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Módulo 3: A abertura europeia ao mundo - mutações nos conhecimentos, sensibilidades e valores nos séculos XV e XVI 2. O alargamento do conhecimento do mundo

2. O alargamento do conhecimento do mundo

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Page 1: 2. O alargamento do conhecimento do mundo

Módulo 3: A abertura europeia ao mundo - mutações nos conhecimentos, sensibilidades e valores nos séculos XV e XVI

2. O alargamento do conhecimento do mundo

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Contextualização

Nos séculos XV e XVI as viagens transoceânicas dos Portugueses e Espanhóis alargam o conhecimento do Mundo. Desvendam novos mares, novas terras, novas gentes, novos astros; revelam flora e fauna desconhecidas; conduzem ao aperfeiçoamento das técnicas náuticas; repercutem-se numa nova representação cartográfica da Terra.

Fundados na observação e no contato direto com as realidades, que descrevem rigorosa e pormenorizadamente, os novos conhecimentos da Natureza e do Mundo desacreditam as opiniões dos Antigos. A experiência, “madre das cousas”, eleva-se a autoridade e fonte do saber.

O experiencialismo, nome dado a esse novo saber, não é, porém, ainda ciência. Quando a reflexão matemática o completar, o método científico define-se. Um exemplo da sua aplicação ocorre na Astronomia, conduzindo à revolução das concepções cosmológicas.

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Cronologia

Anos Acontecimentos

1418-1419

Descoberta das ilhas de Porto Santo e Madeira

1427 ou 1431

Descoberta das ilhas dos Açores

1434 Passagem do Cabo Bojador

1488 Passagem do Cabo das Tormentas

1492 Descoberta da América

1500 Descoberta do Brasil

1537 Publicação de Tratado da Esfera de Pedro Nunes

1543 Descoberta da Teoria Heliocêntrica, por Nicolau Copérnico

1597 Confirmação da Teoria Heliocêntrica por Galileu

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2.1. O contributo português

2.1.1. A inovação nas técnicas náuticas• Embarcações

– Leme montado no cadaste

– Caravela com velas latinas (triangulares) – permite navegar à bolina (contra o vento)

– Nau– Galeão

• Instrumentos– Bússola– Astrolábio– Quadrante– Balestilha

• Navegação de cabotagem dá lugar à navegação astronómica

• Tábuas de declinação (latitudes)

• Guias náuticos• Roteiros de navegação

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Instrumentos náuticos

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2.1.2. A nova representação cartográfica• Mapas:

– Portulanos– Planisférios– Sistema de projeção

cilíndrica de Mercator• Visão oceânica do

globo• Esfericidade da Terra.

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As representações cartográficas

Planisfério de Cantino, 1502.

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2.1.3. Observação e descrição da natureza• Recolha e registo da

informação observada experiencialismo.

• Roteiros e obras de natureza geográfica: registos étnicos, botânicos, zoológicos e cosmográficos.

• Mentalidade quantitativa.

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2.2. O conhecimento científico da Natureza2.2.1. A matematização do real

• Definição do método científico:

– Observação do fenómeno– Experimentação de hipótese– Conclusão– Lei científica

• Conhecimento científico da Natureza

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2.2.2. A revolução das concepções cosmológicas

Teoria Geocêntrica• Aristóteles e Ptolomeu• Aceite pela Igreja

Católica• Órbitas circulares

Teoria Heliocêntrica• Copérnico e Galileu• Baseada na

observação astronómica

• Órbitas elípticas

(…) Depois de longas investigações, convenci-me, enfim, de que o Sol é uma estrela fixa, rodeada de planetas que giram à sua volta e dos quais ele é o centro (…).

Nicolau Copérnico, De Revolutionibus Orbium Coelestium, 1543.

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Ilustração representando o sistema geocêntrico (Harmonia Macrocosmica, de Andreas Cellarius, 1660-1661).

Ilustração representando o sistema heliocêntrico (Harmonia Macrocosmica, de Andreas Cellarius, 1660-1661).

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Descoberta da ilha de Porto Santo (1418)

"Voltou o Infante D. Henrique de Ceuta tão animado para descobrir novos mares e terras que (…) depois de bem instruído em tudo o que dizia respeito à geografia e de ter interrogado muitas pessoas que viajaram pelo mundo (…) enviou João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, cavaleiros de sua casa, num pequeno navio, com instruções para percorrerem a costa até vencer aquele formidável cabo (…) Antes de chegarem à costa de África passaram tais trabalhos que temeram ser tragados pelas ondas. O vento obrigou-os a afastar-se e foram ter sem saber (…) à ilha a que deram o nome de Porto Santo, porque assim lhes pareceu ele depois da tormenta por que passaram."

Manuel Faria e Sousa em Ásia Portuguesa (adaptação)

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Descoberta da ilha da Madeira (1419)

"Pouco tempo depois mandou o Senhor Infante uma caravela para visitar a ilha descoberta de Porto Santo (…) E passaram além diretamente à ilha chamada da Madeira (…) Estava toda cheia de árvores, cedros e outras espécies (…) Não muito tempo depois, (…) João Gonçalves Zarco pediu a capitania daquela ilha ao Senhor Infante dizendo que iria para ali com (…) sua família e a povoaria. Agradou isto ao senhor Infante e preparou caravela mandando porcos, ovelhas e outros animais domésticos (…) Começaram a semear trigo e aveia e era tão fértil o solo que uma medida dava cinquenta e mais (…) Pouco tempo depois um cavaleiro de nome Tristão pediu ao senhor Infante que lhe desse a outra parte da ilha (…) E ficou a ilha repartida assim: a parte ocidental (…) ficou para João Gonçalves Zarco a qual é muito fértil e onde há trigo com fartura, ótimo vinho, canas-de-açúcar de que fabricam açúcar em tal quantidade que é exportado (…) A parte oriental da ilha (…) ficou pertencendo a Tristão Teixeira onde também cresce tudo o que se disse (…)."

Diogo Gomes em A Relação dos Descobrimentos da Guiné e das Ilhas (adaptação).

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Descoberta das ilhas dos Açores (1427)

"(…) Viram terra a ocidente além do cabo Finisterra a umas trezentas léguas que eram ilhas; entraram na primeira desabitada e acharam muitos açores e muitas árvores; e foram à segunda (…) também despovoada e com muitas árvores e açores, onde além disto encontraram muitas águas quentes naturais de enxofre. Daí viram outra ilha (…) cheia de arvoredos e muitos açores. E descobriram ali perto outra ilha agora chamada Faial. E imediatamente outra ilha a duas léguas desta, agora chamada ilha do Pico; esta ilha é um monte de sete léguas de altura (…) Os navios voltaram a Portugal, anunciando a notícia ao senhor D. Henrique que se alegrou muito (…).“

Diogo Gomes em A Relação dos Descobrimentos da Guiné e das Ilhas (adaptação)

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Passagem do Cabo Bojador (1434)

"(…) Este cabo (…) é muito perigoso por causa de um grande escolho de pedra que dele sai ao mar alto mais de quatro ou cinco léguas e no qual já se perderam muitos navios (…) Espantando-se das grandes correntes, nenhum navio ousava alargar-se ao mar e passar para além desse baixio (…) No ano de 1434, o Infante mandou armar uma barca em que enviou por capitão, Gil Eanes (…) Este foi o primeiro capitão que passou além do Cabo Bojador."

Duarte Pacheco Pereira em Esmeraldo de Situ Orbis (adaptação).

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Passagem do Cabo da Boa Esperança (1488)

“Bartolomeu Dias deteve-se cinco dias na Angra das Voltas. Partidos daqui, o mau tempo os fez correr treze dias e vieram procurar terra no rumo de leste. Porém, vendo que alguns dias navegavam sem dar com ela, carregaram sobre o rumo norte (…) vieram ter a uma angra a que chamaram dos Vaqueiros. A gente vinha cansada e requereu que não passassem mais adiante. Partidos dali, houveram vista daquele grande e notável cabo ao qual por causa dos perigos e tormentas em o dobrar lhe puseram o nome de Tormentoso, mas el-rei D. João II lhe chamou cabo da Boa Esperança, por aquilo que prometia para o descobrimento da Índia tão desejada (…)."

João de Barros em Décadas da Ásia (adaptação).

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Chegada à Índia (1498)"Ao tempo que Vasco da Gama chegou a esta cidade de Calecute

(…) mandou a terra o piloto mouro (…) participando a El-Rei a sua chegada e (…) pedindo-lhe que lhe mandasse dizer quando o podia receber (…)

Havida esta licença (…) entraram todos numa grande casa térrea em que estava aquele grande Samorim da província de Malabar (…) o qual estava em uma sala grande. O chão desta sala era todo coberto de veludo verde e as paredes armadas de panos de seda e ouro (…) El-Rei estava num leito coberto de um pano de seda branca e ouro, bem lavrado. Era homem de meia idade, baço, alto de corpo e de bom parecer e vestido com um pano lustroso de algodão com rosas de ouro na cabeça, uma carapuça de brocado alta cheia de pérolas e pedrarias. Tinha penduradas nas orelhas arrecadas e nos dedos dos pés e mãos muitos anéis (…) tudo de pérolas e pedraria de muito valor. Vasco da Gama nestas palavras resumiu o que lhe era mandado; que (…) a causa principal que movera El-Rei seu senhor a enviá-lo àquelas partes orientais (…) fora ser muito celebrada a fama da sua real pessoa (…) e estarem em seu poder a maior parte das especiarias que, por mão dos mouros se navegavam para todas as partes da cristandade, e por que ele tinha descoberto novo caminho para entre eles haver amizade e comércio."

João de Barros em Décadas da Ásia (adaptação).

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Descoberta do Brasil (1500)"Senhor, Posto que o capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros

capitães, escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei também de dar minha conta disso a Vossa Alteza (…)

(…) do que hei de falar começo e digo: a partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de março. Sábado, 14 do dito mês, entre as oito e as nove horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grã-Canária, onde andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas (…)

E assim seguimos nosso caminho por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de abril (…) topámos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topámos aves a que chamam fura-buxos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra!

Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome, o Monte Pascoal, e à terra, a Terra de Vera Cruz (…)

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Pela manhã fizemos vela e seguimos direitos à terra (…) avistámos homens que andavam pela praia. Afonso Lopes (…) meteu-se logo no batel e tomou dois deles. Um deles trazia um arco e seis ou sete flechas (…) Trouxe-os logo ao capitão em cuja nau

foram recebidos com muito prazer e festim. A feição deles é serem pardos (…) avermelhados, de bons rostos e bons narizes (…) Andam nus (…) os seus cabelos são corredios (…) e um deles trazia uma espécie de cabeleira de penas de ave (…) O capitão (…) estava com um colar de oiro ao pescoço. Um deles pôs o olho no colar do

capitão e começou de acenar com a mão para terra e depois para o colar como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para o castiçal de prata e assim mesmo acenava para terra (…) Mostraram-lhes um papagaio; tomaram-no logo na mão e acenaram para terra (…) Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela (…) Estavam na praia (…) obra de 60 (…) Vieram logo para nós sem se esquivarem (…) Pareceu-

me gente de tal inocência que se homem os entendesse e eles a nós seriam logo cristãos (…)"

Carta de Pero Vaz de Caminha (adaptação) .

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As armas de fogo

A primeira arma de fogo portátil, o mosquete, era muito

pesada (10 quilos) e difícil de recarregar: o soldado precisava

introduzir o pavio e a bala pela boca do cano. Como a operação

demorava alguns minutos, depois do primeiro tiro era muito mais

fácil usar a espada. Mas a pistola não demorou a ser inventada, a

partir de um mosquete reduzido. Ela passou, então, a ser usada

nas guerras, como arma reserva, o último recurso de defesa em

situações de emergência.

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A imprensa

A invenção da imprensa é atribuída a Gutenberg, alemão, que substituiu as pranchas xilográficas por caracteres móveis de madeira, depois pelo cobre e, finalmente, pelo aço. Criou um processo que consistia em cunhar as letras em matrizes de cobre, com um punção de aço com letras gravadas em relevo, gerando uma espécie de molde de letras, que eram finalmente montadas em uma base de chumbo, tintadas e prensadas. Assim, Gutenberg produziu a primeira Bíblia, impressa em latim, com uma tiragem de cerca de 300 exemplares.

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Arte Namban foi o nome dado às manifestações artísticas empreendidas no Japão entre os séculos XVI e XVII, período Monoyama, aquando da chegada dos Portugueses. Estas manifestações artísticas tiveram como suporte biombos, peças de mobiliário e caixas lacadas.

A arte Nambam