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Histologia Texto, atlas e roteiro de aulas práticas 3ª edição Tatiana Montanari

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Histologia

Texto, atlas e roteiro de aulas práticas

3ª edição

Tatiana Montanari

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Tatiana Montanari

Histologia

Texto, atlas e roteiro de aulas práticas

3ª edição

Porto Alegre Edição do autor

2016

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Histologia

Texto, atlas e roteiro de aulas práticas

3ª edição

Tatiana Montanari

Bióloga formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),

Mestre em Biologia Celular pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),

Doutora em Biologia Celular e Tecidual pela Universidade de São Paulo (USP),

Pós-doutora em Bioquímica Toxicológica pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),

Professora Associada do Departamento de Ciências Morfológicas

do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS

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© da autora

3ª edição 2016

Direitos reservados desta edição: Tatiana Montanari

1ª edição 2006, Editora da UFRGS

ISBN: 85-7025-874-7

2ª edição 2013, Tatiana Montanari

ISBN: 978-85-915646-0-6

Fotografias: Tatiana Montanari, Griscelda da Conceição da Silva, Thaís de Oliveira Plá, Daiene Tórgo Fabretti, Marta Silvana da Motta, Matilde Elena Achaval, Maria Cristina Faccioni-Heuser, Simone Marcuzzo, Fabiana Rigon, Patrícia do Nascimento, Tais Malysz, Francele Valente Piazza e André Luís Ferreira de Meireles

Ilustrações: Tatiana Montanari e Eliane de Oliveira Borges

Navegação: Eliane de Oliveira Borges

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) _______________________________________________________________________________________ M764h Montanari, Tatiana

Histologia : texto, atlas e roteiro de aulas práticas [recurso eletrônico] / Tatiana Montanari. – 3. ed. – Porto Alegre: Edição do Autor, 2016.

229 p. : digital

Inclui figuras e quadros. Livro digital de acesso aberto. Disponível em: http://www.ufrgs.br/livrodehisto/ ISBN: 978-85-915646-3-7 1.Histologia. 2.Histologia humana - Atlas. 3.Histologia humana – Sistemas. 4.Técnicas histológicas. 5.Práticas de

histologia. I.Título.

CDU – 611.018(084.4) _________________________________________________________________________________________

Elaborada pela Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

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Prefácio

Histologia: texto, atlas e roteiro de aulas práticas

pretende contribuir para o processo de ensino-aprendizagem de Histologia nos cursos de graduação nas áreas das Ciências Biológicas e da Saúde. Apresenta um texto conciso que agrega os avanços no conhecimento da Biologia celular e molecular à Histologia descritiva tradicional. É ilustrado com fotografias dos tecidos e órgãos observados na microscopia de luz e na microscopia eletrônica de transmissão e de varredura. Inclui relações clínicas e, ao final do capítulo, questionário para revisão do conteúdo. De forma inédita, contém sugestão de lâminas para representação.

A redação deste livro foi iniciada como roteiro de aulas teóricas e práticas da disciplina Histologia Humana, ministrada no Departamento de Ciências Morfológicas da UFRGS, ao longo de vários anos. A inclusão das imagens foi viabilizada pelo recebimento de um fotomicroscópio Olympus do Programa de Modernização da Infraestrutura das Instituições Federais de Ensino Superior e Hospitais Universitários, do Ministério da Educação. Foram fotografadas as lâminas histológicas da disciplina, confeccionadas nos Laboratórios de Histologia e Ultramicrotomia do Departamento. Muitas fotografias foram realizadas com a participação de alunas (citadas no crédito das fotografias) para o estudo extraclasse.

A primeira edição foi publicada pela Editora da UFRGS em 2006 no lançamento da Série Graduação.

Na segunda edição, disponibilizada na rede em 2013, foi acrescentado um capítulo introdutório sobre Célula. Para tanto foram utilizadas eletromicrografias do Mestrado em Biologia celular na UNICAMP, sob orientação da Prof.a Dr.a Heidi Dolder, e contou-se com a colaboração das colegas do Departamento de Ciências Morfológicas Prof.a Dr.a Matilde Elena Achaval e Prof.a Dr.a Maria Cristina Faccioni-Heuser. As suas

eletromicrografias e das suas orientadas Patrícia do Nascimento, Tais Malysz e Fabiana Rigon enriqueceram esse e outros capítulos. Ainda foram incluídas, no capítulo de Tecido nervoso, fotomicrografias da Prof.a Dr.a Simone Marcuzzo do Departamento de Ciências Morfológicas e, nos capítulos dos Sistemas digestório, respiratório e urinário, ilustrações realizadas pela Prof.a Eliane de Oliveira Borges (Departamento de Fisiologia, UFRGS).

Para a terceira edição, o texto foi revisado e atualizado, quadros comparativos foram elaborados para facilitar a compreensão, as fontes bibliográficas foram apresentadas como notas de rodapé e imagens foram adicionadas. Estas são procedentes da digitalização dos diapositivos de lâminas histológicas do curso de Medicina da UNICAMP, fotografadas durante o Mestrado, e do material realizado no período de docência no Departamento de Ciências Morfológicas da UFRGS. Eletromicrografias da Prof.a Dr.a Maria Cristina Faccioni-Heuser foram incluídas nos capítulos de Célula e Tecido conjuntivo e da Prof.a Dr.a Patrícia do Nascimento e da Prof.a Dr.a Matilde Elena Achaval, no capítulo de Sistema circulatório. Agradeço à Prof.a Dr.a Simone Marcuzzo e aos seus orientados Francele Valente Piazza e André Luís Ferreira de Meireles pela fotografia do neurônio ao microscópico confocal exibida no capítulo de Tecido nervoso.

Esta edição, assim como a anterior, foi disponibilizada na internet, visando fomentar a sua acessibilidade. Espera-se, com o desenvolvimento deste recurso educacional, contribuir para a qualificação do ensino de Histologia e das Ciências Morfológicas.

Tatiana Montanari

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Estudar tem que ser mais prazeroso do que penoso.

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Sumário

Capítulo 1 Célula

1 HISTÓRICO

2 CONCEITO

3 CLASSIFICAÇÃO

4 A MICROSCOPIA COMO MÉTODO DE ESTUDO

5 MORFOLOGIA CELULAR

6 COMPONENTES CELULARES 7 – QUESTIONÁRIO

Capítulo 2 Tecido Epitelial

1 – INTRODUÇÃO

2 CARACTERÍSTICAS

3 FUNÇÕES

4 COMPONENTES

5 ESPECIALIZAÇÕES DA SUPERFÍCIE DAS CÉLULAS EPITELIAIS

6 CLASSIFICAÇÃO

7 CÉLULAS EPITELIAIS ESPECIALIZADAS

8 NUTRIÇÃO E INERVAÇÃO

9 QUESTIONÁRIO

Capítulo 3 Tecido Conjuntivo

1 – CARACTERÍSTICAS 2 – FUNÇÕES 3 – COMPONENTES 4 – CLASSIFICAÇÃO 5 – QUESTIONÁRIO

Capítulo 4 Tecido Nervoso

1 – INTRODUÇÃO 2 – FUNÇÕES 3 – COMPONENTES 4 – ENDONEURO, PERINEURO E EPINEURO 5 – MENINGES 6 – QUESTIONÁRIO

Capítulo 5 Tecido Muscular

1 – CARACTERÍSTICAS 2 – FUNÇÕES 3 – COMPONENTES 4 – CLASSIFICAÇÃO 5 – EPIMÍSIO, PERIMÍSIO E ENDOMÍSIO 6 – QUESTIONÁRIO

Capítulo 6 Sistema Circulatório

1 SISTEMA VASCULAR SANGUÍNEO

2 SISTEMA VASCULAR LINFÁTICO

3 QUESTIONÁRIO

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Capítulo 7 Sistema Linfático

1 – FUNÇÕES 2 – CONSTITUINTES 3 – QUESTIONÁRIO

Capítulo 8 Sistema Digestório

1 FUNÇÕES

2 CONSTITUINTES

3 QUESTIONÁRIO

Capítulo 9 Sistema Respiratório

1 FUNÇÕES

2 CONSTITUINTES

3 QUESTIONÁRIO

Capítulo 10 Sistema Urinário

1 FUNÇÕES

2 CONSTITUINTES

3 QUESTIONÁRIO

Capítulo 11 Sistema Tegumentar

1 FUNÇÕES

2 CONSTITUINTES

3 QUESTIONÁRIO

Capítulo 12 Roteiro de aulas práticas

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1

Célula Capítulo 1

1 HISTÓRICO

A invenção de lentes de aumento e a sua

combinação no microscópio permitiu uma maior

compreensão dos constituintes dos organismos.

Em 1590, os irmãos Jansen inventaram o

microscópio.1 Em 1611, Kepler apresentou o projeto

de um microscópio composto.2 Em 1665, o físico e

biólogo Robert Hooke analisou fatias de cortiça em

um microscópio composto construído por ele. Este

aparelho conferia um aumento de 270 vezes. Ele

observou compartimentos, os quais designou células

(cell em inglês, do latim cella, que significa câmara,

pequeno cômodo).3,4,5

O microscopista holandês Antoni van

Leeuwenhoek (1632-1723) dedicava-se à fabricação

de microscópios e à pesquisa. Colecionou 419 lentes e

247 microscópios. Foi o primeiro a registrar células

livres. Em 1674, relatou a descoberta do protozoário;

em 1677, do espermatozoide humano, e, em 1683, da

bactéria.6,7,8

Com a melhoria dos microscópios compostos,

Robert Brown, em 1833, descobriu um elemento

esférico no centro de uma célula, denominando-o

núcleo (do latim nuculeus, semente de uma noz

pequena, a núcula).9,10

Em 1838, Schleiden formulou o princípio de que

todos os vegetais são constituídos de células. Em

1 LAGO, S. R.; CARVALHO, C. R. Biologia: Citologia. São Paulo: IBEP.

pp. 7, 10. 2 ALBERTS, B.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.;

WALTER, P. Molecular Biology of the cell. 4.ed. New York: Garland Science, 2002. p. 550. 3 GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. p. 1. 4 HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. p. 3. 5 LAGO & CARVALHO. Op. cit., pp. 7, 10.

6 ALBERTS et al. Op. cit., p. 550.

7 LEEUWENHOEK, A. Observationes D. Anthonii Lewenhoeck, de natis

è semine genitali animalculis. R. Soc. (Lond.) Philosoph. Trans., v. 12, pp. 1040-1046, 1677. Disponível em:

http://rstl.royalsocietypublishing.org/content/12/133-142/1040 [acessado

em 29 de maio de 2014] 8 MORAES, E. G. S. Espermocitologia: espermocitograma em critério

estrito. 2.ed. Caxias do Sul: Ed. da Universidade de Caxias do Sul, 2007. p. 59. 9 GENESER. Op. cit., p. 1.

10 LAGO & CARVALHO. Op. cit., p. 8.

1839, o anatomista e fisiologista alemão Theodor

Schwann (1810-1882) estendeu esse princípio para os

animais. Assim, foi estabelecida a teoria celular, que

afirma que a célula é a menor unidade de vida.11,12,13

2 CONCEITO

A célula é a menor unidade estrutural e funcional

dos organismos. Unidade estrutural porque as células

constituem os tecidos e os órgãos, e unidade funcional

porque são capazes de exercer as funções básicas da

vida, como metabolismo, produção de energia e

reprodução.14,15

3 CLASSIFICAÇÃO

As células são classificadas em procariontes e

eucariontes (do grego pro, primeiro; eu, verdadeiro, e

karyon, noz, núcleo).16

Os procariontes surgiram

muito antes dos eucariontes. Há datação de fósseis de

procariontes de três bilhões de anos. Os eucariontes

apareceram provavelmente há um bilhão de anos.17

Os procariontes são as células que não possuem

envoltório nuclear delimitando o material genético.

Não possuem também organelas membranosas e

citoesqueleto, de modo que não ocorre o transporte de

vesículas envolvidas na entrada (endocitose) e na

saída (exocitose) de substâncias. É o caso das

bactérias e das algas azuis.18,19

As células eucariontes possuem envoltório

nuclear, formando um núcleo verdadeiro, o que

protege o DNA do movimento do citoesqueleto. O

11

GENESER. Op. cit., p. 1. 12

LAGO & CARVALHO. Op. cit., p. 8. 13

MARQUES, M. J. Células de Schwann. In: CARVALHO, H. F.;

COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar.

Barueri: Manole, 2005. p. 248. 14

DE ROBERTIS, E. M. F.; HIB, J. De Robertis Bases da Biologia

celular e molecular. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 1. 15

ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2012. pp. 24, 104. 16

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 7. 17

DE ROBERTIS & HIB. Op. cit., pp. 3-4. 18

Ibid. 19

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular.

9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. pp. 3-4, 14-15, 296.

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TATIANA MONTANARI

2

citoplasma dos eucariontes, diferente daquele dos

procariontes, é subdividido em compartimentos,

aumentando a eficiência metabólica, o que permite

que atinjam maior tamanho sem prejuízo das suas

funções. Essas células são encontradas nos

protozoários, fungos, plantas e animais.20,21

O Quadro 1.1 resume as principais características

diferenciais entre procariontes e eucariontes.

4 A MICROSCOPIA COMO MÉTODO DE ESTUDO

Os microscópios permitem a observação da célula

e da sua estrutura pelo aumento proporcionado através

das suas lentes.

4.1 Constituintes do microscópio de luz

O microscópio de luz (Figura 1.1) é composto por

uma parte mecânica, que serve de suporte;22

uma

parte óptica, que amplia o objeto visualizado, e uma

fonte de iluminação, que consiste na luz comum, o

que justifica o seu nome.

A parte mecânica inclui a base (ou pé), o braço, o

tubo (ou canhão), o revólver, a platina (ou mesa), o

chariot e os diafragmas de campo luminoso e do

condensador. O equipamento deve ser segurado pelo

braço e pela base para ser transportado. O tubo e o

revólver são os locais onde as lentes de aumento são

inseridas. A lâmina é colocada sobre a platina para

observação e é deslocada pelo chariot. Os diafragmas

regulam a passagem do feixe luminoso (Figura 1.1).23

A parte óptica é constituída por três sistemas de

lentes: o condensador, as objetivas e as oculares. O

condensador concentra a luz e a projeta como um

cone sobre o objeto em estudo. A luz passa por ele e

penetra na objetiva. A objetiva projeta uma imagem

aumentada do objeto em direção à ocular, a qual

amplia a imagem recebida e a projeta para a retina do

observador (Figura 1.1).24

As objetivas permitem diferentes aumentos do

objeto, podendo ser, por exemplo, de 5, 10, 40 e 100x.

Elas também diferem na qualidade da imagem devido

à sua abertura numérica. Na objetiva de 5x, ela é

20

ALBERTS et al. Op. cit., p. 30. 21

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Biologia celular e molecular. Op. cit.,

pp. 3-5, 14-16, 293, 296. 22

Ibid. p. 22. 23

BEÇAK, W.; PAULETE, J. Técnicas de Citologia e Histologia. Rio de

Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1976. pp. 3, 10. 24

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Biologia celular e molecular. Op. cit., p.

22.

0,12; na objetiva de 10x, 0,25; na objetiva de 40x,

0,65, e, na objetiva de 100x, 1,25.25

A abertura numérica (AN) é calculada

multiplicando o índice de refração da substância

interposta entre o objeto e a lente objetiva (n) pelo

seno do semiângulo do cone de luz captado pela

objetiva (u), ou seja, AN = n x sen u.26,27

Nas objetivas de 5 a 40x, o ar é esta substância, e

o seu índice de refração é igual a 1, mas, na objetiva

de 100x, o óleo de imersão deve ser colocado entre a

lâmina e a objetiva, e o índice de refração é 1,515, o

que aumenta a abertura numérica e consequentemente

a qualidade da imagem.28

As objetivas trazem inscrições que especificam

suas características:29,30,31

Ex: Plan 40/ 0,65

/ 0,17

sendo: Plan - objetiva planacromática (objetiva com

imagem plana e acromática);

40 - aumento de 40x;

0,65 - valor da abertura numérica;

- óptica infinita, o que permite que o

comprimento do tubo (a distância da rosca da objetiva

até a ocular) seja modificado pelo acoplamento de

acessórios, como câmara fotográfica ou câmara CCD

para monitor. Antigamente, com a óptica comum, o

tubo era de 160mm, a distância onde a imagem era

formada na ocular;

0,17 - espessura em milímetros da lamínula que

deve ser usada sobre a lâmina.

As oculares também variam no aumento que

fornecem. O aumento mais usado é o de 10x.

Atualmente as oculares são de campo amplo,

permitindo um maior campo de visão.

A ampliação do objeto é igual ao aumento da

objetiva multiplicado pelo aumento da ocular.

Entretanto não basta o aumento da imagem, deve

haver um discernimento dos detalhes, o que é dado

pelo poder de resolução do sistema óptico.32,33

25

CARL ZEISS MICROSCOPY. Axiostar transmitted-light microscope -

operating manual. Göttingen, 1999. n. B 40-031. p. 1.7. 26

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 16. 27

MOELLRING, F. K. La microscopía desde el principio. Oberkochen:

Carl Zeiss. p. 39. 28

Ibid. 29

CARL ZEISS MICROSCOPY. Op. cit., p. 1.6. 30

MELLO, M. L. S.; VIDAL, B. de C. Práticas de Biologia celular. São

Paulo: Edgar Blücher; Campinas: Fundação de Desenvolvimento da UNICAMP, 1980. pp. 2-3. 31

MOELLRING. Op. cit., p. 28. 32

BEÇAK & PAULETE. Op. cit., p. 7. 33

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas.

12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 4.

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HISTOLOGIA

3

Quadro 1.1 - Quadro comparativo entre procariontes e eucariontes:34,35

Procariontes Eucariontes

Envoltório extracelular: cápsula e parede bacteriana

(proteínas e glicosaminoglicanos)

Envoltório extracelular: glicocálix (glicoproteínas,

glicolipídios e proteoglicanas) ou parede celular (celulose e

pectina)

Abundância de moléculas de lipopolissacarídeo na

membrana plasmática, que conferem proteção como a

resistência às enzimas hidrolíticas e aos sais biliares das

bactérias entéricas

Membrana plasmática constituída por fosfolipídios,

colesterol, glicolipídios, glicoproteínas e proteoglicanas

Ausência de organelas membranosas Presença de organelas membranosas

Moléculas da cadeia respiratória presentes na membrana

interna da membrana plasmática

Moléculas da cadeia respiratória situadas na membrana

interna das mitocôndrias

Nucleoide: ausência de envoltório nuclear, DNA circular,

não associado a proteínas histônicas e que não se condensa

em cromossomos

Núcleo: presença de envoltório nuclear, moléculas de DNA

lineares, associadas a histonas e que se condensam em

cromossomos no momento da divisão

Presença de filamentos circulares de DNA

extracromossômicos (plasmídeos)

Não há plasmídeos

Ribossomos livres; coeficiente de sedimentação do

ribossomo: 70S (subunidades ribossômicas: 50S+30S)

Ribossomos livres ou associados ao retículo

endoplasmático; coeficiente de sedimentação do

ribossomo: 80S (subunidades ribossômicas: 60S+40S)

Não há separação entre os processos de duplicação de

DNA (replicação), síntese de RNA a partir do DNA

(transcrição) e síntese de proteínas a partir do RNA

(tradução)

Há separação entre os processos de replicação e

transcrição, que ocorrem no núcleo, e a tradução, que

acontece no citoplasma

Ausência de citoesqueleto Presença de citoesqueleto

Não realizam endocitose e exocitose Realizam endocitose e exocitose

Frequentemente partem da superfície prolongamentos

filamentosos: os flagelos e as fímbrias. Os flagelos são

estruturas rígidas, constituídas por três espirais da

polimerização da proteína flagelina e com um gancho na

ponta, que servem para a movimentação da bactéria ao

encontro de nutrientes ou afastando-se de substâncias

tóxicas. As fímbrias são mais curtas e mais finas que os

flagelos e promovem a aderência das bactérias às células

hospedeiras ou a transferência de DNA entre duas bactérias

durante a conjugação

Não há fímbrias e, naquelas células com flagelo, a sua

constituição envolve a polimerização da proteína tubulina

Fissão Mitose ou meiose

34

DE ROBERTIS & HIB. Op. cit., pp. 3-5. 35

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Biologia celular e molecular. Op. cit., pp. 3-5, 16, 293-297, 300, 304, 306.

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TATIANA MONTANARI

4

Figura 1.1 - Componentes do microscópio de luz: 1 - oculares; 2 - tubo (ou canhão); 3 - braço; 4 - parafuso que fixa o tubo; 5 -

botão que regula a intensidade luminosa; 6 - interruptor; 7 - parafuso micrométrico; 8 - parafuso macrométrico; 9 - parafuso do chariot

(movimento lateral); 10 - parafuso do chariot (movimento anteroposterior); 11 - diafragma do campo luminoso; 12 - suporte da lente

condensadora; 13 - alavanca do diafragma do condensador; 14 - lente condensadora (ou condensador); 15 - parafusos de centralização; 16

- platina (ou mesa); 17 - objetivas, e 18 - revólver. Fonte: Carl Zeiss Microscopy. Axiostar transmitted-light microscope -

operating manual. Göttingen, 1999. n. B 40-031. p. 1.2. Cortesia Carl Zeiss do Brasil Ltda.

Resolução é a menor distância para que dois

pontos sejam visualizados separadamente. O limite de

resolução (d) é calculado dividindo o comprimento de

onda (λ) da luz empregada pela abertura numérica da

lente condensadora (ANcond) e da objetiva (ANobj),

isto é, d = λ / ANcond + Anobj.36

Embora a iluminação desse tipo de microscópio

seja a luz branca, para o cálculo do limite de

resolução, usa-se a faixa do verde-amarelo (0,55m)

para a qual o olho é mais sensível. Considerando 0,9 e

1,25 a abertura numérica da condensadora e da

objetiva de 100x, respectivamente, o limite de

resolução é, portanto, 0,25m (1m = 1mm/1000, isto

é, um micrômetro corresponde a um milésimo de

milímetro).37,38,39

36

MOELLRING. Op. cit., p. 40. 37

BEÇAK & PAULETE. Op. cit., p. 8. 38

MOELLRING. Op. cit., p. 40.

O limite de resolução do olho humano é de 0,2mm.40

4.2 Preparo do material

Para a formação da imagem ao microscópio de

luz, o material biológico deve ser fino o suficiente

para a luz atravessá-lo.41

Podem ser realizados

esfregaços de sangue e sêmen, por exemplo. A gota

do material é espalhada na lâmina com o auxílio de

uma outra lâmina posicionada em ângulo de 45.

Células obtidas por raspagem da mucosa oral ou do

39

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 2, 13, 15. 40

Ibid. p. 15. 41

WEISS, L. A Célula. In: WEISS, L.; GREEP, R. O. Histologia. 4.ed.

Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. pp. 3, 11.

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HISTOLOGIA

5

colo uterino no exame de Papanicolaou são

espalhadas na lâmina com a própria espátula da

coleta. Órgãos ou parte destes, no entanto, devem ser

cortados em fatias bem finas.42,43

Para a obtenção de cortes histológicos, o primeiro

passo é fixar o material coletado para evitar a autólise

e preservar a morfologia e a composição química do

tecido. Fixadores bastante usados são o formol (ou

paraformaldeído), o glutaraldeído e misturas

fixadoras, como o líquido de Bouin, que é preparado

com formol, ácido acético e ácido pícrico, onde cada

substância tem uma qualidade e corrige o defeito da

outra.44

O material biológico deve ser endurecido para ser

cortado, o que é conseguido incluindo-o em uma

substância que se solidifica depois de penetrá-lo,

como, por exemplo, a parafina. Para isso o órgão ou

um pedaço deste, após a fixação, deve ser desidratado

em uma série alcoólica de concentração crescente e

diafanizado em xilol. Na estufa, a 50-56oC, ele é

impregnado por parafina líquida. Depois é colocado

em um molde (uma caixinha de papel, por exemplo),

com mais parafina líquida. Como essa última etapa é

feita fora da estufa, à temperatura ambiente, a parafina

solidifica-se, formando um bloco.45

Esse bloco é cortado em um aparelho especial, o

micrótomo, em fatias de 5 a 8m de espessura.46

Os

cortes são dispostos em lâminas de vidro.

Como os tecidos são geralmente incolores, os

histologistas inventaram soluções corantes que têm

afinidades diferentes para certas organelas e

estruturas, possibilitando a sua localização.47

Para o

material ser corado, a parafina deve ser dissolvida, o

que é obtido colocando a lâmina em xilol, e o tecido

precisa ser hidratado, já que esses corantes são

solúveis em água. A hidratação é conseguida passando

a lâmina em uma série alcoólica decrescente e em

água. A lâmina é então mergulhada nos corantes.48

Uma técnica de coloração muito usada é a

hematoxilina e eosina (HE). A hematoxilina é um

corante azul-violeta, rico em cargas positivas (corante

catiônico), e a eosina é um corante rosa, rico em

cargas negativas (corante aniônico). As cargas

42

BEÇAK & PAULETE. Op. cit., pp. 98-99. 43

TABOGA, S. R.; VILAMAIOR, P. S. L. Métodos de estudo da célula.

In: CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed.

Barueri: Manole, 2013. pp. 55-57. 44

BEHMER, O. A; TOLOSA, E. M. C. de; FREITAS NETO, A. G. de.

Manual de Técnicas para Histologia normal e patológica. São Paulo:

EDART, Ed. da Universidade de São Paulo, 1976. pp. 27-32. 45

Ibid. p. 42. 46

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 13. 47

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Biologia celular e molecular. Op. cit., p.

22. 48

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 2.

positivas da hematoxilina ligam-se a cargas negativas

do tecido, como os grupos fosfato (-PO42-

) dos ácidos

nucleicos, o que faz com que o núcleo da célula fique

corado em azul, violeta ou roxo. As cargas negativas

da eosina ligam-se a cargas positivas do tecido, como

os radicais amino (-NH3+) das proteínas básicas do

citoplasma, tornando-o rosa ou avermelhado.49,50,51

A despeito da definição atual em química para

base e ácido (base é a substância capaz de aceitar

prótons, e ácido é aquela que doa prótons),

tradicionalmente os corantes catiônicos são referidos

como básicos, e os aniônicos, como ácidos. Nesse

caso, corante básico é aquele capaz de formar uma

ligação eletrostática com grupos carregados

negativamente no tecido, enquanto o corante ácido

forma uma ligação eletrostática com grupos positivos

do tecido.52

As regiões do tecido coradas pela hematoxilina

são ditas basófilas pela afinidade ao corante básico,

enquanto aquelas coradas pela eosina são ditas

acidófilas ou eosinófilas.53

Além da hematoxilina, são corantes básicos (ou

seja, catiônicos) comumente usados o azul de

metileno, o azul de toluidina, o azul de Alcian (Alcian

blue) e a fucsina básica. Outros exemplos de corantes

ácidos (aniônicos) são o xylidine ponceau, o sirius

red, o fast green, o orange G, a floxina, o azul de

anilina e o verde luz.54,55

As moléculas de alguns corantes básicos, como o

azul de toluidina, polimerizam-se umas com as outras

quando expostas a altas concentrações de poliânions

no tecido. A propriedade de absorção desses

agregados difere daquela da molécula individual,

modificando a cor exibida. Assim, no caso do azul de

toluidina, ao invés de azul, a estrutura cora-se em

púrpura. Essa alteração de absorvência é denominada

metacromasia.56,57

Na citoquímica ou histoquímica, técnicas de

coloração evidenciam componentes específicos da

célula. A reação do ácido periódico - Schiff (PAS de

periodic acid - Schiff) é utilizada para corar

carboidratos, como o glicogênio e as glicoproteínas.

49

GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 2. 50

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 14-15. 51

PADYKULA, H. A. Histoquímica e citoquímica. In: WEISS, L.;

GREEP, R. O. Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981.

pp. 78-79. 52

GENESER. Op. cit., p. 31. 53

OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio

de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 4. 54

PADYKULA. Op. cit., pp. 77-78. 55

TABOGA, S. R.; VILAMAIOR, P. S. L. Métodos de estudo da célula.

Op. cit., p. 61. 56

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 2. 57

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 6.

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TATIANA MONTANARI

6

Essas substâncias são coradas de vermelho ou

magenta, devido ao corante fucsina básica utilizado no

preparo do reativo de Shiff. O método de Feulgen,

específico para a desoxirribose do DNA, cora de

vermelho ou magenta o núcleo (é o mesmo corante do

PAS). O azul de Alcian cora glicosaminoglicanos

(açúcares ricos em grupos sulfato e carboxila,

portanto, com cargas negativas). O Sudan é utilizado

para demonstrar lipídios na célula; os cortes são feitos

sob congelamento e não envolvem o uso de solventes

orgânicos, como o xilol, para não dissolver a

gordura.58,59

Os corantes ácidos podem ser usados em

combinações para colorir de forma seletiva diferentes

constituintes. Por exemplo, na técnica de Mallory, o

azul de anilina cora o colágeno; a fucsina ácida, o

núcleo e o citoplasma, e o orange G, as hemácias.60

Para uma maior durabilidade do preparado, ele é

desidratado em uma série alcoólica crescente e em

xilol, e uma lamínula é colada sobre a lâmina com um

meio de montagem, como o bálsamo-do-Canadá

sintético. Agora o material está pronto para ser

observado ao microscópio de luz.

4.3 Como usar o microscópio de luz

– retirar a capa do microscópio e guardá-la; verificar

se a objetiva de menor aumento (5x) está no caminho

óptico, isto é, na direção do orifício da platina

(começar sempre com essa objetiva); limpar as lentes

com algodão; examinar inicialmente o corte

histológico a olho nu; colocar a lâmina com a

lamínula voltada para cima sobre a platina, encaixada

no chariot (carro em francês); ligar a fonte luminosa e

regular a intensidade da iluminação;

– deslocando o chariot com os seus parafusos, fazer

coincidir o material biológico com o centro do orifício

da platina; focalizar o material com o parafuso

macrométrico e depois com o parafuso micrométrico;

ajustar a distância interpupilar, aumentando ou

diminuindo a distância entre as oculares; ajustar a

dioptria, regulando o foco com o parafuso

micrométrico olhando somente pela ocular fixa,

depois, com esse olho fechado e o outro aberto,

posicionado na ocular regulável, ajustar o foco

girando o anel presente no corpo dessa ocular;

O aluno que usa óculos não tem necessidade de

58

GENESER. Op. cit., pp. 32-34. 59

TABOGA & VILAMAIOR. Métodos de estudo da célula. Op. cit., pp.

62, 64-65. 60

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 6.

mantê-los se as lentes são somente esféricas, porque o

foco do aparelho compensa o defeito dos olhos.

Entretanto, no caso de lentes cilíndricas, os óculos

devem ser utilizados. Para confirmar se as lentes são

desse tipo, observe um objeto segurando os óculos com

os braços estendidos, ao girar os óculos do plano

horizontal para vertical, a largura do objeto aumentará

em detrimento da sua altura.61

– para observar em aumentos maiores, trocar a

objetiva de 5x para a de 10x girando o revólver e

ajustar o foco com o micrométrico; nesse aumento,

regular a trajetória dos raios luminosos para se obter

uma excelente imagem. Essa técnica foi proposta por

August Köhler, em 1893 e é, por isso, referida como

iluminação de Köhler.62,63

A iluminação de Köhler consiste em fechar o

diafragma de campo luminoso, o que resulta em um

ponto de luz; regular a altura do condensador, mexendo o

parafuso do condensador até o ponto de luz ser visível

com as bordas nítidas (a posição correta do condensador

é um pouco abaixo da lâmina); centralizá-lo com os

parafusos de centralização do condensador; abrir o

diafragma de campo até as suas bordas coincidirem com

o limite do campo do microscópio e centralizar

novamente, se necessário; abrir o diafragma de campo

luminoso o suficiente para as bordas não serem mais

vistas, não deve ser aberto em demasia para evitar um

excesso de luz no tubo, o que prejudicaria a qualidade da

imagem; retirar a ocular fixa, olhar pelo tubo e regular a

abertura do diafragma do condensador com a sua

alavanca de modo a ter 2/3 do campo iluminados.64,65

Para evitar a retirada da ocular, pode-se posicionar a

alavanca do diafragma do condensador conforme a

abertura numérica especificada na objetiva. Assim, para

a objetiva de 10x, cuja abertura numérica é 0,25, deve-se

abrir o diafragma do condensador em ¼.

– se a luz estiver muito fraca ou forte, ajustá-la no

botão que regula a intensidade de luz. Pouca luz

confere uma coloração amarelada à imagem, e luz em

excesso pode prejudicar a visão;

– se um aumento de 40x for desejado, girar o revólver

posicionando essa objetiva no caminho óptico e

ajustar o foco com o micrométrico; abrir o diafragma

do condensador segundo a inscrição na objetiva

(0,65);

61

MOELLRING. Op. cit., pp. 13-14. 62

KÖHLER, A. Zeitschrift für wissenschaftliche Mikroskopie [Revista de

microscopia científica], v. 10, pp. 443-440, 1893. 63

MOELLRING. Op. cit., p. 45. 64

CARL ZEISS MICROSCOPY. Op. cit., p. 3.4. 65

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 12.

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HISTOLOGIA

7

– se um aumento de 100x for necessário, girar o

revólver de maneira que a objetiva de 40x saia do

caminho óptico, mas a de 100x não entre, pingar uma

gota de óleo de imersão sobre o preparado e colocar a

objetiva de 100x no caminho óptico. Ajustar o foco

com o micrométrico. Abrir totalmente o diafragma do

condensador (a abertura numérica dessa objetiva é de

1,25). Ao terminar o uso da objetiva de imersão, girar

o revólver trocando-a pela de 5x (nunca pela de 40x

que encostará no óleo). Limpar o óleo da objetiva e da

lâmina com algodão umedecido em álcool;

– se a objetiva de 100x não for usada, após a

observação com a objetiva de 40x, retornar a colocar a

objetiva de 10x e posteriormente a de 5x no caminho

óptico para retirar a lâmina; ajustar o diafragma do

condensador para tal abertura;

– guardar a lâmina na caixa, no devido lugar; diminuir

a intensidade luminosa e desligar o interruptor; cobrir

o microscópio com a sua capa.

4.4 Outros tipos de microscopia

O microscópio de luz pode conter recursos que

permitem uma observação diferenciada.

A microscopia de polarização emprega um feixe

de luz polarizada que permite estudar certos aspectos

da organização molecular do tecido. A luz torna-se

polarizada através do filtro polarizador posicionado

logo abaixo do condensador. O filtro analisador

colocado entre as objetivas e as oculares verifica o

efeito das estruturas do tecido sobre o feixe

polarizado. O plano de polarização do analisador é

perpendicular à direção de vibração da luz polarizada

e a absorve, tendo-se um campo escuro. Se, ao

atravessar um objeto, a luz polarizada é desviada, de

maneira que o plano de luz não fique mais

perpendicular ao do analisador, uma imagem brilhante

do objeto se forma. Esse é o caso de estruturas

cristalinas ou constituídas por moléculas alongadas e

paralelas, que dividem o feixe de luz em dois. Um

feixe é absorvido pelo analisador, mas o outro,

perpendicular ao polarizador, atravessa o analisador e

formará a imagem. Essas estruturas são ditas

anisotrópicas ou birrefringentes, pois apresentam dois

índices de refração diferentes. As estruturas

isotrópicas não são vistas, pois não desviam o plano

de polarização da luz, e o feixe que passa pelo

polarizador chega inalterado ao analisador, onde é

retido.66,67,68

66

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Biologia celular e molecular. Op. cit.,

pp. 23-24. 67

MELLO & VIDAL. Op. cit., p. 7.

A microscopia de contraste de fase permite

observar células vivas, sem coloração. Quanto maior a

densidade de um corpo, maior o índice de refração e

menor a velocidade da luz que o atravessa. Como as

estruturas celulares têm índices diferentes, dão origem

a diferenças de fase entre as ondas luminosas

emergentes. Dispositivos colocados na lente

condensadora e nas objetivas transformam essas

diferenças de fase em diferenças de amplitude,

resultando uma variação na intensidade luminosa

percebida pelo contraste claro e escuro.69,70

Na microscopia de fluorescência, a luz

ultravioleta é usada como radiação excitadora. Por ter

menor comprimento de onda (cerca de 0,2µm),

possibilita um maior poder de resolução: 0,1µm.71

Ela

permite localizar constituintes celulares fluorescentes

ou combinados com corantes fluorescentes

diretamente ou através de anticorpos

(imunocitoquímica).72

Na microscopia confocal, um feixe de laser varre

todos os pontos do plano focal do material biológico.

A luz emitida pela preparação atravessa um pequeno

orifício e forma uma imagem bidimensional. A série

de imagens de diferentes planos focais é utilizada para

reconstruir uma imagem tridimensional do objeto em

um computador.73

A resolução é de 0,2 a 0,5µm.74

O microscópio eletrônico de transmissão (MET) é

um equipamento diferente do microscópio de luz. O

aquecimento de um filamento de tungstênio (cátodo)

emite elétrons, os quais são acelerados devido a uma

diferença de potencial de 50 a 100kV entre o cátodo e

o ânodo, que é uma placa metálica perfurada, com

carga positiva, por onde passam os elétrons. Lentes

(bobinas) eletromagnéticas concentram o feixe. A

lente condensadora focaliza o feixe no plano do

objeto; a lente objetiva forma a imagem do objeto, e

as lentes projetoras ampliam a imagem, projetando-a

sobre a tela fluorescente (o ecran), o filme fotográfico

ou a câmara para captura.75

Pelo menor comprimento de onda (0,1nm), o feixe

de elétrons permite maior poder de resolução que a

luz. O limite de resolução do microscópio eletrônico é

de 1nm. Um nanômetro é um milésimo de micrômetro

(1nm = 1m/1000) ou um milionésimo de

68

TABOGA, S. R.; VILAMAIOR, P. S. L. Microscopias. In:

CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. p. 47. 69

BEÇAK & PAULETE. Op. cit., pp. 11-13. 70

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Biologia celular e molecular. Op. cit., p.

24. 71

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 19. 72

TABOGA & VILAMAIOR. Microscopias. Op. cit., p. 49. 73

GENESER. Op. cit., p. 19. 74

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 19. 75

GENESER. Op. cit., p. 20.

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TATIANA MONTANARI

8

milímetro.76

Consegue-se aumentos superiores a

500.000 vezes.77

Devido ao baixo poder de penetração do feixe de

elétrons, os cortes devem ser ultrafinos, com 40 a

80nm. Para tanto o material deve ser incluído em

resinas muito mais duras do que a parafina.

Antigamente usava-se para esse fim um material

plástico, o metacrilato, mas atualmente são usadas

resinas epóxi, como Epon, Araldite ou Spur. O bloco é

cortado com navalha de vidro ou diamante em um

ultramicrótomo.78,79

Os elétrons são desviados por porções do objeto

que contêm átomos de elevado peso molecular. Essas

regiões ficam escuras, são eletrodensas. As partes da

amostra através das quais os elétrons passam

aparecem claras, são eletrolúcidas. Para aumentar o

contraste impregna-se os cortes de tecido com metais

pesados, como o ósmio, o chumbo e o urânio.80

Cortes semifinos (0,5 a 2µm) podem ser efetuados

para serem observados ao microscópio de luz. Os

cortes são dispostos em lâminas de vidro e corados

geralmente com azul de metileno ou azul de toluidina,

corantes tiazínicos que exibem metacromasia. Assim,

os componentes do tecido são corados em azul,

quando ortocromáticos, e em rosa, quando

metacromáticos.81,82

As estruturas celulares são melhor visualizadas nos

cortes semifinos do que naqueles de parafina. Enquanto,

nos cortes de parafina, com 3 a 8µm de espessura, a

resolução é raramente inferior a 0,6µm, nos cortes de

resina acrílica ou epóxi, com 0,5 a 2µm de espessura, ela

se aproxima ao valor teórico do microscópio de luz, que

é da ordem de 0,2µm.83

No microscópio eletrônico de varredura

(scanning electron microscope), os elétrons não

atravessam o objeto. A preparação é recoberta por

uma camada delgada de metal pesado (por exemplo,

ouro ou paládio) e bombardeada com feixe de elétrons

muito estreitos (10nm de diâmetro), que varrem o

material linearmente. Os elétrons refletidos e emitidos

são captados por detectores que geram uma imagem

tridimensional da superfície da amostra em um

monitor. O poder de resolução é de apenas 10nm, mas 76

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 2, 15, 20. 77

GENESER. Op. cit., p. 20. 78

BEÇAK & PAULETE. Op. cit., p. 20. 79

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 28. 80

Ibid. 81

LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. p. 7. 82

PADYKULA. Op. cit., pp. 79, 81. 83

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 5, 7-8.

a nitidez da profundidade da imagem é de até 10 vezes

maior àquela obtida com o microscópio de luz.84,85

Na criofratura (freeze-fracture), o tecido

congelado é fraturado com o golpe de uma navalha e

uma réplica da superfície é realizada pela evaporação

de platina. O tecido é digerido por uma substância que

não ataca a réplica, e ela é observada ao microscópio

eletrônico de transmissão. Como a evaporação é

oblíqua, nas estruturas salientes, a deposição é maior

no lado proximal, ficando este mais escuro, enquanto

o lado distal fica mais claro e, nas depressões, ocorre

o inverso. Isso ressalta o relevo da superfície. O grão

de platina permite uma resolução inferior a 3nm.86

5 MORFOLOGIA CELULAR

O tamanho e a forma da célula estão relacionados

à sua função e são determinados por fatores

extrínsecos e intrínsecos, como, por exemplo,

pressões externas, organização do citoesqueleto,

quantidade de citoplasma e de organelas e acúmulo de

produtos de reserva ou secreção.87

As células epiteliais são geralmente poliédricas,

ou seja, com várias faces.88

Quando a largura e o

comprimento da célula são maiores que a sua altura, a

célula é dita pavimentosa. Quando a altura é igual à

largura e ao comprimento, é denominada cúbica.

Quando a altura da célula é maior que a sua largura e

o seu comprimento, a célula é colunar (cilíndrica ou

prismática). As células pavimentosas facilitam a

passagem de substâncias como ocorre com as células

dos vasos sanguíneos (endotélio). As células cúbicas e

colunares têm a altura aumentada pela maior presença

de organelas para exercer atividade de secreção,

absorção ou transporte de íons (Figuras 1.2 e 1.3).89

O núcleo geralmente reflete a morfologia da

célula, pois seu maior eixo é paralelo ao eixo

longitudinal da célula. Como frequentemente não se

veem os limites das células (a membrana plasmática é

muito fina e não é visível ao microscópio de luz),

pode-se ter uma ideia da forma da célula pelo núcleo.

90,91

84

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 7, 10. 85

GENESER. Op. cit., p. 21. 86

WEISS. Op. cit., p. 12. 87

HADLER, W. A.; SILVEIRA, S. R. Histofisiologia dos epitélios:

correlação entre a morfologia e a função dos epitélios. Campinas: Ed. da

UNICAMP, 1993. pp. 10, 13, 15. 88

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., p. 66. 89

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 31-34. 90

GENESER. Op. cit., p. 43. 91

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., p. 67.

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HISTOLOGIA

9

Figura 1.2 - Imagem obtida ao microscópio de luz de

células pavimentosas ( ) de um vaso sanguíneo e de

células cúbicas ( ) de um túbulo renal. HE. Objetiva de

100x (1.373x).

Isso não é válido para células que retêm seus

produtos de secreção ou de reserva, porque o núcleo

fica comprimido por essas substâncias.92

É o caso da

célula caliciforme do intestino, que sintetiza e

armazena glicoproteínas (Figura 1.3).

Figura 1.3 - Fotomicrografia de células colunares e de

células caliciformes ( ) no intestino. M - microvilos. HE.

Objetiva de 100x (1.373x).

No tecido conjuntivo, há uma grande variabilidade

de células e consequentemente formas celulares.

Ocorre inclusive mudanças na morfologia em um tipo

celular conforme o estado funcional e o ambiente. Por

exemplo, as células adiposas, inicialmente fusiformes,

adquirem uma forma esférica com o armazenamento

de lipídios (Figura 1.4) e, no tecido adiposo, por causa

da compactação, podem ser poliédricas.93

No tecido nervoso, é muito comum células

irregulares, com prolongamentos que permitem o

contato com outras células (Figura 1.5).94

92

HADLER & SILVEIRA. Op. cit., p. 10. 93

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 118, 132. 94

GENESER. Op. cit., p. 2

Figura 1.4 - Célula adiposa. HE. Objetiva de 100x.

Figura 1.5 - Astrócito (forma estrelada) fazendo contato

com os prolongamentos de um neurônio (piramidal). É

apontado um oligodendrócito próximo ao prolongamento

do neurônio. Cérebro. Método de Golgi. Objetiva de 100x

(1.373x).

As células musculares têm uma maior constância

na morfologia, sendo adaptadas à atividade contrátil.

São alongadas: fusiformes ou cilíndricas e, quando se

contraem, promovem o encurtamento do tecido

(Figura 1.6).95

95

Ibid.

T. Montanari

T. Montanari

T. Montanari

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

10

Figura 1.6 - Corte longitudinal do músculo estriado

cardíaco. HE. Objetiva de 40x (550x).

6 COMPONENTES CELULARES

6.1 Membrana celular e citoesqueleto

6.1.1 Constituição da membrana celular

Delimitando a célula, há a membrana celular (ou

plasmática), que mede 9 a 10nm de espessura (nas

organelas, a membrana tem cerca de 7nm) e, portanto,

não é visível ao microscópio de luz. Ela se apresenta

ao microscópio eletrônico como uma estrutura

trilaminar: duas linhas escuras separadas por uma

linha central clara, o que é designada unidade de

membrana (Figura 1.7).96

Figura 1.7 - Imagem obtida ao microscópio eletrônico de

transmissão de células germinativas vizinhas, mostrando a

membrana plasmática com sua aparência trilaminar,

denominada unidade de membrana ( ). 15.000x.

A membrana celular é uma bicamada lipídica,

com proteínas, glicoproteínas, glicolipídos e

proteoglicanas inseridas. Esse arranjo recebeu o nome

de modelo mosaico fluido (Figura 1.8).97,98

96

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 101-103. 97

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 584, 592-593, 598, 612-613.

Os fosfolipídios são o principal componente da

bicamada lipídica. Eles são anfipáticos, ou seja, exibem

uma porção polar (hidrofílica), a cabeça, e uma porção

apolar (hidrofóbica), a cauda, que corresponde a duas

cadeias de ácidos graxos, sendo uma delas geralmente

insaturada, o que provoca uma pequena dobra na cauda

(Figura 1.9). Em meio aquoso, os fosfolipídios

organizam-se em duas camadas com a porção

hidrofóbica voltada para o interior e a porção hidrofílica

para o exterior (Figura 1.8). Cadeias de ácido graxos

mais curtas e cadeias insaturadas aumentam a fluidez da

membrana.99

O colesterol é responsável pela estabilidade

mecânica da bicamada, devido à interação do seu anel

esteroide com as regiões hidrocarbonadas da cauda dos

outros lipídios. Essa interação diminui a permeabilidade

da bicamada a pequenas moléculas solúveis em água.100

As proteínas estão arranjadas assimetricamente na

membrana. Podem ser classificadas em: integrais,

periféricas, ancoradas à membrana e semi-inseridas. As

proteínas integrais (ou transmembranas) são anfipáticas

e estão inseridas na bicamada lipídica, de modo que para

sua extração é necessário dissolver a membrana com

solventes orgânicos. As proteínas periféricas estão

ligadas não covalentemente a outras proteínas ou à

superfície lipídica e são extraídas por métodos que

preservam a integridade da membrana, como variação de

pH, eliminação de Ca2+

e tratamento com EDTA. As

proteínas ancoradas à membrana são ligadas

covalentemente aos fosfolipídios (processos de acilação

ou prenilação na face citosólica e âncora de

glicofosfatidilinositol na face não citosólica), exigindo

métodos drásticos para sua extração. As proteínas semi-

inseridas estão posicionadas na parte hidrofóbica da

membrana e na parte hidrofílica do citosol (Figura 1.8). 101,102,103

As proteínas de membrana podem servir como

proteínas estruturais, enzimas, ligantes, canais,

carreadores e receptores. As proteínas ligantes ancoram o

citoesqueleto à matriz extracelular. Os canais e os

carreadores permitem a passagem de substâncias. Os

receptores geralmente correspondem à porção

oligossacarídica das glicoproteínas e dos glicolipídios e

ligam-se a hormônios e a outras moléculas que

influenciam o funcionamento celular.104

A porção glicídica das glicoproteínas, dos

glicolipídios e das proteoglicanas da membrana

98

SANTOS JÚNIOR, A. R. dos; VICENTE, C. P. Biomembranas. In:

CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. p. 96. 99

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 584-585, 588. 100

Ibid. p. 588. 101

Ibid. pp. 594-595. 102

GENESER. Op. cit., pp. 45-46. 103 SANTOS JÚNIOR & VICENTE. Op. cit., pp. 102-104. 104

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 31-32.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

11

plasmática constitui o glicocálix (Figuras 1.8 e

1.10).105

Figura 1.8 - Ilustração da membrana plasmática e do

glicocálix. A bicamada lipídica está em vermelho; as

proteínas, em azul, e as cadeias glicídicas, em preto.

Baseado em Holtzman, E.; Novikoff, A. B. Células e

estrutura celular. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1985. p.

55.

Figura 1.9 - Representação do fosfolipídio. Baseado em

Alberts, B.; Johnson, A.; Lewis, J.; Raff, M.; Roberts, K.;

Walter, P. Molecular Biology of the cell. 4.ed. New York:

Garland Science, 2002. p. 585.

As proteoglicanas consistem em um eixo central

proteico com glicosaminoglicanos covalentemente

ligados, como as cerdas de uma escova. Os

glicosaminoglicanos são açúcares não ramificados,

compostos por duas unidades que se repetem: um

aminoaçúcar (N-acetilglicosamina ou N-

acetilgalactosamina), geralmente sulfatado (-OSO3-), e

um ácido urônico (glicurônico ou idurônico), que

105

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 612-613.

apresenta um grupo carboxila (-COO-).

106

Figura 1.10 - Eletromicrografia da superfície de uma

célula, onde o glicocálix (G) é visível. M – microvilos.

13.500x. Cortesia de Maria Cristina Faccioni-Heuser e

Matilde Achaval Elena, UFRGS.

O glicocálix tem 10 a 50nm de espessura e carga

negativa por causa dos grupos sulfato e carboxila das

cadeias glicídicas. Devido a essa carga elétrica, ele

atrai cátions, como os íons Na+, aumentando a sua

disponibilidade para o uso da célula e criando um

ambiente hidratado pela atração de água.

Glicoproteínas e proteoglicanas secretadas são

adsorvidas pelo glicocálix e contribuem para a sua

constituição.107, 108,109,110

Todas as células eucariontes têm glicocálix. Ele

protege a célula de danos químicos e físicos e permite

o reconhecimento e a adesão das células. Os

oligossacarídeos do glicocálix podem atuar como

antígenos, como o sistema ABO de grupos sanguíneos

nas hemácias. Em algumas células, como as do

epitélio intestinal, as glicoproteínas do glicocálix têm

propriedades enzimáticas.111,112,113,114

6.1.2 Transporte celular

Moléculas pequenas e apolares, como, por

exemplo, O2, CO2, nitrogênio (N2), benzeno e óxido

nítrico (NO), e moléculas pequenas, polares e não

106

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 71, 73. 107

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 612-613. 108

DE ROBERTIS & HIB. Op. cit., pp. 50-51. 109

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 16. 110 SANTOS JÚNIOR & VICENTE. Op. cit., pp. 106, 109. 111

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 612-613. 112

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 16, 230, 406. 113

GENESER. Op. cit., pp. 46-47. 114 SANTOS JÚNIOR & VICENTE. Op. cit., pp. 106-107, 109.

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TATIANA MONTANARI

12

carregadas, como H2O, ureia, glicerol e etanol,

atravessam rapidamente a membrana por difusão

simples, deslizando entre as moléculas de lipídios a

favor do gradiente de concentração.115,116,117

Moléculas carregadas, como íons, aminoácidos e

nucleotídeos, e moléculas não carregadas maiores,

como a glicose e a sacarose, precisam da

intermediação de proteínas da membrana para o

transporte. Quando esse transporte é a favor do

gradiente eletroquímico é denominado difusão

facilitada.118

Como a difusão simples e a difusão facilitada não

envolvem o dispêndio de energia, são consideradas

situações de transporte passivo.119

O transporte de substâncias pelas proteínas

transportadoras contra um gradiente eletroquímico

envolve a quebra de ATP e é denominado transporte

ativo. É o caso do transporte de Na+ e K

+ pela Na

+-K

+

ATPase (ou bomba de Na+ e K

+).

120

As proteínas transportadoras podem realizar os

seguintes tipos de transporte: uniporte, quando um

único soluto é transportado de um lado da membrana

para outro; simporte, quando o transporte de um

soluto depende do transporte de um segundo na

mesma direção, e antiporte, quando o transporte de

um soluto leva ao transporte de um outro na direção

oposta.121

A glicose entra na célula do intestino por carreadores

localizados na superfície apical em um sistema de

transporte simporte com Na+. Ela passa para o fluido

extracelular, de onde vai para o sangue, por carreadores

nas superfícies laterais e basal que realizam difusão

facilitada de modo uniporte. O gradiente de Na+ que

dirige o transporte da glicose é mantido pela Na+-K

+

ATPase na membrana plasmática basolateral. Essa

proteína mantém a concentração interna de Na+ baixa.

Para isso, faz um transporte antiporte: há a saída de três

Na+ da célula e a entrada de dois K

+.122

A entrada de substâncias na célula com a

invaginação da membrana plasmática em vesículas é

denominada endocitose, enquanto a saída de

115

ALBERTS et al. Op. cit., p. 616. 116

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 20. 117

GENESER. Op. cit., p. 47. 118

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 617-618. 119

Ibid. 120

Ibid. pp. 618, 624. 121

Ibid. pp. 620-621. 122

Ibid. pp. 621, 623-624.

substâncias pela fusão de vesículas à membrana é a

exocitose.123

A pinocitose (do grego, pínein, beber)124

ou

endocitose de fase fluida é a ingestão de fluido e

solutos através de vesículas de superfície lisa, com 50

a 80nm de diâmetro, formadas a partir da invaginação

da membrana. A endocitose mediada por receptor é

uma captura seletiva de macromoléculas, que envolve

vesículas revestidas com receptores. As cavéolas, que

são revestidas pela proteína caveolina, possuem 50 a

100nm, e as vesículas revestidas por clatrina, cerca de

200nm. Muitas cavéolas em células endoteliais

(revestimento dos vasos sanguíneos) estão envolvidas

na transcitose, processo pelo qual as vesículas

derivadas de uma superfície atravessam a célula e

liberam o seu conteúdo na outra superfície. Há ainda a

macropinocitose, onde uma projeção da membrana

circunda e internaliza o material (Figuras 1.11 e

1.12).125,126

Figura 1.11 - Nesse capilar, observam-se cavéolas ( ) e

macropinocitose ( ). H – hemácia. 19.800x.

123

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 34. 124

DE ROBERTIS. Op. cit., p. 138. 125

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 13-17. 126

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 23.

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HISTOLOGIA

13

Figura 1.12 - Eletromicrografia em aumento maior,

mostrando a depressão da membrana plasmática para a

pinocitose (pi). G – complexo de Golgi. Cortesia de Maria

Cristina Faccioni-Heuser, UFRGS.

A fagocitose (do grego, phageîn, comer) é a

ingestão de partículas maiores, tais como micro-

organismos ou restos celulares, através da emissão de

pseudópodos e a formação de grandes vesículas

(maiores que 250nm), os fagossomos.127,128

6.1.3 Funções da membrana celular

A membrana celular é uma barreira seletiva à

passagem de moléculas solúveis em água, capaz de

controlar a entrada e a saída de metabólitos. A

permeabilidade seletiva da membrana é devida à

hidrofobicidade dos componentes lipídicos e do

caráter dos seus canais proteicos.

A membrana gera diferenças nas concentrações

iônicas entre o interior e o exterior da célula, criando

um gradiente, cuja energia potencial é utilizada para

dirigir vários processos de transporte, conduzir sinais

elétricos e produzir ATP. Ela serve ainda como

suporte estrutural para enzimas e receptores e permite

a interação entre as células e a fixação da célula à

matriz extracelular.129

6.1.4 Constituição do citoesqueleto

127

DE ROBERTIS. Op. cit., p. 138. 128

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 35. 129

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 583-584.

O citoesqueleto é uma complexa rede de

filamentos proteicos: os filamentos de actina, os

filamentos intermediários, os filamentos de miosina e

os microtúbulos (Figura 1.13).130

Figura 1.13 - Eletromicrografia do citoplasma de neurônio,

onde se observa o citoesqueleto entre as organelas. Cortesia

de Patrícia do Nascimento e Matilde Achaval Elena,

UFRGS.

Os filamentos de actina (5 a 9nm de diâmetro) são

resultantes da polimerização da proteína actina G (G -

globular). Estão por todo o citoplasma, mas são mais

concentrados na periferia. Contribuem para a forma

celular; sustentam os microvilos e os estereocílios,

especializações da superfície celular; permitem o

transporte de vesículas na endocitose e na exocitose;

participam na adesão das células; posicionam

macromoléculas, como o RNAm e complexos

enzimáticos; são importantes para a migração celular

durante o desenvolvimento embrionário ou em

cultura; organizam o anel contrátil, responsável pela

citocinese, e constituem os filamentos finos das

células musculares, contribuindo na contração.131,132

Os filamentos intermediários (8 a 10nm de

diâmetro) são formados por proteínas fibrosas.

Conforme o tipo celular, há citoqueratina, vimentina,

desmina, proteína ácida fibrilar glial, periferina ou

neurofilamentos. Há ainda as laminas que integram o

envoltório nuclear. Os filamentos intermediários são

bastante resistentes e estão envolvidos na manutenção

130

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., pp. 40-41. 131

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 908-909, 931, 946, 949, 962. 132

LINO NETO, J.; GOÉS, R. M.; CARVALHO, H. F. Citoesqueleto. In:

CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri:

Manole, 2013. pp. 425, 427-432.

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TATIANA MONTANARI

14

da forma da célula e no posicionamento de

organelas.133,134

A citoqueratina é exclusiva das células epiteliais,

mas é uma família grande com mais de 50 isoformas.

Os filamentos de citoqueratina (também denominados

tonofilamentos) podem se agrupar em feixes, as

tonofibrilas. Esses filamentos contribuem para a

adesão das células e conferem resistência mecânica ao

tecido.135,136

A vimentina é expressa em células de origem

mesenquimal, como nas células epiteliais que

revestem os vasos sanguíneos (células endoteliais) e

as cavidades (células mesoteliais) e nos fibroblastos,

que são células do tecido conjuntivo. Ela forma uma

rede em volta do núcleo, mantendo sua posição na

célula.137,138

A desmina é encontrada nas células musculares e

nas células mioepiteliais.139

A proteína ácida fibrilar glial (GFAP de glial

fibrillary acidic protein) é identificada nos astrócitos e

nas células de Schwann; a periferina ocorre em muitas

células do sistema nervoso periférico, e os

neurofilamentos, nos neurônios.140

Há ainda as laminas, que estão no nucleoplasma e

estão associadas ao envoltório nuclear.141

Os filamentos de miosina (10 a 15nm de diâmetro)

estão presentes nas células musculares, onde pela sua

espessura são denominados filamentos grossos (ou

espessos). O deslizamento dos filamentos finos ao

longo dos filamentos grossos promove a contração

muscular. A miosina também ocorre em células não

musculares, como, por exemplo, no anel contrátil da

citocinese.142,143

Os microtúbulos (25nm de diâmetro) são

estruturas cilíndricas, ocas, constituídas por 13

protofilamentos com as proteínas globulares e -

tubulinas.144

Eles se originam no centro organizador

de microtúbulos (MTOC), onde há um par de

centríolos envoltos em uma matriz de tubulinas.145

Os

centríolos têm um arranjo de nove trincas periféricas

133

DE ROBERTIS. Op. cit., pp. 74-76. 134

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 67-68. 135

DE ROBERTIS. Op. cit., pp. 75, 113. 136

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 67, 504. 137

HADLER & SILVEIRA. Op. cit., p. 24. 138

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 68-69. 139 LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 77, 81. 140

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 66, 68. 141

Ibid. 142

Ibid. pp. 64, 318, 325. 143

WEISS. Op. cit., pp. 49, 215. 144

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 909, 914-915. 145

Ibid. pp. 930, 1031.

de microtúbulos. Eles medem 0,2µm de diâmetro e

0,5µm de comprimento.146

Cada microtúbulo possui uma extremidade

negativa, que não cresce e que geralmente está

embutida no MTOC, e uma extremidade positiva,

onde as tubulinas se polimerizam em direção à

periferia da célula.147

Os microtúbulos mantêm a forma da célula;

posicionam organelas e permitem o deslocamento das

vesículas, das organelas e dos cromossomos. Nas

células epiteliais, centríolos posicionados próximo à

superfície servem de base para formar o axonema

(nove duplas periféricas e um par central de

microtúbulos), que é a estrutura interna dos cílios e do

flagelo (Figura 1.14).148,149

Figura 1.14 - Início da formação do flagelo a partir do

centríolo distal da célula germinativa. 63.000x.

A média de vida dos microtúbulos é de cerca de

10 minutos.150

Há proteínas que se associam aos filamentos e aos

microtúbulos, possibilitando ou inibindo a sua

polimerização e promovendo a sua interação com outros

componentes da célula ou com a matriz extracelular.

As MAP (de microtubule-associated proteins) -1, -2,

-3, -4 e -τ e a TOGρ regulam a montagem dos

microtúbulos e ancoram-nos a organelas. As MAPs

também são responsáveis pela estabilidade dos

146

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 49. 147

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 61. 148

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 138-144. 149

WEISS. Op. cit., pp. 52, 54. 150

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 47.

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HISTOLOGIA

15

microtubúlos dos cílios e do flagelo.151

A miosina I conecta os filamentos de actina à

membrana e permite o deslocamento de vesículas e

organelas. A miosina II interage com os filamentos de

actina para promover a contração nas células musculares

e não musculares, como as plaquetas, no anel contrátil da

citocinese, nas fibras de estresse dos fibroblastos e na

trama terminal das células epiteliais. A miosina V

desloca as vesículas e organelas ao longo dos filamentos

de actina.152

As dineínas e as cinesinas movimentam vesículas e

organelas ao longo dos microtúbulos, sendo que as

dineínas o fazem em direção à extremidade negativa,

portanto, no sentido do centro da célula e as cinesinas

para a extremidade positiva, ou seja, para a periferia.153

6.1.5 Junções celulares

São especializações da membrana plasmática nas

faces laterais das células que selam o espaço

intercelular, promovem a coesão ou possibilitam a

passagem de substâncias de uma célula para outra.

São ainda especializações da superfície basal das

células que permitem a adesão à matriz extracelular

subjacente.

Utilizando a célula epitelial do intestino como

exemplo, identificam-se as seguintes estruturas:

zônula de oclusão, zônula de adesão, desmossomos,

junções comunicantes, interdigitações e

hemidesmossomos (Figura 1.15).

A zônula de oclusão (ou junção tight; do inglês,

estreita) está localizada na porção mais apical das

superfícies laterais, como um cinto ao redor da célula

(por isso, o termo zonula, diminutivo do latim zona,

cinta) (Figura 1.15). Ela é formada pelas proteínas

transmembranas claudinas e ocludinas (do latim

claudere e occludere, que significam fechar) e, no

lado citoplasmático, pelas proteínas ZO-1, ZO-2 e

ZO-3, entre outras. Filamentos de actina ancoram-se

às proteínas periféricas.154,155,156,157

As proteínas transmembranas unem os folhetos

externos das membranas celulares vizinhas em vários

pontos. Essa fusão impede a passagem de substâncias

151

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 62. 152

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 941-942, 945-946, 949-950, 952, 959-

962. 153

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 62. 154

COLLARES-BUZATO, C. B. Junções celulares. In: CARVALHO, H.

F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. p.

144. 155

GENESER. Op. cit., pp. 129-131. 156

KIERSZENBAUM, A. L.; TRES, L. L. Histologia e Biologia celular:

uma introdução à Patologia. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 14. 157

KÜHNEL, W. Atlas de Citologia, Histologia e Anatomia microscópica

para teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. p. 60.

maiores que 1,5nm, permitindo somente a difusão de

água, íons e pequenas moléculas. Isso delimita

compartimentos de composição química diferente.158

A permeabilidade da junção pode ser modulada. Por

exemplo, a ativação de cotransportadores de Na+ e

nutrientes pela glicose e por certos aminoácidos induz

um aumento da permeabilidade da junção, possibilitando

a entrada de nutrientes inclusive por entre as células

epiteliais.159,160

As zônulas de oclusão também impedem a

migração dos componentes da membrana plasmática

entre a superfície apical e a superfície basolateral da

célula, confinando as proteínas transportadoras.

Assim, contribuem para a polaridade da célula.161

A zônula de adesão está situada em uma faixa

circular na célula imediatamente inferior à zônula de

oclusão (Figura 1.15). Ela é formada pelas

glicoproteínas transmembranas caderinas, que, na

presença de Ca2+

, ligam as membranas vizinhas.

Permanece um espaço de 15 a 25nm. Na face interna

da membrana plasmática, há as cateninas (-catenina,

-catenina e -catenina ou placoglobina), a vinculina e

a -actinina, que interconectam as caderinas aos

filamentos de actina.162

Além de promover a adesão das células, a zônula

de adesão é importante para o estabelecimento de

outras junções, para a manutenção da polaridade e

para o reconhecimento celular.163

Os desmossomos (do grego desmos, ligação;

soma, corpo) são estruturas em disco, com 100 a

500nm de comprimento. Na presença de Ca2+

, as

proteínas transmembranas desmogleínas e

desmocolinas da família das caderinas unem as

membranas vizinhas, permanecendo um espaço

intercelular de 25nm. O lado citoplasmático dessas

proteínas interage com as placoglobinas, que, por sua

vez, se associam às desmoplaquinas. A estas últimas

ancoram filamentos de citoqueratina (tonofilamentos)

nas células epiteliais, de desmina nas células

musculares e de vimentina nas células de origem

mesenquimal (Figuras 1.15 e 1.16).164

158

COLLARES-BUZATO. Op. cit., pp. 142, 144-145. 159

Ibid. p. 147. 160

TURNER, J. R. Show me the pathway! Regulation of paracellular

permeability by Na+-glucose transport. Adv. Drug Deliv. Rev., v. 41, pp.

265-281, 1999. 161

COLLARES-BUZATO. Op. cit., p. 145. 162

Ibid. pp. 143, 147-148. 163

Ibid. pp. 147-150. 164

Ibid. pp. 150-151.

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TATIANA MONTANARI

16

Os desmossomos permitem a adesão das células,

sendo abundantes em tecidos sujeitos a estresse

mecânico.165

O pênfigo é uma doença autoimune, em que o

organismo produz anticorpos contra as desmogleínas,

desfazendo os desmossomos. Há a formação de bolhas

nas mucosas e na pele e perda do líquido tissular, o que

pode levar à morte. O tratamento baseia-se na

administração de corticosteroides e outros agentes

imunossupressores.166

As junções comunicantes (ou junções gap; do

inglês, fenda) (Figura 1.15) consistem em canais

hidrofílicos formados pelas proteínas transmembranas

conexinas. Seis conexinas arranjam-se circularmente

resultando no conéxon, que faz correspondência com

aquele de outra célula. A luz do canal produzido é

bastante estreita: tem 1,5nm de diâmetro, limitando a

passagem somente de substâncias menores que 1kD,

como íons, monossacarídeos, aminoácidos,

nucleotídeos, vitaminas, alguns hormônios e os

mensageiros secundários monofosfato de adenosina

cíclico (AMPc), monofosfato de guanosina cíclico

(GMPc) e 1,4,5-trifosfato de inositol (IP3).167,168

Essas substâncias são responsáveis pela

comunicação entre as células. Portanto, essas junções

promovem o acoplamento elétrico e metabólico,

sendo importantes, por exemplo, na sincronização, na

diferenciação e na proliferação das células.169

As junções comunicantes são reguladas, abrindo-se

quando o pH intracelular é elevado ou quando a

concentração de Ca2+

é baixa e fechando-se quando o pH

diminui e o nível de Ca2+

aumenta.170

As interdigitações (invaginações ou pregas

basolaterais) resultam de um imbricamento das

superfícies laterais e basais das células vizinhas, que

aumenta o seu contato e reforça a sua adesão. Em

certas células epiteliais, o pregueamento da membrana

basolateral aumenta a superfície para a inserção de

proteínas transportadoras, contribuindo para o

transporte de líquido e íons (Figura 1.15).171,172,173

165

Ibid. pp. 142, 151-152. 166

Ibid. pp. 152-153. 167

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 1074-1075. 168

COLLARES-BUZATO. Op. cit., pp. 153-154. 169

Ibid. pp. 154-155. 170

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 103. 171

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., p. 68. 172 LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 44.

Figura 1.15 - Eletromicrografia de células vizinhas, onde

se observam as junções celulares: zônulas de oclusão e de

adesão (ZO/ZA), desmossomo (D), junções comunicantes

(JC) e interdigitações (In). O conjunto das zônulas de

oclusão e de adesão e dos desmossomos é denominado

complexo unitivo. 21.000x. Cortesia de Maria Cristina

Faccioni-Heuser e Matilde Achaval Elena, UFRGS.

Figura 1.16 - Ilustração do desmossomo. Baseado em

Alberts et al., 2002. p. 1073.

173

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 140, 142.

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HISTOLOGIA

17

Os hemidesmossomos localizam-se na base das

células epiteliais e, como o nome sugere, parecem a

metade de um desmossomo. São constituídos pelas

proteínas transmembranas integrinas, que se ligam à

laminina e ao colágeno do tipo IV da lâmina basal. O

lado citoplasmático das integrinas associa-se às

proteínas erbina, plectina e BPAG1 (de bullous

pemphigoid antigen 1, ou seja, antígeno do penfigoide

bolhoso 1, também denominada BP230, por ter

230kDa). A erbina medeia a associação da BP230

com a integrina, e a plectina e a BP230 interligam as

integrinas com os filamentos de citoqueratina

(tonofilamentos). A plectina ainda interage com os

filamentos de actina, a miosina II e os microtúbulos.

Há ainda a proteína integral BPAG2 (também

chamada BP180, por ter 180kDa, ou colágeno do tipo

XVII) que deve estabilizar a interação da integrina

com o citoesqueleto.174,175,176

Essas junções permitem a adesão da célula

epitelial à matriz extracelular subjacente, conferindo

ao tecido resistência ao estresse mecânico.177

Nas junções de adesão focal, as integrinas ligam-

se a glicoproteínas da matriz extracelular, como a

fibronectina e, através da talina, vinculina, paxilina,

FAK (focal adhesion kinase) e -actinina, a feixes de

filamentos de actina (fibras de estresse).178

A interação da célula com a matriz extracelular,

através dessas junções, é importante para vários

eventos, como migração, diferenciação, proliferação e

inclusive sobrevivência.179

O Quadro 1.2 compila os tipos de junções

celulares, os seus constituintes e as suas funções.

6.2 Núcleo e ciclo celular

O tamanho e a forma do núcleo variam conforme

o tipo celular. Geralmente mede entre 5 e 10µm e é

alongado, ovoide, esférico ou lobulado. O núcleo tem

o material genético, o ácido desoxirribonucleico

(DNA), o qual está enrolado em proteínas básicas, as

histonas, formando a cromatina. Segundo o grau de

condensação, ela é classificada em eucromatina

(difusa e transcrita) e heterocromatina (condensada e

geralmente inativa). O núcleo está presente quando a

célula encontra-se na interfase do ciclo celular (Figura

174

COLLARES-BUZATO. Op. cit., pp. 161-162. 175 LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 42. 176

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 151. 177

COLLARES-BUZATO. Op. cit., p. 161. 178

Ibid. pp. 157-159. 179

Ibid. pp. 158-161.

1.17). Durante a divisão, a cromatina condensa-se em

cromossomos e a membrana nuclear desintegra-se.180

Devido aos grupos fosfato do DNA, o núcleo é

basófilo. Com HE, a eucromatina cora-se levemente ou

não se evidencia, enquanto a heterocromatina cora-se

bem com a hematoxilina (Figura 1.17).181

Figura 1.17 - Neurônio do gânglio sensorial, onde é

possível observar o núcleo claro, eucromático, com alguns

grumos de heterocromatina e nucléolo proeminente. HE.

Objetiva de 100x (851x).

O comprimento total do DNA é de cerca de 1,8m. A

dupla hélice de DNA mede 2nm de espessura. Um

segmento de DNA enrola-se em torno de um octâmero

de histonas, formando o nucleossomo (10nm), que é a

unidade da estrutura da cromatina. O filamento de

nucleossomos é espiralado na fibrila de cromatina

(30nm). Esse estágio de compactação diminui em cerca

de 40 vezes a extensão do DNA. As fibrilas de cromatina

formam alças ancoradas no esqueleto proteico da matriz

nuclear ou do cromossomo, resultando nas fibras de

cromatina, as quais, na eucromatina, exibem um arranjo

mais frouxo (300nm) e, na heterocromatina, estão

firmemente comprimidas (700nm). Durante a divisão

celular, sofrem condensação nos cromossomos (1400nm)

(Figura 1.18).182

180

GENESER. Op. cit., pp. 83-86. 181

Ibid. p. 85. 182

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 81-83.

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

18

Quadro 1.2 - Quadro comparativo sobre as junções celulares:

Proteínas

transmembranas

Proteínas do lado

citoplasmático

Filamentos

associados

Funções

Zônula de oclusão claudinas e

ocludinas

ZO-1, ZO-2, ZO-3 e

outras

actina efeito selador, impede a

passagem de substâncias maiores

de 1,5nm, polaridade e

compartimentalização

Zônula de adesão caderinas cateninas (∞-catenina,

β-catenina e γ-catenina

ou placoglobina),

vinculina e ∞-actinina

actina adesão entre as células,

estabelecimento de outras

junções, polaridade e

reconhecimento celular

Desmossomo caderinas:

desmogleínas e

desmocolinas

placoglobinas e

desmoplaquinas

citoqueratina,

desmina ou

vimentina

adesão entre as células,

estabilidade mecânica

Junções

comunicantes

conexinas --- --- passagem de substâncias até

1,5nm, comunicação entre as

células, acoplamento elétrico e

metabólico

Hemidesmossomo integrinas e

BPAG2 (BP180

ou colágeno do

tipo XVII)

erbina, plectina e

BPAG1(ou BP230)

citoqueratina

e actina

adesão da célula à matriz

extracelular (à laminina e ao

colágeno do tipo IV da lâmina

basal)

Contato focal integrinas vinculina, talina,

paxilina, FAK e ∞-

actinina

actina interação da célula com a matriz

extracelular para a migração (p.

ex., fibronectina), diferenciação,

proliferação e sobrevivência

O núcleo é delimitado pelo envoltório nuclear (ou

carioteca), constituído por duas membranas separadas

pelo espaço perinuclear (Figuras 1.17 e 1.19). Cada

membrana mede cerca de 6nm, e o espaço entre elas,

10 a 30nm. Em vários pontos, as membranas fundem-

se em poros delimitados por complexos proteicos, os

complexos de poro. Eles medem 100 a 125nm de

diâmetro e são constituídos por três conjuntos de anéis

proteicos, filamentos citoplasmáticos, um

transportador e uma cesta nuclear. Por eles, há o

transporte de substâncias entre o núcleo e o

citoplasma.183,184

A membrana externa do envoltório nuclear é

contínua a do retículo endoplasmático e tem

ribossomos associados. Essas organelas sintetizam

proteínas transmembranas das membranas nucleares.

A membrana interna é associada à cromatina e à

lâmina nuclear, uma camada de 80 a 100nm

constituída principalmente pelos filamentos

intermediários laminas A, B e C, arranjados em uma

183

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 51-52. 184

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., p. 50.

rede.185,186

A lâmina nuclear está envolvida na

organização nuclear, na regulação do ciclo celular, na

diferenciação e na expressão de genes e na replicação

e na transcrição do DNA. Serve de suporte para as

membranas do envoltório nuclear e para a cromatina.

As laminas separam-se durante a mitose,

desintegrando o envoltório nuclear, e reúnem-se

quando a mitose termina, refazendo-o.187

O nucléolo é uma área não circundada por

membrana, geralmente esférica, com 1 a 3µm de

diâmetro, onde ocorre a produção dos ribossomos.

Nele o DNA ribossômico (DNAr) é transcrito em

RNAr, e este é envolvido por proteínas para formar as

subunidades ribossômicas (Figuras 1.17, 1.19 e

1.20).188

185

AEBI, U.; COHN, J.; BUHLE, L.; GERACE, L. The nuclear lamina is

a meshwork of intermediate-type filaments. Nature, v. 323, pp. 560-564,

1986. 186

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 51-52. 187

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 87, 89. 188

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 19.

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HISTOLOGIA

19

Figura 1.18 - Ilustração da organização da cromatina e de

seus estágios de compactação. Baseado em Alberts et al.,

2002. p. 230.

Em HE, o nucléolo cora-se em rosa-azulado, devido

à afinidade por corantes ácidos e básicos (Figura

1.17).189

Ao microscópio eletrônico, é possível distinguir,

no nucléolo, três áreas: a pars amorpha (porção

amorfa), clara, corresponde às alças de DNA das

regiões organizadoras nucleolares (NOR de nucleolar

organizer regions), que codificam o RNAr; a pars

fibrosa (porção fibrosa), com o DNAr sendo transcrito

em RNAr, e a pars granulosa (porção granulosa),

onde as moléculas de RNAr sofrem o processamento

final e se associam às proteínas provenientes do

citoplasma para constituir as subunidades

ribossômicas (Figura 1.20).190,191

189

Ibid. 190

ALBERTS et al. Op. cit., p. 331. 191

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 19-20.

Figura 1.19 - Eletromicrografia de espermátide redonda,

mostrando o núcleo com eucromatina (eu) e nucléolo bem

desenvolvido ( ). É possível observar o envoltório nuclear

com sua membrana dupla ( ) apesar do acrossoma (a)

recobrir parte do núcleo. 10.909x.

Figura 1.20 - Neste núcleo (N), distinguem-se os

componentes do nucléolo: organizador nucleolar (on), pars

fibrosa (pf) e pars granulosa (pg). 10.208x.

2nm

11nm

300nm

30nm

1400nm

700nm

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TATIANA MONTANARI

20

No humano, há cinco pares de cromossomos com

NOR: cromossomos 13, 14, 15, 21 e 22. Embora sejam

10 NOR, devido à sua fusão, a maioria das células

apresenta um único nucléolo.192

Células inativas possuem nucléolos pouco definidos,

mas células metabolicamente ativas, com intensa síntese

proteica apresentam nucléolos grandes ou múltiplos.193

O ciclo celular consiste em duas etapas: a interfase

e a mitose, entre as quais a célula se alterna de forma

cíclica.194

A interfase é dividida em: G1, S e G2. Na fase

G1, há o crescimento da célula com intensa síntese de

RNA e de proteínas necessárias para a replicação do

DNA. Na fase S, há a duplicação do DNA. Na fase

G2, há a verificação se o DNA foi duplicado de forma

correta e a síntese de RNA e de proteínas essenciais

para a divisão celular.195

Em células que se dividem rapidamente, a fase G1

demora várias horas; a fase S, aproximadamente 7h e a

fase G2, cerca de uma hora. Em células do epitélio do

trato gastrointestinal, por exemplo, as fases G1 e S levam

10 a 20h cada, e a fase G2, 1 a 7h.196

Células diferenciadas que param de sofrer mitose de

forma permanente (p. ex., neurônio) ou temporária (p.

ex., linfócito) são consideradas na fase Go (“o” do inglês

outside, fora do ciclo).197,198

A capacidade da célula em iniciar e avançar no ciclo

celular é dirigida pelas ciclinas e pelas quinases

dependentes de ciclina (CDKs). No início da fase G1, a

ciclina D é sintetizada e liga-se à CDK4 e à CDK6. No

fim da fase G1, a ciclina E é produzida e liga-se à CDK2.

Esses três complexos permitem a progressão para a fase

S. A ciclina A liga-se à CDK2 e à CDK1, e a célula sai

da fase S e entra na fase G2, induzindo a formação da

ciclina B. Essa ciclina liga-se à CDK1, possibilitando a

saída da fase G2 e a entrada na fase M. Após executarem

a sua função, as ciclinas entram na via ubiquitina-

proteassoma para degradação.199

Há também pontos de verificação (checkpoint) para

proteger contra uma transição prematura entre as fases.

Eles verificam a realização correta de eventos, como o

crescimento celular, a transcrição do DNA e a

192

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Biologia celular e molecular. Op. cit.,

p. 159. 193

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 19, 33. 194

GENESER. Op. cit., p. 95. 195

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 64. 196

WEISS. Op. cit., p. 55. 197

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 63. 198

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 91-92. 199

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 64.

segregação dos cromossomos, antes de permitir que a

célula prossiga o ciclo celular.200

Na mitose (fase M), a célula divide-se em duas, e

o material genético duplicado na interfase é repartido

entre as células-filhas. A mitose pode ser subdividida

em quatro fases: prófase, metáfase, anáfase e telófase.

201

Na prófase, há a condensação da cromatina em

cromossomos. Como ocorreu a duplicação do DNA na

interfase, cada cromossomo possui duas cromátides

(Figuras 1.21 e 1.22). As cromátides-irmãs estão

unidas pelo centrômero, constituído por

heterocromatina com sequências de DNA específicas.

Aderido a cada uma das faces externas do centrômero,

há o cinetócoro, complexo proteico de estrutura

discoide, ao qual se fixam os microtúbulos do fuso

mitótico. Com a condensação da cromatina, os

nucléolos desaparecem. Finalmente há a desintegração

do envoltório nuclear em consequência da fosforilação

das laminas, o que rompe a lâmina nuclear.202, 203

Na metáfase, os cromossomos, ligados aos

microtúbulos do fuso, migram para o equador da

célula (Figuras 1.21 e 1.22).204

Na anáfase, há a separação das cromátides-irmãs

pela degradação das coesinas e a sua migração para os

polos da célula através do deslizamento ao longo dos

microtúbulos promovido pelas dineínas (Figuras 1.21

e 1.23).205

Na telófase, há a descondensação dos

cromossomos em cromatina, com reaparecimento do

nucléolo. Com a desfosforilação das laminas, a

carioteca é refeita. Há a divisão do citoplasma

(citocinese) devido ao anel contrátil de filamentos de

actina e moléculas de miosina II, originando duas

células-filhas iguais à célula-mãe (Figura 1.21).206,207

As células germinativas são ainda capazes de se

dividir por meiose (do grego meiosis, diminuição),

derivando células-filhas haploides.208

A meiose

consiste de duas etapas de divisões, antecedidas

somente por uma etapa de duplicação do DNA.209

Na primeira meiose, a prófase é bastante longa,

dividida nos seguintes estágios: leptóteno, zigóteno,

200

Ibid. 201

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., pp. 56-59. 202

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 41, 45, 97. 203

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., p. 56. 204

Ibid. 205

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 97. 206

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., p. 56. 207

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 89, 97. 208

ALBERTS et al. Op. cit., p. 1130. 209

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 97, 99.

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HISTOLOGIA

21

paquíteno, diplóteno e diacinese. No leptóteno, os

cromossomos são longos e finos, associados ao

envoltório nuclear. No zigóteno, os cromossomos-

homólogos pareiam-se através da formação do

complexo sinaptonêmico, uma estrutura tripartite que

liga os cromossomos um ao outro (Figura 1.21). No

paquíteno, inicia a condensação do material genético e

ocorre a troca de segmentos entre os cromossomos-

homólogos (recombinação gênica ou crossing-over).

No diplóteno, o complexo sinaptonêmico dissolve-se,

e os cromossomos-homólogos tentam se separar, mas

ficam unidos nos locais de crossing-over (quiasmas).

Na diacinese, os cromossomos estão bastante

espiralizados, há o desaparecimento dos quiasmas, do

nucléolo e da carioteca e há a formação do fuso de

microtúbulos.210,211

Na metáfase, há a disposição dos cromossomos-

homólogos no equador da célula. Os cromossomos

interagem com os microtúbulos através do cinetócoro,

que geralmente está próximo ao centrômero. Na

anáfase, os cromossomos-homólogos separam-se e

migram para os polos opostos da célula. A segregação

aleatória de um membro paterno ou materno de cada

par contribui para a variabilidade genética. Na

telófase, há a descondensação dos cromossomos, a

reconstituição do envoltório nuclear e a citocinese.

São formadas duas células-filhas, com metade do

número de cromossomos da célula-mãe, mas cada

cromossomo apresenta duas cromátides (Figura

1.21).212,213

A segunda meiose assemelha-se à mitose. A

prófase é mais curta e mais simples do que a prófase

da primeira meiose (ou até mesmo ausente). Nela

ocorre a condensação da cromatina em cromossomos

e o desaparecimento do nucléolo e da carioteca. Na

metáfase, os cromossomos dispõem-se no equador da

célula. Na anáfase, as cromátides-irmãs separam-se

pela clivagem da coesina pela enzima separase e

migram para os polos opostos da célula. Na telófase,

há a descondensação dos cromossomos, a

reorganização do envoltório nuclear e a citocinese das

células em outras duas células-filhas, agora realmente

haploides, tanto ao que se refere ao número de

cromossomos como à quantidade de DNA (Figura

1.21).214,215

A meiose reduz a quantidade do material genético

210

Ibid. pp. 98-99. 211

WEISS. Op. cit., pp. 70-71. 212

RECCO-PIMENTEL, S. M.; AGUIAR JÚNIOR, O.; VEIGA-

MENONCELLO, A. C. P. Meiose. In: CARVALHO, H. F.; RECCO-

PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. p. 542. 213

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 98-99. 214

Ibid. p. 99. 215

WEISS. Op. cit., pp. 70-71.

dos gametas de diploide para haploide e, com a fusão

deles na fertilização, a diploidia da espécie é

restabelecida. Proporciona ainda a variabilidade genética

através da troca de segmentos entre os cromossomos

maternos e paternos no crossing-over e da segregação

aleatória desses cromossomos nos gametas.216

Injúria severa provoca a morte da célula por necrose,

onde ocorre seu intumescimento e sua ruptura, com

liberação das enzimas lisossômicas, causando dano ao

tecido e reação inflamatória. Condições fisiológicas

normais ou estímulos patológicos brandos induzem a

apoptose, onde há a diminuição no volume celular, perda

da função mitocondrial e alterações nucleares. Estas são:

picnose, em que há condensação da cromatina, retraindo

o núcleo em uma massa basófila até um corpo esférico,

escuro (Figura 1.24); cariorrexis, onde a clivagem do

DNA por endonucleases dependentes de Ca2+

e Mg2+

fragmenta o núcleo (Figura 1.25), e cariólise, em que a

atividade aumentada da DNAase dissolve o DNA,

levando ao desaparecimento do núcleo. Os corpos

apoptóticos, com fragmentos do núcleo e do citoplasma,

são fagocitados por macrófagos ou por células vizinhas,

sem resposta inflamatória.217,218

6.3 Lamela anulata (ou lamelas anulares)

São pilhas de membranas com complexos de poro.

São comuns em células germinativas e em algumas

células tumorais (Figura 1.26).219

6.4 Retículo endoplasmático e ribossomos

O retículo endoplasmático foi observado pela

primeira vez, em 1897, por Garnier, que o denominou

ergastoplasma.220

O retículo endoplasmático é constituído por um

sistema de membranas em forma de túbulos, vesículas

e cisternas. Se os ribossomos estão associados, o

retículo endoplasmático é designado retículo

endoplasmático rugoso (RER) (Figura 1.27). Se não

houver ribossomos, é dito retículo endoplasmático

liso (REL) (Figura 1.28).221,222

216

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 97-98. 217

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 96-98. 218

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 80, 99-102. 219

WEISS. Op. cit., p. 23. 220

LAGO & CARVALHO. Op. cit., p. 9. 221

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 48-49, 53. 222

WEISS. Op. cit., p. 26.

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TATIANA MONTANARI

22

Figura 1.21 - Esquema comparativo entre a mitose e a meiose. Adaptado de Browder, L. W.; Erickson, C. A.; Jeffery, W.

R. Developmental Biology. Philadelphia: Saunders College, 1991. p. 25.

Figura 1.22 - Fotomicrografia de células em interfase (I) e

em mitose: prófase (P) e metáfase (M). Raiz de cebola.

Hematoxilina férrica. Objetiva de 100x (1.373x).

Figura 1.24 - Corte de testículo, com células germinativas

em metáfase ou em apoptose. Nas células apoptóticas, notar

a posição excêntrica do núcleo, a condensação do material

genético junto à carioteca e o surgimento de vacúolos na

célula. S - célula de Sertoli. HE. Objetiva de 100x.

Figura 1.23 - Além da célula em interfase (I), há uma

célula em anáfase (A). Raiz de cebola. Hematoxilina

férrica. Objetiva de 100x (1.373x).

Figura 1.25 - Célula apoptótica com o material genético já

fragmentado. HE. Objetiva de 100x.

T. Montanari

T. Montanari T. Montanari

I

I

A

M P

T. Montanari T. Montanari

S

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HISTOLOGIA

23

Figura 1.26 - Lamela anulata em célula germinativa de

camundongo.

Figura 1.27 - Retículo endoplasmático rugoso. 22.000x.

Figura 1.28 - Retículo endoplasmático liso. 13.000x.

Os ribossomos são pequenas partículas (12nm de

largura e 25nm de comprimento), compostas de

proteínas e RNAr. Cada ribossomo é composto por

uma subunidade maior e uma subunidade menor, com

valores de sedimentação de 60S e 40S,

respectivamente (Figura 1.29).223

Os ribossomos são

responsáveis pela síntese de proteínas.224

Os ribossomos ficam livres no citoplasma quando

sintetizam proteínas do citosol, do núcleo, das

mitocôndrias e dos peroxissomos. Eles se associam a

uma fita de RNAm, formando grupos em forma de

círculos, espirais ou rosetas, denominados polissomos

ou polirribossomos. Quando as proteínas são

destinadas para as demais organelas, para o envoltório

223

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 23. 224

WEISS. Op. cit., p. 26.

nuclear, a membrana celular ou o exterior, os

ribossomos estão associados ao retículo

endoplasmático.225,226,227

Figura 1.29 - Ilustração das subunidades ribossômicas dos

eucariontes. Baseado em Alberts et al., 2002. p. 343.

As células sintetizadoras de proteínas possuem

núcleo claro, por causa da cromatina frouxa; nucléolo

bem desenvolvido para a produção de ribossomos, e

citoplasma basófilo, devido aos grupos fosfato do RNAr

(Figuras 1.17 e 1.30).228

O retículo endoplasmático liso contém enzimas

para a síntese de lipídios, inclusive dos fosfolipídios

da membrana celular e dos hormônios esteroides, o

metabolismo do glicogênio e a detoxicação de certas

drogas, inclusive álcool. Ele está ainda envolvido na

formação e na reciclagem da membrana e, em

algumas células, no sequestro de Ca2+

.229,230

225

GENESER. Op. cit., p. 50. 226

RECCO-PIMENTEL, S. M.; PIMENTEL, E. R.; AUGUSTO, T. M.

Ribossomos e síntese proteica. In: CARVALHO, H. F.; RECCO-

PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. p. 317. 227 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 49-52. 228

Ibid. pp. 52, 81, 84. 229

Ibid. p. 53. 230

WEISS. Op. cit., p. 26.

80S

40S 60S

RNAr5,8S RNAr5S RNAr28S RNAr18S

~49proteínas ~33proteínas

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TATIANA MONTANARI

24

Figura 1.30 - O neurônio da medula espinal exibe

características de célula sintetizadora de proteínas: núcleo

claro, devido à cromatina frouxa, nucléolo proeminente

( ) e grânulos basófilos (substância de Nissl) no

citoplasma, referentes ao retículo endoplasmático rugoso e

aos ribossomos. Cromatina sexual ( ). HE. Objetiva de

100x (1.045x).

A abundância nessa organela membranosa confere

eosinofilia ao citoplasma das células sintetizadoras de

hormônios esteroides, como as células da adrenal (Figura

1.31).231

Figura 1.31 - Células da adrenal, cujo citoplasma

eosinófilo se deve à riqueza em retículo endoplasmático

liso para a síntese de hormônios esteroides. A vacuolização

é resultado da perda das gotículas lipídicas no

processamento histológico. HE. Objetiva de 40x (550x).

6.5 Complexo de Golgi

Em 1898, o neuro-histologista italiano Camillo

Golgi descobriu essa organela. Ele havia fixado alguns

fragmentos de cérebro em uma solução de bicromato e

depois impregnado com um sal de prata. Ao examinar os

neurônios ao microscópio, observou um material escuro,

arranjado em rede, o qual denominou apparato

231

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 53.

reticulare interno.232,233

O complexo de Golgi não se cora nos cortes

histológicos corados com HE, mas apresenta a

capacidade de reduzir os sais de metais, como, por

exemplo, os sais de ósmio e de prata (Figura 1.32).234,235,

236

Figura 1.32 - Células do epidídimo, cujo complexo de

Golgi ( ) é bem desenvolvido para a síntese de

glicoproteínas. Impregnação pela prata com núcleo

contracorado pelo Feulgen. Objetiva de 100x (1.373x).

A microscopia eletrônica mostra que o Golgi é

constituído por um conjunto de três a 10 cisternas

achatadas e empilhadas e vesículas. A cisterna mais

próxima ao núcleo e ao retículo endoplasmático,

situada no lado convexo da organela, é designada face

cis (do latim cis, deste lado), enquanto a que se

localiza na região oposta, voltada para o exterior, no

lado côncavo, é a face trans (do latim trans, do outro

lado). Antes da face cis do Golgi, há a rede cis do

Golgi, formada por sáculos e túbulos interconectados

que recebem vesículas do retículo endoplasmático e,

após a face trans, há a rede trans do Golgi, de onde

saem as vesículas de secreção (Figura 1.33).237

As proteínas sintetizadas no retículo

endoplasmático rugoso vão para o complexo de Golgi,

onde são acrescentados resíduos de açúcares, um

processo denominado glicosilação. Elas podem ser

ainda sulfatadas, fosforiladas ou sofrerem

processamento proteolítico, que as convertem em

proteínas ativas. Lipídios também são glicosilados e

sulfatados nessa organela. O Golgi realiza o

232

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 120. 233

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 17. 234

BEÇAK & PAULETE. Op. cit., pp. 48-50. 235

GENESER. Op. cit., p. 56. 236

WEISS. Op. cit., p. 27. 237

GENESER. Op. cit., pp. 56-57.

T. Montanari T. Montanari

T. Montanari

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HISTOLOGIA

25

empacotamento e a distribuição das macromoléculas

para a secreção, para a membrana plasmática ou para

outras organelas.238

Figura 1.33 - As cisternas do Golgi organizam-se em cis,

média e trans. Antes da face cis, há a rede cis do Golgi, que

recebe vesículas do retículo endoplasmático ( ) e, após a

face trans, há a rede trans do Golgi, de onde saem as

vesículas de secreção ( ). 33.333x.

6.6 Mitocôndrias

Altmann, no final do século XIX, observou as

mitocôndrias em uma grande variedade de células,

corando-as seletivamente com fucsina ácida (Figura

1.34). Ele as denominou bioblastos, sugerindo que

consistiam em formas elementares de vida que se

encontravam presentes em todos os tipos celulares e que,

como as bactérias, eram capazes de uma existência

independente.239

As mitocôndrias evoluíram a partir de

procariontes aeróbicos, as bactérias Eubacterium, que

foram engolfadas por células eucarióticas

primitivas.240

Essas organelas estão presentes em praticamente

todas as células eucarióticas. Não são encontradas nas

hemácias e nas células terminais do epitélio da pele. A

forma e o tamanho delas variam, podendo ser

esféricas, alongadas ou pleomórficas, com 0,5 a 1µm

de diâmetro e 1 a 10µm de comprimento (Figuras 1.34

a 1.36). Além da morfologia, a quantidade e a

localização das mitocôndrias estão relacionadas à

238

BERTACHINI-LOMBELLO, C.; LOURENÇO, L. B.; CARVALHO,

H. F. Complexo de Golgi. In: CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. pp. 340-350. 239

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 109. 240

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 57.

necessidade energética das células, sendo que são

abundantes naquelas que demandam energia e são

concentradas em regiões na célula onde a energia é

requerida (Figuras 1.34 e 1.35). Isso porque produzem

ATP através da oxidação de carboidratos, lipídios e

aminoácidos.241,242,243,244

Figura 1.34 - Mitocôndrias coradas em um túbulo renal.

Altmann. Objetiva de 100x (1.373x).

Figura 1.35 - As mitocôndrias (bastões azulados) são

abundantes no túbulo distal do rim, onde ocorre transporte

ativo de íons. Corte semifino corado com azul de toluidina.

Objetiva de 100x (1.922x).

241 ALBERTS et al. Op. cit., p. 769. 242

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 12-13. 243

PIMENTEL, E. R. Mitocôndria. In: CARVALHO, H. F.; RECCO-

PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. pp. 369-372. 244

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 56-59.

T. Montanari

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

26

As mitocôndrias ainda regulam a concentração de

certos íons no citoplasma, um papel que compartilham

com o retículo endoplasmático liso.245

A mitocôndria apresenta duas membranas, sendo

que a membrana interna invagina-se nas cristas. O

compartimento entre as duas membranas é o espaço

intermembranoso (8 a 10nm de espessura). Limitada

pela membrana interna, há a matriz mitocondrial

(Figura 1.36).246

Figura 1.36 - Mitocôndrias. 44.000x.

A membrana mitocondrial externa possui proteínas

transmembranas, as porinas, que permitem a passagem de

moléculas hidrossolúveis de até 10kD, o que faz com que

o espaço intermembranoso tenha um conteúdo

semelhante ao citosol.247

Ela contém enzimas, como a

fosfolipase A2, a monoaminoxidase e a acetilcoenzima A

sintase.248

A membrana mitocondrial interna é praticamente

impermeável a íons, elétrons e prótons, devido à riqueza

em cardiolipina, um fosfolipídio que exibe quatro cadeias

de ácidos graxos.249

No entanto, há canais iônicos e

permeases que permitem a passagem seletiva de íons e

moléculas do espaço intermembranoso para a matriz

mitocondrial e em sentido inverso.250

Nessa membrana, encontram-se as cadeias

respiratórias, constituídas por três complexos

enzimáticos: o complexo da NADH-desidrogenase, o

complexo do citocromo b-c1 e o complexo da citocromo

oxidase. Esses complexos formam uma cadeia

transportadora de elétrons e funcionam como bombas de

H+, transportando-os da matriz mitocondrial para o

espaço intermembranoso. Assim, é estabelecido um

gradiente eletroquímico que fornece energia para

245

Ibid. pp. 57-58. 246

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 12. 247 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 40. 248 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 57. 249

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 40. 250

DE ROBERTIS. Op. cit., p. 163.

produzir ATP através da ATP-sintetase também

localizada na membrana mitocondrial interna.251

A matriz mitocondrial contém o DNA mitocondrial,

ribossomos, RNAt, grânulos que armazenam Ca2+

e

outros cátions, enzimas que participam da β-oxidação dos

ácidos graxos e enzimas do ciclo do ácido cítrico (ou

ciclo de Krebs).252

A glicose e os aminoácidos são degradados no

citoplasma a piruvato, o qual entra na mitocôndria e é

convertido em acetil-coenzima A (acetil-CoA). A

oxidação de ácidos graxos em acetil-CoA ocorre na

matriz mitocondrial.253

A acetil-CoA combina-se com o

ácido oxaloacético para formar ácido cítrico, dando início

ao ciclo do ácido cítrico. Nesse ciclo, CO2 é produzido

pelas reações de descarboxilação e quatro pares de H+ são

removidos por reações catalisadas por desidrogenases. Os

íons H+ reagem com oxigênio para formar H2O.

254 Para

cada molécula de piruvato, são geradas 12,5 moléculas de

ATP (uma molécula de glicose produz duas moléculas de

piruvato).255

Em condições aeróbicas, glicólise extramitocondrial,

ciclo do ácido cítrico e fosforilação oxidativa originam

30 ou 32 moléculas de ATP por molécula de glicose. Na

glicólise, que é anaeróbica, o rendimento líquido é

somente duas moléculas de ATP por cada glicose.256,257

Por causa da grande quantidade de membranas, as

mitocôndrias contribuem para a acidofilia do citoplasma.

Devido ao conteúdo fosfolipídico das membranas, essas

organelas podem ser coradas em magenta com fucsina

ácida (Figura 1.34) ou em violeta-preto pelo método de

Regaud. Podem ainda ser identificadas pela presença da

citocromo-oxidase através de reações histoquímicas ou

pela coloração supravital com verde Janus. A citocromo-

oxidase oxida esse corante, e as mitocôndrias coram-se

em azul ou verde, enquanto o resto do citoplasma

permanece incolor.258,259,260

As mitocôndrias são geradas daquelas pré-

existentes por fissão. O tempo médio de vida é de

aproximadamente 10 dias.261

6.7 Lisossomos

251

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 40. 252 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 57-58. 253

PIMENTEL. Op. cit., pp. 372, 374, 382. 254

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., p. 30. 255

PIMENTEL. Op. cit., p. 380. 256 ALBERTS et al. Op. cit., pp. 94, 769, 771, 777-778. 257 PIMENTEL. Op. cit., pp. 380-382. 258

BEÇAK & PAULETE. Op. cit., pp. 47, 224. 259

ROSS & PAWLINA. pp. 56-57. 260

WEISS. Op. cit., p. 37. 261

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 41.

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HISTOLOGIA

27

O cientista belga Christian Duve postulou, em 1955,

a existência dos lisossomos a partir de dados

bioquímicos. Ele e seus colaboradores encontraram

enzimas hidrolíticas, como a fosfatase ácida, em frações

de células hepáticas de ratos, obtidas por centrifugação

diferencial.262,263

São pequenas organelas membranosas (0,2 a

0,5µm) com enzimas hidrolíticas, como, por exemplo,

fosfatases, proteases, nucleases, glicosidases, lipases,

fosfolipases e sulfatases. Essas enzimas são ativas em

pH ácido, e esse pH é mantido por H+ ATPases que

bombeiam H+ para a organela.

264

Os lisossomos coram-se por técnicas citoquímicas

para a fosfatase ácida.265

O material a ser digerido pode ser internalizado

pela endocitose no caso de macromoléculas ou pela

fagocitose se são partículas grandes ou micro-

organismos. Organelas velhas ou em desuso também

são digeridas pelos lisossomos, e esse processo é

denominado autofagia (Figura 1.37).266

Figura 1.37 - Eletromicrografia de macrófago rico em

lisossomos (L). 6.286x.

262

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 129. 263

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 20. 264

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 739-740. 265

Ibid. p. 740. 266

Ibid. pp. 742-743.

Enzimas lisossômicas podem ser liberadas pelas

células para realizar digestão extracelular, como é o

caso dos osteoclastos na remodelação do osso.267

6.8 Peroxissomos

Christian Duve nomeou os peroxissomos em 1965.

Pelo trabalho pioneiro na estrutura e função de

organelas, com os seus estudos em lisossomos e

peroxissomos, ele ganhou o prêmio Nobel de Fisiologia

e Medicina em 1974.268,269

Os peroxissomos são encontrados em quase todos

os tipos celulares, mas são mais comuns nas células

do fígado e do rim. São organelas membranosas

esféricas ou ovoides, medindo 0,1 a 0,5µm, com uma

matriz granular fina e, em muitas espécies, com um

depósito cristalino.270

Possuem enzimas da β-oxidação dos ácidos graxos

de cadeias longas e muito longas, como a

acilcoenzima oxidase, que encurtam as cadeias até o

tamanho médio para serem oxidadas nas

mitocôndrias. Há também enzimas que oxidam

aminoácidos, como a D-aminoácido-oxidase, e que

participam da síntese do colesterol e dos ácidos

biliares.271

Em alguns mamíferos e répteis, a degradação do

ácido úrico, resultante do catabolismo das purinas, é

catalisada pela urato oxidase, que o converte em

alantoína, a qual é excretada. Essa enzima não é

encontrada nos primatas, em aves e em alguns répteis,

e o ácido úrico é excretado. Enquanto, em aves e

répteis, o ácido úrico é o principal excreta, nos

primatas, é a ureia, produzida nas mitocôndrias e no

citosol.272

A urato oxidase geralmente aparece como um

cristaloide, denominado nucleoide. Tendo em vista a

ausência dessa enzima no ser humano, os

peroxissomos de células humanas não apresentam

essa estrutura.273

Quando da oxidação dos substratos orgânicos nos

peroxissomos, há a retirada de átomos de hidrogênio, 267

AZEREDO-OLIVEIRA, M. T. V.; CARVALHO, H. F. Sistema

endossômico-lisossômico. In: CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL,

S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. p. 359. 268

LOURENÇO, L. B.; FELISBINO, S. L.; CARVALHO, H. F.

Peroxissomos. In: CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. p. 387. 269

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 20. 270

Ibid. 271

LOURENÇO et al. Op. cit., pp. 389-391. 272

Ibid. p. 391. 273 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 59.

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TATIANA MONTANARI

28

que são combinados com o O2, produzindo H2O2

(peróxido de hidrogênio). Essa substância oxidante é

prejudicial à célula e é logo degradada pela enzima

catalase em água e oxigênio (2H2O2 → 2H2O + O2). A

catalase pode também utilizar o oxigênio do peróxido

de hidrogênio (transformando-o em água) para oxidar

diversas substâncias, como o álcool e medicamentos,

contribuindo para a detoxicação.274

Os peroxissomos podem ser identificados por

técnicas citoquímicas para a catalase.275

Como as mitocôndrias, os peroxissomos formam-

se pela fissão das organelas pré-existentes, com a

importação das proteínas do citoplasma e de

fosfolipídios da membrana do retículo

endoplasmático.276

6.9 Proteassomos

São complexos de proteases presentes no

citoplasma ou no núcleo que digerem as proteínas

marcadas com ubiquitina.277

Assim, são removidas as

enzimas após sua ação, proteínas defeituosas e

proteínas codificadas por vírus, que seriam usadas

para produzir novos vírus.278

O proteassomo tem a forma de barril, sendo

constituído por quatro anéis sobrepostos. Nas

extremidades, há uma partícula reguladora com

ATPase, capaz de reconhecer as proteínas ligadas à

ubiquitina. Esta é uma proteína pequena altamente

conservada na evolução, ou seja, sua estrutura é

praticamente a mesma desde as bactérias até o ser

humano; ela se liga a um resíduo de lisina da proteína

a ser degradada, e outras moléculas de ubiquitina se

prendem à primeira. Esse complexo proteico é

reconhecido pela partícula reguladora. A proteína a

ser removida é desenrolada pela ATPase, com gasto

de energia, e introduzida no proteassomo, onde é

degradada em peptídeos de oito aminoácidos, os quais

são digeridos por enzimas do citoplasma ou têm

outros destinos, como participar da resposta imune.

As moléculas de ubiquitina são liberadas pelas

partículas reguladoras para serem usadas

novamente.279

274

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., p. 39. 275

LOURENÇO et al. Op. cit., p. 387. 276

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 686-687, 708-709. 277

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 47. 278

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Histologia básica. Op. cit., p. 39. 279

Ibid.

7 – QUESTIONÁRIO

1) Qual é o conceito de célula?

2) Qual é o critério usado para classificar as células

em procariontes e eucariontes?

3) Quais são os componentes do microscópio de luz e

para que servem?

4) Qual é o limite de resolução do microscópio de luz?

E do microscópio eletrônico de transmissão?

5) Como se realiza a iluminação de Köhler?

6) Quais são as etapas para a obtenção dos cortes

histológicos?

7) Usando a técnica de coloração hematoxilina e

eosina como exemplo, explique o que são basofilia e

acidofilia?

8) O que é metacromasia?

9) Qual é a técnica de coloração para glicídios e

glicoproteínas?

10) Quais são os fatores que contribuem para

determinar a mofologia celular?

11) Dê exemplos de formas de células e relacione com

a atividade funcional.

12) Qual é a constituição da membrana celular?

13) O que são proteínas integrais e periféricas?

14) O que é o glicocálix? Quais são suas funções?

15) Relacionando com os seus constituintes, qual é a

importância da membrana celular?

16) Quais são as moléculas que atravessam mais fácil

e rapidamente a membrana?

17) Quais são os tipos de transporte pela membrana?

18) Como é denominado o transporte envolvido com a

entrada de material na célula? E aquele envolvido com

a saída?

19) Compare pinocitose e fagocitose.

20) Quais são os componentes do citoesqueleto e

como atuam?

21) Descreva as junções celulares segundo a sua

constituição e função.

22) O nucléolo é uma organela membranosa? Do que

ele é constituído?

23) Compare a mitose e a meiose, resumindo os

acontecimentos de cada fase.

24) Quais são as etapas de modificações nucleares na

apoptose?

25) Descreva as organelas segundo a sua morfologia,

função e exemplo de célula onde são predominantes.

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29

Tecido epitelial Capítulo 2

1 INTRODUÇÃO

As células, que são as menores unidades

estruturais e funcionais dos seres vivos, agrupam-se

em tecidos, e estes, por sua vez, em órgãos. Segundo

as características morfológicas e as propriedades

funcionais, há quatro tipos básicos de tecidos: o tecido

epitelial, o tecido conjuntivo, o tecido muscular e o

tecido nervoso.1 Neste capítulo, o tecido epitelial será

abordado.

O termo tecido epitelial foi introduzido pelo

anatomista holandês Ruysch no século XVIII.2

2 CARACTERÍSTICAS

O epitélio caracteriza-se pela justaposição das

células e pela pouca matriz extracelular (Figura 2.1).3

Figura 2.1 - Tecido epitelial. Imagem obtida ao

microscópio de luz de células pavimentosas ( ) de um

vaso sanguíneo e de células cúbicas ( ) de um túbulo

renal. HE. Objetiva de 100x (1.373x).

3 FUNÇÕES

1 ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. pp. 24, 104. 2 HAY, E. D. Epitélio. In: WEISS, L.; GREEP, R. O. Histologia. 4.ed. Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. p. 93. 3 OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008. p. 30.

A denominação epitélio (do grego epi – sobre;

theleo – papila) refere-se à localização desse tecido

sobre o tecido conjuntivo, que comumente forma

projeções chamadas papilas.4

O revestimento é uma das funções do epitélio. Ele

cobre a superfície do corpo, protegendo-o. Reveste os

tratos digestório, respiratório e urogenital, as

cavidades corporais e os vasos sanguíneos e linfáticos.

O epitélio realiza ainda absorção, como nos intestinos,

excreção, como nos túbulos renais, e secreção, como

nas glândulas.5 Tipos especiais de epitélios

desempenham função sensorial, como o dos órgãos

sensoriais, e função germinativa, como o epitélio dos

testículos.6

4 COMPONENTES

O tecido epitelial é composto pelas células

epiteliais e pela matriz extracelular, que consiste na

lâmina basal.

As células epiteliais são justapostas, poliédricas

(várias faces), com muito citoplasma, citoesqueleto

desenvolvido e polaridade.7,8

Elas são justapostas devido à presença de junções

celulares e de pouca matriz extracelular.9 A

abundância de citoplasma está relacionada com a

intensa atividade bioquímica. Essas células realizam

vários processos metabólicos como síntese e

secreção.10

O citoesqueleto contém filamentos de

actina, filamentos intermediários de vimentina e de

citoqueratina e microtúbulos.11

A citoqueratina está presente somente nas células

epiteliais. A identificação de citoqueratina e inclusive do

4 GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. p. 125. 5 Ibid.

6 HAY. Op. cit., p. 93. 7 HADLER, W. A.; SILVEIRA, S. R. Histofisiologia dos epitélios:

correlação entre a morfologia e a função dos epitélios. Campinas: Ed. UNICAMP, 1993. pp. 9-11. 8 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas.

12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 66. 9 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 30.

10 HADLER & SILVEIRA. Op. cit., p. 10.

11 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 60, 62-68, 72.

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

30

seu tipo por métodos imunocitoquímicos na biopsia de

tumores malignos permite o diagnóstico da sua origem

epitelial.12

A polaridade da célula resulta da diferença na

composição química da membrana plasmática e na

posição das organelas. A diferença na composição

química da membrana plasmática é determinada pela

inserção de certas glicoproteínas em regiões

específicas da membrana plasmática e por junções que

isolam a superfície apical da basolateral, restringindo

o movimento das glicoproteínas na membrana.13

A região da célula voltada para a superfície livre é

o polo apical, enquanto o lado oposto é o polo basal.

O polo apical apresenta canais iônicos, proteínas

transportadoras, incluindo H+ ATPases, e enzimas

hidrolíticas. O polo basal contém canais iônicos, Na+-

K+ ATPases e receptores para hormônios e

neurotransmissores.14

A lâmina basal é uma camada de glicoproteínas

(laminina, colágeno do tipo IV e entactina) e

proteoglicanas secretadas pelas células epiteliais, que,

como o nome diz, se situa na base do tecido. Ela tem

40 a 120nm de espessura e é visível somente ao

microscópio eletrônico (Figura 2.2).15

Figura 2.2 - Eletromicrografia de parte de um capilar, onde

é indicada a lâmina basal (LB) da célula endotelial.

22.000x.

A laminina tem uma forma de cruz, polimerizando-se

nas suas extremidades, na presença de Ca2+

.16

Possui

sítios de ligação para receptores na célula, que são as

integrinas e os distroglicanos, e para os demais

12

LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. p. 53. 13

HADLER & SILVEIRA. Op. cit., p. 11. 14

GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 96. 15

ALBERTS, B.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.;

WALTER, P. Molecular Biology of the cell. 4.ed. New York: Garland Science, 2002. pp. 1106-1107. 16

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 145-147.

componentes da lâmina basal.17

O colágeno é uma glicoproteína em tripla hélice, ou

seja, com três cadeias polipeptídicas enroladas umas nas

outras. As moléculas de colágeno do tipo IV agregam-se

em uma rede.18

A entactina e as proteoglicanas, por se ligarem tanto

à laminina como ao colágeno do tipo IV, contribuem para

a conexão dessas macromoléculas. As cargas negativas

dos glicosaminoglicanos atraem cátions, como o Na+, que

retêm água na lâmina basal, formando um gel.19

Geralmente associada à porção inferior da lâmina

basal, há uma camada de fibras reticulares (colágeno

do tipo III), a lâmina reticular, que é secretada pelo

tecido conjuntivo subjacente. A lâmina basal e a

lâmina reticular compõem a membrana basal.20

A membrana basal é visível ao microscópio de luz

(Figura 2.1), principalmente quando são usadas técnicas

com afinidade aos glicídios, como a reação do ácido

periódico-reativo de Schiff (PAS de periodic acid-Schiff)

ou a impregnação com prata.21

As lâminas basal e reticular mantêm-se unidas

pela fibronectina, uma glicoproteína de adesão; pelas

fibrilas de ancoragem, de colágeno do tipo VII, e

pelas microfibrilas, formadas pela glicoproteína

fibrilina. Essas substâncias também são secretadas

pelas células do conjuntivo. A membrana basal está

ligada à matriz extracelular do tecido conjuntivo pelas

fibrilas de ancoragem.22

A lâmina basal permite a adesão entre o epitélio e

o tecido conjuntivo e é uma barreira de filtração

seletiva para as substâncias que se movimentam entre

esses dois tecidos. Ela influencia a diferenciação e a

proliferação das células epiteliais. Quando as células

perdem o contato com a lâmina basal, elas morrem:

sofrem apoptose. A lâmina basal serve ainda de apoio

para a migração durante o desenvolvimento

embrionário e a regeneração.23,24

No diabetes, há um espessamento da lâmina basal

dos pequenos vasos sanguíneos provocado pelo aumento

na produção de colágeno do tipo IV e de laminina.

17

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 1107-1108. 18

Ibid. pp. 1096-1097. 19

Ibid. pp. 1092, 1094, 1107. 20

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 146. 21

Ibid. 22

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 84-85. 23

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 1106, 1109. 24

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 61.

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HISTOLOGIA

31

Apesar disso, esses capilares são mais permeáveis às

proteínas plasmáticas que os capilares normais, devido à

diminuição na síntese de proteoglicanas.25,26

As células adiposas, as células de Schwann (células

do sistema nervoso periférico) e as células musculares

também apresentam lâmina basal. Como essas células

não possuem uma superfície basal, alguns autores

denominam a lâmina basal de lâmina externa.27

5 ESPECIALIZAÇÕES DA SUPERFÍCIE DAS CÉLULAS EPITELIAIS

As superfícies apical ou basolateral de muitas

células epiteliais são modificadas para o melhor

desempenho da sua função.

5.1 Microvilos (ou microvilosidades)

Os microvilos (do latim villus, tufo de pelos) são

evaginações da superfície apical da célula que

aumentam a superfície de absorção. Eles medem 50 a

100nm de diâmetro e 1 a 3m de comprimento.

Pequenos microvilos são encontrados na superfície da

maioria das células, mas são mais desenvolvidos nas

células absortivas, como as dos túbulos renais e as do

intestino delgado (Figura 2.3), onde são digitiformes e

possuem filamentos de actina que lhe dão sustentação

(Figura 2.4).28,29,30

Figura 2.3 - Fotomicrografia de células colunares e de

células caliciformes ( ) no intestino. M - microvilos. HE.

Objetiva de 100x (1.373x).

25

HADLER & SILVEIRA. Op. cit., p. 66. 26

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 295. 27

Ibid. pp. 60-61, 68, 71, 79-80, 99. 28

HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. pp. 106, 147, 179.

29 LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 43-44.

30 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 115-118.

Figura 2.4 - Microvilos observados ao microscópio

eletrônico de transmissão. G - glicocálix. 13.500x. Cortesia

de Maria Cristina Faccioni-Heuser e Matilde Achaval

Elena, UFRGS.

Os filamentos de actina estão conectados entre si

pelas proteínas fimbrina, vilina, fascina e espina e à

membrana plasmática pela miosina I e pela calmodulina.

Ao entrarem no citoplasma, são estabilizados pela malha

de filamentos de actina e espectrina da trama terminal e

por filamentos intermediários de citoqueratina.31,32

5.2 Estereocílios

Sua denominação está relacionada ao fato de

serem imóveis (do grego stereo, fixos). São

microvilos longos, com 100 a 150nm de diâmetro e

até 120µm de comprimento. Assim como os

microvilos, possuem filamentos de actina no interior,

mas podem ser ramificados. Aumentam a superfície

de absorção, como aqueles do trato reprodutor

masculino, a exemplo do epidídimo (Figura 2.5), ou

são mecanorreceptores sensoriais, como aqueles das

células pilosas da orelha interna.33,34,35

Os filamentos de actina são ligados uns aos outros

pela fimbrina e à membrana plasmática pela ezrina. Eles

são ancorados à trama terminal pela ∞-actinina. Nos

estereocílios das células pilosas auditivas, não há ezrina

e ∞-actinina, e os filamentos de actina são ligados por

espina.36

31

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 93. 32

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 116-117. 33

GENESER. Op. cit., p. 137. 34

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 28. 35

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 117-120, 949-950. 36

Ibid. pp. 117, 119.

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

32

Figura 2.5 - Estereocílios na superfície apical do epitélio

do epidídimo. HE. Objetiva de 40x (550x).

5.3 Placas da membrana

São áreas da membrana celular apical do epitélio

que reveste o trato urinário, capazes de suportar a

osmolaridade da urina, devido à composição

diferenciada, com elevada concentração de

esfingolipídios e a presença de proteínas exclusivas,

as uroplaquinas. São importantes para aumentar a

superfície luminal do órgão, já que ficam dobradas

para o interior da célula quando a bexiga está vazia e

desdobram-se quando a bexiga está cheia.37,38

5.4 Pregas basolaterais (invaginações ou interdigitações)

São invaginações das superfícies basal e laterais

das células. Ocorrem nas células envolvidas no

transporte de líquido e íons, aumentando a superfície

para a inserção de proteínas transportadoras. Há uma

concentração de mitocôndrias entre as invaginações

para fornecer energia ao transporte ativo de íons. A

presença das invaginações e das mitocôndrias confere

uma aparência estriada à porção basal da célula

observada ao microscópio de luz.39

As pregas basolaterais são encontradas, por

exemplo, nos túbulos renais (Figura 2.6) e nos ductos

de glândulas salivares.40

5.5 Cílios

São projeções da superfície apical da célula

maiores que os microvilos: cerca de 250nm de

diâmetro e 5 a 10m de comprimento. Possuem

37

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 44, 49, 310. 38

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 40. 39

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 44, 48. 40

Ibid.

axonema, o que permite o seu movimento, fazendo

com que o material na superfície das células seja

transportado, como ocorre na traqueia (Figuras 2.7 a

2.10).41

Figura 2.6 - Corte semifino do rim, mostrando um túbulo

cujas células possuem microvilos (M), que aumentam a

superfície para absorção de substâncias, e invaginações e

mitocôndrias ( ) para o transporte de íons. Azul de

toluidina. Objetiva de 100x (1.373x).

Figura 2.7 - Fotomicrografia do epitélio da traqueia. As

partículas inaladas são capturadas pelo muco produzido

pelas células caliciformes ( ), e este muco é deslocado

pelos cílios ( ) em direção à faringe, onde é deglutido.

Objetiva de 40x (550x).

Figura 2.8 - Cílios observados ao microscópio eletrônico

de varredura. 8.500x. Cortesia de Maria Cristina Faccioni-

Heuser, UFRGS.

41

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 118-123.

T. Montanari

T. Montanari

T. Montanari

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HISTOLOGIA

33

Figura 2.9 - Eletromicrografia de um tufo de cílios (C) e

microvilos (M), permitindo comparar o seu tamanho.

9.500x. Cortesia de Maria Cristina Faccioni-Heuser,

UFRGS.

Figura 2.10 - Eletromicrografia de transmissão de cílios,

mostrando a estrutura interna de microtúbulos. 23.111x.

Cortesia de Maria Cristina Faccioni-Heuser e Matilde

Achaval Elena, UFRGS.

O axonema (Figura 2.11) consiste em nove pares

periféricos e em um par central de microtúbulos. Os

microtúbulos de cada dupla periférica são adjacentes e

um deles compartilha uma porção da parede com o outro.

O microtúbulo completo, com 13 protofilamentos, é o

microtúbulo A, e o microtúbulo com 10 protofilamentos

é o B. Filamentos radiais projetam-se da subunidade A

em direção à bainha central que circunda o par central.

Projetando-se aos pares, ao longo dos microtúbulos A e

em direção aos microtúbulos B das duplas vizinhas, há as

proteínas motoras dineínas. Com a ligação de ATP, as

dineínas interagem com os microtúbulos B e, com a

hidrólise do ATP, elas se deslocam ao longo desses

microtúbulos em direção à base do cílio. Como os

microtúbulos estão fixos em suas posições pelas

proteínas associadas, entre elas, a nexina, que liga as

duplas vizinhas, os microtúbulos A não podem deslizar

com esse movimento, e as duplas dobram-se, curvando o

cílio. Quando os braços da dineína se soltam da

subunidade B, o cílio retorna à posição retilínea,

promovendo o movimento de partículas na superfície.42,43

Figura 2.11 - Corte transversal do axonema. 187.500x.

Há células que possuem um único cílio: o cílio

primário ou monocílio. Ele tem 250nm de diâmetro e

2 a 3µm de comprimento e exibe um arranjo de

microtúbulos 9+0. É imóvel, curvando-se

passivamente sob um fluxo de líquido. Serve como

antena sensorial, captando estímulos mecânicos,

químicos, osmóticos ou luminosos. É encontrado nas

células pilosas do aparelho vestibular na orelha

interna, nas células dos túbulos renais e nas células da

rede testicular.44

A formação dos cílios envolve a montagem de

novo ou a duplicação dos centríolos e a sua migração

próximo à superfície apical da célula, onde originam

os corpúsculos basais (arranjo de microtúbulos

semelhante ao do centríolo: 9+0), os quais derivam os

axonemas pela polimerização de tubulinas. Os cílios

são montados durante a fase G1 e desmontados antes

da fase M.45

5.6 Flagelo

Possui estrutura semelhante à do cílio, mas é mais

longo (cerca de 55 m) e único na célula. Ocorre no

42 DE ROBERTIS, E. M. F.; HIB, J. De Robertis Bases da Biologia

celular e molecular. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. pp.

82-83. 43

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 94-95. 44

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 118, 121, 124-125. 45

Ibid. pp. 70, 72, 74, 76-77.

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34

espermatozoide, sendo responsável pela sua

motilidade (Figura 2.12).46

Figura 2.12 - Fotomicrografia de espermatozoide humano.

Giemsa. Objetiva de 100x (1.716x).

A síndrome dos cílios imóveis (ou síndrome de

Kartagener, em homenagem ao médico suíço Manes

Kartagener) é uma doença autossômica recessiva, onde

as dineínas não são sintetizadas normalmente, o que

impede o batimento dos cílios e dos flagelos. As pessoas

afetadas são suscetíveis a infeções pulmonares, devido à

estagnação do muco. Os homens com essa síndrome são

estéreis, já que os espermatozoides são imóveis.47,48

6 CLASSIFICAÇÃO

Os epitélios são classificados, segundo a sua

função, em epitélio de revestimento e epitélio

glandular. O epitélio sensorial e o epitélio germinativo

podem ser considerados epitélios de revestimento ou

classificados como epitélio especial.49,50

Nem sempre se pode fazer uma distinção clara

entre epitélio de revestimento e epitélio glandular. Por

exemplo, o epitélio de revestimento do estômago é

constituído somente por células secretoras de muco.51

6.1 Epitélio de revestimento

A justaposição das células epiteliais permite a

formação de camadas celulares contínuas que

revestem superfícies, como a superfície externa do

46

GENESER. Op. cit., p. 140. 47 Ibid. p. 139. 48

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 46. 49

DYM, M. O sistema reprodutor masculino. In: WEISS, L.; GREEP, R.

O. Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. p. 828. 50 HAY. Op. cit., p. 93. 51

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 73, 288.

corpo, a superfície dos órgãos, das cavidades, dos

vasos ou dos ductos.52

O epitélio de revestimento é classificado segundo

a forma das células e o número de camadas

celulares.53

A morfologia da célula está relacionada à sua

função e é determinada por fatores extrínsecos e

intrínsecos, como, por exemplo, pressões externas,

organização do citoesqueleto, quantidade de

citoplasma e de organelas e acúmulo de produtos de

reserva ou secreção.54

Quando a largura e o comprimento da célula são

maiores que a altura, a célula é dita pavimentosa.

Quando a altura é igual à largura e ao comprimento,

ela é denominada cúbica. Quando a altura é maior que

a largura e o comprimento, a célula é colunar,

cilíndrica ou prismática (Figuras 2.1 e 2.3).55

As células pavimentosas facilitam a passagem de

substâncias como ocorre com as células dos vasos

sanguíneos (endotélio). As células cúbicas e as células

colunares têm a altura aumentada pela presença de um

maior número de organelas para exercer atividade de

secreção, de absorção ou de transporte de íons.56

Como frequentemente não se veem os limites das

células (a membrana plasmática é muito fina e não é

visível ao microscópio de luz), pode-se ter uma ideia

da forma da célula pelo núcleo, porque seu maior eixo

é geralmente paralelo ao eixo longitudinal da

célula.57,58 Isso não é válido para células que retêm

seus produtos de secreção, porque o núcleo fica

comprimido por essas substâncias.59

É o caso da

célula caliciforme, que sintetiza glicoproteínas

(Figuras 2.3 e 2.7).

Se houver somente uma camada de células, o

epitélio é dito simples. Se houver mais de uma,

estratificado.60

Se as células de um epitélio simples forem

pavimentosas, ele é denominado epitélio simples

pavimentoso, como é o caso do revestimento dos

vasos sanguíneos (Figura 2.1); se forem cúbicas,

epitélio simples cúbico, que constitui, por exemplo, os

túbulos renais (Figura 2.1), e se forem colunares

52

Ibid. pp. 66, 73. 53

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 112. 54

HADLER, W. A.; SILVEIRA, S. R. Histofisiologia dos epitélios:

correlação entre a morfologia e a função dos epitélios. Campinas: Editora da UNICAMP, 1993. pp. 10, 13, 15. 55

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 33-34. 56

Ibid. pp. 31-34. 57

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 67. 58

GENESER. Op. cit., p. 140. 59

HADLER & SILVEIRA. Op. cit., p. 10. 60

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 73.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

35

(prismáticas ou cilíndricas), epitélio simples colunar

(prismático ou cilíndrico), como o dos intestinos.61

A presença da especialização da superfície apical62

e de outras células no epitélio também é mencionada.

Assim, por exemplo, nos intestinos, o epitélio é

simples colunar com microvilos e células caliciformes

(Figura 2.3).

O epitélio simples pavimentoso dos vasos

sanguíneos e dos vasos linfáticos é o endotélio, e o

epitélio simples pavimentoso que delimita as cavidades

pleural, pericárdica e peritoneal, o mesotélio.63

Um tipo especial de epitélio simples é o epitélio

pseudoestratificado. Todas as células apóiam-se na

lâmina basal, mas possuem diferentes tamanhos:

células baixas, que são as basais, e células mais altas,

colunares. Os núcleos estão, portanto, em diferentes

alturas, lembrando o epitélio estratificado.64

Epitélio pseudoestratificado colunar com

estereocílios é encontrado no trato reprodutor

masculino, como, por exemplo, no epidídimo (Figura

2.5), e epitélio pseudoestratificado colunar ciliado

com células caliciformes é encontrado nas vias

respiratórias, como na traqueia (Figura 2.7).65

Há ainda o epitélio de transição, que era

geralmente considerado estratificado, mas cortes

semifinos (0,5 a 1m de espessura) e a microscopia

eletrônica demonstraram a continuidade das células

com a lâmina basal. Portanto, é um epitélio

pseudoestratificado.66,67

Nesse tecido, a forma das células e o número de

camadas visíveis variam conforme o órgão esteja

relaxado ou distendido. No estado relaxado, aparenta

uma espessura de quatro a sete células, com células

basais cúbicas ou colunares, células intermediárias

poliédricas e células superficiais globosas ou em

guarda-chuva (Figura 2.13). No estado distendido, são

observados dois ou três estratos celulares, e as células

superficiais tornam-se pavimentosas. Como reveste o

trato urinário, é também denominado urotélio.68

61

GENESER. Op. cit., pp. 125-126. 62

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 113. 63

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 73. 64

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 92. 65

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 35. 66

KÜHNEL, W. Atlas de Citologia, Histologia e Anatomia microscópica

para teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. p. 70. 67

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 39. 68

Ibid.

Se o epitélio é estratificado, o formato das células

da camada mais superficial é que o denominará.69

Então, se as células forem pavimentosas, tem-se o

epitélio estratificado pavimentoso, como é o caso no

esôfago (Figura 2.14); se cúbicas, o epitélio

estratificado cúbico, como, por exemplo, o dos ductos

das glândulas sudoríparas, e, se colunares, o epitélio

estratificado colunar, como o dos grandes ductos das

glândulas salivares.70

Figura 2.13 - Epitélio de transição da bexiga. HE. Objetiva

de 40x (550x).

Figura 2.14 - Epitélio estratificado pavimentoso do

esôfago. HE. Objetiva de 40x (550x).

No epitélio estratificado pavimentoso, as células

variam na sua forma conforme a sua localização. A

camada basal possui um grande número de células,

resultante da divisão mitótica, o que faz com que as

pressões nas superfícies laterais sejam maiores e as

células sejam colunares. Quando as células vão para

as camadas superiores, as pressões são igualmente

exercidas sobre elas, e a forma é poliédrica. Por

estarem afastadas da fonte de nutrição, que consiste

nos vasos sanguíneos do tecido conjuntivo subjacente,

as células das camadas superficiais são achatadas e

relativamente inertes do ponto de vista metabólico.71,72

A forma das células e o seu arranjo em camadas

estão relacionados com a sua função. O epitélio 69

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 113. 70

HAY. Op. cit., pp. 95-96. 71

HADLER & SILVEIRA. Op. cit., p. 10. 72

HAY. Op. cit., p. 96.

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TATIANA MONTANARI

36

simples pavimentoso, pela sua pequena espessura,

facilita a passagem de substâncias e gases. Além da

proteção de superfícies úmidas, os epitélios simples

cúbico e colunar, incluindo o pseudoestratificado, pela

riqueza de organelas e presença de especializações da

superfície, realizam absorção, secreção ou transporte

de íons. O epitélio de transição pode se distender para

acomodar o volume de urina. O epitélio estratificado

cúbico e o epitélio estratificado colunar são

geralmente regiões de transição entre o epitélio

simples cúbico ou colunar e o epitélio estratificado

pavimentoso. Eles são mais adequados para resistir a

desgastes do que os epitélios simples. O epitélio

estratificado pavimentoso suporta o atrito.73

O epitélio estratificado pavimentoso pode ser

queratinizado, como ocorre na pele (Figura 2.15).74

Figura 2.15 - Epitélio estratificado pavimentoso

queratinizado da pele (D - ducto da glândula sudorípara).

HE. Objetiva de 10x (137x).

À medida que as células se deslocam para as

camadas superiores do epitélio, elas produzem

proteínas de citoqueratina com peso molecular maior

e proteínas especializadas que interagem com os

feixes de filamentos de citoqueratina, resultando na

queratina.75

73

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 31-34, 36, 38-39. 74

GENESER. Op. cit., pp. 127-128. 75

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 51.

A camada superficial de células mortas,

queratinizadas confere maior resistência ao atrito e

proteção contra a invasão de micro-organismos. Além

disso, a presença de fosfolipídios exocitados no

espaço intercelular é uma barreira impermeável à água

e evita a dessecação.76,77

Devido a um agente agressor, o tecido pode ser

transformado em outro, o que é denominado metaplasia.

Por exemplo, em fumantes, o epitélio pseudoestratificado

das vias respiratórias pode ser substituído por epitélio

estratificado pavimentoso.78

6.2 Epitélio glandular

Em alguns epitélios de revestimento, há a

presença de células secretoras que são consideradas

glândulas unicelulares, como as células caliciformes

no epitélio dos intestinos e da traqueia (Figuras 2.3 e

2.7).79

A necessidade de uma quantidade maior de

secreção é suprida por um aumento da área do epitélio

secretor com a sua invaginação, o seu enovelamento

ou a sua ramificação, formando as glândulas

pluricelulares.80

Elas podem ser envolvidas por uma

cápsula de tecido conjuntivo que emite septos,

dividindo-as em lobos, que, por sua vez, são

subdivididos em unidades menores, os lóbulos.

Através dos septos, vasos sanguíneos e fibras nervosas

penetram na glândula. As células epiteliais constituem

o parênquima da glândula, enquanto o tecido

conjuntivo, o estroma.81

As glândulas originam-se do epitélio de

revestimento pela proliferação de suas células, com

invasão do tecido conjuntivo subjacente e posterior

diferenciação. Quando as células permanecem

conectadas à superfície epitelial, um ducto é formado,

e a secreção vai para a superfície através desse ducto.

Essa glândula é dita exócrina. Quando as células

perdem essa conexão, a secreção é liberada para os

vasos sanguíneos, e a glândula é endócrina.82

As glândulas exócrinas podem ser classificadas

segundo:

(1) forma da porção secretora em:

76

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 180-181. 77

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 49, 51. 78

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 105. 79

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 153. 80

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 49. 81

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 190-191. 82

GENESER. Op. cit., pp. 141, 148.

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HISTOLOGIA

37

– tubular, se ela tiver essa forma, podendo ainda ser

reta, como a glândula de Lieberkühn dos intestinos

(Figura 2.16) ou enovelada, como a glândula

sudorípara (Figura 2.17);83

– acinosa ou alveolar (do latim acinus, uva ou bago e

alveolus, pequeno saco vazio), se for arredondada.84

A

glândula salivar parótida é um exemplo de glândula

acinosa,85

e a glândula sebácea, por ter uma luz maior,

é alveolar (Figura 2.17);86

– tubuloacinosa, quando há os dois tipos de porções

secretoras. Ex.: glândulas salivares sublinguais e

submandibulares (Figura 2.18);87

(2) ramificação da porção secretora em:

– simples, quando não há ramificação. Ex.: glândula

de Lieberkühn (ou intestinal) (Figura 2.16) e glândula

sudorípara (Figura 2.17);88

Figura 2.16 - O epitélio que reveste a luz do intestino

grosso invagina-se, formando as glândulas de Lieberkühn

(ou intestinais), que são glândulas exócrinas tubulares

simples retas. HE. Objetiva de 10x (137x).

– ramificada, quando há ramificação. Ex.: glândula

sebácea (Figura 2.17) e glândula submandibular

(Figuras 2.18);89,90

83

Ibid. pp. 144-145. 84

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 189. 85

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 42, 274. 86

GENESER. Op. cit., p. 145. 87

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 42, 274. 88

GENESER. Op. cit., pp. 144-145. 89

Ibid.

(3) ramificação do ducto em:

– simples, quando não há ramificação. Ex.: glândula

intestinal (ou de Lieberkühn) (Figura 2.16) e glândula

sudorípara (Figura 2.17);91

– composta, quando há ramificação. Ex.: glândulas

salivares;92

(4) tipo de secreção:

– serosa (do latim serum, soro)93

: secreta um fluido

aquoso, rico em enzimas. As células serosas possuem

um formato piramidal e citoplasma basófilo, devido

ao retículo endoplasmático rugoso desenvolvido para

a síntese das enzimas, e um núcleo basal, esférico e

eucromático, com um ou dois nucléolos. Ex.:

glândulas salivares parótidas;94

– mucosa: secreta o muco, um fluido viscoso, com

glicoproteínas. As células apresentam citoplasma

claro e vacuolizado, porque os grânulos com essas

substâncias geralmente dissolvem-se nas preparações

em HE. O núcleo é achatado e comprimido contra a

periferia da célula pelas vesículas de secreção. Ex.:

glândulas duodenais (ou de Brünner);95

– seromucosa (ou mista): tem células serosas e

mucosas. Ex.: glândulas salivares submandibulares

(Figura 2.18) e sublinguais;96

(5) liberação da secreção em:

– merócrina (ou écrina), em que a secreção é

exocitada sem dano à célula.97

É o caso da maioria das

glândulas.98

Ex.: células caliciformes e células

acinosas do pâncreas;99

– apócrina, em que a secreção e uma parte do

citoplasma apical são perdidas. Ex.: glândulas

sudoríparas odoríferas, glândulas mamárias, glândulas

ceruminosas do meato acústico externo e glândulas de

Moll da pálpebra;100,101

– holócrina (do grego holos, tudo),102

em que a célula

morre e é liberada junto com a secreção. Ex.: glândula

sebácea (Figura 2.17) e glândulas tarsais (de

Meibômio) da pálpebra.103

No Quadro 2.1, há um resumo da classificação das

glândulas exócrinas.

90

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 155, 572. 91

GENESER. Op. cit., pp. 144-145. 92

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 154-155. 93

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 189. 94

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 42-44. 95

Ibid. pp. 42-43, 45, 297. 96

Ibid. pp. 42-43, 45, 274, 276. 97

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 79. 98

HAY. Op. cit., p. 116. 99

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 192.

100 GENESER. Op. cit., pp. 141, 364-365, 541, 572, 577.

101 KÜHNEL. Op. cit., pp. 82-83, 360-363.

102 HAM & CORMACK. Op. cit., p. 192.

103 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 153.

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38

Figura 2.17 - O epitélio do couro cabeludo invagina-se,

formando os folículos pilosos ( ), onde se origina o pelo;

as glândulas sebáceas, que são glândulas exócrinas

alveolares ramificadas holócrinas ( ), e as glândulas

sudoríparas, que são glândulas exócrinas tubulares simples

enoveladas ( ). HE. Objetiva de 4x (55x).

Em torno das glândulas exócrinas, entre as células

epiteliais e a lâmina basal, há as células mioepiteliais

(Figura 2.19). Elas são estreladas ou fusiformes, e os

prolongamentos se unem por desmossomos. Possuem

filamentos de actina e moléculas de miosina, que

promovem a sua contração e assim a compressão da

glândula e a expulsão da secreção. Há filamentos

intermediários de citoqueratina, o que confirma a

origem epitelial, e de desmina, presentes também nas

células musculares.104,105

104

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 85-86. 105

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 82.

Figura 2.18 - A glândula submandibular apresenta células

mucosas e serosas. As células mucosas arranjam-se em uma

forma tubular ( ), enquanto as células serosas arranjam-se

em forma arredondada ( ). A porção secretora mucosa

ramifica-se. É uma glândula tubuloacinosa ramificada

seromucosa. HE. Objetiva de 40x (550x).

Figura 2.19 - Célula mioepitelial ( ) em torno da glândula

uterina de camundonga. Objetiva de 100x.

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HISTOLOGIA

39

Quadro 2.1 - Classificação das glândulas exócrinas.

Forma da porção secretora tubular reta Ex.: glândula intestinal (ou de Lieberkühn)

enovelada Ex.: glândula sudorípara

acinosa Ex.: glândula salivar parótida

ou alveolar Ex.: glândula sebácea

Ramificação da porção secretora simples Ex.: glândula intestinal, glândula sudorípara

ramificada Ex.: glândula sebácea, glândula submandibular

Ramificação do ducto simples Ex.: glândula intestinal, glândula sudorípara

composta Ex.: glândula salivar parótida

Tipo de secreção serosa Ex.: glândula salivar parótida

mucosa Ex.: glândula duodenal (ou de Brünner)

seromucosa Ex.: glândula salivar submandibular

Liberação da secreção merócrina Ex.: glândula salivar submandibular

apócrina Ex.: glândula mamária

holócrina Ex.: glândula sebácea

As glândulas endócrinas são classificadas segundo

o arranjo das células epiteliais em:

– folicular, quando as células se arranjam em folículos

(do latim folliculus, pequeno saco),106

ou seja,

vesículas, onde se acumula a secreção. Ex.: tireoide

(Figura 2.20);107

– cordonal, quando as células se dispõem enfileiradas,

formando cordões que se anastomosam ao redor de

capilares. Ex.: paratireoide (Figura 2.21), adrenal (ou

suprarrenal) (Figura 2.22) e adeno-hipófise.108

Há órgãos com funções exócrinas e endócrinas,

sendo considerados glândulas mistas. Por exemplo, o

pâncreas é uma glândula exócrina acinosa composta

serosa, que libera o suco pancreático no duodeno, e

possui as ilhotas de Langerhans, glândulas endócrinas

cordonais, secretoras dos hormônios insulina e

glucagon para a corrente sanguínea (Figura 2.23).109

106

GENESER. Op. cit., p. 147. 107

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 77. 108

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 111. 109

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 77, 79.

Figura 2.20 - A tireoide é uma glândula endócrina

folicular, já que as células epiteliais formam folículos, onde

armazenam os hormônios secretados. Estes posteriormente

vão para os vasos sanguíneos do conjuntivo. HE. Objetiva

de 40x (550x).

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40

Figura 2.21 - A paratireoide é uma glândula endócrina

cordonal, porque as células epiteliais arranjam-se em

cordões e secretam hormônios para os vasos sanguíneos

( ). HE. Objetiva de 40x (550x).

Figura 2.22 - A suprarrenal (ou adrenal) é uma glândula

endócrina cordonal. Objetiva de 10x.

Figura 2.23 - O pâncreas é uma glândula mista, constituída

pelas ilhotas de Langerhans (IL), cujas células epiteliais,

arranjadas em cordões, secretam insulina e glucagon para a

corrente sanguínea ( ), e pelos ácinos serosos (S) que

sintetizam as enzimas digestivas que vão, através de ductos

(D), para o duodeno. O núcleo no centro dos ácinos é da

célula centroacinosa ( ), que pertence ao ducto que

penetra na porção secretora. HE. Objetiva de 40x (550x).

7 CÉLULAS EPITELIAIS ESPECIALIZADAS

Há células especializadas em uma atividade

funcional e, para executá-la, possuem determinadas

organelas mais desenvolvidas do que outras. Estas

funções são:

– síntese de proteínas, como a célula serosa das

glândulas salivares (Figura 2.18) e do pâncreas

(Figuras 2.23 e 2.24). Essa célula exibe formato

cilíndrico ou piramidal. O núcleo é claro, devido à

cromatina frouxa, o que facilita a transcrição do DNA

em RNAm. O nucléolo é proeminente, já que

corresponde à região do DNA transcrito em RNAr, o

qual se associa a proteínas, formando as subunidades

dos ribossomos. O citoplasma, especialmente na

porção basal da célula, é basófilo por causa do retículo

endoplasmático rugoso desenvolvido para a tradução

do RNAm em proteínas. As enzimas sintetizadas são

armazenadas em grânulos na porção apical da célula

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HISTOLOGIA

41

e, conforme a sua carga elétrica, podem conferir uma

coloração basófila ou eosinófila a essa região (Figuras

2.23 e 2.24);110,111

Figura 2.24 - Representação da célula serosa do pâncreas.

Baseado em Junqueira, L. C.; Carneiro, J. Histologia

básica: texto e atlas. 12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2013. pp. 34, 84.

– síntese de glicoproteínas, como a célula caliciforme

dos intestinos (Figura 2.3) e do sistema respiratório

(Figura 2.7) e a célula mucosa das glândulas salivares

(Figura 2.18). A síntese proteica e o início da

glicosilação ocorrem no retículo endoplasmático

rugoso, e o restante da glicosilação e o

empacotamento das glicoproteínas em vesículas, no

Golgi. Portanto, essas duas organelas são as mais

desenvolvidas. Os grânulos de secreção comprimem o

núcleo na base da célula. Geralmente esse material se

dissolve na rotina histológica, e o citoplasma aparece

palidamente corado e vacuolizado nos cortes com HE

(Figuras 2.3, 2.7 e 2.18).112

Entretanto com o PAS, ele

fica em vermelho ou magenta (Figura 2.25);

– síntese de lipídios, como as células da suprarrenal

(ou adrenal) (Figuras 2.22 e 2.26). Elas têm muito

retículo endoplasmático liso, já que é nessa organela

que ocorre a síntese dos hormônios esteroides, e

mitocôndrias, que, além de possuírem enzimas

envolvidas na síntese, fornecem energia para o

processo. A abundância dessas organelas

membranosas torna o citoplasma eosinófilo. Muitas

gotículas de lipídios com os precursores desses

110

Ibid. p. 82. 111

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 42-44. 112

Ibid. pp. 42-43, 45, 297.

hormônios estão presentes, conferindo um aspecto

vacuolizado ao citoplasma visto ao microscópio de luz

(Figuras 2.22 e 2.26);113,114

Figura 2.25 - Células caliciformes no intestino delgado

coradas pelo PAS, devido à presença de glicoproteínas.

PAS/H. Objetiva de 40x.

Figura 2.26 - Células da suprarrenal, cujo citoplasma

eosinófilo se deve à riqueza em retículo endoplasmático

liso e mitocôndrias para a síntese de hormônios esteroides.

A vacuolização é resultado da perda das gotículas lipídicas

no processamento histológico. HE. Objetiva de 40x (550x).

– transporte de íons, como as células dos túbulos

renais (Figuras 2.6 e 2.27). A superfície apical da

célula é bastante permeável à água, aos eletrólitos e às

pequenas moléculas, e a superfície basolateral

apresenta invaginações que aumentam a superfície

para a localização de proteínas que transportam íons,

como o Na+, para fora da célula.

115 As zônulas de

oclusão entre as células evitam o retorno dos íons

bombeados. Há muitas mitocôndrias entre as

invaginações para o fornecimento de energia porque

esse transporte é ativo (Figura 2.6).116

A presença

113

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 86-87. 114

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 48. 115

HADLER & SILVEIRA. Op. cit., p. 12. 116

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 81.

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42

dessas organelas confere um aspecto estriado à base

das células coradas com HE.117

Muito antes do advento da microscopia eletrônica, a

identificação das mitocôndrias já havia sido feita por

Altmann usando fucsina ácida (Figura 2.27). 118

Figura 2.27 - Mitocôndrias coradas em um túbulo renal.

Altmann. Objetiva de 100x (1.373x).

– sensorial, como as células olfatórias e as dos

corpúsculos gustativos. São células diferenciadas,

com terminações nervosas (células neuroepiteliais),

que captam os estímulos do ambiente;119

– germinativa, como as células dos túbulos

seminíferos nos testículos que se diferenciam nos

espermatozoides (Figura 2.28).120

8 NUTRIÇÃO E INERVAÇÃO

Os epitélios não são vascularizados (com exceção

de um epitélio estratificado na orelha interna), e sua

nutrição é feita por difusão a partir dos vasos

sanguíneos que correm no tecido conjuntivo.121

Alguns epitélios contêm células neuroepiteliais,

permitindo o olfato, a audição, a visão e o gosto, e o

117

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 44, 48. 118

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 109. 119 HAY. Op. cit., p. 93. 120 Ibid. 121

GENESER. Op. cit., pp. 120, 125, 586.

epitélio da pele é inervado por terminações nervosas

livres que contribuem para o tato.122

Figura 2.28 - Corte de testículo, mostrando o epitélio

germinativo dos túbulos seminíferos. HE. Objetiva de 40x

(550x).

O epitélio regenera-se facilmente, devido à mitose

das suas células. A velocidade dessa regeneração, no

entanto, varia conforme o tecido. Por exemplo, o epitélio

do intestino renova-se entre quatro e seis dias, e o

epitélio da pele, em aproximadamente 28 dias.123

Os tumores epiteliais benignos são de dois tipos:

papilomas, que surgem na superfície epitelial, e

adenomas, oriundos do epitélio glandular. Os tumores

epiteliais malignos são: carcinoma, que resulta do

epitélio superficial, e adenocarcinoma, que se origina de

um epitélio glandular.124

9 QUESTIONÁRIO

1) Quais são as características do tecido epitelial?

2) Quais são as funções do tecido epitelial?

122 HAY. Op. cit., p. 93. 123

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 105. 124

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 30.

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HISTOLOGIA

43

3) Quais são os componentes do tecido epitelial?

Descreva-os, mencionando os seus constituintes e as

suas funções.

4) Qual é a proteína do citoesqueleto presente somente

nas células epiteliais?

5) Descreva as especializações da superfície das

células epiteliais, citando suas funções e dê exemplos

de onde ocorrem.

6) O que é e qual é a causa da síndrome de

Kartagener?

7) Classifique o tecido epitelial, justifique as

denominações e exemplifique sua ocorrência.

8) Dê exemplos de células epiteliais especializadas e

descreva a sua morfologia.

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45

Tecido Conjuntivo Capítulo 3

1 – CARACTERÍSTICAS

O tecido conjuntivo caracteriza-se pela grande

variedade de células e pela abundância de matriz

extracelular.1,2

2 – FUNÇÕES

O tecido conjuntivo foi assim denominado porque

une tecidos, servindo para conexão, sustentação e

preenchimento.3 A composição diferenciada da sua

matriz extracelular faz com que absorva impactos,

resista à tração ou tenha elasticidade. Pode ser

especializado em armazenar gordura, que é utilizada

na produção de energia ou calor, ou em armazenar

íons, como o Ca2+

, importante em vários processos

metabólicos. Ele é ainda responsável pela defesa do

organismo, pela coagulação sanguínea, pela

cicatrização e pelo transporte de gases, nutrientes e

catabólitos.4

3 – COMPONENTES

Como os demais tecidos, o tecido conjuntivo é

composto por células e por matriz extracelular.5

As células do tecido conjuntivo propriamente dito

são: as células mesenquimais, os fibroblastos, os

plasmócitos, os macrófagos, os mastócitos, as células

adiposas e os leucócitos. Há outras células nos tecidos

conjuntivos especiais, como condroblastos e

condrócitos; células osteoprogenitoras, osteoblastos,

osteócitos e osteoclastos; células hematopoéticas, e

células sanguíneas.6 Enquanto as células do tecido

1 GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. pp. 157,

165. 2 ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. pp. 105, 164. 3 HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. p. 197. 4 OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008. pp. 52, 55, 58-59, 67, 69, 132, 147, 166. 5 Ibid. p. 52.

6 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 187, 207, 231-235, 276-277, 299.

conjuntivo propriamente dito serão descritas a seguir,

as células dos tecidos conjuntivos especiais serão

abordadas quando esses tipos de conjuntivo forem

tratados.

A matriz extracelular varia na sua composição

conforme as células presentes no tecido conjuntivo.

Geralmente ela é formada por uma parte fibrilar, com

as fibras colágenas, as fibras reticulares e/ou as fibras

elásticas, e por uma parte não fibrilar, a substância

fundamental, com os glicosaminoglicanos, as

proteoglicanas e as glicoproteínas. As propriedades da

matriz extracelular conferem a cada tipo de tecido

conjuntivo suas características funcionais.7,8

Além de proporcionar suporte estrutural ao tecido,

a matriz extracelular regula o comportamento das

células, influenciando sua proliferação, diferenciação,

migração, morfologia, atividade funcional e

sobrevivência.9

3.1 – Células mesenquimais

As células do tecido conjuntivo são derivadas das

células mesenquimais, que são células-tronco

pluripotentes. O mesênquima é um tecido embrionário

proveniente do mesoderma e, na região da cabeça,

também da crista neural, de origem ectodérmica.10

As células mesenquimais têm um aspecto

estrelado ou fusiforme, devido aos prolongamentos.

Há junções comunicantes entre os prolongamentos de

células vizinhas. O espaço extracelular é ocupado pela

abundante substância fundamental e por esparsas

fibras reticulares (Figura 3.1).11,12

7 GENESER. Op. cit., pp. 157-158.

8 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 164, 168, 181-182.

9 ALBERTS, B.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K;

WALTER, P. Molecular Biology of the cell. 4.ed. New York: Garland

Science, 2002. p. 1090. 10

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 52, 54. 11

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 210, 212. 12

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 166.

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46

Figura 3.1 - Mesênquima que derivará o tecido conjuntivo

da pele em feto de camundongo. HE. Objetiva de 100x

(1.373x).

O tecido conjuntivo do adulto contém uma

população pequena de células mesenquimais. Elas

estão localizadas, por exemplo, na polpa dentária e ao

redor de pequenos vasos sanguíneos, onde são

chamadas pericitos.13,14

As células mesenquimais são capazes de se

transformar em fibroblastos e em miofibroblastos,

contribuindo para o reparo do tecido. Produzem citocinas

e fatores de crescimento que influenciam a diferenciação

de outras células, como células epiteliais e células

musculares.15

3.2 – Fibroblastos

São as células mais comuns no tecido conjuntivo

propriamente dito. Os fibroblastos são alongados ou

estrelados, com longos prolongamentos, núcleo

eucromático e um ou dois nucléolos proeminentes

(Figura 3.2).16

O retículo endoplasmático rugoso e o

complexo de Golgi são bem desenvolvidos, pois

sintetizam os componentes da matriz extracelular: as

fibras colágenas, as fibras reticulares, as fibras

elásticas e a substância fundamental (Figura 3.3).

Produzem também fatores de crescimento que

controlam a proliferação e a diferenciação celular.17

13

GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 128. 14

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 54. 15

Ibid. 16

Ibid. pp. 55, 56. 17

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas.

12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 90.

Figura 3.2 - Fibroblastos. HE. Objetiva de 100x (1.373x).

Figura 3.3 - Microscopia eletrônica de dois fibroblastos

com fibrilas colágenas (FC) depositadas entre eles. Cortesia

de Maria Cristina Faccioni-Heuser, UFRGS.

O citoplasma, inclusive nos prolongamentos, é

rico em filamentos de vimentina (marcador de origem

mesodérmica) e de actina (fibras de estresse). A

interação do citoesqueleto com os componentes da

matriz extracelular é proporcionada pelas proteínas

transmembranas integrinas nas junções de adesão

focal. Essas junções permitem a adesão à matriz, o

movimento da célula e a transdução de sinais.18,19

Nos tecidos embrionários, nos tendões e in vitro,

os fibroblastos estão conectados por junções

comunicantes e de adesão.20

Os fibroblastos inativos (fibrócitos) são menores,

mais ovoides, com núcleo mais heterocromático e

uma menor quantidade de retículo endoplasmático.21

18 COLLARES-BUZATO, C. B. Junções celulares. In: CARVALHO, H.

F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. pp.

157-161. 19

MORAES, S. G.; JOAZEIRO, P. P. Fibroblasto. In: CARVALHO, H.

F.; COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. pp. 24-25. 20

Ibid. pp. 22, 24. 21

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 117.

T. Montanari T. Montanari

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HISTOLOGIA

47

Após uma lesão, estimulados pelo fator de

crescimento dos fibroblastos (FGF de fibroblast growth

factor), produzido pelos macrófagos, os fibroblastos

proliferam. Eles secretam a matriz extracelular,

contribuindo para a cicatrização.22

Sob a influência do fator de crescimento de

transformação-β1 (TGF-β1 de transforming growth

factor β1), os fibroblastos diferenciam-se nos

miofibroblastos, expressando ∞-actina do músculo liso

(∞-SMA de ∞-smooth muscle actin).23

Assim, além da

síntese de colágeno, por possuírem filamentos de actina

associados à miosina, são capazes de se contrair,

retraindo o tecido cicatricial.24

Como as células mioepiteliais e as células

musculares lisas, os miofibroblastos possuem desmina.25

Entretanto diferentemente daquelas, não exibem lâmina

externa.26

Há junções comunicantes no contato dos

prolongamentos de células vizinhas.27

3.3 – Macrófagos

O processo de fagocitose (do grego phageîn, comer;

osis, processo) foi observado pela primeira vez pelo

zoólogo e anatomista russo Elie Metchnikoff, em 1882.

Ele cravou espinhos de rosa em larvas de estrelas-do-mar

e visualizou, no segundo dia, células móveis ao redor do

material estranho. Descobriu que os vertebrados

possuíam dois tipos de células capazes de reagir contra

micro-organismos: os micrófagos (neutrófilos) e os

macrófagos.28,29

Após os fibroblastos, os macrófagos são as células

mais comuns no tecido conjuntivo propriamente dito

(Figura 3.4).30

Os macrófagos são oriundos dos monócitos que

migraram do sangue para o tecido conjuntivo. A

transformação de uma célula na outra envolve um

maior desenvolvimento do retículo endoplasmático

rugoso e do Golgi para a síntese de enzimas

lisossômicas, um aumento no número de lisossomos e

no tamanho da célula.31

22 GENESER. Op. cit., p. 166.

23 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 187, 190.

24 LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. pp. 63, 81-82. 25

Ibid. pp. 77, 81-82. 26

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 111, 117. 27

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 187. 28

GOLDBERG, B.; RABINOVITCH, M. Tecido conjuntivo. In: WEISS,

L.; GREEP, R. O. Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,

1981. p. 121. 29

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 238. 30

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 65. 31

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 93-94.

Os macrófagos têm cerca de 10 a 30m de

diâmetro. O núcleo é ovoide ou com forma de rim e

excêntrico. O citoplasma apresenta retículo

endoplasmático rugoso e Golgi bem desenvolvidos e

abundância de lisossomos (Figuras 3.5 e 3.6).32

A superfície é irregular, com projeções que

ajudam no movimento ameboide e na fagocitose. Na

membrana, há receptores para IgG, sintetizadas pelos

plasmócitos, e para as proteínas do sistema

complemento, produzidas inclusive pelos macrófagos.

As Ig e o complemento recobrem os micro-

organismos e as células, e a ligação dessas substâncias

com os receptores atua como um sinal para o

macrófago enviar pseudópodos e realizar a

fagocitose.33

Os macrófagos são capazes de fagocitar e digerir

bactérias, restos celulares e substâncias estranhas

(Figuras 3.4 a 3.6). Eles secretam colagenase, elastase

e enzimas que degradam glicosaminoglicanos,

facilitando a migração pela matriz extracelular.

Liberam ainda lisozima, que destrói a parede das

bactérias.34,35

Durante a fagocitose, produzem espécies reativas

de oxigênio e de nitrogênio, como o superóxido, o

óxido nítrico e o radical hidroxila, que são tóxicos aos

micro-organismos.36

Figura 3.4 - Pele de um animal injetado com nanquim,

onde se observa a abundância de macrófagos (histiócitos)

marcados em preto devido à fagocitose do nanquim. HE.

Objetiva de 10x.

32

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 125. 33

GOLDBERG & RABINOVITCH. Op. cit., pp. 121, 123, 126. 34

Ibid. p. 126. 35 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 188. 36

GIORGIO, S. Macrófagos. In: CARVALHO, H. F.; COLLARES-

BUZATO, C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar. Barueri:

Manole, 2005. pp. 376, 378.

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

48

Figura 3.5 - Macrófago do fígado (célula de Kupffer) que

fagocitou partículas de nanquim. HE. Objetiva de 100x

(1.373x).

Figura 3.6 - Eletromicrografia de um macrófago. L –

lisossomos. 6.286x.

Os antígenos da célula fagocitada são

demonstrados na superfície das moléculas do

complexo de histocompatibilidade principal da classe

II (MHC II) aos linfócitos T auxiliares (helper), que

deflagram a resposta imune. Por isso, os macrófagos

são denominados células apresentadoras de

antígeno.37

Os macrófagos duram dois a três meses.38

Com o objetivo de englobar ou fagocitar uma grande

partícula, os macrófagos podem se fundir nas células

gigantes de corpo estranho.39

37 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 188-189, 295. 38

GOLDBERG & RABINOVITCH. Op. cit., p. 126. 39

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 240-241.

3.4 – Plasmócitos

São mais numerosos no tecido conjuntivo do tubo

digestório, nos órgãos linfoides e em áreas de

inflamação crônica. Originam-se dos linfócitos B após

entrarem em contato com o antígeno e produzem

anticorpos, que são as imunoglobulinas (Ig), também

denominadas gamaglobulinas.40

São células grandes (10 a 20m de diâmetro),

ovoides, com núcleo esférico e excêntrico. O núcleo

apresenta nucléolo bem desenvolvido e áreas de

heterocromatina alternadas com eucromatina,

lembrando raios de roda de carroça. O citoplasma é

basófilo, devido à grande quantidade de retículo

endoplasmático rugoso. A região justanuclear com o

Golgi é clara ao microscópio de luz (Figuras 3.7 e

3.8).41

Figura 3.7 - Plasmócito ( ). HE. Objetiva de 100x

(1.373x).

Figura 3.8 - Ilustração da ultraestrutura de um plasmócito.

Baseado em Junqueira, L. C.; Carneiro, J. Histologia

básica: texto e atlas. 12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2013. pp. 34, 97.

40

GENESER. Op. cit., pp. 171, 319-320. 41

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 63-64.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

49

Os plasmócitos têm vida curta: 10 a 30 dias.42

3.5 – Mastócitos

Os precursores dos mastócitos originam-se na

medula óssea, circulam no sangue por um curto

período e entram no tecido conjuntivo, onde se

diferenciam e duram alguns meses.43

Os mastócitos são numerosos no tecido conjuntivo

da pele, dos sistemas digestório e respiratório e da

cápsula dos órgãos, localizando-se preferencialmente

na vizinhança dos vasos sanguíneos.44,45

São células grandes (20 a 30m de diâmetro),

ovoides, com núcleo esférico e central e citoplasma

preenchido com grânulos basófilos, de 0,3 a 0,8m,

que contêm os mediadores químicos da reação

alérgica e do processo inflamatório (Figura 3.9).46,47

Figura 3.9 - Mastócitos. Resorcina-fucsina. Objetiva de

100x (1.373x).

Integrinas promovem a adesão dos mastócitos à

matriz extracelular, o que é importante para a

diferenciação, a migração, a modulação da resposta

biológica e a sobrevivência da célula.48

Na superfície dos mastócitos, há receptores para

as IgE secretadas pelos plasmócitos. Quando o

antígeno liga-se à IgE, provoca a exocitose de

histamina e outras substâncias dos grânulos e a síntese

de leucotrienos e prostaglandinas a partir da

membrana, desencadeando as reações alérgicas

designadas reações de sensibilidade imediata ou

42

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 197. 43

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 120. 44

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 237. 45

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 192. 46

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 119. 47

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 189, 192, 194-195. 48

JAMUR, M. C. Mastócitos. In: CARVALHO, H. F.; COLLARES-

BUZATO, C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar. Barueri:

Manole, 2005. p. 385.

anafiláticas.49,50

Os mastócitos podem se recuperar da

degranulação e sintetizar novos grânulos.51

Anafilaxia é o aumento da sensibilidade do

organismo a uma substância com a qual já estivera em

contato. As reações de sensibilidade imediata ou

anafiláticas são assim denominadas porque ocorrem

poucos minutos após a penetração do antígeno em

indivíduos sensibilizados previamente ao mesmo

antígeno ou a antígeno muito semelhante. Elas podem

ser causadas por medicamentos, alimentos, picadas de

insetos, poeira (ácaros) ou pólen, por exemplo, e a

resposta pode ser local, como a urticária, a rinite alérgica

(febre do feno) e a asma brônquica, ou geral, o choque

anafilático, que pode ser fatal.52,53,54,55

Componentes dessas substâncias podem atuar como

antígenos e desencadear uma resposta imunológica com

a produção de IgE pelos plasmócitos. Esses anticorpos

aderem a receptores na membrana plasmática dos

mastócitos do tecido conjuntivo e dos basófilos do

sangue. Quando os antígenos entram novamente no

organismo, ligam-se às IgE presas aos mastócitos e

basófilos. A adenilato-ciclase é ativada e converte ATP

em AMPc, que libera o Ca2+

dos sítios intracelulares,

aumentando o seu nível no citoplasma, o que promove a

degranulação.56

Os grânulos dos mastócitos contêm histamina,

proteases, aril-sulfatase, o glicosaminoglicano heparina

(ou sulfato de condroitina nos mastócitos das mucosas) e

os fatores quimiotáticos de neutrófilos e de eosinófilos.

A adenilato-ciclase também ativa uma fosfolipase que

atua nos fosfolipídios da membrana, formando ácido

araquidônico. Este é convertido em leucotrienos,

prostaglandinas e tromboxano.57

O endotélio das vênulas tem receptores para a

histamina, e a sua ligação desfaz as junções de oclusão

entre as células, aumentando a permeabilidade vascular.

Além das células de defesa, líquido sai do vaso para o

conjuntivo, resultando em edema. Pela compressão e

pelo estímulo de mediadores químicos sobre as

terminações nervosas, há a sensação de prurido e de

dor.58,59,60

Em uma resposta generalizada, a perda de

líquido dos vasos provoca uma queda na pressão

sanguínea que prejudica a oxigenação dos tecidos e, se o

volume de sangue a ser bombeado for insuficiente, causa

choque hipovolêmico.61

49

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 122-123. 50

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 189, 192-195. 51

JAMUR. Op. cit., pp. 387-388. 52

GOLDBERG & RABINOVITCH. Op. cit., p. 129. 53

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 234, 236. 54

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 9.ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. p. 85. 55

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 163. 56

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 122-123. 57

Ibid. pp. 119-124. 58

Ibid. pp. 123-124. 59

GENESER. Op. cit., p. 175. 60

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 193. 61

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 9.ed. Op. cit., p. 85.

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

50

O edema da mucosa nasal, promovido pela liberação

de histamina na rinite alérgica, é responsável pela

dificuldade respiratória. Essa substância ainda estimula a

secreção de muco no trato respiratório e, nas crises

asmáticas, a contração da musculatura lisa dos brônquios

e dos bronquíolos.62

Os leucotrienos são muito mais potentes do que a

histamina nos efeitos vasodilatador e bronquioconstritor.

As prostaglandinas, além de causar broncoespasmo,

aumentam a secreção de muco pelo epitélio respiratório.

O tromboxano A2 causa agregação plaquetária e é

vasoconstritor.63

A histamina, os fatores quimiotáticos e as proteases

ficam ligados aos glicosaminoglicanos nas vesículas e,

depois da exocitose, são imobilizados por essas

substâncias, tendo a sua ação restringida e regulada. A

imobilização dos fatores quimiotáticos na superfície dos

vasos sanguíneos é importante para estimular os

leucócitos a deixarem a corrente sanguínea e entrarem no

tecido conjuntivo.64

A heparina é conhecida pelo seu

efeito anticoagulante por se ligar à antitrombina III e ao

fator plaquetário IV, que inibem determinados fatores de

coagulação.65

Entretanto, ao ser liberada dos mastócitos,

é logo inativada, e a coagulação sanguínea permanece

normal na reação anafilática.66

O fator quimiotático de neutrófilos atrai esses

leucócitos, e eles sintetizam leucotrienos, contribuindo

para o processo inflamatório, e realizam a fagocitose de

micro-organismos se estiverem presentes. A histamina e

o fator quimiotático de eosinófilos atraem essas células

para o local, onde secretam substâncias que inativam a

histamina e os leucotrienos. A aril-sulfatase, liberada dos

grânulos dos mastócitos e dos basófilos, também inativa

os leucotrienos, limitando a resposta inflamatória.67

No tratamento da reação anafilática, são usados anti-

histamínicos, que se ligam aos receptores para histamina,

impedindo a sua ação, e, no caso do choque anafilático,

vasoconstritores como a epinefrina.68

Os grânulos dos mastócitos coram-se em púrpura

com azul de toluidina. Portanto, são metacromáticos.

Isso se deve ao grande número de cargas negativas dos

glicosaminoglicanos, como a heparina, que, ao se

ligarem às cargas positivas do corante, formam um

agregado que modifica a absorvência e assim a cor do

corante.69,70

62

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 123-124. 63

Ibid. pp. 122-124. 64

ALBERTS et al. Op. cit., p. 1094. 65

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 193. 66

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 9.ed. Op. cit., p. 85. 67

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 123, 233-235. 68

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 193, 195. 69

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 61. 70

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 6-7, 189.

3.6 – Células adiposas

São células esféricas, muito grandes, que

armazenam gordura. Seu diâmetro é de cerca de 70µm

em pessoas magras e pode atingir 170 a 200µm em

pessoas obesas. As gotículas lipídicas coalescem em

uma grande vesícula que comprime o núcleo contra a

periferia da célula (Figura 3.10).71

As células adiposas

podem ser encontradas em pequenos grupos no tecido

conjuntivo ou em grande quantidade, formando um

tipo especial de tecido conjuntivo, o tecido adiposo.72

Figura 3.10 - Célula adiposa. HE. Objetiva de 100x.

3.7 – Leucócitos

A presença dessas células de defesa (Figura 3.11)

é maior naqueles locais sujeitos à entrada de agentes

patogênicos e substâncias estranhas, como os sistemas

digestório e respiratório.73

Essas células serão

descritas posteriormente nos tecidos mieloide e

sanguíneo.

Figura 3.11 - Leucócitos ( ). HE. Objetiva de 100x

(1.373x).

71

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 67. 72

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 194. 73

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 108-112, 166-168, 174-175, 202-

203, 213.

T. Montanari

T. Montanari

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HISTOLOGIA

51

3.8 – Fibras colágenas

O colágeno é uma glicoproteína da matriz

extracelular, composta de três cadeias polipeptídicas

(denominadas cadeias ∞) enroladas em uma

configuração helicoidal. A variação na sequência de

aminoácidos dessas cadeias levou à descrição de 28

moléculas de colágeno, as quais se apresentam como

moléculas individuais ou associadas em redes, fibrilas

ou até fibras.74

Além dos fibroblastos, outros tipos celulares,

como condrócitos, osteoblastos, células epiteliais e

musculares, sintetizam os diferentes colágenos.75

As fibras colágenas foram assim denominadas

porque da sua cocção foi obtida uma gelatina usada

como cola (do grego kolla, cola; gennaein, gerar). São

constituídas pelo primeiro colágeno identificado: o

colágeno do tipo I.76

O colágeno do tipo I é formado por três cadeias

polipeptídicas , ricas nos aminoácidos glicina, prolina e

lisina, sendo que a prolina e a lisina são hidroxiladas, e

as hidroxilisinas são ainda glicosiladas pela adição de

glicose e galactose. Pontes de hidrogênio entre as

hidroxiprolinas unem as cadeias polipeptídicas, que se

enrolam umas nas outras em uma tripla hélice. Após a

liberação para o meio extracelular, as extremidades

amino e carboxila das cadeias são clivadas por

peptidases, permitindo a polimerização das moléculas de

colágeno em fibrilas.77

A ligação da proteína chaperona hsp47 impede a

agregação prematura dos trímeros dentro da célula e

estabiliza a molécula da tríplice hélice.78

O TGF-β e o fator de crescimento derivado de

plaqueta (PDGF de platelet-derived growth factor)

estimulam a síntese de colágeno pelos fibroblastos,

enquanto os glicocorticoides inibem a sua síntese.79

A molécula de colágeno mede cerca de 300nm de

comprimento e 1,5nm de diâmetro, e ela se associa

lateralmente a outra molécula com um deslocamento

de 67nm, quase ¼ da molécula. Entre moléculas

sucessivas, o intervalo é de 40nm. A associação das

moléculas de colágeno em fibrilas é estabilizada por

ligações covalentes entre os resíduos de lisina e

74

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 144, 170-175. 75

Ibid. pp. 172-173, 176, 232, 346. 76

GENESER. Op. cit., pp. 159-160. 77

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 76, 79-80. 78

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 171. 79

Ibid. pp. 176-177.

hidroxilisina, após a desaminação oxidativa pela lisil-

oxidase (Figura 3.12).80

As fibrilas colágenas exibem, na microscopia

eletrônica, quando coradas negativamente, uma

periodicidade de bandas transversais (uma clara e uma

escura) de 67nm: a faixa clara corresponde à região de

total sobreposição das moléculas de colágeno, enquanto

a faixa escura resulta da maior retenção dos metais

usados no processamento do material entre as moléculas

de colágeno.81

Com a coloração convencional positiva, ocorre o

inverso, os segmentos claros correspondem aos espaços

entre as extremidades das moléculas de colágeno, e os

segmentos escuros, às regiões de sobreposição, mais

densas (Figura 3.12). As linhas verticais sobre os

segmentos claros e escuros são formadas pela ligação

dos metais pesados aos resíduos carregados dos

aminoácidos polares.82,83

Figura 3.12 - Eletromicrografia de fibrilas colágenas.

48.461x. Cortesia de Maria Cristina Faccioni-Heuser e

Matilde Achaval Elena, UFRGS.

As fibrilas de colágeno do tipo I (20 a 100nm de

diâmetro) agregam-se, por intermédio dos colágenos

do tipo XII e XIV e de proteoglicanas, em fibras

colágenas (cerca de 2m de diâmetro, portanto,

visíveis ao microscópio de luz), de trajeto

ligeiramente ondulado. As fibras podem ainda ser

agrupadas em feixes (10 a 20µm de diâmetro).84,85

As fibras colágenas são inelásticas e mais

resistentes que fios de aço de mesmo diâmetro.

Proporcionam ao tecido resistência à tração. Estão

presentes, por exemplo, no tendão, na derme, na

cápsula dos órgãos, na cartilagem fibrosa e no

osso.86,87

80

GOLDBERG & RABINOVITCH. Op. cit., pp. 132, 134, 137-138. 81

Ibid. pp. 134, 137-138. 82

Ibid. pp. 134, 137. 83

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 219-220. 84

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 57. 85

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 168, 175. 86

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 75-76, 78, 138.

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TATIANA MONTANARI

52

O ácido ascórbico (vitamina C) é importante para a

síntese do colágeno. Ele é cofator das enzimas prolil-

hidroxilase e lisil-hidroxilase. Se não houver a

hidroxilação da prolina, não há formação da tripla hélice

da molécula do colágeno, e as cadeias são degradadas.

As manifestações clínicas do escorbuto incluem

hemorragias pelo rompimento dos vasos sanguíneos,

retardo na cicatrização de feridas e perda dos dentes,

porque o ligamento periodontal, que fixa o dente no osso

alveolar, tem uma renovação rápida de colágeno.88

A fresco, as fibras colágenas são brancas. Elas são

coradas por corantes ácidos. Com HE, são eosinófilas,

por causa do alto conteúdo proteico; no tricrômico de

Gomori, coram-se em verde; no tricrômico de Masson,

coram-se pelo verde-luz, e, no tricrômico de Mallory,

pelo azul de anilina. Elas não têm afinidade pela prata,

ficando, na impregnação argêntica, em marrom.89,90,91

3.9 – Fibras reticulares

As fibras reticulares derivam da polimerização do

colágeno do tipo III. Cada fibrila tem cerca de 20nm

de diâmetro e exibe o padrão de organização em

bandas semelhante ao da fibrila de colágeno do tipo

I.92

As fibras reticulares têm 0,5 a 2m de diâmetro.93

Estão dispostas em rede, o que justifica o seu nome

(reticulum é diminutivo do latim rete, rede).94

Essas fibras são secretadas pelos fibroblastos,

pelos adipócitos, pelas células de Schwann (no

sistema nervoso periférico) e pelas células

musculares. Como os fibroblastos no tecido linfoide e

na medula óssea possuem uma morfologia

diferenciada, estrelada e ramificada, devido aos

longos prolongamentos, foram chamados células

reticulares (Figura 3.13). Elas circundam a fibra com

seu citoplasma, isolando-a de outros componentes

teciduais.95,96

Com HE, as fibras reticulares não se coram; com

PAS, coram-se em rosa, e, com impregnação pela prata,

como no método de Del Rio Hortega (DRH), ficam

enegrecidas (Figura 3.14). A reação positiva ao método

87

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 58. 88

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 100, 102. 89

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 198-199. 90

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 52, 60. 91

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 166, 168, 177, 213. 92

Ibid. p. 177. 93

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 104. 94

GENESER. Op. cit., p. 160. 95

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 64. 96

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 178, 265.

PAS e a argirofilia ocorrem pelo revestimento das fibras

reticulares por glicoproteínas e proteoglicanas.97,98,99

Figura 3.13 - Células reticulares e fibras reticulares.

Baseado em Junqueira & Carneiro, 2013. p. 117.

As fibras reticulares constituem o arcabouço dos

órgãos hematopoéticos e linfoides, como a medula

óssea, o baço e os linfonodos (Figura 3.14). Compõem

a lâmina reticular da membrana basal e formam uma

delicada rede em torno das células adiposas, dos vasos

sanguíneos, das fibras nervosas e das células

musculares.100

Figura 3.14 - Fibras reticulares do linfonodo. DRH.

Objetiva de 40x (550x).

Na cicatrização, as fibras reticulares são as primeiras

a serem sintetizadas pelos fibroblastos. Gradualmente

são substituídas pelas fibras colágenas, que são mais

97

BEHMER, O. A; TOLOSA, E. M. C. de; FREITAS NETO, A. G. de.

Manual de Técnicas para Histologia normal e patológica. São Paulo:

EDART, Ed. da Universidade de São Paulo, 1976. p. 125. 98

GOLDBERG & RABINOVITCH. Op. cit., p. 138. 99

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 199-200. 100

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 60.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

53

fortes.101

3.10 – Fibras elásticas

As fibras elásticas são constituídas pela proteína

elastina e pelas microfibrilas, cujo principal

componente é a glicoproteína fibrilina.102

As

microfibrilas (10 a 12nm de diâmetro) são formadas

por primeiro, e a elastina é depositada sobre elas, de

modo que, nas fibras maduras, as microfibrilas ficam

localizadas no interior e na periferia (Figuras 3.15 a

3.17).103

Figura 3.15 - Distensão do mesentério, mostrando as fibras

elásticas e, não especificamente coradas, as fibras colágenas

( ). Resorcina-fucsina. Objetiva de 40x (550x).

Figura 3.16 - Ilustração da constituição da fibra elástica

pelas microfibrilas (M) e pela elastina (E). Baseado em

Lowe, J. S.; Anderson, P. G. Stevens & Lowe`s Human

Histology. 4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. p. 60.

101

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 178. 102

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 59. 103

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 179-181.

Figura 3.17 - Corte transversal de fibra elástica, onde se

observam a elastina (e) e as microfibrilas (m) que a

constituem. Fibrila colágena também é apontada. Cortesia

de Fabiana Rigon e Maria Cristina Faccioni-Heuser,

UFRGS.

As fibras elásticas são produzidas pelos

fibroblastos e pelas células musculares lisas da parede

dos vasos. A síntese de elastina e de colágeno pode

ser simultânea na célula.104

A elastina é rica em aminoácidos hidrofóbicos, como

glicina, alanina, valina e prolina, apresentando uma

conformação enovelada. As moléculas de elastina

arranjam-se em fibras ou lâminas, ligando-se

covalentemente através da ação da lisil-oxidase.105,106

Essa enzima, localizada no espaço intercelular, une os

grupamentos lisina de quatro moléculas de elastina,

formando desmosina e isodesmosina.107

Quando o tecido

é estirado, as moléculas de elastina passam da

conformação enovelada para uma forma estendida,

aumentando o comprimento da fibra em até 150%.108

A fibrilina é composta principalmente por

aminoácidos polares. Contém muito menos glicina que a

elastina e não possui hidroxiprolina, hidroxilisina,

desmosina ou isodesmosina. Apresenta ligações

dissulfeto resultantes do elevado conteúdo de

aminoácidos cistina.109,110,111

A ausência de microfibrilas resulta na formação de

lâminas como aquelas encontradas nos vasos

sanguíneos.112

104

Ibid. pp. 179, 181, 202. 105

CARVALHO, H. F. Matriz extracelular. In: CARVALHO, H.F.;

RECCO-PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. pp.

462, 464. 106

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 59. 107

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 222. 108

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 81, 116. 109

CARVALHO. Op. cit., p. 461. 110

GENESER. Op. cit., p. 162. 111

GOLDBERG & RABINOVITCH. Op. cit., p. 140. 112

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 179, 181.

T. Montanari

E

M

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TATIANA MONTANARI

54

A variação na proporção entre microfibrilas e

elastina levou à classificação de três tipos de fibras: as

fibras oxitalânicas, compostas exclusivamente de

microfibrilas (portanto, não possuem elasticidade, mas

resistem à tração; estão presentes, por exemplo, no

ligamento periodontal); as fibras elaunínicas, com mais

microfibrilas do que elastina, e as fibras elásticas, onde

há uma quantidade menor de microfibrilas e maior de

elastina. O desenvolvimento das fibras elásticas passa

pelos estágios de fibras oxitalânicas e eulanínicas.113

As fibras elásticas possuem 0,2 a 1,0m de

diâmetro, sendo mais finas que as fibras

colágenas.114,115

Conferem elasticidade ao tecido. Elas

são, pelo menos, cinco vezes mais distensíveis do que

um elástico de borracha com a mesma área.116

Estão

presentes no mesentério (Figura 3.15), na derme, nos

ligamentos elásticos, nas artérias, na cartilagem

elástica, nos pulmões e na bexiga.117

A fresco, as fibras elásticas são amareladas; com

HE, são refráteis e eosinófilas; com orceína, adquirem

uma coloração marrom avermelhada, e, com resorcina-

fucsina, coram-se em violeta escuro (Figura 3.15).118,119

3.11 – Substância Fundamental

É composta pelos glicosaminoglicanos,

proteoglicanas e glicoproteínas secretados pelos

fibroblastos.120

Os glicosaminoglicanos são açúcares não

ramificados, compostos por duas unidades que se

repetem: um aminoaçúcar (N-acetilglicosamina ou N-

acetilgalactosamina), geralmente sulfatado (-OSO3-), e

um ácido urônico (glicurônico ou idurônico), que

apresenta um grupo carboxila (-COO-). As proteoglicanas

consistem em um eixo central proteico com

glicosaminoglicanos ligados covalentemente, como

cerdas de uma escova.121

113

CARVALHO. Op. cit., pp. 459-461. 114

GENESER. Op. cit., p. 161. 115

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 178. 116

ALBERTS et al. Op. cit., p. 1102. 117

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 59. 118

GENESER. Op. cit., p. 161. 119

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 137. 120

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 90, 108. 121

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 71, 73.

Os glicosaminoglicanos encontrados são o ácido

hialurônico, o sulfato de condroitina, o sulfato de

dermatana, o sulfato de heparana, a heparina e o

sulfato de queratana.122

O ácido hialurônico é o único que não é sulfatado

e que não participa da formação de proteoglicanas.

Sua síntese ocorre na membrana plasmática, enquanto

os demais glicosaminoglicanos são sintetizados no

aparelho de Golgi.123

A síntese das proteoglicanas

envolve o retículo endoplasmático rugoso, com a

elaboração da parte proteica e o início da adição de

cadeias glicídicas, e o Golgi, com a glicosilação e a

sulfatação. O ácido hialurônico associa-se às

proteoglicanas através de proteínas de ligação,

resultando em grandes agregados.124

As cargas negativas dos glicosaminoglicanos

atraem cátions, especialmente íons Na+, os quais

atraem água. A maior parte da água presente no tecido

conjuntivo encontra-se ligada aos glicosaminoglicanos

(água de hidratação ou de solvatação), dando à

substância fundamental uma consistência de gel. A

presença de água permite a difusão de oxigênio e

nutrientes a partir dos capilares e impede a

deformação do tecido por forças compressivas. 125,126,127,128

O ácido hialurônico torna o tecido conjuntivo

viscoso, dificultando o movimento de micro-organismos

e metástases. Para facilitar a invasão, algumas bactérias,

como o Staphylococcus aureus, secretam hialuronidase,

que degrada esse glicosaminoglicano.129

As proteoglicanas têm ainda um papel na

sinalização celular. Elas se ligam a fatores de

crescimento, aumentando ou inibindo a sua

atividade.130

As glicoproteínas estão geralmente relacionadas

com a adesão dos componentes da matriz extracelular

entre si ou com as células.131

A fibronectina é a

glicoproteína de adesão mais abundante no tecido

conjuntivo.132

122

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 56. 123

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 72. 124

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 109. 125

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 1092-1094. 126

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 71. 127

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 109, 202-204. 128

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 55-56. 129

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 74. 130

ALBERTS et al. Op. cit., p. 1094. 131

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 74-75, 115. 132

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 185.

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HISTOLOGIA

55

A fibronectina possui sítios para ligação de

colágeno, heparina e receptores na membrana celular,

que são as integrinas. Estas, por sua vez, se ligam aos

filamentos de actina do citoesqueleto, permitindo uma

influência mútua entre a célula e a matriz extracelular.133

Através das moléculas de adesão, a matriz

extracelular ancora as células, permite a migração,

estimula a proliferação, regula a diferenciação celular

e influencia a transmissão de informações pela

membrana plasmática.134

Os glicosaminoglicanos e as proteoglicanas, devido

aos grupos aniônicos, são corados por corantes

catiônicos, como a hematoxilina, o azul de Alcian e o

azul de toluidina, sendo que este último os cora

metacromaticamente em púrpura. As glicoproteínas são

coradas em magenta pelo PAS.135

Geralmente nas preparações de rotina coradas com

HE, a substância fundamental é perdida durante a

fixação e a desidratação, resultando um fundo vazio.

Para melhor preservá-la, é necessário realizar os cortes

sob congelamento.136

4 – CLASSIFICAÇÃO

Segundo a composição de células e de matriz

extracelular, o tecido conjuntivo é classificado em:

- tecido conjuntivo frouxo

- tecido conjuntivo denso

modelado

não modelado

- tecido elástico

- tecido reticular (ou linfoide)

- tecido mucoso

- tecido adiposo

- tecido cartilaginoso

- tecido ósseo

- tecido mieloide (ou hematopoético)

- tecido sanguíneo.

4.1 – Tecido conjuntivo frouxo

4.1.1 – Componentes

133

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 59-60. 134

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 181, 185. 135

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 203. 136

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 181-182.

O tecido conjuntivo frouxo apresenta abundância

em células: células mesenquimais, fibroblastos,

macrófagos, mastócitos, plasmócitos, leucócitos e

células adiposas, e riqueza em matriz extracelular:

fibras colágenas, elásticas e reticulares e substância

fundamental. Não há predomínio de qualquer dos

componentes ou há predomínio de células (Figura

3.18). As fibras dispõem-se frouxamente, de maneira

que o tecido fica flexível. É pouco resistente às

trações.137,138,139

Figura 3.18 - Tecido conjuntivo frouxo do intestino. HE.

Objetiva de 40x (550x).

4.1.2 – Funções e ocorrência

O tecido conjuntivo frouxo é encontrado

subjacente ao epitélio, servindo de apoio para esse

tecido; preenche os espaços entre órgãos, tecidos e

unidades secretoras de glândulas; inerva e nutre

órgãos e tecidos avascularizados, como o epitélio;

armazena água e eletrólitos atraídos pelos

glicosaminoglicanos, e tem um papel na defesa, pois

contém macrófagos, mastócitos, plasmócitos e

leucócitos e uma matriz extracelular viscosa, de difícil

penetração pelos organismos invasores.140,141,142

4.1.3 – Nutrição e inervação

O tecido conjuntivo contém vasos sanguíneos e

linfáticos e pequenas fibras nervosas.143

4.2 – Tecido conjuntivo denso

137

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 114. 138

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 53. 139

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 105, 164-167, 198, 202, 262. 140

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 74, 113, 128-129. 141

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 210. 142

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 105, 167. 143

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 129.

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TATIANA MONTANARI

56

4.2.1 – Componentes

Este tecido é rico em fibras colágenas. Fibras

elásticas e substância fundamental estão também

presentes, porém em quantidades menores. As células

são esparsas, e o principal tipo existente é o

fibroblasto, produtor das fibras.144

4.2.2 – Classificação e ocorrência

– Tecido conjuntivo denso modelado

As fibras colágenas estão paralelas, organizadas

assim pelos fibroblastos em resposta à tração exercida

em um determinado sentido. Ex.: em tendões (Figura

3.19), que inserem os músculos aos ossos, e

ligamentos, que unem os ossos entre si.145,146

Figura 3.19 - Corte do tecido conjuntivo denso modelado

do tendão, onde são visualizados fibrócitos e fibras

colágenas abundantes e paralelas. HE. Objetiva de 40x

(550x).

– Tecido conjuntivo denso não modelado

As fibras colágenas foram dispostas pelos

fibroblastos em diferentes direções, dando ao tecido

resistência às trações exercidas em qualquer

sentido.147

Ex.: na derme (Figura 3.20), em cápsulas

de órgãos e na submucosa do sistema digestório.148

144

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 105, 167, 202. 145

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 114. 146

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 167, 200. 147

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 114. 148

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 53.

Figura 3.20 - Corte do tecido conjuntivo denso não

modelado da derme, onde são observados os feixes de

fibras colágenas em diferentes direções e núcleos de

fibroblastos. HE. Objetiva de 40x (550x).

4.2.3 – Funções

O tecido conjuntivo denso dá resistência às forças

de tração e ao estiramento; envolve órgãos, glândulas

e outros tecidos, formando cápsulas e envoltórios;

penetra o seu interior, dando sustentação e levando

vasos e nervos, e é responsável pela cicatrização.149,150

4.2.4 – Nutrição

Enquanto o tecido conjuntivo denso não modelado

é vascularizado, o tecido conjuntivo denso modelado

do tendão não possui vasos sanguíneos e recebe os

nutrientes por difusão do tecido conjuntivo denso não

modelado que o penetra e o circunda.151

Os mediadores químicos produzidos pelo tecido

lesado atraem neutrófilos e macrófagos que fagocitam as

células mortas. Pelo estímulo de fatores de crescimento,

as células mesenquimais próximas aos pequenos vasos

diferenciam-se em fibroblastos, os quais proliferam e

secretam matriz extracelular e ainda se transformam em

miofibroblastos.152

Quando o dano ao tecido conjuntivo é substancial,

ocorre a cicatrização, que inicia como uma resposta

inflamatória promovida pelos neutrófilos nas margens da

incisão. Além dos neutrófilos, os macrófagos fagocitam

o tecido morto. As células epiteliais sofrem mitoses e

restabelecem a continuidade do revestimento. Há a

formação intensa de capilares a partir daqueles

existentes, permitindo a migração das células de defesa

para o local e dando suporte metabólico ao processo.

149

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 346. 150

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 63-64. 151

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 200-201. 152

Ibid. pp. 196, 289-290.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

57

153,154

Os fibroblastos proliferam, sintetizam a matriz

extracelular, principalmente o colágeno, e alinham as

suas fibras na direção do estresse tensional.155

A retração

da cicatriz, com a consequente redução na extensão, é

promovida pelos miofibroblastos.156

Durante a segunda semana de cicatrização, os

elementos celulares diminuem, inclusive com a apoptose

dos miofibroblastos.157

Afrodescendentes têm predisposição a um acúmulo

excessivo de colágeno durante a cicatrização, formando

uma elevação conhecida como queloide.158

4.3 – Tecido elástico

4.3.1 – Componentes e ocorrência

É constituído pelas fibras (ou lâminas) elásticas,

secretadas pelos fibroblastos e, nos vasos sanguíneos,

pelas células musculares lisas. Ex.: nos ligamentos

amarelos da coluna vertebral, no ligamento nucal do

pescoço, no ligamento suspensor do pênis e nas

artérias de grande calibre (Figura 3.21).159,160

Figura 3.21 - Tecido elástico da aorta. Orceína. Objetiva de

10x (137x).

4.3.2 – Função

Confere elasticidade a esses ligamentos e às

artérias, cedendo à força aplicada (no caso das

153 Ibid. pp. 190, 289-290. 154

STEVENS, A.; LOWE, J. Patologia. 2.ed. São Paulo: Manole, 1998.

pp. 69-72. 155

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 1099, 1101-1102. 156

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 63. 157

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 190. 158

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 76. 159

Ibid. p. 130. 160

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 179, 181, 202-203.

artérias, a pressão do sangue proveniente do coração)

e depois retornando à sua forma original.161

4.4 – Tecido reticular (ou tecido linfoide)

4.4.1 – Componentes e ocorrência

Este tecido contém uma grande quantidade de

fibras reticulares, sintetizadas pelas células reticulares.

Além dessas células, há células de defesa, como os

macrófagos, os linfócitos e os plasmócitos. Ex.: na

medula óssea, no baço e nos linfonodos (Figura

3.22).162,163

Figura 3.22 - Tecido reticular do linfonodo. DRH. Objetiva

de 4x (55x).

4.4.2 – Função

O tecido reticular constitui o arcabouço de órgãos

que variam no volume, como os órgãos linfoides e

hematopoéticos, graças ao pequeno diâmetro e ao

arranjo frouxo das fibras reticulares. A estrutura

trabeculada formada permite a circulação de células e

fluido pelos espaços.164

4.5 – Tecido mucoso

4.5.1 – Componentes e ocorrência

Há um predomínio da substância fundamental,

especialmente de ácido hialurônico, o que dá uma

consistência gelatinosa. As células assemelham-se às

161

GENESER. Op. cit., p. 162. 162

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 227, 279. 163

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 60. 164

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 107, 116.

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células mesenquimais. Ex.: no cordão umbilical

(Figura 3.23) e na polpa dentária jovem.165,166,167

Figura 3.23 - Tecido mucoso do cordão umbilical, com

células mesenquimais e substância fundamental em

abundância. HE. Objetiva de 40x (550x).

4.6 – Tecido adiposo

4.6.1 – Componentes

É composto pelas células adiposas (Figura 3.10) e

pela matriz extracelular, que consiste na lâmina

externa e nas fibras reticulares.168

4.6.2 – Classificação, funções e ocorrência

– Tecido adiposo unilocular

Suas células são muito grandes. Seu diâmetro é de

cerca de 70µm em pessoas magras e pode atingir 170

a 200µm em pessoas obesas. São esféricas quando

isoladas, mas tornam-se poliédricas pela compressão

recíproca. As várias gotículas lipídicas coalescem em

uma grande vesícula que comprime o núcleo contra a

periferia da célula (Figuras 3.10 e 3.24).169

Como o álcool e o xilol usados na confecção das

lâminas histológicas coradas com HE removem a

gordura, é visualizado somente o local onde ela era

armazenada nas células adiposas (Figuras 3.10 e 3.24).

As gorduras podem ser evidenciadas pela fixação e

coloração com tetróxido de ósmio ou pela fixação em

formol, microtomia sob congelação e coloração dos

165

GENESER. Op. cit., p. 178. 166

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 117. 167 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 166. 168

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 68. 169

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 67.

cortes com corantes do tipo Sudan, sem o uso de

solventes orgânicos, como o xilol.170

Figura 3.24 - Tecido adiposo unilocular. HE. Objetiva de

40x (550x).

As células adiposas contêm numerosas vesículas

de pinocitose, que internalizam os lipídios

provenientes da alimentação, trazidos pela corrente

sanguínea.171

A reesterificação em triglicerídeos

ocorre no retículo endoplasmático liso.172

Quando

necessário, os triglicerídeos são hidrolisados em

ácidos graxos e glicerol, os quais são liberados para a

corrente sanguínea.173

Nos capilares sanguíneos situados em volta dos

adipócitos, ligada à superfície do endotélio, há a lipase

lipoproteica, que hidrolisa os quilomícrons e as

lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL de very

low density lipoproteins).174

Os quilomícrons são

partículas provenientes do intestino, com 90% de

triglicerídeos (ésteres de ácidos graxos e glicerol) e o

restante de colesterol, fosfolipídios e proteínas. As

VLDL são oriundas do fígado e, quando hidrolisadas,

liberam ácidos graxos e glicerol. São esses elementos

que entram nas células adiposas e são reesterificados no

retículo endoplasmático liso em triglicerídeos para o

armazenamento.175,176

Os triglicerídeos são a forma mais concentrada de

armazenamento de energia no ser humano. A sua

densidade energética é de 9cal/g, enquanto a de

carboidratos e proteínas é de 4cal/g.177

Os vasos sanguíneos, além de oxigênio, nutrientes e

lipídios, levam para as células hormônios que regulam a

captação dos precursores e/ou a liberação dos lipídios,

como, por exemplo, a insulina, a noradrenalina, os

glicocorticoides, o hormônio do crescimento e os

170

GENESER. Op. cit., pp. 33-34, 167. 171

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 68. 172

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 68. 173

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 119. 174

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 121-122. 175

Ibid. 176

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 68. 177

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 262.

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HISTOLOGIA

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hormônios da tireoide.178

Ainda transportam o hormônio

proteico leptina, produzido pelas células adiposas em

quantidades proporcionais ao seu tamanho e que atua

sobre as células do hipotálamo, diminuindo o apetite.179

A insulina estimula a captação da glicose pelas

células adiposas. Dentro da célula, a glicólise produz

grande quantidade de ∞-glicerofosfato, que toma parte

na síntese dos triglicerídeos. A insulina inibe a atividade

da lipase do tecido adiposo e consequentemente a

hidrólise dos triglicerídeos.180

Durante o exercício, a adrenalina e a noradrenalina

são liberadas pela adrenal e ativam a lipase do tecido

adiposo. Há a hidrólise dos triglicerídeos em ácidos

graxos e glicerol que são liberados para a corrente

sanguínea.181

A cor desse tecido varia entre o branco e o

amarelo-escuro, dependendo do acúmulo de carotenos

provenientes da dieta.182

O tecido adiposo unilocular constitui praticamente

todo o tecido adiposo do adulto. Ocorre subjacente à

pele, na hipoderme, onde evita a perda excessiva de

calor (isolamento térmico) e absorve impactos,

especialmente na palma das mãos, na planta dos pés e

nas nádegas. Preenche os espaços entre tecidos e

órgãos, contribuindo para mantê-los em suas

posições.183,184

– Tecido adiposo multilocular

As células são menores que as do tecido adiposo

unilocular, medindo até 60µm. São geralmente

poligonais, com núcleo central, muitas mitocôndrias e

pequenas gotículas de lipídios. A denominação

multilocular está relacionada com a presença de várias

gotículas lipídicas.185

A cor parda ou castanha desse tecido, quando

observado macroscopicamente, é dada pela rica

vascularização e pelos citocromos das mitocôndrias.186

O tecido adiposo multilocular é especializado na

produção de calor (termogênese sem tremores). Ele é

mobilizado se o indivíduo é exposto ao frio.187

178

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 69. 179

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 1303-1304. 180

GENESER. Op. cit., p. 184. 181

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 119. 182 JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 120. 183 Ibid. 184

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 22. 185

Ibid. pp. 67, 69. 186

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 224. 187

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 69.

Receptores sensoriais na pele enviam sinais ao centro

cerebral de regulação da temperatura, que, por sua vez,

envia impulsos nervosos a essas células adiposas. O

neurotransmissor noradrenalina ativa a enzima que

quebra os triglicerídeos, e a oxidação dos ácidos graxos

ocorre nas mitocôndrias.188

Nesse tecido adiposo, a membrana interna das

mitocôndrias possui poros transportadores de prótons, as

termogeninas (ou UCP-1 de uncoupling protein 1, ou

seja, proteína não acopladora 1), que permitem o fluxo

dos prótons acumulados no espaço intermembranoso

durante o transporte de elétrons para a matriz, dissipando

a energia potencial como calor. O sangue contido na rede

capilar do tecido é aquecido, e o calor é distribuído pelo

corpo.189

Esse tecido está presente em grande quantidade

nos animais hibernantes e nos fetos e recém-nascidos

de humanos. No adulto, é restrito a determinadas

áreas, como a região do pescoço, os ombros, a parte

superior das costas, em torno dos rins, da aorta e do

mediastino.190,191,192

4.6.3 – Nutrição e inervação

Vasos sanguíneos e nervos penetram em ambos

tipos de tecido adiposo, através de septos de tecido

conjuntivo frouxo. As fibras nervosas terminam na

parede dos vasos sanguíneos no tecido adiposo

unilocular e junto aos vasos sanguíneos e às células

adiposas no tecido adiposo multilocular.193,194

4.6.4 – Origem

As células adiposas surgem das células

mesenquimais no quinto mês de vida fetal. Elas se

diferenciam em lipoblastos, os quais proliferam. Os

lipoblastos assemelham-se a fibroblastos, já que são

alongados com múltiplos prolongamentos. Com o

acúmulo das gotículas lipídicas, eles adquirem uma

forma oval e posteriormente esférica (Figura 3.25).

Depois de diferenciadas, as células adiposas não se

dividem. Não desaparecem depois de formadas.195,196

188

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 132. 189 JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 123. 190

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 227. 191

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 69. 192

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 268, 270-272, 274. 193

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 130, 131. 194

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 223, 227. 195

GENESER. Op. cit., pp. 181-182, 184. 196

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 264-265.

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TATIANA MONTANARI

60

No adulto, em determinadas situações ou locais, como

na medula óssea, elas podem surgir dos fibroblastos.

197,198

Figura 3.25 – Desenvolvimento da célula adiposa

unilocular a partir do lipoblasto, originado da célula

mesenquimal. Baseado em Junqueira, L. C.; Carneiro, J.

Histologia básica. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,

1999. p. 101.

O fator de transcrição receptor gama peroxissômico

ativado por proliferação (PPARγ) e o receptor de

retinoide X (RXR) regulam a diferenciação das células

mesenquimais em lipoblastos e destes em células

adiposas uniloculares.199

Quando a proteína dedo de zinco conhecida como

domínio PR 16 (PRDM16) é ativada, as células

mesenquimais sintetizam vários membros da família do

coativador do PPARγ-1 (PGC-1) dos fatores de

transcrição. Esses fatores regulam a expressão dos genes

que controlam a diferenciação nas células adiposas

multiloculares, como, por exemplo, UCP-1, que codifica

a proteína não acopladora (UCP-1) ou termogenina.200

A obesidade (do latim, obesus, gordura) decorre da

proliferação acentuada dos precursores dos adipócitos

(forma hipercelular ou hiperplásica) e/ou do aumento no

volume das células adiposas (forma hipertrófica), ambas

situações causadas por um excesso de alimentação.201

O indivíduo é considerado obeso quando a

porcentagem de gordura excede a porcentagem média

para a idade e o sexo. Índice de massa corporal (IMC =

peso/altura2) de aproximadamente 25kg/m

2 é normal,

mas acima de 27kg/m2 indica excesso de peso, o que

representa risco para a saúde, podendo gerar doenças

cardiovasculares, diabetes e câncer.202

4.7 – Tecido cartilaginoso

197

ALBERTS et al. Op. cit., p. 1301. 198

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 117. 199

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 263. 200

Ibid. pp. 265, 270-271. 201

GENESER. Op. cit., p. 184. 202 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 269.

4.7.1 – Componentes

As células são os condroblastos e os condrócitos.

O sufixo blasto indica que a célula está crescendo ou

secretando matriz extracelular ativamente, enquanto o

sufixo cito indica a célula diferenciada, em baixa

atividade de síntese.203

Os condroblastos são células alongadas (Figura

3.26), com pequenas projeções que aumentam a

superfície, facilitando as trocas com o meio.204

Possuem núcleo grande, com nucléolo proeminente e

citoplasma basófilo, devido ao retículo

endoplasmático rugoso desenvolvido por sintetizar as

proteínas da matriz, ou claro e vacuolizado pela

presença de glicogênio e lipídios.205

Os condrócitos são mais esféricos, mas a sua

superfície também é irregular. Medem 10 a 30m de

diâmetro. Exibem núcleo ovoide, predominantemente

eucromático, retículo endoplasmático rugoso e Golgi

bem desenvolvidos, implicados na síntese proteica e

glicídica. Há poucas mitocôndrias, o que reflete a

obtenção de energia a partir da glicólise anaeróbica.

Possuem ainda gotículas lipídicas e agregados de

glicogênio. Como sofrem retração durante o processo

histológico, eles se afastam da matriz cartilaginosa, e

este espaço é a lacuna (Figura 3.26).206,207

A matriz cartilaginosa consiste em fibrilas

colágenas (colágeno do tipo II), fibras elásticas e/ou

fibras colágenas (colágeno do tipo I), agregados de

proteoglicanas e ácido hialurônico e glicoproteínas de

adesão.208

As fibrilas colágenas, assim como as fibras

colágenas, resistem à tensão.209

As cargas negativas

dos glicosaminoglicanos, por atraírem Na+, tornam a

matriz bastante hidratada, fazendo com que suporte a

compressão.210

As glicoproteínas de adesão ligam as

células aos componentes da matriz. A condronectina,

por exemplo, possui sítios de ligação para as

integrinas, os glicosaminoglicanos e o colágeno do

tipo II.211

4.7.2 – Origem e crescimento

203

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 63. 204

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 127-128. 205

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 63, 66. 206

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 136. 207

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 134, 138. 208

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 133, 136. 209

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 204. 210

ALBERTS et al. Op. cit., p. 1092. 211

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 136.

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HISTOLOGIA

61

As células mesenquimais tornam-se arredondadas

e diferenciam-se em condroblastos, que sofrem

mitoses e secretam a matriz cartilaginosa. Quando os

condroblastos são circundados pela matriz e

diminuem a sua síntese, são chamados condrócitos.

Eles ainda são capazes de se dividir, de modo a se ter

um grupo de duas, quatro ou mais células em uma

lacuna, o grupo isógeno (Figura 3.26). À medida que

mais matriz é depositada, os condrócitos afastam-se

uns dos outros, proporcionando o crescimento da

cartilagem a partir de seu interior: o crescimento

intersticial. Com o aumento da rigidez da matriz pelas

interações entre as fibrilas colágenas e os

glicosaminoglicanos, esse tipo de crescimento deixa

de ser viável. Há, no entanto, nos ossos longos, uma

região de cartilagem, o disco epifisário, onde o

crescimento intersticial ocorre até os 20 anos do

indivíduo.212

As células mesenquimais na periferia da

cartilagem em desenvolvimento originam os

fibroblastos, que constituem um tecido conjuntivo

denso modelado.213

Essa região é denominada

pericôndrio (do grego, peri, ao redor; chondros,

cartilagem) (Figura 3.26).214

Os fibroblastos mais

internos diferenciam-se em condroblastos, que

produzem a matriz cartilaginosa e assim promovem o

crescimento aposicional da cartilagem.215

Os

condroblastos estão próximos ao pericôndrio em

lacunas ovais, achatadas, no sentido paralelo à

superfície. Os condrócitos localizam-se mais

profundamente na cartilagem, em lacunas mais

arredondadas.216

A diferenciação das células mesenquimais ou dos

fibroblastos em condroblastos é desencadeada pela

expressão de SOX-9. A expressão desse fator de

transcrição coincide com a síntese de colágeno do tipo

II.217

Os condrócitos secretam metaloproteinases que

degradam a matriz, permitindo a sua expansão.218

4.7.3 – Classificação, ocorrência e funções

– Cartilagem hialina

212 JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 128-129, 141. 213

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 131. 214

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 349. 215

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 213. 216

GENESER. Op. cit., p. 209. 217

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 213. 218

Ibid. p. 207.

A cartilagem hialina (do grego hyalos, vidro)

caracteriza-se pela presença de uma matriz

homogênea e vítrea, já que as fibrilas de colágeno

(colágeno do tipo II) não são visíveis ao microscópio

de luz. Elas são muito finas (20nm de diâmetro), não

se agregam em fibras e têm o mesmo índice de

refração do resto da matriz. Fibras colágenas

(colágeno do tipo I) não estão presentes, mas há

colágenos dos tipos VI, IX, X e XI. É rica na

substância fundamental e em água (60 a 80%), sendo

que a maior parte desta está ligada aos

glicosaminoglicanos, o que dá consistência de gel

rígido à matriz.219,220

O colágeno do tipo VI é encontrado na periferia dos

condrócitos e ajuda a adesão das células à matriz. O

colágeno do tipo IX localiza-se na superfície das fibrilas

de colágeno e facilita a interação com as proteoglicanas e

com outros componentes. O colágeno do tipo X organiza

as fibrilas colágenas em uma rede tridimensional, que é

importante para a função mecânica. O colágeno do tipo

XI regula o tamanho das fibrilas colágenas.221

A cartilagem hialina é geralmente envolvida pelo

pericôndrio (Figura 3.26). Ele não está presente nos

locais em que a cartilagem forma uma superfície livre,

como nas cartilagens articulares, e nos locais em que a

cartilagem entra em contato direto com o osso.222

A cartilagem hialina é firme, flexível e tem grande

resistência ao desgaste. Ela é o primeiro esqueleto do

feto, tendo a vantagem de, além de servir de suporte,

crescer rapidamente. Nas crianças e nos adolescentes,

constitui os discos epifisários entre a diáfise e a

epífise dos ossos longos, que são os locais de

crescimento do osso em comprimento. Nas

articulações dos ossos longos, a cartilagem hialina

diminui a superfície de fricção e amortece impactos. É

ainda encontrada no nariz, na laringe (cartilagens

tireoide, cricoide e aritenoide), na traqueia e nos

brônquios, mantendo essas vias abertas para a

passagem do ar.223,224,225,226,227

A fresco, a cartilagem hialina tem um aspecto branco

perolado, ligeiramente transparente. Com HE, o

pericôndrio e a matriz próxima, por causa do colágeno,

219

GENESER. Op. cit., pp. 208-211. 220

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 205-207, 216. 221

Ibid. pp. 175, 206. 222

Ibid. p. 209. 223

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 133, 136. 224

GENESER. Op. cit., pp. 208, 211. 225

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 348. 226

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 132-133. 227

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 204, 209, 212, 216.

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TATIANA MONTANARI

62

são eosinófilos, enquanto a matriz em torno dos

condrócitos, devido aos glicosaminoglicanos, é basófila

(Figura 3.26). Devido à carga negativa desses açúcares, a

matriz é metacromática com azul de toluidina. Com

PAS, as glicoproteínas da matriz são coradas (Figura

3.27).228,229,230

Figura 3.26 - Cartilagem hialina da traqueia, onde se

observam o pericôndrio (P) com fibroblastos, os

condroblastos ( ), os condrócitos ( ), os grupos

isógenos (I) e a matriz cartilaginosa. HE. Objetiva de 40x

(550x).

Figura 3.27 - Cartilagem hialina da traqueia. PAS. Objetiva

10x.

228

BÉLANGER, L. F. Os tecidos esqueléticos. In: WEISS, L.; GREEP, R.

O. Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. p. 172. 229

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 349, 351. 230

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 134.

A osteoartrite ocorre em articulações como as dos

quadris, joelhos, vértebras, mãos e pés. Os condrócitos

produzem interleucina-1 (IL-1) e o fator de necrose

tumoral (TNF-∞), que inibem a produção de colágeno do

tipo II e de proteoglicanas e estimulam a síntese de

metaloproteinases, as quais degradam a cartilagem

articular. A quantidade de proteoglicanas diminui com o

envelhecimento, o que acarreta a perda da capacidade de

reter água e consequentemente de resistir à compressão.

A fricção das superfícies ósseas descobertas provoca um

edema doloroso da articulação.231,232

A artrite reumatoide é uma doença autoimune que

causa lesão na membrana sinovial e na cartilagem

articular. A membrana sinovial espessa-se e infiltra-se

por células do sistema imune, e a cartilagem articular

lesada é substituída por tecido conjuntivo denso.233

– Cartilagem elástica

A cartilagem elástica também possui pericôndrio.

Além das fibrilas de colágeno (colágeno do tipo II) e

da substância fundamental, a matriz cartilaginosa

contém fibras elásticas, o que lhe dá mais

flexibilidade. Está presente na orelha (no pavilhão

auricular, na parede do canal auditivo externo e na

tuba auditiva) e na laringe (epiglote, cartilagens

corniculata e cuneiforme) (Figuras 3.28 e 3.29).234,235

A fresco, a cartilagem elástica é amarelada. Com

HE, as fibras elásticas são refráteis e eosinófilas; com

resorcina-fucsina, coram-se em violeta escuro; com

orceína, coram-se em marrom avermelhado (Figura

3.28), e, com hematoxilina de Verhoeff, em preto (Figura

3.29).236,237,238

Diferente da cartilagem hialina, a cartilagem elástica

não se calcifica com o envelhecimento.239

– Cartilagem fibrosa

Como está associada ao tecido conjuntivo denso,

não há pericôndrio. Os condrócitos originam-se dos

231

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 261. 232

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 205. 233

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 261. 234

Ibid. pp. 66-67. 235

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 210-212, 220-221. 236

GENESER. Op. cit., p. 161. 237

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 137. 238

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 178-179, 202, 210-211. 239 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 137.

T. Montanari

T. Montanari, UNICAMP

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HISTOLOGIA

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fibroblastos. A matriz contém fibras colágenas

(colágeno do tipo I), além das fibrilas colágenas

(colágeno do tipo II) e da substância fundamental. Os

condrócitos podem estar enfileirados entre as fibras

colágenas (Figura 3.30).240

Figura 3.28 - Cartilagem elástica do pavilhão auditivo. Há

pericôndrio (P). Orceína. Objetiva de 40x (550x).

Figura 3.29 - Cartilagem elástica da epiglote. Hematoxilina

de Verhoeff. Objetiva de 40x.

Com HE, as fibras colágenas coram-se com a eosina,

e os glicosaminoglicanos, com a hematoxilina (Figura

3.30).241

240 Ibid. p. 136. 241 Ibid.

Figura 3.30 - Cartilagem fibrosa da inserção do tendão no

osso. HE. Objetiva de 40x (550x).

A presença das fibras colágenas faz com que a

cartilagem fibrosa resista à tração e à deformação sob

estresse. Ela é encontrada nas articulações

temporomandibulares, esternoclaviculares e dos

ombros, na inserção de alguns tendões nos ossos, no

anel fibroso dos discos intervertebrais, na sínfise

púbica e nos meniscos das articulações dos

joelhos.242,243

A relação entre o colágeno do tipo I e do tipo II na

cartilagem fibrosa modifica-se com a idade. Nos idosos,

há mais colágeno do tipo II.244

4.7.4 – Nutrição e inervação

A cartilagem é desprovida de vasos sanguíneos e

linfáticos e de nervos, embora vasos sanguíneos

possam atravessá-la. Os gases e nutrientes difundem-

se dos vasos do tecido conjuntivo vizinho ou do

líquido sinovial das articulações.245

Os condrócitos

estão adaptados à baixa tensão de oxigênio (por

exemplo, realizam glicólise, que é anaeróbica) e mais

do que isso: a baixa tensão de oxigênio provoca

242 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 133, 135, 137-138. 243

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 210-212, 222. 244

Ibid. p. 211. 245 JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 126.

T. Montanari, UNICAMP

T. Montanari

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

64

diferenciação das células mesenquimais em

condroblastos.246

Quando a lesão da cartilagem é pequena, o reparo é

possível pela diferenciação dos condroblastos a partir do

pericôndrio (crescimento aposicional) ou por mitoses dos

condrócitos (crescimento intersticial). Quando a área

lesada é maior, os fibroblastos vizinhos produzem uma

cicatriz de tecido conjuntivo denso.247

O desenvolvimento de vasos sanguíneos no local de

cicatrização pode estimular o surgimento de tecido ósseo

ao invés da cartilagem.248

4.8 – Tecido ósseo

É caracterizado pela rigidez e dureza, mas é

dinâmico, adaptando-se às demandas impostas ao

organismo durante o seu crescimento.249

4.8.1 – Funções

Além da sustentação, os ossos, associados aos

músculos, possibilitam o movimento do corpo.

Alojam a medula óssea e os órgãos vitais, protegendo-

os. Armazenam íons, como o cálcio e o fosfato,

contribuindo para a homeostase dos seus níveis

sanguíneos.250

4.8.2 – Componentes

As células do tecido ósseo são: as células

osteoprogenitoras, os osteoblastos, os osteócitos e os

osteoclastos.251

As células osteoprogenitoras, os

osteoblastos e os osteócitos são variações funcionais

do mesmo tipo celular.

As células osteoprogenitoras são derivadas das

células mesenquimais e dão origem aos osteoblastos.

São fusiformes, com núcleo ovoide ou alongado,

eucromático e com nucléolo(s) proeminente(s). Elas

se situam na superfície da matriz óssea (Figuras 3.31 e

3.32).252,253

246

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 134, 138. 247 JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 129. 248

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 214-215. 249

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 246. 250 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 147. 251

Ibid. p. 145. 252

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 140-141. 253

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 248-249.

As células mesenquimais diferenciam-se em células

osteoprogenitoras expressando o fator de ligação central

∞-1 (Cbfa1). Esse fator de transcrição promove a

expressão de genes característicos do fenótipo do

osteoblasto.254

As células osteoprogenitoras sofrem divisão mitótica

e, sob a influência da família de proteínas

morfogenéticas ósseas (BMP de bone morphogenetic

proteins) e do fator de crescimento de transformação-β

(TGF-β de transforming growth factor-), diferenciam-

se em osteoblastos, mas, em situações de pouca

oxigenação, podem originar condroblastos.255

Os osteoblastos produzem a matriz óssea e, por

isso, são observados adjacentes a ela. Ficam dispostos

lado a lado, em comunicação uns com os outros por

junções gap nos seus prolongamentos. Sua forma é

cúbica ou poligonal quando em atividade sintética e

alongada quando inativos. Medem 15 a 30µm de

diâmetro. O núcleo é excêntrico, eucromático e com

nucléolo proeminente. Devido ao retículo

endoplasmático rugoso bem desenvolvido, o

citoplasma é basófilo. O complexo de Golgi é

volumoso, e há muitas vesículas com glicoproteínas,

dando uma aparência vacuolizada a essa região da

célula (Figura 3.31).256,257,258,259

Os osteoblastos sintetizam o componente orgânico

da matriz óssea, o osteoide, o qual consiste em fibras

colágenas (colágeno do tipo I), proteoglicanas,

glicosaminoglicanos e glicoproteínas de adesão. Eles

ainda participam da mineralização da matriz

óssea.260,261

Os osteoblastos realizam a exocitose de vesículas

ricas nos íons cálcio (Ca2+

) e fosfato (PO43-

), nas enzimas

fosfatase alcalina e pirofosfatase e em outras substâncias.

As vesículas da matriz apresentam bombas de Ca2+

,

concentrando esse íon. Os cristais de hidroxiapatita

Ca10(PO4)6(OH)2 formados rompem a membrana e são

depositados entre as fibrilas colágenas, atuando como

ninhos de cristalização e promovendo a calcificação da

matriz ao redor.262,263

254

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 231, 241. 255

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 140. 256

Ibid. pp. 140-142. 257

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 248-250. 258 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 144-145, 150. 259

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 231-233. 260

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 140, 142, 154. 261

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 250, 252-253. 262

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 154. 263

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 252-253.

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65

Os osteoblastos também secretam enzimas que

degradam o osteoide, permitindo a atividade dos

osteoclastos sobre a matriz mineralizada.264

Após os osteoblastos serem aprisionados pela

matriz óssea são denominados osteócitos. Os espaços

por eles ocupados são as lacunas (Figuras 3.31 e

3.32). Os osteócitos possuem núcleo eucromático,

retículo endoplasmático rugoso e Golgi, envolvidos na

manutenção da matriz. Estão em comunicação uns

com os outros através das junções gap nos

prolongamentos. As fendas na matriz óssea onde estão

os prolongamentos são os canalículos.265

Os osteócitos podem sintetizar matriz, bem como

participar da sua degradação. Essas atividades ajudam a

manter a homeostase do cálcio.266

Os osteócitos respondem às forças mecânicas

aplicadas ao osso. Por exemplo, a ausência de peso ou

redução na carga leva à expressão do RNAm de

metaloproteinases da matriz, as quais degradam o

colágeno, e até mesmo à alteração do mecanismo

apoptótico. A morte dos osteócitos resulta em reabsorção

da matriz óssea.267

Os precursores dos osteoclastos são originados na

medula óssea e podem ser também detectados em

circulação no sangue. Pertencem à linhagem de

monócitos-macrófagos. Migram para os sítios de

reabsorção óssea, onde se fundem, por intermédio da

E-caderina, em osteoclastos, células gigantes,

multinucleadas (2 a 100 núcleos).268

A maioria dos

osteoclastos deve ter menos de 10 núcleos.269

Eles

medem 40 a mais de 100m de diâmetro. A superfície

em contato com a matriz óssea é bastante irregular,

com uma borda pregueada, o que aumenta a área de

absorção. Na membrana, há integrinas, as quais

realizam a adesão à matriz extracelular, e bombas de

H+, que acidificam o ambiente. A superfície óssea

onde se situam os osteoclastos, devido à erosão,

geralmente apresenta uma depressão.270

O citoplasma

do osteoclasto jovem é basófilo, mas depois se torna

bem acidófilo. Há abundância de mitocôndrias e

lisossomos (Figuras 3.31 e 3.32).271

264

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 142. 265

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 225, 233-234. 266

Ibid. pp. 233-234. 267

Ibid. 268

ROODMAN, G. D. Advances in bone biology: the osteoclast.

Endocrine Reviews, v. 17, n. 4, pp. 308-332, 1996. 269

PIPER, K.; BOYDE, A.; JONES, S. J. The relationship between the

number of nuclei of an osteoclast and its resorptive capability in vitro. Anatomy and Embryology, v. 186, n. 4, pp. 291-299, 1992. 270 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 144, 152. 271

GENESER. Op. cit., p. 218.

Figura 3.31 - Corte da mandíbula em formação a partir do

mesênquima (M). As células osteoprogenitoras ( )

diferenciam-se em osteoblastos ( ), que produzem a

matriz óssea. Circundados por ela, são os osteócitos ( ).

Dois osteoclastos realizam reabsorção óssea. HE. Objetiva

de 40x (550x).

A diferenciação das células precursoras da linhagem

de granulócitos/monócitos em osteoclastos é promovida

por fatores secretados pelo estroma da medula óssea,

como o fator estimulador da colônia de monócitos (CFS-

M de macrophage colony-stimulating factor), o fator de

necrose tumoral (TNF) e interleucinas (IL-1, IL-6 e IL-

11).272

Os precursores dos osteoclastos expressam dois

fatores de transcrição importantes: c-fos e NFκB. Depois

é expresso, na superfície, o receptor ativador do fator

nuclear κ B (RANK), o qual interage com a molécula

ligante do RANK (RANKL), presente na superfície do

estroma. O mecanismo de sinalização RANK-RANKL é

essencial para a diferenciação e a maturação do

osteoclasto.273

O marcador fenotípico mais precoce expresso pelas

272

ROODMAN. Op. cit. 273

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 235-237.

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

66

células da linhagem de osteoclasto é a metaloproteinase

da matriz 9) (MMP-9). Posteriormente as células

precursoras mononucleadas expressam altos níveis de

fosfatase ácida resistente a tartarato (TRAP de tartrate-

resistant acid phosphatase), anidrase carbônica e pp60c-

src, uma tirosina quinase. Essas enzimas são importantes

para a degradação da matriz. Há ainda a expressão dos

receptores para vitronectina (membro da família das

integrinas) e para calcitonina.274

A membrana celular dos osteoblastos contém

receptores para o paratormônio, o qual é secretado pelas

paratireoides quando os níveis de cálcio no sangue caem.

Com a ligação desse hormônio, os osteoblastos deixam

de produzir a matriz óssea e sintetizam fatores, como o

M-CSF, interleucinas (IL-1, IL-6 e IL-11) e o ligante da

osteoprotegerina (OPGL), que fazem com que os

precursores dos osteoclastos proliferem e se

diferenciem.275,276

O próprio paratormônio atua sobre os precursores

dos osteoclastos estimulando a sua diferenciação e

fusão.277

Os osteoclastos reabsorvem a matriz óssea

liberando o cálcio para o sangue.278

Os osteoclastos contêm receptores para a calcitonina,

secretada pelas células parafoliculares da tireoide quando

os níveis séricos de cálcio estão elevados. A calcitonina

estimula a atividade da adenilato-ciclase, a qual gera um

acúmulo de AMPc que resulta na imobilização dos

osteoclastos e na sua contração para longe da superfície

do osso, assim não ocorre a reabsorção óssea. Esse

hormônio também inibe a formação dos osteoclastos.279

Além de sofrerem a influência dos fatores

sintetizados pelas células do estroma da medula óssea e

pelos osteoblastos, os osteoclastos também secretam

fatores estimuladores, como a IL-1, a IL-6 e o fator que

estimula o osteoclasto-1 (OSF-1 de osteoclast

stimulatory factor-1) e fatores inibidores da proliferação

e da fusão dos seus precursores, como o TGF-,

regulando a sua atividade na reabsorção óssea e/ou o

surgimento de novos osteoclastos.280

Os osteoclastos reabsorvem a matriz óssea da

seguinte maneira: a enzima anidrase carbônica catalisa a

produção intracelular de ácido carbônico (H2CO3) a

partir do CO2 e da H2O. O ácido carbônico é instável e

dissocia-se no interior das células em íons H+ e

bicarbonato, HCO3-. Os íons bicarbonato, acompanhados

de íons Na+, atravessam a membrana do osteoclasto e

entram nos capilares vizinhos. Os íons H+ são

transportados ativamente por bombas na borda

274

ROODMAN. Op. cit. 275

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 142, 157. 276

ROODMAN. Op. cit. 277

Ibid. 278

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 256. 279

ROODMAN. Op. cit. 280

Ibid.

pregueada para o local onde o osteoclasto está aderido ao

osso, diminuindo o pH. Íons Cl- seguem passivamente

esses íons. O componente inorgânico da matriz é

dissolvido à medida que o ambiente se torna ácido. As

enzimas lisossômicas são liberadas e digerem a parte

orgânica da matriz óssea descalcificada. Os minerais e os

produtos de degradação das glicoproteínas são

endocitados pelos osteoclastos e depois liberados nos

capilares.281

Além da liberação de cálcio para o sangue, a

reabsorção óssea remodela o osso, fazendo com que

os componentes da matriz alinhem-se para resistir ao

estiramento e à compressão.282

A remodelação do tecido ósseo da arcada dentária

pelo aparelho ortodôntico permite a movimentação dos

dentes a fim de corrigir a má-oclusão.283

Quando concluem a reabsorção óssea, os

osteoclastos sofrem apoptose.284

A ligação do estrogênio a receptores nos osteoblastos

ativa a secreção da matriz óssea e suprime a síntese de

IL-6 e IL-1, estimuladores da proliferação e da fusão dos

osteoclastos.285

Portanto, com a diminuição do estrogênio

na menopausa, há uma produção acentuada de

osteoclastos, e a reabsorção óssea é maior do que a

deposição pelos osteoblastos, levando à osteoporose.286

Um grupo de medicamentos chamados de

bifosfonatos reduz a incidência de fraturas causadas pela

osteoporose.287

Eles são derivados de pirofosfatases.

Inibem a reabsorção óssea e promovem a apoptose dos

osteoclastos.288

A matriz óssea consiste em uma parte orgânica, o

osteoide, com fibras colágenas (colágeno do tipo I),

proteoglicanas, glicosaminoglicanos (ácido

hialurônico) e glicoproteínas de adesão (osteonectina,

osteocalcina, osteopontina e sialoproteína óssea), e

uma parte inorgânica, com cálcio, fosfato,

bicarbonato, citrato, magnésio, sódio e potássio. A

281

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 144. 282

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 253. 283

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 138. 284

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 238. 285 ROODMAN. Op. cit. 286

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 157. 287

Ibid. 288

ROODMAN. Op. cit.

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HISTOLOGIA

67

parte orgânica perfaz cerca de 35%, enquanto a parte

inorgânica, 65% da matriz.289

Há também colágenos do tipo III, V, XI e XIII.290

As fibras colágenas conferem resistência à tração.

As proteoglicanas e os glicosaminoglicanos suportam

a compressão, ligam-se a fatores de crescimento e

podem inibir a mineralização. As glicoproteínas de

adesão associam-se às células e aos componentes da

matriz extracelular. O cálcio e o fosfato são os íons

mais abundantes e estão principalmente na forma de

cristais de hidroxiapatita. Esses cristais são

responsáveis pela dureza e rigidez do osso.291,292,293

O tecido ósseo armazena cerca de 99% do cálcio do

corpo. Esse íon é importante para vários processos

biológicos, como permeabilidade da membrana, adesão

celular, coagulação sanguínea, transmissão do impulso

nervoso e contração muscular.294

A vitamina D estimula a síntese da osteocalcina e da

osteopontina. A deficiência de vitamina D provoca o

raquitismo nas crianças e a osteomalacia nos adultos.

Sem a vitamina D, a mucosa intestinal não consegue

absorver cálcio, levando à formação de uma matriz óssea

pouco calcificada. Crianças com raquitismo apresentam

ossos deformados, particularmente das pernas, porque

não resistem ao próprio peso. No adulto, o tecido ósseo

formado na remodelação óssea não se calcifica de modo

adequado.295

4.8.3 – Tipos de ossificação

A ossificação pode ser intramembranosa ou

endocondral.

Na ossificação intramembranosa, as células

mesenquimais diferenciam-se em células

osteoprogenitoras, e estas, em osteoblastos, que

produzem a matriz óssea. Os osteoblastos

aprisionados na matriz passam a ser denominados

osteócitos (Figuras 3.31 e 3.32). Os osteoclastos

remodelam o osso conforme as tensões mecânicas

289

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 139-140. 290

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 224. 291

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 140. 292

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 144. 293

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 224-225, 248. 294

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 138, 156. 295

Ibid. pp. 140, 158.

locais. Entre as trabéculas de matriz óssea, surgem do

mesênquima tecido mieloide e vasos sanguíneos.296

As células osteoprogenitoras e os osteoblastos

dipostos na superfície da matriz óssea compõem o

endósteo, importante para a manutenção e o reparo do

tecido (Figura 3.32). A parte periférica do

mesênquima que não sofre ossificação passa a

constituir o periósteo, cuja porção externa é de tecido

conjuntivo denso não modelado e a interna, de células

osteoprogenitoras, servindo de fonte de osteoblastos

para o crescimento e o reparo do osso.297,298

Esse tipo de ossificação forma os ossos chatos do

crânio, a maior parte da clavícula e a parede cortical

dos ossos longos e curtos. As fontanelas nos ossos

frontal e parietais ("moleira") do recém-nascido é uma

área de membrana conjuntiva ainda não

ossificada.299,300,301

A ossificação endocondral ocorre sobre um

modelo cartilaginoso e é responsável pela formação

dos ossos curtos e longos. Esse tipo de ossificação

inicia na clavícula entre a quinta e a sexta semana de

vida embrionária e nos ossos longos, entre a sétima e

a oitava semana. A cartilagem hialina origina-se do

mesênquima e assume a forma aproximada do futuro

osso. No caso de um osso longo, isso inclui a haste (a

diáfise) e as expansões em cada extremidade (as

epífises).302,303

Na diáfise, o pericôndrio transforma-se em

periósteo, com células osteoprogenitoras que se

diferenciam em osteoblastos. Estes produzem um

colar ósseo ao redor da diáfise (ossificação

intramembranosa), que evita a difusão de nutrientes

para o centro do molde de cartilagem, causando a

morte dos condrócitos e resultando na cavidade

medular. Os osteoclastos perfuram o colar ósseo, e

vasos sanguíneos e nervos entram na diáfise. As

células osteoprogenitoras trazidas pelo sangue

estabelecem o centro primário de ossificação. O tecido

ósseo substitui a cartilagem calcificada do modelo

original. A diáfise aumenta em diâmetro pela

deposição de matriz óssea na superfície externa e pela

sua reabsorção na superfície interna. A remodelação

pelos osteoclastos produz uma rede de trabéculas

ósseas no centro da diáfise.304,305

296

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 251, 253, 256-257. 297 JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 135-136. 298 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 148. 299

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 148. 300

GENESER. Op. cit., p. 220. 301

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 256-257. 302

GENESER. Op. cit., p. 226. 303

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 256-258. 304

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 150-151. 305

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 257-258.

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TATIANA MONTANARI

68

Próximo ao nascimento, os vasos sanguíneos

penetram as epífises, levando as células

osteoprogenitoras, e têm-se os centros secundários de

ossificação. A cartilagem das epífises, com exceção

da superfície articular, é substituída pelo tecido

ósseo.306

Durante a infância e a adolescência, os ossos

longos continuam a crescer em comprimento e em

largura.307

O aumento em comprimento deve-se a uma placa

de cartilagem em proliferação na junção entre a

epífise e a diáfise: o disco epifisário. Nele a região de

cartilagem hialina junto à epífise é dita zona de

cartilagem em repouso, e aquela onde os condrócitos

dividem-se é a zona de cartilagem em proliferação

(ou seriada). Essa é uma região onde ocorre o

crescimento intersticial da cartilagem. Os condrócitos

acumulam glicogênio e lipídios, tornando-se

volumosos na zona de cartilagem hipertrófica. Eles

sintetizam fosfatase alcalina, que promove a

calcificação da cartilagem. Com a deposição de

fosfato de cálcio na matriz, os condrócitos sofrem

apoptose, deixando cavidades vazias: é a zona de

cartilagem calcificada. Tais espaços são invadidos

por células da medula óssea, incluindo os precursores

de células osteoprogenitoras. Essas células colocam-se

sobre os tabiques de matriz cartilaginosa calcificada

(basófila, isto é, roxa com HE), diferenciam-se em

osteoblastos e produzem a matriz óssea (acidófila, isto

é, rosa com HE). Essa região é a zona de ossificação

(Figura 3.33).308,309,310

A invasão vascular é promovida pela liberação do

fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF de

vascular endothelial growth factor) pelos condrócitos

hipertróficos. Com os vasos chegam fatores indutores da

apoptose desses condrócitos.311

Por volta dos 20 anos de idade, a proliferação dos

condrócitos cessa. A cartilagem do disco epifisário é

substituída por uma mistura de cartilagem e osso

calcificados, que é reabsorvida pelos osteoclastos.312

A

substituição da cartilagem epifisária por tecido ósseo é

influenciada pelos hormônios sexuais testosterona e

estrógeno.313

Portanto, o indivíduo que sofre uma

306

Ibid. 307

Ibid. p. 257. 308

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 402-403. 309 JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 141-142. 310 LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 257-258. 311

ARROTÉIA, K. F.; PEREIRA, L. A. V. Osteoblastos. In:

CARVALHO, H. F.; COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. p. 38. 312

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 152-153. 313

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 145.

maturidade sexual precoce interrompe o seu crescimento

em altura mais cedo.314

O aumento na circunferência da diáfise é

promovido pela formação de tecido ósseo na

superfície externa. Como a reabsorção não é tão ativa

na superfície interna, essa camada de osso espessa-se,

o que é importante para suportar o aumento do peso

corporal e da atividade física.315

4.8.4 – Classificação

Segundo a sua constituição, o tecido ósseo pode

ser classificado em primário ou secundário.

O tecido ósseo primário é o primeiro a ser

elaborado, sendo substituído pelo secundário. Possui

maior quantidade de células e de substância

fundamental, é pouco mineralizado, e as fibras

colágenas não apresentam uma organização definida,

o que tornam esse osso mais fraco. No adulto, persiste

próximo às suturas dos ossos do crânio, nos alvéolos

dentários, em alguns pontos de inserção dos tendões e

nos locais de reparo ósseo.316,317

O tecido ósseo secundário tem menos substância

fundamental, é mais calcificado, e as fibras colágenas

estão dispostas paralelamente, em lâminas (lamelas),

tornando a matriz resistente.318,319

Devido à maior quantidade de substância

fundamental, o tecido ósseo primário cora-se mais com

hematoxilina, enquanto o tecido ósseo secundário, com

menos substância fundamental, mais calcificado e com

mais fibras colágenas, cora-se com a eosina.320,321,322

No tecido ósseo secundário, as lamelas podem ser

depositadas em camadas concêntricas a partir da

periferia das trabéculas ósseas até alcançar o vaso

sanguíneo, formando o sistema de Havers (ou ósteon).

As fibras colágenas de cada lamela são paralelas, mas

orientadas quase perpendicularmente em relação às

fibras das lamelas adjacentes.323

314 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 158. 315 LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 257, 259. 316

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 136, 139. 317 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 229-231. 318 JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 137. 319 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 231. 320 JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 137. 321 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 145, 148, 151. 322 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 231. 323 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 147.

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HISTOLOGIA

69

O sistema de Havers é então um cilindro com

várias lamelas ósseas concêntricas (quatro a 20) e um

canal central, o canal de Havers, que contém vasos

sanguíneos (uma arteríola e uma vênula ou somente

um capilar) e nervos. Os canais de Havers possuem 20

a 100µm de diâmetro. Eles são canais longitudinais,

isto é, correm ao longo do eixo maior do osso e se

comunicam entre si, com a cavidade medular e com a

superfície externa do osso, por meio de canais

transversais ou oblíquos, os canais de Volkmann.

Diferentemente dos canais de Havers, os canais de

Volkmann não são circundados por lamelas

concêntricas. Assim como a superfície das trabéculas

ósseas, os canais de Havers e de Volkmann são

revestidos pelo endósteo.324,325

Segundo o seu aspecto estrutural, o tecido ósseo

pode ser denominado esponjoso ou compacto.

O osso esponjoso (ou trabecular) é encontrado no

interior dos ossos e é constituído por trabéculas de

matriz óssea, cujos espaços são preenchidos pela

medula óssea. A rede trabecular é organizada de

maneira a resistir às tensões físicas aplicadas sobre o

osso, atuando como um sistema de vigas internas

(Figura 3.32).326

Figura 3.32 - Corte de osso esponjoso descalcificado. O

endósteo ( ), constituído por células osteoprogenitoras e

osteoblastos, reveste a superfície interna das trabéculas

ósseas. Os osteócitos ( ) são observados nas lacunas,

circundados pela matriz óssea, e o osteoclasto encontra-se

na cavidade medular, adjacente à matriz. HE. Objetiva de

40x (550x).

324

Ibid. pp. 147-148. 325

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 227-229, 252-253. 326

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 247-248.

Figura 3.33 - Zonas do disco epifisário: cartilagem em

repouso (R), cartilagem seriada (S) ou em proliferação,

cartilagem hipertrófica (H), cartilagem calcificada (C) e

ossificação (O). HE. Objetiva de 4x (55x).

O osso compacto (ou cortical) está na periferia

dos ossos e forma um envoltório resistente à

deformação. Ele tem uma aparência macroscópica

densa, mas, ao microscópio de luz, são observados os

sistemas de Havers, com o canal de Havers e as

lamelas concêntricas de matriz óssea, e os canais de

Volkmann (Figura 3.34). Os osteócitos localizam-se

entre as lamelas e comunicam-se por junções gap nos

prolongamentos. Os espaços na matriz óssea deixados

pelos osteócitos são as lacunas, e aqueles devido aos

seus prolongamentos, os canalículos (Figuras 3.34 e

3.35). Os espaços entre os sistemas de Havers são

preenchidos pelas lamelas intersticiais, remanescentes

da remodelação óssea (Figura 3.34). As lamelas

circunferenciais internas encontram-se na parte

interna do osso, junto ao canal medular, o qual é

revestido pelo endósteo, e as lamelas circunferenciais

T. Montanari

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

70

externas, na periferia do osso, próximas ao

periósteo.327,328

Figura 3.34 - Fragmento de osso compacto, mostrando

sistemas de Havers (SH), canais de Havers (H), canais de

Volkmann (V) e lacunas ( ). Método de Shmorl. Objetiva

de 10x (137x).

Figura 3.35 - Sistema de Havers. É possível observar os

canalículos irradiando-se das lacunas para as vizinhas e

para o canal de Havers. Método de Shmorl. Objetiva de 40x

(550x).

327

Ibid. pp. 247-249, 251. 328 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 225-228, 233, 252-253.

4.8.5 – Nutrição

O sangue entra no tecido ósseo a partir da

cavidade medular e sai pelas veias do periósteo. Os

canais de Volkmann são a principal via de entrada.

Vasos sanguíneos menores entram nos canais de

Havers, que contêm uma arteríola e uma vênula ou um

único capilar. Um suprimento sanguíneo menor para

as porções externas do osso compacto é formado pelos

ramos das artérias periosteais.329

Como não há difusão de substâncias pela matriz

calcificada, os osteócitos, através dos seus

prolongamentos, captam os nutrientes dos vasos

sanguíneos que correm nos canais. Aqueles mais

distantes recebem íons e pequenas moléculas dessas

células pelas junções comunicantes entre os

prolongamentos.330

Em uma fratura, os vasos sanguíneos também são

danificados, e a hemorragia localizada gera um coágulo

que posteriormente será removido pelos macrófagos.

Dentro de 48h da lesão, as células osteoprogenitoras do

periósteo, do endósteo e da medula óssea diferenciam-se

em osteoblastos, que produzem matriz óssea em torno

das extremidades do osso rompido, formando o calo

ósseo em uma semana.331

Ele mantém os fragmentos

ósseos unidos temporariamente.332

Devido à baixa oxigenação, já que o leito vascular

foi danificado e ainda não foi refeito, muitas células

osteoprogenitoras diferenciam-se em condroblastos, e

matriz cartilaginosa é depositada na porção externa do

calo. Assim, além da ossificação intramembranosa, que

ocorre graças às células osteoprogenitoras do periósteo e

do endósteo, ocorre ossificação endocondral nessa área

de cartilagem.333

O tecido ósseo inicial é o primário. Os osteoclastos

removem o excesso de material nas superfícies do osso e

reconstroem a cavidade medular. Por alguns meses, o

calo e os fragmentos ósseos são remodelados conforme

as forças mecânicas aplicadas: pressões levam à

reabsorção, enquanto a tração resulta em mais síntese. O

tecido ósseo primário é substituído pelo secundário.334

Lâminas histológicas de osso podem ser obtidas por

descalcificação ou por desgaste.

Na descalcificação, a peça macroscópica com o

tecido ósseo é colocada em uma solução ácida para

329

Ibid. p. 229. 330

GENESER. Op. cit., pp. 213, 218. 331

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 155. 332 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 249. 333

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 156. 334

Ibid. pp. 138, 156.

T. Montanari

H

SH

v

T. Montanari

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HISTOLOGIA

71

retirar os sais de cálcio.335

O osso fica mole de maneira a

permitir que a peça, após incluída em parafina, seja

cortada no micrótomo. Os cortes são dispostos em

lâminas de vidro e corados, por exemplo, com HE. A

matriz óssea, devido à presença de fibras colágenas,

cora-se fortemente pela eosina.336

Além da matriz, as

células podem ser observadas (Figuras 3.31 e 3.32).

Pelo método de desgaste (método de Shmorl),

pedaços de osso compacto são lixados até uma espessura

bastante fina que permita a passagem da luz do

microscópio para a formação da imagem. Esses

fragmentos são colocados em lâminas de vidro e, embora

não corados, a presença de ar nos canais de Havers e de

Volkmann, nas lacunas e nos canalículos desvia a luz,

tornando essas estruturas escuras.337

O contraste pode ser

aumentado abaixando a lente condensadora (Figuras 3.34

e 3.35).

4.9 – Tecido mieloide ou tecido hematopoético

4.9.1 – Ocorrência e função

É denominado tecido mieloide por se localizar na

medula óssea (do grego mielos, medula) e tecido

hematopoético por realizar a hematopoese (do grego

hemato, sangue; poiein, produzir), ou seja, produzir as

células sanguíneas.338

A medula óssea é encontrada no

canal medular dos ossos longos e nas cavidades dos

ossos esponjosos.339

Porém, anterior ao surgimento

dos ossos e, portanto, da medula óssea, já há

hematopoese.

Na terceira semana de desenvolvimento, os vasos

sanguíneos começam a se organizar no mesoderma

extraembrionário do saco vitelino, do córion e do

pedúnculo do embrião e no mesoderma intraembrionário

(exceto o mesoderma pré-cordal e a notocorda). Eles

surgem a partir da confluência de ilhotas sanguíneas,

com células denominadas hemangioblastos. No saco

vitelino, Indian hegdehog, secretado pelo endoderma

extraembrionário, estimula o mesoderma

extraembrionário a produzir BMP-4, que desencadeia a

formação das ilhotas sanguíneas. As células periféricas

na ilhota diferenciam-se nas células endoteliais,

respondendo a Hoxa-3, e as células internas, nas

hemácias, sob a influência de Runx-1. As células da

ilhota podem ainda derivar as células musculares lisas

dos vasos.340

335

Ibid. p. 139. 336 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 145, 148, 151. 337

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 132. 338

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 279. 339

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 238. 340

CARLSON, B. M. Human Embryology and Developmental Biology.

5.ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2014. pp. 107, 109, 408.

Nas primeiras seis semanas de desenvolvimento, os

eritrócitos em circulação são principalmente derivados

do saco vitelino. Entretanto são células primitivas:

grandes e nucleadas.341

A hematopoese intraembrionária inicia no fim da

quarta semana, em ilhotas no mesoderma lateral

esplâncnico associado com a parede ventral da aorta

dorsal (grupos para-aórticos) e logo depois na região

AGM (de aorta/ genital ridge/ mesonephros – aorta/

gônada/ mesonefro). Células-tronco hematopoéticas

dessa região migram, através do sangue, para o saco

vitelino, a placenta e o fígado, assim como aquelas do

saco vitelino e da placenta vão para o fígado. Da sexta à

oitava semana, o fígado substitui o saco vitelino como

principal fonte de hemácias. Os eritrócitos do fígado são

anucleados, com uma vida curta (50 a 70 dias) e com

hemoglobina fetal, que tem uma afinidade maior pelo

oxigênio do que a forma adulta.342

Genes das famílias Hoxa e Hoxb regulam a

proliferação das células-tronco hematopoéticas, e BMP-

4, Indian hegdehog e Wnt estimulam e mantêm a

atividade dessas células.343

No saco vitelino e nos sítios embrionários de

hematopoese, as células endoteliais retêm por um curto

período a capacidade hematopoética. Na região AGM, a

sinalização de óxido nítrico, resultante do estresse

causado pelo fluxo sanguíneo sobre as células

endoteliais, pode induzir sua transformação em células-

tronco hematopoéticas.344

No fim do período embrionário, células-tronco

hematopoéticas colonizam o baço, e, do terceiro ao

quinto mês, esse órgão e o fígado são os principais sítios

de hematopoese. Mais tarde, o baço torna-se infiltrado

por linfócitos.345

O fígado continua a produzir eritrócitos até o início

do período neonatal, mas sua contribuição começa a

declinar no sexto mês, quando a medula óssea assume a

atividade hematopoética. Essa mudança é controlada

pelo cortisol secretado pelo córtex da adrenal do feto. Na

ausência desse hormônio, a hematopoese permanece

confinada ao fígado. A medula óssea produz eritrócitos

anucleados, com hemoglobina do tipo adulto.346

A medula óssea do recém-nascido é chamada

medula óssea vermelha, por causa do grande número

de eritrócitos formados. Entretanto, com o avançar da

idade, a maior parte da medula não é mais ativa e é

rica em células adiposas, sendo designada medula

óssea amarela. Em torno dos 20 anos, o canal medular

dos ossos longos possui somente medula óssea

341

Ibid. pp. 408-410. 342

Ibid. pp. 409-411. 343

Ibid. p. 410. 344

Ibid. p. 409. 345

Ibid. p. 344. 346

Ibid. pp. 409-410.

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TATIANA MONTANARI

72

amarela.347

A medula óssea vermelha no adulto ocupa

os ossos do crânio, as clavículas, as vértebras, as

costelas, o esterno e a pelve.348

Em certos casos, como em hemorragias ou em certas

leucemias, a atividade hematopoética é retomada pela

medula óssea amarela e, se necessário, pelo fígado e pelo

baço (hemocitopose extramedular).349

4.9.2 – Componentes

As células do tecido mieloide são: células

hematopoéticas, células mesenquimais, fibroblastos,

células reticulares, células adiposas, macrófagos,

plasmócitos e mastócitos. As células hematopoéticas

derivam as células sanguíneas. As células

mesenquimais, os fibroblastos e as células reticulares

compõem o estroma da medula óssea. As células

mesenquimais são células-tronco não hematopoéticas.

Os fibroblastos produzem as fibras colágenas que

sustentam os vasos sanguíneos. As células reticulares

sintetizam as fibras reticulares, as quais junto com os

prolongamentos das células formam uma rede de

sustentação para as células hematopoéticas. Pelo

acúmulo de lipídios, elas se transformam nas células

adiposas. As células reticulares são responsáveis

ainda, juntamente com os macrófagos e outras células

do estroma do tecido mieloide, pela secreção de

fatores que estimulam a proliferação e a diferenciação

das células hematopoéticas.350,351,352,353,354

Enquanto as células hematopoéticas, por formarem

as células sanguíneas, são utilizadas nos transplantes de

medula óssea, as células mesenquimais, por serem

capazes de se diferenciar em fibroblastos, células

adiposas, condroblastos e osteoblastos, são importantes

na medicina regenerativa.355,356

A matriz extracelular consiste de fibras reticulares

(colágeno do tipo III), fibras colágenas (colágeno do

tipo I), glicoproteínas de adesão, como laminina,

347

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 242-243. 348

WEISS, L. Medula óssea. In: WEISS, L.; GREEP, R. O. Histologia.

4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. p. 409. 349

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 244, 251. 350

ALBERTS et al. Op. cit., p. 1301. 351

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 242-243. 352

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 292-294. 353

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 105, 117. 354

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 197, 309. 355

ALBERTS et al. Op. cit., p. 1301. 356

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 105.

fibronectina e hemonectina, que facilitam a adesão das

células hematopoéticas ao estroma da medula, e

glicosaminoglicanos e proteoglicanas, que podem se

ligar aos fatores hematopoéticos.357,358

Em 1891, Romanowsky usou uma mistura de eosina

e azul de metileno para corar sangue. A combinação

mostrou-se mais adequada do que o uso dos corantes

separadamente. Ele conseguiu corar os parasitas da

malária nas hemácias, feito importante para o

diagnóstico dessa doença. Parte do parasita foi corada

com uma tonalidade violeta que não podia ser atribuída

diretamente à eosina ou ao azul de metileno, mas devia

ser resultante da formação de um novo corante.359

Os esfregaços de medula óssea e de sangue são

corados pelas misturas tipo Romanowsky, como Giemsa

(May-Grünwald-Giemsa), Leishman e Wright, que

possuem eosina, azul de metileno e azures, resultantes da

oxidação do azul de metileno. A eosina é um corante

ácido e cora em rosa os componentes básicos

(acidófilos). O azul de metileno é um corante básico e

cora em azul os componentes ácidos (basófilos). Os

azures são corantes básicos, mas exibem metacromasia,

conferindo uma coloração púrpura aos grânulos que

coram (azurófilos).360,361,362,363

4.9.3 – Hematopoese

As células sanguíneas surgem de um antecessor

comum, a célula-tronco hematopoética pluripotente.

364

A célula-tronco hematopoética expressa proteínas

marcadoras de superfície como CD34 e CD90.365

A célula-tronco hematopoética, sob a influência de

fatores do meio, sofre mitoses sucessivas, e as células-

filhas seguem um caminho de diferenciação em uma

determinada célula sanguínea ou até mesmo em outros

tipos celulares, como os precursores dos mastócitos e

dos osteoclastos. Assim, a medula óssea apresenta

microrregiões, onde predomina um tipo de célula 357

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 239. 358

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 117-118. 359

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 279. 360

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 225-226. 361

GENESER. Op. cit., p. 187. 362

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 219. 363

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 278-279. 364

Ibid. p. 298. 365

Ibid.

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HISTOLOGIA

73

sanguínea em diversas fases de maturação, que foram

denominadas colônias nos estudos experimentais.

366,367,368

A célula-tronco hematopoética, ao se dividir,

origina, além de uma célula semelhante a ela, um tipo

de célula com uma potencialidade mais limitada: o

progenitor mieloide (ou CFU-S, CFU de colony-

forming unit, unidade formadora de colônia, e S de

spleen, baço, porque os experimentos que a

identificaram utilizaram esse órgão) ou o progenitor

linfoide (ou CFU-L, de colony-forming unit-

lymphoid).369,370,371

A divisão mitótica da CFU-S origina diferentes

CFU: a CFU-E/Meg que deriva a CFU-E (responsável

pela linhagem eritrocítica) e a CFU-Meg (precursora

dos megacariócitos, formadores das plaquetas); a

CFU-GM que deriva a CFU-G (responsável pela

linhagem de neutrófilos) e a CFU-M (produtora dos

monócitos); a CFU-Ba (responsável pelos basófilos) e

a CFU-Eo (precursora dos eosinófilos). A CFU-L

origina os linfócitos B, os linfócitos T e as células NK

(natural killer).372

As CFU, bem como as suas células-

filhas, possuem uma intensa atividade mitótica.373

A hematopoese é regulada por fatores de

crescimento e citocinas secretados pelas células da

medula óssea ou de outros órgãos. Essas substâncias,

geralmente glicoproteínas, induzem a mitose, a

diferenciação, a atividade funcional e a sobrevivência

das células hematopoéticas.374,375

Há a expressão de

receptores específicos nas células hematopoéticas,

permitindo que esses fatores atuem.376

As células reticulares do estroma da medula óssea

sintetizam o fator da célula-tronco (stem cell factor ou

steel factor), que fica inserido na membrana e, com o

contato da célula-tronco hematopoética pluripotente, faz

com que ela sofra mitoses e inicie a hematopoese. A

célula-tronco hematopoética origina o progenitor

mieloide (ou CFU-S) ou, com a influência da IL-7,

secretada possivelmente pelas células reticulares, o

progenitor linfoide (ou CFU-L).377

Com a divisão mitótica da CFU-S e a influência de

366

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 280-281. 367

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 96, 133, 234-235,

239. 368

WEISS, L. O ciclo vital dos glóbulos sanguíneos. In: WEISS, L.;

GREEP, R. O. Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981.

p. 386. 369

CARLSON. Op. cit., p. 410. 370

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 234-235. 371

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 298-300. 372

Ibid. pp. 299-300. 373

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 235. 374

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 246-248, 251-252. 375

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 235-236. 376

GENESER. Op. cit., p. 198. 377

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 244, 247-248.

fatores, como IL-1, IL-3, IL-6 e CSF-GM (CSF de

colony-stimulating factor – fator que estimula a colônia,

G de granulócito e M de macrófago), produzidos por

monócitos, macrófagos, células endoteliais, linfócitos,

fibroblastos e células reticulares, diferentes CFU são

formadas.378,379

A CFU-S (ou progenitor mieloide), por influência da

eritropoetina, da IL-3 e da IL-4, diferencia-se na

progenitora de eritrócitos e megacariócitos (CFU-

E/Meg). Sob a influência do fator de transcrição GATA-

1, essa célula se transforma na CFU-E.380

O desenvolvimento da CFU-GM requer a expressão

de alto nível do fator de transcrição PU.1. A progressão

da CFU-GM em CFU-M depende da presença

continuada de PU.1 e Egr-1 e é estimulada pela IL-3 e

pelo CSF-GM.381

A eritropoese depende da eritropoetina, uma

glicoproteína sintetizada no rim (85%) e no fígado (15%)

e da IL-9, produzida pelos linfócitos T.382

Outras interleucinas de linfócitos T influenciam a

formação de basófilos e mastócitos (IL-4), eosinófilos

(IL-5), neutrófilos e monócitos (IL-3). CSF-G e CSF-M,

secretados pelos macrófagos e pelas células endoteliais,

promovem a mitose e a diferenciação da CFU-G e da

CFU-M, respectivamente.383,384

Trombopoetina, que é produzida no fígado, nos rins,

no baço e na própria medula óssea, promove a maturação

dos megacariócitos e o consequente aumento de

plaquetas.385

Membros da família Ikaros dos fatores de transcrição

são importantes na diferenciação da célula-tronco

hematopoética pluripotente em CFU-L. A progênie dessa

unidade formadora da colônia que expressa o fator de

transcrição GATA-3 é destinada a se tornar linfócito T,

enquanto Pax-5 ativa os genes para a diferenciação dos

linfócitos B.386

Durante o processo de transformação das células

precursoras em células sanguíneas maduras, há a

aquisição das características estruturais necessárias

para o desempenho da sua função. Assim, na

formação das hemácias, há a síntese de hemoglobina e

a transformação da célula em um corpúsculo que

oferece o máximo de superfície para as trocas de

oxigênio. Na formação dos megacariócitos, há a

síntese dos fatores coagulantes e de membranas para

as plaquetas. Na formação dos leucócitos, há a

378

Ibid. pp. 247-248. 379

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 304-305, 307. 380

Ibid. p. 302. 381

Ibid. pp. 300, 307. 382

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 247, 252. 383

Ibid. pp. 247, 254. 384

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 304-305. 385

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 238, 249. 386

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 308.

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TATIANA MONTANARI

74

produção de enzimas lisossômicas e outras

substâncias envolvidas na defesa do organismo.387

– Eritropoese

Quando a quantidade de eritrócitos no sangue

diminui, o rim produz uma alta concentração de

eritropoetina que, na presença de IL-3, IL-9 e GM-

CSF, induz a CFU-S a se diferenciar em BFU-E

(erythroid burst-forming unit, ou seja, unidade

formadora explosiva de eritrócitos). Esta sofre muitas

mitoses, gerando um grande número de CFU-E. A

CFU-E necessita de certa concentração de

eritropoetina não somente para sobreviver, mas para

formar o proeritroblasto.388,389

O proeritroblasto tem 15 a 30µm de diâmetro.

Seu núcleo é grande, esférico, central e com cromatina

frouxa e um ou dois nucléolos. O citoplasma tem

abundância de ribossomos e é, portanto, basófilo.

Nessa célula, pelo estímulo da eritropoetina, há a

síntese do RNAm para a globina, a parte proteica da

hemoglobina, e o início da sua tradução. O ferro é

trazido pela transferrina, proteína plasmática que se

liga a receptores na membrana e é endocitada.390,391,392

A deficiência em O2 nos tecidos, provocada por

hemorragia ou deslocamento para altitudes elevadas,

estimula a secreção de eritropoetina, aumentando a

eritropoese.393

O proeritroblasto divide-se várias vezes e origina

os eritroblastos basófilos (10-18µm), os eritroblastos

policromáticos (10-12µm) e os eritroblastos

ortocromáticos (8-10µm) sucessivamente. O

citoplasma basófilo, devido à riqueza de ribossomos,

torna-se eosinófilo, por causa do acúmulo de

hemoglobina. A cromatina condensa-se, e o núcleo

picnótico é extruso da célula (Figura 3.36). O núcleo

eliminado com um pouco de citoplasma e outras

organelas é fagocitado pelos macrófagos, em cujas

profundas reentrâncias se inseriam as células.394,395

Os eritrócitos entram na circulação através dos

capilares presentes na medula óssea. Cerca de 1 a 2%

387

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 240. 388

CARLSON. Op. cit., p. 411. 389

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 252. 390

CARLSON. Op. cit., p. 411. 391

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 239, 241, 248. 392 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 159, 168-170. 393

Ibid. p. 170. 394

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 119. 395

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 303.

das células recém-formadas contêm ribossomos

residuais, os quais exibem um padrão reticular com

azul de cresil. Essas células são denominadas

reticulócitos (Figura 3.37). Após um dia no sangue,

como os polissomos não são renovados devido à

ausência do núcleo, tornam-se eritrócitos, com

somente hemoglobina no citoplasma.396,397

Figura 3.36 - Eritroblasto ortocromático sofrendo extrusão

do núcleo para formar o eritrócito. Cortesia de Maria

Cristina Faccioni-Heuser, UFRGS.

Figura 3.37 - Reticulócito. Cortesia de Maria Cristina

Faccioni-Heuser, UFRGS.

Utiliza-se a contagem de reticulócitos para avaliar a

atividade eritropoética. Quando essa atividade está

aumentada em demasia, o número de reticulócitos no

sangue circulante é alto, situação denominada

reticulocitose. Na anemia hemolítica, em que a vida

396

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 241. 397

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 170.

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HISTOLOGIA

75

média dos eritrócitos está muito diminuída e a

eritropoese é intensificada para compensar a rápida

destruição dos eritrócitos, os reticulócitos podem

representar até quase 50% dos glóbulos vermelhos

circulantes.398

O eritrócito (ou hemácia) mede 7 a 8µm de

diâmetro e é uma célula anucleada, com forma

bicôncava, o que aumenta a área de superfície para as

trocas de gases. Pela concentração de hemoglobina, é

eosinófila. Dura cerca de 120 dias e é eliminada pelos

macrófagos do baço, da medula óssea e do fígado.399

– Formação das plaquetas

A CFU-Meg dá surgimento ao megacarioblasto,

com 15 a 50m de diâmetro, núcleo ovoide ou em

rim, numerosos nucléolos e citoplasma basófilo,

devido ao retículo endoplasmático rugoso bem

desenvolvido para a produção dos fatores de

coagulação e de outras proteínas. O retículo

endoplasmático liso também é proeminente e

sintetizará as membranas dos canais de demarcação.400

O megacarioblasto sofre endorreduplicação,

tornando-se poliploide (até 64n), o que aumenta o seu

tamanho e o do seu núcleo. Diferencia-se em

megacariócito, que é uma célula com 30 a 100m de

diâmetro, núcleo lobulado e citoplasma levemente

basófilo ou eosinófilo, devido à perda progressiva de

ribossomos e à riqueza de membranas.401,402

Os megacariócitos ficam próximos aos capilares

sanguíneos e emitem por entre as células endoteliais

prolongamentos que se fragmentam pela confluência

dos canais de demarcação, originando as plaquetas (2

a 4 µm) (Figuras 3.38 e 3.39). O citoplasma restante e

o núcleo dos megacariócitos degeneram e são

fagocitados pelos macrófagos. A vida média das

plaquetas na corrente sanguínea é de cerca de 10 dias.

403,404

398

GENESER. Op. cit., p. 200. 399

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 279-280, 282, 298, 304. 400

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 247-248. 401

GENESER. Op. cit., p. 202. 402

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 120-121. 403

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 238, 255. 404

GENESER. Op. cit., p. 202.

Figura 3.38 - Entre as diversas células hematopoéticas,

destacam-se pelo grande tamanho dois megacariócitos. É

indicado o prolongamento de um deles penetrando o capilar

para a liberação das plaquetas. HE. Objetiva de 40x (550x).

Figura 3.39 - Megacariócito, outras células hematopoéticas

e células adiposas na medula óssea. HE. Objetiva de 100x.

– Granulocitopoese

A CFU-Eo, a CFU-Ba e a CFU-G originam os

mieloblastos, com 12 a 18µm de diâmetro, citoplasma

escasso, basófilo, devido aos ribossomos, corando-se

em azul-escuro, e núcleo grande, esférico, com

cromatina frouxa e um ou dois nucléolos. Ao sofrer a

mitose, resultam nos promielócitos, os quais têm 15 a

25µm, citoplasma basófilo, com alguns grânulos

azurófilos, e núcleo esférico ou com uma reentrância.

Os promielócitos dividem-se nos mielócitos, com 15 a

18µm de diâmetro, citoplasma levemente basófilo e

núcleo excêntrico, esférico ou em forma de rim. Além

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

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dos grânulos azurófilos, há os grânulos específicos,

isto é, aqueles que se coram pela eosina, pelo azul de

metileno (corante básico) ou exibem menor afinidade

por esses corantes, tendo-se o mielócito eosinófilo, o

mielócito basófilo e o mielócito neutrófilo,

respectivamente. No estágio seguinte de maturação,

no metamielócito (12µm), o núcleo tem uma

chanfradura profunda que indica o início da lobulação.

Na linhagem formadora de neutrófilos, reconhece-se

ainda uma célula com o núcleo em forma de um

bastão recurvado, o bastonete (10µm), enquanto o

neutrófilo maduro, com o núcleo segmentado em

lóbulos, é referido nos hemogramas como

segmentado. Conforme os grânulos específicos

presentes no citoplasma e a forma do núcleo, os

leucócitos granulócitos maduros são classificados em:

eosinófilo, basófilo e neutrófilo (Figura 3.40).405,406,407,

408,409

A porcentagem de bastonetes na circulação é baixa:

0 a 3%, mas é aumentada nas infecções agudas e

crônicas.410

Os eosinófilos medem 12 a 15m de diâmetro e

exibem citoplasma com grânulos azurófilos e com

grânulos específicos (eosinófilos), corados em rosa-

escuro, e núcleo bilobulado (Figura 3.40). Os

basófilos têm 10 a 14m de diâmetro, grânulos

azurófilos, grânulos específicos (basófilos), corados

em azul-escuro, e núcleo bilobulado ou retorcido, em

forma de S. Os neutrófilos possuem 9 a 12m de

diâmetro, citoplasma levemente eosinófilo, com

grânulos azurófilos (lisossomos), em púrpura, e com

grânulos específicos, em rosa-claro, e núcleo com três

a cinco lóbulos.411,412

Os leucócitos vão para a corrente sanguínea, onde

permanecem por 8 a 12h, e entram no tecido

conjuntivo, onde desempenham a sua ação.413

Os

eosinófilos limitam o processo alérgico, fagocitam o

complexo antígeno-anticorpo e destroem parasitas; os

basófilos participam das reações anafiláticas, e os

neutrófilos fagocitam bactérias e células mortas.414

405

Ibid. p. 187. 406

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 237, 241-245. 407

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 119-120. 408

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 161, 171. 409

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 278-279, 283-285, 290-292, 302,

304-306, 316-317. 410

Ibid. p. 306. 411

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 231-236. 412

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 159, 161-163. 413

WEISS. O ciclo vital dos glóbulos sanguíneos. Op. cit., p. 398. 414

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 108-110.

Figura 3.40 - São indicados, nessa imagem do tecido

mieloide, metamielócitos eosinofílicos ( ), precursores

dos eosinófilos (E), e eritroblastos ortocromáticos ( ), que

formarão as hemácias (H). HE. Objetiva de 100x (1.373x).

Nas leucemias, há a proliferação anormal dos

precursores dos leucócitos, o que faz com que muitas

dessas células anormais sejam lançadas ao sangue. Há

geralmente produção exagerada de um tipo celular e

redução das outras células sanguíneas. Por isso, os

pacientes, frequentemente, têm anemia, sangramentos

espontâneos e pouca resistência às infecções.415,416

– Monocitopoese

A CFU-M (ou monoblasto), por divisão celular,

origina o promonócito, com 16 a 18µm de diâmetro,

citoplasma basófilo, rico em retículo endoplasmático

rugoso e grânulos azurófilos, que são lisossomos, e

núcleo excêntrico, em forma de rim e com cromatina

frouxa.417

Os promonócitos dividem-se nos monócitos,

com 12 a 20µm de diâmetro, citoplasma basófilo

(azul-acizentado), com grânulos azurófilos, ou seja,

lisossomos, e núcleo excêntrico, ovoide, em forma de

rim ou ferradura.418

Os monócitos entram na circulação sanguínea,

onde permanecem por até três dias, e vão para o

tecido conjuntivo, onde se diferenciam em

415

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 246. 416

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 113, 115. 417

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 255. 418

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 165.

T. Montanari

H

E

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HISTOLOGIA

77

macrófagos, não sendo mais capazes de entrar na

circulação.419

– Linfopoese

A CFU-L divide-se na medula óssea para formar

as células progenitoras dos linfócitos B (CFU-LiB) ou

dos linfócitos T (CFU-LiT). Nas aves, a CFU-LiB

migra para um divertículo anexo ao intestino, a bursa

de Fabricius (ou bolsa de Fabrício), onde se divide

várias vezes, originando os linfócitos B (B de bursa).

Nos mamíferos, isso ocorre na própria medula óssea.

A CFU-LiT sofre mitoses, formando linfócitos T

imunoincompetentes, que entram na corrente

sanguínea e vão para o timo, onde proliferam, sofrem

maturação e expressam glicoproteínas da membrana

específicas, os marcadores de superfície, tornando-se

imunocompetentes.420

Tanto os linfócitos B como os linfócitos T

imunocompetentes vão para os órgãos linfoides e

proliferam, formando clones dessas células, que são

capazes de reconhecer e responder aos antígenos pré-

determinados pelas suas precursoras.421

À medida que as células da linhagem linfocítica

amadurecem, diminuem de volume, e sua cromatina

condensa-se. Os linfócitos podem ser pequenos, com

6 a 10µm, ou grandes, com 11 a 16µm. Eles possuem

citoplasma escasso, azul-acizentado, com ribossomos

e grânulos azurófilos (lisossomos) e um núcleo

esférico e escuro.422,423

Os linfócitos B vão para a corrente sanguínea e

para o tecido conjuntivo de diversos órgãos e,

principalmente, para os órgãos linfoides, onde, ao

contato com o antígeno, se diferenciam em

plasmócitos e sintetizam imunoglobulinas, os

anticorpos. Os linfócitos T podem eliminar células

estranhas e alteradas por vírus, promover ou suprimir

a resposta imunológica (células T citotóxicas,

auxiliares ou supressoras, respectivamente).424

Na medula óssea, são produzidas também as

células NK (de natural killer), linfócitos que

desempenham uma atividade citotóxica contra células

tumorais e células infectadas por vírus. Elas têm cerca

de 15µm de diâmetro, grânulos citoplasmáticos

grandes e núcleo em forma de rim.425

419

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 110, 111, 120. 420

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 255-256. 421

Ibid. pp. 238, 256. 422

Ibid. p. 238. 423

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 165. 424

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 238. 425

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 293, 309.

4.10 – Tecido sanguíneo

4.10.1 – Funções

Por circular pelo corpo, o sangue é o veículo ideal

para o transporte dos gases, como o O2 e o CO2, os

nutrientes absorvidos pelas células do sistema

digestório, os catabólitos excretados pelas células, os

hormônios, os eletrólitos, o calor e as células de

defesa. Com o transporte de calor, contribui para a

regulação da temperatura corporal e, com o transporte

de substâncias, como proteínas e eletrólitos, mantém o

equilíbrio osmótico e ácido-básico.426

4.10.2 – Componentes

Em um adulto, o volume do sangue é de

aproximadamente 5L. O tecido sanguíneo é

constituído pelas células sanguíneas: os eritrócitos

(hemácias ou glóbulos vermelhos), as plaquetas, os

leucócitos (ou glóbulos brancos), que são os

neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos e

linfócitos, e pelo plasma, um líquido com compostos

orgânicos e inorgânicos.427

Em um tubo de hematócrito, após a centrifugação

do sangue com anticoagulante, formam-se três camadas:

a camada inferior perfaz 35 a 50% do volume sanguíneo,

apresenta uma cor avermelhada e é constituída pelos

eritrócitos (do grego erythros, vermelho); a delgada

camada acima é branco-acizentada, representa 1% do

volume sanguíneo e contém as plaquetas e os leucócitos

(do grego leukos, branco), e o líquido translúcido

amarelo na parte superior é o plasma.428,429,430

O Quadro 3.1 exibe a quantidade das células no

sangue de pessoa saudável.

Os eritrócitos (ou hemácias) são anucleados nos

mamíferos e, no humano, têm a forma de disco

bicôncavo com 7 a 8m de diâmetro (Figuras 3.41 e

3.42). A forma bicôncava, promovida pelo

citoesqueleto, aumenta a área de superfície para as

trocas de gases. O citoesqueleto também permite a

426

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 225. 427

Ibid. pp. 225-226, 231. 428

GENESER. Op. cit., p. 186. 429

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 218. 430

WEISS, L. O sangue. In: WEISS, L.; GREEP, R. O. Histologia. 4.ed.

Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. p. 363.

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TATIANA MONTANARI

78

deformação da célula para passar pelos estreitos

capilares. 431,432,433

Quadro 3.1 - Valores de referência de hemograma de

pessoa acima de 16 anos:434

Eritrócitos ♀ 3.900.000 - 5.000.000 /mm3

♂ 4.300.000 - 5.700.000 /mm3

Plaquetas 140.000 - 450.000 /mm3

Leucócitos 3.500 - 10.500 /mm3

Neutrófilos 1.700 - 8.000 /mm3

Linfócitos 900 - 2.900 /mm3

Monócitos 300 - 900 /mm3

Eosinófilos 50 - 500 /mm3

Basófilos 0 - 100 /mm3

As hemácias de aves, répteis e anfíbios são ovoides e

nucleadas.435

A superfície das hemácias apresenta cadeias de

carboidratos que são especificamente herdadas e atuam

como antígenos. A presença (ou ausência) dos antígenos

A e B determinam os quatro grupos sanguíneos

principais: A, B, AB e O. Há ainda o fator sanguíneo Rh,

assim denominado porque foi identificado no macaco

Rhesus. Ele comporta vários antígenos, sendo três (C, D

e E) bastante comuns na população humana, e o

indivíduo que possui um deles é considerado Rh+.436

Devido à riqueza em hemoglobina, uma proteína

básica, os eritrócitos são acidófilos, corando-se pela

eosina (Figura 3.41).437

A hemoglobina é formada por quatro cadeias

polipeptídicas (∞, β, γ e/ou δ), cada uma delas ligada

covalentemente a um grupo heme, com um radical Fe2+

(ferroso), o qual se liga a uma molécula de O2. Quando

as hemácias alcançam os tecidos, onde a pressão de O2 é

431

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 246. 432

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 279-280, 282. 433

WEISS. O sangue. Op. cit., p. 370. 434

LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS ALFA. Caxias do Sul,

RS. Acessado em 06 de abril de 2015. 435

SAAD, S. Hemácias. In: CARVALHO, H. F.; COLLARES-BUZATO,

C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. p. 357. 436

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 230. 437

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 220.

baixa, elas liberam o O2.438,439,440

O CO2 pode se ligar à hemoglobina, mas a maior

parte é transportada dos tecidos para os pulmões,

dissolvida no plasma, inclusive como bicarbonato.441

A

enzima anidrase carbônica facilita a formação do ácido

carbônico (H2CO3) a partir de CO2 e H2O. Esse ácido

dissocia-se e forma bicarbonato (HCO3-) e H

+, e o

bicarbonato intracelular é trocado pelo Cl- extracelular

pela proteína da membrana banda 3.442

A anemia falciforme é uma doença autossômica

recessiva, causada pela mutação de um nucleotídeo no

gene para a cadeia β da globina: o código GAA para

ácido glutâmico é modificado para GUA, código da

valina. A hemoglobina com a valina incorporada ao

invés do ácido glutâmico (HbS), quando desoxigenada,

polimeriza-se, fazendo com que o eritrócito adquira um

aspecto de foice. Esse eritrócito não tem flexibilidade, é

frágil e tem vida curta. O sangue é mais viscoso, e o seu

fluxo pelos capilares é prejudicado, com consequente

hipoxia (deficiência de O2) dos tecidos e até mesmo

coagulação sanguínea.443,444

Essa doença prevalece entre os afrodescendentes,

cujos antepassados viviam em regiões onde a malária era

endêmica.445

As plaquetas resultam da fragmentação do

citoplasma dos megacariócitos, são pequenas (2,0 a

4,0m de diâmetro) e anucleadas (Figuras 3.41 e

3.42).446

Figura 3.41 - Hemácias e plaquetas ( ) em um esfregaço

sanguíneo. Giemsa. Objetiva de 100x (1.373x).

438

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 227-228. 439

GENESER. Op. cit., p. 193. 440

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 218. 441

Ibid. p. 220. 442

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 226-227. 443

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 221. 444

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 160. 445

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 229. 446

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 159, 166.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

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Figura 3.42 - Eletromicrografia do corte transversal de um

capilar com hemácia (H) e plaqueta (p) na sua luz. 8.171x.

As plaquetas têm um glicocálix espesso, com

moléculas importantes para a adesão, e invaginações

da membrana que aumentam a superfície e facilitam a

liberação de substâncias. Na periferia, há filamentos

de actina e moléculas de miosina, envolvidos na

projeção de filopódios, no movimento da célula, na

extrusão dos grânulos e na retração do coágulo. Há

ainda um feixe de microtúbulos que mantém a forma

ovoide. Abaixo da faixa marginal de microtúbulos e

espalhado pelo citoplasma está o sistema tubular

denso, consistindo em túbulos delgados membranosos

com um material eletrodenso, que armazena

cálcio.447,448,449,450,451

As plaquetas possuem os grânulos , com os

fatores de coagulação, o fator de crescimento derivado

de plaquetas e glicoproteínas de adesão, e os grânulos

, com cálcio, ADP, ATP, histamina, pirofosfatase e

serotonina. Esta última não é sintetizada pelas

plaquetas, mas é absorvida do plasma. Contêm

também glicogênio, lisossomos, peroxissomos e

outras organelas.452,453

As plaquetas estão envolvidas na coagulação

sanguínea.454

A quantidade de plaquetas abaixo da normal é

referida como trombocitopenia. Pode ser causada pela

diminuição na sua produção ou pelo aumento na sua

remoção. A produção é afetada por mutações no gene da

trombopoetina, no gene que codifica seu receptor (c-

Mpl) ou em genes que codificam fatores de transcrição

envolvidos na megacariopoese. Nas leucemias e no seu

447

GENESER. Op. cit., p. 190. 448

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 231. 449

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 114-115. 450

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 166. 451

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 295-297. 452

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 240, 242. 453

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 113-114. 454

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 231.

tratamento com radiação e quimioterapia, a formação das

plaquetas é prejudicada. Em doenças virais, como o HIV,

e autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico, há

destruição das plaquetas. Na trombocitopenia, ocorrem

sangramentos espontâneos, os quais são notados, na pele,

como pequenas máculas púrpuras ou grandes manchas

semelhantes a equimoses.455,456,457

Os leucócitos podem ser classificados em

granulócitos, devido à presença de grânulos

específicos, e agranulócitos, pela sua ausência. Os

leucócitos granulócitos são os neutrófilos, os

eosinófilos e os basófilos. Os leucócitos agranulócitos

são os linfócitos e os monócitos.458

Os neutrófilos possuem 9 a 12m de diâmetro,

citoplasma levemente eosinófilo, com grânulos

azurófilos (lisossomos), em púrpura, e grânulos

específicos, em rosa-claro, e núcleo com três a cinco

lóbulos (Figura 3.43).459,460

Nas pessoas do sexo feminino, há um pequeno

apêndice em forma de baqueta de tambor no núcleo.

Consiste em um dos cromossomos X bastante

condensado e, consequentemente, inativo. É chamado de

cromatina sexual ou corpúsculo de Barr (Figura 3.43).461

Figura 3.43 - Neutrófilo com cromatina sexual ( ).

Giemsa. Objetiva de 100x (1.373x).

Os grânulos azurófilos (ou primários) contêm

fosfatase ácida e outras enzimas hidrolíticas,

mieloperoxidase, lisozima, as proteínas catiônicas

defensinas e o peptídio antimicrobiano catelicidina.

Os grânulos específicos (ou secundários) possuem

455

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 113, 115. 456

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 166. 457

VASCONCELOS, L. A. B. A.; CARVALHO, H. F. Megacariócitos e

plaquetas. In: CARVALHO, H. F.; COLLARES-BUZATO, C. B. Células:

uma abordagem multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. pp. 440-442. 458

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 283. 459

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 231-233. 460

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 159, 161. 461

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 231.

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TATIANA MONTANARI

80

fosfatase alcalina, colagenase do tipo IV, lactoferrina

e lisozima. Os grânulos terciários contêm enzimas que

degradam a matriz extracelular, como gelatinases e

colagenases, e glicoproteínas que se inserem na

membrana e devem promover a adesão da célula. Há

ainda glicogênio para o metabolismo

anaeróbico.462,463,464,465

Os neutrófilos constituem a primeira linha de

defesa contra a invasão de micro-organismos. Eles

fagocitam bactérias, fungos e células mortas.466,467

Os neutrófilos possuem receptores para IgG e para o

complemento. São dotados de movimento ameboide

através dos pseudópodos e são atraídos por fatores

quimiotáticos, como componentes do complemento,

substâncias das células mortas e polissacarídeos

derivados das bactérias. A ligação dos fatores

quimiotáticos à membrana plasmática ativa a liberação

do conteúdo dos grânulos terciários: a gelatinase degrada

a lâmina basal do endotélio, facilitando a movimento dos

neutrófilos para o tecido conjuntivo, e as glicoproteínas

são inseridas na membrana plasmática, promovendo a

adesão celular.468,469

Através dos pseudópodos, os neutrófilos realizam a

fagocitose, internalizando o micro-organismo. Há a

produção do ânion superóxido (O2-) e do peróxido de

hidrogênio (H2O2) na membrana do fagossomo. Ácido

hipocloroso (HOCl) é produzido a partir do H2O2 e do

íon Cl- pela ação da mieloperoxidase do grânulo

específico. Esses oxidantes e a lactoferrina e a lisozima

dos grânulos específicos são responsáveis pela morte das

bactérias fagocitadas. A lactoferrina é uma proteína

ávida por ferro e, como esse mineral é importante para a

nutrição das bactérias, sua remoção prejudica o seu

metabolismo. A lisozima ataca os peptidoglicanos da

parede de bactérias gram-positivas.470,471,472,473

Bombas de prótons localizadas na membrana dos

fagossomas acidificam o seu interior, tornando o pH

mais adequado para as enzimas lisossômicas

provenientes da fusão dos grânulos azurófilos atuarem e

realizarem a digestão dos restos celulares.474

Os neutrófilos também sintetizam leucotrienos, que

ajudam no início do processo inflamatório.475

Os neutrófilos morrem logo após a fagocitose, já que

462

Ibid. pp. 231-232. 463

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 221, 223. 464

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 108-110. 465

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 283-288. 466

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 224. 467

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 108-110. 468

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 233. 469

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 109-110. 470

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 233. 471

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 226. 472

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 109. 473

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 286-288. 474

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 226. 475

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 233-234.

esse processo depende de energia e consome a reserva de

glicogênio. Suas enzimas lisossômicas são liberadas para

o espaço extracelular, causando a liquefação do tecido

adjacente. O acúmulo de líquido tissular, bactérias e

neutrófilos mortos é o pus. Ele é amarelo-esverdeado,

por causa do pigmento heme da mieloperoxidase.476,477,

478

Os eosinófilos medem 12 a 15m de diâmetro. O

citoplasma exibe grânulos azurófilos e grânulos

específicos (eosinófilos), sendo que estes últimos são

bastante refráteis e corados em rosa-escuro. O núcleo

é bilobulado (Figuras 3.44 e 3.45).479,480

Figura 3.44 - Eosinófilo. Giemsa. Objetiva de 100x

(1.373x).

Os grânulos azurófilos contêm fosfatase ácida,

arilsulfatase e outras enzimas hidrolíticas e, portanto,

são lisossomos. Os grânulos eosinófilos são ovoides e

maiores do que os grânulos azurófilos. Ao

microscópio eletrônico, é possível observar um

cristaloide eletrodenso, o internum, circundado por

uma matriz menos eletrodensa, o externum (Figura

3.45). O internum consiste na proteína básica

principal, rica no aminoácido arginina, que, pela carga

positiva, confere eosinofilia aos grânulos. O externum

contém fosfatase ácida, -glicuronidase, colagenase,

fosfolipase, arilsulfatase, histaminase, peroxidase

eosinofílica e as ribonucleases proteína catiônica

eosinofílica e neurotoxina derivada de eosinófilos.

Esses grânulos são também considerados lisossomos. 481,482,483,484,485,486

476

Ibid. p. 233. 477

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 109-110. 478

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 288-289. 479

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 232, 235. 480

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 159, 162. 481

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 232, 234-235. 482

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 270. 483

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 221, 224-225. 484

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 111. 485 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 290-291. 486

WEISS. O sangue. Op. cit., p. 370.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

81

Os eosinófilos limitam o processo alérgico,

fagocitam o complexo antígeno-anticorpo e destroem

parasitas.487

Figura 3.45 - Ilustração da ultraestrutura do eosinófilo.

Baseado em Junqueira & Carneiro, 2013. p. 34.

Os eosinófilos possuem receptores para os

componentes do complemento, IgE, IgA e IgG. São

dotados de movimento ameboide e concentram-se nas

áreas de reação alérgica e inflamação, atraídos pela

histamina, pelos leucotrienos e pelos fatores

quimiotáticos de eosinófilos produzidos pelos mastócitos

e basófilos. São também atraídos por produtos

bacterianos, linfócitos ativados e componentes do

complemento.488,489,490,491

Os eosinófilos liberam aril-sulfatase e histaminase,

que destroem os leucotrienos e a histamina, e o fator

inibidor derivado do eosinófilo, provavelmente composto

pelas prostaglandinas E1 e E2, que deve inibir a

exocitose dos mastócitos. Assim, limitam os processos

alérgico e inflamatório.492,493

As células do conjuntivo vizinhas a complexos

antígeno-anticorpo liberam histamina e IL-5,

estimulando a formação dos eosinófilos. Eles fagocitam

os complexos antígeno-anticorpo, destruindo-os no

sistema endolisossômico, o que envolve também os

grânulos azurófilos.494,495

A liberação da proteína básica principal e da

proteína catiônica eosinofílica na superfície do parasita

forma poros, facilitando o acesso de superóxido e

487

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 232, 235. 488

Ibid. pp. 232, 234-235. 489

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 226. 490

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 110. 491

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 291. 492

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 110. 493

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 291. 494

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 235. 495

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 291.

peróxido de hidrogênio que promovem a sua morte.496

Os basófilos possuem 10 a 14m de diâmetro,

citoplasma com grânulos azurófilos e com grânulos

específicos (basófilos) e núcleo bilobulado ou

retorcido, em forma de S. Os

grânulos basófilos são

corados em azul-escuro e frequentemente obscurecem

o núcleo (Figura 3.46).497,498

Figura 3.46 - Basófilo. Giemsa. Objetiva de 100x (1.373x).

Os grânulos azurófilos são lisossomos e contêm

hidrolases ácidas semelhantes a de outros leucócitos.

Os grânulos basófilos contêm histamina, peroxidase,

proteases neutras, fatores quimiotáticos de eosinófilos

e de neutrófilos e os glicosaminoglicanos sulfato de

condroitina, sulfato de heparana e heparina. A carga

negativa dos grupos sulfato dos glicosaminoglicanos

confere basofilia metacromática aos grânulos

específicos.499,500,501

Os basófilos participam das reações alérgicas.502

A membrana plasmática dos basófilos, como a dos

mastócitos, possui receptores para IgE. O antígeno ao se

ligar à IgE provoca a extrusão dos grânulos de maneira

semelhante ao que ocorre com os mastócitos,

desencadeando a reação anafilática descrita

anteriormente.503

Os monócitos são as maiores células do sangue

(12 a 20m). O citoplasma é vacuolizado e basófilo,

corando-se em azul-acizentado. O núcleo é excêntrico,

em forma ovoide, de rim ou ferradura, conforme o seu

496

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 235. 497

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 221, 226. 498

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 159, 163. 499

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 232, 236. 500

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 292. 501

WEISS. O sangue. Op. cit., pp. 370, 376. 502

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 163. 503

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 226.

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TATIANA MONTANARI

82

amadurecimento. A cromatina aparece em arranjo

mais frouxo do que nos linfócitos, sendo o núcleo

mais claro (Figura 3.47). Há grânulos azurófilos, que

são lisossomos e contêm fosfatase ácida, aril-sulfatase

e peroxidase.504,505

Figura 3.47 - Monócito. Giemsa. Objetiva de 100x

(1.373x).

Os monócitos diferenciam-se em macrófagos, que

fagocitam células mortas, bactérias e substâncias

estranhas.506

Os linfócitos são, entre os leucócitos, os de menor

tamanho: 6 a 10m. Entretanto há uma pequena

porcentagem de linfócitos maiores, com 11 a 16m de

diâmetro. O citoplasma é escasso e, devido aos

ribossomos livres, apresenta leve basofilia e é azul-

claro. Grânulos azurófilos (lisossomos) são

ocasionalmente observados. O núcleo é esférico, mas,

às vezes, tem uma sutil indentação. Por causa da

cromatina bastante condensada, o núcleo é escuro

(Figura 3.48).507,508,509,510

Figura 3.48 - Linfócito. Giemsa. Objetiva de 100x

(1.373x).

504

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 236-237. 505

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 159, 165. 506

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 237. 507

Ibid. p. 238. 508

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 159, 164. 509

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 292-293, 312-313. 510

WEISS. O sangue. Op. cit., pp. 366-367.

Os linfócitos B diferenciam-se em plasmócitos e

sintetizam imunoglobulinas, os anticorpos (imunidade

de base humoral). Os linfócitos T podem eliminar

células estranhas, neoplásicas ou alteradas por vírus

(imunidade de base celular). São denominados

linfócitos T citotóxicos (ou killer). Há ainda linfócitos

T que são responsáveis pelo desenvolvimento ou pela

supressão de respostas imunológicas mediadas

humoral ou celularmente. Aqueles que a promovem

são os linfócitos T auxiliares (ou helper), e aqueles

que a suprimem são os linfócitos supressores. Eles

atuam pela liberação de citocinas, como interleucinas

e interferon. As células NK (natural killer) destroem

células infectadas por vírus ou parasitas e células

tumorais, sem prévia estimulação, ou seja, possuem

uma resposta inata, diferente dos linfócitos T, cuja

resposta é adquirida.511,512

– Plasma

É uma solução aquosa com proteínas (7%), sais

inorgânicos (0,9%), aminoácidos, vitaminas,

hormônios e glicose.513

A maioria das proteínas plasmáticas é sintetizada

no fígado, como: albumina, ∞- e β-globulinas,

lipoproteínas de baixa densidade (LDL), lipoproteínas

de muito baixa densidade (VLDL) e as proteínas da

coagulação, como protrombina e fibrinogênio. A

albumina é a proteína mais abundante, tendo um papel

importante na manutenção da pressão osmótica do

sangue. A albumina, as ∞- e β-globulinas e as

lipoproteínas são proteínas transportadoras. Há ainda,

no plasma, anticorpos produzidos pelos plasmócitos,

as γ-globulinas (ou imunoglobulinas).514,515

Quando o endotélio é lesado, há a adsorção de

proteínas do plasma sobre o colágeno subjacente e há a

adesão das plaquetas, formando um tampão plaquetário.

A serotonina liberada pelas plaquetas promove a

contração do músculo liso dos vasos, e o ADP e o cálcio

aumentam a agregação de plaquetas.516,517

Fatores do plasma sanguíneo, dos vasos lesados e

das próprias plaquetas promovem a interação sequencial

(em cascata) de cerca de 16 proteínas plasmáticas,

levando à conversão da protrombina em trombina e, por

meio desta, à polimerização de moléculas de

fibrinogênio em fibrina, que aprisiona eritrócitos,

511

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 238, 279-282, 286-289, 291-294. 512

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 255-257. 513

Ibid. p. 219. 514

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 226-227. 515

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 219. 516

Ibid. p. 232. 517

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 295-296.

T. Montanari

T. Montanari

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HISTOLOGIA

83

leucócitos e plaquetas, resultando no coágulo sanguíneo. 518,519

A saída de substâncias orgânicas e inorgânicas do

plasma para integrar o coágulo forma um líquido

levemente amarelado, o soro.520

Inicialmente o coágulo faz grande saliência para o

interior do vaso, mas logo se contrai graças à ação da

actina, da miosina e do ATP das plaquetas. Protegido

pelo coágulo, o endotélio é refeito. O coágulo é

removido pelas enzimas liberadas pelos lisossomos das

plaquetas e pela enzima plasmina, formada pela ativação

do plasminogênio, presente no plasma, por ativadores

produzidos pelo endotélio.521

Geralmente os tumores do tecido conjuntivo

assemelham-se às células de origem e contêm matriz

extracelular especializada: por exemplo, os tumores de

fibroblastos sintetizam colágeno e os tumores de

condrócitos produzem substância fundamental.522

As denominações dadas aos tumores benignos do

tecido conjuntivo são formadas pela adição do sufixo

oma ao prefixo baseado no tecido de origem: tecido

fibroso (denso) – fibroma, tecido adiposo – lipoma,

cartilagem – condroma e osso – osteoma. As

denominações dos tumores malignos utilizam o sufixo

sarcoma: tecido fibroso – fibrossarcoma, tecido adiposo

– lipossarcoma, cartilagem – condrossarcoma e osso –

osteossarcoma.523

5 – QUESTIONÁRIO

1) Descreva as células do conjuntivo e mencione suas

funções.

2) Em que situações uma reação alérgica pode

ocorrer? No que consiste essa reação?

3) Quais são os componentes da matriz extracelular do

tecido conjuntivo, do que são formados e qual é o

papel de cada um deles no tecido?

4) O que é o escorbuto e por que ele ocorre?

5) Classifique o tecido conjuntivo e mencione a

composição, a função e a localização dos diferentes

tipos.

6) Compare o tecido adiposo unilocular e o tecido

adiposo multilocular.

7) Por que o tecido cartilaginoso absorve impactos?

518

GENESER. Op. cit., p. 193. 519

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 232. 520

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 226. 521

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 232. 522

STEVENS, A.; LOWE, J. Histologia humana. São Paulo: Manole,

1995. p. 56. 523

Ibid.

8) Compare os diferentes tipos de cartilagem e

mencione a sua localização.

9) Como a cartilagem pode crescer?

10) Qual é a relação da cartilagem com o crescimento

em altura do indivíduo? Qual é o nome da ossificação

que ocorre sobre um molde de cartilagem?

11) Como a "moleira" do recém-nascido se ossifica?

Qual é o nome desse tipo de ossificação?

12) O que são osso compacto e osso esponjoso? Dê

exemplos de sua localização.

13) Qual é a localização do tecido mieloide?

14) Quais são os seus componentes?

15) Como são produzidos os eritrócitos, os leucócitos

e as plaquetas? Mencione o nome das células

hematopoéticas envolvidas e as modificações que

sofrem para originar as células sanguíneas maduras.

16) Compare as células sanguíneas segundo a

quantidade, a morfologia e a(s) função(ões). Inclua, na

descrição da morfologia, a composição dos grânulos

presentes nos leucócitos.

17) Qual é a composição do plasma?

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85

Tecido Nervoso Capítulo 4

1 – INTRODUÇÃO

O tecido nervoso encontra-se distribuído pelo

organismo, mas está interligado, resultando no sistema

nervoso. Forma órgãos como o encéfalo e a medula

espinal, que compõem o sistema nervoso central

(SNC). O tecido nervoso localizado além do sistema

nervoso central é denominado sistema nervoso

periférico (SNP) e é constituído por aglomerados de

neurônios, os gânglios nervosos, e por feixes de

prolongamentos dos neurônios, os nervos.1

2 – FUNÇÕES

O tecido nervoso recebe informações do meio

ambiente através dos sentidos (visão, audição, olfato,

gosto e tato) e do meio interno, como temperatura,

estiramento e níveis de substâncias. Processa essas

informações e elabora uma resposta que pode resultar

em ações, como a contração muscular e a secreção de

glândulas, em sensações, como dor e prazer, ou em

informações cognitivas, como o pensamento, o

aprendizado e a criatividade. Ele é ainda capaz de

armazenar essas informações para uso posterior: é a

memória.

3 – COMPONENTES

O tecido nervoso apresenta abundância e

variedade de células, mas é pobre em matriz

extracelular.2

Os neurônios são responsáveis pela transmissão

da informação através da diferença de potencial

elétrico na sua membrana, enquanto as demais células,

as células da neuróglia (ou glia), sustentam-nos e

podem participar da atividade neuronal ou da defesa.

No SNC, essas células são os astrócitos, os

oligodendrócitos, as células da micróglia e as células

1 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas.

12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. pp. 150, 167-168. 2 OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008. p. 121.

ependimárias. No SNP, são as células-satélites e as

células de Schwann.3

A matriz extracelular deve constituir 10 a 20% do

volume do encéfalo. Não há fibras, mas há

glicosaminoglicanos (ácido hialurônico, sulfato de

condroitina e sulfato de heparana), que conferem uma

estrutura de gel ao líquido tissular, permitindo a

difusão entre capilares e células.4

Em 1872, o anatomista italiano Camillo Golgi

(1843-1926) aceitou o emprego em um hospital como

cirurgião, mas, devido ao seu interesse pela pesquisa,

montou um laboratório histológico em sua cozinha, onde

trabalhava à noite. Ele fixou fragmentos de tecido

nervoso em uma solução de bicromato de potássio por

um longo período e depois os mergulhou em nitrato de

prata. A prata impregnou algumas células, destacando-as

contra um fundo claro. A sua reazione nera (reação

negra) corava adequadamente as células do tecido

nervoso, permitindo o seu estudo. Ele próprio descreveu

uma célula glial do cerebelo, um astrócito modificado

atualmente denominado célula do tipo radial de

Bergmann.5,6,7,8

O neuro-histologista espanhol Santiago Ramón y

Cajal (1852-1934), usando o método de Golgi e o

método de ouro-cloreto mercúrico (ouro-sublimado),

detalhou a citoarquitetura do tecido nervoso: os

neurônios e os astrócitos. Pelo trabalho pioneiro no

sistema nervoso, Golgi e Cajal dividiram o Prêmio Nobel

de Fisiologia ou Medicina em 1906.9,10,11,12

Estudante de Cajal, Pio del Rio Hortega (1882-1945)

desenvolveu sua própria coloração. À base de carbonato

de prata, corava seletivamente a glia, e ele descobriu os

3 JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 150, 157-160.

4 HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. p. 485. 5 BARRADAS, P. C.; CAVALCANTE, L. A.; GOMES, F. C. A.; LIMA,

F. R. S.; MOURA-NETO, V.; TRENTIN, A. G. As células da glia. In:

CARVALHO, H. F.; COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. p. 265. 6 HAM & CORMACK. Op. cit., p. 477.

7 JONES, E. G.; COWAN, W. M. Tecido nervoso. In: WEISS, L.;

GREEP, R. O. Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. p. 269. 8 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 112.

9 BARRADAS et al. Op. cit., p. 265.

10 HAM & CORMACK. Op. cit., p. 477.

11 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 112.

12 RAMÓN Y CAJAL, S. Histologie du système nerveux de l`homme et

dês vertébrés. 1909-1911. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones

Cientificas, 1952, 1955.

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TATIANA MONTANARI

86

oligodendrócitos e as células microgliais.13,14

3.1 – Neurônios

Os neurônios possuem um corpo celular (5 a

150m) com o núcleo e outras organelas e do qual

partem os prolongamentos, que são os dendritos e o

axônio. A forma do corpo celular varia conforme a

localização e a atividade funcional do neurônio,

podendo ser piramidal (Figura 4.1), estrelada,

fusiforme, piriforme (Figura 4.2) ou esférica (Figura

4.3).15,16

Figura 4.1 - Neurônios piramidais do cérebro. Impregnação

pela prata pelo método de Golgi. Objetiva de 40x (550x).

Figura 4.2 - Célula de Purkinje do cerebelo. Método de

Cajal-Castro. Objetiva de 40x (550x).

13

BARRADAS et al. Op. cit., p. 265. 14

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 112. 15

LENT, R.; UZIEL, D.; FURTADO, D. A. Neurônios. In: CARVALHO,

H. F.; COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. pp. 232-234. 16

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 107, 120-121.

O núcleo é grande, esférico ou ovoide e claro, por

causa da cromatina frouxa, com um e, às vezes, dois

ou três nucléolos proeminentes (Figura 4.3). Nos

neurônios do sexo feminino, pode ser observado,

associado ao nucléolo ou à face interna da membrana

nuclear, um corpúsculo que corresponde à cromatina

sexual, ou seja, ao cromossomo X heterocromático.

Como foi descrito primeiramente por Barr, é também

denominado corpúsculo de Barr.17

O retículo endoplasmático rugoso é bem

desenvolvido e há abundância de ribossomos livres, o

que confere basofilia ao citoplasma, inclusive na

forma de grânulos. Antes do advento da microscopia

eletrônica e, portanto, da compreensão do que

significavam, esses grânulos basófilos foram

denominados corpúsculos de Nissl (Figuras 4.3 e

4.4).18

Figura 4.3 - Neurônio pseudounipolar do gânglio sensorial.

HE. Objetiva de 100x (851x).

A denominação de corpúsculos de Nissl deve-se ao

neurologista alemão Franz Nissl, que os descreveu no

início do século XX, usando os corantes de anilina no

estudo do sistema nervoso.19,20

O núcleo eucromático, o nucléolo proeminente e a

abundância de retículo endoplasmático rugoso e

ribossomas estão relacionados com a intensa atividade

da célula na síntese proteica.21

Além das proteínas

necessárias para manter a sua estrutura e o seu

17

JONES & COWAN. Op. cit., p. 250. 18

Ibid. 19

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 463. 20

JONES & COWAN. Op. cit., p. 250. 21

Ibid.

T. Montanari

T. Montanari

T. Montanari

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HISTOLOGIA

87

metabolismo, o neurônio produz neurotransmissores

peptídicos.22,23

O Golgi, também implicado na síntese dessas

substâncias e no seu acondicionamento, é volumoso e

localiza-se geralmente próximo ao núcleo (Figura

4.4).24

O retículo endoplasmático liso é abundante e,

logo abaixo da membrana plasmática, forma as

cisternas hipolemais que sequestam Ca2+

e contêm

proteínas.25

As mitocôndrias, presentes por todo o

neurônio, estão relacionadas com a elevada

necessidade energética, especialmente para os

gradientes eletroquímicos do impulso nervoso.26

Os lisossomos são numerosos devido à intensa

renovação da membrana plasmática e de outros

componentes celulares (Figura 4.4).27

Com o

envelhecimento, corpúsculos residuais contendo

lipofuscina, um pigmento castanho-amarelado,

concentram-se, o que pode comprimir as organelas e o

núcleo, afetando as suas atividades.28,29

Gotículas lipídicas podem ser encontradas e

representam uma reserva de energia ou, em grande

número, podem ser decorrentes de uma falha no

metabolismo lipídico. Pigmentos contendo ferro

podem ser observados em certos neurônios do SNC e

também se acumulam com a idade. Grânulos de

melanina de coloração marrom-escura a negra estão

presentes em certos neurônios do SNC e do SNP.30

Como a diidroxifenilalanina (DOPA) é precursora da

melanina e dos neurotransmissores dopamina e

noradrenalina, tem sido sugerido que a melanina seja um

subproduto da síntese desses neurotransmissores.31

A dopamina é responsável pela coordenação e

fluidez de movimentos. A destruição dos neurônios com

essa substância (neurônios que contêm melanina e

constituem a substância negra e os núcleos da base do

cérebro) resulta na doença de Parkinson, a qual se

caracteriza por tremores, movimentos lentos e rigidez

muscular.32,33

22

GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. p. 269. 23

LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. p. 84. 24

JONES & COWAN. Op. cit., p. 250. 25

GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 191. 26

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 84. 27

Ibid. 28

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 193. 29

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 465. 30

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 193. 31

Ibid. 32

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 103. 33

ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2012. p. 366.

O citoesqueleto (Figura 4.4) é constituído por

filamentos de actina, filamentos intermediários

(neurofilamentos), microtúbulos e proteínas motoras,

como a dineína e a cinesina. Ele é bastante organizado

e mantém o formato da célula, sustenta os

prolongamentos e permite o transporte de organelas e

substâncias.34,35

Figura 4.4 - Eletromicrografia de neurônio pseudounipolar,

onde se observam parte do núcleo (N) e do citoplasma, com

retículo endoplamático rugoso (R), Golgi (G), lisossomos

(L) e citoesqueleto (C) bem desenvolvidos. Cortesia de

Patrícia do Nascimento e Matilde Achaval Elena, UFRGS.

Como as moléculas de cinesina migram em direção à

extremidade positiva dos microtúbulos, elas possibilitam

o movimento de vesículas e organelas do corpo celular

para a extremidade do axônio (transporte anterógrado),

enquanto as dineínas, que migram para a extremidade

negativa dos microtúbulos, realizam o transporte da

extremidade do axônio para o corpo celular (transporte

retrógrado). Dessa maneira, a toxina do tétano e os vírus

da raiva e do herpes simples são levados do axônio para

o corpo do neurônio.36,37

Os dendritos (do grego dendrites, referente a

árvores)38

são as terminações aferentes, isto é,

recebem os estímulos do meio ambiente, de células

epiteliais sensoriais ou de outros neurônios.39

Eles se

34

GENESER. Op. cit., pp. 261, 263, 265. 35

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 85. 36

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 196-197. 37

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 62-63, 371-372. 38

GENESER. Op. cit., p. 260. 39

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 151.

R

L

C

G

N

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TATIANA MONTANARI

88

ramificam, afilando até as extremidades e exibem

pequenas expansões bulbosas, as espículas

dendríticas, onde ocorre o contato com outros

neurônios (Figuras 4.5 e 4.6).40

Figura 4.5 - Espículas dendríticas. Método de Golgi. A –

objetiva de 40x (416x); B – objetiva de 100x (1040x).

Cortesia de Simone Marcuzzo e Matilde Achaval Elena,

UFRGS.

Há uma perda de espículas dendríticas com a idade e

com a deficiência nutricional.41

O axônio (do grego axon, eixo)42 é um

prolongamento eferente do neurônio. Ele conduz os

impulsos a outro neurônio, a células musculares ou

glandulares. Ele é geralmente mais delgado e bem

mais longo que os dendritos e tem um diâmetro

constante (Figura 4.6). Conforme o neurônio, o axônio

pode medir de 1 a 20µm de diâmetro e de 1mm a

1,5m de comprimento.43,44,45

A espessura do axônio está diretamente relacionada à

velocidade de condução. Isso pode ser explicado pela lei

40

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 194. 41

Ibid. 42

GENESER. Op. cit., p. 260. 43

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 465. 44

JONES & COWAN. Op. cit., pp. 245, 249, 257. 45

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 107.

de Ohm, que postula que a resistência elétrica de um

condutor varia inversamente com seu diâmetro.46

Ao longo do seu trajeto, o axônio pode emitir

ramos colaterais. A porção final do axônio é o

telodendro. Ele se ramifica e se dilata nas

extremidades, onde há o contato com a célula seguinte

(botões sinápticos) (Figura 4.6).47

Figura 4.6 - Microscopia confocal de neurônio piramidal

do córtex motor de rato, onde são indicados dendritos (D),

axônio (A), espículas dendríticas ( ) e botões sinápticos

( ). Dupla marcação fluorescente, com o DNA corado em

azul com DAPI (4',6-diamidino-2-phenylindole) (laser com

405nm de comprimento) e a membrana corada em

vermelho com DiIC18(3) (1,1'-dioctadecyl-3,3,3'3'-

tetramethylindocarbocyanine perchlorate) (laser com

555nm de comprimento). Objetiva de 60x e zoom de 2x.

Cortesia de Francele Valente Piazza, André Luís Ferreira de

Meireles e Simone Marcuzzo, UFRGS.

O axônio é ainda distinguido dos dendritos por

não possuir retículo endoplasmático rugoso, não

exibindo os grânulos basófilos. A região do corpo

celular onde nasce o axônio, o cone de implantação, é

também desprovida dos corpúsculos de Nissl e é rica

em microtúbulos e neurofilamentos (Figura 4.7).48,49

No axônio, há a proteína associada a microtúbulos

MAP-3, enquanto, no corpo celular e nos dendritos, há

MAP-2.50

46

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 469. 47

JONES & COWAN. Op. cit., pp. 245, 258. 48

Ibid. pp. 245, 254. 49 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 366. 50

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 194.

Marcuzzo & Achaval

A

D

D D

Piazza, Meireles & Marcuzzo

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HISTOLOGIA

89

Figura 4.7 - Eletromicrografia do cone de implantação (CI)

de neurônio pseudounipolar, onde é possível notar a

ausência do retículo endoplasmático rugoso e a abundância

de neurofilamentos. Cortesia de Patrícia do Nascimento e

Matilde Achaval Elena, UFRGS.

Em alguns neurônios, o corpo celular e a

extremidade proximal do axônio podem possuir uma

capacidade sensorial, e, em outros, os dendritos

podem transmitir impulsos.51

No SNC, há uma segregação entre os corpos

celulares dos neurônios e os seus prolongamentos, de

modo que duas porções distintas sejam reconhecidas

macroscopicamente: a substância cinzenta, onde se

situam os corpos celulares dos neurônios e parte dos

seus prolongamentos e as células da glia, e a

substância branca, que contém somente os

prolongamentos dos neurônios e as células da glia

(Figuras 4.8 a 4.12). A presença da mielina, um

material lipídico esbranquiçado que envolve o axônio,

é responsável pela coloração branca.52

De acordo com o número de prolongamentos, os

neurônios podem ser classificados em:

– neurônios bipolares, que apresentam dois

prolongamentos, um dendrito e um axônio. Ocorrem,

por exemplo, na retina, na mucosa olfatória e nos

gânglios coclear e vestibular;53

– neurônios pseudounipolares, os quais surgem na

vida embrionária como neurônios bipolares, mas os

dois prolongamentos fundem-se próximo ao corpo

celular. As arborizações terminais do ramo periférico

recebem estímulos, funcionando como dendritos, e

esses estímulos, sem passar pelo corpo celular,

51

Ibid. pp. 191, 194. 52

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 150. 53

Ibid. p. 151.

transitam pelo prolongamento que se dirige para o

SNC, funcionando como axônio. Ocorrem nos

gânglios sensoriais cranianos e espinais (Figuras 4.3 e

4.13);54

– neurônios multipolares, que apresentam mais de

dois prolongamentos celulares. É a maioria dos

neurônios. Estão presentes no cérebro (Figuras 4.1 e

4.8), no cerebelo (Figuras 4.2 e 4.10) e na medula

espinal (Figuras 4.11 e 4.12).55

Segundo a sua função, os neurônios são

classificados em:

– neurônios sensoriais (aferentes), que recebem

estímulos sensoriais do meio ambiente e do próprio

organismo e os conduzem ao SNC para o

processamento.56,57

São neurônios pseudounipolares

(Figuras 4.3 e 4.13);58

– interneurônios, que estão localizados no SNC e

estabelecem conexões entre os neurônios.59

Podem ser

neurônios bipolares60

ou multipolares.61

– neurônios motores (eferentes), que se originam no

SNC e conduzem os impulsos para outros neurônios,

glândulas ou músculos. São neurônios multipolares

(Figuras 4.11 e 4.12).62

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença

neuromuscular progressiva, causada pela morte dos

neurônios motores do córtex cerebral, do tronco

encefálico e da medula espinhal. A perda do controle

nervoso dos músculos esqueléticos leva à sua

degeneração e atrofia.63,64

Em certas regiões do cérebro, como o bulbo olfatório

e o giro denteado do hipocampo, há células-tronco

neurais capazes de se dividir e de gerar novos neurônios,

repondo células danificadas. As células-tronco neurais

são caracterizadas pela expressão do filamento

intermediário nestina, que é utilizada para identificá-las

por métodos histoquímicos.65

54

Ibid. 55

Ibid. pp. 151-152, 154, 163. 56

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 197. 57

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 151. 58

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 84, 86. 59

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 197. 60

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 84, 86. 61

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 362. 62

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 197. 63

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 86. 64

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 123. 65

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 364-365.

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TATIANA MONTANARI

90

Figura 4.8 - O córtex do cérebro é de substância cinzenta:

estão presentes os corpos dos neurônios, além das células

da glia, como os astrócitos protoplasmáticos ( ). Método

de Golgi. Objetiva de 10x.

Figura 4.10 - O córtex do cerebelo é de substância cinzenta

e tem três camadas: camada molecular (M), que é a mais

externa e contém poucos neurônios; camada de células de

Purkinje ( ), as quais são neurônios multipolares, cujos

dendritos se projetam para a camada molecular, e camada

granulosa (G), com neurônios multipolares, os menores

neurônios do corpo. B - substância branca. HE. Objetiva de

10x (137x).

Figura 4.9 - A substância branca, posicionada internamente

no cérebro, não possui corpos de neurônios e tem astrócitos

fibrosos. Método de Golgi. Objetiva de 10x.

A denominação célula de Purkinje é em homenagem

ao fisiologista tcheco Johannes Purkinje que as descreveu

em 1837.66

Os neurônios formam uma rede de conexões capaz

de captar informações dos receptores sensoriais,

processar essas informações, originar uma memória e

gerar os sinais apropriados para as células efetoras.67

Os locais de contato entre dois neurônios ou entre

um neurônio e a célula efetora, como uma célula

glandular ou uma célula muscular, são as sinapses (do

grego synapsis, conexão). Quando o axônio de um

neurônio faz contato com o dendrito de outro

neurônio, tem-se a sinapse axodendrítica; quando o

axônio contacta o corpo celular, a sinapse

axossomática, e, quando o contato é entre axônios, a

sinapse axoaxônica (Figura 4.6). A sinapse entre um

66

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 478. 67

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 84.

T. Montanari

T. Montanari T. Montanari

M G

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HISTOLOGIA

91

neurônio e uma célula muscular é a junção

neuromuscular (ou placa motora) (Figura 4.14). O

terminal pré-sináptico é comumente o de um axônio,

mas pode ocorrer sinapse dendrodendrítica entre

dendritos, e sinapse dendrossomática entre espículas

dendríticas e o corpo celular de outro neurônio.68,69

Figura 4.11 - Na medula espinal, a substância cinzenta

localiza-se internamente, em forma de H ou borboleta. Nos

cornos dorsais (D) (ou posteriores), entram os axônios dos

neurônios situados nos gânglios sensoriais, que captam

estímulos do ambiente externo ou interno. Os cornos

ventrais (V) (ou anteriores) contêm neurônios multipolares,

motores, cujos axônios conduzem os impulsos para os

músculos. No centro, há o canal medular (ou ependimário).

HE. Objetiva de 4x (34x).

Figura 4.12 - Substância cinzenta (C) e substância branca

(B) da medula espinal. O neurônio é volumoso para manter

o longo axônio. Além do nucléolo proeminente, é possível

visualizar a cromatina sexual no núcleo. O citoplasma é

rico na substância de Nissl. Núcleos de astrócito ( ) e

oligodendrócitos ( ) são indicados. A substância branca

contém os axônios envoltos pela bainha de mielina

produzida pelos oligodendrócitos, resultando nas fibras

nervosas. HE. Objetiva de 40x (550x).

68

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 454, 474-476. 69

JONES & COWAN. Op. cit., pp. 264-265.

Figura 4.13 - Gânglio sensorial. Possui uma cápsula de

tecido conjuntivo denso não modelado ( ). Os corpos dos

neurônios pseudounipolares predominam na zona cortical, e

as fibras nervosas, formadas pelo prolongamento dos

neurônios envolto pelas células de Schwann, situam-se na

zona medular. Elas captam estímulos dos ambientes interno

e externo e os enviam para o cérebro pelos nervos cranianos

ou para a medula espinal pelos nervos espinais. HE.

Objetiva de 4x (34x).

Figura 4.14 - Eletromicrografia de junção neuromuscular:

as vesículas do axônio (A) fusionam-se na fenda sináptica

( ), liberando os neurotransmissores para modular a

contração da célula muscular (M). C - fibrilas colágenas.

32.000x. Cortesia de Maria Cristina Faccioni-Heuser e

Matilde Achaval Elena, UFRGS.

As sinapses que envolvem a passagem de íons são

ditas elétricas, e aquelas com a liberação de

mediadores químicos são as sinapses químicas.70

Nas sinapses elétricas, os íons são transmitidos de

uma célula à outra por junções comunicantes. Essas

sinapses são comuns nos invertebrados, mas não em

mamíferos. Elas estão presentes no córtex e no tronco

cerebrais e na retina.71,72

70

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 367-368. 71

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 205. 72

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 368.

T. Montanari

D

V

T. Montanari

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

92

Nas sinapses químicas, quando a despolarização

da membrana alcança a porção terminal do axônio, o

botão sináptico, canais de Ca2+

abrem-se, e a entrada

desses íons provoca a fusão das vesículas sinápticas à

membrana celular (membrana pré-sináptica) e a

consequente exocitose dos neurotransmissores em um

pequeno espaço (20 a 30nm) entre as duas células, a

fenda sináptica. Eles se difundem e se aderem a

receptores associados a canais iônicos na membrana

da outra célula (membrana pós-sináptica). Há a

abertura dos canais, e a passagem de certos íons

despolariza a membrana dessa célula. As moléculas

sinalizadoras podem ainda se ligar a receptores

associados a proteínas G ou receptores do tipo

quinases, que ativam um segundo mensageiro.73

Nos mamíferos, a concentração de K+ é maior no

interior da célula, enquanto a de Na+ e de Cl

- é maior no

exterior. O íon Na+, por ser osmoticamente ativo, não

deve se acumular na célula, e bombas de Na+K

+ realizam

o transporte ativo de três íons Na+ para fora da célula,

enquanto dois íons K+ são levados para dentro. Os íons

K+ saem da célula pelos canais vazantes de K

+, mas há

poucos canais de Na+

e Cl- abertos para o retorno desses

íons. Então o exterior da célula é mais positivo do que o

interior.74

Essa diferença de carga elétrica entre as faces interna

e externa da membrana plasmática faz com que as

células sejam polarizadas eletricamente em -70mV

(potencial de repouso).75

Esse potencial através da membrana é geralmente

constante na maioria das células, mas, nos neurônios e

nas células musculares, ele pode sofrer modificações,

fazendo com que essas células sejam capazes de

conduzir um sinal elétrico.76

A estimulação de um neurônio causa a abertura de

canais de Na+ em uma pequena região da membrana,

levando a um influxo de Na+ que despolariza a

membrana, isto é, o interior torna-se mais positivo (+30

mV) do que o exterior (potencial de ação). Os canais de

Na+ fecham-se durante 1 a 2mseg e, nesse período, não

podem abrir: é o período refratário. Os canais de K+

controlados pela voltagem abrem-se, e, com a saída dos

íons K+, o potencial de repouso da membrana é

recuperado. Eles então se fecham, e o período refratário

termina.77,78

A despolarização da membrana, que ocorre graças à

abertura dos canais de Na+, difunde-se passivamente por

uma curta distância e dispara a abertura de canais

adjacentes. Dessa forma, a onda de despolarização (o

impulso nervoso) é conduzida ao longo do axônio.79

73

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 205, 208. 74

Ibid. p. 203. 75

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 383. 76

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 203. 77

Ibid. pp. 203-204. 78

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 383. 79

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 204.

Quando alcança a porção terminal, o botão sináptico,

promove a exocitose de mediadores químicos, os

neurotransmissores.80

Os neurotransmissores podem ser aminas, como

acetilcolina, adrenalina (ou epinefrina), noradrenalina

(ou norepinefrina), dopamina e serotonina (ou 5-

hidroxitriptamina); aminoácidos, como glutamato,

aspartato, ácido -aminobutírico (GABA) e glicina;

peptídeos, como encefalina, β-endorfina, neuropeptídeo

Y, dinorfina, substância P e neurotensina; purinas, como

o ATP, e gases, como NO (e possivelmente CO). Os

peptídeos são sintetizados no retículo endoplasmático

rugoso do corpo celular e chegam ao botão sináptico por

transporte anterógrado. Os demais neurotransmissores

são sintetizados no terminal axônico.81,82

Conforme o tipo de neurotransmissor liberado,

diferentes respostas ocorrem na célula-alvo. Por

exemplo, acetilcolina e glutamato despolarizam a célula

efetora ao se ligarem aos receptores e desencadearem a

abertura dos canais de Na+

(efeito excitatório). GABA e

glicina abrem os canais de Cl- (ou de outros ânions), de

modo que a membrana pós-sináptica fica mais negativa,

e essa hiperpolarização inibe a despolarização (efeito

inibitório). Monoaminas, como dopamina e serotonina, e

pequenos neuropeptídios geram mensageiros

secundários, como AMPc, que modificam a sensibilidade

da célula à despolarização (neuromodulação). Como os

axônios podem ser excitadores, inibidores ou

moduladores, o neurônio-alvo integra os estímulos para

gerar a resposta.83,84

Após exercer sua função, os neurotransmissores são

recapturados ou degradados por enzimas.85

3.2 – Astrócitos

São as maiores e mais numerosas células da glia

do SNC. Apresentam uma morfologia estrelada,

devido aos prolongamentos, o que dá origem ao seu

nome (do grego astron, estrela). Possuem um núcleo

grande, ovoide ou ligeiramente irregular, com

cromatina frouxa e nucléolo central (Figura 4.12). O

citoplasma contém a proteína ácida fibrilar glial

(GFAP de glial fibrillary acidic protein), um

filamento intermediário exclusivo dessas células no

SNC. Os astrócitos comunicam-se uns com os outros

por junções gap. Exibem lâmina basal.86,87,88

80

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 155-156. 81

GENESER. Op. cit., p. 269. 82

LENT et al. Op. cit., p. 241. 83

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 87, 89. 84

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 370. 85

Ibid. p. 371. 86

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 460. 87

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 92-93, 102. 88

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 112-114.

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HISTOLOGIA

93

A forma estrelada dos astrócitos não é evidente nos

cortes corados por HE, sendo necessário o uso de

métodos especiais, como a impregnação por prata pelo

método de Golgi ou a imunoperoxidase, mostrando a

GFAP.89,90

Segundo a quantidade e o comprimento dos

prolongamentos, os astrócitos são classificados em

protoplasmáticos ou fibrosos. Os primeiros

apresentam muitos prolongamentos, mas curtos e

espessos, com poucos feixes de GFAP. Os segundos

exibem menos prolongamentos, os quais são mais

longos, ricos em GFAP. Trata-se de um único tipo de

célula, com variações morfológicas determinadas pela

localização: os astrócitos protoplasmáticos são

encontrados na substância cinzenta, e os astrócitos

fibrosos, na substância branca (Figuras 4.8 a 4.9 e

4.15 a 4.16).91

Os astrócitos fornecem suporte físico e metabólico

aos neurônios do SNC e contribuem para a

manutenção da homeostase.92,93

Os astrócitos secretam interleucinas e fatores de

crescimento, como o fator de crescimento de fibroblastos

(FGF), o fator de crescimento epidérmico (EGF) e o fator

de necrose tumoral β (TNF-β), que são importantes para

a morfogênese dos neurônios vizinhos, para a

diferenciação dos astrócitos e para a resposta dessas

células a eventos traumáticos ou patológicos.94

As extremidades dos prolongamentos dos

astrócitos circundam os vasos sanguíneos como placas

achatadas, os pés vasculares (Figura 4.16). Através

deles, nutrientes são levados para os neurônios e

neurotransmissores e íons em excesso, como o K+

decorrente da intensa atividade neuronal, são retirados

do fluido extracelular.95

Os pés vasculares modificam

a estrutura do endotélio, tornando-o bastante

impermeável: praticamente não ocorre pinocitose, não

há poros e estabelecem-se junções de oclusão e uma

lâmina basal contínua.96,97

O2, CO2, H2O e pequenas substâncias lipossolúveis,

89 JONES & COWAN. Op. cit., pp. 266-269. 90

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 92-93. 91

JONES & COWAN. Op. cit., p. 267. 92

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 112. 93

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 376. 94

BARRADAS et al. Op. cit., p. 268. 95

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 219. 96

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 93, 97. 97

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 378, 394-395.

como álcool e esteroides, difundem-se pelas células

endoteliais ou entre elas. Glicose, aminoácidos, certas

vitaminas, nucleosídeos e íons necessitam de proteínas

transportadoras. Macromoléculas (maiores de 500Da)

presentes no sangue são impedidas de entrar no tecido

nervoso pelos capilares envoltos pelos prolongamentos

dos astrócitos (barreira hematoencefálica).98,99

A glândula pineal, a hipófise posterior e partes do

hipotálamo não apresentam essa barreira e contêm

capilares bastante permeáveis.100

Na superfície do cérebro, os prolongamentos dos

astrócitos protoplasmáticos formam uma camada, a

glia limitante, uma barreira relativamente

impermeável.101

3.3 – Oligodendrócitos

Estão localizados na substância cinzenta e na

substância branca do SNC. São menores do que os

astrócitos e com poucos prolongamentos (Figura

4.15), o que está relacionado com a sua denominação

(do grego oligos, poucos).102 Ao microscópio

eletrônico, observam-se retículo endoplasmático

rugoso, ribossomas e mitocôndrias em abundância e

ainda a presença de Golgi e de microtúbulos, mas não

há filamentos intermediários, nem lâmina basal.103

Com HE, são reconhecidos pelo núcleo esférico e

heterocromático, com um halo claro ao redor (Figura

4.12), fruto da sua fragilidade pelos poucos elementos do

citoesqueleto. Com a impregnação pela prata, percebe-se

que são menores do que os astrócitos e possuem finos

prolongamentos (Figura 4.15). Pode ser realizada uma

coloração imunocitoquímica para proteínas relacionadas

com a mielina, como a proteína básica da

mielina.104,105,106

98

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 219. 99

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 395. 100

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 115. 101

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 378. 102

GENESER. Op. cit., p. 274. 103

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 117. 104 JONES & COWAN. Op. cit., pp. 267-268, 271-272. 105

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 93-94. 106

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 117.

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TATIANA MONTANARI

94

Figura 4.15 - Astrócito protoplasmático fazendo contato

com os dendritos de um neurônio. Um oligodendrócito é

apontado. Método de Golgi. Objetiva de 100x (1.373x).

Figura 4.16 - Dois astrócitos fibrosos, sendo que o

prolongamento de um deles envolve um vaso sanguíneo

(V). Método de Golgi. Objetiva de 100x (1.373x).

Na substância cinzenta, os oligodendrócitos estão

próximos aos corpos celulares dos neurônios. Há uma

interdependência no metabolismo dessas células:

quando um estímulo provoca alteração química no

neurônio, modificações químicas também ocorrem no

oligodendrócito.107

Os oligodendrócitos ajudam a controlar o pH

extracelular através da enzima anidrase carbônica.108

Na substância branca, os oligodendrócitos, através

de seus prolongamentos, envolvem segmentos de

vários axônios (até 60).109

Quanto maior o calibre do

axônio, mais voltas do prolongamento são dadas. O

citoplasma é empurrado para o corpo da célula,

ficando praticamente somente a membrana plasmática

em torno do axônio. A camada envoltória é a bainha

de mielina.110

A membrana plasmática da bainha de mileina é

constituída por 70% de lipídios e 30% de proteínas,

enquanto as outras membranas possuem 35% de lipídios

e 65% de proteínas. Os lipídios consistem em

fosfolipídios, glicolipídios (p. ex., galactocerebrosídio) e

principalmente colesterol. Entre as proteínas, citam-se a

proteína básica da mielina, uma proteína citosólica ligada

à membrana, e a proteína proteolipídica, uma proteína

transmembrana específica do SNC. A interação

homofílica da proteína proteolipídica estabiliza as

membranas vizinhas.111,112,113,114

A mielina, devido ao conteúdo lipídico, é dissolvida

pelos solventes usados no processamento histológico,

mas pode ser preservada quando o material biológico é

fixado pelo tetróxido de ósmio.115,116

O axônio e a bainha envoltória constituem a fibra

nervosa. Axônios de pequeno diâmetro são

envolvidos por uma única dobra da célula da glia, sem

107

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 9.ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. p. 138. 108

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 117. 109

Ibid. 110

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 166. 111

KIERSZENBAUM, A. L.; TRES, L. L. Histologia e Biologia celular:

uma introdução à Patologia. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 239. 112

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 90-91. 113

MARQUES, M. J. Células de Schwann. In: CARVALHO, H. F.;

COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar.

Barueri: Manole, 2005. pp. 250-251. 114

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 116. 115

GENESER. Op. cit., pp. 278-279. 116

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 124-125, 127.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

95

a formação de mielina, e as fibras nervosas são ditas

amielínicas. Axônios mais calibrosos são circundados

por uma dobra da célula envoltória em espiral, a

bainha de mielina, e as fibras são mielínicas.117

O envolvimento por mielina não é contínuo ao

longo do axônio. Ocorre em pequenos segmentos de 1

a 2mm. Entre estes, há uma área nua do axônio, o

nódulo de Ranvier, de cerca de 1µm, onde há uma alta

densidade de canais de Na+. O nódulo de Ranvier é

coberto pelos pés terminais dos astrócitos, sem uma

lâmina basal associada. A porção do axônio com

bainha de mielina entre dois nódulos é o internódulo.

118,119

O nódulo de Ranvier foi reconhecido pelo médico

francês Louis-Antoine Ranvier (1835-1922) em 1876,

denominando-o, na ocasião, “estrangulamento anular do

tubo”.120

Como a mielina funciona como um isolante, as

alterações da polaridade da membrana acontecem

somente nos nódulos de Ranvier. Portanto, o impulso

“salta” de um nódulo de Ranvier para outro (condução

saltatória), sendo extremamente rápida e gastando menos

energia. A condução é mais rápida nos axônios com

maior diâmetro e com mais mielina.121

A esclerose múltipla é uma doença autoimune, na

qual há uma suscetibilidade genética e é desencadeada

por uma infecção viral.122

O principal alvo é a proteína

mielínica básica, e há ainda a destruição dos

oligodendrócitos. A desmielinização em regiões do SNC

tem consequências neurológicas, como distúrbios

visuais, perda da sensibilidade cutânea e da coordenação

muscular.123

As fibras nervosas agrupam-se em feixes,

resultando nos tratos no SNC.124

3.4 – Células microgliais

São as menores células da glia. Estão presentes na

substância cinzenta e na substância branca do SNC.

117

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 166. 118

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 90-92. 119

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 127. 120

Ibid. 121

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 9.ed. Op. cit., pp. 140, 151. 122 BARRADAS et al. Op. cit., p. 275. 123

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 374. 124

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., pp. 166-167.

São macrófagos especializados: atuam como células

dendríticas apresentadoras de antígenos, secretam

citocinas e removem restos celulares. De modo

semelhante aos macrófagos, os seus precursores

(progenitores de granulócito/monócito) originam-se

na medula óssea.125,126

O corpo celular é alongado, e há prolongamentos

ramificados e com espículas. O núcleo tem forma de

bastão ou vírgula e cromatina condensada. Entre as

organelas, há uma predominância de lisossomos.127,128

Com HE, é possível visualizar somente o núcleo,

sendo necessária a impregnação argêntica, como o

método do carbonato de prata fraco de del Rio Hortega,

ou a imunocitoquímica para a marcação da célula

microglial inteira.129,130

Como são as únicas células gliais de origem

mesenquimal, as células da micróglia possuem o

filamento intermediário vimentina, o que pode ser útil

para a identificação por métodos imunocitoquímicos.131

Prolongamentos dos neurônios podem ser

regenerados, mas lesões no corpo celular provocam a

morte do neurônio. Como o neurônio exerce uma

influência trófica sobre a célula com qual faz sinapse,

especialmente as células musculares e glandulares, a sua

morte pode levar a célula-efetora à atrofia.132

A sobrevivência do oligodendrócito depende de

sinais provenientes do axônio. Se perder o contato com o

axônio sofre apoptose.133

No SNC, quando os neurônios morrem, eles são

removidos pelas células microgliais e por macrófagos, e

a área lesada é reparada pela proliferação dos astrócitos

(glioses).134,135

Os circuitos neuronais são capazes de se reorganizar

após uma lesão, recuperando a atividade perdida

(plasticidade neuronal). Novas sinapses são

estabelecidas com o crescimento dos prolongamentos de

neurônios, estimulados por fatores de crescimento, as

neurotrofinas, produzidas por neurônios, pelas células da

glia e pelas células-alvo.136

125

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 200. 126

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 382-384. 127

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 94, 102. 128

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 383. 129

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 484. 130

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 94. 131

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 384. 132 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 223. 133

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 396. 134

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 223. 135

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 94. 136

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 223-224.

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TATIANA MONTANARI

96

3.5 – Células ependimárias

São células cúbicas ou colunares, com microvilos

e, muitas delas, com cílios. O núcleo é ovoide, basal e

com cromatina condensada. Elas se colocam lado a

lado e unem-se por desmossomos, lembrando um

tecido epitelial, mas não se apóiam sobre uma lâmina

basal. Possuem prolongamentos que se colocam no

interior do tecido nervoso, mesclando-se com os

prolongamentos dos astrócitos subjacentes. O

epêndima reveste as cavidades cerebrais (ventrículos)

e o canal central da medula espinal (Figuras 4.11 e

4.17).137

Figura 4.17 - Células ependimárias. HE. Objetiva de 100x

(1.373x).

As células ependimárias que revestem os

ventrículos são modificadas e formam o epitélio dos

plexos coroides. Elas possuem microvilos, pregas

basais, numerosas mitocôndrias, zônulas de oclusão e

lâmina basal. Transportam água, íons e proteínas,

produzindo o líquido cerebrospinal.138,139

3.6 – Células satélites e células de Schwann

Estas células estão localizadas no SNP.140

As células satélites estão ao redor dos corpos dos

neurônios nos gânglios nervosos (Figuras 4.3, 4.18 a

4.20). São pequenas, achatadas, com núcleo escuro,

heterocromático. Possuem GFAP, junções gap e uma

lâmina basal na face externa. Elas mantêm um

microambiente controlado em torno do neurônio,

permitindo isolamento elétrico e uma via para trocas

metabólicas. Aquelas dos gânglios autônomos do

intestino podem ainda participar na neurotransmissão

137

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 93-96, 103. 138

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 200, 217, 219-220. 139

GENESER. Op. cit., pp. 291-292. 140

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 201.

e ajudar a coordenar as atividades dos sistemas

nervoso e imune.141,142

As células de Schwann são alongadas, com núcleo

também alongado, Golgi pouco desenvolvido e

poucas mitocôndrias. Contêm GFAP e são

circundadas pela lâmina externa. Não possuem

prolongamentos e com seu próprio corpo, dando até

mais de 50 voltas, envolvem o axônio e formam a

fibra nervosa mielínica (Figuras 4.18 e 4.21 a

4.23).143,144

Figura 4.18 - Na zona cortical do gânglio sensorial, há os

corpos dos neurônios pseudounipolares circundados pelas

células satélites. Na zona medular, há as fibras nervosas, ou

seja, o prolongamento dos neurônios envolto pelas células

de Schwann. Entre os elementos nervosos, há fibroblastos e

fibras colágenas. HE. Objetiva de 10x.

Theodor Schwann (1810-1822), anatomista e

fisiologista alemão, foi professor de anatomia em

Louvain. Estabeleceu a teoria celular.145

Filogeneticamente a mielinização pelas células de

Schwann é um processo mais antigo que aquela realizada

pelos oligodendrócitos. Os peixes elasmobrânquios (p.

ex., tubarões) foram os primeiros a apresentar bainha de

mielina primitiva. Subindo na escala filogenética, as

formas primitivas de mielinização e as células que fazem

esse processo confinam-se ao SNP, e os oligodendrócitos

passam a ser as células mielinizantes no SNC. Como um

oligodendrócito mieliniza vários axônios, a diminuição

no número de células necessárias para a mielinização

levou a uma economia de espaço físico, importante para

o desenvolvimento de um sistema nervoso mais

complexo e versátil.146

141

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 129. 142

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 66, 376. 143

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 199, 202. 144

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 66. 145

MARQUES. Op. cit., p. 248. 146

Ibid. pp. 248-249.

T. Montanari T. Montanari

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HISTOLOGIA

97

Figura 4.19 - Neurônio pseudounipolar com célula satélite

adjacente na microscopia eletrônica. Cortesia de Patrícia do

Nascimento e Matilde Achaval Elena, UFRGS.

Figura 4.21 - Fibras nervosas de um nervo em corte

longitudinal. É possível observar os axônios envoltos pela

bainha de mielina, núcleos de células de Schwann e

nódulos de Ranvier ( ). HE. Objetiva de 100x (851x).

A mielina no SNP contém mais esfingolipídios e

menos cerebrosídeos, sulfatídeos e proteína básica da

mielina que aquela no SNC.147

A compactação da bainha de mielina é promovida

pelas proteínas transmembranas proteína zero (P0) e

proteína periférica mielínica de 22KDa (PMP22). A

espessura da bainha é regulada pelo fator de crescimento

neurregulina (Ngr1), uma proteína transmembrana do

axônio que age sobre as células de Schwann.148

147

Ibid. pp. 251, 254. 148

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 373-375.

Figura 4.20 - Gânglio intramural do intestino. Apresenta

neurônios multipolares e poucas células satélites. HE.

Objetiva de 100x (851x).

Figura 4.22 - Eletromicrografia da célula de Schwann

circundando o axônio (A), em corte transversal. Cortesia de

Patrícia do Nascimento e Matilde Achaval Elena, UFRGS.

O aprisionamento de certa quantidade do

citoplasma das células de Schwann pela mielina forma

as incisuras de Schmidt-Lanterman. Ao microscópio

de luz, aparecem como fendas oblíquas de formato

cônico na bainha de mielina de cada internodo.149

Enquanto, no SNC, os axônios estão expostos nos

nódulos de Ranvier, no SNP, eles estão parcialmente

revestidos por projeções de citoplasma das células de

Schwann adjacentes.150

Os axônios de pequeno diâmetro (menores que

1µm)151

invaginam-se em recessos da célula de

149

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 201. 150

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 92. 151

MARQUES. Op. cit., p. 256.

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TATIANA MONTANARI

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Schwann, e não há formação da bainha de mielina,

tendo-se as fibras nervosas amielínicas (Figura 4.23).

Neste caso, uma única célula pode envolver mais de

um axônio.152

As células de Schwann unem-se

lateralmente, e não existem nódulos de Ranvier. Os

canais de Na+ e K

+ estão distribuídos uniformemente

ao longo do comprimento da fibra. O impulso nervoso

é conduzido lentamente por uma onda progressiva de

alteração da permeabilidade da membrana.153,154

Figura 4.23 - Eletromicrografia de fibras nervosas de um

rato com diabetes induzido experimentalmente. Notam-se

fibras amielínicas (FA), fibras mielínicas (FM) e fibra

mielínica alterada. Cortesia de Patrícia do Nascimento e

Matilde Achaval Elena, UFRGS.

O agrupamento das fibras nervosas em feixes no

sistema nervoso periférico é denominado nervo.

Devido à cor da mielina e ao colágeno, os nervos são

esbranquiçados, exceto os raros nervos com somente

fibras amielínicas.155

Os nervos estabelecem comunicação entre os

centros nervosos, os órgãos da sensibilidade e os

efetores, como músculos e glândulas. As fibras que

levam as informações obtidas no meio ambiente e no

interior do corpo para o SNC são aferentes, e aquelas

que conduzem impulsos do SNC para os órgãos

efetores são eferentes. Os nervos que possuem apenas

fibras aferentes são chamados de sensoriais, e aqueles

com fibras eferentes, motores. A maioria dos nervos,

152

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 202. 153

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 9.ed. Op. cit., p. 149. 154

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 383. 155

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 167.

contudo, tem fibras dos dois tipos, e esses nervos são

mistos.156

Depois de um corte no nervo, os axônios e a mielina

degeneram e são fagocitados pelas células de Schwann e

por macrófagos. As células de Schwann proliferam,

formando um cordão celular. O axônio cresce e ramifica-

se. Somente aquele axônio que penetra o cordão de

células de Schwann tem sucesso e alcançará o órgão-

efetor. Quando é grande o espaço entre os cotos proximal

e distal ou quando este último é perdido, como ocorre na

amputação, os axônios crescem a esmo, resultando em

uma dilatação dolorosa, o neuroma de amputação.157,158

4 – ENDONEURO, PERINEURO E EPINEURO

O endoneuro envolve cada fibra nervosa (Figura

4.24) e consiste em fibras reticulares, sintetizadas

pelas células de Schwann, fibrilas colágenas,

glicosaminoglicanos e fibroblastos esparsos. Podem

ser encontrados ainda macrófagos e mastócitos.159

O perineuro contorna cada fascículo (do latim

fasciculus, feixe) de fibras nervosas.160

É formado por

várias camadas concêntricas de fibroblastos

modificados (Figura 4.24). Eles possuem lâmina basal

e filamentos de actina associados à membrana

plasmática, possibilitando a sua contração. Ligam-se

por junções de oclusão, o que protege os axônios de

agentes nocivos e de mudanças bruscas na

composição iônica.161

Entre as células, há fibrilas

colágenas e elásticas esparsas.162

O epineuro é a camada que reveste o nervo e

preenche os espaços entre os feixes de fibras nervosas.

É constituído por tecido conjuntivo denso não

modelado, cujas fibras colágenas estão orientadas para

suportar o estiramento do feixe nervoso, e tecido

conjuntivo frouxo, podendo incluir células adiposas e

a artéria muscular principal, que irriga o tronco

nervoso (Figura 4.25).163,164

156

Ibid. 157

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 9.ed. Op. cit., p. 152. 158

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 385, 396. 159

Ibid. p. 385. 160

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 491. 161

KOMURO, T. Re-evaluation of fibroblasts and fibroblast-like cells.

Anatomy and Embryology, v. 182, n. 2, pp. 103-112, 1990. 162

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 210. 163

Ibid. 164

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 98-99.

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HISTOLOGIA

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Figura 4.24 - Corte transversal de um nervo mostrando o

endoneuro (E) e o perineuro (P). HE. Objetiva de 100x

(851x).

Figura 4.25 - Corte transversal de um nervo, onde são

indicados o perineuro (P), ao redor de fascículos nervosos,

e o epineuro (E), formando o envoltório mais externo. No

centro, no epineuro, há a artéria muscular principal.

Objetiva de 3,2x.

5 – MENINGES

O SNC é circundado por três camadas protetoras

de tecido conjuntivo, as meninges (do grego meninx,

membrana), que são: a pia-máter, a aracnoide e a

dura-máter.165

A pia-máter (do latim, pia, macio; mater, mãe)166

é a meninge mais interna, localizando-se sobre a glia

limitante, a camada de prolongamentos de astrócitos

que recobre o tecido nervoso.167

Como seu nome

sugere, é uma membrana delicada.168

Ela consiste em

uma camada de células epiteliais pavimentosas de

origem mesenquimatosa, as células meningoteliais, e

em tecido conjuntivo frouxo bastante vascularizado.

Ela envolve os vasos sanguíneos ao entrarem no

tecido nervoso, resultando nos espaços perivasculares,

mas desaparece antes que eles se transformem em

capilares.169,170

A pia-máter continua-se com o

perineuro dos fascículos nervosos.171

Pregas da pia-

máter revestidas pelo epêndima formam os plexos

coroides do terceiro e do quarto ventrículos e dos

ventrículos laterais.172

A aracnoide (do grego, arachnoeides, semelhante

a uma teia de aranha)173

é composta por tecido

conjuntivo denso avascularizado (embora vasos

sanguíneos a atravessem) e por células meningoteliais

nas superfícies. A região vizinha à pia-máter é

trabeculada, e as cavidades correspondem ao espaço

subaracnóideo, por onde entram e saem as principais

artérias e veias do cérebro. A aracnoide apresenta, em

certos locais, expansões que perfuram a dura-máter e

vão terminar em seios venosos: são as vilosidades

aracnoideas.174,175

A dura-máter (do latim, dura, duro; mater,

mãe)176

, a meninge mais externa, é uma camada

espessa e resistente.177

No crânio, está adjacente ao

periósteo e, na medula espinal, está separada do

periósteo das vértebras pelo espaço epidural, que

contém tecido conjuntivo frouxo com células adiposas

e um plexo venoso. É constituída por tecido

conjuntivo denso modelado e pelas células

meningoteliais na superfície interna e, no caso da

165

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 485. 166

Ibid. p. 486. 167

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 104. 168

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 486. 169

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 164. 170

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 95-96, 98. 171

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 104. 172

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 219. 173 HAM & CORMACK. Op. cit., p. 486. 174

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 162. 175

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 95-96, 98. 176 HAM & CORMACK. Op. cit., p. 486. 177

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 104.

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TATIANA MONTANARI

100

coluna vertebral, também na superfície

externa.178,179,180

O líquido cerebrospinal, produzido pelas células

ependimárias dos plexos coroides, circula pelos

ventrículos cerebrais, pelo espaço subaracnóideo, pelos

espaços perivasculares e pelo canal central da medula

espinal. Ele permite a difusão dos metabólitos e protege

o SNC contra traumatismos ao formar uma camada

líquida no espaço subaracnóideo. É reabsorvido pelas

células das vilosidades aracnóideas e retorna à corrente

sanguínea, nos seios venosos da dura-máter. No SNC,

não há vasos linfáticos.181

6 – QUESTIONÁRIO

1) Quais são as funções do tecido nervoso?

2) Descreva as células do tecido nervoso quanto à sua

morfologia, função e localização.

3) Como são formadas as fibras nervosas?

4) O que são e onde são encontrados os gânglios

nervosos?

5) Como se dá a transmissão do impulso nervoso?

178

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 162. 179

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 95-96. 180

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 104. 181

JUNQUEIRA & CARNEIRO. 12.ed. Op. cit., p. 165.

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101

Tecido Muscular Capítulo 5

1 – CARACTERÍSTICAS

O tecido muscular possui células alongadas e ricas

em filamentos contráteis.1

2 – FUNÇÕES

A contração do tecido muscular promove o

movimento de estruturas ligadas a ele, como os ossos,

e, consequentemente, do corpo. Permite ainda o

movimento, pelo organismo, de substâncias e

líquidos, como o alimento, o sangue e a linfa.

3 – COMPONENTES

As células musculares são alongadas, por isso são

também chamadas fibras musculares. Elas são ricas

nos filamentos de actina e de miosina, responsáveis

pela sua contração. A actina (Figura 5.1) e algumas

proteínas associadas compõem filamentos de cerca de

7nm de diâmetro, os filamentos finos, enquanto a

miosina II (Figura 5.2) forma filamentos com 15nm de

diâmetro, os filamentos espessos. Os filamentos finos

medem 1µm de comprimento, e os espessos, 1,5µm.2

Figura 5.1 - A polimerização de monômeros de actina-G

forma a actina-F, ou seja, o filamento de actina. Baseado

em Alberts, B.; Johnson, A.; Lewis, J.; Raff, M.; Roberts,

K.; Walter, P. Molecular Biology of the cell. 4.ed. New

York: Garland Science, 2002. p. 916.

1 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas.

12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 178. 2 GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. pp. 161, 167.

A miosina II mede 2 a 3nm de diâmetro e 150nm de

comprimento. Tem uma porção alongada, em bastão,

denominada cauda, formada por duas cadeias

polipeptídicas em ∞-hélice, enroladas uma na outra e, na

extremidade, duas porções globulares, que correspondem

às cabeças, com atividade ATPase. Além de se ligar ao

ATP, a cabeça possui sítio de ligação para a actina. Entre

a cabeça e a cauda, há uma região flexível que funciona

como dobradiça, proporcionando a mudança

conformacional necessária à função motora. A cada

cabeça aderem duas cadeias leves, com papel estrutural

na estabilização da miosina (Figura 5.2).3,4,5,6

Figura 5.2 - Molécula de miosina II. Baseado em Alberts et

al., 2002. p. 950.

As células musculares possuem ainda filamentos

intermediários de desmina, também presentes em

outras células contráteis, como as células mioepiteliais

e os miofibroblastos.7

A matriz extracelular consiste na lâmina basal (ou

externa) e nas fibras reticulares. As células musculares

lisas secretam colágeno, elastina, proteoglicanas e

fatores de crescimento, sendo que alguns desses

elementos ajudam na adesão entre as células.8

4 – CLASSIFICAÇÃO

3 Ibid. pp. 169-170.

4 GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. pp. 249-250. 5 LINO NETO, J.; GÓES, R. M.; CARVALHO, H. F. Citoesqueleto. In:

CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri:

Manole, 2013. p. 430. 6 ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2012. pp. 324-325. 7 LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. pp. 77, 81-82. 8 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 184-185.

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TATIANA MONTANARI

102

4.1 – Músculo estriado esquelético

As células deste músculo são originadas da fusão

de centenas de células precursoras, os mioblastos

(Figura 5.3), o que as tornam grandes e alongadas, de

formato cilíndrico, com um diâmetro de 10 a 100m e

até 30cm de comprimento, e multinucleadas, sendo

que os núcleos ficam em posição periférica (Figuras

5.4 e 5.5).9

Figura 5.3 - Fusão dos mioblastos para formar o músculo

estriado esquelético. HE. Objetiva de 100x (1.373x).

As células musculares esqueléticas do adulto não se

dividem. No entanto, é possível a formação de novas

células no processo de reparo após lesão ou de

hipertrofia decorrente do exercício intenso, através da

divisão e fusão de mioblastos quiescentes, as células

satélites. Elas são fusiformes, mononucleadas, com o

núcleo escuro e menor do que aquele da célula muscular.

Estão posicionadas entre a lâmina basal e a membrana

plasmática dessa célula.10,11

As células do músculo estriado esquelético

possuem filamentos de actina e de miosina em

abundância, e a sua organização faz com que se

observem estriações transversais ao microscópio de

luz, o que conferiu o nome estriado ao tecido (Figuras

5.4 e 5.5). O termo esquelético é devido à sua

localização, já que está ligado ao esqueleto. Esse

músculo está sob controle voluntário.12

As células possuem uma pequena quantidade de

retículo endoplasmático rugoso e ribossomos.13

O

retículo endoplasmático liso (geralmente chamado de

retículo sarcoplasmático) é bem desenvolvido e

9 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 178.

10 GENESER. Op. cit., p. 243.

11 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 198.

12 HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. p. 508. 13

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 191.

armazena íons Ca2+

, importantes para o processo de

contração.14,15

As mitocôndrias são numerosas e

fornecem energia ao processo.16

Para a obtenção da

energia, armazenam glicogênio e gotículas lipídicas.17

Elas contêm ainda pigmentos de mioglobina, que são

proteínas transportadoras de oxigênio semelhantes à

hemoglobina, mas menores do que esta.18

Os filamentos contráteis de actina e miosina são

abundantes e envoltos por invaginações da membrana

plasmática, pelas cisternas do retículo sarcoplasmático

e pelas mitocôndrias, resultando nas miofibrilas,

dispostas longitudinalmente nas células e com 1 a

2m de diâmetro.19

Os filamentos finos e espessos dispõem-se de tal

maneira que bandas claras e escuras alternam-se ao

longo da fibra muscular. As bandas claras contêm

somente filamentos finos e, como são isotrópicas ao

microscópio de polarização, foram denominadas

bandas I. As bandas escuras possuem filamentos finos

e espessos e, por serem anisotrópicas ao microscópio

de polarização foram chamadas bandas A (Figuras 5.4

e 5.5). Portanto, ao microscópio de polarização, as

bandas I, que não alteram o plano da luz polarizada,

ficam escuras, e as bandas A, devido ao arranjo

paralelo de subunidades assimétricas, são

birrefringentes, ou seja, alteram a luz polarizada em

dois planos, aparecendo claras e brilhantes.20,21

Figura 5.4 - Corte longitudinal do músculo estriado

esquelético. HE. Objetiva de 40x (550x).

No centro da banda I, há uma linha escura, a linha

Z (de Zwischenscheibe, linha intemediária em

14

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 165. 15

GENESER. Op. cit., p. 243. 16

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 71. 17

OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio

de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 75. 18

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 162. 19

Ibid. p. 164. 20

GAUTHIER, G. F. Tecido muscular. In: WEISS, L.; GREEP, R. O.

Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. pp. 214-215. 21

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 322.

T. Montanari

T. Montanari

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HISTOLOGIA

103

alemão). As linhas Z delimitam a unidade repetitiva

das miofibrilas, o sarcômero, que apresenta a metade

de duas bandas I e uma banda A central e mede 2,5m

de comprimento no músculo em repouso (Figuras 5.5

e 5.6).22

Figura 5.5 - Sarcômeros delimitados pelas linhas Z ( ) no

músculo estriado esquelético. HE. Objetiva de 100x

(1.373x).

Ao microscópio eletrônico, reconhece-se, no

centro da banda A, uma região mais clara, a banda H

(do alemão hell, claro), onde somente filamentos de

miosina são encontrados. No centro dessa banda, há

uma faixa escura, a linha M (do alemão Mitte, meio)

(Figura 5.6).23,24

O filamento fino, no músculo estriado, é constituído

pela polimerização da actina G em actina F, associada à

tropomiosina e à troponina. Cada molécula de actina G

tem um sítio de ligação para a miosina.25

A tropomiosina

é uma molécula em forma de bastão, com 2nm de

diâmetro e 41nm de comprimento, constituída por duas

cadeias polipeptídicas em ∞-hélice, que se enrolam uma

na outra. As moléculas de tropomiosina unem-se pelas

extremidades, estendendo-se ao redor do filamento de

actina.26,27

A troponina é constituída por três

polipeptídeos: troponina C, que se liga ao Ca2+

, a

troponina T, que se liga à tropomiosina, e a troponina I,

que se une à actina e inibe a sua interação com a

miosina.28

22

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 74-75. 23

IRMEN, F. Langenscheidts Taschenwörterbuch. Berlim: Langenscheidt,

1995. pp. 873, 965. 24

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 322-323, 325. 25

Ibid. pp. 323-324. 26

DAL PAI-SILVA, M.; DAL PAI, V.; CARVALHO, R. F. Célula

muscular estriada esquelética. In: CARVALHO, H. F.; COLLARES-

BUZATO, C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar. Barueri:

Manole, 2005. p. 85. 27

VASCONCELOS, L. A. B. A.; CARVALHO, H. F. Célula muscular

lisa. In: CARVALHO, H. F.; COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma

abordagem multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. p. 71. 28

ALBERTS, B.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.;

WALTER, P. Molecular Biology of the cell. 4.ed. New York: Garland

Science, 2002. p. 965.

Cada filamento espesso é composto por 200 a 300

moléculas de miosina II.29

Metade das moléculas de

miosina apresenta as cabeças em direção a uma

extremidade do filamento, e a outra metade, em direção à

extremidade oposta. Na região mediana, não há cabeças,

somente caudas. Essa região corresponde à banda H. As

cabeças dispõem-se em um padrão helicoidal, formando

seis filas longitudinais. Cada fila de cabeças está

alinhada com um filamento de actina, de modo que seis

filamentos finos circundam um filamento espesso nas

laterais da banda A.30

A linha Z contém as proteínas -actinina e CapZ, as

quais ancoram e evitam a despolimerização dos

filamentos de actina na sua extremidade positiva. A

despolimerização na extremidade negativa é impedida

pela tropomodulina. O comprimento do filamento fino é

determinado pela nebulina. A ancoragem dos filamentos

de miosina à linha Z é realizada pela titina, uma proteína

com característica elástica que muda o seu comprimento

quando a célula contrai ou relaxa.31

Ainda na linha Z, há

os filamentos intermediários de desmina e de vimentina,

ligando as miofibrilas adjacentes.32

A linha M possui miomesina, proteína C e outras

proteínas que interligam os filamentos de miosina,

mantendo seu arranjo em forma de grade.33

Há ainda a

creatina quinase, uma enzima que catalisa a transferência

de um grupo fosfato da fosfocreatina para o ADP,

resultando no ATP utilizado nas contrações

musculares.34

Esta enzima é encontrada também na

forma solúvel, no citoplasma.35

A distrofina é uma proteína do citoesqueleto ligada à

face citoplasmática da membrana, que ancora os

filamentos de actina à membrana celular e, através das

proteínas transmembranas distroglicanas e sarcoglicanas,

à laminina da lâmina externa.36,37,38

A distrofina é codificada por um gene no braço curto

do cromossomo X.39

Mutações nesse gene prejudicam a

expressão da distrofina, causando a distrofia muscular de

Duchenne, que é herdada como um traço recessivo

ligado ao cromossomo X. A sua incidência é de 1:3.500

indivíduos do sexo masculino.40

A ausência dessa

proteína leva à degeneração das fibras musculares, que

são substituídas por tecido conjuntivo denso. Os

indivíduos apresentam uma fraqueza muscular

29

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 169. 30

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 524-525. 31

ALBERTS et al. Op. cit., pp. 963-964. 32

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 165. 33

Ibid. p. 167. 34

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 183. 35

KIERSZENBAUM, A. L.; TRES, L. L. Histologia e Biologia celular:

uma introdução à Patologia. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 212. 36

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 165. 37

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 75. 38

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 325, 327. 39

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 75. 40

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 325, 327.

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

104

progressiva e ocorre o óbito no início da vida adulta.41

Figura 5.6 - Eletromicrografia do músculo estriado

esquelético, onde são indicadas as bandas A, I e H e as

linhas M e Z. Ainda são assinaladas as mitocôndrias (mit) e

o glicogênio (G). Cortesia de Tais Malysz e Matilde

Achaval Elena, UFRGS.

A contração das fibras musculares esqueléticas é

estimulada por terminações das fibras nervosas

motoras. Próximo à superfície da célula muscular, o

axônio perde a bainha de mielina e dilata-se,

formando a junção neuromuscular (ou placa motora).

O impulso nervoso é transmitido com a liberação de

acetilcolina do terminal axônico. Essa substância

difunde-se através da fenda sináptica e prende-se a

receptores na membrana da célula muscular,

tornando-a permeável ao Na+, o que resulta na

despolarização da membrana (Figura 5.7).42

Como o axônio pode se ramificar, a precisão do

movimento depende do menor número de fibras

musculares inervadas por ele. Por exemplo, cada

neurônio motor inerva cerca de três células dos músculos

oculares, enquanto, nos músculos das pernas, mais de

100 células são inervadas por um neurônio. O neurônio

motor e a(s) fibra(s) muscular(es) inervada(s) constituem

uma unidade motora.43,44,45

41

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 242. 42

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 189-190. 43 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 173 44

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 190. 45

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 332.

Figura 5.7 - Imagem ao microscópio eletrônico da junção

neuromuscular: as vesículas do axônio (A) fusionam-se na

fenda sináptica ( ), liberando os neurotransmissores para

modular a contração da célula muscular (M). C – fibrilas

colágenas. 32.000x. Cortesia de Maria Cristina Faccioni-

Heuser e Matilde Achaval Elena, UFRGS.

Para evitar que um único estímulo desencadeie

respostas múltiplas, a acetilcolinesterase, localizada na

lâmina basal que reveste as fendas sinápticas, degrada a

acetilcolina em acetato e colina, permitindo assim o

restabelecimento do potencial de repouso. A colina é

transportada de volta para o axônio e será usada para a

síntese de acetilcolina.46

Na miastenia grave, são produzidos anticorpos que

se ligam aos receptores para acetilcolina, impedindo a

ligação desse neurotransmissor e, por conseguinte, a

despolarização da membrana das células musculares. Há

uma debilidade generalizada pela atrofia dos músculos.

A administração de medicamentos que inibem a

acetilcolinesterase potencializa a ação da acetilcolina,

permitindo a sua ligação aos receptores não bloqueados

por anticorpos.47

A membrana plasmática leva a despolarização

para o interior da célula através de invaginações que

envolvem as junções das bandas A e I nos mamíferos

ou a região do disco Z nos peixes e nos anfíbios.48

Essas invaginações compõem o sistema de túbulos

transversais (ou túbulos T). Em cada lado do túbulo T,

há uma expansão do retículo sarcoplasmático, a

cisterna terminal. O conjunto de um túbulo T e duas

expansões do retículo sarcoplasmático é conhecido

como tríade.49

Na tríade, a despolarização dos túbulos T é

transmitida ao retículo sarcoplasmático, promovendo

46

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 174-175. 47

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 243. 48

DAL PAI-SILVA et al. Op. cit., p. 86. 49

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 186.

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HISTOLOGIA

105

a abertura dos canais de Ca2+

com a consequente saída

desse íon para o citoplasma.50

Quando a subunidade

troponina C se liga a quatro íons de Ca2+

, a troponina

sofre uma mudança conformacional, empurrando a

tropomiosina para dentro do sulco do filamento de

actina, liberando o sítio de ligação da actina à

miosina.51

A quebra de ATP faz com que a cabeça e parte da

cauda da miosina II dobrem-se, levando junto a actina.

A ligação e a quebra de outra molécula de ATP

promovem a dissociação entre a actina e a miosina. O

ciclo de ligação e dissociação repete-se várias vezes,

promovendo o deslizamento dos filamentos finos e

espessos uns em relação aos outros.52

A energia que pode ser mobilizada com mais

facilidade é a proveniente das ligações fosfato do ATP e

da fosfocreatina acumulados na célula, a partir dos ácidos

graxos e da glicose. Quando o músculo exerce atividade

intensa, pode haver insuficiência de oxigênio, e a célula

recorre à glicólise anaeróbica, com produção de ácido

lático, cujo excesso pode causar cãibras.53

Na contração muscular, há o encurtamento dos

sarcômeros e assim de toda a fibra, devido à maior

sobreposição dos filamentos de actina aos de miosina.

As bandas I e H tornam-se mais estreitas, enquanto a

banda A não altera a sua extensão.54

Assim, o

sarcômero, que media 2 a 3µm no músculo relaxado,

pode ser reduzido até 1µm.55

O relaxamento do músculo ocorre quando cessa o

impulso nervoso, e os íons Ca2+

são retirados do

citoplasma, através de Ca2+

ATPases, para o retículo

sarcoplasmático, onde se ligam à proteína

calsequestrina. Com os níveis citosólicos de Ca2+

reduzidos, a troponina C perde aqueles ligados, e a

troponina leva a tropomiosina a inibir o sítio de

ligação da actina à miosina.56

Se não for fornecido ATP para a dissociação entre a

actina e a miosina e para o recolhimento dos íons Ca2+

para o retículo sarcoplasmático, o músculo estriado

esquelético mantém-se contraído, por isso a rigidez

muscular após a morte, chamada de rigor mortis.57

50

Ibid. pp. 186, 190. 51

ALBERTS et al. Op. cit., p. 965. 52

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 186, 189. 53

Ibid. p. 191. 54

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 164. 55

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 323. 56

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 172. 57 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 189.

Com HE, devido às proteínas contráteis, o

citoplasma cora-se fortemente pela eosina. Faixas claras

e escuras alternadas são observadas posicionadas

transversalmente no sentido longitudinal da célula e

correspondem as bandas I e A, respectivamente (Figuras

5.4 e 5.5). As bandas I são divididas pelas delgadas

linhas Z, enquanto no interior da banda A, conforme o

corte e em um sarcômero relaxado, é possível observar a

banda H mais clara. Nos cortes transversais, o citoplasma

aparece com aspecto pontilhado, por causa das

miofibrilas.58

Com um corante catiônico, as bandas A e

as linhas Z são basófilas (escuras), e as bandas I e H,

claras.59

4.2 – Músculo estriado cardíaco

Este tecido também apresenta estriações devido ao

arranjo dos filamentos contráteis, mas localiza-se no

coração. É formado por células cilíndricas (10 a 20m

de diâmetro e 80 a 100m de comprimento),

ramificadas, com um ou dois núcleos em posição

central ou próxima (Figuras 5.8 e 5.9).60,61

Quase metade do volume celular é ocupada por

mitocôndrias, o que reflete a dependência do

metabolismo aeróbico e a necessidade contínua de

ATP. Glicogênio e gotículas lipídicas formam o

suprimento energético. Como o consumo de oxigênio

é alto, há uma abundante quantidade de mioglobina. O

retículo endoplasmático é relativamente esparso.

Como as células têm vida longa, com o avançar da

idade, acumulam lipofucsina.62,63

Os filamentos contráteis de actina e miosina são

arranjados nas miofibrilas pelas invaginações da

membrana plasmática, pelas cisternas do retículo

sarcoplasmático e pelas numerosas mitocôndrias

dispostas longitudinalmente.64

Ao microscópio de luz, além das estriações devido

ao arranjo dos filamentos contráteis, este músculo

exibe os discos intercalares, linhas retas ou em

escada, posicionadas na linha Z, mas mais espessas do

que esta (Figuras 5.8 e 5.9). Eles correspondem a

complexos juncionais, sendo constituídos por

interdigitações, junções de adesão e desmossomos,

que impedem a separação das células com o batimento

cardíaco, e junções comunicantes, que, ao permitir a

passagem de íons de uma célula à outra, promovem a

58 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 76-77. 59

GAUTHIER. Op. cit., p. 214. 60

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 89-92. 61

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 345. 62

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 181, 183. 63

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 89, 91-92. 64

Ibid. pp. 91-92.

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TATIANA MONTANARI

106

rápida propagação da despolarização da membrana e a

sincronização da contração das células.65,66

Figura 5.8 - Corte longitudinal do músculo estriado

cardíaco. HE. Objetiva de 40x (550x).

Figura 5.9 - Sarcômeros delimitados pelas linhas Z ( ) no

músculo estriado cardíaco. Na junção entre as células,

observa-se o disco intercalar ( ). HE. Objetiva de 100x

(1.373x).

Assim como ocorre nas células epiteliais, os

filamentos de actina ancoram-se nas junções de adesão, e

os filamentos intermediários, nos desmossomos.

Entretanto, nas células musculares, os filamentos

intermediários são de desmina.67,68,69

As células musculares dos átrios são um pouco

menores que as dos ventrículos e armazenam grânulos

contendo o peptídio natriurético atrial. Essa substância

diminui a capacidade dos túbulos renais reabsorverem

sódio e água, reduzindo a pressão arterial.70

O músculo estriado cardíaco apresenta contração

involuntária. Há células especializadas na geração e

condução do estímulo cardíaco, conectadas por

junções comunicantes. As células do nodo sinoatrial

65

GENESER. Op. cit., p. 255. 66

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 77-78. 67

Ibid. pp. 73, 77-78, 82. 68

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 93. 69

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 325, 336. 70

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 181.

(marcapasso) despolarizam-se espontaneamente 70

vezes por minuto, criando um impulso que se espalha

para o nodo atrioventricular e para o feixe

atrioventricular e assim para todo o coração. O

coração recebe nervos do sistema nervoso autônomo

que formam plexos na base do órgão, influenciando o

ritmo cardíaco: a inervação parassimpática (nervo

vago) diminui os batimentos cardíacos, enquanto a

estimulação do simpático acelera.71,72,73

A membrana plasmática leva a despolarização

para o interior da célula através de invaginações

(túbulo T) que se situam na linha Z. Devido à

associação de um túbulo T com somente uma

expansão lateral do retículo sarcoplasmático, no

músculo estriado cardíaco, há díades, ao invés de

tríades. O túbulo T tem um diâmetro 2,5 vezes maior

do que aquele da célula muscular esquelética e é

revestido por lâmina externa, que, por ser carregada

negativamente, armazena Ca2+

.74

Como o retículo endoplasmático é pouco

desenvolvido, é necessária a contribuição de fontes

extracelulares desse íon para a contração. No

momento da despolarização, o Ca2+

entra pelos

túbulos T, cuja abertura é relativamente larga. Há

ainda canais de sódio-cálcio.75

Como no músculo estriado esquelético, o Ca2+

liga-se à troponina, fazendo com que sofra mudança

conformacional e libere o sítio de ligação da actina à

miosina. A quebra de ATP promove o dobramento

parcial da miosina, levando junto a actina. A ligação e

a quebra de outra molécula de ATP provocam a

dissociação entre a actina e a miosina. O ciclo de

ligação e dissociação repete-se várias vezes,

ocorrendo o deslizamento dos filamentos finos e

espessos uns em relação aos outros, de modo que há o

encurtamento dos sarcômeros e assim de toda a fibra.

76,77

Sem Ca2+

no meio extracelular, o músculo cardíaco

para de se contrair em um minuto, enquanto o músculo

esquelético pode continuar a se contrair por horas.78

Há células-tronco (Sca-1 e c-kit positivas) no

músculo cardíaco. Entretanto elas não são capazes de

proliferar e regenerar grandes áreas de tecido danificado,

por exemplo, em um infarto, e as lesões do coração são

reparadas pela proliferação dos fibroblastos, que formam

71

Ibid. pp. 274-275. 72

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 532. 73 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 214-215. 74

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 183. 75

Ibid. 76

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 186, 189. 77

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 73-74, 77. 78

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 183.

T. Montanari

T. Montanari

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HISTOLOGIA

107

uma cicatriz de tecido conjuntivo denso. Estudos são

desenvolvidos para o uso das células-tronco cardíacas na

clínica.79,80

Com HE, o citoplasma cora-se pela eosina.

Posicionadas transversalmente no sentido longitudinal da

célula, há faixas claras e escuras alternadas, devido às

bandas I e A, e linhas mais coradas, retas ou em escada

que correspondem aos discos intercalares (Figuras 5.8 e

5.9).81

4.3 – Músculo liso

As células são fusiformes, com 3 a 10m de

diâmetro (na região mais larga, onde está o núcleo) e

comprimento variado, sendo 20m nos pequenos

vasos sanguíneos, 200µm no intestino e 500m no

útero gravídico. O núcleo é central, alongado (Figuras

5.10 e 5.11) ou, quando as células estão contraídas,

pregueado, em formato de saca-rolhas. O citoplasma

perinuclear contém retículo endoplasmático rugoso,

ribossomas livres, Golgi, retículo endoplasmático liso,

mitocôndrias e glicogênio.82,83

Vesículas endocíticas, as cavéolas (do latim

caveolae, pequena vesícula)84

, são frequentemente

observadas (Figura 5.11). Elas podem estar

relacionadas com a intensa pinocitose para a entrada

de íons Ca2+

.85

A disposição dos feixes de filamentos contráteis

em diferentes planos faz com que as células não

apresentem estriações, por isso a denominação de

músculo liso (Figuras 5.10 e 5.11). A contração desse

músculo é involuntária e lenta, controlada pelo

sistema nervoso autônomo.86

A actina e a miosina II do músculo liso são

isoformas diferentes daquelas do músculo estriado.87

Os filamentos finos contêm actina, a isoforma da

tropomiosina do músculo liso, caldesmona e calponina.

Não há troponina. A posição da tropomiosina no

filamento de actina é regulada pela fosforilação das

cabeças da miosina. A caldesmona e a calponina

bloqueiam o local de ligação da actina com a miosina. A

79

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 198. 80

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 76-77, 160-161. 81

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 89. 82

Ibid. p. 96. 83

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 339-340, 342, 345-346, 358. 84

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 540. 85

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 193. 86

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 509, 539. 87

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 79.

ação delas é dependente de Ca2+

e também é controlada

pela fosforilação das cabeças de miosina.88

As moléculas de miosina II estão orientadas em uma

direção em um dos lados do filamento espesso e na

direção oposta no outro lado e não há uma zona central

sem cabeças. Isso possibilita que os filamentos finos

sejam tracionados por toda a extensão dos filamentos

espessos.89

Figura 5.10 - Cortes transversal e longitudinal do músculo

liso. HE. Objetiva de 40x (550x).

Figura 5.11 - Microscopia eletrônica de célula muscular

lisa com filamentos contráteis dispostos em diferentes

planos. Cavéolas são apontadas. Cortesia de Fabiana Rigon

e Maria Cristina Faccioni-Heuser, UFRGS.

Os filamentos de actina, de miosina, de desmina e,

no caso das células musculares de vasos, de vimentina

cruzam a célula e inserem-se em pontos de ancoragem

na membrana celular ou mesmo no citoplasma,

designados corpos densos. A tensão produzida pela

contração é transmitida através dos corpos densos

para a lâmina basal, permitindo que as células

musculares lisas atuem como uma unidade.90,91

88

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 340-341. 89

Ibid. pp. 341-342. 90

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 71, 77, 80. 91

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 340, 342-343.

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

108

Os corpos densos contêm -actinina, responsável

pela ligação dos filamentos de actina, e outras proteínas

associadas ao disco Z.92

No músculo liso, não há placas motoras. No tecido

conjuntivo entre as células musculares, as terminações

axônicas formam dilatações e liberam os

neurotransmissores acetilcolina ou norepinefrina, que

geralmente têm ação antagônica, estimulando ou

deprimindo a atividade contrátil do músculo. As

junções comunicantes permitem a transmissão da

despolarização da membrana entre as células.93

A despolarização, o estiramento da célula e a

depleção dos estoques internos de Ca2+

ativam os

canais de Ca2+

da membrana, e a estimulação por

agonistas, que agem sobre receptores acoplados a

proteínas G, ativa os canais de Ca2+

do retículo

endoplasmático, aumentando os níveis desse íon no

citoplasma.94

Os íons de Ca2+

ligam-se à proteína calmodulina

(quatro íons de Ca2+

por molécula de calmodulina), e

o complexo cálcio-calmodulina ativa a quinase da

cadeia leve de miosina, que fosforila a cadeia leve da

miosina. A fosforilação provoca uma mudança na

conformação da miosina e permite que ela se ligue à

actina. Na presença de ATP, a cabeça de miosina

inclina-se, produzindo a contração. Quando ela é

desfosforilada, a cabeça da miosina dissocia-se da

actina.95

Como os filamentos contráteis estão intercruzados

nas células, o seu deslizamento faz com que elas se

encurtem e se tornem globulares, reduzindo o

diâmetro da luz do órgão.96

A diminuição do nível de Ca2+

no citoplasma

resulta na dissociação do complexo cálcio-

calmodulina, causando a inativação da quinase da

cadeia leve da miosina. A subsequente desfosforilação

das cadeias leves de miosina pela fosfatase da cadeia

leve de miosina faz com que a miosina não possa se

ligar à actina, tendo-se o relaxamento do músculo.97

A fosforilação ocorre lentamente, o que faz com

que a contração do músculo liso demore mais que a

dos músculos esquelético e cardíaco. Diferente das

células dos músculos estriados esquelético e cardíaco,

onde a resposta de contração é sempre do tipo "tudo

92

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 187. 93

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 193, 198. 94

VASCONCELOS & CARVALHO. Op. cit., pp. 76-78. 95

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 343-344. 96

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 79-81. 97

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 187.

ou nada", as células do músculo liso podem sofrer

contração parcial.98

As células musculares lisas podem se dividir, o que

permite o reparo do tecido lesado e o aumento de órgãos,

como o útero durante a gravidez.99

Células musculares

lisas podem se diferenciar de células mesenquimais

vizinhas a vasos sanguíneos.100

Com HE, o citoplasma cora-se uniformemente com

eosina, por causa das concentrações de actina e miosina,

adquirindo uma cor rosa (Figura 5.10).101,102

A coloração

de hematoxilina férrica evidencia a presença dos corpos

densos.103

5 – EPIMÍSIO, PERIMÍSIO E ENDOMÍSIO

O músculo estriado esquelético é envolvido por

tecido conjuntivo denso não modelado, o epimísio.

Este envia septos de tecido conjuntivo frouxo, o

perimísio, dividindo-o em feixes (ou fascículos) de

fibras musculares e levando vasos sanguíneos e

linfáticos e nervos. Cada célula muscular é envolvida

pela lâmina basal, por fibras reticulares e uma

pequena quantidade de tecido conjuntivo frouxo, que

formam o endomísio. Ele ancora as fibras musculares

entre si e contém capilares sanguíneos e axônios.104

Os componentes do tecido conjuntivo mantêm as

células musculares unidas, permitindo que a força de

contração gerada individualmente atue sobre todo o

músculo e seja transmitida a outras estruturas, como

tendões, ligamentos e ossos.105

Devido à presença de vasos sanguíneos e nervos, o

tecido conjuntivo leva nutrição e inervação ao

músculo. A rica vascularização está relacionada com a

alta demanda de oxigênio e energia para a

contração.106

O músculo estriado cardíaco e o músculo liso

apresentam bainhas de tecido conjuntivo, com vasos

sanguíneos e nervos, sem a definição de um epimísio

e de um perimísio. Entretanto possuem endomísio,

sendo constituído, no músculo cardíaco, pela lâmina

98

Ibid. pp. 186-187. 99 Ibid. p. 188. 100

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 346. 101

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 79. 102

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 339, 358. 103

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 185. 104

Ibid. pp. 162-164. 105

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 179. 106 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 81.

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HISTOLOGIA

109

basal e por tecido conjuntivo frouxo ricamente

vascularizado e, no músculo liso, pela lâmina basal e

pelas fibras reticulares.107,108,109,110

6 – QUESTIONÁRIO

1) Compare os diferentes tipos de tecido muscular

quanto à morfologia, função e capacidade de

regeneração.

2) Por que as células do músculo esquelético e do

músculo cardíaco aparecem estriadas ao microscópio?

3) Como se dá a contração muscular?

107

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 163, 180, 184-185. 108

GENESER. Op. cit., p. 237. 109 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 191. 110

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 77-80, 154.

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111

Sistema Circulatório Capítulo 6

O sistema circulatório é composto pelo sistema

vascular sanguíneo e pelo sistema vascular linfático.1

1 SISTEMA VASCULAR SANGUÍNEO

1.1 Funções

Esse sistema transporta o sangue pelos tecidos,

levando oxigênio, nutrientes, hormônios, fatores de

coagulação, células de defesa e calor. Gás carbônico e

catabólitos produzidos pelas células são recolhidos e

conduzidos aos locais onde são eliminados. Assim,

contribui para a homeostase e o funcionamento do

organismo.2,3

1.2 Constituintes

Os constituintes do sistema cardiovascular são: o

coração, órgão responsável pela propulsão do sangue;

as artérias, vasos eferentes, isto é, que levam o sangue

do coração para os órgãos e os tecidos, conduzindo O2

e nutrientes na circulação sistêmica, mas sangue

desoxigenado na circulação pulmonar; os capilares,

túbulos delgados em cujas paredes ocorre o

intercâmbio metabólico entre o sangue e os tecidos, e

as veias, vasos aferentes, que levam o sangue de volta

ao coração, trazendo CO2 e dejetos dos tecidos na

circulação sistêmica e sangue oxigenado na circulação

pulmonar.4,5,6,7

1.2.1 Capilares

1 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 9.ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. p. 179. 2 Ibid.

3 LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. p. 143. 4 GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. pp. 299-300, 308, 311. 5 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 179.

6 LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 143-144.

7 OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008. pp. 174, 178, 181.

Consistem em uma camada de células endoteliais,

o endotélio (epitélio simples pavimentoso), em forma

de tubo, com pequeno calibre: uma a três células em

corte transversal (Figuras 6.1 e 6.2). Ao redor das

células endotelias, compartilhando a mesma lâmina

basal, há os pericitos, de origem mesenquimatosa

como as células endoteliais. Eles possuem núcleo

alongado, prolongamentos citoplasmáticos e junções

comunicantes com as células endoteliais. Filamentos

de actina e de miosina promovem a sua contração,

regulando o fluxo sanguíneo.8,9,10

Figura 6.1 - Capilar ( ). HE. 1.373x.

Figura 6.2 - Eletromicrografia do corte transversal de um

capilar com hemácia (H) e plaqueta (p) na sua luz. 8.171x.

8 GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. pp. 267-268. 9 GENESER. Op. cit., pp. 305-306.

10 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 179-180.

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

112

Após uma lesão, os pericitos podem se diferenciar

em células endoteliais, fibroblastos ou células

musculares lisas.11

Quanto à continuidade da parede endotelial,

distinguem-se três tipos de capilares: contínuo,

fenestrado e sinusoide.12

Nos capilares contínuos, o espaço intercelular é

vedado pelas junções de oclusão, e a entrada de

substâncias ocorre principalmente por pinocitose

(Figuras 6.3 e 6.4). Esses capilares localizam-se nos

tecidos conjuntivo, muscular e nervoso. Neste último,

estabelecem a barreira hematoencefálica ao evitar a

passagem de macromoléculas.13,14

Figura 6.3 - Eletromicrografia de capilar contínuo no

tecido nervoso, onde são indicadas junções de oclusão ( )

e projeções de macropinocitose ( ). Cortesia de Patrícia

do Nascimento e Matilde Achaval Elena, UFRGS.

Nos capilares fenestrados, as células endoteliais

estão unidas por junções de oclusão, mas, além das

vesículas de pinocitose, apresentam poros (ou

fenestras, do latim fenestrae, janelas), geralmente

recobertos por um diafragma mais delgado que a

membrana plasmática, facilitando a difusão de

metabólitos (Figura 6.5). Esse tipo de capilar é

encontrado em órgãos onde há intensa troca de 11

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 190. 12

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 180. 13

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 268. 14

ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2012. pp. 394-395, 432-433.

substâncias entre as células e o sangue, como nas

glândulas endócrinas, nos rins, nos intestinos e em

determinadas regiões do sistema nervoso (glândula

pineal, hipófise posterior, partes do hipotálamo e

plexo coroide).15,16,17,18,19

Figura 6.4 - Segmento do capilar contínuo, mostrando

junções de oclusão (JO), projeção de macropinocitose (M),

vesículas de pinocitose (P) e lâmina basal (LB). Cortesia de

Patrícia do Nascimento e Matilde Achaval Elena, UFRGS.

Os capilares sinusoides têm trajeto tortuoso

(sinuoso) e calibre aumentado, sendo o diâmetro

interno de 30 a 40m (nos outros capilares, era de 8 a

10m). Além de poros sem diafragma, há amplos

espaços entre as células endoteliais, e a lâmina basal é

descontínua. Há macrófagos em torno da parede

(Figura 6.6). O trajeto tortuoso reduz a velocidade da

circulação sanguínea e as demais características desse

capilar possibilitam um intenso intercâmbio de

substâncias entre o sangue e os tecidos e a entrada ou

a saída de células sanguíneas. Esses capilares estão

presentes no fígado e em órgãos hematopoéticos,

como na medula óssea e no baço.20,21,22

15

HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. pp. 567-568. 16

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 180. 17

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 115. 18

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 432-434. 19

SIMIONESCU, N.; SIMIONESCU, M. O sistema cardiovascular. In:

WEISS, L.; GREEP, R. O. Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 1981. pp. 332, 335. 20

GENESER. Op. cit., p. 305. 21

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 565. 22

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 179, 181.

P

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HISTOLOGIA

113

Figura 6.5 - Eletromicrografia da parede de capilar

fenestrado, onde são visíveis fenestras (), vesículas de

pinocitose (P) e lâmina basal (LB). Cortesia de Patrícia do

Nascimento e Matilde Achaval Elena, UFRGS.

Figura 6.6 - Capilares sinusoides no fígado de um coelho

injetado com nanquim. Os macrófagos são identificados por

terem fagocitado partículas de nanquim ( ). HE. 550x.

1.2.2 Artérias e Veias

Os vasos sanguíneos são formados pelas túnicas

íntima, média e adventícia, que, de forma

generalizada, podem assim ser descritas:

– túnica íntima, constituída pelo endotélio, pela

camada subendotelial de tecido conjuntivo frouxo

com células musculares ocasionais e pela lâmina

elástica interna, de material elástico;23

As células endoteliais formam uma superfície lisa,

23

SIMIONESCU & SIMIONESCU. Op. cit., pp. 315, 324-325, 329, 340,

342, 351.

diminuindo a fricção do fluxo sanguíneo. Essa superfície

tem propriedades anticoagulantes e antitrombogênicas,

relacionadas com a secreção do fator ativador de

plasminogênio, a trombomodulina, o glicosaminoglicano

sulfato de heparana, o derivado de prostaglandina

prostaciclina (PGI2) e o óxido nítrico (NO). A PGI2 e o

NO ainda induzem o relaxamento das células musculares

lisas.24,25,26

Em condições patológicas, as células endoteliais

produzem fatores trombogênicos, incluindo o fator

tecidual, o fator de von Willebrand e o fator ativador de

plaquetas.27

– túnica média, que possui tecido elástico ou tecido

muscular liso. O tecido elástico é composto por várias

lâminas elásticas, produzidas por células musculares

lisas. As lâminas elásticas são fenestradas, permitindo

a difusão dos nutrientes. As células musculares lisas,

organizadas em espiral, aparecem dispostas

circularmente no corte do vaso. Há ainda, secretadas

pelas células musculares, fibras colágenas, reticulares

e elásticas, proteoglicanas e glicoproteínas. Pode

haver a presença da lâmina elástica externa, de

material elástico; 28,29,30,31

A perda da elasticidade da túnica média da artéria

pode gerar um aneurisma: o vaso permanece dilatado, e

a pressão diastólica diminui. A artéria pode se romper,

tendo-se hemorragia e, frequentemente, sendo fatal.32

– túnica adventícia, composta por tecido conjuntivo

denso não modelado e tecido conjuntivo frouxo, o

qual se continua com o conjuntivo frouxo do órgão

onde o vaso está inserido. Possui fibras colágenas e

elásticas e proteoglicanas sintetizadas pelos

fibroblastos. Pode conter feixes musculares dispostos

longitudinalmente. Há a presença de nervos, capilares

linfáticos e pequenos vasos sanguíneos, denominados

vasa vasorum, isto é, vasos dos vasos, que

desempenham função nutridora.33,34,35,36

24

GENESER. Op. cit., p. 306. 25

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 420, 422-424. 26

STEVENS, A.; LOWE, J. Patologia. São Paulo: Manole, 1998. p. 123. 27

ZANESCO, A.; ANTUNES, E. Células endoteliais. In: CARVALHO,

H. F.; COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma abordagem

multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. p. 185. 28

GENESER. Op. cit., pp. 300, 302, 309. 29

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 557-561, 564, 571-572. 30

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 183-185. 31

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 419, 427, 429-430. 32

STEVENS, A.; LOWE, J. Histologia humana. São Paulo: Manole,

1995. p. 115. 33

GENESER. Op. cit., pp. 300-302, 309. 34

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 183, 185. 35

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 419-420, 429-431, 437, 444.

LB

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TATIANA MONTANARI

114

Os vasos são nutridos pela difusão de metabólitos

do sangue que passa na sua luz, mas as túnicas média

e adventícia dos vasos de grande calibre,

especialmente das veias, onde corre sangue venoso,

não são alcançadas, por isso a importância dos vasa

vasorum.37

Devido à pressão sistólica, a túnica íntima das

artérias próximas ao coração, com o tempo, lesa-se,

espessando-se pela infiltração com material lipídico e

pela deposição de fibras colágenas (ateroma). A lesão

pode atingir a túnica média, com destruição do tecido

elástico e/ou das células musculares e substituição por

colágeno. O espessamento e enrijecimento da parede das

artérias constituem a arteriosclerose ou, em

consequência do ateroma, a aterosclerose.38,39,40

O ateroma prejudica o fluxo do sangue e contribui

para a formação de trombos. Estes resultam da agregação

plaquetária sobre a superfíce lesada e podem obstruir o

vaso, causando necrose (infarto) do tecido. Um

fragmento do trombo pode entrar na circulação e obstruir

pequenos vasos (embolia), como as arteríolas do cérebro.

41,42

Conforme o calibre dos vasos ou se são do ramo

arterial ou venoso, alguns constituintes das camadas

podem estar ausentes ou variar na sua espessura e

composição, o que é especificado no Quadro 6.1

(Figuras 6.7 a 6.13).

As vênulas pós-capilares (10 a 25µm) respondem a

agentes farmacológicos, como a histamina e a

serotonina, e permitem a passagem de substâncias e de

leucócitos.43,44

A migração dos leucócitos pelo vaso

envolve as proteínas transmembranas selectinas e

integrinas.45

A túnica média muscular das artérias de médio

calibre (Figuras 6.9 e 6.10) controla o afluxo de sangue

aos vários órgãos, enquanto as numerosas lâminas

elásticas nas artérias de grande calibre (Figura 6.11)

suportam a elevada pressão do sangue proveniente do

36

SIMIONESCU & SIMIONESCU. Op. cit., pp. 324-325, 331, 340-341,

349, 351. 37

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 183-184. 38

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 146, 148. 39

STEVENS & LOWE. Histologia humana. Op. cit., p. 116. 40

STEVENS & LOWE. Patologia. Op. cit., pp. 129-131. 41

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 148. 42

STEVENS & LOWE. Patologia. Op. cit. pp. 126-127, 132. 43

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 272. 44

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 150. 45 ALBERTS, B.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.;

WALTER, P. Molecular Biology of the cell. 4.ed. New York: Garland

Science, 2002. pp. 1085-1086, 1286-1287.

coração. Essas artérias, em virtude do material elástico,

cedem e retornam ao calibre normal.46,47

Em alguns animais, mas não nos seres humanos, há

músculo estriado cardíaco na túnica média e/ou na túnica

adventícia das veias cavas superior e inferior e das veias

pulmonares, próximo da junção com o coração.48,49

Em comparação com as artérias de diâmetro externo

semelhante, as veias apresentam a parede mais delgada,

geralmente colapsada nos cortes histológicos, devido à

pequena quantidade de material elástico e à camada

muscular pouco desenvolvida (Figuras 6.9 a 6.10 e 6.12

a 6.13).50

Como as veias nos braços e nas pernas

transportam o sangue contra a gravidade, elas

possuem válvulas, pregas da túnica íntima de tecido

conjuntivo, com fibras elásticas, revestidas por

endotélio. Elas são apontadas na direção do coração e

impedem o refluxo do sangue.51,52

As varizes são veias anormalmente dilatadas e

tortuosas, por causa da incompetência das válvulas, da

degeneração da parede do vaso ou da perda do tônus

muscular. A contração do músculo estriado esquelético

sobre as paredes das veias é importante para impulsionar

o sangue.53,54

1.2.3 Coração

O coração tem quatro câmaras: o átrio direito, que

recebe sangue desoxigenado da circulação sistêmica;

o ventrículo direito, que recebe sangue do átrio direito

e o bombeia para os pulmões, onde é oxigenado; o

átrio esquerdo, que recebe sangue dos pulmões e o

envia para o ventrículo esquerdo, que, por sua vez, o

bombeia para a circulação sistêmica.55,56,57

46

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 185. 47

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 178. 48

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 420, 437. 49

SIMIONESCU & SIMIONESCU. Op. cit., p. 351. 50

GENESER. Op. cit., pp. 308-309. 51

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 187. 52

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 151-152. 53

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 273. 54

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 187. 55

GENESER. Op. cit., p. 311. 56

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 412, 442. 57

STEVENS & LOWE. Histologia humana. Op. cit., p. 104.

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HISTOLOGIA

115

Quadro 6.1 - Constituintes dos ramos arteriais e venosos:58,59,60,61,62

Túnica Íntima Túnica Média Túnica Adventícia

endotélio camada

subendotelial

lâmina elástica

interna

lâmina elástica

externa

Arteríola (30 a 400µm)

presente ausente ausente ou

presente

1 a 3 camadas de

células musculares

ausente insignificante

Artéria de médio

calibre (ou muscular) (500µm a 1cm)

ex.: artéria femoral

presente presente presente 3 a 40 camadas de

células musculares,

fibras reticulares e

elásticas,

proteoglicanas

presente presente, com

vasa vasorum

Artéria de grande

calibre (ou elástica)

(>1cm)

ex.: aorta e seus grandes

ramos

presente presente, rica

em fibras

elásticas

presente tecido elástico (40 a

70 lâminas elásticas),

células musculares,

fibras reticulares e

colágenas,

proteoglicanas e

glicoproteínas

presente presente, com

vasa vasorum

Vênula

(10 a 100m)

presente ausente ausente com pericitos ou com

1 ou 2 camadas de

células musculares

ausente presente

Veia de médio calibre (1 a 10mm)

ex.: veia safena

presente presente ausente células musculares,

fibras colágenas e

elásticas

ausente espessa, com vasa

vasorum

Veia de grande calibre (1 a 4cm)

ex.: veias cavas superior

e inferior

presente presente presente pouco desenvolvida,

com células

musculares, fibras

colágenas e elásticas

ausente espessa, com feixes

musculares

longitudinais, fibras

colágenas, fibras

elásticas e vasa

vasorum

58

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 260, 262, 271-273. 59

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 183-185, 187. 60

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 143-144, 146-151. 61

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 178. 62

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 425-427, 429, 435-439.

Figura 6.7 - Arteríola e vênula. HE. 550x.

Figura 6.8 - Corte longitudinal de arteríola, cujas células

endoteliais estão dispostas longitudinalmente e as células

musculares da túnica média ( ) estão cortadas

transversalmente. HE. 550x.

T. Montanari T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

116

Figura 6.9 - Artéria de médio calibre, constituída pelas

túnicas íntima (I), média (M) e adventícia (A). HE. 34x.

Figura 6.10 - Aumento maior das túnicas da artéria, onde é

possível observar as células endoteliais e a lâmina elástica

interna da túnica íntima (I), o músculo liso, as fibras

elásticas e a lâmina elástica externa ( ) na túnica média

(M) e parte da túnica adventícia (A), ainda com material

elástico. HE. 340x.

Figura 6.11 - Tecido elástico da túnica média da aorta.

Orceína. 137x.

Figura 6.12 - Veia de médio calibre, composta pelas

túnicas íntima (I), média (M) e adventícia (A). HE. 34x.

Figura 6.13 - Aumento maior das túnicas da veia: endotélio

na túnica íntima (I), músculo liso na túnica média (M) e

feixes de colágeno na túnica adventícia (A). HE. 340x.

Devido à origem embriológica a partir de dois

vasos que se fusionam, o coração apresenta três

túnicas semelhantes às dos vasos: o endocárdio, o

miocárdio e o epicárdio.63,64

O endocárdio é constituído pelo endotélio, em

contato com o sangue, pela camada subendotelial de

tecido conjuntivo denso, com fibras elásticas e células

musculares lisas e pela camada subendocárdica de

tecido conjuntivo frouxo, que contém pequenos vasos

sanguíneos, nervos e, nos ventrículos, ramos do

sistema condutor.65,66

O miocárdio, de músculo estriado cardíaco, é

responsável pelo bombeamento do sangue. Na junção

da veia cava superior com o átrio direito, há o nodo

63

LARSEN, W. J. Human Embryology. New York: Churchill Livingstone,

1993. p. 133. 64

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 175. 65

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 153. 66

SIMIONESCU & SIMIONESCU. Op. cit., pp. 313, 352-353.

T. Montanari

T. Montanari

T. Montanari

T. Montanari T. Montanari

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HISTOLOGIA

117

sinoatrial, cujas células sofrem cerca de 70

despolarizações por minuto. As despolarizações

propagam-se por feixes específicos de músculo atrial

até o nodo atrioventricular, e daí para os ventrículos,

através do feixe atrioventricular. Essas estruturas

consistem em células musculares cardíacas

especializadas, pobres em filamentos contráteis. O

coração contrai-se, batendo cerca de 70 vezes por

minuto, mas essa frequência pode ser alterada em

situações emocionais ou no exercício pela influência

do sistema nervoso autônomo. Tanto o parassimpático

como o simpático formam plexos na base do coração.

A inervação parassimpática (vagal) diminui a

frequência cardíaca, enquanto a estimulação dos

nervos simpáticos aumenta-a.67,68,69,70

Entre as células do miocárdio, há terminações

nervosas livres relacionadas com a sensibilidade à dor,

por isso, a percepção de dor quando há deficiência de

oxigênio pela obstrução parcial das artérias coronárias

(angina) ou no infarto.71

Nos átrios e no septo interventricular, há células

musculares que secretam polipeptídeos, como o peptídio

natriurético atrial, que atua sobre os rins e as adrenais,

contribuindo para o controle hídrico e eletrolítico e,

consequentemente, para regular a pressão sanguínea.72,73

Nos átrios, por causa do fluxo turbulento do sangue,

o endocárdio é espesso, enquanto, nos ventrículos, o

miocárdio é mais desenvolvido para a propulsão do

sangue para fora do coração.74

O epicárdio (pericárdio visceral) consiste em uma

serosa: tecido conjuntivo frouxo coberto por epitélio

simples pavimentoso, o mesotélio. O tecido

conjuntivo frouxo contém fibras elásticas, vasos

sanguíneos e linfáticos e fibras nervosas. Nessa

camada, pode se acumular tecido adiposo em torno

das artérias coronárias e das veias que irrigam a

parede cardíaca.75,76,77

67

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 274-275. 68

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 189. 69

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 157-158. 70

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 416-417. 71

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 190. 72

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 181, 275. 73

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 154. 74

Ibid. pp. 154-155. 75

GENESER. Op. cit., p. 311. 76

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 555. 77

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 153-154, 162.

O pericárdio visceral e o pericárdio parietal,

também de mesotélio, delimitam a cavidade

pericárdica, preenchida por um fluido seroso, que

evita o atrito das superfícies e permite o livre

movimento do coração durante as contrações.78

O coração possui uma porção central de tecido

conjuntivo denso não modelado, com algumas regiões

de cartilagem fibrosa: é o esqueleto fibroso que, além

da sustentação estrutural, permite a inserção do

músculo cardíaco e age como um isolante elétrico ao

impedir o fluxo livre de impulsos elétricos entre os

átrios e ventrículos.79,80,81

Para o direcionamento do fluxo sanguíneo, o

coração apresenta válvulas, formadas por uma porção

central de tecido conjuntivo denso, extensão do

esqueleto fibroso, recoberta por tecido elástico e

revestida por endotélio. Assim, o sangue é impedido

de retornar para os átrios durante a contração dos

ventrículos e de retornar aos ventrículos após a sua

saída.82

2 SISTEMA VASCULAR LINFÁTICO

2.1 Funções

Esse sistema recolhe o líquido tecidual gerado em

nível dos capilares e das vênulas e o devolve ao

sangue nas grandes veias perto do coração. Esse

líquido, a linfa, é claro e incolor e corre em uma

direção: dos órgãos para o coração. Permite a

circulação dos linfócitos e de imunoglobulinas.

Transporta os lipídios absorvidos no intestino

delgado. A linfa que drena do intestino é de aspecto

leitoso devido ao seu alto teor de lipídios e é chamada

quilo.83,84

2.2 Constituintes

O sistema vascular linfático inicia-se no tecido

conjuntivo como túbulos de fundo cego, os capilares

linfáticos (Figura 6.14). Eles medem 10 a 50µm de

largura e são constituídos pelo endotélio, com espaços

entre as células e com uma lâmina basal descontínua,

78

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 555. 79

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 275. 80

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 188. 81

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 412-413. 82

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 155-157. 83

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 179, 190. 84

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 152.

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TATIANA MONTANARI

118

o que permite a entrada de líquido e moléculas do

fluido intersticial, inclusive proteínas e triglicerídeos,

além de células, como os linfócitos.85,86,87

Figura 6.14 - Capilar linfático ( ) no tecido conjuntivo

do intestino delgado. HE. 550x.

Os capilares linfáticos anastomosam-se em vasos

de maior calibre, os vasos linfáticos, semelhantes

histologicamente às vênulas e às veias de médio

calibre, inclusive com válvulas para evitar o refluxo

da linfa. Há linfonodos interpostos no trajeto que

filtram a linfa e adicionam os linfócitos.88,89,90

Os vasos linfáticos terminam em dois grandes

troncos: o ducto torácico e o ducto linfático principal

direito, que desembocam nas veias próximas ao

coração. Assim, a linfa entra na corrente sanguínea.

85

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 179, 190. 86

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 152. 87

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 193. 88

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 276. 89

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 179, 190. 90

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 152.

Os ductos linfáticos são estruturalmente semelhantes

às veias de grande calibre.91

As células cancerosas podem entrar nos capilares

linfáticos e, ao serem transportadas pela linfa, podem ser

retidas no linfonodo que está no trajeto, onde se

multiplicam e produzem tumores secundários. Isso é

comum no câncer de mama, sendo importante a palpação

e a biopsia dos linfonodos axilares como parte do exame

para o seu diagnóstico.92

3 QUESTIONÁRIO

1) Descreva os tipos de capilares quanto à sua

estrutura, importância funcional e ocorrência.

2) Compare os vasos arteriais e venosos de diferentes

calibres segundo à sua constituição e espessura.

3) Relacione o papel das artérias de médio e de grande

calibres no organismo com a composição da sua

túnica média.

4) O que são e para que servem as valvas presentes

nas veias e nos vasos linfáticos?

5) Quais são as funções do sistema vascular linfático?

91

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 190-191. 92

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 153.

T. Montanari

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119

Sistema Linfático Capítulo 7

1 – FUNÇÕES

As células do sistema linfático protegem o

organismo contra macromoléculas estranhas, vírus,

bactérias e outros patógenos e eliminam células

alteradas e células do sangue envelhecidas ou

danificadas.1

2 – CONSTITUINTES

O sistema linfático é constituído pelo tecido

linfoide (ou reticular), um tipo especial de tecido

conjuntivo rico em células reticulares e em células de

defesa, como os linfócitos, os plasmócitos e os

macrófagos. As células reticulares formam um

arcabouço de sustentação para as células de defesa,

através da união dos seus prolongamentos e da

produção das fibras reticulares, a matriz extracelular

do tecido.2,3

O tecido linfoide está presente em locais sujeitos à

invasão de substâncias patogênicas e de micro-

organismos, como, por exemplo, no tecido conjuntivo

do tubo digestório, das vias respiratórias e do trato

urogenital (tecido linfoide associado a mucosas). É o

principal constituinte dos órgãos linfoides, os quais

estão envolvidos na produção dos linfócitos e na

resposta imunológica.4,5,6

O tecido linfoide pode ser difuso ou nodular. Este

último corresponde aos nódulos linfáticos (ou

folículos linfáticos), estruturas esféricas, com cerca de

1mm de diâmetro, constituídas por células reticulares,

linfócitos, plasmócitos e macrófagos, incluindo as

1 GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. pp. 279, 282-284, 289, 301, 305-307. 2 LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. pp. 56-57, 132. 3 OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008. pp. 60, 196, 198-201, 204-205. 4 GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. pp. 318, 348. 5 HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. p. 323. 6 ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2012. pp. 450-451, 468-471.

células foliculares dendríticas e as células dendríticas

apresentadoras de antígenos (Figura 7.1).7,8,9,10

As células foliculares dendríticas retêm, na superfície

das projeções, antígenos, os quais são reconhecidos pelos

linfócitos B. As células dendríticas apresentadoras de

antígenos, por sua vez, fagocitam os antígenos e expõem

os fragmentos na superfície, apresentando-os aos

linfócitos T.11,12

Como os linfócitos B apresentam pouco citoplasma e

núcleo escuro, devido à cromatina condensada, os

nódulos linfáticos coram-se acentuadamente com a

hematoxilina. O seu interior pode ser menos corado por

causa dos linfócitos ativados, em proliferação, que

exibem mais citoplasma e núcleo claro. Essa região é o

centro germinativo (Figura 7.1).13

Figura 7.1 - Tecido linfoide nodular (nódulos linfáticos –

NL) e tecido linfoide difuso (D) no conjuntivo do íleo. HE.

Objetiva de 4x (55x).

2.1 – Tonsilas

7 GENESER. Op. cit., pp. 318-319, 337-340, 343-345, 348.

8 HAM & CORMACK. Op. cit., p. 323.

9 LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 123, 128-129, 132-136.

10 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 450-451, 468-471. 11

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas.

12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. pp. 258, 267-268. 12

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 123, 128-129, 134-135. 13

Ibid. pp. 133-135.

T. Montanari

NL

NL

NL D

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TATIANA MONTANARI

120

São aglomerados de tecido linfoide nodular sob o

epitélio da cavidade oral e da faringe, parcialmente

encapsulados, que protegem o organismo contra a

entrada de antígenos junto com o ar ou com os

alimentos. Como resposta de defesa, há a proliferação

dos linfócitos B e a sua diferenciação em plasmócitos,

os quais produzem imunoglobulinas.14,15

As tonsilas linguais, situadas no terço posterior da

língua, são numerosas e com pequeno diâmetro. São

recobertas por epitélio estratificado pavimentoso, que

forma uma cripta em cada tonsila. Ductos de

glândulas salivares mucosas drenam para a base das

criptas.16,17

Há um par de tonsilas palatinas entre a cavidade

oral e a faringe. Elas possuem uma forma de

amêndoa, com 1,0 a 2,5cm de diâmetro. O epitélio

estratificado pavimentoso invagina-se, resultando em

10 a 20 criptas. A infiltração linfocitária pode

dificultar o reconhecimento do epitélio. Subjacente ao

tecido linfoide nodular, há a cápsula de tecido

conjuntivo denso não modelado (Figuras 7.2 e 7.3).

Externamente, próximo à base dessas tonsilas, há

glândulas mucosas.18,19

Podem se acumular células epiteliais descamadas,

linfócitos e bactérias nas criptas. Nas amigdalites, esses

acúmulos aparecem como pontos purulentos.20

A tonsila faríngea é única e localiza-se no teto da

porção nasal da faringe. Apresenta epitélio

pseudoestratificado colunar ciliado, embora áreas de

epitélio estratificado pavimentoso possam ocorrer.

Não tem criptas, mas pregas rasas, as dobras, onde

desembocam os ductos de glândulas seromucosas. A

cápsula é mais fina que a das tonsilas palatinas.21

A tonsila faríngea inflamada e hipertrofiada é

chamada adenoides.22,23

14

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 276-277. 15

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 203. 16

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 308. 17

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 277-278. 18

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 307-308. 19

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 203-204. 20

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 277. 21

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 308. 22

Ibid. 23

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 203.

Figura 7.2 - Tonsila palatina, onde podem ser observadas

as criptas de epitélio estraficado pavimentoso, o tecido

linfoide subjacente com nódulos linfáticos e a cápsula de

tecido conjuntivo (TC). HE. Objetiva de 4x (55x).

Figura 7.3 - Epitélio estratificado pavimentoso da tonsila

palatina infiltrado por linfócitos ( ). HE. Objetiva de

40x (550x).

T. Montanari

T. Montanari

TC

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HISTOLOGIA

121

2.2 – Linfonodos

São numerosos, cerca de 500 a 600 espalhados

pelo corpo, interpostos no trajeto dos vasos linfáticos.

Geralmente são encontrados em grupo ou em cadeia.

Ocorrem, por exemplo, no pescoço, nas axilas e nas

virilhas. São órgãos pequenos (1 a 20mm), ovoides,

com uma reentrância, o hilo.24,25,26

No lado convexo do órgão, entram os vasos

linfáticos aferentes, e, no lado côncavo, no hilo,

penetram a(s) artéria(s) e os nervos e saem as veias e

o vaso linfático eferente. A linfa percorre um caminho

unidirecional, por causa das válvulas dos vasos

linfáticos.27,28

O linfonodo é envolvido por uma cápsula de

tecido conjuntivo denso não modelado, contínua ao

tecido circundante, inclusive com tecido adiposo

unilocular. A cápsula é mais espessa no hilo. Ela emite

trabéculas para o interior do órgão, levando vasos

sanguíneos. O arcabouço de sustentação do linfonodo

é constituído pelas trabéculas ricas em fibras

colágenas e pela trama de fibras reticulares do tecido

linfoide (Figuras 7.4 e 7.5).29,30,31

O parênquima do linfonodo é dividido em: córtex,

que é periférico, e medula, em posição central e junto

ao hilo. O córtex pode ser subdividido em: córtex

superficial, mais externo, e em córtex profundo (ou

paracórtex), subjacente ao anterior (Figura 7.4).32,33

Em cortes corados com hematoxilina e eosina, o

córtex, devido à maior concentração de linfócitos, é mais

basófilo, e a medula é mais clara e eosinófila (Figura

7.4).34

A zona cortical contém tecido linfoide nodular, ou

seja, nódulos linfáticos e, entre eles, tecido linfoide

difuso. Nos nódulos linfáticos, há principalmente

linfócitos B, mas há também uma pequena população

de linfócitos T, macrófagos e células foliculares

dendríticas. Subjacente à cápsula e ao redor das

trabéculas, há o seio subcapsular e os seios corticais

(ou peritrabeculares), respectivamente (Figura 7.4).

24

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 297. 25

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 266. 26

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 199. 27

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 267, 270. 28

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 132-133. 29

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 298. 30

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 132-133. 31

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 199-201. 32

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 267. 33 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 471-473. 34

GENESER. Op. cit., p. 337.

Os seios linfáticos são espaços por onde circula a

linfa, delimitados por endotélio geralmente

descontínuo e sem lâmina basal, o que facilita o

trânsito de macrófagos e linfócitos.35,36,37,38

A zona paracortical é subjacente à zona cortical e

é constituída por tecido linfoide difuso, rico em

linfócitos T (Figura 7.4), mas contém ainda linfócitos

B, macrófagos e células apresentadoras de antígenos.

Possui as vênulas de endotélio alto (vênulas pós-

capilares com epitélio simples cúbico), onde ocorre a

recirculação dos linfócitos.39,40

Os linfócitos “rolam” sobre o endotélio das vênulas

de endotélio alto, graças à interação entre as L-selectinas

da sua superfície e as adressinas das células endoteliais.

Eles aderem firmemente ao endotélio pela união entre as

integrinas da sua membrana e as moléculas de adesão

celular do tipo ICAM das células endoteliais. Realizam

então diapedese, passando do sangue para o tecido

linfoide.41,42,43

Na zona medular, há os cordões medulares, de

tecido linfoide difuso, com linfócitos B, plasmócitos e

uma grande quantidade de macrófagos. A linfa corre

pelos seios medulares (Figura 7.4).44,45

Os vasos linfáticos aferentes drenam para o seio

subcapular, e deste a linfa corre pelos seios

peritrabeculares e pelos nódulos linfáticos para os

seios medulares, que desembocam no vaso linfático

eferente no hilo. A circulação da linfa é lenta,

favorecendo a fagocitose de macromoléculas, células

estranhas e micro-organismos pelos macrófagos. Os

antígenos podem ser retidos na superfície das células

dendríticas foliculares dos nódulos linfáticos e

reconhecidos pelos linfócitos B ou, após a fagocitose,

serem expostos na superfície das células dendríticas

apresentadoras de antígenos do paracórtex e

apresentados aos linfócitos T. A interação entre os

linfócitos B e os linfócitos T é importante para a

proliferação dos linfócitos B e a diferenciação em

35

Ibid. pp. 337-340. 36

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 326-330. 37

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 133-136. 38

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 199-201. 39

GENESER. Op. cit., p. 339. 40

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 133-136. 41 ALBERTS, B.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.;

WALTER, P. Molecular Biology of the cell. 4.ed. New York: Garland

Science, 2002. pp. 1085-1086. 42

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 300. 43

GENESER. Op. cit., p. 326. 44

Ibid. p. 340. 45

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 133, 135-136.

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TATIANA MONTANARI

122

plasmócitos. Estes migram para os cordões medulares

e secretam anticorpos para a linfa eferente.46,47

Figura 7.4 - Corte de linfonodo recoberto pela cápsula de

tecido conjuntivo denso não modelado (TC), que emite

trabéculas para o interior. Na zona cortical superficial, há o

seio subcapsular (S), os seios peritrabeculares (P) e os

nódulos linfáticos. Subjacente há a zona paracortical (ZP),

sem nódulos linfáticos, e a zona medular (ZM), onde são

vistos os cordões medulares (cm) e os seios medulares

(sm). HE. Objetiva de 4x (55x).

Figura 7.5 - Corte de linfonodo, onde as fibras reticulares

estão enegrecidas pela impregnação com prata. DRH.

Objetiva de 10x.

Quando ocorre a resposta imunitária a um antígeno,

a proliferação de linfócitos B e macrófagos provoca o

aumento do tamanho do linfonodo (linfadenopatia), de

46

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 267-270. 47

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 131-133, 136.

modo que ele é palpável ao toque.48,49

Popularmente o

linfonodo hipertrofiado é chamado de íngua.

2.3 – Baço

O baço situa-se no peritônio, no quadrante

superior esquerdo do abdômen, atrás do estômago,

imediatamente abaixo do diafragma. Tem a forma e o

tamanho de um punho fechado (4x8x12cm) e pesa

180 a 250g no adulto, sendo o maior órgão linfoide do

organismo.50,51,52,53

O baço humano e do cão possui uma conformação

ovoide, mas o baço dos coelhos, ratos e camundongos

apresenta uma forma de tira.54

O baço possui uma superfície convexa e outra

côncava, o hilo. É revestido pelo mesotélio da serosa,

contínuo ao peritônio. Subjacente há uma cápsula de

tecido conjuntivo denso não modelado, que é mais

espessa no hilo. Ela emite trabéculas, principalmente

no hilo, por onde entram a artéria esplênica e os

nervos e saem a veia esplênica e os vasos

linfáticos.55,56,57

Na espécie humana e em coelhos, a cápsula do baço

apresenta algumas células musculares lisas, mas, no baço

de cavalo, boi, cão e gato, a cápsula é rica em músculo

liso, e sua contração provoca a expulsão do sangue

acumulado no órgão.58,59

O tecido linfoide apresenta uma trama de células

reticulares e fibras reticulares, que sustenta as células

de defesa: linfócitos, plasmócitos, macrófagos, células

dendríticas apresentadoras de antígenos e células

dendríticas foliculares.60,61,62

48

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 298. 49

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 199. 50

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 300. 51

GENESER. Op. cit., p. 343. 52

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 335. 53

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 209. 54

WEISS, L. O baço. In: WEISS, L.; GREEP, R. O. Histologia. 4.ed. Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. p. 480. 55

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 300-301. 56

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 270-271. 57

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 209-210. 58

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 271. 59

WEISS. O baço. Op. cit., pp. 480, 482. 60

GENESER. Op. cit., pp. 343-347. 61

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 209-212. 62 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 481, 484.

TC

T. Montanari

T. Montanari

sm cm

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HISTOLOGIA

123

O parênquima do baço (polpa esplênica) divide-se

em: polpa branca, que corresponde aos nódulos

linfáticos, e em polpa vermelha, com os cordões

esplênicos (ou de Billroth), estruturas alongadas de

tecido linfoide, e os seios esplênicos, que são capilares

sinusoides (Figura 7.6).63

Em cortes frescos ou fixados, observados a olho nu,

as regiões com nódulos linfáticos são pontos

esbranquiçados, enquanto o tecido circundante,

ricamente vascularizado, é vermelho-escuro, por isso as

denominações polpa branca e polpa vermelha.64

Pela cápsula do hilo entra a artéria esplênica, que

se divide e cujos ramos correm pelas trabéculas. As

artérias trabeculares originam as artérias centrais, as

quais são envolvidas por uma bainha de linfócitos que

pode se espessar em um nódulo linfático (Figura 7.6).

A bainha é rica em linfócitos T, e o nódulo, em

linfócitos B. Essas arteríolas geralmente situam-se em

posição excêntrica nos nódulos linfáticos, mas são

denominadas arteríolas centrais por serem ramos das

artérias centrais, que foram assim designadas pela

localização central na bainha linfocitária. Na polpa

vermelha, elas se ramificam nas arteríolas peniciladas,

e estas terminam nos capilares embainhados (ou com

elipsoides), que apresentam uma bainha de

macrófagos.65,66

A presença de uma arteríola no nódulo linfático

permite o diagnóstico histológico do baço.67,68

O sangue é lançado nos espaços intercelulares dos

cordões esplênicos (circulação aberta), onde as células

de defesa removem os antígenos presentes e

produzem anticorpos a estas substâncias. Os

macrófagos fagocitam também células sanguíneas

alteradas ou velhas, especialmente as hemácias

(hemocaterese) e as plaquetas.69,70,71,72,73

63

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 270, 272, 274. 64

Ibid. pp. 271-272. 65

GENESER. Op. cit., pp. 343-347. 66

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 272-274. 67

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 210-211. 68

WEISS. O baço. Op. cit., pp. 460, 468. 69 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 305-306. 70

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 335, 342. 71 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 275-276. 72 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 481-485. 73

WEISS. O baço. Op. cit., pp. 482-484.

Figura 7.6 - Corte de baço, onde podem ser observadas a

polpa branca, que consiste em nódulos linfáticos, e a polpa

vermelha, onde o tecido linfoide forma os cordões

esplênicos. Entre estes, há os capilares sinusoides. No

nódulo linfático, a arteríola central é apontada. HE.

Objetiva de 40x (55x).

As hemácias velhas perdem os resíduos de ácido

siálico das macromoléculas de superfície, expondo

resíduos de galactose, que induzem a sua fagocitose. A

hemoglobina é degradada nas suas porções heme e

globina, e a fração globina, em aminoácidos que vão

para o sangue. Da porção heme, o ferro é levado à

medula óssea pela transferrina e utilizado para formar

novas hemácias, enquanto o restante é transformado em

bilirrubina, que também vai para a corrente sanguínea. É

captada pelas células do fígado e excretada como parte

da bile.74

O sangue é coletado pelos capilares sinusoides,

graças ao espaço entre as células endoteliais e a

lâmina basal descontínua. Os capilares sinusoides

confluem nas veias da polpa vermelha, as quais

penetram nas trabéculas. As veias trabeculares

desembocam na veia esplênica que sai pelo hilo e é

uma tributária da veia porta hepática.75,76,77

74

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 305-306. 75 Ibid. pp. 302-305. 76 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 273-274. 77 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 481-484.

T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

124

Em alguns animais, como o rato e o cão, parte do

sangue dos capilares embainhados passa diretamente

para os seios esplênicos (circulação fechada).78

A extração do baço (esplenectomia) é necessária

quando ele é rompido depois de traumatismo abdominal;

em algumas doenças, como o linfoma, e como parte de

uma cirurgia de grande vulto, como a remoção do

estômago devido ao câncer. As consequências dessa

retirada estão relacionadas com as funções desse órgão.

Geralmente há um aumento das plaquetas e de eritrócitos

deformados nos esfregaços sanguíneos, apesar dos

eritrócitos velhos serem também fagocitados pelos

macrófagos do fígado e da medula óssea. Septicemias

bacterianas podem ocorrer, sendo importante a

imunização contra o Streptococcus pneumoniae.79,80

2.4 – Timo

É um órgão bilobado, de formato piramidal e

achatado, situado no mediastino do tórax, em posição

dorsal à parte superior do esterno e ventral aos

grandes vasos do coração e à traqueia. Seu peso varia

ao longo da vida, sendo 12-15g no recém-nascido, 30-

40g na puberdade e 16-6g na velhice.81,82

O timo atinge seu peso máximo na puberdade,

involuindo a partir desse período, possivelmente por

causa dos hormônios sexuais. Grande parte do tecido

linfoide é substituída por tecido adiposo e fibroso, e de

órgão grande e arredondado, torna-se pequeno e

enrugado, dificilmente reconhecível no tecido adiposo do

mediastino superior. Entretanto continua funcional na

vida adulta.83,84

O timo é envolvido por uma cápsula de tecido

conjuntivo denso não modelado, da qual partem

trabéculas para o interior, dividindo-o em lóbulos, os

quais exibem forma poliédrica e 0,5 a 2mm de

diâmetro. A cápsula e as trabéculas contêm vasos

sanguíneos, vasos linfáticos (eferentes) e nervos.85,86,87

78 Ibid. p. 484. 79

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 307. 80

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 138. 81

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 205-208. 82

WEISS, L. O timo. In: WEISS, L.; GREEP, R. O. Histologia. 4.ed. Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. pp. 422, 433. 83

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 322. 84

WEISS. O timo. Op. cit., pp. 422-423, 431, 433. 85 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 294-295. 86

GENESER. Op. cit., p. 332. 87 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 476-477.

Cada lóbulo tem uma parte periférica, a zona

cortical, e uma parte central, mais clara, a zona

medular. No córtex, há uma grande quantidade de

linfócitos T em proliferação e maturação. Há ainda

macrófagos, células dendríticas apresentadoras de

antígenos e as células reticulares epiteliais. Na

medula, há linfócitos T imunocompetentes,

macrófagos, células dendríticas apresentadoras de

antígenos e abundância de células reticulares

epiteliais, inclusive com a organização dos

corpúsculos tímicos (ou de Hassall) (Figuras 7.7 e

7.8).88,89,90

As células reticulares epiteliais possuem uma

origem embriológica diferente daquela das células

reticulares e não sintetizam fibras reticulares. Há seis

tipos de células reticulares epiteliais: três delas no

córtex e três na medula. São células achatadas ou

estreladas, com muitos prolongamentos, citoplasma

eosinófilo e núcleo ovoide, eucromático, com um ou

dois nucléolos proeminentes (Figura 7.8). Elas

possuem filamentos de citoqueratina e lâmina basal.

Alguns tipos celulares ligam-se por junções de

oclusão, evitando a passagem de macromoléculas,

enquanto outras células se unem por desmossomos

nos prolongamentos, fazendo um arcabouço de

sustentação que acomoda os linfócitos T em

desenvolvimento. Na medula, há uma população de

células reticulares epiteliais que constituem os

corpúsculos tímicos (ou de Hassall). Eles podem ser

formados por uma única célula ou por várias células

arranjadas concentricamente e unidas por

desmossomos. As células apresentam vacúolos e

grânulos basófilos de querato-hialina, e, no centro do

corpúsculo, há células degeneradas e uma massa

queratinizada, até mesmo calcificada, bastante

eosinófila. Os corpúsculos tímicos podem medir 20 a

150m de diâmetro (Figuras 7.7 e 7.8). As células

reticulares epiteliais secretam substâncias que regulam

a proliferação, a diferenciação e a maturação dos

linfócitos T.91,92,93,94,95,96

O médico inglês A. H. Hassall descreveu os

corpúsculos tímicos na década de 1840.97

88

GENESER. Op. cit., pp. 332-334. 89 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 261-262. 90

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 205-208. 91

GENESER. Op. cit., pp. 333-335, 337. 92 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 261, 263-265. 93

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 130-131. 94

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 205-208. 95 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 477-481. 96

WEISS. O timo. Op. cit., pp. 425, 428-429. 97

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 208.

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HISTOLOGIA

125

A zona cortical cora-se intensamente com a

hematoxilina pela maior concentração de linfócitos T,

enquanto a medula é mais eosinófila, porque a população

de linfócitos é menor e há um grande número de células

epiteliais reticulares, inclusive como corpúsculos tímicos

(Figuras 7.7 e 7.8).98,99

Sob a cápsula e ao redor das trabéculas e da túnica

adventícia dos vasos, as células reticulares epiteliais do

tipo I formam uma camada contínua através da ligação

pelas zônulas de oclusão. Elas ainda envolvem os

capilares contínuos do córtex, contribuindo para a

barreira hematotímica. Isso isola o parênquima do órgão,

protegendo os linfócitos T em desenvolvimento de

macromoléculas estranhas.100,101

No córtex, as células reticulares epiteliais do tipo II

têm uma forma estrelada, com longos prolongamentos,

os quais se unem por desmossomos, formando um

arcabouço que sustenta os linfócitos T imaturos. Elas

promovem a proliferação e a diferenciação dos linfócitos

T através da secreção de citocinas e da apresentação a

antígenos. Ainda induzem a apoptose dos linfócitos que

não se tornaram capazes de reconhecer os antígenos.102,

103,104,105

As células reticulares epiteliais do tipo III e do tipo

IV estão localizadas no limite corticomedular e, pela

ligação por zônulas de oclusão, criam uma barreira

funcional entre as duas regiões do lóbulo.106

As células reticulares epiteliais do tipo V localizam-

se na medula. Assim como as células reticulares

epiteliais do tipo II, são unidas por desmossomos nos

prolongamentos e formam um arcabouço para os

linfócitos T (Figura 7.8). Contribuem para a maturação

dos linfócitos T com a secreção de citocinas e a

apresentação de antígenos. Induzem a apoptose dos

linfócitos T que reconhecem antígenos do próprio

organismo, e os restos celulares são fagocitados pelos

macrófagos. Os linfócitos T que reconhecem antígenos

estranhos ao organismo entram nos vasos sanguíneos e

linfáticos e colonizam outros tecidos e órgãos

linfoides.107,108,109

Ainda na medula, há as células reticulares epiteliais

do tipo VI, que constituem os corpúsculos tímicos

(Figuras 7.7 e 7.8). Elas são arranjadas concentricamente

e unidas por desmossomos. Apesar da presença de

células degeneradas, queratinizadas e até mesmo

98 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 295-296. 99 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 476-478. 100 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 295-297. 101 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 477, 479-480. 102 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 295-297. 103

GENESER. Op. cit., pp. 333-334, 336-337. 104

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 130-131. 105 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 477-478, 480-481. 106 Ibid. pp. 477-478, 480. 107

GENESER. Op. cit., pp. 333, 336-337. 108

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 131. 109 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 478, 480-481.

calcificadas, são funcionalmente ativos, produzindo

citocinas, como a timopoetina e as interleucinas IL-4 e

IL-7, que agem na diferenciação dos linfócitos

T.110,111,112,113

Nem todos os linfócitos T que reconhecem antígenos

próprios são eliminados, já que determinadas moléculas

do organismo não são encontradas no timo. Eles não

atuam porque se ligam a células dendríticas não ativadas

por micro-organismos ou pela inibição de citocinas,

como o TGF-, produzidas por linfócitos T supressores.

Algumas vezes, no entanto, podem escapar dessa

supressão e causar doenças autoimunes.114

Os corpúsculos tímicos são bem desenvolvidos em

seres humanos e porquinhos-da-Índia, mas são pequenos

em ratos e camundongos.115

Figura 7.7 - Zona cortical (ZC) e zona medular (ZM) de

um lóbulo do timo. Notar a concentração de linfócitos T no

córtex e a presença dos corpúsculos de Hassall ( ) na

medula. HE. Objetiva de 10x (137x).

110

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 130-131. 111

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 208. 112 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 478-480. 113

WEISS. O timo. Op. cit., pp. 425, 429. 114 ALBERTS et al. Op. cit., p. 1409. 115

WEISS. O timo. Op. cit., pp. 429, 433.

T. Montanari

ZC ZM

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TATIANA MONTANARI

126

Figura 7.8 - Zona medular do timo, onde há, além dos

linfócitos T, células reticulares epiteliais do tipo V ( ) e

corpúsculos de Hassall, formados pelas células reticulares

epiteliais do tipo VI. HE. Objetiva de 40x (550x).

Para o diagnóstico histológico, a presença de

corpúsculos de Hassall e a ausência de nódulos linfáticos

são características diferenciais do timo em relação aos

demais órgãos linfoides.116

A timectomia compromete a produção dos linfócitos

T, reduzindo a capacidade do sistema imune responder a

novos antígenos e, se realizada em recém-nascidos,

levando à atrofia dos outros órgãos linfoides, o que

acarreta infecções recorrentes.117,118,119,120

3 – QUESTIONÁRIO

1) Quais são os componentes do tecido linfoide?

2) Como o tecido linfoide pode ser classificado?

3) Compare os diferentes órgãos linfoides quanto à

localização, função, constituição e morfologia,

salientando as principais características que permitem

o diagnóstico histológico.

116

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 205, 208. 117

GENESER. Op. cit., p. 335. 118

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 321-322. 119

STEVENS, A.; LOWE, J. Histologia humana. São Paulo: Manole,

1995. p. 86. 120

WEISS. O timo. Op. cit., pp. 434-437.

T. Montanari

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127

Sistema Digestório Capítulo 8

1 FUNÇÕES

O sistema digestório degrada o alimento em

moléculas pequenas, absorvíveis pelas células, que

são usadas no desenvolvimento e na manutenção do

organismo e nas suas necessidades energéticas.1

2 CONSTITUINTES

O sistema digestório é constituído pela cavidade

oral, pela faringe, pelo tubo digestório (esôfago,

estômago, intestino delgado, intestino grosso e canal

anal) e seus anexos (pâncreas, fígado e vesícula biliar)

(Figura 8.1).2

2.1 Cavidade oral

O início da degradação do alimento ocorre na

cavidade oral (Figura 8.1), onde os dentes o trituram,

transformando-o em pedaços menores; a saliva o

umedece, lubrifica e inicia a digestão, e a língua

mistura os fragmentos com a saliva, formando o bolo

alimentar, e promove a sua deglutição.3,4

Por causa do atrito do alimento, a cavidade oral é

revestida por epitélio estratificado pavimentoso. A

gengiva, as regiões das bochechas mordidas devido à

dentição mal-ajustada e o palato duro, submetido ao

atrito da língua na deglutição, são queratinizados. No

tecido conjuntivo subjacente ao epitélio, há glândulas

salivares que secretam um fluido seroso e mucoso. O

palato duro possui uma placa óssea e é, portanto, uma

estrutura rígida capaz de suportar a pressão da língua.

A modificação do tamanho e da forma da cavidade

oral e a movimentação do alimento ocorrem graças ao

músculo estriado esquelético.5,6

1 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas.

12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 280. 2 OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008. p. 264. 3 GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. pp. 373, 419, 421. 4 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 280, 312.

5 HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. pp. 607-608, 623.

Figura 8.1 - Ilustração do sistema digestório, onde a

cavidade oral é apontada. Fonte: Montanari, T.; Borges, E.

O. Museu virtual do corpo humano. Porto Alegre: UFRGS,

2010. Disponível em http://www.ufrgs.br/museuvirtual

2.1.1 Dentes

São estruturas duras e mineralizadas, inseridas na

maxila e na mandíbula. Os dentes incisivos e caninos

são pontiagudos e cortam o alimento em pedaços de

tamanho médio, enquanto os pré-molares e molares

possuem superfícies mais largas e achatadas,

triturando os pedaços de tamanho médio em

fragmentos menores.7

2.1.2 Glândulas salivares

A saliva é uma solução aquosa, com enzimas,

glicoproteínas, eletrólitos e imunoglobulinas. Seu pH

6 LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. pp. 186-188, 197. 7 Ibid. pp. 190-191.

Eliane de Oliveira Borges

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TATIANA MONTANARI

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é de 6,4 a 7,4. No ser humano, a sua secreção é de

cerca de 1L por dia.8,9

Há pequenas glândulas salivares espalhadas no

tecido conjuntivo da cavidade oral, inclusive na

língua, mas elas secretam somente 5% da produção

diária. A maior parte da saliva é gerada por três

grandes pares de glândulas salivares: as parótidas, as

submandibulares e as sublinguais.10

As glândulas parótidas (20-30g) possuem uma

forma achatada e estão situadas abaixo e na frente da

orelha, e o ducto de cada glândula desemboca em

frente ao segundo molar superior. Elas são

responsáveis por 30% da saliva. As glândulas

submandibulares (12-15g) são ovoides e estão sob o

assoalho da boca, com os ductos abrindo-se ao lado do

frênulo da língua. Produzem 60% da saliva. As

glândulas sublinguais (2-3g) possuem forma de

amêndoa e estão sob o assoalho da boca,

anteriormente às submandibulares, e seus ductos (10-

12) abrem-se nos ductos destas glândulas ou junto a

eles. Secretam cerca de 5% da saliva.11,12,13,14

As glândulas salivares maiores estão envolvidas

por uma cápsula de tecido conjuntivo denso que emite

septos de tecido conjuntivo denso ou frouxo,

dividindo o parênquima (epitélio glandular) em lobos

e lóbulos. O estroma de tecido conjuntivo serve de

arcabouço estrutural e conduz vasos sanguíneos,

nervos e ductos.15,16

As glândulas apresentam uma porção secretora,

que produz as substâncias que compõem a saliva, e

uma porção condutora, que leva a secreção para a

cavidade oral. A porção secretora pode conter células

serosas e/ou mucosas.17

As células serosas possuem uma forma piramidal,

com citoplasma basófilo, por causa da abundância de

retículo endoplasmático rugoso para a síntese

proteica. O núcleo é esférico e basal. Os grânulos de

secreção podem ser visualizados no citoplasma. Essas

células produzem uma solução aquosa com enzimas

(amilase, lipase e lisozima), lactoferrina e IgA

secretora (IgAS). A amilase e a lipase iniciam a

digestão dos carboidratos e dos lipídios na cavidade

8 GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. p. 374. 9 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 274.

10 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 421-422.

11 Ibid. p. 422.

12 GENESER. Op. cit., pp. 376-377.

13 LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 197-198.

14 ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2012. pp. 557, 561-562. 15

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 274-276. 16

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 557, 572. 17

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 312.

oral, continuando-a no estômago. A lisozima e a

lactoferrina são bactericidas, e a IgAS inativa os

antígenos. As células serosas arranjam-se em porções

secretoras arredondadas (acinosas), cujo corte

transversal é visualizado como ácinos serosos

(Figuras 8.2 e 8.3).18,19,20,21

As células mucosas têm uma forma cúbica ou

piramidal, citoplasma palidamente corado, devido às

vesículas de glicoproteínas, e núcleo achatado,

comprimido contra a periferia pelas vesículas. As

glicoproteínas constituem o muco que lubrifica o bolo

alimentar. As células mucosas formam porções

secretoras tubulares, que podem se ramificar e

geralmente são delimitadas na extremidade por células

serosas, resultando em glândulas tubuloacinosas. Os

cortes transversais dessas porções secretoras mostram

células mucosas envoltas por uma meia-lua serosa:

são os ácinos mistos (Figuras 8.3 e 8.4).22,23

As glândulas parótidas são constituídas somente

por células serosas e assim são glândulas exócrinas

acinosas compostas serosas (Figura 8.2). As glândulas

submandibulares e sublinguais, com células mucosas

e serosas, são exócrinas tubuloacinosas compostas

ramificadas seromucosas. Nas submandibulares, há

ácinos serosos e mistos, portanto, predomínio de

células serosas, enquanto, nas sublinguais, as células

serosas se limitam a fazer parte dos ácinos mistos,

predominando as células mucosas (Figuras 8.3 e

8.4).24,25

Em torno da porção secretora, há células

mioepiteliais, cuja contração ajuda na expulsão da

secreção.26

A porção condutora consiste nos ductos

intercalares, estriados e interlobulares (ou excretores). 27,28

Os ductos intercalares são de epitélio simples

pavimentoso ou cúbico (Figura 8.2). As células do

ducto possuem atividade de anidrase carbônica, e elas

adicionam íons HCO3- ao fluido seroso. Por outro

lado, há a absorção de íons Cl-. Ao redor desses

ductos, há células mioepiteliais.29,30,31

18

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 419, 422. 19

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 79, 82, 281, 312-315. 20

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 197. 21 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 154, 558-559, 564, 574-575. 22

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 79-80, 83, 312-315. 23 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 154, 558-559, 572-573, 576. 24

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 312-315. 25 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 154-155, 562-563, 572-577. 26

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 197. 27

PADYKULA, H. A. O trato digestivo. In: WEISS, L.; GREEP, R. O.

Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. pp. 552-554. 28 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 560. 29

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 275-276. 30

PADYKULA. Op. cit., pp. 552, 554.

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HISTOLOGIA

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Os ductos intercalares continuam como ductos

estriados, de epitélio simples colunar. O citoplasma é

eosinófilo, e o núcleo é esférico e central. Há

microvilos curtos na superfície apical. A porção basal

é preenchida com invaginações e mitocôndrias, o que

confere um aspecto estriado a essa região (Figuras 8.2

e 8.4). As Na+-K

+ ATPases das invaginações realizam

o transporte ativo desses íons, utilizando a energia

produzida pelas mitocôndrias. Íons de Na+ são

removidos da saliva, e é adicionada, em troca, uma

quantidade menor de K+, tornando a saliva hipotônica.

Através da anidrase carbônica presente no citoplasma,

íons HCO3- são gerados, e eles são excretados para a

saliva. Não há células mioepiteliais ao redor desses

ductos.32,33,34

Figura 8.2 - Corte da parótida (glândula exócrina acinosa

composta serosa). Os ácinos serosos exibem citoplasma

basófilo, salpicado de grânulos de zimogênio, e núcleos

esféricos e basais. Os ductos intercalares (I) têm epitélio

simples cúbico, com núcleos próximos uns dos outros, e o

ducto estriado (E), epitélio simples colunar, com citoplasma

bastante eosinófilo. HE. Objetiva de 40x (550x).

31 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 560. 32

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 275-277. 33

PADYKULA. Op. cit., pp. 552-553. 34 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 560-561, 572-575.

Figura 8.3 - A submandibular é classificada como glândula

exócrina tubuloacinosa composta ramificada seromucosa.

As células mucosas ( ) possuem forma piramidal ou

cúbica, citoplasma palidamente corado e núcleo achatado,

enquanto as células serosas ( ) têm forma piramidal,

citoplasma basófilo e núcleo esférico. As células mucosas

arranjam-se em túbulos, que se ramificam, e as células

serosas formam porções arredondadas, ou seja, acinosas,

resultando no ácino seroso ou na meia-lua serosa. HE.

Objetiva de 40x (550x).

A elevada concentração de íons de bicarbonato na

saliva promove o tamponamento do conteúdo da

cavidade oral.35

Os ductos intercalares e estriados estão situados

no interior dos lóbulos e são, portanto, intralobulares.

Os ductos estriados confluem nos ductos

interlobulares (ou excretores), que estão entre os

lóbulos, nos septos de tecido conjuntivo. Esses ductos

são constituídos por epitélio estratificado cúbico,

colunar ou, próximo à cavidade oral, pavimentoso

(Figura 8.5).36

35

Ibid. pp. 563, 576. 36

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 312-313.

T. Montanari

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Figura 8.4 - Corte da sublingual, que é uma glândula

exócrina tubuloacinosa composta ramificada seromucosa.

Observam-se os ácinos mistos, formados pelas células

mucosas e a meia-lua serosa ( ), e o ducto estriado (E),

de epitélio simples colunar, com citoplasma eosinófilo,

estriações na região basal, por causa das invaginações e das

mitocôndrias, e núcleos esféricos e centrais. HE. Objetiva

de 40x (550x).

Figura 8.5 - Corte de parótida, onde é visível o ducto

interlobular de epitélio estratificado colunar no septo de

tecido conjuntivo. Células adiposas estão entre os ácinos

serosos. HE. Objetiva de 10x (137x).

2.1.3 Língua

A língua participa dos processos de mastigação,

gustação, deglutição e fala.37

É revestida por epitélio

estratificado pavimentoso, e a superfície dorsal, a qual

está em contato com o palato duro na deglutição, na

fala e no repouso, é queratinizada. A face superior da

língua é irregular, devido a saliências do epitélio e do

tecido conjuntivo frouxo subjacente: as papilas

linguais.38,39

As papilas filiformes (do latim filiu, fio)40

são as

mais numerosas e cobrem a superfície anterior da

língua. São pontiagudas, com a extremidade voltada

posteriormente. São queratinizadas e não contêm

corpúsculos gustativos (Figura 8.6). Possuem um

papel mecânico, ajudando a raspar o alimento de uma

superfície e aumentando a fricção na mastigação.41,42,

43,44

Figura 8.6 - Papilas filiformes. HE. Objetiva de 10x

(137x).

As papilas fungiformes estão situadas entre as

papilas filiformes e são visíveis a olho nu como

pontos vermelhos, devido à menor queratinização do

epitélio e à rica vascularização do tecido conjuntivo

subjacente. Possuem a parte apical mais dilatada que a

base, lembrando um cogumelo (Figura 8.7). Há

37

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 268. 38

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 188. 39 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 539, 568. 40

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 608. 41

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 384. 42

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 188-189. 43

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 269. 44 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 539-540, 568-570.

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corpúsculos gustativos na superfície dorsal. Eles

detectam os sabores doce, salgado e azedo.45

Figura 8.7 - Papilas fungiformes. Tricrômico de Masson.

Objetiva de 3,2x.

Em pequeno número na língua humana, há as

papilas foliadas. Elas estão situadas nas bordas

laterais, posteriormente, uma ao lado da outra. Ductos

de glândulas serosas desembocam entre elas. O

epitélio é não queratinizado, e há muitos corpúsculos

gustativos nas paredes laterais, mas eles são

funcionais somente até o segundo ou terceiro ano de

vida.46,47

No coelho, as papilas foliadas são abundantes, sendo

o principal órgão do paladar.48

No V lingual, há oito a 12 papilas circunvaladas.

São papilas grandes, com 1 a 1,5mm de altura e 1 a

3mm de largura. São assim denominadas porque são

circundadas por um sulco, resultante da invaginação

do epitélio. Na superfície dorsal, a papila pode ser

ligeiramente queratinizada e, nas paredes laterais,

contém botões gustativos. No sulco, desembocam os

ductos de glândulas salivares linguais serosas, cuja

secreção remove os resíduos e permite que os

corpúsculos gustativos respondam a novos estímulos

(Figura 8.8). Eles percebem os sabores amargo e

umami.49,50

45 Ibid. pp. 539-540, 543-544, 568-570. 46

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 385. 47 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 539-540, 568, 570-571. 48

PADYKULA. Op. cit., p. 547. 49

Ibid. pp. 546-547. 50 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 539-540, 543, 568, 570.

Figura 8.8 - Papila circunvalada, sendo apontados um

botão gustativo ( ) e o ducto ( ) da glândula salivar

serosa, que desemboca no sulco ao redor da papila. HE.

Objetiva de 4x (34x).

O sabor umami (do japonês, delicioso) está

relacionado a certos aminoácidos, como, por exemplo, o

L-glutamato e o aspartato. Ele é comum no aspargo,

tomate, queijo e carne. O glutamato monossódico,

utilizado para realçar o sabor, estimula os receptores

umami.51

Os corpúsculos gustativos são estruturas ovoides,

com 30-40µm de largura e 70-80µm de comprimento,

ocupando a espessura do epitélio. Eles são

constituídos pelas células neuroepiteliais, células de

sustentação e células basais. As células neuroepiteliais

e as células de sustentação são alongadas, de

coloração clara, e as células basais são pequenas e

arredondadas. A superfície apical das células

neuroepiteliais e das células de sustentação apresenta

microvilos e faz face a um pequeno orifício no

epitélio, o poro gustativo (Figura 8.9). As células

neuroepiteliais são as células receptoras do paladar.

Elas fazem sinapse com as fibras nervosas sensoriais

aferentes dos nervos facial, glossofaríngeo ou vago

(nervos cranianos VII, IX e X, respectivamente). As

células basais são células-tronco e originam as

demais. A renovação das células do corpúsculo

gustativo é de cerca de 10 dias.52,53,54

51

Ibid. pp. 542-543. 52

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 385-386. 53

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 188-190. 54 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 540-541, 544, 570-571.

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132

Figura 8.9 - Corpúsculo gustativo. HE. Objetiva de 40x

(550x).

Os corpúsculos gustativos da língua reconhecem os

sabores básicos. A apreciação de sabores mais refinados

depende do epitélio olfatório. Por isso, a perda do

paladar quando a pessoa está resfriada, com congestão

nasal.55

Entre o tecido conjuntivo da língua, há feixes de

músculo estriado esquelético, responsáveis pelo seu

movimento; tecido adiposo, que preenche os espaços,

e glândulas salivares serosas e mucosas. No terço

posterior da língua, há as tonsilas linguais.56,57

2.2 Faringe

É comum ao sistema digestório e ao sistema

respiratório e é revestida por epitélio estratificado

pavimentoso na porção oral e epitélio

pseudoestratificado colunar ciliado com células

caliciformes na porção nasal.58,59

O epitélio estratificado pavimentoso protege a

faringe do atrito sofrido com a passagem do bolo

alimentar. No tecido conjuntivo denso subjacente, há

glândulas salivares, que produzem muco lubrificante.

Os músculos longitudinais e constritores da faringe,

de músculo estriado esquelético, promovem a

deglutição.60,61,62

A presença de tecido linfoide subjacente ao

epitélio em determinadas regiões da faringe forma as

tonsilas. Na nasofaringe, há a tonsila faríngea e, na

55

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 386. 56

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 188-191. 57

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 268. 58

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 283. 59

PADYKULA. Op. cit., p. 555. 60

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 624, 628. 61

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 283. 62

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 198.

junção da cavidade oral com a faringe, as tonsilas

palatinas.63

2.3 Tubo digestório

2.3.1 Estrutura geral

O tubo digestório tem quatro túnicas (camadas):

mucosa, submucosa, muscular e serosa ou

adventícia.64

A mucosa é constituída por epitélio, lâmina

própria, de tecido conjuntivo frouxo, e muscular da

mucosa, de músculo liso. Conforme a região do tubo

digestório, o epitélio pode ser estratificado

pavimentoso, com função protetora, ou simples

colunar, com diferentes tipos celulares para a absorção

ou a secreção de substâncias. A lâmina própria pode

conter glândulas e tecido linfoide. A muscular da

mucosa geralmente consiste em uma subcamada

interna circular e uma subcamada externa longitudinal

de músculo liso. Ela promove o movimento da

mucosa, aumentando o contato com o alimento.65,66

A submucosa é de tecido conjuntivo denso não

modelado. Pode ter glândulas e tecido linfoide.

Contém o plexo nervoso submucoso (ou de Meissner),

com gânglios do sistema nervoso autônomo, cujos

neurônios são multipolares e motores. Eles controlam

o movimento da muscular da mucosa, a secreção das

glândulas e o fluxo sanguíneo.67,68,69

A camada muscular pode ser de músculo estriado

esquelético ou de músculo liso, dependendo do órgão.

Devido à organização das células musculares lisas são

observadas geralmente duas subcamadas: a circular

(interna) e a longitudinal (externa). As células

musculares arranjam-se em espiral, sendo que ela é

mais compacta na circular e mais alongada na

longitudinal. Entre as duas subcamadas, há um pouco

de tecido conjuntivo com o plexo nervoso mioentérico

(ou de Auerbach). Ele tem gânglios do sistema

nervoso autônomo, com neurônios multipolares e

motores. Esse plexo nervoso coordena o peristaltismo,

uma onda de contração que se move distalmente e

consiste em constrição e encurtamento. A contração

da camada circular diminui a luz, comprimindo e

misturando o conteúdo, e a contração da camada

63

Ibid. 64

PADYKULA. Op. cit., p. 556. 65

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 625-627. 66

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 280-281. 67

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 387, 389. 68

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 151, 168, 171-172, 280-281. 69 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 389, 579, 581.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

133

longitudinal encurta o tubo, propelindo o material que

está na luz. 70,71,72,73,74

O espessamento do músculo circular em algumas

áreas resulta nos esfíncteres, que impedem a passagem

do conteúdo luminal com a sua contração.75

A serosa ou a adventícia é o revestimento externo.

A serosa (peritônio visceral) é formada por tecido

conjuntivo frouxo e mesotélio (epitélio simples

pavimentoso). A adventícia corresponde ao tecido

conjuntivo frouxo comum a outro órgão.76

2.3.2 Esôfago

É um tubo com cerca de 25cm de comprimento,

que transporta o bolo alimentar da faringe para o

estômago (Figura 8.1).77

A luz do esôfago encontra-se geralmente

colapsada devido às pregas longitudinais, formadas

pela mucosa e pela submucosa com a contração da

camada muscular circular (Figura 8.10). Durante a

deglutição, o esôfago distende-se, e essas pregas

desaparecem.78,79

Como há atrito do bolo alimentar na sua

superfície, ele é revestido por epitélio estratificado

pavimentoso. Para diminuir esse atrito, o epitélio é

lubrificado por um muco produzido pelas glândulas

esofágicas da submucosa. Essas glândulas são

tubuloacinosas compostas seromucosas. A porção

serosa é pequena e produz lisozima e pepsinogênio.

Essas glândulas abrem-se na superfície epitelial

através de um ducto de epitélio estratificado cúbico ou

pavimentoso (Figuras 8.10 e 8.11).80,81,82

Nos primatas, o epitélio do esôfago é não

queratinizado, mas, em algumas espécies de mamíferos,

especialmente os herbívoros, ele é queratinizado.83,84

70

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 627. 71

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 151, 168, 171-172, 281. 72

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 203. 73

PADYKULA. Op. cit., p. 556. 74 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 581, 583, 616-617. 75

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 203. 76

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 281. 77

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 389. 78

Ibid. 79

GENESER. Op. cit., pp. 384-385. 80

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 390. 81

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 279-280. 82 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 580, 582-583, 616-617. 83

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 628. 84

PADYKULA. Op. cit., p. 560.

Figura 8.10 - Prega do esôfago. A mucosa é constituída por

epitélio estratificado pavimentoso (E), lâmina própria (LP)

de tecido conjuntivo frouxo e muscular da mucosa (MM) de

músculo liso. Na submucosa, há as glândulas esofágicas. O

ducto da glândula é apontado. HE. Objetiva de 4x (55x).

Figura 8.11 - Epitélio estratificado pavimentoso do

esôfago. HE. Objetiva de 40x (550x).

Na mucosa da região inferior do esôfago, há ainda

as glândulas cárdicas esofágicas, assim denominadas

por serem semelhantes às da região cárdica do

estômago. São glândulas tubulares ramificadas

mucosas, cuja secreção protege a parede do esôfago

de um refluxo de suco gástrico.85,86

O tipo de músculo da camada muscular varia

segundo a localização: na porção superior do esôfago,

há músculo estriado esquelético; na porção média,

uma mistura de músculo estriado esquelético e

músculo liso, e, na porção inferior, músculo liso.

85

GENESER. Op. cit., pp. 385, 387. 86 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 583-584, 591.

T. Montanari

MM

MM

MM

T. Montanari E

LP

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TATIANA MONTANARI

134

Devido à inervação do músculo estriado esquelético,

ele exibe contração involuntária. Assim, a deglutição

é iniciada na cavidade oral sob controle voluntário,

mas continua-se pela faringe e pelo esôfago

involuntariamente, por um reflexo autônomo. O

peristaltismo da camada muscular é responsável pelo

movimento do bolo alimentar para o estômago.

Entretanto os componentes fluidos e semifluidos

passam à porção inferior do esôfago por queda livre

em consequência da força da gravidade quando a

pessoa está de pé.87,88,89

Entre o esôfago e o estômago, há o esfíncter

gastroesofágico que impede o refluxo do conteúdo

gástrico para o esôfago.90

Delimitando o esôfago, há a adventícia, cujo

tecido conjuntivo é comum à traqueia e às demais

estruturas do pescoço e do mediastino, ou a serosa

quando ele é livre por 1 a 2cm após entrar na cavidade

abdominal.91,92

O epitélio do esôfago é protegido de um refluxo do

suco gástrico pela arquitetura anatômica da junção

gastroesofágica, pelo esfíncter gastroesofágico e pela

secreção mucosa das glândulas cárdicas esofágicas.

Contudo, o sistema não é perfeito, podendo ocorrer a

ulceração do esôfago, especialmente na junção com o

estômago, onde o epitélio estratificado pavimentoso

muda para simples colunar.93,94

2.3.3 Estômago

É uma porção dilatada do tubo digestório, onde o

bolo alimentar é macerado e parcialmente digerido em

uma pasta, o quimo (do grego chymos, suco).95,96

Em

adultos, comporta 1,5L e, quando distendido, 3L.97

Anatomicamente, é dividido em: cárdia, fundo,

corpo e piloro. O cárdia estende-se a partir da junção

gastroesofágica por 2 a 3cm. O fundo é uma região

em cúpula, por cima de um plano horizontal no cárdia,

geralmente preenchida com gases. O corpo situa-se

abaixo dessa linha, ocupa a maior parte do estômago e

é onde se forma o quimo. O piloro é uma região

87

GENESER. Op. cit., pp. 385, 387. 88

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 628. 89

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 278, 281. 90

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 200, 203. 91

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 281. 92 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 582-583. 93

GENESER. Op. cit., p. 387. 94

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 200. 95

GENESER. Op. cit., p. 387. 96

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 186, 204. 97

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 287.

afunilada, corresponde ao terço inferior e controla a

liberação do quimo para o duodeno.98,99,100,101

A mucosa e a submucosa formam pregas

longitudinais, denominadas rugas. Elas se distendem

quando o estômago está cheio. O epitélio é simples

colunar, constituído pelas células mucosas

superficiais. Seu citoplasma apical é repleto de

vesículas de glicoproteínas, o que o torna palidamente

corado com HE, mas muito corado com PAS. O

núcleo é oval e basal (Figuras 8.12 a 8.14). O muco

liberado é viscoso, semelhante a um gel e fica aderido

ao epitélio; é rico em bicarbonato, contribuindo para a

sua alcalinização. Ele protege o epitélio dos efeitos

corrosivos do suco gástrico.102,103,104,105

Nos ruminantes e porcos, uma parte do estômago é

revestida com epitélio estratificado pavimentoso.106

O epitélio invagina-se resultando nas fossetas

gástricas, também com as células mucosas superficiais

(Figuras 8.12 a 8.14), e nas glândulas, cujos tipos

celulares variam conforme a região do estômago.107

As fossetas são mais rasas na região cárdica e

mais profundas na região pilórica.108

As glândulas

cárdicas e pilóricas são tubulares ramificadas mucosas

(Figura 8.12).109

O corpo e o fundo são semelhantes

histologicamente, e as glândulas são denominadas

gástricas ou fúndicas. Elas são glândulas tubulares

ramificadas. Cerca de três a sete glândulas

desembocam no fundo de cada fosseta. As glândulas

apresentam as células-tronco, as células mucosas do

colo, as células oxínticas (ou parietais), as células

zimogênicas (ou principais) e as células

enteroendócrinas.110,111

98

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 391. 99

GENESER. Op. cit., pp. 387-388. 100

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 208. 101 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 584. 102

GENESER. Op. cit., p. 388. 103

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 204-205, 210. 104

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 287-289. 105 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 584-588, 620-623. 106 Ibid. p. 618. 107

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 287-289. 108

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 399. 109 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 585, 591, 596, 618-620. 110

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 287-290. 111 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 585, 587-588, 620-623.

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HISTOLOGIA

135

Figura 8.12 - Mucosa do cárdia do estômago (F – fossetas

gástricas; G – glândulas cárdicas, e MM – muscular da

mucosa). Tricrômico de Masson. Objetiva de 10x.

As células-tronco estão situadas principalmente na

parte superior da glândula. São pequenas, colunares,

com núcleo ovoide, basal e com nucléolo

proeminente. Proliferam e migram, originando as

demais células.112,113

As células mucosas superficiais são renovadas em

três a cinco dias; as células mucosas do colo sobrevivem

cinco a sete dias; as células parietais duram 150 a 200

dias, e as células principais e as células enteroendócrinas,

cerca de 60 a 90 dias.114,115

As células mucosas do colo localizam-se na região

superior das glândulas. São menores do que as células

mucosas superficiais e mais cúbicas. O citoplasma

mostra-se claro, vacuolizado com HE, mas cora-se

moderadamente com PAS. O núcleo é basal, esférico

ou achatado, comprimido pelas vesículas de secreção.

O muco produzido é solúvel e mistura-se ao quimo,

diminuindo seu atrito (Figuras 8.13 e 8.14).116,117,118,119,

120,121

As células oxínticas (ou parietais) predominam na

metade superior da glândula. São grandes (20-25µm)

e arredondadas, com núcleo esférico e central. O

citoplasma é eosinófilo, devido à abundância de

mitocôndrias. Pode exibir um aspecto vacuolizado,

112

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 207. 113

PADYKULA. Op. cit., p. 569. 114

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 395. 115 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 591, 593-594, 622. 116

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 392-395. 117

GENESER. Op. cit., pp. 390-391. 118

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 632. 119

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 288-289. 120

PADYKULA. Op. cit., pp. 562, 564. 121 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 587-588, 622-623.

por causa dos canalículos intracelulares, invaginações

profundas da superfície apical com microvilos

(Figuras 8.13 e 8.16). A riqueza em superfície celular

e em mitocôndrias está relacionada ao transporte de

íons para a produção de ácido clorídrico.122,123,124

CO2, proveniente dos capilares do tecido conjuntivo

subjacente, liga-se à H2O na célula oxíntica, por

intermédio da anidrase carbônica, resultando em ácido

carbônico (H2CO3). Este se dissocia no íon H+ e no íon

bicarbonato (HCO3-). O último retorna ao sangue por

proteínas transportadoras antiporte com Cl-, presentes

nas invaginações da membrana plasmática basal. H+-K

+

ATPases da membrana dos microvilos bombeiam H+

para a luz do canalículo, enquanto transferem o íon K+

para dentro da célula. Proteínas carreadoras, utilizando

ATP como energia, bombeiam os íons K+ e Cl

- para o

canalículo intracelular. Na luz do estômago, os íons H+ e

Cl- associam-se como HCl.

125,126,127

O ácido clorídrico do suco gástrico esteriliza o

alimento, diminuindo a chance de infecção intestinal.

Comprometimento da secreção ácida está associada a

maior incidência de diarreia.128

As células oxínticas sintetizam o fator intrínseco.

Esse fator liga-se à vitamina B12, e o complexo é

absorvido no intestino delgado. Essa vitamina age

como coenzima na replicação celular e na

hematopoese.129

Como o fator intrínseco é uma glicoproteína, as

células oxínticas coram-se levemente pelo PAS (Figura

8.14).130,131

As células zimogênicas (ou principais) são mais

abundantes na metade inferior das glândulas. São

menores que as células oxínticas. Possuem uma forma

colunar ou cúbica, com citoplasma basófilo, por causa

do retículo endoplasmático rugoso bem desenvolvido,

ou claro, vacuolizado pela perda dos grânulos de

122

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 395-396. 123

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 205-207. 124

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 290-291. 125

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 403. 126

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 291. 127 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 589-591. 128 COLLARES-BUZATO, C. B.; ARANA, S. Célula oxíntica. In:

CARVALHO, H. F.; COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma

abordagem multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. p. 115. 129 Ibid. pp. 115-116. 130

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 632. 131

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 206.

T. Montanari, UNICAMP

F

G

MMF

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TATIANA MONTANARI

136

secreção na preparação da lâmina. O núcleo é esférico

e basal (Figuras 8.13 e 8.16). Produzem pepsinogênio,

que, no pH ácido da luz do estômago, é ativada em

pepsina. Ela fragmenta as proteínas.132,133

Figura 8.13 - Mucosa da região do corpo do estômago. O

epitélio simples colunar, de células mucosas superficiais,

invagina-se, formando as fossetas (F), também com essas

células, e as glândulas, com as células mucosas do colo

( ), as células oxínticas ( ) e as células zimogênicas

( ). A lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo situa-se

sob o epitélio de revestimento, entre e sob as glândulas. A

muscular da mucosa é espessa (MMC – subcamada

circular; MML – subcamada longitudinal). HE. Objetiva de

10x (137x).

132

GENESER. Op. cit., p. 389. 133

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 290, 292.

Figura 8.14 - As células mucosas superficiais e as células

mucosas do colo ( ) são identificadas pela coloração

magenta das glicoproteínas. O muco secretado é visto sobre

a superfície epitelial. As células oxínticas ( ) também

estão coradas por causa da síntese do fator intrínseco.

PAS/H. Objetiva de 10x (137x).

Figura 8.15 - Células mucosas superficiais. PAS/H.

Objetiva de 100x (1.373x).

Em cobaias e na maioria dos vertebrados não

mamíferos, há um único tipo celular envolvido na

secreção de ácido clorídrico e de pepsinogênio: é a

célula oxinticopéptica.134

134 COLLARES-BUZATO & ARANA. Op. cit., pp. 112-113.

T. Montanari

MML

MMC

T. Montanari

T. Montanari

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HISTOLOGIA

137

Figura 8.16 - Células oxínticas e zimogênicas. HE.

Objetiva de 100x (1.373x).

As células enteroendócrinas são mais frequentes

na base das glândulas. São pequenas, em forma de

garrafa, com o ápice luminal estreito e a região basal

larga, repleta de grânulos, ou arredondadas, quando

não alcançam a superfície. O citoplasma é geralmente

claro, porque as vesículas de secreção são perdidas

durante a rotina histológica. O núcleo é esférico e

central. Sintetizam histamina, que estimula a produção

de ácido clorídrico; somatostatina, que inibe a

liberação de gastrina e a secreção de ácido clorídrico,

e o peptídeo intestinal vasoativo (VIP), que inibe a

contração do músculo liso.135,136,137,138

A muscular da mucosa (Figuras 8.12 e 8.13)

comprime as glândulas do estômago, auxiliando na

liberação da secreção. A camada muscular promove a

agitação necessária para a mistura do alimento com as

secreções da mucosa gástrica. Para isso, além das

subcamadas circular e longitudinal de músculo liso,

pode haver uma subcamada oblíqua, disposta

internamente. Entre o estômago e o intestino delgado,

a subcamada circular espessa-se no esfíncter pilórico,

que impede a passagem do alimento até que ele seja

convertido em quimo e força este para o intestino

delgado.139,140

O estômago é delimitado pela serosa, exceto em

uma pequena região na parte posterior, próxima ao

cárdia, onde há adventícia.141

2.3.4 Intestino delgado

135

GENESER. Op. cit., pp. 391-394. 136

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 640, 644. 137

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 207-208, 281. 138 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 591, 593-595. 139

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 186, 203-204. 140 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 594-595. 141

GENESER. Op. cit., p. 393.

É um tubo bastante longo, com cerca de 6m e é

dividido em três regiões: duodeno (cerca de 25cm),

jejuno (cerca de 2,5m) e íleo (cerca de 3,5m). Nele a

digestão é finalizada, e ocorre a absorção de nutrientes

eletrólitos e água.142,143

A digestão é realizada pelas enzimas provenientes

do pâncreas, que são despejadas no duodeno, e pelas

enzimas presentes na membrana das células

intestinais. Assim, os peptídios, os polissacarídeos e

os triglicerídeos são degradados em suas unidades.144,

145

O intestino delgado apresenta várias adaptações

que aumentam a superfície de absorção: a mucosa e a

submucosa formam pregas, com até 8mm de altura e

5cm de comprimento; o epitélio e o conjuntivo

projetam-se nos vilos (ou vilosidades), que medem 0,5

a 1,5mm, e as células epiteliais possuem microvilos,

de 1 a 3µm de comprimento (Figuras 8.17 e 8.18).146,

147

A doença celíaca é uma inflamação imunomediada

devido à sensibilidade ao glúten, a proteína do trigo. Há

a destruição dos vilos, e a não absorção dos nutrientes

provoca diarreia e perda de peso. Quando o glúten é

excluído da dieta, os vilos são refeitos.148

O epitélio evagina-se nos vilos e invagina-se em

glândulas tubulares simples retas, as glândulas

intestinais (ou de Lieberkühn). O epitélio do intestino

é simples colunar com microvilos e células

caliciformes (Figuras 8.17 e 8.18). Há ainda as células

enteroendócrinas e, na base das glândulas, as células

de Paneth (Figura 8.19) e as células-tronco.149,150

As células epiteliais com microvilos são chamadas

enterócitos. São células colunares, com 25µm de

altura e 8 a 10µm de largura. O núcleo é ovoide e

basal (Figura 8.18). O glicocálix contém várias

enzimas, como peptidases, dissacaridases (lactase,

sacarase e maltase), lipases e fosfatase alcalina. Essas

células finalizam a digestão e realizam a absorção dos

nutrientes.151,152,153

142

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 636 143 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 595-596, 626, 628, 630. 144

PADYKULA. Op. cit., p. 569. 145 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 596, 598-599. 146

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 404. 147 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 115-118, 580, 596-597, 600-601,

626-631. 148

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 210-211. 149

PADYKULA. Op. cit., p. 569. 150 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 597, 601-602, 606, 608, 626-631. 151

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 211. 152

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 300-301. 153 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 596-600.

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TATIANA MONTANARI

138

Figura 8.17 - Jejuno de rato, onde as túnicas são facilmente

reconhecidas, bem como os vilos (V) e as glândulas

intestinais (ou de Lieberkühn) (G). A mucosa consiste em

epitélio simples colunar com microvilos e células

caliciformes, lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo e

muscular da mucosa (MM). Subjacente há a submucosa (S),

a muscular com a subcamada circular (MC) e a subcamada

longitudinal (ML) e a serosa ( ). O capilar linfático ( )

foi indicado na lâmina própria. HE. Objetiva de 10x (137x).

Os aminoácidos e os monossacarídeos são

transportados ativamente, e aqueles que não são

aproveitados no próprio enterócito vão para a corrente

sanguínea e são levados para o fígado pela veia porta. Os

monoglicerídeos, os ácidos graxos e o glicerol entram

nas células por difusão passiva ou com auxílio de

proteínas transportadoras. Os ácidos graxos de cadeias

curtas (<12C) e o glicerol vão para a corrente sanguínea

e então para o fígado, onde são processados. Os

monoglicerídeos e os ácidos graxos de cadeias longas

são esterificados em triglicerídeos no retículo

endoplasmático liso. No Golgi, eles se ligam a proteínas,

constituindo os quilomícrons.154,155,156,157

Os quilomícrons saem para o espaço intercelular e

vão para o tecido conjuntivo, onde entram nos capilares

linfáticos (Figura 8.17). São transportados pela linfa até

os ductos linfáticos desembocarem nas grandes veias,

passando então para o sangue.158

Nos capilares do tecido

adiposo, os quilomícrons são degradados pela lipase

lipoproteica, e os ácidos graxos difundem-se para as

células adiposas, onde são reesterificados em

154

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 412-413. 155

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 297, 301. 156

PADYKULA. Op. cit., pp. 580-581. 157 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 598-599. 158

GENESER. Op. cit., p. 398.

triglicerídeos.159

Os quilomícrons também são levados

para o fígado pela artéria hepática.160

As células caliciformes produzem glicoproteínas,

que compõem um muco, o qual lubrifica a luz

intestinal (Figura 8.18).161

As células enteroendócrinas são

morfologicamente semelhantes àquelas do estômago.

Secretam vários hormônios peptídicos, como

enteroglucagon, somastostatina, colecistoquinina,

serotonina, secretina, gastrina, motilina e VIP.162,163

As células de Paneth possuem núcleo basal e

grandes grânulos de secreção eosinófilos (Figura

8.19), que correspondem à lisozima e às defensinas.

Estas, por romperem a membrana dos micro-

organismos, controlam a flora intestinal.164,165

As células-tronco originam as células

mencionadas.166

Os enterócitos são substituídos a cada cinco a seis

dias. As células caliciformes sobrevivem dois a quatro

dias, apresentando um ou dois ciclos de secreção. As

células de Paneth e as células enteroendócrinas duram

cerca de 30 dias.167,168

A lâmina própria é de tecido conjuntivo frouxo.

Há capilares sanguíneos do tipo fenestrado e, em cada

vilo, um capilar linfático central, com terminação

cega, onde entram os nutrientes absorvidos (Figuras

8.17 e 8.18). Células musculares lisas da muscular da

mucosa penetram nos vilos e acompanham o capilar

linfático. Sua contração deve impulsionar a linfa do

capilar linfático para a rede de vasos linfáticos na

submucosa. Células de defesa estão presentes,

podendo formar inclusive nódulos linfáticos.

169,170,171,172

159

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 121-122. 160

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 438. 161

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 297. 162

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 213, 281. 163 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 591, 593-595, 603-604. 164

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 212, 213. 165

PADYKULA. Op. cit., p. 574. 166 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 608, 630. 167

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 300, 302-303. 168 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 608, 610. 169

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 404, 406, 409, 412. 170

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 625-626, 643-644. 171

PADYKULA. Op. cit., p. 557. 172 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 597, 601-602.

T. Montanari

M M

M

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HISTOLOGIA

139

Figura 8.18 - Vilo do intestino delgado de camundongo. O

revestimento é proporcionado pelo epitélio simples colunar

com microvilos (M) e células caliciformes ( ). Subjacente

há a lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo, onde é

apontado o capilar linfático ( ). HE. 550x.

Figura 8.19 - Células de Paneth na base da glândula de

Lieberkühn de jejuno de rato. HE. Objetiva de 100x

(1.373x).

A submucosa é de tecido conjuntivo denso não

modelado. Há vasos sanguíneos e linfáticos, e o plexo

nervoso submucoso (ou de Meissner) (Figuras 8.17 e

8.20).173

Figura 8.20 - Gânglio do plexo nervoso submucoso (ou de

Meissner), com neurônios multipolares, circundados por

células satélites. HE. Objetiva de 100x (851x).

Na submucosa do duodeno, há as glândulas

duodenais (ou de Brünner), que são glândulas

tubulares ramificadas mucosas. Elas atravessam a

muscular da mucosa e a lâmina própria, e os ductos

abrem-se na base das glândulas de Lieberkühn ou

entre as vilosidades (Figura 8.21).174

A secreção das glândulas duodenais contém

glicoproteínas e íons bicarbonato e, portanto, tem um pH

alcalino (8,1 a 9,3). Ela protege a mucosa contra a acidez

do quimo e permite o pH ideal para a ação das enzimas

pancreáticas.175

É também produzida urogastrona (fator

de crescimento epidérmico humano), um peptídeo que

inibe a liberação de ácido clorídrico pelo estômago.176

Essas glândulas não estão presentes no jejuno e no

íleo (Figuras 8.22 e 8.23).177

Na submucosa do duodeno e do jejuno, pode

haver alguns nódulos linfáticos, mas, no íleo, no lado

do tubo oposto à fixação do mesentério, eles são

abundantes, e o seu conjunto foi denominado placas

de Peyer (Figura 8.23). Elas contam geralmente com

20 a 30 nódulos linfáticos, mas podem alcançar 300

nódulos na puberdade. Medem 1 a 12cm de

comprimento e 1 a 2,5cm de largura. Expandem a 173

Ibid. p. 581. 174

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 408. 175 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 607, 626. 176

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 408. 177

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 638.

T. Montanari

T. Montanari

T. Montanari

M

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TATIANA MONTANARI

140

lâmina própria, fendem a muscular da mucosa e

estendem-se para o interior da submucosa.178,179,180,181

As glândulas de Brünner são encontradas somente

no duodeno, e as placas de Peyer, no íleo, o que permite

o diagnóstico histológico diferencial entre duodeno,

jejuno e íleo (Figuras 8.21 a 8.23).182

Recobrindo as placas de Peyer, há as células M

(M de microfold, microprega em inglês), enterócitos

modificados, com forma cúbica, micropregas na

superfície apical e invaginações na superfície basal,

com a lâmina basal descontínua. Capturam antígenos

da luz do intestino por endocitose e transportam-nos

para os macrófagos e os linfócitos T situados entre as

invaginações. As células de defesa desencadeiam a

resposta imunológica.183,184

A camada muscular é constituída por duas

subcamadas de músculo liso: a circular (interna) e a

longitudinal (externa) (Figura 8.17, 8.22 e 8.24). Entre

essas duas subcamadas, há o plexo nervoso

mioentérico (ou de Auerbach), que controla o

peristaltismo (Figura 8.22).185

Na lâmina histológica, a observação das subcamadas

musculares permite determinar o plano de corte do órgão.

No corte transversal do tubo digestório, as células

musculares da camada interna circular são dispostas

longitudinalmente, e as células da camada externa

longitudinal são cortadas transversalmente. No corte

longitudinal, as células da camada circular são cortadas

transversalmente, e aquelas da camada longitudinal,

longitudinalmente (Figuras 8.17 e 8.24).186

Entre o intestino delgado e o intestino grosso, há a

valva ileocecal, um esfíncter que retarda a passagem

do quimo do íleo para o ceco e impede o refluxo do

conteúdo do intestino grosso para o intestino delgado. 187,188

178

Ibid. p. 645. 179

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 214. 180

PADYKULA. Op. cit., p. 577. 181 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 580, 597, 602, 630-631. 182 Ibid. pp. 581, 597, 602, 607, 626-631. 183

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 300-301. 184 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 597, 604-605, 630. 185

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 627, 645. 186

Ibid. p. 627. 187

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 413. 188

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 203.

Figura 8.21 - Corte de duodeno, onde são observados: vilos

(V) e glândulas intestinais (ou de Lieberkühn) (G),

evaginações e invaginações do epitélio, respectivamente;

lâmina própria (LP) de tecido conjuntivo frouxo no interior

dos vilos e entre e sob as glândulas; muscular da mucosa

(MM), e glândulas de Brünner na submucosa, com os

ductos (D) abrindo-se entre ou nas glândulas intestinais.

HE. Objetiva de 4x (55x).

Parte do duodeno é revestida pela adventícia, e o

restante do intestino delgado é delimitado pela serosa

(Figuras 8.17 e 8.22).189

189

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 409.

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HISTOLOGIA

141

Figura 8.22 - Corte de jejuno, onde são indicados: vilos

(V), glândulas intestinais (ou de Lieberkühn) (G), muscular

da mucosa (MM), submucosa (S), muscular com camadas

circular (MC) e longitudinal (ML) e plexo nervoso

mioentérico ( ), e serosa ( ). HE. Objetiva de 4x (55x).

Figura 8.24 - Camada muscular do intestino delgado: as

células musculares lisas foram cortadas transversalmente na

subcamada circular (MC) e longitudinalmente na

subcamada longitudinal (ML). HE. Objetiva de 40x (550x).

Figura 8.23 - Corte de íleo, que possui as placas de Peyer

na submucosa. HE. Objetiva de 4x (55x).

2.3.5 Intestino grosso

Possui cerca de 1,5m de comprimento e 6,5cm de

diâmetro. É subdividido em: ceco, apêndice

(divertículo vermiforme do ceco), colo (ou cólon)

ascendente, transverso, descendente e sigmoide e reto

(Figura 8.1).190,191

No intestino grosso, não há vilosidades, mas o

epitélio invagina-se nas glândulas intestinais (ou de

Lieberkühn), que são glândulas exócrinas tubulares

simples retas (Figura 8.25). O epitélio é simples

colunar com microvilos e células caliciformes (Figura

8.26). Ele contém ainda células-tronco e células

190

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 215, 218. 191

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 304, 306.

T. Montanari T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

142

enteroendócrinas. No ceco e no apêndice, há também

as células de Paneth.192,193

No intestino grosso, ocorre a absorção de água e

de sais inorgânicos, levando à formação do bolo fecal.

Para isso, as células colunares apresentam microvilos

na superfície apical e Na+-K

+ ATPases nas membranas

laterais. As células caliciformes estão em grande

número, e o muco contribui para a compactação do

bolo fecal e facilita o deslizamento deste, lubrificando

a superfície epitelial.194,195

Nódulos linfáticos são encontrados na lâmina

própria e na submucosa, principalmente no apêndice

de crianças.196

A riqueza em tecido linfoide está

relacionada ao acúmulo de bactérias.197

A muscular da mucosa consiste de duas

subcamadas: uma circular e outra longitudinal (Figura

8.25). A camada muscular apresenta também uma

subcamada circular e uma subcamada longitudinal.

Esta última, no ceco e no colo, espessa-se em três

faixas equidistantes, as tênias do colo (do latim taenia,

faixa), que podem ser visualizadas ao nível

macroscópico. O tônus constante das tênias forma

pregas no intestino, chamadas saculações.198,199,200,201

O ceco, o apêndice e parte do colo são recobertos

pela serosa. O restante do colo e o reto possuem

adventícia.202

2.3.6 Canal anal

É um tubo de 3 a 4cm de comprimento, que

transporta do reto para o exterior os resíduos do

alimento ingerido, ou seja, as fezes.203

Na porção superior, o canal anal tem uma mucosa

semelhante à do reto, com epitélio simples colunar

com microvilos e células caliciformes e glândulas de

Lieberkühn. O epitélio passa a ser estratificado

colunar ou cúbico e depois pavimentoso. As glândulas

anais (glândulas tubulares ramificadas mucosas)

abrem-se na junção retoanal. A pele perianal apresenta

epitélio estratificado pavimentoso queratinizado,

folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas

192

Ibid. p. 305. 193 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 609-610, 632-633. 194

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 413, 415. 195

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 215-217. 196

Ibid. pp. 217-218. 197

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 307. 198

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 415. 199

GENESER. Op. cit., p. 401. 200

PADYKULA. Op. cit., pp. 581-582. 201 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 580-581, 609, 611, 632-633. 202

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 305, 307-308. 203

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 201.

sudoríparas apócrinas. Estas últimas são as glândulas

circum-anais.204,205

Figura 8.25 - Mucosa do intestino grosso, onde são

observadas as glândulas intestinais (ou de Lieberkühn), que

são glândulas exócrinas tubulares simples retas; a lâmina

própria (LP) de tecido conjuntivo frouxo, e a muscular da

mucosa, com as subcamadas circular (MMC) e longitudinal

(MML). HE. Objetiva de 10x (137x).

Figura 8.26 - Fotomicrografia do epitélio simples colunar

com microvilos (M) e células caliciformes ( ) do intestino

grosso. HE. Objetiva de 100x (1.373x).

Em alguns animais, a secreção das glândulas circum-

anais age como atrativo sexual.206

204

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 401, 416. 205 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 612, 614-615, 636-637. 206

Ibid. p. 612.

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MMC

MML

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HISTOLOGIA

143

Há dois plexos venosos na submucosa do canal

anal: o plexo hemorroidário interno na extremidade

superior e o plexo hemorroidário externo na

extremidade inferior.207

O diâmetro do canal anal é controlado pelos

esfíncteres anais interno e externo. O primeiro é um

espessamento da subcamada circular de músculo liso

e responde à distensão do reservatório retal. O

segundo é composto por músculo estriado esquelético

do assoalho pélvico e está sob controle voluntário.208

É delimitado pela adventícia.209

2.4 Anexos do tubo digestório

São o pâncreas, o fígado e a vesícula biliar, cujos

ductos confluem e desembocam no duodeno.210

2.4.1 Pâncreas

É um órgão alongado, com 20-25cm de

comprimento, 5cm de largura e 1-2cm de espessura.

Pesa 100-150g. É dividido anatomicamente em:

cabeça, corpo e cauda. A cabeça situa-se na curvatura

do duodeno, o corpo cruza a linha média do abdômen

e a cauda estende-se na direção do baço.211,212,213

O pâncreas é envolvido por peritônio e por uma

cápsula de tecido conjuntivo frouxo ou

moderadamente denso, que envia septos para o seu

interior, dividindo-o em lóbulos. É uma glândula

mista, com uma porção endócrina, as ilhotas

pancreáticas (ou de Langerhans), que secretam

hormônios para a corrente sanguínea, e uma porção

exócrina, composta por células serosas, que produzem

enzimas digestivas a serem liberadas no duodeno.

214,215

Langerhans descobriu as ilhotas no pâncreas em

1869, quando ainda era estudante de medicina.216

207

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 201. 208

Ibid. pp. 186, 201. 209

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 401. 210 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 638, 654, 657-658. 211

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 424. 212

GENESER. Op. cit., p. 404. 213 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 657-658, 674. 214

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 652. 215 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 658-659, 674. 216

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 771.

As ilhotas pancreáticas (ou de Langerhans) são

glândulas endócrinas cordonais. Elas medem

geralmente 100 a 200µm de diâmetro. As células são

poligonais ou esféricas, com núcleo eucromático e

citoplasma rosa pálido com HE, contrastando com os

ácinos serosos ao redor (Figura 8.27). Secretam

insulina, glucagon e outros hormônios para os

capilares fenestrados.217,218

As células A (ou ) estão na periferia da ilhota,

perfazem cerca de 20% das células e secretam glucagon,

que age principalmente sobre os hepatócitos, ativando as

enzimas responsáveis pela degradação do glicogênio em

glicose (glicogenólise) e pela síntese de glicose a partir

de lipídios e aminoácidos (gliconeogênese). É, portanto,

é um hormônio hiperglicemiante.219,220

As células B (ou ) são as mais abundantes

(aproximadamente 70%), secretam insulina e amilina. A

insulina possibilita a entrada da glicose nas células,

diminuindo os seus níveis no sangue, por isso, é um

hormônio hipoglicemiante. A amilina é um peptídio que

modula a ação da insulina.221,222

As células D e D1 representam 5% da população

celular. As células D produzem somatostatina, que inibe

a secreção exócrina e endócrina do pâncreas e reduz as

contrações musculares do tubo digestório e da vesícula

biliar. As células D1 liberam VIP, que induz a

glicogenólise e regula o tônus e a motilidade intestinal.

223

As células PP (ou F) compõem 1% das células da

ilhota e sintetizam o polipeptídeo pancreático. Ele inibe

as secreções exócrinas do pâncreas e, no estômago,

estimula a liberação de enzimas pelas células principais e

de HCl pelas células parietais.224

As células G (1%) produzem gastrina, que estimula a

secreção de HCl pelo estômago.225

As células épsilon (0,5 a 1%) sintetizam grelina, que

estimula o apetite por ação no hipotálamo e a liberação

de hormônio de crescimento na adeno-hipófise.226

Após a fixação com Zenker-formol e a coloração

pelo método de Mallory-Azan, as células A coram-se em

vermelho; as células B, em laranja-acastanhado, e as

células D, em azul.227

No tricrômico de Gomori, as

células A coram-se em rosa, e as células B, em azul.228

217

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 399-401. 218

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 238-240, 329. 219

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 427-428. 220

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 225, 279-280. 221

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 401. 222

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 279. 223

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 427-428. 224

Ibid. pp. 426-429. 225

Ibid. pp. 426-428. 226

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 401. 227 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 661-663.

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TATIANA MONTANARI

144

A porção exócrina é uma glândula acinosa

composta serosa. As células serosas sintetizam

precursores de enzimas digestivas, então possuem

retículo endoplasmático rugoso bem desenvolvido na

porção basal do citoplasma. As proenzimas são

armazenadas em grânulos (os grânulos de zimogênio)

na porção apical da célula. Elas são liberadas, através

de ductos, para o duodeno, onde são ativadas.229,230

Nos cortes corados com HE, a porção basal da célula

serosa é basófila, devido à abundância de retículo

endoplasmático rugoso, enquanto a porção apical, com

os grânulos de zimogênio, é eosinófila.231

Os ductos intercalares são de epitélio simples

pavimentoso ou cúbico baixo. Como eles iniciam no

interior dos ácinos, são visualizadas células

palidamente coradas no centro do ácino: são as células

centroacinosas (Figura 8.27). Os ductos intercalares,

inclusive as células centroacinosas, produzem um

líquido seroso alcalino, rico em bicarbonato, que

contribui para neutralizar o quimo ácido que chega ao

duodeno.232,233

Os ductos intercalares continuam como ductos

intralobulares (que não são estriados) de epitélio

simples cúbico ou colunar. Nos septos de tecido

conjuntivo, entre os lóbulos, são os ductos

interlobulares de epitélio simples colunar com células

caliciformes ocasionais. Estes confluem no ducto

pancreático principal, cujo epitélio é simples colunar

com células caliciformes. Ele corre longitudinalmente

no pâncreas e se une ao ducto biliar comum (ou ducto

colédoco), desembocando no duodeno.234,235,236

Pela presença dos ácinos serosos, o pâncreas é

semelhante à parótida. Entretanto pode se realizar o

diagnóstico histológico pela observação das ilhotas de

Langerhans e das células centroacinosas e pela ausência

dos ductos estriados.237

228

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 399-400. 229

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 424-425. 230

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 214-215. 231

Ibid. p. 214. 232

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 425. 233 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 658-661, 674-675. 234

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 655. 235

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 214-215. 236 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 657-658, 660-661, 674-675. 237

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 316.

Figura 8.27 - Corte de pâncreas. A ilhota de Langerhans

(IL) é uma glândula endócrina cordonal, que secreta

insulina e glucagon para a corrente sanguínea ( ). Os

ácinos serosos (S) sintetizam enzimas, que vão, através de

ductos, para o duodeno (D - ducto intercalar). Os núcleos

no centro dos ácinos são de células centroacinosas ( ).

HE. Objetiva de 40x (550x).

O epitélio do duodeno e do jejuno secreta dois

hormônios que atuam sobre a porção exócrina do

pâncreas: a secretina e a colecistoquinina. A secretina

atua sobre as células dos ductos intercalares, permitindo

a secreção de um fluido rico em bicarbonato. A

colecistoquinina estimula a exocitose das enzimas pelas

células serosas.238

2.4.2 Fígado

Situa-se no quadrante superior direito da cavidade

abdominal, logo abaixo do diafragma e tem o formato

de cunha (Figura 8.1). Pesa 1,5kg no adulto. É

envolvido pelo peritônio, exceto onde se adere ao

diafragma e a outros órgãos, e por uma cápsula de

tecido conjuntivo denso modelado. A cápsula é mais

espessa no hilo (a porta do fígado), por onde o tecido

238

Ibid. pp. 317-318.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

145

conjuntivo penetra no órgão, conduzindo a artéria

hepática e a veia porta, que entram, e os vasos

linfáticos e os ductos hepáticos direito e esquerdo, que

saem. A artéria hepática traz sangue oxigenado e com

os quilomícrons. A veia porta traz sangue venoso dos

intestinos, do pâncreas e do baço, portanto, rico em

nutrientes, em hormônios pancreáticos e em produtos

da degradação da hemoglobina. Os ductos hepáticos

retiram a bile do fígado. O sangue sai através das

veias hepáticas localizadas na região posterior do

fígado. Essas veias drenam para a veia cava inferior. 239,240,241,242,243

As células epiteliais, os hepatócitos, dispõem-se

enfileirados, como placas orientadas radialmente e

arranjadas em um prisma de aproximadamente 1mm

de diâmetro e 2mm de comprimento: o lóbulo

hepático. Em certos animais, como no porco, os

lóbulos são separados por uma faixa de tecido

conjuntivo (Figura 8.28). Na espécie humana, os

vários lóbulos encostam-se uns nos outros em quase

toda a sua extensão, ficando o tecido conjuntivo

restrito aos cantos dos lóbulos hepáticos, os espaços

porta.244,245

No tecido conjuntivo frouxo ou denso não

modelado dos espaços porta, são encontrados os vasos

sanguíneos interlobulares (uma arteríola, ramificação

da artéria hepática, e uma vênula, ramificação da veia

porta), vasos linfáticos e um ducto biliar. Este último

é revestido por epitélio simples cúbico ou colunar e

conduz a bile produzida pelos hepatócitos para os

ductos hepáticos direito e esquerdo (Figura 8.29).246,247

Os vasos interlobulares ramificam-se em vasos

distribuidores que circundam os lóbulos. Os vasos

distribuidores e parte dos vasos interlobulares abrem-

se nos capilares sinusoides situados entre as placas de

hepatócitos. Pelas características desses capilares,

como espaços entre as células endoteliais, presença de

fenestras e lâmina basal descontínua, a passagem de

macromoléculas do interior do capilar para os

hepatócitos é facilitada. Os sinusoides hepáticos

desembocam na vênula hepática terminal

(antigamente denominada veia centrolobular ou

central) (Figuras 8.28 e 8.30).248,249

239

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 429-430, 435. 240

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 318-320. 241

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 225. 242

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 312, 314, 318. 243 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 638, 642. 244

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 318-320. 245

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 314. 246

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 319-321, 323, 325. 247

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 314-315, 323. 248

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 319-323. 249

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 642-643, 646, 670-671.

Figura 8.28 - Lóbulo hepático de porco, que é delimitado

por tecido conjuntivo. Nos cantos dos lóbulos (espaços

porta), há ramos da artéria hepática e da veia porta, cujo

sangue corre para os capilares sinusoides, situados entre as

placas de hepatócitos, e entra na vênula hepática terminal

(ou centrolobular). HE. Objetiva de 10x (85x).

Figura 8.29 - Espaço porta, com arteríola (a), vênula (v),

ducto biliar (d) e vaso linfático (vv). HE. Objetiva de 20x

(275x).

As vênulas hepáticas terminais (ou veias

centrolobulares) correm longitudinalmente pelos

lóbulos hepáticos e conectam-se perpendicularmente

com as veias sublobulares (ou intercaladas) na base

dos lóbulos. Estas penetram nas trabéculas de

conjuntivo do estroma, onde se unem em veias de

maior calibre até constituírem as veias hepáticas, que

desembocam na veia cava inferior.250

Os hepatócitos têm forma poliédrica e medem 20

a 30µm de diâmetro. Possuem um núcleo central,

esférico, eucromático e com nucléolos proeminentes.

Podem ser binucleados ou poliploides. Eles contêm

abundante retículo endoplasmático rugoso e retículo

250

JONES, A. L.; SPRING-MILLS, E. O fígado e a vesicular biliar. In:

WEISS, L.; GREEP, R. O. Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 1981. pp. 589, 603.

T. Montanari

T. Montanari

a

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d

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TATIANA MONTANARI

146

endoplasmático liso. A riqueza em mitocôndrias faz

com que o citoplasma seja eosinófilo, e a presença dos

grânulos de glicogênio e das gotículas lipídicas

confere-lhe um aspecto vacuolizado (Figuras 8.30 e

8.31).251,252,253

Figura 8.30 - Capilares sinusoides entre as placas de

hepatócitos desembocando na vênula hepática terminal (ou

centrolobular). HE. Objetiva de 40x (550x).

Quando encostados uns aos outros, os hepatócitos

delimitam um pequeno tubo, com 1 a 2µm de

diâmetro, o canalículo biliar, por onde são liberados

os componentes da bile. Entre a superfície do

hepatócito e o capilar sinusoide, há um espaço

estreito, com fibras reticulares e plasma, denominado

espaço perissinusoidal (ou de Disse) (Figura 8.31). A

membrana dos hepatócitos na região que limita o

canalículo biliar e no espaço de Disse apresenta

microvilos, o que aumenta a superfície, favorecendo o

transporte de substâncias.254

Os hepatócitos são células muito ativas

metabolicamente, por isso a abundância e a variedade

de organelas.255

Neles ocorrem o processamento e o

armazenamento dos nutrientes absorvidos no intestino

delgado, a detoxicação, a síntese das proteínas

plasmáticas e da bile.256

As substâncias absorvidas no intestino delgado são

metabolizadas nos hepatócitos. A glicose é armazenada

como grânulos de glicogênio. Estes se situam próximos

ao retículo endoplasmático liso, que possui a glicose-6-

fosfatase para a glicogenólise. Os peroxissomos estão

251

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 434, 436. 252

GENESER. Op. cit., pp. 80, 415-416. 253

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 227-229. 254

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 430, 433-435. 255

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 228. 256

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 318, 325, 327-329.

envolvidos na gliconeogênese. Os quilomícrons são

degradados em ácidos graxos e glicerol, e os ácidos

graxos são utilizados para sintetizar fosfolipídios e

colesterol ou oxidados em acetil-CoA. Os peroxissomos

encurtam as cadeias de ácidos graxos longos (acima de

18C), e as mitocôndrias realizam a -oxidação das

cadeias médias e curtas. Lipoproteínas de densidade

muito baixa (VLDL) são sintetizadas no retículo

endoplasmático rugoso e no retículo endoplasmático liso

e acumuladas temporariamente no citoplasma como

gotículas lipídicas. Vitaminas D e B12 são armazenadas.

Os lisossomos estocam ferro como ferritina. Os

aminoácidos são oxidados e degradados nos

peroxissomos, onde também se dá o catabolismo das

purinas. A amônia produzida na desaminação dos

aminoácidos é convertida em ureia nas mitocôndrias e no

citosol.257,258,259,260,261,262

Substâncias tóxicas são eliminadas nos hepatócitos.

Os peroxissomos oxidam substratos, como o álcool, e o

retículo endoplasmático liso realiza a detoxicação através

de processos de oxidação, metilação e conjugação. Este

último consiste na ligação dos compostos a radicais

solúveis em água, como sulfato e glicuronato,

possibilitando a eliminação dessas substâncias na urina

ou na bile. O retículo endoplasmático liso sofre uma

grande proliferação em resposta a uma droga, como, por

exemplo, o fenobarbital. Quando a administração é

interrompida, os lisossomos digerem a organela em

excesso.263,264,265

Os hepatócitos possuem uma abundância de

ribossomos livres e um retículo endoplasmático rugoso

bem desenvolvido para a síntese de proteínas para o uso

interno e para exportação, como as proteínas

plasmáticas: albumina, fibrinogênio, protrombina e

várias globulinas.266,267

Os hepatócitos sintetizam a bile, que é uma secreção

alcalina, constituída principalmente por água, ácidos

biliares e bilirrubina. Os ácidos biliares são produzidos

nos peroxissomos e no retículo endoplasmático liso, a

partir do ácido cólico, um produto do metabolismo do

colesterol. O ácido cólico é conjugado com os

aminoácidos taurina e glicina, formando os ácidos

taurocólico e glicocólico. Como são moléculas

anfipáticas, eles emulsificam os lipídios no tubo

257

BERTACHINI-LOMBELLO, C.; CARVALHO, H. F. Retículo

endoplasmático. In: CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A

Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. pp. 325, 327, 334. 258

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 436-439. 259

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 673. 260

LOURENÇO, L. B.; FELISBINO, S. L.; CARVALHO, H. F.

Peroxissomos. In: CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A

Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. pp. 389-391. 261

PIMENTEL, E. R. Mitocôndria. In: CARVALHO, H. F.; RECCO-

PIMENTEL, S. M. A Célula. 3.ed. Barueri: Manole, 2013. pp. 382-384. 262 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 650-651. 263

ALBERTS, B.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.;

WALTER, P. Molecular Biology of the cell. 4.ed. New York: Garland

Science, 2002. p. 742. 264

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 39, 325, 327. 265

LOURENÇO et al. Op. cit., p. 389. 266

GENESER. Op. cit., p. 418. 267

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 320.

T. Montanari

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HISTOLOGIA

147

digestório, facilitando a sua hidrólise pela lipase e a sua

absorção. A maior parte dos ácidos biliares (90%) é

reabsorvida no íleo, e os hepatócitos realizam o seu

transporte do sangue para o canalículo biliar. O restante é

degradado no intestino ou perdido nas fezes. A

bilirrubina é um pigmento verde-amarelo, insolúvel em

água, resultante da degradação da hemoglobina na

fagocitose das hemácias velhas pelos macrófagos do

baço, da medula óssea ou do fígado. Ela é captada pelo

hepatócito e, graças à enzima glicuroniltransferase,

presente no retículo endoplasmático liso, é conjugada

com o ácido glicurônico e transformada em glicuronato

de bilirrubina, solúvel em água. O glicuronato de

bilirrubina é secretado para o canalículo biliar e

excretado na bile. Na luz intestinal, é reduzido por

bactérias intestinais a urobilinogênio. A maior parte

dessa substância é eliminada nas fezes, conferindo sua

cor, mas uma quantidade menor é reabsorvida e será

posteriormente excretada com a bile.268,269,270,271,272,273

Dos canalículos biliares, a bile é dirigida para os

dúctulos biliares, que são revestidos por epitélio

simples cúbico e estão entre os hepatócitos. Os

dúctulos biliares desembocam nos ductos biliares de

epitélio simples cúbico ou colunar, situados nos

espaços porta e, portanto, com uma bainha de tecido

conjuntivo (Figura 8.29).274

As células epiteliais dos

dúctulos e dos ductos biliares secretam um líquido

rico em bicarbonato, que, junto com o suco

pancreático, neutraliza o quimo que entra no

duodeno.275

Os ductos biliares fundem-se nos ductos hepáticos

direito e esquerdo, que saem do fígado e confluem no

ducto hepático comum. A bile entra na vesícula biliar

pelo ducto cístico, um ramo lateral do ducto hepático

comum.276,277

A linfa origina-se no espaço perissinusoidal e é

drenada para os vasos linfáticos do espaço porta

(Figura 8.29).278

A linfa move-se em vasos

progressivamente maiores, saindo pelos vasos

linfáticos no hilo hepático e entrando posteriormente

no ducto torácico.279

268

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 437-438. 269

GENESER. Op. cit., p. 421. 270

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 674. 271

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 325, 327-329. 272

LOURENÇO et al. Op. cit., pp. 390-391. 273

STEVENS, A.; LOWE, J. Histologia. São Paulo: Manole, 1995. p.

182. 274

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 325. 275

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 434. 276

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 325, 330. 277

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 233-235. 278

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 316. 279

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 648.

No fígado, além dos hepatócitos, estão presentes

as células estreladas hepáticas e os macrófagos. As

células estreladas hepáticas (ou células de Ito) estão

situadas no espaço de Disse, armazenam vitamina A

em gotículas lipídicas e produzem fatores de

crescimento e componentes da matriz extracelular,

como as fibras reticulares. Os macrófagos (ou células

de Kupffer) fazem parte do revestimento dos

sinusoides e fagocitam hemácias velhas, bactérias,

vírus e material particulado presente no sangue

(Figura 8.31).280,281,282

Figura 8.31 - Macrófago (célula de Kupffer) que fagocitou

partículas de nanquim em um capilar sinusoide. Entre

hepatócitos, é apontado um canalículo biliar e, entre os

hepatócitos e o sinusoide, há o espaço perissinusoidal (EP).

HE. Objetiva de 100x (1.373x).

Os hepatócitos duram cerca de 150 dias, mas, em

caso de lesão, proliferam intensamente, regenerando o

órgão.283

O dano hepático crônico, causado, por exemplo, pelo

álcool ou pelo vírus da hepatite B ou C, pode resultar em

cirrose. Há uma necrose hepatocelular de longa duração,

e o processo inflamatório estimula a secreção de fatores

de crescimento pelas células recrutadas na resposta

inflamatória, pelas células de Kupffer ou até mesmo

pelos hepatócitos. Esses fatores induzem a diferenciação

das células estreladas hepáticas em miofibroblastos, os

quais produzem colágeno do tipo I. O fígado exibe

nódulos de hepatócitos regenerados separados por feixes

de fibras colágenas. Essa fibrose desorganiza a

arquitetura hepática e pode obstruir o fluxo sanguíneo no

sistema portal, gerando hipertensão portal.284

280

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 432-433, 437, 440. 281

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 320, 329. 282

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 321-322. 283

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 440. 284

STEVENS, A.; LOWE, J. Patologia. 2.ed. São Paulo: Manole, 1998.

pp. 247-252, 254-257, 259-260.

EP T. Montanari

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TATIANA MONTANARI

148

2.4.3 Vesícula biliar

É um órgão oco, piriforme, com 3 a 5cm de

diâmetro e 10cm de comprimento e capacidade para

50mL, situado na superfície inferior do fígado.

Divide-se anatomicamente em: colo, o qual se une ao

ducto cístico; corpo, que é a maior parte, e fundo, a

extremidade cega.285

A bile produzida no fígado é armazenada e

concentrada na vesícula biliar. A mucosa forma

pregas quando o órgão está vazio. O epitélio é simples

colunar com microvilos (Figuras 8.32 a 8.34). Estes

aumentam a superfície para a absorção de água e

eletrólitos. A água e os íons Cl- acompanham os íons

Na+ transportados ativamente pelas Na

+-K

+ ATPases

presentes na membrana basolateral. Dos espaços

intercelulares, os íons entram nos capilares

fenestrados e nas vênulas do tecido conjuntivo frouxo

da lâmina própria.286,287

Cortes transversais das partes profundas das

pregas lembram glândulas (Figuras 8.32 e 8.33). As

glândulas são restritas ao colo. Elas são glândulas

mucosas, cuja secreção lubrifica a luz dessa região.288,

289,290

A túnica muscular é constituída por feixes

entrelaçados de músculo liso, com fibras colágenas e

elásticas.291

Subjacente há tecido conjuntivo denso

não modelado contínuo à cápsula do fígado

(adventícia) ou recoberto por mesotélio (serosa ou

peritônio visceral) (Figura 8.32).292,293

A bile sai da vesícula biliar pelo ducto cístico e é

liberada no duodeno pelo ducto biliar comum (ou

colédoco), que se continua ao ducto hepático

comum.294,295

O ducto biliar comum apresenta um

esfíncter que regula o fluxo da bile para o duodeno.296

A bile promove a emulsificação dos lipídios,

facilitando a digestão pelas lipases e sua absorção.297

285

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 325. 286

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 440-442. 287

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 654-657, 672-673. 288

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 440-441. 289

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 677-678. 290

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 672-673. 291

Ibid. pp. 655, 672-673. 292

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 234-235. 293

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 325-326. 294

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 233-235. 295

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 325. 296

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 330. 297

Ibid. p. 329.

Figura 8.32 - Corte de vesícula biliar. São visíveis as

pregas da mucosa, constituída por epitélio simples colunar

com microvilos e lâmina própria de tecido conjuntivo

frouxo. Os recessos correspondem à parte profunda da

prega ( ). Subjacente à mucosa há a camada muscular (M)

e a serosa (S). HE. Objetiva de 3,2x.

Figura 8.33 - Vesícula biliar, cuja mucosa forma pregas. O

que parece ser uma glândula ( ) é um corte transversal da

parte profunda de uma prega. Subjacente à mucosa há a

muscular de músculo liso (M) entremeada com tecido

conjuntivo. HE. Objetiva de 10x (137x).

T. Montanari

SA

MSA

T. Montanari

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HISTOLOGIA

149

Figura 8.34 - Prega da mucosa da vesícula biliar,

mostrando o epitélio simples colunar com microvilos. HE.

Objetiva de 10x.

Os cálculos biliares são constituídos de colesterol

e/ou bilirrubinato de cálcio.298

Se ficarem retidos no

ducto cístico, a vesícula biliar contrai-se com intensidade

para tentar vencer a obstrução, e a musculatura espessa-

se. A estagnação da bile leva à infecção, com dor e febre.

Se ele ficar preso no ducto biliar comum, impede o fluxo

da bile para o duodeno, e a bile acumulada nos

canalículos biliares entra na corrente sanguínea, através

dos capilares sinusoides, resultando em icterícia. Sem os

ácidos biliares no duodeno, a degradação da gordura é

prejudicada, e, devido à ausência da bilirrubina, as fezes

ficam claras.299

3 QUESTIONÁRIO

1) Qual é o tipo de epitélio que reveste a cavidade

oral, a língua, a faringe e o esôfago? Por quê?

2) Descreva as maiores glândulas salivares segundo a

sua morfologia e a secreção que realizam.

298

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 442. 299

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 236.

3) O que são as papilas linguais? Caracterize-as

morfológica e funcionalmente.

4) Compare a histologia do esôfago, do duodeno, do

jejuno, do íleo e do intestino grosso.

5) Justifique a presença de glândulas mucosas no

esôfago e no duodeno.

6) O que são fossetas gástricas e qual é o tipo de

célula que as constituem? Qual é a importância da sua

secreção?

7) Relacione a coloração das células oxínticas e das

células zimogênicas pela hematoxilina e eosina com a

sua morfologia e secreção.

8) Quais são as funções do intestino delgado e quais

são as características da mucosa e das células

epiteliais relacionadas com elas?

9) Por que a presença de microvilosidades e de células

caliciformes no epitélio do intestino grosso?

10) Justifique a presença de nódulos linfáticos no íleo

e no intestino grosso.

11) Quais são as substâncias que o pâncreas produz

(nomeie as estruturas que as produzem) e para onde

são secretadas?

12) Descreva a histologia do fígado?

13) Relacione as funções do hepatócito com as

organelas responsáveis?

14) Como a vesícula biliar concentra a bile?

T. Montanari

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151

Sistema Respiratório Capítulo 9

1 FUNÇÕES

O sistema respiratório permite o transporte do O2

para o sangue, a fim de ser distribuído para as células,

e a retirada do CO2, dejeto do metabolismo celular, do

sangue para o exterior. Ele está envolvido na fala e

nele ocorre ainda o olfato e, implicado com este, a

percepção de sabores mais apurados.1

2 CONSTITUINTES

O sistema respiratório pode ser dividido em uma

porção condutora, que conduz o ar para os locais onde

se dão as trocas gasosas, e uma porção respiratória,

onde ocorre a troca de gases entre o ar e o sangue. A

porção condutora é formada por: cavidades nasais,

faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e

bronquíolos terminais. A porção respiratória consiste

em: bronquíolos respiratórios, ductos alveolares, sacos

alveolares e alvéolos (Figura 9.1).2,3

2.1 Cavidade nasal

A cavidade nasal é dividida em metades simétricas

pelo septo nasal.4 Ela contém o vestíbulo, a área

olfatória e a área respiratória (Figura 9.1).5

O vestíbulo corresponde ao segmento inicial da

cavidade nasal (1,5cm), situado na parte externa do

nariz e comunica-se com o exterior através das

narinas. Seu epitélio é estratificado pavimentoso,

sendo queratinizado na porção anterior, contínua à

epiderme da face. A presença de pelos (vibrissas) e a

secreção de glândulas sebáceas protege contra a

1 LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. p. 166. 2 OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008. p. 334. 3 ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2012. pp. 676-677, 690. 4 SOROKIN, S. P. O sistema respiratório. In: WEISS, L.; GREEP, R. O.

Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. p. 645. 5 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas.

12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 337.

entrada de poeira. A cartilagem hialina dá

sustentação.6,7,8,9

Figura 9.1 - Ilustração do sistema respiratório. Fonte:

Montanari, T.; Borges, E. O. Museu virtual do corpo

humano. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Disponível em

http://www.ufrgs.br/museuvirtual

No teto da cavidade nasal e na parte superior das

paredes laterais e do septo nasal, há a área olfatória.

O epitélio é pseudoestratificado colunar, constituído

pelas células olfatórias, células de sustentação, células

em escova e células basais. As células olfatórias são

neurônios bipolares, com o dendrito voltado para a

superfície e o axônio penetrando o tecido conjuntivo e

dirigindo-se para o sistema nervoso central. Os

axônios das células olfatórias formam o nervo

olfatório (nervo craniano I). As células de sustentação

são colunares e com microvilos. Além do suporte

físico, secretam proteínas de ligação aos odorantes. As

células em escova são também colunares e com

microvilos, mas a superfície basal está em contato

sináptico com fibras nervosas do nervo trigêmeo

(nervo craniano V). Elas parecem estar envolvidas na

transdução da sensação geral da mucosa. As células

basais são pequenas e arredondadas. São células-

6 GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. pp. 351-353. 7 GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. p. 423. 8 HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. p. 683. 9 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 677-678.

Eliane de Oliveira Borges

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TATIANA MONTANARI

152

tronco e originam as células olfatórias e as células de

sustentação.10,11

A secreção serosa das glândulas ofatórias (ou de

Bowman) dissolve as substâncias odoríferas para

permitir sua percepção pelas células olfatórias;

contém IgA, lactoferrina, lisozima e proteínas de

ligação a odorantes, e, pelo fluxo contínuo, remove os

compostos que estimularam o olfato, mantendo os

receptores aptos para novos estímulos.12,13,14,15

A maior parte da cavidade nasal é a área

respiratória e é assim denominada porque o seu

epitélio é típico do sistema respiratório, ou seja,

pseudoestratificado colunar ciliado com células

caliciformes. O muco secretado pelas células

caliciformes aprisiona as partículas inaladas e é

deslocado pelo batimento dos cílios para a faringe,

onde é deglutido ou expectorado.16,17

A área superficial é aumentada pelas conchas

nasais e pelos seios paranasais. As conchas nasais

(superior, média e inferior) são projeções ósseas das

paredes laterais da cavidade nasal, e os seios

paranasais são cavidades nos ossos da face que se

comunicam com a cavidade nasal por uma série de

orifícios. Ambas estruturas são revestidas pelo epitélio

do tipo respiratório, ou seja, pseudoestratificado

colunar ciliado com células caliciformes. O muco dos

seios paranasais é drenado para a cavidade nasal pela

atividade ciliar.18,19,20,21

O tecido conjuntivo da cavidade nasal e dos seios

paranasais é ricamente vascularizado, permitindo a

umidificação e o aquecimento do ar. Possui glândulas

seromucosas, cuja secreção serosa contribui para a

umidificação e contém enzimas, como a amilase ou a

lisozima, e a secreção mucosa suplementa aquela das

células caliciformes para capturar o material inalado.22

Na lâmina própria da cavidade nasal, há muitas

células de defesa, sendo os eosinófilos abundantes nas

pessoas com rinite alérgica.23

10

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 168-170. 11 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 679-682. 12 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 355. 13

GENESER. Op. cit., pp. 424-425. 14

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 168. 15 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 682, 700. 16

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 334-335, 337. 17

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 166-167. 18

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 685. 19

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 337-338. 20

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 166, 168, 171. 21 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 677-678, 682. 22

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 166-167, 171, 175. 23

Ibid. p. 166.

A lâmina própria da cavidade nasal adere-se ao

pericôndrio ou ao periósteo subjacente. As paredes

cartilaginosas e ósseas proporcionam rigidez durante a

inspiração.24

2.2 Faringe

Posterior à cavidade nasal, há a nasofaringe, cujo

epitélio é pseudoestratificado colunar ciliado com

células caliciformes. Sob este, há a tonsila faríngea.

As células do tecido linfoide examinam antígenos

inalados e desencadeiam a resposta imunológica. O ar

também passa pela orofaringe, que, pelo atrito do

alimento, é revestida por epitélio estratificado

pavimentoso.25,26

2.3 Laringe

É um tubo com cerca de 4cm de diâmetro e 4 a

5cm de comprimento, que impede a entrada de

alimentos e líquido para o sistema respiratório e

permite a produção de sons.27,28,29

Seu epitélio é pseudoestratificado colunar ciliado

com células caliciformes e, na superfície lingual e na

metade superior da superfície laríngea da epiglote, que

fazem contato com o bolo alimentar na sua passagem

para o esôfago, e nas pregas vocais, que sofrem o

atrito da corrente do ar durante a fala, é estratificado

pavimentoso.30,31,32,33

A lâmina própria da laringe, exceto nas pregas

vocais, contém glândulas seromucosas.34

Subjacente

há peças de cartilagem hialina (tireoide, cricoide e

parte inferior das aritenoides) e de cartilagem elástica

(epiglote, parte superior das aritenoides e cartilagens

corniculadas e cuneiformes). As cartilagens mantêm a

laringe aberta, permitindo a passagem do ar e, em

virtude da ação dos músculos intrínsecos e extrínsecos

da laringe, de músculo estriado esquelético, podem se

mover, impedindo a entrada de alimento durante a

deglutição.35,36,37

24

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 335. 25

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 624-625. 26

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 167-168, 198. 27 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 357. 28

GENESER. Op. cit., p. 425. 29

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 170. 30

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 687-688. 31

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 170-172. 32

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 337-338. 33 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 682-683, 702-703. 34

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 338. 35 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 357. 36

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 170-172.

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HISTOLOGIA

153

As pregas vocais também se movimentam graças

ao músculo estriado esquelético: o músculo vocal, que

se liga aos músculos intrínsecos da laringe. E há

ainda, entre o epitélio e o músculo vocal, o ligamento

vocal, de tecido elástico, contribuindo para a sua

ação.38

2.4 Traqueia

É um tubo com 10 a 12cm de comprimento e 2 a

3cm de diâmetro.39,40

É revestida por epitélio pseudoestratificado

colunar ciliado com células caliciformes. O tecido

conjuntivo subjacente é ricamente vascularizado, o

que umidifica e aquece o ar. Tem glândulas mucosas e

seromucosas, e a secreção das células caliciformes e

das glândulas forma um tubo mucoso, que é deslocado

em direção à faringe pelo batimento ciliar, retirando

as partículas inspiradas (Figuras 9.2 a 9.4). Os cílios

não alcançam a camada de muco, porque interposto

entre eles há o fluido seroso.41,42

A traqueia apresenta 16 a 20 peças de cartilagem

hialina (Figuras 9.2 a 9.3) em C, com as extremidades

unidas por músculo liso. Os anéis cartilaginosos

evitam o colapso da parede. A contração do músculo

diminui a luz, aumentando a velocidade do fluxo de

ar, o que é importante para expulsar partículas

estranhas no reflexo da tosse.43,44

A traqueia é envolvida pela adventícia (Figura

9.3): tecido conjuntivo frouxo, rico em células

adiposas, comum aos órgãos vizinhos, como o

esôfago e a tireoide.45,46,47

37 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 682. 38

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 170-172. 39 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 358. 40

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 172-173. 41 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 355, 358-360. 42

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 338. 43 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 358, 360. 44

SOROKIN. Op. cit., pp. 655, 657. 45 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 360. 46

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 173. 47

SOROKIN. Op. cit., p. 658.

Figura 9.2 - Corte da traqueia, mostrando o muco sobre a

superfície luminal, o epitélio pseudoestratificado colunar

ciliado com células caliciformes, o tecido conjuntivo com

muitos vasos sanguíneos e células adiposas e a cartilagem

hialina. HE. Objetiva de 10x (137x).

Figura 9.3 - Fotomicrografia da traqueia, onde são

visualizados: o epitélio pseudoestratificado colunar ciliado

com células caliciformes; o tecido conjuntivo com

glândulas seromucosas; a cartilagem hialina com

pericôndrio bem desenvolvido na face externa (P), e a

adventícia (A). Tricrômico de Masson. Objetiva de 10x.

A

P

Tatiana Montanari

Tatiana Montanari, UNICAMP

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TATIANA MONTANARI

154

Figura 9.4 - Epitélio pseudoestratificado colunar ciliado

com células caliciformes da traqueia. As partículas inaladas

são capturadas pelo muco das células caliciformes ( ), e

esse muco é deslocado pelos cílios ( ) em direção à

faringe. HE. Objetiva de 40x (550x).

2.5 Brônquios

A traqueia bifurca-se nos brônquios primários (ou

principais), que, ao entrarem nos pulmões, ramificam-

se em três brônquios secundários (ou lobares) no

pulmão direito e dois no esquerdo: um para cada lobo

pulmonar. Eles se ramificam nos brônquios terciários

(ou segmentares): 10 deles no pulmão direito e oito no

pulmão esquerdo.48,49

O epitélio é pseudoestratificado colunar ciliado

com células caliciformes. No tecido conjuntivo

subjacente, há glândulas seromucosas, e as células de

defesa podem se acumular em nódulos linfáticos. Nos

brônquios extrapulmonares, assim como na traqueia, a

cartilagem hialina é em forma de C, e o músculo liso

está localizado posteriormente, entre as extremidades

da cartilagem. Nos brônquios intrapulmonares, a

cartilagem é irregular, o que faz com que, no corte

histológico, sejam visualizados pedaços de cartilagem,

e o músculo liso está disposto internamente à

cartilagem (Figuras 9.5 e 9.6). 50,51,52

Além de transportar o ar, a árvore brônquica

aquece-o pela presença de vasos sanguíneos na sua

proximidade, umidifica-o pela secreção serosa das

glândulas e limpa-no através do muco das células

caliciformes e das glândulas e o movimento dos

cílios.53

48

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 173. 49 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 688-689. 50

GENESER. Op. cit., p. 430. 51

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 691-692. 52

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 173-175. 53

Ibid. pp. 166, 175.

Figura 9.5 - Brônquio intrapulmonar. HE. Objetiva de 4x

(55x).

Figura 9.6 - Aumento maior do brônquio, mostrando: o

epitélio pseudoestratificado colunar ciliado com células

caliciformes, glândulas (G) no conjuntivo subjacente, o

músculo liso e a cartilagem hialina. HE. Objetiva de 10x.

2.6 Bronquíolos

A ramificação dos brônquios terciários resulta nos

bronquíolos (primários).54

Cada bronquíolo ramifica-

se geralmente em cinco a sete bronquíolos terminais.55

Cada um destes origina, por sua vez, dois bronquíolos

respiratórios.56

Distalmente há uma simplificação das

54 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 361-362. 55

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 695. 56

SOROKIN. Op. cit., p. 669.

G

Tatiana Montanari Tatiana Montanari

Tatiana Montanari

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HISTOLOGIA

155

estruturas constituintes, uma diminuição da altura do

epitélio e uma redução no tamanho da luz.57

Os bronquíolos têm menos do que 1mm de

diâmetro. O epitélio é simples colunar ou cúbico

ciliado e com células caliciformes ocasionais. Não há

glândulas, nem cartilagem, mas o músculo liso é

espesso (Figura 9.7).58,59

Os bronquíolos terminais (Figura 9.8) têm

diâmetro menor de 0,5mm. São de epitélio simples

cúbico ciliado, com células de Clara. Essas células

não são ciliadas; possuem retículo endoplasmático

rugoso, retículo endoplasmáticlo liso e mitocôndrias

em abundância, e exibem um ápice em forma de

cúpula, com grânulos de secreção. Produzem um

agente tensoativo lipoproteico, que reduz a tensão

superficial dos bronquíolos, evitando o seu

colabamento. Os bronquíolos terminais apresentam

uma delgada camada de tecido conjuntivo com fibras

elásticas e uma a duas camadas de células musculares

lisas.60,61,62

Nos bronquíolos respiratórios, o epitélio é

simples cúbico ciliado, com células de Clara,

interrompido por células pavimentosas (Figura 9.8),

que correspondem aos alvéolos e permitem as trocas

gasosas. O epitélio é circundado por tecido conjuntivo

e músculo liso.63,64

Nos pulmões, o sangue oxigenado e com

nutrientes entra com as artérias brônquicas, ramos da

aorta torácica, e o sangue a ser oxigenado, trazido do

ventrículo direito, entra com as artérias pulmonares.

Elas se ramificam, acompanhando a árvore brônquica

(Figura 9.7) e originam capilares brônquicos

fenestrados e capilares pulmonares contínuos no nível

dos bronquíolos respiratórios, onde se anastomosam.

O sangue na rede capilar da porção respiratória torna-

se oxigenado. Os capilares confluem em vênulas e

veias pulmonares, as quais levam o sangue oxigenado

para o átrio esquerdo a fim de ser distribuído para os

tecidos.65,66,67

Da sua origem no anel da valva pulmonar até a

junção brônquica/bronquiolar, a artéria pulmonar é

uma artéria elástica. Acompanhando os bronquíolos, o

bronquíolo terminal e o bronquíolo respiratório, a

artéria pulmonar é uma artéria muscular. Como o

57

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 175. 58

Ibid. 59 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 689-691. 60 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 362-363. 61

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 175-176. 62

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 690-691. 63

GENESER. Op. cit., p. 431. 64 OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 344-345, 348. 65 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 371. 66

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 143-144, 179, 181-182. 67

SOROKIN. Op. cit., p. 685.

sistema arterial e venoso pulmonar é um sistema de

baixa pressão (a pressão sistólica da artéria pulmonar

é 25mmHg), a estrutura desses vasos difere daquela

encontrada na circulação sistêmica, sendo suas

paredes mais finas (Figura 9.7).68

Figura 9.7 - Bronquíolo e, ao redor, alvéolos e um ramo da

artéria pulmonar. HE. Objetiva de 10x (137x).

2.7 Ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos

Cada bronquíolo respiratório ramifica-se em dois

a dez ductos alveolares. Eles são condutos

constituídos por alvéolos, portanto, de epitélio simples

pavimentoso, circundados por fibras reticulares e

elásticas e por células musculares lisas. O músculo

liso termina nos ductos alveolares. Cada ducto

alveolar desemboca em dois ou três sacos alveolares,

também de alvéolos (Figura 9.8).69,70,71,72

68

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 179-180. 69

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 343. 70

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 176. 71

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 345, 348. 72

SOROKIN. Op. cit., pp. 669, 676.

Tatiana Montanari

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TATIANA MONTANARI

156

Figura 9.8 - Bronquíolo terminal (T), com epitélio simples

cúbico; bronquíolo respiratório (R), ainda de epitélio

simples cúbico, mas já com alvéolos; ducto alveolar (D) e

saco alveolar (S), constituídos por alvéolos. HE. Objetiva

de 10x (137x).

O alvéolo é um espaço delimitado por epitélio

simples pavimentoso, formado pelos pneumócitos do

tipo I e do tipo II. Os pneumócitos do tipo I são

células pavimentosas, cuja pequena espessura facilita

a difusão do O2 para o sangue. Estão unidas por

junções de oclusão, o que evita a passagem de fluido

extracelular para a luz do alvéolo. Os pneumócitos do

tipo II são células cúbicas, com núcleo esférico e

citoplasma vacuolizado ao microscópio de luz, devido

à presença de corpos lamelares com o surfactante

pulmonar, um complexo lipoproteico (fosfolipídios,

glicosaminoglicanos e proteínas), que é exocitado da

célula e recobre a superfície dos alvéolos, diminuindo

a tensão superficial, o que facilita a expansão na

inspiração e evita o seu colabamento na expiração.73,74

Os pneumócitos do tipo II são capazes de se dividir e

de se diferenciar em pneumócitos do tipo I, o que é

importante para recuperar o parênquima pulmonar em

caso de dano.75

A região formada pelos pneumócitos de dois

alvéolos adjacentes com o delgado tecido conjuntivo

interposto é o septo interalveolar. No tecido

conjuntivo, são encontrados fibroblastos, macrófagos,

mastócitos, fibras reticulares e elásticas, substância

fundamental e capilares. As fibras reticulares dão

sustentação ao parênquima pulmonar, e as fibras

elásticas permitem a expansão dos pulmões durante a

inspiração e, com a sua retração, ajudam a expelir o ar

dos alvéolos.76,77,78

As trocas gasosas ocorrem nos locais onde o septo

interalveolar é bastante estreito (menos de 2µm de

largura), restrito aos pneumócitos do tipo I e o capilar,

os quais estão tão próximos que as suas lâminas basais

se fundem. O O2 presente no alvéolo difunde-se para o

sangue, atravessando o pneumócito do tipo I e a sua

lâmina basal e a lâmina basal e o endotélio do capilar

(barreira hematoaérea). No sangue, o O2 liga-se à

hemoglobina do eritrócito. O CO2 presente no sangue

pode ser eliminado do organismo fazendo o caminho

inverso, e do alvéolo será levado ao exterior pelas vias

respiratórias.79,80,81

Frequentemente os alvéolos comunicam-se por

meio de orifícios na parede alveolar: os poros

alveolares. Eles devem equilibrar as diferenças de

pressão.82

Os macrófagos alveolares migram entre os

pneumócitos tipo I e entram na luz do alvéolo, onde

fagocitam material particulado, bactérias e o

surfactante em excesso e secretam enzimas, como

lisozima, colagenase, elastase e hidrolases ácidas.

Depois da fagocitose, os macrófagos aderem ao muco

e são empurrados pelos cílios para a faringe e são

eliminados pela deglutição ou expectoração; entram

nos bronquíolos respiratórios e terminais, onde

73 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 365-368. 74

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 176-177. 75

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 350. 76 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 353, 364-366, 369. 77

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 343, 345-346. 78

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 178-179. 79 GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 366, 369. 80

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 178-179. 81

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 348-349. 82

GENESER. Op. cit., pp. 431, 433.

Tatiana Montanari

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HISTOLOGIA

157

passam para os vasos linfáticos e então para os

linfonodos, ou podem ainda retornar ao tecido

conjuntivo do septo interalveolar e permanecer por

toda a vida no indivíduo.83,84

3 QUESTIONÁRIO

1) No trajeto do ar pela porção condutora do sistema

respiratório, como ele é limpo de impurezas, aquecido

e umedecido?

2) Quais são as regiões da cavidade nasal? Descreva a

sua histologia?

3) Por que a laringe, a traqueia e os brônquios têm

peças cartilaginosas?

4) Compare histologicamente o brônquio e o

bronquíolo.

5) Compare histologicamente o bronquíolo terminal, o

bronquíolo respiratório e o ducto alveolar?

6) Qual é o tipo de epitélio dos alvéolos e dos

capilares para facilitar as trocas gasosas entre a luz do

alvéolo e o sangue?

7) Qual é a substância que facilita a expansão dos

alvéolos durante a inspiração e evita que eles colabem

durante a expiração? Ela é secretada por qual célula?

83

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 178-179. 84 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 695.

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159

Sistema Urinário Capítulo 10

1 FUNÇÕES

O sistema urinário retira do organismo, através da

urina, as substâncias em excesso e os produtos

residuais do metabolismo, contribuindo para a

manutenção da homeostase, ou seja, da composição

química do meio interno.1

2 CONSTITUINTES

A urina é produzida nos rins, passa pelos ureteres

até a bexiga, onde é armazenada, e é lançada ao

exterior por meio da uretra (Figura 10.1).2

2.1 Rins

Estão localizados no espaço retroperitoneal da

parede abdominal posterior, cada um do lado da

coluna vertebral, na altura da 12ª vértebra torácica à

terceira vértebra lombar, sendo o rim direito

ligeiramente mais inferior, por causa da posição do

fígado (Figura 10.1). Cada rim pesa cerca de 150g e

mede 10-12cm de comprimento, 4-6,5cm de largura e

2-3cm de espessura.3,4,5

Os rins são envolvidos por tecido adiposo, o qual

confere proteção contra choques. Possuem uma

cápsula de tecido conjuntivo denso, com muitos

miofibroblastos na porção interna. Exibem uma borda

lateral convexa e uma borda medial côncava, na qual

se situa o hilo. Neste entram e saem os vasos

sanguíneos e linfáticos e os nervos e emerge a pelve

renal, a parte superior e expandida do ureter.6,7,8

1 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 12.ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 368 2 Ibid.

3 GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 443. 4 GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. p. 439. 5 ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2012. pp. 711, 740. 6 BULGER, R. E. O sistema urinário. In: WEISS, L.; GREEP, R. O.

Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. p. 700.

Figura 10.1 - Representação do sistema urinário (em

verde). Baseado em Snell, R. S. Histologia clínica. Rio de

Janeiro: Discos CBS, Interamericana, 1985. p. 413.

Os rins podem ser divididos em: córtex e medula.

O córtex possui estruturas vasculares, os corpúsculos

renais (ou de Malpighi), onde o sangue é filtrado. O

fluido formado percorre um sistema tubular nas

regiões cortical e medular, onde sofre modificações e

torna-se a urina. Os túbulos da medula, devido ao seu

arranjo e à diferença de comprimento, constituem

estruturas cônicas, as pirâmides medulares. A base da

pirâmide medular situa-se no limite corticomedular, e

o ápice (papila) é voltado para o hilo. Uma pirâmide

medular e o tecido cortical adjacente constituem um

lobo renal. O rim humano possui seis a 18 pirâmides

medulares, sendo, portanto, multilobar. Os ductos

coletores da urina abrem-se na extremidade da papila,

formando a área crivosa ou cribiforme (do latim

cribrum, coador). Cada papila projeta-se em um cálice

menor. Os cálices menores unem-se em dois a quatro

cálices maiores, que, por sua vez, desembocam na

pelve renal (Figura 10.2).9,10,11

7 OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008. pp. 354, 357. 8 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 711-712, 740.

9 GENESER. Op. cit., pp. 439-442.

10 HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. pp. 710-713. 11 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 712-716, 740-741.

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TATIANA MONTANARI

160

Figura 10.2 - Corte de rim, onde são indicados: a zona

cortical (ZC), com os corpúsculos renais ( ); a zona

medular, subdividida em externa (ZME) e interna (ZMI); a

papila (P), e um cálice (C). HE. Objetiva de 4x (55x).

Diferentemente do rim humano que é multilobar, o

rim do rato e do coelho é unilobar, possuindo somente

uma pirâmide medular e consequentemente uma papila.12

O rim do rato e do coelho é pequeno o bastante para

que o seu corte longitudinal seja visualizado na lâmina

histológica. Além disso, como é unilobar, facilita a

compreensão da arquitetura renal.13

A unidade funcional dos rins é o túbulo urinífero,

composto pelo néfron e pelo tubo coletor, de origens

embriológicas diferentes. O néfron mede 30 a 55mm,

12

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 709-713. 13

Ibid. pp. 709-710.

e o tubo coletor, 20mm de comprimento. O néfron é

constituído por: corpúsculo renal (ou de Malpighi),

túbulo proximal, alça de Henle (ou túbulo

intermediário) e túbulo distal. Vários néfrons

desembocam em um tubo coletor (Figura 10.3). O

lóbulo renal é a parte do órgão em que os néfrons

drenam para o mesmo tubo coletor.14,15,16

O corpúsculo renal (ou de Malpighi) mede 150 a

250µm de diâmetro. Ele consiste no glomérulo (do

latim glomerulus, pequena bola), um enovelamento de

capilares, e na cápsula de Bowman, que possui dois

folhetos: um externo, o folheto parietal, de epitélio

simples pavimentoso, e outro interno, acolado aos

capilares, o folheto visceral, formado por células

epiteliais modificadas, os podócitos (do grego podos,

pés). Entre os dois folhetos, há o espaço capsular, que

recebe o líquido filtrado através da parede dos

capilares e do folheto visceral. O corpúsculo renal

apresenta um polo vascular, pelo qual entra a arteríola

aferente, que origina os capilares do glomérulo, e sai a

arteríola eferente, resultante desses capilares, e um

polo urinário, por onde sai o filtrado (Figuras 10.2 a

10.5).17,18

Figura 10.3 - Ilustração do túbulo urinífero, constituído

pelo néfron (em rosa) e pelo tubo coletor (em cinza). O

néfron é composto por: corpúsculo renal (CR), túbulo

proximal (TP), alça de Henle (AH) e túbulo distal (TD).

Fonte: Montanari, T.; Borges, E. O. Museu virtual do corpo

humano. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Disponível em

http://www.ufrgs.br/museuvirtual

14

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 444, 451, 456. 15

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 710-712, 714. 16

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 356. 17

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 708, 714-715, 720-721. 18

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 315, 318.

Eliane de Oliveira Borges

TP

TD

AH

CR

Tatiana Montanari

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HISTOLOGIA

161

O histologista italiano Marcello Malpighi (1628-

1694) descobriu os corpúsculos e os túbulos renais,

estabelecendo as bases para o estudo do rim. O

anatomista e patologista alemão Friedrich Gustav Henle

(1809-1885) publicou o primeiro tratado de histologia,

sendo homenageado com a denominação alça de Henle

para um segmento do néfron. O histologista inglês

William Bowman (1816-1892) identificou a cápsula do

corpúsculo renal, entre outras estruturas do corpo.19

A observação dos corpúsculos renais na zona

cortical permite o rápido diagnóstico histológico do rim

(Figura 10.2).

Os capilares do glomérulo são fenestrados, mas a

lâmina basal é espessa, secretada com contribuição

dos podócitos. Essas células possuem um grande

corpo celular, de onde se projetam numerosos

prolongamentos, que se interpenetram e se ancoram à

lâmina basal dos capilares pela ligação das integrinas

à laminina. Os espaços entre os prolongamentos, as

fendas de filtração, são cobertos por uma fina

membrana que ajuda na filtração. A trama organizada

pelo colágeno do tipo IV na lâmina basal e pelos

prolongamentos dos podócitos atua como uma

barreira física à passagem de moléculas com mais do

que 69kDa (ou 4nm), e a carga negativa das

proteoglicanas da lâmina basal e das sialoproteínas do

glicocálix dos podócitos produz uma barreira

eletroquímica contra a passagem de moléculas

aniônicas. A filtração do sangue por essa barreira gera

um filtrado de composição semelhante à do plasma,

mas quase sem proteínas, pois as macromoléculas

geralmente não atravessam a lâmina basal dos

capilares e o folheto visceral da cápsula de

Bowman.20,21,22

A lâmina basal do glomérulo pode ser alterada em

algumas doenças. Por exemplo, no diabetes mellitus, ela

pode ser três a cinco vezes mais espessa devido a um

aumento na síntese de colágeno do tipo IV. Como a

síntese de proteoglicanas é diminuída, ela é mais

permeável às proteínas, assim o indivíduo apresenta

proteinúria. Algumas vezes tanta proteína plasmática é

perdida na urina que o fígado não consegue repor, e o

baixo nível sanguíneo de albumina causa edema.23

19

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 356. 20

BOER, P. A.; GONTIJO, J. A. R. Podócitos. In: CARVALHO, H. F.;

COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma abordagem multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. pp. 211, 215-218. 21

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 445-446, 448, 461. 22

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 315-316, 319, 329. 23

LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. pp. 295-296.

Entre os capilares, há as células mesangiais e a sua

matriz extracelular, constituindo o mesângio. As

células mesangiais são irregulares, com vários

prolongamentos e núcleo esférico ou ovoide (Figura

10.4). O citoplasma contém filamentos de miosina e

receptores para angiotensina II. Além de sustentar os

capilares, as células mesangiais devem ter um papel

no controle do fluxo sanguíneo, já que a angiotensina

II estimula a contração dos filamentos de miosina.

Pela atividade fagocitária, removem macromoléculas

retidas na lâmina basal dos capilares e nas fendas de

filtração dos podócitos.24,25

A matriz mesangial é

constituída pelos colágenos do tipo IV, V e VI, pela

fibronectina, pela laminina e por proteoglicanas.26

Figura 10.4 - Corte semifino de rim, onde os constituintes

do corpúsculo renal são observados com melhor resolução:

folheto parietal da cápsula de Bowman (B), de epitélio

simples pavimentoso; folheto visceral da cápsula de

Bowman, formado pelos podócitos (P), que estão sobre os

capilares do glomérulo, e células mesangiais entre os

capilares (M). Os capilares são contínuos à arteríola

aferente (A). Azul de toluidina. Objetiva de 100x (1.373x).

A arteríola eferente divide-se em um sistema

capilar que corre no tecido conjuntivo intersticial: a

rede capilar peritubular na zona cortical e os vasos

retos na zona medular.27

Os capilares do córtex e da

medula são fenestrados.28

24

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 292, 296-297. 25 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 723, 725. 26

BOER & GONTIJO. Podócitos. Op. cit., p. 213. 27

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 289-290. 28

GENESER. Op. cit., p. 455.

Tatiana Montanari

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TATIANA MONTANARI

162

O filtrado passa do espaço capsular para o túbulo

proximal. Ele é a porção mais longa do néfron. É

inicialmente tortuoso e é denominado túbulo

contorcido proximal. Assim como o corpúsculo renal,

com quem se comunica, situa-se no córtex. Mede

cerca de 14mm de comprimento e 30 a 60µm de

diâmetro. Ao tornar-se retilíneo, é chamado túbulo

reto proximal e localiza-se na medula externa. O

túbulo proximal é formado por epitélio simples cúbico

com microvilos (Figuras 10.2 a 10.3 e 10.5 a

10.6).29,30

As células do túbulo proximal absorvem eventuais

proteínas, aminoácidos, glicose, íons bicarbonato e

cerca de 67 a 80% dos íons Na+ e Cl

- e da água do

filtrado. As proteínas entram por endocitose e são

degradadas nos lisossomos em aminoácidos, que vão

para a corrente sanguínea. Os aminoácidos e a glicose

são cotransportados com o Na+ com gasto de energia

por proteínas transportadoras da superfície apical. As

Na+-K

+ ATPases da membrana basolateral realizam o

transporte dos íons Na+ para o espaço intercelular, de

onde vão para o interstício e entram nos capilares

sanguíneos. Devido ao transporte ativo de íons, as

células apresentam abundância de mitocôndrias e,

para a inserção das proteínas transportadoras,

possuem pregas basolaterais. A água e os íons Cl-

difundem-se passivamente, em consequência do

transporte de Na+, mantendo o equilíbrio osmótico e

elétrico. A água passa através dos canais de

aquaporina-1 localizados na membrana basolateral da

célula.31,32

Quando a glicose do filtrado é excessiva, como em

diabéticos, sua total absorção não é possível, sendo

eliminada na urina (glicosúria).33

O túbulo proximal também excreta íons H+,

substâncias tóxicas resultantes do metabolismo, como

a creatinina e a amônia, e substâncias estranhas ao

organismo, como a penicilina.34,35

As células do túbulo reto proximal apresentam

uma grande quantidade de peroxissomos, envolvidos

na oxidação de ácidos graxos e na degradação de

peróxido de hidrogênio, e várias enzimas oxidativas.36

29

BULGER. Op. cit., pp. 701-702, 707, 711. 30

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 451. 31

Ibid. pp. 452-453, 461-462. 32

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 724-725. 33

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 329. 34

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 462. 35

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 329. 36 BOER, P. A.; GONTIJO, J. A. R. Células epiteliais tubulares renais. In:

CARVALHO, H. F.; COLLARES-BUZATO, C. B. Células: uma

abordagem multidisciplinar. Barueri: Manole, 2005. p. 196.

As células dos néfrons e dos tubos coletores

ligam-se por zônulas de oclusão, permitindo a

diferença na composição química entre o filtrado e o

fluido intersticial.37

O túbulo reto proximal penetra na zona medular e

continua com a alça de Henle. Como o epitélio é

baixo (epitélio simples pavimentoso), tem-se a parte

delgada da alça de Henle (ou túbulo intermediário).

Ela tem cerca de 15 a 20µm de diâmetro. Nos néfrons

justamedulares, a parte delgada da alça de Henle é

muito longa, medindo 9 a 10mm de comprimento e

tem a forma de U, com uma porção descendente e

outra ascendente. Nos néfrons corticais, ela é bastante

curta, com 1 a 2mm de comprimento e é descendente.

Na zona medular externa, ou seja, na região da zona

medular próxima à cortical, o epitélio é um pouco

mais alto (epitélio simples cúbico baixo), portanto, é a

parte espessa ascendente da alça de Henle (ou túbulo

reto distal). Ela tem 30 a 40µm de diâmetro e 9 a

10mm de comprimento (Figuras 10.7 e 10.9).38,39

Em cortes de parafina, a parte delgada da alça de

Henle assemelha-se a capilares, podendo ser distinguida

destes por suas células serem ligeiramente mais espessas,

com núcleo menos corado e pela ausência de células

sanguíneas na luz (Figura 10.7).40

A parte delgada descendente da alça de Henle é

muito permeável e, como o fluido intersticial é

hipertônico, a água do filtrado difunde-se para o

interstício, e uma pequena quantidade de Na+, Cl

- e

ureia vão por difusão passiva do interstício para a luz

do néfron. O filtrado torna-se hipertônico. A

permeabilidade à água dessa região da alça decorre

dos numerosos canais de aquaporina-1. A parte

delgada ascendente é impermeável à água, mas muito

permeável aos íons Cl- e Na

+, permitindo a sua difusão

passiva do filtrado para o interstício. A parte espessa

ascendente da alça de Henle (ou túbulo reto distal) é

impermeável à água e à ureia, mas realiza o transporte

ativo de Cl- e Na

+ para o fluido intersticial. O filtrado

torna-se hipotônico. É a saída de eletrólitos e de ureia

da parte ascendente da alça que torna o fluido

intersticial da zona medular hipertônico.41,42

Na zona cortical, o túbulo distal é tortuoso e é

designado túbulo contorcido distal. O filtrado chega a

37

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 324, 326. 38

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 451-454, 465. 39 KÜHNEL, W. Atlas de Citologia, Histologia e Anatomia microscópica

para teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. pp. 306-

307, 310-311. 40

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 454. 41

Ibid. pp. 454-455, 462-463, 465-466. 42

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 729-730, 733-735.

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HISTOLOGIA

163

ele hipotônico, mas com alta concentração de ureia.

Esse túbulo mede 4 a 5mm e 25 a 45µm e é formado

por epitélio simples cúbico, mas não tem microvilos

(Figuras 10.5 e 10.6).43

Semelhante à parte espessa da alça de Henle (ou

túbulo reto distal), o túbulo contorcido distal é

impermeável à água e à ureia e é capaz de realizar o

transporte de íons. Por causa do transporte ativo, há

profundas pregas basolaterais e muitas mitocôndrias

(Figura 10.6).44,45

Nos cortes em parafina, por causa da presença dos

microvilos, a luz do túbulo contorcido proximal é estreita

e irregular, enquanto o túbulo contorcido distal, sem

microvilos, exibe luz ampla e maior do que aquela do

túbulo proximal. Os túbulos proximal e distal podem ser

diferenciados pela posição dos núcleos, que é central no

primeiro e apical no segundo, e pelo citoplasma mais

acidófilo no túbulo proximal. Cortes do túbulo proximal

são mais frequentes, pois esse túbulo é mais longo que o

distal.46,47

Na junção entre a parte reta e a parte contorcida

do túbulo distal, a parede adjacente ao corpúsculo

renal modifica-se: as células são colunares, com

núcleos centrais, próximos uns dos outros. Essa região

é a mácula densa (mácula significa mancha) (Figuras

10.5 e 10.9). Ela monitora a concentração de Na+ e Cl

-

do filtrado e, através de um mecanismo de sinalização

parácrina, informa as células justaglomerulares.48,49,50

As células justaglomerulares são células

musculares lisas modificadas da túnica média da

arteríola aferente (às vezes, também a eferente),

próximas ao corpúsculo renal. São justapostas, com

núcleos esféricos e grânulos de secreção (Figura

10.9). Elas secretam renina, uma enzima que converte

o angiotensinogênio (proveniente do fígado) em

angiotensina I. Esta será convertida em angiotensina II

pela enzima conversora de angiotensina presente nas

células endotelialis dos capilares pulmonares e renais.

Por ser um vasoconstritor, a angiotensina II aumenta a

pressão sanguínea. Ela também influencia a

suprarrenal a liberar aldosterona, que promove a

reabsorção de Na+, Cl

- e HCO3

- e a excreção de K

+ e

H+ nos túbulos contorcidos distais.

51,52

43

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 444, 454-455, 462, 465. 44

Ibid. p. 455. 45

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 301-302. 46

BULGER. Op. cit., pp. 707-708, 710, 714, 719-720. 47

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp.452, 455. 48

Ibid. pp. 454-456, 462-463. 49

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 301, 306. 50

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 713, 715, 725-726, 744-745. 51

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 455-456, 463-465.

Os íons Na+ são transportados em troca de K

+

pelas Na+-K

+ ATPases da membrana basolateral. A

reabsorção de Na+ é importante para a manutenção do

volume plasmático e da pressão sanguínea. A

excreção de potássio regula os seus níveis no fluido

extracelular. Íons Cl- entram passivamente na célula

atrás do Na+. Há a reabsorção de HCO3

-, enquanto

íons H+ são excretados, tornando assim a urina ácida e

mantendo o equilíbrio ácido-básico do sangue. A

amônia é também excretada nos túbulos contorcidos

distais.53,54,55

A mácula densa, as células justaglomerulares e as

células mesangiais extraglomerulares constituem o

aparelho justaglomerular (Figura 10.9).56

As células mesangiais extraglomerulares situam-

se em uma região triangular, delimitada pela mácula

densa na base, pelas arteríolas aferente e eferente nos

lados e pelas células mesangiais no ápice. Elas

receberam essa denominação devido à sua

continuidade com o mesângio do glomérulo (Figura

10.9). Possuem numerosos prolongamentos, e a

presença de junções gap sugere que haja acoplamento

elétrico dessas células com o mesângio e com as

arteríolas do polo vascular.57

A urina hipotônica passa dos túbulos contorcidos

distais para os tubos coletores (Figuras 10.3). Nas

zonas cortical e medular externa, eles consistem em

epitélio simples cúbico, constituído pelas células

claras (ou principais) e pelas células escuras (ou

intercaladas). As células claras são as células mais

abundantes. Possuem microvilosidades curtas e um

cílio primário (padrão 9+0 de microtúbulos), que

funciona como mecanorreceptor. Quando o cílio

primário se curva pelo fluxo do líquido, há a abertura

de canais de Ca2+

, promovendo a entrada desse íon na

célula, o que inicia as cascatas de sinalização. Como

as células claras têm uma quantidade menor de

mitocôndrias do que as células escuras, exibem

coloração mais pálida (Figuras 10.5, 10.7 a 10.8 e

10.10). A riqueza em mitocôndrias das células escuras

está relacionada ao transporte ativo de H+. Há dois

tipos de células escuras: a célula tipo A possui H+

ATPases na membrana luminal e excreta H+ para a

urina, acidificando-a, e a célula tipo B tem H+

ATPases na membrana basolateral e reabsorve H+.58,59

52

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 301, 304, 306, 308. 53

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 455, 465. 54

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 301, 304, 306-308. 55

ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 731. 56

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 455-456. 57

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 306. 58

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 456-457, 464-465. 59

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 118, 124-125, 731-732.

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TATIANA MONTANARI

164

Figura 10.5 - Os polos vascular (V) e urinário (U) do

corpúsculo renal são indicados. Ao redor, visualizam-se

túbulos proximais (P), distais (D) e coletores (C). A parede

do túbulo distal adjacente ao corpúsculo renal diferencia-se

na mácula densa (M). Semifino. Azul de toluidina. Objetiva

de 40x (550x).

Figura 10.7 - Corte da zona medular externa do rim com a

parte delgada (D) e a parte espessa (E) das alças de Henle,

além dos capilares sanguíneos (vasos retos) e dos tubos

coletores. Notar as células claras e escuras nos tubos

coletores. HE. Objetiva de 100x (550x).

Figura 10.6 - Túbulos contorcidos proximal e distal. No

túbulo proximal, há microvilos, vesículas de endocitose

(claras) e lisossomos (escuros). As mitocôndrias (bastões

azulados) e as pregas basolaterais são mais distinguidas no

túbulo distal, onde empurram os núcleos para a parte apical.

É apontado um capilar ( ) no interstício. Semifino. Azul

de toluidina. Objetiva de 100x (1.373x).

À medida que os tubos coletores se fundem e se

aproximam dos cálices, aumentam a altura das células

e o diâmetro dos tubos e diminui o número de células

escuras: o calibre varia de 40µm na extremidade

proximal situada no córtex para 200µm na porção

distal localizada na medula, e o epitélio é cúbico ou

colunar e tem somente células claras na zona medular

interna.60,61

As membranas laterais das células dos tubos

coletores não são interdigitadas como aquelas do néfron,

o que faz com que o limite celular seja visível nos cortes

histológicos, facilitando o seu reconhecimento (Figura

10.8).62,63

60

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 457. 61

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 369. 62

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 451, 456-457. 63

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 731, 746-747.

Tatiana Montanari Tatiana Montanari

Tatiana Montanari

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HISTOLOGIA

165

Figura 10.8 - Corte da zona medular interna do rim com os

tubos coletores (C), a parte delgada (D) das alças de Henle

e os capilares sanguíneos (vasos retos) no interstício ( ).

HE. Objetiva de 40x (550x).

Figura 10.10 - Tubo coletor na zona cortical do rim, com

as células claras e as células escuras. Semifino. Azul de

toluidina. Objetiva de 100x (1.373x).

A aldosterona age também sobre os tubos

coletores, promovendo a reabsorção dos íons Na+.64

O peptídio natriurético atrial inibe os canais iônicos

de sódio na membrana luminal das células principais dos

tubos coletores corticais, o que causa maior eliminação

de sódio pela urina.65

64

GENESER. Op. cit., p. 454. 65

Ibid.

Figura 10.9 - Aparelho justaglomerular: mácula densa (M),

células justaglomerulares na arteríola aferente (J) e células

mesangiais extraglomerulares (E). Semifino. Azul de

toluidina. Objetiva de 40x (550x).

O hormônio antidiurético (ADH), secretado pela

neuro-hipófise, sob a influência da angiotensina II,

promove a inserção de canais de aquaporina-2 na

superfície luminal das células claras dos tubos

coletores, tornando-os permeáveis à água. Devido à

hipertonicidade da zona medular, criada pela alça de

Henle, há a absorção de água do filtrado no tubo

coletor, e a urina fica hipertônica. A água sai da célula

para o interstício através de canais de aquaporina-3 e

aquaporina-4, que estão sempre presentes na

membrana basolateral. Do interstício a água vai para

os vasos retos.66,67

O excesso de água no sangue inibe a produção de

ADH e, na falta desse hormônio, os tubos coletores

são impermeáveis à água, e a urina liberada é

hipotônica.68

O indivíduo com diabetes insipidus não secreta

ADH, sendo incapaz de reabsorver a água no tubo

coletor e então produz um grande volume de urina

diluída. A sensação de sede constante leva à ingestão de

uma grande quantidade de água, repondo aquela

perdida.69

66

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 456-458, 464-466. 67

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 301-302, 304. 68

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 458, 464. 69

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 302.

Tatiana Montanari

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TATIANA MONTANARI

166

Nas papilas, os tubos coletores confluem nos

ductos papilares, com 200 a 300µm de diâmetro e

constituído de epitélio simples colunar, com células

claras. Eles se abrem na área crivosa das papilas,

lançando a urina para os cálices menores (Figura

10.2). As papilas têm epitélio simples cúbico ou

colunar.70,71

Os rins produzem 1 a 2L de urina por dia a partir

de 180L de filtrado sanguíneo.72

2.2 Bexiga e vias urinárias

A urina sai dos rins pelos cálices menores e pelos

cálices maiores, os quais se unem na pelve renal, a

parte superior e expandida do ureter. Os ureteres são

tubos fibromusculares de 4 a 5mm de diâmetro e

14cm de comprimento que conduzem a urina através

de contrações peristálticas para a bexiga, onde é

armazenada. Durante a micção, a urina sai da bexiga

para o exterior pela uretra, que, no homem, tem 15 a

20cm de comprimento e, na mulher, cerca de 4cm.73

Os cálices, a pelve renal, os ureteres e a bexiga

são revestidos pelo epitélio de transição (ou urotélio)

(Figuras 10.1, 10.11 e 10.12). A variação na forma das

células de globosas ou poliédricas para pavimentosas

permite a distensão do tecido e assim a acomodação

do órgão às mudanças no volume de urina. As placas

de membrana na superfície apical das células

contribuem para aumentar a superfície luminal do

órgão. A composição diferenciada da membrana, com

elevada concentração de esfingolipídios e a presença

das proteínas uroplaquinas, e a abundância de junções

de oclusão tornam o tecido praticamente impermeável

e resistente à osmolaridade da urina.74,75

Figura 10.11 - Epitélio de transição da bexiga. HE.

Objetiva de 40x (550x).

70

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 458. 71

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 713-716, 732, 746-747. 72

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 354. 73

Ibid. pp. 354, 374, 376. 74

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 44, 49, 286, 310-311. 75

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 39-40, 373-375.

Subjacente ao epitélio há a lâmina própria de

tecido conjuntivo que varia do frouxo ao denso. Não

há submucosa.76

A túnica muscular é de músculo liso e organiza-se

em uma camada longitudinal interna e uma circular

externa ou, no terço inferior dos ureteres e na bexiga,

uma camada longitudinal interna, uma circular média

e outra longitudinal externa (Figura 10.12). O

peristaltismo força a urina para frente. O ureter entra

obliquamente na bexiga, resultando em uma válvula

fisiológica que impede o refluxo da urina. Na junção

entre a bexiga e a uretra, a musculatura lisa da bexiga

espessa-se no esfíncter interno. Quando esse esfíncter

relaxa, ocorre a micção.77,78

Os ureteres correm no tecido adiposo

retroperitoneal, apresentando, portanto, adventícia ou,

na região próxima ao peritônio, serosa (Figura

10.12).79

A bexiga é envolvida pela adventícia e, na

parte superior, pela serosa do peritônio parietal.80

A uretra masculina é dividida em: prostática (3 a

4cm), membranosa (1 a 2cm) e peniana (15cm). A

uretra prostática apresenta epitélio de transição; a

uretra membranosa, epitélio pseudoestratificado

colunar ou estratificado colunar, e a uretra peniana (ou

esponjosa), epitélio pseudoestratificado colunar,

estratificado colunar e, próximo ao meato uretral,

epitélio estratificado pavimentoso. Desembocam, na

uretra, glândulas de Littré, que são do tipo mucoso.81

A uretra membranosa é circundada por um esfíncter

de músculo liso e por outro de músculo estriado

esquelético, que controlam a passagem da urina e do

sêmen.82

Na uretra feminina, conforme a sua proximidade

com a bexiga ou com o exterior, o epitélio pode ser de

transição, pseudoestratificado colunar, estratificado

colunar ou estratificado pavimentoso, sendo este

último o tecido predominante. Possuem também as

glândulas de Littré. A mucosa é circundada por uma

camada muscular, de músculo liso, sendo a

subcamada interna longitudinal e a subcamada externa

circular.83

Na porção média da uretra, há um esfíncter

de músculo estriado esquelético, o esfíncter externo,

responsável pelo controle voluntário da micção.84

76

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 330. 77

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 466-468. 78

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 310-312. 79

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 736-737, 748-749. 80

BULGER. Op. cit., p. 731. 81 GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 468. 82

KIERSZENBAUM, A. L.; TRES, L. L. Histologia e Biologia celular:

uma introdução à Patologia. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 629. 83

GENESER. Op. cit., pp. 144, 458-459. 84

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 312.

Tatiana Montanari

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HISTOLOGIA

167

Figura 10.12 - Ureter, constituído por: epitélio de

transição, lâmina própria (LP), camada muscular e

adventícia (A) ou serosa ( ). HE. Objetiva de 4x (55x).

3 QUESTIONÁRIO

1) Descreva a formação da urina, relacionando com a

morfologia das estruturas responsáveis.

2) Onde são encontradas as células mesangiais e quais

são suas funções?

3) Quais são os constituintes do aparelho

justaglomerular e qual é a sua importância?

4) Como a quantidade de água (em excesso ou

deficiente) é regulada pelo organismo?

5) Qual é o epitélio do ureter, da bexiga e da uretra?

Tatiana Montanari

A LP

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169

Sistema Tegumentar Capítulo 11

1 FUNÇÕES

O sistema tegumentar recobre o corpo,

protegendo-o contra o atrito, a perda de água, a

invasão de micro-organismos e a radiação ultravioleta.

Tem papel na percepção sensorial (tato, calor, pressão

e dor), na síntese de vitamina D, na termorregulação,

na excreção de íons e na secreção de lipídios

protetores e de leite.1,2,3

2 CONSTITUINTES

O sistema tegumentar é constituído pela pele e

seus anexos: pelos, unhas, glândulas sebáceas,

sudoríparas e mamárias.4,5

A pele é o maior órgão do corpo. É composta pela

epiderme, de epitélio estratificado pavimentoso

queratinizado, e pela derme, de tecido conjuntivo.

Subjacente, unindo-a aos órgãos, há a hipoderme (ou

fáscia subcutânea), de tecido conjuntivo frouxo e

adiposo.6,7

A pele apresenta diferenças segundo a sua

localização. A palma das mãos e a planta dos pés, que

sofrem um atrito maior, possuem uma epiderme

constituída por várias camadas celulares e por uma

camada superficial de queratina bastante espessa. Esse

tipo de pele foi denominado pele grossa (ou espessa).

Não possui pelos e glândulas sebáceas, mas as

glândulas sudoríparas são abundantes (Figuras 11.1 e

11.2). A pele do restante do corpo tem uma epiderme

com poucas camadas celulares e uma camada de

queratina delgada e foi designada pele fina (ou

delgada) (Figura 11.3). A epiderme da pele grossa

1 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas.

12.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 354. 2 LOWE, J. S.; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe´s Human Histology.

4.ed. Philadelphia: Elsevier, Mosby, 2015. pp. 49, 363. 3 OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter Bases da Histologia. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008. p. 244. 4 HAM, A. W.; CORMACK, D. H. Histologia. 8.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1983. p. 577. 5 ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação

com Biologia celular e molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2012. p. 498. 6 JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 354, 359.

7 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 498, 503-504, 524.

mede 0,8 a 1,4mm, enquanto a da pele fina, 0,07 a

0,12mm.8,9

Figura 11.1 - Corte de pele grossa, onde são observadas a

epiderme, de epitélio estratificado pavimentoso

queratinizado, e parte da derme, de tecido conjuntivo. D -

ducto da glândula sudorípara. HE. Objetiva de 10x (137x).

2.1 Epiderme

Podem ser distinguidas quatro camadas no epitélio

estratificado pavimentoso queratinizado da epiderme:

o estrato basal, o estrato espinhoso, o estrato

granuloso e o estrato córneo (Figura 11.2).10

O estrato basal contém as células-tronco da

epiderme. Pela sua atividade mitótica, esse estrato foi

também denominado germinativo. Por causa do

grande número de células e, portanto, da pressão

8 GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores. 3.ed.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. pp. 333-335. 9 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 499-501, 524-525.

10 STRAUSS, J. S.; MATOLTSY, A. G. Pele. In: WEISS, L.; GREEP, R.

O. Histologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. p. 486.

Tatiana Montanari

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TATIANA MONTANARI

170

maior nas faces laterais, as células são colunares

(Figura 11.2). Elas começam a sintetizar filamentos

intermediários de citoqueratina (tonofilamentos). As

células estão aderidas à membrana basal por

hemidesmossomos e às células vizinhas por

desmossomos. As células-filhas, os queratinócitos,

vão para as camadas superiores.11,12,13,14

No estrato basal, há também os melanócitos e as

células de Merkel. Essas células se diferenciam na

vida intrauterina, a partir do ectoderma neural, mais

precisamente das células da crista neural. No adulto,

há células-tronco dos melanócitos nos folículos

pilosos, e os melanócitos são capazes de se dividir.15,16

Os melanócitos são células arredondadas com

longos prolongamentos, citoplasma claro e núcleo

ovoide (Figura 11.3). Em vesículas membranosas,

denominadas melanossomas, oxidam a tirosina em

3,4-di-hidroxifenilalanina (DOPA) através da enzima

tirosinase e transformam a DOPA em melanina (do

grego melas, negro), um pigmento pardo-amarelado a

marrom-escuro. Pela fagocitose da extremidade dos

prolongamentos, os grãos de melanina são

introduzidos nas células do estrato basal e do estrato

espinhoso. A melanina concentra-se sobre o núcleo,

protegendo o material genético da radiação

ultravioleta (Figura 11.3).17,18,19

O número de melanócitos encontrado em diferentes

etnias é praticamente o mesmo. Entretanto, nos

indivíduos de pele clara, a atividade da tirosinase é

menor; os melanossomas são menos desenvolvidos, e a

melanina é rapidamente degradada pela atividade

lisossômica dos queratinócitos, sendo decomposta antes

da célula deixar a parte superior do estrato espinhoso.

Nos afrodescentes, como os melanossomas são maiores e

mais estáveis, a camada basal é mais pigmentada e as

demais camadas da epiderme, inclusive o estrato córneo,

contêm melanina.20,21

11

HADLER, W. A.; SILVEIRA, S. R. Histofisiologia dos epitélios:

correlação entre a morfologia e a função dos epitélios. Campinas: Ed. da

UNICAMP, 1993. pp. 13, 15. 12

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 581-582. 13

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 51, 365-366. 14

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 499-501, 503-504. 15

CARLSON, B. M. Human Embryology and Developmental Biology.

5.ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2014. pp. 156-158, 254, 259. 16 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 507-509, 511. 17

GENESER, F. Histologia: com bases moleculares. 3.ed. Buenos Aires:

Médica Panamericana/ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. pp. 356-

357. 18

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 366, 368. 19 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 502, 507-510, 526-527. 20

Ibid. pp. 508-509, 526-527. 21

STRAUSS & MATOLTSY. Op. cit., pp. 501, 503-504.

No albinismo (do latim albus, branco), não há

produção de melanina pela ausência de tirosinase. Essa

doença é autossômica recessiva.22,23

As células de Merkel são semelhantes aos

melanócitos ao microscópio de luz, mas são mais

escassas e, portanto, difíceis de serem observadas.

Possuem processos curtos, os quais podem se ligar aos

queratinócitos por desmossomos. Contêm um núcleo

volumoso, filamentos de queratina e vesículas

neuroendócrinas. Na base da célula, formam junções

sinápticas com terminações nervosas sensitivas. Essas

células são receptores táteis (mecanorreceptores) e são

abundantes nas pontas dos dedos e na base dos

folículos pilosos.24,25

Nas camadas superiores ao estrato basal, como as

pressões são mais uniformes, os queratinócitos são

poliédricos. Eles contêm muitos filamentos de

citoqueratina, os quais se agrupam em tonofibrilas,

que conferem eosinofilia ao citoplasma. Exibem

projeções curtas, que estão ligadas por desmossomos

às projeções das células adjacentes, o que contribui

para a resistência da epiderme ao atrito. No corte

histológico, essas pontes intercelulares parecem

espinhos, por isso esse estrato é chamado espinhoso

(Figuras 11.2 e 11.3).26,27,28,29

Nesse estrato, são mais facilmente vistas as

células de Langerhans. São células apresentadoras de

antígenos e originam-se de precursores da medula

óssea. Com HE, elas exibem citoplasma claro e núcleo

ovoide ou indentado (Figura 11.3). A visualização dos

prolongamentos dendríticos é possível com a

imunocitoquímica ou a impregnação pelo cloreto de

ouro. Ao microscópio eletrônico, são observados os

grânulos de Birbeck, em forma de bastonete.30,31

As células de Langerhans fagocitam e processam

os antígenos estranhos na pele. Elas apresentam os

antígenos capturados aos linfócitos T na própria

epiderme ou nos linfonodos regionais, e os linfócitos

iniciam a resposta imunológica. As células de

Langerhans participam das dermatites alérgicas por

contato e da rejeição de transplantes cutâneos.32,33

22

CARLSON. Op. cit., pp. 144, 156. 23

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 587. 24

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 338-339. 25

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 369-370, 376. 26

HADLER & SILVEIRA. Op. cit., pp. 13, 15. 27

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 355-356, 359. 28

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 366-367. 29 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 499-501, 504, 524-525. 30

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 369. 31 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 510-511. 32

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 338. 33

GENESER. Op. cit., p. 358.

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HISTOLOGIA

171

Na parte superior do estrato espinhoso, os

queratinócitos modificam a expressão gênica,

sintetizando citoqueratinas de maior peso molecular e

produzindo outras proteínas envolvidas na

queratinização, como a involucrina, a loricrina e a

filagrina. Os precursores da proteína filagrina formam

os grânulos de querato-hialina, que são basófilos e não

envoltos por membrana. As células onde eles são

reconhecidos compõem o estrato granuloso (Figuras

11.2 e 11.3). Em virtude da pressão maior na

superfície apical, essas células são pavimentosas.

Nesses queratinócitos, ocorre ainda a síntese de

colesterol, de ácidos graxos livres, dos esfingolipídios

ceramidas e do glicolipídio acilglicosilceramida, os

quais são acondicionados em corpos lamelares,

envoltos por membrana. Eles são exocitados para o

espaço intercelular, cimentando as células e formando

uma barreira impermeável à água, que impede a

dessecação.34,35,36,37,38,39

O rompimento da barreira lipídica intercelular em

queimaduras graves e extensas acarreta perda do fluido

intersticial e, consequentemente, de plasma sanguíneo,

com risco de vida ao paciente.40,41

Penetrando a epiderme até o estrato granuloso, há

terminações nervosas livres. Elas são ramificações de

fibras amielínicas aferentes desprovidas de células de

Schwann. Funcionam como receptores táteis de

temperatura e de dor.42,43,44

Nas células superficiais da epiderme, a involucrina

e a loricrina associam-se à membrana plasmática,

espessando-a. A filagrina forma ligações cruzadas

com as citoqueratinas, promovendo a agregação dos

tonofilamentos em tonofibrilas e destas em fibrilas de

queratina (queratina mole) e a compactação desse

material. A barreira intercelular formada pelos lipídios

impede a passagem de nutrientes, e as células

degeneram. O núcleo e as outras organelas são

digeridos pelas enzimas lisossômicas. As células

mortas constituem o estrato córneo. As células são

pavimentosas, anucleadas e queratinizadas. Esse

estrato confere proteção contra o atrito, a invasão de

34

CARLSON. Op. cit., p. 158. 35

HADLER & SILVEIRA. Op. cit., pp. 13, 15, 235-238. 36

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 582-583. 37

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 356. 38

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 51, 364, 367. 39 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 501, 504-507. 40

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 598-599. 41 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 507. 42

GENESER. Op. cit., p. 287. 43

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 603-604. 44 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 512.

micro-organismos e a perda de água. Sua espessura

varia, sendo maior na pele grossa, submetida a mais

fricção do que a pele fina (Figuras 11.2 e 11.3). As

células superficiais do estrato córneo não apresentam

desmossomos e são descamadas com a abrasão. Os

desmossomos são degradados por peptidases ativadas

pelo pH ácido desse estrato.45,46,47,48

O tempo de vida dos queratinócitos varia de 40 a 50

dias na pele fina e de 25 a 30 dias na pele grossa.49

Na

psoríase, contudo, o ciclo celular é acelerado, e a intensa

proliferação resulta em áreas com acúmulos de

queratinócitos e de estrato córneo. As células descamam

em oito dias.50,51,52

2.2 Derme

O limite entre a epiderme e a derme, pricipalmente

na pele grossa, é bastante irregular, devido a projeções

da derme para a epiderme (papilas dérmicas) e de

projeções da epiderme para a derme (cristas

epidérmicas) (Figuras 11.1 e 11.2). Essas projeções

aumentam a área de contato entre a derme e a

epiderme, dando maior resistência à pele.53,54

A derme é subdividida em: derme papilar, que

corresponde às papilas dérmicas e é constituída por

tecido conjuntivo frouxo (Figuras 11.1 e 11.2), e

derme reticular, a maior parte da derme, de tecido

conjuntivo denso não modelado. As fibras colágenas

dispostas em diferentes sentidos conferem resistência

ao estiramento (Figura 11.4). As camadas papilar e

reticular contêm fibras elásticas, o que dá elasticidade

à pele.55,56,57

A derme contém os anexos cutâneos, os vasos

sanguíneos e linfáticos, os nervos e as terminações

nervosas sensoriais, que podem ser livres ou

encapsuladas.58,59

Terminações nervosas livres, arranjadas em cesto,

circundam os folículos pilosos e funcionam como 45

HADLER & SILVEIRA. Op. cit., pp. 236-239. 46

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 49, 51, 363-364, 367-368. 47

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 246-247. 48 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 498-501, 504-506, 524-525. 49

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 368. 50

CARLSON. Op. cit., p. 158. 51

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 341. 52

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 247. 53

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., pp. 357-358. 54 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 501, 524-525. 55

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 115-116, 335, 340-341. 56

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 346, 584. 57

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 49, 364, 374-375. 58 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 503, 512-514, 532-533. 59

STRAUSS & MATOLTSY. Op. cit., pp. 505-507.

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TATIANA MONTANARI

172

mecanorreceptores. Terminações nervosas livres, em

forma de bulbo e com trajeto tortuoso, situam-se

paralelamente à junção dermo-epidérmica. Elas

devem servir como mecanorreceptores e nociceptores

(receptores para dor).60

As terminações nervosas encapsuladas estão

envolvidas por uma cápsula de tecido conjuntivo. São

os corpúsculos de Meissner, os corpúsculos de Pacini,

os corpúsculos de Ruffini e os bulbos terminais de

Krause.61,62

Os corpúsculos de Meissner estão nas papilas

dérmicas de áreas sem pelos, como os lábios, os

mamilos, os dedos, a palma das mãos e a planta dos

pés. São estruturas alongadas, constituídas por

axônios envoltos pelas células de Schwann, dispostos

em espiral e contidos em uma cápsula de fibroblastos

modificados, contínuos ao endoneuro da fibra nervosa

(Figura 11.2). São mecanorreceptores especializados

em responder a pequenas deformações da epiderme.63,

64,65

Figura 11.2 - Corte de pele grossa, onde é possível

observar os estratos basal (B), espinhoso (E), granuloso (G)

e córneo (C) e a derme papilar, de tecido conjuntivo frouxo,

com corpúsculos de Meissner ( ). HE. Objetiva de 20x

(275x).

60

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 603-604. 61

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 340-341, 519-520. 62

ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 512-514. 63

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 340-341, 519-520. 64

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 604. 65

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 375-377.

Figura 11.3 - Epiderme da pele fina, onde são visíveis um

melanócito ( ) e a melanina colocada nas células-tronco

do estrato basal (B). No estrato espinhoso (E), as pontes

intercelulares entre os queratinócitos são perceptíveis, e

uma célula de Langerhans é apontada. Esse estrato, o

estrato granuloso (G) e o estrato córneo (C) apresentam

uma pequena espessura. HE. Objetiva de 100x (1.373x).

Figura 11.4 - Derme reticular, de tecido conjuntivo denso

não modelado. Os feixes de fibras colágenas em diferentes

direções resistem à tração e consequentemente dão firmeza

à pele. HE. Objetiva de 40x (550x).

Os corpúsculos de Pacini situam-se na derme

profunda e na hipoderme. Estão, por exemplo, nos

dedos, na palma das mãos e na planta dos pés. São

esféricos ou ovais, com um axônio central e lamelas

concêntricas de células de Schwann e, mais

externamente, de fibroblastos modificados, contínuos

ao endoneuro. Nos cortes histológicos, lembram uma

cebola cortada (Figura 11.5). São mecanorreceptores,

detectam pressão e vibrações.66,67,68

66

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 342, 520.

Tatiana Montanari

Tatiana Montanari

T. Montanari

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HISTOLOGIA

173

Figura 11.5 - Corpúsculo de Pacini. HE. Objetiva de 20x

(275x).

A derme pode conter ainda células musculares

lisas, como, por exemplo, nas aréolas mamárias e no

escroto (músculo dartos), ou fibras musculares

esqueléticas, como na face.69

2.3 Anexos cutâneos

Os pelos desenvolvem-se dos folículos pilosos,

invaginações da epiderme na derme e na hipoderme.

Eles são abundantes na pele fina do couro cabeludo

(Figura 11.6) e ausentes nos lábios, na glande, nos

pequenos lábios, na face vestibular dos grandes lábios,

nas faces laterais das mãos e dos pés e na pele grossa

da palma das mãos e da planta dos pés (Figuras 11.1 e

11.2).70,71,72

O folículo piloso é constituído por: bainhas

radiculares interna e externa, derivadas da epiderme;

membrana vítrea, que corresponde à membrana basal,

e bainha dérmica, onde há condensação de fibras

colágenas. A bainha radicular externa corresponde aos

estratos basal e espinhoso da epiderme, e a bainha

67

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 375-377. 68 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 512-513, 532-533. 69

GENESER. Op. cit., p. 359. 70

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 345-346. 71

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 363, 376-378. 72 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 514-516.

radicular interna, aos estratos granuloso e córneo. A

bainha radicular interna é dividida em: camada de

Henle, que é a mais externa e contém células cúbicas

ou pavimentosas; camada de Huxley, formada por

células pavimentosas com grânulos de trico-hialina, e

cutícula, de escamas queratinizadas (queratina mole),

sobrepostas, que faceiam o pelo. Fixado à bainha

dérmica e à derme papilar, há o músculo eretor do

pelo, de músculo liso.73,74,75,76

No folículo do pelo em fase de crescimento, a

porção terminal expandida corresponde ao bulbo

piloso. Ele é constituído pela papila dérmica, de tecido

conjuntivo frouxo e, recobrindo-a, pela matriz, de

células epidérmicas. A proliferação dessas células

origina as bainhas radiculares e o pelo.77,78

A papila do pelo tem ação indutora sobre o epitélio

que o recobre, o que explica a ausência de pelos quando

ocorre a destruição da papila.79

Um corte transversal do pelo mostra três camadas

concêntricas de células queratinizadas: a medula, o

córtex e a cutícula. A medula consiste em queratina

mole, e o córtex e a cutícula contêm queratina dura.

Esta apresenta mais ligações de cistina e dissulfeto do

que a queratina mole, é compacta e não descama.

Pelos mais finos não possuem a medula. A cor do pelo

é resultante da melanina nas células do córtex,

fornecida pelos melanócitos localizados na matriz. As

escamas da cutícula do pelo estão sobrepostas, e suas

bordas livres, direcionadas para cima, apõem-se as

bordas livres das escamas da cutícula da bainha

radicular interna, que estão apontadas para

baixo.80,81,82

Diferentemente dos grânulos de querato-hialina, que

são basófilos, os grânulos de trico-hialina (do grego

thrix, pelo; hyalos, vidro) exibem intensa eosinofilia,

corando-se em vermelho brilhante. A queratina dura, por

sua vez, não se cora com eosina.83,84,85

73

GENESER. Op. cit., pp. 359-361. 74

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 370-372. 75

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 255-257. 76 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 515, 534-535. 77

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 255-258. 78 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 515-516, 534-535. 79

JUNQUEIRA & CARNEIRO. Op. cit., p. 361. 80

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 590-594. 81

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 371-372. 82

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., pp. 255-257. 83

GENESER. Op. cit., p. 361. 84

HAM & CORMACK. Op. cit., p. 594. 85

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 371-372.

Tatiana Montanari

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TATIANA MONTANARI

174

Associados aos folículos pilosos, em virtude da

sua origem, há as glândulas sebáceas. Elas são

abundantes no couro cabeludo e ausentes na palma

das mãos e na planta dos pés. Situam-se na derme.

São glândulas exócrinas alveolares ramificadas

holócrinas. Possuem um ducto curto, de epitélio

estratificado pavimentoso, que desemboca no folículo

piloso (Figura 11.6). Em algumas áreas do corpo, sem

pelos, as glândulas sebáceas abrem-se diretamente na

superfície epidérmica.86,87,88,89

O sebo é uma secreção oleosa, com ácidos graxos,

ésteres de cera e esqualeno, junto com os restos das

células produtoras. Ele lubrifica a superfície da pele e

do pelo, aumentando as características hidrofóbicas da

queratina e protegendo o pelo.90,91,92

As glândulas sudoríparas estão distribuídas pela

superfície corporal, excetuando-se os lábios, o clitóris,

os pequenos lábios, a glande e a superfície interna do

prepúcio. Elas são abundantes nas regiões palmar e

plantar. A porção secretora situa-se profundamente na

derme ou na parte superior da hipoderme. São

glândulas exócrinas tubulares simples enoveladas

merócrinas (ou écrinas) (Figuras 11.1 e 11.6).93,94

A porção secretora é constituída pelas células

escuras, produtoras de glicoproteínas, e pelas células

claras, com características de células transportadoras

de íons e responsáveis pela secreção aquosa do suor.

Ao redor da porção secretora, há células mioepiteliais.

O ducto abre-se na crista epidérmica, de onde a

glândula se originou, e tem trajeto tortuoso (Figura

11.1). Seu diâmetro é menor que a porção secretora. O

epitélio é estratificado cúbico, com células menores e

mais escuras que as células da porção secretora. Elas

reabsorvem a maior parte dos íons e excretam

substâncias, como ureia e ácido lático.95,96

O suor é uma solução aquosa, hipotônica, com pH

neutro ou levemente ácido, contendo íons de sódio,

potássio e cloro, ureia, ácido úrico e amônia. Além da

função excretora, as glândulas sudoríparas regulam a

temperatura corporal pelo resfriamento em

consequência da evaporação do suor.97,98

86

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 106-107, 344-345. 87

GENESER. Op. cit., pp. 142, 145, 363-364. 88

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 192-194, 594-595. 89

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 371, 373, 377. 90

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 192-194, 594. 91

LOWE & ANDERSON. Op. cit., pp. 370-371. 92

STRAUSS & MATOLTSY. Op. cit., pp. 507-509. 93

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 342-343. 94

GENESER. Op. cit., pp. 145, 365. 95

GARTNER & HIATT. Op. cit., pp. 342-343. 96 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 517-520, 528-531. 97

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 371. 98 ROSS & PAWLINA. Op. cit., p. 517.

Figura 11.6 - Corte de couro cabeludo, onde são

observados o pelo (P) no folículo piloso (FP), as glândulas

sebáceas (Se) e as glândulas sudoríparas (Su). HE. Objetiva

de 4x (55x).

As glândulas sudoríparas odoríferas são

encontradas nas axilas, nas aréolas mamárias e na

região anogenital. Estão localizadas profundamente na

derme ou na região superior da hipoderme. São

glândulas exócrinas tubulares simples ou ramificadas

enoveladas apócrinas (atualmente há controvérsia, na

literatura, se são apócrinas, merócrinas ou apresentam

ambos modos de secreção).99,100

A porção secretora tem luz ampla, é constituída

por células cúbicas, com a porção apical em cúpula e

é circundada por células mioepiteliais. O ducto é

relativamente reto, de epitélio estratificado cúbico e se

abre no folículo piloso, acima do ducto da glândula

sebácea.101,102

99

GENESER. Op. cit., pp. 141, 364-365. 100

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 254. 101

KÜHNEL, W. Atlas de Citologia, Histologia e Anatomia microscópica

para teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. pp. 82-

83, 360-363. 102

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 374.

Tatiana Montanari

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HISTOLOGIA

175

Assim como as glândulas sebáceas, as glândulas

sudoríparas odoríferas são estimuladas pelos

hormônios sexuais e tornam-se funcionais na

puberdade. A secreção contém proteínas, carboidratos,

lipídios, amônia e feromônios, envolvidos na atração

sexual. Inicialmente inodora, adquire um odor acre ou

almiscarado em resposta à decomposição por

bactérias.103,104,105

A glândula mamária é uma área modificada da

pele com glândulas sudoríparas especializadas na

secreção de nutrientes sob a influência hormonal.106

As unhas, como os pelos, resultam da

compactação de células bastante queratinizadas

(queratina dura).107,108

3 QUESTIONÁRIO

1) Quais são os constituintes da pele? Descreva-os.

2) A pele da palma das mãos e da planta dos pés é

diferente daquela que recobre o restante do corpo. O

couro cabeludo também tem suas peculiaridades.

Descreva as características da pele nesses locais.

3) Classifique a glândula sebácea e as glândulas

sudoríparas conforme a sua forma e o modo de

liberação da secreção.

4) Como a pele é capaz de perceber sensações, como

o tato, a pressão e a dor?

103

OVALLE & NAHIRNEY. Op. cit., p. 254. 104 ROSS & PAWLINA. Op. cit., pp. 514, 521, 528. 105

STRAUSS & MATOLTSY. Op. cit., pp. 507, 510, 512. 106

LOWE & ANDERSON. Op. cit., p. 363. 107

GARTNER & HIATT. Op. cit., p. 350. 108

HAM & CORMACK. Op. cit., pp. 590-591, 601.

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177

Roteiro de aulas práticas Capítulo 12

Nomeie os componentes do microscópio de luz. Microscópio de luz modelo Axiostar da Zeiss.

1 _______________________________________

2 _______________________________________

3 _______________________________________

4 _______________________________________

5 _______________________________________

6 _______________________________________

7 _______________________________________

8 _______________________________________

9 _______________________________________

10 _______________________________________

11 _______________________________________

12 _______________________________________

13 _______________________________________

14 _______________________________________

15 _______________________________________

16 _______________________________________

17 _______________________________________

18 _______________________________________

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HISTOLOGIA

179

Unidade: Célula

Lâm._____ - Estômago HE

Basofilia e acidofilia (ou eosinofilia)

glândulas: células oxínticas ou parietais (citoplasma acidófilo ou eosinófilo); células zimogênicas ou principais (citoplasma basófilo)

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Célula

Lâm._____ - Estômago PAS/H

Citoquímica

epitélio de revestimento: células mucosas superficiais

Aum: 1.000x Data: _____________

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HISTOLOGIA

181

Unidade: Célula

Lâm._____ - Rim HE

Morfologia celular

zona medular: vaso sanguíneo - células pavimentosas; tubo coletor - células cúbicas

Aum: 1.000x Data: ______________

Unidade: Célula

Lâm._____ - Jejuno HE

Morfologia celular

epitélio das vilosidades: célula colunar e célula caliciforme

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Célula

Lâm._____ - Pele grossa HE

Morfologia celular

hipoderme: célula adiposa (forma esférica ou poliédrica)

Aum: 1.000x Data: ______________

Unidade: Célula

Lâm._____ - Cérebro Método de Golgi

Morfologia celular

neurônio piramidal e astrócito (forma estrelada)

Aum: 1.000x Data: _____________

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HISTOLOGIA

183

Unidade: Célula

Lâm._____ - Gânglio sensitivo HE

Organelas

neurônio (célula especializada na síntese de proteínas): núcleo eucromático, nucléolo proeminente e substância de Nissl (retículo endoplasmático rugoso e ribossomos)

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Célula

Lâm._____ - Pâncreas HE

Organelas

ácino pancreático (células especializadas na síntese de proteínas): núcleo eucromático, nucléolo proeminente, citoplasma basal basófilo (com retículo endoplasmático rugoso) e citoplasma apical eosinófilo (enzimas digestivas)

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Célula

Lâm._____ - Medula espinhal HE

Organelas

neurônio (célula especializada na síntese de proteínas): núcleo eucromático, nucléolo proeminente e substância de Nissl (retículo endoplasmático rugoso e ribossomos)

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Célula

Lâm._____ - Raiz de cebola Hematoxilina férrica

Organelas

célula em interfase: núcleo e nucléolo; célula em mitose: prófase, metáfase, anáfase e telófase

Aum: 1.000x Data: _____________

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HISTOLOGIA

185

Unidade: Célula

Lâm._____ - Adrenal HE

Organelas

células especializadas na síntese de lipídios: citoplasma eosinófilo (retículo endoplasmático liso) e vacuolizado (gotículas lipídicas)

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Célula

Lâm._____ - Rim Azul de toluidina (semifino)

Organelas

túbulo distal (células especializadas na produção de energia): mitocôndrias entre invaginações na região basal das células

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Célula

Lâm._____ - Epidídimo Ayoma

Organelas

ducto epididimário (células especializadas na síntese de glicoproteínas): complexo de Golgi bem desenvolvido em posição supranuclear

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Célula

Lâm._____ - Fígado injetado com nanquim HE

Organelas

macrófagos (células que realizam fagocitose e digestão intracelular): lisossomos com partículas de nanquim

Aum: 1.000x Data: _____________

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HISTOLOGIA

187

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Rim HE

Epitélio de revestimento

zona medular: vaso sanguíneo - epitélio simples pavimentoso; tubo coletor - epitélio simples cúbico

Aum: 400x Data: ______________

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Jejuno HE

Epitélio de revestimento

epitélio simples colunar com microvilos e células caliciformes

Aum: 400x Data: ______________

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Traqueia HE

Epitélio de revestimento

epitélio pseudoestratificado colunar ciliado com células caliciformes

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Bexiga HE

Epitélio de revestimento

epitélio de transição

Aum: 400x Data: _____________

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HISTOLOGIA

189

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Esôfago HE

Epitélio de revestimento

epitélio estratificado pavimentoso

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Pele grossa HE

Epitélio de revestimento

epitélio estratificado pavimentoso queratinizado

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Rim PAS/H

Epitélio de revestimento

túbulo renal: glicocálix e membrana basal

Aum: 400x Data: _____________

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HISTOLOGIA

191

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Intestino grosso HE

Epitélio glandular

glândula de Lieberkühn - glândula pluricelular exócrina tubular simples reta merócrina; célula caliciforme - glândula unicelular mucosa

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Couro cabeludo HE

Epitélio glandular

glândula sebácea - glândula exócrina alveolar ramificada holócrina; glândula sudorípara - glândula exócrina tubular simples enovelada merócrina

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Tireoide e Paratireoide HE

Epitélio glandular

tireoide - glândula endócrina vesicular; vasos sanguíneos

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Epitelial

Lâm._____ - Tireoide e Paratireoide HE

Epitélio glandular

paratireoide - glândula endócrina cordonal; vasos sanguíneos

Aum: 400x Data: _____________

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HISTOLOGIA

193

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Fígado injetado com nanquim HE

macrófagos (células de Kupffer)

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Mesentério Fucsina-resorcina

mastócitos, fibras elásticas e fibras colágenas

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Linfonodo DRH

fibras reticulares e linfócitos/ tecido reticular

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Jejuno HE

vilosidades intestinais: tecido conjuntivo frouxo

Aum: 400x Data: _____________

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HISTOLOGIA

195

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Tendão e músculo estriado esquelético HE

tendão: tecido conjuntivo denso modelado - fibroblastos e fibras colágenas

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Pele grossa HE

derme: tecido conjuntivo denso não modelado - fibroblastos e fibras colágenas

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Artéria elástica Orceína

tecido elástico: fibras elásticas

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Cordão umbilical HE

tecido mucoso: células mesenquimais e substância fundamental

Aum: 400x Data: _____________

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HISTOLOGIA

197

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Couro cabeludo HE

hipoderme: tecido adiposo - células adiposas

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Traqueia HE

cartilagem hialina: pericôndrio (com fibroblastos), condroblastos, condrócitos, grupos isógenos e matriz cartilaginosa

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Pavilhão auditivo Orceína

cartilagem elástica: pericôndrio, condroblastos, condrócitos e fibras elásticas na matriz cartilaginosa

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Inserção do tendão no osso HE

cartilagem fibrosa: condrócitos e fibras colágenas na matriz cartilaginosa

Aum: 400x Data: _____________

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HISTOLOGIA

199

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Osso longo HE

ossificação endocondral no disco epifisário: zonas de cartilagem em repouso, de cartilagem em proliferação (ou seriada), de cartilagem hipertrófica, de cartilagem calcificada e de ossificação

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Mandíbula descalcificação, HE

ossificação intramembranosa: mesênquima e osso esponjoso - endósteo constituído por células osteoprogenitoras e osteoblastos; osteócitos nas lacunas; osteoclastos nas cavidades do osso e adjacentes à superfície das trabéculas de matriz óssea; vasos sanguíneos nas cavidades

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Osso longo desgaste, método de Shmorl

osso compacto: sistema de Havers com canal de Havers, lamelas concêntricas de matriz óssea e lacunas; canal de Volkmann

Aum: 100x Data: _____________

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HISTOLOGIA

201

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Osso longo desgaste, método de Shmorl

osso compacto: sistema de Havers com canal de Havers, lamelas concêntricas de matriz óssea, lacunas e canalículos

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Osso longo HE

medula óssea: tecido mieloide - megacariócito, outras células hematopoéticas e vasos sanguíneos

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido Conjuntivo

Lâm._____ - Sangue Giemsa

tecido sanguíneo: hemácias; plaquetas; leucócitos granulócitos - neutrófilo, eosinófilo e basófilo; leucócitos agranulócitos - monócito e linfócito

Aum: 1.000x Data: _____________

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HISTOLOGIA

203

Unidade: Tecido nervoso

Lâm._____- Cérebro Golgi

substância cinzenta: neurônio piramidal (multipolar), astrócito protoplasmático e oligodendrócito

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido nervoso

Lâm._____- Cérebro Golgi

substância branca: astrócito fibroso e oligodendrócito

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido nervoso

Lâm._____ - Cerebelo HE

pia-máter; substância cinzenta: camada molecular, camada de células de Purkinje e camada granulosa; substância branca

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Tecido nervoso

Lâm._____ - Medula espinhal HE

pia-máter; substância cinzenta (em forma de H) com neurônios; canal ependimário, e substância branca com fibras nervosas

Aum: 50x Data: _____________

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HISTOLOGIA

205

Unidade: Tecido nervoso

Lâm._____ - Medula espinhal HE

neurônios multipolares na substância cinzenta e fibras nervosas (axônio, oligodendrócito e local onde havia a mielina) na substância branca

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido nervoso

Lâm._____ - Gânglio sensorial HE

cápsula de tecido conjuntivo denso não modelado; zona cortical com neurônios pseudounipolares e células-satélites, e zona medular com fibras nervosas

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Tecido nervoso

Lâm._____ - Gânglio sensorial HE

zona cortical: neurônio pseudounipolar circundado pelas células-satélites; zona medular: fibra nervosa com axônio, bainha de mielina, núcleo das células de Schwann, internódulos e nódulo de Ranvier

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido nervoso

Lâm._____ - Nervo HE

corte transversal: epineuro, perineuro e endoneuro; fibras nervosas – axônio, local onde havia a bainha de mielina e célula de Schwann

Aum: 100x Data: _____________

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HISTOLOGIA

207

Unidade: Tecido nervoso

Lâm._____ - Nervo HE

corte longitudinal: perineuro e endoneuro; fibras nervosas – axônio, local onde havia a bainha de mielina, célula de Schwann, nódulo de Ranvier e incisuras de Schmidt-Lanterman

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Tecido nervoso

Lâm._____ - Jejuno HE

plexo de Meissner (ou submucoso) ou plexo de Auerbach (ou mioentérico): gânglio intramural – neurônios multipolares e células-satélites

Aum: 400x Data: _____________

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HISTOLOGIA

209

Unidade: Tecido muscular

Lâm._____ - Língua HE

músculo estriado esquelético

corte longitudinal da fibra muscular: estriações longitudinais (miofibrilas) e transversais (bandas A, H e I e linha Z) e núcleos periféricos

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Tecido muscular

Lâm._____ - Língua HE

músculo estriado esquelético

corte transversal: núcleos múltiplos e periféricos e miofibrilas cortadas transversalmente

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Tecido muscular

Lâm._____ - Coração HE

músculo estriado cardíaco

corte longitudinal: células com estriações transversais (bandas A e I), núcleos centrais e discos intercalares; corte transversal: núcleo central nas células

Aum: 1.000x Data: _____________

Unidade: Tecido muscular

Lâm._____ - Duodeno HE

músculo liso

corte longitudinal: células sem estriações e com núcleo central e único; corte transversal: núcleo central nas células

Aum: 1.000x Data: _____________

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HISTOLOGIA

211

Unidade: Sistema circulatório

Lâm._____ - Artéria e veia HE

artéria de médio calibre: túnica íntima, túnica média e túnica adventícia

Aum: 50X Data: _____________

Unidade: Sistema circulatório

Lâm._____ - Artéria e veia HE

artéria de médio calibre: túnica íntima com endotélio, camada subendotelial e lâmina elástica interna; túnica média de músculo liso, com fibras elásticas e lâmina elástica externa, e túnica adventícia de tecido conjuntivo denso não modelado e tecido conjuntivo frouxo

Aum: 400X Data: _____________

Unidade: Sistema circulatório

Lâm._____ - Artéria e veia HE

veia: túnica íntima, túnica média e túnica adventícia com vasa vasorum (arteríolas e vênulas)

Aum: 50X Data: _____________

Unidade: Sistema circulatório

Lâm._____ - Artéria e veia HE

veia: túnica íntima com endotélio e camada subendotelial, túnica média de músculo liso e túnica adventícia de tecido conjuntivo e músculo liso

Aum: 400X Data: _____________

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HISTOLOGIA

213

Unidade: Sistema linfático

Lâm._____ - Tonsila palatina HE

epitélio estratificado pavimentoso, formando criptas; tecido linfoide com nódulos linfáticos, e cápsula de tecido conjuntivo denso não modelado

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Sistema linfático

Lâm._____ - Linfonodo HE

cápsula e trabéculas de tecido conjuntivo denso não modelado; zona cortical com seios subcapsulares e peritrabeculares e nódulos linfáticos; zona paracortical, e zona medular com cordões e seios medulares

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Sistema linfático

Lâm._____ - Baço HE

cápsula de tecido conjuntivo denso não modelado; polpa branca (nódulos linfáticos com arteríola central), e polpa vermelha (cordões e seios esplênicos)

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Sistema linfático

Lâm._____ - Timo HE

cápsula de tecido conjuntivo denso não modelado; lóbulo com zona cortical e zona medular; corpúsculo de Hassall na zona medular

Aum: 100x e 400x Data: _____________

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HISTOLOGIA

215

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Parótida HE

glândula acinosa composta, com ácinos serosos; ductos intercalares, estriados e interlobulares

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Submandibular HE

glândula tubuloacinosa ramificada composta, com ácinos serosos e mistos

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Sublingual HE

glândula tubuloacinosa composta, com ácinos mistos

Aum: 400x Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Língua HE

papilas linguais: papila filiforme e papila fungiforme (epitélio estratificado pavimentoso e tecido conjuntivo)

Aum: 100x Data: _____________

Observar o músculo estriado esquelético, o tecido adiposo e as glândulas serosas e mucosas

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HISTOLOGIA

217

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Língua HE

papila circunvalada (epitélio estratificado pavimentoso com botões gustativos e tecido conjuntivo); glândulas serosas, cujos ductos desembocam nos sulcos da papila

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Esôfago HE

epitélio estratificado pavimentoso e glândulas esofágicas na submucosa

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Estômago HE

cárdia: epitélio simples colunar; fossetas gástricas; glândulas cárdicas (mucosas)

Aum: 100x Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Estômago HE

corpo ou fundo: epitélio simples colunar e fossetas gástricas com células mucosas superficiais; glândulas gástricas com células mucosas do colo, células oxínticas e zimogênicas

Aum: 100x Data: _____________

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HISTOLOGIA

219

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Estômago HE

piloro: epitélio simples colunar; fossetas gástricas; glândulas pilóricas (mucosas)

Aum: 100X Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Duodeno HE

mucosa (com vilosidades e glândulas de Lieberkühn): epitélio simples colunar com microvilos e células caliciformes, lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo e muscular da mucosa (músculo liso); submucosa de tecido conjuntivo denso não modelado com glândulas de Brünner; camadas musculares circular e longitudinal (músculo liso) e serosa

Aum: 50X Data: _____________

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HISTOLOGIA

221

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Jejuno HE

mucosa (com vilosidades e glândulas de Lieberkühn): epitélio simples colunar com microvilos e células caliciformes, lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo e muscular da mucosa (músculo liso); submucosa de tecido conjuntivo denso não modelado; camadas musculares circular e longitudinal (músculo liso) e serosa

Observar, em 400X, células de Paneth na base das glândulas

Aum: 50X Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Íleo HE

mucosa (com vilosidades e glândulas de Lieberkühn): epitélio simples colunar com microvilos e células caliciformes, lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo e muscular da mucosa (músculo liso); submucosa de tecido conjuntivo denso não modelado com placas de Peyer; camadas musculares circular e longitudinal (músculo liso) e serosa

Aum: 50X Data: _____________

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HISTOLOGIA

223

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Intestino grosso HE

mucosa: epitélio simples colunar com microvilos e células caliciformes, lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo (sem vilosidades e com glândulas de Lieberkühn) e muscular da mucosa (músculo liso) espessa

Aum: 100X Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Pâncreas HE

porção endócrina: ilhota de Langerhans (glândula cordonal); porção exócrina: glândula acinosa composta, com ácinos serosos que apresentam as células centroacinosas

Aum: 400X Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Fígado de porco HE

lóbulo hepático, vênula centrolobular e espaço-porta; espaço-porta com arteríola, vênula, ducto biliar e vaso linfático

Aum: 100X/400X Data: _____________

Unidade: Sistema digestório

Lâm._____ - Vesícula biliar HE

dobras da mucosa de epitélio simples colunar com microvilos e lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo, camada muscular e adventícia ou serosa

Aum: 100X Data: _____________

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HISTOLOGIA

225

Unidade: Sistema respiratório

Lâm._____ - Traqueia HE

epitélio pseudoestratificado colunar ciliado e com células caliciformes, tecido conjuntivo com glândulas seromucosas e vasos sanguíneos, cartilagem hialina e adventícia

Aum: 100X Data: _____________

Unidade: Sistema respiratório

Lâm._____ - Pulmão HE

brônquio: epitélio pseudoestratificado colunar ciliado e com células caliciformes, tecido conjuntivo com glândulas seromucosas, músculo liso e cartilagem hialina

Aum: 100X Data: _____________

Unidade: Sistema respiratório

Lâm._____ - Pulmão HE

bronquíolo: epitélio simples colunar ciliado e com células caliciformes ocasionais ou epitélio simples cúbico com células de Clara, tecido conjuntivo e músculo liso

Aum: 100X Data: _____________

Unidade: Sistema respiratório

Lâm._____ - Pulmão HE

bronquíolo terminal: epitélio simples cúbico ciliado com células de Clara, tecido conjuntivo e músculo liso; bronquíolo respiratório: epitélio simples cúbico intercalado por alvéolos; ducto alveolar e saco alveolar, com alvéolos de epitélio simples pavimentoso

Aum: 100X Data: _____________

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HISTOLOGIA

227

Unidade: Sistema urinário

Lâm._____ - Rim HE

zona cortical: corpúsculo renal, constituído pela cápsula de Bowman (folheto parietal de epitélio simples pavimentoso) e pelo glomérulo, túbulos contorcidos proximal e distal e mácula densa

Aum: 400X Data: _____________

Unidade: Sistema urinário

Lâm._____ - Rim Azul de toluidina (semifino)

zona cortical: corpúsculo renal, com a cápsula de Bowman (folheto parietal de epitélio simples pavimentoso e folheto visceral de podócitos) e o glomérulo, túbulos contorcidos proximal e distal, mácula densa, células justaglomerulares e tubo coletor

Aum: 400X Data: _____________

Unidade: Sistema urinário

Lâm._____ - Rim HE

zona medular externa: parte delgada (epitélio simples pavimentoso) e parte espessa (epitélio simples cúbico baixo) da alça de Henle, tubo coletor (epitélio simples cúbico) e capilar sanguíneo; zona medular interna: parte delgada da alça de Henle, tubo coletor e capilar sanguíneo

Aum: 400X Data: _____________

Unidade: Sistema urinário

Lâm._____ - Ureter HE

epitélio de transição, lâmina própria, camada muscular e adventícia

Aum: 50X Data: _____________

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HISTOLOGIA

229

Unidade: Sistema Tegumentar

Lâm._____ - Pele grossa HE

epiderme de epitélio estratificado pavimentoso queratinizado com os estratos basal, espinhoso, granuloso e córneo; derme papilar de tecido conjuntivo frouxo com corpúsculos de Meissner

Aum: 400X Data: _____________

Unidade: Sistema Tegumentar

Lâm._____ - Pele fina HE

epiderme de epitélio estratificado pavimentoso queratinizado com melanina no estrato basal e pouca queratina no estrato córneo

Aum: 400X Data: _____________

Unidade: Sistema tegumentar

Lâm._____ - Couro cabeludo HE

epiderme de epitélio estratificado pavimentoso queratinizado; folículos pilosos; glândula sebácea; glândula sudorípara

Aum: 100X Data: _____________

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