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edição 19 uma publicação da Livraria Cultura Mia Couto e suas letras mágicas A África além dos chavões SPFW quer ganhar o mundo Carmen Miranda sem balangandãs Rodrigo Lacerda fala de seu processo criativo fevereiro de 2009 NARRADORES DA HISTÓRIA Como a tradição oral preserva o passado

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  • e d i o 1 9

    u m a p u b l i c a o d a L i v r a r i a C u l t u r a

    Mia Couto e suas letras mgicas A frica alm dos chaves SPFW quer ganhar o mundo Carmen Miranda sem balangands Rodrigo Lacerda fala de seu processo criativo

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    NARRADORES DA HISTRIAComo a tradio oral preserva o passado

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  • Os 12 Fatores paraaa CCCC Cheheheheheheeegagagagagagagagar ao Topo da Sua Carreiraao Topo da Sua CarreiraKevin Hogan, Mollie Marti, DaveK i H M lli M ti D e Lakhanie LakhaniL kh i224 Pginas

    A AA CrCrCCriisiseeeee e dededededeedede 2222222 2200000000000000008888888 88 eee e e e ea Economia da Deprresesssoa Economia da DepressssoPaul KrugmanPaul Krugman210 Pginas

    Guia de Sobrevivn iiciaaana Selva EmpresarialAugusto Dias Carneiro184 Pginas

    O Segredo dos GGrGrGrananananandededededesss sss CCCEC OsSteve Tappin320 Pginas

    A Soluo pararar oo o SSS SSubbububububbprprprprprp imimimimimeeRobert J. Shiller182 Pginas182 Pginas

    Bilhes de Empreenenendededeedoddododorrerer sT KhTarun Khanna328 Pginas328 Pginas

    A Organizao o Mais Importante da SuSuaa VidaPatrick Lencioni216 Pginas

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  • Caros leitores,

    A Livraria Cultura estreou este ano nas passarelas! Participamos pela primeira vez do mais importante evento de moda do Brasil, o So Paulo Fashion Week. Montamos uma minilivraria na Bienal do Ibirapuera, em So Paulo, onde os desfi les e todo o oba-oba aconteceram de 18 a 23 de janeiro. Entre as atividades propostas durante a semana estavam os encontros de discusso sobre economia criativa, dos quais participei com outros empresrios (leia matria na pg. 16) e foram bastante interessantes. Moda cultura, sempre defendemos esta ideia vale lembrar que h cinco anos organizamos com muito sucesso a Semana de Moda e Cultura , e a parceria com o SPFW certamente vai continuar e render timos frutos no futuro. Aguardem!

    Abrao,

    Pedro Herz

    ENTREVISTA As palavras de Mia Couto

    VOLTA AO MUNDOA frica que fala portugus

    MINHA LISTA CDS A bagagem musical de Fernanda Takai

    REPORTAGEMAs fronteiras da moda nacional

    TECNOLOGIA Os livros na era digital

    MINHA LISTA DVDSOs melhores roteiros de Clarah Averbuck

    ESPECIALTestemunhos orais fazem histria

    ARTIGO

    Passado recente do Brasil

    GENTE QUE FAZA Cultura no Market Place

    PERFIL

    Centenrio de Carmen Miranda

    NOVSSIMOA Outra vida de Rodrigo Lacerda

    ACONTECEEventos para toda a famlia

    CAPA: ilustrao de Nelson Provazi

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    expedienteDiretor-geral Pedro Herz Diretora de redao Th as Arruda Editor-chefe Srgio Miguez Editor Ruy Barata Neto

    Assistente de redao Camila Azenha Estagirio Pedro dos Santos Projeto grfi co Eduardo Foresti Diretora de arte Carol Grespan Revisoras Mirian Paglia Costa e Potira Cunha Colaboradores Agnes Mariano,

    Alexandre Matias, Francisco Fukushima, Melissa Haidar, Miriam Sanger, Nelson Provazi, Paulo Arajo e Paulo Scheuer.Agradecimentos A Recreativa, Bel Pedrosa, Clarah Averbuck, Fernanda Takai, Francisco Alambert, Max Santos e Rodrigo Lacerda.

    Produtora grfi ca Elaine Beluco Pr-impresso First Press Impresso Pancrom Tiragem 25 mil exemplares Publicidade Rafael Borges ([email protected]) Jornalista responsvel Th as Arruda (MTB 27.838)

    Preos sujeitos a alterao sem prvio aviso. Os preos promocionais para associados do + Cultura so vlidos de 5/02 at 5/03Revista da Cultura uma publicao mensal da Livraria Cultura S.A. Todos os direitos reservados.

    Proibida a reproduo sem autorizao prvia e escrita. O contedo dos anncios de responsabilidade dos respectivos anunciantes. Todas as informaes e opinies so de responsabilidade dos respectivos autores, no refl etindo a opinio da Livraria Cultura.

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  • 4 ENTREVISTAENTREVISTA

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    MIA COUTO,o poeta que escreve histrias

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  • 5O mais conhecido autor moambicano de todos os tempos transita com graa pela poesia e pela prosa, mostrando a fora de uma condio que denomina estar escritor. Muito arraigado s suas origens, consegue transmitir a leitores das mais diversas naes o vocabulrio, a cultura, as angstias e as alegrias de Moambique, tornando universal um dos pases mais pobres do planeta. No apenas a incrvel qualidade da literatura inventada pelo escritor, nascido em 1955 e batizado Antnio Emlio Leite Couto, que surpreende: sua aparncia, o nome adotado e a profi sso tambm. Mia fi lho de imigrantes portugueses que foram residir em Beira e, nas inmeras palestras que ministra mundo afora, o pblico muitas vezes aguarda uma senhora negra com vestes multicoloridas. Eis que surge um homem branco, traos europeus, culos, terno. Sua inventividade de longa data: aos 3 anos de idade, em funo da paixo por gatos, criou para si mesmo o apelido que at hoje usa. Poeta assim que ele se defi ne continua trabalhando no campo da biologia, rea em que se formou. De qualquer forma, coleciona vrios prmios literrios internacionais, inclusive um no Brasil: a obra O outro p da sereia ganhou, em 2007, o 5 Prmio Passo Fundo Zaff ari & Bourbon de Literatura como melhor romance publicado em lngua portuguesa. Aos 14 anos, publicou os primeiros poemas, Notcias da Beira. Desde ento, as letras vo saindo magicamente de seus dedos. Ele trafega por um tipo de realismo fantstico que remete a Gabriel Garca Mrquez, mas com razes muito bem plantadas na realidade de sua regio. Outras vezes, faz lembrar Guimares Rosa, pela

    criao incansvel de neologismos. Brincaes, des-consigo, choraminhices, noitido, impossvel no en-tender o que querem signifi car e maravilhoso perceber como possvel poetizar a prosa com palavras in-ventadas. Alis, detalhe curioso: inmeras vezes elas vm sua cabea, e ele as anota em pedacinhos de papel que vai amontoando nos bolsos das roupas. Em algum momento, se encaixam nas frases sempre bem-lapidadas de sua literatura. Outra importante caracterstica do autor de Venenos de Deus, remdios do Diabo seu engajamento poltico. Lutou contra Portugal pela independncia de sua ptria (ocorrida h pouco mais de trs dcadas) atuando na poltica e no ensino, sem pegar em armas: a Frelimo (Frente de Libertao de Moambique) s permitia isso populao negra. Em nosso pas, s suas obras, a editora acrescenta um glossrio ao fi nal para que se compreendam os vocbulos tpicos do portugus de l, e que tornam seus livros ainda mais interessantes. Em tempo, O fi o das missangas, acaba de ser lanado por aqui, trazendo 29 contos entrelaados como mi-angas ao redor de um fi o, revelando muito das fa-las do homem de sua terra e demonstrando mais uma vez a proximidade e admirao declarada deste moambicano pelo universo do autor de Grande serto: veredas. Mia se revela sempre em produo. Nas respostas dadas nesta entrevista, realizada por email antes de ele sair a campo isolado para uma pesquisa biolgica, utilizou sua forma peculiar de usar a lngua, mantida nas linhas a seguir, tambm sem adotar as regras do novo acordo ortogrfi co.

    Dizem que voc mesmo criou o curioso apelido Mia. Sim, por causa da minha rela-o com os gatos. Contam meus pais que eu dormia com os bichos como se fosse um de-les. Certa vez, proclamei que queria ser cha-mado de Mia. Meus pais aceitaram e talvez tenha sido esse meu primeiro acto de fi co. Tinha, talvez, uns 3 anos de idade.

    Como sua famlia foi para Moambique? Meus pais emigraram do Norte de Portugal no incio da dcada de 1950. Fixaram-se numa pequena cidade no centro do pas, Bei-ra, e ali tiveram seus trs fi lhos. Eu sou o do meio. Meu pai migrou por razes polticas na altura, Portugal vivia uma ditadura fascis-ta, e ele foi objeto de perseguio poltica.

    Sua primeira obra foi escrita aos 14 anos. Qual foi a repercusso? Ela marca minha deciso de viver o mundo por via da poesia, a necessidade de poetizar a vida. No ape-nas um livro, uma declarao de f numa

    crena que no tem nome, seno o desejo de estar disponvel para ser encantado.

    Como seu cotidiano? Sou bilogo de pro-fi sso e grande parte do meu tempo passado em trabalho de campo, na fl oresta e na savana. No mais, sou casado com Patrcia, que m-dica. Tenho trs fi lhos: Madyo, Luciana e Rita. Os dois primeiros j saram de casa. E vivo em Maputo, capital de Moambique.

    Voc acompanha a literatura brasileira, poderia citar autores preferidos daqui e tambm de seu continente? Acompanho mal a nova literatura brasileira, mas posso citar como meus preferidos Adlia Prado, Manoel de Barros, Carlos Drummond de Andrade, Joo Cabral de Melo Neto e Clari-ce Lispector. Na literatura africana, h vrios nomes expoentes, como o nigeriano Amos Tutuola, os angolanos Jos Eduardo Agua-lusa, Luandino Vieira e, j bem conhecido, o sul-africano J. M. Coetzee. Tambm em

    Moambique temos grandes autores, como os poetas Jos Craveirinha e Rui Knopfl i. Mundo afora, preciso citar Anton Tchekov, Juan Rulfo e Gabriel Garca Mrquez.

    Brasil e Moambique so pases coloniza-dos por portugueses, que falam a lngua portuguesa, com uma grande mistura de raas e povos. Qual a nossa afinidade mais marcante? Existe uma afi nidade de que pouco se fala e que a religiosidade, um sentimento de crena muito marcado pelos sistemas religiosos africanos. E tambm o modo como esses sistemas se permeabiliza-ram e deixaram-se mesclar com a religiosi-dade catlica. Essa marca para mim mais funda e duradoura que a lngua.

    O Brasil no passou pela experincia de guerra pela independncia, ao contrrio de Moambique. Quais marcas perma-necem nos moambicanos? H coisas que creio que resultaram positivamente

    Mirian Sanger

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  • ENTREVISTA6

    pelo facto dos moambicanos terem resol-vido dentro de si sua relao com o ex-colo-nizador. Houve uma luta armada que criou terrenos bem distintos de afi rmao e nos libertam da necessidade de confronto com o outro. Teria sido diferente se um fi lho de portugueses tivesse, em solo moambicano, proclamado o grito do Ipiranga.

    Existe alguma obra sua que voc consi-dere mais especial do que as demais e, uma vez que transita entre diversos g-neros, h alguma com a qual tem mais afinidade? Meu gnero a poesia. Sou um poeta que escreve histrias e que se realiza na prosa. Meu romance Terra sonmbula foi redigido no fi nal da guerra civil no meu pas e sua gestao marcou-me profunda-mente. Eu acreditava que no seria poss-vel escrever um livro que falasse da guerra enquanto ela estivesse decorrendo apenas depois, no momento da paz, quando os fantasmas da violncia estivessem adorme-cidos. Mas sucedeu que fui visitado, noite aps noite, pela urgncia da escrita. Eu es-tava, sem o perceber, a aplacar os demnios interiores que a violncia da guerra haviam despertado em mim.

    Qual dos gneros mais difcil? O infan-til, sem dvida. Porque no sei pensar esse gnero e me custa acreditar que se escreve para crianas. A idia de que elas pedem uma escrita simplifi cada uma tentao fcil, mas profundamente arrogante. Nessa escrita, percebemos que no sabemos falar com a infncia que ainda vive em ns.

    Tanto o Brasil quanto Moambique vivem situaes tristes em diversos aspectos, ainda mais no que diz respeito a infncia e educao. Voc acredita que haja algu-ma forma de a literatura ajudar na trans-formao da realidade nacional? Acredito que a literatura pode ajudar a manter vivo o desejo de inventar outra histria para uma nao e outra utopia como sada. No que eu tenha iluso sobre o poder da literatura, mas a escrita literria pode, em certos momentos, ter funes de terapia coletiva. Regresso ao caso moambicano do perodo ps-guerra. O que aconteceu foi uma mesma espcie de amnsia coletiva. Ningum se recorda de nada do que aconteceu. Foram 16 anos de guerra fratricida, 1 milho de mortos, mas ningum quer, hoje, relembrar este tempo de cinzas. Trata-se de uma estratgia de no despertar fantasmas mal resolvidos. No en-tanto, triste no termos mais acesso a esse tempo, perdermos parte de nossa histria re-cente nos faz ser menos ns mesmos. aqui que a literatura pode ter funo resgatadora. Pode permitir acesso, fora de sentimentos de culpa e de dedos acusatrios.

    Como seu processo criativo? H algu-ma preparao especial para iniciar uma obra? No tenho ritual. No fundo, tenho para mim que a escrita no pode ser resumida ao seu lado visvel, que quando nos sentamos com caneta e papel ou com computador.

    Houve algum evento ou pessoa que des-pertou sua vocao literria? Meu pai poeta. Mais do que isso: vivamos a poe-sia, mais do que lamos. Recordo as vezes em que, devido a uma certa desconfi ana, mandavam-me fazer os deveres de casa no local de trabalho dele, que era um arma-zm obscuro dos Caminhos de Ferro, na pequena cidade colonial da Beira. Doa-me muito ver meu pai, um poeta, ali, naquele recanto poeirento e penumbroso. Mas, ali mesmo, naquele local sombrio, eu aprendi uma das mais importantes lies de toda minha vida. Meu pai, para meu espanto, se apressava muito que eu desse despacho nos

    deveres. Demoras?, perguntava ele, inquie-to. Mal eu pousava a caneta, ele me pega-va pela mo e me levava para a luz, para o descampado. Caminhvamos por entre os trilhos, os carris ferrugentos, e ele passeava por ali garimpeirando pelo cho, cata de qu? O que procurava ele entre sujidades e poeiras? Procurava pedrinhas coloridas, dessas que tombavam dos vages, e trazia na concha das mos como se tivessem vida e carecessem de aquecimento. L fora es-trondeava a guerra colonial e o mundo se rasgava. Minha me recebia em casa aque-les lixos brilhentos e muito ralhava com ele. As pedras voavam pela janela, meu pai se internava pelo corredor num desmaio de penumbra. Lembro-me de ter interpe-lado depois de uma dessas zangas mater-nas. Pai, tu tambm s atrasado mental? Eu hoje agradeo ao meu pai me ter ofer-tado essa cumplicidade, esse outro pai que nascia dele quando se tornava cmplice, me esgueirava dos meus deveres e saltava

    para a desobedincia. Meu pai se convertia em outro menino, e eu ainda hoje encontro inspirao nessa habilidade e vou pela linha frrea a descobrir encanto e encantamento na busca desses brilhos do cho.

    Voc pretende, ou gostaria de, um dia viver apenas de literatura? Mesmo que pudesse, e talvez agora eu j possa, no queria viver exclusivamente da escrita. vital para mim ter esta disperso de ati-vidades, poder fazer coisas to distintas e manter janelas abertas para a ampla diver-sidade da vida. Eu estou escritor, duvido que seja escritor.

    No d para no falar do acordo or-togrfico. Qual sua opinio? No sou contra, mas tambm no milito a favor. Creio que em Portugal houve reaes ner-vosas e crispadas porque, devido a um falso debate, alguns acreditaram estar a prescin-dir do patrimnio fundador da sua prpria identidade a favor do Brasil. Eu acredito que se deve discutir os verdadeiros factores que nos afastam e os principais factores do nosso afastamento no so de ordem lingstica. So de natureza estratgica, das opes polticas dos nossos governos. Os livros brasileiros so lidos sem nenhuma difi culdade em Moambique, e os moam-bicanos so lidos no Brasil sem que a grafi a diferente perturbe.

    Como se deu o convite para compor a letra do hino de seu pas com outros au-tores? Samora Machel, o primeiro presiden-te de Moambique, pensou que era preciso mudar a letra de um hino que tinha sido concebido em perodo da revoluo socialis-ta e marxista. Um novo que servisse, como ele disse, de lenol e sombra para todos os moambicanos. Ele convocou maneira da guerrilha um grupo de poetas e msicos, fechou-os numa casa e disse: vocs tm uma semana para produzir um novo hino nacio-nal. Ns produzimos diversas alternativas. Anos mais tarde, quando se introduziu o pluripartidarismo no pas, algum se lem-brou de que havia esse manancial de pro-postas. E assumimos como criao colectiva aquele que o novo hino nacional.

    Voc est em produo literria no momento? Estou sempre em produo, mesmo que eu no tenha conscincia cla-ra disso. Mas, no caso, estou h trs anos laborando num novo romance. Mas real-mente, e sem que isso seja uma pose de afectao, no sinto que posso levantar o vu dessa histria.

    Para voc, cultura ... Um modo de ser-mos quando todo o resto nos nega.

    Acredito que a literatura pode ajudar a manter vivo o desejo de inventar outra histria para uma nao

    e outra utopia como sada.

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  • AMOR E RAIVARealizado em 1969, em plena discusso sobre a Guerra do Vietn e o movimento

    estudantil, Amor e Raiva um lme original e ousado dirigido por

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    Salvatore conseguir se adaptar?NO RECOMENDADO

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    Ns no temos a mnima pista de como a sociedade angolana ou a moambicana. Alis, a maioria de ns deve pensar que Ango-la, Moambique, Madagascar, Zanzibar tudo a mesma coisa, no ? Escrito em tom de autocrtica pelas autoras do blog carioca Duas Fridas num post sobre o acordo ortogrfi co, o texto acima um re-sumo bem-acabado de como ns, brasileiros, sabemos pouco sobre a frica. Em Madagascar, ilha do Oceano ndico de onde vieram aqueles simpticos pinguins do cinema, fala-se francs. J em Zan-zibar, conjunto de duas ilhas na costa da Tanznia, o idioma o in-gls. A frica um planeta diferente, um cosmo mltiplo. Somente por comodidade simplifi camos e dizemos frica. Na verdade, a no ser pela denominao geogrfi ca, ela no existe, explica o jornalista polons Ryszard Kapuscinski no prefcio de bano, livro fundamen-tal para entender as diferenas entre os 53 pases do segundo conti-nente mais populoso da Terra (900 milhes de habitantes, s perde para a sia) e o terceiro mais extenso (cerca de 30 milhes de quil-metros quadrados, ou 20,3% da rea total de terra fi rme do planeta). Kapuscinski, morto em 2007, percorreu o territrio de ponta a pon-ta durante quarenta anos do sculo 20, nos quais mais de dez mil pe-quenos pases, reinos, unies tnicas e federaes deste lado de c do Atlntico conseguiram se libertar do domnio europeu. Ele ainda teve flego para retratar o cotidiano dos nativos em A guerra do futebol, alm de traar o perfi l de ditadores como Hail Selassi, autocoroa-do O imperador da Etipia de 1930 a 1974, ano em que foi deposto. Como em todo o mundo, a histria se repete como farsa tambm na frica. Robert Mugabe, no poder h 28 anos no pauprrimo Zimb-bue, foi apelidado em outubro ltimo de O destruidor pelo jornalista Jon Lee Anderson (o mesmo que escreveu Che Guevara: uma biogra-fi a) num perfi l singular para a revista Th e New Yorker. Mas por outro lado, o continente-bero da civilizao tambm deu ao mundo fi guras de grande envergadura, como Nelson Mandela, ex-pre-sidente da frica do Sul que fi cou encarcerado durante quase trs dca-das por lutar contra o Apartheid regime de segregao racial imposto pelos brancos , e Miriam Makeba, conhecida em todo o mundo como A imperatriz da cano africana, vencedora do Grammy de 1966 pelo disco An Evening with Belafonte/Makeba, cuja voz radiosa calou-se em novembro passado durante show contra o racismo na Itlia. Nas palavras do historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva, anotadas nas primeiras pginas do clssico A manilha e o libam-bo, um africano de uma regio pode ser to diferente do de outra quanto um alemo de um andaluz e um hngaro de um escocs.

    VAI E VEMJ que praticamente impossvel apresentar em profundidade toda a frica, sua incalculvel variedade lingustica e sua riqussima cul-tura milenar, nada melhor do que comear a entender o continente

    a partir da realidade de nossos parentes mais prximos. Angola, Cabo Verde, So Tom e Prncipe, Moambique e Guin-Bissau so os cinco pases onde ofi cialmente fala-se portugus, alm de diversas lnguas nacionais, como crioulo, quimbundo e ovumbo, os dois ltimos ramos lingusticos do tronco banto. Em todos eles, principalmente em Angola, nao que, de acordo com um dos Sermes do Padre Antnio Vieira, formava um agre-gado nico com o Brasil no sculo 16, est em curso uma revolu-o cultural que daqui a alguns anos certamente vai atravessar o Atlntico e talvez tenha, guardadas as devidas propores, o mes-mo impacto provocado pelo desembarque dos 11 milhes de afri-canos nas Amricas enquanto vigorou a escravido. S de Angola para o Brasil foram levados mais de 4,8 milhes de cati-vos de acordo com os clculos do historiador catarinense Luis Felipe de Alencastro em O trato dos viventes. Os africanos, apesar de todo o sofrimento imposto pelo degredo, foram grandes responsveis por obras-primas da cultura mundial como o jazz, o samba, a rumba, a capoeira, o candombl, reinventaram a cozinha dos colonizadores portugueses, ingleses e espanhis e, no caso especfi co do Brasil, con-triburam para retirar os ossos da Lngua Portuguesa. Hoje, de acordo com estimativas da Embaixada do Brasil em Luan-da, vivem mais de 40 mil brasileiros no pas. Eles trabalham em empresas de construo civil, indstria petrolfera, agncias de pu-blicidade, universidades e prestam consultoria em diversos ramos de atividade, explica a secretria Fabiana Moreira. Em mdia, to-dos retornam ao Brasil a cada trs meses para passar frias de 15 dias com a famlia. Ser que Angola no se transformar numa espcie de 27 Estado brasileiro?, questiona Mathias de Alencas-tro, fi lho do historiador e estudante de Histria que defender uma tese de mestrado sobre o pas este ano na Sorbonne, em Paris.Em Cabo Verde, o nome mais representativo das artes vem da m-sica, mais especifi camente da morna, um tipo de cano que mis-tura crioulo com portugus, e Cesria vora. Conhecida em todo o mundo como A dama dos ps descalos, Cesria cantou para o ento presidente Bill Clinton, na Casa Branca, gravou algumas canes com Caetano Veloso e foi a grande atrao internacional da mais recente edio da Virada Cultural, quando cantou no cru-zamento das Avenidas Ipiranga e So Joo, em So Paulo, grande sucessos como Lua nha testemunha e Mar azul.A cultura moambicana, como a cultura africana em geral, continua a ser apenas associada ao imaginrio de Tarzan, de cinema americano, mscaras e artesanato ancestral. Uma ideia enviesada que contribui para desvalorizar a produo artstica contempornea do continente. Ningum fi ca indiferente aps conhecer a obra de Malangatana, Jos Craveirinha (que em 1991, tornou-se o primeiro escritor africano ga-nhador do prmio Cames) ou Mia Couto. Malangatana um dos

    Caos e metamorfose: FRICA SCULO 21

    Paulo Arajo, de Luanda

    Nos cinco pases onde se fala portugus est em curso uma revoluo cultural surpreendente

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    artistas plsticos moambicanos mais reconhecidos internacional-mente. Mas existem trabalhos que merecem destaque, como os de: ngelo de Sousa, Joo Aires, Joo de Paulo ou Rui Calada Bas-tos. Bertina Lopes outro nome que revela ao mundo a qualidade da produo artstica da ex-colnia portuguesa, segundo a crtica italiana Paola Rolletta: Na histria da pintura, muitas vezes seu nome posto ao lado da mexicana e grande artista, Frida Khalo. Duas vidas diferentes, mas com traos comuns muito fortes, e so-bretudo com qualidades pictricas e humanas muito peculiares. Entre os escritores, vale lembrar de Rodrigues Jnior, Guilherme de Melo, Lus Bernardo Honwana, Correia de Matos e Ungulani Ba Ka Khosa. Entre os poetas, Jos Craveirinha e Rui Knopfl i so os mais conhecidos, mas no devemos nos esquecer de Alberto de Lacerda ou Reinaldo Ferreira. A msica moambicana tambm impressiona. Em 2005, a Unesco reconheceu a timbila chope, um instrumento de percusso, como patrimnio da humanidade. Na Guin-Bissau, o clima poltico instvel no permite que a fora ar-tstica projete-se para o mundo. H dois meses, um golpe de estado colocou o minsculo pas outra vez no noticirio internacional. Vale a pena, no entanto, conhecer a obra dos escritores Amlcar Cabral e Flix Sig, ambas marcadas pela relao do pas com o mar.Em So Tom e Prncipe, por sua vez, duas ilhotas reunidas sob a mesma federao, faltam coisas bsicas como dentistas, mas a pintura de Almada Negreiros e a msica de Viana da Mota nos encantam ao primeiro contato, pois transmitem algo de ingnuo muito prximo do registrado no Brasil rural do sculo 19.

    ANGOLA AQUIA populao de aproximadamente 17 milhes de habitantes sabe quase tudo sobre o Brasil, desde a escalao dos nossos times de futebol, os atores e atrizes mais famosos, o nome de nossas praias, at pormenores sobre a vida de escritores como Jorge Amado, Graci-liano Ramos e, claro, Paulo Coelho. Os africanos consomem inten-samente a cultura contempornea brasileira, mas o contrrio ainda no acontece, diz o msico Fernando Alvim, diretor da Fundao Sindika Dokolo. A instituio dirigida por Alvim detm a maior co-leo particular de arte contempornea africana, organiza a Trienal de Luanda (a segunda edio est agendada para 2010) e acaba de inaugurar, em So Paulo, a Soso, primeira galeria de arte contempo-rnea no pas. Instalada num edifcio projetado por Oscar Niemeyer, na Avenida So Joo, o espao exibir, na coletnea de inaugurao, trabalhos dos vdeomakers Ihosvanny e Yonamine e fotografi as sobre alumnio de Cludia Veiga e Kiluanji Kia Henda, todos referncias nacionais em suas respectivas reas. No Brasil, a frica ainda vista como o continente da escravido, da dor e do sofrimento, muito por causa de poemas como O navio negreiro, de Castro Alves. A abertura da galeria vai ajudar a mudar essa viso e, quem sabe, causar o mes-mo impacto e estranhamento artstico que Basquiat conferiu cena artstica de Nova York nos anos 1980, aposta Alvim.De forma geral, h um movimento organizado entre os artistas angolanos para que os seus trabalhos no sejam reduzidos no imaginrio mundial a mscaras decorativas, adornos de marfi m ou tecidos com geometria colorida. O primeiro passo foi a retum-bante participao do pas no pavilho africano na ltima Bienal

    MAPUTO: mural de 95 metros sobre a guerra civil prximo ao aeroporto

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    de Veneza, mostrando exatamente tudo o que fosse diferente de mscaras, colares e tecidos. A ideia de que, para o sculo 21, a contribuio da frica na histria da arte mundial se reduziria ao artesanato decorativo gela-me o sangue. Ou talvez no, faz-me ferver, escreveu o colecionador Sindika Dokolo num manifesto lanado em Luanda em 2006. At o presidente da Repblica, Jos Eduardo dos Santos, tomou para si os anseios dos artistas e, num discurso dirigido ao ministro da Cultura, fez mea-culpa por ter se pronunciado poucas vezes sobre o tema. Minha principal aten-o foi dedicada a prioridades como defender nosso territrio de agresses externas e manter as fronteiras estabelecidas, justifi cou o homem que est no poder em Angola h 30 anos, mas se distingue dos seus homlogos pela conduo da guinada do ex-pas marxista economia de mercado feita em 2002, levando a nao a ser a ni-ca que cresce a taxas de dois dgitos no continente.

    NOVOS SONS AFRICANOSEm Luanda, Benguela, Huambo, Namibe Em todas as capitais pro-vinciais angolanas, o cenrio de caos. Centenas de gruas erguem edifcios de um dia para o outro e o que se escuta barulho, muito barulho, tanto de mquinas pesadas como de novos sons que tocam nos alto-falantes das candongas, um tipo de van chinesa de cor azul convertida no nico tipo de transporte pblico existente no pas, e nas caixas de sons dos quintais.Nada pode impactar mais os ouvidos do visitante do que o kudu-ro, um ritmo musical criado h dez anos nos Mussekes (como so chamadas as favelas com barracos de lata no local) por adolescen-tes procurando notoriedade, uma forma de se fi rmarem num pas onde a justia ainda madrasta. As letras so de protesto, assim como no rap das favelas cariocas e paulistas, e procuram retratar os problemas de todos os dias, como a criminalidade, a prostituio, a

    corrupo, a falta de gua e luz, a conduo lotada etc. Os kuduristas mais consagrados do pas so Helder, o rei; Dog Murras, o patriota; Sebem, o mais popular; e Puto Prata, o douto-rado. O ritmo invadiu todos os lares, carros e festas da classe mdia e alta do pas e comea a se tornar conhecido tambm no Brasil. O kuduro j foi tema do quadro Central da periferia, de Regina Cas, exibido no Fantstico, da TV Globo, e tornou-se atrao fi xa no matutino Hoje em dia, da Rede Record, emissora que transmite a programao brasileira para toda a frica lusfona. Outro ritmo muito forte o hip-hop (que em Angola se pronuncia ip-p), estilo que tem no quarteto Os Kalibrados seu maior expo-ente. O grupo, formado por quatro jovens que se vestem de grifes famosas da cabea aos ps, usam pulseira e correntes douradas e no dispensam culos escuros bem modernos, j fez mais de 150 apresen-taes dentro e fora do pas nos ltimos trs anos, alm de abrir showsde colegas famosos ao redor do mundo como DMX, Missy Elliot, Kanye West, Pharrell Williams e 50 Cent, este ltimo f confesso de Angola, mesmo tendo sido vtima de um assalto que lhe custou uma famosa correntona e um bling cravejado de diamantes durante uma apresentao para 7 mil pessoas, em abril de 2008. De acordo com o jornal O Pas, o lbum Cartas na mesa, lanado em dezembro, vendeu 11 mil cpias nas primeiras 12 horas da sesso de autgrafos que Os Kalibrados fi zeram na portaria de um cinema. Faixas como No deu para ser fi el e Bam Bri Bam esto na boca do povo.Numa vertente mais soft , surgiu h oito meses a Next, banda que faz um som afro-eltro-acstico e que se converteu na melhor traduo musical contempornea de Luanda. O sexteto gravou o primeiro CD e DVD em novembro e, entre uma msica e ou-tra, promove releituras dos poemas de Agostinho Neto, o homem que comandou o Movimento Popular de Libertao de Angola (MPLA), principal partido de oposio ao regime colonial portu-

    VOLTA AO MUNDO12

    SUFFERING AND SMILING: fotografi a sobre alumnio da artista Kiluanji Kia Henda

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    TESTE SEUS CONHECIMENTOS SOBRE A FRICA NO PASSATEMPO DA PGINA 42

    gus e, depois, se transformou no primeiro presidente do pas, em 1975. De acordo com uma reportagem de Gabriel Garca Mrquez publicada em 1976 na ento revista Homem (que dois anos depois passaria a se chamar Playboy), Agostinho Neto, na priso, compu-nha seus poemas com letras midas em pequenas tiras de papel e as escondia enroladas dentro de um cigarro. s vezes, s havia dois versos em cada cigarro. Quando sua esposa Maria Eugnia ia visit-lo, ele lhe oferecia um cigarro e ela o levava sem acend-lo, porque sabia que era o dos versos. Em sete anos de crcere, escre-veu Sagrada esperana, livro que rene 49 poemas.

    LITERATURA E CINEMANas duas ltimas edies da Festa Literria de Paraty, a FLIP, dois escritores angolanos surpreenderam a plateia: Jos Eduardo Agualusa, autor de As mulheres do meu pai, e Pepetela, o nome de maior projeo internacional das letras angolanas, vencedor do Prmio Cames em 1997 e autor, entre outros, da Parbola do c-gado velho, uma metfora do horror vivido por dois irmos que tm de fazer a guerra civil em lados opostos. Tido como uma das reservas morais do pas, da mesma forma que Jorge Amado foi para o Brasil, Pepetela recentemente foi homenageado e teve seu nome dado a um auditrio no centro da cidade. L, teve lugar, em novembro, a primeira edio do Festival Inter-nacional de Cinema de Luanda. A histria da stima arte no local foi determinada, basicamente, pelo desenrolar da guerra. De 1985 at 2002, quando o confl ito teve sua fase mais cruel, o cinema des-vaneceu at sua quase total inexistncia. Em 2004, houve uma espcie de renascimento com o lanamento dos longas O heri, de Zez Gamboa, e dois anos depois, Na cidade vazia,

    de Maria Joo Ganga. Os documentrios, por sua vez, surgiram com mais frequncia, como o caso de Angola: saudades de quem te ama, do namibiano Richard Pakleppa; Oxal cresam pitangas, de Ondjaki (tambm escritor representante da nova gerao e atualmente moran-do no Rio de Janeiro) e Kiluanje Liberdade, uma receita para curar os traumas do confl ito com ginstica e ironia; Kuduro - Fogo no Musseke, de Jorge Antnio, sobre a msica/dana que tanto d o que falar; e dreda ser angolano, do coletivo Famlia Fazuma, um relato da vida dos guetos e da economia informal do pas.O grande vencedor da mostra FicLuanda foi Mario Bastos, um ango-lano de 22 anos que mora em Nova York e rodou Kiari, a histria de um rapaz que se prepara para receber um autgrafo do seu jogador de basquete preferido, mas se desilude com a conduta do atleta. um fi lme sobre a perda da inocncia patente na frase: Segue o teu sonho, no sigas o teu heri, declarou Bastos na hora de receber o trofu. O diretor j comeou a rodar, com o msico Keita Mayan-da, um documentrio sobre hip-hop intitulado O underground e o mainstream namoram em segredo. Os autores querem trabalhar as semelhanas e o mundo secreto entre as duas correntes do estilo mu-sical, apontou Marta Lana, da revista Vida. Quando se passa al-gum tempo em cidades como Nouakchott (Mauritnia), Dakar (Se-negal) ou Luanda, o que se percebe que tudo est em permanente mudana, diz Pedro Pinha, um dos diretores de Bab Sebta (ainda sem previso de lanamento no Brasil), fi lme que causou choque na mostra por contar as histrias de humilhao vividas por africanos na passagem da fronteira entre Ceuta e Marrocos. Como em todo o mundo, os novos paradigmas do sculo 21 esto pre-sentes na frica e Jos Craveirinha, um de seus maiores poetas, ensi-na: Para ser herdeiro do futuro, o passado no pode ser omitido.

    TCHINGANJI: fotografi a sobre alumnio da artista Cludia Veiga

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  • Graduada em Relaes Pblicas, a amapaense, que mora h mais de 20 anos em Belo Horizonte, Fernanda Takai chegou a atuar na rea por algum tempo antes de se tornar musicista. H 16 anos, compe, toca e canta na banda Pato Fu, uma das mais notveis do planeta, segundo a revista Time, que incluiu Fernanda na lista das 10 melhores cantoras do mundo em 2001. Dona de um blog que leva seu nome, tambm colabora como cronista nos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas. Em 2007, lanou seu primeiro livro de contos, Nunca subestime uma mulherzinha. Recentemente, estreou em carreira solo com Onde brilhem os olhos seus, cantando msicas do repertrio de Nara Leo. O lbum foi eleito pela Associao Paulista de Crticos de Arte o melhor disco de msica popular de 2007. Aqui, Fernanda revela algumas obras que fazem sua cabea e recheiam sua bagagem musical.

    MINHA LISTA CDS

    AS AVENTURAS DA BLITZ, BlitzEste foi o grupo brasileiro que me fez prestar ateno tambm em capas legais, nos primeiros clipes, na relao com f-clube... Parecia que era muito divertido ter uma banda, trabalhar coletivamente.

    NINE OBJECTS OF DESIRE, Suzanne VegaEla a artista que mais admiro, por ser completa como intrprete, compositora e instrumentista. Para mim, este seu disco fundamental, apesar de outros lanamentos excelentes ao longo da carreira.

    THE HEAD ON THE DOOR, Th e CureTenho uma memria afetiva forte em relao cena do rock ingls dos anos 1980. Desse lbum em especial, eu sabia cantar e tocar todas as canes ao violo.

    ... E QUE TUDO MAIS V PRO INFERNO, Nara Leo (esgotado) Por meio desse disco, que ouvia sempre quando era bem novinha, ficou sedimentada minha afeio pela Nara e por Roberto & Erasmo.

    OK COMPUTER, Radiohead J gostava dos anteriores, mas este o tipo de lbum que ficou pra histria. Composies lindas e uma sonoridade peculiar. E a voz do Thom Yorke cortando nosso corao.

    KARNAK, Karnak, (esgotado) Esse primeiro disco da banda to bem-pro-duzido e tem msicas to boas que, sem dvida, merece estar nas listas das melhores coisas j feitas em nosso pas.

    FELT MOUNTAIN, Goldfrapp o tipo de sonoridade que tenho ouvido cada vez mais. Este o primeiro lbum da dupla britnica, que j tive a oportunidade de ver ao vivo. D vontade de fazer algo assim algum dia.

    GOZO PODEROSO, AterciopeladosDupla colombiana bastante conhecida mundo afora, o que um grande incentivo para fi carmos mais curiosos a respeito da nova cena latino-americana que nos cerca.

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    QUASE MINEIRA

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  • "Chabon um escritor espetacular. Os jogos de palavra com o idiche certamente a lngua franca dos judeus antes de Israel na boca dosmodernos judeus do Alasca so uma ideia de mestre." The Guardian

    "Um de nossos mais brilhantes talentos literrios, um virtuose." Associated Press

    "Escritor extraordinrio, um fantstico estilista da prosa." International Herald Tribune

    "Chabon reinventou a prosa contempornea, revisitando os mais festejadose populares gneros narrativos. Ele restaurou o prazer da leitura." Esquire

    A partir de 10 de fevereiro nas livrarias. www.companhiadasletras.com.br

    Associao Judaica de Polcia.Do ganhador do prmio Pulitzer, Michael Chabon.

    literatura cultura entretenimento ensaio reportagem histria geografia filosofia obras de referncia

    O DIA DAS FORMIGAS Bernard Werber

    As formigas construram verdadeiros reinos, inventaram as mais sofisticadas armas, conceberam uma completa arte da guerra e da poltica (que at hoje no conseguimos igualar) e dominaram uma espantosa tecnologia. As assustadoras semelhanas e diferenas entre essas duas civilizaes sofisticadas e tudo o que h de mais secreto, misterioso, enigmtico na sociedade subterrnea e rasteira desses animais vem tona.

    LAOS DE PECADONora Roberts

    Shannon Bodine abandona sua carreira como artista grfica numa famosa agncia de publicidade em Nova York movida pela descoberta da identidade de seu verdadeiro pai. Relutante, realiza o desejo de sua me, j falecida, e parte para a Irlanda. L encontra, alm das origens familiares, seu grande amor.

    A SOMA DOS DIASIsabel Allende

    Em nova e surpreendente autobiografia, Isabel Allende narra com franqueza sua vida durante as ltimas duas dcadas. A autora faz um relato memorialstico sobre a histria recente de sua vida, alm das muitas revelaes ntimas e familiares, cartas, conversas e lembranas. A histria de amor entre uma mulher e um homem que, envoltos por uma grande e moderna famlia, venceram juntos muitos obstculos sem perder a paixo e o humor.

    TODO AR QUE RESPIRASJudith McNaught

    Numa histria que dosa mistrio, paixo, assassinato e psicologia em tom dinmico e arrebatador, esta mestre do romance instiga leitores do mundo inteiro a conhecer o desfecho da eletrizante relao de Kate e Mitchell e das inmeras intrigas em que se envolvem. O mais esperado romance de Judith McNaught de todos os tempos.

    UM BESTSELLER PRA CHAMAR DE MEU Marian Keyes

    Autora do sucesso Melancia, Marian Keyes revela com diverso, drama e alto-astral os bastidores do mundo do livro. Rene ingredientes infalveis para quem curte o mundo dos livros e apaixonado por boas histrias de vida contemporneas.

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    O porto de Npoles o ponto de partida para a jornada. L desembarcam diariamente todo tipo de mercadorias, vindas da Itlia e de vrias partes da Europa. Dos contineres alta-costura, passando por Las Vegas, China, hotis de luxo e culminando em toneladas de cocana, Roberto Saviano se infiltrou na Camorra napolitana para descobrir as artrias do funcionamento da mfia mais perigosa e temida do mundo.

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    A 26 edio do So Paulo Fashion Week (SPFW), encerrada em janeiro, aconteceu com os olhos voltados para o exterior. O evento, em 2010, chega ao seu 15 ano de existncia e, nesta segunda dcada, vive a necessidade de consolidar a moda nacio-nal como parte da elite criativa do mundo globalizado os primeiros dez anos foram dedicados formao de uma cultura de moda no mercado interno, que antes era in-existente. Mas, para ganhar o consumidor estrangeiro, os brasileiros tero, fi nalmente, que aprender a construir marcas no exte-rior, o principal desafi o hoje vivido pelas marcas nacionais.Um dos casos mais bem-sucedidos at aqui o do proprietrio e estilista da marca Osklen, Oskar Metsavaht, que se prepara para abrir mais duas lojas este ano: em Mi-ami, em novembro, e mais uma unidade na Itlia, onde representado pelo Grupo Paci-fi co Paoli. Estou na fase de experimentao, adquirindo experincia no que diz respeito ao posicionamento de marca l fora, diz. Por mais que Oskar j acumule presena em trs continentes com um total de nove lojas, falta ganhar experincia em relaes pblicas, gesto de comunicao, conheci-mento de mercado externo e treinamento de profi ssionais para vender o estilo Osklen. Tudo isso no fcil de administrar dis-tncia, explica o estilista. Hoje, a marca tem 41 lojas no Brasil, trs em Portugal, duas em Milo, uma em Nova York, Tquio, Roma e

    Genebra, alm de showroom na Itlia, Es-panha, Grcia, em Portugal e de exportar para Blgica, Chile e Oriente Mdio.Alm de Oskar, h um time de criadores, como Carlos Miele o primeiro a investir na abertura de uma loja prpria em Nova York ainda em 2003 , Alexandre Herch-covitch, Almir Slama, Fause Haten, Isabela Capeto e outros, que tambm abriu seus ol-hos para o mundo e busca visibilidade em outros mercados. Este movimento tem acontecido nos ltimos cinco anos de SPFW e como um processo evolutivo natural do mercado brasileiro ago-ra j bem mais maduro. Hoje h vrios gru-pos interessados em investir na moda, ent-rando pra valer na rea, comprando marcas, implementando gesto, o que desenha um bom cenrio para os prximos anos, afi rma Graa Cabral, diretora de relaes corpora-tivas do evento. Uma das empresas de fora do setor que se aproximou do projeto foi a Livraria Cultura, que este ano inaugurou sua participao no evento e pretende dar con-tinuidade parceria (ver box). Para ganhar visibilidade no exterior, os or-ganizadores em parceria com a Agncia de Promoo de Exportao (Apex-Brasil) con-seguiram trazer 40 jornalistas estrangeiros para a cobertura da semana de moda paulis-ta. Foi a maior presena registrada at aqui. O convite para a imprensa internacional faz parte de um projeto para quatro edies do evento, que acontecem entre 2009 e 2010, e

    que envolve recursos de R$ 12 milhes, sen-do parte da Agncia e parte da InMod (Ins-tituto Nacional de Moda e Design), brao institucional do SPFW. Segundo Marcos Aurlio Lobo, gestor do projeto na Apex, a mdia gerada com a cobertura do evento mantm a moda brasi-leira em evidncia no exterior e d apoio para a consolidao das marcas nacionais l fora. Para Roberto Davidowicz, vice-presi-dente da Associao Brasileira dos Estilistas (Abest), o interesse no Brasil grande pelo peso que o evento nacional ganhou. Hoje considerada a quinta semana de moda do mundo e com uma excelente visibilidade, afi rma Davidowicz, que tambm proprie-trio da marca Uma ao lado da mulher e es-tilista, Raquel Davidowicz.

    EXPORTAESOs nmeros sobre a avaliao das expor-taes ainda so escassos, visto que no h um levantamento especfi co na Apex que demonstre o crescimento da sada de produtos de alta-costura. Porm, inegvel que o potencial existe e grande. Segundo dados da Apex, no geral, as exportaes dos estilistas brasileiros j alcanam US$ 15 milhes por ano, quando, h quatro anos, eram praticamente inexistentes. Hoje percebemos que o Brasil j visto pelos estrangeiros como um novo mercado, in-serido na cesta de consumo global, afi rma Davidowicz, que v uma srie de possibili-

    Made in BrazilSPFW encerra sua 26 edio com o desafi o de ajudar a moda nacional a se consolidar no mercado internacional; organizadores promovem conceito de economia criativa como ponto de partida para elaborao de estratgias que solucionem gargalos de exposio da criao nacional em diversas reas Ruy Barata Neto

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    Coleo de inverno 2009 da Osklen: criatividade no uso do moletom; no destaque, direita, Oskar Metsavaht, estilista da marca

    dades para o setor a partir deste ano, apesar da crise fi nanceira que tem afetado a eco-nomia global. Na sua opinio, o estilo da moda brasileira algo novo que pode se destacar em mercados que esto acostuma-dos com as tradicionais marcas premiumdo mundo da moda. A crise populariza essa viso do novo, a busca por uma moda alternativa que traga valores diferentes dos quais as pessoas no mundo j se acostu-maram. Para Lobo, o Brasil tem produtos para o segmento de alto luxo a um preo menor do que o das grandes grifes euro-pias. Temos o que eles chamam de elegncia na informalidade.Porm, h questes a serem apontadas. Para a consultora de moda Glria Kalil, os brasileiros ainda precisam aprender a construir marcas l fora, o que at agora no foi feito de maneira adequada nem em produtos como o caf, que no passado era a fora motriz da economia nacional. A moda brasileira brilha, mas ainda no vende e, neste mundo competitivo que a est, h uma necessidade de se fazer mar-cas nacionais da moda no exterior, que tenham a mesma fora da Havaianas, at aqui a nica marca de sucesso l fora, afi rma Glria. Para Oskar, dentro de uma escala de dez etapas, ainda estamos na ter-ceira, no processo de avano da moda na-cional no exterior.

    COLEESA criatividade na confeco das peas um dos grandes patrimnios do setor. Glria Kalil realiza seminrios anuais sobre a moda e os ltimos trs anos de evento evidenciam bem a anlise da criatividade brasileira. Se-gundo a consultora, no primeiro evento, discutiu-se bastante a questo das vendas de grifes nacionais que no saem ainda to bem como deveriam no mercado interno (no qual se tem uma classe mdia grande, mas com baixo poder de compra), nem no externo (pela falta de conhecimento das marcas). E, como se isso no bastasse, ainda aparecem China e ndia vendendo qualquer coisa de que a moda precisa a preo de banana. Glria lembra que no segundo ano o semi-nrio foi dedicado a investigar que ativo o Brasil tinha como poder para competio global, j que, no mapa, os italianos so conhecidos pelo design; os franceses, pelas marcas; os americanos, pelo mercado inter-no; e os chineses, pelos preos. Ali fi cou no ar que o Brasil tem uma certa criatividade maior que os demais, ento, que isto seja transformado em business, diz Glria. E exatamente por a que muitos players nacionais caminham. Basta ver o exemplo desta coleo de inverno da marca Osklen. Trabalhando com o bsico do inverno, como o moletom, Oskar procurou rein-vent-lo, criando variaes de peas com a

    mesma matria-prima. De acordo com seu estilo, continuou utilizando tecidos orgni-cos, identifi cados com valores de respon-sabilidade ambiental e sustentabilidade, o que muito valorizado no exterior.

    CLICHS E o que isso tudo tem a ver com cultura? Tudo! A via pela qual o Brasil pode se destacar no mundo a partir do que ele tem de melhor a oferecer: sua prpria iden-tidade. Segundo Lobo, os estilistas nacio-nais buscam inspirao na cultura brasileira e se descolam de tendncias estrangeiras, o que facilita entrar no mercado externo ven-dendo esse diferencial. A sustentabilidade da Osklen, por exemplo, tem tudo a ver com as competncias do Brasil no cenrio internacional. Muitos esperam que o pas se destaque pela elaborao de polticas de defesa da biodiversidade e do meio am-biente porque possui o chamado pulmo do mundo, que a fl oresta amaznica. mostrando o que o Brasil que o SPFW quer basear a exposio de marcas nacio-nais no exterior. O tema desta edio inclu-sive foi brasileirismos, identifi cados por as-pectos criativos e engraados enraizados na cultura nacional, como as frases de humor estampadas em para-choques de caminho, que s existem aqui e enfeitaram o pavi-lho da Bienal durante a semana de moda.

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    O caminho esse, visto que o Brasil no conhecido por marcas de luxo, de bom acabamento, nem terra de tecidos fi nos, explica Glria. O que se vende do Brasil na moda principalmente life style. O evento, nesta temporada, homenageou a cantora Carmen Miranda, que tambm lembrada por seu centenrio de nascimen-to (ver matria na pgina 34). A Pequena Notvel, como era conhecida, tem muito a ver com esse momento da moda nacional, uma vez que, alm de gostar de participar do processo de criao e confeco de suas roupas e sapatos, tambm foi a primeira artista nacional com selo de exportao. Ela levou todo o requebrado e a alegria do brasileiro para fora, exatamente valores que o evento trabalha como imagem do Brasil no exterior. E Glria no v nada de errado em explorar os clichs da brasilidade, como o samba, o futebol, a sensualidade, a alegria, para fazer o produto nacional ser mais competitivo no mundo. As pessoas, s vezes, fi cam receo-sas por causa do clich. E clich no vem toa. Eles fazem sentido, porque so elemen-tos de identifi cao. E, se permaneceram, porque so bons, afi rma a consultora.Os estilistas j perceberam que precisam tra-balhar esses valores e calc-los em qualidade de fabricao de peas, design e capacidade de entrega para poder ganhar efetivamente o mundo. Acho que, se as nossas formas de expresso estiverem dentro de uma esttica universal, com design de qualidade, aliadas capacidade de entrega, no tenho dvidas de que alcanaremos uma boa posio no mundo, explica Oskar Metsavaht. Para Davidowicz, valores intrnsecos cul-tura nacional so diferenciais para as em-presas. A criatividade dos nossos estilis-

    tas que deve ser global, sem os clichs do Brasil, mas, quando pensamos nas roupas como produtos acabados, no deixamos de ver a brasilidade que h na criao.

    ECONOMIA CRIATIVA Para pensar nas peculiaridades da cultura nacional como um ativo que gere negcios e reforce a imagem criativa do brasileiro, o SPFW aposta no conceito da economia cria-tiva, assunto em torno do qual se deu um evento paralelo aos desfi les. O ciclo de bate-papo com empresrios de diferentes setores foi comandado pela diretora de relaes corporativas, Graa Cabral, pela economista Ldia Goldstein e pela atual consultora da ONU em um programa de cooperao para o desenvolvimento da economia criativa na Amrica do Sul, Lala Deheizelin. O objetivo foi fomentar o pensamento de novas estrat-gias que transformem os saberes e fazeres da cultura nacional em negcios efetivos.A teoria da economia criativa que comea a ser difundida no Brasil se aproxima do con-ceito de economia da cultura, que adotado hoje, por exemplo, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES). A instituio possui um departa-mento de economia da cultura. Mas a dife-rena que a economia criativa no trabalha com paradigmas tangveis como se d com o primeiro caso, segundo Ldia Goldstein. Uma empresa como o Google, que trabalha com informao e recursos intangveis, difi cilmente poderia receber recursos do BNDES. Fico feliz de ver o banco, hoje, bus-cando novas mtricas de medio de resul-tados para fazer aportes de investimentos. A primeira nao a saber se apropriar des-ses conceitos de gesto da cultura foi os Estados Unidos ao montar sua indstria

    cinematogrfi ca, que funcionou como ca-nal para exportar diferentes setores de sua economia, desde marcas de calados at cigarros. O cinema americano exportou comportamento e estilo para o mundo, o intangvel, que alavancou vendas dos produtos de suas indstrias. Similar foi a Inglaterra que, bem mais tarde, em 1997, segundo Ldia, trouxe o conceito da eco-nomia criativa como um programa no qual foram inseridos 16 setores ligados cultura e que hoje j perfazem 18% do seu PIB.Para Lala, a economia criativa aparece den-tro de um contexto de mudana de poca, no qual ainda est se aprendendo a lidar dentro de um novo paradigma. Trata-se da pas-sagem de uma fase na qual durante muito tempo a sociedade, a poltica e a economia se organizaram em torno de recursos de mate-riais fi nitos terra, ouro, petrleo. Agora, com a ajuda da tecnologia, o papel central segue para recursos criativos associados aos produtos que so intangveis e infi nitos. Isso demanda novos processos de gesto, explica.De acordo com Ldia, os setores que com-pem a economia criativa como as artes, a culinria, o prprio turismo e o audiovi-sual so estratgicos primeiro para a gera-o de emprego, segundo para a formao de consumidores mais exigentes, porque so empregos de maior nvel, e terceiro para fazer com que o setor mais tradicional da economia, como por exemplo o setor tx-til, ganhe em modernidade e se reinvente, por meio de marca, design e tecnologia. uma teoria que faz sentindo tanto para uma pequena comunidade como para uma indstria txtil de ponta e maior porte e en-vergadura, porque voc s vai competir no mercado se tiver marca, design e produto diferenciado, afi rma.

    O SPFW pretende no apenas exportar o vesturio, o produto fi nal acabado, mas todos os processos criativos caractersticos do Brasil em seu bojo

    Encontro sobre economia criativa reuniu empresrios de diferentes setores para pensar estratgias que transformem os saberes e fazeres da cultura nacional em negcios

    REPORTAGEM18

    Graa Cabral

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    Para o presidente da Livraria Cultura, Pe-dro Herz, um dos convidados para debater a questo da economia criativa durante o evento, necessrio comear a pensar no na macroeconomia criativa, mas sim na microeconomia, que aquela que diz res-peito ao dia a dia. Qualquer evento ou pro-jeto de criatividade no pode esquecer uma palavra simples e bsica: credibilidade. Para projetos nacionais terem sucesso, te-mos que inspirar as pessoas, tornar o pro-jeto confi vel. Na minha opinio, a grande crise que o mundo vive hoje de falta de confi ana, vide o que acontece no mercado fi nanceiro, afi rma Herz.Graa Cabral explica que o prprio SPFW um case de referncia para o que se en-tende por economia criativa. Como um evento de moda, pretende no apenas ex-portar o vesturio, o produto fi nal acabado, mas todos os processos criativos caracters-ticos do Brasil em seu bojo. Pensamos no evento como um hub [ponto central] por onde se cruzam diferentes redes criativas, diz. Esse sempre foi um esforo nosso: mostrar que moda no se resume a rou-pa, ao produto pronto, acabado, mas que rene o trabalho criativo de cengrafos, maquiadores, cabeleireiros, designers de jias, calados etc.O modelo do evento nico. Ao esta-belecer essa rede e dentro dela reunir um pblico consumidor que tambm pro-cura valores intangveis em suas marcas de consumo, atrai marcas patrocinadoras, as quais aproveitam essa atmosfera para lanar produtos que tambm trazem difer-enciais de valores. A Melissa, por exem-plo, lanou este ano uma coleo chamada Africamania e estruturou suas peas de sandlias prximas do trabalho da artista Esther Mahlangu, da etnia Ndebele. A fa-mosa artista sul-africana de 75 anos tra-balha com uma tcnica prpria a pintura de murais, fachadas de casas, dentro da sua comunidade, e tambm esteve presente na Bienal do Ibirapuera para divulgar seu tra-balho. Caso exemplos de economia criativa se disseminem tendo preocupaes em ga-nhar mercado agregando criaes originais como as de Esther, os brasileiros sabem que possuem uma fonte inesgotvel de ma-trias-primas a serem trabalhadas.

    A Livraria Cultura j est com seu lugar reservado na prxima edio do So Paulo Fashion Week, a ser realizada em julho, com a chegada das colees Primavera/Vero. A minilivraria montada na 26 edio da semana de moda, que aconteceu de 18 a 23 de janeiro, se destacou em meio ao burburinho inquietante dos desfi les que traziam a assinatura dos principais estilistas do pas. A Cultura e outras seis marcas Loja do Bispo, m Foto Galeria, Benedixt, Plastik, Espao So Paulo Galeria e Chica-Boom se instalaram em um espao privilegiado na Bienal do Ibirapuera, em So Paulo, dentro do conceito de loja pop up. Trata-se de um formato que vem sendo adotado por empresas de diferentes segmentos e carrega na proposta as ideias da mobilidade e da renovao. Logo na rampa de entrada da Bienal, que dava acesso aos lounges dos patrocinadores do evento e s salas de desfi le, os produtos da Cultura fi cavam expostos em cima de caixas de estrados de madeira, como se tivessem sido descarregados de um navio naquele momento, e transportavam o cliente para o clima do cais de um porto. Nada de estantes ou prateleiras. A disposio dos livros, CDs e DVDs foi idealizada para ser informal e trazer ares de novidade. Sem esquecer a homenageada deste ano pelo evento, a Cultura tambm fez sua dedicatria ao centenrio de nascimento de Carmen Miranda com uma seleo de itens que contam sua trajetria. O ttulo mais procurado sobre a Pequena Notvel, como era conhecida, foi a coletnea tripla Carmen Miranda Volumes 1, 2 e 3, com canes clssicas como Ta-hi (Pra voc gostar de mim) e Yaya, yoyo, alm de faixas raras como Primavera no Rio. Entre os DVDs, recorde para o musical de 1940, Serenata tropical, romance entre um fazendeiro argentino e uma gr-fi na proprietria de cavalos, com msica de fundo criada por Carmen. Na literatura, se destacou Carmen, resgate histrico rico em detalhes e curiosidades escrito por Ruy Castro.Para no fi car fora da moda, o acervo levado para a loja do SPFW contou tambm com ttulos de cabeceira dos estilistas. A roupa e a moda, do historiador de moda James Laver, fez sucesso entre os fashionistas. O livro mostra como as roupas traduzem cada sociedade sua poca. Na Europa do sculo 19, por exemplo, as camisas bufantes feitas de tecidos nobres e que parecem estranhas aos nossos olhos hoje em dia eram as preferidas das cortes.Mesmo sem passarela, a Cultura atraiu muita gente com as sesses de autgrafos realizadas durante o evento. A primeira a desfi lar foi a cantora Paula Lima. Considerada a verso contempornea de Carmen Miranda, ela lanou seu mais novo DVD, Sambachic, trazendo na bagagem participaes especiais de Dona Ivone Lara, Tony Garrido e Seu Jorge. Outra que tambm provocou rebulio foi a jornalista e atriz Marlia Gabriela, autora de Eu que amo tanto, um livro que desmonta o mito do amor perfeito atravs de 13 histrias sobre mulheres que amam demais, distrbio conhecido como dependncia afetiva. Nina Lemos, membro do trio 2 Neurnio e editora da revista TPM, lanou A ditadura da moda, fi co que coloca o prprio SPFW como ponto central da angstia de uma crtica de moda, fi lha de comunistas, que relembra seu passado durante um desfi le. A ltima sesso de autgrafos foi da cantora Marina de La Riva. Sensual e ecltica, ela soube unir referncias brasileiras e cubanas de maneira nica em seu mais novo lbum, que leva seu nome. Alm das letras e da msica, a Livraria tambm entrou para o mundo das colees. Uma srie de ecobags foi produzida especialmente para o SPFW, tendo estampa em sintonia com o tema da semana de moda, que foi Brasileirismos. Com edio limitada, a bolsa ecologicamente correta replicou a ilustrao da capa da edio de janeiro da Revista da Cultura, assinada pelo artista Kako. O desenho faz uma dedicatria aos inmeros ritmos presentes no regionalismo musical do Brasil. A prxima montagem da loja tambm seguir no mesmo formato pop up e trar mais surpresas. (Paulo Scheuer)

    Livraria Cultura no SPFW

    LOJA POP UP: Livraria Cultura agita o espao com lanamentos e celebridades

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    PDFO livro eletrnico ainda no tem formato defi nido. Desde os primrdios da internet a leitura podia ser fei-ta diretamente nos programas de navegao na web no formato HTML, mas os textos eram salvos de diferentes formas nos computadores ou no prprio formato web, como documentos do Word da Microsoft , ou o texto puro, sem as imagens. Cada uma dessas modalidades trazia mudanas na diagramao e, consequentemente, na leitura em cada tipo de computador, afi nal, era uma poca em que no havia uma padronizao to ampla entre plataformas. Vendo esse cenrio, a companhia de soft ware Adobe criou o formato PDF, que permitia man-ter o nmero de pginas, a formatao e a diagramao dos livros como eles haviam sido pensados para ser con-sumidos e no apenas como uma lista interminvel de texto. O formato foi amplamente adotado inclusive pelo mercado editorial em papel, que passou a usar o PDF como uma espcie de fotolito digital, queimando uma das etapas da impresso de livros.

    E-BOOKSO conceito de livro eletrnico to antigo quanto a pr-pria web. Na medida em que comeou a se popularizar, a rede permitiu que seus prprios usurios pudessem digi-talizar obras inteiras para serem lidas no computador. Mas ler e escrever textos longos no PC era um martrio na verdade, ainda . O problema do direito autoral tambm era incipiente quando, nos anos 1990, surgiu o Projeto Gutenberg, que semeava a criao coletiva do sculo 21: buscava digitalizar livros e peas que haviam cado em do-mnio pblico. No demorou muito para os internautas descobrirem caractersticas especfi cas do texto digital, como a possibilidade de incluir links, e outras inmeras ferramentas multimdias, por exemplo a vantagem de o nico espao ocupado ser o disco rgido.

    Como o mercado de livros se adaptou internet por vias no-convencionais e o que ele pode esperar do futuro

    LEITURA DIGITALAlexandre Matias

    Graas web, diferentes geraes descobriram ou redescobriram o prazer da escrita e da leitura. Muito antes do MP3, dos programas on-line e do YouTube, a interface da rede era formada basicamente por tex-tos e imagens. Logo depois de os veculos de comunicao impressos terem se voltado para a internet, foi a vez do mercado editorial. Mas, enquanto jornais e revistas se digitalizaram de forma pontual e prtica, o mundo dos livros no chegou pelas vias convencionais. De textos em domnio pblico digitalizados por amantes da literatura a novos escritores que descobriram no formato blog uma plataforma para se lana-rem, a Galxia de Gutenberg comea a invadir os meios digitais. E ao contrrio do que aconteceu com as gravadoras, que no se adaptaram internet e em vez de trabalharem com ela preferiram combat-la, o mercado editorial vem aos poucos cogitando possibilidades para acompanhar as mudanas. Veja a seguir um resumo da evoluo da digitalizao de livros e saiba um pouco do que vem por a.

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    E-READERSO passo seguinte rumo leitura digital foi tirar o livro do computador. A leitura na tela pode at ter se torna-do comum com a web, mas ler no monitor ainda um processo doloroso. Por isso, vrias empresas tm criado dispositivos que simulam um livro em papel em peso e formato para facilitar a leitura. O primeiro deles foi o Sony e-Reader, lanado em 2006. No ano seguinte, a loja on-line Amazon lanou o Kindle, que foi o leitor de e-books que teve melhor recepo no mercado at agora. O aparelho recebeu elogios pelo aspecto tecnolgico e crticas em relao ao modelo de negcios, pois ele s permite que se use livros comprados na Amazon. a mesma coisa se um iPod no tocasse MP3, mas somente as msicas compradas via Apple.

    EXPERIMENTOSO aspecto interativo da literatura digital fez com que uma srie de autores experimentasse as possibilidades do formato: da incluso de elementos multimdia em livros feitos para serem lidos na tela a romances cujo enredo se desenrola no Google Maps ou so escritos in-teiramente no Twitter, rede social em que seus usurios s podem escrever textos com 140 caracteres. A editora inglesa Penguin criou uma diviso apenas para explorar essas possibilidades.

    NO CELULARCom a evoluo do telefone mvel para um pequeno com-putador porttil, foi natural a invaso no celular do texto digital. O dispositivo ainda est longe da praticidade e do conforto ambicionados pelos e-readers, mas sua onipre-sena j foi fl agrada por editores, que o utilizam de formas diferentes: no Japo, por exemplo, a populao l mangs nos interminveis caminhos entre o trabalho e a casa e h um boom editorial de romances escritos com captulos curtssimos e enviados via SMS. Cada vez mais grandes grupos de comunicao adaptam o contedo de seus jor-nais e revistas para serem lidos pelo celular. AUDIOLIVROS

    A princpio voltados para defi cientes visuais, os livros li-dos ou audiobooks esto renascendo por causa do ex-cesso de leitura em tempos de internet. Uma frao deste novo leitor no aguenta mais ler o tempo todo e passa a buscar obras gravadas por seus autores ou vozes preferi-dos. Muitas pessoas aproveitam tambm as horas perdi-das no trnsito das grandes cidades para ouvir histrias. No mercado esto disponveis timos ttulos lidos por Nelson Motta, Jos Wilker e Paulo Betti, entre outros.

    PAPEL ELETRNICOA tecnologia do papel eletrnico foi criada pelo PARC (Palo Alto Research Center), um centro de desenvolvi-mento tecnolgico da Xerox localizado na cidade de Palo Alto, na Califrnia, Estados Unidos. Deste centro saram, por exemplo, o mouse e o prottipo do Windows. A tec-nologia que permite o papel eletrnico existe desde os anos 1970, mas s comeou a ser desenvolvida de forma mais intensa a partir da virada do sculo passado, quando o uso comercial destes dispositivos comeou a ser enca-rado como uma possibilidade. Embora seja a base dos lei-tores eletrnicos e do Kindle, o Santo Graal para esta nova etapa do mercado editorial um suporte mole e fl exvel como o papel e no emite luz como os monitores atuais, mas funciona como uma tela de computador, em que texto e imagens so simplesmente recarregados na medida em que as pginas so viradas. A pergunta inevitvel : como se folheia um livro eletrnico? Com as pontas dos dedos, em um boto ou num piscar de olhos? O papel eletrnico, na verdade, s o comeo de uma nova histria.

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    UMA CANO DE AMOR PARA BOBBY LONG, Shainee GabelBaseado no livro Off magazine street, de Ronald Everett Capps, o fi lme se passa em uma New Orleans sem nenhum glamour Bourbon Street. Uma garota meio white trash descobre que sua me ausente mor-reu e lhe deixou uma casa. Chegando l, descobre que o local habitado por dois amigos dela: um ex-professor de litera-tura pedante e um escritor wannabe; am-bos bbados e quebrados. Bom, a garota Scarlett Johansson, e o professor John Travolta. E o fi lme sensacional.

    O NOME DA ROSA, Jean-Jacques Annaud Adaptado do romance homnimo de Umberto Eco, simplesmente uma das melhores e mais fi is adaptaes da litera-tura para o cinema. Tudo que O cdigo Da Vinci queria ser, mas no tomou Toddy sufi ciente.

    FACTTUM SEM DESTINO, Bent HamerSei de duas adaptaes da obra de Charles Bukowski para o cinema: Crnica de um amor louco (esgotado) e Barfl y Condenados pelo vcio. Mas essa arrasou! Quer dizer, o Matt Dillon fi cou feio. No fi lme, Henry Chinaski fi ca uma semana em cada emprego, com toda a sorte de garota, em toda a sorte de hotel.

    MISTRIOS E PAIXES, David CronenbergUma adaptao do romance de William Burroughs. Se voc no conseguiu ler o li-vro, vamos l, tente o fi lme, mas no coma nada antes.

    THE BUTCHER BOY, Neil JordanObra criada com base no livro N na gar-ganta, do escritor Patrick McCabe, narra as aventuras do ruivo e perturbado Fran-cie, fruto de uma famlia disfuncional, com me suicida e pai alcolatra. A obra memorvel e a atuao do jovem Eamonn Owens tambm.

    CONFIANA, Hal Hartley (no foi lanado em DVD)Finalmente, um fi lme que no uma adap-tao, mas tem que ser visto. Assisti l pelos 13 anos, fi quei fascinada. A fascinao vol-tou agora que revi. Maria, uma tpica ga-rota norte-americana paga-pau de jogador de time de futebol americano, se v grvida. O pai rejeita. Ela volta para casa e mata seu prprio pobre e velho pai de desgosto. ex-pulsa de casa e, por a, encontra Matthew, jovem de temperamento destemperado. Nada mais conto. Mas o nome do fi lme no poderia ser mais adequado.

    Garras de foraPrimeiro foi o e-zine, em seguida vieram os blogs e, final-mente, os livros. A escritora gacha Clarah Averbuck, filha do msico Hique Gomez da dupla Tangos & Tragdias, fala o que pensa, adora gatos (tem cinco bichanos) e apaixonada por Catarina, sua filha de cinco anos. Ex-vocalista da banda Jazzie e os Vendidos, prepara-se para gravar o projeto Oneyedcat. Clarah despertou o interesse de vidos leitores como colunista do CardosOnline, que deixou em 2001 para criar seu prprio blog, Brasileira!Preta, substitudo pelo AdiosLounge em 2006. Autora de inmeros contos e alguns romances (todos esgotados), entre eles Das coisas esquecidas atrs da estante, Vida de gato, lanado na Inglaterra em 2008, Nossa Senhora da pequena morte e Eu quero ser eu (ainda no publicado), teve sua novela Mquina de pinball adaptada para o cinema como Nome prprio, dirigido por Murilo Salles e estrelado por Leandra Leal. Clarah no ficou exatamente feliz com a verso cinematogrfica baseada em seu livro e mostra aqui o que, segundo ela, so algumas das melhores adaptaes de obras literrias para o cinema.

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    Domingos Paschoal

    CEGALLA

    NOVSSIMA

    GRAMTICAD A L N G U A P O R T U G U E S A

    Dom

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    CEG

    ALL

    A

    A Novssima Gramtica, graas ampla e expressiva aceitao que sempre teve entre profes-

    sores e alunos de todos os nveis educacionais, a

    mais consagrada gramtica de nossa lngua.

    Somente um estudioso de nosso idioma, da

    envergadura do professor Domingos Paschoal

    Cegalla, poderia sistematizar contedos gramaticais

    e concretizar uma gramtica deste porte, que rene

    abrangncia, rigor e profundidade.

    Nesta nova edio, a Novssima Gramtica teve

    suas listas de exerccios atualizadas e recebeu um

    apndice final que contm questes extradas de

    exames e concursos, firmando-se como obra de

    referncia indispensvel a todos aqueles que neces-

    sitem esclarecer suas dvidas de Lngua Portuguesa.

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    PORTUGUESA

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    A VOZ NA ESCRITAA histria oral criou outro jeito de fazer jornalismo, literatura, museologia e ganhou espao em outras reas, preservando a maneira do falar e a emoo de quem viveu o que conta. Incluindo relatos de grupos silenciados, os testemunhos aproximam pessoas e estabelecem o dilogo

    Agnes Mariano

    Com a voz, anunciamos nossa chegada ao mundo: um grito, o choro. Falando, com-partilhamos saberes e experincias. Provr-bios, receitas, fbulas, oraes, poesias, mi-tos, anedotas e adivinhas foram cantadas, dramatizadas e narradas oralmente por todos os povos. Contar histrias ajudava a dar sentido vida. No toa que a voz est presente em diferentes tradies reli-giosas. A palavra tem um sentido mtico fundamental, afi rma o historiador Jos Carlos Sebe Bom Meihy, um dos maiores especialistas brasileiros em histria oral.Apesar de sua fora, a palavra falada foi per-dendo terreno para a escrita. Quando parecia destinada ao desprestgio, entretanto, volta a conquistar respeito e chega s universidades e aos livros. Em Literatura oral no Brasil, o folclorista Lus da Cmara Cascudo dedica algumas pginas aos contadores africanos: "Toda a frica ainda mantm seus escritores verbais, oradores das crnicas antigas, can-tores das glrias guerreiras e sociais, antigas e modernas, proclamadores das genealogias ilustres. So os akpal kpatita, ologbo, grio-tes. Constituem castas, com regras, direitos, deveres, interditos, privilgios. De gerao em gerao, mudando de lbios, persiste a voz evocativa, ressuscitando o que no deve morrer no esquecimento". No embate com a escrita, a fala passou a ser considerada o espao do impreciso, do improvvel, do falvel. "A ditadura da es-crita to fundamental que a Histria se preza como manifestao de conhecimento a partir da escrita. Antes, pr-histria", ex-plica Meihy, fundador do Ncleo de Estudos em Histria Oral (Neho) da Universidade de So Paulo (USP). A escrita como suporte para contas, contratos, balanos, acordos, garantindo determinadas "verdades". Entre os momentos em que a Histria reforou o prestgio da escrita, o historiador cita o Positivismo e a ideia de que sem documen-to no h Histria e que estes "documentos" seriam sempre escritos.

    Novas perspectivas surgiram no sculo 20, com a comunicao de massa, a populari-zao de aparelhos que reproduzem ima-gens e sons, as novas formas de encarar o conhecimento histrico defendidas por historiadores franceses, as contribuies da antropologia e os acontecimentos da poca. "Em 1945, com o fi m da guerra, j se sabe que aquele foi um grande evento. No era preciso mais o tradicional distanciamento. A Segunda Guerra tinha mudado frontei-ras, regimes polticos, criado e destrudo pases. Tinha matado milhares de pessoas, perseguido etnias. E sobre alguns temas desta histria no havia grandes registros", comenta a historiadora Suzana Ribeiro, que divide com Meihy a coordenao do Neho.

    GNESEA expresso histria oral comeou a ser uti-lizado no ps-guerra, nos EUA, em projetos sobre ex-combatentes e familiares. Na Uni-versidade Colmbia, comeam as gravaes sobre pessoas comuns, criando um novo modo de lidar com entrevistas, explica Meihy em Histria oral: como fazer, como pensar. De l para c, surgiram milhares de grupos e projetos que seguem, cada qual ao seu modo, princpios e procedimentos da histria oral. No Brasil, tudo muito novo. Os primeiros trabalhos so da dcada de 1970, sobre as elites polticas, feitos pelo Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil (CPDOC), da Fundao Getlio Var-gas (FGV), com apoio da Fundao Ford. Nos anos 1980, com a redemocratizao, a escuta dirigida aos presos polticos e exilados. A partir da, o interesse tem sido crescente: "Hoje, a quantidade de trabalhos no Brasil relacionados histria oral assustadora. H dois anos, em um congresso na Itlia, metade dos trabalhos inscritos eram brasileiros", conta Suzana. Alm dos grupos na USP e na FGV, existem outros em muitas universidades brasileiras. Pesquisas em cincias sociais, psicologia, comunicao e enfermagem tambm recorrem histria oral,

    defi nida por alguns como tcnica e por outros como metodologia ou disciplina. As etapas presentes na maioria das iniciativas so: projeto, roteiro, gravao da entrevista, tratamento do material e publicao. Alguns optam pela histria oral temtica (centrada em um tema ou episdio) ou pelas pesquisas sobre tradio oral, inspiradas na metodolo-gia dos africanistas. A vertente mais pratica-da, entretanto, a de vida, seja ligada a uma famlia, profi sso, gnero, classe ou etnia.Mas de onde vem tanto interesse por rela-tos de vida? A historiadora Karen Worcman, que fundou h 17 anos o Museu da Pessoa, tem uma explicao: "Nmeros e anlises no tm o poder de nos emocionar e abrir canais de compreenso do outro como essas narrativas. Somos todos pessoas, diferentes e semelhantes ao mesmo tempo. A reside o poder transformador das histrias de vida. Somos capazes de entender os dramas dos outros, sentir empatia, nos emocionar, aprender, admirar, detestar e tudo o mais, porque ns mesmos poderamos ter esta-do na posio do outro. Mas, como somos tambm diferentes, acabamos por aprender sempre com a histria de algum".Vale lembrar tambm que contar a prpria histria um direito a ser conquistado. Uma fala que pode ter a ousadia de chegar ao papel e ganhar fama internacional. Foi o que acon-teceu com a escritora Carolina Maria de Jesus, nos anos 1960, em seu Quarto de despejo: dirio de uma favelada. O livro vendeu mais de 100 mil exemplares, foi traduzido para 13 idiomas, gerou perplexidade, amor e dio. um sucesso que talvez se explique pela fora insubstituvel da experincia. Para os oralistas, no importa se quem fala famoso, annimo, adulto, idoso ou crian-a. Todos tm memrias que podem ser compartilhadas. Eles podem acumular uma histria como a de Paulinho, de 11 anos: "Eu moro na rua e s vou em casa de vez em quando. Durmo na rua, e ningum l em casa sabe onde estou. Achei at que eles NE

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    gostaram quando eu sa de casa. No briguei com ningum e sa porque estava procurando as minhas melhoras". Ou de Luis Incio Lula da Silva, relembrando o comeo no sindicato: "A primeira vez que fi z um discurso foi na posse. Na hora de ler, me deu uma tremedeira que eu quase no paro em p. Parecia que eu estava no ltimo estgio do Mal de Parkin-son". O Paulinho em questo um menino de rua que, junto com outros garotos, tem sua histria registrada no livro Decifra-me ou devoro-te, de Yara Dulce Bandeira de Atade. O presidente Lula, em conjunto com outros sindicalistas, contou suas experincias ao projeto "ABC de luta", do Museu da Pessoa e Sindicato dos Metalrgicos do ABC. Um certo dia de 1926 fi cou na memria do lituano Antanas Augustaitis: "O navio atra-cou. Querida terra do Brasil... o trem j es-perava por ns. Chegamos na Hospedaria... veio cafezinho com pedao de po. At hoje me lembro, mas que caf! Era licor de caf!" Tal narrao serve ao Memorial do Imigran-te em seu trabalho de resgate histrico.

    GRAVANDOJovens, ndios, empregadas domsticas, funcionrios de uma empresa, frequentado-res de um clube, moradores de um bairro, artistas, polticos, empresrios. Havendo quem narre, qualquer recorte vlido para o projeto. No caso do Memorial do Imi-grante, a escolha no foi difcil. O suntuoso conjunto de prdios localizado na Mooca, em So Paulo, tinha sediado por dcadas a Hospedaria de Imigrantes, criada para acolher estrangeiros atrados para o Brasil a fi m de trabalhar nas plantaes de caf. L, recebiam alojamento, alimentao, atendi-mento mdico, odontolgico e seguiam para as fazendas. " medida que a migrao ex-terna praticamente acabou, a interna passou a predominar. Veio o pessoal de Minas, do Nordeste, de vrios estados", explica Fabio Nucci, um dos responsveis pelo Departa-mento de Histria Oral. O mesmo local foi sede de uma escola tcni-ca de aviao, acolheu desabrigados e crian-as, funcionou como presdio poltico, mas a funo de museu se imps. Entre materiais cedidos ou pertencentes instituio, o visi-tante encontra mobilirio, utenslios, fotos, documentos, certifi cados de desembarque, exposies temporrias, vdeos temticos e 450 depoimentos orais. A gravao de entre-vistas comeou no incio dos anos 1990. Para localizar depoentes, a equipe recorre indicao de conhecidos, colegas de tra-balho e vai atrs de pessoas que deram en-trevista para jornais. Segundo Nucci, h testemunhos que retratam situaes sur-

    preendentes, como a dos irlandeses recruta-dos pelo Exrcito com promessas de terras, a mulher que dirigia um jornal na dcada de 1940 ou a do homem que viajava pelas colnias japonesas projetando fi lmes. Uma lacuna a ser preenchida a migrao nacio-nal, pois quase todos os relatos ainda so de estrangeiros e seus descendentes. Defi nidos os objetivos, reunida a informao disponvel e localizados os entrevistados, preciso pensar no roteiro e combinar o lo-cal. Muitas vezes escolher e