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  • 7/30/2019 1arotatividadenofutebol-

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    Porto, 2007

    Srgio Manuel de Jesus Domingos Alves

    ROTATIVIDADE DE JOGADORES no Futebol.

    Uma relao umbilical do como treinar com o

    como jogar.

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    Monografia realizada no mbito da disciplina de

    Seminrio do 5 ano da Licenciatura em Desporto

    e Educao Fsica, na rea de Desporto de Alto

    Rendimento opo de Futebol, da Faculdade de

    Desporto da Universidade do Porto

    Orientador: Dr. Vtor Frade

    Srgio Manuel de Jesus Domingos Alves

    Porto, 2007

    ROTATIVIDADE DE JOGADORES no Futebol.

    Uma relao umbilical do como treinar com o

    como jogar.

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    Provas de Licenciatura

    Alves, S. (2007). ROTATIVIDADE DE JOGADORES no Futebol. Uma

    relao umbilical do como treinar com o como jogar. Porto: S. Alves.

    Dissertao de Licenciatura apresentada Faculdade de Desporto da

    Universidade do Porto.

    PALAVRAS-CHAVE: ROTATIVIDADE DE JOGADORES RENDIMENTO

    SUPERIOR / TOP DENSIDADE COMPETITIVA PRINCPIOS

    METODOLGICOS CULTURA COMPORTAMENTAL DO JOGAR.

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    Penso naquilo que quero, naquilo que eu desejo para a minha vida acima

    de tudo. Acho que qualquer ser humano deve ir fazendo escolhas

    sucessivas ao longo da vida e essas escolhas tm de ser suas, no

    podem ser determinadas por outremO meu destino sou eu que o

    construo.

    Maria Filomena Mnica (2005)

    Tive um chefe que sempre me disse: Treinadores que foram grandes

    jogadores no tm de trabalhar, no tm de ganhar, basta-lhes usufruir do

    poder que lhes conferido por aquilo que foram; treinadores que no

    foram grandes jogadores tm de trabalhar, tm de ganhar e, ainda por

    cima, tm de ouvir os donos da verdade.Foi um bom ensinamento, mas

    no vejo as coisas de forma to linear e absoluta pois, felizmente, existemmuitos que respeitam quem trabalha, quem subiu, quem venceu.

    Jos Mourinho (2005b)

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    Agradecimentos

    III

    AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Vtor Frade, pela disponibilidade, ajuda, orientao que sempre

    demonstrou na realizao deste trabalho, no me dando solues mas sim

    mostrando o caminho para que eu fosse em busca das mesmas. Pelos

    conhecimentos transmitidos, pela qualidade das aulas, pela paixo que tem

    pelo conhecimento e pela forma como desde o meu 2 ano da Faculdade me

    conduziu a descobrir um pensamento sobre o Futebol.

    Ao Prof. Jos Guilherme, pela forma, inteligncia e sabedoria com que

    consegue demonstrar e exemplificar os seus conhecimentos.

    Aos entrevistados, Domingos Pacincia, Lus Freitas Lobo, Paulo Sousa, Jos

    Peseiro, Mariano Barreto, professor Carlos Carvalhal, professor Jos

    Guilherme, Rui Barros, Jorge Costa, professor Jesualdo Ferreira e Paulo

    Duarte pela disponibilidade evidenciada e contributo fundamental para a

    realizao do trabalho.

    Ao Fred, pelo interesse, pela vontade e pela disponibilidade demonstrada em

    ser o mais til possvel.

    Ao Nuno Amieiro e Bruno Oliveira, pela constante disponibilidade em ajudar.

    Ao Antnio Dias, pelo contributo, pela compreenso, pelo interesse e ajuda

    demonstrada desde o primeiro momento.

    Aos meus colegas de curso, em especial ao Pedro Chaves e Joo Brito pelo

    contributo para a realizao do presente trabalho.

    Ao Pedro Cunha pela amizade e ajuda em todos os momentos.

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    Agradecimentos

    IV

    Ao Ricardo Costa e Pedro Gomes pela partilha de conhecimentos, ajuda

    durante o curso e em especial pela amizade.

    Aos meus restantes amigos que viveram comigo momentos memorveis.

    Angela Azevedo, pela prontido e disponibilidade na correco e traduo do

    resumo.

    Aos meus jogadores, que tive e que tenho. A eles devo o privilgio de poder

    ensinar, ensinando-me.

    Aos meus pais, pela sua presena e apoio constantes em todos os momentos

    da minha vida.

    Aos meus avs, em especial ti Maria pela alegria prpria que demonstra

    pelo Futebol.

    Aos meus irmos pela amizade, pela compreenso, pela unio e carinho. Ldia pela simplicidade e humildade com que encara a vida. Snia pelo

    exemplo de persistncia e luta pelos seus objectivos. Ao Henrique pela entrega

    e gosto pelo trabalho, e tambm pelo gosto que partilha pelo Futebol.

    Sofia, pelos momentos de alegria, pela pacincia e pelo saber ouvir e

    compreender a paixo que tenho pelo Futebol. A tua presena constante e

    apoio incondicional fazem com que juntos sejamos um s. Sers sempre aminha peqenina linda.

    A todos, muito obrigado.

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    ndice

    V

    NDICE

    AGRADECIMENTOS........................................................................................ III

    NDICE............................................................................................................... V

    RESUMO........................................................................................................... IX

    ABSTRACT....................................................................................................... XI

    RSUM......................................................................................................... XIII

    1. INTRODUO............................................................................................... 1

    2. REVISO DA LITERATURA ......................................................................... 5

    2.1. A complexidade que o jogar manifesta................................................ 5

    2.1.1. A quem entende o jogar como uma complexidade irredutvel soma das partes ...................................................................................... 9

    2.1.1.1. O todo tem de ser maior que a soma das partes...................... 12

    2.1.2. A equipa enquanto sistema... o jogar enquanto sistema de

    sistemas................................................................................................... 14

    2.1.3. A extrema sensibilidade s condies iniciais que nasce na

    imprevisibilidade / aleatoriedade que o jogar manifesta........................ 17

    2.1.3.1. O jogo enquanto fenmeno catico com organizao fractal ... 192.1.3.1.1. O caos no jogo que origina um paradigma ordem versus

    desordem que permite alcanar uma organizao do jogar....... 25

    2.1.4. Adaptabilidade versus adaptao. A aprendizagem enquanto

    modificao adaptativa.......................................................................... 32

    2.1.4.1. O padro de exerccios regularidade como forma de prever

    o futuro .................................................................................................. 38

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    ndice

    VI

    2.1.4.2. Regulao o futuro como elemento causal do comportamento

    .............................................................................................................. 42

    2.1.4.3. O verdadeiro significado do hbito que se adquire na aco ... 44

    2.1.4.3.1. Velocidade mental uma antecipao da(s) aco(s) um

    reflexo da inteligncia de jogo............................................................ 46

    2.2. O emergir concepto-metodlogico de uma nova(s) problemtica(s)

    face inteireza inquebrantvel do jogar................................................... 51

    2.2.1. Rotatividade Uma necessidade nas equipas de Rendimento

    Superior..................................................................................................... 53

    2.2.1.1. Equipas de top pensar a mesma coisa e ao mesmo tempo

    uma identidade prpria.......................................................................... 562.2.2. O princpio da rotatividade de jogadores consideraes para um

    melhor entendimento ................................................................................ 59

    2.2.2.1. A importncia da crena dos jogadores no princpio da

    rotatividade........................................................................................... 65

    2.2.2.2. A necessidade da existncia de um modelo de jogo, onde o

    princpio da rotatividade se possa manifestar ..................................... 67

    2.2.2.3. Da concepo de jogo Operacionalizao do processo detreino o caminho para a construo do jogar................................. 69

    2.2.2.4. Individualizao do treino versus treino Individualizado ........... 72

    2.2.2.4.1. Os jogos das seleces que preocupaes durante o

    processo? .......................................................................................... 76

    2.2.3. Do princpio da rotatividade ao princpio metodolgico do treino da

    recuperao.............................................................................................. 79

    2.2.3.1. que recuperao?!... que problemas envolvem estaproblemtica?!... como recuperar?!... .................................................... 80

    3. MATERIAL E MTODOS ............................................................................ 87

    3.1. Caracterizao da amostra.................................................................... 87

    3.2. Metodologia de Investigao ................................................................. 88

    3.3. Recolha de dados.................................................................................. 89

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    ndice

    VII

    4. APRESENTAO E DISCUSSO DOS DADOS ....................................... 91

    4.1. Equipas de Rendimento Superior / TOP acima de tudo uma identidade

    potencializada pela qualidade do treino........................................................ 91

    4.1.1. Do nmero de jogadores qualidade. Uma questo de gesto. .... 95

    4.1.2. Da imprescindibilidade do jogador presena imprescindvel...... 101

    4.2. Treinar fabricar o jogar que se pretende................................... 107

    4.2.1. O jogar de uma equipa e de cada um dos jogadores na equipa,

    construdo ............................................................................................... 107

    4.2.1.1. Pensar nas mesmas coisas e ao mesmo tempo. O reflexo de um

    entendimento comum uma cultura do jogar................................. 110

    4.2.1.2. Cada jogador mesmo no colectivo apresenta uma singularidadeprpria ................................................................................................. 116

    4.2.2. A importncia do treino na organizao e gesto do jogar ....... 120

    4.2.3. Estabelecimento de hbitos e rotinas de jogo? Uma necessidade na

    ................................................................................................................ 125

    4.2.4. Interveno do treinador nos exerccios como regulador do processo

    de treino. Do(s) feedback(s) ao(s) feedforward(s)................................... 131

    4.3. Rotatividade de jogadores? Sim! mas sem nunca colocar em risco arentabilidade da equipa. ............................................................................. 141

    4.3.1. Um momento ideal de evoluo, adaptao e aprendizagem... 141

    4.3.2. Ao realizar rotao de jogadores existe um nmero de alteraes

    aconselhvel a efectuar de jogo para jogo?............................................ 149

    4.3.3. A rotatividade de jogadores s pode ser rotatividade se for

    pensada semelhana de uma estratgia!............................................. 153

    4.3.3.1. Modelo de jogo... o referencial para a utilizao da rotatividadede jogadores........................................................................................ 156

    4.3.3.2. Transmisso de um sentir colectivo, uma cultura

    comportamental................................................................................... 159

    4.3.3.3. A projeco da rotatividade nos exerccios. Rotatividade no

    processo de treino. .............................................................................. 162

    4.4. Vantagens e desvantagens da rotatividade de jogadores. .............. 167

    4.4.1. Vantagens ................................................................................. 167

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    ndice

    VIII

    4.4.2. Desvantagens............................................................................ 169

    4.5. Recuperao contextualizada uma gesto dos jogadores com elevado

    nmero de jogos......................................................................................... 171

    4.5.1. A exigncia sistemtica da imprescindibilidade da concentrao

    o reflexo da necessidade de recuperar a fadiga do sistema nervoso central

    ................................................................................................................ 179

    4.5.2. Uma reflexo sobre as competies internacionais de seleco

    ................................................................................................................ 190

    4.6. No so as questes de pormenor mas questes de PORMAIOR, que

    podem fazer a diferena, principalmente, a TOP........................................ 195

    4.6.1. Equipas de topo tem que ter jogadores de topo, jogando sempre osque estiverem em melhores condies e nunca os melhores ............. 195

    4.6.2. Antecipao dos acontecimentos no jogo o Sentido da Divina

    Interveno. ........................................................................................... 197

    4.7. Uma circunstncia que de facto uma negatividade da Especificidade

    polivalncia de jogadores ........................................................................... 203

    5. CONCLUSES.......................................................................................... 209

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................... 217

    7. ANEXOS......................................................................................................... I

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    Resumo

    IX

    RESUMO

    O aumento da densidade competitiva e consequente nmero de jogos nas

    equipas de Rendimento Superior / TOP levou, nos ltimos anos, ao emergir

    concepto-metodolgico do princpio da rotatividade de jogadores. No sentido de

    compreender esta concepo metodolgica para o presente estudo, foi

    seleccionada, sistematizada e discutida informao relativa complexidade que o

    jogar manifesta, e de que forma os treinadores aplicam este princpio

    metodolgico do treino. Os objectivos que o guiaram so os seguintes:desenvolver uma concepo de complexidade das noes, e dos princpios de

    organizao do jogar; balizar concepto-metodologicamente o princpio da

    rotatividade de jogadores; sistematizar procedimentos que tornam o princpio darotatividade de jogadores uma necessidade nas equipas de Rendimento Superior.

    Para o efeito, alm de uma exaustiva pesquisa bibliogrfica e documental,

    recorreu-se realizao de vrias entrevistas a ex-jogadores, treinadores,

    acadmicos, e a um analista de futebol internacional e comentador, que partilham

    preocupaes relacionadas com o tema em apreo.

    Atravs do cruzamento da informao entre a reviso bibliogrfica e as

    entrevistas foi possvel retirar as seguintes concluses: pensa-se no jogar como

    interaco sistmica entre vrias variveis / dimenses mesmo quando apenas auma se esteja a dar especial ateno; a rotatividade deve ser pensada e,

    projectada no incio de um perodo competitivo, tornando-se desta forma um

    momento ideal de aprendizagem, pois s jogando que os jogadores conseguem

    evoluir. Torna-se assim essencial treinar a organizao do jogar que se

    pretende desde o primeiro dia, visando a organizao das ideias de jogo e a

    respectiva adaptao; a rotatividade uma aco que os treinadores utilizam para

    potencializar todos os jogadores do plantel; a rotatividade acontece durante a

    semana no processo de treino, estando presente nos exerccios especficos paraquando o jogador entrar em campo estar identificado com os princpios de jogo da

    equipa; a rotatividade s o se for preparada, um dos aspectos que dever fazer

    parte do modelo de jogo do treinador;os processos de recuperao e rotatividadeso decisivos, sendo fundamental reconhecer que to importante treinar como

    recuperar.PALAVRAS-CHAVE: ROTATIVIDADE DE JOGADORES RENDIMENTO

    SUPERIOR/TOP DENSIDADE COMPETITIVA PRINCPIOS METODOLGICOS

    CULTURA COMPORTAMENTAL DO JOGAR.

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    Abstract

    XI

    ABSTRACT

    The increase of competitiveness density and the consequent number of matches

    in High Performance / TOP teams has led, in recent years, to the method-

    conceptual introduction of the player rotation principle. In order to understand this

    methodological concept for this particular study, information relating to the

    complexity that playing represents was selected, systematized and discussed, as

    well as in which way coachers apply this methodological principle of training.

    The leading objectives were, therefore: to develop a complexity conception of

    notions of the playing organizational principles; to mark out method-conceptually

    the players rotation principle; to systematize procedures that render the players

    rotation principle a necessary requirement in teams of High Performance.For the pursue of this objectives, apart from an exhaustive bibliographical and

    documental research, several interviews were conducted, with ex-players,

    coachers, professors, an international football analyst and commentator who

    shared similar concerns on the subject under study.

    Crossing information gathered in the bibliographical examination and the taken

    interviews, the following conclusions were drawn: playing is thought of as a

    systemic interaction between numerous variables / dimensions, even when only

    one of these is being particularly considered; rotation must be must be thought ofand outlined at the beginning of a competitive period, thus becoming an ideal

    moment for learning, as it is playing that players are able to evolve.

    It is then rendered essential to practise the devised organization of playing

    from day one, aiming at the organization of the ideas for the match and the its

    subsequent adaptation; rotation is an action that coachers use to raise and make

    the most of all team players potentials; rotation happens during the week, in the

    training process, being present in all specific exercises, so that when the player

    enters the match, he feels identified with the game principles of the team; rotationonly fully happens if it has been prepared, and it is one of the features that should

    be a part of the coachs model game; the processes of recuperation and rotation

    are decisive, being fundamental to acknowledge that it is as important to practise

    as well as to recuperation.

    KEY WORDS: PLAYERS ROTATION HIGH PERFORMANCE / TOP

    COMPETITIVE DENSITY METHODOLOGICAL PRINCIPLES BEHAVIOURAL

    CULTURE OF PLAYING.

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    Rsum

    XIII

    RSUMLaugmentation de la densit comptitif et par la suite, du nombre de jeux dans les

    quipes de Performance Suprieur / TOP a men, dans les dernires annes,

    l'apparition du concept-mthodologique du prncipe de la rotation des joueurs. Pourmeilleur comprendre cette conception mthodologique, a fin de servir la presente

    tude, on a slectionn, systmatis et discut des informations concernant la

    complexit qui le joueur met jour et la faon dont les entraneurs applique ce

    prncipe mthodologique de lentranement.

    Les objectifs que nous avons poursuivi sont attachs aux sujets suivantes:

    dvelopper une conception de complexit des notions de principes d'organisation du

    "jouer"; baliser "concepto-mthodologiquement" le principe de la rotation de joueurs;

    systmatiser des procdures qui rendent le principe de la rotation de joueurs unencessit dans les quipes de Performance Suprieur. Pour tel, outre une exhaustive

    recherche bibliographique et documentaire, nous avons procd la ralisation de

    plusieurs entretiens avec les ex-joueurs, entraneurs, enseignants d'universit, un

    analyste de football international et un commentateur, qui partagent des

    proccupations rapportes avec le sujet dans estime.

    travers le croisement des donns de la rvision bibliographique avec les donns

    des entretiens il a t possible d'enlever les suivantes conclusions: "le jouer" se pense

    comme interaction systmique entre plusieurs variables / dimensions mme quand

    seulement un se soit en train de donner spciale attention; la rotation on doit la

    penser et la projete au dbut d'une priode concurrentielle, se rendre de cette forme

    un moment idal d'apprentissage, donc seulement en jouant c'est que les joueurs

    russissent voluer. Se rend ainsi essentiel s'entraner l'organisation du "jouer" que

    se prtend depuis le premier jour, visant l'organisation des ides de jeu et la respective

    adaptation; la rotation est une action que les entraneurs utilisent pour exploiter tous

    les joueurs de l'quipe; la rotation arrive pendant la semaine dans le processus

    d'entranement, tant prsent dans les exercices spcifiques pour que quand le joueur

    entre dans le champ il se sent identifi avec les principes de jeu de l'quipe; la rotationseulement l'est se soit prpare, ceci est un des aspects qui devront faire partie du

    modle de jeu de l'entraneur; les processus de rcupration et de la rotation sont

    dcisifs, tant fondamentaux de reconnatre que est aussi important de s'entraner

    comme de rcuprer.

    MOTS-CLS: ROTATION DE JOUEURS - PERFORMANCE SUPRIEUR / TOP -

    DENSIT CONCURRENTIELLE - PRINCIPES MTHODOLOGIQUES - CULTURE

    COMPORTAMENTAL DU "JOUER".

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    Introduo

    1

    1. INTRODUO

    Pensamos situar-nos hoje num ponto crucial desta aventura, no ponto de partida de uma novaracionalidade, que deixou de identificar cincia e certeza, probabilidade e ignorncia.

    (Ilya Prigogine)

    Nos ltimos anos, como podemos constatar, as equipas de Rendimento

    Superior / TOP comearam a ser sujeitas a uma maior densidade competitiva

    originada pelo aparecimento de novas competies, mas tambm pelo grau de

    exigncia que cada vez mais comportam.

    Consequentemente, o aumento da densidade competitiva e consequente

    nmero de jogos, leva os jogadores a um incremento superior da concentrao

    e da emoo devido ao facto de existir uma especificidade levada a cabo pela

    lgica / contextos dos jogos. Existe assim impossibilidade do treinador repartir

    o esforo em partes, sendo necessrio encontrar solues que lhes

    permitam continuar a competir em todas as frentes e ao mais alto nvel.

    Paralelamente, atravs da leitura de textos publicados em jornaisdesportivos, comentrios de jornalistas, opinies de treinadores de Futebol

    verifiquei que existia uma necessidade de gesto dos planteis, de modo a que

    os jogadores conseguissem manter um rendimento elevado.

    Contudo, as ideias expostas quase sempre eram dissemelhantes,

    conseguindo, no entanto, encontrar um denominador comum, ou seja, o

    aparecimento da rotatividade de jogadores. Muitos foram os treinadores que

    defendiam este pensamento, desde Marcello Lippi, Fabio Capello, AlexFerguson, Louis van Gaal, Alberto Zaccheroni, Sven-Goran Eriksson, Frank

    Rijkaard, Hector Cper, Rafael Bentez, Arsne Wenger, Carlo Ancelotti e at

    Jos Mourinho, com resultados que no deixam quaisquer dvidas desta

    necessidade.

    Deste modo, e atravs dos conhecimentos que ia adquirindo nas aulas

    de Metodologia - Opo de Futebol, percebi que este entendimento merecia

    especial ateno. De facto, a operacionalizao de uma ideia de jogo a sua

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    Introduo

    2

    vivenciao e que s essa vivenciao permite que ela se venha a manifestar

    com regularidade.

    Como tal, fundamental compreender a complexidade do processo,

    porque seno, usar inconvenientemente a rotatividade um problema

    complicado, porque as fronteiras do aproveitamento ou da utilizao da

    rotatividade, se elas so negligenciadas, podemos estar a interferir na coeso

    do entrosamento da prpria equipa(Frade, 2004a).

    Foi neste sentido, e tambm partindo de uma frase de Mourinho (2000)

    se algum pensa em rotaes f-lo com legitimidade. Mas que tenha presente

    os riscos inerentes!que decidi que o tema deste trabalho s poderia passar

    pela contextualizao desta problemtica percebendo o objecto em si,englobando-o numa determinada realidade metodolgica. Apenas desta forma

    a mesma poder ser equacionada para que a estabilizao do rendimento

    acontea e v de encontro ao pretendido.

    Com isto, queremos dizer que quanto mais prxima a metodologia

    estiver do Futebol, mais facilmente podemos designar o seu objecto.

    Para isso, sentimos necessidade de elucidar e enquadrar de uma forma

    qualitativa e mais fundamentada possvel uma problemtica relativamenterecentemente, ultrapassando no entanto o nmero de pginas de um trabalho

    nesta natureza. No entanto, admitimos que s desta forma se tornou possvel

    enquadr-la numa metodologia de TOP, percebendo assim a complexidade

    que o jogar1 manifesta. Tal como, Jos Mourinho (2004c) preconiza o que

    mesmo fundamental entender que aquilo que procuramos a qualidade de

    trabalho e no a quantidade, treinar para jogar melhor.

    Posto isto, resta referir que pensamos que o trabalho deve ser entendidoe percebido do mesmo modo, espelhando uma interaco sistmica entre as

    partes, sustentada pelas fractalidades de um todo fabricado.

    Face ao exposto, estabelecemos os seguintes objectivos:

    1

    Tenha-se em ateno que falamos no jogar enquanto objecto de estudo no sentido, deobjectivvel caracterizvel, cientificvel, isto , passvel de ser abordado em termos cientficos.

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    Introduo

    3

    Objectivos Gerais:

    - Desenvolver uma concepo de complexidade das noes, e dos

    princpios de organizao do jogar;

    - Balizar concepto-metodologicamente o princpio da rotatividade de

    jogadores;

    - Sistematizar procedimentos que tornam o princpio da rotatividade de

    jogadores uma necessidade nas equipas de Rendimento Superior / TOP.

    Objectivos Especficos:

    - Indagar as consequncias e motivos subjacentes utilizao da

    rotatividade de jogadores;

    - Salientar e perspectivar a organizao dos conhecimentos especficos

    dos jogadores para efectuar rotaes mantendo a qualidade das prestaes;

    - Identificar e verificar as particularidades do princpio da rotatividade de

    jogadores na concepo e operacionalizao do processo treino;- Aferir a relao do princpio da rotatividade de jogadores com o

    princpio metodolgico do treino da Recuperao.

    No sentido de cumprir os nossos objectivos, recorreu-se a uma

    metodologia que consistiu numa reviso bibliogrfica e documental atravs da

    qual se procurou enquadrar o tema e evidenciar o estado actual doconhecimento que o sustenta.

    Posteriormente, realizmos uma entrevista aberta a ex-jogadores

    treinadores, professores universitrios e comentador desportivo, com o intuito

    de conhecer as suas ideias, cujos campos de interesse se ligam com a

    problemtica em questo.

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    Introduo

    4

    Assim, o presente estudo ser estruturado pelos seguintes pontos:

    Num primeiro ponto, Introduo, apresentada a justificao e

    pertinncia do tema. Definimos ainda os objectivos e apresentamos a estrutura

    do trabalho.

    O segundo ponto consiste numa reviso da literatura relacionada com o

    tema em anlise.

    No terceiro ponto, relativo ao material e mtodos, caracterizmos a

    amostra e os procedimentos efectuados na recolha da informao.

    No quarto ponto, fazemos a apresentao e discusso dos dados

    sustentando e confrontando os conceitos desenvolvidos na reviso da literatura

    com as respostas pronunciadas pelos entrevistados.No quinto ponto, sero apresentadas as concluses do estudo.

    No sexto ponto, apresentar-se-o as referncias bibliogrficas que nos

    apoiaram na realizao deste estudo.

    E por ltimo, no stimo ponto sero anexadas todas as entrevistas

    efectuadas.

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    Reviso da Literatura

    5

    2. REVISO DA LITERATURA

    2.1. A complexidade que o jogar manifesta

    primeira vista, a complexidade um tecido (complexus: o que tecido em conjunto) de

    constituintes heterogneos inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do

    mltiplo. Na segunda abordagem, a complexidade efectivamente o tecido de acontecimentos,

    aces, interaces, retroaces, determinaes, acasos, que constituem o nosso mundo

    fenomenal. Mas ento a complexidade apresenta-se com os traos inquietantes da confuso,

    do inextricvel, da desordem, da ambiguidade, da incerteza...

    (Morin, 1990:20)

    O Futebol sofreu, ao longo dos tempos, algumas evolues e alteraes

    que foram determinantes na forma de encarar o jogo, nos conhecimentos

    especficos que o suportam e, consequentemente, nos processos de ensino e

    treino que o fomentam (Guilherme Oliveira, 2004).

    Neste sentido, Frade (2003a) refere ao contrrio das cincias do

    individual que procuram a individualizao dos processos, uma abordagem

    molecular, at mesmo atomizada da realidade em estudo, h uma outra

    cincia. Para o mesmo autor, esta procura a contemplao da complexidade e

    a teia de relaes entre os sistemas existentes na sociedade e mais

    concretamente no Futebol, na senda da identificao e construo

    organizacional, onde a concentrao sobre o grupo/conjunto (equipa), no

    descurando as particularidades de cada um (jogador).

    Deste modo, constatamos que na evoluo da cincia, diversas

    perspectivas foram surgindo. O racionalismo clssico, herdado de Aristteles e

    desenvolvido por Descartes (Durand, 1979, cit. Gomes, 2006), originando, a

    partir dos seus princpios fundamentais2, o pensamento analtico, levou

    2 Princpios fundamentais (Descartes, 1937 in Durand, 1979:13):- dividir no maior nmero possvel de parcelas cada uma das dificuldades a examinar, tantoquanto for necessrio para melhor as resolver;- orientar ordenadamente os pensamentos, comeando pelos objectos mais simples e maisfceis de compreender para mostrar como pouco a pouco, por graus sucessivos, se chega aoconhecimento dos mais complexos;

    - fazer sempre levantamentos to completos e apreciaes to gerais quanto possvel, deforma a assegurar que nada omito.

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    institucionalizao do positivismo segundo o qual os objectos so reduzidos e

    isolados para tentar conhecer a sua complexidade (Gomes, 2006).

    Sobral (1995) acrescenta que o cientismo e o positivismo parte de um

    pressuposto de que a realidade (Futebol) simples, ou, pelo menos,

    simplificvel. Isto deve-se ao facto desta forma de ver os fenmenos

    complexos reduzir as aces que operam na realidade de forma causa-efeito,

    por conseguinte a noo de uma ordem e de estabilidade no mundo.

    Esta perspectiva de investigao e conhecimento foi contestada por

    diversos autores como Capra, Varela, Prigogine, Maturana, entre outros, que

    defendiam o pensamento sistmico em detrimento do analtico (Carrilho, 1991,

    cit. Gomes 2006). No entanto, a cincia guiou-se, ao que parece por umaperspectiva cartesiana, com tendncia de fragmentar o todo em partes,

    procurando desta forma um conhecimento mais especializado (Carvalhal,

    2002), na forma de equacionar os problemas e portanto, de interagir sobre eles

    (Gomes, 2006).

    Daqui, um novo conceito a patologia do saber apontado por Sobral

    (1995:14), como o resultado do imprio dos princpios da disjuno, da

    reduo e da abstraco cujo conjunto constitui o paradigma dasimplificao3. Tudo isto arrasta um obscurantismo cientfico que produz

    especialistas ignaros, e s pode ser superado pelo pensamento complexo.

    Sendo assim, surgiram autores como Morin (1990), Damsio (1994),

    Moigne (1994), Weiner, Rosnay, Von Bertalanffy (cit. Gomes, 2006) onde esta

    perspectiva analtica e parcelar redutora na forma de estudar os fenmenos.

    Face a isto, perante o aparecimento e desenvolvimento de conceitos

    como pensamento complexo (Morin, 1990), modelizao sistmica (Moigne,1994) e a aceitao crescente da Teoria dos Sistemas e do Pensamento

    Ecolgico, faz cada vez mais sentido equacionar que no Futebol o pensamento

    a seguir dever ter como base uma linha de raciocnio sistmico para que a

    partir daqui, como refere Gomes (2006), se desenvolva uma metodologia

    congruente com a sua complexidade.

    3 Conceito apresentado por Edgar Morin (1990).

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    Como tal, para Sobral (1995:16) o pensamento complexo que convm

    natureza do nosso campo fenomenal (o jogo) implica, a esforada peregrinao

    entre aces, interaces, retroaces, determinaes, acasos, os factos4

    apresentar-se-o sempre como os referenciais discretos deste continuum

    assim definido no espao e no tempo.

    Pelo exposto, concordamos com Garganta (2004) quando salienta que

    temos ainda que caminhar bastante no entendimento, na sistematizao destas

    coisas, no sentido de perceber as suas conexes e de entender o Jogo como

    um fluxo contnuo.

    Com efeito, tambm defendemos que se deve entender o Jogo (e o

    jogar) como um fluxo contnuo, um continuum, e no como algo faseadoe, nessa medida, compartimentado (Amieiro, 2004). Porm, temos de salientar

    que, tal como refere Frade (2003a), no h nada mais construdo que o jogar.

    O jogar no um fenmeno natural, mas construdo.

    Se assim for, demasiado Jogo para ser cincia, mas excessivamente

    cientfico (organizado) para ser s jogo. preciso ter em conta o clculo, ou

    seja, o lado de cientificidade, da construo dos princpios, de modo a tomar

    melhor conta do incalculvel (do que aleatrio, a criatividade, aquilo queacontece e no podemos controlar, mas que fundamental no jogo) (Frade,

    2004a).

    A realidade do Jogo complexa e so muitas as variveis que esto

    implcitas ao mesmo, porque no s colocar onze jogadores em campo,

    como permite as leis do jogo, envolve muito mais que isso. Seguindo a linha de

    pensamento mencionada, existe um lado construdo (dos princpios) e o lado

    natural (da imprevisibilidade, do detalhe), sendo que devero manifestar-seentrelaados entre si.

    Porm, os princpios quando articulados transmitem uma certa forma de

    jogar que ser, digamos, o bilhete de identidade do jogo do treinador, ou seja,

    4 Para Francisco Sobral (1995:16) s a reflexo local, praticada pelos prprios cientistas dodesporto, susceptvel de produzir teoria, apesar de todas as vicissitudes e de todas asdependncias. Proclama-a em nome do princpio da autonomia dos factos, um conceitofeyerabendiano usado para a confirmao e verificao das teorias mas que tem igualmente

    implcita a noo de que os factos precedem as teorias e esto portanto disponveis ao nossoexame.

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    Reviso da Literatura

    8

    representar a concepo de jogo do treinador. Como tal, o primado do jogo

    o propsito do jogar, e este, contm mltiplos subpropsitos (princpios, sub-

    princpios, sub sub-princpios).

    Por outro lado, todos os treinadores pretendem prever com uma certeza

    infinitesimal o decorrer do jogo, evidenciando o controlo de um sistema

    multivarivel (jogo de Futebol) (Cunha e Silva, 1999).

    Com efeito, de salientar que na aparncia simples de um jogo de

    Futebol, est presente um fenmeno muito complexo, devido elevada

    aleatoriedade e imprevisibilidade dos factos do jogo, o que leva a que o

    treinador tenha uma grande dificuldade na previso e controlo do resultado do

    jogo (Garganta, 1997).Contudo, na opinio de Mourinho (in Oliveira et al. 2006) ainda que

    exista um plano onde isso se verifica - o plano do detalhe, isto , do

    circunstancial, do contingencial, do individual -, no isso que o caracteriza.

    Ora, como j referido, e como indicam Oliveira et al. (2006) deve-se diferenciar

    dois planos: o plano do detalhe e o plano dos princpios.

    O plano do detalhe ser tanto mais qualitativo, tanto mais complexo,

    tanto mais relevante, quanto mais qualitativo for o plano dos princpios, isto, do colectivo. E ao nvel deste plano dos princpios, da identificao com

    uma matriz de jogo, que o jogo cientificvel - o jogo , neste plano, muito

    previsvel(Oliveira et al. 2006:187). por esta razo, que Frade (2004a) refere

    que o futebol no um fenmeno natural, mas sim um fenmeno construdo.

    Pelo exposto, para ns, o desenvolvimento do jogar visto como um

    todo, ou seja, rotinar a equipa sob o ponto de vista da sua organizao de

    jogo, dado que no s o jogar exige qualidade defensiva, ofensiva e ao nveldas transies, como essa qualidade de cada uma das partes est, at certo

    ponto, dependente da qualidade das restantes.

    por esta razo que Mourinho (2004a e Oliveira et al., 2006) no

    consegue dissociar os momentos atacar e defender, pois a equipa um

    todo e o seu funcionamento feito num todo tambm.

    Em suma, se o jogo (e o jogar) complexo, o treino dever tambm

    s-lo como defende Faria (1999) ao referir que a Periodizao Tctica /

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    Modelizao Sistmica obriga a uma decomposio do fenmeno

    jogo/complexidade, articulando-o em aces tambm elas complexas, aces

    comportamentais de uma determinada forma de jogar.

    2.1.1. A quem entende o jogar como uma complexidade irredutvel

    soma das partes

    O jogo preparado de uma forma equilibrada e o treino tambm feito nesse sentido a

    equipa um todo e o seu funcionamento feito num todo tambm.

    (Mourinho, 2004a)

    A natureza e diversidade das dimenses que concorrem para o

    rendimento superior, faz do jogar uma estrutura de grande complexidade,

    obrigando a um enquadramento das diversas dimenses de acordo com a sua

    especificidade (Freitas, 2004). Sendo assim, esta concepo de treino

    (Periodizao Tctica) surge como uma forma de entender, perceber e tratar

    um fenmeno complexo - o jogar - sem existir a necessidade de isolar asdiferentes dimenses que nela interagem (tctica, tcnica, fsica,

    psicolgica).

    O processo centra-se na aquisio de determinadas regularidades no

    jogar da equipa atravs da operacionalizao dos princpios do Modelo de

    Jogo assumindo-se por isso, num Treino Especfico (Gomes, 2006).

    Para que tal acontea, devemos seguir o pensamento de Amieiro (2004)

    que se refere ao Jogo como um continuum, fluido na passagem de unsmomentos5 para os outros, mas tanto mais ser quanto mais se tomar

    conscincia disso mesmo e da necessidade da construo (conceber e

    operacionalizar) das partes no nosso jogar (os princpios de jogo relativos

    a cada um dos quatro momentos do jogar) acontecer, ou ser articulada, em

    5 Segundo Guilherme Oliveira (2004: 147), existncia de quatro momentos de jogo(organizao ofensiva; transio ataque/defesa; organizao defensiva; transio

    defesa/ataque), evidenciando que a ordem de apresentao arbitrria, deixam de aparecersequencialmente.

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    funo do todo que se deseja. O mesmo autor acrescenta que, s deste

    modo poderemos realmente assegurar a identidade e a integridade do

    projecto de jogo da equipa. preciso, primeiro, perceber o jogo e na sua

    complexidade!

    Pelo exposto, de salientar a opinio de Carvalhal (2006a) o jogo tem

    um fluxo contnuo, poder-se- abordar os diversos momentos e particularizar

    alguma situao.

    Com o intuito de evidenciar esta preocupao encontramos Guilherme

    Oliveira (2006a), pois muitas vezes, a equipa no conseguiu realizar

    determinados comportamentos e dizemos: eu quero que a equipa circule muito

    bem a bola e nos treinos quando fao circulao, eles circulam mas depois nojogo. E porque que isto acontece? Para o mesmo autor as razes devem-

    se ao facto de no treino fazer s circulao e privilegiar muitas vezes

    momentos de organizao ofensiva porque s fazem e s pensam em

    organizao ofensiva. Mas depois no jogo, eles passam por momentos de

    organizao ofensiva mas tambm passam por momentos de transio e de

    organizao defensiva e como fazem marcaes individuais, aquilo que vai

    acontecer que quando ganham a posse de bola, no esto nas posies quenormalmente deveriam estar em posse de bola. Por isso, no conseguem ter a

    posse de bola, perdem de imediato a bola e por isso um problema muito mais

    de interaco de princpios do que propriamente de outra coisa. E ns temos

    de perceber que o problema no est na posse de bola mas est nos princpios

    que esto subjacentes, que neste caso esto relacionados com a organizao

    defensiva e no tem haver com a organizao ofensiva. Isto muito importante

    que as pessoas entendam porque neste exemplo evidente mas h muitassituaes em que essa evidncia mais difcil de detectar. No jogo h muitas

    situaes em que existe este mesmo problema(Guilherme Oliveira, 2006a).

    Desta forma, Garganta (2004) explica que, se falarmos com alguns

    treinadores de top e assistirmos a alguns dos seus treinos, constataremos que

    esto preocupados com o entendimento da organizao global do jogo, sem

    que com isso percam de vista as partes. Sendo assim, consideramos que a

    grande vantagem dos melhores treinadores e das melhores equipas est na

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    capacidade que tm de gerir (e, antes disso, de conceber) as partes sem

    perder de vista o jogo (todo).

    Para Cunha e Silva (1999:160), uma equipa um corpo complexo em

    qualquer dos nveis de organizao abordados: do subcelular, passando pela

    actividade motora, at intersubjectividade em campo. vantajoso que os

    processos de treino se habituem a conviver com a variabilidade que resulta

    desta circunstncia, e a fazer dela uma forma suplementar, em vez de a tentar

    esconjurar.

    Como tal, quando nos encontramos a gerir as partes, nunca podemos

    perder de vista o jogo (o jogar), sendo inconcebvel treinar defesa, ataque,

    transies, sem que exista uma ligao, um nexo entre tudo isso. S assimconseguimos que o treinar tenha transfere para os comportamentos na

    competio.

    Na nossa opinio, e como refere Amieiro (2004), esse nexo (essa

    articulao de sentido, perceba-se) deve ser levado em considerao para

    conceber o Jogo como um fluxo continuo no faseado, o qual requisita uma

    organizao de jogo/unitria, contempladora da maximizao da articulao

    de sentido que deve orientar a qualidade de manifestao regular dos quatromomentos do jogar. O mesmo dizer, uma organizao de jogo que consiga

    reflectir e responder eficazmente quilo a que Frade (2003a) chama de

    inteireza inquebrantvel do jogo. Isto , a organizao de jogo da equipa

    deve tambm ela ser uma inteireza inquebrantvel, onde o todo ser

    superior soma das partes quando estas so consideradas isoladas umas das

    outras.

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    2.1.1.1. O todo tem de ser maior que a soma das partes

    Sendo todas as coisas causadas e causantes, auxiliadas e auxiliantes, mediatas e imediatas,

    e mantendo-se todas elas por meio dum vinculo natural e insensvel que une as mais afastadase as mais diferentes, julgo impossvel conhecer as partes sem conhecer o todo, assim como

    conhecer o todo sem conhecer as partes em particular.

    (Pascal, cit. Frade, 1985:4)

    Face a uma situao de jogo, cada jogador privilegia determinadas

    aces em detrimento de outras, estabelecendo uma hierarquia de relaes de

    excluso e de preferncia, com implicaes no comportamento da equipaenquanto sistema (Garganta & Grhaigne, 1999). Assim, a equipa constituiu

    uma totalidade em permanente construo, na qual as aces pontuais,

    mesmo que aparentemente isoladas, influem no comportamento colectivo.

    Trata-se de uma actividade colectiva, que consiste numa rede de interaces

    complexas de cooperao e oposio, integrando distintos nveis de

    organizao (Grhaigne, 1992).

    Seguindo esta linha de pensamento, concordamos com Von Bertallanfy(1972, cit. Bertrand & Guillemet, 1988:29), quando refere que no basta

    estudar os constituintes e os processos de maneira isolada, preciso resolver

    os problemas decisivos que a organizao e a ordem, que os une colocam;

    resultam da interaco dinmica das partes e tornam os seus comportamentos

    diferentes, segundo quem os estuda isoladamente ou como pertencentes a um

    todo.

    Pelo exposto, no devemos descurar a ideia de Smuts (1926, cit.

    Bertrand & Guillemet, 1988:28) onde a noo de totalidade definida como um

    todo maior que a soma das suas partes. Afirma que o organismo (equipa) um

    todo, que conserva a sua individualidade (identidade) atravs do fluxo6 de

    mudana de ambiente. Um todo, que mais que a soma das partes, tem

    qualquer coisa de interno (o treinar), uma espcie de interioridade estrutural

    e funcional que funda esta totalidade.

    6

    De acordo com Guilherme Oliveira (2004) o fluxo significa a quantidade de interaces entreos elementos do sistema, entre o sistema e o meio e entre o meio e o sistema.

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    Sendo assim, concordamos com Mourinho (2004, in Oliveira et al.,

    2006), quando se refere ao trabalho realizado nas seleces participantes da

    fase final do Euro 2004, ou seja, discorda da preparao onde o treino analtico

    apresenta papel preponderante, defendendo uma perspectiva totalmente

    antagnica do treino, com a integrao (entenda-se interaco) de todos os

    factores (entenda-se dimenses), alicerados na organizao e preparao

    tctica. O mesmo autor acrescenta que seria lgico que estas semanas

    preparatrias incidissem na organizao tctica, pensando colectivamente,

    estruturando, automatizando, elevando a performance colectiva. Resumindo,

    fazendo com que o todo passasse a ser superior soma das partes. Ou, de

    uma forma mais explcita, fazendo com que grupos de grande jogadorespensassem e reagissem em simultneo a cada variante de jogo, como uma

    equipa.

    Com efeito, para conhecer a equipa como totalidade devemos

    compreender as relaes dos seus jogadores do mesmo modo que para

    conhecer estas relaes (como partes do jogo) temos de compreender a

    equipa (Gomes, 2006).

    Para tal, necessrio manter uma relao permanente entre todo-parte(s) e parte(s)-parte(s), reduzindo sem empobrecer, sustentando essa

    reduo na articulao com o todo. de salientar que o que se reduz so os

    princpios e no o jogo, mas desta forma est sempre presente o mesmo,

    tendo a ateno voltada para determinados aspectos que o caracterizam.

    Do exposto, como refere Frade (2004a) o treinar implica a

    (des)integrao dos princpios de jogo. Como tal, ao nvel do treino,

    necessrio (des)integrar os princpios (e no as dimenses) para, dessa forma,os integrar (Amieiro, 2004). Ou seja, no treino, a dominncia das preocupaes

    deve incidir nas suas diferentes partes (princpios, sub-princpios, sub-

    princpios dos sub-princpios dos quatro momentos do jogar) com a

    certeza de que cada princpio a contemplar encerra em si todas as dimenses

    (a tctica, a tcnica, a psicolgica e a fsica).

    Por tudo o que j foi referido, para alcanar o jogar que pretendemos

    para a equipa, no treinar pensa-se e contempla-se o todo mesmo estando a

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    tratar apenas a(s) parte(s) desse mesmo todo. Pensa-se no jogar como

    interaco sistmica entre vrias variveis/dimenses mesmo quando a

    apenas a uma se esteja a dar especial ateno (as outras, directa ou

    indirectamente, superficial ou aprofundadamente, esto presentes e a ser

    desenvolvidas, mesmo que no se vislumbre).

    2.1.2. A equipa enquanto sistema... o jogar enquanto sistema de

    sistemas

    O encadeamento de sistemas de sistemas desfaz a ideia de objecto fechado e auto-suficiente.Os sistemas foram sempre tratados como objectos, temos agora de conceber os objectos como

    sistemas.A partir daqui, temos de conceber o que um sistema.

    (Morin, 1977:97)

    Desde o surgimento da viso sistmica/paradigma sistmico, que teve

    origem na dcada 50 com o aparecimento da teoria geral dos sistemas7,

    diversos autores (Leibniz, 1666, Maturana, 1972, Rapoport, 1968, Mesarovic,1962, Ackoff, 1960, cit. Morin, 1977, e Bertrand & Guillemet, 1988)

    apresentaram definies da noo de sistema.

    No entanto, e apesar de acentuarem o trao de totalidade ou globalidade

    e o trao relacional, partimos da definio de Saussure que faz surgir, ligando-a

    ao conceito de totalidade e de inter-relao, o conceito de organizao: o

    sistema uma totalidade organizada, feita de elementos solidrios que s

    podem definir-se uns em relao aos outros em funo do lugar que ocupamnesta totalidade(Saussure, 1931, cit. Morin. 1977:100).

    Neste sentido, Durand (1992, cit. Garganta & Grhaigne, 1999) e Morin

    (1982), referem que a noo de sistema exprime a unidade complexa e o

    carcter fenomenal do todo, assim como o complexo de relaes entre o todo e

    as partes. Um sistema apresenta-se como um todo homogneo, se o

    perspectivarmos a partir do conjunto, mas ele tambm simultaneamente,

    7

    Teoria geral dos sistemas elaborada por Von Bertallanffy, definindo sistema como umconjunto de elementos em interaco (1956, cit Bertrand & Guillemet, 1988:46).

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    pelas caractersticas dos seus constituintes, diverso e heterogneo (Garganta

    & Grhaigne, 1999).

    Sendo assim, concordamos com Guilherme Oliveira (2004:124), ao

    referir que atendendo s caractersticas e s similitudes que se podem fazer,

    possvel considerar um sistema o ser humano, uma organizao, uma

    sociedade, mas tambm um jogador, uma equipa ou um jogo de Futebol.

    A relao entre as equipas configura os contornos do jogo que pode ser

    considerado um sistema de sistemas (Garganta, 1997; Gomes, 2006) que

    procuram alcanar determinados objectivos e finalidades. Como tal, o jogo de

    futebol pelas suas caractersticas estruturais e funcionais, pode ser entendido

    como um sistema dinmico complexo de causalidade no linear (Frade, 1989cit. Guilherme Oliveira, 2004; Garganta, 1997; Oliveira et al. 2006).

    Segundo Castelo (1994), trata-se de um sistema aberto, dinmico

    complexo e no linear, no qual coexistem subsistemas hierarquizados que

    interagem atravs de conexes mltiplas. Neste contexto, a organizao das

    aces dos jogadores decorre de sistemas que no se restringem a uma

    estrutura base, a uma repartio fixa das foras no terreno de jogo, mas pelo

    contrrio so configuradas a partir da evoluo das funes. Daqui inferimos,que existe uma sinergia8 entre os diferentes jogadores da equipa para se

    atingirem os objectivos pretendidos, onde as caractersticas colectivas que a

    equipa evidencia diferente do somatrio das caractersticas e capacidades

    dos diferentes jogadores (Guilherme Oliveira, 2004).

    Desta forma, a funo que os jogadores desempenham no seio da

    equipa resulta das referncias colectivas. Sendo assim, podemos dizer que a

    presso no um acto individual, mas sim colectivo, no se trata de umaaco-reaco, ou seja, a presso a identificao dos momentos fulcrais da

    recuperao da bola no momento em que o colectivo (como um todo) j

    condicionou a equipa adversria, pois estava organizada.

    Imaginemos isto: numa situao de cobertura defensiva ou em contra-

    ataque, ou quando a bola entra num extremo, no devem existir jogadores fixos

    8 Para Bertrand e Guillemet (1988) a sinergia descreve o seguinte fenmeno: a interaco ou a

    organizao entre os elementos de um sistema engendra um efeito maior que a soma dosefeitos obtidos dos elementos tomados individualmente.

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    Reviso da Literatura

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    responsveis pela realizao da dobra ao jogador que sai presso. Isto

    porque a situao deve ditar a soluo(Frade, 2004a), sendo os jogadores a

    identificar quem deve assumir a responsabilidade. H sim, alguns

    comportamentos obrigatrios, como a necessidade de cobertura defensiva e

    presena de dois jogadores na zona central da rea de baliza (habitualmente

    costuma ser o central a fazer a dobra ficando o outro central e o lateral

    contrrio a fechar a zona central, mas pode no ser assim), tendo os jogadores

    que assumir a dianteira se esto em melhor posio e os seus companheiros

    reajustam o posicionamento.

    Para que tal acontea, importa, sobretudo valorizar o carcter

    organizacional que produz a unidade global do sistema; ela que transforma,produz, relaciona e mantm o sistema, concedendo caractersticas distintas e

    prprias totalidade sistmica (Morin, 1982).

    Concordamos, portanto, que a abordagem sistmica tem como objectivo

    analisar um fenmeno na sua globalidade. Ou seja, como refere Gomes (2006)

    podemos ver a equipa como um sistema que vale pelo seu todo, em virtude

    das interaces dos seus jogadores, que fazem com que a dinmica do jogo

    apresente determinadas caractersticas.Procurando esclarecer melhor esta ideia, Guilherme Oliveira (2006a)

    apresenta-nos um exemplo: em termos defensivos quero que a equipa

    defenda zona. Ento, a primeira ideia que lhes transmito como a equipa na

    globalidade vai defender zona. Vai defender com linhas prximas, tanto em

    profundidade como em largura, como se articulam essas linhas entre si ().

    Depois deles perceberem tudo isso, eu vou dizer como quero que o sector

    defensivo defenda, o espao entre jogadores, no caso dos jogadores dasequipas adversrias se posicionarem de determinada forma como que o

    sector defensivo joga em funo disso, se a bola estiver em determinada zona,

    onde os jogadores se devem colocar, se estiver noutra, como que se

    posicionam. E isto, tanto para o sector defensivo, como para o sector

    intermdio e para o sector atacante. Eles s compreendem isso quando j

    entenderam o geral.

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    Dentro desta perspectiva como refere Garganta (1997), as equipas de

    Futebol operam como sistemas cujos constituintes se organizam de acordo

    com a lgica particular, em funo de princpios e prescries, onde a sua

    identidade, ou a sua invarincia, no provm da inalterabilidade dos seus

    componentes, mas da estabilidade da sua forma e organizao face aos fluxos

    acontecimentais que os atravessam.

    Assim, como nos indica Frade (2004a) uma coisa pode ser e no ser ao

    mesmo tempo, porque a realidade contextual, o critrio de interpretao e o

    homem em si mesmo esto em constante mudana. Como tal, no processo as

    variveis so tantas que a irregularidade acontecimental algo a ter em

    considerao, ou seja, existe uma extrema sensibilidade s condies iniciais.

    2.1.3. A extrema sensibilidade s condies iniciais que nasce na

    imprevisibilidade / aleatoriedade que o jogar manifesta

    h uma dimenso muito grande de imprevisibilidade no jogo porque ele extremamente

    sensvel s condies iniciais mas h uma matriz de possibilidades que nos permite encontrar

    um conjunto de irregularidades,ou se quiser, ao somatrio dessas irregularidades podemoschamar uma tendncia

    (Cunha e Silva, 2003)

    No jogo, a ocorrncia das situaes no apresenta uma lgica

    sequencial - manifesta-se de uma forma no linear - elas inventam-se e

    reinventam-se a cada instante e, consequentemente, so extremamente

    sensveis s condies iniciais (Oliveira, et al., 2006), significando isto que

    nos sistemas complexos de causalidade no linear, qualquer acontecimento

    que ocorra durante o processo tem implicaes nos acontecimentos que se

    seguem e pode modificar e alterar completamente a sequncia, a lgica e o

    resultado do processo (Mandelbrot, 1991; Ruelle, 1994; Stacey, 1995;McClure,

    1998; Oliveira, et al., 2006).

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    Tal como refere Guilherme Oliveira (2004) a aleatoriedade evidencia-se

    porque a ocorrncia das situaes no apresenta uma lgica sequencial,

    manifesta-se de forma arbitrria. Por outro lado, a imprevisibilidade acontece

    porque os problemas que o jogo coloca so resolvidos atravs de diferentes

    solues, estando dependentes dos conhecimentos especficos que se tem, da

    interpretao que o jogador faz da situao, da sua auto-conscincia relativa s

    capacidades para a resoluo dos problemas, ou seja, dos modelos de

    referncia colectivo e individual que construiu.

    Do exposto, concordamos com Figo (1999:43) ao referir que o treinar

    to importante como saber o que tenho para fazer. Mas no campo as situaes

    de jogo so distintas das que so ensinadas. Guio-me pelo que tenho de fazer[entenda-se execuo dos princpios de jogo] e a qualidade pessoal faz o

    resto. Assim, como referem Lopes (2005) e Fonseca (2006) a

    imprevisibilidade/detalhe tem de apoiar-se numa intencionalidade que tem a

    ver com a forma de jogar da equipa, pelo que no se aliena dos princpios,

    apenas lhes confere uma diversidade de expresso diferente.

    Neste sentido, os princpios de jogo permitem ao treinador desenvolver

    determinadas regularidades comportamentais dos jogadores, organizando assuas relaes e interaces. Desta forma, privilegia uma ordem no

    desenvolvimento do jogo tornando-o determinstico, ou seja, torna a

    previsibilidade incalculvel dos acontecimentos numa imprevisibilidade

    potencial (Frade, 1998, cit. Gomes 2006).

    Ora, para que tal acontea, devemos seguir o pensamento de Faria

    (2006a) ao proferir que definir objectivos a atingir e trabalhar em funo dos

    mesmos tendo a capacidade e a perspiccia para reestruturar este processo medida que nele se evolui fundamental. Julgo que, para alm de outras

    razes, a qualidade com que se trabalha os detalhes faz a diferena na

    diminuio da imprevisibilidade do processo.

    Tambm sabemos que, quando nos confrontamos com situaes

    totalmente novas, reconhecemos padres qualitativamente semelhantes, que

    usamos para desenvolver novos modelos mentais, no sentido de lidarmos com

    as novas situaes (Stacey, 1995). Ou seja, o jogo apesar de ser sempre

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    diferente e apesar de determinadas variaes momentneas serem

    imprevisveis, decorre dentro de um padro de funcionamento, apresentando

    uma auto-semelhana9com o todo.

    No entanto, como refere Ruelle (1994) se modificarmos um pouco o

    estado inicial de um sistema, a nova evoluo temporal pode divergir

    rapidamente da evoluo original at que as duas j no tenham nada a ver um

    com o outro, isto , o fenmeno da dependncia sensvel das condies

    iniciais. Este fenmeno no requer um estado inicial particular, podendo

    ocorrer para uma extensa classe de estados iniciais, e nesse caso falamos de

    caos. Sendo assim, como refere Cunha e Silva (2003) o jogo de Futebol pelas

    caractersticas que apresenta um sistema catico numa moldura fractal.

    2.1.3.1. O jogo enquanto fenmeno catico com organizao fractal

    uma borboleta que agite o ar em Pequim pode influenciar tempestades no prximo

    ms em Nova Iorque.

    (James Gleick, 1994)

    Como refere Dunning (1994, cit. Garganta & Cunha e Silva 2000) o jogo

    (entenda-se jogar) um acontecimento catico com organizao fractal. Ou

    seja, um dos exemplos mais eloquentes do caos determinista, na medida

    em que se joga na fronteira entre o caos e a ordem (Cunha e Silva, 1999).

    Deste modo, perante a dimenso de imprevisibilidade que existe durante

    o jogar, o treinador e a equipa, atravs de processos de treino, desejamconceber previsibilidades que sejam reconhecidas, que consigam interagir com

    as imprevisibilidades e que tenham a capacidade de se relacionarem com

    9 De acordo com Stacey (1995) auto-semelhana refere-se propriedade de um modelocatico de comportamento, de modo que as sequencias ao acaso so sempre semelhantes,

    mas nunca exactamente iguais, irregularidade regular. Isso medido com um grau constantede variao, ou numa dimenso fractal constante.

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    estados de equilbrio e de desequilbrio ou longe-do-equilbrio 10 destes

    sistemas (Guilherme Oliveira, 2004).

    Como tal, o treinador ao construir o seu jogar pretende que no mesmo

    o caos esteja presente, isto , um caos determinista. Desta forma, este

    interpretado em dois planos distintos. Por um lado a existncia de uma

    aparente desordem no seu jogar, permite criar confuso no adversrio,

    desorganizar o adversrio, conseguindo desta forma ser superior e comandar o

    jogo. No segundo plano, podemos constatar que no seio da desordem

    encontra-se uma ordem, que o reflexo da sujeio dos jogadores aos

    princpios construdos e trabalhos, ou seja, os princpios de desordem

    assentam na identidade de jogo, na ideia de jogo preconizada para a equipapelo treinador.

    Como forma de constatar esta situao observemos o seguinte exemplo,

    que se refere ao momento de organizao ofensiva tendo como grande

    princpio posse e circulao da bola com o objectivo de desorganizar a equipa

    adversria e marcar golo. Ora, numa equipa que tenha como aspecto

    fundamental a grande mobilidade entre os jogadores atacantes, surge a

    particularidade de os homens das faixas terem liberdade para flectir no terreno,variar de flanco, procurar zonas interiores, mudar de posio com os colegas.

    Desta forma, imprime novas dinmicas na organizao ofensiva. Ou seja, esta

    caracterstica assume-se como sub-princpio e revela-se extremamente

    produtiva porque na verdade, confundem as marcaes adversrias. Para isso

    necessrio ter, naturalmente, jogadores com capacidade tctico-tcnica

    capaz de promover essa dinmica que, no final, acaba por ser a ordem na

    desordem. Isto , a equipa habituou-se a essa mobilidade e criou sub-princpios que caracterizam a organizao ofensiva. Assim, e apesar de

    desorganizar as referncias posicionais iniciais, a equipa nunca perde a

    organizao. Perante estas movimentaes tacticamente subversivas, torna-se

    10 De acordo com Stacey (1995) representa um estado de no-equilibrio do sistema, ou seja,um estado em que o comportamento facilmente alterado para uma forma qualitativamente

    diferente por pequenas perturbaes ao acaso. Implica instabilidade, caos, comportamentofractal.

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    muito difcil para a equipa adversria ler e entender o jogar do sector

    ofensivo contrrio.

    Neste sentido, o ideal ser o treinador fabricar o sistema catico que de

    certa forma preside ao jogar num sistema fractal, ou seja, num sistema de

    invariantes (Cunha e Silva, 2003) Especificas11 / padres fractais que cada

    equipa constri. Portanto, a preparao das equipas, a construo do jogar

    de cada um deve-se apoiar, como nos indica Faria (2006a) na concepo e na

    filosofia de trabalho. Esta obriga a que se pense o fenmeno em termos de

    organizao de jogo da equipa e na introduo de princpios e de sub-

    princpios de jogo, que no so mais que referncias (intencionais) do

    treinador para resolver os problemas do jogo e por isso, expressam-se nocomportamento dos jogadores (Gomes, 2006).S desta forma, conseguiremos

    que os padres de aco se repitam no tempo, fazendo com que no meio do

    caos aparente seja possvel sustentar regularidades organizacionais, ou seja,

    padronizar uma determinada forma de jogar.

    Contudo, ao mexer nos princpios de jogo que asseguram a ordem do

    sistema podemos criar atractores estranhos que ponham em risco a fluidez

    funcional da equipa (Oliveira et al. 2006). Segundo Prigogine e Stengers,(1990) a menor diferena, a menor perturbao, em vez de se tornar

    insignificante para a existncia do atractor, tem consequncias considerveis.

    Desta forma, concordamos com Faria (2006a) ao referir que desde o

    primeiro dia que o trabalho visa a organizao das ideias de jogo e a respectiva

    adaptao fisiolgica a essa organizao que se pretende. por esta razo,

    que ao se procurar uma certa regularidade na irregularidade, os fractais so

    estruturas que falam de si como se falassem do todo porque tm umaconstituio, tm uma gentica (entenda-se aqui gentica no sentido amplo

    do termo, no no sentido da sua gnese) muito semelhante ao todo onde foram

    observados (Mandelbrot, 1991; Stacey, 1995; Cunha e Silva, 1999; Cunha e

    Silva, 2003).

    Esta regularidade estrutural e funcional ao longo das escalas,

    independentemente da variabilidade e aleatoriedade que possa conter,

    11

    Entenda-se por invariantes Especificas os padres de comportamento colectivo e individualde cada equipa.

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    obedece ao princpio da invarincia de escala (Mandelbrot, 1991; Stacey,

    1995) e acontece porque nos sistemas caticos com organizao fractal existe

    uma homotetia interna (Mandelbrot, 1991; Stacey, 1995; Cunha e Silva,

    1999). Neste contexto, para os mesmos autores, a homotetia interna faz com

    que as formas desse sistema, nas diferentes escalas de manifestao, tenham

    morfologias iguais. Ou seja, apresentam uma invarincia, uma auto-

    semelhana que nos permite conhecer a estrutura do todo (o jogo) pela

    ampliao de uma parte (Oliveira, 2003).

    Portanto, o todo (o jogo) coloca-nos o problema, dado que a inteireza

    inquebrantvel do jogo assim em funo de partes, da necessidade de

    fraccionar (sem partir/quebrar), isto , a ligao entre a parte(s)-todo e parte(s)-parte(s) tem de ter uma articulao de sentido, e este o problema da

    operacionalizao. Efectivamente, como refere Frade, (2003a) a articulao de

    sentido subjacente ao processo a sustentao da fractalidade, porque tudo o

    que temos de escolher, de imaginar, de inventar, tem de ser especfico, tem de

    ser condizente com a nossa posio inicial e com aquilo que o processo nos

    vai dizendo que mais aconselhado.

    Assim, os processos de treino devem obedecer a um princpio fractal deforma a conseguirem junto dos jogadores invarincias / padres (Cunha e

    Silva, 2003) fractais nas diferentes escalas de manifestao, tanto a nvel dos

    padres de comportamento, como ao nvel da produo do processo

    (Guilherme Oliveira, 2004).

    Seguindo o mesmo raciocnio, Norton de Matos (2006b) acredita que o

    treino (e consequente crescimento de uma equipa) um padro evolutivo,

    onde o mais importante o planeamento semanal (microciclo) e dirio.Acrescenta ainda, que o mais importante o prximo jogo, devendo em funo

    dos objectivos do nosso jogar ter um microciclo padro, pois enquadra num

    perodo que medeia dois jogos (domingo a domingo) todos os contedos

    tcticos que o jogo requisita. No entanto, tambm refere que, por vezes, o

    microciclo tem de ser alterado quando existem dois jogos por semana, sendo

    necessrio rever as nossas prioridades, pois no existe tempo.

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    Nesta linha, estamos de acordo com Frade (1989, cit. Guilherme

    Oliveira, 2004) ao reconhecer que o Futebol uma criao e construo.

    Sendo assim, tem de ser um processo permanentemente recriado, gerado,

    reconstrudo atravs da auto-organizao e interaco existente entre os

    diferentes agentes, ou seja, um projecto que est permanentemente

    dependente do aqui e agora. O aqui e agora semanal, o aqui e agora

    dirio, o aqui e agora momentneo.

    De modo a alcanar este propsito, surge a necessidade de hierarquizar

    princpios - hierarquizao das invarincias de escala - de forma a ter uma

    melhor correspondncia com o que se deseja, em cada momento do processo

    que se tem disposio. Para esclarecer esta ideia vejamos um exemploapresentado por Guilherme Oliveira (2006a) referente ao momento de transio

    defesa-ataque do seu jogar. Neste momento, mal conquistamos a posse da

    bola pretendemos tir-la imediatamente da zona de presso para uma zona de

    segurana para no a voltarmos a perder. A partir deste grande princpio

    assumimos dois sub-princpios: o tirar a bola da zona de presso com um

    passe para uma zona de segurana e o outro, com passe em profundidade.

    Com estes sub-princpios faremos uma hierarquia onde podemos exacerbar atransio em segurana ou a transio em profundidade. No meu caso, quero

    jogar fundamentalmente em segurana e no quero um jogo de transies

    constantes. Ento, aquilo que digo aos meus jogadores que quero que

    joguem em segurana e a primeira prioridade jogar com segurana. E por

    isso, s damos profundidade quando o passe em profundidade de segurana

    ou quando existe a possibilidade de conseguir o golo e ento, assumimos o

    risco para tentar marcar. Caso contrrio, jogamos em segurana e por isso, seno d para ir para a frente e dar profundidade porque h uma grande

    probabilidade de perder a posse da bola ento jogamos em segurana e

    entramos em organizao ofensiva. Assim, ao privilegiarmos a segurana

    fazemos com que a partir da transio defesa-ataque iniciemos o processo de

    organizao ofensiva. Com esta hierarquia, em momento de transio defesa-

    ataque vamos perder poucas vezes a posse da bola e vamos privilegiar um

    jogo no de transies mas de posse de bola. No entanto, se valorizasse mais

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    o sub-princpio da transio em profundidade e a primeira prioridade fosse o

    passe em profundidade j tnhamos um jogo diferente. Resultava um jogo

    essencialmente de transies e que no quero que acontea na minha equipa.

    Para que tal acontea realiza a hierarquizao dos comportamentos que

    quer que os jogadores assumam para que o jogo tenha determinadas

    caractersticas. Assim, ao treinar esses sub-princpios hierarquizados faz com

    que o jogo saia como pretende.

    Como tal, o todo (organizao da equipa), as relaes a privilegiar

    entre as partes que o constituem (os jogadores) e as tarefas a realizar por cada

    uma delas isoladamente, sero manifestamente diversos, consoante a(s)

    referncia(s) que se considera(m) e respectiva hierarquizao (estabelecimentode prioridades) (Amieiro, 2004).

    Sabemos, pelas caractersticas apresentadas, que as equipas funcionam

    num registo de uma termodinmica do no-equilbrio, pois s assim possvel

    desenvolver mecanismos de auto-organizao que criem estrutura e sentido a

    partir da aleatoriedade. O jogo desenvolve, ento, uma ordem pelo rudo 12

    (Garganta & Cunha e Silva, 2000).

    Desta forma, aquilo que nos interessa uma organizao, umadinmica, que torne possvel identificar um mecanismo, mas assente numa

    estrutura e funcionalidade que o faa no mecnico, para estar aberto a uma

    relao com o envolvimento que lhe permita reajustes e, portanto

    adaptabilidade e capacidade de auto-organizao.

    Neste contexto, concordamos com a ideia que o Futebol opera como

    sistemas cujos constituintes se organizam de acordo com uma lgica particular,

    assumindo com regularidade determinados padres de comportamento. Paraque tal acontea, o jogo carece de organizao (Amieiro, 2005a) que provm

    da interaco espontnea dos diferentes agentes entre si e da cooperao com

    objectivos e comportamentos comuns, coordenados e concertados, criando

    uma ordem a partir da aparente desordem (Stacey, 1995).

    12

    O termo rudo apresenta o sentido de perturbaes aleatrias de um sistema devidas aocontacto com o exterior, e no no sentido comum de som (Gleick, 1994).

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    2.1.3.1.1. O caos no jogo que origina um paradigma ordem versus

    desordem que permite alcanar uma organizao do jogar

    O determinismo deveria dar lugar problemtica de uma ordem que se tomou inevitavelmente

    complexa, quer dizer, ligada de modo no apenas antagonista, mas complementar

    desordem, a qual lana um desafio - fecundo e moral como todo o desafio - ao conhecimento

    cientfico.

    (Pessis-Pasternak, 1993:16)

    No jogo de Futebol, em muitos casos, a ordem13 parece nascer do caos.

    Consoante o tipo de perturbao aleatria que o sistema sofre, no momentoem que se torna instvel, surge um outro tipo de organizao, como resultado

    das reaces que se processam em condies de no equilbrio e que

    provocam o aparecimento espontneo de estruturas que apresentam uma certa

    ordem (Garganta & Cunha e Silva, 2000). Ou dito de outro modo, o caos d

    origem ordem (Von Foerster, 1984).

    Nesta perspectiva, no jogo de Futebol notria a existncia de perodos

    em que a mudana da situao de posse de bola entre as equipas originadesorganizao, nos quais se realizam esforos individuais e colectivos para

    ultrapassar o caos e se criar uma nova organizao14 (Barreira, 2006).

    Assim, a dinmica relacional colectiva do jogo assenta na existncia

    simultnea de cooperao e de oposio (Jlio & Arajo, 2005) o que origina

    ordem e desordem15 que emergem do jogo a cada momento, e onde as

    escolhas dos jogadores servem para criar condies para a transio entre

    configuraes de jogo, que assim transformam o prprio jogo (Grhaigne et al.,

    1997).

    13 De acordo com Morin (1990) ordem tudo o que repetio, constncia, invarincia, tudo oque pode ser colocado sob a gide de uma relao altamente provvel, enquadrado sob adependncia de uma lei.14 De acordo com Morin (1990) desordem tudo o que irregularidade, desvio em relao auma estrutura dada, aleatrio, imprevisibilidade.15 De acordo com Morin (1977:101) a organizao a disposio de relaes entrecomponentes ou indivduos, que produz uma unidade complexa ou sistema, dotada de

    qualidades desconhecidas ao nvel dos componentes ou indivduos. Transforma, produz, liga,mantm.

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    Do exposto, face desordem que a prpria equipa pode criar,

    desordem que est criada resultado da instabilidade e aleatoriedade do jogo, a

    equipa cria uma ordem (apoiada na identidade de jogo; pela vivenciao de

    determinados padres de comportamento durante o treino), e da tambm ser

    entendida como um sistema auto-organizador. No porque o jogo uma

    desordem total, mas sim porque a organizao funcional (dinmica) da equipa

    capaz de nesses momentos de maior desordem criar novamente uma ordem,

    que poder at ser mais complexa que a anterior (Fonseca, 2006).

    Como salienta Frade (2006) preciso que se entenda o Futebol ou o

    comportamento de uma equipa como um jogo de dinmicas, porque a prpria

    organizao defensiva tem uma dinmica prpria, mas essa dinmica autnoma relativamente, porque ela existe num nexo de relao com a

    dinmica tambm mais especfica que o meio campo tem de ter, mas

    interferem umas nas outras. Quando determinados limites se passam

    desagregam-se. Agora, nesta fronteira muitos futuros possveis se do, e se as

    estruturas tiverem efectiva organizao ou qualidade de organizao,

    incorporam para ser melhores, mas sem perda de identidade do registo

    comum, dessa dinmica.Sendo assim, nossa firme convico, que a organizao precisa de

    princpios de ordem(entenda-se os princpios de jogo e os sub-princpios ou os

    sub-princpios dos sub-princpios devero sempre representar o todo) que

    intervenham atravs das interaces que a constituem(Morin, 1977:58). Isto ,

    caractersticas que uma equipa evidencia nos diferentes momentos de jogo que

    so os padres de comportamento tctico-tcnico que podem assumir vrias

    escalas mas so sempre representativos do Modelo de Jogo,independentemente da escala de manifestao.

    Ideia facilmente constatvel nas palavras de Lobo, Amieiro e Oliveira et

    al.:

    Como o prprio nome indica, princpios de jogo so, na essncia, um

    ponto de partida para modelar o jogo da equipa, isto , definir um conjunto de

    movimentos que orientam os jogadores em campo, para interpretarem o

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    modelo de jogo de cada treinador em campo. So referncias colectivas e

    individuais(Lobo, 2006a).

    O jogar de um jogador deve ser construdo em funo da

    organizao colectiva. As caractersticas individuais devem ser tidas em conta,

    mas num segundo nvel da concepo de uma ideia de jogo. Os grandes

    princpios de jogo de uma equipa emanam da concepo de jogo do treinador

    (que nica e pessoal) e deles derivam as principais tarefas subjacentes a

    cada jogador(Amieiro, 2005b:24).

    Repare-se a este propsito em Oliveira et al. (2004) ao referirem as

    preocupaes que Jos Mourinho evidencia no seu trabalho assenta em vrios

    princpios e na organizao do jogo que pretende implementar na equipa, queconsegue exacerbar em exerccios, para, no fundo obter o todo que deseja -

    Mourinho trabalha princpios, com a certeza de que est a trabalhar as quatro

    dimenses do jogo o tctico, o tcnico, o fsico e o psicolgico nas

    propores que o modelo dele especificamente requisita. Os mesmos

    acrescentam pensa a organizao de jogo como um todo. () Tal como

    entende o treino como um todo, englobando as quatro dimenses, o mesmo

    sucede com a organizao de jogo.Esta necessidade de reproduzir no jogo uma dada organizao no

    significa porm que as aspiraes dos treinadores devem residir na persecuo

    infindvel da ordem, na mecanizao do jogo e dos jogadores (Lopes, 2005),

    deve pelo contrrio conseguir manter um equilbrio entre a criatividade /

    imprevisibilidade (detalhe) e os jogadores que a possuem, apoiada na forma de

    jogar da equipa. Isto , o jogo tanto mais rico quanto a individualidade, a

    contingncia e o detalhe do craque aparecerem, ainda que subjugados eassentes num plano de jogo (Frade, in Fonseca, 2006).

    Neste sentido, embora para Valdano (1997) a existncia da ordem seja

    necessria, esta deve ser apenas o ponto de partida, pois so muitos os

    treinadores que se excedem e tomam-na como ponto de partida e de chegada,

    ou seja, tudo ordem, asfixiando qualquer possibilidade de criao / inovao.

    Ou seja, a organizao e a ordem excessiva pode considerar-se

    castradora para a criao / construo de futebois de qualidade. E, de facto,

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    este excesso de ordem, que serve de sustentao para muitos (grande

    maioria) dos treinadores levar a efeito a construo da sua forma de jogar,

    parece cada vez mais ter repercusses negativas (Fonseca, 2006). Pois, como

    nos apresenta Garganta (2006a), cada vez so mais raras as equipas que

    jogam um Futebol atractivo, um jogo de iniciativa e de ataque, no qual se

    procura atingir, com criatividade a baliza do adversrio.

    Com o intuito de evidenciar esta preocupante tendncia encontra-se

    Jorge Valdano:

    Muita gente e pouco espao; muita velocidade e pouca preciso; muitas

    obrigaes e pouca liberdade; muito fsico e pouca cabea; muita equipa e

    pouca individualidade a norma foi a de jogos travados, muito interrompidos,com poucas ocasies de golos. Espervamos que algum talento rompesse com

    a rotina, provocando estragos atravs da inteligncia, mas os pouco jogadores

    inteligentes que restam no se atreveram a seguir o guio (Reflexo sobre o

    Mundial 2006, Valdano, 2006a).

    Os futebolistas actuais, em geral, seriam bons candidatos a genros:

    disciplinados, obedientes, sinceros mas esquecem que a arte do futebol,

    como da guerra, o engano(Valdano, 2007a).Com o af de neutralizar o adversrio os treinadores copiam-se e as

    equipas acabam a olhar para o espelho do adversrio para se anularem

    colectivamente. Uma dana sem gosto e na qual os impulsos individuais ficam

    submetidos aos movimentos sistematizados(Valdano, 2007b).

    Assim, e como forma de combater este excesso de ordem, surge a

    necessidade de durante o desenvolvimento de determinada forma de jogar

    deixar espao para o aparecimento da organizao, conduzida, construda,pela capacidade de gerir o detalhe sem perder de vista o jogo como sistema

    dinmico. Desta forma, a verdadeira criatividade de um treinador passa por

    conseguir harmonizar adequadamente a criatividade de cada um dos

    jogadores, interiorizando todas as criatividades individuais dentro do jogo

    colectivo (Camino, 2002).

    A mesma constatao apoiada por Sanz, (2002) ao referir que acima

    do talento individual est o talento colectivo. O talento colectivo a soma dos

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    talentos individuais, e para a equipa mais importante o talento colectivo que o

    individual.

    Efectivamente, Lobo (2006a) refere que com a bola nos ps, o jogador

    livre para criar, mas deve entender o momento em que essa liberdade choca

    com a ordem colectiva e o modelo de jogo subjacente, de modo a no

    subverter os princpios de jogo. O mesmo autor acrescenta que a capacidade

    do treinador e dos jogadores entenderem e interpretarem estes conceitos que

    marca a diferena nas grandes equipas da actualidade.

    Tambm Sousa (2007a), para quem o Futebol um jogo onde apesar de

    dever existir uma ordem reinante, dada pela organizao de jogo que quer

    incutir equipa, tambm existe (ou dever existir) espao e liberdade para oimproviso. Refere ainda, para que estes hiatos de magia apaream, tem de

    existir uma equipa que pela sua organizao colectiva possibilite o seu

    aparecimento. Em suma, quero dizer que, ao invs do que muita gente pensa,

    o talento e a organizao no tm necessariamente de viver dissociados.

    Neste contexto, insere-se o exemplo de Vilas-Boas (2006a) ao analisar o

    desempenho da seleco brasileira de futebol durante a presena no Mundial

    2006, ou seja, Todos tm liberdade, todos tm mobilidade. Ou muito meengano ou esta a principal linha de orientao deste Brasil de Parreira. A

    estrutura da equipa assenta num 4x4x2 mas isso apenas um guia posicional

    numa equipa que quando tem a posse de bola se move de uma forma

    ordenada desordenadamente. uma dinmica de ataque surpreendente que

    permite a qualquer jogador deslocar-se para criar um desequilbrio. Isto , a

    desordem ordenada que na nossa opinio fundamental na organizao

    colectiva de uma equipa de qualidade superior.Este conciliar de desordem e ordem que permite alcanar a organizao

    colectiva do jogar fica evidente nas palavras de Morin, (1977), para que haja

    organizao, preciso que haja interaces: para que haja interaces,

    preciso que haja encontros (ordem), para que haja encontros, preciso que

    haja desordem (agitao, turbulncia- criatividade).

    Para Frade, (2004b) esta emergncia (entenda-se jogar) abrange

    tambm a emergncia relacionada com o prprio, porque, muitas vezes o

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    jogador reage no momento sem estar espera que ia reagir dessa maneira,

    neste caso o jogador cria. O mesmo autor acrescenta que, essa criao

    acontece quanto maior possibilidade tenha de surgir apoiado numa

    determinada ordem. Essa ordem, o cultural, o jogar, a quantidade de

    treino e competio, num contexto determinado e depois quando se vai

    tornando nosso, penso que h possibilidades de criar mais espontaneamente,

    em funo disso, isto , dessa ordem que a dimensionao fundamental, do

    tctico(Frade, 2004b).

    De facto, a familiarizao com aquilo que pretendemos liberta-nos para o

    detalhe, passamos a actuar na transcendncia (na fronteira do caos) onde

    nem o jogador sabe o que vai acontecer, porque mesmo dominando as suasintenes ele no sabe as intenes dos outros intervenientes e no preciso

    momento em que isso ocorre que se resolvem as situaes.

    Em suma, como nos apresentam Oliveira et al. (2006), aludindo a Jos

    Mourinho, a base do rendimento colectivo e individual a organizao de jogo.

    E a manifestao dessa organizao o seu objectivo fundamental, em cada

    treino, do primeiro ao ltimo dia de treinos. A ser assim, como refere Frade

    (2005a) o que se pretende a Potenciao da Inteligncia Tctica e oenriquecimento da Cultura do Jogo. Os jogadores tm a necessidade de

    pensar o jogo de forma constante, mas como existe uma ordem e a equipa

    procura a organizao, mais facilmente se identificam os comportamentos a

    destacar nos momentos do jogo. Como tal, o treino fundamental no tornar

    esses comportamentos presentes na mente16 dos jogadores, pela vivenciao

    permanente com situaes que os potenciam, pela imagiologia inerente s

    situaes, onde os jogadores captam as imagens daquilo que acontece,depois, por identificao, reproduzem no jogar (por terem sido sujeitos a tal

    aproximao).

    Da que seja necessrio treinar comportamentos e situaes que

    normalmente acontecem no jogo, permitindo desta forma que os jogadores

    16 De acordo com Damsio (2000) o processo a que chamamos mente o fluxo de imagens,muitas das quais se tornam logicamente interligadas, sendo o pensamento uma palavra

    aceitvel para significar esse fluxo de imagens, em conformidade com as necessidades einteresses das circunstnc