200018036 Revista Antropolitica 25

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  • Antropoltica Niteri n. 25 p. 1-266 2. sem. 2008

    ISSN 1414-7378

    A n t r o p o l t i c aNo 25 2o - semestre 2008

  • 2 prova JLuiz 26 nov 2009

    2009 Programa de Ps-Graduao em Antropologia UFF

    Direitos desta edio reservados EdUFF - Editora da Universidade Federal Fluminense - Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icara - CEP 24220-900 - Niteri, RJ - Brasil - Tel.: (21) 2629-5287 - Telefax: (21) 2629-5288 - http:///www.editora.uff.br - E-mail: [email protected]

    proibida a reproduo total ou parcial desta obra sem autorizao expressa da Editora.

    Normalizao: Caroline Brito de OliveiraReviso: Rita GodoyProjeto grfi co, capa e editorao eletrnica: Jos Luiz Stalleiken MartinsSuperviso grfi ca: Kthia M. P. Macedo

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

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    Secretria da RevistaPriscila Tavares dos Santos

    Catalogao-na-Fonte (CIP)

    A636 Antropoltica: Revista Contempornea de Antropologia (n. 25, 2 sem. 2008, n. 1, 2. sem. 1995). Niteri: EdUFF, 2009.

    v. : il. ; 23 cm.

    Semestral.

    Publicao do Programa de Ps-Graduao em Antropologia da Universidade Federal Fluminense.

    ISSN 1414-7378

    1. Antropologia Social. I. Universidade Federal Fluminense. Programa de Ps-Graduao em Antropologia.

    CDD 300

    Editora filiada

    Conselho Editorial da AntropolticaLuiz de Castro Faria (PPGA/UFF) (In memorian)Ana Maria Gorosito Kramer (UNAM Argentina)Anne Raulin (Paris X Nanterre)Arno Vogel (UENF)Charles Freitas Pessanha (UFRJ)Charles Lindholm (Boston University)Claudia Lee Williams Fonseca (UFRGS)Daniel Cefa (Paris X Nanterre)Edmundo Daniel Clmaco dos Santos (Ottawa University)Eduardo Diatahy Bezerra de Meneses (UFCE)Eduardo Rodrigues Gomes (PPGCP/UFF)Joo Baptista Borges Pereira (USP)Josefa Salete Barbosa Cavalcanti (UFPE)Lana Lage de Gama Lima (UENF)Licia do Prado Valladares (IUPERJ)Lus Roberto Cardoso de Oliveira (UNB)Marc Breviglieri (EHESS)Mariza Gomes e Souza Peirano (UNB)Otvio Guilherme Cardoso Alves Velho (UFRJ)Raymundo Heraldo Maus (UFPA)Roberto Augusto DaMatta (PUC)Roberto Mauro Cortez Motta (UFPE)Ruben George Oliven (UFRGS)Sofi a Tiscrnia (UBA)

  • SumrioNota dos editores, 7

    Dossi: Estudos de imigrao: novas abordagens e perspectivas, 9 Apresentao: Mrcio de Oliveira e Jair de Souza Ramos

    Tempo e estudo da Assimilao, 23Nancy L. Green

    A imigrao: o nascimento de um problema (1881-1883), 49Grard Noiriel

    O papel dos agentes administrativos na poltica de imigrao, 75Alexis Spire

    Artigos

    Observao flutuante: o exemplo de um cemitrio parisiense, 99Colette Ptonnet

    Itinerrios ocupacionais, juventude e gesto de empregabilidade, 113Delma Pessanha Neves

    Performance e empreendimento nos assaltos contra instituies financeiras, 139 Jania Perla Digenes de Aquino

    A colonizao alem na regio central do Rio Grande do Sul capital social e desenvolvimento regional, 159 Jos Marcos Froehlich, Everton Lazzaretti Picolotto, Heber Rodrigues Silva e Matheus Alegretti de Oliveira

    Narrar, redigir e escrever: o dirio nos pronturios da assistncia social, 179 Isabelle Csupor e Laurence Ossipow

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    Resenhas

    Livro: Ptonnet, Colette. Lobservation flottante: lexemple dun cimetire, parisien, LHomme, oct-dc. 1982, XXII (4r),p. 37-47Autor da resenha: Soraya Silveira Simes, 193

    Livro: Marques, Ana Claudia (Org.). Conflitos, poltica e relaes pessoais. Fortaleza, CE: Universidade Federal do Cear/Funcap/CNPq Pronex; Campinas, SP: Pontes Editores, 2007.Autor da resenha: Leonardo Vilaa Dupin e Sheila Maria Doula, 197

    Livro: Carneiro, Sandra S. A p e com f: brasileiros no Caminho de Santiago. So Paulo: Attar, 2007. 277p.Autor da resenha: Slvia Regina Alves Fernandes, 205

    Notcias do PPGA

    Relao de dissertaes defendidas no PPGA, 211

    Relao de teses defendidas no PPGA, 237

    Revista antropoltica: nmeros e artigos publicados, 243

    Coleo antropologia e cincia poltica (livros publicados), 261

    Normas de apresentao de trabalhos, 265

  • ContentsEditors note, 7

    Dossier: Immigration Studies: new approaches and perspectives, 9

    Foreword: Mrcio de Oliveira e Jair de Souza Ramosa

    The Time, and The Study of Assimilation, 23Nancy L. Green

    The immigration: The beginning of a problem (1881-1883), 49Grard Noiriel

    The role of the administrative agents in the immigration policy, 75Alexis Spire

    Articles

    Floating Observation. A Parisian Cemetery as an Example, 99Colette Ptonnet

    Occupational Itinerary, youth and employment management, 113Delma Pessanha Neves

    Performance and enterprise in assaults against financial institutions, 139Jania Perla Digenes de Aquino

    The German colonizing in the central area of Rio Grande do Sul Brasil - social capital and development of the region, 159

    Jos Marcos Froehlich, Everton Lazzaretti Picolotto, Heber Rodrigues Silva and Matheus Alegretti de Oliveira

    To narrate, to write and to compose: the diary in the handbooks of social assistence, 179Isabelle Csupor and Laurence Ossipow

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    Reviews

    Livro: Ptonnet, Colette. Lobservation flottante: lexemple dun cimetire, parisien, LHomme, oct-dc. 1982, XXII (4r), pp.37-47Soraya Silveira Simes, 193

    Livro: Marques, Ana Claudia (Org.). Conflitos, poltica e relaes pessoais. Fortaleza, CE: Universidade Federal do Cear/Funcap/CNPq Pronex; Campinas, SP: Pontes Editores, 2007. Leonardo Vilaa Dupin and Sheila Maria Doula, 197

    Livro: Carneiro, Sandra S. A p e com f: brasileiros no Caminho de Santiago. So Paulo: Attar, 2007. 277p. Slvia Regina Alves Fernandes, 205

    PPGA NewsPhD Thesis defended at PPGA, 211

    Thesis defended at PPGA, 237

    Revista Antropoltica: numbers and published articles, 243

    Published Books Coleo Antropologia e Cincia Poltica, 261

    Norms for Article Submission, 265

  • Nota dos Editores

    A Revista Antropoltica n 25 integra mltiplos intercmbios de pesquisadores nacionais e estrangeiros, colaboraes individuais e parcerias interinstitucio-nais. O dossi temtico Estudos de imigrao: novas abordagens e perspectivas, or-ganizado por Jair de Souza Ramos, antroplogo, professor do Departamento de Sociologia e da Ps-graduao em Antropologia da UFF, e por Mrcio de Oliveira, professor do Departamento de Cincias Sociais da UFPR, confere, pela traduo, facilidades para leitura de artigos at ento publicados em lngua francesa. Mas no s: tambm melhores oportunidades para se acompanharem desdobramentos temticos de uma questo social e sociolgica sempre renova-da, como esto enfatizados nos textos. Os autores anfitries, organizadores e apresentadores do dossi, pem em destaque o lugar que eles prprios e seus convidados ocupam no campo temtico, destacando as diferenciadas modali-dades de valorizao de problemticas e de encaminhamentos metodolgicos.

    Na sesso de artigos, os editores da revista tm a honra de incorporar um dos textos de Colette Ptonnet Observao flutuante: o exemplo de um cemitrio parisiense , graas ao empenho de Soraya Silveira Simes, responsvel pela traduo, mas tambm por alguns comentrios sobre a obra da antroploga francesa (na sesso Resenha). Os demais artigos registram a elaborao de temas bastante diversos e instigantes. Um deles corresponde contribuio de Delma Pessanha Neves, que focaliza os constrangimentos e as alternativas enfrentadas por jovens, residentes em espaos urbanos perifricos, para se constiturem como trabalhadores. A autora enfatiza o carter institucional da economia de proximidade em que os jovens se apoiam para qualificar competncias, habi-lidades e recursos de autorizao da apresentao de si como trabalhadores. Contribuindo de maneira singular, dada a novidade da questo eleita para a pesquisa, Jania Perla Digenes de Aquino, no artigo Performance e empreen-dimento nos assaltos contra instituies financeiras, problematiza novos espaos de trabalho de campo e aspectos racionais das aes ou dos empreendimentos que suportam tais atos de impositiva apropriao material. Pela anlise de processos de imigrao no sul do Brasil, Jos Marcos Froehlich lidera equipe de pesquisadores dedicados ao estudo da valorizao da memria coletiva de grupos sociais. E, por fim, circulamos uma inovadora contribuio de duas antroplogas suas, Isabelle Csupor, vinculada Haute cole de Travail et de Sant de Lausanne (HES-SO/HETS&S-VD, EEPS) e Laurence Ossipow, afiliada Haute cole de Travail Social de Gnve (HES-SO/HETS), que, no artigo Narrar, redigir e escrever: o dirio nos pronturios da assistncia social, demonstram o carter relacional ou interativo desse gnero de registro, todavia metafori-

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    zado para valorizar as interdependncias e cumplicidades entre os pr-prios profissionais que nele cristalizam prticas e performances.

    Complementamos o investimento institucional do PPGA-UFF registrado no decorrer dos diversos nmeros da Revista Antropoltica, como neste 25, pela circulao de conhecimentos produzidos pelo corpo discente, dando continuidade apresentao de teses e dissertaes a defendidas. Este tem sido um recurso que adquire valor documental pelo acervo de ttulos mais facilmente identificados.

    Portanto, agregamos reflexes de autores nacionais e estrangeiros, sem perder de vista a importncia da expanso do acervo de conhecimentos que as cincias sociais, nos ltimos anos, vm consolidando pelo trabalho de mestres e doutores no decurso da formao.

    Ampliamos ainda as formas de comunicao acadmica pela incluso de uma sesso de resenhas, neste nmero da Revista Antropoltica, distin-guindo textos referidos a temticas ligadas ao poltica e religio.

    Com o objetivo de ampliar o alcance do pblico leitor s contribuies meritrias com que nos tm prestigiado os colegas que encaminham seus artigos para publicao, estamos, paulatinamente e em ordem decres-cente, disponibilizando Antropoltica em verso digital, cujo acesso pode ser obtido pela pgina do PPGA (www.uff.br/ppga).

    Comit Editorial

  • Dossi:Estudos de imigrao:

    novas abordagens e perspectivas

    2 prova JLuiz 26 nov 2009

  • 2 prova JLuiz 26 nov 2009

  • Mrcio de Oliveira*

    Jair de Souza Ramos**

    Apresentao

    com grande prazer que organizamos este dossi sobre o tema da imigrao, trazendo a traduo de trs textos atuais mas inditos para o pblico de lngua portuguesa. Como se sabe, os estudos sobre imigrao no Brasil foram inicialmente realizados, a partir de mea dos do sculo XIX, em relao s polticas imigratrias ( SEYFERTH, 2004). Do ponto de vista das cin-cias sociais brasileiras, a realidade bastante dife-rente, por exemplo, dos estudos norte-americanos em que o tema da imigrao se tornou central (CHAPOULIE, 2001) e mesmo dos estudos rea-lizados na Argentina (DEVOTO, 2004). Deve-se lembrar ainda que o tema da imigrao foi bas-tante trabalhado da perspectiva historiogrfica, sendo muitas vezes considerado um objeto de estudo da disciplina da histria, ou seja, tratado como a histria dos deslocamentos de grandes contingentes populacionais da Europa para di-versos pases americanos, sobretudo os Estados Unidos, que ocorreu principalmente entre 1840 e 1940 e o impacto disso na histria das naes envolvidas (RYGIEL, 2007).

    No obstante, na maior parte dos pases que acolheram imigrantes, os estudos produzidos tra-taram do fenmeno da imigrao a partir da traje-tria, digamos inicialmente, da integrao. Assim falando, percebe-se claramente que, embora a imigrao seja um fato histrico e demogrfico, repleto de estatsticas de partidas e entradas, con-troles sanitrios, relatrios oficiais etc., a questo trazida junto com os imigrantes foi, em termos legais e administrativos, essencialmente poltica e social. Do ponto de vista intelectual e cientfico,

    * Professor do Departamen-to de Cincias Sociais da UFPR. [email protected]

    ** Professor do Departa-mento de Sociologia e da Ps-graduao em Antro-pologia da Universidade Federal Fluminense.

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    portanto, a questo da imigrao foi fundamentalmente tratada como objeto da sociologia e da antropologia.1

    Os imigrantes, migrando individualmente ou em grupos, eram, formavam ou ainda passavam a ser identificados, uma vez nos pases de destino, como grupos sociais novos que deveriam ser controlados, integrados, assimilados e, por vezes, nacionalizados. Os estudos sobre imigrao no Brasil seguiram tendncia prxima a este esquema geral, com uma pe-quena ressalva. Entre ns, a questo da imigrao esteve sempre ligada ao problema do povoamento e da ocupao do territrio, quando no, ainda de forma algo envergonhada, do embranquecimento da raa brasileira.

    Da dcada de 1920 em diante, a imigrao passa a ser ainda um pro-blema administrativo e legal, uma competncia do Estado e dos seus servios (RAMOS, 2006), mas sempre com prerrogativas negociadas ou executadas pelos estados. Nos anos 1930, com a ascenso de Vargas ao poder, a questo torna-se nacionalista, os imigrantes, sobretudo aqueles residentes em comunidades isoladas e relativamente homogneas, indi-cando mesmo uma perda de soberania. neste momento que o tema da assimilao (forada no caso da Campanha de Nacionalizao) entra na pauta dos estudos socioantropolgicos, coincidindo justamente com a criao dos primeiros cursos de cincias sociais em So Paulo, assim como dos cientistas engajados que muito publicaram no Boletim do Servio de Imigrao e Colonizao.

    No campo das cincias sociais, ainda nos anos 1930-1940, nos estudos de Vianna (1934), Willems (1940, 1946, 1948), Baldus e Willems (1941) e Freyre (1942, 1948) que o tema assume uma forma acadmica. Na dcada de 1950, Carneiro (1950), Martins (1955), vila (1956), Schaden (1956, 1957) e Cardoso (1959) ainda perseguem o tema da assimilao das comunidades estrangeiras, insistindo aqui e ali no par imigrao-de-senvolvimento dos estados do sul. exceo deles, mas ainda neste pero-do, Ianni (1960), a partir de pesquisas de campo realizadas em Curitiba, apresenta original estudo sobre descendentes de imigrantes poloneses e prticas discriminatrias. Contudo, nas dcadas de 1960 e de 1970, o tema da imigrao e os estudos sobre imigrantes, ainda que enfocando perspectiva da assimilao e da etnicidade (DURHAM, 1966; SAITO; MAYEMA, 1973; SEYFERTH, 1974; WACHOWICZ, 1967, 1970), passam a ter suas problemticas emolduradas pelo contexto do desenvolvimento do capitalismo no Brasil (DIEGUES JR., 1964; MARTINS, 1973).1 Com efeito, ambas as cincias pouco se diferenciavam quando se iniciaram os estudos sobre imigrao, tanto

    nos Estados Unidos quanto no Brasil.

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    Os estudos sobre imigrao renasceriam apenas nos anos 1980 e, prin-cipalmente, a partir dos anos 1990, emoldurados por novo contexto, no qual a emigrao, fenmeno ainda irrelevante na histria social do Brasil, surge pela primeira vez. A quantidade de trabalhos e perspectivas adotadas, a variedade das temticas (do futebol aos estudos sobre polticas migratrias) nos impedem de resumir em to pouco espao a imensa gama de estudos de excelente nvel produzidos nos muitos centros de ps-graduao das universidades brasileiras. O certo que, finalmente, o tema teria sido resgatado, e no apenas por autores comprometidos com um ou outro grupo de imigrantes, mas em pesquisas que problematizaram o tema da imigrao sob novas perspectivas tericas, como novos estudos empricos, tentando pensar os grupos de imigrantes em si (suas formas culturais e tradies), bem como suas trajetrias, inseres etc., em quase todos os estados brasileiros em que foram e so presentes.

    fato nessa nova esteira de trabalhos em que nos situamos e, por isso, decidimos organizar este nmero, trazendo contribuies de autores estrangeiros que tm os fenmenos migratrios como objeto de estudo e pesquisa. Seno, vejamos.

    O primeiro texto, de Nancy Green, historiadora norte-americana e atual Diretora de Estudos da Escola de Altos Estudos em Cincias Sociais (EHESS/MSH) em Paris, seminal. Em Tempo e estudo da assimilao, a au-tora apresenta ao leitor a trajetria do conceito mais central nos estudos sobre migraes, qual seja, o conceito de assimilao. interessante observar como, durante muito tempo, o ato de migrar, o processo de migrao, sempre esteve ligado ao pas de chegada, nova vida e nova sociedade. bvio pensar que, nestas condies, os indivduos isolados ou os grupos que migram (sejam eles familiares ou no) so sempre imensamente menores (em termos demogrficos) do que os grupos que formam as comunidades j residentes nos lugares em que se instalam. Assim, natural imaginar que deveriam ser assimilados, integrados, igualados, que tendessem a desaparecer naquele novo todo. A palavra assimilao, seja em ingls, seja em suas diversas acepes nas lnguas latinas,2 no deixa dvidas quanto a esta compreenso que tanto a So-ciologia quanto a Antropologia e a histria emprestaram da Biologia.

    Mas, e aqui que o artigo se torna muito interessante, os diversos pro-cessos de assimilao encontraram a sociedade e a histria. Assim, o que poderia parecer uma simples apresentao das formas e dos lugares em que o conceito foi utilizado, torna-se uma anlise crtica e contextual so-bre as formas e os lugares em que o conceito foi, e como, utilizado. Para 2 Nestas lnguas, assimilar vem do latim assimilare, que significa literalmente tornar-se semelhante.

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    no dizer, claro, sobre os autores (e suas filiaes disciplinares) que o usaram e tudo que da resultou. neste sentido que se pode compreen-der a autora afirmar, inicialmente, que houve inmeras tentativas de definir assimilao e que j se reclamou da confuso de significados.

    Estabelecido o norte do artigo, a autora recupera os diversos usos da as-similao, tanto historiogrficos quanto sociolgicos e, dessa forma, inicia sua viagem analtica, a viagem de uma categoria analtica construda por socilogos e historiadores atravs do tempo usando diferentes quadros temporais (p. 1). Iniciando com a definio de assimilao de Gordon (1964), que inclui os trs principais processos de assimilao nos Estados Unidos, angloconformidade, melting pot e pluralismo cultural, a autora pode viajar tanto no tempo quanto no espao, resgatando criticamente no s as histrias e os processos sociais ocorridos nos grandes pases de destino de imigrantes, os Estados Unidos e a Frana, mas tambm os conceitos e modelos de sociedade e cidadania a produzidos.

    No o caso aqui de resenhar o artigo em questo, que os leitores podero apreciar na ntegra nas pginas que se seguem. Mas convm, para con-cluir, apresentar trs questes levantadas pelo trabalho. Primeiro, trata-se da importncia do conceito de melting pot (primeiro questionamento da ideia de assimilao pura e simples de judeus na Inglaterra vitoriana do comeo do sculo XX) e da tentativa de super-lo atravs de um estudo das condies sociais e histricas (para quais grupos e em que momentos histricos) que tornaram possvel pensar numa amalgamao, ou seja, como, onde e por que conceberam um conceito assim? Para em segui-da analisar o resultado desse processo social em trs possibilidades: a) desaparecimento das culturas imigrantes no seio da cultura dominante; b) construo de um novo padro cultural fruto da fuso da cultura do-minante com as culturas imigrantes; e c) metamorfose de cada uma das culturas (adventcias e dominante) em produtos novos, mas que ainda guardariam alguns de seus elementos tradicionais.

    A segunda questo diz respeito crtica do conceito de etnicidade (enten-dido como identidade cultural de grupos) e seu uso na esteira tanto dos movimentos sociais (Os Panteras Negras) quanto do pluralismo cultural e poltico (caso da histria social dos judeus nos Estados Unidos e na Europa). Aqui, a assimilao assumiu contornos polticos claros, envere-dou-se pelos corredores jurdico-administrativos do Estado e chocou-se frontalmente com as constituies republicanas cidads e os direitos diferena. Assimilao dura, assimilao leve, manuteno de padres culturais, diversidade de sociabilidades e processos de identificao, in-dividualismo etc. Daqui surgiram os conceitos de adaptao, colonizao,

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    insero, as polticas pblicas assistencialistas e mesmo uma redefinio dos cdigos de nacionalidade e das polticas de imigrao, temas sempre sensveis. O interessante aqui ver como os conceitos no so neutros, como vo e vm, como se enrazam ou no nas diversas sociedades e histrias, enfim, como a atividade cientfica sempre engajada e atual.

    Finalmente, a terceira questo diz respeito ao processo de migrao stricto sensu, ou seja, migrao analisada a partir dos grupos, das geraes que migram e das diferentes formas de insero que cada uma delas, dentro de cada perodo histrico especfico, trilhou. No h movimento linear ou universal; tudo varia dentro de um mesmo grupo em funo do tempo, da idade, do gnero, da atividade profissional, do pas de destino e dos laos sociais deixados ou rompidos nos pases de origem e, enfim, dos processos de retorno e da construo dos espaos transnacionais. A variedade de casos to grande que se duvida mesmo da possibilidade de categoriz-los. Mas a concluso da autora, aps to exaustiva anlise, no deixar de surpreender os leitores por sua simplicidade e clareza.

    O segundo artigo traduzido, do scio-historiador francs e tambm dire-tor de Estudos da Escola de Altos Estudos em Cincias Sociais (EHESS/MSH) em Paris, Grard Noiriel, um trabalho-chave nos estudos de imigrao. Isso, pelo simples fato de datar historicamente, na Frana, o surgimento da questo da imigrao, analisando as diversas variveis que permitiram transformar o fato a imigrao em uma questo social, econmica e poltica, o problema do imigrante.

    Neste artigo, vrias dimenses so importantes e merecem comentrios, ainda que breves. A primeira delas diz respeito ao contexto histrico. Como fica claro no artigo de Nancy Green, os conceitos tm l suas his-trias, suas trajetrias e seus significados. Um dos maiores pecados do cientista social continua sendo o do anacronismo que, muitas vezes, resultado do insuficiente conhecimento da histria. Ora, essa questo exatamente o ponto de partida de Noiriel. Ele pergunta: mas de fato, na Frana, quem era o cidado que imigrava, em que poca este fen-meno tomou propores de monta e, finalmente, por que isso se tornou um problema?

    As perguntas, como se v, so simples e diretas. Mas so as respostas que obviamente nos interessam. De cara, a descrio das condies histrico-demogrficas, a repartio da populao nas cidades e nas zonas rurais e o analfabetismo que viceja nas ltimas, enquanto as cidades, sobretu-do Paris, eram reduto da vida intelectual e poltica, ainda que, mesmo entre estas, outra clivagem oponha o brbaro mundo operrio elite dirigente. Em seguida, a centralizao administrativa, o fortalecimento

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    do Estado e seu aparelho legislador e controlador. Aqui, chama a ateno a inveno do passaporte, revelando que a mobilidade, mesmo dentro do pas, se fazia sob certas condies, inclusive legais. Finalmente, as pri-meiras consequncias, sobretudo revolucionrias, da chegada macia de camponeses e outros trabalhadores a Paris, mostrando as razes do pro-blema social provocado pelo deslocamento das grandes massas ou como os migrantes rapidamente tornam -se um assunto de Estado. Percebe -se assim que, at ento, a migrao era um problema interno, desvinculado da questo dos estrangeiros.

    O surgimento do imigrante e o problema que vem com ele so, deve-se notar, uma novidade, tanto conceitual quanto scio -histrica. Para apreend-la, Noiriel vai explorar, in loco e no detalhe, ou seja, na cidade de Marselha e atravs de uma primorosa descrio de fatos histricos e da consulta de jornais da poca, como tantos e tantos trabalhadores urba-nos passam simplesmente de estrangeiros (italianos, alemes ou outros), a quem se permitia migrar nesta liberal Europa da segunda metade do sculo XIX e vivendo nas suas comunidades (a pequena Alemanha de Paris), a imigrantes, ou seja, cidados oriundos de outros Estados (o que implicava a prpria definio de nacionalidade e de Estado-nao), a quem se devia temer e/ou controlar.

    Deste ponto em diante, o artigo rico, detalhista e instigante, e novamente datado. O ano de 1870, aps a derrota na guerra franco-prussiana, rico em consequncias. Trata-se no apenas do incio de uma nova Repblica (a terceira), mas da elaborao poltico-ideolgica de uma nova noo de povo, ou melhor, da incorporao do povo na vida poltica da nao, o que implicou, claro, uma nova concepo de nao e de nacional. Com estas vieram, como os leitores descobriro, as noes de estrangeiro e de imigrante, emolduradas por debates pblicos e legislaes especficas, movimentos de protesto e finalmente a transformao do imigrante em um problema.

    Mas no pretendemos nos substituir ao autor e, assim, nos limitamos a comentar aqui uma ltima questo. O surgimento, na Frana, dos ter-mos imigrao e emigrao. De fato, foi exatamente em 1868, em um dicionrio das cincias mdicas que os termos aparecem pela primeira vez. Mas o problema de fundo no da ordem da medicina ou da sade pblica, mas da demografia. para esta nova cincia, que trata da na-o e de seus habitantes como um todo, que estes termos tm utilidade. Eles explicam a entrada e a sada de indivduos, procura compreender os benefcios (econmicos com os novos trabalhadores) e os problemas oriundos (manuteno da baixa natalidade) destes movimentos popu-

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    lacionais, mas tudo isso a partir da perspectiva da nao (dos nacionais) e do Estado (dos benefcios e dos perigos e conflitos que os estrangeiros provocam). Percebe-se assim que o surgimento da categoria imigrantes constri outras mais (a do cidado nacional, sobretudo) e define algumas j existentes (piemonteses, bretes etc.), reposicionando o xadrez social e tnico no interior do Estado francs, provocando e acirrando rixas entre as comunidades e, finalmente, criando uma nova clivagem no seio da Repblica direita e esquerda , cujos argumentos ideolgicos em relao aos imigrantes reais manter-se-o praticamente inalterados at hoje tanto no Parlamento quanto na imprensa! Eis como os imigrantes passam a ser um problema cada vez mais grave, envolto no tradicional corolrio de situaes (ausncia de patriotismo, conflitos, violncia etc.).

    A publicao do artigo de Gerard Noiriel, e dos demais artigos desse dossi, supre ainda uma lacuna importante na atualizao da literatura contem-pornea sobre polticas de imigrao. Noiriel um historiador francs conhecido no Brasil pela sua participao no campo da epistemologia da histria e, em especial, nos debates sobre o estatuto da histria contempo-rnea a partir da constituio da chamada histria do tempo presente. Contudo, a maior parte da sua carreira foi dedicada ao exame do tema da imigrao. De fato, quando seu livro Le Creuset Franais3 foi publicado em 1988, ele rapidamente foi recebido como uma sntese inovadora da histria da imigrao na Frana. Mais tarde, Noiriel afirmou que a inteno do livro era constituir um programa de pesquisa mais do que uma sntese, e efetivamente esta uma pista fundamental para a compreenso dos des-dobramentos do livro porque desde ento h um crescente investimento de jovens pesquisadores sobre o tema da imigrao, especialmente em torno do exame das relaes de poder envolvidas a envolvidas.

    O livro representou tambm uma renovao nos estudos de poltica de imigrao, por encarar este objeto no mais nos marcos da anlise da poltica que emana de um estado j constitudo, mas como o lugar mesmo do qual se pode observar a construo do Estado e a cristalizao de relaes de poder entre grupos sociais na sociedade francesa, ambos os processos a partir dos fenmenos de imigrao. Este interesse pela abordagem do Estado atravs da imigrao reatualizou de modo bas-tante fecundo o argumento de Sayad de que a sociologia da imigrao a melhor entrada para uma sociologia do Estado.43 NOIRIEL, Gerard. Le creuset franais. Paris: ditions du Seuil, 1988. Sem traduo para o portugus. 4 Cf. SAYAD, Abdelmalek. Immigration et pense dtat. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Paris, n. 129,

    1999.

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    O programa envolvido em Le Creuset Franais no se resumia histria da imigrao, mas j desenhava a abordagem que viria a ser chamada de scio-histrica e que se inscreve na reaproximao crescente, desde os anos 1980, entre a histria e as cincias sociais como a sociologia e a antropologia. Esta aproximao se alimenta, de um lado, da percepo crescente de que os fenmenos que os cientistas sociais estudam so fenmenos histricos; e de outro, que a histria uma disciplina no interior das cincias sociais e que os historiadores devem fazer uso dos instrumentos analticos a desenvolvidos para avanar na compreenso de seus objetos de estudo.

    Contudo, no se trata simplesmente de uma associao interdisciplinar. No projeto da scio-histria, a articulao entre sociologia e histria opera em torno de uma perspectiva fundamental que a crtica da reificao das relaes sociais. A perspectiva crtica a assumida foi conduzida segundo uma lgica da desconstruo que se alimentava metodologicamente da influncia de autores como Foucault, Bourdieu, Derrida, entre outros, e que tinha como alvo as categorias da vida cotidiana, especialmente aquelas que eram produto de um trabalho de consagrao, como aquele que empreendido por agentes estatais em torno de fenmenos natu-ralizados, tais como o registro civil e o passaporte.

    Esta perspectiva scio-histrica, de que Noiriel um dos mais importantes autores, se desdobrou mais tarde em dois projetos de trabalho coletivo que ainda permanecem bastante ativos: a revista Genses5 e o seminrio de sciences sociales et imigration.6 Em ambos os projetos se trata de com-preender as sociedades contemporneas luz da histria, restituindo os processos que as modelaram. No caso da revista, de modo mais amplo, e no caso do seminrio, de forma mais restrita centralidade do tema da imigrao nas sociedades europeias contemporneas.

    O terceiro artigo, de Alexis Spirre, um jovem pesquisador francs que tem assumido a coordenao do seminrio sciences sociales et imigration, se dedica ao exame das representaes e prticas de agentes encarrega-dos de imigrao nas prefeituras de polcia e um excelente exemplo desta perspectiva, intitulada scio-histria, construda em torno de duas preocupaes.5 Genses uma revista internacional de cincias sociais e histria criada em 1990 e que tem por objetivo reunir

    contribuies de pesquisadores que buscam compreender as sociedades contemporneas luz da histria. 6 Inicialmente intitulado seminrio de histria social da imigrao, o seminrio foi inaugurado em 1997, em

    uma associao entre a cole Normale Superieure e a cole des Hautes tudes em Sciences Sociales, sob a direo de Gerard Noiriel e Philipe Rygiel, e vem se repetindo anualmente desde ento, sempre sob a direo de novos pesquisadores. Ele tem por objetivo reunir pesquisadores franceses e estrangeiros de forma a partilhar informaes e contribuies terico-metodolgicas no estudo da imigrao.

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    A primeira consiste em explicitar as relaes entre passado e presente, isto , de um lado, afirmar a historicidade do presente, o que implica fazer a sociognese das categorias que ordenam o presente.

    Em segundo lugar, a scio-histria privilegia a abordagem das instituies entendidas como complexos de relaes interindividuais. Da a centrali-dade de uma perspectiva metodolgica baseada em Weber.7 Este tambm um dos aspectos que aproximam a scio -histria de uma antropologia do estado, concebida como uma analtica do estado por uma perspectiva ascendente, isto , de baixo para cima, mas, tambm, a partir das relaes sociais estruturadas em torno da presena de agentes, recursos e autoridade estatais. Neste sentido, muitas anlises scio-histricas tentam mostrar que os indivduos que falam e escrevem em nome do Estado fabricam persona-gens coletivos como o esprito pblico, a opinio pblica, o povo etc.

    Outro aspecto fortemente ligado influncia de Pierre Bourdieu8 e que aproxima a scio-histria de uma perspectiva antropolgica a anlise dos processos de nominao e categorizao dos indivduos exercidos desde as posies legtimas no Estado e nas posies dominantes em campos especficos. Este processo de nominao analisado como uma relao de poder que permite agir a distncia sobre as identidades dos indivduos e de orientar suas condutas.

    Em seu texto, Spirre aborda as prticas estatais em relao aos imigran-tes numa perspectiva den bas, com base no modo de organizao dos funcionrios intermedirios, suas representaes e prticas diante dos problemas representados pelos imigrantes. Com isso, ele desloca o foco habitualmente centrado no exame da poltica de imigrao a partir do texto da lei e das decises ministeriais. Isto significa, de um lado, atualizar a advertncia de Foucault, de que o poder deve ser estudado l onde ele se investe diretamente sobre seus alvos visados; e de outro, abordar o Estado no como entidade genrica e abstrata, mas como entrelaamento socialmente estruturado de aes individuais, no qual os destinos concretos de imigrantes so jogados frente e atrs de guichs.

    Em um detalhado trabalho de sociologia histrica, Spirre demonstra a existncia de uma diviso de trabalho que hierarquiza funcionrios graduados e subalternos e define as modalidades de sua relao com a letra da lei. Num achado sempre didtico em um pas como o nosso, prenhe de legislaes de todo o tipo, o autor mostra como a proliferao de leis, decretos, portarias e circulares pode levar tanto paralisia do 7 Cf. WEBER, Max. Conceitos sociolgicos fundamentais. Lisboa: Ed. 70, 1997.8 Cf. BOURDIEU, Pierre. Esprit dtat. Actes de la Recherche in Sciences Sociales, Paris, n. 96- 97, p. 49-62, Mars

    1993.

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    funcionrio subalterno, temeroso de desobedecer o que quer que seja, quanto maior autonomizao do funcionrio graduado, que escolhe a portaria que vai seguir. Nestes termos, como pensar a aplicao da lei, sem levar em considerao o modo como esto estruturados, em termos de diviso do trabalho e de ethos, os comportamentos dos agentes encar-regados da sua aplicao?

    Tornar visveis estes princpios estruturantes uma das principais con-tribuies desse artigo.

    Concluindo, acreditamos que estes textos podem representar uma impor-tante contribuio para todos aqueles que querem no apenas estudar o fenmeno da imigrao no Brasil, mas tambm compreender a trajetria do conceito de imigrao, tanto do ponto vista terico quanto em suas dimenses empricas no interior das mais diversas tradies nacionais das cincias sociais.

    Eis, em sntese, o dossi que apresentamos aqui, esperando que os artigos traduzidos possam abrir novas perspectivas para os estudos migratrios no Brasil.

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  • Nancy L. Green*

    Tempo e Estudo da Assimilao**

    * Professora da cole des Hautes tudes en Sciences Sociales, Paris, Frana.

    ** Time and Study of Assimi-lation. Artigo originalmen-te publicado em Rethinking History, v. 10, n. 2, p. 239-258, June 2006, Traduo de Marcelo Teixeira de Oliveira.

    Este artigo busca explorar as maneiras pelas quais os esforos para classificar a assimilao (e seus vrios opostos) esto ligados a noes do tempo a taxa relativa de incorporao , elas mesmas sendo produzidas em diferentes perodos histricos. O conceito de assimilao incorpora diferentes escalas de tempo e geraes em sua anlise, mas o uso deste termo tem tambm seus prprios ciclos de uso. Assimilao, portanto, precisa ser reexaminada no somente como uma descrio da histria da imigrao per se, mas como uma categoria analtica construda por socilogos e historiadores atravs do tempo, usando diferentes quadros temporais.Palavras-chave: assimilao; imigrao; geraes; tempo; historiografia.

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    Assimilar ou no assimilar depende muito da definio. E certamente houve inmeras tentativas de definir assimilao. Ela tem sido explorada como um conceito sociolgico e tratada como um fenmeno histrico. No entanto, um historiador reclamou de uma confuso de significados (BARKAN, 1995). O que segue no somente mais uma tentativa de identificar assimilao como uma realidade histrica, mas uma explorao da prtica historiogrfica que produziu o termo. Proponho explorar as maneiras como os esforos para classificar a assimilao (e seus vrios opostos) esto ligados a noes do tempo a taxa relativa de incorporao e so, elas mesmas, produzidas em diferentes perodos histricos. O conceito de assimilao incorpora diferentes escalas de tempo e geraes em sua anlise, mas o uso deste termo tem tambm seu prprio ciclo de uso. Assimilao, portanto, precisa ser reexaminada no somente como uma descrio da histria da imigrao, per se, mas como uma categoria analtica construda por socilogos e historiadores atravs do tempo, usando diferentes quadros temporais.

    Uma das mais citadas, e ainda vlidas, definies de assimilao como sendo um conceito sociolgico aquela de Milton Gordon (1964). Nos Estados Unidos no incio da dcada de 1960, Gordon distinguiu, dentre outros processos, a assimilao cultural (comportamental) da assimilao estrutural. A assimilao comportamental inclui a aquisio de padres lingusticos, sociais, rituais e culturais da sociedade hospedeira enquanto permite a manuteno de certo sentido de alteridade. Assimilao estru-tural, a grande porta de entrada nos clubes e instituies da sociedade receptora, incluindo, eventualmente, intercasamentos, leva ao desapa-recimento final do particularismo (GORDON, 1964). Principalmente para o historiador, Gordon esboou uma tipologia com trs teorias principais da assimilao nos Estados Unidos e que correspondem a perodos histricos relativamente distintos: angloconformidade, melting pot1 e pluralismo cultural.

    Outros tipos de distines sociolgicas foram criados em outros pases, e as diversas preocupaes de pesquisadores fora dos Estados Unidos devem ser lembradas. Na Frana, por exemplo, diferentes formas de identidade so frequentemente atribudas a diferentes esferas. Em termos gordonianos, isto significa que algum pode dizer que a esfera pblica o local da assimilao estrutural, enquanto a alteridade com-portamental relegada esfera privada. (Assim, ao legislar contra o uso de burcas mulumanas em escolas pblicas, o Estado francs enfatizou 1 A traduo mais exata de melting pot em portugus crisol de raas. , algumas vezes, traduzida tambm

    por caldeiro de raas. Contudo, uma vez que se trata de expresso bastante corrente, decidimos mant-la no original em ingls aqui e nos outros lugares em que ela foi empregada. (N. do T.)

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    oficialmente que o lugar em que se veste e no a burca em si uma manifestao particular de religio que est em questo.) Muitos his-toriadores e socilogos franceses realaram esta distino e, se afastando do termo assimilao propriamente dito, enfatizaram a longa histria da Frana como um melting pot integrador (GREEN, 1999; NOIRIEL, 1988; SCHNAPPER, 1991, 1994).

    Entre as numerosas interpretaes da questo da assimilao nos Esta-dos Unidos, o socilogo William Newman props, uma dcada depois de Gordon, uma formulao mais sistemtica das teorias da assimilao (NEWMAN, 1973). A abordagem de Newman interessante por dois motivos: sua tentativa de cientificizar uma descrio do processo atravs de uma simples frmula matemtica e, sobretudo, seu esforo, ainda mais explcito que o de Gordon, de simular modelos de assimilao historicamente. Deste modo, a noo de assimilao (ou angloconfor-midade) foi expressa por Newman como A+B+C=A, onde A repre-senta a cultura principal. Como ele indicou, essa noo foi o produto do perodo de imigrao macia entre 1860 e 1940, e isso refletiu no ponto de vista da maioria, reagindo aos recm-chegados. Amalgao, para Newman, poderia ser esquematizada como A+B+C=D, onde D representa a definio de Israel Zangwill de melting pot. A emergncia deste conceito, na primeira dcada do sculo XX, foi o resultado do ponto de vista prprio das minorias e, assim, uma reao ideologia da assimilao. A noo do pluralismo cultural (A+B+C=A+B+C), que se originou nas escritos de Horace Kallen em 1915, foi tambm uma resposta imigrante, contrariando explicitamente a ideia do melting pot (ZANGWILL, 1908; KALLEN, 1924). Beyond The Melting Pot, de Nathan Glazer e Daniel Patrick Moinyhan, levou o ponto de vista da minoria um passo adiante A+B+C=A1+B1+C1 , no qual grupos de minoria se tornaram grupos de influncia, uma posio que Newman (claramente assombrado pelo espectro dos Panteras Negras e da Liga de Defesa Judia) criticava. Com certeza, Newman tomou a teoria da assimilao (Milton Gordon) e a teoria da minoria (GLAZER; MOYNIHAN, 1970) como lio para admitir uma assimilao muito linear, de um lado, e um pluralismo indiferenciado, de outro.

    Mas, acima de tudo, Newman enfatizou a necessidade de historicizar os conceitos. As ideologias de assimilao, amalgao e pluralismo cultural, ele escreveu, devem ser entendidas no contexto das condies sociais que precipitaram os grupos sociais e os endossaram (NEWMAN, 1973, p. 53). Eles no so conceitos a-histricos. Ns precisamos considerar que

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    as maneiras nos diferentes perodos de tempo nos quais os pesquisadores enfrentaram o problema afetaram as anlises da identidade.

    Sobre sociologia e histriaSocilogos definiram e redefiniram o termo muitas e muitas vezes; os historiadores utilizaram-no. Muitos, mas nem todos os socilogos (especialmente nos Estados Unidos) tentaram quantificar a assimilao estrutural; historiadores (apesar de haver quantificadores dentre eles) usaram, com mais frequncia, o conceito de modo mais metafrico. Este no o lugar para reexaminar as diferenas entre as disciplinas e os repetitivos contrastes entre a generalizao sociolgica e a narrativa histrica, sendo os historiadores criticados por deixarem a teoria para os outros cientistas sociais, enquanto os ltimos eram repreendidos por ignorar a mudana no tempo. E isso ainda que realizar emprstimos (esburacando e contrabandeando, como disse William Swell) entre as disciplinas seja comum em assimilao/estudos tnicos como em outros campos (SWELL JR., 2005; ABOTT, 2001).2 Isso pode ser implcito ou mais explcito quando feito por socilogos histricos ou historiadores sociais. Questes relativas assimilao talvez transponham a diviso disciplinar mais do que nunca, desde que elas impliquem inerentemente um estudo sobre tempo que ao mesmo tempo limitado por um tempo histrico e enquadrado por um conceito sociolgico. A este respeito, os socilogos voltados para esse estudo esto se engajando em uma discus-so sobre a mudana atravs do tempo, enquanto os historiadores esto buscando entender o mesmo com referncia a um conceito sociolgico. Deste modo, as distines disciplinares so talvez menos importantes neste campo do que as temporalidades escolhidas por pesquisadores e o perodo sobre o qual eles escrevem.

    No caso de estudos (tnicos) e de assimilao, eu argumentaria, assim, que as duas disciplinas usaram quase os mesmos conceitos (desconsideran-do qual das duas produziu-os primeiro ou quantificou-os melhor) mais ou menos simultaneamente, ao longo de uma linha do tempo similar de ascenso, queda e, mais recentemente, ressurgimento. Assimilao foi de incio bastante conceituada, em processo de americanizao, na dcada de 1920, por parte dos socilogos da Escola de Chicago e acla-mada durante o consenso do ps-guerra, nas dcadas de 1950 e 1960, 2 Sobre pesquisadores da imigrao crescentemente cruzando fronteiras disciplinares, ver Rubault et al.

    (1999, p. 1260); Brettel; Hollifiel (2000). Para ver sociologia e histria como uma nica aventura intelectual, ao mesmo tempo conclamando para um melhor entendimento da epistemologia de cada disciplina, ver Morawska (2003, p. 645).

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    por socilogos e historiadores como o pice do melting pot americano. Isso foi ento repetidamente criticado a partir dos anos 1960, quando o ressurgimento da etnicidade contestou sua insensibilidade em relao s identidades individuais e grupais e seu envolvimento em um processo de mo nica. Os meados da dcada de 1990 marcaram uma virada de curso em direo a uma conversa sobre o renascimento de uma avalia-o positiva da assimilao. Assim, embora historiadores e socilogos da migrao seguissem uma linha de tempo de interesse na assimilao praticamente igual, escrevendo como se estivessem no mesmo perodo histrico, a grande diferena teve a ver com a preferncia do quadro temporal escolhido, que variou tanto entre os historiadores quanto entre os socilogos.

    O que segue uma investigao sobre as maneiras pelas quais dois dife-rentes entendimentos e usos de tempo esto embutidos em estudos de assimilao: aquele do perodo de tempo sobre o qual estudiosos esto escrevendo; e aquele do quadro temporal (longo ou curto) escolhido para o estudo.

    Estudiosos no tempo

    A virada para a etnicidade

    O cotidiano da assimilao tedioso e no inspirador... A agonia e o esplendor da assimilao so relativamente breves, localizados, um episdio na histria do mundo moderno... A particularidade (e pre-ferivelmente, a singularidade) se tornou o nico atributo universal humano mundialmente louvado; toda a seriedade sobre assimilao adquire um curioso sabor arcaico. (BAUMAN, 1998, p. 321-322, 331)

    O livro de Milton Gordon, publicado primeiramente em 1964, pode ser visto historiograficamente como talvez o ltimo hurra da teoria da assimilao antes da investida tnica. Escritores como Newman, uma dcada depois, j estavam avisados (e neste caso ansiosos) da virada para identidades mais plurais. Criticados por seus pressupostos etnocntricos, por sua natureza normativa, sua noo teolgica de que imigrantes ne-cessariamente se transformam em nacionais indiferenciados, os estudos de assimilao entraram em colapso.

    A histria do surgimento da etnicidade, com sua crtica direta da assi-milao como um conceito sociolgico e uma prtica histrica, agora bem conhecida. um exemplo claro da maneira como a produo de categorias de estudo pode ser ligada a tendncias sociais mais amplas

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    (NOVICK, 1988). Os movimentos sociais da dcada de 1960 dos mo-vimentos antiguerra e de Direitos Sociais passando pelo ressurgimento da etnicidade tiveram um enorme impacto na conscincia histrica e na escrita da sociologia e da histria. O ativismo daqueles que, expli-citamente ou no, questionaram a homogeneidade do Estado-nao confrontou ou talvez induziu a pesquisa da cincia social a fazer o mes-mo. Na histria da imigrao e na sociologia, a assimilao se tornou duvidosa e ridicularizada. O novo ou renovado interesse em etnicidade questionou uma variedade de modelos anteriores, desde os socilogos da Escola de Chicago pelo seu implcito, se no explcito, endosso da americanizao ao historiador Oscar Handlin e sua destruio das origens, em seu tempo, The Uprooted.3 A crtica de Rudolph Vecoli ao The Uprooted tornou-se um clssico, enquanto o livro de Handlin passou a ser visto como um modelo ultrapassado de alienao no qual a assimi-lao permaneceu o resultado implcito (VECOLI, 1964, 1972, 1985). De forma semelhante, na histria do trabalho, Herber Gutman criticou uma historiografia nacional que assimilou trabalhadores imigrantes a um todo indiferenciado. Ele clamou por um entendimento renovado do que eles haviam trazido cultural e politicamente para as costas do Novo Mundo e argumentou em favor de uma importante reavaliao das culturas imigrantes para entender a histria americana do trabalho (GUTMAN, 1976, p. 3-78; BARRET, 1992).

    Uma estria historiogrfica a respeito da histria francesa deve ilustrar as mudanas casuais do conceito. Quando Michael Marrus escreveu um livro publicado em 1971, intitulado The Politics of Assimilation, foi acla-mado como um estudo pioneiro no campo da histria social do povo judeu (MARRUS, 1971). Ele analisou a reao dos judeus franceses ao Caso Dreyfus, explicando por que eles no testemunharam em defesa de Dreyfus at muito mais tarde no caso, e criticou-os implicitamente por sua covardia. No entanto, o livro de Marrus foi em seguida severamen-te criticado por sua viso (no crtica) da assimilao do povo judeu Frana. Na verdade, o livro produziu uma segunda gerao de livros e artigos de sentido inverso, tentando provar o quo judeus, os judeus franceses do sculo XIX realmente eram. Trata-se aqui de uma questo da assimilao histrica ou no de judeus franceses, ou de uma questo do emprstimo de um conceito sociolgico por um historiador social logo antes da crtica do prprio conceito? Algum poderia argumentar que a maneira de descrever os judeus franceses mudou com o tempo, 3 Sobre o impacto da Escola de Chicago na Europa, ver Oriol (1981). Sobre a Escola de Chicago, ver Kivisto;

    Blanck (1990); Persons (1987); Smith (1988); Higham (1975, p. 214-217). O precoce clssico de Oscar Handlin apareceu pela primeira vez em 1951 e tem sido reimpresso desde ento (HANDLIN, 1973).

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    em sincronia com o tempo. Da dcada de 1970 at a dcada de 1990, medida que a assimilao foi reduzida e o etnicismo se tornou importante, os judeus franceses se tornaram mais judeus em termos de histria e de memria (ALBERT, 1982; BIRNBAUM, 1992; SIMON-NAHUM, 1991).

    A virada em direo ao etnicismo no foi, contudo, o fim da assimilao como conceito ou prtica. Isso no levou, como muitos debates subse-quentes mostraram, ao fim definitivo de toda e qualquer noo de inte-grao dentro do governo ou da sociedade. Quando, pela primeira vez, o historiador Marcus Lee Hansen sugeriu o que ficou conhecido como Hansens Law (Lei de Hansen) em 1937 a ideia de que a primeira gerao emigra, a segunda esquece (assimila), mas a terceira retorna s suas origens o que ele props como princpio histrico pode ter descrito bem muitos historiadores de 1970 e 1980, estudiosos de terceira ou quarta gerao interessados em aspectos das experincias de seus an-tepassados (HANSEN, 1937; KIVISTO; BLANCK, 1990).

    Mais importante, a Lei de Hansen nos fornece uma percepo para di-versos assuntos relativos ao tempo. O comportamento do grupo pode se alterar com o tempo, assim como se altera a atividade dos observadores. Cada gerao de historiadores e socilogos escreve em um tempo espe-cfico e com questes diferentes daquelas que os precederam.

    A dcada de 1990: o retorno da assimilao (redefinida)

    Nos anos 1990 estudos tnicos tinham se tornado, at certo ponto, ins-titucionalizados nos Estados Unidos, principalmente nos programas de estudo universitrios. Cticos questionaram se a etnicidade tinha che-gado para ficar e se a construo histrica da noo havia sido analisada (ALBA, 1990; COZEN et al., 1992; GANS, 1979; STEINBERG, 1981; WATERS, 1990).

    Enquanto aquela consagrao se estabelecia, dois movimentos polticos e histricos contraditrios estavam acontecendo simultaneamente. De um lado, uma etnicidade frequentemente reificada surpreendeu o pluralismo cultural dos anos 1970, argumentando em favor de um multicultura-lismo mais agressivo sob forma de uma identidade poltica. Do outro, e em resposta quela radicalizao, surgiram novas chamadas a favor de uma virtude cvica comunitria, variando dos apelos de Warner Sollors e David Hollinger por uma Amrica ps-tnica, s vrias nfases tanto de culturas mestias, transitrias e hbridas quanto renovada celebrao

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    da assimilao de Anthony Appiah (APPIAH, 1992; HOLLINGER, 1995; MORAWSKA, 1994; NASH, 1995; SOLLORS, 1986).

    Em outros pases, o droit la diffrence 4 uma forma de afirmao cultu-ral tnica teve vida curta e nunca foi institucionalizado nos programas universitrios. Frana, Inglaterra, Holanda etc., com algumas diferenas de poca nos processos de sensibilizao, tornaram-se crescentemente conscientes de suas histrias da imigrao a partir das dcadas de 1970 e de 1980 (DIGNAN, 1981; HOLMES, 1988; LUCASSEN; PENNINX, 1997; NOIRIEL, 1988). No obstante, o episdio tnico foi tratado com cuidado, pois seu potencial de diviso era frequentemente temido. Deste modo, enquanto na Frana a duradoura relevncia do modelo rpublicain dintgration5 permaneceu forte entre polticos, socilogos e historiadores, pesquisadores holandeses, de forma semelhante, puseram a assimilao em primeiro plano, fazendo estudos de longa durao sobre a imigra-o na Holanda (LE BRAS, 1998; LUCASSEN, 1997; LUCASSEN; PENNINX, 1997; SCHNAPPER, 1991; TRIBALAT, 1996).6

    Um nmero de socilogos e historiadores dos dois lados do Atlntico retornou, deste modo, ao conceito de assimilao como forma de se afas-tar da controversa natureza sobre um multiculturalismo duro (ALBA; NEE, 2005; BRUBAKER, 2001; KAZAL, 1995; MORAWSKA, 1994).

    No entanto, e de forma importante, eles fizeram isso redefinindo a as-similao no intuito de mud-la de suas mais odiosas (e culturalmente repressivas) conotaes e incorporando algumas das crticas da etnici-dade. Deste modo, os socilogos Alejandro Portes, Rubn Rumbaut e Minzhou ou a historiadora social Ewa Morawska nos Estados Unidos, o socilogo Dominique Schnapper na Frana, e o historiador Leo Lucassen na Holanda, todos eles perceberam o retorno ao que pode ser chamado de assimilao leve. Acredita-se assim em uma adaptao no longo prazo, sem aniquilar todas as diferenas (LUCASSEN, 1997; PORTES, 2000; PORTES; ZHOU, 1993; RUMBAUT, 1999; SCHNAPPPER, 1991).

    A busca por um termo adequado

    Durante a ltima metade do sculo, estas tentativas cambiantes de definir e usar o conceito de assimilao foram atrapalhadas pela dificuldade de encontrar um termo melhor. Enquanto as dcadas de 1980 e 1990 pre-4 Em francs no original. Traduz-se como o direito diferena. (N. do T.)5 Apenas rpublicain e intgration estavam em francs no original. Toda a expresso pode ser traduzida

    como modelo republicano de integrao. (N. do T.)6 Veja o debate entre Tribalat (1996) e Le Bras (1998).

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    senciaram uma dramtica queda no uso do prprio termo, numerosos crticos falharam em tentar achar um substituto satisfatrio.7

    Mesmo antes disso, dois demgrafos franceses (Girard e Stoetzel) haviam sugerido, nos anos 1950, os termos insero ou adaptao, enquanto o socilogo israelita Samuel E. Einsenstadt falou explicitamente, em 1954, de absoro. Do comeo da dcada de 1980 em diante, e frente ao crescente criticismo, a busca por outro termo avanou depressa. O so-cilogo alemo Hoffmann-Novotny era um antigo proponente do termo integrao. Um historiador israelita (Ezra Mendelsohn) sugeriu inte-gracionismo (EINSENSTADT, 1954; GIRARD; STOTZEL, 1953-1954; GORDON, 1964; HOFFMANN-NOVOTNY, 1983; MENDELSOHN, 1993).

    O socilogo belga Gilles Verbunt alertou sobre a linearidade de uma lin-guagem na qual a consequncia seria que a insero (la prise en charge par les instituitions du pays daccueil) levaria adaptao (de la part de limmigr) e ento integrao (dans le logement et dans le travail),8 seguida pela assimilao (cultural) e finalmente pela naturalizao. Ele preferiu o termo integrao, considerando uma relao recproca. Desde ento o termo se espalhou pela linguagem sociolgica francesa e foi at incorporado por uma comisso governamental: o Haut Conseil lIntgration,9 criado na Frana em 1990 (LONG, 1988; VERBUNT, 1985; WEIL, 1991).10

    Mas, devido sua utilidade, o debate continuou. Adrian Favell mostrou como, em muitos pases europeus, a integrao esteve fortemente li-gada ao paradigma do Estado-nao, enquanto Michael Banton rejeitou o termo por implicar uma totalidade matemtica, preferindo interao maioria-minoria (BANTON, 2001; FAVELL, 2003).

    Aquilo que pode funcionar em uma sociedade pode no funcionar em outra. Apesar das inerentes dificuldades de definio, os termos no so universalmente aplicveis de uma lngua para outra. A integrao, construda com o significado de total rendio ao modelo dominante na Holanda, foi, portanto, vista como pejorativa por alguns historiadores.117 Na Frana, a prpria ideia foi s vezes criticada como uma importao americana (ORIOL, 1981).8 Essas trs expresses esto em francs no original. Traduzem-se, respectivamente, por as instituies do pas

    que acolhe ficam encarregadas, da parte do imigrante e no local de moradia e no trabalho. (N. do T.)9 Em francs no original. Traduz-se por Alto Conselho da Integrao.10 Para uma histria da poltica das polticas francesas de imigrao, ver Weil (1991). 11 Portanto, Jan Lucassen e Rinus Penninx preferem o termo assimilao (LUCASSEN; PENNINX, 1997, p.

    102-103). Comunicao pessoal de Jan Lucassen para Nancy Green, 29 de outubro de 2001. No obstante, o Wet Inburgering Niewkomers foi traduzido como ato da integrao dos recm-chegados (DE HEER, 2004).

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    O termo teve outra, e mais especfica, conotao nos Estados Unidos para os afro-americanos. O economista Michael Pior certa vez sugeriu colonizao como um termo mais neutro, enquanto o historiador John Laslett aceitou aculturao, acomodao ou adaptao (LASLETT, 1985, p. 589-590; PIORE, 1979, p. 76-81). Os termos s vezes podem ser difceis de traduzir de uma disciplina para outra. Quando os historia-dores comearam a falar de aculturao ao invs de assimilao, alguns antropologistas ficaram horrorizados, porque cultura um construto em si complexo demais para o termo ser facilmente traduzido. Outros antroplogos aceitaram aculturao, apesar de definida mais especifi-camente. Os termos podem, deste modo, ser especficos em diferentes pases, linguagens ou disciplinas. Ou podem migrar alegremente de um para outro.12

    A anlise da assimilao como uma realidade histrica pode, assim, ser uma questo de disciplina acadmica e linguagem, mas no somente isso. Ela est tambm relacionada posio do prprio observador no tempo. No que simplesmente objetos histricos mudaram de assimi-lados para tnicos. Os pesquisadores tambm trouxeram novas questes e categorias para suas pesquisas, ancoradas em seu prprio presente.

    Desse modo, precisamos estudar as geraes de migrantes e de estudio-sos. O que me interessa aqui no mapear noes do tempo como uma experincia social,13 nem analisar a fora do discurso poltico relativo assimilao ou etnicidade atravs do tempo. mais o uso de termos como assimilao, etnicidade, integrao ou multiculturalismo por parte dos cientistas sociais, que incorporam na anlise diferentes escolhas feitas por pesquisadores que esto eles mesmos enraizados no tempo histrico.

    A mudana historiogrfica e histrica do sculo XX, de assimilao para etnicidade e de volta para assimilao, um fenmeno tanto histrico quanto historiogrfico. Sincronicamente, em todo o perodo de tempo, houve frequentes e fervorosos debates sobre definies de identidade. Diacronicamente houve tambm tendncias identificveis atravs do tempo. No entanto, a maioria das anlises sincrnicas ou diacrnicas presumem que um modelo historicamente correto, o que pode ser chamado, usando a terminologia de William Swell, uma temporalidade teleolgica (SWELL JR., 2005, cap. 3: Trs Temporalidades). O mo-delo de etnicismo dos anos 1970 procurou triunfantemente derrubar o 12 Para os debates na histria americana, ver, por exemplo, Gleason (1980, p. 32-58; 1992); Higham (1981); e

    o debate entre Olivier Zunz e John Bodnar (1985).13 Ver, por exemplo, a interessante anlise sobre a diversidade das percepes temporais por parte dos migrantes

    como uma dimenso crucial de suas prticas culturais de Saulo B. Cwerner (2001).

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    consenso assimilacionista do perodo ps-guerra, assim como a noo de hibridismo hoje construda contra uma enrijecida poltica de etnicidade.

    essencial enfatizar a capacidade de mudana desses termos atravs do tempo. Etnicidade e assimilao no so apenas fenmenos situados em perodos histricos. Cada conceito um construto historiogrfico que comumente discute de uma maneira implcita ou explcita que ambos, o objeto e a anlise dele, representam um tipo de fim da histria. Na verdade, as normas profissionais encorajam uma individualidade histo-riogrfica sobre interpretaes anteriores. Enquanto pudermos traar a popularidade: a) de um fenmeno histrico e b) as construes de anlises atravs do tempo, precisamos ter em mente que so processos cambiantes e esto sempre sujeitos a novas crticas.

    Estudiosos que escolhem o tempo

    Mltiplas estruturas de tempo

    No final, o que est em foco no tanto a definio de assimilao ou o contrrio disso. Algum pode acreditar que a assimilao tem funcio-nado at agora e ainda estudar a diversidade tnica na curta durao. Mas importante reconhecer que o conceito de assimilao em suas vrias transformaes lingusticas tem sido utilizado diferentemente atravs do tempo e utiliza o tempo de forma diferente em suas vrias (e mltiplas) definies.

    Alm disso, para historicizar as tendncias interpretativas do sculo passado, existe outro modo importante no qual analisar a assimilao (assim como, genericamente, analisar identidade) uma questo de quadro temporal. Anlises baseadas em diferentes escalas de tempo pro-duzem diferentes resultados. Isso pode ser verdade tanto para socilogos quanto para historiadores. Eu sugeriria que existem vrias maneiras de analisar assimilao como um fenmeno histrico, cada uma utilizando diferentes estruturas de tempo e cada tentativa contendo as sementes dos diferentes desfechos.

    Em primeiro lugar, a assimilao pode ser, e frequentemente , estu-dada como um fenmeno intergeracional. Ela tem sido, sem dvida, a abordagem mais comum, apesar de a importncia e de as implicaes de escolher uma, duas, trs ou mais geraes como uma estratgia ex-plcita de pesquisa no haverem sido suficientemente examinadas. O fato de se estudar um comportamento de um grupo ao invs de estudar o comportamento de vrias geraes pende para o lado de entender

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    a assimilao como um resultado (de longa durao). Duas outras abordagens relacionadas ao tempo foram ainda menos estudadas. Em segundo lugar, a renovao do grupo, ou o estudo de sucessivas levas de imigrantes da mesma origem atravs do tempo, um tpico que pode questionar a formao da identidade como sendo fixada pelo tempo. Em terceiro lugar, assimilao como um fenmeno intrageracional o impacto diferencial nos pais ou filhos mal foi mencionada. E finalmente, ento, retornaremos assimilao como uma tendncia historiogrfica produzida por estudiosos.

    Assimilao como um fenmeno intergeracional: a escolha e o impacto do estudo sobre o longo prazo

    Das quatro opes sugeridas, a primeira vem sendo a mais usada, porm tem sido raramente teorizada como uma estratgia de pesquisa. Quanto tempo leva, quo rapidamente pode ocorrer, e qual critrio conta: aqui-sio da lngua, padres de moradia, entrar para clubes, naturalizar-se, afrancesar ou americanizar o primeiro nome de algum ou o ltimo de outro? Quanto muito pouco? Quantos degraus de assimilao so necessrios para que a coisa acontea? Uma gerao muito pouco tem-po? Duas so suficiente, como na lei de Hansen, mesmo se a terceira gerao voltar s suas razes? A avaliao da assimilao tanto uma questo sobre a durao escolhida para o estudo quanto um dos fatores selecionados para serem apreciados.

    A escolha do quadro temporal de longo prazo crucial. Em seu til artigo de reviso, Russel Kazal tomou trs historiadores de estudos tni-cos Herbert Gutman, John Bodnar e Paul Buhle para justificar no estudar o destino dos grupos de imigrantes alm das duas primeiras ge-raes (KAZAL, 1995, p. 458). Em suma, Kazal repreendeu estes autores por suas escolhas de estrutura de tempo. Deste modo, ele reconheceu implicitamente que uma viso da longa durao enfatiza a assimilao, enquanto um estudo de curta durao aumenta a diversidade e destaca as diferenas das culturas imigrantes.

    Talvez ironicamente, Grard Noiriel criticou a metodologia da longue dure14 de Fernand Braudel porque, como consequncia, ela tornou invis-veis (assimilados) os imigrantes dentro da histria francesa. Isto , Noiriel sugeriu que a viso da longa durao de Braudel estruturalista demais, imvel demais, esttica demais em sua nfase do nacional. Entretanto, Braudel dedicou apenas breves 35 pginas em seu ltimo (incompleto e 14 Em francs no original. Esta expresso aparece tambm em outros lugares, sempre citada em francs. A

    traduo mais corrente longa durao.

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    pstumo) livro de trs volumes (mais de mil pginas) sobre a identidade francesa. Como o prprio Noiriel notou, o assunto da imigrao na Fran-a (assim como nos Estados Unidos, eu acrescentaria), (simplesmente) no era um grande espao de investigaes historiogrficas na poca em que Braudel escreveu (NOIRIEL, 1988, p. 50-67; ver tambm BRAUDEL, 1969, 1986). No entanto, no h nada intrnseco no mtodo histrico e no pensamento de Braudel que impea sua aplicao aos estudos sobre migrao. Certamente, existe tambm uma histria de longue dure nas mudanas e amlgamas de populaes, tudo isso contribuindo para a criao da maioria dos Estados-nao como ns os conhecemos hoje (MATHOREZ, 1914, 1919-1921; LEQUIM, 1988).

    A este respeito, um uso renovado da longue dure est no corao de qualquer estudo sobre migrantes e seus descendentes. No entanto, o que tanto as crticas de Kazal como as de Noiriel mostram so as maneiras como as escolhas dos quadros temporais definem o palco para o estu-do da diferena ou amalgamao na histria da imigrao. Como Leo Lucassen descreveu, existe um abismo entre as abordagens de longa e de curta durao nos estudos sobre imigrao (LUCASSEN, 1997; ver tambm HUTCHINSON, 1956; TRIPIER, 1981).

    A opo de um estudo longitudinal pode, assim, dentro e fora dela mesma, enfatizar assimilao como o desfecho final. Esta escolha uma opo de pesquisa e deve ser reconhecida como tal. Pode ser a escolha dos otimistas em um mundo fragmentado ou xenfobo; pode ser uma escolha poltica, enfatizando a coerncia de um ideal rpublicain15 acima de uma temida fragmentao. Os contos de transformao de estrangeiros em nacionais contados sobre a longa durao podem naturalmente tran-quilizar os temores de uma presumida no assimilabilidade, tornando-se todos os novos imigrantes finalmente velhos com o tempo.

    No obstante, um final feliz assimilacionista na longa durao pode minimizar as diferenas culturais, econmicas da primeira gerao e suas dificuldades de adaptao. Ora, como Gary Gerstle nos lembrou, isso pode nos levar ao esquecimento daqueles elementos de coero que acompanharam a liberdade de amalgamao (GERSTLE, 1997, 2001). Duas questes precisam, deste modo, ser explicitamente dirigidas aos estudos de migrao e de etnicidade. Qual(is) perodo(s)/gerao(es) (so) objeto de estudo? Quais so as comparaes implcitas que salien-tam esta opo?15 Em francs no original. Traduz-se por republicano. (N. do T.)

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    A escolha de qual perodo/gerao do tempo a ser estudado(a) no neutra. Como nos lembrou Herb Gans, pesquisadores das novas e an-tigas imigraes tm estudado diferentes geraes de recm-chegados (GANS, 1997). E mesmo dentre os (ento) novos imigrantes, escolher imigrantes judeus ou italianos na virada do sculo em Nova York no a mesma coisa que estudar seus descendentes nos anos 1970. claro, escolher a primeira gerao de imigrantes para estudar assimilao no a mesma coisa que escolher a segunda, a terceira ou a quarta gerao. Mas ao mesmo tempo, a escolha da gerao tambm significa situar o estudo dentro de um perodo histrico especfico. Ser uma terceira gerao alem ou irlandesa nos anos 1920 no a mesma coisa que ser uma terceira gerao de judeus ou italianos nos anos 1970. As escolhas da gerao e de seu perodo histrico precisam, assim, ambas ser analisadas.

    Alm disso, a maioria das avaliaes da assimilao seus sucessos, seus fracassos est baseada implcita ou explicitamente em pontos de par-tida comparativos, transitrios. Na verdade, uma das razes pelas quais o conceito de assimilao foi criticado inicialmente deve-se quilo que pode ser chamado de linearidade teleolgica inerente anlise: a ideia de que imigrantes seriam assimilados pela cultura receptora e, nisso, eles perderiam suas identidades originais. Esta crena implicava uma dupla estrutura comparativa temporal e espacial: aquela do antes (o pas de origem) e aquela do depois (o pas da colonizao).

    De forma semelhante, comparaes intergeracionais aquela do pri-meiro grupo imigrante e seus descendentes dependem fortemente de dois outros tipos de comparaes que eu chamei de divergentes e conver-gentes (GREEN, 1999, 2002). Comparaes divergentes examinam um grupo em dois ou mais lugares, como fizeram Samuel L. Baily, Herbert Klein e Donna Gabaccia com os italianos ao redor do mundo ou como fez Karin Hofmeester com trabalhadores judeus de Paris, Londres e Amsterd (BAILY, 1999; GABACCIA, 2000; HOFMEESTER, 2004; KLEIN, 1983). Comparaes convergentes (mais frequentemente utilizadas) comparam grupos imigrantes atravs do tempo em um lugar, assim como Olivier Zunz fez com Detroit ou John Bodnar com Pittsburgh (BODNAR, 1977; ZUNZ, 1982). A escolha da estratgia comparativa, assim como a escolha da gerao estudada ou do perodo considerado, deve ser toda concebida como parte do quadro temporal do estudo da assimilao. A assimilao um processo de longa durao, mas certamente no a-histrica.

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    Grupo renovado atravs do tempo

    Alm do estudo intergeracional que considera um grupo indo adiante no tempo atravs de seus filhos e filhas, netos e bisnetos, outro processo de longa durao para se levar em conta o que pode ser chamado homnimo na linha do tempo. Um grupo no uma unidade esttica. Ele est sempre sofrendo constantes redefinies, devido no apenas a opes de identidade de seus filhos, mas tambm chegada de novas afluncias de pessoas da mesma origem. Os novos membros podem afe-tar os padres da assimilao do grupo de vrias formas: acelerando ou segurando-os no grupo antigo, criando tenses dentro da comunidade, impulsionando as chegadas anteriores numa espcie de tutorial (tipo goste disso ou no) em direo queles que vm depois deles. Os judeus e armnios na Frana, por exemplo, so na verdade categorias resul-tantes de um nmero de coortes do sculo passado. Os judeus em Paris sozinhos precipitaram-se da Alscia-Loraine (nos anos 1870), do leste da Europa (a partir de 1880) e, mais recentemente, do norte da frica (desde 1950). A partir de cada leva de imigrantes, o grupo predecessor redefinido como nativo ou grupo francs. De maneira similar, os ar-mnios que fugiram da Turquia aps o Genocdio de 1915 tm sido mais recentemente seguidos por armnios do Lbano, que chegaram, assim como diferentes coortes judias, com diferentes fantasias e expectativas (GREEN, 1989; HOVANESSIAN, 1992). Tanto para judeus como para armnios, as tenses realaram relaes intratnicas com as repetidas mostras de solidariedade. Migrao, como um fenmeno repetitivo, tem um impacto na aculturao, mas ele complementar e, porm, distinto da abordagem multigeracional discutida anteriormente.

    Assimilao como um fenmeno intrageracional

    O prprio termo gerao precisa ser definido com mais cuidado para os estudos sobre migrao. Relativamente, foi feito pouco trabalho histrico a respeito das geraes como ns as conhecemos no cotidiano: pais e crianas, irmos. O termo geraes foi muito usado e, com diferentes significados, para analisar coortes migrantes (judeus do leste europeu de 1880 a 1924; imigrantes asiticos ps-1965...). Contando com o fato de que grupos migrantes so da mesma famlia, eles podem ser na ver-dade pelo menos duas geraes: pais e filhos (com, eventualmente, avs acompanhantes). Conflitos entre eles sobre lngua, educao ou normas culturais foram estudados. Porm, essas variadas experincias dentro da primeira gerao imigrante primo tm um impacto em qualquer anlise da aculturao do grupo atravs do tempo.

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    Conflitos entre pais e filhos podem ser concebidos como modos diferen-ciados de adaptao dentro da primeira gerao imigrante. Tempo e g-nero podem intervir diferentemente. Estudos sobre gnero provocaram questes a respeito dos padres de adaptao de homens e mulheres. Mas pouco foi feito a respeito de dois outros fatores relacionados ao tempo: idade na chegada e classificao dentro da unidade familiar. Diferenas nas experincias com crianas jovens e mais velhas, dependendo da idade com que chegaram e oportunidades de educao ou obrigaes no trabalho so outras instncias no impacto das questes relacionadas ao tempo em relao imigrao, instalao e ao gnero.

    Transnacionalismo: onde diferem as disciplinas atravs do tempo

    Embora eu tenha argumentado anteriormente que o engajamento das disciplinas em relao assimilao/etnicidade/assimilao tenha seguido um padro bastante parecido, existe um ponto muito importante em que a sociologia e a histria diferem nas suas apreciaes sobre assimilao. Cada disciplina tem um rgime dhistoricit16 ou relao ao tempo hist-rico globalmente diferente (HARTOG, 2003). Isso ficou especialmente claro com a descoberta do transnacionalismo e com o debate em torno de sua originalidade. Transnacionalismo (o contrrio presumido de assimilao) a manuteno de elos e costumes atravs do espao um novo fenmeno ou no? Os socilogos e antroplogos que inventaram o termo dizem que sim. Os historiadores, entretanto (auxiliados pela sociloga histrica Ewa Morawska), dizem que no, enfatizando a simi-laridade com fenmenos do passado (KIVISTO, 2001; MORAWSKA, 2002; SCHILLER et al., 1992; WALDINGER; FITZGERALD, 2004).

    Quo novo o transnacionalismo? Na verdade, o prprio termo foi cunhado (ou rejuvenescido) para expressar uma novidade, indican-do o contemporneo crescimento do movimento e da comunicao para dentro e para fora das fronteiras, o que implica um afastamento da pertinncia do Estado-nao. O debate a respeito de quo novo o transnacionalismo parece ser essencialmente aquele da escala versus o escopo. Socilogos e antroplogos argumentam que uma mudana na escala uma mudana no escopo: o transnacionalismo novo. Os his-toriadores argumentam que se trata de uma mera mudana de escala, o que finalmente no novo.16 Em francs no original. Em portugus, traduz-se por regime de historicidade. (N. do T.)

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    Pensando assim, cada disciplina tem sua prpria percepo de tempo e novidade. Focando o passado, historiadores esto mais inclinados a uma forma de dj vu17 no entendimento da migrao atual e os padres de abrigo (ou falta dele) do que os socilogos e antroplogos que se preocu-pam com o mundo contemporneo. Estes postulam uma diferenciao do passado para o presente, o que contrasta com o entendimento dos historiadores de possveis continuidades temporais. Historiadores que contestam sua realidade no esto necessariamente descartando o transnacionalismo. Eles esto apenas afirmando que isso ocorreu no passado tambm.

    Finalmente, contudo, nossas disciplinas, assim como nossas escolhas de termos, tambm mudam com o tempo. Por que, por exemplo, estudar essa novidade agora? Como eu j sugeri, as respostas tm muito a ver com os estudiosos e seus objetos. Uma mudana geral de interpretao nos ltimos 30 anos afetou todas as cincias sociais. A nfase nas estru-turas cedeu espao para a atividade individual; pesquisas a respeito da opresso, constrangimentos e protestos coletivos cederam muito espao para uma nfase nos indivduos e nas possibilidades de suas prprias aes e reaes. A antiga literatura da assimilao estava presa a uma crena nas estruturas integracionistas dos pases de chegada, visto que a literatura da etnicidade, desenvolvida dentro do contexto de aumento da ateno voltada para atividades individuais (ou grupais), expressava a continuidade com formas importadas de expresso cultural.

    Concluso: assimilao como um fenmeno historiogrficoEscolher uma gerao, um perodo, um curto ou longo perodo de tempo para estudar, focar-se em pais ou filhos, homens ou mulheres, tudo isso implica escolhas para construir um estudo sobre assimilao. Questes de tempo, sobre o tempo, contexto histrico e historiogrfico afetam qualquer anlise do processo de identidade. Assimilao ou aculturao no somente uma questo histrica ou uma questo inter ou intrage-racional. tambm uma questo historiogrfica. Se o momento da che-gada de qualquer grupo imigrante precisa ser considerado em qualquer conta de assimilaes subsequentes, tambm precisa ser o momento da chegada das novas geraes de historiadores na cena historiogrfica.

    Precisamos, deste modo, historicizar a historiografia. A historiografia da eterna etnicidade, que pretendia explicar a experincia imigrante para 17 Em francs no original. Em portugus esta expresso pode ser traduzida livremente para j visto. (N. do T.)

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    sempre assim como a abordagem da assimilao fez anteriormente , teve seu prprio lugar no tempo: os anos 1970 e 1980. Um movimento historiogrfico em direo a consideraes sobre assimilao est agora em curso, e isso uma questo to importante na histria da experincia de migrao quanto o na histria da produo da pesquisa histrica. Tal-vez, na medida em que os estudos sobre migrao desenvolvidos nos anos 1970 e 1980 foram, de um lado, institucionalizados (nos Estados Unidos) e, de outro, essencializados por alguns multiculturalistas dos anos 1990, no de surpreender que estejamos vendo outro movimento de retorno feito por teorias de melting pots com qualquer outro nome (modificado), com seu corolrio de interesse no longo prazo. Os prprios repertrios de investigaes histricas mudam com o tempo. Mas eu argumentaria que esta nova corrente assimilacionista no est to enraizada na pedra historiogrfica quanto os trabalhos dos socilogos de Chicago ou de Milton Gordon. Talvez seja um lance de sorte, no entanto, dizer quem mudou mais: os imigrantes ou seus historiadores. Certamente os dois.

    AbstractThis article aims to explore the ways through which efforts towards the classification of the assimilation (and its various opposites) are connected to the notion of time - the relative rate of incorporation - being produced in different historical times. The concept of assimilation incorporates different time scales and generations in its analysis, but the usage of the term has its own use cycles. Assimilation, therefore, needs reexamination not only as a historical description of immigration per se, but also as an analytical category built by sociologists and historians through time using different time frames.Keywords: assimilation; immigration; generations; time; historiography.

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