado do processo infeccioso da planta. Como

    exemplos, podem ser lembradas as frutificaes de alguns fungos, como esclercios de Sclerotium rolfsii

    em feijoeiro, picndios de Lasiodiplodia theobromae em frutos de manga, peritcios de Giberella em

    trigo, apotcios de Sclerotinia em soja, miclio branco de Oidium em caupi, massa de uredosporos ou

    teliosporos produzidas em pstulas por fungos causadores de ferrugens em diversas plantas. Em

    algumas doenas, como os carves, os sinais confundem-se com os sintomas. Exsudaes viscosas

    compostas de clulas bacterianas liberados de rgos atacados constituem importantes sinais para a

    diagnose, como ocorre com talos de tomateiro infectados por Ralstonia solanacearum quando

    submetidos a condies de alta umidade. Como exemplo de odor que constitui sinal de doena pode-se

    citar o mau cheiro emanado do colmo de cana-de-acar atacado por Pseudomonas rubrilineans.

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    2. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

    AGRIOS, G.N. Introduction. In: AGRIOS, G.N. Plant pathology. 4th ed. San Diego: Academic Press, 1997.

    p.3-41.

    KENAGA, C.B. Plant disease concept, definitions, symptoms and classification. In: KENAGA, C.B.

    Principles of phytopathology. 2nd ed. Lafayette: Balt, 1974. p.12-31.

    LUCAS, J.A. The diseased plant. In: LUCAS, J.A. Plant pathology and plant pathogens. 3. ed. London:

    Blackwell Science, 1998. p.5-19.

    ROBERTS, D.A.; BOOTHROYD, C.W. Morphological symptoms of disease in plants. In: ROBERTS, D.A.;

    BOOTHROYD, C.W. Fundamentals of plant pathology. 2nd ed. New York: W.H. Freeman, 1984. p.28-42.

    SALGADO, C.L.; AMORIM, L. Sintomatologia. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L.

    (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1,

    p.212-223.

    PONTE, J.J. Sintomatologia. In: PONTE, J.J. Fitopatologia: princpios e aplicaes. 2. ed. So Paulo:

    Nobel, 1986. p.49-6

    Figura 1. Representao esquemtica das funes bsicas da planta e sintomas causados por alguns tipos

    de doenas [adaptado de Agrios (1997).

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    FUNGOS COMO AGENTES DE DOENAS DE PLANTAS

    1. INTRODUO

    Fungos so organismos eucariontes, aclorofilados, heterotrficos, que se reproduzem sexuada e

    assexuadamente e cujas estruturas somticas so geralmente filamentosas e ramificadas, com parede

    celular contendo celulose ou quitina, ou ambos. Os fungos obtm o alimento seja como saprfitas,

    organismos que vivem sobre a matria orgnica morta, ou como parasitas, que se nutrem da matria

    viva. Em ambos os casos, as substncias nutritivas so ingeridas por absoro aps terem sido

    parcialmente digeridas por meio de enzimas.

    A maioria dos fungos constituda de espcies saprfitas que desempenham a importante funo

    de decomposio na biosfera, degradando produtos orgnicos e devolvendo carbono, nitrognio e outros

    componentes ao solo, tornando assim disponveis s plantas. Cerca de 100 espcies de fungos

    produzem doenas no homem e quase o mesmo nmero em animais, a maioria das quais so

    enfermidades superficiais da pele ou de seus apndices. No entanto, mais de 8.000 espcies de fungos

    causam doenas em plantas, sendo que todas as plantas so atacadas por algum tipo de fungo, e cada

    um dos fungos parasitas atacam a um ou mais tipos de plantas.

    CRESCIMENTO DOS FUNGOS

    O crescimento dos fungos constitudo das fases vegetativa e reprodutiva.

    2.1. Fase Vegetativa

    Os fungos, em sua maioria, so constitudos de filamentos microscpicos com parede celular bem

    definida, chamados hifas. A clula fngica constituda pelos principais componentes encontrados nos

    organismos eucariotos. A parede celular composta principalmente por polissacardios, pequena

    quantidade de lipdios e ons orgnicos. A membrana plasmtica composta por fosfolipdios e

    esfingolipdios, protenas, alm de pequenas quantidades de carboidratos. O citoplasma apresenta

    solutos dissolvidos, no qual esto imersas organelas membranosas, como mitocndrias, complexo de

    Golgi e microcorpos, assim como estruturas no membranosas, como ribossomos, microtubos e

    microfilamentos. A clula fngica apresenta ncleos dotados de uma membrana nuclear ou carioteca

    (Fig. 1).

    Figura 1. Representao esquemtica de hifas fngicas e seus principais componentes. A = estrutura

    de uma hifa jovem; B = estrutura de uma hifa madura; m = membrana; v = vacolo; gl = globos

    lipides; n = ncleo; c = citoplasma; mi = mitocondria; s = septo; t = trabcula [adaptado de Silveira

    (1968)]. Dependendo da classe a que pertence o fungo, a hifa pode ser contnua ou apresentar

    paredes transversais que a dividem, denominadas septos, sendo portanto chamada de hifa septada.

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    Esta possui um poro em cada septo para passagem do lquido protoplasmtico. A hifa sem septo

    chamada asseptada, contnua ou cenoctica, porque os ncleos distribuem-se num protoplasma comum

    (Fig. 2).

    Figura 2. Tipos de hifas: (A) cenoctica; (B) septada.

    Os fungos, por serem aclorofilados, no podem utilizar energia solar para sintetizar seu prprio

    alimento. A substncia de onde os fungos retiram os nutrientes de que necessitam chama-se substrato,

    o qual pode ser o hmus do solo, restos de cultura, plantas vivas, etc. As hifas ramificam- se em todas as

    direes no substrato, formando o miclio.

    As hifas ou miclio, quanto ao nmero de ncleos, podem ser uninucleadas, binucleadas e

    multinucleadas. A extremidade da hifa a regio de crescimento. O protoplasma na extremidade da

    hifa sintetiza um grande nmero de enzimas e cidos orgnicos que so difundidos no substrato. As

    enzimas e cidos quebram a celulose, amido, acares, protenas, gorduras e outros constituintes do

    substrato, que so utilizados como alimentos e energia para o crescimento do fungo.

    O crescimento do miclio de um fungo parasita pode ser externo ou interno em relao ao

    tecido hospedeiro. O miclio externo ocorre como um denso emaranhado na superfcie de folhas, caules

    ou frutos, que no penetra na epiderme dos rgos e nutre-se atravs de exsudatos (acares) da

    planta. O miclio interno pode ser subepidrmico, quando desenvolve entre a cutcula e as clulas

    epidermais; intercelular, quando penetra no hospedeiro e localiza-se nos espaos intercelulares, sem

    penetrar nas clulas, sendo os nutrientes absorvidos atravs de rgos especiais chamados haustrios

    (estruturas constitudas de clulas da hifa) ou diretamente por difuso atravs da parede celular; ou

    intracelular, quando penetra dentro da clula hospedeira, absorvendo os nutrientes diretamente. Existem

    espcies que tem capacidade de penetrar diretamente pela superfcie intacta do hospedeiro. Estas

    espcies apresentam rgos especiais, chamados apressrios, que se fixam na superfcie do hospedeiro e

    no ponto de contato ocorre a dissoluo do tecido formando um pequeno orifcio (microscpico) (Fig. 3).

    No processo de desenvolvimento os fungos formam estruturas vegetativas que funcionam como

    estruturas de resistncia, tais como:

    Rizomorfas: estruturas macroscpicas formadas por hifas entrelaadas no sentido longitudinal, com

    crescimento semelhante a uma raiz.

    Esclercios: estruturas macroscpicas formados pelo enovelamento de hifas com endurecimento do

    crtex.

    Clamidosporos: estruturas microscpicas, formadas pela diferenciao de clulas da hifa, com a

    formao de uma parede espessa.

    Todas essas estruturas permanecem em repouso quando as condies so desfavorveis, entrando em

    atividade em condies favorveis.

    2.2. Fase Reprodutiva

    Os esporos so as estruturas reprodutivas dos fungos, constituindo a unidade propagativa da

    espcie, cuja funo semelhante a de uma semente, mas difere desta pois no contm um embrio

    pr-formado. Os esporos so produzidos em ramificaes especializadas ou tecidos do talo ou hifa

    chamados esporforos. Estes, por sua vez, recebem denominaes de acordo com a classe do

    organismo. Como exemplo temos: conidiforo nos Deuteromicetos e esporangiforo nos Oomicetos. O

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    corpo de frutificao de um fungo, como peritcios, apotcios e picndios, do proteo e apoio s

    clulas esporgenas, as quais podem ser agregadas em camadas dentro da cavidade do corpo de

    frutificao ou em camadas na epiderme do hospedeiro (Ex.: acrvulos). Nos Ascomicetos as clulas

    esporgenas compreendem as ascas, enquanto nos Basidiomicetos as basdias.

    Os esporos so comumente unicelulares, mas em muitas espcies podem ser divididos por

    septos, formando clulas. Os esporos podem ser mveis (zoosporos) ou imveis, de paredes espessas

    ou finas, hialinas ou coloridas, com parede celular lisa ou ornamentada, as vezes com apndice

    filiforme simples ou ramificado. Em muitas espcies de fungos, a colorao e o nmero de septos dos

    esporos variam com a idade. Alguns tipos de esporos e estruturas de frutificao dos principais grupos de

    fungos fitopatognicos esto representados na Fig. 3.

    Figura 3. Esporos representativos e estruturas de frutificao dos principais grupos de fungos

    fitopatognicos [adaptado de Agrios (1997)].

    Os esporos podem ser assexuais e sexuais. A fase associada com os esporos assexuais e miclio

    estril conhecida como estgio ou fase imperfeita do fungo, enquanto aquela associada com a

    produo de zigoto e chamada estgio ou fase perfeita. Os esporos assexuais so representados por

    zoosporos, conidiosporos, uredosporos e outros, formados pelas transformaes do sistema vegetativo

    sem haver fuso de ncleos. Os esporos sexuais so resultantes da unio de ncleos compatveis,

    seguido de meiose e mitose. Os rgos sexuais do fungo so chamados de gametngios. O gametngio

    feminino denominado oognio ou ascognio, enquanto o gametngio masculino denominado

    anterdio (Fig. 4). As clulas sexuais ou ncleos que se fundem na reproduo sexual so chamados

    gametas.

    Figura 4. Exemplo de estruturas envolvidas na reproduo sexual de fungos [segundo Krugner &

    Bacchi (1995)].

    Algumas espcies de fungos produzem os gametngios no mesmo talo e so ditos homotlicos

    (hermafroditas). Outras formam talos com sexos agregados e so chamados heterotlicos (diicos), isto ,

    os sexos so agregados em dois indivduos diferentes, no podendo cada talo, ou seja, cada indivduo,

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    reproduzir-se sexualmente sem o concurso de outro. A maioria dos fungos eucrpico, ou seja, apenas

    parte do talo transforma-se na estrutura reprodutiva. Nos fungos mais inferiores, em algumas espcies,

    todo talo transforma-se na estrutura reprodutiva, sendo chamadas holocrpicas. Os fungos podem

    apresentar reproduo assexuada, sexuada e tambm um mecanismo de recombinao gnica,

    denominado parassexualidade.

    Reproduo assexuada: muito comum nos fungos, pode ocorrer pela fragmentao do miclio

    (cada fragmento origina novo organismo) ou pela produo de esporos assexuais. Neste tipo de

    reproduo no ocorre fuso de ncleos, somente ocorrendo mitoses sucessivas.

    Reproduo sexuada: ocorre entre dois esporos mveis ou no, em que trs processos se

    sucedem:

    a) Plasmogamia: fuso dos protoplasmas, resultante da anastomose de duas clulas.

    b) Cariogamia: fuso de dois ncleos haplides (N) e compatveis, formando um ncleo diplide

    (2N).

    c) Meiose: onde o ncleo diplide (2N) sofre uma diviso reducional para formar dois ncleos

    haplides (N), seguindo-se a mitose, embora em alguns casos esta preceda a meiose. O

    ncleo haplide forma. Ento uma parede que o protege, recebendo o nome de esporo.

    d) Ento uma parede que o protege, recebendo o nome de esporo.

    Parassexualidade: ocorrncia de plasmogamia entre duas hifas geneticamente diferentes,

    formando um heterocarion, ou seja, presena de dois ncleos geneticamente diferentes na

    mesma clula. Esta situao de heterocariose termina quando ocorre a unio destes ncleos

    originando uma clula ou hifa diplide, a qual se perpetua por mitose.

    Os vrios processos podem ocorrer simultaneamente no mesmo talo, sem obedecer uma

    seqncia regular ou em estgios especficos. O ciclo parassexual pode ou no ser acompanhado de

    um ciclo sexual. A parassexualidade constitui um importante mecanismo de variao gentica para

    aqueles fungos que no apresentam reproduo sexual ou a apresentam raramente.

    Embora os ciclos de vida dos fungos dos distintos grupos variem amplamente, a grande maioria

    passa por uma srie de etapas que so bastante similares (Fig. 5). Assim, a maioria dos fungos

    tem um estdio de esporo que contm um ncleo haplide, que possui uma srie de cromossomos

    ou 1N. Os esporos, ao germinar, produzem uma hifa que tambm contm ncleos haplides. A hifa

    produz novamente esporos haplides (como sempre ocorre com Deuteromicetos) ou pode fundir-se

    com uma hifa para produzir uma hifa fecunda em que os ncleos se fundem para formar um ncleo

    diplide, denominado zigoto, que contm duas sries de cromossomos ou 2N. Nos Oomicetos, o

    zigoto se divide e produz esporos haplides, que concluem o ciclo. Em uma fase breve do ciclo de vida

    da maioria dos Ascomicetos e em todos os Basidiomicetos, o par de ncleos da hifa fecundada no se

    une, mantendo-se separados dentro da clula (condio dicaritica ou N+N), dividindo-se

    simultaneamente para produzir mais clulas hifas que contm pares de ncleos.

    Nos ascomicetos, as hifas dicariticas se localizam isoladas no interior de corpos de frutificao, onde

    originam hifas ascgenas, desde que os ncleos da clula da hifa se una para formar um zigoto (com um

    nmero diplide de cromossomos), o qual se divide meiticamente para produzir ascosporos que

    contm ncleos haplides.

    Nos Basidiomicetos, esporos haplides produzem somente pequenas hifas haplides. Quando estas so

    fecundadas, um miclio dicaritico (N+N) produzido e desenvolve-se para constituir a estrutura

    somtica do fungo. Essas hifas dicariticas podem produzir, por via assexual, esporos dicariticos que

    desenvolvem novamente em um miclio dicaritico. Entretanto, em qualquer dos casos, os ncleos

    pareados das clulas se unem e formam zigotos, dividindo-se meiticamente para produzir basidiosporos,

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    que contm ncleos haplides. Nos Deuteromicetos, encontrado somente o ciclo assexual, com a

    seguinte seqncia: esporo haplide miclio haplide esporo haplide. O ciclo assexual o mais

    comum entre os fungos, pois pode ser repetido vrias vezes durante a estao de crescimento, enquanto

    o ciclo sexual ocorre somente uma vez por ano.

    Figura 5. Representao esquemtica dos ciclos de vida dos principais grupos de fungos

    fitopatognicos [adaptado de Agrios (1997)].

    2. ECOLOGIA

    A maioria dos fungos fitopatognicos passa parte de seu ciclo de vida nas plantas que lhe servem de

    hospedeiro, e outra parte no solo ou em restos vegetais depositados sobre este substrato. Alguns

    fungos passam todo o seu ciclo de vida sobre o hospedeiro e somente seus esporos se depositam no

    solo, onde permanecem em dormncia at que sejam levados a um hospedeiro no qual germinam e se

    reproduzem. Outros fungos devem passar parte de seu ciclo de vida como parasitas de seu hospedeiro e

    parte como saprfitas sobre os tecidos mortos depositados no solo.

    No entanto, este ltimo grupo de fungos se mantm em estreita associao com os tecidos do

    hospedeiro, no se desenvolvendo em qualquer outro tipo de matria orgnica. Um terceiro grupo de

    fungos vive como parasitas de seus hospedeiros, porm continuam vivendo, desenvolvendo-se e

    reproduzindo-se sobre os tecidos mortos deste hospedeiro, inclusive podem abandonar esses tecidos e

    depositarem-se no solo ou em outros orgos vegetais em processo de decomposio, nos quais se

    desenvolvem e reproduzem como saprfitas estritos. indispensvel que os orgos vegetais mortos nos

    quais se desenvolvam esses fungos no pertenam ao hospedeiro que tenham parasitado. Geralmente

    esses fungos so patgenos que habitam o solo, possuem uma ampla gama de hospedeiros e

    sobrevivem no solo durante vrios anos na ausncia de seus hospedeiros. A sobrevivncia e a

    atividade da maioria dos fungos fitopatognicos depende das condies predominantes de temperatura

    e umidade, ou da presena de gua em seu meio ambiente.

    BACTRIAS COMO AGENTES DE DOENAS DE PLANTAS

    Mais de 1.600 espcies bacterianas so conhecidas, mas apenas cerca de 100 espcies causam

    doenas em plantas. At a primeira metade do sculo XIX no se cogitava seriamente a existncia de

    doenas de plantas causadas por bactrias. Possivelmente, o primeiro sobre uma enfermidade de plantas

    causada por uma bactria atribudo ao botnico alemo F.M. Draenert, que em visita ao Recncavo

    Baiano, em 1869, teria aventado pela primeira vez a possibilidade da gomose da cana-de-acar ser de

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    etiologia bacteriana. Entretanto, os primeiros trabalhos, considerados pelos autores contemporneos

    como de real valor cientfico, foram os do Americano Burril, em 1882, sobre a queima da macieira e

    da pereira e os do holands Walker, tambm em 1882, sobre o amarelecimento do jacinto. Em 1889,

    Erwin F. Smith, considerado o pai da Fitobacteriologia, foi quem realmente demonstrou a natureza

    bacteriana de cinco enfermidades de plantas. No incio do sculo XX, j era grande o nmero de

    trabalhos cientficos comprovando serem as bactrias importantes patgenos de plantas.

    Bactrias so importantes patgenos de plantas, no somente pela alta incidncia e severidade em

    culturas de valor econmico, mas tambm pela facilidade com que se disseminam e pelas dificuldades

    encontradas para o controle das enfermidades por elas incitadas.

    1. CARACTERSTICAS DA CLULA BACTERIANA

    1.1. Dimenses

    As clulas bacterianas medem de 1 a 3,5 m de comprimento por 0,5 a 0,7 m de dimetro.

    1.2. Formas

    As bactrias fitopatognicas tm comumente a forma de bastonetes ou bacilos, embora possam

    apresentar tambm outras formas. Bactrias filamentosas ou miceliais possuem miclio rudimentar

    formado por hifas muito finas, como o gnero Streptomyces.

    1.3. Motilidade

    As bactrias podem ser mveis ou imveis. Seu movimento pode ser ondulatrio, rotatrio e

    principalmente atravs dos flagelos. Estes so filamentos contrcteis, apenas visveis ao microscpio

    tico com o uso de tcnicas especiais de colorao. Quanto ao nmero e disposio dos flagelos, as

    bactrias podem ser classificadas em: tricas, quando no possuem flagelos; montricas, quando

    possuem apenas um flagelo em posio polar ou lateral; loftricas, quando possuem um tufo de

    flagelos; pertricas, quando possuem flagelos distribudos por toda sua superfcie (Fig. 1).

    Figura 1. Insero de flagelos em fitobactrias [segundo Romeiro (1996)].

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    1.4. Estrutura e funo da clula bacteriana

    Externamente, a clula pode ser ou no revestida pela cpsula ou camada mucilaginosa, que tem a

    funo de proteo, facilitando a sobrevivncia. Em seguida, existe a parede celular, que envolve

    estreitamente a regio citoplasmtica, a qual delimitada por uma membrana fina e delicada, chamada

    membrana celular ou membrana citoplasmtica. O citoplasma uniforme e possui uma estrutura bsica

    formada por grande nmero de ribossomos, sedes da sntese proteca. A regio nuclear da clula ou

    genforo evidente, embora difusa, sendo formada por um sistema de fibrilas muito finas e prximas,

    que consistem quase totalmente de DNA. No existe membrana nuclear. O citoplasma pode apresentar

    invaginaes da membrana citoplasmtica, chamadas mesossomos ou ainda incluses ou grnulos,

    contendo substncias de reserva como lipdios, glicognio, amido, etc. (Fig. 2). Os gneros Bacillus e

    Clostridium so os nicos que produzem estruturas de resistncia chamadas endosporos. Como apndices

    celulares podemos encontrar: os flagelos, principais responsveis pela motilidade; as fmbrias,

    responsveis pela aderncia da bactria ao substrato; e finalmente os pilus (plural pili), com funo no

    processo de recombinao gentica conhecido como conjugao.

    Um dos principais mtodos utilizados para a taxonomia de bactrias a colorao de Gram. H

    grandes diferenas entre bactrias Gram-positivas e Gram-negativas quanto natureza e

    permeabilidade da parede celular. Uma substncia mucocomplexa, denominada peptidoglicano, o

    nico composto macromolecular presente em todas paredes de bactrias, sendo responsvel pela rigidez.

    Esta substncia um heteropolmero formado de acares aminados e aminocidos. Geralmente, as

    paredes das bactrias Gram- positivas contm mais substncia mucocomplexa do que as paredes das

    Gram-negativas. Alm da substncia mucocomplexa, as paredes das clulas das bactrias Gram-

    negativas contm grandes quantidades de protenas, lipdios e polissacardios. As bactrias Gram-

    negativas possuem parede celular mais permevel e, assim, o lcool utilizado na colorao consegue

    remover de dentro da clula o complexo que se forma entre o cristal-violeta e o iodo. As bactrias

    Gram-positivas possuem parede celular mais impermevel e o lcool no consegue descolor-las.

    2. REPRODUO E CRESCIMENTO

    2.1. Reproduo

    As bactrias fitopatognicas multiplicam-se principalmente pelo processo assexuado de fisso

    binria ou cissiparidade, no qual uma clula-me cresce e se divide ao meio originando duas clulas filhas

    completamente iguais. J as bactrias miceliais reproduzem-se por esporulao ou segmentao do

    miclio e formao de condios ou esporngios no pice das hifas. Bactrias so capazes de trocar entre si

    material gentico, gerando variabilidade, ainda que por processos diferentes e mais primitivos que os

    organismos eucariotas. A recombinao gentica em bactrias ocorre por trs processos bsicos

    (transformao, conjugao e transduo), que sero abordados com maior profundidade no segmento

    referente a variabilidade de agentes fitopatognicos.

    2.2. Crescimento

    A fisso binria origina clulas em progresso geomtrica. A curva de crescimento de uma

    bactria dividida em quatro fases (Fig. 3):

    a) Fase de adaptao ou lag: a fase de adaptao ao meio, com crescimento lento.

    b) Fase logartimica ou exponencial: segunda etapa, onde a populao bacteriana cresce

    exponencialmente, ou seja, o nmero declulas que cresce maior do que o nmero de clulas que

    morre.

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    c) Fase estacionria: onde o nmero de clulas que nasce igual ao nmero de clulas que morre, e isto

    ocorre devido reduo de nutrientes no meio e ao acmulo de metablitos txicos.

    d) Fase de morte ou declnio: onde o nmero de bactrias que morre maior que o nmero de

    clulas que nasce. A taxa de morte cresce at alcanar um mximo devido a exausto de nutrientes.

    Geralmente as bactrias fitopatognicas crescem mais lentamente (48 h) que as bactrias saprfitas

    (24 h), o que pode ajudar na diferenciao dos dois tipos, embora possa mascarar os resultados de

    um isolamento. Bactrias fitopatognicas so organismos bastante versteis, com grande capacidade

    de adaptao a ambientes diversos. Ao contrrio das bactrias patognicas ao homem e aos animais, as

    fitobactrias tm um timo de temperatura para crescimento e multiplicao entre 25 e 30oC. O pH

    em torno do neutro (7,0) o ideal. A maioria das bactrias fitopatognicas so aerbicas estritas, com

    exceo de espcies dos gneros Erwinia e Bacillus que podem ser anaerbicas facultativas, bem como

    Clostridium que anaerbica estrita. Em relao nutrio, as bactrias fitopatognicas so

    heterotrficas, ou seja, necessitam de fontes de carbono para seu desenvolvimento. A maioria das

    bactrias fitopatognicas, incluindo Agrobacterium, Bacillus, Clostridium, Erwinia, Pseudomonas,

    Ralstonia, Xanthomonas, Streptomyces e algumas espcies de Clavibacter, podem ser cultivadas em

    meio de cultura de rotina, como o gar-nutritivo. Outras, chamadas procariotas fastidiosos, exigem

    meios de cultura especiais com vrios nutrientes extras, dentre as quais destacam-se Xylella

    fastidiosa e Clavibacter xyli subsp. xyli. Algumas bactrias fitopatognicas ainda no foram cultivadas,

    como as bactrias limitadas ao floema. Figura 3. Curva de crescimento bacteriano in vitro, sob condies

    timas, mostrando as fases de adaptao (AB), exponencial ou logartmica (BC), estacionria (CD) e de

    morte (DE) [segundo Romeiro (1995)].

    3. PENETRAO, MULTIPLICAO E SINTOMAS

    As bactrias penetram nas plantas atravs de aberturas naturais como estmatos, lenticelas, hidatdios,

    aberturas florais etc., e tambm atravs de ferimentos. Uma vez no interior das plantas, elas podem se

    multiplicar nos espaos intercelulares ou no tecido vascular. Desta localizao vai depender o tipo de

    sintoma que iro produzir. Se colonizarem o tecido vascular podem causar murcha, morte dos ponteiros

    e cancro. Se colonizarem os espaos intercelulares iro produzir manchas, crestamentos, galhas, fasciao

    e podrido mole (Fig. 4). Os sintomas incitados em plantas por bactrias podem, em muitos casos, ser

    confundidos com aqueles causados por outros fitopatgenos como fungos, nematides e vrus. Os

    principais sintomas causados por bactrias fitopatognicas so: anasarca ou encharcamento, mancha,

    podrido mole, murcha, hipertrofia, cancro, morte das pontas, talo-co e canela preta. Muitas vezes a

    presena de sinais evidente, caracterizados por exsudado, ps bacteriano ou fluxo bacteriano, tanto

    nas leses como nas doenas vasculares, principalmente em condies de alta umidade.

    VRUS COMO AGENTES DE DOENAS DE PLANTAS

    1. DEFINIO

    Os vrus no tm a organizao complexa das clulas e so estruturalmente muito simples. Uma

    das tentativas mais recentes para definir vrus foi feita por Matthews (1992), que considerou vrus

    como um conjunto formado por uma ou mais molculas de cido nuclico genmico, normalmente

    envolto por uma capa ou capas protetora(s) de protena ou lipoprotena, o qual capaz de mediar

    sua prpria replicao somente no interior das clulas hospedeiras apropriadas. Dentro destas clulas, a

    replicao viral : (a) dependente do sistema de sntese de protenas do hospedeiro; (b) derivada de

    combinaes dos materiais requeridos, ao invs de fisso binria; (c) localizada em stios no separados

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    do contedo da clula hospedeira por uma membrana dupla de natureza lipoproteca.

    2. CARACTERSTICAS GERAIS DOS VRUS DE PLANTAS

    Parasitas obrigatrios.

    Presena de um s tipo de cido nuclico, RNA ou DNA, em cadeia simples ou dupla.

    Incapacidade de crescer e se dividir autonomamente.

    Dependem da clula hospedeira para replicao.

    Dependem da clula hospedeira para executar funes vitais.

    Replicao somente a partir de seu prprio material gentico.

    Ausncia de informao para produo de enzimas do ciclo energtico.

    Ausncia de informao para sntese de RNA de transferncia e ribossmico.

    3. COMPONENTES ESTRUTURAIS DOS VRUS

    Genoma: conjunto de informaes genticas de um vrus, codificado pelo cido nuclico.

    Capsdeo: capa protica que envolve o genoma viral, formada por subunidades de protena.

    Capsmero: subunidades do capsdeo.

    Nucleocapsdeo: conjunto formado pelo genoma mais capsdeo.

    Envelope: membrana que envolve o nucleocapsdeo em alguns tipos de vrus.

    Vrion: estrutura viral completa.

    4. COMPONENTES QUMICOS DOS VRUS

    cidos Nuclicos

    A poro infectiva da partcula viral o seu cido nuclico. Os vrus podem possuir DNA ou

    RNA, de fita dupla (ds) ou de fita simples (ss). Todos os quatro tipos de genoma (ssDNA, dsDNA, ssRNA,

    dsRNA) tm sido encontrados entre os vrus de plantas. Alm disso, a estrutura de DNA de fita dupla

    ou simples no vrion pode ser linear ou circular. Os vrus que possuem ssRNA e atuam diretamente

    como RNA mensageiro (mRNA) so designados como vrus de cadeia positiva (+). Os vrus que devem

    replicar seu RNA primeiro para depois formar a fita complementar so designados como vrus de fita

    negativa (-). A replicao da fita negativa sempre catalisada por uma RNA polimerase contida no

    vrion. A quantidade de cido nuclico, e mais significativamente, o nmero de genes presente, varia

    entre os diferentes grupos de 1 a 12 genes no caso de vrus de planta, at aproximadamente 260 nos

    vrus grandes que infectam vertebrados.

    Protenas

    Alm do cido nuclico, a protena o principal componente qumico do vrus. A capa protica,

    formada de protena estrutural, tem a funo de proteger o genoma viral da ao de fatores adversos,

    possibilitar a aderncia do vrus clula hospedeira e conferir simetria estrutural. A principal diferena

    entre estirpes de um mesmo vrus ocorre em funo de suas protenas, decorrente das diferenas na

    proporo de seus aminocidos ou na presena/ausncia de alguns aminocidos, notadamente

    histidina e metionina. Muitos vrus possuem dentro do capsdeo uma ou mais enzimas que so

    liberadas aps o desnudamento do vrus no interior da clula hospedeira. Estas enzimas atuam na

    replicao do cido nuclico do vrus, sendo as mais comuns as polimerases. Os vrus podem codificar

    outras protenas com importantes funes: movimento do vrus clula a clula, transmisso

    por determinados vetores e processamento proteco, como a clivagem de poliprotenas codificadas pelo

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    vrus.

    Lipdeos

    Os compostos lipdicos mais encontrados nos vrus so os fosfolipdeos, glicolipdeos, gorduras

    neutras, cidos graxos, aldedos graxos e colesterol, notadamente derivado de membranas do

    hospedeiro. Os fosfolipdeos encontrados no envelope viral so as substncias lipdicas predominantes

    nos vrus. Os vrus envelopados podem ser destrudos por solventes lipdicos, tais como ter ou

    clorofrmio. A infectividade desses vrus pode ser ento inativada pelos solventes qumicos.

    Carboidratos

    Todos os vrus possuem carboidratos em sua constituio, uma vez que o prprio cido nuclico

    contm ribose ou desoxirribose. Alguns vrus envelopados possuem em seu envelope espculas

    constitudas de glicoprotenas.

    5. TIPOS MORFOLGICOS DE VRUS E ESTRUTURA DAS PARTCULAS VIRAIS

    Utilizando microscopia eletrnica possvel determinar as caractersticas morfolgicas dos vrus.

    Os vrions variam em tamanho, de 17 nm de dimetro do vrus satlite do vrus da necrose do fumo a

    2000 nm de comprimento do vrus da tristeza dos citros (1 nm = 1/1.000 m). Assim, excetuando-se os

    virides, que so minsculas molculas de RNA, representam os menores e mais simples agentes

    infecciosos em plantas. O arranjo dos componentes protena e cido nuclico constitui a arquitetura do

    vrus. Podem-se distinguir, essencialmente, os tipos morfolgicos abaixo para os vrus de plantas sem

    envelope e com envelope (Fig 1).

    a) Vrus sem envelope

    Vrus alongados

    Apresentam-se como bastonetes rgidos (18 nm de dimetro e comprimento de at 300 nm) ou

    filamentos flexuosos (3 a 12 nm de dimetro e comprimento entre 470 a 2000 nm), com simetria

    helicoidal (capsdeo cujos capsmeros so arranjados em torno do cido nuclico na forma de uma

    hlice).

    Gneros:

    Bastonetes rgidos - Furovirus, Hordeivirus, Tobamovirus e Tobravirus.

    Filamentos flexuosos Trichovirus, Bymovirus, Capillovirus, Carlavirus, Closterovirus, Potexvirus,

    Rymovirus e Tenuivirus.

    Vrus polidricos ou esfricos

    Possuem 17 a 80 nm de dimetro. So vrus cujas unidades qumicas esto arranjadas formando

    um poliedro de 20 faces, 12 vrtices e 3 lados (icosaedro).

    Gneros:

    Alphacryptovirus, Betacryptovirus, Bromovirus, Caulinovirus, Carmovirus, Comovirus, Cucumovirus,

    Dianthovirus, Luteovirus, Machlorovirus, Marafivirus, Necrovirus, Nepovirus, Sabemovirus,

    Tombosvirus e Tymovirus

    Vrus quase isomtricos a baciliformes

    Variam de 30 a 35 nm de dimetro. Gnero: Irlavirus

    Vrus baciliformes

    Apresentam-se em forma de bastonete, com partculas de dimenses bastantes variadas.

    Gneros: Alfamovirus e Badnavirus

    b) Vrus com envelope

    Apresentam envelope envolvendo o nucleocapsdeo.

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    Esferoidais: medem de 80 a 120 nm.

    Gnero: Tospovirus

    Baciliformes: medem de 45 a 100 nm x 100 a 430 nm.

    Gneros: Cytorhabdovirus e Nucleorhabdovirus

    A proporo entre cido nuclico e protena depende do vrus considerado, variando de 5 a 40% de

    cido nuclico, com 60 a 95% de protena. A menor proporo de cido nuclico e a maior

    porcentagem de protenas so encontradas nas partculas dos vrus alongados, enquanto os vrus

    isomtricos possuem relativamente, maior porcentagem de cido nuclico e menor de protenas. Nos

    vrus envelopados, a proporo de protenas pode chegar apenas a 20% do peso das partcula.

    Figura 1. Forma relativa, tamanho e estrutura de alguns vrus de plantas representativos. A) vrus na

    forma de bastonete flexuoso; B) vrus na forma de bastonete rgido; B-1) vrus na forma de

    bastonete flexuoso, mostrando subunidades de protenas [PS] e cido nuclico [NA]; B-2) seo

    transversal do vrus na forma de bastonete flexuoso, mostrando o canal central [HC]; C) vrus na forma

    baciliforme com envelope; C-1) seo transversal vrus na forma baciliforme com envelope;

    D) vrus na forma polidrica; D-1) icosaedro, representando a simetria de 20 lados que so

    arranjadas as subunidades de protena do vrus polidrico; E) vrus na forma polidrica com duas

    partculas iguais seminadas [adaptado de Agrios (1997)].

    1. CLASSIFICAO E NOMENCLATURA DOS VRUS

    1.1. Classificao

    Todos os vrus pertencem ao Reino Vrus. O sistema de classificao dos vrus de plantas se baseia

    em caractersticas como: tipo de cido nuclico (DNA ou RNA); nmero de fitas de cido nuclico

    (monocatenrio ou bicatenrio); peso percentual do cido nuclico em relao partcula; peso

    molecular, tamanho e forma da partcula (isomtrica, alongada e baciliforme); presena ou ausncia de

    envelope caractersticas fsicas, qumicas, biolgicas e antignicas da partcula; gama de hospedeiros;

    forma de transmisso. Atravs desse conjunto de critrios, os vrus de plantas so reunidos em

    gneros. Os nomes para estes gneros so geralmente derivados de nomes de prottipos ou membros

    mais representativos do grupo (Fig. 2). Por exemplo, o nome do gnero de vrus relacionado ao vrus do

    mosaico do tabaco (tobacco mosaic virus) o tobamovirus.

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    1.2. Nomenclatura

    Geralmente os vrus de plantas so denominados pelo tipo de doena ou sintomatologia

    apresentada pelo hospedeiro (Tabela 1).

    Figura 4. Representao esquemtica da direo e da taxa de translocao de um vrus numa

    planta [adaptado de Agrios (1997)].

    2. SINTOMATOLOGIA

    Os vrus de plantas podem causar dois tipos de sintomas ou infeco: localizada e sistmica. Os sintomas

    localizados so leses clorticas e necrticas nos pontos de penetrao, enquanto os sintomas

    sistmicos afetam a planta em vrios aspectos de sua morfologia e fisiologia. Os sintomas sistmicos

    mais comumente exibidos pelas plantas so mosaico, mosqueado, distoro foliar, mancha anelar,

    amarelecimento, superbrotamento e nanismo. Como conseqncia destes sintomas geralmente ocorre a

    queda de produo, e, s vezes, a morte da planta.

    3. TRANSMISSO DOS VRUS DE PLANTAS

    A transmisso dos vrus pode ocorrer mecanicamente, bem como atravs de insetos, fungos,

    nematides, caros, sementes, rgos de propagao vegetativa e gros de plen.

    3.1. Transmisso mecnica

    de pouca importncia no campo, mas muito importante para a experimentao. No campo, apenas

    quando a densidade de plantio muito alta, o vento pode causar danos mecnicos folhagem

    ocasionando a transmisso de vrus devido ao contato entre plantas. Se considerarmos o uso de

    implementos agrcolas em campos com plantas afetadas, este tipo de transmisso mecnica pode se

    tornar importante.

    3.2. Transmisso por insetos

    Os insetos tm muita importncia como transmissores de vrus, sendo encontrados na Ordem

    Homoptera (afdeos, cigarrinhas e moscas brancas) e nos Coleopteros e tripes. De acordo com o mtodo

    pelo qual os vrus so transmitidos por insetos vetores, eles podem ser agrupados em:

    a) Vrus no persistentes ou externos

    O mtodo de transmisso cido o estiletar (ex. afdeos), em que os insetos adquirem as partculas virais

    num curto espao de tempo em plantas infectadas e as transmitem imediatamente para um nmero

    reduzido de plantas sadias. O perodo de tempo que um afdeoo permanece virulfero varia de alguns

    minutos a algumas horas.

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    3.3. Vrus persistentes ou internos

    So os que permanecem no interior dos insetos vetores por longos perodos de tempo, podendo ser:

    - Circulativos: as partculas de vrus so ingeridas pelo insetos vetores e levadas pela hemolinfa para as

    glndulas salivares de onde passam para plantas sadias. Este vrus no perde sua infectividade mesmo a

    ecdise dos insetos.

    - Propagativos: so os que se multiplicam no interior dos insetos vetores (ex. cigarrinhas). Normalmente

    necessrio um perodo de incubao de 1 a 2 semanas desde a aquisio at a primeira transmisso.

    Os vetores mais importantes so os afdeoses e, embora haja especificidade, uma espcie de afdeo

    possa transmitir apenas 1 ou at 50 vrus diferentes. Os vrus transmitidos por afdeoses so

    normalmente no persistentes ou circulativos e raramente propagativos.

    3.4. Transmisso por fungos

    Olpidium brassicae, que causa podrido de razes de diversas plantas, transmite o vrus da necrose do

    fumo, da alface, do pepino e o vrus do nanismo do fumo. Polymixa graminis transmite o vrus do

    mosaico do trigo. Spongospora subterranea transmite o vrus da batatinha. O vrus possivelmente

    conduzido externamente ou internamente nos zoosporos, no havendo evidncias de sua multiplicao

    nestas estruturas.

    3.5. Transmisso por nematides

    Pouco mais de 10 vrus de plantas so transmitidos por nematides ectoparasitas pertencentes aos

    gneros Xiphinema, Longidorus e Trichodorus. Os dois primeiros transmitem vrus polidricos do gnero

    Nepovirus e o ltimo transmite vrus do tipo bastonete rgido do gnero Tobravirus. Os nematides

    transmitem os vrus alimentando-se em razes de plantas infetadas e em seguida, em plantas sadias.

    Tanto o adulto como as formas larvais (juvenis) podem adquirir e transmitir os vrus, no entanto estes

    no so transmitidos atravs dos ovos, nem permanecem no nematide aps sua ecdise.

    Coincidentemente todos os vrus transmitidos por nematides, o so tambm por sementes, sendo tal

    caracterstica muito importante na distribuio epidemiolgica de tais vrus.

    3.6. Transmisso por caros

    Vrios caros pertencentes s famlias Eriophyidae e Tetranychidae so reconhecidamente vetores de

    vrus vegetais. Os membros de tais famlias alimentam-se atravs de seus penetrantes estiletes,

    introduzindo-os nas clulas das plantas e sugando seus contedos. Alguns vrus so transmitidos nos

    estiletes dos caros (transmisso estiletar) e outros so circulativos.

    Transmisso por sementes

    Cerca de 20% dos vrus de plantas conhecidos so transmitidos por sementes. De acordo com a

    localizao dos vrus nas sementes , o processo de transmisso pode ser do tipo embrionrio (no

    interior do embrio) e no embrionrio (na superfcie de sementes de frutos carnosos ou mesmo

    debaixo do tegumento, no seu interior ou dentro do prprio endosperma, temos como nico

    exemplo deste grupo, o TMV).

    3.7. Transmisso por rgos de propagao vegetativa

    Qualquer tipo de propagao vegetativa, que envolva o uso de borbulhas (enxertia), bulbos,

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    tubrculos, rizomas, estacas e etc., serve para transmitir vrus de plantas matrizes infectadas para sua

    prognie.

    3.8. Transmisso por gros de plen

    Os gros de plen produzidos em plantas sistemicamente infectadas por vrus podem transmiti-los

    atravs do processo de polinizao cruzada, para sementes produzidas em plantas sadias. Tais

    sementes do origem a plantas doentes ampliando o grau de transmisso iniciada pelo gro de plen.

    Em alguns casos os vrus levados pelo gro de plen passam atravs da flor fertilizada para os demais

    rgos da planta me, causando-lhe uma infeco sistmica.

    3.9. Transmisso por plantas parasitas superiores

    Os vrus podem ser transmitidos entre plantas distintas ou pertencentes a famlias completamente

    distintas atravs de parasitas como Cuscuta spp.

    4. CONTROLE DOS VRUS DE PLANTAS

    O controle de viroses pode ser efetuado pelo emprego de variedades resistentes, eliminao do

    vetor, remoo e destruio da planta afetada, eliminao do hospedeiro intermedirio, emprego de

    sementes e mudas certificadas, proteo cruzada ou preimunizao (inoculao de uma estirpe fraca

    do vrus, visando a imunizao da planta contra a estirpe forte que causa a doena).

    5. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

    AGRIOS, G.N. Plant diseases caused by viruses. In: AGRIOS, G.N. Plant pathology. 4th ed. San Diego:

    Academic Press, 1997. p.479-563.

    BEDENDO, I.P. Vrus. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI,

    H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia:

    NEMATIDES COMO AGENTES DE DOENAS DE PLANTAS

    1. CONCEITO

    Nematides so animais do Sub-Reino Metazoa e Filo Nemata. Possuem simetria bilateral e so

    pseudocelomados, isto , a cavidade geral do organismo onde se alojam todos os rgos no

    revestida por um tecido especializado. A palavra nematide vem do grego e significa "em forma de fio".

    Nematide o nome utilizado para os helmintos parasitas de plantas.

    2. CARACTERSTICAS

    2.1. Formas

    So geralmente fusiformes ou vermiformes, ou seja, cilndricos com as extremidades afiladas. Mas

    tambm podem ser piriformes, napiformes, reniformes ou limoniformes (Fig. 1).

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    Figura 1. Diagrama ilustrando as diferenas morfolgicas entre alguns gneros de fitonematides

    [segundo Agrios(1997)].

    2.2. Dimenses

    A maioria dos nematides fitoparasitas microscpica, medindo de 0,5 a 2,0 mm de comprimento

    por 50 a 250 m de largura (Fig. 1).

    2.3. Colorao So totalmente transparentes, deixando ver sua estrutura interior. Alguns algfagos

    possuem pigmentos verdes no aparelho digestivo devido ao tipo de alimentao.

    2.4. Revestimento

    Os nematides possuem um revestimento externo chamado cutcula, rgida e espessa,

    transparente, no celular, constituda por secreo da camada inferior, a hipoderme, tendo como

    componentes substncias orgnicas, na sua maioria proticas. Sua funo manter o equilbrio

    osmtico e proteger o nematide. Pode ser lisa, estriada ou com falsos metmeros(anelada). As

    divises da cutcula no implicam na diviso interna do nematide cujo corpo indiviso (Fig. 2).

    1.1. Alimentao

    Os nematides podem ser micfagos, bacterifagos, algfagos, protozofagos, carnvoros ou

    predadores e, parasitas de plantas superiores. Estes so os mais importantes na Fitopatologia e

    dividem-se em:

    - Endoparasitas sedentrios: So os que penetram no sistema radicular e no retornam ao solo, pois

    uma vez no interior das razes, desenvolvem-se desproporcionalmente em largura e no podem se

    locomover. Ex.: Meloidogyne e Heterodera, em vrias culturas.

    - Endoparasitas migradores: So os que penetram nas razes, locomovem-se, alimentam-se, e quando a

    raiz entra em decomposio, voltam ao solo para colonizar outra raiz. Ex.: Rhadopholus similis na

    bananeira e Pratylenchus no milho.

    - Ectoparasitas: So aqueles que no penetram no sistema radicular, apenas introduzem o estilete

    atravs do qual se alimentam das clulas do tecido meristemtico. Ex.: Xiphinema no caf e batata,

    Scutellonema no inhame, Criconemoides no milho, amendoim e fumo.

    1.2. Movimento

    Locomovem-se atravs de movimentos serpentiformes entre as partculas de solo, sempre num filme de

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    gua. Movimentam-se melhor em solos arenosos do que solos argilosos ou argilo- arenosos.

    1.3. Aparelhos e Sistemas dos Nematides

    Os nematides no possuem aparelho circulatrio ou respiratrio. Sua respirao feita atravs da

    prpria cutcula, por onde o oxignio penetra no pseudoceloma e atravs do movimento do prprio

    corpo nematide levado a todas as partes de seu corpo. Como subprodutos temos CO2 e H2O, que

    so expelidos atravs do sistema excretor. Os nematides possuem aparelhos digestivo e reprodutivo,

    sistemas nervoso e excretor, e orgos sensoriais (Fig. 2).

    Figura 2. Morfologia e principais caractersticas de fitonematides macho e fmea adultos [adaptado

    de Agrios (1997)].

    Figura 4. Diagrama ilustrando o ciclo de vida tpico de um nematide fitoparasita [segundo

    Tihohod (1993)].

    AO DOS NEMATIDES SOBRE AS PLANTAS HOSPEDEIRAS

    Os nematides podem apresentar diferentes modos de ao sobre as plantas hospedeiras,

    principalmente:

    Traumtica: provocada pelas injrias mecnicas decorrentes do movimento do nematide no tecido da

    planta. causada principalmente pelos endoparasitas migradores.

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    Espoliadora: provocada pelo desvio de nutrientes essenciais da planta para o nematide.

    Txica: provocada por toxinas ou enzimas secretadas pelo nematide e que so prejudiciais planta.

    Estas substncias so produzidas pelas glndulas esofagianas ou salivares.

    SINTOMAS

    Como resultado da ao dos nematides sobre a planta temos os sintomas no campo e na planta.

    a) Sintomas no campo

    - Tamanho desigual das plantas

    - Murcha nas horas mais quentes do dia

    - Folhas e frutos de menor tamanho

    - Declnio vagaroso

    - Nanismo ou entouceramento

    - Exibio exagerada de deficincias nutricionais

    - Reduo de produo.

    b) Sintomas nas plantas

    - Sistema radicular denso, com formao excessiva de razes laterais ou sistema radicular

    deficiente e pobre

    - Galhas nas razes, tubrculos, bulbos, ou qualquer outra parte da planta em contato com o solo

    - Razes em formas de dedos

    - Descolamento e quebra do crtex radicular

    - Rachaduras nas razes

    - Paralisao do crescimento, razes amputadas, ou morte das pontas das razes

    - Necroses em rgos areos e subterrneos

    - Manchas escuras em folhas

    - Podrides

    - Formao de sementes anormais

    - Anel vermelho

    - Formao de clulas gigantes, hiperplasia e hipertrofia (sintomas histolgicos)

    DISSEMINACO

    Os nematides podem ser disseminados principalmente:

    - Pelos seus prprios meios (movimentos lentos)

    - Pelo homem, no transporte de material propagativo infectado (sementes, mudas, tubrculos, etc.).

    - Por implementos agrcolas contendo solo infestado

    - Por animais domsticos

    - Por insetos

    - Por gua de irrigao e infiltrao

    PRINCIPAIS CLASSES, FAMLIAS E GNEROS DE FITONEMATIDES

    A maioria dos fitonematides pertence Classe Secernentea, agrupados nas subordens

    Tylenchina e Aphelenchina, que se apresentam como caractersticas:

    Tylenchina

    - portadores de estomatostlio

    - esfago tilenchide

    - parasitas de orgos subterrneos

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    Aphelenchina

    - portadores de estomatostlio

    - esfago afelencide

    - parasitas de orgos da parte area

    MTODOS DE CONTROLE DE FITONEMATIDES

    No controle de nematides fitoparasitas podem ser utilizados diferentes estratgias, dentre as

    quais, mtodos culturais, biolgicos, fsicos e qumicos.

    a) Mtodos Culturais

    - Rotao de culturas

    - Inundao de pequenas reas

    - Operaes culturais como arao e gradagem

    - Incorporao de matria orgnica

    - poca de plantio e colheita

    - Variedades resistentes. Dentre os mtodos culturais existem alguns procedimentos mais especficos,

    como a utilizao de plantas atraentes (Brassica nigra), repelentes (Tagets sp. e Crotalaria spectabilis)

    ou armadilhas (especficas para endoparasitas sedentrios).

    b) Mtodos Biolgicos

    Controle de nematides com organismos predadores, como outros nematides, bactrias, fungos,

    vrus e protozorios. Na prtica, apenas alguns fungos tm evidenciado resultados experimentais

    favorveis. Ex.: Dactylella oviparasitica como parasita de ovos de Meloidogyne sp.

    c) Mtodos Fsicos

    Esterilizao do solo atravs de calor mido e de partes da planta pela gua aquecida.

    d) Mtodos Qumicos

    Uso de nematicidas que podem ser fumigantes ou sistmicos

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

    AGRIOS, G.N. Plant diseases caused by nematodes. In: AGRIOS, G.N. Plant pathology. 4th ed. San

    Diego: Academic Press, 1997. p.563-597.

    FERRAZ, C.C.B.; MONTEIRO, AR. Nematides. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L.

    (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1,

    p.168-201.

    OBRIEN, P.C.; STIRLING, G.R. Plant nematolgy for practical agriculturalists. 3rd ed. Brisbane:

    Queenslando Department of Primary Industries, 1991. 54p.

    TIHOHOD, D. Nematologia agrcola aplicada.

    Jaboticabal: FUNEP, 1993. 372p.

    CICLO DAS RELAES PATGENO-HOSPEDEIRO

    1. CICLO DE VIDA DO PATGENO

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    O desenvolvimento do patgeno compreende fases ativas e inativas. As fases ativas so patognese

    e saprognese. A fase inativa chamada de dormncia.

    1.1. Patognese: a fase em que o patgeno est associado ao tecido vivo do hospedeiro.

    Compreende trs fases: pr-penetrao, penetrao e colonizao. Ocorre nos parasitas obrigados

    e facultativos.

    1.2. Saprognese: a fase em que o patgeno no est associado ao tecido vivo do hospedeiro,

    ele encontra-se em atividade saproftica sobre restos de cultura ou sobre a matria orgnica do

    solo. No ocorre nos parasitas obrigados.

    1.3. Dormncia: a fase onde as condies no so favorveis a atividade do patgeno, achando-se

    este com metabolismo reduzido. Em tais oportunidades os microrganismos podero sobreviver na

    forma de estruturas apropriadas, denominadas estruturas de resistncia, que so rgos

    consistentes e ricos em reservas, tais como esclercios, peritcios, clamidosporos e esporos

    de resistncia em alguns fungos, bem como na forma de miclio dormente dentro de sementes e

    gemas. A formao de estruturas de resistncia no constitui um privilgio de todos os agentes

    fitopatognicos, pois muitos fungos e bactrias, alm da maioria dos nematides fitoparasitas,

    no as possuem. Ocorre tanto nos parasitas obrigados como nos facultativos.

    Essas fases nem sempre ocorrem seguindo uma regular alternncia, pois a ordem de sucesso das

    mesmas depende de vrias circunstncias. A seqncia poder obedecer s mais variadas

    combinaes.

    2. CICLO DAS RELAES PATGENO- HOSPEDEIRO

    A srie de fases ou eventos sucessivos que conduzem ocorrncia da doena, ou fazem parte do

    seu desenvolvimento, constitui um ciclo, denominado ciclo das relaes patgeno- hospedeiro, no

    qual cada uma das diferentes fases apresenta caractersticas p