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Um Algoritmo do FUTEBOL (mais do que) TOTAL:
algo que lhe dá o Ritmo!
Uma reflexão sobre o “Jogar” de qualidade
Pedro Daniel Cunha Pereira Sousa
Porto, Maio 2009
Monografia realizada no âmbito da disciplina de
Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e
Educação Física, em alto rendimento – Futebol, da
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Orientador: Mestre José Guilherme Granja Oliveira
Pedro Daniel Cunha Pereira Sousa
Porto, 2009
Um Algoritmo do FUTEBOL (mais do que) TOTAL:
algo que lhe dá o Ritmo!
Uma reflexão sobre o “Jogar” de qualidade
Sousa, P. (2009). Um Algoritmo do FUTEBOL (mais do que) TOTAL: algo que
lhe dá o Ritmo. Uma reflexão sobre o “jogar” de qualidade. Dissertação de
Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Palavras-chave: FUTEBOL, ORGANIZAÇÃO OFENSIVA, ORGANIZAÇÃO
FUNCIONAL, ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL, DINÂMICA COLECTIVA, (SUB)
DINÂMICA INDIVIDUAL;
III
“Talvez a possibilidade de repor no seu lugar exacto certos
conceitos, mostrando – com a desmistificação cada vez mais precisa
do seu mecanismo de formação – a dose de preconceitos, de juízos
de valor, de desejos insatisfeitos, de angústia persistente, de
automatismos religiosamente transmitidos de geração em geração,
que os atulha. Talvez que, depois de nos ter desembaraçado de um
certo número de escórias específicas do cérebro humano, essa
ciência “empírica” tenha a possibilidade de nos aproximar dessa
Realidade tão querida a Einstein, mesmo que nunca a cheguemos a
conhecer. Pois, qual é o motivo que nos leva a pretender provar que
o inconhecivel não existe?
Se é para vermos uma sombra, esperemos,
simplesmente, humildemente, que ela não fique excessivamente
deformada pela passagem através da nossa retina, e não
confundamos realidade com verdade, porque está só é válida
para o que a exprime. Quando – para utilizar uma expressão
que está na moda – uma ideia é aceite por um amplo
«consenso», não será por um milhão de indivíduos estarem de
acordo com um erro que este passa a ser uma verdade. (...) A
realidade é a «coisa», é o que é conhecido, o que podemos
pensar. É a única coisa que o Homem tem possibilidade de
conhecer de uma maneira cada vez mais pormenorizada, à
medida que os instrumentos que utiliza para explorar se forem
aperfeiçoando. Mas é a interpretação que ele atribui aos
resultados que pode ser criticável.”
Laborit (1987: 48,49)
Esta é a nossa realidade...
IV
V
Agradecimentos
Ao Professor, Orientador, Mestre, Treinador, Amigo José Guilherme,
pela disponibilidade, paciência, abertura e motivação extraordinária com que
sempre me orientou e incutiu nestes longos meses. Com o seu sentido prático,
fez com que esta dissertação fosse uma verdadeira “descoberta guiada”. Se
existe trabalho cuja primeira pessoa do plural faz sentido, é este.
Ao Professor e Amigo Victor Frade, por ter sido uma pessoa com a qual
adquiri algo para o qual não estava “formatado”: aprendi a ser crítico, aprendi
que para sermos “melhores” temos que sair da média, aprendi que o Futebol,
assim como a vida, é feito de Pessoas. Por tudo isso, o professor foi o
despoletar deste trabalho que tem tudo de mim.
A Louis Van Gaal, pela sabedoria e Futebol que sempre “fabricou”, pela
disponibilidade e amabilidade com que abriu as portas do seu gabinete em
Alkmaar.
Ao André Villas-Boas, pela manhã inteira com que fluiu conhecimento
de jogo das suas palavras. Pela disponibilidade, paciência, abertura, contributo
e interesse demonstrado pelo trabalho.
Aos meus Avôs e aos meus Pais, simplesmente por estarem sempre
comigo e por terem depositado confiança em mim num ano que não foi fácil, o
esforço irá ser recompensado.
À Rita, por estar sempre presente, por acreditar sempre em mim, pela
motivação que muitas vezes precisei. Sem ti este trabalho não seria o mesmo...
por tudo isso este trabalho também é teu.
Ao Zé Maria e a Sr.ª Conceição pela amizade com que sempre me
trataram.
Ao Cláudio Braga (Parabéns campeão...), Lena, Sofia, Evinha,
Sr.Orlando, DªLina, porque sem me conhecerem acolheram-me, por duas
vezes no país da “laranja mecânica”, como se fizesse parte da família (assim
me senti).
A todos os meus Amigos.
VI
Índices
VII
Índice Geral
Dedicatória III
Agradecimentos V
Índice Geral VII
Índice de Figuras X
Resumo XIII
Abstract XV
1. Introdução
1
2. Revisão de Literatura 5
2.1 Contextualização de um entendimento do conteúdo do jogo 5
2.2 Bases sistémicas para um entendimento do conteúdo do
jogo 8
2.2.1 Cultura de Urgência: uma limitação à qualidade do futebol 8
2.2.1.1 Emergência de uma cultura de risco 11
2.2.2 InterAcção: invariante estrutural que se expressa numa
organização que é Especifica 15
2.2.2.1 Princípios de InterAcção 17
2.2.3 Tudo é Organização... tudo é Táctica!!! 20
2.2.4 Níveis de organização 23
2.2.4.1 Da macro à microOrganização: espiralidade morfológica 29
2.2.5 Categorização 35
2.2.5.1 Diferentes categorizações, diferentes entendimentos da
dinâmica do jogo: Fases e Momentos de jogo - Escala temporal 37
2.2.5.2 Categorização estrutural dos momentos de organização
ofensiva - Escala Espacial 43
2.2.5.2.1 Transições (defesa/ataque) 44
2.2.5.2.2 Criação de desequilíbrios 46
2.2.5.2.3 Finalização 48
Índices
VIII
2.3 MacroSistematização do “jogar de qualidade” 49
2.3.1 Espaço: Macrodimensão organizada e organizadora de
qualquer “jogar” 50
2.3.2 (Macro) Organização funcional do “jogar de qualidade” 53
2.3.2.1 Transições 57
2.3.2.1.1 Procura imediata de situações de finalização 58
2.3.2.1.2 Manutenção da posse de bola 60
2.3.2.2 Criação de desequilíbrios 69
2.3.2.2.1 Verticalização após circulação de bola
horizontal 73
2.3.2.2.2 Verticalização “intensa” da circulação de Bola 75
2.3.2.2.3 Desequilíbrios no corredor lateral 78
2.3.2.2.4 Desequilíbrios no corredor central 83
2.3.2.3 Criação de situações de Finalização e de Finalização 87
2.3.3 (Macro) Organização Estrutural do “jogar de qualidade” 88
2.3.3.1“Jogo posicional” 92
2.3.3.1.1 Diagonais posicionais 93
2.3.3.1.2 Subestrutura posicional 94
2.3.3.1.3 Posicionamento para ganho de 2ª bola 101
2.3.3.1.4 Equilíbrio dinâmico 104
2.3.3.2 Circulação Bola e Estrutura 107
2.3.3.3 Controlo do ½ campo e Estrutura 112
2.3.3.4 Jogadores em Espaços de finalização e Estrutura 118
3. Campo Metodológico 123
3.1 Caracterização da Amostra 123
3.2 Construção das Entrevistas 126
3.2.1 Condições de aplicação e recolha de dados 126
3.3 Análise de conteúdo 127
3.3.1 Definição e justificação do sistema categorial 128
Índices
IX
4. Apresentação e discussão dos
resultados
131
4.1 Filosofia das Equipas de Top 133
4.2 Momentos de organização ofensiva 135
4.2.1(Macro) Organização funcional 135
4.2.1.1 Transição ofensiva 140
4.2.1.1.1 Procura imediata de
situações de finalização:
Transições Agressivas
141
4.2.1.1.2 Manutenção da posse de
bola
144
4.2.1.2 Criação de desequilíbrios 146
4.2.1.3 Criação de situações de
finalização/ finalização
157
4.2.2(Macro) Organização estrutural 158
4.2.2.1 Jogo posicional 163
4.2.2.1.1 Diagonais posicionais
dinâmicas; subestrutura
posicional;
posicionamento
estratégico para ganho
de segundas bolas; e,
equilíbrios
1
1166
4.2.2.2 Relação da dinâmica das Equipas
de top com as Estruturas
179
5. Considerações finais 195
6. Referências Bibliográficas 199
7. Anexos XVII
Índices
X
Anexo 1 – Guião da Entrevista a Louis van Gaal XIX
Anexo 2 – Entrevista a Louis van Gaal (Inglês) XXI
Anexo 3 – Entrevista a Louis van Gaal (Tradução) XXXVII
Anexo 4 – Guião da Entrevista a André Villas-Boas LIII
Anexo 5 – Entrevista a André Villas-Boas LVII
Índices
XI
Índice de figuras
Figura 1. Níveis de organização 26
Figura 2. Padrões de circulação: verticalização após circulação de bola
horizontal; verticalização intensa da circulação de bola 72
Figura 3. Largura dos laterais em profundidade 79
Figura 4. Áreas de largura da profundidade 80
Figura 5. Espaço entre – linhas 85
Figura 6. Espaço entre linha média e avançada 85
Figura 7. Níveis de organização e Estrutura (Ex. 1-4-3-3) 89
Figura 8. Subestrutura posicional 95
Figura 9. Posicionamento nas saídas curtas com adversário distribuído
em 1-4-3-3 e 1-4-4-2 96
Figura 10. Posicionamento estratégico para ganho de bola longa ou
ressalto 101
Figura 11. Áreas a ocupar para ganho de 2ª bola/equilíbrio 102
Figura 12. “Linhas” das estruturas de referência 108
Figura 13. Triângulos das estruturas de referência 109
Figura 14. “Verticalização” do jogo em diferentes estruturas 111
Figura 15. Espaço interior 112
Figura 16. Espaços livres deixados pelas estruturas 115
Figura 17. 3º Homem 117
Figura 18. Espaço livre na grande área (Adapt. de Olivares, 1978, pp.45) 119
Figura 19. Área propensa ao aparecimento de jogadores com
movimentos de “trás para frente” 121
Figura 20. Espaço interior 137
Figura 21. Movimento “contra” que Van Gaal pretende do seu Pivô alto 155
Figura 22. Médio a “saltar” no lateral 162
Figura 23. Externo a “saltar” no lateral 162
Figura 24. Área de intervenção do Extremo (Van Gaal, 2006) 163
Figura 25. (sub) Dinâmica dos médios - centro 174
Índices
XII
Figura 26. Risco dos passes horizontais 174
Figura 27. Mobilidade dos avançados para as faixas 176
Figura 28. Distância entre os avançados 176
Figura 29. 1-4-3-3 de Van Gaal 179
Figura 30. 1-4-4-2 losango: linhas e triângulos 181
Figura 31. 1-4-4-2 de Van Gaal (Org. Defensiva) 182
Figura 32. Espaço interior: 1-4-3-3; 1-4-4-2; 1-4-4-2 losango 184
Figura 33. Jogo entre - linhas (org. Defensiva): Médio encostado à linha
def. 185
Figura 34. Jogo entre - linhas (org. Defensiva): Subida do central 187
Figura 35. 1-4-4-2 losango: Espaços livres e Intersectorial 189
Figura 36. Posicionamento do Pivô alto 189
Figura 37. Mobilidade do 2º avançado 190
Figura 38. Movimento “contra” do Pivô alto 190
Figura 39. Dinâmica da Equipa de Van Gaal 193
Resumo
XIII
RESUMO
O presente trabalho pretende referenciar conteúdos que, interpretados de
modo diverso, se evidenciam com regularidade nas Equipas de top e, portanto,
revelam-se fundamentais na elevação da qualidade do Futebol.
Nesse sentido, propusemo-nos aos seguintes objectivos: contextualizar um
entendimento Específico do conteúdo do jogo; evidenciar a existência de um
futebol de expectativa que destrói a qualidade do Jogo, evocando por seu
turno, a emergência de uma cultura de risco; perceber a importância do Espaço
na organização das Equipas; sistematizar os padrões dinâmicos funcionais e
posicionais inerentes às Equipas de top; inferir acerca da importância da:
circulação de bola, controlo do jogo, controlo do meio-campo, equilíbrios,
Estruturas, “jogo posicional”; perceber a relação entre as Estruturas e as
dinâmicas inerentes às Equipas de top.
Para a concretização destes objectivos, recorremos à análise documental e à
realização de entrevistas semi-abertas a dois treinadores de top: Louis Van
Gaal e André Villas-Boas. Constituindo o corpus que, na apresentação e
discussão de resultados, submetermos às técnicas de análise de conteúdo.
Das considerações finais, evidenciamos a existência de uma matriz de Jogo
comum às Equipas de top, sustentada por uma organização complexa que tem
no Jogador o seu intérprete. Do conteúdo de jogo manifesto, evidenciamos que
a sua organização é perspectivada em função do objectivo do jogo, emergindo
daí características fundamentais como a circulação de bola, o controlo do meio-
campo, o “atacar com muitos jogadores” e a organização global do jogo. Da
relação destas características com as Estruturas, evidenciamos que o 1-4-3-3,
o 1-4-4-2 e o 1-4-4-2 losango, são passíveis de garantir qualidade à
organização das Equipas e concluímos que é a dinamização dos Espaços que
as Estruturas ocupam e deixam livres que favorecem o aparecimento das
dinâmicas e subdinâmicas Especificas das Equipas.
Palavras-chave: FUTEBOL; ORGANIZAÇÃO OFENSIVA, ORGANIZAÇÃO
FUNCIONAL, ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL, DINÂMICA COLECTIVA, (SUB)
DINÂMICA INDIVIDUAL;
XIV
Abstract
XV
ABSTRACT
This work intends to refer to contents that, interpreted differently, we can
recognize with regularity at the top teams and, therefore, are the key in raising
the quality of football.
Accordingly, we have the following objectives: contextualise an specific
understanding of the game content; demonstrating the existence of an
expectation football that destroyed the quality of the game, evoking in turn, the
emergence of a risk culture; understand the importance of space in the
organization of teams; systematize the functional and dynamic positional
patterns inherent to the top teams; inferred about the importance of: ball
circulation, game control, midfielder control, equilibrium, structures, "positional
game"; understand the relationship between the structures and dynamics
involved in top teams.
To meet these objectives, we use the document analysis and the
implementation of semi-open interview to two top coaches: Louis van Gaal and
André Villas-Boas. This was the corpus of study that, in the presentation and
discussion of results, we subject to the techniques of content analysis.
In our final considerations, we demonstrated the existence of a game
pattern common to the top teams, backed by a complex organization that has
on the player its interpretation; In the content of the game, we show that the
team organization is viewed according to the purpose of the game, then
emerging as key features: ball movement, midfielder control, attack with many
players, and the overall organization of the game. The relationship of these
features with the structures, shows that the 1-4-3-3, the 1-4-4-2 and 1-4-4-2
diamond, are likely to ensure quality in the organization of teams and concluded
that are the dynamization of spaces that the structures occupy and allow free
that favoring the emergence of dynamic and (sub) dynamics specifics of the
Teams.
Keywords: FOOTBALL; ORGANIZATION OFFENSIVE, FUNCTIONAL
ORGANIZATION; STRUCTURAL ORGANIZATION, COLECTIVE DYNAMICS;
INDIVIDUAL (SUB) DYNAMICS;
XVI
Introdução
1
1. Introdução
Apercebemo-nos da realidade em função daquilo que projectamos nela,
“pintamos” a nossa própria realidade. Sendo uma projecção das nossas
manifestações emocionais, verificamos que o “instinto de sobrevivência” no
Futebol está permanentemente em sobressalto, pois as consequências da
derrota tornaram-se mais devastadoras, do que as consequências da vitória
revigorantes. Esta dissertação procura contrariar esta aparente tendência,
identificando alguns traços de um Futebol de qualidade superior (elevando-os
portanto, a referências de qualidade), de uma realidade que, à excepção das
Equipas de rendimento superior, nos parece cada vez mais utópica.
O pressuposto básico com que partimos para esta dissertação está no
entendimento do rendimento superior e na diferenciação das Equipas de top
para as restantes. O qual se situa acima das idiossincrasias inerentes a
qualquer Equipa, talvez uma das poucas verdades do Futebol: o “jogo” tem
explícito um objectivo (a não ser que os seus valores sejam deturpados): a
vitória. “Ganhar” é aquilo que distingue as Equipas de rendimento superior para
as restantes, que para o fazerem com regularidade têm que apresentar
qualidade. Deste facto, emergiu um esboço da nossa “pergunta de partida” da
nossa “inquietação”: o que permite a essas Equipas Ganhar regularmente!?
Na procura de respostas, fomos desbravando caminhos, com o auxílio
de áreas do saber diversas, e as nossas inquietações dissiparam-se,
apareceram, aumentaram e nesse caos o nosso caminho ia tomando um
sentido (não único, pois várias vezes fizemos “inversão de marcha”).
Deparamo-nos com a recorrente premissa que ostenta a impossibilidade de
apontar comportamentos “repetidos” (ou “repetitivos”!?), pois: “No futebol não
há dois jogos iguais”. Porém, constatamos que essa é apenas “meia-verdade”.
Ainda que cada jogo seja um jogo diferente (Cunha e Silva, 2003), somos
capazes de identificar a mesma Equipa pela regularidade morfológica que ela
vai apresentando nos diferentes jogos. Portanto, essas referências de
qualidade resultarão da interpretação do que acontece ao longo dos jogos,
daquilo que é regular. Eis que surge a tal “pergunta de partida”: que
Introdução
2
indicadores conferem qualidade regular à equipa que lhe permite ganhar mais
vezes!?
Esta questão está na origem do conteúdo desenvolvido e explorado
nesta dissertação. Assim, na revisão de literatura, procuramos o contributo de
autores que, nas suas áreas de referência, estão a Top. Da Física, à
Matemática, passando pela Filosofia, a incursão pelas diversas áreas só faz
sentido para nos ajudar a enquadrar e levar um pouco mais longe, as nossas
interpretações ao conteúdo do jogo. Por esse motivo, as nossas fontes de
inspiração e de reflexão, passam muitas vezes por jogadores ou treinadores
que, provavelmente, não conhecendo o trabalho de Prigogine, ou de
Mandelbrot, põem as Equipas a jogar com qualidade: Rinus Michels, Johan
Cruyff, Kovacs, Van Gaal, Guardiola, Xavi, Iniesta, Fabregas, Messi, … nomes
que nos recordam que o Futebol assume um estado de graça na categoria de
Arte. E por sua vez: Mourinho, Wenger, Van Gaal (novamente), Hiddink,
Benitez que nos relembram que o Futebol é feito de arte mas também de
ciência. É dessa matéria de arte e ciência que o Jogo é feito, e portanto é daí
que surge a nossa “luta”: o “jogar com qualidade”.
Pelo exposto definimos os seguintes objectivos:
Objectivos Gerais:
Referenciar um conjunto de indicadores colectivos inerentes às Equipas
de Top.
Objectivos Específicos:
Contextualizar um entendimento Específico do conteúdo do jogo;
Evidenciar a existência de um futebol de expectativa que destrói a
qualidade do Jogo, evocando por seu turno, a emergência de uma
cultura de risco;
Perceber a importância do Espaço na organização das Equipas;
Sistematizar os padrões dinâmicos funcionais e posicionais inerentes às
Equipas de top;
Inferir acerca da importância da: circulação de bola, controlo do jogo,
controlo do meio-campo, equilíbrios, Estruturas, “jogo posicional”.
Perceber a relação entre as Estruturas e as dinâmicas;
Introdução
3
Estrutura do trabalho:
Perante os objectivos a que nos propusemos, recorremos à realização
de entrevistas a dois treinadores de futebol que, de modos distintos, estão a
top, com o objectivo de obter a informação possível que nos permita confirmar,
inferir e aprofundar os indicadores inerentes às Equipas de top.
Quanto à estrutura, o presente estudo será estruturado em sete pontos
fundamentais:
Introdução: pretendemos neste ponto dar a conhecer o nosso trabalho, a
sua pertinência e os seus objectivos.
Revisão de literatura: iniciamos este ponto com um capítulo onde
pretendemos sustentar o conhecimento que pretendemos adquirir;
Partindo depois para a referenciação de indicadores que julgamos de
qualidade.
Campo metodológico: apresentaremos a nossa amostra, os métodos e a
metodologia para recolher e interpretar os resultados obtidos.
Apresentação e discussão dos resultados: confrontamos os dados
levantados com o que apresentamos na revisão de literatura, procurando
daí confirmar, inferir e aprofundar os indicadores qualitativos das
Equipas de top.
Considerações finais: apresentaremos as ideias chave do nosso
trabalho, não sendo conclusões, permitem-nos não fechar o processo de
aquisição de conhecimento.
Referências Bibliográficas: apresentaremos as referências consideradas
ao longo da dissertação.
Anexos: poderão ser consultadas as transcrições integrais das
entrevistas realizadas, bem como o roteiro das entrevistas.
4
Revisão de Literatura
5
2. Revisão de literatura
2.1 Contextualização de um entendimento Específico do conteúdo do jogo
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós, que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender.
Fernando Pessoa (1974)
Num futebol educação não deves apenas estar disponível para aprender.
Deves estar disponível também para desaprender.
Cruyff (1986, cit. por Barend e Van Dorp, 1999)
No futebol há coisas importantes e coisas interessantes.
Entre as importantes, a mais importante, está por exemplo,
em ter a cabeça aberta para a aprendizagem.
Menotti (s/d)
“Conhecer”... É esse o alimento da nossa existência. Aristóteles num dos
seus famosos escritos disse que todos os humanos têm uma vontade natural
de conhecer (Alves et al., 1995). A “caixa de Pandora” confiada pelos Deuses
dificilmente se manterá fechada, tamanha é a curiosidade do Homem.
A percepção e representação dos objectos/fenómenos tem-se
constituído a problemática central da reflexão sobre o conhecimento nas mais
distintas áreas do saber. Desde a antiguidade clássica que diversos
pensadores se têm ocupado do conhecimento, divergindo na forma, método e
instrumentos sugeridos para conhecer. Em diferentes momentos esses autores
assumem uma influência muito importante na evolução do conhecimento,
sendo impulsionadores do que Thomas Khun (1978, cit. Por Alves et al., 1995)
designou de paradigma: esquema global composto de algumas hipóteses de
base, sobre as quais cada época científica conduz as orientações de
investigação.
Do paradigma cartesiano ao paradigma sistémico a evolução do
conhecimento tem-se pautado pelo contributo de diversos autores em
Revisão de Literatura
6
diferentes áreas de conhecimento. Deixamos em seguida algumas das
referências que nos irão acompanhar na nossa caminhada:
Capra, F. (1996). A Teia da Vida: Uma nova concepção Científica dos
Sistemas Vivos (N. R. Eichemberg, Trans.). São Paulo: Editora Cultrix.
Cunha e Silva, P. (1999). O Lugar do Corpo - Elementos para uma
Cartografia Fractal. Lisboa: Instituto Piaget.
Holland, J.H. (1997). A ordem oculta: Como a adaptação gera a
complexidade. (José Malaquias, Trans.) (1ªed.) Lisboa: Gradiva
Laborit, H. (1987). Deus não Joga aos dados. Mem Martins:
Publicações Europa - América.
Le Moigne, J. (1977). A Teoria do Sistema Geral: Teoria da
Modelização (Jorge Pinheiro, Trans.). Lisboa: Instituto Piaget.
Morin, E. (2003). Introdução ao Pensamento Complexo (D. Matos,
Trans. 4ª ed.). Lisboa: INSTITUTO PIAGET.
Stacey, R. D. (1995). A Fronteira do Caos. (F. F. e. M. E. Paulo
Simões Trans.). Venda Nova: Bertrand Editora.
Todo o conhecimento depende de uma organização teórica que é
condicionada pelos paradigmas, pelas necessidades e aspirações do sujeito
que pretende conhecer (Garganta, 1997), desse modo, torna-se pertinente
situar o tema do nosso trabalho (conhecimento do conteúdo do jogo)
relativamente a esses paradigmas.
À semelhança do que aconteceu ao longo de toda a história da biologia,
também no estudo do conteúdo do jogo, verificamos uma tensão entre
mecanicismo e holismo (e posteriormente sistemismo) consequência da
dicotomia Substância/Forma (Capra, 1996).
Quando para estudar o conteúdo do jogo, partimos do “jogo formal”
estamos a isolar a estrutura para perceber as suas funções, a partir daí é
“natural” que o objecto seja decomposto e analisado nas suas partes,
independentes do contexto. Esta construção intelectual é uma “encarnação” do
Revisão de Literatura
7
paradigma cartesiano, na medida em que há isolamento das partes para se ter
um, suposto, conhecimento total do todo.
Com o reconhecimento da irreversibilidade das estruturas ao longo do
tempo é reconhecida a sua evolução e, desse modo, o interesse passa das
partes para o todo (advento da mecânica estatística), no entanto o seu estudo
teve implicações perniciosas no conhecimento dos objectos, na medida em
que, esse reconhecimento era acompanhado pelo isolamento de contextos
frequentemente mutáveis (Le Moigne, 1977).
O futebol tem o seu expoente na competição (“jogo formal”), que
pressupõe a existência de duas equipas numa situação de oposição, devendo
cada uma, coordenar as suas acções com a finalidade de recuperar, conservar
e fazer progredir a bola, tendo como objectivo criar situações de finalização e
marcar golo (Gréhaigne & Guillon, 1992 cit. Garganta, 1997). Porém, esse
momento é resultado da preparação das equipas, que trabalham a sua
organização na tentativa de conferir alguma inteligibilidade ao “jogo”. Por esse
motivo, o “jogo”, é um momento de avaliação que permite ajustar o treino em
função daquilo que a equipa vai manifestando nos “jogos” (Guilherme Oliveira,
2006), porque “cada jogo é um jogo diferente” (Cunha e Silva, 2003), fazendo
parte de um processo com características teleológicas.
Assim sendo, a elevação do “jogo formal” a objecto de estudo é uma
abstracção, pois não existe um “jogo formal” mas vários “jogos”. Por força
deste isolamento a recorrente “análise do jogo”, perspectiva-o como se de um
“filme” se tratasse, onde jogador e jogo são interpretados como sendo
independentes um do outro (Frade, 2007). Urge assim uma interpretação do
conteúdo do jogo perspectivada a partir da fenomenologia, que acentue o
processo, focando o todo que é o fenómeno Futebol. Sendo um fenómeno,
conhece-lo “é um esforço para identificar e descrever os significados
fundamentais, as referências primárias, os relacionamentos necessários, os
contornos decisivos (...) ” (Lourenço & Ilharco, 2007, pp.82).
Não pretendemos, portanto, “analisar” o “jogo formal” para conhecer o
conteúdo do jogo, mas antes interpretar as regularidades que nas equipas de
Revisão de Literatura
8
Rendimento Superior1 se vão manifestando ao longo dos jogos, com o intuito
de identificar as expressões, que muitas vezes acabam por ser as suas
invariantes (Cunha e Silva, 2003).
2.2 Bases sistémicas para um entendimento do conteúdo de jogo
2.2.1 Cultura de Urgência: Uma limitação à qualidade do futebol
De acordo com Costa (1997): “Através da sua função ideológica, o
futebol pode constituir um meio de integração social, de justificação da
realidade sócio - política e mesmo de dissimulação das deficiências da
sociedade na qual ele funciona.”, com efeito, o futebol funciona como um
espelho da sociedade que o pratica.
A sociedade global, para lá das idiossincrasias locais, caracteriza-se
pela necessidade eminente de consumir, exponenciada pela multiplicação de
objectos, dos serviços e dos bens materiais (Baudrillard, 2006). O reflexo no
futebol é óbvio: “as pressões dos interesses comerciais e a atenção constante
dos media aumentaram muito. Não podes perder um jogo, devido aos inúmeros
interesses comerciais. (...). Um clube de Top europeu tem que se qualificar
para a Liga dos campeões, enquanto que um clube “amador” (não de top) não
pode descer de divisão.” (Michels, 2001). No “futebol jogado” esta tendência
para o consumismo, para o produto, caracteriza-se por uma evolução
qualitativa da organização defensiva das equipas. Se em termos ofensivos
essa não foi a tendência, verificamos que, perante esta evolução, as exigências
do ataque aumentaram, na medida em que, o espaço está melhor organizado
defensivamente.
Simultaneamente, a transformação do tempo em algo material,
privilegiando a sua dimensão quantitativa, é algo que caracteriza a nossa
sociedade cujo mote de desenvolvimento é expresso na frase: “Tempo é
1 Rendimento Superior: A possibilidade de existência de um superior têm inerente a
existência de um inferior, sendo que, o superior diferencia-se pelo facto do seu objectivo
decorrer da determinação consciente de atingir o máximo em todas as competições (Gaiteiro,
2006). Essas equipas representam as frequentemente designadas Equipas de Top.
Revisão de Literatura
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dinheiro”. Esta linearidade do tempo advém da filosofia de Taylor, onde a ideia
de produto acabado leva à “pressa de...” (Mariotti, 2002). Com este modelo,
para além da desvalorização do tempo, há também desvalorização da
subjectividade: “não há lugar para o ser humano individualizado, mas sim para
o homem recortado, o homem-função.” (Mariotti, 2002), ou seja, sem lugar para
a criatividade.
O futebol, à semelhança da sociedade, desenvolveu a tal ponto a cultura
de urgência e ansiedade que a derrota se afigura uma tragédia, que põe em
causa a confiança, a estabilidade e os afectos (Dias, 2007), e assim, o
desempenho da equipa, na sua dimensão resultado, é uma emergência que
relativiza a credibilidade da maioria dos treinadores.
Esta situação social modifica o modo como as diferentes equipas
entendem “o jogo”, sendo notórias as diferenças entre as equipas de
rendimento superior/top das que não o são. Nesse sentido, para as equipas
que não são de top, o “jogo” potencia uma ideia do espectáculo desportivo que,
de acordo com Stone (s/d, cit. por Dunning, 1992, pp.307) promove a “ausência
de jogo”, tornando-se “ (...) um tipo de ritual, previsível, até mesmo
predeterminado nos seus resultados.”.
O medo de perder tornou-se maior que o desejo de ganhar e assim, o
risco a que as equipas se submetem é quase nulo. Por um lado, as equipas
tendem a “fechar-se” (ideia de produto acabado pressupõe que o sistema se
feche) na tentativa de eliminar ao máximo a imprevisibilidade e por outro
procuram “atacar rápido”, privilegiando assim os momentos reconhecidos como
sendo de transição (defesa-ataque). O resultado é um futebol “monólogo”
(Mourinho, 2002), dando a impressão que “no futebol de hoje, não se joga,
transita-se.” (Araújo Pereira, 2007).
Esse jogo estereotipado de transições é concretizado sob as vestes de
mecanismos que se regulam de modo independente ao exterior (tendência
para se “fecharem” sobre si próprios – Mecanismos Mecânicos (Frade, 2006)),
havendo por esse motivo, perda de autonomia e de adaptabilidade das equipas
que o praticam.
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Toda esta situação advém do impacto que as mudanças de final aberto
têm sobre as pessoas, provocando sentimentos de confusão e insegurança
(Stacey, 1995). Para lidar com essa situação, procura-se seguir quem
consegue fornecer interpretações coerentes da realidade (Stacey, 1995).
No futebol, essas interpretações manifestam-se, fundamentalmente, em
rendimento, desse modo, há uma tendência para seguir os treinadores das
equipas que regularmente ganham (de top/rendimento superior). Nessa
procura os treinadores podem ser “ladrões” (Capello, 2005) ou “doentes”, ou
seja, podem procurar “roubar” ideias de outros treinadores e criar a sua própria
concepção (ajustando-a posteriormente a uma realidade), ou podem procurar
“receitas” no discurso e percurso dos treinadores que em algum momento
tiveram sucesso.
Vários treinadores de top (Rendimento Superior) têm alertado para a
importância que os momentos de transição (momentos consequentes à perda
ou ganho da bola) assumem durante o jogo (Michels, 2001, Mourinho 2003,
Wenger, 2008, Queiroz, 2006), porém, os treinadores citados, deixam claro que
tão importante como esses momentos são todos os outros que decorrem
durante o jogo. Guilherme Oliveira (2006a) corrobora ao afirmar que “As boas
equipas, marcam muitos golos em transição, mas também em organização
ofensiva e bolas paradas, portanto, o número de golos, deve estar distribuído
de forma equilibrada.”. Portanto, estamos de acordo com Wenger (2008)
quando afirma que muitas equipas negligenciam esses momentos (de transição
para o ataque), no sentido em que têm sido muito sobrevalorizados,
relativamente a outros momentos, quando se pretende chegar à baliza
adversária.
Está assim pintado um quadro de uma realidade que tende a destruir
gradualmente o carácter jogo deste fenómeno. Apontamos a existência de um
“futebol de expectativa”, que funciona à semelhança da generalidade das
equipas italianas, como um espelho do adversário (Sachhi, 2006), um futebol
mecânico que privilegia a segurança em prol do risco calculado, tudo é ordem
no sentido que Frade (2006) se refere aos mecanismos mecânicos, ou seja,
uma “ordem dos cemitérios”. É altura de sermos “ladrões”, de procurarmos as
Revisão de Literatura
11
verdadeiras expressões das equipas de Top, de as interpretar e ajustar, só
assim conseguiremos um futebol de qualidade.
2.2.1.1 Emergência de uma Cultura de Risco
Num mundo sem aventura, tudo é previsível, óbvio e portanto, menos excitante,
o que faz o desporto menos atractivo para os adeptos.
Michler (2008)
O jogo é um confronto entre sistemas caóticos, na medida em que, são
extremamente sensíveis às condições iniciais (Cunha e Silva, 2003), assim
sendo, um pequeno acontecimento pode modificar todo o desenvolvimento do
jogo. Porém, apesar desta extrema sensibilidade às condições iniciais, somos
capazes de identificar a mesma equipa em alturas diferentes, pela semelhança
familiar que a organização das suas partes e das suas interacções apresenta.
Este reconhecimento só é possível se a equipa, enquanto sistema, apresentar
uma relação complementar de autonomia e dependência. Para que isso
aconteça ela deve fechar-se ao meio exterior a fim de manter uma
configuração que lhe é própria, consequência das suas idiossincrasias, no
entanto é a abertura ao ambiente que permite esse fecho (Morin, 2003), sendo
que, essa abertura faz-se pelo plano mais “elementar” do fenómeno do “jogar”,
o individual, é aí que os desvios criadores se dão.
É desta relação, aparentemente paradoxal mas complementar, que a
equipa adquire uma identidade, que permite ajustar-se internamente e
consequentemente adaptar-se às perturbações exteriores. Ou seja, a equipa
possui determinados mecanismos que vão configurar a organização das
partes, no entanto, esses mecanismos deverão estar assentes numa estrutura
e funcionalidade que os faça não mecânicos (Oliveira et. al., 2006), só assim a
equipa conseguirá adaptar-se aquilo que o jogo vai manifestando.
A coexistência de mudança e estabilidade foi acentuada por Prigogine
(Prémio Nobel da Química em 1977), quando este introduziu o termo
“estruturas dissipativas”, também designados de sistemas “longe do equilíbrio”
(Lourenço e Ilharco, 2007), que sugerem uma nova perspectiva relativamente
ao 2º princípio da termodinâmica: o qual evidencia uma tendência nos
Revisão de Literatura
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fenómenos químicos da ordem para a desordem (Capra, 1996). Desse modo,
Prigogine estabeleceu uma ligação entre a desordem e a possibilidade de
novas formas de ordem, mais complexas, surgirem (Cunha e Silva, 1999),
assim, para estes sistemas, a dissipação de energia (que corresponde a
informação, à organização) na transferência de calor, não pressupõe
degradação mas sim manutenção e por vezes a emergência de novas formas
de ordem (Lourenço e Ilharco, 2007).
Através das “estruturas dissipativas” de Prigogine, várias leituras podem
ser feitas ao fenómeno futebol, revelando-se uma concepção bastante
pertinente na interpretação do conteúdo do jogo. Assim, quando olhamos o
jogo, podemos observar que o binómio complementar ordem/desordem está
presente em todos os momentos de organização. Sendo dois conceitos
complementares, a ordem é normalmente associada à segurança e a
desordem ao risco. Desse modo, tendo em consideração o que foi mencionado
anteriormente, quanto maior o risco, maior a complexidade do sistema e maior
é a possibilidade de surgirem novas formas de ordem de complexidade
crescente. Como veremos posteriormente, em jogo, este risco tem contornos
concretos, na medida em que, consubstancia apenas a perda de posse de bola
e não a possibilidade do adversário criar situações de finalização.
Para que esta reflexão seja coerente, é necessário alertar para o facto
de haver alguns conceitos que nesta concepção têm um interpretação diferente
da que normalmente têm no futebol, falamos concretamente, do importante
conceito de “equilíbrio”.
Na concepção de Prigogine o equilíbrio2 refere-se a um estado de
neutralidade característico dos sistemas fechados, pelo que, um organismo em
equilíbrio é um “organismo morto” (Capra, 1996). No jogo, esse equilíbrio
acontece quando a equipa é entendida como um sistema fechado, em que os
seus comportamentos são totalmente previsíveis, não havendo lugar para o
novo. Nestas condições a desordem deverá ser reduzida ao mínimo possível e
a evolução do jogo tende para a mecanização dos comportamentos. Deste
2 Sobre o conceito de “equilíbrio” utilizado no futebol uma reflexão aprofundada é feita em
capítulo posterior.
Revisão de Literatura
13
modo, estar em equilíbrio, à luz da concepção das “estruturas dissipativas”,
corresponde no “futebol jogado” a um desequilíbrio organizacional, na medida
em que o fecho limita a capacidade de adaptação da equipa.
Pelo exposto, a equipa pode ser percebida como um sistema que opera
longe do equilíbrio, uma estrutura dissipativa, que necessita de infusão de
energia, de informação, de organização, para se ajustar aos “problemas” que o
confronto com um adversário coloca. São estas trocas com o exterior que
garantem um estado longe do equilíbrio, havendo um desequilíbrio do fluxo que
“alimenta a equipa” e lhe permite manter-se em aparente equilíbrio
(estabilidade), que só se pode degradar se houver fecho do sistema (Morin,
2003). Para perceber de que modo estas estruturas nos podem ajudar a
interpretar o conteúdo do jogo e a necessidade de uma cultura de risco, temos
necessariamente de as explorar com maior profundidade.
Estas estruturas surgem com o reconhecimento da irreversibilidade do
tempo. Por ser um tempo com sentido único é, de acordo com Cunha e Silva
(1999, pp.116) um “tempo caótico”, “porque arrasta consigo toda a realidade,
deixando a realidade que se lhe opõe só o estatuto de memória.”. Prigogine e
Sengers (1990, cit. Cunha e Silva, 1999) referem que este é um tempo de
vários devires, que acontecendo não podem voltar a acontecer. Nesse sentido,
podemos afirmar que o presente tem vários futuros possíveis (Frade, 2006).
Quanto mais afastado do equilíbrio, maior a sua complexidade e mais
elevada a sua não-linearidade, logo aumenta o número de soluções para o
mesmo problema, consequentemente há um aumento da imprevisibilidade, e
novas situações poderão emergir a qualquer momento (Capra, 1996). Isto
pressupõe “graus de liberdade” nas decisões tomadas pelo sistema, recusando
assim a ideia de “automatismo humano” (Lourenço e Ilharco, 2007), o tal
“mecanismo mecânico” que Frade (2006) propõe para evidenciar os
mecanismos fechados sobre si próprios e que, como vimos, tendem a “morrer”.
A imprevisibilidade do presente surge, portanto, da variabilidade de
futuros possíveis, da variabilidade de soluções que determinada equipa
apresenta para resolver determinado problema. Essa imprevisibilidade aparece
no que Prigogine designou de “Pontos de bifurcação”, ou seja, momentos em
Revisão de Literatura
14
que o sistema se confronta com a existência de um leque de opções que a
qualquer momento podem ser tomadas, ramificando-se para um estado
totalmente novo (Capra, 1996), evidenciando deste modo, a liberdade do nosso
futuro através das nossas acções (Lourenço e Ilharco, 2007).
De acordo com Cunha e Silva (1999) esta imprevisibilidade surge
fundamentalmente à “periferia dos pontos de bifurcação”, ou seja, quando a
definição do futuro se começa a desenhar, sendo aí que se instala o caos e,
consequentemente, estão criadas condições para o aparecimento de novas
formas de ordem. O mesmo autor ressalva que, tomada a decisão por um
futuro possível, ou seja, seguindo uma das ramificações, o seu comportamento
pode ser previsto. E aí, um problema de probabilidade pode determinar qual o
caminho a seguir (Prigogine 1999, cit. por Lourenço e Ilharco, 2007).
Ao admitirmos que a equipa é uma estrutura que não se confina a
estados de ordem estacionários, que não se fecha sobre si própria, procurando
antes integrar a desordem/desconhecido e a partir daí gerar novas formas de
ordem mais complexas, ou seja, ao admitirmos que a equipa se revê nos
preceitos, que até agora exploramos, das estruturas dissipativas, verificamos
que mantendo-se num estado “longe do equilíbrio” vão apresentar uma grande
variabilidade de soluções (graus de liberdade da equipa e dos jogadores).
Um exemplo concreto: a qualidade da equipa em posse de bola, em
termos colectivos, tem inerente a capacidade dessa sair a jogar curto ou longo
(Benitez, 2008), adaptando os comportamentos aos diferentes momentos de
organização ofensiva e aos problemas que o adversário lhes vai colocando,
esta variabilidade de soluções, ramificam-se em diferentes pontos de
bifurcação.
Deste modo, para um futebol de qualidade superior é emergente uma
cultura de Risco, que procure manter-se num estado estável longe do
equilíbrio, pois, como nos diz Capra (1996, pp.151): “À medida que nos
afastamos do equilíbrio, movemo-nos do universal para o único, em direcção à
riqueza e à variedade.”. Portanto, concordamos com Maciel (2008), quando
afirma que o correcto entendimento do rendimento superior tem subjacente
uma Cultura de Risco.
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2.2.2 Interacção: Invariante estrutural que se expressa numa
Organização que é Específica
Quando temos duas equipas em confronto, temos dois sistemas (de
sistemas...) com o mesmo objectivo: obter rendimento nos “jogos”.
Aquilo que permite o rendimento, ou seja, o desempenho, é a interacção
entre os elementos de cada equipa (entre si, com o meio, com o adversário...-
relação que traduz a maior ou menor complexidade do sistema), que se
expressa na sua organização, conferindo-lhe uma dinâmica que é Específica3.
Por esse motivo, Frade (1990) considera a interacção, invariante estrutural do
rendimento. Revelando-se, por isso, pertinente apresentar as suas
características fundamentais.
Enquanto estrutura do rendimento, a interacção é fenomenológica
(porque diz respeito ao fenómeno do “jogar”) e representacional (porque tem
que ver com as Especificidades da equipa) (Frade, 1990). Regula as relações
possíveis entre os jogadores, pois é uma presença “ausente” (abstracta) em
todos os “jogares”, ou seja, é uma presença detectável através de uma
manifestação concreta: a organização, sendo que, os diferentes “jogares”
expressam formas particulares de organização (lado representacional do
“jogar”). Denotando-se uma relação dialéctica de modificação e/ou
construção/evolução entre interacção e organização.
À semelhança de um organismo vivo quando pretende conhecer, a
equipa (“órgão que modeliza o objecto”) é (deve ser) dotada de um projecto
identificavél (“jogar” idealizado4) a partir do qual o seu comportamento pode ser
3 Específica/Especificidade: A acentuação do E (com letra maiúscula e a negrito) não se
trata de um preciosismo semântico, de acordo com Guilherme Oliveira (2004) este pormenor
(que na prática é um “pormaior” pois condiciona todo o processo de treinabilidade) pretende
diferenciar a especificidade inerente à modalidade da Especificidade do “jogar” de determinada
Equipa que resulta da convergência de múltiplas dimensões. 4 “Jogar” idealizado para uma determinada Equipa, na medida em que resulta da
convergência de múltiplas dimensões: cultura (país e clube), características táctico-técnicas
dos jogadores, etc. Sendo reconhecido também como “modelo de jogo” ou “projecto colectivo
de jogo” (Guilherme Oliveira, 2004).
Revisão de Literatura
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interpretado (característica teleológica). Esses objectivos passam pelo
desempenho da equipa, não apenas na sua dimensão resultado mas também
na sua dimensão “jogo” (Cunha e Silva, 2003), ou seja, pela apresentação de
determinadas regularidades que conferem uma “morfologia” (Goethe cit. por
Capra, 1996) à equipa, “o “jogar” de determinada forma”. Por outras palavras,
dentro da imprevisibilidade característica ao jogo, pretende-se que a equipa
manifeste algumas regularidades, que vão permitir reconhecer determinada
equipa pela “semelhança familiar” em jogos diferentes.
Esta hipótese teleológica (Le Moigne, 1977) realça a necessidade de
interpretar a equipa de acordo com os seus objectivos (no que a dimensão
“jogo” se refere, uma vez que no rendimento superior o objectivo na dimensão
resultado é sempre o mesmo: ganhar). A interacção ao ser interpretada à luz
desses objectivos vai apresentar necessariamente configurações diversas mas
todas elas pertinentes em relação aos objectivos/projectos propostos, de onde
resulta a importância de acentuarmos o lado representacional da interacção.
A coerência e persistência de cada sistema é que permite definir a sua
identidade (Holland, 1997), no caso concreto do sistema Equipa: a sua
“morfologia”. Ou seja, a imprevisibilidade característica ao jogo implica que o
sistema Equipa se confronte continuamente com situações novas, é a resposta
a essas situações novas que, se coerentes com o “projecto colectivo de jogo”,
conferem uma morfologia à Equipa; e depende de numerosas interacções, da
agregação de vários elementos e da adaptação/aprendizagem (Holland, 1997).
No entanto, dada a abertura ao ambiente, inerente aos sistemas complexos
adaptáveis5 (SAC’s) (à semelhança da Equipa) para que a mudança seja
coerente é necessário que os comportamentos se orientem por princípios, que
fornecerão pistas para a resolução de problemas pendentes (Holland, 1997).
Esses princípios, estabelecidos em função dos seus objectivos,
assemelham-se ao que Laborit (1987) designa de “informação-estrutura”, que,
de acordo com a sua etimologia, propõe a atribuição de uma “forma”
5 Sistemas complexos adaptáveis: Tradução da designação atribuída por Holland (1997) aos
sistemas complexos que se mantêm coerentes quando enfrentam o novo, através do processo
de adaptabilidade ou aprendizagem (SAC’s).
Revisão de Literatura
17
((in)formação) às relações entre as partes de um todo de acordo com uma
determinada ordem, sendo estes princípios que permitem conferir alguma
inteligibilidade ao “jogo”.
2.2.2.1 Princípios de interAcção
Não há jogo sem regras. São as regras do jogo que o definem,
embora elas sejam incapazes de específicar os decursos individuais de cada partida.
Fiolhais (1989)
“No futebol não existem regras fixas, porque se nutre de pequenos grandes detalhes”.
E acrescentaríamos: porque esses pequenos detalhes têm que ver com a nossa condição de humanos.
Olivares (1978)
Comummente designados de “princípios de jogo”, consideramos que,
face ao que temos explorado, a designação mais adequada será “princípios de
interAcção”, pois põe em evidência os seus propósitos: estabelecer relações
entre as partes com uma determinada ordem. Para além disso, o
comportamento da equipa, enquanto “todo”, depende muito mais das
interacções do que da acção das partes (Holland, 1997), na medida em que é a
interAcção que permite antecipar a acção das partes ao longo do jogo.
A definição desses princípios de interAcção deve ser cuidada, na medida
em que não deve limitar o desenvolvimento da estrutura do rendimento
(fechando-a), isto porque “as estruturas mudam momentaneamente quando
funcionam, mas, quando esta mudança é tão grande que se torna
necessariamente irreversível, desenvolve-se um processo histórico, dando
origem a uma nova estrutura.” (J.A.Millher, 1971, cit. Por Le Moigne, 1977,
pp.70) ou seja, a uma nova morfologia do jogo (que é um “jogar”) que surge da
complexificação da organização colectiva.
Isto leva-nos às noções similares propostas por vários autores de
servomecanismo (Laborit, 1987), mecanismo regulado em tendência da
cibernética (Oliveira et al., 2006) e mecanismo não mecânico (Frade, 2006),
que sugerem a existência de um conjunto de princípios de interAcção que
regulam a abertura ao ambiente, ou seja, uma equipa possui determinadas
referências comportamentais (princípios) que se modificam (adaptação) em
função das informações exteriores (contextuais), podendo evoluir para novas
Revisão de Literatura
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estruturas (entenda-se padrões de interacção) ou retomar o inicial. Cunha e
Silva (2003) corrobora esta ideia afirmando que “os princípios devem ser
móveis, ou seja, devem ser flexíveis, e portanto devem conter essa dimensão
de adaptação, de adaptabilidade.”. O “jogo” desempenha um papel muito
importante na avaliação e aferição destes princípios de interAcção, que, pelas
propriedades que devem manifestar, vão sendo reajustados em função das
necessidades que a equipa vai demonstrando nos jogos.
Essas referências comportamentais ao estar na base dinâmica de
qualquer “jogar” deve assentar em regras de funcionamento flexíveis, definidas
em função das características dos jogadores e do “estado final” que se
pretende atingir (“jogar” idealizado), contemplando vários graus de liberdade e
assim proporcionar a adaptação, o que leva à necessidade de as sistematizar.
Esse é um processo fundamental, sendo, para Mourinho, um dos seus
segredos (Lourenço e Ilharco, 2007). Ainda que este processo seja teórico,
pretende-se unificado à prática, na medida em que a prática não deve ser
“acéfala” nem a teoria “pura”: “A teoria serve para comandar a intuição, e para
ser continuamente melhorada, aperfeiçoada e alterada de acordo com as
circunstâncias concretas que se estiver a enfrentar.” (Lourenço e Ilharco, 2007,
pp. 286). O que vai ao encontro do que temos evidenciado ao longo deste
trabalho, ou seja, a necessidade de conceber a Equipa como um sistema
simultaneamente fechado e aberto ao seu ambiente.
Sistematizando os princípios de interAcção, estamos a conferir sentido à
sua articulação, no entanto, sendo a sua interpretação feita pelos jogadores é
necessário que o processo de aquisição desses princípios seja
permanentemente reflectido, no sentido, de os ir consolidando, ajustando e
reformulando de acordo com o “acontecer” dos mesmos. Pelo exposto, o modo
como cada treinador sistematiza o jogo que pretende, deve emergir da prática
reflectida, o que resulta num processo único e aberto, consequência das
circunstâncias concretas em que se vão aplicar e das ideias que se pretende
transmitir.
Por sua vez a articulação dos princípios promove uma morfologia na
Equipa que determina o ajuste dos jogadores, pois, de acordo com Ilharco e
Revisão de Literatura
19
Lourenço (2007) “ (...), no funcionamento de um grupo, é através da interAcção
que as pessoas se vão conhecendo, que vão aprendendo a lidar umas com as
outras, através da percepção dos seus pontos fracos e dos seus pontos fortes,
das suas preferências e aversões, das suas necessidades, etc. Vão, pois,
através do conhecimento, identificando as possíveis reacções aos diversos
estímulos e dessa forma acabam por se ajustar uns aos outros no convívio do
dia-a-dia.”, este é um dos aspectos que justifica o processo de treinabilidade,
só treinando como se joga (ou como se pretende) é que se torna possível
identificar os pontos fracos e fortes entre colegas de Equipa. Deco (2008?,
fonte desconhecida), ainda no Barcelona, evidenciou um aspecto que vai de
encontro ao que pretendemos salientar, referindo que, quando tem de servir
um dos jogadores da frente sabe como eles gostam mais de receber ajustando
o tipo de passe em função do jogador que vai receber a bola. O mesmo
podemos inferir nas palavras de Assunção (2006), na altura jogador do F.C.P:
“Quando o Lucho sai, fico na cobertura, se o Quaresma, que é muito
habilidoso, leva a bola, tento ficar um pouco atrás para o caso de ele a perder.”.
Existe portanto uma “função de ajuste” dos jogadores que vai promover o “jogar
uns em função dos outros”, uma sentimentalidade de Equipa. Van Gaal (1997,
cit. por Kormelink e Seeverens, 1997, pp.3) corrobora ao afirmar que “No
futebol, tudo depende do colectivo. Desse modo, é importante que cada
jogador saiba o que pode ou não fazer. Têm que descobrir as características
de cada um, e isso automaticamente leva a um bom entendimento, que é a
base para o resultado. Todos os jogadores têm de aprender a colocar os
interesses da equipa em primeiro lugar.”
Deste modo, os princípios de interacção assumem um papel
preponderante na emergência de uma morfologia, sendo que a sua coerente
articulação leva à necessidade de os sistematizar.
Neste trabalho ao procurarmos as expressões das equipas de
rendimento superior, pretendemos sistematizar os indicadores qualitativos que
se desdenham com maior ou menor dificuldade nessas equipas. Assim,
falamos de uma “MacroSistematização” do “jogar de qualidade”, no singular
porque nos estamos a referir a indicadores que se verificam com alguma
Revisão de Literatura
20
regularidade nas equipas de rendimento superior. Esta perspectiva permiter-
nos-à apreender a diversidade de “MicroSistematizações” dos diferentes
“jogares de qualidade”. Tomemos como exemplo a circulação de bola, sendo
um indicador de qualidade, o modo como é concretizada (microsistematização)
depende de muitos aspectos, podendo desse modo, apresentar dinâmicas
distintas.
Neste (sub) capítulo deixamos já antever a importância de uma noção
crucial no desenvolvimento de todo o trabalho: a organização. Sobre o qual
dedicaremos, com o fluir desta dissertação, uma reflexão mais aprofundada.
Não passaremos para outro (sub) capítulo sem antes realçar, em jeito de
conclusão, que a interacção enquanto invariante estrutural que se expressa
numa organização que é Específica, conferindo desse modo uma morfologia a
determinada equipa, um “jogar”, por meio de referências comportamentais (que
definimos de princípios de interAcção), é orgânica, ou seja, funcionante e
evolutiva, desse modo, o nosso objecto de estudo deve ser percebido como um
“edifício” inacabado e para o qual não existe fim.
2.2.3 Tudo é Organização...tudo é Táctica!
Bogdanov (cit. por Capra, 1999) distinguiu três tipos de sistemas
complexos: os Organizados (em que o todo é maior do que a soma das suas
partes), os Desorganizados (em que o todo é menor que a soma de suas
partes) e os Neutros (as actividades organizadoras e desorganizadoras
anulam-se mutuamente). No entanto, Le Moigne (1977) relembra que o
conceito “sistema” funda-se na dialéctica do organizado e do organizante,
desse modo, qualquer equipa, para se apresentar como um sistema, tem
necessariamente que apresentar organização, caso contrário estaremos na
presença de um “conjunto” de jogadores.
Aparentemente diversas, estas posições têm em comum o facto da
unidade global dos sistemas, o Todo, pressupor organização. Desse modo, a
optimização de um qualquer sistema (“Jogar” de qualquer equipa) resulta da
articulação de sentido dos diferentes níveis de organização que o compõem
Revisão de Literatura
21
(Seirullo, 1993, cit. por Garganta, 1977), de onde resulta o rendimento, nas
dimensões resultado e sobretudo na dimensão “jogo” (o “jogar de determinada
forma”).
A organização é uma das principais características sistémicas e nesse
sentido, Morin (cit. Le Moigne, 1977, pp.27) definiu-a como: “a capacidade de
um sistema para, ao mesmo tempo, produzir e produzir-se, ligar e ligar-se,
manter e manter-se, transformar e transformar-se”. Parafraseando um
reconhecido gestor nacional, Gustavo Pires (s/d. cit. Lopes, 2006) “A
organização faz a organização da organização”.
Esta construção teórica evidencia três modos de representação de um
sistema: a Eco-Organização, a Auto-organização e a Re-Organização (Le
Moigne, 1977). Ou seja, o conceito de organização pressupõe que o sistema se
adapte, se equilibre e evolua organizacionalmente. Este representação dos
sistemas está na base do entendimento da dimensão Táctica, enquanto
característica emergente da interrelação das várias dimensões que compõe o
fenómeno do jogar.
No capítulo anterior evidenciamos a necessidade de se conceber o
futebol de acordo com uma cultura de risco, valorizando a abertura ao
ambiente e aceitando a incerteza como um aspecto inevitável de qualquer
“jogar” que se pretenda de qualidade. No entanto, também deixamos claro que,
de acordo com Morin (2003), essa abertura só é possível a partir do seu fecho,
assim o “jogar” de uma determinada Equipa é um sistema que organiza o seu
fecho na e pela sua abertura. Por outras palavras a organização promove a
ordem interior do sistema a partir da imprevisibilidade característica do (s) jogo
(S). O mesmo autor refere que esta é a principal diferença dos organismos
vivos para as máquinas, ou seja, a aptidão temporária para criar ordem a partir
da desordem. A Equipa ao ser dotada desta propriedade inerente aos
sistemas, a organização, tem a possibilidade de engendrar comportamentos
sucessivos recusando, desse modo, que a sua história seja totalmente
aleatória (Le Moigne, 1977).
Pelo exposto podemos afirmar que a Organização do jogo de qualquer
Equipa de qualidade não se funde na “ordenação” de princípios rígidos, pois
Revisão de Literatura
22
ela contempla a ordem e a desordem. Desse modo a organização deve ser
dotada de flexibilidade e criatividade, uma vez que, segundo Michael Hammer
(s/d, cit. por Lopes, 2006) esta organização caracteriza-se pela
responsabilidade, risco e incerteza.
Assim temos “uma Equipa”, com determinados objectivos, cujas
interacções são configuradas por princípios referenciais, promovendo uma
“ordem interna” no seio da equipa, ou seja, organização. No entanto, quando
em confronto com outra Equipa, na presença do imprevisível, a equipa tem de
se adaptar de acordo com as informações que vai recebendo do exterior
(contra-informação promovida pelo adversário), do ambiente (derivadas do
confronto com outra equipa: informações contextuais).
Pelo que, a (in) formação resulta da habituação e apresenta-se quer
como uma memória, como um saber, como uma mensagem, como um
programa, quer como uma matriz organizacional (Morin, 2003), apresenta-se
também como contra-informação (Frade, 2006), na medida em que, o jogo é
um confronto, logo há um adversário que vai procurar contrapor a informação.
Pelo exposto, a Equipa organiza-se não para agir, mas para interagir com o
ambiente.
Essa adaptação leva à aprendizagem e por sua vez pode levar a novos
estados de ordem, ou seja, a uma Reorganização da equipa que pressupõe um
ajustamento criativo. Salientamos deste modo, que a organização pode
modificar o ambiente, como o ambiente pode promover modificações na
organização, há uma interacção entre ambos.
Desse modo, a interpretação da informação está dependente da
Especificidade das diferentes Equipas, que têm objectivos distintos e que se
organizam em função de princípios de interacção Específicos. Sendo que, a
sua identidade, resulta da estabilidade da sua organização (longe do
equilíbrio), ou seja, de um padrão de organização, definido por Capra (1996)
como uma configuração de relações características de um sistema particular.
Falamos de uma “cultura organizacional”, que constituiu-se nos pressupostos
que orientam os comportamentos dos jogadores no seio da equipa (Lourenço e
Ilharco, 2007). Por isso, quando nos referimos à organização do jogo, falamos
Revisão de Literatura
23
de uma organização de interacções que confere uma dinâmica que é
Específica de determinada Equipa.
Evidenciamos assim que o conceito de organização não é um conceito
chave mas antes um conceito problema, que deve prevalecer em todas as
Equipas que pretendem manifestar qualidade no seu jogar, na medida em que
a cultura de risco pressupõe organização.
Sendo a nossa pretensão estudar a organização do jogo, aquilo que
vamos fazer é “mapear” padrões de organização de carácter probabilístico, ou
seja, embora pertencendo a uma determinada matriz organizacional (que tem
que ver com determinada Equipa) os seus padrões podem ser diversos
estando ou não em posse da bola. Desse modo, torna-se pertinente decompor
a organização do jogo em dimensões fraccionárias que tenham que ver com
essa situação. Decomposição que se pretende didáctica e que respeite a lógica
interna do jogo, que se caracteriza pela sua irregularidade e abertura ao
ambiente.
2.2.4 Níveis de organização
“...E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Com tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.”
Fernando Pessoa - Álvaro de Campos
A organização multinivelada de sistemas dentro de sistemas pressupõe
uma característica chave, referenciada por Woodger (cit. por Capra, 1996) para
os organismos vivos: a sua natureza hierárquica. No entanto Laborit (1987) e
Capra (1996) ressalvam o perigo que do conceito hierarquia emana, sugerindo
a sua substituição pela noção de redes, expressando desse modo o
funcionamento global dos sistemas.
Esta perspectiva inerente ao paradigma sistémico revela-se de total
pertinência para o estudo do conteúdo do jogo na forma que aqui nos
propomos.
Interpretar o jogo de futebol como um confronto de sistemas (Guilherme
Oliveira, 2004), significa que temos dois sistemas de sistemas, assim, cada
Revisão de Literatura
24
Equipa constituirá uma rede. Porém, pelo que vimos anteriormente, a Equipa,
enquanto “todo”, só existe como resultado da interacção das partes segundo
uma certa ordem, desse modo, a rede, não é a equipa enquanto somatório de
elementos, mas a Equipa que manifesta padrões de interacção Específicos,
configurando a rede, ou seja, apresentando uma morfologia.
Laborit (1987) já havia constatado esta interrelação dos sistemas dentro
de sistemas, deparando-se com “problemas” que hoje nos ajudam a interpretar
o funcionamento das redes. Ao procurar perceber como é que as múltiplas
regulações, inerentes aos múltiplos sistemas que compõem um organismo, se
podiam harmonizar, chegou, segundo o próprio, ao “segredo dos segredos”: os
níveis de organização e consequentemente aos servomecanismos, que se
referem a sistemas regulados (ordenados para dar uma “forma”) por um
comando exterior.
O autor citado ao questionar-se sobre a proveniência das informações
que regulam os sistemas chegou aos níveis de organização. Evidenciando que
as informações exteriores (reguladoras) a um nível, provêm do nível que o
engloba, existindo, por esse motivo, uma ligação energética e sobretudo (in)
formacional entre os diferentes níveis de organização. Para além disso, são as
informações que vão regular a abertura do sistema ao ambiente (à informação
contextual), que por sua vez permite a adaptabilidade do sistema.
Daqui se conclui que para estudar melhor a função de cada nível de
organização não podemos isolar dos níveis de organização que o englobam,
nesse sentido Laborit (1987, pp.39) afirma que: “ (...) se é importante conhecer
a estrutura de um nível de organização, talvez seja ainda mais importante por
em evidência as relações que ele estabelece com o sistema que o engloba.”.
O mesmo autor acrescenta que a abertura do ponto de vista da
informação-estrutura (ou seja, dos princípios de interAcção), só é possível
através de um “englobamento num sistema que garanta o controlo do
funcionamento do nível de organização em questão”.
O sistema Equipa, realizando-se por níveis de organização, pode ser
configurado através da metáfora da “Casca de cebola”, a qual apresenta
múltiplas camadas de graus de complexidade distintos (Maciel, 2008). Assim,
Revisão de Literatura
25
para melhor percebermos o funcionamento da Equipa (enquanto manifestação
de um “jogar”), temos de identificar os seus níveis de organização. Essa
identificação trata-se no fundo de identificar as “partes” do “jogar” (que se
manifestam no nível englobante: o colectivo). O que nos levanta alguns
problemas, que se consubstanciam na necessidade de respeitar a “inteireza-
inquebrantavél” do “jogar”, desse modo a questão que se nos coloca é: como
reduzir um qualquer fenómeno representacional do jogo (um qualquer “jogar”)
sem que isso cause “danos significativos” à totalidade do “jogar”!?
Para responder a essa questão, é necessário definir partes cujas
propriedades sejam representativas do todo, o que implica o respeito pelo
princípio Hologramático sugerido por Morin (2003) para facilitar a compreensão
dos fenómenos complexos, o qual propõe que: “o todo está no interior da parte,
que está no interior todo”. Esta ideia está também subjacente aos fractais de
Mandelbrot, cuja principal propriedade reside no facto, dos “seus padrões
característicos são repetidamente encontrados em escala descendente, de
modo que suas partes, em qualquer escala, são, na forma, semelhantes ao
todo” (Capra, 1996, pp.118). Assim, em qualquer nível de organização temos
de ser capazes de reconhecer o todo (auto-semelhança) e de identificar
regularidades (através dos sub-princípios,... definidos em função dos
princípios) dentro da imprevisibilidade que lhes é inerente.
Quando olhamos para o sistema Equipa constatamos com relativa
facilidade dois planos de organização distintos: um plano mais “amplo” que
corresponde ao “jogar” da equipa, à macroOrganização, que tem expressão no
nível de organização colectiva; sendo que este resulta da organização das
partes em interacção, pelo que, o individual, nível de organização mais
“elementar”, corresponde ao plano da MicroOrganização.
Estes dois planos apresentam propriedades fractais, na medida em que,
apresentam auto-semelhança, ou seja, se ampliarmos o plano da
microorganização, ele será representativo da macroOrganização, resultando
esse da convergência da organização funcional e estrutural do plano Macro.
Assim, para que estes planos estejam em harmonia é necessário que sejam
auto-coerentes: “Quando falamos na perspectiva micro do jogar temos que
Revisão de Literatura
26
primeiro criar um contexto num sentido lato para que esse lado micro seja
sempre direccionado para o mesmo objectivo.” (Silva, 2007).
No entanto, do plano Macro ao plano da MicroOrganização, que se
expressam nos níveis de organização colectiva e individual respectivamente,
encontramos outros níveis de organização cuja pertinência se revê na tal
necessidade de “reduzir sem empobrecer”6, ou seja, de apreender (para
interpretar e operacionalizar) a complexidade do fenómeno representacional do
jogar sem desvirtuar as suas interacções.
Guilherme Oliveira (2004) vai de encontro a esta perspectiva sugerindo
que os comportamentos nos diferentes momentos de jogo podem assumir
várias escalas: colectiva, sectorial/grupal, intersectorial e individual. Sendo esta
uma fractalidade em profundidade (Guilherme Oliveira, 2007), inerente à
inteireza-inquebrantavél do “jogar”. Esquematicamente estas escalas
traduzem-se em níveis de organização, do modo que propomos na figura 1:
Como já salientamos anteriormente a representação do sistema Equipa
pela Organização (Eco; Auto e Re) está intimamente ligada ao conceito de
Táctica daí que, estes níveis de organização possam ser considerados de
táctica Colectiva, táctica Intersectorial, táctica Sectorial e táctica Individual.
6 “Reduzir sem empobrecer”: Este conceito assume importância crucial na operacionalização
de um “jogar”, porém é necessário ressalvar que sempre que há redução há perda, cabendo ao
treinador minimizar os efeitos dessa redução e nesse sentido o entendimento deste conceito e
das fractalidades assume um papel preponderante.
Figura 1. Níveis de organização
Revisão de Literatura
27
É ainda pertinente relembrar, a propósito dos servomecanismos de
Laborit (1987), que os níveis de organização estabelecem uma relação entre
eles, de tal modo que, para estudar a função de um dos níveis não o
poderemos isolar do nível que o engloba. Desse modo, é necessário perceber
que informações (reguladoras: princípios) vão actuar nos níveis de organização
que o plano da macroOrganização engloba. Daqui emana a pertinência de
existirem sub-princípios, sub-princípios dos sub-princípios, etc. que derivam
dos princípios definidos no plano Macro.
Constatamos assim, que a ordem nos diferentes níveis de organização
deriva da auto-organização do nível que os engloba (Capra, 2005). Esta
articulação entre os diferentes níveis de organização e dentro do próprio nível é
essencial para o funcionamento e coerência de todo o sistema, para o
aparecimento de regularidades e põe em evidência a “inteireza-inquebrantavél”
que o fenómeno do (s) “jogar (es) ” deve manifestar na sua interpretação (do
ponto de vista do treinador) e operacionalização, pelo que, a propriedade
fractal7 (Guilherme Oliveira, 2004) surge como característica essencial dos
diferentes níveis de organização.
Esta proposta em quatro níveis de organização permite-nos interpretar o
jogo nas suas diferentes partes/níveis sem perder a noção do seu
enquadramento global, uma vez que, qualquer um destes níveis apresenta as
propriedades que apresentamos: complexidade; auto-organização; abertura e
dimensão fractal em relação a um todo maior que é o “jogar”.
7 Propriedade fractal: é uma das características particulares inerentes ao jogo de futebol
(Guilherme Oliveira, 2004) e pretende evidenciar que dentro da imprevisibilidade característica
do jogo é possível identificar padrões de (inter) acção que se repetem no tempo.
Revisão de Literatura
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Revisão de Literatura
29
2.2.4.1 Da macro à microOrganização: espiralidade morfológica
“Apesar de vivermos numa sociedade individualista, pretende-se no mundo do futebol que o centro de
gravidade de uma equipa seja o colectivo.”
Valdano (2007)
“…o indivíduo é a arma de desequilíbrio mais sofisticada de qualquer equipa.”
Valdano (2005)
“Uma partida podia, por exemplo, partir duma dada configuração astronómica, ou do tema duma fuga de
Bach, ou duma frase de Leibniz ou dos Upanishads e, segundo a intenção ou o talento do jogador, prosseguir e
desenvolver a ideia condutora por ela evocada ou enriquecer a expressão dessa mesma ideia com a evocação de
ideias próximas. Se o principiante era capaz de estabelecer um paralelo, por meio dos símbolos do jogo, entre uma
melodia clássica e a fórmula duma lei da Natureza, o conhecedor e o mestre conduziam a partida desde o tema inicial
até combinações ilimitadas.”
Hesse (s/d, cit. por Fiolhais, 1989)
Evidenciamos assim a necessidade de conceber a organização em
planos de complexidade distintos: da Macro à MicroOrganização, que resultam
em diferentes níveis de organização em interacção permanente. Salientamos
que os níveis de organização constituem-se fractalidades do “jogar”, e, nesse
sentido, interessa evocar Cunha e Silva (1999, pp.62) que nos elucida sobre
uma característica inerente a esta propriedade: “A fractalidade intui que o micro
não se opõe ao macro, ela sabe que o macro contém o micro, mas é o micro
quem identifica, quem atribui identidade ao macro.”.
Identificados os níveis de organização, as suas propriedades
fundamentais e a sua pertinência, surge-nos outra questão também
proveniente das inquietações de Laborit (1987), e têm que ver com a formação
do sistema, concretamente por onde começa: “Em baixo ou em cima?” O
mesmo será perguntar como surge a morfologia da Equipa!?
Na interpretação do conteúdo do jogo observamos frequentemente duas
posições distintas quando se procura a resposta a esta questão. Por um lado a
“velha questão” do ter ou não ter jogadores, sendo esse o argumento utilizado
por muitos treinadores para justificar a não opção por formas de jogar mais
evoluídas (Amieiro, 2005). Por outro lado, há quem defenda de forma definitiva
a totalidade do sistema Equipa, “a equipa é um todo”, um todo homogéneo, o
que nos parece também, uma perspectiva limitadora da evolução do fenómeno
Revisão de Literatura
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representacional do jogar, na medida em que poderá promover barreiras aos
“desvios criadores” dos jogadores, à sua individualidade.
O nosso fio condutor leva-nos porém para outra perspectiva, que se
consubstancia no princípio da recursão organizacional proposto por Morin
(2003), que tem subjacente a ideia de um processo em que os produtos e os
efeitos são simultaneamente causas e produtores daquilo que os produziu. O
mesmo autor (2003, pp.108) clarifica-nos com um exemplo: “A sociedade é
produzida pelas interacções entre indivíduos, mas a sociedade uma vez
produzida, retroage sobre os indivíduos e produ-los.”, também a Equipa, uma
sociedade (com várias “microsociedades”), só existe pela organização das
suas partes, porém essa organização ao suceder vai retroagir sobre as partes
e também produzi-las. Esta ideia da recursão organizacional está subjacente à
ideia de autonomia do sistema, porém, pode-nos induzir numa lógica de
circularidade na medida em que não explicita a experiência subjectiva das
partes, ou seja, dos jogadores. Sabemos de antemão que essa não é a ideia
implícita em Morin (2003) pois, como já vimos, este autor concebe os sistemas
abertos pelo seu fecho.
Cunha e Silva (1999) menciona que esta circularidade (existindo) tem
consequências negativas no crescimento do sistema, limitando-o. O mesmo
autor (1999, pp. 139) sugere, em oposição à circularidade, o conceito de
espiralidade, na medida em que: “A espiral cresce, conquista território, e
embora se desenvolva na periferia de pontos por onde já passou fá-lo
progressivamente mais afastada. A espiral não despreza o centro, não lhe vira
as costas, mas vai-se emancipando paulatinamente. Regressa, mas está cada
vez mais longe do ponto de partida. Ela é compatível com a aquisição, com a
evolução.”. Se nos recordarmos do que evidenciamos nas estruturas
dissipativas, esta noção de espiral descreve o desenvolvimento inerente a
essas estruturas.
Guilherme Oliveira (2006) corrobora esta perspectiva ao afirmar que,
quando se confronta com determinada equipa não adopta um modelo de jogo,
cria, juntamente com os jogadores, um modelo de jogo, enfatizando que não é
uma criação exclusiva do treinador, na medida em que os jogadores recriam
Revisão de Literatura
31
aquilo que o treinador estabelece como princípios de interAcção. A esta
interrelação dialéctica o autor mencionado designa, tal como aqui nos
propomos, de desenvolvimento em espiral.
Pelo exposto, o princípio da recursão organizacional deve ser
complementado com o princípio do desenvolvimento em espiral.
O ponto de partida da espiral será o “estado final que se pretende
atingir”, uma morfologia que é balizada pela articulação dos princípios de
interAcção que o treinador define em função da convergência de muitas
variáveis, nomeadamente: a cultura (do país e do clube), a ideia que (o
treinador) do jogo se tem e da qualidade dos jogadores8 que constituem um
plantel. Dando estes origem a sub-princípios, sub-princípios dos sub-princípios,
etc., que funcionam como respostas preferenciais a determinados estímulos e
que se articulam pelos diferentes níveis de organização.
O início da espiral dá-se a partir do momento que os jogadores dão vida
aos princípios que o treinador propõe para a sua equipa. Os jogadores ao
interagir com o ambiente, com o desconhecido, na sua individualidade, recriam
a organização levando-a para sítios onde nunca esteve, podendo esses locais
traduzir-se em novas formas de organização, mais complexas, e na
modificação das próprias partes.
Metaforicamente, imaginemos um casal, composto por duas pessoas
com um código genético próprio. Planeiam e concebem um filho. Ainda na
barriga da mãe desconhecem por completo como vai ser o filho, no entanto,
8 A qualidade dos jogadores é um aspecto preponderante no decorrer do processo que confere
a determinada Equipa uma identidade, influindo tanto na idealização de um jogar como na
complexificação da sua organização. Porém, é pertinente ressalvar que esta qualidade que se
baseia na capacidade Táctico-técnica dos jogadores tem subjacente, também, as qualidades
técnicas que permitem que dois jogadores tenham comportamentos tácticos-individuais
distintos. É manifestamente diverso o comportamento de um lateral com capacidade para
cruzar “na passada” de um outro lateral que não o consiga fazer. Ainda que isso requisite
qualidades táctico-técnicas como a identificação do timing de cruzamento e a coordenação
com o colegas de Equipa, as qualidades técnicas são também muito importantes, e devem ser
continuamente trabalhadas, pois se não consegue cruzar na passada de nada importa
identificar o timing para o fazer.
Revisão de Literatura
32
sabem que vão ter um bebé com determinada forma. Que relação tem isto com
o futebol?
Enquanto treinadores idealizamos um “jogar” que, à partida, acreditamos
que é aquele que melhor se adequa a um determinado plantel. No entanto, os
jogadores, também têm o seu “código genético”, e é da interacção de cada
indivíduo, do seu “código genético”, com aquilo que idealizamos e com o
ambiente, que vai emergir algo que ainda não sabemos exactamente como vai
ser, mas sabemos que vai ter alguns traços característicos.
Para além disso, é pertinente reforçar um outro aspecto de veras
importante, estamos a falar de individualidades que se inserem e trabalham em
prol de um colectivo, pelo que, é necessário atender ao facto de haver uma
interpretação individual e uma interpretação colectiva, pois como refere Queiroz
(1983, pp.15), sobre os princípios de jogo, eles devem ser entendidos como
“as regras de base segundo as quais os jogadores dirigem e coordenam a sua
actividade – consideradas individualmente e em colectivo (...) ”.
Imaginemos a seguinte situação: determinada Equipa procura a
verticalidade da circulação de bola através da circulação horizontal, este
comportamento colectivo tem implicações na saída de bola do GR, devendo
esta fazer-se preferencialmente curta (estando o adversário defensivamente
organizado). À medida que vamos ampliando os níveis de organização,
definem-se referências comportamentais (sub-princípios, sub dos sub,...) cuja
articulação e coerência determinam o êxito (ou não) do princípio e logo a
possível configuração da equipa. A título de exemplo, sugerimos as seguintes
referências:
Colectivo: Equipa posicionada de modo a estabelecer sempre linhas de
passe ao portador da bola.
Intersectorial: relação do sector defensivo com o sector intermédio que
permita a criação de espaço entre estes para: “libertar” as áreas mais recuadas
do terreno; e criar Espaço para depois aparecer com movimentos de apoio à
Circulação de bola.
Revisão de Literatura
33
Sectorial: laterais devem preferencialmente procurar dar profundidade à
largura e os centrais devem posicionar-se preferencialmente no prolongamento
das linhas laterais da grande área.
Individual: apoios dos centrais (e médios) em momento de receber a
bola preferencialmente orientados para a baliza do adversário (diagonal ou de
frente).
Em primeiro lugar é pertinente salientar que os níveis de organização ao
funcionarem como servomecanismos regulam, através das referências/
(in)formações, a abertura ao ambiente. No entanto, à medida que ampliamos
os níveis até ao individual, verificamos que aumenta a dificuldade em prever o
comportamento, esta característica é, na geometria fractal, reconhecida como
“estrutura fina”, isto é, quanto mais se amplia mais detalhes é possível observar
(Alves, 2008).
Esta variabilidade do detalhe permite que pequenos acontecimentos
aleatórios, que Prigogine designou de “flutuações” (Capra, 1996), possam
definir a ramificação que o sistema vai seguir. No jogo estas flutuações
correspondem, por exemplo, ao adversário: como se posiciona, como
pressiona, etc. Estas flutuações ao influenciar a bifurcação que o sistema
segue podem levar à emergência de novas formas de ordem (“ordem por
flutuações”).
Assim, apesar de reconhecemos que estas referências comportamentais
exercem influência no nível mais elementar, quem determina o que fazer no
“aqui e agora” é o jogador. Holland (1997) corrobora ao referir que a modelação
dos sistemas complexos adaptáveis é dirigido para a selecção e representação
de estímulos e respostas preferenciais (definição dos princípios de interacção),
porém quem determina os comportamentos são os próprios elementos activos,
os jogadores. Como já vimos, são onze individualidades, que ao posicionar-se
num ponto de bifurcação vão decidir em função de contextos aleatórios e
irrepetíveis (Flutuações) e da sua “história anterior” (cultura do jogador,
características e qualidades inerentes a cada jogador).
O cerne da questão está na compreensão que a individualidade, por ser
única, por possuir uma história própria, é criativa no modo como resolve os
Revisão de Literatura
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“problemas” que o contexto lhe coloca, como escolhe entre vários futuros
possíveis.
Recorrendo novamente ao exemplo em cima citado, que falamos da
orientação dos apoios de um central ou médio, se o adversário não pressiona
essa saída de bola (flutuação), existe Espaço para a receber, não há problema
algum em receber de costas.
Outro exemplo: para a posição de médio centro temos dois jogadores
com características manifestamente diversas: Busquets (Barcelona) e
Fabregas (Arsenal). O modo como eles fazem a leitura do jogo é
completamente distinta, verificando-se que, Busquets apoia muito mais a
circulação de bola, sendo que, nessa situação recebe muitas vezes de costas e
dá de primeira, enquanto Fabregas recebe na maioria das vezes a pensar em
servir os colegas da frente. As características de um e de outro jogador vão
gerar (sub)dinâmicas manifestamente distintas, mas o princípio
independentemente do jogador que os substitua (como suplente ou em trocas
posicionais) nas respectivas equipas, mantém-se.
Numa situação em que temos dois jogadores que ocupem a mesma
posição, ao emprestarem à Equipa a sua individualidade promovem para
aquela mesma posição (sub) dinâmicas distintas. Nesse sentido, podemos
afirmar que é diferente termos o Deco como jogador que “serve” os avançados,
ou termos o Ballack, as qualidades de cada um, ou seja, a sua individualidade
permite que a (re) criação do jogo seja distinta estando um ou outro jogador em
campo (ou até simultaneamente). Isto é, qualidades diferentes vão permitir
comportamentos tácticos individuais distintos. Do mesmo modo que nos
referimos à orientação dos apoios poderíamos falar de um drible ou de outra
acção que permita ao jogador resolver os problemas que se lhe colocam.
A liberdade de um jogador, não acontece pois, à revelia do que são as
referências comportamentais da equipa, na medida em que, tem objectivos
colectivos precisos. Nesse sentido concordamos com Queiroz (2006) quando
refere que “Primeiro, cada jogador tem que saber e compreender exactamente
o que é que a equipa espera dele, segundo, tem que compreender e saber qual
é que deve ser o seu contributo para a equipa (…)”.
Revisão de Literatura
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Desse modo, se temos alertado para a importância do todo enquanto
expressão morfológica de uma Equipa, não nos podemos alienar da “verdade”
do futebol: quem “joga o jogo” são os jogadores, são eles que dão vida às
ideias que do jogo se tem, são eles que decidem, agem, interagem, entre eles
e com o ambiente, e tudo isso ao acontecer (re)cria a organização e os
próprios jogadores.
2.2.5 Categorização
“Os jogos não se podem analisar aos pedacitos. Bom, puder podes, mas corres o risco de cometer o erro de
acreditar que um detalhe pode decidir tudo.”
Cruyff (2007)
Fazendo das palavras de Cruyff (2007) o mote para esta reflexão,
consideramos que, quando se trata de (re) conhecer padrões de interAcção, é
necessário ignorar alguns detalhes, caso contrário, sempre que observamos
uma equipa dificilmente conseguiremos detectar os pilares da sua morfologia.
O que vai ao encontro da “estrutura fina” característica dos objectos fractais.
“(...) se quisermos estudar um rio, não retiramos um balde cheio de água
e ficamos em terra especados a olhar para ele. Um rio não é a sua água e se
tirarmos água de um rio, perdemos a qualidade essencial de rio que é o seu
movimento, a sua actividade, a sua corrente.” (Watts, s/d, cit. por Levitin, 2007:
149). Para além de que, se procurarmos interpretar o seu curso, temos que nos
sustentar nas regularidades que ele apresenta, caso contrário perdíamo-nos na
imensidão de sinuosidades que o rio vai apresentando.
Isto pressupõe do nosso cérebro uma separação dos aspectos que
permanecem numa determinada equipa (MacroOrganização) sempre que a
vemos jogar. Se nos referimos não a uma equipa mas às equipas de top, aquilo
que vamos procurar reconhecer são os padrões comportamentais dessas
equipas e indicar aquilo que têm em comum, que como veremos, se poderá
manifestar de modos distintos.
Tal como na música, temos de saber diferenciar os aspectos de uma
canção (entenda-se “jogar” pois tem uma “impressão digital”) que permanecem
Revisão de Literatura
36
sempre os mesmos (“propriedades emergentes”9 da MacroOrganização),
daqueles que são variações únicas (que o “aqui e agora” proporciona – lado
criativo – que se expressa na abertura do sistema pelo lado Micro) ou que são
característicos de uma determinada interpretação (entenda-se de um jogo)
(Levitin, 2007). Esta capacidade é, segundo o mesmo autor, própria ao
cérebro, na medida em que o computador é incapaz de identificar diferentes
versões da mesma canção, do mesmo modo, quando recorremos à “análise”
por programas de computador devemos ter em atenção essa mesma limitação
que se relaciona com a natureza e função da memória humana.
Esta característica da memória pressupõe um processo que se revela
fundamental na identificação dos aspectos que permanecem ao longo dos
jogos, a categorização. Este é um processo crucial na medida em que nos
serve de alternativa para estruturar a informação, reflectindo a organização
informacional de uma pessoa sobre determinado assunto (Almeida e Silva,
2008).
De salientar ainda, acerca do processo de categorização, que este não
se pretende estanque, nem definitivo, desse modo, qualquer pessoa pode
discordar acerca das categorizações e a mesma pessoa pode, em alturas
diferentes, discordar de si própria (Levitin, 2007). Par além disso este processo
não tem fronteiras distintas (Levitin 2007, Morin, 2003), pelo que o
enquadramento de um determinado comportamento numa categoria
concretiza-se pela “semelhança Familiar” (Levitin, 2007).
9 Cada nível de organização possui “propriedades emergentes” que são propriedades exibidas
por um nível que o anterior não exibe (Capra, 1996).
Revisão de Literatura
37
2.2.5.1 Diferentes categorizações, diferentes entendimentos da
dinâmica do jogo: fases e momentos de jogo.
O estudo do conteúdo do jogo assume, na sua mais recente história,
duas lógicas que se pretendem didácticas e que se relacionam com
entendimentos distintos da dinâmica dos jogos.
Por um lado, temos uma perspectiva dualista que considera a existência
de duas fases distintas: a fase ofensiva, em que a equipa se encontra com a
posse da bola e realiza um conjunto de acções na tentativa de obter o golo; e a
fase defensiva, em que a equipa não tem a posse de bola e através de acções
colectivas vai procurar recupera-la (Guilherme Oliveira, 2004). Estas fases
encontram-se separadas uma da outra sendo que, uma fase é abandonada
logo que o objectivo é concretizado (marcar golo ou recuperar a bola) (Castelo,
1994), apresentando, desse modo, uma lógica sequencial (Guilherme Oliveira,
2004). Vários autores (Garganta, 1997, Castelo, 1994) apesar de utilizar estas
duas categorias, consideram o jogo na sua inteireza-inquebrantavél, ou seja,
ainda que reconheçam a existência de fases, a lógica que está subjacente ao
seu entendimento pressupõe uma das características fundamentais do jogo, a
sua fluidez. Porém, parece-nos que as interpretações, que derivam da lógica
que divide o jogo nestas duas categorias, levam frequentemente a encarar a
construção de uma equipa nos seus diferentes “processos” como um “edifício”,
definindo-se uma hierarquia de comportamentos que se pretendem
“institucionalizar” na equipa. Daqui derivam as ideias de “construir a equipa de
trás para a frente” e vice-versa ou “sustentar a equipa defensivamente e depois
pensar nos aspectos ofensivos.”, que por sua vez leva à necessidade de
“analisar” o jogo nas suas diferentes fases para o conhecer.
Por outro lado, em função das limitações que esta lógica didáctica
parece apresentar, vários treinadores (Frade, 1985, 2006; Ferreira, 2003,
Guilherme Oliveira, 2002, Michels, 2001, Mourinho, 1999, Van Gaal cit.
Kormelink e Seeverens, 1997) consideram que o jogo apresenta quatro
momentos: organização ofensiva, organização defensiva, transição defesa-
ataque e ataque-defesa. A substituição das fases por momentos é justificada
Revisão de Literatura
38
por Guilherme Oliveira (2004) pela necessidade de enfatizar a lógica arbitrária
com que se apresentam ao longo de um jogo.
Para melhor percebermos a lógica por detrás desta categorização
revela-se pertinente recuar à sua génese: o “Futebol Total”, que suscita nos
românticos adeptos do futebol uma ressonância mítica, mesmo aqueles que
não o presenciaram visualmente sentem o “cheiro” de um futebol que se revela
cada vez mais utópico (sobretudo pelas equipas que não são de top). Falar de
“Futebol total” é falar em Rinus Michels (considerado treinador do século pela
FIFA em 1999), e sucessivamente na Laranja-Mecânica, Steven Kovacs, Johan
Cruyff (jogador e treinador), Van Gaal, nomes que potenciaram a evolução
desta modalidade ao introduzir uma nova abordagem ao jogo, que ainda hoje
fornece princípios actualizados às pretensões de um futebol de qualidade
superior.
Segundo Michels (2001) o famigerado “futebol total” resultou da
necessidade de “abrir” a defesa do adversário, motivo pelo qual, a sua Equipa
apresentava muita mobilidade, com frequentes trocas posicionais entre as três
linhas: defesa, meio-campo e ataque. Nesse sentido Cruyff (1977, cit. por
Barend e Van Dorp, 1999, pp. 26) refere que: “O que há de especial na equipa
holandesa é o movimento. Todos se movem. É essa a base de tudo. Se em
algum momento disserem: Cruyff está a jogar muito profundo, devia estar no
meio-campo, é porque não percebem nada. (...) Isso causa problemas ao
adversário, porque pode aparecer um pela esquerda e outro pela direita ou
todos pelo meio e eles têm que se adaptar.” Esta dinâmica implicava que, para
além das tarefas básicas inerentes a cada posição, os jogadores possuíssem
qualidades para, durante o jogo, assumirem outras posições (Michels, 2001,
Cruyff, 1977 cit. por Barend e Van Dorp, 1999).
Uma extensão desse futebol é o pressing realizado no meio-campo do
adversário, ou, como menciona o seu autor (2001), a “caça” à bola que resulta
da vontade de a ter sempre em sua posse. Assim, a sua equipa, mal perdesse
a bola, revelava uma dinâmica colectiva que indicava a vontade de a recuperar
imediatamente. Obviamente que isso nem sempre era possível, e nessas
alturas (re) organizavam-se defensivamente e logo que recuperassem a bola o
Revisão de Literatura
39
primeiro objectivo seria a profundidade, tentando tirar proveito da possível
desorganização do adversário (Michels, 2001) 10.
Da interpretação desta dinâmica que Michels pretendia para as suas
equipas derivou uma lógica didáctica que considera “algo mais” para além do
ataque e da defesa: as transições, cuja tónica se encontra no aproveitamento
da eminente desorganização das equipas nos instantes imediatos à perda ou
recuperação da posse de bola (Guilherme Oliveira, 2004). Surgindo assim uma
categorização do jogo em 4 momentos, que foi inicialmente formulada para
responder à sua “inteireza inquebrantável” (Frade, 2006; Amieiro, 2005).
Porém, a ênfase colocada na escala temporal levou a que os momentos
reconhecidos como sendo de transição da defesa para o ataque e os
momentos de organização defensiva fossem sobrevalorizados (Benitez, 2008,
Wenger, 2008) e muitas vezes mal interpretados.
Tendo como mote um artigo publicado no Público em 2006, intitulado
“Mais do que ter a bola, interessa atacar rápido”, podemos inferir acerca de
como estes momentos têm sido negligenciados.
O treinador citado nesse artigo diz não ser “adepto de um modelo que
privilegie a posse de bola.” Dizendo ainda que “o que uma equipa pode ganhar
com muita posse de bola é acabar por perdê-la. No futebol actual o que faz
mais sentido são as transições rápidas. A equipa ganha a bola e procura atacar
rapidamente a baliza, para apanhar o adversário desorganizado”.
É frequente a associação entre ataque rápido e/ou procura de
profundidade com as transições. A justificação para a sua importância
encontra-se na vulnerabilidade defensiva do adversário após perda de bola. Ou
seja, como o adversário está a atacar encontra-se defensivamente
“desorganizado”, pelo que, é necessário aproveitar essa desorganização. Este
princípio é válido, porém não pode ser interpretado como uma relação única de
10 A conjugação verbal destes dois parágrafos remete-nos para o passado. Porém, podemos
rever estes princípios em algumas equipas de Top, das quais, o Barcelona é actualmente o
exemplo mais elucidativo. Desse modo, será com naturalidade que, com o fluir desta
dissertação, reavivemos os princípios inerentes ao mítico “futebol total”.
Revisão de Literatura
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causa-efeito, pois se assim for, sempre que a equipa ganha a bola irá procurar
imediatamente profundidade, assumindo assim uma escala temporal.
Desta situação surgem algumas limitações à qualidade do “futebol
jogado” de muitas equipas: transições em profundidade e/ou rápidas como
únicas soluções de ataque (Mourinho, 2003) e a ineficácia das transições
consequência da organização dos adversários. E quando falamos da
organização do adversário, mencionamos as equipas de rendimento inferior
que deixam muitos jogadores atrás da linha da bola quando estão a atacar
(Benitez, 2008) e das equipas de rendimento superior que procuram manter
uma organização global durante todo o jogo.
De ressalvar que o artigo acima mencionado surge na sequência das
palavras proferidas pelo treinador de um dos “grandes” portugueses, que
expunha algumas das suas ideias em conferência de imprensa. É certo que o
discurso nem sempre é igual ao percurso, e a inexistência de uma “autonomia
temática”11 no futebol pode levar a interpretações diversas daquilo que a “fonte”
pretende transmitir. No entanto, depois da reflexão realizada anteriormente
podemos “medir”, ou seja, olhando para os dados estatísticos da época
passada constatamos: a dificuldade das equipas “grandes” em derrotar as
“pequenas” as derrotas sofridas pelos “grandes” no campeonato, o reduzido
número de golos marcados por partida e a pobre participação dos “grandes”
nas competições europeias.
Urge assim uma perspectiva das transições, e consequentemente das
categorias que permitem interpretar o jogo, que eleve não a dimensão
temporal, mas antes a dimensão Espacial, relacionando-se esta com a
organização/desorganização da própria equipa e do adversário.
11 A inexistência de uma “autonomia temática” foi um problema apontado por Sobral (1999) que
dificulta a proclamação do desporto como uma Ciência. No futebol este problema é recorrente
sobretudo na discursividade utilizada pelos “agentes” ligados à modalidade. Constatamos
frequentemente que: “sistema”, “estrutura”, “táctica”, “modelo”, são usados como sinónimos, o
que pode levar a interpretações deturpadas deste fenómeno. É necessário falar-se a mesma
linguagem, pois a imprecisão semântica leva a equívocos que na prática se podem revelar
fatais.
Revisão de Literatura
41
Na realização desta dissertação partimos do pressuposto que só
percebendo o jogo como um continuum, fluido na passagem de uns momentos
para os outros é que respeitamos uma das suas características fundamentais,
a sua “inteireza-inquebrantavél” (Frade, 2006; Amieiro, 2005).
Assim, uma vez que o jogo é feito de muitos momentos de organização,
não podemos ignorar a escala temporal, porém, com essa escala apenas
achamos pertinente identificar como tendo “semelhança familiar” os momentos,
decorridos durante todo o jogo, em que a equipa está em posse de bola e
noutra categoria todos os momentos em que a equipa não tem a posse de
bola. Uma vez que esta terminologia se afigura pouco “prática” e havendo uma
classificação estabelecida no mundo do desporto, iremos atribuir aos
momentos em que a equipa está em posse a definição de Ofensivos, e aos
momentos em que a equipa não está em posse de bola de Defensivos. Porém,
devemos lembrar que os momentos ofensivos também pressupõem
comportamentos defensivos e vice-versa.
O “jogo” tem, na sua “natureza”, um objectivo, a vitória. Sendo este
objectivo explícito nas equipas de Top, que, para o serem, têm de ganhar
regularmente. Desse modo, uma equipa que queira ser de Top tem,
necessariamente, de perspectivar a sua organização em função de como quer
chegar à baliza do adversário, só assim consegue concretizar o objectivo do
jogo. Deste modo, esta dissertação tratará, como já tivemos oportunidade de
salientar, dos momentos de organização ofensiva e, sempre que acharmos
conveniente trataremos também dos momentos de organização defensiva.
Nesse sentido, interessa perceber como os vamos estruturar.
Revisão de Literatura
42
Revisão de Literatura
43
2.2.5.2 Categorização dos momentos de organização ofensiva:
escala Espacial
A definição de “categorias” não se afigura tarefa fácil, mas necessária
para estruturar os indicadores qualitativos dos momentos de organização
ofensiva.
Como tivemos oportunidade de constatar anteriormente, a definição de
quatro momentos, tem levado à sobrevalorização da escala temporal. Porém,
aquilo que nos interessa é a organização que acontece nesses momentos,
desse modo, iremos propor três categorias estruturais tendo como referência a
organização no e pelo Espaço. Ou seja, ainda que sejam momentos que
ocorrem no tempo, pretendemos que eles reflictam organização, desse modo,
os MomentoS12 de organização ofensiva podem ser configurados a partir de
três categorias: transições (ofensivas), criação de desequilíbrios e criação de
situações de finalização.
Estas categorias subentendem uma escala Espacial que tem que ver
com o binómio organização/desorganização da própria equipa e do adversário.
Pelo que, o modo como estes vão ocorrer em jogo depende mais do binómio
organização/desorganização, do que da escala temporal evidenciada
anteriormente.
Esta proposta não se pretende estanque, nem tão pouco definitiva,
sendo aquela que neste momento nos parece mais adequada e nos permitirá
sistematizar os indicadores de qualidade das equipas de rendimento superior.
Em seguida faremos a delimitação concepto-comportamental da
tematização proposta, para num momento posterior referenciar os indicadores
qualitativos das equipas de Top. A sequência pela qual são apresentadas não
é necessariamente aquela que acontece em jogo, pois não existe uma
12 MomentoS: Ao acentuarmos a letra “S” pretendemos evidenciar a existência não de um
momento de transição, de um momento de..., mas vários momentos de organização ofensiva
que decorrem ao longo do jogo.
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sequência pré-definida para o “acontecer” destas, além disso, as fronteiras
entre elas são ténues e por vezes de difícil percepção.
De salientar ainda que os comportamentos da equipa não são sempre
iguais, por exemplo as transições são condicionadas pelo contexto de
recuperação de bola, que por sua vez está dependente do modo como
determinada Equipa organiza o Espaço (como ocupa, dinamiza e ajusta). Por
este motivo existe uma enorme variabilidade de comportamentos susceptíveis
de levar a efeito estas categorias, o que sustenta a ideia que vai sendo
reforçada com esta dissertação, a variabilidade de “microsistematizações”
possíveis.
2.2.5.2.1 Transições (defesa/ataque)
Para que o futebol seja espectáculo é necessário existirem duas equipas cuja prioridade seja jogar melhor
do que a outra. E que não seja apenas não deixar jogar a outra para depois então decidir o que fazer.
No futebol primeiro pensa-se. Só depois se corre. (...). Ser veloz não é chegar primeiro, é resolver primeiro.
Menotti (2008)
De acordo com Guilherme Oliveira (2004, pp.147) estas transições
caracterizam-se pelos “(...) comportamentos que se devem ter durante os
segundos imediatos ao ganhar-se a posse da bola.”.
Após a recuperação de bola as Equipas encontram-se num ponto de
bifurcação13 comum, que define duas opções/ramificações para o
desenvolvimento do seu futuro, concretamente: se vai procurar de imediato
situações de finalização (através da exploração da desorganização do
adversário ou provocando imediatamente essa desorganização) ou procurar
antes a segurança da posse de bola (pelo reconhecimento que o adversário
está organizado).
Como, quando, onde, com quem, são variáveis que influenciam as
ramificações, ou seja, o caminho que o sistema segue nas transições. E devem
ser devidamente contempladas no modelo de jogo das Equipas.
13 Ponto de bifurcação: Conceito já explorado no (sub) capítulo 2.2.2, que evidencia o leque
de opções que o sistema, neste caso, a Equipa (enquanto manifestação concreta de um jogar),
se confronta e que a qualquer momento podem ser tomadas.
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Porém, à periferia do ponto de bifurcação a imprevisibilidade é maior
(Cunha e Silva, 1999), estando o sistema mais susceptível às flutuações do
ambiente, ou seja, pequenos acontecimentos aleatórios vão exercer grande
influência nas ramificações que o sistema vai seguir. No jogo, estas flutuações
correspondem ao adversário, concretamente se está organizado ou
desorganizado e, obviamente, à capacidade da Equipa identificar ou não essa
organização/desorganização. Este binómio determina de modo decisivo o
futuro do sistema nos momentos consequentes ao ganho da bola. E basta um
pequeno acontecimento aleatório, por exemplo, o “desposicionamento” de
apenas um jogador adversário, para levar a Equipa a procurar situações de
finalização.
Villas-boas (2006a) por altura do Mundial de 2006 numa das suas
crónicas, fazendo uma interpretação da equipa do Brasil, deixou algumas
indicações do funcionamento dinâmico da Equipa, das quais é pertinente
salientar a seguinte: “Depois e quando eles a perdem (a posse de bola) é
preciso ter critério, certeza e segurança no passe e na posse, é preciso ser-se
inteligente para perceber que a equipa brasileira está partida e posicionalmente
desequilibrada em transição defensiva e essa é altura ideal para
surpreender…Penso que nestes momentos de transição também é importante
olhar para a faixa que está descoberta.”. “Ser inteligente” implica, para além de
tudo o que adquirem por habituação, avaliar as circunstâncias concretas que
tem pela frente e tomar decisões. Nesta situação em concreto não basta
recuperar a bola e “accionar” um conjunto de mecanismos de transição, é
necessário que o jogador perceba as condições em que vai realizar a transição,
concretamente se o adversário está ou não organizado/desorganizado.
Vejamos o seguinte exemplo: a nossa equipa tem como referência
(sobretudo quando defende em bloco baixo), procurar imediatamente a
transição em profundidade, tentando com isso tirar proveito do possível espaço
que o adversário vai deixar entre a linha defensiva e o GR. Para isso deixamos
na frente um jogador rápido e bom no 1x1. Sabemos que um dos laterais do
adversário, com regularidade sobe no terreno, assim o espaço que deixa livre
será uma referência para explorar ao longo do jogo: ou com passes diagonais
Revisão de Literatura
46
profundos, ou com a movimentação de jogadores de dentro para fora
aumentando assim, o Espaço para receber a bola ou para outro jogador entrar.
Porém, durante o jogo o adversário (auto) organiza-se e, esse corredor,
aquando da tentativa de ser explorado pela nossa equipa, é imediatamente
fechado pela basculação da linha defensiva. Para além disso, ao saber que a
nossa equipa nesses momentos procura, preferencialmente, a profundidade,
vai tentar condicionar essa mesma situação, fazendo um pressing colectivo à
nossa transição ou apenas um jogador a pressionar para temporizar o ataque e
assim a sua equipa (re) organizar-se defensivamente. Nesta situação, a equipa
deveria sair a jogar com maior segurança.
As transições acontecem, independentemente do modo como são
concretizadas, assim, a questão que se coloca diz respeito ao “como fazer”
(inerente às Especificidades de cada Equipa) e, não menos importante, à
identificação dos momentos em que deve jogar em profundidade para procurar
criar situações de finalização ou quando deve procurar a segurança (que
também pode estar na profundidade). Assim, tal como todos os
comportamentos da equipa, dependem fundamentalmente das circunstâncias
Espaciais (espaço, tempo e número) que encontram após ganho da bola.
Devendo eles surgir do permanente equacionar do binómio risco/segurança e
da organização/desorganização funcional/posicional da própria equipa e do
adversário.
2.2.5.2.2 Criação de desequilíbrios
Equilíbrio é a palavra sagrada do futebol actual mas o modo de o conseguir não é correndo atrás da bola,
como fazem tantas equipas, sim fazendo-a correr. Ninguém joga bem desprezando a bola.
Valdano (2007)
Atendendo à lógica sob a qual estamos a definir as categorias que nos
permitem estruturar os momentos de organização ofensiva, constatamos que
os desequilíbrios que se criam, podem resultar da desorganização do
adversário e/ou da eficácia da equipa que ataca. Assim, os desequilíbrios
surgem de uma qualquer vantagem Espacial que existe ou se cria
momentaneamente (o que pressupõe um timing de aproveitamento).
Revisão de Literatura
47
Pelo que, podemos mais uma vez constatar que a criação de
desequilíbrios pode surgir após a recuperação de bola ou numa reposição de
bola em jogo.
Apesar de aparentemente simples, é necessário notar que estas duas
situações englobam todas as situações que decorrem no jogo em que a equipa
fica com a posse de bola. Por um lado, a reposição da bola em jogo inclui:
lançamentos de linha lateral, início e reinício dos jogos, pontapés de baliza,
bolas paradas e reposição da bola pelo Guarda-redes (curta ou longa). Por
outro lado, nas transições, a equipa, como vimos, pode: procurar
imediatamente situações de finalização, aproveitando a eventual
desorganização do adversário, criar desequilíbrios imediatamente após
recuperação (ataque rápido) ou procurar a segurança da posse de bola
(mantendo-a) para depois criar desequilíbrios no adversário.
Wenger (2008) salienta que as transições (em profundidade e/ou
rápidas) apenas são importantes quando as duas Equipas se “encaram”, dando
o exemplo da liga dos campeões, onde as Equipas, normalmente, disputam os
resultados. Mesmo nessas situações as Equipas têm preocupações com o
equilíbrio dinâmico o que eventualmente as pode dificultar. Para além disso,
concordamos com Queiroz (2006) quando refere que a perda de bola nas
transições convida o adversário a comandar o jogo, podendo o jogo tornar-se
num autêntico “jogo de flippers” (bola vai, bola vem).
É portanto, com alguma naturalidade, que as Equipas de top apresentam
outras soluções, identificando aquela que melhor se adequa as circunstâncias
que o jogo com determinada Equipa vai apresentando, sendo que, a segurança
destes momentos (que pode ser, também, após uma transição em
profundidade e/ou rápida ser “abortada”), por permitirem um maior controlo do
jogo podem surgir com maior regularidade. Sendo este um dos aspectos mais
importantes quando se pretende estar a top (Guilherme Oliveira 2003, 2006), a
posse de bola surge como consequência do objectivo do jogo, na medida em
que, para ganhar (implica marcar mais golos que o adversário), é necessário
ter a bola. Para além disso, concordamos com Van Gaal (s/d, cit. por Kormelink
e Seeverens, 1997, pp.11) quando afirma que “A posse de bola não é garantia
Revisão de Literatura
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de vitória, mas é uma boa vantagem na medida em que o adversário é
obrigado a correr atrás da bola”.
Considerando a progressão da bola com o intuito de finalizar, a melhor
modo de a ter é: fazendo-a circular (Barreto, 2003). Porém, essa circulação não
pode ser inócua, tem de apresentar objectivos precisos, tem que contrariar a
organização defensiva das equipas adversárias, que, como salientamos tem
evoluído muito, é necessário criar desequilíbrios no adversário. Desse modo a
definição dos princípios de interAcção das equipas derivam fundamentalmente
do “como fazer a bola circular para criar desequilíbrios no adversário”.
2.2.5.2.3 Situações de finalização e finalização
O futebol é uma questão de elos: basta que lhe falte o último para que todos os demais careçam de sentido.
Valdano (2007b)
Tudo o que vimos até ao momento acerca das categorias definidas
converge para a criação de oportunidades para finalizar e para a finalização. É
esse o grande objectivo de qualquer ideia de jogo que pretenda evidenciar
qualidade.
Estas situações de finalização ocorrem sobretudo em Espaços frontais à
baliza do adversário (curta e média distância), pelo que, dada a aglomeração e
organização de jogadores nesses Espaço, ocorre um aumento exponencial do
risco de perda de bola, motivo que justifica maiores preocupações com os
equilíbrios dinâmicos, caso contrário, as equipas ficarão mais expostas à
transição e finalização do adversário.
Sendo as vantagens Espaciais que geram os desequilíbrios no
adversário, elas são também momentâneas, porque o adversário vai reagir no
sentido de se auto-organizar, logo, procurará recuperar a bola e, não
conseguindo, vai procurar fechar os Espaços interiores e frontais à sua baliza.
Na impossibilidade de criar estas situações de finalização a equipa
procura novamente criar desequilíbrios. O que vem corroborar a ideia que
deixamos anteriormente, as fronteiras entre as categorias são ténues e por
vezes de difícil percepção.
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2.3 MacroSistematização do “jogar de qualidade”
Este livro não serve para jogar futebol. Serve para saber que, para jogar futebol, não servem os livros.
Apenas os jogadores servem... e as vezes nem eles, se as circunstâncias não os ajudam. Panzeri (1967)
(...) o futebol que gostamos... tem por objectivo ganhar todos os jogos,
todos os campeonatos, todas as taças, tudo, tudo, tudo... ganhar sempre.
Nunca “perder com toda a honra” ou “ganhar moralmente” tendo perdido em golos.
Panzeri (1967)
Neste capítulo vamo-nos debruçar sobre os indicadores qualitativos das
Equipas de top, nos momentos de organização ofensiva. Utilizaremos para isso
as três categorias que, anteriormente, propusemos para estruturar esses
momentos, nomeadamente: transições (defesa/ataque:ofensivas), criação de
desequilíbrios e criação de situações de finalização e finalização. Porém, antes
de os referenciar revela-se pertinente acentuar algumas das considerações
“gerais” que temos vindo a fazer nesta dissertação.
Esta “macrosistematização” permitirá uma variabilidade muito grande de
“microsistematizações”, ou seja, ainda que estejamos a referenciar indicadores
transversais às Equipas de top, a interpretação desses indicadores faz-se de
modo diverso pelas diferentes Equipas, consequência da singularidade
inerente a cada uma.
O “jogo” tem, na sua “natureza”, um objectivo, a vitória. Sendo este
objectivo explícito nas Equipas de top, onde uma cultura de risco é eminente,
têm que pensar o jogo em função de como querem chegar à baliza do
adversário. Desse modo, nos momentos de organização ofensiva essas
Equipas procuram ser objectivas na procura de oportunidades para finalizar e
na finalização (Benitez, 2008).
Como último ponto que aqui interessa reforçar, atentemos às palavras
de Queiroz (2006): “Lembro uma vez que estava a treinar, solta a bola, passa e
já não sei quem é que fez um remate exterior, golo, e eu disse, também serve.
Porque estar a dizer uma coisa a um jogador, segura, olha aqui o jogador atrás,
mas ele resolve rematar, bola no ângulo, o que é que vamos dizer, não? Não é
assim que se joga?” É necessário ter sempre presente que em todos os
momentos do jogo quem decide o que fazer é o jogador, desse modo, tudo o
Revisão de Literatura
50
que aqui será apresentado, só fará sentido interpretado pelo jogador, pelo que,
dada a singularidade inerente a cada um, as interpretações14 que fazem serão
diversas, com maior ou menor qualidade, servindo estes indicadores que aqui
vamos apresentar de referências na tomada de decisão do jogador.
2.3.1 Espaço15: macrodimensão organizada e organizadora de
qualquer “jogar”
Através de cassetes de vídeo, por exemplo da equipa do Brasil durante o mundial de 1970 e da equipa
Holandesa no mundial de 1974, podemos ver que, os jogadores tinham muito mais espaço naqueles tempos.
Michels (2001)
O futebol é, inconscientemente, sempre sobre o Espaço. É sempre sobre criar e ocupar espaço. E se a
bola não vem, o jogador deixa o espaço e outro jogador o ocupará. É uma espécie de arquitectura do espaço.
É sobre movimento, mas continua a ser sobre Espaço, sobre organizar Espaço.
Michler (2008)
Ao longo desta dissertação temos enunciado algumas características
fundamentais para a compreensão do conteúdo do jogo. Evidenciamos que a
Equipa é um sistema complexo adaptativo (Garganta, 1997, Gaiteiro, 2006)
cuja organização expressa uma Especificidade dinâmica relacionada com
várias dimensões que não se podem alienar.
Salientamos também, que tudo é organização, na medida em que esse
conceito, na prática, “deve inspirar um imaginário ao mesmo tempo disciplinado
pelas metas do projecto mas suficientemente flexível para que permita, em
certas circunstâncias, desvios criadores” (Damásio, 2006 em prefácio de
Oliveira et. al. 2006). Desse modo, a organização da equipa assenta em
14 As interpretações assumem “dois níveis”: um nível abstracto relacionado com a leitura que
fazem ao jogo, comummente designada de “cultura táctica” e, um nível concreto relacionado
com as qualidades técnicas dos jogadores, que levam essa cultura a efeito. 15 Espaço: A teoria da relatividade de Einstein mostra que o espaço e o tempo estão
inextrincavelmente interligados (Hawking, 2002), pelo que, o Espaço que aqui nos referimos é
esse Espaço-Tempo que Einstein demonstrou. A sua configuração no jogo resulta da presença
de um número. Assim, este Espaço resulta da interacção entre espaço, tempo e número, que
resulta num Espaço funcional, para o diferenciar do espaço de jogo utilizaremos a inicial
maiúscula.
Revisão de Literatura
51
princípios de interAcção, que devem contemplar a abertura ao ambiente,
interagindo com ele e consequentemente (re) criando-o.
As informações exteriores (reguladoras) referem-se ao modo como as
Equipas se organizam no e pelo Espaço, pelo que, consideramos o Espaço
uma macrodimensão configuradora dos padrões de interacção, de tal modo
que cada equipa tem uma “Espacialidade” própria, ou seja, a Equipa de acordo
com a Especificidade dinâmica que a caracteriza, interpreta de modo diverso
os Espaços (ainda que em determinadas situações não existam é necessário
criá-los) conferindo-lhe uma configuração, que lhe é própria.
Quando nos reportamos aos princípios de interacção, falamos por isso
de referências para agir no e pelo Espaço, o qual resulta da interdependência
entre tempo, espaço e número. Assim, a sua organização pressupõe a
existência de um Espaço a 4 dimensões, dinamicamente organizado e
organizante, falamos portanto de uma organização que é funcional (Guilherme
Oliveira, 2002, 2006, Silva, 2006).
No entanto, não podemos ignorar o espaço estaticamente organizado (3
D), na medida em que este constitui-se um “acontecimento de organização do
Espaço” ao qual se dá o nome geral de “forma” (Távora, 2007). Este espaço
fornece referências de largura e profundidade, importantes para a interpretação
dos princípios de interacção definidos para as Equipas. Sendo uma
regularidade que nunca se dissolve completamente (Gaiteiro, 2006), a estrutura
de jogo é mais do que a simples “ocupação dos espaços”, uma vez que esse
posicionamento se pretende coerente com a Especificidade dinâmica da
Equipa.
Este posicionamento sendo também organização, é uma manifestação
de vontade que pressupõe sempre que por detrás dele está o homem (jogador)
ser inteligente (Távora, 2007). Daqui emana a necessidade de associar à
estrutura a palavra táctica. Este “acontecimento de organização do Espaço” é
referido por diferentes autores como sendo a organização estrutural (Guilherme
Oliveira 2002, 2006, Silva, 2006) ou formal (Michels, 2001).
Interessa ainda ressalvar uma outra característica fundamental do
Espaço organizado, que surge na continuidade das palavras de Sachi (2006):
Revisão de Literatura
52
“um metro de espaço faz toda a diferença no futebol moderno”, que é a sua
continuidade. Característica que segundo Távora (2007), tem andado um
pouco esquecida, dando o seguinte exemplo: “projecta-se uma estrada,
manifestação de organização do espaço e factor de movimento, e em que é
que se pensa unicamente? No seu comprido perfil longitudinal e na pequenez
dos seus perfis transversais; tudo o resto...é esquecido como se possível fosse
abstrair esse acontecimento de todo o espaço e de toda a circunstância que o
envolve.”.
Extrapolando para o “jogar”, esta descontinuidade do espaço (que
consideramos Espaço) surge pela dificuldade em definir áreas de intervenção
(relacionadas com a posição), as quais estabelecem as responsabilidades de
cada jogador. Dando origem ao que designamos de Espaços fronteira onde a
definição de responsabilidades nem sempre é clara. Esta visão parcial do
Espaço organizado resulta frequentemente na desorganização das Equipas.
Assim, estes Espaços fronteira, que surgem mais acentuados nas equipas de
rendimento inferior, são cruciais na criação de desequilíbrios e consequentes
acções de finalização.
Os Espaços fronteira que identificamos com maior regularidade são os
que se situam entre os sectores (Espaços fronteira verticais) defensivo-
intermédio (ou entre a linha defensiva e intermédia do adversário), como nos
explicita Villas-boas (2006c): “A povoação desse espaço entre a defesa e a
linha de meio-campo (e sempre de modo a que o médio-defensivo não o veja)
é essencial para a criação de oportunidades”. Também os espaços
intrasectoriais (Espaços fronteira horizontais), concretamente no sector
defensivo entre o lateral e o central, e ainda o espaço nas costas da linha
defensiva. Como veremos posteriormente estes assumem uma importância
fundamental quando se procura criar desequilíbrios no adversário.
Revisão de Literatura
53
2.3.2 (Macro) Organização funcional do “jogar de qualidade”
“Futebol bem jogado pode por vezes necessitar de uma bola sem destino; da retenção da bola sem avançar
nem retroceder, nem fazer nada futebolisticamente esquisito, ainda que circunstancialmente necessário;
de um vertiginoso movimento de oito ou nove jogadores que escondem a bola fazendo-a circular de uns para
os outros; de um toque suave ou de um remate violento;...de tudo isso necessita o futebol bem jogado.
A única coisa que não necessita o futebol bem jogado, goleador, prático, efectivo, agradável, emocionante,
cativante... é do futebol que hoje se joga como o rugby: chutando a bola para a frente correndo com a esperança de a
alcançar! Disso não precisa.”
Panzeri (1967)
A diferença entre as Equipas de rendimento superior para as restantes
está na regularidade da qualidade que apresentam, o que lhes permite ganhar
com uma certa frequência nas frentes competitivas em que participam. Por
esse motivo, a top, é decisivo que as Equipas marquem e tenham
oportunidades de marcar (Benitez, 2008). O que pode ser conseguido de
modos diversos, pois, a riqueza das Equipas manifesta-se na variabilidade de
soluções que apresentam para resolver os problemas, neste caso marcar e ter
oportunidades de marcar. Daqui emergem características que as distinguem
das demais Equipas.
Se no primeiro capítulo deixamos claro que “ter a bola” é uma
consequência do jogo, pois é ela que permite ganhar, também salientamos
que, a melhor maneira de a ter é fazendo-a circular (Barreto, 2003). A sua
importância é expressa na opinião de vários treinadores (Cruyff, 1977 cit. por
Barend e Van Dorp, 1999, Guilherme Oliveira, 2002, Mourinho, 2003, Rinus
Michels, 2001, Van Gaal, 2006). Existindo vários modos de a circular, o que
define a sua qualidade é a objectividade e inteligência com que é utilizada no
aproveitamento da desorganização do adversário e/ou na criação de
desequilíbrios quando o adversário está defensivamente organizado, o que
resulta na selecção equilibrada entre a horizontalidade e a verticalidade da
circulação de bola.
A inteligência e objectividade não pretendem ser conceitos ambíguos,
são antes expressões concretas da circulação de bola que as equipas de top
apresentam. A objectividade ganha forma na permanente procura de Espaços
de finalização, emergindo assim a importância da verticalização do jogo. No
entanto, para levar a efeito essa objectividade é necessário atender às
Revisão de Literatura
54
Especificidades da própria Equipa e ao binómio organização/desorganização
inerente ao adversário, pois a objectividade pode requerer, que a Equipa se
envolva na criação de desequilíbrios, no caso de o adversário estar
defensivamente organizado (donde emerge a importância da variação
horizontalidade/verticalidade), ou apenas identificar a sua desorganização, pelo
que, a objectividade pressupõe que a circulação de bola se realize também de
modo inteligente.
Outra característica evidente nas Equipas de top, é a vontade de
controlar o jogo, tendo a sua iniciativa (Cruyff, 2008, Van Gaal, 2006, Michels,
2001, Wenger, 2008, Mourinho, 2002, Hiddink, 1998). É certo que o controlo do
jogo também se pode concretizar sob o ponto de vista da organização
defensiva, restringindo-se o ataque adversário a Espaços reduzidos. Porém,
esse controlo, a top, traduz-se num “futebol dominante” que resulta na criação
de um maior número de oportunidades de finalização (Van Gaal, 2006), ou
seja, controla-se o jogo, porque se determina o que acontece nos momentos de
organização ofensiva e, não menos importante, quando não se tem a bola, a
Equipa não permite que o adversário a consiga desorganizar defensivamente.
Neste “futebol dominante” o controlo do meio-campo assume um papel
crucial (atenção que com esta constatação, não estamos a desconsiderar todos
os outros Espaços e posições do terreno de jogo, bem pelo contrário). Este
controlo do meio-campo, resulta de uma qualquer vantagem Espacial que
permite receber e passar a bola em condições favoráveis para a qualquer
momento desorganizar o adversário. Correspondendo ao interior da Equipa
adversária, se esse controlo for conseguido, torna-se mais fácil desorganizar o
adversário, através da variação dos ritmos de jogo, com passes de ruptura,
aproveitando a largura em profundidade, etc. O que se revela um aspecto
crucial, pois a circulação de bola pode, de algum modo, ser consentida pelo
adversário, que, no entanto, obriga a Equipa e concretamente alguns jogadores
(médios centro) a jogar de costas, ou seja, ainda que a bola circule nestes
Espaços, o seu aparente controlo não permite criar desequilíbrios (para isso o
jogador tem de receber a bola com os apoios orientados de frente para o jogo.
Para além disso, nas situações em que a Equipa opta por um jogo
Revisão de Literatura
55
acentuadamente vertical, o meio-campo assume um papel preponderante, no
apoio ou conquista da segunda bola, encontrando-se nessas situações de
frente para o jogo.
Este controlo do meio-campo não se consubstancia apenas nessa
criação de desequilíbrios, resulta também na preocupação constante com os
Equilíbrios dinâmicos, sendo este um aspecto fundamental na apresentação de
um “futebol dominante”. Desse modo, a ocupação e organização desta área do
meio-campo pode permitir recuperar a bola (ganho de 2ª bola ou de um
ressalto) quando é perdida no terço ofensivo do adversário, ou temporizar a
transição do adversário para que toda a Equipa se (re)organize
defensivamente. Em organização defensiva, tratando-se do corredor central é
sem sombra de dúvidas um Espaço cujo controlo é importantíssimo, pois não
permite penetrações verticais da ou com a bola pelo centro do terreno de jogo,
garantindo maior estabilidade defensiva da Equipa. Nesta perspectiva Cruyff
(1985, cit. por Barend e Van Dorp, 1999) afirma que “o barómetro do futebol é o
meio-campo”.
No entanto, nem sempre é possível controlar o jogo, pois o adversário
pode ter a mesma intenção e qualidade para o fazer. Mourinho (s/d) ajuda-nos
a compreender esta questão na interpretação que realizou do jogo que opôs o
Chelsea ao Liverpool: “Em Liverpool jogaram dois meio-campos
poderosíssimos...Não houve espaço, não houve tempo, não houve nada. O
Liverpool resolveu isso com jogo directo para Crouch...Nós procuramos jogar a
partir de Drogba (...) ”. Na impossibilidade de “mandar no jogo”, de controlar o
meio-campo, as equipas procuraram outras soluções, o jogo mais directo. Para
além disso, se nos recordarmos das Equipas em questão, sabemos que a
interpretação do jogo directo é manifestamente diversa: enquanto no Liverpool,
Crouch tentava, ao receber a bola, colocar em profundidade (“penteando a
bola”) para algum jogador que aparecesse em profundidade (Gerard por
exemplo), Drogba procura segurar mais a bola para a partir daí jogar a
segunda bola com os médios que, assim, estavam de frente para o jogo. Deste
modo o meio-campo assume, igualmente, um papel preponderante no decorrer
do jogo. Esta interpretação ajuda a reforçar, mais uma vez, a variabilidade de
Revisão de Literatura
56
(micro)sistematizações das Equipas de top e de soluções que estas
apresentam.
Outro indicador inerente às Equipas de top, que deixamos claro no
segundo capítulo, é a cultura de risco sobre a qual a filosofia dessas Equipas
está assente. O risco, nos momentos de organização ofensiva, traduz-se na
possibilidade eminente da perda de posse de bola. Desse modo, os riscos a
que se submetem derivam fundamentalmente dos seguintes aspectos que são
importantíssimos na criação de desequilíbrios e de situações de finalização:
assumir situações de 1x1, jogar no interior da Equipa, verticalidade do jogo e
“atacar com muitos jogadores” (Mourinho, 2003, Benitez, 2008). Todos
jogadores atacam e todos defendem, aquilo que os autores pretendem
salientar é, por um lado, o número de jogadores que chega a Espaços de
finalização (não necessariamente em simultâneo) e, por outro, o número de
jogadores que está disponível para dar e receber a bola, isto é o que Valdano
(2007) designa de “valentia futebolística” que tem muito mais que ver com o
“pedir a bola em qualquer circunstância do que arriscar a saúde em qualquer
acção”.
Com o aumento do número de jogadores em Espaços de finalização, a
Equipa fica com um maior número de soluções para chegar à baliza do
adversário, tornando-se mais difícil para o adversário defender se mais
jogadores puderem atacar para além do avançado (Benitez, 2008).
É necessário alertar ainda que estes riscos não pressupõem perigo para
a própria baliza, pelo que, as Equipas têm de se (auto) organizar para que o
risco não se torne pernicioso para a própria equipa. Pois uma equipa que
“ataque com muitos jogadores” é uma equipa com mais espaço defensivo
(Mourinho, 2003), o que nos remete para a importância dos equilíbrios
dinâmicos, ou seja, de pensar o jogo, o “jogar”, em termos da sua organização
global, ataca-se mas simultaneamente pensa-se em defender e defende-se
mas simultaneamente pensa-se em atacar. Sendo esta organização em todos
os momentos de jogo, outro indicador presente nas Equipas de top, que lhes
permite recuperar a bola quando a perdem ou, então, temporizar o ataque
adversário para que a equipa se (re) organize defensivamente.
Revisão de Literatura
57
Evidenciamos, assim, quatro aspectos interligados que têm que ver com
a dinâmica que as Equipas de top apresentam: circulação de bola (criar
oportunidades para marcar e marcar); controlo do meio-campo (futebol
dominante); muitos jogadores em Espaços de finalização e verticalidade do
jogo (inerente à cultura de risco) e a organização global da equipa (equilíbrios
dinâmicos). A compreensão destas características é fundamental para os
propósitos desta dissertação e estão presentes nas categorias que a seguir
apresentaremos e também serão alvo de uma interpretação mais aprofundada
quando reflectirmos sobre a (macro) organização estrutural.
2.3.2.1 Transições (defesa/ataque)
Só recupero a bola quando a tiro do adversário e a coloco ao serviço da equipa,
e isto acontece em todos os locais do campo.
Menotti (S/d)
A configuração das transições de uma Equipa no jogo, depende,
fundamentalmente, do risco e/ou perigo que deles pode emergir e da
organização/desorganização do adversário.
Como já salientamos o risco é de perda da posse de bola, sendo um
risco calculado, pois a Equipa (auto)organiza-se em função dessa
possibilidade, no entanto, poderá também existir perigo de perder o controlo do
jogo (Queiroz, 2006), o que resulta do recorrente jogo de transições que,
muitas Equipas de rendimento inferior evidenciam quando se defrontam. Como
já vimos, o risco a que as Equipas de top se submetem é de perda da posse de
bola, caso contrário optam por outras soluções que não impliquem a
possibilidade do adversário criar situações de finalização ou impliquem a perda
do controlo do jogo.
Nas Equipas de Top podemos identificar dois padrões morfológicos que
resultam da possibilidade (ou não) de se criar, imediatamente após
recuperação de bola, situações de finalização. Situação que pressupõe a
identificação da, eventual, desorganização do adversário, ou a rápida criação
de desequilíbrios no adversário. Sendo esse o grande objectivo, chegar assim
que possível a Espaços de finalização, não interessa que seja de qualquer
Revisão de Literatura
58
modo, pelo que, é necessário perceber como o fazer, elevando a qualidade do
Jogar.
2.3.2.1.1 Procura imediata de situações de finalização
Em linha recta só é recomendado correr corridas em que é necessário chegar primeiro a uma meta.
A meta do futebol procurada em linha recta, é um choque severo que resulta na perda de bola.
A profundidade do futebol é o rodeio, nunca o “sobe, sobe”.
Panzeri (1967)
As situações de finalização após ganho de bola, tanto podem ser
encontradas numa bola longa em profundidade, através de progressão no
terreno a 1 ou 2 toques para chegar à baliza adversária (ataque rápido),
através de passes de penetração (ou ruptura), tudo depende dos objectivos da
Equipa (concretamente na dimensão “jogo”16, uma vez que a Top o objectivo
na dimensão resultado é sempre o mesmo: ganhar), do contexto de
recuperação (como, quando e onde recupera a bola) e do posicionamento
adversário que determina se está organizado ou desorganizado, e
consequentemente se estas transições devem, rapidamente, criar
desequilíbrios ou aproveitar a desorganização do adversário.
Os comportamentos de profundidade são os mais frequentes, podendo-
se concretizar de modos diversos, dependendo das variáveis mencionadas
anteriormente. Assim, podemos ter fundamentalmente quatro padrões
comportamentais distintos quando procuramos a profundidade:
Profundidade para posterior criação de situações de 1X1 (progressão
com bola);
Profundidade para o corredor aproveitando a subida dos laterais –
diagonal exterior do avançado (1-4-3-3) ou mobilidade dos avançados
(1-4-4-2) para ocupar o espaço livre;
Ocupação imediata dos corredores laterais, bola no corredor central em
referência frontal (procura a verticalização: diagonais interiores dos
16 “Dimensão jogo”: É pertinente realçar, mais uma vez, que os objectivos na dimensão “jogo”
são definidos de acordo com a Especificidade que está inerente a uma determinada Equipa.
Assim esta dimensão tem em consideração, entre outras dimensões que participam na criação
de um “projecto de jogo colectivo”, as qualidades dos jogadores que se tem à disposição.
Revisão de Literatura
59
avançados). Aqui os jogadores que dão a largura devem ter a noção do
timing de fecho. Ou seja, abrindo, aumentam a imprevisibilidade ao
adversário, pois não sabe em que corredor a bola vai entrar, contudo à
medida que evolui para situações de finalização, os jogadores devem
fechar coordenadamente de modo a garantir a superioridade numérica
no lado da bola.
Profundidade por meio de passes verticais de penetração ou de ruptura
procurando criar desequilíbrios no adversário;
Estas soluções pretendem explorar a eventual desorganização do
adversário que se encontra em transição defensiva. Porém, uma vez que a
preocupação com os aspectos “defensivos” do jogo é crescente (ou porque têm
preocupações com equilíbrios dinâmicos ou porque deixam muitos jogadores
atrás da linha da bola), nem sempre o jogador que recupera a bola tem
condições para procurar imediatamente situações de finalização através da
profundidade (Queiroz, 2006), nesse sentido, as Equipas (de top) têm
necessariamente de apresentar outras soluções. Assim, na procura imediata de
situações de finalização, as Equipas podem também recorrer ao que
habitualmente se designa de “Ataque rápido”, e que consiste na tentativa de,
imediatamente após recuperação da bola, criar desequilíbrios no adversário.
No entanto, quando a Equipa procura criar situações de finalização
imediatamente após recuperação de bola, terá que equacionar devidamente o
binómio risco/segurança, pois, de acordo com Queiroz (2006), se perdermos a
bola nestes momentos, convidamos o adversário a controlar o jogo, ou por
outro lado, arriscamo-nos a entrar em “jogos de transições” (Guilherme
Oliveira, 2006a) e com isso ficar defensivamente mais vulneráveis.
Revisão de Literatura
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2.3.2.1.2 Manutenção da posse de bola
“A coisa mais importante quando se ganha a posse de bola é não perder, isso é regra número um, (...) ”
Queiroz (2006)
A manutenção da posse de bola surge como consequência de aspectos
fundamentais inerentes à dinâmica das Equipas de Top. Em primeiro lugar, a
necessidade de “ter a bola” para controlar o jogo, em segundo, a necessidade
de apresentar várias soluções para o mesmo problema, ou seja, vários modos
de chegar à baliza do adversário, pois este nem sempre se encontra
defensivamente desorganizado quando ataca e, por outro lado, a rápida
criação de desequilíbrios, pode originar o “jogo de transições” mencionado por
Guilherme Oliveira (2003), que nós, já havíamos apelidado também de “jogo de
flippers”, o qual, põe em causa a estabilidade da Equipa (Queiroz, 2006).
Quando uma equipa, em transição, procura manter a posse de bola,
procura essencialmente a segurança desses momentos de organização, que
se traduz na procura de Espaços favoráveis à manutenção da posse e surge,
pelo reconhecimento que a Equipa adversária está organizada. É pertinenente
reforçar que, esta manutenção da posse de bola não se pretende inócua, ela
tem objectivos precisos que se consubstanciam na criação de desequilíbrios no
adversário. Este comportamento colectivo traduz-se no que Guilherme Oliveira
(2003) define como “tirar a bola de zonas de pressão”. Para isso, o portador da
bola tem de ter sempre apoios disponíveis.
Retirando a bola de eventuais “zonas de pressão”, a equipa tem mais
possibilidades de garantir a manutenção da posse de bola para criar
desequilíbrios, para isso são fundamentais os apoios recuados17, na medida
em que, estando de frente para o jogo (orientação dos apoios) pode dar à bola
um destino contrário à pressão do adversário, mudando o “ângulo de ataque”.
Que por sua vez pode ter diversos objectivos:
Explorar o lado “fraco” do adversário, para isso é necessário que algum
jogador garanta a largura;
17 Porém, existem momentos do jogo em que o adversário condiciona de tal modo que os
melhores apoios podem ser frontais.
Revisão de Literatura
61
Garantir a segurança da posse de bola, procurando que esta circule em
Espaços favoráveis à sua manutenção;
O tirar a bola da zona de pressão não se restringe aos apoios próximos,
poderá também ser encontrada numa diagonal em profundidade, procurando-
se assim criar desequilíbrios no adversário.
A importância deste padrão de transições é expresso nas palavras de
Mourinho (2003): “…muitas equipas têm dificuldade, no próprio jogo, de saírem
de uma situação de pressão para uma situação de posse de bola. Esse é um
aspecto que eu trabalhei imenso, imenso, imenso, até pudermos chegar ao
nível a que chegamos, que é a saída após a recuperação da posse de bola,
isto é, ter a capacidade de jogar de uma forma a defender e depois em posse
de bola modificar aquilo que é fundamental, recuperação das posições em
campo, o tirar a bola da zona de pressão, uma serie de aspectos que são
fundamentais.”.
No entanto, é necessário realçar que, a qualidade de algumas Equipas e
dos jogadores, pode permitir que após recuperação de bola, consigam manter
a bola na “zona de pressão” com qualidade, e a partir desse local, que à partida
está mais “congestionado” pela presença do adversário, criar desequilíbrios,
esta capacidade de jogar em “zonas de pressão” com segurança é evidente em
equipas como o Manchester e o Arsenal, por exemplo.
A configuração destas partes dos momentos de organização ofensiva
pode assumir uma variabilidade de formas muito grande, uma vez que, o
conjunto de dimensões que contribui para a sua configuração é, de igual modo,
grande. Assim, quando se trata de realizar uma microsistematização destes
momentos, ou seja, definir referências comportamentais Específicas para uma
Equipa, as dimensões a considerar serão as seguintes:
Projecto de jogo colectivo
Padrão ofensivo da Equipa: uma das características mais importantes
que qualquer “jogar” deve apresentar, é a fluidez da organização da Equipa
(que se consubstancia na fluidez das partes, da interacção das partes e na
fluidez do todo), o que leva à necessidade de defender em função de como se
pretende atacar e vice-versa. Esta característica projectiva, inerente a qualquer
Revisão de Literatura
62
jogar que se pretenda de qualidade, também se evidencia nas partes dos
momentos de organização ofensiva. Desse modo, as transições serão
realizadas em função de como se pretende criar situações de finalização.
Assim, apesar de a top verificarmos que as Equipas dominam diferentes “tipos
de jogo” (“intensidade” na procura da verticalidade), se uma Equipa pretende
criar desequilíbrios no adversário procurando a verticalidade, frequentemente
pela circulação horizontal, as transições, em termos de probabilidade, tenderão
a realizar-se preferencialmente em segurança, por sua vez, se uma Equipa
pretende criar desequilíbrios no adversário apresentando uma circulação mais
“intensa” na procura da verticalidade, as transições, também em termos
probabilísticos, tenderão a realizar-se, também, na vertical. Exemplos claros
destas configurações são, respectivamente, o Barcelona e o Arsenal, que
apresentando padrões assentes nas configurações apresentadas têm a
capacidade de apresentar aquela que, para as circunstâncias, melhor se
adequa, sendo esta capacidade de adequação dos diferentes padrões outra
característica inerente às Equipas de Top.
Estrutura Táctica (em função do ponto anterior): a estrutura que
determinada Equipa assume no terreno influência as transições (bem como
todos os outros momentos) na medida em que, os Espaços que se ocupam e
deixam vazios são manifestamente distintos, logo, as dinâmicas que as
estruturas irão potenciar serão também elas, manifestamente distintas. Por
exemplo, uma Equipa que se estruture num 1-4-4-2, quando em transição,
pode procurar explorar a profundidade do espaço livre existente nas alas e
atrás das costas dos laterais adversários, através da mobilidade de um dos
avançados para as alas (por ex.). Por sua vez, no 1-4-3-3, como, à partida,
esses Espaços estarão ocupados, a preocupação dos laterais adversários será
maior com o jogador que aí pode aparecer, aspecto que deve ser considerado
quando se configuram as transições.
Para além disso, uma equipa que se distribua num 1-4-4-2 possui duas
linhas de quatro jogadores, o que em termos defensivos permite uma ocupação
do Espaço defensivo aparentemente (porque depende da dinâmica) mais
racional (ocupa toda a largura e permite ter muitas coberturas),
Revisão de Literatura
63
comparativamente, com o 1-4-3-3, que só possui três jogadores no meio-
campo. Daqui poderá resultar uma menor responsabilidade defensiva dos dois
jogadores mais avançados (1-4-4-2) que, desse modo, poderão estar mais
disponíveis para pensar na melhor forma de atacar a baliza do adversário.
Estes dois exemplos dependem obviamente do perfil de jogadores que
se tem, do adversário contra quem se vai jogar (como sai a jogar, como
pressiona, etc.), pelo que, só fazem sentido, quando observadas na óptica de
uma qualquer Equipa, com jogadores que são únicos.
Características dos médios de transição e dos Avançados: os
comportamentos da equipa são manifestamente diversos em função das
características do jogador que está de frente para o jogo (jogador de transição)
e em função do jogador que vai receber a bola, para dar profundidade ou criar
imediatamente desequilíbrios no adversário (aproveitando Espaços ou criando-
os). Nesse sentido, é diferente termos o C. Ronaldo como referência frontal, a
termos, por exemplo, o Adebayor.
Possíveis contextos de recuperação da bola
Áreas preferenciais de recuperação de bola: quando determinada Equipa
está defensivamente organizada, pode definir áreas preferenciais para
recuperação de bola, estabelecendo por exemplo, como indicador de pressão:
a bola nos corredores laterais. Assim, definidos esses indicadores, toda a
Equipa interage no sentido de alguns jogadores pensarem e assumirem um
posicionamento que denote intenção, já nesses momentos de organização
defensiva, de atacar o adversário.
Como recupera: é manifestamente distinto recuperar a bola como
consequência de um erro (não calculado) do adversário, ou seja, de um mau
passe, de uma má recepção, de um mau “alívio”, que pode, ou não, ser
provocado pela Equipa que defende. Ou então, recuperar a bola, por exemplo,
após uma segunda bola, após uma situação de 1x1 em que o defesa não se
deixa ultrapassar, após uma situação em que o adversário procura criar
desequilíbrios ou tenta finalizar, nestas situações, os riscos de perda de bola,
são sujeitos a mecanismos de compensação que tornam esse risco calculado.
Assim, como a Equipa recupera a bola tem uma grande importância porque,
Revisão de Literatura
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não sendo um risco calculado, a probabilidade de estarem defensivamente
mais vulneráveis é muito maior do que se esse risco for calculado. Pelo que, o
modo como a Equipa recupera a bola pode ser decisivo na configuração que as
transições assumem.
Imaginemos a seguinte situação: determinada Equipa procura a
verticalidade circulando a bola na horizontal, de um modo mais “ritmado”.
Desse modo, ao iniciar a criação de desequilíbrios a partir do guarda-redes,
define como comportamento colectivo de referência, o fazer “campo grande”.
Agora, imaginemos que essa Equipa circula a bola no seu sector mais recuado,
para provocar uma saída do adversário à bola. Nessa altura há um passe mal
feito entre os centrais e o adversário reage imediatamente a esse mau passe
através de uma pressão imediata à bola, recuperando-a. Nesse momento, a
equipa que atacava, ao errar, deixou-se numa situação de grande fragilidade
defensiva, uma situação de “quase golo”.
Outro importante aspecto deste ponto, refere-se à recuperação de bola
pela defesa do guarda-redes, que na sua posse, define a ramificação que a
transição pode seguir, podendo rapidamente procurar uma referência frontal ou
temporizar e assim potenciar a criação de desequilíbrios (com o adversário
defensivamente organizado).
Vemos portanto, que o “como recupera” pode permitir configurações das
transições distintas, tratando-se de uma recuperação por erro não premeditado
do adversário, ou de uma recuperação por um risco calculado a que o
adversário se sujeitou, relacionando-se, assim, com o estado de organização
do adversário.
Quando recupera: os momentos em que se recupera a bola são distintos
e relacionam-se com o ponto anterior. A bola pode ser recuperada quando o
adversário está em transição ofensiva ou em criação de desequilíbrios
(também relacionado com a altura do bloco: alto, médio ou baixo). Mais uma
vez “batemos na mesma tecla”, a organização/ desorganização do adversário.
Por um lado, quando o adversário perde a bola em transição ofensiva,
provavelmente, muitos dos seus jogadores ainda estarão numa situação em
que, rapidamente, podem recuperar um posicionamento defensivo. Por outro
Revisão de Literatura
65
lado, quando em criação de desequilíbrios, mesmo preocupados com os
equilíbrios dinâmicos, essa recuperação do posicionamento defensivo, já
depende de como a própria Equipa reage à perda de bola (se condiciona ou
não imediatamente a saída em transição do adversário), podendo,
eventualmente, ser encontradas algumas fragilidades no adversário.
A configuração das transições após uma situação de bola parada do
adversário (p.canto, livres, lançamentos laterais) depende, em grande medida,
de como se posiciona, sobretudo em termos do seu equilíbrio. Verificando-se
que, o número de jogadores do adversário que fica em equilíbrio é definido, nas
Equipas de top, de acordo com o número de jogadores que a Equipa que
defende deixa na frente, garantindo sempre superioridade numérica.
Onde recupera: tendo como referência a estruturação do espaço de jogo
frequentemente utilizada, as Equipas podem recuperar a bola no primeiro terço
defensivo, no meio-campo, ou no último terço ofensivo (relacionado com a
altura do bloco defensivo: baixo, médio ou alto, respectivamente). Sendo que, a
recuperação da bola em espaços do terreno mais adiantados (bloco alto) é
propensa às transições que procuram imediatamente situações de finalização,
frequentemente, através de penetração vertical da bola e/ou de um jogador
com bola. Por sua vez, recuperar a bola em bloco baixo, o espaço que fica nas
costas do adversário (em função da necessidade deste subir no terreno) é
propenso às transições em profundidade. Porém, tudo depende da qualidade
dos jogadores e do adversário que se defronta, como temos vindo a salientar.
Adversário
O propósito desta dissertação é detectar “padrões qualitativos” do “jogar”
das Equipas de Top, ou seja, comportamentos que se manifestam com alguma
regularidade ao longo dos jogos. Nesse sentido, quando se trata de configurar
uma transição, é necessário ressalvar as circunstâncias que anteriormente
salientamos. Porém, seria ingénuo, ignorar que, nesses diferentes jogos em
que a regularidade se manifesta, a Equipa é confrontada com diferentes
problemas (derivados do confronto com diferentes Equipas), exigindo soluções
distintas jogo para jogo. Assim, as transições ganham contornos concretos em
cada jogo. Pelo que, na preparação de cada jogo é necessário considerar o
Revisão de Literatura
66
adversário que se vai defrontar, os possíveis problemas que (as suas
dinâmicas e subdinâmicas) podem causar e, desse modo, as transições,
sobretudo das equipas de top que têm uma grande variabilidade de soluções,
podem apresentar contornos distintos jogo para jogo, em função do adversário.
De seguida salientamos alguns pontos que consideramos essenciais na
observação à equipa adversária e que podem fomentar configurações das
transições manifestamente diversas. Assim, é necessário perceber como o
adversário:
Se estrutura - É diferente o adversário distribuir-se pelo terreno de jogo
tendo como referência de posicionamento o 1-4-3-3 ou tendo o 1-4-4-2. Mais
uma vez, salientamos a importância dos espaços que as estruturas permitem
ocupar e os espaços que deixam livres. Para além disso, o confronto de uma
Equipa que se estrutura em 1-4-3-3 com uma outra Equipa que se estrutura em
1-4-4-2 é completamente distinto de um confronto entre duas Equipas que se
estruturam em 1-4-3-3, por exemplo.
Para percebermos a complexidade desta questão, imaginemos uma
situação hipotética de confronto entre duas Equipas de top que se estruturam
de modo distinto. O Barça em 1-4-3-3 contra o Inter em 1-4-4-2 losango. Os
“problemas” para o Barça, à partida, encontrar-se-iam no centro do terreno de
jogo: - Como “contornar” a superioridade numérica do Inter no meio-campo?
Fazendo descer um dos avançados, quando a Equipa não está em posse de
bola, para Espaços intermédios a pressionar o Pivô Baixo do adversário!? Que
jogador da frente faz isso? Eto’o, Messi, Henry/Iniesta?! E depois de se
recuperar a bola quem garante as referências de largura e/ou de profundidade
(dependendo de quem desce)?!
- Como vai defender os Espaços fronteira verticais, entre a linha
defensiva e a linha média!? Com um pivô baixo!? Ou com um central a subir
saindo de posição e a linha defensiva a fechar!? Quem do Inter vai para essa
posição e para quê (arrastar marcação ou receber para criar um passe de
penetração vertical)?!
- Como vai o Barça defender os dois avançados? Igualdade numérica!?
Seria um risco, dada a qualidade dos avançados do Inter. Laterais a fechar
Revisão de Literatura
67
interior!? Uma hipótese válida... Mas aí limitava-se a projecção vertical do Alves
sobretudo em transição, para além disso, como era defendida a projecção
vertical do Maicon!?
Para o Inter os problemas, à partida encontrar-se-iam, sobretudo, nas
faixas: - Como defende a projecção vertical dos laterais?! Quem, do losango,
sai a pressionar nas faixas?! Como defende a largura da frente de ataque!?
Para além disso a complexidade destas questões aumenta a partir do
momento que pensamos nas Especificidades de cada jogador. É
manifestamente distinto defender a largura da frente de ataque, quando nela
estão Henry e Messi (sucesso quase garantido no 1x1) ou qualquer outro
jogador. Portanto, é necessário atender às características individuais dos
jogadores.
Constatamos assim que, o modo como as diferentes Equipas se
estruturam tem grande importância, mas apenas se reflectida em função dos
jogadores que essas Estruturas têm à disposição e da dinâmica que se
pretende potenciar. E, nesse sentido, com o exemplo que atrás deixamos,
ainda que hipotético, verificamos que são questões bastante complexas, que
exigem preparação antes do jogo e adaptação durante o mesmo.
Esta questão da importância do adversário (das características dos seus
jogadores, de que modo se estruturam e que dinâmicas e subdinâmicas
potenciam), bem como das características dos jogadores que a Equipa tem
disponíveis, será abordada com bastante frequência nesta dissertação.
Voltando ao ponto de partida desta reflexão sobre as transições é
pertinente colocar a seguinte questão: de que forma estas questões se
reflectem nas transições!?
Configurando-as de modos distintos, pois, dadas as características
projectivas do jogo, defende-se em função de como se quer atacar e vice-
versa. Desse modo, as respostas têm necessariamente, de se relacionar com
aquilo que as Equipas pretendem fazer imediatamente a seguir. E, se existem
diferenças vincadas no confronto entre duas Equipas que se estruturam de
modo diferente, haverá necessariamente, configurações distintas do jogo e em
Revisão de Literatura
68
concreto das partes dos momentos de organização ofensiva que neste ponto
estamos a abordar, as transições.
Equilibra o seu ataque - quando o adversário está a atacar certamente
que terá preocupações defensivas (ou porque deixa muitos jogadores atrás da
linha da bola ou porque se preocupa com os Equilíbrios dinâmicos), que se
reflectem sobretudo no fecho dos Espaços interiores. Desse modo, haverá no
adversário Espaços livres que poderão ser aproveitados, nomeadamente os
corredores laterais. Nesse sentido, as transições devem ter em consideração
quantos jogadores o adversário deixa atrás da linha da bola e como fecha os
espaços interiores.
Pressiona após perda de bola – Perceber a reacção do adversário à
perda de bola é bastante importante para anteciparmos os possíveis contornos
que as transições ofensivas podem assumir em jogo. Nesse sentido, é
importante perceber se: pressiona activamente em bloco no local de perda ou
se é uma pressão activa apenas para temporizar e permitir que a equipa
recupere um posicionamento defensivo, por exemplo. Sendo, um bloco a
pressionar, se for bem feito, as dificuldades em sair numa transição para
imediatamente aproveitar ou criar desequilíbrios poderá ser mais difícil, por sua
vez, se for apenas um jogador a temporizar, uma movimentação da bola em
um ou dois toques, pode rapidamente soltar uma transição para criar ou
aproveitar desequilíbrios.
De um modo geral podemos verificar que os comportamentos das
Equipas dependem de um grande número de variáveis e todas concorrem para
a configuração das transições das equipas. Compete ao treinador saber
exactamente o que pretende da Equipa, em função dos objectivos que
estabelece para a mesma e dos possíveis contextos de recuperação, para
depois criar (no treino) contextos favoráveis ao aparecimento regular dos
mesmos.
Revisão de Literatura
69
2.3.2.2 Criação de desequilíbrios
“Sempre me interessou saber como trabalha a cabeça de um génio do futebol. Tudo começa com um
problema, mas longe de se assustar, o craque decide afronta-lo… Até aí, o projecto tem duas matérias-primas:
confiança e liberdade, componentes imprescindíveis da criatividade. As ideias passam na sua cabeça a uma
velocidade extraordinária mas sem atropelarem-se. E, entre essa tormenta, o craque elege uma das melhores e
converte-a em acção, em espectáculo, quem sabe em golo…”
Valdano (2005)
Na sequência das transições que permitem manter a posse de bola, o
adversário vai recuperar posições, “fechando caminhos” que permitem chegar
à sua baliza e que poderão permitir recuperar a bola. Assim, a Equipa que
ataca tem de procurar criar desequilíbrios no adversário para que as
oportunidades para marcar surjam.
Os desequilíbrios, que também podem ser criados imediatamente após
ganho de bola, surgem do aproveitamento de uma qualquer vantagem
Espacial18 consequência:
Do adversário mal posicionado nos diferentes momentos de
organização: que pode originar Espaços onde a bola e/ou o jogador
podem entrar, podendo existir pela falta de qualidade do adversário ou
promovido pela circulação de bola.
“Desposicionamento” de algum jogador provocado pela atracção à bola
ou arrastamento de um jogador: pode ter várias consequências, sendo
que a imediata, é o Espaço que esse jogador deixa livre. Se for
compensado, outros Espaços abrir-se-ão, a questão está em identificá-
los.
Da dinamização dos Espaços livres (interiores ou nos corredores): tanto
pode arrastar marcação, desposicionando um jogador, como criar
condições favoráveis para receber a bola em Espaços onde a criação de
situações de finalização é propícia;
18 Uma vantagem Espacial resulta da convergência da superioridade espacial e/ou numérica
e/ou temporal. Por exemplo, a movimentação de um jogador para um espaço livre cria uma
vantagem Espacial porque momentaneamente esse jogador cria (com a movimentação) um
contexto favorável (com tempo, espaço) para receber a bola.
Revisão de Literatura
70
Das situações de 1vs1 ofensivas: a situação propriamente dita é já
criação de desequilíbrios, no entanto, a preparação destas situações faz
com que surjam de uma vantagem Espacial. Por exemplo, ter C.Ronaldo
contra apenas um lateral (sem cobertura ou cobertura distante) é uma
situação de vantagem Espacial que o jogador em questão pode
aproveitar para criar desequilíbrios.
Pelo exposto, essa vantagem Espacial poderá existir (deriva do
adversário) ou ser criada em função do local da bola e da dinâmica que lhe é
dada. Como referimos, estas vantagens Espaciais quando aproveitadas é que
permitem criar desequilíbrios, sendo que, o seu aproveitamento consubstancia-
se na entrada vertical da bola.
Chegamos assim a um ponto crucial da circulação de bola: a sua
verticalidade, pois é essa dinâmica que permite colocar a bola próxima do
objectivo da circulação de bola e com efeito, do jogo: criar oportunidades de
finalização.
Neste momento é pertinente esclarecer um ponto de onde deriva a
importância do jogo vertical. Os desequilíbrios que se criam no adversário são
momentâneos, ou seja, qualquer tentativa de se criar desequilíbrios promove
no adversário uma reacção, no sentido dele se equilibrar, de se ajustar (auto-
organizar). Assim, existe um timing para o “aproveitamento” dos desequilíbrios
existentes e/ou criados. Por esse motivo, os passes verticais (de ruptura ou de
penetração, curtos ou profundos) exigem, para além da qualidade de passe
aliado à precisão (por vezes quase milimétrica), um timing fabuloso. Repare-se
que em 1974, na preparação para o campeonato do Mundo (Laranja
Mecânica), Rinus Michels tinha já a preocupação de trabalhar, na construção
do ataque, o timing do passe vertical, referindo, o autor (2001), que treinava
muito este aspecto da verticalidade do jogo.
Para além disso é necessário considerar que o jogo “vertical” acarreta
alguns riscos de perda da posse de bola, na medida em que, mesmo tendo
criado uma vantagem Espacial, a entrada da bola em determinadas áreas é
imediatamente condicionada de um modo “agressivo” pelo adversário que a
tenta recuperar.
Revisão de Literatura
71
Perante o exposto surge a circulação de bola horizontal como
consequência:
Da impossibilidade de jogar na vertical: por vezes o adversário está de
tal modo compacto, com muitas linhas defensivas (coberturas) que a
entrada vertical, mesmo com criação de vantagens Espaciais,
exponencia a perda de bola.
Da necessidade de criar condições (mais) favoráveis (correndo menos
risco de a perder) à entrada vertical da bola (em progressão, ou em
passe): por exemplo, circular a bola a toda a largura na tentativa de abrir
o interior da Equipa adversária que depois é aproveitado por uma
qualquer dinâmica vertical. Ou variar frequentemente o ângulo de ataque
para promover situações de vantagem Espacial no 1vs1.
De querer surpreender o adversário, variando horizontalidade com
verticalidade: esta variabilidade é uma característica inerente às Equipas
de top. Situação que permite criar surpresa no adversário, por exemplo,
a bola vem do corredor esquerdo e entra no médio centro que está de
frente para o jogo, o Carrick, por exemplo (não é aleatório, a qualidade
do passe longo faz dele um bom exemplo para esta situação), a sua
capacidade em colocar a bola no C.Ronaldo permite que tire proveito de
vantagem Espacial criada.
Sobre este ponto é pertinente realçar que, não é pouco frequente nas
Equipas de top, sobretudo quando se defrontam, ou seja, quando há muita
qualidade em termos da organização global das duas Equipas, vermos que é a
variação vertical/horizontal que permite criar desequilíbrios quando o
adversário está defensivamente organizado. Assim, esta variação da circulação
de bola vertical/horizontal, é outra característica inerente às Equipas de Top,
que utilizam e variam a circulação de bola em função dos problemas que o
adversário coloca à criação de oportunidades para finalizar. Nesse sentido esta
capacidade para variar a circulação de bola é uma “arma” fundamental para
criar desequilíbrios no adversário.
Pelas características e qualidades dos jogadores que potenciam
subdinâmicas de circulação horizontal: por exemplo, é frequente a
Revisão de Literatura
72
existência de médios centro, que posicionando-se sempre atrás da bola
procuram regularmente circular a bola na horizontal, mesmo que por
vezes tenham condições para assumir alguns riscos.
Pelo exposto, a circulação de bola horizontal e vertical não são
antagónicas, são complementares e não se podem separar. Porém,
identificamos dois padrões de circulação de bola que resultam da
“intensidade”19 com que as Equipas procuram os movimentos verticais. Assim,
podemos identificar um padrão em que a procura de verticalidade é “intensa” e
outro em que a procura da verticalidade surge com maior regularidade após
movimentos horizontais. A predominância de um destes padrões (enquanto
regularidade) resulta daquilo que é a ideia do treinador, ajustada a uma
determinada Equipa.
De um modo grosseiro, estes padrões resultariam numa configuração à
semelhança da que apresentamos na figura 2:
Estas duas configurações acontecem em todas as Equipas, porém
numas acontece com mais regularidade de uma forma e noutras de outra
forma, dependendo isso, da ideia de jogo do treinador e das características e
qualidades dos jogadores, é essa regularidade que vai caracterizar o padrão
das Equipas. Portanto, apesar de determinada Equipa apresentar um padrão
assente na procura intensa da verticalidade, partimos do pressuposto que a
19 É pertinente deixar claro que o conceito de “intensidade” que aqui utilizamos não se
relaciona com os ritmos de jogo. Pretendemos com esta palavra traduzir uma intenção da
Equipa procurar, ou não, sistematicamente a verticalidade do jogo.
Figura 2. Padrões de circulação: verticalização após circulação de bola horizontal;
verticalização intensa da circulação de bola;
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circulação de bola horizontal e vertical não se podem dissociar, elas existem no
mesmo jogo e até na mesma jogada, dependendo dos problemas que os
diferentes adversários colocam.
Considerando a circulação de bola um meio táctico colectivo para criar
desequilíbrios, um princípio organizador, os níveis subjacentes serão
manifestamente distintos, consoante esta se apresente, no nível colectivo, mais
ou menos intensa na procura da verticalidade (enquanto regularidade). Nos
próximos pontos vamos fazer uma caracterização dos padrões acima
identificados.
2.3.2.2.1 Verticalização após circulação horizontal
Se se vai rápido, o adversário não tem tempo de se organizar. Obviamente, que isto se pode
provocar pela via directa com um passe longo, mas se jogas com um rival com 10 atrás,
(...), a via para conseguir os Espaços é outra.
Cruyff (2008)
Este padrão de circulação de bola traduz-se no movimento constante da
bola, que progride no terreno com variações do ângulo de ataque frequentes. É
privilegiado o passe curto para atrair o adversário e o passe longo para
(também) variar o ângulo de ataque. Desse modo, os apoios recuados são
cruciais no desenvolvimento desta circulação, na medida em que permitem
(pela orientação dos apoios) mudar o ângulo de ataque frequentemente.
Para que esta circulação tenha eficácia, após transição em segurança
(para manutenção da posse de bola) ou saídas curtas pelo GR, as Equipas
procedem à “instalação posicional”, que lhes permitirá ocupar posições de
referência em largura e profundidade, aquilo que frequentemente se denomina
“campo grande”20 (Amieiro, 2005, Costa, 2004). Nesse sentido, Queiroz (2006)
afirma que, quanto mais espaço tivermos para jogar, mais difícil é para o
adversário conseguir interceptar a bola, e nesse sentido a equipa tem que se
20 Sobre o comportamento “campo grande” é necessário salientar que esse comportamento
colectivo apenas faz sentido para a equipa se “instalar posicionalmente”, a partir do momento
que a bola entra em espaços intermédios, existem comportamentos que devem contrariar esse
“campo grande” colectivo, nomeadamente o fecho dos espaços interiores pelo sector mais
recuado.
Revisão de Literatura
74
abrir. Essa “instalação” é consubstanciada por uma circulação de bola numa
zona do terreno mais recuada, uma vez que essa zona do terreno é propícia à
manutenção da sua posse (dependendo obviamente, dos constrangimentos
que o adversário coloca à equipa esta zona poderá ser mais ou menos propicia
à concretização desse objectivo).
Verifica-se que as equipas estão seguras e procuram gradualmente
subir no terreno, revelando-se cruciais os seguintes comportamentos
colectivos:
Posicionamento em diagonal: Amplitude dos centrais (no prolongamento
das linhas verticais da grande área) e laterais (que dão profundidade à
amplitude).
Movimentos do (s) médio (s) de apoio à circulação de bola: movimentos
a toda a largura do campo, oferecendo sempre “linha de passe”.
Necessário ressalvar que este movimento e posterior recepção da bola
por parte deste (s) jogador (es) são frequentemente referências de
pressão do adversário. Desse modo, é fundamental, que o jogador antes
de a receber “avalie” o contexto de recepção da bola. Em função dessa
“avaliação” que o jogador realiza, a orientação dos seus apoios é o
comportamento visível, que lhe permite uma recepção orientada ou que
o obriga a jogar ao primeiro toque (no caso de se encontrar de “costas
para o jogo”).
Posicionamento dos jogadores em frente à linha da bola: médios (ponto
anterior) e avançados (podem ou não dar profundidade).
Triangulações no Espaço: sem progressão vertical acentuada, sempre a
“tocar” para aparecer num espaço próximo ou para garantir nova linha
de passe. Realizando-se sobretudo no corredor central, vão permitir o
seu controlo.
A estrutura que dispõe os jogadores em 1-4-3-3 parece-nos ser aquela
que melhor potencia esta circulação, pois permite uma ocupação do espaço de
jogo mais racional, com os espaços existentes nos corredores ocupados. Para
além disso, sendo uma circulação que privilegia, frequentemente, uma
progressão a um ou dois toques, as diagonais posicionais que as estruturas
Revisão de Literatura
75
permitem revelam-se um aspecto muito importante, pois é importante que os
jogadores já estejam, apenas pela distribuição da estrutura, em diagonal em
relação uns com os outros.
De salientar ainda que as funções de Pivô baixo, assumem aqui uma
responsabilidade maior, não apenas como elo de ligação entre defesa e meio-
campo, nos equilíbrios e também porque, em todos os momentos, é uma
importante referência de apoio à circulação de bola (tanto frontal: quando a
bola está no sector mais recuado; como recuada e/ou lateral: quando a bola
está em sectores mais avançados permitindo em ambas situações mudar o
ângulo de ataque). Exigindo-se qualidade no toque, capacidade de antecipação
e para manter a posse de bola (Van Gaal, 2006).
Esta procura da verticalidade pela circulação de bola horizontal é, por si
só, indutora de desequilíbrios no adversário, utilizando os passes curtos para
atrair e, os passes longos precisos para surpreender (Valdano, 2007a),
variando frequentemente o ângulo de ataque, privilegiando desse modo a
horizontalidade.
Villas-boas (2006) reconhece a existência deste padrão ao diferenciar o
jogo que o Liverpool praticava com Peter Crouch (aí muito mais intenso na
procura da verticalidade), daquele que praticava na primeira época de Benitez
no clube, nessa altura, segundo o autor, procura a verticalidade sobretudo após
movimentos horizontais da bola.
2.3.2.2.2 Verticalização “intensa” da circulação de bola
“Ele (Arséne Wenger), não gosta muito do jogo de posse, prefere rápidas penetrações
– procurando atravessar o “coração” da defesa adversária o mais rápido possível.”
Palmer (2002:55)
Esta circulação caracteriza-se pela quase “permanente” tentativa de
verticalizar o jogo, assim, a progressão no terreno é feita fundamentalmente
através de bolas longas (aéreas) ou de passes curtos verticais (Hiddink, 1998).
E, portanto, constatamos que, mesmo dentro deste padrão existem diferenças
significativas na forma como as Equipas se expressam, havendo Equipas que
optam frequentemente pelas bolas aéreas outras pelo jogo curto. As
Revisão de Literatura
76
triangulações são sobretudo a procurar a profundidade dos jogadores, pelo
que, o “passe e vai”, ou, por outras palavras, o “passo e desmarco-me” que
Valdano (2007) utiliza para caracterizar o jogo de Fabregas, é um
comportamento colectivo, muito importante para a progressão da bola no
terreno, simultaneamente, permite que mais jogadores cheguem a Espaços de
finalização. Por sua vez, as bolas longas são a forma de progredir no terreno
que permitem à Equipa chegar mais rapidamente a espaços de finalização.
Porém, pode ter objectivos distintos que resultam da mobilidade dos jogadores
nos Espaços:
Procurar Espaços nas costas dos defesas onde os avançados/médios
irão aparecer;
Colocar bola no jogador mais avançado e criar desequilíbrios a partir
dele: através de triangulações em profundidade com o 3º homem que
surge de trás para a frente (comportamento possível também quando se
joga curto em profundidade).
Neste padrão de circulação podemos ver que os jogadores estão
constantemente com a cabeça levantada à procura da mobilidade dos
jogadores mais avançados. Assim, uma das principais diferenças para o
padrão mencionado anteriormente, resulta da necessidade que esta circulação
tem da permanente dinamização dos Espaços. Sendo vertical, tem implícita a
existência de maiores riscos, e nesse sentido, os equilíbrios (sobretudo fecho
dos espaços interiores) têm de ser muito bem equacionados.
Outro aspecto relacionado com esta dinâmica de circulação têm que ver
com o perfil dos jogadores, muito móveis, têm de ter muita qualidade no passe,
preciso, para os Espaços existentes e/ou criados e saber identificar
convenientemente o timing do passe vertical. Para além disso, os médios, pela
necessidade de aparecerem em Espaços de finalização, devem estar
completamente identificados com os momentos em que devem subir ou
equilibrar.
Deixamos claro, anteriormente, que um dos pontos fundamentais está
na dinamização dos espaços livres, que poderão potenciar, entre outros
aspectos, o controlo do meio-campo. Também salientamos que, existem
Revisão de Literatura
77
momentos em que as vantagens Espaciais, para além do timing de
aproveitamento, têm uma curta duração, na medida em que o reajuste do
adversário se pode (ou não) fazer imediatamente, o que obriga a jogar ao
primeiro toque. Assim, a dinâmica inerente à circulação de bola das Equipas de
Top, pressupõe a coexistência dos dois padrões de circulação mencionados.
Desse modo, verificamos que a Top, apesar de as equipas privilegiarem um
destes padrões, eles coexistem no mesmo jogo e por vezes na mesma
“jogada”. De onde resulta uma enorme variabilidade de configurações destes
momentos.
Podemos identificar com relativa facilidade duas equipas de Top:
Barcelona e o Arsenal, que privilegiam, estes dois padrões: respectivamente a
procura regular da verticalização após circulação horizontal e a procura intensa
da verticalidade da circulação de bola. No entanto, ainda que apresentem
esses padrões, por exemplo o Barcelona procura, em determinadas alturas,
criar desequilíbrios pela mobilidade de alguns jogadores, sobretudo, do
avançado esquerdo: Iniesta, que procura Espaços interiores, ou por Messi que
também procura frequentemente Espaços interiores deixando que a largura
seja garantida muitas vezes pelo lateral direito: Daniel Alves. Essa mobilidade
permite que um dos médios, sobretudo o médio direito: Xavi torne o jogo mais
vertical.
Por sua vez, o Arsenal, no desenvolvimento da sua dinâmica procura por
vezes “fixar-se” no terreno (sobretudo no meio-campo adversário quando existe
um timing e duração para aproveitar determinadas vantagens Espaciais) e
assim procura criar desequilíbrios com triangulações ao primeiro toque.
A circulação de bola é assim um pressuposto transversal às equipas de
Top, podendo ser um “meio” para desequilibrar a equipa, ou necessitar de ser
coadjuvada por outros comportamentos para se criar desequilíbrios,
nomeadamente a mobilidade dos jogadores.
Como é óbvio os desequilíbrios não surgem apenas da circulação de
bola e mobilidade dos jogadores, as equipas apresentam outros
comportamentos que juntamentente com os mencionados podem promover
desequilíbrios no adversário, nomeadamente:
Revisão de Literatura
78
Ataque de espaços com bola (progressão vertical com bola): atrai
adversários tirando-os de posição.
Situações de 1x1: predominantemente nos corredores laterais onde
existe mais Espaço para os potenciais criadores de desequilíbrios por
meio do drible e/ou finta, é aí que os jogadores com qualidade para criar
algo (por meio do drible e/ou finta) devem aparecer não na
“intermediária” (Van Gaal, 2006). Sendo esse, um comportamento
frequentemente apelidado de “individualista”, nas equipas de Top, esta
liberdade surge em função de um “porquê”, de um objectivo que é
colectivo, Guilherme Oliveira (2003) corrobora ao afirmar que “…a
criatividade não é circo, é criatividade em função de alguma coisa…”.
Paulo Assunção (2006), ex-jogador do FCP, ajuda-nos afirmando que:
“Uma finta do Quaresma que desequilibre o adversário também é jogar
para a equipa. Cada um deve utilizar as suas características para o bem
de todos.”
Exploramos até ao momento o “como criar desequilíbrios no adversário”
partindo daquilo que é padrão nas equipas de Top, importa porém aprofundar
um pouco mais a diferença de comportamentos na criação de desequilíbrios,
consoante estes ocorram nos corredores laterais ou central.
2.3.2.2.3 Desequilíbrios no corredor lateral
Se antes se dizia que os espaços estão nas alas – obviamente que é necessário amadurece-los, fabricá-los.
Cruyff (2008b)
O fecho de espaços interiores é uma prioridade para a maioria das
equipas que se encontram em organização defensiva ou em equilíbrio dinâmico
no ataque. Assim, os espaços correspondentes aos corredores laterais ficam
“apenas” sob vigilância, sendo que, a movimentação da bola para esses
Espaços obriga a um reajustamento de toda a Equipa, no sentido de a tentar
recuperar e de fechar espaços interiores.
Perante o exposto coloca-se a seguinte questão: como aproveitar os
corredores laterais para criar desequilíbrios no adversário!? A reflexão sobre
Revisão de Literatura
79
esta questão leva-nos necessariamente à importância da largura na criação de
desequilíbrios no adversário.
“Alargar o relvado. As equipas que tentaram jogar (...) ocuparam toda a
largura do relvado como há muitos anos não sucedia. Alguns com extremos,
tipo Overmars, outros com médios como Henry, outros com homens de
corredor, tipo Jarni, ou até com defesas laterais, como Roberto Carlos. Ou
estacionados à frente ou chegando de trás. A verdade é que as faixas laterais
estiveram ocupadas e isso permitiu dar amplitude às tentativas de ataque. Sem
isso, as jogadas asfixiam.” (Villas-boas, 2006b).
A largura (à semelhança da profundidade) consiste no aproveitamento
do Espaço horizontal, através da sua ocupação. Assim, quando nos referimos à
“largura” a primeira imagem que nos surge são os laterais encostados às linhas
e dando profundidade e dois jogadores em profundidade encostados também à
linha lateral. Desse modo, a “largura” pressupõe a ocupação dos corredores
laterais. Mesmo nas equipas que se posicionam em 1-4-4-2 podemos observar
que a largura na profundidade (ou seja, na “frente de ataque”) pode ser
garantida por vários jogadores: avançados, alas, laterais, Michels (2001)
corrobora ao afirmar que a largura, nas equipas que jogam com os corredores
livres pode ser garantida por um desses jogadores. A questão que se nos
coloca então é a seguinte: em que momentos e espaços dar largura e como!?
Quando observamos equipas de Top podemos observar que,
independentemente da estrutura da equipa, existem dois momentos em que a
largura é normalmente garantida por algum jogador, nomeadamente:
Nas Saídas curtas: quando a equipa pretende sair a jogar curto, ou
procura a verticalidade após circulação horizontal, a largura dos laterais em
profundidade (figura 3) é um comportamento frequente
e muito importante pela possibilidade de:
Participar activamente na criação de
desequilíbrios;
Partir para um posicionamento de equilíbrio
dinâmico (fecho de espaços interiores);
É necessário ressalvar, porém, que, quando a
Figura 3. Largura dos
laterais em profundidade
Revisão de Literatura
80
equipa procura a verticalidade da circulação de bola de um modo mais
“intenso”, sobretudo quando essa verticalidade é procurada pelas bolas longas,
este posicionamento dos laterais pode ser demasiado arriscado, pelo que,
deverão procurar a profundidade mas em Espaços mais interiores.
Ainda relativamente a estas saídas curtas, verificamos que as equipas
de Top, procuram regularmente sair pelo centro do terreno de jogo uma vez
que os corredores são frequentemente referências de pressão, assim, quando
a bola entra nos corredores, os apoios são fundamentais (para progressão ou
para retirar a bola de áreas de pressão).
Bola em áreas intermédias: quando a bola se encontra nestas áreas
(figura 4) podemos observar que a maioria das
equipas, independentemente da estrutura táctica, tem
jogadores em profundidade a dar largura (áreas 1 e 2
assinaladas na figura 4), sobretudo se o portador da
bola se encontrar de frente para o jogo. As estruturas
permitem pela sua distribuição (1-4-3-3) e/ou pela sua
mobilidade uma ocupação dessas áreas (1-4-4-2: dos
avançados com mobilidade para as faixas ou dos alas
que sobem no terreno).
A importância da ocupação destas áreas tem que ver com:
Aumento de soluções ao portador da bola que se encontra de frente
para o jogo;
Possibilidade de virar o “ângulo de ataque”: para manter a posse de bola
e/ou criar desequilíbrios;
Possibilidade de criar situações de 1x1.
Jogar nos corredores laterais vai para além deste posicionamento, na
medida em que, a dinâmica nesses espaços pode promover
desequilíbrios de modos distintos:
Progressão com bola no corredor criando situações de 1x1.
Bola nos corredores para que o adversário reajuste, partindo
posteriormente para o corredor central.
21
Figura 4. Áreas de
largura da profundidade
Revisão de Literatura
81
Variar frequentemente o Ângulo de ataque procurando explorar o lado
fraco, o que obriga o adversário a reajustar constantemente, acabando
por abrir Espaços no meio (Villas-boas, 2006).
É pertinente acentuar que a largura na frente de ataque é
frequentemente proporcionada por jogadores com elevada capacidade no 1x1.
Habitualmente nesses Espaços encontram-se jogadores muito virtuosos:
Messi, Cristiano Ronaldo, Ronaldinho, Walcott, J. Cole, etc., jogadores que
com a dinâmica do jogo procuram regularmente Espaços interiores. Este
“vaguear” dos jogadores tem que ver com o “estado” de organização defensiva
do adversário e com a imprevisibilidade que tais comportamentos promovem.
Observando o Barcelona, facilmente constatamos que, qualquer que
seja a Equipa, o Jogar, não pode ser indiferente à presença de Messi, pelo
que, como refere Van Gaal (2006) o ataque da equipa deve garantir que os
jogadores criativos tenham oportunidades para expressar a sua qualidade,
onde mais nenhum seja capaz, pois eles podem determinar onde se inicia ou
não uma jogada de risco num Espaço reduzido. Verificamos que o jogar das
suas Equipas tende a fluir para os seus pés. Porém, como já salientamos isso
não acontece apenas nos flancos, pois também no centro existem jogadores
capazes de decidir correctamente em Espaços reduzidos, Michels (2001)
classifica estes como sendo diamantes da Equipa.
Também a participação activa dos laterais na criação de desequilíbrios
assume-se um aspecto comum nas equipas de top podendo assumir
comportamentos muitos distintos mas todos eles pertinentes em relação ao
objectivo proposto, ou seja, criar desequilíbrios. Assim, a integração do lateral
pode:
Garantir a profundidade em largura (normalmente acontece quando são
rápidos e têm bastante qualidade no cruzamento), podendo por
exemplo, juntamente com um médio, um extremo ou avançado com
mobilidade para as faixas, criar situações de 2x1 contra o lateral
adversário.
Revisão de Literatura
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Procurar a profundidade em espaços interiores (para isso é necessário
que existam ou sejam criados, evitando desse modo sobreposição de
jogadores);
Estes comportamentos surgem frequentemente pelas triangulações em
profundidade com um médio, sendo fundamental a relação lateral-ala; lateral-
extremo; ala–extremo, sobretudo pelo posicionamento/movimentos fora-dentro
(garantindo sempre uma diagonal posicional) (Guilherme Oliveira, 2002).
Realizar movimentos de Overlap (cruzamento de um jogador nas costas
do portador da bola). Este meio táctico tem um duplo objectivo:
possibilitar ao portador mais uma opção de passe, esta em
profundidade; e criar Espaço interior, pois esse movimento normalmente
arrasta a cobertura defensiva do jogador que pressiona o portador da
bola. Este movimento deve acontecer após a decisão do Ala a procurar
o espaço interior.
Todos estes movimentos do lateral em profundidade devem ser muito
bem equacionados pois podem comprometer o equilíbrio da Equipa. Peter
Boeve (1989, cit. por Barend e van Doorp, 1999:74), defesa esquerdo do Ajax
treinado por Cruyff, dá um contributo oportuno para esta nossa reflexão ao
referir que: “O defesa esquerdo era usado para avançar no terreno o máximo
possível. Chamava-se a isso futebol moderno. E era como conseguíamos
manter a largura. Agora os defesas têm que ficar mais “cautelosos”, como
disse Johan (Cruyff), para prestar mais atenção ao centro. É por isso, também,
que o Ajax jogava muito pelo centro.”. No mesmo seguimento Cruyff (1989, cit.
por Barend e van Doorp, 1999:73) referindo-se aos defesas laterais diz que “a
função deles é cobrir o Espaço no qual jogam. Não estando permitidos para
atacar em simultâneo.”. Podemos, portanto constatar que Cruyff preocupava-se
com os equilíbrios da Equipa. No futebol de top, apesar dos riscos inerentes à
participação simultânea dos dois laterais, constatamos que algumas Equipas
se sujeitam a esses riscos. No entanto, quando verificamos um “ataque
simultâneo” dos dois laterais, não significa que os dois estão em profundidade
(até à linha final), um deles pode efectivamente estar profundo mas o outro
assumirá, um posicionamento que lhe permitirá atacar se necessário mas
Revisão de Literatura
83
também recuperar defensivamente. Para além de que, como já evidenciamos,
nesse nível todos os riscos são calculados, pelo que, a acontecer, ou o
adversário está completamente remetido no seu primeiro terço defensivo, ou a
Equipa procura outros meios de compensação, de coberturas dos flancos.
Antes de avançarmos para os desequilíbrios no corredor central é
pertinente salientar ainda, uma qualidade presente na maioria dos jogadores,
que a top, aparecem nos corredores, para além de tudo o que aqui foi
evidenciado, que é a capacidade de cruzar. Sendo que, para Michels (2001), a
qualidade do cruzamento é um dos “ingredientes” mais difíceis e importantes
do “futebol de ataque” (que no fundo é aquilo que procuramos elevar), pois é
necessário, aliado ao domínio do cruzamento em si, um timing, precisão e
coordenação com quem chega a Espaços de finalização que tornam esta
qualidade tão importante e difícil. É frequente vermos nas Equipas de
rendimento inferior cruzamentos, e alguns resultam em golo, porém, à medida
que as exigências qualitativas aumentam, um cruzamento deve ser por si só
um “quase-golo” e não uma vã e inofensiva tentativa de colocar a bola em
alguém (que muitas vezes é o adversário)(Michels, 2001).
2.3.2.2.4 Desequilíbrios no corredor central
A criação de desequilíbrios no corredor central depende do modo como
é concretizada a circulação de bola. No entanto, como vimos, a qualidade das
equipas de Top manifesta-se pela variedade de soluções que apresentam para
a resolução dos problemas que se lhe colocam na criação de desequilíbrios.
Sendo que, podemos verificar na mesma equipa, no mesmo jogo e inclusive,
na mesma “jogada”, os dois padrões de circulação de bola (vertical e
horizontal). Desse modo, apesar dos desequilíbrios em Espaços centrais se
puderem criar de modos e em momentos distintos21, podemos identificar alguns
comportamentos transversais às equipas de Top.
21 Dependendo fundamentalmente dos objectivos na dimensão jogo (especificidade dinâmica) e
do adversário (como se posiciona e como pressiona).
Revisão de Literatura
84
Jogar a bola no corredor central pressupõe que a equipa jogue a bola no
seu interior, facto que aumenta exponencialmente os riscos de perda de bola,
na medida em que o Espaço é menor (em função do fecho dos Espaços
interiores do adversário), porém, como vimos no capítulo anterior, é a
capacidade da Equipa jogar em Espaços interiores que lhe permite “controlar o
jogo”.
Perante o exposto os desequilíbrios no corredor central podem ser
criados pela (s):
Incorporação de mais um jogador na zona do meio-campo: permitindo a
presença de mais um jogador no meio-campo, que à partida não pertence a
esse espaço, contudo estes comportamentos carecem de mecanismos de
compensação muito bem definidos. Como exemplo podemos recorrer ao
Barcelona e ao Chelsea, que na sua dinâmica, incorporam de modos distintos,
jogadores no meio-campo. No actual Barcelona, é frequente observar o Daniel
Alves a integrar o meio-campo. Sendo um lateral, a equipa vai ficar com uma
linha de três jogadores que, nesta situação, bascula para o lado que deixou
livre. No Chelsea, é frequente observar a subida do John Terry,
frequentemente sem bola, também compensada pela linha defensiva que
procura fechar os Espaços interiores. Van Gaal (2006) sobre a estrutura (1-4-3-
3) na qual a dinâmica da sua Equipa deve assentar, refere que o triângulo do
meio-campo deve estar “apontado” para o ataque. Esta perspectiva pretende
deixar Espaço (entre os dois médios mais recuados) para a subida do central,
que passa a assumir as funções de Pivô.
Triangulações no Espaço: comportamento táctico grupal que “atrai” os
adversários, logo são potenciais criadores de desequilíbrios no adversário.
Podendo-se concretizar de modos distintos como nos explicita Vilas-Boas
(2006d): “Para mim o melhor de Xavi é o passa e desmarca. Mas não é um
passe e desmarca profundo como o de Lampard ou Gerrard, é o passe e
desmarca para tabelar, para aparecer num espaço próximo ou para garantir
uma nova linha de passe.”. Se actualmente olharmos para o Barcelona,
veremos que Xavi é um jogador também de passar e desmarcar profundo, pelo
que, tem que ver com o projecto de jogo colectivo que nesta época as suas
Revisão de Literatura
85
funções são ligeiramente diferentes do que têm sido, ocupando uma posição
mais adiantada tem-se assumido um jogador com muita capacidade para criar
situações de finalização.
Mobilidade dos jogadores: para receber a bola em Espaço próximo esta
dinâmica tem que ver com o jogador mostrar-se e “dizer”: “aqui estou, se
necessário ajudo-te” (Olivares, 1978). Para libertar Espaço, ou para receber em
profundidade (implícito sobretudo quando a verticalização é procurada de um
modo mais intenso).
Distância entre linhas: comportamento frequente nas
equipas de Top, sobretudo quando a verticalidade da
circulação de bola é procurada com “intensidade”. Assim,
as equipas aumentam a distância entre as linhas mais
recuadas como podemos observar na figura 5 a
sombreado, e as linhas mais avançadas (linha intermédia +
linha avançada) observado na figura 6.
Com isso aumentam o Espaço onde podem
aparecer para receber a bola, sobretudo pelas
movimentações dos médios e/ou avançados. Villas-boas
(2006a) dá-nos um exemplo concreto deste
comportamento quando caracteriza a equipa da Holanda:
“Sneidjer e Van Bommel fingem movimentos de
profundidade mas no fundo estão é a aumentar o espaço
onde Cocu vem receber a bola para organizar curto ou
longo. Este tipo de comportamentos permite que consigam
entrar no meio-campo adversário sempre com uma
situação de vantagem numérica ou espaço-temporal.”.
A configuração destes momentos de organização ofensiva está muito
relacionada com o perfil dos jogadores que as equipas têm disponíveis, porém,
parece-nos que o perfil dos jogadores que ocupam o centro do terreno de jogo,
assume uma preponderância maior quando é necessário decidir a configuração
destes momentos e obviamente os desequilíbrios pelo corredor central.
Figura 5. Espaço entre-linhas
(Kormelink e Seeverens, 1997)
Figura 6. Espaço entre
linha média e avançada
Revisão de Literatura
86
Nos dois padrões de circulação que evidenciamos existem duas áreas
que possibilitam uma maior eficácia da circulação de bola, nomeadamente em
frente aos centrais e outra entre a linha intermédia e avançada. Porém o modo
como são dinamizadas depende em grande medida do padrão preferencial de
circulação de bola. Pelo que, sendo uma circulação que procura a verticalidade
após circulação horizontal ou de um modo mais “intenso”, estas áreas podem
ser ocupadas respectivamente por jogadores mais “fixos” ou por jogadores com
maior mobilidade.
Assim, a área em frente aos centrais é normalmente ocupada por um ou
dois médios centro (quando jogam dois jogadores um deles tende a assumir
funções de Pivot enquanto o outro procura explorar Espaços mais avançados
no terreno, ou podem alternar essas funções durante o jogo) ou por um central
(Van Gaal, 2006).
Por sua vez, a área entre linhas intermédia e avançada tem uma
particularidade muito importante, o jogador que aí se posicionar tem de jogar
de costas para a baliza, funcionando como um segundo Pivô. Quando
observamos as Equipas de top, dificilmente vemos apenas um jogador com um
posicionamento mais “fixo” nesta área. Sendo uma área em que a povoação do
adversário é maior, requisita uma maior mobilidade do jogador que a ocupa.
Pelo que, nesse Espaço tanto pode aparecer:
Médio: neste caso deverá existir um Espaço entre as linhas do meio-
campo da equipa o que implica a mobilidade deste jogador. Este jogador
para Michels (2001) deve ser “activo” na procura do melhor
posicionamento, tanto para jogar atrás do avançado, apoiando-o, como
para aparecer a sua frente em Espaços de finalização.
Avançado: a movimentação da frente para trás deste jogador pode
assumir uma “dupla” função (simultâneas ou não): arrastar marcação
do adversário e/ou dar apoio à circulação de bola. Michels (2001) acerca
desta dinâmica menciona que os defesas (na medida em que pretende
que estes joguem directamente com o avançado) têm que ser
perspicazes ao avaliar se o avançado está a tentar atrair o adversário
Revisão de Literatura
87
para criar Espaço para outro jogador, ou se está a assumir um
importante papel no apoio à circulação de bola.
Sendo médio ou avançado estes jogadores assumem importantes
funções na criação de desequilíbrios pelo corredor central, na medida em que,
ao aparecer na área mencionada vão oferecer linhas de passe ao portador da
bola para ganhar Espaço ou procurar triangular para profundizar o jogo. A sua
acção depende em grande medida do “estado” da Equipa e do próprio
adversário (se realiza uma pressão intensa, tentando recuperar a bola e
consequentemente não deixa rodar), pois uma vez que joga de costas na
impossibilidade de rodar deve jogar de primeira (caso contrário o risco de perda
é maior) soltando a bola para um terceiro homem (Michels, 2001, que, de frente
para o jogo, explora as muitas situações possíveis em função das
circunstâncias que se apresentam.
2.3.2.3 Criação de situações de finalização e de finalização
Estes momentos podem ser concretizados por vários jogadores como
fomos salientando ao longo do trabalho. Avançados, Médios com movimentos
de trás para a frente para aproveitar Espaços ou para trocar posicionalmente
com o avançado, laterais que procuram profundidade interior, centrais que
procuram desequilibrar subindo no terreno, existe todo um conjunto de
situações que permitem que, praticamente qualquer jogador possa aparecer
em Espaços de finalização e finalizar. Estes momentos acontecem em Espaços
próximos à baliza do adversário, sendo os Espaços frontais potencialmente
mais favoráveis à consecução do objectivo do jogo, ou seja, marcar. A largura
que anteriormente salientamos como importante na criação de desequilíbrios
deve ser “fechada”, sendo que, existe um timing de fecho relacionado com as
circunstâncias que o jogo apresenta.
Outro importante aspecto tem que ver com as linhas que se formam
quando a Equipa está em Espaços de finalização, sendo que, para Michels
(2001) para além da primeira linha, constituída normalmente pelos avançados,
deveria existir outra constituída por jogadores que pudessem receber um passe
Revisão de Literatura
88
da frente para trás, ganhar uma segunda bola, ou seja, uma segunda linha
também importante para a finalização e por último uma terceira linha cujo
objectivo era cobrir todas as tentativas de finalização.
Sendo a preocupação do adversário com esses Espaços muito grande,
é necessário que, os jogadores que chegam a Espaços de finalização não
sobreponham posições, pois como nos refere Menotti (s/d): “É sobretudo um
problema de distracção e conquista de espaços. (…) Se houver uma grande
acumulação de jogadores e os espaços estão muito concorridos, haverá
sempre um lugar no campo que está vazio…”.
2.3.3 (Macro) Organização Estrutural do “jogar de qualidade”
Os sistemas ou tácticas de jogo são sempre fruto das circunstâncias. E as circunstâncias e sistemas são
duas coisas muito efémeras, de brevíssima vigência no decorrer de uma partida.
O que num momento serve, no outro não serve. O que se pretende fazer, frequentemente não sai.
Vinte, trinta, sistemas ou tácticas usam-se numa mesma partida, segundo as circunstâncias.
Panzeri (1967)
No campo e na prática tudo se modifica. As figuritas que no esquema de papel estavam imóveis, no campo
transformam-se em seres Humanos, com um coração que palpita. Na prática, aparece um caprichoso implemento
chamado bola que é necessário dominar para o usar de modo inteligente, aparece o adversário, com tanto desejo de
ganhar como nós. Está o público, “monstro” de mil cabeças com as suas caprichosas e incompreensíveis inclinações.
Olivares (1978)
A estrutura de jogo é a forma utilizada para distribuir os jogadores em
campo, sendo por isso um “acontecimento de organização do Espaço”, que é
também organização e fornece referências posicionais para as Equipas
alicerçarem o seu jogo (Gaiteiro, 2006).
A Equipa enquanto sistema complexo adaptável é constituída por um
grupo de elementos activos que são diversificados nas suas qualidades (de
onde emerge a individualidade) e na sua forma (Holland, 1997). A Estrutura ao
definir posições para os jogadores, define a forma que estes vão assumir, ou
seja, as funções básicas, relacionadas com o atacar e defender, definidas pelo
posicionamento em campo e pela qualidade dos jogadores (Michels, 2001, Van
Gaal, 2006).
Em capítulo anterior (2.2.4 - Níveis de organização) evidenciamos a
existência de quatro níveis de organização: colectivo, intersectorial, sectorial e
Revisão de Literatura
89
individual, cuja articulação e coerência determina o funcionamento de um todo
harmonioso. A definição destes níveis de organização está intimamente
relacionada com a distribuição dos jogadores em campo, como podemos ver
na figura 7, sendo esta relação de total pertinência para a idealização e
operacionalização de um “jogar”, bem como para a interpretação do conteúdo
do jogo.
N
a figura apresentada evidenciamos por ordem decrescente de complexidade os
quatro níveis de organização, onde podemos verificar que, do colectivo ao
individual, os níveis apresentam complexidade distinta, na medida em que as
relações estabelecidas vão também sendo reduzidas22. Uma particularidade
evidente na figura 6 é que, no nível de organização intersectorial, não é apenas
o facto de existir uma maior possibilidade de relações que o torna mais
complexo (comparativamente com o nível sectorial), mas também o facto
dessas relações se fazerem sobretudo na vertical.
Se por um lado, a própria definição dos níveis de organização tem que
ver com a possibilidade de evidenciar relações entre partes da Estrutura, por
outro lado, diferentes Estruturas promovem configurações dos níveis de
organização manifestamente diversas. Assim, quando se idealiza um “jogar” ou
interpreta o conteúdo de jogo, temos de ter a noção que diferentes estruturas
22 Como salientamos em capítulo anterior, apresentando todos os níveis propriedades fractais,
a redução pretende-se sem empobrecimento. Ainda que isso não seja 100% possível, é
necessário tentar minimizar ao máximo possível as consequências que qualquer tentativa de
redução (logo de simplificação) tem inerente.
Colectivo Intersectorial Sectorial Individual
Figura 7. Níveis de organização e Estrutura (ex.1-4-3-3)
Revisão de Literatura
90
propiciam diferentes dinâmicas nos diferentes níveis de organização. Para
além disso, como já vimos, diferentes jogadores propiciam diferentes jogares
Actualmente, quando olhamos para as Equipas de top, verificamos a
predominância de duas estruturas: 1-4-3-3 e o 1-4-4-2. Destas surgem
inúmeras variantes que ao longo do jogo se vão desenhando com a dinâmica
específica das diferentes Equipas. Benitez (2008) corrobora afirmando que a
maioria das estruturas são semelhantes, na medida em que, a modificação de
uma estrutura para outra pode-se fazer ao longo do jogo, para que isso
aconteça basta alguns jogadores movimentarem-se para além das suas áreas
de interacção (definidas pelo posicionamento). Porém, é inegável que existem
diferenças nas duas estruturas de base mencionadas.
É consensual em vários treinadores (Cruyff, 19 cit. por Barend e van
Doorp, 1999, Guilherme Oliveira, 2003, Michels, 2001, Mourinho, 2002, Van
Gaal, 2006) que a estrutura que dispõe os jogadores em 1-4-3-3 é a que
melhor racionaliza o espaço de jogo. Por sua vez, os mesmos treinadores,
apontam algumas, supostas, desvantagens do 1-4-4-2. Michels (2001) refere
que os dois avançados poderão estar muito longe da linha média e os médios -
ala terão de ter muita qualidade (sendo desvantagem na medida em que a
polivalência funcional é, de acordo com o mesmo autor, difícil de encontrar).
Para Van Gaal (2006) a principal desvantagem tem que ver com o facto de
essa estrutura permitir a formação de poucas “linhas”, sendo essas que
garantem as opções de passe. Para Mourinho (2006, cit. por Gaiteiro, 2006) o
principal “problema” do 1-4-4-2 é a ocupação das faixas, uma vez que esta
distribuição não tem ninguém a garantir a largura.
No entanto, estes supostos “problemas” poderão ser, como veremos,
vantagens, se bem equacionados e interpretados pelas Equipas.
Nesse sentido, concordamos com Strachan (2008), actual treinador do
Celtic, quando afirma que os “sistemas (entenda-se a estrutura) não ganham
jogos, mas os jogadores sim.”, pois são os jogadores que, ao interagir, criam o
jogo (que é um “jogar”) no jogo. Desse modo, mais importante que as
estruturas é a dinâmica que resulta das interacções entre os jogadores, ou
seja, a organização funcional, que, no entanto, é sobrecondicionada pela
Revisão de Literatura
91
disposição dos jogadores em campo, pois a dinâmica da equipa que joga em 1-
4-3-3 difere de quando joga em 1-4-4-2 (Silva, 2006). Desse modo, a estrutura
deve ser entendida como um fragmento de uma totalidade maior, o “jogar” de
determinada Equipa (Gaiteiro, 2006), salientamos assim a pertinência de se
acrescentar à palavra estrutura, Táctica.
Perante o exposto, faremos uma reflexão sobre o jogo posicional das
Equipas de Top para posteriormente indagar sobre como podem as estruturas
condicionar a dinâmica das Equipas de rendimento superior, identificando os
seus elementos semelhantes e diferentes (Gaiteiro, 2006). Para isso teremos
de ter presente o capítulo anterior, concretamente as propriedades dinâmicas
(“gerais”) inerentes a essas Equipas: Circulação de Bola; controlo do meio-
campo; chegar com muitos jogadores a Espaços de finalização; e, o equilíbrio
dinâmico em todos os momentos de organização.
Antes de avançarmos, é ainda pertinente salientar que a integração do
número 1, Guarda-redes, quando nos estamos a referir à estrutura, tem que ver
com um entendimento da dinâmica de jogo que não subvaloriza essa posição,
bem pelo contrário. Esta preocupação é explícita em Cruyff (1989, cit. por
Barend e van Doorp, 1999), Foppe de Han (2006), Guilherme Oliveira (2006),
Van Gaal (2006) e no actual treinador de Guarda-redes do F.C.Porto, Will Coort
(2008), para o qual este jogador é uma importante referência de apoio à
circulação de bola. Assim, não é apenas o “último” jogador da equipa pelo qual
os adversários terão de passar, mas deve também ser considerado uma
importante parte dos momentos de organização ofensiva: como “impulsionador”
das transições rápidas e/ou profundidade, como referência de passe mais
recuada e como jogador que participa activamente nos equilíbrios dinâmicos da
equipa. Sendo por isso uma importante parte da organização da Equipa em
todos os momentos que decorrem durante o jogo.
Revisão de Literatura
92
2.3.3.1 Jogo Posicional
A qualidade do jogo posicional determina como são resolvidos os problemas da estrutura
Michels (2001)
A importância do jogo posicional é expressa no discurso de vários
treinadores: Mourinho (2003) menciona que um dos aspectos mais importantes
para a circulação de bola é o “bom jogo posicional”. Também para Cruyff (cit.
Por Barend e Van Dorp, 1999; 2008), Michels (2001) e Van Gaal (2006), os
aspectos mais importantes do futebol são as linhas e o posicionamento dos
jogadores em campo.
É necessário porém, esclarecer que a interpretação do “jogo posicional”
está relacionada com a ideia que os treinadores têm do jogo. Vejamos o que
Mourinho (2003)23 refere: “(...)Eu vou mais por um bom jogo posicional, pela
segurança que todos os jogadores têm ao saber que em determinada posição
há um jogador, que sob o ponto de vista geométrico há algo construído no
terreno de jogo que lhes permite antecipar a acção.”. Este jogo posicional está
relacionado com um padrão de circulação de bola em concreto, que como
veremos, assenta na procura da verticalidade após circulação de bola
horizontal. Nessa medida, nem todos os “jogares” têm inerente uma
distribuição dos jogadores em campo, ou seja, uma estrutura, que determine
algo sob o “ponto de vista geométrico” (triângulos), desse modo, este é um
possível entendimento de jogo posicional.
Em função do que evidenciamos no capítulo anterior, o jogo posicional
está para além da disposição dos jogadores em campo, ele refere-se em
primeiro lugar às funções dos jogadores. Nesse sentido, Queiroz (2006)
salienta que a primeira tarefa do jogador é compreender exactamente o que é
que a equipa espera dele, ou seja, em função de uma dinâmica que é
Específica da sua Equipa, o jogador tem que saber qual a sua tarefa/função.
Assim, o jogo posicional está intimamente relacionado com a dinâmica que se
pretende para determinada Equipa.
23 A ideia que o treinador tem do jogo posicional está relacionada com a ideia de jogo que
pretende para aquela Equipa (na altura o FCP), pelo que, treinando outra Equipa a ideia de
“jogo posicional” pode ser diferente.
Revisão de Literatura
93
No entanto, existem algumas características inerentes ao jogo posicional
que podemos rever em todas as Equipas de top, nomeadamente as diagonais
posicionais dinâmicas, a existência de uma subestrutura posicional, a
ocupação de determinadas áreas em momentos concretos do jogo,
concretamente o posicionamento para ganho de 2ªs bolas e nas bolas paradas
e os equilíbrios dinâmicos.
2.3.3.1.1 Diagonais posicionais dinâmicas
Joga-se muito com ângulos rectos: horizontal, vertical, vertical, horizontal.
Dá-se o imprevisível quando se muda o ângulo, com diagonais ou passes em profundidade, procurando a
verticalidade, com mudanças de flanco e mobilidade.
Cruyff (cit. por Barend e Van Dorp,1999)
Inerente às diferentes dinâmicas que caracterizam a circulação de bola
das Equipas, existem aspectos comuns que lhe garantem segurança e
objectividade (no sentido de facilitar a concretização do objectivo da circulação
– criar desequilíbrios), referimo-nos concretamente às diagonais posicionais
dinâmicas. Estas definem uma possível trajectória da bola, em diagonal, e que
podem ser estabelecidas logo à partida pela disposição dos jogadores em
campo (estrutura) ou a partir das suas movimentações (dinâmica).
A pertinência de se acrescentar “posicionais” às diagonais tem que ver
com a existência de outro tipo de diagonais, que neste trabalho designamos de
“ruptura” e que surgem da movimentação dos jogadores para criar situações de
finalização. Por sua vez, são dinâmicas, pois as estruturas (enquanto
esquemas no papel) não existem por si só, são os jogadores que as
“desenham” no campo e esse “desenho” é necessariamente dinâmico.
Assim, considerando esta perspectiva, o jogo posicional é uma
propriedade emergente da Especificidade dinâmica de qualquer Equipa que
pretenda ser de Top.
Revisão de Literatura
94
2.3.3.1.2 Subestrutura Posicional
O centro do terreno de jogo (defesas centrais, médios e avançado) assume grande importância na construção
“táctica” da equipa.
Michels (2001)
Valdano (1997) refere que no Ajax “Sabem que sem mobilidade não há
toque, mas se não se conservarem determinadas posições também não.”.
Também para Mourinho (2002) existia na sua equipa (na altura o FCP) uma
estrutura móvel e uma estrutura fixa, ou seja, jogadores que, pela posição que
ocupavam no terreno de jogo, assumiam um posicionamento mais móvel ou
mais fixo. Duas opiniões que espelham o que acontece actualmente no futebol
de Top: qualquer que seja o “jogar” tem sempre posições de referência em
todos os momentos de organização da equipa.
Na eventualidade de se considerar uma “estrutura fixa”, temos de ter em
atenção que esta é confinada a uma Estrutura táctica. Daqui emana a
pertinência de se acrescentar o prefixo “sub”. Para além disso, concordamos
com Valdano (2005) quando refere que “Para ser uma referência, a primeira
coisa a fazer é estar quieto”, no entanto, “estar quieto” não significa que um
jogador tem de permanecer sempre em determinada posição. Significa antes
que, determinadas áreas têm de estar ocupadas em todos os momentos de
organização da Equipa. Essas áreas podem ser ocupadas sempre pelos
mesmos jogadores (assumem um posicionamento mais “fixo”) ou por vários
(pelas trocas posicionais24), dependendo da Especificidade dinâmica de cada
Equipa.
Pelo exposto, o conjunto dessas áreas resulta no que designamos de
subestrutura posicional. A importância desta subestrutura nos momentos de
organização ofensiva revê-se nas referências que fornece para a consecução
do objectivo do jogo e pela sua vertente projectiva, ou seja, pensar o ataque
em termos defensivos (equilíbrios dinâmicos), nesse sentido concordamos com
Jesualdo Ferreira (2003) quando menciona que “(...)defender bem é, em
24 Relativamente às trocas posicionais é necessário que os jogadores saibam que ao mudar de
“posição” mudam de “funções” (Mourinho, 2002), ou seja, a partir do momento que ocupam
outras áreas têm de perceber que o comportamento nessas deve ser manifestamente diverso.
Revisão de Literatura
95
primeiro lugar, a equipa estar bem posicionada no momento em que tem a
posse de bola.”.
Na figura 8, podemos verificar as áreas de referência (que evoluem no
terreno de acordo com o decorrer do jogo) das Equipas em todos os momentos
de organização. Como podemos verificar situam-se todas no corredor central,
havendo um espaço entre a área 4 e 3 que, como
veremos em capítulo posterior, é um Espaço cuja
dinamização, achamos importante para se puder
controlar o jogo.
A área 1 ocupada pelo Guarda-Redes (GR), é
em qualquer “jogar” de qualidade uma importante
referência nos momentos de organização ofensiva.
Como qualquer outro jogador de campo, o GR
quando recupera a bola pode decidir por entre dois
padrões comportamentais identificados para as transições: procurar
imediatamente após ganho de bola situações de finalização ou contemporizar
para que a transição seja em segurança.
Na procura imediata de situações de finalização o GR procura
frequentemente a profundidade de algum jogador, no entanto, quando o
adversário se encontra organizado, a sua acção pode determinar a dinâmica da
Equipa na criação de desequilíbrios no adversário. Assim, quando olhamos
para as Equipas de Top, verificamos que quando a bola está nos GR, após
transição em segurança ou reposição de bola em jogo (o adversário
recuperado posicionalmente), eles têm soluções distintas para “iniciar” a
criação de desequilíbrios, nomeadamente, sair a jogar curto ou longo.
Nesta perspectiva Van Gaal (2006) procura que as suas Equipas saiam
sempre a jogar curto, porém o autor citado, tem a noção que isso nem sempre
é possível, pelo que, as suas Equipas têm também que sair a jogar longo e
posicionar-se de acordo. Assim, temos duas possibilidades distintas que terão
implicações óbvias no comportamento de toda a Equipa:
Iniciar “Curto”: Depende, em grande medida, de como o adversário se
posiciona e pressiona, situação que pode ocorrer de modos diversos ao longo
2
Figura 8. Subestrutura
posicional
4
1
3
2
Revisão de Literatura
96
de um jogo. Porém existem alguns comportamentos que se podem verificar
com alguma regularidade nas Equipas de Top: bolas colocadas
preferencialmente no corredor central, uma vez que os corredores laterais são
(frequentemente) referência de pressão do adversário, para além disso, jogar
curto nos laterais impossibilita a profundidade destes jogadores, sendo esse
um comportamento muito importante e frequente no momento de criar
desequilíbrios qualquer que seja o “jogar” (Ver capítulo da MacroOrganização
funcional, subcapítulo: criação de desequilíbrios - desequilíbrios nos corredores
laterais).
Como exemplo, podemos ver na figura 9 o posicionamento do sector
mais recuado numa saída curta, mas com o adversário a distribuir-se no
terreno de jogo de modo distinto.
Quando o adversário se distribui no 1-4-3-3 deixa um jogador na frente
que poderá condicionar uma linha de passe e assim, a abertura dos centrais
torna-se bastante vantajosa. Porém, se o adversário, deixa dois jogadores na
frente pode condicionar duas linhas de passe mas, para isso, irá abrir espaço
no centro, e nessa situação é frequente observarmos um médio descer no
terreno para receber a bola. Imaginemos agora que jogamos contra uma
equipa que defende predominantemente em bloco médio-baixo, nessas
situações este posicionamento dos centrais é irrelevante.
Iniciar “Longo”: pressupõe um maior risco de perda de bola, motivo pelo
qual, é frequente, quando o GR coloca a bola longa, a equipa subir no terreno e
fechar o seu Espaço interior, comportamento que pretende equilibrar e procurar
superioridade Espacial na área onde a bola irá cair. Não é um comportamento
aleatório, na medida em que, estrategicamente a bola é colocada em locais
onde estão posicionados determinados jogadores, que irão procurar ganhar a
Figura 9. Posicionamento nas saídas curtas com adversário distribuído em 1-4-3-3 e 1-4-4-2
Revisão de Literatura
97
bola após ressalto (2ª bola). Existe no entanto, maior probabilidade de se
perder a sua posse pelo que, deve ser utilizada sobretudo como recurso e não
sistematicamente.
Para além do que já foi mencionado, durante a criação de desequilíbrios
e criação de situações de finalização, o GR, através do seu posicionamento,
assume-se como uma importante parte dos equilíbrios dinâmicos. Nesse
sentido atentemos às palavras de Cruyff (1986, cit. por Barend e Van
Dorp,1999): “Disse a Piet: devias encontrar a tua posição à entrada da área.
Daí precisarás de dar ordens e, seis ou sete vezes, de correr para trás para
fazer uma defesa. O grande medo dos GR, de serem batidos por um chapéu
não se baseia na realidade (...) Os verdadeiros líderes são os que calculam
quando os outros vão errar e correm riscos para os corrigir.”.
Pelo exposto constatamos que o Guarda-redes não é só uma parte dos
momentos de organização ofensiva ele é uma peça chave na organização da
Equipa.
A área 2 é ocupada pelos centrais, os quais assumem funções
preponderantes nos equilíbrios dinâmicos qualquer que seja o “jogar”, uma vez
que se posicionam em Espaços interiores recuados. Por outro lado, a
participação “activa” na criação e/ou aproveitamento de desequilíbrios está
intimamente relacionada com a dinâmica inerente às Equipas. Assim, enquanto
“referências” estes jogadores assumem papéis distintos de acordo com a essa
Especificidade. Se a Equipa pretende verticalizar o jogo após circulação de
bola horizontal, estes jogadores são uma importante referência de apoio à CB,
sobretudo nos momentos em que a Equipa procede à “instalação posicional”25.
Por sua vez, quando a Equipa procura com muita frequência verticalizar o jogo,
estes jogadores devem ter capacidade para colocar bolas longas em
profundidade, fazer passes verticais para o interior da Equipa e eventualmente
25 Instalação posicional: Pretendemos com está expressão designar o comportamento da
Equipa, que, quando recupera a bola e não identifica a possibilidade de imediatamente criar
situações de finalização, procura ocupar determinadas posições que lhe irão permitir criar
desequilíbrios no adversário.
Revisão de Literatura
98
subir no terreno de jogo para criar desequilíbrios pela integração de mais um
jogador no meio-campo.
Relativamente a área 3, a sua importância relaciona-se com o jogo que a
partir daí se pode “criar” e do risco que a perda de bola nessas áreas tem
implícito, como nos deixa claro Paulo Assunção (2006) ex-jogador do F.C.Porto
no diálogo com o jornalista de “O Jogo”:
Jornalista: “Mas, recuperando as palavras de Adriaanse, só lhe faltou
dizer que no esquema que ele montou, todos podem falhar menos o
P.assunção.”
P.Assunção: “É uma tarefa muito complicada. Se eu falhar um passe
ponho em risco os meus companheiros da defesa; (...) Não posso errar e é por
isso que procuro jogar sempre de uma forma muito simples.(...)”
Nessa área podemos identificar diferentes comportamentos dos
jogadores que a ocupam:
Jogar em Profundidade – jogo Vertical: tentativa de procurar
desmarcações de ruptura dos jogadores mais avançados ou através de
penetrações. Para que esta “liberdade/risco” seja tomado é necessário que
existam mecanismos de compensação bem definidos. (Fabregas como
expoente máximo da qualidade neste jogo)
Jogar em largura – jogo horizontal: procura criar desequilíbrios no
adversário mas correndo menos riscos de perder a posse de bola, explorando,
por ex. o “lado fraco” do adversário.
Variação passe curto/longo – Através da qualidade dos seus passes
pode participar nas triangulações do ½ campo ou utilizar um passe longo para
surpreender o adversário.
É necessário ressalvar ainda que, o jogador(es) que ocupa(m) esta área,
habitualmente é(são) referência(s) de pressão do adversário. Assim, é
necessário considerar a orientação dos apoios deste(s) jogador(es) como um
aspecto crucial, pelo “estado” de organização defensiva em que se encontra a
Equipa (vulnerável) e pela importância de se iniciar o jogo por esse(s)
jogador(es). Assim, o estar de frente para o jogo, para além de ser um aspecto
referente à “táctica individual” é também uma referência para a segurança da
Revisão de Literatura
99
Equipa. Como referimos esta é uma referência, obviamente que existem
situações em que os jogadores vão receber de costas: porque “leram” todo o
jogo que têm nas costas antes de receber a bola ou pelos constrangimentos
(pressão) colocados pelo adversário. Nesse sentido, verificamos que essa
situação é precedida de uma avaliação/percepção do contexto em que vai
receber a bola, consequentemente o jogador ao receber de costas pode
libertar-se imediatamente da bola (importância de jogar ao primeiro toque),
pode simular que vai libertar-se da bola ao primeiro toque e virar-se
rapidamente para a frente, etc. Com isto apercebemo-nos, mais uma vez, que
à medida que ampliamos uma das partes a variabilidade de comportamentos
que aí se podem evidenciar aumentam exponencialmente, pelo que a sua
descrição completa torna-se utópica.
A área 4 pode ser ocupada por um ou dois avançados (1-4-3-3 ou 1-4-4-
2 respectivamente) facto que pressupõe diferenças significativas na
subestrutura posicional das Equipas. Assim, quando a equipa se distribui no 1-
4-4-3 coloca um jogador nesta área, pelo que, a sua movimentação no terreno
de jogo terá de ser equacionada em função da necessidade da equipa ter
sempre uma referência frontal. Por sua vez, quando uma equipa se distribui em
1-4-4-2, coloca dois jogadores nesta área, assim sendo, a movimentação de
um dos jogadores não pressupõe perda de referência frontal. Porém, para
percebermos aquilo que acontece nas Equipas de Top, relativamente a esta
área, não basta olharmos para as diferentes estruturas, é necessário interpretar
o modo como as Equipas pretendem chegar ao golo.
Quando as Equipas procuram situações de finalização após recuperação
de bola (transição), as referências frontais em profundidade são fundamentais
porque são as mais próximas da baliza do adversário. O carácter projectivo
destas referências em profundidade, permite pensar o ataque quando a equipa
está na defesa, e também, condicionar o ataque do adversário, como nos
esclarece Queiroz (2006): “ (...) se fizermos um pontapé de canto e eu lhe
colocar três avançados por detrás das costas, se calhar já não pode fazer um
pontapé de canto com 5 ou 6 jogadores – é um exemplo concreto numa
situação estática mas que em situações dinâmicas também deve acontecer…”.
Revisão de Literatura
100
Porém, a definição dessas referências poderá não estar relacionada com
esta área da subestrutura posicional mas antes com a Equipa, concretamente
com as características dos jogadores que temos na frente de ataque. Pelo que,
a referência frontal em profundidade poderá ser um “extremo/avançado-ala”.
Para além disso, essa referência poderá ser nas alas, na medida em que
frequentemente se encontram mais “desprotegidas” que o Espaço interior.
Nos momentos em que a Equipa procura criar desequilíbrios a
importância das referências frontais é “relativizada” à dinâmica preferencial de
CB. Assim, para uma equipa que apresente uma CB procure a verticalidade de
um modo mais “intenso”, ter sempre uma referência frontal é fundamental, pois
a tentativa de lhe colocar uma bola é frequente. Nesse sentido, o 1-4-4-2
parece-nos ser a melhor opção quando se pretende esta dinâmica de CB pois
permite ter sempre uma referência frontal e um jogador para dinamizar
Espaços (sobretudo os espaços fronteira). Por sua vez uma equipa que
privilegie a verticalidade após CB horizontal, para além das importantes
referências de largura, ter sempre uma referência frontal é igualmente
importante porque a qualquer momento pode existir um passe vertical a colocar
o jogador dessa área de frente para a baliza do adversário. Em função da
necessidade destas referências (sobretudo as de largura) o 1-4-3-3 parece-nos
a melhor opção quando se pretende verticalizar o jogo após circulação de bola
horizontal. No entanto, a participação do jogador que ocupa a área 4 na
dinamização dos Espaços fronteira deve ser muito bem equacionada para que
a equipa tenha sempre referências para passes verticais. Nesse sentido, as
Equipas poderão promover várias (Sub) dinâmicas, por exemplo, diagonais
interiores dos alas, trocas posicionais (médios a aparecer na área 4), etc.
Revisão de Literatura
101
2.3.3.1.3 Posicionamento para ganho de 2ª Bola
Ao jogo posicional acresce ainda a importância de áreas que surgem
com a fluidez do jogo, cuja ocupação favorece a criação de desequilíbrios e/ou
procura de situações de finalização pelo ganho de ressaltos. Michels (2001)
refere que estes são importantes “momentos” do ataque à baliza do adversário.
Existem várias circunstâncias nas quais, um posicionamento estratégico
dos jogadores pode garantir uma vantagem sob o adversário na disputa de
ressaltos de bola. Podemos, no entanto, salientar algumas “situações-tipo” em
que esse posicionamento deve ser manifesto.
As saídas de bola longas pelo GR (com o adversário organizado),
implicam que a Equipa se agrupe no centro do terreno, de forma a fechar
Espaços interiores, pois o risco de perda de bola é eminente. Van Gaal (2006)
refere que, quando o GR tem de recorrer às bolas longas para iniciar a criação
de desequilíbrios, a Equipa tem de se posicionar de acordo com essa
possibilidade. Sabendo que, numa bola longa o adversário vai disputar o ganho
dessa bola, a questão que se coloca está em como é que a Equipa em posse,
ganha vantagem sobre o adversário.
Na figura 10 apresentamos uma situação possível em que o GR recorre
às saídas longas. A Equipa, num bloco compacto, tem
os Espaços interiores todos fechados. A bola não é
jogada aleatoriamente, procura antes a referência mais
avançada, que, ao disputar a bola de costas para a
baliza do adversário, fica de frente para três médios que
irão estar disponíveis para o provável ressalto da bola.
Por sua vez, se nessa disputa, o jogador da Equipa que
ataca consegue ganhar vantagem área (por ex.) e joga a
bola em direcção à baliza do adversário existirão
movimentos em diagonal dos avançados-ala.
Mourinho (cit. por Lourenço, 2004, pp.178), dá-
nos um exemplo claro desta situação, quando relata um comportamento que
pediu à sua Equipa e em concreto a um jogador, no jogo da final da Taça
Figura 10. Posicionamento
estratégico para ganho de
bola longa ou ressalto
Revisão de Literatura
102
UEFA, do FCP ante o Celtic: “Capucho: tens de perder a primeira bola
propositadamente para que os médios possam ganhar a segunda e assim
massacrarmos a partir dessa posição.”.
Esta situação é também frequente quando a Equipa procura a
verticalização do jogo de um modo mais “intenso”. Porém, mais uma vez a
qualidade dos jogadores é um ponto crucial, para levar a efeito esta situação é
necessário ter um perfil de avançado que saiba antecipar a acção
movimentando-se para Espaços mais recuados, que tenha capacidade para
disputar bolas aéreas e também GR e/ou centrais com qualidade para colocar
bolas longas. É manifestamente distinto ter um central como Puyol, outro como
Gallas cujo perfil favorece mais este tipo de comportamento. O mesmo
acontece com Adebayor e Eto’o, ainda que a qualidade seja inquestionável
(não fossem eles jogadores de Top), o perfil de Adebayor favorece mais este
tipo de situação.
Existem outros Espaços que com a fluidez do jogo se revelam muito
importantes. Assim, quando, a Equipa procura criar situações de finalização no
adversário, tanto em situações dinâmicas como em situações de bola parada,
existem Espaços, que Michels (2001) designou de “Espaços operacionais”,
cuja ocupação é propensa à possibilidade de se ganhar ressaltos de bola e
consequentemente desequilibrar o adversário. Para além disso, concordamos
com o autor, quando menciona que esses Espaços, tanto permitem ganhar um
ressalto, como travar uma transição do adversário, pelo que, são também,
importantes áreas dos equilíbrios dinâmicos.
Na figura 11, apresentamos duas áreas cuja ocupação permite
frequentemente o ganho de 2ª bola e o equilíbrio da
equipa. Como salientamos o posicionamento nestas
áreas tanto possibilita disputar um eventual segunda
bola que “caia” no exterior ou no interior da Equipa.
Estas áreas são extensas e a ocupação depende da
dinâmica do jogo, ou seja, mais em cima ou mais em
baixo, depende de “onde e como” está a bola. Figura 11. Áreas a ocupar para ganho
de 2ª bola/equilíbrio
Revisão de Literatura
103
Para além da possibilidade de ganhar ressaltos de bola e criar
desequilíbrios, a ocupação destas áreas permite:
Apoiar a criação de desequilíbrios;
Fechar Espaços interiores;
“Travar” possível transição do adversário.
A última área que aqui achamos pertinente ressalvar, é também explicita
nas recomendações de Michels (2001) que refere que, após uma tentativa de
finalização (pressupõe remate à baliza), os jogadores devem procurar posições
à frente e dentro da grande área. Como nos explicita Wouters (s/d, cit. por
Barend e van Doorp, 1999, pp.74): “Quando é feito um cruzamento de um
flanco, Johan pretende que o Arnold e eu mantenhamos a pressão no
adversário esperando à entrada da grande área para ganhar as bolas que
“sobram””. Pelo que, é muito importante que, para além da linha de eventuais
finalizadores, surja outra linha de jogadores para disputar os ressaltos de bola.
Para além disso, nos remates à baliza de curta/média distância, o
posicionamento que, sobretudo, os jogadores mais avançados assumem é
muito importante, podendo fazer a diferença no caso de o GR não conseguir
segurar o remate nem o colocar para fora. Cruyff (2008a) corrobora ao
evidenciar que o actual treinador do F.C.Barcelona, Guardiola, (...) ao juntar
três números 9 (a determinada altura do jogo em que tinha superioridade
numérica), procurou uma coisa: uma qualidade específica que só tem o
avançado centro, que tem o golo dentro de si. Guardiola recorreu ao sexto
sentido que enriquecem os três noves. E esse é o de intuir onde pode a bola
parar após um ressalto. E muitos ataques-golo, mesmo que mal executados,
surgem de ressaltos.”. O posicionamento do jogador deve, portanto, permitir
que este surpreenda os adversários com uma qualquer movimentação de
aproximação à bola.
Revisão de Literatura
104
2.3.3.1.4 Equilíbrios dinâmicos
“No jogo a encerrar a eliminatória, Espanha monopolizou a posse de bola de tal forma que só teve de realizar
quatro faltas em 90 minutos para contrariar os pobres intentos de contra-ataque do rival.”
Valdano (2007b)
“ (...) com bola se defende e ataca e sem bola se defende e ataca (…)
O equilíbrio defensivo é o argumento fundamental de um bom ataque.”
Queiroz (2006)
Enquadrado no jogo posicional temos ainda um importantíssimo aspecto,
para o qual temos alertado ao longo desta dissertação. Referimo-nos
concretamente, aos equilíbrios dinâmicos, cuja importância está implícita nas
palavras de Mourinho (2003) “(…), quando se possui a bola, também se tem
que pensar defensivamente o jogo, da mesma forma que, quando se está sem
ela e se está numa situação defensiva, também se tem que estar a pensar o
jogo de uma forma ofensiva e a preparar o momento em que se recupera a
posse de bola.”. Pelo que, a importância destes aspectos justifica este (sub)
subcapítulo.
A preocupação com os Equilíbrios nos momentos de organização
ofensiva surge do facto de, em posse de bola, termos duas hipóteses: marcar
golo ou perde-la para o adversário. Por esse motivo, quando temos a posse de
bola os riscos a que a Equipa se submete são de perda de bola, o que leva a
necessidade de se equilibrar para, nessa situação, a recuperar rapidamente ou
contemporizar o ataque do adversário permitindo a reorganização defensiva da
Equipa.
Assim, a perda de bola é um pressuposto inerente ao confronto entre
duas Equipas que pretendem marcar golo. Quando, como e onde a vamos
perder é difícil de prever, porém, a dinâmica das Equipas de top tem inerente
situações em que a assunção de maior risco de perda se acentua, nesse
sentido, é fundamental que a Equipa saiba como, quando e onde correr esses
riscos e como se organizar em função do maior ou menor risco que
determinados comportamentos têm inerentes.
Os diferentes padrões de circulação de bola induzem riscos
manifestamente diversos, sendo que, os riscos que as Equipas se submetem
surgem, fundamentalmente, do aumento do número de jogadores em Espaços
Revisão de Literatura
105
de finalização e da verticalização do jogo, pois o Espaço vai-se reduzindo à
medida que a bola progride no terreno em direcção à baliza adversária. Porém,
a presença de risco não implica ausência de segurança, em todos os
momentos de organização ofensiva as Equipas de top equacionam (o que
implica uma “sentimentalidade” de equipa – jogar uns em função dos outros) o
binómio Risco/Segurança.
O equilíbrio é conseguido através de um conjunto de comportamentos
que visam compensar os riscos assumidos. Havendo uma preocupação
eminente com o fecho de Espaços interiores. Pois, a segurança desses
Espaços é fundamental para impedir rápidas transições e consequentes
situações de finalização do adversário.
Os equilíbrios podem ser conseguidos através:
Do Posicionamento: as Equipas possuem referências
posicionais de equilíbrio para que outros jogadores, através da assunção
de maiores riscos, possam criar desequilíbrios no adversário. Essas
referências consubstanciam-se nas áreas correspondentes à
subestrutura posicional e às áreas propensas ao ganho de segunda
bola. De essas áreas resulta um número de jogadores atrás da linha da
bola, que diverge em função da Equipa, do que se idealiza para ela, da
qualidade dos jogadores. Atentemos às palavras de Michels (2001,
pp.105): “Na minha concepção, a organização da “cobertura defensiva”
será baseada num bloco de 4 e num bloco de 6. Os seis jogadores estão
permitidos a envolver-se na criação de desequilíbrios, mas os 4
jogadores têm de ser disciplinados e manter-se sempre atrás da linha da
bola.”
No entanto, apesar de considerarmos importante esta ideia
deixada por Michels (2001), pensamos que o bloco de quatro jogadores
que o autor define para o equilíbrio deve ser equacionado também em
função do adversário e das circunstâncias que a fluidez do jogo nos
apresenta. Ou seja, se a Equipa está em criação de desequilíbrios no
meio-campo adversário, o número de jogadores que a Equipa deixa
atrás da linha da bola, vai depender em grande medida de como o
Revisão de Literatura
106
adversário se estrutura, se é “forte” nas transições imediatas para criar
situações de finalização e do número de jogadores que deixa em
equilíbrio ofensivo. Nesse sentido Queiroz (2006) ajuda-nos a
compreender com um exemplo: “(...) estou a jogar contra uma equipa de
sistema 4.4.2, no minimo e em princípio temos que ter um balanço de 3
jogadores um sobre o lado da bola, 2 para 2 para equilibrar a
eventualidade de um contra-ataque, mas se eles tiverem só um, temos
que envolver um outro jogador no ataque. Agora e se não tiverem
nenhum? Estão lá os 3 jogadores parados sem fazer nada, portanto, não
quer dizer que esses ataquem de qualquer maneira, porque eles tem
que ter alguns movimentos correctos de apoio à circulação da bola, se
eles forem compensados por movimentos de ocupação de espaços dos
outros jogadores.” Na mesma linha de pensamento Jesualdo Ferreira
(2003) refere que “…se a equipa se coordenar bem e dominar os
equilíbrios, os balanços defensivos, entre outros aspectos, eu posso
ganhar uma unidade para uma outra função correndo o risco de jogar
em igualdade numérica.” .
Movimentações:
De apoio à circulação de bola: movimentos de “vai-e-vem”: dos médios ao
sector recuado quando a bola se encontra em áreas do terreno
recuadas. De um avançado que desce no terreno.
Coberturas de apoio à circulação de bola: diagonais laterais e recuadas:
ideia de losango em torno do portador da bola.
Basculações para fecho de espaços interiores: na criação de
desequilíbrios a participação activa dos laterais deve ser compensada
com uma basculação de todo o sector defensivo.
Coberturas ofensivas: em momentos de criação nos corredores a
existência de uma cobertura ofensiva permite, por um lado, dar apoio à
CB, e por outro equilibrar o corredor em situação de possível perda de
bola.
Compensações e Trocas posicionais: entre os jogadores que se
encontram em zonas de influência próximas. As trocas posicionais nem
Revisão de Literatura
107
sempre são uma “boa opção” na medida em que requisita jogadores
polivalentes de elevada qualidade, e, como recentemente referiu Quique
Flores (2008, fonte desconhecida) esses “são raros”.
O equilíbrio, é uma necessidade que deriva do confronto de duas
Equipas, assim a existência de um conjunto de referências comportamentais
que os jogadores terão de interpretar e ajustar aos diferentes contextos de
cada jogo é fundamental, porém deve estar sempre presente que o modo como
é realizado, ou seja, como são ajustadas as referências, depende em grande
medida do adversário: do seu padrão de jogo e da qualidade dos seus
jogadores.
O jogo posicional como pudemos constatar vai muito para além da
distribuição dos jogadores em campo, ele tem inerente, comportamentos que
determinam em grande medida a dinâmica Específica das Equipas. Neste
capítulo vimos a importância das diagonais posicionais (às quais voltaremos
novamente em seguida), da subestrutura posicional, do posicionamento para
ganho de 2ªs bolas e dos equilíbrios dinâmicos. Ao evidenciarmos diferentes
comportamentos tivemos oportunidade de verificar que a variabilidade de
situações que podem determinar este “jogo posicional” é de tal forma grande
que o mesmo jogador numa situação idêntica mas com a maior (ou menor)
proximidade do adversário (por ex.) apresenta um comportamento totalmente
diferente, dependendo também em grande medida da qualidade dos jogadores
e de todo um conjunto de acontecimentos aleatórios que podem levar a
decisões distintas em situações aparentemente semelhantes.
2.3.3.2 Circulação de bola e estrutura
Uma boa circulação de bola coloca elevadas exigências na qualidade do jogo posicional (...)
Michels (2001)
A circulação de bola pode-se concretizar de modos distintos: com mais
ou menos toques, com mais ou menos progressão do portador, mais atrás e/ou
mais à frente, com diferentes velocidades, pelos corredores laterais e/ou pelo
corredor central, com “canais de comunicação” preferenciais, com variações de
ângulo frequentes, circulando a toda a largura do campo, com progressão
Revisão de Literatura
108
através de passes longos (profundidade) e/ou passes curtos, com mais ou
menos mobilidade, etc.
Porém, inerente às diferentes dinâmicas que caracterizam a circulação
de bola das Equipas, existem aspectos comuns que lhe garantem segurança e
objectividade (no sentido de facilitar a concretização do objectivo da circulação
– criar desequilíbrios), referimo-nos concretamente às diagonais posicionais
dinâmicas, que podem ser perspectivadas a partir da criação de desequilíbrios
(objectividade): progressão no terreno em direcção à baliza adversária e a
partir da segurança: coberturas/apoios ao portador da bola e maior ângulo de
visão do receptor (orientação dos apoios), o que implica uma selecção
equilibrada entre horizontalidade e verticalidade, daí que, a qualidade de
circulação de bola pressupõe que esta seja feita com inteligência.
A importância destas diagonais é expressa por alguns treinadores
(Guilherme Oliveira, 2006, Van Gaal, 2006) que alertam para a necessidade da
Equipa assumir uma disposição no terreno de jogo que permita traçar linhas
“imaginárias” em profundidade e largura. Como nos demonstra a figura 12:
Podemos verificar que o 1-4-3-3 dispõe os jogadores num maior número
de “linhas” do que o 1-4-4-2, tanto em largura como em profundidade. Por sua
vez, estas linhas possibilitam uma configuração geométrica em triângulos
(figura 13), permitindo assim, à partida, um maior número de soluções ao
portador.
Figura 12. “Linhas” das Estruturas de referência
Revisão de Literatura
109
Esta configuração em triângulos é, segundo vários autores, um aspecto
crucial nos momentos de organização ofensiva (Cruyff, 2008, Frade, 2006,
Guilherme Oliveira, 2006, Mourinho, 2003, Olivares, 1978, Queirós cit. Castelo,
1994, 2003, Van Gaal, 2006,).
Pelo exposto, facilmente se depreenderia que o 1-4-3-3 é mais propenso
ao aparecimento da qualidade da circulação de bola, no entanto, esta
interpretação apenas considera as diagonais posicionais definidas à partida
pela estrutura. Lembramos mais uma vez, que sejam ou não definidas pela
estrutura, elas serão sempre dinâmicas pois as estruturas, linhas, triângulos
existem no papel, os jogadores é que as “desenham” com a dinâmica do jogo.
Nesse sentido, um metro do terreno de jogo faz toda a diferença (Sachi, 2006).
Como já vimos existem essencialmente dois padrões de circulação de
bola que resultam da “intensidade” com que se procura a verticalização do
jogo. Sendo que, a qualidade da circulação está intimamente relacionada com
esses padrões de circulação. Ou seja, se uma Equipa procura a verticalização
frequentemente após a circulação de bola horizontal, revela-se fundamental
para a sua qualidade, que a Estrutura defina à priori muitas linhas e triângulos.
Por sua vez, não deixam de ser importantes quando a verticalização da
circulação de bola é procurada de um modo mais “intenso”, contudo, são
criadas de modo distinto com a dinâmica do jogo.
Não podemos, portanto, afirmar que a qualidade da circulação de bola
depende da Estrutura apresentar ou não muitas linhas. Agora a qualidade de
um entendimento da circulação de bola (que na situação apresentada pelos
1.4.3.3 1.4.4.2
Figura 13. Triângulos das Estruturas de referência
Revisão de Literatura
110
autores deriva da sua verticalização após circulação horizontal) pode depender
deste aspecto da estrutura. Assim, é preciso conhecer as ideias que estão por
detrás dos treinadores citados quando estes referem que as Estruturas que
dispõe em muitos triângulos são as que melhor potenciam a qualidade da
circulação de bola. Pelo exposto, interessa salientar que a qualidade da
circulação de bola tanto pode estar numa estrutura com muitas linhas como
numa estrutura com poucas linhas, a questão que se coloca tem que ver com a
dinâmica da circulação que poderão potenciar e, obviamente, da qualidade dos
jogadores. Sendo que, a qualidade da circulação de bola está sempre
dependente da quantidade de diagonais que as dinâmicas das Equipas
conseguem produzir durante o jogo.
Seguindo os dois exemplos que nesta dissertação têm sido mais
frequentes26, verificamos que o Barcelona, estruturado num 1-4-3-3, procura
com maior frequência a verticalidade após circulação horizontal, por outro lado,
o Arsenal, estruturado num 1-4-4-2, procura com maior regularidade verticalizar
o jogo de um modo mais “intenso”. Desse modo, ao questionarmo-nos sobre a
relação que essas dinâmicas preferenciais de circulação têm com o modo
como se estruturam podemos tirar algumas ilações importantes.
Por um lado se a Equipa, pela sua distribuição, define à priori muitas
diagonais (1-4-3-3), a circulação de bola poderá ter uma dinâmica diferente, ou
seja, como os jogadores “já lá estão” a circulação a um/dois toques poderá
mais facilmente aparecer. No entanto, uma equipa que se estruture
inicialmente num 1-4-4-2, pode apresentar (sub)dinâmicas de organização,
onde assuma uma configuração mais “fixa” que tenha muitas linhas, o que lhe
permitirá circular a bola a um/dois toques (exemplo da actual equipa do Arsenal
que, apresenta (sub)dinâmicas de criação de desequilíbrios que têm implícito
este posicionamento mais “fixo”).
26 Nunca é demais reforçar a ideia que não pretendemos generalizar o que acontece nestas
duas Equipas para as restantes que, apresentando “jogares” distintos apresentam
regularmente qualidade. A escolha destas duas Equipas prende-se com o facto de,
apresentando ambas inegável qualidade, apresentam também dinâmicas completamente
distintas. E os exemplos a que nos socorremos acreditamos vir a enriquecer os conteúdos que
têm sido alvo de interpretação e reflexão nesta dissertação.
Revisão de Literatura
111
Por outro lado, constatamos que quando a Equipa procura a
verticalização “intensa” da circulação de bola, a dinamização dos Espaços que
se situam entre a linha intermédia e avançada é fundamental.
Na figura 14 apresentamos uma situação de “verticalização” do jogo,
muito frequente em Equipas que procuram verticalizar a circulação de bola de
um modo mais intenso (Gallas – Adebayor: linha de passe frequentemente
utilizada para criar desequilíbrios).
A diferença neses dois exemplos é a forma como os jogadores se
distribuem no campo. Ainda que sejam apenas ilustrativas apresentam um dos
motivos que pode justificar a correlação do 1-4-4-2 com a procura “intensa” da
verticalização. O comportamento de um dos avançados a apoiar a circulação
de bola, movimentando-se para Espaços intersectoriais é frequente, se nos
reportarmos ao Arsenal, facilmente observamos que tanto Adebayor como Van
Persie descem, alternadamente, para essas áreas para apoiar a circulação de
bola. Desta movimentação a Equipa tem de “avaliar” duas situações: a primeira
é perceber se o central acompanha essa movimentação a segunda diz respeito
às referências frontais.
Se observarmos com atenção a figura 13 e imaginarmos a dinâmica de
ambas situações, constaremos que, a não ser que o adversário tenha as linhas
muito juntas ou tenha um jogador (médio) praticamente encostado à linha
defensiva (o que libertaria outros Espaços), o central adversário acompanha
com frequência esta movimentação do avançado. Eis que surgem as primeiras
diferenças entre as estruturas: se a Equipa se estrutura em 1-4-4-2, o
Figura 14. “Verticalização” do jogo em diferentes estruturas
Revisão de Literatura
112
acompanhamento do central adversário, deixa-o (adversário) numa situação de
fragilidade defensiva, uma vez que fica numa eventual situação de igualdade
numérica (considerando que um dos médios ala garante a largura – mais uma
vez um exemplo claro é o Arsenal). Contrariamente, no 1-4-3-3 o
acompanhamento do central para além de ser uma “boa” opção defensiva do
adversário permite manter a situação de superioridade numérica, pelo que, do
ponto de vista ofensivo, parece não ser a melhor opção.
Para além disso, esta movimentação do avançado, no 1-4-3-3, faz com
que a Equipa perca referências frontais (no centro do terreno de jogo),
fundamentais na permanente tentativa de verticalizar o jogo, ainda que estas
possam, ocasionalmente, surgir das diagonais exteriores dos avançados-ala.
É necessário porém alertar que estamos a falar de regularidades, cujas
circunstâncias em que ocorrem, ainda que sempre diferentes, permitem que as
identifiquemos. Desse modo, as situações apresentadas tanto acontecem
numa estrutura como noutra qualquer, porém a regularidade com que se
apresentam e o modo como potenciam determinadas (sub)dinâmicas é
manifestamente diferente.
2.3.3.3 Controlo do ½ campo e estrutura
O ½ campo afigura-se um espaço crucial no desenvolvimento de
qualquer jogar. Circular a bola em espaços recuados, onde à partida existe
superioridade Espacial está ao alcance da maioria das Equipas, sendo muitas
vezes “consentida” pelo adversário. O mesmo não acontece
quando a bola entra em Espaços intermédios (sobretudo os
interiores, assinalados na figura 15), que correspondem a
Espaços onde a criação de desequilíbrios e posterior criação de
situações de finalização assume maior preponderância.
Obviamente que os desequilíbrios e as situações de finalização
podem ser criadas a partir dos corredores laterais ou de áreas
mais recuadas, porém, uma Equipa que pretenda “mandar no jogo”, ou seja,
apresentar um futebol “dominante” que se consubstancie numa maior criação
Fig. 15. Espaço interior
Revisão de Literatura
113
de oportunidades, tem, necessariamente, de controlar este Espaço. A situação
inversa ocorre muitas vezes, ou seja, o não controlo desse Espaço pela Equipa
em posse, que dá origem ao estereotipado jogo de transições e/ou ao jogo
directo.
O controlo desse espaço surge da vantagem Espacial conseguida pela
circulação de bola. Ou seja, em função da movimentação da bola a Equipa
procura criar vantagem Espacial que permitirá ao portador ter sempre soluções
viáveis para que se criem desequilíbrios e/ou situações de finalização.
Em função dessa necessidade interessa perceber como as diferentes
estruturas poderão influenciar o controlo desse Espaço.
Lembramos que, dentro do Espaço interior assinalado na figura 15,
existe uma posição para a qual já alertamos na subestrutura posicional.
Referimo-nos a área central mais recuada, onde os jogadores que lá se
apresentarem assumem normalmente as funções de Pivô baixo. Desde já, as
diferenças entre os jogadores que poderão ocupar estas áreas pode determinar
em grande medida o modo como se controla o Espaço em questão. Assim,
encontramos muitas vezes nesta posição um perfil de jogador que procura
sobretudo a horizontalidade, através da variação de passes curtos e longos,
posicionando-se quase sempre atrás da linha da bola para dar apoio e ser uma
importante parte dos Equilíbrios dinâmicos e dos momentos de organização
defensiva, tendendo este perfil assumir características mais defensivas. Por
sua vez, um outro possível perfil de jogador é o que procura frequentemente a
verticalidade do jogo, que sobe e desce no terreno para criar situações
favoráveis à progressão da bola no terreno de jogo, alternando nesta posição
com outro jogador, mais uma vez, o exemplo do Fabregas no Arsenal é claro.
Estes dois perfis de jogadores estão relacionados com os padrões de
circulação de bola, respectivamente, com a verticalização mais “intensa” ou
após circulação horizontal. Quando olhamos para as Estruturas, verificamos
que o 1-4-3-3 apenas posiciona um jogador nessa área, enquanto o 1-4-4-2
posiciona dois jogadores. Pelo que, possuindo uma Equipa um jogador com
perfil semelhante a Fabregas, que sobe e desce no terreno com bastante
facilidade, e outro com um perfil que assenta mais na procura de desequilíbrios
Revisão de Literatura
114
pela (quase) máxima segurança (à semelhança do companheiro de Equipa de
Fabregas, Denilson), a Equipa terá à partida mais soluções para criar
desequilíbrios.
Porém, a dinâmica das Equipas pode contrariar esta aparente tendência
favorecedora do 1-4-4-2. Para melhor o percebermos recorramos ao
Barcelona. Estruturado em 1-4-3-3, joga habitualmente com Busquets, com
tendência para procurar a movimentação horizontal da bola, porém, não raras
vezes vemos Xavi, Iniesta ou Gudjhonson (dependendo de quem e em que
posição estão a jogar) a descer no terreno e a assumir essas funções. Para
além de que, a questão do posicionamento pode ser resolvida com a inversão
do triângulo do ½ campo. Assim, para maior controlo destes Espaços
interiores, parece-nos que esta complementaridade no perfil dos jogadores que
mais vezes tendem a assumir as funções de Pivô é um aspecto determinante,
pois, mantendo a segurança, os riscos que se correm podem ser maiores.
As diferenças entre as estruturas resultam do Espaço que os jogadores
ocupam e também, dos Espaços que se deixam livres. À semelhança do
famoso “queijo emmental”, cujos buracos ainda que não alimentem são
indispensáveis para a identidade desse queijo, também as estruturas possuem
“buracos” (entenda-se Espaços livres), fundamentais para a sua interpretação.
Nesse sentido, tão importante como o Espaço que se preenche é o que se
deixa vazio (Távora, 2007).
Na figura 16 apresentamos os “principais” Espaços vazios que as
diferentes estruturas apresentam, tendo em vista a criação de oportunidades
de finalização.
1.4.3.3 1.4.4.2
Figura 16. Espaços livres deixados pelas estruturas
Revisão de Literatura
115
Fazendo uma leitura às diferentes distribuições, facilmente notamos que
a estrutura que dispõe os jogadores em 1-4-4-2, apesar de ter mais jogadores
em espaços intermédios, possui mais Espaços vazios, ao contrário do que
acontece no 1-4-3-3. Assim, a aparente vantagem numérica no ½ campo, se
não for devidamente equacionada pode revelar-se uma grande desvantagem.
Contrariamente, o 1-4-3-3 apesar de não ter o mesmo número de jogadores a
sua distribuição é mais equilibrada.
A questão fundamental está em como as Equipas dinamizam esses
Espaços vazios, sobretudo os interiores. O primeiro ponto sobre o qual iremos
reflectir tem que ver com a ocupação do Espaço que se situa entre a linha
intermédia e a linha avançada.
Michels (2001) refere que uma das possíveis desvantagens do 1-4-4-2 é
o Espaço que, eventualmente, aí poderá existir. Na mesma linha de
pensamento Van Gaal (2006) pretende que o triângulo do seu meio-campo (em
1-4-3(2:1)-3) esteja “apontado” para a frente para, com isso, diminuir a distância
entre o avançado e os médios. Porém, ainda que pretendam esse
posicionamento, os autores pretendem também mobilidade desses jogadores.
E aqui está um ponto fundamental. Se a Equipa deixar lá um jogador com
pouca mobilidade, facilmente o adversário o “anula”, e o jogo “entrelinhas” tão
importante para o controlo do meio-campo (pois permite ganhar vantagem
Espacial sobre o adversário, ainda que momentânea) e consequente criação
de desequilíbrios simplesmente não existe, ou não surte qualquer efeito. Se,
por sua vez, a dinamização desse Espaço resultar da mobilidade dos
jogadores, a vantagem nesses Espaços sobre o adversário tenderá a ser
maior, dependendo obviamente da qualidade do adversário.
Deste modo, encontramos mais um ponto em comum nas diferentes
estruturas, que, não posicionando ninguém nos Espaços referidos, procuram a
sua dinamização pela mobilidade de um dos jogadores (até mesmo
posicionando, no 1-4-3-3 com meio-campo: 2:1, ou no 1-4-4-2 com meio-
campo: 1:2:1), no 1-4-4-2: médios ala, médio centro, avançado. Já no 1-4-3-3
por um dos médios, ou por um avançado-ala (Ex. do Iniesta no Barcelona que
por diversas vezes foi colocado de início a jogar a Avançado-ala-esquerdo,
Revisão de Literatura
116
mas tendencialmente, com a dinâmica do jogo, a cair para esse Espaço),
eventualmente também pelo avançado centro mas, nesta situação têm de ser
bem equacionadas as referências frontais mais avançadas.
Esta dinamização dos Espaços interiores, relacionada com o “jogo
entrelinhas”, ao permitir ganhar vantagem Espacial sobre o adversário permite
um maior controlo do ½ campo, consequentemente criam-se mais
oportunidades de finalização.
Existem ainda os Espaços nos corredores laterais que devem ser
considerados no 1-4-4-2. Não é pouco frequente vermos os médios-ala
garantirem a largura. Mesmo quando os jogadores se estruturam em 1-4-4-3,
verificamos situações em que o avançado-ala procura o interior da Equipa e um
dos médios garante a largura. As implicações destes comportamentos, se não
forem ponderados, são óbvias na perda de controlo do ½ campo. Em primeiro
lugar, para o fazer é necessário que os médios-ala tenham muito qualidade,
sobretudo na capacidade para identificar quando e como jogar, tanto pelo
interior (a aparecer nos Espaços interiores como a apoiar a criação de
desequilíbrios pelos corredores laterais) como pelo exterior (garantindo a
largura) da Equipa. Michels (2001) corrobora ao afirmar que estes jogadores
têm de ser multifuncionais. Depois, não deverão garantir a largura em
simultâneo (caso contrário a Equipa fica com apenas dois jogadores entre os
sectores mais recuado e o mais avançado), sendo que, nesta situação a
largura pode, por ex. ser garantida por um avançado e um médio-ala, por um
lateral, tudo depende da qualidade e características dos jogadores e,
obviamente das circunstâncias que no jogo se apresentam.
Para melhor entendermos peguemos mais uma vez na Equipa do
Arsenal: como já vimos apresenta-se em 1-4-4-2, com um meio-campo (tipo)
fortíssimo: Nasri, Fabregas, Denilson, Diaby/Eboué, na frente Adebayor e
V.Persie. Os Alas tanto jogam dentro, garantindo mais um jogador no centro
(Espaço interior). Denilson normalmente fica mais recuado, mas por vezes
aparece em Espaços frontais. Fabregas um “fornecedor de jogo”, como o
caracteriza Valdano, possui uma capacidade tremenda para criar desequilíbrios
através do simples “passa e vai...”, como para fazer passes de penetração
Revisão de Literatura
117
(com um timing fabuloso) a “pedir” uma diagonal interior ou colocando a bola
nos pés de Adebayor que frequentemente desce no terreno para Espaços
normalmente livres de marcação apoiando a circulação de bola. Nesse
“seguimento” os Alas ou Fabregas surgem frequentemente como 3º Homem27.
Repare-se que, este é um possível “padrão dinâmico”, porém a
qualidade da equipa é de tal maneira elevada que os Alas podem jogar por fora
ou por dentro, e nesse caso vemos muitas vezes tanto Clichy como Sagna
(laterais direito e esquerdo respectivamente) a subir no terreno e a criar
situações de 2x1 com médios ou com os avançados que têm mobilidade para
as faixas. Evidenciamos assim que as respostas ao “como controlar o meio-
campo?” apenas podem ser encontradas no seio das Equipas, na medida em
que a variabilidade de comportamentos possíveis é infindável e está,
obviamente, dependente dos Jogadores que se possui, das suas
características e qualidades.
27 3º Homem (Figura 16): Termo utilizado por Michels (2001) e ( ) para definir
o jogador, normalmente um médio, que jogando de frente para a baliza do
adversário, assume-se como uma importante referência para um eventual
passe recuado. Figura 17. 3º Homem
Revisão de Literatura
118
2.3.3.4 Jogadores em Espaços de Finalização e Estrutura
Como já evidenciamos, actualmente as Equipas de Top têm vários
jogadores com capacidade para “aparecer” em Espaços de finalização, se por
um lado permite à equipa um maior número de soluções, por outro, o
movimento de “trás para a frente” é mais difícil de controlar por parte do
adversário. Menotti (s/d) corrobora afirmando que “…os jogadores que mais
surpreendem e que maior dano causam, são aqueles que pela visão do campo
utilizam os espaços ofensivos aparecendo desde trás da jogada; estes são
incontroláveis porque aparecem num espaço com uma corrida de engano,
simulam que vão para ao primeiro poste e vão para o segundo…”.
Este indicador potencia uma grande variabilidade de dinâmicas, porém
estas têm de se apresentar coerentes, caso contrário haverá sobreposição de
jogadores e consequentemente o jogo tornar-se-á “confuso” e a equipa
desequilibrada. Desse modo, é condição, para que vários jogadores possam
aparecer em Espaços de finalização, existir Espaços livres. Esses podem
existir pela estrutura definida e são criados pela movimentação/mobilidade dos
avançados (dois em 1-4-4-2 e três em 1-4-3-328).
Vários autores apontam como sendo uma das grandes vantagens do 1-
4-3-3, a largura que a distribuição dos 3 avançados permite dar ao ataque
(Guilherme Oliveira, 2005, Mourinho cit. por Gaiteiro 2006). Nesta estrutura os
Espaços livres, onde podem aparecer com movimentos de “trás para a frente”,
encontram-se sobretudo nos espaços existentes entre os avançados que dão
largura e o avançado centro. Por sua vez, a movimentação do avançado centro
para criar espaços tem de ser muito bem equacionada na medida em que é a
única referência frontal (no centro do terreno) da equipa.
Imaginemos a seguinte situação: Equipa em posse de bola circula-a em
espaços recuados. Um dos possíveis desequilíbrios poderá ser encontrado nos
28 Nesta estrutura a linha mais avançada, tradicionalmente, é composta por 2 extremos bem
encostados à linha e 1 ponta de lança, no entanto, as equipas de TOP procuram ter jogadores
nessas posições com capacidade para jogar junto à linha como para procurar espaços
interiores. Assim, essa estrutura é composta por 3 avançados em vez dos tradicionais extremos
e ponta de lança
Revisão de Literatura
119
espaços fronteira29 do adversário, concretamente no espaço entre a linha mais
recuada (vulgarmente designada de defensiva) e a linha intermédia. O modo
como se pretende dinamizar esses Espaços (Específico da Equipa), deverá
implicar uma reflexão sobre a estrutura.
Por um lado, se essa Equipa joga em 1-4-3-3 e o avançado desce no
terreno ocupando esse Espaço, deixa um importante Espaço vazio, na medida
em que, é a única referência frontal (no centro do terreno). Desse modo, a
Equipa tem de apresentar uma dinâmica que permita ocupar a posição por ele
deixada (por ex. diagonais dos avançados-ala, movimentos verticais dos
médios...).
Quando falamos em “referência frontal” temos de alertar para uma
situação muito importante que à primeira vista parece contrariar o que aqui
propomos, e que advém de um comportamento colectivo inerente ao “futebol
total” de Michels.
Segundo Olivares (1978) essa Equipa apresentava uma circulação em
toda a largura (figura 18) para depois verticalizar. Aquilo que aqui é pertinente
salientar é que, segundo o autor, havia um Espaço
que, com esta dinâmica, ficava livre dentro da grande
área. A importância deste comportamento tem que
ver com o “factor surpresa” que potencia. Apesar de
não se encontrar ninguém nessa área, não deixa de
ser uma referência frontal, contudo nestas
circunstâncias em vez de “estar” lá, vai aparecer na
área indicada.
Portanto, a referência frontal a que nos temos referido neste trabalho
pressupõe que independentemente das circunstâncias a Equipa sabe que vai
lá estar (ou aparecer) um jogador, pelo que, pode existir um passe que não tem
necessariamente de ser para o “pé” (ou seja, directamente para o jogador), ,
29 Sobre este aspecto convém reforçar uma ideia já lançada anteriormente: uma das
características do Espaço é a sua continuidade, porém quando nos referimos a Espaços
fronteira pretendemos evidenciar Espaços onde a definição de responsabilidades pode não
estar bem definida pelo adversário.
Figura 18. Espaço livre na
grande área (Olivares,1978)
Revisão de Literatura
120
existe uma referência, podendo a bola ser jogada nessa referência para o “pé”
ou para o “Espaço” (a solicitar que a referência lá apareça).
Por outro lado, se a equipa se estrutura em 1-4-4-2, mesmo que um
avançado desça no terreno de jogo apoiando a circulação de bola, terá sempre
uma referência frontal, deixando também Espaço livre que pode igualmente ser
ocupado por outros jogadores.
A estrutura 1-4-4-2 apresenta como Espaços vazios, onde os jogadores
podem aparecer com movimentos de trás para a frente, os Espaços que se
encontram junto às linhas (e dependendo das circunstâncias os Espaços na
área interior entre a linhas intermédia e avançada). Para além disso, esta
estrutura ao colocar dois jogadores avançados no corredor central está a
potenciar uma possível situação de igualdade numérica com os centrais
adversários, que, no adversário deverá ser compensada pela maior vigilância
dos laterais aos Espaços interiores e não com um dos médios a colocar-se
entre os centrais (situação facilmente verificada em Equipas que não são de
rendimento superior). Com isso, mais “perigoso” se torna o jogo pelos
corredores.
Por sua vez, os Espaços criados pela movimentação dos avançados
podem ser dinamizados de muitos modos distintos. Um possível “padrão
dinâmico”, observado nas Equipas de Top, que habitualmente se estruturam no
1-4-4-2, prende-se com a mobilidade de um dos avançados para os corredores,
tanto em momentos de transição como quando a Equipa procura criar
desequilíbrios quando o adversário está organizado, tirando com isso
“proveito” do possível espaço nas costas dos laterais adversários e
simultaneamente “liberta” um espaço frontal onde um dos médios pode
aparecer com movimento de trás para a frente.
Perante o exposto verificamos que o 1-4-4-2 apresenta-se, à partida,
como opção mais rica em termos de soluções ofensivas, porém exige uma
coordenação entre jogadores muito grande, caso contrário, facilmente se
desequilibra. No entanto a estrutura 1-4-3-3 pode igualmente apresentar muitas
soluções, sendo que, tudo depende da especificidade dinâmica das Equipas.
Revisão de Literatura
121
Para além destas áreas que divergem de
acordo com a Estrutura, apresentamos na figura
19 outra área propensa ao aparecimento de
jogadores com movimentos de trás para a
frente. Esta surge na sequência da criação de
desequilíbrios pelos corredores laterais.
É frequente vermos nas equipas de Top,
quando um jogador está junto à linha final com a
bola, após progressão ou passe em
profundidade, é acompanhado, normalmente, por uma linha de avançados
(com nº variável) e uma linha de médios que aparecem em Espaços de
finalização. Nessa altura o jogador com bola tem duas opções:
Cruzar para a primeira ou segunda linha de ataque;
Passar para trás para jogadores que aparecem na área indicada
com movimentos de “trás para a frente” (acompanhando o
movimento do jogador que foi à linha), para além disso, esses
jogadores, em caso do portador decidir cruzar para a linha de
avançados, podem ser importantes referências para ganho de 2ª
bola.
Assume também importância na recuperação a orientação dos apoios do
jogador que recupera a bola: se está de frente para a baliza adversária tem
maior ângulo de visão, contrariamente, se estiver de costas o ângulo de visão
diminui e está mais susceptível à pressão do adversário.
Figura 19. Área propensa ao
aparecimento de jogadores com
movimentos de trás para a frente
122
Campo metodológico
123
3. Campo metodológico
De acordo com Vouga (2005), no âmbito académico existe uma
tendência, que trespassa a nossa faculdade, para a realização de trabalhos
que têm como “objecto de análise, o desenvolvimento da fase ofensiva durante
o jogo”. Sendo um tema recorrente, a metodologia com que é abordada
diverge, proporcionando desse modo, resultados manifestamente distintos.
Grande parte desses trabalhos, de acordo com Castellano Paulis e
Hermándes Mendo (2002, cit. por Barreira, 2008) apresentam uma orientação
descritiva, cujos resultados se fundamentam na análise de frequências e/ou de
percentagens dos acontecimentos registados, tais como a frequência de posse
de bola, de passes realizados na fase ofensiva que terminam em golo, número
de contactos de bola que antecedem o golo, etc. Para além disso, outros
trabalhos têm sido realizados em que o objecto de estudo é o “jogo formal”.
Acreditamos que aqui está o ponto nevrálgico, que nos orienta por outras
bifurcações no estudo do “conteúdo do jogo”, pois, não pretendemos “analisar”
o “jogo formal” para conhecer o seu conteúdo, mas antes interpretar (inferir) as
regularidades que nas equipas de Rendimento Superior/top se vão
manifestando ao longo dos jogos, com o intuito de identificar as expressões
que muitas vezes acabam por ser as suas invariantes (Cunha e Silva, 2003).
Sendo o objectivo de qualquer dissertação a aquisição de conhecimento,
é necessário utilizar uma metodologia de trabalho que se adeqúe ao objecto de
estudo definido. Desse modo, para o objectivo que nos propusemos nesta
dissertação utilizamos a metodologia que a seguir descrevemos.
3.1 Caracterização da Amostra
A nossa amostra assume um carácter não aleatório, sendo constituída
por dois treinadores, cuja participação no futebol de Top é distinta. A
delimitação da nossa amostra a apenas dois treinadores, encontra justificação
no facto de considerarmos que os diferentes pontos de vista desses dois
treinadores, que estando a top têm visões e participações distintas no mesmo,
Campo metodológico
124
fornecem-nos as informações necessárias para confirmarmos e aprofundarmos
os indicadores subjacentes ao futebol de qualidade superior.
Os critérios adoptados na selecção destes dois treinadores foram os
seguintes:
Louis van Gaal: procuramos junto deste treinador, que é para nós
uma referência, o contributo de uma personalidade que é frequentemente
associada ao famigerado “Futebol Total”, sendo apontado como um dos
precursores das ideias de Rinus Michels, à semelhança de Steven Kovacs e
Johan Cruyff. Porém, de acordo com Kormelink e Seeverens (1997), desses
treinadores, Louis van Gaal é, de longe, o que maior sucesso desportivo
conseguiu e que ainda está em aberto. Fruto de um percurso que tem revelado
coerência e capacidade de adaptação às demandas que o futebol vem
apresentando, motivo pelo qual, não hesitamos em colocar este treinador num
lote restrito de treinadores com maior sucesso a nível Europeu e portanto um
treinador de Top.
A pertinência da sua escolha não está apenas no currículo que em baixo
apresentamos. Essa é a consequência visível de um entendimento Específico
do Futebol (Jogo/Treino). Reflexo das suas ideias, as suas Equipas sempre
demonstraram vontade de ganhar, pelo que, na base do seu futebol sempre
esteve uma questão chave: como marcar golo ao adversário?!. Partindo dessa
preocupação organizou as suas Equipas, estruturando o seu jogo nos 4
momentos que hoje são por todos utilizados, e obteve o sucesso que nos é
conhecido.
Currículo de Louis Van Gaal: Treinador principal do Ajax de 1991 até
1997, onde conquistou: 1 Liga dos Campeões, 1 Taça UEFA, 1 Supertaça
Europeia ; 1 Taça Intercontinental, 3 Campeonatos da Holanda, 3 Supertaças
da Holanda e 1 Taça da Holanda. Em 1997 assume o comando técnico do
Barcelona por três temporadas, ganhando 2 campeonatos, 1 taça de Espanha
e 1 Supertaça Europeia. Depois de passagens pela selecção Holandesa,
Barcelona (novamente) e Ajax (coordenador técnico), assume o comando
técnico do AZ Alkmaar, clube onde exerceu funções desde 2006 e que levou à
conquista do campeonato na presente época (2008/2009), de salientar que é
Campo metodológico
125
apenas o 2º campeonato conquistado do clube em toda a sua história. O
sucesso conseguido levou-o a assumir o comando técnico de uma das maiores
Equipas da Europa, o Bayern Munich.
André Villas-Boas: o sucesso de um treinador, na perspectiva do
trabalho que realiza, é o reflexo da qualidade dos elementos que constituem as
suas equipas técnicas que diariamente pensam a Equipa. Nesse sentido, José
Mourinho (citado por Oliveira et. Al, 2006) reconhece a importância dos seus
colaboradores, onde se inclui o nosso entrevistado: “O André é, para mim, um
elemento fundamental.”.
Não é apenas o seu impressionante currículo, que em baixo
apresentamos, que justificam a sua escolha, essa é também a consequência
visível do seu sucesso. As funções exercidas como colaborador de José
Mourinho a observar as Equipas adversárias, fazem do nosso entrevistado um
profundo conhecedor do futebol que se pratica ao mais alto nível. Para além
disso, o seu entendimento do jogo expresso diversas vezes em diferentes
comunicações, coaduna-se com os objectivos desta dissertação.
Currículo de André Villas-Boas: inicia o seu percurso na formação do
Futebol Clube do Porto (FCP), como colaborador do treinador José Guilherme.
No ano de 2002 integra a equipa técnica de José Mourinho na primeira equipa
do FCP, clube onde permaneceu por 2 épocas, conquistando: 2 campeonatos
de Portugal, 1 Taça de Portugal, 1 Taça Uefa, 1 liga dos campeões. Nas
épocas decorrentes entre 2004 e 2006, exercendo as mesmas funções no
Chelsea FC conquista: 2 campeonatos de Inglaterra, 1 taça da liga Inglesa, 1
supertaça Inglesa. Actualmente, no término do seu primeiro campeonato em
Itália, acrescentou 1 taça de Itália e 1 campeonato Italiano a este vasto e rico
currículo. Como pudemos constatar os últimos sete anos, foram sempre ao
mais alto nível.
Campo metodológico
126
3.2 Construção das entrevistas
Segundo Marly de Oliveira (2007), a entrevista é um excelente
instrumento de pesquisa por permitir a interacção entre pesquisador e
entrevistado e a obtenção de descrições detalhadas sobre aquilo que se está a
pesquisar, que dificilmente seriam obtidas de outro modo.
Para isso, é necessário que esse instrumento de recolha de dados seja
ajustado aos objectivos propostos nesta dissertação e, não menos importante,
ajustado às Especificidades de cada entrevistado. Pois, de acordo com Bardin
(2008), uma entrevista é um “discurso falado” que uma pessoa orienta mais ou
menos à sua vontade, sendo assim, tal como no jogo (que é representacional
por isso, um “jogar”), a subjectividade está muito presente. Desse modo, foram
elaboradas algumas questões guia que serviram de suporte às entrevistas
realizadas, no entanto, elas assumem um carácter aberto, com o propósito de
permitir aos entrevistados expor os seus pontos de vista de uma forma clara,
pessoal e o mais aprofundada possível. Tratando-se, portanto, de entrevistas
semi-estruturadas.
3.2.1 Condições de aplicação e recolha de dados
As entrevistas foram realizadas entre o dia 9 e 27 de Março, nos locais
definidos pelos entrevistados, concretamente, no gabinete do treinador Louis
van Gaal, no estádio do AZ Alkmaar e no Café Maiorca, junto à avenida da
Boavista – Porto, tendo sido registadas num gravador digital Olympus VN-240
PC. Posteriormente foram transcritas através do Word 2007, com o objectivo
de ser interpretadas à luz dos objectivos definidos na nossa dissertação e com
base na metodologia adoptada.
De ressalvar ainda que a entrevista ao treinador Louis van Gaal foi
realizada em Inglês, o que por vezes, se revelou um “entrave”, pois a língua
Inglesa foi um “ponto de encontro” do entrevistador e do entrevistado.
Campo metodológico
127
3.3 Análise de Conteúdo
A análise de conteúdo é, segundo Bardin (2008), “um conjunto de
técnicas de análise das comunicações.”. Sendo uma das técnicas possíveis
para a análise de entrevistas, o seu alcance vai para além da descrição, sendo
o seu objectivo primeiro, a inferência. Assim, a partir do corpus (Bardin, 2008)
que definimos, constituído pelas entrevistas realizadas, vamos inferir acerca do
tema que nos propusemos, que é bastante abrangente, como aliás o
demonstra a extensão da primeira parte desta dissertação.
Segundo Bardin (2008), o desenvolvimento das técnicas de análise de
conteúdo procede-se sobre duas linhas de força: a superação da incerteza – ou
seja, em todos os momentos questionar se o conteúdo que julgamos estar
contido nas mensagens está realmente presente, logo a questão remete-nos
para a validade das nossas interpretações. E o Enriquecimento da leitura –
Através de uma leitura fecunda poderão ser descobertos conteúdos e
estruturas que confirmam, ou infirmam, o que se procura demonstrar a
propósito das mensagens, ou poderá levar ao entendimento de mecanismos
que à priori não compreendíamos. Por outras palavras, o mesmo autor realça
que a análise de conteúdo pode ter duas funções, que podem ou não dissociar-
se: uma Função heurística – a análise de conteúdo aumenta a propensão para
a descoberta; e uma Função de “administração de prova” – Sugere a
formulação de hipóteses que se pretendam confirmar ou infirmar.
No nosso estudo recorreremos a complementaridade dessas funções,
pois pretendemos explorar o conhecimento Específico do conteúdo do jogo dos
nossos entrevistados, e também, confirmar ou infirmar algumas das hipóteses
levantadas aquando da revisão da literatura.
O parâmetro norteador da análise de conteúdo consiste na definição de
um sistema categorial, que pode ser definido à priori ou à posteriori (Vala,
1986). Do mesmo modo, Marly de Oliveira (2007) define categorias teóricas,
definidas a partir da revisão de literatura e categorias empíricas, definidas após
a recolha de dados. Assim, iremos definir categorias teóricas, sustentadas pela
Campo metodológico
128
revisão de literatura, e teremos categorias empíricas que resultam da
interpretação que fizemos ao conteúdo analisado.
3.3.1 Sistema Categorial
Com a definição de categorias pretendemos atribuir alguns critérios,
susceptíveis de fazer surgir um sentido nas mensagens que queremos
interpretar. Assim, ainda que seja um processo difícil, pois as fronteiras entre
as categorias são ténues e por vezes de difícil percepção (Levintin, 2007),
definimos duas categorias teóricas, ou seja, duas categorias definidas antes da
recolha e análise de dados:
C1 – Filosofia das Equipas de Top
C2 – Momentos de organização ofensiva
SC2.1 – (Macro)Organização Funcional
SC2.2 – (Macro)Organização Estrutural
A primeira categoria justifica-se pela contextualização da segunda, ou
seja, para interpretarmos os momentos de organização ofensiva das Equipas
de Top, temos de perceber a Filosofia inerente às mesmas. Assim, nesta
categoria procuramos explorar a pertinência das Equipas de top apresentarem
um futebol dominante, sendo esse o fio condutor que nos levará na próxima
categoria a aprofundar a existência das quatro características que
evidenciamos na revisão, como sendo comuns às Equipas de top,
nomeadamente: circulação de bola, controlo do meio-campo, quantidade de
jogadores em Espaços de finalização (ou com capacidade para aparecer em
Espaços de finalização) e os equilíbrios dinâmicos .
Na segunda categoria, tema da nossa dissertação, pretendemos
aprofundar algumas características (as 4 anteriormente mencionadas) e
princípios organizadores das Equipas de top nos momentos de organização
ofensiva. Cremos que qualquer equipa, que pretenda apresentar qualidade e
consequentemente resultados, têm de perspectivar a sua organização do ponto
Campo metodológico
129
de vista de como pretende e pode chegar à baliza do adversário. No entanto,
partimos do pressuposto que o jogo é um continuum, fluido na passagem de
uns momentos para os outros e portanto, sempre que acharmos conveniente
também abordaremos os momentos de organização defensiva.
Dada a complexidade da temática consideramos ainda duas
subcategorias: a (macro)organização funcional – Através de uma configuração
Espacial que propõe a existência de momentos de: transição ofensiva, criação
de desequilíbrios e de (criação de situações de finalização) finalização, iremos
explorar as referências dinâmicas organizadoras que resultam da
interdependência entre tempo, espaço e número; a (macro)organização
estrutural – Não ignorando o Espaço estaticamente organizado, procuramos
nesta subcategoria perceber as diferentes Estruturas e de que forma potenciam
as diferentes dinâmicas das Equipas de top.
130
Apresentação e discussão dos resultados
131
4. Apresentação e discussão dos resultados
O presente capítulo resulta da interpretação por nós realizada, ao
diálogo que mantivemos com o treinador Louis van Gaal e com o treinador
(observador) André Villas-Boas, sendo que, esta interpretação, não dispensa
de modo algum, a leitura das transcrições integrais desses diálogos que se
encontram em anexo. Para além disso, dada a complexidade da temática que
estamos a abordar, alguns conteúdos presentes na revisão de literatura podem
não estar presentes nesta parte da dissertação, com efeito, a leitura desta
reflexão deve ser feita paralelamente com a primeira parte da dissertação.
Antes de avançarmos para aquela que definimos como primeira
categoria, é necessário realçar alguns pontos que deixamos claros na revisão
de literatura e que, ao longo do diálogo com os entrevistados, foram
reforçados. Estes pontos prévios à discussão propriamente dita, justificam-se
pela necessidade de os ter presente em todos os momentos desta dissertação.
Começamos por reafirmar que tudo é dinâmico. Como nos refere Van
Gaal (Anexo 3): “Linhas... existem linhas...mas existem no terreno...”, o mesmo
será dizer que, não existem esquemas, posições ou ordens no “papel”, que
resistam à fluidez característica do jogo. Existem sim, princípios de
jogo/interacção que guiam os jogadores nos jogoS e ao acontecerem permitem
desdenhar um padrão, um conjunto de regularidades que definem a identidade
de determinada Equipa, um “Jogar” que acontece num jogo que é diferente
todas as semanas. Assim, quando nos referirmos a um qualquer
comportamento, temos de ter em atenção que ele não existe no abstracto, ele
acontece no jogo, e o jogo é sempre diferente na medida em que, o adversário,
sendo diferente, vai apresentar problemas manifestamente distintos. Tomemos
o exemplo das saídas curtas pelo Guarda-Redes. Definimos que os centrais
devem estar no prolongamento das linhas laterais da grande área. Em termos
concretos isso apenas vai acontecer no jogo. E o jogo, tanto pode necessitar
de uma bola longa, e então os centrais têm de fechar. Ou, se o adversário não
realizar qualquer tipo de pressão na saída de bola, esse posicionamento acaba
também por ser irrelevante.
Apresentação e discussão dos resultados
132
Desse modo, quando, recorrermos a exemplos práticos, é necessário ter
em atenção que não passam disso mesmo, de exemplos, que não são
aplicáveis em qualquer circunstância, mas que nos permitem reforçar uma
determinada ideia, uma determinada regularidade. Não se tratando por isso, de
uma ideia fixa, imutável, pois vai depender sempre, entre outros aspectos, dos
jogadores disponíveis e do adversário (Van Gaal, Anexo 3, Villas-Boas, Anexo
5).
Por sua vez, o “Jogar” é definido em função da convergência de
múltiplas dimensões, desde a cultura do clube, ideia do treinador à cultura/perfil
do jogador. E de facto, daqui resulta uma questão crucial no entendimento do
“jogar” e, inerentemente desta dissertação. Na medida em que, diferentes
jogadores potenciam diferentes (sub)dinâmicas. Aliás, acreditamos que uma
das grandes questões do futebol de top, resulta da reflexão do treinador em
torno do perfil dos jogadores, concretamente em perceber continuamente como
poderão potenciar as suas qualidades e como esses jogadores poderão
potenciar uma determinada ideia de jogo, conjunção que resulta em algo novo
(ver (sub)capítulo 2.2.4 da revisão de literatura). Essa preocupação com as
qualidades dos jogadores, está subentendida no discurso utilizado pelos
nossos entrevistados que, frequentemente, iniciam as respostas com:
“depende dos jogadores que tens à disposição”.
Para concretizar esta ideia recorramos, novamente, ao Barcelona.
Temos três jogadores para a posição de pivô baixo, que são: Keita
(eventualmente poderá jogar mais à frente), Touré, Busquets. Mantendo um
determinado padrão, uma determinada dinâmica, de posse e circulação de
bola, as (sub)dinâmicas que um jogador como Busquets potenciará serão
completamente distintas se, por exemplo, for o Keita a jogar nessa mesma
posição. Em termos da organização defensiva ambos garantem bastante
segurança. A diferença está nos momentos de organização ofensiva, enquanto
Keita procura mais a verticalidade da penetração da bola, Busquets procura
mais o movimento, a horizontalidade. Isto origina (sub)dinâmicas
manifestamente distintas porque a Equipa tem que se ajustar à presença
desses jogadores. Se Keita joga mais vertical, os outros jogadores do meio-
Apresentação e discussão dos resultados
133
campo terão, necessariamente, de apresentar outra (sub) dinâmica (sobretudo
para compensar os riscos que essa verticalidade do jogador tem inerente),
assim como a linha defensiva que terá que se preocupar mais com os Espaços
interiores, nos momentos em que Keita, em posse de bola, está de frente para
o jogo.
É determinante, para um correcto entendimento do futebol de qualidade
superior, aquele que aqui nos propusemos abordar, que estas notas estejam
esclarecidas e sejam relembradas no decorrer da leitura desta dissertação.
4.1 Filosofia do Jogo das Equipas de Top
Na revisão de literatura salientamos quatro características inerentes ao
jogo das Equipas de Top: circulação de bola; controlo do meio-campo; o
“atacar com muitos jogadores” e a organização em todos os momentos de jogo.
Salientamos também, que estas características resultam da necessidade
dessas Equipas dominarem e controlarem o jogo, tendo a sua iniciativa. Isto
porque, de acordo com Van Gaal (2006), esse controlo do jogo coadjuvado
pela iniciativa, vai permitir criar mais situações de finalização e esse é o grande
objectivo das Equipas de top.
Parece-nos pertinente esclarecer e aprofundar um pouco mais esta
questão relativa ao futebol dominante, ao controlo do jogo e a iniciativa do jogo
inerentes à filosofia das Equipas de Top, antes de entrarmos nas quatro
características mencionadas, até porque estão intimamente relacionadas.
Futebol dominante para Van Gaal (Anexo 3) “é um futebol em que a tua
Equipa decide como o adversário joga o seu futebol, e não o contrário.”, assim,
praticar um futebol dominante resulta no controlo do jogo. Realçamos que esse
controlo, tanto pode acontecer do ponto de vista ofensivo como do ponto de
vista defensivo, sendo esta ideia corroborada pelos nossos entrevistados (Van
Gaal, Anexo 3, Villas-Boas, Anexo 5), afirmando ambos que, Equipas cuja
criação de situações de finalização são (regularmente) procuradas
imediatamente após recuperação de bola, também podem controlar o jogo.
Desse modo, Equipas que perspectivam o seu jogo a partir da organização
Apresentação e discussão dos resultados
134
defensiva também podem controlar o jogo, sendo que, o modo como
pretendem chegar à baliza depende em grande medida do sucesso das
transições defesa/ataque. Encontramos um exemplo claro deste controlo sob o
ponto de vista defensivo, nas meias-finais da liga dos campeões, no jogo
Barcelona - Chelsea, onde o Chelsea controlou o jogo sob o ponto de vista
defensivo, conseguindo assim um empate que lhe permitirá discutir o resultado
no seu estádio.
Apesar do fenómeno da globalização tender a esbater as diferenças
culturais, as interpretações do controlo do jogo são diversas de país para país
(Van Gaal, Anexo 3). Villas-Boas (Anexo 5) ajuda-nos a compreender essas
diferenças de interpretação e operacionalização, ao diferenciar o que em
Portugal é, frequentemente, tido como “controlo do jogo”, sendo esse assente
no controlo da posse de bola, relativamente aquilo que acontece em Inglaterra:
“(...) Se tu fores à procura das grandes equipas do futebol inglês pré -
Wenger... dá-te uma ideia de domínio de jogo exactamente de outra forma,
sem ser a posse de bola sustentada e circulada mas sim através do jogo
directo com a procura de segunda bola, de segunda jogada...”.
A interpretação do controlo do jogo reflecte-se, sobretudo, no modo
como se pretende atacar a baliza do adversário, o que tem, também,
implicações óbvias e directas nos momentos de organização defensiva. Por
exemplo, se considerarmos uma Equipa que defende em bloco baixo, com
duas linhas de quatro jogadores, ela pode controlar o jogo sob o ponto de vista
defensivo determinando em que Espaços o adversário joga quando tem a
posse de bola. Por sua vez, os momentos de organização ofensiva resultam,
frequentemente, na tentativa de criar situações de finalização, imediatamente
após recuperação de bola. Porém, este controlo do jogo, está muito mais
dependente daquilo que o adversário vai e é capaz de fazer em posse de bola
e do estado de organização quando não tem a posse de bola (onde incluímos
os momentos imediatamente após perda de bola: transições defensivas como
partes dos momentos de organização defensiva).
Portanto, parece-nos que, para um futebol de qualidade superior, o
controlo do jogo tem inerente a sua iniciativa. O que significa que a Equipa vai
Apresentação e discussão dos resultados
135
“agir” sobre o adversário e isso faz-se, tanto melhor, quanto mais a Equipa tiver
a posse de bola, tendo essa posse contornos muito concretos e objectivos
(criar situações de finalização). Para além disso, como vimos na revisão de
literatura, o “jogo” tem na sua “natureza” um objectivo, a vitória. Sendo esse
objectivo explícito nas Equipas de top, que para o serem têm de ganhar
regularmente, consideramos que a sua organização deve ser perspectivada em
função de como se pretende chegar à baliza do adversário.
Deste modo, de acordo com os nossos entrevistados (Van Gaal, Anexo
3, Villas-Boas, Anexo 5) podemos inferir, que, para um futebol de qualidade
superior o controlo do jogo coadjuvado pela sua iniciativa é fundamental, sendo
assim a organização deve ser perspectivada sob o ponto de vista ofensivo, ou
seja, de como se quer chegar à baliza adversária. Não esquecendo, no
entanto, que esse controlo não se restringe a esse ponto de vista ofensivo, na
medida em que, o jogo é um continuum, fluído, desse modo, pressupõe,
também, que a Equipa defensivamente não se desorganiza em nenhum
momento, como veremos, este é um aspecto muito importante.
4.2 Momentos de Organização Ofensiva
Chegamos assim aos momentos de organização ofensiva, onde
procuraremos, através da interpretação do diálogo que mantivemos com os
nossos entrevistados, confirmar, infirmar e aprofundar algumas das ideias
exploradas na revisão de literatura.
4.2.1 (Macro) Organização Funcional
Assente na filosofia anteriormente abordada, chegamos às
características, diríamos funcionais “gerais”, que consideramos fundamentais
na apresentação de um futebol de qualidade superior. Se o controlo que
mencionamos, nesse futebol de qualidade superior, tem inerente a sua
iniciativa, a posse de bola é um aspecto fundamental. Vimos na revisão de
literatura que, o melhor modo de ter a bola é fazendo-a circular. Acerca da
Apresentação e discussão dos resultados
136
circulação, Van Gaal (Anexo 3) afirma que é um dos comportamentos mais
importantes, sendo ela que permite “jogar como Equipa”. Também Villas-Boas
(Anexo 5) reconhece a sua importância ao mencionar que, uma das
características comuns às Equipas de top é que estas procuram uma
“referência optimal de circulação de bola”. E aqui, o autor toca num ponto que
consideramos fundamental. Ao mencionar “referência optimal” tem subjacente
que essa circulação tem objectivos, que não pode ser inócua, caso contrário
caímos num controlo da “posse pela posse”. Portanto, essa circulação tem de
ter objectivos muito concretos, criar situações de finalização, pois como refere
Van Gaal (Anexo 3): “a posse de bola é sempre importante… mas não é assim
tão importante para marcar golos… não é por teres 60-70% da posse de bola
que marcas golos... isso não é consequência”.
Para além disso, a objectividade inerente à circulação de bola, não
significa procurar sistematicamente a verticalidade do jogo (sobretudo
imediatamente após recuperação de bola), pois os riscos que essa
verticalidade tem inerente, podem levar à perda do controlo do jogo (quando
não existem outras soluções de ataque e o adversário tem qualidade) (Van
Gaal, Anexo 3). O que resulta na selecção equilibrada entre verticalidade e
horizontalidade, e portanto, a inteligência revela-se, como vimos, outra
característica fundamental da circulação de bola objectiva.
Para concretizar o controlo do jogo, consideramos que o controlo do
meio-campo é crucial. Porém, os nossos entrevistados, quando colocada a
questão da importância desta área no controlo do jogo, afirmaram que todos os
sectores da Equipa têm uma importância fundamental, recusando, deste modo,
a importância que atribuímos à necessidade de controlar o meio-campo.
Relembramos os motivos pelos quais consideramos o controlo do meio-
campo (área do meio-campo) uma característica fundamental das Equipas de
Top:
Espaços fundamentais na criação de desequilíbrios (quando o
adversário está defensivamente organizado), pois correspondem ao
interior da Equipa: Onde aparecem apoios frontais e/ou recuados; onde
aparecem jogadores que ligam os sectores recuado e avançado;
Apresentação e discussão dos resultados
137
Importante referência na criação de situações de finalização, surgindo
desses Espaços muitas assistências para golo.
Espaços cuja ocupação, e dinamização, é eminente em todos os
momentos de jogo, permitindo que a Equipa se mantenha equilibrada
(Fecho de espaços interiores);
Espaços favoráveis ao ganho de segunda bola, quando a Equipa opta
por jogar longo.
Nos momentos de organização defensiva o controlo destes Espaços,
permite contrariar os objectivos do adversário.
Portanto, mantemos a convicção de que, o controlo do meio-campo
assume um papel preponderante no controlo do jogo. O que nos parece é que
a questão não foi totalmente esclarecedora para os nossos
entrevistados. Primeiro, porque não pretendíamos
sobrevalorizar qualquer sector em relação a outro. Ao
mencionarmos o “meio-campo” não pretendíamos
destacar um sector ou jogador, mas sim o Espaço interior
no meio-campo (Figura 20), ainda que, apareçam com
maior regularidade determinados jogadores nessas áreas.
Assim, parafraseando Távora (2007:19): “...a organização
do espaço é obra de participação de todos os homens, em graus diferentes de
intensidade e até de responsabilidade...”, desse modo, ainda que todos tenham
uma importância fundamental, os jogadores que dinamizarem esses Espaços
no meio-campo (sobretudo os interiores) assumem uma maior
responsabilidade na sua organização, logo, no seu controlo
(consequentemente, pelos motivos atrás apontados, têm maior
responsabilidade no controlo do jogo).
Em segundo, porque os nossos entrevistados ao longo das respectivas
entrevistas, deixam transparecer que essas áreas são muito importantes, como
veremos em capítulos posteriores.
A filosofia do futebol dominante, presente nas Equipas de Top, tem
ainda subjacente uma cultura de risco que resulta num aumento do número de
soluções para resolver os problemas que o jogo vai apresentando (enquanto
Figura 20. Espaço interior
Apresentação e discussão dos resultados
138
confronto com um adversário), com o objectivo de criar um maior número de
situações de finalização.
O risco a que as Equipas de top se submetem resultam da necessidade
de procurar, frequentemente, situações de finalização. Sendo um risco
calculado pois existem preocupações com os Equilíbrios dinâmicos das
Equipas. Um dos riscos frequentemente assumidos nessas Equipas resulta do
número de jogadores, para além dos avançados, que aparecem em Espaços
de finalização (Van Gaal, Anexo 3, Villas-Boas, Anexo 5). Esta foi a ideia que
exploramos na revisão de literatura e que, de certo modo, foi corroborada pelos
nossos entrevistados. Porém é pertinente esclarecer alguns pontos.
O “atacar com muitos jogadores” significa que, para além dos
avançados, outros jogadores têm capacidade para aparecer em Espaços de
finalização, desde os laterais que procuram a verticalidade interior ou exterior,
os médios com movimentos de trás para a frente ou posicionando-se à frente
da linha da bola e até mesmo um dos centrais que sobe na tentativa de criar
desequilíbrios pelo corredor central chegando a Espaços de finalização.
Este “inserimento” vertical de jogadores, sobretudo, com movimentos de
“trás para a frente” em Espaços de finalização (por ex. laterais ou médios)
poderá promover um efeito surpresa no adversário, que se terá de (re)ajustar,
aumentando assim as possibilidades de criar desequilíbrios e
consequentemente situações de finalização. Porém, este “atacar com muitos
jogadores” exige da Equipa uma coordenação muito grande em dois aspectos
que consideramos fundamentais para o seu sucesso (visto sob dois pontos:
criação de desequilíbrios e equilíbrios):
Timing de “inserimento”: “(...) há um lateral de um lado que chega
exactamente mais cedo, que se insere mais cedo, o outro lateral
inicialmente está em posição, quando a bola começa a circular para
chegar ao outro lado, vamos por exemplo imaginar, subiu o Silvinho...há
circulação de bola e a bola chega ao Messi do outro lado, analisa o
tempo de inserimento do Daniel Alves, vais ver que não é imediato, há
sempre factor surpresa, é sempre quando um menos espera, vai um
bocado de encontro ao que tu dizes... não está imediatamente em
Apresentação e discussão dos resultados
139
overlap, sabe escolher exactamente o tempo de inserimento...” (Villas-
Boas, Anexo 5). O mesmo acontece com o inserimento vertical dos
médios. Consideramos este um aspecto crucial pois permite evitar a
sobreposição de jogadores, isto é, que dois jogadores estejam na
mesma área, ao mesmo tempo, situação que poderá ser facilmente
anulada pelo adversário.
Mecanismos de compensação/Equilíbrio: as palavras de Villas-Boas
(Anexo 5) ajudam-nos, mais uma vez, a esclarecer este ponto: “(...) era
uma coisa que no início não privilegiava-mos (penetração vertical dos
médios)...porque queria exactamente a libertação do Maicon pela faixa e
depois preocupava-se com o equilíbrio em transição... a partir dai limitou
um bocado o inserimento dos médios para dar liberdade ao Maicon para
aparecer de trás para a frente...”.
Este último ponto relaciona-se com outra importante característica,
subjacente em todos as outras que fomos salientando ao longo desta reflexão,
que é a organização da Equipa em todos os momentos do jogo. E nesse
aspecto a opinião dos nossos entrevistados é, mais uma vez, consensual. Van
Gaal (Anexo 3) a esse respeito, afirma que as suas Equipas não devem correr
riscos nenhuns (O risco que o autor tem subjacente não é o risco de perda de
bola, mas as possíveis consequências dessa perda), e para isso refere que
“quando atacas tens que pensar (também) em defender.”.
Verificamos, portanto, que, da filosofia das Equipas de top (do querer
controlar o jogo tendo a sua iniciativa) resultam características que, com formas
de expressão Específicas, se verificam com alguma regularidade. Para
confirmar isso, ajudaram-nos as opiniões dos nossos entrevistados. Nos
próximos capítulos iremos recorrer a estas características com bastante
regularidade e aí poderemo-nos aperceber da imensa variabilidade de formas
que elas podem assumir.
Seguindo uma lógica por nós construída na revisão de literatura, iremos
percorrer nos próximos capítulos as partes dos momentos de organização
ofensiva que consideramos: transições ofensivas, criação de desequilíbrios e
finalização.
Apresentação e discussão dos resultados
140
Antes de o fazermos é necessário clarificar o porquê de enquadramento
das transições nos momentos de organização ofensiva. Consideramos que
existem várias formas de chegar à baliza do adversário, porém, quando o
adversário está em transição defensiva (após perda da posse de bola), poderá,
eventualmente, apresentar maiores fragilidades defensivas que podem ser
exploradas pela Equipa que recupera a bola. O que não deixa de ser uma
forma de atacar a baliza do adversário. Desta forma, o enquadramento das
transições ofensivas como uma parte dos momentos de organização ofensiva
parece-nos pertinente e não contraditória com a lógica que classifica o jogo em
quatro momentos e que os nossos entrevistados utilizam para estruturar a ideia
que têm do “jogo”.
4.2.1.1 Transições ofensivas
“Penso que a transição é o aspecto mais importante dos momentos”.
Esta afirmação de Van Gaal (Anexo 3) surge na mesma linha de pensamento
de Michels (2001), Mourinho (2003), Queiroz (2006) e Wenger (2008), e
elucida-nos sobre a importância dos momentos de transição na organização
das Equipas. Também Villas-Boas (Anexo 5) reconhece a sua importância,
salientando ainda que, as Equipas de top apresentam configurações distintas
relativamente às Equipas de meio da tabela.
Em primeiro lugar, é pertinente esclarecer o seguinte: quando se fala em
transição ofensiva, a configuração mais frequente e que mais facilmente surge,
resulta do ataque imediato à baliza do adversário, ou, por outras palavras as
transições ofensivas agressivas (Villas-Boas, Anexo 5). E esta ideia vai de
encontro à cultura de urgência que dissemos ser “castradora” da qualidade do
futebol, e repare-se que a opinião de Villas-Boas (Anexo 5) confirma-o: “Eu
acho que a transição ofensiva e agressiva vai um bocado de encontro ao
pânico e a velocidade do futebol actual, há pressão em torno dos treinadores
de vencer, há pouca capacidade de pensar dos jogadores, há o sentido de
urgência que o jogo actual tem...é tudo pânico, é tudo velocidade... e transmite
um bocado a ideia do que é a sociedade actual... portanto, acho que no jogo tu
Apresentação e discussão dos resultados
141
encontras esse tipo de traços, portanto a transição agressiva e objectiva tu
acabas por encontrá-la mais vezes por isso mesmo...”. No entanto, é
necessário deixar claro que, as transições ofensivas acontecem, qualquer que
seja o comportamento que a Equipa assume imediatamente após recuperação
de bola. Desta constatação, verificamos que existem, grosso modo, dois
padrões de transição: as que procuram imediatamente situações de finalização
(aproveitando a eventual desorganização do adversário ou criando-a
imediatamente: transições ofensivas agressivas), e as que resultam na
manutenção da posse de bola (para criar desequilíbrios no adversário que se
encontra defensivamente organizado). Surgindo, uma ou outra, do
reconhecimento do “estado” de organização do adversário nos momentos
consequentes à recuperação de bola.
Em segundo lugar, é pertinente relembrar que estamos a tratar das
referências de qualidade, das Equipas de top, cuja filosofia assenta nos
pressupostos de um futebol dominante, com o controlo e iniciativa do jogo. Pelo
que, a existência de outro tipo de transições ofensivas, para além, das
denominadas agressivas, revela-se de total pertinência.
4.2.1.1.1 Procura imediata de situações de finalização: transições
ofensivas agressivas
Estas transições surgem do reconhecimento da (eventual) fragilidade
defensiva do adversário imediatamente após ganho de bola. É essa provável
fragilidade do adversário que Van Gaal (Anexo 3) e Villas-Boas (Anexo 5)
referem que deve ser imediatamente aproveitada.
Independentemente das Equipas, sejam elas de Top ou não, existe
nesses momentos mais Espaço nas costas do adversário (excepto quando não
saem do seu meio-campo defensivo: bloco baixo). A diferença das Equipas de
top para as restantes está, no modo como equilibram defensivamente o ataque
(característica que vimos ser comum às Equipas de Top). Então, a
configuração destas transições depende, em grande medida, do adversário que
se defronta: de como ataca, como equilibra (ou não) esse ataque e de como
Apresentação e discussão dos resultados
142
defende em transição defensiva (pressiona logo após perda em bloco, ou recua
para depois pressionar, etc.). Podendo isso resultar numa maior (ou menor)
fragilidade defensiva do adversário que poderá ser explorada.
Deparamo-nos com duas situações padrão nestas transições ofensivas
agressivas: transição para imediatamente aproveitar a desorganização do
adversário e transição para imediatamente criar desequilíbrios no adversário (o
muitas vezes apelidado: ataque rápido). Villas-Boas (Anexo 5) elucida-nos com
dois exemplos, onde podemos constatar alguns pressupostos para levar a
efeito uma ou outra transição: “...o Porto por exemplo, após ganharem a bola
fazem transição inicial para fuga à pressão imediata (...) tem sempre
normalmente nas suas equipas grandes pivôs defensivos, capazes de
rapidamente receberem a bola, de se posicionarem... ou de criarem ângulos de
passe que permitam exactamente, receber a bola para tira-la da zona de
pressão... são equipas também que estão habituadas a desdobrarem-se
rapidamente... portanto, de um espaço fechado abrirem-se rapidamente para a
transição... o Porto prefere uma saída da zona de pressão para libertar o
homem mais distante em profundidade, ou o homem mais em amplitude...”
Uma configuração das transições que, regularmente, procura criar
desequilíbrios imediatamente após recuperação de bola. Note-se que, existem
aqui dois aspectos fundamentais: 1 – Qualidade dos jogadores que apoiam
(não apenas pelo posicionamento mas também pelo modo como recebem e
passam a bola) fundamentais para tirar a bola de um imediato momento de
pressão do adversário após perda de bola; 2 – Capacidade para rapidamente
se desdobrar.
Por sua vez: “...o Arsenal quer sair da zona de pressão, mas tem
qualidade para sair dela de uma forma explosiva... independentemente de o
espaço ser reduzido... porque tem qualidade no toque, tem velocidade no
toque, sabe jogar ao primeiro toque...” (Villas-Boas, Anexo 5). Nesta
configuração a qualidade dos jogadores eleva-se, permitindo uma transição
mais “perigosa” que procura rapidamente Espaços de finalização.
Duas Equipas, Porto e Arsenal, duas configurações completamente
distintas, que surgem, como salientamos, do reconhecimento estratégico do
Apresentação e discussão dos resultados
143
adversário e da capacidade dos jogadores em identificarem esses momentos
de maior fragilidade do adversário. Para que estas configurações se
concretizem, é necessário que as Equipas contemplem estas soluções no seu
“jogo”. Então, este padrão de ataque, podendo-se expressar de modos distintos
como vimos nos dois exemplos que o autor nos deu, deve ser equacionado em
função da ideia que se tem e da qualidade dos jogadores disponíveis. E é isso
que Van Gaal (Anexo 3) pretende da sua actual Equipa: “(...) esta época a
minha Equipa apresenta... uma melhor organização defensiva para criar
Espaços para os meus avançados que são muito rápidos...”. Pelo que
conhecemos da sua Equipa, essa “melhor” organização defensiva, resulta do
facto de defender com duas linhas de quatro jogadores, tendo assim mais
coberturas, e por defender num bloco médio-baixo, para assim aproveitar a
possível subida do adversário e potenciar as características dos jogadores
disponíveis, através do aproveitamento do Espaço que o adversário deixa nas
suas costas.
Villas-Boas (Anexo 5) ajuda-nos com outro exemplo: “... o Manchester
pensa exactamente em deixar um dos alas, pelo menos, meio-meio entre
transição e organização defensiva, normalmente ou é o Ronaldo... vamos
imaginar o Manchester em 4-4-2... e a defender em bloco médio-baixo como
defendem ou com as duas linhas de quatro compactas... um dos alas, já está
meio-meio entre transição, que é o Ronaldo... portanto, recebem a bola, saída
imediata de pressão e libertar o Ronaldo, primeiro objectivo, se não for o
Ronaldo, se o Ronaldo fechar, a transição já é com o Rooney em movimento
em diagonal nas costas do lateral... vais ver o jogo que nós jogamos com o
Manchester e vês... mesmo um jogo qualquer do Manchester do campeonato
inglês, que um deles já está com olho numa possível saída...”.
Podemos inferir que, de facto, existem preocupações das Equipas em
explorar a transição ofensiva agressiva, potenciando as qualidades dos
jogadores de modos distintos, em função das suas características e da ideia de
“jogo”. Porém, e repare-se como terminamos de citar o autor: “numa possível
saída”, ainda que haja a probabilidade de acontecer ela é determinada, em
grande medida, pelos constrangimentos que o adversário vai colocar.
Apresentação e discussão dos resultados
144
4.2.1.1.2 Manutenção da posse de bola
As transições ofensivas são, frequentemente, as únicas soluções de
ataque de Equipas de meio da tabela, como nos refere Villas-Boas (Anexo 5):
“(...) pega nas equipas que jogam contra essas equipas (de top), que vêm ali
nesse momento de transição o único momento onde talvez possam criar
situações de perigo... pensa em equipas por ex. como a Udinese... que tem
três jogadores na frente que são super rápidos, super agressivos, super
directos na profundidade, que querem atacar espaços nas costas, que tem
diagonais com um timing perfeito, portanto são equipas que contra as grandes,
sabem que aí podem ter possibilidades de sucesso...obviamente que os outros
momentos são importantes, mas se tu falares na Udinese, que tem ali 3
jogadores na frente, que está no meio da tabela, que sabe que esses três
jogadores da frente oferecem um tipo de transição agressiva, então defende-se
em bloco baixo e depois transição com esses três homens da frente... porque é
que a Udinese havia de mudar ou porque é que a Udinese não havia de
potenciar essa velocidade extrema que tem nesses três jogadores da frente...”.
Ainda que esta seja a realidade e, de facto, cada Equipa deve, dentro de
uma determinada “ideia de jogo”, potenciar aquilo que tem a disposição,
consideramos que, para um futebol de qualidade superior é fundamental que a
Equipa tenha outras soluções de ataque.
Imaginemos que duas Equipas de meio da tabela se defrontam. Ambas
têm nas transições ofensivas agressivas o único padrão de ataque à baliza do
adversário. Provavelmente, alguma terá que assumir mais a posse de bola. No
entanto, essa posse será um fim em si mesmo, pois dificilmente conseguirão
criar desequilíbrios (pela falta de soluções).
Uma outra situação: uma Equipa de top defronta uma Equipa de meio da
tabela. Sabendo a Equipa de top que o adversário defende em bloco baixo, na
tentativa de explorar a transição ofensiva agressiva, de que forma lhe pode
colocar problemas!? Para além da variabilidade de soluções quando recupera a
posse de bola, da qualidade dos jogadores, da capacidade de criar
desequilíbrios com o adversário defensivamente organizado, a Equipa de Top
Apresentação e discussão dos resultados
145
poderá tentar tirar o adversário do bloco baixo. O que se pode fazer de modos
distintos, com ou sem posse de bola. E aqui, tocamos num ponto que
consideramos muito importante. Se a Equipa de Top, estrategicamente,
defender em bloco baixo, “oferecendo” parte do seu meio-campo, assim como
a posse de bola, “obriga” o adversário a ter a bola. Provavelmente, aquilo que
vai acontecer é que a Equipa não vai ter grandes soluções para criar
desequilíbrios com o adversário defensivamente organizado. Para além dessa
dificuldade certamente que terá de se expor mais defensivamente, sair do tal
bloco baixo, abrir Espaços.
Ainda que muito genéricos, estes exemplos elucidam-nos acerca das
limitações ofensivas de uma Equipa cujo padrão de ataque se caracterize
(quase exclusivamente) pelas transições ofensivas agressivas. E assim, surge
a importância das Equipas terem outras soluções para realizar as transições,
concretamente de manterem a posse de bola para criar desequilíbrios (com o
adversário defensivamente organizado).
Apesar de esta ideia não estar explícita no discurso dos vários
treinadores de top, que mencionam a importância das transições ofensivas
agressivas, podemos facilmente reconhece-la nos seus discursos. Nesse
sentido, atentemos às palavras de Van Gaal (Anexo 3): “(...) quando o
adversário está desorganizado e nós recuperamos a bola, temos que
aproveitar essa desorganização... mas quando estás sempre a falhar o passe e
a perder a bola... então eu digo... “não... não! Paciência”, porque vês que eles
estão sempre a perder a bola e assim vais ter que recupera-la vezes sem
conta...”. Reconhecendo ainda que, quando se perde a bola frequentemente:
“perdes o controlo do jogo, estás sempre a perder a bola e assim eles dominam
o jogo, por isso, a posse de bola é sempre importante...”.
Podemos constatar que este treinador, à semelhança de outros
treinadores de top, não sobrevaloriza as transições ofensivas agressivas na
medida em que, reconhece também a importância da “posse de bola” (como
veremos sempre com bastante objectividade). A “posse de bola” está para Van
Gaal (Anexo 3) como a “criação de desequilíbrios” está nesta dissertação, ou
seja, um meio que deve ser utilizado com um fim, criar desequilíbrios no
Apresentação e discussão dos resultados
146
adversário que está defensivamente organizado. Para chegar a essa “posse de
bola” as transições são feitas de modo distinto, com mais segurança, tirando-a
das eventuais “zonas de pressão” e procurando Espaços favoráveis à
manutenção da posse de bola para desorganizar o adversário.
O comportamento colectivo que resulta da necessidade de “tirar a bola
das zonas de pressão” é fundamental na criação de desequilíbrios e pode ser
utilizado para procurar Espaços favoráveis a manutenção de posse para depois
criar desequilíbrios, ou então sair de pressão para criar imediatamente
situações de finalização (ver transições agressivas).
Pelo exposto, uma Equipa, para ser de Top, apresentando um futebol de
qualidade superior, tem necessariamente de ter várias soluções para as
transições. Se pensarmos nas Equipas que actualmente se encontram nas
meias-finais da Liga dos campeões: M.United, Chelsea, Barcelona, Arsenal.
Veremos exactamente que essa variabilidade está presente em todas elas.
4.2.1.2 Criação de desequilíbrios
Van Gaal (Anexo 3) dá-nos o mote para reflectir sobre a criação de
desequilíbrios: “Quando tens a posse de bola o teu adversário está
organizado... mas as Equipas de top conseguem criar, também, oportunidades
contra equipas organizadas, o Barcelona consegue faze-lo muito bem, o
Manchester também e penso que o AZ também...”. A necessidade de criar
desequilíbrios surge quando o adversário está defensivamente organizado. O
que pode acontecer imediatamente após recuperação de bola: se o adversário
tiver preocupação com os Equilíbrios dinâmicos; ou, quando o adversário está
em organização defensiva propriamente dita. Assim, seja como for que se
pretende criar desequilíbrios, a um reconhecimento da organização do
adversário.
A circulação de bola, sendo a referência colectiva de excelência da
posse de bola, não se restringe ao movimento da bola, existe toda uma
envolvência da Equipa no sentido de criar condições favoráveis para entrada
da bola, ou de um jogador com/sem bola, etc. com o objectivo de criar
Apresentação e discussão dos resultados
147
desequilíbrios. Com efeito, tem implícita toda uma dinâmica que engloba a
mobilidade da Equipa (dinâmica e subdinâmica posicional), as situações de
1vs1, a progressão com bola, etc. Assim, o que aqui vamos apresentar resulta
da reflexão do conteúdo das entrevistas, não dispensando, por isso, a leitura
da revisão de literatura, em concreto do (sub) capítulo 1.1.2.2 onde
aprofundamos os padrões de circulação de bola.
Apesar da circulação de bola puder, por si só, criar desequilíbrios no
adversário é necessário ter presente que ela se assume como uma grande
referência colectiva de posse de bola das Equipas de top, nesse sentido, vimos
anteriormente que a opinião de vários treinadores de top, onde incluímos os
nossos entrevistados (Van Gaal, Anexo 3, Villas-Boas, Anexo 5), é consensual
ao referirem que o melhor modo de ter a bola é circulando-a. Pelo exposto, a
circulação de bola afigura-se um importante meio táctico colectivo para criar
desequilíbrios, mas também para criar situações favoráveis à criação de
desequilíbrios (por exemplo: circular a bola a toda a largura, variando o ângulo
de ataque, procurando situações de 1vs1) e para aproveitar desequilíbrios
criados (por exemplo, pela mobilidade dos jogadores sem bola que arrastam
marcações abrindo Espaços onde se podem criar desequilíbrios). Daqui resulta
uma primeira característica fundamental, a objectividade com que a circulação
deve ser entendida: um meio para criar, aproveitar ou potenciar os
desequilíbrios no adversário.
Acerca desta circulação, assente na objectividade, mencionamos na
revisão de literatura, a possibilidade de existirem dois padrões de circulação
que resultam da “intensidade” com que se procura verticalizar o jogo. É
necessário ter presente que nos referimos a padrões, ou seja, algo que
acontece com regularidade, que depende do “jogo” que se pretende para
determinada Equipa (logo depende também de como os jogadores interpretam
e potenciam essa ideia).
Com efeito, acerca da circulação de bola vertical e horizontal, Villas-
Boas (Anexo 5), refere que não se pode separa-las e que, é a alternância entre
a verticalidade e horizontalidade que garante um “factor surpresa”. Para além
disso, acrescentamos que, os problemas que o adversário coloca à criação de
Apresentação e discussão dos resultados
148
desequilíbrios de uma Equipa, poderão requisitar uma circulação de bola
horizontal para depois verticalizar, ou então que a verticalização seja procurada
de uma forma mais “intensa”. Por exemplo: se o adversário joga
frequentemente em bloco baixo, a verticalização após circulação de bola
horizontal, tenderá a ser a melhor solução para criar desequilíbrios.
Relembremos o exemplo do Arsenal: consideramos na revisão de literatura
que, por padrão, esta é uma Equipa que procura a verticalidade de um modo
“intenso” (ver (sub)subcapítulo 1.1.2.2 onde apresentamos os argumentos que
nos levam a enquadrar esta Equipa nesse padrão), porém, quando defronta
uma Equipa que joga predominantemente em bloco baixo (por exemplo),
demonstra capacidade, e qualidade, para procurar essa verticalidade após
circular a bola na horizontal e assim criar desequilíbrios (tentando atrair o
adversário, ou com o movimento da bola pelos flancos criar desequilíbrios no
interior). Também Villas-Boas (Anexo 5) evidencia a existência desses padrões
de circulação e da variação da circulação horizontal/vertical, ao dar o exemplo
de outra Equipa de Top: “(...) penso que algumas a fazem (circulação de bola)
exactamente nesse aspecto, de uma forma mais horizontal, outras que fazem
um misto de horizontal com vertical, que é o caso do Liverpool.”.
Portanto, apesar de, por princípio, as Equipas tenderem a procurar a
verticalização de um modo mais “Intenso” ou após circulação horizontal,
consideramos que uma das características eminentes das Equipas de top é a
alternância entre verticalidade e horizontalidade, pelos dois motivos
apresentados: surpresa que pode causar no adversário; e, resolução dos
problemas colocados pelo adversário (altura do bloco, Áreas de pressão, etc.).
É pertinente ainda relembrar que, quando a bola entra em Espaços por
uma trajectória vertical, o risco de perda de bola aumenta, pois, à partida, os
constrangimentos provocados pelo adversário serão maiores. Havendo um
maior risco de perda de bola, as preocupações com os equilíbrios têm
necessariamente de ser maiores e nesse sentido Van Gaal (Anexo 3)
considera que: “(...) o passe vertical não é um passe de risco porque vais ter
sempre jogadores atrás da bola...”. Por sua vez, o passe horizontal tem que ser
um passe com maior segurança, pois como refere o autor: “...o passe em
Apresentação e discussão dos resultados
149
largura é que é um passe com risco...”, pois a Equipa tenderá a estar mais
“aberta”. Daqui emergem características inerentes à circulação de bola de
qualidade.
Tomemos como exemplo o Arsenal: frequentemente procura o passe
vertical dos centrais para o Adebayor ou Van Persie (subdinâmicas distintas
consoante seja um ou outro jogador). Se quando esse passe acontece a
Equipa (sobretudo o sector mais recuado) não fechar os Espaços interiores
corre o risco de sofrer uma transição agressiva do adversário, pois os passes
verticais implicam sempre um risco maior de perda da posse de bola. Portanto,
esse comportamento de fecho de Espaços interiores é muito importante para
permitir manter o Equilíbrio. Por outro lado, quando a mesma Equipa, procura a
verticalização após circulação horizontal (como vimos essa variação é
característica das Equipas de top) irá proceder à “instalação posicional”,
assumindo, “posições abertas” (o denominado “campo grande”). O Equilíbrio
nessa altura, em que a Equipa está aberta (sobretudo no sector mais recuado)
tem que ser garantido pela qualidade e segurança do passe e da recepção
(com implicações óbvias no posicionamento: orientação, ângulo e distância dos
apoios), caso contrário o risco de transição agressiva é também elevado.
Assim, é importante deixar claro que a circulação de bola de qualidade
têm implícita dinâmicas de Equilíbrio manifestamente distintas, consoante a
bola assume trajectórias verticais ou horizontais.
Na criação de desequilíbrios outros meios são utilizados, em
consonância com a circulação de bola para criar desequilíbrios, nomeadamente
as situações de 1vs1. Villas-Boas (Anexo 5) é explícito quanto à sua
importância: “Tocando nas equipas de topo, a forma como criam golos... como
tecnicamente têm muito mais qualidade permitem-lhes ser mais concretas e ter
mais possibilidades de sucesso no 1vs1 (...) por exemplo, o Carrick mete a bola
ao Ronaldo, o Ronaldo vira-se para o adversário, no 1vs1 é o melhor do mundo
ou dos melhores do mundo, quando a bola chega ali, tens a certeza de
sucesso no 1vs1 e tens certeza de sucesso no cruzamento... se disseres da
mesma forma que a bola entra do Xavi para o Messi e deixas o Messi, tens ali
Apresentação e discussão dos resultados
150
certeza de sucesso... nem sequer de cruzamento... certeza de remate interior
ou a partir de condução interior um passe de penetração mágico...”.
Vimos, na revisão de literatura, que a probabilidade de sucesso das
situações de 1vs1 é maior nos corredores laterais e se pensarmos nas Equipas
que se encontram nas meias-finais da liga dos campeões, vamos aí encontrar
jogadores muito virtuosos no 1vs1: Messi, C.Ronaldo, Henry, Walcott, Gigs,
J.Cole. Ainda que a qualidade se expresse de modo diferente, estes jogadores
dão garantias de sucesso no 1vs1 e dão continuidade à situação com bastante
qualidade. E este é um aspecto que consideramos central. Villas-Boas (Anexo
5) concorda com a nossa afirmação, quando referimos que “o jogo tende a fluir”
para os jogadores que são capazes de criar desequilíbrios (não apenas através
do 1vs1 mas também, através de passes verticais por ex.), porém o autor alerta
para a necessidade desses jogadores darem continuidade a essa fluidez.
Nesse sentido, imaginemos que a bola chega a um extremo que é muito bom
no 1vs1; contudo na continuação é requisitado um cruzamento, que,
eventualmente, sai defeituoso pela sua falta de qualidade (outros exemplos
poderiam suceder com jogadores que estão no centro). Daqui emana a
importância das qualidades técnicas dos jogadores ser incluída na reflexão
sobre o perfil de jogadores que se tem a disposição e da ideia que se pretende
para determinada Equipa.
Fazendo um pequeno desvio do tema central deste subcapítulo é
pertinente reforçar com um exemplo, a necessidade de ir à procura daquilo que
os jogadores podem oferecer, potenciando as suas qualidades: “o Maicon
chegava e tinha uma qualidade enorme a conduzir a bola interior e depois
tivemos que ir à procura de mecanismos de quando ele tem a bola, no espaço
interior e com o seu pé esquerdo o que pode fazer... se chuta à baliza, se cruza
com o pé esquerdo, se escolhe essas duas coisas, ou tens segunda bola do
GR, ou então se for só cruzamento tens de ter alguém ao segundo pau para
aparecer, o cruzamento ao segundo pau sairá defeituoso se for um cruzamento
com o pé esquerdo da direita, são coisas que te levam... que tivemos que
começar a analisar de acordo com o que ele oferecia nesse tipo de
movimentos.” (Villas-Boas, Anexo 5). Peguemos noutra situação concreta: o
Apresentação e discussão dos resultados
151
C.Ronaldo sendo dos melhores do mundo no 1vs1, expressa a sua qualidade
de modo muito distinto de Messi, por exemplo. Enquanto o C.Ronaldo procura
em velocidade ir “para cima dos adversários” o Messi é fenomenal a sair de
Espaços super-reduzidos. Como potenciar estas qualidades!? Crermos que
estruturando-se em 1-4-4-2, o C.Ronaldo a funcionar como médio-ala tem mais
hipóteses de sucesso porque tem mais Espaço para receber a bola e atacar o
adversário em velocidade. É isso que acontece no Manchester e, para além
disso, vemos que o outro Ala (Park) apresenta outras qualidades
(consequentemente outra (sub)dinâmica) que permitem compensar o maior
risco assumido pelo C.Ronaldo.
Retomando as situações de 1vs1, existe nas Equipas de top um outro
aspecto preponderante para a sua eficácia, os apoios. Os apoios são
fundamentais para qualquer jogador que tenha a posse de bola, podendo ser
frontais ou recuados, no entanto, os apoios aos jogadores que assumem
regularmente situações de 1vs1 têm peculiaridades que podem resultar na
maior ou menor eficácia na criação de desequilíbrios. Concretamente, a
distância (e ângulos) que mantêm entre si e o timing de inserimento vertical
para apoio frontal (movimento de overlap do lateral sobre o ala/extremo).
“(...) por exemplo um Ala que recebe uma bola, quantas vezes vês a
ânsia de um lateral em fazer um overlap, e em vez de manter uma distância
optimal para o ala, faz um apoio super curto ao ala...portanto, em vez de deixar
o ala sozinho em situação de 1vs1 já está a levar com esse movimento um
outro jogador por arrastamento, está a levar um adversário na direcção dessa
zona, e uma situação que, se calhar, era de 1vs1, se calhar, já é de 2vs1 ou de
inferioridade numérica.” Queiroz (2006) é da mesma opinião ao dar um
exemplo no Manchester de 2006: “Por exemplo, no lado direito, o C.Ronaldo
consegue fintar um, dois, três jogadores. Que sentido é que faz o Gary esteja
sempre a fazer overlaping por trás dele, só vai “atrapalhar” porque ele quer
fugir para a esquerda e para a direita e se o Gary se “meter” ali eu estou a
condicionar o meu jogador, mas se for o Gabriel Hinz ou o Quinter (que tem
menos poder de Drible) eu já vou pedir ao Quinter para ele fazer esse
movimento de entrada, tento em conta as características individuais…”.
Apresentação e discussão dos resultados
152
Assim, consideramos que a distância dos apoios é fundamental para o
sucesso do 1vs1, para além do Equilíbrio que garantem (permitindo ao jogador
em posse assumir mais riscos), permitem que o jogador tenha Espaço para
explorar o 1vs1.
No entanto, esses jogadores que citamos, não procuram sempre as
situações de 1vs1 (dependendo também do adversário), nesse sentido, os
apoios frontais assumem, também, preponderância na criação de
desequilíbrios. E, se pensarmos novamente nas Equipas que se encontram na
liga dos campeões, vamos encontrar jogadores, que partindo de trás
(normalmente os laterais: Alves, Abidal, Evra, A.Cole, Bosingwa, Sagna,
Clichy), com movimentos de overlap sobre o Ala/Extremo, dão apoio frontal aos
jogadores e são muitas vezes geradores de desequilíbrios: ou porque arrastam
uma marcação do interior para a faixa ou porque ficam num contexto favorável
para receber a bola e cruzar (por ex.). Nesse movimento de apoio é
fundamental o timing de inserimento do lateral: “(...) se tu vires agora o Barça tu
vês que há outro aspecto decisivo... há um lateral de um lado que chega
exactamente mais cedo, que se insere mais cedo, o outro lateral inicialmente
está em posição, quando a bola começa a circular para chegar ao outro lado,
vamos por exemplo imaginar, subiu o Silvinho... há circulação de bola e a bola
chega ao Messi do outro lado, analisa o tempo de inserimento do Daniel Alves,
vais ver que não é imediato, há sempre factor surpresa... não está
imediatamente em overlap, sabe escolher exactamente o tempo de
inserimento...” (Villas-Boas, Anexo 5). A questão está em identificar quando um
jogador como C.Ronaldo, ou Messi, vai no 1vs1, e para isso precisa de
Espaço, ou quando vai para o interior. Sendo que, essa identificação pode
passar por referenciar “indicadores de acção” ou seja, comportamentos que
levem o jogador, nesta situação o lateral, a agir de uma forma ou de outra. E
um possível indicador de acção para o inserimento vertical do lateral pode ser
por ex., o início do movimento interior do ala/extremo. Estas preocupações são
visíveis nas Equipas de top, sobretudo pelas que procuram frequentemente
criar desequilíbrios pelos corredores laterais como nos refere Villas-Boas
(Anexo 5): “(...) há uma das equipas de topo actual, que não favorece tanto a
Apresentação e discussão dos resultados
153
penetração vertical dos médios, porque prefere tê-los em posição e depois usar
as faixas e usar o movimento dos alas como grande gerador de criação de
oportunidades (...)”.
A criação de desequilíbrios depende em grande medida da dinâmica de
circulação que se pretende para determinada Equipa e do modo como se
pretende potenciar as qualidades dos jogadores nas faixas. Porém, ainda que
no corredor central seja mais difícil criar desequilíbrios, pela óbvia preocupação
do adversário com fecho de Espaços interiores, constatamos que as Equipas
de top, criam também desequilíbrios pelo corredor central, como vimos na
revisão de literatura existem vários modos de o fazer:
- Incorporação de mais um jogador no espaço do meio-campo: “Eu
quero criar sempre superioridade… por isso, um dos quatro (jogadores da linha
defensiva) tem que entrar no meio-campo… não interessa qual… mas quando
um entra os outros (três jogadores da linha defensiva) têm que fechar.” (Van
Gaal, Anexo 3);
- Distância entrelinhas: Consideramos na revisão que a distância
entrelinhas pode-se assumir como um comportamento importante no sentido
em que permite “aparecer” em Espaços livres para receber a bola ou arrastar
marcação. Assim, consideramos dois Espaços no corredor central que,
dependendo da dinâmica de circulação, poderão potenciar desequilíbrios no
adversário. O primeiro resulta da distância entre as linhas defensiva e
intermédia da Equipa que ataca. Não sendo consensual nos nossos
entrevistados: Por um lado Van Gaal (Anexo 3) pretende que as linhas da sua
Equipa estejam sempre juntas, referindo que o adversário pode tirar beneficio
se as linhas estiverem afastadas, por outro lado, ao manter as linhas juntas
considera que é crucial equacionar o Espaço defensivo nas costas da linha
defensiva. Porém, como deixamos claro, este Espaço é frequente sobretudo
nas Equipas que privilegiam a verticalização mais “intensa”, permitindo libertar
o Espaço onde jogadores da linha intermédia aparecem para receber livres de
marcação, ou então “abrir” o adversário, assim, o entendimento de Van Gaal
vai de encontro aquilo que pretende, regularmente (ou seja, como padrão) das
suas Equipas: verticalização após circulação de bola horizontal. Por sua vez,
Apresentação e discussão dos resultados
154
Villas-Boas (Anexo 5) não menciona este Espaço directamente, porém, ao
referenciar o comportamento dos centrais de “provocação à bola” subentende
que há Espaço livre (sem adversário e sem colegas de Equipa) à frente desse
jogador. Parece-nos, no entanto, que a importância desse Espaço não fica por
aí. Villas-Boas (Anexo 5) referiu que são poucas as Equipas que pressionam
alto, no entanto, são várias as Equipas que tentam, com dois ou três jogadores,
limitar a saída curta da outra Equipa. Tendo em conta essa possibilidade, e o
facto de não pressionarem alto, as Equipas não vão manter as linhas juntas,
aumentando assim a potencialidade deste Espaço na criação de desequilíbrios.
Com efeito, o aumento do Espaço entre estas linhas resulta na tentativa de
“empurrar” o adversário, fingindo movimentos de afastamento para depois
“aparecer”, é como se a Equipa que ataca, “esticasse” o adversário para assim
aumentar os Espaços favoráveis à manutenção da bola para criação de
desequilíbrios.
Outro Espaço mencionado refere-se ao Espaço entre as linhas
intermédia e avançada, que correspondem no adversário às linhas defensiva e
intermédia, sendo a sua importância considerada pelos nossos entrevistados,
mas de modo diverso. Ainda que, a sua ocupação seja fundamental para criar
desequilíbrios, o modo como se dinamiza esses Espaços é diferente tratando-
se de uma dinâmica preferencialmente horizontal ou vertical. Van Gaal (Anexo
3) a ocupar esse Espaço pretende um médio que suba, com penetração
vertical, porém, actualmente a jogar em 1-4-4-2 (desdobrando-se num 1-4-2-3-
1) tem a ocupar essa posição um segundo avançado, sendo que, a diferença
encontra-se sobretudo nos momentos após perda de bola. Pois, segundo o
autor, ainda que na Holanda consiga manter a segurança jogando com esse
segundo avançado, esse jogador defensivamente não funciona (depende
obviamente das qualidades dos jogadores). Para além disso, pretende desse
jogador um movimento muito interessante, que, apesar da sua preferência pela
verticalização após circulação horizontal, evidencia preocupações com a
verticalidade, nomeadamente o movimento que designa “contra”, descrito na
figura 21. Nessa figura podemos ver o posicionamento do segundo avançado,
atrás do pivô baixo do adversário. Movimentando-se no sentido contrário ao
Apresentação e discussão dos resultados
155
portador, indicando um movimento de “abertura”.
Este movimento permite uma linha de passe
frontal e que, no caso de haver esse passe
vertical, é um jogador que facilmente recebe
orientado para a baliza, de frente para o jogo.
Este comportamento, como referimos é muito
interessante, porque frequentemente (sobretudo
quando a Equipa procura verticalizar após
circulação horizontal) o jogador que aí aparece
surge a tabelar com um jogador que aparece de trás para a frente.
Mas a ocupação desses Espaços depende em grande medida das
qualidades dos jogadores que aí aparecem, já o tínhamos visto com Van Gaal
(Anexo 3), no entanto, Villas-Boas (Anexo 5) ajuda-nos a reforçar esse
importante aspecto: “Pensa no Gerard e no Lampard... tu não queres um
ponta-de-lança que vem entre linhas, porque estes dois, o Lampard e o Gerard,
têm um grande raio de acção e são jogadores que te vão frequentemente
aparecer neste espaço, talvez o Gerard mais e o Lampard mais em
profundidade... o Lampard irritava-se muitas vezes com o Drogba porque ele
queria receber a bola neste espaço e depois por incrível que pareça tinha o
primeiro toque desastroso... perdia a bola... e estávamos logo obviamente
sujeitos a transição, porque o Lampard já tinha entrado e já estava quase em
igualdade ou em inferioridade no meio-campo... tentamos limita-lo nesse
aspecto e de incentiva-lo mais à profundidade...”.
Voltaremos novamente a abordar estes Espaços quando reflectirmos
sobre as Estruturas em capítulo posterior. Porém, fica desde já evidenciada a
importância do “jogo” que se pode produzir a partir destes “Espaços
entrelinhas”.
Salientamos ainda na revisão mais dois importantes aspectos:
triangulações no Espaço e a mobilidade dos jogadores. No entanto, uma vez
que não tivemos oportunidade de tocar nesses aspectos, que também
consideramos relevantes, remetemos o leitor para a revisão de literatura,
Figura 21. Movimento “contra”
que Van Gaal pretende do seu
Pivô alto
Apresentação e discussão dos resultados
156
concretamente para o (sub)subcapítulo 1.1.2.2 Criação de desequilíbrios:
1.1.2.2.4: Desequilíbrios no corredor central.
Ainda que a qualidade da Equipa, a sua dinâmica e subdinâmicas, sejam
o aspecto central na criação de desequilíbrios, constatamos que o adversário
pode determinar em grande medida como se vão criar desequilíbrios. Nesse
sentido, olhando para as Equipas de top, constatamos que a maioria das
Equipas que defrontam defendem em bloco baixo: “(...) a cultura do bloco baixo
actual no futebol... normalmente analisas a maior parte das equipas, deixou de
haver equipas de pressão alta de bloco alto, deixou de haver... ok, falamos de
velocidade e urgência no aspecto ofensivo mas no aspecto defensivo falamos
em precaução, em medo, em esperar uma transição...” (Villas-Boas, Anexo 5).
O mesmo autor (Anexo 5) deixa claro que não é só o bloco baixo das Equipas
que não são de top que dificultam a criação de desequilíbrios: “(...) a maior
parte das equipas não posiciona o bloco alto, tu vês uma equipa que
actualmente joga com um bloco médio, ultra-curto, e te pode limitar as duas
formas, é a Juventus, porque o espaço nas costas controla com um fora-de-
jogo espectacular com um timing fora de serie... e o passe vertical limitam
porque estão em 30 ou 40 metros, estão completamente fechados em duas
linhas de 4 mais os 2 pontas de lança.”. Perante esta situação generalizada
existem algumas soluções, apontadas pelos nossos entrevistados, que nos
parecem ser frequentes em algumas Equipas de top e que têm resultados
concretos. Van Gaal (Anexo 3) para “tirar” os jogadores do bloco do adversário
pretende que a bola circule a toda a largura em espaços mais recuados, com
paciência para provocar o adversário ou mesmo abrir espaços interiores. Villas-
Boas (Anexo 5) fala em “provocação à bola”: “(...) depois de conquistares esse
meio-campo, o adversário esta em bloco baixo, podes jogar com provocação
do adversário à bola, a bola é a referência para o adversário, e tens que
começar a perceber que há muitas jogadores que tem um espaço à frente e
que podem provocar um adversário à bola para conquistar um espaço ...
(...)“Tem que ser com provocação à bola, que é o que a maior parte das
equipas não sabe, não se compreende, é um aspecto do jogo que é essencial,
nesta altura de equipas de bloco médio-baixo de bloco ultra-compacto, vais ter
Apresentação e discussão dos resultados
157
que aprender a provocar, é a bola que eles querem, a equipa tem que aprender
a provocar com bola, com a condução de bola.”
Como referimos esta reflexão resulta da interpretação ao conteúdo das
entrevistas, de onde pudemos extrair conteúdo bastante rico, porém tem
necessariamente de ser complementada com a leitura da revisão de literatura.
4.2.1.3 Criação de situações de Finalização/ Finalização
Vimos anteriormente que uma das características dinâmicas “gerais”
comuns às Equipas de top relaciona-se com o número de jogadores com
capacidade para aparecer em Espaços de finalização, criando situações de
finalização ou concluindo-as.
Van Gaal (Anexo 3) corrobora ao afirmar que para finalizar “precisas
sempre mais do que os avançados...”, no entanto, é necessário esclarecer um
aspecto preponderante no êxito das Equipas, que os nossos entrevistados
deixam antever nos seus discursos. Não se trata de atacar com muitos
jogadores, ainda que, o número de jogadores envolvidos no ataque dependa
do adversário (de como defende, de como pensa o ataque quando está em
organização defensiva, da qualidade dos seus jogadores, etc.), mas sim de
vários jogadores terem capacidade para aparecer nesses Espaços sem
comprometer o equilíbrio da Equipa, o que não significa necessariamente
muitos jogadores ao mesmo tempo. E este é um aspecto crucial nas Equipas
de top, tendo em conta que a maioria das Equipas que as defrontam, tentam
explorar as transições ofensivas, logo se aparecerem com muitos jogadores em
Espaços de finalização resulta num maior Espaço defensivo a cobrir. Esta
preocupação é visível nas palavras de Villas-Boas (Anexo 5): “(...) era uma
coisa que no início não privilegiava-mos... menos penetração dos médios...
porque queria exactamente a libertação do Maicon pela faixa e depois
preocupava-se com o equilíbrio em transição... a partir dai limitou um bocado o
inserimento dos médios para dar liberdade ao Maicon para aparecer de trás
para a frente... atacar com mais números não significa maior número de
criação de oportunidades, significa exactamente isso... correr riscos maiores...
Apresentação e discussão dos resultados
158
(...) atacar com mais gente não é sinal de qualidade obviamente, depende do
que tens à disposição e a forma como o queres fazer.”. Assim, a subida de um
jogador que aparece frequentemente em Espaços de finalização têm que ser
devidamente equacionada, nesta situação, jogando em 1-4-3-3, limitavam a
penetração vertical dos médios, obviamente que isto é uma regularidade, não
impede de em certas circunstâncias, com a Equipa toda em sintonia, que os
médios assumam movimentos de penetração vertical.
Portanto, apesar de vários jogadores puderem aparecer em Espaços
onde possam criar situações de finalização ou conclui-las, o modo como, quem
e quando aparecem, depende em grande medida da filosofia, do sistema e das
características dos jogadores disponíveis (Van Gaal, Anexo 3).
4.2.2 (Macro)Organização Estrutural
Na revisão de literatura vimos que um qualquer “jogar” (dinâmica
Específica), resulta da ideia de jogo do treinador ajustada à Equipa, de forma a
potenciar as características dos jogadores. Desta convergência no terreno,
poderá resultar algo novo em função da individualidade de cada jogador
(dinâmica em Espiral inicia-se com a interpretação dos jogadores às ideias do
treinador). Sendo que, as características dos jogadores exprimem-se no
terreno de jogo em função dos colegas (jogo colectivo) e do adversário,
resultando daqui um comportamento dinâmico. O discurso dos nossos
entrevistados (Van Gaal, Anexo 3, Villas-Boas, Anexo 5) corrobora esta ideia e
consideramos que só assim faz sentido pensar o conteúdo do jogo.
Vamos seguir o nosso raciocínio com o exemplo concreto de uma
subdinâmica intersectorial (ver capítulo 2.2.3: figura 6) do Inter de Milão: temos
Maicon a lateral, com uma capacidade enorme para aparecer em Espaços de
finalização, tanto com penetrações verticais interiores como exteriores, com ou
sem bola. Para potenciar essas qualidades de Maicon, é necessário que outros
jogadores o compensem, segundo Villas-Boas (Anexo 5) essa compensação
passa por limitar o inserimento vertical dos médios, criando-se assim uma
subdinâmica que funciona em prol do colectivo.
Apresentação e discussão dos resultados
159
Porém, temos de ir mais longe nesta reflexão: esta subdinâmica é
concretizada em função apenas das qualidades de um jogador!? Suponhamos
que um desses médios é o Lampard, o Gerard ou o Fabregas. Obviamente que
são muito diferentes entre si, mas os três com características muito distintas do
Zanneti, enquanto esses jogadores procuram muito mais a verticalidade (de
modo distinto), Zanneti possui outras qualidades: procura mais os apoios, os
equilíbrios, as compensações, ou seja, a segurança da Equipa. Assim, se em
vez do Zannetti estivesse um jogador como Fabregas, por exemplo,
obviamente que se teria de repensar a subdinâmica em função das qualidades
do Maicon e do Fabregas, no sentido de aproveitar as qualidades de ambos no
inserimento vertical.
Não podemos, no entanto, ignorar que esse comportamento dinâmico
resulta de um posicionamento de partida, que permite aos jogadores coordenar
e reajustar as suas (inter)acções. Com efeito, a estrutura (enquanto, referência
de posicionamento dos jogadores em campo) ao promover diferentes
(sub)dinâmicas, revela-se um aspecto fundamental na potenciação das
características dos jogadores. Daqui emerge outra questão: que estrutura
potencia esta subdinâmica em concreto!?
Na revisão de literatura realçamos a existência de duas Estruturas que
prevalecem na maioria das Equipas: 1-4-3-3 e o 1-4-4-2 das quais surgem
inúmeras variantes que se vão desenhando com a dinâmica Específica das
diferentes Equipas. Sobre o 1-4-3-3 Van Gaal (Anexo 3) concorda que é a
estrutura que permite uma distribuição mais racional do Espaço de jogo.
Quanto ao 1-4-4-2 os nossos entrevistados (Van Gaal, Anexo 3; Villas-Boas,
Anexo 5) diferenciaram o 1-4-4-2 clássico do 1-4-4-2 losango. Para já o que
nos interessa é contextualizar as estruturas com a subdinâmica que estamos a
utilizar para assim percebermos a sua pertinência, nos próximos capítulos
iremos explorar com maior profundidade as diferenças entre essas estruturas.
Portanto, retomando o nosso exemplo: para que um jogador do meio-
campo ou da defesa (no exemplo, o lateral) apareça em Espaços de finalização
com movimentos verticais de trás para a frente é necessário que haja Espaço.
Portanto, se temos no inserimento vertical do lateral uma referência importante
Apresentação e discussão dos resultados
160
no ataque à baliza do adversário, é necessário que exista Espaço no corredor
para que ele possa subir. Qualquer das Estruturas tem Espaço passível de ser
aproveitado pela verticalidade do lateral, pelo que, teremos de olhar para os
jogadores que no corredor se encontram. Pegando novamente no Inter, se a
Equipa se posicionar em 1-4-4-2, o médio Ala seria o Zannetti, cuja tendência é
jogar por dentro, desse modo o Maicon teria todo o corredor para explorar. Se
a Equipa se posicionar em 1-4-3-3, como aconteceu no início do campeonato
com a presença de Quaresma, o jogador que se encontra a Extremo tem que
apresentar uma dinâmica posicional de procura de Espaços interiores para
libertar o corredor, caso contrário poderá haver sobreposição de jogadores.
Para além disso, o facto de jogar com dois avançados promove no adversário
maiores preocupações com o centro da defesa, e desse modo, os laterais
adversários terão que fechar mais o interior. Portanto, à partida o 1-4-4-2
(sobretudo losango) potencia está subdinâmica.
No entanto, ainda que esta estrutura seja favorável a essa subdinâmica
Específica, o comportamento vertical de um qualquer lateral pode,
efectivamente, acontecer com qualidade, em qualquer Estrutura,
independentemente do Espaço que ela cria, por si só, no corredor. Como refere
Cruyff (2008) a questão é que se fabriquem esses Espaços, nesse sentido, não
é raro vermos o Ibra a cair na faixa, ainda que ocupe um Espaço onde o lateral
pode aparecer, o que está a fazer é a “amadurecer” o Espaço, criando
condições favoráveis à entrada do lateral e à criação de situações de
finalização. Do mesmo modo, vemos no Barcelona, que o Daniel Alves, apesar
de Messi se encontrar no corredor, aparece muitas vezes com movimentos de
trás para a frente a criar situações de finalização, no entanto, vemos que o seu
timing de inserimento vertical é muito bom, nesse sentido, não sendo um
inserimento imediato, como fazem constantemente os ingleses (Villas-Boas,
Anexo 5), “amadurece” o Espaço entrando com um timing perfeito.
Daqui retiramos que a Estrutura é fundamental em função de uma ideia
de jogo e dos jogadores disponíveis. Dizer que uma ou outra estrutura é melhor
do que outra na manifestação de determinados comportamentos é uma
Apresentação e discussão dos resultados
161
abstracção se não olharmos para uma ideia de jogo e para as características
dos jogadores em concreto.
Mas a questão da estrutura e das dinâmicas é muito mais complexa,
nesse sentido Villas-Boas (Anexo 5) ajuda-nos a levar esta reflexão um pouco
mais longe: “(...), há estruturas que te levam a determinado tipo de coisas,
depois... que estrutura contra que estrutura, percebes.. vamos alargar isto...
normalmente as pessoas pensam que falar em estruturas é uma coisa que não
tem importância, o que tem importância são as dinâmicas... ora bem, mete uma
estrutura contra uma estrutura e vês que as dinâmicas de compensação são
completamente diferentes...”. Ou seja, ainda que as estruturas potenciem
determinado tipo de dinâmicas em função das características dos jogadores, é
necessário realçar que existe um adversário que as pode (ou não) condicionar.
Continuando com o exemplo da subdinâmica intersectorial do Inter:
imaginemos que o Inter joga contra o Arsenal ou mesmo contra o M.United,
que jogam em 1-4-4-2 com dois avançados de qualidade inquestionável e com
médios-ala com capacidade para jogar tanto por dentro como por fora,
aumentando assim a imprevisibilidade: ao terem capacidade para aparecer
tanto no corredor, como pelo interior: deixando Espaço para a subida dos
laterais, aumentam a “complexidade” do trabalho defensivo do lateral
adversário. Ideia que também foi deixada por Hiddink na antevisão do jogo
Barcelona - Chelsea (meia-final da liga dos campeões), onde referiu, acerca do
lateral Bosingwa, que ia ter um “trabalho muito complexo”. E esta complexidade
do trabalho defensivo condiciona obviamente o trabalho ofensivo. Assim, em
vez de termos um Maicon com frequentes subidas no terreno teríamos um
Maicon com maiores preocupações com o Espaço defensivo nos corredores,
condicionando assim a subdinâmica que temos utilizado como exemplo.
Portanto, a subdinâmica do corredor, mesmo jogando na mesma estrutura,
pode divergir em função do adversário (de como se posiciona e da sua
qualidade).
Estes condicionamentos acontecem sob o ponto de vista defensivo,
dificilmente uma Equipa que não seja de top os consegue criar a outra Equipa
que o seja. Assim, temos de olhar também para os confrontos Estruturais sob o
Apresentação e discussão dos resultados
162
ponto de vista da dinâmica ofensiva, ou seja, de como defende o adversário a
dinâmica estrutural da Equipa. Nesse sentido Villas-Boas (Anexo 5) dá-nos um
exemplo: “(...)equipa (Regina) que teve resultados, dois grandes resultados em
3-5-2, empatou com o Milão, empatou com a Roma, sabia que nós,
potencialmente, íamos jogar num 4-3-3 porque nos
estávamos a sair bem no 4-3-3...nós jogamos com o
Ballotelli, Mancini e com o Ibra e os gajos de estrutura
que lhes estava a garantir sucesso, que era o seu 3-5-2,
passou para um 4-3-3 inesperadamente... agora pensa
no seguinte... eles antes estavam em 3-5-2, um dos
aspectos do nosso vídeo era que, os externos deles...
que tipo de posicionamento é que iam ter. Se tu pensares
nos externos que fecham para uma defesa de 5 deixam-
se estar tranquilos... mas a partir do momento em que
começas a penetrar com o teu lateral com bola, se saltar
o externo a pressionar o teu lateral, o espaço nas costas
desse externo fica exposto (figura 22)... evidenciamos
exactamente isso no vídeo... se o externo se manter em
posição e saltarem com um do meio-campo, então tens
superioridade no meio (figura 23). Portanto, de acordo
com a estrutura deles e de acordo com a nossa estrutura,
evidenciamos dois tipos de movimento e dois tipos de
espaços diferentes, (...)”
A complexidade das estruturas e das dinâmicas é
de tal modo grande que a sua importância só pode ser encontrada no seio das
Equipas, daí a pertinência de se acrescentar a palavra Táctica. Portanto, ainda
que nos capítulos seguintes apresentemos aspectos que resultam de
regularidades das Equipas de top e cuja relevância consideramos pertinente
que seja acentuada, é necessário ter sempre presente esta ideia que, neste
capítulo, exploramos.
Figura 23. Médio a
“saltar” no lateral
Figura 22. Externos
a “saltar” ao lateral
Apresentação e discussão dos resultados
163
4.2.2.1 Jogo Posicional
O “jogo posicional” é frequentemente associado ao posicionamento dos
jogadores em campo, ou seja, à distribuição dos jogadores de acordo com a
Estrutura que as Equipas definem. Com efeito, diferentes Estruturas implicam
diferentes “jogos posicionais”. Porém, crê-mos que esta perspectiva, por si só,
é redutora da verdadeira essência deste “conceito prático”.
Concordamos com Van Gaal (2006)
quando refere que o posicionamento de um
jogador, não se restringe ao Espaço que uma
linha define, mas a uma área (que designamos
de intervenção/ responsabilidade), dando-nos o
exemplo da área que define para o seu extremo
(Figura 24). Consideramos que este é um ponto
fulcral no entendimento do jogo posicional,
consequentemente desta nossa reflexão.
Da idealização de Jogo de um treinador, para determinados
jogadores/Equipa, surge a definição de uma Estrutura que esse treinador
acredita potenciar determinadas dinâmicas. Se diferentes Estruturas resultam
em diferentes distribuições espaciais das Equipas, as áreas de intervenção são
manifestamente distintas no 1-4-3-3 e no 1-4-4-2. Significa isto que as áreas de
intervenção dos jogadores de duas Equipas que se posicionam, por exemplo
em 1-4-3-3, são as mesmas!?
Creemos que não, porque o jogo posicional está para além da
disposição dos jogadores em campo. Resulta em primeiro lugar, da ideia de
jogo que o treinador tem para determinada Equipa, a partir da qual define
responsabilidades para os jogadores em função das suas características e
capacidades e da posição/área que ocupam. Assim, podemos inferir que o
“jogo posicional” depende da Especificidade dinâmica das Equipas, e portanto,
a definição de áreas de intervenção dos jogadores é diferente de Equipa para
Equipa. Com efeito, o bom jogo posicional de uma Equipa pode não o ser para
outra Equipa.
Figura 24. Área de intervenção
do Extremo (Van Gaal, 2006)
Apresentação e discussão dos resultados
164
Para além da interpretação colectiva que os jogadores fazem a essas
áreas, em função das tarefas que lhe são atribuídas, existe também uma
interpretação individual dos jogadores que depende das suas características e
capacidades. Portanto, dentro da mesma Equipa, a mudança de um jogador
por outro, terá implicações na configuração das áreas de intervenção. Assim,
podemos inferir que o jogo posicional vai desde o individual ao colectivo e está
dependente das áreas definidas para os jogadores.
Outras questões se levantam e interessam ser esclarecidas: a
(inter)acção dos jogadores restringe-se a essas áreas!? Em função destas
áreas qual a importância das trocas posicionais!?
Essas áreas funcionam como referências para que a Equipa apresente
um “jogo” coerente e evidencie algumas regularidades ao longo dos “jogos” que
permitam definir uma identidade colectiva. Assim, não podemos interpretar
essas áreas como “quadrados fechados”, mas antes como referências de
organização (global) da Equipa.
Relativamente às trocas posicionais, é pertinente reflectirmos mais
aprofundadamente sobre as mesmas, pois elas existem e podem ser, se
devidamente equacionadas, um “meio táctico” útil na criação de desequilíbrios
e de situações de finalização.
Admitimos que ocorre uma troca posicional quando um jogador, por
exemplo, um extremo, ocupa a posição do ponta de lança. Esta troca
posicional pressupõe que o Extremo passa a assumir as funções incumbidas
ao Ponta de lança e vice-versa, exigindo-se desse modo, qualidade na
interpretação colectiva do novo posicionamento que esses jogadores
assumem. Sendo assim, esses jogadores, nesse novo posicionamento, devem
frequentemente pensar acerca daquilo que a Equipa espera deles
(interpretação colectiva).
Porém, ao existir uma interpretação individual das áreas de intervenção,
que, como vimos, se relaciona com as qualidades e capacidades dos
jogadores, as subdinâmicas das respectivas posições serão manifestamente
distintas após a troca posicional. Por exemplo, no Barcelona, a troca posicional
no decorrer do jogo entre Messi e Eto’o é frequente, o que tem implicações nas
Apresentação e discussão dos resultados
165
subdinâmicas ofensivas e portanto podem criar novos problemas ao
adversário. Assim, enquanto que Eto’o é mais referência frontal de
profundidade, Messi é jogador para descer mais no terreno segurar a bola para
se virar e procurar as diagonais de Eto’o ou Henry. O que vai criar novos
problemas ao adversário, que se terá de reajustar a essa nova situação e,
neste exemplo em concreto, não nos podemos esquecer que estamos a falar
dos melhores jogadores do mundo.
Levanta-se outra questão: faz sentido pensar as trocas posicionais por
exemplo: de médios com avançados!? Depende obviamente da Especificidade
dinâmica da Equipa, no entanto, estas trocas são mais “delicadas”, uma vez
que a posição do meio-campo, como vimos, tem maior responsabilidade na
organização do jogo (equilíbrios, 2ª bolas, criação...) , como tal, é necessário
ter uma “cultura de posição” muito grande e uma consciência colectiva que não
se sobreponha ao desejo individual de se mostrar na “cara” do guarda-redes.
Ainda relativamente às trocas posicionais é pertinente esclarecer um
aspecto que vem de uma ideia deixada por Villas-Boas (Anexo 5):“ ... a troca
posicional tem que acontecer e parar num determinado ponto onde te crie
dúvidas... onde o lateral ficou à espera do médio adversário que vinha em troca
posicional com o ala e que já não apareceu... ficou ali no meio-meio, ficou no
meio entre a posição dele e a posição do central, e assim já o vai obrigar a sair
de posição...”. Aquilo que o autor refere como sendo “troca posicional”, nós
definimos como “dinâmica de posição”, na medida em que, não há uma troca
no sentido em que referimos, de um extremo passar a ponta de lança, por
exemplo, mas há um movimento do extremo, ou do médio, para o Espaço entre
o lateral e central adversário. Sendo que, essa dinâmica de posição depende
da interpretação individual e colectiva às áreas de intervenção dos jogadores e
consideramos ser, de acordo com Villas-Boas (Anexo 5) um importante aspecto
a equacionar na criação de desequilíbrios, uma vez que está relacionado,
também, com o “jogo entrelinhas”.
Assim, tendo em consideração tudo o que apresentamos neste
subcapítulo, concordamos com Villas-Boas (Anexo 5) quando define jogo
posicional do seguinte modo: “... equilíbrio optimal entre o que queres atingir
Apresentação e discussão dos resultados
166
em termos de modelo, em termos de princípios, em termos de estrutura,
portanto, um equilíbrio de tudo isso que potencie uma forma de jogar e a tua
forma de criar oportunidades...”.
A importância do jogo posicional revê-se ainda nas características que
identificamos na revisão de literatura: diagonais posicionais dinâmicas;
subestrutura posicional; posicionamento para ganho de segundas bolas;
equilíbrios dinâmicos, e cuja importância é expressa no discurso dos nossos
entrevistados.
4.2.2.1.1 Diagonais posicionais dinâmicas; subestrutura posicional;
posicionamento para ganho de segundas bolas; e equilíbrios dinâmicos.
A importância das diagonais posicionais dinâmicas foi revista na revisão
de literatura e confirmada pelos nossos entrevistados. Nesse sentido, Villas-
Boas (Anexo 5) dá-nos um exemplo: “(...) uma coisa que acontecia muito em
Inglaterra era, quando as equipas jogavam em 4-4-2, os dois médios centro
criavam passes paralelos um para o outro... e o que se fazia era o Lampard, ou
o Gerard no caso do Liverpool, tentavam cortar esses espaços ou com
velocidade de movimento cortavam esse passe e deixavam imediatamente dois
jogadores eliminados em transicão.”. Relacionado com este exemplo, o autor
alerta para a importância de aspectos muitas vezes ignorados e que são
aspectos básicos no desenvolvimento de um qualquer jogar, e como tal, dados
muitas vezes por adquiridos, concretamente o ângulo (que permite a diagonal)
e distância dos apoios. Acrescentaríamos ainda a orientação dos apoios (dos
membros inferiores), que em muitas situações é o pormenor decisivo (por isso,
um “pormaior”) na continuidade dada à fluidez do jogo: “...a fluidez tem um
sentido se tu, tecnicamente, fores capaz de dar continuidade a essa fluidez, se
tu tecnicamente és limitado ou se fazes um mau controlo... se te metes
automaticamente sob pressão, a fluidez fica automaticamente limitada” (Villas-
Boas, Anexo 5). Portanto, aquilo que neste momento interessa deixar claro é a
importância das diagonais posicionais dinâmicas (orientação, ângulo e
Apresentação e discussão dos resultados
167
distância dos apoios), estando estas relacionadas com o padrão de circulação
de bola que as Equipas privilegiam iremos aprofunda-las posteriormente.
Sobre a subestrutura posicional podemos inferir no discurso dos nossos
entrevistados a importância que o posicionamento mais “fixo” de determinadas
áreas assume, nomeadamente as que definimos na revisão de literatura e que
são regularmente ocupadas pelo(s): Guarda-Redes (área 1), Centrais (área 2),
Pivô(s) baixos (área 3) e avançado(s) (área 4). Portanto, vamos rever cada
uma dessas áreas, confrontando o que salientamos na revisão de literatura
com aquilo que os nossos entrevistados preconizam como sendo determinante
num futebol de qualidade superior.
A área 1, ocupada pelo GR, é importante qualquer que seja o jogar que
se pretenda de qualidade. Vimos que as suas decisões definem, em grande
medida, o modo como se vão criar situações de finalização na baliza do
adversário. Quando o adversário está defensivamente organizado e, portanto,
a Equipa tem de criar desequilíbrios, este jogador define se joga curto ou longo.
Vimos também que, jogando curto a Equipa tem mais possibilidades de manter
a bola e terá mais Espaço para criar desequilíbrios, enquanto que, as bolas
longas surgem, frequentemente, como um recurso. Nesse sentido, Van Gaal
(Anexo 3) pretende que a sua Equipa inicie sempre curto a partir do Guarda-
Redes, ainda que, em determinadas circunstâncias, o Guarda-redes jogue
longo. Há aqui dois aspectos que consideramos fundamentais e que resultam
das seguintes questões: em que circunstâncias as bolas longas são a solução
mais adequada? De que forma são potenciadas as bolas longas?
Van Gaal (Anexo 3) refere que uma das possíveis circunstâncias que
levam o guarda-redes optar pelo jogo longo, são as más condições do terreno
de jogo, que poderão dificultar o passe de qualidade. No entanto, Villas-Boas
(Anexo 5) salienta outros aspectos importantes que vão de encontro a dois
pontos que abordamos no subcapítulo anterior: características e capacidades
dos jogadores e “que estrutura contra que estrutura”.
Nesse sentido, o autor refere que: “...se tiveres um central que tem
dificuldade ou que tecnicamente é limitado não o vais querer fazer, não queres
arriscar, se tiveres centrais que estão confortáveis com a bola... acho que sim,
Apresentação e discussão dos resultados
168
que podes arriscar...vamos imaginar, o único sistema que te pode meter em
dificuldade, nessa construção, nessa saída curta com centrais abertos e
laterais projectados para receber a bola, é um 4-4-2 clássico, porque tens dois
pontas de lança para os teus dois centrais e tens dois alas que podem encostar
nos teus dois laterais. Portanto, é o único sistema que normalmente te pode
limitar em termos de construção curta, se for contra um 4-3-3 estás à vontade
porque tens sempre superioridade, se for um 4-4-2 losango, também podes
jogar com os homens que saltam do losango que, têm forçosamente que
bascular ao lateral. O único sistema, portanto, que pode criar dificuldade a esse
tipo de construção é um 4-4-2 clássico...”. Obviamente que esses
condicionamentos que as Estruturas podem colocar à construção curta, só
acontecem se houver uma pressão activa da Equipa que está em organização
defensiva. Ainda que muitas Equipas não pressionem em bloco alto, vemos
algumas situações em que, com uma organização defensiva com muitas linhas
horizontais (muitas coberturas), a Equipa consegue condicionar a saída curta
do adversário para determinadas áreas para depois um jogador (dependendo
das suas características e capacidades) pressionar com alguma intensidade.
Vemos isso regularmente no Liverpool, com o Torres a condicionar para depois
o Gerard pressionar para ganhar a bola (Villas-Boas, Anexo 5) e se nos
recordarmos do célebre jogo Real Madrid vs Barcelona (2-6), verificamos que o
terceiro golo, marcado por Messi, resulta exactamente da pressão mais intensa
de Xavi. Recordemo-nos das circunstâncias: o Barça jogou com três jogadores
abertos na frente, na altura com Messi a ponta de lança (troca posicional com
Eto’o) que, em organização defensiva, pressionou um central com bola,
fechando linha de passe interior (para o outro central) e “obrigando” o
adversário a utilizar a linha de passe para o médio centro, que assim recebeu
de costas. Nesse preciso momento, há um movimento vertical de Xavi a
pressionar e a roubar a bola, criando uma situação de finalização que resultou
em golo.
Interessa aqui sair um pouco da temática, para reflectir um pouco sobre
esta situação que tem que ver, também, com o lado projectivo do jogo, ou seja,
o pensar o Ataque quando se está defensivamente organizado. Nesse sentido,
Apresentação e discussão dos resultados
169
a definição de indicadores de pressão (por exemplo, se o adversário recebe de
costas: Equipa pressiona) ou de áreas preferenciais para pressionar (Um
jogador condiciona para determinada área para depois outro(s) pressionar(em)
intensamente, o exemplo acima citado é claro) é um aspecto muito importante
na preparação do ataque. Villas-Boas (Anexo 5) reconhece a importância de
definir momentos de pressão na preparação do ataque alertando para aquilo
que se tem de pensar quando são definidos esses indicadores: “...isso já vai de
encontro à observação que fazes do adversário... ao que potencias, ou as
zonas que potencias onde podes ganhar mais vezes a bola, aos jogadores que
tecnicamente são mais limitados que podes pressionar de uma forma
diferente...”.
Voltando às saídas pelo Guarda-Redes: perante o exposto, há alturas
em que o guarda-redes têm necessariamente que jogar longo. Nesse sentido, é
necessário que esse comportamento não seja feito ao “acaso”, pois se assim
for a Equipa aumenta, ainda mais, as probabilidades de perder a bola.
Com efeito Van Gaal (Anexo 5) ainda que privilegie as saídas curtas tem
soluções para o jogo longo, através da definição de “referências de ataque”:
“Sim, ontem o terreno estava em más condições, precisamos de um
ponto/referência de ataque... porque não conseguíamos construir, eles
pressionavam-nos... por isso disse ao meu GR: “Ok. Joga bolas longas para o
Pellè…”. Dependendo da qualidade posso colocar Ari na posição de avançado,
mas o Pellè é uma referência de ataque (para as bolas longas) e por isso jogou
ontem... porque o adversário tinha um central com a tua altura
aproximadamente... por isso disse a Pellè: “procura-o e vai para o seu lado””.
Simultaneamente os jogadores do meio-campo encontram-se: “Fechados… e o
têm de ganhar a 2ª bola… nós temos 4 no meio-campo… por isso é fácil
ganhar a bola… porque tens uma quantidade enorme de jogadores…”.
Portanto, ainda que o recurso às bolas longas esteja muito relacionado
com as características e qualidades do adversário, verificamos que, sendo a
variabilidade uma das características inerentes às Equipas de Top,
contemplam no seu jogar as saídas longas pelo Guarda-Redes. Assumindo
Apresentação e discussão dos resultados
170
este um papel determinante de referência na definição do ataque à baliza
adversária.
Na área 2, encontramos os centrais, cuja preponderância na criação ou
aproveitamento dos desequilíbrios relaciona-se com a dinâmica Específica das
Equipas. Percebemos isso se estivermos atentos aos comportamentos que
Van Gaal (2006; Anexo 3), em alturas distintas, pretende dos jogadores do
sector defensivo, quando a Equipa esta em posse de bola. Assim, o autor, em
2006, pretendia que um dos centrais subisse para a posição de pivô baixo
(para isso o triângulo do meio-campo estaria apontado para a frente),
assumindo, desse modo, um papel muito importante na criação e
aproveitamento de desequilíbrios. O mesmo autor (Anexo 3) numa altura
diferente (jogadores novos, objectivos distintos, etc.), pretende que qualquer
um dos jogadores do sector defensivo suba no terreno para assim conseguir ter
superioridade numérica no meio-campo, não interessa qual, mas um tem de
subir. Com este exemplo, pretendemos salientar que, a importância desta área
e dos jogadores que normalmente a ocupam, na criação e aproveitamento de
desequilíbrios apenas pode ser encontrada no seio das Equipas, na sua
dinâmica Específica. Porém, podemos afirmar que o seu posicionamento mais
recuado ao permite-lhes ter mais Espaço e maior ângulo de visão, assume-se
como uma importante referência de apoio à criação de desequilíbrios quando a
bola está no primeiro terço ofensivo.
Existem ainda alguns aspectos transversais às Equipas de top que
fazem dessa área uma referência muito importante na organização da Equipa.
Correspondendo a Espaços interiores recuados a sua ocupação é um aspecto
crucial para que a Equipa, em posse de bola, se mantenha defensivamente
Equilibrada. Van Gaal (2006, Anexo 3) independentemente da dinâmica dos
centrais, se um deles saí da área 2, pretende que os outros jogadores da linha
defensiva fechem os Espaços interiores recuados. Portanto, assumem-se como
uma importante referência dos Equilíbrios dinâmicos.
Sobre a área 3, vimos na revisão de literatura, que a sua importância,
enquanto referência, relaciona-se com o “jogo” que a partir daí se pode criar,
com o risco que a perda de bola nessas áreas tem inerente e com o importante
Apresentação e discussão dos resultados
171
Espaço que preenche em termos defensivos (nos momentos de organização
defensiva e nos Equilíbrios dinâmicos). Pelo que, interessa reflectir um pouco
sobre a forma como as Equipas de Top preenchem estas áreas de referência.
Constatamos que a sua ocupação está relacionada com: a dinâmica
Específica da Equipa e concretamente com a subdinâmica do(s) médio(s)
centro: mecanismos de ruptura e de compensação; e inerente a estas, o
número de jogadores que a Estrutura coloca com frequência nessas áreas (um
ou dois médios centro); e a qualidade dos jogadores disponíveis.
Daqui emergem algumas questões chave que nos ajudarão a
compreender a dinâmica destas áreas: quantos jogadores: um ou dois!? Que
perfil de jogador!? Que dinâmica de ruptura!? Que mecanismos de
compensação!? Cujas respostas apenas podemos procurar com exemplos
concretos.
Olhando para as estruturas de referência das Equipas de top, vemos
que podem ocupar essas áreas um ou dois jogadores: Manchester dois médios
centro: Carrick e Flecther; Barcelona um médio centro: Busquets, Keita ou
Touré; Arsenal dois médios centro: Denilson e Fabregas; Chelsea dois médios
centro: Essien e Ballack.
Apesar de três destas Equipas jogarem com dois médios centro, não
podemos inferir que é a situação mais adequada na organização da Equipa
seria uma ingenuidade fazê-lo, e um contra-senso com tudo o que temos
defendido nesta dissertação. Portanto, para interpretarmos a ocupação desta
área temos de perceber como influem as subdinâmicas produzidas pelo(s)
jogador(es) que aí se posiciona(m).
Independentemente do número de médios centro, existe sempre um que
vai assumir as funções de Pivô Baixo, sendo raras as vezes que vemos um dos
defesas centrais a assumir essas funções. Portanto, a questão está em
percebermos as subdinâmicas que um médio centro a Pivô baixo potencia e as
subdinâmicas que dois médios centro potenciam. O que apenas pode ser
encontrado no seio das Equipas, logo, só faz sentido reflectirmos sobre essa
temática recorrendo a exemplos concretos.
Apresentação e discussão dos resultados
172
Arsenal e Manchester: duas Equipas que jogam habitualmente com dois
médios centro, porém muito distintas. Arsenal - Denilson e Fabregas, uma
dupla complementar: Denilson assume mais as funções de Pivô baixo, mas
com características marcadamente defensivas, procura mais a segurança da
circulação de bola: jogando a bola na horizontal e mantendo-se atrás da linha
da bola. Fabregas, assume por vezes as funções de Pivô baixo sobretudo
quando procura a bola em Espaços mais recuados para a colocar na frente, é
um jogador que procura a verticalidade do jogo, sobretudo através do passe e
de penetrações verticais sem bola. Manchester - Carrick e Fletcher: uma dupla
completamente diferente, os dois jogadores têm capacidade e qualidade para
alternar entre os movimentos de penetração vertical com ou sem bola e o
posicionamento atrás da linha da bola, a garantir o equilíbrio. Para além de
garantirem qualidade tanto no passe vertical como no passe em largura (curto
e longo). A opinião de Villas-Boas (Anexo 5) corrobora está subdinâmica do
Manchester: “Neste momento uma das poucas equipas que faz desses dois,
dois grandes organizadores de jogo, é o manchester... porque sabem
exactamente como é que hão-de criar espaço um para o outro, um posiciona-
se um bocado mais profundo e o outro um bocado mais baixo, trocam de
posição... têm já essa dinâmica bem definida...mas não é fácil, não é uma coisa
que seja fácil em 4-4-2... Depois o outro ponto que te falei que nem todas as
equipas podem querer dar penetração a esses médios centro, portanto... tudo
depende da dinâmica que pretendes para a tua Equipa.”.
Se agora olharmos para o Barcelona: Busquets, Touré ou Keita a médio
centro. Existem diferenças significativas consoante o jogador que vai ocupar a
posição, na medida em que promovem diferentes subdinâmicas. Imaginemos a
situação frequente de jogar na frente desses jogadores Xavi e Iniesta: ambos
com uma qualidade tremenda a procurar a objectividade do jogo, a criar e a
ocupar Espaços favoráveis à entrada da bola ou de um jogador (com ou sem
bola). Jogando Busquets a médio centro, que está mais confinado ao jogo
horizontal, posicionando-se frequentemente atrás da linha da bola, com
algumas limitações na criação de desequilíbrios (na nossa opinião), é frequente
vermos Xavi com movimentos de apoio à circulação de bola, quando está no
Apresentação e discussão dos resultados
173
sector mais recuado, com isso assume as funções de Pivô baixo na criação de
desequilíbrios. Por sua vez, se for Keita, ou mesmo Touré que evidenciam
outras qualidades, nomeadamente na procura do jogo vertical através do
passe, permitem que Xavi se mantenha numa posição mais subida.
Apesar das manifestas diferenças existe algo comum que vai de
encontro ao que Villas-Boas (Anexo 5) refere: “equipas que jogam com dois
médios paralelos, com dois médios, digamos um 4-2-3-1 ou um 3-4-3... se as
equipas não são capazes desses dois médios centro jogarem... sempre em
ângulo, são equipas que no espaço entrelinhas estão muito vulneráveis.”.
Essas Equipas têm em comum o facto de, apesar de algumas jogarem com
dois médios, nunca jogam paralelos.
Ainda sobre os jogadores que ocupam estas áreas Villas-Boas (Anexo 5)
refere que “(...) actualmente equipas que jogam com pivôs defensivos, ou com
médios defensivos baixos... são jogadores que estão... tirando o Pirlo e talvez
Cambiasso, mais um ou dois nomes... são jogadores que estão limitados à
divisão do jogo horizontal... que recebem a bola de um lado e mudam a bola
para outro lado num passe horizontal e que andam ali em permanente
movimento de apoio e que não chegam em penetração... por exemplo, o Xabi
Alonso é outro exemplo... será que tu não podes potenciar depois um factor
surpresa a partir do teu médio defensivo? Por exemplo, uma divisão horizontal
inicial e depois um inserimento... uma penetração... portanto, tudo depende da
ideia que tu defendes para o teu jogo e só assim é que podes dizer quais é
que são os teus jogadores chave e o teu núcleo chave no desenvolvimento do
teu jogo...”. Portanto, em função da constatação de Villas-Boas (Anexo 5) e dos
exemplos que em cima citamos parece-nos que a subdinâmica potenciada
pelos médios centro do Manchester é aquela que garante, à partida, um maior
factor surpresa, na medida em que, o adversário não sabe se, em termos de
probabilidade, esses jogadores vão ou não jogar vertical/horizontal. Sendo que,
esta dinâmica dos médios centro é, também, aquela que Van Gaal (Anexo 3)
pretende para a sua Equipa, como nos demonstra na figura 25.
Apresentação e discussão dos resultados
174
Há ainda outro aspecto muito pertinente, para o
qual interessa alertar, que advém do risco de perda de
bola nesta área. Assim, ainda que a horizontalidade esteja
fortemente associada à segurança da circulação de bola,
no sentido em que a permite manter, é necessário
ressalvar que, estando a Equipa a construir curto, a partir
do momento que a bola entra nesta área a opção pelo
jogo horizontal (não profundo) pode ser uma opção
arriscada. Ideia que é corroborada por Van Gaal (Anexo
3): “(...) o passe vertical... não é um passe de risco porque vais ter sempre
jogadores atrás da bola... (...) o passe em largura é que é um passe com
risco... É por isso que quanto eles estão aqui (Laterais projectados, bola no
médio centro)... e tens que passar em largura... tens um problema... porque o
adversário pode fazer uma transição e tens muitos jogadores em frente à
bola... e assim o espaço é maior... aconteceu isso no jogo que perdemos
contra o NEC para a taça (...)”.
Villas-Boas (Anexo 5) corrobora esta opinião com um exemplo: “(...), o
Barça em construção curta é quando está mais exposto... e uma coisa é
fazeres isso para o campeonato espanhol onde o adversário está cheio de
medo e está dentro do seu meio-campo, outra coisa é fazeres isso contra
equipas que te podem ameaçar exactamente logo a partir da construção
curta... (...) Portanto eu acho que numa primeira fase de construção tens de ter
em conta um determinado tipo de equilíbrio... assumir um risco, mas vais ter
compensações que te permitam, se perderes a bola em
primeira fase, pelo menos não sofrer golo ou puder
recupera-la... ou então é como o Barça e entregas-te
cegamente a isso e corres sérios riscos de perder a bola...”
Na figura 26, pretendemos ilustrar o perigo que
pode advir de uma possível situação de passe horizontal.
Aquilo que daqui retiramos é o perigo do “campo grande”
quando se inicia curto e quando a bola entra no médio,
optando este por passes horizontais não muito profundos.
Figura 25. (Sub)
Dinâmica dos
médios-centro
Figura 26. Risco dos
passes horizontais
Apresentação e discussão dos resultados
175
Se o adversário que a Equipa defronta defende em bloco baixo, condicionando
“ligeiramente” o médio centro, não existe qualquer perigo no jogo horizontal, no
entanto, se o adversário joga num bloco médio ou médio/alto parece-nos que
esta situação, que não é pouco frequente, expõe as Equipas à transição
ofensiva do adversário. Este é um simples exemplo, não se podem tirar ilações
no abstracto, elas acontecem no jogo, e ao acontecer é que se vão revelar uma
boa ou má opção.
Assim, verificamos que as subdinâmicas que se podem potenciar nesta
área estão relacionadas com a horizontalidade e verticalidade que os jogadores
que a ocupam impõem no jogo: através do passe dão à bola, ou através das
suas movimentações com ou sem bola. Esta é para nós, a grande questão dos
médios centro: verticalidade/horizontalidade ou, de outra forma
profundidade/largura: da bola e dos movimentos com ou sem bola.
Vemos portanto que, inerente às subdinâmicas esta é uma área
fundamental na criação de desequilíbrios, daí a necessidade de haver
jogadores a ocupar essa área com características e qualidade na procura da
verticalidade. Para além disso, a importância que assume na segurança é
também um factor determinante.
Chegamos assim à área 4, cuja ocupação também depende da dinâmica
Específica das Equipas, podendo se posicionar um ou dois avançados nessas
áreas, consoante joguem em 1-4-3-3 ou 1-4-4-2.
Acreditamos que a existência de uma referência frontal é fundamental
quando se pretende ser objectivo na criação e aproveitamento de
desequilíbrios, na medida em que, para além de ser a área mais próxima da
baliza do adversário, é também uma linha de passe válida para todos os
jogadores (podendo ou não existir em função dos condicionamentos que o
adversário promove). Para além disso, a sua ocupação obriga o adversário a
precauções defensivas, a partir das quais se pode explorar os desequilíbrios no
adversário. A opinião de Van Gaal (Anexo 3) vai ao encontro desta nossa
perspectiva: “A grande diferença (entre jogar com um ou dois avançados) é que
tens duas referências de ataque … e quando jogas apenas com um avançado
só tens uma referência, precisas sempre de uma referência. Com dois
Apresentação e discussão dos resultados
176
avançados, tens duas… um está sempre no lado da bola... quando a bola está
aqui... ele está aqui... mas penso que essa não é a melhor solução... muitos
avançados vão para aqui (figura 27)… Eu digo-lhes: “não, não… tens que estar
aqui” (figura 28)… porque normalmente ele fica e o outro vai… e por isso há
mais espaço para ti… mas tens também a distância entre eles que é muito
importante… por isso não são apenas as linhas mas também a distância entre
os jogadores... por isso, isto é, quando temos a bola, isso não e bom, é fácil de
defender... isto é muito melhor... distância... grande, fazer o campo grande...”.
O autor confirma a nossa opinião e acrescenta outro aspecto relevante:
a mobilidade dos avançados no 1-4-4-2. Para Mourinho (s/d, 2003?) jogar com
dois avançados poderá apresentar alguns problemas se esses dois jogadores
tiverem muita mobilidade para as faixas (que se encontram livres), assim, tal
como no exemplo que Van Gaal (Anexo 3) nos dá, essa mobilidade é muitas
vezes precedida da perda de referência frontal, ou então, colocam-se numa
situação em que a igualdade numérica: 2 avançados vs 2 centrais, passa a
inferioridade: 2 avançados vs 1 lateral + 2 centrais, como podemos ver na
figura 27.
Situação semelhante ocorre no 1-4-3-3 e tivemos oportunidade de a
observar no jogo Chelsea - Barcelona (2ª mão das meia final da liga dos
campeões 2009): a perda de referência frontal pelo movimento do avançado
para Espaços entrelinhas. Nesse jogo, as dificuldades do Barça em criar
desequilíbrios deveu-se a qualidade da organização defensiva do Chelsea, que
Figura 28. Mobilidade dos
avançados para as faixas
Figura 27. Mobilidade dos
avançados para as faixas
Apresentação e discussão dos resultados
177
dificultou bastante o jogo vertical do Barcelona. Perante essas dificuldades, foi
frequente a tentativa de Eto’o, ou mesmo de Messi (quando trocavam de
posição) descer no terreno para Espaços entrelinhas para receber a bola. No
entanto, ainda que, por vezes, tenham recebido a bola em condições
favoráveis, os centrais do Chelsea nem sempre acompanhavam esse
movimento, “deixando-o” para os médios. Por outro lado, os extremos do
Barcelona demonstraram algumas dificuldade em aparecer em diagonal nas
costas da defesa quando esse jogador recebia a bola e se conseguia virar.
Portanto, de acordo com Van Gaal (Anexo 3), consideramos que a
referência frontal (área 3) é uma necessidade, pelo que, as subdinâmicas
inerentes aos jogadores que aí se posicionam devem ser devidamente
equacionadas.
Ainda relacionado com o jogo posicional temos o posicionamento
estratégico de determinadas áreas que poderão permitir o ganho da 2ª bola.
Vimos que na construção longa, Van Gaal (Anexo 3) pretende ter superioridade
numérica no meio-campo para ganhar uma eventual segunda bola.
Corroborando desse modo uma das situações possíveis que exploramos na
revisão de literatura. Salientamos outras áreas, mantemos a convicção da sua
importância no ganho da 2ª bola, contudo remetemos as considerações sobre
as mesmas para a revisão de literatura, uma vez que os nossos entrevistados
não as abordaram.
Para concluir esta reflexão sobre os aspectos que consideramos mais
importantes do jogo posicional, vamos abordar os Equilíbrios dinâmicos, algo
que ao longo desta reflexão já tem sido feito. Sendo a sua importância explicita
nas palavras de Van Gaal (Anexo 3) quando questionado sobre os riscos aos
quais a sua Equipa se submete: “Nenhum. Tens que evitar os riscos. Isso é a
tua organização defensiva... então tens que evitar os riscos... Por isso quanto
atacas tens que pensar em defender…”.
Vimos que os Equilíbrios consubstanciam-se através de formas distintas
de posicionamento e de movimentações. Interessa-nos aqui abordar as
referências posicionais de Equilíbrio. Van Gaal (Anexo 3) na mesma linha de
pensamento de Michels (2001) pretende que, nos momentos de organização
Apresentação e discussão dos resultados
178
ofensiva estejam sempre atrás da linha da bola pelo menos quatro jogadores:
“Quero sempre três atrás (sector defensivo), se ele sobe (lateral), então os
outros têm que fechar… e um dos médios tem que ficar… e eles podem ir...
mas sempre mantendo o contacto e não deixando espaço...” (Van Gaal, Anexo
3). Também Villas-Boas (Anexo 5) vai de encontro a essa perspectiva: “(...),
acho que neste momento ninguém gosta de deixar dois centrais para dois
pontas de lança... nem sequer dois centrais para um ponta-de-lança... o
equilíbrio será sempre deixar os dois centrais em posição talvez com um lateral
menos agressivo do que o outro...”. No entanto, o mesmo autor corrobora o
que defendemos na revisão: ainda que a referência seja a existência desses 4
jogadores, esse Equilíbrio têm necessariamente que ser equacionado também
em função do adversário: “ (...)No outro dia no 6-0 do Barcelona com o Málaga
tinhas um Málaga que estavam permanentemente atrás da linha da bola, já não
digo na metade do campo, digo mesmo no terço defensivo... os centrais do
Barça estavam como querem... primeiro porque o avançado nem estava em
linha com eles, nas costas não podia ameaçar... ali não havia caso para
estares preocupado com uma compensação dos médios, bastava os teus
centrais para o controlar. Depois em posse oferecem-te um posicionamento
mais agressivo, porque jogam já subidos... a tua equipa está já subida... o
adversário já está dentro da sua grande área...portanto, analisando essa
situação o teu equilíbrio pode perfeitamente ser os dois centrais.” (Villas-Boas,
Anexo 5).
Portanto, consideramos que é importante que existam um conjunto de
referências comportamentais (não são as posicionais mas também as
movimentações) que permitam a Equipa assumir riscos. Sendo os jogadores
que as interpretam, e ajustam aquilo que os jogoS vão apresentando é
necessário ter presente que o modo como se vai equilibrar a Equipa depende
em grande medida do adversário: do seu padrão de jogo e da qualidade dos
seus jogadores. Confirmamos assim, junto dos nossos entrevistados, que o
jogo posicional vai muito além da distribuição dos jogadores pelo terreno de
jogo.
Apresentação e discussão dos resultados
179
4.2.2.2 Relação da Dinâmica das Equipas de Top com as Estruturas
Ao longo desta dissertação recorremos a duas estruturas de referência:
1-4-3-3 e o 1-4-4-2. No entanto, apesar de termos salientado que a partir
destas estruturas pode surgir uma variabilidade de configurações estruturais
muito grande, existem duas que Van Gaal (Anexo 3) e Villas-Boas (Anexo 5)
deixam antever como sendo potencialmente favorecedoras da organização
qualitativa das Equipas: o 1-4-3-3 e o 1-4-4-2 Losango. Por esse motivo, na
relação que pretendemos confirmar e aprofundar, entre as características
gerais das dinâmicas das Equipas de top e as estruturas, vamos explorar não
só as “estruturas base” mas também o 1-4-4-2 losango.
Por várias vezes referimos nesta dissertação a importância da circulação
de bola nas Equipas de top. Evidenciamos que ela se pode concretizar de
modos muito distintos e identificamos um aspecto fundamental que está na
base da sua qualidade: as diagonais posicionais dinâmicas. Sendo estas
diagonais que lhe garantem objectividade (progressão no terreno em direcção
à baliza do adversário) e segurança (coberturas e apoios). Com efeito, a
relação da circulação de bola com a estrutura, consubstancia-se na existência
(ou não) dessas diagonais, as quais resultam do número de “linhas” horizontais
e verticais. Van Gaal (Anexo 3) corrobora ao evidenciar o que pretende que a
sua Equipa apresente em campo: “Quero 8 linhas... o máximo de linhas
possíveis… porque assim tens uma melhor ocupação do campo... Sendo este
sistema o que permite a melhor ocupação do terreno...
1,2,3,4,5,6,7... e com esta dinâmica forma-se mais uma
linha (Figura 29)... mas depende onde está a bola... quando
a bola está aqui e ele movimenta-se para ali (movimentos de
apoio dos médios) forma também uma linha de passe...
quando jogas neste sistema tens sempre triângulos... tens
sempre duas opções para aqui… aqui... duas opções...
mais... o mesmo aqui... duas opções... no meio tens
sempre mais... aqui está outro triângulo... um triângulo... é
por isso que o 4-3-3, na minha opinião, é o melhor sistema e podes ainda jogar
Figura 29. 1-4-3-3 de
Van Gaal
Apresentação e discussão dos resultados
180
com um jogador mais defensivo ou mais ofensivo (orientação do triângulo do
meio-campo) depende da qualidade dos teus jogadores. Quando jogas em 4-4-
2, como o fazem muitas equipas, não tens tantas linhas… podes ver… e é mais
fácil para defender... desse modo, quando tenho dois bons avançados, jogo em
losango e assim tenho seis linhas: 1,2,3,4,5,6 (não contou o GR) e
dinamicamente mais...”. Considerando ainda que, a circulação de bola no 1-4-
4-2 clássico: “ Não é tão boa, porque tens menos linhas… mas é uma situação
dinâmica… por isso podes dizer: “ok! isto também são triângulos”... mas
quando existe, no teu sistema, um maior número de triângulos torna-se mais
fácil para os jogadores, porque sem pensar já estão na posição, caso contrário
têm que ver o espaço, o que é mais difícil. E, além disso, estão também mais
próximos uns dos outros e assim o campo não fica tão grande... desse modo o
espaço é melhor dividido quando eles se posicionam assim, podes confirmar
isso com os teus olhos. Por isso, os outros sistemas não são tão bons para a
circulação de bola, porque existem mais espaços.” .
Destas afirmações de Van Gaal (Anexo 3) podemos retirar ilações muito
importantes: em primeiro lugar, a pertinência da Estrutura definir muitas linhas,
justificando-se tal opção, no facto dos jogadores, “sem pensar”, já estarem
posicionados em diagonal, sendo o 1-4-3-3 a estrutura que mais diagonais
potencia (pela apresentação de um maior número de linhas e triângulos) é a
que o autor prefere. Existe porém outra Estrutura que Van Gaal (Anexo 3)
privilegia quando tem dois bons avançados: o 1-4-4-2 losango.
Como podemos constatar na figura 30, o 1-4-4-2 losango também
posiciona os jogadores num elevado número de linhas, mantendo-se entre eles
uma configuração geométrica com muitos triângulos.
Apresentação e discussão dos resultados
181
Em segundo lugar, apesar do que salientamos anteriormente, o autor
reconhece que essas diagonais posicionais são dinâmicas. Este é um ponto
crucial no entendimento da relação entre a circulação de bola e a estrutura.
Como vimos na revisão de literatura, as posições não se restringem
aquilo que vemos no “papel”, elas correspondem a áreas. Com efeito, um
metro à frente ou atrás poderá ser o suficiente para estar em diagonal com os
companheiros, nesse sentido interessa relembrar as palavras de Sachi (2006):
“um metro de Espaço faz toda a diferença no futebol(...)”.
Portanto, ao reconhecer a possibilidade das diagonais surgirem de uma
movimentação, abre portas à existência de entendimentos do conteúdo do
jogo, e concretamente da circulação de bola, manifestamente distintos. Assim,
estamos perante um entendimento específico da circulação de bola, que tem
nas linhas e triângulos que a estrutura, por si só define, uma prioridade. No
entanto, sendo as diagonais posicionais sempre dinâmicas que qualquer
Estrutura as pode apresentar.
Mantemos a firme convicção que a circulação de bola de qualidade pode
ser potenciada com qualquer estrutura, sendo que, a sua importância tenderá a
ser relativizada à dinâmica Específica de circulação que as Equipas
apresentam. Portanto, reconhecida a importância das diagonais na qualidade
da circulação de bola, ela vai ser tanto maior, quanto mais diagonais a
dinâmica Específica das Equipas conseguir produzir no jogo.
Figura 30. 1-4-4-2 Losango: Linhas e triângulos;
Apresentação e discussão dos resultados
182
Van Gaal (Anexo 3) pretende que a sua actual Equipa se distribua em
campo do modo que apresentamos na figura 31. Como
podemos constatar a sua estrutura aproxima-se mais do
1-4-4-2 (que definimos na revisão) em que a 6ª linha é
formada pela dinâmica do avançado que desce no terreno
de jogo.
Como veremos, esta é a sua aparência inicial e
acontece sobretudo nos momentos de organização
defensiva quando os alas fecham no meio-campo,
pelo que, a dinâmica do jogo leva muitas vezes a
Equipa a assumir um 1-4-3-3 ou mesmo o 1-3-4-3 (voltaremos às dinâmicas
que configuram esta Estrutura mais à frente).
Parece um contra-senso com aquilo que o treinador defende mas não é.
Esta necessidade resulta de uma coerência prática e da capacidade para
ajustar a ideia que tem do jogo a uma cultura, a um clube e a uma Equipa com
diferentes jogadores.
Tentemos uma interpretação da sua Equipa com base em algumas
indicações que deixa no seu discurso:
- A certa altura refere que a sua Equipa, este ano, tem uma melhor
organização defensiva, que resulta do facto de defender com duas linhas
(defensiva e intermédia) de 4 jogadores em largura (portanto os jogadores nos
corredores assumem-se médios-ala). O que permite que os avançados tenham
mais Espaço para explorar a sua velocidade vertical;
- A importância da verticalidade é assumida nas transições e na procura
de desequilíbrios no adversário;
- Do avançado que desce no terreno pretende que se movimente
“contra”, ou seja, esse jogador deve movimentar-se a “pedir” um passe vertical
e não que descer para “tabelar” com outros jogadores.
Parece-nos portanto, que há uma grande preocupação em potenciar a
“intensidade” da circulação de bola na procura da verticalidade. Esta é uma
situação diversa da que pretendia em 2006, onde o 1-4-3-3 era a sua Estrutura
Figura 31. 1-4-4-2 de Van
Gaal (Org. Defensiva)
Apresentação e discussão dos resultados
183
inicial e a circulação de bola horizontal era um meio frequente para procurar a
verticalidade do jogo.
Vimos na revisão que existem dois padrões de circulação de bola que
resultam da “intensidade” com que se procura a verticalidade do jogo.
Uma Equipa que procura com maior regularidade a verticalidade após
circulação de bola horizontal, tentará utilizar toda a largura do terreno e jogar a
um dois – toques. Para que isso aconteça, é essencial a Equipa estar
“posicionalmente instalada”. Com efeito, uma estrutura que defina muitas
linhas, ou seja, muitas diagonais e triângulos poderá revelar-se mais vantajosa.
Por sua vez, uma Equipa que procura a verticalidade com mais
intensidade, requisita dos seus jogadores uma maior mobilidade para criar
situações favoráveis à “entrada” vertical da bola. Para que isso aconteça as
diagonais posicinais deverão constantemente ser criadas pela mobilidade dos
jogadores, que permitirá receber a bola em Espaços favoráveis à entrada
vertical ou arrastar marcações. Com efeito, uma Estrutura que tenha mais
Espaço passível de ser ocupado pela mobilidade dos jogadores parece-nos ser
mais vantajosa. Para além disso, a intensidade com que a verticalidade é
procurada tem inerente maiores riscos de perda de bola, desse modo, é
importante que as Estruturas facilitem os Equilíbrios. Assim, parece-nos que o
1-4-4-2 é mais vantajoso neste padrão de circulação porque tem mais Espaços
que podem ser dinamizados pela mobilidade dos jogadores e tem duas linhas
de quatro jogadores que permitem que os riscos corridos sejam (melhor)
calculados.
É pertinente ressalvar que esta relação das Estruturas com o padrão de
circulação de bola é uma situação potencial. Portanto, podemos efectivamente
encontrar Equipas, que estruturadas em 1-4-3-3 circulem a bola procurando a
verticalidade com bastante “intensidade”.
No capítulo anterior justificamos o porquê de consideramos o controlo do
meio-campo preponderante no controlo do jogo. Aqui interessa-nos confrontar
a opinião dos nossos entrevistados com a questão abordada na revisão de
literatura: de que forma as estruturas potenciam (ou não) o controlo do meio-
campo!?
Apresentação e discussão dos resultados
184
A resposta parece óbvia: pela superioridade numérica. Porém, esta é
uma resposta demasiado directa, para inferir uma relação entre as estruturas e
o controlo do meio-campo. Atentemos à figura 32, onde evidenciamos os
Espaços cujo controlo consideramos muito importante.
A primeira interpretação reporta-nos invariavelmente para o número de
jogadores que aí se posicionam: 2, 3 ou 4. Se seguirmos uma relação causa-
efeito diríamos que o 1-4-4-2 losango, por ter um maior número de jogadores
nesse Espaço interior, é propenso ao controlo do meio-campo. No entanto,
esta interpretação é demasiado linear e, portanto, redutora das potencialidades
das diferentes Estruturas no controlo do meio-campo.
Tudo tem que ver com as dinâmicas Específicas das Equipas e com as
subdinâmicas que diferentes jogadores são capazes de criar. Nesse sentido
Villas-Boas (Anexo 5) acentua que: “(...) dinâmicas de equipas que jogam com
três médios não são a mesma coisa de dinâmicas de Equipas que jogam com
dois médios centro... portanto... tu com três podes criar determinado tipo de
dinâmicas, de movimentos... podes permitir movimentos de aproximação e
outro fingir movimentos de afastamento... portanto, dá-te liberdade para jogares
com essa dinâmica dos médios e depois para saíres com mais fluidez de
jogo...”.
Relembramos que o controlo do meio-campo consubstancia-se nos
diferentes momentos do jogo e não apenas quando a Equipa está em posse de
bola. Assim, para percebermos de que forma as diferentes estruturas
potenciam o controlo, temos de ter claro que esse controlo resulta: nos
Figura 32. Espaço interior: 1-4-4-2; 1-4-3-3; 1-4-4-2 losango.
Apresentação e discussão dos resultados
185
momentos de organização ofensiva: da capacidade da Equipa decidir o que
fazer em posse de bola, aumentando assim a propensão para a criação de
desequilíbrios e de situações de finalização; e, nos momentos de organização
defensiva: da capacidade da Equipa não se desorganizar perante o adversário
e da capacidade em manter o Equilíbrio quando ataca (ocupando estes
Espaços interiores, onde podem ganhar uma segunda bola ou “travar” uma
transição do adversário: roubando a bola ou temporizando o seu ataque).
Relativamente à organização defensiva, as palavras de Van Gaal (Anexo
3) clarificam-nos: “(...) tens que defender uma linha, não defendes apenas um
jogador… é provável que o jogador que defendes seja sempre o mesmo, mas
defendes a linha e tens que o fazer com 4. É mais fácil defender com quatro do
que com três, porque com três o espaço é maior,
logo tens que correr mais e muitas vezes vais
estar atrasado. Para além disso, quando vejo que
o segundo avançado do adversário é perigoso,
coloco lá mais um jogador e assim crio uma
situação de 2x3 (figura 33)…Sendo mais difícil
para o adversário porque temos superioridade e
não podem jogar entrelinhas.”
Daqui emergem algumas questões cruciais no entendimento do jogo de
qualidade e que servem de mote para a nossa reflexão: quatro jogadores no
meio campo permitem um maior controlo do jogo do ponto de vista defensivo!?
Qual a importância do Espaço entrelinhas no controlo do meio-campo!? E
como o ocupar: um central que sobe ou um médio centro que desce!? Se
defender com uma linha de 4 é mais vantajoso, significa que as estruturas que
dispõe 4 jogadores no meio-campo são as “melhores” para o controlo do jogo
em termos defensivos (pelo controlo do meio-campo)!? Respostas que apenas
podem ser encontradas quando estamos perante uma Equipa, daí a pertinência
de, mais uma vez, partirmos de exemplos concretos.
Concordamos com Van Gaal (Anexo 3) quando refere que é mais fácil
defender com uma linha de 4 do que com uma linha de 3 jogadores no Espaço
central, aparentemente (porque depende dos jogadores) é óbvio que a linha de
Figura 33. Jogo entre – linhas
(org. Defensiva):Médio
encostado à linha def.
Apresentação e discussão dos resultados
186
4 tem menos Espaço para defender do que a de 3. No entanto, olhando para
as Equipas de top, verificamos que existem Equipas com 3 jogadores no meio-
campo que controlam esse Espaço (com efeito, controlam o jogo) também do
ponto de vista defensivo.
O exemplo desse controlo do meio-campo com 3 jogadores no sector
intermédio é o Barcelona. Porém, é necessário ter em atenção alguns aspectos
fundamentais. O Barça distribuído em 1-4-3-3, regularmente pressiona o
adversário imediatamente após perda de bola. Para o sucesso desse
comportamento são fundamentais as linhas que a Estrutura define (vimos que
as diagonais garantiam também a segurança: coberturas). Também o 1-4-4-2
losango, por possuir muitas linhas, logo mais coberturas, se revela uma
Estrutura propensa à pressão “vertical”. Com efeito, consideramos que este
comportamento imediatamente após perda de bola é fundamental para o
controlo do meio-campo apenas com três jogadores.
Como nem sempre é possível impedir o adversário de sair dessa
pressão inicial que o Barça exerce após perda de bola, constatamos que existe
preocupação de, pelo menos, um dos jogadores da linha mais avançada
descer no terreno para proteger, sobretudo, os corredores: não é raro vermos
Messi, Henry/Iniesta descerem no terreno a “fechar” o corredor ou a impedir as
subidas do lateral adversário. Ou, quando o adversário sai a jogar curto, o
Barça organiza-se defensivamente num bloco médio com os alas a descer para
um posição que tanto lhes permite “saltar” para fora como fechar o interior.
Formando uma linha de 4 ou mesmo de 5 jogadores no meio-campo.
Portanto, três jogadores no meio-campo são suficientes, porém é
necessário criar dinâmicas manifestamente distintas, talvez mais difíceis de
operacionalizar porque implicam coordenação e concentração colectiva
máxima (não que as outras não o exijam, porém nesta situação os “erros
pagam-se (mais) caros”).
Se olharmos para outras Equipas de Top, todas têm no meio-campo uma
linha de 4 jogadores. Frequentemente dois médios centro e dois alas, o que
permite uma ocupação horizontal de todo o terreno com bastantes coberturas
(desde que os jogadores não estejam paralelos: ângulo e distância dos apoios),
Apresentação e discussão dos resultados
187
permitindo ter um controlo sobre o Espaço pelo número de jogadores que
racionalmente aí se posicionam.
No que se refere ao 1-4-4-2 losango, a questão não está no centro do
terreno do jogo, mas sim em como defender os corredores, assim o controlo do
meio-campo, passa por ter bem definido quem do losango, sai para fechar o
corredor e que mecanismos de compensação interior são necessários: “Se
falares num 4-4-2 losango,(...), defensivamente, corres um risco enorme de
ocupação dos espaços, centralmente estás muito ocupado, em amplitude estás
muito mal posicionado, tens que criar grandes sistemas de compensação, tens
de obrigar constantemente os teus homens a saltar” (Villas-Boas, Anexo 5).
Portanto, aquilo que podemos inferir é que quatro jogadores no meio-
campo é uma circunstância que propicía o controlo desse Espaço sob o ponto
de vista defensivo. No exemplo do Barça encontramos uma Equipa cujas
dinâmicas e subdinâmicas salvaguardam a presença de apenas 3 jogadores
nesses Espaços, porém quando essas dinâmicas (de pressing alto) não
funcionam, existem mecanismos de cobertura dos Espaços que
frequentemente vão colocar 4 jogadores no meio-campo.
Outra questão colocada relaciona-se com o Espaço entrelinhas. Van
Gaal (Anexo 3) na figura 33 tem implícito a importância dos Espaços
entrelinhas no controlo do meio-campo, do ponto de vista defensivo. Ao
encontro desta preocupação vimos na revisão de literatura que há uma questão
que qualquer Equipa tem que ter bem definida: quem “sai” ao adversário que
vai para o “Espaço fronteira” entre o médio centro e a linha defensiva!? Na
resposta a esta questão temo duas “situações
padrão”: médio centro que joga encostado à linha
defensiva (figura 33) ou um defesa central que sobe
no terreno de jogo (figura 34). Obviamente que as
duas situações devem ser equacionadas e
trabalhadas pelas Equipas, pois uma ou outra
situação pode ser exigida no jogo, ou uma ser mais
vantajosa do que outra em função dos
constrangimentos que o adversário poderá provocar.
Figura 34. Jogo entre – linhas
(Org. defensiva): subida do
central
Apresentação e discussão dos resultados
188
Van Gaal (Anexo 3) a esse respeito é claro nas suas palavras: “quando
vejo que o segundo avançado do adversário é perigoso, coloco lá mais um
jogador e assim crio uma situação de 2x3 (...)”. Portanto, o controlo do meio-
campo tem inerente a “protecção” dos Espaços entrelinhas, porém, a forma
como é protegido depende em grande medida das características e qualidades
do adversário e de como se posiciona no terreno de jogo. Já havíamos visto
essa situação, com exemplos concretos na revisão, aquilo que aqui interessa
ressalvar é que, sendo o médio ou o central, as subdinâmicas que um ou outro
geram são manifestamente distintas: descendo um médio, os outros jogadores
que se encontram no meio-campo terão de se movimentar de modo
manifestamente distinto, criando-se uma subdinâmica que é diferente se for o
central a subir no terreno de jogo.
Relativamente ao controlo do meio-campo do ponto de vista ofensivo
parece-nos que as questões a colocar são mais complexas. Vimos na revisão
de literatura que esse controlo surge da vantagem Espacial conseguida pela
circulação de bola, ou seja, em função da movimentação da bola a Equipa
procura criar condições que permitam que o portador da bola tenha sempre
soluções disponíveis. Portanto, esse controlo não depende tanto do número de
jogadores que a estrutura coloca nessas áreas, mas da dinâmica Específica da
Equipa e consequentemente de como são dinamizados os Espaços.
Nesse sentido, Van Gaal (Anexo 3) refere que: “A diferença é que eles
têm mais espaço e por isso podem fazer mais… mas um dos defesas, quando
estamos em posse, têm que vir para o meio-campo, por isso não existe muita
diferença… mas depende do estilo de jogo… quais são as funções do sistema
nessa forma de jogar...”. O autor reconhece que não existem grandes
diferenças entre ter 3 ou 4 jogadores, na medida em que, jogando com 3,
existem subdinâmicas, que se iniciam na subida de um jogador da linha
defensiva, colocando desse modo 4 jogadores no meio-campo.
Assim, vamos tentar perceber que subdinâmicas as diferentes estruturas
propiciam, com a certeza que qualquer uma pode potenciar o controlo do meio-
campo do ponto de vista ofensivo. Para isso, temos de ter presente os Espaços
que os jogadores ocupam e os que preenchem.
Apresentação e discussão dos resultados
189
Relativamente às estruturas 1-4-3-3 e 1-4-4-2 vimos na revisão os
Espaços que ocupam e deixam livres. Na figura 35 apresentamos os Espaços
livres que a estrutura 1-4-4-2 losango possui. Podemos
verificar que as principais diferenças para com as
outras estruturas é, fundamentalmente, pelo Espaço
que esta deixa livre nos corredores. Para além disso, o
corredor central está bastante preenchido, estando um
jogador posicionado num Espaço que na revisão de
literatura consideramos fundamental: o Espaço entre a
linha defensiva do adversário e a linha intermédia,
ocupado por um Pivô alto. Espaço que também pode
ser ocupado quando a Equipa se posiciona em 1-4-3-
3 com o triângulo orientado para a frente.
Os motivos que nos levaram a considerar esta área como tendo muita
importância na criação de desequilíbrios foram os seguintes: A sua ocupação
não permite que a distância dos jogadores entre si seja muito acentuada;
posicionando-se nessas áreas existe grande probabilidade de aparecem
frequentemente nas costas da linha intermédia do
adversário (Figura 36), Espaço que as Equipas de top
utilizam de forma sublime na criação de
desequilíbrios. Estando a ocupação desse Espaço
intimamente relacionada com o controlo do meio-
campo, vamos reflectir um pouco sobre estes
aspectos tendo em consideração a opinião dos
nossos entrevistados.
A diferença das estruturas está em ter, ou não, um jogador aí
posicionado de início. Portanto, o primeiro “problema” que se levanta está em
perceber se de facto existem diferenças significativas em ter de início um
jogador lá posicionado ou não, depois tentaremos perceber de que forma
influem no controlo do meio-campo.
Temos duas estruturas que nessa área posicionam um jogador de início:
1-4-4-2 losango e o 1-4-3-3 com o triângulo do meio-campo orientado para a
Figura 36. Posicionamento
do Pivô alto
Figura 35. 1-4-4-2 losango:
Espaços livres e Intersectorial
Apresentação e discussão dos resultados
190
frente. Primeiro ponto: com essa ocupação o(s) avançado(s) não têm Espaço
para descer no terreno, com efeito, as Equipas vão gerar subdinâmicas
manifestamente distintas, que passam por exemplo pela mobilidade dos
avançados para as faixas (sobretudo no 1-4-4-2 losango). A não ser que, como
nos refere Villas-Boas (Anexo 5), o Pivô alto com a fluidez do jogo se
movimente para uma Ala garantindo, desse modo a
largura.
Segundo ponto: ocupando essa posição o
adversário estará alertado para a presença desse
jogador. No entanto, vimos que, vários treinadores
pretendem que esse jogador apresente mobilidade.
Por exemplo, Van Gaal (Anexo 3) pretende para essa
posição um segundo avançado que vai apresentar
bastante mobilidade para procurar arrastar os defesas
centrais (Figura 37) e para criar condições favoráveis à
entrada do passe vertical (movimentando-se “contra”)
(Figura 38).
Para Villas-Boas (Anexo 5) a importância da estrutura posicionar nessa
área um jogador deve ser relativizada também ao adversário: “Depende
também da marcação que o adversário te faz. Imagina que tens um adversário
que te segue completamente, o Mexes da Roma gosta de seguir o... não é
homem a homem mas é quase porque gosta de seguir o adversário, o ponta de
lança adversário mesmo até às zonas do meio-campo, quando o faz, sabes
que conquistas espaço atrás... se calhar se tens uns centrais que preferem
estar posicionais e preferem passar este gajo aos médios que estão em
posição, então já é outro tipo de dinâmica completamente diferente... depende
do que analisares.”
Quando a estrutura não posiciona ninguém nessa área, a questão está
em saber quem e como vai ser ocupada. Vimos na revisão que tanto pode ser
um avançado que desce no terreno como um médio que sobe para esses
Espaços. Portanto, mais importante do que estar ou não posicionado são as
dinâmicas e subdinâmicas criadas a partir dessa área, assim várias questões
Figura 38. Movimento
“contra” do Pivô alto
Figura 37. Mobilidade do 2º
avançado
Apresentação e discussão dos resultados
191
devem ser colocadas: quem a ocupa: Avançado que desce ou médio que
sobe!? Avançado que desce: quem garante referência frontal!? Com que
objectivo: arrastar marcação, dar apoio à circulação de bola e/ou movimentar-
se “contra”!? O Adversário: como defende esse espaço!? Questões que devem
ser devidamente equacionadas em função da ideia de jogo do treinador
ajustada a determinada Equipa, e portanto, as respostas dependem das
características e qualidades dos jogadores que o treinador tem disponível,
como nos exemplifica Villas-Boas (Anexo 5): “se tens um avançado que, ao
contrário, queres que jogue mais nesse Espaço, tens que ter um que jogue
mais perto dele... um ponta de lança vir aqui (descer no terreno) e os dois
extremos manterem-se abertos... pode ser um factor surpresa... se o teu ponta
de lança rodar e depois se chegares com os outros dois médios... se não estás
a sacrificar um movimento(...)”.
Independentemente de como é dinamizada esta área, será sempre no
sentido de criar condições favoráveis para a entrada da bola ou de um jogador
num Espaço que permita criar situações de finalização. Portanto, a sua
ocupação e dinamização são preponderantes no controlo do meio-campo e,
consequentemente, no controlo do jogo.
Outra das características eminentes nas Equipas de top diz respeito ao
número de jogadores com capacidade para aparecer em Espaços de
finalização. Para que esses jogadores possam expressar a sua qualidade na
finalização necessitam de Espaço para “aparecer”, e como vimos, a relação da
estrutura com esta característica surge dessa necessidade.
Nas diferentes Equipas de top podemos ver com regularidade: laterais a
projectar-se na vertical para procurar cruzamentos, ou mesmo aparecer em
Espaços de finalização: por exemplo através de condução de bola interior;
médios com inserimentos verticais; avançados que descem, para depois surgir,
promovendo maior incerteza no adversário; centrais com movimentos de trás
para a frente também a aparecer em Espaços de finalização. São inúmeras as
dinâmicas possíveis, que resultam da convergência da(s):
- Características e capacidades dos jogadores: “Pensa no Gerard e no
Lampard... tu não queres um ponta-de-lança que vem entre linhas, porque
Apresentação e discussão dos resultados
192
estes dois, o Lampard e o Gerard, têm um grande raio de acção e são
jogadores que te vão frequentemente aparecer neste espaço, talvez o Gerard
mais e o Lampard mais em profundidade... o Lampard irritava-se muitas vezes
com o Drogba porque ele queria receber a bola neste espaço e depois por
incrível que pareça tinha o primeiro toque desastroso... perdia a bola... e
estavamos logo obviamente sujeitos a transição, porque o Lampard já tinha
entrado e já estava quase em igualdade ou em inferioridade no meio-campo...
tentamos limita-lo nesse aspecto e de incentiva-lo mais à profundidade... se
tens um avançado que, ao contrário, queres que jogue mais nesse Espaço,
tens que ter um que jogue mais perto dele... um ponta de lança vir aqui e os
dois extremos manterem-se abertos... pode ser um factor surpresa... se o teu
ponta de lança rodar e depois se chegares com os outros dois médios... se não
tas a sacrificar um movimento... (Villas-Boas, Anexo 5).
- Ideia de jogo do treinador: “há uma das equipas de topo actual, que não
favorece tanto a penetração vertical dos médios, porque prefere tê-los em
posição e depois usar as faixas e usar o movimento dos alas como grande
gerador de criação de oportunidades”. (Villas-Boas, Anexo 5).
Da convergência destes dois pontos resultam subdinâmicas Específicas
da Equipa e que, serão mais e melhor potenciadas com uma Estrutura em vez
de uma outra. Por exemplo, o 1-4-4-2 é propenso à subida dos laterais, no
entanto, no 1-4-3-3, se os avançados-ala apresentarem mobilidade para o
interior, abrem a possibilidade à subida dos laterais. Pelo que, consideramos as
Estruturas um aspecto central no entendimento do conteúdo do jogo, mas
sempre um função de dinâmicas e subdinâmicas que são específicas das
diferentes Equipas. Pois tudo o que aqui temos salientado só faz sentido
interpretado pelo jogador, que se vai confrontar com novos “problemas”,
evidenciados pela existência de um adversário diferente em todos os jogos. E
portanto, concordamos com Van Gaal (Anexo1) quando se refere a um
“esquema no papel” sem oposição, como sendo uma situação irreal, que não
existe, pois no jogo há um adversário e isso é que leva o jogador a tomar
decisões.
Apresentação e discussão dos resultados
193
Para terminar esta capítulo achamos pertinente uma interpretação mais
aprofundada à Equipa de Van Gaal, que nos permitira consolidar os aspectos
que aqui fomos abordando.
Na figura 39 está representada a distribuição
dos jogadores, a partir das quais são definidas as
áreas de intervenção dos jogadores. A estrutura é
um 1-4-4-2 em organização defensiva, que, com a
fluidez do jogo facilmente se transforma em 1-4-3-3
ou mesmo em 1-3-4-3 em posse.
Org. Defensiva: pretende duas linhas de 4,
por acreditar que essas duas linhas dão mais
garantias na recuperação de bola. Sendo que,
dependendo do adversário, a linha mais atrasada
poderá ser apenas de 3 jogadores: “(...) por vezes
jogo com três atrás... e assim, torna-se mais difícil de defender, por isso, tenho
de pressionar mais... é isto que tu queres, é a tua táctica, depende da
qualidade da tua equipa e também da qualidade do adversário. Quando o teu
adversário não quer jogar futebol, apenas joga bolas longas, o melhor é jogar
com quatro atrás, mas quando eles saem em construção curta podes escolher
entre uma linha de três ou quatro... e podes-te posicionar melhor (...)”. A
formação de duas linhas tem implicações: os médios-ala jogarem por dentro; e,
pelo facto de jogar com um 2º avançado e não um 3º médio a Pivô alto, “perde”
um jogador em organização defensiva (pelas características que ele
apresenta). Por sua vez, estes aspectos garantem que o adversário não tenha
Espaço interior nem nas alas, para criar desequilíbrios, e nos momentos
consequente ao ganho da bola, permite ter duas referências frontais.
Em termos ofensivos pretende: da linha defensiva pretende que um
qualquer jogador suba para garantir mais uma unidade no meio-campo e
quando isso acontece os outros jogadores fecham, manifestando assim
preocupações com os Equilíbrios dinâmicos.
Dos médios-ala pretende que joguem por fora em posse e que fechem
em organização defensiva no meio-campo. Portanto, têm que apresentar
Figura 39. Dinâmica de
Van Gaal
Apresentação e discussão dos resultados
194
qualidade no jogo exterior quando estão em posse de bola e qualidade no jogo
interior em organização defensiva.
Dos médios centro pretende que alternem os seus movimentos entre a
verticalidade e o posicionamento atrás da linha da bola. Do “nº10” que na sua
Equipa é um segundo avançado, pretende que este ocupe o “Espaço grande”
que arraste centrais e que se movimente “contra”. Sendo que, o controlo do
meio-campo passa pela dinâmica destes jogadores e de outro jogador da linha
defensiva que, em posse, se junta ao meio-campo. A questão está em garantir
sempre quatro jogadores no centro do terreno de jogo, criando para isso
subdinâmicas que têm que ver com as características e capacidades dos
jogadores, mas também com o adversário que vão defrontar. Por exemplo: a
jogar atrás do ponta de lança está um avançado que desce no terreno, porém o
autor reconhece que isso é possível na Holanda, deixando assim antever que,
contra Equipas com outras qualidades, sobretudo na exploração dos espaços
interiores, o jogador a ocupar essa posição seria um médio.
Do avançado pretende profundidade. Repare-se no entanto que são
vários os jogadores que podem aparecer em Espaços de finalização: médios-
ala, avançado e nº10 (segundo avançado).
Diversas vezes surge discussão em torno das Estruturas: qual a sua
importância, o que potenciam, etc. No entanto, verificamos nesta dissertação
pela dificuldade em identificar a relação entre as características dinâmicas das
Equipas de top e as estruturas, que essa discussão não se pode dissociar dos
jogadores que fazem parte de uma Equipa em concreto. Por esse motivo,
essas dificuldades só foram ultrapassadas porque utilizamos frequentemente,
como foi hábito ao longo de toda a dissertação, exemplos de Equipas em
concreto.
Considerações finais
195
5. Considerações finais
Terminamos esta dissertação com uma certeza: hoje sabemos mais do
que ontem e menos do que amanhã. Como tal, este trabalho não pretende
consubstanciar-se numa proposta definitiva daquilo que no “jogo” das Equipas
de Top vai acontecendo, mas antes o ponto de partida para a compreensão
terrena de um qualquer jogo que se pretenda de qualidade.
Perante as evidências enunciadas nesta dissertação, concluímos que a
redefinição do entendimento do conteúdo do jogo é uma urgência, pois o
carácter “jogo” inerente a este fenómeno vem sendo gradualmente destruído.
Com base nessa necessidade, definimos e aprofundamos o
desenvolvimento em espiral da organização complexa de uma Equipa, de onde
concluímos que os jogadores são o elemento central de todo e qualquer jogo: é
para eles e em função das características e qualidades que apresentam, que
se idealiza “um jogo”; e, são eles que no jogo, interpretam individual e
colectivamente aquilo que é idealizado, potenciando dinâmicas e subdinâmicas
Específicas. Urge assim uma mudança de paradigma que se centre na
individualidade do jogador, à semelhança do alfaiate que trabalha à medida dos
clientes, o fenómeno representacional do “jogar” deve resultar da interacção
entre as ideias que se pretende e os jogadores (das suas características e
qualidades).
Na redefinição do conteúdo do jogo, consideramos as Equipas de top,
por serem aquelas que, apresentando regularmente qualidade ganham mais
vezes, e concluímos que o Jogo de qualidade caracteriza-se por ter uma
organização complexa pensada em função de como se pretende chegar à
baliza do adversário. Consequentemente o controlo do jogo tendo a sua
iniciativa surge como uma necessidade que permite ganhar mais vezes.
Deste entendimento enunciamos a existência de quatro características
dinâmicas inerentes ao jogo das Equipas de top e, ainda que tenham formas de
expressão (morfológicas) Específicas, concluímos que:
Considerações finais
196
- A circulação de bola de qualidade apresenta-se objectiva e inteligente
no aproveitamento da desorganização do adversário e/ou na criação de
desequilíbrios quando o adversário está defensivamente organizado;
- O controlo do Espaço interior do meio-campo é crucial no controlo do
jogo porque esse é um importante Espaço na criação de desequilíbrios, uma
referência na criação de situações de finalização, favorece o ganho de
ressaltos e 2ªa bolas, permite que a Equipa mantenha o equilíbrio e é uma
importante referência de organização defensiva;
- Ainda que todos os jogadores ataquem e defendam, nas Equipas de
top existem vários jogadores, para além dos avançados, com capacidade para
aparecer em Espaços de finalização, exponenciando assim o factor surpresa;
- Todas as Equipas pensam o jogo em termos da sua organização
global, havendo sempre mecanismos de compensação e de equilíbrio que
permitem evidenciar essa organização.
Da necessidade de sistematizar e articular as referências que permitem
o aparecimento de um qualquer Jogar, chegamos à conclusão que não existem
momentos mais importantes do que outros e que o Jogo deve ser
perspectivado partindo de uma escala Espacial, na medida em que, a
Organização de uma Equipa acontece no e pelo Espaço. E assim, partindo de
uma possível categorização dos momentos de organização ofensiva
concluímos que:
- A configuração das transições ofensivas depende, em grande medida,
da identificação do estado de organização do adversário;
- Na criação de desequilíbrios, a circulação de bola é uma referência
colectiva que permite criar, aproveitar ou potenciar os desequilíbrios no
adversário;
- Na criação de situações de finalização e finalização, a capacidade de
vários jogadores aparecerem em Espaços de finalização tem de ser
devidamente equacionada, como tal, devem existir mecanismos de
compensação bem definidos.
Considerações finais
197
Ao evidenciarmos esta organização dinâmica do Espaço, não ignoramos
o Espaço estaticamente organizado, com efeito, concluímos que qualquer
Estrutura é passível de garantir qualidade à organização da Equipa.
Depois de redefinida a ideia de “jogo posicional”, concluímos que a sua
importância vai para além da distribuição dos jogadores no terreno de jogo, tem
inerente características que determinam em grande medida, a dinâmica
Especifica das Equipas, nomeadamente: as diagonais posicionais dinâmicas a
subestrutura posicional, o posicionamento estratégico para ganho de segundas
bolas e os Equilíbrios dinâmicos. Destas características resulta a relação
concreta da dinâmica Especifica das Equipas com as diferentes Estruturas,
sobre a qual podemos concluir que:
- A importância da Estrutura definir à priori muitas diagonais posicionais
está relacionada com a dinâmica Especifica da circulação de bola que se
pretende.
- O controlo do meio-campo resulta da ocupação e dinamização desse
Espaço, sendo necessariamente diferente a ocupação desse Espaço nas
diferentes Estruturas, as dinâmicas e subdinâmicas inerentes a esse controlo
têm necessariamente de ser diferentes.
- O número de jogadores que aparece em Espaços de finalização ao
acontecer pela projecção vertical de alguns jogadores carece que o Espaço
esteja organizado no sentido de criar condições para essas projecções
verticais. O que passa não só pela dinamização dos Espaços mas também
pelos Espaços que as estruturas deixam livres.
Em suma, é urgente uma redefinição do paradigma do jogo, que este se
consubstancie na exaltação de uma cultura de risco, que promova a
variabilidade das soluções e a decisão do jogador sustentada por referenciais
de qualidade. Só partindo de uma abordagem complexa da organização das
Equipas, em que o jogador, enquanto individualidade, é o seu dinamizador,
conseguiremos garantir essa qualidade.
198
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International nº24.
Anexos
XVII
7. Anexos
Anexos
XVIII
Anexos
XIX
Anexo 1
Guião da entrevista a Louis van Gaal
FILOSOFIA
Que características deve apresentar uma Equipa para poder ser
considerada de Top?
O que é o futebol dominante? Uma Equipa de Top controla o jogo do ponto de vista ofensivo ou
também o pode fazer do ponto de vista defensivo?
Existe algum momento mais importante do que outro? Se sim, qual e porquê?
Existem sectores da Equipa e jogadores que poderão ser mais importantes do que outros no controlo
do jogo? Em que sectores e posição normalmente jogam? Porquê?
Pensa que a circulação de bola é uma característica importante na organização ofensiva de uma
Equipa de Top? Que características essa circulação de bola deve apresentar?
Que riscos deve correr uma Equipa de Top? De que forma aumentam os riscos de perda de bola?
Uma Equipa de Top quando em momento de finalização deve aparecer com vários jogadores Espaços
de finalização ou não necessariamente?
Todos os jogadores devem assumir funções ofensivas e defensivas quando a Equipa está ou não em
posse de bola?
Quando a Equipa ataca tem de ter preocupações defensivas?
Qual a importância da estrutura/sistema na organização de uma Equipa?
Que características pretende que a sua Equipa evidencie em Jogo?
Existem Espaços de maior relevância na organização da sua Equipa? Quais e de que forma os
organiza?
Qual o sistema preferencial para a concretização dessa ideia de jogo? Porquê?
Como pretende que a sua Equipa compense defensivamente os riscos assumidos nos momentos de
organização ofensiva?
MOMENTOS DE ORGANIZAÇÃO OFENSIVA
(Micro) Organização Funcional
Transição defesa-ataque
Quando a sua Equipa está organizada defensivamente já tem preocupações de posicionamento, ou
outras, para quando ganhar a posse de bola?
Quando e de que forma pretende que a sua Equipa ataque rápido ou jogue em segurança para depois
criar desequilíbrios?
Considera fundamental a segurança destes momentos? Porquê?
De que forma os sistemas podem influenciar o modo como se realizam as transições?
Criação de desequilíbrios
Como pretende que a sua Equipa crie desequilíbrios no adversário (estando defensivamente
organizado)?
Anexos
XX
Como pretende que a sua Equipa (re)inicie o jogo a partir do GR? Curto ou longo? Em que situações
joga longo? E como se posiciona a Equipa para ganhar a 2ª bola?
Considera a largura uma necessidade da circulação de bola? Em todos os momentos e áreas do
jogo?
Quando em posse de bola pretende ter sempre jogadores abertos nas laterais? Quem e quando?
(Laterais, médios ou extremos; nas saídas curtas ou quando a Bola está no corredor central, etc.)
Quando o adversário se encontra posicionado no meio-campo defensivo e a bola está no seu sector
mais recuado, o que pretende da Equipa?
Que perfil de jogadores pretende para ocupar as posições no corredor central (áreas de pivô (nº4) e
de “nº10”)?
Como pretende que os laterais participem no ataque?
Sendo o perigo de perda de bola maior no corredor central (maior concentração de jogadores) como
pretende que a sua Equipa crie aí desequilíbrios?
Quando a sua Equipa está no ataque e o adversário está defensivamente organizado, pretende que
as linhas da sua Equipa se mantenham juntas?
Situações de finalização
De que forma pretende que vários jogadores possam finalizar?
(Micro) Org. Estrutural
Que diferenças reconhece nos diferentes sistemas (1-4-3-3, 1-4-4-2 linha e 1-4-4-2 losango)?
As linhas e triângulos formados pelo sistema são um aspecto fundamental na concretização de uma
circulação de bola de qualidade. Concorda que outros sistemas que não definem tantas linhas, como por
exemplo o 1-4-4-2 em linha, podem de igual modo apresentar uma circulação de bola de qualidade?
Porque considera importante que o sistema defina à priori muitas linhas? (Posição: áreas). (as
diagonais são produzidas pela dinâmica de jogo da Equipa). Que diferenças existem na qualidade da
circulação de bola se a Equipa se posiciona em 1-4-3-3 ou em 1-4-4-2 linha (por ex.)?
Qual a diferença entre jogar com três jogadores no meio-campo ou quatro? Que diferenças existem
nas funções atribuídas aos jogadores consoante estejam três ou quatro jogadores no meio-campo?
Qual a diferença entre jogar com um avançado centro ou dois?
O que é para si o jogo posicional? Qual a sua importância?
No sistema que preconiza existem posições mais fixas e posições de maior mobilidade? Quais são e
porquê? Que perfil de jogador pretende para essas áreas?
Em que situações define estrategicamente áreas para ganho de 2ª bola? E que áreas?
Como pretende jogar no Espaço entre o avançado e o médio? Que jogador pretende que apareça
nesse Espaço e que características deve evidenciar?
De que forma o sistema pode potenciar o controlo do meio-campo?
Como pretende que a bola chegue ao médio criativo?
Concorda com a afirmação: “tão importante como o Espaço que se preenche é o espaço que se deixa
livre”. Se sim, como é que vê as diferentes estruturas em função do espaço livre? (Jogo entrelinhas)
Anexos
XXI
Anexo 2
Entrevista a Louis van Gaal (Inglês)
Treinador do AZ Alkmaar (Holanda)
Gabinete do treinador no Estádio do AZ Alkmaar, 9 de Março de 2009
Pedro Daniel Sousa (P.D.S) - What features should present a team to
be considered a Top team?
Louis van Gaal (L. van Gaal) – First, the players … must have individual
qualities… not only as a football player but also as a human being. Because
that is also very important, because you have to play in a team and not
individually... and then you need a very good trainer coach, that can transfer an
philosophy of football... a way of football... and then the eleven players has to
perform that... so, the chemistry between the technical quality of the head
coach, or the technical staff, with the players selection has to be very good.
(P.D.S) - What is dominant football?
(L. van Gaal) - That you decide how the opponent play their football and
not that the opponent decides where we have to play...
(P.D.S) - You decide the flow of the game, right!?
(L. van Gaal) - yes, that's... the main trick; I believe... that always you
decide where to play...
(P.D.S) - And a top team controls the game from the offensive or you
can also do that by the defensive point of view?
(L. van Gaal) - Yes, because there are different styles... in Italy they are
always defensively... in England is always offensively... except when they are
using a European coach... because of that, the coach is very important... so... I
have always play very offensively as a trainer coach with my teams, but this
season I play more defensively... to organize more and to create open space for
my very faster strikers... but that's also dominant... only I like more the offensive
style... because I like that. You have to deliver a product for the public... and
Anexos
XXII
with this product I don't like it, like the offensively style but... it's a very attractive
style, when you do it with speed.
(P.D.S) – Is there a moment more important than another?
(L. van Gaal) - I think the transition is the most important… aspect of the
moments... so, I divide the game in four… in four, and not in three, in four... and
you have ball possession opponent, then you have transition in ball possession
… then the opponent is not organized... so that is the moment that you have to
benefit… because at that time they are not organized. When you have ball
possession then your opponent it's in organization... and then it´s more (less too
late???) ... but top teams can create also, chances against organized teams,
Barcelona can do that very well and Manchester United also and AZ I think
also...
(P.D.S) - Because the other teams that play against top teams
usually plays in defense so the transition doesn't...
(L. van Gaal) - …work! Because they don't have enough individually
qualities... because top teams press also in advance... or go backwards and
press from the own half... that's a choice... so... then the opponent don't have
individual quality to disorganize the defensive organization or your team...
(P.D.S) - There are lines and players of the team that are, more
important than other’s in the control of the game?
(L. van Gaal) - No, no… Only dependable of your philosophy... how you
have to defend... have to defend on the half of the opponent or backwards or
between... that’s your choice as a coach, but that’s also dependable of the
quality of the opponent so lines... there are lines... but this lines are from the
pitch... not for the coach... is dependable on the quality of your own team and...
(P.D.S) - … it's very dynamic, because depends of the flow of the
game…
Anexos
XXIII
(L. van Gaal) - Yes, yes... depends of the philosophy of trainer coach
and the players of course, because I have to convince the players... of that
tactics or philosophy.
(P.D.S) - Ok. But… to play offensively... you don't think that the
midfield has a very important role?
(L. van Gaal) - No... No… I think that every player have an important
role... but... ok not only... ok... in the middle the strikers are very important they
attract all the attention...
(P.D.S) - When I talk in the middle I don't talk about a player, but a
space in the midfield, all that space in the middle…
(L. van Gaal) - No is dependable of the tactic of the opponent.
Sometimes my midfielders as to go in a deep, sometimes they have to play out
of… the space... and dependable of the tactics, and you cannot said in
advance… ok the players should go like that…no, no… it’s dependable of the
tactics, individually quality of the players, and therefore the game is very difficult
to... difficult to... read for the public.
(Entrevista interrompida por membro do clube)
(P.D.S) - Do you think that ball circulation it´s an important feature
on the offensive organization of a top team?
(L. van Gaal) - Yes, one of the most important because you have to play
together... and that, you do with the passing of the ball... I think every game
need that the ball replaces, every time, and not speed of replaces is important
but the replace itself... do you understand?
(P.D.S) -Yes…So one of the characteristics of that ball circulation
is…
(L. van Gaal) - … The pass, and not the speed. Every journalist said has
to be a higher ball circulation... and I said that is not so important... because the
replaces of the ball demands another organization defensively of the opponent.
Anexos
XXIV
(P.D.S) - What risks should be taken by a top team?
(L. van Gaal) - No risk. You have to avoid the risk. That’s your
organization defensively... and that's why.... for example, Mourinho win's a lot...
because he always has a very good defensive organization... so you have to
avoid risk... So when you are in attack you have to think to defend...
(P.D.S) - Exactly... it's one of the questions that I gone do... but
when you attack you increase the risks to lose the ball?
(L. van Gaal) - Yes... it's true, because when you attack you take always
risk because have a big space behind you... so that's true... because of that you
need defensively thinking when you attack...
(P.D.S) – Is that question that I gone do you know… all players must
take offensive and defensive tasks when the team is or is not in…
(L. van Gaal) – Yes…
(P.D.S) - What is the importance of the system in the organization of
the team?
(L. van Gaal) - When the opponent has the ball has very important, when
we have the ball, it's only general advisements... so… that you make the pitch
open and big... because then you created space for yourself but also the
creativity of your players... you have to freed him and not always what you think
that they have to do...
(P.D.S) - You said that you want the pitch bigger... not in all
moments of attack… if the ball it´s in zone of finalization… near to the
opponent goal… the defenders have to stay together…
(L. van Gaal) – Yes together…when you have to across a phase... I
divide also the attacking moment in the first phase, second phase, thirst phase
and fourth phase... The first phase it’s the construction, the second is the...
circulation of the ball to create the pass... this is the third phase... the creative...
and the fourth phase is the finalization.
Anexos
XXV
(P.D.S) – The second phase it´s like creating disorganization on the
opponent…
(L. van Gaal) - The second phase is to replace the ball, so you can see
the disorganization of the opponent... and then you need creativity to give the
pass, to see that moment... that's the third phase.
(P.D.S) - And if the opponent is disorganized in the first phase?
(L. van Gaal) - The opponent... is organized when we are in the first
phase... because the first phase it´s when the goal-keeper as the ball... and the
opponent is always to avoid construction... that was the first phase... the second
is the circulation on the midfield... to create opening...
(P.D.S) – When a top team is on the conclusion of offensive
organization should appear with several players to finish or not
necessarily? If… when you attack many players need to appear to finish…
(L. van Gaal) - No... ((P.D.S) - Only the attackers?) No, it's dependable
of the quality of your players... so, when you put in a line up more creative
players or more finishing players... is dependable of your philosophy and your
system. But you need always more than attackers... always, because when you
have only the attackers then they can organize easily the opponent...
(P.D.S) - Because that's one of the characteristics of the top teams...
(L. van Gaal) - Some of the most teams have just one striker (So you
need to appear with midfielders...) yes...yes, but that’s dependable of the
system that you play... how many midfielders you want to be there...
(P.D.S) - What characteristics do you want that your
team shows in the field?
(L. van Gaal) - I want 8 lines... 8 lines... so many as
possible... because then the occupation of the pitch it's better...
so we are blue... the best occupation of the pitch is this
Anexos
XXVI
system... 1,2,3,4,5,6,7... and with this dynamic one line more (Figure)... but
depends where is the ball... when the ball is here he has to go here... so also
form a line to pass, but when you play that system you have always triangles...
you have always two options for here... here... two options…also more... it's the
same here... two options... in the middle it's always more... here it's also a
triangle... a triangle... so that’s why 4-3-3, in my opinion, is the best system and
you can play with a defensively player or an offensive player (triangle of
midfield) it’s dependable of the quality of your players. When you play a 4-4-2 a
lot of teams are doing that, then you have not so much lines... you see... and it's
easy to defend … therefore I played... when I have two good strikers in a
window, so then I have six lines, 1,2,3,4,5,6 (He doesn’t count the GR) and
dynamically more...
(P.D.S) - Other systems that don't define so many lines, such as 1-4-
4-2 line, can likewise provide quality of the ball movement?
(L. van Gaal) - It's not so good, because you have less lines... but it’s a
dynamic situation...so you can said... ok, this is also triangles but when this
mathematically more triangles you have in your system then it's more easy,
because the players without thinking they are, already, in the position but now
they have to see the space... it's more difficult and they are more closely to
each other it's not so big the pitch... Do you understand... so the space it's
better divided when they placed like that... you can see it with your eyes... it's
always more space...So the other systems are not so shut(?) for ball circulation.
(P.D.S) - Because, when we see arsenal, for example,
they placed in 1-4-4-2 line...
(L. van Gaal) - No, no... They played, for me, they play
like this, they played like us… so 1,2,3,4,5,6,7… that is how I’m
playing now.
(P.D.S) - How do you want that your team defensively compensates
the risks taken in the offensive moment?
Anexos
XXVII
(L. van Gaal) - Always three behind, he is going... then they have to
close... and one of the midfielders has to stay... and they can go... but always
make compact not making space… in the third phase you have to be compact...
do you understand?! So when they are here... they have to be also compact...
not like this because the opponent has a big space...
(P.D.S) – I already had been here in Holland and I saw some games,
Utrecht, Vitesse… and one of the problems that I see was that… the teams
are…
(L.van Gaal) – Open. Yes I know.
(P.D.S) - When you are in defensive phase do you have offensive
concerns?
(L. van Gaal) - Yes… (What kind?) I need always... because that’s also
depends of your system... but I want always a deep striker... and I want always
one looking for the big space...
(P.D.S) - The big space!?
(L. van Gaal) - Yes, not deep... that's one striker, and he has to ties the
central defender to pick him up... because then the spaces
here it's bigger... so that's why I played like this... and that's
why I played in 4-3-3 with a second striker, the number 10,
mostly... and dependable of the quality of the player he is a
second striker or a third midfielder... So Litmanen in Ajax... has a third
midfielder... Dennis Bergkamp is a second striker.
(P.D.S.) - When and how you want that your team does a fast attack
or plays safe and then creates disorganization on the opponent?
(L. van Gaal) - I think that when opponent it's disorganized and when we
gain the ball, then you have to take benefits of the disorganization... but when
you always pass wrongly and you lose the ball... then I said... no, no, no...
patient, because you see that you always lost the ball, then you have to gain the
Anexos
XXVIII
ball again and again... that it cost us a lot of energy... so when the former is well
you can do that and pass well...
(P.D.S) - Then you lose the control of the game...
(L. van Gaal) - Then you lose the control of the game, then you always
lose the ball, they dominate the game... so, ball possession it's always
important... but it's not so important to score goals... that is not like that when
you have 60-70% that you score goals... That it's not the consequence.
Because when you have 70% of the ball, then you are playing near... and you
cannot score... so you have to dictate where they defend and we can do that to
go back... then they have to come, and then you have space...
(P.D.S) - One of the characteristics of the ball circulation is the
verticality, it's very important...
(L. van Gaal) – Yes… very important… because the transition it's
verticality...
(P.D.S) - Exactly... and the circulation has to detect the
disorganization by the verticality...
(L. van Gaal) – Yes… But when you always lose the ball give a pass
verticality... then it's wrong... because... then always you lose the ball...
(P.D.S) - I ask you the risks that you take on the offensive phase...
that it's one of the risks?
(L. van Gaal) - No, no... the vertical pass is not a risk because you
always have people behind the ball... but when you lose the ball every time...
then you have to run to the ball... and then you lose your dominance... so...
that's not good... so the vertical is the pass without risk... the width pass it's
always risky...That's why when they are here... and then you have to pass
whitely... then you have a problem... then they can... go in a transition... and you
have a lot of players in front of the ball...and then the space is big... that was
against NEC in the cup I lost (in a transition) yes..
Anexos
XXIX
(P.D.S.) – How the systems can influence how the transitions take
place?
(L. van Gaal) – Yes… The system can “afford”(?) the transition, now with
our way of playing it's more easy to defend because I have always two lines of
four... and the line is easily to defend with four against five, six... because you
can cover each other... or when to press the ball at the right time... then the ball
cannot played here because here have the free man to...when you pressed the
right time… and you can cover always… But I played sometimes with three in
the back… and then, the line… it’s more difficult to defend… but then I have to
press more… so that’s what you want, that’s your tactics, that is dependable of
your own quality and also the quality of your opponent. When your opponent
don’t want to play football… this is only with long balls, you can play better with
four in the back… but when they want to play from out the construction then you
can choose three or four… and you can place better…
(P.D.S.) – How do you want that your team (re)start the game from
goal-keeper? Short or long?
(L. van Gaal) – I played always from the goal-keeper, short…(But some
situations you have to play long)…Yes, yesterday the pitch has very bad, he
need an attacking point… because you cannot construct, they want to press
us… and therefore, said to my goal-keeper: “Ok. Long balls on Pellè”…
dependable of the quality I can put Ari in the striker position but Pellè it’s an
attacking point and therefore is played yesterday… because the opponent has a
central defender like that… with your eight… so… and I said to Pellè: “look for
him, go at that side”…
(P.D.S.) – If you played against other team, that have taller guys in
the back, how do you positioned your team to gain the ball… the long
ball… with numerical superiority?
Anexos
XXX
(L. van Gaal) – Yes… to close… and then the midfield have to win the
second ball… and we have four in the midfield… so it’s easily to win the ball…
because you have a lot of players…
(P.D.S.) – And then you created superiority…
(L. van Gaal) – We have the strikers always here
and a second striker behind the midfield line of the
opponents.
(P.D.S.) – When in possession of the ball you want always players
open on the sides?
(L. van Gaal) – When we have the ball they (midfielders) have to open…
always at the sides, it’s very important… because of that they (opponent) have
to defend width and then we have more space…
(P.D.S.) – This midfielders they go on deep?
(L. van Gaal) – No… it’s dependable… when they standing here (width in
the midfield) they can easily here (deep in the wings) but then they have to
defend and then this space are for the striker…
(P.D.S.) – This players need to have too much quality…
(L. van Gaal) – A lot of quality…(…Because these players need to play
inside and outside) … inside defensively and outside when we have the ball…
and they have to dribble… and then they have to be orientated for a lot of things
when we attack.
(P.D.S.) – What profile of players do you want to occupy positions in
the central corridor? The position that you define as number 4 and 10…
(L. van Gaal) – Thinkers. Brain. But a lot of trainer coaches want to be
here defender… always with me… thinkers. Guardiola, Xavi, Jong… always
that kind of players.
Anexos
XXXI
(P.D.S.) - And number 10?
(L. van Gaal) – Number 10 I liked more a midfielder that can go… (more
a midfielder then a second striker that come back…) yes… Now I play with a
second striker and defensively I doesn’t not work for the team… but at this level
in Netherlands we can keep the safety… but it’s always more difficult… when is
defensively… and he can go there also it’s better… but he as to score… this
man as to score… so our second striker scores 20 goals… this man has to
score… Litmanen always twenty, twenty five goals, Bergkamp twenty, twenty
five… not he (striker position)… he ten… because he takes benefits of him…
(P.D.S.) - For ball circulation he has an important role, because he
plays…
(L. van Gaal) – behind the midfield… (…with the
back…)… No, no… I have to be open… he has to run
always “contra”… “Contra” it’s not in front of him (opponent
midfielder) because then he can see the pass line… the ball
and is opponent. When you play like that, he can’t see the
ball and him… so that’s contra… very important what I’m saying now.
(P.D.S.) – One of things that we see sometimes it’s this player
playing here to devolve…
(L. van Gaal) –I don’t like it. He (second striker) have to be always
behind the midfield line… so they (opponent) have the midfield line, they have a
defensive line and then the strikers (our)… so he comes here it’s easily to
defend (in front of midfield line)… they can do also with four… it’s easy
“boom”… he has to be here… and always not to close of them (defenders line)
because he defends him. So close to them (midfielder’s line)…and then in a
free space and open…
(P.D.S.) - We use an expression “the game between the lines”…
Anexos
XXXII
(L. van Gaal) – Yes… but it’s also with the 4-3-3, it’s between the lines…
in a window it’s always between the lines… because of that this system it’s
difficult to beat and when you have individually quality.
(P.D.S.) - But if your team is defending…if the striker of the
opponent moves… who defends him?
(L. van Gaal) – This… they have to close… in my
opinion…
(P.D.S.) - How do you want, that the backside defenders, get
involved in the attack?
(L. van Gaal) – Always, I want to create one man more…
so, always one of the four (defenders) has to enter in the
midfield… doesn’t matter witch… but one enter they (the other
three) have to close.
The difficult is in the first phase (figure) they have to make
the space big and when they enter (one of the central defenders) they (backside
defenders) cannot close… and they have to play the ball in the striker and not to
him (play in width), because then “boom”… and then there is a open…
(P.D.S.) - You want this back(side) defenders go on deep?
(L. van Gaal) – Yes… I liked that, but they (the other defenders) have to
close…
(P.D.S.) - Never the two at same time?
(L. van Gaal) – No… it happens against NEC, because of that they
won…
(P.D.S.) - When your team attack and the opponent it´s defensive
organized, you want that your team stay with lines close to each other?
(L. van Gaal) – Always together… When they are here…they have to
contact… I already said to you… not space between… so when they go down,
Anexos
XXXIII
they have to go down…but not with space between the lines because the
opponent want to take benefit of that… but then you have more space behind
you… you have to know that… and therefore it’s very important when the ball
it’s here he is covering…
(P.D.S.) – What is the difference between playing with a center
forward (striker) or two?
(L. van Gaal) – The big difference is that you have two
attacking points… when you play with only one attacking
point… you need always an attacking point… with two… you
have two… so one is always in the side of the ball… when
the ball is here… he is here… but I think that is not good… a
lot of strikers want to be here (fig.1)… I said: “no, no…you
have to be here” (fig.2)… because normally is taking and
then he is going…and then here is more space for you… but
then he is coming also… but you have to be always the
distance is also important… so it’s not only the lines but also
the distance between the players… so, this is, when we have
the ball, this is not good, it’s easy to defend… this is much
better… distance… big, make the pitch big…
Entrevista interrompida por membro do clube.
(P.D.S.) – What is the difference between playing with three players
in midfielder or four?
(L. van Gaal) – To defend a line you have to defend a line, you don’t
defend a player only… but the player mostly is the same in all match… but you
defend a line, and you do that with four… that’s easily to
defend with four then with three, because the space it’s
bigger now (with only three) then you have to run more and
you’re too late sometimes, because when I think that the
Anexos
XXXIV
second striker is to danger, I do a midfield player on him… and then, they have
to do 2x3 (fig.)…And it’s more difficult because you have one more… (then they
cannot play between the lines)…then I have one man more…
(P.D.S.) – And in the offensive phase what is the difference between
three or four?
(L. van Gaal) – The difference is that they have a bigger space and they
can do more… but he (one of the defenders) when we have the ball coming into
the midfield again… so it’s not much difference… but it’s dependable of the way
of playing… what are the task in that way of the system…
(P.D.S.) – Give me the example of your team... The tasks that you
want for these players...
(L. van Gaal) – I always explain all tasks and functions of the position…
and also with relation with the opponent, the quality of the opponent… every
game…
(Nesta altura foram apresentados os slides de preparação do jogo contra o
NEC onde evidenciou alguns pontos que aqui foram perguntados)
(P.D.S.) – In the system that you advocate there are more fixed
positions and positions of greater mobility?
(L. van Gaal) – Yes, that’s true… the greater mobility are always the
wings (the midfielders that go the wings…) an then they have to come inside…
they have to run a lot… and the central midfielder also have to run a lot… and
the laterals, the full backs… so, there are six that run a lot…the others: the
striker, he always wants to run a lot but I don´t liked he has to stay… the second
striker he needs more brain than running… and the two central midfielders I
liked more brain than runners… and the central defenders more brain than
running… (and the goal-keeper too) Yes.
Anexos
XXXV
(P.D.S.) – In what situations you, strategically, define areas to gain
the 2nd ball?
(L. van Gaal) – You have seen that in the picture… because… you see
the picture… I have several strikers, I have Pellè, I have Ari… I have
Dembélé… who can play in a deep striker positions… and… I chose
dependable of the opponent, the pitch, the referee, the individually quality of
central defenders of the opponent… then I chose for one striker… so yesterday
in a bad pitch I need an attacking point and Pellè it’s more an attacking point
then Ari…
(P.D.S.) – But, there are more situations in the game that you define
some strategically areas to gain the second ball?
(L. van Gaal) – No… that’s the midfield line, our midfield line… so you
have to play the ball to an attacking point in front of the midfield line… so I say
then the third phase, not the second phase, the third phase… our he wins is
duel with the central defender or the central defender wins, then the second
line, the midfield line, can win the second ball…
(P.D.S.) – Do you recognize this image? It’s from the book “Louis
van Gaal, and Ajax Philosophy”?
(L. van Gaal) – This is more of the creativity of the
players… because they have to do that… You cannot say go,
go… because it’s dependable of your opponent… and how they
defend… and this is the way at the ball he is coming at the right
time then the third men… I don’t now what they want...
“distância entre linhas”, “mobilidade dos jogadores”
(P.D.S.) – Exactly…What I wrote here is that some top teams like
Arsenal, sometimes give that space to someone appear… to get the ball…
because they if the opponent is positioned, sometimes…
(L. van Gaal) – This is better when they recover the ball they can come
to his space here… because this picture is not good because the opponent it’s
Anexos
XXXVI
not here… this is nothing, is nothing… because… where is the opponent… and
football is always with an opponent… this is without an opponent… this is
picture doesn’t mean anything…
(P.D.S.) – I put this picture… but when I imagine that, and what I
tried to put here is exactly that… that depends too much of that… the
opponent quality… the individual quality…
(L.van Gaal) – Yes, Yes…when we have space like that and the
opponent is in the midfield so we should win… I don’t know if this space it’s for
me or for the opponent… when it’s for me and I have space like and we have to
score in that goal then we win… we win…
Anexos
XXXVII
Anexo 3
Entrevista a Louis van Gaal (Tradução)
Treinador do AZ Alkmaar (Holanda)
Gabinete do treinador no Estádio do AZ Alkmaar, 9 de Março de 2009
Pedro Daniel Sousa (P.D.S) – Que características deve apresentar
uma equipa para ser considerada de Top?
Louis van Gaal (L. van Gaal) – Em primeiro lugar, os jogadores têm de
ter qualidade individual… não apenas como jogadores mas também como
seres humanos. O que é também muito importante porque têm que jogar em
Equipa e não individualmente... e depois é necessário um bom treinador, que
consiga transmitir uma filosofia, uma perspectiva do futebol que os onze
jogadores vão concretizar. Para que isso aconteça a quimica entre a qualidade
técnica do treinador principal, ou da equipa técnica, com os jogadores
disponíveis tem que ser muito boa.
(P.D.S) – O que é futebol dominante?
(L. van Gaal) – É um futebol em que a tua equipa decide como o
adversário joga o seu futebol e não o contrário, em que o adversário decide
onde temos de jogar...
(P.D.S) – Decide como o jogo flui!?
(L. van Gaal) – Sim, creio que essa é o principal “truque”... que a tua
equipa decide sempre onde jogar.
(P.D.S) – Uma equipa de top controla o jogo ofensivamente ou
também o pode fazer do ponto de vista defensivo?
(L. van Gaal) – Pode, porque existem diferentes estilos de jogo… Em
Itália têm um estilo de jogo mais defensivo, em Inglaterra têm um estilo de jogo
mais ofensivo, excepto quando têm treinadores Europeus. Por isso, o treinador
tem um papel muito importante. Como treinador as minhas equipas jogaram
sempre um estilo mais ofensivo, mas esta época a minha equipa apresenta
Anexos
XXXVIII
outras características defensivas... com uma melhor organização defensiva,
para criar espaços para os meus avançados que são muito rápidos... isso
também é futebol dominante, mas gosto mais do estilo ofensivo. Tens que
entregar um produto ao público... e não gosto do estilo defensivo como do
ofensivo mas também pode ser um estilo atractivo quando é feito com
velocidade.
(P.D.S) – Existe algum momento mais importante do que outro?
(L. van Gaal) – Penso que a transição é o aspecto mais importante dos
momentos. Eu divido o jogo em quatro... em quatro e não em três, em quatro…
tens a posse de bola do adversário, depois transição em posse de bola... nesse
momento o adversário não está organizado... por isso esse é o momento que a
tua equipa tem de aproveitar... porque nesse momento o adversário não está
organizado. Quando tens a posse de bola o teu adversário está organizado...
mas as Equipas de top conseguem criar também oportunidades contra equipas
organizadas, o Barcelona consegue faze-lo muito bem e o Manchester também
e o Az penso que também.
(P.D.S) – Porque os adversários que jogam contra Equipas de top
geralmente apostam em estilos de jogo mais defensivos, por isso a
transição não…
(L. van Gaal) - …Funciona! Porque eles não têm qualidade individual
suficiente… porque as Equipas de top pressionam também à frente… ou
recuam e pressionam a partir do próprio meio-campo... é uma opção... por isso
o adversário não tem qualidade individual suficiente para desorganizar a
organização defensiva da tua Equipa...
(P.D.S) – Existem jogadores ou linhas da equipa que sejam mais
importantes do que outros no controlo do jogo?
(L. van Gaal) - Não, não… depende da tua filosofia… como queres
defender. Defender à frente, atrás ou no centro, essa é a tua escolha como
treinador, mas depende também da qualidade do adversário, por isso, linhas…
Anexos
XXXIX
existem linhas, mas existem no terreno, não são para o treinador, dependem
da qualidade da tua Equipa…
(P.D.S) - … é muito dinâmico… porque depende do modo como o
jogo flui…
(L. van Gaal) – Sim, sim... e depende da filosofia do treinador e dos
jogadores é claro, porque tens que convencer os jogadores da táctica ou
filosofia que defines.
(P.D.S) - Mas… para jogar um estilo ofensivo… não considera que o
meio campo tem um papel muito importante?
(L. van Gaal) - Não... Não… Penso que todos os jogadores têm um
papel muito importante... talvez no centro os avançados são muito importantes
porque eles atraem todas as atenções...
(P.D.S) – Quanto falo no meio-campo não me refiro a um jogador,
mas ao espaço no centro, todo esse espaço no centro...
(L. van Gaal) – Não… depende da táctica do adversário. Por vezes os
meus médios vão em profundidade, outras vezes têm que jogar por fora do
espaço... depende das tácticas, não podes antecipar e dizer: “ok! os jogadores
têm que fazer isto”... não, não... depende das tácticas, da qualidade individual
dos jogadores, e, por isso o jogo é muito difícil de ler pelo público.
(Entrevista interrompida por membro do clube)
(P.D.S) – Considera a circulação de bola uma característica
importante da organização ofensiva de uma equipa de top?
(L. van Gaal) - Sim, uma das mais importantes, porque tens que jogar
em equipa e isso faz-se passando a bola… acho que todos os jogos precisam
que a bola seja sempre colocada com precisão e não é a velocidade com que é
colocada que é importante, é a precisão com que é colocada.
(P.D.S) – Então uma das características dessa circulação é…
Anexos
XL
(L. van Gaal) - … O passe, não a velocidade. Frequentemente os
jornalistas dizem que é necessário ter uma circulação de bola mais rápida... e
eu digo que isso não é muito importante... porque a colocação da bola obriga
outra organização defensiva do adversário.
(P.D.S) – Que riscos deve uma equipa de top assumir?
(L. van Gaal) – Nenhuns. Tens que evitar os riscos. Isso é a tua
organização defensiva... é por isso que, por exemplo, o Mourinho ganha
muito... porque as suas equipas têm sempre uma organização defensiva muito
boa. Então tens que evitar os riscos... Por isso, quanto atacas tens que pensar
em defender.
(P.D.S) – Exactamente... essa é uma questão que lhe vou colocar
novamente mais à frente... mas quando ataca aumenta os riscos de
perder a bola?
(L. van Gaal) – Sim isso é verdade, porque quando atacas corres
sempre riscos porque tens um espaço grande atrás de ti… por isso tens que
pensar defensivamente quando atacas...
(P.D.S) – Então todos os jogadores têm funções ofensivas e
defensivas quando a equipa está ou não em...
(L. van Gaal) – Sim…
(P.D.S) – Qual a importância do sistema na organização da Equipa?
(L. van Gaal) – Quando o adversário tem a bola é muito importante,
quando está em nossa posse é apenas uma referência geral, por isso tens que
fazer “campo grande”, porque assim crias espaço para ti, mas também tens a
criatividade dos jogadores... tens que os libertar e não estar sempre a dizer-
lhes o que fazer...
Anexos
XLI
(P.D.S) – Disse que quer o campo grande… em todos os momentos
do ataque? Se a bola está em zona de finalização, próximo da baliza do
adversário… os defesas têm de se manter juntos…
(L. van Gaal) – Sim, devem manter-se juntos… quando tens que passar
uma fase... Eu também divido os momentos ofensivos na primeira, segunda,
terceira e quarta fase. A primeira fase é a construção, a segunda é... a
circulação de bola para criar o passe... esta é a terceira fase... a criatividade...
e a quarta fase é a finalização.
(P.D.S) – A segunda fase é criar desequilíbrios no adversário?!
(L. van Gaal) – A segunda fase é para colocar a bola, assim consegues
ver a desorganização do adversário… e depois precisas de criatividade para
fazer o passe, para ver o momento adequado para o fazer... essa é a terceira
fase.
(P.D.S) – E se o adversário estiver desorganizado na primeira fase?
(L. van Gaal) – O adversário, quando estamos na primeira fase, está
organizado. Na primeira fase o GR tem a bola e o adversário tenta sempre
evitar a construção… essa é a primeira fase. A segunda é a circulação no
meio-campo... para criar aberturas.
(P.D.S) – Quando uma equipa de top ataca deve aparecer com
vários jogadores para finalizar ou não necessariamente?
(L. van Gaal) - Não... ((P.D.S) – Apenas os avançados?) Não,
depende da qualidade dos teus jogadores… depende se pões uma linha
avançada de jogadores mais criativos ou de jogadores para finalizar... depende
da tua filosofia e do teu sistema. Mas precisas sempre mais do que os
avançados… sempre, porque quando tens apenas os avançados o adversário
facilmente se organiza...
(P.D.S) – Esta é uma característica das equipas de top...
Anexos
XLII
(L. van Gaal) – Muitas das Equipas têm apenas um avançado (Por isso
precisa que apareçam os médios…) Sim…sim, mas isso depende do sistema
em que jogas… quantos médios tens nesse sistema…
(P.D.S) – Que características pretende que a sua equipa demonstre
no campo?
(L. van Gaal) – Quero 8 linhas... 8 linhas… o máximo de
linhas possíveis… porque assim a ocupação do campo é
melhor... somos os azuis... a melhor ocupação do terreno é
com este sistema... 1,2,3,4,5,6,7... e com esta dinâmica uma
mais linha (fig. 1)... mas depende onde está a bola... quando a
bola está aqui e ele movimenta-se para ali… formando
também uma linha de passe, quando jogas neste sistema tens
sempre triângulos... tens sempre duas opções para aqui… aqui... duas
opções... mais... o mesmo aqui... duas opções... no meio tens sempre mais...
aqui está outro triângulo... um triângulo... é por isso que o 4-3-3, na minha
opinião, é o melhor sistema. E podes ainda jogar com um jogador mais
defensivo ou mais ofensivo (orientação do triângulo do meio-campo) depende
da qualidade dos teus jogadores. Quando jogas em 4-4-2, como o fazem
muitas equipas, não tens tantas linhas… podes ver… e é mais fácil para
defender... desse modo, jogo... quando tenho dois bons avançados, em
losango, e assim tenho seis linhas, 1,2,3,4,5,6 (não contou o GR) e
dinamicamente mais...
(P.D.S) – Outros sistemas que não definem tantas linhas podem
também garantir qualidade à circulação de bola?
(L. van Gaal) – Não é tão boa, porque tens menos linhas… mas é uma
situação dinâmica… por isso podes dizer… ok, isto também são triângulos mas
quando existem matematicamente mais triângulos no teu sistema torna-se mais
fácil, porque os jogadores sem pensar já estão na posição, mas assim eles têm
que ver o espaço... é mais difícil e eles estão mais próximos uns dos outros, o
campo não fica tão grande... desse modo o espaço é melhor dividido quando
Anexos
XLIII
eles se posicionam assim... podes ver com os teus olhos... há sempre mais
espaços... por isso os outros sistemas não são tão bons para a circulação de
bola.
(P.D.S) – Quando vemos o Arsenal, por exemplo, eles
posicionam-se em 1-4-4-2 clássico...
(L. van Gaal) - Não, não... Para mim, eles jogam
assim… como nós… 1,2,3,4,5,6,7… é assim que estamos a
jogar neste momento.
(P.D.S) – Como pretende que a sua Equipa compense
defensivamente os riscos assumidos nos momentos ofensivos?
(L. van Gaal) – Quero sempre três atrás, se ele sobe… então os outros
têm que fechar… e um dos médios tem que ficar… e eles podem ir... mas
sempre mantendo contacto e não deixando espaço... na terceira fase a Equipa
tem que estar compacta... Por isso, se eles estão aqui... eles têm que estar
também compactos... deste modo não porque se não o adversário tem um
espaço muito grande.
(P.D.S) – Já tive oportunidade de ver alguns jogos aqui na
Holanda… e um dos problemas que acho existir na maioria das equipas é
que as equipas estão...
(L.van Gaal) – Abertas. Sim… eu sei.
(P.D.S) – Quando esta em organização defensiva tem preocupações
ofensivas?
(L. van Gaal) - Sim… (De que tipo?) Preciso
sempre… porque isso depende também do teu sistema...
mas quero sempre um avançado profundo... e outro a
procurar pelo “big space” (espaço grande)...
(P.D.S) – O espaço grande!?
Anexos
XLIV
(L. van Gaal) – Sim, não muito profundo… esse é um avançado, ele tem
que procurar arrastar os defesas centrais... porque assim o espaço torna-se
maior... é por isso que eu jogo assim... e é por isso que eu jogo em 4-3-3 com
um segundo avançado, o número 10 quase sempre... e dependendo da
qualidade do jogo ele pode ser um segundo avançado ou um terceiro médio...
Como Litmanen no Ajax... como terceiro médio... Dennis Bergkamp era um
segundo avançado.
(P.D.S.) – Quando e como pretende que a sua equipa em transição
ataque rápido ou jogue em segurança para depois desorganizar o
adversário?
(L. van Gaal) – Eu penso que quando o adversário esta desorganizado e
nós recuperamos a bola, temos que aproveitar essa desorganização... mas
quando estás sempre a falhar o passe e a perder a bola... então eu digo... não,
não, não... paciência, porque vês que eles estão quase sempre a perder a bola
e assim tens que procurar recupera-la vezes sem conta... isso custa-nos muita
energia... por isso quando a formação está boa o passe sai correctamente.
(P.D.S) – E assim perdesse o controlo do jogo...
(L. van Gaal) – Perdes o controlo do jogo, estas sempre a perder a bola
e assim eles dominam o jogo, por isso, a posse de bola é sempre importante…
mas não é assim tão importante para marcar golos… não é por teres 60-70%
da posse de bola que marcas golos... isso não é consequência. Porque quando
tens 70% da posse, é porque o adversário está a jogar próximo... e não podes
marcar... assim tens que definir onde eles defendem e podemos fazer isso
circulando a bola atrás... eles terão que vir e assim tens espaço...
(P.D.S) – Uma das características da circulação de bola é a
verticalidade, é muito importante...
(L. van Gaal) – Sim… muito importante.. porque a transição é vertical…
Anexos
XLV
(P.D.S) – E a circulação tem que detector a desorganização do
adversário através da verticalização...
(L. van Gaal) – Sim… mas quando estas sempre a perder a bola a fazer
passes verticais… é errado… porque estas sempre a perder a bola...
(P.D.S) – Anteriormente perguntei que riscos assume nos
momentos ofensivos… esse é um dos riscos?
(L. van Gaal) - Não, não... o passe vertical não é um passe de risco
porque vais ter sempre jogadores atrás da bola... mas se estás sempre a
perder a bola vais estar sempre a correr atrás dela...logo vais perder o domínio
e isso não é bom... por isso o passe vertical deve ser feito sem risco... o passe
em largura é que é um passe com risco... É por isso que quanto eles estão
aqui... e tens que passar em largura... tens um problema... porque eles podem
fazer uma transição e tens muitos jogadores em frente à bola... e assim o
espaço é maior... aconteceu isso no jogo que perdemos contra o NEC para a
taça (Em transição...) Sim...
(P.D.S.) – Como é que os sistemas influenciam o modo como as
transições são levadas a efeito?
(L. van Gaal) – Sim… O sistema pode influenciar a transição, agora na
nossa forma de jogar é mais fácil de defender porque tenho sempre duas linhas
de 4… e a linha torna-se mais fácil defender com quatro contra cinco, seis…
porque tens sempre coberturas… e decides o momento adequado para
pressionar.... e podes sempre cobrir... mas por vezes jogo com três atrás... e
assim, a linha é mais difícil de defender... mas, por isso, tenho de pressionar
mais... é isto que tu queres, é a tua táctica, depende da qualidade da tua
equipa e também da qualidade do adversário. Quando o teu adversário não
quer jogar futebol... apenas joga bolas longas, o melhor é jogar com quatro
atrás... mas quando eles pretendem sair em construção curta podes escolher
entre uma linha de três ou quatro... e podes-te posicionar melhor...
Anexos
XLVI
(P.D.S.) – Como pretende que a sua equipa (re)inicie o jogo a partir
do GR? Curto ou longo?
(L. van Gaal) – Eu jogo sempre curto a partir do GR...(Mas por vezes
tem que jogar longo…)…Sim, ontem o terreno estava em más condições,
precisamos de um ponto/referência de ataque... porque não conseguíamos
construir, eles pressionavam-nos... por isso disse ao meu GR: “Ok. Joga bolas
longas para o Pellè…”. Dependendo da qualidade posso colocar Ari na posição
de avançado, mas o Pellè é uma referência de ataque (para as bolas longas) e
por isso jogou ontem... porque o adversário tinha um central com a tua altura
aproximadamente... por isso disse a Pellè: “procura-o e vai para o seu lado”
(P.D.S.) – Se jogar contra uma equipa que tenha defesas mais altos,
como é que a sua equipa se posiciona para recuperar a bola… a bola
longa… com superioridade numérica?
(L. van Gaal) – Sim… Fechados… e depois o nosso meio-campo tem
de ganhar a 2ª bola… nós temos 4 no meio-campo… por isso é fácil ganhar a
bola… porque tens uma quantidade enorme de jogadores…
(P.D.S.) – E depois criar superioridade…
(L. van Gaal) – Nós temos avançados que estão
sempre aqui e um segundo avançado atrás da linha de
meio-campo do adversário..
(P.D.S.) – Quando em posse de bola pretende sempre jogadores
abertos nos corredores?
(L. van Gaal) – Quando temos a bola eles (médios) têm que abrir
sempre nos corredores... é muito importante... porque eles (adversário) vão ter
que defender abertos e assim temos mais espaço ...
(P.D.S.) – Esses médios dão profundidade?
Anexos
XLVII
(L. van Gaal) – Não… depende… quando eles se mantêm aqui (largura
no meio campo) eles facilmente estão aqui (profundidade nas alas) mas depois
eles têm que defender e este espaço é para o avançado...
(P.D.S.) – Esses jogadores têm de ter muita qualidade…
(L. van Gaal) – Muita qualidade…(…Porque esses
jogadores têm de jogar dentro e fora…) … dentro
defensivamente e fora quando temos a posse de bola…
eles têm que driblar… e estar orientados para muitas coisas
quando nós atacamos.
(P.D.S.) – Que perfil de jogadores pretende para os jogadores das
posições 4 e 10?
(L. van Gaal) – Pensadores. Cérebros. Mas muitos treinadores
pretendem aqui defesas… comigo quero sempre pensadores. Guardiola, Xavi,
Jong… sempre esse tipo de jogadores.
(P.D.S.) – E para o número 10?
(L. van Gaal) – O número 10 prefiro um médio que suba... (mais um
médio do que um avançado que desça no terreno...) Sim… Agora jogo com um
segundo avançado e defensivamente ele não funciona para a Equipa… mas a
este nível, na Holanda, consegues manter a segurança… mas é sempre mais
difícil quando estamos em organização defensiva... mas ele também tem que
marcar... por isso o nosso segundo avançado marca vinte golos... este jogador
tem que marcar... Litmanen marca sempre vinte, vinte e cinco golos, Bergkamp
marca vinte, vinte e cinco… ele não (avançado)... ele marca dez... porque ele
tem benefício dele...
(P.D.S.) – Para a circulação de bola ele assume um importante
papel, porque joga...
(L. van Gaal) – atrás do médio… (…com as costas…)… Não, não…
Ele tem que estas aberto… tem que correr sempre contra... contra não é em
Anexos
XLVIII
frente a ele (médio adversário) porque assim ele consegue ver a linha de
passe... a bola e o seu adversário. Quando jogas assim, o médio adversário
não consegue ver a bola e o teu jogador… por isso é contra... isto que estou a
dizer é muito importante.
(P.D.S.) – Uma das situações frequentes é esse jogador descer no
terreno para tabelar de primeira...
(L. van Gaal) – Disso não gosto. Ele (segundo avançado) tem que estar
sempre atrás da linha do meio-campo... eles têm a linha do meio-campo, a
linha defensiva e nós o avançado entre essas duas linhas... é mais fácil para o
adversário defender (se este jogador se posicionar em frente a linha do meio-
campo)... Eles podem faze-lo com um dos quatro... é fácil pressionar... ele tem
que estar aqui... nem muito perto deles (linha defensiva) porque se não eles
facilmente defendem. Nem muito perto deles (linha do meio-campo)... devem
posicionar-se no espaço livre e abertos...
(P.D.S.) – Nós usamos a expressão “o jogo entrelinhas”...
(L. van Gaal) – Sim… mas isso é o que acontece com o 4-3-3, é entre
linhas… em losango também é sempre entre linhas… por causa disso este
sistema é difícil de e defender quando tens qualidade individual.
(P.D.S.) – Mas se a sua Equipa está em organização defensiva… se
o adversário se movimenta... quem o defende?
(L. van Gaal) – Assim… Na minha opinião eles têm que
fechar…
(P.D.S.) – Como pretende que os laterais participem no ataque?
(L. van Gaal) – Eu quero criar sempre superioridade… por
isso, um dos quarto (jogadores da linha defensiva) tem que entrar
no meio-campo… não interessa qual… mas quando um entra os
outros (três jogadores da linha defensiva) têm que fechar. A
dificuldade está na primeira fase (fig.)… eles têm que fazer campo
Anexos
XLIX
grande e quando um deles entra, eles (laterais) não conseguem fechar... por
isso eles vão ter que jogar a bola no avançado e não para ele (jogar em largura
para o lateral), porque eles vão pressionar muito... e nós vamos estar abertos...
(P.D.S.) – Pretende que os laterais dêem profundidade?
(L. van Gaal) – Sim… Gosto disso, mas eles têm que fechar (restante
linha defensiva) …
(P.D.S.) – Nunca os dois em simultâneo?
(L. van Gaal) – Não… isso aconteceu contra o NEC, e por causa disso
ganharam...
(P.D.S.) – Quando a sua equipa ataca e o adversário está
defensivamente organizado, quer que a sua equipa mantenha as linhas
próximas umas das outras?
(L. van Gaal) – Sempre juntas… Quando eles estão aqui… eles têm de
estar aqui... eles têm de estar sempre em contacto... já te tinha dito... não
quero espaço entre eles... por isso, se eles sobem (linha intermédia), eles
(linha recuada) têm que subir... mas não com espaço entre linhas porque o
adversário pode tirar benefícios dessa situação... mas assim também tens
mais espaço atrás de ti… tens que saber isso... por isso são muito importantes
as coberturas...
(P.D.S.) – Qual é a diferença entre jogar com um avançado ou dois?
(L. van Gaal) – A grande diferença é que tens duas referências de
ataque … e quando jogas apenas com um avançado só tens
uma referência… precisas sempre de uma referência… com
dois avançados… tens duas… um está sempre no lado da
bola... quando a bola está aqui... ele está aqui... mas penso
que isso não é a melhor solução... muitos avançados vão
para aqui (fig.1)… Eu digo-lhes: “não, não… tens que estar
aqui” (fig.2)… porque normalmente ele fica e o outro vai… e
Anexos
L
por isso há mais espaço para ti… mas tens também a
distância entre eles que é muito importante… por isso não
são apenas as linhas mas também a distância entre os
jogadores... por isso, isto é, quando temos a bola, isso não e
bom, é fácil de defender... isto é muito melhor... distância...
grande, fazer o campo grande...
Entrevista interrompida por membro do clube.
(P.D.S.) – Qual a diferença entre jogar com 3 ou 4 jogadores no meio
campo?
(L. van Gaal) – Para defender a linha… tens que defender uma linha,
não defendes um jogador apenas… é provável que o jogador que defendes
seja sempre o mesmo… mas defendes a linha, e tens que o fazer com 4... é
mais fácil defender com quatro do que com três, porque assim o espaço é
maior (com três) logo tens que correr mais e muitas vezes
vais estar atrasado, porque quando vejo que o segundo
avançado (adversário) é perigoso, coloco lá mais um
jogador... e assim está uma situação de 2x3 (fig.)…E é
mais difícil para o adversário porque temos superioridade... (e assim eles não
podem jogar entre linhas...)…porque tenho superioridade...
(P.D.S.) – E em organização ofensiva qual a diferença entre jogar
com três ou quarto jogadores no meio-campo?
(L. van Gaal) – A diferença é que eles têm mais espaço e por isso
podem fazer mais… mas ele (um dos defesas) quando estamos em posse têm
que vir para o meio-campo novamente… por isso não existe muita diferença…
mas depende do estilo de jogo… quais são as funções do sistema nessa forma
de jogar...
(P.D.S.) – Dê-me o exemplo da sua equipa… que funções atribui a
esses jogadores...
Anexos
LI
(L. van Gaal) – Eu explico sempre todas as tarefas e funções de cada
posição... em relação com o adversário, com a sua qualidade... todos os
jogos...
(Nesta altura foram apresentados os slides de preparação do jogo contra o
NEC onde evidenciou alguns pontos que aqui foram perguntados)
(P.D.S.) – No sistema que define para a sua equipa existem
posições mais fixas e posições de maior mobilidade?
(L. van Gaal) – Sim, existem… de maior mobilidade são os alas (os
médios que vão para as alas…) porque depois têm que vir para o interior… têm
que se movimentar muito… o médio centro tem também que se movimentar
muito… e os laterais… por isso há 6 jogadores com maior mobilidade… os
outros: o avançado muitas vezes tem muita mobilidade mas eu não gosto, ele
tem que ficar… o segundo avançado prefiro mais cérebro do que “corredores”
(no sentido de terem muita mobilidade)... e os dois médios centro também... os
defesas centrais também mais cerebrais do que “corredores” … (e o GR
também…) Sim.
(P.D.S.) – Em que situações define estrategicamente áreas para
ganhar a segunda bola?
(L. van Gaal) – Viste na imagem que te mostrei… eu tenho vários
avançados, tenho Pellè, Ari e Dembélé… que podem jogar como avançados
mais profundos... e... eu escolho em função do adversário, do campo, do
arbitro, da qualidade individual dos defesas adversários... ontem o campo era
mau, por isso precisei de uma referência na frente (para jogar longo), para isso
o Pellè é melhor do que Ari.
(P.D.S.) – Mas existem mais situações durante o jogo em que,
estrategicamente, define áreas para ganhar segundas bolas?
(L. van Gaal) – Não… essa área é a linha do meio-campo, a nossa linha
do meio-campo… nós jogamos a bola para a nossa referência no ataque em
Anexos
LII
frente a linha do meio-campo… essa é a nossa terceira fase, não a segunda, a
terceira... na qual ou o avançado ganha o duelo com o defesa central ou
ganhar o central adversário, nessa situação, a segunda linha, a linha do meio-
campo, pode ganhar a segunda bola...
(P.D.S.) – Reconhece esta imagem? É do livro “Louis van Gaal, and
Ajax Philosophy”?
(L. van Gaal) – Isso é mais da criatividade dos
jogadores… porque eles têm que fazer isso… não lhes podes
dizer exactamente o que fazer... porque isso depende do teu
adversário... como defendem... e deste modo a bola vinha no
momento certo para o terceiro homem... mas não sei o que
eles querem... “distância entre linhas”, “mobilidade dos
jogadores”
(P.D.S.) – O que escrevi aqui foi que algumas equipas de top como
Arsenal, por vezes aumentam o espaço entrelinhas para alguém
aparecer… para vir buscar bola... porque se o adversário estiver
posicionado, por vezes...
(L. van Gaal) – Isto é melhor quando eles recuperam a bola eles podem
vir para esse espaço… esta imagem não é muito boa porque o adversário não
está aqui… isto não é nada, nada… porque… onde está o adversário… o
futebol é sempre com um adversário... isto é sem adversário... esta figura não
significa nada...
(P.D.S.) – Quando coloquei esta figura tinha isso em mente, e no
texto tentei deixar claro exactamente isso… que depende muito da
qualidade dos jogadores da equipa... da qualidade do adversário...
(L.van Gaal) – Sim, sim…quando temos este espaço e o adversário está
no seu meio-campo nós provavelmente vamos ganhar… não sei se este
espaço é para mim ou para o adversário... quando é para mim e temos este
espaço todo e temos que marcar nesta baliza nós ganhamos...
Anexos
LIII
Anexo 4
Guião da Entrevista a André Villas-Boas
CARACTERIZAÇÃO DAS EQUIPAS DE TOP
Sabendo que, uma Equipa para estar a Top tem que marcar e ter oportunidades para marcar.
Que características comuns identificas no jogo das Equipas de top?
CONTROLO DO JOGO: CONTROLO DO MEIO-CAMPO
Consideras que uma Equipa para ser de top tem que ter a iniciativa e o controlo do jogo?
Porquê?
Existem sectores da Equipa e jogadores que poderão ser mais importantes do que outros
no controlo do jogo? Em que sectores e posição normalmente jogam? Porquê?
CIRCULAÇÂO DE BOLA
A circulação de bola é uma característica importante na organização ofensiva de uma
Equipa de Top? Que características essa circulação de bola deve apresentar?
Reconheces a possibilidade das Equipas de top circularem a bola de modos distintos com
qualidade?
O que caracteriza os “padrões” de circulação de bola horizontal e vertical (carece de maior
dinamização dos espaços caso contrário facilmente são “anulados”)?
De que forma o meio-campo determina a existência de uma posse de bola mais horizontal
ou mais vertical?
RISCOS: JOGADORES EM ESPAÇOS DE FINALIZAÇÃO
Para marcar por vezes é necessário correr riscos. De que forma aumenta o risco dos
momentos de organização ofensiva das Equipas de top?
Uma Equipa de Top quando em momento de finalização deve aparecer com vários
jogadores Espaços de finalização ou não necessariamente?
ORGANIZAÇÃO GLOBAL: EQUILÍBRIOS
Que implicações tem na organização da Equipa, o facto de vários jogadores aparecerem em
Espaços de finalização?
Quando a Equipa ataca tem de ter preocupações defensivas? De que tipo?
(MACRO)ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL
TRANSIÇÃO
Anexos
LIV
Estas partes dos momentos de organização ofensiva podem ser feitos de modos distintos.
Porém, identificas nas Equipas de Top, prioridades nos momentos consequentes ao ganho de
bola?
Que tipo de preocupações ofensivas uma Equipa de top tem quando esta defensivamente
organizada? (ou Como preparam o ataque? (por exemplo: definir momentos de pressão))
Em determinadas circunstâncias (dependendo da qualidade do adversário e dos 2
jogadores que temos na frente) duas linhas de 4 jogadores são suficientes para defender o
meio-campo defensivo? (Exemplo do Inter com Ibra e Cruz) A relação desta questão com as
transições tem que ver com o facto de, se forem suficientes, os outros dois jogadores poderão
estar mais “livres” para pensar o ataque à baliza adversária.
O que é que vocês pretendem para os momentos imediatamente após recuperação de
bola?
CRIAÇÃO DE DESEQUILÍBRIOS
Reconheces a verticalidade (não entendido aqui exclusivamente como sendo o “jogo
directo”) como a característica fundamental na criação de oportunidades de finalização?
Se sim, então concordas que, os desequilibradores muitas das vezes encontram-se no centro
do terreno de jogo e não apenas nas faixas a procurar situações de 1x1?
O jogo de uma Equipa tende a fluir para esses jogadores que têm maior apetência para a
criação de desequilíbrios (seja no meio ou nas alas)?
As saídas curtas pelo GR as Equipas habitualmente fazem “campo grande” (é uma
característica das equipas que fazem uma circulação predominantemente horizontal...Quando
a bola circula em linhas mais recuadas quais os comportamentos “padrão” das Equipas de Top
nas linha intermédia e avançada (aqui poderá falar da mobilidade dos jogadores, da distância
entrelinhas)?
Qual a importância da largura (dos corredores) na criação de desequilíbrios? Em que
momentos e espaços uma Equipa deve dar largura (nas saídas curtas: laterais para uma CB
Hor.; bola em áreas intermédias)?
De que forma os laterais podem participar no ataque?
Existe nas Equipas, Espaços de maior fragilidade defensiva, que podem ser aproveitados
pelo ataque? Quais e porquê? E como podem ser aproveitados? (costas dos defesas, Central-
lateral, Defesa-médio),(nesta altura “tem” que, também, falar do jogo entrelinhas))
Que perfil de jogador deve aparecer em Espaços entrelinhas (médio, avançado)? Qual a
função?
Anexos
LV
FINALIZAÇÃO
Concordas com a afirmação de Menotti que diz: “os jogadores que maior dano causam são
os que aparecem com movimentos de trás para a frente”?
(MACRO) ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL
JOGO POSICIONAL
Que significado tem para ti “jogo posicional”? Qual a sua importância?
A mudança de estrutura ao longo do jogo implica mudança das áreas de responsabilidade
logo os jogadores têm de assumir diferentes funções?
Por exemplo o triângulo do meio-campo inicialmente em 1-4-3-3 e esse mesmo triângulo em 1-
4-4-2, quais as diferenças?
De que forma o “jogo posicional” se consubstancia na frente de ataque?
Extremos: se procurarem posições interiores, a Equipa tem de saber ajustar-se pois em caso
de perda dificilmente vai conseguir pressionar no flanco. Desse modo, é necessário que todos
os jogadores tenham a noção das suas áreas de responsabilidade e dos companheiros.
Nas equipas de top existem posições mais fixas e outras de maior mobilidade?
Que perfil de jogador podem ocupar essas áreas frequentemente?
Existem áreas estratégicas para ganho de 2ª bola? Quais?
O que consideras mais importante quando é necessário compensar os riscos assumidos no
ataque?
RELAÇÃO ESTRUTURA - DINÂMICA
Qual a importância da estrutura/sistema na organização de uma Equipa?
Que diferenças reconheces nos diferentes sistemas (1-4-3-3, 1-4-4-2 linha e 1-4-4-2
losango)?
De que forma o sistema pode potenciar o controlo do meio-campo?
Qual a diferença entre jogar com três jogadores no meio-campo ou quatro?
Qual a diferença entre jogar com um avançado centro ou dois?
Concordas com a afirmação: “tão importante como o Espaço que se preenche é o espaço
que se deixa livre”. Se sim, como é que vê as diferentes estruturas em função dos espaços que
elas deixam livres? (Jogo entrelinhas)
Uma equipa consegue criar mais desequilíbrios se no Espaço entre o avançado e o médio
colocarem, pela estrutura, um jogador (habitual nº10) entre a linha média e defensiva do
adversário? Ou, os desequilíbrios são maiores se esse Espaço não for ocupado e os jogadores
ai aparecerem?
Anexos
LVI
Anexos
LVII
Anexo 5
Entrevista a André Villas-Boas)
Treinador Adjunto do Inter de Milão
Café Maiorca - Porto, 27 de Março de 2009
Pedro Daniel Sousa (P.D.S) - Que características comuns
identificas no jogo das Equipas de Top?
André Villas-boas (A. Villas-boas) – Comum... é um bocado relativo
porque depois está tudo de acordo com os jogadores que têm a disposição e
com o que querem atingir e a forma como pretendem atingir... depois a
competição em que estão inseridos, e o jogo em que estão inseridos...e o
adversário. Características comuns é um bocado difícil de dizer... eu acho que
todos têm em mente uma referência optimal de circulação de bola, digamos
assim... há uns que se calhar defendem de uma forma um pouco mais
horizontal outros que defendem se calhar mais vertical, mais agressiva e mais
directa... ir à procura de referências comuns penso que é um bocado... difícil
(dada a Especificidade de cada Equipa...)... difícil e relativo porque entram
muitos factores em jogo... depende dos jogadores que tens à disposição,
depende do adversário, depende da competição, depende do que tens à
disposição naquele momento, da estrutura em que jogas... está dependente de
muitos factores.
(P.D.S) - Mas, por exemplo, uma Equipa para ser de Top tem que
dominar o jogo?
(A. Villas-boas) – Não, eu acho que não, por uma razão muito simples.
Eu acho nós aqui em Portugal, temos uma ideia de domínio de jogo, na base
de circulação de bola... de circulação de bola e de ter a bola mais tempo que o
adversário, que foi uma coisa que tem passado ao longo destes últimos anos,
talvez desde 2003 e é um bocado o traço do nosso futebol, do que
pretendemos atingir das equipas de topo são equipas dominadoras da posse
de bola, que encostam o seu adversário no seu meio-campo... se tu fores à
procura das grandes equipas do futebol inglês pré-Wenger, pronto se calhar na
Anexos
LVIII
Europa não chegam tão longe como chegam agora... mas que eram sempre
equipas competitivas... dá-te uma ideia de domínio de jogo exactamente de
outra forma, sem ser a posse de bola, com jogo directo com a procura de
segunda bola, de segunda jogada, de continuação de jogo a partir dessa
segunda bola... portanto, não, não penso que... normalmente agora e no
futebol actual... talvez a referência seja mesma essa, equipas dominadoras da
posse de bola, mas também são dominadoras da posse de bola porque a sua
disposição têm muito mais jogadores qualidade que as equipas contrárias,
portanto ao ter isso à disposição seria um erro não desfrutares dessa mesma
qualidade técnica individual que tens à disposição.
(P.D.S) - Mas esse domínio, quando falo que as equipas de top
dominam o jogo, é em termos de controlo do jogo...
(A. Villas-Boas) - Controlo do jogo como controlo da posse?!
(P.D.S) - E não só... da fluidez do jogo... uma das coisas que o van
Gaal também refere é que tu podes controlar o jogo do ponto de vista
ofensivo ou do ponto de vista defensivo... mas controlas o jogo...
defensivamente podes ditar onde o adversário vai jogar...
(A. Villas-Boas) – Sim, sim... estou de acordo. Se tu dizes fluidez do
jogo na ideia que defendes, de se considerares fluidez de jogo não no controlo
da posse de bola, fluidez no sentido de também jogar directo para segunda
bola... ai vou de encontro ao que tu dizes e dou-te razão... nesse aspecto sim.
Agora o que te estou a dizer é que se a ideia, ou a pré-ideia que temos de
controlo que é aquela que nós temos é de controlo da posse de bola... neste
momento controlo do jogo em Portugal significa controlar a posse de bola,
controlo do adversário, mais tempo de posse de bola...
(P.D.S) - Exacto... porque aquilo que verificamos é que o controlo e
o domínio do jogo têm de resultar em situações de finalização... só assim
faz sentido o controlo do jogo... estavas a dizer que aqui em Portugal que,
realmente há essa ideia... e se calhar tem 60% de posse de bola... mas
Anexos
LIX
esses 60% não resultam em nada (sim, concordo)... dai que esse controlo
nas equipas de top é importante...
(A. Villas-Boas) – Sempre com um objectivo... Sim...
(P.D.S) - E nesse controlo achas que existem sectores da Equipa
ou mesmo jogadores que podem ser mais importantes?
(A. Villas-Boas) – (...)Isso já pode ir de encontro aos mecanismos que
queres que prevaleçam em termos defensivos... porque... vou-te dar um
exemplo, há uma das equipas de topo actual, que não favorece tanto a
penetração vertical dos médios, porque prefere tê-los em posição e depois usar
as faixas e usar o movimento dos alas como grande gerador de criação de
oportunidades... portanto... não se pode atribuir... tu como treinador tens que
saber exactamente o que tens à disposição, quando vires o que tens à
disposição e analisares o teu plantel podes decidir em que modos é que queres
organizar a tua organização ofensiva depois, obviamente dentro da tua
organização e dos princípios que vais defender há determinado tipo de
jogadores que se calhar vão ter uma preponderância, se calhar maior... por ex.
eu acho que neste momento há uma coisa essencial... acho que falei disso nas
crónicas do euro 2008... que é.. actualmente equipas que jogam com pivots
defensivos, ou com médios defensivos baixos... são jogadores que estão...
tirando o Pirlo que é um caso à parte e talvez Cambiasso, mais um ou dois
nomes... são jogadores que estão limitados à divisão do jogo horizontal... que
recebem a bola de um lado e mudam a bola para outro lado num passe
horizontal e que andam ali em permanente movimento de apoio e que não
chegam em penetração... por exemplo, o Xavi Alonso é outro exemplo... será
que tu não podes potenciar depois um factor surpresa a partir do teu médio
defensivo? Por exemplo, uma divisão horizontal inicial e depois um
inserimento... uma penetração... portanto, tudo depende da ideia que tu
defendes para o teu jogo e só assim é que podes dizer quais é que são os
teus jogadores chave e o teu núcleo chave no desenvolvimento do teu jogo...
Anexos
LX
(P.D.S) - Mas por ex... reconheces que... acho que em todas as
Equipas de top, o meio-campo, não nenhum jogador mas a área do meio-
campo é fundamental... se tens uma Equipa que opta por uma circulação
de bola... um jogo mais apoiado é um elo de ligação importantíssimo para
criares desequilíbrios, para penetração, para dividir... também para uma
Equipa que opta por jogar longo é uma importante referência para ganho
de 2ª bolas... em org. Defensiva é uma importante referência de fecho de
espaços interiores... em momentos de finalização é uma importante
referência dos equilíbrios dinâmicos... de puder tanto atacar em caso de
ganhar a 2ª bola, como parar uma transição do adversário... sendo assim
não achas que o meio-campo assume uma importância...
(A. Villas-Boas) – Sim... decisivo... Repara que há outra coisa que é
importante... dinâmicas de equipas que jogam com três médios não são a
mesma coisa de dinâmicas de Equipas que jogam com dois médios centro...
portanto... tu com três podes crias determinado tipo de dinâmicas, de
movimentos... podes permitir movimentos de aproximação e outro fingir
movimentos de afastamento... portanto, dá-te liberdade para jogares com essa
dinâmica dos médios e depois para saíres com mais fluidez de jogo... se
jogares com dois médios em 4-4-2, e jogares com dois médios centrais, não
contes com os jogadores que jogam abertos... depois depende da ideia, da
forma como interpretas esse 4-4-2 se os que estão por fora são alas ou se os
que estão por fora são médios mais fechados... se tu pensares nesses dois do
meio-campo só, vês as coisas muito mais difíceis em termos de dinâmica
nesses espaços. Neste momento uma equipa que faz desses dois, dois
grandes organizadores de jogo, talvez seja o manchester e pouco mais...
porque sabem exactamente como é que hão-de criar espaço um para o outro ,
um posiciona-se um bocado mais profundo e o outro um bocado mais baixo,
trocam de posição... têm já essa dinâmica bem definida...mas não é fácil, não é
uma coisa que seja fácil em 4-4-2... sim, eu acho que... como eu te disse... na
fluidez de jogo o meio-campo é essencial... mas a bola tem que vir de algum
lado tem que passar de algum lado, se for uma bola directa e uma segunda
bola, o ponta de lança primeiro tem que ganhar a primeira bola e só depois é
Anexos
LXI
que tens os médios em apoio. Depois o outro ponto que te falei que nem todas
as equipas podem querer dar penetração a esses médios centro, portanto...
tudo depende da dinâmica que pretendes para a tua Equipa.
(P.D.S) - A circulação de bola é uma característica importante na
organização ofensiva de uma equipa de Top...
(A. Villas-Boas) – Define-me tu a circulação de bola...
(P.D.S) - Falo numa circulação que tanto pode ser horizontal como
vertical... quando falamos em circulação falamos num meio necessário
para chegar à baliza do adversário...
(A. Villas-Boas) – Então ai digo-te que penso que são essenciais para
todas... todos queremos chegar à baliza do adversário e... todos queremos
fazer golo, esse é o objectivo do futebol. A forma como fazemos é que vai
depender... se definires circulação de bola desse modo tão geral, obviamente
uma equipa quer fazer golos, quer fazer golos potenciando o que tem à
disposição, potenciando uma transição ou o jogo directo... se me dizes que as
equipas de topo tem como referência essa circulação de bola... penso que
algumas que o fazem exactamente nesse aspecto, de uma forma mais
horizontal, outras que fazem com um misto de horizontal com vertical, que é o
caso do Liverpool, desses dois casos do Liverpool e do Barcelona... desses
dois casos por exemplo tu podes extrair o Barcelona para um vertical que é
mais um vertical com a bola... com a bola no chão com passes que primeiro
entram nos avançados e depois é que entram nos médios, e se analisares o
vertical do Liverpool já vês mais o jogo aéreo digamos assim... portanto,
obviamente as equipas de topo tem sempre um maior domínio, normalmente
têm sempre maior domínio da posse de bola, também pela qualidade dos
jogadores que têm à disposição. Quando entram em cena tanto tipo de factores
que são essenciais... Por ex. tu agora pegas também no Barcelona e no
Manchester nos jogos em casa... vês que as equipas que vão jogar, tirando um
jogo de champions league... mas as equipas que vão lá jogar para o
campeonato nacional, entram em campo já com o medo “scenico” do
Anexos
LXII
Valdano... entram derrotadas em campo, entram em bloco baixo, favorecem-te
automaticamente uma saída tranquila a partir da tua primeira fase, chegas ao
teu meio-campo facilmente, tens o controlo da bola... automaticamente isso vai-
te criar maior número de oportunidades, porque o adversário está ali à espera
em bloco baixo que numa transição possa fazer um golo, e a partir desse golo
mantendo a sua organização defensiva, chegam ao 1-1 ou ao 1-0, um
resultado assim do género.
(P.D.S) - Falas-te da circulação de bola horizontal e vertical... o que
caracteriza esses padrões?
(A. Villas-Boas) – Depende de como os interpretas. Acho que não
podes separa-los porque... vamos falar em momentos de circulação vertical...
ou de fluidez do jogo vertical, para englobar mais nos teus termos... fluidez
vertical, aquela que falamos por exemplo do Barcelona, com passes que
entram muitas vezes dos centrais que saem condução de bola e o Eto’o
aparece em movimentos entrelinhas e entra o primeiro passe no Eto’o e depois
do Eto’o há a dinâmica dos médios para virem buscar esse lay-off do Eto’o...
este passe que entra do central para o Eto’o é um passe que rola no chão... se
fores a procura de outro tipo de dinâmicas tens a dinâmica do Liverpool que a
bola entra no lateral e o Carregher abre aqui um bocadinho faz um apoio um
bocadinho atrasado mas mais perto do lateral a bola entra nele e bola diagonal
longa para o outro lado... portanto... tens logo duas formas de jogo vertical...
(P.D.S) - (...) o entendimento de vertical que falas-te... as minhas
referências (principais) de observação na monografia são o Barcelona e o
Arsenal como dois modelos distintos de qualidade... eu digo que o
Barcelona tem uma circulação de bola mais horizontal e o Arsenal
vertical. Horizontal porquê... porque o Barcelona... por exemplo os
centrais , é diferente teres o Puyol do Gallas... enquanto o Puyol não tem
tanta qualidade para fazer passes verticais o Gallas já tem... e enquanto
no Barcelona é “toque, toque,...” e também com passes verticais... eu
penso que o Adebayor está (quase) sempre a descer, mas também há
Anexos
LXIII
outro aspecto importante... eles têm sempre uma referência na frente,
mesmo que Adebayor desça eles têm sempre lá um, normalmente joga
com dois, enquanto no Barça se o Eto’o descer fica sem a referência... a
não ser que depois apareça outro jogador a ocupar essa posição... por
vezes até é o Iniesta... e então classifiquei o Barça mais como tendo uma
circulação de bola mais horizontal porque há mais aproveitamento da
largura do que no Arsenal, por exemplo.
(A. Villas-Boas) – Ora bem, mas há aqui uma coisa que tens que
compreender... primeiro tens que compreender que o Arsenal tem no Adebayor
uma referência... de um gajo com grande talento no aspecto do controlo da
bola aérea... portanto tem essa opção valida... e depois não é uma equipa que
o procure de uma forma acentuada... A partir de agora hás-de notar mais o
Barça... o Barça é uma Equipa que joga horizontal só depois de um passe
vertical... vê a saída dos centrais e vê a forma como eles constroem... os
centrais constroem abertos, e projectam os laterais um bocado mais além da
linha do meio-campo, os centrais recebem a bola... tu vê primeiro a relação... e
penso que o Guardiola falou nisso ao Amieiro, deu o exemplo a provocação
que fazem ao adversário... um central pega na bola e começa a conduzir a
bola... se o adversário sai a pressionar bola logo rapidamente para o outro
central e sai este central com bola, em penetração vertical, digamos, com
bola... a partir do momento que este gajo tem a bola em vez de fazerem passes
aos médios que estão de costas... o adversário mete-os sobre pressão... fazem
passes verticais que podem ser o movimento entrelinhas do Messi ou do
Iniesta... ou passes verticais que entram directamente no p. lança... a partir
dai, desse passe vertical, jogam as segundas bolas com lay-off’s curtos em
movimentos que são exactamente desses alas que vêm para dentro, ou então
aos médios que em vez de estarem de costas como estavam antes, já estão de
frente para o jogo...tu repara bem... eu acho que o Barcelona actualmente, não
é o Barcelona do van Gaal, onde era largura total do jogo... amplitude máxima
(até porque muitas vezes está o Iniesta na esquerda e ele tende a vir para
dentro para o Espaço entre linhas)... mesmo quando jogam com Henry na
esquerda tu vês a quantidade enorme de movimentos na diagonal para
Anexos
LXIV
dentro... depois têm uma capacidade enorme de não perder a bola, de fazer as
coisas com uma precisão inacreditável...eu acho que neste momento no futebol
actual há mais espaços do que aquilo que se pensa... mesmo se jogares contra
equipas que jogam em bloco baixo... meio-campo já conquistas-te logo à
partida... depois de conquistares esse meio-campo, o adversário esta em bloco
baixo, podes jogar com provocação do adversário à bola, a bola é a referência
para o adversário, e tens que começar a perceber que há muitas equipas... que
tem um espaço à frente... que pode provocar um adversário à bola para
conquistar um espaço e joga a bola para dentro num colega que se calhar está
sob pressão do adversário... há muitos jogadores que não têm entendimento
do jogo... não conseguem ler o jogo.. penso que as coisas se tornaram para o
jogador demasiado fáceis.. os salários são altos, a vida é boa, vivem ali 5h, o
máximo, dentro do clube chegam às 8h saem às 5h da tarde... e portanto,
chegam ao jogo não têm capacidade de concentração, não têm capacidade de
pensar o jogo, não têm capacidade de ler o jogo, a vida neste momento está
tão facilitada que depois chegam à hora do jogo e não têm entendimento de
jogo, não sabem o que é uma provocação à bola, não sabem defender os
espaços, não sabem ler os espaços... e este Barça neste momento é
exactamente tudo o contrário, é jogadores que estão em constante
pensamento, pensam no gesto técnico, pensam no movimento, sabem que
conseguem chamar um adversário só com a posição da bola... tenta ver o
Barça novamente e vais ver que encontras esse tipo de dinâmica.
(P.D.S.) - Também uma das coisas que nós dizemos é que é uma
circulação de bola predominantemente horizontal ou vertical... porque até
mesmo na mesma jogada pode haver uma circulação de bola horizontal e
vertical...
(A. Villas-Boas) - Sim... estou de acordo...
(P.D.S.) - E de que forma o meio-campo determina a existência de
uma circulação de bola mais horizontal ou mais vertical?
Anexos
LXV
(A. Villas-Boas) – (...) Repara da mesma forma que te respondi antes...
da forma como tu entenderes o jogo, da forma como o treinador defender os
seus princípios.
(P.D.S.) – Mas depende muito da qualidade dos jogadores que ai
tiveres...
(A. Villas-Boas) – Obviamente e da forma como os pretendes
potenciar... uma coisa é teres o Carrick que a 40 metros mete a bola onde
quer... outra coisa é teres um jogador tipo...
(P.D.S.) – Há vários perfis de jogadores para a posição de médio
centro e há uns que se complementam outros que nem tanto... e
normalmente vemos dois perfis de jogadores: um que procura muito mais
a verticalidade, para mim o exemplo é o Fabregas que tenta sempre meter
e com uma precisão impressionante, depois tem outros do género de
Busquets, não procura tanto os espaços verticais mas procura mais o
movimento (horizontalidade, os apoios) e como esses se calhar
identificamos esse par em várias Equipas... até mesmo se calhar no
Inter... temos o Cambiasso, que procura a verticalidade sobretudo em
momentos de transição em que ele procura o Ibra... que também pode ser
uma referência de...
(A. Villas-Boas) – Mas ai potenciamos uma ideia da nossa transição.
Não podes dissociar do que pretendes como treinador e com o modelo de jogo.
Agora acho que podes dizer que há muitas equipas que não têm modelo de
jogo definido, e tudo acontece pela criatividade dos jogadores. São as equipas
mais difíceis de observar, não têm uma ideia de jogo, não têm princípios,
deixam as coisas acontecer um bocado ao acaso, potenciam dois ou três
lances estratégicos, duas ou três jogadas combinadas... tudo depende do que
tu queres como treinador.
(P.D.S.) – Para marcar é necessário correr riscos... que tipo de
riscos as equipas de top correm... por exemplo dos passes verticais... há
Anexos
LXVI
uma situação que o Mourinho refere que é o “atacar com muitos
jogadores” entendes que isso é um risco que uma equipa de top tem de
correr...
(A. Villas-Boas) – Tocando nas equipas de topo, a forma como criam
golos... primeiro têm a disposição todo um recurso técnico dos seus jogadores
que as equipas de meio da tabela não têm... como tecnicamente têm muito
mais qualidade permitem ser mais concreto e ter mais possibilidades de
sucesso no 1x1 por exemplo... outro ponto que eu toco é que não podes
dissociar... ou tens de associar a equipa de topo aos jogadores que tens à
disposição... depois se tocarmos individualmente nas equipas de topo actuais...
pode haver três ou quatro pontos no máximo onde as coisas são semelhantes
de uma equipa para a outra, mas criam oportunidades de diferentes formas...
por exemplo, o Carrick mete a bola ao Ronaldo, o Ronaldo vira-se para o
adversário, no 1x1 é o melhor do mundo ou dos melhores do mundo, quando a
bola chega em amplitude ao Ronaldo e tens ali certeza de sucesso no 1x1 e
tens certeza de sucesso no cruzamento é um ponto de referência... se disseres
da mesma forma que a bola entra do Xavi para o Messi e do Messi no 1x1 com
o lateral, tens ali certeza de sucesso... nem sequer de cruzamento... certeza de
remate interior ou a partir de condução interior um passe de penetração
mágico... se fores se calhar ao encontro de outro tipo de equipa, por exemplo,
mesmo nós com o Quaresma que passou por um período de adaptação muito
difícil... a bola chegava ao Quaresma e tu não tinhas ali certeza de sucesso no
1x1, nem tinhas certeza de sucesso no cruzamento, portanto, a partir dai tens
equipas que se calhar têm essa referência do querer jogar em situações de 1x1
de ala contra o lateral e umas oferecem determinado tipo de sucesso porque os
jogadores que têm a disposição, são jogadores de qualidade fora de serie e
outras não... porque apesar de serem jogadores de grande qualidade, não têm
a mesma eficácia técnica... tens ali um padrão comum só aqui em três equipas:
inter, Barcelona e Manchester... tens ali um padrão comum, de um movimento,
ou da libertação de um ala no 1x1 com o lateral e em duas equipas tens maior
possibilidade de sucesso, estamos a falar de Ronaldo, de Messi, de Henry... no
lado esquerdo do Manchester já não falas nisso porque é o Park já é outro tipo
Anexos
LXVII
de dinâmica completamente diferente... depois falas do Inter naquele período
de Outubro a Dezembro, quando chegou o Quaresma que a gente pretendia
potenciar exactamente isso, um jogo com alas, queríamos potenciar um 4-3-3
como jogo a desenvolver, tinhas ali um jogador que estava com grandes
dificuldades de adaptação, estava com problemas... que não se conseguia
exprimir, que não tinha o apoio do público... e naquele momento não te dava
garantia de sucesso continuidade do jogo... assim podes estabelecer um
padrão nas equipas de top, um ou dois ou três ou quatro coisas comuns entre
elas, depois depende de tudo o que tens à disposição e do que queres para
desenvolver a segunda acção o que queres a seguir ao 1x1, cruzamento ao
primeiro pau, cruzamento ao segundo pau, se pensas em equipas que... será
que o ponta de lança vai aparecer ao primeiro pau, será que não vai aparecer
ao primeiro pau... depois depende dos mecanismos das equipas estão
definidos ou não.
(P.D.S.) – Essa era uma situação que também ia abordar do 1x1...
mas outro dos riscos que as equipas de top assumem é o “aparecer com
vários jogadores”, ou seja, não só os dois ou três... mas também os
médios, com movimentos de trás para a frente, aparecerem para
finalizar... isso acaba por ser um risco porque saem de posição e tem que
haver ali mecanismos de compensação dessas subidas...
(A. Villas-Boas) – Sim, obviamente... penso que sim... (estava a ver o
Inter e via o Cambiasso aparecer em Espaços para finalizar... que se calhar é
aquela referência também em org. Defensiva...) repara que até há uma coisa
que o Mister Mourinho que no início não queria... não tanta penetração dos
médios... porque queria exactamente a libertação do Maicon pela faixa e
depois estava com medo desses problemas de transição que o adversário
poderia oferecer... a partir dai limitou um bocado o inserimento dos médios
para dar liberdade ao Maicon para aparecer de trás para a frente... atacar com
mais números não significa que mais criação de oportunidades, significa
exactamente isso... correr riscos maiores... agora vai de encontro ao que
falamos há bocado... o Barça sabe neste momento que, quando tem a posse
Anexos
LXVIII
de bola consegue levar a bola da sua baliza à baliza do adversário, portanto,
defende-se na sua posse, nos momentos de 1x1 os jogadores defendem...ou
sabem proteger a bola, metem sempre o corpo entre a bola e o adversário,
depois têm grandes mecanismos de apoio atrasado em ultimo caso... depois
vai de encontro também com o medo do adversário, que entra já em bloco
super baixo à procura de transições... atacar com mais gente não é sinal de
qualidade obviamente, depende do que tens à disposição e a forma como o
queres fazer...
(P.D.S.) – (...) Sim... porque, é um facto, que quase em todas as
equipas de top há sempre um dos médios que até marca bastantes
golos... e isso exige da equipa todo um conjunto de mecanismos de
compensação de fecho de espaços interiores... mas há um problema e
verifiquei isso no Inter nesse jogo que vi, que é a sobreposição de
jogadores... porque lá está quantidade não é qualidade e por vezes
quando há esse “atacar com vários jogadores”... se calhar é um bocado
falacioso... porque não é atacar com vários jogadores é... (mas tu dizes
que observas-te no inter o que?) Sobreposição de jogadores ou seja, dois
jogadores estarem no mesmo espaço quase que se atrapalham um ao
outro... vi em determinadas situações o Quaresma e o Maicon um bocado
(atrapalhando-se no mesmo espaço)... e até é mais fácil até, para o
adversário defender, se houver essa sobreposição, por isso quando digo
atacar com vários jogadores é vários jogadores puderem atacar mas não
necessariamente ao mesmo tempo...
(A. Villas-Boas) – Estou de acordo. A gente acaba por incidir se calhar
no Barça e no MU mais vezes porque se calhar são as equipas que neste
momento, as pessoas pensam que vão ser as duas finalistas... se tu vires
agora o Barça tu vês que há outro aspecto decisional... há um lateral de um
lado que chega exactamente mais cedo, que se insere mais cedo, o outro
lateral inicialmente está em compensação, quando a bola começa a circular, a
bola vai chegar ao outro lado por exemplo, vamos imaginar, ao Messi, subiu o
Silvinho... normalmente jogava o Puyol a lateral esquerdo mas agora está a
Anexos
LXIX
jogar o Silvinho à circulação de bola e a bola chega a Messi do outro lado,
analisa o tempo de inserimento do Daniel Alves, vais ver que não é imediato há
sempre o factor surpresa, é sempre quando tu menos esperas, não está, vai
um bocado de encontro ao que tu dizes... não está imediatamente em overlap,
sabe exactamente escolher o tempo de inserimento... outro dia com o Málaga
fez um golo assim, quando tu menos esperas aparece-te a fazer uma diagonal
interior a fazer golo de cabeça, ou então em vez de fazer um overlap logo cedo
como gostam os ingleses de fazer... escolhe o timming perfeito para esse
overlap... não aparecer demasiado cedo mas de uma forma temporizada.
(P.D.S.) – E depois uma das qualidades tanto do Daniel Alves como
do Maicon é a capacidade para jogar tanto por fora como por dentro...
(A. Villas-Boas) – Sim, sim... uma das coisas que no Inter depois
acabamos por ter de ir à procura foi que, o Maicon chegava e tinha uma
qualidade enorme a conduzir a bola interior e depois tivemos que ir à procura
de mecanismos de quando ele tem a bola, no espaço interior e com o seu pé
esquerdo o que pode fazer... se chuta à baliza, se cruza com o pé esquerdo, se
escolhe essas duas coisas, ou tens segunda bola do GR, ou então se for só
cruzamento tens de ter alguém ao segundo pau para aparecer, o cruzamento
ao segundo pau é defeituoso se for um cruzamento com o pé esquerdo do
Maicon, são coisas que te levam... que tivemos que começar a analisar de
acordo com o que ele oferecia nesse tipo de movimentos.
(P.D.S.) – Quando a Equipa ataca tem que ter preocupações
defensivas... De que tipo?
(A. Villas-Boas) – Ora bem, acho que neste momento ninguém gosta de
deixar dois centrais... nem dois centrais para um ponta-de-lança.. o equilíbrio
será sempre deixar os dois centrais em posição talvez com um lateral menos
agressivo do que o outro... tendo em conta o que falamos a bocado, de fluidez
de jogo sustentada... eu penso que... que normalmente os jogadores ficam
para trás, nas grandes equipas de topo... vamos se calhar... vamos descobrir
Anexos
LXX
que é sempre um lateral e um outro lateral mais agressivo, dois centrais e as
equipas que jogam com um Pivô é um Pivô baixo...
(P.D.S.) – Então as preocupações das Equipas serão sempre (com
um determinado tipo de equilíbrios) com o fecho de espaço interior da
equipa.
(A. Villas-Boas) – Tens que ver que vai sempre bater no ponto do
adversário. No outro dia no 6-0 do Barcelona com o Málaga tinhas um malaga
que estavam permanentemente atrás da linha da bola, já não diga na metade
do campo, digo mesmo no terço defensivo... os centrais estavam como
querem... primeiro porque o avançado estava distante não estava em linha com
eles, nas costas não podia ameaçar...ali não havia caso para estares
preocupado com uma compensação dos médios, bastava que os teus centrais
dessem um posicionamento mais agressivo, que estão já subidos... a tua
equipa está já subida... o adversário já está dentro da sua grande
área...portanto, analisando essa situação o teu equilíbrio pode perfeitamente
ser os dois centrais.
(P.D.S.) – Isso é uma coisa que o Carlos Queiroz refere acerca dos
equilíbrios...
Que prioridades identificas nas equipas de top quando ganham a
bola?
(A. Villas-Boas) – É como tu dizes, não podemos dissociar uma coisa
da outra. Normalmente equipas como o Arsenal por exemplo, e como o Porto
fazem transição inicial após ganharem a bola... para essas duas equipas é fuga
à pressão imediata... se estão sob pressão têm mecanismos automáticos de
sair da pressão... e têm esses mecanismos porque, o porto por exemplo tem
sempre normalmente nas suas equipas grandes pivôs defensivos, capazes de
rapidamente receberem a bola, de se posicionarem... ou de criarem ângulos de
passe que permitam exactamente, receber a bola para tira-la da zona de
pressão... são equipas também que estão habituadas a desdobrarem-se
rapidamente... portanto, de um espaço fechado abrirem-se rapidamente para a
Anexos
LXXI
transição... agora depende da maneira como o fazem... se calhar o Porto
prefere uma saída da zona de pressão para libertar o homem mais distante em
profundidade, o Homem mais em amplitude por exemplo... e o Arsenal quer
sair da zona de pressão, mas tem qualidade para sair dali de uma forma
explosiva... independentemente do espaço reduzido... porque tem qualidade no
toque, tem velocidade no toque, sabe jogar ao primeiro toque... o Barcelona e
manchester já vão um bocado ao encontro também... o MU nem tanto, porque
defende normalmente... o máximo dois passes para sair da zona de pressão e
um passe largo que pode entrar para uma diagonal larga do Ronaldo ou um
passe vertical quando Bervatov vem entrelinhas, que depois serve de homem
que liga essa primeira fase de transição a uma segunda fase de transição, ou
então libertar o Ronaldo em posição para enfrentar o 1x1... o MU estamos a
falar da potenciação absoluta da transição porque são uma equipa que faz isso
de um modo perfeito... muito melhor do que todos os outros... o Rooney é ultra-
explosivo... nos movimentos que faz nas costas dos laterais em transição...o
Ronaldo se recebe a bola, recebe a bola distante do lateral e depois ataca-o a
velocidade alucinante que ele não é capaz de responder... portanto, tem a
saída do Rooney por um lado e a do Ronaldo por outro e depois entrelinhas
tem a saída do Bervatov que liga a uma segunda fase de transição que liga
onde já entram o Ronaldo e o Rooney em diagonal. Se falares no Barça
obrigatoriamente tem que jogar com a amplitude que têm no seu jogo e a
dimensão do camp nou e os espaços grandes... portanto ai já é uma transição
para amplitude máxima do jogo.
(P.D.S.) – Quando falamos em transição, e é normalmente essa
associação... e lá está depende do entendimento que tens dos
momentos... porque a transição existe de qualquer maneira...seja para
procura profundidade seja para procurar segurança... há sempre
transição...
(A. Villas-Boas) – Sim, sim... Normalmente o que tens medo é da
transição ofensiva agressiva, quando analisas uma equipa tu vais... se essa
equipa for mortal nos momentos de transição ofensiva agressiva, tu acabas por
Anexos
LXXII
definir o padrão de transição dessa equipa como sendo um padrão agressivo,
de transição rápida e que te pode matar... obviamente que depois durante o
jogo vai haver 50 transições que podem ser diferentes que são transições
normais de ganho de bola, de duelo, de segunda bola...
(P.D.S.) – Porque se calhar vemos que muitas das equipas de top...
essas transições para imediatamente criar desequilíbrios ou aproveitar
desequilíbrios do adversário, nem sempre faz sentido porque muitas
vezes o adversário está lá trás... ou está com muitos jogadores atrás da
linha da bola, ou então se estão a jogar duas equipas de top, a outra
equipa tem equilíbrios...compensa bem... por isso outro tipo de transições
tem que existir...
(A. Villas-Boas) – Sim, sim... Eu acho que a transição ofensiva e
agressiva vai um bocado de encontro ao pânico e a velocidade do futebol
actual, há pressão em torno dos treinadores de vencer, há pouca capacidade
de pensar, como falávamos há bocado dos jogadores, há o sentido de urgência
que o jogo actual tem...é tudo pânico, é tudo velocidade... e transmite um
bocado a ideia do que é a sociedade actual... portanto, acho que no jogo tu
encontras esse tipo de traços, portanto a transição agressiva e objectiva tu
acabas por encontra-la mais vezes por isso mesmo... porque a pressão de
vitória ou a pressão de um resultado sobre o treinador é decisiva e realmente é
um momento onde tu podes ter grandes probabilidades de sucesso... porque
realmente se for bem-feita é quando encontras o adversário desorganizado...
(P.D.S.) – Mas ao reconheceres que realmente isso é um reflexo da
sociedade, essa cultura de urgência... e de ansiedade... ao dizeres isso
estás a dizer que há uma exacerbação das transições...quando falei da
fluidez é nesse sentido... uma Equipa de top sabe a importância da
transição... mas as equipas que não são de top parece que distinguem a
importância da transição da importância dos momentos ofensivos...
porque independentemente da qualidade do adversário, de como ele
equilibra... o primeiro objectivo é bola para a frente, mesmo que isso não
Anexos
LXXIII
resultado... e é nesse sentido que se calhar os momentos de transição
têm sido um pouco sobrevalorizados nessas equipas... porque vários
treinadores de top reconhecem a importância dos momentos de
transição... mas esses treinadores não tenho duvidas que sabem que tão
importantes como esses momentos são os outros todos... não se descura
os outros...
(A. Villas-Boas) – Sim acho que sim. Vai um bocado de encontro aquilo
que falamos que é a pressão sobre o treinador e o facto de terem... vamos
imaginar que estamos a falar de equipas de topo... equipas de topo,
analisando... Liverpool, Chelsea, Inter, M.U, vais ver os diferentes tipos de
transição, agora pega nas equipas que jogam contra essas equipas, que vêm
ali nesse momento de transição o único momento onde talvez possam criar
situações de perigo... pensa em equipas por ex. como a Udinese... que tem
três jogadores na frente que são super rápidos, super agressivos, super
directos na profundidade, que querem atacar espaços nas costas, que tem
diagonais com um timming perfeito, portanto são equipas que contra as
grandes, sabem que aí podem ter possibilidades de sucesso... depois há outro
aspecto que eu acho decisivo que é, a cultura do bloco baixo actual no
futebol... normalmente analisas a maior parte das equipas, deixou de haver
equipas de pressão alta de bloco alto, deixou de haver... ok, falamos de
velocidade e urgência no aspecto ofensivo mas no aspecto defensivo falamos
em precaução, em medo, em esperar uma transição, exactamente pela
importância que tem, obviamente que nos outros momentos... obviamente que
os outros momentos são importantes, mas se tu falares na Udinese, que tem ali
3 jogadores na frente, que está no meio da tabela, que sabe que esses três
jogadores da frente oferecem um tipo de transição agressiva, então defende-se
em bloco baixo e depois transição com esses três homens da frente... porque é
que a Udinese havia de mudar ou porque é que a Udinese não havia de
potenciar essa velocidade extrema que tem nesses três jogadores da frente...
por exemplo com uma posse sustentada... estava completamente
desenquadrada da realidade, ou das qualidades que esses treinadores têm à
disposição... portanto, cada equipa tem que ir ao encontro daquilo que tem à
Anexos
LXXIV
disposição, e o facto é, a maior parte das equipas jogam em bloco baixo,
quando jogam em bloco baixo o adversário de topo, ou o outro adversário que
é um adversário que vai jogar dentro do seu meio-campo, tem obviamente
espaço nas costas, se tu jogas em bloco baixo tens uma transição... a tua
referência está ali, é o espaço nas costas onde queres sair... porque não vais
conseguir sair em transição com uma posse sustentada desde o teu meio-
campo até ao terço ofensivo do adversário, com uma equipa de meio da
tabela... portanto, indo de encontro...sim, tem a importância a transição... vai de
encontro aos jogadores que tens à disposição, vai de encontro também à
cultura do bloco baixo, e cultura do bloco baixo significa talvez ir à procura de
transições em profundidade, também é uma coisa que podes investigar... as
equipas que jogam em bloco baixo de certeza que maior parte delas, ou 70%
delas, vão em transições em profundidade, porque é lá que está o espaço que
querem atacar... não é que... eu acho que a transição tem sem dúvida face ao
futebol actual... é um dos grandes momentos do jogo para desenvolver, as
equipas de top fazem de maneira diferente das equipas de meio da tabela que
têm que jogar com o que têm à disposição e com o posicionamento do
adversário.
(P.D.S.) – Quando uma equipa de top está defensivamente
organizada que tipo de preocupações tem com o ataque?
(A. Villas-Boas) – Por ex... vamos falar no caso do Manchester... o
Manchester pensa exactamente em deixar um dos alas, pelo menos, meio-
meio entre transição e organização defensiva, normalmente ou é o Ronaldo...
vamos imaginar o Manchester em 4-4-2... e a defender em bloco médio-baixo
como defendem ou com as duas linhas de quatro compactas... um dos alas, já
está meio-meio entre transição, que é o Ronaldo... portanto, recebem a bola,
saída imediata de pressão e libertar o Ronaldo, primeiro objectivo, se não for o
Ronaldo, se o Ronaldo fechar, a transição já é com o Rooney em movimento
em diagonal nas costas do lateral... vais ver o jogo que nós jogamos com o
manchester e vês... mesmo um jogo qualquer do Manchester do campeonato
inglês, que um deles já está com olho em possível saída...
Anexos
LXXV
(P.D.S.) – A própria definição de momentos de pressão também
pode ser uma preparação para o ataque?
(A. Villas-Boas) – Sim...isso já vai de encontro à observação que fazes
do adversário... ao que potencias, ou as zonas que potencias onde podes mais
vezes ganhar a bola, aos jogadores que tecnicamente são mais limitados que
podes pressionar de uma forma diferente... depois todo o seguimento do resto
se entenderes.
(P.D.S.) – Esta pergunta vai de encontro ao que estamos a falar...
Consideras que duas linhas de quatro são suficientes para defender?
Esta pergunta vem a propósito de que... nesse jogo (com a Udinese) não
sei quem desceu para defender, à frente estava o Ibra, o Ballotelli... não
sei se estava o Quaresma ou já estava o Júlio Cruz... penso que já não era
o Quaresma que estava a jogar mas o Júlio Cruz que jogava mais
entrelinhas e a defender recuava um pouco mais... aquilo que me pareceu
é que mesmo o Ibra, quando perde a bola parece que desiste um pouco
dos lances... agora não sei se isso é dele (das suas características) ou se
é uma coisa que é treinada para o libertar mais para as tarefas... ou seja
duas linhas de quatro, se forem suficientes, permitem-te ter dois
jogadores cujas preocupações são mais ofensivas do que defensivas...
eventualmente pressionam mas não há aquela preocupação de
pressionar... acho que isso acontece muito com o Ibra...
(A. Villas-Boas) – Sim, eu acho que aí entra muito em função com o
emocional do jogador... uma coisa é tu perderes a bola em 1x1, porque tentas-
te fazer uma vírgula... se calhar ai tens vergonha e tentas logo recuperar a
bola, outra coisa é o adversário em vez de estares 1x1 estares 1x2 passas pelo
primeiro e o segundo rouba-te a bola... e, se calhar um lance um lance idêntico
com o teu colega do outro lado, e tu emocionalmente estás frustrado... penso
que jogadores como o Ibra, tens que pensar e permitir, determinado tipo de
comportamentos emocionais porque depois ele oferece-te tudo o resto.
Anexos
LXXVI
(P.D.S.) – Só que toda a equipa... quer dizer não estamos a dizer que
todo o jogar da Equipa depende desse jogador... mas toda a equipa...
(A. Villas-Boas) – Sim.. falamos no Manchester há bocado, há equipas
que se preparam exactamente esses momentos há jogadores que... ok! Podem
perder a bola depois podem ficar ali naquela posição, depois pode haver uma
contra-transição... o adversário não tem qualidade para sair, perde a bola mais
facilmente e logo contra-transição sob o adversário... o adversário não tem
qualidade de construção perde automaticamente a bola e tu já beneficias de
um posicionamento mais avançado dos teus jogadores para teres uma
transição ainda mais agressiva... acho que há equipas que se preparam assim,
o Milan é uma equipa dessas que acaba por usufruir de contra-transição
porque o que se passa é o seguinte... tem jogadores como Pato, Ronaldinho,
Beckam, por ex., jogadores que... e depois também como equipa, chegam ao
terço ofensivo do adversário em posse sustentada, vão criar situação de
desequilíbrio, o adversário ganha a bola, o adversário não tem qualidade na
construção para sair, não tem qualidade de construção para sair... e eles são
passivos na transição, são passivos porque como equipa são lentos em
transição defensiva... como equipa são... o Ronaldinho se calhar está-se a lixar
para a transição defensiva...mas, como o adversário não tem qualidade para
construir perde logo a bola, ou tenta um charuto para a frente e perde logo a
bola, acabas por beneficiar de uma transição negativa dos teus jogadores, de
uma transição negativa dos teus jogadores... o Ronaldinho vem a passo...
aqueles teus três jogadores estão ali na mesma posição prontos para uma
contra-transição, acabas-te por beneficiar de uma falta de qualidade do
adversário para usufruir de um posicionamento alto dos teus jogadores para
fazer uma transição normalmente... eles fazem isso de uma forma
premeditada, a outras equipas que se estão a lixar para a transição defensiva...
(P.D.S.) – Se é... o defender com duas linhas (dois sectores) de
quatro jogadores permite-te ter a largura toda ocupada... em termos de
coberturas... o van Gaal também refere que quer defender sempre essas
duas linhas de quatro, eventualmente se o adversário construir curto na
Anexos
LXXVII
linha de trás só quer (acha suficiente) três, se construir longo quer 4 para
garantir que fica com a bola... jogando três ou quatro, estas duas linhas
permitem ter sempre ter as coberturas todas e é muito mais difícil passar
e permitem-te se calhar, que esses jogadores estejam mais soltos...
(A. Villas-Boas) – Tens de ter em consideração que deixando dois
jogadores mais soltos, obrigatoriamente o adversário deixa dois, são os dois
centrais, como não vão deixar dois para dois, um lateral vai com certeza ficar...
portanto são dois, mais o lateral ,mais o GR... portanto sobram sete jogadores
contra oito teus... portanto tens superioridade automaticamente.
(P.D.S.) – Já falamos da circulação de bola horizontal e ou vertical.
Reconheces a verticalidade uma característica fundamental para criar
desequilíbrios?
(A. Villas-Boas) – Também. Neste momento defendo uma relação
optimal entre verticalidade e jogo horizontal, e para mim o expoente máximo
disso é o Liverpool, que é uma equipa que não sabes quando joga vertical e
quando joga horizontal, quando joga das duas maneiras, faz isso a uma
velocidade incrível... com velocidade no passe, com ritmo na posse de bola,
com movimento de jogadores... e essa alternância que te vai permitir um factor
surpresa que o adversário não está a contar, num momento pode esperar uma
coisa e eles fazem outra, no outro momento é exactamente o contrário. Para
mim neste momento é a equipa que potencia isso de uma forma, que os outros
não o fazem... um bocado fruto da cultura do futebol inglês e um bocado pelo
que o Benitez oferece em termos de futebol espanhol e de posse sustentada,
criou-se ali um misto, tem jogadores para isso, tem jogadores que interpretam
exactamente isso, jogadores como o Gerard, como Mascherano que são tudo
vertical, tudo velocidade e depois jogadores com Xavi Alonso como Riera que
são jogadores com muitos mais momentos de pausa, que interpretam o jogo de
uma forma completamente diferente e a alternância que têm entre os dois
momentos é uma coisa fora do normal.
(P.D.S.) – Essa complementaridade é muito importante...
Anexos
LXXVIII
(A. Villas-Boas) – Sim para mim sim, decisivo.
(P.D.S.) – Se a verticalidade é uma maneira importante de criar
desequilíbrios, concordas então que os desequilibradores não são
apenas os que vão no 1x1 mas também são os que se encontram no
centro?
(A. Villas-Boas) – Sim... (...porque são eles que normalmente dão um
passe vertical...)... eu acima de tudo acho que... os jogadores que jogam no
centro, como são jogadores que jogam em espaços muito mais reduzidos do
que os outros, por exemplo um ala tem a protecção da linha, ou pelo menos
têm a referência da linha, sabem que, por trás deles não aparece nada e têm
todo o jogo de frente para eles, a partir da linha... tu és um ala direito por
exemplo, a partir da linha quando recebes a bola numa posição meia aberta,
onde tens uma visão geral do jogo, sabes que dali de trás não vem nada, tem
uma linha lateral, e a linha lateral é a tua referência. Os médios não... os
médios, uma pressão pode vir de onde tu menos esperas, pode vir de trás,
pode vir de um ponta de lança adversário, pode vir dos alas fecharem o espaço
interior. Acima de tudo, os médios penso que têm que ser jogadores que... têm
que potenciar o seu nível técnico, de acordo com a construção do jogo que
apresentam. Eu acho que há médios que não sabem fazer um controlo
orientado, quando estão sob pressão não sabem a forma mais fácil de eliminar
um adversário, não sabem meter... como são jogadores que estão
permanentemente com um gajo nas suas costas, não sabem meter o corpo
entre o adversário e a bola, são pequenos gestos técnicos que os ingleses, se
pensares no aspecto global táctico do jogo os ingleses não dominam, mas nos
aspectos técnicos são dominadores nas... não é que sejam um referencial no
expoente máximo de técnica, mas são os que no pequeno aspecto técnico
mais básico dominam perfeitamente, sabem que se meter o corpo entre este
gajo e a bola o gajo não toca na bola, não toca na bola... o Ronaldinho fazia
isso no Barça de uma forma inacreditável, recebia sempre... obviamente que é
um fora de serie... mas recebe sempre a bola com o pé mais distante do
Anexos
LXXIX
adversário, o adversário não consegue... no centro tens que gerir a pressão
que pode surgir dos jogadores que possam pressionar por qualquer lado.
(P.D.S.) – Consideras que o jogo tende a fluir...à pouco falas-te do
Ronaldo e do Messi, que tentam tirar proveito... e o jogo tende a fluir para
esses jogadores (no sentido de tirar o máximo proveito deles)... mas
achas que tende a fluir também para esses jogadores do corredor
central?
(A. Villas-Boas) – Acho que tende para fluir... agora a fluidez tem um
sentido se tu, tecnicamente, fores capaz de dar continuidade a essa fluidez, se
tu tecnicamente és limitado ou se fazes um mau controlo... se te metes
automaticamente sob pressão, a fluidez fica automaticamente limitada... tu vês
o Barça e pensas naquele meio-campo YaYa Touré, Xavi, Iniesta ou Keita, são
jogadores tecnicamente fantásticos, a pressão está de um lado e eles fazem
uma recepção orientada para o outro lado e acabou... o assunto está resolvido.
(P.D.S.) – Já o Busquets acho que tem algumas limitações nesse
sentido... por vezes recebe de costas, enquanto o Touré, o Xavi...já recebe
aberto...
(A. Villas-Boas) – Sim... o Touré é um portento físico, tu para o
pressionares tens que ter em conta o tamanho do “animal” e o Xavi é o
expoente máximo em termos técnicos... o Busquets é um jogador de 19 anos
as coisas gradualmente hão-de chegar lá... neste momento pode haver coisas
no jogo que tem de melhorar mas seguramente que vai melhorar.
(P.D.S.) – Na monografia tentamos não entrar nos aspectos...
quanto mais ao pormenor for mais difícil é... dizer que é assim (em termos
de probabilidade/padrão)... porque quanto mais ao pormenor maior a
variabilidade... mas uma das coisas que tentamos deixar claro é a
orientação dos apoios... é uma coisa fundamental isso que tu referis-te...
é tudo orientação dos apoios...
Anexos
LXXX
(A. Villas-Boas) – Sim! Sim! Outro aspecto onde os ingleses batem
muito é exactamente nos ângulos dos apoios e a distância dos apoios. Uma
coisa é por exemplo, um sinal daquilo que falávamos há bocado, um sinal de
despreocupação dos jogadores que não pensam o jogo, que não sabem
raciocinar, por exemplo um Ala que recebe uma bola, quantas vezes vês a
ânsia de um lateral em fazer um overlap, e em vez de manter uma distância
optimal para o ala, faz um apoio super curto ao ala...portanto, em vez de deixar
o ala sozinho em situação de 1x1 já está a levar, ele com esse movimento já
está a levar outro jogador, e está a levar um adversário na direcção dessa
zona, e uma situação que, se calhar, era de 1x1, se calhar, já é de 2x1 ou de
inferioridade numérica. Portanto um gajo também tem que jogar um bocado
com os ângulos de apoio e as distâncias... Eu acho que acima de tudo... na
minha opinião as pré-épocas das grandes equipas, têm de ser pré-épocas
orientadas para a organização de jogo... ok! Vamos imaginar uma pré-época de
6 semanas começa ali, tenta meter o máximo de 7 jogos amigáveis, se
começas a meter mais que 7 jogos amigáveis, se começas a meter viagens
pelo meio... tendo em conta que as equipas de topo têm várias competições,
será que tens tempo durante a época... ou, será que não é na pré-época que
tens de ir ao “encontro de encontrar” a tua organização ofensiva optimal e será
que te estás a dar tempo na pré-época de desenvolver isso!? Porque a partir
do momento que iniciam os campeonatos, que se iniciam as competições,
começas a jogar com uma frequência tal que... se calhar não tens tempo de
limar, enfim, estas questões que são importantes no desenvolvimento da tua
fluidez de jogo. Ok! Normalmente o que nós defendemos é que com o jogo, ou
o que fazes em treino... vais conseguir a tua organização do jogo, ou iniciar a
tua organização de jogo optimal... o que ponho em causa é que, se calhar, já
na pré-época jogamos com uma frequência tal, em vez de nos preocuparmos
com uma assimilação global dos princípios de jogo que nos vai limitar no resto
da época porque os jogadores estão com a cabeça noutro lado... depois
durante a época já começam a entrar outros factores em jogo... o seu equilíbrio
emocional, depois os gajos que não entendem a rotatividade, depois as
selecções... planteis muito grandes, como nos aconteceu no Inter... Se calhar
Anexos
LXXXI
depois já andas a correr atrás do tempo, já não consegues definir uma
organização de jogo fundamental porque na pré-época não trabalhas-te bem
ao nível da organização de jogo. Isso é uma coisa que eu ponho em dúvida
que se calhar eu fazia de uma forma diferente, reduzia o número de jogos a um
máximo de sete, no máximo de 6 na pré-época e depois uma relação optimal
entre recuperação e treino e... muito debater sobre a organização do jogo.
Há algumas que conseguem, ou através dos anos ou manter planteis
equilibrados ao longo dos anos, conseguem manter rotinas de jogo e uma
organização de jogo com um determinado padrão... se calhar há outras que
não... onde tu chegas em que queres uma organização e um modelo e se
calhar não te estás a dar tempo para o prepares, depois durante a época é
uma corrida contra o tempo. Entendo as coisas dessa maneira.
(P.D.S.) – Nas saídas curtas pelo GR, fala-se normalmente no campo
grande... sobretudo nas equipas que fazem uma circulação de bola
predominantemente horizontal... Lá está uma das características da CB
predominantemente horizontal... quando saem a jogar curto fazem campo
grande... na vertical, por exemplo no Arsenal quando jogam pelos
centrais há uma preocupação em fechar logo... porquê!? Porque se estás
a pensar em jogar vertical... há uma preocupação de fechos dos espaços
interiores atrás... Nesse sentido também dissemos que o Barça procura
uma circulação predominantemente horizontal...
(A. Villas-Boas) – Eu penso que há uma coisa que é essencial, que é,
nós, neste momento ou neste ano, temos um Barça que é uma referência
mundial. O Barça faz campo grande, faz saída curta pelos centrais e os laterais
projectados, porque já o faz a 20 anos atrás... já o fazia, automaticamente
quem chega ao Barça os laterais sabem que têm esse tipo de
responsabilidade, há automatismos criados para isso, há o conforto da posse
de bola, há jogadores criteriosos na posse de bola ... há jogadores
tecnicamente fantásticos e eles automaticamente... isto já é uma cultura e
quem chega ao Barça sabe que é assim, que é assim que constróis curto...
tentar chegar a uma outra equipa e fazer isso, não é garantia de sucesso...
Anexos
LXXXII
uma coisa é teres saídas definidas e mecanismos definidos, eu sou um que
defendo que... OK! A nossa forma de trabalhar leva à criatividade, trabalhamos
muito a capacidade decisional dos jogadores, perante situações que são
confrontados. Mas para mim um automatismo, pode ser uma referência para os
jogadores, uma combinação ofensiva na cabeça... digamos que um botão de
pânico, sem falarmos no pânico da velocidade, mas um botão de pânico que
eles possam usar e saber que em caso de dificuldade, podem pensar naquela
combinação ofensiva que fizeram no treino ou que têm feito ao longo da
época... com um overlap, ou com um movimento de um ala, uma dinâmica
qualquer que lhes permita sair de uma situação difícil. Eu acho que, uma
pessoa... chegar a uma equipa qualquer e tentar fazer campo grande com os
laterais projectados com os centrais a receber a bola, pode ser meio caminho
para o insucesso, porque o Barça fá-lo, porque já o fazia à 20 anos atrás... se
pensas chegar ao Benfica e faze-lo da mesma forma... vem um jogador que te
pressiona e empurrar-te para uma determinada zona e podes atrapalhar-te.
(P.D.S.) – Foi um dos erros do SCP contra o Bayern... no primeiro
ou segundo golo... é contra o Bayern... com a equipa aberta tentou sair
curto pelo Polga que estava num dos bicos da área... o Bayern caiu em
cima, e mesmo assim, tentou sair jogar curto, mas com o Bayern
completamente encostado que era quase impossível sair... se calhar
mesmo jogadores de top com essa pressão... o definir os centrais abertos
e os laterais abertos não é uma coisa que se pode pedir, mas que se tem
de treinar... se calhar podes querer isso em qualquer equipa...
(A. Villas-Boas) – Sim! Sim! Desde que o treines e acredites nisso...
acho que sim... acho que é possível... obviamente que, se tiveres um central
que tem dificuldade ou que tecnicamente é limitado não o vais querer fazer,
não queres arriscar, se tiveres centrais que estão confortáveis com a bola...
acho que sim, que podes arriscar... acho que é uma coisa que deves fazer...
porque...vamos imaginar, o único sistema que te pode meter em dificuldade,
nessa construção, nessa saída curta com centrais abertos e laterais
projectados para receber a bola, é um 4-4-2 clássico, porque tens dois pontas
Anexos
LXXXIII
de lança para os teus dois centrais e tens dois alas que podem encostar nos
teus dois laterais. Portanto, é o único sistema que normalmente te pode limitar
em termos de construção curta, se for contra um 4-3-3 estás à vontade porque
tens sempre superioridade, se for um 4-4-2 losango, também podes jogar com
os homens que saltam do losango que, têm forçosamente que bascular ao
lateral. O único sistema, portanto, que pode criar dificuldade a esse tipo de
construção é um 4-4-2 clássico... mas depois há outro tipo de questão, é que
as equipas deixaram de pressionar alto, tu podes querer construir curto mas ...
a maior parte das equipas não posiciona o bloco alto, tu vês uma equipa que
actualmente joga com um bloco médio, ultra-curto, e te pode limitar as duas
formas, é a Juventus, porque o espaço nas costas controla com um fora-de-
jogo espectacular com um timing fora de serie... e o passe vertical limitam
porque estão em 30 ou 40 metros, estão completamente fechados em duas
linhas de 4 mais os 2 pontas de lança. Portanto, tu vais... construis-te curto
chegas ao meio-campo vês ali um espaço ultra-limitado e não sabes o que
fazer se queres colocar a bola dos teus laterais para os teus médios... estás em
dificuldade porque estão completamente fechados.
(P.D.S.) – Quando estão em campo grande que comportamentos os
outros jogadores devem ter? Imagina essa situação da Juventus que
fecha muito...
(A. Villas-Boas) – Tem que ser com provocação à bola, que é o que a
maior parte das equipas não sabe, não se compreende, é um aspecto do jogo
que é essencial, nesta altura de equipas de bloco médio-baixo de bloco ultra-
compacto, vais ter que aprender a provocar, é a bola que eles querem, a
equipa tem que aprender a provocar com bola, com a condução de bola.
(P.D.S.) – Essa é também uma ideia que vem desde van Gaal não é...
(A. Villas-Boas) – Eu penso que é uma ideia mais, não tanto do van
Gaal, acho que é uma ideia que vem na sequência, de um evoluir do futebol
moderno, para a precaução e o bloco baixo em termos de organização
defensiva, a responsabilidade passou a querer dar-se mais ao geral, do que ao
Anexos
LXXXIV
individual... sofremos golo porque no compito geral não tapamos bem os
espaços, do que “pá” sofremos golo porque tu não marcas-te bem o ponta-de-
lança, porque não reduziste o espaço ou porque foste batido no 1vs1, portanto
é tudo um bocado nesse aspecto... estamos em bloco baixo... acho que até
nem há precaução... é de tal forma evidente que perdeu-se um bocado a
noção de pressão activa, quando um jogador tem a bola tu já não queres
reduzir espaços e mete-lo sob pressão, já queres ficar ali dentro do teu bloco,
dentro do respeito que tens pelas linhas, pelos teus colegas, já queres ficar ali
a ver no que vai dar... e não há pressão activa de redução do espaço.
(P.D.S.) – E muitas vezes isso acontece em zonas frontais à baliza
onde o remate pode surgir...
(A. Villas-Boas) – O que eu acho... é que está-se a tornar decisivo
provocar o adversário à bola ou vai-se tornar mais decisivo.
(P.D.S.) – Mas em qualquer zona? Por exemplo o van Gaal refere
que quando o adversário está encostado atrás quer circular a bola no
sector defensivo...
(A. Villas-Boas) – Exacto... a ideia do van Gaal não é tanto progredir
para provocar à bola. A ideia do van Gaal é circulação contínua, de um lado ao
outro... até que num momento de mudança há espaços interiores onde podes
subir... (ele também refere que é para “puxar o adversário”, também refere
isso...) Sim, sim... ok! Provocar o adversário através do domínio da posse
horizontal, depois vai haver um momento de pressão por desespero. O que eu
digo é provocares à bola pelo facto de conduzires a bola na direcção de
alguém... e uma coisa que acho que o Guardiola disse ao Amieiro que podes
confirmar... é decisivo... (ele fala isso mas é nos centrais...) Pensa também no
Chelsea do Avram Grant. Uma coisa que o Ten Cate trouxe do Barça quando
foi para lá com o Avram Grant...que é exactamente isso... Nós na nossa
construção no Chelsea construímos de maneira diferente, logo com bola talvez
no lateral ou nos médios e.... o Ten Cate com o Grant começou a procurar uma
saída curta idêntica ao que fazia no Barcelona quando estava com Rijkaard...
Anexos
LXXXV
quer bola no central e o Jonh Terry penetrava um bocado com bola, a partir do
momento em que o vinham pressionar, bola para o Carvalho e o Carvalho saia
com bola, num espaço muito mais aberto e com menos um opositor.
(P.D.S.) – Eu falo nessa situação do provocar e dou o exemplo do
Jonh Terry que é um jogador que procura muitas vezes a progressão com
bola... aliás na selecção, no Euro 2008, um dos golos...o do Pepe resultou
da penetração do Pepe pelo corredor central... primeiro com bola e depois
sem bola... este aspecto é interessante e vai de encontro ao que te vou
perguntar agora... em organização ofensiva a distância entre linhas tem
de ser sempre a mesma?
(A. Villas-Boas) – Não sei... depende...Eu acho que na tua fase inicial
não te queres expor demasiado, se perdes a bola... isso é um erro que o Barça
faz actualmente, imagina... por isso é que também acho que... não estou bem
seguro se é o Barça que chega à final da Champions... o Barça em construção
curta é quando está mais exposto... e uma coisa é fazeres isso para o
campeonato espanhol onde o adversário está todo borrado e está dentro do
seu meio-campo, outra coisa é fazeres isso contra equipas que te podem
ameaçar exactamente logo a partir da construção curta... não por pressionarem
alto mas por pressionarem no momento em que menos esperas, vamos
imaginar que joga Liverpool - Barcelona a semi-final... e tens o Marquez, que
pensa que é um Beckenbauer a sair em construção, eu acho que ele tem uma
ideia errada um bocado das suas qualidades técnicas, e imagina um F. Torres
a empurra-lo para uma determinada direcção onde está o Gerard, e o Gerard
com um movimento agressivo, que ele tem para pressionar o adversário, com
aquela pressão activa que nós falamos, sair imediatamente em direcção ao
segundo central, portanto... se o Barça estiver equilibrado, que permita uma
compensação com o Yaya Touré, quando vir que a bola está no central e o
Yaya Touré pense numa cobertura... muito bem, se o Barça vai pensar que vai
fazer campo grande e aberto contra o Liverpool... penso que é errado, tem que
criar mecanismos de defesa. Portanto eu acho que numa primeira fase de
construção tens de ter em conta um determinado tipo de equilíbrio... assumir
Anexos
LXXXVI
um risco, mas vais ter compensações que te permitam, se perderes a bola em
primeira fase, pelo menos não sofrer golo ou puder recupera-la... ou então é
como o Barça e entregas-te cegamente a isso e corres sérios riscos de perder
a bola...
(P.D.S.) – Uma das coisas interessantes que o van Gaal refere...
também perguntei acerca do risco e da verticalidade... perguntei-lhe se
ele achava que a verticalidade era um risco... é um risco necessariamente
porque a partir do momento que jogas vertical estás a entrar no interior
da equipa adversária... estas sempre a ir para um sítio onde há mais
jogadores... ele diz-me que não... que o passe vertical não é um passe de
risco... o passe horizontal é sempre um passe de risco... isto é
interessante porque, aparentemente, contraria um pouco aquilo que
dizemos mas não contraria, porque o passe vertical que ele refere é
sempre equilibrado ou seja, sempre que há um passe vertical há fecho de
espaços interiores quando há um passe horizontal está muito aberto... se
perde a bola nesses momentos...
(A. Villas-Boas) – Sim! Sim! E outra coisa, é um passe horizontal
paralelo, outra é um passe ligeiramente em diagonal... uma coisa que
acontecia muito em Inglaterra era, quando as equipas jogavam em 4-4-2, os
dois médios centro criavam passes paralelos um para o outro... e o que se
fazia era o Lampard, ou o Gerard no caso do Liverpool, tentavam cortar esses
espaços ou com velocidade de movimento cortavam esse passe e deixavam
imediatamente dois jogadores eliminados em transição.
(P.D.S.) – Porque lá está... isso também está relacionado com a
orientação dos apoios...
(A. Villas-Boas) – Sim, sim e com ângulos.. sem dúvida.
(P.D.S.) – Qual a importância da largura na criação de
desequilíbrios? E em que momentos e espaços deve dar largura?
Anexos
LXXXVII
(A. Villas-Boas) – Eu penso em largura... ora bem, se pensares no 4-3-
3... largura assegurada... tens largura em primeira fase os teus laterais estão
projectados e, ou melhor, olhando de um ponto alto, parece que tens largura
numa fase inicial, no terço defensivo tens os laterais abertos e tens largura em
termos ofensivos tens Alas abertos, depende um bocado do que cada treinador
defende se são dois alas completamente abertos ou se são dois alas mais
perto... para mim em Itália... o 4-3-3 italiano defende tantas vezes os alas entre
central e lateral, portanto não é um 4-3-3 aberto, é o que eles chamam a árvore
de natal, com os alas entre central e lateral... penso que... depende do que
pretendes potenciar, se potencias amplitude máxima para situações de 1x1 e
acreditares nessas situações de 1x1, como meio para chegar a um fim, muito
bem, se acreditas que queres amplitude máxima para conquistares espaços
interiores, já é outra coisa completamente diferente... por exemplo, tens uma
amplitude máxima no caso do Génova, que aqui em Portugal não se vê tanto,
mas que é uma equipa que joga um 3-4-3 que é uma coisa espectacular, que
tem uma dinâmica espectacular que, se tu puderes ter tempo, é uma equipa
que deves analisar... é um 3-4-3 em que a amplitude é controlada pelos
externos, numa primeira fase numa segunda fase são os centrais que ainda
abrem em amplitude e depois são os médios que, em termos de compensação,
caem nesses espaços se houver algum problema, portanto, sim amplitude tem
sempre importância porque queres aumentar os espaços e queres abrir um
adversário que por ele já está em bloco, portanto tens tendência para utilizar
amplitude máxima de jogo digamos.
(entrevista interrompida)
(P.D.S.) – Reconheces no adversário espaços de maior fragilidade
defensiva que podem ser aproveitados pela tua equipa quando atacas?
(A. Villas-Boas) – Há um tipo de estrutura que... não é que eu não
goste... mas que... se fosse uma estrutura que eu viesse a jogar, ou a jogar
contra... potenciaria sempre esse espaço... que são equipas que jogam com
dois médios paralelos, com dois médios, digamos um 4-2-3-1 ou um 3-4-3... se
Anexos
LXXXVIII
as equipas não são capazes desses dois médios centro jogarem... sempre em
ângulo, são equipas que no espaço entrelinhas estão muito vulneráveis.
No caso do manchester, uma equipa que joga em 4-4-2 com estes dois
médios nesse tipo de posição mas o Carrick joga sempre mais atrasado em
relação ao outro médio, portanto nunca há essa fragilidade em termos de jogo
entrelinhas. Depois... para mim em transição continua a ser uma equipa... tal
como as equipas em organização ofensiva privilegiam a saída com lateral e
com outro a compensar o espaço... em transição, há sempre um espaço que
está aberto nas costas de um lateral, depois é a forma como tu potencias a
saída nesse espaço nas costas desse lateral.
Uma coisa que nós, actualmente, fazemos no Inter, que eu acho que tem
que ser a progressão em termos de observação... que passou a ser importante
para nós... ou acho que começou a tornar-se mais importante para nós...
observar o adversário e observar as dinâmicas ofensivas e defensivas do
adversário, de acordo com a nossa estrutura e de acordo com a estrutura
deles, porque tal leva a dinâmicas e a criações de espaços completamente
diferentes... Antes, o que fazíamos aqui no Porto, observavas o adversário a
um nível sempre alto, foi o que fomos fazendo ao longo dos anos... mas
observamos o adversário, exactamente no que ele nos oferecia em termos de
organização ofensiva, defensiva e transições, exactamente o que eram os
defeitos e o que eram as virtudes do adversário... em Itália mudamos um
bocado... o que é que são as dinâmicas e... o que é que a nossa estrutura e a
estrutura do adversário... que tipo de espaços é que poderá provocar, as
compensações... sabes que o 4-4-2 em losango que nós jogamos, leva a
grande tipo de adaptações do adversário, caso não jogue da mesma forma, em
Itália começamos a ter mais essa preocupação a nível da observação... nós
jogamos em 4-4-2 losango, o Cagliari também joga dessa forma, e o Palermo...
íamos normalmente buscar esses jogos as dinâmicas defensivas do
adversário, os espaços que podem ser criados pela forma como defendem
contra um 4-4-2 losango... em que te da uma realidade e uma perspectiva
totalmente diferente... um 4-4-2 losango contra um 4-3-3, obriga a um
determinado tipo de dinâmicas, um 4-4-2 losango contra um 3-5-2, obriga a um
Anexos
LXXXIX
determinado tipo de dinâmicas defensivas ou outro tipo de criação de espaços.
Portanto nós, neste momento, potenciamos a nossa observação de acordo
com o que é a nossa estrutura e de acordo com o que é a estrutura do
adversário. O que estava acontecer numa fase inicial, agora acalmou um
bocado também há equipas que o fazem de uma forma outras que fazem de
outra, é que apesar disso o adversário ainda estava a mudar a estrutura para o
nosso jogo... observavas o adversário numa estrutura, que era o normal deles,
pensavas no que era a nossa estrutura no que poderíamos fazer, (em termos
de estrutura e de comportamentos sempre), pensavas que o adversário poderia
jogar de um determinado modo e noutro determinado modo e apareciam num
terceiro modo completamente diferente. Mas é um risco que temos corrido e
que tem funcionado, portanto, já levamos muito a nossa observação e o vídeo
que fazemos e o relatório que fazemos, ao nível das compensações, o que é
que pode acontecer, o que é que não pode acontecer e que espaços é que
podem ser criados. Fazemos sempre a analisa das qualidades das equipas e
deficiências do adversário, mas também estruturalmente que é que pode
acontecer, que tipo de dinâmicas é que podem surgir a partir dai.
De acordo com a tua pergunta, há estruturas que te levam a determinado
tipo de coisas, depois... que estrutura contra que estrutura, percebes.. vamos
alargar isto... normalmente as pessoas pensam que falar em estruturas é uma
coisa que não tem importância, o que tem importância são as dinâmicas... ora
bem, mete uma estrutura contra uma estrutura e vês que as dinâmicas de
compensação são completamente diferentes... portanto, de acordo com a tua
pergunta, depende se estar a meter quem contra quem... no outro dia com a
Regina aconteceu-nos exactamente isso, equipa que teve resultados, dois
grandes resultados em 3-5-2, empatou com o Milão, empatou com a Roma,
sabia que nós, potencialmente, íamos jogar num 4-3-3 porque nos estávamos a
sair bem no 4-3-3... com Ballotelli, nós jogamos com o Ballotelli, Mancini e com
o Ibra e os gajos de estrutura que lhes estava a garantir sucesso, que era o seu
3-5-2, passou para um 4-3-3 inesperadamente... agora pensa no seguinte...
nós preparamos o vídeo tendo em conta esse 3-5-2, porque caramba,
empataram com o Milão e com a Roma, o Milão também jogou com três na
Anexos
XC
frente porque razão haviam de mudar... e pensa exactamente nisto.. eles antes
estavam em 3-5-2, um dos aspectos do nosso vídeo era que, os externos
deles... que tipo de posicionamento é que iam ter. Se tu pensares nos externos
que fecham para uma defesa de 5 deixam-se estar tranquilos... mas a partir do
momento em que começas a penetrar com o teu lateral com bola, se saltar o
externo a pressionar o teu lateral, o espaço nas costas desse externo fica
exposto... evidenciamos exactamente isso no vídeo... se o externo se manter
em posição e saltarem com um do meio-campo, então tens superioridade no
meio. Portanto, de acordo com a estrutura deles e de acordo com a nossa
estrutura, evidenciamos dois tipos de movimento e dois tipos de espaços
diferentes, se salta o externo tens espaço nas costas, dá-te para uma saída
com ponta-de-lança a bascular, se saltarem com o meio-campo dá-te
superioridade no meio-campo, podes circular a bola rapidamente para o outro
lado ou então usar essa superioridade que tens no meio-campo... portanto
depende da estrutura... dão-te vários tipos de dinâmicas diferentes.
(P.D.S.) – Na monografia tenho uma parte que trata só das
estruturas... porque reconhecemos que a estrutura... porque muitas vezes
se diz que o que importa não é a estrutura é a dinâmica... eu também tinha
essa ideia antes de começar a ver... a entender a dinâmica pelo lado da
estrutura...
(A. Villas-Boas) – No início o que aconteceu foi que... também é um
bocado, essa evolução que falávamos no início, a evolução de uma linguagem,
desde que Mourinho chegou... a evolução de uma maneira diferente de olhar
para o jogo, uma maneira diferente de comentário técnico, a TV levou a toda
uma nova forma de pensar e repensar o futebol que era necessário... A partir
dai as pessoas quiseram alargar mais o seu ponto de análise, muito mais para
além da estrutura... o que se dizia é que não se podia olhar só para a estrutura,
que era uma realidade, tens que olhar para os princípios de jogo da equipa,
portanto tocava nesse aspecto... a estrutura não era tão importante o que é
importante são as dinâmicas, obviamente. Agora pensa que, uma estrutura e
determinado tipo de dinâmicas têm que jogar com outra estrutura e com outro
Anexos
XCI
tipo de dinâmicas e tudo isso vai criar dinâmicas ofensivas e dinâmicas
defensivas completamente diferentes de jogo para jogo.
(P.D.S.) – Que significado tem para ti o jogo posicional?
(A. Villas-Boas) – Antes de mais deixa-me esclarecer uma situação...
para mim os conceitos não têm importância nenhuma, o meu jogo posicional
pode ser diferente do teu jogo posicional... eu não sou um dos que anda atrás
de... defender à zona é isto, jogo posicional é isto, uma penetração é isto...
para mim não me importa nada o que tu defines como uma coisa e o que outro
define como outra coisa... jogo posicional, talvez não exista jogo posicional...
existem é posições e dinâmicas, em que posições... se disseres jogo posicional
porque estão a jogar nesta posição fixa e não tem mobilidade, ou então um
jogo posicional com dinâmica a partir da posição, com penetração... jogo
posicional, estas a referir-te a jogo de trocas, jogo de trocas de posição... tudo
depende da interpretação que queiras dar ao jogo posicional...
(P.D.S.) – Eu concordo contigo em relação aos conceitos... mas eu
faço-te as perguntas acerca desses conceitos para perceber o teu ponto
de vista e enquadrar as perguntas que tenho para te fazer...
(A. Villas-Boas) – Jogo posicional vou tentar definir-te desta maneira...
talvez... equilíbrio optimal entre o que queres atingir em termos de modelo, em
termos de princípios, em termos de estrutura, portanto, um equilíbrio de tudo
isso que potencie uma forma de jogar e a tua forma de criar oportunidades...
(P.D.S.) – Falas-te de umas coisas que eu acho que são muito
pertinentes para o meu trabalho... que é o facto do jogo posicional... de
trocas de posições... é assim, há uma coisa muito interessante que o van
Gaal fala... ele define áreas... para cada posição... define áreas de
responsabilidade (áreas de intervenção) ...exactamente... este jogador tem
esta área de intervenção, este jogador tem esta... isto vai de encontro a
uma coisa que te quero falar acerca do Inter... a partir do momento que
um jogador sai daqui... isto penso que é para ele o jogo posicional...
Anexos
XCII
definir funções para o jogador que ocupa esta área de responsabilidade...
o que não limita a sua saída... só que a partir do momento que ele sai...
(alguém vai ter que compensar) exactamente, é isso... onde quero
chegar... e aqui vem o exemplo do inter... tem aqui uma situação em que o
Ibra não pressionou... foi o Zannetti a pressionar... ou seja, saiu de
posição para pressionar... a partir do momento que saiu dessa área
alguém tinha que o compensar... e nessa situação obrigou, se calhar o
objectivo era esse, obrigou a bater longo, ganharam a bola... depois em
transição houve sobreposição de jogadores porquê, porque estava lá o
Ibra, o Zannetti, o Quaresma, todos ali naquele Espaço... portanto o jogo
posicional nessa situação não funcionou...
(A. Villas-Boas) – Aí beneficias-te de uma má transição do adversário e
acabas-te por sair em contra-transição (mas também foi uma má contra-
transição porque houve sobreposição de jogadores... porque o Zannetti ao
pressionar sai de posição...)... mas há ai um ponto que é o seguinte... se o
jogador que saiu a pressionar é o lateral é ele que tem que saltar, ele inicia
uma dinâmica de saltar no lateral... mas esse jogo não estávamos em losango
pois não? (não estavam em 1-4-3-3)... Foi talvez uma má iniciativa, uma
análise... um comportamento decisional, uma decisão talvez individual do
jogador (...).
No que estavas a falar do van Gaal, em zonas de intervenção, acho que
é unânime que tu não queres umas diagonais do teu lateral esquerdo para o
teu lado direito... há um determinado tipo de equilíbrio foi o que te disse na
minha definição de jogo posicional... tem que haver um determinado tipo de
equilíbrio de acordo com o que tu defendes e com as dinâmicas que queres
criar... a partir desse equilíbrio defines o teu jogo posicional, defines as
responsabilidades e o que é que cada um tem que fazer em cada zona do
campo.
(P.D.S.) – Mas, a mudança de estrutura... eu acho que nesse jogo o
Inter mudou de estrutura... ao meter o Júlio Cruz, ficou na mesma com
três na frente mas ele aparecia muitas vezes atrás dos outros dois...
Anexos
XCIII
(A. Villas-Boas) – Ai estava 0-0... o Júlio entra, se não me engano, ao
minuto 60 e tal... e pá... um treinador de uma equipa de TOP quer ganhar o
jogo, é um jogo em casa tens a pressão de ganhar... colocas um homem entre
linhas... que te ligue uma fase com a outra.
(P.D.S.) – Mas a pergunta que te queria fazer é se nesse momento a
função daqueles três do meio-campo... que continuaram os mesmos, a
não ser o Stankovic que entrou mais tarde... se continua a mesma!? Não
pode continuar a mesma...
(A. Villas-Boas) – Não... (...porque as áreas de intervenção, lá está o
jogo posicional...) Sim... muda... mas isso já faz parte do que tu trabalhas para
quando te encontras em situações que tens que ganhar, em que tens que
mexer no jogo, em que tens de criar outro tipo de posicionamento e de
povoação das zonas decisivas do campo... ai até se calhar... por exemplo, a
Udinese joga em 4-3-3, nós devíamos estar em 4-3-3 com pivô baixo...
geralmente saía um homem... colega entre as linhas porque a Udinese joga
também com um Pivô baixo e já das mais responsabilidade das um ponto de
atenção mais ao Di Agostino que é o médio defensivo deles, dás-lhe outro tipo
de preocupação... em vez de ter que se preocupar com os outros dois médios
que são Inter e o Asamoah... já lhe estás a dar uma preocupação ao nível da
referência visual têm que olhar mais para o adversário que está a cair mais nos
espaços à sua volta... portanto, sim... uma mudança para provocar um
problema ao adversário.
(P.D.S.) – Existem, por exemplo no Inter, posições mais fixas e
outras de maior mobilidade?
(A. Villas-Boas) – Existem princípios... movimentos e princípios mais
frequentes do que outros... a subida do Maicon por exemplo, as caídas do Ibra
para uma faixa... para a partir das faixas desequilibrar... sabes, por exemplo,
que o Zannetti não vai ter penetração vertical, porque é já um sistema de
compensação às subidas do Maicon... a penetração pode vir do Muntari ou do
Cambiasso, depende, quem analisa a equipa com mais critério sabe que dali
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do Zannetti não vai acontecer nada, a acontecer vai acontecer como factor
surpresa dos outros dois, do Muntari e Cambiasso...sim... há movimentos no
inter que evidenciam isso... são os princípios que defendemos.
(P.D.S.) – Qual a diferença entre jogar com três ou quatro jogadores
no meio-campo?
(A. Villas-Boas) – Ora bem... depende de onde inserires... relativamente
ao 4-4-2 clássico, depende de onde o inserires... o Benitez criou um 4-4-2
muito mais dinâmico que o 4-4-2 inglês, porque a esse 4-4-2 clássico que criou,
deu-lhe velocidade na posse de bola, deu-lhe posse sustentada, deu-lhe...
alternância e variação horizontal e vertical... criou ali um 4-4-2, diferente do 4-4-
2 clássico inglês que, basicamente se resume, a um médio de penetração e
outro que fica, um ala que faz movimentos interiores e outro que fica
completamente aberto, um lateral que sai em overlap e o outro que
compensa... e o 4-4-2 de Benitez deu-lhe uma dinâmica completamente
diferente.
Se falares num 4-4-2 losango, é completamente diferente, jogas com
dois pivôs, um alto e um baixo, aí, em termos ofensivos, crias grandes
problemas ao adversário, em termos de posicionamento... só que,
defensivamente, corres um risco enorme de ocupação dos espaços,
centralmente tas muito ocupado, em amplitude estás muito mal posicionado,
tens que criar grandes sistemas de compensação, tens de obrigar
constantemente os teus homens a saltar... eu sou um defensor do 4-3-3 e um
não defensor do 4-4-2 clássico, para mim um 4-4-2 clássico, não vejo como é
que possa funcionar no campeonato espanhol por exemplo, porque a maior
parte das equipas joga em 4-3-3 e tornou-se demasiado decisiva a
superioridade no meio-campo, no jogo espanhol que é caracterizado pela
posse, pela posse sustentada e pela circulação de bola. Penso que há
sistemas que estão fora de uma determinada linha, de uma determinada
cultura... penso também que o que o Mourinho fez em termos de 4-3-3 no
Chelsea foi criar algo nunca visto... com uma estrutura muito dinâmica,
agressiva... com transições agressivas... e por outro lado um 4-3-3 difícil de
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XCV
criar... um 4-3-3 como o do Barça... difícil de criar em Inglaterra porque é um
jogo mais transaccional onde se perde constantemente a bola, onde eles iam
estar sempre atentos a espaços interiores... portanto, tem que haver equilíbrio
entre a cultura, o que são os referenciais ao nível do futebol... jogadores
posição.
(P.D.S.) – Uma das coisas que mais me preocupa quando observo
uma equipa é como elas ocupam o espaço entrelinhas (defensiva e média
do adversário)... eu acredito que pode ter dois objectivos... arrastar
marcação do adversário E/ou criar desequilíbrios porque o médio está de
costas e permite ter alguma vantagem... agora quem o ocupa... por
exemplo se for assim (avançado em 1-4-3-3 a descer) há um problema que
se perde a referência na frente...
(A. Villas-Boas) – Depende se depois não tiveres movimentos de apoio
destes (diagonais)... Pensa no Gerard e no Lampard... tu não queres um ponta-
de-lança que vem entre linhas, porque estes dois, o Lampard e o Gerard, têm
um grande raio de acção e são jogadores que te vão frequentemente aparecer
neste espaço, talvez o Gerard mais e o Lampard mais em profundidade... o
Lampard irritava-se muitas vezes com o Drogba porque ele queria receber a
bola neste espaço e depois por incrível que pareça tinha o primeiro toque
desastroso... perdia a bola... e estávamos logo obviamente sujeitos a transição,
porque o Lampard já tinha entrado e já estava quase em igualdade ou em
inferioridade no meio-campo... tentamos limita-lo nesse aspecto e de incentiva-
lo mais à profundidade... se tens um avançado que, ao contrário, queres que
jogue mais nesse Espaço, tens que ter um que jogue mais perto dele... um
ponta de lança vir aqui e os dois extremos manterem-se abertos... pode ser um
factor surpresa... se o teu ponta de lança rodar e depois se chegares com os
outros dois médios... se não tas a sacrificar um movimento...
(P.D.S.) – Em termos de surpresa para o adversário, não achas que
o 1-4-4-2 losango, por já ter lá um jogador, à partida, posicionado... vai
aparecer mais vezes nesse espaço...
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(A. Villas-Boas) – Não sabes porquê... porque um 4-4-2 losango... e
para mim é exactamente esse problema... no 4-4-2 losango acaba por se
transformar em 4-3-3, porque a dinâmica que se dá ao pivô ofensivo, é uma
dinâmica de caída nas faixas... portanto, automaticamente tens inicialmente um
homem entre linhas que depois vai sair... é uma coisa que eu também muitas
vezes questiono... que são as trocas posicionais por trocas posicionais... eu
sou um médio... troco de posição com um ala... neste momento em que as
equipas jogam à zona... não andamos todos a dormir... este jogador sabe que
vem dali um jogador, OK! este vai para dentro, eu não vou segui-lo homem a
homem... para depois o outro entrar nesse espaço... eu vou ficar aqui à espera
daquele que vem... fazer a leitura... o que eu digo é... e penso que o Barça faz
isso... a troca posicional tem que acontecer e parar num determinado ponto
onde te crie dúvidas... onde o lateral ficou à espera do médio adversário que
vinha em troca posicional com o ala e que já não apareceu... ficou ali no meio-
meio, ficou no meio entre a posição dele e a posição do central, e assim já o
vai obrigar a sair de posição... agora quando é troca posicional por troca
posicional, onde eu era o ala e vou para a posição de médio e vice-versa é
exactamente a mesma coisa... portanto... é pá... depende da interpretação que
deres... colocares aqui um pivô estas a beneficiar de um espaço decisivo no
futebol actual.
(P.D.S.) – Exactamente. Era aí que eu queria chegar. Mas é mais
importante o aparecer ou o estar lá?
(A. Villas-Boas) – Depende também da marcação que o adversário te
faz. Imagina que tens um adversário que te segue completamente, o Mexes da
Roma gosta de seguir o... não é homem a homem mas é quase porque gosta
de seguir o adversário, o ponta de lança adversário mesmo até às zonas do
meio-campo, quando o faz, sabes que conquistas espaço atrás... se calhar se
tens uns centrais que preferem estar posicionais e preferem passar este gajo
aos médios que estão em posição, então já é outro tipo de dinâmica
completamente diferente... depende do que analisares.
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(P.D.S.) – Qual a diferença entre jogar com um adversário ou dois?
Em termos de soluções que te possam dar...
(A. Villas-Boas) – Com dois pontas-de- lança... depende de quantos
pontas-de- lança tens no plantel, nós temos 4: Cruz, Ibra, Adriano, Balotteli...
jogar com 3 obriga-te a deixar três de fora... joga o Ibra que normalmente é
titular ficas com 3 de fora... ok! Adaptamos ali o Adriano, e jogas-te com um Ala
aberto e o Adriano meio-meio que foi a “fórmula” inicial... Tudo depende da
análise do plantel e da analise que tens à disposição... depende das dinâmicas
que queres criar, se queres jogar 4-4-2 e só tens dois pontas-de-lança...
quando um se lesiona o que é que vais fazer... por exemplo, o Sporting agora
criou uma dependência de 3 anos no 4-4-2 losango que, quando não jogam
dessa forma tem dificuldade porque não podem ter os mesmos tipos de
comportamentos... quando querem criar uma dinâmica diferente, quando
querem surpreender o adversário, não têm... jogam sempre da mesma
maneira... as trocas posicionais são sempre as mesmas...chegaram a um
ponto onde deixou de ser surpresa, dominas absolutamente e a um nível
máximo o teu 4-4-2 losango permitiu ter ali três anos de topo, ganhar alguns
troféus e finalmente neste terceiro ano ameaçar pelo titulo... mas e a surpresa,
a mudança... são coisas que também se tem que considerar.
(P.D.S.) – A ultima questão... vocês têm o Jimenez... o Mourinho diz
que é o único dez que vocês têm... seria para jogar aqui (entre linhas)...
ele refere que só tem esse jogador com as características de 10...
(A. Villas-Boas) – Porque inicialmente ele idealizou outro sistema... um
sistema base... que era o 4-3-3, por isso, é que tínhamos o Mancini, o Ballotelli,
o Quaresma, para instigar esse 4-3-3. O Mourinho foi capaz de fazer uma
análise ao rendimento actual do Mancini e do Quaresma e de perceber... Ok!
Tinha que admitir que não estava a funcionar e instigar outra mudança.
(P.D.S.) – Mas o que diferencia o Jimenez doutro...
(A. Villas-Boas) – Tudo... apesar de ser um bom jogador, é um jogador
que não joga a um ritmo elevado, que gosta de receber a bola no pé, não é um
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jogador dinâmico e depois é um jogador propenso a lesões musculares... no
outro dia entrou em campo e teve logo que sair... há vários tipos de nº10...mete
o Gerard a nº10 e dá-te uma coisa, mete o Diego dá-te outra, mete o Jimenez
como nº 10 dá-te outra tipo coisa... é um jogador com um raio de acção
limitado, capaz de criar pequenos ângulos, receber a bola e levar-te a bola até
ao terço ofensivo... não é jogador gajo de grande raio de acção, de penetração,
de dinâmica, de velocidade.