41
2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS 2.1. Integração Escolar: Conceito Como já vimos anteriormente, a história do atendimento às pessoas portadoras de necessidades educativas especiais no mundo, partiu de um período em que elas eram eliminadas, em várias civilizações, passando por uma época marcada em várias civilizações, passando por uma época marcada por tímidas iniciativas de caráter filantrópico, até uma fase em que forem contempladas com o direito à educação, mas ainda marcadas pelo estigma. Essa tendência social, consequentemente, refletiu nos sistemas educacionais, excluindo, afastando da escola comum os menos aptos. A condição de excepcionalidade carregava conotações de anormalidade, juntando-se a ela as idéias de marginalização, de incapacidade, de imutabilidade desta condição, levando a se ter uma visão pessimista dessas pessoas e provocando a sua rotulação, considerada indispensável no processo de seu atendimento e, consequentemente, a sua institucionalização, isto é, sua colocação em ambientes restritivos. A escola especial, principalmente, e outros ambientes restritivos.A escola especial, principalmente, e outros ambientes ainda mais segregadores eram os lugares utilizados para o “treinamento” daqueles que não conseguiram aprender na escola regular. E a Educação Especial, distanciou-se do seu compromisso social, esvaziando-se no seu ESCOLA INCLUSIVA!

2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS 2.1. Integração Escolar: Conceito

Como já vimos anteriormente, a história do atendimento às pessoas

portadoras de necessidades educativas especiais no mundo, partiu de um

período em que elas eram eliminadas, em várias civilizações, passando por

uma época marcada em várias civilizações, passando por uma época marcada

por tímidas iniciativas de caráter filantrópico, até uma fase em que forem

contempladas com o direito à educação, mas ainda marcadas pelo estigma.

Essa tendência social, consequentemente, refletiu nos sistemas educacionais,

excluindo, afastando da escola comum os menos aptos.

A condição de excepcionalidade carregava conotações de anormalidade,

juntando-se a ela as idéias de marginalização, de incapacidade, de

imutabilidade desta condição, levando a se ter uma visão pessimista dessas

pessoas e provocando a sua rotulação, considerada indispensável no processo

de seu atendimento e, consequentemente, a sua institucionalização, isto é, sua

colocação em ambientes restritivos. A escola especial, principalmente, e outros

ambientes restritivos.A escola especial, principalmente, e outros ambientes

ainda mais segregadores eram os lugares utilizados para o “treinamento”

daqueles que não conseguiram aprender na escola regular. E a Educação

Especial, distanciou-se do seu compromisso social, esvaziando-se no seu

ESCOLA INCLUSIVA!

Page 2: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

sentido pedagógico e se transformando num espaço eminentemente clinico.

Esta visão mascarava as reais potencialidades da pessoa, pois a ênfase era

colocada no que ela não possuía, no que ela falhava, confundindo-se a pessoa

com sua deficiência – sua condição orgânica ou psicológica sobrepunha-se

anulando o sujeito.

Mais tarde, estudo de ordem cientifica cultural e ideológica, denunciando

a segregação a que eram submetidas essas pessoas, possibilitaram uma

reflexão da sociedade sobre elas.

Em fins da década de 60, a integração surgiu como palavra de ordem

para os que se interessavam e estavam envolvidos com o seu atendimento.

Você já deve ter ouvido falar nos princípios básicos da Educação

Especial. Se não ouviu, cabe mencionar aqui. São eles: a integração, a

normalização e a individualização. Vamos definir e comentar cada um deles,

para que fique bem claro como tem evoluído a Educação Especial, até às

idéias recentes da escola inclusiva.

Mas, o que se entende por integração???? É o processo que visa ao

estabelecimento de condições que facilitem a participação da pessoa portadora

de necessidades educativas especiais na sociedade, obedecendo aos valores

democráticos de igualdade, participação ativa e respeito a direitos e deveres

socialmente estabelecidos.

O QUE É

INTEGRAÇÃO!!!!

Page 3: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

Para PEREIRA (1980), existe três formas principais de

integração:temporal, social e instrucional.

A integração temporal ocorre quando há disponibilidade de

oportunidade para que a pessoa com necessidades educativas especiais

permaneça mais tempo com seus companheiras ditos “normais”, esperando-se

que resultados positivos sejam obtidos através das ações instituições e sociais.

A integração social pressupõe a existência de atendimentos de

Educação Especial na escola regular de ensino, onde os alunos nela

escolarizados realizam algumas atividades comuns, tais como jogos e

atividades extra-escolares.

A integração instrucional relaciona-se com disponibilidade de

oportunidades e de condições de estímulos que este aluno encontra no

ambiente da classe regular, facilitando seu processo de ensino-aprendizagem.

Outrossim, é a integração funcional, assim chamada porque é vista como a

redução progressiva da distancia funcional na utilização conjunta de recursos

educacionais. Existem aí três níveis de integração funcional: a utilização

compartilhada, onde são compartilhadas os mesmos meios, mas horário

diferente; a utilização simultânea, no mesmo momento, mas de forma

separada, cooperação, onde os recursos são utilizados ao mesmo tempo e

com objetivos educacionais comuns.

Na esfera educacional, a integração se caracteriza pela busca cada vez

maior da democratização das sociedades, da garantia dos direitos humanas e

de oportunidades justas à minorias com base em princípios igualitários.

Educacionalmente essa busca se traduz no desenvolvimento do principio de

“educação para todos”. O reconhecimento desses principio, por sua vez,

aprofundou o repensar do papel de todos aqueles que eram, até então,

excluídos, marginalizados ou segregados...como tal passam a ter resgatados,

pelo menos teoricamente, seus direitos de participação social.

Um outro principio é o da normalização . Isto não significa tornar o

aluno com necessidades educativas especiais “normal”. Significa oferecer

condições de vida as mais próximas possíveis de outras pessoas, a fim de que

possam desenvolver ao máximo suas potencialidades.

Page 4: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

O principio da individualização é o que mais valoriza as diferenças

individuais, sejam as diferenças dos portadores de necessidades especiais,

quando comparados aos ditos “normais”, sejam as diferenças entre os

portadores de necessidades educativas especiais, quando comparados entre

si.Esse principio pressupõe que o ensino seja individualizado em termos de

recursos instrucionais, características pessoais e tempo de cada um.

Enquanto integração é um processo , normalização é um objetivo.

Dentro deste principio, a escola regular deve possibilitar meios de se

adaptarem ao ambiente escolar, minimizando as diferenças entre os alunos

portadores de necessidades educativas especiais e os demais. Em relação ao

espaço físico, por exemplo, o que se vê frequentemente é a presença de

barreiras arquitetônicas que impedem o aluno cego ou deficiente físico de se

locomoverem com autonomia. É então, necessário alargar portas, colocar

corrimãos, fazer rampas e pisos não escorregadios, eliminar obstáculos que

enganem o cego. Entretanto não são apenas as barreiras arquitetônicas que

dificultam a integração.Pior ainda, são as barreiras atitudinais, humanas,

carregadas de preconceitos e que fortalecem a exclusão do aluno com

necessidades educativas especiais da escola regular.

Você reparou que nesse sistema, uma criança por exemplo, se for

colocada em uma classe especial estará mais integrada do que se pertencesse

a uma escola especial, enquanto que uma outra, se for colocada neste tipo de

escola estará mais integrada do que se estivesse numa escola residencial?

Para onde você acha que eram encaminhadas os alunos com menor

comprometimento? Certamente, você dirá que eles iam para os ambientes

menos segregativos, menos restritivos.

Na verdade muitas estratégias foram usadas na tentativa de colocar

estes alunos na corrente principal, porém, um dos problemas que se observou,

DIGA NÃO À

INDIVIDUALIZAÇÃO!!!!

Page 5: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

foi que a integração desses alunos á escola regular teve um sentido de mão

única, onde o aluno com deficiência era quem devia se adequar aos padrões

da escola e não esta adequar seus padrões às necessidades das crianças.

O que você acha? São as crianças que apresentam dificuldades que

devem se adequar à escola ou esta promover-se de meios para atender

qualquer aluno de sua comunidade, isto é, adequar-se ao aluno?

No final da década de 80 e inicio de 90, os estudos de SASSAKI (1997),

mostravam:”a integração social não era insuficiente para acabar com a

discriminação que havia contra este segmento populacional, mas também era

muito pouco para propiciar a verdadeira participação plena com igualdade de

oportunidades.

O autor acrescenta ainda que, no modelo integrativo, a sociedade em

geral, ficava praticamente de braços cruzados e aceitava receber os portadores

de deficiência desde que eles fossem capazes de moldar-se aos tipos de

serviços que ela lhes oferecia e isto acontecia inclusive na escola. Assim a

integração tão desejada só ocorria, geralmente, quando o aluno portador de

necessidades educativas especiais, por seus próprios méritos, conseguia

adaptar-se à classe regular.

O acesso a ele era difícil. Mesmo nas grandes cidades, em que a maior

parte d população de 7 a 14 anos já tinha garantido seu lugar no ensino

básico, e o problema fundamental da escola consistia em proporcionar um

ensino de qualidade, o que se observava era que apenas 10 15% dos alunos

portadores de necessidades educativas especiais recebia alguma forma de

atendimento educacional. Além do mais, a maioria destes alunos não

O QUE VOCÊ

ACHA??????

Page 6: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

conseguia ultrapassar as séries iniciais da escola. O que se vinha constatando

também é que somente um pequeno número de pessoas, que possuía

recursos financeiros, podia manter seus filhos nestes programas envolvendo a

Educação Especial e/ou Regular porque os serviços públicos existentes eram

raros ou insuficientes.

2.2. Integração X Inclusão: Diferenças e Diversidade

Quando se caracteriza um grupo de humanos e estes são identificados

sob a denominação de pessoas com necessidades especiais, cria-se um dos

modos de produção das diferenças, presentes nas interações humanas através

do modo de pensar e sentir a cerca do outro. São manifestações que não são

naturais e espontâneas, mas produzida social e culturalmente, processo que

abarca um conjunto de significações que funcionam como codificadores de

diversos tipos de diferenças, sejam elas físicas, afetivas no mundo de sentir,

cognitivas no modo de pensar e interpretar as experiências cotidianas com o

mundo, culturais no modo de produzir algo e sociais vinculadas ao modo como

é organizado o que se produz.

Como toda produção humana, o campo de criação das diferenças é

dotado de crenças, valores, fantasias, diversos sentimentos, emoções e

desejos, todos com variedades de afetos que tanto propiciam relações

inclusivas quanto excludentes.Portanto o histórico desse grupo de pessoas,

assim como de tantos outros grupos que sofreram e sofrem diferentes formas

de exclusão, são marcados por vários tipos de preconceitos que levam marca

da estereotipia, tendo por conseqüência processos discriminatórios que se

concretizam em diversos níveis de exclusão social.

Page 7: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

Assim as pessoas que estão codificadas sob essa denominação,

sofreram ao longo da história diferentes formas de segregação, demarcadas e

expressas em significações socioculturais construídas em torno de suas

características. Nesse percurso, o termo “deficiência” sofreu vários

deslocamentos que perpassa pela era pré-cientifica, cientifica e

contemporânea. Em cada época, foram desenvolvidas significações que

justificaram e justificam a forma de tratamento ao grupo de pessoas

enquadradas nas características que se convencionou denominarem de

“deficiência”.

Na era pré-cientifica, diziam serem pessoas sem alma e assim

justificavam a radical exclusão,manifesta pelo seu total abandono até a morte.

No discurso do pensamento cristão, ganham outra identidade, são filhos de

Deus e possuidores de alma, a exclusão é feita às avessas, eram tratados com

ambigüidade, caridade e castigo,proteção e segregação.

Como vimos toda teria produz um discurso impregnado de valores que

vão moldando a realidade, assim, toda teoria produzida sobre o que se chama

“deficiência”, possui uma matriz de produção teórica, onde os seus

representantes basearam-se em diferentes concepções filosóficas do ser

humano, gerando diversas conseqüências em seu desenvolvimento.

PRODUÇÃO

HUMANA!!!!!!!

Page 8: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

Em 13 de dezembro de 2006, a Assembléia Geral da Organização das

Nações Unidas (ONU) aprovou o texto da Convenção sobre os Direitos das

Pessoas com Deficiência. No Artigo 24, a Convenção trata do “direito à

educação”.

A inclusão escolar é o processo de adequação da escola para que todos os

alunos possam receber uma educação de qualidade, cada um a partir da

realidade com que ele chega à escola, independentemente de raça, etnia,

gênero, situação socioeconômica, deficiências etc. É a escola que deve ser

capaz de acolher todo tipo de aluno e de lhe oferecer uma educação de

qualidade, ou seja, respostas educativas compatíveis com as suas habilidades,

necessidades e expectativas. Por sua vez, a integração escolar é o processo

tradicional de adequação do aluno às estruturas física, administrativa,

curricular, pedagógica e política da escola. A integração trabalha com o

pressuposto de que todos os alunos precisam ser capazes de aprender no

nível pré-estabelecido pelo sistema de ensino. No caso de alunos com

deficiência (intelectual, auditiva, visual, física ou múltipla), a escola comum

condicionava a matrícula a uma certa prontidão que somente as escolas

especiais (e, em alguns casos, as classes especiais) conseguiriam produzir.

Inspirada no lema do Ano Internacional das Pessoas Deficientes

(“Participação Plena e Igualdade”), tão disseminada em 1981, uma pequena

parte da sociedade em muitos países começou a tomar algum conhecimento

da necessidade de mudar o enfoque de seus esforços. Para que as pessoas

com deficiência realmente pudessem ter participação plena e igualdade de

oportunidades, seria necessário que não se pensasse tanto em adaptar as

ONU – ORGANIZAÇÃO DAS

NAÇÕES UNIDAS

Page 9: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

pessoas à sociedade e sim em adaptar a sociedade às pessoas. Isto deu início

ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80.

O termo „necessidades especiais‟ não substitui a palavra „deficiência‟, como

se imagina. A maioria das pessoas com deficiência pode apresentar

necessidades especiais (na escola, no trabalho, no transporte etc.), mas nem

todas as pessoas com necessidades especiais têm deficiência. As

necessidades especiais são decorrentes de condições atípicas como, por

exemplo: deficiências, insuficiências orgânicas, transtornos mentais, altas

habilidades, experiências de vida marcantes etc. Estas condições podem ser

agravadas e/ou resultantes de situações socialmente excludentes (trabalho

infantil, prostituição, pobreza ou miséria, desnutrição, saneamento básico

precário, abuso sexual, falta de estímulo do ambiente e de escolaridade). Na

integração escolar, os alunos com deficiência eram o foco da atenção. Na

inclusão escolar, o foco se amplia para os alunos com necessidades especiais

(dos quais alguns têm deficiência), já que a inclusão traz para dentro da escola

toda a diversidade humana.

A seguir, parágrafos e letras do Artigo 24 da Convenção sobre os Direitos

das Pessoas com Deficiência serão mencionados entre colchetes após os

comentários.

Em primeiro lugar, a Convenção defende um sistema educacional inclusivo

em todos os níveis [§ 5]. Em suas linhas, percebemos que a educação

inclusiva é o conjunto de princípios e procedimentos implementados pelos

sistemas de ensino para adequar a realidade das escolas à realidade do

alunado que, por sua vez, deve representar toda a diversidade humana.

Nenhum tipo de aluno poderá ser rejeitado pelas escolas [§ 2, “a”]. As escolas

passam a ser chamadas inclusivas no momento em que decidem aprender

com os alunos o que deve ser eliminado, modificado, substituído ou

acrescentado no sistema escolar para que ele se torne totalmente acessível [§

1; § 2, “b” e “c”; § 5]. Isto permite que cada aluno possa aprender mediante seu

estilo de aprendizagem e com o uso de todas as suas inteligências [§ 1, “b”].

Portanto, a escola inclusiva percebe o aluno como um ser único e ajuda-o a

aprender como uma pessoa por inteiro [§ 1, “a”].

Para a Convenção, um dos objetivos da educação é a participação

efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre [§ 1, “c”; § 3], o

Page 10: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

que exige a construção de escolas capazes de garantir o desenvolvimento

integral de todos os alunos, sem exceção.

Uma escola em processo de modificação sob o paradigma da inclusão é

aquela que adota medidas concretas de acessibilidade [§ 2, “d” e “e”; § 4].

Quem deve adotar estas medidas? Professores, alunos, familiares, técnicos,

funcionários, demais componentes da comunidade escolar, autoridades, entre

outros. Cada uma destas pessoas tem a responsabilidade de contribuir com a

sua parte, por menor que seja para a construção da inclusividade em suas

escolas. Exemplos:

Arquitetura. Ajudando a remover barreiras

físicas ao redor e dentro da escola, tais como:

degraus, buracos e desníveis no chão, pisos

escorregadios, portas estreitas, sanitários

minúsculos, má iluminação, má ventilação, má

localização de móveis e equipamentos etc. [§ 1; § 2,

“b” e “c”].

Comunicação. Aprendendo o básico da língua

de sinais brasileira (Libras) para se comunicar

com alunos surdos; entendendo o braile e o

sorobã para facilitar o aprendizado de alunos

cegos; usando letras em tamanho ampliado para

facilitar a leitura para alunos com baixa visão;

permitindo o uso de computadores de mesa e/ou

notebooks para alunos com restrições motoras

nas mãos; utilizando desenhos, fotos e figuras

para facilitar a comunicação para alunos que

tenham estilo visual de aprendizagem etc. [§ 3,

“a”, “b” e “c”; § 4]

Page 11: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

Métodos, técnicas e teorias. Aprendendo e

aplicando os vários estilos de aprendizagem;

aprendendo e aplicando a teoria das inteligências

múltiplas; utilizando materiais didáticos

adequados às necessidades especiais etc. [§ 1; §

2; § 3 e § 4].

Instrumentos. Adequando a forma como alguns

alunos poderão usar o lápis, a caneta, a régua e

todos os demais instrumentos de escrita,

normalmente utilizados em sala de aula, na

biblioteca, na secretaria administrativa, no serviço

de reprografia, na lanchonete etc., na quadra de

esportes etc. [§ 3, “a” e “c”; § 4]

Programas. Revendo atentamente todos os

programas, regulamentos, portarias e normas da

escola, a fim de garantir a eliminação de barreiras

invisíveis neles contidas, que possam impedir ou

dificultar a participação plena de todos os alunos,

com ou sem deficiência, na vida escolar [§ 1].

Atitudes. Participando de atividades de

sensibilização e conscientização, promovidas dentro

e fora da escola a fim de eliminar preconceitos,

estigmas e estereótipos, e estimular a convivência

com alunos que tenham as mais diversas

características atípicas (deficiência, síndrome, etnia,

Page 12: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

condição social etc.) para que todos aprendam a

evitar comportamentos discriminatórios. Um

ambiente escolar (e também familiar, comunitário

etc.) que não seja preconceituoso melhora a auto-

estima dos alunos e isto contribui para que eles

realmente aprendam em menos tempo e com mais

alegria, mais motivação, mais cooperação, mais

amizade e mais felicidade [§ 4].

O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política,

cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os

alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de

discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional

fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e

diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à idéia de

eqüidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da

exclusão dentro e fora da escola.

Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino

evidenciam a necessidade de confrontar as práticas discriminatórias e criar

alternativas para superá-las, a educação inclusiva assume espaço central no

debate acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola na

superação da lógica da exclusão. A partir dos referenciais para a construção de

sistemas educacionais inclusivos, a organização de escolas e classes

especiais passa a ser repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural

da escola para que todos os alunos tenham suas especificidades atendidas.

Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secretaria de Educação

Especial apresenta a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva

da Educação Inclusiva, que acompanha os avanços do conhecimento e das

lutas sociais, visando constituir políticas públicas promotoras de uma educação

de qualidade para todos os alunos.

Page 13: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

A educação especial se organizou tradicionalmente como atendimento

educacional especializado substitutivo ao ensino comum, evidenciando

diferentes compreensões, terminologias e modalidades que levaram à criação

de instituições especializadas, escolas especiais e classes especiais. Essa

organização, fundamentada no conceito de normalidade/anormalidade,

determina formas de atendimento clínico-terapêuticos fortemente ancorados

nos testes psicométricos que, por meio de diagnósticos, definem as práticas

escolares para os alunos com deficiência.

No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência teve início na

época do Império, com a criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos

Meninos Cegos, em 1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto

dos Surdos Mudos, em 1857, hoje denominado Instituto Nacional da Educação

dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro. No início do século XX é

fundado o Instituto Pestalozzi (1926), instituição especializada no atendimento

às pessoas com deficiência mental; em 1954, é fundada a primeira Associação

de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE; e, em 1945, é criado o primeiro

atendimento educacional especializado às pessoas com superdotação na

Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff.

Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com deficiência passa

a ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional – LDBEN, Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos

“excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de

ensino.

A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao definir “tratamento

especial” para os alunoscom “deficiências físicas, mentais, os que se

EDUCAÇÃO ESPECIAL

Page 14: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

encontram em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os

superdotados”, não promove a organização de um sistema de ensino capaz de

atender às necessidades educacionais especiais e acaba reforçando o

encaminhamento dos alunos para as classes e escolas especiais.

Em 1973, o MEC cria o Centro Nacional de Educação Especial –

CENESP, responsável pela gerência da educação especial no Brasil, que, sob

a égide integracionista, impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas

com deficiência e às pessoas com superdotação, mas ainda configuradas por

campanhas assistenciais e iniciativas isoladas do Estado.

Nesse período, não se efetiva uma política pública de acesso universal à

educação, permanecendo a concepção de “políticas especiais” para tratar da

educação de alunos com deficiência. No que se refere aos alunos com

superdotação, apesar do acesso ao ensino regular, não é organizado um

atendimento especializado que considere as suas singularidades de

aprendizagem.

A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus objetivos

fundamentais “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,

sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º, inciso IV).

Define, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno

desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o

trabalho. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de

acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e

garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional

especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208).

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº 8.069/90, no

artigo 55, reforça os dispositivos legais supracitados ao determinar que “os pais

ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede

regular de ensino”. Também nessa década, documentos como a Declaração

Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994)

passam a influenciar a formulação das políticas públicas da educação inclusiva.

Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação Especial,

orientando o processo de “integração instrucional” que condiciona o acesso às

classes comuns do ensino regular àqueles que “(...) possuem condições de

acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino

Page 15: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais” (p.19). Ao reafirmar os

pressupostos construídos a partir de padrões homogêneos de participação e

aprendizagem, a Política não provoca uma reformulação das práticas

educacionais de maneira que sejam valorizados os diferentes potenciais de

aprendizagem no ensino comum, mas mantendo a responsabilidade da

educação desses alunos exclusivamente no âmbito da educação especial.

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96,

no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos

currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas

necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram

o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas

deficiências; e assegura a aceleração de estudos aos superdotados para

conclusão do programa escolar. Também define, dentre as normas para a

organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas

séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...]

oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do

alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e

exames” (art. 37).

Em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº 7.853/89, ao

dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência, define a educação especial como uma modalidade transversal a

todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar

da educação especial ao ensino regular.

Acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes Nacionais para a

Educação Especial na Educação Básica, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no

artigo 2º, determinam que:

“Os sistemas de ensino devem matricular todos os

alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o

atendimento aos educandos com necessidades

educacionais especiais, assegurando as condições

necessárias para uma educação de qualidade para

todos. (MEC/SEESP, 2001).”

Page 16: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial para realizar o

atendimento educacional especializado complementar ou suplementar à

escolarização, porém, ao admitir a possibilidade de substituir o ensino regular,

não potencializam a adoção de uma política de educação inclusiva na rede

pública de ensino, prevista no seu artigo 2º.

O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001, destaca que

“o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a

construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade

humana”. Ao estabelecer objetivo e metas para que os sistemas de ensino

favoreçam o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos,

aponta um déficit referente à oferta de matrículas para alunos com deficiência

nas classes comuns do ensino regular, à formação docente, à acessibilidade

física e ao atendimento educacional especializado.

A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo Decreto

nº 3.956/2001, afirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos

humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo como

discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que

possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades

fundamentais. Este Decreto tem importante repercussão na educação, exigindo

uma reinterpretação da educação especial, compreendida no contexto da

diferenciação, adotado para promover a eliminação das barreiras que impedem

o acesso à escolarização.

Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução CNE/CP nº 1/2002,

que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de

Professores da Educação Básica, define que as instituições de ensino superior

devem prever, em sua organização curricular, formação docente voltada para a

atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as

especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais.

A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais – Libras

como meio legal de comunicação e expressão, determinando que sejam

garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a

inclusão da disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos

de formação de professores e de fonoaudiologia.

Page 17: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

A Portaria nº 2.678/02 do MEC aprova diretrizes e normas para o uso, o

ensino, a produção e a difusão do sistema Braille em todas as modalidades de

ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e

a recomendação para o seu uso em todo o território nacional.

Em 2003, é implementado pelo MEC o Programa Educação Inclusiva:

direito à diversidade, com vistas a apoiar a transformação dos sistemas de

ensino em sistemas educacionais inclusivos, promovendo um amplo processo

de formação de gestores e educadores nos municípios brasileiros para a

garantia do direito de acesso de todos à escolarização, à oferta do atendimento

educacional especializado e à garantia da acessibilidade.

Em 2004, o Ministério Público Federal publica o documento O Acesso de

Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular, com o

objetivo de disseminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão,

reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de alunos com e sem

deficiência nas turmas comuns do ensino regular.

Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto nº 5.296/04

regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e

critérios para a promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com

mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa Brasil Acessível, do

Ministério das Cidades, é desenvolvido com o objetivo de promover a

acessibilidade urbana e apoiar ações que garantam o acesso universal aos

espaços públicos.

O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, visando

ao acesso à escola dos alunos surdos, dispõe sobre a inclusão da Libras como

disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e

tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda

língua para alunos surdos e a organização da educação bilíngüe no ensino

regular.

Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividades de Altas

Habilidades/Superdotação –NAAH/S em todos os estados e no Distrito Federal,

são organizados centros de referência na área das altas

habilidades/superdotação para o atendimento educacional especializado, para

a orientação às famílias e a formação continuada dos professores, constituindo

Page 18: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

a organização da política de educação inclusiva de forma a garantir esse

atendimento aos alunos da rede pública de ensino.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada

pela ONU em 2006 e da qual o Brasil é signatário, estabelece que os Estados-

Partes devem assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis

de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e

social compatível com a meta da plena participação e inclusão, adotando

medidas para garantir que:

a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional

geral sob alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não sejam

excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação de

deficiência;

b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino fundamental

inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais

pessoas na comunidade em que vivem (Art.24).

Neste mesmo ano, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, os

Ministérios da Educação e da Justiça, juntamente com a Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, lançam o

Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, que objetiva, dentre as

suas ações, contemplar, no currículo da educação básica, temáticas relativas

às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem

acesso e permanência na educação superior.

Em 2007, é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE,

reafirmado pela Agenda Social, tendo como eixos a formação de professores

para a educação especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais,

a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, acesso e a permanência

das pessoas com deficiência na educação superior e o monitoramento do

acesso à escola dos favorecidos pelo Beneficio de Prestação Continuada –

BPC.

Page 19: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

No documento do MEC, Plano de Desenvolvimento da Educação:

razões, princípios e programas é reafirmada a visão que busca superar a

oposição entre educação regular e educação especial.

Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade da educação

especial nos diferentes níveis, etapas e modalidades de ensino, a educação

não se estruturou na perspectiva da inclusão e do atendimento às

necessidades educacionais especiais, limitando, o cumprimento do princípio

constitucional que prevê a igualdade de condições para o acesso e

permanência na escola e a continuidade nos níveis mais elevados de ensino

(2007, p. 09).

Para a implementação do PDE é publicado o Decreto nº 6.094/2007, que

estabelece nas diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do

acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades

educacionais especiais dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas escolas

públicas.

O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente em todas as escolas

de educação básica, possibilita o acompanhamento dos indicadores da

educação especial: acesso à educação básica, matrícula na rede pública,

ingresso nas classes comuns, oferta do atendimento educacional

especializado, acessibilidade nos prédios escolares, municípios com matrícula

de alunos com necessidades educacionais especiais, escolas com acesso ao

ensino regular e formação docente para o atendimento às necessidades

educacionais especiais dos alunos.

Para compor esses indicadores no âmbito da educação especial, o

Censo Escolar/MEC/INEP coleta dados referentes ao número geral de

matrículas; à oferta da matrícula nas escolas públicas, escolas privadas e

privadas sem fins lucrativos; às matrículas em classes especiais, escola

especial e classes comuns de ensino regular; ao número de alunos do ensino

regular com atendimento educacional especializado; às matrículas, conforme

tipos de deficiência, transtornos do desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação; à infra-estrutura das escolas quanto à acessibilidade

arquitetônica, à sala de recursos ou aos equipamentos específicos; e à

formação dos professores que atuam no atendimento educacional

especializado.

Page 20: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

A partir de 2004, são efetivadas mudanças no instrumento de pesquisa

do Censo, que passa a registrar a série ou ciclo escolar dos alunos

identificados no campo da educação especial, possibilitando monitorar o

percurso escolar. Em 2007, o formulário impresso do Censo Escolar foi

transformado em um sistema de informações on-line, o Censo Web, que

qualifica o processo de manipulação e tratamento das informações, permite

atualização dos dados dentro do mesmo ano escolar, bem como possibilita o

cruzamento com outros bancos de dados, tais como os das áreas de saúde,

assistência e previdência social. Também são realizadas alterações que

ampliam o universo da pesquisa, agregando informações individualizadas dos

alunos, das turmas, dos professores e da escola.

Com relação aos dados da educação especial, o Censo Escolar registra

uma evolução nas matrículas, de 337.326 em 1998 para 700.624 em 2006,

expressando um crescimento de 107%. No que se refere ao ingresso em

classes comuns do ensino regular, verifica-se um crescimento de 640%,

passando de 43.923 alunos em 1998 para 325.316 em 2006, conforme

demonstra o gráfico a seguir:

Quanto à distribuição dessas matrículas nas esferas pública e privada,

em 1998 registra-se 179.364 (53,2%) alunos na rede pública e 157.962 (46,8%)

nas escolas privadas, principalmente em instituições especializadas

filantrópicas. Com o desenvolvimento das ações e políticas de educação

inclusiva nesse período, evidencia-se um crescimento de 146% das matrículas

nas escolas públicas, que alcançaram 441.155 (63%) alunos em 2006,

conforme demonstra o gráfico:

Com relação à distribuição das matrículas por etapa de ensino em 2006:

112.988 (16%) estão na educação infantil, 466.155 (66,5%) no ensino

fundamental, 14.150 (2%) no ensino médio, 58.420 (8,3%) na educação de

jovens e adultos, e 48.911 (6,3%) na educação profissional. No âmbito da

educação infantil, há uma concentração de matrículas nas escolas e classes

especiais, com o registro de 89.083 alunos, enquanto apenas 24.005 estão

matriculados em turmas comuns.

O Censo da Educação Especial na educação superior registra que, entre

2003 e 2005, o número de alunos passou de 5.078 para 11.999 alunos,

representando um crescimento de 136%. A evolução das ações referentes à

Page 21: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

educação especial nos últimos anos é expressa no crescimento de 81% do

número de municípios com matrículas, que em 1998 registra 2.738 municípios

(49,7%) e, em 2006 alcança 4.953 municípios (89%).

Aponta também o aumento do número de escolas com matrícula, que

em 1998 registra apenas 6.557 escolas e, em 2006 passa a registrar 54.412,

representando um crescimento de 730%. Das escolas com matrícula em 2006,

2.724 são escolas especiais, 4.325 são escolas comuns com classe especial e

50.259 são escolas de ensino regular com matrículas nas turmas comuns.

O indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios escolares, em

1998, aponta que 14% dos 6.557 estabelecimentos de ensino com matrícula de

alunos com necessidades educacionais especiais possuíam sanitários com

acessibilidade. Em 2006, das 54.412 escolas com matrículas de alunos

atendidos pela educação especial, 23,3% possuíam sanitários com

acessibilidade e 16,3% registraram ter dependências e vias adequadas (dado

não coletado em 1998). No âmbito geral das escolas de educação básica, o

índice de acessibilidade dos prédios, em 2006, é de apenas 12%.

Com relação à formação inicial dos professores que atuam na educação

especial, o Censo de 1998, indica que 3,2% possui ensino fundamental, 51%

ensino médio e 45,7% ensino superior. Em 2006, dos 54.625 professores

nessa função, 0,62% registram ensino fundamental, 24% ensino médio e

75,2% ensino superior. Nesse mesmo ano, 77,8% desses professores,

declararam ter curso específico nessa área de conhecimento.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos

alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de

ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais,

garantindo:

Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a

educação superior;

Atendimento educacional especializado;

Page 22: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino;

Formação de professores para o atendimento educacional especializado e

demais profissional da educação para a inclusão escolar;

Participação da família e da comunidade;

Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos,

nos transportes, na comunicação e informação; e

Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas.

V – Alunos atendidos pela Educação Especial

Por muito tempo perdurou o entendimento de que a educação especial,

organizada de forma paralela à educação comum, seria a forma mais

apropriada para o atendimento de alunos que apresentavam deficiência ou que

não se adequassem à estrutura rígida dos sistemas de ensino.

Essa concepção exerceu impacto duradouro na história da educação

especial, resultando em práticas que enfatizavam os aspectos relacionados à

deficiência, em contraposição à sua dimensão pedagógica. O desenvolvimento

de estudos no campo da educação e dos direitos humanos vêm modificando os

conceitos, as legislações, as práticas educacionais e de gestão, indicando a

necessidade de se promover uma reestruturação das escolas de ensino regular

e da educação especial.

Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as escolas

regulares com orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de

combater atitudes discriminatórias e que alunos com necessidades

educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, tendo como

princípio orientador que “as escolas deveriam acomodar todas as crianças

independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais,

emocionais, lingüísticas ou outras” (BRASIL, 2006, p.330).

Page 23: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

O conceito de necessidades educacionais especiais, que passa a ser

amplamente disseminado a partir dessa Declaração, ressalta a interação das

características individuais dos alunos com o ambiente educacional e social. No

entanto, mesmo com uma perspectiva conceitual que aponte para a

organização de sistemas educacionais inclusivos, que garanta o acesso de

todos os alunos e os apoios necessários para sua participação e

aprendizagem, as políticas implementadas pelos sistemas de ensino não

alcançaram esse objetivo.

Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a

integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento

às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos

globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos e

outros, que implicam em transtornos funcionais específicos, a educação

especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o

atendimento às necessidades educacionais especiais desses alunos.

A educação especial direciona suas ações para o atendimento às

especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma

atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a

formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o

desenvolvimento de práticas colaborativas.

A sociedade ainda precisa

quebrar as amarras das

barreiras arquitetônicas!

Page 24: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

Os estudos mais recentes no campo da educação especial enfatizam

que as definições e uso de classificações devem ser contextualizados, não se

esgotando na mera especificação ou categorização atribuída a um quadro de

deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. Considera-se que as

pessoas se modificam continuamente, transformando o contexto no qual se

inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a

situação de exclusão, reforçando a importância dos ambientes heterogêneos

para a promoção da aprendizagem de todos os alunos.

A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com deficiência

aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental ou

sensorial que, em interação com diversas barreiras, podem ter restringida sua

participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com

transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam

alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um

repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo.

Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do

autismo e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação

demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas

ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes,

além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e

realização de tarefas em áreas de seu interesse.

2.3. PCN da educação Especial

A “exigência universal de pluralidade” ou a chamada discriminação

positiva ( affirmative action), que consiste em dar legalmente um tratamento

preferencial a favor dos grupos humanos que são vítimas de injustiças (

negros, hispânicos, mulheres, homossexuais, deficientes e outros) vem

assumindo, paulatinamente, há no mínimo três décadas, o caráter de

“fetichização da diferença”. Tal perspectiva se assenta na idéia de que, para

reparar uma desigualdade, convém valorizar a diferença em relação a outra

Diferença.

O contexto internacional que justifica a origem e a presença de um

discurso da pluralidade de tal natureza, está associado à emergência, cada vez

Page 25: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

mais constante, de diversos fenômenos de violência, conflitos étnicos e

religiosos, evidências cotidianas de racismo e múltiplos preconceitos, que têm

aflorado, com maior intensidade, a partir do término do chamado período da

Guerra Fria. A educação tem papel crucial nesse contexto na medida em que é

tida como um poderoso instrumento para desenvolver sentimentos de

tolerância e aceitação entre os indivíduos. Fala-se, nesse sentido, em uma

educação “para a paz.” Segundo LOPES (1997), é nessa perspectiva que o

discurso em defesa do pluralismo vem fazendo parte dos documentos das

agências da ONU e sendo incluído nas atuais políticas de currículos nacionais

em diversos países.

A partir de um pressuposto pluricultural, procura-se passar, para

educadoras e educadores, bem como para a opinião pública, a idéia de que a

escola está aberta para atender a todos. Que o convívio social com as

diferenças levará à formação de indivíduos mais tolerantes e atentos à

diversidade, seja ela cultural, social, de necessidades educativas especiais.

Adota-se, sobretudo, o discurso de que todos são iguais, ou melhor, todos são

especiais, todos merecem atenção e ensino diferenciado.

DIVERSIDADE E

PLURICULTURALISMO!!!!

Page 26: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

Assim é que nos deparamos, por exemplo, com a idéia de que a “escola

deve buscar o respeito às diferenças e que as mesmas não podem ser vistas

como obstáculo para o cumprimento da ação educativa.

Neste final de século, em países como o Brasil, os EUA , a Espanha,

entre outros, verifica-se um movimento de fechamento das Escolas Especiais,

identificadas como espaços “segregados”.

No curso da elaboração e publicação dos Parâmetros Curriculares

Nacionais –PCN para o Ensino Fundamental e Médio, no final do ano de 1999,

o Governo Federal publicou a versão final das “Adaptações Curriculares dos

Parâmetros Curriculares Nacionais para Educação de alunos com

necessidades especiais.”

Visa-se, assim, consubstanciar a incorporação do aprendiz com

necessidades educativas especiais à dinâmica pedagógica do ensino regular.

Em entrevista ao Jornal do MEC, a atual Secretária de Educação

Especial, Marilene Ribeiro declara que a “proposta aponta para uma tendência

irreversível – a integração.”(p.8) Assim, a estratégia sugerida pelo Ministério da

Educação indica que não seja mais o portador de necessidades especiais

quem precise se 2 adequar ao sistema educacional e sim ao contrário. Que os

serviços educacionais especiais, “embora diferenciados”, não podem se

desenvolver isoladamente. Argumentamos, no presente artigo, que a

segregação não é um dado essencializado mas sim, fruto de uma construção

social e histórica da deficiência. Neste prima, discursos “igualitários”,

“solidários”, e “tolerantes” para com os “deficientes” não estariam refletindo

acerca do próprio binômio normalidade/deficiência, nem tampouco discutindo

acerca do próprio fundamento epistemológico que norteia as ações que visam

“adaptar” os currículos e assim, “incluir” a todos.

A partir desta perspectiva, este trabalho tem como objetivo traçar três

ordens de considerações, à guisa de início de debate, acerca dos Parâmetros

Curriculares Nacionais para a Educação de alunos com necessidades

especiais. Num primeiro momento, buscamos refletir acerca da própria noção

de deficiência e de Educação Especial que permeia o documento.

Ao ocuparmos o espaço deste trabalho com reflexões sobre as

representações históricas acerca da normalidade/deficiência, argumentamos

que tais visões ainda constroem, mesmo que de maneira velada, as noções

Page 27: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

capacitacionistas presentes, até hoje, do discurso da Educação chamada de

Especial e mesmo, na chamada Escola Inclusiva.

A perspectiva da deficiência como construção, criada e recriada nos

espaços institucionais como a religião, a ciência e a escola pode nos dar

subsídios refletir sobre o que é normal ou anormal e vislumbrar como essas

representações permanecem arraigadas, até hoje, mesmo nas propostas

educacionais que se dizem igualitárias e inclusivistas. Temos como perspectiva

teórica, os estudos foucaultianos que traçam uma genealogia do conceito da

“deficiência”, inscrevendo-o, historicamente, na emergência do chamado

racionalismo moderno, momento de intensificação dos mecanismos de

regulação do tempo e do espaço, contribuindo, assim, para ritualizar e

formalizar procedimentos normativos, noções teleológicas e capacitacionistas.

(VARELA,1996).

Em seguida, focalizamos os PCN e analisamos a própria concepção de

“adaptação curricular” a partir dos trabalhos de CHEVALLARD (1996) e

PERRENOUD (2000), entre outros, argumentando a necessidade de que se

alterem não apenas os conteúdos e que se diversifique metodologias e/ou

tecnologias do ensino, mas que se vislumbre, se estamos falando de

pluralidade de saberes a serem contemplados pelo currículo, a necessidade de

mudança do próprio estatuto epistemológico em que se baseia a seleção e

organização do conhecimento que é veiculado em nossas escolas “inclusivas”.

Apontamos, também, o risco que tais “adaptações” correm com a

possibilidade de banalizar e descontextualizar o conhecimento. Por último,

concluímos com uma síntese análise das “adaptações” tendo como pano de

fundo a educação dos aprendizes surdos.

Nos limites deste trabalho, buscamos fazer uma síntese histórica de

modo a contribuir com a compreensão da construção do conceito de deficiência

e de sua trajetória até o momento atual.

Podemos dizer que até o século XVIII, as noções acerca da “deficiência”

aparecem fortemente ligadas ao misticismo. Como por exemplo, podemos citar,

não só os egípcios que transformaram em Deuses os anões como, também, os

gregos que deificaram seres hermafroditas. Já os romanos dirigiram a sua 3

veneração pelos seres considerados “anorma is” para a criação de circos.

Primeiro a religião e depois, o próprio cristianismo, tiveram o papel de colocar

Page 28: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

o homem como “imagem e semelhança de Deus”. Um ser perfeito. Os

imperfeitos seriam, portanto, colocados à margem da condição humana ou

mesmo, exterminados na medida em que eram entendidos como “um sinal de

Satanás”1. Entre os “imperfeitos” encontravam-se os cegos, surdos,

“deficientes” mentais ou físicos e, até mesmo, os gêmeos. O Renascimento e

suas cortes trouxeram à cena anões, corcundas e outros “deficientes”

compondo o que seria mais um espetáculo da anormalidade2. Já o Iluminismo

e o processo de consolidação da sociedade moderna introduziram e

difundiram, paulatinamente, a visão de normalidade pretendida pela então

visão legitimadora da ciência e promoveu uma higienização da anormalidade

como espetáculo. Procede-se, assim, um enclausuramento da anormalidade

com fins de reabilitação ou cura. Tal processo estendeu-se pelo século XX,

impregnando a educação especial com uma visão clínica, medicamentosa da

deficiência.

Dito de outra forma, SOUZA (1998) nos explicita que da Antigüidade até

o final do século XVI, a busca da “similitude” entre as coisas era o modo de

tornar possível que o mundo se fizesse conhecer.

A partir da modernidade os procedimentos classificatórios e avaliatórios

do indivíduo e de seu corpo se consubstanciaram e se confundiram, com as

práticas disciplinares, capacitacionistas e normativas.

E, nos séculos XVI e XVII a análise das semelhanças era a única forma

de conhecer o mundo, o cartesianismo inaugura a comparação racional e

meticulosa daquilo que deveria consubstanciar e organizar o conhecimento.

Ordenar e classificar eram portanto, a base da taxionomia social que

distinguiam os seres. É nesse sentido que podemos dizer que a base

epistemológica que caracteriza os séculos XVII e XVIII ofereceu uma matriz

comum de organização abrindo para a emergência de instituições reguladoras,

entre elas a escola e no nosso caso, a escola especial.

Assim, podemos dizer que não só a regulamentação e a disciplinização

se convertem em instrumento de poder como, também, se estabelecem marcas

de hierarquia social e psíquica de um tecido social que busca a

homogeneidade mas que oculta , na verdade “um papel de classificação, de

hierarquização e distribuição de lugares”), assinala que há uma gênese comum

que articula a medicina e pedagogia especial.

Page 29: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

Os espaços e as especificidades institucionais agora começaram a ser

demarcados: a Escola passa a ser um lugar de práticas e técnicas, subsidiadas

pelos saberes da medicina e, na segunda metade do século XIX, com a

liberação da Psicologia, também por ela.

MAZZOTTA (1996) aponta o século XIX como sendo representativo de

inúmeros avanços para os “deficientes”. Várias instituições escolares foram

criadas ainda que “...sob o título de abrigo, assistência, terapia” e que somente

a partir de meados do século XX que a conquista e o reconhecimento de

alguns direitos dos “deficientes” podem ser identificados.

Também MUEL (1981), aponta o final do século XIX e início do século

XX como representativos de um movimento em favor da infância “anormal”.

Para ele, esse movimento é antigo mas se manifesta, com mais intensidade, a

partir de 1890 revelando uma aproximação histórica entre a institucionalização

da infância anormal e o processo de institucionalização de um aparato de

controle simbólico sobre a própria normalidade.

No Brasil, esse movimento se refletiu na criação, por parte de D. Pedro

II, do Imperial Instituto de Meninos Cegos ( atual IBC ), em 1854 e do Imperial

Instituto de Surdos-Mudos ( atual INES ) , em 1857 que funcionam até hoje.

MARCHESIS (op.cit), aponta para a concepção predominante na 1ª

metade do século XX sobre o conceito de “deficiência” ou handicap. Esta visão

era de que poucas seriam as chances de intervenção para a grande maioria

dos considerados “distúrbios” existentes. A origem de tal perspectiva estaria

numa “concepção determinista do desenvolvimento”(p.14) Os testes de

inteligência proliferavam-se e acenavam com a perspectiva de mensuração de

diferentes níveis de “atraso mental”.

Segundo o autor acima, os anos 40 e 50 inauguram uma série de

questionamentos, com indagações não só sobre a origem constitucional do

enquadramento de um indivíduo com “deficiente” bem como, a própria

incurabilidade do distúrbio. O surgimento da NARC ( National Association for

Retarded Children), inspiradora no Brasil da APAEs( Associação de Pais e

Amigos dos Excepcionais) acaba por estimular novas legislações permitindo o

acesso à escola de crianças deficientes vistas como “treináveis”.

Todavia, ainda que sob a égide dos testes de inteligência e normalidade,

começam-se a levar em conta os determinantes sócio-culturais que poderiam

Page 30: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

compor uma avaliação deficitária da criança . Advêm, deste período, os

métodos de estimulação e processos dinâmicos de aprendizagem que

devolvem àqueles indivíduos, a possibilidade de escolarização. É

preponderante a idéia de que a mesma deveria ocorrer em local “especial” e

apropriado. No entanto, o que pode se observar foi à prevalência de um mero

assistencialismo paternalista como tônica deste tipo de atendimento.

A perspectiva clínica e as tentativas de enquadramento desses

indivíduos na esfera da normalidade também são evidentes. São as chamadas

pedagogias corretivas e normativas do final do século passado e início deste

século que se expandem até a atualidade. 5 Ainda vivenciamos, seja no âmbito

das chamadas “Escolas Especiais” ou mesmo, na Escola Inclusiva, chamada

oficialmente de Escola Para Todos3, as representações capacitacionistas que

marcam a gênese desse tipo de atendimento. Podemos afirmar que, em sua

maioria, as Escolas Especiais a partir do próprio entendimento do estatuto

epistemológico acerca da deficiência é, ainda, assistencialista e paternalista

com uma ênfase muito grande nos mecanismos de reabilitação e

reenquadramento social a partir de uma norma dominante .

Com base nos argumentos expostos acima, discutiremos agora, a

concepção de “Adaptações Curriculares” que, segundo o documento do MEC,

compõe o conjunto dos Parâmetros Curriculares Nacionais, inserindo-se na

concepção de escola integradora defendida pelo MEC.

Em primeiro lugar, vale observar que o referido documento “focaliza o

currículo como ferramenta básica de escolarização”, “organizado para orientar,

dentre outros, os diversos níveis de ensino e ação docente. Já as adaptações

curriculares são entendidas como “estratégia e critérios de atuação docente”.

No que diz respeito à noção de currículo engendrada pelo documento,

ainda que não seja esse o foco de nossas reflexões, as adaptações parecem

negligenciar o fato de que a escola, ainda que seja um conhecido instrumento

de divulgação de um saber universalmente aceito, é sobretudo um espaço em

que se desenvolve um conhecimento próprio, muitas vezes em consonância

com a construção de distintos segmentos identitários e que o currículo escolar

é, sobretudo, uma arena de conflitos em que se estabelecem relações de poder

e hierarquia.

Page 31: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

Sabemos que as discussões sobre o currículo e os diferentes

significados do conceito, sejam eles articulados à sua dimensão técnica ( como

ensinar), ou à sua dimensão crítica ( o que ensinar), assim como a distância

entre o currículo formal ( prescrito) e o currículo em ação ( praticado) vem

sendo objeto de inúmeras pesquisas. Por outro lado, a relação entre o currículo

e o conhecimento escolar ( LOPES,1997) tece a estreita vinculação entre

escola e cultura trazendo à tona questionamentos de ordem epistemológica

acerca do conhecimento e sua seleção. Para a autora acima citada, o

conhecimento escolar é um conhecimento selecionado a partir de uma cultura

social mais ampla, associado, diretamente ao que se entende como

conhecimento socialmente válido e legítimo. Ampliando a análise dos PCN feita

por MACEDO (1999) sugerimos que nas Adaptações a prioridade concentra-se

na importância das disciplinas para que os alunos dominem o saber

socialmente acumulado pela sociedade.

Visto que coadunamos com a análise de que as disciplinas e a própria

organização curricular incorporam e historicizam saberes instituídos, partimos

para o que seria esse “conhecimento escolar 3 Incorporar o aluno portador de

deficiência física e/ou mental à dinâmica pedagógica do ensino regular é uma

das propostas que fazem parte da teoria da Inclusão, que começa a ganhar

terreno no Brasil. Diferentemente da Integração, paradigma predominante no

país, a Inclusão não prevê a existência de salas e esquemas de 6 adaptado” : a

dupla banalização do conhecimento científico ou uma meta-transposição

didática do conhecimento, expandindo o sentido atribuído por CHEVALLARD

(1996).

A teoria da Transposição Didática de CHEVALLARD potencializa nossas

indagações acerca das Adaptações sugeridas nos Parâmetros. Suas análises

centram-se na mudança conceitual que se opera quando os saberes originais

se tornam objeto de ensino. Segundo o autor, em toda atuação didática há um

processo de produção de idéias, sobre o que se pode modificar e sobre o que

deve ser ensinado. Tal processo vai desde as orientações dos sistemas de

ensino mais amplo, que por sua vez reúne o conjunto de sistemas

didáticos e a noosfera – ambiente, carregado de conflitos, apresentado por ele

para caracterizar os “círculos intermediários” em que deflagram as articulações

entre o sistema , o ambiente e suas tensões. Se, no conceito de transposição

Page 32: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

didática já encontrávamos um “saber de ensino” passível de ser órfão de sua

história e segmentado de seu conteúdo, argumentamos que esse novo

conhecimento, que adapta, simplifica e torna ensinável os saberes

universalmente aceitos, cria uma dissociação entre a origem e função do

conhecimento, separado do local de sua produção, tornando-se, portanto, a-

histórico e atemporal.

No caso das “adaptações” temos, portanto, uma boa representação

tanto dos processos que instituem uma “seleção natural” dos saberes tidos de

referência, do acentuado processo de disciplinização e de transposição didática

ainda que ocultados sob a égide da “exigência universal da pluralidade”, como

se os saberes não tivessem uma história e condicionantes sociais regulatórios

que os levam a ensinar o que se deve aprender. Ou seja, argumentamos que

fica implícito no documento das “adaptações” a noção de um conhecimento

universal e o não questionamento do papel da escola como mediadora do

processo de seleção, socialização e de produtora de identidades.

Assim, entendimento de que a escola e a produção de conhecimentos

por ela engendrada, hoje precisa de “adequar”, principalmente se contraposta

às novas tecnologias, bem como, atender às velhas exigências de

universalização, e incluir a todos, indiscriminadamente, trazem para o cenário

propostas curriculares de modo a tornar a escola mais atraente e sobretudo,

mais justa. Mantém-se, entretanto, inalterado, o estatuto universal do

conhecimento que é transposto para o interior de nossas escolas, ainda que

permeado pelo discurso pluralista. Ignora-se, portanto, que o conhecimento

escolar e o próprio estatuto epistemológico das disciplinas escolares fazem

parte de um processo no qual está implícito uma seleção e hierarquização

social mais ampla e que esta seleção não ocorre a partir de critérios

epistemológicos ou de ensino aprendizagem e sim é oriunda de um conjunto de

interesses que expressam relações de poder e de norma.

PERRENOUD ( op.cit), quando nos fala de “individuação no currículo e

da otimização das situações de aprendizagem parte para uma abordagem que

aponta para um “currículo de formação”. Este seria encarado como uma

seqüência de experiências de vida que contribuíram para forjar sua

personalidade, seu capital de conhecimento, suas competências, sua relação

com o saber e sua identidade .Em suas análises, o autor ressalta a

Page 33: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

necessidade de criar e executar modos de agrupamentos dos alunos que lhes

dêem um sentimento de estabilidade, sem voltar à turma tradicional : grupos

multiidades, grupos de projetos, de atendimento especiais para os deficientes.

Estes passam a freqüentar as salas de aula regulares e participam, 7

necessidades, de níveis e acrescenta que adaptar a ação pedagógica ao

aprendiz não é, no entanto, renunciar a instruí-lo nem abdicar dos objetivos

essenciais.Note-se que o autor fala em grupos de necessidades.

As adaptações, no entanto, quando visam integrar o aluno com

necessidades especiais à dinâmica da sala de aula regular, não prevê tal

agrupamento, tendo sido relatado, em diversas pesquisas, o isolamento desses

aprendizes, na maioria das vezes, espalhados nas diversas salas de aula mas

nivelados pelo dispositivo do seriamente, sendo mantidos, portanto, os

mesmos elementos que evidenciam a estrutura hierarquizante do

conhecimento. Tal procedimento, mais do que incluir, pode levar, no nosso

entendimento, ao sentimento de incapacidade por parte dos aprendizes com

necessidades especiais.

Parece-nos que, no esforço de oferecer a todos os saberes legalmente

instituídos, corre-se, portanto, o risco da banalização de conceitos, fazendo-se

esvaziar o conteúdo epistemológico do que se ensina e criando, também, uma

baixa expectativa avaliatória, invertendo-se a perspectiva inclusiva, e criando-

se uma exclusão velada.

2.4. Educação Inclusiva no Estado do Pará A educação como parte do sistema educacional regular, inserida nas

ações da Secretaria Executiva de Educação – SEDUC, no Estado do Pará,traz

em seu bojo três períodos:

1. As primeiras Iniciativas da educação Especial, culminando com a criação

do Centro de Educação Especial – CEDESP, de 1953 a 1972;

2. A estruturação e organização do CEDESP, em seus aspectos físicos e

políticos e a transformação deste em Departamento de Educação

Especial – DEES, de 1972 a 1989;

Page 34: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

3. A Educação Especial e o processo de Construção de uma Escola

Inclusiva, 1990 a 2006.

A educação Especial com parte constitutiva do sistema educacional não

vem recebendo a devida atenção das esferas governamentais, mesmo com a

existência de uma considerável estrutura legal, e de uma política nacional

definida para esta modalidade de ensino, o atendimento a população de

pessoas com algum tipo de necessidade educacional especial ainda é

considerado insuficiente.

Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, 10% da população

mundial apresenta algum tipo de deficiência e um pouco mais de 1% desse

contingente tem acesso a algum tipo de atendimento especializado. Os dados

do censo de 2000 (IBGE,2003), indicam que cerca de 25 milhões de brasileiros

(aproximadamente 15% da população) têm algum tipo de deficiência.

O aumento do número de pessoas deficientes, em grande medida tem sido

desencadeada pelo aumento da pauperização da população, pela insuficiência

de políticas sociais voltadas para a prevenção, vigilância, identificação e

tratamento precoce; e pelo recrudescimento de eventos externos, como

violência generalizada e acidentes de trabalho. Tomando por base os dados

do censo 2000, mesmo com os serviços educacionais existentes, ainda não é

possível contemplar a todos que necessitam dessa modalidade de ensino.

A inconsistência da política educacional tem acentuado discrepâncias e

descompassos, entre a necessidade de educação para todos e um ensino de

qualidade; e entre a educação regular e a educação especial, principalmente

no que se refere ao distanciamento entre teoria e prática e entre a retórica

política e a realidade.

Neste estudo a educação especial será enfocada ao longo de sua trajetória

histórica no intervalo de tempo compreendido entre 1953 a 2006, enquanto

integrante do ensino regular, executada pela Secretaria Executiva de Estado de

Educação do Pará – SEDUC. Tomando com principal referencia os

documentos oficiais produzidos no período enfocado, é desenvolvida uma

análise a partir de sua contextualização no panorama da educação brasileira e

estadual. A reconstrução histórica da educação Especial possibilita a

Page 35: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

percepção das mudanças ocorridas ao longo da execução de suas ações e do

desenvolvimento de seus programas educacionais.

A Educação Especial apresenta-se em três períodos históricos como forma

de facilitar a identificação dos diferentes momentos vividos. O primeiro período

aponta os anos de 1953 a 1972, considerado com marco histórico das

primeiras iniciativas à Criação do Centro de Educação Especial – CEDESP. O

segundo período caracteriza a estruturação e organização do CEDESP

enquantoestrutura física e política, indo até 1989, com a sua transformação em

Departamento de Educação Especial – DEES, subordinado à Diretoria de

Ensino da Secretaria Executiva de Estado de Educação SEDUC. O terceiro

período apresenta a Educação Especial a partir dos anos 90 e enfatiza a

busca de um paradigma de Escola Inclusiva ocorrida a partir da Segunda

metade da década de 90 até nossos dias.

Primeiras Iniciativas da Educação Especial – 1953 a 1972

No Estado do Pará, as primeiras iniciativas na área da Educação

Especial ocorreram na década de 50, através da seleção de documentos da

rede pública estadual e municipal, para participarem de dois cursos de

especialização: a) “Cursos de professor e Inspetor na Educação de Cegos”,

realizado no Instituto Benjamim Constant e b) “Orientação Psicopedagógica

em Deficiencia Mental”, realizado na Sociedade Pestalozzi do Brasil no Estado

da Guanabara (Rio de Janeiro), sendo encaminhado três professoras, duas

para o curso de Cegos e uma para o de deficiente mental. Com o retorno

desses profissionais deu-se inicio a Educação Especial em Belém.

Em 1953, o Governador do Estado, General Alexandre Zacarias de

Assunção, criou a Escola de Cegos do Pará, através do Decreto-Lei Nº 1300

de 07/12/1953, com o objetivo de oferecer às pessoas com deficiência visual,

escolaridade de nível primário hoje, Ensino Fundamental.

Page 36: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

3. CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA PARA A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 3.1 Abordagens históricas social, filosóficas e político no contexto da Educação Inclusiva. Nos primórdios da civilização, dentre as práticas humanas, a educação é

a que mais se destaca, considerando-se a profundidade de sua influencia na

existência.

O processo educativo, “desde o surgimento do homem, é prática

fundamental da espécie; distinguindo o modo de ser cultural dos homens, do

modo de ser natural dos animais”. Pensar e fazer a educação são, pois tarefas

indispensáveis embora, a educação foi sempre muito mais prática do que

teórica.

Percorrendo os marcantes períodos da história universal, de certa forma,

podemos afirmar que a pedagogia da exclusão tem origens remotas,

condizentes com a concepção de homem e de mundo do que estivesse em

vigor. Não ocupava como hoje, os espaços das veementes criticas dos

educadores.

Na antiguidade primitiva, a educação era voltada para o cotidiano, para a

satisfação das necessidades. Era uma educação essencialmente prática,

Abordagens históricas social, filosóficas e

político no contexto da

Educação Inclusiva.

Page 37: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

espontânea, calcada na imitação e na verbalização. Todos eram alunos e todos

eram educadores:a educação era igual para todos.

Na antiguidade clássica, o pensamento pedagógico grego destacou-se,

até hoje, é estudado e apontado como de singular avanço para a época, além

de ser reconhecido por sua marcante influência posterior.

Na idade média, a cultura clássica cedeu espaço a uma nova ideologia

inspirada no cristianismo. As idéias pedagógicas medievais conciliaram a fé

cristã com a enorme e valiosa bagagem grego-romana, sendo que s obras

clássicas eram reproduzidas pelos copistas, nos conventos.

No período subseqüente, chamado Renascimento, houve uma

verdadeira revalorização das idéias pedagógicas greco-romanos, o que tornou

a educação mais prática e restabeleceu a cultura do corpo, que não

representara preocupação no período medievo. Mas o acesso à educação

permanecia um privilegio para o clero, para os nobres e para a burguesia

emergente, não era, ainda, para todos.

A idade Moderna caracterizou-se pela ascensão de uma nova e

poderosa classe que se opunha aos modelos vigentes. O homem mais

interessado pela natureza desenvolveu estudos de astronomia, de matemática,

ao lado da técnica, das artes, da medicina, biologia, dentre outras áreas de

conhecimento.

NA ANTIGUIDADE DO CONTEXTO DA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA!!!!

Page 38: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

A revolução francesa, com todas as idéias de igualdade, liberdade e

fraternidade, representou um marco para o período, denominado pelos

historiadores, como iluminismo. Caracterizou-se pelo apego dos pensadores à

racionalidade e às lutas em favor das liberdades individuais, contra o

absolutismo do clero e da nobreza. Era a vez da burguesia.

A teoria descoberta desses ideais pode ser considerada revolucionária

para a época porque afirmava os direitos do individuo e se apoiava no

humanismo igualitário, recomendando que o processo civilizatório deveria ser

universal, isto é, extensivo a todos os seres humanos, independentemente de

fronteiras nacionais, étnicas ou culturais (ainda que nem sempre no sentido de

igualdade representasse igualdade de valor entre todos os humanos).

Lamentavelmente, a desejada “universalidade”, mais uma vez, não se

referiria a todos indistintamente, pois os lemas eram “à classe dirigente:

educação para governar; à classe trabalhadora: educação para o trabalho. O

direito era assim, consentâneo com classe social ao individuo que, segundo

suas características pessoais e méritos próprios, teriam mais “poder” sobre

seus pares. Cada ser humano estaria determinado a um tipo de existência,

nada lhe restando a não ser conformar-se.

Trata-se de uma visão do papel do homem no mundo, com

características segregacionistas e elitistas. Infelizmente de pensar ainda

perdura, mesmo na pós-modernidade, explicando (sem absolutamente

justificar), a elitização da educação e a consequente exclusão a que nossos

aprendizes são sujeitos, ou porque não chegam às escolas ou porque delas

saem, prematuramente, e indevidamente qualificados para o exercício da

cidadania.

A INCLUSÃO

NA

ATUALIDADE!

Page 39: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

E, considerando-se o imaginário, social que se tem construído em torno

das pessoas com deficiência, percebidas como incompetentes e incapazes,

mais grave se torna a concepção apresentada acima, pois as coloca numa

posição de alteridade comprometida segundo os interesses econômicos da

sociedade atual.

Nos dias de hoje, além dos avanços tecnológicos e, como de suas

conseqüências, convivemos com rede de informações jamais imaginada antes.

Mas, o mesmo século XX, que nos surpreendeu com tantos e tão velozes

avanços, é o mesmo no qual que registramos, lamentavelmente, as duas

grandes guerras mundiais. Não sem razão, ao otimismo e à esperança de

ontem, sobrevêm a incerteza do hoje ou o pessimismo.

Acreditando que a educação é ato pedagógico e também político e,

afirmando que é o traço mais marcante, nas correntes teóricas atuais, no

âmbito da educação, é a valorização da pessoa do educando enquanto

aprendiz e como ser histórico, político e social, isto é , como cidadão.

A sociedade inclusiva e a escola inclusiva, enquanto idéias, têm

engariado as simpatias dos pais, dos educadores e da sociedade em geral.

Afinal, de não excluir está implícito nos ideais democráticos, aceitos e

proclamados, universalmente.

No entanto, a história das idéias sobre educação deixa evidente que

pouco ou nada tinha de inclusiva, seja em termos da universalização do

acesso, seja em termos da qualidade do que era oferecido.Hoje em dia, o

panorama é , felizmente, outro, pois temos mais consciência acerca dos

direitos humanos , embora a prática da proposta de educação inclusiva ainda

CIDADANIA!!!!

Page 40: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

não conte com o consenso e unanimidade, mesmo entre aqueles que

defendem a idéia.

Para garantir os esclarecimentos indispensáveis, faz-se urgente

envolver os professores, às famílias e a comunidades nas discussões, pois há,

ainda, muita, muita confusão e incertezas a respeito. Qualquer professor,

desavisado, ao responder acerca do que pensa sobre a inclusão, de imediato

associa com os portadores de deficiência (raramente ou nunca se referem aos

de altas habilidades; aos que apresentam dificuldades de aprendizagem sem

serem portadores de deficiência e, muito menos, a outras minorias excluídas,

como é o caso do negro, ciganos e anões, por exemplo).

Em relação à implementação da proposta da inclusão educacional

escolar encontramos resistência de muitos professores e familiares; dúvidas de

outros que se declaram preocupados com o “desmonte” da educação especial

e, também, aprovação e o entusiasmo de não poucos.

A resistência dos professores e de alguns pais e por eles explicada em

razão da insegurança no trabalho educacional escolar a ser realizado nas

classes regulares, com os alunos com deficiência.

Familiares referem-se ao temor de que a inserção de seus filhos nessas

classes não contribua, na intensidade desejada, para sua

aprendizagem.Ponderam que as escolas não estão dando conta, dos ditos

normais que, cada vez mais, saem da escola sabendo menos...E os pais

destes alunos alegam que o nível de ensino se prejudica, porque os

professores precisam atender aos ritmos e limitações na aprendizagem dos

alunos com deficiências, em detrimento de seus filhos “normais”.

Com a maioria dos interlocutores, quando procuramos esclarecer que o

paradigma da inclusão escolar não é especifico para alunos com deficiência,

representando um resgate histórico do igual direito a todos à educação de

qualidade, encontramos algumas objeções na assimilação da mensagem .

Parece que já está condicionada à idéia de que a Inclusão é para os alunos da

educação especial passarem das classes e escolas especiais para as turmas

do ensino regular. Esse argumento é tão forte que mal permite discutir outra

modalidade de exclusão: a dos que nunca tiveram acesso às escolas sejam

alunos com ou sem deficiência e que precisam nelas ingressar, ficar e

aprender.

Page 41: 2. ESCOLA INCLUSIVA: ANTECEDENTES E CARACTERÍSTICAS · ao surgimento do conceito de inclusão a partir do final da década de 80. O termo „necessidades especiais‟ não substitui

O entusiasmo aparece manifesto em muitos educadores e pais, certos

de que na diversidade, reside a riqueza das trocas que a escola propicia.Uma

turma heterogênea serve como oportunidade para os próprios educandos

conviverem com a diferença e desenvolverem os saudáveis sentimentos de

solidadriedade orgânica.

Com o desafio do trabalho na diversidade os professores também se

beneficiam, pois as tradicionais práticas pedagógicas centradas no ensino

homogêneo, repetitivo e desinteressante, passam a serem repensados na

direção dos quatro pilares para a educação do século XXI, propostos pela

UNESCO: Aprender a Aprender, Aprender a Fazer, Aprender a Ser e

Aprender a Viver Junto.

As escolas inclusivas são escolas para todos, implicando num sistema

educacional que reconheça e atenda às diferenças individuais, respeitando as

necessidades de qualquer dos alunos . Sob essa ótica, não apenas portadores

de deficiência seriam ajudados e sim todos os alunos que, por inúmeras

causas, endógenas ou exógenas, temporárias ou permanentes, apresentem

dificuldades de aprendizagem ou no desenvolvimento.

A melhoria da qualidade das ofertas de atendimento educacional é uma

necessidade que se impõe, para garantir o direito público e subjetivo de

cidadania dessas pessoas. Mas, concordar com essa proposta não nos

autoriza a eliminar todas as modalidades da educação especial,

particularmente para aqueles que necessitam de apoio intenso e permanente.

Dessa forma, essas concepções não nos autorizam a pensar num a

escola centrada em si mesma, como uma ilha e distante interesses dos alunos.

A escola deve ser, também, o espaço da alegria, onde os alunos possam

conviver, desenvolvendo sentimentos sadios em relação ao “outro”, aí mesmo

e em relação ao conhecimento. Para tanto a prática pedagógica deve ser

inclusiva, no sentido de envolver a todos e a cada um, graças ao interesse e à

motivação para a aprendizagem. Estudos sobre a dinâmica na sala de aula têm

evidenciado o quanto às atividades em grupo favorecem o processo

educacional e dinamizam relações de cooperação.