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Data 15 a 19/112012 Ano I Número 77

15 a 19 Nov 2012

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Clipping Combate às Drogas

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AnoI

Número77

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Se a lei pegar, os efeitos podem vir à América Lati-na. Os EUA apoiam a política proibicionista aqui como ninguém. Ela começa a morrer justo onde nasceu?

Enquanto o mundo inteiro contava os votos de Ba-rack Obama e Mitt Romney, dois Estados americanos aprovavam leis que podem, em médio e longo prazo, mudar a política de drogas global de um modo interes-sante para a América Latina.

A Califórnia legalizou o uso medicinal de maconha em 1996. Desde então, outros 18 Estados e o Distrito Federal fizeram o mesmo. Mas agora Washington e Co-lorado aprovaram a legalização do comércio de maco-nha para quem quer, digamos, simplesmente ficar cha-pado. Aqui e acolá, o que se pode esperar disso?

Para começar, uma briga federal. O comércio de maconha continua crime na esfera nacional. Será que Obama respeitará a autonomia dos Estados em assunto tão delicado?

Nas eleições, ele e Romney não se pronunciaram. O chefe da DEA, agência federal antinarcóticos, tam-bém não, apesar da pressão conservadora para que se colocasse contra a legalização. Havia o temor de que qualquer posicionamento influenciaria eleitores no pleito principal.

Eleito, é provável que Obama evite conflito direto, pois a autonomia estadual é sagrada nos EUA. Dar uma “dura” nos Estados sairia politicamente caro, especial-mente com ele tendo sido eleito sem grande vantagem e sem maioria na Câmara.

Nada impede, porém, que promotores e polícia busquem brechas jurídicas e burocráticas para impedir, na prática, que a lei entre em vigor. Na Califórnia, por exemplo, a promotoria ameaçou desapropriar imóveis de quem os alugasse para o comércio de maconha me-dicinal -tráfico de drogas, na visão federal. Foi o sufi-ciente para fechar dezenas desses locais em Los Ange-les, epicentro do uso “terapêutico” da erva.

E não se pode ignorar que o eleitorado de Obama é o mais jovem e progressista, o mesmo vota pela le-galização. Ele também teve amplo apoio de minorias raciais, a fatia mais encarcerada pelo uso de drogas.

E se a lei realmente pegar? Experiências de des-criminalização pelo mundo mostram que não processar usuários criminalmente não tem efeito direto sobre o consumo. Em nenhum lugar que fez isso houve boom de consumo. O efeito de regulamentar o comércio para uso recreativo, no entanto, é mais incerto.

Na Holanda, onde a venda de maconha foi autori-zada na prática e sem muito alarde nos anos de 1970, não houve um boom no uso. Na Califórnia, onde a ma-conha medicinal é vendida para qualquer dor de cabeça desde 1998, também não.

Mas quando a Lei Seca americana foi revogada, em 1933, por causa do tesouro que o tráfico de bebida virou para gangsters, o consumo de álcool escalou ra-pidamente. E não podemos ignorar que hoje, álcool e tabaco são as drogas mais usadas do mundo pois são socialmente mais aceitas -seu caráter lícito certamente contribui para isso.

Segundo as pesquisas mais recentes, o uso de ma-conha em Washington tem crescido em ritmo lento, conforme a média americana. Em Colorado, o consu-mo entre adolescentes chegou a diminuir desde a apro-vação da maconha medicinal em 2000 -pois é. Se no-vas pesquisas mostrarem uma mudança radical nessas tendências, é provável que a legalização seja revogada. Se elas não mudarem demais, no entanto, a chance de os dois Estados provocarem uma reação em cadeia é grande.

Entra a América Latina na história: o efeito dominó certamente se alastraria para além da terra do Tio Sam.

Afinal, os EUA são fundadores e guardiões da po-lítica proibicionista instaurada globalmente a partir do século 20 -e os países latino-americanos são fieis e compulsórios seguidores. Se questionada dentro do próprio país (e a primeira dúvida já foi plantada), os EUA não terão mais autoridade para pressionar diplo-maticamente outros países. Especialmente quando con-tinente sofre como nunca nas mãos do narcotráfico.

Difícil acreditar que nossos governos, mesmo tão servis, aceitem por muito tempo a obrigação de proibir e reprimir a maconha se parte dos americanos o toleram e arrecadam impostos com isso. O desenrolar dessa no-vela em Colorado e Washington pode fazer a política de drogas vigente no mundo começar a desmoronar exatamente a partir do lugar em que começou a ser le-vantada.

TARSO ARAUJO, 35, jornalista, é editor da revista “Galileu” e autor do “Almanaque das Drogas” (Leya)

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propó-sito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensa-mento contemporâneo. [email protected]

Folha de SP – SP – on line – 15.11.2012 Tarso araujo

Maconha legalizada nos EUA. E agora?

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braSil econômico - P. 39 - SP - 16.11.2012

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hoJe em dia - mg - P. 18 - 15.11.2012

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o TemPo - mg - P. 12 - 15.11.2012

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