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PROCESSO PENAL DIREITO PROCESSUAL PENAL Prof. João Pereira [email protected] Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza, além do exercício da advocacia nas áreas criminal, cível e administrativa e atuação no magistério, já desempenhou diversos cargos, tanto na iniciativa privada como na área pública, dentre os quais destacam-se Analista Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, onde também ministrava aulas no Centro de Treinamento Integrado, Supervisor de Controle Interno da Auditoria do INSS/CE, Assessor Jurídico da SC Engenharia, dentre outros. Professor das disciplinas de DIREITO PENAL e PROCESSO PENAL, na preparação para diversos concursos públicos (Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Polícia Civil, Guarda Municipal, SEFAZ, Receita Federal, etc.). AÇÃO PENAL - DISPOSIÇÕES GERAIS 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Quando ocorre uma infração penal, surge o jus puniendi, ou seja, o direito de punir exercício pelo Estado. Inicia-se, então o persecutio criminis, o caminho percorrido pelo Estado-administração para que seja aplicada a pena ou medida de segurança àquele que cometeu a infração. O persecutio criminis se exerce em dois momentos: na investigação (inquérito policial) e na ação pena l (fase judicial). Neste momento nos limitaremos à análise da segunda e última fase, a ação penal (fase judicial, in judicio). 2. CONCEITO Ação Penal é o direito inerente aos cidadãos de obter do Estado, a prestação jurisdicional, para apuração de infração penal e a punição de seu autor. Em determinados casos esse direito é exercido pelo próprio ofendido, noutros o Estado assume a tarefa de exercer o direito, substituindo compulsoriamente o ofendido. 3. CARACTERÍSTICAS DA AÇÃO PENAL Para CAPEZ (Curso de Processo Penal/2010, pag. 153), a ação penal tem as seguintes características: a) Direito autônomo – distinto do direito material (direito de punir); b) Direito abstrato – independe da existência do direito material e, portanto, da sentença favorável; c) Direito público – exercido perante o Estado para a invocação da tutela jurisdicional; e d) Direito subjetivo dado potencialmente a qualquer pessoa. 4. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DA E BASE LEGAL DA AÇÃO PENAL Dada a importância do instituto, a ação se encontra fundamentada no art. 5°, XXXV da Constituição: "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito". Assim, o Judiciário tem a atribuição de examinar todas as demandas que lhe forem propostas, mesmo que, posteriormente, as considere improcedentes. Além disso, o Judiciário pode realizar a jurisdição, sendo vedado ao particular exercer justiça com as próprias mãos e ao próprio Estado executar diretamente o Direito Penal. A Ação Penal tem como base legal os arts. 100 a 106 do Código Penal e Arts. 24 a 62 do Código de Processo Penal 5. CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL São requisitos obrigatórios exigidos por lei para que a ação penal tenha acolhimento perante o Poder Judiciário, sem as quais não poderá ter seu desenvolvimento válido. Segundo Távora e Alencar (2009, p. 120-125), as condições da ação penal podem ser divididas da seguinte forma: 5.1 Condições genéricas: 5.1.1 Possibilidade Jurídica do Pedido A conduta humana que se pretende apurar e punir mediante a ação penal, deve constituir infração penal, ou seja, deve encontrar-se tipificado pela lei 1

1.Processo Penal Pereira[1]-Vanques

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PROCESSO PENAL

DIREITO PROCESSUAL PENALProf. João Pereira

[email protected]

Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza, além do exercício da advocacia nas áreas

criminal, cível e administrativa e atuação no magistério, já desempenhou diversos cargos, tanto na iniciativa

privada como na área pública, dentre os quais destacam-se Analista Judiciário do Tribunal de Justiça

do Estado do Ceará, onde também ministrava aulas no Centro de Treinamento Integrado, Supervisor de

Controle Interno da Auditoria do INSS/CE, Assessor Jurídico da SC Engenharia, dentre outros.

Professor das disciplinas de DIREITO PENAL e PROCESSO PENAL, na preparação para diversos

concursos públicos (Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Polícia Civil, Guarda Municipal, SEFAZ,

Receita Federal, etc.).

AÇÃO PENAL - DISPOSIÇÕES GERAIS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAISQuando ocorre uma infração penal, surge o jus

puniendi, ou seja, o direito de punir exercício pelo Estado. Inicia-se, então o persecutio criminis, o caminho percorrido pelo Estado-administração para que seja aplicada a pena ou medida de segurança àquele que cometeu a infração.

O persecutio criminis se exerce em dois momentos: na investigação (inquérito policial) e na ação penal (fase judicial).

Neste momento nos limitaremos à análise da segunda e última fase, a ação penal (fase judicial, in judicio).

2. CONCEITOAção Penal é o direito inerente aos cidadãos de

obter do Estado, a prestação jurisdicional, para apuração de infração penal e a punição de seu autor. Em determinados casos esse direito é exercido pelo próprio ofendido, noutros o Estado assume a tarefa de exercer o direito, substituindo compulsoriamente o ofendido.

3. CARACTERÍSTICAS DA AÇÃO PENALPara CAPEZ (Curso de Processo Penal/2010,

pag. 153), a ação penal tem as seguintes características:

a) Direito autônomo – distinto do direito material (direito de punir);

b) Direito abstrato – independe da existência do direito material e, portanto, da sentença favorável;

c) Direito público – exercido perante o Estado para a invocação da tutela jurisdicional; e

d) Direito subjetivo – dado potencialmente a qualquer pessoa.

4. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DA E BASE LEGAL DA AÇÃO PENAL

Dada a importância do instituto, a ação se encontra fundamentada no art. 5°, XXXV da Constituição: "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito". Assim, o Judiciário tem a atribuição de examinar todas as demandas que lhe forem propostas, mesmo que, posteriormente, as considere improcedentes. Além disso, só o Judiciário pode realizar a jurisdição, sendo vedado ao particular exercer justiça com as próprias mãos e ao próprio Estado executar diretamente o Direito Penal.

A Ação Penal tem como base legal os arts. 100 a 106 do Código Penal e Arts. 24 a 62 do Código de Processo Penal

5. CONDIÇÕES DA AÇÃO PENALSão requisitos obrigatórios exigidos por lei para

que a ação penal tenha acolhimento perante o Poder Judiciário, sem as quais não poderá ter seu desenvolvimento válido.

Segundo Távora e Alencar (2009, p. 120-125), as condições da ação penal podem ser divididas da seguinte forma:

5.1 Condições genéricas:5.1.1 Possibilidade Jurídica do Pedido

A conduta humana que se pretende apurar e punir mediante a ação penal, deve constituir infração penal, ou seja, deve encontrar-se tipificado pela lei penal como crime ou contravenção. Por exemplo, não pode haver ação penal para apurar ato incestuoso, já que essa conduta não é classificada com tipo penal.

5.1.2 Interesse de agir

Deve haver justo motivo para instauração da ação penal, pelo menos indícios do cometimento de infração penal que demonstre alguma lesão à sociedade ou um cidadão, nascendo daí a razão da persecução estatal. Se assim não fosse, a sociedade estaria em constante sobressalto, já que por qualquer motivo, inclusive torpe (vingança, inveja, etc) se instaurariam ações penais.

Desdobra-se no trinômio necessidade e utilidade do uso das vias jurisdicionais para a defesa do interesse material pretendido, e adequação à causa, do procedimento e do provimento, de forma a possibilitar a atuação da vontade concreta da lei segundo os parâmetros do devido processo legal.

A necessidade é inerente ao processo penal, tendo em vista a impossibilidade de se impor pena sem o devido processo legal.

Por conseguinte, não está recebida a denúncia, quando já estiver extinta a punibilidade do acusado, já que, nesse caso, a perda do direito material de punir resultou na desnecessidade de utilização das vias processuais.

Note-se que, com a edição da Lei 11.719/2008, essa hipótese poderá, após oferecida a defesa dos arts. 396 e 396-A do CPP, dar causa à abolvição sumária do agente (CPP, art. 397, IV).

A utilidade traduz-se na eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor.

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Se, de plano, for possível perceber a inutilidade da persecução penal aos fins a que se presta, dir-se-á que inexiste interesse de agir.

É o caso, e.g., de se oferecer denúncia quando, pela análise da pena possível de ser imposta ao final, se eventualmente comprovada a culpabilidade do réu, já se pode antever a ocorrência da prescrição retroativa.

Nesse caso, toda a atividade jurisdicional seria inútil; falta, portanto, interesse de agir. Esse entendimento, todavia, não é absolutamente pacífico, quer na doutrina, quer na jurisprudência.

Por fim, a adequação reside no processo penal condenatório e no pedido de aplicação de sanção penal.

5.1.3 Legitimidade da parte

Somente o autor da ação tem a titularidade do direito de buscar a prestação jurisdicional, para evitar que outrem proponha ação penal buscando direito que não é seu, de que não tem titularidade. É o caso, por exemplo, de uma ação penal personalíssima, como o crime de Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (art. 236, CP).

5.1.4 Justa causa

Significa presença do “fumus boni juris”, isto é, prova do crime e ao menos indícios de autoria. A ação penal deve ser viável, séria. Fundada, portanto, em provas que deem plausibilidade ao pedido.

ATENÇÃO:

Conforme redação Art. 395 do CPC dada pela Lei nº 11.719/2008, a denúncia ou queixa será rejeitada quando:

I - for manifestamente inepta;

II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou

III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

Do contrário, ocorrerá carência de ação.

5.2 Condições específicas (ou de procedibilidade).

As condições específicas (ou de procedibilidade) variam de acordo com a ação penal a ser iniciada. São elas:

- Representação - ação penal pública condicionada à representação do ofendido ou das pessoas arroladas no art. 24, § 1º; 39, CPP;

- Requisição do Ministro da Justiça (art. 24, CPP) - Ex.: art. 145, parágrafo único, CP;

- Causas objetivas de punibilidade - ex.: autorização da Câmara dos Deputados para processamento do Presidente da República - art. 86, CRFB; sentença de anulação de casamento por erro ou impedimento, para a deflagração da ação penal privada com o escopo de apurar o crime do art. 236, CP.

Trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento, no crime de induzimento a erro essencial ou ocultamento do impedimento (Grinover, Scarance e Magalhães, As nulidades no processo penal).

ATENÇÃO!

A condição de procedibilidade tratada no processo penal se refere à representação da vítima, ou representante legal, ou requisição do ministro da Justiça, quando a lei o exigir.

Não confundir com condição de prosseguimento da ação (condição de prosseguibilidade) - trata-se de determinação que permite ou não a continuação de um processo ou sua suspensão.

6. PRINCÍPIOS INERENTES À AÇÃO PENALSegundo Jefferson Jorge (Para Aprender Direito

p. 27), a ação penal será regida pelos seguintes princípios:

Princípio da oportunidade ou conveniência - Compete ao titular do direito a faculdade de propor ou não a ação penal, de acordo com sua conveniência.

Princípio da disponibilidade - Encontra-se previsto na ação penal privada e na pública condicionada à representação. Assim, faculta ao ofendido o direito de prosseguir ou não com referida ação. Insta salientar que tal princípio não se faz presente na ação penal pública incondicionada, em razão da indisponibilidade da ação penal (art. 42, CPP).

Princípio da indivisibilidade - O processo contra um ofensor obriga os demais; a renúncia ao direito de queixa em relação a um dos ofensores estende-se a todos; o perdão do querelante dado a um dos ofensores aproveita aos demais (arts. 48, 49 e 51 do CPP); o querelante não poderá optar, entre os ofensores, quais deles processará.

Princípio da intranscedência - A ação penal é limitada à pessoa do ofensor (réu ou querelado), não atingindo seus familiares.

Princípio da identidade física do juiz - O juiz que presidiu a instrução está vinculado a prolatar a sentença. Esse princípio não está consagrado no CPP, somente se fazendo presente no processo civil, uma vez que o juiz, ao presidir a audiência de instrução, estará vinculado a proferir a sentença.

Princípio da instrumentalidade das formas - Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa (art. 566, CPP).

Princípio da verdade real - O juiz, de ofício, pode determinar qualquer diligência a fim de descobrir a verdade real dos fatos que são objetos da ação penal.

Princípio do livre convencimento motivado ou persuasão racional - O juiz formará sua convicção pela livre apreciação das provas, tendo liberdade em sua valoração, conforme sua consciência. Contudo, é evidente que ele está vinculado às provas produzidas nos autos pelas partes ou determinados de ofício, na busca da verdade real.

Princípio da titularidade - É um princípio atrelado à ação penal pública incondicionada, em que a titularidade do direito de punir é do Ministério Público. Ressalte-se a exceção prevista no art. 29 do CPP e no art. 100, § 3º, do Código Penal, ao admitir a ação penal privada subsidiária da pública, em caso de inércia do órgão ministerial.

Princípio da obrigatoriedade - Estando diante de uma figura típica, o promotor de justiça deverá exercer o mister que recebeu da Constituição Federal e oferecer a denúncia. Caso não o faça, segundo Fernando Capez, incorrerá em crime de prevaricação.

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7. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS:Dizem respeito à existência do processo e à

validade da relação processual. Para que exista juridicamente um processo penal, se faz necessária uma demanda onde se exteriorize uma pretensão punitiva ou de liberdade, um órgão investido de jurisdição e partes que tenham personalidade jurídica, ao menos formal, no plano do processo. Assim, os requisitos para a constituição de uma relação jurídica processual válida são: uma correta propositura da ação, feita perante autoridade jurisdicional, por uma entidade capaz de ser parte em juízo (legitimatio ad processum). Há falta de pressupostos de validade quando há: litispendência, coisa julgada, perempção, ausência de tentativa de conciliação.

8. TIPOS DE AÇÕES PENAIS

8.1 AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA São aquelas em que para o Estado acusador

nasce o direito de buscar a prestação jurisdicional logo que toma conhecimento de um fato delituoso. O Estado agirá de ofício.

É iniciada mediante denuncia do Ministério Público (art. 24, CPP) para apuração de infrações penais que interferem diretamente no interesse geral da sociedade. (Noberto Havena, Processo Penal, pág. 55).

A peça processual iniciadora desse tipo de ação denomina-se DENÚNCIA.

Prevalece o Princípio da Obrigatoriedade, ou seja, haverá a propositura da ação penal independente do interesse da vítima ou de seus representantes legais. Está presente também o Princípio da Indisponibilidade, que anuncia que depois de iniciada a ação, não pode o Estado desistir do direito à prestação jurisdicional.

São exemplos de crimes de ação pública incondicionada: o homicídio, o latrocínio, extorsão, crimes contra o patrimônio público em geral, etc.

CPP: Art. 24:

§ 2o Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal será pública.

ATENÇÃO:

Via de regra, a ação penal é pública incondicionada, salvo quando a lei declara, expressamente, que só se procede mediante representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça (ação pública condicionada) ou mediante queixa (ação de iniciativa privada).

8.1.1 Titularidade da ação penal pública

O Ministério Público é o dono da ação penal pública. É o órgão representado por Promotores e Procuradores de Justiça que pede providência jurisdicional de aplicação da lei penal, exercendo o que se denomina de pretensão punitiva.

Trata-se o Ministério Público de órgão uno e indivisível, e assim, seus membros podem ser substituídos no processo, por razões de serviço, sem que haja prejuízo para a marcha processual. O Ministério Público promove a ação penal pública desde a peça inicial (denúncia) até os termos finais, em primeira e demais instâncias, acompanhando, presenciando, fiscalizando a sequência dos atos, zelando e velando pela observância da lei até a decisão final.

A titularidade do Ministério Público é decorrente do Princípio da Oficialidade, eis que a repressão ao criminoso é função essencial do Estado, devendo ele instituir órgãos que assumam a persecução penal. No nosso país, em termos constitucionais, a apuração das infrações penais é efetuada pela POLÍCIA (art. 144 CF/88) e a ação penal pública é promovida, privativamente, pelo MINISTÉRIO PÚBLICO (art. 129, I CF/88), seja ele da União ou dos Estados (art. 128, I e II CF/88).

Como órgãos encarregados da repressão penal, a Policia e o Ministério Público têm autoridade, ou seja, podem determinar ou requisitar documentos, diligências ou quaisquer atos necessários à instrução do inquérito policial ou da ação penal, ressalvadas as restrições constitucionais.

Em regra a ação penal pública é promovida pelo Ministério Público à vista do Inquérito Policial.

8.2 AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA Tem as mesmas características das ações

penais públicas incondicionadas, iniciando-se também com o oferecimento da DENÚNCIA pelo Ministério Público, no entanto o direito do Estado acusador só nasce depois de manifestado o interesse do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.

ATENÇÃO:

A Lei 12.015/09 deu nova redação ao art. 225 do Código Penal estabelecendo que nos crimes definidos nos arts. 213 a 218-B a ação penal passou a ser pública condicionada à representação (regra), salvo quando a vítima é menor de dezoito anos ou pessoa vulnerável, hipóteses em que a ação penal será pública incondicionada (exceção). Não há mais falar-se, portanto, em ação penal de iniciativa privada em tais crimes, salvo se subsidiária da pública (art. 29 do CPP c/c art. 5º. LIX, da CF).

8.2.1 Representação do Ofendido

Pode a ação penal pública depender da representação do ofendido, que se constitui numa espécie de pedido-autorização em que a vítima ou seu representante legal expressam o desejo de que a ação seja instaurada, autorizando a persecução criminal. A representação é, assim, a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal no sentido de autorizar o Ministério Público a desencadear a persecução criminal.

Segundo o STJ:

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“Em se tratando de ação penal pública condicionada, não se exige rigor formal da representação do ofendido ou de seu representante legal, bastando a sua manifestação de vontade para que se promova a responsabilização do autor do delito (HC 86232/SP - 5ª Turma – 04/10/2007)”.

“Qualquer manifestação da vítima ou de seu representante legal que espelhe o dever de processar deve ser aceito para efeito de representação. Prevalência do caráter de informalidade (REsp 819766/RS – 5ª Turma – 06/06/2006”.

Na mesma linha, o STF:

“A representação prescinde de rigor formal. Basta a demonstração inequívoca de interesse do ofendido, ou de seu representante legal, para que tenha início a ação penal (HC 73226/PA – 2ª Turma – 14/11/95).

O direito de representação só pode ser exercido no prazo de seis meses, contados do dia em que a vítima ou seu representante legal veio a saber quem é o autor do crime. Não oferecida a representação no prazo legal, ocorre a decadência, causa extintiva da punibilidade, o que impede o início dessa espécie de ação.

A representação é irretratável depois de oferecida a denúncia (art. 25 do CPP), não produzindo a retratação (retirar o que disse, desdizer-se) após essa data, nenhum efeito, devendo a ação, que teve início com a denúncia, prosseguir até seu término. De outro lado, ocorrendo a representação e, antes do oferecimento da denúncia, vindo a retratação, haverá impedimento à propositura da ação penal.

Segundo o STF (HC 85056/MG – Tribunal Pleno – 17/11/2005):

“É irretratável a representação da vítima depois de oferecida a denúncia (CPP, art. 25). Não gera a extinção do processo penal a retratação que, somente formalizada após o oferecimento da denúncia, tem como objetivo obstar a continuidade de feito já instaurado”.

A imposição legal da representação para propositura da ação penal pública deriva do fato de que, por vezes, o interesse do ofendido se coloca mais importante que o interesse público na repressão do ato criminoso quando o processo, a critério do interessado, pode acarretar males maiores do que aqueles resultantes do próprio crime. Assim é que dependem de representação, por exemplo, a instauração da ação penal nos crimes de perigo de contágio venéreo (art. 130, § 2o, CP), crimes contra os costumes (213 a 221), pela redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009 , procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

A representação do ofendido é necessária inclusive para instauração do inquérito policial, não podendo a autoridade agir de ofício.

Importante esclarecer que uma vez oferecida a representação, não está o Ministério Público obrigado a respectiva ação penal, eis que cabe a este aferir a presença dos requisitos mínimos para sua propositura. Daí a conclusão de que a representação não vincula o Ministério Público, caso não haja indícios da autoria ou prova da materialidade delitiva.

Nesse sentido, a posição do STJ (RMS 11673/RJ – 5ª Turma – 19/06/2001):

“O oferecimento da representação pelo ofendido não obriga o representante do Ministério Público a oferecer a denúncia. Pode o agente do Parquet, desde que entenda, como in casu, pela inexistência de elementos para instauração da ação penal, se manifestar pelo arquivamento da peça.

8.3.3 Requisição do Ministro da Justiça

Também constitui condição da ação, sendo ato administrativo, discricionário e irrevogável que deve conter a manifestação de vontade para instauração da ação penal, com menção do fato criminoso, nome e qualidade da vítima, nome e qualificação do autor do crime, etc, embora não exija forma especial.

É necessária a requisição, segundo o Código Penal, nos crimes contra a honra praticados contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro (art. 145, parágrafo único, 1a parte) e nos delitos praticados por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7o, § 3o). É prevista ainda a requisição em determinados crimes praticados através da imprensa.

8.3 AÇÃO PENAL PRIVADA 8.3.1 CONCEITO

Embora o direito de punir pertença exclusivamente ao Estado, este transfere ao particular o direito de acusar em algumas hipóteses. O direito de punir continua sendo do Estado, mas ao particular cabe o direito de agir.

Justifica-se essa concessão à vítima quando seu interesse se sobrepõe ao menos relevante interesse público, em que a repressão do ilícito penal interessa muito mais de perto apenas ao ofendido.

A QUEIXA é o equivalente à denúncia, pela qual se instaura a Ação Penal, diferenciando-se formalmente apenas por quem subscreve, ou seja, a denúncia é oferecida pelo membro do Ministério Público (Promotor de Justiça) e a queixa é apresentada pelo particular ofendido, através de procurador com poderes expressos.

8.3.2 TITULARIDADE

O titular do direito de agir na Ação Penal Privada é a vítima. Como a propositura da queixa exige procurador legalmente habilitado (advogado), prevê a lei que, nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar sua pobreza, nomeará advogado para promover a ação penal.

No caso de morte ou ausência do ofendido, o direito de queixa poderá ser exercido pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Prevê a lei a nomeação pelo juiz de curador especial para mover a ação privada, se o ofendido for menor de 18 anos, mentalmente enfermo ou retardado mental. Caso seja maior de 18 e menor de 21 anos, o direito de queixa pode ser exercido por ele ou por seu representante legal.

O Ministério Público, não sendo titular, funciona apenas como fiscal da lei, podendo ou não, no prazo de três dias, aditar a queixa, velando também, pela indivisibilidade da ação.

8.3.3 PRINCÍPIOS

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a) Princípio da Oportunidade

Cabe ao titular do direito de agir a faculdade de propor, ou não, a ação privada, segundo sua conveniência. Sem a sua concordância não se lavra o auto de prisão em flagrante, não se instaura o inquérito policial e muito menos a ação penal.

Enquanto na ação pública incondicionada vigora o Princípio da Obrigatoriedade, a ação privada está submetida ao Princípio da Oportunidade.

b) Princípio da Disponibilidade

Além de poder propor ou não a ação penal privada, poderá o ofendido prosseguir até o final ou não, pode renunciar ao direito de queixa, pode perdoar o ofensor.

c) Princípio da Indivisibilidade

Significa que o ofendido não pode, quando optar pela queixa, deixar de nela incluir todos os co-autores ou partícipes do fato, sob pena de renunciar ao direito em relação aos demais réus.

ATENÇÃO!

Na jurisprudência e para parte da doutrina na ação penal pública, admite-se o princípio da divisibilidade, desde que o Ministério Público apresente justificação prévia.

d) Princípio da Intranscendência

Comum a qualquer ação penal consiste no fato de ser a ação penal limitada à pessoa ou às pessoas responsáveis pela infração, não atingindo, desse modo, familiares ou estranhos.

8.3.4 ESPÉCIES

a) Ação Penal Privada Exclusiva – Art. 110 do CPP e art. 100, § 2º do CP.

Somente pode ser proposta pelo ofendido ou pelo seu representante legal (Art. 30). Na Parte Especial do Código Penal são identificados os delitos que a admitem, com a expressão “só se procede mediante queixa”. Ex.: Crimes contra a honra (art. 145 do CP).

Existem ações penais ditas personalíssimas, em que somente está legitimada a própria pessoa indicada na lei, não havendo sucessão por morte ou ausência.

b) Ação Penal Privada Subsidiária da Pública

Ocorre nos casos em que o Ministério Público deixar de intentar Ação Penal Pública no prazo legal (Art. 29) (réu preso: 5 dias – réu solto: 15 dias) podendo a vítima ou seu representante legal tomar para si o direito de buscar a prestação jurisdicional, oferecendo QUEIXA SUBSTITUTIVA DA DENÚNCIA.

Essa ação passou a constituir garantia constitucional com a nova Carta Magna (art. 5o, LIX), em conformidade com o princípio de que a lei não pode excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5o, XXXV).

Apresentada a queixa, o Ministério Público poderá retomar para si a ação, se repudia-la, oferecendo denúncia substitutiva. Poderá ainda aditar a queixa e retomar a ação para si caso o ofendido venha a negligenciar seu andamento.

Prazo: para o ofendido oferecer queixa-crime substitutiva da denúncia é de seis meses contados de término do prazo destinado ao MP para oferecimento da denúncia, findo os quais ocorrerá decadência do direito.

Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas, e em consequência, não cabe ação penal subsidiária.

c) Ação Penal Privada Personalíssima

Atualmente, o Código Penal prevê apenas uma hipótese de ação penal privada personalíssima:

- Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (art. 236 do CP).

Nesse tipo de ação privada, a titularidade pertence exclusivamente ao cônjuge enganado, não se transferindo em nenhuma hipótese ao seu representante legal ou sucessores, de modo que se a vítima morrer, estará extinta a punibilidade do agente.

Se a vítima for menor de 18 anos, por não possuir capacidade postulatória, não poderá oferecer a queixa, mesmo porque o prazo não corre para ela, começando a fluir quando completar os 18 anos.

JURISPRUDÊNCIA:

AÇÃO PENAL SUBSIDIARIA - ART. 29 DO CPP, E ART. 5 LIX, DA CF. QUEIXA-CRIME. Quando o Ministério Público, não tendo ficado inerte, requer, no prazo legal (art. 46. CPP), o arquivamento do inquérito ou da representação, não cabe a ação penal privada subsidiaria. habeas corpus concedido para trancar o procedimento penal instaurado em decorrência da queixa-crime subsidiaria oferecida. STF - HABEAS CORPUS: HC 67502 RJ. Relator(a): PAULO BROSSARD. Julgamento: 05/12/1989.

8.3.5 QUEIXA

Assim como a denúncia é a peça que inicia a ação penal pública, a queixa dá início à ação penal privada.

Queixa-crime, ou simplesmente queixa, é a denominação dada pela lei à petição inicial da ação penal privada intentada pelo ofendido ou seu representante legal, tanto quando é ela exclusiva, quando é subsidiária.

O autor aqui é chamado “querelante” e o réu “querelado”.

Súmula 594 do STF: Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal.

8.3.5.1 Requisitos da Queixa

A queixa deve ser revestida dos mesmos requisitos da denúncia (Exposição do fato criminoso, Qualificação do acusado, Classificação do crime e Rol de testemunhas) diferenciando uma da outra apenas pelo titular: a denúncia é a peça inicial da ação pública, cuja titularidade cabe ao Ministério Público, a queixa, da ação privada, cujo titular é o ofendido.

O direito de queixa deve ser exercido pelo ofendido ou seu representante legal por meio de procurador legalmente habilitado – advogado – com

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poderes especiais, devendo constar na procuração uma breve narrativa dos fatos e a qualificação do querelado.

8.3.5.2 Prazo para oferecimento da Queixa

O prazo para oferecimento da queixa é de seis meses, contados do dia em que o ofendido veio a saber quem é o autor do crime, na ação privada exclusiva, e do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia, na ação subsidiária.

Importante ressaltar que o direito de oferecer queixa (bem como o de representação), no caso de ofendido menor, tanto pertence ao representante legal como ao próprio menor, sendo independentes. Caso o representante não apresente a queixa, poderá o menor, ao completar maioridade, fazê-lo, desde que obedeça o prazo decadencial.

Sobre essa hipótese, há manifestação expressa do STF (HC 53893/GO – 5ª Turma – 21/11/2006):

“I - Os prazos para o exercício de queixa ou representação correm separadamente para o ofendido e seu representante legal (Súmula 594 do STF e precedente). II – Assim escoado o prazo para o representante, conserva-se o direito de representação para o ofendido, contado a partir de sua maioridade”.

ATENÇÃO: O fato de ter cessado a incapacidade para a prática de atos da vida civil (ex.: casamento) não outorga ao menor de 18 anos de idade a possibilidade de propor ação penal privada ou até mesmo oferecer a representação na ação penal pública a ela condicionada.

De acordo com o STF

“Decadência do direito de queixa. O prazo de seis meses fixado nos arts. 105 do Código Penal e 38 do Código de Processo Penal, é fatal e improrrogável e insuscetível de suspensão ou interrupção” (RHC 40643 – Pleno – 13/05/64).

Por seu turno, o STJ também já firmou posição:

“O prazo para propositura da ação penal privada, ante seu caráter decadencial, não se suspende ou interrompe pela formulação de pedido de explicações nos moldes dos art. 144 do Código Penal, em face da ausência de previsão legal a respeito (REsp 204291 – 6ª Turma – 17/08/2000)’.

8.3.6. RENÚNCIA

É a desistência do direito de ação por parte do ofendido, podendo ser expressa ou tácita. A renúncia expressa deve constar de declaração assinada pelo ofendido, por seu procurador legal com poderes especiais. A renúncia é tácita quando o querelante pratica ato incompatível com a vontade de exercer o direito de queixa, como, ocorre, por exemplo, no reatamento de amizade com o ofensor, a visita amigável, a aceitação de convite para festa, etc.

Em decorrência do princípio da indivisibilidade, a renúncia ao exercício do direito de queixa em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá, obrigando-se o querelante a promover a queixa contra todos co-autores do fato delituoso, não podendo excluir nenhum.

É oportuno salientar que, se o autor se o autor da ação penal privada desconhece o co-autor ou partícipe do crime que a vitimou, o fato de promover a ação penal contra aquele que dela é conhecido, não importa em renúncia quanto aos demais.

Para o STJ (HC 34764/SP – 5ª Turma – 16/12/2004):

“A impossibilidade da inclusão no pólo passivo da demanda, em razão do desconhecimento por parte da querelante de outros envolvidos na conduta tida como delituosa, afasta eventual ofensa ao princípio da indivisibilidade da ação penal (arts. 48 e 49 do CPP).

8.3.7 DECADÊNCIA

No processo penal decadência é a causa extintiva da punibilidade consistente na perda do direito de ação privada ou de representação em decorrência de não ter sido exercido no prazo previsto em lei.

ATENÇÃO:

O prazo de decadência é de seis meses, sendo fatal e improrrogável, não se interrompendo pela instauração do inquérito policial ou sua remessa ao Poder Judiciário.

8.3.8 PEREMPÇÃO E DESISTÊNCIA

Perempção é a perda do direito de prosseguir na ação privada, ou seja, a penalidade aplicada ao querelante em decorrência de sua inércia ou negligência.

CÓDIGO PROCESSO PENAL:

Art. 60.  Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:

I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 (trinta) dias seguidos;

II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;

III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

Desistência ocorre quando a ação está em curso, constituindo direito do querelante em face do princípio da disponibilidade, que pode ser exercido de forma expressa, quando a manifestação se dá por escrito, ou de forma tácita, quando o querelante der causa à perempção.

Segundo o entendimento do STF, “A desistência da ação penal privada pode ocorrer a qualquer momento, somente surgindo óbice instransponível quando já existente decisão condenatória transitada em julgado” (HC 83228/MG – Tribunal Pleno – 01/08/2005).

Portanto, o querelante (autor), poderá desistir da ação penal privada, durante o processo, por meio da perempção.

8.3.9 PERDÃO

Consiste na revogação do ato praticado pelo querelante, que desiste do prosseguimento da ação penal, desculpando o ofensor, somente sendo possível na ação penal privada. Ao contrário da renúncia, o

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PROCESSO PENAL

perdão é um ato bilateral, não produzindo efeito se o querelado não o aceita.

O perdão pode ser processual ou extraprocessual. É processual quando ocorre mediante petição dirigida ao Juízo. É extraprocessual quando concedida fora dos autos em declaração assinada por quem de direito.

O perdão pode ser expresso ou tácito. O perdão expresso deve constar de declaração assinada pelo próprio ofendido, por ser representante legal ou procurador com poderes especiais. O perdão tácito se dá nas mesmas condições da renúncia.

Como na renúncia, o perdão concedido a qualquer dos querelados a todos aproveita. Concedido, porém, por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros.

Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado é intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo no mesmo ato ser cientificado que seu silencio resultará em aceitação tácita do perdão oferecido. Aceito o perdão, deve o juiz declarar extinta a punibilidade. Não aceito, prossegue a ação em relação àquele que não aceitar.

ATENÇÃO: O perdão não poderá ser oferecido quando já transitado em julgado a sentença penal condenatória, uma vez que não há mais ação penal.

O STJ (HC 45417/SP – 6ª Turma – 17/08/2006) já manifestou-se:

“O perdão do ofendido, seja ele expresso ou tácito, só é causa de extinção da punibilidade nos crimes que se apuram exclusivamente por ação penal privada”.

9. DENÚNCIADiante dos elementos apresentados pelo

Inquérito Policial ou pelas peças de informação que recebeu, o órgão do Ministério Público, verificando a prova da existência de fato que caracteriza crime em tese e indícios da sua autoria, forma sua convicção para promover a ação penal pública com o oferecimento em juízo da DENÚNCIA.

9.1 Conceito

É a peça inaugural das ações penais públicas, consistindo na exposição, por escrito, de fatos que constituem em tese um ilícito penal, ou seja, de fato caracterizador de tipo penal, com a expressa manifestação da intenção de que se aplique a lei penal a quem é presumivelmente seu autor e a indicação das provas em que se baseia.

9.2 Requisitos da denúncia

7.2.1 Exposição do fato criminoso

Narrativa dos fatos apontados como delituosos, devendo tais fatos enquadrar-se em um tipo penal, não devendo ser aceita denúncia que não especifica, nem descreve, ainda que sucintamente, o fato criminoso atribuído ao acusado.

9.2.2 Qualificação do acusado

A identificação do acusado se dá com a referência ao seu nome, cognome, nome de família, pseudônimo, estado civil, filiação, cidadania, idade sexo, características físicas, sinais de nascença, etc.

9.2.3 Classificação do crime

É necessária também a indicação do dispositivo legal que contém o tipo penal relativo ao fato concreto.

9.2.4 Rol de testemunhas

No rito ordinário: até de 8 (oito); no rito sumário: até 5 (cinco)

9.3 Características da denúncia

São características da denúncia:

- é oferecida pelo Ministério Público;

- é a peça inicial da ação penal pública;

- é peça na qual o promotor de justiça arrola as testemunhas de acusação e requer os demais tipos de provas.

9.4 Prazo para oferecimento da denúncia

Réu preso: 5 (cinco) dias

Réu em liberdade: 15 (quinze) dias

Conta-se o prazo a partir do recebimento do Inquérito Policial pelo Ministério Público.

QUADRO SINÓTICO:

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PROCESSO PENAL

Fonte: Apostila de Processo Penal, Editora Degrau Cultural/2009.

LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

1. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL –DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 03.10.41

TÍTULO III

DA AÇÃO PENAL

Art. 24.  Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

§ 1o No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.  (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 8.699, de 27.8.1993)

§ 2o Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal será pública. (Incluído pela Lei nº 8.699, de 27.8.1993)

Art. 25.  A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.

Art. 26.  A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial.

Art. 27.  Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.

Art. 28.  Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

Art. 29.  Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.

Art. 30.  Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá intentar a ação privada.

Art. 31.  No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Art. 32.  Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado para promover a ação penal.

§ 1o Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às despesas do processo, sem privar-se dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família.

§ 2o Será prova suficiente de pobreza o atestado da autoridade policial em cuja circunscrição residir o ofendido.

Art. 33.  Se o ofendido for menor de 18 (dezoito) anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo penal.

Art. 34.  Se o ofendido for menor de 21 (vinte e um) e maior de 18 (dezoito) anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal.

Art. 35. (Revogado pela Lei nº 9.520, de 27.11.1997)

Art. 36.  Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone.

Art. 37.  As fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes.

Art. 38.  Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.

Parágrafo único.  Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.

Art. 39.  O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.

§ 1o  A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida.

§ 2o  A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria.

§ 3o  Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for.

§ 4o  A representação, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta proceda a inquérito.

§ 5o  O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e,

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PROCESSO PENAL

neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.

Art. 40.  Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia.

Art. 41.  A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

Art. 42.  O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.

Art. 43.  (Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008).

Art. 44.  A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.

Art. 45.  A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo.

Art. 46.  O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.

§ 1o  Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação.

§  2o  O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais      termos do processo.

Art. 47.  Se o Ministério Público julgar necessários maiores esclarecimentos e documentos complementares ou novos elementos de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer autoridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.

Art. 48.  A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.

Art. 49.  A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá.

Art. 50.  A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais.

Parágrafo único.  A renúncia do representante legal do menor que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro.

Art. 51.  O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.

Art. 52.  Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos, o direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal, mas o perdão concedido por um, havendo oposição do outro, não produzirá efeito.

Art. 53.  Se o querelado for mentalmente enfermo ou retardado mental e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os do querelado, a aceitação do perdão caberá ao curador que o juiz Ihe nomear.

Art. 54.  Se o querelado for menor de 21 anos, observar-se-á, quanto à aceitação do perdão, o disposto no art. 52.

Art. 55.  O perdão poderá ser aceito por procurador com poderes especiais.

Art. 56.  Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual expresso o disposto no art. 50.

Art. 57.  A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os meios de prova.

Art. 58.  Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação.

Parágrafo único.  Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a punibilidade.

Art. 59.  A aceitação do perdão fora do processo constará de declaração assinada pelo querelado, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais.

Art. 60.  Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:

I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;

II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;

III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

Art. 61.  Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.

Parágrafo único.  No caso de requerimento do Ministério Público, do querelante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em apartado, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, concederá o prazo de cinco dias para a prova, proferindo a decisão dentro de cinco dias ou reservando-se para apreciar a matéria na sentença final.

Art. 62.  No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade.

2. CÓDIGO PENAL:

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PROCESSO PENAL

TÍTULO VIIDA AÇÃO PENAL

Ação pública e de iniciativa privadaArt. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a

lei expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)A ação penal no crime complexo

Art. 101 - Quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)Irretratabilidade da representação

Art. 102 - A representação será irretratável depois de oferecida a denúncia. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)Decadência do direito de queixa ou de representação

Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)Renúncia expressa ou tácita do direito de queixa

Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou tacitamente.   (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)Perdão do ofendido

Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - se o querelado o recusa, não produz efeito. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

ENTENDIMENTO DAS BANCAS EXAMINADORAS E DO EXAME DE ORDEM

- A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subseqüentes do processo.(Anal.Jud.TJ/RJ/CESEP/2008)

- Quando a ação penal pública for condicionada à representação do ofendido, o exercício desta pelo ofendido ou por quem tenha qualidade para representá-lo não torna obrigatório o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público. (Tec.Jud.TJ-PE/FCC/2007)

- A ação penal privada subsidiária pode ser ajuizada pelo ofendido ou por quem tenha qualidade para representá-lo se esta não for intentada pelo Ministério Público no prazo legal. (Ofic.Just.TJ-PE/FCC/2007)

- Na ação penal pública condicionada, a representação será irretratável depois de oferecida a denúncia. (Adv.METRO/SP/FCC/2008, Idem Adv.Traine METRO/SP-FCC/2008)

- Nas ações penais públicas condicionadas à representação, será esta irretratável, depois de oferecida a denúncia. (Exec.Mand.STF/CESEP/2008)

- Nas ações penais privadas, considerar-se-á perempta a ação penal quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos. (Exec.Mand.STF/CESEP/2008)

- Ação penal secundária ocorre quando a lei estabelece um titular ou uma modalidade de ação penal para determinado crime, mas mediante o surgimento de circunstâncias especiais, prevê, secundariamente, uma nova espécie de ação penal para aquela mesma infração. (Juiz Sub.TJ-SE/CESEP/2008)

- Quando a lei o exigir, dependerão de requisição do Ministro da Justiça os crimes de ação pública. (Ag.Penit.SEJUS-RO/FUNRIO/2008)

- A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subseqüentes do processo. (Anal.Jud.TJ/RJ-CESPE/2008)

- As fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas poderão exercer a ação penal privada. (Proc.TCE-AL/FCC/2008)

- Nos casos de exclusiva ação penal privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou de residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. (Juiz Sub.TJ-RR/FCC/2008)

- Quando a ação penal for privativa do ofendido, a queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais. (Anal.Jud.TRF 5ª R/FCC/2008)

- Qualquer que seja o crime, se for praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da União, dos estados e(ou) dos municípios, a ação penal será sempre pública. (Anal.Jud.Exec.Mand.TJ/DF/CESPE /2008)

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PROCESSO PENAL

- Considera-se perempta a ação penal, nos casos em que se procede somente mediante queixa, quando o querelante deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais. (Ana.Fin.Cont.CGU/2008)

- O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo. (Anal.Jud.TRF 3ª R/FCC/2007)

- Quando a ação penal pública for condicionada à representação do ofendido, o exercício desta pelo ofendido ou por quem tenha qualidade para representá-lo não torna obrigatório o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público. (Tec.Jud.TJ-PE/FCC/2007)

EXERCÍCIOS – DIREITO PROCESSUAL PENAL

Nas assertivas a seguir, assinale C (CERTO) ou E (ERRADO):

01. (AGENTE DE POLÍCIA CIVIL TO) A ação penal pública pode ser incondicionada ou condicionada, sendo certo que, no caso dos crimes de lesões corporais dolosas de natureza leve e de lesões corporais culposas, a ação é pública condicionada à representação.

02. (CESPE/ESCRIVÃO/ES/2006) Considere a seguinte situação hipotética. Marcos foi vítima de ação penal privada personalíssima. No decorrer das investigações, Marcos faleceu em decorrência de um trágico acidente. Nessa situação, o direito de intentar a ação se transmite ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão da vítima.

03. (JUIZ DE DIREITO ACRE–2007–CESPE/UNB) Com relação ao crime de abuso de autoridade, inexiste condição de procedibilidade para a instauração da ação penal correspondente.

04. (DELEGADO–POLÍCIA CIVIL-SE 2006–CESPE/UNB) De acordo com entendimento do STJ, em caso de crime de abuso de autoridade, eventual falha na representação, ou até mesmo a falta desta, não obsta a instauração da ação penal.

CERTO05. (ESCRIVÃO POLÍCIA FEDERAL 2004–REGIONAL-CESPE/UNB) O perdão do ofendido é o ato por meio do qual o próprio ofendido ou o seu representante legal, após o início da ação penal, desiste de seu prosseguimento. Aceito pelo acusado, implicará na extinção da punibilidade, desde que o crime seja apurado por meio de ação penal privada.

06. (ESCRIVÃO–POLÍCIA CIVIL- ES- 2006–CESPE/UNB) Cristiano, gerente de uma boate, impediu a entrada de João e seus amigos, todos da raça negra, sob o pretexto de que o estabelecimento estava com a capacidade de atendimento esgotada. Inconformado com a justificativa do gerente, João adentrou desapercebidamente na boate e constatou que o local estava praticamente vazio, com inúmeras mesas disponíveis. Em razão disso, João novamente interpelou o gerente da boate, tendo este, ao final, informado que naquela casa de diversões não se aceitavam negros. Nessa situação, a conduta de

Cristiano, gerente da boate, caracteriza crime resultante de preconceito de raça ou de cor, cuja ação penal é pública incondicionada.

07. (DELEGADO POLÍCIA FEDERAL 1997– CESPE/UNB) Recebida a denúncia e instaurado o processo por crime de ação penal pública, somente o Ministério Público tem legitimidade para requerer a interceptação das comunicações ao juiz, o qual, por sua vez também poderá determinar tal medida de oficio.

08. (AGENTE CARCERÁRIO POLÍCIA CIVIL RR 2003) Vícios formais verificados no inquérito policial ensejam a nulidade da respectiva ação penal.

09. (AGENTE CARCERÁRIO POLÍCIA CIVIL RR 2003) A ação penal pública incondicionada será iniciada por denúncia a ser oferecida pelo representante do Ministério Público.

10. (AGENTE CARCERÁRIO POLÍCIA CIVIL RR 2003) Ocorrendo crime que enseje ação penal pública condicionada à representação, a retratação do ofendido somente poderá ser recebida até a data do oferecimento da denúncia.

11. (AGENTE CARCERÁRIO POLÍCIA CIVIL RR 2003) A ação penal privada poderá ser intentada mediante queixa, tanto pelo ofendido como por seu representante legal.

12. (AGENTE CARCERÁRIO POLÍCIA CIVIL RR 2003) Antes de receber formalmente a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para que apresente defesa preliminar em trinta dias.

13. (AGENTE CARCERÁRIO POLÍCIA CIVIL RR 2003) A queixa ou a denúncia obrigatoriamente será instruída com documentos que façam presumir a existência do delito.

14. (AGENTE DE POLÍCIA CIVIL TO 2008) As normas penais puramente processuais terão aplicação no mesmo dia em que entrarem em vigor, entretanto os atos processuais realizados na vigência da lei anterior terão de ser revalidados e adaptados ao novo procedimento.

15. (AGENTE DE POLÍCIA CIVIL TO 2008) Considere que um promotor de justiça tenha recebido, por escrito, informações referentes a um fato delituoso e sua autoria, de modo a subsidiar a ação penal com os elementos necessários ao oferecimento da denúncia. Nessa situação, deverá o promotor de justiça enviar as peças à autoridade policial competente para a instauração do inquérito policial.

16. (CESPE/OAB/2006) Em se tratando de crime de ação pública condicionada, exige-se rigor formal na representação do ofendido ou de seu representante legal.

17. (CESPE/OAB/2006) A representação será retratável depois de oferecida a denúncia.

18. (CESPE/OAB/2006) O perdão do ofendido, seja ele expresso ou tácito, pode ser causa de extinção da punibilidade nos crimes que se apuram por ação penal

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19. (CESPE/AUDITOR/DIREITO/ES/2004) Se, em crime sujeito a ação penal privada, o Ministério Público oferecer denúncia, o juiz deverá rejeitá-la, por manifesta ilegitimidade da parte.

20. (CESPE/PROCURADOR/DF/2006) Os menores de dezoito anos civilmente casados podem exercer a titularidade da ação penal, uma vez que são emancipados nos termos da legislação civil.

21. (CESPE/ JUIZ/TJ/2004) Na hipótese de adolescente ser vítima de crime de ação penal privada e seu representante legal não oferecer a queixa no prazo decadencial, o ofendido poderá oferecê-la dentro desse prazo a partir de sua maioridade.

22. (CESPE/PROCURADOR/DF/2006) O prazo decadencial é peremptório: não se interrompe nem se suspende. O exercício do direito de queixa não pode ser prorrogado para o primeiro dia útil subseqüente, caso o termo final se esgote no dia em não houver expediente forense.

23. (CESPE/PROCURADOR/VITÓRIA/2007) Em se tratando de ação penal privada, a abdicação do ofendido ou de seu representante legal do direito de queixa, antes da instauração da ação penal, em relação a um dos autores do crime, não alcançará os seus co-autores, visto tratar-se de causa incomunicável de extinção de punibilidade.

24. (CESPE/DELEGADO/PA/2006) A desistência da ação penal privada pode ocorrer a qualquer momento, mesmo que já exista decisão condenatória transitada em julgado.

GABARITO01- E 02- E 03- C 04- C 05- C06- C 07- C 08- E 09- C 10- C11- C 12- E 13- E 14- E 15- E16- E 17- E 18- E 19- C 20- E21- C 22- C 23- E 24- E

+ EXERCÍCIOS CESPE/UnB01. (Anal.Jud.TRE/GO/CESPE/2009) Acerca da ação penal pública, assinale a opção correta. a) Quando o ofendido for declarado ausente por decisão judicial, haverá caducidade do direito de representação. b) Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da União, estado ou município, a ação penal será pública. c) Depois de iniciado o inquérito policial, a representação, no caso de ação penal pública a ela condicionada, será irretratável. d) Se o órgão do MP, em vez de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, remeterá os autos a outro promotor, para que esse ofereça a denúncia.

02. (Anal.Jud.TRE/GO/CESPE/2009) Com relação à ação penal privada, assinale a opção correta. a) A queixa, quando a ação penal for privativa do ofendido, não poderá ser aditada pelo MP, que em tal situação atua apenas como fiscal da lei.

b) O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, não havendo possibilidade de recusa, pois se trata de ato unilateral. c) O perdão judicial somente pode ser expresso, não admitindo, o Código de Processo Penal (CPP), o perdão tácito.

d) A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o MP velará pela sua indivisibilidade.

03. (OAB/SP/CESPE/2009) Assinale a opção correta de acordo com o que dispõe o CPP acerca da perempção. a) Na ação penal pública, a perempção é causa extintiva da punibilidade. b) A perempção se aplica à ação penal privada subsidiária da pública. c) Considera-se perempta a ação penal privada quando, iniciada esta, o querelante deixa de promover o andamento do processo durante trinta dias seguidos.

d) A ausência de pedido de condenação, nas alegações finais, por parte do querelante, não enseja a perempção.

04. (Anal.Jud.Exec.Mand/STF/CESPE/2008) Acerca das ações penais, julgue os itens que se seguem.[133] Nas ações penais privadas, considerar-se-á perempta a ação penal quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos.[134] Nas ações penais privadas, a renúncia ao exercício do direito de queixa em relação a um dos autores do crime aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.[135] Nas ações penais públicas condicionadas à representação, será esta irretratável, depois de oferecida a denúncia.CEC

05. (Juiz Su.TJ-SE/CESPE/2008) Assinale a opção correta quanto à ação penal. a) Ação penal secundária ocorre quando a lei estabelece um titular ou uma modalidade de ação penal para determinado crime, mas mediante o surgimento de circunstâncias especiais, prevê, secundariamente, uma nova espécie de ação penal para aquela mesma infração. b) O princípio da suficiência da ação penal relaciona-se com as questões prejudiciais heterogêneas, em que a ação penal é suficiente para resolver a questão prejudicial ligada ao estado de pessoas, sendo desnecessário aguardar a solução no âmbito cível. c) Nos crimes de ação penal pública condicionada, a requisição do ministro da Justiça admite retratação, desde que esta ocorra antes do oferecimento da denúncia, e o direito à requisição deve ser exercido no prazo de seis meses. d) O prazo de seis meses para mover a ação penal privada é prescricional e se inicia da data em que ocorreu o fato.

e) Ação penal privada subsidiária da pública é a única exceção à regra da titularidade exclusiva do Ministério Público sobre a ação penal pública, e tem cabimento tanto no caso de inércia da acusação quanto no pedido de arquivamento.

06. (Anal.Jud.TJ-RJ/CESPE/2008) Quanto à ação penal, assinale a opção correta.

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a) Salvo disposição em contrário, em caso de ação penal pública condicionada à representação, o direito de representação prescreve, para o ofendido, se ele não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que o crime foi praticado. b) A representação é ato formal, exigindo a lei forma especial, isto é, deve ser feita por procurador especial, em documento em que conste o crime, o nome do autor do fato e da vítima, além da assinatura do representante e do advogado legalmente habilitado. c) Nos crimes sujeitos à ação penal pública incondicionada, se o Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo legal ou se requerer o arquivamento do inquérito policial e o juiz não concordar com o pedido, será admitida ação penal privada. d) A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subseqüentes do processo.

e) Ainda que a representação contenha elementos que habilitem o Ministério Público a promover a ação penal, não poderá o promotor oferecer denúncia imediatamente, devendo remeter a representação à autoridade policial para que esta proceda ao inquérito.

07. (Prom.Justiça/MPE/AM/CESPE/2007) A respeito de denúncia, assinale a opção correta. a) Denúncia alternativa é aquela que omite a descrição de comportamento típico e sua atribuição a cada autor individualizado. b) Se o promotor denuncia o autor de crime de homicídio por crime qualificado por motivo fútil ou torpe, trata-se de denúncia genérica. c) O acórdão que provê recurso contra rejeição da denúncia vale, desde logo, por seu recebimento, se não for nula a decisão de primeiro grau. d) É inepta a denúncia que, nos crimes societários, não descreve e individualiza a conduta de cada um dos sócios.

e) Rejeitada a denúncia por falta de condição da ação, fica obstado posterior exercício da ação penal, em face da coisa julgada material.

08. (Consltuor Leg.SF/CESEP/2002) Firmino foi acusado, em juízo, pelo cometimento de um crime sujeito, exclusivamente, a ação penal privada. Nesse caso, 1) a peça de acusação, seguramente, foi uma queixa. 2) e o crime cometido por Firmino contou com a co-autoria de Mário, e o acusador renunciou, expressamente, ao seu direito de formalizar a acusação contra Mário, essa renúncia abrangerá Firmino e a peça de acusação não deverá ser recebida. 3) e, recebida a peça de acusação, o ofendido vier a conceder perdão a Firmino, o juiz não deverá extinguir a ação penal, se Firmino recusar o perdão. 4) se, intimado para apresentar alegações finais, o acusador deixar de apresentá-las, estará perempta a ação penal instaurada e Firmino não poderá receber sentença penal condenatória. 5) por tratar-se de ação penal privada, mesmo se condenado, Firmino não estará sujeito à ação de execução civil para reparação do dano causado por seu crime.

09. (Anal.Jud.TSE/CESPE/2007) Fernando Capez sustenta que o fundamento da ação penal privada é evitar que o escândalo do processo provoque ao

ofendido mal maior que a impunidade do criminoso, decorrente da não propositura da ação penal. A diferença básica entre a ação penal pública e a ação penal privada seria apenas a legitimidade de agir; nesta última, extraordinariamente atribuída à vítima apenas devida a razões de política criminal - em ambos os casos, todavia, o Estado retém consigo a titularidade do direito de punir. Rafael Lopes do Amaral. A ação penal privada e os institutos da lei dos juizados especiais criminais. In: Jus Navigandi. Teresina, ano 9, n.º 765, ago./2005 (com adaptações). Acerca da ação penal privada, assinale a opção correta.

a) Quando o Ministério Público pede arquivamento da representação, descabe o ajuizamento de ação penal privada, subsidiária da ação penal pública, já que não houve omissão do Ministério Público.

b) Em crimes contra a honra praticados contra funcionário público propter officium, não se admite a legitimidade concorrente do ofendido para promover ação penal privada. Nesses casos, a ação deve ser pública condicionada à representação.

c) O perdão do ofendido, seja expresso ou tácito, é causa de extinção da punibilidade nos crimes que se apuram exclusivamente por ação penal privada e naqueles em que há ação penal pública incondicionada.

d) O benefício do sursis processual, previsto na Lei n.º 9.099/1995, não permite a aplicação da analogia in bonam partem, prevista no Código de Processo Penal, razão pela qual não é cabível nos casos de crimes de ação penal privada.

Gabarito:01/B; 02/D; 03/C; 04/CEC; 05/A; 06/D; 07/C; 08/CCCCE; 09/A

REFERÊNCIAS:CAPEZ, Fernando - Curso de Processo Penal, 17ª ed.

Saraiva/2010OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo

Penal. 10ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 17ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

JORGE, Jefferson, Para Aprender Direito - Direito Processual Penal. Editora Barros, Ficher e Associados/2008

TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de. Curso de direito processual penal. 3. ed. Ed. JusPodivm, 2009.

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