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Direito Empresarial Unidade 2
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DIREITO EMPRESARIAL
37
UN
IDA
DE 2 DIREITO SOCIETÁRIO
Para conseguir desenvolver determinado empreendimento, faz-se
necessário, em diversos casos, que os seres humanos se unam para alcançar
este objetivo comum. Havendo interesse econômico no desenvolvimento da
atividade pretendida, necessário se faz regulamentar esta agremiação de
pessoas, dando-lhes segurança para exercer o ramo de negócio escolhido,
criando-se normas de relacionamento entre os membros do grupo,
evidenciando seus direitos e deveres, enfim, tratando de forma organizada
esta relação jurídica de união de vontades. Em nosso país, chama-se Direito
Societário a subdivisão do Direito Empresarial que estuda as espécies de
sociedades existentes, suas regras de constituição, funcionamento e
encerramento. Assim sendo, nesta Unidade serão abordados tópicos que
permitirão a você aprender a escolher o tipo societário adequado à realidade
de cada empreendimento, visualizando ainda, como deve ser a relação entre
os sócios, além de compreender o que podem e o que devem fazer.
OBJETIVOS DA UNIDADE: inserir o estudante no cenário societário brasileiro,
permitindo-lhe adquirir noção exata de cada sociedade empresária existente
em nosso ordenamento jurídico; ensinar que a escolha do tipo societário
não deriva apenas da vontade dos seus sócios, mas, principalmente, de
previsão legal e adequação à realidade do negócio a ser constituído; fazer
com que o leitor se aprofunde no conhecimento das regras de relacionamento
entre os sócios, visando, ao elaborar documento de constituição de qualquer
sociedade, impedir desavença entre os sócios.
PLANO DA UNIDADE:
• Teoria geral do direito societário.
• Tipos de sociedade.
• Sociedades Simples.
• Sociedades Empresárias.
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
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TEORIA GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO
Seja bem-vindo à Unidade 2. Tivemos a oportunidade de aprender as
regras e principais obrigações comuns a todos os empresários brasileiros na
unidade anterior. Faz-se necessário, a partir de agora, aprofundar o
conhecimento sobre a formação técnica das organizações ou das chamadas,
popularmente, empresas.
Nunca é demais lembrar que empresário, em termos jurídicos, se refere
à pessoa – física ou jurídica – que desenvolve certa atividade econômica,
de forma habitual e organizada.
Para situar o leitor no contexto do Direito Societário e facilitar uma visão
genérica do tema, elaboramos o seguinte fluxograma:
Pois bem. O objeto de estudo da presente unidade é a SOCIEDADE,
que fizemos questão de destacar no fluxograma acima vez que, dentre as
pessoas jurídicas existentes, é a única com fim lucrativo, pois as duas outras,
como dito na unidade anterior, possuem fins filantrópicos, preservacionistas,
entre tantos outros.
Desta forma, temos que o Direito Societário é o ramo do Direito que
estuda as pessoas jurídicas de direito privado que têm finalidade lucrativa.
Encontramos no Código Civil, em seu artigo 981, o conceito de
sociedade:
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o
exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Agora que você já se familiarizou com o conceito de sociedade,
passaremos a compreender a razão de se criar este ente jurídico.
Sabe-se que a exploração de qualquer atividade econômica traz consigo
o risco de insucesso. As estatísticas apresentadas pelo Sebrae evidenciam
que a política econômica, aliada à falta de planejamento, bem como a elevada
carga tributária e o excesso de normas trabalhistas e previdenciárias têm
levado ao fracasso empreendimentos iniciados em todo o território nacional.
O fechamento de sociedades ainda em fase de desenvolvimento acaba
por desmotivar novos empreendimentos, principalmente em virtude da
possibilidade de se perder tudo que fora investido.
IMPORTANTE
DIREITO EMPRESARIAL
39
Surge aqui, a primeira pergunta que nos interessa: além de perder o
capital investido no negócio que não prosperou, o sócio poderá ainda ter
seu patrimônio pessoal afetado por dívidas oriundas da sua sociedade que
“naufragou”?
A resposta é exatamente o ponto de partida para se compreender a
razão da criação de sociedade para a exploração de atividade econômica.
Iniciemos nossos estudos partindo do princípio de que NÃO há no
Brasil sociedade composta por UM ÚNICO sócio, mas sim, possuindo, ao
menos, dois sócios. Evidencie-se que a sociedade, ao ser criada, tem que
ter pelo menos dois sócios, porém, em virtude do falecimento de um deles,
momentaneamente poderá ficar a sociedade com apenas um sócio; mas como
veremos adiante, somente perdurará por período específico. Além disto,
devemos nos ater ao fato de que ao investir em certa sociedade, o sócio
pretende ter rendimento superior àquele que obteria caso seu capital
estivesse investido, por exemplo, em caderneta de poupança.
Ora, considerando-se que as sociedades “quebram” com freqüência
nos dois primeiros anos de existência e que o investimento feito não retornará
ao investidor, o fator preponderante que o faz arriscar é exatamente a
possibilidade de ver melhor retorno ao capital que dispunha para injetar em
investimentos.
E é neste ponto que o Direito Societário passa a ter fundamental
importância, pois, com a criação de determinados tipos societários, os sócios
protegem – em parte – seu patrimônio pessoal, além de possuírem
instrumentos jurídicos hábeis para protelar - ou até mesmo evitar – o
desmoronamento do seu negócio.
Isto se deve ao fato de que há dois grandes benefícios concedidos
aos empresários constituídos como Sociedades Empresárias, quais sejam:
separação do patrimônio da sociedade em relação ao dos sócios e
aplicabilidade da Lei de Falências.
O princípio da AUTONOMIA PATRIMONIAL visa trazer SEGURANÇA
aos investidores, pois faz uma separação entre o patrimônio da sociedade
e o dos sócios.
Isto significa que se certa pessoa possui patrimônio pessoal de
R$300.000,00 (trezentos mil reais) e pretende investir R$50.000,00
(cinqüenta mil reais) em algo que lhe seja lucrativo, norteando ampliar seu
patrimônio, caso transfira esta última quantia para determinada sociedade
em que se tornou sócio, em caso de fracasso do negócio, perderá, via de
regra, apenas os cinqüenta mil reais que injetou na sociedade, preservando
assim, os R$250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil reais) restantes de seu
patrimônio pessoal.
Sendo assim, a existência de tal princípio na legislação brasileira traz
certa confiança ao investidor, pois sabe que poderá arriscar parte de seu
VAMOS REFLETIR
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
40
patrimônio no exercício de qualquer atividade econômica e que, em caso de
quebra, verá seu patrimônio preservado.
Mas, o leitor atento e conhecedor do assunto sabe que a aplicação do
referido princípio sofre diversas EXCEÇÕES! Há, sem dúvida alguma, vários
casos de pessoas que perderam o valor que investiram em determinada
sociedade e praticamente o restante de seus bens passíveis de penhora,
como por exemplo, seu automóvel de uso pessoal e de seus familiares, casas
de aluguel que possuía, bens móveis que guarneciam sua residência etc.
A permissão para que isto ocorra decorre de diversas leis pertencentes
a outros ramos do direito, mas plenamente aplicáveis às sociedades, como é
o caso do Direito Tributário, Trabalhista, Previdenciário e do Consumidor.
Percebeu-se, ao longo dos anos, que muitas sociedades foram criadas
para fins fraudulentos, ilícitos ou ilegais, e que, graças à separação patrimonial
decorrente do Princípio da Autonomia Patrimonial, os sócios golpistas ou
criminosos não perdiam seu patrimônio pessoal. Imagine que em 1920, certa
sociedade sonegava grande parte dos tributos que deveria pagar e em virtude
de fiscalização descobriu-se a prática do ilícito tributário, vindo a sociedade
a ser autuada em valor superior ao seu patrimônio. Nesta situação, o Estado
somente recebia parte do seu crédito, e pior: o patrimônio pessoal dos sócios
era elevadíssimo e o Estado não o poderia afetar!
Foi em conseqüência de fatos como esse que, gradativamente, a
legislação sofreu alterações para limitar a aplicação do citado princípio e
tentar, como isto, impedir a criação de sociedades com fins diversos do
proposto pela legislação, vez que, nos dias de hoje, em várias situações, o
patrimônio pessoal pode ser atingido.
No entanto, assim como a legislação evoluiu para impedir a criação de
sociedades com fins fraudulentos, ilegais ou ilícitos, através da punição de
seus sócios, também surgiram novos artifícios utilizados por criminosos, como
o uso de “laranjas” no quadro de sócios.
Recentemente, dois casos noticiados pela imprensa evidenciam o dito
acima. Em um deles, uma quadrilha de traficantes internacionais criou uma
locadora de vídeos e dvd’s (uma sociedade, devidamente registrada na Junta
Comercial), cuja finalidade não era obter lucros com o aluguel de referidos
bens, mas sim, ter acesso à documentação de seus clientes, como CPF e RG.
De posse disto, os traficantes constituíram diversas sociedades de “fachada”
em nome dos clientes da locadora, para “lavar” o dinheiro do tráfico. Lógico
que o cliente da locadora sequer sabia que seu nome havia sido utilizado.
Noutro caso, a credibilidade do Grupo de Salvamento e Resgate da Força
Aérea Brasileira foi abalada. Os homens desse grupo especial, que passam
por rígido treinamento, foram acusados de negociar (vender!) documentos
das vítimas do acidente aéreo com o avião da companhia GOL. Foram
identificadas sociedades constituídas no Rio de Janeiro – cidade em que
residem vários soldados do grupo – cujos sócios “são” pessoas falecidas no
acidente. Ressalte-se que a constituição de tais empresas foi posterior ao
acidente! É evidente que há falha no sistema de averiguação dos dados dos
Tributos: são formas de ar-
recadação de dinheiro aos
cofres públicos, divididos
em impostos, taxas e con-
tribuições de melhoria.
DIREITO EMPRESARIAL
41
sócios no momento de criação das empresas no Brasil. Atualmente, tramita
processo administrativo para identificar os possíveis envolvidos no caso.
Por esse motivo, atente-se para este conselho: em caso de perda de
documentos pessoais, publique em jornal o ocorrido e faça boletim de
ocorrência. Isto não impedirá que usem seus documentos para constituir
uma sociedade, mas lhe trará respaldo contra as acusações que certamente
lhe serão atribuídas.
Por fim, acerca do Princípio da Autonomia Patrimonial, resta-nos esclarecer
que existe separação entre o patrimônio da sociedade em relação ao dos
seus sócios, mas que sofre limitações em virtude do uso fraudulento das
sociedades. Há uma regra que facilita compreender quando o princípio se
aplica ou não. Basta entender a origem da dívida para saber se afetará
apenas o patrimônio da sociedade ou também o de seus sócios. Se a
obrigação surgiu através de negociação, afetará apenas os bens da
sociedade. Já sendo dívida não negociada pela sociedade, poderá também
afetar o patrimônio de seus sócios.
A sociedade que faz empréstimo bancário negociou com a instituição
financeira o valor, o prazo de pagamento, a taxa de juros etc. Trata-se,
portanto, de dívida negociada entre sociedade e Banco e, em caso de
inadimplência, o credor somente poderá afetar o patrimônio social e caso
este não seja suficiente para quitar o débito, o Banco não receberá a dívida
na totalidade, ainda que os sócios possuam patrimônio pessoal capaz de
pagá-la. Como os Bancos conhecem esta regra, que decorre da aplicabilidade
do Princípio da Autonomia Patrimonial, exigem, no momento da realização
do empréstimo, avalista, para garantir o pagamento.
Por outro lado, em caso de sonegação fiscal, como por exemplo, não
pagamento de Imposto de Renda Pessoa Jurídica, o fisco (Receita Federal)
poderá afetar o patrimônio de sócio ou sócios, para ver garantida a quitação
do débito, por ser este oriundo de dívida não negociada!
Outro benefício citado anteriormente, a aplicabilidade das regras da
legislação falimentar, aborda assuntos decorrentes da falência ou recuperação
de empresas, que serão estudadas na Unidade 6. Mas, neste momento é
importante frisar o fato de serem estes dois institutos vitais para a
manutenção da sociedade em crise.
Entenda. No Brasil, as pessoas físicas (você!), em caso de endividamento,
não podem se utilizar da Lei de Falências, quer dizer, não há como pedir
falência de pessoa física. A conseqüência, em caso de quebra de pessoa
física, é a negativação de seu nome nos órgãos de proteção de crédito,
acarretando impossibilidade de compras parceladas, abertura de contas em
bancos, não emissão de talonário de cheques nas contas já abertas e, por
fim, através de pedido feito por credor, pode ocorrer a insolvência civil, que
seria o similar da falência, no entanto, sem os benefícios que esta possui.
A falência, por sua vez, permite à sociedade em crise sobreviver ou
até mesmo se restaurar, objetivo maior da legislação falimentar. Ora,
para a economia nacional não é interessante o fechamento de qualquer
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
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sociedade, pois deixam de existir diversos postos de trabalho (diretos e
indiretos), diminui-se o pagamento de tributos e assim por diante.
Posto isto, resta evidente que a constituição de sociedade empresária
para a exploração de toda e qualquer atividade com fim lucrativo traz
benefícios e segurança para os seus fundadores.
Antes de conhecermos cada sociedade, vejamos algumas regras que
lhes são comuns e que abordam temas constantemente questionados.
Para ser sócio, podendo exercer todos os seus direitos, a pessoa deve
ter 18 anos completos (antes, eram 21 anos) e estar em condições físicas e
mentais de externar suas vontades.
Se necessário, poderá ser feita a emancipação para sócios com idade
entre 16 e 18 anos, podendo assim, exercer a atividade sem o
acompanhamento de responsável.
Uma dúvida constante: pode um menor de 16 anos ser sócio?
Claro que sim. Em muitos casos, o pai falece e o filho assume seu lugarna sociedade (vide regras a seguir), independentemente de sua idade.Porém, obviamente, deverá estar devidamente representado pelos seusresponsáveis legais, não podendo exercer a administração da empresa.
Outra questão que se tornou polêmica é a sociedade cujos sócios sejammarido e mulher. Na legislação anterior não havia impedimento, sendo que oatual Código Civil permite desde que não sejam casados sob o regime dacomunhão universal ou separação obrigatória.
Após constituída a sociedade, havendo quaisquer das alterações aseguir relacionadas, deverão ser formalizadas e encaminhadas ao órgão deregistro das empresas (Junta Comercial ou Cartório de Registro de PessoasJurídicas):
a) Nomeação ou destituição ou renúncia de Administrador;
b) Redução de capital social;
c) Cessão de cotas;
d) Atas da assembléia ou reunião;
e) Dissolução da Sociedade; e
f) Venda de Estabelecimento: venda de toda a empresa.
Destes atos, os seguintes também devem ser publicados no Diário Oficialda União ou do Estado e em jornal de grande circulação:
a) Redução de capital social;
b) Renúncia de Administrador;
c) Convocação de assembléias;
d) Dissolução da Sociedade;
VAMOS REFLETIR
DIREITO EMPRESARIAL
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e) Venda de Estabelecimento: todo complexo de bens organizado
para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade
empresária (art. 1.142).
As publicações deverão ser realizadas no Diário Oficial da União ou do
Estado, conforme o local da sede do empresário ou da sociedade, e em jornal
de grande circulação.
Passemos, então, a adentrar o mundo das sociedades empresárias.
TIPOS DE SOCIEDADES
Segundo o Código Civil brasileiro, as sociedades existentes dividem-
se em dois grandes grupos: aquelas que não possuem personalidade jurídica,
denominadas de Não Personificadas e as que detêm personalidade jurídica,
chamadas de personificadas. As primeiras se subdividem da seguinte forma:
A sociedade Em Comum, dividida pelos autores de direito em duas
espécies, foram devidamente estudadas na Unidade 1, quando abordamos
as conseqüências da falta de registro da atividade na Junta Comercial e,
portanto, não serão analisadas na presente unidade.
Em relação às sociedades com personalidade jurídica, temos a seguinte
classificação:
Vê-se, portanto, que há atualmente dez espécies societárias vigentes
no Brasil e que, naturalmente, cada uma delas possui uma finalidade específica
a ser estudada nos tópicos posteriores.
Antes de adentrarmos o estudo de cada sociedade, devemos destacar
que as duas espécies mais adotadas pelos empreendedores brasileiros são
a Anônima (S.A.) e a Limitada (Ltda) e, como veremos adiante, a preferência
decorre da proteção jurídica que ambas fornecem a todos os seus sócios
bem como as inúmeras possibilidades de se regulamentar, de forma sábia, a
relação entre os seus sócios.
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
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Comecemos então, a estudar cada sociedade.
SOCIEDADES SIMPLES
1ª- SOCIEDADE SIMPLES
A sociedade simples é tanto gênero quanto espécie. Ao se observar
novamente o fluxograma acima, pode-se notar que do gênero Sociedade
Simples decorrem duas espécies, Sociedade Simples e Cooperativa.
A cooperativa fora inserida no Código Civil, no entanto, suas regras
estão contidas na Lei n. 5.764, DE 16 DE DEZEMBRO DE 1971.
Já a Sociedade Simples, disciplinada pelo Código Civil, é inovação no
direito brasileiro, pois tal modalidade não era prevista em nosso ordenamento
jurídico; porém o legislador deu-lhe grande ênfase, considerando-a,
praticamente, como a sociedade mais importante contida no Código Civil,
determinando, inclusive, que suas regras serão aplicadas às demais
sociedades, quando cabíveis.
A constituição desta modalidade de sociedade não decorre de mera opção
dos seus fundadores; ao contrário, somente é permitida sua criação para os
casos previstos no parágrafo único do artigo 966 do Código Civil:
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda
com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa.
Assim sendo, a composição desta espécie societária depende da união
de pessoas reunidas em prol da obtenção de lucro através da exploração
de atividade econômica de caráter intelectual, desde que possua natureza
científica, literária ou artística.
Ao criarem tal sociedade, seus fundadores assumem a responsabilidade
de compor o patrimônio social (da sociedade) através da transferência de
bens ou SERVIÇOS que até então lhes pertencia para, em retribuição,
dividirem os lucros advindos do negócio explorado, nos termos dos artigos
981 e 982 do Código Civil.
A escolha da sociedade simples advém da finalidade da empresa, qual
seja, atividade intelectual. Desta forma, se dois ou mais contadores se unem
para “montar” escritório de prestação de serviços contábeis, assumindo risco
e partilhando os lucros, deverão constituir sociedade simples, já que a
atividade exercida decorre de sua capacidade intelectual. O mesmo ocorre
em caso de agremiação de outros profissionais, como os analistas de
sistemas, engenheiros de produção e administradores.
Outro detalhe importante se refere à contratação de empregados pela
sociedade. Ao reler o final do parágrafo único acima transcrito, percebe-se
claramente que a sociedade pode contar com o auxílio de colaboradores,
não perdendo sua característica principal, ou seja, os contadores, ao criarem
a sociedade, poderão contratar secretária ou auxiliar administrativo.
DIREITO EMPRESARIAL
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Destacamos acima que ao contribuir com a formação do patrimônio da
sociedade, os sócios podem integralizar o capital social em recursos e/ou em
serviços. Esclareça-se que nas demais sociedades a serem estudadas, os
sócios somente podem contribuir com recursos, sendo proibida a
contribuição através da prestação de serviços.
Por recursos devemos entender as contribuições feitas em dinheiro (em
espécie), bens (materiais ou imateriais) e créditos (cheques, notas
promissórias, créditos decorrentes de contratos etc).
Para melhor compreender, imaginemos que Francisco e Mário se
graduaram em Ciências Contábeis e pretendem “abrir” escritório contábil.
Decidem que precisam investir R$20.000,00. Este valor é o que chamamos
de capital social, ou seja, o montante que será transferido para a sociedade.
Com esta quantia, irão adquirir móveis, equipamentos, material de escritório,
computadores e programas específicos para fins contábeis, etc. No entanto,
apenas Mário dispõe de capital para investir e decidiu transferir os
R$20.000,00 de seu bolso para a sociedade enquanto Francisco, que
demonstrou ser estudioso e absolutamente competente enquanto colega
de faculdade, entrará com a prestação de serviços, o que não seria possível
no caso, por exemplo, da constituição de sociedade Ltda.
A formalização da criação desta sociedade decorre da elaboração de
Contrato Social, que após ser assinado pelos sócios, deverá ser levado a
registro em Cartório de Registro das Pessoas Jurídicas, no prazo de até 30
dias a contar da sua assinatura. Observe, portanto, que diferentemente das
sociedades empresárias, a sociedade simples não é registrada na Junta
Comercial.
Outra diferença que merece destaque refere-se à responsabilidade dos
sócios. Na introdução desta Unidade frisamos que, com a criação da
sociedade, os sócios protegem seu patrimônio em relação às dívidas feitas
pela própria sociedade, através do princípio da autonomia patrimonial. No
entanto, tal regra não se aplica às sociedades simples, pois a
responsabilidade dos sócios é ILIMITADA, ou seja, dívida gerada pela
sociedade poderá atingir os bens pessoais de seus sócios,
independentemente da origem do débito.
Criada a sociedade, todos os sócios titularizam o direito de participar
nos lucros, sendo proibida a inserção de cláusula no contrato social em
sentido contrário. Esta participação nos lucros é proporcional à quantidade
de cotas que cada sócio possui.
A participação societária decorre dos recursos que cada sócio transferiu
para a sociedade; assim, se o capital social for de R$ 20.000,00, havendo
apenas dois sócios que contribuíram com R$10.000,00 cada, a participação
será de 50%. Ao assumirem a responsabilidade de compor o capital social,
seja integralizando-o imediatamente (à vista) ou futuramente (a integralizar),
todos os sócios assumem a obrigação de “bancar” a inadimplência do sócio
que deixou de contribuir no momento combinado. Denominamos esta
obrigação de responsabilidade solidária. Sociedade é igual a casamento, a
obrigação de um atinge a todos!
Contrato Social: documen-
to contendo, ao menos, as
cláusulas exigidas por lei,
assinado pelos sócios e
vistado por advogado.
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
46
Após a constituição da sociedade, qualquer sócio pode alienar (vender)
sua participação societária, porém o sócio cedente (vendedor) das cotas
continua solidário para com o cessionário por até 2 anos a contar da alteração
contratual averbada em Cartório. Isto significa que, mesmo após sua saída
da sociedade, sua responsabilidade ainda perdura por mais dois anos.
O contrato social deve especificar se a sociedade terá prazo
determinado ou indeterminado. Esta segunda opção é bem mais usual, além
de ser mais vantajosa, já que influencia diretamente os direitos e deveres
dos sócios.
No caso do exercício do direito de retirada de qualquer sócio, ou
seja, este não pretende mais continuar na sociedade nem vender sua
participação, recebendo da sociedade valor equivalente à sua participação
societária; em se tratando de sociedade com prazo indeterminado, basta
que seja dado aviso prévio de 60 dias comunicando sua saída, porém, sendo
a sociedade constituída por prazo determinado, a retirada do sócio somente
poderá ocorrer judicialmente, através do ajuizamento de ação justificando
as razões da saída do sócio.
Vê-se, portanto, que não há vantagem em se firmar sociedade com
prazo determinado.
Sabemos que a sociedade simples é uma pessoa jurídica, um ente
criado por lei, para agir em nome de duas ou mais pessoas. Porém, toda
pessoa jurídica depende de uma pessoa física para praticar seus atos. No
caso das sociedades, chama-se ADMINISTRADOR quem exerce, em nome
da sociedade, todo e qualquer ato.
Nomeia-se o administrador, escolhido entre os sócios pessoas
físicas, através de cláusula do contrato social, ou em instrumento separado
que deverá ser averbado no Cartório para ter validade perante terceiros.
Havendo omissão contratual, a administração da sociedade será atribuída a
todos os sócios.
Aparentemente, ser administrador parece ser bastante interessante,
em virtude do poder que este detém perante a sociedade, mas, em caso,
por exemplo, de sonegação fiscal, além de se ressarcir os cofres públicos,
haverá processo criminal, cujo réu será o administrador.
Segundo a legislação, o administrador deverá conduzir o negócio como
se seu fosse, agindo sempre em conformidade com os interesses da
sociedade, jamais em proveito próprio, podendo, inclusive, ser
responsabilizado por danos quando assim proceder.
Dentre suas atribuições está o compromisso de prestar contas detalhadas
de sua administração aos sócios, fazendo-o através de inventário anual,
balanço patrimonial e de resultado econômico.
O administrador cuida do andamento da sociedade, não lhe cabendo
decidir acerca de questões cujas resoluções cabem aos sócios, através de
votação.
DIREITO EMPRESARIAL
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Segundo o Código Civil, em seu artigo 1.010, as decisões sobre os
negócios da empresa serão tomadas por maioria de votos dos sócios, de
acordo com a participação societária, sendo que em caso de empate, a decisão
caberá ao maior número de sócios ou, não sendo possível, através de
processo judicial, o juiz resolverá a situação. Imagine uma sociedade com 4
sócios, todos engenheiros agrônomos, em que cada um possua 25% do
negócio. A sociedade que eles mantêm pretende adquirir um veículo de tração
para o serviço que realizam em campo. Dois preferem automóvel de marca
americana e os demais, japonesa. Com a votação realizada, o resultado
será 50% optando por uma marca e outros 50% por outra. Empate! Neste
caso, seguindo o que consta da lei, utiliza-se o primeiro critério de desempate,
qual seja, número de sócios. Então, quantos sócios titularizam 50% do capital
social? Dois! E os outros cinqüenta por cento, outros dois. Assim sendo, a
simples aquisição de um veículo, em que os sócios divergem quanto à marca,
irá parar no Tribunal! E o pior não é isso: que competência técnica possui o
juiz para determinar qual a marca de veículo mais adequada para os fins da
sociedade? Evidente que terá que ser nomeado perito para dar parecer, o
que encarecerá o processo. E o processo demorará tanto tempo para ser
julgado em todas as instâncias que ao seu término, os veículos ora escolhidos
estarão absolutamente ultrapassados.
Absurdo, mas está na lei! Diferentemente ocorre em relação à votação
para que se procedam alterações do contrato social, já que deverá haver
UNANIMIDADE dos sócios. Desta forma, tem-se que, para modificar qualquer
dos assuntos contidos no artigo 997, todos os sócios devem ser favoráveis,
ou seja, em sociedade composta por dois sócios, em que um titulariza 99%
das cotas e outro apenas 1%, somente poderá a sociedade, por exemplo,
aceitar a entrada de novo sócio, se ambos consentirem.
Aproveitando o assunto, passemos a abordar as opções previstas em
lei acerca do que pode ocorrer em caso de falecimento de sócio.
Sendo omisso o contrato social, utiliza-se a regra geral, ou seja, faz-
se balanço especial para se descobrir o valor da sociedade à época da morte
do sócio e se procede a liquidação da sua participação societária, pagando-
se aos herdeiros montante proporcional as cotas deixadas. Quantifique-se:
sociedade avaliada em R$200.000,00 cujo sócio falecido possuía 20% das
quotas, gerará o pagamento de R$40.000,00 aos herdeiros.
Além desta regra, outras opções são previstas em lei, desde que
contidas no contrato social. A primeira delas se refere à dissolução da
sociedade, ou seja, o fechamento da empresa. Há pouco citamos exemplo
de sociedade com dois sócios, detentores, reciprocamente, de 99% e 1% do
capital social. Óbvio que o sócio titular de 99% foi aquele que investiu
praticamente sozinho na formação do capital social. Supondo que a sociedade
seja avaliada em R$100.000,00 e em decorrência do falecimento deste sócio,
a sociedade teria que remunerar aos herdeiros a quantia de R$99.000,00,
tornando-se inviável a sua continuidade. Desta forma, em tais situações,
aconselha-se que seja previsto no contrato social que o falecimento do sócio
titular dos 99% proceda-se ao encerramento da sociedade. Este é apenas
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
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um exemplo, já que tal cláusula pode existir em todo e qualquer contrato
social de sociedade simples.
Por último, ainda sobre a morte de sócio, outra saída que pode ser
inserida no contrato social tange à possibilidade de os herdeiros substituírem
o sócio falecido, ou seja, se o finado tinha esposa e dois filhos e era dono de
20% da sociedade, estes três juntos ocuparão seu lugar na sociedade.
Ainda sobre sócio, outra questão que gera muita dúvida se refere ao
direito de excluí-lo da sociedade. Há, segundo o Código Civil, quatro razões
que justificam a expulsão do sócio, a saber:
a) Falência do sócio: decretada a falência de sócio pessoa jurídica,
a sociedade poderá, por deliberação dos demais sócios, excluí-
lo;
b) Liquidação da quota para pagamento de credor: caso qualquer
sócio endivide-se e não possua patrimônio para pagar o credor,
sairá da sociedade, passando sua participação para seu credor,
ou ainda, poderá a sociedade remunerar o credor, reduzindo o
capital social;
c) Sócio remisso: considera-se remisso o sócio que não integralizou
sua participação no capital social, podendo a sociedade optar
entre excluí-lo ou cobrar-lhe o valor da quota. Observe que
ocorrendo a segunda hipótese, o sócio permanecerá no quadro
de quotistas;
d) Ação proposta por falta grave ou incapacidade superveniente:
configura falta grave a prática de atitudes contrárias ao bom
andamento do negócio, ao afeto na relação entre os sócios, à
vontade de prosperar coletivamente. Para se excluir sócio por
qualquer destes motivos, deverá a sociedade ajuizar ação na
Justiça, comprovando o fato ocorrido. Já a incapacidade
superveniente ocorre quando o sócio perde sua capacidade civil,
ficando impossibilitado de manifestar sua vontade. São
exemplos de incapacidade superveniente o acometimento de
doença mental ou doença grave que impeça a pessoa de exprimir
suas vontades; ou ainda, acidente, atropelamento, ou qualquer
outra fatalidade que gere estado de coma, tornando o sócio
absolutamente incapaz para praticar qualquer ato.
Para finalizarmos nosso estudo sobre sociedade simples, resta-nos
compreender os motivos de sua dissolução, previstos no artigo 1.033 do
Código Civil.
Vamos dividir as hipóteses sobre duas óticas: de um lado, os motivos
decorrentes de pleno direito e de outro, em virtude de processo judicial.
I. PLENO DIREITO:
a) Fim do prazo de duração: se a sociedade foi constituída com prazo
determinado, chegando o dia estipulado, a sociedade deverá ser encerrada.
No entanto, vencido o prazo e não iniciado o procedimento de liquidação e
DIREITO EMPRESARIAL
49
não havendo oposição de qualquer dos sócios, a sociedade torna-se-á por
prazo indeterminado.
b) Consenso dos sócios: os sócios podem decidir pelo encerramento da
sociedade por prazo determinado antes da chegada do dia estipulado, porém
deve haver unanimidade dos sócios. Tratando-se de sociedade por prazo
indeterminado, basta maioria absoluta para aprovar seu fechamento, ou
seja, votos dos sócios que juntos detenham mais de 50%.
c) Falta de pluralidade de sócios: já lhes foi dito que nosso ordenamento
jurídico vigente não autoriza a constituição de sociedade – qualquer que
seja – com apenas um sócio. Dissemos também, naquela oportunidade,
existir, por exceção, hipótese onde a sociedade passe a ter apenas um sócio.
Ocorre, por exemplo, quando há apenas dois sócios e um deles falece, não
havendo previsão para que os herdeiros ocupem seu lugar; ou ainda,
sociedade com três sócios em que, através de processo judicial, um deles
requer a expulsão dos outros dois alegando que estão furtando bens ou
valores da sociedade. Veja que em ambos os exemplos, a sociedade foi
constituída com, ao menos, dois sócios e posteriormente passou a ter apenas
um. Nestas situações, o sócio remanescente deverá, no prazo máximo de
180 dias da data em que tal fato ocorrer, regularizar a situação, por exemplo,
trazendo novo sócio, pois, não o fazendo, automaticamente a sociedade
será encerrada.
d) Falta de autorização para a sociedade funcionar: algumas atividades
dependem de autorização de órgão próprio para ter seu regular
funcionamento. Compete ao representante do Ministério Público (Promotor
de Justiça) providenciar a liquidação de sociedade simples que não tiver
autorização para funcionar, caso os sócios não a providenciarem nos 30 dias
que se seguirem à ocorrência que o motivou. Para melhor elucidar, em se
tratando o objeto da sociedade simples de natureza intelectual, utilizemos
como exemplo sociedade composta por veterinários que prestam serviço de
certificação de animais rastreados. No início da atual década, o Ministério da
Agricultura criou norma obrigando a rastreabilidade do rebanho bovino
nacional, através da aplicação de brincos eletrônicos (ou outros métodos)
em todos os animais. Surgiram, então, empresas privadas chamadas de
certificadoras, cuja existência depende de autorização para funcionamento.
Deixando de tê-la ou vindo a ser suspensa a autorização, o Promotor Público
deverá determinar o encerramento da empresa.
II. PROCESSO JUDICIAL
a) A ser ajuizado por qualquer dos sócios nas seguintes situações:
• em qualquer fato contratualmente previsto como permissivo da
dissolução;
• em vício que possa anular sua constituição;
• na perda do fim social, ou seja, não há atividade a ser
desenvolvida pela sociedade;
• no fato do fim social não poder ser executado.
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
50
Em qualquer dos casos acima, ocorrerá a dissolução da sociedade e
posteriormente, será feita sua liquidação da seguinte forma:
• apuração do ativo e do passivo; e
• distribuição do acervo entre os sócios, conforme participação societária.
2ª – COOPERATIVA
As cooperativas, com a entrada em vigor do Código Civil, que se deu
em 2003, passaram a ser consideradas como espécies de sociedade simples,
no entanto, suas regras estão contidas tanto no artigo 1.094 deste código
como também na Lei nº. 5.764, de 16 de dezembro de 1971, merecendo
destaque os seguintes pontos:
• o seu capital social poderá ser variável ou inexistente;
• sua finalidade, para ser atingida, deve observar número mínimo
de sócios para compor a administração da sociedade, sem
limitação de número máximo;
• em seu documento de constituição, denominado estatuto social,
será feita a limitação do valor da soma de quotas do capital
social que cada sócio poderá tomar, sendo intransferíveis as
quotas à terceiros estranhos à sociedade, ainda que por
herança;
• as decisões a serem tomadas, diferentemente das sociedades
em geral, considerarão o número de sócios presentes à
reunião, e não no capital social representado, possuindo cada
sócio um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a
sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação;
• a distribuição dos resultados será feita de forma proporcional
ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade;
• por fim, a responsabilidade dos sócios poderá ser limitada ou
ilimitada conforme previsão em seu estatuto social.
SOCIEDADES EMPRESÁRIAS
1ª - SOCIEDADE LIMITADA (LTDA)
Há cinco espécies de sociedades empresárias (vide fluxograma anterior),
sendo a Sociedade Limitada eleita como a preferida dos empreendedores e
investidores brasileiros.
Estima-se que, aproximadamente, 97% das sociedades empresárias
sejam constituídas como Ltda, enquanto 2% são criadas como Sociedades
Anônimas e o restante – apenas 1% - como as outras três espécies.
Este significativo quantitativo indica que as sociedades limitadas possuem
características aptas para se adequar à necessidade dos sócios ao
constituírem pessoa jurídica adequada ao seu empreendimento.
DIREITO EMPRESARIAL
51
Mas, o que torna esta sociedade tão distinta das outras?
Devemos nos lembrar que são utilizadas para empreendimentos de
pequeno, médio e grande porte! Algumas pessoas aprendem que as
sociedades anônimas são as grandes empresas, enquanto pequenas e
médias são limitadas. Esta é uma meia-verdade. Realmente, as grandes
corporações são sociedades anônimas, mas há também empresas de médio
porte constituídas como tais, assim como existem empresas, líderes de
mercado em sua área de atuação, constituídas como Ltda. Portanto, aprenda,
desde já, que NÃO é o tamanho do empreendimento que distingue as
sociedades, e sim, suas regras de constituição, funcionamento e
encerramento.
Passemos ao estudo da Ltda.
A sociedade limitada tem normas estabelecidas pelo Código Civil e, nas
omissões, pelas normas da Sociedade Simples ou pelas da Sociedade Anônima
se assim o contrato social estabelecer. Seu registro é feito na Junta Comercial.
Diferentemente da sociedade simples, o objeto (atividade econômica)
a ser explorado na sociedade limitada pode ser a produção ou circulação
de bens ou serviços. Lembre-se que, na simples, o objeto somente pode
ser decorrente da prestação de serviços de caráter intelectual.
Desta forma, podem constituir sociedade limitada aqueles que exerçam
atividade de fabricação ou transformação de produtos (indústria),
comercialização de bens (atacadista, supermercadista, etc.), locação de
imóveis (imobiliária), locação de móveis e automóveis, prestadores de serviços
de limpeza, perfuração de poços artesianos, enfim, todo e qualquer
empresário que produza ou circule bens ou serviços.
O primeiro ponto que tornou a “limitada” a preferida dos brasileiros é
exatamente a abrangência de seu objeto, como vimos no parágrafo anterior,
mas a questão fundamental está contida na proteção patrimonial que esta
traz aos seus sócios. Dissemos na parte introdutória desta unidade que,
com a constituição de pessoa jurídica para o exercício da atividade econômica,
os sócios protegem seu patrimônio pessoal, mas foi-lhes informado também
que esta regra NÃO é aplicável a todas as sociedades.
Vimos, no capítulo anterior, que os sócios da sociedade simples possuem
responsabilidade ILIMITADA, ou seja, dívidas da sociedade afetam o
patrimônio dos sócios, não se aplicando, portanto, o tão falado princípio da
autonomia patrimonial.
Já em relação à sociedade limitada, tal princípio tem plena aplicabilidade,
gerando, como conseqüência, maior segurança aos seus sócios, pois sabem
que, em caso de dívida criada pela sociedade com credor com quem manteve
negociação, não correrão riscos de perder parte ou todo seu patrimônio
pessoal. O credor deverá satisfazer seu crédito, identificando e indicando
bens da sociedade e caso esta não possua o suficiente, o credor não
receberá o montante total de sua dívida.
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
52
Por esta razão, sempre que se firmar contratos com sociedades limitadas,
o credor deverá se precaver, exigindo garantias, como, por exemplo, a
prestação de aval, cujo avalista pode ser sócio possuidor de patrimônio
suficiente para pagar a dívida assumida pela sociedade.
A formação do patrimônio da sociedade, através da transferência de
recursos que compõem o capital social, também diverge da sociedade simples,
pois, na limitada, não pode haver contribuição através da prestação de
serviços, ou seja, os sócios podem participar da constituição do capital
social transferindo dinheiro, bens ou créditos.
Em troca desta contribuição, recebem os sócios a participação societária
(%), chamada de quotas (ou cotas), iguais ou desiguais, cabendo uma ou
diversas a cada sócio, sendo que a responsabilidade destes é restrita ao
valor de suas quotas; portanto, possuem responsabilidade LIMITADA.
Note que o nome da sociedade decorre do tipo de responsabilidade dos
sócios: limitada!
Suponha que certa pessoa tenha R$100.000,00 (cem mil reais)
depositados em caderneta de poupança, rendendo algo em torno de 0,6%
ao mês. Possui ainda casa em que reside com a família (impenhorável) e
automóvel no valor de R$50.000,00. Convidado por um amigo, torna-se sócio
de supermercado, investindo R$60.000,00 em dinheiro. Em troca deste
investimento, passou a ser dono de X% do supermercado.
Como sabemos, todo e qualquer negócio traz consigo risco de insucesso,
então, pergunta-se: o que motivou aquela pessoa a retirar parte do que
possuía depositado em banco, com baixíssimo risco de perda, para investir
em empreendimento de risco? A resposta é simples: perspectiva de melhor
remuneração, vez que a caderneta de poupança rende quase nada...
Se o supermercado “quebrar” perderá o investidor o restante depositado
no banco e o seu automóvel? É aqui que entra a compreensão do que seja
responsabilidade LIMITADA.
A responsabilidade dos sócios pelas dívidas da empresa se limita ao valor
que prometeu investir e que efetivamente transferiu para a composição do
capital social.
No caso suposto, ao transferir os R$60.000,00 para a sociedade, o sócio
preservou o restante de seu patrimônio pessoal. Vale lembrar, que
dependendo da origem da dívida, esta regra comporta exceções. Refiro-me
às dívidas não-negociáveis, decorrentes de créditos fiscais, previdenciários,
trabalhistas e consumeristas (consumidor) e sempre que se comprovar que
a sociedade fora criada com fins fraudulentos, ilegais ou ilícitos.
Ainda sobre o capital social, devemos alertar que os sócios são devedores
solidários pela sua integralização. Assim, o sócio que se comprometeu a
transferir R$60.000,00, tendo cumprido sua obrigação, poderá ver-se obrigado
a integralizar a cota de seu próprio sócio que não honrou seu compromisso.
Quantifica-se:
DIREITO EMPRESARIAL
53
Capital social: R$ 100.000,00.
Sócio “A” – deverá investir, à vista, R$ 60.000,00.
Sócio “B” – deverá investir, à vista, R$ 20.000,00 e em 6 meses, mais
R$20.000,00.
Se “B” deixar de pagar a segunda prestação assumida, “A” torna-se
devedor solidário, podendo inclusive ser compelido, através de processo
judicial, a quitar o débito, podendo, posteriormente, ajuizar ação de regresso
contra “B” para recuperar o valor que este deveria ter pago e se “B” não
possuir patrimônio passível de penhora, “A” nada receberá.
Sociedade é como casamento, assim a escolha do parceiro (sócio) é
essencial para o bom funcionamento do negócio.
Finalizando a análise da composição do capital social, devemos esclarecer
que os sócios respondem solidariamente pela exata estimação de bens
conferidos ao capital social até o prazo de cinco anos da data do registro
da sociedade. Caso certo sócio transfira veículo avaliado no contrato social
em R$30.000,00, mas cujo valor de mercado seja R$25.000,00, todos os
sócios podem ser acionados para saldar esta diferença, já que deveriam ter
impedido que o veículo entrasse na sociedade com valor incorreto.
Passemos ao estudo da administração da sociedade.
A sociedade será administrada por uma ou mais pessoas - podendo ser
sócios ou não-sócios - designados no contrato social ou em ato separado.
A escolha do administrador é feita por deliberação dos sócios, sendo
que, em se tratando de pessoa não-sócia (terceiro) e caso o capital social
ainda não esteja todo integralizado, a votação para eleição deve ser
unanimidade; já se integralizado, serão necessários votos de 2/3 do capital
social, no mínimo.
Empossado o novo administrador através de ato separado, nos dez dias
seguintes, deverá ser feita averbação de sua nomeação na Junta Comercial.
O administrador poderá ser destituído, caso nomeado em contrato, por
votação de no mínimo 2/3 do capital social, salvo disposição contrária em
contrato, enquanto o nomeado em documento em separada, mais de 50%.
Para validar o término do exercício do cargo de administrador deve ser
comunicada à Junta Comercial no prazo máximo de 10 dias seguintes à
ocorrência.
Pretendendo o administrador renunciar ao cargo, por livre e espontânea
vontade, deverá comunicar à sociedade e para ter efeito perante terceiros,
obrigatoriamente terá que comunicar à Junta Comercial.
Feitas estas considerações acerca da administração, abordaremos as
regras pertinentes às decisões a serem tomadas.
Todas as deliberações dos sócios ocorrerão em reunião (sociedade com
até 10 sócios) e em assembléia para sociedades com mais de dez sócios.
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
54
A validação da realização das reuniões ou assembléias ocorrerá segundo
o trâmite a seguir: publicação do anúncio de convocação por 3 vezes, devendo
a primeira comunicação acontecer 8 dias antes da realização da assembléia
para a primeira convocação e de 5 dias, para as posteriores. Para evitar
custos com estas publicações feitas em jornal de grande circulação, supre-
se tal exigência quando todos os sócios comparecerem ou se declararem,
por escrito, cientes do local, data, hora e ordem do dia.
Pode-se também por questões de economia e praticidade, dispensar a
reunião ou a assembléia desde que todos sócios decidam, por escrito, sobre
a matéria que seria objeto de votação delas.
Em se realizando a reunião ou assembléia, o sócio pode ser representado
por outro sócio ou por advogado, através de procuração com poderes
específicos para tal fim, devendo o instrumento ser levado a registro,
juntamente com a ata. Esta ata deve conter todos os fatos ocorridos e
decisões tomadas e será assinada pelos membros da mesa e por todos os
sócios participantes, devendo, posteriormente, ser levada cópia da ata
autenticada à Junta Comercial para o devido arquivamento nos 20 dias após
a reunião ou assembléia.
Vimos a necessidade da realização da reunião ou assembléia como forma
de se unir os sócios para decidirem sobre questões pertinentes à sociedade,
ou seja, ocorrerá sempre que houver necessidade.
Entretanto, é OBRIGATÓRIO o feitio de assembléia anual nos 4 primeiros
meses de cada exercício social, especialmente para aprovação das contas,
do balanço e do resultado do exercício findo.
Pois bem, convocada a reunião ou assembléia, os sócios votarão e terão
suas decisões aprovadas com base nos seguintes quoruns (quantidade
mínima de votos):
I - 50% + 1 dos sócios presentes para:
a) aprovação das contas da administração;
b) nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas.
II - 50% + 1 do Capital Social para:
a) designação dos administradores, quando feita em ato separado;
b) destituição dos administradores;
c) o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato
social;
d) pedido de recuperação judicial quando a sociedade estiver em crise.
III – mais de 75% do Capital Social para:
a) modificação do contrato social;
b) a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade ou a cessação do
estado de liquidação.
DIREITO EMPRESARIAL
55
Ressalte-se, entretanto, que tramita no Congresso Nacional, projeto de
lei para alterar este último quórum de mais de 75% para mais de 50%, como
era na legislação anterior. Mas, até a data da realização deste material, tal
projeto ainda não havia sido votado.
Analisado o quórum de deliberação, vejamos as possibilidades de se
expulsar sócio cujas atitudes não sejam condizentes com os propósitos da
sociedade.
Segundo o Código Civil, pode o sócio, majoritário (que detenha sozinho
mais de 75% do capital social) ser ou não excluído judicialmente da sociedade
mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no
cumprimento de suas obrigações ou por incapacidade superveniente,
bastando cláusula no contrato social que preveja a exclusão por justa causa.
Havendo tal previsão, deverão os sócios convocar reunião ou assembléia
para esse fim, convocando, inclusive, o acusado para participar e se defender
das acusações.
Além da justa causa, a sociedade poderá excluir - ao invés de lhe cobrar
ou reduzir o capital social - o sócio remisso, tal como ocorre na sociedade
simples, lembrando que remisso é o sócio que deixou de integralizar sua
participação no capital social e que, após ser notificado para fazê-lo, não o
fez no prazo de 60 dias.
Outro aspecto interessante refere-se à cessão de cotas (venda da
participação societária). Segundo a regra geral, o sócio pode vender suas
cotas a outro sócio, independentemente do consentimento dos demais e
pretendendo alienar a terceiros, não poderá haver oposição de mais de ¼
dos detentores do capital social.
Frise-se que a cessão de cotas terá eficácia em relação a terceiros
somente após alteração do contrato social arquivada na Junta Comercial,
assinada pelo número mínimo de sócios necessário para validar o ato.
Finalizando o estudo das limitadas, a composição do seu nome empresarial
(vide unidade I) deverá estar relacionada com a atividade econômica da
empresa, acrescida da palavra “limitada” ou sua abreviatura Ltda, podendo
ser criado nome fantasia ou nome ou parte deste dos seus sócios. Vide
alguns exemplos:
• Nome fantasia: Agropecuária Terra Roxa Ltda, Fábrica de
Sorvetes Tarumã Ltda.
• Nome dos sócios: Rodrigues e Lopes Comércio e Indústria Ltda;
Narduchi e Paschoal Comércio de Derivados de Petróleo Limitada.
Ao invés de se usar a palavra “Limitada” ou Ltda, pode-se também
substituí-la por companhia ou cia, DESDE que NÃO seja a primeira palavra do
nome. Assim, o primeiro exemplo acima ficaria, Agropecuária Terra Roxa
Companhia.
Por costume, poucos se utilizam desta expressão na constituição do nome
das sociedades limitadas, sendo seu uso bem mais comum nas anônimas,
como veremos a seguir.
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
56
2ª - SOCIEDADE ANÔNIMA
Prevista no Código Civil, mas regida por lei própria, qual seja, Lei nº
6.404, de 15 de dezembro de 1976, em virtude de seus elevados custos e
excesso de formalismos, a sociedade anônima constitui, aproximadamente,
apenas 2% das sociedades empresariais existentes no Brasil.
Comparando-a em quantitativo com a sociedade limitada, o leitor não
veria razão para estudá-la, vez que 97% das sociedades existentes no Brasil
são constituídas como limitadas. Mas, analisando-se o faturamento das
primeiras, compreende-se a sua importância.
Para se ter idéia do volume financeiro que as S.A. movimentam e faturam,
saiba, desde já, que, por obrigação legal, todos os bancos e Instituições
financeiras são fundados como tais. Considerando-se que há mais de 200
(duzentos) bancos no Brasil e, somando-se seu fabuloso faturamento,
somente estas sociedades anônimas faturam mais que milhares de
sociedades limitadas!
O rigoroso formalismo citado traz garantias e segurança para seus
acionistas, razão pela qual os sócios de grandes empreendimentos optam
por esta espécie de sociedade.
A primeira característica marcante se refere à formação do capital
social, que, diferentemente das sociedades estudadas, é dividido em
ações, enquanto naquelas, em quotas.
Os sócios das anônimas são denominados acionistas e nas limitadas e
simples, quotistas.
A figura dos acionistas, via de regra, não é tão significativa quanto nas
demais sociedades, sob o aspecto das características e atributos pessoais.
Isto quer dizer que a entrada ou saída de sócios é menos complexa, podendo
haver maior flexibilidade em seu estatuto social. Entenda-se: se alguém
adquire ações da Petrobrás, torna-se acionista. Para os administradores
daquela companhia, é irrelevante quem seja a pessoa, vez que não interferirá
na gestão do negócio.
Desta forma, falecendo este acionista, seus herdeiros tornam-se acionista
da empresa. Lembre-se que, tanto na sociedade limitada como na simples, o
falecimento de sócio faz os herdeiros receberem valor proporcional à
participação societária, somente ocupando seu lugar se for interesse dos
sócios remanescentes.
Outro aspecto interessante relaciona-se com a atividade exercida, pois
a sociedade anônima terá SEMPRE caráter empresarial,
independentemente do seu objeto, quer dizer, não importa se será
constituída para produzir ou circular bens ou serviços ou ainda para o exercício
de atividade de caráter intelectual.
No entanto, o que mais destaca esta sociedade das demais é a
possibilidade de constituí-la para oferecer suas ações aos investidores
interessados, geralmente através da venda na bolsa de valores.
DIREITO EMPRESARIAL
57
Esta perspectiva de comercialização das ações em bolsa de valores
depende da escolha e constituição de sociedade anônima para tal fim.
Isto porque há duas espécies de sociedade anônima: aberta e fechada.
A primeira permite a venda de ações no mercado de capitais, enquanto a
fechada não traz esta possibilidade.
Independentemente da forma escolhida, os acionistas possuem
responsabilidade LIMITADA, protegendo seu patrimônio pessoal em relação
às dívidas da sociedade.
Para se constituir sociedade anônima de capital aberto é necessária a
aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão governamental
responsável pela análise de viabilidade do negócio no sentido de identificar
a possibilidade de, em caso de autorização de abertura do capital, a
sociedade solicitadora conseguirá encontrar compradores para suas ações.
Esta fase de análise é anterior à criação da sociedade, pois, sem a
autorização, a sociedade não poderá vender suas ações. Para conhecer
melhor as atribuições da CVM, ver estatísticas, conhecer o mercado de capitais
e suas normas de operação, dentre outras inúmeras informações, basta
acessar: www.cvm.gov.br.
A formalização do nascimento da S.A. decorre da elaboração de
ESTATUTO SOCIAL e seu devido registro na Junta Comercial.
Como dissemos anteriormente, os sócios recebem ações pelo valor que
investiram na sociedade anônima, que podem ser de três modalidades:
a) ordinárias: são ações obrigatórias na constituição da sociedade. Toda
S.A. possui este tipo de ação, que confere ao seu titular direito a voto;
b) preferenciais: sua criação depende de previsão no estatuto social,
dando ao acionista certos privilégios determinados naquele documento, como,
por exemplo, prioridade no pagamento da distribuição de lucros e pagamento
de dividendos fixos, entre outros. A depender do estatuto social, podem,
também, dar direito a voto;
c) de fruição: são ações pouco conhecidas da população em geral e até
mesmo do empresariado. Sua finalidade é ANTECIPAR ao seu titular o
pagamento do valor que receberia por suas ações. Imaginemos acionista
que detenha 30% do capital social de certa sociedade anônima, sendo 20%
em ações ordinárias e 10% em ações de fruição. Este acionista tem o direito
de amortizar suas ações de fruição através da elaboração de balanço especial
para avaliar a sociedade e assim sendo, receber quantia proporcional às
suas ações. Ainda usando nosso exemplo, se a sociedade anônima for
avaliada em R$10.000.000,00 (dez milhões de reais) e o acionista quiser
receber por suas ações de fruição, a sociedade lhe pagará R$1.000.000,00
(um milhão de reais) por seus 10%. Importante esclarecer que ele continua
dono de 30% do negócio e em caso de encerramento da sociedade, receberá
apenas por 20% do negócio.
A cada ação também é atribuído um valor específico, através de critérios
diversos:
ESTATUTO SOCIAL: docu-
mento contendo, ao menos,
as cláusulas exigidas por
lei, assinado pelos sócios e
vistado por advogado.
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
58
a) valor nominal: para encontrá-lo, basta dividir o Capital Social pelo
número de ações. Assim, em sociedade anônima com capital social de
R$10.000.000,00 dividido em 5 milhões de ações, o valor nominal será de
R$2,00 (dois reais).
b) valor patrimonial: divide-se o Patrimônio Líquido (PL) pelo número de
ações. O Patrimônio Líquido é encontrado subtraindo-se o passivo do ativo.
Temos então:
PL = ATIVO – PASSIVO. Valor patrimonial = PL “no. ações.
Exemplo:
Ativo: R$30.000.000,00 - Passivo: R$ 5.000.000,00 = PL:
R$25.000.000,00.
Número de ações: 5 milhões.
Valor Patrimonial = R$5,00 (cinco reais).
c) valor de negociação: em caso de venda das ações, o acionista estipula
valor para suas ações, que será pago pelo adquirente.
d) valor econômico: valor atribuído à ação por analistas de mercado,
considerando-se a credibilidade da empresa, potencial de lucro, patrimônio
líquido, etc..
e) preço de emissão: valor que se dá à ação no momento da constituição
da sociedade, bem como quando houver aumento do capital social.
Esclarecidas as modalidades de ações existentes, seguimos para as
regras acerca da administração das S.A., cujos encontros ocorrem através
de ASSEMBLÉIAS, em que se analisam o desempenho da sociedade, deliberam
sobre assuntos especificados no estatuto social, verificam o volume de
negociações e faturamento, entre vários outros assuntos. As Assembléias
Gerais Ordinárias (A.G.O.) são convocadas para abordar temas cotidianos,
como, por exemplo, apresentação do resultado através de balanço.
As Extraordinárias (A.G.E.) tratam de questões surgidas no exercício da
atividade econômica. São assuntos que devem ser discutidos e analisados
pelos acionistas surgidos no decorrer da existência da sociedade, como a
expulsão de certo sócio, a admissão de novo investidor, etc..
Há também as Assembléias Especiais, cuja participação é restrita aos
acionistas de certas classes, por exemplo, os detentores de ações
preferenciais para análise da distribuição de lucros.
De forma diversa das outras sociedades, a administração da S.A. é
feita por ÓRGÃOS, cujos nomes e atribuições seguem abaixo:
I - CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO: composta por, no mínimo, três
acionistas eleitos pela Assembléia Geral. Tem por principal atribuição fixar
diretrizes dos negócios, além de eleger e destituir os diretores. Este órgão é
obrigatório nas sociedades anônimas de capital aberto.
II – DIRETORIA: a compõem, no mínimo, dois membros, podendo ser ou
não acionistas, escolhidos pelo Conselho de Administração, quando existente,
DIREITO EMPRESARIAL
59
ou pela Assembléia Geral. Os diretores são os responsáveis pela condução
dos negócios, direcionando investimentos, sugerindo medidas para redução
de custos, etc..
III - CONSELHO FISCAL: órgão de extrema importância que, como o
próprio nome informa, tem por principal atribuição fiscalizar os atos praticados
pelos administradores da sociedade. Em sua constituição, deve haver no
mínimo três e no máximo cinco membros (acionistas ou não) eleitos pela
Assembléia Geral. Considerando-se que irão fiscalizar os demais órgãos,
natural que seus membros não pertençam à Diretoria ou ao Conselho de
Administração.
Em relação à cessão de ações, retirada do sócio ou morte de acionista,
compete ao estatuto social criar as regras específicas, podendo adotar
qualquer das citadas quando do estudo da sociedade limitada ou simples.
Finalizando, o nome empresarial a ser utilizado, tanto pode adotar nome
fantasia como nome ou parte dos nomes de seus fundadores, acrescidos da
expressão Sociedade Anônima ou sua abreviatura - S.A. - em qualquer parte
do nome ou, ainda, a expressão Companhia ou CIA, desde que seja primeira
palavra.
Exemplos: Banco do Brasil S.A.; Martins Comércio e Serviço de Distribuição
de Produtos S.A..
Usando-se Companhia: Companhia Siderúrgica Nacional, Cia Vale do Rio
Doce.
3ª - SOCIEDADE EM NOME COLETIVO
Esta sociedade e as próximas duas apresentadas a seguir, praticamente
caíram em desuso no Brasil; sua existência no Código Civil gerou diversas
críticas vez que, historicamente, as três sociedades foram e são
freqüentemente criadas com fins fraudulentos, além de que, para seus sócios,
não há as mesmas vantagens proporcionadas seja pela Ltda como também
pela S.A. No entanto, enquanto previstas em nosso ordenamento, compete-
nos fazer breve estudo.
A primeira característica da Sociedade em Nome Coletivo é que os
sócios possuem responsabilidade ILIMITADA, quer dizer, dívidas da
sociedade podem afetar o patrimônio pessoal.
Constitui-se através de contrato social, registrado na Junta Comercial,
sendo que seus sócios devem ser, obrigatoriamente, pessoas físicas.
Sua administração é exercida exclusivamente por seus sócios, sendo
proibida a contratação de pessoa estranha ao quadro de cotistas,
diferentemente do que ocorre com a S.A. e a Ltda.
Em virtude de morte de sócio é feita a liquidação de suas cotas com
respectivo pagamento aos herdeiros, a não ser que o contrato social disponha
de forma diversa.
UNIDADE 2 - DIREITO SOCIETÁRIO
60
Suas regras estão contidas no Código Civil em seus artigos 1.039 até
1.044.
4ª - SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES
Esta sociedade possui dois tipos de sócios: os COMANDITÁRIOS e os
COMANDITADOS.
Os primeiros podem ser pessoas físicas ou jurídicas, possuem
responsabilidade LIMITADA e NÃO participam da administração da sociedade,
sob pena de se o fizer, converterem sua responsabilidade para ILIMITADA.
Por sua vez, os comanditados são obrigatoriamente pessoas físicas, com
responsabilidade ILIMITADA. Necessariamente, a administração é feita por
um ou mais sócio comanditado.
Para constituí-la, faz-se contrato social que deve ser registrado na Junta
Comercial.
Em virtude de morte de sócio COMANDITADO é feita a liquidação de suas
cotas com respectivo pagamento aos herdeiros; já no falecimento de
COMANDITÁRIO, seus herdeiros assumem sua participação, passando a
compor o quadro de sócios, salvo se que o contrato social dispor de forma
diversa.
Suas regras estão contidas no Código Civil em seus artigos 1.045 até
1.051, donde se extrai que a composição de seu nome empresarial poderá
ser utilizada o nome de sócios comanditados e, em se usando nome de
comanditário, este se torna comanditado.
5ª - SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES
Tal qual a sociedade anônima, esta sociedade é constituída através de
ESTATUTO SOCIAL, registrado na Junta Comercial, em que seus sócios são
denominados acionistas e recebem ações em troca do investimento realizado.
Seus sócios possuem responsabilidade LIMITADA, exceto os que
participam da administração, através da Diretoria, cuja responsabilidade é
ILIMITADA.
O nome empresarial deve adotar o(s) nome(s) do(s) sócio(s) diretores.
Está disciplinada pela Lei de Sociedades por Ações (LSA), observados
também, o disposto nos artigo 1.090 a 1092 do Código Civil.
É HORA DE SE AVALIAR!
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as
respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA) ou pelo correio (em
formulário próprio). Interaja conosco!
Vimos, nesta unidade, o quão complexa é a compreensão das espécies
societárias previstas em nosso ordenamento jurídico.
DIREITO EMPRESARIAL
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No entanto, em virtude da existência de ramos de atuação empresarial
tão distintos como os hoje existentes, não poderia o legislador deixar de
trazer diversas modalidades de sociedades ao cenário jurídico.
Cada sociedade estudada possui relevante importância na economia
nacional; umas possuindo simplicidade tanto em sua constituição como em
sua existência, outras sendo complexas do início até o seu encerramento.
Conhecendo este cenário, poderá o aluno seguir para a unidade 3, que
trata das normas pertinentes à concorrência entre as sociedades empresárias.
Até a próxima!