2 Sintaxe Da Linguagem Visual

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    Conhecimento visual e linguagem verbal

    Visualizar ser capaz de formar imagens mentais. Lembramo-nos de um caminho que,nas ruas de uma cidade, nos leva a um determinado destino, e seguimos mentalmenteuma rota que vai de um lugar a outro, verificando as pistas visuais, recusando o que no

    nos parece certo, voltando atrs, e fazemos tudo isso antes mesmo de iniciar o caminho.Tudo mentalmente. Porm, de um modo ainda mais misterioso e mgico, criamos aviso de uma coisa que nunca vimos antes. Essa viso, ou pr-visualizao, encontra-seestreitamente vinculada ao salto criativo e sndrome de heurcca. enquanto meiosfundamentais para a soluo de problemas. E e exatamente esse processo de dar voltasatravs de imagens mentais em nossa imaginao que muitas vezes nos leva a soluesc descobertas inesperadas. Em The Act of Creation, Koestler formula assim o processo:"O pensamento por conceitos surgiu do pensamento por imagens atravs do lentodesenvolvimento dos poderes de abstrao e de sim-bolizao, assim como a escriturafontica surgiu, por processos similares, dos smbolos pictricos e dos hierglifos."

    Nessa progresso est contido um grande ensinamento de comunicao. A evoluo da

    linguagem comeou com imagens, avanou rumo aos pictogramas. cartuns auto-expcativos e unidades fonticas, e chegou finalmente ao alfabeto, ao qual, em The/nleiiigen Eyt, R. L. Gregory se refere to acertadamente como 4a matemtica dosignificado". Cada novo passo representou, sem dvida, um avano rumo a umacomunicao mais eficiente. Mas h inmeros indicios de que est em curso umareverso desse processo, que se volta mais uma vez para a imagem, de novo inspirado

    pela busca de maior eficincia. A questo mais importante o alfabetismo c o que elerepresenta no contexto da linguagem, bem como quais analogias dela podem serextradas e aplicadas informao visual.

    A linguagem ocupou uma posio nica no aprendizado humano. Tem funcionadocomo meio de armazenar c transmitir informaes, veculo para o intercmbio de idiase meio para que a mente humana seja capaz de conceituar. Logas, a palavra grega quedesigna linguagem, in-dui tambm os significados paralelos de "pensamento" e "razo"na palavra inglesa que dela deriva, hgtc. As implicaes so bastante bvias; alinguagem verbal vista como um meio de chegar a uma forma de pensamento superiorao modo visual e ao ttil. Evsa hiptese, porm, precisa ser submetida a algunsquestionamentos e indagaes. Para comear, linguagem e alfabetismo verbal no so amesma coisa. Ser capaiz de falar uma lngua muitssimo diferente de alcanar oalfabetismo atravs da leitura c da escrita, ainda que possamos aprender a entender e ausar a linguagem em ambos os nveis operativos. Mas s a linguagem falada evolui

    naturalmente. Os trabalhos lingsticos de Noam Chomsky indicam que a estruturaprofunda da capacidade lingistica biolgicamente inata. O alfabetismo verbal, o ler co escrever, deve porm ser aprendido ao longo de um processo dividido em etapas.Primeiro aprendemos um sistema de smbolos, formas abstratas que representamdeterminados sons. Esses smbolos so o nosso -b-cc. o alfa e o beta da lngua gregaque deram nome a todo o grupo dc smbolos sonoros ou letras, o alfabeto. Aprendemosnosso alfabeto letra por letra, para depois aprendermos as combinaes das letras c deseus sons, que chamamos de palavras e constituem os representantes ou substitutos dascoisas, idias c aes. Conhecer o significado das palavras equivale a conhecer asdefinies comuns que compartilham. O ltimo passo para a aquisio do alfabetismoverbal envolve a aprendizagem da sintaxe comum, o que nos possibilita estabelecer os

    limites construtivos em consonncia com os usos aceitos. So esses os rudimentos, oselementos irTcdutivelmentc bsicos da linguagem verbal. Quando so dominados,

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    tornamo-nos capazes de ler c escrever, expressar c compreender a informao escrita.Esta uma descrio extremamente superficial. Fica daro, porm, que mesmo cm suaforma mais simplificada o alfabetismo verbal representa uma estrutura dotada de planostcnicos e definies consensuais que, comparativamente, caracterizam a comunicaovisual como quase que intdramcntc carente dc organizao. No bem isso o que

    acontece.

    Alfabetismo visual

    O maior perigo que pode ameaar o desenvolvimento de uma abordagem do alfabetismovisual tentar envolv-lo num excesso de definies. A existncia da linguagem, ummodo de comunicao que conta com uma estrutura relativamente bem organizada, semdvida exerce uma forte presso sobre todos os que se ocupam da idia mesma doalfabetismo visual. Se um mdo de comunicao to fcil dc decompor cm partescomponentes e estrutura, por que no o outro? Qualquer sistema de smbolos umainveno do homem. Os sistemas de smbolos que chamamos de linguagem so

    invenes ou refinamentos do que foram, em outros tempos, percepes do objetodentro de uma mentalidade despojada de imagens. I>ai a existncia de tantos sistemasde smbolos e tantas lnguas, algumas ligadas entre si por derivao de uma mesma raiz,e outras desprovidas de quaisquer relaes desse tipo. Os nmeros, por exemplo. sosubstitutos de um sistema nico de recuperao de informaes, o mesmo acontecendocom as notas musicais. Nos dois casos, a facilidade de aprender a informao codificada

    baseia-se na sntese original do sistema. Os significados so atribudos, e se dota cadasistema de regras sintticas bsicas. Existem mais de trs mil lnguas em uso corrente nomundo, todas cias independentes e nicas. Em termos comparativos, a linguagem visual to mais universal que sua complexidade no deve ser considerada impossvel desuperar. As linguagens so conjuntos lgicos, mas nenhuma simplicidade desse tipo

    pode ser atribuda inteligncia visual. e todos aqueles, dentre ns, que tm tentadoestabelecer uma analogia com a linguagem esto empenhados num exerccio intil.

    Existe, porm, uma enorme importncia no uso da palavra "alfabetismo" em conjunocom a palavra "visual". A viso natural; criar e compreenda mensagem visuais natural at certo ponto, mas a eficcia. em ambos os nveis, s pode ser alcanadaatravs do estudo. Na busca do alfabetismo visual, um problema deve ser claramenteidentificado c evitado. No alfabetismo serbal se espera, das pessoas educadas, que sejamcapazes de ler e escrever muito antes que palavras como "criativo" possam ser aplicadascomo juzo de valor. A escrita no precisa ser necessariamente brilhante; suficiente

    que se produza uma prosa clara e compreensvel, de grafia correta e sintaxe bemarticulada. O alfabetismo verbal pode ser alcanado num nvel muito simples derealizao e compreenso de mensagem escritas. Podemos caracteriz-la como uminstrumento. Saber ler e escrever, pela prpria natureza de sua funo, no implica anecessidade de expressar-se cm linguagem mais elevada, ou seja, a produo deromances e poemas. Aceitamos a idia de que o alfabetismo verbal operativo emmuitos nveis, desde as mensagens mais simples at as formas artsticas cada vez maiscomplexas.

    Em parte devido separao, na esfera do visual, entre arte e ofcio. e em parte devidos limitaes de talento para o desenho, grande pane da comunicao visual foi deixada

    ao sabor da intuio e do acaso. Como no sc fez nenhuma tentativa de analis-la oudefini-la em termos da estrutura do modo visual, nenhum mtodo de aplicao pode ser

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    obtido. Na verdade, essa uma esfera em que o sistema educacional sc move comlentido monoltica, persistindo ainda uma nfase no modo verbal, que exclui o restanteda sensibilidade humana, c pouco ou nada se preocupando com o carteresmagadoramente visual da experincia dc aprendizagem da criana. At mesmo autilizao de uma abordagem visual do ensino carece de rigor e objetivos bem

    definidos. Em muitos casos, os alunos so bombardeados com recursos visuais - diapositivos, filmes, sJtdes, projees audiovisuais -, mas trata-se dc apresentaes quereforam sua experincia passiva de consumidores de televiso. Os recursos decomunicao que vm sendo produzidos e usados com fins pedaggicos soapresentados com critrios muito deficientes para a avaliao c a compreenso dosefeitos que produzem. O consumidor da maior pane da produo dos meios decomunicao educacionais no seria capaz de identificar (para recorrermos a umaanalogia com o alfabetismo verbal) um erro de grafia, uma frase incorretamenteestruturada ou um tema mal formulado. O mesmo sc pode quase sempre afirmar no quediz respeito experincia dos meios "manipulveis". As nicas instrues para o uso decmeras, na elaborao de mensagens inteligentes, procedem das tradies literrias, e

    no da estrutura c da integridade do modo visual cm si. Uma das tragdias doavassalador potencial do alfabetismo visual cm todos os nveis da educao a funoirracional, de depositrio da recreao. que as artes visuais desempenham nos currculosescolares, e a situao parenla que se verifica no uso dos meios de comunicao, c-meras, cinema, televiso. Por que herdamos, nas artes visuais, uma devoo tcita aono-inteleetualismo? O exame dos sistemas de educao revela que o desenvolvimentode mtodos construtivos dc aprendizagem visual so ignorados, a no ser no caso dealunos especialmente interessados e talentosos. Os juzos relativos ao que factvel,adequado e eficaz na comunicao visual foram deixados ao sabor das fantasias e deamorfas definies de gosto, quando no da avaliao subjetiva e auto-reflexiva doemissor ou do receptor, sem que sc tente ao menos compreender alguns dos nveisrecomendados que esperamos encontrar naquilo que chamamos de alfabetismo no modoverbal. Isso talvez no se deva tanto a um preconceito como firme convico dc que impossvel chegar a qualquer metodologia e a quaisquer meios que. nos permitamalcanar o alfabetismo visual. Contudo, a exigncia de estudo dos meios decomunicao j ultrapassou a capacidade de nossas escolas e faculdades. Diante dodesafo do alfabetismo visual, no poderemos continuar mantendo por muito maistempo uma postura de ignorncia do assunto.

    Como foi que chegamos a esse beco sem sada? Dentre todos os meios de comunicaohumana, o visual o nico que no dispe de um conjunto de normas e preceitos, de

    metodologia c de nem um nico sistema com criterios definidos, tanto para a expressoquanto para o entendimento dos mtodos visuais. Por que. exatamente quando odesejamos e dele tanto precisamos, o alfabetismo visual se torna to esquivo? No restadvida de que se torna imperativa uma nova abordagem que possa solucionar essedilema.

    Uma abordagem do alfabetismo visual

    Temos um grande conhecimento dos sentidos humanos, especialmente da viso. Nosabemos tudo. mas conhecemos bastante. Tambm dispomos de muitos sistemas detrabalho para o estudo e a anlise dos componentes das mensagens visuais.

    Infelizmente, tudo isso ainda no se integrou cm uma forma vivel. A classificao e a

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    anlise podem ser de fato reveladoras do que sempre ali esteve, as origens de umaabordagem vivel do alfabetismo visual universal.

    Devemos buscar o alfabetismo visual em muitos lugares e de muitas maneiras, nosmtodos de treinamento de artistas, na formao tcnica de artesos, na teoria

    psicolgica, na natureza c no funcionamento fisiolgico do prprio organismo humano.

    A sintaxe visual existe. H linhas gerais para a criao de composies. H elementosbsicos que podem ser aprendidos c compreendidos por todos os estudiosos dos meiosde comunicao visual, sejam eles artistas ou no. e que podem ser usados, em conjuntocom tcnicas mani-pulativas, para a criao de mensagens visuais claras. Oconhecimento de todos esses fatores pode levar a uma melhor compreenso dasmensagens visuais.

    Apreendemos a informao visual de muitas maneiras. A percepco c as forasanestsicas, dc natureza psicolgica, so de importncia fundamental para o processo

    visual. O modo como nos mantemos em pc, nos movimentamos, mantemos o equilbrioe nos protegemos, reagimos luz ou ao escuro, ou ainda a um movimento sbito, sofatores que tm uma relao importante com nossa maneira dc receber e interpretar asmensagens visuais. Todas essas reaes so naturais c atuam sem esforo; no

    precisamos estud-las nem aprender como efetu-las. Mas elas so influenciadas, epossivelmente modificadas, por estados psicolgicos c condicionamentos culturais, c.por ltimo, pelas expectativas ambientais. O modo como encaramos o mundo quasesempre afeta aquilo que vemos. O processo , afinal, muito individual para cada um dcns. O controle da psique freqentemente programado pelos costumes sociais. Assimcomo alguns grupos culturais comem coisas que deixariam outros enojados, temos

    preferncias visuais arraigadas. O indivduo que cresce no moderno mundo ocidentalcondiciona-se s tcnicas dc perspectiva que apresentam um mundo sinttico etridimensional atravs da pintura e da fotografia, meios que, na verdade, so planos e

    bidimensionais. Um aborigine precisa aprender a decodificar a representao sintticada dimenso que, numa fotografia, se d atravs da perspectiva. Tem dc aprender aconveno; incapaz dc v-la naturalmente. O ambiente tambm exerce um profundocontrole sobre nossa maneira de ver. O habitante das montanhas, por exemplo, tem dedar uma nova orientao a seu modo de ver quando se encontra numa grande plancie.Em nenhum outro exemplo isso se torna mais evidente do que na arte dos esquims.Tendo uma experincia to intensa do branco indifercnciado da neve e do cu luminosoem seu meio ambiente, que resulta num obscurecimcnto do horizonte enquanto

    referncia, a arte dos esquims toma liberdades com os elementos verticais ascendentesc descendentes.

    Apesar dessas modificaes, h um sistema visual, perceptivo e bsico, que comum atodos os seres humanos; o sistema, porm, est sujeito a variaes nos temas estruturais

    bsicos. A sintaxe visual existe, c sua caracterstica dominante a complexidade. Acomplexidade, porem, no sc ope definio.

    Uma coisa certa. O alfabetismo visual jamais poder ser um sistema to lgico epreciso quanto a linguagem. As linguagens so sistemas inventados pelo homem paracodificar, armazenar e decodificar informaes. Sua estrutura, portanto, tem uma lgica

    que o alfabetismo visual incapaz de alcanar.

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    Algumas caractersticas das mensagens visuais

    A tendncia a associar a estrutura verbal e a visual perfeitamente compreensvel. Umadas razes natural. Os dados visuais tm trs nveis distintos e individuais: o inputvisual, que consiste de miradcs de sistemas de smbolos; o material visual

    representacional, que identificamos no meio ambiente e podemos reproduzir atravs dodesenho, da pintura, da escultura e do cinema; e a estrutura abstrata, a forma de tudoaquilo que vemos, seja natural ou resultado de uma composio para efeitosintencionais.

    Existe um vasto universo de smbolos que identificam aes ou organizaes, estadosde espirito, direes - smbolos que vo desde os mais prdigos em detalhesrepresentacionais at os completamente abstratos, e to desvinculados da informaoidentificvel que preciso aprend-los da maneira como se aprende uma lngua. Aolongo de seu desenvolvimento, o homem deu os passos lentos e penosos que lhe

    permitem colocar numa forma preservvel os acontecimentos e os gestos familiares de

    sua experincia, e a partir desse processo desenvolveu-se a linguagem escrita. No inicio,as palavras so representadas por imagens, e quando isso no possvel inventa-se umsmbolo. Finalmente, numa linguagem escrita altamente desenvolvida, as imagens soabandonadas e os sons passam a ser representados por smbolos. Ao contrrio dasimagens, a reproduo dos smbolos exige muito pouco em termos de uma habilidadeespecial. O alfabetismo infinitamente mais acessvel maioria que disponha de umalinguagem de smbolos sonoros, por ser muito mais simples. A lngua inglesa utilizaapenas vinte e seis smbolos em seu alfabeto. Contudo, as lnguas que nunca foram almda fase pictogrfica, como o chins, onde os smbolos da palavra-imagem, ouideogramas, contam-se aos milhares, apresentam grandes problemas para aalfabetizao em massa. Em chins, a escrita c o desenho de imagens so designados

    pela mesma palavra, caligrafia. Isso implica a exigncia de algumas habilidades visuaisespecficas para se escrever em chins. Os ideogramas, porm, no so imagens.

    c ARATER E CONTECDO DO ALFABETISMO VISt'AL 21

    Em The Inte/ligent Eye% R. L. Gregory referc-sc a des como "cartoons of cartoons".

    Porm, mesmo Quando existem como componente principal do modo visual, ossmbolos atuam diferentemente da linguagem, e, de fato, por mais compreensvel etentadora que possa ser, a tentativa de encontrar critrios para o alfabetismo visual na

    estrutura da linguagem simplesmente no funcionar. Mas os smbolos, enquanto forano mbito do alfabetismo visual, so de importncia e viabilidade enormes.

    A mesma utilidade para compor materiais e mensagens visuais encontra-se nos outrosdois nveis da inteligncia visual. Saber como funcionam no processo da viso, e de quemodo so entendidos, pode contribuir enormemente para a compreenso de como

    podem ser aplicados comunicao.

    O nvel representaaonal da inteligcnda visual fortemente governado pela experinciadireta que ultrapassa a percepo. Aprendemos sobre coisas das quais no podemos terexperincia direta atravs dos meios visuais, de demonstraes c dc exemplos em forma

    de modelo. Ainda que uma descrio verbal possa ser uma explicao extremamenteeficaz, o carter dos mdos visuais muito diferente do da linguagem, sobretudo no que

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    diz respeito a sua natureza direta. No sc faz necessria a interveno de nenhumsistema de cdigos para facilitar a compreenso, c dc nenhuma decodifcao queretarde o entendimento. s vezes basta ver um processo para compreender como elefunciona. Em outras situaes, ver um objeto j nos proporciona um conhecimentosuficiente para que possamos avali-lo e compreend-lo. Essa experincia da

    observao serve no apenas como um recurso que nos permite aprender, mas tambmatua como nossa mais estreita ligao com a realidade de nosso meio ambiente.Confiamos em nossos olhos, e deles dependemos.

    O ltimo nvel dc inteligncia visual talvez o mais difcil de descrever, c pode vir atornar-se o mais importante para o desenvolvimento do alfabetismo visual. Trata-se dasubestrutura, da composio elementar abstrata. e, portanto, da mensagem visual pura.Anton Eh-renzweig desenvolveu uma teoria da arte com base num processo primrio dedesenvolvimento c viso, ou seja, o nvel consciente, c, num nvel secundrio, o pr-conscicnte. Elabora essa classificao dos nveis estruturais do modo visual associandoo termo de Piaget, "sincrtico", para a viso infantil do mundo atravs da arte, com o

    conceito de no-difercnciao. Ehrenzweig descreve a enanca como sendo capaz de vertodo o conjunto numa viso "global". Esse talento, acredita ele, nunca vem a serdestruido no adulto, c pode ser utilizado como "um poderoso instrumento". Outramaneira de analisar esse sistema dplice de viso reconhecer que tudo o que vemos ecriamos compe-se dos elementos visuais bsicos que representam a fora visualestruturai, de enorme importncia para o significado e poderosa no que diz respeito resposta. uma parte inextricvel de tudo aquilo que vemos, seja qual for sua natureza,realista ou abstrata. energia visual pura, despojada.

    Vrias disciplinas tm abordado a questo da procedncia do significado nas artesvisuais. Artistas, historiadores da arte, filsofos e especialistas de vrios campos dascincias humanas e sociais j vm h muito tempo explorando como e o que as artesvisuais "comunicam". Creio que alguns dos trabalhos mais significativos nesse campoforam realizados pelos psiclogos da Cestalt, cujo principal interesse tem sido os

    princpios da organizao perceptiva, o processo da configurao de um todo a partirdas partes. O ponto de vista subjacente da Gestal, conforme definio de Ehrenfels,afirma que "se cada um de doze observadores ouvisse ura dos doze tons de umamelodia, a soma de suas experincias no corresponderia ao que seria percebido poralgum que ouvisse a melodia toda". Rudolf Arnheim o autor de uma obra brilhantena qual aplicou grande parte da teoria da Gtstalt desenvolvida por Werthcimcr, Khler eKoffka interpretao das artes visuais. Arnheim explora no apenas o funcionamento

    da percepo, mas tambm a qualidade das unidades visuais individuais e as estratgiasde sua unificao em um todo final e completo. Em todos os estmulos visuais e emtodos os nveis da inteligncia visual, o significado pode encontrar-se no apenas nosdados representaciones, na informao ambiental e nos smbolos, inclusive a linguagem,mas tambm nas foras compositivas que existem ou coexistem com a expresso factuale visual. Qualquer acontecimento visual uma forma com contedo, mas o contedo extremamente influenciado pela importncia das partes constitutivas, como a cor, o tom,a textura, a dimenso, a proporo e suas relaes compositivas com o significado. EmSymbolsand Civihzation. Ralph Ross s fala de "arte" quando observa que esta "produzuma experincia do tipo que chamamos dc esttica, uma experincia pela qual quasetodos passamos quando nos encontramos diante do belo e que resulta numa profunda

    satisfao. O que h sculos vem deixando os filsofos intrigados exatamente por quesentimos essa satisfao, mas parece claro que ela depende, de alguma forma, das

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    qualidades e da organizao de uma obra de arte com seus significados includos, e noapenas dos significados considerados isoladamente". Palavras como significado,experincia, esttica e beleza colocam-se todas em contigiiidadc no mesmo ponto deinteresse, isto . aquilo que extramos da experincia visual, e como o fazemos. Issoabrange toda a experincia visual, cm qualquer nvel e de qualquer maneira cm que ela

    se d.

    Para comear a responder a essas perguntas preciso examinar os componentesindividuais do processo visual em sua forma mais simples. A caixa dc ferramentas detodas as comunicaes visuais so os elementos bsicos, a fonte compositiva de todotipo dc materiais e mensagens visuais, alm dc objetos e experincias: o ponto, aunidade visual mnima, o indicador e marcador dc espao; a linha, o articulador fluido eincansvel da forma, seja na soltura vacilante do esboo seja na rigidez dc um projetotcnico; a forma 9 as formas bsicas, o circulo, o quadrado, o tringulo e todas as suasinfinitas variaes, combinaes, permutaes dc planos e dimenses; a direo, oimpulso dc movimento que incorpora c reflete o carter das formas bsicas, circulares,

    diagonais, perpendiculares; o tom, a presena ou a ausncia de luz, atravs da qualenxergamos; a cor, a contraparte do tom com o acrscimo do componente cromtico, oelemento visual mais expressivo c emocional; a textura, ptica ou ttil, o carter desuperfcie dos materiais visuais; a escala ou proporo, a medida c o tamanho relativos;a dimenso c o movimento, ambos implcitos c expressos com a mesma freqncia. Soesses os elementos visuais; a partir deles obte-mos matria-prima para todos os nveisde inteligncia visual, c a partir deles que se planejam c expressam todas as variedadesde manifestaes visuais, objetos, ambientes e experincias.

    Os elementos visuais so manipulados com nfase cambivcl pelas tcnicas decomunicao visual, numa resposta direta ao carter do que est sendo concebido c aoobjetivo da mensagem. A mais dinmica das tcnicas visuais o contraste, que semanifesta numa relao de polaridade com a tcnica oposta, a harmonia. No se deve

    pensar que o uso de tcnicas s seja operativo nos extremos; seu uso deve expandir-se,num ritmo sutil, por um continuum compreendido entre uma polaridade e outra, comotodos os graus de cinza existentes entre o branco e o negro. So muitas as tcnicas que

    podem ser aplicadas na busca de solues visuais. Aqui esto algumas das mais usadase de mais fcil idcntiicao, dispostas de modo a demonstrar suas fontes antagnicas:Contraste HarmoniaInstabilidade EquilbrioAssimetria Simetria

    Irregularidade RegularidadeComplexidade SimplicidadeFragmentao UnidadeProfuso EconomiaExagero MinimizaoEspontaneidade PrevisibilidadeAtividade EstaseOusadia Sutilezanfase NeutralidadeTransparncia OpacidadeVariao Estabilidade

    Distoro ExatidoProfundidade Planura

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    Justaposio SingularidadeAcaso SeqencialidadeAgudeza DifusoEpisodicidade Repetio

    As tcnicas so os agentes no processo de comunicao visual; atravs de sua energiaque o carter de uma soluo visual adquire forma. As opes so vastas, e so muitosos formatos c os meios; os trs nveis da estrutura visual interagem. Por maisavassalador que seja o nmero de opes abertas a quem pretenda solucionar um

    problema visual, so as tcnicas que apresentaro sempre uma maior eficcia enquantoelementos de conexo entre a inteno c o resultado. Inversamente, o conhecimento danatureza das tcnicas criar um pblico mais perspicaz para qualquer manifestaovisual.

    Em nossa busca de alfabetismo visual, devemos nos preocupar com cada uma das reasde anlise e definio acima mencionadas; as foras estruturais que existem

    funcionalmente na relao interativa entre os estmulos visuais e o organismo humano,tanto ao nvel fsico quanto ao nvel psicolgico; o carter dos elementos visuais; e o

    poder de configurao das tcnicas.