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Um Algoritmo do FUTEBOL (mais do que) TOTAL: algo que lhe dá o Ritmo! Uma reflexão sobre o “Jogar” de qualidade Pedro Daniel Cunha Pereira Sousa Porto, Maio 2009

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Um Algoritmo do FUTEBOL (mais do que) TOTAL:

algo que lhe dá o Ritmo!

Uma reflexão sobre o “Jogar” de qualidade

Pedro Daniel Cunha Pereira Sousa

Porto, Maio 2009

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Monografia realizada no âmbito da disciplina de

Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e

Educação Física, em alto rendimento – Futebol, da

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

Orientador: Mestre José Guilherme Granja Oliveira

Pedro Daniel Cunha Pereira Sousa

Porto, 2009

Um Algoritmo do FUTEBOL (mais do que) TOTAL:

algo que lhe dá o Ritmo!

Uma reflexão sobre o “Jogar” de qualidade

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Sousa, P. (2009). Um Algoritmo do FUTEBOL (mais do que) TOTAL: algo que

lhe dá o Ritmo. Uma reflexão sobre o “jogar” de qualidade. Dissertação de

Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Palavras-chave: FUTEBOL, ORGANIZAÇÃO OFENSIVA, ORGANIZAÇÃO

FUNCIONAL, ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL, DINÂMICA COLECTIVA, (SUB)

DINÂMICA INDIVIDUAL;

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III

“Talvez a possibilidade de repor no seu lugar exacto certos

conceitos, mostrando – com a desmistificação cada vez mais precisa

do seu mecanismo de formação – a dose de preconceitos, de juízos

de valor, de desejos insatisfeitos, de angústia persistente, de

automatismos religiosamente transmitidos de geração em geração,

que os atulha. Talvez que, depois de nos ter desembaraçado de um

certo número de escórias específicas do cérebro humano, essa

ciência “empírica” tenha a possibilidade de nos aproximar dessa

Realidade tão querida a Einstein, mesmo que nunca a cheguemos a

conhecer. Pois, qual é o motivo que nos leva a pretender provar que

o inconhecivel não existe?

Se é para vermos uma sombra, esperemos,

simplesmente, humildemente, que ela não fique excessivamente

deformada pela passagem através da nossa retina, e não

confundamos realidade com verdade, porque está só é válida

para o que a exprime. Quando – para utilizar uma expressão

que está na moda – uma ideia é aceite por um amplo

«consenso», não será por um milhão de indivíduos estarem de

acordo com um erro que este passa a ser uma verdade. (...) A

realidade é a «coisa», é o que é conhecido, o que podemos

pensar. É a única coisa que o Homem tem possibilidade de

conhecer de uma maneira cada vez mais pormenorizada, à

medida que os instrumentos que utiliza para explorar se forem

aperfeiçoando. Mas é a interpretação que ele atribui aos

resultados que pode ser criticável.”

Laborit (1987: 48,49)

Esta é a nossa realidade...

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IV

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V

Agradecimentos

Ao Professor, Orientador, Mestre, Treinador, Amigo José Guilherme,

pela disponibilidade, paciência, abertura e motivação extraordinária com que

sempre me orientou e incutiu nestes longos meses. Com o seu sentido prático,

fez com que esta dissertação fosse uma verdadeira “descoberta guiada”. Se

existe trabalho cuja primeira pessoa do plural faz sentido, é este.

Ao Professor e Amigo Victor Frade, por ter sido uma pessoa com a qual

adquiri algo para o qual não estava “formatado”: aprendi a ser crítico, aprendi

que para sermos “melhores” temos que sair da média, aprendi que o Futebol,

assim como a vida, é feito de Pessoas. Por tudo isso, o professor foi o

despoletar deste trabalho que tem tudo de mim.

A Louis Van Gaal, pela sabedoria e Futebol que sempre “fabricou”, pela

disponibilidade e amabilidade com que abriu as portas do seu gabinete em

Alkmaar.

Ao André Villas-Boas, pela manhã inteira com que fluiu conhecimento

de jogo das suas palavras. Pela disponibilidade, paciência, abertura, contributo

e interesse demonstrado pelo trabalho.

Aos meus Avôs e aos meus Pais, simplesmente por estarem sempre

comigo e por terem depositado confiança em mim num ano que não foi fácil, o

esforço irá ser recompensado.

À Rita, por estar sempre presente, por acreditar sempre em mim, pela

motivação que muitas vezes precisei. Sem ti este trabalho não seria o mesmo...

por tudo isso este trabalho também é teu.

Ao Zé Maria e a Sr.ª Conceição pela amizade com que sempre me

trataram.

Ao Cláudio Braga (Parabéns campeão...), Lena, Sofia, Evinha,

Sr.Orlando, DªLina, porque sem me conhecerem acolheram-me, por duas

vezes no país da “laranja mecânica”, como se fizesse parte da família (assim

me senti).

A todos os meus Amigos.

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VI

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Índices

VII

Índice Geral

Dedicatória III

Agradecimentos V

Índice Geral VII

Índice de Figuras X

Resumo XIII

Abstract XV

1. Introdução

1

2. Revisão de Literatura 5

2.1 Contextualização de um entendimento do conteúdo do jogo 5

2.2 Bases sistémicas para um entendimento do conteúdo do

jogo 8

2.2.1 Cultura de Urgência: uma limitação à qualidade do futebol 8

2.2.1.1 Emergência de uma cultura de risco 11

2.2.2 InterAcção: invariante estrutural que se expressa numa

organização que é Especifica 15

2.2.2.1 Princípios de InterAcção 17

2.2.3 Tudo é Organização... tudo é Táctica!!! 20

2.2.4 Níveis de organização 23

2.2.4.1 Da macro à microOrganização: espiralidade morfológica 29

2.2.5 Categorização 35

2.2.5.1 Diferentes categorizações, diferentes entendimentos da

dinâmica do jogo: Fases e Momentos de jogo - Escala temporal 37

2.2.5.2 Categorização estrutural dos momentos de organização

ofensiva - Escala Espacial 43

2.2.5.2.1 Transições (defesa/ataque) 44

2.2.5.2.2 Criação de desequilíbrios 46

2.2.5.2.3 Finalização 48

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Índices

VIII

2.3 MacroSistematização do “jogar de qualidade” 49

2.3.1 Espaço: Macrodimensão organizada e organizadora de

qualquer “jogar” 50

2.3.2 (Macro) Organização funcional do “jogar de qualidade” 53

2.3.2.1 Transições 57

2.3.2.1.1 Procura imediata de situações de finalização 58

2.3.2.1.2 Manutenção da posse de bola 60

2.3.2.2 Criação de desequilíbrios 69

2.3.2.2.1 Verticalização após circulação de bola

horizontal 73

2.3.2.2.2 Verticalização “intensa” da circulação de Bola 75

2.3.2.2.3 Desequilíbrios no corredor lateral 78

2.3.2.2.4 Desequilíbrios no corredor central 83

2.3.2.3 Criação de situações de Finalização e de Finalização 87

2.3.3 (Macro) Organização Estrutural do “jogar de qualidade” 88

2.3.3.1“Jogo posicional” 92

2.3.3.1.1 Diagonais posicionais 93

2.3.3.1.2 Subestrutura posicional 94

2.3.3.1.3 Posicionamento para ganho de 2ª bola 101

2.3.3.1.4 Equilíbrio dinâmico 104

2.3.3.2 Circulação Bola e Estrutura 107

2.3.3.3 Controlo do ½ campo e Estrutura 112

2.3.3.4 Jogadores em Espaços de finalização e Estrutura 118

3. Campo Metodológico 123

3.1 Caracterização da Amostra 123

3.2 Construção das Entrevistas 126

3.2.1 Condições de aplicação e recolha de dados 126

3.3 Análise de conteúdo 127

3.3.1 Definição e justificação do sistema categorial 128

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Índices

IX

4. Apresentação e discussão dos

resultados

131

4.1 Filosofia das Equipas de Top 133

4.2 Momentos de organização ofensiva 135

4.2.1(Macro) Organização funcional 135

4.2.1.1 Transição ofensiva 140

4.2.1.1.1 Procura imediata de

situações de finalização:

Transições Agressivas

141

4.2.1.1.2 Manutenção da posse de

bola

144

4.2.1.2 Criação de desequilíbrios 146

4.2.1.3 Criação de situações de

finalização/ finalização

157

4.2.2(Macro) Organização estrutural 158

4.2.2.1 Jogo posicional 163

4.2.2.1.1 Diagonais posicionais

dinâmicas; subestrutura

posicional;

posicionamento

estratégico para ganho

de segundas bolas; e,

equilíbrios

1

1166

4.2.2.2 Relação da dinâmica das Equipas

de top com as Estruturas

179

5. Considerações finais 195

6. Referências Bibliográficas 199

7. Anexos XVII

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X

Anexo 1 – Guião da Entrevista a Louis van Gaal XIX

Anexo 2 – Entrevista a Louis van Gaal (Inglês) XXI

Anexo 3 – Entrevista a Louis van Gaal (Tradução) XXXVII

Anexo 4 – Guião da Entrevista a André Villas-Boas LIII

Anexo 5 – Entrevista a André Villas-Boas LVII

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Índices

XI

Índice de figuras

Figura 1. Níveis de organização 26

Figura 2. Padrões de circulação: verticalização após circulação de bola

horizontal; verticalização intensa da circulação de bola 72

Figura 3. Largura dos laterais em profundidade 79

Figura 4. Áreas de largura da profundidade 80

Figura 5. Espaço entre – linhas 85

Figura 6. Espaço entre linha média e avançada 85

Figura 7. Níveis de organização e Estrutura (Ex. 1-4-3-3) 89

Figura 8. Subestrutura posicional 95

Figura 9. Posicionamento nas saídas curtas com adversário distribuído

em 1-4-3-3 e 1-4-4-2 96

Figura 10. Posicionamento estratégico para ganho de bola longa ou

ressalto 101

Figura 11. Áreas a ocupar para ganho de 2ª bola/equilíbrio 102

Figura 12. “Linhas” das estruturas de referência 108

Figura 13. Triângulos das estruturas de referência 109

Figura 14. “Verticalização” do jogo em diferentes estruturas 111

Figura 15. Espaço interior 112

Figura 16. Espaços livres deixados pelas estruturas 115

Figura 17. 3º Homem 117

Figura 18. Espaço livre na grande área (Adapt. de Olivares, 1978, pp.45) 119

Figura 19. Área propensa ao aparecimento de jogadores com

movimentos de “trás para frente” 121

Figura 20. Espaço interior 137

Figura 21. Movimento “contra” que Van Gaal pretende do seu Pivô alto 155

Figura 22. Médio a “saltar” no lateral 162

Figura 23. Externo a “saltar” no lateral 162

Figura 24. Área de intervenção do Extremo (Van Gaal, 2006) 163

Figura 25. (sub) Dinâmica dos médios - centro 174

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Índices

XII

Figura 26. Risco dos passes horizontais 174

Figura 27. Mobilidade dos avançados para as faixas 176

Figura 28. Distância entre os avançados 176

Figura 29. 1-4-3-3 de Van Gaal 179

Figura 30. 1-4-4-2 losango: linhas e triângulos 181

Figura 31. 1-4-4-2 de Van Gaal (Org. Defensiva) 182

Figura 32. Espaço interior: 1-4-3-3; 1-4-4-2; 1-4-4-2 losango 184

Figura 33. Jogo entre - linhas (org. Defensiva): Médio encostado à linha

def. 185

Figura 34. Jogo entre - linhas (org. Defensiva): Subida do central 187

Figura 35. 1-4-4-2 losango: Espaços livres e Intersectorial 189

Figura 36. Posicionamento do Pivô alto 189

Figura 37. Mobilidade do 2º avançado 190

Figura 38. Movimento “contra” do Pivô alto 190

Figura 39. Dinâmica da Equipa de Van Gaal 193

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Resumo

XIII

RESUMO

O presente trabalho pretende referenciar conteúdos que, interpretados de

modo diverso, se evidenciam com regularidade nas Equipas de top e, portanto,

revelam-se fundamentais na elevação da qualidade do Futebol.

Nesse sentido, propusemo-nos aos seguintes objectivos: contextualizar um

entendimento Específico do conteúdo do jogo; evidenciar a existência de um

futebol de expectativa que destrói a qualidade do Jogo, evocando por seu

turno, a emergência de uma cultura de risco; perceber a importância do Espaço

na organização das Equipas; sistematizar os padrões dinâmicos funcionais e

posicionais inerentes às Equipas de top; inferir acerca da importância da:

circulação de bola, controlo do jogo, controlo do meio-campo, equilíbrios,

Estruturas, “jogo posicional”; perceber a relação entre as Estruturas e as

dinâmicas inerentes às Equipas de top.

Para a concretização destes objectivos, recorremos à análise documental e à

realização de entrevistas semi-abertas a dois treinadores de top: Louis Van

Gaal e André Villas-Boas. Constituindo o corpus que, na apresentação e

discussão de resultados, submetermos às técnicas de análise de conteúdo.

Das considerações finais, evidenciamos a existência de uma matriz de Jogo

comum às Equipas de top, sustentada por uma organização complexa que tem

no Jogador o seu intérprete. Do conteúdo de jogo manifesto, evidenciamos que

a sua organização é perspectivada em função do objectivo do jogo, emergindo

daí características fundamentais como a circulação de bola, o controlo do meio-

campo, o “atacar com muitos jogadores” e a organização global do jogo. Da

relação destas características com as Estruturas, evidenciamos que o 1-4-3-3,

o 1-4-4-2 e o 1-4-4-2 losango, são passíveis de garantir qualidade à

organização das Equipas e concluímos que é a dinamização dos Espaços que

as Estruturas ocupam e deixam livres que favorecem o aparecimento das

dinâmicas e subdinâmicas Especificas das Equipas.

Palavras-chave: FUTEBOL; ORGANIZAÇÃO OFENSIVA, ORGANIZAÇÃO

FUNCIONAL, ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL, DINÂMICA COLECTIVA, (SUB)

DINÂMICA INDIVIDUAL;

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XIV

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Abstract

XV

ABSTRACT

This work intends to refer to contents that, interpreted differently, we can

recognize with regularity at the top teams and, therefore, are the key in raising

the quality of football.

Accordingly, we have the following objectives: contextualise an specific

understanding of the game content; demonstrating the existence of an

expectation football that destroyed the quality of the game, evoking in turn, the

emergence of a risk culture; understand the importance of space in the

organization of teams; systematize the functional and dynamic positional

patterns inherent to the top teams; inferred about the importance of: ball

circulation, game control, midfielder control, equilibrium, structures, "positional

game"; understand the relationship between the structures and dynamics

involved in top teams.

To meet these objectives, we use the document analysis and the

implementation of semi-open interview to two top coaches: Louis van Gaal and

André Villas-Boas. This was the corpus of study that, in the presentation and

discussion of results, we subject to the techniques of content analysis.

In our final considerations, we demonstrated the existence of a game

pattern common to the top teams, backed by a complex organization that has

on the player its interpretation; In the content of the game, we show that the

team organization is viewed according to the purpose of the game, then

emerging as key features: ball movement, midfielder control, attack with many

players, and the overall organization of the game. The relationship of these

features with the structures, shows that the 1-4-3-3, the 1-4-4-2 and 1-4-4-2

diamond, are likely to ensure quality in the organization of teams and concluded

that are the dynamization of spaces that the structures occupy and allow free

that favoring the emergence of dynamic and (sub) dynamics specifics of the

Teams.

Keywords: FOOTBALL; ORGANIZATION OFFENSIVE, FUNCTIONAL

ORGANIZATION; STRUCTURAL ORGANIZATION, COLECTIVE DYNAMICS;

INDIVIDUAL (SUB) DYNAMICS;

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XVI

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Introdução

1

1. Introdução

Apercebemo-nos da realidade em função daquilo que projectamos nela,

“pintamos” a nossa própria realidade. Sendo uma projecção das nossas

manifestações emocionais, verificamos que o “instinto de sobrevivência” no

Futebol está permanentemente em sobressalto, pois as consequências da

derrota tornaram-se mais devastadoras, do que as consequências da vitória

revigorantes. Esta dissertação procura contrariar esta aparente tendência,

identificando alguns traços de um Futebol de qualidade superior (elevando-os

portanto, a referências de qualidade), de uma realidade que, à excepção das

Equipas de rendimento superior, nos parece cada vez mais utópica.

O pressuposto básico com que partimos para esta dissertação está no

entendimento do rendimento superior e na diferenciação das Equipas de top

para as restantes. O qual se situa acima das idiossincrasias inerentes a

qualquer Equipa, talvez uma das poucas verdades do Futebol: o “jogo” tem

explícito um objectivo (a não ser que os seus valores sejam deturpados): a

vitória. “Ganhar” é aquilo que distingue as Equipas de rendimento superior para

as restantes, que para o fazerem com regularidade têm que apresentar

qualidade. Deste facto, emergiu um esboço da nossa “pergunta de partida” da

nossa “inquietação”: o que permite a essas Equipas Ganhar regularmente!?

Na procura de respostas, fomos desbravando caminhos, com o auxílio

de áreas do saber diversas, e as nossas inquietações dissiparam-se,

apareceram, aumentaram e nesse caos o nosso caminho ia tomando um

sentido (não único, pois várias vezes fizemos “inversão de marcha”).

Deparamo-nos com a recorrente premissa que ostenta a impossibilidade de

apontar comportamentos “repetidos” (ou “repetitivos”!?), pois: “No futebol não

há dois jogos iguais”. Porém, constatamos que essa é apenas “meia-verdade”.

Ainda que cada jogo seja um jogo diferente (Cunha e Silva, 2003), somos

capazes de identificar a mesma Equipa pela regularidade morfológica que ela

vai apresentando nos diferentes jogos. Portanto, essas referências de

qualidade resultarão da interpretação do que acontece ao longo dos jogos,

daquilo que é regular. Eis que surge a tal “pergunta de partida”: que

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Introdução

2

indicadores conferem qualidade regular à equipa que lhe permite ganhar mais

vezes!?

Esta questão está na origem do conteúdo desenvolvido e explorado

nesta dissertação. Assim, na revisão de literatura, procuramos o contributo de

autores que, nas suas áreas de referência, estão a Top. Da Física, à

Matemática, passando pela Filosofia, a incursão pelas diversas áreas só faz

sentido para nos ajudar a enquadrar e levar um pouco mais longe, as nossas

interpretações ao conteúdo do jogo. Por esse motivo, as nossas fontes de

inspiração e de reflexão, passam muitas vezes por jogadores ou treinadores

que, provavelmente, não conhecendo o trabalho de Prigogine, ou de

Mandelbrot, põem as Equipas a jogar com qualidade: Rinus Michels, Johan

Cruyff, Kovacs, Van Gaal, Guardiola, Xavi, Iniesta, Fabregas, Messi, … nomes

que nos recordam que o Futebol assume um estado de graça na categoria de

Arte. E por sua vez: Mourinho, Wenger, Van Gaal (novamente), Hiddink,

Benitez que nos relembram que o Futebol é feito de arte mas também de

ciência. É dessa matéria de arte e ciência que o Jogo é feito, e portanto é daí

que surge a nossa “luta”: o “jogar com qualidade”.

Pelo exposto definimos os seguintes objectivos:

Objectivos Gerais:

Referenciar um conjunto de indicadores colectivos inerentes às Equipas

de Top.

Objectivos Específicos:

Contextualizar um entendimento Específico do conteúdo do jogo;

Evidenciar a existência de um futebol de expectativa que destrói a

qualidade do Jogo, evocando por seu turno, a emergência de uma

cultura de risco;

Perceber a importância do Espaço na organização das Equipas;

Sistematizar os padrões dinâmicos funcionais e posicionais inerentes às

Equipas de top;

Inferir acerca da importância da: circulação de bola, controlo do jogo,

controlo do meio-campo, equilíbrios, Estruturas, “jogo posicional”.

Perceber a relação entre as Estruturas e as dinâmicas;

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Introdução

3

Estrutura do trabalho:

Perante os objectivos a que nos propusemos, recorremos à realização

de entrevistas a dois treinadores de futebol que, de modos distintos, estão a

top, com o objectivo de obter a informação possível que nos permita confirmar,

inferir e aprofundar os indicadores inerentes às Equipas de top.

Quanto à estrutura, o presente estudo será estruturado em sete pontos

fundamentais:

Introdução: pretendemos neste ponto dar a conhecer o nosso trabalho, a

sua pertinência e os seus objectivos.

Revisão de literatura: iniciamos este ponto com um capítulo onde

pretendemos sustentar o conhecimento que pretendemos adquirir;

Partindo depois para a referenciação de indicadores que julgamos de

qualidade.

Campo metodológico: apresentaremos a nossa amostra, os métodos e a

metodologia para recolher e interpretar os resultados obtidos.

Apresentação e discussão dos resultados: confrontamos os dados

levantados com o que apresentamos na revisão de literatura, procurando

daí confirmar, inferir e aprofundar os indicadores qualitativos das

Equipas de top.

Considerações finais: apresentaremos as ideias chave do nosso

trabalho, não sendo conclusões, permitem-nos não fechar o processo de

aquisição de conhecimento.

Referências Bibliográficas: apresentaremos as referências consideradas

ao longo da dissertação.

Anexos: poderão ser consultadas as transcrições integrais das

entrevistas realizadas, bem como o roteiro das entrevistas.

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4

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Revisão de Literatura

5

2. Revisão de literatura

2.1 Contextualização de um entendimento Específico do conteúdo do jogo

O essencial é saber ver,

Saber ver sem estar a pensar,

Saber ver quando se vê,

E nem pensar quando se vê

Nem ver quando se pensa.

Mas isso (tristes de nós, que trazemos a alma vestida!),

Isso exige um estudo profundo,

Uma aprendizagem de desaprender.

Fernando Pessoa (1974)

Num futebol educação não deves apenas estar disponível para aprender.

Deves estar disponível também para desaprender.

Cruyff (1986, cit. por Barend e Van Dorp, 1999)

No futebol há coisas importantes e coisas interessantes.

Entre as importantes, a mais importante, está por exemplo,

em ter a cabeça aberta para a aprendizagem.

Menotti (s/d)

“Conhecer”... É esse o alimento da nossa existência. Aristóteles num dos

seus famosos escritos disse que todos os humanos têm uma vontade natural

de conhecer (Alves et al., 1995). A “caixa de Pandora” confiada pelos Deuses

dificilmente se manterá fechada, tamanha é a curiosidade do Homem.

A percepção e representação dos objectos/fenómenos tem-se

constituído a problemática central da reflexão sobre o conhecimento nas mais

distintas áreas do saber. Desde a antiguidade clássica que diversos

pensadores se têm ocupado do conhecimento, divergindo na forma, método e

instrumentos sugeridos para conhecer. Em diferentes momentos esses autores

assumem uma influência muito importante na evolução do conhecimento,

sendo impulsionadores do que Thomas Khun (1978, cit. Por Alves et al., 1995)

designou de paradigma: esquema global composto de algumas hipóteses de

base, sobre as quais cada época científica conduz as orientações de

investigação.

Do paradigma cartesiano ao paradigma sistémico a evolução do

conhecimento tem-se pautado pelo contributo de diversos autores em

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Revisão de Literatura

6

diferentes áreas de conhecimento. Deixamos em seguida algumas das

referências que nos irão acompanhar na nossa caminhada:

Capra, F. (1996). A Teia da Vida: Uma nova concepção Científica dos

Sistemas Vivos (N. R. Eichemberg, Trans.). São Paulo: Editora Cultrix.

Cunha e Silva, P. (1999). O Lugar do Corpo - Elementos para uma

Cartografia Fractal. Lisboa: Instituto Piaget.

Holland, J.H. (1997). A ordem oculta: Como a adaptação gera a

complexidade. (José Malaquias, Trans.) (1ªed.) Lisboa: Gradiva

Laborit, H. (1987). Deus não Joga aos dados. Mem Martins:

Publicações Europa - América.

Le Moigne, J. (1977). A Teoria do Sistema Geral: Teoria da

Modelização (Jorge Pinheiro, Trans.). Lisboa: Instituto Piaget.

Morin, E. (2003). Introdução ao Pensamento Complexo (D. Matos,

Trans. 4ª ed.). Lisboa: INSTITUTO PIAGET.

Stacey, R. D. (1995). A Fronteira do Caos. (F. F. e. M. E. Paulo

Simões Trans.). Venda Nova: Bertrand Editora.

Todo o conhecimento depende de uma organização teórica que é

condicionada pelos paradigmas, pelas necessidades e aspirações do sujeito

que pretende conhecer (Garganta, 1997), desse modo, torna-se pertinente

situar o tema do nosso trabalho (conhecimento do conteúdo do jogo)

relativamente a esses paradigmas.

À semelhança do que aconteceu ao longo de toda a história da biologia,

também no estudo do conteúdo do jogo, verificamos uma tensão entre

mecanicismo e holismo (e posteriormente sistemismo) consequência da

dicotomia Substância/Forma (Capra, 1996).

Quando para estudar o conteúdo do jogo, partimos do “jogo formal”

estamos a isolar a estrutura para perceber as suas funções, a partir daí é

“natural” que o objecto seja decomposto e analisado nas suas partes,

independentes do contexto. Esta construção intelectual é uma “encarnação” do

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paradigma cartesiano, na medida em que há isolamento das partes para se ter

um, suposto, conhecimento total do todo.

Com o reconhecimento da irreversibilidade das estruturas ao longo do

tempo é reconhecida a sua evolução e, desse modo, o interesse passa das

partes para o todo (advento da mecânica estatística), no entanto o seu estudo

teve implicações perniciosas no conhecimento dos objectos, na medida em

que, esse reconhecimento era acompanhado pelo isolamento de contextos

frequentemente mutáveis (Le Moigne, 1977).

O futebol tem o seu expoente na competição (“jogo formal”), que

pressupõe a existência de duas equipas numa situação de oposição, devendo

cada uma, coordenar as suas acções com a finalidade de recuperar, conservar

e fazer progredir a bola, tendo como objectivo criar situações de finalização e

marcar golo (Gréhaigne & Guillon, 1992 cit. Garganta, 1997). Porém, esse

momento é resultado da preparação das equipas, que trabalham a sua

organização na tentativa de conferir alguma inteligibilidade ao “jogo”. Por esse

motivo, o “jogo”, é um momento de avaliação que permite ajustar o treino em

função daquilo que a equipa vai manifestando nos “jogos” (Guilherme Oliveira,

2006), porque “cada jogo é um jogo diferente” (Cunha e Silva, 2003), fazendo

parte de um processo com características teleológicas.

Assim sendo, a elevação do “jogo formal” a objecto de estudo é uma

abstracção, pois não existe um “jogo formal” mas vários “jogos”. Por força

deste isolamento a recorrente “análise do jogo”, perspectiva-o como se de um

“filme” se tratasse, onde jogador e jogo são interpretados como sendo

independentes um do outro (Frade, 2007). Urge assim uma interpretação do

conteúdo do jogo perspectivada a partir da fenomenologia, que acentue o

processo, focando o todo que é o fenómeno Futebol. Sendo um fenómeno,

conhece-lo “é um esforço para identificar e descrever os significados

fundamentais, as referências primárias, os relacionamentos necessários, os

contornos decisivos (...) ” (Lourenço & Ilharco, 2007, pp.82).

Não pretendemos, portanto, “analisar” o “jogo formal” para conhecer o

conteúdo do jogo, mas antes interpretar as regularidades que nas equipas de

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Rendimento Superior1 se vão manifestando ao longo dos jogos, com o intuito

de identificar as expressões, que muitas vezes acabam por ser as suas

invariantes (Cunha e Silva, 2003).

2.2 Bases sistémicas para um entendimento do conteúdo de jogo

2.2.1 Cultura de Urgência: Uma limitação à qualidade do futebol

De acordo com Costa (1997): “Através da sua função ideológica, o

futebol pode constituir um meio de integração social, de justificação da

realidade sócio - política e mesmo de dissimulação das deficiências da

sociedade na qual ele funciona.”, com efeito, o futebol funciona como um

espelho da sociedade que o pratica.

A sociedade global, para lá das idiossincrasias locais, caracteriza-se

pela necessidade eminente de consumir, exponenciada pela multiplicação de

objectos, dos serviços e dos bens materiais (Baudrillard, 2006). O reflexo no

futebol é óbvio: “as pressões dos interesses comerciais e a atenção constante

dos media aumentaram muito. Não podes perder um jogo, devido aos inúmeros

interesses comerciais. (...). Um clube de Top europeu tem que se qualificar

para a Liga dos campeões, enquanto que um clube “amador” (não de top) não

pode descer de divisão.” (Michels, 2001). No “futebol jogado” esta tendência

para o consumismo, para o produto, caracteriza-se por uma evolução

qualitativa da organização defensiva das equipas. Se em termos ofensivos

essa não foi a tendência, verificamos que, perante esta evolução, as exigências

do ataque aumentaram, na medida em que, o espaço está melhor organizado

defensivamente.

Simultaneamente, a transformação do tempo em algo material,

privilegiando a sua dimensão quantitativa, é algo que caracteriza a nossa

sociedade cujo mote de desenvolvimento é expresso na frase: “Tempo é

1 Rendimento Superior: A possibilidade de existência de um superior têm inerente a

existência de um inferior, sendo que, o superior diferencia-se pelo facto do seu objectivo

decorrer da determinação consciente de atingir o máximo em todas as competições (Gaiteiro,

2006). Essas equipas representam as frequentemente designadas Equipas de Top.

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dinheiro”. Esta linearidade do tempo advém da filosofia de Taylor, onde a ideia

de produto acabado leva à “pressa de...” (Mariotti, 2002). Com este modelo,

para além da desvalorização do tempo, há também desvalorização da

subjectividade: “não há lugar para o ser humano individualizado, mas sim para

o homem recortado, o homem-função.” (Mariotti, 2002), ou seja, sem lugar para

a criatividade.

O futebol, à semelhança da sociedade, desenvolveu a tal ponto a cultura

de urgência e ansiedade que a derrota se afigura uma tragédia, que põe em

causa a confiança, a estabilidade e os afectos (Dias, 2007), e assim, o

desempenho da equipa, na sua dimensão resultado, é uma emergência que

relativiza a credibilidade da maioria dos treinadores.

Esta situação social modifica o modo como as diferentes equipas

entendem “o jogo”, sendo notórias as diferenças entre as equipas de

rendimento superior/top das que não o são. Nesse sentido, para as equipas

que não são de top, o “jogo” potencia uma ideia do espectáculo desportivo que,

de acordo com Stone (s/d, cit. por Dunning, 1992, pp.307) promove a “ausência

de jogo”, tornando-se “ (...) um tipo de ritual, previsível, até mesmo

predeterminado nos seus resultados.”.

O medo de perder tornou-se maior que o desejo de ganhar e assim, o

risco a que as equipas se submetem é quase nulo. Por um lado, as equipas

tendem a “fechar-se” (ideia de produto acabado pressupõe que o sistema se

feche) na tentativa de eliminar ao máximo a imprevisibilidade e por outro

procuram “atacar rápido”, privilegiando assim os momentos reconhecidos como

sendo de transição (defesa-ataque). O resultado é um futebol “monólogo”

(Mourinho, 2002), dando a impressão que “no futebol de hoje, não se joga,

transita-se.” (Araújo Pereira, 2007).

Esse jogo estereotipado de transições é concretizado sob as vestes de

mecanismos que se regulam de modo independente ao exterior (tendência

para se “fecharem” sobre si próprios – Mecanismos Mecânicos (Frade, 2006)),

havendo por esse motivo, perda de autonomia e de adaptabilidade das equipas

que o praticam.

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Toda esta situação advém do impacto que as mudanças de final aberto

têm sobre as pessoas, provocando sentimentos de confusão e insegurança

(Stacey, 1995). Para lidar com essa situação, procura-se seguir quem

consegue fornecer interpretações coerentes da realidade (Stacey, 1995).

No futebol, essas interpretações manifestam-se, fundamentalmente, em

rendimento, desse modo, há uma tendência para seguir os treinadores das

equipas que regularmente ganham (de top/rendimento superior). Nessa

procura os treinadores podem ser “ladrões” (Capello, 2005) ou “doentes”, ou

seja, podem procurar “roubar” ideias de outros treinadores e criar a sua própria

concepção (ajustando-a posteriormente a uma realidade), ou podem procurar

“receitas” no discurso e percurso dos treinadores que em algum momento

tiveram sucesso.

Vários treinadores de top (Rendimento Superior) têm alertado para a

importância que os momentos de transição (momentos consequentes à perda

ou ganho da bola) assumem durante o jogo (Michels, 2001, Mourinho 2003,

Wenger, 2008, Queiroz, 2006), porém, os treinadores citados, deixam claro que

tão importante como esses momentos são todos os outros que decorrem

durante o jogo. Guilherme Oliveira (2006a) corrobora ao afirmar que “As boas

equipas, marcam muitos golos em transição, mas também em organização

ofensiva e bolas paradas, portanto, o número de golos, deve estar distribuído

de forma equilibrada.”. Portanto, estamos de acordo com Wenger (2008)

quando afirma que muitas equipas negligenciam esses momentos (de transição

para o ataque), no sentido em que têm sido muito sobrevalorizados,

relativamente a outros momentos, quando se pretende chegar à baliza

adversária.

Está assim pintado um quadro de uma realidade que tende a destruir

gradualmente o carácter jogo deste fenómeno. Apontamos a existência de um

“futebol de expectativa”, que funciona à semelhança da generalidade das

equipas italianas, como um espelho do adversário (Sachhi, 2006), um futebol

mecânico que privilegia a segurança em prol do risco calculado, tudo é ordem

no sentido que Frade (2006) se refere aos mecanismos mecânicos, ou seja,

uma “ordem dos cemitérios”. É altura de sermos “ladrões”, de procurarmos as

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verdadeiras expressões das equipas de Top, de as interpretar e ajustar, só

assim conseguiremos um futebol de qualidade.

2.2.1.1 Emergência de uma Cultura de Risco

Num mundo sem aventura, tudo é previsível, óbvio e portanto, menos excitante,

o que faz o desporto menos atractivo para os adeptos.

Michler (2008)

O jogo é um confronto entre sistemas caóticos, na medida em que, são

extremamente sensíveis às condições iniciais (Cunha e Silva, 2003), assim

sendo, um pequeno acontecimento pode modificar todo o desenvolvimento do

jogo. Porém, apesar desta extrema sensibilidade às condições iniciais, somos

capazes de identificar a mesma equipa em alturas diferentes, pela semelhança

familiar que a organização das suas partes e das suas interacções apresenta.

Este reconhecimento só é possível se a equipa, enquanto sistema, apresentar

uma relação complementar de autonomia e dependência. Para que isso

aconteça ela deve fechar-se ao meio exterior a fim de manter uma

configuração que lhe é própria, consequência das suas idiossincrasias, no

entanto é a abertura ao ambiente que permite esse fecho (Morin, 2003), sendo

que, essa abertura faz-se pelo plano mais “elementar” do fenómeno do “jogar”,

o individual, é aí que os desvios criadores se dão.

É desta relação, aparentemente paradoxal mas complementar, que a

equipa adquire uma identidade, que permite ajustar-se internamente e

consequentemente adaptar-se às perturbações exteriores. Ou seja, a equipa

possui determinados mecanismos que vão configurar a organização das

partes, no entanto, esses mecanismos deverão estar assentes numa estrutura

e funcionalidade que os faça não mecânicos (Oliveira et. al., 2006), só assim a

equipa conseguirá adaptar-se aquilo que o jogo vai manifestando.

A coexistência de mudança e estabilidade foi acentuada por Prigogine

(Prémio Nobel da Química em 1977), quando este introduziu o termo

“estruturas dissipativas”, também designados de sistemas “longe do equilíbrio”

(Lourenço e Ilharco, 2007), que sugerem uma nova perspectiva relativamente

ao 2º princípio da termodinâmica: o qual evidencia uma tendência nos

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fenómenos químicos da ordem para a desordem (Capra, 1996). Desse modo,

Prigogine estabeleceu uma ligação entre a desordem e a possibilidade de

novas formas de ordem, mais complexas, surgirem (Cunha e Silva, 1999),

assim, para estes sistemas, a dissipação de energia (que corresponde a

informação, à organização) na transferência de calor, não pressupõe

degradação mas sim manutenção e por vezes a emergência de novas formas

de ordem (Lourenço e Ilharco, 2007).

Através das “estruturas dissipativas” de Prigogine, várias leituras podem

ser feitas ao fenómeno futebol, revelando-se uma concepção bastante

pertinente na interpretação do conteúdo do jogo. Assim, quando olhamos o

jogo, podemos observar que o binómio complementar ordem/desordem está

presente em todos os momentos de organização. Sendo dois conceitos

complementares, a ordem é normalmente associada à segurança e a

desordem ao risco. Desse modo, tendo em consideração o que foi mencionado

anteriormente, quanto maior o risco, maior a complexidade do sistema e maior

é a possibilidade de surgirem novas formas de ordem de complexidade

crescente. Como veremos posteriormente, em jogo, este risco tem contornos

concretos, na medida em que, consubstancia apenas a perda de posse de bola

e não a possibilidade do adversário criar situações de finalização.

Para que esta reflexão seja coerente, é necessário alertar para o facto

de haver alguns conceitos que nesta concepção têm um interpretação diferente

da que normalmente têm no futebol, falamos concretamente, do importante

conceito de “equilíbrio”.

Na concepção de Prigogine o equilíbrio2 refere-se a um estado de

neutralidade característico dos sistemas fechados, pelo que, um organismo em

equilíbrio é um “organismo morto” (Capra, 1996). No jogo, esse equilíbrio

acontece quando a equipa é entendida como um sistema fechado, em que os

seus comportamentos são totalmente previsíveis, não havendo lugar para o

novo. Nestas condições a desordem deverá ser reduzida ao mínimo possível e

a evolução do jogo tende para a mecanização dos comportamentos. Deste

2 Sobre o conceito de “equilíbrio” utilizado no futebol uma reflexão aprofundada é feita em

capítulo posterior.

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modo, estar em equilíbrio, à luz da concepção das “estruturas dissipativas”,

corresponde no “futebol jogado” a um desequilíbrio organizacional, na medida

em que o fecho limita a capacidade de adaptação da equipa.

Pelo exposto, a equipa pode ser percebida como um sistema que opera

longe do equilíbrio, uma estrutura dissipativa, que necessita de infusão de

energia, de informação, de organização, para se ajustar aos “problemas” que o

confronto com um adversário coloca. São estas trocas com o exterior que

garantem um estado longe do equilíbrio, havendo um desequilíbrio do fluxo que

“alimenta a equipa” e lhe permite manter-se em aparente equilíbrio

(estabilidade), que só se pode degradar se houver fecho do sistema (Morin,

2003). Para perceber de que modo estas estruturas nos podem ajudar a

interpretar o conteúdo do jogo e a necessidade de uma cultura de risco, temos

necessariamente de as explorar com maior profundidade.

Estas estruturas surgem com o reconhecimento da irreversibilidade do

tempo. Por ser um tempo com sentido único é, de acordo com Cunha e Silva

(1999, pp.116) um “tempo caótico”, “porque arrasta consigo toda a realidade,

deixando a realidade que se lhe opõe só o estatuto de memória.”. Prigogine e

Sengers (1990, cit. Cunha e Silva, 1999) referem que este é um tempo de

vários devires, que acontecendo não podem voltar a acontecer. Nesse sentido,

podemos afirmar que o presente tem vários futuros possíveis (Frade, 2006).

Quanto mais afastado do equilíbrio, maior a sua complexidade e mais

elevada a sua não-linearidade, logo aumenta o número de soluções para o

mesmo problema, consequentemente há um aumento da imprevisibilidade, e

novas situações poderão emergir a qualquer momento (Capra, 1996). Isto

pressupõe “graus de liberdade” nas decisões tomadas pelo sistema, recusando

assim a ideia de “automatismo humano” (Lourenço e Ilharco, 2007), o tal

“mecanismo mecânico” que Frade (2006) propõe para evidenciar os

mecanismos fechados sobre si próprios e que, como vimos, tendem a “morrer”.

A imprevisibilidade do presente surge, portanto, da variabilidade de

futuros possíveis, da variabilidade de soluções que determinada equipa

apresenta para resolver determinado problema. Essa imprevisibilidade aparece

no que Prigogine designou de “Pontos de bifurcação”, ou seja, momentos em

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que o sistema se confronta com a existência de um leque de opções que a

qualquer momento podem ser tomadas, ramificando-se para um estado

totalmente novo (Capra, 1996), evidenciando deste modo, a liberdade do nosso

futuro através das nossas acções (Lourenço e Ilharco, 2007).

De acordo com Cunha e Silva (1999) esta imprevisibilidade surge

fundamentalmente à “periferia dos pontos de bifurcação”, ou seja, quando a

definição do futuro se começa a desenhar, sendo aí que se instala o caos e,

consequentemente, estão criadas condições para o aparecimento de novas

formas de ordem. O mesmo autor ressalva que, tomada a decisão por um

futuro possível, ou seja, seguindo uma das ramificações, o seu comportamento

pode ser previsto. E aí, um problema de probabilidade pode determinar qual o

caminho a seguir (Prigogine 1999, cit. por Lourenço e Ilharco, 2007).

Ao admitirmos que a equipa é uma estrutura que não se confina a

estados de ordem estacionários, que não se fecha sobre si própria, procurando

antes integrar a desordem/desconhecido e a partir daí gerar novas formas de

ordem mais complexas, ou seja, ao admitirmos que a equipa se revê nos

preceitos, que até agora exploramos, das estruturas dissipativas, verificamos

que mantendo-se num estado “longe do equilíbrio” vão apresentar uma grande

variabilidade de soluções (graus de liberdade da equipa e dos jogadores).

Um exemplo concreto: a qualidade da equipa em posse de bola, em

termos colectivos, tem inerente a capacidade dessa sair a jogar curto ou longo

(Benitez, 2008), adaptando os comportamentos aos diferentes momentos de

organização ofensiva e aos problemas que o adversário lhes vai colocando,

esta variabilidade de soluções, ramificam-se em diferentes pontos de

bifurcação.

Deste modo, para um futebol de qualidade superior é emergente uma

cultura de Risco, que procure manter-se num estado estável longe do

equilíbrio, pois, como nos diz Capra (1996, pp.151): “À medida que nos

afastamos do equilíbrio, movemo-nos do universal para o único, em direcção à

riqueza e à variedade.”. Portanto, concordamos com Maciel (2008), quando

afirma que o correcto entendimento do rendimento superior tem subjacente

uma Cultura de Risco.

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2.2.2 Interacção: Invariante estrutural que se expressa numa

Organização que é Específica

Quando temos duas equipas em confronto, temos dois sistemas (de

sistemas...) com o mesmo objectivo: obter rendimento nos “jogos”.

Aquilo que permite o rendimento, ou seja, o desempenho, é a interacção

entre os elementos de cada equipa (entre si, com o meio, com o adversário...-

relação que traduz a maior ou menor complexidade do sistema), que se

expressa na sua organização, conferindo-lhe uma dinâmica que é Específica3.

Por esse motivo, Frade (1990) considera a interacção, invariante estrutural do

rendimento. Revelando-se, por isso, pertinente apresentar as suas

características fundamentais.

Enquanto estrutura do rendimento, a interacção é fenomenológica

(porque diz respeito ao fenómeno do “jogar”) e representacional (porque tem

que ver com as Especificidades da equipa) (Frade, 1990). Regula as relações

possíveis entre os jogadores, pois é uma presença “ausente” (abstracta) em

todos os “jogares”, ou seja, é uma presença detectável através de uma

manifestação concreta: a organização, sendo que, os diferentes “jogares”

expressam formas particulares de organização (lado representacional do

“jogar”). Denotando-se uma relação dialéctica de modificação e/ou

construção/evolução entre interacção e organização.

À semelhança de um organismo vivo quando pretende conhecer, a

equipa (“órgão que modeliza o objecto”) é (deve ser) dotada de um projecto

identificavél (“jogar” idealizado4) a partir do qual o seu comportamento pode ser

3 Específica/Especificidade: A acentuação do E (com letra maiúscula e a negrito) não se

trata de um preciosismo semântico, de acordo com Guilherme Oliveira (2004) este pormenor

(que na prática é um “pormaior” pois condiciona todo o processo de treinabilidade) pretende

diferenciar a especificidade inerente à modalidade da Especificidade do “jogar” de determinada

Equipa que resulta da convergência de múltiplas dimensões. 4 “Jogar” idealizado para uma determinada Equipa, na medida em que resulta da

convergência de múltiplas dimensões: cultura (país e clube), características táctico-técnicas

dos jogadores, etc. Sendo reconhecido também como “modelo de jogo” ou “projecto colectivo

de jogo” (Guilherme Oliveira, 2004).

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interpretado (característica teleológica). Esses objectivos passam pelo

desempenho da equipa, não apenas na sua dimensão resultado mas também

na sua dimensão “jogo” (Cunha e Silva, 2003), ou seja, pela apresentação de

determinadas regularidades que conferem uma “morfologia” (Goethe cit. por

Capra, 1996) à equipa, “o “jogar” de determinada forma”. Por outras palavras,

dentro da imprevisibilidade característica ao jogo, pretende-se que a equipa

manifeste algumas regularidades, que vão permitir reconhecer determinada

equipa pela “semelhança familiar” em jogos diferentes.

Esta hipótese teleológica (Le Moigne, 1977) realça a necessidade de

interpretar a equipa de acordo com os seus objectivos (no que a dimensão

“jogo” se refere, uma vez que no rendimento superior o objectivo na dimensão

resultado é sempre o mesmo: ganhar). A interacção ao ser interpretada à luz

desses objectivos vai apresentar necessariamente configurações diversas mas

todas elas pertinentes em relação aos objectivos/projectos propostos, de onde

resulta a importância de acentuarmos o lado representacional da interacção.

A coerência e persistência de cada sistema é que permite definir a sua

identidade (Holland, 1997), no caso concreto do sistema Equipa: a sua

“morfologia”. Ou seja, a imprevisibilidade característica ao jogo implica que o

sistema Equipa se confronte continuamente com situações novas, é a resposta

a essas situações novas que, se coerentes com o “projecto colectivo de jogo”,

conferem uma morfologia à Equipa; e depende de numerosas interacções, da

agregação de vários elementos e da adaptação/aprendizagem (Holland, 1997).

No entanto, dada a abertura ao ambiente, inerente aos sistemas complexos

adaptáveis5 (SAC’s) (à semelhança da Equipa) para que a mudança seja

coerente é necessário que os comportamentos se orientem por princípios, que

fornecerão pistas para a resolução de problemas pendentes (Holland, 1997).

Esses princípios, estabelecidos em função dos seus objectivos,

assemelham-se ao que Laborit (1987) designa de “informação-estrutura”, que,

de acordo com a sua etimologia, propõe a atribuição de uma “forma”

5 Sistemas complexos adaptáveis: Tradução da designação atribuída por Holland (1997) aos

sistemas complexos que se mantêm coerentes quando enfrentam o novo, através do processo

de adaptabilidade ou aprendizagem (SAC’s).

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((in)formação) às relações entre as partes de um todo de acordo com uma

determinada ordem, sendo estes princípios que permitem conferir alguma

inteligibilidade ao “jogo”.

2.2.2.1 Princípios de interAcção

Não há jogo sem regras. São as regras do jogo que o definem,

embora elas sejam incapazes de específicar os decursos individuais de cada partida.

Fiolhais (1989)

“No futebol não existem regras fixas, porque se nutre de pequenos grandes detalhes”.

E acrescentaríamos: porque esses pequenos detalhes têm que ver com a nossa condição de humanos.

Olivares (1978)

Comummente designados de “princípios de jogo”, consideramos que,

face ao que temos explorado, a designação mais adequada será “princípios de

interAcção”, pois põe em evidência os seus propósitos: estabelecer relações

entre as partes com uma determinada ordem. Para além disso, o

comportamento da equipa, enquanto “todo”, depende muito mais das

interacções do que da acção das partes (Holland, 1997), na medida em que é a

interAcção que permite antecipar a acção das partes ao longo do jogo.

A definição desses princípios de interAcção deve ser cuidada, na medida

em que não deve limitar o desenvolvimento da estrutura do rendimento

(fechando-a), isto porque “as estruturas mudam momentaneamente quando

funcionam, mas, quando esta mudança é tão grande que se torna

necessariamente irreversível, desenvolve-se um processo histórico, dando

origem a uma nova estrutura.” (J.A.Millher, 1971, cit. Por Le Moigne, 1977,

pp.70) ou seja, a uma nova morfologia do jogo (que é um “jogar”) que surge da

complexificação da organização colectiva.

Isto leva-nos às noções similares propostas por vários autores de

servomecanismo (Laborit, 1987), mecanismo regulado em tendência da

cibernética (Oliveira et al., 2006) e mecanismo não mecânico (Frade, 2006),

que sugerem a existência de um conjunto de princípios de interAcção que

regulam a abertura ao ambiente, ou seja, uma equipa possui determinadas

referências comportamentais (princípios) que se modificam (adaptação) em

função das informações exteriores (contextuais), podendo evoluir para novas

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estruturas (entenda-se padrões de interacção) ou retomar o inicial. Cunha e

Silva (2003) corrobora esta ideia afirmando que “os princípios devem ser

móveis, ou seja, devem ser flexíveis, e portanto devem conter essa dimensão

de adaptação, de adaptabilidade.”. O “jogo” desempenha um papel muito

importante na avaliação e aferição destes princípios de interAcção, que, pelas

propriedades que devem manifestar, vão sendo reajustados em função das

necessidades que a equipa vai demonstrando nos jogos.

Essas referências comportamentais ao estar na base dinâmica de

qualquer “jogar” deve assentar em regras de funcionamento flexíveis, definidas

em função das características dos jogadores e do “estado final” que se

pretende atingir (“jogar” idealizado), contemplando vários graus de liberdade e

assim proporcionar a adaptação, o que leva à necessidade de as sistematizar.

Esse é um processo fundamental, sendo, para Mourinho, um dos seus

segredos (Lourenço e Ilharco, 2007). Ainda que este processo seja teórico,

pretende-se unificado à prática, na medida em que a prática não deve ser

“acéfala” nem a teoria “pura”: “A teoria serve para comandar a intuição, e para

ser continuamente melhorada, aperfeiçoada e alterada de acordo com as

circunstâncias concretas que se estiver a enfrentar.” (Lourenço e Ilharco, 2007,

pp. 286). O que vai ao encontro do que temos evidenciado ao longo deste

trabalho, ou seja, a necessidade de conceber a Equipa como um sistema

simultaneamente fechado e aberto ao seu ambiente.

Sistematizando os princípios de interAcção, estamos a conferir sentido à

sua articulação, no entanto, sendo a sua interpretação feita pelos jogadores é

necessário que o processo de aquisição desses princípios seja

permanentemente reflectido, no sentido, de os ir consolidando, ajustando e

reformulando de acordo com o “acontecer” dos mesmos. Pelo exposto, o modo

como cada treinador sistematiza o jogo que pretende, deve emergir da prática

reflectida, o que resulta num processo único e aberto, consequência das

circunstâncias concretas em que se vão aplicar e das ideias que se pretende

transmitir.

Por sua vez a articulação dos princípios promove uma morfologia na

Equipa que determina o ajuste dos jogadores, pois, de acordo com Ilharco e

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Lourenço (2007) “ (...), no funcionamento de um grupo, é através da interAcção

que as pessoas se vão conhecendo, que vão aprendendo a lidar umas com as

outras, através da percepção dos seus pontos fracos e dos seus pontos fortes,

das suas preferências e aversões, das suas necessidades, etc. Vão, pois,

através do conhecimento, identificando as possíveis reacções aos diversos

estímulos e dessa forma acabam por se ajustar uns aos outros no convívio do

dia-a-dia.”, este é um dos aspectos que justifica o processo de treinabilidade,

só treinando como se joga (ou como se pretende) é que se torna possível

identificar os pontos fracos e fortes entre colegas de Equipa. Deco (2008?,

fonte desconhecida), ainda no Barcelona, evidenciou um aspecto que vai de

encontro ao que pretendemos salientar, referindo que, quando tem de servir

um dos jogadores da frente sabe como eles gostam mais de receber ajustando

o tipo de passe em função do jogador que vai receber a bola. O mesmo

podemos inferir nas palavras de Assunção (2006), na altura jogador do F.C.P:

“Quando o Lucho sai, fico na cobertura, se o Quaresma, que é muito

habilidoso, leva a bola, tento ficar um pouco atrás para o caso de ele a perder.”.

Existe portanto uma “função de ajuste” dos jogadores que vai promover o “jogar

uns em função dos outros”, uma sentimentalidade de Equipa. Van Gaal (1997,

cit. por Kormelink e Seeverens, 1997, pp.3) corrobora ao afirmar que “No

futebol, tudo depende do colectivo. Desse modo, é importante que cada

jogador saiba o que pode ou não fazer. Têm que descobrir as características

de cada um, e isso automaticamente leva a um bom entendimento, que é a

base para o resultado. Todos os jogadores têm de aprender a colocar os

interesses da equipa em primeiro lugar.”

Deste modo, os princípios de interacção assumem um papel

preponderante na emergência de uma morfologia, sendo que a sua coerente

articulação leva à necessidade de os sistematizar.

Neste trabalho ao procurarmos as expressões das equipas de

rendimento superior, pretendemos sistematizar os indicadores qualitativos que

se desdenham com maior ou menor dificuldade nessas equipas. Assim,

falamos de uma “MacroSistematização” do “jogar de qualidade”, no singular

porque nos estamos a referir a indicadores que se verificam com alguma

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regularidade nas equipas de rendimento superior. Esta perspectiva permiter-

nos-à apreender a diversidade de “MicroSistematizações” dos diferentes

“jogares de qualidade”. Tomemos como exemplo a circulação de bola, sendo

um indicador de qualidade, o modo como é concretizada (microsistematização)

depende de muitos aspectos, podendo desse modo, apresentar dinâmicas

distintas.

Neste (sub) capítulo deixamos já antever a importância de uma noção

crucial no desenvolvimento de todo o trabalho: a organização. Sobre o qual

dedicaremos, com o fluir desta dissertação, uma reflexão mais aprofundada.

Não passaremos para outro (sub) capítulo sem antes realçar, em jeito de

conclusão, que a interacção enquanto invariante estrutural que se expressa

numa organização que é Específica, conferindo desse modo uma morfologia a

determinada equipa, um “jogar”, por meio de referências comportamentais (que

definimos de princípios de interAcção), é orgânica, ou seja, funcionante e

evolutiva, desse modo, o nosso objecto de estudo deve ser percebido como um

“edifício” inacabado e para o qual não existe fim.

2.2.3 Tudo é Organização...tudo é Táctica!

Bogdanov (cit. por Capra, 1999) distinguiu três tipos de sistemas

complexos: os Organizados (em que o todo é maior do que a soma das suas

partes), os Desorganizados (em que o todo é menor que a soma de suas

partes) e os Neutros (as actividades organizadoras e desorganizadoras

anulam-se mutuamente). No entanto, Le Moigne (1977) relembra que o

conceito “sistema” funda-se na dialéctica do organizado e do organizante,

desse modo, qualquer equipa, para se apresentar como um sistema, tem

necessariamente que apresentar organização, caso contrário estaremos na

presença de um “conjunto” de jogadores.

Aparentemente diversas, estas posições têm em comum o facto da

unidade global dos sistemas, o Todo, pressupor organização. Desse modo, a

optimização de um qualquer sistema (“Jogar” de qualquer equipa) resulta da

articulação de sentido dos diferentes níveis de organização que o compõem

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(Seirullo, 1993, cit. por Garganta, 1977), de onde resulta o rendimento, nas

dimensões resultado e sobretudo na dimensão “jogo” (o “jogar de determinada

forma”).

A organização é uma das principais características sistémicas e nesse

sentido, Morin (cit. Le Moigne, 1977, pp.27) definiu-a como: “a capacidade de

um sistema para, ao mesmo tempo, produzir e produzir-se, ligar e ligar-se,

manter e manter-se, transformar e transformar-se”. Parafraseando um

reconhecido gestor nacional, Gustavo Pires (s/d. cit. Lopes, 2006) “A

organização faz a organização da organização”.

Esta construção teórica evidencia três modos de representação de um

sistema: a Eco-Organização, a Auto-organização e a Re-Organização (Le

Moigne, 1977). Ou seja, o conceito de organização pressupõe que o sistema se

adapte, se equilibre e evolua organizacionalmente. Este representação dos

sistemas está na base do entendimento da dimensão Táctica, enquanto

característica emergente da interrelação das várias dimensões que compõe o

fenómeno do jogar.

No capítulo anterior evidenciamos a necessidade de se conceber o

futebol de acordo com uma cultura de risco, valorizando a abertura ao

ambiente e aceitando a incerteza como um aspecto inevitável de qualquer

“jogar” que se pretenda de qualidade. No entanto, também deixamos claro que,

de acordo com Morin (2003), essa abertura só é possível a partir do seu fecho,

assim o “jogar” de uma determinada Equipa é um sistema que organiza o seu

fecho na e pela sua abertura. Por outras palavras a organização promove a

ordem interior do sistema a partir da imprevisibilidade característica do (s) jogo

(S). O mesmo autor refere que esta é a principal diferença dos organismos

vivos para as máquinas, ou seja, a aptidão temporária para criar ordem a partir

da desordem. A Equipa ao ser dotada desta propriedade inerente aos

sistemas, a organização, tem a possibilidade de engendrar comportamentos

sucessivos recusando, desse modo, que a sua história seja totalmente

aleatória (Le Moigne, 1977).

Pelo exposto podemos afirmar que a Organização do jogo de qualquer

Equipa de qualidade não se funde na “ordenação” de princípios rígidos, pois

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ela contempla a ordem e a desordem. Desse modo a organização deve ser

dotada de flexibilidade e criatividade, uma vez que, segundo Michael Hammer

(s/d, cit. por Lopes, 2006) esta organização caracteriza-se pela

responsabilidade, risco e incerteza.

Assim temos “uma Equipa”, com determinados objectivos, cujas

interacções são configuradas por princípios referenciais, promovendo uma

“ordem interna” no seio da equipa, ou seja, organização. No entanto, quando

em confronto com outra Equipa, na presença do imprevisível, a equipa tem de

se adaptar de acordo com as informações que vai recebendo do exterior

(contra-informação promovida pelo adversário), do ambiente (derivadas do

confronto com outra equipa: informações contextuais).

Pelo que, a (in) formação resulta da habituação e apresenta-se quer

como uma memória, como um saber, como uma mensagem, como um

programa, quer como uma matriz organizacional (Morin, 2003), apresenta-se

também como contra-informação (Frade, 2006), na medida em que, o jogo é

um confronto, logo há um adversário que vai procurar contrapor a informação.

Pelo exposto, a Equipa organiza-se não para agir, mas para interagir com o

ambiente.

Essa adaptação leva à aprendizagem e por sua vez pode levar a novos

estados de ordem, ou seja, a uma Reorganização da equipa que pressupõe um

ajustamento criativo. Salientamos deste modo, que a organização pode

modificar o ambiente, como o ambiente pode promover modificações na

organização, há uma interacção entre ambos.

Desse modo, a interpretação da informação está dependente da

Especificidade das diferentes Equipas, que têm objectivos distintos e que se

organizam em função de princípios de interacção Específicos. Sendo que, a

sua identidade, resulta da estabilidade da sua organização (longe do

equilíbrio), ou seja, de um padrão de organização, definido por Capra (1996)

como uma configuração de relações características de um sistema particular.

Falamos de uma “cultura organizacional”, que constituiu-se nos pressupostos

que orientam os comportamentos dos jogadores no seio da equipa (Lourenço e

Ilharco, 2007). Por isso, quando nos referimos à organização do jogo, falamos

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de uma organização de interacções que confere uma dinâmica que é

Específica de determinada Equipa.

Evidenciamos assim que o conceito de organização não é um conceito

chave mas antes um conceito problema, que deve prevalecer em todas as

Equipas que pretendem manifestar qualidade no seu jogar, na medida em que

a cultura de risco pressupõe organização.

Sendo a nossa pretensão estudar a organização do jogo, aquilo que

vamos fazer é “mapear” padrões de organização de carácter probabilístico, ou

seja, embora pertencendo a uma determinada matriz organizacional (que tem

que ver com determinada Equipa) os seus padrões podem ser diversos

estando ou não em posse da bola. Desse modo, torna-se pertinente decompor

a organização do jogo em dimensões fraccionárias que tenham que ver com

essa situação. Decomposição que se pretende didáctica e que respeite a lógica

interna do jogo, que se caracteriza pela sua irregularidade e abertura ao

ambiente.

2.2.4 Níveis de organização

“...E também o mundo,

Com tudo aquilo que contém,

Com tudo aquilo que nele se desdobra

E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.”

Fernando Pessoa - Álvaro de Campos

A organização multinivelada de sistemas dentro de sistemas pressupõe

uma característica chave, referenciada por Woodger (cit. por Capra, 1996) para

os organismos vivos: a sua natureza hierárquica. No entanto Laborit (1987) e

Capra (1996) ressalvam o perigo que do conceito hierarquia emana, sugerindo

a sua substituição pela noção de redes, expressando desse modo o

funcionamento global dos sistemas.

Esta perspectiva inerente ao paradigma sistémico revela-se de total

pertinência para o estudo do conteúdo do jogo na forma que aqui nos

propomos.

Interpretar o jogo de futebol como um confronto de sistemas (Guilherme

Oliveira, 2004), significa que temos dois sistemas de sistemas, assim, cada

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Equipa constituirá uma rede. Porém, pelo que vimos anteriormente, a Equipa,

enquanto “todo”, só existe como resultado da interacção das partes segundo

uma certa ordem, desse modo, a rede, não é a equipa enquanto somatório de

elementos, mas a Equipa que manifesta padrões de interacção Específicos,

configurando a rede, ou seja, apresentando uma morfologia.

Laborit (1987) já havia constatado esta interrelação dos sistemas dentro

de sistemas, deparando-se com “problemas” que hoje nos ajudam a interpretar

o funcionamento das redes. Ao procurar perceber como é que as múltiplas

regulações, inerentes aos múltiplos sistemas que compõem um organismo, se

podiam harmonizar, chegou, segundo o próprio, ao “segredo dos segredos”: os

níveis de organização e consequentemente aos servomecanismos, que se

referem a sistemas regulados (ordenados para dar uma “forma”) por um

comando exterior.

O autor citado ao questionar-se sobre a proveniência das informações

que regulam os sistemas chegou aos níveis de organização. Evidenciando que

as informações exteriores (reguladoras) a um nível, provêm do nível que o

engloba, existindo, por esse motivo, uma ligação energética e sobretudo (in)

formacional entre os diferentes níveis de organização. Para além disso, são as

informações que vão regular a abertura do sistema ao ambiente (à informação

contextual), que por sua vez permite a adaptabilidade do sistema.

Daqui se conclui que para estudar melhor a função de cada nível de

organização não podemos isolar dos níveis de organização que o englobam,

nesse sentido Laborit (1987, pp.39) afirma que: “ (...) se é importante conhecer

a estrutura de um nível de organização, talvez seja ainda mais importante por

em evidência as relações que ele estabelece com o sistema que o engloba.”.

O mesmo autor acrescenta que a abertura do ponto de vista da

informação-estrutura (ou seja, dos princípios de interAcção), só é possível

através de um “englobamento num sistema que garanta o controlo do

funcionamento do nível de organização em questão”.

O sistema Equipa, realizando-se por níveis de organização, pode ser

configurado através da metáfora da “Casca de cebola”, a qual apresenta

múltiplas camadas de graus de complexidade distintos (Maciel, 2008). Assim,

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para melhor percebermos o funcionamento da Equipa (enquanto manifestação

de um “jogar”), temos de identificar os seus níveis de organização. Essa

identificação trata-se no fundo de identificar as “partes” do “jogar” (que se

manifestam no nível englobante: o colectivo). O que nos levanta alguns

problemas, que se consubstanciam na necessidade de respeitar a “inteireza-

inquebrantavél” do “jogar”, desse modo a questão que se nos coloca é: como

reduzir um qualquer fenómeno representacional do jogo (um qualquer “jogar”)

sem que isso cause “danos significativos” à totalidade do “jogar”!?

Para responder a essa questão, é necessário definir partes cujas

propriedades sejam representativas do todo, o que implica o respeito pelo

princípio Hologramático sugerido por Morin (2003) para facilitar a compreensão

dos fenómenos complexos, o qual propõe que: “o todo está no interior da parte,

que está no interior todo”. Esta ideia está também subjacente aos fractais de

Mandelbrot, cuja principal propriedade reside no facto, dos “seus padrões

característicos são repetidamente encontrados em escala descendente, de

modo que suas partes, em qualquer escala, são, na forma, semelhantes ao

todo” (Capra, 1996, pp.118). Assim, em qualquer nível de organização temos

de ser capazes de reconhecer o todo (auto-semelhança) e de identificar

regularidades (através dos sub-princípios,... definidos em função dos

princípios) dentro da imprevisibilidade que lhes é inerente.

Quando olhamos para o sistema Equipa constatamos com relativa

facilidade dois planos de organização distintos: um plano mais “amplo” que

corresponde ao “jogar” da equipa, à macroOrganização, que tem expressão no

nível de organização colectiva; sendo que este resulta da organização das

partes em interacção, pelo que, o individual, nível de organização mais

“elementar”, corresponde ao plano da MicroOrganização.

Estes dois planos apresentam propriedades fractais, na medida em que,

apresentam auto-semelhança, ou seja, se ampliarmos o plano da

microorganização, ele será representativo da macroOrganização, resultando

esse da convergência da organização funcional e estrutural do plano Macro.

Assim, para que estes planos estejam em harmonia é necessário que sejam

auto-coerentes: “Quando falamos na perspectiva micro do jogar temos que

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primeiro criar um contexto num sentido lato para que esse lado micro seja

sempre direccionado para o mesmo objectivo.” (Silva, 2007).

No entanto, do plano Macro ao plano da MicroOrganização, que se

expressam nos níveis de organização colectiva e individual respectivamente,

encontramos outros níveis de organização cuja pertinência se revê na tal

necessidade de “reduzir sem empobrecer”6, ou seja, de apreender (para

interpretar e operacionalizar) a complexidade do fenómeno representacional do

jogar sem desvirtuar as suas interacções.

Guilherme Oliveira (2004) vai de encontro a esta perspectiva sugerindo

que os comportamentos nos diferentes momentos de jogo podem assumir

várias escalas: colectiva, sectorial/grupal, intersectorial e individual. Sendo esta

uma fractalidade em profundidade (Guilherme Oliveira, 2007), inerente à

inteireza-inquebrantavél do “jogar”. Esquematicamente estas escalas

traduzem-se em níveis de organização, do modo que propomos na figura 1:

Como já salientamos anteriormente a representação do sistema Equipa

pela Organização (Eco; Auto e Re) está intimamente ligada ao conceito de

Táctica daí que, estes níveis de organização possam ser considerados de

táctica Colectiva, táctica Intersectorial, táctica Sectorial e táctica Individual.

6 “Reduzir sem empobrecer”: Este conceito assume importância crucial na operacionalização

de um “jogar”, porém é necessário ressalvar que sempre que há redução há perda, cabendo ao

treinador minimizar os efeitos dessa redução e nesse sentido o entendimento deste conceito e

das fractalidades assume um papel preponderante.

Figura 1. Níveis de organização

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É ainda pertinente relembrar, a propósito dos servomecanismos de

Laborit (1987), que os níveis de organização estabelecem uma relação entre

eles, de tal modo que, para estudar a função de um dos níveis não o

poderemos isolar do nível que o engloba. Desse modo, é necessário perceber

que informações (reguladoras: princípios) vão actuar nos níveis de organização

que o plano da macroOrganização engloba. Daqui emana a pertinência de

existirem sub-princípios, sub-princípios dos sub-princípios, etc. que derivam

dos princípios definidos no plano Macro.

Constatamos assim, que a ordem nos diferentes níveis de organização

deriva da auto-organização do nível que os engloba (Capra, 2005). Esta

articulação entre os diferentes níveis de organização e dentro do próprio nível é

essencial para o funcionamento e coerência de todo o sistema, para o

aparecimento de regularidades e põe em evidência a “inteireza-inquebrantavél”

que o fenómeno do (s) “jogar (es) ” deve manifestar na sua interpretação (do

ponto de vista do treinador) e operacionalização, pelo que, a propriedade

fractal7 (Guilherme Oliveira, 2004) surge como característica essencial dos

diferentes níveis de organização.

Esta proposta em quatro níveis de organização permite-nos interpretar o

jogo nas suas diferentes partes/níveis sem perder a noção do seu

enquadramento global, uma vez que, qualquer um destes níveis apresenta as

propriedades que apresentamos: complexidade; auto-organização; abertura e

dimensão fractal em relação a um todo maior que é o “jogar”.

7 Propriedade fractal: é uma das características particulares inerentes ao jogo de futebol

(Guilherme Oliveira, 2004) e pretende evidenciar que dentro da imprevisibilidade característica

do jogo é possível identificar padrões de (inter) acção que se repetem no tempo.

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2.2.4.1 Da macro à microOrganização: espiralidade morfológica

“Apesar de vivermos numa sociedade individualista, pretende-se no mundo do futebol que o centro de

gravidade de uma equipa seja o colectivo.”

Valdano (2007)

“…o indivíduo é a arma de desequilíbrio mais sofisticada de qualquer equipa.”

Valdano (2005)

“Uma partida podia, por exemplo, partir duma dada configuração astronómica, ou do tema duma fuga de

Bach, ou duma frase de Leibniz ou dos Upanishads e, segundo a intenção ou o talento do jogador, prosseguir e

desenvolver a ideia condutora por ela evocada ou enriquecer a expressão dessa mesma ideia com a evocação de

ideias próximas. Se o principiante era capaz de estabelecer um paralelo, por meio dos símbolos do jogo, entre uma

melodia clássica e a fórmula duma lei da Natureza, o conhecedor e o mestre conduziam a partida desde o tema inicial

até combinações ilimitadas.”

Hesse (s/d, cit. por Fiolhais, 1989)

Evidenciamos assim a necessidade de conceber a organização em

planos de complexidade distintos: da Macro à MicroOrganização, que resultam

em diferentes níveis de organização em interacção permanente. Salientamos

que os níveis de organização constituem-se fractalidades do “jogar”, e, nesse

sentido, interessa evocar Cunha e Silva (1999, pp.62) que nos elucida sobre

uma característica inerente a esta propriedade: “A fractalidade intui que o micro

não se opõe ao macro, ela sabe que o macro contém o micro, mas é o micro

quem identifica, quem atribui identidade ao macro.”.

Identificados os níveis de organização, as suas propriedades

fundamentais e a sua pertinência, surge-nos outra questão também

proveniente das inquietações de Laborit (1987), e têm que ver com a formação

do sistema, concretamente por onde começa: “Em baixo ou em cima?” O

mesmo será perguntar como surge a morfologia da Equipa!?

Na interpretação do conteúdo do jogo observamos frequentemente duas

posições distintas quando se procura a resposta a esta questão. Por um lado a

“velha questão” do ter ou não ter jogadores, sendo esse o argumento utilizado

por muitos treinadores para justificar a não opção por formas de jogar mais

evoluídas (Amieiro, 2005). Por outro lado, há quem defenda de forma definitiva

a totalidade do sistema Equipa, “a equipa é um todo”, um todo homogéneo, o

que nos parece também, uma perspectiva limitadora da evolução do fenómeno

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representacional do jogar, na medida em que poderá promover barreiras aos

“desvios criadores” dos jogadores, à sua individualidade.

O nosso fio condutor leva-nos porém para outra perspectiva, que se

consubstancia no princípio da recursão organizacional proposto por Morin

(2003), que tem subjacente a ideia de um processo em que os produtos e os

efeitos são simultaneamente causas e produtores daquilo que os produziu. O

mesmo autor (2003, pp.108) clarifica-nos com um exemplo: “A sociedade é

produzida pelas interacções entre indivíduos, mas a sociedade uma vez

produzida, retroage sobre os indivíduos e produ-los.”, também a Equipa, uma

sociedade (com várias “microsociedades”), só existe pela organização das

suas partes, porém essa organização ao suceder vai retroagir sobre as partes

e também produzi-las. Esta ideia da recursão organizacional está subjacente à

ideia de autonomia do sistema, porém, pode-nos induzir numa lógica de

circularidade na medida em que não explicita a experiência subjectiva das

partes, ou seja, dos jogadores. Sabemos de antemão que essa não é a ideia

implícita em Morin (2003) pois, como já vimos, este autor concebe os sistemas

abertos pelo seu fecho.

Cunha e Silva (1999) menciona que esta circularidade (existindo) tem

consequências negativas no crescimento do sistema, limitando-o. O mesmo

autor (1999, pp. 139) sugere, em oposição à circularidade, o conceito de

espiralidade, na medida em que: “A espiral cresce, conquista território, e

embora se desenvolva na periferia de pontos por onde já passou fá-lo

progressivamente mais afastada. A espiral não despreza o centro, não lhe vira

as costas, mas vai-se emancipando paulatinamente. Regressa, mas está cada

vez mais longe do ponto de partida. Ela é compatível com a aquisição, com a

evolução.”. Se nos recordarmos do que evidenciamos nas estruturas

dissipativas, esta noção de espiral descreve o desenvolvimento inerente a

essas estruturas.

Guilherme Oliveira (2006) corrobora esta perspectiva ao afirmar que,

quando se confronta com determinada equipa não adopta um modelo de jogo,

cria, juntamente com os jogadores, um modelo de jogo, enfatizando que não é

uma criação exclusiva do treinador, na medida em que os jogadores recriam

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aquilo que o treinador estabelece como princípios de interAcção. A esta

interrelação dialéctica o autor mencionado designa, tal como aqui nos

propomos, de desenvolvimento em espiral.

Pelo exposto, o princípio da recursão organizacional deve ser

complementado com o princípio do desenvolvimento em espiral.

O ponto de partida da espiral será o “estado final que se pretende

atingir”, uma morfologia que é balizada pela articulação dos princípios de

interAcção que o treinador define em função da convergência de muitas

variáveis, nomeadamente: a cultura (do país e do clube), a ideia que (o

treinador) do jogo se tem e da qualidade dos jogadores8 que constituem um

plantel. Dando estes origem a sub-princípios, sub-princípios dos sub-princípios,

etc., que funcionam como respostas preferenciais a determinados estímulos e

que se articulam pelos diferentes níveis de organização.

O início da espiral dá-se a partir do momento que os jogadores dão vida

aos princípios que o treinador propõe para a sua equipa. Os jogadores ao

interagir com o ambiente, com o desconhecido, na sua individualidade, recriam

a organização levando-a para sítios onde nunca esteve, podendo esses locais

traduzir-se em novas formas de organização, mais complexas, e na

modificação das próprias partes.

Metaforicamente, imaginemos um casal, composto por duas pessoas

com um código genético próprio. Planeiam e concebem um filho. Ainda na

barriga da mãe desconhecem por completo como vai ser o filho, no entanto,

8 A qualidade dos jogadores é um aspecto preponderante no decorrer do processo que confere

a determinada Equipa uma identidade, influindo tanto na idealização de um jogar como na

complexificação da sua organização. Porém, é pertinente ressalvar que esta qualidade que se

baseia na capacidade Táctico-técnica dos jogadores tem subjacente, também, as qualidades

técnicas que permitem que dois jogadores tenham comportamentos tácticos-individuais

distintos. É manifestamente diverso o comportamento de um lateral com capacidade para

cruzar “na passada” de um outro lateral que não o consiga fazer. Ainda que isso requisite

qualidades táctico-técnicas como a identificação do timing de cruzamento e a coordenação

com o colegas de Equipa, as qualidades técnicas são também muito importantes, e devem ser

continuamente trabalhadas, pois se não consegue cruzar na passada de nada importa

identificar o timing para o fazer.

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sabem que vão ter um bebé com determinada forma. Que relação tem isto com

o futebol?

Enquanto treinadores idealizamos um “jogar” que, à partida, acreditamos

que é aquele que melhor se adequa a um determinado plantel. No entanto, os

jogadores, também têm o seu “código genético”, e é da interacção de cada

indivíduo, do seu “código genético”, com aquilo que idealizamos e com o

ambiente, que vai emergir algo que ainda não sabemos exactamente como vai

ser, mas sabemos que vai ter alguns traços característicos.

Para além disso, é pertinente reforçar um outro aspecto de veras

importante, estamos a falar de individualidades que se inserem e trabalham em

prol de um colectivo, pelo que, é necessário atender ao facto de haver uma

interpretação individual e uma interpretação colectiva, pois como refere Queiroz

(1983, pp.15), sobre os princípios de jogo, eles devem ser entendidos como

“as regras de base segundo as quais os jogadores dirigem e coordenam a sua

actividade – consideradas individualmente e em colectivo (...) ”.

Imaginemos a seguinte situação: determinada Equipa procura a

verticalidade da circulação de bola através da circulação horizontal, este

comportamento colectivo tem implicações na saída de bola do GR, devendo

esta fazer-se preferencialmente curta (estando o adversário defensivamente

organizado). À medida que vamos ampliando os níveis de organização,

definem-se referências comportamentais (sub-princípios, sub dos sub,...) cuja

articulação e coerência determinam o êxito (ou não) do princípio e logo a

possível configuração da equipa. A título de exemplo, sugerimos as seguintes

referências:

Colectivo: Equipa posicionada de modo a estabelecer sempre linhas de

passe ao portador da bola.

Intersectorial: relação do sector defensivo com o sector intermédio que

permita a criação de espaço entre estes para: “libertar” as áreas mais recuadas

do terreno; e criar Espaço para depois aparecer com movimentos de apoio à

Circulação de bola.

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Sectorial: laterais devem preferencialmente procurar dar profundidade à

largura e os centrais devem posicionar-se preferencialmente no prolongamento

das linhas laterais da grande área.

Individual: apoios dos centrais (e médios) em momento de receber a

bola preferencialmente orientados para a baliza do adversário (diagonal ou de

frente).

Em primeiro lugar é pertinente salientar que os níveis de organização ao

funcionarem como servomecanismos regulam, através das referências/

(in)formações, a abertura ao ambiente. No entanto, à medida que ampliamos

os níveis até ao individual, verificamos que aumenta a dificuldade em prever o

comportamento, esta característica é, na geometria fractal, reconhecida como

“estrutura fina”, isto é, quanto mais se amplia mais detalhes é possível observar

(Alves, 2008).

Esta variabilidade do detalhe permite que pequenos acontecimentos

aleatórios, que Prigogine designou de “flutuações” (Capra, 1996), possam

definir a ramificação que o sistema vai seguir. No jogo estas flutuações

correspondem, por exemplo, ao adversário: como se posiciona, como

pressiona, etc. Estas flutuações ao influenciar a bifurcação que o sistema

segue podem levar à emergência de novas formas de ordem (“ordem por

flutuações”).

Assim, apesar de reconhecemos que estas referências comportamentais

exercem influência no nível mais elementar, quem determina o que fazer no

“aqui e agora” é o jogador. Holland (1997) corrobora ao referir que a modelação

dos sistemas complexos adaptáveis é dirigido para a selecção e representação

de estímulos e respostas preferenciais (definição dos princípios de interacção),

porém quem determina os comportamentos são os próprios elementos activos,

os jogadores. Como já vimos, são onze individualidades, que ao posicionar-se

num ponto de bifurcação vão decidir em função de contextos aleatórios e

irrepetíveis (Flutuações) e da sua “história anterior” (cultura do jogador,

características e qualidades inerentes a cada jogador).

O cerne da questão está na compreensão que a individualidade, por ser

única, por possuir uma história própria, é criativa no modo como resolve os

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“problemas” que o contexto lhe coloca, como escolhe entre vários futuros

possíveis.

Recorrendo novamente ao exemplo em cima citado, que falamos da

orientação dos apoios de um central ou médio, se o adversário não pressiona

essa saída de bola (flutuação), existe Espaço para a receber, não há problema

algum em receber de costas.

Outro exemplo: para a posição de médio centro temos dois jogadores

com características manifestamente diversas: Busquets (Barcelona) e

Fabregas (Arsenal). O modo como eles fazem a leitura do jogo é

completamente distinta, verificando-se que, Busquets apoia muito mais a

circulação de bola, sendo que, nessa situação recebe muitas vezes de costas e

dá de primeira, enquanto Fabregas recebe na maioria das vezes a pensar em

servir os colegas da frente. As características de um e de outro jogador vão

gerar (sub)dinâmicas manifestamente distintas, mas o princípio

independentemente do jogador que os substitua (como suplente ou em trocas

posicionais) nas respectivas equipas, mantém-se.

Numa situação em que temos dois jogadores que ocupem a mesma

posição, ao emprestarem à Equipa a sua individualidade promovem para

aquela mesma posição (sub) dinâmicas distintas. Nesse sentido, podemos

afirmar que é diferente termos o Deco como jogador que “serve” os avançados,

ou termos o Ballack, as qualidades de cada um, ou seja, a sua individualidade

permite que a (re) criação do jogo seja distinta estando um ou outro jogador em

campo (ou até simultaneamente). Isto é, qualidades diferentes vão permitir

comportamentos tácticos individuais distintos. Do mesmo modo que nos

referimos à orientação dos apoios poderíamos falar de um drible ou de outra

acção que permita ao jogador resolver os problemas que se lhe colocam.

A liberdade de um jogador, não acontece pois, à revelia do que são as

referências comportamentais da equipa, na medida em que, tem objectivos

colectivos precisos. Nesse sentido concordamos com Queiroz (2006) quando

refere que “Primeiro, cada jogador tem que saber e compreender exactamente

o que é que a equipa espera dele, segundo, tem que compreender e saber qual

é que deve ser o seu contributo para a equipa (…)”.

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Desse modo, se temos alertado para a importância do todo enquanto

expressão morfológica de uma Equipa, não nos podemos alienar da “verdade”

do futebol: quem “joga o jogo” são os jogadores, são eles que dão vida às

ideias que do jogo se tem, são eles que decidem, agem, interagem, entre eles

e com o ambiente, e tudo isso ao acontecer (re)cria a organização e os

próprios jogadores.

2.2.5 Categorização

“Os jogos não se podem analisar aos pedacitos. Bom, puder podes, mas corres o risco de cometer o erro de

acreditar que um detalhe pode decidir tudo.”

Cruyff (2007)

Fazendo das palavras de Cruyff (2007) o mote para esta reflexão,

consideramos que, quando se trata de (re) conhecer padrões de interAcção, é

necessário ignorar alguns detalhes, caso contrário, sempre que observamos

uma equipa dificilmente conseguiremos detectar os pilares da sua morfologia.

O que vai ao encontro da “estrutura fina” característica dos objectos fractais.

“(...) se quisermos estudar um rio, não retiramos um balde cheio de água

e ficamos em terra especados a olhar para ele. Um rio não é a sua água e se

tirarmos água de um rio, perdemos a qualidade essencial de rio que é o seu

movimento, a sua actividade, a sua corrente.” (Watts, s/d, cit. por Levitin, 2007:

149). Para além de que, se procurarmos interpretar o seu curso, temos que nos

sustentar nas regularidades que ele apresenta, caso contrário perdíamo-nos na

imensidão de sinuosidades que o rio vai apresentando.

Isto pressupõe do nosso cérebro uma separação dos aspectos que

permanecem numa determinada equipa (MacroOrganização) sempre que a

vemos jogar. Se nos referimos não a uma equipa mas às equipas de top, aquilo

que vamos procurar reconhecer são os padrões comportamentais dessas

equipas e indicar aquilo que têm em comum, que como veremos, se poderá

manifestar de modos distintos.

Tal como na música, temos de saber diferenciar os aspectos de uma

canção (entenda-se “jogar” pois tem uma “impressão digital”) que permanecem

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sempre os mesmos (“propriedades emergentes”9 da MacroOrganização),

daqueles que são variações únicas (que o “aqui e agora” proporciona – lado

criativo – que se expressa na abertura do sistema pelo lado Micro) ou que são

característicos de uma determinada interpretação (entenda-se de um jogo)

(Levitin, 2007). Esta capacidade é, segundo o mesmo autor, própria ao

cérebro, na medida em que o computador é incapaz de identificar diferentes

versões da mesma canção, do mesmo modo, quando recorremos à “análise”

por programas de computador devemos ter em atenção essa mesma limitação

que se relaciona com a natureza e função da memória humana.

Esta característica da memória pressupõe um processo que se revela

fundamental na identificação dos aspectos que permanecem ao longo dos

jogos, a categorização. Este é um processo crucial na medida em que nos

serve de alternativa para estruturar a informação, reflectindo a organização

informacional de uma pessoa sobre determinado assunto (Almeida e Silva,

2008).

De salientar ainda, acerca do processo de categorização, que este não

se pretende estanque, nem definitivo, desse modo, qualquer pessoa pode

discordar acerca das categorizações e a mesma pessoa pode, em alturas

diferentes, discordar de si própria (Levitin, 2007). Par além disso este processo

não tem fronteiras distintas (Levitin 2007, Morin, 2003), pelo que o

enquadramento de um determinado comportamento numa categoria

concretiza-se pela “semelhança Familiar” (Levitin, 2007).

9 Cada nível de organização possui “propriedades emergentes” que são propriedades exibidas

por um nível que o anterior não exibe (Capra, 1996).

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2.2.5.1 Diferentes categorizações, diferentes entendimentos da

dinâmica do jogo: fases e momentos de jogo.

O estudo do conteúdo do jogo assume, na sua mais recente história,

duas lógicas que se pretendem didácticas e que se relacionam com

entendimentos distintos da dinâmica dos jogos.

Por um lado, temos uma perspectiva dualista que considera a existência

de duas fases distintas: a fase ofensiva, em que a equipa se encontra com a

posse da bola e realiza um conjunto de acções na tentativa de obter o golo; e a

fase defensiva, em que a equipa não tem a posse de bola e através de acções

colectivas vai procurar recupera-la (Guilherme Oliveira, 2004). Estas fases

encontram-se separadas uma da outra sendo que, uma fase é abandonada

logo que o objectivo é concretizado (marcar golo ou recuperar a bola) (Castelo,

1994), apresentando, desse modo, uma lógica sequencial (Guilherme Oliveira,

2004). Vários autores (Garganta, 1997, Castelo, 1994) apesar de utilizar estas

duas categorias, consideram o jogo na sua inteireza-inquebrantavél, ou seja,

ainda que reconheçam a existência de fases, a lógica que está subjacente ao

seu entendimento pressupõe uma das características fundamentais do jogo, a

sua fluidez. Porém, parece-nos que as interpretações, que derivam da lógica

que divide o jogo nestas duas categorias, levam frequentemente a encarar a

construção de uma equipa nos seus diferentes “processos” como um “edifício”,

definindo-se uma hierarquia de comportamentos que se pretendem

“institucionalizar” na equipa. Daqui derivam as ideias de “construir a equipa de

trás para a frente” e vice-versa ou “sustentar a equipa defensivamente e depois

pensar nos aspectos ofensivos.”, que por sua vez leva à necessidade de

“analisar” o jogo nas suas diferentes fases para o conhecer.

Por outro lado, em função das limitações que esta lógica didáctica

parece apresentar, vários treinadores (Frade, 1985, 2006; Ferreira, 2003,

Guilherme Oliveira, 2002, Michels, 2001, Mourinho, 1999, Van Gaal cit.

Kormelink e Seeverens, 1997) consideram que o jogo apresenta quatro

momentos: organização ofensiva, organização defensiva, transição defesa-

ataque e ataque-defesa. A substituição das fases por momentos é justificada

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por Guilherme Oliveira (2004) pela necessidade de enfatizar a lógica arbitrária

com que se apresentam ao longo de um jogo.

Para melhor percebermos a lógica por detrás desta categorização

revela-se pertinente recuar à sua génese: o “Futebol Total”, que suscita nos

românticos adeptos do futebol uma ressonância mítica, mesmo aqueles que

não o presenciaram visualmente sentem o “cheiro” de um futebol que se revela

cada vez mais utópico (sobretudo pelas equipas que não são de top). Falar de

“Futebol total” é falar em Rinus Michels (considerado treinador do século pela

FIFA em 1999), e sucessivamente na Laranja-Mecânica, Steven Kovacs, Johan

Cruyff (jogador e treinador), Van Gaal, nomes que potenciaram a evolução

desta modalidade ao introduzir uma nova abordagem ao jogo, que ainda hoje

fornece princípios actualizados às pretensões de um futebol de qualidade

superior.

Segundo Michels (2001) o famigerado “futebol total” resultou da

necessidade de “abrir” a defesa do adversário, motivo pelo qual, a sua Equipa

apresentava muita mobilidade, com frequentes trocas posicionais entre as três

linhas: defesa, meio-campo e ataque. Nesse sentido Cruyff (1977, cit. por

Barend e Van Dorp, 1999, pp. 26) refere que: “O que há de especial na equipa

holandesa é o movimento. Todos se movem. É essa a base de tudo. Se em

algum momento disserem: Cruyff está a jogar muito profundo, devia estar no

meio-campo, é porque não percebem nada. (...) Isso causa problemas ao

adversário, porque pode aparecer um pela esquerda e outro pela direita ou

todos pelo meio e eles têm que se adaptar.” Esta dinâmica implicava que, para

além das tarefas básicas inerentes a cada posição, os jogadores possuíssem

qualidades para, durante o jogo, assumirem outras posições (Michels, 2001,

Cruyff, 1977 cit. por Barend e Van Dorp, 1999).

Uma extensão desse futebol é o pressing realizado no meio-campo do

adversário, ou, como menciona o seu autor (2001), a “caça” à bola que resulta

da vontade de a ter sempre em sua posse. Assim, a sua equipa, mal perdesse

a bola, revelava uma dinâmica colectiva que indicava a vontade de a recuperar

imediatamente. Obviamente que isso nem sempre era possível, e nessas

alturas (re) organizavam-se defensivamente e logo que recuperassem a bola o

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primeiro objectivo seria a profundidade, tentando tirar proveito da possível

desorganização do adversário (Michels, 2001) 10.

Da interpretação desta dinâmica que Michels pretendia para as suas

equipas derivou uma lógica didáctica que considera “algo mais” para além do

ataque e da defesa: as transições, cuja tónica se encontra no aproveitamento

da eminente desorganização das equipas nos instantes imediatos à perda ou

recuperação da posse de bola (Guilherme Oliveira, 2004). Surgindo assim uma

categorização do jogo em 4 momentos, que foi inicialmente formulada para

responder à sua “inteireza inquebrantável” (Frade, 2006; Amieiro, 2005).

Porém, a ênfase colocada na escala temporal levou a que os momentos

reconhecidos como sendo de transição da defesa para o ataque e os

momentos de organização defensiva fossem sobrevalorizados (Benitez, 2008,

Wenger, 2008) e muitas vezes mal interpretados.

Tendo como mote um artigo publicado no Público em 2006, intitulado

“Mais do que ter a bola, interessa atacar rápido”, podemos inferir acerca de

como estes momentos têm sido negligenciados.

O treinador citado nesse artigo diz não ser “adepto de um modelo que

privilegie a posse de bola.” Dizendo ainda que “o que uma equipa pode ganhar

com muita posse de bola é acabar por perdê-la. No futebol actual o que faz

mais sentido são as transições rápidas. A equipa ganha a bola e procura atacar

rapidamente a baliza, para apanhar o adversário desorganizado”.

É frequente a associação entre ataque rápido e/ou procura de

profundidade com as transições. A justificação para a sua importância

encontra-se na vulnerabilidade defensiva do adversário após perda de bola. Ou

seja, como o adversário está a atacar encontra-se defensivamente

“desorganizado”, pelo que, é necessário aproveitar essa desorganização. Este

princípio é válido, porém não pode ser interpretado como uma relação única de

10 A conjugação verbal destes dois parágrafos remete-nos para o passado. Porém, podemos

rever estes princípios em algumas equipas de Top, das quais, o Barcelona é actualmente o

exemplo mais elucidativo. Desse modo, será com naturalidade que, com o fluir desta

dissertação, reavivemos os princípios inerentes ao mítico “futebol total”.

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causa-efeito, pois se assim for, sempre que a equipa ganha a bola irá procurar

imediatamente profundidade, assumindo assim uma escala temporal.

Desta situação surgem algumas limitações à qualidade do “futebol

jogado” de muitas equipas: transições em profundidade e/ou rápidas como

únicas soluções de ataque (Mourinho, 2003) e a ineficácia das transições

consequência da organização dos adversários. E quando falamos da

organização do adversário, mencionamos as equipas de rendimento inferior

que deixam muitos jogadores atrás da linha da bola quando estão a atacar

(Benitez, 2008) e das equipas de rendimento superior que procuram manter

uma organização global durante todo o jogo.

De ressalvar que o artigo acima mencionado surge na sequência das

palavras proferidas pelo treinador de um dos “grandes” portugueses, que

expunha algumas das suas ideias em conferência de imprensa. É certo que o

discurso nem sempre é igual ao percurso, e a inexistência de uma “autonomia

temática”11 no futebol pode levar a interpretações diversas daquilo que a “fonte”

pretende transmitir. No entanto, depois da reflexão realizada anteriormente

podemos “medir”, ou seja, olhando para os dados estatísticos da época

passada constatamos: a dificuldade das equipas “grandes” em derrotar as

“pequenas” as derrotas sofridas pelos “grandes” no campeonato, o reduzido

número de golos marcados por partida e a pobre participação dos “grandes”

nas competições europeias.

Urge assim uma perspectiva das transições, e consequentemente das

categorias que permitem interpretar o jogo, que eleve não a dimensão

temporal, mas antes a dimensão Espacial, relacionando-se esta com a

organização/desorganização da própria equipa e do adversário.

11 A inexistência de uma “autonomia temática” foi um problema apontado por Sobral (1999) que

dificulta a proclamação do desporto como uma Ciência. No futebol este problema é recorrente

sobretudo na discursividade utilizada pelos “agentes” ligados à modalidade. Constatamos

frequentemente que: “sistema”, “estrutura”, “táctica”, “modelo”, são usados como sinónimos, o

que pode levar a interpretações deturpadas deste fenómeno. É necessário falar-se a mesma

linguagem, pois a imprecisão semântica leva a equívocos que na prática se podem revelar

fatais.

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Na realização desta dissertação partimos do pressuposto que só

percebendo o jogo como um continuum, fluido na passagem de uns momentos

para os outros é que respeitamos uma das suas características fundamentais,

a sua “inteireza-inquebrantavél” (Frade, 2006; Amieiro, 2005).

Assim, uma vez que o jogo é feito de muitos momentos de organização,

não podemos ignorar a escala temporal, porém, com essa escala apenas

achamos pertinente identificar como tendo “semelhança familiar” os momentos,

decorridos durante todo o jogo, em que a equipa está em posse de bola e

noutra categoria todos os momentos em que a equipa não tem a posse de

bola. Uma vez que esta terminologia se afigura pouco “prática” e havendo uma

classificação estabelecida no mundo do desporto, iremos atribuir aos

momentos em que a equipa está em posse a definição de Ofensivos, e aos

momentos em que a equipa não está em posse de bola de Defensivos. Porém,

devemos lembrar que os momentos ofensivos também pressupõem

comportamentos defensivos e vice-versa.

O “jogo” tem, na sua “natureza”, um objectivo, a vitória. Sendo este

objectivo explícito nas equipas de Top, que, para o serem, têm de ganhar

regularmente. Desse modo, uma equipa que queira ser de Top tem,

necessariamente, de perspectivar a sua organização em função de como quer

chegar à baliza do adversário, só assim consegue concretizar o objectivo do

jogo. Deste modo, esta dissertação tratará, como já tivemos oportunidade de

salientar, dos momentos de organização ofensiva e, sempre que acharmos

conveniente trataremos também dos momentos de organização defensiva.

Nesse sentido, interessa perceber como os vamos estruturar.

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2.2.5.2 Categorização dos momentos de organização ofensiva:

escala Espacial

A definição de “categorias” não se afigura tarefa fácil, mas necessária

para estruturar os indicadores qualitativos dos momentos de organização

ofensiva.

Como tivemos oportunidade de constatar anteriormente, a definição de

quatro momentos, tem levado à sobrevalorização da escala temporal. Porém,

aquilo que nos interessa é a organização que acontece nesses momentos,

desse modo, iremos propor três categorias estruturais tendo como referência a

organização no e pelo Espaço. Ou seja, ainda que sejam momentos que

ocorrem no tempo, pretendemos que eles reflictam organização, desse modo,

os MomentoS12 de organização ofensiva podem ser configurados a partir de

três categorias: transições (ofensivas), criação de desequilíbrios e criação de

situações de finalização.

Estas categorias subentendem uma escala Espacial que tem que ver

com o binómio organização/desorganização da própria equipa e do adversário.

Pelo que, o modo como estes vão ocorrer em jogo depende mais do binómio

organização/desorganização, do que da escala temporal evidenciada

anteriormente.

Esta proposta não se pretende estanque, nem tão pouco definitiva,

sendo aquela que neste momento nos parece mais adequada e nos permitirá

sistematizar os indicadores de qualidade das equipas de rendimento superior.

Em seguida faremos a delimitação concepto-comportamental da

tematização proposta, para num momento posterior referenciar os indicadores

qualitativos das equipas de Top. A sequência pela qual são apresentadas não

é necessariamente aquela que acontece em jogo, pois não existe uma

12 MomentoS: Ao acentuarmos a letra “S” pretendemos evidenciar a existência não de um

momento de transição, de um momento de..., mas vários momentos de organização ofensiva

que decorrem ao longo do jogo.

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sequência pré-definida para o “acontecer” destas, além disso, as fronteiras

entre elas são ténues e por vezes de difícil percepção.

De salientar ainda que os comportamentos da equipa não são sempre

iguais, por exemplo as transições são condicionadas pelo contexto de

recuperação de bola, que por sua vez está dependente do modo como

determinada Equipa organiza o Espaço (como ocupa, dinamiza e ajusta). Por

este motivo existe uma enorme variabilidade de comportamentos susceptíveis

de levar a efeito estas categorias, o que sustenta a ideia que vai sendo

reforçada com esta dissertação, a variabilidade de “microsistematizações”

possíveis.

2.2.5.2.1 Transições (defesa/ataque)

Para que o futebol seja espectáculo é necessário existirem duas equipas cuja prioridade seja jogar melhor

do que a outra. E que não seja apenas não deixar jogar a outra para depois então decidir o que fazer.

No futebol primeiro pensa-se. Só depois se corre. (...). Ser veloz não é chegar primeiro, é resolver primeiro.

Menotti (2008)

De acordo com Guilherme Oliveira (2004, pp.147) estas transições

caracterizam-se pelos “(...) comportamentos que se devem ter durante os

segundos imediatos ao ganhar-se a posse da bola.”.

Após a recuperação de bola as Equipas encontram-se num ponto de

bifurcação13 comum, que define duas opções/ramificações para o

desenvolvimento do seu futuro, concretamente: se vai procurar de imediato

situações de finalização (através da exploração da desorganização do

adversário ou provocando imediatamente essa desorganização) ou procurar

antes a segurança da posse de bola (pelo reconhecimento que o adversário

está organizado).

Como, quando, onde, com quem, são variáveis que influenciam as

ramificações, ou seja, o caminho que o sistema segue nas transições. E devem

ser devidamente contempladas no modelo de jogo das Equipas.

13 Ponto de bifurcação: Conceito já explorado no (sub) capítulo 2.2.2, que evidencia o leque

de opções que o sistema, neste caso, a Equipa (enquanto manifestação concreta de um jogar),

se confronta e que a qualquer momento podem ser tomadas.

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Porém, à periferia do ponto de bifurcação a imprevisibilidade é maior

(Cunha e Silva, 1999), estando o sistema mais susceptível às flutuações do

ambiente, ou seja, pequenos acontecimentos aleatórios vão exercer grande

influência nas ramificações que o sistema vai seguir. No jogo, estas flutuações

correspondem ao adversário, concretamente se está organizado ou

desorganizado e, obviamente, à capacidade da Equipa identificar ou não essa

organização/desorganização. Este binómio determina de modo decisivo o

futuro do sistema nos momentos consequentes ao ganho da bola. E basta um

pequeno acontecimento aleatório, por exemplo, o “desposicionamento” de

apenas um jogador adversário, para levar a Equipa a procurar situações de

finalização.

Villas-boas (2006a) por altura do Mundial de 2006 numa das suas

crónicas, fazendo uma interpretação da equipa do Brasil, deixou algumas

indicações do funcionamento dinâmico da Equipa, das quais é pertinente

salientar a seguinte: “Depois e quando eles a perdem (a posse de bola) é

preciso ter critério, certeza e segurança no passe e na posse, é preciso ser-se

inteligente para perceber que a equipa brasileira está partida e posicionalmente

desequilibrada em transição defensiva e essa é altura ideal para

surpreender…Penso que nestes momentos de transição também é importante

olhar para a faixa que está descoberta.”. “Ser inteligente” implica, para além de

tudo o que adquirem por habituação, avaliar as circunstâncias concretas que

tem pela frente e tomar decisões. Nesta situação em concreto não basta

recuperar a bola e “accionar” um conjunto de mecanismos de transição, é

necessário que o jogador perceba as condições em que vai realizar a transição,

concretamente se o adversário está ou não organizado/desorganizado.

Vejamos o seguinte exemplo: a nossa equipa tem como referência

(sobretudo quando defende em bloco baixo), procurar imediatamente a

transição em profundidade, tentando com isso tirar proveito do possível espaço

que o adversário vai deixar entre a linha defensiva e o GR. Para isso deixamos

na frente um jogador rápido e bom no 1x1. Sabemos que um dos laterais do

adversário, com regularidade sobe no terreno, assim o espaço que deixa livre

será uma referência para explorar ao longo do jogo: ou com passes diagonais

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profundos, ou com a movimentação de jogadores de dentro para fora

aumentando assim, o Espaço para receber a bola ou para outro jogador entrar.

Porém, durante o jogo o adversário (auto) organiza-se e, esse corredor,

aquando da tentativa de ser explorado pela nossa equipa, é imediatamente

fechado pela basculação da linha defensiva. Para além disso, ao saber que a

nossa equipa nesses momentos procura, preferencialmente, a profundidade,

vai tentar condicionar essa mesma situação, fazendo um pressing colectivo à

nossa transição ou apenas um jogador a pressionar para temporizar o ataque e

assim a sua equipa (re) organizar-se defensivamente. Nesta situação, a equipa

deveria sair a jogar com maior segurança.

As transições acontecem, independentemente do modo como são

concretizadas, assim, a questão que se coloca diz respeito ao “como fazer”

(inerente às Especificidades de cada Equipa) e, não menos importante, à

identificação dos momentos em que deve jogar em profundidade para procurar

criar situações de finalização ou quando deve procurar a segurança (que

também pode estar na profundidade). Assim, tal como todos os

comportamentos da equipa, dependem fundamentalmente das circunstâncias

Espaciais (espaço, tempo e número) que encontram após ganho da bola.

Devendo eles surgir do permanente equacionar do binómio risco/segurança e

da organização/desorganização funcional/posicional da própria equipa e do

adversário.

2.2.5.2.2 Criação de desequilíbrios

Equilíbrio é a palavra sagrada do futebol actual mas o modo de o conseguir não é correndo atrás da bola,

como fazem tantas equipas, sim fazendo-a correr. Ninguém joga bem desprezando a bola.

Valdano (2007)

Atendendo à lógica sob a qual estamos a definir as categorias que nos

permitem estruturar os momentos de organização ofensiva, constatamos que

os desequilíbrios que se criam, podem resultar da desorganização do

adversário e/ou da eficácia da equipa que ataca. Assim, os desequilíbrios

surgem de uma qualquer vantagem Espacial que existe ou se cria

momentaneamente (o que pressupõe um timing de aproveitamento).

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Pelo que, podemos mais uma vez constatar que a criação de

desequilíbrios pode surgir após a recuperação de bola ou numa reposição de

bola em jogo.

Apesar de aparentemente simples, é necessário notar que estas duas

situações englobam todas as situações que decorrem no jogo em que a equipa

fica com a posse de bola. Por um lado, a reposição da bola em jogo inclui:

lançamentos de linha lateral, início e reinício dos jogos, pontapés de baliza,

bolas paradas e reposição da bola pelo Guarda-redes (curta ou longa). Por

outro lado, nas transições, a equipa, como vimos, pode: procurar

imediatamente situações de finalização, aproveitando a eventual

desorganização do adversário, criar desequilíbrios imediatamente após

recuperação (ataque rápido) ou procurar a segurança da posse de bola

(mantendo-a) para depois criar desequilíbrios no adversário.

Wenger (2008) salienta que as transições (em profundidade e/ou

rápidas) apenas são importantes quando as duas Equipas se “encaram”, dando

o exemplo da liga dos campeões, onde as Equipas, normalmente, disputam os

resultados. Mesmo nessas situações as Equipas têm preocupações com o

equilíbrio dinâmico o que eventualmente as pode dificultar. Para além disso,

concordamos com Queiroz (2006) quando refere que a perda de bola nas

transições convida o adversário a comandar o jogo, podendo o jogo tornar-se

num autêntico “jogo de flippers” (bola vai, bola vem).

É portanto, com alguma naturalidade, que as Equipas de top apresentam

outras soluções, identificando aquela que melhor se adequa as circunstâncias

que o jogo com determinada Equipa vai apresentando, sendo que, a segurança

destes momentos (que pode ser, também, após uma transição em

profundidade e/ou rápida ser “abortada”), por permitirem um maior controlo do

jogo podem surgir com maior regularidade. Sendo este um dos aspectos mais

importantes quando se pretende estar a top (Guilherme Oliveira 2003, 2006), a

posse de bola surge como consequência do objectivo do jogo, na medida em

que, para ganhar (implica marcar mais golos que o adversário), é necessário

ter a bola. Para além disso, concordamos com Van Gaal (s/d, cit. por Kormelink

e Seeverens, 1997, pp.11) quando afirma que “A posse de bola não é garantia

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de vitória, mas é uma boa vantagem na medida em que o adversário é

obrigado a correr atrás da bola”.

Considerando a progressão da bola com o intuito de finalizar, a melhor

modo de a ter é: fazendo-a circular (Barreto, 2003). Porém, essa circulação não

pode ser inócua, tem de apresentar objectivos precisos, tem que contrariar a

organização defensiva das equipas adversárias, que, como salientamos tem

evoluído muito, é necessário criar desequilíbrios no adversário. Desse modo a

definição dos princípios de interAcção das equipas derivam fundamentalmente

do “como fazer a bola circular para criar desequilíbrios no adversário”.

2.2.5.2.3 Situações de finalização e finalização

O futebol é uma questão de elos: basta que lhe falte o último para que todos os demais careçam de sentido.

Valdano (2007b)

Tudo o que vimos até ao momento acerca das categorias definidas

converge para a criação de oportunidades para finalizar e para a finalização. É

esse o grande objectivo de qualquer ideia de jogo que pretenda evidenciar

qualidade.

Estas situações de finalização ocorrem sobretudo em Espaços frontais à

baliza do adversário (curta e média distância), pelo que, dada a aglomeração e

organização de jogadores nesses Espaço, ocorre um aumento exponencial do

risco de perda de bola, motivo que justifica maiores preocupações com os

equilíbrios dinâmicos, caso contrário, as equipas ficarão mais expostas à

transição e finalização do adversário.

Sendo as vantagens Espaciais que geram os desequilíbrios no

adversário, elas são também momentâneas, porque o adversário vai reagir no

sentido de se auto-organizar, logo, procurará recuperar a bola e, não

conseguindo, vai procurar fechar os Espaços interiores e frontais à sua baliza.

Na impossibilidade de criar estas situações de finalização a equipa

procura novamente criar desequilíbrios. O que vem corroborar a ideia que

deixamos anteriormente, as fronteiras entre as categorias são ténues e por

vezes de difícil percepção.

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2.3 MacroSistematização do “jogar de qualidade”

Este livro não serve para jogar futebol. Serve para saber que, para jogar futebol, não servem os livros.

Apenas os jogadores servem... e as vezes nem eles, se as circunstâncias não os ajudam. Panzeri (1967)

(...) o futebol que gostamos... tem por objectivo ganhar todos os jogos,

todos os campeonatos, todas as taças, tudo, tudo, tudo... ganhar sempre.

Nunca “perder com toda a honra” ou “ganhar moralmente” tendo perdido em golos.

Panzeri (1967)

Neste capítulo vamo-nos debruçar sobre os indicadores qualitativos das

Equipas de top, nos momentos de organização ofensiva. Utilizaremos para isso

as três categorias que, anteriormente, propusemos para estruturar esses

momentos, nomeadamente: transições (defesa/ataque:ofensivas), criação de

desequilíbrios e criação de situações de finalização e finalização. Porém, antes

de os referenciar revela-se pertinente acentuar algumas das considerações

“gerais” que temos vindo a fazer nesta dissertação.

Esta “macrosistematização” permitirá uma variabilidade muito grande de

“microsistematizações”, ou seja, ainda que estejamos a referenciar indicadores

transversais às Equipas de top, a interpretação desses indicadores faz-se de

modo diverso pelas diferentes Equipas, consequência da singularidade

inerente a cada uma.

O “jogo” tem, na sua “natureza”, um objectivo, a vitória. Sendo este

objectivo explícito nas Equipas de top, onde uma cultura de risco é eminente,

têm que pensar o jogo em função de como querem chegar à baliza do

adversário. Desse modo, nos momentos de organização ofensiva essas

Equipas procuram ser objectivas na procura de oportunidades para finalizar e

na finalização (Benitez, 2008).

Como último ponto que aqui interessa reforçar, atentemos às palavras

de Queiroz (2006): “Lembro uma vez que estava a treinar, solta a bola, passa e

já não sei quem é que fez um remate exterior, golo, e eu disse, também serve.

Porque estar a dizer uma coisa a um jogador, segura, olha aqui o jogador atrás,

mas ele resolve rematar, bola no ângulo, o que é que vamos dizer, não? Não é

assim que se joga?” É necessário ter sempre presente que em todos os

momentos do jogo quem decide o que fazer é o jogador, desse modo, tudo o

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que aqui será apresentado, só fará sentido interpretado pelo jogador, pelo que,

dada a singularidade inerente a cada um, as interpretações14 que fazem serão

diversas, com maior ou menor qualidade, servindo estes indicadores que aqui

vamos apresentar de referências na tomada de decisão do jogador.

2.3.1 Espaço15: macrodimensão organizada e organizadora de

qualquer “jogar”

Através de cassetes de vídeo, por exemplo da equipa do Brasil durante o mundial de 1970 e da equipa

Holandesa no mundial de 1974, podemos ver que, os jogadores tinham muito mais espaço naqueles tempos.

Michels (2001)

O futebol é, inconscientemente, sempre sobre o Espaço. É sempre sobre criar e ocupar espaço. E se a

bola não vem, o jogador deixa o espaço e outro jogador o ocupará. É uma espécie de arquitectura do espaço.

É sobre movimento, mas continua a ser sobre Espaço, sobre organizar Espaço.

Michler (2008)

Ao longo desta dissertação temos enunciado algumas características

fundamentais para a compreensão do conteúdo do jogo. Evidenciamos que a

Equipa é um sistema complexo adaptativo (Garganta, 1997, Gaiteiro, 2006)

cuja organização expressa uma Especificidade dinâmica relacionada com

várias dimensões que não se podem alienar.

Salientamos também, que tudo é organização, na medida em que esse

conceito, na prática, “deve inspirar um imaginário ao mesmo tempo disciplinado

pelas metas do projecto mas suficientemente flexível para que permita, em

certas circunstâncias, desvios criadores” (Damásio, 2006 em prefácio de

Oliveira et. al. 2006). Desse modo, a organização da equipa assenta em

14 As interpretações assumem “dois níveis”: um nível abstracto relacionado com a leitura que

fazem ao jogo, comummente designada de “cultura táctica” e, um nível concreto relacionado

com as qualidades técnicas dos jogadores, que levam essa cultura a efeito. 15 Espaço: A teoria da relatividade de Einstein mostra que o espaço e o tempo estão

inextrincavelmente interligados (Hawking, 2002), pelo que, o Espaço que aqui nos referimos é

esse Espaço-Tempo que Einstein demonstrou. A sua configuração no jogo resulta da presença

de um número. Assim, este Espaço resulta da interacção entre espaço, tempo e número, que

resulta num Espaço funcional, para o diferenciar do espaço de jogo utilizaremos a inicial

maiúscula.

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princípios de interAcção, que devem contemplar a abertura ao ambiente,

interagindo com ele e consequentemente (re) criando-o.

As informações exteriores (reguladoras) referem-se ao modo como as

Equipas se organizam no e pelo Espaço, pelo que, consideramos o Espaço

uma macrodimensão configuradora dos padrões de interacção, de tal modo

que cada equipa tem uma “Espacialidade” própria, ou seja, a Equipa de acordo

com a Especificidade dinâmica que a caracteriza, interpreta de modo diverso

os Espaços (ainda que em determinadas situações não existam é necessário

criá-los) conferindo-lhe uma configuração, que lhe é própria.

Quando nos reportamos aos princípios de interacção, falamos por isso

de referências para agir no e pelo Espaço, o qual resulta da interdependência

entre tempo, espaço e número. Assim, a sua organização pressupõe a

existência de um Espaço a 4 dimensões, dinamicamente organizado e

organizante, falamos portanto de uma organização que é funcional (Guilherme

Oliveira, 2002, 2006, Silva, 2006).

No entanto, não podemos ignorar o espaço estaticamente organizado (3

D), na medida em que este constitui-se um “acontecimento de organização do

Espaço” ao qual se dá o nome geral de “forma” (Távora, 2007). Este espaço

fornece referências de largura e profundidade, importantes para a interpretação

dos princípios de interacção definidos para as Equipas. Sendo uma

regularidade que nunca se dissolve completamente (Gaiteiro, 2006), a estrutura

de jogo é mais do que a simples “ocupação dos espaços”, uma vez que esse

posicionamento se pretende coerente com a Especificidade dinâmica da

Equipa.

Este posicionamento sendo também organização, é uma manifestação

de vontade que pressupõe sempre que por detrás dele está o homem (jogador)

ser inteligente (Távora, 2007). Daqui emana a necessidade de associar à

estrutura a palavra táctica. Este “acontecimento de organização do Espaço” é

referido por diferentes autores como sendo a organização estrutural (Guilherme

Oliveira 2002, 2006, Silva, 2006) ou formal (Michels, 2001).

Interessa ainda ressalvar uma outra característica fundamental do

Espaço organizado, que surge na continuidade das palavras de Sachi (2006):

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“um metro de espaço faz toda a diferença no futebol moderno”, que é a sua

continuidade. Característica que segundo Távora (2007), tem andado um

pouco esquecida, dando o seguinte exemplo: “projecta-se uma estrada,

manifestação de organização do espaço e factor de movimento, e em que é

que se pensa unicamente? No seu comprido perfil longitudinal e na pequenez

dos seus perfis transversais; tudo o resto...é esquecido como se possível fosse

abstrair esse acontecimento de todo o espaço e de toda a circunstância que o

envolve.”.

Extrapolando para o “jogar”, esta descontinuidade do espaço (que

consideramos Espaço) surge pela dificuldade em definir áreas de intervenção

(relacionadas com a posição), as quais estabelecem as responsabilidades de

cada jogador. Dando origem ao que designamos de Espaços fronteira onde a

definição de responsabilidades nem sempre é clara. Esta visão parcial do

Espaço organizado resulta frequentemente na desorganização das Equipas.

Assim, estes Espaços fronteira, que surgem mais acentuados nas equipas de

rendimento inferior, são cruciais na criação de desequilíbrios e consequentes

acções de finalização.

Os Espaços fronteira que identificamos com maior regularidade são os

que se situam entre os sectores (Espaços fronteira verticais) defensivo-

intermédio (ou entre a linha defensiva e intermédia do adversário), como nos

explicita Villas-boas (2006c): “A povoação desse espaço entre a defesa e a

linha de meio-campo (e sempre de modo a que o médio-defensivo não o veja)

é essencial para a criação de oportunidades”. Também os espaços

intrasectoriais (Espaços fronteira horizontais), concretamente no sector

defensivo entre o lateral e o central, e ainda o espaço nas costas da linha

defensiva. Como veremos posteriormente estes assumem uma importância

fundamental quando se procura criar desequilíbrios no adversário.

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2.3.2 (Macro) Organização funcional do “jogar de qualidade”

“Futebol bem jogado pode por vezes necessitar de uma bola sem destino; da retenção da bola sem avançar

nem retroceder, nem fazer nada futebolisticamente esquisito, ainda que circunstancialmente necessário;

de um vertiginoso movimento de oito ou nove jogadores que escondem a bola fazendo-a circular de uns para

os outros; de um toque suave ou de um remate violento;...de tudo isso necessita o futebol bem jogado.

A única coisa que não necessita o futebol bem jogado, goleador, prático, efectivo, agradável, emocionante,

cativante... é do futebol que hoje se joga como o rugby: chutando a bola para a frente correndo com a esperança de a

alcançar! Disso não precisa.”

Panzeri (1967)

A diferença entre as Equipas de rendimento superior para as restantes

está na regularidade da qualidade que apresentam, o que lhes permite ganhar

com uma certa frequência nas frentes competitivas em que participam. Por

esse motivo, a top, é decisivo que as Equipas marquem e tenham

oportunidades de marcar (Benitez, 2008). O que pode ser conseguido de

modos diversos, pois, a riqueza das Equipas manifesta-se na variabilidade de

soluções que apresentam para resolver os problemas, neste caso marcar e ter

oportunidades de marcar. Daqui emergem características que as distinguem

das demais Equipas.

Se no primeiro capítulo deixamos claro que “ter a bola” é uma

consequência do jogo, pois é ela que permite ganhar, também salientamos

que, a melhor maneira de a ter é fazendo-a circular (Barreto, 2003). A sua

importância é expressa na opinião de vários treinadores (Cruyff, 1977 cit. por

Barend e Van Dorp, 1999, Guilherme Oliveira, 2002, Mourinho, 2003, Rinus

Michels, 2001, Van Gaal, 2006). Existindo vários modos de a circular, o que

define a sua qualidade é a objectividade e inteligência com que é utilizada no

aproveitamento da desorganização do adversário e/ou na criação de

desequilíbrios quando o adversário está defensivamente organizado, o que

resulta na selecção equilibrada entre a horizontalidade e a verticalidade da

circulação de bola.

A inteligência e objectividade não pretendem ser conceitos ambíguos,

são antes expressões concretas da circulação de bola que as equipas de top

apresentam. A objectividade ganha forma na permanente procura de Espaços

de finalização, emergindo assim a importância da verticalização do jogo. No

entanto, para levar a efeito essa objectividade é necessário atender às

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Especificidades da própria Equipa e ao binómio organização/desorganização

inerente ao adversário, pois a objectividade pode requerer, que a Equipa se

envolva na criação de desequilíbrios, no caso de o adversário estar

defensivamente organizado (donde emerge a importância da variação

horizontalidade/verticalidade), ou apenas identificar a sua desorganização, pelo

que, a objectividade pressupõe que a circulação de bola se realize também de

modo inteligente.

Outra característica evidente nas Equipas de top, é a vontade de

controlar o jogo, tendo a sua iniciativa (Cruyff, 2008, Van Gaal, 2006, Michels,

2001, Wenger, 2008, Mourinho, 2002, Hiddink, 1998). É certo que o controlo do

jogo também se pode concretizar sob o ponto de vista da organização

defensiva, restringindo-se o ataque adversário a Espaços reduzidos. Porém,

esse controlo, a top, traduz-se num “futebol dominante” que resulta na criação

de um maior número de oportunidades de finalização (Van Gaal, 2006), ou

seja, controla-se o jogo, porque se determina o que acontece nos momentos de

organização ofensiva e, não menos importante, quando não se tem a bola, a

Equipa não permite que o adversário a consiga desorganizar defensivamente.

Neste “futebol dominante” o controlo do meio-campo assume um papel

crucial (atenção que com esta constatação, não estamos a desconsiderar todos

os outros Espaços e posições do terreno de jogo, bem pelo contrário). Este

controlo do meio-campo, resulta de uma qualquer vantagem Espacial que

permite receber e passar a bola em condições favoráveis para a qualquer

momento desorganizar o adversário. Correspondendo ao interior da Equipa

adversária, se esse controlo for conseguido, torna-se mais fácil desorganizar o

adversário, através da variação dos ritmos de jogo, com passes de ruptura,

aproveitando a largura em profundidade, etc. O que se revela um aspecto

crucial, pois a circulação de bola pode, de algum modo, ser consentida pelo

adversário, que, no entanto, obriga a Equipa e concretamente alguns jogadores

(médios centro) a jogar de costas, ou seja, ainda que a bola circule nestes

Espaços, o seu aparente controlo não permite criar desequilíbrios (para isso o

jogador tem de receber a bola com os apoios orientados de frente para o jogo.

Para além disso, nas situações em que a Equipa opta por um jogo

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acentuadamente vertical, o meio-campo assume um papel preponderante, no

apoio ou conquista da segunda bola, encontrando-se nessas situações de

frente para o jogo.

Este controlo do meio-campo não se consubstancia apenas nessa

criação de desequilíbrios, resulta também na preocupação constante com os

Equilíbrios dinâmicos, sendo este um aspecto fundamental na apresentação de

um “futebol dominante”. Desse modo, a ocupação e organização desta área do

meio-campo pode permitir recuperar a bola (ganho de 2ª bola ou de um

ressalto) quando é perdida no terço ofensivo do adversário, ou temporizar a

transição do adversário para que toda a Equipa se (re)organize

defensivamente. Em organização defensiva, tratando-se do corredor central é

sem sombra de dúvidas um Espaço cujo controlo é importantíssimo, pois não

permite penetrações verticais da ou com a bola pelo centro do terreno de jogo,

garantindo maior estabilidade defensiva da Equipa. Nesta perspectiva Cruyff

(1985, cit. por Barend e Van Dorp, 1999) afirma que “o barómetro do futebol é o

meio-campo”.

No entanto, nem sempre é possível controlar o jogo, pois o adversário

pode ter a mesma intenção e qualidade para o fazer. Mourinho (s/d) ajuda-nos

a compreender esta questão na interpretação que realizou do jogo que opôs o

Chelsea ao Liverpool: “Em Liverpool jogaram dois meio-campos

poderosíssimos...Não houve espaço, não houve tempo, não houve nada. O

Liverpool resolveu isso com jogo directo para Crouch...Nós procuramos jogar a

partir de Drogba (...) ”. Na impossibilidade de “mandar no jogo”, de controlar o

meio-campo, as equipas procuraram outras soluções, o jogo mais directo. Para

além disso, se nos recordarmos das Equipas em questão, sabemos que a

interpretação do jogo directo é manifestamente diversa: enquanto no Liverpool,

Crouch tentava, ao receber a bola, colocar em profundidade (“penteando a

bola”) para algum jogador que aparecesse em profundidade (Gerard por

exemplo), Drogba procura segurar mais a bola para a partir daí jogar a

segunda bola com os médios que, assim, estavam de frente para o jogo. Deste

modo o meio-campo assume, igualmente, um papel preponderante no decorrer

do jogo. Esta interpretação ajuda a reforçar, mais uma vez, a variabilidade de

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(micro)sistematizações das Equipas de top e de soluções que estas

apresentam.

Outro indicador inerente às Equipas de top, que deixamos claro no

segundo capítulo, é a cultura de risco sobre a qual a filosofia dessas Equipas

está assente. O risco, nos momentos de organização ofensiva, traduz-se na

possibilidade eminente da perda de posse de bola. Desse modo, os riscos a

que se submetem derivam fundamentalmente dos seguintes aspectos que são

importantíssimos na criação de desequilíbrios e de situações de finalização:

assumir situações de 1x1, jogar no interior da Equipa, verticalidade do jogo e

“atacar com muitos jogadores” (Mourinho, 2003, Benitez, 2008). Todos

jogadores atacam e todos defendem, aquilo que os autores pretendem

salientar é, por um lado, o número de jogadores que chega a Espaços de

finalização (não necessariamente em simultâneo) e, por outro, o número de

jogadores que está disponível para dar e receber a bola, isto é o que Valdano

(2007) designa de “valentia futebolística” que tem muito mais que ver com o

“pedir a bola em qualquer circunstância do que arriscar a saúde em qualquer

acção”.

Com o aumento do número de jogadores em Espaços de finalização, a

Equipa fica com um maior número de soluções para chegar à baliza do

adversário, tornando-se mais difícil para o adversário defender se mais

jogadores puderem atacar para além do avançado (Benitez, 2008).

É necessário alertar ainda que estes riscos não pressupõem perigo para

a própria baliza, pelo que, as Equipas têm de se (auto) organizar para que o

risco não se torne pernicioso para a própria equipa. Pois uma equipa que

“ataque com muitos jogadores” é uma equipa com mais espaço defensivo

(Mourinho, 2003), o que nos remete para a importância dos equilíbrios

dinâmicos, ou seja, de pensar o jogo, o “jogar”, em termos da sua organização

global, ataca-se mas simultaneamente pensa-se em defender e defende-se

mas simultaneamente pensa-se em atacar. Sendo esta organização em todos

os momentos de jogo, outro indicador presente nas Equipas de top, que lhes

permite recuperar a bola quando a perdem ou, então, temporizar o ataque

adversário para que a equipa se (re) organize defensivamente.

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Evidenciamos, assim, quatro aspectos interligados que têm que ver com

a dinâmica que as Equipas de top apresentam: circulação de bola (criar

oportunidades para marcar e marcar); controlo do meio-campo (futebol

dominante); muitos jogadores em Espaços de finalização e verticalidade do

jogo (inerente à cultura de risco) e a organização global da equipa (equilíbrios

dinâmicos). A compreensão destas características é fundamental para os

propósitos desta dissertação e estão presentes nas categorias que a seguir

apresentaremos e também serão alvo de uma interpretação mais aprofundada

quando reflectirmos sobre a (macro) organização estrutural.

2.3.2.1 Transições (defesa/ataque)

Só recupero a bola quando a tiro do adversário e a coloco ao serviço da equipa,

e isto acontece em todos os locais do campo.

Menotti (S/d)

A configuração das transições de uma Equipa no jogo, depende,

fundamentalmente, do risco e/ou perigo que deles pode emergir e da

organização/desorganização do adversário.

Como já salientamos o risco é de perda da posse de bola, sendo um

risco calculado, pois a Equipa (auto)organiza-se em função dessa

possibilidade, no entanto, poderá também existir perigo de perder o controlo do

jogo (Queiroz, 2006), o que resulta do recorrente jogo de transições que,

muitas Equipas de rendimento inferior evidenciam quando se defrontam. Como

já vimos, o risco a que as Equipas de top se submetem é de perda da posse de

bola, caso contrário optam por outras soluções que não impliquem a

possibilidade do adversário criar situações de finalização ou impliquem a perda

do controlo do jogo.

Nas Equipas de Top podemos identificar dois padrões morfológicos que

resultam da possibilidade (ou não) de se criar, imediatamente após

recuperação de bola, situações de finalização. Situação que pressupõe a

identificação da, eventual, desorganização do adversário, ou a rápida criação

de desequilíbrios no adversário. Sendo esse o grande objectivo, chegar assim

que possível a Espaços de finalização, não interessa que seja de qualquer

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modo, pelo que, é necessário perceber como o fazer, elevando a qualidade do

Jogar.

2.3.2.1.1 Procura imediata de situações de finalização

Em linha recta só é recomendado correr corridas em que é necessário chegar primeiro a uma meta.

A meta do futebol procurada em linha recta, é um choque severo que resulta na perda de bola.

A profundidade do futebol é o rodeio, nunca o “sobe, sobe”.

Panzeri (1967)

As situações de finalização após ganho de bola, tanto podem ser

encontradas numa bola longa em profundidade, através de progressão no

terreno a 1 ou 2 toques para chegar à baliza adversária (ataque rápido),

através de passes de penetração (ou ruptura), tudo depende dos objectivos da

Equipa (concretamente na dimensão “jogo”16, uma vez que a Top o objectivo

na dimensão resultado é sempre o mesmo: ganhar), do contexto de

recuperação (como, quando e onde recupera a bola) e do posicionamento

adversário que determina se está organizado ou desorganizado, e

consequentemente se estas transições devem, rapidamente, criar

desequilíbrios ou aproveitar a desorganização do adversário.

Os comportamentos de profundidade são os mais frequentes, podendo-

se concretizar de modos diversos, dependendo das variáveis mencionadas

anteriormente. Assim, podemos ter fundamentalmente quatro padrões

comportamentais distintos quando procuramos a profundidade:

Profundidade para posterior criação de situações de 1X1 (progressão

com bola);

Profundidade para o corredor aproveitando a subida dos laterais –

diagonal exterior do avançado (1-4-3-3) ou mobilidade dos avançados

(1-4-4-2) para ocupar o espaço livre;

Ocupação imediata dos corredores laterais, bola no corredor central em

referência frontal (procura a verticalização: diagonais interiores dos

16 “Dimensão jogo”: É pertinente realçar, mais uma vez, que os objectivos na dimensão “jogo”

são definidos de acordo com a Especificidade que está inerente a uma determinada Equipa.

Assim esta dimensão tem em consideração, entre outras dimensões que participam na criação

de um “projecto de jogo colectivo”, as qualidades dos jogadores que se tem à disposição.

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avançados). Aqui os jogadores que dão a largura devem ter a noção do

timing de fecho. Ou seja, abrindo, aumentam a imprevisibilidade ao

adversário, pois não sabe em que corredor a bola vai entrar, contudo à

medida que evolui para situações de finalização, os jogadores devem

fechar coordenadamente de modo a garantir a superioridade numérica

no lado da bola.

Profundidade por meio de passes verticais de penetração ou de ruptura

procurando criar desequilíbrios no adversário;

Estas soluções pretendem explorar a eventual desorganização do

adversário que se encontra em transição defensiva. Porém, uma vez que a

preocupação com os aspectos “defensivos” do jogo é crescente (ou porque têm

preocupações com equilíbrios dinâmicos ou porque deixam muitos jogadores

atrás da linha da bola), nem sempre o jogador que recupera a bola tem

condições para procurar imediatamente situações de finalização através da

profundidade (Queiroz, 2006), nesse sentido, as Equipas (de top) têm

necessariamente de apresentar outras soluções. Assim, na procura imediata de

situações de finalização, as Equipas podem também recorrer ao que

habitualmente se designa de “Ataque rápido”, e que consiste na tentativa de,

imediatamente após recuperação da bola, criar desequilíbrios no adversário.

No entanto, quando a Equipa procura criar situações de finalização

imediatamente após recuperação de bola, terá que equacionar devidamente o

binómio risco/segurança, pois, de acordo com Queiroz (2006), se perdermos a

bola nestes momentos, convidamos o adversário a controlar o jogo, ou por

outro lado, arriscamo-nos a entrar em “jogos de transições” (Guilherme

Oliveira, 2006a) e com isso ficar defensivamente mais vulneráveis.

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2.3.2.1.2 Manutenção da posse de bola

“A coisa mais importante quando se ganha a posse de bola é não perder, isso é regra número um, (...) ”

Queiroz (2006)

A manutenção da posse de bola surge como consequência de aspectos

fundamentais inerentes à dinâmica das Equipas de Top. Em primeiro lugar, a

necessidade de “ter a bola” para controlar o jogo, em segundo, a necessidade

de apresentar várias soluções para o mesmo problema, ou seja, vários modos

de chegar à baliza do adversário, pois este nem sempre se encontra

defensivamente desorganizado quando ataca e, por outro lado, a rápida

criação de desequilíbrios, pode originar o “jogo de transições” mencionado por

Guilherme Oliveira (2003), que nós, já havíamos apelidado também de “jogo de

flippers”, o qual, põe em causa a estabilidade da Equipa (Queiroz, 2006).

Quando uma equipa, em transição, procura manter a posse de bola,

procura essencialmente a segurança desses momentos de organização, que

se traduz na procura de Espaços favoráveis à manutenção da posse e surge,

pelo reconhecimento que a Equipa adversária está organizada. É pertinenente

reforçar que, esta manutenção da posse de bola não se pretende inócua, ela

tem objectivos precisos que se consubstanciam na criação de desequilíbrios no

adversário. Este comportamento colectivo traduz-se no que Guilherme Oliveira

(2003) define como “tirar a bola de zonas de pressão”. Para isso, o portador da

bola tem de ter sempre apoios disponíveis.

Retirando a bola de eventuais “zonas de pressão”, a equipa tem mais

possibilidades de garantir a manutenção da posse de bola para criar

desequilíbrios, para isso são fundamentais os apoios recuados17, na medida

em que, estando de frente para o jogo (orientação dos apoios) pode dar à bola

um destino contrário à pressão do adversário, mudando o “ângulo de ataque”.

Que por sua vez pode ter diversos objectivos:

Explorar o lado “fraco” do adversário, para isso é necessário que algum

jogador garanta a largura;

17 Porém, existem momentos do jogo em que o adversário condiciona de tal modo que os

melhores apoios podem ser frontais.

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Garantir a segurança da posse de bola, procurando que esta circule em

Espaços favoráveis à sua manutenção;

O tirar a bola da zona de pressão não se restringe aos apoios próximos,

poderá também ser encontrada numa diagonal em profundidade, procurando-

se assim criar desequilíbrios no adversário.

A importância deste padrão de transições é expresso nas palavras de

Mourinho (2003): “…muitas equipas têm dificuldade, no próprio jogo, de saírem

de uma situação de pressão para uma situação de posse de bola. Esse é um

aspecto que eu trabalhei imenso, imenso, imenso, até pudermos chegar ao

nível a que chegamos, que é a saída após a recuperação da posse de bola,

isto é, ter a capacidade de jogar de uma forma a defender e depois em posse

de bola modificar aquilo que é fundamental, recuperação das posições em

campo, o tirar a bola da zona de pressão, uma serie de aspectos que são

fundamentais.”.

No entanto, é necessário realçar que, a qualidade de algumas Equipas e

dos jogadores, pode permitir que após recuperação de bola, consigam manter

a bola na “zona de pressão” com qualidade, e a partir desse local, que à partida

está mais “congestionado” pela presença do adversário, criar desequilíbrios,

esta capacidade de jogar em “zonas de pressão” com segurança é evidente em

equipas como o Manchester e o Arsenal, por exemplo.

A configuração destas partes dos momentos de organização ofensiva

pode assumir uma variabilidade de formas muito grande, uma vez que, o

conjunto de dimensões que contribui para a sua configuração é, de igual modo,

grande. Assim, quando se trata de realizar uma microsistematização destes

momentos, ou seja, definir referências comportamentais Específicas para uma

Equipa, as dimensões a considerar serão as seguintes:

Projecto de jogo colectivo

Padrão ofensivo da Equipa: uma das características mais importantes

que qualquer “jogar” deve apresentar, é a fluidez da organização da Equipa

(que se consubstancia na fluidez das partes, da interacção das partes e na

fluidez do todo), o que leva à necessidade de defender em função de como se

pretende atacar e vice-versa. Esta característica projectiva, inerente a qualquer

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jogar que se pretenda de qualidade, também se evidencia nas partes dos

momentos de organização ofensiva. Desse modo, as transições serão

realizadas em função de como se pretende criar situações de finalização.

Assim, apesar de a top verificarmos que as Equipas dominam diferentes “tipos

de jogo” (“intensidade” na procura da verticalidade), se uma Equipa pretende

criar desequilíbrios no adversário procurando a verticalidade, frequentemente

pela circulação horizontal, as transições, em termos de probabilidade, tenderão

a realizar-se preferencialmente em segurança, por sua vez, se uma Equipa

pretende criar desequilíbrios no adversário apresentando uma circulação mais

“intensa” na procura da verticalidade, as transições, também em termos

probabilísticos, tenderão a realizar-se, também, na vertical. Exemplos claros

destas configurações são, respectivamente, o Barcelona e o Arsenal, que

apresentando padrões assentes nas configurações apresentadas têm a

capacidade de apresentar aquela que, para as circunstâncias, melhor se

adequa, sendo esta capacidade de adequação dos diferentes padrões outra

característica inerente às Equipas de Top.

Estrutura Táctica (em função do ponto anterior): a estrutura que

determinada Equipa assume no terreno influência as transições (bem como

todos os outros momentos) na medida em que, os Espaços que se ocupam e

deixam vazios são manifestamente distintos, logo, as dinâmicas que as

estruturas irão potenciar serão também elas, manifestamente distintas. Por

exemplo, uma Equipa que se estruture num 1-4-4-2, quando em transição,

pode procurar explorar a profundidade do espaço livre existente nas alas e

atrás das costas dos laterais adversários, através da mobilidade de um dos

avançados para as alas (por ex.). Por sua vez, no 1-4-3-3, como, à partida,

esses Espaços estarão ocupados, a preocupação dos laterais adversários será

maior com o jogador que aí pode aparecer, aspecto que deve ser considerado

quando se configuram as transições.

Para além disso, uma equipa que se distribua num 1-4-4-2 possui duas

linhas de quatro jogadores, o que em termos defensivos permite uma ocupação

do Espaço defensivo aparentemente (porque depende da dinâmica) mais

racional (ocupa toda a largura e permite ter muitas coberturas),

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comparativamente, com o 1-4-3-3, que só possui três jogadores no meio-

campo. Daqui poderá resultar uma menor responsabilidade defensiva dos dois

jogadores mais avançados (1-4-4-2) que, desse modo, poderão estar mais

disponíveis para pensar na melhor forma de atacar a baliza do adversário.

Estes dois exemplos dependem obviamente do perfil de jogadores que

se tem, do adversário contra quem se vai jogar (como sai a jogar, como

pressiona, etc.), pelo que, só fazem sentido, quando observadas na óptica de

uma qualquer Equipa, com jogadores que são únicos.

Características dos médios de transição e dos Avançados: os

comportamentos da equipa são manifestamente diversos em função das

características do jogador que está de frente para o jogo (jogador de transição)

e em função do jogador que vai receber a bola, para dar profundidade ou criar

imediatamente desequilíbrios no adversário (aproveitando Espaços ou criando-

os). Nesse sentido, é diferente termos o C. Ronaldo como referência frontal, a

termos, por exemplo, o Adebayor.

Possíveis contextos de recuperação da bola

Áreas preferenciais de recuperação de bola: quando determinada Equipa

está defensivamente organizada, pode definir áreas preferenciais para

recuperação de bola, estabelecendo por exemplo, como indicador de pressão:

a bola nos corredores laterais. Assim, definidos esses indicadores, toda a

Equipa interage no sentido de alguns jogadores pensarem e assumirem um

posicionamento que denote intenção, já nesses momentos de organização

defensiva, de atacar o adversário.

Como recupera: é manifestamente distinto recuperar a bola como

consequência de um erro (não calculado) do adversário, ou seja, de um mau

passe, de uma má recepção, de um mau “alívio”, que pode, ou não, ser

provocado pela Equipa que defende. Ou então, recuperar a bola, por exemplo,

após uma segunda bola, após uma situação de 1x1 em que o defesa não se

deixa ultrapassar, após uma situação em que o adversário procura criar

desequilíbrios ou tenta finalizar, nestas situações, os riscos de perda de bola,

são sujeitos a mecanismos de compensação que tornam esse risco calculado.

Assim, como a Equipa recupera a bola tem uma grande importância porque,

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não sendo um risco calculado, a probabilidade de estarem defensivamente

mais vulneráveis é muito maior do que se esse risco for calculado. Pelo que, o

modo como a Equipa recupera a bola pode ser decisivo na configuração que as

transições assumem.

Imaginemos a seguinte situação: determinada Equipa procura a

verticalidade circulando a bola na horizontal, de um modo mais “ritmado”.

Desse modo, ao iniciar a criação de desequilíbrios a partir do guarda-redes,

define como comportamento colectivo de referência, o fazer “campo grande”.

Agora, imaginemos que essa Equipa circula a bola no seu sector mais recuado,

para provocar uma saída do adversário à bola. Nessa altura há um passe mal

feito entre os centrais e o adversário reage imediatamente a esse mau passe

através de uma pressão imediata à bola, recuperando-a. Nesse momento, a

equipa que atacava, ao errar, deixou-se numa situação de grande fragilidade

defensiva, uma situação de “quase golo”.

Outro importante aspecto deste ponto, refere-se à recuperação de bola

pela defesa do guarda-redes, que na sua posse, define a ramificação que a

transição pode seguir, podendo rapidamente procurar uma referência frontal ou

temporizar e assim potenciar a criação de desequilíbrios (com o adversário

defensivamente organizado).

Vemos portanto, que o “como recupera” pode permitir configurações das

transições distintas, tratando-se de uma recuperação por erro não premeditado

do adversário, ou de uma recuperação por um risco calculado a que o

adversário se sujeitou, relacionando-se, assim, com o estado de organização

do adversário.

Quando recupera: os momentos em que se recupera a bola são distintos

e relacionam-se com o ponto anterior. A bola pode ser recuperada quando o

adversário está em transição ofensiva ou em criação de desequilíbrios

(também relacionado com a altura do bloco: alto, médio ou baixo). Mais uma

vez “batemos na mesma tecla”, a organização/ desorganização do adversário.

Por um lado, quando o adversário perde a bola em transição ofensiva,

provavelmente, muitos dos seus jogadores ainda estarão numa situação em

que, rapidamente, podem recuperar um posicionamento defensivo. Por outro

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lado, quando em criação de desequilíbrios, mesmo preocupados com os

equilíbrios dinâmicos, essa recuperação do posicionamento defensivo, já

depende de como a própria Equipa reage à perda de bola (se condiciona ou

não imediatamente a saída em transição do adversário), podendo,

eventualmente, ser encontradas algumas fragilidades no adversário.

A configuração das transições após uma situação de bola parada do

adversário (p.canto, livres, lançamentos laterais) depende, em grande medida,

de como se posiciona, sobretudo em termos do seu equilíbrio. Verificando-se

que, o número de jogadores do adversário que fica em equilíbrio é definido, nas

Equipas de top, de acordo com o número de jogadores que a Equipa que

defende deixa na frente, garantindo sempre superioridade numérica.

Onde recupera: tendo como referência a estruturação do espaço de jogo

frequentemente utilizada, as Equipas podem recuperar a bola no primeiro terço

defensivo, no meio-campo, ou no último terço ofensivo (relacionado com a

altura do bloco defensivo: baixo, médio ou alto, respectivamente). Sendo que, a

recuperação da bola em espaços do terreno mais adiantados (bloco alto) é

propensa às transições que procuram imediatamente situações de finalização,

frequentemente, através de penetração vertical da bola e/ou de um jogador

com bola. Por sua vez, recuperar a bola em bloco baixo, o espaço que fica nas

costas do adversário (em função da necessidade deste subir no terreno) é

propenso às transições em profundidade. Porém, tudo depende da qualidade

dos jogadores e do adversário que se defronta, como temos vindo a salientar.

Adversário

O propósito desta dissertação é detectar “padrões qualitativos” do “jogar”

das Equipas de Top, ou seja, comportamentos que se manifestam com alguma

regularidade ao longo dos jogos. Nesse sentido, quando se trata de configurar

uma transição, é necessário ressalvar as circunstâncias que anteriormente

salientamos. Porém, seria ingénuo, ignorar que, nesses diferentes jogos em

que a regularidade se manifesta, a Equipa é confrontada com diferentes

problemas (derivados do confronto com diferentes Equipas), exigindo soluções

distintas jogo para jogo. Assim, as transições ganham contornos concretos em

cada jogo. Pelo que, na preparação de cada jogo é necessário considerar o

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adversário que se vai defrontar, os possíveis problemas que (as suas

dinâmicas e subdinâmicas) podem causar e, desse modo, as transições,

sobretudo das equipas de top que têm uma grande variabilidade de soluções,

podem apresentar contornos distintos jogo para jogo, em função do adversário.

De seguida salientamos alguns pontos que consideramos essenciais na

observação à equipa adversária e que podem fomentar configurações das

transições manifestamente diversas. Assim, é necessário perceber como o

adversário:

Se estrutura - É diferente o adversário distribuir-se pelo terreno de jogo

tendo como referência de posicionamento o 1-4-3-3 ou tendo o 1-4-4-2. Mais

uma vez, salientamos a importância dos espaços que as estruturas permitem

ocupar e os espaços que deixam livres. Para além disso, o confronto de uma

Equipa que se estrutura em 1-4-3-3 com uma outra Equipa que se estrutura em

1-4-4-2 é completamente distinto de um confronto entre duas Equipas que se

estruturam em 1-4-3-3, por exemplo.

Para percebermos a complexidade desta questão, imaginemos uma

situação hipotética de confronto entre duas Equipas de top que se estruturam

de modo distinto. O Barça em 1-4-3-3 contra o Inter em 1-4-4-2 losango. Os

“problemas” para o Barça, à partida, encontrar-se-iam no centro do terreno de

jogo: - Como “contornar” a superioridade numérica do Inter no meio-campo?

Fazendo descer um dos avançados, quando a Equipa não está em posse de

bola, para Espaços intermédios a pressionar o Pivô Baixo do adversário!? Que

jogador da frente faz isso? Eto’o, Messi, Henry/Iniesta?! E depois de se

recuperar a bola quem garante as referências de largura e/ou de profundidade

(dependendo de quem desce)?!

- Como vai defender os Espaços fronteira verticais, entre a linha

defensiva e a linha média!? Com um pivô baixo!? Ou com um central a subir

saindo de posição e a linha defensiva a fechar!? Quem do Inter vai para essa

posição e para quê (arrastar marcação ou receber para criar um passe de

penetração vertical)?!

- Como vai o Barça defender os dois avançados? Igualdade numérica!?

Seria um risco, dada a qualidade dos avançados do Inter. Laterais a fechar

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interior!? Uma hipótese válida... Mas aí limitava-se a projecção vertical do Alves

sobretudo em transição, para além disso, como era defendida a projecção

vertical do Maicon!?

Para o Inter os problemas, à partida encontrar-se-iam, sobretudo, nas

faixas: - Como defende a projecção vertical dos laterais?! Quem, do losango,

sai a pressionar nas faixas?! Como defende a largura da frente de ataque!?

Para além disso a complexidade destas questões aumenta a partir do

momento que pensamos nas Especificidades de cada jogador. É

manifestamente distinto defender a largura da frente de ataque, quando nela

estão Henry e Messi (sucesso quase garantido no 1x1) ou qualquer outro

jogador. Portanto, é necessário atender às características individuais dos

jogadores.

Constatamos assim que, o modo como as diferentes Equipas se

estruturam tem grande importância, mas apenas se reflectida em função dos

jogadores que essas Estruturas têm à disposição e da dinâmica que se

pretende potenciar. E, nesse sentido, com o exemplo que atrás deixamos,

ainda que hipotético, verificamos que são questões bastante complexas, que

exigem preparação antes do jogo e adaptação durante o mesmo.

Esta questão da importância do adversário (das características dos seus

jogadores, de que modo se estruturam e que dinâmicas e subdinâmicas

potenciam), bem como das características dos jogadores que a Equipa tem

disponíveis, será abordada com bastante frequência nesta dissertação.

Voltando ao ponto de partida desta reflexão sobre as transições é

pertinente colocar a seguinte questão: de que forma estas questões se

reflectem nas transições!?

Configurando-as de modos distintos, pois, dadas as características

projectivas do jogo, defende-se em função de como se quer atacar e vice-

versa. Desse modo, as respostas têm necessariamente, de se relacionar com

aquilo que as Equipas pretendem fazer imediatamente a seguir. E, se existem

diferenças vincadas no confronto entre duas Equipas que se estruturam de

modo diferente, haverá necessariamente, configurações distintas do jogo e em

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concreto das partes dos momentos de organização ofensiva que neste ponto

estamos a abordar, as transições.

Equilibra o seu ataque - quando o adversário está a atacar certamente

que terá preocupações defensivas (ou porque deixa muitos jogadores atrás da

linha da bola ou porque se preocupa com os Equilíbrios dinâmicos), que se

reflectem sobretudo no fecho dos Espaços interiores. Desse modo, haverá no

adversário Espaços livres que poderão ser aproveitados, nomeadamente os

corredores laterais. Nesse sentido, as transições devem ter em consideração

quantos jogadores o adversário deixa atrás da linha da bola e como fecha os

espaços interiores.

Pressiona após perda de bola – Perceber a reacção do adversário à

perda de bola é bastante importante para anteciparmos os possíveis contornos

que as transições ofensivas podem assumir em jogo. Nesse sentido, é

importante perceber se: pressiona activamente em bloco no local de perda ou

se é uma pressão activa apenas para temporizar e permitir que a equipa

recupere um posicionamento defensivo, por exemplo. Sendo, um bloco a

pressionar, se for bem feito, as dificuldades em sair numa transição para

imediatamente aproveitar ou criar desequilíbrios poderá ser mais difícil, por sua

vez, se for apenas um jogador a temporizar, uma movimentação da bola em

um ou dois toques, pode rapidamente soltar uma transição para criar ou

aproveitar desequilíbrios.

De um modo geral podemos verificar que os comportamentos das

Equipas dependem de um grande número de variáveis e todas concorrem para

a configuração das transições das equipas. Compete ao treinador saber

exactamente o que pretende da Equipa, em função dos objectivos que

estabelece para a mesma e dos possíveis contextos de recuperação, para

depois criar (no treino) contextos favoráveis ao aparecimento regular dos

mesmos.

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2.3.2.2 Criação de desequilíbrios

“Sempre me interessou saber como trabalha a cabeça de um génio do futebol. Tudo começa com um

problema, mas longe de se assustar, o craque decide afronta-lo… Até aí, o projecto tem duas matérias-primas:

confiança e liberdade, componentes imprescindíveis da criatividade. As ideias passam na sua cabeça a uma

velocidade extraordinária mas sem atropelarem-se. E, entre essa tormenta, o craque elege uma das melhores e

converte-a em acção, em espectáculo, quem sabe em golo…”

Valdano (2005)

Na sequência das transições que permitem manter a posse de bola, o

adversário vai recuperar posições, “fechando caminhos” que permitem chegar

à sua baliza e que poderão permitir recuperar a bola. Assim, a Equipa que

ataca tem de procurar criar desequilíbrios no adversário para que as

oportunidades para marcar surjam.

Os desequilíbrios, que também podem ser criados imediatamente após

ganho de bola, surgem do aproveitamento de uma qualquer vantagem

Espacial18 consequência:

Do adversário mal posicionado nos diferentes momentos de

organização: que pode originar Espaços onde a bola e/ou o jogador

podem entrar, podendo existir pela falta de qualidade do adversário ou

promovido pela circulação de bola.

“Desposicionamento” de algum jogador provocado pela atracção à bola

ou arrastamento de um jogador: pode ter várias consequências, sendo

que a imediata, é o Espaço que esse jogador deixa livre. Se for

compensado, outros Espaços abrir-se-ão, a questão está em identificá-

los.

Da dinamização dos Espaços livres (interiores ou nos corredores): tanto

pode arrastar marcação, desposicionando um jogador, como criar

condições favoráveis para receber a bola em Espaços onde a criação de

situações de finalização é propícia;

18 Uma vantagem Espacial resulta da convergência da superioridade espacial e/ou numérica

e/ou temporal. Por exemplo, a movimentação de um jogador para um espaço livre cria uma

vantagem Espacial porque momentaneamente esse jogador cria (com a movimentação) um

contexto favorável (com tempo, espaço) para receber a bola.

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Das situações de 1vs1 ofensivas: a situação propriamente dita é já

criação de desequilíbrios, no entanto, a preparação destas situações faz

com que surjam de uma vantagem Espacial. Por exemplo, ter C.Ronaldo

contra apenas um lateral (sem cobertura ou cobertura distante) é uma

situação de vantagem Espacial que o jogador em questão pode

aproveitar para criar desequilíbrios.

Pelo exposto, essa vantagem Espacial poderá existir (deriva do

adversário) ou ser criada em função do local da bola e da dinâmica que lhe é

dada. Como referimos, estas vantagens Espaciais quando aproveitadas é que

permitem criar desequilíbrios, sendo que, o seu aproveitamento consubstancia-

se na entrada vertical da bola.

Chegamos assim a um ponto crucial da circulação de bola: a sua

verticalidade, pois é essa dinâmica que permite colocar a bola próxima do

objectivo da circulação de bola e com efeito, do jogo: criar oportunidades de

finalização.

Neste momento é pertinente esclarecer um ponto de onde deriva a

importância do jogo vertical. Os desequilíbrios que se criam no adversário são

momentâneos, ou seja, qualquer tentativa de se criar desequilíbrios promove

no adversário uma reacção, no sentido dele se equilibrar, de se ajustar (auto-

organizar). Assim, existe um timing para o “aproveitamento” dos desequilíbrios

existentes e/ou criados. Por esse motivo, os passes verticais (de ruptura ou de

penetração, curtos ou profundos) exigem, para além da qualidade de passe

aliado à precisão (por vezes quase milimétrica), um timing fabuloso. Repare-se

que em 1974, na preparação para o campeonato do Mundo (Laranja

Mecânica), Rinus Michels tinha já a preocupação de trabalhar, na construção

do ataque, o timing do passe vertical, referindo, o autor (2001), que treinava

muito este aspecto da verticalidade do jogo.

Para além disso é necessário considerar que o jogo “vertical” acarreta

alguns riscos de perda da posse de bola, na medida em que, mesmo tendo

criado uma vantagem Espacial, a entrada da bola em determinadas áreas é

imediatamente condicionada de um modo “agressivo” pelo adversário que a

tenta recuperar.

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Perante o exposto surge a circulação de bola horizontal como

consequência:

Da impossibilidade de jogar na vertical: por vezes o adversário está de

tal modo compacto, com muitas linhas defensivas (coberturas) que a

entrada vertical, mesmo com criação de vantagens Espaciais,

exponencia a perda de bola.

Da necessidade de criar condições (mais) favoráveis (correndo menos

risco de a perder) à entrada vertical da bola (em progressão, ou em

passe): por exemplo, circular a bola a toda a largura na tentativa de abrir

o interior da Equipa adversária que depois é aproveitado por uma

qualquer dinâmica vertical. Ou variar frequentemente o ângulo de ataque

para promover situações de vantagem Espacial no 1vs1.

De querer surpreender o adversário, variando horizontalidade com

verticalidade: esta variabilidade é uma característica inerente às Equipas

de top. Situação que permite criar surpresa no adversário, por exemplo,

a bola vem do corredor esquerdo e entra no médio centro que está de

frente para o jogo, o Carrick, por exemplo (não é aleatório, a qualidade

do passe longo faz dele um bom exemplo para esta situação), a sua

capacidade em colocar a bola no C.Ronaldo permite que tire proveito de

vantagem Espacial criada.

Sobre este ponto é pertinente realçar que, não é pouco frequente nas

Equipas de top, sobretudo quando se defrontam, ou seja, quando há muita

qualidade em termos da organização global das duas Equipas, vermos que é a

variação vertical/horizontal que permite criar desequilíbrios quando o

adversário está defensivamente organizado. Assim, esta variação da circulação

de bola vertical/horizontal, é outra característica inerente às Equipas de Top,

que utilizam e variam a circulação de bola em função dos problemas que o

adversário coloca à criação de oportunidades para finalizar. Nesse sentido esta

capacidade para variar a circulação de bola é uma “arma” fundamental para

criar desequilíbrios no adversário.

Pelas características e qualidades dos jogadores que potenciam

subdinâmicas de circulação horizontal: por exemplo, é frequente a

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existência de médios centro, que posicionando-se sempre atrás da bola

procuram regularmente circular a bola na horizontal, mesmo que por

vezes tenham condições para assumir alguns riscos.

Pelo exposto, a circulação de bola horizontal e vertical não são

antagónicas, são complementares e não se podem separar. Porém,

identificamos dois padrões de circulação de bola que resultam da

“intensidade”19 com que as Equipas procuram os movimentos verticais. Assim,

podemos identificar um padrão em que a procura de verticalidade é “intensa” e

outro em que a procura da verticalidade surge com maior regularidade após

movimentos horizontais. A predominância de um destes padrões (enquanto

regularidade) resulta daquilo que é a ideia do treinador, ajustada a uma

determinada Equipa.

De um modo grosseiro, estes padrões resultariam numa configuração à

semelhança da que apresentamos na figura 2:

Estas duas configurações acontecem em todas as Equipas, porém

numas acontece com mais regularidade de uma forma e noutras de outra

forma, dependendo isso, da ideia de jogo do treinador e das características e

qualidades dos jogadores, é essa regularidade que vai caracterizar o padrão

das Equipas. Portanto, apesar de determinada Equipa apresentar um padrão

assente na procura intensa da verticalidade, partimos do pressuposto que a

19 É pertinente deixar claro que o conceito de “intensidade” que aqui utilizamos não se

relaciona com os ritmos de jogo. Pretendemos com esta palavra traduzir uma intenção da

Equipa procurar, ou não, sistematicamente a verticalidade do jogo.

Figura 2. Padrões de circulação: verticalização após circulação de bola horizontal;

verticalização intensa da circulação de bola;

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circulação de bola horizontal e vertical não se podem dissociar, elas existem no

mesmo jogo e até na mesma jogada, dependendo dos problemas que os

diferentes adversários colocam.

Considerando a circulação de bola um meio táctico colectivo para criar

desequilíbrios, um princípio organizador, os níveis subjacentes serão

manifestamente distintos, consoante esta se apresente, no nível colectivo, mais

ou menos intensa na procura da verticalidade (enquanto regularidade). Nos

próximos pontos vamos fazer uma caracterização dos padrões acima

identificados.

2.3.2.2.1 Verticalização após circulação horizontal

Se se vai rápido, o adversário não tem tempo de se organizar. Obviamente, que isto se pode

provocar pela via directa com um passe longo, mas se jogas com um rival com 10 atrás,

(...), a via para conseguir os Espaços é outra.

Cruyff (2008)

Este padrão de circulação de bola traduz-se no movimento constante da

bola, que progride no terreno com variações do ângulo de ataque frequentes. É

privilegiado o passe curto para atrair o adversário e o passe longo para

(também) variar o ângulo de ataque. Desse modo, os apoios recuados são

cruciais no desenvolvimento desta circulação, na medida em que permitem

(pela orientação dos apoios) mudar o ângulo de ataque frequentemente.

Para que esta circulação tenha eficácia, após transição em segurança

(para manutenção da posse de bola) ou saídas curtas pelo GR, as Equipas

procedem à “instalação posicional”, que lhes permitirá ocupar posições de

referência em largura e profundidade, aquilo que frequentemente se denomina

“campo grande”20 (Amieiro, 2005, Costa, 2004). Nesse sentido, Queiroz (2006)

afirma que, quanto mais espaço tivermos para jogar, mais difícil é para o

adversário conseguir interceptar a bola, e nesse sentido a equipa tem que se

20 Sobre o comportamento “campo grande” é necessário salientar que esse comportamento

colectivo apenas faz sentido para a equipa se “instalar posicionalmente”, a partir do momento

que a bola entra em espaços intermédios, existem comportamentos que devem contrariar esse

“campo grande” colectivo, nomeadamente o fecho dos espaços interiores pelo sector mais

recuado.

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abrir. Essa “instalação” é consubstanciada por uma circulação de bola numa

zona do terreno mais recuada, uma vez que essa zona do terreno é propícia à

manutenção da sua posse (dependendo obviamente, dos constrangimentos

que o adversário coloca à equipa esta zona poderá ser mais ou menos propicia

à concretização desse objectivo).

Verifica-se que as equipas estão seguras e procuram gradualmente

subir no terreno, revelando-se cruciais os seguintes comportamentos

colectivos:

Posicionamento em diagonal: Amplitude dos centrais (no prolongamento

das linhas verticais da grande área) e laterais (que dão profundidade à

amplitude).

Movimentos do (s) médio (s) de apoio à circulação de bola: movimentos

a toda a largura do campo, oferecendo sempre “linha de passe”.

Necessário ressalvar que este movimento e posterior recepção da bola

por parte deste (s) jogador (es) são frequentemente referências de

pressão do adversário. Desse modo, é fundamental, que o jogador antes

de a receber “avalie” o contexto de recepção da bola. Em função dessa

“avaliação” que o jogador realiza, a orientação dos seus apoios é o

comportamento visível, que lhe permite uma recepção orientada ou que

o obriga a jogar ao primeiro toque (no caso de se encontrar de “costas

para o jogo”).

Posicionamento dos jogadores em frente à linha da bola: médios (ponto

anterior) e avançados (podem ou não dar profundidade).

Triangulações no Espaço: sem progressão vertical acentuada, sempre a

“tocar” para aparecer num espaço próximo ou para garantir nova linha

de passe. Realizando-se sobretudo no corredor central, vão permitir o

seu controlo.

A estrutura que dispõe os jogadores em 1-4-3-3 parece-nos ser aquela

que melhor potencia esta circulação, pois permite uma ocupação do espaço de

jogo mais racional, com os espaços existentes nos corredores ocupados. Para

além disso, sendo uma circulação que privilegia, frequentemente, uma

progressão a um ou dois toques, as diagonais posicionais que as estruturas

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permitem revelam-se um aspecto muito importante, pois é importante que os

jogadores já estejam, apenas pela distribuição da estrutura, em diagonal em

relação uns com os outros.

De salientar ainda que as funções de Pivô baixo, assumem aqui uma

responsabilidade maior, não apenas como elo de ligação entre defesa e meio-

campo, nos equilíbrios e também porque, em todos os momentos, é uma

importante referência de apoio à circulação de bola (tanto frontal: quando a

bola está no sector mais recuado; como recuada e/ou lateral: quando a bola

está em sectores mais avançados permitindo em ambas situações mudar o

ângulo de ataque). Exigindo-se qualidade no toque, capacidade de antecipação

e para manter a posse de bola (Van Gaal, 2006).

Esta procura da verticalidade pela circulação de bola horizontal é, por si

só, indutora de desequilíbrios no adversário, utilizando os passes curtos para

atrair e, os passes longos precisos para surpreender (Valdano, 2007a),

variando frequentemente o ângulo de ataque, privilegiando desse modo a

horizontalidade.

Villas-boas (2006) reconhece a existência deste padrão ao diferenciar o

jogo que o Liverpool praticava com Peter Crouch (aí muito mais intenso na

procura da verticalidade), daquele que praticava na primeira época de Benitez

no clube, nessa altura, segundo o autor, procura a verticalidade sobretudo após

movimentos horizontais da bola.

2.3.2.2.2 Verticalização “intensa” da circulação de bola

“Ele (Arséne Wenger), não gosta muito do jogo de posse, prefere rápidas penetrações

– procurando atravessar o “coração” da defesa adversária o mais rápido possível.”

Palmer (2002:55)

Esta circulação caracteriza-se pela quase “permanente” tentativa de

verticalizar o jogo, assim, a progressão no terreno é feita fundamentalmente

através de bolas longas (aéreas) ou de passes curtos verticais (Hiddink, 1998).

E, portanto, constatamos que, mesmo dentro deste padrão existem diferenças

significativas na forma como as Equipas se expressam, havendo Equipas que

optam frequentemente pelas bolas aéreas outras pelo jogo curto. As

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triangulações são sobretudo a procurar a profundidade dos jogadores, pelo

que, o “passe e vai”, ou, por outras palavras, o “passo e desmarco-me” que

Valdano (2007) utiliza para caracterizar o jogo de Fabregas, é um

comportamento colectivo, muito importante para a progressão da bola no

terreno, simultaneamente, permite que mais jogadores cheguem a Espaços de

finalização. Por sua vez, as bolas longas são a forma de progredir no terreno

que permitem à Equipa chegar mais rapidamente a espaços de finalização.

Porém, pode ter objectivos distintos que resultam da mobilidade dos jogadores

nos Espaços:

Procurar Espaços nas costas dos defesas onde os avançados/médios

irão aparecer;

Colocar bola no jogador mais avançado e criar desequilíbrios a partir

dele: através de triangulações em profundidade com o 3º homem que

surge de trás para a frente (comportamento possível também quando se

joga curto em profundidade).

Neste padrão de circulação podemos ver que os jogadores estão

constantemente com a cabeça levantada à procura da mobilidade dos

jogadores mais avançados. Assim, uma das principais diferenças para o

padrão mencionado anteriormente, resulta da necessidade que esta circulação

tem da permanente dinamização dos Espaços. Sendo vertical, tem implícita a

existência de maiores riscos, e nesse sentido, os equilíbrios (sobretudo fecho

dos espaços interiores) têm de ser muito bem equacionados.

Outro aspecto relacionado com esta dinâmica de circulação têm que ver

com o perfil dos jogadores, muito móveis, têm de ter muita qualidade no passe,

preciso, para os Espaços existentes e/ou criados e saber identificar

convenientemente o timing do passe vertical. Para além disso, os médios, pela

necessidade de aparecerem em Espaços de finalização, devem estar

completamente identificados com os momentos em que devem subir ou

equilibrar.

Deixamos claro, anteriormente, que um dos pontos fundamentais está

na dinamização dos espaços livres, que poderão potenciar, entre outros

aspectos, o controlo do meio-campo. Também salientamos que, existem

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momentos em que as vantagens Espaciais, para além do timing de

aproveitamento, têm uma curta duração, na medida em que o reajuste do

adversário se pode (ou não) fazer imediatamente, o que obriga a jogar ao

primeiro toque. Assim, a dinâmica inerente à circulação de bola das Equipas de

Top, pressupõe a coexistência dos dois padrões de circulação mencionados.

Desse modo, verificamos que a Top, apesar de as equipas privilegiarem um

destes padrões, eles coexistem no mesmo jogo e por vezes na mesma

“jogada”. De onde resulta uma enorme variabilidade de configurações destes

momentos.

Podemos identificar com relativa facilidade duas equipas de Top:

Barcelona e o Arsenal, que privilegiam, estes dois padrões: respectivamente a

procura regular da verticalização após circulação horizontal e a procura intensa

da verticalidade da circulação de bola. No entanto, ainda que apresentem

esses padrões, por exemplo o Barcelona procura, em determinadas alturas,

criar desequilíbrios pela mobilidade de alguns jogadores, sobretudo, do

avançado esquerdo: Iniesta, que procura Espaços interiores, ou por Messi que

também procura frequentemente Espaços interiores deixando que a largura

seja garantida muitas vezes pelo lateral direito: Daniel Alves. Essa mobilidade

permite que um dos médios, sobretudo o médio direito: Xavi torne o jogo mais

vertical.

Por sua vez, o Arsenal, no desenvolvimento da sua dinâmica procura por

vezes “fixar-se” no terreno (sobretudo no meio-campo adversário quando existe

um timing e duração para aproveitar determinadas vantagens Espaciais) e

assim procura criar desequilíbrios com triangulações ao primeiro toque.

A circulação de bola é assim um pressuposto transversal às equipas de

Top, podendo ser um “meio” para desequilibrar a equipa, ou necessitar de ser

coadjuvada por outros comportamentos para se criar desequilíbrios,

nomeadamente a mobilidade dos jogadores.

Como é óbvio os desequilíbrios não surgem apenas da circulação de

bola e mobilidade dos jogadores, as equipas apresentam outros

comportamentos que juntamentente com os mencionados podem promover

desequilíbrios no adversário, nomeadamente:

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Ataque de espaços com bola (progressão vertical com bola): atrai

adversários tirando-os de posição.

Situações de 1x1: predominantemente nos corredores laterais onde

existe mais Espaço para os potenciais criadores de desequilíbrios por

meio do drible e/ou finta, é aí que os jogadores com qualidade para criar

algo (por meio do drible e/ou finta) devem aparecer não na

“intermediária” (Van Gaal, 2006). Sendo esse, um comportamento

frequentemente apelidado de “individualista”, nas equipas de Top, esta

liberdade surge em função de um “porquê”, de um objectivo que é

colectivo, Guilherme Oliveira (2003) corrobora ao afirmar que “…a

criatividade não é circo, é criatividade em função de alguma coisa…”.

Paulo Assunção (2006), ex-jogador do FCP, ajuda-nos afirmando que:

“Uma finta do Quaresma que desequilibre o adversário também é jogar

para a equipa. Cada um deve utilizar as suas características para o bem

de todos.”

Exploramos até ao momento o “como criar desequilíbrios no adversário”

partindo daquilo que é padrão nas equipas de Top, importa porém aprofundar

um pouco mais a diferença de comportamentos na criação de desequilíbrios,

consoante estes ocorram nos corredores laterais ou central.

2.3.2.2.3 Desequilíbrios no corredor lateral

Se antes se dizia que os espaços estão nas alas – obviamente que é necessário amadurece-los, fabricá-los.

Cruyff (2008b)

O fecho de espaços interiores é uma prioridade para a maioria das

equipas que se encontram em organização defensiva ou em equilíbrio dinâmico

no ataque. Assim, os espaços correspondentes aos corredores laterais ficam

“apenas” sob vigilância, sendo que, a movimentação da bola para esses

Espaços obriga a um reajustamento de toda a Equipa, no sentido de a tentar

recuperar e de fechar espaços interiores.

Perante o exposto coloca-se a seguinte questão: como aproveitar os

corredores laterais para criar desequilíbrios no adversário!? A reflexão sobre

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esta questão leva-nos necessariamente à importância da largura na criação de

desequilíbrios no adversário.

“Alargar o relvado. As equipas que tentaram jogar (...) ocuparam toda a

largura do relvado como há muitos anos não sucedia. Alguns com extremos,

tipo Overmars, outros com médios como Henry, outros com homens de

corredor, tipo Jarni, ou até com defesas laterais, como Roberto Carlos. Ou

estacionados à frente ou chegando de trás. A verdade é que as faixas laterais

estiveram ocupadas e isso permitiu dar amplitude às tentativas de ataque. Sem

isso, as jogadas asfixiam.” (Villas-boas, 2006b).

A largura (à semelhança da profundidade) consiste no aproveitamento

do Espaço horizontal, através da sua ocupação. Assim, quando nos referimos à

“largura” a primeira imagem que nos surge são os laterais encostados às linhas

e dando profundidade e dois jogadores em profundidade encostados também à

linha lateral. Desse modo, a “largura” pressupõe a ocupação dos corredores

laterais. Mesmo nas equipas que se posicionam em 1-4-4-2 podemos observar

que a largura na profundidade (ou seja, na “frente de ataque”) pode ser

garantida por vários jogadores: avançados, alas, laterais, Michels (2001)

corrobora ao afirmar que a largura, nas equipas que jogam com os corredores

livres pode ser garantida por um desses jogadores. A questão que se nos

coloca então é a seguinte: em que momentos e espaços dar largura e como!?

Quando observamos equipas de Top podemos observar que,

independentemente da estrutura da equipa, existem dois momentos em que a

largura é normalmente garantida por algum jogador, nomeadamente:

Nas Saídas curtas: quando a equipa pretende sair a jogar curto, ou

procura a verticalidade após circulação horizontal, a largura dos laterais em

profundidade (figura 3) é um comportamento frequente

e muito importante pela possibilidade de:

Participar activamente na criação de

desequilíbrios;

Partir para um posicionamento de equilíbrio

dinâmico (fecho de espaços interiores);

É necessário ressalvar, porém, que, quando a

Figura 3. Largura dos

laterais em profundidade

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equipa procura a verticalidade da circulação de bola de um modo mais

“intenso”, sobretudo quando essa verticalidade é procurada pelas bolas longas,

este posicionamento dos laterais pode ser demasiado arriscado, pelo que,

deverão procurar a profundidade mas em Espaços mais interiores.

Ainda relativamente a estas saídas curtas, verificamos que as equipas

de Top, procuram regularmente sair pelo centro do terreno de jogo uma vez

que os corredores são frequentemente referências de pressão, assim, quando

a bola entra nos corredores, os apoios são fundamentais (para progressão ou

para retirar a bola de áreas de pressão).

Bola em áreas intermédias: quando a bola se encontra nestas áreas

(figura 4) podemos observar que a maioria das

equipas, independentemente da estrutura táctica, tem

jogadores em profundidade a dar largura (áreas 1 e 2

assinaladas na figura 4), sobretudo se o portador da

bola se encontrar de frente para o jogo. As estruturas

permitem pela sua distribuição (1-4-3-3) e/ou pela sua

mobilidade uma ocupação dessas áreas (1-4-4-2: dos

avançados com mobilidade para as faixas ou dos alas

que sobem no terreno).

A importância da ocupação destas áreas tem que ver com:

Aumento de soluções ao portador da bola que se encontra de frente

para o jogo;

Possibilidade de virar o “ângulo de ataque”: para manter a posse de bola

e/ou criar desequilíbrios;

Possibilidade de criar situações de 1x1.

Jogar nos corredores laterais vai para além deste posicionamento, na

medida em que, a dinâmica nesses espaços pode promover

desequilíbrios de modos distintos:

Progressão com bola no corredor criando situações de 1x1.

Bola nos corredores para que o adversário reajuste, partindo

posteriormente para o corredor central.

21

Figura 4. Áreas de

largura da profundidade

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Variar frequentemente o Ângulo de ataque procurando explorar o lado

fraco, o que obriga o adversário a reajustar constantemente, acabando

por abrir Espaços no meio (Villas-boas, 2006).

É pertinente acentuar que a largura na frente de ataque é

frequentemente proporcionada por jogadores com elevada capacidade no 1x1.

Habitualmente nesses Espaços encontram-se jogadores muito virtuosos:

Messi, Cristiano Ronaldo, Ronaldinho, Walcott, J. Cole, etc., jogadores que

com a dinâmica do jogo procuram regularmente Espaços interiores. Este

“vaguear” dos jogadores tem que ver com o “estado” de organização defensiva

do adversário e com a imprevisibilidade que tais comportamentos promovem.

Observando o Barcelona, facilmente constatamos que, qualquer que

seja a Equipa, o Jogar, não pode ser indiferente à presença de Messi, pelo

que, como refere Van Gaal (2006) o ataque da equipa deve garantir que os

jogadores criativos tenham oportunidades para expressar a sua qualidade,

onde mais nenhum seja capaz, pois eles podem determinar onde se inicia ou

não uma jogada de risco num Espaço reduzido. Verificamos que o jogar das

suas Equipas tende a fluir para os seus pés. Porém, como já salientamos isso

não acontece apenas nos flancos, pois também no centro existem jogadores

capazes de decidir correctamente em Espaços reduzidos, Michels (2001)

classifica estes como sendo diamantes da Equipa.

Também a participação activa dos laterais na criação de desequilíbrios

assume-se um aspecto comum nas equipas de top podendo assumir

comportamentos muitos distintos mas todos eles pertinentes em relação ao

objectivo proposto, ou seja, criar desequilíbrios. Assim, a integração do lateral

pode:

Garantir a profundidade em largura (normalmente acontece quando são

rápidos e têm bastante qualidade no cruzamento), podendo por

exemplo, juntamente com um médio, um extremo ou avançado com

mobilidade para as faixas, criar situações de 2x1 contra o lateral

adversário.

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Procurar a profundidade em espaços interiores (para isso é necessário

que existam ou sejam criados, evitando desse modo sobreposição de

jogadores);

Estes comportamentos surgem frequentemente pelas triangulações em

profundidade com um médio, sendo fundamental a relação lateral-ala; lateral-

extremo; ala–extremo, sobretudo pelo posicionamento/movimentos fora-dentro

(garantindo sempre uma diagonal posicional) (Guilherme Oliveira, 2002).

Realizar movimentos de Overlap (cruzamento de um jogador nas costas

do portador da bola). Este meio táctico tem um duplo objectivo:

possibilitar ao portador mais uma opção de passe, esta em

profundidade; e criar Espaço interior, pois esse movimento normalmente

arrasta a cobertura defensiva do jogador que pressiona o portador da

bola. Este movimento deve acontecer após a decisão do Ala a procurar

o espaço interior.

Todos estes movimentos do lateral em profundidade devem ser muito

bem equacionados pois podem comprometer o equilíbrio da Equipa. Peter

Boeve (1989, cit. por Barend e van Doorp, 1999:74), defesa esquerdo do Ajax

treinado por Cruyff, dá um contributo oportuno para esta nossa reflexão ao

referir que: “O defesa esquerdo era usado para avançar no terreno o máximo

possível. Chamava-se a isso futebol moderno. E era como conseguíamos

manter a largura. Agora os defesas têm que ficar mais “cautelosos”, como

disse Johan (Cruyff), para prestar mais atenção ao centro. É por isso, também,

que o Ajax jogava muito pelo centro.”. No mesmo seguimento Cruyff (1989, cit.

por Barend e van Doorp, 1999:73) referindo-se aos defesas laterais diz que “a

função deles é cobrir o Espaço no qual jogam. Não estando permitidos para

atacar em simultâneo.”. Podemos, portanto constatar que Cruyff preocupava-se

com os equilíbrios da Equipa. No futebol de top, apesar dos riscos inerentes à

participação simultânea dos dois laterais, constatamos que algumas Equipas

se sujeitam a esses riscos. No entanto, quando verificamos um “ataque

simultâneo” dos dois laterais, não significa que os dois estão em profundidade

(até à linha final), um deles pode efectivamente estar profundo mas o outro

assumirá, um posicionamento que lhe permitirá atacar se necessário mas

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também recuperar defensivamente. Para além de que, como já evidenciamos,

nesse nível todos os riscos são calculados, pelo que, a acontecer, ou o

adversário está completamente remetido no seu primeiro terço defensivo, ou a

Equipa procura outros meios de compensação, de coberturas dos flancos.

Antes de avançarmos para os desequilíbrios no corredor central é

pertinente salientar ainda, uma qualidade presente na maioria dos jogadores,

que a top, aparecem nos corredores, para além de tudo o que aqui foi

evidenciado, que é a capacidade de cruzar. Sendo que, para Michels (2001), a

qualidade do cruzamento é um dos “ingredientes” mais difíceis e importantes

do “futebol de ataque” (que no fundo é aquilo que procuramos elevar), pois é

necessário, aliado ao domínio do cruzamento em si, um timing, precisão e

coordenação com quem chega a Espaços de finalização que tornam esta

qualidade tão importante e difícil. É frequente vermos nas Equipas de

rendimento inferior cruzamentos, e alguns resultam em golo, porém, à medida

que as exigências qualitativas aumentam, um cruzamento deve ser por si só

um “quase-golo” e não uma vã e inofensiva tentativa de colocar a bola em

alguém (que muitas vezes é o adversário)(Michels, 2001).

2.3.2.2.4 Desequilíbrios no corredor central

A criação de desequilíbrios no corredor central depende do modo como

é concretizada a circulação de bola. No entanto, como vimos, a qualidade das

equipas de Top manifesta-se pela variedade de soluções que apresentam para

a resolução dos problemas que se lhe colocam na criação de desequilíbrios.

Sendo que, podemos verificar na mesma equipa, no mesmo jogo e inclusive,

na mesma “jogada”, os dois padrões de circulação de bola (vertical e

horizontal). Desse modo, apesar dos desequilíbrios em Espaços centrais se

puderem criar de modos e em momentos distintos21, podemos identificar alguns

comportamentos transversais às equipas de Top.

21 Dependendo fundamentalmente dos objectivos na dimensão jogo (especificidade dinâmica) e

do adversário (como se posiciona e como pressiona).

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Jogar a bola no corredor central pressupõe que a equipa jogue a bola no

seu interior, facto que aumenta exponencialmente os riscos de perda de bola,

na medida em que o Espaço é menor (em função do fecho dos Espaços

interiores do adversário), porém, como vimos no capítulo anterior, é a

capacidade da Equipa jogar em Espaços interiores que lhe permite “controlar o

jogo”.

Perante o exposto os desequilíbrios no corredor central podem ser

criados pela (s):

Incorporação de mais um jogador na zona do meio-campo: permitindo a

presença de mais um jogador no meio-campo, que à partida não pertence a

esse espaço, contudo estes comportamentos carecem de mecanismos de

compensação muito bem definidos. Como exemplo podemos recorrer ao

Barcelona e ao Chelsea, que na sua dinâmica, incorporam de modos distintos,

jogadores no meio-campo. No actual Barcelona, é frequente observar o Daniel

Alves a integrar o meio-campo. Sendo um lateral, a equipa vai ficar com uma

linha de três jogadores que, nesta situação, bascula para o lado que deixou

livre. No Chelsea, é frequente observar a subida do John Terry,

frequentemente sem bola, também compensada pela linha defensiva que

procura fechar os Espaços interiores. Van Gaal (2006) sobre a estrutura (1-4-3-

3) na qual a dinâmica da sua Equipa deve assentar, refere que o triângulo do

meio-campo deve estar “apontado” para o ataque. Esta perspectiva pretende

deixar Espaço (entre os dois médios mais recuados) para a subida do central,

que passa a assumir as funções de Pivô.

Triangulações no Espaço: comportamento táctico grupal que “atrai” os

adversários, logo são potenciais criadores de desequilíbrios no adversário.

Podendo-se concretizar de modos distintos como nos explicita Vilas-Boas

(2006d): “Para mim o melhor de Xavi é o passa e desmarca. Mas não é um

passe e desmarca profundo como o de Lampard ou Gerrard, é o passe e

desmarca para tabelar, para aparecer num espaço próximo ou para garantir

uma nova linha de passe.”. Se actualmente olharmos para o Barcelona,

veremos que Xavi é um jogador também de passar e desmarcar profundo, pelo

que, tem que ver com o projecto de jogo colectivo que nesta época as suas

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funções são ligeiramente diferentes do que têm sido, ocupando uma posição

mais adiantada tem-se assumido um jogador com muita capacidade para criar

situações de finalização.

Mobilidade dos jogadores: para receber a bola em Espaço próximo esta

dinâmica tem que ver com o jogador mostrar-se e “dizer”: “aqui estou, se

necessário ajudo-te” (Olivares, 1978). Para libertar Espaço, ou para receber em

profundidade (implícito sobretudo quando a verticalização é procurada de um

modo mais intenso).

Distância entre linhas: comportamento frequente nas

equipas de Top, sobretudo quando a verticalidade da

circulação de bola é procurada com “intensidade”. Assim,

as equipas aumentam a distância entre as linhas mais

recuadas como podemos observar na figura 5 a

sombreado, e as linhas mais avançadas (linha intermédia +

linha avançada) observado na figura 6.

Com isso aumentam o Espaço onde podem

aparecer para receber a bola, sobretudo pelas

movimentações dos médios e/ou avançados. Villas-boas

(2006a) dá-nos um exemplo concreto deste

comportamento quando caracteriza a equipa da Holanda:

“Sneidjer e Van Bommel fingem movimentos de

profundidade mas no fundo estão é a aumentar o espaço

onde Cocu vem receber a bola para organizar curto ou

longo. Este tipo de comportamentos permite que consigam

entrar no meio-campo adversário sempre com uma

situação de vantagem numérica ou espaço-temporal.”.

A configuração destes momentos de organização ofensiva está muito

relacionada com o perfil dos jogadores que as equipas têm disponíveis, porém,

parece-nos que o perfil dos jogadores que ocupam o centro do terreno de jogo,

assume uma preponderância maior quando é necessário decidir a configuração

destes momentos e obviamente os desequilíbrios pelo corredor central.

Figura 5. Espaço entre-linhas

(Kormelink e Seeverens, 1997)

Figura 6. Espaço entre

linha média e avançada

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Nos dois padrões de circulação que evidenciamos existem duas áreas

que possibilitam uma maior eficácia da circulação de bola, nomeadamente em

frente aos centrais e outra entre a linha intermédia e avançada. Porém o modo

como são dinamizadas depende em grande medida do padrão preferencial de

circulação de bola. Pelo que, sendo uma circulação que procura a verticalidade

após circulação horizontal ou de um modo mais “intenso”, estas áreas podem

ser ocupadas respectivamente por jogadores mais “fixos” ou por jogadores com

maior mobilidade.

Assim, a área em frente aos centrais é normalmente ocupada por um ou

dois médios centro (quando jogam dois jogadores um deles tende a assumir

funções de Pivot enquanto o outro procura explorar Espaços mais avançados

no terreno, ou podem alternar essas funções durante o jogo) ou por um central

(Van Gaal, 2006).

Por sua vez, a área entre linhas intermédia e avançada tem uma

particularidade muito importante, o jogador que aí se posicionar tem de jogar

de costas para a baliza, funcionando como um segundo Pivô. Quando

observamos as Equipas de top, dificilmente vemos apenas um jogador com um

posicionamento mais “fixo” nesta área. Sendo uma área em que a povoação do

adversário é maior, requisita uma maior mobilidade do jogador que a ocupa.

Pelo que, nesse Espaço tanto pode aparecer:

Médio: neste caso deverá existir um Espaço entre as linhas do meio-

campo da equipa o que implica a mobilidade deste jogador. Este jogador

para Michels (2001) deve ser “activo” na procura do melhor

posicionamento, tanto para jogar atrás do avançado, apoiando-o, como

para aparecer a sua frente em Espaços de finalização.

Avançado: a movimentação da frente para trás deste jogador pode

assumir uma “dupla” função (simultâneas ou não): arrastar marcação

do adversário e/ou dar apoio à circulação de bola. Michels (2001) acerca

desta dinâmica menciona que os defesas (na medida em que pretende

que estes joguem directamente com o avançado) têm que ser

perspicazes ao avaliar se o avançado está a tentar atrair o adversário

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para criar Espaço para outro jogador, ou se está a assumir um

importante papel no apoio à circulação de bola.

Sendo médio ou avançado estes jogadores assumem importantes

funções na criação de desequilíbrios pelo corredor central, na medida em que,

ao aparecer na área mencionada vão oferecer linhas de passe ao portador da

bola para ganhar Espaço ou procurar triangular para profundizar o jogo. A sua

acção depende em grande medida do “estado” da Equipa e do próprio

adversário (se realiza uma pressão intensa, tentando recuperar a bola e

consequentemente não deixa rodar), pois uma vez que joga de costas na

impossibilidade de rodar deve jogar de primeira (caso contrário o risco de perda

é maior) soltando a bola para um terceiro homem (Michels, 2001, que, de frente

para o jogo, explora as muitas situações possíveis em função das

circunstâncias que se apresentam.

2.3.2.3 Criação de situações de finalização e de finalização

Estes momentos podem ser concretizados por vários jogadores como

fomos salientando ao longo do trabalho. Avançados, Médios com movimentos

de trás para a frente para aproveitar Espaços ou para trocar posicionalmente

com o avançado, laterais que procuram profundidade interior, centrais que

procuram desequilibrar subindo no terreno, existe todo um conjunto de

situações que permitem que, praticamente qualquer jogador possa aparecer

em Espaços de finalização e finalizar. Estes momentos acontecem em Espaços

próximos à baliza do adversário, sendo os Espaços frontais potencialmente

mais favoráveis à consecução do objectivo do jogo, ou seja, marcar. A largura

que anteriormente salientamos como importante na criação de desequilíbrios

deve ser “fechada”, sendo que, existe um timing de fecho relacionado com as

circunstâncias que o jogo apresenta.

Outro importante aspecto tem que ver com as linhas que se formam

quando a Equipa está em Espaços de finalização, sendo que, para Michels

(2001) para além da primeira linha, constituída normalmente pelos avançados,

deveria existir outra constituída por jogadores que pudessem receber um passe

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da frente para trás, ganhar uma segunda bola, ou seja, uma segunda linha

também importante para a finalização e por último uma terceira linha cujo

objectivo era cobrir todas as tentativas de finalização.

Sendo a preocupação do adversário com esses Espaços muito grande,

é necessário que, os jogadores que chegam a Espaços de finalização não

sobreponham posições, pois como nos refere Menotti (s/d): “É sobretudo um

problema de distracção e conquista de espaços. (…) Se houver uma grande

acumulação de jogadores e os espaços estão muito concorridos, haverá

sempre um lugar no campo que está vazio…”.

2.3.3 (Macro) Organização Estrutural do “jogar de qualidade”

Os sistemas ou tácticas de jogo são sempre fruto das circunstâncias. E as circunstâncias e sistemas são

duas coisas muito efémeras, de brevíssima vigência no decorrer de uma partida.

O que num momento serve, no outro não serve. O que se pretende fazer, frequentemente não sai.

Vinte, trinta, sistemas ou tácticas usam-se numa mesma partida, segundo as circunstâncias.

Panzeri (1967)

No campo e na prática tudo se modifica. As figuritas que no esquema de papel estavam imóveis, no campo

transformam-se em seres Humanos, com um coração que palpita. Na prática, aparece um caprichoso implemento

chamado bola que é necessário dominar para o usar de modo inteligente, aparece o adversário, com tanto desejo de

ganhar como nós. Está o público, “monstro” de mil cabeças com as suas caprichosas e incompreensíveis inclinações.

Olivares (1978)

A estrutura de jogo é a forma utilizada para distribuir os jogadores em

campo, sendo por isso um “acontecimento de organização do Espaço”, que é

também organização e fornece referências posicionais para as Equipas

alicerçarem o seu jogo (Gaiteiro, 2006).

A Equipa enquanto sistema complexo adaptável é constituída por um

grupo de elementos activos que são diversificados nas suas qualidades (de

onde emerge a individualidade) e na sua forma (Holland, 1997). A Estrutura ao

definir posições para os jogadores, define a forma que estes vão assumir, ou

seja, as funções básicas, relacionadas com o atacar e defender, definidas pelo

posicionamento em campo e pela qualidade dos jogadores (Michels, 2001, Van

Gaal, 2006).

Em capítulo anterior (2.2.4 - Níveis de organização) evidenciamos a

existência de quatro níveis de organização: colectivo, intersectorial, sectorial e

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individual, cuja articulação e coerência determina o funcionamento de um todo

harmonioso. A definição destes níveis de organização está intimamente

relacionada com a distribuição dos jogadores em campo, como podemos ver

na figura 7, sendo esta relação de total pertinência para a idealização e

operacionalização de um “jogar”, bem como para a interpretação do conteúdo

do jogo.

N

a figura apresentada evidenciamos por ordem decrescente de complexidade os

quatro níveis de organização, onde podemos verificar que, do colectivo ao

individual, os níveis apresentam complexidade distinta, na medida em que as

relações estabelecidas vão também sendo reduzidas22. Uma particularidade

evidente na figura 6 é que, no nível de organização intersectorial, não é apenas

o facto de existir uma maior possibilidade de relações que o torna mais

complexo (comparativamente com o nível sectorial), mas também o facto

dessas relações se fazerem sobretudo na vertical.

Se por um lado, a própria definição dos níveis de organização tem que

ver com a possibilidade de evidenciar relações entre partes da Estrutura, por

outro lado, diferentes Estruturas promovem configurações dos níveis de

organização manifestamente diversas. Assim, quando se idealiza um “jogar” ou

interpreta o conteúdo de jogo, temos de ter a noção que diferentes estruturas

22 Como salientamos em capítulo anterior, apresentando todos os níveis propriedades fractais,

a redução pretende-se sem empobrecimento. Ainda que isso não seja 100% possível, é

necessário tentar minimizar ao máximo possível as consequências que qualquer tentativa de

redução (logo de simplificação) tem inerente.

Colectivo Intersectorial Sectorial Individual

Figura 7. Níveis de organização e Estrutura (ex.1-4-3-3)

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propiciam diferentes dinâmicas nos diferentes níveis de organização. Para

além disso, como já vimos, diferentes jogadores propiciam diferentes jogares

Actualmente, quando olhamos para as Equipas de top, verificamos a

predominância de duas estruturas: 1-4-3-3 e o 1-4-4-2. Destas surgem

inúmeras variantes que ao longo do jogo se vão desenhando com a dinâmica

específica das diferentes Equipas. Benitez (2008) corrobora afirmando que a

maioria das estruturas são semelhantes, na medida em que, a modificação de

uma estrutura para outra pode-se fazer ao longo do jogo, para que isso

aconteça basta alguns jogadores movimentarem-se para além das suas áreas

de interacção (definidas pelo posicionamento). Porém, é inegável que existem

diferenças nas duas estruturas de base mencionadas.

É consensual em vários treinadores (Cruyff, 19 cit. por Barend e van

Doorp, 1999, Guilherme Oliveira, 2003, Michels, 2001, Mourinho, 2002, Van

Gaal, 2006) que a estrutura que dispõe os jogadores em 1-4-3-3 é a que

melhor racionaliza o espaço de jogo. Por sua vez, os mesmos treinadores,

apontam algumas, supostas, desvantagens do 1-4-4-2. Michels (2001) refere

que os dois avançados poderão estar muito longe da linha média e os médios -

ala terão de ter muita qualidade (sendo desvantagem na medida em que a

polivalência funcional é, de acordo com o mesmo autor, difícil de encontrar).

Para Van Gaal (2006) a principal desvantagem tem que ver com o facto de

essa estrutura permitir a formação de poucas “linhas”, sendo essas que

garantem as opções de passe. Para Mourinho (2006, cit. por Gaiteiro, 2006) o

principal “problema” do 1-4-4-2 é a ocupação das faixas, uma vez que esta

distribuição não tem ninguém a garantir a largura.

No entanto, estes supostos “problemas” poderão ser, como veremos,

vantagens, se bem equacionados e interpretados pelas Equipas.

Nesse sentido, concordamos com Strachan (2008), actual treinador do

Celtic, quando afirma que os “sistemas (entenda-se a estrutura) não ganham

jogos, mas os jogadores sim.”, pois são os jogadores que, ao interagir, criam o

jogo (que é um “jogar”) no jogo. Desse modo, mais importante que as

estruturas é a dinâmica que resulta das interacções entre os jogadores, ou

seja, a organização funcional, que, no entanto, é sobrecondicionada pela

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disposição dos jogadores em campo, pois a dinâmica da equipa que joga em 1-

4-3-3 difere de quando joga em 1-4-4-2 (Silva, 2006). Desse modo, a estrutura

deve ser entendida como um fragmento de uma totalidade maior, o “jogar” de

determinada Equipa (Gaiteiro, 2006), salientamos assim a pertinência de se

acrescentar à palavra estrutura, Táctica.

Perante o exposto, faremos uma reflexão sobre o jogo posicional das

Equipas de Top para posteriormente indagar sobre como podem as estruturas

condicionar a dinâmica das Equipas de rendimento superior, identificando os

seus elementos semelhantes e diferentes (Gaiteiro, 2006). Para isso teremos

de ter presente o capítulo anterior, concretamente as propriedades dinâmicas

(“gerais”) inerentes a essas Equipas: Circulação de Bola; controlo do meio-

campo; chegar com muitos jogadores a Espaços de finalização; e, o equilíbrio

dinâmico em todos os momentos de organização.

Antes de avançarmos, é ainda pertinente salientar que a integração do

número 1, Guarda-redes, quando nos estamos a referir à estrutura, tem que ver

com um entendimento da dinâmica de jogo que não subvaloriza essa posição,

bem pelo contrário. Esta preocupação é explícita em Cruyff (1989, cit. por

Barend e van Doorp, 1999), Foppe de Han (2006), Guilherme Oliveira (2006),

Van Gaal (2006) e no actual treinador de Guarda-redes do F.C.Porto, Will Coort

(2008), para o qual este jogador é uma importante referência de apoio à

circulação de bola. Assim, não é apenas o “último” jogador da equipa pelo qual

os adversários terão de passar, mas deve também ser considerado uma

importante parte dos momentos de organização ofensiva: como “impulsionador”

das transições rápidas e/ou profundidade, como referência de passe mais

recuada e como jogador que participa activamente nos equilíbrios dinâmicos da

equipa. Sendo por isso uma importante parte da organização da Equipa em

todos os momentos que decorrem durante o jogo.

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2.3.3.1 Jogo Posicional

A qualidade do jogo posicional determina como são resolvidos os problemas da estrutura

Michels (2001)

A importância do jogo posicional é expressa no discurso de vários

treinadores: Mourinho (2003) menciona que um dos aspectos mais importantes

para a circulação de bola é o “bom jogo posicional”. Também para Cruyff (cit.

Por Barend e Van Dorp, 1999; 2008), Michels (2001) e Van Gaal (2006), os

aspectos mais importantes do futebol são as linhas e o posicionamento dos

jogadores em campo.

É necessário porém, esclarecer que a interpretação do “jogo posicional”

está relacionada com a ideia que os treinadores têm do jogo. Vejamos o que

Mourinho (2003)23 refere: “(...)Eu vou mais por um bom jogo posicional, pela

segurança que todos os jogadores têm ao saber que em determinada posição

há um jogador, que sob o ponto de vista geométrico há algo construído no

terreno de jogo que lhes permite antecipar a acção.”. Este jogo posicional está

relacionado com um padrão de circulação de bola em concreto, que como

veremos, assenta na procura da verticalidade após circulação de bola

horizontal. Nessa medida, nem todos os “jogares” têm inerente uma

distribuição dos jogadores em campo, ou seja, uma estrutura, que determine

algo sob o “ponto de vista geométrico” (triângulos), desse modo, este é um

possível entendimento de jogo posicional.

Em função do que evidenciamos no capítulo anterior, o jogo posicional

está para além da disposição dos jogadores em campo, ele refere-se em

primeiro lugar às funções dos jogadores. Nesse sentido, Queiroz (2006)

salienta que a primeira tarefa do jogador é compreender exactamente o que é

que a equipa espera dele, ou seja, em função de uma dinâmica que é

Específica da sua Equipa, o jogador tem que saber qual a sua tarefa/função.

Assim, o jogo posicional está intimamente relacionado com a dinâmica que se

pretende para determinada Equipa.

23 A ideia que o treinador tem do jogo posicional está relacionada com a ideia de jogo que

pretende para aquela Equipa (na altura o FCP), pelo que, treinando outra Equipa a ideia de

“jogo posicional” pode ser diferente.

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No entanto, existem algumas características inerentes ao jogo posicional

que podemos rever em todas as Equipas de top, nomeadamente as diagonais

posicionais dinâmicas, a existência de uma subestrutura posicional, a

ocupação de determinadas áreas em momentos concretos do jogo,

concretamente o posicionamento para ganho de 2ªs bolas e nas bolas paradas

e os equilíbrios dinâmicos.

2.3.3.1.1 Diagonais posicionais dinâmicas

Joga-se muito com ângulos rectos: horizontal, vertical, vertical, horizontal.

Dá-se o imprevisível quando se muda o ângulo, com diagonais ou passes em profundidade, procurando a

verticalidade, com mudanças de flanco e mobilidade.

Cruyff (cit. por Barend e Van Dorp,1999)

Inerente às diferentes dinâmicas que caracterizam a circulação de bola

das Equipas, existem aspectos comuns que lhe garantem segurança e

objectividade (no sentido de facilitar a concretização do objectivo da circulação

– criar desequilíbrios), referimo-nos concretamente às diagonais posicionais

dinâmicas. Estas definem uma possível trajectória da bola, em diagonal, e que

podem ser estabelecidas logo à partida pela disposição dos jogadores em

campo (estrutura) ou a partir das suas movimentações (dinâmica).

A pertinência de se acrescentar “posicionais” às diagonais tem que ver

com a existência de outro tipo de diagonais, que neste trabalho designamos de

“ruptura” e que surgem da movimentação dos jogadores para criar situações de

finalização. Por sua vez, são dinâmicas, pois as estruturas (enquanto

esquemas no papel) não existem por si só, são os jogadores que as

“desenham” no campo e esse “desenho” é necessariamente dinâmico.

Assim, considerando esta perspectiva, o jogo posicional é uma

propriedade emergente da Especificidade dinâmica de qualquer Equipa que

pretenda ser de Top.

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2.3.3.1.2 Subestrutura Posicional

O centro do terreno de jogo (defesas centrais, médios e avançado) assume grande importância na construção

“táctica” da equipa.

Michels (2001)

Valdano (1997) refere que no Ajax “Sabem que sem mobilidade não há

toque, mas se não se conservarem determinadas posições também não.”.

Também para Mourinho (2002) existia na sua equipa (na altura o FCP) uma

estrutura móvel e uma estrutura fixa, ou seja, jogadores que, pela posição que

ocupavam no terreno de jogo, assumiam um posicionamento mais móvel ou

mais fixo. Duas opiniões que espelham o que acontece actualmente no futebol

de Top: qualquer que seja o “jogar” tem sempre posições de referência em

todos os momentos de organização da equipa.

Na eventualidade de se considerar uma “estrutura fixa”, temos de ter em

atenção que esta é confinada a uma Estrutura táctica. Daqui emana a

pertinência de se acrescentar o prefixo “sub”. Para além disso, concordamos

com Valdano (2005) quando refere que “Para ser uma referência, a primeira

coisa a fazer é estar quieto”, no entanto, “estar quieto” não significa que um

jogador tem de permanecer sempre em determinada posição. Significa antes

que, determinadas áreas têm de estar ocupadas em todos os momentos de

organização da Equipa. Essas áreas podem ser ocupadas sempre pelos

mesmos jogadores (assumem um posicionamento mais “fixo”) ou por vários

(pelas trocas posicionais24), dependendo da Especificidade dinâmica de cada

Equipa.

Pelo exposto, o conjunto dessas áreas resulta no que designamos de

subestrutura posicional. A importância desta subestrutura nos momentos de

organização ofensiva revê-se nas referências que fornece para a consecução

do objectivo do jogo e pela sua vertente projectiva, ou seja, pensar o ataque

em termos defensivos (equilíbrios dinâmicos), nesse sentido concordamos com

Jesualdo Ferreira (2003) quando menciona que “(...)defender bem é, em

24 Relativamente às trocas posicionais é necessário que os jogadores saibam que ao mudar de

“posição” mudam de “funções” (Mourinho, 2002), ou seja, a partir do momento que ocupam

outras áreas têm de perceber que o comportamento nessas deve ser manifestamente diverso.

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primeiro lugar, a equipa estar bem posicionada no momento em que tem a

posse de bola.”.

Na figura 8, podemos verificar as áreas de referência (que evoluem no

terreno de acordo com o decorrer do jogo) das Equipas em todos os momentos

de organização. Como podemos verificar situam-se todas no corredor central,

havendo um espaço entre a área 4 e 3 que, como

veremos em capítulo posterior, é um Espaço cuja

dinamização, achamos importante para se puder

controlar o jogo.

A área 1 ocupada pelo Guarda-Redes (GR), é

em qualquer “jogar” de qualidade uma importante

referência nos momentos de organização ofensiva.

Como qualquer outro jogador de campo, o GR

quando recupera a bola pode decidir por entre dois

padrões comportamentais identificados para as transições: procurar

imediatamente após ganho de bola situações de finalização ou contemporizar

para que a transição seja em segurança.

Na procura imediata de situações de finalização o GR procura

frequentemente a profundidade de algum jogador, no entanto, quando o

adversário se encontra organizado, a sua acção pode determinar a dinâmica da

Equipa na criação de desequilíbrios no adversário. Assim, quando olhamos

para as Equipas de Top, verificamos que quando a bola está nos GR, após

transição em segurança ou reposição de bola em jogo (o adversário

recuperado posicionalmente), eles têm soluções distintas para “iniciar” a

criação de desequilíbrios, nomeadamente, sair a jogar curto ou longo.

Nesta perspectiva Van Gaal (2006) procura que as suas Equipas saiam

sempre a jogar curto, porém o autor citado, tem a noção que isso nem sempre

é possível, pelo que, as suas Equipas têm também que sair a jogar longo e

posicionar-se de acordo. Assim, temos duas possibilidades distintas que terão

implicações óbvias no comportamento de toda a Equipa:

Iniciar “Curto”: Depende, em grande medida, de como o adversário se

posiciona e pressiona, situação que pode ocorrer de modos diversos ao longo

2

Figura 8. Subestrutura

posicional

4

1

3

2

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de um jogo. Porém existem alguns comportamentos que se podem verificar

com alguma regularidade nas Equipas de Top: bolas colocadas

preferencialmente no corredor central, uma vez que os corredores laterais são

(frequentemente) referência de pressão do adversário, para além disso, jogar

curto nos laterais impossibilita a profundidade destes jogadores, sendo esse

um comportamento muito importante e frequente no momento de criar

desequilíbrios qualquer que seja o “jogar” (Ver capítulo da MacroOrganização

funcional, subcapítulo: criação de desequilíbrios - desequilíbrios nos corredores

laterais).

Como exemplo, podemos ver na figura 9 o posicionamento do sector

mais recuado numa saída curta, mas com o adversário a distribuir-se no

terreno de jogo de modo distinto.

Quando o adversário se distribui no 1-4-3-3 deixa um jogador na frente

que poderá condicionar uma linha de passe e assim, a abertura dos centrais

torna-se bastante vantajosa. Porém, se o adversário, deixa dois jogadores na

frente pode condicionar duas linhas de passe mas, para isso, irá abrir espaço

no centro, e nessa situação é frequente observarmos um médio descer no

terreno para receber a bola. Imaginemos agora que jogamos contra uma

equipa que defende predominantemente em bloco médio-baixo, nessas

situações este posicionamento dos centrais é irrelevante.

Iniciar “Longo”: pressupõe um maior risco de perda de bola, motivo pelo

qual, é frequente, quando o GR coloca a bola longa, a equipa subir no terreno e

fechar o seu Espaço interior, comportamento que pretende equilibrar e procurar

superioridade Espacial na área onde a bola irá cair. Não é um comportamento

aleatório, na medida em que, estrategicamente a bola é colocada em locais

onde estão posicionados determinados jogadores, que irão procurar ganhar a

Figura 9. Posicionamento nas saídas curtas com adversário distribuído em 1-4-3-3 e 1-4-4-2

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bola após ressalto (2ª bola). Existe no entanto, maior probabilidade de se

perder a sua posse pelo que, deve ser utilizada sobretudo como recurso e não

sistematicamente.

Para além do que já foi mencionado, durante a criação de desequilíbrios

e criação de situações de finalização, o GR, através do seu posicionamento,

assume-se como uma importante parte dos equilíbrios dinâmicos. Nesse

sentido atentemos às palavras de Cruyff (1986, cit. por Barend e Van

Dorp,1999): “Disse a Piet: devias encontrar a tua posição à entrada da área.

Daí precisarás de dar ordens e, seis ou sete vezes, de correr para trás para

fazer uma defesa. O grande medo dos GR, de serem batidos por um chapéu

não se baseia na realidade (...) Os verdadeiros líderes são os que calculam

quando os outros vão errar e correm riscos para os corrigir.”.

Pelo exposto constatamos que o Guarda-redes não é só uma parte dos

momentos de organização ofensiva ele é uma peça chave na organização da

Equipa.

A área 2 é ocupada pelos centrais, os quais assumem funções

preponderantes nos equilíbrios dinâmicos qualquer que seja o “jogar”, uma vez

que se posicionam em Espaços interiores recuados. Por outro lado, a

participação “activa” na criação e/ou aproveitamento de desequilíbrios está

intimamente relacionada com a dinâmica inerente às Equipas. Assim, enquanto

“referências” estes jogadores assumem papéis distintos de acordo com a essa

Especificidade. Se a Equipa pretende verticalizar o jogo após circulação de

bola horizontal, estes jogadores são uma importante referência de apoio à CB,

sobretudo nos momentos em que a Equipa procede à “instalação posicional”25.

Por sua vez, quando a Equipa procura com muita frequência verticalizar o jogo,

estes jogadores devem ter capacidade para colocar bolas longas em

profundidade, fazer passes verticais para o interior da Equipa e eventualmente

25 Instalação posicional: Pretendemos com está expressão designar o comportamento da

Equipa, que, quando recupera a bola e não identifica a possibilidade de imediatamente criar

situações de finalização, procura ocupar determinadas posições que lhe irão permitir criar

desequilíbrios no adversário.

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subir no terreno de jogo para criar desequilíbrios pela integração de mais um

jogador no meio-campo.

Relativamente a área 3, a sua importância relaciona-se com o jogo que a

partir daí se pode “criar” e do risco que a perda de bola nessas áreas tem

implícito, como nos deixa claro Paulo Assunção (2006) ex-jogador do F.C.Porto

no diálogo com o jornalista de “O Jogo”:

Jornalista: “Mas, recuperando as palavras de Adriaanse, só lhe faltou

dizer que no esquema que ele montou, todos podem falhar menos o

P.assunção.”

P.Assunção: “É uma tarefa muito complicada. Se eu falhar um passe

ponho em risco os meus companheiros da defesa; (...) Não posso errar e é por

isso que procuro jogar sempre de uma forma muito simples.(...)”

Nessa área podemos identificar diferentes comportamentos dos

jogadores que a ocupam:

Jogar em Profundidade – jogo Vertical: tentativa de procurar

desmarcações de ruptura dos jogadores mais avançados ou através de

penetrações. Para que esta “liberdade/risco” seja tomado é necessário que

existam mecanismos de compensação bem definidos. (Fabregas como

expoente máximo da qualidade neste jogo)

Jogar em largura – jogo horizontal: procura criar desequilíbrios no

adversário mas correndo menos riscos de perder a posse de bola, explorando,

por ex. o “lado fraco” do adversário.

Variação passe curto/longo – Através da qualidade dos seus passes

pode participar nas triangulações do ½ campo ou utilizar um passe longo para

surpreender o adversário.

É necessário ressalvar ainda que, o jogador(es) que ocupa(m) esta área,

habitualmente é(são) referência(s) de pressão do adversário. Assim, é

necessário considerar a orientação dos apoios deste(s) jogador(es) como um

aspecto crucial, pelo “estado” de organização defensiva em que se encontra a

Equipa (vulnerável) e pela importância de se iniciar o jogo por esse(s)

jogador(es). Assim, o estar de frente para o jogo, para além de ser um aspecto

referente à “táctica individual” é também uma referência para a segurança da

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Equipa. Como referimos esta é uma referência, obviamente que existem

situações em que os jogadores vão receber de costas: porque “leram” todo o

jogo que têm nas costas antes de receber a bola ou pelos constrangimentos

(pressão) colocados pelo adversário. Nesse sentido, verificamos que essa

situação é precedida de uma avaliação/percepção do contexto em que vai

receber a bola, consequentemente o jogador ao receber de costas pode

libertar-se imediatamente da bola (importância de jogar ao primeiro toque),

pode simular que vai libertar-se da bola ao primeiro toque e virar-se

rapidamente para a frente, etc. Com isto apercebemo-nos, mais uma vez, que

à medida que ampliamos uma das partes a variabilidade de comportamentos

que aí se podem evidenciar aumentam exponencialmente, pelo que a sua

descrição completa torna-se utópica.

A área 4 pode ser ocupada por um ou dois avançados (1-4-3-3 ou 1-4-4-

2 respectivamente) facto que pressupõe diferenças significativas na

subestrutura posicional das Equipas. Assim, quando a equipa se distribui no 1-

4-4-3 coloca um jogador nesta área, pelo que, a sua movimentação no terreno

de jogo terá de ser equacionada em função da necessidade da equipa ter

sempre uma referência frontal. Por sua vez, quando uma equipa se distribui em

1-4-4-2, coloca dois jogadores nesta área, assim sendo, a movimentação de

um dos jogadores não pressupõe perda de referência frontal. Porém, para

percebermos aquilo que acontece nas Equipas de Top, relativamente a esta

área, não basta olharmos para as diferentes estruturas, é necessário interpretar

o modo como as Equipas pretendem chegar ao golo.

Quando as Equipas procuram situações de finalização após recuperação

de bola (transição), as referências frontais em profundidade são fundamentais

porque são as mais próximas da baliza do adversário. O carácter projectivo

destas referências em profundidade, permite pensar o ataque quando a equipa

está na defesa, e também, condicionar o ataque do adversário, como nos

esclarece Queiroz (2006): “ (...) se fizermos um pontapé de canto e eu lhe

colocar três avançados por detrás das costas, se calhar já não pode fazer um

pontapé de canto com 5 ou 6 jogadores – é um exemplo concreto numa

situação estática mas que em situações dinâmicas também deve acontecer…”.

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Porém, a definição dessas referências poderá não estar relacionada com

esta área da subestrutura posicional mas antes com a Equipa, concretamente

com as características dos jogadores que temos na frente de ataque. Pelo que,

a referência frontal em profundidade poderá ser um “extremo/avançado-ala”.

Para além disso, essa referência poderá ser nas alas, na medida em que

frequentemente se encontram mais “desprotegidas” que o Espaço interior.

Nos momentos em que a Equipa procura criar desequilíbrios a

importância das referências frontais é “relativizada” à dinâmica preferencial de

CB. Assim, para uma equipa que apresente uma CB procure a verticalidade de

um modo mais “intenso”, ter sempre uma referência frontal é fundamental, pois

a tentativa de lhe colocar uma bola é frequente. Nesse sentido, o 1-4-4-2

parece-nos ser a melhor opção quando se pretende esta dinâmica de CB pois

permite ter sempre uma referência frontal e um jogador para dinamizar

Espaços (sobretudo os espaços fronteira). Por sua vez uma equipa que

privilegie a verticalidade após CB horizontal, para além das importantes

referências de largura, ter sempre uma referência frontal é igualmente

importante porque a qualquer momento pode existir um passe vertical a colocar

o jogador dessa área de frente para a baliza do adversário. Em função da

necessidade destas referências (sobretudo as de largura) o 1-4-3-3 parece-nos

a melhor opção quando se pretende verticalizar o jogo após circulação de bola

horizontal. No entanto, a participação do jogador que ocupa a área 4 na

dinamização dos Espaços fronteira deve ser muito bem equacionada para que

a equipa tenha sempre referências para passes verticais. Nesse sentido, as

Equipas poderão promover várias (Sub) dinâmicas, por exemplo, diagonais

interiores dos alas, trocas posicionais (médios a aparecer na área 4), etc.

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2.3.3.1.3 Posicionamento para ganho de 2ª Bola

Ao jogo posicional acresce ainda a importância de áreas que surgem

com a fluidez do jogo, cuja ocupação favorece a criação de desequilíbrios e/ou

procura de situações de finalização pelo ganho de ressaltos. Michels (2001)

refere que estes são importantes “momentos” do ataque à baliza do adversário.

Existem várias circunstâncias nas quais, um posicionamento estratégico

dos jogadores pode garantir uma vantagem sob o adversário na disputa de

ressaltos de bola. Podemos, no entanto, salientar algumas “situações-tipo” em

que esse posicionamento deve ser manifesto.

As saídas de bola longas pelo GR (com o adversário organizado),

implicam que a Equipa se agrupe no centro do terreno, de forma a fechar

Espaços interiores, pois o risco de perda de bola é eminente. Van Gaal (2006)

refere que, quando o GR tem de recorrer às bolas longas para iniciar a criação

de desequilíbrios, a Equipa tem de se posicionar de acordo com essa

possibilidade. Sabendo que, numa bola longa o adversário vai disputar o ganho

dessa bola, a questão que se coloca está em como é que a Equipa em posse,

ganha vantagem sobre o adversário.

Na figura 10 apresentamos uma situação possível em que o GR recorre

às saídas longas. A Equipa, num bloco compacto, tem

os Espaços interiores todos fechados. A bola não é

jogada aleatoriamente, procura antes a referência mais

avançada, que, ao disputar a bola de costas para a

baliza do adversário, fica de frente para três médios que

irão estar disponíveis para o provável ressalto da bola.

Por sua vez, se nessa disputa, o jogador da Equipa que

ataca consegue ganhar vantagem área (por ex.) e joga a

bola em direcção à baliza do adversário existirão

movimentos em diagonal dos avançados-ala.

Mourinho (cit. por Lourenço, 2004, pp.178), dá-

nos um exemplo claro desta situação, quando relata um comportamento que

pediu à sua Equipa e em concreto a um jogador, no jogo da final da Taça

Figura 10. Posicionamento

estratégico para ganho de

bola longa ou ressalto

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102

UEFA, do FCP ante o Celtic: “Capucho: tens de perder a primeira bola

propositadamente para que os médios possam ganhar a segunda e assim

massacrarmos a partir dessa posição.”.

Esta situação é também frequente quando a Equipa procura a

verticalização do jogo de um modo mais “intenso”. Porém, mais uma vez a

qualidade dos jogadores é um ponto crucial, para levar a efeito esta situação é

necessário ter um perfil de avançado que saiba antecipar a acção

movimentando-se para Espaços mais recuados, que tenha capacidade para

disputar bolas aéreas e também GR e/ou centrais com qualidade para colocar

bolas longas. É manifestamente distinto ter um central como Puyol, outro como

Gallas cujo perfil favorece mais este tipo de comportamento. O mesmo

acontece com Adebayor e Eto’o, ainda que a qualidade seja inquestionável

(não fossem eles jogadores de Top), o perfil de Adebayor favorece mais este

tipo de situação.

Existem outros Espaços que com a fluidez do jogo se revelam muito

importantes. Assim, quando, a Equipa procura criar situações de finalização no

adversário, tanto em situações dinâmicas como em situações de bola parada,

existem Espaços, que Michels (2001) designou de “Espaços operacionais”,

cuja ocupação é propensa à possibilidade de se ganhar ressaltos de bola e

consequentemente desequilibrar o adversário. Para além disso, concordamos

com o autor, quando menciona que esses Espaços, tanto permitem ganhar um

ressalto, como travar uma transição do adversário, pelo que, são também,

importantes áreas dos equilíbrios dinâmicos.

Na figura 11, apresentamos duas áreas cuja ocupação permite

frequentemente o ganho de 2ª bola e o equilíbrio da

equipa. Como salientamos o posicionamento nestas

áreas tanto possibilita disputar um eventual segunda

bola que “caia” no exterior ou no interior da Equipa.

Estas áreas são extensas e a ocupação depende da

dinâmica do jogo, ou seja, mais em cima ou mais em

baixo, depende de “onde e como” está a bola. Figura 11. Áreas a ocupar para ganho

de 2ª bola/equilíbrio

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Para além da possibilidade de ganhar ressaltos de bola e criar

desequilíbrios, a ocupação destas áreas permite:

Apoiar a criação de desequilíbrios;

Fechar Espaços interiores;

“Travar” possível transição do adversário.

A última área que aqui achamos pertinente ressalvar, é também explicita

nas recomendações de Michels (2001) que refere que, após uma tentativa de

finalização (pressupõe remate à baliza), os jogadores devem procurar posições

à frente e dentro da grande área. Como nos explicita Wouters (s/d, cit. por

Barend e van Doorp, 1999, pp.74): “Quando é feito um cruzamento de um

flanco, Johan pretende que o Arnold e eu mantenhamos a pressão no

adversário esperando à entrada da grande área para ganhar as bolas que

“sobram””. Pelo que, é muito importante que, para além da linha de eventuais

finalizadores, surja outra linha de jogadores para disputar os ressaltos de bola.

Para além disso, nos remates à baliza de curta/média distância, o

posicionamento que, sobretudo, os jogadores mais avançados assumem é

muito importante, podendo fazer a diferença no caso de o GR não conseguir

segurar o remate nem o colocar para fora. Cruyff (2008a) corrobora ao

evidenciar que o actual treinador do F.C.Barcelona, Guardiola, (...) ao juntar

três números 9 (a determinada altura do jogo em que tinha superioridade

numérica), procurou uma coisa: uma qualidade específica que só tem o

avançado centro, que tem o golo dentro de si. Guardiola recorreu ao sexto

sentido que enriquecem os três noves. E esse é o de intuir onde pode a bola

parar após um ressalto. E muitos ataques-golo, mesmo que mal executados,

surgem de ressaltos.”. O posicionamento do jogador deve, portanto, permitir

que este surpreenda os adversários com uma qualquer movimentação de

aproximação à bola.

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2.3.3.1.4 Equilíbrios dinâmicos

“No jogo a encerrar a eliminatória, Espanha monopolizou a posse de bola de tal forma que só teve de realizar

quatro faltas em 90 minutos para contrariar os pobres intentos de contra-ataque do rival.”

Valdano (2007b)

“ (...) com bola se defende e ataca e sem bola se defende e ataca (…)

O equilíbrio defensivo é o argumento fundamental de um bom ataque.”

Queiroz (2006)

Enquadrado no jogo posicional temos ainda um importantíssimo aspecto,

para o qual temos alertado ao longo desta dissertação. Referimo-nos

concretamente, aos equilíbrios dinâmicos, cuja importância está implícita nas

palavras de Mourinho (2003) “(…), quando se possui a bola, também se tem

que pensar defensivamente o jogo, da mesma forma que, quando se está sem

ela e se está numa situação defensiva, também se tem que estar a pensar o

jogo de uma forma ofensiva e a preparar o momento em que se recupera a

posse de bola.”. Pelo que, a importância destes aspectos justifica este (sub)

subcapítulo.

A preocupação com os Equilíbrios nos momentos de organização

ofensiva surge do facto de, em posse de bola, termos duas hipóteses: marcar

golo ou perde-la para o adversário. Por esse motivo, quando temos a posse de

bola os riscos a que a Equipa se submete são de perda de bola, o que leva a

necessidade de se equilibrar para, nessa situação, a recuperar rapidamente ou

contemporizar o ataque do adversário permitindo a reorganização defensiva da

Equipa.

Assim, a perda de bola é um pressuposto inerente ao confronto entre

duas Equipas que pretendem marcar golo. Quando, como e onde a vamos

perder é difícil de prever, porém, a dinâmica das Equipas de top tem inerente

situações em que a assunção de maior risco de perda se acentua, nesse

sentido, é fundamental que a Equipa saiba como, quando e onde correr esses

riscos e como se organizar em função do maior ou menor risco que

determinados comportamentos têm inerentes.

Os diferentes padrões de circulação de bola induzem riscos

manifestamente diversos, sendo que, os riscos que as Equipas se submetem

surgem, fundamentalmente, do aumento do número de jogadores em Espaços

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de finalização e da verticalização do jogo, pois o Espaço vai-se reduzindo à

medida que a bola progride no terreno em direcção à baliza adversária. Porém,

a presença de risco não implica ausência de segurança, em todos os

momentos de organização ofensiva as Equipas de top equacionam (o que

implica uma “sentimentalidade” de equipa – jogar uns em função dos outros) o

binómio Risco/Segurança.

O equilíbrio é conseguido através de um conjunto de comportamentos

que visam compensar os riscos assumidos. Havendo uma preocupação

eminente com o fecho de Espaços interiores. Pois, a segurança desses

Espaços é fundamental para impedir rápidas transições e consequentes

situações de finalização do adversário.

Os equilíbrios podem ser conseguidos através:

Do Posicionamento: as Equipas possuem referências

posicionais de equilíbrio para que outros jogadores, através da assunção

de maiores riscos, possam criar desequilíbrios no adversário. Essas

referências consubstanciam-se nas áreas correspondentes à

subestrutura posicional e às áreas propensas ao ganho de segunda

bola. De essas áreas resulta um número de jogadores atrás da linha da

bola, que diverge em função da Equipa, do que se idealiza para ela, da

qualidade dos jogadores. Atentemos às palavras de Michels (2001,

pp.105): “Na minha concepção, a organização da “cobertura defensiva”

será baseada num bloco de 4 e num bloco de 6. Os seis jogadores estão

permitidos a envolver-se na criação de desequilíbrios, mas os 4

jogadores têm de ser disciplinados e manter-se sempre atrás da linha da

bola.”

No entanto, apesar de considerarmos importante esta ideia

deixada por Michels (2001), pensamos que o bloco de quatro jogadores

que o autor define para o equilíbrio deve ser equacionado também em

função do adversário e das circunstâncias que a fluidez do jogo nos

apresenta. Ou seja, se a Equipa está em criação de desequilíbrios no

meio-campo adversário, o número de jogadores que a Equipa deixa

atrás da linha da bola, vai depender em grande medida de como o

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adversário se estrutura, se é “forte” nas transições imediatas para criar

situações de finalização e do número de jogadores que deixa em

equilíbrio ofensivo. Nesse sentido Queiroz (2006) ajuda-nos a

compreender com um exemplo: “(...) estou a jogar contra uma equipa de

sistema 4.4.2, no minimo e em princípio temos que ter um balanço de 3

jogadores um sobre o lado da bola, 2 para 2 para equilibrar a

eventualidade de um contra-ataque, mas se eles tiverem só um, temos

que envolver um outro jogador no ataque. Agora e se não tiverem

nenhum? Estão lá os 3 jogadores parados sem fazer nada, portanto, não

quer dizer que esses ataquem de qualquer maneira, porque eles tem

que ter alguns movimentos correctos de apoio à circulação da bola, se

eles forem compensados por movimentos de ocupação de espaços dos

outros jogadores.” Na mesma linha de pensamento Jesualdo Ferreira

(2003) refere que “…se a equipa se coordenar bem e dominar os

equilíbrios, os balanços defensivos, entre outros aspectos, eu posso

ganhar uma unidade para uma outra função correndo o risco de jogar

em igualdade numérica.” .

Movimentações:

De apoio à circulação de bola: movimentos de “vai-e-vem”: dos médios ao

sector recuado quando a bola se encontra em áreas do terreno

recuadas. De um avançado que desce no terreno.

Coberturas de apoio à circulação de bola: diagonais laterais e recuadas:

ideia de losango em torno do portador da bola.

Basculações para fecho de espaços interiores: na criação de

desequilíbrios a participação activa dos laterais deve ser compensada

com uma basculação de todo o sector defensivo.

Coberturas ofensivas: em momentos de criação nos corredores a

existência de uma cobertura ofensiva permite, por um lado, dar apoio à

CB, e por outro equilibrar o corredor em situação de possível perda de

bola.

Compensações e Trocas posicionais: entre os jogadores que se

encontram em zonas de influência próximas. As trocas posicionais nem

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sempre são uma “boa opção” na medida em que requisita jogadores

polivalentes de elevada qualidade, e, como recentemente referiu Quique

Flores (2008, fonte desconhecida) esses “são raros”.

O equilíbrio, é uma necessidade que deriva do confronto de duas

Equipas, assim a existência de um conjunto de referências comportamentais

que os jogadores terão de interpretar e ajustar aos diferentes contextos de

cada jogo é fundamental, porém deve estar sempre presente que o modo como

é realizado, ou seja, como são ajustadas as referências, depende em grande

medida do adversário: do seu padrão de jogo e da qualidade dos seus

jogadores.

O jogo posicional como pudemos constatar vai muito para além da

distribuição dos jogadores em campo, ele tem inerente, comportamentos que

determinam em grande medida a dinâmica Específica das Equipas. Neste

capítulo vimos a importância das diagonais posicionais (às quais voltaremos

novamente em seguida), da subestrutura posicional, do posicionamento para

ganho de 2ªs bolas e dos equilíbrios dinâmicos. Ao evidenciarmos diferentes

comportamentos tivemos oportunidade de verificar que a variabilidade de

situações que podem determinar este “jogo posicional” é de tal forma grande

que o mesmo jogador numa situação idêntica mas com a maior (ou menor)

proximidade do adversário (por ex.) apresenta um comportamento totalmente

diferente, dependendo também em grande medida da qualidade dos jogadores

e de todo um conjunto de acontecimentos aleatórios que podem levar a

decisões distintas em situações aparentemente semelhantes.

2.3.3.2 Circulação de bola e estrutura

Uma boa circulação de bola coloca elevadas exigências na qualidade do jogo posicional (...)

Michels (2001)

A circulação de bola pode-se concretizar de modos distintos: com mais

ou menos toques, com mais ou menos progressão do portador, mais atrás e/ou

mais à frente, com diferentes velocidades, pelos corredores laterais e/ou pelo

corredor central, com “canais de comunicação” preferenciais, com variações de

ângulo frequentes, circulando a toda a largura do campo, com progressão

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através de passes longos (profundidade) e/ou passes curtos, com mais ou

menos mobilidade, etc.

Porém, inerente às diferentes dinâmicas que caracterizam a circulação

de bola das Equipas, existem aspectos comuns que lhe garantem segurança e

objectividade (no sentido de facilitar a concretização do objectivo da circulação

– criar desequilíbrios), referimo-nos concretamente às diagonais posicionais

dinâmicas, que podem ser perspectivadas a partir da criação de desequilíbrios

(objectividade): progressão no terreno em direcção à baliza adversária e a

partir da segurança: coberturas/apoios ao portador da bola e maior ângulo de

visão do receptor (orientação dos apoios), o que implica uma selecção

equilibrada entre horizontalidade e verticalidade, daí que, a qualidade de

circulação de bola pressupõe que esta seja feita com inteligência.

A importância destas diagonais é expressa por alguns treinadores

(Guilherme Oliveira, 2006, Van Gaal, 2006) que alertam para a necessidade da

Equipa assumir uma disposição no terreno de jogo que permita traçar linhas

“imaginárias” em profundidade e largura. Como nos demonstra a figura 12:

Podemos verificar que o 1-4-3-3 dispõe os jogadores num maior número

de “linhas” do que o 1-4-4-2, tanto em largura como em profundidade. Por sua

vez, estas linhas possibilitam uma configuração geométrica em triângulos

(figura 13), permitindo assim, à partida, um maior número de soluções ao

portador.

Figura 12. “Linhas” das Estruturas de referência

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Esta configuração em triângulos é, segundo vários autores, um aspecto

crucial nos momentos de organização ofensiva (Cruyff, 2008, Frade, 2006,

Guilherme Oliveira, 2006, Mourinho, 2003, Olivares, 1978, Queirós cit. Castelo,

1994, 2003, Van Gaal, 2006,).

Pelo exposto, facilmente se depreenderia que o 1-4-3-3 é mais propenso

ao aparecimento da qualidade da circulação de bola, no entanto, esta

interpretação apenas considera as diagonais posicionais definidas à partida

pela estrutura. Lembramos mais uma vez, que sejam ou não definidas pela

estrutura, elas serão sempre dinâmicas pois as estruturas, linhas, triângulos

existem no papel, os jogadores é que as “desenham” com a dinâmica do jogo.

Nesse sentido, um metro do terreno de jogo faz toda a diferença (Sachi, 2006).

Como já vimos existem essencialmente dois padrões de circulação de

bola que resultam da “intensidade” com que se procura a verticalização do

jogo. Sendo que, a qualidade da circulação está intimamente relacionada com

esses padrões de circulação. Ou seja, se uma Equipa procura a verticalização

frequentemente após a circulação de bola horizontal, revela-se fundamental

para a sua qualidade, que a Estrutura defina à priori muitas linhas e triângulos.

Por sua vez, não deixam de ser importantes quando a verticalização da

circulação de bola é procurada de um modo mais “intenso”, contudo, são

criadas de modo distinto com a dinâmica do jogo.

Não podemos, portanto, afirmar que a qualidade da circulação de bola

depende da Estrutura apresentar ou não muitas linhas. Agora a qualidade de

um entendimento da circulação de bola (que na situação apresentada pelos

1.4.3.3 1.4.4.2

Figura 13. Triângulos das Estruturas de referência

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autores deriva da sua verticalização após circulação horizontal) pode depender

deste aspecto da estrutura. Assim, é preciso conhecer as ideias que estão por

detrás dos treinadores citados quando estes referem que as Estruturas que

dispõe em muitos triângulos são as que melhor potenciam a qualidade da

circulação de bola. Pelo exposto, interessa salientar que a qualidade da

circulação de bola tanto pode estar numa estrutura com muitas linhas como

numa estrutura com poucas linhas, a questão que se coloca tem que ver com a

dinâmica da circulação que poderão potenciar e, obviamente, da qualidade dos

jogadores. Sendo que, a qualidade da circulação de bola está sempre

dependente da quantidade de diagonais que as dinâmicas das Equipas

conseguem produzir durante o jogo.

Seguindo os dois exemplos que nesta dissertação têm sido mais

frequentes26, verificamos que o Barcelona, estruturado num 1-4-3-3, procura

com maior frequência a verticalidade após circulação horizontal, por outro lado,

o Arsenal, estruturado num 1-4-4-2, procura com maior regularidade verticalizar

o jogo de um modo mais “intenso”. Desse modo, ao questionarmo-nos sobre a

relação que essas dinâmicas preferenciais de circulação têm com o modo

como se estruturam podemos tirar algumas ilações importantes.

Por um lado se a Equipa, pela sua distribuição, define à priori muitas

diagonais (1-4-3-3), a circulação de bola poderá ter uma dinâmica diferente, ou

seja, como os jogadores “já lá estão” a circulação a um/dois toques poderá

mais facilmente aparecer. No entanto, uma equipa que se estruture

inicialmente num 1-4-4-2, pode apresentar (sub)dinâmicas de organização,

onde assuma uma configuração mais “fixa” que tenha muitas linhas, o que lhe

permitirá circular a bola a um/dois toques (exemplo da actual equipa do Arsenal

que, apresenta (sub)dinâmicas de criação de desequilíbrios que têm implícito

este posicionamento mais “fixo”).

26 Nunca é demais reforçar a ideia que não pretendemos generalizar o que acontece nestas

duas Equipas para as restantes que, apresentando “jogares” distintos apresentam

regularmente qualidade. A escolha destas duas Equipas prende-se com o facto de,

apresentando ambas inegável qualidade, apresentam também dinâmicas completamente

distintas. E os exemplos a que nos socorremos acreditamos vir a enriquecer os conteúdos que

têm sido alvo de interpretação e reflexão nesta dissertação.

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Por outro lado, constatamos que quando a Equipa procura a

verticalização “intensa” da circulação de bola, a dinamização dos Espaços que

se situam entre a linha intermédia e avançada é fundamental.

Na figura 14 apresentamos uma situação de “verticalização” do jogo,

muito frequente em Equipas que procuram verticalizar a circulação de bola de

um modo mais intenso (Gallas – Adebayor: linha de passe frequentemente

utilizada para criar desequilíbrios).

A diferença neses dois exemplos é a forma como os jogadores se

distribuem no campo. Ainda que sejam apenas ilustrativas apresentam um dos

motivos que pode justificar a correlação do 1-4-4-2 com a procura “intensa” da

verticalização. O comportamento de um dos avançados a apoiar a circulação

de bola, movimentando-se para Espaços intersectoriais é frequente, se nos

reportarmos ao Arsenal, facilmente observamos que tanto Adebayor como Van

Persie descem, alternadamente, para essas áreas para apoiar a circulação de

bola. Desta movimentação a Equipa tem de “avaliar” duas situações: a primeira

é perceber se o central acompanha essa movimentação a segunda diz respeito

às referências frontais.

Se observarmos com atenção a figura 13 e imaginarmos a dinâmica de

ambas situações, constaremos que, a não ser que o adversário tenha as linhas

muito juntas ou tenha um jogador (médio) praticamente encostado à linha

defensiva (o que libertaria outros Espaços), o central adversário acompanha

com frequência esta movimentação do avançado. Eis que surgem as primeiras

diferenças entre as estruturas: se a Equipa se estrutura em 1-4-4-2, o

Figura 14. “Verticalização” do jogo em diferentes estruturas

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acompanhamento do central adversário, deixa-o (adversário) numa situação de

fragilidade defensiva, uma vez que fica numa eventual situação de igualdade

numérica (considerando que um dos médios ala garante a largura – mais uma

vez um exemplo claro é o Arsenal). Contrariamente, no 1-4-3-3 o

acompanhamento do central para além de ser uma “boa” opção defensiva do

adversário permite manter a situação de superioridade numérica, pelo que, do

ponto de vista ofensivo, parece não ser a melhor opção.

Para além disso, esta movimentação do avançado, no 1-4-3-3, faz com

que a Equipa perca referências frontais (no centro do terreno de jogo),

fundamentais na permanente tentativa de verticalizar o jogo, ainda que estas

possam, ocasionalmente, surgir das diagonais exteriores dos avançados-ala.

É necessário porém alertar que estamos a falar de regularidades, cujas

circunstâncias em que ocorrem, ainda que sempre diferentes, permitem que as

identifiquemos. Desse modo, as situações apresentadas tanto acontecem

numa estrutura como noutra qualquer, porém a regularidade com que se

apresentam e o modo como potenciam determinadas (sub)dinâmicas é

manifestamente diferente.

2.3.3.3 Controlo do ½ campo e estrutura

O ½ campo afigura-se um espaço crucial no desenvolvimento de

qualquer jogar. Circular a bola em espaços recuados, onde à partida existe

superioridade Espacial está ao alcance da maioria das Equipas, sendo muitas

vezes “consentida” pelo adversário. O mesmo não acontece

quando a bola entra em Espaços intermédios (sobretudo os

interiores, assinalados na figura 15), que correspondem a

Espaços onde a criação de desequilíbrios e posterior criação de

situações de finalização assume maior preponderância.

Obviamente que os desequilíbrios e as situações de finalização

podem ser criadas a partir dos corredores laterais ou de áreas

mais recuadas, porém, uma Equipa que pretenda “mandar no jogo”, ou seja,

apresentar um futebol “dominante” que se consubstancie numa maior criação

Fig. 15. Espaço interior

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de oportunidades, tem, necessariamente, de controlar este Espaço. A situação

inversa ocorre muitas vezes, ou seja, o não controlo desse Espaço pela Equipa

em posse, que dá origem ao estereotipado jogo de transições e/ou ao jogo

directo.

O controlo desse espaço surge da vantagem Espacial conseguida pela

circulação de bola. Ou seja, em função da movimentação da bola a Equipa

procura criar vantagem Espacial que permitirá ao portador ter sempre soluções

viáveis para que se criem desequilíbrios e/ou situações de finalização.

Em função dessa necessidade interessa perceber como as diferentes

estruturas poderão influenciar o controlo desse Espaço.

Lembramos que, dentro do Espaço interior assinalado na figura 15,

existe uma posição para a qual já alertamos na subestrutura posicional.

Referimo-nos a área central mais recuada, onde os jogadores que lá se

apresentarem assumem normalmente as funções de Pivô baixo. Desde já, as

diferenças entre os jogadores que poderão ocupar estas áreas pode determinar

em grande medida o modo como se controla o Espaço em questão. Assim,

encontramos muitas vezes nesta posição um perfil de jogador que procura

sobretudo a horizontalidade, através da variação de passes curtos e longos,

posicionando-se quase sempre atrás da linha da bola para dar apoio e ser uma

importante parte dos Equilíbrios dinâmicos e dos momentos de organização

defensiva, tendendo este perfil assumir características mais defensivas. Por

sua vez, um outro possível perfil de jogador é o que procura frequentemente a

verticalidade do jogo, que sobe e desce no terreno para criar situações

favoráveis à progressão da bola no terreno de jogo, alternando nesta posição

com outro jogador, mais uma vez, o exemplo do Fabregas no Arsenal é claro.

Estes dois perfis de jogadores estão relacionados com os padrões de

circulação de bola, respectivamente, com a verticalização mais “intensa” ou

após circulação horizontal. Quando olhamos para as Estruturas, verificamos

que o 1-4-3-3 apenas posiciona um jogador nessa área, enquanto o 1-4-4-2

posiciona dois jogadores. Pelo que, possuindo uma Equipa um jogador com

perfil semelhante a Fabregas, que sobe e desce no terreno com bastante

facilidade, e outro com um perfil que assenta mais na procura de desequilíbrios

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pela (quase) máxima segurança (à semelhança do companheiro de Equipa de

Fabregas, Denilson), a Equipa terá à partida mais soluções para criar

desequilíbrios.

Porém, a dinâmica das Equipas pode contrariar esta aparente tendência

favorecedora do 1-4-4-2. Para melhor o percebermos recorramos ao

Barcelona. Estruturado em 1-4-3-3, joga habitualmente com Busquets, com

tendência para procurar a movimentação horizontal da bola, porém, não raras

vezes vemos Xavi, Iniesta ou Gudjhonson (dependendo de quem e em que

posição estão a jogar) a descer no terreno e a assumir essas funções. Para

além de que, a questão do posicionamento pode ser resolvida com a inversão

do triângulo do ½ campo. Assim, para maior controlo destes Espaços

interiores, parece-nos que esta complementaridade no perfil dos jogadores que

mais vezes tendem a assumir as funções de Pivô é um aspecto determinante,

pois, mantendo a segurança, os riscos que se correm podem ser maiores.

As diferenças entre as estruturas resultam do Espaço que os jogadores

ocupam e também, dos Espaços que se deixam livres. À semelhança do

famoso “queijo emmental”, cujos buracos ainda que não alimentem são

indispensáveis para a identidade desse queijo, também as estruturas possuem

“buracos” (entenda-se Espaços livres), fundamentais para a sua interpretação.

Nesse sentido, tão importante como o Espaço que se preenche é o que se

deixa vazio (Távora, 2007).

Na figura 16 apresentamos os “principais” Espaços vazios que as

diferentes estruturas apresentam, tendo em vista a criação de oportunidades

de finalização.

1.4.3.3 1.4.4.2

Figura 16. Espaços livres deixados pelas estruturas

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115

Fazendo uma leitura às diferentes distribuições, facilmente notamos que

a estrutura que dispõe os jogadores em 1-4-4-2, apesar de ter mais jogadores

em espaços intermédios, possui mais Espaços vazios, ao contrário do que

acontece no 1-4-3-3. Assim, a aparente vantagem numérica no ½ campo, se

não for devidamente equacionada pode revelar-se uma grande desvantagem.

Contrariamente, o 1-4-3-3 apesar de não ter o mesmo número de jogadores a

sua distribuição é mais equilibrada.

A questão fundamental está em como as Equipas dinamizam esses

Espaços vazios, sobretudo os interiores. O primeiro ponto sobre o qual iremos

reflectir tem que ver com a ocupação do Espaço que se situa entre a linha

intermédia e a linha avançada.

Michels (2001) refere que uma das possíveis desvantagens do 1-4-4-2 é

o Espaço que, eventualmente, aí poderá existir. Na mesma linha de

pensamento Van Gaal (2006) pretende que o triângulo do seu meio-campo (em

1-4-3(2:1)-3) esteja “apontado” para a frente para, com isso, diminuir a distância

entre o avançado e os médios. Porém, ainda que pretendam esse

posicionamento, os autores pretendem também mobilidade desses jogadores.

E aqui está um ponto fundamental. Se a Equipa deixar lá um jogador com

pouca mobilidade, facilmente o adversário o “anula”, e o jogo “entrelinhas” tão

importante para o controlo do meio-campo (pois permite ganhar vantagem

Espacial sobre o adversário, ainda que momentânea) e consequente criação

de desequilíbrios simplesmente não existe, ou não surte qualquer efeito. Se,

por sua vez, a dinamização desse Espaço resultar da mobilidade dos

jogadores, a vantagem nesses Espaços sobre o adversário tenderá a ser

maior, dependendo obviamente da qualidade do adversário.

Deste modo, encontramos mais um ponto em comum nas diferentes

estruturas, que, não posicionando ninguém nos Espaços referidos, procuram a

sua dinamização pela mobilidade de um dos jogadores (até mesmo

posicionando, no 1-4-3-3 com meio-campo: 2:1, ou no 1-4-4-2 com meio-

campo: 1:2:1), no 1-4-4-2: médios ala, médio centro, avançado. Já no 1-4-3-3

por um dos médios, ou por um avançado-ala (Ex. do Iniesta no Barcelona que

por diversas vezes foi colocado de início a jogar a Avançado-ala-esquerdo,

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Revisão de Literatura

116

mas tendencialmente, com a dinâmica do jogo, a cair para esse Espaço),

eventualmente também pelo avançado centro mas, nesta situação têm de ser

bem equacionadas as referências frontais mais avançadas.

Esta dinamização dos Espaços interiores, relacionada com o “jogo

entrelinhas”, ao permitir ganhar vantagem Espacial sobre o adversário permite

um maior controlo do ½ campo, consequentemente criam-se mais

oportunidades de finalização.

Existem ainda os Espaços nos corredores laterais que devem ser

considerados no 1-4-4-2. Não é pouco frequente vermos os médios-ala

garantirem a largura. Mesmo quando os jogadores se estruturam em 1-4-4-3,

verificamos situações em que o avançado-ala procura o interior da Equipa e um

dos médios garante a largura. As implicações destes comportamentos, se não

forem ponderados, são óbvias na perda de controlo do ½ campo. Em primeiro

lugar, para o fazer é necessário que os médios-ala tenham muito qualidade,

sobretudo na capacidade para identificar quando e como jogar, tanto pelo

interior (a aparecer nos Espaços interiores como a apoiar a criação de

desequilíbrios pelos corredores laterais) como pelo exterior (garantindo a

largura) da Equipa. Michels (2001) corrobora ao afirmar que estes jogadores

têm de ser multifuncionais. Depois, não deverão garantir a largura em

simultâneo (caso contrário a Equipa fica com apenas dois jogadores entre os

sectores mais recuado e o mais avançado), sendo que, nesta situação a

largura pode, por ex. ser garantida por um avançado e um médio-ala, por um

lateral, tudo depende da qualidade e características dos jogadores e,

obviamente das circunstâncias que no jogo se apresentam.

Para melhor entendermos peguemos mais uma vez na Equipa do

Arsenal: como já vimos apresenta-se em 1-4-4-2, com um meio-campo (tipo)

fortíssimo: Nasri, Fabregas, Denilson, Diaby/Eboué, na frente Adebayor e

V.Persie. Os Alas tanto jogam dentro, garantindo mais um jogador no centro

(Espaço interior). Denilson normalmente fica mais recuado, mas por vezes

aparece em Espaços frontais. Fabregas um “fornecedor de jogo”, como o

caracteriza Valdano, possui uma capacidade tremenda para criar desequilíbrios

através do simples “passa e vai...”, como para fazer passes de penetração

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117

(com um timing fabuloso) a “pedir” uma diagonal interior ou colocando a bola

nos pés de Adebayor que frequentemente desce no terreno para Espaços

normalmente livres de marcação apoiando a circulação de bola. Nesse

“seguimento” os Alas ou Fabregas surgem frequentemente como 3º Homem27.

Repare-se que, este é um possível “padrão dinâmico”, porém a

qualidade da equipa é de tal maneira elevada que os Alas podem jogar por fora

ou por dentro, e nesse caso vemos muitas vezes tanto Clichy como Sagna

(laterais direito e esquerdo respectivamente) a subir no terreno e a criar

situações de 2x1 com médios ou com os avançados que têm mobilidade para

as faixas. Evidenciamos assim que as respostas ao “como controlar o meio-

campo?” apenas podem ser encontradas no seio das Equipas, na medida em

que a variabilidade de comportamentos possíveis é infindável e está,

obviamente, dependente dos Jogadores que se possui, das suas

características e qualidades.

27 3º Homem (Figura 16): Termo utilizado por Michels (2001) e ( ) para definir

o jogador, normalmente um médio, que jogando de frente para a baliza do

adversário, assume-se como uma importante referência para um eventual

passe recuado. Figura 17. 3º Homem

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118

2.3.3.4 Jogadores em Espaços de Finalização e Estrutura

Como já evidenciamos, actualmente as Equipas de Top têm vários

jogadores com capacidade para “aparecer” em Espaços de finalização, se por

um lado permite à equipa um maior número de soluções, por outro, o

movimento de “trás para a frente” é mais difícil de controlar por parte do

adversário. Menotti (s/d) corrobora afirmando que “…os jogadores que mais

surpreendem e que maior dano causam, são aqueles que pela visão do campo

utilizam os espaços ofensivos aparecendo desde trás da jogada; estes são

incontroláveis porque aparecem num espaço com uma corrida de engano,

simulam que vão para ao primeiro poste e vão para o segundo…”.

Este indicador potencia uma grande variabilidade de dinâmicas, porém

estas têm de se apresentar coerentes, caso contrário haverá sobreposição de

jogadores e consequentemente o jogo tornar-se-á “confuso” e a equipa

desequilibrada. Desse modo, é condição, para que vários jogadores possam

aparecer em Espaços de finalização, existir Espaços livres. Esses podem

existir pela estrutura definida e são criados pela movimentação/mobilidade dos

avançados (dois em 1-4-4-2 e três em 1-4-3-328).

Vários autores apontam como sendo uma das grandes vantagens do 1-

4-3-3, a largura que a distribuição dos 3 avançados permite dar ao ataque

(Guilherme Oliveira, 2005, Mourinho cit. por Gaiteiro 2006). Nesta estrutura os

Espaços livres, onde podem aparecer com movimentos de “trás para a frente”,

encontram-se sobretudo nos espaços existentes entre os avançados que dão

largura e o avançado centro. Por sua vez, a movimentação do avançado centro

para criar espaços tem de ser muito bem equacionada na medida em que é a

única referência frontal (no centro do terreno) da equipa.

Imaginemos a seguinte situação: Equipa em posse de bola circula-a em

espaços recuados. Um dos possíveis desequilíbrios poderá ser encontrado nos

28 Nesta estrutura a linha mais avançada, tradicionalmente, é composta por 2 extremos bem

encostados à linha e 1 ponta de lança, no entanto, as equipas de TOP procuram ter jogadores

nessas posições com capacidade para jogar junto à linha como para procurar espaços

interiores. Assim, essa estrutura é composta por 3 avançados em vez dos tradicionais extremos

e ponta de lança

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espaços fronteira29 do adversário, concretamente no espaço entre a linha mais

recuada (vulgarmente designada de defensiva) e a linha intermédia. O modo

como se pretende dinamizar esses Espaços (Específico da Equipa), deverá

implicar uma reflexão sobre a estrutura.

Por um lado, se essa Equipa joga em 1-4-3-3 e o avançado desce no

terreno ocupando esse Espaço, deixa um importante Espaço vazio, na medida

em que, é a única referência frontal (no centro do terreno). Desse modo, a

Equipa tem de apresentar uma dinâmica que permita ocupar a posição por ele

deixada (por ex. diagonais dos avançados-ala, movimentos verticais dos

médios...).

Quando falamos em “referência frontal” temos de alertar para uma

situação muito importante que à primeira vista parece contrariar o que aqui

propomos, e que advém de um comportamento colectivo inerente ao “futebol

total” de Michels.

Segundo Olivares (1978) essa Equipa apresentava uma circulação em

toda a largura (figura 18) para depois verticalizar. Aquilo que aqui é pertinente

salientar é que, segundo o autor, havia um Espaço

que, com esta dinâmica, ficava livre dentro da grande

área. A importância deste comportamento tem que

ver com o “factor surpresa” que potencia. Apesar de

não se encontrar ninguém nessa área, não deixa de

ser uma referência frontal, contudo nestas

circunstâncias em vez de “estar” lá, vai aparecer na

área indicada.

Portanto, a referência frontal a que nos temos referido neste trabalho

pressupõe que independentemente das circunstâncias a Equipa sabe que vai

lá estar (ou aparecer) um jogador, pelo que, pode existir um passe que não tem

necessariamente de ser para o “pé” (ou seja, directamente para o jogador), ,

29 Sobre este aspecto convém reforçar uma ideia já lançada anteriormente: uma das

características do Espaço é a sua continuidade, porém quando nos referimos a Espaços

fronteira pretendemos evidenciar Espaços onde a definição de responsabilidades pode não

estar bem definida pelo adversário.

Figura 18. Espaço livre na

grande área (Olivares,1978)

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existe uma referência, podendo a bola ser jogada nessa referência para o “pé”

ou para o “Espaço” (a solicitar que a referência lá apareça).

Por outro lado, se a equipa se estrutura em 1-4-4-2, mesmo que um

avançado desça no terreno de jogo apoiando a circulação de bola, terá sempre

uma referência frontal, deixando também Espaço livre que pode igualmente ser

ocupado por outros jogadores.

A estrutura 1-4-4-2 apresenta como Espaços vazios, onde os jogadores

podem aparecer com movimentos de trás para a frente, os Espaços que se

encontram junto às linhas (e dependendo das circunstâncias os Espaços na

área interior entre a linhas intermédia e avançada). Para além disso, esta

estrutura ao colocar dois jogadores avançados no corredor central está a

potenciar uma possível situação de igualdade numérica com os centrais

adversários, que, no adversário deverá ser compensada pela maior vigilância

dos laterais aos Espaços interiores e não com um dos médios a colocar-se

entre os centrais (situação facilmente verificada em Equipas que não são de

rendimento superior). Com isso, mais “perigoso” se torna o jogo pelos

corredores.

Por sua vez, os Espaços criados pela movimentação dos avançados

podem ser dinamizados de muitos modos distintos. Um possível “padrão

dinâmico”, observado nas Equipas de Top, que habitualmente se estruturam no

1-4-4-2, prende-se com a mobilidade de um dos avançados para os corredores,

tanto em momentos de transição como quando a Equipa procura criar

desequilíbrios quando o adversário está organizado, tirando com isso

“proveito” do possível espaço nas costas dos laterais adversários e

simultaneamente “liberta” um espaço frontal onde um dos médios pode

aparecer com movimento de trás para a frente.

Perante o exposto verificamos que o 1-4-4-2 apresenta-se, à partida,

como opção mais rica em termos de soluções ofensivas, porém exige uma

coordenação entre jogadores muito grande, caso contrário, facilmente se

desequilibra. No entanto a estrutura 1-4-3-3 pode igualmente apresentar muitas

soluções, sendo que, tudo depende da especificidade dinâmica das Equipas.

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Para além destas áreas que divergem de

acordo com a Estrutura, apresentamos na figura

19 outra área propensa ao aparecimento de

jogadores com movimentos de trás para a

frente. Esta surge na sequência da criação de

desequilíbrios pelos corredores laterais.

É frequente vermos nas equipas de Top,

quando um jogador está junto à linha final com a

bola, após progressão ou passe em

profundidade, é acompanhado, normalmente, por uma linha de avançados

(com nº variável) e uma linha de médios que aparecem em Espaços de

finalização. Nessa altura o jogador com bola tem duas opções:

Cruzar para a primeira ou segunda linha de ataque;

Passar para trás para jogadores que aparecem na área indicada

com movimentos de “trás para a frente” (acompanhando o

movimento do jogador que foi à linha), para além disso, esses

jogadores, em caso do portador decidir cruzar para a linha de

avançados, podem ser importantes referências para ganho de 2ª

bola.

Assume também importância na recuperação a orientação dos apoios do

jogador que recupera a bola: se está de frente para a baliza adversária tem

maior ângulo de visão, contrariamente, se estiver de costas o ângulo de visão

diminui e está mais susceptível à pressão do adversário.

Figura 19. Área propensa ao

aparecimento de jogadores com

movimentos de trás para a frente

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Campo metodológico

123

3. Campo metodológico

De acordo com Vouga (2005), no âmbito académico existe uma

tendência, que trespassa a nossa faculdade, para a realização de trabalhos

que têm como “objecto de análise, o desenvolvimento da fase ofensiva durante

o jogo”. Sendo um tema recorrente, a metodologia com que é abordada

diverge, proporcionando desse modo, resultados manifestamente distintos.

Grande parte desses trabalhos, de acordo com Castellano Paulis e

Hermándes Mendo (2002, cit. por Barreira, 2008) apresentam uma orientação

descritiva, cujos resultados se fundamentam na análise de frequências e/ou de

percentagens dos acontecimentos registados, tais como a frequência de posse

de bola, de passes realizados na fase ofensiva que terminam em golo, número

de contactos de bola que antecedem o golo, etc. Para além disso, outros

trabalhos têm sido realizados em que o objecto de estudo é o “jogo formal”.

Acreditamos que aqui está o ponto nevrálgico, que nos orienta por outras

bifurcações no estudo do “conteúdo do jogo”, pois, não pretendemos “analisar”

o “jogo formal” para conhecer o seu conteúdo, mas antes interpretar (inferir) as

regularidades que nas equipas de Rendimento Superior/top se vão

manifestando ao longo dos jogos, com o intuito de identificar as expressões

que muitas vezes acabam por ser as suas invariantes (Cunha e Silva, 2003).

Sendo o objectivo de qualquer dissertação a aquisição de conhecimento,

é necessário utilizar uma metodologia de trabalho que se adeqúe ao objecto de

estudo definido. Desse modo, para o objectivo que nos propusemos nesta

dissertação utilizamos a metodologia que a seguir descrevemos.

3.1 Caracterização da Amostra

A nossa amostra assume um carácter não aleatório, sendo constituída

por dois treinadores, cuja participação no futebol de Top é distinta. A

delimitação da nossa amostra a apenas dois treinadores, encontra justificação

no facto de considerarmos que os diferentes pontos de vista desses dois

treinadores, que estando a top têm visões e participações distintas no mesmo,

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Campo metodológico

124

fornecem-nos as informações necessárias para confirmarmos e aprofundarmos

os indicadores subjacentes ao futebol de qualidade superior.

Os critérios adoptados na selecção destes dois treinadores foram os

seguintes:

Louis van Gaal: procuramos junto deste treinador, que é para nós

uma referência, o contributo de uma personalidade que é frequentemente

associada ao famigerado “Futebol Total”, sendo apontado como um dos

precursores das ideias de Rinus Michels, à semelhança de Steven Kovacs e

Johan Cruyff. Porém, de acordo com Kormelink e Seeverens (1997), desses

treinadores, Louis van Gaal é, de longe, o que maior sucesso desportivo

conseguiu e que ainda está em aberto. Fruto de um percurso que tem revelado

coerência e capacidade de adaptação às demandas que o futebol vem

apresentando, motivo pelo qual, não hesitamos em colocar este treinador num

lote restrito de treinadores com maior sucesso a nível Europeu e portanto um

treinador de Top.

A pertinência da sua escolha não está apenas no currículo que em baixo

apresentamos. Essa é a consequência visível de um entendimento Específico

do Futebol (Jogo/Treino). Reflexo das suas ideias, as suas Equipas sempre

demonstraram vontade de ganhar, pelo que, na base do seu futebol sempre

esteve uma questão chave: como marcar golo ao adversário?!. Partindo dessa

preocupação organizou as suas Equipas, estruturando o seu jogo nos 4

momentos que hoje são por todos utilizados, e obteve o sucesso que nos é

conhecido.

Currículo de Louis Van Gaal: Treinador principal do Ajax de 1991 até

1997, onde conquistou: 1 Liga dos Campeões, 1 Taça UEFA, 1 Supertaça

Europeia ; 1 Taça Intercontinental, 3 Campeonatos da Holanda, 3 Supertaças

da Holanda e 1 Taça da Holanda. Em 1997 assume o comando técnico do

Barcelona por três temporadas, ganhando 2 campeonatos, 1 taça de Espanha

e 1 Supertaça Europeia. Depois de passagens pela selecção Holandesa,

Barcelona (novamente) e Ajax (coordenador técnico), assume o comando

técnico do AZ Alkmaar, clube onde exerceu funções desde 2006 e que levou à

conquista do campeonato na presente época (2008/2009), de salientar que é

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Campo metodológico

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apenas o 2º campeonato conquistado do clube em toda a sua história. O

sucesso conseguido levou-o a assumir o comando técnico de uma das maiores

Equipas da Europa, o Bayern Munich.

André Villas-Boas: o sucesso de um treinador, na perspectiva do

trabalho que realiza, é o reflexo da qualidade dos elementos que constituem as

suas equipas técnicas que diariamente pensam a Equipa. Nesse sentido, José

Mourinho (citado por Oliveira et. Al, 2006) reconhece a importância dos seus

colaboradores, onde se inclui o nosso entrevistado: “O André é, para mim, um

elemento fundamental.”.

Não é apenas o seu impressionante currículo, que em baixo

apresentamos, que justificam a sua escolha, essa é também a consequência

visível do seu sucesso. As funções exercidas como colaborador de José

Mourinho a observar as Equipas adversárias, fazem do nosso entrevistado um

profundo conhecedor do futebol que se pratica ao mais alto nível. Para além

disso, o seu entendimento do jogo expresso diversas vezes em diferentes

comunicações, coaduna-se com os objectivos desta dissertação.

Currículo de André Villas-Boas: inicia o seu percurso na formação do

Futebol Clube do Porto (FCP), como colaborador do treinador José Guilherme.

No ano de 2002 integra a equipa técnica de José Mourinho na primeira equipa

do FCP, clube onde permaneceu por 2 épocas, conquistando: 2 campeonatos

de Portugal, 1 Taça de Portugal, 1 Taça Uefa, 1 liga dos campeões. Nas

épocas decorrentes entre 2004 e 2006, exercendo as mesmas funções no

Chelsea FC conquista: 2 campeonatos de Inglaterra, 1 taça da liga Inglesa, 1

supertaça Inglesa. Actualmente, no término do seu primeiro campeonato em

Itália, acrescentou 1 taça de Itália e 1 campeonato Italiano a este vasto e rico

currículo. Como pudemos constatar os últimos sete anos, foram sempre ao

mais alto nível.

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Campo metodológico

126

3.2 Construção das entrevistas

Segundo Marly de Oliveira (2007), a entrevista é um excelente

instrumento de pesquisa por permitir a interacção entre pesquisador e

entrevistado e a obtenção de descrições detalhadas sobre aquilo que se está a

pesquisar, que dificilmente seriam obtidas de outro modo.

Para isso, é necessário que esse instrumento de recolha de dados seja

ajustado aos objectivos propostos nesta dissertação e, não menos importante,

ajustado às Especificidades de cada entrevistado. Pois, de acordo com Bardin

(2008), uma entrevista é um “discurso falado” que uma pessoa orienta mais ou

menos à sua vontade, sendo assim, tal como no jogo (que é representacional

por isso, um “jogar”), a subjectividade está muito presente. Desse modo, foram

elaboradas algumas questões guia que serviram de suporte às entrevistas

realizadas, no entanto, elas assumem um carácter aberto, com o propósito de

permitir aos entrevistados expor os seus pontos de vista de uma forma clara,

pessoal e o mais aprofundada possível. Tratando-se, portanto, de entrevistas

semi-estruturadas.

3.2.1 Condições de aplicação e recolha de dados

As entrevistas foram realizadas entre o dia 9 e 27 de Março, nos locais

definidos pelos entrevistados, concretamente, no gabinete do treinador Louis

van Gaal, no estádio do AZ Alkmaar e no Café Maiorca, junto à avenida da

Boavista – Porto, tendo sido registadas num gravador digital Olympus VN-240

PC. Posteriormente foram transcritas através do Word 2007, com o objectivo

de ser interpretadas à luz dos objectivos definidos na nossa dissertação e com

base na metodologia adoptada.

De ressalvar ainda que a entrevista ao treinador Louis van Gaal foi

realizada em Inglês, o que por vezes, se revelou um “entrave”, pois a língua

Inglesa foi um “ponto de encontro” do entrevistador e do entrevistado.

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Campo metodológico

127

3.3 Análise de Conteúdo

A análise de conteúdo é, segundo Bardin (2008), “um conjunto de

técnicas de análise das comunicações.”. Sendo uma das técnicas possíveis

para a análise de entrevistas, o seu alcance vai para além da descrição, sendo

o seu objectivo primeiro, a inferência. Assim, a partir do corpus (Bardin, 2008)

que definimos, constituído pelas entrevistas realizadas, vamos inferir acerca do

tema que nos propusemos, que é bastante abrangente, como aliás o

demonstra a extensão da primeira parte desta dissertação.

Segundo Bardin (2008), o desenvolvimento das técnicas de análise de

conteúdo procede-se sobre duas linhas de força: a superação da incerteza – ou

seja, em todos os momentos questionar se o conteúdo que julgamos estar

contido nas mensagens está realmente presente, logo a questão remete-nos

para a validade das nossas interpretações. E o Enriquecimento da leitura –

Através de uma leitura fecunda poderão ser descobertos conteúdos e

estruturas que confirmam, ou infirmam, o que se procura demonstrar a

propósito das mensagens, ou poderá levar ao entendimento de mecanismos

que à priori não compreendíamos. Por outras palavras, o mesmo autor realça

que a análise de conteúdo pode ter duas funções, que podem ou não dissociar-

se: uma Função heurística – a análise de conteúdo aumenta a propensão para

a descoberta; e uma Função de “administração de prova” – Sugere a

formulação de hipóteses que se pretendam confirmar ou infirmar.

No nosso estudo recorreremos a complementaridade dessas funções,

pois pretendemos explorar o conhecimento Específico do conteúdo do jogo dos

nossos entrevistados, e também, confirmar ou infirmar algumas das hipóteses

levantadas aquando da revisão da literatura.

O parâmetro norteador da análise de conteúdo consiste na definição de

um sistema categorial, que pode ser definido à priori ou à posteriori (Vala,

1986). Do mesmo modo, Marly de Oliveira (2007) define categorias teóricas,

definidas a partir da revisão de literatura e categorias empíricas, definidas após

a recolha de dados. Assim, iremos definir categorias teóricas, sustentadas pela

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Campo metodológico

128

revisão de literatura, e teremos categorias empíricas que resultam da

interpretação que fizemos ao conteúdo analisado.

3.3.1 Sistema Categorial

Com a definição de categorias pretendemos atribuir alguns critérios,

susceptíveis de fazer surgir um sentido nas mensagens que queremos

interpretar. Assim, ainda que seja um processo difícil, pois as fronteiras entre

as categorias são ténues e por vezes de difícil percepção (Levintin, 2007),

definimos duas categorias teóricas, ou seja, duas categorias definidas antes da

recolha e análise de dados:

C1 – Filosofia das Equipas de Top

C2 – Momentos de organização ofensiva

SC2.1 – (Macro)Organização Funcional

SC2.2 – (Macro)Organização Estrutural

A primeira categoria justifica-se pela contextualização da segunda, ou

seja, para interpretarmos os momentos de organização ofensiva das Equipas

de Top, temos de perceber a Filosofia inerente às mesmas. Assim, nesta

categoria procuramos explorar a pertinência das Equipas de top apresentarem

um futebol dominante, sendo esse o fio condutor que nos levará na próxima

categoria a aprofundar a existência das quatro características que

evidenciamos na revisão, como sendo comuns às Equipas de top,

nomeadamente: circulação de bola, controlo do meio-campo, quantidade de

jogadores em Espaços de finalização (ou com capacidade para aparecer em

Espaços de finalização) e os equilíbrios dinâmicos .

Na segunda categoria, tema da nossa dissertação, pretendemos

aprofundar algumas características (as 4 anteriormente mencionadas) e

princípios organizadores das Equipas de top nos momentos de organização

ofensiva. Cremos que qualquer equipa, que pretenda apresentar qualidade e

consequentemente resultados, têm de perspectivar a sua organização do ponto

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Campo metodológico

129

de vista de como pretende e pode chegar à baliza do adversário. No entanto,

partimos do pressuposto que o jogo é um continuum, fluido na passagem de

uns momentos para os outros e portanto, sempre que acharmos conveniente

também abordaremos os momentos de organização defensiva.

Dada a complexidade da temática consideramos ainda duas

subcategorias: a (macro)organização funcional – Através de uma configuração

Espacial que propõe a existência de momentos de: transição ofensiva, criação

de desequilíbrios e de (criação de situações de finalização) finalização, iremos

explorar as referências dinâmicas organizadoras que resultam da

interdependência entre tempo, espaço e número; a (macro)organização

estrutural – Não ignorando o Espaço estaticamente organizado, procuramos

nesta subcategoria perceber as diferentes Estruturas e de que forma potenciam

as diferentes dinâmicas das Equipas de top.

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Apresentação e discussão dos resultados

131

4. Apresentação e discussão dos resultados

O presente capítulo resulta da interpretação por nós realizada, ao

diálogo que mantivemos com o treinador Louis van Gaal e com o treinador

(observador) André Villas-Boas, sendo que, esta interpretação, não dispensa

de modo algum, a leitura das transcrições integrais desses diálogos que se

encontram em anexo. Para além disso, dada a complexidade da temática que

estamos a abordar, alguns conteúdos presentes na revisão de literatura podem

não estar presentes nesta parte da dissertação, com efeito, a leitura desta

reflexão deve ser feita paralelamente com a primeira parte da dissertação.

Antes de avançarmos para aquela que definimos como primeira

categoria, é necessário realçar alguns pontos que deixamos claros na revisão

de literatura e que, ao longo do diálogo com os entrevistados, foram

reforçados. Estes pontos prévios à discussão propriamente dita, justificam-se

pela necessidade de os ter presente em todos os momentos desta dissertação.

Começamos por reafirmar que tudo é dinâmico. Como nos refere Van

Gaal (Anexo 3): “Linhas... existem linhas...mas existem no terreno...”, o mesmo

será dizer que, não existem esquemas, posições ou ordens no “papel”, que

resistam à fluidez característica do jogo. Existem sim, princípios de

jogo/interacção que guiam os jogadores nos jogoS e ao acontecerem permitem

desdenhar um padrão, um conjunto de regularidades que definem a identidade

de determinada Equipa, um “Jogar” que acontece num jogo que é diferente

todas as semanas. Assim, quando nos referirmos a um qualquer

comportamento, temos de ter em atenção que ele não existe no abstracto, ele

acontece no jogo, e o jogo é sempre diferente na medida em que, o adversário,

sendo diferente, vai apresentar problemas manifestamente distintos. Tomemos

o exemplo das saídas curtas pelo Guarda-Redes. Definimos que os centrais

devem estar no prolongamento das linhas laterais da grande área. Em termos

concretos isso apenas vai acontecer no jogo. E o jogo, tanto pode necessitar

de uma bola longa, e então os centrais têm de fechar. Ou, se o adversário não

realizar qualquer tipo de pressão na saída de bola, esse posicionamento acaba

também por ser irrelevante.

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Apresentação e discussão dos resultados

132

Desse modo, quando, recorrermos a exemplos práticos, é necessário ter

em atenção que não passam disso mesmo, de exemplos, que não são

aplicáveis em qualquer circunstância, mas que nos permitem reforçar uma

determinada ideia, uma determinada regularidade. Não se tratando por isso, de

uma ideia fixa, imutável, pois vai depender sempre, entre outros aspectos, dos

jogadores disponíveis e do adversário (Van Gaal, Anexo 3, Villas-Boas, Anexo

5).

Por sua vez, o “Jogar” é definido em função da convergência de

múltiplas dimensões, desde a cultura do clube, ideia do treinador à cultura/perfil

do jogador. E de facto, daqui resulta uma questão crucial no entendimento do

“jogar” e, inerentemente desta dissertação. Na medida em que, diferentes

jogadores potenciam diferentes (sub)dinâmicas. Aliás, acreditamos que uma

das grandes questões do futebol de top, resulta da reflexão do treinador em

torno do perfil dos jogadores, concretamente em perceber continuamente como

poderão potenciar as suas qualidades e como esses jogadores poderão

potenciar uma determinada ideia de jogo, conjunção que resulta em algo novo

(ver (sub)capítulo 2.2.4 da revisão de literatura). Essa preocupação com as

qualidades dos jogadores, está subentendida no discurso utilizado pelos

nossos entrevistados que, frequentemente, iniciam as respostas com:

“depende dos jogadores que tens à disposição”.

Para concretizar esta ideia recorramos, novamente, ao Barcelona.

Temos três jogadores para a posição de pivô baixo, que são: Keita

(eventualmente poderá jogar mais à frente), Touré, Busquets. Mantendo um

determinado padrão, uma determinada dinâmica, de posse e circulação de

bola, as (sub)dinâmicas que um jogador como Busquets potenciará serão

completamente distintas se, por exemplo, for o Keita a jogar nessa mesma

posição. Em termos da organização defensiva ambos garantem bastante

segurança. A diferença está nos momentos de organização ofensiva, enquanto

Keita procura mais a verticalidade da penetração da bola, Busquets procura

mais o movimento, a horizontalidade. Isto origina (sub)dinâmicas

manifestamente distintas porque a Equipa tem que se ajustar à presença

desses jogadores. Se Keita joga mais vertical, os outros jogadores do meio-

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Apresentação e discussão dos resultados

133

campo terão, necessariamente, de apresentar outra (sub) dinâmica (sobretudo

para compensar os riscos que essa verticalidade do jogador tem inerente),

assim como a linha defensiva que terá que se preocupar mais com os Espaços

interiores, nos momentos em que Keita, em posse de bola, está de frente para

o jogo.

É determinante, para um correcto entendimento do futebol de qualidade

superior, aquele que aqui nos propusemos abordar, que estas notas estejam

esclarecidas e sejam relembradas no decorrer da leitura desta dissertação.

4.1 Filosofia do Jogo das Equipas de Top

Na revisão de literatura salientamos quatro características inerentes ao

jogo das Equipas de Top: circulação de bola; controlo do meio-campo; o

“atacar com muitos jogadores” e a organização em todos os momentos de jogo.

Salientamos também, que estas características resultam da necessidade

dessas Equipas dominarem e controlarem o jogo, tendo a sua iniciativa. Isto

porque, de acordo com Van Gaal (2006), esse controlo do jogo coadjuvado

pela iniciativa, vai permitir criar mais situações de finalização e esse é o grande

objectivo das Equipas de top.

Parece-nos pertinente esclarecer e aprofundar um pouco mais esta

questão relativa ao futebol dominante, ao controlo do jogo e a iniciativa do jogo

inerentes à filosofia das Equipas de Top, antes de entrarmos nas quatro

características mencionadas, até porque estão intimamente relacionadas.

Futebol dominante para Van Gaal (Anexo 3) “é um futebol em que a tua

Equipa decide como o adversário joga o seu futebol, e não o contrário.”, assim,

praticar um futebol dominante resulta no controlo do jogo. Realçamos que esse

controlo, tanto pode acontecer do ponto de vista ofensivo como do ponto de

vista defensivo, sendo esta ideia corroborada pelos nossos entrevistados (Van

Gaal, Anexo 3, Villas-Boas, Anexo 5), afirmando ambos que, Equipas cuja

criação de situações de finalização são (regularmente) procuradas

imediatamente após recuperação de bola, também podem controlar o jogo.

Desse modo, Equipas que perspectivam o seu jogo a partir da organização

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Apresentação e discussão dos resultados

134

defensiva também podem controlar o jogo, sendo que, o modo como

pretendem chegar à baliza depende em grande medida do sucesso das

transições defesa/ataque. Encontramos um exemplo claro deste controlo sob o

ponto de vista defensivo, nas meias-finais da liga dos campeões, no jogo

Barcelona - Chelsea, onde o Chelsea controlou o jogo sob o ponto de vista

defensivo, conseguindo assim um empate que lhe permitirá discutir o resultado

no seu estádio.

Apesar do fenómeno da globalização tender a esbater as diferenças

culturais, as interpretações do controlo do jogo são diversas de país para país

(Van Gaal, Anexo 3). Villas-Boas (Anexo 5) ajuda-nos a compreender essas

diferenças de interpretação e operacionalização, ao diferenciar o que em

Portugal é, frequentemente, tido como “controlo do jogo”, sendo esse assente

no controlo da posse de bola, relativamente aquilo que acontece em Inglaterra:

“(...) Se tu fores à procura das grandes equipas do futebol inglês pré -

Wenger... dá-te uma ideia de domínio de jogo exactamente de outra forma,

sem ser a posse de bola sustentada e circulada mas sim através do jogo

directo com a procura de segunda bola, de segunda jogada...”.

A interpretação do controlo do jogo reflecte-se, sobretudo, no modo

como se pretende atacar a baliza do adversário, o que tem, também,

implicações óbvias e directas nos momentos de organização defensiva. Por

exemplo, se considerarmos uma Equipa que defende em bloco baixo, com

duas linhas de quatro jogadores, ela pode controlar o jogo sob o ponto de vista

defensivo determinando em que Espaços o adversário joga quando tem a

posse de bola. Por sua vez, os momentos de organização ofensiva resultam,

frequentemente, na tentativa de criar situações de finalização, imediatamente

após recuperação de bola. Porém, este controlo do jogo, está muito mais

dependente daquilo que o adversário vai e é capaz de fazer em posse de bola

e do estado de organização quando não tem a posse de bola (onde incluímos

os momentos imediatamente após perda de bola: transições defensivas como

partes dos momentos de organização defensiva).

Portanto, parece-nos que, para um futebol de qualidade superior, o

controlo do jogo tem inerente a sua iniciativa. O que significa que a Equipa vai

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Apresentação e discussão dos resultados

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“agir” sobre o adversário e isso faz-se, tanto melhor, quanto mais a Equipa tiver

a posse de bola, tendo essa posse contornos muito concretos e objectivos

(criar situações de finalização). Para além disso, como vimos na revisão de

literatura, o “jogo” tem na sua “natureza” um objectivo, a vitória. Sendo esse

objectivo explícito nas Equipas de top, que para o serem têm de ganhar

regularmente, consideramos que a sua organização deve ser perspectivada em

função de como se pretende chegar à baliza do adversário.

Deste modo, de acordo com os nossos entrevistados (Van Gaal, Anexo

3, Villas-Boas, Anexo 5) podemos inferir, que, para um futebol de qualidade

superior o controlo do jogo coadjuvado pela sua iniciativa é fundamental, sendo

assim a organização deve ser perspectivada sob o ponto de vista ofensivo, ou

seja, de como se quer chegar à baliza adversária. Não esquecendo, no

entanto, que esse controlo não se restringe a esse ponto de vista ofensivo, na

medida em que, o jogo é um continuum, fluído, desse modo, pressupõe,

também, que a Equipa defensivamente não se desorganiza em nenhum

momento, como veremos, este é um aspecto muito importante.

4.2 Momentos de Organização Ofensiva

Chegamos assim aos momentos de organização ofensiva, onde

procuraremos, através da interpretação do diálogo que mantivemos com os

nossos entrevistados, confirmar, infirmar e aprofundar algumas das ideias

exploradas na revisão de literatura.

4.2.1 (Macro) Organização Funcional

Assente na filosofia anteriormente abordada, chegamos às

características, diríamos funcionais “gerais”, que consideramos fundamentais

na apresentação de um futebol de qualidade superior. Se o controlo que

mencionamos, nesse futebol de qualidade superior, tem inerente a sua

iniciativa, a posse de bola é um aspecto fundamental. Vimos na revisão de

literatura que, o melhor modo de ter a bola é fazendo-a circular. Acerca da

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Apresentação e discussão dos resultados

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circulação, Van Gaal (Anexo 3) afirma que é um dos comportamentos mais

importantes, sendo ela que permite “jogar como Equipa”. Também Villas-Boas

(Anexo 5) reconhece a sua importância ao mencionar que, uma das

características comuns às Equipas de top é que estas procuram uma

“referência optimal de circulação de bola”. E aqui, o autor toca num ponto que

consideramos fundamental. Ao mencionar “referência optimal” tem subjacente

que essa circulação tem objectivos, que não pode ser inócua, caso contrário

caímos num controlo da “posse pela posse”. Portanto, essa circulação tem de

ter objectivos muito concretos, criar situações de finalização, pois como refere

Van Gaal (Anexo 3): “a posse de bola é sempre importante… mas não é assim

tão importante para marcar golos… não é por teres 60-70% da posse de bola

que marcas golos... isso não é consequência”.

Para além disso, a objectividade inerente à circulação de bola, não

significa procurar sistematicamente a verticalidade do jogo (sobretudo

imediatamente após recuperação de bola), pois os riscos que essa

verticalidade tem inerente, podem levar à perda do controlo do jogo (quando

não existem outras soluções de ataque e o adversário tem qualidade) (Van

Gaal, Anexo 3). O que resulta na selecção equilibrada entre verticalidade e

horizontalidade, e portanto, a inteligência revela-se, como vimos, outra

característica fundamental da circulação de bola objectiva.

Para concretizar o controlo do jogo, consideramos que o controlo do

meio-campo é crucial. Porém, os nossos entrevistados, quando colocada a

questão da importância desta área no controlo do jogo, afirmaram que todos os

sectores da Equipa têm uma importância fundamental, recusando, deste modo,

a importância que atribuímos à necessidade de controlar o meio-campo.

Relembramos os motivos pelos quais consideramos o controlo do meio-

campo (área do meio-campo) uma característica fundamental das Equipas de

Top:

Espaços fundamentais na criação de desequilíbrios (quando o

adversário está defensivamente organizado), pois correspondem ao

interior da Equipa: Onde aparecem apoios frontais e/ou recuados; onde

aparecem jogadores que ligam os sectores recuado e avançado;

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Apresentação e discussão dos resultados

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Importante referência na criação de situações de finalização, surgindo

desses Espaços muitas assistências para golo.

Espaços cuja ocupação, e dinamização, é eminente em todos os

momentos de jogo, permitindo que a Equipa se mantenha equilibrada

(Fecho de espaços interiores);

Espaços favoráveis ao ganho de segunda bola, quando a Equipa opta

por jogar longo.

Nos momentos de organização defensiva o controlo destes Espaços,

permite contrariar os objectivos do adversário.

Portanto, mantemos a convicção de que, o controlo do meio-campo

assume um papel preponderante no controlo do jogo. O que nos parece é que

a questão não foi totalmente esclarecedora para os nossos

entrevistados. Primeiro, porque não pretendíamos

sobrevalorizar qualquer sector em relação a outro. Ao

mencionarmos o “meio-campo” não pretendíamos

destacar um sector ou jogador, mas sim o Espaço interior

no meio-campo (Figura 20), ainda que, apareçam com

maior regularidade determinados jogadores nessas áreas.

Assim, parafraseando Távora (2007:19): “...a organização

do espaço é obra de participação de todos os homens, em graus diferentes de

intensidade e até de responsabilidade...”, desse modo, ainda que todos tenham

uma importância fundamental, os jogadores que dinamizarem esses Espaços

no meio-campo (sobretudo os interiores) assumem uma maior

responsabilidade na sua organização, logo, no seu controlo

(consequentemente, pelos motivos atrás apontados, têm maior

responsabilidade no controlo do jogo).

Em segundo, porque os nossos entrevistados ao longo das respectivas

entrevistas, deixam transparecer que essas áreas são muito importantes, como

veremos em capítulos posteriores.

A filosofia do futebol dominante, presente nas Equipas de Top, tem

ainda subjacente uma cultura de risco que resulta num aumento do número de

soluções para resolver os problemas que o jogo vai apresentando (enquanto

Figura 20. Espaço interior

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Apresentação e discussão dos resultados

138

confronto com um adversário), com o objectivo de criar um maior número de

situações de finalização.

O risco a que as Equipas de top se submetem resultam da necessidade

de procurar, frequentemente, situações de finalização. Sendo um risco

calculado pois existem preocupações com os Equilíbrios dinâmicos das

Equipas. Um dos riscos frequentemente assumidos nessas Equipas resulta do

número de jogadores, para além dos avançados, que aparecem em Espaços

de finalização (Van Gaal, Anexo 3, Villas-Boas, Anexo 5). Esta foi a ideia que

exploramos na revisão de literatura e que, de certo modo, foi corroborada pelos

nossos entrevistados. Porém é pertinente esclarecer alguns pontos.

O “atacar com muitos jogadores” significa que, para além dos

avançados, outros jogadores têm capacidade para aparecer em Espaços de

finalização, desde os laterais que procuram a verticalidade interior ou exterior,

os médios com movimentos de trás para a frente ou posicionando-se à frente

da linha da bola e até mesmo um dos centrais que sobe na tentativa de criar

desequilíbrios pelo corredor central chegando a Espaços de finalização.

Este “inserimento” vertical de jogadores, sobretudo, com movimentos de

“trás para a frente” em Espaços de finalização (por ex. laterais ou médios)

poderá promover um efeito surpresa no adversário, que se terá de (re)ajustar,

aumentando assim as possibilidades de criar desequilíbrios e

consequentemente situações de finalização. Porém, este “atacar com muitos

jogadores” exige da Equipa uma coordenação muito grande em dois aspectos

que consideramos fundamentais para o seu sucesso (visto sob dois pontos:

criação de desequilíbrios e equilíbrios):

Timing de “inserimento”: “(...) há um lateral de um lado que chega

exactamente mais cedo, que se insere mais cedo, o outro lateral

inicialmente está em posição, quando a bola começa a circular para

chegar ao outro lado, vamos por exemplo imaginar, subiu o Silvinho...há

circulação de bola e a bola chega ao Messi do outro lado, analisa o

tempo de inserimento do Daniel Alves, vais ver que não é imediato, há

sempre factor surpresa, é sempre quando um menos espera, vai um

bocado de encontro ao que tu dizes... não está imediatamente em

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Apresentação e discussão dos resultados

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overlap, sabe escolher exactamente o tempo de inserimento...” (Villas-

Boas, Anexo 5). O mesmo acontece com o inserimento vertical dos

médios. Consideramos este um aspecto crucial pois permite evitar a

sobreposição de jogadores, isto é, que dois jogadores estejam na

mesma área, ao mesmo tempo, situação que poderá ser facilmente

anulada pelo adversário.

Mecanismos de compensação/Equilíbrio: as palavras de Villas-Boas

(Anexo 5) ajudam-nos, mais uma vez, a esclarecer este ponto: “(...) era

uma coisa que no início não privilegiava-mos (penetração vertical dos

médios)...porque queria exactamente a libertação do Maicon pela faixa e

depois preocupava-se com o equilíbrio em transição... a partir dai limitou

um bocado o inserimento dos médios para dar liberdade ao Maicon para

aparecer de trás para a frente...”.

Este último ponto relaciona-se com outra importante característica,

subjacente em todos as outras que fomos salientando ao longo desta reflexão,

que é a organização da Equipa em todos os momentos do jogo. E nesse

aspecto a opinião dos nossos entrevistados é, mais uma vez, consensual. Van

Gaal (Anexo 3) a esse respeito, afirma que as suas Equipas não devem correr

riscos nenhuns (O risco que o autor tem subjacente não é o risco de perda de

bola, mas as possíveis consequências dessa perda), e para isso refere que

“quando atacas tens que pensar (também) em defender.”.

Verificamos, portanto, que, da filosofia das Equipas de top (do querer

controlar o jogo tendo a sua iniciativa) resultam características que, com formas

de expressão Específicas, se verificam com alguma regularidade. Para

confirmar isso, ajudaram-nos as opiniões dos nossos entrevistados. Nos

próximos capítulos iremos recorrer a estas características com bastante

regularidade e aí poderemo-nos aperceber da imensa variabilidade de formas

que elas podem assumir.

Seguindo uma lógica por nós construída na revisão de literatura, iremos

percorrer nos próximos capítulos as partes dos momentos de organização

ofensiva que consideramos: transições ofensivas, criação de desequilíbrios e

finalização.

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Apresentação e discussão dos resultados

140

Antes de o fazermos é necessário clarificar o porquê de enquadramento

das transições nos momentos de organização ofensiva. Consideramos que

existem várias formas de chegar à baliza do adversário, porém, quando o

adversário está em transição defensiva (após perda da posse de bola), poderá,

eventualmente, apresentar maiores fragilidades defensivas que podem ser

exploradas pela Equipa que recupera a bola. O que não deixa de ser uma

forma de atacar a baliza do adversário. Desta forma, o enquadramento das

transições ofensivas como uma parte dos momentos de organização ofensiva

parece-nos pertinente e não contraditória com a lógica que classifica o jogo em

quatro momentos e que os nossos entrevistados utilizam para estruturar a ideia

que têm do “jogo”.

4.2.1.1 Transições ofensivas

“Penso que a transição é o aspecto mais importante dos momentos”.

Esta afirmação de Van Gaal (Anexo 3) surge na mesma linha de pensamento

de Michels (2001), Mourinho (2003), Queiroz (2006) e Wenger (2008), e

elucida-nos sobre a importância dos momentos de transição na organização

das Equipas. Também Villas-Boas (Anexo 5) reconhece a sua importância,

salientando ainda que, as Equipas de top apresentam configurações distintas

relativamente às Equipas de meio da tabela.

Em primeiro lugar, é pertinente esclarecer o seguinte: quando se fala em

transição ofensiva, a configuração mais frequente e que mais facilmente surge,

resulta do ataque imediato à baliza do adversário, ou, por outras palavras as

transições ofensivas agressivas (Villas-Boas, Anexo 5). E esta ideia vai de

encontro à cultura de urgência que dissemos ser “castradora” da qualidade do

futebol, e repare-se que a opinião de Villas-Boas (Anexo 5) confirma-o: “Eu

acho que a transição ofensiva e agressiva vai um bocado de encontro ao

pânico e a velocidade do futebol actual, há pressão em torno dos treinadores

de vencer, há pouca capacidade de pensar dos jogadores, há o sentido de

urgência que o jogo actual tem...é tudo pânico, é tudo velocidade... e transmite

um bocado a ideia do que é a sociedade actual... portanto, acho que no jogo tu

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Apresentação e discussão dos resultados

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encontras esse tipo de traços, portanto a transição agressiva e objectiva tu

acabas por encontrá-la mais vezes por isso mesmo...”. No entanto, é

necessário deixar claro que, as transições ofensivas acontecem, qualquer que

seja o comportamento que a Equipa assume imediatamente após recuperação

de bola. Desta constatação, verificamos que existem, grosso modo, dois

padrões de transição: as que procuram imediatamente situações de finalização

(aproveitando a eventual desorganização do adversário ou criando-a

imediatamente: transições ofensivas agressivas), e as que resultam na

manutenção da posse de bola (para criar desequilíbrios no adversário que se

encontra defensivamente organizado). Surgindo, uma ou outra, do

reconhecimento do “estado” de organização do adversário nos momentos

consequentes à recuperação de bola.

Em segundo lugar, é pertinente relembrar que estamos a tratar das

referências de qualidade, das Equipas de top, cuja filosofia assenta nos

pressupostos de um futebol dominante, com o controlo e iniciativa do jogo. Pelo

que, a existência de outro tipo de transições ofensivas, para além, das

denominadas agressivas, revela-se de total pertinência.

4.2.1.1.1 Procura imediata de situações de finalização: transições

ofensivas agressivas

Estas transições surgem do reconhecimento da (eventual) fragilidade

defensiva do adversário imediatamente após ganho de bola. É essa provável

fragilidade do adversário que Van Gaal (Anexo 3) e Villas-Boas (Anexo 5)

referem que deve ser imediatamente aproveitada.

Independentemente das Equipas, sejam elas de Top ou não, existe

nesses momentos mais Espaço nas costas do adversário (excepto quando não

saem do seu meio-campo defensivo: bloco baixo). A diferença das Equipas de

top para as restantes está, no modo como equilibram defensivamente o ataque

(característica que vimos ser comum às Equipas de Top). Então, a

configuração destas transições depende, em grande medida, do adversário que

se defronta: de como ataca, como equilibra (ou não) esse ataque e de como

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Apresentação e discussão dos resultados

142

defende em transição defensiva (pressiona logo após perda em bloco, ou recua

para depois pressionar, etc.). Podendo isso resultar numa maior (ou menor)

fragilidade defensiva do adversário que poderá ser explorada.

Deparamo-nos com duas situações padrão nestas transições ofensivas

agressivas: transição para imediatamente aproveitar a desorganização do

adversário e transição para imediatamente criar desequilíbrios no adversário (o

muitas vezes apelidado: ataque rápido). Villas-Boas (Anexo 5) elucida-nos com

dois exemplos, onde podemos constatar alguns pressupostos para levar a

efeito uma ou outra transição: “...o Porto por exemplo, após ganharem a bola

fazem transição inicial para fuga à pressão imediata (...) tem sempre

normalmente nas suas equipas grandes pivôs defensivos, capazes de

rapidamente receberem a bola, de se posicionarem... ou de criarem ângulos de

passe que permitam exactamente, receber a bola para tira-la da zona de

pressão... são equipas também que estão habituadas a desdobrarem-se

rapidamente... portanto, de um espaço fechado abrirem-se rapidamente para a

transição... o Porto prefere uma saída da zona de pressão para libertar o

homem mais distante em profundidade, ou o homem mais em amplitude...”

Uma configuração das transições que, regularmente, procura criar

desequilíbrios imediatamente após recuperação de bola. Note-se que, existem

aqui dois aspectos fundamentais: 1 – Qualidade dos jogadores que apoiam

(não apenas pelo posicionamento mas também pelo modo como recebem e

passam a bola) fundamentais para tirar a bola de um imediato momento de

pressão do adversário após perda de bola; 2 – Capacidade para rapidamente

se desdobrar.

Por sua vez: “...o Arsenal quer sair da zona de pressão, mas tem

qualidade para sair dela de uma forma explosiva... independentemente de o

espaço ser reduzido... porque tem qualidade no toque, tem velocidade no

toque, sabe jogar ao primeiro toque...” (Villas-Boas, Anexo 5). Nesta

configuração a qualidade dos jogadores eleva-se, permitindo uma transição

mais “perigosa” que procura rapidamente Espaços de finalização.

Duas Equipas, Porto e Arsenal, duas configurações completamente

distintas, que surgem, como salientamos, do reconhecimento estratégico do

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Apresentação e discussão dos resultados

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adversário e da capacidade dos jogadores em identificarem esses momentos

de maior fragilidade do adversário. Para que estas configurações se

concretizem, é necessário que as Equipas contemplem estas soluções no seu

“jogo”. Então, este padrão de ataque, podendo-se expressar de modos distintos

como vimos nos dois exemplos que o autor nos deu, deve ser equacionado em

função da ideia que se tem e da qualidade dos jogadores disponíveis. E é isso

que Van Gaal (Anexo 3) pretende da sua actual Equipa: “(...) esta época a

minha Equipa apresenta... uma melhor organização defensiva para criar

Espaços para os meus avançados que são muito rápidos...”. Pelo que

conhecemos da sua Equipa, essa “melhor” organização defensiva, resulta do

facto de defender com duas linhas de quatro jogadores, tendo assim mais

coberturas, e por defender num bloco médio-baixo, para assim aproveitar a

possível subida do adversário e potenciar as características dos jogadores

disponíveis, através do aproveitamento do Espaço que o adversário deixa nas

suas costas.

Villas-Boas (Anexo 5) ajuda-nos com outro exemplo: “... o Manchester

pensa exactamente em deixar um dos alas, pelo menos, meio-meio entre

transição e organização defensiva, normalmente ou é o Ronaldo... vamos

imaginar o Manchester em 4-4-2... e a defender em bloco médio-baixo como

defendem ou com as duas linhas de quatro compactas... um dos alas, já está

meio-meio entre transição, que é o Ronaldo... portanto, recebem a bola, saída

imediata de pressão e libertar o Ronaldo, primeiro objectivo, se não for o

Ronaldo, se o Ronaldo fechar, a transição já é com o Rooney em movimento

em diagonal nas costas do lateral... vais ver o jogo que nós jogamos com o

Manchester e vês... mesmo um jogo qualquer do Manchester do campeonato

inglês, que um deles já está com olho numa possível saída...”.

Podemos inferir que, de facto, existem preocupações das Equipas em

explorar a transição ofensiva agressiva, potenciando as qualidades dos

jogadores de modos distintos, em função das suas características e da ideia de

“jogo”. Porém, e repare-se como terminamos de citar o autor: “numa possível

saída”, ainda que haja a probabilidade de acontecer ela é determinada, em

grande medida, pelos constrangimentos que o adversário vai colocar.

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Apresentação e discussão dos resultados

144

4.2.1.1.2 Manutenção da posse de bola

As transições ofensivas são, frequentemente, as únicas soluções de

ataque de Equipas de meio da tabela, como nos refere Villas-Boas (Anexo 5):

“(...) pega nas equipas que jogam contra essas equipas (de top), que vêm ali

nesse momento de transição o único momento onde talvez possam criar

situações de perigo... pensa em equipas por ex. como a Udinese... que tem

três jogadores na frente que são super rápidos, super agressivos, super

directos na profundidade, que querem atacar espaços nas costas, que tem

diagonais com um timing perfeito, portanto são equipas que contra as grandes,

sabem que aí podem ter possibilidades de sucesso...obviamente que os outros

momentos são importantes, mas se tu falares na Udinese, que tem ali 3

jogadores na frente, que está no meio da tabela, que sabe que esses três

jogadores da frente oferecem um tipo de transição agressiva, então defende-se

em bloco baixo e depois transição com esses três homens da frente... porque é

que a Udinese havia de mudar ou porque é que a Udinese não havia de

potenciar essa velocidade extrema que tem nesses três jogadores da frente...”.

Ainda que esta seja a realidade e, de facto, cada Equipa deve, dentro de

uma determinada “ideia de jogo”, potenciar aquilo que tem a disposição,

consideramos que, para um futebol de qualidade superior é fundamental que a

Equipa tenha outras soluções de ataque.

Imaginemos que duas Equipas de meio da tabela se defrontam. Ambas

têm nas transições ofensivas agressivas o único padrão de ataque à baliza do

adversário. Provavelmente, alguma terá que assumir mais a posse de bola. No

entanto, essa posse será um fim em si mesmo, pois dificilmente conseguirão

criar desequilíbrios (pela falta de soluções).

Uma outra situação: uma Equipa de top defronta uma Equipa de meio da

tabela. Sabendo a Equipa de top que o adversário defende em bloco baixo, na

tentativa de explorar a transição ofensiva agressiva, de que forma lhe pode

colocar problemas!? Para além da variabilidade de soluções quando recupera a

posse de bola, da qualidade dos jogadores, da capacidade de criar

desequilíbrios com o adversário defensivamente organizado, a Equipa de Top

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Apresentação e discussão dos resultados

145

poderá tentar tirar o adversário do bloco baixo. O que se pode fazer de modos

distintos, com ou sem posse de bola. E aqui, tocamos num ponto que

consideramos muito importante. Se a Equipa de Top, estrategicamente,

defender em bloco baixo, “oferecendo” parte do seu meio-campo, assim como

a posse de bola, “obriga” o adversário a ter a bola. Provavelmente, aquilo que

vai acontecer é que a Equipa não vai ter grandes soluções para criar

desequilíbrios com o adversário defensivamente organizado. Para além dessa

dificuldade certamente que terá de se expor mais defensivamente, sair do tal

bloco baixo, abrir Espaços.

Ainda que muito genéricos, estes exemplos elucidam-nos acerca das

limitações ofensivas de uma Equipa cujo padrão de ataque se caracterize

(quase exclusivamente) pelas transições ofensivas agressivas. E assim, surge

a importância das Equipas terem outras soluções para realizar as transições,

concretamente de manterem a posse de bola para criar desequilíbrios (com o

adversário defensivamente organizado).

Apesar de esta ideia não estar explícita no discurso dos vários

treinadores de top, que mencionam a importância das transições ofensivas

agressivas, podemos facilmente reconhece-la nos seus discursos. Nesse

sentido, atentemos às palavras de Van Gaal (Anexo 3): “(...) quando o

adversário está desorganizado e nós recuperamos a bola, temos que

aproveitar essa desorganização... mas quando estás sempre a falhar o passe e

a perder a bola... então eu digo... “não... não! Paciência”, porque vês que eles

estão sempre a perder a bola e assim vais ter que recupera-la vezes sem

conta...”. Reconhecendo ainda que, quando se perde a bola frequentemente:

“perdes o controlo do jogo, estás sempre a perder a bola e assim eles dominam

o jogo, por isso, a posse de bola é sempre importante...”.

Podemos constatar que este treinador, à semelhança de outros

treinadores de top, não sobrevaloriza as transições ofensivas agressivas na

medida em que, reconhece também a importância da “posse de bola” (como

veremos sempre com bastante objectividade). A “posse de bola” está para Van

Gaal (Anexo 3) como a “criação de desequilíbrios” está nesta dissertação, ou

seja, um meio que deve ser utilizado com um fim, criar desequilíbrios no

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Apresentação e discussão dos resultados

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adversário que está defensivamente organizado. Para chegar a essa “posse de

bola” as transições são feitas de modo distinto, com mais segurança, tirando-a

das eventuais “zonas de pressão” e procurando Espaços favoráveis à

manutenção da posse de bola para desorganizar o adversário.

O comportamento colectivo que resulta da necessidade de “tirar a bola

das zonas de pressão” é fundamental na criação de desequilíbrios e pode ser

utilizado para procurar Espaços favoráveis a manutenção de posse para depois

criar desequilíbrios, ou então sair de pressão para criar imediatamente

situações de finalização (ver transições agressivas).

Pelo exposto, uma Equipa, para ser de Top, apresentando um futebol de

qualidade superior, tem necessariamente de ter várias soluções para as

transições. Se pensarmos nas Equipas que actualmente se encontram nas

meias-finais da Liga dos campeões: M.United, Chelsea, Barcelona, Arsenal.

Veremos exactamente que essa variabilidade está presente em todas elas.

4.2.1.2 Criação de desequilíbrios

Van Gaal (Anexo 3) dá-nos o mote para reflectir sobre a criação de

desequilíbrios: “Quando tens a posse de bola o teu adversário está

organizado... mas as Equipas de top conseguem criar, também, oportunidades

contra equipas organizadas, o Barcelona consegue faze-lo muito bem, o

Manchester também e penso que o AZ também...”. A necessidade de criar

desequilíbrios surge quando o adversário está defensivamente organizado. O

que pode acontecer imediatamente após recuperação de bola: se o adversário

tiver preocupação com os Equilíbrios dinâmicos; ou, quando o adversário está

em organização defensiva propriamente dita. Assim, seja como for que se

pretende criar desequilíbrios, a um reconhecimento da organização do

adversário.

A circulação de bola, sendo a referência colectiva de excelência da

posse de bola, não se restringe ao movimento da bola, existe toda uma

envolvência da Equipa no sentido de criar condições favoráveis para entrada

da bola, ou de um jogador com/sem bola, etc. com o objectivo de criar

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Apresentação e discussão dos resultados

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desequilíbrios. Com efeito, tem implícita toda uma dinâmica que engloba a

mobilidade da Equipa (dinâmica e subdinâmica posicional), as situações de

1vs1, a progressão com bola, etc. Assim, o que aqui vamos apresentar resulta

da reflexão do conteúdo das entrevistas, não dispensando, por isso, a leitura

da revisão de literatura, em concreto do (sub) capítulo 1.1.2.2 onde

aprofundamos os padrões de circulação de bola.

Apesar da circulação de bola puder, por si só, criar desequilíbrios no

adversário é necessário ter presente que ela se assume como uma grande

referência colectiva de posse de bola das Equipas de top, nesse sentido, vimos

anteriormente que a opinião de vários treinadores de top, onde incluímos os

nossos entrevistados (Van Gaal, Anexo 3, Villas-Boas, Anexo 5), é consensual

ao referirem que o melhor modo de ter a bola é circulando-a. Pelo exposto, a

circulação de bola afigura-se um importante meio táctico colectivo para criar

desequilíbrios, mas também para criar situações favoráveis à criação de

desequilíbrios (por exemplo: circular a bola a toda a largura, variando o ângulo

de ataque, procurando situações de 1vs1) e para aproveitar desequilíbrios

criados (por exemplo, pela mobilidade dos jogadores sem bola que arrastam

marcações abrindo Espaços onde se podem criar desequilíbrios). Daqui resulta

uma primeira característica fundamental, a objectividade com que a circulação

deve ser entendida: um meio para criar, aproveitar ou potenciar os

desequilíbrios no adversário.

Acerca desta circulação, assente na objectividade, mencionamos na

revisão de literatura, a possibilidade de existirem dois padrões de circulação

que resultam da “intensidade” com que se procura verticalizar o jogo. É

necessário ter presente que nos referimos a padrões, ou seja, algo que

acontece com regularidade, que depende do “jogo” que se pretende para

determinada Equipa (logo depende também de como os jogadores interpretam

e potenciam essa ideia).

Com efeito, acerca da circulação de bola vertical e horizontal, Villas-

Boas (Anexo 5), refere que não se pode separa-las e que, é a alternância entre

a verticalidade e horizontalidade que garante um “factor surpresa”. Para além

disso, acrescentamos que, os problemas que o adversário coloca à criação de

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Apresentação e discussão dos resultados

148

desequilíbrios de uma Equipa, poderão requisitar uma circulação de bola

horizontal para depois verticalizar, ou então que a verticalização seja procurada

de uma forma mais “intensa”. Por exemplo: se o adversário joga

frequentemente em bloco baixo, a verticalização após circulação de bola

horizontal, tenderá a ser a melhor solução para criar desequilíbrios.

Relembremos o exemplo do Arsenal: consideramos na revisão de literatura

que, por padrão, esta é uma Equipa que procura a verticalidade de um modo

“intenso” (ver (sub)subcapítulo 1.1.2.2 onde apresentamos os argumentos que

nos levam a enquadrar esta Equipa nesse padrão), porém, quando defronta

uma Equipa que joga predominantemente em bloco baixo (por exemplo),

demonstra capacidade, e qualidade, para procurar essa verticalidade após

circular a bola na horizontal e assim criar desequilíbrios (tentando atrair o

adversário, ou com o movimento da bola pelos flancos criar desequilíbrios no

interior). Também Villas-Boas (Anexo 5) evidencia a existência desses padrões

de circulação e da variação da circulação horizontal/vertical, ao dar o exemplo

de outra Equipa de Top: “(...) penso que algumas a fazem (circulação de bola)

exactamente nesse aspecto, de uma forma mais horizontal, outras que fazem

um misto de horizontal com vertical, que é o caso do Liverpool.”.

Portanto, apesar de, por princípio, as Equipas tenderem a procurar a

verticalização de um modo mais “Intenso” ou após circulação horizontal,

consideramos que uma das características eminentes das Equipas de top é a

alternância entre verticalidade e horizontalidade, pelos dois motivos

apresentados: surpresa que pode causar no adversário; e, resolução dos

problemas colocados pelo adversário (altura do bloco, Áreas de pressão, etc.).

É pertinente ainda relembrar que, quando a bola entra em Espaços por

uma trajectória vertical, o risco de perda de bola aumenta, pois, à partida, os

constrangimentos provocados pelo adversário serão maiores. Havendo um

maior risco de perda de bola, as preocupações com os equilíbrios têm

necessariamente de ser maiores e nesse sentido Van Gaal (Anexo 3)

considera que: “(...) o passe vertical não é um passe de risco porque vais ter

sempre jogadores atrás da bola...”. Por sua vez, o passe horizontal tem que ser

um passe com maior segurança, pois como refere o autor: “...o passe em

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Apresentação e discussão dos resultados

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largura é que é um passe com risco...”, pois a Equipa tenderá a estar mais

“aberta”. Daqui emergem características inerentes à circulação de bola de

qualidade.

Tomemos como exemplo o Arsenal: frequentemente procura o passe

vertical dos centrais para o Adebayor ou Van Persie (subdinâmicas distintas

consoante seja um ou outro jogador). Se quando esse passe acontece a

Equipa (sobretudo o sector mais recuado) não fechar os Espaços interiores

corre o risco de sofrer uma transição agressiva do adversário, pois os passes

verticais implicam sempre um risco maior de perda da posse de bola. Portanto,

esse comportamento de fecho de Espaços interiores é muito importante para

permitir manter o Equilíbrio. Por outro lado, quando a mesma Equipa, procura a

verticalização após circulação horizontal (como vimos essa variação é

característica das Equipas de top) irá proceder à “instalação posicional”,

assumindo, “posições abertas” (o denominado “campo grande”). O Equilíbrio

nessa altura, em que a Equipa está aberta (sobretudo no sector mais recuado)

tem que ser garantido pela qualidade e segurança do passe e da recepção

(com implicações óbvias no posicionamento: orientação, ângulo e distância dos

apoios), caso contrário o risco de transição agressiva é também elevado.

Assim, é importante deixar claro que a circulação de bola de qualidade

têm implícita dinâmicas de Equilíbrio manifestamente distintas, consoante a

bola assume trajectórias verticais ou horizontais.

Na criação de desequilíbrios outros meios são utilizados, em

consonância com a circulação de bola para criar desequilíbrios, nomeadamente

as situações de 1vs1. Villas-Boas (Anexo 5) é explícito quanto à sua

importância: “Tocando nas equipas de topo, a forma como criam golos... como

tecnicamente têm muito mais qualidade permitem-lhes ser mais concretas e ter

mais possibilidades de sucesso no 1vs1 (...) por exemplo, o Carrick mete a bola

ao Ronaldo, o Ronaldo vira-se para o adversário, no 1vs1 é o melhor do mundo

ou dos melhores do mundo, quando a bola chega ali, tens a certeza de

sucesso no 1vs1 e tens certeza de sucesso no cruzamento... se disseres da

mesma forma que a bola entra do Xavi para o Messi e deixas o Messi, tens ali

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Apresentação e discussão dos resultados

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certeza de sucesso... nem sequer de cruzamento... certeza de remate interior

ou a partir de condução interior um passe de penetração mágico...”.

Vimos, na revisão de literatura, que a probabilidade de sucesso das

situações de 1vs1 é maior nos corredores laterais e se pensarmos nas Equipas

que se encontram nas meias-finais da liga dos campeões, vamos aí encontrar

jogadores muito virtuosos no 1vs1: Messi, C.Ronaldo, Henry, Walcott, Gigs,

J.Cole. Ainda que a qualidade se expresse de modo diferente, estes jogadores

dão garantias de sucesso no 1vs1 e dão continuidade à situação com bastante

qualidade. E este é um aspecto que consideramos central. Villas-Boas (Anexo

5) concorda com a nossa afirmação, quando referimos que “o jogo tende a fluir”

para os jogadores que são capazes de criar desequilíbrios (não apenas através

do 1vs1 mas também, através de passes verticais por ex.), porém o autor alerta

para a necessidade desses jogadores darem continuidade a essa fluidez.

Nesse sentido, imaginemos que a bola chega a um extremo que é muito bom

no 1vs1; contudo na continuação é requisitado um cruzamento, que,

eventualmente, sai defeituoso pela sua falta de qualidade (outros exemplos

poderiam suceder com jogadores que estão no centro). Daqui emana a

importância das qualidades técnicas dos jogadores ser incluída na reflexão

sobre o perfil de jogadores que se tem a disposição e da ideia que se pretende

para determinada Equipa.

Fazendo um pequeno desvio do tema central deste subcapítulo é

pertinente reforçar com um exemplo, a necessidade de ir à procura daquilo que

os jogadores podem oferecer, potenciando as suas qualidades: “o Maicon

chegava e tinha uma qualidade enorme a conduzir a bola interior e depois

tivemos que ir à procura de mecanismos de quando ele tem a bola, no espaço

interior e com o seu pé esquerdo o que pode fazer... se chuta à baliza, se cruza

com o pé esquerdo, se escolhe essas duas coisas, ou tens segunda bola do

GR, ou então se for só cruzamento tens de ter alguém ao segundo pau para

aparecer, o cruzamento ao segundo pau sairá defeituoso se for um cruzamento

com o pé esquerdo da direita, são coisas que te levam... que tivemos que

começar a analisar de acordo com o que ele oferecia nesse tipo de

movimentos.” (Villas-Boas, Anexo 5). Peguemos noutra situação concreta: o

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Apresentação e discussão dos resultados

151

C.Ronaldo sendo dos melhores do mundo no 1vs1, expressa a sua qualidade

de modo muito distinto de Messi, por exemplo. Enquanto o C.Ronaldo procura

em velocidade ir “para cima dos adversários” o Messi é fenomenal a sair de

Espaços super-reduzidos. Como potenciar estas qualidades!? Crermos que

estruturando-se em 1-4-4-2, o C.Ronaldo a funcionar como médio-ala tem mais

hipóteses de sucesso porque tem mais Espaço para receber a bola e atacar o

adversário em velocidade. É isso que acontece no Manchester e, para além

disso, vemos que o outro Ala (Park) apresenta outras qualidades

(consequentemente outra (sub)dinâmica) que permitem compensar o maior

risco assumido pelo C.Ronaldo.

Retomando as situações de 1vs1, existe nas Equipas de top um outro

aspecto preponderante para a sua eficácia, os apoios. Os apoios são

fundamentais para qualquer jogador que tenha a posse de bola, podendo ser

frontais ou recuados, no entanto, os apoios aos jogadores que assumem

regularmente situações de 1vs1 têm peculiaridades que podem resultar na

maior ou menor eficácia na criação de desequilíbrios. Concretamente, a

distância (e ângulos) que mantêm entre si e o timing de inserimento vertical

para apoio frontal (movimento de overlap do lateral sobre o ala/extremo).

“(...) por exemplo um Ala que recebe uma bola, quantas vezes vês a

ânsia de um lateral em fazer um overlap, e em vez de manter uma distância

optimal para o ala, faz um apoio super curto ao ala...portanto, em vez de deixar

o ala sozinho em situação de 1vs1 já está a levar com esse movimento um

outro jogador por arrastamento, está a levar um adversário na direcção dessa

zona, e uma situação que, se calhar, era de 1vs1, se calhar, já é de 2vs1 ou de

inferioridade numérica.” Queiroz (2006) é da mesma opinião ao dar um

exemplo no Manchester de 2006: “Por exemplo, no lado direito, o C.Ronaldo

consegue fintar um, dois, três jogadores. Que sentido é que faz o Gary esteja

sempre a fazer overlaping por trás dele, só vai “atrapalhar” porque ele quer

fugir para a esquerda e para a direita e se o Gary se “meter” ali eu estou a

condicionar o meu jogador, mas se for o Gabriel Hinz ou o Quinter (que tem

menos poder de Drible) eu já vou pedir ao Quinter para ele fazer esse

movimento de entrada, tento em conta as características individuais…”.

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Apresentação e discussão dos resultados

152

Assim, consideramos que a distância dos apoios é fundamental para o

sucesso do 1vs1, para além do Equilíbrio que garantem (permitindo ao jogador

em posse assumir mais riscos), permitem que o jogador tenha Espaço para

explorar o 1vs1.

No entanto, esses jogadores que citamos, não procuram sempre as

situações de 1vs1 (dependendo também do adversário), nesse sentido, os

apoios frontais assumem, também, preponderância na criação de

desequilíbrios. E, se pensarmos novamente nas Equipas que se encontram na

liga dos campeões, vamos encontrar jogadores, que partindo de trás

(normalmente os laterais: Alves, Abidal, Evra, A.Cole, Bosingwa, Sagna,

Clichy), com movimentos de overlap sobre o Ala/Extremo, dão apoio frontal aos

jogadores e são muitas vezes geradores de desequilíbrios: ou porque arrastam

uma marcação do interior para a faixa ou porque ficam num contexto favorável

para receber a bola e cruzar (por ex.). Nesse movimento de apoio é

fundamental o timing de inserimento do lateral: “(...) se tu vires agora o Barça tu

vês que há outro aspecto decisivo... há um lateral de um lado que chega

exactamente mais cedo, que se insere mais cedo, o outro lateral inicialmente

está em posição, quando a bola começa a circular para chegar ao outro lado,

vamos por exemplo imaginar, subiu o Silvinho... há circulação de bola e a bola

chega ao Messi do outro lado, analisa o tempo de inserimento do Daniel Alves,

vais ver que não é imediato, há sempre factor surpresa... não está

imediatamente em overlap, sabe escolher exactamente o tempo de

inserimento...” (Villas-Boas, Anexo 5). A questão está em identificar quando um

jogador como C.Ronaldo, ou Messi, vai no 1vs1, e para isso precisa de

Espaço, ou quando vai para o interior. Sendo que, essa identificação pode

passar por referenciar “indicadores de acção” ou seja, comportamentos que

levem o jogador, nesta situação o lateral, a agir de uma forma ou de outra. E

um possível indicador de acção para o inserimento vertical do lateral pode ser

por ex., o início do movimento interior do ala/extremo. Estas preocupações são

visíveis nas Equipas de top, sobretudo pelas que procuram frequentemente

criar desequilíbrios pelos corredores laterais como nos refere Villas-Boas

(Anexo 5): “(...) há uma das equipas de topo actual, que não favorece tanto a

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Apresentação e discussão dos resultados

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penetração vertical dos médios, porque prefere tê-los em posição e depois usar

as faixas e usar o movimento dos alas como grande gerador de criação de

oportunidades (...)”.

A criação de desequilíbrios depende em grande medida da dinâmica de

circulação que se pretende para determinada Equipa e do modo como se

pretende potenciar as qualidades dos jogadores nas faixas. Porém, ainda que

no corredor central seja mais difícil criar desequilíbrios, pela óbvia preocupação

do adversário com fecho de Espaços interiores, constatamos que as Equipas

de top, criam também desequilíbrios pelo corredor central, como vimos na

revisão de literatura existem vários modos de o fazer:

- Incorporação de mais um jogador no espaço do meio-campo: “Eu

quero criar sempre superioridade… por isso, um dos quatro (jogadores da linha

defensiva) tem que entrar no meio-campo… não interessa qual… mas quando

um entra os outros (três jogadores da linha defensiva) têm que fechar.” (Van

Gaal, Anexo 3);

- Distância entrelinhas: Consideramos na revisão que a distância

entrelinhas pode-se assumir como um comportamento importante no sentido

em que permite “aparecer” em Espaços livres para receber a bola ou arrastar

marcação. Assim, consideramos dois Espaços no corredor central que,

dependendo da dinâmica de circulação, poderão potenciar desequilíbrios no

adversário. O primeiro resulta da distância entre as linhas defensiva e

intermédia da Equipa que ataca. Não sendo consensual nos nossos

entrevistados: Por um lado Van Gaal (Anexo 3) pretende que as linhas da sua

Equipa estejam sempre juntas, referindo que o adversário pode tirar beneficio

se as linhas estiverem afastadas, por outro lado, ao manter as linhas juntas

considera que é crucial equacionar o Espaço defensivo nas costas da linha

defensiva. Porém, como deixamos claro, este Espaço é frequente sobretudo

nas Equipas que privilegiam a verticalização mais “intensa”, permitindo libertar

o Espaço onde jogadores da linha intermédia aparecem para receber livres de

marcação, ou então “abrir” o adversário, assim, o entendimento de Van Gaal

vai de encontro aquilo que pretende, regularmente (ou seja, como padrão) das

suas Equipas: verticalização após circulação de bola horizontal. Por sua vez,

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Apresentação e discussão dos resultados

154

Villas-Boas (Anexo 5) não menciona este Espaço directamente, porém, ao

referenciar o comportamento dos centrais de “provocação à bola” subentende

que há Espaço livre (sem adversário e sem colegas de Equipa) à frente desse

jogador. Parece-nos, no entanto, que a importância desse Espaço não fica por

aí. Villas-Boas (Anexo 5) referiu que são poucas as Equipas que pressionam

alto, no entanto, são várias as Equipas que tentam, com dois ou três jogadores,

limitar a saída curta da outra Equipa. Tendo em conta essa possibilidade, e o

facto de não pressionarem alto, as Equipas não vão manter as linhas juntas,

aumentando assim a potencialidade deste Espaço na criação de desequilíbrios.

Com efeito, o aumento do Espaço entre estas linhas resulta na tentativa de

“empurrar” o adversário, fingindo movimentos de afastamento para depois

“aparecer”, é como se a Equipa que ataca, “esticasse” o adversário para assim

aumentar os Espaços favoráveis à manutenção da bola para criação de

desequilíbrios.

Outro Espaço mencionado refere-se ao Espaço entre as linhas

intermédia e avançada, que correspondem no adversário às linhas defensiva e

intermédia, sendo a sua importância considerada pelos nossos entrevistados,

mas de modo diverso. Ainda que, a sua ocupação seja fundamental para criar

desequilíbrios, o modo como se dinamiza esses Espaços é diferente tratando-

se de uma dinâmica preferencialmente horizontal ou vertical. Van Gaal (Anexo

3) a ocupar esse Espaço pretende um médio que suba, com penetração

vertical, porém, actualmente a jogar em 1-4-4-2 (desdobrando-se num 1-4-2-3-

1) tem a ocupar essa posição um segundo avançado, sendo que, a diferença

encontra-se sobretudo nos momentos após perda de bola. Pois, segundo o

autor, ainda que na Holanda consiga manter a segurança jogando com esse

segundo avançado, esse jogador defensivamente não funciona (depende

obviamente das qualidades dos jogadores). Para além disso, pretende desse

jogador um movimento muito interessante, que, apesar da sua preferência pela

verticalização após circulação horizontal, evidencia preocupações com a

verticalidade, nomeadamente o movimento que designa “contra”, descrito na

figura 21. Nessa figura podemos ver o posicionamento do segundo avançado,

atrás do pivô baixo do adversário. Movimentando-se no sentido contrário ao

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Apresentação e discussão dos resultados

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portador, indicando um movimento de “abertura”.

Este movimento permite uma linha de passe

frontal e que, no caso de haver esse passe

vertical, é um jogador que facilmente recebe

orientado para a baliza, de frente para o jogo.

Este comportamento, como referimos é muito

interessante, porque frequentemente (sobretudo

quando a Equipa procura verticalizar após

circulação horizontal) o jogador que aí aparece

surge a tabelar com um jogador que aparece de trás para a frente.

Mas a ocupação desses Espaços depende em grande medida das

qualidades dos jogadores que aí aparecem, já o tínhamos visto com Van Gaal

(Anexo 3), no entanto, Villas-Boas (Anexo 5) ajuda-nos a reforçar esse

importante aspecto: “Pensa no Gerard e no Lampard... tu não queres um

ponta-de-lança que vem entre linhas, porque estes dois, o Lampard e o Gerard,

têm um grande raio de acção e são jogadores que te vão frequentemente

aparecer neste espaço, talvez o Gerard mais e o Lampard mais em

profundidade... o Lampard irritava-se muitas vezes com o Drogba porque ele

queria receber a bola neste espaço e depois por incrível que pareça tinha o

primeiro toque desastroso... perdia a bola... e estávamos logo obviamente

sujeitos a transição, porque o Lampard já tinha entrado e já estava quase em

igualdade ou em inferioridade no meio-campo... tentamos limita-lo nesse

aspecto e de incentiva-lo mais à profundidade...”.

Voltaremos novamente a abordar estes Espaços quando reflectirmos

sobre as Estruturas em capítulo posterior. Porém, fica desde já evidenciada a

importância do “jogo” que se pode produzir a partir destes “Espaços

entrelinhas”.

Salientamos ainda na revisão mais dois importantes aspectos:

triangulações no Espaço e a mobilidade dos jogadores. No entanto, uma vez

que não tivemos oportunidade de tocar nesses aspectos, que também

consideramos relevantes, remetemos o leitor para a revisão de literatura,

Figura 21. Movimento “contra”

que Van Gaal pretende do seu

Pivô alto

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Apresentação e discussão dos resultados

156

concretamente para o (sub)subcapítulo 1.1.2.2 Criação de desequilíbrios:

1.1.2.2.4: Desequilíbrios no corredor central.

Ainda que a qualidade da Equipa, a sua dinâmica e subdinâmicas, sejam

o aspecto central na criação de desequilíbrios, constatamos que o adversário

pode determinar em grande medida como se vão criar desequilíbrios. Nesse

sentido, olhando para as Equipas de top, constatamos que a maioria das

Equipas que defrontam defendem em bloco baixo: “(...) a cultura do bloco baixo

actual no futebol... normalmente analisas a maior parte das equipas, deixou de

haver equipas de pressão alta de bloco alto, deixou de haver... ok, falamos de

velocidade e urgência no aspecto ofensivo mas no aspecto defensivo falamos

em precaução, em medo, em esperar uma transição...” (Villas-Boas, Anexo 5).

O mesmo autor (Anexo 5) deixa claro que não é só o bloco baixo das Equipas

que não são de top que dificultam a criação de desequilíbrios: “(...) a maior

parte das equipas não posiciona o bloco alto, tu vês uma equipa que

actualmente joga com um bloco médio, ultra-curto, e te pode limitar as duas

formas, é a Juventus, porque o espaço nas costas controla com um fora-de-

jogo espectacular com um timing fora de serie... e o passe vertical limitam

porque estão em 30 ou 40 metros, estão completamente fechados em duas

linhas de 4 mais os 2 pontas de lança.”. Perante esta situação generalizada

existem algumas soluções, apontadas pelos nossos entrevistados, que nos

parecem ser frequentes em algumas Equipas de top e que têm resultados

concretos. Van Gaal (Anexo 3) para “tirar” os jogadores do bloco do adversário

pretende que a bola circule a toda a largura em espaços mais recuados, com

paciência para provocar o adversário ou mesmo abrir espaços interiores. Villas-

Boas (Anexo 5) fala em “provocação à bola”: “(...) depois de conquistares esse

meio-campo, o adversário esta em bloco baixo, podes jogar com provocação

do adversário à bola, a bola é a referência para o adversário, e tens que

começar a perceber que há muitas jogadores que tem um espaço à frente e

que podem provocar um adversário à bola para conquistar um espaço ...

(...)“Tem que ser com provocação à bola, que é o que a maior parte das

equipas não sabe, não se compreende, é um aspecto do jogo que é essencial,

nesta altura de equipas de bloco médio-baixo de bloco ultra-compacto, vais ter

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Apresentação e discussão dos resultados

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que aprender a provocar, é a bola que eles querem, a equipa tem que aprender

a provocar com bola, com a condução de bola.”

Como referimos esta reflexão resulta da interpretação ao conteúdo das

entrevistas, de onde pudemos extrair conteúdo bastante rico, porém tem

necessariamente de ser complementada com a leitura da revisão de literatura.

4.2.1.3 Criação de situações de Finalização/ Finalização

Vimos anteriormente que uma das características dinâmicas “gerais”

comuns às Equipas de top relaciona-se com o número de jogadores com

capacidade para aparecer em Espaços de finalização, criando situações de

finalização ou concluindo-as.

Van Gaal (Anexo 3) corrobora ao afirmar que para finalizar “precisas

sempre mais do que os avançados...”, no entanto, é necessário esclarecer um

aspecto preponderante no êxito das Equipas, que os nossos entrevistados

deixam antever nos seus discursos. Não se trata de atacar com muitos

jogadores, ainda que, o número de jogadores envolvidos no ataque dependa

do adversário (de como defende, de como pensa o ataque quando está em

organização defensiva, da qualidade dos seus jogadores, etc.), mas sim de

vários jogadores terem capacidade para aparecer nesses Espaços sem

comprometer o equilíbrio da Equipa, o que não significa necessariamente

muitos jogadores ao mesmo tempo. E este é um aspecto crucial nas Equipas

de top, tendo em conta que a maioria das Equipas que as defrontam, tentam

explorar as transições ofensivas, logo se aparecerem com muitos jogadores em

Espaços de finalização resulta num maior Espaço defensivo a cobrir. Esta

preocupação é visível nas palavras de Villas-Boas (Anexo 5): “(...) era uma

coisa que no início não privilegiava-mos... menos penetração dos médios...

porque queria exactamente a libertação do Maicon pela faixa e depois

preocupava-se com o equilíbrio em transição... a partir dai limitou um bocado o

inserimento dos médios para dar liberdade ao Maicon para aparecer de trás

para a frente... atacar com mais números não significa maior número de

criação de oportunidades, significa exactamente isso... correr riscos maiores...

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Apresentação e discussão dos resultados

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(...) atacar com mais gente não é sinal de qualidade obviamente, depende do

que tens à disposição e a forma como o queres fazer.”. Assim, a subida de um

jogador que aparece frequentemente em Espaços de finalização têm que ser

devidamente equacionada, nesta situação, jogando em 1-4-3-3, limitavam a

penetração vertical dos médios, obviamente que isto é uma regularidade, não

impede de em certas circunstâncias, com a Equipa toda em sintonia, que os

médios assumam movimentos de penetração vertical.

Portanto, apesar de vários jogadores puderem aparecer em Espaços

onde possam criar situações de finalização ou conclui-las, o modo como, quem

e quando aparecem, depende em grande medida da filosofia, do sistema e das

características dos jogadores disponíveis (Van Gaal, Anexo 3).

4.2.2 (Macro)Organização Estrutural

Na revisão de literatura vimos que um qualquer “jogar” (dinâmica

Específica), resulta da ideia de jogo do treinador ajustada à Equipa, de forma a

potenciar as características dos jogadores. Desta convergência no terreno,

poderá resultar algo novo em função da individualidade de cada jogador

(dinâmica em Espiral inicia-se com a interpretação dos jogadores às ideias do

treinador). Sendo que, as características dos jogadores exprimem-se no

terreno de jogo em função dos colegas (jogo colectivo) e do adversário,

resultando daqui um comportamento dinâmico. O discurso dos nossos

entrevistados (Van Gaal, Anexo 3, Villas-Boas, Anexo 5) corrobora esta ideia e

consideramos que só assim faz sentido pensar o conteúdo do jogo.

Vamos seguir o nosso raciocínio com o exemplo concreto de uma

subdinâmica intersectorial (ver capítulo 2.2.3: figura 6) do Inter de Milão: temos

Maicon a lateral, com uma capacidade enorme para aparecer em Espaços de

finalização, tanto com penetrações verticais interiores como exteriores, com ou

sem bola. Para potenciar essas qualidades de Maicon, é necessário que outros

jogadores o compensem, segundo Villas-Boas (Anexo 5) essa compensação

passa por limitar o inserimento vertical dos médios, criando-se assim uma

subdinâmica que funciona em prol do colectivo.

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Apresentação e discussão dos resultados

159

Porém, temos de ir mais longe nesta reflexão: esta subdinâmica é

concretizada em função apenas das qualidades de um jogador!? Suponhamos

que um desses médios é o Lampard, o Gerard ou o Fabregas. Obviamente que

são muito diferentes entre si, mas os três com características muito distintas do

Zanneti, enquanto esses jogadores procuram muito mais a verticalidade (de

modo distinto), Zanneti possui outras qualidades: procura mais os apoios, os

equilíbrios, as compensações, ou seja, a segurança da Equipa. Assim, se em

vez do Zannetti estivesse um jogador como Fabregas, por exemplo,

obviamente que se teria de repensar a subdinâmica em função das qualidades

do Maicon e do Fabregas, no sentido de aproveitar as qualidades de ambos no

inserimento vertical.

Não podemos, no entanto, ignorar que esse comportamento dinâmico

resulta de um posicionamento de partida, que permite aos jogadores coordenar

e reajustar as suas (inter)acções. Com efeito, a estrutura (enquanto, referência

de posicionamento dos jogadores em campo) ao promover diferentes

(sub)dinâmicas, revela-se um aspecto fundamental na potenciação das

características dos jogadores. Daqui emerge outra questão: que estrutura

potencia esta subdinâmica em concreto!?

Na revisão de literatura realçamos a existência de duas Estruturas que

prevalecem na maioria das Equipas: 1-4-3-3 e o 1-4-4-2 das quais surgem

inúmeras variantes que se vão desenhando com a dinâmica Específica das

diferentes Equipas. Sobre o 1-4-3-3 Van Gaal (Anexo 3) concorda que é a

estrutura que permite uma distribuição mais racional do Espaço de jogo.

Quanto ao 1-4-4-2 os nossos entrevistados (Van Gaal, Anexo 3; Villas-Boas,

Anexo 5) diferenciaram o 1-4-4-2 clássico do 1-4-4-2 losango. Para já o que

nos interessa é contextualizar as estruturas com a subdinâmica que estamos a

utilizar para assim percebermos a sua pertinência, nos próximos capítulos

iremos explorar com maior profundidade as diferenças entre essas estruturas.

Portanto, retomando o nosso exemplo: para que um jogador do meio-

campo ou da defesa (no exemplo, o lateral) apareça em Espaços de finalização

com movimentos verticais de trás para a frente é necessário que haja Espaço.

Portanto, se temos no inserimento vertical do lateral uma referência importante

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Apresentação e discussão dos resultados

160

no ataque à baliza do adversário, é necessário que exista Espaço no corredor

para que ele possa subir. Qualquer das Estruturas tem Espaço passível de ser

aproveitado pela verticalidade do lateral, pelo que, teremos de olhar para os

jogadores que no corredor se encontram. Pegando novamente no Inter, se a

Equipa se posicionar em 1-4-4-2, o médio Ala seria o Zannetti, cuja tendência é

jogar por dentro, desse modo o Maicon teria todo o corredor para explorar. Se

a Equipa se posicionar em 1-4-3-3, como aconteceu no início do campeonato

com a presença de Quaresma, o jogador que se encontra a Extremo tem que

apresentar uma dinâmica posicional de procura de Espaços interiores para

libertar o corredor, caso contrário poderá haver sobreposição de jogadores.

Para além disso, o facto de jogar com dois avançados promove no adversário

maiores preocupações com o centro da defesa, e desse modo, os laterais

adversários terão que fechar mais o interior. Portanto, à partida o 1-4-4-2

(sobretudo losango) potencia está subdinâmica.

No entanto, ainda que esta estrutura seja favorável a essa subdinâmica

Específica, o comportamento vertical de um qualquer lateral pode,

efectivamente, acontecer com qualidade, em qualquer Estrutura,

independentemente do Espaço que ela cria, por si só, no corredor. Como refere

Cruyff (2008) a questão é que se fabriquem esses Espaços, nesse sentido, não

é raro vermos o Ibra a cair na faixa, ainda que ocupe um Espaço onde o lateral

pode aparecer, o que está a fazer é a “amadurecer” o Espaço, criando

condições favoráveis à entrada do lateral e à criação de situações de

finalização. Do mesmo modo, vemos no Barcelona, que o Daniel Alves, apesar

de Messi se encontrar no corredor, aparece muitas vezes com movimentos de

trás para a frente a criar situações de finalização, no entanto, vemos que o seu

timing de inserimento vertical é muito bom, nesse sentido, não sendo um

inserimento imediato, como fazem constantemente os ingleses (Villas-Boas,

Anexo 5), “amadurece” o Espaço entrando com um timing perfeito.

Daqui retiramos que a Estrutura é fundamental em função de uma ideia

de jogo e dos jogadores disponíveis. Dizer que uma ou outra estrutura é melhor

do que outra na manifestação de determinados comportamentos é uma

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Apresentação e discussão dos resultados

161

abstracção se não olharmos para uma ideia de jogo e para as características

dos jogadores em concreto.

Mas a questão da estrutura e das dinâmicas é muito mais complexa,

nesse sentido Villas-Boas (Anexo 5) ajuda-nos a levar esta reflexão um pouco

mais longe: “(...), há estruturas que te levam a determinado tipo de coisas,

depois... que estrutura contra que estrutura, percebes.. vamos alargar isto...

normalmente as pessoas pensam que falar em estruturas é uma coisa que não

tem importância, o que tem importância são as dinâmicas... ora bem, mete uma

estrutura contra uma estrutura e vês que as dinâmicas de compensação são

completamente diferentes...”. Ou seja, ainda que as estruturas potenciem

determinado tipo de dinâmicas em função das características dos jogadores, é

necessário realçar que existe um adversário que as pode (ou não) condicionar.

Continuando com o exemplo da subdinâmica intersectorial do Inter:

imaginemos que o Inter joga contra o Arsenal ou mesmo contra o M.United,

que jogam em 1-4-4-2 com dois avançados de qualidade inquestionável e com

médios-ala com capacidade para jogar tanto por dentro como por fora,

aumentando assim a imprevisibilidade: ao terem capacidade para aparecer

tanto no corredor, como pelo interior: deixando Espaço para a subida dos

laterais, aumentam a “complexidade” do trabalho defensivo do lateral

adversário. Ideia que também foi deixada por Hiddink na antevisão do jogo

Barcelona - Chelsea (meia-final da liga dos campeões), onde referiu, acerca do

lateral Bosingwa, que ia ter um “trabalho muito complexo”. E esta complexidade

do trabalho defensivo condiciona obviamente o trabalho ofensivo. Assim, em

vez de termos um Maicon com frequentes subidas no terreno teríamos um

Maicon com maiores preocupações com o Espaço defensivo nos corredores,

condicionando assim a subdinâmica que temos utilizado como exemplo.

Portanto, a subdinâmica do corredor, mesmo jogando na mesma estrutura,

pode divergir em função do adversário (de como se posiciona e da sua

qualidade).

Estes condicionamentos acontecem sob o ponto de vista defensivo,

dificilmente uma Equipa que não seja de top os consegue criar a outra Equipa

que o seja. Assim, temos de olhar também para os confrontos Estruturais sob o

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Apresentação e discussão dos resultados

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ponto de vista da dinâmica ofensiva, ou seja, de como defende o adversário a

dinâmica estrutural da Equipa. Nesse sentido Villas-Boas (Anexo 5) dá-nos um

exemplo: “(...)equipa (Regina) que teve resultados, dois grandes resultados em

3-5-2, empatou com o Milão, empatou com a Roma, sabia que nós,

potencialmente, íamos jogar num 4-3-3 porque nos

estávamos a sair bem no 4-3-3...nós jogamos com o

Ballotelli, Mancini e com o Ibra e os gajos de estrutura

que lhes estava a garantir sucesso, que era o seu 3-5-2,

passou para um 4-3-3 inesperadamente... agora pensa

no seguinte... eles antes estavam em 3-5-2, um dos

aspectos do nosso vídeo era que, os externos deles...

que tipo de posicionamento é que iam ter. Se tu pensares

nos externos que fecham para uma defesa de 5 deixam-

se estar tranquilos... mas a partir do momento em que

começas a penetrar com o teu lateral com bola, se saltar

o externo a pressionar o teu lateral, o espaço nas costas

desse externo fica exposto (figura 22)... evidenciamos

exactamente isso no vídeo... se o externo se manter em

posição e saltarem com um do meio-campo, então tens

superioridade no meio (figura 23). Portanto, de acordo

com a estrutura deles e de acordo com a nossa estrutura,

evidenciamos dois tipos de movimento e dois tipos de

espaços diferentes, (...)”

A complexidade das estruturas e das dinâmicas é

de tal modo grande que a sua importância só pode ser encontrada no seio das

Equipas, daí a pertinência de se acrescentar a palavra Táctica. Portanto, ainda

que nos capítulos seguintes apresentemos aspectos que resultam de

regularidades das Equipas de top e cuja relevância consideramos pertinente

que seja acentuada, é necessário ter sempre presente esta ideia que, neste

capítulo, exploramos.

Figura 23. Médio a

“saltar” no lateral

Figura 22. Externos

a “saltar” ao lateral

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Apresentação e discussão dos resultados

163

4.2.2.1 Jogo Posicional

O “jogo posicional” é frequentemente associado ao posicionamento dos

jogadores em campo, ou seja, à distribuição dos jogadores de acordo com a

Estrutura que as Equipas definem. Com efeito, diferentes Estruturas implicam

diferentes “jogos posicionais”. Porém, crê-mos que esta perspectiva, por si só,

é redutora da verdadeira essência deste “conceito prático”.

Concordamos com Van Gaal (2006)

quando refere que o posicionamento de um

jogador, não se restringe ao Espaço que uma

linha define, mas a uma área (que designamos

de intervenção/ responsabilidade), dando-nos o

exemplo da área que define para o seu extremo

(Figura 24). Consideramos que este é um ponto

fulcral no entendimento do jogo posicional,

consequentemente desta nossa reflexão.

Da idealização de Jogo de um treinador, para determinados

jogadores/Equipa, surge a definição de uma Estrutura que esse treinador

acredita potenciar determinadas dinâmicas. Se diferentes Estruturas resultam

em diferentes distribuições espaciais das Equipas, as áreas de intervenção são

manifestamente distintas no 1-4-3-3 e no 1-4-4-2. Significa isto que as áreas de

intervenção dos jogadores de duas Equipas que se posicionam, por exemplo

em 1-4-3-3, são as mesmas!?

Creemos que não, porque o jogo posicional está para além da

disposição dos jogadores em campo. Resulta em primeiro lugar, da ideia de

jogo que o treinador tem para determinada Equipa, a partir da qual define

responsabilidades para os jogadores em função das suas características e

capacidades e da posição/área que ocupam. Assim, podemos inferir que o

“jogo posicional” depende da Especificidade dinâmica das Equipas, e portanto,

a definição de áreas de intervenção dos jogadores é diferente de Equipa para

Equipa. Com efeito, o bom jogo posicional de uma Equipa pode não o ser para

outra Equipa.

Figura 24. Área de intervenção

do Extremo (Van Gaal, 2006)

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Apresentação e discussão dos resultados

164

Para além da interpretação colectiva que os jogadores fazem a essas

áreas, em função das tarefas que lhe são atribuídas, existe também uma

interpretação individual dos jogadores que depende das suas características e

capacidades. Portanto, dentro da mesma Equipa, a mudança de um jogador

por outro, terá implicações na configuração das áreas de intervenção. Assim,

podemos inferir que o jogo posicional vai desde o individual ao colectivo e está

dependente das áreas definidas para os jogadores.

Outras questões se levantam e interessam ser esclarecidas: a

(inter)acção dos jogadores restringe-se a essas áreas!? Em função destas

áreas qual a importância das trocas posicionais!?

Essas áreas funcionam como referências para que a Equipa apresente

um “jogo” coerente e evidencie algumas regularidades ao longo dos “jogos” que

permitam definir uma identidade colectiva. Assim, não podemos interpretar

essas áreas como “quadrados fechados”, mas antes como referências de

organização (global) da Equipa.

Relativamente às trocas posicionais, é pertinente reflectirmos mais

aprofundadamente sobre as mesmas, pois elas existem e podem ser, se

devidamente equacionadas, um “meio táctico” útil na criação de desequilíbrios

e de situações de finalização.

Admitimos que ocorre uma troca posicional quando um jogador, por

exemplo, um extremo, ocupa a posição do ponta de lança. Esta troca

posicional pressupõe que o Extremo passa a assumir as funções incumbidas

ao Ponta de lança e vice-versa, exigindo-se desse modo, qualidade na

interpretação colectiva do novo posicionamento que esses jogadores

assumem. Sendo assim, esses jogadores, nesse novo posicionamento, devem

frequentemente pensar acerca daquilo que a Equipa espera deles

(interpretação colectiva).

Porém, ao existir uma interpretação individual das áreas de intervenção,

que, como vimos, se relaciona com as qualidades e capacidades dos

jogadores, as subdinâmicas das respectivas posições serão manifestamente

distintas após a troca posicional. Por exemplo, no Barcelona, a troca posicional

no decorrer do jogo entre Messi e Eto’o é frequente, o que tem implicações nas

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Apresentação e discussão dos resultados

165

subdinâmicas ofensivas e portanto podem criar novos problemas ao

adversário. Assim, enquanto que Eto’o é mais referência frontal de

profundidade, Messi é jogador para descer mais no terreno segurar a bola para

se virar e procurar as diagonais de Eto’o ou Henry. O que vai criar novos

problemas ao adversário, que se terá de reajustar a essa nova situação e,

neste exemplo em concreto, não nos podemos esquecer que estamos a falar

dos melhores jogadores do mundo.

Levanta-se outra questão: faz sentido pensar as trocas posicionais por

exemplo: de médios com avançados!? Depende obviamente da Especificidade

dinâmica da Equipa, no entanto, estas trocas são mais “delicadas”, uma vez

que a posição do meio-campo, como vimos, tem maior responsabilidade na

organização do jogo (equilíbrios, 2ª bolas, criação...) , como tal, é necessário

ter uma “cultura de posição” muito grande e uma consciência colectiva que não

se sobreponha ao desejo individual de se mostrar na “cara” do guarda-redes.

Ainda relativamente às trocas posicionais é pertinente esclarecer um

aspecto que vem de uma ideia deixada por Villas-Boas (Anexo 5):“ ... a troca

posicional tem que acontecer e parar num determinado ponto onde te crie

dúvidas... onde o lateral ficou à espera do médio adversário que vinha em troca

posicional com o ala e que já não apareceu... ficou ali no meio-meio, ficou no

meio entre a posição dele e a posição do central, e assim já o vai obrigar a sair

de posição...”. Aquilo que o autor refere como sendo “troca posicional”, nós

definimos como “dinâmica de posição”, na medida em que, não há uma troca

no sentido em que referimos, de um extremo passar a ponta de lança, por

exemplo, mas há um movimento do extremo, ou do médio, para o Espaço entre

o lateral e central adversário. Sendo que, essa dinâmica de posição depende

da interpretação individual e colectiva às áreas de intervenção dos jogadores e

consideramos ser, de acordo com Villas-Boas (Anexo 5) um importante aspecto

a equacionar na criação de desequilíbrios, uma vez que está relacionado,

também, com o “jogo entrelinhas”.

Assim, tendo em consideração tudo o que apresentamos neste

subcapítulo, concordamos com Villas-Boas (Anexo 5) quando define jogo

posicional do seguinte modo: “... equilíbrio optimal entre o que queres atingir

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Apresentação e discussão dos resultados

166

em termos de modelo, em termos de princípios, em termos de estrutura,

portanto, um equilíbrio de tudo isso que potencie uma forma de jogar e a tua

forma de criar oportunidades...”.

A importância do jogo posicional revê-se ainda nas características que

identificamos na revisão de literatura: diagonais posicionais dinâmicas;

subestrutura posicional; posicionamento para ganho de segundas bolas;

equilíbrios dinâmicos, e cuja importância é expressa no discurso dos nossos

entrevistados.

4.2.2.1.1 Diagonais posicionais dinâmicas; subestrutura posicional;

posicionamento para ganho de segundas bolas; e equilíbrios dinâmicos.

A importância das diagonais posicionais dinâmicas foi revista na revisão

de literatura e confirmada pelos nossos entrevistados. Nesse sentido, Villas-

Boas (Anexo 5) dá-nos um exemplo: “(...) uma coisa que acontecia muito em

Inglaterra era, quando as equipas jogavam em 4-4-2, os dois médios centro

criavam passes paralelos um para o outro... e o que se fazia era o Lampard, ou

o Gerard no caso do Liverpool, tentavam cortar esses espaços ou com

velocidade de movimento cortavam esse passe e deixavam imediatamente dois

jogadores eliminados em transicão.”. Relacionado com este exemplo, o autor

alerta para a importância de aspectos muitas vezes ignorados e que são

aspectos básicos no desenvolvimento de um qualquer jogar, e como tal, dados

muitas vezes por adquiridos, concretamente o ângulo (que permite a diagonal)

e distância dos apoios. Acrescentaríamos ainda a orientação dos apoios (dos

membros inferiores), que em muitas situações é o pormenor decisivo (por isso,

um “pormaior”) na continuidade dada à fluidez do jogo: “...a fluidez tem um

sentido se tu, tecnicamente, fores capaz de dar continuidade a essa fluidez, se

tu tecnicamente és limitado ou se fazes um mau controlo... se te metes

automaticamente sob pressão, a fluidez fica automaticamente limitada” (Villas-

Boas, Anexo 5). Portanto, aquilo que neste momento interessa deixar claro é a

importância das diagonais posicionais dinâmicas (orientação, ângulo e

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Apresentação e discussão dos resultados

167

distância dos apoios), estando estas relacionadas com o padrão de circulação

de bola que as Equipas privilegiam iremos aprofunda-las posteriormente.

Sobre a subestrutura posicional podemos inferir no discurso dos nossos

entrevistados a importância que o posicionamento mais “fixo” de determinadas

áreas assume, nomeadamente as que definimos na revisão de literatura e que

são regularmente ocupadas pelo(s): Guarda-Redes (área 1), Centrais (área 2),

Pivô(s) baixos (área 3) e avançado(s) (área 4). Portanto, vamos rever cada

uma dessas áreas, confrontando o que salientamos na revisão de literatura

com aquilo que os nossos entrevistados preconizam como sendo determinante

num futebol de qualidade superior.

A área 1, ocupada pelo GR, é importante qualquer que seja o jogar que

se pretenda de qualidade. Vimos que as suas decisões definem, em grande

medida, o modo como se vão criar situações de finalização na baliza do

adversário. Quando o adversário está defensivamente organizado e, portanto,

a Equipa tem de criar desequilíbrios, este jogador define se joga curto ou longo.

Vimos também que, jogando curto a Equipa tem mais possibilidades de manter

a bola e terá mais Espaço para criar desequilíbrios, enquanto que, as bolas

longas surgem, frequentemente, como um recurso. Nesse sentido, Van Gaal

(Anexo 3) pretende que a sua Equipa inicie sempre curto a partir do Guarda-

Redes, ainda que, em determinadas circunstâncias, o Guarda-redes jogue

longo. Há aqui dois aspectos que consideramos fundamentais e que resultam

das seguintes questões: em que circunstâncias as bolas longas são a solução

mais adequada? De que forma são potenciadas as bolas longas?

Van Gaal (Anexo 3) refere que uma das possíveis circunstâncias que

levam o guarda-redes optar pelo jogo longo, são as más condições do terreno

de jogo, que poderão dificultar o passe de qualidade. No entanto, Villas-Boas

(Anexo 5) salienta outros aspectos importantes que vão de encontro a dois

pontos que abordamos no subcapítulo anterior: características e capacidades

dos jogadores e “que estrutura contra que estrutura”.

Nesse sentido, o autor refere que: “...se tiveres um central que tem

dificuldade ou que tecnicamente é limitado não o vais querer fazer, não queres

arriscar, se tiveres centrais que estão confortáveis com a bola... acho que sim,

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Apresentação e discussão dos resultados

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que podes arriscar...vamos imaginar, o único sistema que te pode meter em

dificuldade, nessa construção, nessa saída curta com centrais abertos e

laterais projectados para receber a bola, é um 4-4-2 clássico, porque tens dois

pontas de lança para os teus dois centrais e tens dois alas que podem encostar

nos teus dois laterais. Portanto, é o único sistema que normalmente te pode

limitar em termos de construção curta, se for contra um 4-3-3 estás à vontade

porque tens sempre superioridade, se for um 4-4-2 losango, também podes

jogar com os homens que saltam do losango que, têm forçosamente que

bascular ao lateral. O único sistema, portanto, que pode criar dificuldade a esse

tipo de construção é um 4-4-2 clássico...”. Obviamente que esses

condicionamentos que as Estruturas podem colocar à construção curta, só

acontecem se houver uma pressão activa da Equipa que está em organização

defensiva. Ainda que muitas Equipas não pressionem em bloco alto, vemos

algumas situações em que, com uma organização defensiva com muitas linhas

horizontais (muitas coberturas), a Equipa consegue condicionar a saída curta

do adversário para determinadas áreas para depois um jogador (dependendo

das suas características e capacidades) pressionar com alguma intensidade.

Vemos isso regularmente no Liverpool, com o Torres a condicionar para depois

o Gerard pressionar para ganhar a bola (Villas-Boas, Anexo 5) e se nos

recordarmos do célebre jogo Real Madrid vs Barcelona (2-6), verificamos que o

terceiro golo, marcado por Messi, resulta exactamente da pressão mais intensa

de Xavi. Recordemo-nos das circunstâncias: o Barça jogou com três jogadores

abertos na frente, na altura com Messi a ponta de lança (troca posicional com

Eto’o) que, em organização defensiva, pressionou um central com bola,

fechando linha de passe interior (para o outro central) e “obrigando” o

adversário a utilizar a linha de passe para o médio centro, que assim recebeu

de costas. Nesse preciso momento, há um movimento vertical de Xavi a

pressionar e a roubar a bola, criando uma situação de finalização que resultou

em golo.

Interessa aqui sair um pouco da temática, para reflectir um pouco sobre

esta situação que tem que ver, também, com o lado projectivo do jogo, ou seja,

o pensar o Ataque quando se está defensivamente organizado. Nesse sentido,

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Apresentação e discussão dos resultados

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a definição de indicadores de pressão (por exemplo, se o adversário recebe de

costas: Equipa pressiona) ou de áreas preferenciais para pressionar (Um

jogador condiciona para determinada área para depois outro(s) pressionar(em)

intensamente, o exemplo acima citado é claro) é um aspecto muito importante

na preparação do ataque. Villas-Boas (Anexo 5) reconhece a importância de

definir momentos de pressão na preparação do ataque alertando para aquilo

que se tem de pensar quando são definidos esses indicadores: “...isso já vai de

encontro à observação que fazes do adversário... ao que potencias, ou as

zonas que potencias onde podes ganhar mais vezes a bola, aos jogadores que

tecnicamente são mais limitados que podes pressionar de uma forma

diferente...”.

Voltando às saídas pelo Guarda-Redes: perante o exposto, há alturas

em que o guarda-redes têm necessariamente que jogar longo. Nesse sentido, é

necessário que esse comportamento não seja feito ao “acaso”, pois se assim

for a Equipa aumenta, ainda mais, as probabilidades de perder a bola.

Com efeito Van Gaal (Anexo 5) ainda que privilegie as saídas curtas tem

soluções para o jogo longo, através da definição de “referências de ataque”:

“Sim, ontem o terreno estava em más condições, precisamos de um

ponto/referência de ataque... porque não conseguíamos construir, eles

pressionavam-nos... por isso disse ao meu GR: “Ok. Joga bolas longas para o

Pellè…”. Dependendo da qualidade posso colocar Ari na posição de avançado,

mas o Pellè é uma referência de ataque (para as bolas longas) e por isso jogou

ontem... porque o adversário tinha um central com a tua altura

aproximadamente... por isso disse a Pellè: “procura-o e vai para o seu lado””.

Simultaneamente os jogadores do meio-campo encontram-se: “Fechados… e o

têm de ganhar a 2ª bola… nós temos 4 no meio-campo… por isso é fácil

ganhar a bola… porque tens uma quantidade enorme de jogadores…”.

Portanto, ainda que o recurso às bolas longas esteja muito relacionado

com as características e qualidades do adversário, verificamos que, sendo a

variabilidade uma das características inerentes às Equipas de Top,

contemplam no seu jogar as saídas longas pelo Guarda-Redes. Assumindo

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Apresentação e discussão dos resultados

170

este um papel determinante de referência na definição do ataque à baliza

adversária.

Na área 2, encontramos os centrais, cuja preponderância na criação ou

aproveitamento dos desequilíbrios relaciona-se com a dinâmica Específica das

Equipas. Percebemos isso se estivermos atentos aos comportamentos que

Van Gaal (2006; Anexo 3), em alturas distintas, pretende dos jogadores do

sector defensivo, quando a Equipa esta em posse de bola. Assim, o autor, em

2006, pretendia que um dos centrais subisse para a posição de pivô baixo

(para isso o triângulo do meio-campo estaria apontado para a frente),

assumindo, desse modo, um papel muito importante na criação e

aproveitamento de desequilíbrios. O mesmo autor (Anexo 3) numa altura

diferente (jogadores novos, objectivos distintos, etc.), pretende que qualquer

um dos jogadores do sector defensivo suba no terreno para assim conseguir ter

superioridade numérica no meio-campo, não interessa qual, mas um tem de

subir. Com este exemplo, pretendemos salientar que, a importância desta área

e dos jogadores que normalmente a ocupam, na criação e aproveitamento de

desequilíbrios apenas pode ser encontrada no seio das Equipas, na sua

dinâmica Específica. Porém, podemos afirmar que o seu posicionamento mais

recuado ao permite-lhes ter mais Espaço e maior ângulo de visão, assume-se

como uma importante referência de apoio à criação de desequilíbrios quando a

bola está no primeiro terço ofensivo.

Existem ainda alguns aspectos transversais às Equipas de top que

fazem dessa área uma referência muito importante na organização da Equipa.

Correspondendo a Espaços interiores recuados a sua ocupação é um aspecto

crucial para que a Equipa, em posse de bola, se mantenha defensivamente

Equilibrada. Van Gaal (2006, Anexo 3) independentemente da dinâmica dos

centrais, se um deles saí da área 2, pretende que os outros jogadores da linha

defensiva fechem os Espaços interiores recuados. Portanto, assumem-se como

uma importante referência dos Equilíbrios dinâmicos.

Sobre a área 3, vimos na revisão de literatura, que a sua importância,

enquanto referência, relaciona-se com o “jogo” que a partir daí se pode criar,

com o risco que a perda de bola nessas áreas tem inerente e com o importante

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Apresentação e discussão dos resultados

171

Espaço que preenche em termos defensivos (nos momentos de organização

defensiva e nos Equilíbrios dinâmicos). Pelo que, interessa reflectir um pouco

sobre a forma como as Equipas de Top preenchem estas áreas de referência.

Constatamos que a sua ocupação está relacionada com: a dinâmica

Específica da Equipa e concretamente com a subdinâmica do(s) médio(s)

centro: mecanismos de ruptura e de compensação; e inerente a estas, o

número de jogadores que a Estrutura coloca com frequência nessas áreas (um

ou dois médios centro); e a qualidade dos jogadores disponíveis.

Daqui emergem algumas questões chave que nos ajudarão a

compreender a dinâmica destas áreas: quantos jogadores: um ou dois!? Que

perfil de jogador!? Que dinâmica de ruptura!? Que mecanismos de

compensação!? Cujas respostas apenas podemos procurar com exemplos

concretos.

Olhando para as estruturas de referência das Equipas de top, vemos

que podem ocupar essas áreas um ou dois jogadores: Manchester dois médios

centro: Carrick e Flecther; Barcelona um médio centro: Busquets, Keita ou

Touré; Arsenal dois médios centro: Denilson e Fabregas; Chelsea dois médios

centro: Essien e Ballack.

Apesar de três destas Equipas jogarem com dois médios centro, não

podemos inferir que é a situação mais adequada na organização da Equipa

seria uma ingenuidade fazê-lo, e um contra-senso com tudo o que temos

defendido nesta dissertação. Portanto, para interpretarmos a ocupação desta

área temos de perceber como influem as subdinâmicas produzidas pelo(s)

jogador(es) que aí se posiciona(m).

Independentemente do número de médios centro, existe sempre um que

vai assumir as funções de Pivô Baixo, sendo raras as vezes que vemos um dos

defesas centrais a assumir essas funções. Portanto, a questão está em

percebermos as subdinâmicas que um médio centro a Pivô baixo potencia e as

subdinâmicas que dois médios centro potenciam. O que apenas pode ser

encontrado no seio das Equipas, logo, só faz sentido reflectirmos sobre essa

temática recorrendo a exemplos concretos.

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Apresentação e discussão dos resultados

172

Arsenal e Manchester: duas Equipas que jogam habitualmente com dois

médios centro, porém muito distintas. Arsenal - Denilson e Fabregas, uma

dupla complementar: Denilson assume mais as funções de Pivô baixo, mas

com características marcadamente defensivas, procura mais a segurança da

circulação de bola: jogando a bola na horizontal e mantendo-se atrás da linha

da bola. Fabregas, assume por vezes as funções de Pivô baixo sobretudo

quando procura a bola em Espaços mais recuados para a colocar na frente, é

um jogador que procura a verticalidade do jogo, sobretudo através do passe e

de penetrações verticais sem bola. Manchester - Carrick e Fletcher: uma dupla

completamente diferente, os dois jogadores têm capacidade e qualidade para

alternar entre os movimentos de penetração vertical com ou sem bola e o

posicionamento atrás da linha da bola, a garantir o equilíbrio. Para além de

garantirem qualidade tanto no passe vertical como no passe em largura (curto

e longo). A opinião de Villas-Boas (Anexo 5) corrobora está subdinâmica do

Manchester: “Neste momento uma das poucas equipas que faz desses dois,

dois grandes organizadores de jogo, é o manchester... porque sabem

exactamente como é que hão-de criar espaço um para o outro, um posiciona-

se um bocado mais profundo e o outro um bocado mais baixo, trocam de

posição... têm já essa dinâmica bem definida...mas não é fácil, não é uma coisa

que seja fácil em 4-4-2... Depois o outro ponto que te falei que nem todas as

equipas podem querer dar penetração a esses médios centro, portanto... tudo

depende da dinâmica que pretendes para a tua Equipa.”.

Se agora olharmos para o Barcelona: Busquets, Touré ou Keita a médio

centro. Existem diferenças significativas consoante o jogador que vai ocupar a

posição, na medida em que promovem diferentes subdinâmicas. Imaginemos a

situação frequente de jogar na frente desses jogadores Xavi e Iniesta: ambos

com uma qualidade tremenda a procurar a objectividade do jogo, a criar e a

ocupar Espaços favoráveis à entrada da bola ou de um jogador (com ou sem

bola). Jogando Busquets a médio centro, que está mais confinado ao jogo

horizontal, posicionando-se frequentemente atrás da linha da bola, com

algumas limitações na criação de desequilíbrios (na nossa opinião), é frequente

vermos Xavi com movimentos de apoio à circulação de bola, quando está no

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Apresentação e discussão dos resultados

173

sector mais recuado, com isso assume as funções de Pivô baixo na criação de

desequilíbrios. Por sua vez, se for Keita, ou mesmo Touré que evidenciam

outras qualidades, nomeadamente na procura do jogo vertical através do

passe, permitem que Xavi se mantenha numa posição mais subida.

Apesar das manifestas diferenças existe algo comum que vai de

encontro ao que Villas-Boas (Anexo 5) refere: “equipas que jogam com dois

médios paralelos, com dois médios, digamos um 4-2-3-1 ou um 3-4-3... se as

equipas não são capazes desses dois médios centro jogarem... sempre em

ângulo, são equipas que no espaço entrelinhas estão muito vulneráveis.”.

Essas Equipas têm em comum o facto de, apesar de algumas jogarem com

dois médios, nunca jogam paralelos.

Ainda sobre os jogadores que ocupam estas áreas Villas-Boas (Anexo 5)

refere que “(...) actualmente equipas que jogam com pivôs defensivos, ou com

médios defensivos baixos... são jogadores que estão... tirando o Pirlo e talvez

Cambiasso, mais um ou dois nomes... são jogadores que estão limitados à

divisão do jogo horizontal... que recebem a bola de um lado e mudam a bola

para outro lado num passe horizontal e que andam ali em permanente

movimento de apoio e que não chegam em penetração... por exemplo, o Xabi

Alonso é outro exemplo... será que tu não podes potenciar depois um factor

surpresa a partir do teu médio defensivo? Por exemplo, uma divisão horizontal

inicial e depois um inserimento... uma penetração... portanto, tudo depende da

ideia que tu defendes para o teu jogo e só assim é que podes dizer quais é

que são os teus jogadores chave e o teu núcleo chave no desenvolvimento do

teu jogo...”. Portanto, em função da constatação de Villas-Boas (Anexo 5) e dos

exemplos que em cima citamos parece-nos que a subdinâmica potenciada

pelos médios centro do Manchester é aquela que garante, à partida, um maior

factor surpresa, na medida em que, o adversário não sabe se, em termos de

probabilidade, esses jogadores vão ou não jogar vertical/horizontal. Sendo que,

esta dinâmica dos médios centro é, também, aquela que Van Gaal (Anexo 3)

pretende para a sua Equipa, como nos demonstra na figura 25.

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Apresentação e discussão dos resultados

174

Há ainda outro aspecto muito pertinente, para o

qual interessa alertar, que advém do risco de perda de

bola nesta área. Assim, ainda que a horizontalidade esteja

fortemente associada à segurança da circulação de bola,

no sentido em que a permite manter, é necessário

ressalvar que, estando a Equipa a construir curto, a partir

do momento que a bola entra nesta área a opção pelo

jogo horizontal (não profundo) pode ser uma opção

arriscada. Ideia que é corroborada por Van Gaal (Anexo

3): “(...) o passe vertical... não é um passe de risco porque vais ter sempre

jogadores atrás da bola... (...) o passe em largura é que é um passe com

risco... É por isso que quanto eles estão aqui (Laterais projectados, bola no

médio centro)... e tens que passar em largura... tens um problema... porque o

adversário pode fazer uma transição e tens muitos jogadores em frente à

bola... e assim o espaço é maior... aconteceu isso no jogo que perdemos

contra o NEC para a taça (...)”.

Villas-Boas (Anexo 5) corrobora esta opinião com um exemplo: “(...), o

Barça em construção curta é quando está mais exposto... e uma coisa é

fazeres isso para o campeonato espanhol onde o adversário está cheio de

medo e está dentro do seu meio-campo, outra coisa é fazeres isso contra

equipas que te podem ameaçar exactamente logo a partir da construção

curta... (...) Portanto eu acho que numa primeira fase de construção tens de ter

em conta um determinado tipo de equilíbrio... assumir um risco, mas vais ter

compensações que te permitam, se perderes a bola em

primeira fase, pelo menos não sofrer golo ou puder

recupera-la... ou então é como o Barça e entregas-te

cegamente a isso e corres sérios riscos de perder a bola...”

Na figura 26, pretendemos ilustrar o perigo que

pode advir de uma possível situação de passe horizontal.

Aquilo que daqui retiramos é o perigo do “campo grande”

quando se inicia curto e quando a bola entra no médio,

optando este por passes horizontais não muito profundos.

Figura 25. (Sub)

Dinâmica dos

médios-centro

Figura 26. Risco dos

passes horizontais

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Apresentação e discussão dos resultados

175

Se o adversário que a Equipa defronta defende em bloco baixo, condicionando

“ligeiramente” o médio centro, não existe qualquer perigo no jogo horizontal, no

entanto, se o adversário joga num bloco médio ou médio/alto parece-nos que

esta situação, que não é pouco frequente, expõe as Equipas à transição

ofensiva do adversário. Este é um simples exemplo, não se podem tirar ilações

no abstracto, elas acontecem no jogo, e ao acontecer é que se vão revelar uma

boa ou má opção.

Assim, verificamos que as subdinâmicas que se podem potenciar nesta

área estão relacionadas com a horizontalidade e verticalidade que os jogadores

que a ocupam impõem no jogo: através do passe dão à bola, ou através das

suas movimentações com ou sem bola. Esta é para nós, a grande questão dos

médios centro: verticalidade/horizontalidade ou, de outra forma

profundidade/largura: da bola e dos movimentos com ou sem bola.

Vemos portanto que, inerente às subdinâmicas esta é uma área

fundamental na criação de desequilíbrios, daí a necessidade de haver

jogadores a ocupar essa área com características e qualidade na procura da

verticalidade. Para além disso, a importância que assume na segurança é

também um factor determinante.

Chegamos assim à área 4, cuja ocupação também depende da dinâmica

Específica das Equipas, podendo se posicionar um ou dois avançados nessas

áreas, consoante joguem em 1-4-3-3 ou 1-4-4-2.

Acreditamos que a existência de uma referência frontal é fundamental

quando se pretende ser objectivo na criação e aproveitamento de

desequilíbrios, na medida em que, para além de ser a área mais próxima da

baliza do adversário, é também uma linha de passe válida para todos os

jogadores (podendo ou não existir em função dos condicionamentos que o

adversário promove). Para além disso, a sua ocupação obriga o adversário a

precauções defensivas, a partir das quais se pode explorar os desequilíbrios no

adversário. A opinião de Van Gaal (Anexo 3) vai ao encontro desta nossa

perspectiva: “A grande diferença (entre jogar com um ou dois avançados) é que

tens duas referências de ataque … e quando jogas apenas com um avançado

só tens uma referência, precisas sempre de uma referência. Com dois

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Apresentação e discussão dos resultados

176

avançados, tens duas… um está sempre no lado da bola... quando a bola está

aqui... ele está aqui... mas penso que essa não é a melhor solução... muitos

avançados vão para aqui (figura 27)… Eu digo-lhes: “não, não… tens que estar

aqui” (figura 28)… porque normalmente ele fica e o outro vai… e por isso há

mais espaço para ti… mas tens também a distância entre eles que é muito

importante… por isso não são apenas as linhas mas também a distância entre

os jogadores... por isso, isto é, quando temos a bola, isso não e bom, é fácil de

defender... isto é muito melhor... distância... grande, fazer o campo grande...”.

O autor confirma a nossa opinião e acrescenta outro aspecto relevante:

a mobilidade dos avançados no 1-4-4-2. Para Mourinho (s/d, 2003?) jogar com

dois avançados poderá apresentar alguns problemas se esses dois jogadores

tiverem muita mobilidade para as faixas (que se encontram livres), assim, tal

como no exemplo que Van Gaal (Anexo 3) nos dá, essa mobilidade é muitas

vezes precedida da perda de referência frontal, ou então, colocam-se numa

situação em que a igualdade numérica: 2 avançados vs 2 centrais, passa a

inferioridade: 2 avançados vs 1 lateral + 2 centrais, como podemos ver na

figura 27.

Situação semelhante ocorre no 1-4-3-3 e tivemos oportunidade de a

observar no jogo Chelsea - Barcelona (2ª mão das meia final da liga dos

campeões 2009): a perda de referência frontal pelo movimento do avançado

para Espaços entrelinhas. Nesse jogo, as dificuldades do Barça em criar

desequilíbrios deveu-se a qualidade da organização defensiva do Chelsea, que

Figura 28. Mobilidade dos

avançados para as faixas

Figura 27. Mobilidade dos

avançados para as faixas

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Apresentação e discussão dos resultados

177

dificultou bastante o jogo vertical do Barcelona. Perante essas dificuldades, foi

frequente a tentativa de Eto’o, ou mesmo de Messi (quando trocavam de

posição) descer no terreno para Espaços entrelinhas para receber a bola. No

entanto, ainda que, por vezes, tenham recebido a bola em condições

favoráveis, os centrais do Chelsea nem sempre acompanhavam esse

movimento, “deixando-o” para os médios. Por outro lado, os extremos do

Barcelona demonstraram algumas dificuldade em aparecer em diagonal nas

costas da defesa quando esse jogador recebia a bola e se conseguia virar.

Portanto, de acordo com Van Gaal (Anexo 3), consideramos que a

referência frontal (área 3) é uma necessidade, pelo que, as subdinâmicas

inerentes aos jogadores que aí se posicionam devem ser devidamente

equacionadas.

Ainda relacionado com o jogo posicional temos o posicionamento

estratégico de determinadas áreas que poderão permitir o ganho da 2ª bola.

Vimos que na construção longa, Van Gaal (Anexo 3) pretende ter superioridade

numérica no meio-campo para ganhar uma eventual segunda bola.

Corroborando desse modo uma das situações possíveis que exploramos na

revisão de literatura. Salientamos outras áreas, mantemos a convicção da sua

importância no ganho da 2ª bola, contudo remetemos as considerações sobre

as mesmas para a revisão de literatura, uma vez que os nossos entrevistados

não as abordaram.

Para concluir esta reflexão sobre os aspectos que consideramos mais

importantes do jogo posicional, vamos abordar os Equilíbrios dinâmicos, algo

que ao longo desta reflexão já tem sido feito. Sendo a sua importância explicita

nas palavras de Van Gaal (Anexo 3) quando questionado sobre os riscos aos

quais a sua Equipa se submete: “Nenhum. Tens que evitar os riscos. Isso é a

tua organização defensiva... então tens que evitar os riscos... Por isso quanto

atacas tens que pensar em defender…”.

Vimos que os Equilíbrios consubstanciam-se através de formas distintas

de posicionamento e de movimentações. Interessa-nos aqui abordar as

referências posicionais de Equilíbrio. Van Gaal (Anexo 3) na mesma linha de

pensamento de Michels (2001) pretende que, nos momentos de organização

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Apresentação e discussão dos resultados

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ofensiva estejam sempre atrás da linha da bola pelo menos quatro jogadores:

“Quero sempre três atrás (sector defensivo), se ele sobe (lateral), então os

outros têm que fechar… e um dos médios tem que ficar… e eles podem ir...

mas sempre mantendo o contacto e não deixando espaço...” (Van Gaal, Anexo

3). Também Villas-Boas (Anexo 5) vai de encontro a essa perspectiva: “(...),

acho que neste momento ninguém gosta de deixar dois centrais para dois

pontas de lança... nem sequer dois centrais para um ponta-de-lança... o

equilíbrio será sempre deixar os dois centrais em posição talvez com um lateral

menos agressivo do que o outro...”. No entanto, o mesmo autor corrobora o

que defendemos na revisão: ainda que a referência seja a existência desses 4

jogadores, esse Equilíbrio têm necessariamente que ser equacionado também

em função do adversário: “ (...)No outro dia no 6-0 do Barcelona com o Málaga

tinhas um Málaga que estavam permanentemente atrás da linha da bola, já não

digo na metade do campo, digo mesmo no terço defensivo... os centrais do

Barça estavam como querem... primeiro porque o avançado nem estava em

linha com eles, nas costas não podia ameaçar... ali não havia caso para

estares preocupado com uma compensação dos médios, bastava os teus

centrais para o controlar. Depois em posse oferecem-te um posicionamento

mais agressivo, porque jogam já subidos... a tua equipa está já subida... o

adversário já está dentro da sua grande área...portanto, analisando essa

situação o teu equilíbrio pode perfeitamente ser os dois centrais.” (Villas-Boas,

Anexo 5).

Portanto, consideramos que é importante que existam um conjunto de

referências comportamentais (não são as posicionais mas também as

movimentações) que permitam a Equipa assumir riscos. Sendo os jogadores

que as interpretam, e ajustam aquilo que os jogoS vão apresentando é

necessário ter presente que o modo como se vai equilibrar a Equipa depende

em grande medida do adversário: do seu padrão de jogo e da qualidade dos

seus jogadores. Confirmamos assim, junto dos nossos entrevistados, que o

jogo posicional vai muito além da distribuição dos jogadores pelo terreno de

jogo.

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Apresentação e discussão dos resultados

179

4.2.2.2 Relação da Dinâmica das Equipas de Top com as Estruturas

Ao longo desta dissertação recorremos a duas estruturas de referência:

1-4-3-3 e o 1-4-4-2. No entanto, apesar de termos salientado que a partir

destas estruturas pode surgir uma variabilidade de configurações estruturais

muito grande, existem duas que Van Gaal (Anexo 3) e Villas-Boas (Anexo 5)

deixam antever como sendo potencialmente favorecedoras da organização

qualitativa das Equipas: o 1-4-3-3 e o 1-4-4-2 Losango. Por esse motivo, na

relação que pretendemos confirmar e aprofundar, entre as características

gerais das dinâmicas das Equipas de top e as estruturas, vamos explorar não

só as “estruturas base” mas também o 1-4-4-2 losango.

Por várias vezes referimos nesta dissertação a importância da circulação

de bola nas Equipas de top. Evidenciamos que ela se pode concretizar de

modos muito distintos e identificamos um aspecto fundamental que está na

base da sua qualidade: as diagonais posicionais dinâmicas. Sendo estas

diagonais que lhe garantem objectividade (progressão no terreno em direcção

à baliza do adversário) e segurança (coberturas e apoios). Com efeito, a

relação da circulação de bola com a estrutura, consubstancia-se na existência

(ou não) dessas diagonais, as quais resultam do número de “linhas” horizontais

e verticais. Van Gaal (Anexo 3) corrobora ao evidenciar o que pretende que a

sua Equipa apresente em campo: “Quero 8 linhas... o máximo de linhas

possíveis… porque assim tens uma melhor ocupação do campo... Sendo este

sistema o que permite a melhor ocupação do terreno...

1,2,3,4,5,6,7... e com esta dinâmica forma-se mais uma

linha (Figura 29)... mas depende onde está a bola... quando

a bola está aqui e ele movimenta-se para ali (movimentos de

apoio dos médios) forma também uma linha de passe...

quando jogas neste sistema tens sempre triângulos... tens

sempre duas opções para aqui… aqui... duas opções...

mais... o mesmo aqui... duas opções... no meio tens

sempre mais... aqui está outro triângulo... um triângulo... é

por isso que o 4-3-3, na minha opinião, é o melhor sistema e podes ainda jogar

Figura 29. 1-4-3-3 de

Van Gaal

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Apresentação e discussão dos resultados

180

com um jogador mais defensivo ou mais ofensivo (orientação do triângulo do

meio-campo) depende da qualidade dos teus jogadores. Quando jogas em 4-4-

2, como o fazem muitas equipas, não tens tantas linhas… podes ver… e é mais

fácil para defender... desse modo, quando tenho dois bons avançados, jogo em

losango e assim tenho seis linhas: 1,2,3,4,5,6 (não contou o GR) e

dinamicamente mais...”. Considerando ainda que, a circulação de bola no 1-4-

4-2 clássico: “ Não é tão boa, porque tens menos linhas… mas é uma situação

dinâmica… por isso podes dizer: “ok! isto também são triângulos”... mas

quando existe, no teu sistema, um maior número de triângulos torna-se mais

fácil para os jogadores, porque sem pensar já estão na posição, caso contrário

têm que ver o espaço, o que é mais difícil. E, além disso, estão também mais

próximos uns dos outros e assim o campo não fica tão grande... desse modo o

espaço é melhor dividido quando eles se posicionam assim, podes confirmar

isso com os teus olhos. Por isso, os outros sistemas não são tão bons para a

circulação de bola, porque existem mais espaços.” .

Destas afirmações de Van Gaal (Anexo 3) podemos retirar ilações muito

importantes: em primeiro lugar, a pertinência da Estrutura definir muitas linhas,

justificando-se tal opção, no facto dos jogadores, “sem pensar”, já estarem

posicionados em diagonal, sendo o 1-4-3-3 a estrutura que mais diagonais

potencia (pela apresentação de um maior número de linhas e triângulos) é a

que o autor prefere. Existe porém outra Estrutura que Van Gaal (Anexo 3)

privilegia quando tem dois bons avançados: o 1-4-4-2 losango.

Como podemos constatar na figura 30, o 1-4-4-2 losango também

posiciona os jogadores num elevado número de linhas, mantendo-se entre eles

uma configuração geométrica com muitos triângulos.

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Apresentação e discussão dos resultados

181

Em segundo lugar, apesar do que salientamos anteriormente, o autor

reconhece que essas diagonais posicionais são dinâmicas. Este é um ponto

crucial no entendimento da relação entre a circulação de bola e a estrutura.

Como vimos na revisão de literatura, as posições não se restringem

aquilo que vemos no “papel”, elas correspondem a áreas. Com efeito, um

metro à frente ou atrás poderá ser o suficiente para estar em diagonal com os

companheiros, nesse sentido interessa relembrar as palavras de Sachi (2006):

“um metro de Espaço faz toda a diferença no futebol(...)”.

Portanto, ao reconhecer a possibilidade das diagonais surgirem de uma

movimentação, abre portas à existência de entendimentos do conteúdo do

jogo, e concretamente da circulação de bola, manifestamente distintos. Assim,

estamos perante um entendimento específico da circulação de bola, que tem

nas linhas e triângulos que a estrutura, por si só define, uma prioridade. No

entanto, sendo as diagonais posicionais sempre dinâmicas que qualquer

Estrutura as pode apresentar.

Mantemos a firme convicção que a circulação de bola de qualidade pode

ser potenciada com qualquer estrutura, sendo que, a sua importância tenderá a

ser relativizada à dinâmica Específica de circulação que as Equipas

apresentam. Portanto, reconhecida a importância das diagonais na qualidade

da circulação de bola, ela vai ser tanto maior, quanto mais diagonais a

dinâmica Específica das Equipas conseguir produzir no jogo.

Figura 30. 1-4-4-2 Losango: Linhas e triângulos;

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Apresentação e discussão dos resultados

182

Van Gaal (Anexo 3) pretende que a sua actual Equipa se distribua em

campo do modo que apresentamos na figura 31. Como

podemos constatar a sua estrutura aproxima-se mais do

1-4-4-2 (que definimos na revisão) em que a 6ª linha é

formada pela dinâmica do avançado que desce no terreno

de jogo.

Como veremos, esta é a sua aparência inicial e

acontece sobretudo nos momentos de organização

defensiva quando os alas fecham no meio-campo,

pelo que, a dinâmica do jogo leva muitas vezes a

Equipa a assumir um 1-4-3-3 ou mesmo o 1-3-4-3 (voltaremos às dinâmicas

que configuram esta Estrutura mais à frente).

Parece um contra-senso com aquilo que o treinador defende mas não é.

Esta necessidade resulta de uma coerência prática e da capacidade para

ajustar a ideia que tem do jogo a uma cultura, a um clube e a uma Equipa com

diferentes jogadores.

Tentemos uma interpretação da sua Equipa com base em algumas

indicações que deixa no seu discurso:

- A certa altura refere que a sua Equipa, este ano, tem uma melhor

organização defensiva, que resulta do facto de defender com duas linhas

(defensiva e intermédia) de 4 jogadores em largura (portanto os jogadores nos

corredores assumem-se médios-ala). O que permite que os avançados tenham

mais Espaço para explorar a sua velocidade vertical;

- A importância da verticalidade é assumida nas transições e na procura

de desequilíbrios no adversário;

- Do avançado que desce no terreno pretende que se movimente

“contra”, ou seja, esse jogador deve movimentar-se a “pedir” um passe vertical

e não que descer para “tabelar” com outros jogadores.

Parece-nos portanto, que há uma grande preocupação em potenciar a

“intensidade” da circulação de bola na procura da verticalidade. Esta é uma

situação diversa da que pretendia em 2006, onde o 1-4-3-3 era a sua Estrutura

Figura 31. 1-4-4-2 de Van

Gaal (Org. Defensiva)

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Apresentação e discussão dos resultados

183

inicial e a circulação de bola horizontal era um meio frequente para procurar a

verticalidade do jogo.

Vimos na revisão que existem dois padrões de circulação de bola que

resultam da “intensidade” com que se procura a verticalidade do jogo.

Uma Equipa que procura com maior regularidade a verticalidade após

circulação de bola horizontal, tentará utilizar toda a largura do terreno e jogar a

um dois – toques. Para que isso aconteça, é essencial a Equipa estar

“posicionalmente instalada”. Com efeito, uma estrutura que defina muitas

linhas, ou seja, muitas diagonais e triângulos poderá revelar-se mais vantajosa.

Por sua vez, uma Equipa que procura a verticalidade com mais

intensidade, requisita dos seus jogadores uma maior mobilidade para criar

situações favoráveis à “entrada” vertical da bola. Para que isso aconteça as

diagonais posicinais deverão constantemente ser criadas pela mobilidade dos

jogadores, que permitirá receber a bola em Espaços favoráveis à entrada

vertical ou arrastar marcações. Com efeito, uma Estrutura que tenha mais

Espaço passível de ser ocupado pela mobilidade dos jogadores parece-nos ser

mais vantajosa. Para além disso, a intensidade com que a verticalidade é

procurada tem inerente maiores riscos de perda de bola, desse modo, é

importante que as Estruturas facilitem os Equilíbrios. Assim, parece-nos que o

1-4-4-2 é mais vantajoso neste padrão de circulação porque tem mais Espaços

que podem ser dinamizados pela mobilidade dos jogadores e tem duas linhas

de quatro jogadores que permitem que os riscos corridos sejam (melhor)

calculados.

É pertinente ressalvar que esta relação das Estruturas com o padrão de

circulação de bola é uma situação potencial. Portanto, podemos efectivamente

encontrar Equipas, que estruturadas em 1-4-3-3 circulem a bola procurando a

verticalidade com bastante “intensidade”.

No capítulo anterior justificamos o porquê de consideramos o controlo do

meio-campo preponderante no controlo do jogo. Aqui interessa-nos confrontar

a opinião dos nossos entrevistados com a questão abordada na revisão de

literatura: de que forma as estruturas potenciam (ou não) o controlo do meio-

campo!?

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Apresentação e discussão dos resultados

184

A resposta parece óbvia: pela superioridade numérica. Porém, esta é

uma resposta demasiado directa, para inferir uma relação entre as estruturas e

o controlo do meio-campo. Atentemos à figura 32, onde evidenciamos os

Espaços cujo controlo consideramos muito importante.

A primeira interpretação reporta-nos invariavelmente para o número de

jogadores que aí se posicionam: 2, 3 ou 4. Se seguirmos uma relação causa-

efeito diríamos que o 1-4-4-2 losango, por ter um maior número de jogadores

nesse Espaço interior, é propenso ao controlo do meio-campo. No entanto,

esta interpretação é demasiado linear e, portanto, redutora das potencialidades

das diferentes Estruturas no controlo do meio-campo.

Tudo tem que ver com as dinâmicas Específicas das Equipas e com as

subdinâmicas que diferentes jogadores são capazes de criar. Nesse sentido

Villas-Boas (Anexo 5) acentua que: “(...) dinâmicas de equipas que jogam com

três médios não são a mesma coisa de dinâmicas de Equipas que jogam com

dois médios centro... portanto... tu com três podes criar determinado tipo de

dinâmicas, de movimentos... podes permitir movimentos de aproximação e

outro fingir movimentos de afastamento... portanto, dá-te liberdade para jogares

com essa dinâmica dos médios e depois para saíres com mais fluidez de

jogo...”.

Relembramos que o controlo do meio-campo consubstancia-se nos

diferentes momentos do jogo e não apenas quando a Equipa está em posse de

bola. Assim, para percebermos de que forma as diferentes estruturas

potenciam o controlo, temos de ter claro que esse controlo resulta: nos

Figura 32. Espaço interior: 1-4-4-2; 1-4-3-3; 1-4-4-2 losango.

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Apresentação e discussão dos resultados

185

momentos de organização ofensiva: da capacidade da Equipa decidir o que

fazer em posse de bola, aumentando assim a propensão para a criação de

desequilíbrios e de situações de finalização; e, nos momentos de organização

defensiva: da capacidade da Equipa não se desorganizar perante o adversário

e da capacidade em manter o Equilíbrio quando ataca (ocupando estes

Espaços interiores, onde podem ganhar uma segunda bola ou “travar” uma

transição do adversário: roubando a bola ou temporizando o seu ataque).

Relativamente à organização defensiva, as palavras de Van Gaal (Anexo

3) clarificam-nos: “(...) tens que defender uma linha, não defendes apenas um

jogador… é provável que o jogador que defendes seja sempre o mesmo, mas

defendes a linha e tens que o fazer com 4. É mais fácil defender com quatro do

que com três, porque com três o espaço é maior,

logo tens que correr mais e muitas vezes vais

estar atrasado. Para além disso, quando vejo que

o segundo avançado do adversário é perigoso,

coloco lá mais um jogador e assim crio uma

situação de 2x3 (figura 33)…Sendo mais difícil

para o adversário porque temos superioridade e

não podem jogar entrelinhas.”

Daqui emergem algumas questões cruciais no entendimento do jogo de

qualidade e que servem de mote para a nossa reflexão: quatro jogadores no

meio campo permitem um maior controlo do jogo do ponto de vista defensivo!?

Qual a importância do Espaço entrelinhas no controlo do meio-campo!? E

como o ocupar: um central que sobe ou um médio centro que desce!? Se

defender com uma linha de 4 é mais vantajoso, significa que as estruturas que

dispõe 4 jogadores no meio-campo são as “melhores” para o controlo do jogo

em termos defensivos (pelo controlo do meio-campo)!? Respostas que apenas

podem ser encontradas quando estamos perante uma Equipa, daí a pertinência

de, mais uma vez, partirmos de exemplos concretos.

Concordamos com Van Gaal (Anexo 3) quando refere que é mais fácil

defender com uma linha de 4 do que com uma linha de 3 jogadores no Espaço

central, aparentemente (porque depende dos jogadores) é óbvio que a linha de

Figura 33. Jogo entre – linhas

(org. Defensiva):Médio

encostado à linha def.

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Apresentação e discussão dos resultados

186

4 tem menos Espaço para defender do que a de 3. No entanto, olhando para

as Equipas de top, verificamos que existem Equipas com 3 jogadores no meio-

campo que controlam esse Espaço (com efeito, controlam o jogo) também do

ponto de vista defensivo.

O exemplo desse controlo do meio-campo com 3 jogadores no sector

intermédio é o Barcelona. Porém, é necessário ter em atenção alguns aspectos

fundamentais. O Barça distribuído em 1-4-3-3, regularmente pressiona o

adversário imediatamente após perda de bola. Para o sucesso desse

comportamento são fundamentais as linhas que a Estrutura define (vimos que

as diagonais garantiam também a segurança: coberturas). Também o 1-4-4-2

losango, por possuir muitas linhas, logo mais coberturas, se revela uma

Estrutura propensa à pressão “vertical”. Com efeito, consideramos que este

comportamento imediatamente após perda de bola é fundamental para o

controlo do meio-campo apenas com três jogadores.

Como nem sempre é possível impedir o adversário de sair dessa

pressão inicial que o Barça exerce após perda de bola, constatamos que existe

preocupação de, pelo menos, um dos jogadores da linha mais avançada

descer no terreno para proteger, sobretudo, os corredores: não é raro vermos

Messi, Henry/Iniesta descerem no terreno a “fechar” o corredor ou a impedir as

subidas do lateral adversário. Ou, quando o adversário sai a jogar curto, o

Barça organiza-se defensivamente num bloco médio com os alas a descer para

um posição que tanto lhes permite “saltar” para fora como fechar o interior.

Formando uma linha de 4 ou mesmo de 5 jogadores no meio-campo.

Portanto, três jogadores no meio-campo são suficientes, porém é

necessário criar dinâmicas manifestamente distintas, talvez mais difíceis de

operacionalizar porque implicam coordenação e concentração colectiva

máxima (não que as outras não o exijam, porém nesta situação os “erros

pagam-se (mais) caros”).

Se olharmos para outras Equipas de Top, todas têm no meio-campo uma

linha de 4 jogadores. Frequentemente dois médios centro e dois alas, o que

permite uma ocupação horizontal de todo o terreno com bastantes coberturas

(desde que os jogadores não estejam paralelos: ângulo e distância dos apoios),

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Apresentação e discussão dos resultados

187

permitindo ter um controlo sobre o Espaço pelo número de jogadores que

racionalmente aí se posicionam.

No que se refere ao 1-4-4-2 losango, a questão não está no centro do

terreno do jogo, mas sim em como defender os corredores, assim o controlo do

meio-campo, passa por ter bem definido quem do losango, sai para fechar o

corredor e que mecanismos de compensação interior são necessários: “Se

falares num 4-4-2 losango,(...), defensivamente, corres um risco enorme de

ocupação dos espaços, centralmente estás muito ocupado, em amplitude estás

muito mal posicionado, tens que criar grandes sistemas de compensação, tens

de obrigar constantemente os teus homens a saltar” (Villas-Boas, Anexo 5).

Portanto, aquilo que podemos inferir é que quatro jogadores no meio-

campo é uma circunstância que propicía o controlo desse Espaço sob o ponto

de vista defensivo. No exemplo do Barça encontramos uma Equipa cujas

dinâmicas e subdinâmicas salvaguardam a presença de apenas 3 jogadores

nesses Espaços, porém quando essas dinâmicas (de pressing alto) não

funcionam, existem mecanismos de cobertura dos Espaços que

frequentemente vão colocar 4 jogadores no meio-campo.

Outra questão colocada relaciona-se com o Espaço entrelinhas. Van

Gaal (Anexo 3) na figura 33 tem implícito a importância dos Espaços

entrelinhas no controlo do meio-campo, do ponto de vista defensivo. Ao

encontro desta preocupação vimos na revisão de literatura que há uma questão

que qualquer Equipa tem que ter bem definida: quem “sai” ao adversário que

vai para o “Espaço fronteira” entre o médio centro e a linha defensiva!? Na

resposta a esta questão temo duas “situações

padrão”: médio centro que joga encostado à linha

defensiva (figura 33) ou um defesa central que sobe

no terreno de jogo (figura 34). Obviamente que as

duas situações devem ser equacionadas e

trabalhadas pelas Equipas, pois uma ou outra

situação pode ser exigida no jogo, ou uma ser mais

vantajosa do que outra em função dos

constrangimentos que o adversário poderá provocar.

Figura 34. Jogo entre – linhas

(Org. defensiva): subida do

central

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Apresentação e discussão dos resultados

188

Van Gaal (Anexo 3) a esse respeito é claro nas suas palavras: “quando

vejo que o segundo avançado do adversário é perigoso, coloco lá mais um

jogador e assim crio uma situação de 2x3 (...)”. Portanto, o controlo do meio-

campo tem inerente a “protecção” dos Espaços entrelinhas, porém, a forma

como é protegido depende em grande medida das características e qualidades

do adversário e de como se posiciona no terreno de jogo. Já havíamos visto

essa situação, com exemplos concretos na revisão, aquilo que aqui interessa

ressalvar é que, sendo o médio ou o central, as subdinâmicas que um ou outro

geram são manifestamente distintas: descendo um médio, os outros jogadores

que se encontram no meio-campo terão de se movimentar de modo

manifestamente distinto, criando-se uma subdinâmica que é diferente se for o

central a subir no terreno de jogo.

Relativamente ao controlo do meio-campo do ponto de vista ofensivo

parece-nos que as questões a colocar são mais complexas. Vimos na revisão

de literatura que esse controlo surge da vantagem Espacial conseguida pela

circulação de bola, ou seja, em função da movimentação da bola a Equipa

procura criar condições que permitam que o portador da bola tenha sempre

soluções disponíveis. Portanto, esse controlo não depende tanto do número de

jogadores que a estrutura coloca nessas áreas, mas da dinâmica Específica da

Equipa e consequentemente de como são dinamizados os Espaços.

Nesse sentido, Van Gaal (Anexo 3) refere que: “A diferença é que eles

têm mais espaço e por isso podem fazer mais… mas um dos defesas, quando

estamos em posse, têm que vir para o meio-campo, por isso não existe muita

diferença… mas depende do estilo de jogo… quais são as funções do sistema

nessa forma de jogar...”. O autor reconhece que não existem grandes

diferenças entre ter 3 ou 4 jogadores, na medida em que, jogando com 3,

existem subdinâmicas, que se iniciam na subida de um jogador da linha

defensiva, colocando desse modo 4 jogadores no meio-campo.

Assim, vamos tentar perceber que subdinâmicas as diferentes estruturas

propiciam, com a certeza que qualquer uma pode potenciar o controlo do meio-

campo do ponto de vista ofensivo. Para isso, temos de ter presente os Espaços

que os jogadores ocupam e os que preenchem.

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Apresentação e discussão dos resultados

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Relativamente às estruturas 1-4-3-3 e 1-4-4-2 vimos na revisão os

Espaços que ocupam e deixam livres. Na figura 35 apresentamos os Espaços

livres que a estrutura 1-4-4-2 losango possui. Podemos

verificar que as principais diferenças para com as

outras estruturas é, fundamentalmente, pelo Espaço

que esta deixa livre nos corredores. Para além disso, o

corredor central está bastante preenchido, estando um

jogador posicionado num Espaço que na revisão de

literatura consideramos fundamental: o Espaço entre a

linha defensiva do adversário e a linha intermédia,

ocupado por um Pivô alto. Espaço que também pode

ser ocupado quando a Equipa se posiciona em 1-4-3-

3 com o triângulo orientado para a frente.

Os motivos que nos levaram a considerar esta área como tendo muita

importância na criação de desequilíbrios foram os seguintes: A sua ocupação

não permite que a distância dos jogadores entre si seja muito acentuada;

posicionando-se nessas áreas existe grande probabilidade de aparecem

frequentemente nas costas da linha intermédia do

adversário (Figura 36), Espaço que as Equipas de top

utilizam de forma sublime na criação de

desequilíbrios. Estando a ocupação desse Espaço

intimamente relacionada com o controlo do meio-

campo, vamos reflectir um pouco sobre estes

aspectos tendo em consideração a opinião dos

nossos entrevistados.

A diferença das estruturas está em ter, ou não, um jogador aí

posicionado de início. Portanto, o primeiro “problema” que se levanta está em

perceber se de facto existem diferenças significativas em ter de início um

jogador lá posicionado ou não, depois tentaremos perceber de que forma

influem no controlo do meio-campo.

Temos duas estruturas que nessa área posicionam um jogador de início:

1-4-4-2 losango e o 1-4-3-3 com o triângulo do meio-campo orientado para a

Figura 36. Posicionamento

do Pivô alto

Figura 35. 1-4-4-2 losango:

Espaços livres e Intersectorial

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Apresentação e discussão dos resultados

190

frente. Primeiro ponto: com essa ocupação o(s) avançado(s) não têm Espaço

para descer no terreno, com efeito, as Equipas vão gerar subdinâmicas

manifestamente distintas, que passam por exemplo pela mobilidade dos

avançados para as faixas (sobretudo no 1-4-4-2 losango). A não ser que, como

nos refere Villas-Boas (Anexo 5), o Pivô alto com a fluidez do jogo se

movimente para uma Ala garantindo, desse modo a

largura.

Segundo ponto: ocupando essa posição o

adversário estará alertado para a presença desse

jogador. No entanto, vimos que, vários treinadores

pretendem que esse jogador apresente mobilidade.

Por exemplo, Van Gaal (Anexo 3) pretende para essa

posição um segundo avançado que vai apresentar

bastante mobilidade para procurar arrastar os defesas

centrais (Figura 37) e para criar condições favoráveis à

entrada do passe vertical (movimentando-se “contra”)

(Figura 38).

Para Villas-Boas (Anexo 5) a importância da estrutura posicionar nessa

área um jogador deve ser relativizada também ao adversário: “Depende

também da marcação que o adversário te faz. Imagina que tens um adversário

que te segue completamente, o Mexes da Roma gosta de seguir o... não é

homem a homem mas é quase porque gosta de seguir o adversário, o ponta de

lança adversário mesmo até às zonas do meio-campo, quando o faz, sabes

que conquistas espaço atrás... se calhar se tens uns centrais que preferem

estar posicionais e preferem passar este gajo aos médios que estão em

posição, então já é outro tipo de dinâmica completamente diferente... depende

do que analisares.”

Quando a estrutura não posiciona ninguém nessa área, a questão está

em saber quem e como vai ser ocupada. Vimos na revisão que tanto pode ser

um avançado que desce no terreno como um médio que sobe para esses

Espaços. Portanto, mais importante do que estar ou não posicionado são as

dinâmicas e subdinâmicas criadas a partir dessa área, assim várias questões

Figura 38. Movimento

“contra” do Pivô alto

Figura 37. Mobilidade do 2º

avançado

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Apresentação e discussão dos resultados

191

devem ser colocadas: quem a ocupa: Avançado que desce ou médio que

sobe!? Avançado que desce: quem garante referência frontal!? Com que

objectivo: arrastar marcação, dar apoio à circulação de bola e/ou movimentar-

se “contra”!? O Adversário: como defende esse espaço!? Questões que devem

ser devidamente equacionadas em função da ideia de jogo do treinador

ajustada a determinada Equipa, e portanto, as respostas dependem das

características e qualidades dos jogadores que o treinador tem disponível,

como nos exemplifica Villas-Boas (Anexo 5): “se tens um avançado que, ao

contrário, queres que jogue mais nesse Espaço, tens que ter um que jogue

mais perto dele... um ponta de lança vir aqui (descer no terreno) e os dois

extremos manterem-se abertos... pode ser um factor surpresa... se o teu ponta

de lança rodar e depois se chegares com os outros dois médios... se não estás

a sacrificar um movimento(...)”.

Independentemente de como é dinamizada esta área, será sempre no

sentido de criar condições favoráveis para a entrada da bola ou de um jogador

num Espaço que permita criar situações de finalização. Portanto, a sua

ocupação e dinamização são preponderantes no controlo do meio-campo e,

consequentemente, no controlo do jogo.

Outra das características eminentes nas Equipas de top diz respeito ao

número de jogadores com capacidade para aparecer em Espaços de

finalização. Para que esses jogadores possam expressar a sua qualidade na

finalização necessitam de Espaço para “aparecer”, e como vimos, a relação da

estrutura com esta característica surge dessa necessidade.

Nas diferentes Equipas de top podemos ver com regularidade: laterais a

projectar-se na vertical para procurar cruzamentos, ou mesmo aparecer em

Espaços de finalização: por exemplo através de condução de bola interior;

médios com inserimentos verticais; avançados que descem, para depois surgir,

promovendo maior incerteza no adversário; centrais com movimentos de trás

para a frente também a aparecer em Espaços de finalização. São inúmeras as

dinâmicas possíveis, que resultam da convergência da(s):

- Características e capacidades dos jogadores: “Pensa no Gerard e no

Lampard... tu não queres um ponta-de-lança que vem entre linhas, porque

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Apresentação e discussão dos resultados

192

estes dois, o Lampard e o Gerard, têm um grande raio de acção e são

jogadores que te vão frequentemente aparecer neste espaço, talvez o Gerard

mais e o Lampard mais em profundidade... o Lampard irritava-se muitas vezes

com o Drogba porque ele queria receber a bola neste espaço e depois por

incrível que pareça tinha o primeiro toque desastroso... perdia a bola... e

estavamos logo obviamente sujeitos a transição, porque o Lampard já tinha

entrado e já estava quase em igualdade ou em inferioridade no meio-campo...

tentamos limita-lo nesse aspecto e de incentiva-lo mais à profundidade... se

tens um avançado que, ao contrário, queres que jogue mais nesse Espaço,

tens que ter um que jogue mais perto dele... um ponta de lança vir aqui e os

dois extremos manterem-se abertos... pode ser um factor surpresa... se o teu

ponta de lança rodar e depois se chegares com os outros dois médios... se não

tas a sacrificar um movimento... (Villas-Boas, Anexo 5).

- Ideia de jogo do treinador: “há uma das equipas de topo actual, que não

favorece tanto a penetração vertical dos médios, porque prefere tê-los em

posição e depois usar as faixas e usar o movimento dos alas como grande

gerador de criação de oportunidades”. (Villas-Boas, Anexo 5).

Da convergência destes dois pontos resultam subdinâmicas Específicas

da Equipa e que, serão mais e melhor potenciadas com uma Estrutura em vez

de uma outra. Por exemplo, o 1-4-4-2 é propenso à subida dos laterais, no

entanto, no 1-4-3-3, se os avançados-ala apresentarem mobilidade para o

interior, abrem a possibilidade à subida dos laterais. Pelo que, consideramos as

Estruturas um aspecto central no entendimento do conteúdo do jogo, mas

sempre um função de dinâmicas e subdinâmicas que são específicas das

diferentes Equipas. Pois tudo o que aqui temos salientado só faz sentido

interpretado pelo jogador, que se vai confrontar com novos “problemas”,

evidenciados pela existência de um adversário diferente em todos os jogos. E

portanto, concordamos com Van Gaal (Anexo1) quando se refere a um

“esquema no papel” sem oposição, como sendo uma situação irreal, que não

existe, pois no jogo há um adversário e isso é que leva o jogador a tomar

decisões.

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Apresentação e discussão dos resultados

193

Para terminar esta capítulo achamos pertinente uma interpretação mais

aprofundada à Equipa de Van Gaal, que nos permitira consolidar os aspectos

que aqui fomos abordando.

Na figura 39 está representada a distribuição

dos jogadores, a partir das quais são definidas as

áreas de intervenção dos jogadores. A estrutura é

um 1-4-4-2 em organização defensiva, que, com a

fluidez do jogo facilmente se transforma em 1-4-3-3

ou mesmo em 1-3-4-3 em posse.

Org. Defensiva: pretende duas linhas de 4,

por acreditar que essas duas linhas dão mais

garantias na recuperação de bola. Sendo que,

dependendo do adversário, a linha mais atrasada

poderá ser apenas de 3 jogadores: “(...) por vezes

jogo com três atrás... e assim, torna-se mais difícil de defender, por isso, tenho

de pressionar mais... é isto que tu queres, é a tua táctica, depende da

qualidade da tua equipa e também da qualidade do adversário. Quando o teu

adversário não quer jogar futebol, apenas joga bolas longas, o melhor é jogar

com quatro atrás, mas quando eles saem em construção curta podes escolher

entre uma linha de três ou quatro... e podes-te posicionar melhor (...)”. A

formação de duas linhas tem implicações: os médios-ala jogarem por dentro; e,

pelo facto de jogar com um 2º avançado e não um 3º médio a Pivô alto, “perde”

um jogador em organização defensiva (pelas características que ele

apresenta). Por sua vez, estes aspectos garantem que o adversário não tenha

Espaço interior nem nas alas, para criar desequilíbrios, e nos momentos

consequente ao ganho da bola, permite ter duas referências frontais.

Em termos ofensivos pretende: da linha defensiva pretende que um

qualquer jogador suba para garantir mais uma unidade no meio-campo e

quando isso acontece os outros jogadores fecham, manifestando assim

preocupações com os Equilíbrios dinâmicos.

Dos médios-ala pretende que joguem por fora em posse e que fechem

em organização defensiva no meio-campo. Portanto, têm que apresentar

Figura 39. Dinâmica de

Van Gaal

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Apresentação e discussão dos resultados

194

qualidade no jogo exterior quando estão em posse de bola e qualidade no jogo

interior em organização defensiva.

Dos médios centro pretende que alternem os seus movimentos entre a

verticalidade e o posicionamento atrás da linha da bola. Do “nº10” que na sua

Equipa é um segundo avançado, pretende que este ocupe o “Espaço grande”

que arraste centrais e que se movimente “contra”. Sendo que, o controlo do

meio-campo passa pela dinâmica destes jogadores e de outro jogador da linha

defensiva que, em posse, se junta ao meio-campo. A questão está em garantir

sempre quatro jogadores no centro do terreno de jogo, criando para isso

subdinâmicas que têm que ver com as características e capacidades dos

jogadores, mas também com o adversário que vão defrontar. Por exemplo: a

jogar atrás do ponta de lança está um avançado que desce no terreno, porém o

autor reconhece que isso é possível na Holanda, deixando assim antever que,

contra Equipas com outras qualidades, sobretudo na exploração dos espaços

interiores, o jogador a ocupar essa posição seria um médio.

Do avançado pretende profundidade. Repare-se no entanto que são

vários os jogadores que podem aparecer em Espaços de finalização: médios-

ala, avançado e nº10 (segundo avançado).

Diversas vezes surge discussão em torno das Estruturas: qual a sua

importância, o que potenciam, etc. No entanto, verificamos nesta dissertação

pela dificuldade em identificar a relação entre as características dinâmicas das

Equipas de top e as estruturas, que essa discussão não se pode dissociar dos

jogadores que fazem parte de uma Equipa em concreto. Por esse motivo,

essas dificuldades só foram ultrapassadas porque utilizamos frequentemente,

como foi hábito ao longo de toda a dissertação, exemplos de Equipas em

concreto.

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Considerações finais

195

5. Considerações finais

Terminamos esta dissertação com uma certeza: hoje sabemos mais do

que ontem e menos do que amanhã. Como tal, este trabalho não pretende

consubstanciar-se numa proposta definitiva daquilo que no “jogo” das Equipas

de Top vai acontecendo, mas antes o ponto de partida para a compreensão

terrena de um qualquer jogo que se pretenda de qualidade.

Perante as evidências enunciadas nesta dissertação, concluímos que a

redefinição do entendimento do conteúdo do jogo é uma urgência, pois o

carácter “jogo” inerente a este fenómeno vem sendo gradualmente destruído.

Com base nessa necessidade, definimos e aprofundamos o

desenvolvimento em espiral da organização complexa de uma Equipa, de onde

concluímos que os jogadores são o elemento central de todo e qualquer jogo: é

para eles e em função das características e qualidades que apresentam, que

se idealiza “um jogo”; e, são eles que no jogo, interpretam individual e

colectivamente aquilo que é idealizado, potenciando dinâmicas e subdinâmicas

Específicas. Urge assim uma mudança de paradigma que se centre na

individualidade do jogador, à semelhança do alfaiate que trabalha à medida dos

clientes, o fenómeno representacional do “jogar” deve resultar da interacção

entre as ideias que se pretende e os jogadores (das suas características e

qualidades).

Na redefinição do conteúdo do jogo, consideramos as Equipas de top,

por serem aquelas que, apresentando regularmente qualidade ganham mais

vezes, e concluímos que o Jogo de qualidade caracteriza-se por ter uma

organização complexa pensada em função de como se pretende chegar à

baliza do adversário. Consequentemente o controlo do jogo tendo a sua

iniciativa surge como uma necessidade que permite ganhar mais vezes.

Deste entendimento enunciamos a existência de quatro características

dinâmicas inerentes ao jogo das Equipas de top e, ainda que tenham formas de

expressão (morfológicas) Específicas, concluímos que:

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Considerações finais

196

- A circulação de bola de qualidade apresenta-se objectiva e inteligente

no aproveitamento da desorganização do adversário e/ou na criação de

desequilíbrios quando o adversário está defensivamente organizado;

- O controlo do Espaço interior do meio-campo é crucial no controlo do

jogo porque esse é um importante Espaço na criação de desequilíbrios, uma

referência na criação de situações de finalização, favorece o ganho de

ressaltos e 2ªa bolas, permite que a Equipa mantenha o equilíbrio e é uma

importante referência de organização defensiva;

- Ainda que todos os jogadores ataquem e defendam, nas Equipas de

top existem vários jogadores, para além dos avançados, com capacidade para

aparecer em Espaços de finalização, exponenciando assim o factor surpresa;

- Todas as Equipas pensam o jogo em termos da sua organização

global, havendo sempre mecanismos de compensação e de equilíbrio que

permitem evidenciar essa organização.

Da necessidade de sistematizar e articular as referências que permitem

o aparecimento de um qualquer Jogar, chegamos à conclusão que não existem

momentos mais importantes do que outros e que o Jogo deve ser

perspectivado partindo de uma escala Espacial, na medida em que, a

Organização de uma Equipa acontece no e pelo Espaço. E assim, partindo de

uma possível categorização dos momentos de organização ofensiva

concluímos que:

- A configuração das transições ofensivas depende, em grande medida,

da identificação do estado de organização do adversário;

- Na criação de desequilíbrios, a circulação de bola é uma referência

colectiva que permite criar, aproveitar ou potenciar os desequilíbrios no

adversário;

- Na criação de situações de finalização e finalização, a capacidade de

vários jogadores aparecerem em Espaços de finalização tem de ser

devidamente equacionada, como tal, devem existir mecanismos de

compensação bem definidos.

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Considerações finais

197

Ao evidenciarmos esta organização dinâmica do Espaço, não ignoramos

o Espaço estaticamente organizado, com efeito, concluímos que qualquer

Estrutura é passível de garantir qualidade à organização da Equipa.

Depois de redefinida a ideia de “jogo posicional”, concluímos que a sua

importância vai para além da distribuição dos jogadores no terreno de jogo, tem

inerente características que determinam em grande medida, a dinâmica

Especifica das Equipas, nomeadamente: as diagonais posicionais dinâmicas a

subestrutura posicional, o posicionamento estratégico para ganho de segundas

bolas e os Equilíbrios dinâmicos. Destas características resulta a relação

concreta da dinâmica Especifica das Equipas com as diferentes Estruturas,

sobre a qual podemos concluir que:

- A importância da Estrutura definir à priori muitas diagonais posicionais

está relacionada com a dinâmica Especifica da circulação de bola que se

pretende.

- O controlo do meio-campo resulta da ocupação e dinamização desse

Espaço, sendo necessariamente diferente a ocupação desse Espaço nas

diferentes Estruturas, as dinâmicas e subdinâmicas inerentes a esse controlo

têm necessariamente de ser diferentes.

- O número de jogadores que aparece em Espaços de finalização ao

acontecer pela projecção vertical de alguns jogadores carece que o Espaço

esteja organizado no sentido de criar condições para essas projecções

verticais. O que passa não só pela dinamização dos Espaços mas também

pelos Espaços que as estruturas deixam livres.

Em suma, é urgente uma redefinição do paradigma do jogo, que este se

consubstancie na exaltação de uma cultura de risco, que promova a

variabilidade das soluções e a decisão do jogador sustentada por referenciais

de qualidade. Só partindo de uma abordagem complexa da organização das

Equipas, em que o jogador, enquanto individualidade, é o seu dinamizador,

conseguiremos garantir essa qualidade.

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Referências Bibliográficas

199

6. Referências Bibliográficas

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Monografia não publicada, FADE-UP: Porto.

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Villas-boas, A. (2006a). Crónicas do Mundial 2006. Crónica em O Jogo

(2006.6.15).

Page 227: 2009 PEDRO DANIEL SOUSA - Um Algoritmo do FUTEBOL (mais que total) algo que lhe dá o Ritmo - Uma reflexão sobre  o-A5A7UWXP

Referências Bibliográficas

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Villas-boas, A. (2006d). Crónicas do Mundial 2006. Crónica em O Jogo

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Anexos

XVII

7. Anexos

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Anexos

XVIII

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Anexos

XIX

Anexo 1

Guião da entrevista a Louis van Gaal

FILOSOFIA

Que características deve apresentar uma Equipa para poder ser

considerada de Top?

O que é o futebol dominante? Uma Equipa de Top controla o jogo do ponto de vista ofensivo ou

também o pode fazer do ponto de vista defensivo?

Existe algum momento mais importante do que outro? Se sim, qual e porquê?

Existem sectores da Equipa e jogadores que poderão ser mais importantes do que outros no controlo

do jogo? Em que sectores e posição normalmente jogam? Porquê?

Pensa que a circulação de bola é uma característica importante na organização ofensiva de uma

Equipa de Top? Que características essa circulação de bola deve apresentar?

Que riscos deve correr uma Equipa de Top? De que forma aumentam os riscos de perda de bola?

Uma Equipa de Top quando em momento de finalização deve aparecer com vários jogadores Espaços

de finalização ou não necessariamente?

Todos os jogadores devem assumir funções ofensivas e defensivas quando a Equipa está ou não em

posse de bola?

Quando a Equipa ataca tem de ter preocupações defensivas?

Qual a importância da estrutura/sistema na organização de uma Equipa?

Que características pretende que a sua Equipa evidencie em Jogo?

Existem Espaços de maior relevância na organização da sua Equipa? Quais e de que forma os

organiza?

Qual o sistema preferencial para a concretização dessa ideia de jogo? Porquê?

Como pretende que a sua Equipa compense defensivamente os riscos assumidos nos momentos de

organização ofensiva?

MOMENTOS DE ORGANIZAÇÃO OFENSIVA

(Micro) Organização Funcional

Transição defesa-ataque

Quando a sua Equipa está organizada defensivamente já tem preocupações de posicionamento, ou

outras, para quando ganhar a posse de bola?

Quando e de que forma pretende que a sua Equipa ataque rápido ou jogue em segurança para depois

criar desequilíbrios?

Considera fundamental a segurança destes momentos? Porquê?

De que forma os sistemas podem influenciar o modo como se realizam as transições?

Criação de desequilíbrios

Como pretende que a sua Equipa crie desequilíbrios no adversário (estando defensivamente

organizado)?

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Anexos

XX

Como pretende que a sua Equipa (re)inicie o jogo a partir do GR? Curto ou longo? Em que situações

joga longo? E como se posiciona a Equipa para ganhar a 2ª bola?

Considera a largura uma necessidade da circulação de bola? Em todos os momentos e áreas do

jogo?

Quando em posse de bola pretende ter sempre jogadores abertos nas laterais? Quem e quando?

(Laterais, médios ou extremos; nas saídas curtas ou quando a Bola está no corredor central, etc.)

Quando o adversário se encontra posicionado no meio-campo defensivo e a bola está no seu sector

mais recuado, o que pretende da Equipa?

Que perfil de jogadores pretende para ocupar as posições no corredor central (áreas de pivô (nº4) e

de “nº10”)?

Como pretende que os laterais participem no ataque?

Sendo o perigo de perda de bola maior no corredor central (maior concentração de jogadores) como

pretende que a sua Equipa crie aí desequilíbrios?

Quando a sua Equipa está no ataque e o adversário está defensivamente organizado, pretende que

as linhas da sua Equipa se mantenham juntas?

Situações de finalização

De que forma pretende que vários jogadores possam finalizar?

(Micro) Org. Estrutural

Que diferenças reconhece nos diferentes sistemas (1-4-3-3, 1-4-4-2 linha e 1-4-4-2 losango)?

As linhas e triângulos formados pelo sistema são um aspecto fundamental na concretização de uma

circulação de bola de qualidade. Concorda que outros sistemas que não definem tantas linhas, como por

exemplo o 1-4-4-2 em linha, podem de igual modo apresentar uma circulação de bola de qualidade?

Porque considera importante que o sistema defina à priori muitas linhas? (Posição: áreas). (as

diagonais são produzidas pela dinâmica de jogo da Equipa). Que diferenças existem na qualidade da

circulação de bola se a Equipa se posiciona em 1-4-3-3 ou em 1-4-4-2 linha (por ex.)?

Qual a diferença entre jogar com três jogadores no meio-campo ou quatro? Que diferenças existem

nas funções atribuídas aos jogadores consoante estejam três ou quatro jogadores no meio-campo?

Qual a diferença entre jogar com um avançado centro ou dois?

O que é para si o jogo posicional? Qual a sua importância?

No sistema que preconiza existem posições mais fixas e posições de maior mobilidade? Quais são e

porquê? Que perfil de jogador pretende para essas áreas?

Em que situações define estrategicamente áreas para ganho de 2ª bola? E que áreas?

Como pretende jogar no Espaço entre o avançado e o médio? Que jogador pretende que apareça

nesse Espaço e que características deve evidenciar?

De que forma o sistema pode potenciar o controlo do meio-campo?

Como pretende que a bola chegue ao médio criativo?

Concorda com a afirmação: “tão importante como o Espaço que se preenche é o espaço que se deixa

livre”. Se sim, como é que vê as diferentes estruturas em função do espaço livre? (Jogo entrelinhas)

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Anexos

XXI

Anexo 2

Entrevista a Louis van Gaal (Inglês)

Treinador do AZ Alkmaar (Holanda)

Gabinete do treinador no Estádio do AZ Alkmaar, 9 de Março de 2009

Pedro Daniel Sousa (P.D.S) - What features should present a team to

be considered a Top team?

Louis van Gaal (L. van Gaal) – First, the players … must have individual

qualities… not only as a football player but also as a human being. Because

that is also very important, because you have to play in a team and not

individually... and then you need a very good trainer coach, that can transfer an

philosophy of football... a way of football... and then the eleven players has to

perform that... so, the chemistry between the technical quality of the head

coach, or the technical staff, with the players selection has to be very good.

(P.D.S) - What is dominant football?

(L. van Gaal) - That you decide how the opponent play their football and

not that the opponent decides where we have to play...

(P.D.S) - You decide the flow of the game, right!?

(L. van Gaal) - yes, that's... the main trick; I believe... that always you

decide where to play...

(P.D.S) - And a top team controls the game from the offensive or you

can also do that by the defensive point of view?

(L. van Gaal) - Yes, because there are different styles... in Italy they are

always defensively... in England is always offensively... except when they are

using a European coach... because of that, the coach is very important... so... I

have always play very offensively as a trainer coach with my teams, but this

season I play more defensively... to organize more and to create open space for

my very faster strikers... but that's also dominant... only I like more the offensive

style... because I like that. You have to deliver a product for the public... and

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Anexos

XXII

with this product I don't like it, like the offensively style but... it's a very attractive

style, when you do it with speed.

(P.D.S) – Is there a moment more important than another?

(L. van Gaal) - I think the transition is the most important… aspect of the

moments... so, I divide the game in four… in four, and not in three, in four... and

you have ball possession opponent, then you have transition in ball possession

… then the opponent is not organized... so that is the moment that you have to

benefit… because at that time they are not organized. When you have ball

possession then your opponent it's in organization... and then it´s more (less too

late???) ... but top teams can create also, chances against organized teams,

Barcelona can do that very well and Manchester United also and AZ I think

also...

(P.D.S) - Because the other teams that play against top teams

usually plays in defense so the transition doesn't...

(L. van Gaal) - …work! Because they don't have enough individually

qualities... because top teams press also in advance... or go backwards and

press from the own half... that's a choice... so... then the opponent don't have

individual quality to disorganize the defensive organization or your team...

(P.D.S) - There are lines and players of the team that are, more

important than other’s in the control of the game?

(L. van Gaal) - No, no… Only dependable of your philosophy... how you

have to defend... have to defend on the half of the opponent or backwards or

between... that’s your choice as a coach, but that’s also dependable of the

quality of the opponent so lines... there are lines... but this lines are from the

pitch... not for the coach... is dependable on the quality of your own team and...

(P.D.S) - … it's very dynamic, because depends of the flow of the

game…

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Anexos

XXIII

(L. van Gaal) - Yes, yes... depends of the philosophy of trainer coach

and the players of course, because I have to convince the players... of that

tactics or philosophy.

(P.D.S) - Ok. But… to play offensively... you don't think that the

midfield has a very important role?

(L. van Gaal) - No... No… I think that every player have an important

role... but... ok not only... ok... in the middle the strikers are very important they

attract all the attention...

(P.D.S) - When I talk in the middle I don't talk about a player, but a

space in the midfield, all that space in the middle…

(L. van Gaal) - No is dependable of the tactic of the opponent.

Sometimes my midfielders as to go in a deep, sometimes they have to play out

of… the space... and dependable of the tactics, and you cannot said in

advance… ok the players should go like that…no, no… it’s dependable of the

tactics, individually quality of the players, and therefore the game is very difficult

to... difficult to... read for the public.

(Entrevista interrompida por membro do clube)

(P.D.S) - Do you think that ball circulation it´s an important feature

on the offensive organization of a top team?

(L. van Gaal) - Yes, one of the most important because you have to play

together... and that, you do with the passing of the ball... I think every game

need that the ball replaces, every time, and not speed of replaces is important

but the replace itself... do you understand?

(P.D.S) -Yes…So one of the characteristics of that ball circulation

is…

(L. van Gaal) - … The pass, and not the speed. Every journalist said has

to be a higher ball circulation... and I said that is not so important... because the

replaces of the ball demands another organization defensively of the opponent.

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Anexos

XXIV

(P.D.S) - What risks should be taken by a top team?

(L. van Gaal) - No risk. You have to avoid the risk. That’s your

organization defensively... and that's why.... for example, Mourinho win's a lot...

because he always has a very good defensive organization... so you have to

avoid risk... So when you are in attack you have to think to defend...

(P.D.S) - Exactly... it's one of the questions that I gone do... but

when you attack you increase the risks to lose the ball?

(L. van Gaal) - Yes... it's true, because when you attack you take always

risk because have a big space behind you... so that's true... because of that you

need defensively thinking when you attack...

(P.D.S) – Is that question that I gone do you know… all players must

take offensive and defensive tasks when the team is or is not in…

(L. van Gaal) – Yes…

(P.D.S) - What is the importance of the system in the organization of

the team?

(L. van Gaal) - When the opponent has the ball has very important, when

we have the ball, it's only general advisements... so… that you make the pitch

open and big... because then you created space for yourself but also the

creativity of your players... you have to freed him and not always what you think

that they have to do...

(P.D.S) - You said that you want the pitch bigger... not in all

moments of attack… if the ball it´s in zone of finalization… near to the

opponent goal… the defenders have to stay together…

(L. van Gaal) – Yes together…when you have to across a phase... I

divide also the attacking moment in the first phase, second phase, thirst phase

and fourth phase... The first phase it’s the construction, the second is the...

circulation of the ball to create the pass... this is the third phase... the creative...

and the fourth phase is the finalization.

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Anexos

XXV

(P.D.S) – The second phase it´s like creating disorganization on the

opponent…

(L. van Gaal) - The second phase is to replace the ball, so you can see

the disorganization of the opponent... and then you need creativity to give the

pass, to see that moment... that's the third phase.

(P.D.S) - And if the opponent is disorganized in the first phase?

(L. van Gaal) - The opponent... is organized when we are in the first

phase... because the first phase it´s when the goal-keeper as the ball... and the

opponent is always to avoid construction... that was the first phase... the second

is the circulation on the midfield... to create opening...

(P.D.S) – When a top team is on the conclusion of offensive

organization should appear with several players to finish or not

necessarily? If… when you attack many players need to appear to finish…

(L. van Gaal) - No... ((P.D.S) - Only the attackers?) No, it's dependable

of the quality of your players... so, when you put in a line up more creative

players or more finishing players... is dependable of your philosophy and your

system. But you need always more than attackers... always, because when you

have only the attackers then they can organize easily the opponent...

(P.D.S) - Because that's one of the characteristics of the top teams...

(L. van Gaal) - Some of the most teams have just one striker (So you

need to appear with midfielders...) yes...yes, but that’s dependable of the

system that you play... how many midfielders you want to be there...

(P.D.S) - What characteristics do you want that your

team shows in the field?

(L. van Gaal) - I want 8 lines... 8 lines... so many as

possible... because then the occupation of the pitch it's better...

so we are blue... the best occupation of the pitch is this

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Anexos

XXVI

system... 1,2,3,4,5,6,7... and with this dynamic one line more (Figure)... but

depends where is the ball... when the ball is here he has to go here... so also

form a line to pass, but when you play that system you have always triangles...

you have always two options for here... here... two options…also more... it's the

same here... two options... in the middle it's always more... here it's also a

triangle... a triangle... so that’s why 4-3-3, in my opinion, is the best system and

you can play with a defensively player or an offensive player (triangle of

midfield) it’s dependable of the quality of your players. When you play a 4-4-2 a

lot of teams are doing that, then you have not so much lines... you see... and it's

easy to defend … therefore I played... when I have two good strikers in a

window, so then I have six lines, 1,2,3,4,5,6 (He doesn’t count the GR) and

dynamically more...

(P.D.S) - Other systems that don't define so many lines, such as 1-4-

4-2 line, can likewise provide quality of the ball movement?

(L. van Gaal) - It's not so good, because you have less lines... but it’s a

dynamic situation...so you can said... ok, this is also triangles but when this

mathematically more triangles you have in your system then it's more easy,

because the players without thinking they are, already, in the position but now

they have to see the space... it's more difficult and they are more closely to

each other it's not so big the pitch... Do you understand... so the space it's

better divided when they placed like that... you can see it with your eyes... it's

always more space...So the other systems are not so shut(?) for ball circulation.

(P.D.S) - Because, when we see arsenal, for example,

they placed in 1-4-4-2 line...

(L. van Gaal) - No, no... They played, for me, they play

like this, they played like us… so 1,2,3,4,5,6,7… that is how I’m

playing now.

(P.D.S) - How do you want that your team defensively compensates

the risks taken in the offensive moment?

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Anexos

XXVII

(L. van Gaal) - Always three behind, he is going... then they have to

close... and one of the midfielders has to stay... and they can go... but always

make compact not making space… in the third phase you have to be compact...

do you understand?! So when they are here... they have to be also compact...

not like this because the opponent has a big space...

(P.D.S) – I already had been here in Holland and I saw some games,

Utrecht, Vitesse… and one of the problems that I see was that… the teams

are…

(L.van Gaal) – Open. Yes I know.

(P.D.S) - When you are in defensive phase do you have offensive

concerns?

(L. van Gaal) - Yes… (What kind?) I need always... because that’s also

depends of your system... but I want always a deep striker... and I want always

one looking for the big space...

(P.D.S) - The big space!?

(L. van Gaal) - Yes, not deep... that's one striker, and he has to ties the

central defender to pick him up... because then the spaces

here it's bigger... so that's why I played like this... and that's

why I played in 4-3-3 with a second striker, the number 10,

mostly... and dependable of the quality of the player he is a

second striker or a third midfielder... So Litmanen in Ajax... has a third

midfielder... Dennis Bergkamp is a second striker.

(P.D.S.) - When and how you want that your team does a fast attack

or plays safe and then creates disorganization on the opponent?

(L. van Gaal) - I think that when opponent it's disorganized and when we

gain the ball, then you have to take benefits of the disorganization... but when

you always pass wrongly and you lose the ball... then I said... no, no, no...

patient, because you see that you always lost the ball, then you have to gain the

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Anexos

XXVIII

ball again and again... that it cost us a lot of energy... so when the former is well

you can do that and pass well...

(P.D.S) - Then you lose the control of the game...

(L. van Gaal) - Then you lose the control of the game, then you always

lose the ball, they dominate the game... so, ball possession it's always

important... but it's not so important to score goals... that is not like that when

you have 60-70% that you score goals... That it's not the consequence.

Because when you have 70% of the ball, then you are playing near... and you

cannot score... so you have to dictate where they defend and we can do that to

go back... then they have to come, and then you have space...

(P.D.S) - One of the characteristics of the ball circulation is the

verticality, it's very important...

(L. van Gaal) – Yes… very important… because the transition it's

verticality...

(P.D.S) - Exactly... and the circulation has to detect the

disorganization by the verticality...

(L. van Gaal) – Yes… But when you always lose the ball give a pass

verticality... then it's wrong... because... then always you lose the ball...

(P.D.S) - I ask you the risks that you take on the offensive phase...

that it's one of the risks?

(L. van Gaal) - No, no... the vertical pass is not a risk because you

always have people behind the ball... but when you lose the ball every time...

then you have to run to the ball... and then you lose your dominance... so...

that's not good... so the vertical is the pass without risk... the width pass it's

always risky...That's why when they are here... and then you have to pass

whitely... then you have a problem... then they can... go in a transition... and you

have a lot of players in front of the ball...and then the space is big... that was

against NEC in the cup I lost (in a transition) yes..

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Anexos

XXIX

(P.D.S.) – How the systems can influence how the transitions take

place?

(L. van Gaal) – Yes… The system can “afford”(?) the transition, now with

our way of playing it's more easy to defend because I have always two lines of

four... and the line is easily to defend with four against five, six... because you

can cover each other... or when to press the ball at the right time... then the ball

cannot played here because here have the free man to...when you pressed the

right time… and you can cover always… But I played sometimes with three in

the back… and then, the line… it’s more difficult to defend… but then I have to

press more… so that’s what you want, that’s your tactics, that is dependable of

your own quality and also the quality of your opponent. When your opponent

don’t want to play football… this is only with long balls, you can play better with

four in the back… but when they want to play from out the construction then you

can choose three or four… and you can place better…

(P.D.S.) – How do you want that your team (re)start the game from

goal-keeper? Short or long?

(L. van Gaal) – I played always from the goal-keeper, short…(But some

situations you have to play long)…Yes, yesterday the pitch has very bad, he

need an attacking point… because you cannot construct, they want to press

us… and therefore, said to my goal-keeper: “Ok. Long balls on Pellè”…

dependable of the quality I can put Ari in the striker position but Pellè it’s an

attacking point and therefore is played yesterday… because the opponent has a

central defender like that… with your eight… so… and I said to Pellè: “look for

him, go at that side”…

(P.D.S.) – If you played against other team, that have taller guys in

the back, how do you positioned your team to gain the ball… the long

ball… with numerical superiority?

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Anexos

XXX

(L. van Gaal) – Yes… to close… and then the midfield have to win the

second ball… and we have four in the midfield… so it’s easily to win the ball…

because you have a lot of players…

(P.D.S.) – And then you created superiority…

(L. van Gaal) – We have the strikers always here

and a second striker behind the midfield line of the

opponents.

(P.D.S.) – When in possession of the ball you want always players

open on the sides?

(L. van Gaal) – When we have the ball they (midfielders) have to open…

always at the sides, it’s very important… because of that they (opponent) have

to defend width and then we have more space…

(P.D.S.) – This midfielders they go on deep?

(L. van Gaal) – No… it’s dependable… when they standing here (width in

the midfield) they can easily here (deep in the wings) but then they have to

defend and then this space are for the striker…

(P.D.S.) – This players need to have too much quality…

(L. van Gaal) – A lot of quality…(…Because these players need to play

inside and outside) … inside defensively and outside when we have the ball…

and they have to dribble… and then they have to be orientated for a lot of things

when we attack.

(P.D.S.) – What profile of players do you want to occupy positions in

the central corridor? The position that you define as number 4 and 10…

(L. van Gaal) – Thinkers. Brain. But a lot of trainer coaches want to be

here defender… always with me… thinkers. Guardiola, Xavi, Jong… always

that kind of players.

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Anexos

XXXI

(P.D.S.) - And number 10?

(L. van Gaal) – Number 10 I liked more a midfielder that can go… (more

a midfielder then a second striker that come back…) yes… Now I play with a

second striker and defensively I doesn’t not work for the team… but at this level

in Netherlands we can keep the safety… but it’s always more difficult… when is

defensively… and he can go there also it’s better… but he as to score… this

man as to score… so our second striker scores 20 goals… this man has to

score… Litmanen always twenty, twenty five goals, Bergkamp twenty, twenty

five… not he (striker position)… he ten… because he takes benefits of him…

(P.D.S.) - For ball circulation he has an important role, because he

plays…

(L. van Gaal) – behind the midfield… (…with the

back…)… No, no… I have to be open… he has to run

always “contra”… “Contra” it’s not in front of him (opponent

midfielder) because then he can see the pass line… the ball

and is opponent. When you play like that, he can’t see the

ball and him… so that’s contra… very important what I’m saying now.

(P.D.S.) – One of things that we see sometimes it’s this player

playing here to devolve…

(L. van Gaal) –I don’t like it. He (second striker) have to be always

behind the midfield line… so they (opponent) have the midfield line, they have a

defensive line and then the strikers (our)… so he comes here it’s easily to

defend (in front of midfield line)… they can do also with four… it’s easy

“boom”… he has to be here… and always not to close of them (defenders line)

because he defends him. So close to them (midfielder’s line)…and then in a

free space and open…

(P.D.S.) - We use an expression “the game between the lines”…

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Anexos

XXXII

(L. van Gaal) – Yes… but it’s also with the 4-3-3, it’s between the lines…

in a window it’s always between the lines… because of that this system it’s

difficult to beat and when you have individually quality.

(P.D.S.) - But if your team is defending…if the striker of the

opponent moves… who defends him?

(L. van Gaal) – This… they have to close… in my

opinion…

(P.D.S.) - How do you want, that the backside defenders, get

involved in the attack?

(L. van Gaal) – Always, I want to create one man more…

so, always one of the four (defenders) has to enter in the

midfield… doesn’t matter witch… but one enter they (the other

three) have to close.

The difficult is in the first phase (figure) they have to make

the space big and when they enter (one of the central defenders) they (backside

defenders) cannot close… and they have to play the ball in the striker and not to

him (play in width), because then “boom”… and then there is a open…

(P.D.S.) - You want this back(side) defenders go on deep?

(L. van Gaal) – Yes… I liked that, but they (the other defenders) have to

close…

(P.D.S.) - Never the two at same time?

(L. van Gaal) – No… it happens against NEC, because of that they

won…

(P.D.S.) - When your team attack and the opponent it´s defensive

organized, you want that your team stay with lines close to each other?

(L. van Gaal) – Always together… When they are here…they have to

contact… I already said to you… not space between… so when they go down,

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Anexos

XXXIII

they have to go down…but not with space between the lines because the

opponent want to take benefit of that… but then you have more space behind

you… you have to know that… and therefore it’s very important when the ball

it’s here he is covering…

(P.D.S.) – What is the difference between playing with a center

forward (striker) or two?

(L. van Gaal) – The big difference is that you have two

attacking points… when you play with only one attacking

point… you need always an attacking point… with two… you

have two… so one is always in the side of the ball… when

the ball is here… he is here… but I think that is not good… a

lot of strikers want to be here (fig.1)… I said: “no, no…you

have to be here” (fig.2)… because normally is taking and

then he is going…and then here is more space for you… but

then he is coming also… but you have to be always the

distance is also important… so it’s not only the lines but also

the distance between the players… so, this is, when we have

the ball, this is not good, it’s easy to defend… this is much

better… distance… big, make the pitch big…

Entrevista interrompida por membro do clube.

(P.D.S.) – What is the difference between playing with three players

in midfielder or four?

(L. van Gaal) – To defend a line you have to defend a line, you don’t

defend a player only… but the player mostly is the same in all match… but you

defend a line, and you do that with four… that’s easily to

defend with four then with three, because the space it’s

bigger now (with only three) then you have to run more and

you’re too late sometimes, because when I think that the

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Anexos

XXXIV

second striker is to danger, I do a midfield player on him… and then, they have

to do 2x3 (fig.)…And it’s more difficult because you have one more… (then they

cannot play between the lines)…then I have one man more…

(P.D.S.) – And in the offensive phase what is the difference between

three or four?

(L. van Gaal) – The difference is that they have a bigger space and they

can do more… but he (one of the defenders) when we have the ball coming into

the midfield again… so it’s not much difference… but it’s dependable of the way

of playing… what are the task in that way of the system…

(P.D.S.) – Give me the example of your team... The tasks that you

want for these players...

(L. van Gaal) – I always explain all tasks and functions of the position…

and also with relation with the opponent, the quality of the opponent… every

game…

(Nesta altura foram apresentados os slides de preparação do jogo contra o

NEC onde evidenciou alguns pontos que aqui foram perguntados)

(P.D.S.) – In the system that you advocate there are more fixed

positions and positions of greater mobility?

(L. van Gaal) – Yes, that’s true… the greater mobility are always the

wings (the midfielders that go the wings…) an then they have to come inside…

they have to run a lot… and the central midfielder also have to run a lot… and

the laterals, the full backs… so, there are six that run a lot…the others: the

striker, he always wants to run a lot but I don´t liked he has to stay… the second

striker he needs more brain than running… and the two central midfielders I

liked more brain than runners… and the central defenders more brain than

running… (and the goal-keeper too) Yes.

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Anexos

XXXV

(P.D.S.) – In what situations you, strategically, define areas to gain

the 2nd ball?

(L. van Gaal) – You have seen that in the picture… because… you see

the picture… I have several strikers, I have Pellè, I have Ari… I have

Dembélé… who can play in a deep striker positions… and… I chose

dependable of the opponent, the pitch, the referee, the individually quality of

central defenders of the opponent… then I chose for one striker… so yesterday

in a bad pitch I need an attacking point and Pellè it’s more an attacking point

then Ari…

(P.D.S.) – But, there are more situations in the game that you define

some strategically areas to gain the second ball?

(L. van Gaal) – No… that’s the midfield line, our midfield line… so you

have to play the ball to an attacking point in front of the midfield line… so I say

then the third phase, not the second phase, the third phase… our he wins is

duel with the central defender or the central defender wins, then the second

line, the midfield line, can win the second ball…

(P.D.S.) – Do you recognize this image? It’s from the book “Louis

van Gaal, and Ajax Philosophy”?

(L. van Gaal) – This is more of the creativity of the

players… because they have to do that… You cannot say go,

go… because it’s dependable of your opponent… and how they

defend… and this is the way at the ball he is coming at the right

time then the third men… I don’t now what they want...

“distância entre linhas”, “mobilidade dos jogadores”

(P.D.S.) – Exactly…What I wrote here is that some top teams like

Arsenal, sometimes give that space to someone appear… to get the ball…

because they if the opponent is positioned, sometimes…

(L. van Gaal) – This is better when they recover the ball they can come

to his space here… because this picture is not good because the opponent it’s

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Anexos

XXXVI

not here… this is nothing, is nothing… because… where is the opponent… and

football is always with an opponent… this is without an opponent… this is

picture doesn’t mean anything…

(P.D.S.) – I put this picture… but when I imagine that, and what I

tried to put here is exactly that… that depends too much of that… the

opponent quality… the individual quality…

(L.van Gaal) – Yes, Yes…when we have space like that and the

opponent is in the midfield so we should win… I don’t know if this space it’s for

me or for the opponent… when it’s for me and I have space like and we have to

score in that goal then we win… we win…

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Anexos

XXXVII

Anexo 3

Entrevista a Louis van Gaal (Tradução)

Treinador do AZ Alkmaar (Holanda)

Gabinete do treinador no Estádio do AZ Alkmaar, 9 de Março de 2009

Pedro Daniel Sousa (P.D.S) – Que características deve apresentar

uma equipa para ser considerada de Top?

Louis van Gaal (L. van Gaal) – Em primeiro lugar, os jogadores têm de

ter qualidade individual… não apenas como jogadores mas também como

seres humanos. O que é também muito importante porque têm que jogar em

Equipa e não individualmente... e depois é necessário um bom treinador, que

consiga transmitir uma filosofia, uma perspectiva do futebol que os onze

jogadores vão concretizar. Para que isso aconteça a quimica entre a qualidade

técnica do treinador principal, ou da equipa técnica, com os jogadores

disponíveis tem que ser muito boa.

(P.D.S) – O que é futebol dominante?

(L. van Gaal) – É um futebol em que a tua equipa decide como o

adversário joga o seu futebol e não o contrário, em que o adversário decide

onde temos de jogar...

(P.D.S) – Decide como o jogo flui!?

(L. van Gaal) – Sim, creio que essa é o principal “truque”... que a tua

equipa decide sempre onde jogar.

(P.D.S) – Uma equipa de top controla o jogo ofensivamente ou

também o pode fazer do ponto de vista defensivo?

(L. van Gaal) – Pode, porque existem diferentes estilos de jogo… Em

Itália têm um estilo de jogo mais defensivo, em Inglaterra têm um estilo de jogo

mais ofensivo, excepto quando têm treinadores Europeus. Por isso, o treinador

tem um papel muito importante. Como treinador as minhas equipas jogaram

sempre um estilo mais ofensivo, mas esta época a minha equipa apresenta

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Anexos

XXXVIII

outras características defensivas... com uma melhor organização defensiva,

para criar espaços para os meus avançados que são muito rápidos... isso

também é futebol dominante, mas gosto mais do estilo ofensivo. Tens que

entregar um produto ao público... e não gosto do estilo defensivo como do

ofensivo mas também pode ser um estilo atractivo quando é feito com

velocidade.

(P.D.S) – Existe algum momento mais importante do que outro?

(L. van Gaal) – Penso que a transição é o aspecto mais importante dos

momentos. Eu divido o jogo em quatro... em quatro e não em três, em quatro…

tens a posse de bola do adversário, depois transição em posse de bola... nesse

momento o adversário não está organizado... por isso esse é o momento que a

tua equipa tem de aproveitar... porque nesse momento o adversário não está

organizado. Quando tens a posse de bola o teu adversário está organizado...

mas as Equipas de top conseguem criar também oportunidades contra equipas

organizadas, o Barcelona consegue faze-lo muito bem e o Manchester também

e o Az penso que também.

(P.D.S) – Porque os adversários que jogam contra Equipas de top

geralmente apostam em estilos de jogo mais defensivos, por isso a

transição não…

(L. van Gaal) - …Funciona! Porque eles não têm qualidade individual

suficiente… porque as Equipas de top pressionam também à frente… ou

recuam e pressionam a partir do próprio meio-campo... é uma opção... por isso

o adversário não tem qualidade individual suficiente para desorganizar a

organização defensiva da tua Equipa...

(P.D.S) – Existem jogadores ou linhas da equipa que sejam mais

importantes do que outros no controlo do jogo?

(L. van Gaal) - Não, não… depende da tua filosofia… como queres

defender. Defender à frente, atrás ou no centro, essa é a tua escolha como

treinador, mas depende também da qualidade do adversário, por isso, linhas…

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Anexos

XXXIX

existem linhas, mas existem no terreno, não são para o treinador, dependem

da qualidade da tua Equipa…

(P.D.S) - … é muito dinâmico… porque depende do modo como o

jogo flui…

(L. van Gaal) – Sim, sim... e depende da filosofia do treinador e dos

jogadores é claro, porque tens que convencer os jogadores da táctica ou

filosofia que defines.

(P.D.S) - Mas… para jogar um estilo ofensivo… não considera que o

meio campo tem um papel muito importante?

(L. van Gaal) - Não... Não… Penso que todos os jogadores têm um

papel muito importante... talvez no centro os avançados são muito importantes

porque eles atraem todas as atenções...

(P.D.S) – Quanto falo no meio-campo não me refiro a um jogador,

mas ao espaço no centro, todo esse espaço no centro...

(L. van Gaal) – Não… depende da táctica do adversário. Por vezes os

meus médios vão em profundidade, outras vezes têm que jogar por fora do

espaço... depende das tácticas, não podes antecipar e dizer: “ok! os jogadores

têm que fazer isto”... não, não... depende das tácticas, da qualidade individual

dos jogadores, e, por isso o jogo é muito difícil de ler pelo público.

(Entrevista interrompida por membro do clube)

(P.D.S) – Considera a circulação de bola uma característica

importante da organização ofensiva de uma equipa de top?

(L. van Gaal) - Sim, uma das mais importantes, porque tens que jogar

em equipa e isso faz-se passando a bola… acho que todos os jogos precisam

que a bola seja sempre colocada com precisão e não é a velocidade com que é

colocada que é importante, é a precisão com que é colocada.

(P.D.S) – Então uma das características dessa circulação é…

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Anexos

XL

(L. van Gaal) - … O passe, não a velocidade. Frequentemente os

jornalistas dizem que é necessário ter uma circulação de bola mais rápida... e

eu digo que isso não é muito importante... porque a colocação da bola obriga

outra organização defensiva do adversário.

(P.D.S) – Que riscos deve uma equipa de top assumir?

(L. van Gaal) – Nenhuns. Tens que evitar os riscos. Isso é a tua

organização defensiva... é por isso que, por exemplo, o Mourinho ganha

muito... porque as suas equipas têm sempre uma organização defensiva muito

boa. Então tens que evitar os riscos... Por isso, quanto atacas tens que pensar

em defender.

(P.D.S) – Exactamente... essa é uma questão que lhe vou colocar

novamente mais à frente... mas quando ataca aumenta os riscos de

perder a bola?

(L. van Gaal) – Sim isso é verdade, porque quando atacas corres

sempre riscos porque tens um espaço grande atrás de ti… por isso tens que

pensar defensivamente quando atacas...

(P.D.S) – Então todos os jogadores têm funções ofensivas e

defensivas quando a equipa está ou não em...

(L. van Gaal) – Sim…

(P.D.S) – Qual a importância do sistema na organização da Equipa?

(L. van Gaal) – Quando o adversário tem a bola é muito importante,

quando está em nossa posse é apenas uma referência geral, por isso tens que

fazer “campo grande”, porque assim crias espaço para ti, mas também tens a

criatividade dos jogadores... tens que os libertar e não estar sempre a dizer-

lhes o que fazer...

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Anexos

XLI

(P.D.S) – Disse que quer o campo grande… em todos os momentos

do ataque? Se a bola está em zona de finalização, próximo da baliza do

adversário… os defesas têm de se manter juntos…

(L. van Gaal) – Sim, devem manter-se juntos… quando tens que passar

uma fase... Eu também divido os momentos ofensivos na primeira, segunda,

terceira e quarta fase. A primeira fase é a construção, a segunda é... a

circulação de bola para criar o passe... esta é a terceira fase... a criatividade...

e a quarta fase é a finalização.

(P.D.S) – A segunda fase é criar desequilíbrios no adversário?!

(L. van Gaal) – A segunda fase é para colocar a bola, assim consegues

ver a desorganização do adversário… e depois precisas de criatividade para

fazer o passe, para ver o momento adequado para o fazer... essa é a terceira

fase.

(P.D.S) – E se o adversário estiver desorganizado na primeira fase?

(L. van Gaal) – O adversário, quando estamos na primeira fase, está

organizado. Na primeira fase o GR tem a bola e o adversário tenta sempre

evitar a construção… essa é a primeira fase. A segunda é a circulação no

meio-campo... para criar aberturas.

(P.D.S) – Quando uma equipa de top ataca deve aparecer com

vários jogadores para finalizar ou não necessariamente?

(L. van Gaal) - Não... ((P.D.S) – Apenas os avançados?) Não,

depende da qualidade dos teus jogadores… depende se pões uma linha

avançada de jogadores mais criativos ou de jogadores para finalizar... depende

da tua filosofia e do teu sistema. Mas precisas sempre mais do que os

avançados… sempre, porque quando tens apenas os avançados o adversário

facilmente se organiza...

(P.D.S) – Esta é uma característica das equipas de top...

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Anexos

XLII

(L. van Gaal) – Muitas das Equipas têm apenas um avançado (Por isso

precisa que apareçam os médios…) Sim…sim, mas isso depende do sistema

em que jogas… quantos médios tens nesse sistema…

(P.D.S) – Que características pretende que a sua equipa demonstre

no campo?

(L. van Gaal) – Quero 8 linhas... 8 linhas… o máximo de

linhas possíveis… porque assim a ocupação do campo é

melhor... somos os azuis... a melhor ocupação do terreno é

com este sistema... 1,2,3,4,5,6,7... e com esta dinâmica uma

mais linha (fig. 1)... mas depende onde está a bola... quando a

bola está aqui e ele movimenta-se para ali… formando

também uma linha de passe, quando jogas neste sistema tens

sempre triângulos... tens sempre duas opções para aqui… aqui... duas

opções... mais... o mesmo aqui... duas opções... no meio tens sempre mais...

aqui está outro triângulo... um triângulo... é por isso que o 4-3-3, na minha

opinião, é o melhor sistema. E podes ainda jogar com um jogador mais

defensivo ou mais ofensivo (orientação do triângulo do meio-campo) depende

da qualidade dos teus jogadores. Quando jogas em 4-4-2, como o fazem

muitas equipas, não tens tantas linhas… podes ver… e é mais fácil para

defender... desse modo, jogo... quando tenho dois bons avançados, em

losango, e assim tenho seis linhas, 1,2,3,4,5,6 (não contou o GR) e

dinamicamente mais...

(P.D.S) – Outros sistemas que não definem tantas linhas podem

também garantir qualidade à circulação de bola?

(L. van Gaal) – Não é tão boa, porque tens menos linhas… mas é uma

situação dinâmica… por isso podes dizer… ok, isto também são triângulos mas

quando existem matematicamente mais triângulos no teu sistema torna-se mais

fácil, porque os jogadores sem pensar já estão na posição, mas assim eles têm

que ver o espaço... é mais difícil e eles estão mais próximos uns dos outros, o

campo não fica tão grande... desse modo o espaço é melhor dividido quando

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Anexos

XLIII

eles se posicionam assim... podes ver com os teus olhos... há sempre mais

espaços... por isso os outros sistemas não são tão bons para a circulação de

bola.

(P.D.S) – Quando vemos o Arsenal, por exemplo, eles

posicionam-se em 1-4-4-2 clássico...

(L. van Gaal) - Não, não... Para mim, eles jogam

assim… como nós… 1,2,3,4,5,6,7… é assim que estamos a

jogar neste momento.

(P.D.S) – Como pretende que a sua Equipa compense

defensivamente os riscos assumidos nos momentos ofensivos?

(L. van Gaal) – Quero sempre três atrás, se ele sobe… então os outros

têm que fechar… e um dos médios tem que ficar… e eles podem ir... mas

sempre mantendo contacto e não deixando espaço... na terceira fase a Equipa

tem que estar compacta... Por isso, se eles estão aqui... eles têm que estar

também compactos... deste modo não porque se não o adversário tem um

espaço muito grande.

(P.D.S) – Já tive oportunidade de ver alguns jogos aqui na

Holanda… e um dos problemas que acho existir na maioria das equipas é

que as equipas estão...

(L.van Gaal) – Abertas. Sim… eu sei.

(P.D.S) – Quando esta em organização defensiva tem preocupações

ofensivas?

(L. van Gaal) - Sim… (De que tipo?) Preciso

sempre… porque isso depende também do teu sistema...

mas quero sempre um avançado profundo... e outro a

procurar pelo “big space” (espaço grande)...

(P.D.S) – O espaço grande!?

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Anexos

XLIV

(L. van Gaal) – Sim, não muito profundo… esse é um avançado, ele tem

que procurar arrastar os defesas centrais... porque assim o espaço torna-se

maior... é por isso que eu jogo assim... e é por isso que eu jogo em 4-3-3 com

um segundo avançado, o número 10 quase sempre... e dependendo da

qualidade do jogo ele pode ser um segundo avançado ou um terceiro médio...

Como Litmanen no Ajax... como terceiro médio... Dennis Bergkamp era um

segundo avançado.

(P.D.S.) – Quando e como pretende que a sua equipa em transição

ataque rápido ou jogue em segurança para depois desorganizar o

adversário?

(L. van Gaal) – Eu penso que quando o adversário esta desorganizado e

nós recuperamos a bola, temos que aproveitar essa desorganização... mas

quando estás sempre a falhar o passe e a perder a bola... então eu digo... não,

não, não... paciência, porque vês que eles estão quase sempre a perder a bola

e assim tens que procurar recupera-la vezes sem conta... isso custa-nos muita

energia... por isso quando a formação está boa o passe sai correctamente.

(P.D.S) – E assim perdesse o controlo do jogo...

(L. van Gaal) – Perdes o controlo do jogo, estas sempre a perder a bola

e assim eles dominam o jogo, por isso, a posse de bola é sempre importante…

mas não é assim tão importante para marcar golos… não é por teres 60-70%

da posse de bola que marcas golos... isso não é consequência. Porque quando

tens 70% da posse, é porque o adversário está a jogar próximo... e não podes

marcar... assim tens que definir onde eles defendem e podemos fazer isso

circulando a bola atrás... eles terão que vir e assim tens espaço...

(P.D.S) – Uma das características da circulação de bola é a

verticalidade, é muito importante...

(L. van Gaal) – Sim… muito importante.. porque a transição é vertical…

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Anexos

XLV

(P.D.S) – E a circulação tem que detector a desorganização do

adversário através da verticalização...

(L. van Gaal) – Sim… mas quando estas sempre a perder a bola a fazer

passes verticais… é errado… porque estas sempre a perder a bola...

(P.D.S) – Anteriormente perguntei que riscos assume nos

momentos ofensivos… esse é um dos riscos?

(L. van Gaal) - Não, não... o passe vertical não é um passe de risco

porque vais ter sempre jogadores atrás da bola... mas se estás sempre a

perder a bola vais estar sempre a correr atrás dela...logo vais perder o domínio

e isso não é bom... por isso o passe vertical deve ser feito sem risco... o passe

em largura é que é um passe com risco... É por isso que quanto eles estão

aqui... e tens que passar em largura... tens um problema... porque eles podem

fazer uma transição e tens muitos jogadores em frente à bola... e assim o

espaço é maior... aconteceu isso no jogo que perdemos contra o NEC para a

taça (Em transição...) Sim...

(P.D.S.) – Como é que os sistemas influenciam o modo como as

transições são levadas a efeito?

(L. van Gaal) – Sim… O sistema pode influenciar a transição, agora na

nossa forma de jogar é mais fácil de defender porque tenho sempre duas linhas

de 4… e a linha torna-se mais fácil defender com quatro contra cinco, seis…

porque tens sempre coberturas… e decides o momento adequado para

pressionar.... e podes sempre cobrir... mas por vezes jogo com três atrás... e

assim, a linha é mais difícil de defender... mas, por isso, tenho de pressionar

mais... é isto que tu queres, é a tua táctica, depende da qualidade da tua

equipa e também da qualidade do adversário. Quando o teu adversário não

quer jogar futebol... apenas joga bolas longas, o melhor é jogar com quatro

atrás... mas quando eles pretendem sair em construção curta podes escolher

entre uma linha de três ou quatro... e podes-te posicionar melhor...

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Anexos

XLVI

(P.D.S.) – Como pretende que a sua equipa (re)inicie o jogo a partir

do GR? Curto ou longo?

(L. van Gaal) – Eu jogo sempre curto a partir do GR...(Mas por vezes

tem que jogar longo…)…Sim, ontem o terreno estava em más condições,

precisamos de um ponto/referência de ataque... porque não conseguíamos

construir, eles pressionavam-nos... por isso disse ao meu GR: “Ok. Joga bolas

longas para o Pellè…”. Dependendo da qualidade posso colocar Ari na posição

de avançado, mas o Pellè é uma referência de ataque (para as bolas longas) e

por isso jogou ontem... porque o adversário tinha um central com a tua altura

aproximadamente... por isso disse a Pellè: “procura-o e vai para o seu lado”

(P.D.S.) – Se jogar contra uma equipa que tenha defesas mais altos,

como é que a sua equipa se posiciona para recuperar a bola… a bola

longa… com superioridade numérica?

(L. van Gaal) – Sim… Fechados… e depois o nosso meio-campo tem

de ganhar a 2ª bola… nós temos 4 no meio-campo… por isso é fácil ganhar a

bola… porque tens uma quantidade enorme de jogadores…

(P.D.S.) – E depois criar superioridade…

(L. van Gaal) – Nós temos avançados que estão

sempre aqui e um segundo avançado atrás da linha de

meio-campo do adversário..

(P.D.S.) – Quando em posse de bola pretende sempre jogadores

abertos nos corredores?

(L. van Gaal) – Quando temos a bola eles (médios) têm que abrir

sempre nos corredores... é muito importante... porque eles (adversário) vão ter

que defender abertos e assim temos mais espaço ...

(P.D.S.) – Esses médios dão profundidade?

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Anexos

XLVII

(L. van Gaal) – Não… depende… quando eles se mantêm aqui (largura

no meio campo) eles facilmente estão aqui (profundidade nas alas) mas depois

eles têm que defender e este espaço é para o avançado...

(P.D.S.) – Esses jogadores têm de ter muita qualidade…

(L. van Gaal) – Muita qualidade…(…Porque esses

jogadores têm de jogar dentro e fora…) … dentro

defensivamente e fora quando temos a posse de bola…

eles têm que driblar… e estar orientados para muitas coisas

quando nós atacamos.

(P.D.S.) – Que perfil de jogadores pretende para os jogadores das

posições 4 e 10?

(L. van Gaal) – Pensadores. Cérebros. Mas muitos treinadores

pretendem aqui defesas… comigo quero sempre pensadores. Guardiola, Xavi,

Jong… sempre esse tipo de jogadores.

(P.D.S.) – E para o número 10?

(L. van Gaal) – O número 10 prefiro um médio que suba... (mais um

médio do que um avançado que desça no terreno...) Sim… Agora jogo com um

segundo avançado e defensivamente ele não funciona para a Equipa… mas a

este nível, na Holanda, consegues manter a segurança… mas é sempre mais

difícil quando estamos em organização defensiva... mas ele também tem que

marcar... por isso o nosso segundo avançado marca vinte golos... este jogador

tem que marcar... Litmanen marca sempre vinte, vinte e cinco golos, Bergkamp

marca vinte, vinte e cinco… ele não (avançado)... ele marca dez... porque ele

tem benefício dele...

(P.D.S.) – Para a circulação de bola ele assume um importante

papel, porque joga...

(L. van Gaal) – atrás do médio… (…com as costas…)… Não, não…

Ele tem que estas aberto… tem que correr sempre contra... contra não é em

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Anexos

XLVIII

frente a ele (médio adversário) porque assim ele consegue ver a linha de

passe... a bola e o seu adversário. Quando jogas assim, o médio adversário

não consegue ver a bola e o teu jogador… por isso é contra... isto que estou a

dizer é muito importante.

(P.D.S.) – Uma das situações frequentes é esse jogador descer no

terreno para tabelar de primeira...

(L. van Gaal) – Disso não gosto. Ele (segundo avançado) tem que estar

sempre atrás da linha do meio-campo... eles têm a linha do meio-campo, a

linha defensiva e nós o avançado entre essas duas linhas... é mais fácil para o

adversário defender (se este jogador se posicionar em frente a linha do meio-

campo)... Eles podem faze-lo com um dos quatro... é fácil pressionar... ele tem

que estar aqui... nem muito perto deles (linha defensiva) porque se não eles

facilmente defendem. Nem muito perto deles (linha do meio-campo)... devem

posicionar-se no espaço livre e abertos...

(P.D.S.) – Nós usamos a expressão “o jogo entrelinhas”...

(L. van Gaal) – Sim… mas isso é o que acontece com o 4-3-3, é entre

linhas… em losango também é sempre entre linhas… por causa disso este

sistema é difícil de e defender quando tens qualidade individual.

(P.D.S.) – Mas se a sua Equipa está em organização defensiva… se

o adversário se movimenta... quem o defende?

(L. van Gaal) – Assim… Na minha opinião eles têm que

fechar…

(P.D.S.) – Como pretende que os laterais participem no ataque?

(L. van Gaal) – Eu quero criar sempre superioridade… por

isso, um dos quarto (jogadores da linha defensiva) tem que entrar

no meio-campo… não interessa qual… mas quando um entra os

outros (três jogadores da linha defensiva) têm que fechar. A

dificuldade está na primeira fase (fig.)… eles têm que fazer campo

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Anexos

XLIX

grande e quando um deles entra, eles (laterais) não conseguem fechar... por

isso eles vão ter que jogar a bola no avançado e não para ele (jogar em largura

para o lateral), porque eles vão pressionar muito... e nós vamos estar abertos...

(P.D.S.) – Pretende que os laterais dêem profundidade?

(L. van Gaal) – Sim… Gosto disso, mas eles têm que fechar (restante

linha defensiva) …

(P.D.S.) – Nunca os dois em simultâneo?

(L. van Gaal) – Não… isso aconteceu contra o NEC, e por causa disso

ganharam...

(P.D.S.) – Quando a sua equipa ataca e o adversário está

defensivamente organizado, quer que a sua equipa mantenha as linhas

próximas umas das outras?

(L. van Gaal) – Sempre juntas… Quando eles estão aqui… eles têm de

estar aqui... eles têm de estar sempre em contacto... já te tinha dito... não

quero espaço entre eles... por isso, se eles sobem (linha intermédia), eles

(linha recuada) têm que subir... mas não com espaço entre linhas porque o

adversário pode tirar benefícios dessa situação... mas assim também tens

mais espaço atrás de ti… tens que saber isso... por isso são muito importantes

as coberturas...

(P.D.S.) – Qual é a diferença entre jogar com um avançado ou dois?

(L. van Gaal) – A grande diferença é que tens duas referências de

ataque … e quando jogas apenas com um avançado só tens

uma referência… precisas sempre de uma referência… com

dois avançados… tens duas… um está sempre no lado da

bola... quando a bola está aqui... ele está aqui... mas penso

que isso não é a melhor solução... muitos avançados vão

para aqui (fig.1)… Eu digo-lhes: “não, não… tens que estar

aqui” (fig.2)… porque normalmente ele fica e o outro vai… e

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Anexos

L

por isso há mais espaço para ti… mas tens também a

distância entre eles que é muito importante… por isso não

são apenas as linhas mas também a distância entre os

jogadores... por isso, isto é, quando temos a bola, isso não e

bom, é fácil de defender... isto é muito melhor... distância...

grande, fazer o campo grande...

Entrevista interrompida por membro do clube.

(P.D.S.) – Qual a diferença entre jogar com 3 ou 4 jogadores no meio

campo?

(L. van Gaal) – Para defender a linha… tens que defender uma linha,

não defendes um jogador apenas… é provável que o jogador que defendes

seja sempre o mesmo… mas defendes a linha, e tens que o fazer com 4... é

mais fácil defender com quatro do que com três, porque assim o espaço é

maior (com três) logo tens que correr mais e muitas vezes

vais estar atrasado, porque quando vejo que o segundo

avançado (adversário) é perigoso, coloco lá mais um

jogador... e assim está uma situação de 2x3 (fig.)…E é

mais difícil para o adversário porque temos superioridade... (e assim eles não

podem jogar entre linhas...)…porque tenho superioridade...

(P.D.S.) – E em organização ofensiva qual a diferença entre jogar

com três ou quarto jogadores no meio-campo?

(L. van Gaal) – A diferença é que eles têm mais espaço e por isso

podem fazer mais… mas ele (um dos defesas) quando estamos em posse têm

que vir para o meio-campo novamente… por isso não existe muita diferença…

mas depende do estilo de jogo… quais são as funções do sistema nessa forma

de jogar...

(P.D.S.) – Dê-me o exemplo da sua equipa… que funções atribui a

esses jogadores...

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Anexos

LI

(L. van Gaal) – Eu explico sempre todas as tarefas e funções de cada

posição... em relação com o adversário, com a sua qualidade... todos os

jogos...

(Nesta altura foram apresentados os slides de preparação do jogo contra o

NEC onde evidenciou alguns pontos que aqui foram perguntados)

(P.D.S.) – No sistema que define para a sua equipa existem

posições mais fixas e posições de maior mobilidade?

(L. van Gaal) – Sim, existem… de maior mobilidade são os alas (os

médios que vão para as alas…) porque depois têm que vir para o interior… têm

que se movimentar muito… o médio centro tem também que se movimentar

muito… e os laterais… por isso há 6 jogadores com maior mobilidade… os

outros: o avançado muitas vezes tem muita mobilidade mas eu não gosto, ele

tem que ficar… o segundo avançado prefiro mais cérebro do que “corredores”

(no sentido de terem muita mobilidade)... e os dois médios centro também... os

defesas centrais também mais cerebrais do que “corredores” … (e o GR

também…) Sim.

(P.D.S.) – Em que situações define estrategicamente áreas para

ganhar a segunda bola?

(L. van Gaal) – Viste na imagem que te mostrei… eu tenho vários

avançados, tenho Pellè, Ari e Dembélé… que podem jogar como avançados

mais profundos... e... eu escolho em função do adversário, do campo, do

arbitro, da qualidade individual dos defesas adversários... ontem o campo era

mau, por isso precisei de uma referência na frente (para jogar longo), para isso

o Pellè é melhor do que Ari.

(P.D.S.) – Mas existem mais situações durante o jogo em que,

estrategicamente, define áreas para ganhar segundas bolas?

(L. van Gaal) – Não… essa área é a linha do meio-campo, a nossa linha

do meio-campo… nós jogamos a bola para a nossa referência no ataque em

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Anexos

LII

frente a linha do meio-campo… essa é a nossa terceira fase, não a segunda, a

terceira... na qual ou o avançado ganha o duelo com o defesa central ou

ganhar o central adversário, nessa situação, a segunda linha, a linha do meio-

campo, pode ganhar a segunda bola...

(P.D.S.) – Reconhece esta imagem? É do livro “Louis van Gaal, and

Ajax Philosophy”?

(L. van Gaal) – Isso é mais da criatividade dos

jogadores… porque eles têm que fazer isso… não lhes podes

dizer exactamente o que fazer... porque isso depende do teu

adversário... como defendem... e deste modo a bola vinha no

momento certo para o terceiro homem... mas não sei o que

eles querem... “distância entre linhas”, “mobilidade dos

jogadores”

(P.D.S.) – O que escrevi aqui foi que algumas equipas de top como

Arsenal, por vezes aumentam o espaço entrelinhas para alguém

aparecer… para vir buscar bola... porque se o adversário estiver

posicionado, por vezes...

(L. van Gaal) – Isto é melhor quando eles recuperam a bola eles podem

vir para esse espaço… esta imagem não é muito boa porque o adversário não

está aqui… isto não é nada, nada… porque… onde está o adversário… o

futebol é sempre com um adversário... isto é sem adversário... esta figura não

significa nada...

(P.D.S.) – Quando coloquei esta figura tinha isso em mente, e no

texto tentei deixar claro exactamente isso… que depende muito da

qualidade dos jogadores da equipa... da qualidade do adversário...

(L.van Gaal) – Sim, sim…quando temos este espaço e o adversário está

no seu meio-campo nós provavelmente vamos ganhar… não sei se este

espaço é para mim ou para o adversário... quando é para mim e temos este

espaço todo e temos que marcar nesta baliza nós ganhamos...

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Anexos

LIII

Anexo 4

Guião da Entrevista a André Villas-Boas

CARACTERIZAÇÃO DAS EQUIPAS DE TOP

Sabendo que, uma Equipa para estar a Top tem que marcar e ter oportunidades para marcar.

Que características comuns identificas no jogo das Equipas de top?

CONTROLO DO JOGO: CONTROLO DO MEIO-CAMPO

Consideras que uma Equipa para ser de top tem que ter a iniciativa e o controlo do jogo?

Porquê?

Existem sectores da Equipa e jogadores que poderão ser mais importantes do que outros

no controlo do jogo? Em que sectores e posição normalmente jogam? Porquê?

CIRCULAÇÂO DE BOLA

A circulação de bola é uma característica importante na organização ofensiva de uma

Equipa de Top? Que características essa circulação de bola deve apresentar?

Reconheces a possibilidade das Equipas de top circularem a bola de modos distintos com

qualidade?

O que caracteriza os “padrões” de circulação de bola horizontal e vertical (carece de maior

dinamização dos espaços caso contrário facilmente são “anulados”)?

De que forma o meio-campo determina a existência de uma posse de bola mais horizontal

ou mais vertical?

RISCOS: JOGADORES EM ESPAÇOS DE FINALIZAÇÃO

Para marcar por vezes é necessário correr riscos. De que forma aumenta o risco dos

momentos de organização ofensiva das Equipas de top?

Uma Equipa de Top quando em momento de finalização deve aparecer com vários

jogadores Espaços de finalização ou não necessariamente?

ORGANIZAÇÃO GLOBAL: EQUILÍBRIOS

Que implicações tem na organização da Equipa, o facto de vários jogadores aparecerem em

Espaços de finalização?

Quando a Equipa ataca tem de ter preocupações defensivas? De que tipo?

(MACRO)ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL

TRANSIÇÃO

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Anexos

LIV

Estas partes dos momentos de organização ofensiva podem ser feitos de modos distintos.

Porém, identificas nas Equipas de Top, prioridades nos momentos consequentes ao ganho de

bola?

Que tipo de preocupações ofensivas uma Equipa de top tem quando esta defensivamente

organizada? (ou Como preparam o ataque? (por exemplo: definir momentos de pressão))

Em determinadas circunstâncias (dependendo da qualidade do adversário e dos 2

jogadores que temos na frente) duas linhas de 4 jogadores são suficientes para defender o

meio-campo defensivo? (Exemplo do Inter com Ibra e Cruz) A relação desta questão com as

transições tem que ver com o facto de, se forem suficientes, os outros dois jogadores poderão

estar mais “livres” para pensar o ataque à baliza adversária.

O que é que vocês pretendem para os momentos imediatamente após recuperação de

bola?

CRIAÇÃO DE DESEQUILÍBRIOS

Reconheces a verticalidade (não entendido aqui exclusivamente como sendo o “jogo

directo”) como a característica fundamental na criação de oportunidades de finalização?

Se sim, então concordas que, os desequilibradores muitas das vezes encontram-se no centro

do terreno de jogo e não apenas nas faixas a procurar situações de 1x1?

O jogo de uma Equipa tende a fluir para esses jogadores que têm maior apetência para a

criação de desequilíbrios (seja no meio ou nas alas)?

As saídas curtas pelo GR as Equipas habitualmente fazem “campo grande” (é uma

característica das equipas que fazem uma circulação predominantemente horizontal...Quando

a bola circula em linhas mais recuadas quais os comportamentos “padrão” das Equipas de Top

nas linha intermédia e avançada (aqui poderá falar da mobilidade dos jogadores, da distância

entrelinhas)?

Qual a importância da largura (dos corredores) na criação de desequilíbrios? Em que

momentos e espaços uma Equipa deve dar largura (nas saídas curtas: laterais para uma CB

Hor.; bola em áreas intermédias)?

De que forma os laterais podem participar no ataque?

Existe nas Equipas, Espaços de maior fragilidade defensiva, que podem ser aproveitados

pelo ataque? Quais e porquê? E como podem ser aproveitados? (costas dos defesas, Central-

lateral, Defesa-médio),(nesta altura “tem” que, também, falar do jogo entrelinhas))

Que perfil de jogador deve aparecer em Espaços entrelinhas (médio, avançado)? Qual a

função?

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Anexos

LV

FINALIZAÇÃO

Concordas com a afirmação de Menotti que diz: “os jogadores que maior dano causam são

os que aparecem com movimentos de trás para a frente”?

(MACRO) ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL

JOGO POSICIONAL

Que significado tem para ti “jogo posicional”? Qual a sua importância?

A mudança de estrutura ao longo do jogo implica mudança das áreas de responsabilidade

logo os jogadores têm de assumir diferentes funções?

Por exemplo o triângulo do meio-campo inicialmente em 1-4-3-3 e esse mesmo triângulo em 1-

4-4-2, quais as diferenças?

De que forma o “jogo posicional” se consubstancia na frente de ataque?

Extremos: se procurarem posições interiores, a Equipa tem de saber ajustar-se pois em caso

de perda dificilmente vai conseguir pressionar no flanco. Desse modo, é necessário que todos

os jogadores tenham a noção das suas áreas de responsabilidade e dos companheiros.

Nas equipas de top existem posições mais fixas e outras de maior mobilidade?

Que perfil de jogador podem ocupar essas áreas frequentemente?

Existem áreas estratégicas para ganho de 2ª bola? Quais?

O que consideras mais importante quando é necessário compensar os riscos assumidos no

ataque?

RELAÇÃO ESTRUTURA - DINÂMICA

Qual a importância da estrutura/sistema na organização de uma Equipa?

Que diferenças reconheces nos diferentes sistemas (1-4-3-3, 1-4-4-2 linha e 1-4-4-2

losango)?

De que forma o sistema pode potenciar o controlo do meio-campo?

Qual a diferença entre jogar com três jogadores no meio-campo ou quatro?

Qual a diferença entre jogar com um avançado centro ou dois?

Concordas com a afirmação: “tão importante como o Espaço que se preenche é o espaço

que se deixa livre”. Se sim, como é que vê as diferentes estruturas em função dos espaços que

elas deixam livres? (Jogo entrelinhas)

Uma equipa consegue criar mais desequilíbrios se no Espaço entre o avançado e o médio

colocarem, pela estrutura, um jogador (habitual nº10) entre a linha média e defensiva do

adversário? Ou, os desequilíbrios são maiores se esse Espaço não for ocupado e os jogadores

ai aparecerem?

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Anexos

LVI

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Anexos

LVII

Anexo 5

Entrevista a André Villas-Boas)

Treinador Adjunto do Inter de Milão

Café Maiorca - Porto, 27 de Março de 2009

Pedro Daniel Sousa (P.D.S) - Que características comuns

identificas no jogo das Equipas de Top?

André Villas-boas (A. Villas-boas) – Comum... é um bocado relativo

porque depois está tudo de acordo com os jogadores que têm a disposição e

com o que querem atingir e a forma como pretendem atingir... depois a

competição em que estão inseridos, e o jogo em que estão inseridos...e o

adversário. Características comuns é um bocado difícil de dizer... eu acho que

todos têm em mente uma referência optimal de circulação de bola, digamos

assim... há uns que se calhar defendem de uma forma um pouco mais

horizontal outros que defendem se calhar mais vertical, mais agressiva e mais

directa... ir à procura de referências comuns penso que é um bocado... difícil

(dada a Especificidade de cada Equipa...)... difícil e relativo porque entram

muitos factores em jogo... depende dos jogadores que tens à disposição,

depende do adversário, depende da competição, depende do que tens à

disposição naquele momento, da estrutura em que jogas... está dependente de

muitos factores.

(P.D.S) - Mas, por exemplo, uma Equipa para ser de Top tem que

dominar o jogo?

(A. Villas-boas) – Não, eu acho que não, por uma razão muito simples.

Eu acho nós aqui em Portugal, temos uma ideia de domínio de jogo, na base

de circulação de bola... de circulação de bola e de ter a bola mais tempo que o

adversário, que foi uma coisa que tem passado ao longo destes últimos anos,

talvez desde 2003 e é um bocado o traço do nosso futebol, do que

pretendemos atingir das equipas de topo são equipas dominadoras da posse

de bola, que encostam o seu adversário no seu meio-campo... se tu fores à

procura das grandes equipas do futebol inglês pré-Wenger, pronto se calhar na

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Anexos

LVIII

Europa não chegam tão longe como chegam agora... mas que eram sempre

equipas competitivas... dá-te uma ideia de domínio de jogo exactamente de

outra forma, sem ser a posse de bola, com jogo directo com a procura de

segunda bola, de segunda jogada, de continuação de jogo a partir dessa

segunda bola... portanto, não, não penso que... normalmente agora e no

futebol actual... talvez a referência seja mesma essa, equipas dominadoras da

posse de bola, mas também são dominadoras da posse de bola porque a sua

disposição têm muito mais jogadores qualidade que as equipas contrárias,

portanto ao ter isso à disposição seria um erro não desfrutares dessa mesma

qualidade técnica individual que tens à disposição.

(P.D.S) - Mas esse domínio, quando falo que as equipas de top

dominam o jogo, é em termos de controlo do jogo...

(A. Villas-Boas) - Controlo do jogo como controlo da posse?!

(P.D.S) - E não só... da fluidez do jogo... uma das coisas que o van

Gaal também refere é que tu podes controlar o jogo do ponto de vista

ofensivo ou do ponto de vista defensivo... mas controlas o jogo...

defensivamente podes ditar onde o adversário vai jogar...

(A. Villas-Boas) – Sim, sim... estou de acordo. Se tu dizes fluidez do

jogo na ideia que defendes, de se considerares fluidez de jogo não no controlo

da posse de bola, fluidez no sentido de também jogar directo para segunda

bola... ai vou de encontro ao que tu dizes e dou-te razão... nesse aspecto sim.

Agora o que te estou a dizer é que se a ideia, ou a pré-ideia que temos de

controlo que é aquela que nós temos é de controlo da posse de bola... neste

momento controlo do jogo em Portugal significa controlar a posse de bola,

controlo do adversário, mais tempo de posse de bola...

(P.D.S) - Exacto... porque aquilo que verificamos é que o controlo e

o domínio do jogo têm de resultar em situações de finalização... só assim

faz sentido o controlo do jogo... estavas a dizer que aqui em Portugal que,

realmente há essa ideia... e se calhar tem 60% de posse de bola... mas

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Anexos

LIX

esses 60% não resultam em nada (sim, concordo)... dai que esse controlo

nas equipas de top é importante...

(A. Villas-Boas) – Sempre com um objectivo... Sim...

(P.D.S) - E nesse controlo achas que existem sectores da Equipa

ou mesmo jogadores que podem ser mais importantes?

(A. Villas-Boas) – (...)Isso já pode ir de encontro aos mecanismos que

queres que prevaleçam em termos defensivos... porque... vou-te dar um

exemplo, há uma das equipas de topo actual, que não favorece tanto a

penetração vertical dos médios, porque prefere tê-los em posição e depois usar

as faixas e usar o movimento dos alas como grande gerador de criação de

oportunidades... portanto... não se pode atribuir... tu como treinador tens que

saber exactamente o que tens à disposição, quando vires o que tens à

disposição e analisares o teu plantel podes decidir em que modos é que queres

organizar a tua organização ofensiva depois, obviamente dentro da tua

organização e dos princípios que vais defender há determinado tipo de

jogadores que se calhar vão ter uma preponderância, se calhar maior... por ex.

eu acho que neste momento há uma coisa essencial... acho que falei disso nas

crónicas do euro 2008... que é.. actualmente equipas que jogam com pivots

defensivos, ou com médios defensivos baixos... são jogadores que estão...

tirando o Pirlo que é um caso à parte e talvez Cambiasso, mais um ou dois

nomes... são jogadores que estão limitados à divisão do jogo horizontal... que

recebem a bola de um lado e mudam a bola para outro lado num passe

horizontal e que andam ali em permanente movimento de apoio e que não

chegam em penetração... por exemplo, o Xavi Alonso é outro exemplo... será

que tu não podes potenciar depois um factor surpresa a partir do teu médio

defensivo? Por exemplo, uma divisão horizontal inicial e depois um

inserimento... uma penetração... portanto, tudo depende da ideia que tu

defendes para o teu jogo e só assim é que podes dizer quais é que são os

teus jogadores chave e o teu núcleo chave no desenvolvimento do teu jogo...

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Anexos

LX

(P.D.S) - Mas por ex... reconheces que... acho que em todas as

Equipas de top, o meio-campo, não nenhum jogador mas a área do meio-

campo é fundamental... se tens uma Equipa que opta por uma circulação

de bola... um jogo mais apoiado é um elo de ligação importantíssimo para

criares desequilíbrios, para penetração, para dividir... também para uma

Equipa que opta por jogar longo é uma importante referência para ganho

de 2ª bolas... em org. Defensiva é uma importante referência de fecho de

espaços interiores... em momentos de finalização é uma importante

referência dos equilíbrios dinâmicos... de puder tanto atacar em caso de

ganhar a 2ª bola, como parar uma transição do adversário... sendo assim

não achas que o meio-campo assume uma importância...

(A. Villas-Boas) – Sim... decisivo... Repara que há outra coisa que é

importante... dinâmicas de equipas que jogam com três médios não são a

mesma coisa de dinâmicas de Equipas que jogam com dois médios centro...

portanto... tu com três podes crias determinado tipo de dinâmicas, de

movimentos... podes permitir movimentos de aproximação e outro fingir

movimentos de afastamento... portanto, dá-te liberdade para jogares com essa

dinâmica dos médios e depois para saíres com mais fluidez de jogo... se

jogares com dois médios em 4-4-2, e jogares com dois médios centrais, não

contes com os jogadores que jogam abertos... depois depende da ideia, da

forma como interpretas esse 4-4-2 se os que estão por fora são alas ou se os

que estão por fora são médios mais fechados... se tu pensares nesses dois do

meio-campo só, vês as coisas muito mais difíceis em termos de dinâmica

nesses espaços. Neste momento uma equipa que faz desses dois, dois

grandes organizadores de jogo, talvez seja o manchester e pouco mais...

porque sabem exactamente como é que hão-de criar espaço um para o outro ,

um posiciona-se um bocado mais profundo e o outro um bocado mais baixo,

trocam de posição... têm já essa dinâmica bem definida...mas não é fácil, não é

uma coisa que seja fácil em 4-4-2... sim, eu acho que... como eu te disse... na

fluidez de jogo o meio-campo é essencial... mas a bola tem que vir de algum

lado tem que passar de algum lado, se for uma bola directa e uma segunda

bola, o ponta de lança primeiro tem que ganhar a primeira bola e só depois é

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Anexos

LXI

que tens os médios em apoio. Depois o outro ponto que te falei que nem todas

as equipas podem querer dar penetração a esses médios centro, portanto...

tudo depende da dinâmica que pretendes para a tua Equipa.

(P.D.S) - A circulação de bola é uma característica importante na

organização ofensiva de uma equipa de Top...

(A. Villas-Boas) – Define-me tu a circulação de bola...

(P.D.S) - Falo numa circulação que tanto pode ser horizontal como

vertical... quando falamos em circulação falamos num meio necessário

para chegar à baliza do adversário...

(A. Villas-Boas) – Então ai digo-te que penso que são essenciais para

todas... todos queremos chegar à baliza do adversário e... todos queremos

fazer golo, esse é o objectivo do futebol. A forma como fazemos é que vai

depender... se definires circulação de bola desse modo tão geral, obviamente

uma equipa quer fazer golos, quer fazer golos potenciando o que tem à

disposição, potenciando uma transição ou o jogo directo... se me dizes que as

equipas de topo tem como referência essa circulação de bola... penso que

algumas que o fazem exactamente nesse aspecto, de uma forma mais

horizontal, outras que fazem com um misto de horizontal com vertical, que é o

caso do Liverpool, desses dois casos do Liverpool e do Barcelona... desses

dois casos por exemplo tu podes extrair o Barcelona para um vertical que é

mais um vertical com a bola... com a bola no chão com passes que primeiro

entram nos avançados e depois é que entram nos médios, e se analisares o

vertical do Liverpool já vês mais o jogo aéreo digamos assim... portanto,

obviamente as equipas de topo tem sempre um maior domínio, normalmente

têm sempre maior domínio da posse de bola, também pela qualidade dos

jogadores que têm à disposição. Quando entram em cena tanto tipo de factores

que são essenciais... Por ex. tu agora pegas também no Barcelona e no

Manchester nos jogos em casa... vês que as equipas que vão jogar, tirando um

jogo de champions league... mas as equipas que vão lá jogar para o

campeonato nacional, entram em campo já com o medo “scenico” do

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Anexos

LXII

Valdano... entram derrotadas em campo, entram em bloco baixo, favorecem-te

automaticamente uma saída tranquila a partir da tua primeira fase, chegas ao

teu meio-campo facilmente, tens o controlo da bola... automaticamente isso vai-

te criar maior número de oportunidades, porque o adversário está ali à espera

em bloco baixo que numa transição possa fazer um golo, e a partir desse golo

mantendo a sua organização defensiva, chegam ao 1-1 ou ao 1-0, um

resultado assim do género.

(P.D.S) - Falas-te da circulação de bola horizontal e vertical... o que

caracteriza esses padrões?

(A. Villas-Boas) – Depende de como os interpretas. Acho que não

podes separa-los porque... vamos falar em momentos de circulação vertical...

ou de fluidez do jogo vertical, para englobar mais nos teus termos... fluidez

vertical, aquela que falamos por exemplo do Barcelona, com passes que

entram muitas vezes dos centrais que saem condução de bola e o Eto’o

aparece em movimentos entrelinhas e entra o primeiro passe no Eto’o e depois

do Eto’o há a dinâmica dos médios para virem buscar esse lay-off do Eto’o...

este passe que entra do central para o Eto’o é um passe que rola no chão... se

fores a procura de outro tipo de dinâmicas tens a dinâmica do Liverpool que a

bola entra no lateral e o Carregher abre aqui um bocadinho faz um apoio um

bocadinho atrasado mas mais perto do lateral a bola entra nele e bola diagonal

longa para o outro lado... portanto... tens logo duas formas de jogo vertical...

(P.D.S) - (...) o entendimento de vertical que falas-te... as minhas

referências (principais) de observação na monografia são o Barcelona e o

Arsenal como dois modelos distintos de qualidade... eu digo que o

Barcelona tem uma circulação de bola mais horizontal e o Arsenal

vertical. Horizontal porquê... porque o Barcelona... por exemplo os

centrais , é diferente teres o Puyol do Gallas... enquanto o Puyol não tem

tanta qualidade para fazer passes verticais o Gallas já tem... e enquanto

no Barcelona é “toque, toque,...” e também com passes verticais... eu

penso que o Adebayor está (quase) sempre a descer, mas também há

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Anexos

LXIII

outro aspecto importante... eles têm sempre uma referência na frente,

mesmo que Adebayor desça eles têm sempre lá um, normalmente joga

com dois, enquanto no Barça se o Eto’o descer fica sem a referência... a

não ser que depois apareça outro jogador a ocupar essa posição... por

vezes até é o Iniesta... e então classifiquei o Barça mais como tendo uma

circulação de bola mais horizontal porque há mais aproveitamento da

largura do que no Arsenal, por exemplo.

(A. Villas-Boas) – Ora bem, mas há aqui uma coisa que tens que

compreender... primeiro tens que compreender que o Arsenal tem no Adebayor

uma referência... de um gajo com grande talento no aspecto do controlo da

bola aérea... portanto tem essa opção valida... e depois não é uma equipa que

o procure de uma forma acentuada... A partir de agora hás-de notar mais o

Barça... o Barça é uma Equipa que joga horizontal só depois de um passe

vertical... vê a saída dos centrais e vê a forma como eles constroem... os

centrais constroem abertos, e projectam os laterais um bocado mais além da

linha do meio-campo, os centrais recebem a bola... tu vê primeiro a relação... e

penso que o Guardiola falou nisso ao Amieiro, deu o exemplo a provocação

que fazem ao adversário... um central pega na bola e começa a conduzir a

bola... se o adversário sai a pressionar bola logo rapidamente para o outro

central e sai este central com bola, em penetração vertical, digamos, com

bola... a partir do momento que este gajo tem a bola em vez de fazerem passes

aos médios que estão de costas... o adversário mete-os sobre pressão... fazem

passes verticais que podem ser o movimento entrelinhas do Messi ou do

Iniesta... ou passes verticais que entram directamente no p. lança... a partir

dai, desse passe vertical, jogam as segundas bolas com lay-off’s curtos em

movimentos que são exactamente desses alas que vêm para dentro, ou então

aos médios que em vez de estarem de costas como estavam antes, já estão de

frente para o jogo...tu repara bem... eu acho que o Barcelona actualmente, não

é o Barcelona do van Gaal, onde era largura total do jogo... amplitude máxima

(até porque muitas vezes está o Iniesta na esquerda e ele tende a vir para

dentro para o Espaço entre linhas)... mesmo quando jogam com Henry na

esquerda tu vês a quantidade enorme de movimentos na diagonal para

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Anexos

LXIV

dentro... depois têm uma capacidade enorme de não perder a bola, de fazer as

coisas com uma precisão inacreditável...eu acho que neste momento no futebol

actual há mais espaços do que aquilo que se pensa... mesmo se jogares contra

equipas que jogam em bloco baixo... meio-campo já conquistas-te logo à

partida... depois de conquistares esse meio-campo, o adversário esta em bloco

baixo, podes jogar com provocação do adversário à bola, a bola é a referência

para o adversário, e tens que começar a perceber que há muitas equipas... que

tem um espaço à frente... que pode provocar um adversário à bola para

conquistar um espaço e joga a bola para dentro num colega que se calhar está

sob pressão do adversário... há muitos jogadores que não têm entendimento

do jogo... não conseguem ler o jogo.. penso que as coisas se tornaram para o

jogador demasiado fáceis.. os salários são altos, a vida é boa, vivem ali 5h, o

máximo, dentro do clube chegam às 8h saem às 5h da tarde... e portanto,

chegam ao jogo não têm capacidade de concentração, não têm capacidade de

pensar o jogo, não têm capacidade de ler o jogo, a vida neste momento está

tão facilitada que depois chegam à hora do jogo e não têm entendimento de

jogo, não sabem o que é uma provocação à bola, não sabem defender os

espaços, não sabem ler os espaços... e este Barça neste momento é

exactamente tudo o contrário, é jogadores que estão em constante

pensamento, pensam no gesto técnico, pensam no movimento, sabem que

conseguem chamar um adversário só com a posição da bola... tenta ver o

Barça novamente e vais ver que encontras esse tipo de dinâmica.

(P.D.S.) - Também uma das coisas que nós dizemos é que é uma

circulação de bola predominantemente horizontal ou vertical... porque até

mesmo na mesma jogada pode haver uma circulação de bola horizontal e

vertical...

(A. Villas-Boas) - Sim... estou de acordo...

(P.D.S.) - E de que forma o meio-campo determina a existência de

uma circulação de bola mais horizontal ou mais vertical?

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Anexos

LXV

(A. Villas-Boas) – (...) Repara da mesma forma que te respondi antes...

da forma como tu entenderes o jogo, da forma como o treinador defender os

seus princípios.

(P.D.S.) – Mas depende muito da qualidade dos jogadores que ai

tiveres...

(A. Villas-Boas) – Obviamente e da forma como os pretendes

potenciar... uma coisa é teres o Carrick que a 40 metros mete a bola onde

quer... outra coisa é teres um jogador tipo...

(P.D.S.) – Há vários perfis de jogadores para a posição de médio

centro e há uns que se complementam outros que nem tanto... e

normalmente vemos dois perfis de jogadores: um que procura muito mais

a verticalidade, para mim o exemplo é o Fabregas que tenta sempre meter

e com uma precisão impressionante, depois tem outros do género de

Busquets, não procura tanto os espaços verticais mas procura mais o

movimento (horizontalidade, os apoios) e como esses se calhar

identificamos esse par em várias Equipas... até mesmo se calhar no

Inter... temos o Cambiasso, que procura a verticalidade sobretudo em

momentos de transição em que ele procura o Ibra... que também pode ser

uma referência de...

(A. Villas-Boas) – Mas ai potenciamos uma ideia da nossa transição.

Não podes dissociar do que pretendes como treinador e com o modelo de jogo.

Agora acho que podes dizer que há muitas equipas que não têm modelo de

jogo definido, e tudo acontece pela criatividade dos jogadores. São as equipas

mais difíceis de observar, não têm uma ideia de jogo, não têm princípios,

deixam as coisas acontecer um bocado ao acaso, potenciam dois ou três

lances estratégicos, duas ou três jogadas combinadas... tudo depende do que

tu queres como treinador.

(P.D.S.) – Para marcar é necessário correr riscos... que tipo de

riscos as equipas de top correm... por exemplo dos passes verticais... há

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Anexos

LXVI

uma situação que o Mourinho refere que é o “atacar com muitos

jogadores” entendes que isso é um risco que uma equipa de top tem de

correr...

(A. Villas-Boas) – Tocando nas equipas de topo, a forma como criam

golos... primeiro têm a disposição todo um recurso técnico dos seus jogadores

que as equipas de meio da tabela não têm... como tecnicamente têm muito

mais qualidade permitem ser mais concreto e ter mais possibilidades de

sucesso no 1x1 por exemplo... outro ponto que eu toco é que não podes

dissociar... ou tens de associar a equipa de topo aos jogadores que tens à

disposição... depois se tocarmos individualmente nas equipas de topo actuais...

pode haver três ou quatro pontos no máximo onde as coisas são semelhantes

de uma equipa para a outra, mas criam oportunidades de diferentes formas...

por exemplo, o Carrick mete a bola ao Ronaldo, o Ronaldo vira-se para o

adversário, no 1x1 é o melhor do mundo ou dos melhores do mundo, quando a

bola chega em amplitude ao Ronaldo e tens ali certeza de sucesso no 1x1 e

tens certeza de sucesso no cruzamento é um ponto de referência... se disseres

da mesma forma que a bola entra do Xavi para o Messi e do Messi no 1x1 com

o lateral, tens ali certeza de sucesso... nem sequer de cruzamento... certeza de

remate interior ou a partir de condução interior um passe de penetração

mágico... se fores se calhar ao encontro de outro tipo de equipa, por exemplo,

mesmo nós com o Quaresma que passou por um período de adaptação muito

difícil... a bola chegava ao Quaresma e tu não tinhas ali certeza de sucesso no

1x1, nem tinhas certeza de sucesso no cruzamento, portanto, a partir dai tens

equipas que se calhar têm essa referência do querer jogar em situações de 1x1

de ala contra o lateral e umas oferecem determinado tipo de sucesso porque os

jogadores que têm a disposição, são jogadores de qualidade fora de serie e

outras não... porque apesar de serem jogadores de grande qualidade, não têm

a mesma eficácia técnica... tens ali um padrão comum só aqui em três equipas:

inter, Barcelona e Manchester... tens ali um padrão comum, de um movimento,

ou da libertação de um ala no 1x1 com o lateral e em duas equipas tens maior

possibilidade de sucesso, estamos a falar de Ronaldo, de Messi, de Henry... no

lado esquerdo do Manchester já não falas nisso porque é o Park já é outro tipo

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Anexos

LXVII

de dinâmica completamente diferente... depois falas do Inter naquele período

de Outubro a Dezembro, quando chegou o Quaresma que a gente pretendia

potenciar exactamente isso, um jogo com alas, queríamos potenciar um 4-3-3

como jogo a desenvolver, tinhas ali um jogador que estava com grandes

dificuldades de adaptação, estava com problemas... que não se conseguia

exprimir, que não tinha o apoio do público... e naquele momento não te dava

garantia de sucesso continuidade do jogo... assim podes estabelecer um

padrão nas equipas de top, um ou dois ou três ou quatro coisas comuns entre

elas, depois depende de tudo o que tens à disposição e do que queres para

desenvolver a segunda acção o que queres a seguir ao 1x1, cruzamento ao

primeiro pau, cruzamento ao segundo pau, se pensas em equipas que... será

que o ponta de lança vai aparecer ao primeiro pau, será que não vai aparecer

ao primeiro pau... depois depende dos mecanismos das equipas estão

definidos ou não.

(P.D.S.) – Essa era uma situação que também ia abordar do 1x1...

mas outro dos riscos que as equipas de top assumem é o “aparecer com

vários jogadores”, ou seja, não só os dois ou três... mas também os

médios, com movimentos de trás para a frente, aparecerem para

finalizar... isso acaba por ser um risco porque saem de posição e tem que

haver ali mecanismos de compensação dessas subidas...

(A. Villas-Boas) – Sim, obviamente... penso que sim... (estava a ver o

Inter e via o Cambiasso aparecer em Espaços para finalizar... que se calhar é

aquela referência também em org. Defensiva...) repara que até há uma coisa

que o Mister Mourinho que no início não queria... não tanta penetração dos

médios... porque queria exactamente a libertação do Maicon pela faixa e

depois estava com medo desses problemas de transição que o adversário

poderia oferecer... a partir dai limitou um bocado o inserimento dos médios

para dar liberdade ao Maicon para aparecer de trás para a frente... atacar com

mais números não significa que mais criação de oportunidades, significa

exactamente isso... correr riscos maiores... agora vai de encontro ao que

falamos há bocado... o Barça sabe neste momento que, quando tem a posse

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Anexos

LXVIII

de bola consegue levar a bola da sua baliza à baliza do adversário, portanto,

defende-se na sua posse, nos momentos de 1x1 os jogadores defendem...ou

sabem proteger a bola, metem sempre o corpo entre a bola e o adversário,

depois têm grandes mecanismos de apoio atrasado em ultimo caso... depois

vai de encontro também com o medo do adversário, que entra já em bloco

super baixo à procura de transições... atacar com mais gente não é sinal de

qualidade obviamente, depende do que tens à disposição e a forma como o

queres fazer...

(P.D.S.) – (...) Sim... porque, é um facto, que quase em todas as

equipas de top há sempre um dos médios que até marca bastantes

golos... e isso exige da equipa todo um conjunto de mecanismos de

compensação de fecho de espaços interiores... mas há um problema e

verifiquei isso no Inter nesse jogo que vi, que é a sobreposição de

jogadores... porque lá está quantidade não é qualidade e por vezes

quando há esse “atacar com vários jogadores”... se calhar é um bocado

falacioso... porque não é atacar com vários jogadores é... (mas tu dizes

que observas-te no inter o que?) Sobreposição de jogadores ou seja, dois

jogadores estarem no mesmo espaço quase que se atrapalham um ao

outro... vi em determinadas situações o Quaresma e o Maicon um bocado

(atrapalhando-se no mesmo espaço)... e até é mais fácil até, para o

adversário defender, se houver essa sobreposição, por isso quando digo

atacar com vários jogadores é vários jogadores puderem atacar mas não

necessariamente ao mesmo tempo...

(A. Villas-Boas) – Estou de acordo. A gente acaba por incidir se calhar

no Barça e no MU mais vezes porque se calhar são as equipas que neste

momento, as pessoas pensam que vão ser as duas finalistas... se tu vires

agora o Barça tu vês que há outro aspecto decisional... há um lateral de um

lado que chega exactamente mais cedo, que se insere mais cedo, o outro

lateral inicialmente está em compensação, quando a bola começa a circular, a

bola vai chegar ao outro lado por exemplo, vamos imaginar, ao Messi, subiu o

Silvinho... normalmente jogava o Puyol a lateral esquerdo mas agora está a

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Anexos

LXIX

jogar o Silvinho à circulação de bola e a bola chega a Messi do outro lado,

analisa o tempo de inserimento do Daniel Alves, vais ver que não é imediato há

sempre o factor surpresa, é sempre quando tu menos esperas, não está, vai

um bocado de encontro ao que tu dizes... não está imediatamente em overlap,

sabe exactamente escolher o tempo de inserimento... outro dia com o Málaga

fez um golo assim, quando tu menos esperas aparece-te a fazer uma diagonal

interior a fazer golo de cabeça, ou então em vez de fazer um overlap logo cedo

como gostam os ingleses de fazer... escolhe o timming perfeito para esse

overlap... não aparecer demasiado cedo mas de uma forma temporizada.

(P.D.S.) – E depois uma das qualidades tanto do Daniel Alves como

do Maicon é a capacidade para jogar tanto por fora como por dentro...

(A. Villas-Boas) – Sim, sim... uma das coisas que no Inter depois

acabamos por ter de ir à procura foi que, o Maicon chegava e tinha uma

qualidade enorme a conduzir a bola interior e depois tivemos que ir à procura

de mecanismos de quando ele tem a bola, no espaço interior e com o seu pé

esquerdo o que pode fazer... se chuta à baliza, se cruza com o pé esquerdo, se

escolhe essas duas coisas, ou tens segunda bola do GR, ou então se for só

cruzamento tens de ter alguém ao segundo pau para aparecer, o cruzamento

ao segundo pau é defeituoso se for um cruzamento com o pé esquerdo do

Maicon, são coisas que te levam... que tivemos que começar a analisar de

acordo com o que ele oferecia nesse tipo de movimentos.

(P.D.S.) – Quando a Equipa ataca tem que ter preocupações

defensivas... De que tipo?

(A. Villas-Boas) – Ora bem, acho que neste momento ninguém gosta de

deixar dois centrais... nem dois centrais para um ponta-de-lança.. o equilíbrio

será sempre deixar os dois centrais em posição talvez com um lateral menos

agressivo do que o outro... tendo em conta o que falamos a bocado, de fluidez

de jogo sustentada... eu penso que... que normalmente os jogadores ficam

para trás, nas grandes equipas de topo... vamos se calhar... vamos descobrir

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Anexos

LXX

que é sempre um lateral e um outro lateral mais agressivo, dois centrais e as

equipas que jogam com um Pivô é um Pivô baixo...

(P.D.S.) – Então as preocupações das Equipas serão sempre (com

um determinado tipo de equilíbrios) com o fecho de espaço interior da

equipa.

(A. Villas-Boas) – Tens que ver que vai sempre bater no ponto do

adversário. No outro dia no 6-0 do Barcelona com o Málaga tinhas um malaga

que estavam permanentemente atrás da linha da bola, já não diga na metade

do campo, digo mesmo no terço defensivo... os centrais estavam como

querem... primeiro porque o avançado estava distante não estava em linha com

eles, nas costas não podia ameaçar...ali não havia caso para estares

preocupado com uma compensação dos médios, bastava que os teus centrais

dessem um posicionamento mais agressivo, que estão já subidos... a tua

equipa está já subida... o adversário já está dentro da sua grande

área...portanto, analisando essa situação o teu equilíbrio pode perfeitamente

ser os dois centrais.

(P.D.S.) – Isso é uma coisa que o Carlos Queiroz refere acerca dos

equilíbrios...

Que prioridades identificas nas equipas de top quando ganham a

bola?

(A. Villas-Boas) – É como tu dizes, não podemos dissociar uma coisa

da outra. Normalmente equipas como o Arsenal por exemplo, e como o Porto

fazem transição inicial após ganharem a bola... para essas duas equipas é fuga

à pressão imediata... se estão sob pressão têm mecanismos automáticos de

sair da pressão... e têm esses mecanismos porque, o porto por exemplo tem

sempre normalmente nas suas equipas grandes pivôs defensivos, capazes de

rapidamente receberem a bola, de se posicionarem... ou de criarem ângulos de

passe que permitam exactamente, receber a bola para tira-la da zona de

pressão... são equipas também que estão habituadas a desdobrarem-se

rapidamente... portanto, de um espaço fechado abrirem-se rapidamente para a

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Anexos

LXXI

transição... agora depende da maneira como o fazem... se calhar o Porto

prefere uma saída da zona de pressão para libertar o homem mais distante em

profundidade, o Homem mais em amplitude por exemplo... e o Arsenal quer

sair da zona de pressão, mas tem qualidade para sair dali de uma forma

explosiva... independentemente do espaço reduzido... porque tem qualidade no

toque, tem velocidade no toque, sabe jogar ao primeiro toque... o Barcelona e

manchester já vão um bocado ao encontro também... o MU nem tanto, porque

defende normalmente... o máximo dois passes para sair da zona de pressão e

um passe largo que pode entrar para uma diagonal larga do Ronaldo ou um

passe vertical quando Bervatov vem entrelinhas, que depois serve de homem

que liga essa primeira fase de transição a uma segunda fase de transição, ou

então libertar o Ronaldo em posição para enfrentar o 1x1... o MU estamos a

falar da potenciação absoluta da transição porque são uma equipa que faz isso

de um modo perfeito... muito melhor do que todos os outros... o Rooney é ultra-

explosivo... nos movimentos que faz nas costas dos laterais em transição...o

Ronaldo se recebe a bola, recebe a bola distante do lateral e depois ataca-o a

velocidade alucinante que ele não é capaz de responder... portanto, tem a

saída do Rooney por um lado e a do Ronaldo por outro e depois entrelinhas

tem a saída do Bervatov que liga a uma segunda fase de transição que liga

onde já entram o Ronaldo e o Rooney em diagonal. Se falares no Barça

obrigatoriamente tem que jogar com a amplitude que têm no seu jogo e a

dimensão do camp nou e os espaços grandes... portanto ai já é uma transição

para amplitude máxima do jogo.

(P.D.S.) – Quando falamos em transição, e é normalmente essa

associação... e lá está depende do entendimento que tens dos

momentos... porque a transição existe de qualquer maneira...seja para

procura profundidade seja para procurar segurança... há sempre

transição...

(A. Villas-Boas) – Sim, sim... Normalmente o que tens medo é da

transição ofensiva agressiva, quando analisas uma equipa tu vais... se essa

equipa for mortal nos momentos de transição ofensiva agressiva, tu acabas por

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Anexos

LXXII

definir o padrão de transição dessa equipa como sendo um padrão agressivo,

de transição rápida e que te pode matar... obviamente que depois durante o

jogo vai haver 50 transições que podem ser diferentes que são transições

normais de ganho de bola, de duelo, de segunda bola...

(P.D.S.) – Porque se calhar vemos que muitas das equipas de top...

essas transições para imediatamente criar desequilíbrios ou aproveitar

desequilíbrios do adversário, nem sempre faz sentido porque muitas

vezes o adversário está lá trás... ou está com muitos jogadores atrás da

linha da bola, ou então se estão a jogar duas equipas de top, a outra

equipa tem equilíbrios...compensa bem... por isso outro tipo de transições

tem que existir...

(A. Villas-Boas) – Sim, sim... Eu acho que a transição ofensiva e

agressiva vai um bocado de encontro ao pânico e a velocidade do futebol

actual, há pressão em torno dos treinadores de vencer, há pouca capacidade

de pensar, como falávamos há bocado dos jogadores, há o sentido de urgência

que o jogo actual tem...é tudo pânico, é tudo velocidade... e transmite um

bocado a ideia do que é a sociedade actual... portanto, acho que no jogo tu

encontras esse tipo de traços, portanto a transição agressiva e objectiva tu

acabas por encontra-la mais vezes por isso mesmo... porque a pressão de

vitória ou a pressão de um resultado sobre o treinador é decisiva e realmente é

um momento onde tu podes ter grandes probabilidades de sucesso... porque

realmente se for bem-feita é quando encontras o adversário desorganizado...

(P.D.S.) – Mas ao reconheceres que realmente isso é um reflexo da

sociedade, essa cultura de urgência... e de ansiedade... ao dizeres isso

estás a dizer que há uma exacerbação das transições...quando falei da

fluidez é nesse sentido... uma Equipa de top sabe a importância da

transição... mas as equipas que não são de top parece que distinguem a

importância da transição da importância dos momentos ofensivos...

porque independentemente da qualidade do adversário, de como ele

equilibra... o primeiro objectivo é bola para a frente, mesmo que isso não

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Anexos

LXXIII

resultado... e é nesse sentido que se calhar os momentos de transição

têm sido um pouco sobrevalorizados nessas equipas... porque vários

treinadores de top reconhecem a importância dos momentos de

transição... mas esses treinadores não tenho duvidas que sabem que tão

importantes como esses momentos são os outros todos... não se descura

os outros...

(A. Villas-Boas) – Sim acho que sim. Vai um bocado de encontro aquilo

que falamos que é a pressão sobre o treinador e o facto de terem... vamos

imaginar que estamos a falar de equipas de topo... equipas de topo,

analisando... Liverpool, Chelsea, Inter, M.U, vais ver os diferentes tipos de

transição, agora pega nas equipas que jogam contra essas equipas, que vêm

ali nesse momento de transição o único momento onde talvez possam criar

situações de perigo... pensa em equipas por ex. como a Udinese... que tem

três jogadores na frente que são super rápidos, super agressivos, super

directos na profundidade, que querem atacar espaços nas costas, que tem

diagonais com um timming perfeito, portanto são equipas que contra as

grandes, sabem que aí podem ter possibilidades de sucesso... depois há outro

aspecto que eu acho decisivo que é, a cultura do bloco baixo actual no

futebol... normalmente analisas a maior parte das equipas, deixou de haver

equipas de pressão alta de bloco alto, deixou de haver... ok, falamos de

velocidade e urgência no aspecto ofensivo mas no aspecto defensivo falamos

em precaução, em medo, em esperar uma transição, exactamente pela

importância que tem, obviamente que nos outros momentos... obviamente que

os outros momentos são importantes, mas se tu falares na Udinese, que tem ali

3 jogadores na frente, que está no meio da tabela, que sabe que esses três

jogadores da frente oferecem um tipo de transição agressiva, então defende-se

em bloco baixo e depois transição com esses três homens da frente... porque é

que a Udinese havia de mudar ou porque é que a Udinese não havia de

potenciar essa velocidade extrema que tem nesses três jogadores da frente...

por exemplo com uma posse sustentada... estava completamente

desenquadrada da realidade, ou das qualidades que esses treinadores têm à

disposição... portanto, cada equipa tem que ir ao encontro daquilo que tem à

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Anexos

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disposição, e o facto é, a maior parte das equipas jogam em bloco baixo,

quando jogam em bloco baixo o adversário de topo, ou o outro adversário que

é um adversário que vai jogar dentro do seu meio-campo, tem obviamente

espaço nas costas, se tu jogas em bloco baixo tens uma transição... a tua

referência está ali, é o espaço nas costas onde queres sair... porque não vais

conseguir sair em transição com uma posse sustentada desde o teu meio-

campo até ao terço ofensivo do adversário, com uma equipa de meio da

tabela... portanto, indo de encontro...sim, tem a importância a transição... vai de

encontro aos jogadores que tens à disposição, vai de encontro também à

cultura do bloco baixo, e cultura do bloco baixo significa talvez ir à procura de

transições em profundidade, também é uma coisa que podes investigar... as

equipas que jogam em bloco baixo de certeza que maior parte delas, ou 70%

delas, vão em transições em profundidade, porque é lá que está o espaço que

querem atacar... não é que... eu acho que a transição tem sem dúvida face ao

futebol actual... é um dos grandes momentos do jogo para desenvolver, as

equipas de top fazem de maneira diferente das equipas de meio da tabela que

têm que jogar com o que têm à disposição e com o posicionamento do

adversário.

(P.D.S.) – Quando uma equipa de top está defensivamente

organizada que tipo de preocupações tem com o ataque?

(A. Villas-Boas) – Por ex... vamos falar no caso do Manchester... o

Manchester pensa exactamente em deixar um dos alas, pelo menos, meio-

meio entre transição e organização defensiva, normalmente ou é o Ronaldo...

vamos imaginar o Manchester em 4-4-2... e a defender em bloco médio-baixo

como defendem ou com as duas linhas de quatro compactas... um dos alas, já

está meio-meio entre transição, que é o Ronaldo... portanto, recebem a bola,

saída imediata de pressão e libertar o Ronaldo, primeiro objectivo, se não for o

Ronaldo, se o Ronaldo fechar, a transição já é com o Rooney em movimento

em diagonal nas costas do lateral... vais ver o jogo que nós jogamos com o

manchester e vês... mesmo um jogo qualquer do Manchester do campeonato

inglês, que um deles já está com olho em possível saída...

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Anexos

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(P.D.S.) – A própria definição de momentos de pressão também

pode ser uma preparação para o ataque?

(A. Villas-Boas) – Sim...isso já vai de encontro à observação que fazes

do adversário... ao que potencias, ou as zonas que potencias onde podes mais

vezes ganhar a bola, aos jogadores que tecnicamente são mais limitados que

podes pressionar de uma forma diferente... depois todo o seguimento do resto

se entenderes.

(P.D.S.) – Esta pergunta vai de encontro ao que estamos a falar...

Consideras que duas linhas de quatro são suficientes para defender?

Esta pergunta vem a propósito de que... nesse jogo (com a Udinese) não

sei quem desceu para defender, à frente estava o Ibra, o Ballotelli... não

sei se estava o Quaresma ou já estava o Júlio Cruz... penso que já não era

o Quaresma que estava a jogar mas o Júlio Cruz que jogava mais

entrelinhas e a defender recuava um pouco mais... aquilo que me pareceu

é que mesmo o Ibra, quando perde a bola parece que desiste um pouco

dos lances... agora não sei se isso é dele (das suas características) ou se

é uma coisa que é treinada para o libertar mais para as tarefas... ou seja

duas linhas de quatro, se forem suficientes, permitem-te ter dois

jogadores cujas preocupações são mais ofensivas do que defensivas...

eventualmente pressionam mas não há aquela preocupação de

pressionar... acho que isso acontece muito com o Ibra...

(A. Villas-Boas) – Sim, eu acho que aí entra muito em função com o

emocional do jogador... uma coisa é tu perderes a bola em 1x1, porque tentas-

te fazer uma vírgula... se calhar ai tens vergonha e tentas logo recuperar a

bola, outra coisa é o adversário em vez de estares 1x1 estares 1x2 passas pelo

primeiro e o segundo rouba-te a bola... e, se calhar um lance um lance idêntico

com o teu colega do outro lado, e tu emocionalmente estás frustrado... penso

que jogadores como o Ibra, tens que pensar e permitir, determinado tipo de

comportamentos emocionais porque depois ele oferece-te tudo o resto.

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Anexos

LXXVI

(P.D.S.) – Só que toda a equipa... quer dizer não estamos a dizer que

todo o jogar da Equipa depende desse jogador... mas toda a equipa...

(A. Villas-Boas) – Sim.. falamos no Manchester há bocado, há equipas

que se preparam exactamente esses momentos há jogadores que... ok! Podem

perder a bola depois podem ficar ali naquela posição, depois pode haver uma

contra-transição... o adversário não tem qualidade para sair, perde a bola mais

facilmente e logo contra-transição sob o adversário... o adversário não tem

qualidade de construção perde automaticamente a bola e tu já beneficias de

um posicionamento mais avançado dos teus jogadores para teres uma

transição ainda mais agressiva... acho que há equipas que se preparam assim,

o Milan é uma equipa dessas que acaba por usufruir de contra-transição

porque o que se passa é o seguinte... tem jogadores como Pato, Ronaldinho,

Beckam, por ex., jogadores que... e depois também como equipa, chegam ao

terço ofensivo do adversário em posse sustentada, vão criar situação de

desequilíbrio, o adversário ganha a bola, o adversário não tem qualidade na

construção para sair, não tem qualidade de construção para sair... e eles são

passivos na transição, são passivos porque como equipa são lentos em

transição defensiva... como equipa são... o Ronaldinho se calhar está-se a lixar

para a transição defensiva...mas, como o adversário não tem qualidade para

construir perde logo a bola, ou tenta um charuto para a frente e perde logo a

bola, acabas por beneficiar de uma transição negativa dos teus jogadores, de

uma transição negativa dos teus jogadores... o Ronaldinho vem a passo...

aqueles teus três jogadores estão ali na mesma posição prontos para uma

contra-transição, acabas-te por beneficiar de uma falta de qualidade do

adversário para usufruir de um posicionamento alto dos teus jogadores para

fazer uma transição normalmente... eles fazem isso de uma forma

premeditada, a outras equipas que se estão a lixar para a transição defensiva...

(P.D.S.) – Se é... o defender com duas linhas (dois sectores) de

quatro jogadores permite-te ter a largura toda ocupada... em termos de

coberturas... o van Gaal também refere que quer defender sempre essas

duas linhas de quatro, eventualmente se o adversário construir curto na

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Anexos

LXXVII

linha de trás só quer (acha suficiente) três, se construir longo quer 4 para

garantir que fica com a bola... jogando três ou quatro, estas duas linhas

permitem ter sempre ter as coberturas todas e é muito mais difícil passar

e permitem-te se calhar, que esses jogadores estejam mais soltos...

(A. Villas-Boas) – Tens de ter em consideração que deixando dois

jogadores mais soltos, obrigatoriamente o adversário deixa dois, são os dois

centrais, como não vão deixar dois para dois, um lateral vai com certeza ficar...

portanto são dois, mais o lateral ,mais o GR... portanto sobram sete jogadores

contra oito teus... portanto tens superioridade automaticamente.

(P.D.S.) – Já falamos da circulação de bola horizontal e ou vertical.

Reconheces a verticalidade uma característica fundamental para criar

desequilíbrios?

(A. Villas-Boas) – Também. Neste momento defendo uma relação

optimal entre verticalidade e jogo horizontal, e para mim o expoente máximo

disso é o Liverpool, que é uma equipa que não sabes quando joga vertical e

quando joga horizontal, quando joga das duas maneiras, faz isso a uma

velocidade incrível... com velocidade no passe, com ritmo na posse de bola,

com movimento de jogadores... e essa alternância que te vai permitir um factor

surpresa que o adversário não está a contar, num momento pode esperar uma

coisa e eles fazem outra, no outro momento é exactamente o contrário. Para

mim neste momento é a equipa que potencia isso de uma forma, que os outros

não o fazem... um bocado fruto da cultura do futebol inglês e um bocado pelo

que o Benitez oferece em termos de futebol espanhol e de posse sustentada,

criou-se ali um misto, tem jogadores para isso, tem jogadores que interpretam

exactamente isso, jogadores como o Gerard, como Mascherano que são tudo

vertical, tudo velocidade e depois jogadores com Xavi Alonso como Riera que

são jogadores com muitos mais momentos de pausa, que interpretam o jogo de

uma forma completamente diferente e a alternância que têm entre os dois

momentos é uma coisa fora do normal.

(P.D.S.) – Essa complementaridade é muito importante...

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Anexos

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(A. Villas-Boas) – Sim para mim sim, decisivo.

(P.D.S.) – Se a verticalidade é uma maneira importante de criar

desequilíbrios, concordas então que os desequilibradores não são

apenas os que vão no 1x1 mas também são os que se encontram no

centro?

(A. Villas-Boas) – Sim... (...porque são eles que normalmente dão um

passe vertical...)... eu acima de tudo acho que... os jogadores que jogam no

centro, como são jogadores que jogam em espaços muito mais reduzidos do

que os outros, por exemplo um ala tem a protecção da linha, ou pelo menos

têm a referência da linha, sabem que, por trás deles não aparece nada e têm

todo o jogo de frente para eles, a partir da linha... tu és um ala direito por

exemplo, a partir da linha quando recebes a bola numa posição meia aberta,

onde tens uma visão geral do jogo, sabes que dali de trás não vem nada, tem

uma linha lateral, e a linha lateral é a tua referência. Os médios não... os

médios, uma pressão pode vir de onde tu menos esperas, pode vir de trás,

pode vir de um ponta de lança adversário, pode vir dos alas fecharem o espaço

interior. Acima de tudo, os médios penso que têm que ser jogadores que... têm

que potenciar o seu nível técnico, de acordo com a construção do jogo que

apresentam. Eu acho que há médios que não sabem fazer um controlo

orientado, quando estão sob pressão não sabem a forma mais fácil de eliminar

um adversário, não sabem meter... como são jogadores que estão

permanentemente com um gajo nas suas costas, não sabem meter o corpo

entre o adversário e a bola, são pequenos gestos técnicos que os ingleses, se

pensares no aspecto global táctico do jogo os ingleses não dominam, mas nos

aspectos técnicos são dominadores nas... não é que sejam um referencial no

expoente máximo de técnica, mas são os que no pequeno aspecto técnico

mais básico dominam perfeitamente, sabem que se meter o corpo entre este

gajo e a bola o gajo não toca na bola, não toca na bola... o Ronaldinho fazia

isso no Barça de uma forma inacreditável, recebia sempre... obviamente que é

um fora de serie... mas recebe sempre a bola com o pé mais distante do

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Anexos

LXXIX

adversário, o adversário não consegue... no centro tens que gerir a pressão

que pode surgir dos jogadores que possam pressionar por qualquer lado.

(P.D.S.) – Consideras que o jogo tende a fluir...à pouco falas-te do

Ronaldo e do Messi, que tentam tirar proveito... e o jogo tende a fluir para

esses jogadores (no sentido de tirar o máximo proveito deles)... mas

achas que tende a fluir também para esses jogadores do corredor

central?

(A. Villas-Boas) – Acho que tende para fluir... agora a fluidez tem um

sentido se tu, tecnicamente, fores capaz de dar continuidade a essa fluidez, se

tu tecnicamente és limitado ou se fazes um mau controlo... se te metes

automaticamente sob pressão, a fluidez fica automaticamente limitada... tu vês

o Barça e pensas naquele meio-campo YaYa Touré, Xavi, Iniesta ou Keita, são

jogadores tecnicamente fantásticos, a pressão está de um lado e eles fazem

uma recepção orientada para o outro lado e acabou... o assunto está resolvido.

(P.D.S.) – Já o Busquets acho que tem algumas limitações nesse

sentido... por vezes recebe de costas, enquanto o Touré, o Xavi...já recebe

aberto...

(A. Villas-Boas) – Sim... o Touré é um portento físico, tu para o

pressionares tens que ter em conta o tamanho do “animal” e o Xavi é o

expoente máximo em termos técnicos... o Busquets é um jogador de 19 anos

as coisas gradualmente hão-de chegar lá... neste momento pode haver coisas

no jogo que tem de melhorar mas seguramente que vai melhorar.

(P.D.S.) – Na monografia tentamos não entrar nos aspectos...

quanto mais ao pormenor for mais difícil é... dizer que é assim (em termos

de probabilidade/padrão)... porque quanto mais ao pormenor maior a

variabilidade... mas uma das coisas que tentamos deixar claro é a

orientação dos apoios... é uma coisa fundamental isso que tu referis-te...

é tudo orientação dos apoios...

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Anexos

LXXX

(A. Villas-Boas) – Sim! Sim! Outro aspecto onde os ingleses batem

muito é exactamente nos ângulos dos apoios e a distância dos apoios. Uma

coisa é por exemplo, um sinal daquilo que falávamos há bocado, um sinal de

despreocupação dos jogadores que não pensam o jogo, que não sabem

raciocinar, por exemplo um Ala que recebe uma bola, quantas vezes vês a

ânsia de um lateral em fazer um overlap, e em vez de manter uma distância

optimal para o ala, faz um apoio super curto ao ala...portanto, em vez de deixar

o ala sozinho em situação de 1x1 já está a levar, ele com esse movimento já

está a levar outro jogador, e está a levar um adversário na direcção dessa

zona, e uma situação que, se calhar, era de 1x1, se calhar, já é de 2x1 ou de

inferioridade numérica. Portanto um gajo também tem que jogar um bocado

com os ângulos de apoio e as distâncias... Eu acho que acima de tudo... na

minha opinião as pré-épocas das grandes equipas, têm de ser pré-épocas

orientadas para a organização de jogo... ok! Vamos imaginar uma pré-época de

6 semanas começa ali, tenta meter o máximo de 7 jogos amigáveis, se

começas a meter mais que 7 jogos amigáveis, se começas a meter viagens

pelo meio... tendo em conta que as equipas de topo têm várias competições,

será que tens tempo durante a época... ou, será que não é na pré-época que

tens de ir ao “encontro de encontrar” a tua organização ofensiva optimal e será

que te estás a dar tempo na pré-época de desenvolver isso!? Porque a partir

do momento que iniciam os campeonatos, que se iniciam as competições,

começas a jogar com uma frequência tal que... se calhar não tens tempo de

limar, enfim, estas questões que são importantes no desenvolvimento da tua

fluidez de jogo. Ok! Normalmente o que nós defendemos é que com o jogo, ou

o que fazes em treino... vais conseguir a tua organização do jogo, ou iniciar a

tua organização de jogo optimal... o que ponho em causa é que, se calhar, já

na pré-época jogamos com uma frequência tal, em vez de nos preocuparmos

com uma assimilação global dos princípios de jogo que nos vai limitar no resto

da época porque os jogadores estão com a cabeça noutro lado... depois

durante a época já começam a entrar outros factores em jogo... o seu equilíbrio

emocional, depois os gajos que não entendem a rotatividade, depois as

selecções... planteis muito grandes, como nos aconteceu no Inter... Se calhar

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Anexos

LXXXI

depois já andas a correr atrás do tempo, já não consegues definir uma

organização de jogo fundamental porque na pré-época não trabalhas-te bem

ao nível da organização de jogo. Isso é uma coisa que eu ponho em dúvida

que se calhar eu fazia de uma forma diferente, reduzia o número de jogos a um

máximo de sete, no máximo de 6 na pré-época e depois uma relação optimal

entre recuperação e treino e... muito debater sobre a organização do jogo.

Há algumas que conseguem, ou através dos anos ou manter planteis

equilibrados ao longo dos anos, conseguem manter rotinas de jogo e uma

organização de jogo com um determinado padrão... se calhar há outras que

não... onde tu chegas em que queres uma organização e um modelo e se

calhar não te estás a dar tempo para o prepares, depois durante a época é

uma corrida contra o tempo. Entendo as coisas dessa maneira.

(P.D.S.) – Nas saídas curtas pelo GR, fala-se normalmente no campo

grande... sobretudo nas equipas que fazem uma circulação de bola

predominantemente horizontal... Lá está uma das características da CB

predominantemente horizontal... quando saem a jogar curto fazem campo

grande... na vertical, por exemplo no Arsenal quando jogam pelos

centrais há uma preocupação em fechar logo... porquê!? Porque se estás

a pensar em jogar vertical... há uma preocupação de fechos dos espaços

interiores atrás... Nesse sentido também dissemos que o Barça procura

uma circulação predominantemente horizontal...

(A. Villas-Boas) – Eu penso que há uma coisa que é essencial, que é,

nós, neste momento ou neste ano, temos um Barça que é uma referência

mundial. O Barça faz campo grande, faz saída curta pelos centrais e os laterais

projectados, porque já o faz a 20 anos atrás... já o fazia, automaticamente

quem chega ao Barça os laterais sabem que têm esse tipo de

responsabilidade, há automatismos criados para isso, há o conforto da posse

de bola, há jogadores criteriosos na posse de bola ... há jogadores

tecnicamente fantásticos e eles automaticamente... isto já é uma cultura e

quem chega ao Barça sabe que é assim, que é assim que constróis curto...

tentar chegar a uma outra equipa e fazer isso, não é garantia de sucesso...

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Anexos

LXXXII

uma coisa é teres saídas definidas e mecanismos definidos, eu sou um que

defendo que... OK! A nossa forma de trabalhar leva à criatividade, trabalhamos

muito a capacidade decisional dos jogadores, perante situações que são

confrontados. Mas para mim um automatismo, pode ser uma referência para os

jogadores, uma combinação ofensiva na cabeça... digamos que um botão de

pânico, sem falarmos no pânico da velocidade, mas um botão de pânico que

eles possam usar e saber que em caso de dificuldade, podem pensar naquela

combinação ofensiva que fizeram no treino ou que têm feito ao longo da

época... com um overlap, ou com um movimento de um ala, uma dinâmica

qualquer que lhes permita sair de uma situação difícil. Eu acho que, uma

pessoa... chegar a uma equipa qualquer e tentar fazer campo grande com os

laterais projectados com os centrais a receber a bola, pode ser meio caminho

para o insucesso, porque o Barça fá-lo, porque já o fazia à 20 anos atrás... se

pensas chegar ao Benfica e faze-lo da mesma forma... vem um jogador que te

pressiona e empurrar-te para uma determinada zona e podes atrapalhar-te.

(P.D.S.) – Foi um dos erros do SCP contra o Bayern... no primeiro

ou segundo golo... é contra o Bayern... com a equipa aberta tentou sair

curto pelo Polga que estava num dos bicos da área... o Bayern caiu em

cima, e mesmo assim, tentou sair jogar curto, mas com o Bayern

completamente encostado que era quase impossível sair... se calhar

mesmo jogadores de top com essa pressão... o definir os centrais abertos

e os laterais abertos não é uma coisa que se pode pedir, mas que se tem

de treinar... se calhar podes querer isso em qualquer equipa...

(A. Villas-Boas) – Sim! Sim! Desde que o treines e acredites nisso...

acho que sim... acho que é possível... obviamente que, se tiveres um central

que tem dificuldade ou que tecnicamente é limitado não o vais querer fazer,

não queres arriscar, se tiveres centrais que estão confortáveis com a bola...

acho que sim, que podes arriscar... acho que é uma coisa que deves fazer...

porque...vamos imaginar, o único sistema que te pode meter em dificuldade,

nessa construção, nessa saída curta com centrais abertos e laterais

projectados para receber a bola, é um 4-4-2 clássico, porque tens dois pontas

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Anexos

LXXXIII

de lança para os teus dois centrais e tens dois alas que podem encostar nos

teus dois laterais. Portanto, é o único sistema que normalmente te pode limitar

em termos de construção curta, se for contra um 4-3-3 estás à vontade porque

tens sempre superioridade, se for um 4-4-2 losango, também podes jogar com

os homens que saltam do losango que, têm forçosamente que bascular ao

lateral. O único sistema, portanto, que pode criar dificuldade a esse tipo de

construção é um 4-4-2 clássico... mas depois há outro tipo de questão, é que

as equipas deixaram de pressionar alto, tu podes querer construir curto mas ...

a maior parte das equipas não posiciona o bloco alto, tu vês uma equipa que

actualmente joga com um bloco médio, ultra-curto, e te pode limitar as duas

formas, é a Juventus, porque o espaço nas costas controla com um fora-de-

jogo espectacular com um timing fora de serie... e o passe vertical limitam

porque estão em 30 ou 40 metros, estão completamente fechados em duas

linhas de 4 mais os 2 pontas de lança. Portanto, tu vais... construis-te curto

chegas ao meio-campo vês ali um espaço ultra-limitado e não sabes o que

fazer se queres colocar a bola dos teus laterais para os teus médios... estás em

dificuldade porque estão completamente fechados.

(P.D.S.) – Quando estão em campo grande que comportamentos os

outros jogadores devem ter? Imagina essa situação da Juventus que

fecha muito...

(A. Villas-Boas) – Tem que ser com provocação à bola, que é o que a

maior parte das equipas não sabe, não se compreende, é um aspecto do jogo

que é essencial, nesta altura de equipas de bloco médio-baixo de bloco ultra-

compacto, vais ter que aprender a provocar, é a bola que eles querem, a

equipa tem que aprender a provocar com bola, com a condução de bola.

(P.D.S.) – Essa é também uma ideia que vem desde van Gaal não é...

(A. Villas-Boas) – Eu penso que é uma ideia mais, não tanto do van

Gaal, acho que é uma ideia que vem na sequência, de um evoluir do futebol

moderno, para a precaução e o bloco baixo em termos de organização

defensiva, a responsabilidade passou a querer dar-se mais ao geral, do que ao

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Anexos

LXXXIV

individual... sofremos golo porque no compito geral não tapamos bem os

espaços, do que “pá” sofremos golo porque tu não marcas-te bem o ponta-de-

lança, porque não reduziste o espaço ou porque foste batido no 1vs1, portanto

é tudo um bocado nesse aspecto... estamos em bloco baixo... acho que até

nem há precaução... é de tal forma evidente que perdeu-se um bocado a

noção de pressão activa, quando um jogador tem a bola tu já não queres

reduzir espaços e mete-lo sob pressão, já queres ficar ali dentro do teu bloco,

dentro do respeito que tens pelas linhas, pelos teus colegas, já queres ficar ali

a ver no que vai dar... e não há pressão activa de redução do espaço.

(P.D.S.) – E muitas vezes isso acontece em zonas frontais à baliza

onde o remate pode surgir...

(A. Villas-Boas) – O que eu acho... é que está-se a tornar decisivo

provocar o adversário à bola ou vai-se tornar mais decisivo.

(P.D.S.) – Mas em qualquer zona? Por exemplo o van Gaal refere

que quando o adversário está encostado atrás quer circular a bola no

sector defensivo...

(A. Villas-Boas) – Exacto... a ideia do van Gaal não é tanto progredir

para provocar à bola. A ideia do van Gaal é circulação contínua, de um lado ao

outro... até que num momento de mudança há espaços interiores onde podes

subir... (ele também refere que é para “puxar o adversário”, também refere

isso...) Sim, sim... ok! Provocar o adversário através do domínio da posse

horizontal, depois vai haver um momento de pressão por desespero. O que eu

digo é provocares à bola pelo facto de conduzires a bola na direcção de

alguém... e uma coisa que acho que o Guardiola disse ao Amieiro que podes

confirmar... é decisivo... (ele fala isso mas é nos centrais...) Pensa também no

Chelsea do Avram Grant. Uma coisa que o Ten Cate trouxe do Barça quando

foi para lá com o Avram Grant...que é exactamente isso... Nós na nossa

construção no Chelsea construímos de maneira diferente, logo com bola talvez

no lateral ou nos médios e.... o Ten Cate com o Grant começou a procurar uma

saída curta idêntica ao que fazia no Barcelona quando estava com Rijkaard...

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Anexos

LXXXV

quer bola no central e o Jonh Terry penetrava um bocado com bola, a partir do

momento em que o vinham pressionar, bola para o Carvalho e o Carvalho saia

com bola, num espaço muito mais aberto e com menos um opositor.

(P.D.S.) – Eu falo nessa situação do provocar e dou o exemplo do

Jonh Terry que é um jogador que procura muitas vezes a progressão com

bola... aliás na selecção, no Euro 2008, um dos golos...o do Pepe resultou

da penetração do Pepe pelo corredor central... primeiro com bola e depois

sem bola... este aspecto é interessante e vai de encontro ao que te vou

perguntar agora... em organização ofensiva a distância entre linhas tem

de ser sempre a mesma?

(A. Villas-Boas) – Não sei... depende...Eu acho que na tua fase inicial

não te queres expor demasiado, se perdes a bola... isso é um erro que o Barça

faz actualmente, imagina... por isso é que também acho que... não estou bem

seguro se é o Barça que chega à final da Champions... o Barça em construção

curta é quando está mais exposto... e uma coisa é fazeres isso para o

campeonato espanhol onde o adversário está todo borrado e está dentro do

seu meio-campo, outra coisa é fazeres isso contra equipas que te podem

ameaçar exactamente logo a partir da construção curta... não por pressionarem

alto mas por pressionarem no momento em que menos esperas, vamos

imaginar que joga Liverpool - Barcelona a semi-final... e tens o Marquez, que

pensa que é um Beckenbauer a sair em construção, eu acho que ele tem uma

ideia errada um bocado das suas qualidades técnicas, e imagina um F. Torres

a empurra-lo para uma determinada direcção onde está o Gerard, e o Gerard

com um movimento agressivo, que ele tem para pressionar o adversário, com

aquela pressão activa que nós falamos, sair imediatamente em direcção ao

segundo central, portanto... se o Barça estiver equilibrado, que permita uma

compensação com o Yaya Touré, quando vir que a bola está no central e o

Yaya Touré pense numa cobertura... muito bem, se o Barça vai pensar que vai

fazer campo grande e aberto contra o Liverpool... penso que é errado, tem que

criar mecanismos de defesa. Portanto eu acho que numa primeira fase de

construção tens de ter em conta um determinado tipo de equilíbrio... assumir

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Anexos

LXXXVI

um risco, mas vais ter compensações que te permitam, se perderes a bola em

primeira fase, pelo menos não sofrer golo ou puder recupera-la... ou então é

como o Barça e entregas-te cegamente a isso e corres sérios riscos de perder

a bola...

(P.D.S.) – Uma das coisas interessantes que o van Gaal refere...

também perguntei acerca do risco e da verticalidade... perguntei-lhe se

ele achava que a verticalidade era um risco... é um risco necessariamente

porque a partir do momento que jogas vertical estás a entrar no interior

da equipa adversária... estas sempre a ir para um sítio onde há mais

jogadores... ele diz-me que não... que o passe vertical não é um passe de

risco... o passe horizontal é sempre um passe de risco... isto é

interessante porque, aparentemente, contraria um pouco aquilo que

dizemos mas não contraria, porque o passe vertical que ele refere é

sempre equilibrado ou seja, sempre que há um passe vertical há fecho de

espaços interiores quando há um passe horizontal está muito aberto... se

perde a bola nesses momentos...

(A. Villas-Boas) – Sim! Sim! E outra coisa, é um passe horizontal

paralelo, outra é um passe ligeiramente em diagonal... uma coisa que

acontecia muito em Inglaterra era, quando as equipas jogavam em 4-4-2, os

dois médios centro criavam passes paralelos um para o outro... e o que se

fazia era o Lampard, ou o Gerard no caso do Liverpool, tentavam cortar esses

espaços ou com velocidade de movimento cortavam esse passe e deixavam

imediatamente dois jogadores eliminados em transição.

(P.D.S.) – Porque lá está... isso também está relacionado com a

orientação dos apoios...

(A. Villas-Boas) – Sim, sim e com ângulos.. sem dúvida.

(P.D.S.) – Qual a importância da largura na criação de

desequilíbrios? E em que momentos e espaços deve dar largura?

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Anexos

LXXXVII

(A. Villas-Boas) – Eu penso em largura... ora bem, se pensares no 4-3-

3... largura assegurada... tens largura em primeira fase os teus laterais estão

projectados e, ou melhor, olhando de um ponto alto, parece que tens largura

numa fase inicial, no terço defensivo tens os laterais abertos e tens largura em

termos ofensivos tens Alas abertos, depende um bocado do que cada treinador

defende se são dois alas completamente abertos ou se são dois alas mais

perto... para mim em Itália... o 4-3-3 italiano defende tantas vezes os alas entre

central e lateral, portanto não é um 4-3-3 aberto, é o que eles chamam a árvore

de natal, com os alas entre central e lateral... penso que... depende do que

pretendes potenciar, se potencias amplitude máxima para situações de 1x1 e

acreditares nessas situações de 1x1, como meio para chegar a um fim, muito

bem, se acreditas que queres amplitude máxima para conquistares espaços

interiores, já é outra coisa completamente diferente... por exemplo, tens uma

amplitude máxima no caso do Génova, que aqui em Portugal não se vê tanto,

mas que é uma equipa que joga um 3-4-3 que é uma coisa espectacular, que

tem uma dinâmica espectacular que, se tu puderes ter tempo, é uma equipa

que deves analisar... é um 3-4-3 em que a amplitude é controlada pelos

externos, numa primeira fase numa segunda fase são os centrais que ainda

abrem em amplitude e depois são os médios que, em termos de compensação,

caem nesses espaços se houver algum problema, portanto, sim amplitude tem

sempre importância porque queres aumentar os espaços e queres abrir um

adversário que por ele já está em bloco, portanto tens tendência para utilizar

amplitude máxima de jogo digamos.

(entrevista interrompida)

(P.D.S.) – Reconheces no adversário espaços de maior fragilidade

defensiva que podem ser aproveitados pela tua equipa quando atacas?

(A. Villas-Boas) – Há um tipo de estrutura que... não é que eu não

goste... mas que... se fosse uma estrutura que eu viesse a jogar, ou a jogar

contra... potenciaria sempre esse espaço... que são equipas que jogam com

dois médios paralelos, com dois médios, digamos um 4-2-3-1 ou um 3-4-3... se

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Anexos

LXXXVIII

as equipas não são capazes desses dois médios centro jogarem... sempre em

ângulo, são equipas que no espaço entrelinhas estão muito vulneráveis.

No caso do manchester, uma equipa que joga em 4-4-2 com estes dois

médios nesse tipo de posição mas o Carrick joga sempre mais atrasado em

relação ao outro médio, portanto nunca há essa fragilidade em termos de jogo

entrelinhas. Depois... para mim em transição continua a ser uma equipa... tal

como as equipas em organização ofensiva privilegiam a saída com lateral e

com outro a compensar o espaço... em transição, há sempre um espaço que

está aberto nas costas de um lateral, depois é a forma como tu potencias a

saída nesse espaço nas costas desse lateral.

Uma coisa que nós, actualmente, fazemos no Inter, que eu acho que tem

que ser a progressão em termos de observação... que passou a ser importante

para nós... ou acho que começou a tornar-se mais importante para nós...

observar o adversário e observar as dinâmicas ofensivas e defensivas do

adversário, de acordo com a nossa estrutura e de acordo com a estrutura

deles, porque tal leva a dinâmicas e a criações de espaços completamente

diferentes... Antes, o que fazíamos aqui no Porto, observavas o adversário a

um nível sempre alto, foi o que fomos fazendo ao longo dos anos... mas

observamos o adversário, exactamente no que ele nos oferecia em termos de

organização ofensiva, defensiva e transições, exactamente o que eram os

defeitos e o que eram as virtudes do adversário... em Itália mudamos um

bocado... o que é que são as dinâmicas e... o que é que a nossa estrutura e a

estrutura do adversário... que tipo de espaços é que poderá provocar, as

compensações... sabes que o 4-4-2 em losango que nós jogamos, leva a

grande tipo de adaptações do adversário, caso não jogue da mesma forma, em

Itália começamos a ter mais essa preocupação a nível da observação... nós

jogamos em 4-4-2 losango, o Cagliari também joga dessa forma, e o Palermo...

íamos normalmente buscar esses jogos as dinâmicas defensivas do

adversário, os espaços que podem ser criados pela forma como defendem

contra um 4-4-2 losango... em que te da uma realidade e uma perspectiva

totalmente diferente... um 4-4-2 losango contra um 4-3-3, obriga a um

determinado tipo de dinâmicas, um 4-4-2 losango contra um 3-5-2, obriga a um

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Anexos

LXXXIX

determinado tipo de dinâmicas defensivas ou outro tipo de criação de espaços.

Portanto nós, neste momento, potenciamos a nossa observação de acordo

com o que é a nossa estrutura e de acordo com o que é a estrutura do

adversário. O que estava acontecer numa fase inicial, agora acalmou um

bocado também há equipas que o fazem de uma forma outras que fazem de

outra, é que apesar disso o adversário ainda estava a mudar a estrutura para o

nosso jogo... observavas o adversário numa estrutura, que era o normal deles,

pensavas no que era a nossa estrutura no que poderíamos fazer, (em termos

de estrutura e de comportamentos sempre), pensavas que o adversário poderia

jogar de um determinado modo e noutro determinado modo e apareciam num

terceiro modo completamente diferente. Mas é um risco que temos corrido e

que tem funcionado, portanto, já levamos muito a nossa observação e o vídeo

que fazemos e o relatório que fazemos, ao nível das compensações, o que é

que pode acontecer, o que é que não pode acontecer e que espaços é que

podem ser criados. Fazemos sempre a analisa das qualidades das equipas e

deficiências do adversário, mas também estruturalmente que é que pode

acontecer, que tipo de dinâmicas é que podem surgir a partir dai.

De acordo com a tua pergunta, há estruturas que te levam a determinado

tipo de coisas, depois... que estrutura contra que estrutura, percebes.. vamos

alargar isto... normalmente as pessoas pensam que falar em estruturas é uma

coisa que não tem importância, o que tem importância são as dinâmicas... ora

bem, mete uma estrutura contra uma estrutura e vês que as dinâmicas de

compensação são completamente diferentes... portanto, de acordo com a tua

pergunta, depende se estar a meter quem contra quem... no outro dia com a

Regina aconteceu-nos exactamente isso, equipa que teve resultados, dois

grandes resultados em 3-5-2, empatou com o Milão, empatou com a Roma,

sabia que nós, potencialmente, íamos jogar num 4-3-3 porque nos estávamos a

sair bem no 4-3-3... com Ballotelli, nós jogamos com o Ballotelli, Mancini e com

o Ibra e os gajos de estrutura que lhes estava a garantir sucesso, que era o seu

3-5-2, passou para um 4-3-3 inesperadamente... agora pensa no seguinte...

nós preparamos o vídeo tendo em conta esse 3-5-2, porque caramba,

empataram com o Milão e com a Roma, o Milão também jogou com três na

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Anexos

XC

frente porque razão haviam de mudar... e pensa exactamente nisto.. eles antes

estavam em 3-5-2, um dos aspectos do nosso vídeo era que, os externos

deles... que tipo de posicionamento é que iam ter. Se tu pensares nos externos

que fecham para uma defesa de 5 deixam-se estar tranquilos... mas a partir do

momento em que começas a penetrar com o teu lateral com bola, se saltar o

externo a pressionar o teu lateral, o espaço nas costas desse externo fica

exposto... evidenciamos exactamente isso no vídeo... se o externo se manter

em posição e saltarem com um do meio-campo, então tens superioridade no

meio. Portanto, de acordo com a estrutura deles e de acordo com a nossa

estrutura, evidenciamos dois tipos de movimento e dois tipos de espaços

diferentes, se salta o externo tens espaço nas costas, dá-te para uma saída

com ponta-de-lança a bascular, se saltarem com o meio-campo dá-te

superioridade no meio-campo, podes circular a bola rapidamente para o outro

lado ou então usar essa superioridade que tens no meio-campo... portanto

depende da estrutura... dão-te vários tipos de dinâmicas diferentes.

(P.D.S.) – Na monografia tenho uma parte que trata só das

estruturas... porque reconhecemos que a estrutura... porque muitas vezes

se diz que o que importa não é a estrutura é a dinâmica... eu também tinha

essa ideia antes de começar a ver... a entender a dinâmica pelo lado da

estrutura...

(A. Villas-Boas) – No início o que aconteceu foi que... também é um

bocado, essa evolução que falávamos no início, a evolução de uma linguagem,

desde que Mourinho chegou... a evolução de uma maneira diferente de olhar

para o jogo, uma maneira diferente de comentário técnico, a TV levou a toda

uma nova forma de pensar e repensar o futebol que era necessário... A partir

dai as pessoas quiseram alargar mais o seu ponto de análise, muito mais para

além da estrutura... o que se dizia é que não se podia olhar só para a estrutura,

que era uma realidade, tens que olhar para os princípios de jogo da equipa,

portanto tocava nesse aspecto... a estrutura não era tão importante o que é

importante são as dinâmicas, obviamente. Agora pensa que, uma estrutura e

determinado tipo de dinâmicas têm que jogar com outra estrutura e com outro

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Anexos

XCI

tipo de dinâmicas e tudo isso vai criar dinâmicas ofensivas e dinâmicas

defensivas completamente diferentes de jogo para jogo.

(P.D.S.) – Que significado tem para ti o jogo posicional?

(A. Villas-Boas) – Antes de mais deixa-me esclarecer uma situação...

para mim os conceitos não têm importância nenhuma, o meu jogo posicional

pode ser diferente do teu jogo posicional... eu não sou um dos que anda atrás

de... defender à zona é isto, jogo posicional é isto, uma penetração é isto...

para mim não me importa nada o que tu defines como uma coisa e o que outro

define como outra coisa... jogo posicional, talvez não exista jogo posicional...

existem é posições e dinâmicas, em que posições... se disseres jogo posicional

porque estão a jogar nesta posição fixa e não tem mobilidade, ou então um

jogo posicional com dinâmica a partir da posição, com penetração... jogo

posicional, estas a referir-te a jogo de trocas, jogo de trocas de posição... tudo

depende da interpretação que queiras dar ao jogo posicional...

(P.D.S.) – Eu concordo contigo em relação aos conceitos... mas eu

faço-te as perguntas acerca desses conceitos para perceber o teu ponto

de vista e enquadrar as perguntas que tenho para te fazer...

(A. Villas-Boas) – Jogo posicional vou tentar definir-te desta maneira...

talvez... equilíbrio optimal entre o que queres atingir em termos de modelo, em

termos de princípios, em termos de estrutura, portanto, um equilíbrio de tudo

isso que potencie uma forma de jogar e a tua forma de criar oportunidades...

(P.D.S.) – Falas-te de umas coisas que eu acho que são muito

pertinentes para o meu trabalho... que é o facto do jogo posicional... de

trocas de posições... é assim, há uma coisa muito interessante que o van

Gaal fala... ele define áreas... para cada posição... define áreas de

responsabilidade (áreas de intervenção) ...exactamente... este jogador tem

esta área de intervenção, este jogador tem esta... isto vai de encontro a

uma coisa que te quero falar acerca do Inter... a partir do momento que

um jogador sai daqui... isto penso que é para ele o jogo posicional...

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Anexos

XCII

definir funções para o jogador que ocupa esta área de responsabilidade...

o que não limita a sua saída... só que a partir do momento que ele sai...

(alguém vai ter que compensar) exactamente, é isso... onde quero

chegar... e aqui vem o exemplo do inter... tem aqui uma situação em que o

Ibra não pressionou... foi o Zannetti a pressionar... ou seja, saiu de

posição para pressionar... a partir do momento que saiu dessa área

alguém tinha que o compensar... e nessa situação obrigou, se calhar o

objectivo era esse, obrigou a bater longo, ganharam a bola... depois em

transição houve sobreposição de jogadores porquê, porque estava lá o

Ibra, o Zannetti, o Quaresma, todos ali naquele Espaço... portanto o jogo

posicional nessa situação não funcionou...

(A. Villas-Boas) – Aí beneficias-te de uma má transição do adversário e

acabas-te por sair em contra-transição (mas também foi uma má contra-

transição porque houve sobreposição de jogadores... porque o Zannetti ao

pressionar sai de posição...)... mas há ai um ponto que é o seguinte... se o

jogador que saiu a pressionar é o lateral é ele que tem que saltar, ele inicia

uma dinâmica de saltar no lateral... mas esse jogo não estávamos em losango

pois não? (não estavam em 1-4-3-3)... Foi talvez uma má iniciativa, uma

análise... um comportamento decisional, uma decisão talvez individual do

jogador (...).

No que estavas a falar do van Gaal, em zonas de intervenção, acho que

é unânime que tu não queres umas diagonais do teu lateral esquerdo para o

teu lado direito... há um determinado tipo de equilíbrio foi o que te disse na

minha definição de jogo posicional... tem que haver um determinado tipo de

equilíbrio de acordo com o que tu defendes e com as dinâmicas que queres

criar... a partir desse equilíbrio defines o teu jogo posicional, defines as

responsabilidades e o que é que cada um tem que fazer em cada zona do

campo.

(P.D.S.) – Mas, a mudança de estrutura... eu acho que nesse jogo o

Inter mudou de estrutura... ao meter o Júlio Cruz, ficou na mesma com

três na frente mas ele aparecia muitas vezes atrás dos outros dois...

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Anexos

XCIII

(A. Villas-Boas) – Ai estava 0-0... o Júlio entra, se não me engano, ao

minuto 60 e tal... e pá... um treinador de uma equipa de TOP quer ganhar o

jogo, é um jogo em casa tens a pressão de ganhar... colocas um homem entre

linhas... que te ligue uma fase com a outra.

(P.D.S.) – Mas a pergunta que te queria fazer é se nesse momento a

função daqueles três do meio-campo... que continuaram os mesmos, a

não ser o Stankovic que entrou mais tarde... se continua a mesma!? Não

pode continuar a mesma...

(A. Villas-Boas) – Não... (...porque as áreas de intervenção, lá está o

jogo posicional...) Sim... muda... mas isso já faz parte do que tu trabalhas para

quando te encontras em situações que tens que ganhar, em que tens que

mexer no jogo, em que tens de criar outro tipo de posicionamento e de

povoação das zonas decisivas do campo... ai até se calhar... por exemplo, a

Udinese joga em 4-3-3, nós devíamos estar em 4-3-3 com pivô baixo...

geralmente saía um homem... colega entre as linhas porque a Udinese joga

também com um Pivô baixo e já das mais responsabilidade das um ponto de

atenção mais ao Di Agostino que é o médio defensivo deles, dás-lhe outro tipo

de preocupação... em vez de ter que se preocupar com os outros dois médios

que são Inter e o Asamoah... já lhe estás a dar uma preocupação ao nível da

referência visual têm que olhar mais para o adversário que está a cair mais nos

espaços à sua volta... portanto, sim... uma mudança para provocar um

problema ao adversário.

(P.D.S.) – Existem, por exemplo no Inter, posições mais fixas e

outras de maior mobilidade?

(A. Villas-Boas) – Existem princípios... movimentos e princípios mais

frequentes do que outros... a subida do Maicon por exemplo, as caídas do Ibra

para uma faixa... para a partir das faixas desequilibrar... sabes, por exemplo,

que o Zannetti não vai ter penetração vertical, porque é já um sistema de

compensação às subidas do Maicon... a penetração pode vir do Muntari ou do

Cambiasso, depende, quem analisa a equipa com mais critério sabe que dali

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Anexos

XCIV

do Zannetti não vai acontecer nada, a acontecer vai acontecer como factor

surpresa dos outros dois, do Muntari e Cambiasso...sim... há movimentos no

inter que evidenciam isso... são os princípios que defendemos.

(P.D.S.) – Qual a diferença entre jogar com três ou quatro jogadores

no meio-campo?

(A. Villas-Boas) – Ora bem... depende de onde inserires... relativamente

ao 4-4-2 clássico, depende de onde o inserires... o Benitez criou um 4-4-2

muito mais dinâmico que o 4-4-2 inglês, porque a esse 4-4-2 clássico que criou,

deu-lhe velocidade na posse de bola, deu-lhe posse sustentada, deu-lhe...

alternância e variação horizontal e vertical... criou ali um 4-4-2, diferente do 4-4-

2 clássico inglês que, basicamente se resume, a um médio de penetração e

outro que fica, um ala que faz movimentos interiores e outro que fica

completamente aberto, um lateral que sai em overlap e o outro que

compensa... e o 4-4-2 de Benitez deu-lhe uma dinâmica completamente

diferente.

Se falares num 4-4-2 losango, é completamente diferente, jogas com

dois pivôs, um alto e um baixo, aí, em termos ofensivos, crias grandes

problemas ao adversário, em termos de posicionamento... só que,

defensivamente, corres um risco enorme de ocupação dos espaços,

centralmente tas muito ocupado, em amplitude estás muito mal posicionado,

tens que criar grandes sistemas de compensação, tens de obrigar

constantemente os teus homens a saltar... eu sou um defensor do 4-3-3 e um

não defensor do 4-4-2 clássico, para mim um 4-4-2 clássico, não vejo como é

que possa funcionar no campeonato espanhol por exemplo, porque a maior

parte das equipas joga em 4-3-3 e tornou-se demasiado decisiva a

superioridade no meio-campo, no jogo espanhol que é caracterizado pela

posse, pela posse sustentada e pela circulação de bola. Penso que há

sistemas que estão fora de uma determinada linha, de uma determinada

cultura... penso também que o que o Mourinho fez em termos de 4-3-3 no

Chelsea foi criar algo nunca visto... com uma estrutura muito dinâmica,

agressiva... com transições agressivas... e por outro lado um 4-3-3 difícil de

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Anexos

XCV

criar... um 4-3-3 como o do Barça... difícil de criar em Inglaterra porque é um

jogo mais transaccional onde se perde constantemente a bola, onde eles iam

estar sempre atentos a espaços interiores... portanto, tem que haver equilíbrio

entre a cultura, o que são os referenciais ao nível do futebol... jogadores

posição.

(P.D.S.) – Uma das coisas que mais me preocupa quando observo

uma equipa é como elas ocupam o espaço entrelinhas (defensiva e média

do adversário)... eu acredito que pode ter dois objectivos... arrastar

marcação do adversário E/ou criar desequilíbrios porque o médio está de

costas e permite ter alguma vantagem... agora quem o ocupa... por

exemplo se for assim (avançado em 1-4-3-3 a descer) há um problema que

se perde a referência na frente...

(A. Villas-Boas) – Depende se depois não tiveres movimentos de apoio

destes (diagonais)... Pensa no Gerard e no Lampard... tu não queres um ponta-

de-lança que vem entre linhas, porque estes dois, o Lampard e o Gerard, têm

um grande raio de acção e são jogadores que te vão frequentemente aparecer

neste espaço, talvez o Gerard mais e o Lampard mais em profundidade... o

Lampard irritava-se muitas vezes com o Drogba porque ele queria receber a

bola neste espaço e depois por incrível que pareça tinha o primeiro toque

desastroso... perdia a bola... e estávamos logo obviamente sujeitos a transição,

porque o Lampard já tinha entrado e já estava quase em igualdade ou em

inferioridade no meio-campo... tentamos limita-lo nesse aspecto e de incentiva-

lo mais à profundidade... se tens um avançado que, ao contrário, queres que

jogue mais nesse Espaço, tens que ter um que jogue mais perto dele... um

ponta de lança vir aqui e os dois extremos manterem-se abertos... pode ser um

factor surpresa... se o teu ponta de lança rodar e depois se chegares com os

outros dois médios... se não tas a sacrificar um movimento...

(P.D.S.) – Em termos de surpresa para o adversário, não achas que

o 1-4-4-2 losango, por já ter lá um jogador, à partida, posicionado... vai

aparecer mais vezes nesse espaço...

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Anexos

XCVI

(A. Villas-Boas) – Não sabes porquê... porque um 4-4-2 losango... e

para mim é exactamente esse problema... no 4-4-2 losango acaba por se

transformar em 4-3-3, porque a dinâmica que se dá ao pivô ofensivo, é uma

dinâmica de caída nas faixas... portanto, automaticamente tens inicialmente um

homem entre linhas que depois vai sair... é uma coisa que eu também muitas

vezes questiono... que são as trocas posicionais por trocas posicionais... eu

sou um médio... troco de posição com um ala... neste momento em que as

equipas jogam à zona... não andamos todos a dormir... este jogador sabe que

vem dali um jogador, OK! este vai para dentro, eu não vou segui-lo homem a

homem... para depois o outro entrar nesse espaço... eu vou ficar aqui à espera

daquele que vem... fazer a leitura... o que eu digo é... e penso que o Barça faz

isso... a troca posicional tem que acontecer e parar num determinado ponto

onde te crie dúvidas... onde o lateral ficou à espera do médio adversário que

vinha em troca posicional com o ala e que já não apareceu... ficou ali no meio-

meio, ficou no meio entre a posição dele e a posição do central, e assim já o

vai obrigar a sair de posição... agora quando é troca posicional por troca

posicional, onde eu era o ala e vou para a posição de médio e vice-versa é

exactamente a mesma coisa... portanto... é pá... depende da interpretação que

deres... colocares aqui um pivô estas a beneficiar de um espaço decisivo no

futebol actual.

(P.D.S.) – Exactamente. Era aí que eu queria chegar. Mas é mais

importante o aparecer ou o estar lá?

(A. Villas-Boas) – Depende também da marcação que o adversário te

faz. Imagina que tens um adversário que te segue completamente, o Mexes da

Roma gosta de seguir o... não é homem a homem mas é quase porque gosta

de seguir o adversário, o ponta de lança adversário mesmo até às zonas do

meio-campo, quando o faz, sabes que conquistas espaço atrás... se calhar se

tens uns centrais que preferem estar posicionais e preferem passar este gajo

aos médios que estão em posição, então já é outro tipo de dinâmica

completamente diferente... depende do que analisares.

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Anexos

XCVII

(P.D.S.) – Qual a diferença entre jogar com um adversário ou dois?

Em termos de soluções que te possam dar...

(A. Villas-Boas) – Com dois pontas-de- lança... depende de quantos

pontas-de- lança tens no plantel, nós temos 4: Cruz, Ibra, Adriano, Balotteli...

jogar com 3 obriga-te a deixar três de fora... joga o Ibra que normalmente é

titular ficas com 3 de fora... ok! Adaptamos ali o Adriano, e jogas-te com um Ala

aberto e o Adriano meio-meio que foi a “fórmula” inicial... Tudo depende da

análise do plantel e da analise que tens à disposição... depende das dinâmicas

que queres criar, se queres jogar 4-4-2 e só tens dois pontas-de-lança...

quando um se lesiona o que é que vais fazer... por exemplo, o Sporting agora

criou uma dependência de 3 anos no 4-4-2 losango que, quando não jogam

dessa forma tem dificuldade porque não podem ter os mesmos tipos de

comportamentos... quando querem criar uma dinâmica diferente, quando

querem surpreender o adversário, não têm... jogam sempre da mesma

maneira... as trocas posicionais são sempre as mesmas...chegaram a um

ponto onde deixou de ser surpresa, dominas absolutamente e a um nível

máximo o teu 4-4-2 losango permitiu ter ali três anos de topo, ganhar alguns

troféus e finalmente neste terceiro ano ameaçar pelo titulo... mas e a surpresa,

a mudança... são coisas que também se tem que considerar.

(P.D.S.) – A ultima questão... vocês têm o Jimenez... o Mourinho diz

que é o único dez que vocês têm... seria para jogar aqui (entre linhas)...

ele refere que só tem esse jogador com as características de 10...

(A. Villas-Boas) – Porque inicialmente ele idealizou outro sistema... um

sistema base... que era o 4-3-3, por isso, é que tínhamos o Mancini, o Ballotelli,

o Quaresma, para instigar esse 4-3-3. O Mourinho foi capaz de fazer uma

análise ao rendimento actual do Mancini e do Quaresma e de perceber... Ok!

Tinha que admitir que não estava a funcionar e instigar outra mudança.

(P.D.S.) – Mas o que diferencia o Jimenez doutro...

(A. Villas-Boas) – Tudo... apesar de ser um bom jogador, é um jogador

que não joga a um ritmo elevado, que gosta de receber a bola no pé, não é um

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Anexos

XCVIII

jogador dinâmico e depois é um jogador propenso a lesões musculares... no

outro dia entrou em campo e teve logo que sair... há vários tipos de nº10...mete

o Gerard a nº10 e dá-te uma coisa, mete o Diego dá-te outra, mete o Jimenez

como nº 10 dá-te outra tipo coisa... é um jogador com um raio de acção

limitado, capaz de criar pequenos ângulos, receber a bola e levar-te a bola até

ao terço ofensivo... não é jogador gajo de grande raio de acção, de penetração,

de dinâmica, de velocidade.