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MELHORIA DA QUALIDADE - PROCESSOS
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LUIZ CARLOS BRASIL DE BRITO MELLO
MODERNIZAO DAS PEQUENAS E MDIAS EMPRESAS DE CONSTRUO CIVIL: IMPACTOS DOS PROGRAMAS DE MELHORIA DE GESTO DA
QUALIDADE.
Tese apresentada ao Programa de Ps Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obteno do Grau de Doutor em Engenharia Civil. rea de Concentrao: Engenharia Civil
Orientador: Prof. Srgio Roberto Leusin de Amorim, D.Sc.
Niteri 2007.
Ficha Catalogrfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computao da UFF
M527 Mello, Luiz Carlos Brasil de Brito.
Modernizao das pequenas e mdias empresas de construo civil : impactos dos programas de melhoria de gesto da qualidade / Luiz Carlos Brasil de Brito Mello. Niteri, RJ : [s.n.], 2007.
261 f. Orientador: Srgio Roberto Leusin de Amorim. Tese (Doutorado
em Engenharia Civil) - Universidade Federal Fluminense, 2007.
1. Construo civil. 2. Gesto da qualidade total. 3. Pequenas e mdias empresas. I. Ttulo.
CDD 690
LUIZ CARLOS BRASIL DE BRITO MELLO
MODERNIZAO DAS PEQUENAS E MDIAS EMPRESAS DE CONSTRUO CIVIL: IMPACTOS DOS PROGRAMAS DE MELHORIA DE GESTO DA
QUALIDADE.
Tese apresentada ao Programa de Ps Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obteno do Grau de Doutor em Engenharia Civil. rea de Concentrao: Engenharia Civil
Aprovada em 30 de maro de 2007.
Banca Examinadora:
__________________________________________ Prof. Srgio Roberto Leusin de Amorim, D. Sc.
Universidade Federal Fluminense-UFF
_________________________________________________ Prof. Jos Rodrigues de Farias Filho, D. Sc.
Universidade Federal Fluminense-UFF
__________________________________________________ Prof. Carlos Alberto Pereira Soares, D. Sc.
Universidade Federal Fluminense-UFF
___________________________________________________ Prof. Maria Aparecida Hippert Cintra, D. Sc. Universidade Federal de Juiz de Fora-UFJF
___________________________________________________ Prof. Eduardo Luis Isatto, D. Sc.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS
Niteri 2007
AGRADECIMENTOS
Escrever uma tese requer dedicao e abdicao. Dedicao significa a troca do lazer junto
aos familiares, por horas de pesquisa, leitura, compilao de dados e longas horas de trabalho
junto ao computador.
Abdicao no convvio com os familiares e no contato com os amigos. No se tem tempo para
as pequenas e prazerosas coisas da vida e, muitas vezes, abdica-se da leitura diria do jornal.
Entretanto, muito instigante se ver o que era apenas uma idia, tomar forma e transformar-se
no resultado final.
Muitas pessoas me auxiliaram no intenso trabalho desenvolvido nesta tese. Prefiro no citar
nomes para evitar que magoe algum por esquecimento involuntrio.
Uma pessoa que merece um agradecimento especial o meu orientador, Prof. Srgio Leusin,
que me conduziu, animou e deu o sentido e norte presente tese.
minha esposa Maria Clia, relegada nos ltimos anos por esta tese. Mas que soube,
entender, aceitar e apoiar.
Aos meus filhos Luiz Fernando, Renata e ao meu genro Adriano e minha nora Paula, prometo
ter mais tempo para eles. E fica a minha torcida para que em breve estejam, tambm,
terminando suas teses de doutorado (Renata e Adriano) e dissertao de mestrado (Paula).
Para eles ser mais fcil, pois tm o vigor da juventude.
Finalmente, meu obrigado aos professores e funcionrios do Programa de Ps Graduao em
Engenharia Civil-PPGEC da Universidade Federal Fluminense, pelo apoio e ensinamentos
recebidos. Levo saudades dos bancos escolares.
RESUMO
A presente tese trata dos temas Sistemas de Gesto da Qualidade, Pequenas e Mdias Empresas, Construo Civil. Atravs de estudos de caso em pequenas e mdias empresas de construo civil, situadas no municpio do Rio de Janeiro, estuda-se a modernizao destas empresas e os impactos dos programas de melhoria de gesto da qualidade. Pela utilizao de um sistema de indicadores feita uma comparao entre os resultados de pequenas e mdias empresas certificadas e no certificadas analisando, atravs destes indicadores, se h diferenas no desempenho entre as organizaes que utilizam SGQ e as no adeptas de tal sistema. Verifica-se como a instabilidade do setor e do ambiente econmico brasileiro afetam a implantao de SGQs nas PMEs da construo civil. Pesquisa-se os fatores decisivos para uma perfeita implantao de SGQs em pequenas e mdias empresas de construo civil.
Palavras-chave: Sistemas de Gesto da Qualidade, Pequenas e Mdias Empresas, Construo Civil.
ABSTRACT
This work is about Quality Management Systems, Small and Medium Enterprises, Civil Construction. Using case studies in civil construction small and medium enterprises, located in the city of Rio de Janeiro, is studied how this type of enterprise has made efforts to modernize and what are the impacts of quality management systems in this process. Through a Key Performance Indicator System is developed a comparison between the results of certified enterprises and non certified ones. By these indicators is verified the results of companies that have Quality Management Systems and the ones that do not use them. It is, also, studied how the economical behavior affects the usage of Quality Management Systems in civil construction small and medium enterprises. Besides, it is verified what are the important factors that drive a good implementation of Quality Management Systems in these type of companies.
Key words: Quality Management systems, Small and Medium Enterprises, Civil Construction.
SUMRIO
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................3
RESUMO...................................................................................................................................4
ABSTRACT ..............................................................................................................................5
SUMRIO.................................................................................................................................6
LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................9
LISTA DE TABELAS............................................................................................................10
LISTA DE QUADROS...........................................................................................................11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...........................................................................12
1 INTRODUO......................................................................................................14 1.1 CONTEXTO............................................................................................................14 1.2 SITUAO PROBLEMA ......................................................................................21 1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................23 1.3.1 Gerais .......................................................................................................................23 1.3.2 Especficos ...............................................................................................................24 1.3.3 Hipteses e questes da pesquisa.............................................................................24 1.3.3.1 Hiptese 1 (H1)........................................................................................................24 1.3.3.1.1 Questes chave da Hiptese 1 ..............................................................................25 1.3.3.2 Hiptese 2 (H2)........................................................................................................25 1.3.3.2.1 Questes chave da Hiptese 2 ..............................................................................25 1.3.3.3 Hiptese 3 (H3)........................................................................................................25 1.3.3.3.1 Questes chave da Hiptese 3 .............................................................................26 1.4 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO.......................................................................26 1.4.1 No Contexto Institucional ........................................................................................26 1.4.2 No contexto da sociedade e da empresa ..................................................................26 1.5 DELIMITAES DO TRABALHO ......................................................................27 1.6 METODOLOGIA:...................................................................................................27
1.7 ESTRUTURA DA TESE.........................................................................................32
2 QUALIDADE, INOVAO E CONHECIMENTO NA CONSTRUO CIVIL .................................................................................................................................34 2.1 CONCEITUAO DE INOVAO .....................................................................36 2.2 DIFUSO TECNOLGICA...................................................................................41 2.3 CONHECIMENTO E APRENDIZADO.................................................................44 2.4 POLTICAS DE INOVAO ................................................................................47 2.5 SISTEMAS DE GESTO DA QUALIDADE.......................................................53 2.5.1 Significao .............................................................................................................53 2.5.2 Sistemas de Gesto enquanto Inovao Tecnolgica ..............................................56 2.5.3 Capacitao Tecnolgica .........................................................................................60 2.5.4 Melhoria Contnua: modelos e capacidades necessrias .........................................62 2.5.5 Habilidades e Etapas Necessrias para Melhoria Contnua.....................................65 2.5.6 Razes da Importncia da Existncia de um Sistema de Gesto da Qualidade em Empresas de Construo Civil..................................................................................................67
3 A EVOLUO ECONMICA DO BRASIL NO PERODO 1930- 2005 E A PARTICIPAO DA CONSTRUO CIVIL ..................................................................73 3.1 UM BREVE HISTRICO DA EVOLUO ECONMICA DO BRASIL NO PERODO 1930-2005: .............................................................................................................73 3.2 UM BREVE HISTRICO DA EVOLUO ECONMICA DO BRASIL NO PERODO 1930-2005: .............................................................................................................74 3.2 ALGUNS PROBLEMAS ECONMICOS BRASILEIROS: .................................79 3.3 OS PROBLEMAS ECONMICOS BRASILEIROS E A INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL ...........................................................................................................86 3.4 A INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL NA ECONOMIA BRASILEIRA...87
4. A EVOLUO DA QUALIDADE NA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL BRASILEIRA.............................................................................................................97 4.1 OS TRABALHADORES E A CONSTRUO CIVIL ........................................97 4.2 PRINCIPAIS CARACTERSTICAS DA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL NO BRASIL ...............................................................................................................100 4.3 TENDNCIAS DA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL ..........................102 4.4 A QUALIDADE NA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL BRASILEIRA 103 4.5 FATORES ATUANTES NA QUALIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUO CIVIL, SEGMENTO IMOBILIRIO .......................................................108 4.6 A CERTIFICAO ISO 9000 NA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL BRASILEIRA.........................................................................................................................111 4.7 OS PROGRAMAS DE QUALIDADE NA CONSTRUO CIVIL BRASILEIRA.........................................................................................................................114 4.7.1 Objetivos e Desenvolvimento dos Programas de Qualidade .................................114 4.7.2 Principais Programas de Qualidade da Indstria da Construo Civil Brasileira..115 4.7.3 Possveis Melhorias nos Programas Existentes: ....................................................120 4.7.4 A Experincia dos Sistemas de Gesto da Qualidade na Construo Civil em Outros Pases: .........................................................................................................................122
5 INDICADORES NA CONSTRUO CIVIL ..................................................129
5.1 INDICADORES: PROBLEMAS, NECESSIDADES E APLICABILIDADE NA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL ............................................................................129 5.2 EVOLUO DA MEDIO DE DESEMPENHO:............................................132 5.3 CLASSIFICAO DE INDICADORES..............................................................132 5.4 IMPLANTAO DE INDICADORES................................................................135 5.5 ALGUNS MODELOS DE SISTEMAS DE INDICADORES..............................136 5.6 DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DE INDICADORES .........................141 5.7 CONSIDERAES SOBRE OS SISTEMAS DE INDICADORES....................148
6 METODOLOGIA DA PESQUISA:...................................................................150 6.1 PROCEDIMENTOS, ESTRATGIA E MTODO DE ANLISE: ....................150 6.2 DESCRIO DO MTODO................................................................................156 6.3. TAMANHO DA AMOSTRA:...............................................................................158 6.4 INSTRUMENTOS DE MEDIDA .........................................................................159 6.5 LIMITAES DO MTODO ..............................................................................160
7 ANLISE DOS RESULTADOS ........................................................................161 7.1 INFORMAES GERAIS SOBRE AS EMPRESAS DO ESTUDO DE CASO 161 7.2 COMENTRIOS GERAIS. ..................................................................................164 7.3 RESULTADOS OBTIDOS ATRAVS DE TRATAMENTO ESTATSTICO ..176 7.4 DISCUSSO DOS RESULTADOS .....................................................................185 7.5 SUGESTES.........................................................................................................190
8 CONCLUSES FINAIS E SUGESTES PARA FUTUROS TRABALHOS 200 8.1 COMENTRIOS FINAIS.....................................................................................200 8.2 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS.................................................204
BIBLIOGRAFIA:.................................................................................................................206
APNDICES .........................................................................................................................224 APNDICE A ........................................................................................................................224 APNDICE B.........................................................................................................................236 APNDICE C.........................................................................................................................237 APNDICE D ........................................................................................................................239 APNDICE E:........................................................................................................................259
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- O Modelo da Inovao como Elo da Corrente .........................................................50 Figura 2- Relao entre as atividades de gerao de novas tecnologias ..................................57 Figura 3: O Conceito de Tecnologia ........................................................................................58 Figura 4 -Seis Fontes Chave de Vantagem Competitiva..........................................................64 Figura 5 - Estrutura da Cadeia Produtiva da Construo Civil ................................................89 Figura 6 - Diagrama de Fluxos .................................................................................................91 Figura 7- Situao das Pessoas Ocupadas na Construo Civil ...............................................98 Figura 8 - Desdobramento dos indicadores de resultado........................................................133 Figura 9- Percentual das Empresas No Certificadas Participantes .......................................162 Figura 10-Participao das empresas certificadas participantes.............................................163 Figura 11- Perfil respondentes empresas no certificadas......................................................164 Figura 12-Perfil respondentes empresas certificadas .............................................................165 Figura 13-Utilizao de Planejamento estratgico em PMEs no certificadas ......................168 Figura 14-Utilizao de Planejamento estratgico em PMEs certificadas ............................169 Figura 15- Situao das empresas no certificadas em relao implantao de SGQs .......170 Figura 16- Razes para No certificadas planejarem implantar SGQS..................................172 Figura 17-Principais razes para certificadas terem implantado SGQs .................................172 Figura 18- Percentual de PMEs certificadas pesquisadas com resultados dentro do esperado................................................................................................................................................176
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Histrico recente da indstria da construo civil no Brasil. ...................................16 Tabela 2- Classificao de empresas: construo civil ............................................................29 Tabela 3- Distribuio percentual das pessoas ocupadas por ramo de atividade na regio metropolitana do Rio de Janeiro...............................................................................................31 Tabela 4 - Habilidades bsicas e normas comportamentais .....................................................65 Tabela 5-Evoluo do Crescimento e da Inflao Brasileiras no Perodo 1948-2001 .............77 Tabela 6- Distribuio da populao ocupada por tempo de instruo....................................80 Tabela 7- Distribuio pessoal da renda do trabalho no Brasil de 1981 a 1995.......................85 Tabela 8- Produto Interno Bruto do Brasil e da Construo Civil 1991-2005.........................90 Tabela 9-Participao dos segmentos na comercializao de insumos....................................92 Tabela 10-Participao dos segmentos no mercado e volume de compras..............................92 Tabela 11- Tabela comparativa entre Regies Metropolitanas quanto a Mdia de Anos de Estudo e % de Analfabetismo 1998 /99 ...................................................................................99 Tabela 12- Condio de Migrao por Regies Metropolitanas- 1998/ 99..............................99 Tabela 13: Materiais e ndices de Conformidade...................................................................106 Tabela 14- Comparao entre os percentuais de empresas certificadas da construo civil e o percentual de empresas brasileiras certificadas por regio...................................................112 Tabela 15- Sistema inicial de indicadores ..............................................................................143 Tabela 16- Conhecimento das Ferramentas pelas PMEs No Certificadas............................166 Tabela 17- Conhecimento das Ferramentas pelas PMES certificadas ...................................167 Tabela 18-Dificuldades para implantar ferramentas de gesto e critrios de medio nas PMEs da construo civil ..................................................................................................................169 Tabela 19-Fatores que dificultam implantao de ferramentas de qualidade segundo PMES da construo civil.......................................................................................................................171 Tabela 20- Prazos estimados para implantao de SGQs em PMES no certificadas ...........171 Tabela 21-Peculiaridades da construo civil dificultando as PMEs implantarem SGQs .....173 Tabela 22-Fatores para vencer dificuldades inerentes ao setor segundo PMEs.....................174 Tabela 23-Importncia dos fatores econmicos para implantao de SGQs segundo PMEs 175 Tabela 24- Mdias dos indicadores para PMES certificadas e PMEs no certificadas..........177 Tabela 25- Comparao dos indicadores para PMES certificadas e PMEs no certificadas. 180 Tabela 26- Ordenao da verificao de dados a ser feita .....................................................181
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Indicadores para comparao entre as empresas..................................................147 Quadro 2- Construtos, Variveis, Fontes de Evidncia e Hipteses ......................................152 Quadro 3-Hipteses, questes-chave, conceitos e questes relacionadas ..............................153 Quadro 4- Hipteses da Tese, hipteses de teste e tipo de teste.............................................182
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ADEMI Associao de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobilirio
ANTAC Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo
BSC Balanced Scorecard
CBIC Cmara Brasileira da Indstria da Construo
CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo
CIDE Centro de Informaes de Dados do Rio de Janeiro
CNI Confederao Nacional das Indstrias
CTE Centro de Tecnologia de Edificaes
DIEESE Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Intersindicais
FGTS Fundo de Garantia de Tempo de Servio
FIRJAN Federao das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro
FPNQ Fundao Prmio Nacional da Qualidade
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INFOHAB Centro de Referncia e Informao em Habitao
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia
ISO International Standardization Organization
MDIC Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio
OCDE Organizao para o Desenvolvimento e Cooperao Econmica
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade da Habitao
PIB Produto Interno Bruto
PME Pequena(s) e mdia(s) empresa(s)
PNAD Programa Nacional por Amostragem Domiciliar
PNQ Prmio Nacional da Qualidade
QUALIPRO Sistema de Acompanhamento da Qualidade e Produtividade da Construo
RAIS Relatrio Anual de Informaes Sociais
SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio a Pequena e Mdia Empresa
SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial
SGQ Sistema de Gesto da Qualidade
SINDUSCON Sindicato da Indstria da Construo
SIAC Sistema de Qualificao das Construtoras
USP Universidade de So Paulo
1 INTRODUO
1.1 CONTEXTO
O setor da Construo Civil ocupa um papel importante no panorama econmico
brasileiro, sendo responsvel por cerca de 5,6% do total de salrios pagos aos trabalhadores,
19% do Produto Interno Bruto brasileiro e aproximadamente 9% do pessoal ocupado (Cmara
Brasileira da Indstria da Construo-2005). Alm de sua participao direta no Produto
Interno, a indstria da construo civil age sobre uma extensa cadeia produtiva de
fornecedores, servios de comercializao e manuteno. Fabrcio (2002), baseado em um
trabalho da Trevisan Consultores, considera a construo civil um setor locomotiva, j que
demanda inmeros insumos e servios.
O macro-complexo da construo civil est entre os dez setores que mais geram
empregos por unidade monetria instalada. Para cada mil reais investidos na construo, so
gerados R$ 561,54 de renda no prprio setor. Alm do valor adicionado internamente, so
gerados outros R$ 219,50 no fornecimento de matrias primas, totalizando R$ 781,04 de
renda direta e indireta relacionada ao investimento. A construo civil demanda, a cada ano,
sessenta e oito bilhes de reais em insumos (minerais, metalrgicos, material eltrico,
madeira) (Sinduscon- SP, 2003).
Para manter sua importncia no cenrio econmico brasileiro a indstria da construo
civil est passando por grandes mudanas. As empresas utilizam-se de vrias inovaes
tecnolgicas, sendo que algumas procuram se consolidar com uma estratgia competitiva para
as organizaes, conforme observado por Corra (2002). No entanto, Toledo et al (2000)
ressaltam que, devido aos riscos e incertezas inerentes s inovaes tecnolgicas no serem
aceitveis para boa parte do setor, apenas depois de consolidada que uma tecnologia passa a
ser adotada por um nmero razovel de outras empresas. Estes mesmos autores destacam,
15
ainda, que a natureza multidisciplinar dos projetos e a dependncia do desenvolvimento de
novos materiais e equipamentos para a produo, constituem outro tipo de obstculo para que
inovaes sejam adotadas.
O setor tem uma posio estratgica na gerao de empregos, j que implementa
novos postos de trabalho, com reduzidos investimentos, quando comparado com setores mais
intensivos em capital. Os insumos utilizados na construo civil so predominantemente
produzidos internamente e, ao mesmo tempo, contribuem significativamente para o
crescimento do pas com a gerao de infra-estrutura e de novas habitaes, alm da criao
de postos de trabalho. Este fato levou Fabrcio (2002) a concluir que a construo civil no
cria presses significativas na balana comercial do pas, tornando o setor estratgico para as
polticas pblicas de gerao de riquezas e criao de empregos. As poucas excees so
representadas por materiais derivados da indstria petroqumica, utilizados em tintas, PVC
etc., materiais que tm seus preos determinados pela cotao internacional, da mesma forma
que o ao.
Apesar de sua importncia para o setor econmico brasileiro, a construo civil
caracterizada como tradicional e conservadora conforme afirmam, Farah (1993), Picchi
(1993), Santiago (2002), Ambrozewicz (2003), Secretaria de Tecnologia Industrial (2003).
Todavia, Amorim (1995) ressalta que, embora lentas, as inovaes na construo civil esto
presentes e considera esta postura como uma estratgia das empresas. O que advm da opo
das empresas em dominarem um nmero restrito de solues para se contrapor enorme
variao dos produtos. Preferem, cuidadosamente, incorporar inovaes baseadas em
experincias anteriores.
Embora tenha havido nas ltimas dcadas inmeros esforos, a construo civil ainda
no conseguiu se igualar ao nvel de qualidade, produtividade e competitividade de outros
setores da economia brasileira e est bastante distante dos ndices da indstria da construo
civil americana. Dados de uma pesquisa realizada pela McKinsey (1998) no Brasil
demonstram que a produtividade da construo de residncias de 35% da verificada nos
Estados Unidos, a da construo comercial de 39% e a da construo pesada de 51%. Esta
pesquisa faz referncia a diversos problemas quanto padronizao e ao cumprimento das
normas tcnicas.
Para uma perfeita compreenso do setor, necessrio que se entenda sua perspectiva
histrica desde a dcada de cinqenta. Assim, reporta-se a Nascimento e Santos (2003) que
apresentam o quadro da indstria de construo civil no pas, com as caractersticas de cada
16
fase. Estes autores atestam que, nos ltimos cinqenta anos, o pas passou por dois picos de
desenvolvimento bem aproveitados pelo setor: na poca de Juscelino Kubitschek (50 anos
em 5) e na dcada de setenta com o milagre econmico. A partir da dcada de oitenta, o
setor entrou em grande recesso, perdurando at 2004, quando o pas, pela primeira vez,
apresentou crescimento superior a cinco por cento.
Tabela 1- Histrico recente da indstria da construo civil no Brasil.
Dcada Nvel de Atividade Caractersticas
Sessenta / Setenta Alto Crescimento do setor, obras de
arte,investimentos do governo, construo de
Braslia, milagre econmico.
Oitenta Baixo Mercado recessivo, poucos investimentos
governamentais, sem crescimento,
racionalizao da produo, desenvolvimento
tecnolgico.
Noventa/ Inicio Dois mil Baixo Grande competitividade, desenvolvimento
logstico, desenvolvimento das comunicaes,
tecnologia das informaes, desenvolvimento
sustentvel.
Fonte: adaptado de NASCIMENTO e SANTOS, 2003
Dados do Sub-comit da Indstria de Construo Civil no Programa Brasileiro de
Qualidade e Produtividade (1997) mostram que a rea de recursos humanos no setor
caracterizada pela insuficincia de programas de treinamento nas empresas, baixo
investimento em formao profissional, declnio do grau de habilidade e qualificao dos
trabalhadores de ofcio e elevada rotatividade. O resultado desta situao que os
empreendimentos de construo civil no primam pela qualidade. Dados de pesquisa
realizada pela USP (SOUZA, 2001) revelam que, em cada metro quadrado de obra, h cerca
de duzentos e setenta quilos de material desperdiado, onerando o custo de 3% a 8%. No caso
de placas cermicas, verificam-se perdas de 5 a 10%. Com concreto e ao, as perdas esto em
mdia na faixa de 9% e 11%. E o acabamento em obras, mesmo de luxo, no satisfatrio.
Observa-se, ento, na indstria da construo civil uma exigncia de mais qualidade e
17
produtividade, principalmente com a implantao de tcnicas gerenciais mais modernas.
Assim, tornou-se importante incorporar novas filosofias de construo, gerenciamento de
obras e buscar o comprometimento e o envolvimento dos trabalhadores. Para que se melhore a
qualidade final do produto, imprescindvel que haja treinamento e capacitao da mo de
obra.
Diversas iniciativas para a implantao de sistemas de qualidade vm sendo
impulsionadas pelo Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H),
que possui como fator crtico a participao dos trabalhadores para o sucesso desta
implantao. O PBQP-H tem impulsionado tambm a procura de novas competncias, devido
utilizao de novos procedimentos e tecnologias. J existe tambm no pas, no SENAI
(Servio Nacional de Aprendizagem Industrial), um centro nacional de difuso de tecnologia
e preparao de mo de obra que pode servir como multiplicador para a qualificao no setor.
H diversos exemplos de empresas, tais como a Construtora RJZ, que desenvolve um
programa de melhoria da qualidade, e a construtora gacha Teitelbaum, que estende suas
prticas de gesto a trabalhadores terceirizados e fornecedores. A partir destas experincias,
bem como das de outros setores da economia brasileira, pode-se indicar que para o avano do
setor, necessrio que as empresas apresentem em suas estratgias os seguintes aspectos
(LANTELME, 1999; ZANELATTO, YUKAREN e FABRIS, 2003):
Produzir em conformidade com normas tcnicas. Para isto ser necessrio um esforo das indstrias e rgos de classe do setor para padronizao e elaborao de normas,
devido insuficincia das existentes.
Treinar e elevar a qualificao da mo de obra para aumento da produtividade;
Modernizar a gesto empresarial e a gesto da qualidade atravs do emprego de tcnicas avanadas;
Utilizar indicadores gerenciais e de competitividade.
O setor caracteriza-se principalmente pela concentrao de microempresas. Conforme
dados do Senai (2005), 76% das empresas de construo civil concentram-se na faixa de
microempresas (at 9 empregados), seguido do grupo de pequenas e mdias empresas (entre
10 e 99 empregados) com 22,5%. A mesma pesquisa acrescenta que o setor de edificaes
responde por 66% do total de empresas e 98,2% do nmero de empregos da indstria de
construo civil.
18
O Relatrio de Resultados do Frum de Competitividade da Cadeia Produtiva da
Construo Civil (2002) aponta restries ao desenvolvimento e competitividade do setor,
sobretudo em relao :
1. Baixa eficincia produtiva;
2. Qualidade e produtividade insuficientes;
3. Insuficiente coeso da Cadeia Produtiva;
4. Problemas de marco institucional e;
5. Insuficincia de recursos.
Segundo o IBGE (Diretoria de Pesquisas, Departamento de Contas Nacionais), o PIB
da indstria da construo civil caiu 2,7% em 2001, 1,9% em 2002, 5,2% em 2003 e cresceu
5,8% em 2004. As principais causas foram: racionamento de energia eltrica em 2001 que
paralisou a atividade produtiva; a moratria argentina e os ataques terroristas em 2001 que
afetaram a atividade econmica no Brasil; as dvidas sobre a sucesso presidencial em 2002
com todos os efeitos sobre a taxa de cmbio e de inflao; e a forte poltica econmica
restritiva em 2003 que aumentou a taxa de juros com a conseqente queda no crdito.
Obviamente todos estes fatores drenaram recursos do setor de construo civil, inibindo os
esforos de melhoria e produtividade das empresas.
Segundo o CBIC (2005), atualmente, o governo procura desenvolver uma estratgia
para alcanar os objetivos e metas de desenvolvimento da indstria de construo, baseando-
se nas seguintes linhas de ao:
1. Programa de qualidade e produtividade na indstria de construo;
2. Programa de capacitao de recursos humanos;
3. Programa nacional de combate a perdas e desperdcios;
4. Programa nacional voltado para a preveno de acidentes na construo civil.
O governo procura tambm incentivar o setor atravs de vrias medidas
microeconmicas tais como: novos limites para financiamento de imveis usados com
recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Servio), maiores recursos para
financiamento da habitao e saneamento, alm do crescimento econmico do pas que
19
comea a dar os primeiros sinais de retomada. sem, no entanto, haver garantias de um
crescimento continuado.
A construo civil tinha, segundo dados do Sinduscon-SP (2003), 289.796 empresas.
Destas, 59% eram informais e 41% formais.1 Segundo esta mesma fonte, o segmento formal
responsvel por 36,8% do valor adicionado ao Produto Interno Bruto do pas pelo setor da
construo civil, correspondendo ao lado informal 63,2% do valor adicionado. O setor
informal respondeu por 61% da receita total do setor (Sinduscon- SP, 2003). A construo
civil adquiriu bens e servios de outros setores (consumo intermedirio) no valor de R$ 91,91
bilhes de reais, sendo que o setor informal foi responsvel por 59% deste valor. O setor
informal da construo civil foi responsvel por 66% do pessoal ocupado na construo civil,
ficando o setor formal responsvel pelo restante (Sinduscon- SP, 2003). O Estudo Prospectivo
da Cadeia Produtiva da Construo Civil (EPUSP,2002) aponta que R$ 52,69 bilhes de reais
so gastos na produo de unidades habitacionais, sendo que a auto construo responsvel
por R$ 11,21 bilhes de reais, ou aproximadamente 21,2% do fluxo de capital. O referido
relatrio demonstra que 60% das unidades habitacionais comercializadas no pas so
referentes autoconstruo. E este mercado tem como consumidor final o pblico de baixa
renda (at 5 salrios mnimos) e mdia renda baixa (de 5 a 10 salrios mnimos).
Da anlise destes dados, vem a constatao de que as pequenas e mdias empresas de
construo civil tm pela frente um grande desafio. Existe um mercado potencial em que
podem atuar, que o mercado da autoconstruo. No entanto, este mercado s ser disponvel
para organizaes que se disponham a suplantar os benefcios das informais. No h dvidas
de que o desafio enorme. As pequenas e mdias empresas esto em um momento em que
necessrio a tomada de importantes decises. Ou optam por competir neste mercado hoje
dominado pelas informais ou iro focar no mercado mais restrito de alta renda ou mdia alta
renda, enfrentando o poder das grandes empresas do setor. Estas tm maiores recursos
financeiros e facilidades de crdito para desenvolver Sistemas de Gesto da Qualidade,
utilizar novas tecnologias, criar mecanismos de financiamento etc. Ou seja, tudo que falta s
pequenas e mdias. No entanto, se as pequenas e mdias empresas decidirem competir no
mercado de baixa renda e mdia renda baixa, elas tero que ser excepcionalmente produtivas.
Iro competir com empresas informais que tm vantagens oriundas da prpria informalidade.
1 No conceito empregado no trabalho citado do Sinduscon (2003), empresas informais so aquelas constitudas por autnomos sem registro ou com empregados no registrados, no possuindo na maioria das vezes constituio jurdica.
20
Ou seja, possuem custo baixo, conhecem o mercado consumidor, tm mecanismos
informais de financiamento e, por estarem margem da lei, no pagam impostos e encargos,
resultando em custos muito competitivos. Alm disto, podem se adequar capacidade de
pagamento dos clientes, j que tm mais facilidades para ajustar o cronograma da execuo
de servios ao investimento disponvel dos clientes. Isto pode ser comprovado em qualquer
visita a bairros de populao de renda baixa, onde visualmente se constata a existncia de
obras que se arrastam h anos. O consumidor de renda baixa constri em etapas
condicionadas s suas disponibilidades financeiras e a informalidade se adapta a isto.
A soluo para as pequenas e mdias empresas pode estar na aplicao de alguns
princpios de inovao enumerados por Prahalad (2005) para os mercados de baixa renda:
1) O foco deve estar na relao preo-desempenho dos produtos e servios, ou seja, as
pequenas e mdias empresas de construo civil devem rever suas planilhas de custo
buscando esta adequao ;
2) As solues devem ser inovadoras, porm devem ser compatveis com a infra-
estrutura existente, ou seja, as pequenas e mdias empresas devem considerar as
necessidades destes consumidores de baixa renda: durabilidade e resistncia com baixo
custo e adequao possibilidade de obras com conceito de expanso. As PMEs
devem buscar novos mecanismos de atendimento a este tipo de consumidor;
3) A reduo da intensidade de recursos deve ser um princpio crucial no
desenvolvimento de produtos e servios. Talvez as pequenas e mdias empresas de
construo civil tenham que considerar a utilizao do prprio consumidor de baixa
renda como mo de obra, ou buscarem uma postura diferente como gestora de projetos,
ou desenvolverem projetos para auto-construo, porm atendendo s normas de
qualidade e segurana;
4) Os produtos e servios devem considerar os nveis de qualificao, infra-estrutura
deficiente e a dificuldade de acessar servios neste tipo de mercado.
Desta forma, comprimidas entre as grandes empresas que dominam o mercado de alta
renda e pelo setor informal que lhes rouba os consumidores de renda baixa e mdia renda
baixa, s resta s pequenas e mdias empresas reverem seus processos e produtos, adequando-
os aos princpios enunciados por Prahalad (2005). Algumas pequenas e mdias empresas da
21
construo civil entenderam que a implantao de um Sistema de Gesto da Qualidade pode
qualific-las para um posicionamento mais eficaz para enfrentar os desafios existentes.
No entanto, para se implantar um Sistema de Gesto de Qualidade h no s um custo
inicial alto como tambm o custo de manuteno do Sistema. Tal fato, em muitos casos,
proibitivo para as pequenas e mdias empresas. Problemas financeiros decorrentes dos
aspectos citados como: juros altos, falta de acesso ao crdito, baixa produtividade, etc. j
dificultam a continuidade destas empresas. Como, ento, investir em sistemas que podem
melhorar o seu desempenho, se inicialmente os custos aumentam? Em diversos contatos
mantidos pelo autor, com pequenos e mdios empresrios da construo civil, o aspecto custo
sempre ressaltado quando se discutiu a implantao de SGQs. Logo, a motivao para este
trabalho surgiu da curiosidade de se avaliar os resultados obtidos por PMEs da construo
civil, que se utilizam SGQs, comparativamente quelas que no os utilizam. Alm disto, este
assunto j vem sendo pesquisado h algum tempo pelo NITCON2. Baseados em trabalhos
anteriores de Amorim (1995,1998), desenvolveram um sistema de indicadores que ser
detalhado mais adiante nesta tese. Estes indicadores esto relacionados s seguintes
dimenses: Finanas, Recursos Humanos, Mercado e Produo.
Aps uma introduo da construo civil onde so apresentados alguns dados do setor,
suas caractersticas e iniciada a discusso de como as pequenas e mdias empresas do setor
esto posicionadas e quais os desafios para a implantao de Sistemas de Gesto da Qualidade
neste tipo de organizao, passa-se a detalhar qual a situao problema.
1.2 SITUAO PROBLEMA
Em vista dos problemas apresentados na introduo, observa-se um movimento que
visa a melhoria dos processos de gesto da qualidade na indstria de construo civil. De
acordo com o PBQP-H (2006), no setor privado, a adeso de construtoras aos sistemas de
qualidade do SiAC do PBQP-H est se consolidando como fator de diferenciao no mercado.
J so quase 3000 construtoras envolvidas, sendo que mais de 1500 j foram auditadas
por organismos certificadores do PBQP-H. Isso demonstra o alto grau de aceitao e a
credibilidade que o Programa conquistou no segmento de obras e servios de construo.
2 NITCON- Aplicaes de Novas Tecnologias de Informao no setor de Arquitetura, Engenharia e Construo. Grupo de Pesquisas do Programa de Ps Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense.
22
Os recursos demandados para a implantao de um Sistema de Gesto da Qualidade
so bastante dispendiosos3 e assim sendo, tal movimento em sua grande maioria constitudo
por empresas de grande porte da indstria da construo civil. As pequenas e mdias
empresas desta indstria apresentam enormes dificuldades de se engajarem neste movimento,
principalmente pelo alto custo de tal implantao (SOUZA & SAMPAIO, 1993,1995). Alm
disto, existem as dificuldades de capital resultantes da instabilidade do perodo econmico
vivido nos ltimos anos. O empresrio tpico deste segmento tem diante de si um dilema.
necessrio a melhoria de seus mtodos de gesto, a reviso de estratgias, a capacitao
prpria e de seus funcionrios, a busca da melhoria da qualidade e de novas tecnologias.
Porm, face instabilidade presente, no tem recursos nem incentivos para tal. Entretanto,
algumas pequenas empresas aceitaram este desafio e buscaram programas formais de
treinamento, processos padronizados, programas de qualidade e os resultados tm sido
promissores. Pode ser citado, como exemplo, a Teitelbaum que em 2003 ganhou o Prmio
Nacional da Qualidade, categoria Mdias Empresas (FPNQ, 2004).
No entanto, outras empresas no tm primado pela tentativa de melhorar seus
processos de gesto atravs da utilizao de programas formais de qualidade, programas de
aprimoramento da mo de obra, utilizao de sistemas integrados de gesto etc. Seria
necessrio que houvesse incentivo para que as empresas de construo civil investissem na
melhoria da qualidade e na inovao. Tal incentivo poderia ser representado pela certeza de
investimentos em obras e infra-estrutura por parte do governo. Porm, o governo federal com
a necessidade de obter supervits primrios crescentes restringe o investimento em obras de
infra-estrutura e saneamento. A Poltica Industrial, Tecnolgica e de Comrcio Exterior
(PICTE), divulgada pelo governo federal em maro de 2004, coloca a inovao como um de
seus pilares. No entanto, como a gesto econmica e financeira governamental resume-se
obteno de supervits primrios, no observando planos de investimento ou polticas de
incentivo inovao e desenvolvimento tecnolgico, o apoio governamental aos processos de
inovao tmido. Para 2006 o investimento do governo federal para todos os setores ser de
14,7 bilhes de reais, o que representa cerca de 0,7% do PIB brasileiro. E o setor da
construo civil, constitudo em sua maior parte por pequenas e mdias empresas, no tem
incentivos nem recursos para investir na implantao de Programas de Gesto da Qualidade. 3 Segundo dados obtidos com consultorias ( jan.2007) o custo estimado de implantao para uma empresa de construo civil fica no entorno de R$ 100.000,00 a R $150.000,00 compreendendo as etapas de preparao, identificao e avaliao das atividades, implementao dos sistemas de gesto interna, desenvolvimento de conscientizao, avaliao, preparao para certificao externa e certificao externa. O valor depender do tipo de atividade e do estgio de qualidade em que a empresa se encontra, segundo as fontes consultadas.
23
Situadas entre a ao do segmento informal, com todas as vantagens da informalidade, e as
grandes empresas com seu poder financeiro e melhores mtodos de gesto, as pequenas e
mdias empresas necessitam de uma tomada de posio iminente para que:
a) Posicionem-se face ao desafio do mercado informal, reduzindo seu custo atravs
do aumento da produtividade, eliminao de retrabalhos, aumento da qualidade.
b) Organizem-se em grupos de presso junto aos poderes executivo e legislativo para
que estes entendam a necessidade de financiamento para a implantao de SGQs.
Mas ser que h diferenas significativas em relao ao sucesso das pequenas e mdias
empresas que se capacitaram, utilizam Sistemas de Gesto da Qualidade e aquelas que nada
fizeram? Assim, deve haver um fator diferenciador para as pequenas e mdias empresas da
Indstria da Construo Civil que implementaram programas de melhoria de gesto. Isto o
que se pretende estudar atravs dos resultados obtidos pelas empresas no perodo da pesquisa
(2001-2005).
Em seguida, so enunciados os objetivos geral e especficos da tese, as hipteses e
questes especficas. Alm disto, estabelecem-se os pressupostos em que foram estabelecidos.
1.3 OBJETIVOS
Os objetivos deste estudo so os seguintes:
1.3.1 Gerais
Pesquisar as mdias e pequenas empresas de construo civil que utilizam Sistemas
de Gesto da Qualidade e verificar, atravs do conjunto dos indicadores desenvolvidos para as
dimenses definidas, se h diferenas no desempenho entre as organizaes que utilizam SGQ
e as que no utilizam.
Analisar se a instabilidade do setor e do ambiente econmico brasileiro afeta a
implantao de SGQs nas PMEs da construo civil.
Pesquisar quais os fatores decisivos para uma perfeita implantao de SGQs em
pequenas e mdias empresas de construo civil.
24
1.3.2 Especficos
Avaliar o desempenho das mdias e pequenas empresas de construo civil que utilizam SGQs em relao quelas que no utilizam, confrontando os resultados obtidos
nas dimenses: Finanas, Recursos Humanos, Mercado e Produo ;
Avaliar como as peculiaridades do setor escolhido para a pesquisa, influenciam na implantao de Sistemas de Gesto da Qualidade ;
Avaliar quais as razes do fracasso ou sucesso na implantao de SGQs nas PMEs da construo civil;
1.3.3 Hipteses e questes da pesquisa
Para que os objetivos mencionados fossem alcanados, partiu-se do pressuposto de
que a implantao de Sistemas de Gesto da Qualidade em pequenas e mdias empresas da
Construo Civil traz benefcios para as empresas. As organizaes tornam-se menos
suscetveis a imprevistos e, portanto, podem se organizar melhor e fazer um planejamento
mais adequado. Atravs de medies conseguem verificar quais os pontos deficientes,
permitindo que sejam feitos planos para a melhora contnua.
Supe-se, tambm, que as pequenas e mdias organizaes que no utilizam Sistemas de
Gesto da Qualidade tomam esta deciso devido inconstncia da economia brasileira ou s
caractersticas intrnsecas da construo civil. Como no tm mecanismos de melhoria
contnua, seus resultados devem ser piores que aquelas que tenham implantado Sistemas de
Gesto da Qualidade.
Dentro destas premissas as seguintes hipteses foram estabelecidas:
1.3.3.1 Hiptese 1 (H1)
As empresas de pequeno e mdio porte do ramo de construo civil, que utilizam
Sistemas de Gesto da Qualidade, apresentam melhor desempenho do que aquelas que no os
utilizam.
25
1.3.3.1.1 Questes chave da Hiptese 1
1) Como feito o planejamento estratgico das empresas que implantaram Sistemas de
Gesto da Qualidade? E naquelas em que no existe processo formal de planejamento, existe
algum planejamento?
2) Naquelas empresas onde existe planejamento estratgico, h critrios para a avaliao da
performance?
3) O conhecimento dos resultados da aplicao do SGQ chega a todos os nveis da
organizao?
1.3.3.2 Hiptese 2 (H2)
As caractersticas do setor de construo civil tais como as citadas por Meseguer
(1991): carter nmade, produtos nicos e no seriados, longo ciclo de aquisio-uso-
reaquisio, mo de obra de baixa capacitao constituem obstculo para a implantao de
SGQs nas pequenas e mdias empresas da construo civil.
1.3.3.2.1 Questes chave da Hiptese 2
1) A implantao e uso de SGQs sofre influncias das caractersticas do setor?
2) Quais peculiaridades influenciam na implantao e uso de tais sistemas?
3) Como as PMEs procedem para vencer as dificuldades impostas devido a estas
peculiaridades?
1.3.3.3 Hiptese 3 (H3)
As incertezas do ambiente econmico de um pas em vias de desenvolvimento, como o
Brasil, restringem a aplicao de SGQs em pequenas e mdias empresas de construo civil.
26
1.3.3.3.1 Questes chave da Hiptese 3
1) Como as pequenas e mdias empresas de construo civil tm adequado a implantao de
SGQs nos momentos de turbulncia econmica?
2) Foram disponibilizados pela Alta Administrao os recursos necessrios para o
desenvolvimento dos projetos de implantao?
3) Existem medio dos custos de implantao e dos retornos esperados?
1.4 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO
So as seguintes as justificativas da pesquisa:
1.4.1 No Contexto Institucional
Devido a fatores como:
a) importncia da Indstria da Construo Civil na economia brasileira e sua facilidade em
empregar grandes quantidades de mo de obra rapidamente, sem que os investimentos para
isso gerem presses significativas na balana comercial (FABRCIO, 2002);
b) insuficincia dos programas de treinamento e qualificao dos trabalhadores do setor
(Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, 1997);
c) as lacunas a serem preenchidas em termos de produtividade e qualidade
(McKINSEY,1998).
importante que se busque entender o ambiente empresarial das micros e pequenas
empresas, focando as necessidades de implantao de SGQs nestas empresas; sejam
verificadas as dificuldades de implantao destes sistemas; como esto posicionadas as
empresas que implantaram estes mtodos em relao quelas que no o fizeram.
1.4.2 No contexto da sociedade e da empresa
A realizao desta pesquisa permitir s pequenas e mdias empresas de construo
civil inteirar-se sobre a situao do segmento em relao implantao de SGQs; determinar
quais os fatores crticos para esta implantao, de maneira que as empresas se tornem mais
27
eficazes, com melhores produtos e servios; verificar o impacto da instabilidade do momento
econmico no processo de aprimoramento da gesto das empresas que implantaram SGQs;
verificar quais as razes do sucesso destas empresas, se constatado que houve benefcios na
implantao ou do insucesso, caso se constate que no houve melhorias; verificar como, a
nvel macroeconmico, as polticas de Estado e os nveis de relacionamento interferem no
sucesso da implantao de SGQs.
Em seguida, so explicadas as delimitaes da tese.
1.5 DELIMITAES DO TRABALHO
O presente estudo ficar restrito ao sub-grupo de pequenas e mdias empresas de
construo civil, do ramo de edificaes, j que este ramo corresponde a 82% das empresas
do setor de Construo Civil, com apenas 91 empresas com mais de 500 empregados (CBIC,
2003; RAIS, 2003; IBGE, 2003) No se aspira a estudar outro ramo da cadeia da construo
civil, nem que as constataes observadas sejam validadas para outros segmentos que no o
de pequenas e mdias empresas , dedicadas construo imobiliria. O estudo ser restrito s
empresas situadas no municpio do Rio de Janeiro, devido a limitaes de recursos e prazos.
1.6 METODOLOGIA:
Este trabalho engloba os seguintes campos do conhecimento:
a) Qualidade (melhoria dos processos produtivos);
b) Engenharia Civil (processos produtivos de construo civil);
c) Estratgia (estratgia competitiva) e;
d) Inovao (conhecimento tecnolgico e difuso do conhecimento).
Embora envolva a Engenharia, uma rea no campo das cincias exatas, a presente tese
est concentrada na atuao de pessoas e organizaes e, assim, utiliza procedimentos
metodolgicos afetos ao campo da pesquisa social. Para Gil (1999) pesquisa social o
processo que utilizando a metodologia cientfica, permite a obteno de novos conhecimentos
no campo da realidade social, realidade que segundo o mesmo autor envolve todos os
aspectos relativos ao homem em seus mltiplos relacionamentos com outros homens e
instituies sociais.
28
De acordo com Gil (1999), a pesquisa bibliogrfica desenvolvida a partir de material
j elaborado, constitudo principalmente de livros e artigos cientficos. Gil (1999) considera
que (...) a principal vantagem da pesquisa bibliogrfica reside no fato de permitir ao
investigador a cobertura de uma gama de fenmenos muito mais ampla do que aquela que
poderia pesquisar diretamente (...).
Cervo e Bervian (1983, apud AZEVEDO, 2002) afirmam que a pesquisa bibliogrfica
objetiva:
a) Evitar duplicidade de pesquisa;
b) Evitar problemas ocorridos em trabalhos anteriores;
c) Determinar a contribuio da pesquisa para a base do conhecimento e;
d) Obter fundamentao terica para o desenvolvimento do trabalho.
Gil (1999) conclui que as pesquisas exploratrias tm como principal finalidade o
esclarecimento e a modificao de conceitos e idias, tendo em vista a formulao de
problemas mais precisos ou hipteses pesquisveis para estudos posteriores. O mesmo autor
afirma que
(...) de todas as pesquisas, estas so as que apresentam menor rigidez no planejamento. Habitualmente envolvem levantamento de material bibliogrfico e documental, entrevistas no padronizadas e estudos de caso (...). Na verdade pesquisas exploratrias so desenvolvidas com o objetivo de proporcionar viso geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato (...).
Lakatos (1990) sugere que as seguintes questes sejam respondidas: Como?, Com
que?, Onde?, Quanto?. Estas perguntas sero respondidas atravs do estudo de caso. Sabe-se
que os crticos olham o estudo de caso com descrena. Yin (1994) aponta os seguintes
argumentos como os mais comuns contra a utilizao do estudo de casos:
1. Falta de rigor;
2. Influncia do investigador;
3. Falsas evidncias;
4. Vises viesadas;
5. So muito extensos e necessitam de muito tempo para serem concludos e;
6. Fornecem pouqussima base para generalizaes.
29
Tais afirmaes so veementemente refutadas por Yin (1994) ao salientar que um
estudo de caso uma investigao emprica que investiga um fenmeno contemporneo
dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenmeno e o
contexto no esto claramente definidos. Lopes Pinto (2002) afirma que o estudo de caso
pode descrever um contexto de vida real no qual uma interveno ocorreu e avaliar uma
interveno em curso e modific-la com base em um estudo de caso ilustrativo. Carmo-Neto
(1996) diz que o estudo de caso utiliza casos concretos ao invs de casos hipotticos, com a
finalidade de permitir que, atravs da maior convivncia com a sintomatologia dos problemas
e dificuldades inerentes ao caso, o estudante aprenda a diagnosticar e prognosticar a situao
e, sob orientao, indicar a terapia e os medicamentos que lhe parecem mais adequados.
Diante do exposto, foi adotada para o presente trabalho uma abordagem bibliogrfico-
exploratria, complementada pela utilizao do estudo de caso. Assim, os objetivos traados
para este trabalho podero ser mais facilmente alcanados. O objeto para o estudo de caso
sero as empresas construtoras certificadas comparativamente quelas no certificadas. Foram
consideradas pequenas e mdias empresas do ramo imobilirio da Indstria da Construo
Civil situadas no municpio do Rio de Janeiro. O critrio adotado para a classificao das
empresas o sugerido pelo SEBRAE, que reproduzido a seguir.
Tabela 2- Classificao de empresas: construo civil
Construo Civil Porte Nmero de funcionrios
microempresa At 19 pessoas ocupadas
pequeno porte 20- 99 pessoas ocupadas
mdio porte 100 -499 pessoas ocupadas
grande porte acima de 500 pessoas ocupadas
Fonte: SEBRAE, 2005
O mercado imobilirio na cidade do Rio de Janeiro vem alternando anos de elevado
nmeros de lanamento com outros de baixo nmero de lanamentos4. Em 1982, houve o
lanamento de 14.320 unidades em 217 prdios. Porm, este ano foi atpico, uma vez que ao
longo das dcadas de oitenta, noventa e incio do novo sculo, os lanamentos oscilaram entre
trs mil e sete mil unidades (Instituto Pereira Passos, 2003). Os anos dois mil iniciam-se com
um vis de baixa, diferentemente das dcadas anteriores, que apresentavam aps o primeiro
ano resultados melhores.
4 O nmero de lanamentos utilizado como indicador de atividade e no de produo.
30
Em 2000, o nmero de imveis residenciais cadastrados no municpio carioca era de
1.283.427 unidades, correspondendo a uma rea construda de 100.047.499 metros quadrados.
Deste total 53% correspondiam a apartamentos. Neste ano, o nmero de unidades de
comrcio e servios era de 188.643 unidades com uma rea construda de 36.717.573 metros
quadrados. As unidades industriais representavam 5.673 unidades com uma rea construda de
7.100.055 metros quadrados (Instituto Pereira Passos, 2003).
A tipologia predominante no mercado de lanamentos no Rio de Janeiro a de dois
quartos, embora venha apresentando queda. Em seguida, segue-se a tipologia de trs quartos,
que tem se mantido estvel nos ltimos anos. Um fato a ressaltar a expanso exagerada da
tipologia de um quarto no ano 2000. Neste ano houve uma reviso na legislao que
favoreceu a produo de unidades com servios (hotis residncia, flats etc.) (Instituto Pereira
Passos, 2003). Pode ser que esta alterao seja a explicao para o lanamento atpico da
tipologia de um quarto neste ano.
A construo civil na cidade do Rio de Janeiro, no incio da dcada de noventa,
absorvia 6% do total do pessoal ocupado, com cerca de 126.000 pessoas. Desde ento, h uma
tendncia constante de baixa, chegando a 2002 com 100.850 postos de trabalho na construo
civil, ou 4,2% do total de pessoal ocupado (Instituto Pereira Passos, 2003). Em paralelo
reduo do percentual ocupado na construo civil na cidade do Rio de Janeiro, dados do
Centro de Informaes de Dados do Rio de Janeiro (CIDE, 2004) evidenciam uma reduo
gradativa do pessoal ocupado na indstria, mas uma variao bem menor no percentual de
pessoal ocupado na construo civil. Isto refora o conceito de que a construo civil
absorvedora de mo de obra. Isto pode ser observado na tabela 3 .
31
Tabela 3- Distribuio percentual das pessoas ocupadas por ramo de atividade na regio
metropolitana do Rio de Janeiro
Distribuio percentual das pessoas ocupadas por ramos de atividade Anos Total Indstria Construo Civil Comrcio Servios
Outras atividades
1990 100,00 17,31 7,98 13,75 52,15 8,871991 100,00 16,75 8,62 14,14 52,18 8,261992 100,00 14,95 8,09 14,03 54,62 9,111993 100,00 14,30 7,67 14,54 54,09 9,381994 100,00 13,40 6,67 14,84 55,68 9,381995 100,00 13,31 6,43 14,99 56,25 9,011996 100,00 12,88 6,77 14,48 56,62 9,201997 100,00 12,31 6,42 14,55 57,29 9,411998 100,00 11,48 6,48 14,59 58,02 9,421999 100,00 11,04 6,36 14,56 58,24 9,782000 100,00 10,90 9,93 11,47 57,51 10,162001 100,00 10,53 6,62 14,56 58,15 10,132002 100,00 10,14 6,00 14,43 59,00 10,422003 100,00 12,78 7,81 19,21 59,48 0,73
Fonte: CIDE, 2004
Existem cento e vinte e quatro pequenas e mdias empresas no estado do Rio de
Janeiro, de acordo com o Cadastro Industrial do Estado do Rio de Janeiro 2003-2004
(FIRJAN, 2003). Destas, sete organizaes esto classificadas com qualificao A no PBQP-
H (abril/ 2006), situadas no municpio do Rio de Janeiro. Este grupo de empresas
representar, como amostragem, aquelas que tm Sistemas de Gesto. A escolha deste grupo
de empresas foi baseada no fato de que so organizaes que apresentam grau de qualificao
atestado e com nvel de evoluo mxima, avaliadas por um organismo certificador
acreditado. Constituem, tambm, um universo pequeno em relao ao nmero total de
empresas do setor. Assim, torna-se mais fcil que um nmero representativo de pesquisas
sejam feitas.
Para as que representam empresas sem Sistemas de Gesto da Qualidade utilizou-se o
Cadastro Industrial do Estado do Rio de Janeiro 2003-2004 (FIRJAN,2003) para selecionar as
empresas, excluindo-se as pequenas e mdias empresas de construo civil que tem
qualificao A, B, C ou D no PBQP-H (PBQP-H, abril/ 2006). Estas empresas foram
excludas pela razo de apresentarem critrios de qualidade (empresas A, B e C) ou terem
desejo de se qualificar (empresas D). Excluram-se, tambm, as pequenas e mdias empresas
que no esto situadas no municpio do Rio de Janeiro. O critrio de seleo dos dois grupos
ser apresentado mais adiante.
32
As empresas tero seu desempenho comparado em relao aos indicadores citados
anteriormente (para as dimenses: Finanas, Recursos Humanos, Mercado, Produo), bem
como sero feitas anlises em funo dos resultados obtidos da verificao de questionrios.
Estes indicadores sero detalhados no captulo cinco desta tese. A descrio da metodologia
da pesquisa ser feita, detalhadamente, em captulo posterior.
Algumas caractersticas especiais da cultura empresarial existente nas pequenas e
mdias empresas da indstria da construo civil ou peculiaridades do tipo de negcio podem
limitar as generalizaes necessrias para o assunto em estudo. Porm, com a utilizao de
tcnicas, planejamento e mtodos recomendados para o estudo de caso, pretende-se obter
evidncias aceitveis para estas generalizaes. Alm do mais, pela comparao entre as
experincias citadas pela literatura estudada e aquelas extradas dos questionrios, ser
retirado o aprendizado necessrio para a validao das hipteses.
apresentada no prximo item como a tese est estruturada, permitindo, assim, o
entendimento do desenvolvimento dos captulos e da seqncia adotada.
1.7 ESTRUTURA DA TESE
No captulo um feita a contextualizao da indstria da construo civil no Brasil.
Traa-se um histrico, os principais problemas, as caractersticas e as principais tendncias
do setor. Mostram-se a situao problema e condies atuais da construo civil relativamente
aos Sistemas de Gesto da Qualidade. Discutem-se as preocupaes do governo em relao a
programas de aperfeioamento da gesto empresarial para o setor. Abordam-se os objetivos
do estudo, delimitando quais pontos se pretende pesquisar. Isto bem entendido ao serem
feitas as principais hipteses e questes chave. Listam-se tambm as justificativas da
pesquisa.
No captulo dois, definem-se conceitos como inovao, conhecimento tecnolgico e
como se faz a difuso do conhecimento. debatido o conceito de que a implantao de
Sistema de Gesto da Qualidade uma inovao tecnolgica.
Em seguida, no captulo trs demonstrada a evoluo histrica econmica brasileira
no perodo 1930-2005 e detalhado o ambiente econmico do pas. No captulo quatro
mostrada a evoluo da qualidade na construo civil e no captulo cinco so feitas
referncias ao sistema de medio que permitir estabelecer comparao entre empresas de
construo.
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No captulo seis feita a descrio sobre a metodologia da pesquisa. apresentado o
universo da pesquisa e so explicados mtodos, procedimentos e estratgia de anlise,
terminando com as limitaes do mtodo. No captulo sete explica-se o desenvolvimento da
pesquisa, que tambm analisada neste captulo. As concluses finais e sugestes para
prximos trabalhos so apresentadas no captulo oito.
A seguir, feita a conceituao de inovao, difuso tecnolgica, conhecimento e
aprendizado e discutem-se as polticas de inovao. Atravs destas polticas o Estado pode
direcionar o desenvolvimento das PMEs. Procura-se concluir como estes fatores influem no
desenvolvimento da qualidade, inovao e gesto do conhecimento das pequenas e mdias
empresas da construo civil. abordado, tambm, o conceito de que a implantao de um
Sistema de Gesto da Qualidade uma inovao tecnolgica.
2 QUALIDADE, INOVAO E CONHECIMENTO NA CONSTRUO CIVIL
A inovao e o desenvolvimento tecnolgico so essenciais para que haja crescimento
do emprego e da produtividade, e a inovao ocorre em qualquer setor da economia, inclusive
no setor pblico. Durante as ltimas dcadas do sculo vinte, houve um grande avano no
nvel tcnico e no emprico, devido ao entendimento dos mecanismos que aceleram ou
retardam o ato de inovar. Tal fato reconhecido pela OCDE (1997). No entanto, apesar de se
viver uma importante revoluo tecnolgica, onde a economia mundial est sendo
transformada pelas novas tecnologias da informao e por mudanas ocorridas na
biotecnologia, materiais, informtica etc., estas alteraes tecnolgicas no se refletem em
aumentos na produtividade do fator total e nas taxas de crescimento da produo. O
documento da OCDE (1997), denominado Manual de Oslo, destaca tal fato.
O entendimento do processo de inovao importante para se verificar como ele afeta
a atividade econmica no Brasil e, em particular, a indstria da construo civil. O que ir
facilitar a concordncia do Sistema de Gesto da Qualidade como inovao tecnolgica
organizacional. Permitir, tambm, que as caractersticas deste processo nesta indstria sejam
esclarecidas. No caso da construo civil no Brasil, observa-se que ela difere de outros setores
econmicos, que se apresentam mais avanados em termos de qualidade e produtividade .
A consultoria McKinsey (1998) elaborou um extenso relatrio sobre os principais
segmentos econmicos brasileiros em relao aos nveis de qualidade e produtividade. Neste
relatrio (McKINSEY, 1998), so apontadas diferenas significativas entre os nveis de
qualidade e produtividade da construo civil brasileira e americana. Para a reduo destas
diferenas, empresas e governo devero pagar pelos custos do desenvolvimento tecnolgico,
implementando os necessrios investimentos. Se no houver uma conscientizao de que
preciso investir na melhoria da qualidade e produtividade da construo civil, as diferenas
em relao a outros pases nunca sero diminudas.
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Um outro problema no atual estgio da indstria da construo civil a capacitao
tcnica dos recursos humanos em toda a estrutura organizacional. Para uma economia baseada
no conhecimento, a inovao desempenha um papel central. E para que as empresas de
construo civil desenvolvam a inovao necessrio que possuam competncias estratgicas
e organizacionais. Por competncias estratgicas a OCDE (1996) entende viso de longo
prazo, capacidade de antever e antecipar tendncias de mercado, processar e assimilar
informaes tecnolgicas. Competncias organizacionais so a disposio para o risco e
capacidade de gerenci-lo, cooperao entre os diversos departamentos , pesquisas de pblico,
clientes e fornecedores, envolvimento na mudana e investimento nos recursos humanos.
Na construo civil, ainda no se observam as caractersticas ressaltadas pelo referido
estudo da OCDE (1996). Muoz (2001) considera que o gerenciamento das empresas
construtoras ainda caracterizado por uma baixa orientao para o futuro. As estratgias so
escolhidas com o objetivo do curto prazo e de reagir s necessidades do mercado. No existe
disposio para o risco, nem cooperao interna entre os departamentos.
As caractersticas consideradas pela OCDE e as concluses de Muoz podem ser
extrapoladas para as PMEs da construo civil. No h envolvimento das PMEs da construo
civil no processo de gerenciamento do conhecimento. Pode ser concludo que parte desta
falta de envolvimento devida baixa qualificao da mo de obra utilizada na construo
civil. Amorim (1995) afirma que o operrio da construo civil desenvolve mais
habilitao do que qualificao. Desta afirmao pode ser deduzido que as empresas no
desenvolvem sistemas de gesto das melhores prticas nem processos de aprendizado e
controle, utilizando-se do argumento da baixa qualificao dos funcionrios. Assim,
necessrio que seja feito um esforo para sua melhor qualificao, permitindo que se tornem
mais produtivos e que tenham um melhor entendimento da aplicao de normas e
procedimentos.
Neste ambiente da construo civil, com poucos recursos para investimento, baixa
capacitao tcnica dos recursos humanos, deficincia de qualidade e produtividade,
importante que se entenda a conceituao de inovao e gesto do conhecimento e como,
atravs destes mecanismos, alcanar a qualidade e produtividade. Em seguida, passa-se a esta
conceituao.
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2.1 CONCEITUAO DE INOVAO
Inovao compreende todos os passos cientficos, tecnolgicos, organizacionais,
financeiros e comerciais, inclusive investimentos em novos conhecimentos que de fato levam
ou pretendem levar implantao de produtos ou processos tecnologicamente aprimorados.
Alguns podem ser inovadores por si mesmos, outros no so novos, mas so necessrios para
a implantao. A inovao pode se dar atravs de mudanas organizacionais significativas,
ou alteraes em produtos e processos. A inovao organizacional, segundo a OCDE (1997)
composta de:
a) introduo de estruturas organizacionais significativamente alteradas ;
b) implantao de orientaes estratgicas novas ou substancialmente alteradas;
c) implantao de tcnicas de gerenciamento avanado.
De acordo com o entendimento da OCDE (1997) conclui-se que a implementao de
um Sistema de Gesto da Qualidade caracteriza-se como uma inovao organizacional. Esta
implementao permite que as estruturas organizacionais sejam alteradas, atravs da melhoria
contnua, do estabelecimento de indicadores, da gesto dos recursos etc. Desta forma, novas
orientaes estratgicas so implantadas. Este processo est em andamento na construo
civil brasileira, atravs de iniciativas como o PBQP-H, PSQ- Qualihab e outros, dos quais se
falar mais adiante.
A implantao das estratgias segue diferentes alternativas, dependendo das
caractersticas intrnsecas de cada setor. Desta forma, necessrio que se conhea como a
implementao das estratgias age sobre estes setores. Dosi et al (1990) apresentam uma
classificao setorial, considerando que as diferentes trajetrias tecnolgicas das indstrias
podem ser explicadas pelas condies de cumulatividade, oportunidade e apropriao das
tecnologias. Esta classificao, que foi desenvolvida baseada em observaes sobre os pases
industrializados, classifica os setores em:
Indstrias dominadas por fornecedores (supplier dominated) englobando os setores tradicionais na manufatura, agricultura, habitao, produo familiar informal e
diversos servios profissionais, financeiros e comerciais. Geralmente, so indstrias
compostas por firmas pequenas, com fraca capacitao em engenharia e realizao
interna de pesquisa restrita. Tais caractersticas so observadas na construo civil,
onde equipamentos (elevadores por exemplo) ou alguns materiais (como placas
37
cermicas) tm todo o desenvolvimento feito pelos fornecedores que lideram o
processo, sendo as construtoras meras usurias.
Setores intensivos em escala, incluem os fabricantes de materiais padronizados e de bens de
consumo durveis e veculos. Fazem parte de um sistema de produo complexo, onde os
riscos de falha, decorrentes de mudanas radicais, so altos. Assim, as tecnologias so
desenvolvidas de maneira incremental, baseadas em experincias anteriores. Na construo
civil podem servir como exemplos: revestimentos, estruturas metlicas etc;
Fornecedores especializados (specialized supplier firms) so empresas de pequeno porte que fornecem insumos de alta performance na forma de softwares, mquinas,
componentes ou instrumentos. A acumulao tecnolgica ocorre atravs do desenho,
construo e utilizao dos insumos de produo. As empresas se beneficiam da
experincia operacional de seus usurios atravs de informaes, tcnicas e
identificao de possveis melhorias a serem realizadas, e, tambm, o fornecimento de
instalaes de teste e recursos. Como contrapartida, estes fornecedores do a seus
clientes o conhecimento especializado e a experincia que resultam do projeto e
fabricao de equipamentos para diversos outros clientes. Na construo civil, pode-se
considerar neste caso escritrios de arquitetura, pequenas empresas especializadas em
controle de qualidade, fornecedores de esquadrias etc.;
Fornecedores baseados em cincia (science based) que encampa as indstrias qumica e eletroeletrnica, onde a acumulao tecnolgica vem dos laboratrios das empresas.
muito dependente dos conhecimentos e competncias gerados em universidades e
institutos de pesquisa.
Depois de demonstrada a classificao setorial das empresas segundo a trajetria
tecnolgica, importante o conhecimento das caractersticas da inovao. Esta deve
apresentar as seguintes caractersticas, segundo Schumpeter (1934):
Introduo de um novo produto ou mudana qualitativa em produto existente;
Inovao de processo que seja novidade para uma indstria;
Abertura de um novo mercado;
Desenvolvimento de novas fontes de suprimento de matria prima ou outros insumos
Mudanas na organizao industrial.
Uma empresa inovadora caracteriza-se pela implantao de produtos ou processos
tecnologicamente novos ou com substancial melhoria tecnolgica. A criao dos primeiros
microprocessadores pode ser exemplificada como um produto tecnologicamente novo,
38
enquanto a utilizao dos mtodos do Project Management Institute para gerenciamento de
projetos uma inovao de processos tecnologicamente novos. Schumpeter (1934) v a
inovao tecnolgica como a fora central do dinamismo do sistema capitalista. Sua
abordagem terica considera a inovao tecnolgica um fator fundamental para explicar o
desempenho econmico, alm de ser um elemento de diferenciao competitiva entre as
empresas, tornando-se a pea principal da dinmica do capitalismo.
A teoria schumpeteriana parte do modelo de fluxo circular do sistema econmico,
segundo o qual uma economia estacionria se reproduz sem alteraes substanciais. O
desenvolvimento ocorre ao se romper este fluxo circular, com o surgimento de grandes
inovaes tecnolgicas que ocorrem descontinuamente ao longo do tempo. Tais inovaes
podem ocorrer dentro das categorias abordadas anteriormente. Schumpeter (1934) acredita
que o desenvolvimento no se d continuamente, e sim alternando perodos de recesso e
crescimento. As fases prsperas relacionam-se com a difuso de inovaes importantes na
produo. Os demais empresrios ao verem que aqueles, inovadores, capturam lucros
monopolistas derivados da introduo de novos produtos e/ ou processos, decidem imit-los,
surgindo uma onda de investimentos que estimula a economia. Posteriormente, Schumpeter
(1961) ressaltou que as grandes empresas desempenham um papel muito importante como
fulcro do crescimento econmico, atravs da acumulao de conhecimento no transfervel
em determinados mercados tecnolgicos. Tal fato denomina-se acumulao criativa.
Os autores neo-schumpeterianos, tais como: Dosi (1984), Nelson e Winter (1982),
Possas (1988), etc. afirmam haver diferenas entre as duas abordagens de Schumpeter atravs
da combinao de quatro fatores referentes aos regimes tecnolgicos:
a) oportunidades tecnolgicas: referem-se probabilidade de ocorrer inovaes, dado um
certo esforo para que isto ocorra, dependendo de como o setor vai aproveitar os avanos
tecnolgicos de clientes e fornecedores e da interao com o progresso cientfico que acontece
em centros de pesquisa e em universidades;
b) as condies de apropriao tecnolgica: dizem respeito s possibilidades de absorver os
lucros da inovao e a capacidade de proteo em relao aos imitadores. Inclui patentes,
segredos, efeito das curvas de aprendizado, lideranas etc.;
c) a natureza do conhecimento: refere-se a como o conhecimento pode ser aplicado
universalmente, sua disponibilidade etc.;
d) a cumulatividade tecnolgica: aborda a natureza do processo de aprendizado, no quanto o
progresso tecnolgico decorrente do estoque tecnolgico existente.
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Dosi et al (1990) acreditam no progresso tecnolgico como o motor central na
promoo do desenvolvimento econmico. No entanto, ressaltam tambm a importncia das
inovaes incrementais como fator de diferenciao entre as organizaes. Estas ocorrem com
maior freqncia do que aquelas, provocando modificaes marginais no desempenho do
sistema econmico. A construo civil se enquadra nos processos de inovao citados por
Dosi, j que se utiliza de melhorias incrementais e da cumulatividade na formulao de
inovaes (AMORIM,1995). As empresas de construo civil, talvez por lidarem com uma
variabilidade grande de processos, preferem utilizar melhorias incrementais. Tambm, a baixa
qualificao profissional e a insuficincia de recursos podem ser outras explicaes para esta
postura. fato conhecido a inexistncia de setores de Pesquisa e Desenvolvimento nas
empresas de construo civil, quanto mais nas PMEs deste setor. Mesmo no Brasil, de um
modo geral, os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento no so significativos quando
comparados a outros pases. Nos pases desenvolvidos e em alguns pases asiticos de
industrializao recente (em ingls conhecido como new industrialized countries, ou NICs),
as empresas so as principais responsveis pela inovao tecnolgica. Segundo Matesco e
Hasenclever (1996), a participao das despesas executadas por empresas pblicas e privadas
dos Estados Unidos, Japo, Alemanha, Canad, Itlia e Espanha (dados dos anos noventa) em
relao s despesas totais de Pesquisa e Desenvolvimento era superior a 50%, enquanto que
no Brasil o percentual era de cerca de 25%.
Muoz (2001) enfatiza que praticamente nenhuma empresa de construo civil possui
setores de Pesquisa e Desenvolvimento voltados para a insero de sistemas e processos
construtivos que busquem a racionalizao e a industrializao e que se orientem para a
simplificao da execuo.
Dentro da abordagem neo-schumpeteriana, diversos autores procuraram demonstrar a
importncia da inovao tecnolgica como determinante chave da competitividade
econmica. Freeman (1963, 1965, 1968) apud Tigre (2002), ao estudar a indstria de
plsticos, concluiu que o progresso tcnico leva liderana na produo desta indstria, j
que os segredos comerciais e patentes do proteo por certo perodo ao inovador. Quando
comea a haver imitao do produto, fatores mais tradicionais de ajustamento e especializao
passam a determinar os fluxos comerciais. O autor tambm verificou que o domnio do
mercado mundial de bens de capital eletrnicos pelos Estados Unidos derivava de sua
liderana tecnolgica no setor, assim como a liderana alem no setor qumico associava-se a
elevados investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento. Destes estudos, Freeman conclui
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que o hiato entre inovadores e imitadores est relacionado sustentao do fluxo de inovao
e ausncia ou fragilidade das externalidades necessrias para inovar nos imitadores. Novas
tecnologias concorrem com as tecnologias existentes e, se forem melhores, as substituem.
Como o setor da construo civil pouco se utiliza da absoro de novas tecnologias, no
comum a aplicao de novas tcnicas construtivas neste segmento. As novidades so
direcionadas pelos fornecedores. A utilizao de inovaes restrita. Um exemplo da
aplicao de novas tecnologias na construo civil a introduo de novas tcnicas para a
construo de varandas em prdios antigos. O uso de estruturas de ao pr-fabricadas com
tcnicas de montagem industrial, permitiu que algumas empresas tivessem vantagem na
utilizao desta tecnologia, ocasionando a obteno de diversos contratos para adio de
varandas em prdios antigos da zona sul do Rio de Janeiro. Outro exemplo a utilizao de
divisrias de gesso acartonado para paredes internas em construes residenciais e
comerciais, reduzindo custos de mo de obra, ganho de espao interno e permitindo a
utilizao de estruturas mais esbeltas.
Freeman (1979) salienta que um processo de inovao com chances de sucesso
depende de uma combinao favorvel de oferta de tecnologia e demanda do mercado. O
autor ressalta a importncia de que, do lado da oferta, haja: (i) conhecimento tecnolgico e
cientfico; (ii) recursos humanos; (iii) informaes sobre o mercado desejoso daquela
inovao; (iv) capacitao gerencial para garantir a pesquisa, desenvolvimento, produo e
vendas; e (v) recursos financeiros disponveis. Pode-se afirmar que nenhuma destas condies
se encontra disponvel nas pequenas e mdias empresas da construo civil. A bibliografia
mostra uma fraca disponibilidade de conhecimento tecnolgico e cientfico, existncia de
poucos recursos humanos qualificados, falta de informaes disponveis sobre o mercado e
pouca disponibilidade de recursos financeiros. Como no h estoque tecnolgico disponvel,
tampouco mo de obra qualificada, nem recursos financeiros disponveis, no resta s PMEs
outra alternativa em relao ao desenvolvimento da inovao, seno inovar atravs da
melhoria incremental.
Para uma empresa inovar, ou seja, mudar capacidades, desempenho e ativos
tecnolgicos, existem trs tipos de opes:
a) Estratgicas, tais como decises sobre tipos de mercados em que iro atuar, que
tipos de inovaes que neles tentaro introduzir.
b) Pesquisa e Desenvolvimento, referente a decises relativas pesquisa bsica,
pesquisa estratgica e conceitos de produtos.
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c) No Pesquisa e Desenvolvimento, onde a empresa pode envolver-se em muitas
atividades que no tm relao direta com P&D, embora desempenhem papel importante na
inovao, tais como: identificar novos conceitos de tecnologia de produo, treinamento,
reorganizao de processos etc.
As empresas de construo civil no so fortes nas opes estratgicas ou de pesquisa
e desenvolvimento, preferindo optar pela terceiro tipo de opo, ou seja a no pesquisa e
desenvolvimento, como por exemplo os Sistemas de Gesto da Qualidade.
A mudana organizacional considerada como uma inovao apenas se houver
mudanas mensurveis nos resultados, tais como aumento de produtividade ou vendas.
Empresas de construo civil que estejam certificadas pela ISO 9001:2000 ou estejam dentro
dos critrios do PNQ atendem estas caractersticas. Estas empresas tm processos de
orientaes estratgicas novas, implantam tcnicas de gerenciamento avanado e, atravs dos
ndices de mensurao, podem comprovar as mudanas nos resultados. Esta argumentao
fortalece a tese aqui considerada, e que ser vista em detalhes mais adiante, de que Sistemas
de Gesto da Qualidade representam uma inovao tecnolgica.
No faz sentido haver inovao tecnolgica se no houverem condies para sua
difuso. Desta forma, em seguida, aps ter sido feita a conceituao de inovao, discute-se
como a mesma difundida.
2.2 DIFUSO TECNOLGICA
O crescimento econmico depende no apenas do aparecimento de inovaes, mas
tambm de condies que permitam sua difuso. A difuso tecnolgica , via de regra, de
longa durao e envolve o aprimoramento incremental, tanto de novas tecnologias, como das
j existentes. O assunto da difuso tecnolgica tem sido estudado por autores como Matesco
(1993), Tigre (1997) e organizaes como a OCDE (1996).
Dosi et al (1994) sustentam que a difuso da inovao no algo instantneo e
esclarecem que esta pode ser atrasada por fatores como: a) falta de infra-estrutura adequada
para que a assimilao ocorra; b) diferenas entre os agentes envolvidos; c) tempo necessrio
para absoro e desenvolvimento de novas competncias necessrias. Todos estes fatores
esto presentes na construo civil, dificultando, ento, o processo de difuso. No h, por
parte das empresas de construo civil, uma infra-estrutura que permita a assim