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2007_artigo_009

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  • A SUSTENTABILIDADE E O RESDUO GERADO NO BENEFICIAMENTO DAS ROCHAS ORNAMENTAIS

    Alessandra Savazzini dos Reis (1); Cristina Engel de Alvarez (2)

    (1) Professora do Centro Federal de Educao Tecnolgica do Esprito Santo Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil - Universidade Federal do Esprito Santo, Brasil

    e-mail: [email protected] (2) Centro Tecnolgico Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil - Universidade Federal do

    Esprito Santo, Brasil - e-mail: [email protected]

    RESUMO A indstria de rochas ornamentais no Brasil uma rea promissora, apresentando um crescimento mdio na produo mundial estimado em 6% ao ano nos ltimos dez anos (LISBOA, 2004). O Brasil o quinto maior produtor no mundo, sendo o estado do Esprito Santo responsvel por 43% da produo nacional (ABIROCHAS, 2006). As atividades relacionadas extrao e beneficiamento de rochas ornamentais promovem um grande crescimento econmico no pas, porm acarretam graves conseqncias ambientais nos resduos slidos gerados, sendo sua reciclagem e uso na construo civil uma boa alternativa na mitigao do impacto e na otimizao de solues visando o desenvolvimento sustentvel do setor. Assim, objetivando incrementar a reciclagem do resduo do corte de rochas ornamentais, este estudo apresenta um diagnstico preliminar cuja metodologia adotada obedece s seguintes etapas: levantamentos (bibliogrfico e documental); estabelecimento de padres para a anlise em campo; anlise in loco de trs beneficiadoras; anlise dos dados obtidos; e avaliao dos resultados. A pesquisa desenvolvida demonstrou que as empresas beneficiadoras atendem parcialmente a Legislao Ambiental quanto ao resduo gerado; volume prximo aos 30% em conformidade com o apontado na bibliografia consultada, e com uma parcela do resduo aproveitado na forma de reciclagem com uso na construo civil.

    Palavras-chave: resduo de serragem de rochas ornamentais; sustentabilidade; reciclagem.

    ABSTRACT The dimension stone industry in Brazil is a promising area, presenting a medium growth in the world production esteemed in 6% a year in the last ten years (LISBOA, 2004). Brazil is the fifth largest producer in the world, being the state of Esprito Santo responsible for 43% of the national production (ABIROCHAS, 2006). The activities related to the extraction and improvement process of dimension stone promote a great economical growth in the country, however they cause serious environmental consequences from the generated solid residues, being their recycling and use in the building site a good alternative in the mitigation of the impact and in optimising solutions seeking the sustainable development of the sector. Thus, aiming to increase the recycling of the cut residue of dimension stones, this study presents a preliminary diagnosis whose adopted methodology obeys the following stages: surveys (bibliographical and documental); establishment of patterns for the analysis in field; analysis in loco of three improvement process companies; analysis of the obtained data and evaluation of the results. The developed research has shown that the companies partially attend the Environmental Laws concerned with generated residue; volume generated near to the 30% pointed in the consulted bibliography, and with a portion of the residue turned to advantage in the recycling form with use in the building site.

    Keywords: dimension stones sawing residue; sustainability; recycling.

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  • 1 INTRODUO O desenvolvimento das atividades integradas cadeia produtiva do setor de rochas ornamentais relativamente recente no Brasil, j que as atividades de lavra foram iniciadas na dcada de 1940, o beneficiamento industrial na dcada de 1970 e as exportaes somente na dcada de 1990.

    O Brasil tem se destacado por apresentar uma espetacular geodiversidade, colocando o pas no grupo dos grandes produtores e exportadores mundiais do setor de rochas. No ranking do mercado mundial de rochas processadas especiais, o Brasil saltou da 12 posio em 1999 para a 5 posio em 2004, segundo a ABIROCHAS - Associao Brasileira da Indstria de Rochas Ornamentais (2006).

    A indstria de minerao e beneficiamento de granitos uma das reas promissoras de negcios do setor mineral, apresentando um crescimento mdio na produo mundial estimado em 6% ao ano, nos ltimos dez anos, e com uma comercializao de materiais brutos e produtos acabados/semi-acabados que movimenta em torno de US$ 6 bilhes/ano no mercado internacional (LISBOA, 2004).

    De acordo com a ABIROCHAS (2006), a produo brasileira abrange em torno de 600 variedades de rochas comercializadas nos mercados interno e externo, com 1.600 lavras ativas; 12.000 empresas operando na cadeia produtiva e gerando 130.000 empregos diretos. A capacidade de produo da indstria brasileira de rochas de 50-60 milhes m/ano de rochas processadas.

    O estado do Esprito Santo juntamente com o estado de Minas Gerais so os dois principais produtores e exportadores brasileiros de rochas ornamentais, sendo que em 2005, o Esprito Santo contribuiu com 43% da produo nacional de rochas, que foi de 6,9 milhes de toneladas, segundo a ABIROCHAS (2006).

    Mantendo o crescimento no setor, as exportaes de rochas ornamentais no Esprito Santo nos primeiros sete meses de 2006 apresentaram alta de 51,47% em relao ao mesmo perodo de 2005. O estado continua lder das exportaes brasileiras, correspondendo a 64,5% dos US$ 580,8 milhes exportados pelo Brasil no perodo de janeiro a julho de 2006. Foram ento exportados US$ 374,9 milhes em rochas ornamentais, sendo US$ 309 milhes de produtos manufaturados representando 80,4% das exportaes no pas, de acordo com o SINDIROCHAS Sindicato das Indstrias de Rochas Ornamentais, Cal e Calcrios do Estado do Esprito Santo (2007).

    Chiodi Filho et al. (2004) consideram que o Brasil est vivenciando a segunda grande onda exportadora do setor de rochas, relativa aos produtos processados semi-acabados e envolvendo principalmente chapas de granito. Esta onda sucedeu de exportao de blocos e est lastreando a de exportao de rochas processadas acabadas, prontas para o consumidor final (custom made). A terceira onda exportadora do Brasil corresponde a de produtos finais, tais como, por exemplo, ladrilhos e tampos de mesa. A exportao desses produtos acabados, que so bens destinados diretamente ao consumidor final, considerada a prxima fronteira da indstria brasileira das rochas ornamentais e de revestimento para a agregao de valor dos produtos finais do setor.

    Um dos desafios para o desenvolvimento do setor de rochas ornamentais no Brasil tornar a rocha beneficiada mais atraente do que a sua venda em forma de bloco para o mercado externo, chegando assim denominada terceira onda do setor. Discute-se, neste caso, a formulao de cooperativas, consrcios de exportao, centrais de matria prima e centrais de beneficiamento, bem como a formao de centros de pesquisa tecnolgica visando, especialmente, a otimizao dos processos para a minimizao de impactos ambientais e uma aproximao dos conceitos adotados para o desenvolvimento sustentvel.

    No estudo de Chiodi Filho et al. (2004) so relacionadas as diretrizes referenciais para possveis desenvolvimentos e oportunidades do setor de rochas no Brasil:

    adequao da logstica do sistema porturio brasileiro (competitividade no mercado externo);

    agregao de valor (exportao de produtos finais);

    adequao ambiental (tratamento e aproveitamento de resduos);

    fortalecimento dos arranjos produtivos minero-industriais (clusters);

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  • modernizao da base industrial de beneficiamento (qualidade de serragem e polimento);

    ampliao do consumo per capita (fortalecimento do mercado interno).

    Nesse sentido, um dos percursos a ser adotado na busca do desenvolvimento sustentvel do setor de rochas ornamentais passa pelo tratamento e aproveitamento dos resduos gerados no processo de beneficiamento das rochas, sendo nesta pesquisa enfatizada a questo do resduo gerado na etapa do corte dos blocos de granito.

    2 OBJETIVO Em uma avaliao preliminar do resduo gerado no processo de beneficiamento das rochas ornamentais, foram observados os seguintes aspectos:

    Existncia de trabalhos cientficos que visam reciclagem do resduo principalmente na indstria da construo civil;

    Existncia de deposio de resduo em condies inadequadas e em reas imprprias sob o aspecto ecolgico-ambiental e de segurana;

    No observncia da legislao ambiental vigente, principalmente sobre destinao do resduo, por algumas empresas beneficiadoras;

    Verificao do alto volume de resduo gerado; e

    Elevado custo de transporte e deposio do resduo em aterros industriais.

    Diante do exposto, o objetivo deste artigo comprovar a importncia da reciclagem do resduo do corte de rochas ornamentais no contexto do desenvolvimento sustentvel almejado pela indstria do setor, em especial no estado do Esprito Santo.

    3 METODOLOGIA A metodologia adotada prev as seguintes etapas:

    I - Levantamentos (bibliogrfico e documental) sobre a importncia econmica e social da indstria extrativa de rochas ornamentais, bem como o levantamento de dados de pesquisas sobre a quantidade de resduo gerado no beneficiamento das rochas ornamentais, alm da legislao ambiental pertinente questo do resduo;

    II - Estabelecimento de padres para a anlise em campo atravs da determinao da relao entre o volume do bloco de rocha beneficiada e o volume de resduo gerado, bem como o tempo de deposio de resduo em lagoa de sedimentao e a porcentagem do resduo que aproveitada na reciclagem;

    III - Pesquisa de campo com anlise in loco de trs beneficiadoras de granito, onde foram coletados os dados de volume de rochas beneficiadas e volume de resduo gerado e o percentual de resduo aproveitado para reciclagem;

    IV - Anlise dos dados obtidos, tanto sob o aspecto quantitativo como qualitativo;

    V - Avaliao dos resultados, comparando os valores encontrados in loco com os valores encontrados na literatura.

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  • 4 ANLISE DE RESULTADOS Os resultados obtidos foram analisados sob trs aspectos bsicos: 1. na identificao das principais etapas geradoras de resduos no processo de beneficiamento das rochas ornamentais; 2. na relao entre o eventual aproveitamento dos resduos e o conceito de sustentabilidade; 3. na anlise da legislao pertinente. Um resultado adicional relatado neste item refere-se s atividades de campo e aos dados coletados nas empresas analisadas. 4.1 A questo especfica do resduo de beneficiamento das rochas ornamentais As atividades de extrao e beneficiamento das rochas ornamentais se iniciam nas lavras, onde h a extrao dos blocos, sendo estes encaminhados para o beneficiamento nas serrarias que incluem a serragem dos blocos em chapas, o polimento das chapas e o corte em ladrilhos com dimenses comerciais. Em todas as etapas do processo h a gerao de resduo (Figura 1).

    Figura 1 - Esquema da produo do resduo gerado no beneficiamento do granito (dados de GOMES et al., 2004, p.15). A atividade de extrao (lavra) tem o objetivo de remover o material til ou economicamente aproveitvel dos macios ou dos mataces. Nesta etapa, deve-se garantir a extrao de blocos retangulares de dimenses variadas e ideais para um melhor aproveitamento de material e atendimento capacidade produtiva dos equipamentos das fases posteriores, segundo Maia e Lacerda (2000).

    Na etapa do beneficiamento, o corte dos blocos pode ser feito por equipamentos chamados teares, sendo de dois tipos: de fios diamantados e de lminas metlicas, sendo este ltimo denominado de tear convencional e existente em maior nmero nas indstrias atualmente.

    No corte do bloco, usa-se uma lama (polpa abrasiva) constituda de rocha moda e gua para o tear de fios diamantados. J no caso do tear convencional, esta lama acrescida de cal e granalha de ao, que tem como principais finalidades: lubrificar e esfriar as lminas de serragem; evitar a oxidao das mesmas; limpar os canais entre as chapas; e servir como abrasivo para facilitar o processo de corte.

    A lama re-circula no tear por meio de uma bomba submersa de eixo vertical, situada num poo (reservatrio) de recolhimento que fica sob o tear, onde a lama bombeada para cima do bloco atravs de um sistema de chuveiros em movimentao. Durante a serragem, a lama retorna ao poo e fica mantida em circulao at o trmino da serrada. Ela deve ter sua viscosidade controlada durante o processo, para isso, feito o acrscimo de seus componentes: gua, granalha e cal. A parte da lama que se torna muito viscosa descartada e torna-se o resduo, que em geral, depositado em lagoas de sedimentao diretamente no solo, nos ptios das empresas. Em algumas empresas, o resduo passa por um equipamento chamado filtro prensa, que diminui o teor de umidade, podendo-se nesse caso, reaproveitar parte da gua, ficando o resduo tambm condicionado nos ptios (Figura 2).

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  • (a) (b)

    Figura 2 (a) Lagoa de sedimentao de resduo de corte de rochas ornamentais no ptio da empresa; (b) filtro prensa.

    Aps a secagem do material na lagoa de decantao, o transporte e disposio do resduo nos aterros industriais geram despesas considerveis para as empresas.

    Segundo NUNES et al. (2002), nos ltimos anos, as indstrias de beneficiamento de rochas ornamentais vm sendo citadas pelos ambientalistas como fontes de contaminao e/ou poluio do meio ambiente, devido ao grande volume de resduos gerados e freqentemente lanados diretamente nos ecossistemas, sem um processo de tratamento para eliminar ou reduzir os constituintes presentes.

    A eliminao ou o reaproveitamento dos resduos industriais gerados por empresas de beneficiamento um dos grandes desafios para mitigar os impactos ambientais, o que leva pesquisadores ligados ao setor a estudarem o uso deste resduo em aplicaes, principalmente na indstria da construo civil. Nesse sentido, para alavancar o avano das pesquisas baseado em dados confiveis de produo, torna-se necessrio inicialmente quantificar esses resduos.

    De acordo com Freire e Motta (1995), no sistema de desdobramento do bloco de rocha em chapas atravs de teares, de 20 a 25% do mesmo transformado em p e segundo Gonalves (2000), no mesmo processo, cerca de 25 a 30% do volume do bloco transformado em resduo de serragem.

    A quantidade estimada de gerao de resduo de corte de granito e mrmore no Brasil foi de 165.000 toneladas ao ano distribudas entre Esprito Santo, Bahia, Cear, Paraba entre outros estados, de acordo com Gonalves (2000); j em 2002, no trabalho de Moura et al. (2002), esse valor alcanou 240.000 toneladas ao ano, distribudos nos mesmos estados.

    Chiodi Filho (2005, apud MOURA et al., 2006), afirma que no Brasil, o setor de rochas ornamentais gera cerca de 800.000 toneladas por ano de resduo durante o processo de beneficiamento das rochas. De acordo com esses dados, verifica-se um grande aumento na quantidade de resduo gerado no pas nos ltimos cinco anos, saltando de 165.000 toneladas para 800.000 toneladas anualmente.

    4.2 Uso do resduo e o desenvolvimento sustentvel O desenvolvimento sustentvel definido como aquele que permite atender s necessidades bsicas de toda a populao e garante a todos a oportunidade de satisfazer suas aspiraes para uma vida melhor sem, no entanto, comprometer a habilidade das geraes futuras atenderem suas prprias necessidades (CHEN e CHAMBERS, 1999 apud JOHN, 2000, p. 16).

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  • O modelo proposto de desenvolvimento sustentvel implica numa transformao do atual sistema econmico, considerando que a maioria dos sistemas de produo material, dominantes no mundo no so sustentveis, principalmente nos aspectos legais, econmicos, sociais e ambientais, em relao ao modo de vida da sociedade contempornea, centrado na estrutura de produo e consumo. A indstria de explorao de rochas ornamentais est inserida nesta problemtica e a sustentabilidade do setor envolve, entre outras alternativas, a busca pela reciclagem do resduo gerado.

    Assim, a reciclagem uma oportunidade de transformao de uma fonte importante de despesa em faturamento ou, pelo menos, de reduo das despesas de deposio, alm da mitigao dos riscos ambientais. O reaproveitamento do resduo diminui o consumo de recursos naturais na fabricao de produtos e elimina a necessidade de armazenar grandes quantidades de resduos em aterros industriais.

    No processo de reciclagem deve-se levar em considerao a caracterizao fsica, qumica e ambiental do resduo para que os novos produtos tenham bom desempenho e uma maior aceitao dos consumidores, para assim, contribuir efetivamente para o desenvolvimento sustentvel dos setores.

    4.3 Legislao pertinente A Legislao Brasileira na rea ambiental comeou a se solidificar a partir da dcada de 70 do sculo passado. A obrigao do licenciamento ambiental para atividades de minerao comeou a vigorar em 1986 com a Resoluo CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente - n 1.

    Entretanto, o Brasil ainda no possui uma Poltica Nacional de Resduos Slidos, o que dificulta o entendimento das legislaes aplicveis aos mesmos. O quadro da Figura 3 apresenta um resumo da legislao ambiental vigente aplicvel ao setor de rochas ornamentais em relao questo do resduo gerado. J o quadro da Figura 4 apresenta as Normas da ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas, aplicveis aos resduos gerados no beneficiamento de rochas ornamentais.

    IDENTIFICAO CONTEDO RESOLUES CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente Resoluo CONAMA n. 1, de 23/01/1986 Critrios bsicos e diretrizes gerais para a avaliao de

    impacto ambiental Resoluo CONAMA n. 10, de 14/12/1988 Regulamento das reas de Proteo Ambiental - APAs Resoluo CONAMA n. 9, de 06/12/1990 Normas especficas para o licenciamento ambiental de

    extrao mineral, classes I, III, IV, V,VI,VII,VIII e IX Resoluo CONAMA n. 10, de 06/12/1990 Normas especficas para o licenciamento ambiental de

    extrao mineral, classe II Resoluo CONAMA n. 237, de 19/12/1997 Reviso e complementao dos procedimentos e critrios

    utilizados para o licenciamento ambiental Resoluo CONAMA n. 313, de 29/10/2002 Inventrio Nacional de Resduos Slidos Industriais LEGISLAO FEDERAL Lei n. 227 de 28/02/1967 Cdigo de minerao alterado pela Lei 318/1967 Portaria n. 518 de maro de 2004 Padres de Potabilidade (utilizada como parmetro de

    monitoramento de gua subterrnea em rea de depsito irregular de resduos por no haver legislao especfica)

    LEGISLAO ESTADUAL Lei n. 4636/1992 Recirculao de gua nas empresas de beneficiamento de

    rochas ornamentais CONREMA (Conselho Regional de Meio Ambiente) IV n. 007/2000

    Solues para o Controle Ambiental dos resduos gerados pelas empresas de beneficiamento de rochas ornamentais

    Instruo Normativa IEMA-ES (Instituto Estadual de Meio Ambiente) n. 19 de 17/08/2005

    Definio de procedimentos de licenciamento de atividades de beneficiamento de rochas ornamentais em relao s diretrizes tcnicas para o gerenciamento dos efluentes lquidos e dos resduos slidos gerados

    Figura 3 - Legislao pertinente ao resduo

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  • IDENTIFICAO CONTEDO NBR 13896/1977- Aterros de resduos no perigosos Critrios para projeto, implantao e operao - Procedimento

    Fixa condies mnimas exigveis para projeto, implantao e operao de aterros de resduos no perigosos, de forma a proteger adequadamente as colees hdricas superficiais e subterrneas prximas, bem como os operadores destas instalaes e populaes vizinhas

    NBR 11174/1989 - Armazenamento de resduos classes II-no inertes e III-inertes - Procedimento

    Fixa as condies exigveis para obteno das condies mnimas necessrias ao armazenamento de resduos classes II-no inertes e III-inertes, de forma a proteger a sade pblica e o meio ambiente

    NBR 13028/1993 - Elaborao e apresentao de projeto de barragens para disposio de rejeitos, conteno de sedimentos e reservao de gua

    Especifica os requisitos mnimos para elaborao e apresentao de projeto de barragens para disposio de rejeitos de beneficiamento, conteno de sedimentos e reservao de gua, em minerao, visando atender s condies de segurana, operacionalidade, economicidade e desativao, minimizando os impactos ao meio ambiente

    NBR 12988/1993 - Lquidos livres - Verificao em amostra de resduos Mtodo de ensaio

    Prescreve mtodo para a verificao da presena de lquidos livres numa amostra representativa de resduos

    NBR 13030/1999 - Elaborao e apresentao de projeto de reabilitao de reas degradadas pela minerao

    Fixa diretrizes para elaborao e apresentao de projeto de reabilitao de reas degradadas pelas atividades de minerao, visando a obteno de subsdios tcnicos que possibilitem a manuteno e/ou melhoria da qualidade ambiental, independente da fase de instalao do projeto

    NBR 13221/2000 Transporte terrestre de resduos NBR 10004/2004 Resduos slidos Classificao NBR 10005/2004 Procedimento para obteno de extrato lixiviado de

    resduos slidos NBR 10006/2004 Procedimento para obteno de extrato solubilizado de

    resduos slidos NBR 10007/2004 Amostragem de resduos slidos

    Figura 4 - Normas pertinentes ao resduo

    De acordo com a Instruo Normativa n 19 de 17/08/2005 do IEMA Instituto Estadual de Meio Ambiente, a empresa geradora responsvel pela segregao dos resduos slidos visando o seu reaproveitamento, no sendo permitida a deposio dos resduos slidos no solo sem os devidos controles de preveno degradao e poluio do solo, hdrica e atmosfrica.

    A alternativa de se efetivar o uso em si ou o co-processamento do resduo traz a vantagem de fazer cessar a responsabilidade das empresas diretamente sobre eles, uma vez que, na prtica, deixam de existir. Isto no ocorre quando os materiais so levados para os aterros industriais, situao em que a co-responsabilidade se perpetua (MELLO et al., 2006). Destaca-se ainda que, os aterros industriais para onde se destinam os resduos no reciclados devem estar licenciados para este fim junto ao rgo ambiental competente.

    4.4 Pesquisa de campo Foram analisadas as produes de trs empresas localizadas no estado do Esprito Santo, denominadas neste trabalho por empresa A, empresa B e empresa C. Os dados obtidos consideram a capacidade total de produo das trs beneficiadoras durante um ms, ressaltando-se que as empresas visitadas beneficiam granito e se dedicam, principalmente, ao mercado externo.

    O quadro da Figura 5 apresenta as principais caractersticas verificadas na anlise in loco em cada empresa.

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  • CARACTERSTICAS EMPRESA A EMPRESA B EMPRESA C

    1 Tipo de Tear Fios diamantados Lminas metlicas Lminas metlicas 2 Tempo de corte /bloco(h) 8 a 10 60 60 a 72

    3 Dimenses do bloco(m) 3x1,8x1,8 (em forma de pareleppedo) 3x1,8x1,8 (em forma de pareleppedo)

    G2: 2,4x3,0x1,9 G1: 1,70x3,0x1,9 Intera: 1,0x3,0x1,9

    4 Produo mensal (m3) 500 155,52 1800 5 Resduo mensal (m3) 150 51,84 600

    6 Produto final Chapas de granito polidas Chapas de granito polidas

    Chapas de granito polidas

    7 Relao resduo x produo (%) 30 33,3 30

    8 Tratamento do resduo Decantao em silo Uso de filtro prensa Nenhum Decantao em silo Uso de filtro prensa

    9 Armazenagem na empresa No prprio solo No prprio solo Piso cimentado sob filtro prensa

    10 Perodo de armazenagem no ptio Mensal Semestral Dirio

    11 Aproveitamento do resduo (%) 90 0 0

    12 Destinao do resduo Fabricao de louas cermicas Aterro industrial Aterro industrial

    Figura 5 - Caractersticas das empresas visitadas

    A empresa A: possui dois teares com fios diamantados, que substituram os teares convencionais existentes h cerca de 2 anos. Nessa empresa, o resduo gerado encaminhado atravs de canaletas sob o piso at o silo de decantao e ao filtro prensa que serve para diminuir o grau de umidade do resduo. O mesmo transportado at o local de deposio e de l segue para reciclagem em indstria de louas cermicas sanitrias no municpio prximo. Segundo as informaes obtidas, a empresa considera que 30% do volume do bloco de rocha se transforma em resduo, sendo que 90% dele reciclado. Quanto aos 10% restantes do resduo gerado, esses ficam depositados no solo em camadas na forma de aterro.

    A empresa B: possui dois teares com lminas metlicas. A produo da empresa a serragem de 8 blocos de rocha ao ms. Segundo as informaes obtidas, a empresa considera que um tero do volume do bloco de rocha se transforma em resduo. Na empresa no existe silo de decantao e nem filtro prensa para diminuio de umidade do resduo, que depositado diretamente no solo no ptio da empresa e ocupa uma rea de dimenses aproximadas de 10 m x 38m e com profundidade mdia de 4m e fica ali durante cerca de 6 meses, sendo ento feito o descarte de cerca de 1080 toneladas de resduo mido, que transportado para o aterro industrial no mesmo municpio. A empresa est construindo tanques de decantao em concreto armado e alega estar esperando posicionamento do rgo Ambiental responsvel pela anlise ambiental dos projetos de tratamento do resduo para finalizar as obras. A empresa est em contato com uma indstria de ladrilhos cermicos para viabilizar o reaproveitamento do resduo na fabricao de produtos cermicos.

    A empresa C: possui seis teares com lminas metlicas, sendo que cada tear tem capacidade de serrar 3 blocos de granito simultaneamente de acordo com o arranjo estabelecido de dimenses e dureza dos blocos a serem cortados. Considerando a logstica empregada para o aproveitamento mximo dos teares, a produo mensal de 180 blocos serrados gerando cerca de 1800m3 de chapas. Quanto ao resduo, a empresa gera cerca de 5 m3 a cada 6 horas de produo, correspondendo a 20m3 dirios e 600m3 no ms. A empresa possui silo de decantao e filtro prensa para diminuio de umidade do resduo, que depositado sob o filtro prensa e colocado em caminhes com capacidade de 5m3, que fazem o transporte imediato para o aterro industrial no mesmo municpio. A empresa realiza o tratamento e recirculao da gua. A empresa demonstrou interesse na reciclagem do resduo.

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  • A partir dos resultados obtidos nas empresas visitadas pde-se verificar que o valor apontado na literatura sobre o volume de resduo gerado no corte dos blocos de granito de 30% coincide com os valores encontrados nas empresas beneficiadoras, porm, tais dados poderiam ser refinados a partir de um estudo mais amplo com anlise estatstica dos dados. Destaca-se que o valor encontrado de 30% alto, representando a necessidade de ocupao de uma grande rea para disposio final se o resduo no for aproveitado na reciclagem.

    Observa-se tambm que o resduo na empresa B depositado em lagoa de sedimentao que no atende a Legislao Ambiental, podendo haver, neste caso, contaminao do solo e do lenol fretico.

    A empresa C gera um volume expressivo de resduo em virtude de sua capacidade de produo, sendo que o mesmo no aproveitado na forma de reciclagem, necessitando diariamente de cerca de quatro viagens de caminho com capacidade 5m3 para transporte do resduo ao aterro industrial.

    J a empresa A destina cerca de 90% do resduo gerado para a indstria de produo de louas sanitrias, ficando ento dispostos no solo apenas os 10% restantes no aproveitados, que permanecem no aterro pertencente prpria empresa, o qual no foi visitado devido s ms condies de acesso; no sendo divulgada pela empresa a legalidade do aterro usado perante o rgo Ambiental responsvel.

    COMENTRIOS FINAIS Pode-se concluir que a reciclagem do resduo do beneficiamento de rochas ornamentais contribui para a diminuio do impacto ambiental causado pelo setor e faz diminuir a necessidade de reas destinadas a grandes aterros industriais, podendo o resduo entrar na confeco de produtos substituindo matrias-primas que podem ser, muitas vezes, no renovveis. Dessa forma, considerando ser a indstria de beneficiamento de rochas ornamentais geradora de um produto de grande importncia no contexto econmico, social e ambiental do Brasil e do Esprito Santo, percebe-se a urgncia na adoo de programas e polticas de incentivo prtica da reciclagem. urgente a necessidade de tornar realidade os importantes resultados oriundos do esforo cientfico, que encontram-se disponveis nas bibliotecas acadmicas das universidades e institutos de pesquisa, e que indicam vrias possibilidades de uso e reciclagem desses resduos. Dessa forma, a indstria de rochas ornamentais poder almejar a continuidade de seu crescimento baseado nos conceitos de sustentabilidade e inserido num ciclo ecolgico econmico coerente com os novos tempos.

    7 REFERNCIAS ABIROCHAS (Associao Brasileira da Indstria de Rochas Ornamentais). O setor de rochas ornamentais e de revestimento. Informe 005/2006. So Paulo. 2006. Disponvel em; . Acesso em: 27 set. 2006.

    CHIODI FILHO, Cid; RODRIGUES Eleno de Paula; ARTUR, Antonio Carlos. Panorama tcnico-econmico do setor de rochas ornamentais no Brasil. UNESP, So Paulo, v.23 n 1/2, p.5-20, 2004.

    FREIRE, Alexandre Sayeg; MOTTA, Jos Francisco M. Potencialidades para o aproveitamento econmico do rejeito da serragem do granito. Revista Rochas de Qualidade. So Paulo. Ano XXV. Edio 123, p.98-108, julh/ago. 1995

    GOMES, Paulo Csar Correia; LAMEIRAS, Rodrigo de Melo; ROCHA, Sergio Renato vila Glasherster da. Obteno de materiais base de cimento com resduo do estado de Alagoas: um

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