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Parte XVI Invesgaciones y Estudios Interdisciplinarios de los Lenguajes Arscos: Danza, Teatro, Música y Artes Pláscas

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Parte XVI Investigaciones y Estudios Interdisciplinarios de los Lenguajes Artísticos: Danza, Teatro, Música y Artes Plásticas Resumo Abstract Palavras-chave: Dança Popular, Linguagem artística, Educação Pluricultural. Keywords: Popular Dance, Artistic Language,Multicultural Education.

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Parte XVIInvestigaciones y Estudios Interdisciplinarios

de los Lenguajes Artísticos: Danza, Teatro, Música y Artes Plásticas

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Danças Populares: Experiências Interdisciplinares de Ensino e Criação Artística em Escolas e Comunidades Brasileiras

Amélia Vitória de Souza CONRADO Doutora em Educação

Universidade Federal da Bahia (UFBA) Departamento de Educação Física / Faculdade de Educação

Université Paris 8- França Estágio Pós-Doutoral

[email protected] Resumo As danças populares brasileiras são entendidas hoje, enquanto concepção, história e pensamento como linguagem artística pluricultural e interdisciplinar, superando assim, preconceitos e discriminações frente aos padrões hegemônicos. Expressa-se pelos corpos dançantes, em diferentes formas, espaços, lugares no contexto cultural de onde originam-se. As experiências interdisciplinares de ensino e criação de base para este estudo e pesquisa, partem da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia que atualiza e aplica uma metodologia própria de dança popular aos diferentes níveis de formação, e da Escola Profissionalizante do Bloco Afro Carnavalesco Ilê Aiyê na cidade de Salvador-Bahia, através de seus cursos, oficinas e espetáculos que redimensionam o conteúdo das tradições, cerimônias e rituais afro-brasileiros como recurso para novas elaborações. Em ambas as instituições, o entrelaçamento entre música, movimento, elemento cênico são extraídos da própria referência cultural desta linguagem buscando novos sentidos. Os resultados observados nessas experiências, articulados a aportes teórico-metodológicos, ampliam possibilidades de conhecimentos em discussão, nos cursos de formação acadêmica nas universidades brasileiras, sobretudo, a dança no campo da arte, da imagem, da educação na diversidade cultural. Palavras-chave: Dança Popular, Linguagem artística, Educação Pluricultural. Abstract Considering its advances as history, concept and thought, the Brazilian popular dances can be understood nowadays as a multicultural and interdisciplinary artistic language that overcomes prejudice and discrimination when faced with hegemonic criteria. It expresses itself through dancing bodies, in different forms, spaces and places, and does it so within the cultural context that originates those popular dances. The basis of this study and research comes from practical experience, accumulated while teaching and creating those dances at the Escola de Dança da Fundação do Estado da Bahia, a foundation that actualizes and applies its own methodology of the popular dance in different levels of training; as well as the Escola Profissionalizante do Bloco Afro Carnavalesco Ilê Aivê, a vocational school based in the city of Salvador, located at the state of Bahia, who through its classes, workshops and

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presentations re-signify the context of traditions, cerimonies and afro-brazilian rituals as resources for new collaborations. Both institutions practice the entanglement between music, movement and other scenic elements as a form of creation, extracting them from its own cultural reference in search of a new meaning. The results gathered from these experiences, articulated to methodological and theoretical references, expand the possibilities of knowledge in discussion at the many academic courses at Brazilian universities, especially when it comes to Dance in the fields of arts, representation and education in cultural diversities. Keywords: Popular Dance, Artistic Language,Multicultural Education.

ste trabalho em processo é parte da pesquisa “Dança e Educação: olhares estéticos de corpos políticos na diversidade humana e cultural no Brasil e na França” em cumprimento ao estágio de pós-doutoramento no exterior, entre 2010-2011. É

subvencionado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pesquisa e Ensino Superior (CAPES) e pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); tem a supervisão do filósofo professor François Soulages da Université Paris 8 /Institut National d’Histoire de l’Art e diretor da equipe de pesquisa AIAC « Arts des images & art contemporain » (Paris-França). Na dinâmica em que o mundo se encontra, entre a ação do capitalismo e sua desenfreada oferta de produtos de consumo, a revolução tecnológica da comunicação e suas redes de informação e reagindo aos mecanismos de dominação que esse fenômeno gera, encontram-se às manifestações dos movimentos sociais que lutam pelo respeito à cidadania, ao equilíbrio planetário e à justiça aos povos em distintos contextos. Nessas tensões, tornam-se complexas as explicações das práticas humanas. É imersos em questões desta natureza, que este estudo aborda as danças populares que se desenvolvem nos projetos educativos, artísticos e sócio-culturais na cidade de Salvador-Bahia. Para tanto, recria-se metodologias para o ensino e produção de arte, cujo objetivo é contribuir para melhoria da educação de crianças, adolescentes e jovens. Os resultados observados no interior dessas experiências servem de referências tanto aos argumentos, quanto às possibilidades de novos projetos de extensão, ensino e pesquisas nas universidades aonde atuamos. Para explicar os elementos da linguagem artística da dança popular e sua inserção em distintos espaços e tempos, considera-se historicidade, localidade, globalização diante das conjunturas políticas. Portanto, as danças populares, enquanto estratégia de formação e profissionalização em comunidades brasileiras é explicada pelo pensamento moderno de educação, relacionados ao interdisciplinar, ao multidisciplinar e ao pluricultural. A atenção a tais categorias significa uma perspectiva de superação à concepção “disciplinar” no sentido de “ordem”, “modelo”, “submissão” pelos quais, as escolas e universidades brasileiras, se constituíram ao tempo, regidas pelo modelo “civilizador” colonial europeu, que se impôs, frente às culturas pulsantes já existentes em nosso território, como às etnias indígenas.

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Nossos argumentos sobre os conhecimentos das danças populares estão respaldados, às questões sobre o corpo na perspectiva do local e do global. O corpo como veículo por onde a dança se expressa, como obra de arte, como ensaio, como laboratório, como coreografia e revela imagens dos diferentes discursos que ela cria, ou seja, de caráter narrativo, virtual, conceitual e outros. Essas imagens apresentadas de maneira criativa abrem para as interpretações, críticas, inquietações, porque traz temas da desordem do mundo, das imperfeições, das contradições, das grandes problemáticas, a exemplo, a questão ambiental, o racismo, o capitalismo. Nosso entendimento do interdisciplinar na arte é quando suas diferentes áreas e seus espaços de aplicação, dialogam sob temas de interesse comum e se entrecruzam. O multidisciplinar compreendendo que uma disciplina ou campo de estudo, é constituído pelos diversos. A pluriculturalidade entendida no conjunto da diversidade entre sujeitos, suas práticas e especificidades, enquanto referências culturais, em diálogo equitativo, nos espaços sociais. É nessa perspectiva que as danças populares brasileiras, enquanto linguagem artística pluricultural e interdisciplinar oferece elementos, para se compreender o sentido de interação entre diferentes elementos. Como subsídio teórico-metodológico evidenciamos a experiência dos projetos educacionais e artísticos da cidade de Salvador, estado da Bahia, onde é privilegiado o conhecimento das danças populares. Dentre estes, à Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia (EDUFUNCEB) e o projeto artístico e educacional do Bloco Carnavalesco Afro Ilê Aiyê no bairro da Liberdade. Parece contraditório neste estudo, falarmos de interdisciplinaridade no objeto das danças populares, em virtude de que, uma de suas qualidades é o poder de elaboração artística e criativa, conjuntamente a distintas linguagens. Por esse motivo, não poderíamos concebê-la como “disciplina” na perspectiva hegemônica, que já nos referimos em relação ao sistema oficial de ensino no Brasil, contudo, na medida em que, ela ocupa algumas escolas da rede, alguns cursos em universidades públicas e, seus agentes educativos, passam a atender outras normas, que são exigências pertinentes ao sistema, seu conteúdo é adaptado e portanto, torna-se um ensino recriado. Danças populares, conceitos de um patrimônio vivo As danças que socialmente são chamadas de “populares” são patrimônios vivos de uma civilização e devem ser preservadas, valorizadas e transmitidas às futuras gerações. Na literatura crítica da dança no Brasil, justifica-se que tal distinção se deu, frente a outras categorias de dança aceitas pelas elites. O “popular” frente às ideologias dominantes, foi atribuído por antigos cientistas como “inferior”, “pobre”, “inculto”, entre outras significações. Essas ideologias foram combatidas e superadas por gerações de novos

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estudiosos sobre o assunto (Biriba, 2005; Oliveira, 2006), contudo, a mentalidade social ainda precisa ser alterada. Os conhecimentos das Danças Populares foram abordados principalmente pelos folcloristas do final do século XIX e início do século XX, entre eles, Alexandre José de Mello Moraes Filho (1844-1919), Manoel Querino, Luís da Câmara Cascudo, Mário de Andrade, Arthur Ramos, Edson Carneiro, Guerreiro Ramos e outros que contribuíram para construção desse pensamento. Da segunda metade do século XX e em curso o século XXI, alguns estudiosos baianos somam às referências, Edson Carneiro, Hildegardes Viana, Zilda Paim, Emília Biancardi, Nelson de Araújo e outros que auxiliam para as elaborações a respeito da Cultura Popular na atualidade. Mesmo com esse avanço, é lamentável constatar, que a sabedoria e o conhecimento popular em nossa sociedade sofrem preconceitos e discriminações, afetando o pensamento coletivo e chegando ao interior de instituições como a escola, a universidade, os veículos de comunicação, isso se explica pelos processos de dominação inaugurados desde a colonização branco-européia, que disseminou uma perversa ideologia que se colocou como “raça” e “cultura” superior frente às outras. Mais adiante, os movimentos artístico e culturais, que se manifestaram com o fim do período da ditadura militar no Brasil (1964-1985), citamos no nordeste, o Movimento Armorial criado por Ariano Suassuna no estado de Pernambuco, são imprescindíveis na resignificação da Arte e Cultura Popular. O resultado dos novos conceitos sobre a cultura popular, fez com que, surgisse o Balé Popular do Recife e como extensão deste, a Escola Brasílica de Expressão Artística. Esse trabalho motivou a ida de alguns de seus integrantes para São Paulo. O artista Antônio Carlos Nóbrega é um deles. Permaneceu atuando nesta capital e funda o Instituto Brincantes, que é apoiado por uma equipe multidisciplinar. Em todas as capitais brasileiras, as manifestações da cultura popular são evidentes. Por reconhecimento de tal importância, algumas políticas públicas tem sido implementadas pelo poder público. No Ministério da Cultura se dá a criação da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural – SID, cujas atribuições, estão regulamentadas pelo Decreto nº 6.835, de 30 de abril de 2009. Em seu art. 17 dentro das atribuições à Diretoria de Monitoramento de Políticas da Diversidade e Identidade compete, “orientar e supervisionar as atividades relativas à articulação e difusão da proteção e promoção da diversidade das expressões culturais”. Essa política de incentivo às tradições culturais brasileiras, vêm contribuindo para a salvaguarda e empoderamento de grupos socioculturais no Brasil, inclusive, considerando os novos segmentos.

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Retomando as concepções sobre as danças populares, retiramos de Galdino (2008, p.16 apud Oliveira, 1993, p.31), sua explicação, dizendo que, “são àquelas que persistem ao tempo e continuam preservando os mesmos elementos, dentro de uma mesma estrutura – apesar de estarem sendo constantemente recriadas por iniciativa dos seus praticantes ou por necessidade de adaptação a novos contextos”. Diferente deste entendimento, encontramos na coletânea francesa, “Danses Latines: Le désir des continents” (Dorier-Apprill, 2001), cuja tradução nossa, “Danças latinas: o desejo dos continentes”, um debate amplo em que se questiona, a construção desta identidade “latina” pela difusão das danças e ritmos de um continente a outro. Junto a essas referências, estão os ritmos brasileiros, abordados em dos capítulos do livro. Nesta mesma obra, Bernand (2001, p. 20) dá sua opinião sobre as danças da América Latina, considerando serem “produtos de influências múltiplas”, sendo estas, sem fronteiras. Esta autora, diz que do século XVIII ao XX, as danças ditas “latinas”, são forjadas de uma história feita de recomposições e mestiçagens. Outro aspecto abordado é à maneira de como,

As danças latino-americanas foram objeto de identificação nacional abusiva (...) as fronteiras políticas são construções recentes e não necessariamente específicas unidades culturais. Além disso, você não pode ver a dança como algo estático, congelado em um cânone, subestimando sua divulgação e a criação de novos movimentos 1 (Bernand, 2001, p.21).

A mercantilização impõe uma mudança de valores. A busca pela criação de “novos” produtos é a ordem a se consumir, e a cultura popular, não fica livre. Seria ingênuo afirmarmos discursos de “pureza”, “nacionalidade”, “identidade” sem pontuar os reflexos e as transformações geradas por tal sistema. Santos (2008) fundamenta a idéia de região e lugar no mundo contemporâneo, que contribui para chegarmos a algumas evidências em relação ao foco de nosso trabalho e diz,

[...] no passado distante, a região fora um sinônimo de territorialidade absoluta de um grupo, com suas características de identidade, exclusividade e limites, devidas à presença única de um grupo, sem outra mediação [...] Agora, neste mundo globalizado, com a ampliação da divisão internacional do trabalho e o aumento exponencial do intercâmbio, dão-se, paralelamente, uma aceleração do movimento e mudanças mais repetidas, na forma e no conteúdo das regiões (Santos, 2008, p.156).

Transferindo este pensamento para o fenômeno das danças populares, vimos que, alguns a utilizam como shows para atrair turistas e lucros nos chamados “pólos turísticos”, outros, na função de ensino, meio de trabalho e renda, e por vezes, transmitindo-as de forma superficial e caricaturada seus conhecimentos, ainda àqueles que, por ser temática “exótica”, despertam interesses. Diante de tantas implicações em que estamos imersos, politicamente continuaremos a denominá-las e concebê-las como “danças populares brasileiras” na medida em que, existe

1 Tradução nossa do texto de Bernand( 2001, p.21 )

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uma história concreta, referências civilizatórias e localidades aonde os valores em que essas danças são praticadas e transmitidas, nos levam com convicção a dizer, por exemplo, que é na cidade de Salvador, estado da Bahia, onde existe a maior comunidade representativa da prática da capoeira no mundo; é no estado de Pernambuco onde estão as evidências do surgimento da dança do Frevo de Rua; no estado do Rio de Janeiro, a dança do Jongo está fixada entre significativas comunidades e assim sucessivamente, mesmo sabendo que, o movimento, o fluxo entre as pessoas na sociedade global, as difundem em tantos outros lugares. As danças populares enquanto meio de educação de crianças e jovens em projetos políticos na cidade de Salvador-Bahia é o foco deste trabalho. Todavia, a inserção deste conteúdo na atualidade no espaço escolar, requer ponderações. Sabermos que a prática e vivência das danças têm um poder especial que é, convergir, reunir, integrar os diferentes, isso quando trabalhadas numa perspectiva de respeito equitativo entre os campos de saber. Em prática, uma qualidade diferenciada no nível de educação, cujos valores estão a sensibilidade, a emoção, a criatividade presentes no fazer artístico das danças populares, somam-se ao que se almeja de uma educação estética, crítica e superadora. Uma concepção de escola que venha superar a ação reguladora do status social, ainda está em construção, a crítica de Mészáros (2008, p. 35), sublinha que, “ a educação institucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu – no seu todo – ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à máquina produtiva em expansão do sistema do capital, como também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes”. Isso nos leva a questionar que lugar ocupa hoje, a dança popular no âmbito das comunidades, das escolas e universidades no Brasil e que pode contribuir no combate em direção à superação das desigualdades sociais em nossa realidade? É fato que, as reivindicações históricas pelos movimentos sociais, como o movimento negro, o indígena, o dos trabalhadores do campo, a dos ativistas e intelectuais desse campo de saber, entre outros, trabalham em prol do reconhecimento e inclusão desses conhecimentos junto a setores estratégicos da sociedade, como a educação, a comunicação. Diante disso, constatamos um crescimento de publicações didáticas sobre o assunto, a implantação dos programas de pesquisa e pós-graduação com linhas de estudos que possibilitam o desenvolvimento de dissertações e teses, programas e editais públicos para subvenção de projetos culturais, contudo, ainda são poucos, frente às necessidades concretas. Como destaque, algumas iniciativas pela universidade pública voltada à questão. A Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia em 2008 cria o “Curso de Especialização em Arte-educação: cultura brasileira e linguagens artísticas contemporâneas”, idealizado pelo professor doutor Ricardo Biriba do Departamento de Expressão Gráfica e

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Tridimensional. Esse curso possibilitou a produção de novos estudos em abordagens interdisciplinares sobre a Cultura Popular nas Artes. A criação do Programa de Pós-graduação Pós-Afro da UFBA, assim como, o Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC-UFBA), com área de concentração, voltada para estudos desta natureza. Recentemente, é implantado o Curso de Graduação em Música Popular nesta mesma universidade. Na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), São Paulo no Curso de Graduação em Dança é oferecido às disciplinas de Folclore Brasileiro I e II2 que estuda respectivamente, na primeira, gestuais e matrizes de movimento de danças brasileiras de raízes populares, tradicionais e religiosas e na segunda, estudo do gestual e dos elementos de matrizes das danças brasileiras oriundas de manifestações tradicionais da cultura popular. Investigação dos elementos teatrais presentes nas manifestações. Análise e releitura cênica de uma manifestação específica. No programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto de Artes, área de concentração dança da Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP, em 2009 é defendida a tese, “Re-elaborações estéticas da dança negra brasileira na contemporaneidade: análise e estudo comparativo das diferenças e similitudes na concepção coreográfica do Balé Folclórico da Bahia e do Grupo Grial de Dança” pela professora Lurdes Paixão, cujas contribuições do estudo é explicar de forma densa, o fenômeno das danças tradicionais populares de origem afro-brasileira, enquanto transmissões culturais que se ressignificam no tempo e no espaço permanecendo na contemporaneidade. Essa autora defende uma dramaturgia referenciada na pluralidade das danças tradicionais populares de origem africana, enquanto um referencial para afirmação da Dança Negra Contemporâneo em contexto brasileiro. Pouco a pouco, vêm-se implantando em algumas universidades, outras construções coletivas cuja linguagem artística é princípio orientador. A vivência do Bloco Carnavalesco Afro Ilê Aiyê e a Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia, subsidiam e articulam de forma indisssociável, teoria/prática/ação social, elucidados em toda a extensão deste trabalho. Bloco Carnavalesco Afro Ilê Aiyê, educação artística de jovens pela escola profissionalizante Para abordarmos a experiência educativa com jovens afrodescendestes na comunidade do bairro mais populoso de Salvador, a Liberdade, é necessário se reportar ao contexto em que

2 Site <http://www.dac.unicamp.br/sistemas/catalogos/grad/catalogo2011/index.html>. Acessado em 16 de

março de 2011 às 00:01h

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surge o Bloco Afro Ilê Aiyê, que nasce em 1974 no Curuzu, nome de uma de suas ruas, cuja importância hoje, designa também uma comunidade. Na década de 70, o Brasil saída de um sistema político de didatura que durara 22 anos, cuja sucessão política era dos generais militares. Isso levava sua população a viver um clima de terror frente às perseguições. Qualquer manifestação cultural ou política diferente, que viesse de encontro aos padrões estabelecidos da ordem vigente, era vigiada e duramente reprimida. Artistas, intelectuais, estudantes universitários, escritores, professores, muitos foram assassinados, desaparecidos, exilados na égide deste sistema que os consideravam, “comunistas”. Os negros com medo de serem assim tachados, não assumiam sua condição racial. O bloco de carnaval, organizado pelos negros do então, Ilê Aiyê, saem às ruas em 1974 e sofrem a repressão da polícia e da imprensa da época, mesmo assim, resistiram e é referência de projeto político, onde a arte e a cultura, são armas para a melhoria de educação e profissionalização de jovens, combate ao racismo e a discriminação racial. O Ilê Aiyê criou uma estratégia própria para disseminação de uma escola de formação de juventude, de cidadania e de luta pela liberdade e equidade. As razões dessa política se dá porque, a população jovem tem sido o foco das preocupações no contexto social brasileiro. A pirâmide social sinaliza que a maioria destes, conduzirão os rumos do futuro próximo de nossa sociedade. Contraditoriamente, as desigualdades geradas historicamente, colocam em situação de vulnerabilidade tal categoria, em questões étnico-raciais, econômicas, de gênero, de valores, sendo os mais afetados jovens afrodescendentes. Diante desta constatação, as alternativas criadas nas comunidades periféricas urbanas através de núcleos culturais, ONGs, projetos sociais, têm na educação de suas comunidades - articulada ao conhecimento, consciência e identidade cultural - uma possiblidade de transformação. Nilo Rosa (2008, p.22) em “Elite e Dominação Política” explica que, “a situação dos afro-brasileiros na cidade de Salvador é constantemente denunciada como calamitosa [...] ela é fruto da discriminação diária deste segmento que é majoritário na cidade. Dentre os projetos profissionalizantes do Ilê Aiyê, estão a cozinha da cidade que aproveita o potencial que as tradições alimentares afro-brasileira possui e qualifica pessoas para possíveis atuações num mercado trabalho. Também, a fabricação de instrumentos de percussão, devido o fenômeno da indústria da música em Salvador e a necessidade deste serviço que ainda inexiste de maneira formal. A informática básica enquanto acesso da comunidade às novas tecnologias digital. Os ateliês de Corte e costura e confecção de bolsas e calçados que subsidia o próprio bloco afro a produzir suas indumentárias. A estética afro, voltado ao aperfeiçoamento de penteados e maquiagem adequados à mulher e homem negro.

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Essa formação é incentivada para que os jovens busquem o exercício autônomo da atividade, criem focos de trabalho aproveitando de seu talento e interesse que é parte de sua referência cultural. Neste conjunto, o curso de dança que trabalha oferecendo as diversas linguagens da dança, valorizando a referência afro-brasileira com estudo de seus fundamentos filosóficos, históricos, técnicos e criativos. Em todos os cursos oferecidos pelo Ilê Aiyê, são contempladas áreas de estudos, onde se identifica carência oriunda da formação precária das escolas públicas onde os negros são maioria e de forma interdisciplinar o trabalho para compreensão da consciência crítica étnico-racial e identidade cultural. Que resultados são observados pelas iniciativas onde a educação e a cultura é o foco de sentidos, inspiração e criação? Surgimento e afirmação de lugares de pertencimento, em que a dança negra e a dança popular é importante referência de saber e patrimônio artístico-cultural, tais como, os movimentos de dança de rua; os grupos artísticos e culturais; as companhias de dança, balés afro, balés folclóricos; academias e escolas de capoeira; os grupos de dança popular tradicional, entre outros. Apesar de exercerem poder político, essas entidades não têm condições plenas para resolver diversos problemas que é de responsabilidade dos poderes públicos, contudo, os resultados alcançados, assim como, a mobilidade positiva de seus integrantes vem sendo alcançada, nos limites de sua capacidade. Danças Populares e Metodologia Brincante na Escola de Dança da Fundação Cultural da Bahia No ano de 2010 a Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia, instituição pública, sob a direção da professora Beth Rangel e vice-direção da professora Virgínia Costa, promoveu junto aos professores de dança popular, um curso de qualificação e sistematização de práticas pedagógicas, através do módulo “ Brincantes: experiências em danças populares na iniciação artística de criança”3. O objetivo do projeto foi subsidiar teórico e metodologicamente os professores para avaliar suas práticas pedagógicas, elaborar uma proposta de itinerário formativo do Curso Preparatório4 e re-avaliar seus planos de cursos.

3 Este curso foi ministrado pela professora Amélia Conrado, responsável pela elaboração do relatório das

atividades realizadas e argumentos para a EDFUNCEB em 2010. 4 O Curso Preparatório é desenvolvido para crianças e adolescentes na faixa etária de 05 a 15 anos, oferece as

técnicas de ballet clássico, dança moderna e dança popular regional, ministradas de acordo com os níveis (turmas).

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Optamos em destacar a EDFUNCEB por ser uma instituição pública de ensino de dança na cidade de Salvador, situada no Centro Histórico, cujo trabalho a mais de 30 anos, oferece cursos de dança à sociedade. Além disso, seus resultados tem motivado, pesquisadores a desenvolverem dissertações e teses sobre suas atuações e projetos. Na proposição aos professores de dança popular do referido módulo, registrando seus métodos, suas estratégias de aulas, os conteúdos trabalhados em cada faixa etária e turmas, já os levou a repensar os processos de ensino, atualizar as propostas e melhorar o nível de atendimento no interesse da sociedade que se fundamenta nos princípios de uma educação crítica, estética e pluricultural. Para tanto, a metodologia de trabalho para levantamento dos dados que constituíram o relatório, envolveu a observação pelo facilitador às aulas dos professores, estudo crítico de uma literatura atualizada sobre dança popular, arte-educação e metodologia contemporânea de ensino, registro pelos professores de seus processos didático-metodológicos aplicados aos diferentes níveis e turmas. Por fim, esse material deu consistência ao documento de memória e avaliação que corresponde às análises na área da Dança Popular desta escola. Essas decisões metodológicas que contemplam o olhar, o conhecer, o interagir e o interpretar, está respaldado na orientação fenomenológica, articulados ao pensamento pedagógico fenomenológico-existencialista, que diz que “o homem precisa decidir-se, comprometer-se, escolher; precisa encontrar-se com o outro”. Contextualizando os avanços dessas aproximações, muitas necessidades novas foram incorporadas à pedagogia contemporânea: desafio, decisão, compromisso, diálogo, dúvida, próprias do chamado humanismo moderno. (Gadotti, 2002, p. 160). Nessa perspectiva é que as inquietações trazidas pelos professores de dança popular da escola foram imprescindíveis para o nível do debate e das elaborações, inclusive porque, a Escola de Dança da Fundação Cultural, tem um destaque no âmbito das escolas de dança da cidade, pela qualidade do ensino e valorização às referências culturais de representatividade na cidade de Salvador, aonde muitas pessoas ali, vão se formar. A aplicação pedagógica das danças populares às crianças entre 5 a 9 anos da escola é denomina de “Metodologia Brincante” pelo caráter lúdico que se adéqua à referida faixa etária. Os objetivos da “metodologia brincante”, interage aos propósitos da escola que objetiva, “despertar nos alunos o gosto pela dança e mostrar que a arte não é apenas um complemento educacional, mas uma constante na vida e no desenvolvimento global do indivíduo”. Constatamos que o potencial de elaboração didático-metodológica de seus professores diante de uma primeira iniciativa de sistematização e registro denso para constituir o relatório da área de dança popular, que revelou os caminhos criados para uma “Metologia Brincante” com referências das danças da cidade de Salvador e de outras localidades do nordeste, se somam às vivências desses professores enquanto, dançarinos, coreógrafos, assistentes de coreografias, pesquisadores em cultura popular.

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O estudo também possibilitou ainda, a compreensão das abordagens conceituais, as ideologias que atravessam a afirmação da cultura popular, instituições que vêm formando para danças e manifestações populares, como o Instituto Brincantes, que acolhe o Teatro Escola Brincante, criado em 1992, por Antonio Nóbrega e Rosane Almeida que elaborou um “Método Brincante”, a “Metodologia Brasílica”, criada por André Madureira do Balé Popular do Recife, entre outros. A participação dos professores5 foi imprescindível para o registro de técnicas, métodos e estratégias de ensino que respaldam o que estão considerando como “Metodologia Brincante”, desenvolvida por eles na referida escola. Conclusão Nas problemáticas locais, o ensino das artes, incluindo-se a dança, expressa nas suas produções e obras, o movimento e as tensões entre especificidades locais no interior do global que tem ressonância direta, por serem projetos diferentes com proporções desiguais, como respostas, os grupos em desproporção reagem e criam novas estratégias para sua defesa. Os pontos aqui abordados são refletidos considerando a vivência, a militância, a inserção junto às comunidades na cidade de Salvador, assim como, à ação docente na universidade pública, precisamente na Faculdade de Educação da UFBA. Nessa direção, o encontro desses segmentos pelos instrumentos oferecidos pela ciência, a exemplo, deste evento de nível internacional que propõe como tema de seu debate, os Horizontes do Brasil; cenários, intercambios e diversidade, permite-nos, colocarmos nossas questões e ouvir e participar das problemáticas dos outros, esse exercício, coaduna-se com nosso entendimento de interdisciplinaridade em atenção aos valores pluriculturais na contemporaneidade. Neste complexo debate que envolve “dança popular”, “imagem do corpo”, “local e global”, estão os corpos dançantes para além de imagens, porque estes compõem e recompõem idéias, lugares, perspectivas em movimentos e tensão, do real, do imaginário, e isso, exige um exercício de conexões para explicar, linguagem de corpos dançantes, frente à perspectivas amplas que se apresentam na sociedade. Portanto, é com base nas experiências concretas de instituições artísticas e educativas e seus resultados, articulados aos aportes teórico-metodológicos que ampliam nossa discussão, acreditamos na incorporação destes, junto aos cursos de formação acadêmica nas universidades brasileiras, sobretudo, a dança no campo da arte, da imagem, da educação na diversidade cultural.

5São professores de Dança Popular da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia e participantes

do Curso de Capacitação: Denny Neves, Daniela Gonsalves, Soiane Gomes, Isis Carla, Robson Correa(professor de capoeira) e Clécia Cleiroz na coordenação do referido módulo em setembro de 2010.

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