17

1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

  • Upload
    buimien

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,
Page 2: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS

Page 3: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

As feiras livres paulistanas representam a genuína democracia ativa, sustentada por sua capacidade de mobilidade, flexibilidade e adaptação em situações adversas. Canal eficaz de escoamento da produção agrícola diretamente para o consumidor, sua distribuição espacial permite ao comerciante estar sempre próximo aos cidadãos, valorizando os serviços prestados, com oferta de produtos frescos, apresentados de forma organizada e criativa.

Além das ações institucionais de reorganização e adequação das feiras livres, que acompanham seus cem anos de existência formal, o tratamento personalizado e direto que permite ao freguês questionar preço, pechinchar e criar vínculos com os comerciantes, sustenta e perpetua a continuidade da prática do comércio, por décadas e décadas. As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana, permeada pela interação social, pela convivência harmônica entre as diferentes etnias e classes sociais e pelo mais autêntico polo de convivência intergeracional.

Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo

Supervisão Geral de Abastecimento

As feiras livres

Page 4: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

As feiras livres existem desde a antiguidade, tendo surgido por volta de 2.000 a.C., no Egito antigo, na Grécia e Roma antigas. Com a queda do Império Romano, as feiras entraram em extinção na sociedade ocidental Europeia, mas continuaram a existir na China e na Índia.

No século XII, com a retomada das rotas comerciais europeias, as feiras ressurgem como forma eficaz de comércio para os excedentes agrícolas. O comércio era tão ativo que nos locais onde eram realizadas, surgiam as aldeias, pois as feiras dinamizavam a economia desses locais.

No Brasil, o comércio em forma de feiras, foi trazido pelos portugueses, já que eram desconhecidas pela nossa população nativa. Entretanto, logo se tornaram expressivas com o crescimento demográfico e com a diversidade econômica da colônia. Ainda hoje, as feiras são a forma mais eficaz de abastecer a população.

Em 1914, com a crise no abastecimento de frutas e verduras, os alimentos tornaram-se caros e escassos; os paulistanos se abasteciam no mercado São João, no Largo General Osório e no Caipira, ambos no centro da cidade. Na época, a Câmara Municipal de São Paulo, autorizou, através do Ato 710, em 25/08/1914, a criação dos “mercados francos”. Este ato criou a primeira feira livre oficial, no Largo General Osório, com 26 feirantes. A segunda, instalou-se no Largo do Arouche, com 116 feirantes e a terceira foi no Largo Morais de Barros.

Em 1915, já haviam 7 feiras, sendo duas no Arouche, duas no Largo General Osório, no Largo Morais de Barros, Largo São Paulo e na Rua São Domingos. A partir daí instalaram-se mais e mais feiras pela cidade de São Paulo. O comércio criava empregos, atendia à população local e gerava renda para os trabalhadores. Hoje, cem anos depois, São Paulo tem 880 feiras livres oficiais.

Page 5: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

Como aconteceu a legalização das feiras livres em SP

Três séculos e meio após sua fundação, São Paulo começava a se deparar com questões de uma cidade que caminhava para virar uma metrópole. O crescimento da antiga vila impunha a necessidade de uma estrutura de serviços que desse conta de atender às demandas de uma sociedade que saía de uma estrutura rural para um polo industrial. Suprir essa população que não era mais responsável por produzir o próprio alimento era um desafio do comércio e das autoridades Foi nesse contexto de transformação que o vereador Alcântara Machado propôs, em 1914, uma regulamentação para comércio de hortifrutigranjeiros em São Paulo.

Os debates no plenário da Câmara, há cem anos, foram calorosos e também determinantes para a implantação da atual rede de feiras livres como as conhecemos hoje. O mais emblemático de todos aconteceria no dia 14 de março de 1914.

Acompanhe o diálogo:

Alcântara Machado - [...] Os colegas conhecem o que são esses mercados. São trechos de logradouros públicos em que a municipalidade permitte mediante uma pequena taxa de ocupação e durante um limitado número de horas, o commércio de certos e determinados artigos: legumes, lacticínios, flores e poucos mais. A um dado momento, os negociantes removem as suas mercadorias. São os próprios negociantesque se incumbem da ‘toilette’ do logar, entregando-o de novo, completamente limpo e desimpedido, á circulação publica.Mercados desta natureza existem como acaba de recordar o nosso collega Dr. Sampaio Vianna, nas cidades mais cultas da Europa, cidades de luxo e de prazer, que se distinguem pela excellencia dos serviços municipaes. Encontramo-los em Nice, em Zurich, em Genebra...

Page 6: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

Sampaio Viana – Lausanne e muitas outras...

Carlos Botelho – Mas, sem exclusão dos outros mercados. V. Exc.ª. Está citando isso como uma grande acqusição para a população da cidade, mas prescindindo um pouco os mercados fechados.

Alcântara Machado – Não os suprimo. As minhas palavras têm a máxima clareza. Em toda a parte, os mercados volantes funccionam contemporaneamente com os fechados.

Joaquim Marra – Os mercados fechados são poucos em São Paulo.

Alcântara Machado – São poucos e exatamente porque não podemos atingir o ideal, que seria um mercado dessa ordem em cada sector da cidade, é que eu sugiro o estabelecimento de mercados volantes.

Carlos Botelho – Não será preciso tanto.

Alcântara Machado – Quatro, pelo menos, correspondentes aos quatro pontos cardeais.

Um Sr. Vereador – A despesa com a construção desses mercados seria imensa.

Alcântara Machado – Adoptado o alvitre, que venho a lembrar, seria mínima despesa. Lembro mais uma vez ao collega que não se trata de mercados fechados.

Carlos Botelho – Esses mercados ao ar livre não são novidades nenhuma. Já existiam em S. Paulo nos tempos coloniais. Eu conheci os mercados da Rua da Quitanda nas calçadas daquella rua.

Alcântara Machado - Não são nenhuma novidade: não estou requerendo patentede invenção. Mas são completamente diversos das quitandas a que o collega se refere. Nas quitandas do S. Paulo antigo vendia-se em taboleiros toda a sorte de mercadoria. Nos mercados volantes só se vendem certos e determinados artigos, e em lugares designados [...].

Carlos Botelho – A immundice, ainda que temporária, existirá da mesma fórma nesses mercados.

Alcântara Machado – A experiência demonstra o contrario. Prouvera aos céus que tivéssemos a cidade de S. Paulo tão limpa, tão asseada com Zurich ou Genebra!

Carlos Botelho – Era preciso que estivessemos aparelhados como ellas para fazer essa limpeza. Façam-se os mercados e verá o resultado: - Já estamos sujos, e mais sujos ficaremos.

Alcântara Machado – São modos de ver... Entrego a idéa ao estudo do Sr. Prefeito municipal, a quem nenhum desses problemas é extranho ou indiferente (...).

Juliana Tourrucôo, jornalista e pesquisadora.

5 meses e 11 dias depois,no dia 25 de agosto de 1914, o prefeitopublicava o decreto 710, que instituíaos mercados francos na cidade.

Page 7: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,
Page 8: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

O trabalho de feirante

A rotina do feirante, até os dias de hoje, sempre foi muito difícil: começa por volta das 3h da manhã, com chuva ou sol, frio ou calor e os feirantes só retornam para casa por volta das 15h.

Até meados da década de 1950, os paulistanos não tinham supermercado na cidade. As compras de alimentos, tais como feijão, farinha e milho eram feitas em quitandas, feiras, empórios e uma infinidade de armazéns de secos e molhados que existiam espalhados pela cidade. Os fregueses entravam nessas “vendinhas” e escolhiamo produto exposto em sacos abertos. Podiam manipular, examinar a qualidade, o cheiro, a textura. O pedido era feito ao balconista, que pesava e empacotava em sacos de papel e, quem não tinha dinheiro na hora, pedia para anotar na caderneta, hábito muito comum que se estendeu até meados da década de 70, onde muitas famíliaspagavam suas dívidas em parcelas.

O primeiro supermercado de São Paulo e do Brasil foi inaugurado em agosto de 1952, com o nome “Sirva-se”. Ficava na esquina da Rua da Consolação com a Alameda Santos. Os proprietários tentavam, pela primeira vez, implantar o sistema norte americano de vendas no varejo, o autosserviço, como era chamado, que possibilitavauma escolha mais livre dos produtos por parte do consumidor, dispensando a presença do vendedor.

Acreditava-se que os supermercados iriam substituir as feiras, mas nada substitui o colorido das feiras livres, que além da beleza, sediam o encontro das pessoas do bairro. Local onde comprar, pechinchar, degustar, escolher com calma e ganhar frutas a mais do feirante, difere dos supermercados, cuja escolha dos produtos é feita de maneira individualizada e sem interatividade social.

Page 9: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

O que está por trás do sucesso desse comércio de rua?

A conversa ao pé do ouvido, o colorido das frutas e verduras que alegra os olhos com suas cores e texturas variadas, além dos galanteios dos feirantes. Afinal, quem já não ouviu a frase “Moça bonita não paga, mas também não leva”?. Os feirantes, por meio de clichês, chamam a atenção para sua barraca. As frases são carregadas de cordialidade, alegria e brincadeira. Os trocadilhos, as piadas e as rimas são um passatempo agradável e acolhedor. Os fregueses param para ouvir e respondem com um sorriso ou com a aproximação para olhar, tocar, escolher e comprar os produtos.

O sucesso se perpetua, por essa relação próxima e respeitosa estabelecida entre o feirante e o freguês, além de marcar um território altamente democrático, onde circulam crianças, jovens, idosos e adultos, de diferentes etnias e diferentes classes sociais. O que importa é que nesse espaço a alegria e a convivência, a solidariedade e as relações interpessoais, que são pautadas pela descontração, pelo respeito e pela alegria.

Movimentação da Economia e Empreendedorismo

São mais de 12.600 feirantes cadastrados na cidade como microempreendedores e, hoje, as feiras livres são grandes fontes de empregos. Estima-se que mais de 60 mil empregos são diretamente gerados em toda a cadeia comercial, sem contar, ainda, com a mão de obra na agricultura, nos centros de distribuição e nos setores que fornecem equipamentos aos feirantes. Sob o ponto de vista social, é interessante observar que a profissão de feirante é notadamente familiar e, em muitos casos, são três gerações trabalhando juntas.

Dada a grande área geográfica da nossa cidade, hoje, sem as feiras livres, a rede de distribuição de hortifrutigranjeiros seria inviável. Cem anos depois, estas ainda se fazem indispensáveis e destacam-se, ainda, como a maior rede distribuidora de pescados na capital. Diversas colônias de imigrantes que adotaram São Paulo como sua casa, contam apenas com as feiras para a manutenção de seus hábitos alimentares, pois elas cumprem o papel de facilitar o acesso aos produtos alimentares de uso cotidiano, uma vez que sempre há uma feira perto de nós.

As feiras livres compõem o maior equipamento de distribuição de alimentos da capital – são 880 oficializadas. Sendo assim, atuam fortemente como reguladoras de preços.

Page 10: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,
Page 11: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

Cem anos depois...

A Prefeitura tem investido na modernização das feiras, por meio da reorganização das barracas, delimitando perímetros, recalculando a metragem máxima das barracas, visando manter as feiras em harmonia com a paisagem urbana, infinitamente dinâmica, com muitos prédios e milhares de automóveis circulando pelas ruas. A modernização se dá, também, na implantação de feiras livres específicas na comercialização de produtos orgânicos – já temos cinco feiras de orgânicos na cidade.

A reorganização ajusta o equipamento à rotina dos moradores, desobstruindo entradas de garagens, mudando a localização onde há escolas, hospitais, postos de combustível e outros serviços essenciais. Foi criada, também, nova legislação regulatória que atende feirantes e cidadãos, abrindo grande espaço para a comercialização de produtos agroecológicos, facilitando o acesso de pequenos agricultores na comercialização de seus produtos diretamente na feira, sem intermediários e a preços reduzidos.

Finalmente, e não menos importante, os feirantes passam periodicamente pela formação em curso de boas práticas em manipulação de alimentos, garantindo que os pescados, aves, embutidos, entre outros, cheguem à mesa do paulistano com qualidade e rigor no controle higiênico-sanitário.

Page 12: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

São muitas historias, e a vida de D’Elia, 76 anos, é repleta delas. Paulistano e descendente de italianos, aos 13 anos começou suas atividades nas feiras livres da cidade, para ajudar seu pai na venda de pescados da barraca da família. Hoje, dois de seus três filhos já o acompanham na atividade.

Uma rotina nada fácil, com 15 horas diárias de trabalho intenso, começando com a compra de mercadoria fresca no CEAGESP, até a montagem da barraca e a espera de seus clientes, sempre fiéis. Emocionado, ele conta, com orgulho, que atende à terceira geração das famílias que frequentam as feiras livres e ressalta que a mercadoria de qualidade e o bom atendimento são os segredos para manter essa clientela.

Seis decadasdedicadas as feiras livres da cidade

Page 13: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

O Lado B, de bom, da feira

Com 63 anos de vivência no comércio, D’Elia confessa que o segredo de tanta vitalidade é o trabalho pesado, porém gratificante, que exerce.“A vida do feirante é improvisar o tempo todo, mexendo o corpo a todo momento”,revela o descendente de italianos. Acompanhando a evolução das feiras livres ao longo dos tempos, ele destaca como fator negativo o aumento da concorrência. “Quando comecei, não existiam os grandes supermercados, e todas as frutas, verduras, legumes e peixes eram comprados na feira. Mas, hoje, a concorrência trouxe avanços para os feirantes, que fornecem produtos frescos e de maior qualidade, liderando, ainda, o segmento”, explica Francisco D’Elia.

Cinquenta anos de trabalho,no centenário das feiras livres da cidade

Ela descobriu nas feiras livres a receita do sucesso. Aos 11 anos, a criança Kuniko Yonaha, recém-chegada de Osaka, no Japão, não sabia qual seria o destino da família em terras brasileiras. Hoje, a famosa “Maria”, tem sua história atrelada à das feiras livres da cidade, que teve início com seus avós, que se tornaram feirantes em São Paulo. Mas, ao contrário dos hoje famosos pastéis, trabalhavam com barraca de hortifrútis.

O início do melhor pastel da cidade com dificuldade em manter a barraca, o pai de Maria aprendeu com um amigo que vendia pastéis na porta do Mercado Paulistano – o famoso Mercadão –, os segredos da massa e do recheio, e mudou o ramo de sua barraca para vender pastel. Maria, ainda menina, além de cuidar da casa e dos irmãos, auxiliava no preparo da massa e dos recheios. “Naquela época não havia freezer. Fazíamos a massa à noite, descansávamos um pouco e acordávamos à meia noite para fazer os recheios”, conta Maria.

Entre os vários acontecimentos que a vida lhe reservou, Maria também ampliou suas atividades e hoje detém a franquia do “Pastel da Maria”, além de ser a bicampeã de três edições do Concurso do Melhor Pastel de Feira, promovido pela Prefeitura de São Paulo. Maria não abre mão da qualidade dos produtos, mas declara que o atendimento exemplar e a higiene são o segredo do sucesso.

Page 14: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,
Page 15: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,

Conheça um dos feirantes mais antigos de São Paulo

“O segredo do feirante é a paciência”, diz Kunihiro Okawa. Filho de japoneses, ele começou a trabalhar nas feiras com seus pais, desde criança, aprendendo e observando a rotina do feirante. Em 1965, com vinte anos de idade, cria seu próprio negócio nas feiras. Ainda ativo, Kunihiro é um dos mais antigos feirantes no ramo de verduras.

Está na feira livre da Rua Pirambóia, no bairro Vila Santa Izabel, zona leste, há 49 anos, além de também trabalhar em mais quatro feiras. Assim como seus pais contavam com sua ajuda, anos atrás, Kunihiro também conta com o auxílio da filha nas feiras de sábado e domingo. Questionado se planeja trabalhar por mais anos, o nissei dá um sorriso tímido afirmando que sim, mas solta uma gargalhada ao dizer que ainda pretende se aposentar para passar o tempo pescando. Porém, afirma: “O segredo da pescaria, eu não passo para ninguém”.

O feirante que atravessou o atlântico por uma vida melhor

Em 1961, começava um dos conflitos que marcaram a história de Portugal: a guerra do Ultramar. A batalha, que durou até 1974, foi pela colonização dos países africanos Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, e é dentro deste contexto, na região dos Açores, em Portugal, que morava o jovem Antônio Souza. Ainda com 17 anos, vivendo com seus pais, Antônio decide embarcar para o Brasil, pois tinha medo de ter que se alistar no exército para lutar no continente africano.

Como seu avô e tio já moravam em São Paulo, navegou, deixando seus pais, para uma nova vida. Seu objetivo ao chegar na zona leste de São Paulo era trabalhar em alguma fábrica, mas seu tio, na época dono de uma quitanda, chamou o jovem para ajudar-lhe com os serviços diários. A ideia de trabalhar em alguma fábrica da região nunca saiu de sua cabeça. Depois de alguns meses trabalhando na quitanda, Antônio toma a decisão de tirar sua carteiraprofissional para procurar um emprego registrado.

Enquanto seus documentos não ficavam prontos, o jovem português fez amizade com um feirante apelidado de “japonês”, que lhe disse: “Enquanto sua profissional não fica pronta, vem me ajudar trabalhando comigo na feira”. Antônio topou, sem imaginar o que o destino lhe reservava, e acabou ficando por dois anos vendendo frutas na feira da Rua Dentista Barreto, na região do Carrão.

Em 1964, o “japonês” vende sua barraca para Antônio e, agora, já são 50 anos trabalhando na mesma feira. Antônio, hoje com 72 anos de idade, tem a ajuda de seu filho e já sonha em parar e curtir sua casa no interior de São Paulo. Porém, enquanto isso não acontece, afirma: “Só não trabalho de domingo, mas faça sol ou chuva, acordo bem cedo para trabalhar durante a semana”.

Page 16: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,
Page 17: 1914 - 2014 ESTA HISTÓRIA É DE TODOS NÓS - Prefeitura · As feiras livres, instaladas em todos os cantos da cidade, representam a construção da identidade cultural paulistana,