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18 trimestral « Se a lei for má, prefiro que fique tudo como está» Prof. Alberto Barros, apreensivo com a legislação sobre Reprodução Medicamente Assistida

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18t r i m e s t r a l

«Se a lei for má,prefiro que fique tudo como está»Prof. Alberto Barros, apreensivo com a legislação sobre Reprodução Medicamente Assistida

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2 EditorialMiguel Leão, presidente do CRNOM

Política de Saúde 4 Limitar a aplicação de técnicas é prejudicar os doentes

Prof. Alberto Barros apreensivo com o enquadramento legalda reprodução medicamente assistida

12 Nível da qualidade do ensino vai diminuirProf. António Sousa Pereira, presidente do CD do ICBAS,está contra a abertura de novas faculdades de medicina

Notícias19 Simpósio “Riscos profissionais em hospitais e

instituições de saúde”Violência sobre profissionais de saúde debatida na SRNOM

20 IV Seminário de Integração ProfissionalApoiar quem inicia o Internato Geral

Cultura21 Exposição Olga Fiadeiro

Quadros que chamam a atenção23 Exposição Mário Rocha

Trinta e cinco anos ao serviço da pintura24 Conferência do Prof. Doutor Rolando Moisão

Meios audio-visuais no ensino da medicina30 História médica portuense - XV

A. S. Maia Gonçalves36 3 discos & 3 livros

As sugestões de Mário Dorminsky, o rosto do Fantasporto

Lazer38 Estamos todos convocados!

A dois meses do Euro 2004

Informação Institucional44 Actividades desenvolvidas pela SRNOM71 Agenda do Centro de Cultura e Congressos

REVISTA DA SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS / JANEIRO - MARÇO 2004 / ANO 6 - Nº 1

http://nortemedico.pt

Director Miguel LeãoEditor Miguel Guimarães

Conselho EditorialAlfredo SoaresAna AntunesÂngelo AzenhaAntónio NetoFátima CarvalhoFátima OliveiraHernâni VilaçaJosé Afonso DominguesJosé Pedro Moreira da SilvaMachado LopesMarlene LemosNelson PereiraOlímpia CarmoPedro SilvaTorres da Costa

Secretário José Maria Moreira

Propriedade e administraçãoSecção Regional do Norte daOrdem dos MédicosRua Delfim Maia, 405 – 4200-256 PortoTelefone 225070100 • Telefax 225502547

Registo Instituto da Comunicação Social, nº 123481Depósito-Legal nº 145698/04Periodicidade TrimestralTiragem 12.000 exemplares

Redacção, composição e montagemMEDISA - Edições e Divulgações Científicas, LdaRua Gonçalo Cristóvão, 347 - s/2174000-270 PortoTelefone 222001479 • Telefax [email protected] 3NImpressão INOVA - artes gráficas

Cap

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eida

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QUATRO TÓPICOS

O editorial deste número da nossa Revista tem quatro tópi-cos.

O primeiro diz respeito à Entidade Reguladora da Saú-de. O Conselho Regional, eu próprio, as outras Secções Re-gionais e o Presidente da Ordem, todos continuamos a opôr-nos à criação de uma Entidade que dilui as responsabilida-des políticas – e por isso as torna dificilmente sufragáveisno plano democrático – do Ministro da Saúde.Contudo, é sabido que o Governo no seu conjunto podoufortemente as competências da ERS, curto-circuitando o pro-jecto do Ministro da Saúde, inspirado no pensamento doProf. Doutor Vital Moreira. Assim, a ERS tornou-se, juridi-camente, menos inaceitável. Foi neste contexto que o nos-so colega, Prof. Doutor Rui Nunes foi empossado como seuPresidente. Para além de ser um distinto professor de Bioéticae membro do Conselho Nacional de Ética e Deontologia daOrdem dos Médicos, o Prof. Doutor Rui Nunes é um médi-co com preocupações de solidariedade. A sua intervençãono acto de posse marcou pela sensatez e pela clara oposiçãoà prática de discriminação negativa de doentes. Por tudoisto esperamos que ele possa significar um contra-poderético às práticas do Ministro da Saúde.

O segundo assunto que merece comentário é arenegociação do Diploma relativo aos Internatos Médi-cos. Depois de vários meses em lista de espera, após algu-mas reuniões com o Ministro da Saúde, e quando o diplo-ma se encontrava já em discussão em sede de reunião deSecretários de Estado (isto é, quase em vias de aprovaçãodefinitiva) foi reaberta a negociação com a Ordem dos Mé-dicos, através do Secretário de Estado Adjunto do Ministroda Saúde, Dr. Adão Silva.O projecto que nos foi remetido mereceu uma reacção ne-gativa e massiva dos médicos internos e do Conselho Naci-onal Executivo; no próprio dia em que decorreu a reuniãocom aquele membro do Governo, mais de mil internos reu-niram-se nas três secções da Ordem, em conjunto com diri-gentes dos dois sindicatos médicos.As sucessivas reuniões que tive com o Ministro da Saúderesultaram em pessimismo e na convicção de que eram umapura perda de tempo. Foi por isso reconfortante a reuniãocom o Dr. Adão Silva. Fiquei convencido da sua intenção

EDITORIAL

Miguel Leão, Presidente da SRNOM

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em conseguir um acordo sério com a Ordem dosMédicos, sem manigâncias e sem manobras de di-versão, relativamente às competências da Ordemno domínio da formação médica, às normas de tran-sição resultantes da fusão dos internatos geral ecomplementar e à necessidade de proceder a umaavaliação séria do modelo agora proposto antes dereduzir em mais um ano o tempo de formação pós-graduado.Tenho para mim que a reabertura do processonegocial, nesta fase e sob a condução do Dr. AdãoSilva, não deixa de ter significado político; até por-que o Ministro da Saúde tem uma cota de popula-ridade negativa de -27%.

A terceira nota visa esclarecer a iniciativa que oConselho Regional tomará, através de um refe-rendo. Como alguns colegas saberão, o Partido daNova Democracia veio a público defender uma mu-dança liberalizadora do regime de propriedade dasfarmácias e a possibilidade dos medicamentosnão sujeitos a receita médica poderem ser ven-didos em superfícies comerciais que não as far-mácias. Estas questões, que imbricam com umadirectiva comunitária sobre as mesmas matérias,são estruturantes para a definição de qualquer po-lítica relativa ao medicamento.O programa eleitoral que legitimou a eleição dosCorpos Gerentes da Secção Regional do Norte nãocontempla estes assuntos e por isso decidimos rea-lizar um referendo aos médicos desta Secção paraque estes se pronunciem.As perguntas e os moldes em que este referendodecorrerá serão objecto de divulgação pública e dedivulgação personalizada junto dos médicos. Es-peramos uma forte participação dos colegas e aca-taremos a sua decisão, apesar do referendo não serum instrumento de decisão expressamente previs-to no Estatuto da Ordem dos Médicos. Sem preju-ízo da intervenção pessoal dos seus membros, oConselho Regional, enquanto órgão, não tomaráposição. De qualquer modo, a opinião dos médi-cos é decisiva para legitimar o direito que nos as-

siste para nos pronunciarmos sobre estas questõesda mesma forma que a Associação Nacional de Far-mácias se pronuncia sobre o tipo e qualidade daprescrição médica.

A última nota refere-se ao inicio de movimenta-ções relacionadas com as eleições para os cor-pos gerentes da Ordem dos Médicos. O Conse-lho Regional, enquanto órgão em plenas funções,não tem que pronunciar-se sobre elas. Tememosmesmo que aquelas possam redundar em divisõesestéreis que serão seguramente aproveitadas peloMinistro da Saúde. O Conselho Regional e eu pró-prio vamos continuar a intervir e a actuar como atéaqui: defendendo as causas dos médicos, promo-vendo intervenções abrangentes de pessoas e orga-nizações, colaborando activamente com os dois sin-dicatos médicos. Estes foram, são e serão os objec-tivos estratégicos do Conselho Regional. E não mu-daremos nem de discurso nem de atitudes em fun-ção de objectivos eleitorais de quaisquer terceiros.

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POLÍTICA DE SAÚDE4

PROF. ALBERTO BARROS APREENSIVO COM REPERCUSSÕES DE UMAMÁ DEFINIÇÃO LEGAL DA REPRODUÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA

«LIMITAR A APLICAÇÃO DETÉCNICAS É PREJUDICAR OSDOENTES»

(nortemédico) Qual é a dimensão do problemada infertilidade em Portugal?(Prof. Alberto Barros) É uma dimensão preocupantee crescente. Quando nos referimos à realidade dainfertilidade em Portugal, aplicamos os números eos conhecimentos da generalidade dos países oci-dental: cerca de 10 a 15 por cento dos casais temproblemas de infertilidade. As situações são maisou menos graves, algumas das quais muitas vezesse resolvem de forma simples, enquanto outras,mesmo recorrendo a técnicas muito avançadas, nãotêm solução. Penso que é importante sublinhar queapesar dos avanços na componente de diagnósticoe, sobretudo, na componente terapêutica, aindaexistem situações de carácter irreversível.

É uma doença que tem vindo a crescer?A experiência de quem trabalha, como eu, nestaárea há mais de 20 anos permite dizer que, actual-mente, temos mais situações de infertilidade e exis-tem mais casais que necessitam de tratamentos.Mas, apesar dos problemas serem em maior nú-mero, a nossa capacidade de resposta é maior, emtermos terapêuticos. Ou seja, existem mais proble-mas, mas também existe uma maior possibilidadede intervenção. Hoje fazemos técnicas e resolve-mos problemas que há alguns anos estavam ape-nas no domínio do milagre biológico.

Ainda existem muitos preconceitos em assu-mir a infertilidade?Existe sobretudo um grande zelo pela privacidade.

ESTIMA-SE QUE UM MILHÃO DE PORTUGUESES ENFREN-TE PROBLEMAS AO NÍVEL DA INFERTILIDADE. UMA SI-TUAÇÃO QUE, NA OPINIÃO DO DIRECTOR DO SERVI-ÇO DE GENÉTICA DA FACULDADE DE MEDICINA DO

PORTO E DO CENTRO DE GENÉTICA DA REPRODU-ÇÃO, ALBERTO BARROS, DEVE MERECER MAIS ATEN-ÇÃO DO GOVERNO, NOMEADAMENTE NO QUE CON-CERNE À COMPARTICIPAÇÃO DOS MEDICAMENTOS.QUANTO À PUBLICAÇÃO DE LEGISLAÇÃO SOBRE A RE-PRODUÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA, O PROFESSOR

ALERTA PARA OS PERIGOS DA LIMITAÇÃO DAS TÉCNI-CAS ACTUALMENTE DISPONÍVEIS. "SE A LEI FOR MÁ,PREFIRO QUE FIQUE TUDO COMO ESTÁ", ADVERTE, TE-MENDO QUE OS DOENTES "SEJAM PREJUDICADOS".

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Recebo muitos casais que vêm de fora do Porto e a mai-oria admite uma grande dificuldade em justificar à fa-mília ou aos amigos as suas vindas frequentes, por ou-tros motivos que não seja o do tratamento. Daí ao pre-conceito a distância pode não ser grande. Todavia, nototambém que as coisas têm evoluído de uma forma sig-nificativa. Os casais de hoje estão mais abertos em dis-cutir o assunto com os seus amigos ou familiares e écada vez mais frequente chegarem-nos casais referenci-ados por outros, exactamente porque desabafaram epartilharam o problema.

ESTUDO TERAPÊUTICO DEVE INCIDIR SOBRE

O CASAL

Correndo o risco de ser uma pergunta vaga, quaissão as principais origens da infertilidade?As origens são imensas. É importante assumirmos, no-meadamente os governantes, que a infertilidade é umadoença que pressupõe uma situação muito particular, umavez que envolve uma unidade constituída pelo homem epela mulher. Aqui começa a complexidade da situação,dado que a infertilidade é uma situação vivida a dois. Aonível do sexo feminino, as causas podem passar pela alte-ração da ovulação, ou por questões mais graves como aobstrução das trompas, como a chamada endometriose,como a existência de insuficiência ovárica não absoluta...Mas, tanto para a infertilidade feminina, como para a mas-culina, o maior grupo é de causa idiopática. Nos factoresmasculinos, em mais de 60 por cento das situações ascausas não se conhecem, apesar dos estudos realizadosao esperma e que podem revelar alterações do número,da mobilidade, ou da morfologia dos espermatozóides.Fazendo um estudo, em cerca de 20 por cento dos casosidentifica-se uma causa genética, seja cromossómica ougénica. O estudo genético é importante por causa do di-agnóstico e, por outro lado, porque existem determina-das situações em que a identificação de uma determinadacausa pode permitir prevenir uma situação futura muitís-simo mais grave, ou até mesmo irreversível. Este tipo deconhecimentos pode, por exemplo, levar a decidir deimediato uma congelação profiláctica dos espermato-zóides. Através de uma recolha, podemos congelar o es-perma de modo a que, se houver um agravamento dasituação, o homem possa ser pai passado uns anos.

A infertilidade afecta mais os homens ou mais asmulheres?A ideia inicial era que afectava mais as mulheres. Nestemomento, estou plenamente convicto que isso não podeser afirmado. A atitude mais correcta é considerar numplano de igualdade a incidência dos factores masculi-nos e dos factores femininos. Há um paralelismo muitogrande das causas e isso impõe que, quando estamos aestudar um casal, o estudo seja realizado em paralelo.

PORTUGAL DISPÕE DAS TÉCNICAS MAIS

AVANÇADAS

Qual é o nível de desenvolvimento em Portu-gal das técnicas de tratamento?Em Portugal trabalhamos ao mais alto nível. Feliz-mente, não temos receio de ser comparados porbaixo, porque realizamos as técnicas mais avança-das. Posso falar do exemplo do meu grupo no Cen-tro de Genética da Reprodução que tem um traba-lho profícuo na resolução dos problemas, mas tam-bém no âmbito do trabalho científico. Neste últi-mo ponto, contamos com o apoio e a coordenaçãodo professor Mário Sousa, um cientista deelevadíssima craveira internacional. Somos, aliás,procurados por outros especialistas desta área. Ain-da no ano passado, esteve a estagiar no Centro deGenética da Reprodução um médico alemão, nosentido de ver como é que em laboratório se faz amaturação in vitro dos espermatozóides. Tambémjá tivemos, por exemplo, a visita de uma biólogada Universidade Autónoma de Barcelona. Isto de-monstra que somos reconhecidos internacional-mente e, na minha qualidade de director do Servi-ço de Genética da Faculdade de Medicina e de di-rector do Centro Genética da Reprodução, é comgrande orgulho que me será permitido dizê-lo. Nãohá nenhuma técnica importante que não realize-mos.

Mas é fácil fazê-lo em Portugal?Não é propriamente fácil. A investigação na áreada Reprodução Medicamente Assistida é fundamen-talmente subsidiada por mim, nomeadamente nomeu centro privado. Entendo que um centro dereferência tem de ter uma componente técnicamuito apurada, mas em paralelo é muito impor-tante haver uma componente científica, no sentidode elevar a qualidade. Foi nesse contexto que há

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cerca de oito anos convidei o professor Mário Sousa paraser o meu braço direito no plano científico. Essa apostatem dado frutos excelentes e daí decorre o facto de pu-blicarmos diversos artigos na área da infertilidade nasmelhores revistas mundiais.

No âmbito da investigação que tem sido realizada,que tipo de tratamentos e de técnicas é que estãoactualmente disponíveis?No âmbito do tratamento, um dos princípios básicos éo da maior simplicidade possível, desde que se tenhauma perspectiva grande de eficácia. Um tratamento àbase de comprimidos, ou de injecções, é obviamentemelhor do que uma intervenção cirúrgica. Mas há situ-ações em que essa simplicidade não resulta. Então, te-mos de intervir no âmbito das técnicas de ReproduçãoMedicamente Assistida. Um dos métodos utilizados pas-sa pela inseminação artificial. Trata-se da técnica maissimples, em que preparamos os espermatozóides emmeios de cultura, colocando-os depois dentro do útero.É uma técnica indolor que não impõe qualquer tipo desedação e que permite, frequentemente, resolver situa-ções de gravidade moderada, seja em mulheres, seja emhomens.

MICRO-INJECÇÃO REVOLUCIONOU A REPRO-DUÇÃO ARTIFICIAL

Tem ideia de quantos bebés já nascerem pela utili-zação das técnica de reprodução artificial?Juntamente com a criação do primeiro banco de esper-ma, iniciei a inseminação artificial em Portugal, em 1985.Nestes 19 anos de trabalho, obtivemos muitas centenasde bebés. Transportar os números para o País não é possí-vel, dado que seria necessário que todos os centros apre-sentassem os seus resultados. No entanto, em Portugal jávários milhares de crianças nasceram com recurso às téc-nicas de Reprodução Medicamente Assistidas. No que dizrespeito às técnicas mais avanças, quando a inseminaçãointra-uterina não dá resultado, ou quando o diagnóstico

permite concluir que se trata de uma situação sufici-entemente grave, recorremos à fertilização in vitro,vulgarmente designada por “bebé-proveta”. Nestetécnica temos duas opções: a fertilização in vitro tra-dicional, ou a micro-injecção. O método tradicionalteve início em 1978, sendo possível, hoje em dia,não recorrer a uma intervenção cirúrgica para a co-lheita dos ovócitos. A prática normal é actualmentefeita por via ecográfica, através de uma picada nosovários, por via vaginal. O esperma é preparado e sóà volta do ovócito são colocados cerca de 50 milespermatozóides, prevendo-se a entrada de um de-les.

A micro-injecção é uma técnica mais recen-te...Sim. Trata-se de uma técnica de fertilização in vitromais elaborada e que data dos anos 90. Foi umadas grandes revoluções no âmbito da inseminaçãoartificial, dado que veio permitir obter gravidezesem muitas situações que, antes, não seriam possí-veis. A técnica consiste em, através do controlo mi-croscópio, introduzir um espermatozóide dentrodo óvulo. Por isso, actualmente é possível obteruma gravidez em casos de espermatozóides imó-veis e nós fomos os primeiros, a nível mundial, afazê-lo. A micro-injecção permite, por exemplo,ainda obter gravidezes de indivíduos comazoospermia (ausência de espermatozóides noejaculado) de causa obstrutiva. No entanto, é pre-ciso sublinhar que sendo a micro-injecção uma téc-nica fabulosa, não é miraculosa, uma vez que nãoresolve todas as situações. Em 1994 iniciamos estatécnica em Portugal e, hoje, somos o centro quemais crianças proporcionou.

LISTAS DE ESPERA PREOCUPAM

Como é que são as listas de espera para obterum tratamento?As listas de espera que são do conhecimento pú-blico assumem um carácter inaceitável, não por cul-pa dos médicos, mas em função de todos os con-dicionalismos que a actividade hospitalar envolve.A minha ligação com o sistema público começouquando iniciei em Portugal, no sector privado, amicro-injecção intracitoplasmática. Nessa altura,proporcionei ao Hospital de S. João a possibilida-de de ser o primeiro centro público do país a reali-zar a técnica, oferecendo os meus préstimos. Po-dem-me fazer alguma crítica de imodéstia, mas averdade é importante e, às vezes, as pessoas esque-cem-se. Tomei esta atitude, mesmo não sendo umhospitalar, mas membro do Serviço de Genética daFaculdade de Medicina do Porto, porque entendoque é necessário haver bastantes centros a fazer atécnica e, sobretudo, é preciso que existam centrospúblicos a fazer bem. Existe muita gente que, infe-lizmente, não tem possibilidades de fazer os trata-mentos em regime privado. São tantos os casos deinfertilidade que é necessário que haja muita gentea trabalhar, mas também a trabalhar bem.

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Mas ainda relativamente às listas de espera, disseque assumem um carácter inaceitável...Realmente estou muito preocupado com as listas de es-pera, nomeadamente devido a uma legislação que pos-sa vir ser aprovada. Em 1999, a Assembleia da Repúbli-ca chegou a aprovar uma lei que seria extremamentepenalizadora para o sucesso das técnicas que, actual-mente, têm uma taxa de sucesso na ordem dos 30 porcento por ciclo de tratamento. Quando a Assembleiaaprovou esta lei, tomei a iniciativa de escrever ao Presi-dente da República, solicitando o seu reenvio para oParlamento. Essa carta foi assinada pelas pessoas queconsiderava na altura as mais importantes na área dagenética médica e na medicina da reprodução. Feliz-mente, verificou-se o veto presidencial. A lei previa alimitação de injectar apenas cinco ovócitos, o que seriauma medida extremamente condicionante do sucessodos tratamentos, fazendo-o baixar drasticamente. Ouseja, seria acrescentar barreiras extremamente duras àsmuitas que já existem de ordem biológica. Actualmen-te, também estou muito preocupado com as informa-ções que vou tendo sobre o processo que tem decorridono âmbito da Comissão Nacional de Ética para as Ciên-cias da Vida e as suas consequências. Quero chamar aatenção para o facto de se a lei for má, se for uma leipenalizadora no sentido de limitar a realidade das téc-nicas, os grandes prejudicados serão os doentes. A rea-lidade actual das listas de espera hospitalares nesta áreaé má, mas no futuro será péssima e dramática. É óbvioque quanto maior for a taxa de insucesso, mais necessi-dade haverá de repetir os tratamentos, logo maior serãoas listas de espera.

PORTUGAL NÃO DEVE COPIAR ACTOS

«MUSSOLÍNICOS»

Mas é importante haver uma legislação ao nível daprática das técnicas de reprodução medicamenteassistida?Estou à vontade para falar sobre este assunto, uma vezque tenho contribuído, ao longo dos últimos anos, paraque possa existir legislação em Portugal nesta matéria.Mas, se a lei for má, prefiro que fique tudo como está, oque não significa que estejamos fora da lei, uma vez queos médicos não podem fazer aquilo que querem. NoActo Médico estamos obrigados à lei do bom exercícioda medicina, ao nosso código deontológico e às nossasobrigações de trabalhar bem no plano científico e noplano técnico. Evidentemente que uma lei é importan-te, até em termos de imagem exterior, no sentido de sesaber que, em Portugal, também existe legislação. Masé preferível o estado actual do que sair uma lei estúpi-da, ignorante e insensível. Temos o exemplo do queaconteceu recentemente em Itália. Segundo a revista«Lancet», a legislação impõe que apenas sejam insemi-

nados ou injectados três óvulos e se forem obtidostrês embriões, eles devem ser transferidos, mesmoque estejam deformados. É isto que, no número20/27 de Dezembro da «Lancet», está referido comosendo a lei italiana. Isto é algo de impensável nomundo civilizado. Isto é terrorismo legislativo. Osjuristas poderão dizer se não é, do ponto de vistado bom exercício da medicina, um acto irrespon-sável e ilegal. O que espero é que Portugal não co-pie coisas que sugiram actos «mussulínicos». Ape-lo ao bom senso, à seriedade intelectual e ao rigorcientífico na análise daquilo que as técnicas podempermitir. Haja ainda espírito de abertura e huma-nidade para pensar nos doentes.

Mas concorda que é necessário impor regras.Evidentemente, mas essas regras existem, quer doponto de vista científico, quer do ponto de vistatécnico. Repito: é importante haver legislação. Mas,penso que é impensável e de uma insensibilidadetremenda, por exemplo, que possa existir uma leique impeça a lavagem de esperma aos doentes se-ropositivos, baseado apenas no facto de os seropo-sitivos terem uma expectativa de vida menor e, porisso, estarem proibidos de procriar de uma formamais segura. Há ainda a possibilidade do chamadodiagnóstico genético para a implantação vir a serproibido, caindo assim a possibilidade de fazermosum diagnóstico ao embrião ao terceiro dia de vida,em que podemos detectar uma anomalia. Esta me-dida pode ser tomada em nome do risco de umaprática eugénica, num País onde é possível fazerum diagnóstico até às 24 semanas de gravidez, coma consequente interrupção da gravidez por moti-vos médicos. Isto é perfeitamente incongruente ede uma irresponsabilidade tremenda! Será uma le-gislação dramática para os casais, que os seus au-tores deveriam ter vergonha de a colocar cá fora.

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SNS DEVE APOIAR CASAIS INFÉRTEIS

O tratamento da infertilidade, nomeadamente emclínicas privadas, é bastante dispendioso não sen-do, por isso, acessível a todos os casais. Este pro-blema deveria ser uma das questões prioritáriasno Serviço Nacional de Saúde (SNS)?É muito difícil definir prioridades, apesar de defenderum enorme apoio do SNS aos casais inférteis. Não sei sena totalidade, mas pelo menos na grande maioria dospaíses da União Europeia os casais têm um apoio a 100por cento nos medicamentos. Estamos a falar de medi-camentos que podem, num ciclo, rondar os mil euros.Em Portugal, existe uma comparticipação genérica naordem dos 40 por cento... Entendo que o sector públi-co e o sector privado deviam ser uma opção do casal,relativamente à qualidade dos respectivos centos. De-veria existir essa sã concorrência entre o público e oprivado. Não condeno que Portugal tenha construídodez estádios para o Euro. Acho fantástico que se façamcoisas novas, como o Centro Cultural de Belém, a Expo...Se isso não se fizer, provavelmente o dinheiro tambémnão aparece para outras coisas. Mas, se o país tem essacapacidade de se dinamizar para o Euro, por exemplo,também se devia dinamizar no sentido de dar saúde, detratar melhor e cada vez mais a doença. O que é lamen-tável é que isso não aconteça. Neste aspecto corroboro eassino a luta plena que o meu amigo Miguel Leão temtido, na crítica à política de saúde que tem existido.

Está a referir-se ao desinvestimento na área da Saú-de?Não pode haver diminuição nos gastos na Saúde, quan-do há, cada vez mais, uma maior capacidade técnica dediagnóstico, quando se assiste a um envelhecimentoprogressivo da população, quando há uma maior capa-cidade de tratar doenças, até há pouco tempo conside-radas incuráveis e que levavam à morte mais rapida-mente. Pode, e deve, haver racionalização desses gas-tos, bom senso e rigor. Portanto, o prioritário é definiráreas de intervenção. Evidentemente que a infertilidadeé uma área que deve ser considerada também, senãoprioritária, pelo menos importante. Basta pensar que,com o envelhecimento da população, é necessário subs-tituir os velhos pelos jovens. A taxa de natalidade demodo algum está a permitir atingir esse paralelismo. Éevidente que não é a Reprodução Medicamente Assisti-da que vai resolver o problema, mas pode contribuirpara o equilíbrio e para melhorar essa taxa de natalida-de, uma vez que vai contribuir para que os casais quequerem ter filhos tenham as melhores condições possí-veis para poder satisfazer esse enorme desejo.

LEI NÃO DEVE PROIBIR HOMOSSEXUAIS DE

RECORRER À RMA

Quem é que deve ter acesso à reprodução medica-mente assistida?Não havendo legislação, tenho os meus conceitos. En-tendo as técnicas de Reprodução Medicamente Assisti-

da como um tratamento de uma infertilidade con-jugal. Ao longo da minha vida de trabalho recebimuitos pedidos para tratamentos. Nunca pergun-tei, quando eram mulheres sós ou acompanhadaspor outras mulheres, se o motivo era a homosse-xualidade, ou apenas o desejo de ser mãe sem terde aturar um companheiro ou marido. Nunca con-siderei ter o direito e interesse em saber os moti-vos. Mas tendo como base que estas técnicas de-vem estar ao serviço da infertilidade conjugal, nun-ca aceitei fazer uma inseminação artificial comespermatozóides de dador a uma mulher só, ou aum casal homossexual, apesar de ter todo o res-peito pelas suas opções. Obviamente, as pessoastêm o direito de ser o que são, mas eu tambémtenho o direito de proceder de acordo com a mi-nha consciência. Perturba-me a ideia de ajudar anascer uma criança que, à partida, não tem pai,que vai ter apenas a mãe ou que vai viver no âmbi-to de um casal homossexual. Por isso, como médi-co tenho direito à minha objecção de consciência,mas tenho muitas dúvidas que a lei o deva proibir.

Então deve-se deixar essa questão para umadecisão pessoal do médico?Essas questões são de ordem pessoal e devem de-pender da decisão do médico e das pessoas. Nofundamental, deve ser proibido proibir. Portugalassinou a Convenção de Oviedo que passou a esti-pular, desde Janeiro de 2001, a proibição de fazerdiagnósticos genéticos pré-implantação para selec-ção do sexo, a não ser que exista um motivo médi-co grave. Antes de ser proibido, já realizávamosesse tipo de diagnóstico no meu centro. Fui, diver-sas vezes, solicitado por casais que por terem qua-tro filhos, ou filhas, queriam ter um outro do sexooposto. Nunca aceitei fazê-lo, porque não vejo aquium motivo de ordem médica. Os vários tratamen-tos de selecção do sexo que fizemos foram apenase só em situações de evitar a transmissão da doen-ça. Apesar da minha posição, entendo também quea lei não o deve proibir, até porque no plano médi-co e da genética populacional, isto não tem signifi-cado, porque será apenas uma solução pontual.

Mas ao deixar esse critério aos médicos, nãose está dar margem de manobra para a ocor-rência de muitas situações?Sim, mas a minha consciência não é melhor doque a dos outros. Se há um médico que entendefazê-lo, não o critico. É uma mera questão de cons-ciência. Se considerasse criticável fazê-lo, conside-raria que a lei o deveria impedir. Respeito quemtenha um entendimento diferente do meu.

INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVI-DEZ: UMA QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA

Um dos riscos no tratamento da infertilidadeé a gemeralidade, o que, em alguns casos, podelevantar alguns problemas ao nível social...

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Cerca de um a três por cento dos recém-nascidos dascivilizações ocidentais resultam das técnicas de fertili-zação in vitro. A gemeralidade é uma realidade impor-tante, preocupante até, mas está a decrescer, porquetransferimos cada vez menos embriões para o útero.Houve alturas em que se transferiam quatro ou cinco.Neste momento, transferimos dois embriões em senho-ras até aos 35 anos e três a partir de 36 anos. E a ten-dência é cada vez mais para transferirmos um ou doisembriões, uma vez que, ao contrário do que aconteciahá alguns anos, cada vez mais se assumem as virtudesda cultura prolongada dos embriões. Actualmente, trans-ferimos embriões de preferência não dois dias após acolheita dos óvulos, mas após três, quatro ou até cincodias de desenvolvimento. Assim, podemos observar emlaboratório o desenvolvimento e a qualidade dos em-briões, no sentido de definir, nesta evolução, aquelesque têm maior probabilidade de se implantar e dar ori-gem a um bebé. Apesar de estar a diminuir, a verdade éque a gemeralidade ainda existe em 25 a 30 por centodos casos. Mas, normalmente são já só dois, porque aprobabilidade de gravidez tripla andará, actualmente, àvolta do um por cento. Esta questão da cultura prolon-gada dos embriões é muito importante porque permiteter acesso a várias informações. Pode ser importante atépara o poder legislativo, nomeadamente sobre a ques-tão dos chamados embriões excedentários. Fazendo estacultura prolongada dos embriões, cada vez mais há me-nos embriões que sobram. Se deixarmos os embriõescrescerem até ao quinto dia, podemos fazer a selecção,nomeadamente daqueles que não têm qualidade e, porisso, não devem ser congelados. Seria criar uma falsaexpectativa ao casal ter embriões sem qualidade conge-lados, para uma possível repetição de tratamento.

O que pensa sobre a interrupção voluntária da gra-videz?É uma questão de uma enorme complexidade. Encaro-a sobretudo com um enorme respeito. Apesar de ter for-mação obstetra, como médico não o faria. Entendo, to-davia, que posições muito dogmáticas e, sobretudo, ex-tremas não são correctas. Estas tomadas de posições defiguras públicas e todo este folclore que ainda recente-mente foi noticiado parecem-me lamentáveis. Esta dis-cussão tem de ser assumida com uma grande serenida-de. Mas, parece-me criticável condenar uma mulher quefez uma interrupção voluntária da gravidez, fora doâmbito daquilo que legalmente está estabelecido. Pare-cem-me também excessivas as posições de que a mu-lher é o único elemento de decisão sobre aquele em-brião. Se ele existe é porque houve um homem que oproporcionou.

Entramos naquele campo que defendia há pouco.Qual é a legitimidade de proibir?Acho que o legislador não tem o direito de o proibir. Fiz

o meu internato de obstetrícia no Hospital de S.João e assisti a situações dramáticas, de interrup-ções de gravidez sem controlo médico e que tive-ram resultados dramáticos para a mulher. Aprendimuito a respeitar as situações e, principalmente,aprendi a não generalizar. Uma interrupção da gra-videz pode ter motivos que, de facto, nos esma-gam e nos levam a entendê-los, mesmo tendo porprincípio uma atitude contrária. Portanto, encaroessas situações com enorme respeito. Penso que alegislação não deve ser punitiva e não deve ser umalegislação que imponha a proibição. Respeito mui-to tomadas de posição como abaixo-assinados afavor da vida, mas as pessoas deviam ser mais sen-satas. Ao assinar essas declarações, tinham obriga-ção imediata de ir aos centros e adoptar uma crian-ça, porque também está ali vida que precisa de ca-rinho, de apoio e formação familiar. Portanto, ape-lo à coerência e às atitudes de não extremismo.

Quando é que se pode considerar que o em-brião passou a ser um ser humano?Essa é uma pergunta sem resposta séria, sem res-posta científica. Sendo católico e sendo um crente,acreditando no corpo, na alma, no espírito e navida eterna. Quando vejo embriões – e já vi muitosmilhares –, que têm três, quatro ou uma dúzia decélulas, não entendo que esteja ali uma alma. Nãoentendo que esteja ali um ser humano. O que aliestá é uma entidade biológica, um ser vivo, um serhumano em potência. Não está ali um ser huma-no, porque se pegarmos num embrião que tem seis,oito ou dez células, e separarmos essas células,podemos ter potencialmente dez seres vivos e po-tencialmente dez seres humanos. Portanto, se esta-mos a dividir aquele corpo constituído por célulasa alma também se divide? Estamos a dividir as al-mas? Acho que o ser humano é de uma tal comple-

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xidade que será demasiado simplista acreditar que aliexiste espírito, o carácter sobrenatural do ser. Não seiresponder quando passa a existir essa humanidade, por-que me limito à minha ignorância. Ninguém o podeafirmar. O que devemos é respeitar os embriões na suaplenitude e na sua essência de um ser humano em po-tência. Esta discussão é importante, porque pode terum entendimento no poder legislativo. Também aqui oapelo que faço é o de haver abertura, respeito eafectividade na análise. É pensar que os embriões in vi-tro existem porque há a necessidade de tratar doentes.As posições extremas, como em tudo, não são posiçõesbem-vindas, porque normalmente estão a prejudicaraquilo que é essencial num acto médico.

AS POTENCIALIDADES DA CLONAGEM

Qual é a sua opinião sobre a clonagem reproduti-va?Neste momento é um enorme disparate e falta de senso.É algo de reprovável, não só numa perspectiva filosófi-ca ou religiosa, mas também numa perspectiva biológi-ca. Do ponto de vista biológico, só seria aceitável a prá-tica da clonagem reprodutiva em situações particulares,nomeadamente quando, após muitos anos de experi-mentação animal, se concluir que não há qualquer pre-juízo celular para os seres que possam vir a resultar.Actualmente isso não acontece, bem pelo contrário. Es-tamos a falar de células somáticas, de núcleos com umaacumulação de alterações ao nível do ADN, logo, decélulas e núcleos envelhecidos: Por isso existem riscos,como aconteceu no caso da Dolly que resultaram emenvelhecimento precoce, em patologia degenerativa e,por isso, maior possibilidade de cancro. Neste momen-to, a clonagem reprodutiva é impensável. As declara-ções públicas de alguns médicos são, no mínimo, irres-ponsáveis. O que aconteceu em Itália, com o médicoAntinori, pode ter a consequência de provocar medo naopinião pública, perante a perspectiva de existirem in-divíduos doidos que, na busca da fama a qualquer cus-to, declaram actos ou planos de intenção. Espero quenão se tenham concretizado, porque até no plano darazão e da inteligência seria perfeitamente absurdo.

Mas admite a hipótese de se fazer clonagem repro-dutiva quando as técnicas estiverem aperfeiçoa-das?No plano da análise e das conclusões minimamente in-teligentes, hoje não podemos dizer se estaremos de acor-do, ou não, com uma questão que se pode colocar daquia 25 anos. A atitude sensata é estar aberto à influênciaque a própria sociedade tem sobre nós. Actualmente en-caramos problemas de uma forma bem diferente do quehá 10 ou 20 anos. Por que não, em situações muito par-ticulares, muito específicas? Neste momento não estou aver quais, mas dizer não em absoluto é perigoso. Agora,é absolutamente não, daqui a 20 anos não sei se pensa-rei o mesmo. Só terei a mesma opinião se, no plano daessência científica e técnica, não houver segurança. Nãoé aceitável que se passe para a prática médica e clínica,sem haver uma grande consistência e segurança.

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Mas, defende a clonagem terapêutica?Neste campo, a minha opinião é de uma enormeabertura. Não sei se é possível encontrar caminhosparalelos, para evitar a problemática inerente à clo-nagem reprodutiva, por resultar da clonagem deembriões. Mas, sem dúvida, parece-me uma práti-ca que, no plano ético, considero aceitável, pelopotencial terapêutico que tem. Existe muita coisaque podemos recear, mas quando temos a realida-de da doença, esses receios são subalterni-zados àrealidade da prática terapêutica. Ainda há algunsanos, tivemos o primeiro caso no mundo de umaselecção de embriões relativamente à compatibili-dade do sistema HLA, em que se coloca a questão:estamos a seleccionar embriões para salvar umacriança. Perguntaram-me se estava ou não de acor-do. De facto, é problemático excluir embriões sópelo facto de eles não terem determinadas caracte-rísticas e não serem compatíveis com a criança queestava doente. Mas se como médico posso ter dú-vidas, como pai não tenho. Um pai não tem a mí-nima dúvida de que é uma técnica aceitável. De-pois, é uma questão de valorização relativa. Vouvalorizar mais um determinado aglomerado celu-lar, um potencial ser humano, do que uma criançaque é indiscutivelmente um ser humano e filho dealguém? Não vou valorizar uma criança que está asofrer e em que o sofrimento dos pais é enorme?Vamos pôr em causa isto? Eu não ponho. É legíti-mo que o Estado proíba que isso se possa fazer?Será que é legítimo que alguém possa proibir al-guém de vir a ter um filho saudável, seja por evitara transmissão de um vírus, seja por evitar a trans-missão de uma outra qualquer doença?

Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pintonortemédico

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(nortemédico) Concorda com a ideia da ministra daCiência e do Ensino Superior em realizar os pri-meiros anos de licenciatura em medicina nas Uni-versidade da Madeira e dos Açores?(Prof. Sousa Pereira) Na sequência de um pedido feitopelas Universidades da Madeira e dos Açores, a minis-tra propôs que os primeiros anos da licenciatura pudes-sem ser ensinados nas faculdades locais. Depois, os alu-nos passariam para as universidades do Continente, per-mitindo assim desenvolver recursos locais e, eventual-mente, facilitar o ensino. O que acontece é que as duasfaculdades de medicina do Porto não concordaram coma ideia. Em termos de ensino médico, no ICBAS nãoencaramos a proposta como séria. Hoje em dia, o ensi-no médico faz-se estabelecendo um contacto clínico pre-coce e, portanto, aquele conceito que ainda há em algu-mas escolas portuguesas da divisão em ensino básico,clínico, pré-clínico e profissionalizante simplesmentenão existe. Temos ensino de clínica e ensino de ciênciasbásicas desde o primeiro até ao último ano. A verdade éque vai havendo uma alternância da percentagem rela-tivamente a cada uma destas áreas. No primeiro ano,por exemplo, podemos ter 80 por cento de ensino deciências básicas e 20 por cento de ensino de ciênciasclínicas. Já no último ano do curso, podemos ter 90 porcento de clínicas e 10 por cento de básicas. No entanto,é fundamental haver esta interligação entre as duas ver-tentes ao longo de toda a licenciatura. É assim que fa-zem todos os países civilizados do mundo e, pela nossaparte, foi esse o caminho que seguimos. Esta postura

torna inviável a participação num projecto dessanatureza. Por outro lado, pensamos que é um mauserviço que é prestado ao País, porque aquilo quedevia ser premiado era a inovação e a modernida-de e não mantermo-nos agarrados a modelos deensino que já estão ultrapassados em todo o lado.

Quais são os riscos que se correm se a pro-posta avançar?O risco que se corre é ficarmos, definitivamente,agarrados ao passado. O ensino da medicina mu-dou os paradigmas e, actualmente, o objectivo nãopassa tanto por ensinar factos, mas sim ensinarmetodologias. Neste contexto, a proposta não éviável, dado que é, de alguma maneira, validar umsistema de ensino que está ultrapassado. Portanto,não faz qualquer sentido. Penso que não é um bomserviço que se presta nem aos Açores e à Madeiranem às escolas médicas portuguesas, no sentidodaquilo que pode representar em termos de entra-ve à evolução das escolas que optarem por essetipo de colaborações. Pode ser preocupante.

“SOU CONTRA NOVAS FACULDADES DE

MEDICINA”

O que pensa da ideia de se criarem mais fa-culdades de medicina em Portugal?Deixando de lado considerandos de natureza polí-tica e sobre se são, ou não, necessários mais médi-cos e focando a atenção num dado objectivo indis-cutível, o que acontece é que dois milhões de ha-bitantes é a massa crítica necessária para que daípossa surgir um corpo docente de uma faculdadede medicina. Isto acontece em todo o mundo. Apli-cando esta regra internacional, isto significa quepara ter um corpo docente qualificado em sete es-colas de medicina, que são as existentes, precisá-vamos de ter 14 milhões de habitantes. Temos 10milhões... Portanto, na prática, isso acaba por setraduzir numa dificuldade que já está a existir nes-te momento no recrutamento de quadros docentespara as novas escolas médicas. Se essa dificuldadejá se aplica às escolas existentes, imagine-se o queserá se forem criadas novas escolas e imagine-se o

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PROF. ANTÓNIO SOUSA PEREIRA PREOCUPADO COM AEVENTUAL ABERTURA DE NOVAS FACULDADES DE MEDICINA

«NÍVEL DA QUALIDADE DOENSINO VAI DIMINUIR»

O PRESIDENTE DO CONSELHO DIRECTIVO DO INSTITUTO

DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR, ANTÓNIO

SOUSA PEREIRA, ESTÁ CONTRA A ABERTURA DE NOVAS FA-CULDADES DE MEDICINA, NUMA ALTURA EM QUE “JÁ É DIFÍ-CIL RECRUTAR QUADROS DOCENTES PARA AS ESCOLAS QUE

EXISTEM”. POR ISSO, ALERTA, “O NÍVEL MÉDIO DA QUALI-DADE DO ENSINO VAI DIMINUIR QUER NAS JÁ EXISTENTES,QUER NAQUILO QUE SE DESEJA PARA AS PRIVADAS”. PARA OPROFESSOR CATEDRÁTICO, UMA DAS PRIORIDADES DO

GOVERNO DEVE PASSAR PELO CUMPRIMENTO DE UM CON-TRATO-PROGRAMA ASSINADO EM 2001 E ONDE SE PREVÊ

INVESTIMENTOS NAS ESCOLAS MÉDICAS DO PORTO, AS MES-MAS QUE, ACTUALMENTE, SE ENCONTRAM “NUMA FASE DE

PRÉ-RUPTURA”.

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que será a promiscuidade entre público e privado. Isso,a muito curto prazo, obviamente vai fazer com que onível médio da qualidade do ensino diminua quer nasescolas públicas, quer nas eventuais privadas. Aquiloque vamos ter vai ser um conjunto de turbo-professo-res, que vão passar a correr de escola para escola, semvestir nenhuma camisola em especial, o que se vai tra-duzir, certamente, numa diminuição da qualidade deensino de todas as escolas.

Portanto, está contra a criação de novas faculda-des de medicina?Claro, estou contra.

Pegando nos considerandos de que falava há pou-co, afinal Portugal tem falta de médicos, ou sim-plesmente estão mal espalhados pelo país?Durante um curto período de tempo, acredito que sejanecessário aumentar os numerus clausus. Agora, a justi-ficação não é porque existe falta de médicos, mas por-que, nos últimos anos, o Ministério da Saúde não tevequalquer plano estratégico de distribuição dos médicospor especialidades. O Ministério da Saúde não tem anoção das necessidades de quadros clínicos. Aquilo quefaz é abrir colocações nas especialidades, determinadaspela capacidade formativa dos serviços e não pela ne-cessidade do sistema. Isso voltou a acontecer este ano e,portanto, não venham dizer que há falta de médicos. Oque falta é uma gestão eficaz dos que existem. Alémdisso, continua a não se vislumbrar no horizonte que oMinistério da Saúde tenha qualquer intenção de racio-nalizar os recursos existentes. Continua a não se inves-tir na clínica geral e não é porque não haja interessados,é porque o Ministério da Saúde abriu novamente um

quadro distorcido de vagas, face àquilo que são asreais necessidades do sistema.

Mas existem estudos que apontam para quedentro de 10 anos haja uma carência de médi-cos. É o resultado da ausência de um planoestratégico por parte do Ministério da Saúde?Essa previsão estima que a tal falta de médicos sepossa sentir durante quatro ou seis anos e que de-pois o sistema normalize. Admitindo que são da-das autorizações para a abertura de escolas médi-cas este ano, isso significa que as unidades de ensi-no estarão em condições de admitir os alunos em2007/2008. Esses alunos estarão licenciados em2013/2014 e estarão prontos a entrar no mercadode trabalho em 2018/2020. Ou seja, os alunos queeventualmente venham a ser formados pelas esco-las privadas não resolvem qualquer problema defalta de médicos em Portugal. É uma falácia com-pleta, porque essa falta de médicos que se vai sen-tir em 2015 devia ter sido prevista em 1997/1998.Mas foi exactamente nessa altura que as escolas ti-veram um corte nos numerus clausus. Mais umavez penso que se trata de falta de visão pura e sim-ples.

De qualquer forma, considera que deve haveraumento dos numerus clausus nas faculdadesque já existem?Falando pela minha, a verdade é que temos umcontrato-programa assinado em 2001, no qual noscomprometíamos a aumentar os numerus claususque, no nosso caso, chegariam às 135 vagas. Acon-tece que esse contrato-programa não foi honrado

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pelo Governo e aquilo que nos estão a pedir é que con-tinuemos a alimentar o número de alunos que admiti-mos, sendo que, neste momento, temos escolas que nãotêm anfiteatros onde eles caibam todos. Portanto, nãohá uma questão de má vontade, mas sim uma questãode incapacidade física das nossas infra-estruturas parareceber mais alunos do que aqueles que estamos a rece-ber actualmente. No ano passado abrimos 110 vagas,este ano estamos a pensar abrir as 135, tal como estáestipulado no contrato-programa. Pela nossa parte esta-mos a cumprir os compromissos, esperamos que o Go-verno cumpra a parte dele.

É FUNDAMENTAL HAVER SISTEMA DE ACREDI-TAÇÃO DOS CURSOS DE MEDICINA

A criação de novas faculdades pode criar, a médioprazo, médicos que não vão ter colocação no mer-cado de trabalho?Não sei. Penso que essa ideia pode ser um pouco exage-rada. O número de propostas de escolas médicas priva-das existentes neste momento parece-me muito superi-or ao mercado potencial que existe. Mas, naturalmente,serão cursos dispendiosos e, portanto, a lei do mercadofuncionará muito rapidamente. Num curso que, muitoprovavelmente, terá de ter propinas superiores a mileuros por mês, assim que se vislumbrarem dificuldadesde colocação no mercado de trabalho as pessoas dei-xam de optar por essa via. Embora haja o risco potenci-al de haver formação de médicos em excesso, penso quea questão não se coloca tanto a esse nível. Acho que oproblema que se põe aqui é que estaremos a criar estru-turas que vão competir connosco ao nível do recruta-mento dos quadros docentes. Esse é, do meu ponto devista, o problema mais perigoso, porque pode havercantos de sereia que façam com que esses quadros mi-grem e, em Portugal, não está claramente definido oque é público e o que é privado, ao contrário do queacontece em Espanha. No país vizinho a lei é muito cla-ra e ou se é professor no sector privado, ou professor nopúblico. Em Portugal estamos nas meias tintas e nadadisso está definido, pelo que há o risco de haver uma

desagregação do sistema e, consequentemente, ins-tabilidade. Corre-se o risco de, no final, as escolasprivadas continuem a não ter condições para sub-sistir e as públicas fiquem destroçadas.

Com o aparecimento de faculdades privadas,a Ordem dos Médicos deverá passar a ter umexame obrigatório de acesso, como acontececom a Ordem dos Advogados?Acho que essa possibilidade deve ser equacionada.Concordo com algumas limitações. No entanto,acho que essa decisão deve ser precedida de umsistema de acreditação dos cursos de medicina. Essesistema foi desenvolvido na Universidade do Por-to e penso que deve ser instituída a acreditação dasunidades de saúde para a prática de ensino, demaneira a garantir padrões mínimos de qualidade.Devem ser instituídas avaliações nacionais e inter-nacionais a esses cursos, tal como acontece noscursos públicos. Depois, em face da forma comocorrer esse processo, poderá pensar-se na imple-mentação de sistemas de admissão à Ordem dosMédicos. Aliás, penso que esse exame não será tantode admissão à Ordem, mas sim uma condicionanteà obtenção da carteira profissional que permita olivre exercício da profissão.

Foi um dos mentores da proposta de um novoexame de acesso ao ensino superior na áreada medicina que acabou por não vingar. O queé que correu mal?A proposta mexeu com muitos interesses instala-dos, com as estruturas representativas dos profes-sores do secundário. A certa altura, entenderamque este era um exame à sua própria capacidadede ensinar. Isto foi uma interpretação errada, umavez que não era nada disso que se pretendia. Mas,de facto, acabou por encravar o processo. Aliás, aprova de que nós tínhamos razão foram os resulta-dos do exame experimental que foi feito este ano eque acabaram por fazer com que a senhora minis-tra abandonasse por completo o modelo. Quandose faz um exame em moldes diferentes que apela-vam não à memorização de factos, mas à articula-ção entre conhecimentos, os alunos bloquearamcompletamente. Os resultados foram tão maus quefoi decidido suspender a aplicação do exame atéentrada em vigor da legislação que permita às uni-versidades criarem o seu próprio exame. Houve odescartar da responsabilidade do ministério quequer passá-la para as universidades. Mas se algu-ma coisa era preciso para demonstrar que as uni-versidades tinham razão em avaliar este tipo decapacidades, foi este exame. Infelizmente, foi in-terpretado da maneira exactamente oposta àquelaque deveria ter sido. A interpretação que se devefazer é que é necessário mudar alguma coisa noensino secundário, é necessário mudar de um en-sino factual para um ensino de relação de conheci-mentos, de obtenção e validação da informação eisso, infelizmente, não está a ser feito e vai conti-nuar a não ser feito. Continuamos a ter a universi-

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dade separada do ensino secundário e, pelo menos porenquanto, a universidade não terá qualquer papel naselecção dos alunos que recebe.

Para além do novo exame, defendia-se uma entre-vista com um psicólogo. Seria uma condição im-portante para haver uma triagem?Não há um perfil de médico. Um médico é um sertotipotencial que, depois de obter a licenciatura, podeser um clínico geral, um investigador numa área de bi-ologia molecular de ponta, um médico legista, ou umpsiquiatra. A própria profissão de médico em si encerrauma multiplicidade e pode acomodar imensos tipos deperfis dentro das suas diferentes actividades. À partida,isto não permite que se defina qual vai ser o bom e qualvai ser o mau médico. Alguns destes modelos têm cla-ramente falhado. Mas há tentativas que se podem fazer,apesar de serem questões muito sensíveis à opinião pú-blica e que, provavelmente, nem devem ser objecto dedebate público. A população ainda não está preparada.Basta olharmos para algumas escolas americanas e verque têm como factor de privilégio de acesso ao curso demedicina o facto de se ser filho de médico. Em Portu-gal, este critério provavelmente iria chocar muita gente.No entanto, isto acontece com a racionalidade que seconsidera que aquele que é filho de médico sabe no quese está a meter. Portanto, isso dá algumas garantias deque ele vai ter sucesso e não vai abandonar a profissãoque é uma coisa que acontece muito com cursos comeste grau de prestígio social. Escolhe-se o curso peloprestígio social que tem e não pela vocação que se tem,o que se torna problemático em termos de futuro. Estaé uma discussão que está em aberto.

Quando é que estaremos preparado para esse tipomudanças?Se as coisas correrem como está previsto, dentro de doisou três anos a universidade vai passar a ter um papel nadefinição do perfil dos alunos que admite. Nessa alturaas coisas terão condições de mudar. Neste momento,penso que não haverá mudanças até porque há esta von-tade desenfreada de admitir muitos alunos nos cursosdas ciências da saúde e isso não favorece que se estabe-leçam mecanismos de selecção rigorosos como aquelesque é necessário instituir.

PODEM VIR A SER ESTABELECIDAS QUOTAS PARA

HOMENS NO ACESSO AOS CURSOS

Tem-se registado um número crescente de entradade mulheres nos cursos de medicina, tal como nou-tras áreas. No Reino Unido esta nova realidade jámereceu preocupação das entidades competentes.Em Portugal, também podemos ter um cenário pre-ocupante a este nível?

Podemos. Aliás, em Setembro do ano passado, nareunião da Associação de Educação Médica Euro-peia, em Berna, foi pela primeira vez levantada apossibilidade de se introduzirem quotas para ho-mens, dentro das faculdades de medicina, de talforma é o predomínio das mulheres. Este não é sóum problema nacional. Em Portugal, provavelmen-te, é ainda mais importante do que noutros países,dado que temos uma enorme percentagem de mu-lheres nos nossos cursos. São cada vez mais dife-renciadas e cada vez mais temos mulheres a ocu-par posições em áreas da actividade médica quenão eram tradicionalmente ocupadas por elas. Esteé um problema que está a ser alvo de estudo dacomunidade internacional e das preocupações dasestruturas, porque existem claramente áreas da ac-tividade médica em que as mulheres têm riscos ecomportamentos que não eram os tradicionalmenteassociados a essas áreas. Isso causa alguma pertur-bação e alguma instabilidade.

Então, dentro de uns anos poderemos assistirà implementação de quotas no acesso aos cur-sos?Provavelmente o caminho será esse, porque há áreasde especialização médica que são tradicionalmen-te ocupadas por homens e, apesar de haver umapreponderância de mulheres no curso de medici-na, elas continuam a não escolher essas áreas. Es-tão a criar-se assimetrias dentro do sistema que sóa instituição de quotas poderá colmatar. Não se tratade nenhuma posição machista. Temos de admitirque as competências e as limitações são de nature-za biológica. Para se fazer controlo de qualidadepara detecção de defeitos finos numa linha de pro-dução não se contrata um homem, porque ele nãodetecta nenhum. As empresas que fazem selecçãode pessoal sabem perfeitamente que há profissõesque são mais bem desempenhadas por homens eprofissões mais bem desempenhadas por mulhe-res. Em medicina, existem algumas especialidades

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médicas que as mulheres não procuram porque não têmapetência natural por elas. Temos de respeitar essaapetência natural. Agora temos de criar condições paraque haja uma «pool» de licenciados suficientes que per-mita que essas especialidades sejam preenchidas. EmPortugal esta discussão ainda não se iniciou, mas hápaíses onde já se iniciou e está a ser levada muito a sé-rio, como na Suécia.

CURSOS DEVEM OFERECER MAIS DISCIPLINAS

OPCIONAIS

Os planos curriculares dos cursos de medicina es-tão adaptados às exigências do mercado?Em Portugal existem diversos cursos de medicina, cadaum com as suas particularidades. O fundamental é quehaja uma avaliação permanente do curso, quer a nívelnacional, quer através de comissões internacionais. Nesteaspecto, a Universidade do Porto está a cumprir todosesses requisitos e, por isso, temos avaliações periódicas.Em segundo lugar, é preciso ter sistemas de acreditação.Temos de ter as unidades prestadoras de saúde com asquais colaboramos devidamente acreditadas para o en-sino. Isso passa por um processo complicado, em quese assegurem não só condições físicas para receber alu-nos, mas também uma «pool» de doentes significativaem termos de patologias, e um corpo profissional com-petente e diferenciado que possa ministrar ensino. NaUniversidade do Porto temos feito um esforço muitogrande para instituir este tipo de mecanismos, mas nãocom carácter esporádico, uma vez que devemos insti-tuir gabinetes de avaliação permanentes da qualidadedo ensino. Assim, temos criados mecanismos que per-mitem que o «feedback» que chega da prática clínicaseja imediatamente incorporado no ensino e o ensinoesteja em permanente mutação para se adaptar às ne-cessidades que vão surgindo. Este é o grande desafio do

ensino da medicina e é isso que tem levado a que,no Porto, tenha havido a intenção de evoluircurricularmente para estas formas de ensino maisintegradas.

Não considera que os cursos devem oferecermais disciplinas opcionais?Sim. Mas isso levanta um problema que é a defini-ção de um «corpo curricular». É aí que deve serfeito o grande investimento. Depois, temos de noshabituar a que existam áreas do conhecimento mé-dico que sejam ensinadas de uma forma mais ligei-ra ou como cadeiras de opção. Temos de ofereceraos alunos a possibilidade de contactarem com to-das as áreas da prática médica, mesmo as que nãoexistem nos hospitais. Por exemplo, como é queum aluno que acaba o curso escolhe uma especia-lidade de radioterapia se nunca tem contactos coma radioterapia? Ou, por exemplo, um aluno deveou não ter a possibilidade, durante parte do seucurso, de desenvolver um trabalho de investigaçãocientífica? Para isso, temos de ter um curriculumelástico para se adaptar a estas diferentes opções.

Acha que os planos curriculares deveriam sercomuns em todas as faculdades de medicina?Não. Acho que cada escola tem especificidades pró-prias. O que está aqui em causa não é ser melhordo que a outra, o que está em causa é que existemvários caminhos para chegarem ao mesmo ponto.Cada escola tem quadros docentes com especifici-dades próprias, cada região tem especificidadespróprias que têm importância, por exemplo, emtermos das patologias prevalentes. Por isso, deveser dada a oportunidade a cada escola de seguir oseu caminho em termos de modelo de ensino, des-de que continuem a demonstrar que o produto fi-nal tem qualidade.

Os cursos de medicina deveriam aderir à De-claração de Bolonha?Não. A Declaração de Bolonha é extremamente rí-gida, ao estabelecer formações bietápicas com pe-ríodos de tempo muito limitados. No caso euro-peu, a medicina ficou logo de fora da Declaraçãode Bolonha e não existe nenhuma movimentaçãono sentido de aí incluir o curso de medicina.

Pensa então que os seis anos são os adequa-dos ao nível de formação?Penso que sim. Não se pode caminhar noutros sen-tidos. Acordou-se que o curso deveria ter seis anos,o sexto ano deveria, preferencialmente, serprofissionalizante e que deveria ter 5500 horas deduração. Penso que os seis anos são o tempo ne-cessário para formar um profissional em condiçõesde o colocar no mercado de trabalho. Não vejo queseja possível fazer grandes reduções, até porque ovolume de conhecimentos médicos que é necessá-rio transmitir aos alunos aumenta de ano para ano.Por isso, não estou a ver que, num horizonte pró-ximo, isso se modifique.

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FACULDADES DO PORTO ESTÃO EM FASE DE PRÉ-RUPTURA

Um dos problemas das faculdades prende-se comos reduzidos orçamentos. Também acontece como Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar?Dou-lhe a penas um dado: o dinheiro que esta escolarecebe do Orçamento de Estado não é suficiente parapagar os vencimentos aos funcionários.

Como é que têm sobrevivido?Temos receitas próprias, nomeadamente das propinas,sejam de pré-graduação, sejam de pós-graduação. Essaé uma parte significativa da receita da instituição e éisso que nos tem permitido subsistir. Agora, essas ver-bas não deveriam ser aplicadas na subsistência da insti-tuição, mas sim para financiar projectos de investiga-ção, inclusivamente dos próprios alunos, ou utilizadaspara modernização de instalações e para reequipamentode laboratórios... As despesas de funcionamento devi-am ser suportadas pelo Orçamento de Estado e não pe-las propinas. Mas, neste momento, têm de ser desvia-das para pagamento de custos de funcionamento da ins-tituição.

Existe discriminação de tratamento entre faculdades?Claramente. Há um contra-programa assinado com oGoverno da República em Dezembro de 2001 que pre-via investimentos nas várias escolas médicas do país.Aquilo que aconteceu foi que estes investimentos foramefectuados em todas as escolas, com excepção nas esco-las do Porto. Podem-lhe chamar outro nome, mas paramim isto chama-se discriminação. E isto apesar das es-colas médicas do Porto serem responsáveis pelo recru-tamento dos melhores alunos do ensino secundário, sis-tematicamente colocarem alunos em lugares cimeirosnos exames de acesso às especialidades e de, em termosde produção científica, estarem à frente da criação dosdois laboratórios mais prestigiados do país. O Institutode Biologia Molecular e Celular (IBMC) e o IPATIMUPsão, no seu conjunto, responsáveis por um grande nú-mero das publicações científicas na área das ciências dasaúde feitas em Portugal.

E quais são as repercussões deste não investimento?Desenvolvemos a nossa actividade em instalações emque não cabem os alunos. Os alunos têm, muitas vezes,de ficar sentados nas escadas, têm de estar em anfitea-tros sobrelotados, têm de repartir aulas por horários alar-gados porque não há possibilidade de meter as turmastodas dentro do horário normal de funcionamento dasinstituições...

Vive-se uma situação de ruptura nas faculdadesde medicina do Porto?Diria que se vive uma situação de pré-ruptura. Neste

momento, temos claramente de pensar em anexarespaços às escolas existentes, porque é material-mente impossível alojar todos os alunos que temos.

Tem havido pressão por parte dos conselhosdirectivos em resolver este tipo de problemas?Em termos institucionais, as faculdades falam como reitor e o reitor fala com o ministro. É esta a ca-deia hierárquica e sabemos que o reitor tem pressi-onado a ministra. Mas o que é facto é que essaspressões têm sido ineficazes e ainda este ano o con-trato-programa não foi honrado pelo Governo quesuspendeu as verbas do PIDDAC que deviam tersido transferidas para as faculdades, para dar an-damento aos projectos que já existem.

Se a situação é já de pré-ruptura, até quandoas faculdades vão conseguir aguentar?Penso que as pessoas começam a estar cansadas defazer um esforço constante, sem verem nenhumsinal de reconhecimento desse esforço por parteda Administração Central. Não nos chega ter boaspalavras, precisamos de ter mais do que isso. Nomínimo, pedimos que se cumpra aquilo que esta-va previsto e que se honrem os documentos que seassinaram. Penso que não será pedir muito que aspessoas tenham palavra. Nós, da nossa parte cum-primos. Somos talvez a única universidade portu-guesa que cumpriu o que estava estipulado no con-trato-programa e somos a única universidade por-tuguesa que foi preterida nos investimentos daAdministração Central no âmbito do ensino dasciências da saúde.

Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pintonortemédico

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Primeiro foi a Fisiatria. Mais de 20 anos de trabalhono Hospital de Santo António e 11 no S. João. De-pois veio a pintura...“A arte, tal como a Medicina, exige uma entrega a100%. Era impossível estar totalmente empenhadanas duas tarefas aos mesmo tempo. Por isso, só quan-do deixei a actividade médica é que me dediquei àpintura”, explica Olga Fiadeiro.Autodidacta de início, frequentou depois um cursode desenho e pintura, orientado pelo professor deBelas Artes, Carlos Carreiro. A partir daí, nunca maisparou. Já conta com uma dezena de exposições, tan-to ao nível individual como colectivo.

«PINTO COISAS QUE CHAMAM A ATENÇÃO»EXPOSIÇÃO OLGA FIADEIRO

“Identifico-me com um estilo que tenha algo a vercom o surrealismo. Mas não quer dizer que faça porpintar essa corrente”, revela.Nesta exposição notou-se a influência de lugares poronde a artista passou, desde a América Latina, à Áfricae ao Oriente.“Não posso deixar de destacar três quadros que têmas minhas reminiscências de África. Gosto deles por-que me fazem lembrar as dificuldades que tive empintá-los. África e India foram lugares que me im-pressionaram muito. Há também um quadro de doismetros de largura sobre o Brasil. É um povo que estácheio de arte. E tenho também um tipo de quadromais figurativo, que é um barco que gosto muito”,destaca.

QUADROS NUNCA ESTÃOACABADOS

Desde que se iniciou na pintura, em 1997, OlgaFiadeiro já pintou 300 quadros. Além de estar influ-enciada por lugares por onde passou, a artista tam-bém tem um modo muito peculiar de ver as coisas...“Normalmente pinto imagens que me chamam a

FORAM 42 QUADROS COM MUITO SURREALISMO,CORES INDIRECTAS, MUITA INFLUÊNCIA DE ÁFRICA,ÍNDIA E BRASIL. FOI UM MÊS DE JANEIRO CONSA-GRADO À PINTURA DE OLGA FIADEIRO. O NOME ÉCONHECIDO NA MEDICINA. FOI FISIATRA DURAN-TE MUITOS ANOS NOS HOSPITAIS DE SANTO AN-TÓNIO E S. JOÃO. REFORMOU-SE E SÓ ENTÃO INI-CIOU UMA CARREIRA NA PINTURA. OS TRABALHOS,EM ACRÍLICO, ESTIVERAM EXPOSTOS NA GALERIA DA

SECÇÃO REGIONAL NORTE DA ORDEM DOS MÉ-DICOS.

CULTURA

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nortemédico Texto Rui Martins • Fotografia António Pinto

atenção. Às vezes coisas macabras, até. Ao ler umarevista sobre esquizofrenia reparei num aspectofisionómico bastante chocante de um doente que medeu a ideia para um quadro. Depois, foi só acrescen-tar um pouco de imaginação. Estou a lembrar-mede outro quadro que foi feito através da imagem deuma endoscopia. A partir daí criei uma mulher atrabalhar de... mineira. Noutro acrescentei uma flôr.Noutro umas rodas dentadas...”Olga Fiadeiro demora normalmente três meses a pin-tar um quadro. Mas é curioso verificar que a artistaconsidera que um trabalho nunca está acabado.“Se tiver um quadro muito tempo nas minhas mãosacabo sempre por alterar qualquer coisa. Noutro diali uma entrevista de um grande pintor – não vale apena dizer o nome – e fiquei toda contente porqueele, quando não conseguia vender algum quadro,alterava-o no atelier. Bem, pensei, não sou só eu...”

SALVADOR DALÍ ECHIRICO...

Olga Fiadeiro nasceu em Lisboa mas radicou-se noPorto ainda criança. Nos últimos anos de actividademédica já piscava o olho à arte mas nunca teve tem-po para se dedicar à pintura.“Nos últimos anos de carreira também fui encarre-gada do ensino. Tive a meu cargo 13 internos parapreparar para o exame final do curso. Foi precisodedicação total. Trabalhava para aí umas dez horaspor dia. Por isso, quando terminei a actividade, não

podia sentar-me numa cadeira. Não é o meu géne-ro”.A partir daí apaixonou-se pela pintura e apreciouartistas como Salvador Dalí, Chirico e Marx Ernst.“Depois gosto também dos impressionistas e do sim-bolismo – Gustave Moreau, por exemplo. Mas elessão tantos e são tão bons...”A artista já visitou inúmeros museus em todo o Mun-do. E o que mais a impressionou foi o Museu d´Orsay.“Adorei esse museu, que até é o mais recente de to-dos. O Louvre é muito cansativo. Não é fácil ver aqui-lo tudo em pouco tempo, principalmente para mimque já não sou uma criança.”Os quadros de Olga Fiadeiro vieram de Ponte de Limapara o Porto, onde estiveram expostos na galeria daSRNOM. Depois seguiram para Lisboa. E mais tardeseguem para outro lado, porque a artista prometenunca parar.“Se o fizer ainda vou parar ao manicómio”, diz. Porisso, vamos esperar pelas próximas obras, porqueOlga Fiadeiro promete mais surpresas.

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TRINTA E CINCO ANOS AO SERVIÇO DA PINTURAOBRA DE MÁRIO ROCHA EM EXPOSIÇÃO NO CENTRO DE CULTURA E CONGRESSOS

Em Fevereiro a arte voltou a estar em destaque na Casa doMédico. Desta vez, foi a escrita pictural de Mário Rocha,no ano em que comemora 50 anos de vida e 35 de carreira.Durante todo o mês, algumas dezenas de obras expostasno Centro de Cultura e Congressos da SRNOM permiti-ram descobrir os retratos de uma vida dedicada à pinturae, inevitavelmente, os contornos da personalidade do ar-tista. "Não é fácil viver da pintura, mas consegue-se. Façoo que gosto. Sinto-me bem comigo próprio, libertando-mena pintura. Posso dizer que sou feliz", confessou Mário Ro-cha a um jornal diário. Na exposição são visíveis essasmarcas que deixam perceber o crescimento sucessivo dopintor e a sua ligação à região do Minho: uma conexão àsorigens transporta-se para a tela, onde predominam os tonsda terra, mas onde também se combinam cores e traçosque permitem ao público saltar para o sonho.A simplicidade que utiliza na sua forma de arte foi sofren-do evoluções, nomeadamente para o abstracto, apesar dostrabalhos figurativos também lhe estarem associados. Des-sa fase, fica o exemplo dos «Três velhotes de Pias», umaobra estritamente ligada ao Alentejo, região com a qual tam-bém se sente ligado, por questões familiares. Mas no Cen-

tro de Cultura e Congressos foi ainda possível apreci-ar um auto-retrato, pintado em 1974, o original dotrabalho produzido para a RTP-África, ou umalitografia de uma obra encomendada pela EmpresaMetro do Porto.

PERFIL Mário Rocha vive actualmente em Gondomar, masfoi o Minho que o viu nascer, há exactamente 50 anos, napequena aldeia de Perre, a cinco quilómetros de Viana doCastelo. Foi por volta dos 10 que o interesse pela arte tomouforma e, por isso, pouco tempo depois, em 1968, começou asua dedicação à pintura. Resultado? Com apenas 15 anos deidade realizou a sua primeira exposição, na Escola Técnicade Viana do Castelo. A partir de então, nunca mais parou.Frequentou a Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis,no Porto, e, hoje, no atelier junto ao Palácio do Freixo, vol-tado para o Rio Douro, desenvolve o seu trabalho, o mesmoque vai partilhando com o público nas duas ou três exposi-ções individuais que anualmente promove. Ainda neste Ve-rão, será possível voltar a «sentir» o pintor, durante a V Edi-ção da «Arte na Leiria», em Caminha.

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto

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CONFERÊNCIA PROFERIDA PELO PROFESSOR DOUTOR ROLANO MOISÃO NA SEDE DA

SRNOM EM 20 DE FEVEREIRO DE 2003

MEIO SÉCULO DECONVÍVIO COM OS MEIOS

AUDIO-VISUAIS DE ENSINO

Quando, por alturas do século XII, as Universidades co-meçaram a brotar do solo confuso e aguerrido da IdadeMédia, os professores liam um texto (donde a palavra“Lente”), como se vê numa iluminura do Códice doLorvão. A Igreja possuía quase o monopólio da Cultura.Por isso, o vestuário de quem ensinava era um hábitotalar, antepassado distante, mas bem visível, das nossasbecas actuais.Centenas de anos foram passando na dobadoira do Tem-po, mas continuam a ser indispensáveis alguém que quei-ra ensinar e alguém que queira aprender. E, entre uns eoutros, mas perpetuando a sua ligação, o texto, sob for-mas que evoluíram, desde o pergaminho às últimas cria-ções da electrónica. Mas, mantendo-se presente.O acto de ensinar continua a exigir uma vocação, eu di-ria quase religiosa, pois não se consegue obrigar alguéma fazê-lo, se não tiver para isso capacidade, mas tambémapetência.

As técnicas evoluíram, é indiscutível, e foi útil essaevolução. Vou falar-vos, hoje, de alguns aspectos des-sas técnicas.O meu contacto com o que hoje se chama “meiosaudio-visuais de ensino” começou no primeiro anoda Faculdade, nas aulas de Anatomia Descritiva. OProf. Victor Fontes, ao tempo ainda não catedráti-co, fazia, de véspera, no quadro preto, primorososdesenhos a giz de cores. Com eles nos ensinou oaparelho circulatório e as vísceras do abdómen.Não tenho uma fotografia dele, da época em que oconheci, mas posso mostrá-lo, ainda bastante novo,neste quadro de Carlos Bonvalot.(1)

O artista era desenhador do Instituto de Anatomiae resolveu imitar a famosa Lição de Anatomia, deRembrandt. Mas, em vez das figuras do século XVII,retratou as pessoas com quem convivia no seu tra-balho habitual, isto é, por alturas dos anos trinta.

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Ao centro, como na pintura original, um cadáver deitadona mesa de dissecção. Tampo de ardósia de pés de metalpintado, como aquelas em que eu trabalhei na sala deaulas práticas.Preside, em vez de Nicolau Tulpy do quadro original,agora o Prof. Henrique de Vilhena, muito mais novo doque quando o conheci, com o colarinho rígido da suajuventude e a bata mal abotoada como sempre usou. Amão direita aponta uma anomalia que ele descreveu – oraríssimo músculo pré-esternal. Uma aluna curiosa de-bruça-se, tal como o homem do quadro inspirador, paraver melhor. Uma outra, mais tímida, tem também umgesto de interesse. Atrás da primeira, um homem bastan-te novo, com o pequeno bigode que foi moda; atravésdos óculos, os olhos estão fitos na demonstração do Mes-tre; identifico nele, sem dificuldade, o Prof. Victor Fon-tes, que eu conheceria uns bons anos depois de Bonvaloto ter retratado. Gostei muito das suas aulas e dos seusdesenhos, assim como das gravuras a cores no tratado deTestut.Eu estava no segundo ano do Internato de Cirurgia, quan-do o Prof. Virgílio de Morais(2) me encarregou de dar aminha primeira aula teórica.Confesso que tive medo. Levei três serões a prepará-la.Livros, lápis, papéis e... um relógio à minha frente, porcausa dos tais cinquenta minutos. Na véspera, à tarde, àcautela, fui escrever um sumário no quadro. Senti receio,quando enfrentei um anfiteatro cheio de alunos. Fui co-meçando, com olhadelas discretas ao tal sumário... e aorelógio.Dai a uns dois meses, segunda aula. Na véspera, dese-nhei umas coisas no quadro, a giz de cores, como tinhavisto o Prof. Fontes fazer. Comecei a falar e... esqueci-mede ter medo!Desde então, e ao correr de uma longa vida de ensino,dar uma aula foi sempre um prazer.Data dessa altura, e desses bonecos a giz, a minhaapetência para o que, mais tarde, se chamariam “meiosaudio-visuais de ensino”.Depois, para orientação e traçado dos aspectos gráficos,viriam a contribuir muito as aulas de Desenho de Está-tua e de Modelo Vivo, na Sociedade de Belas Artes.

E, para a técnica de falar, os exemplos de Reynaldodos Santos(3) (que fora meu professor de PatologiaCirúrgica) e de Delfim Santos(4) (este último no Cursode Ciências Pedagógicas da Faculdade de Letras).De certo modo, também os de André Delmas e deRené Leriche.Quando o Hospital Escolar foi transferido, do edifíciode Santa Marta, para o edifício de Santa Maria, passá-mos a ter o apoio de um desenhador-fotógrafo(5).Os primeiros diapositivos que fizemos... hoje... acho-os muito feios. Uns com extensas áreas livres, dei-xando passar demasiada luz. Outros com excessode zonas negras, quase lúgubres. Todos com textoem excesso.O que aprendi na Sociedade de Belas Artes, não sóviria a permitir-me executar pessoalmente todas asgravuras dos meus trabalhos futuros, mas tambémdar-me o à-vontade de colaborar com esse profissi-onal.Com o aparecimento do Plano de Fomento para oEnsino Superior, promulgado pelo Prof. MarceloCaetano, tivemos a possibilidade de executar, emequipe, quadros que substituiriam, com vantagem,os meus antigos desenhos a giz de cores.Eu fazia o plano e traçava, a lápis, o que pretendiamostrar. Ele, já a tinta da China, tornava definitivosos contornos. Eu ensaiava as cores, os relevos e assombras, logo, por ele, feitos realidade.Trago, para vos mostrar, alguns desses quadros quesobreviveram às agressões do Tempo e do Mundo:– Dois deles são relativos às Infecções Piogénicas e

suas Localizações nos Espaços Conjuntivos. Re-parem: estes espaços passam como secundáriosquando se estuda a Anatomia, mas são fundamen-tais para a compreensão de doenças que, ao tem-po, tinham assinalável gravidade e frequência.

– Um outro quadro diz respeito aos EspaçosPeritoneais, isto é, aos recessos entre as vísceras,onde os abcessos se alojam.

Num caso e no outro, “A Anatomia, CompanheiraInseparável da Clínica”, conceito em que plenamenteacredito e foi o título de uma palestra que, a convite

Infecções Piogénicas:localização em função dos

espaços conjuntivos.

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do Prof. Nuno Grande, fiz, uma vez, na abertura doseu curso de Anatomia.Na época desses quadros, era ainda muito pesada aincidência de quisto hidático nalgumas zonas donosso País. A Direcção Geral de Saúde resolveu en-carar o problema de frente e criou uma Comissãode médicos e de veterinários. Fui chamado para ela,em razão de trabalhos publicados sobre o assunto.Coube-me a realização de palestras. São dessa altu-ra dois outros exemplos que vos mostro:– Ciclo Evolutivo do Parasita, donde a maneira

de o evitar.– Localizações no organismo, em função da árvo-

re circulatória e de algumas das suas característi-cas locais.

Voltemos aos diapositivos. Tirei-os de capítulos es-colhidos ao acaso relacionados com as quatro cadei-ras do grupo cirúrgico, porque por todas elas passei,embora mais longamente pelas de Patologia e deClínica, que foram também as minhas preferidas.Comecemos por alguns dos diapositivos que consi-dero feios.Numa dada altura, fui encarregado de dar aulas nacadeira chamada Propedêutica Cirúrgica(6), designa-ção que não permite marcar exactamente o que nelase pretende. Deveria intitular-se Semiologia Cirúr-gica. Avisado em Julho, em vez de resmungar, ati-rei-me ao assunto, redigi um trabalho que já estavano prelo em Outubro e cujo cabeçalho incluía umacitação de Kant: “Há duas coisas que se podem olharcomo sendo, em conjunto, as mais importantes e as maisdifíceis para a Humanidade: a arte de governar os ho-mens e a arte de os educar”.Ligação íntima com as outras cadeiras do mesmoano, ensino programado, semana a semana, comovos mostro.Na primeira aula teórica, sobre Inspecção, resolvialigeirar o ambiente, projectando uma escultura clás-sica, em que um adolescente olha para a planta dopé. E contei-lhes uma história:Nos bons tempos em que o homem primitivo já se cha-mava Sapiens, um deles desceu da árvore onde se abri-gava, para o terreno cheio de vegetação bravia. Picouum pé e doeu-lhe. Dois dias depois, a dor era maior eele olhou: uma mancha muito vermelha, com o centroamarelado. Por esta inspecção, tinha nascido aSemiologia. Tudo continuou; eram mais marcadas avermelhidão e a dor, todo o pé estava tumefacto, umrisquinho quase lilás subia para a perna: tinha nascidoa Fisiopatologia. No cume da zona dolorosa e eleva-da, no centro da mancha amarela, via-se o topo do espi-nho, causador de tudo isto; o homem, num movimentotímido, puxou-o para fora; foi fácil e, atrás dele, veioum líquido espesso e amarelo: tinha nascido a Tera-pêutica Cirúrgica. No fundo da ferida que, pouco apouco, ia fechando, ele viu desenvolverem-se umas sali-ências rosadas que a pele calosa começava a cobrir: ti-nha nascido a Anatomia Patológica.Depois desta história, quase histórica, foi fácil con-seguir cinquenta minutos de atenção.Mas, o diapositivo de palavras tinha um aspecto es-tético que não me agradava. E esse desagrado iadurar algum tempo.

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Espaços anatómicos do peritoneu comandando a localização das colec-ções purulentas.

Hidatidose humana: localização em função da árvore circulatória e dealgumas das suas características.

Hidatidose: ciclo evolutivo do parasita.

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Dois exemplos mais de composições ainda de má quali-dade: as muitas linhas sobre fundo banco de uma parteda Fisiopatologia do Shock (numa sessão para pós-gra-duados) e o ar sombrio ao apresentar as conclusões deuma investigação sobre volume plasmático.A cadeira de Medicina Operatória estava envelhecida, talcomo o livro genial de Farabeuf. Foi um erro extingui-la.Era preciso, sim, transformá-la em Noções Gerais de Te-rapêutica Cirúrgica, dando, ao futuro médico, ideias,embora sumárias, sobre o que nós fazemos, a nossa no-menclatura, a possibilidade de suturar uma ferida, ouabrir um abcesso, sem recorrer obrigatoriamente a umcentro cirúrgico.No único ano em que tive a responsabilidade de a orien-tar, assim procedi.Fez-se, inclusive, um filme, ensinando como se lavam edesinfectam as mãos e como se calçam luvas estéreis semas contaminar. Nessa aula, e à medida que o filme ia cor-rendo, havia paragens propositadas, para os alunos, nassuas mesas, irem executando os movimentos que viamno ecrã. Gostaria de o ter trazido... Desapareceu, na vo-ragem das transformações hospitalares! Assim como de-sapareceram até essas salas.Por vezes, uma gravura descreve melhor do que muitaspalavras. É o que sucede, por exemplo, quando se pre-tende explicar o trajecto das diversas laparotomias. Parapoupar o trabalho de fazer um desenho, utilizei fotogra-fias de estátuas, sobre as quais marquei o trajecto dasincisões.Uma aula de abertura tem sempre alguma coisa de mo-nótono. Dizer quais serão os assuntos, a maneira de osencarar, convencer de que a vinda à lição não é um luxo,que é indispensável a pontualidade nas práticas, etc. etc..Ao falar das aulas chamadas teóricas, que, hoje, não sãoapenas teóricas, em razão de tanta coisa que se mostra,pode, para aligeirar os ânimos, mostrar-se, por exemplo,o imponente Anfiteatro de Pádua, onde Fabrício deAquapendente ensinou Anatomia.Ao informar sobre o modo de funcionamento das aulaspráticas de enfermaria: doente distribuído previamente adois alunos para lhe fazerem a história clínica, que serálida e aperfeiçoada no grupo do assistente e da sua tur-ma, eu mostrava, às vezes, um desenho cuja origem vouexplicar.Quando eu era ainda assistente, um homem com o tre-mor do alcoolismo de longa duração esteve internado naminha tira, a morrer de metástases, para não morrer defome e de miséria, à porta de uma taberna. Uma alunaleu, na aula, a história que tinha feito. No dia seguinte, odoente chamou-me, para me mostrar esta verdadeira fo-tografia, onde logo identifiquei a retratada.No meu livro “Palavras de Circunstância”(7) escrevi sobreele:A dois passos da morte, conserva ainda todas as velhas ca-racterísticas: apreensão rápida do traço geral duma figura edos seus pormenores, base fortemente sensual na escolha dosmotivos, execução rigorosa dos relevos anatómicos através

do vestuário que a visão do artista torna quase transpa-rente. Para quem conheceu, ao mesmo tempo, o modelocopiado e a obra de Stuart, o retrato é perfeito: retratodo modelo e retrato do próprio Stuart.Na papeleta, lia-se o nome completo: José Hercula-no Stuart Torrie de Almeida Carvalhais. SublinheiStuart Carvalhais, que era o seu nome artístico.Na linha da profissão, estava escrito: mendigo. Deu-me vontade de riscar e escrever por cima: o maiorcaricaturista do seu tempo.A patologia do intestino delgado foi, durante algunsanos, uma das minhas “meninas-bonitas”.Particularmente a doença de Crohn, que estudeilongamente. Quando falava em auditórios mais es-pecializados, por exemplo, no Curso de Pós-gradu-ação organizado todos os anos pelo Prof. SaúlGoldenberg(8), eu fazia sempre a história dessa do-ença, mostrando que tinha sido conhecida, emboranão compreendida, desde o século XVIII; acompa-nhava este diapositivo de palavras, com outro: umareminiscência da antiguidade clássica.Graças ao interesse em compreender as imagens radi-ográficas, desencadeado pelo Prof. Aleu Saldanha(9),consegui estabelecer um paralelismo entre a chapae a histologia da peça de exérese, o que permitiriaprever o achado operatório.Devo esta possibilidade de manejar os exames his-tológicos ao Prof. Friedrich Wohlwill, acerca dequem escrevi(10):“Este homem sorridente, de cravo na lapela, chamou-seJoachim Friedrich Wohlwill.O retrato que vos projecto é também psicologia. O fatoimpecável, os óculos de meio vidro, o sorriso... corres-pondem à atenção firme de cada momento, à preocupa-ção de rigor tocando às vezes a dureza, logo temperadapela afabilidade que o sorriso evidencia. E o cravo nalapela, nele, era preocupação estética, a mesma preocu-pação que o fazia coleccionar porcelanas, tocar violinoe rodear-se de coisas belas em todas as residências cujodestino lhe foi impondo.Foi o maior anátomo-patologista de língua alemã dosmeados deste século. Muitos o conhecem pelos seus tra-balhos sobre a paramiloidose dos nervos periféricos eacerca dos focos de desenvolvimento flebítico e pulmo-nar na sépticemia – trabalhos, estes últimos, que deramcorpo às ideias de Schottmüller e vieram estabelecer amaneira actual de concebermos este quadro infeccioso.Mas, talvez ainda tenha sido mais importante o concei-to das correlações anátomo-clínicas, em que tanto insis-tiu e que tão profundamente marcou todos quantosauferimos o privilégio dos seus ensinamentos. A Anato-mia Patológica, companheira quotidiana da Clínica,explicando e facilitando as deduções fisiopatológicas. AMedicina compreendida em vez da Medicina decorada.Muitos dos que sofreram a sua influência exercem hojefunções cimeiras no Ensino e na Investigação, na Ale-manha, nos Estados Unidos, em Portugal e em Israel.

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Essa influência lhes permitiu encararem as suas especialida-des também através do microscópio óptico, o que os deixoupermeáveis à chegada ulterior da microscopia electrónica.Assim foi, de facto, pois em 1989 e 1990 orientei umatese de doutoramento(l1), na qual a cicatrização consecu-tiva a suturas manuais e mecânicas era comparada à luzda microscopia óptica e da microscopia electrónica devarredura. E, inclusive, compreender pormenores do sín-drome carcinóide e da demonstração de hormonassegregadas no intestino (endorfina!).Voltemos à doença de Crohn. Apenas alguns exemplosdo paralelismo entre radiologia e confirmação histológi-ca, dentre a série que vos poderia mostrar:– focos de infiltração inflamatória muito intensa da sub-

mucosa, traduzindo-se por grandes lacunas sem con-traste;

– fendas largas correspondentes a abcessos que esvazia-ram, dando imagem de pseudo-divertículos de pare-des irregulares;

– áreas de fibrose tardia, com escasso revestimento epite-lial, traduzindo zonas estreitas de interior quase liso,bem visíveis na TAC.

Tudo isto era ensinado com a projecção simultânea deuma lâmina histológica e de uma radiografia.Após a localização da doença de Crohn do intestino del-gado, eu falava da localização no cólon (colite granulo-matosa), no períneo, etc..Talvez, agora, fosse oportuno aliviar o ambiente, citandoAxel Munthe(12), médico e escritor, grande amigo de ani-mais mansos e de mulheres elegantes que, numa atitudetão típica de quem quer fazer ironia contra a Universida-de, escreveu: “Depressa se tomou evidente que as apendici-tes passavam de moda e que tinha de descobrir-se uma novadoença, para satisfazer o pedido geral. Então, a Faculdademostrou-se à altura e lançou uma nova enfermidade, ao abrigodo bisturi do cirurgião e adaptável a todos os gostos: a colite”.Puro engano! Agora, nem a colite da doença de Crohn,nem a da colite ulcerosa, estão ao abrigo do cirurgião...Ainda quanto ao intestino delgado, uma outra aula, so-bre tumores, conduzindo a um quadro-síntese em que aclínica se mostra obediente ao tipo histológico:– o tumor partido de células da mucosa manifesta-se por

invaginação, se é polipóide, e por hemorragia se ulcera;– o originado em células conjuntivas dá obstrução, se

intra-parietal, e massas palpáveis, se exofítico;– o de células linfóides perfura, oclui, produz metástases

precoces ou síndrome de malabsorção.Finalmente, nesta segunda aula, um final sorridente. Aobesidade extrema tratada por ressecções do delgado, naideia de diminuir a absorção, mas levando, nos casos maisinfelizes, às necroses centro-lobulares do fígado, comofoi descrito nos campos de concentração e nas popula-ções carenciadas de África. Dois diapositivos, lado a lado:a imagem de uma extrema obesidade, em contraste comuma silhueta muito elegante.Na Escola do Serviço de Saúde Militar, passámos a ter, acerta altura, uma película que dava ao fundo do diaposi-tivo uma tonalidade com mistura agradável de castanhoclaro e de rosado.No entanto, quando queríamos fazer maior realce entresectores diversos, continuávamos a manejar o colorido.O fundo castanho, pelo contraste com as letras a brancoamarelado, era vantajoso se necessário mais texto.

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O fundo esverdeado, ou o azul, permitiam, no en-tanto, mais pormenor. Como exemplos: os movi-mentos de uma bala ao longo do seu trajecto, o ar-ranjo interior de um helicóptero ou de um aviãohospital.O fundo lilás sombrio permite um bom contrastecom o branco de um aparelho gessado, onde ficambem legíveis as indicações úteis para o tratamentode retaguarda.Uma película de fortuna pode ter de ser utilizadaem qualquer parte: como exemplo, a pinça hemos-tática que dificilmente se conseguiu eficaz e o colarque a imobiliza para evacuação.O fundo branco dá também bom contraste para overmelho escuro dos músculos arrancados pela ex-plosão de uma mina anti-pessoal, ou para deixar,como recordação, o desenho feito por uma criançainternada no Hospital Militar de Telavive, revelan-do como ela se vê a si própria, com todas as infu-sões e aparelhos a que está ligada.Directrizes semelhantes são usadas no ensino daMedicina de Guerra N.B.Q..No respeitante à Guerra Química, mostro, comoexemplo, a acção fisiopatológica de um dos agentesincapacitantes.Na de tipo Biológico, a aerobiologia das partículascontaminantes e a sua penetração nas vias respira-tórias.Na Nuclear, o caminho seguido por substâncias ina-ladas, até ao sistema retículo-endotelial.O diapositivo que se faz rapidamente por fotografiade um texto dactilografado sobre papel branco cor-responde a actualizações urgentes, como sucedeunestes exemplos relativos à bomba de neutrões ou,nas vésperas da Guerra do Golfo, à febre tifóide, ouao carbúnculo.Quando, em aulas práticas, eu tinha mostrado hér-nias diafragmáticas, ou quando falava no refluxogastro-esofágico que, na altura, começava a entrarna moda, notara que os alunos tinham dificuldadeem navegar nesse campo obscuro. Ora, Patologianão se decora, conclui-se. Algumas dessas hérniaseram congénitas. Portanto, havia bases embrioló-gicas, as quais, para mim próprio, não eram muitoclaras. Era necessário atacar o problema. De frente.Procurei o Prof. Xavier Morato(13), a cuja cadeira oassunto pertencia. Conversámos, com a cordialida-de que, nele, era um hábito. Emprestou-me biblio-grafia; mastiguei-a com cuidado e, de repente, a luzbrotou! As hérnias diafragmáticas eram perfeitamen-te compreensivas à luz da evolução embriológica,que eu, agora, também dominava com clareza.É que o diafragma tem uma génese complexa: di-versos esboços embrionários que vão, depois, enca-dear-se.Como técnica de ensino, seria monótono tratar, deinício, o conjunto dos esboços e sua evolução, dei-xando para fases ulteriores a clínica e, depois, a ra-diologia, quando a primeira parte já estivesse na pe-numbra. Pareceu-me mais didáctico encadeá-los:– a génese da hérnia retro-esternal por falência do

esboço anterior e a sua tradução radiográfica;– a falência do esboço póstero-externo e a passa

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gem possível para o tórax de vísceras abdominais situa-das à esquerda, porque, à direita, o fígado é um tam-pão que a impede; era a hérnia de Bockdaleck;

– a agenésia da estrutura que rodeia o esófago, explican-do a hérnia do hiato, e, ao lado, a comprovação radio-gráfica da subida do cárdia, geradora da incontinência,a reacção do esófago e, por montagem horizontal pro-positada de uma terceira imagem, o exagero do refluxopelo decúbito;

– a falta de diferenciação da zona muscular periférica quemantém o diafragma como uma abóbada tensa é bemvisível numa preparação histológica em que raras fi-bras musculares se perdem numa atmosfera célulo-adi-posa, é a eventração diafragmática, permitindo a subi-da do músculo e o balanço a cada movimento respira-tório.

O aumento dos acidentes de viação está a fornecer maiornúmero de roturas do diafragma, em regra reconhecidasdemasiado tarde, porque a atenção de quem observa odoente é levada para lesões concomitantes muito apara-tosas. Atendamos mais ao mecanismo do trauma, um atro-pelamento em que, por exemplo, um pneu faça pressãosobre o abdómen, levando o conteúdo deste a empurraro diafragma. Ora, este tem a forma, já salientada desdeVesálio(14), de uma abóbada, muscular e elástica na peri-feria, mais rígida no centro tendinoso, por onde vai rom-per.E se, agora, olharmos para a cara do doente – sempre aSemiologia Clássica! – podemos ver equimoses, múlti-plas e descontínuas, por toda a face (e não apenas naspálpebras, como na fractura do andar anterior) e tam-bém no pescoço, na área mais alta do tórax e na raiz domembro superior. Talvez, então, nos lembremos de queeste é o território da veia cava superior, cujo orifício naaurícula direita é fronteiro ao da cava inferior. O grandeaumento de pressão no abdómen injecta o sangue paracima e, por isso, a montante, mas apenas a montante, dacava superior, há edema e roturas venosas. O aspecto daface obriga-nos a suspeitar de lesão diafragmática.

Percorri, convosco, 50 anos de meios audiovisuais. Des-de os desenhos a giz, no quadro preto, eles foram os com-panheiros de caminhada de um médico que se conside-rou profissional também do Ensino.E, ao terminar, quero vincar que as novas tecnologiascontinuam a não dispensar o livro de texto.Mas... fazê-lo implica uma profusão de gravuras que otorna muito caro. Sem dar lucro apreciável aos editores!Como não é imoral, não é notícia. E... simplesmente paraa educação dos futuros médicos... os políticos não iriamdesperdiçar dinheiro com uma coisa que não dá votos.

Notas:(1) O quadro de Carlos Bonvalot esteve, durante muito tempo, no gabi-nete do Prof. Henrique de Vilhena, que o levou para sua casa, quando sejubilou. Adquirido aos herdeiros em 1979, voltou para o edifício do Cam-po de Santana, sendo colocado a meio da escadaria principal.

(2) Prof. Virgílio de Morais, catedrático de Patologia Cirúrgica naFaculdade de Medicina de Lisboa. Regeu ainda, quando professorextraordinário, a de Medicina Operatória.(3) Prof. Reynaldo dos Santos, catedrático da Faculdade de Medi-cina de Lisboa e insigne historiador da arte portuguesa. Regeu Pa-tologia Cirúrgica e Urologia.(4) Prof. Delfim Santos, catedrático da Faculdade de Letras de Lis-boa.(5) Alberto Gouveia Lopes, um colaborador eficiente durantemuitos anos.(6) Regida pelo Prof. Cândido da Silva que, na altura, passara acatedrático.(7) Este excerto é do meu livro “Palavras de Circunstância” (Lis-boa, 1993) no qual se transcreve, na íntegra, o meu trabalho “AAnatomia Artística nos Desenhos de Stuart” (1965).(8) Prof. Saúl Goldenberg, catedrático da Escola Paulista de Medi-cina, onde organizou um excepcional Laboratório de Cirurgia Ex-perimental e, todos os anos, um Curso de Pós-Graduação.(9) Prof. Aleu Saldanha, catedrático de Radiologia na Faculdadede Medicina de Lisboa. Muito interessado nas imagens radiográfi-cas das partes moles. No seu serviço, realizei os trabalhos: A Radi-ografia com Pneumo-peritoneu no Diagnóstico de Algumas Afec-ções Cirúrgicas do Fígado (1963) e Quisto Hidático do Fígado;Radiografias com Pneumo-peritoneu (1972).(10) Esta transcrição é também do meu livro “Palavras de Circuns-tância”.(11) Norberto Lourenço Martins, “Anastomoses Manuais e Mecâ-nicas do Cólon – Estudo Experimental Comparativo – tese de dou-toramento, Lisboa, 1990.(12) Axel Munthe, “O Livro de Saint Michel (tradução portuguesade Jaime Cortesão, Livraria Globo, Porto Alegre, 1932).(13) Prof. Xavier Morato, catedrático de Histologia e Embriologiana Faculdade de Medicina de Lisboa.(14) André Vésale (1514 1564), “De Humani Corporis Fabrica”,publicado em Bruxelas, em 1543, com desenhos de Van Calcar(um discípulo de Ticiano).

Prof. DoutorRolando Moisão

nortemédico Fotografia António Pinto

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DR. A. S. MAIA GONÇALVES

PARA UMA HISTÓRIAMÉDICA PORTUENSE - XV

O último dos 3 mandatos consecutivos de José Gui-marães dos Santos na Presidência do ConselhoRegional do Norte da Ordem dos Médicos (CRNOM)decorreu ao longo do triénio compreendido entre1984 e 1986.No final do 2º mandato, em Dezembro de 1983, aseleições, inicialmente marcadas para o dia 15, pormeras questões processuais, acabaram por ser adia-das para o dia 26 de Janeiro do ano imediatamenteseguinte.Mais uma vez, a sua foi a única lista que (segundo assuas próprias palavras, isto é, de quem estava bempor dentro das questões que então se colocavam),“num panorama de exercício profissional complexoe à beira da rotura, onde a unidade vai sendo difícil,face aos micro-interesses, à descrença e à apatia”, seapresentou ao sufrágio eleitoral, e, lógica e inevita-velmente, alcançou a incontroversa eleição.Apesar de único candidato, J. Guimarães dos San-tos, numa atitude de lisura coerente com o seu con-ceituado carácter, nem por isso deixou de emprestartoda a dignidade ao acto eleitoral. Em campanha pré-eleitoral, nas próprias instalações da nova sede, deuuma conferência de Imprensa, e distribuiu um pe-queno fascículo onde, assumidamente, expôs as ra-zões da sua candidatura, desenvolvendo o que cha-mou de “Condicionantes de uma Acção”, descreven-do, longa e minuciosamente, detalhadas, as suas pro-postas de acção, tanto as de fundo, estratégicas, comonumerosas outras, pontuais, específicas.Os elementos por si escolhidos para o acompanha-rem, desta vez, neste seu terceiro mandato, foram osseguintes:Conselho Regional – Alfredo José Correia Lourei-ro; António Germano de Pina da Silva Leal; AntónioLuís Abranches do Canto Moniz; António Nortonde Matos do Carmo Pereira; Artur Manuel OsórioMorais de Araújo; Davide Maurício da Costa Carva-lho; Fernando Ribeiro dos Reis; Joaquim da Concei-ção Ferreira; Joaquim Manuel M. Faria e Almeida;José António Ferreira da Silva Fernandes.Assembleia Regional – Bernardo Maria PereiraTeixeira Coelho; João Carlos Prazeres de AzevedoFranco; José Manuel Sanches Pinto de Vasconcelos;António Fernando Garrido Marçal Liça.Conselho Fiscal – José Cardoso da Silva; AntónioFernando Bastos Lima; Maria Natália Pereira Fortu-na de Oliveira.

Conselho Disciplinar – António Maria Pinheiro Tor-res de Meireles; Domingos José Marques Antunesde Azevedo; José Bárbara Branco; Júlio Moreira dosSantos; Oswaldo Ferreira Bonifácio.Na qualidade de Membros Consultivos ao Conse-lho Regional figuravam nada menos que 21 outroselementos, de entre os quais muitos dos que já ti-nham colaborado em Corpos Gerentes anteriores, eque deste modo subtil poderiam continuar a dar oseu contributo, participando com os seus própriospareceres.Induzido pelo próprio J. Guimarães dos Santos,quando me disse que nunca fizera uma alteração ra-dical de todos os elementos dos seus Conselhos Re-gionais (o ideal, disse, seria mudar entre 30 e 40%),resolvi fazer uma sumária revisão e análise dos trêsdiferentes elencos directivos que o acompanharamnos três Conselhos Regionais (CR) ao longo dos 9anos consecutivos do seu “reinado”. Dos diferentescálculos possíveis, apurei as seguintes leituras:– para o total dos 33 lugares dos 3 CR (11 para cada

CR), J. Guimarães dos Santos apenas convidou 20colegas;

– Destes 20 médicos, 14 participaram num únicoCR, 2 tiveram participação em dois CR: AlfredoLoureiro e José R. Castro Lopes;

– 4 acompanharam-no durante os 3 CR consecuti-vos, o que, seguramente, diz muito, em termos desintonia, confiança e determinação: A.G.P. SilvaLeal; A.L.A. Canto Moniz; A.M. Osório M.A. eDavide M.C. Carvalho.

Esta fidelidade, assídua, repetida e alargada, foi ain-da mais patente ao nível dos outros três órgãosdirectivos, isto é: a Mesa da Assembleia Regional, oConselho Fiscal e o Conselho Disciplinar, onde apercentagem de mudanças nos elencos foi ultra-mí-nima, quase nula.De todos esses nomes, dispersos pelos diferentes Cor-pos Gerentes, permito-me, sem desprimor para osrestantes, destacar um, pela enorme, e marcante, vi-sibilidade do cargo que desempenhou – o de Presi-dente da Mesa da Assembleia Regional – nasincontáveis vezes em que, durante este tão difícilquanto agitado e decisivo período da história da Ins-tituição, as AR foram, ordinária e extraordinariamenteconvocadas. Refiro-me a Bernardo Teixeira Coelho.Aos olhos de quem acompanhou e viveu a turbulên-cia emocional desencadeada pelos ventos daquela

CULTURA

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de, tomar posição na questão relativa à colocaçãodos Internos Gerais, assim como no da não realiza-ção de quaisquer concursos para provimento de lu-gares de Assistentes Hospitalares em 1984, lutandocontra as interpretações falaciosas estritamente ba-seadas em princípios financeiros das entidades res-ponsáveis pela sua implementação.Para além de tudo isso, o ano de 1984 ficou triste-mente célebre devido à acção da Inspecção dos Ser-viços de Saúde do Ministério da Saúde, que resol-veu mostrar serviço, inaugurando uma prática que,aliás, prosseguirá até aos dias de hoje: criar-se naopinião pública um clima de culpabilização e perse-guição da classe médica, procurando responsabilizá-la pelos males e falências dos Serviços de Assistênciaem Portugal.• Mesmo continuando em obras de adaptação, asóptimas instalações da nova sede da SRNOM come-çaram a transformar-se em verdadeiro centropolarizador das iniciativas e actividades médicas, aoserem utilizadas para a realização de numerosas reu-niões científicas e culturais. De igual modo, as Di-recções dos Colégios de Especialidade passaram ater gabinetes próprios e apoio logístico para o de-sempenho condigno das exigentes funções que lhesestavam cometidas.• Exemplo bem demonstrativo do sentido deantevisão e oportunidade, revelou este CR ao orga-nizar, em 1984, o I Curso de Gestão dos Serviçosde Saúde. Assunto da maior actualidade... vinte anosdepois.• Com as siglas PWG (Permanent Working Groupof European Junior Hospital Doctors) designava-sea Comissão que representava a nível das estruturascomunitárias europeias, e em particular junto do Co-mité Permanente de Médicos da CEE, os jovens

história, seria injusto não deixar, aqui e agora, realçado oseu constante e exemplar desempenho na árdua tarefa daPresidência das quase sempre agitadas Assembleias Ge-rais, por onde, afinal, passaram todos os grandes mo-mentos de decisão sobre os rumos que foram dados aosacontecimentos.Aliás, teremos que voltar a falar dele, numa das nossaspróximas crónicas, porque, justamente, a persistência dasua dedicação à Instituição irá levá-lo a tornar-se, numdos próximos Presidentes do CRNOM.

• Nos começos de 1984, não obstante a intensa activida-de desenvolvida pelos múltiplos efectivos da OM, e a apa-rente abertura ao diálogo do então Ministro da Saúde(Maldonado Gonelha), ainda continuavam por resolvermuitos dos problemas que afectavam o exercício da Me-dicina, pelo menos tal como os dirigentes da OM, enten-diam que deveriam ser. Assim:1. Ainda não fora feita a reclamada revisão do diploma

das Carreiras Médicas que, a despeito da sua recentepublicação (Decreto-Lei nº 310/82), continha, comojá deixamos referido, alguns aspectos manifestamentedesadequados, muito em especial os relacionados coma carreira de Clínica Geral, que careciam de alteraçõesque a tornassem profissionalmente atractiva e com ca-pacidade de suprir as carências assistenciais da popu-lação;

2. Continuava-se a aguardar uma nova lei de gestão hos-pitalar que dignificasse o papel que os médicos têmde desempenhar na direcção dos nossos hospitais.(Que visão tão diferente se tem destas mesmas ques-tões, hoje, vinte anos decorridos ...);

3. Permaneciam inalterados e desactualizados os valoresdas chamadas Convenções.

Em termos sindicais, o ano de 1984 iniciou-se pela im-periosidade da OM, face à inépcia do Ministério da Saú-

JOSÉ GUIMARÃES DOS SANTOS

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médicos da Europa Ocidental. A OM já desde 1978 quese tornara membro de pleno direito do PWG, e logo noano seguinte, a habitual reunião da Primavera daqueleGrupo decorreu, pela primeira vez em Portugal, na cida-de do Porto, durante o primeiro mandato de J. Guima-rães dos Santos, em Abril de 1979.Nos dias 28 e 29 de Setembro de 1984, de novo o PWGse reuniu em Portugal e no Porto, desta feita nas instala-ções da nova sede. Estiveram presentes dirigentes de As-sociações Médicas de 17 países, representando mais de120.000 médicos, a maior representatividade entre todasas Comissões Médicas Europeias, para analisar e confron-tar os diversos problemas assim como lançar as linhas deactuação comuns na defesa de uma Medicina Europeiaintegrada e com altos padrões de qualidade.• No respeitante aos Exames de Especialidade continua-vam impressionantes os números dos que em 1984 serealizaram na SRNOM: Concorrentes - 120; Aprovados -97; Desistiram - 18: Não admitidos - 3; Reprovados - 2.Durante o ano de 1984 foram criadas as Sub-Especiali-dades de Oncologia Médica e de Doenças Infecciosas;foram admitidos por consenso os primeiros médicos comoEspecialistas de Generalista, Imuno-AIergologia, Medi-cina Desportiva e Cirurgia Vascular, bem como da Com-petência em Hidrologia Médica.• O CRNOM voltou a organizar um Simpósio, o II, dedi-cado ao tema “Saúde em Portugal”, reservado aos aspec-tos da actividade médica futura, mas que não constam docurriculum académico oficial.• O ano de 1985 ficou assinalado pela inesperada quedaantecipada do IX Governo da República (em 12/7/1985foi dissolvida a AR) apesar do apoio parlamentarmaioritário de que desfrutava. A natural e consequenterealização de eleições legislativas antecipadas (em 6 deOutubro/1985) veio interromper e dificultar o desenvol-vimento de uma actividade negocial normal entre o Con-selho Nacional Executivo da OM e o Governo. Regista-seque, após aquelas referidas eleições legislativas antecipa-das, aconteceu, pela primeira vez, que a pasta da Saúdepassou a ser liderada por uma Ministra, não médica (atomada de posse do X Governo ocorreu em 6/Nov/1985).• O ano de 1985 representou uma reactivação das tradi-cionais iniciativas culturais e científicas do CRNOM.– O CR, com o apoio seguro dos diferentes Colégios de

Especialidade, aproveitando as próprias instalações, efec-tuou 4 Cursos subordinados ao Tema “O Clínico Gerale a Diabetes”, cujo êxito poderá ser avaliado pelos, nototal, mais de duzentos médicos participantes.

- Por iniciativa, igualmente do CR, foram realizados 4Cursos de Programação Basic para médicos da ZonaNorte.

- Com o objectivo de proporcionar aos médicos uma for-mação complementar em Direcção e Gestão, o CR to-mou a iniciativa de organizar o I Curso de GestãoHospitalar, que decorreu entre 17 e 22 de Junho.

A participação de 60 médicos com funções de Direcção,Gestão e Chefia em todos os Hospitais Centrais e Distritaisda Zona Norte, e a colaboração de reputados especialistasem Gestão, Aprovisionamento e Gestão de Stocks, Siste-ma de Informação para Gestão e Gestão Departamental,contribuíram para o expressivo êxito de uma tão oportu-na quanto precoce inciativa, desse modo colmatando uma

lacuna curricular dos médicos que por força da leieram chamados a desempenhar as funções de Di-recção das Instituições Hospitalares. No final, sob aforma de Comunicado, foram publicitadas as Con-clusões de onde ressaltava a necessidade urgente darevisão da lei de Gestão Hospitalar no sentido decontribuir para uma gestão responsável e responsabi-lizante de todos os intervenientes.• A nova sede da SRNOM, com as suas atractivasinstalações, foi o local escolhido, em 1985, para arealização, entre numerosos outros encontros, dasexemplares e frutuosas iniciativas Científico-Cultu-rais:1 – Sob a direcção do respectivo Colégio da Especi-

alidade de Endocrinologia, as denominadas “Reu-niões Inter-Disciplinares de Endocrinologia”(1ª em 11/01/85) subordinadas ao tema “Diabe-tes Mellitus” que, nas segundas Sextas-Feiras decada mês, às 21h30m, reuniram mensalmenteos Endocrinologistas da Zona Norte com os co-legas de cada uma das seis outras especialidades“em que a Diabetes se repercute de um modomais importante”: Pediatria, Oftalmologia, Obs-tetrícia, Cirurgia Geral, Nefrologia e Neurologia.Numa sétima reunião final (em 12/07/85) esti-veram presentes, convidados, responsáveis daDirecção Geral de Cuidados Primários de Saú-de, da ADSE, dos SAMS e da Associação dos Di-abéticos de Portugal.

2 – Nas segundas Segundas-Feiras de cada mês reu-niam-se os colegas de Medicina Dentária.

3 – Às Quintas-Feiras realizavam-se os “Serões Mé-dicos” para Clínicos Gerais.

• Como já se tornara tradicional, no mês de Dezem-bro de 1985 teve lugar o III Simpósio Saúde emPortugal no qual se debateram as perspectivas quese abriam aos novos licenciados. O deste ano de 1985foi particularmente original e historicamente signi-ficativo pois nele se integraram pela primeira vez osmédicos dentistas, os quais tiveram, assim, a opor-tunidade de publicamente discutirem o projecto deCarreiras Médicas Dentárias nos Serviços de Saú-de. Tal como das outras vezes, o Simposium encer-rou com o Juramento Hipocrático, marco indeléveldo início da actividade clínica dos jovens médicos.• Em 1985, três anos após a publicação do diplomadas Carreiras Médicas (Dec. 310/12), a aplicação domesmo ainda não tinha chegado aos médicos doCentro do Porto do Instituto Português de Onco-logia que, para o conseguirem, em desespero de cau-sa, acabaram por efectuar uma greve entre os dias26 e 28 de Junho. Em plena greve, o Conselho deMinistros acedeu às reivindicações tornando exten-sivo ao IPO a aplicabilidade do Dec. 310/82.• O ano de 1986 representou o ano da descentrali-zação e diversificação das actividades científicasorganizadas e aprovadas pelo CRNOM.Retomando uma gloriosa prática de outros temposnão muito remotos, o CR, com o apoio do ConselhoDistrital de Bragança, restabeleceu o saudável con-tacto mais directo com os Colegas dos Distritos maisinteriores, realizando, desta feita em Macedo de Ca-

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valeiros, o VI Curso “O Clínico Geral e a Diabetes”.Este tipo, frutuoso e agradável, de iniciativas, foi, em boahora, alargado à Especialidade de Reumatologia e assimaconteceu o I Curso “O Clínico Geral e a Reumatolo-gia”, o qual, devido ao elevado número de médicos queaderiram e se inscreveram, obrigou a que se realizassenumas instalações hoteleiras da cidade.O IV Simpósio “Saúde em Portugal”, tal como nos an-teriores, decorreu, como sempre, regularmente em De-zembro de 1986.Para concluir esta crónica sobre o “reinado” de J. Guima-rães dos Santos na liderança do CRNOM nada melhorque registar agora mais três exemplos bem demonstrati-vos do que já antes dissemos acerca não só da qualidade eprecocidade da sua visão sobre as questões médicas, comotambém das propostas por si apresentadas para as en-frentar e ultrapassar.De facto, ainda que fora dos âmbitos da Ordem, mas frutoda dinâmica então imprimida, foram criadas, sob a sualiderança, com sede na cidade do Porto, as seguintes duasAssociações, verdadeiras marcas de uma visão alargada dasquestões médicas, e verdadeiros marcos na história da evo-lução das ideias e da Política da Saúde no nosso País:1 – Associação dos Directores Hospitalares da RegiãoNorte, e2 – Associação dos Médicos para a Formação e Ges-tão.Pelos títulos escolhidos ficam tão evidentes as finalida-des, a pertinência e a oportunidade de tais Associações,que me dispensam de acrescentar mais comentários, paraalém do que já ficou escrito.De igual precocidade surpreendente foi o facto de, na-queles recuados tempos, e ainda sob a sua coerente e lú-cida liderança, terem chegado a fazer o que, hoje, passa-dos tantos anos, não está, nem de perto nem de longe,generalizado na prática médica corrente. Quero referir-me aos Testes de Creditação de Serviços Médicos (de Anes-tesia e de Radiologia) a que procederam de acordo com aAmerican Joint Comittee. Pelas mesmas razões, obviamen-te, não me repito, acrescentando mais elogios aos que jáficaram para trás.O último ano do 3º mandato consecutivo de J. Guima-rães Santos, e, em síntese, toda a sua longa e meritóriapassagem pela chefia da SRNOM, não poderia ter ficadomelhor assinalada do que com a apoteótica incumbênciade organizar e realizar o VI Congresso Nacional de Me-dicina, o qual se constituiu num expressivo êxito, tantopelos elevados níveis científicos alcançados, como peloelevado número dos médicos participantes.Sob o signo da Multidisciplinaridade, o VI CongressoNacional de Medicina decorreu na cidade do Porto, entreos dias 4 e 7 de Junho de 1986, nas instalações da Facul-dade de Medicina – Hospital de S. João e na Casa doMédico.A escolha do tema Multidisciplinaridade para o signo doCongresso foi, outra vez, uma clara antevisão dos rumos

dos progressos científicos e tecnológicos, e dos ine-vitáveis efeitos na prática médica, e não só nas áreasda Oncologia, demonstrando a tendência para, porum lado, a adopção de uma medicina de equipa,multidisciplinar, e, por outro, para a definição, abinitio, de uma estratégia terapêutica global, em detri-mento do clássico e tradicional acto médico isolado,pontual.Na sessão de Abertura, na Aula Magna da Faculdadede Medicina esteve presente a Ministra da Saúde,Leonor Beleza, e na de Encerramento, o Presidenteda República, Mário Soares.A Comissão Científica era constituída por: Falcãode Freitas, Gameiro dos Santos, Giesteira de Almei-da, J. Castro Lopes, Levi Guerra, Jacome Ramos,Maria José Barreiros e Norberto Santos.Compunham a Comissão Executiva: A. Silva Leal,Alfredo Loureiro, A. Canto Moniz, Norton de Ma-tos, Osório Araújo, Davide Carvalho, Fernando Reis,Conceição Ferreira, Faria e Almeida e José Fernandes.Da Comissão Cultural faziam parte: José MariaCarvalho, Braz de Magalhães, Maria Olívia Meneses,Pedro Correia da Silva, Rogério Ribeiro, PortoCarrero, Romero Gandra e Mário Peres.Como Secretário Executivo responsável pelo êxitoorganizador de tamanho evento: Pedro Moura Reis.Os Serviços de Secretariado foram garantidos peloDepartamento de Congressos do jornal periódicoNotícias Médicas.Como aspecto original, assinala-se que, integradosno Congresso, foram ministrados três Cursos de Pós-Graduação: O Curso Dez Horas com a DiabetesMellitus; Curso de Genética Médica para Clíni-cos; Curso de Endodontia - Medicina Dentária.Este último, essencialmente clínico, dirigido porFranklin Weine dos EUA, decorreu no Anfiteatro daFaculdade de Economia, com tradução simultânea.

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Cerimónia de Abertura do Congresso, na Aula Mag-na da Faculdade de Medicina, Daniel Serrão profe-riu uma palestra sobre o tema “A Medicina no Ter-ceiro Milénio – Um Desafio Científico e Ético”.Na sessão de encerramento, o Convidado de Honrado Congresso, H. Van Den Berghe, dissertou sobre“Perspectivas da Cura do Cancro no Século XX,Face aos Recentes Avanços da Imunologia e daGenética Molecular”.Para além das prelecções científico-profissionais quedecorreram em anfiteatros da Faculdade de Medici-na, o Congresso Nacional de Medicina incluiu, igual-mente, momentos Culturais, Recreativos e atéDesportivos, de cuja programação ficou encarreguea Comissão Cultural.Ainda que sucintamente, recorda-se as modalidadesescolhidas por aquela Comissão para embelezar tãomarcante evento na História Médica Portuense. Fo-ram as seguintes, essas modalidades:1 – Exposição Bibliográfica de Escritores Médicos,“que conseguiu reunir mais de uma centena de mé-dicos escritores com obras publicadas”.2 – Exposição de Obras de Pintura, Escultura, Dese-nho, Fotografia, Lavores, etc., “em cujo acto inau-gural, o médico Rogério Ribeiro proferiu uma pa-lestra sobre a actividade dos médicos nos seus tem-pos livres, salientando a necessidade urgente da Cri-ação da Sociedade Portuguesa dos Médicos Artis-tas”.3 – Sarau de Arte constituído por Recital de Poesia eMúsica que decorreu no Salão Árabe do Palácio daBolsa, em cuja organização teve um papel primordi-al Francisco Pina, médico e Professor do Conserva-tório de Música do Porto, pois foi ele que “indicouos nomes de outros dois pianistas médicos – JoséNunes e Pedro Cardoso; programou a participaçãodos vários intérpretes; para além da sua extraordi-nária actuação como solista a fechar o Concerto,acompanhou ao piano o médico Rui Represas, nasua actuação como Tenor. De registar também a par-ticipação do Coral da Faculdade de Medicina e ain-da a das médicas Deolinda Resende e LuísaVilarinho. A afluência a este Sarau excedeu todas asexpectativas”4 – Teatro, com a representação de uma peça, comé-dia, da autoria do médico Júlio Dinis, adaptada porCastro Guedes, denominada de “O último Baile emCasa do Sr. Cunha”, representada pelo Grupo TEAR,no Salão de Festas do Atneu Comercial do Porto, nodia 5 de Junho, em duas sessões: às 19 e às 21h30m.5 – Exposição Filatélica, organizada com a colabo-ração do Clube de Filatelia (Tema Medicina e Saú-de) e dos CTT/TLP que confeccionaram um carim-bo especial comemorativo que foi aposto na corres-pondência presente no Posto de Correio que funci-onou no local da Exposição.6 – Medalha Comemorativa, da autoria do médicoRogério Ribeiro;7 – Torneio de Ténis, nos próprios courts da novasede, com a colaboração do Auto Club Médico, ecujo encargo de organização a Comissão Culturalentregou ao médico Adelino Lobão, “que deu o

melhor do seu esforço ao êxito da iniciativa”.8 – Noite de Convívio/Arraial nos jardins da Casado Médico, constituído por uma ceia volante e es-pectáculo de variedades com a participação da Ban-da de Crestuma e da Associação dos AntigosOrfeonistas da Universidade do Porto, com o seuGrupo de Fados, a Orquestra de Tangos, a Tuna e osPauliteiros.Os conterrâneos de J. Guimarães dos Santos, as gen-tes das Terras de Santa Maria da Feira, simultanea-mente orgulhosos e gratos para com o filho da Ter-ra, decidiram prestar-lhe homenagem em cerimóniapública realizada em S. João de Ver. Isso foi em 25de Julho de 1986, porque já em Maio a Câmara Mu-nicipal local resolvera por unanimidade atribuir a J.Guimarães dos Santos a Medalha de Mérito Munici-pal.Por sua vez, o CR ao tomar conhecimento da home-nagem que iam prestar-lhe deliberou associar-se atão justa quanto merecida festa, e fez-se representarpor uma delegação presidida pelo Vice-PresidenteA. Silva Leal. Esta Delegação não foi, porém, de mãosvazias, pois o mesmo CR deliberou atribuir a J. Gui-marães dos Santos a Medalha da Ordem dos Médi-cos como símbolo do reconhecimento da ClasseMédica pela sua notável acção no campo da Medici-na e nomeadamente à frente da SRN da OM, consi-derando que a obra por si realizada dignificava tan-to a Classe Médica como a Medicina Portuguesa.Com toda a experiência acumulada durante os 9 anosconsecutivos que esteve ao leme da SRNOM, toda aforça do seu saber e seus apoios, numa época tãoconturbada como a que então se atravessava, J. Gui-marães dos Santos foi considerado por todos os seusamigos mais próximos como o melhor candidato aolugar de próximo Bastonário da OM e pressionaram-no a concorrer, competindo com A. Gentil Martins,Machado Macedo e ainda um jovem desconhecidode nome Hélder Caramez. Foi uma luta renhida enem todos os passos, pelo menos para alguns, terãosido totalmente límpidos, pelo que houve contesta-ção das primeiras contagens, e forçada a repetiçãode todo o acto eleitoral, que ocorreu em Janeiro de1987.Dessa vez J. Guimarães dos Santos não ganhou. Foio segundo mais votado, atrás de Machado Macedo eà frente de Gentil Martins.Ficou então escrito que J. Guimarães Santos, em1987, não seria nem o próximo Bastonário, nem opróximo Presidente do CRNOM. E assim, realmen-te aconteceu: para Bastonário foi Machado Macedo,e na Presidência do CRNOM sucedeu-lhe um outrodos colegas que, como ele próprio, haviam feito parteintegrante do “núcleo duro de 1975": Agostinho Pin-to d’Andrade, de quem falaremos no nosso próximoencontro.

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3 DISCOS & 3 LIVROS

FOI UM DOS FUNDADORES DA COOPERATIVA CINEMA NOVO E UM DOS GRANDES

IMPULSIONADORES DA I MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA FANTÁSTICO, EM 1981. O«FANTASPORTO» CONTA JÁ COM 22 ANOS DE VIDA E MÁRIO DORMINSKY COMANDA,ACTUALMENTE, OS DESTINOS DO FESTIVAL. À «NORTEMÉDICO» DEIXOU FICAR O REGISTO DE

ALGUNS DISCOS E LIVROS QUE MARCARAM, DE ALGUM MANEIRA, A SUA VIDA…

FRANKENSTEIN – MARY SHELLY

“O início do gosto pelo fantástico”

A narrativa e as descrições pormenorizadas vãodeixar, com certeza, o leitor agarrado ao livro.Em «Frankenstein», Mary Shelly descreve minu-ciosamente a vida de uma criatura criada por umcientista que tenta ser Deus. Dr. Frankeinstein,um jovem estudante, tenta perpetuar a vida alémda morte, procurando, para isso, uma fórmulapara dar vida aos entes queridos que entretantomorreram. É então que começa a criar um “ser”,através da união de partes de cadáveres, mas queacaba por se transformar numa criatura diferen-te das suas expectativas. Uma história que apelaao imaginário, mas também à reflexão, numa ine-vitável comparação entre Deus e Adão – o Cria-dor e a Criatura. «Frankenstein» é, sem dúvida,uma obra intemporal.

LIVROS

MIL NOVECENTOS E OITENTA E QUATRO –GEORGE ORWELL

«Mil novecentos e oitenta e quatro» retrata a ima-gem aterradora de uma realidade possível e pro-vável. Publicado em 1949, um ano antes da mor-te de George Orwell, o livro dá conta de umasociedade futura, com um Estado totalitário eburocrático que espreita, de forma abusadora,todo e qualquer movimento dos cidadãos. “Bigbrother is watching you” é uma das frases maisrepetidas nesta obra, onde o “Grande Irmão” éomnipotente, vigiando tudo e todos durante 24horas por dia, debaixo de um regime ditatorial epropagandístico, onde as pessoas não têm sequerliberdade de pensamento. Ainda a sofrer dasmemórias de uma guerra, George Orwell deixouo aviso. Publicado há 54 anos, o livro mostra avisão futurista de um dos escritores britânicosmais sensacionais do século XX.

AS FABULOSAS HISTÓRIAS DELA, OU CON-TOS DO PORTO IMAGINADO – BEATRIZ

PACHECO PEREIRA

“O primeiro livro de ficção da minha mulher”

“Ao escrever estes contos, os meus primeiros «ob-jectos» de ficção, pretendi apenas mostrar a mi-nha cidade de um modo diferente, através dogénero que sinto sempre vivo e livre das leis darealidade. Respondi assim às preocupações queassolam um quotidiano que conheço. Tudo oresto que se pode ler aqui foi fruto de umas quan-tas horas de imperiosa necessidade de escrita.Porque sim. O que interessa ao que escreve, nãoserá sempre o interesse do leitor, sabemos bem.Arriscar, contudo, faz parte da vida tal como avejo”. As palavras de Beatriz Pacheco Pereira ser-vem para levantar um pouco o véu deste seu li-vro. Editado há pouco mais de seis meses, «Asfabulosas histórias dela, ou contos do Porto ima-ginado» é o primeiro trabalho de ficção de BeatrizPacheco Pereira. Uma das fundadoras do festi-val de cinema «Fantasporto», mulher de MárioDorminsky, Beatriz Pacheco Pereira decidiu, comesta obra, “ousar”.

AS SUGESTÕES DE

MÁRIO DORMINSKY

36 CULTURA

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nortemédico Texto Patrícia Gonçalves

SGT. PEPPER´S LONELY HEART CLUB BAND –THE BEATLES

“O início”

Dentro da rica mitologia da música pop, o álbum«Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band», dos Beatles,ocupa um nicho muito especial. Em cinco anos devivência musical, este é o oitavo álbum do grupo,editado em 1967, e considerado, por muitos, o me-lhor trabalho da banda, e um dos melhores discos detodos os tempos. Para além da faixa musical que dánome ao álbum, ficam ainda registadas as não me-nos famosas «Lucy in the sky with diamonds», «Witha litle help from my friends», «When I’m sixty-four»ou «Guetting better». A história dos Beatles dá osprimeiros passos em 1956, altura em que JohnLennon conhece Paul McCartney que acaba por in-tegrar a banda «Quarrymen». Mas foi depois da en-trada de George Harrison e do baterista Ringo Starque, finalmente, o grupo adoptou definitivamente onome de «The Beatles», em 1961. As gravações co-meçaram em Hamburgo e, a partir de então, váriosforam os êxitos alcançados e que lançaram o quarte-to para a fama. «Love Me Do» ou «Please, Please Me»são disso exemplo. Os «Fab-Four» de Liverpool cri-aram uma das maiores lendas do século XX.

POIS CANTÉ! – GRUPO DE ACÇÃO CULTURAL

“A participação activa”

«Pois Canté!» é um marco na recriação da músicatradicional portuguesa. Depois de ter iniciado as suasactividades em 1974, logo após a revolução do 25 deAbril, o Grupo de Acção Cultural lançou-se com umprojecto musical, de onde constavam nomes comoJosé Mário Branco – o principal impulsionador –,José Afonso, Fausto, Adriano Correia de Oliveira, JoséNiza ou Manuel Alegre. Pela cantiga, o grupo pre-tendia apoiar as greves e outras manifestações quecomeçavam a proliferar pelo país. Basta olhar, porexemplo, para o nome de um dos seus LP’s mais co-nhecidos: «A cantiga é uma arma». Com o 25 de No-vembro, e os ânimos políticos mais calmos, o grupoinicia uma nova fase que passa pela recolha de temastradicionais, recriados com novas letras da autoria

BLADE RUNNER – VANGELIS

“O Fantas começa aqui”

Blade Runner foi lançado em 1982 e serve de bandasonora ao filme com o mesmo nome e que conta ahistória de uma grande empresa que desenvolve umrobot mais ágil do que o ser humano e com a mesmainteligência. No início do século XXI, os replicantes,assim são conhecidos, são utilizados como escravosna colonialização e exploração de outros países, onde,um dia, acabam por provocar um motim. A partir deentão, são proibidos de entrar na Terra, mas no diaem que cinco replicantes chegam à Terra, em No-vembro de 2019, um ex-Blade Runner, polícia de umesquadrão de elite, é encarregue de os caçar. Colabo-rando com Ridley Scott, Vangelis marca com a suabanda sonora aquele que é considerado um filme deculto da sétima arte. Acompanhando o choque deimagens, desde a violência sonora, até à beleza dotema do amor, tudo é agradável nesta obra. Certo éque, ou se ame, ou se odeie, ninguém consegue ficarindiferente ao trabalho deste compositor grego queconta já com mais de 30 anos de carreira.

do grupo, ou com originais muito próximos da mú-sica tradicional. «Pois Canté!» é um disco fundamen-tal para a compreensão de todo o fenómeno posteri-or de recriação da música tradicional, feita por gru-pos como Raízes, Brigada Victor Jara, Vai de Roda,entre outros. Aliás, este trabalho faz parte das obrasque o jornal «Público», numa votação dos seus críti-cos musicais, considerou como um dos melhores desempre da música portuguesa. A não perder…

DISCOS

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FALTAM DOIS MESES PARA O EURO 2004

ESTAMOS TODOS CONVOCADOS!

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FALTAM DOIS MESES PARA O CAMPEONATO EUROPEU DE FUTEBOL. PORTUGAL VAI SER O PALCO DE TODAS AS

ATENÇÕES, COMO DIZ O «SPOT» COMERCIAL, FORA E DENTRO DOS RELVADOS. O NORTE, COM QUATRO ESTÁ-DIOS – RENOVADOS OU CONSTRUÍDOS DE RAIZ – NÃO SERÁ EXCEPÇÃO. NUMA VISITA PELOS RECINTOS QUE VÃO

ACOLHER O EURO 2004, FIQUE A CONHECER ALGUNS DOS PORMENORES DOS ESTÁDIOS, MAS TAMBÉM OS MO-NUMENTOS HISTÓRICOS QUE NÃO VAI QUERER DEIXAR DE VER E SABORES QUE QUERERÁ PROVAR. AFINAL, ESTA-MOS TODOS CONVOCADOS...

O Estádio do Dragão vai ser o palco da abertura doCampeonato da Europa de 2004, a 12 de Junho, na-quele que será o ponto de partida do maior eventodesportivo jamais realizado no nosso país. Para o pro-prietário do recinto, o FC Porto, a atribuição da or-ganização do Euro 2004 a Portugal veio apenas con-firmar a justeza da opção de construir um novo está-dio e agilizar um processo que arrastou a requalifica-ção da zona das Antas. Novas acessibilidades, equi-pamentos estruturantes – desde o estádio, passandopela construção de um novo centro comercial e de

Estádio do DragãoMuito mais do que um estádio

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um pavilhão multiusos –, áreas residenciais, de comércioe de serviços, estão a transformar profundamente uma vastaárea de terrenos situados entre a Avenida Fernão Maga-lhães, a Via de Cintura Interna (VCI) e São Roque deLameira, permitindo a sua integração na cidade com a cri-ação de uma nova centralidade.A sua beleza, mesmo exterior, motiva, principalmente nosfins-de-semana soalheiros, verdadeiras romarias em tornodo recinto e da sua praça central. A opinião generalizada éque o Estádio do Dragão tem um design arrojado e im-pressionante e quem o visita é "obrigado" a concordar comesta ideia... A cobertura, uma da principais marcas do re-cinto, é translúcida e integra cerca de 280 toneladas deaço, suportadas por vários pilares, numa combinação fan-tástica. Outra das curiosidades do recinto prende-se comos dois écrans rotativos, um em cada topo, que têm a par-ticularidade de, nos dias em que não se realizam jogos,estarem virados para a praça que envolve o estádio e paraa VCI, uma das artérias mais movimentadas da cidade,permitindo, deste modo, a rentabilização comercial doequipamento.O novo estádio teve como conceito base o de corresponderàs recomendações da UEFA por forma a poder ser classifi-cado por esta entidade como um estádio de Grau A (cincoestrelas), a mais alta classificação atribuída por este orga-nismo. Esta classificação, que também foi concedida aos

novos estádios da Luz e de Alvalade, vai permitir nofuturo a realização de qualquer evento futebolísticonacional ou internacional, sempre em ambiente degrande segurança e conforto.Se a qualidade dos espectáculos de futebol durante oCampeonato da Europa estiverem à altura da obraerguida pelo arquitecto Manuel Salgado, os adeptosque se vão deslocar à nova casa do Dragão terão aoportunidade de desfrutar, certamente, de uma ex-periência única e fantástica.

ESTÁDIO DO DRAGÃOProprietário: Futebol Clube do PortoPromotor da Obra: Futebol Clube do PortoLotação: 50.948 lugares sentadosArquitecto: Manuel SalgadoTipo de Intervenção: Nova construçãoCusto Total da Obra (estimado): ¤ 97.755.318Comparticipação do Estado: ¤ 16.859.369 (estádio);¤ 1.571.587 (estacionamentos)Jogos Euro 2004: Portugal-Grécia (12/06; 17h00), Ale-manha-Holanda (15/06; 19h45), Itália-Suécia (18/06;19h45), um jogo dos quartos-de-final (27/06; 17h00)e um jogo das meias-finais (01/07; 17h00)Inauguração: Foi a 16 de Novembro de 2003 numjogo amigável entre o FC Porto e o Barcelona

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Inventar um novo Estádio do Bessa não foi fácil. Situadonuma zona urbana, o recinto não tinha muito para ondecrescer, a não ser... para cima. Foi deste modo que surgiu aideia de construir em altura, pelo que as bancadas têm umainclinação significativa, dando assim aos adeptos uma fan-tástica sensação de proximidade do relvado, bem típica dosrecintos ingleses. Foi o primeiro dos estádio que vão recebero Euro 2004 a começar a ser construído, em Junho de 1998,e tem como curiosidade o facto de ter sido o único recintoque se manteve sempre no activo, uma vez que o Boavistanunca deixou de jogar em «casa» durante a fase de edificação.Todo o processo de remodelação teve em conta a área envol-vente, uma zona urbana de referência na cidade do Porto,pelo que se trata de uma notável obra de integração. Nessesentido, o estádio foi revestido a tijolo maciço, alumínio eaço, o que lhe confere um aspecto bastante moderno, à ima-gem da zona envolvente.O Estádio do Bessa Séc. XXI faz parte de um complexodesportivo que o Boavista está a fazer crescer e que integraainda dois campos de treinos de futebol, courts de ténis,pavilhão gimnodesportivo e equipamento de apoio às acti-vidades amadoras. Com uma área total de construção de apro-ximadamente 100 mil metros quadrados e com capacidadepara cerca de 30 mil lugares sentados, o estádio é organiza-

A NÃO PERDER Com uma temperatura média máxima a rondar os 22,7graus no Porto durante o mês de Junho, o melhor é transportar consigoalguns agasalhos, mesmo que o espectáculo possa aquecer. Com os jogos adecorrerem a meio e ao final da tarde, restará tempo para uma visita rápidapela cidade, de carro, de autocarro, ou mesmo a pé. Uma das paragensobrigatórias é a Baixa portuense. Daqui está previsto saírem várias linhas deautocarro com ligação aos estádios, uma das melhores formas para evitar oproblema de estacionamento que se adivinha durante a realização dos jo-gos. Desde a Avenidas dos Aliados, onde se erguem vários edifícios históri-cos – como a Câmara Municipal –, passando pela rua que tem o nome datorre mais famosa da Invicta, os Clérigos, ou descendo até à Ribeira e apre-ciar o Rio Douro, passear será uma tarefa agradável. Se preferir momentosmais relaxantes, antes dos nervos se aflorarem com o início dos jogos, temem alternativa a zona mais ocidental da cidade. Para além do passadiçoentre a Avenida Brasil e a Avenida Montevideu, junto ao Castelo do Queijo,

ESTÁDIO DO BESSA SÉC. XXIProprietário: Boavista Futebol ClubePromotor da Obra: Boavista Futebol ClubeLotação: 28.263 lugares sentadosArquitecto: Grupo 3, Arquitectos AssociadosTipo de Intervenção: Remodelação e AmpliaçãoCusto Total da Obra (estimado): ¤ 45.164.726Comparticipação do Estado: ¤ 7.481.968 (estádio);¤ 1.195.244 (estacionamentos)Jogos Euro 2004: Grécia-Espanha (16/06; 17h00),Letónia-Alemanha (19/06; 19h45) e Dinamarca-Suécia(22/06; 19h45)Inauguração: Realizada a 30 de Dezembro de 2003 numjogo amigável entre o Boavista e o Málaga

do em quatro bancadas independentes, unidas porquatro torres em betão, onde se situam os principaisacessos às bancadas.A festa está garantida nos três jogos que o estádio doBoavista vai acolher durante o Euro 2004, pois o re-cinto portuense, para além de ser bastante acolhe-dor, consegue transformar-se rapidamente num pal-co de grandes emoções, tal a proximidade dos adep-tos aos jogadores.

na Foz, de onde poderá descansar ao ver o mar, pode optar porum passeio a pé no Parque da Cidade, onde será possível desfru-tar de um lanche na Casa de Chá.

ONDE COMER: • Dom Manuel | Refeição média: 35 euros | Aveni-da de Montevideu, 384 | Telefone: 226170179 • Cafeína | Refeiçãomédia: 25 euros | Rua do Padrão, 100 | Telefone: 226108059 • OMacedo | Refeição média: 18 euros | Rua do Passeio Alegre, 552 |Telefone: 226170166 • Varanda da Barra | Refeição média: 15 euros| Rua Paulo da Gama, 470, 1.º | Telefone: 226185006 BARES & DIS-COTECAS: • Bonaparte | Pub estilo inglês | Avenida Brasil | • Triplex| Bar com esplanada ao ar livre | Avenida da Boavista | • O MeuMercedes É Maior Que O Teu | Bar emblemático na Ribeira do Por-to | Rua da Lada | • Indústria | Bar e discoteca, aberto até às 4h00 |Avenida Brasil. (Sugestões Lazer do Público).

Estádio do Bessa Séc. XXIEstádio do Bessa Séc. XXI Na cidade e à inglesa

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Projectado pelo arquitecto Eduardo Souto Moura, o Estádio Mu-nicipal de Braga será um dos mais belos palcos do Euro 2004 e,certamente, o mais original. Com capacidade a rondar as 30 milpessoas, o recinto, que foi implantado na encosta do Monte Cas-tro, um dos pontos mais elevados da cidade, quase funciona comoum miradouro para a paisagem do vale do Rio Cávado. De coresacinzentadas e dotado apenas de bancadas laterais gigantescas, onovo estádio de Braga alberga ainda uma encosta granítica numdos topos, um anfiteatro rupestre único no mundo dos estádiosde futebol. O resultado desta enorme ousadia foi o melhor possí-vel... "Actualmente, o futebol é um espectáculo, tal como o cine-ma, o teatro ou a televisão. Daí a opção de fazer apenas duas ban-cadas", pode ler-se na memória descritiva do projecto entregue àCâmara Municipal de Braga. Produto de um extraordinário traba-lho de engenharia, o recinto é um espaço admirável, que já setornou numa referência para o futuro, sendo, inclusivamente, alvoda curiosidade de diversos arquitectos e engenheiros de todo omundo. A originalidade do "devaneio" de Souto Moura reside ain-da na cobertura das bancadas, que pesa cerca de 10 mil (!) tonela-das. Inspirado, sobretudo, nas pontes construídas pela civilizaçãoInca, no Peru, o arquitecto portuense idealizou (e ergueu!) duaspalas ligadas por 68 cabos de pré-esforço, com 214 metros decomprimento, sendo que a sua montagem teve de ser feita porequipas de alpinistas... Tudo é grandioso neste edifício, inclusiva-mente o painel electrónico, com 270 metros quadrados, que, se-gundo garantem, é o maior da Europa. A obra emblemática doEuro 2004, que vai receber dois jogos, representa um estádio úni-co em todo o mundo, que merece uma visita.

Estádio Municipal de BragaA obra emblemática do Euro 2004

ESTÁDIO MUNICIPAL DE BRAGAProprietário: Câmara Municipal de BragaPromotor da Obra: Câmara Municipal de BragaLotação: 30.359 lugares sentadosArquitecto: Eduardo Souto MouraTipo de Intervenção: Nova construçãoCusto Total da Obra (estimado): ¤ 83.133.625Comparticipação do Estado: ¤ 7.481.968 (estádio); ¤ 341.302 (es-tacionamentos)Jogos Euro 2004: Bulgária-Dinamarca (18/06; 17h00) e Holanda-Letónia (23/06; 19h45)Inauguração: Realizada a 30 de Dezembro de 2003 num jogo amigá-vel entre o Braga e o Celta de Vigo

A NÃO PERDER Uma das cidades mais antigas de Portu-gal, Braga possui um património histórico muito valioso, ape-sar da modernização que, ao longo dos anos, conseguiu im-plementar. Procurada por inúmeros crentes, na antiga BracaraAugusta é possível ter acesso a vários monumentos sagrados,sendo um dos pontos turísticos mais procurado o Santuáriodo Bom Jesus, um espaço religioso onde é possível chegar apé, de funicular ou de carro. Mas também podemos encon-trar uma das igrejas mais imponentes, a da Sé, onde são evi-dente os vários estilos arquitectónicos, desde o romano aobarroco. Tal como no Porto, a festa do futebol pode juntar-sea uma das festas mais populares da cidade: o S. João. Umacoincidência que vai ser aproveitada pela Câmara Munici-pal, na organização de várias iniciativas, tendo em vista mui-ta animação de rua. A não perder!

ONDE COMER: • Expositor | Refeição média: 18 euros |Parque de Exposições | Telefone: 253217031 • RestauranteSameiro | Refeição média: 15 euros | Largo de São Paulo, 1 |Telefone: 253675114 • Casa da Pedra Cavalgada | Refeiçãomédia: 15 euros | Assento - Palmeira | Telefone: 253626596• Abade de Priscos | Refeição média: 12 euros | PraçaMouzinho de Albuquerque | Telefone: 253276.650. BARES& DISCOTECAS: • Classic Jazz Bar | Santuário do Jazzem Braga | Estrada do Bom Jesus-Sameiro | • Insólito | Bar/discoteca com música alternativa | Avenida Central | • Desli-ze | Bar onde começaram a actuar os Mão Morta | Rua D.Paio Mendes. (Sugestões lazer do Público).

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A NÃO PERDER Considerado Património Mundial daUNESCO, o Centro Histórico de Guimarães fala por si. Acidade berço de Portugal não podia deixar de apresentar aosturistas a sua riqueza em património histórico e, por isso, oCastelo de Guimarães, o Paço dos Duques de Bragança, aPraça de Santiago ou a Ruas de Santa Maria e o Largo doToural são, entre muitos outros, locais de passagem obriga-tória. Para aqueles que tiverem mais tempo disponível, acon-selha-se ainda uma visita à Montanha da Penha.ONDE COMER: Restaurante Montecristo | Refeição mé-dia: 25 euros | Parque da Irmandade | Telefone: 253553491• São Gião | Refeição média: 20 euros | Moreira dos Cónegos| Telefone: 253561853 | • Solar do Arco | Refeição média:15 euros | Rua de Santa Maria, 48 | Telefone: 253513072 |• Adega dos Caquinhos | Refeição média: 12 euros | Rua daArrochela | Telefone: 253516917. BARES & DISCOTECAS:• El Rock Bar | Os "shots" são a especialidade da casa | PraçaSantiago | • Século XIX | Um bar sempre actual | Quinta daBornaria | • Ozone | É uma das pistas de danças mais anima-das da cidade | Rua Bombeiros Voluntários. (Sugestões lazer doPúblico).

O Estádio D. Afonso Henriques está implementado bemno coração da zona urbana de Guimarães, tendo sido to-talmente remodelado para receber dois jogos da fase finaldo Euro 2004. As quatro bancadas foram praticamenteconstruídas de raiz para que a capacidade do recinto atin-gisse os 30 mil lugares, os mínimos exigidos pela UEFApara competições com a dimensão de um Campeonato daEuropa.Quando tomou conhecimento de que era uma das esco-lhidas para receber o evento, a Câmara Municipal de Gui-marães, a promotora da obra, ponderou duas hipóteses: aprimeira passava por construir, em terrenos camarários,um estádio totalmente novo, enquanto a segunda, queacabou por ser escolhida, tinha como objectivo recons-truir o actual recinto e dinamizar a área urbana em que seinclui, que engloba o centro histórico da cidade Berço,considerado Património Mundial pela UNESCO.Nesse sentido, o estádio de Guimarães continua situadonuma das zonas mais bonitas da cidade, e muito perto doCastelo mais emblemático de Portugal... Aliás, os jardinsdo Castelo abrangem a zona do D. Afonso Henriques, oque torna a envolvente do recinto bastante agradável.Uma das curiosidades do estádio está nas cadeiras dasbancadas, que desenham momentos alusivos à história dacidade e da nação. Na bancada sul, por exemplo, está de-senhado o busto de D. Afonso Henriques. O objectivo,conseguido, diga-se, passa por encontrar uma harmoniaentre o exterior e o interior do estádio.Em termos de segurança, também tudo foi pensado aomais ínfimo pormenor, mas desta feita com o propósitode se cumprir os requisitos da UEFA. Sendo assim, o está-dio tem 30 portas e serão necessários apenas oito minutospara proceder à evacuação dos 30 mil adeptos. Em suma,o Estádio de Guimarães é moderno e actual, virado para ofuturo, mas sem nunca esquecer o passado de uma cidadeque um dia foi o berço do país.

ESTÁDIO D. AFONSO HENRIQUESProprietário: Vitória Sport ClubePromotor da Obra: Câmara Municipal de GuimarãesLotação: 29.865 lugares sentadosArquitecto: Eduardo GuimarãesTipo de Intervenção: Remodelação e AmpliaçãoCusto Total da Obra: ¤ 26.356.771Comparticipação do Estado: ¤ 3.990.383 (estádio);¤ 1.039.620 (estacionamentos)Jogos Euro 2004: Dinamarca-Itália (14/06; 17h00) eItália-Bulgária (22/06; 19h45)Inauguração: Realizada a 25 de Julho de 2003 num jogoamigável entre o Guimarães e o Kaiserslautern

Estádio D. Afonso HenriquesEstádio D. Afonso HenriquesA história num estádio

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto

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44 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL

SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS

INFORMAÇÃOINSTITUCIONAL

ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS

1 – ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DOSSERVIÇOS DE SAÚDE

1 – Face às declarações produzidas pelo Presidente do Con-selho de Administração do Grupo Hospitalar do Alto Minhoao Jornal Expresso, de 20 de Dezembro de 2003, o Conse-lho Regional realizou a Conferência de Imprensa na qualfoi divulgado o Documento 1, onde estão citadas aquelasdeclarações, e deliberou enviar respectivamente a Sua Ex-celência o Senhor Presidente da República, ao Senhor Pro-vedor de Justiça e ao Senhor Ministro da Saúde os Docu-mentos 2, 3 e 4. Para prestar esclarecimentos sobre estaquestão foi convocado o Director Clínico do Hospital deViana do Castelo (Documento 5), que em reunião com oConselho Regional assinou uma declaração manifestandoa sua discordância com as declarações do referido adminis-trador. A posição do Provedor de Justiça consta dos Docu-mentos 6 e 7.2 – Face ao funcionamento do serviço de urgência de Gi-

necologia/Obstetrícia do Centro Hospitalar Póvoa doVarzim/Vila do Conde o CRN enviou aos médicos daquelaespecialidade o ofício que consta do Documento 8. Foitambém enviado ao Director Clínico daquela instituição oofício que consta do Documento 9.3 – Tendo em conta o debate parlamentar realizado na As-sembleia da República a propósito do Centro Materno-In-fantil do Norte, o Conselho Regional enviou aos Presiden-tes dos Grupos Parlamentares o Documento 10.4 – Relativamente aos números divulgados pelo Ministérioda Saúde relativamente ao PECLEC e à produtividade dosHospitais SA, o CRN divulgou, em conferência de impren-sa, o Documento 11.5 – Relativamente à intenção do Ministro da Saúde em pro-ceder à integração de vários centros de saúde na estruturaadministrativa de Hospitais (designadamente do Hospitalde Vila Real), os Colegas Carlos Arroz, João Rodrigues, JoséLuís Gomes e Luís Pisco divulgaram uma Carta Aberta aoMinistro da Saúde, a qual mereceu a solidariedade do Con-selho Regional do Norte (Documento 12).

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6 – Face à análise da cobertura assistencial em MedicinaGeral e Familiar no distrito do Porto, realizada pelo Conse-lho Estratégico Sectorial da Saúde da Comissão Política Dis-trital do Porto do PSD, o Conselho Regional emitiu o co-municado que consta do Documento 13.

2 – FORMAÇÃO MÉDICA PRÉ-GRADU-ADA

1 – Na sequência de uma reunião entre o Conselho Regio-nal e a Comissão Regional Consultiva de Ensino e Educa-ção Médicas, o CRN enviou ao Presidente da Ordem dosMédicos o Documento 14.2 – A Associação Nacional de Estudantes de Medicina en-viou ao Conselho Regional do Norte a sua posição relativa-mente ao aumento dos numerus clausus dos cursos de Me-dicina (Documento 15).

3 – FORMAÇÃO MÉDICA PÓS-GRA-DUADA

1 – Relativamente ao projecto de lei referente aos interna-tos médicos, a Direcção do Colégio de Especialidade deMedicina Interna emitiu o parecer que consta do Docu-mento 16.2 – O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médi-cos homologou o parecer do seu consultor jurídico (Docu-mento 17) em que se analisa a posição da Ordem dos Mé-

dicos Dentistas relativamente ao Curso de Pós-Graduaçãoem Ortodontia organizado pela Faculdade de Medicina daUniversidade do Porto.

4 – DISCIPLINA, ÉTICA E DOENTO-LOGIA

1 – Relativamente a tentativas de aliciamento dos médicospara procederem à realização de consultas telefónicas, me-diante eventuais contrapartidas pecuniárias ou em espécie,o Conselho Regional do Norte enviou a todos os médicos oofício que consta do Documento 18, onde se esclarecemas respectivas implicações deontológicas, disciplinares e pe-nais.2 – A pedido do Conselho Regional e após solicitação for-mal da intervenção da Senhora Ministra de Estado e dasFinanças, a Direcção Geral de Impostos emitiu o parecervinculativo que consta do Documento 19 definindo as im-plicações fiscais da angariação por médicos de chamadastelefónicas.

5 – POLÍTICA DO MEDICAMENTO

1 – Relativamente à possibilidade de dispensa de algunsmedicamentos, até agora limitada às farmácias hospitala-res, em farmácias de oficina e à alteração do regime de com-participação desses medicamentos a Ordem dos Médicosapresentou a proposta que consta do Documento 20.

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO CRNOM

1 – Publicou o Jornal Expresso, no passado dia 20de Dezembro, a seguinte transcrição de declara-ções do Presidente do Conselho de Administraçãodo Grupo Hospitalar do Alto Minho, a propósitoda criação dentro daquele hospital de uma áreaespecífica com condições especiais, para atenderdoentes que não pertencem ao Serviço Nacionalde Saúde: "temos que criar as condições para queo segurado seja atendido mais rapidamente e nãoseja misturado com os doentes do SNS, porqueisso pode criar transtorno e defraudar as expec-tativas das seguradoras" e "Os doentes do SNSrepresentam 90% da actividade. O objectivo é re-duzir o peso do SNS, aumentando o peso dos ou-

DOCUMENTO 1

tros. E isso pode fazer-se conseguindo acordos comseguradoras, como fonte alternativa de financia-mento."2 – Constata o CRN a transparência, que falapor si, daquele delegado do Ministro da Saúde:a vocação dos Hospitais SA não é tratar doen-tes, mas sim arranjar dinheiro. Neste caso à cus-ta dos que têm dinheiro e à custa dos que nãotêm.3 – Considera o CRN que a aplicação das medi-das anunciadas pelo Presidente do CA do Hos-pital de Santa Luzia prefigura violação objecti-va de disposições constitucionais e legais tendoem conta que o Centro Hospitalar do Alto Minho

DISCRIMINAÇÃO DE DOENTES NO CENTRO HOSPITALARDO ALTO MINHO – HOSPITAL DE VIANA DO CASTELO

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S.A, no qual se inclui o Hospital de Santa Luzia deViana do Castelo, está integrado no Serviço Nacio-nal de Saúde (nº 2 do artigo 2º do Decreto-Lei nº295/2002 de 11 de Setembro).

4 – Na verdade, são violadas:

– a alínea a) do nº 3 do Artigo 64º da Constituição daRepública: "Para assegurar o direito à protecção da saú-de, incumbe prioritariamente ao Estado: garantir o aces-so de todos os cidadãos, independentemente da sua condi-ção económica, aos cuidados da medicina preventiva, cu-rativa e de reabilitação".

– o nº 6 da Base XII da Lei de Bases da Saúde (Decreto-Lei nº 48/90 de 24 de Agosto): "O controlo de qualida-de de toda a prestação de cuidados de saúde está sujeitoao mesmo nível de exigência".

– a alínea d) da Base XXIV da Lei de Bases da Saúde(Decreto-Lei nº 48/90 de 24 de Agosto): "O ServiçoNacional de Saúde caracteriza-se por garantir a equida-de no acesso dos utentes, com o objectivo de atenuar osefeitos das desigualdades económicas geográficas, e quais-quer outras no acesso aos cuidados".

– o espírito e a letra do Decreto-Lei 309/2003, de 10 deDezembro, que criou a Entidade Reguladora da Saú-de (ERS), designadamente:

• a alínea a) do nº 1 do artigo 25º: "São objectivos daactividade reguladora da ERS, em geral: Assegurar odireito de acesso universal e igual a todas as pessoas aoserviço público de saúde".

• a alínea d) do nº2 do artigo 25º: "Prevenir e punirpráticas de rejeição discriminatória ou infundada de pa-cientes nos estabelecimentos e serviços do Serviço Naci-onal de Saúde".

5 – Neste contexto, deliberou o CRN oficiar oSenhor Ministro da Saúde no sentido deste ac-cionar a intervenção da ERS que ele própriocriou para que esta previna e puna as práticasde rejeição discriminatória atrás anunciadas. OConselho Regional do Norte sugere ainda aoSenhor Ministro da Saúde que contrate, de novo,o Prof. Doutor Vital Moreira, com vista à elabo-ração de um parecer jurídico sobre estas decla-rações do Presidente do Conselho de Adminis-tração do Centro Hospitalar do Alto Minho, ten-do em conta o apreço que Prof. Doutor VitalMoreira nutre pela ERS e que tem vindo publi-camente a explicitar.

6 – O CRN deliberou ainda solicitar ao SenhorProvedor de Justiça as iniciativas que tiver porbem produzir sobre esta matéria e informa queesta comunicação foi enviada previamente à Pre-sidência da República, a título informativo, ten-do em conta as preocupações publicamente ex-pressas pelo Senhor Presidente da Repúblicarelativamente aos novos modelos de gestão hos-pitalar e que justificaram a promulgação do di-ploma relativo à ERS.

7 – O CRN informa ainda que convocou, paraprestar esclarecimentos sobre esta matéria, oDirector Clínico do Centro Hospitalar do AltoMinho. As conclusões obtidas naquela reuniãoserão oportunamente tornadas públicas.

DISCRIMINAÇÃO DE DOENTES NO CENTRO HOSPITALARDO ALTO MINHO – HOSPITAL DE VIANA DO CASTELO

OFÍCIO DIRIGIDO A SUA EXCELÊNCIA O SE-NHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA

DOCUMENTO 2

Ex.mo Senhor

Chefe da Casa Civil de Sua Excelência o Senhor Presi-dente da República

Tendo em consideração as preocupações legítima ereiteradamente expressas por Sua Excelência o Se-nhor Presidente da República relativamente aos no-vos modelos de gestão hospitalar (nas quais o Con-selho Regional do Norte da Ordem dos Médicos serevê) e que motivaram a promulgação da legislaçãoreferente à Entidade Reguladora da Saúde, tomo a

liberdade de, previamente à respectiva divulga-ção pública, levar ao conhecimento de Sua Ex-celência o Senhor Presidente da República, atra-vés dos bons ofícios de Vossa Ex.ª, o texto daConferência de Imprensa relativo à discrimina-ção de doentes no Hospital de Viana do Casteloque a seguir se transcreve:

"CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO CONSELHOREGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS:

DISCRIMINAÇÃO DE DOENTES NO HOSPITAL DEVIANA DO CASTELO

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1 – Publicou o Jornal Expresso, no passado dia 20 deDezembro, a seguinte transcrição de declarações do Pre-sidente do Conselho de Administração do Grupo Hos-pitalar do Alto Minho, a propósito da criação dentro deuma área específica daquele hospital com condiçõesespeciais, para atender doentes que não pertencem aoServiço Nacional de Saúde: "temos que criar as condi-ções para que o segurado seja atendido mais rapida-mente e não seja misturado com os doentes do SNS,porque isso pode criar transtorno e defraudar as ex-pectativas das seguradoras" e "Os doentes do SNS re-presentam 90% da actividade. O objectivo é reduzir opeso do SNS, aumentando o peso dos outros. E isso podefazer-se conseguindo acordos com seguradoras, comofonte alternativa de financiamento."

2 – Constata o CRN a transparência, que fala por si,daquele delegado do Ministro da Saúde: a vocaçãodos Hospitais SA não é tratar doentes, mas sim ar-ranjar dinheiro. Neste caso à custa dos que têm di-nheiro e à custa dos que não têm.

3 – Considera o CRN que a aplicação das medidasanunciadas pelo Presidente do CA do Hospital deSanta Luzia prefigura violação objectiva de disposi-ções constitucionais e legais tendo em conta que oCentro Hospitalar do Alto Minho S.A, no qual seinclui o Hospital de Santa Luzia de Viana do Caste-lo, está integrado no Serviço Nacional de Saúde (nº2 do artigo 2º do Decreto-Lei nº 295/2002 de 11 deSetembro).

4 – Na verdade, são violadas:

– a alínea a) do nº 3 do Artigo 64º da Constituição daRepública: "Para assegurar o direito à protecção da saú-de, incumbe prioritariamente ao Estado: garantir o aces-so de todos os cidadãos, independentemente da sua condi-ção económica, aos cuidados da medicina preventiva, cu-rativa e de reabilitação".

– o nº 6 da Base XII da Lei de Bases da Saúde (Decreto-Lei nº 48/90 de 24 de Agosto): "O controlo de qualida-de de toda a prestação de cuidados de saúde está sujeitoao mesmo nível de exigência".

– a alínea d) da Base XXIV da Lei de Bases da Saúde(Decreto-Lei nº 48/90 de 24 de Agosto): "O ServiçoNacional de Saúde caracteriza-se por garantir a equida-de no acesso dos utentes, com o objectivo de atenuar osefeitos das desigualdades económicas geográficas, e quais-quer outras no acesso aos cuidados",

– o espírito e a letra do Decreto-Lei 309/2003, de10 de Dezembro, que criou a Entidade Regula-dora da Saúde (ERS), designadamente:

• a alínea a) do nº 1 do artigo 25º: "São objectivosda actividade reguladora da ERS, em geral: Asse-gurar o direito de acesso universal e igual a todasas pessoas ao serviço público de saúde".

• a alínea d) do nº2 do artigo 25º: "Prevenir epunir práticas de rejeição discriminatória ou in-fundada de pacientes nos estabelecimentos e ser-viços do Serviço Nacional de Saúde".

4 – Neste contexto, deliberou o CRN oficiar oSenhor Ministro da Saúde no sentido deste ac-cionar a intervenção da ERS que ele própriocriou para que esta previna e puna as práticasde rejeição discriminatória atrás enunciadas. OConselho Regional do Norte sugere ainda ao Se-nhor Ministro da Saúde que contrate, de novo,o Prof. Doutor Vital Moreira, com vista à elabo-ração de um parecer jurídico sobre estas decla-rações do Presidente do Conselho de Adminis-tração do Centro Hospitalar do Alto Minho, ten-do em conta o apreço que Prof. Doutor VitalMoreira nutre pela ERS e que tem vindo publi-camente a explicitar.

5 – O CRN deliberou ainda solicitar ao SenhorProvedor de Justiça as iniciativas que tiver porbem produzir sobre esta matéria e informa queesta comunicação foi previamente enviada à Pre-sidência da República, a título informativo, ten-do em conta as preocupações publicamente ex-pressas pelo Senhor Presidente da Republicarelativamente aos novos modelos de gestão hos-pitalar e que justificaram a promulgação do di-ploma relativo à ERS.

6 – O CRN informa ainda que convocou paraprestar esclarecimentos sobre esta matéria oDirector Clínico do Centro Hospitalar do AltoMinho. As conclusões obtidas naquela reuniãooportunamente tornadas públicas."

Rogo-lhe que transmita a Sua Excelência o SenhorPresidente da República os nossos mais respeito-sos cumprimentos e os votos de um feliz ano de2004, os quais são extensivos a Vossa Ex.ª.O Presidente do Conselho Regional do Norte(Dr. Miguel Leão)

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DISCRIMINAÇÃO DE DOENTES NO CENTRO HOSPITALARDO ALTO MINHO – HOSPITAL DE VIANA DO CASTELO

OFÍCIO DIRIGIDO AO SENHOR PROVEDOR DE JUSTIÇA

Ex.mo SenhorProvedor de Justiça

Com vista à superior intervenção de Vossa Ex.ª,vem o Conselho Regional do Norte da Ordem dosMédicos levar ao seu conhecimento as declara-ções do Presidente do Conselho de Administra-ção do Grupo Hospitalar do Alto Minho,reproduzidas no Jornal Expresso, do dia 20 deDezembro e que a seguir se transcrevem: "temosque criar as condições para que o segurado seja atendidomais rapidamente e não seja misturado com os doentesdo SNS, porque isso pode criar transtorno e defraudar asexpectativas das seguradoras" e "Os doentes do SNS re-presentam 90% da actividade. O objectivo é reduzir opeso do SNS, aumentando o peso dos outros. E isso podefazer-se conseguindo acordos com seguradoras, como fontealternativa de financiamento."Tendo em conta que o Centro Hospitalar do AltoMinho S.A, no qual se inclui o Hospital de Santa Luziade Viana do Castelo, está integrado no Serviço Naci-onal de Saúde (nº 2 do artigo 2º do Decreto-Lei nº295/2002 de 11 de Setembro), a aplicação das me-didas anunciadas pelo Presidente do CA do Hos-pital de Santa Luzia prefigura violação objectivade disposições constitucionais e legais, designa-damente as seguintes:– a alínea a) do nº 3 do Artigo 64º da Constituição

da República: "Para assegurar o direito à protecçãoda saúde, incumbe prioritariamente ao Estado: garan-tir o acesso de todos os cidadãos, independentemente

DOCUMENTO 3

da sua condição económica, aos cuidados da medicinapreventiva, curativa e de reabilitação".

– o nº 6 da Base XII da Lei de Bases da Saúde (Decre-to-Lei nº 48/90 de 24 de Agosto): "O controlo dequalidade de toda a prestação de cuidados de saúde estásujeito ao mesmo nível de exigência".

– a alínea d) da Base XXIV da Lei de Bases da Saúde(Decreto-Lei nº 48/90 de 24 de Agosto): "O ServiçoNacional de Saúde caracteriza-se por garantir a equi-dade no acesso dos utentes, com o objectivo de atenuaros efeitos das desigualdades económicas geográficas, equaisquer outras no acesso aos cuidados".

– o espírito e a letra do Decreto-Lei 309/2003, de 10de Dezembro, que criou a Entidade Reguladora daSaúde (ERS), designadamente:• a alínea a) do nº 1 do artigo 25º: "São objectivos

da actividade reguladora da ERS, em geral: Assegu-rar o direito de acesso universal e igual a todas aspessoas ao serviço público de saúde".

• a alínea d) do nº2 do artigo 25º: "Prevenir e punirpráticas de rejeição discriminatória ou infundada depacientes nos estabelecimentos e serviços do ServiçoNacional de Saúde".

O Conselho Regional do Norte agradece antecipada-mente a intervenção que Vossa Ex.ª tiver por ade-quada e apresenta-lhe os nossos melhores cumpri-mentos.

O Presidente do Conselho Regional(Dr. Miguel Leão)

OFÍCIO DIRIGIDO AO SENHOR MINISTRO DA SAÚDEDOCUMENTO 4

Senhor Ministro da Saúde

Excelência

Apreciadas as declarações do Presidente do Conselho de Administração do Grupo Hospitalar do Alto Minho,ao Jornal Expresso, de 20 de Dezembro, ("temos que criar as condições para que o segurado seja atendidomais rapidamente e não seja misturado com os doentes do SNS, porque isso pode criar transtorno e defrau-dar as expectativas das seguradoras" e "Os doentes do SNS representam 90% da actividade. O objectivo éreduzir o peso do SNS, aumentando o peso dos outros. E isso pode fazer-se conseguindo acordos com segu-radoras, como fonte alternativa de financiamento") vem o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médi-cos requerer a Vossa Ex.ª que accione a intervenção da Entidade Reguladora da Saúde, com vista ao cumpri-mento da alínea a) do nº 1 e da alínea d) do nº 2 do artigo 25º do Decreto-Lei 309/2003, de 10 de Dezembro.

Com os melhores cumprimentosO Presidente do Conselho Regional(Dr. Miguel Leão)

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OFÍCIO DIRIGIDO AO DIRECTOR CLÍNICO DO GRUPOHOSPITALAR DO ALTO MINHO

DOCUMENTO 5

Ex.mo SenhorDirector Clínico do Grupo Hospitalar do Alto Minho

Tendo em conta o disposto no número 4 da Base XXXII da Lei 48/90 de 24 de Agosto, nas alíneas b) e f) do artigo13º e nas alíneas e) e n) do artigo 44º do Estatuto da Ordem dos Médicos, na alínea d) do artigo 4º do RegimeJurídico da Gestão Hospitalar publicado pela Lei 27/2002 de 8 de Novembro e no nº 2 do Artigo 123 do CódigoDeontológico dos Médicos, determina o Conselho Regional do Norte a comparência de Vossa Ex.ª para uma reuniãocom o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, a ter lugar na Sede da Secção Regional do Norte daOrdem dos Médicos, à Rua Delfim Maia, 405, no Porto, no próximo dia 5 de Janeiro pelas 22 horas.

Com os melhores cumprimentosO Presidente do Conselho Regional(Dr. Miguel Leão)

POSIÇÃO DO PROVEDOR DE JUSTIÇA ENVIADA AO CRNOMDOCUMENTO 6

Exmo. SenhorPresidente do Conselho Regional do Norte daOrdem dos MédicosDr. Miguel Leão

ASSUNTO: Contratação de serviços entre do SNS e outrasentidades (como seguradoras ou subsistemas)

Tendo por base a queixa que V. Exa. me dirigiu, em 8 deJaneiro de 2004, relativa às declarações do Presidente doConselho de Administração do Centro Hospitalar do AltoMinho, S.A., reproduzidas no Jornal Express de 20 deDezembro de 2003, informo o seguinte:

O artigo do Jornal Expresso, de 20 Dezembro de 2003,cujo teor integral há que ter em conta, reproduz declara-ções efectuadas à comunicação social pelo Presidente doConselho de Administração do referido Centro Hospita-lar, nas quais é manifestada a intenção de criar um regi-me de contratação com terceiros, com o alegado objecti-vo de rentabilizar a capacidade instalada e obter uma fontealternativa de receitas.

Em nota à comunicação social (datada de 8.01.2004), oGabinete do Senhor Ministro da Saúde veio corrigir asinterpretações relativas ao eventual processo decontratualização dos Hospitais S.A. com terceiros, refe-rindo que qualquer medida que possa vir a surgir nessesentido não visará "privilegiar os utentes das seguradorasem prejuízo dos utentes do SNS". Por outro lado, informaque "acordos [...] com outras entidades, nomeadamente asSeguradoras e outros subsistemas, nunca podem pôr em cau-sa a equidade de acesso dos utentes do SNS aos Hospitaispúblicos". Mais se refere nessa nota que "nunca estará emcausa alterar os modelos de atendimento dos Serviços de Ur-gência dos Hospitais da Rede do SNS, nem permitir qualquertipo de discriminação no acesso dos utentes em geral".

Assinala-se que, até ao momento, não é conhecidaqualquer decisão efectiva do Centro Hospitalar doAlto Minho no sentido da contratualização de ser-viços com entidades seguradoras (ou outras) ou decriar o anunciado serviço autónomo para a presta-ção de serviços a terceiros. Assim sendo, no casoem apreço, está-se perante uma simples declaraçãode intenção, prontamente corrigida, aliás, pela pró-pria Tutela.

Saliento, a este propósito, que a intervenção do Pro-vedor de Justiça está legalmente limitada às situa-ções em que estejam em causa actuações ou omis-sões dos poderes públicos, sempre que as mesmaspossam qualificar-se como ilegais ou injustas.

De qualquer modo, analisada a natureza jurídica dosHospitais S.A. e o enquadramento jurídico que po-derá permitir a concretização das medidas anuncia-das, entendi formular uma chamada de atenção aoPresidente do Conselho de Administração do Cen-tro Hospitalar do Alto Minho, nos termos do ofíciocuja cópia junto para melhor elucidação de V. Exa..

Em face do exposto, compreenderá V. Exa. que nãoexiste, para já, fundamento para a adopção de dili-gências adicionais por parte deste órgão do Estado,pelo que determinei o arquivamento do presenteprocesso, sem prejuízo da sua reabertura, caso talse venha a justificar.

Com os melhores cumprimentos,

H. Nascimento Rodrigues.

Junto: cópia do ofício dirigido, nesta data, ao Presi-dente do Conselho de Administração do Centro Hos-pitalar do Alto Minho, S.A.

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DISCRIMINAÇÃO DE DOENTES NO CENTRO HOSPITALARDO ALTO MINHO – HOSPITAL DE VIANA DO CASTELO

POSIÇÃO DO PROVEDOR DE JUSTIÇA ENVIADA AO PRESIDENTEDO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO CHAM

Exmo. SenhorPresidente do Conselho de Administração doCentro Hospitalar do Alto MinhoDr. Fernando Manuel Marques

ASSUNTO: Contratação de serviços entre Hospitais doSNS e outras entidades (como seguradoras ou subsiste-mas)

Na sequência das declarações efectuadas por V. Exa. à co-municação social, relativas à eventual contratualização deserviços com terceiros, por parte desse Centro Hospitalar,foi recebida neste órgão do Estado uma reclamação sobreo assunto, que deu origem à abertura do processo melhoridentificado em epígrafe.

Sobre o mesmo assunto, tomei conhecimento da nota àcomunicação social (datada de 8.01.2004), veiculada peloGabinete do Senhor Ministro da Saúde a qual veio referirque qualquer medida que possa vir a surgir nesse sentidonão visará "privilegiar os utentes das seguradoras em prejuízodos utentes do SNS". Por outro lado, informa que "acordos[...] com outras entidades, nomeadamente as Seguradoras eoutros subsistemas, nunca podem pôr em causa a equidade deacesso dos utentes do SNS aos Hospitais públicos". Mais se re-fere nessa nota que "nunca estará em causa alterar os mode-los de atendimento dos Serviços de Urgência dos Hospitais daRede do SNS, nem permitir qualquer tipo de discriminação noacesso dos utentes em geral".

De facto, os esclarecimentos prestados pelo Senhor Minis-tro da Saúde, nos termos dos especiais poderes de tutelaque lhe são conferidos pelo artigo 6.º do regime jurídicoda gestão hospitalar, aprovado pela Lei n.º 27/2002, de 8de Novembro, constituem desde logo um limite à actua-ção dos Hospitais do SNS, que devem, neste contexto, pau-tar a sua actuação pelos princípios aí referidos: equidadede acesso dos utentes do SNS aos Hospitais públicos, nãopermitindo qualquer tipo de discriminação.

Porém – e sem me querer pronunciar sobre o mérito dasrecentes alterações legislativas relativas à organização e fun-cionamento do SNS –, permito-me salientar que os hospi-tais integrados na rede de prestação de cuidados de saúde,que assumem a natureza jurídica de sociedades anónimasde capitais exclusivamente públicos, se regem, nomeada-mente, pela Lei n.º 27/2002, de 8 de Novembro (cfr. artigo19.º ), pelos respectivos diplomas de criação, onde cons-tam os estatutos necessários ao seu funcionamento, peloregime jurídico do sector empresarial do Estado, pela leireguladora das sociedades anónimas, bem como pelas nor-mas especiais cuja aplicação decorra do seu objecto sociale do seu regulamento.

DOCUMENTO 7

Na verdade, todos os hospitais que integram a redede prestação de cuidados de saúde que constitui oSNS, independentemente da sua natureza jurídica, seregem pela Lei de Bases da Saúde, aprovada pela Lein.º 48/90, de 24 de Agosto e pelo Estatuto do ServiçoNacional de Saúde, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 11/93, de 15 de Janeiro, devendo nortear a sua gestão norespeito pelos princípios aí consagrados.

Da análise do diploma legal que cria o Centro Hospi-talar a que V. Exa. preside (Decreto-Lei n.º 295/2002,de 11 de Dezembro) é possível concluir que esse Cen-tro, tem por objecto a prestação de serviços de saú-de no âmbito do Serviço Nacional de Saúde deque é parte integrante e que apenas acessoriamente,poderá explorar serviços e efectuar as operações civis ecomerciais relacionadas, directa ou indirectamente, no todoou em parte, com o seu objecto. De facto, quis aqui olegislador sublinhar que independentemente do re-gime jurídico assumido, o hospital está na sua essên-cia primordialmente vocacionado para responder àsatisfação das necessidades dos utentes do SNS. Nes-te contexto, os serviços e operações acabadas de refe-rir só poderão ser realizados depois de satisfeitas asnecessidades dos utentes do SNS, no sentido de a es-tes caber prioridade quanto à afectação do equipa-mento instalado e dos recursos humanos, um e ou-tros em primeiro lugar dimensionados para a satisfa-ção das mesmas necessidades dos utentes do SNS.

No mesmo sentido, importa referir que a actuaçãodos Hospitais S.A., deve cumprir escrupulosamenteo contrato-programa plurianual celebrado com o Mi-nistério da Saúde, no qual ficam estabelecidos os ob-jectivos e metas qualitativas e quantitativas, a suacalendarização, os meios e instrumentos para os pros-seguir, designadamente de investimento, os indicadorespara a avaliação do desempenho e do nível de satisfaçãodas necessidades relevantes e as demais obrigações assu-midas pelas partes (cfr. artigo 24.º, n.º 1, do Decreto-lei n.º 295/2002, de 11 de Dezembro). Da compo-nente financeira de cada contrato-programa será dadoconhecimento prévio ao Ministério das Finanças (cfr.artigo 24.º, n.º 2, do mesmo diploma), o que implicaque a esse Ministério sejam facultados todos os ele-mentos que permitam identificar a natureza e prove-niência das receitas e despesas estimadas.

Em suma, independentemente da forma de gestão as-sumida e atento o enquadramento legislativo menci-onado, cumpre salientar que, por um lado, acontratualização de serviços com terceiros deve ser

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sempre acessória, e por outro, que nunca podem ser pos-tos em causa os direitos constitucionalmente consagra-dos de garantia de acesso de todos os cidadãos, inde-pendentemente da sua condição económica, aos cuida-dos da medicina preventiva, curativa e de reabilitação,cfr. artigo 64.º n.º 3 alínea a) da Constituição da Repú-blica Portuguesa.

Em face de todo o exposto, entendo formular esta especialchamada de atenção, por forma a alertar V. Exa., para ofacto de que qualquer eventual medida, no sentido dasdeclarações públicas prestadas (e corrigidas pela Tute-la), seja devidamente enquadrada nos parâmetros le-gais supra referidos, não desvirtuando os princípios evalores constitucionalmente consagrados de equidade

no acesso aos hospitais que integram a rede deprestação de cuidados de saúde do SNS e garan-tindo o acesso de todos os cidadãos, independen-temente da sua condição económica, aos cuidadosde medicina de que carecem.

Não subsistindo, por ora, fundamento para a adop-ção de diligências adicionais por parte deste órgão doEstado, determinei o arquivamento do presente pro-cesso, sem prejuízo de reabertura, caso tal se venha ajustificar.

Com os melhores cumprimentos,

H. Nascimento Rodrigues

Informações:Praça da Faculdade de Filosofia, 14710-297 BRAGATel.: (+351) 253 201 200Fax: (+351) 253 201 [email protected]

SECÇÃO DISTRITAL DE BRAGA OMFACULDADE DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA(CENTRO REGIONAL DE BRAGA)

MESTRADO / PÓS-GRADUAÇÃO EMBIOÉTICA - 5ª EDIÇÃO

CONVOCATÓRIA

Nos termos dos artigos 7º § 5 a) do Regulamento Geral dos Colégios das Especialidades e18º § 1 do Regimento do Colégio da Especialidade de Medicina Interna convoco os Mem-bros do Colégio para a Assembleia Geral a realizar no dia 27/05/2004, às 18h00 no GrandeAuditório do Tivoli Marinotel, em Vilamoura, com a seguinte ORDEM DE TRABALHOS1) Relatório de Actividades do Conselho Directivo.2) Discussão e votação do Projecto de Revisão do Programa de Formação do InternatoComplementar de Medicina Interna proposto pelo Conselho Directivo.

ASSEMBLEIAGERAL DO

COLÉGIO DAESPECIALIDADE

DE MEDICINAINTERNA

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OFÍCIO AOS MÉDICOS DAQUELA ESPECIALIDADE

Ex.mo (a) Colega:

Tendo chegado ao conhecimento do Conselho Re-gional do Norte vários documentos e informaçõescircunstanciadas relativamente ao funcionamentoda urgência da especialidade de Ginecologia/Obs-tetrícia do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vilado Conde vem este Conselho lembrar a Vossa Ex.ª:1 – O CRN reafirma os princípios enunciadosna carta oportunamente dirigida ao Ex.mo (a)Colega e que a seguir se transcreve:

«RUPTURA DA ASSISTÊNCIA HOSPITALARA GRÁVIDASEx.mo (a) Colega1 – Para conhecimento exacto do Ex.mo (a) Cole-ga transcrevem-se as normas técnicas definidas pelaDirecção do Colégio de Especialidade de Gineco-logia/Obstetrícia relativamente ao funcionamentode blocos de parto e aprovadas pelo Conselho Na-cional Executivo da Ordem dos Médicos:"Os Blocos de partos de qualquer hospital não po-derão funcionar com Recursos Humanos inferio-res aos seguintes:

– 3 Médicos da Especialidade de Obstetrícia eGinecologia, sendo pelo menos 2 especialis-tas;

– disponibilidade permanente de 1 Anestesista e1 Pediatra;

– pelo menos 2 enfermeiras, uma das quais obri-gatoriamente com a Especialidade de Enfer-magem Obstétrica.

No que se refere ao equipamento para além dasinstalações e material obstétricos apropriados teráde contar com:

– sala de operações permanentemente disponí-vel;

– 1 Monitor fetal (cardiotocógrafo) por cadacama de partos;

– 1 Ecógrafo sempre disponível;– instalação central de gases e vácuo:– 2 Camas de reanimação de recém-nascidos".

2 – De acordo com as informações oficiais recolhi-das pelo Conselho Regional do Norte os Hospitaisintegrados na ARS-Norte cujas equipas de urgên-cia de Ginecologia/Obstetrícia, ainda que por mo-tivos e em horários diferentes, não cumprem osrequisitos definidos pela Ordem dos Médicos são:Amarante, Barcelos, Bragança, Póvoa de Varzim/

DOCUMENTO 8

Vila do Conde, Chaves, Famalicão, Matosinhos,Mirandela, Santo Tirso, Vale do Sousa e Viana doCastelo. Cumprem os requisitos definidos pelaOrdem dos Médicos os seguintes Hospitais: Gui-marães, Maternidade Júlio Dinis, Santo António,S.João e Vila Nova de Gaia. O Hospital de Bragapassou a cumprir os preceitos técnicos da Ordemdos Médicos após os médicos da especialidade, comgrande abnegação, terem retomado a realização dehoras extraordinárias face ao compromisso da ARS-Norte em proceder ao seu pagamento, de acordocom ofício emitido em 5 de Novembro pp.

3-Neste contexto, e atendendo às regras da boaprática acima transcritas, o CRN recomenda a to-dos os médicos de Obstetrícia/Ginecologia queenderecem o requerimento-tipo (em anexo) aosPresidentes dos Conselhos de Administração dosHospitais que não cumprem as regras definidas pelaOrdem dos Médicos. Esta atitude destina-se a sal-vaguardar a responsabilidade médica, protegendoos médicos de eventuais acusações de má práticadevida a circunstâncias que os transcendem. OCRN sublinha, para que não restem quaisquer dú-vidas, que os médicos que não procedam confor-me esta recomendação estão a assumir pessoalmen-te a responsabilidade pela execução de actos mé-dicos à revelia das normas técnicas da especialida-de pelo que não poderão contar com o apoio daOrdem dos Médicos perante situações de litigânciadecorrentes de má prática.

Com os melhores cumprimentos

Pelo Conselho Regional

(Dr. José Pedro Moreira da Silva)

Porto, 10 de Novembro de 2003»

2 – Tornando aqueles princípios mais claros im-porta destacar que um médico que actuereiteradamente à revelia das regras da boa prá-tica (definidas pela Ordem dos Médicos) está aassumir, directa e pessoalmente, a responsabi-lidade pelas consequências dos actos que prati-ca. Exemplificando com um caso prático, ummédico que aceite praticar actos próprios daespecialidade de Ginecologia/Obstetrícia à re-velia das normas aprovadas (e que constam dacarta acima identificada) deve ficar ciente quenão poderá contar com o apoio da Ordem dos

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CENTRO HOSPITALAR DA PÓVOA DE VARZIM/VILA DO CONDESERVIÇO DE URGÊNCIA DA ESPECIALIDADE DE GINECOLOGIA/OBSTETRÍCIA

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OFÍCIO DIRIGIDO AO DIRECTOR CLÍNICODOCUMENTO 9

Ex.mo Senhor

Director Clínico do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde

Tendo em conta:

– um conjunto de documentos que se encontram na posse do Conselho Regional do Norte da Ordem dosMédicos,

– diversas declarações públicas veiculadas pelos órgãos de comunicação social,– um conjunto de informações transmitidas ao Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos,

venho solicitar a Vossa Ex.ª, com vista ao esclarecimento do funcionamento do serviço de urgência daespecialidade de Ginecologia/Obstetrícia no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde, que enviea este Conselho Regional, no prazo de dez dias, cópia dos registos operatórios das cirurgias realizadas porcesariana nesse Centro Hospitalar nos anos de 2001, 2002 e 2003.

Deixa o Conselho Regional do Norte ao critério de Vossa Ex.ª o fornecimento destes elementos de provarelativamente à matéria em apreço. Sublinha desde já o Conselho Regional que, seja qual for a atitude queVossa Ex.ª tiver por bem adoptar, a mesma será necessariamente enquadrada no contexto adequado edevidamente analisada, ponderada e divulgada, no estrito cumprimento dos estatutos, códigos e regula-mentos da Ordem dos Médicos.

Com os melhores cumprimentos

O Presidente do Conselho Regional

(Dr. Miguel Leão)

Médicos em situações de litígio médico-legal re-sultantes da sua prática. Deve ficar ainda abso-lutamente ciente que a Ordem dos Médicos seráforçada, ainda que a contra gosto, a reconhecerjunto das instâncias judiciais a má prática des-ses médicos e a suscitar, evidentemente, as ac-ções disciplinares adequadas à punição de ac-tos que violem o estado da arte.

3 – Acresce ainda que, se, por hipótese, se viera comprovar que os casos de não cumprimentodas regras de boa prática obedecem a um pa-drão específico de comportamento (como sejao de parturientes sistemática e previamenteobservadas em ambulatório serem sistematica-

mente referenciadas, por e/ou para um determi-nado médico, para o serviço de urgência do hos-pital onde este exerce funções), estarão criadasas condições para que se especule sobre a dig-nidade do comportamento dos médicos envol-vidos. Compreenderá o Ex.mo (a) Colega queestas situações (ainda que hipotéticas) podemcriar especulações mediáticas ou até motivar,fundadamente, a intervenção disciplinar da Ins-pecção-geral dos Serviços de Saúde e/ou da Or-dem dos Médicos.

Com os melhores cumprimentos

O (Dr. Miguel Leão)

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CENTRO MATERNO-INFANTIL DO NORTE

O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos(CRN-OM) tomou conhecimento que a Assembleia daRepública irá apreciar no próximo dia 19 de Fevereiroum projecto de resolução relativo ao Centro Materno-In-fantil do Norte.Tendo em conta as competências estatutárias da Ordemdos Médicos, julgamos relevante prestar a Vossa Ex.a aseguinte informação:1 – Em 9 de Outubro de 2003, o CRN-OM enviou ao Se-nhor Ministro da Saúde, com a referência 3217, o ofícioque a seguir se transcreve:

«Excelência:Tendo em conta o previsto no Estatuto da Ordem dos Médicos, epara todos os efeitos e termos previstos no Código do Procedimen-to Administrativo, e demais legislação aplicável, vem o ConselhoRegional do Norte da Ordem dos Médicos requerer a V. Ex.ª oenvio do Plano Funcional do Centro Materno-Infantil que V. Ex.ªtem vindo a anunciar, bem como do Plano de Organização e Refe-renciação Assistenciais, no âmbito da saúde materno-infantil, re-lativo à Região Norte, em que aquele Centro se integrará.Com os melhores cumprimentos.O Presidente do Conselho Regional,Dr. Miguel Leão.»

O Senhor Ministro da Saúde não respondeu a este ofício.

2 – Em 4 de Novembro de 2003, na ausência de respostaao oficio acima transcrito, enviou ao Senhor Ministro daSaúde o requerimento que a seguir se transcreve:

«Senhor Ministro da Saúde

Excelência:

RequerimentoSecção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, represen-tada pelo Presidente do Conselho Regional, vem, nos termos e paraos efeitos do disposto no art.º 82. º, n.º 1, da Lei do Processo nosTribunais Administrativos, requerer a V. Ex.ª que se digne proce-der ao envio de certidão do Plano Funcional de Centro Materno-Infantil e do Plano de Organização e Referenciação Assistenciaisno âmbito da saúde materno-infantil e relativo à Região Norte.A presente certidão é requerida nos termos do disposto no art.º6.º, alíneas c) e d), do Estatuto da Ordem dos Médicos (Decreto-lei n.º 282/77, de 5 de Julho).O Presidente do CRN-OM;Dr. Miguel Leão.»

O Senhor Ministro da Saúde não respondeu a este reque-rimento.

3 – Posteriormente os serviços jurídicos da Secção Regi-onal do Norte da Ordem dos Médicos dirigiram ao Ex.moSenhor Juiz do Tribunal Administrativo do Círculo deLisboa a intimação que a seguir se transcreve:

«SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉ-DICOS, com sede na Rua Delfim Maia, 405, 4200 Porto,Vem intentar,

INFORMAÇÃO DIRIGIDA AOS GRUPOS PARLAMENTARES DAASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

DOCUMENTO 10

INTIMAÇÃO PARA A PRESTAÇÃO DE INFORMA-ÇÕES, CONSULTA DE PROCESSOS OU PASSAGEMDE CERTIDÕES (Artigo 104º do Código do Processo nosTribunal Administrativos) contraMINISTÉRIO DA SAÚDE na pessoa do Ex.mo Sr. MINIS-TRO DA SAÚDE com sede na Avenida João Crisóstomo, n.09, 1000 Lisboa.Termos e fundamentos:

1ºEm 04/11/2003 a Requerente requereu através de carta re-gistada com aviso de recepção ao Requerido que lhe fosseemitida certidão do Plano Funcional do Centro Materno-Infantil e do Plano de Organização e Referenciação Assis-tenciais no âmbito da saúde materno-infantil e relativo àRegião Norte - cfr. Doc. 1 que aqui se junta e se tem porintegralmente reproduzido para todos os legais efeitos .

2ºTal carta foi recepcionada pelos serviços do Ministério daSaúde em 05/11/2003 - cfr. o mesmo Doc. 1.

3ºTal certidão foi requerida nos termos e para os efeitos dodisposto nas alíneas c) e d) do artigo 6º do Estatuto da Or-dem dos Médicos (DL 282/77, de 5 de Julho).

4ºSucede que, apesar de diversas vezes ter sido a Requerenteinformada telefonicamente que o seu requerimento estavapara despacho, aguardando-se a emissão da requerida cer-tidão, certo é que, até a presente data, não foram os elemen-tos requeridos fornecidos. Assim,

5ºvem a Requerente nos termos do disposto na lei processualadministrativa requerer a intimação do Requerido para sa-tisfazer o pedido que lhe foi dirigido.Termos em que, e nos mais de Direito, REQUER a V.ª Ex.ªse digne ordenar a intimação do Requerido para, no prazoque lhe vier a ser fixado, vir prestar à Requerente as infor-mações solicitadas.Para o efeito, REQUER a V.ª Ex.ª se digne ordenar a cita-ção do Requerido, para no prazo de 10 dias, responder, se-guindo-se os demais termos até final.JUNTA: um documento, procuração e duplicado legal.VALOR: Euro 3.750,00 (três mil setecentos e cinquentaeuros).ANEXA: documento comprovativo da autoliquidação da taxade justiça inicial.OS ADVOGADOS»

O Conselho Regional do Norte aguarda a decisão doTribunal Administrativo do Círculo de Lisboa.Na certeza de que esta informação contribuirá parao esclarecimento dos Ilustres Deputados do GrupoParlamentar a que Vossa Ex.ª preside apresento-lheos meus respeitosos cumprimentos.O Presidente do Conselho Regional do Norte OM(Dr. Miguel Leão)

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LISTAS DE ESPERA

OS NÚMEROS DO SENHOR MINISTRO DA SAÚDE

Em Setembro de 2003, vários órgãos de informação noti-ciaram, em sequência de uma entrevista do Senhor Mi-nistro da Saúde à Agência Lusa, que:– dos 123166 em lista de espera, haviam sido operados 67081

(36573 nos Hospitais SPA e 29181 nos Hospitais SA);– tinha aparecido uma nova lista de espera com 98641 do-

entes (59605 nos Hospitais SPA e 39036 nos Hospitais SA).

Em entrevista à Agência Lusa, noticiada por outros ór-gãos de informação em 23 de Janeiro de 2004, o SenhorMinistro revelou que:– dos 123166 doentes em listas de espera já haviam sido

operados 91154; daí resulta que se encontravam por ope-rar 32012 doentes;

– dos 123166 doentes em listas de espera 36692 haviam sidoencaminhados, no âmbito do PECLEC, para o sector sociale privado; daí resulta que haviam sido encaminhadospara o sector público 86474 doentes;

– dos 36692 doentes encaminhados para o sector social eprivado 20461 "recusaram a cirurgia, não tinham qualquerindicação cirúrgica ou simplesmente não apareceram nohospital no dia marcado para a cirurgia"; daí resulta queforam operados nestes sectores 16231 doentes;

– destes números resulta ainda que foram operados nosector público 74923 doentes;

– por mês, desde Julho de 2002 entravam em lista de espera6600 doentes; daí resulta que, ao fim de 17 meses, osnovos doentes em lista de espera perfazem 112200.

O Site do Ministério da Saúde revela, em 28 de Janeirode 2004, e com dados referentes a Setembro de 2003 e aDezembro de 2003 que:– dos 123166 doentes em lista de espera haviam sido opera-

dos 71468 doentes (35434 nos Hospitais SPA e 36034 nosHospitais SA).

Sob a forma de publicidade paga o Ministério da Saúdedivulgou durante o mês de Janeiro de 2004 os resultadosdo primeiro ano dos Hospitais SA comparando a produ-ção hospitalar entre Janeiro e Outubro do ano de 2003com o ano de 2002 e que corresponde ao período de con-cretização do PECLEC (Novembro de 2002 a Setembrode 2003). Estes resultados são, entre outros,– um aumento de 269809 consultas;– um aumento de 32305 cirurgias (que incluem cirurgia pro-

gramada, urgente e ambulatória).

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO CRNOMDOCUMENTO 11(10-02-04)

AS PERGUNTAS DA ORDEM DOS MÉDICOS

Face as estes números é indispensável que:

1 – O Senhor Ministro da Saúde explique porque éque 20461 doentes (isto é 55,7%) referenciados pararealização de cirurgia no sector social e privado nãoforam operados naqueles sectores, indicando a origemdos doentes (por hospital e por administração regionalde saúde), a respectiva patologia, os motivos de recusade cirurgia ou de não comparência e ainda as entidadesdo sector social ou privado para que estes doentes fo-ram referenciados.

2 – O Senhor Ministro da Saúde explique, aceitandoque o número de doentes operados no sector privadoou social foi de 16231 e no sector público foi de 74923os motivos pelos quais a taxa de cirurgias realizadas nosector privado ou social foi de 44,3% e a taxa de cirur-gias realizadas no sector público foi de 86,6%.

3 – O Senhor Ministro da Saúde explique porque égraças à sua gestão o número de doentes em lista deespera passou de 123166 para 144212 (o somatóriodos doentes que não foram operados mais aqueles queentraram em lista de espera: 32012+112200).

4 – O Senhor Ministro da Saúde explique a notávelprodutividade dos Hospitais SA que terão resolvido oproblema de 29181 doentes ou de 36034 doentes (con-forme os números variáveis que são apresentados), cri-ando uma lista de espera de 39036 doentes, ou seja,em apenas um ano de actividade, um acréscimo de lis-ta de espera de cerca de 33% no primeiro caso ou de8% no segundo.

5 – O Senhor Ministro da Saúde explique a notávelprodutividade normal dos Hospitais SA que terão rea-lizado mais 32305 cirurgias (no total da sua actividadecirúrgica) quando no Site oficial do Ministério constaque realizaram 36034 cirurgias no âmbito do PECLEC.

6 – O Senhor Ministro da Saúde explique, de formaclara, porque é que o factor principal para o apareci-mento de uma nova lista de espera nos Hospitais SA foio aumento do número de consultas. Assumindo que apublicidade paga pelo Senhor Ministro da Saúde é ver-dadeira e que metade do acréscimo de consultas resul-tou de consultas de especialidades cirúrgicas, conclui-se que cerca de 135000 consultas geraram cerca de

O ESTRANHO CASO DOS DOENTES DE-SAPARECIDOS, A ESTRANHA PRODUTI-

VIDADE DOS HOSPITAIS SA E OS ESTRANHOS NÚMEROS DO SENHORMINISTRO DA SAÚDE

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LISTAS DE ESPERA

INTEGRAÇÃO DE CENTROS DE SAÚDE NA ESTRUTURAHIERÁRQUICA E ADMINISTRATIVA DE HOSPITAIS

1 – O Conselho Regional do Norte da Ordem dosMédicos recebeu a comunicação que a seguir setranscreve dos Médicos de Família Carlos Arroz,João Rodrigues, José Luís Gomes, e Luís Pisco.

«Senhor Ministro da SaúdeExcelência,Os Médicos de Família Carlos Arroz, João Rodrigues, JoséLuís Gomes, e Luís Pisco reuniram, em 9 de Fevereiro de2004, no Ministério da Saúde, a pedido de V. Exª, paraanálise da aplicação do DL 60/2003, de 1 de Abril, e mo-delos alternativos para a gestão dos Centros de Saúde, con-forme previsto na Lei de Bases da Saúde. Nessa reuniãoficou clara a nossa postura de diálogo, transparência, ob-jectividade e honestidade nas propostas apresentadas. Fi-cou igualmente clara a nossa indisponibilidade para cons-tituirmos uma Comissão de Acompanhamento da aplica-ção do Diploma em referência com o qual, de forma unâni-

CARTA ABERTA AO MINISTRO DA SAÚDEDOCUMENTO 12(23-02-04)

me, nunca concordámos pelos perigos reais que encerra paraos Cuidados Primários e para a Saúde dos Portugueses,consubstanciado nas inequívocas posições públicas das es-truturas onde nos inserimos: SIM, FNAM, Ordem dos Mé-dicos e APMCG.Pela comunicação social fomos informados da decisão de V.Ex.ª de entrega da gestão dos Centros de Saúde de Vila RealI e II, Santa Marta de Penaguião, Mesão Frio e Régua aoCentro Hospitalar de Vila Real/Peso da Régua, SA, ecomunicada aos respectivos Directores em 12 de Fevereirode 2004.Consideramos grave para a Saúde dos Portugueses a entre-ga da gestão dos Centros de Saúde a Sociedades Anónimas,encerrando propósitos de branqueamento de custos e de mo-bilidade forçada de profissionais de saúde que, objectivamente,levarão à sua destruição, caminhando V. Exª em sentidocontrário ao preconizado pela OMS, isto é, no reforço dosCuidados Primários de Saúde na assistência às populações.

39000 doentes em lista de espera. Dito de outro modo,isto significa que se cada doente tiver realizado apenasuma consulta, 28,8 % dos doentes observados nosHospitais SA foram integrados em lista de espera. Seadmitirmos que um doente realizou duas consultas,antes de ser catalogado como estando em lista de espe-ra, então 57,7% dos doentes observados em consultasde cirurgia nos Hospitais SA passou a estar em lista deespera.

EM RESUMO E SUPONDO VERDADEIROS OS NÚ-MEROS DO SENHOR MINISTRO DA SAÚDE CON-CLUI-SE QUE:

– O número de doentes em lista de espera passoude 123166 para 144216; ou seja o Senhor Ministropode começar a ser considerado um perigo para asaúde pública. Com este ritmo de crescimento de lis-tas de espera, se o Senhor Ministro tivesse sido Mi-nistro desde a fundação do SNS o número de doen-tes à espera seria cerca de 3600000 (o resultado damultiplicação de 25 por 144000).

– As listas de espera dos Hospitais SA aumentaramentre 8 a 33%, conforme os números que o Senhor

Ministro queira fornecer. Excluída que esteja a hipó-tese de mentira premeditada, deste indicador podemresultar várias conclusões: o Senhor Ministro enga-nou-se na publicidade paga? O Senhor Ministro en-ganou-se na produtividade dos Hospitais SA ou, aocontrário, enganou-se na recuperação de listas de es-pera? O Senhor Ministro tem dificuldades de cálcu-lo? Ou, afinal, a produtividade normal dos HospitaisSA foi menor que o habitual em cerca de 2700 cirur-gias, já que derivaram a sua actividade normal para arecuperação de listas de espera?

– Dos doentes em lista de espera, dos que foramreferenciados para o sector privado e social desa-pareceram 55,7%; dos que foram referenciadospara o sector público desapareceram 13,4%. Amenos que esteja perante um caso de polícia (ou demagia) será que o Senhor Ministro se enganou quan-to ao número de doentes em lista de espera?

Para facilitar as explicações e as contas do Senhor Mi-nistro, e para não onerar mais os encargos do Ministé-rio da Saúde que pudessem comprometer os aumentossalariais dos gestores dos Hospitais SA recentementeanunciados, o CRN manifesta a sua disponibilidade paraenviar a Sua Excelência o Senhor Ministro da Saúde, ea título de oferta, um máquina de calcular.

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ANÁLISE DA POSIÇÃO DO CONSELHO ESTRA-TÉGICO SECTORIAL DA SAÚDE DO PSD/PORTO– NOTA DE IMPRENSA

1 – O Conselho Regional do Norte da Ordem dosMédicos apreciou a análise realizada pelo Conse-lho Estratégico Sectorial da Saúde do PSD/Portorelativamente à cobertura assistencial em Medici-na Geral e Familiar no distrito do Porto veiculadapelo Colega Dr. Jaime Neto e difundida por váriosórgãos de informação.

2 – Na mesma contrariava-se uma visão catastrófi-ca do sistema de saúde e adiantavam-se númerosmuito positivos relativamente à relação n.º de do-entes por médico de família no distrito do Porto.

3 – Apresentou aquele Conselho Estratégico do PSDa existência de 897 médicos para 1.731.612 uten-tes, o que corresponde a um médico de família por1.930 utentes. Este ratio é considerado aceitávelpor aquele Conselho já que se encontra dentro doslimites de um médico para 1500/2000 utentes.

DOCUMENTO 13(02-03-04)

COBERTURA ASSISTENCIAL EM MEDICINAGERAL E FAMILIAR

A postura de V. Ex.ª para com os subscritores revelafalta de ética e deslealdade, para além da utilizaçãosistemática de estratégias de ocultação de propósitos,de todo inaceitáveis. Em Política não vale tudo, e osfins não podem justificar os meios quando se atrope-lam deliberadamente os mais básicos princípios mo-rais e de relação.Os subscritores não põem em causa deveres instituci-onais e de respeito para com o Governo e o Ministroda Saúde, mas consideram estar comprometida de for-ma drástica, e possivelmente de forma irremediável,a confiança no titular da pasta da Saúde, o SenhorLuís Filipe Pereira.

Com os nossos melhores cumprimentos

CARLOS ARROZ, JOÃO RODRIGUES, JOSÉ LUÍS GO-MES, LUÍS PISCO»

2 – A posição destes Colegas é subscrita pelo Con-selho Regional do Norte da Ordem dos Médicos emotivou, desde logo, um pedido formal ao SenhorPresidente do Conselho Nacional Executivo da Or-

dem dos Médicos para que convoque, com carácterde urgência, uma reunião do Fórum Médico.

3 – A posição ora assumida por este Conselho, paraalém de solidariedade com aqueles Colegas, preten-de também salvaguardar a independência das diver-sas estruturas prestadoras de cuidados de saúde(Hospitais e Centros de Saúde) visto que estas as-sumem manifestamente objectivos e funções distin-tas, ainda que convergentes e complementares.

4 – Porque não está em causa qualquer conflito en-tre médicos pertencentes à Carreira Hospitalar e àCarreira de Medicina Geral e Familiar, é dever doConselho Regional do Norte da Ordem dos Médi-cos apelar a todos os médicos, de todas as carrei-ras, para que continuem a cooperar entre si, comosempre têm feito, em prol dos direitos dos doentes.

Porto, 23 de Fevereiro de 2004

O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos

4 – O Conselho Regional do Norte congratula-sevivamente com esta posição do PSD/Porto que re-vela uma evidente independência técnica e demons-tra que, ao contrário do que tem apregoado o Se-nhor Ministro da Saúde, não são necessárias modi-ficações legislativas substanciais relativamente aosCentros de Saúde, não é necessário integrar os Cen-tros de Saúde na hierarquia funcional e adminis-trativa dos Hospitais nem é necessário recorrer amédicos indiferenciados e mal qualificados paraassegurar a prestação de cuidados de saúde noâmbito da Medicina Geral e Familiar.

Porto, 2 de Março de 2004

O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Mé-dicos

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OFÍCIO DIRIGIDO AO PRESIDENTE DO CONSE-LHO NACIONAL EXECUTIVO DA OM

Ex.mo Senhor

Presidente do Conselho Nacional Executivo da Or-dem dos Médicos

Decorreu no Porto, no passado dia 20 de Dezem-bro, uma reunião promovida pela Comissão Regio-nal Consultiva de Ensino e Educação Médica da SRNda OM a pedido do Conselho Regional, com vista aanalisar a criação de novas Escolas Médicas.Nessa reunião estiveram representadas a Escola deCiências da Saúde da Universidade do Minho (atra-vés do Prof. Doutor Pinto Machado), a Faculdadede Medicina do Porto (através da Prof. Doutora Isa-bel Ramos) e o Instituto de Ciências Biomédicas AbelSalazar (através da Prof. Doutora Corália Vicente).Participou ainda, como Chefe do Grupo de Missãopara a Saúde, o Prof. Doutor Alberto Amaral, bemcomo a totalidade dos membros da Comissão Regi-onal Consultiva de Ensino e Educação Médica, osProfessores Doutores António Sousa Pereira (Coor-denador), Alberto Barros e Francisco Cruz.O consenso de todas estas personalidades justifica aposição do Conselho Regional, a qual passo a trans-mitir:1 – A abertura de novas escolas médicas não resolvepor si uma hipotética falta de médicos ou a sua dis-tribuição assimétrica (por especialidades ou por re-giões) bem como deficiências de organização do sis-tema de saúde.2 – Os ratios internacionais apontam para a existên-cia de uma escola médica por cada dois milhões dehabitantes (aliás já ultrapassado em Portugal) e ad-missões de um aluno por 10000 habitantes e porano (número também ultrapassado em Portugal).

DOCUMENTO 14

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CRIAÇÃO DE NOVAS FACULDADES DE MEDICINA

3 – A criação de novas escolas médicas (públicas ouprivadas) deve obedecer a rigorosos critérios de qua-lidade, a serem avaliados por comissões internacio-nais de peritos independentes, a exemplo do queacontece com as escolas já existentes.

4 – O processo de acreditação das novas escolas deveser conhecimento da Ordem dos Médicos que devepoder, à luz do seu Estatuto, restringir, total ou par-cialmente, o âmbito da actividade profissional dosmédicos licenciados por escolas médicas que nãocumpram requisitos considerados fundamentais pelaOrdem dos Médicos.

5 – A Ordem dos Médicos tem a obrigação social dedefender a qualificação e a excelência dos profissio-nais que nela estejam inscritos e de criar e divulgarmecanismos de selecção, pelo que deve considerar apossibilidade de instituir mecanismos de aferição daqualidade dos licenciados que nela se pretendam ins-crever, a exemplo do que já acontece com outrasOrdens, como as Ordens dos Advogados, dos Ar-quitectos e dos Engenheiros.

Assim, e para discussão formal deste assunto, pro-põe o Conselho Regional do Norte que o Conse-lho Nacional Executivo da Ordem dos Médicossolicite a comparência, para a sua reunião de Fe-vereiro, do Chefe do Grupo de Missão para a Saú-de (Prof. Doutor Alberto Amaral) e do Presiden-te da Sociedade Portuguesa de Educação Médica(Prof. Doutor Martins e Silva).

Com os melhores cumprimentosO Presidente do Conselho Regional(Dr. Miguel Leão)

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POSIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ESTU-DANTES DE MEDICINA

DOCUMENTO 15(10-02-04)

Ex.mo SenhorPresidente da SRNOMDr. Miguel Leão

Assunto: Aumento dos numerus clausus em Me-dicina

A Associação Nacional de Estudantes de Medici-na (ANEM) vem, no seguimento das recentes notí-cias vindas a público, relativas ao anunciado aumen-to de 300 vagas nos cursos de Medicina para o pró-ximo ano lectivo, à possível abertura de vagas demedicina para alunos/licenciados de/em MedicinaDentária (que entrariam directamente para o 4º anoem Medicina) e à possível abertura de novos cur-sos, possivelmente ministrados por instituições pri-vadas, apresentar a sua posição oficial e lançar algu-mas ideias para o debate e, porventura, esclareceralguns pontos que até agora não foram suficiente-mente explorados explanando à sociedade algunspontos de vista que poderão contribuir para a dis-cussão destes temas e para a correcta tomada deposição dos responsáveis governativos.

Sem mais de momento, subscrevo-me, com as maiscordiais saudações.

Pela Direcção da ANEMPedro Lopes (presidente)

CARTA ABERTA AO MINISTÉRIO DA CIÊNCIAE DO ENSINO SUPERIOR

A necessidade de escrever e divulgar esta carta pren-de-se com algumas notícias que vieram a público.Trata-se do anunciado aumento de 300 vagas noscursos de Medicina para o próximo ano lectivo, apossível abertura de vagas de Medicina para alu-nos/licenciados de/em Medicina Dentária (que en-trariam directamente no 4º ano com reconhecimentoautomáticos das disciplinas do anos anteriores) e àpossível abertura de novos cursos de Medicina. Re-lativamente a estes novos cursos, é notória a prepa-ração da opinião pública para que sejam ministra-dos por instituições privadas.

Face a estas notícias, a Associação Nacional de Es-tudantes de Medicina deseja lançar algumas ideiaspara o debate e porventura, esclarecer alguns pon-

tos que até agora não foram suficientemente explo-rados. Não pretende com esta carta apresentar pre-missas absolutas, mas oferecer à sociedade algunspontos de vista que poderão contribuir para a dis-cussão destes temas e para a correcta tomada deposição dos responsáveis governativos.

Assim, em seguida expomos o que nos parecem seros motivos suficientes para afirmar que:• Não há falta de médicos em Portugal;• Não há necessidade de medidas intempestivas para

aumentar o número de médicos em Portugal;• Às actuais Faculdades de Medicina não lhes foram

fornecidos os meios necessários que permitam umgrande aumento das capacidades formativas;

• Os colegas de Medicina Dentária não têm forma-ção que lhes permita passar directamente para o4º ano da licenciatura;

• A abertura de novos cursos é desnecessária e qual-quer abertura de novos cursos deverá ser muitobem ponderada e todo o seu processo acompa-nhado.

Muito se tem falado acerca da falta de Médicos emPortugal. Mas, a impressão subjectiva das necessi-dades de médicos não foi complementada com umestudo de base para conhecer as realidades locaisparticulares. Muitos evocam países europeus comoa França e o Reino Unido, como modelos, quer deassistência de saúde, quer de formação universitáriade jovens médicos. Na verdade, a França (330 mé-dicos/100.000 habitantes)i, tem sensivelmente omesmo número de médicos do que Portugal (318/100.000), estando o Reino Unido a grande distân-cia (164/100.000). Outros países da União Euro-peia, com sistemas de saúde modernos e de quali-dade, como a Suécia (287/100.000) e a Dinamarca(284/100.000) têm também uma população médi-ca significativamente inferior à Portuguesa.Por outro lado, a nível de pessoal de enfermagem,Portugal apresenta um número de profissionais in-ferior a metade da média europeia, cifrando-se nos367 enfermeiros por 100.000 habitantes, e a longadistância dos países supracitados: França (669/100.000), Suécia (843/100.000) e Dinamarca (937/100.000).Tal impressão subjectiva de falta de médicos resultado facto de as populações sentirem, de facto, uma

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falta de médicos que seria tão real, como o é preo-cupante, não resultasse de vários factores: uma cla-ra má distribuição dos recursos existentes, a faltade enfermeiros, falta de clara definição de tarefasentre os vários profissionais de saúde (resultantesda não definição do acto médico) e a deficienteinformatização dos serviços.Basta comparar os 60 médicos por 100.000 habi-tantes da Região do Tâmega com os 1250 da Regiãodo Grande Porto ou mesmo os 550 do concelho doPorto com os 80 do concelho de Baião, ou com os30 do concelho de Celorico de Basto. Será que ain-da haverá alguém capaz de afirmar que a aparentefalta de médicos não se deve a uma má distribuiçãoe a uma excessiva concentração de médicos nos gran-des centros, com a consequente depauperação dosmeios rurais?

No "Plano Estratégico para a Formação nas Áreasda Saúde" , pode ler-se:"... a distribuição dos médicos apresenta, em Portugal,duas condicionantes importantes: ...distribuição regio-nal desequilibrada... má distribuição por especialida-des..."

Também no Plano Nacional de Saúde se pode ler:"Relativamente ao pessoal médico, embora o númeronão se afaste da média de habitantes por médico dospaíses europeus, verifica-se uma má distribuição porespecialidade, com carências marcantes nas carreirasde clínica geral e saúde pública, bem como em algumasespecialidades Hospitalares, nomeadamente psiquiatria,anestesia, obstetrícia e pediatria.

A concentração de médicos e enfermeiros nos estabele-cimentos de saúde do litoral, nomeadamente em Lis-boa, Porto e Coimbra, tem conduzido a problemas deescassez destes profissionais nos serviços da extremaperiferia com a consequente dificuldade de resposta àssolicitações das populações que servem."

Tem também sido muito noticiado o envelhecimentoda população médica e anunciada a crise dos anos2016-2018, quando as reformas dos actuais médi-cos atingirem o seu máximo. Com efeito, tal facto éum dado indesmentível (1447 médicos aposenta-dos em 2016 e 2017 e 1283 em 2018). Contudo,com as medidas de aumento de numerus clausustomadas desde o ano de 1997, em nenhum momen-to haverá menos médicos no activo do que actual-mente. Em todos os anos (à excepção de 2016, 2017e 2019), serão colocados no mercado de trabalho(médicos especialistas) mais médicos do que os quese aposentam. Todas estas medidas culminarão em2021, num excedente de 6350 médicos, quandocomparado com os médicos especialistas existentesem 2002. Caso a média europeia de número de mé-dicos se mantenha constante, Portugal ultrapassaráesta média, algures entre 2007 e 2009, ou seja, muito

antes que qualquer medida intempestiva tomadanesta altura possa vir a ter o mínimo efeito.No que diz respeito à má distribuição geográfica con-sideramos que a solução deverá passar pela conti-nuação da aposta no incremento de incentivos quetornam mais aliciante a deslocação dos médicos pararegiões/especialidades mais carenciadas.Apesar de tal esforço, por parte das Faculdades, es-tas não o viram recompensado com as devidas re-formas estruturais e com o investimento neces-sário a tão grandiosa obra: formar os médicos dofuturo. Já em 22 de Março de 1996, o presidente doConselho Directivo da Faculdade de Medicina daUniversidade do Porto, Prof. Doutor Pinto Macha-do, se exprimiu nesse sentido, em carta enviada àministra da Saúde, dizendo que:"As nossas faculdades de medicina não são instituiçõesprivadas: pertencem ao estado que as criou para lhescometer o encargo, de tremenda responsabilidade, daformação geral dos futuros médicos. Ao mesmo estadocabe, pois, o dever indeclinável de as dotar de tudo oque lhes é imprescindível para cumprirem a suanobilíssima missão, para se cumprirem. Este dever é daordem da mais elementar honestidade: seria gravemen-te desonesto que, não as dotando devidamente, o Esta-do lhes atribuísse uma missão impossível!"

Como se vê, passados 7 anos... continua tudo namesma!

Tão grande esforço por parte das Faculdades deMedicina só se traduzirá na prática daqui a 6/8 anos,quando os alunos que então começaram os seuscursos forem já profissionais activos e competen-tes. Até lá, tememos que o Governo continue noseu ímpeto desmesurado de aumentar o número devagas, sem o consequente aumento da qualidade deensino, e que caminhemos, como em outros paísestão próximos de nós para o desemprego. A verifi-car-se tal situação, não só teremos profissionais al-tamente graduados e especializados, compreensivel-mente frustrados, como também estaremos a as-sistir a um assustador e incompreensível desperdí-cio de recursos, sabendo-se o quanto custa formarum médico (cerca de doze mil euros/ano/aluno).

Foram também assinados com todas as faculdadesde medicina, contratos de desenvolvimento, novalor de 150 milhões de euros. Contudo, e apesarde as faculdades de medicina terem cumprido a suaparte, a verdade é que continuam a funcionar nasmesmas instalações que tinham há 20 anos atrás.Caso venha a ser cumprido, permitirá a construçãode novas infra-estruturas, que estarão concluídas(na melhor das hipóteses) daqui a 4/5 anos. Lem-bramos que no ano lectivo de 1997/98 entravamnas faculdades de medicina portuguesas 475 alu-nos e que, devido a sucessivos aumentos entraram

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1050 alunos no corrente ano lectivo (corresponden-do a um aumento de 120% em 7 anos). Entretanto,pede-se às Faculdades que aumentem, ainda maisde imediato, o seu número de alunos.

Até lá, os alunos terão que assistir a aulas teóricasde pé, porque não há lugar para todos, terão aulaspráticas com mais de 15 pessoas em salas construí-das para 8 e travarão lutas napoleónicas para quepossam conquistar o direito de acesso a um micros-cópio... e tudo isto no ciclo básico.

No ciclo clínico será ainda muito pior. Primeiroporque não estão a ser desenvolvidas soluções inte-gradas, quer de agilização do ensino nos hospi-tais, quer da melhoria das próprias instalações equalidade de atendimento ao doente. Segundo por-que não será respeitada a fragilidade do doentecolocado perante grupos de 15, ou mais, alunosávidos por aprender e por executar as manobrasque lhe permitam chegar ao final do curso com al-gum conhecimento de actos médicos essenciais.Terceiro porque a relação aluno/doente não permi-tirá as necessárias oportunidades de aprendizagempor cada aluno de modo a adquirir as capacidadestécnicas e científicas necessárias à futura prática clí-nica.

Mas a formação médica não depende só de estrutu-ras físicas, depende também dos recursos humanosexistentes. Atente-se na dificuldade em garantir re-cursos humanos de qualidade, já sentida pelas fa-culdades. É preciso apostar na formação, em infra-estruturas adequadas e um sistema de educação quepermita a redistribuição dos alunos por centros hos-pitalares afiliados com qualidade acreditada e comreal capacidade de ensino. Deixamos um desafio:como poderão as Faculdades suportar o aumentode vagas, quando se debatem com problemas defalta de espaço, de falta de docentes, de falta definanciamento, de falta de articulação com oshospitais e de um Sistema Nacional de Saúdedesadaptado à realidade da população portugue-sa?

A nível de recursos humanos é ainda fácil de perce-ber as extremas dificuldades com que se deparamas faculdades de medicina, vendo-se obrigadas arecorrer à disponibilidade de docentes voluntários,o que demonstra bem a vulnerabilidade das carrei-ras docentes. Deverá haver um enquadramento le-gal (que poderá incluir uma mais fácil acesso à in-vestigação, alguma recompensa financeira e/ou al-guns benefícios na progressão da carreira médica)de modo a que estes tenham condições para res-ponder da forma mais adequada às exigências dadocência.

A opção a tomar nas Faculdades de Medicina teráobviamente de passar por uma aposta clara e ine-

quívoca na qualidade da formação. As Faculdadesde Medicina, enquanto tal, não são apenas centrosde ensino. São também, por excelência, centros deinvestigação e de prestação de serviços à comunida-de. São, provavelmente um dos sectores da socieda-de civil com maior reconhecimento internacional ecom prestígio, conquistado com muito empenho ededicação de todo o pessoal docente e discente, emcondições muito aquém das desejáveis.

Mas também a nível de formação, a estratégia temsido positiva. Apesar de todos os constrangimentosexistentes, de todas as dificuldades sentidas duran-te a formação médica, de todas as queixas dos uten-tes, de todas as dificuldades subjectivas de falta demédicos e de todos os impedimentos que impedemos médicos portugueses de trabalhar mais e melhor,as estatísticas oficiais da OMS colocam o Sistema deSaúde Português, quando comparada a qualidadedo atendimento com a despesa total na saúde, nummuito honroso 13º lugar.

A opção de permitir uma maior abertura de vagasnas faculdades de Medicina irá levar a dois resulta-dos altamente preocupantes: por um lado a que mé-dicos licenciados (inclusivamente nas faculdade pú-blicas e com o dinheiro de todos os contribuintes),não possam ter a formação pós-graduada necessáriapara a sua qualificação profissional, ou, numa faseposterior ao desemprego médico. Como se sabe, eapesar de todas as semelhanças, a Medicina terá queser encarada como uma profissão diferente de todasas outras e, por isso mesmo, merecedora de um re-gime de excepção. A profissão médica, exige aos seusprofissionais o respeito absoluto pela dignidadehumana, a sublimação do seu doente e o cumpri-mento rigoroso dos mais elevados princípios éticos.A observação destes princípios exige antes de maisuma boa formação médica, incompatível com atransformação das universidades em fábricas de li-cenciaturas. Por outro lado, a experiência dos ou-tros países mostra-nos que o excesso de médicospode fazer perigar a excelência ética e técnica a quenenhuma classe se pode furtar. O desemprego mé-dico é preocupante, não só para a classe médica,mas muito especialmente para a sociedade.

Além do mais, a diminuição da qualidade médicaimplica um aumento dos custos do SNS (está pro-vado que médicos com menor formação pedem maisexames complementares de diagnóstico, referenciammais para outros especialistas e receitam muitas ve-zes tratamentos desnecessários) e, acima de tudo,pior cuidados de saúde para quem deles precisa.

Embora não coloquemos objecções de princípioquanto ao ensino superior privado em Portugal, con-sideramos necessário garantir critérios de rigor e ex-celência na elaboração de qualquer novo curso, prin-

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cipalmente numa área tão sensível como a da medi-cina. A experiência que temos dos outros cursos pri-vados diz-nos que em Portugal não há um controloeficaz da qualidade do ensino ministrado. Julgamosque este problema, que já é preocupante nos outroscursos, é verdadeiramente vital no que respeita àmedicina. Qualquer abertura de novos cursos nestaárea deverá ser rigorosamente acompanhada, deven-do existir para tal, mecanismos de avaliação e decorrecção de eventuais falhas. Só tal garantirá a ma-nutenção da excelência do projecto de forma a as-segurar que no futuro não haja médicos a exercersem as competências necessárias.

No final de década de 70, assistiu-se a um afasta-mento progressivo e justificado entre os cursos deMedicina e Medicina Dentária. As especificidadespróprias de cada uma destas profissões originarama evoluções curriculares adaptadas para cada umadas realidades, levando a que os currículos das Fa-culdades de Medicina Dentária (muito diferentesentre si), sejam completamente distintos dos currí-culos das Faculdades de Medicina. Se até há algunsanos atrás, os currículos dos 3 primeiros anos dalicenciatura em Medicina Dentária teriam algumassemelhanças com os currículos das licenciaturas emMedicina, num passado recente (também devido àentrada em cena das faculdades de Medicina Den-tária privadas), estas semelhanças são actualmentemuito ténues. Desta forma, consideramos impru-dente e insensato a anunciada abertura de vagas paraMedicina especificamente para alunos da licencia-tura de Medicina Dentária, o que só pode traduzirum profundo desconhecimento da realidade doEnsino Superior na Área da Saúde.

Como se tal não fosse suficiente, estas vagas "supra-numerárias" teriam direito ao reconhecimento detodas as disciplinas dos 3 primeiros anos como fei-tas, independentemente do currículo permitir essasequivalências, transitando directamente para o 4º

ano da licenciatura. Isto constituiria uma subversãocompleta de todo o sistema de acesso ao ensino su-perior, em que as oportunidades negadas a qual-quer candidato aos cursos de Medicina seriam da-das aqueles que por qualquer motivo ingressaramnum curso de Medicina Dentária. A justificação destamedida pela existência de um suposto excesso deMédicos Dentistas e o aumento exponencial da for-mação nos últimos anos, além de não ser confirma-do pelos dados oficiais da Organização Mundial deSaúde (42,8 dentistas por 100.000 habitantes emPortugal, contra uma média europeia aproximadade 65 dentistas por 100.000 habitantes), justificaum erro com outro erro e tenta reparar o desequilí-brio criado na profissão de Médico Dentista, vindoa criar um novo desequilíbrio, desta vez na profis-são médica.

Deixamos aqui o nosso alerta para que não se co-metam de novo os mesmos erros e terminamos comas palavras do Prof. Ruy Lourenço, reitor da Facul-dade de Medicina de New Jersey, que diz que: "Asolução não é formar maus médicos" .

Se não quiserem ouvir os milhares de alunos de Me-dicina portugueses, pelo menos tenham a sensatezde ouvir quem tem provas dadas e de decidir combase em informações actualizadas e baseadas na re-alidade das Faculdades de Medicina.

Porto, 10 de Fevereiro de 2004

Pela ANEM

Pedro Lopes (presidente)

1Atlas of Health in Europe, WHO 2003, 99-102.1Anuário Sanitário 2000, Direcção Geral de Saúde.1Plano estratégico para a formação nas áreas da saúde; Relató-rio preparado para os Ministérios da Educação e da Saúde peloencarregado de missão, Prof. Doutor Alberto Amaral, Dezem-bro 2001, 9-23. 1Plano Nacional de Saúde – Orientações es-tratégicas 2004-2010 (disponível em www.dgsaude.pt).

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O Conselho Directivo do Colégio de Medicina Interna da Or-dem dos Médicos analisou o projecto de diploma sobre Inter-nato Médico que mereceu os seguintes reparos e sugestões:

1. O argumento de que a fusão de internatos permitirá redu-zir o hiato temporal entre etapas da formação pós-graduadanão tem a importância que lhe é atribuída; no máximo ga-nham-se 6 meses;2. Mas reconhece-se que o período total de formação ocuparámenos 12 meses;3. O ano profissionalizante, que tantas virtudes formativas tempermitido, ainda não é uma realidade em todas as escolasmédicas portuguesas;4. As administrações regionais de saúde, nas suas condiçõesactuais de estrutura e dinâmica, não têm capacidade para ava-liar as capacidades formativas dos serviços e respectivas ido-neidades (preâmbulo, artigos 8º e 12º); essas funções são per-tença da Ordem dos Médicos;5. As atribuições das administrações regionais de saúde con-signadas no número 1 do art.º 8 poderão colidir com as quesão habitualmente da responsabilidade do D.M.R.S. do Mi-nistério da Saúde;6. Deverá ficar claramente estabelecido que todos os recém-licenciados, após aprovação no ano profissionalizante da li-cenciatura, deverão cumprir o "ano comum" (art.º 4.2), semo qual não será autorizada a prática médica não tutelada deâmbitos público e privado;7. Do articulado depreende-se que esta autorização não estarádependente da efectivação do exame nacional (art.º 13);8. Também não se entende se a prova irá ter lugar no trimes-tre que precede o início do "ano comum" ou no último tri-mestre da etapa de formação inicial;9. A designação de "ano comum" (art.º 4.2) é manifestamenteinfeliz; sugere-se a adopção de "Ano de Prática Comum", de"Ano de Estágio", de "Fase Geral do Internato", ou preferivel-mente de "Estágio de Prática Clínica" ( a lembrar uma desig-nação antiga, mas plena de oportunidade);10. O designado "ano comum" é um período importante paraa maturação de desempenhos, de progressos cognitivos e deaprendizagem dos aspectos não-técnicos da profissão (pro-blemas no contacto com doentes e familiares, na relação comcolegas e outros intervenientes das organizações de saúde, naarte da comunicação, entre outros);11. Assim sendo os estágios desse período de formação básicadeverão efectuar-se em serviços de especialidades ecléticas,onde estejam instituídos programas formais de ensino pós-graduado;12. Deverá ser evitado o figurino actual do Internato Geral,uma superficial, efémera e inútil passagem dos jovens médi-cos por serviços de 5 especialidades;

PROJECTO DE DIPLOMA SOBRE INTERNATO MÉDICOPARECER DO CONSELHO DIRECTIVO DO COLÉGIODA ESPECIALIDADE DE MEDICINA INTERNA

DOCUMENTO 16

13. Antes se entende que aquele "ano inicial" deverá serrepartido por Medicina Interna (8 meses) e Cirurgia Geral(4 meses);14. Não se alcançando o sentido da expressão "fase ini-cial com carácter mais geral" do período de formaçãoespecífica, admite-se que ela possa corresponder ao tron-co comum das disciplinas médicas e cirúrgicas, tal comose encontra em vigor nos países do Norte da Europa,cuja duração varia entre os dois e os três anos;15. No ponto 5 do mesmo art.º 4 sugere-se que a Medi-cina Comunitária, uma designação equívoca, seja inclu-ída no ramo médico de diferenciação (b) A Medicina);16. O número 1 do artigo 17º vem levantar a questão danecessidade e do interesse da dedicação exclusiva (ouresidência médica, na terminologia anglo-saxónica) du-rante a frequência dos internatos; 17. O regime de 42horas semanais proposto (art. 17º .1) deverá ser remu-nerado, em qualquer circunstância, pela tabela de quem,nos moldes actuais, exerce em exclusividade de funções;18. Certamente, pelo que ficou exposto nos pontos 15 e16, e por outros motivos, o decreto-lei 73/90 (carreirasmédicas) deverá ser urgentemente revisto;19. O suplemento de deslocação de 10% (art.º 22.2) éclaramente insuficiente, propondo-se um valor nuncainferior a 30% do índice 100 da escala salarial das car-reiras médicas;20. A ser aprovado, com ou sem modificações, este pro-jecto, o Regulamento do Internato Médico carecerá dereformulação a curto prazo (art.º 23.3);21. A cumprirem-se as disposições do art.º 30, será in-troduzida uma desigualdade clara de condições de aces-so ao internato entre médicos de 3 cursos adjacentes;será conveniente considerar um período de transição de2 anos;22. É inaceitável o fim do "ano comum" previsto paraJaneiro de 2007 (art.º 30.7).O Conselho Directivo, considerando que são urgentesreformulações de todas as etapas do ensino médico, nasfases pré e pós-graduada, entende que este projecto dediploma não é interessante na forma e no conteúdo, nãose prevendo que, por si só, constitua um factor de pro-gresso na formação médica. A abertura à implementa-ção de troncos comuns na fase de aprendizagem das es-pecialidades será a ideia mais positiva, ainda que nãooriginal.O Conselho Directivo do Colégio da Especialidade deMedicina Interna manifesta a sua vontade de colaborarno planeamento e implementação deste ou doutro pro-jecto de modificação do internato médico.

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"ASSUNTO: CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM ORTODONTIA

ANÁLISE DA POSIÇÃO DA ORDEM DOS MÉDICOS DENTISTAS

EXERCÍCIO DE ACTIVIDADES DE ORTODONTIA

Parecer

Foi presente a este Departamento Jurídico diversa documen-tação relativa ao assunto em epígrafe, para análise e emissãode parecer.Tal documentação é constituída, essencialmente, por umacópia da carta dirigida pelo Bastonário da Ordem dos Médi-cos Dentistas ao Reitor da Universidade do Porto, acompa-nhada de parecer emitido pelo Director do Departamento Ju-rídico da dita Ordem e, bem assim, de ofício da Associaçãodos Médicos Estomatologistas Portugueses.Seria útil para a economia do presente parecer termos acessoao programa dos cursos de pós graduação que estão na ori-gem desta questão. No entanto e na falta destes elementos,vamos partir do princípio de que o alegado quanto a estamatéria no parecer da OMD é correcto.Importa, pois, antes de mais, determinar a situação em con-creto, tanto quanto ela transparece dos aludidos elementos.- A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto está a

organizar um curso de pós graduação/mestrado em CirurgiaOrtognática e Ortodontia, destinado exclusivamente a mé-dicos;

- A Ordem dos Médicos Dentistas, ao tomar conhecimentodos aludidos cursos, manifestou-se no sentido de que nãose trata de um curso, mas antes de dois, já que serão conce-didos dois diplomas distintos.

- E, no que concerne ao curso de Ortodontia, a posição daOMD é a de que o acesso à formação na área de especialida-de de ortodontia depende da prévia obtenção de diplomacertificado ou outro título de Médico Dentista.

- Como fundamento para esta posição é invocado o dispostono art. 2.º da Directiva 78/687/CEE.

- Acrescenta, ainda, que o uso dos títulos de formação nãopode ser confundível com os títulos profissionais, pelo queo uso de um diploma de especialização em ortodontia (que,segundo se refere, será concedido a quem conclua a pós gra-duação) será, violador dos art. 8.º e 17.º da Directiva 78/686/CEE e art. 4.º do D.L. 327/87.

- Termina considerando que, face às ditas ilegalidades, se ocurso for efectivamente aprovado, será apresentada queixa àComissão Europeia.

Apreciemos, agora, se a posição defendida pela OMD tem al-guma sustentação.Para tanto e antes de mais, vejamos o teor dos normativoscitados.O art. 2.º da Directiva 78/687/CEE dispõe que:1. Os Estados-membros velarão por que a formação que conduz àobtenção de um diploma, certificado ou outro título de dentistaespecialista satisfaça, pelo menos, as seguintes condições: (Subli-nhados nossos.)

a) Pressuponha a realização completa e com êxito de cincoanos de estudos teóricos e práticos a tempo inteiro no âmbitodo ciclo de formação previsto no art. 1.º, ou a posse dos do-cumentos referidos no art. 7.º da Directiva 78/686/CEE;b) Inclua um ensino teórico e prático;c) Seja efectuada a tempo inteiro durante, pelo menos, trêsanos e sob o controlo das autoridades ou organismos compe-tentes;d) Seja efectuada num centro universitário, num centro desaúde, de ensino e de investigação ou, eventualmente, numestabelecimento de saúde reconhecido para o efeito pelasautoridades ou organismos competentes;e) Inclua a participação pessoal do dentista candidato a es-pecialista na actividade e nas responsabilidades dos serviçosem causa.2. Os Estados-Membros farão depender a concessão de umdiploma, certificado ou outro titulo de dentista especialistada posse de um dos diplomas, certificados ou outros títulosde dentista referidos no art. 1.º ou dos documentos referidosno n.º 1 do art. 7.º da Directiva 78/686/CEE. (Sublinhadosnossos).3. Os Estados-Membros designarão, no prazo fixado no art.8.º, as autoridades ou organismos competentes para a con-cessão dos diplomas, certificados e outros títulos previstos non.º 1.4. Os Estados-Membros podem derrogar ao disposto na alí-nea a) do n.º 1. Os beneficiários de tal derrogação não po-dem invocar o art. 4.° da Directiva 78/686/CEE.Por seu turno, o art. 8.º da Directiva 78/686/CEE dispõeque:1. Sem prejuízo do disposto no art. 17.º, os Estados-mem-bros de acolhimento velarão por que seja reconhecido aosnacionais dos Estados-Membros que preencham as condi-ções fixadas nos art. 2.º, 4.º, 7.º e 19.º o direito a usarem orespectivo título de formação, desde que não seja idêntico aotítulo profissional, e, eventualmente, a sua abreviatura, doEstado-Membro de origem ou de proveniência, na língua desteEstado. Os Estados-membros de acolhimento podem exigirque esse titulo seja seguido do nome e local do estabeleci-mento ou do júri que o concedeu.2. Quando o título de formação do Estado-membro de ori-gem ou de proveniência puder ser confundido, no Estado-membro de acolhimento, com qualquer título que exija, nes-te Estado, formação complementar não obtida pelo interes-sado, o Estado-membro de acolhimento pode exigir que aqueleuse o respectivo titulo de formação do Estado-membro deorigem ou de proveniência em forma adequada, a indicarpelo Estado-membro de acolhimento.E o art. 17.º da mesma Directiva 78/686 estabelece que:1. Quando, no Estado-membro de acolhimento, estiver regu-lamentado o uso do titulo profissional relativo a uma dasactividades referidas no art. 1.º, os nacionais dos outros Es-

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ORTODONTIAORGANIZADO PELA FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO

POSIÇÃO DA ORDEM DOS MÉDICOS E ANÁLISE À PO-SIÇÃO DA ORDEM DOS MÉDICOS DENTISTAS

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tados-membros que preencham as condições fixadas no art. 2.º, non.º 1 do art. 7.º e no art. 19.º, usarão o título profissional do Estado-membro de acolhimento que, neste Estado, corresponda àquelas con-dições de formação e utilizarão a sua abreviatura.2. O n.º 1 é igualmente aplicável ao uso do título de dentista especia-lista pelas pessoas que preencham as condições fixadas, respectiva-mente, no art. 4.º e no n.º 2 do art. 7.º.Dos preceitos ora transcritos resulta claro, em nosso entender,que a interpretação efectuada pela OMD é, no mínimo, tenden-ciosa.Na verdade, a OMD esquece a existência da Directiva 93/16/CE(consideradas as subsequentes alterações), da qual resulta quehá diversas especialidades médicas que se dedicam à prevençãoe tratamento das doenças da boca, dentes e estruturas anexas,ou sejam, a estomatologia e a cirurgia maxilo-facial – apenaspara referir as duas que existem em Portugal.Ora, existindo legislação comunitária que prevê o reconhecimentode diplomas, certificados e outros títulos quer de médicos, querde médicos dentistas, e respectivas especialidades, sendo queexistem especialidades médicas que se dedicam ao tratamentoda boca, dentes e estruturas anexas, não vemos que se possaconcluir que os licenciados em medicina não possam ter acessoa formação na área da ortodontia/ortodôncia.De resto, se assim fosse, teríamos de concluir pela ilegalidadedos programas de formação do internato complementar deestomatologia e, bem assim, de cirurgia maxilo-facial, na medi-da em que prevêem a formação na predita área – vide a Port.238/97, de 04.04 (estomatologia) e a Port. 337/97, de 17.05(cirurgia maxilo-facial).Assim, como primeira conclusão afirma-se que o acesso a for-mação na área da ortodontia/ortodôncia não está dependente daobtenção de um diploma de licenciado em medicina dentária.Questão diversa é o uso do título de "dentista especialista emortodontia".Na verdade e como aliás resulta da própria designação do titulo,esta especialidade é própria dos médicos dentistas, em confor-midade com o previsto nas Directivas 78/686 e 78/687.Consequentemente, a formação adequada para a obtenção doaludido titulo está restrita aos que possuam a formação de basede dentista, que em Portugal é a licenciatura em Medicina Den-tária.Ou seja, apenas está limitado o acesso à formação para aobtenção do título de dentista especialista em ortodontia, oqual é exclusivo dos médicos dentistas.Mas tal não significa que apenas estes profissionais possam exer-cer as técnicas próprias da ortodontia/ortodôncia, pois, como jáficou aflorado supra, quer os estomatologistas, quer os cirurgi-ões maxilo-faciais têm formação específica e diferenciada nestamesma área e, por conseguinte, estão especialmente habilitadosa praticar os actos respectivos.Mais: de acordo com o estabelecido na Portaria n.º 765/78, de23 de Dezembro, a ortodontia é uma actividade que tambémpode ser praticada por odontologistas – vide n.º 1 do art. 3.º daLei 4/99, de 27 de Janeiro.É, pois, absurdo pensar que estamos perante actos próprios eexclusivos dos médicos dentistas e uma tal interpretação nãotem qualquer apoio na legislação vigente, quer de nível comuni-tário, quer de âmbito nacional.Nesta medida e como segunda conclusão, afirma-se que a acti-

vidade na área da ortodontia pode ser exercida por mé-dicos, médicos dentistas e, bem assim, por odontologis-tas.No que respeita ao diploma que será emitido pela Fa-culdade de Medicina do Porto aos médicos que frequen-tem a pós graduação em Ortodontia. reconhece-se, con-tudo, que se a sua designação é a de "especialização emOrtodontia", a mesma é confundível com o titulo dedentista especialista em ortodontia cuja utilização ape-nas pode ser feita por médicos dentistas.Deste modo, aconselha-se a que de tal diploma não constequalquer referência a "especialização" ou expressão se-melhante.Assim e em conclusão:– As Directivas comunitárias sectoriais, destinadas a

facilitar o exercício efectivo do direito de estabele-cimento e da livre prestação de serviços, são, noque ao caso interessa, a Directiva 93/16/CE, relati-va aos títulos de médico e de médico especialista eas Directivas 78/686/CEE e 78/687/CEE, relativasaos títulos de dentista e de dentista especialista;

– Ora, as Directivas relativas à actividade de dentis-ta não restringem as actividades próprias do trata-mento da boca, dentes e estruturas anexas a estesprofissionais, mas apenas e tão só o uso dos res-pectivos títulos de dentista especialista;

– Na verdade, da Directiva 93/16/CE (considerandoas alterações posteriores, inclusive da Directiva2001/19) resulta a existência de especialidadesmédicas que se dedicam à mesma área de activida-de, embora com títulos distintos e, bem assim, for-mação também diversa.

– Do exposto resulta que a legislação comunitáriainvocada pela OMD não pode ser interpretada nosentido de que a formação na área da ortodontia érestrita aos médicos dentistas.

– Aquilo que se retira dos normativos invocados éque o acesso à formação que conduz à obtenção dotitulo de dentista especialista em ortodontia estácondicionado à prévia obtenção do título de médi-co dentista.

– Ou seja, qualquer outra formação, de nível acadé-mico ou de outro âmbito, em ortodontia pode seracedida por médicos ou até por odontologistas.

– E tanto assim é que os programas de formação dointernato complementar de estomatologia e de ci-rurgia maxilo-facial prevêem, especificamente, a for-mação na dita área.

– Do exposto resulta que nada obsta a que a Faculda-de de Medicina da Universidade do Porto organizee ponha em funcionamento um curso de pós gra-duação ou de mestrado em ortodontia, cujo acessoseja restrito a médicos.

– Todavia, o diploma que for emitido a quem con-clua com aproveitamento o aludido curso não devemencionar que se trata de um curso de «especiali-zação» em ortodontia, pois tal diploma poderá serconfundido com o título de dentista especialistapróprio dos médicos dentistas."

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ASSUNTO: CONSULTAS MÉDICAS POR VIA TE-LEFÓNICA

Ex.mo(a) Colega:

O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médi-cos tem vindo a receber informações díspares, maisou menos fundamentadas, da existência de activida-des promocionais, mais ou menos organizadas, devárias entidades, com vista ao aliciamento de médi-cos para a realização de consultas por via telefónica.Aquelas actividades promocionais poderão estar a serfundamentadas em alguns protocolos (de duvidosalegalidade) e a angariação de médicos para tais práti-cas pode revestir-se quer da oferta de créditos em di-nheiro através de chamadas de valor acrescentado,quer através de créditos em chamadas telefónicas, querainda através da oferta de telemóveis mediante a ce-lebração de contratos de permanência para a sua uti-lização.

Sem prejuízo das conclusões que vierem a constardos pareceres já solicitados à Procuradoria-geralda República e à Direcção Geral das Contribui-ções e Impostos, o CRN da Ordem dos Médicosleva ao seu conhecimento que:

1 – O Conselho Nacional Executivo aprovou, em 13de Março de 2001, uma deliberação referente a "Acon-selhamento Telefónico" cujo aspecto essencial se trans-creve: "Assim, uma opinião expressa pelo telefonea propósito de uma descrição de sintomas feitapelo próprio doente ou por quem o representa,sem prévia observação do doente, não correspon-de a um acto médico e como tal não envolve res-ponsabilidade civil ou criminal do médico".

2 – No mesmo sentido, deliberou o Conselho Nacio-nal Executivo da Ordem dos Médico, em 30 de Se-tembro de 2003, atendendo a um parecer do Conse-lho Nacional de Ética e Deontologia Médicas que: "oaconselhamento médico por chamadas telefónicasnão pode ser considerado um acto médico e, por-tanto, não é susceptível de qualquer tipo de co-brança".

3 – Por outro lado, estabelece o número artigo 9º doDecreto-Lei 100/94, de 19 de Abril, com a redacçãointroduzida pelo Decreto-Lei 48/99, de 16 de Feve-reiro, que "é proibido, ao titular da autorização nomercado, bem como à empresa responsável pelapromoção do medicamento, dar ou prometer, di-

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REALIZAÇÃO DE CONSULTAS MÉDICAS POR VIA TELEFÓNICAESCLARECIMENTO ENVIADO AOS MÉDICOS RELATI-VAMENTE ÀS SUAS IMPLICAÇÕES DEONTOLÓGICAS,DISCIPLINARES E PENAIS

DOCUMENTO 18(05-01-04)

recta ou indirectamente, a pessoas habilitadas aprescrever ou a dispensar medicamentos, prémi-os, ofertas, benefícios pecuniários ou em espécie,excepto quando se trate de objectos relacionadoscom a prática da medicina ou da farmácia e devalor intrínseco insignificante", bem como que: "éproibido às pessoas habilitadas a prescrever e adispensar medicamentos pedir ou aceitar, directaou indirectamente, prémios, ofertas, benefíciospecuniários ou em espécie, por parte do titular daautorização no mercado e da empresa responsá-vel pela promoção do medicamento, ainda que osmesmos sejam recebidos no estrangeiro ou ao abri-go de legislação estrangeira".

4 – Acresce ainda que, nos termos do Protocolo cele-brado entre a Ordem dos Médicos e a APIFARMA(Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica),publicado na Revista da Ordem dos Médicos de 22de Julho de 2002, se entende por valor intrínsecoinsignificante, o valor de 35 Euros.

5 – Neste contexto, e à luz da conjunção dos princí-pios deontológicos e legais atrás enunciados, alertam-se os médicos para as consequências disciplinares epenais que a violação daqueles princípios poderá acar-retar aos infractores.

Com os melhores cumprimentos

O Presidente do Conselho Regional

(Dr. Miguel Leão)

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Ex.mo(a) Colega:

Em 11 de Junho de 2003 o Conselho Regional do Norte da Ordemdos Médicos solicitou ao Ex.mo Senhor Director Geral dos Impostosum parecer vinculativo destinado a caracterizar as implicações fiscaisda adesão dos médicos a um contrato de número de telemóvel profis-sional com a Empresa Netsaúde.Após uma diligência formal realizada em Dezembro junto de Sua Ex-celência a Senhora Ministra de Estado e das Finanças foi recebida daDirecção de Serviços do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Sin-gulares a resposta que a seguir se transcreve e cujos aspectos essenci-ais se encontram sublinhados.

«ASSUNTO: Enquadramento do serviço netmédico.

Em resposta ao pedido de informação apresentado por V. Exa. e em confor-midade com o despacho do Sr. Director-Geral, exarado em 04/02/11, nainformação n.º 106/04, tenho a honra de informar que:1. Tendo por base os pressupostos que a seguir se indicam• O serviço netmédico visa a prestação de serviços aos médicos, a

disponibilização de um número de contacto preferencial para atendimen-to dos pacientes e a disponibilização de informação de natureza médica.

• Os médicos ao aderirem ao contrato netmédico celebrado com a empresaNetsaúde passam a dispor de uma linha preferencial no operador Vodafoneà qual é atribuído um número profissional.

• Por cada chamada feita para o número profissional do médico (que sóserve para receber chamadas), é pago pelos doentes um custo de cerca deEuro 0,60/minuto, recebendo o médico um crédito de Euro 0,12, por igualperíodo de tempo, atribuído pela Vodafone.

• Os créditos atribuídos aos médicos servem para compensar a facturaVodafone relativa às chamadas efectuadas pelo número pessoal do médi-co. Subsistindo crédito a favor do médico após a referida compensação, aNetsaúde processá-lo-á a favor do médico.

• O pagamento (atribuição do crédito) ao médico é feito pela Vodafone e éfunção do número e duração das chamadas feitas para o número de tele-fone profissional atribuído pela Vodafone (só em caso de excesso o paga-mento é feito pela Netsaúde).

2. O pagamento de Euro 0,12/minuto aos médicos não constitui re-tribuição de um serviço médico mas sim a retribuição pela angariaçãode chamadas para a rede Vodafone para números cujo custo de cha-mada é superior ao normal (cerca de Euro 0,60/minuto).3. Nesta medida, aquela retribuição aos médicos assume a naturezade uma comissão, sujeita a IRS pela categoria B (rendimentos em-presariais e profissionais) e a retenção na fonte de acordo com asregras estabelecidas para este tipo de rendimentos, a efectuar nomomento do respectivo pagamento ou colocação à disposição.4. De todas as importâncias recebidas é obrigatório dar quitação,nos termos do art.º 787º do Código Civil.5. No caso concreto, porque se trata de um serviço de telecomunica-ções, para as pessoas que telefonam para o número profissional, aquitação é dada pela factura/aviso de pagamento emitida pela ope-radora telefónica e correspondente recibo de pagamento ou talãoprocessado pelas caixas multibanco.

INFORMAÇÃO DO MINISTÉRIO DAS FINANÇAS RELATIVAMENTE ÀS IMPLI-CAÇÕES FISCAIS DA ADESÃO DOS MÉDICOS A UM CONTRATO DE NÚME-RO TELEMÓVEL PROFISSIONAL COM A EMPRESA NET SAÚDE – OFICIODIRIGIDO AOS MÉDICOS INSCRITOS NA SRNOM

DOCUMENTO 19

6. Relativamente às importâncias creditadas/pagas aos mé-dicos pelas chamadas que foram efectuadas para os respec-tivos números, deve das mesmas ser dada quitação pelosmédicos à operadora ou à Netsaúde, conforme estas sejampagas por uma ou por outra entidade, em conformidadecom o previsto no art.º 115.º do Código do IRS.7. O custo da chamada efectuada pelo doente para o núme-ro profissional da rede Vodafone não constitui despesa desaúde, tal como o não é o custo das chamadas que qualquerdoente faça para o consultório ou domicílio do seu médico.

Com os melhores cumprimentosA Directora de Serviços,(Irene Antunes Abreu)»

Assim, o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médi-cosatenta a informação anterior relativamente à realização deconsultas médicas por via telefónica e a que agora se acres-centa, vem alertar todos os Colegas para os seguintes aspec-tos essenciais desta questão:a) Nos termos da deliberação do Conselho Nacional Exe-cutivo, fundamentada no parecer do Conselho Nacionalde Ética e Deontologia Médicas, o aconselhamento médi-co por chamadas telefónicas não pode ser consideradoum acto médico e, portanto, não é susceptível de cobran-ça.b) Conforma consta da informação da Direcção Geral dosImpostos o pagamento de Euro 0,12/minuto aos médicosnão constitui retribuição de um serviço médico mas sima retribuição pela angariação de chamadas para a redeVodafone para números cujo custo de chamada é superi-or ao normal (cerca de Euro 0,60/minuto).c) Reduzida a relação contratual entre qualquer médicoe a empresa Netsaúde a uma função de angariação dechamadas para uma rede telefónica e sendo os créditos/rendimentos obtidos por aquela angariação de chamadassujeitos a IRS pela categoria B (rendimentos empresari-ais e profissionais) é vedada aos médicos em dedicaçãoexclusiva aquela angariação. Nestes termos os médicosque violem esta norma legal incorrem em responsabili-dade disciplinar perante o Ministério da Saúde.d) Tendo o conta o expresso nos pontos 3, 4, 5 e 6 dainformação da Direcção Geral dos Impostos deverão osmédicos eventualmente aderentes àquele contrato cum-prir escrupulosamente aquelas determinações visto quese o não fizerem estarão a incorrer em crime de evasãofiscal.e) O cumprimento por parte dos médicos das suas obri-gações fiscais, para além de ser um dever cívico, impedi-rá que junto da opinião pública se possam gerar especu-lações inadequadas e injustas quanto a alegadas evasõesfiscais.

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1 – Princípios gerais relativos à prescrição, comparticipa-ção e dispensa de medicamentos

O Despacho 21930/2003 visa modificar as condições de pres-crição e de dispensa de medicamentos até agora prescritos edispensados no âmbito hospitalar ou com comparticipaçãodiferenciada, conforme o local de prescrição.

Sem prejuízo de uma análise mais profunda, dependente deconsulta sistemática aos seus órgãos técnico-científicos, en-tende a Ordem dos Médicos que a melhoria de acesso dosdoentes a esses medicamentos bem como a uniformização dasrespectivas comparticipações, são iniciativas louváveis mas quedevem obedecer aos seguintes princípios fundamentais:

a) a melhoria do acesso na dispensa de medicamentos pressu-põe uma prévia melhoria do acesso ao nível da prescriçãomédica;

b) o alargamento da dispensa de medicamentos às farmáciasde oficina não pode por em causa a farmacovigilância, amonitorização e a avaliação da eficácia terapêutica realiza-das pelos médicos assistentes dos doentes nem criar con-dições para falências terapêuticas;

c) o alargamento da dispensa de certos medicamentos às far-mácias de oficina não pode por em causa a saúde públicaatravés da amplificação ou da criação de resistências a agen-tes bacterianos ou virais ou até a utilização indevidamentegeneralizada de medicamentos com indicações terapêuti-cas particularmente específicas;

d) a melhoria de acesso ao nível da prescrição impõe que osmedicamentos em análise possam ser prescritos, pelosmédicos habilitados ao exercício profissional autónomo;

e) a comparticipação dos medicamentos agora em análise deveser uniforme, garantindo a universalidade e a equidade dasfórmulas de tratamento dos doentes, o que significa queaquela não pode estar condicionada à qualificação profissi-onal do médico prescritor, ao local da prescrição ou ao lo-cal da dispensa;

f) o alargamento da dispensa de alguns medicamentos às far-mácias de oficina não pode acarretar qualquer aumento deencargos para os doentes consumidores.

2 – Medicamentos considerados como de dispensa exclu-siva em farmácias hospitalares

Verificados os pressupostos atrás enunciados e considerandocomo referência a listagem de patologias e especialidades far-macêuticas anexas à documentação fornecida na reunião dopassado dia 16 de Janeiro, a Ordem dos Médicos consideraque as seguintes especialidades farmacêuticas devem serexclusivamente dispensadas nas farmácias hospitalares:

– Darbepoetina alfa, Epoetina alfa, Epoetina beta e ferro paraadministração intravenosa (medicamentos utilizados no trata-mento de insuficientes renais crónicos e transplantados renais).

– Zidovudina, Didanosina, Zalcitabina, Medicamentos incluídosno Anexo ao Despacho 280/96 de 6/9 (medicamentos utiliza-

DISPENSA DE MEDICAMENTOS EM FARMÁCIAS DE OFICINAE REGIMES DE COMPARTICIPAÇÃO

POSIÇÃO DA ORDEM DOS MÉDICOSDOCUMENTO 20

dos no tratamento de indivíduos infectados pelo VIH).– Betaferon, Avonex, Rebif, Copaxone (medicamentos uti-

lizados no tratamento da esclerose múltipla).– Felbamato (medicamento utilizado no tratamento do sín-

droma de Lennox-Gastaut).– Micofenolato de mofetil (medicamento utilizado na pro-

filaxia da rejeição aguda do transplante renal e do trans-plante cardíaco alogénico).

– Ribavirina e Peginterferão (medicamentos utilizados emdoentes com Hepatite C).

– Anti-hemofílicos, antineoplásicos, tuberculoestáticos eanti-lepróticos.

3 – Medicamentos considerados como dispensáveisem farmácias de oficina

Verificados os pressupostos atrás enunciados e conside-rando como referência a listagem de patologias e especi-alidades farmacêuticas anexas à documentação forneci-da na reunião do passado dia 16 de Janeiro, a Ordemdos Médicos considera que as seguintes especialida-des farmacêuticas poderão ser também dispensadasnas farmácias de oficina:

– Medicamentos necessários ao tratamento de doentes comfibrose quística.NOTA: MEDICAMENTOS JÁ DISPENSADOS EM FARMÁCIAS DEOFICINA MAS COM COMPARTICIPAÇÃO ESPECIAL SE DISPEN-

SADOS EM FARMÁCIAS HOSPITALARES.

– Medicamentos constantes do Anexo ao Despacho 3/91de 8/2, do Despacho 11619/2003 de 22/5 e do Anexo IIda Portaria 743/93 de 16/8 (medicamentos utilizados notratamento de insuficientes renais crónicos e transplan-tados renais).NOTA: MEDICAMENTOS JÁ DISPENSADOS EM FARMÁCIAS DEOFICINA MAS COM COMPARTICIPAÇÃO ESPECIAL SE DISPEN-SADOS EM FARMÁCIAS HOSPITALARES.

– Genotropin, Humanotrope, Salzen, Norditropin,Nutropinaq, Zomacton (hormonas de crescimento utili-zadas em doentes com deficiência de hormona de cresci-mento e no síndroma de Turner).

– Riluzol (medicamento utilizado no tratamento da escle-rose lateral amiotrófica).

– Medicação antiespástica, antidepresssiva, indutora dosono e vitamínica (medicamentos utilizados em doentescom paraplegias espásticas familiares e ataxiascerebelosas hereditárias).NOTA: MEDICAMENTOS JÁ DISPENSADOS EM FARMÁCIAS DEOFICINA MAS COM COMPARTICIPAÇÃO ESPECIAL SE DISPEN-SADOS EM FARMÁCIAS HOSPITALARES.

– Sandostatina, Sandostatina Lar e Somatulina LP (medi-camentos utilizados em doentes acromegálicos).

– Hormonas hipofisárias do crescimento.NOTA: MEDICAMENTOS JÁ DISPENSADOS EM FARMÁCIAS DEOFICINA MAS COM COMPARTICIPAÇÃO ESPECIAL SE DISPEN-SADOS EM FARMÁCIAS HOSPITALARES.

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3 e 4 de Maio de2004

Alf ndega do P ortoOrganiza o: Serviço de Cirurgia Bdo Hospital de S. João/Faculdade deMedicina do PortoDirector: Prof. Doutor CardosoOliveira

Programa (resumo):• Desenvolvimentos mais recentes da

investigação científica emOncobiologia e em Genética e osavanços nas Técnicas de Diagnósticoe na Terapêutica da patologia doesófago, da junção esófago-gástrica edo estômago.

• Cuidados de enfermagem nos doentescirúrgicos: “A pessoa e a doençamaligna esófago-gástrica”.

• Exposição dedicada ao contributo daimagem na transmissão da técnicacirúrgica (Prof. Amélia Ferraz, doMuseu de História de Medicina daFaculdade de Medicina do Porto).

• (após a Reunião) Curso Prático deCirurgia Experimental, presidido peloProf. Carlos Ballesta López, em queserão abordadas diversas técnicas deplastia do esófago e do estômago porlaparoscopia.

Secret rio -Geral: Prof. DoutorAmadeu PimentaServiço de Cirurgia B, Hospital de S.João / Faculdade de Medicina doPortohttp://cirurgia-b.med.up.ptSecretariado: The House of EventsRua Engº Frederico Ulrich, 26504470-605 Moreira da MaiaTel.: 22 940 82 84 Fax: 22 940 82 82e-mail: [email protected]

15 de Maio de 2004

Casa do M dico — PortoOrganiza o: Unidade deNeurofisiologia – Hospital de S. João(Coordenadora: Dra. Georgina deSousa)

Programa (resumo):• Monitorização EEG nas UCIs e

Serviço de Urgência• Monitorização EEG-Poligráfica nas

UCIs Neonatais• Monitorização Neurofisiológica no

Bloco Operatório• Monitorização Neurofisiológica na

Cirurgia Raquidiana• Novas Técnicas de Imagem Anatómi-

ca e Funcional integradas comMonitorização Neurofisiológica noBloco Operatório

Secret rio: José Augusto MendesRibeiroUnidade de NeurofisiologiaHospital de S. JoãoAlameda Prof. Hernâni Monteiro4202-451 PortoTelefone: 225512172e-mail:[email protected]:www.consultorio.info/simposio

Local de realiza o:Ordem dos Médicos - PortoDestinat rios:Médicos

Curso aconselhado pelo Colégiode Patologia Clínica

N… de formandos: 12Dura o: 21 horas21 de Maio das 16h às 21h;22 de Maio das 9h às 14h;28 de Maio das 15h às 21h;29 de Maio das 9h às 14h

PROGRAMA (resumo):• Enquadramento legislativo• Conceitos fundamentais sobre

Segurança, Higiene e Saúde noTrabalho (SHST)

• Riscos associados aos Laboratórios• Implementação das Boas Práticas

de Laboratório• Acidentes laboratoriais e processos

gerais de descontaminação• Prevenção de acidentes laboratori-

ais. Medidas correctivas

Departamento Forma o:Ordem dos M dicosAv. Almirante Gago Coutinho, nº 1511749-084 LisboaTel.: 218427100Fax 218427101

IV REUNIÃOINTERNACIONAL DEACTUALIZAÇÃO EMCIRURGIA DOESÓFAGO E DOESTÔMAGO

1º SIMPÓSIO DAUNIDADE DENEUROFISIOLOGIA DOHOSPITAL DES. JOÃO

MONITORIZAÇÃONEUROFISIOLÓGICA NOSCUIDADOS INTENSIVOS EBLOCO OPERATÓRIO

CURSO DE SEGURANÇAE GESTÃO EMRESÍDUOS DELABORATÓRIO

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Instituto de Ci ncias Biom dicas deAbel SalazarUniversidade do Porto

Sociedade Portuguesa de AcupuncturaFaculdade de Medicina - Universidade de Santiagode CompostelaDirector: Dr. Jorge Gonçalves (UP)Coordenador Cient fico: Dr. Fernando Salgado (USC)Docentes (10): Médicos licenciados pelas Universidades doPorto, Coimbra, Lisboa, Santiago de Compostela, Barcelona,Saragoça, Pekin e Nanjing.

Destinat rios: Licenciados em Medicina inscritos na OMCandidaturas: 3 de Maio a 14 de JunhoSelec o de candidatos: 15 a 20 de JunhoInscri es: 21 de Junho a 10 de SetembroPropina: 2.400 EurosN.… de vagas: 25Dura o: 300 horas (teóricas e práticas)Calend rio: início em 8 de OutubroHor rios: sextas-feiras, sábados e domingosLocal: ICBAS - Pós graduações

O programa do Curso baseia-se no modelo aprovado pelaOrdem dos Médicos para acesso à competência em Acupunc-tura.Informa es e Inscri es:Secretaria de Alunos do ICBASLargo Abel Salazar, 24099-003 PortoTel.: 222062211Fax: 222062232

20 e 21 de Maio

Semin rio do Vilar — PortoOrganiza o: UCIP do HGSA

Secretariado Administrativo: Acrópole · Rua deGondarém, 956 - r/c · 4150-375 PortoTel: 226199680 | Fax: 226199683 · [email protected] na UCIP do HGSA: Nazaré LeiteHospital Sto. António · Largo Prof. Abel Salazar· 4099-001 PortoTel: 222 077 500 | Fax: 222 009 483 · [email protected]

PROGRAMA (grandes temas):• Da Evidência à Experiência• Das recomendações à prática - Um desafio às Administrações• O estado da arte – Infecções graves• O estado da arte – Trombólise e anti-coagulação• O estado da arte – Controlo metabólico no doente crítico• Prevenção em cuidados intensivos – Meta-análise na prática

clínica• Qualidade de Vida após cuidados intensivos• Recursos e Qualidade em cuidados intensivos

As Jornadas serão precedidas (dias 18 e 19 de Maio, também noSeminário do Vilar) de cinco cursos delineados em colaboração coma Sociedade Europeia de Cuidados Intensivos (ESICM) e baseados noseu modelo de formação conhecido pelo nome de PACT (Patient-Centred Acute Core Training), tendo por temas:

– “TCE no palitraumatizado”. Directora Dra. Ernestina Gomes– “Sépsis e infecção grave”. Director Dr. José Artur Paiva– “Insuficiência respiratória e princípios da ventilação mecânica”.

Directora Dra. Irene Aragão– “Sedação no doente crítico”. Directora Dra. Elizabete Neutel– “Nutrição no doente crítico”. Director Dr. Paulo Martins

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JORNADAS DE MEDICINA INTEN-SIVA DA PRIMAVERA 2004DA EVIDÊNCIA À EXPERIÊNCIA

2º CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EMACUPUNCTURA

CENTRO DE CULTURA E CONGRESSOSREUNIÕES CIENTÍFICAS

• 3 a 5 Mar – Jornadas de Ciências Dentárias do Norte.• 3 a 6, 12 e 13 a 26 e 27 Mar – Curso Master In Business Strategy II

2004.• 4 a 6 Mar – Reunião do Instituto de Nefrologia – 1º Curso de Pós-

Graduação em Terapêuticas de Suporte Renal.• 4 Mar – 1ª Reunião de Cirurgia Refractiva.• 9 Mar – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvolvi-

mento Cardiovascular da Universidade do Porto.• 12 Mar – Palestra: “Sexualidade – Projecto de Vida”.• 13 e 14 Mar – Reunião do Grupo de Trabalho da Doença Inflamatória do

Intestino - ESPGHAN.• 20 Mar – Reunião do Grupo de Fotobiologia da Sociedade Portuguesa de

Dermatologia e Venerologia.• 26 Mar – Reunião Inter-Hospitalar do Norte | Pediatria.• 27 Mar – Assembleia Geral do Colégio de Medicina Geral e Familiar.• 27 Mar – Reunião da Associação Portuguesa do Doente com Imuno-

Deficiência Primária.

ACONTECEU...

• 8 a 10 e 22 a 24 Jan – Reunião do Instituto de Nefrologia – 1º Curso de Pós-Graduação em Terapêuticas de Suporte Renal.

• 13 Jan – Reunião Científica da Unidade de Investigação e DesenvolvimentoCardiovascular da Universidade do Porto.

• 17 Jan – Jornadas de Medicina Intensiva da Primavera – H.S.A.• 17 Jan – Jornadas de Medicina Subaquática – Federação Portuguesa de

Actividades Subaquáticas.• 20 Jan – Reuniões Científicas da Unidade de Investigação da Faculdade de

Medicina do Porto.• 31 Jan – Jornadas de Ortopedia da Criança do Centro Hospitalar de Vila

Nova de Gaia.• 6 Fev – Simpósio sobre Riscos Profissionais [Organização do CRNOM].• 6 e 7 Fev – Reunião do Instituto de Nefrologia – 1º Curso de Pós-Graduação

em Terapêuticas de Suporte Renal.• 10 Fev – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvolvimento

Cardiovascular da Universidade do Porto.• 14 Fev – Congresso de Radiologia [Instituto de Radiologia Dr. Pinto Leite].

Page 70: 18 - nortemedico.ptnortemedico.pt/Revistas/NM18.pdf · Miguel Leão, presidente do CRNOM Política de Saúde 4 Limitar a aplicação de técnicas é prejudicar os doentes Prof. Alberto

VAI ACONTECER...REUNIÕES CIENTÍFICAS

• 1 a 3 Abr – 5º Simpósio da Fundação Bial.• 13 Abr – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvolvimento

Cardiovascular da Universidade do Porto.• 2 e 3, 16 e 17, 23 e 24 Abr – Curso Master In Business Strategy II 2004.• 24 Abr – Congresso Ressonância Magnética Fetal.• 30 Abr – Colóquio da Associação Portuguesa de Deficientes.• 6 a 8 Mai – Reunião do Instituto de Nefrologia – 1º Curso de Pós-Graduação em

Terapêuticas de Suporte Renal.• 7 e 8, 14 e 15, 21 e 22, 28 e 29 Mai – Curso Master In Business Strategy II 2004.• 7 e 8 Mai – XIX Jornadas de Ortopedia [H.S.J].• 11 Mai – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvolvimento

Cardiovascular da Universidade do Porto.• 15 Mai – Simpósio sobre Monitorização Neurofisiológica nos Cuidados

Intensivos e Bloco Operatório.• 28 Mai – Reunião Inter-Hospitalar do Norte | Pediatria.• 08 Jun – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvolvimento

Cardiovascular da Universidade do Porto.• 4 e 5, 18 e 19 Jun – Curso Master In Business Strategy II 2004.

REUNIÕES ORGANIZADAS PELO CRNOM• 8 a 10 e 29 a 31 Jan – Curso de Pós-Graduação “Gestão para Médicos”.

[Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].• 30 Jan – Reunião para Médicos do Internato Complementar.

Organização da FNAM,SIM, SMN e SRNOM.• 19 a 21 Fev – Curso de Pós-Graduação “Gestão para Médicos”.

[Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].• 06 Mar – Seminário de Integração Profissional para Internos Gerais.• 11 a 13 Mar – Curso de Pós-Graduação “Gestão para Médicos”.

[Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].• 19, 20, 26 e 27 Mar – Curso de Formação para Orientadores dos Internatos

Médicos [Dep. de Formação da O.M., S.R.S/S.R.N].

REUNIÕES ORGANIZADAS PELA SRNOM

• 1 a 3, 22 a 24 Abr – Curso de Pós-Graduação “Gestãopara Médicos” [Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].

• 2 e 3, 16 e 17, 23 e 24 Abr – Curso de Formação paraOrientadores dos Internatos Médicos.[Dep. de Formação da O.M. S.R.S/S.R.N].

• 13 a 15 Mai – Curso de Pós-Graduação “Gestão paraMédicos” [Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].

• 21 Mai – Encontro Nacional de Médicos da Carreira deMedicina Geral e Familiar [SIN/SRNOM].

• 21 e 22, 28 e 29 Mai – Curso de Segurança e Gestão emResíduos de Laboratórios[Dep. de Formação da O.M. S.R.S/S.R.N].

• 18 Jun – Dia do Médico.• 24 a 26 Jun – Curso de Pós-Graduação “Gestão para

Médicos” [Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].• 8 Jun – Sessão de Inauguração da Exposição ArtMédica.

ACTIVIDADES DE CULTURA E LAZER

• 30 Abr – Baile de Gala da Faculdade de Medicina daUniversidade do Porto, integrado na Queima das Fitas.

• 05 Jun – Espaço T - Associação para o Apoio à IntegraçãoSocial e Comunitária - Leilão.

EXPOSIÇÕES DE PINTURA[Paredes do Corredor do Centro de Cultura e Congressos]:

• Até 30 Abr – Exposição colectiva de Aurora Rodrigues,Sandra Guimarães e M. Carmo Diogo.

• Até 30 Abr – Vicente Daffon.• De 1 a 30 Mai – Luís Alves.

[Paredes do Bar do Centro de Cultura e Congressos]:• De 3 a 30 Abr – Roque Leite Pires.• De 1 a 31 Mai – Flor Maria Rocha.

[Em todas as salas do Centro de Cultura e Congressos]:• De 9 a 22 Jun – Exposição ArtMédica.

ACTIVIDADES DE CULTURA E LAZER

CONCERTOS• 10 Jan – Concerto de Natal pelo Grupo de Bandolins de

Esmoriz – Faculdade de Medicina do Porto.• 21 Mar – MaiOrff [Audição-Instrumentos/Iniciação].

EXPOSIÇÕES DE PINTURA• 1 a 31 Jan – Miguel Louro.• 5 a 31 Jan – Olga Fiadeiro.• 5 a 28 Fev – Mário Rocha.• 1 a 31 Mar – Domingos Rodrigo Valente.

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