· 2019. 4. 14. · AGRADECIMENTOS Agradeço a tod@s que tornaram possível esta longa caminhada: Ao meu companheiro querido, Cícero Justo, ativamente presente em todos os momentos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE EDUCACcedilAtildeO

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ESPECIALIZADOS

Vera Maria Vidal Peroni

IMPLICACcedilOtildeES DA RELACcedilAtildeO PUacuteBLICO-PRIVADA PARA A

DEMOCRATIZACcedilAtildeO DA EDUCACcedilAtildeO

Porto Alegre

2015




Tese apresentada agrave Faculdade de

Educaccedilatildeo da Universidade Federal do

Rio Grande do Sul como requisito parcial

para a promoccedilatildeo a Professor Titular da

Carreira do Magisteacuterio Superior

Porto Alegre 2015

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a tods que tornaram possiacutevel esta longa caminhada

Ao meu companheiro querido Ciacutecero Justo ativamente presente em todos os momentos desta

trajetoacuteria

Minha famiacutelia Lino (meu pai e grande exemplo) Ignecircs Rita Lino Joseacute Ana Paula Joatildeo e

Silvia por serem o meu ninho aconchegante para o qual eu posso sempre retornar apoacutes todos

os voos

Agraves minhas orientadorasamigasinterlocutoras do poacutes-doutorado Lisete Arelaro e Faacutetima

Antunes e ao professor Evaldo Vieira meu eterno orientador

Meus amigos interlocutores do grupo de pesquisa Grupo de Pesquisa Relaccedilotildees entre o Puacuteblico

e o Privado na Educaccedilatildeo do PPGEDUUFRGS Otiacutelia Daniela Alexandre Raquel Luciani

Jaqueline Denise Jaira Romir Lucia Liane Fabiacuteola Mauriacutecio Maria Luiza Monique

Faacutetima Juliana Greice Betina Paula

Aos colegas amigos do Nuacutecleo de Poliacuteticas e Gestatildeo da Educaccedilatildeo da FACEDUFRGS Naluacute

Naira Juca Beatriz Patriacutecia Mariacircngela Goreti pela forccedila cotidiana

Meus amigos e interlocutores do grupo de pesquisa nacional no qual o tema de pesquisa puacuteblico

privado nasceu e iniciou a caminhar Theresa Teise Regina Maria Dilneacuteia Rosana Liliene

Dalva Terezinha Maria Silvana Luciani Marilda

Aos professores que dispuseram do seu tempo para dialogar sobre as realidades de seus paiacuteses

Rolando Contreras Samuel Caravajal Susana Vior Tristan MacCowan Gleen Rikowski

Stephen Ball Antocircnio Olmedo Liciacutenio Lima Estela Miranda Almerindo Afonso Maria

Emiacutelia Villarinho Belmiro Cabrito

Aos companheiros do Grupo de Investigadores sobre la Formacioacuten de Profesores Mercosur ndash

Cono Sur por a cada ano renovar o sonho de que continuamos lutando por um outro mundo

possiacutevel na Ameacuterica Latina

Porque se chamavam homens

Tambeacutem se chamavam sonhos

E sonhos natildeo envelhecem

(Milton Nascimento Locirc Borges e

Maacutercio Borges

Clube da esquina 2)

RESUMO

No caso brasileiro muito lutamos pela democratizaccedilatildeo com direitos sociais materializados em

poliacuteticas Mas ao mesmo tempo em que avanccedilamos nos direitos conquistados tambeacutem foi

naturalizado que o Estado natildeo seria mais o principal executor A poliacutetica educacional que

historicamente no Brasil teve como paracircmetro o mercado estava dando os primeiros passos na

construccedilatildeo da democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e de direitos sociais universais quando nesse

contexto o paracircmetro de qualidade vinculado ao mercado foi fortalecido A relaccedilatildeo entre o

puacuteblico e o privado se materializa no Brasil de diversas formas Ocorre atraveacutes da participaccedilatildeo

de redes poliacuteticas organizadas de empresaacuterios como Movimento Todos pela Educaccedilatildeo que

influencia nas poliacuteticas educacionais Tambeacutem atraveacutes de programas educacionais nos quais o

governo apenas repassa alguns recursos para que a sociedade execute como por exemplo na

educaccedilatildeo de Jovens e Adultos o Programa Brasil Alfabetizado na educaccedilatildeo infantil as creches

comunitaacuterias e na educaccedilatildeo especial em que historicamente instituiccedilotildees filantroacutepicas tecircm

atuado Ocorre ainda pela ldquovendardquo de materiais pedagoacutegicos estruturados que incluem

proposta de curriacuteculo metodologia e avaliaccedilatildeo E tambeacutem atraveacutes das parcerias entre sistemas

puacuteblicos e instituiccedilotildees do Terceiro Setor em que a execuccedilatildeo das poliacuteticas permanecem estatais

mas o privado acaba interferindo no conteuacutedo da educaccedilatildeo puacuteblica tanto no curriacuteculo quanto

na gestatildeo e organizaccedilatildeo escolar Assim sendo defendemos a tese de que as redefiniccedilotildees no

papel do Estado reorganizam as fronteiras entre o puacuteblico e privado materializando-se das mais

diferentes formas na educaccedilatildeo baacutesica puacuteblica e suas modalidades com profundas implicaccedilotildees

no processo de democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

Palavras-chave Parceria Puacuteblico-privada em Educaccedilatildeo Poliacutetica Educacional

Democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

___________________________________________________________________________

PERONI Vera Maria Vidal Implicaccedilotildees da Relaccedilatildeo Puacuteblico-Privada para a

Democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo 2015 Tese ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2015

ABSTRACT

In Brazil we have had a long hard struggle for democratization with social rights materialized

in social policies However while we have made some progress and conquered rights we are

now seeing a naturalization of the idea that the State should no longer be the main executor of

social policy Educational policy which in Brazil has historically had the market as parameter

was taking the first steps towards the democratization of education and universal social rights

when the parameter of quality connected with the market gained force The relation between

public and private materializes in many ways in Brazil It occurs through the participation of

organized policy networks formed by private corporations such as the Movimento Todos pela

Educaccedilatildeo [All for Education Movement] which influences educational policy It also takes

place through educational programs which the government merely contributes to with funding

and lets civil society implement such as the Programa Brasil Alfabetizado (Literate Brazil)

concerned with young people and adult education the community nurseries in childrenrsquos

education and in special education which has historically been the domain of philanthropic

institutions It also occurs through the ldquosalerdquo of structured educational materials which include

curricular proposition methodology and assessment Furthermore it happens through

partnerships between public education systems and Third Sector organizations where the

execution of public policy remains in in the hands of the State but the private sector ends up

interfering in the content of public education both in the curriculum and in the schoolsrsquo

management and organization Therefore we defend the thesis that the redefinitions of the role

of State which reorganize the borders between public and private and are materialized into more

different forms in the basic education with implications in the democratization process of

education

Keywords Public-private Partnership in Education Educational Policy Democratization

of Education

___________________________________________________________________________

PERONI Vera Maria Vidal Implications of the public-private relation for the

democratization of basic education in Brazil 2015 Thesis ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Educaccedilatildeo Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2015

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ndash Sujeitos Individuais e Coletivos e Relaccedilotildees com o Guia de Tecnologias 91

Figura 2 ndash Instituto Ayrton Senna e suas relaccedilotildees 107

Figura 3 ndash Relaccedilotildees do IAS com instituiccedilotildees empresariais e puacuteblicas 108

Figura 4 ndash Relaccedilotildees do IAS para a educaccedilatildeo formal 109

Figura 5 ndash Relaccedilotildees do IAS para a promoccedilatildeo dos programas de educaccedilatildeo

complementar 110

Figura 6 ndash Programa Educar para o Seacuteculo 21 121

Figura 7 ndash Conselho de Governanccedila do Instituto Unibanco e suas relaccedilotildees 130

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 ndash Pontos principais do Neoliberalismo e da Terceira Via ndash semelhanccedilas e

diferenccedilas 39

Quadro 2 ndash Linha de tempo ndash 1981-2010 58

Quadro 3 ndash Guia de Tecnologias Educacionais 2009 e 20112012 90

Quadro 4 ndash Conselheiros de Governanccedila do Todos Pela Educaccedilatildeo e suas empresas 100

Quadro 5 ndash Responsabilidades dos gestores no programa Gestatildeo Nota 10 112

Quadro 6 ndash Parcerias do PJF do Instituto Unibanco em 2013 132

Quadro 7 ndash Quadro comparativo entre Instituto Ayrton Senna e Instituto Unibanco 143

Tabela 1 ndash Taxa de analfabetismo ndash 1995-2009 83

Tabela 2 ndash Taxa de analfabetismo funcional ndash 1995-2009 83

Tabela 3 ndash Pessoas de 10 anos ou mais de idade por anos de estudo 2001-2011 84

Tabela 4 ndash Taxa de escolarizaccedilatildeo 5 a 17 anos ndash 1992-2007 84


Tabela 6 ndash Taxa Liacutequida de Escolarizaccedilatildeo fundamental e meacutedio ndash 1980-2000 86

LISTA DE SIGLAS

ALFASOL ndash Programa Alfabetizaccedilatildeo Solidaacuteria

APAE ndash Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais

AVA ndash Ambiente Virtual de Aprendizagem

BID ndash Banco Interamericano de Desenvolvimento

BM ndash Banco Mundial

CAPG- BA ndash Convocatoria de Centros Asociados

CETEB ndash Centro de Ensino Tecnoloacutegico de Brasiacutelia


CF ndash Constituiccedilatildeo Federal

CG ndash Conselho de Governanccedila

CGDC ndash Cacircmara de Poliacuteticas de Gestatildeo Desempenho e Competitividade


CNE ndash Conselho Nacional de Educaccedilatildeo

CONAE ndash Conferecircncia Nacional de Educaccedilatildeo

CONEDs ndash Congressos Nacionais de Educaccedilatildeo

CONSED ndash Conselho Nacional de Secretaacuterios de Educaccedilatildeo

CPP ndash Centro de Poliacuteticas Puacuteblicas

CREs ndash Coordenadorias Regionais de Educaccedilatildeo

EF ndash Ensino Fundamental

EJA ndash Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

EM ndash Ensino Meacutedio

FMI ndash Fundo Monetaacuterio Internacional

FNDE ndash Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

FNDEP ndash Foacuterum Nacional em Defesa da Escola Puacuteblica

FUNDEB ndash Fundo de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica

FUNDEF ndash Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental

GATS ndash General Agreement on Trade in Services

GEEMPA ndash Grupo de Estudos sobre Educaccedilatildeo Metodologia de Pesquisa e Accedilatildeo

GEpR ndash Gestatildeo Escolar para Resultados

GPRPPE ndash Grupo de Pesquisa Relaccedilotildees Puacuteblico-Privado na Educaccedilatildeo

IAS ndash Instituto Ayrton Senna

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IDEB ndash Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica

Insper ndash Instituto de Ensino e Pesquisa

IU ndash Instituto Unibanco

JF ndash Jovem de futuro

LDB ndash Lei de Diretrizes e Bases

Mare ndash Ministeacuterio da Administraccedilatildeo e Reforma do Estado

MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MTE ndash Movimento Todos pela Educaccedilatildeo

NGP ndash New Public Management

OCDE ndash Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econocircmico

OMC ndash Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONGs ndash Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCIP ndash Organizaccedilotildees da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

9

PAED ndash Programa de Complementaccedilatildeo ao Atendimento Educacional especializado agraves Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia

PAR ndash Plano de Accedilotildees Articuladas

PDE ndash Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

PDEPAR ndash Plano de Desenvolvimento da EducaccedilatildeoPlano de Accedilotildees articulada

PJF ndash Projeto Jovem de Futuro

PNUD ndash Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento


PPGEDU ndash Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

PPP ndash Parcerias Puacuteblico-Privada

PRC ndash Projeto de Redesenho Curricular

ProEMI ndash Programa Ensino Meacutedio Inovador

PRONATEC ndash Programa Nacional de Acesso ao Ensino Teacutecnico e Emprego

RS ndash Rio Grande do Sul

SAE ndash Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos

SECADI ndash Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo

Seduc ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo

SENNA ndash Social and Emotional or Non-cognitive Nationwide Assessment

SGP ndash Sistema de Gestatildeo de Projetos

SIASI ndash Sistema Instituto Ayrton Senna de Informaccedilatildeo

SIMEC ndash Sistema Integrado de Planejamento Orccedilamento e Financcedilas do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo

SMEC ndash Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo e Cultura

SNE ndash Sistema Nacional de Educaccedilatildeo

TPE ndash Movimento Todos pela Educaccedilatildeo

UNDIME ndash Uniatildeo Nacional dos Dirigentes Municipais de Educaccedilatildeo

UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

USAID ndash United States Agency for International Development

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 12

1 O CAMINHO TEOacuteRICO-METODOLOacuteGICO E A TRAJETOacuteRIA DE ESTUDOS

SOBRE O TEMA 16

2 REDEFINICcedilOtildeES NO PAPEL DO ESTADO ndash DIAGNOacuteSTICO DE QUE O

CULPADO PELA CRISE Eacute O ESTADO E O MERCADO COMO PARAcircMETRO

DE QUALIDADE 29

21 O MERCADO COMO PARAcircMETRO DE QUALIDADE 31

3 O PROCESSO DE MERCADIFICACcedilAtildeO DA EDUCACcedilAtildeO PUacuteBLICA

SUJEITOS E CONTEUacuteDO DA PROPOSTA DO PRIVADO PARA O PUacuteBLICO56

31 OS SUJEITOS 65

32 O MERCADO NA DEFINICcedilAtildeO DO CONTEUacuteDO DA EDUCACcedilAtildeO 71

33 PRIVATIZACcedilAtildeO ENDOacuteGENA ndash O GERENCIALISMO COMO O CONTEUacuteDO

DA PROPOSTA DO PRIVADO NO PUacuteBLICO 72

4 MUacuteLTIPLAS FORMAS DE MATERIALIZACcedilAtildeO DO PRIVADO NO PUacuteBLICO

NA EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA NO BRASIL 79

41 A OFERTA 83

42 PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO ndash PDE 87

43 O GUIA DE TECNOLOGIAS E AS PARCERIAS COM O SETOR PRIVADO 89

44 A CONSTRUCcedilAtildeO DO SISTEMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO 92

45 A EXECUCcedilAtildeO DA OFERTA VIA TERCEIRO SETOR 97

46 OS EMPRESAacuteRIOS NA DIRECcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS EDUCATIVAS

MOVIMENTO TODOS PELA EDUCACcedilAtildeO 99

47 AS PARCERIAS ndash DIRECcedilAtildeO E EXECUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS EDUCATIVAS

101

5 DOIS EXEMPLOS DO PRIVADO DEFININDO O PUacuteBLICO ATRAVEacuteS DE

PARCERIAS INSTITUTO AYRTON SENNA E INSTITUTO UNIBANCO 102

51 INSTITUTO AYRTON SENNA (IAS) 102

52 OS SUJEITOS 106

53 O CONTEUacuteDO DA PROPOSTA 110

54 PROPOSTAS ATUAIS DO IAS 119

55 COMPETEcircNCIAS SOCIOEMOCIONAIS 122

56 FINANCIAMENTO DO IAS 124

57 INSTITUTO UNIBANCO 128

571 Sujeitos 130

572 O Conteuacutedo da Proposta 135

58 FINANCIAMENTO PROEMIPJF 141

11

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 145

REFEREcircNCIAS 151

ANEXO 1 ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 166

ANEXO 2 ndash Orientaccedilotildees para o Planejamento e Execuccedilatildeo das accedilotildees do Projeto Jovem de

Futuro referentes ao recurso financeiro da complementaccedilatildeo do Estado 167

ANEXO 3 ndash Programa de Aceleraccedilatildeo de Aprendizagem 168

Convecircnio Sapiranga com Instituto Ayrton Senna 168

ANEXO 4 ndash EduLab21 - rede multidisciplinar de parceiros como universidades

pesquisadores fundaccedilotildees e organizaccedilotildees internacionais proposta pelo Instituto

Ayrton Senna 180

INTRODUCcedilAtildeO

A tese a ser desenvolvida como promoccedilatildeo agrave classe de Professor Titular consiste no

princiacutepio de que as redefiniccedilotildees no papel do Estado reorganizam as fronteiras entre o puacuteblico e

privado materializando-se das mais diferentes formas na educaccedilatildeo baacutesica puacuteblica e suas

modalidades com profundas implicaccedilotildees no processo de democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

A perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica que embasa nossas pesquisas eacute a de que a relaccedilatildeo

entre o puacuteblico e o privado na poliacutetica educacional eacute parte constitutiva das mudanccedilas sociais e

econocircmicas natildeo eacute unicamente uma questatildeo de determinaccedilatildeo mas de relaccedilatildeo e processo1

Desse modo tanto o Estado quanto a sociedade civil satildeo partes constitutivas do movimento de

correlaccedilatildeo de forccedilas2 de sujeitos3 situados em um contexto histoacuterico e geograacutefico4 perpassados

por projetos societaacuterios distintos

Nesse sentido natildeo se trata de uma contraposiccedilatildeo entre Estado e sociedade civil pois

vivemos em uma sociedade de classes em que dois sujeitos satildeo influenciados por interesses de

cunho mercantil Sociedade civil e Estado satildeo perpassados por interesses mercantis Assim em

nossas pesquisas o privado eacute vinculado ao mercado (PERONI 2015)

E assim como a sociedade civil e o Estado a democracia tambeacutem natildeo eacute entendida como

uma abstraccedilatildeo mas como materializaccedilatildeo de direitos e de igualdade social5 (WOOD 2003) e

ldquocoletivizaccedilatildeo das decisotildeesrdquo (VIEIRA 1998) com efetiva participaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas com base na praacutetica social criacutetica e autocriacutetica no curso de seu desenvolvimento

(MEacuteSZAacuteROS 2002)

O Estado natildeo eacute entendido como uma abstraccedilatildeo eacute construiacutedo por sujeitos individuais e

coletivos6 em um processo histoacuterico de correlaccedilatildeo de forccedilas Portanto o foco da anaacutelise eacute a

privatizaccedilatildeo do puacuteblico na loacutegica mercantil com implicaccedilotildees para a democratizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo

Eacute importante ressaltar a especificidade brasileira na anaacutelise das redefiniccedilotildees do papel do

Estado pois os avanccedilos das lutas por direitos sociais ocorreram no momento poacutes-ditadura na

1 Relaccedilatildeo em processo na perspectiva de Thompson (1981)

2 Correlaccedilatildeo de forccedilas na concepccedilatildeo de Gramsci (1989)

3 Sujeitos individuais ou coletivos na concepccedilatildeo de Thompson (1981)

4 Contexto histoacuterico e geograacutefico na concepccedilatildeo de Harvey (2008)

5 Sobre a natildeo separaccedilatildeo entre o econocircmico e o poliacutetico ver Wood (2003)

6 Sujeitos individuais e coletivos na concepccedilatildeo de Thompson (1981)

13

deacutecada de 1980 mesmo periacuteodo de crise do modelo fordistakeynesiano Em seu lugar o

capitalismo propunha um conjunto de estrateacutegias para retomar o aumento das taxas de lucro

reduzindo direitos com graves consequecircncias para a construccedilatildeo da democracia e da efetivaccedilatildeo

dos direitos sociais materializados em poliacuteticas puacuteblicas dando lugar ao que temos chamado

de ldquonaturalizaccedilatildeo do possiacutevelrdquo (PERONI 2003 2006 2013)

Assim sendo se as redefiniccedilotildees no papel do Estado em acircmbito internacional

apresentam importantes implicaccedilotildees para o processo de democratizaccedilatildeo e a minimizaccedilatildeo de

direitos universais e de qualidade para todos esse processo eacute ainda mais problemaacutetico em paiacuteses

que viveram ditaduras e estatildeo em um processo recente de luta por direitos materializados em

poliacuteticas

Ressaltamos que no Brasil a garantia do acesso agrave educaccedilatildeo puacuteblica foi ampliada o que

consideramos um avanccedilo nesse processo No entanto tambeacutem verificamos a presenccedila cada vez

maior do privado mercantil definindo a educaccedilatildeo puacuteblica O Estado continua sendo o

responsaacutevel pelo acesso e inclusive amplia as vagas puacuteblicas mas o ldquoconteuacutedordquo pedagoacutegico e

de gestatildeo da escola eacute cada vez mais determinado por instituiccedilotildees que introduzem a loacutegica

mercantil com a justificativa de que ao agir assim estatildeo contribuindo para a qualidade da

escola puacuteblica Em nossas pesquisas analisamos as vaacuterias formas de relaccedilatildeo entre o puacuteblico e

o privado na educaccedilatildeo baacutesica E mais especificamente como o privado interfere no puacuteblico

atraveacutes de parcerias trazendo uma loacutegica individualista e competitiva empresarial A ecircnfase

passa a ser no produto e natildeo mais no processo o foco passa a ser a gestatildeo e natildeo mais o

pedagoacutegico ocorre a concentraccedilatildeo em algumas disciplinas (portuguecircs e matemaacutetica) pois seratildeo

avaliadas a aprendizagem assim passa a ser um produto mensuraacutevel

As pesquisas demonstram ainda que o processo de privatizaccedilatildeo do puacuteblico ocorre tanto

na direccedilatildeo quanto na execuccedilatildeo das poliacuteticas educativas Na direccedilatildeo como eacute o caso Movimento

Todos pela Educaccedilatildeo em que os empresaacuterios acabam influenciando o governo federal na

agenda educacional inclusive atraveacutes da venda de produtos via Guia de tecnologias do Plano

de Accedilotildees Articuladas (PAR) como trataremos no capiacutetulo 4 Na execuccedilatildeo direta que ocorre

principalmente para as classes populares na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos creches educaccedilatildeo

especial e educaccedilatildeo profissional Mas tambeacutem acontece ao mesmo tempo na execuccedilatildeo e

direccedilatildeo como verificamos nos estudos sobre as parcerias em que instituiccedilotildees privadas definem

o conteuacutedo da educaccedilatildeo e tambeacutem executam sua proposta atraveacutes da formaccedilatildeo avaliaccedilatildeo do

monitoramento premiaccedilatildeo e sanccedilotildees que permitem um controle de que seu produto seraacute

14

executado conforme trataremos no capiacutetulo 5 Eacute importante ressaltar que esta tese tem como

base as pesquisas desenvolvidas sobre o tema nas uacuteltimas duas deacutecadas

Sintetizando a tese seraacute desenvolvida ao longo de cinco capiacutetulos e tem como principal

objetivo analisar o modo pelo qual as redefiniccedilotildees no papel do Estado reorganizam as fronteiras

entre o puacuteblico e privado e materializam-se das mais diferentes formas na educaccedilatildeo baacutesica

puacuteblica com implicaccedilotildees para o processo de democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo no Brasil

O primeiro capiacutetulo apresenta o referencial teoacuterico-metodoloacutegico tendo como base os

seguintes conceitos sujeitos e relaccedilotildees de Thompson (1981) particular em Lukaacutecs (1978) e os

conceitos de democracia de Wood (2003) Meacuteszaacuteros (2002) e Vieira (1998) Esse capiacutetulo

apresenta tambeacutem a trajetoacuteria de pesquisas sobre o tema redefiniccedilotildees no papel do Estado e mais

especificamente as relaccedilotildees entre o puacuteblico e o privado

O segundo capiacutetulo apresenta elementos que embasam a discussatildeo sobre as redefiniccedilotildees

no papel do Estado baseados em Wood (2001 2014) Harvey (1989 1995) Giddens (2001)

no sentido de entender como essas redefiniccedilotildees modificam as fronteiras entre o puacuteblico e o

privado neste periacuteodo particular do capitalismo com implicaccedilotildees para a democracia

Apresentamos os conceitos de democracia do neoliberalismo e Terceira Via e em

contraposiccedilatildeo retomamos o nosso conceito de democracia apresentado no primeiro capiacutetulo

Apresentamos um item sobre o neoliberalismo Terceira Via e terceiro setor pela importacircncia

que tem para o debate que realizamos sobre as justificativas propostas pelos governos para

atuarem com o terceiro setor

O terceiro capiacutetulo apresenta um debate acerca do processo de mercadificaccedilatildeo da

educaccedilatildeo puacuteblica Iniciamos apresentando autores que realizam o debate sobre o tema e que

foram os nossos interlocutores no atual projeto de pesquisa como Ball (2012 2013) Robertson

e Verger (2012) Robertson Mundy Verger Menashy (2012) Lima (2012 2012a 2013)

Afonso (2013) Vilarinho (2015) Antunes (2015) e Rikowski (2014 2015) Seguimos ainda

com o foco atual do grupo de pesquisa que satildeo os sujeitos e conteuacutedo da proposta Isto eacute

entendendo que o processo de privatizaccedilatildeo natildeo eacute uma abstraccedilatildeo buscamos entender quem satildeo

os sujeitos como estatildeo organizados e com quem se relacionam para realizar sua proposta de

influenciar a educaccedilatildeo puacuteblica Nessa parte trazemos um debate sobre a importacircncia da

organizaccedilatildeo dos sujeitos em redes com base nos estudos de Ball e Olmedo (2013) Ball e

Junemann (2012) Robertson e Verger (2012) e Rhodes (1996) e apresentamos a nossa

concepccedilatildeo de redes como sujeitos e relaccedilotildees com processos societaacuterios de classe em disputa e

15

trazemos alguns autores para dialogar com o conteuacutedo da proposta ressaltando os debates sobre

gerencialismo de Clarke e Newman (2006 2012)

No quarto capiacutetulo apresentamos como este processo estaacute se materializando no Brasil

As especificidades de um paiacutes que saiu de uma ditadura e estava dando os primeiros passos na

conquista por direitos materializados em poliacuteticas quando vivenciou os processos de

naturalizaccedilatildeo da perda de direitos no periacuteodo de ajuste fiscal e de implementaccedilatildeo das estrateacutegias

de superaccedilatildeo da crise do capital de neoliberalismo reestruturaccedilatildeo produtiva financeirizaccedilatildeo e

Terceira Via que redefiniam o papel do Estado como principal garantidor dos direitos sociais

materializados em poliacuteticas debate apresentado no segundo capiacutetulo Assim verificamos que

se por um lado o Brasil avanccedilou na materializaccedilatildeo de direitos em poliacuteticas por outro avanccedilou

tambeacutem no processo de privatizaccedilatildeo do puacuteblico tanto atraveacutes da execuccedilatildeo como direccedilatildeo das

poliacuteticas educacionais

No quinto capiacutetulo apresentamos alguns exemplos de nossa pesquisa a atuaccedilatildeo de dois

Institutos que possuem abrangecircncia nacional Instituto Ayrton Senna (IAS) e Instituto Unibanco

(IU) Temos o objetivo de mostrar alguns elementos de como ocorrem na praacutetica os debates

apresentados nos capiacutetulos anteriores focalizando a anaacutelise dos sujeitos e relaccedilotildees e o conteuacutedo

da proposta dos Institutos

A seguir apresentaremos esta trajetoacuteria assim como o referencial teoacuterico-metodoloacutegico

que fundamenta nossas anaacutelises


SOBRE O TEMA

No enfoque teoacuterico-metodoloacutegico que embasa esta pesquisa a poliacutetica social natildeo eacute

simplesmente determinada pelas mudanccedilas sociais e econocircmicas mas eacute parte constitutiva

dessas mudanccedilas Entende-se que as poliacuteticas sociais satildeo parte da materializaccedilatildeo do Estado

que por sua vez eacute parte do movimento histoacuterico em um periacuteodo particular do capitalismo

Nesse sentido buscamos entender como se materializa a relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado na

educaccedilatildeo analisando o objeto de estudo em suas muacuteltiplas relaccedilotildees como movimento que se

materializa na realidade social com muitas contradiccedilotildees atraveacutes de sujeitos com processos

societaacuterios distintos em uma relaccedilatildeo de classe e natildeo como estruturas estaacuteticas Ao longo deste

capiacutetulo aprofundaremos os desdobramentos dessa concepccedilatildeo

Como a tese trata das implicaccedilotildees do processo de privatizaccedilatildeo do puacuteblico para a

democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo iniciaremos tratando da concepccedilatildeo de democracia tomando por

base os trabalhos de Wood (2003) Meacuteszaacuteros (2002) e Vieira (1998 2007) Para Vieira (1998)

ldquo[] quanto mais coletiva a decisatildeo mais democraacutetica ela eacute Qualquer conceito de democracia

e haacute vaacuterios deles importa em grau crescente de coletivizaccedilatildeo de decisotildeesrdquo (VIEIRA 2002 p

12) Wood (2003) remete para a natildeo-separaccedilatildeo entre o econocircmico e o poliacutetico e para a relaccedilatildeo

da democracia com direitos sociais materializados em poliacuteticas E para Meacuteszaacuteros (2002 p

1008) ldquo[] programas e instrumentos de accedilatildeo sociopoliacuteticos verdadeiramente adequados soacute

podem ser elaborados pela proacutepria praacutetica social criacutetica e autocriacutetica no curso de seu

desenvolvimentordquo Enfim a democracia natildeo eacute uma abstraccedilatildeo eacute a materializaccedilatildeo de direitos

em poliacuteticas coletivamente construiacutedas na autocriacutetica da praacutetica social

Outra questatildeo metodoloacutegica importante eacute que natildeo tratamos o puacuteblico e o privado apenas

como propriedade mas como projetos societaacuterios em relaccedilatildeo permeados por classes sociais

em correlaccedilotildees de forccedilas Nesse sentido eacute importante definir que entendemos classe na

perspectiva de Thompson como ldquouma relaccedilatildeo e natildeo uma coisardquo (THOMPSON 1981 p 11)

ldquoum fenocircmeno visiacutevel apenas no processordquo (THOMPSON 2012 p 77) e ainda que ldquo[]

classe natildeo eacute esta ou aquela parte da maacutequina mas a maneira pela qual a maacutequina trabalha rdquo

(THOMPSON 2012 p 169)

E ao dialogar com autores dentro da proacutepria concepccedilatildeo teoacuterica marxista Thompson

enfatiza ldquoNatildeo vejo classe como estrutura ou categoria mas como algo que ocorre efetivamente

17

(e cuja coerecircncia pode ser demonstrada) nas relaccedilotildees humanas rdquo (THOMPSON 1981 p 10)

Ainda para o autor

[] classe natildeo eacute categoria estaacutetica eacute uma categoria histoacuterica descritiva de pessoas

numa relaccedilatildeo no decurso do tempo e das maneiras pelas quais se tornam conscientes

das suas relaccedilotildees como se separam unem entram em conflito formam instituiccedilotildees e

transmitem valores de modo classista Neste sentido classe eacute uma formaccedilatildeo tatildeo

lsquoeconocircmicarsquo quanto lsquoculturalrsquo eacute impossiacutevel favorecer um aspecto em detrimento do

outro (THOMPSON 2012 p 260)

Quando analisamos as relaccedilotildees entre o puacuteblico e o privado observamos que estas

ocorrem via execuccedilatildeo ou direccedilatildeo levando a loacutegica de mercado para o conteuacutedo da educaccedilatildeo

Desse modo entendemos que existem projetos societaacuterios e de educaccedilatildeo em correlaccedilatildeo e

assim concordamos com Thompson (2002 p 275) quando afirma que classe no seu sentido

heuriacutestico eacute inseparaacutevel da noccedilatildeo de luta de classes que eacute um conceito histoacuterico e que implica

processo

Natildeo podemos falar de classes sem que as pessoas diante de outros grupos por meio

de um processo de luta (o que compreende uma luta em niacutevel cultural) entrem em

relaccedilatildeo e em oposiccedilatildeo sob uma forma classista ou ainda sem que modifiquem suas

relaccedilotildees de classe herdadas jaacute existentes

Ainda conforme Thompson ldquo[] a noccedilatildeo de classe traz consigo a noccedilatildeo de relaccedilatildeo

histoacuterica []rdquo e a ldquorelaccedilatildeo precisa estar sempre encarnada em pessoas e fatos reaisrdquo

(THOMPSON 1981 p 10) Assim entendemos que esse processo natildeo eacute uma abstraccedilatildeo eacute

realizado por sujeitos (individuais e coletivos) em relaccedilatildeo com um projeto de classe

Tambeacutem Lukaacutecs nos ajuda a caminhar nesta perspectiva de anaacutelise quando enfatiza a

importacircncia da relaccedilatildeo entre o singular e o universal com a mediaccedilatildeo do particular ldquoO singular

natildeo existe senatildeo em sua relaccedilatildeo com o universal O universal soacute existe no singular atraveacutes do

singularrdquo (LUKAacuteCS 1978 p 109) E o ldquo[] o movimento do singular ao universal e vice-versa

eacute sempre mediatizado pelo particular ele eacute um membro intermediaacuterio real tanto na realidade

objetiva quanto no pensamento que a reflete de um modo aproximadamente adequadordquo

(LUKAacuteCS 1978 p 112) Assim entendemos o objeto de estudo a relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o

privado na educaccedilatildeo como parte de um contexto histoacuterico e geograacutefico particular com

contradiccedilotildees e uma histoacuteria de lutas pela democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo materializada em

direitos

Tambeacutem buscamos essa categoria analiacutetica no sentido de entender as especificidades

deste periacuteodo particular do capitalismo que conserva questotildees estruturantes do capitalismo

18

mas tem especificidades que tambeacutem o redefinem Natildeo entendemos que seja um poacutes-

capitalismo7 mas um capitalismo com caracteriacutesticas especiacuteficas particulares no sentido de

que manteacutem a relaccedilatildeo com o universal e o materializa com as caracteriacutesticas e correlaccedilotildees de

forccedilas do seu tempo histoacuterico

Portanto entendemos que as fronteiras entre o puacuteblico e o privado tecircm se modificado

no contexto atual de crise do capitalismo em que as suas estrateacutegias de superaccedilatildeo ndash

neoliberalismo globalizaccedilatildeo reestruturaccedilatildeo produtiva e Terceira Via ndash redefinem o papel do

Estado principalmente para com as poliacuteticas sociais O neoliberalismo e a Terceira Via atual

socialdemocracia tecircm o mesmo diagnoacutestico de que o culpado pela crise atual eacute o Estado e veem

o mercado como paracircmetro de qualidade

O papel do Estado para com as poliacuteticas sociais eacute alterado pois com esse diagnoacutestico

as prescriccedilotildees satildeo racionalizar recursos e esvaziar o poder das instituiccedilotildees jaacute que instituiccedilotildees

puacuteblicas satildeo permeaacuteveis agraves pressotildees e demandas da populaccedilatildeo e improdutivas pela loacutegica

mercadoloacutegica Nessa perspectiva a responsabilidade pela execuccedilatildeo e direccedilatildeo das poliacuteticas

sociais deve ser repassada para a sociedade

Tanto o neoliberalismo quanto a Terceira Via por quererem esvaziar as instituiccedilotildees

puacuteblicas das decisotildees trazem implicaccedilotildees para o projeto democraacutetico O neoliberalismo

porque acredita que a democracia eacute responsaacutevel pelas demandas sociais que provocam a

distribuiccedilatildeo de rendas atraveacutes das poliacuteticas puacuteblicas ocasionando o deacuteficit fiscal A Terceira

Via por sua vez por ter o mesmo diagnoacutestico de crise do Estado sua proposta de reformaacute-lo

passa por princiacutepios gerenciais com a loacutegica da sociedade civil empreendedora que tambeacutem

deve executar as tarefas do Estado De alguma forma as duas teorias propotildeem o repasse para a

sociedade em alguma medida da direccedilatildeo e da execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais o que Rhodes

(1996) define como a privatizaccedilatildeo via direccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas educativas

No entanto eacute importante ressaltar que apesar de analisar um periacuteodo particular do

capitalismo importante relacionar as questotildees estruturais que permanecem neste periacuteodo

histoacuterico como a questatildeo central da classe e luta de classes para a anaacutelise das relaccedilotildees entre o

puacuteblico e o privado

Evaldo Vieira apresenta a importacircncia dessas questotildees para a anaacutelise das poliacuteticas

sociais ldquoA poliacutetica econocircmica e a poliacutetica social relacionam-se intimamente com a evoluccedilatildeo

do capitalismordquo e ldquo[] qualquer exame da poliacutetica econocircmica e da poliacutetica social deve

fundamentar-se no desenvolvimento contraditoacuterio da histoacuteriardquo e nesse sentido ldquo[] em niacutevel

7 Sobre este debate ver Harvey (1989)

19

loacutegico tal exame mostra as vinculaccedilotildees destas poliacuteticas com a acumulaccedilatildeo capitalista Em niacutevel

histoacuterico verifica se consistem em respostas agraves necessidades sociais satisfazendo-as ou natildeordquo

(VIEIRA 2007 p 136)

Para Ellen Wood (2006) no capitalismo ocorre a separaccedilatildeo entre o econocircmico e o

poliacutetico ao ldquo[] separar o sistema de produccedilatildeo de seus atributos sociais especiacuteficos os

economistas poliacutetico- burgueses satildeo capazes de demonstrar a eternidade e a harmonia das

relaccedilotildees sociaisrdquo (WOOD 2003 p 29)

Wood (2014 p 18) apresenta algumas contradiccedilotildees internas do sistema ldquo[] a

separaccedilatildeo entre o econocircmico e o poliacutetico no capitalismo significa entre outras coisas que o

poder econocircmico do capital eacute capaz de ir muito aleacutem do controle de qualquer sistema poliacutetico

militar existente ou concebiacutevelrdquo No entanto contraditoriamente ldquo[] o poder econocircmico do

capital natildeo pode existir sem o apoio da forccedila extra-econocircmica e a forccedila extra-econocircmica eacute

hoje tal como antes oferecida primariamente pelo Estadordquo (WOOD 2014 p 18) e a autora

continua a sua argumentaccedilatildeo sobre a importacircncia do Estado para a acumulaccedilatildeo do capital

tambeacutem neste periacuteodo particular do capitalismo

O capitalismo eacute por sua proacutepria natureza um sistema anaacuterquico em que as lsquoleisrsquo de

mercado ameaccedilam constantemente romper a ordem social Ainda assim

provavelmente mais do que qualquer outra ordem social o capitalismo precisa de

estabilidade e previsibilidade nas suas organizaccedilotildees sociais O Estado naccedilatildeo ofereceu

isso por meio de uma elaborada estrutura legal e institucional apoiada pela forccedila

coercitiva para sustentar as relaccedilotildees de propriedades do capitalismo seu complexo

aparelho contratual e suas intrincadas transaccedilotildees financeiras (WOOD 2014 p 26)

Em outro trabalho Wood (2003) analisa as mudanccedilas na sociedade civil no atual

periacuteodo

lsquoSociedade Civilrsquo constitui natildeo somente uma relaccedilatildeo inteiramente nova entre o

lsquopuacuteblicorsquo e o lsquoprivadorsquo mas um reino privado inteiramente novo [] Ela gera uma

nova divisatildeo do trabalho entre a esfera puacuteblica do estado e a esfera privada da

propriedade capitalista e do imperativo de mercado em que a apropriaccedilatildeo exploraccedilatildeo

e dominaccedilatildeo se desligam da autoridade puacuteblica e da responsabilidade social ndash

enquanto esses novos poderes privados dependem da sustentaccedilatildeo do estado por meio

de um poder de imposiccedilatildeo mais concentrado do que qualquer outro que tenha existido

anteriormente

A sociedade civil deu agrave propriedade privada e a seus donos do poder de comando

sobre as pessoas e sua vida diaacuteria um poder reforccedilado pelo Estado mas isento de

20

responsabilidade que teria feito a inveja de muitos Estados tiracircnicos do passado

(WOOD 2003 p 217-218)

Evaldo Vieira (1998) tambeacutem comenta acerca da sociedade civil em uma sociedade

hegemonizada pelo capital

Quando dizem que a sociedade civil deve se organizar pressupotildee-se que a maioria

dela se encontra desorganizada porque uma parte a classe dirigente ou a chamada

elite se organiza e se reorganiza desde o surgimento do paiacutes mantendo-o no atraso e

na ineacutercia apesar das alegaccedilotildees de fazecirc-lo contemporacircneo do seu modo ou da sua

eacutepoca (VIEIRA 1998 p 13)

Assim sendo entendemos que o puacuteblico e o privado perpassam Estado e sociedade civil

a luta portanto eacute para tornar o Estado mais puacuteblico democraacutetico e garantidor de direitos e natildeo

diluir as suas reponsabilidades ao repassaacute-las para a sociedade civil Assim como a sociedade

civil tambeacutem o Estado estaacute permeado por sujeitos com objetivos antagocircnicos de classe Ambos

satildeo espaccedilos de correlaccedilatildeo de forccedilas e de conquista da hegemonia

Evaldo Vieira discutindo a democracia ressalta que Estado Democraacutetico de Direito vai

aleacutem do Estado de direito pois traz o ldquo[] princiacutepio da soberania popular Este princiacutepio diz

que o governo e o Estado necessitam de legitimidade vinda do povordquo (VIEIRA 2001 p 13)

E ressalta que para aleacutem do voto a legitimaccedilatildeo democraacutetica do Estado passa pelo controle

social da administraccedilatildeo puacuteblica que para o autor ldquo[] representa um dos elementos mais

importantes da democraciardquo (VIEIRA 2001 p 13)

As parcerias portanto ao determinarem o conteuacutedo da educaccedilatildeo significam um

retrocesso em relaccedilatildeo agrave luta pela democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo que envolveu a sociedade

brasileira nos anos 1980 para a abertura poliacutetica principalmente considerando o nosso histoacuterico

nacional de pouca cultura democraacutetica

Concordamos com Wood quando destaca que o conceito de democracia em uma

sociedade sob a hegemonia do capitalismo natildeo pode ser visto em abstrato pois afinal ldquoEacute o

capitalismo que torna possiacutevel uma forma de democracia em que a igualdade formal de direitos

poliacuteticos tem efeito miacutenimo sobre as desigualdades ou sobre as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e de

exploraccedilatildeo em outras esferasrdquo (WOOD 2003 p 193)

Portanto entendemos que as poliacuteticas sociais satildeo respostas agraves lutas sociais em um

processo histoacuterico de correlaccedilatildeo de forccedilas como afirma Evaldo Vieira

Natildeo tem havido pois poliacutetica social desligada dos reclamos populares Em geral o

Estado acaba assumindo alguns destes reclamos ao longo de sua existecircncia histoacuterica

21

Os direitos sociais significam antes de mais nada a consagraccedilatildeo juriacutedica de

reivindicaccedilotildees dos trabalhadores Natildeo significam a consagraccedilatildeo de todas as

reivindicaccedilotildees populares e sim a consagraccedilatildeo daquilo que eacute aceitaacutevel para o grupo

dirigente no momento (VIEIRA 2007 p 144)

Meacuteszaacuteros (2002) tambeacutem destaca que a reivindicaccedilatildeo por poliacuteticas sociais neste

momento histoacuterico de minimizaccedilatildeo de direitos representa uma luta concreta contra o capital

No passado ateacute algumas deacutecadas atraacutes foi possiacutevel extrair do capital concessotildees

aparentemente significativas ndash tais como os relativos ganhos para o movimento

socialista (tanto sob a forma de medidas legislativas para a accedilatildeo da classe trabalhadora

como sob a de melhoria gradual do padratildeo de vida que mais tarde se mostraram

irreversiacuteveis) obtidos por meio de organizaccedilotildees de defesa do trabalho sindicatos e

grupos parlamentares O capital teve condiccedilotildees de conceder esses ganhos que

puderam ser assimilados pelo conjunto do sistema e integrados a ele e resultaram em

vantagem produtiva para o capital durante o seu processo de auto-expansatildeo Hoje ao

contraacuterio enfrentar ateacute mesmo questotildees parciais com alguma esperanccedila de ecircxito

implica a necessidade de desafiar o sistema do capital como tal pois em nossa eacutepoca

histoacuterica quando a auto-expansatildeo produtiva jaacute natildeo eacute mais o meio prontamente

disponiacutevel de fugir das dificuldades e contradiccedilotildees que se acumulam [] o sistema

de capital global eacute obrigado a frustrar todas as tentativas de interferecircncia ateacute mesmo

as mais reduzidas em seus paracircmetros estruturais (MEacuteSZAacuteROS 2002 p 95)

Seguindo esse mesmo pressuposto Robertson e Verger (2012) observam que neste

periacuteodo de grande ofensiva do capital e de vaacuterias formas de mercantilizaccedilatildeo do puacuteblico as

reponsabilidades pelo direito agrave educaccedilatildeo ficam diluiacutedas

[] quando a governanccedila estaacute distribuiacuteda em vaacuterios locais tanto a governanccedila das

PPPs quanto das PPPEs como ferramenta de gestatildeo do setor da educaccedilatildeo torna-se

problemaacutetica Quem eacute a autoridade relevante Quem eacute afetado pelas decisotildees de

vaacuterios governos empresas transnacionais fundaccedilotildees agecircncias internacionais e

consultores Quem deve ser procurado para prestar contas Eacute o discurso gerencial

apropriado para a distribuiccedilatildeo de um bem puacuteblico como a educaccedilatildeo A gestatildeo com

foco em resultados e na eficiecircncia eacute compatiacutevel com a complexidade dos processos

educacionais (ROBERTSON VERGER 2012 p 1151)

Tambeacutem temos apontado esse problema em nossas pesquisas principalmente porque no

caso brasileiro como eacute recente o processo de democratizaccedilatildeo da sociedade a diluiccedilatildeo das

responsabilidades eacute ainda mais danosa para a materializaccedilatildeo dos direitos em poliacuteticas

Entendemos que este processo traz profundas implicaccedilotildees para o recente processo de

construccedilatildeo democraacutetica no Brasil

Vieira (2007) ressalta ainda que na Ameacuterica Latina o Estado de direito ou as

democracias formais estatildeo se instalando em sociedades muito pouco democraacuteticas o que eacute um

22

problema jaacute que ldquo[] o que garante Estados de direito satildeo sociedades democraacuteticasrdquo (VIEIRA

2007 p 104)

No caso dos paiacuteses latino-americanos e em particular do Brasil o avanccedilo das lutas por

direitos sociais aconteceu no momento poacutes-ditadura em meados da deacutecada de 1980 mesmo

periacuteodo em que entrava em crise o modelo fordistakeynesiano Em seu lugar o capitalismo

propunha um conjunto de estrateacutegias para retomar o aumento das taxas de lucro reduzindo

direitos com graves consequecircncias para a construccedilatildeo da democracia e da efetivaccedilatildeo dos direitos

sociais (PERONI 2013)

O esvaziamento do conteuacutedo da democracia eacute evidente jaacute que se perdeu a discussatildeo das

poliacuteticas puacuteblicas como a materializaccedilatildeo de direitos sociais As lutas e conquistas dos anos

1980 de direitos universais deram lugar agrave naturalizaccedilatildeo do possiacutevel isto eacute se um Estado ldquoem

criserdquo natildeo pode executar poliacuteticas repassa para a sociedade civil que vai focalizar nos mais

pobres para evitar o caos social O Estado apenas repassa parte do financiamento e avalia a sua

alocaccedilatildeo (PERONI 2008a)

Robertson e Verger (2012) destaca a influecircncia do setor privado em todas as instacircncias

da educaccedilatildeo

[] o que frisamos aqui eacute a maneira pela qual uma determinada concepccedilatildeo de

educaccedilatildeo estaacute sendo globalizada e gerida e que longe de ser um mecanismo para

diminuir o liberalismo econocircmico aparentemente as PPPEs permitiram seu raacutepido

avanccedilo dado que o setor privado estaacute agora profundamente enraizado no coraccedilatildeo dos

serviccedilos puacuteblicos educacionais em todos os niacuteveis desde a poliacutetica e a pesquisa ateacute a

aprendizagem nas salas de aula (ROBERTSON VERGER 2012 p 1149)

Foi o que constatamos em nossas pesquisas o privado atuando das mais diferentes

formas e em todos os niacuteveis desde as instacircncias de decisatildeo ministeacuterios secretarias de educaccedilatildeo

ateacute a sala de aula como apresentaremos no decorrer da tese

Ball (2013) ressalta o hibridismo nas anaacutelises das relaccedilotildees entre o puacuteblico e o privado

e reforccedila a importacircncia de pesquisas com bases empiacutericas ldquoA forma particular de hibridismo

de governo em qualquer contexto requer mapeamento empiacutericordquo (BALL 2013 p 179)

Concordamos com Ball quanto agrave importacircncia de analisar esses movimentos atraveacutes de pesquisa

empiacuterica sendo assim pesquisamos no Brasil diferentes formas de relaccedilatildeo entre o puacuteblico e

23

privado na educaccedilatildeo baacutesica A seguir apresentaremos nossa trajetoacuteria de pesquisas sobre o

tema

Desde meados da deacutecada de 1990 pesquisamos as redefiniccedilotildees do papel do Estado e

sua materializaccedilatildeo nas poliacuteticas puacuteblicas de educaccedilatildeo

Iniciamos a abordagem desse tema em 1995 com a tese de doutorado8 que estudou as

redefiniccedilotildees no papel do Estado e as poliacuteticas educacionais dos anos 1990 na qual apontamos

que o Estado vinha repassando para a sociedade suas tarefas esvaziando as instituiccedilotildees puacuteblicas

de seu poder O objetivo da pesquisa portanto foi a anaacutelise de como estaria se materializando

na poliacutetica educacional a redefiniccedilatildeo do papel do Estado jaacute que tiacutenhamos como pressuposto o

fato de que essa poliacutetica natildeo seria simplesmente determinada pelas mudanccedilas que estariam

ocorrendo na redefiniccedilatildeo do papel do Estado mas seria parte constitutiva dessas mudanccedilas

Verificamos que no periacuteodo seguinte tanto a publicizaccedilatildeo entendida no Plano Diretor

da Reforma do Estado (BRASIL 1995) como puacuteblico-natildeo estatal tambeacutem conhecido como

Terceiro Setor quanto a privatizaccedilatildeo entendida como lucro e mercado avanccedilaram no Brasil e

mesmo com as trocas de governo em niacutevel nacional continuam em processo

Na continuidade dos estudos sobre as redefiniccedilotildees no papel do Estado o Terceiro Setor

passou a ter destaque e ao nos aprofundarmos teoricamente fomos relacionando-o agrave Terceira

Via e assim o incluiacutemos como mais uma estrateacutegia de superaccedilatildeo do capitalismo que

inicialmente consistia em globalizaccedilatildeo reestruturaccedilatildeo produtiva e neoliberalismo

No periacuteodo 2002-2006 pesquisamos o Programa Dinheiro Direto na Escola que

instituiu a obrigatoriedade para o recebimento dos recursos da criaccedilatildeo de Unidades Executoras

de direito privado nas escolas puacuteblicas Foi uma pesquisa que foi iniciada no Rio Grande do

Sul e ampliou-se para as cinco regiotildees com a pesquisa nacional ldquoO Programa Dinheiro Direto

na Escola uma redefiniccedilatildeo do papel do Estado na educaccedilatildeordquo9 (PERONI ADRIAtildeO 2007)

Verificamos que o ldquofluxordquo do dinheiro que eacute puacuteblico passa por uma instituiccedilatildeo privada

(Unidade Executora) para entatildeo ser alocado pelo poder puacuteblico

Continuamos as pesquisas verificando a parceria entre sistemas puacuteblicos e o Terceiro

Setor com a pesquisa nacional ldquoAnaacutelise das consequecircncias de parcerias firmadas entre

municiacutepios brasileiros e a Fundaccedilatildeo Ayrton Senna para a oferta educacionalrdquo10 (Ciecircncias

8 A tese foi publicada em livro por Peroni (2003) Poliacutetica educacional e papel do Estado no Brasil dos anos

90

9 Projeto nacional coordenado por esta autora e financiado pelo CNPq para a reuniatildeo dos grupos de pesquisa das

cinco regiotildees brasileiras O relatoacuterio foi publicado pelo INEP (PERONI ADRIAtildeO 2007)

10 Pesquisa coordenada pela professora Theresa Adriatildeo e a vice-coordenaccedilatildeo estaacute sob minha responsabilidade

24

HumanasCNPq) Assim o grupo que iniciou com a pesquisa sobre o Programa Dinheiro

Direto na Escola jaacute citada continuou seus estudos sobre a temaacutetica puacuteblicoprivado

Escolhemos o Instituto Ayrton Senna (IAS) pela importacircncia da atuaccedilatildeo do Instituto nas redes

puacuteblicas de ensino em todo o Paiacutes (ADRIAtildeO PERONI 2010)

Neste mesmo periacuteodo foi criado um coletivo de pesquisa vinculado ao Programa de

Poacutes-graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(PPGEDUUFRGS) que participava ativamente de todas as pesquisas nacionais com os estudos

de caso do Rio Grande do Sul O grupo de pesquisa pertence ao Nuacutecleo de Poliacutetica e Gestatildeo da

Educaccedilatildeo da UFRGS e conta com pesquisadores de iniciaccedilatildeo cientiacutefica mestrado doutorado

poacutes-doutorado e pesquisadores que concluiacuteram sua formaccedilatildeo e permanecem no grupo

A pesquisa produtividade ldquoParcerias entre sistemas puacuteblicos e instituiccedilotildees do Terceiro

Setor Brasil Argentina Portugal e Inglaterra implicaccedilotildees para a democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeordquo

foi pensada e realizada por este coletivo que passou a se chamar ldquoGrupo de pesquisa relaccedilotildees

puacuteblico-privado na educaccedilatildeordquo (GPRPPE)

A pesquisa objetivou estudar a relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado atraveacutes da anaacutelise

das parcerias entre sistemas puacuteblicos e instituiccedilotildees do Terceiro Setor e as consequecircncias para a

democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo nos paiacuteses pesquisados E buscou ainda entender como paiacuteses com

trajetoacuterias distintas em termos de papel do Estado na consecuccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo

vivenciam este periacuteodo particular do capitalismo e as consequentes mudanccedilas na relaccedilatildeo entre

o puacuteblico e o privado e a intervenccedilatildeo da loacutegica do privado na educaccedilatildeo puacuteblica

Assim a pesquisa envolveu duas partes complementares uma de interlocuccedilatildeo teoacuterica

com os autores internacionais e a outra de mapeamento das formas de relaccedilatildeo puacuteblico-privada

nas etapas e modalidades na educaccedilatildeo baacutesica

A pesquisa nacional foi realizada com fontes primaacuterias basicamente documentos e

paacuteginas na internet das instituiccedilotildees envolvidas A pesquisa internacional contou com o apoio

do Projeto Universal (2010-2012) para a coleta de material e encontros com grupos de pesquisa

principalmente em Portugal e na Inglaterra pois a coleta de dados na Argentina foi propiciada

pelo convecircnio com a Universidade de Coacuterdoba aprovado na VIII Convocatoria de Centros

Asociados CAPG-BA

Debatemos acerca das redefiniccedilotildees no papel do Estado nas diferentes realidades o

avanccedilo da mercadificaccedilatildeo do puacuteblico e as diversas formas de relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado

Em cada realidade ocorrem especificidades mas tambeacutem semelhanccedilas em relaccedilatildeo ao tema da

pesquisa Como instrumento para o diaacutelogo entre os integrantes da pesquisa tanto do grupo

25

brasileiro quanto entre os pesquisadores dos paiacuteses que integraram esse projeto publicamos o

livro ldquoRedefiniccedilotildees das fronteiras entre o puacuteblico e o privado implicaccedilotildees para a

democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeordquo11 A publicaccedilatildeo contou com textos de autores argentinos ingleses

e portugueses apresentando o resultado de seus trabalhos e autores do grupo brasileiro

mapeando as mais diversas formas de materializaccedilatildeo do puacuteblico e o privado nas etapas e

modalidades da educaccedilatildeo baacutesica no Brasil mostrando o quanto ele estaacute presente de diferentes

formas natildeo apenas atraveacutes de parcerias com instituiccedilotildees com ou sem fins lucrativos mas

tambeacutem pelo fomento agraves parcerias ou o conteuacutedo gerencial de alguns programas e poliacuteticas

educacionais Assim a publicaccedilatildeo foi aleacutem de uma forma de interlocuccedilatildeo entre os grupos

tambeacutem uma forma de contribuir com o debate da comunidade acadecircmica brasileira que trata

do tema

Na parte brasileira a pesquisa estudou as diferentes formas de relaccedilatildeo entre o puacuteblico e

o privado nas etapas e modalidades da educaccedilatildeo baacutesica cujos focos principais de anaacutelise satildeo

sinteticamente apresentados abaixo

Na educaccedilatildeo infantil a anaacutelise ocorreu principalmente sobre as parcerias dos sistemas

puacuteblicos com creches comunitaacuterias conveniadas com o poder puacuteblico para a oferta de vagas

para crianccedilas de 0 a 5 anos Desde que as creches foram consideradas parte da educaccedilatildeo baacutesica

pela Constituiccedilatildeo Federal (BRASIL 1988) e assim saiacuteram da assistecircncia social e vieram para

a educaccedilatildeo como parte da reivindicaccedilatildeo de pais educadores e pesquisadores da aacuterea o poder

puacuteblico municipal que ficou responsaacutevel pela oferta dessa etapa da educaccedilatildeo baacutesica buscou

como alternativa em muitos casos as parcerias com instituiccedilotildees sem fins lucrativos

Principalmente porque logo apoacutes a ampliaccedilatildeo do direito foi contraditoriamente instituiacutedo o

Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF) que contrariando a ideia de

educaccedilatildeo baacutesica priorizava a oferta do ensino fundamental Muitos municiacutepios entatildeo

recorreram a formas alternativas para a oferta ou simplesmente natildeo expandiram essa etapa de

ensino Como o valor a ser financiado eacute menor do que com a oferta estatal dada a sua

precariedade muitos buscaram como alternativa transitoacuteria a parceria com creches

comunitaacuterias fazendo a justificativa do possiacutevel mesmo assumindo que havia problemas

No entanto com a ampliaccedilatildeo do Fundo incorporando toda a educaccedilatildeo baacutesica o Fundo

de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica (FUNDEB) ao inveacutes de fortalecer a educaccedilatildeo puacuteblica

garantindo a oferta de qualidade abriu a possibilidade de as creches comunitaacuterias tambeacutem

11 Peroni (2013) Redefiniccedilotildees das Fronteiras entre o Puacuteblico e o Privado implicaccedilotildees para a democratizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo

26

receberem recursos dessa origem Haacute uma grande preocupaccedilatildeo jaacute que pesquisas12

demonstraram a fragilidade e precariedade desse atendimento Outro fator importante eacute a

ausecircncia de gestatildeo democraacutetica nas instituiccedilotildees com criteacuterios pouco transparentes na admissatildeo

e pagamento dos funcionaacuterios falta de criteacuterios para o ingresso das crianccedilas ausecircncia de

prestaccedilatildeo de contas da entidade assim como relaccedilotildees pouco democraacuteticas dentro das creches

com os pais e a comunidade

No ensino fundamental trecircs subgrupos pesquisaram o programa do governo federal

Plano de Desenvolvimento da EducaccedilatildeoPlano de Accedilotildees articulada (PDEPAR) que fomenta e

ateacute financia parcerias do sistema puacuteblico com instituiccedilotildees do terceiro setor a compra de

sistemas de ensino privados pelos sistemas puacuteblicos interferindo assim no conteuacutedo e gestatildeo

da educaccedilatildeo puacuteblica e parcerias entre os sistemas puacuteblicos com instituiccedilotildees do terceiro setor

como o Instituto Ayrton Senna Alfa e Beto e outro de atuaccedilatildeo nacional

No Ensino Meacutedio estudamos a parceria entre o Instituto Unibanco e escolas de ensino

meacutedio O Unibanco tem uma caracteriacutestica diferente e muito preocupante nesse cenaacuterio ele

financia a escola e assim muitas escolas puacuteblicas acabam aderindo para receber recursos e

desse modo submetendo-se agraves metas do Instituto que interfere em toda a escola desde o

conselho escolar ateacute o conteuacutedo de ensino jaacute que realizam aplicaccedilatildeo de provas e as escolas que

natildeo atingirem as metas propostas natildeo recebem as parcelas do financiamento Questionamos se

natildeo eacute uma ldquocompra da escola puacuteblicardquo precarizada apoacutes o ldquoapagatildeo das poliacuteticas educacionaisrdquo

que ocorreu no Brasil principalmente na deacutecada de 1990

No ensino profissional vinculado ao meacutedio estudamos principalmente o atual programa

proposto pelo governo federal Programa Nacional de Acesso ao Ensino Teacutecnico e Emprego

(PRONATEC) que objetiva entre outros fins ldquo[] expandir interiorizar e democratizar a oferta

de cursos de educaccedilatildeo profissional teacutecnica de niacutevel meacutedio e de cursos e programas de formaccedilatildeo

inicial e continuada ou qualificaccedilatildeo profissional [] (BRASIL PRONATEC art 2 2011) e a

expansatildeo envolve a participaccedilatildeo de instituiccedilotildees privadas ldquoArt 8ordm O PRONATEC poderaacute ainda

12 Ver Susin (2005 2009)

27

ser executado com a participaccedilatildeo de entidades privadas sem fins lucrativos devidamente

habilitadas []rdquo (BRASIL PRONATEC art 8 2011)

Mais uma vez questionamos o repasse de dinheiro puacuteblico para instituiccedilotildees privadas

aleacutem da concepccedilatildeo de trabalho proposta pelo governo federal que ao repassar tambeacutem para

instituiccedilotildees privadas abre matildeo de uma proposta de formaccedilatildeo profissional

Na educaccedilatildeo especial tambeacutem ocorre o repasse de recursos puacuteblicos para instituiccedilotildees do

terceiro setor atraveacutes de vaacuterios programas como o PDDE o Programa de Complementaccedilatildeo ao

Atendimento Educacional especializado agraves Pessoas Portadoras de Deficiecircncia (PAED) e

tambeacutem o FUNDEB ldquoArt 14 Admitir-se-aacute a partir de 1ordm de janeiro de 2008 para efeito da

distribuiccedilatildeo dos recursos do FUNDEB o cocircmputo das matriacuteculas efetivadas na educaccedilatildeo

especial oferecida por instituiccedilotildees comunitaacuterias confessionais ou filantroacutepicas sem fins

lucrativos []rdquo (Alterado pelo D-006278-2007)

Em trabalho anterior jaacute mencionaacutevamos que o poder puacuteblico historicamente

desresponsabilizou-se da educaccedilatildeo especial e no momento em que se estabelecia de modo a

ser a ser entendida como um direito a nova conjuntura de racionalizaccedilatildeo de recursos dificultou

a implementaccedilatildeo com qualidade das poliacuteticas de inclusatildeo e restringiu a ampliaccedilatildeo de escolas

puacuteblicas de educaccedilatildeo especial E a praacutetica de repasses de recursos puacuteblicos que jaacute eram

destinados agraves instituiccedilotildees puacuteblicas natildeo governamentais como APAE Pestalozzi etc para a

execuccedilatildeo de tarefas que seriam do poder puacuteblico atualmente eacute fortalecida pelo movimento em

que o Estado diminui a sua atuaccedilatildeo na execuccedilatildeo de poliacuteticas transferindo-as para a sociedade

civil (PERONI 2009)

Na educaccedilatildeo de Jovens e adultos dois programas foram pesquisados O Programa

Alfabetizaccedilatildeo Solidaacuteria (ALFASOL) que teve importacircncia expressiva na simbiose entre o

puacuteblico e o privado durante o governo Fernando Henrique Cardoso pois foi o ldquoembriatildeordquo do

puacuteblico natildeo-estatal no Brasil jaacute que era um programa de governo realizado por uma instituiccedilatildeo

do terceiro setor presidido pela proacutepria primeira-dama e recebendo dinheiro puacuteblico para a sua

execuccedilatildeo Essa instituiccedilatildeo permanece atuante e executando muitos projetos com o governo

federal E o Programa Brasil Alfabetizado que atua com bolsas e viacutenculos com instituiccedilotildees do

terceiro setor para sua execuccedilatildeo de forma nitidamente precarizada

A pesquisa atual ldquoImplicaccedilotildees da relaccedilatildeo puacuteblico-privada para a democratizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo baacutesica no Brasilrdquo financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico

e Tecnoloacutegico (CNPq) eacute a continuidade da anterior aprofundando a anaacutelise de como as

redefiniccedilotildees no papel do Estado reorganizam as fronteiras entre o puacuteblico e o privado

28

materializando-se das mais diferentes formas na educaccedilatildeo baacutesica puacuteblica e suas implicaccedilotildees

para o processo de democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo no Brasil E tambeacutem continua a interlocuccedilatildeo

teoacuterica com pesquisadores para dialogar sobre instrumentos e conceitos para analisar

diferenccedilas e semelhanccedilas entre realidades com trajetoacuterias e correlaccedilatildeo de forccedilas especiacuteficas e

que vivem o mesmo periacuteodo particular do capitalismo de crise e de diminuiccedilatildeo de direitos

sociais universais materializados em poliacuteticas puacuteblicas

Em 2015 foi publicado um segundo livro dando continuidade e aprofundamento agraves

questotildees que emergiram intitulado Diaacutelogos sobre as redefiniccedilotildees no papel do Estado e nas

fronteiras entre o puacuteblico e o privado na educaccedilatildeo Esse livro apresenta as duas partes

complementares da pesquisa atual uma de mapeamento das formas de relaccedilatildeo puacuteblico-privado

nas etapas e modalidades da educaccedilatildeo baacutesica no Brasil e a outra de ampliaccedilatildeo da interlocuccedilatildeo

teoacuterica com os autores internacionais incluindo Argentina Chile Portugal Inglaterra Quecircnia

e Estados Unidos



DE QUALIDADE

Este capiacutetulo apresenta os estudos realizados nas uacuteltimas deacutecadas que continuaram a

tese de doutorado acerca das redefiniccedilotildees do papel do Estado neste periacuteodo particular do

capitalismo e mais especificamente como se modificam as fronteiras entre o puacuteblico e o

privado Com o intuito de melhor entender o porquecirc dessa redefiniccedilatildeo buscamos as relaccedilotildees

entre o diagnoacutestico de que o Estado eacute o culpado pela crise e de que o mercado deve entatildeo ser

o padratildeo de qualidade para a vida em sociedade e as profundas consequecircncias desse processo

para a democratizaccedilatildeo da sociedade e em particular da educaccedilatildeo

Em trabalhos anteriores (PERONI 2003 2006 2013a) analisamos as redefiniccedilotildees no

papel do Estado13 como parte de mudanccedilas sociais e econocircmicas deste periacuteodo particular de

crise estrutural do capital14 em que as contradiccedilotildees estatildeo mais acirradas A natureza da atual

crise eacute importante pois o seu diagnoacutestico influencia as estrateacutegias de sua superaccedilatildeo com

grandes implicaccedilotildees para as fronteiras entre o puacuteblico e o privado15

Meacuteszaacuteros (2011) adverte para a importacircncia de adequada avaliaccedilatildeo da natureza da crise

econocircmica e social Para o autor ldquo[] a crise do capital que estamos experimentando eacute uma

crise estrutural que tudo abrangerdquo (MEacuteSZAacuteROS 2011 p 2) Para Antunes (1999) a crise do

Fordismo e do Keynesianismo foi a expressatildeo fenomecircnica de um quadro criacutetico mais complexo

de tendecircncia decrescente da taxa de lucros e com o ldquo[] desencadeamento da sua crise estrutural

comeccedilava tambeacutem a desmoronar o mecanismo de regulaccedilatildeo que vigorou durante o poacutes-guerra

em vaacuterios paiacuteses capitalistas avanccedilados especialmente na Europardquo (ANTUNES 1999 p 31)

Ainda segundo Antunes

Como resposta agrave sua proacutepria crise iniciou-se um processo de reorganizaccedilatildeo do capital

e de seu sistema ideoloacutegico e poliacutetico de dominaccedilatildeo cujos contornos mais evidentes

foram o advento do Neoliberalismo com a privatizaccedilatildeo do Estado a

desregulamentaccedilatildeo dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo

estatal da qual a era Thatcher-Reagan foi expressatildeo mais forte a isso se seguiu

tambeacutem um intenso processo de reestruturaccedilatildeo da produccedilatildeo e o trabalho com vistas

13 Esta tese eacute baseada em estudos da autora (PERONI 2003 2005 2006 2008 2009 2011) 14 Com base em autores como Meacuteszagraveros (2002) Antunes (1999) e Harvey (1989 2005)

15 Esta discussatildeo aparece de forma mais aprofundada no meu texto ldquoAs relaccedilotildees entre o puacuteblico e o privado nas

poliacuteticas educacionais no contexto da Terceira Viardquo (PERONI 2013a)

30

a dotar do instrumental necessaacuterio para tentar repor patamares de expansatildeo anteriores

(ANTUNES 1999 p 31)

O Estado foi chamado historicamente a tentar controlar ou regular as contradiccedilotildees do

capital e a relaccedilatildeo capitaltrabalho Atualmente apesar do anunciado Estado miacutenimo pelo

neoliberalismo ele eacute chamado a ldquosocorrerrdquo o capital produtivo e financeiro nos momentos de

maior crise E contraditoriamente foi e eacute considerado o ldquoculpado pela criserdquo pela teoria

neoliberal (PERONI 2013a)

Clarke e Newman (2012 p 375) destacam que com a crise de 2008 a feacute nos mercados

ficou abalada ldquoOs estados entraram como os salvadores de instituiccedilotildees financeiras falidas e

tentaram apaziguar mercados assustados e em pacircnico [] As instituiccedilotildees puacuteblicas pareciam

com os salvadores em potencial do capitalismo globalrdquo Mas no que entendemos ser um

processo de correlaccedilatildeo de forccedilas

[] a atitude de negoacutecios como sempre foi rapidamente restaurada com o fracasso da

prometida regulaccedilatildeo e reforma em se materializar e com a continuaccedilatildeo dos piores

excessos de atores gerenciais e empresariais empoderados apesar de consideraacutevel

descreacutedito e a raiva do puacuteblico (CLARKE NEWMAN 2012 p 375)

Assim como no poacutes-guerra suas estrateacutegias foram principalmente o fordismo

keynesianismo nos paiacuteses centrais e o fordismoEstado desenvolvimentista nos paiacuteses

perifeacutericos Neste periacuteodo suas principais estrateacutegias satildeo o neoliberalismo a reestruturaccedilatildeo

produtiva a globalizaccedilatildeo e a Terceira Via

O capital necessita de uma ideologia16 para construir a ambiecircncia cultural17 necessaacuteria

a este periacuteodo particular do capitalismo camuflado de poacutes-capitalismo Da mesma forma que

o fordismo dependia de um sistema geral de regulamentaccedilatildeo por parte do Estado chegando a

ser visto menos como um mero sistema de produccedilatildeo em massa do que como um modo de vida

total18 tambeacutem este momento histoacuterico com suas especificidades no acircmbito do modo de

16 O conceito de ideologia utilizado neste trabalho eacute o proposto por Meacuteszaacuteros (1996 p 22-23) ldquo[] a ideologia

natildeo eacute ilusatildeo nem supersticcedilatildeo religiosa de indiviacuteduos mal orientados mas uma forma especiacutefica de consciecircncia

social materialmente ancorada e sustentadardquo

17 Por nova ambiecircncia cultural entendemos a alteraccedilatildeo na forma de vida objetiva e subjetiva para produccedilatildeo da

subjetividade necessaacuteria ao novo periacuteodo de acumulaccedilatildeo

18 Ver Gramsci (1989) Americanismo e Fordismo

31

produccedilatildeo necessita de uma ideologia para que tais particularidades sejam aceitas e

incorporadas (PERONI 2003)

Outro pressuposto teoacuterico da anaacutelise do processo de redefiniccedilatildeo do papel do Estado foi

o de que a crise fiscal eacute parte de um movimento maior de crise do capital e natildeo a causadora da

crise como foi diagnosticado pelo neoliberalismo e pela Terceira Via (PERONI 2006 2009

2013)


duas satildeo as prescriccedilotildees racionalizar recursos e esvaziar o poder das instituiccedilotildees jaacute que

instituiccedilotildees democraacuteticas satildeo permeaacuteveis agraves pressotildees e demandas da populaccedilatildeo aleacutem de serem

consideradas como improdutivas pela loacutegica de mercado Assim a responsabilidade pela

execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais deve ser repassada para a sociedade para os neoliberais atraveacutes

da privatizaccedilatildeo (mercado) e para a Terceira Via pelo puacuteblico natildeo-estatal (sem fins lucrativos)

(PERONI 2013)

Contudo eacute importante frisar que o Estado miacutenimo proposto eacute miacutenimo apenas para as

poliacuteticas sociais conquistadas no periacuteodo de bem-estar social Na realidade o Estado eacute maacuteximo

para o capital porque conforme analisa David Harvey (1989) o Estado aleacutem de ser chamado

a regular as atividades do capital corporativo no interesse da naccedilatildeo tem ainda de criar um

ldquobom clima de negoacuteciosrdquo para atrair o capital financeiro transnacional e conter (por meios

distintos dos controles de cacircmbio) a fuga de capital para ldquopastagensrdquo mais verdes e lucrativas

(HARVEY 1989 p 160) Haacute ainda o fato de a acumulaccedilatildeo flexiacutevel procurar mais do que o

fordismo o capital financeiro como poder coordenador o que significa maior possibilidade de

crises financeiras e monetaacuterias autocircnomas Essas crises fazem com que o Estado acabe

intervindo no mercado financeiro Assim verifica-se que mesmo os governos mais

comprometidos com a loacutegica neoliberal natildeo intervencionista tecircm sido notaacuteveis interventores a

favor do grande capital

21 O MERCADO COMO PARAcircMETRO DE QUALIDADE

Buchanan (1984) teoacuterico neoliberal aponta as instituiccedilotildees democraacuteticas

contemporacircneas como irresponsaacuteveis e o remeacutedio seriam medidas restritivas constitucionais

para conter os governos colocando-se os instrumentos de controle fora das instituiccedilotildees

representativas e partindo-se do princiacutepio de que os controles poliacuteticos satildeo inferiores ao de

mercado Observamos nas pesquisas acerca das parcerias entre o puacuteblico e o privado que esta

32

tem sido uma justificativa apontada pelas instituiccedilotildees privadas para fazer a parceria como eacute o

caso do Instituto Ayrton Senna19 que parte do pressuposto de que a educaccedilatildeo puacuteblica vai mal e

que deve ldquosalvaacute-lardquo

Os programas do Instituto Ayrton Senna satildeo soluccedilotildees educacionais que ajudam a

combater os principais problemas da educaccedilatildeo puacuteblica do paiacutes E contemplam

trecircs grandes aacutereas educaccedilatildeo formal educaccedilatildeo complementar e educaccedilatildeo e tecnologia

[] Implementados em grande escala com estrateacutegias e metas preacute-definidas os

programas recebem acompanhamento e avaliaccedilotildees sistemaacuteticas para alcanccedilar um

uacutenico objetivo o sucesso do aluno na escola (grifo da autora)

(Disponiacutevel em

lthttpsennaglobocominstitutoayrtonsennaprogramasprogramas_educacao_form

alaspgt Acesso em 2 fev 2014)

Eacute interessante destacar ainda que o Instituto trabalha definindo poliacuteticas com a

concepccedilatildeo acompanhamento e avaliaccedilatildeo da educaccedilatildeo nas redes puacuteblicas parceiras

Na justificativa de sua atuaccedilatildeo o Instituto Ayrton Senna aponta problemas na qualidade

de ensino puacuteblico e assume o que seriam tarefas do Estado para com as poliacuteticas puacuteblicas de

educaccedilatildeo Essa perspectiva salvacionista de que o privado mercantil deve garantir a qualidade

da educaccedilatildeo puacuteblica natildeo eacute uma visatildeo isolada de um Instituto ela estaacute inserida em uma loacutegica

que naturaliza essa participaccedilatildeo pois parte do pressuposto neoliberal de que natildeo eacute o capitalismo

que estaacute em crise mas o Estado A estrateacutegia segundo essa concepccedilatildeo eacute reformar o Estado ou

diminuir sua atuaccedilatildeo O mercado eacute que deveraacute superar as falhas do Estado portanto a loacutegica

do mercado deve prevalecer inclusive no Estado para que ele possa ser mais eficiente e

produtivo

Para o pensamento neoliberal haacute uma tensatildeo entre a liberdade individual e a

democracia Conforme Hayek (1983) a maximizaccedilatildeo da liberdade estaacute em proteger o sistema

de mercado como necessaacuterio e suficiente para a existecircncia da liberdade Assim o mercado deve

ser protegido contra o Estado e da tirania das maiorias Esse autor ainda adverte que se o Estado

eacute influenciado ou vulneraacutevel agraves influecircncias das massas os dois perigos se fundem

Para essa teoria o cidadatildeo atraveacutes do voto decide sobre bens que natildeo satildeo seus gerando

conflitos com os proprietaacuterios jaacute que eacute visto como uma forma de distribuiccedilatildeo de renda Hayek

(1983) denuncia que a democracia faz um verdadeiro saque agrave propriedade alheia E como em

19 Sobre o tema parcerias entre sistemas puacuteblicos de educaccedilatildeo baacutesica e o Instituto Ayrton Senna ver relatoacuterio de

pesquisa de Adriatildeo e Peroni (2010)

33

muitos casos natildeo se pode suprimir totalmente a democracia (voto partidos) o esforccedilo eacute para

esvaziar seu poder

Para Hayek (1983) a democracia ilimitada leva agrave economia dirigida e estaacute a um passo

do totalitarismo O autor adverte para os perigos da democracia ilimitada ldquo[] uma democracia

pode empunhar poderes totalitaacuterios e eacute pelo menos concebiacutevel que um governo autoritaacuterio pode

atuar com base nos princiacutepios liberais Liberalismo eacute portanto incompatiacutevel com democracia

ilimitada []rdquo (HAYEK 1983 p 143)

Outra escola neoliberal a Teoria da Eleiccedilatildeo Puacuteblica conhecida como Public Choice

faz uma anaacutelise econocircmica da poliacutetica20 O ponto de partida de discussatildeo da Escola eacute que a

economia e a poliacutetica de um paiacutes satildeo inseparaacuteveis A ideia chave da Public Choice eacute de que o

paradigma da accedilatildeo humana em todas as dimensotildees passa pela relaccedilatildeo de troca pelo jogo de

interesses Isso eacute tanto um pressuposto como uma prescriccedilatildeo no sentido de que a Escola

trabalha para que todas as relaccedilotildees tenham a troca como modelo (BUCHANAN et al 1984)

Buchanan (1982 p 177) compara o mercado agrave poliacutetica ldquoAs pessoas e os partidos que

buscam representar os interesses dos votantes competem pela aprovaccedilatildeo ou o favor de uma

maneira bastante similar aos vendedores de produtos imperfeitamente competitivos de bens e

serviccedilosrdquo O autor critica aliaacutes o voto e os poliacuteticos por considerar que estes fazem distribuiccedilatildeo

de renda atraveacutes das poliacuteticas puacuteblicas ldquoNossa anaacutelise dos poliacuteticos se centra sobre o conceito

de transferecircncias de riqueza realizadas atraveacutes da legislaccedilatildeo [] quando dizemos lsquotransferecircncias

de riquezarsquo o eleitor pode substituir por questotildees ou poliacuteticas puacuteblicasrdquo (BUCHANAN 1984

p 177)

No entanto com base em autores como Harvey (1989) Meacuteszaacuteros (2002) Chesnais

(1996) partimos da tese jaacute desenvolvida em trabalhos anteriores (PERONI 2003 2006 e

PERONI ADRIAtildeO 2005) segundo a qual existe uma crise estrutural do capital e o

neoliberalismo a globalizaccedilatildeo a reestruturaccedilatildeo produtiva e a Terceira Via satildeo estrateacutegias do

capital para a superaccedilatildeo de sua crise de diminuiccedilatildeo na taxa de lucro e satildeo essas estrateacutegias que

redefinem o papel do Estado Assim a crise no Estado seria consequecircncia e natildeo causa como

aponta a teoria neoliberal

Brenner (2008) concorda com a profundidade da crise e que ela estaacute enraizada na

queda das taxas de lucro O autor destaca ainda que a ldquo[] combinaccedilatildeo da fragilidade da

20 O seu principal teoacuterico eacute James Buchanan eacute tambeacutem conhecida como Escola de Virgiacutenia pois se constituiu no

Instituto Politeacutecnico da Universidade de Virgiacutenia na deacutecada de 1950

34

acumulaccedilatildeo de capital com a crise do sistema bancaacuterio transformou o presente decliacutenio

econocircmico numa crise de difiacutecil resoluccedilatildeo pelo poder poliacutetico e que potencialmente pode se

tornar um desastrerdquo (BRENNER 2008 p 1) Ele enfatiza tambeacutem que quem estaacute pagando a

ldquocontardquo da crise satildeo os Estados e os trabalhadores jaacute que ocorreu o aumento da exploraccedilatildeo

com a expansatildeo da jornada de trabalho e diminuiccedilatildeo salarial aleacutem do endividamento dos

Estados ao financiarem a crise (PERONI 2013)

A globalizaccedilatildeo principalmente a financeira mas tambeacutem a produtiva com as

mudanccedilas nos mercados mundiais redefine o papel do Estado da mesma maneira a

reestruturaccedilatildeo produtiva pois alterou em muito os postos de trabalho e as concepccedilotildees de

gestatildeo Enfim satildeo mudanccedilas profundas natildeo apenas na produccedilatildeo mas no modo de vida da

sociedade21

Harvey (2010) enfatiza que o papel do Estado na crise atual natildeo eacute nada miacutenimo como

propotildee a teoria neoliberal Assinala-se um exemplo dado pelo autor que ilustra bem esse fato

Pouco depois da falecircncia do Lehman alguns funcionaacuterios e banqueiros do tesouro

incluindo o Secretaacuterio do Tesouro que era um ex-presidente da Goldman Sachs e

atual diretor executivo da Goldman surgiram de uma sala de conferecircncias com um

documento de trecircs paacuteginas exigindo 700 bilhotildees de doacutelares para socorrer o sistema

bancaacuterio prenunciando um Armagedom nos mercados Era como se Wall Street

tivesse iniciado um golpe financeiro contra o governo e o povo dos Estados Unidos

Algumas semanas depois com ressalvas aqui e ali e muita retoacuterica o Congresso e em

seguida o presidente George Bush cederam e o recurso foi enviado sem qualquer

controle para todas as instituiccedilotildees financeiras consideradas lsquograndes demais para

falirrsquo (HARVEY 2010 p 12)

Entendemos que essas redefiniccedilotildees no papel do Estado modificam as fronteiras entre o

puacuteblico e o privado e materializam-se das mais variadas formas Robertson et al (2012) definem

essas formas de relaccedilatildeo como PPP (Parcerias Puacuteblico-Privadas)

Ao longo das uacuteltimas duas deacutecadas mudanccedilas significativas na governanccedila dos

sistemas de ensino tecircm sido postas em praacutetica como instituiccedilotildees internacionais

governos empresas consultores filantroacutepicos e promoveram acordos de parceria mais

hiacutebridos envolvendo novas combinaccedilotildees de atores estatais e natildeo estatais envolvidos

em um leque de atividades no sector da educaccedilatildeo Estas novas formas de governanccedila

da educaccedilatildeo muitas vezes operam em escalas atraveacutes de interaccedilotildees entre regional e

nacional governos locais e organizaccedilotildees intergovernamentais e entre estes e as

empresas nacional e transnacional configuradas de lucro filantropos ONGs e

organizaccedilotildees religiosas Uma grande variedade de termos jaacute surgiu para capturar estes

desenvolvimentos embora sem duacutevida na comunidade internacional eacute o termo

21 Conforme anaacutelise de Gramsci (1989) em Americanismo e Fordismo

35

Parcerias Puacuteblico-Privadas (PPPs) que foi globalizado e adquiriu status de iacutecone

(ROBERTSON MUNDY VERGER MENASHY 2012 p 1)

Para Robertson et al (2012) as parcerias possuem uma base comum e um conjunto de

ideias programaacuteticas que representam a continuaccedilatildeo e natildeo a moderaccedilatildeo do liberalismo

econocircmico Seus pontos de referecircncia ideoloacutegica satildeo a articulaccedilatildeo do neoliberalismo com o

neoconservadorismo No entanto segundo os autores com o renascimento das ldquoparceriasrdquo

tambeacutem se articularam mudanccedilas mais amplas na paisagem ideoloacutegica e conceitual da

governanccedila em direccedilatildeo a uma ldquoTerceira Viardquo entre o Estado e o mercado como a de Blair em

seu ldquogoverno para a modernizaccedilatildeordquo no Reino Unido Essas parcerias foram um corretivo para

a presenccedila demasiada do Estado (Keynesianismo) por um lado e para a ausecircncia dele por

outro (privatizaccedilatildeo) Ao agir como uma ponte entre cada setor atuavam como um canal

permitindo o aproveitamento de valores de cada parceiro a serem capitalizados no futuro


Nossas pesquisas tambeacutem analisam a relaccedilatildeo entre a Terceira Via e o terceiro setor

(PERONI ADRIAtildeO 2005 PERONI 2006 PERONI 2013a) pois a Terceira Via atual

socialdemocracia tambeacutem desloca para o puacuteblico natildeo estatal a direccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas

sociais A proposta eacute reformar o Estado mas como se manteacutem o diagnoacutestico de que o Estado eacute

ineficiente essa reforma deve ter o mercado como paracircmetro de qualidade (PERONI 2006

2013)

Conforme Anthony Giddens (2001a) um dos principais ideoacutelogos dessa poliacutetica a

Terceira Via ldquo[] natildeo eacute uma tentativa de ocupar uma posiccedilatildeo moderada entre o socialismo de

cima para baixo e a filosofia de livre mercado Ela se preocupa com a reestruturaccedilatildeo das

doutrinas social-democraacuteticas para responder agrave dupla revoluccedilatildeo da globalizaccedilatildeo e da economia

do conhecimentordquo (GIDDENS 2001a p 166) Em outro momento o autor define a Terceira

Via ldquo[] no sentido de que eacute uma tentativa de transcender tanto a socialdemocracia do velho

estilo quanto o neoliberalismordquo (GIDDENS 2001b p 36)

Destacamos que na visatildeo de Giddens haacute uma naturalizaccedilatildeo natildeo haacute sujeitos no

processo de globalizaccedilatildeo Natildeo haacute uma discussatildeo da crise apenas o Estado deve se adaptar a

um mundo de mudanccedilas como se natildeo fossem estrateacutegias do capital em um processo de

correlaccedilatildeo de forccedilas (PERONI 2013a)

Conforme Antunes (1999) a discussatildeo sobre a Terceira Via ocorre quando o Novo

Trabalhismo se apresenta como uma alternativa ao neoliberalismo de Thatcher e tambeacutem agrave

antiga socialdemocracia Segundo o autor o Novo Trabalhismo ldquo[] associa a preservaccedilatildeo da

36

social democracia a elementos baacutesicos do neoliberalismordquo (ANTUNES 1999 p 95) Antunes

(1999 p 99) ressalta ainda que ldquo[] a Terceira Via acaba configurando-se como a preservaccedilatildeo

do que eacute fundamental do neoliberalismo dando-lhe um fraacutegil verniz social-democraacutetico cada

vez menos acentuadordquo

A Terceira Via tambeacutem chamada de democracia social democratizadora ou esquerda

democratizadora refere-se ao modo como os partidos de centro-esquerda respondem agraves

mudanccedilas que podem ter muitas diferenccedilas mas tecircm como pontos em comum a reforma do

governo e do Estado o papel regulador do Estado no mercado e na sociedade civil papel

central da sociedade civil identificada com o empreendedorismo novo contrato social

vinculando direitos a responsabilidades redefiniccedilatildeo do conceito de igualitarismo baseado no

investimento em habilidades e capacidades individuais criaccedilatildeo de uma economia dinacircmica

com parcerias entre o governo e a sociedade civil a conexatildeo entre poliacuteticas sociais e

econocircmicas e o questionamento aos direitos sociais e trabalhistas Estado de Bem-Estar

sustentaacutevel com equiliacutebrio entre direitos e sustentabilidade poliacuteticas ativas para combater o

crime poliacutetica ecoloacutegica capitalismo responsaacutevel as empresas devem assumir obrigaccedilotildees

sociais e deve haver uma regulamentaccedilatildeo nacional e internacional para as corporaccedilotildees

(GIDDENS 2007)

A questatildeo central da socialdemocracia permanece a mesma de ser o centro assumindo

posiccedilotildees em alguns momentos mais agrave esquerda ou agrave direita propondo reformas por dentro do

capitalismo para fortalececirc-lo Como para Giddens as classes sociais natildeo satildeo mais importantes

para a anaacutelise de um mundo sem inimigos e para aleacutem da direita e da esquerda (GIDDENS

2001b) eacute possiacutevel defender uma cultura ciacutevica na qual os empresaacuterios estariam envolvidos

com o bem comum e natildeo apenas com o lucro Giddens ao criticar o neoliberalismo adverte

que ldquo[] haacute o risco de que as formas mais agressivas de capitalismo dos acionistas destruam

as estruturas sociais e ciacutevicas que tornam viaacutevel a economia capitalista Esta eacute a principal

objeccedilatildeo da poliacutetica da Terceira Via ao fundamentalismo de mercado dos neoliberaisrdquo

(GIDDENS 2001 p 154)

Eacute importante destacar que o conceito de sociedade civil modernizada quer dizer bem-

sucedida no mercado jaacute que defende o empreendedorismo E eacute a essa parcela da sociedade

civil que o Estado deve incentivar para que assuma as poliacuteticas sociais passando a ser um mero

financiador

O empreendedorismo civil eacute qualidade de uma sociedade civil modernizada Ele eacute

necessaacuterio para que os grupos ciacutevicos produzam estrateacutegias criativas e eneacutergicas para

37

ajudar na lida com problemas sociais O governo pode oferecer apoio financeiro ou

proporcionar outros recursos a tais iniciativas (GIDDENS 2007 p 26)

Entende-se que nessa perspectiva os sujeitos satildeo entendidos como filantropos que se

responsabilizaratildeo pelos destinos da sociedade mas natildeo qualquer sociedade uma vez que prega

o empreendedorismo e a concepccedilatildeo de mercado no conteuacutedo da poliacutetica (PERONI 2013a)

Destacamos ainda a concepccedilatildeo individualista da Terceira Via cujo objetivo geral

ldquo[] deveria ser ajudar os cidadatildeos a abrir seu caminho atraveacutes das mais importantes

revoluccedilotildees do nosso tempo Globalizaccedilatildeo transformaccedilotildees na vida pessoal e nosso

relacionamento com a naturezardquo (GIDDENS 2001b p 74) Assim cada sujeito eacute responsaacutevel

por individualmente abrir o seu caminho e as transformaccedilotildees vatildeo se dar na esfera pessoal e

natildeo societaacuteria

Concordamos com Marilena Chauiacute quando esta critica o tom abstrato do ideaacuterio da

Terceira Via

A pregaccedilatildeo de valores conseguiu a proeza de natildeo falar uma uacutenica vez do valor

propriamente dito isto eacute do capital e da relaccedilatildeo capital-trabalho Aliaacutes no

vocabulaacuterio da Terceira Via o conceito de trabalho desapareceu ficando em seu lugar

ora o termo lsquoempregorsquo ora o termo lsquomercadorsquo (CHAUIacute 1999 p 6)

Do mesmo modo nos alinhamos ao pensamento de Harvey (2008) quando afirma que

no nosso periacuteodo histoacuterico as questotildees das liberdades individuais trouxeram perdas para um

projeto societaacuterio de justiccedila social e mais coletivo

[] os valores lsquoliberdade individualrsquo e lsquojusticcedila socialrsquo natildeo satildeo necessariamente

compatiacuteveis A busca da justiccedila social pressupotildee solidariedades sociais e a propensatildeo

a submeter vontades necessidades e desejos agrave causa de uma luta mais geral em favor

de por exemplo igualdade social ou justiccedila ambiental (HARVEY 2008 p 51)

Verificamos assim que o individualismo eacute uma posiccedilatildeo comum ao neoliberalismo e agrave

Terceira Via Harvey (2008) ao tratar da neoliberalizaccedilatildeo que eacute o balanccedilo da teoria neoliberal

na praacutetica destaca que o mercado regula o bem-estar humano e a competiccedilatildeo eacute o seu

mecanismo regulador Por conseguinte o sucesso e o fracasso satildeo considerados individuais

por meio das virtudes empreendedoras do indiviacuteduo

O sucesso e o fracasso individuais satildeo interpretados em termos de virtudes

empreendedoras ou de falhas pessoais (como natildeo investir o suficiente em seu proacuteprio

capital humano por meio da educaccedilatildeo) em vez de atribuiacutedos a alguma propriedade

38

sistecircmica (como as exclusotildees de classe que se costumam atribuir ao capitalismo)

(HARVEY 2008 p 76)

Para essa teoria as classes inferiores pioraram por razotildees pessoais e culturais na tarefa

de aprimorar o capital humano e a dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo Tudo pode ser tratado como

mercadoria A mercadificaccedilatildeo presume a existecircncia de direitos de propriedade sobre processos

coisas e relaccedilotildees sociais Eacute o que o autor chama de ldquomercadificaccedilatildeo de tudordquo (HARVEY 2008

p 178)

Quanto agrave igualdade social Giddens (2007) salienta que ldquo[] os social-democratas

precisam revisar natildeo apenas sua abordagem mas tambeacutem seu conceito de igualitarismo []

natildeo haacute futuro para o igualitarismo a todo custo que absorveu por tanto tempo os esquerdistasrdquo

(GIDDENS 2007 p 253) O autor defende o conceito de capacidade social defendendo que

a igualdade natildeo se refere apenas a ter acesso aos bens mas fazer uso efetivo deles

Giddens critica a igualdade social ldquoOs social-democratas em todos os paiacuteses precisam

sustentar uma base tributaacuteria substancial para que as poliacuteticas puacuteblicas e bem-estar social sejam

custeadas e a desigualdade econocircmica seja mantida sob controlerdquo (GIDDENS 2007 p 264)

E propotildee construir um novo contrato social dizendo que ldquo[] natildeo haacute direitos sem

responsabilidadesrdquo (GIDDENS 2001a p 58) Nesse sentido o autor defende a filantropia

quando afirma que ldquo[] incentivos positivos para a filantropia por exemplo podem ter um

papel tatildeo significativo quanto os impostos diretos sobre a transmissatildeo de riquezardquo (GIDDENS

2007 p 266)

O autor desenvolve a tese de que existe uma nova cultura poliacutetica ldquo[] em resposta agrave

mudanccedila social e econocircmica A nova cultura poliacutetica diverge do modelo tradicional de poliacutetica

de classerdquo (GIDDENS 2001b p 48)

Em um artigo no qual trataacutevamos mais especificamente da gestatildeo democraacutetica

elaboramos um quadro siacutentese para melhor visualizar as diferenccedilas e semelhanccedilas entre as duas

propostas mas natildeo no sentido de minimizar as contradiccedilotildees e todas as mediaccedilotildees necessaacuterias

39

na anaacutelise das propostas praacuteticas do neoliberalismo e da Terceira Via E destacamos ainda que

nas praacuteticas sociais haacute um grande hibridismo entre as propostas nos paiacuteses


diferenccedilas

Neoliberalismo Terceira Via

Estado miacutenimo

Reforma do Estado

Administraccedilatildeo gerencial

parcerias

Gestatildeo gerencial gerencial

Democracia

Totalitaacuteria culpada pela crise Estado

gastou demais atendendo agrave demanda dos

eleitores

Deve ser fortalecida

Democratizar a democracia

ldquoparticipaccedilatildeo da sociedade

na execuccedilatildeo das poliacuteticasrdquo

Poliacuteticas Sociais Privatizaccedilatildeo Parcerias com o

terceiro setor

Sujeitos Individualismo

Teoria do capital humano

Individualismo


Fonte Peroni (2012 p 21)

Portanto o diagnoacutestico eacute o mesmo mas algumas estrateacutegias satildeo diferentes e outras

semelhantes O neoliberalismo propotildee o Estado miacutenimo privatizando e tendo o mercado como

paracircmetro para a gestatildeo puacuteblica a Terceira Via propotildee reformar o Estado argumentando que

este eacute ineficiente assim a reforma do Estado teraacute como paracircmetro de qualidade o mercado por

intermeacutedio da administraccedilatildeo gerencial fortalecendo a loacutegica de mercado no interior da

administraccedilatildeo puacuteblica Dessa maneira tanto o neoliberalismo quanto a Terceira Via usam a

gestatildeo gerencial como paracircmetro para a gestatildeo puacuteblica

O individualismo eacute uma posiccedilatildeo comum ao neoliberalismo e agrave Terceira Via Para a

Terceira Via cada indiviacuteduo eacute responsaacutevel por abrir o seu caminho e as transformaccedilotildees

ocorreratildeo na esfera pessoal e natildeo societaacuteria ndash mesma concepccedilatildeo da teoria do capital humano

que reforccedila o individualismo e a meritocracia

Neste periacuteodo particular do capitalismo o alto grau de desemprego intensificou a

exclusatildeo social provocada principalmente pela chamada revoluccedilatildeo tecnoloacutegica Esse fato teve

seus efeitos agravados pela reforma do Estado que tem provocado uma diminuiccedilatildeo nas poliacuteticas

40

sociais E o terceiro setor eacute chamado a ldquoaliviar os niacuteveis de pobrezardquo para se evitar o caos

social

O terceiro setor multiplicou-se em um contexto de crise do Estado Providecircncia Para

Harvey (2008) as ONGs vecircm preencher o vaacutecuo de direitos deixado pelo Estado isso ldquo[]

equivale a uma privatizaccedilatildeo via ONGs Em alguns casos isso ajudou a acelerar o afastamento

ainda maior do Estado dos benefiacutecios sociais Assim as ONGs funcionam como lsquocavalos de

troia do neoliberalismo globalrsquordquo (HARVEY 2008 p 190)

A questatildeo da democracia eacute tambeacutem ressaltada pelo autor

[] as ONGs natildeo satildeo organizaccedilotildees inerentemente democraacuteticas Tendem a ser

elitistas a natildeo dar satisfaccedilatildeo a ningueacutem (a natildeo ser a quem as financia) e por definiccedilatildeo

satildeo distantes daqueles a quem buscam ajudar ou proteger por mais bem intencionadas

e progressistas que possam ser Costumam esconder sua pauta de interesses e preferem

a negociaccedilatildeo direta com o Estado e o poder de classe ou a influecircncia sobre eles

costumando antes controlar sua clientela do que representaacute-la Alegam e presumem

falar em favor daqueles que natildeo podem falar por si mesmos e ateacute definem os

interesses daqueles em cujo nome falam ndash como se as pessoas natildeo pudessem elas

mesmas fazecirc-lo (HARVEY 2008 p 190-191)

Aleacutem de assumir algumas atividades que seriam do Estado como a promoccedilatildeo ou a

manutenccedilatildeo de bem-estar social o terceiro setor acaba tambeacutem assumindo um certo poder

(econocircmicopoliacutetico) principalmente quanto agrave definiccedilatildeo de seu proacuteprio campo de cooperaccedilatildeo

internacional no que se refere ao repasse e prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros

diretamente para as agecircncias internacionais sem a intermediaccedilatildeo do Estado principalmente

quando o financiamento ocorre via agecircncias internacionais

O caraacuteter natildeo governamental assumido pelo terceiro setor que implica natildeo ser

submetido ao controle institucional aponta para questotildees como em nome de quem estatildeo

operando Uma vez que muitas vezes estatildeo vinculadas diretamente agraves agecircncias internacionais

a quem prestam contas Qual eacute o padratildeo eacutetico de julgamento Quem julga suas accedilotildees E se

existe legitimidade quem a outorga

O terceiro setor para Montantildeo (2002) modifica inclusive a questatildeo social Primeiro

com a transferecircncia da responsabilidade da questatildeo social do Estado para o indiviacuteduo que a

resolveraacute por meio da autoajuda ajuda muacutetua ou ainda adquirindo serviccedilos como

mercadorias Segundo as poliacuteticas sociais passam a ser focalizadas perdendo assim seu

princiacutepio universalista Terceiro com a descentralizaccedilatildeo administrativa as poliacuteticas tornam-se

41

ainda mais precarizadas entre outros problemas porque satildeo transferidas as competecircncias sem

os recursos correspondentes e necessaacuterios para executaacute-las

Graccioli e Lucas (2009 p 116) tambeacutem problematizam a focalizaccedilatildeo das poliacuteticas e

o deslocamento das responsabilidades em sua implementaccedilatildeo

Nas uacuteltimas deacutecadas os direitos universais estatildeo sendo atacados e ameaccedilados tanto

nos paiacuteses centrais do capitalismo quanto em aacutereas perifeacutericas nas quais algumas

garantias foram conquistadas muitas vezes de forma bastante incipiente e fraacutegil

Enquanto isso tecircm sido ampliadas poliacuteticas estatais de natureza focalizada muito

diferentes da noccedilatildeo de direito Eacute nesse processo que o lsquoterceiro setorrsquo se consolida

financiado em larga escala por verbas puacuteblicas que se tornaram cada vez mais

escassas para problemas estruturais vinculados aos direitos baacutesicos da populaccedilatildeo

O terceiro setor eacute uma das alternativas propostas pela Terceira Via para que o Estado

natildeo seja mais o principal executor das poliacuteticas sociais bem como para que o conteuacutedo

mercantil possa atraveacutes das parcerias aprofundar a loacutegica de mercado nas poliacuteticas puacuteblicas

ldquoqualificando-asrdquo

Eacute interessante ainda destacar que enquanto os paiacuteses que viveram a socialdemocracia

discutem a Terceira Via na Ameacuterica Latina22 o debate sobre o desenvolvimentismo retorna agrave

cena atualmente Para Castelo Branco (2009 p 75)

[] o objetivo dos novos-desenvolvimentistas nos parece claro entrar como uma

espeacutecie de Terceira Via na disputa pela hegemonia ideo-poliacutetica para a consolidaccedilatildeo

de uma estrateacutegia de desenvolvimento alternativa aos modelos em vigecircncia na

Ameacuterica do Sul tanto ao lsquopopulismo burocraacuteticorsquo representado por setores arcaicos

da esquerda e partidaacuterios do socialismo quanto agrave ortodoxia convencional

representada por elites rentistas e defensores do neoliberalismo

O autor ressalta ainda qual eacute o papel do Estado para os novo-desenvolvimentistas

Em siacutentese o Estado deve garantir condiccedilotildees macroeconocircmicas e salvaguardas

juriacutedicas que reduzam a incerteza do ambiente econocircmico propiciando um horizonte

mais previsiacutevel do caacutelculo de risco do investimento privado e aumentando por sua

22 Ver a tese de Aloiacutezio Mercadante Oliva As bases do novo desenvolvimentismo no Brasil anaacutelise do governo

Lula (2003-2010) Tese defendida na Unicamp em 2010

42

vez a demanda por fatores de produccedilatildeo o emprego e os ganhos dos trabalhadores

Assim o Brasil reduziraacute a pobreza e a desigualdade social

O projeto novo-desenvolvimentista de intervenccedilatildeo na lsquoquestatildeo socialrsquo portanto

baseia-se no crescimento econocircmico e na promoccedilatildeo da equidade social via a igualdade

de oportunidades

Esta eacute grosso modo a utopia da intelligentsia novo-desenvolvimentista (CASTELO

BRANCO 2009 p 78)

Concorda-se com o autor nas criacuteticas ao novo-desenvolvimentismo que apresenta o

Estado como complementar ao mercado e promotor do bem-estar universal acima dos distintos

interesses das classes sociais O autor ressalta que eacute um retorno ao antigo nacional-

desenvolvimentismo que defendia a conciliaccedilatildeo entre capital e trabalho tendo em vista um

abstrato interesse nacional

Para Mattei (2011) o papel do Estado no antigo desenvolvimentismo era o de

protagonista e no novo-desenvolvimentismo o setor privado eacute quem deve ldquo[] disponibilizar

recursos e suas capacidades gerenciais a favor dos investimentos produtivosrdquo (MATTEI 2011

p 11) Conforme estudos do autor esse papel representa

a) Ter capacidade para regular a economia estimulando um mercado forte e um

sistema financeiro a serviccedilo do desenvolvimento e natildeo das atividades especulativas

b) fazer a gestatildeo puacuteblica com eficiecircncia e responsabilidade perante a sociedade

c) implementar poliacuteticas macroeconocircmicas defensivas e em favor do crescimento d)

adotar poliacuteticas que estimulem a competitividade industrial e melhorem a inserccedilatildeo do

paiacutes no comeacutercio internacional e) adotar um sistema tributaacuterio progressivo visando

reduzir as desigualdades de renda (MATTEI 2011 p 11 grifo da autora)

Destaca-se que o Estado eacute protagonista mas nos paracircmetros da administraccedilatildeo gerencial

O autor conclui avaliando algumas inconsistecircncias nas anaacutelises sobre o novo

desenvolvimentismo brasileiro que consideramos muito procedentes como a ausecircncia de uma

discussatildeo conceitual sobre o desenvolvimento e sobre o envolvimento das classes sociais no

novo projeto desenvolvimentista e de uma discussatildeo poliacutetica mais consistente de como

implementar a justiccedila social em uma sociedade tatildeo desigual O Brasil eacute formado por uma

sociedade dominada ainda pelo coronelismo autoritarismo pela corrupccedilatildeo e por fim pela

ausecircncia de uma discussatildeo do cenaacuterio global no atual contexto

Eacute interessante observar a semelhanccedila com o ideaacuterio da Terceira Via e importante

considerar que enquanto os paiacuteses que tinham uma correlaccedilatildeo de forccedilas mais propiacutecias aos

trabalhadores discutiam o Estado de Bem-Estar Social os latino-americanos viviam ditaduras

e o Estado nacional desenvolvimentista Neste momento a discussatildeo do novo

43

desenvolvimentismo retoma a proposta de desenvolvimento mas mais uma vez sem muitas

conexotildees com os direitos materializados em poliacuteticas sociais (PERONI 2013)

Diante das discussotildees acerca de neoliberalismo Terceira Via e neodesenvolvimentismo

e em um contexto histoacuterico recente de abertura poliacutetica questiona-se como fica a democracia

nesse projeto

Enquanto para o neoliberalismo a democracia atrapalha o livre andamento do mercado

pois deve atender agrave demanda dos eleitores para se legitimar o que provoca o deacuteficit fiscal para

a Terceira Via a democracia deve ser fortalecida Giddens (2001) argumenta que eacute preciso

democratizar a democracia Poreacutem democracia entendida como a sociedade assumindo tarefas

que ateacute entatildeo eram do Estado e participaccedilatildeo como a responsabilizaccedilatildeo na execuccedilatildeo de tarefas

Assim verificamos uma separaccedilatildeo entre o econocircmico e o poliacutetico (WOOD 2003) o

esvaziamento da democracia como luta por direitos e das poliacuteticas sociais como a

materializaccedilatildeo de direitos sociais A seguir analisaremos as duas teorias enfocando essa

discussatildeo

Para a teoria neoliberal natildeo eacute o capitalismo que estaacute em crise mas o Estado A

estrateacutegia portanto eacute reformar o Estado ou diminuir sua atuaccedilatildeo para superar a crise O

mercado eacute quem deveraacute superar as falhas do Estado portanto a loacutegica do mercado deve

prevalecer inclusive no Estado para que ele possa ser mais eficiente e produtivo Conforme

Moraes (2001 p 49)

O funcionamento da ordem de mercado eacute visto como um paradigma um modelo de

funcionamento para outras instituiccedilotildees sociais Assim a pretensatildeo destes analistas

[neoliberais] eacute descobrir quais as regras constitucionais que no plano das decisotildees

coletivas (natildeo-mercado) mais se aproximam da perfeiccedilatildeo exibida por essa ordem (a

do mercado) Eacute o que chamam de economia constitucional uma nova teoria do

contrato social que proporcione uma reconstruccedilatildeo da ordem social e poliacutetica

Todas as correntes da teoria neoliberal criticam a democracia Para Hayek (1984) haacute

uma tensatildeo entre a liberdade individual e a democracia Conforme o autor a maximizaccedilatildeo da

liberdade estaacute em proteger o sistema de mercado como necessaacuterio e suficiente para a existecircncia

da liberdade Assim o mercado deve ser protegido contra o Estado e a tirania das maiorias

Ele sublinha que o Estado eacute influenciado ou vulneraacutevel agraves influecircncias das massas E assim o

cidadatildeo por meio do voto pode decidir sobre bens que natildeo satildeo seus adquirindo inclusive

forma de distribuiccedilatildeo de renda Conforme jaacute foi salientado nesta tese para Hayek (1984) a

44

democracia faz um verdadeiro saque agrave propriedade alheia e deve ser contida com o

esvaziamento das instituiccedilotildees puacuteblicas permeaacuteveis agrave correlaccedilatildeo de forccedilas (PERONI 2003)

Para Reginaldo Moraes a Public Choice ldquo[] nasce justamente do estudo da diferenccedila

entre estes dois universos (mercado e estado) e da tentativa de conduzir um deles ao modo

operativo do outro ndash tornar as decisotildees lsquonatildeo-mercadorsquo mais proacuteximas das lsquodecisotildees tipo

mercadorsquordquo (MORAES 2001 p 56) Os teoacutericos da Public Choice criticam o excesso de

regulamentaccedilatildeo e de Estado pois julgam que essas atividades satildeo onerosas para o conjunto da

sociedade e diminuem sua produtividade Eles defendem que eacute preciso estabelecer limites

constitucionais contra as instituiccedilotildees democraacuteticas vigentes eliminando o voto o que eacute mais

difiacutecil ou restringindo o seu impacto por meio da privatizaccedilatildeo e desregulamentaccedilatildeo

provocando o desmantelamento do Estado

Diferente da teoria neoliberal segundo a qual a democracia eacute prejudicial ao livre

andamento do mercado e chega a ser chamada de totalitaacuteria (HAYEK 1984) a proposta da

Terceira Via eacute a democratizaccedilatildeo da democracia que pressupotildee um Estado democraacutetico que

tenha como principais caracteriacutesticas ldquo[] descentralizaccedilatildeo dupla democratizaccedilatildeo renovaccedilatildeo

da esfera puacuteblica-transparecircncia eficiecircncia administrativa mecanismos de democracia direta e

governo como administrador de riscosrdquo (GIDDENS 2001b p 87)

A democracia para a Terceira Via estaacute vinculada a uma moralidade ciacutevica que estaacute

associada a uma visatildeo de sociedade sem o antagonismo de classes sociais ou correlaccedilatildeo de

forccedilas poliacuteticas por diferentes projetos societaacuterios

Haacute o risco de que formas mais agressivas de capitalismo dos acionistas destruam as

estruturas sociais e ciacutevicas que tornam viaacutevel a economia capitalista Esta eacute a principal

objeccedilatildeo da poliacutetica da Terceira Via ao fundamentalismo de mercado dos neoliberais

(GIDDENS 2001a p 154)

Para a Terceira Via a principal estrateacutegia de retirada do Estado da execuccedilatildeo direta das

poliacuteticas sociais eacute a parceria puacuteblico-privada tanto para a execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais como

para o mercado por meio de uma nova economia mista que propotildee ldquo[] uma nova sinergia

entre os setores puacuteblico e privado utilizando o dinamismo dos mercados mas tendo em mente

o interesse puacuteblicordquo (GIDDENS 2001b p 109)

Giddens (2001) afirma que precisamos radicalizar a democracia democratizar a

democracia e a participaccedilatildeo da sociedade civil Mas o que significam essa democracia e essa

participaccedilatildeo Questionamos que concepccedilatildeo eacute essa de participaccedilatildeo quando a sociedade civil eacute

muito mais chamada a executar tarefas do que a participar na tomadas de decisotildees e no controle

45

social E a democratizaccedilatildeo seguindo essa loacutegica seria apenas para repassar tarefas que

deveriam ser do Estado A sociedade civil acabou se responsabilizando pela execuccedilatildeo das

poliacuteticas sociais em nome da democracia (PERONI 2012)

Neste contexto persiste a falsa ideia de que a sociedade civil estaacute participando quando

na realidade as suas instituiccedilotildees representativas como sindicatos movimentos sociais e

partidos estatildeo sendo arrasados como parte da estrateacutegia neoliberal (PERONI 2006)

Wood (2003 p 217) destaca que

[] a separaccedilatildeo entre Estado e sociedade civil no Ocidente certamente gerou as novas

formas de liberdade e igualdade mas tambeacutem criou novos modos de dominaccedilatildeo e

coerccedilatildeo [] trata-se da privatizaccedilatildeo do poder puacuteblico que criou o mundo

historicamente novo da lsquosociedade civilrsquo

Essa anaacutelise de Wood encaminha as discussotildees sobre como neste periacuteodo particular

do capitalismo por um lado avanccedilamos na tatildeo batalhada democracia mas por outro haacute um

esvaziamento das poliacuteticas sociais principalmente das poliacuteticas sociais como um direito

universal Aumentou portanto a separaccedilatildeo entre o econocircmico e o poliacutetico historicamente

presente no capitalismo (PERONI 2006)

O esvaziamento do conteuacutedo da democracia e a separaccedilatildeo entre o econocircmico e o

poliacutetico satildeo evidentes Perdeu-se a discussatildeo das poliacuteticas sociais como a materializaccedilatildeo de

direitos sociais Por conseguinte as lutas por direitos universais foram cedendo espaccedilo para a

naturalizaccedilatildeo do possiacutevel aceitando a ideia de que o Estado ldquoem criserdquo natildeo pode executar

poliacuteticas e por tal motivo repassa suas execuccedilotildees para a sociedade civil especialmente a

populaccedilatildeo em vulnerabilidade para evitar o caos social mas permanece no controle por meio

da avaliaccedilatildeo e parte do financiamento (PERONI 2009)

Robertson e Verger (2012) tambeacutem apontam questionamentos sobre a democracia no

debate acerca da relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado ldquo[] parcerias e redes de regulamentaccedilatildeo

tendem a reduzir a democracia agrave negociaccedilatildeo no seio da sociedade civil entre atores

extremamente desiguais []rdquo (ROBERTSON VERGER 2012 p 1138)

No sentido de nos contrapormos agrave concepccedilatildeo de democracia do neoliberalismo e da

Terceira Via apresentaremos na sequecircncia um conjunto de argumentos teoricamente

fundamentados de modo a sustentar nosso posicionamento Para Vieira ldquo[] quanto mais

coletiva a decisatildeo mais democraacutetica ela eacute Qualquer conceito de democracia e haacute vaacuterios deles

importa em grau crescente de coletivizaccedilatildeo de decisotildeesrdquo (VIEIRA 2002 p 12) Wood (2003)

remete para a natildeo separaccedilatildeo entre o econocircmico e o poliacutetico e para a relaccedilatildeo da democracia com

46

direitos sociais materializados em poliacuteticas Para Meacuteszaacuteros (2002 p 1008) ldquo[] programas e

instrumentos de accedilatildeo sociopoliacuteticos verdadeiramente adequados soacute podem ser elaborados pela

proacutepria praacutetica social criacutetica e autocriacutetica no curso de seu desenvolvimentordquo Enfim como jaacute

foi mencionado nesta tese sublinhamos que democracia eacute a materializaccedilatildeo de direitos em

poliacuteticas coletivamente construiacutedas na autocriacutetica da praacutetica social

No Brasil apoacutes um longo periacuteodo de ditadura os anos 1980 foram marcados por um

processo de abertura poliacutetica com participaccedilatildeo popular e organizaccedilatildeo da sociedade na luta pelos

seus direitos Nesse contexto os eixos principais dos movimentos sociais estavam vinculados

agrave democracia agrave gestatildeo democraacutetica do Estado atraveacutes da participaccedilatildeo da sociedade nas decisotildees

poliacuteticas enfim agrave construccedilatildeo de uma sociedade mais justa e igualitaacuteria Mas essa construccedilatildeo

encontrou enormes obstaacuteculos pois o processo de abertura foi pactuado com as forccedilas da

ditadura Conforme OLIVEIRA RIZEK (2007 p 22)

A Nova Repuacuteblica foi pensada como ruptura mas bem observada ela eacute a consequecircncia

da sociabilidade e do campo de forccedilas longamente gestado desde o golpe militar de

1964 passando pela transformaccedilatildeo produtiva e da estrutura social e das novas formas

de representaccedilatildeo social e poliacutetica [] Seu programa foi a tentativa de criar uma

poliacutetica que fosse a traduccedilatildeo de novos interesses criados pela imensa recuperaccedilatildeo

capitalista recuperando as linhas de forccedila entre classe e representaccedilatildeo o que conferia

previsibilidade agrave poliacutetica

Nesse sentido quando estava avanccedilando em alguns passos a participaccedilatildeo popular e a

luta por direitos sociais a democracia sofreu o impacto das estrateacutegias do capital para a

superaccedilatildeo de sua crise neoliberalismo globalizaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo produtiva que jaacute estavam

em curso no resto do mundo e vinham em sentido contraacuterio a esse movimento Observou-se um

enorme descompasso entre o processo de abertura democraacutetica em que viviam os paiacuteses da

Ameacuterica Latina e a crise da democracia no chamado capitalismo metropolitano em que a

ofensiva neoliberal o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva e o de globalizaccedilatildeo jaacute estavam em

curso

Assim natildeo eacute por acaso que apesar de termos avanccedilado na materializaccedilatildeo de direitos

atraveacutes da legislaccedilatildeo temos a dificuldade de implementaacute-los

Eacute uma lista bela e conhecida mas tal Estado de Direito natildeo se realiza apenas com a

garantia juriacutedico-formal desses direitos e liberdades expressa em documento solene

Quanto a eles o Estado de Direito determina a sua proteccedilatildeo formalizada e

institucionalizada na ordem juriacutedica e principalmente reclama a presenccedila de

mecanismos soacutecio-econocircmicos dirigidos e planificados com a finalidade de atingir a

concretizaccedilatildeo desses direitos Muitas razotildees de Estado tecircm conduzido a contradiccedilotildees

47

entre a simples declaraccedilatildeo dos direitos e liberdades e a sua real efetivaccedilatildeo (VIEIRA

1998 p 12)

Nessa eacutepoca apoacutes tantas manifestaccedilotildees populares pelas Diretas Jaacute o primeiro governo

eleito apoacutes a ditadura militar Collor de Melo em 1990 tinha como programa a minimizaccedilatildeo

do papel do Estado com as poliacuteticas sociais e um longo processo de privatizaccedilatildeo e

mercantilizaccedilatildeo do puacuteblico Mesmo com o impeachment tal processo natildeo foi estancado e

apesar de o presidente Itamar Franco ter diferenccedilas poliacuteticas em relaccedilatildeo ao seu sucessor na

praacutetica foi seu governo que fez o Plano Real que para minimizar a inflaccedilatildeo atraiu capital

especulativo com juros altiacutessimos o que provocou problemas para o capital produtivo e um

aumento vertiginoso da diacutevida interna e externa Fernando Henrique Cardoso o ministro do

Plano Real que foi eleito presidente da Repuacuteblica por dois mandatos propocircs em 1995 o

Projeto de Reforma do Estado apresentado pelo Ministeacuterio da Administraccedilatildeo e Reforma do

Estado (Mare) De acordo com o documento a ldquo[] reforma do Estado deve ser entendida

dentro do contexto da redefiniccedilatildeo do papel do Estado que deixa de ser o responsaacutevel direto

pelo desenvolvimento econocircmico e social pela via da produccedilatildeo de bens e serviccedilos para

fortalecer-se na funccedilatildeo de promotor e regulador desse desenvolvimentordquo (BRASIL 1995 p

12)

As poliacuteticas sociais no plano natildeo foram consideradas atividades exclusivas do Estado

e natildeo pertenciam mais ao nuacutecleo estrateacutegico Sua execuccedilatildeo foi descentralizada para a

sociedade por meio da privatizaccedilatildeo da publicizaccedilatildeo e da terceirizaccedilatildeo Privatizaccedilatildeo eacute

passagem dos serviccedilos lucrativos para o mercado terceirizaccedilatildeo eacute o processo de

transferecircncia para o setor privado de serviccedilos auxiliares ou de apoio e publicizaccedilatildeo a

lsquotransferecircncia para o setor puacuteblico natildeo-estatal dos serviccedilos sociais e cientiacuteficos que

hoje o Estado prestarsquo (BRESSER-PEREIRA 1997 p 7-8)

Bresser-Pereira intelectual orgacircnico da Terceira Via foi o ministro da Reforma do

Estado no Brasil e quando se refere agraves poliacuteticas sociais aponta que ldquo[] essas satildeo atividades

competitivas e podem ser controladas natildeo apenas atraveacutes da administraccedilatildeo gerencial mas

tambeacutem e principalmente atraveacutes do controle social e da constituiccedilatildeo de quase-mercadosrdquo

(BRESSER-PEREIRA 1997 p 8)

Verificamos que a passagem da direccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais para o puacuteblico

natildeo estatal principalmente por meio de parcerias foi intensificada nos governos seguintes

atraveacutes da proposta de gestatildeo gerencial como podemos verificar por exemplo na Carta de

Brasiacutelia que apresenta uma proposta de gestatildeo pactuada pelo Ministeacuterio do Planejamento e

secretaacuterios estaduais de Administraccedilatildeo (BRASIL 2009) com os princiacutepios da gestatildeo gerencial

48

aleacutem de outros documentos como ldquoGestatildeo puacuteblica para um paiacutes de todosrdquo Plano de Gestatildeo do

Governo Lula do Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo (BRASIL 2003)

Essa concepccedilatildeo de gestatildeo que tem princiacutepios no gerencialismo como trataremos no

proacuteximo capiacutetulo foi aprofundada pelo governo Dilma Rousseff com a criaccedilatildeo em maio de

2011 da Cacircmara de Poliacuteticas de Gestatildeo Desempenho e Competitividade (CGDC) presidida

por Jorge Gerdau empresaacuterio brasileiro que vem travando uma verdadeira cruzada para que a

loacutegica de mercado seja incorporada na gestatildeo puacuteblica brasileira

Assim a sociedade civil estaacute participando da direccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas mas

questionamos que sociedade Estado e sociedade civil natildeo satildeo abstraccedilotildees e a questatildeo central

permanece sendo a classe social No exemplo acima ressaltamos que representantes do

empresariado e natildeo dos movimentos vinculados agraves lutas sociais foram chamados para

representar a sociedade civil em um conselho que vai definir a gestatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

Outra questatildeo importante eacute que a gestatildeo natildeo eacute teacutecnica mas poliacutetica e aparece como teacutecnica

nos argumentos do governo e dos empresaacuterios sobre qualidade e eficiecircncia com a loacutegica do

mercado na gestatildeo puacuteblica (PIRES PERONI 2010)

No segundo mandato da Presidenta Dilma Rousseff a proposta de reformar a gestatildeo

puacuteblica permanece Por exemplo no evento do Conselho Nacional de Secretaacuterios de Estado da

Administraccedilatildeo (CONSAD) em 2105 ldquoo ministro de Assuntos Estrateacutegicos Roberto

Mangabeira Unger defendeu um novo olhar sobre as instituiccedilotildees puacuteblicas e uma modernizaccedilatildeo

nas formas de geri-lasrdquo23 Segundo o Ministro Mangabeira Unger

Essa reforma precisa segundo o ministro organizar carreiras buscar a eficiecircncia do

Estado com choque de gestatildeo e fomentar um experimentalismo na maneira de atuar

do Governo com accedilotildees cooperativas entre a Uniatildeo os estados e os municiacutepios (grifo

da autora) (Disponiacutevel em lthttpwwwsaegovbrassuntosgestao-publicasae-

propoe-no-consad-reforma-da-gestao-publica-no-paisgt Acesso em 27 nov 2015)

Verificamos pela fala do atual ministro da secretaria de Assuntos Estrateacutegicos da

Presidecircncia da Repuacuteblica que a proposta de 1995 de Reforma do Estado de repasse para a

sociedade civil das poliacuteticas sociais permanece

Em relaccedilatildeo agrave qualidade dos serviccedilos puacuteblicos o ministro Mangabeira acredita que

para qualificaacute-los se tornaraacute cada vez mais importante o Estado organizar preparar

financiar coordenar e monitorar a sociedade civil independente para que ela participe

da provisatildeo competitiva e experimentalista dos serviccedilos puacuteblicos (Disponiacutevel em

23 Disponiacutevel em lthttpwwwsaegovbrassuntosgestao-publicasae-propoe-no-consad-reforma-da-gestao-

publica-no-paisgt Acesso em 27 nov 2015

49

lthttpwwwsaegovbrassuntosgestao-publicasae-propoe-no-consad-reforma-da-

gestao-publica-no-paisgt Acesso em 27 nov 2015)

O entatildeo Ministro da Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos da Presidecircncia da Repuacuteblica

Mangabeira Unger foi tambeacutem o autor do polecircmico documento ldquoPaacutetria Educadora a

qualificaccedilatildeo do ensino baacutesico como obra de construccedilatildeo nacionalrdquo (2015) O documento eacute

apresentado como uma proposta preliminar para discussatildeo com diretrizes de um projeto

nacional de qualificaccedilatildeo do ensino baacutesico O documento divide-se em duas partes o primeiro

intitulado A Tarefa esboccedila o ideaacuterio do projeto e o segundo ldquoIniciativas um elenco de accedilotildees

em ordem aproximada de implementaccedilatildeordquo (BRASIL 2015)

A proposta apresenta trecircs pontos de partida

1 Aproveitar e ultrapassar o exemplo do que deu certo

Nos uacuteltimos anos o Brasil viu grande nuacutemero de experimentos na tentativa de

melhorar os resultados do ensino puacuteblico Muitos destes experimentos seguiram

loacutegica de eficiecircncia empresarial valendo-se de praacuteticas como a fixaccedilatildeo de metas de

desempenho a continuidade da avaliaccedilatildeo o uso de incentivos e de meacutetodos de

cobranccedila o acompanhamento e quando necessaacuterio o afastamento de diretores a

despolitizaccedilatildeo da escolha de diretores e a individualizaccedilatildeo do ensino especialmente

para alunos em dificuldade [] Temos muito a aprender com a orientaccedilatildeo

empresarial Precisamos contudo de muito mais do que ela eacute capaz de oferecer

(BRASIL 2015 p 5)

2 Mudar a maneira de ensinar e de aprender

Nesse item apresenta as competecircncias socioemocionais proposta pelo Instituto Ayrton

Senna ldquo[] que permita agrave massa de alunos vindos do meio pobre superar as barreiras preacute-

cognitivas que os impedem de aceder agraves capacitaccedilotildees analiacuteticas Seraacute obra de libertaccedilatildeordquo

(BRASIL 2015 p 6) E explica mais adiante as ldquobarreiras preacute-cognitivasrdquo relacionando-as agraves

competecircncias socioemocionais que trataremos em maior profundidade no capiacutetulo 5

A reorientaccedilatildeo deve ter trecircs focos a prioridade dada no curriacuteculo a aprofundamento

seletivo a atenccedilatildeo a capacitaccedilotildees analiacuteticas e o enfrentamento das inibiccedilotildees preacute-

cognitivas (comumente chamadas de socioemocionais) ao domiacutenio das

capacitaccedilotildees analiacuteticas Satildeo as capacitaccedilotildees de comportamento sobretudo as de

disciplina e de cooperaccedilatildeo (BRASIL 2015 p 10 grifo da autora)

O terceiro foco diz que eacute preciso ldquoorganizar a diversidade para permitir a evoluccedilatildeo

Nunca tivemos sistema nacional de ensino A educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil tem sido

50

simultaneamente desorganizada e uniforme uniforme no conformismo com a

mediocridaderdquo (BRASIL 2015 p 6 grifo da autora)

Esta parte aleacutem de ser profundamente desrespeitosa com o processo de ampliaccedilatildeo

recente da educaccedilatildeo baacutesica brasileira que ocorreu em meio ao ajuste fiscal e sem as condiccedilotildees

materiais para que ocorresse com a qualidade desejada ainda aponta como uma das propostas

o controle e puniccedilatildeo dos diretores de escolas puacuteblicas

[] Os diretores de escolas com desempenho insatisfatoacuterio receberiam apoio e

orientaccedilatildeo Em uacuteltimo caso seriam afastados e substituiacutedos Em ambas as situaccedilotildees

atuariam equipes de reforccedilo compostos por orientadores indicados pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo e das secretarias de educaccedilatildeo dos estados O financiamento viria de recursos

discriminados dentro do FNDE (BRASIL 2015 p 9)

Satildeo muitos os pontos polecircmicos no plano mas aqui ressaltamos os que melhor

materializam no nosso entendimento a proposta de relaccedilatildeo entre o puacuteblico e privado tanto no

que envolve a presenccedila do setor privado na direccedilatildeo das poliacuteticas quanto os princiacutepios

gerenciais Satildeo eles a presenccedila do setor privado e dos princiacutepios mercadoloacutegicos sendo

enaltecidos como a competiccedilatildeo e a premiaccedilatildeo a presenccedila de uma proposta de competecircncias

socioemocionais muito polecircmica e pouco debatida que eacute a proposta de um Instituto

apresentada em um documento oficial do governo brasileiro e ainda a puniccedilatildeo e controle dos

diretores em uma proposta completamente contraacuteria ao princiacutepio constitucional da gestatildeo

democraacutetica

A democracia na sociedade capitalista envolve relaccedilotildees de poder de classe e a sua

implementaccedilatildeo pressupotildee um evidente conflito No caso brasileiro haacute um grande obstaacuteculo

pois o processo de construccedilatildeo de uma cultura democraacutetica eacute ainda recente Assim o movimento

de ldquoofensiva do capitalrdquo acaba encontrando um solo feacutertil e a loacutegica do produto em detrimento

da loacutegica democraacutetica parece ser um novo consenso (PERONI 2012)

Ball fala sobre esse novo consenso atraveacutes de novas formas de governanccedila que no nosso

entendimento satildeo as redefiniccedilotildees no papel do Estado

Jessop (2002) chama de lsquodesestatizaccedilatildeorsquo que envolve lsquoredefinir a separaccedilatildeo de

puacuteblico-privado realocar tarefas e rearticular o relacionamento entre organizaccedilotildees e

tarefas por meio desta separaccedilatildeorsquo [] tarefas e serviccedilos anteriormente realizados pelo

Estado estatildeo agora feitos por vaacuterios lsquooutrosrsquo em vaacuterios tipos de relacionamento com

ele e com o estado [] Portanto novas vozes e interesses satildeo representados no

51

processo poliacutetico e novos noacutes de poder e influecircncia satildeo construiacutedos e fortalecidos

(BALL 2013 p 178)

No entanto Ball (2013a p 180) afirma que natildeo haacute um ldquo[] esvaziamento do Estado

antes eacute uma nova forma de poder puacuteblico agecircncia e accedilatildeo social e na verdade uma nova forma

de estado Ou seja a realizaccedilatildeo de fins poliacuteticos por diferentes meiosrdquo ldquoOs estados

desempenham um papel importante e cada vez maior na metagovernanccedilardquo (JESSOP apud

BALL 2013a p 242)rdquo Para Ball (2013a p 181)

[] cada vez mais o Estado contrata e monitora em vez de distribuir serviccedilos

diretamente usando as praacuteticas rotineiras de medida de desempenho avaliando e

direcionando para gerir uma diversidade de fornecedores e formas de fornecimento

Novas formas de poder e autoridade subjetividade satildeo empregadas na formaccedilatildeo de

esferas governamentais e pessoas governaacuteveis

No livro The Managerial State Clarke e Newman (2006) apontam para redefiniccedilotildees no

papel do Estado tambeacutem ressaltando que natildeo significa que ele tenha diminuiacutedo sua atuaccedilatildeo

apenas modificado

O estado tem se retirado em alguns aspectos seus poderes e aparelhos tecircm sido

expandidos em outros ndash transferindo responsabilidades mas simultaneamente criando

as capacidades de fiscalizaccedilatildeo e reforccedilo para garantir que estas responsabilidades

estatildeo sendo cumpridas Isto tem envolvido a dispersatildeo do poder estatal atraveacutes de uma

variedade de locais e espaccedilos (CLARKE NEWMAN 2006 p 126)

Segundo os autores

Quando revisitamos nossa anaacutelise do estado gerencial ndash um pouco antes da crise

bancaacuteria ndash as consequecircncias do decliacutenio das noccedilotildees de puacuteblico e do setor puacuteblico

eram gritantes O setor puacuteblico tinha sido sujeitado a processos renovados de

fragmentaccedilatildeo e mercantilizaccedilatildeo (o que tiacutenhamos descrito como dispersatildeo) e era menos

claro onde e como as difiacuteceis decisotildees a respeito da alocaccedilatildeo de recursos escassos

estavam sendo tomadas de fato parecia que a distribuiccedilatildeo de recursos estava cada

vez mais sendo deixada para mecanismos de mercado O setor puacuteblico

(anteriormente integrado) tinha sido harmoniosamente transformado em uma seacuterie de

serviccedilos determinados prestados por uma diversidade de organizaccedilotildees sendo a

pergunta de quem deveria prestaacute-los transformada em uma pergunta teacutecnica ao inveacutes

de embasada em valor ou poliacutetica A visatildeo dominante era que haveria pouca ou

nenhuma consequecircncia se fossem prestados por uma empresa do setor privado

um oacutergatildeo voluntaacuterio ou do terceiro setor ou uma organizaccedilatildeo do setor puacuteblico

E cada vez mais a diferenccedila de cada setor tornava-se nebulosa na medida em que

proliferavam novas formas organizacionais ndash nas quais os modos de autoridade

52

puacuteblico e privado e estilos de trabalho estavam desigualmente e imprevisivelmente

combinados (CLARKE NEWMAN 2012 p 370 grifos da autora)

Observamos tambeacutem em nossas pesquisas que essa anaacutelise de Clarke e Newman estaacute

muito presente no sentido de que o material proposto pelas parcerias eacute padronizado e replicaacutevel

Observamos tambeacutem o retorno da histoacuterica separaccedilatildeo entre o pensar e o fazer sendo que as

instituiccedilotildees privadas determinam e monitoram e as escolas executam

Ball (2012) aponta que a reforma neoliberal eacute endoacutegena e exoacutegena eacute ao mesmo tempo

reforma e privatizaccedilatildeo ldquoO setor puacuteblico eacute substituiacutedo e reformado ao mesmo tempo e as duas

coisas satildeo conectadasrdquo (BALL 2012 p 15)

Para Ball (2012) as redes satildeo uma taacutetica do capital O neoliberalismo tem se realizado

atraveacutes de processos de quase-mercado reaccedilotildees entre o puacuteblico e o privado organizaccedilotildees

puacuteblicas empreendedoras e trabalho organizado e voluntaacuterio O autor adverte ainda que o

terceiro setor pode ser visto como uma nova governamentalidade do neoliberalismo e

exemplifica atraveacutes do caso da Inglaterra onde as reformas do New Labour satildeo a maior base

da atual coalisatildeo poliacutetica conservadora com mudanccedilas no setor puacuteblico

O autor ressalta aleacutem disso que o neoliberalismo trabalha com instituiccedilotildees do setor

puacuteblico e que o Estado eacute um importante regulador e criador de mercados

Wood (2014) tambeacutem trata do importante papel do Estado para o capital neste periacuteodo

particular do capitalismo de financeirizaccedilatildeo e globalizaccedilatildeo ldquoO capital global ainda (na

verdade mais do que nunca) exige uma ordem poliacutetica social e legal rigidamente regulada e

previsiacutevelrdquo (WOOD 2014 p 11) Alguns autores apontam que o estado nacional estaacute em

decliacutenio no entanto para a autora o ldquo[] Estado eacute hoje mais essencial do que nunca para o

capital mesmo ndash ou especialmente ndash em sua forma global A forma poliacutetica da globalizaccedilatildeo natildeo

eacute um estado global mas um sistema global de Estados muacuteltiplosrdquo (WOOD 2014 p 18) A

autora ainda argumenta que

[] o capitalismo global eacute o que eacute natildeo somente por ser global mas acima de tudo por

ser capitalista Os problemas associados agrave globalizaccedilatildeo [] ndash natildeo existem

simplesmente porque a economia eacute global ou porque as empresas globais satildeo

incomparavelmente crueacuteis nem mesmo por serem excepcionalmente poderosas [] a

globalizaccedilatildeo eacute o resultado e natildeo a causa (WOOD 2014 p 18)

Wood ressalta que as empresas globais devem seguir as leis de mercado para sobreviver

e que nem mesmo a mais benigna ou responsaacutevel consegue fugir agrave compulsatildeo do capital assim

53

o problema natildeo eacute uma ou outra empresa ou agecircncia internacional mas o sistema capitalista em

si (WOOD 2014)

A autora traz importante discussatildeo acerca da importacircncia histoacuterica da forccedila

extraeconocircmica no capitalismo ldquo[] o que torna a dominaccedilatildeo de classe ou o imperialismo

especificamente capitalista eacute a preponderacircncia da coerccedilatildeo econocircmica que se distingue da

coerccedilatildeo lsquoextra-econocircmicarsquo ndash poliacutetica militar ou judicial ndash diretardquo (WOOD 2014 p 17) Ela

entende que neste periacuteodo particular de financeirizaccedilatildeo do capital e globalizaccedilatildeo econocircmica

[] a forccedila extraeconocircmica eacute claramente essencial para a manutenccedilatildeo da coerccedilatildeo

econocircmica em si (opera de forma mais indireta via mercado mais difiacutecil de ver pois

natildeo se daacute de forma coercitiva democracia voto) [] Especialmente nas

democracias liberais com o sufraacutegio universal e as liberdades civis moderadamente

bem estabelecidos a poliacutecia natildeo eacute empregada pelo capital mas representa um Estado

que em princiacutepio pertence a todos os cidadatildeos (WOOD 2014 p 17)

A autora aponta que para as potecircncias imperiais ldquo[] os Estados locais mostraram ser

uma correia transmissora muito mais uacutetil para os imperativos capitalistas do que os antigos

agentes coloniais e colonos que originalmente levavam o mercado capitalista pelo mundo

aforardquo (WOOD 2014 p 29) No entanto esse processo gera contradiccedilotildees para o capital jaacute

que o capitalismo ldquo[] natildeo pode viver sem expansatildeo constanterdquo poreacutem sempre necessitou do

Estado e ldquo[] o estado-naccedilatildeo continuou sendo um instrumento indispensaacutevel ndash talvez o uacutenico

instrumento extra-econocircmico indispensaacutevel ndash do capital global []rdquo (WOOD 2014 p 30)

Nesse sentido Wood critica as concepccedilotildees que apontam para uma ldquo[] soberania natildeo

estatal que se encontra em toda parte e em parte nenhumardquo pois ldquo[] essas visotildees natildeo apenas

desprezam algo atual na ordem global mas tambeacutem nos deixam impotentes para resistir ao

Impeacuterio do capitalrdquo (WOOD 2014 p 18) Nesse aspecto critica tambeacutem a concepccedilatildeo de

governanccedila global

[] o capitalismo global vai continuar precisando de uma ordem internacional

ajustada aos movimentos do capital e de acordo com o futuro possiacutevel essa ordem

natildeo seraacute em grande parte oferecida por qualquer espeacutecie de lsquogovernanccedila globalrsquo mas

por um sistema internacional de Estados muacuteltiplos que provavelmente continuaraacute

necessitando de um impositor nacional (WOOD 2014 p 13)

A autora salienta ainda que na sua leitura

Natildeo existe forma concebiacutevel de lsquogovernanccedila globalrsquo capaz de oferecer o tipo de

regularidade diaacuteria das condiccedilotildees de acumulaccedilatildeo de que o capital necessita [] A

forma poliacutetica de globalizaccedilatildeo eacute mais uma vez natildeo um Estado global mas um

54

sistema global de muacuteltiplos Estados locais estruturados numa relaccedilatildeo complexa de

dominaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo (WOOD 2014 p 27-28)

Concordamos com as criacuteticas da autora sobre o conceito de governanccedila global

largamente utilizado por autores que analisam as relaccedilotildees entre o puacuteblico e o privado

Entendemos que nesse conceito as responsabilidades pela execuccedilatildeo dos direitos ficam diluiacutedas

e ressaltamos a importacircncia do Estado como o principal responsaacutevel pelo direito agrave educaccedilatildeo

principalmente em paiacuteses em que os direitos sociais natildeo estatildeo consolidados e o dever do Estado

eacute ainda mais relevante Muitos autores tecircm trazido uma multiplicidade de atores atuando na

educaccedilatildeo Nossas pesquisas analisam criticamente o fato de o poder puacuteblico se retirar da

responsabilidade da execuccedilatildeo e direccedilatildeo da poliacutetica educativa

Assim como Wood destacamos a importacircncia do Estado no processo atual de

acumulaccedilatildeo do capital mas tambeacutem enfatizamos primeiro capiacutetulo deste trabalho que

entendemos as poliacuteticas sociais como resultados de um processo de correlaccedilatildeo de forccedilas e que

lutamos para tornar o Estado mais puacuteblico democraacutetico e garantidor de direitos pois

entendemos que as poliacuteticas satildeo materializaccedilatildeo de direitos e que os direitos materializam a

democracia Todo esse processo ocorre via luta por projetos societaacuterios distintos Nesse

contexto preocupa o fato de a educaccedilatildeo passar de uma perspectiva de direito e de

responsabilidade e regulaccedilatildeo por parte do poder puacuteblico para um serviccedilo a ser comercializado

e regulado internacionalmente Nesse aspecto concordamos com a preocupaccedilatildeo de Robertson

Mundy Verger e Menashy (2012) ao pesquisarem o tema

[] e mais importante para a nossa anaacutelise eacute o transporte de educaccedilatildeo como em

grande parte a niacutevel nacional localizado e regido de serviccedilo puacuteblico em uma

mercadoria negociaacutevel econocircmico regulado globalmente Na verdade o GATS visa a

liberalizaccedilatildeo de todos os tipos de serviccedilos de educaccedilatildeo atraveacutes da modificaccedilatildeo (eou

eliminaccedilatildeo) de uma seacuterie de regulamentaccedilotildees estaduais favorecendo o comeacutercio e o

investimento estrangeiro no setor da educaccedilatildeo (ROBERTSON VERGER 2012

p104 traduccedilatildeo livre)

Os autores destacam ainda que a OMC natildeo interfere apenas no setor privado para

regular a educaccedilatildeo como um serviccedilo mas tambeacutem no setor puacuteblico24

[] o GATS eacute o tratado supranacional que tem sido capaz de exercer maior pressatildeo

em favor da transnacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo Ela promove a redefiniccedilatildeo de territoacuterios

e infra-estruturas relacionadas com a produccedilatildeo e consumo de serviccedilos O sistema de

regras do GATS tambeacutem promove a independecircncia e a convergecircncia entre os

24 Os autores tratam do GATS - General Agreement on Trade in Services Acordo Geral sobre o Comeacutercio de

Serviccedilos

55

diferentes sistemas de ensino estaduais bem como na formaccedilatildeo dos marcos

regulatoacuterios comuns em vaacuterias aacutereas da poliacutetica educacional Isso significa que o papel

do Estado e as fronteiras territoriais nacionais diminuiacuteram em algumas aacutereas uma vez

que parte do marco regulatoacuterio da educaccedilatildeo tornaram-se reterritorializados e fixada

em escala global ou supranacional (ROBERTSON MUNDY VERGER

MENASHY 2012 p 105 traduccedilatildeo livre)

Outra questatildeo relevante eacute que mencionamos o Estado como poder puacuteblico o que no

caso brasileiro ainda estaacute em construccedilatildeo jaacute que o Estado historicamente teve um caraacuteter

privado Entendemos que em uma sociedade democraacutetica as instituiccedilotildees puacuteblicas devem atuar

em um processo de coletivizaccedilatildeo das decisotildees com espaccedilos de participaccedilatildeo que devem ser cada

vez mais alargados O ldquopuacuteblicordquo em oposiccedilatildeo ao privado nesse sentido estaacute sendo construiacutedo

em um processo de correlaccedilatildeo de forccedilas e estaacute intimamente vinculado com o democraacutetico

Assim quando analisamos as redefiniccedilotildees do papel do Estado em sua relaccedilatildeo com o

setor privado atraveacutes de nossas pesquisas questionamos como atua financia controla se

retira estaacute mais presente imprime a loacutegica de mercado atraveacutes do Estado gerencial

Verificamos em nossas pesquisas em relaccedilatildeo ao papel do Estado na relaccedilatildeo entre o puacuteblico e

o privado ndash que no neoliberalismo seria no sentido de retirar-se da provisatildeo das poliacuteticas

atraveacutes da execuccedilatildeo direta ou do financiamento com a justificativa de racionalizar recursos ndash

que em muitos casos o Estado continua financiando os programas apesar da execuccedilatildeo ser

privada No que se refere agrave direccedilatildeo observamos em alguns casos que o poder puacuteblico continua

sendo o executor mas a direccedilatildeo e controle passam a ser de instituiccedilotildees privadas como nos

casos do Instituto Ayrton Senna25 e Instituto Unibanco26

Quanto ao controle observamos que o Estado em parte permanece atuando

principalmente via avaliaccedilotildees mas tambeacutem atraveacutes dos editais de contrataccedilatildeo das instituiccedilotildees

do Terceiro Setor que vatildeo executar as poliacuteticas educativas O governo acaba definindo um

determinado produto e contrata quem se ajusta a esse perfil o que tambeacutem prejudica o processo

de democratizaccedilatildeo

Ao longo dos estudos diversas questotildees foram emergindo tais como quem satildeo os

sujeitos (individuais e coletivos) que atuam no setor privado como atuam e como se organizam

para influenciar em todas as esferas do puacuteblico desde o niacutevel internacional nacional local ateacute

a escola e a sala de aula Enfim quem satildeo os sujeitos desse processo e qual eacute o conteuacutedo da

proposta do privado no puacuteblico O proacuteximo capiacutetulo trata destas questotildees

25 Sobre a parceria entre Instituto Ayrton Senna e Escolas de Ensino Fundamental ver Adriatildeo Peroni (2010)

26 Sobre a parceria entre Instituto Unibanco e Escolas de Ensino Meacutedio ver Peroni Caetano (2014)


SUJEITOS E CONTEUacuteDO DA PROPOSTA DO PRIVADO PARA O PUacuteBLICO

Satildeo vaacuterias as formas como o privado tem atuado no setor puacuteblico Verificamos na

pesquisa o quanto a relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado eacute complexa e multifacetada Entendemos

que a mercadificaccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica natildeo eacute uma abstraccedilatildeo mas ocorre via sujeitos e

processos Trata-se de sujeitos individuais e coletivos que estatildeo cada vez mais organizados em

redes do local ao global com diferentes graus de influecircncia e que falam de diferentes lugares

setor financeiro organismos internacionais setor governamental Algumas instituiccedilotildees tecircm fins

lucrativos e outras natildeo ou natildeo claramente mas eacute importante destacar que entendemos as redes

como sujeitos (individuais e coletivos) em relaccedilatildeo com projeto de classe

Robertson (2012) ao tratar da relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado denomina esse

processo de PPP (parcerias puacuteblico-privadas) que segundo a autora eacute

[] um guarda-chuva semacircntico que pode cobrir fenocircmenos bastante heterogecircneos

que vatildeo desde a prestaccedilatildeo de serviccedilos privados acordos de serviccedilos com base em

contrato e tipos menos formais de colaboraccedilatildeo e parceria entre o setor privado

organizaccedilotildees filantroacutepicas privadas e governos com base na confianccedila e no

compromisso conjunto para o bem comum (ROBERTSON 2012 p 5)

Em outro estudo Robertson e Verger (2012) destacam que as PPPs satildeo mais do que

apenas ferramentas teacutecnicas envolvem projetos societaacuterios corroborando nossa tese

A globalizaccedilatildeo das PPPs como um instrumento de gestatildeo de setores e assuntos

educacionais precisa ser cuidadosamente examinada ressaltando o cuidado em natildeo

entendecirc-las como ferramentas simplesmente teacutecnicas Isto elas natildeo satildeo PPPEs satildeo

fundamentalmente relaccedilotildees sociais e econocircmicas (Weihe 2010) envolvem questotildees

de poder autoridade legitimidade responsabilidade e igualdade e natildeo apenas

mecanismos de opccedilatildeo com base no mercado e em ganhos de eficiecircncia (Jayasuriya

2008) (ROBERTSON VERGER 2012 p 1150)

Robertson e Verger (2012) apresentam um histoacuterico da relaccedilatildeo puacuteblico-privada

iniciando na deacutecada de 1970 com a crise do projeto de desenvolvimento capitalista do poacutes-

guerra em que ocorria um casamento entre liberalismo econocircmico e socialdemocracia

Nos anos 1980 ocorreu a introduccedilatildeo da economia de livre mercado como o modo

dominante de organizaccedilatildeo da vida poliacutetica e social E a partir do Consenso de Washington as

instituiccedilotildees do Estado foram reestruturadas com trecircs objetivos principais fazer com que o

Estado servisse aos interesses dos negoacutecios remodelar suas operaccedilotildees internas sob a linha dos

negoacutecios e reduzir a exposiccedilatildeo do governo agrave pressatildeo poliacutetica do eleitorado o que passou a ser

57

chamado de Nova Gestatildeo Puacuteblica (NGP) A NGP tem como principais caracteriacutesticas metas

de desempenho transferecircncia do gerenciamento para os gestores especificaccedilatildeo de padrotildees e

indicadores alocaccedilatildeo regida por resultados auditoria e terceirizaccedilatildeo de uma seacuterie de atividades

que haviam sido uma parte central do setor puacuteblico As mudanccedilas foram implementadas usando

o argumento do ldquointeresse nacionalrdquo central para a competitividade econocircmica global como

um meio de superar a pobreza e a desaceleraccedilatildeo econocircmica e como base para a construccedilatildeo de

economias baseadas no conhecimento (ROBERTSON VERGER 2012)

Nos anos 1990 Banco Mundial (BM) Fundo Monetaacuterio Internacional (FMI)

Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) e United States

Agency for International Development (USAID) desempenharam papeacuteis cada vez mais

instrumentais no avanccedilo das ideias do livre mercado como base para o desenvolvimento Nos

paiacuteses ricos a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE)

desenvolveu semelhante agenda neoliberal de descentralizaccedilatildeo autonomia institucional em

oposiccedilatildeo a formas burocraacuteticas de organizaccedilatildeo e introduccedilatildeo da escolha dos pais No entanto

nos paiacuteses pobres sob recomendaccedilatildeo do BM FMI e USAID a agenda proposta foi a

descentralizaccedilatildeo a privatizaccedilatildeo e a cobranccedila de taxas o que o que culminou em uma crescente

polarizaccedilatildeo social e aumento nos niacuteveis de desigualdade (ROBERTSON VERGER 2012)

Nesse contexto as ldquoparceriasrdquo surgiram no iniacutecio de 1990 como um promissor

mecanismo para minimizar os danos causados por formas anteriores de privatizaccedilatildeo ainda que

sem abandonaacute-las As parcerias permitiram muacuteltiplos enquadramentos interesses e objetivos

No acircmbito europeu as parcerias foram um corretivo para a presenccedila demasiada do Estado

(keynesianismo) por um lado e a ausecircncia dele em processos de privatizaccedilatildeo por outro Ao

final dos anos de 1990 o sistema das Naccedilotildees Unidas focou nas parcerias argumentando que

se os paiacuteses buscavam alcanccedilar as Metas de Desenvolvimento do Milecircnio seriam obrigados a

avanccedilar na direccedilatildeo de um novo paradigma de desenvolvimento As parcerias tambeacutem foram

destacadas nos dez princiacutepios do Pacto Global das Naccedilotildees Unidas (1999) cuja ecircnfase eacute o

mercado e o empreendedorismo (ROBERTSON VERGER 2012)

A conclusatildeo eacute a de que existe uma induacutestria especializada que surgiu em torno das

PPPEs que eacute composta por diferentes sujeitos com orientaccedilatildeo proacute-mercado

Essa induacutestria que de forma crescente exporta globalmente sua expertise inclui um

nuacutemero crescente de atores privados de fundaccedilotildees de empresas especializadas em

PPPEs de firmas globais e locais de consultorias de bancos think tanks de sites

especializados equipes de acompanhamento da miacutedia e escritoacuterios de advocacia que

58

cada vez mais atuam como fontes de autoridade com orientaccedilatildeo proacute-mercado

(ROBERTSON VERGER 2012 p 12)

Uczak (2014) realizou um estudo sobre o PREAL e abordou o quanto os Organismos

Internacionais influenciaram as reformas educativas na Ameacuterica Latina

O estudo das Declaraccedilotildees e dos Planos de Accedilatildeo das Cuacutepulas das Ameacutericas mostra

como se constroem as agendas educacionais e indicam as medidas necessaacuterias para

materializar as propostas O PREAL foi criado a partir das Cuacutepulas com objetivo de

formar o consenso em torno das reformas imperativas para defesa da atual ordem

econocircmica vigente Sua organizaccedilatildeo em forma de rede agrega lideranccedilas da economia

da poliacutetica e da miacutedia representantes de vaacuterios paiacuteses protagonistas das reformas

voltadas para o mercado (UCZAK 2014 p 4)

A autora apresenta uma lsquolinha de temporsquo dos programas no periacuteodo 1981-2010 para

situar o PREAL entre outros programas que influenciaram as poliacuteticas educativas na Ameacuterica

Latina

Quadro 2 ndash Linha de tempo ndash 1981-2010

81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

PPE ndash 1981-2001

EPT ndash Jomtien ndash 1990

PROMEDLAC IV ndash Quito ndash 1991

PROMEDLAC V ndash Santiago ndash 1993

Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo de

Dakar ndash 2000-2015

ODM ndash 2000-2015

PRELAC ndash 2002 ndash 2017

PREAL ndash 1995 Fonte Uczak (2014 p 83)

A autora aponta que os documentos seguem um padratildeo

Observamos que em geral as propostas partem do diagnoacutestico alarmante de um grave

quadro de crise econocircmica que eacute evidenciado por dados quantitativos suficientes para

convencer a todos da necessidade de intervenccedilatildeo coletiva dos governos da sociedade

civil dos empresaacuterios de organizaccedilotildees natildeo governamentais e de todos os interessados

no tema educaccedilatildeo fomentando a ideia de parcerias entre os setores puacuteblico e privado

As reformas recomendadas ao mesmo tempo que propotildeem a descentralizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo centralizam o controle e fiscalizaccedilatildeo nos oacutergatildeos estatais Caracterizam-se

pelo cunho gerencialista e trazem no seu interior a necessidade da avaliaccedilatildeo

educacional para acompanhamento e monitoria das metas estabelecidas pois

consideram que os resultados numeacutericos da avaliaccedilatildeo eacute que indicam a qualidade

59

bandeira maior do conjunto de medidas desde a deacutecada de 1990 (UCZAK 2014 p

83)

Verificamos que os documentos desses programas sempre partem de problemas de

qualidade do sistema puacuteblico diagnoacutestico da Public Choice conforme analisamos no capiacutetulo

2 e que as recomendaccedilotildees satildeo sempre as mesmas em todos os niacuteveis e escolas de abrangecircncia

Robertson Mundy Verger e Menashy (2012) apresentam ainda a Organizaccedilatildeo

Mundial do Comeacutercio (OMC) como um sujeito importante nesse processo de privatizaccedilatildeo do

puacuteblico

Em 1995 a Organizaccedilatildeo Centro Mundial do Comeacutercio (OMC) foi lanccedilada juntando-

se a um conjunto de instituiccedilotildees internacionais com um mandato para governar por

mais tempo os assuntos econoacutemicos sociais e poliacuteticos a niacutevel mundial Para os

observadores de educaccedilatildeo no entanto o elemento mais notaacutevel desta iniciativa foi a

inclusatildeo de todos os niacuteveis de educaccedilatildeo desde os primeiros anos ateacute o ensino superior

(ROBERTSON MUNDY VERGER MENASHY 2012 p 104 traduccedilatildeo livre)

Depreendemos que essa situaccedilatildeo envolve um processo de mercantilizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

sem precedentes na histoacuteria Rikowski (2014) nos ajuda a entender tal processo quando

apresenta os conceitos de mercantilizaccedilatildeo comoditizaccedilatildeo e capitalizaccedilatildeo E cita Marginson

(1997)27 que apresenta a lsquomercantilizaccedilatildeorsquo como uma siacutentese das tendecircncias dos mercados na

educaccedilatildeo composta dos processos sociais e econocircmicos que fomentam para o

desenvolvimento a intensificaccedilatildeo e a forccedila dos mercados na educaccedilatildeo e outras aacutereas da vida

social Ainda citando Marginson (1997) Rikowski (2014 p 28) apresenta cinco caracteriacutesticas

necessaacuterias para o estabelecimento de um mercado educacional totalmente desenvolvido

1 Mercados envolvem a produccedilatildeo de commodities (que satildeo compradas e vendidas)

2 Haacute um campo de produccedilatildeo definido (por exemplo escolaridade formaccedilatildeo ou

ensino superior)

3 Haacute uma troca monetaacuteria entre produtor e consumidor de commodities

4 Existem relaccedilotildees de concorrecircncia entre os produtores

5 Haacute mercado de subjetividades ndash as atitudes e comportamentos adequados ao

mercado de produccedilatildeo consumo e troca

Verificamos que o processo de mercantilizaccedilatildeo envolve tanto a educaccedilatildeo como a

mercadoria como destacamos no estudo de Robertson e Verger sobre a OMC citado acima e

nos estudos de Adriatildeo (2009 2014) Adriatildeo e Garcia (2014) quanto agraves atitudes e

27 Marginson (1997) Mercados em Educaccedilatildeo p 5-6 ecircnfase no original

60

comportamentos vinculados ao mercado de produccedilatildeo que temos chamado na nossa pesquisa

de conteuacutedo da educaccedilatildeo e que enfocaremos nos capiacutetulos 3 a 5 da tese

Christian Laval (2004) tambeacutem apresenta vaacuterias formas de mercantilizaccedilatildeo na

educaccedilatildeo

ndash a que destina a escola a fornecer matildeo de obra adaptada agraves necessidades da economia

ndash a intervenccedilatildeo mais direta das empresas na pedagogia conteuacutedos escolares validaccedilatildeo das

grades curriculares e diplomas que pretende instituir nas escolas a loacutegica de mercado

ndash empresas adotando escolas e interferindo nos seu programa educativo

ndash publicidade atraveacutes do financiamento de artigos escolares com o logo da empresa

ndash parcerias como a compra e venda de grades curriculares

Laval (2004) observa ainda que esses movimentos geram dois tipos de fenocircmenos a

escola como mercado (publicidade ou venda de produtos) e a escola como produtora de

mercadorias especiacuteficas (suportes e conteuacutedos de ensino)

Mais do que privatizar escolas importa ao mercado interferir na poliacutetica educacional

Principalmente nos casos dos Institutos Ayrton Senna e Unibanco verificamos o quanto o

conteuacutedo da educaccedilatildeo eacute monitorado com metas estabelecidas pelos Institutos o que Laval

chama de ldquomercadorias especiacuteficasrdquo Concordamos com o autor quando afirma que ldquoEmbora

a escola seja essa instituiccedilatildeo especializada na transmissatildeo de saberes ela participa da educaccedilatildeo

lsquofato social totalrsquo que engaja todas as dimensotildees humanasrdquo (LAVAL 2004 p 210)

Liciacutenio Lima (2012) ao abordar o tema do mercado na educaccedilatildeo no livro Aprender

para ganhar conhecer para competir afirma que ldquo[] a educaccedilatildeo enquanto direito humano

comporta limites normativos eacuteticos poliacuteticos e morais que satildeo incompatiacuteveis com fenocircmenos

de adestramento endoutrinamento ou condicionamento dos seres humanosrdquo (LIMA 2012 p

29)

Em outro trabalho ao conceituar a privatizaccedilatildeo Liciacutenio Lima (2013 p 178-179) expotildee

que ela pode significar

[] muitas e diferentes coisas desde a erosatildeo das responsabilidades estatais em

benefiacutecio de privados desregulaccedilatildeo concessatildeo a privados parcerias construccedilatildeo de

redes nacionais de ensino jaacute natildeo puacuteblicas mas hiacutebridas ou baseadas em parcerias

puacuteblico-privadas escolas puacuteblicas com estatutos de fundaccedilatildeo e regidas pelo direito

privado escolas puacuteblicas cuja gestatildeo foi concessionada a privados financiamento

atraveacutes da captaccedilatildeo de alunos e respectivos lsquocheques-ensinorsquo pagos pelo Estado

interferecircncia crescente no curriacuteculo na praacutetica pedagoacutegica na avaliaccedilatildeo etc por

61

parte de instituiccedilotildees privadas empresas fundaccedilotildees organizaccedilotildees natildeo-

governamentais diversas ou do chamado lsquoterceiro setorrsquo (LIMA 2013 p 178-179)

Almerindo Afonso (2013) no texto Mudanccedilas no Estado-avaliador comparativismo

internacional e teoria da modernizaccedilatildeo revisitada tambeacutem traz importante debate acerca do

Estado como avaliador e apresenta trecircs fases desse processo Estado-avaliador (1ordf fase anos de

19801990) Estado-avaliador (2ordf fase final dos anos de 1990 e atuais anos 2000) e Poacutes-

Estado-avaliador (antevisatildeo com base em alguns indicadores) sendo que a terceira fase estaacute

vinculada a processos de privatizaccedilatildeo

A terceira fase que designei de poacutes-Estado-avaliador quer justamente acentuar a ideia

de que para muito aleacutem das agendas nacionais e dos efeitos externos da globalizaccedilatildeo

sobre os diferentes paiacuteses o que estaacute em curso eacute uma estrateacutegia de exacerbaccedilatildeo e

diversificaccedilatildeo de loacutegicas neoliberais de transnacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo com ecircnfase

na privatizaccedilatildeo mercadorizaccedilatildeo e mercantilizaccedilatildeo (SANTOS 2004 apud AFONSO

2013 p 280)

Faacutetima Antunes (2015) alerta para o importante papel do Estado no processo de

privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em Portugal

[] a privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo eacute em Portugal como em outros paiacuteses e contextos em

boa medida uma obra do Estado e uma poliacutetica puacuteblica (Lima 1996) Por outro lado

trata-se de um processo polifacetado e prolongado (privatizaccedilotildees) cujas

manifestaccedilotildees e debate tecircm jaacute vaacuterias deacutecadas podendo desde os anos 80 observar-se

ritmos e desenvolvimentos diferenciados em Portugal como em outras latitudes []

(ANTUNES 2015 p 132)

A autora destaca o processo de contratualizaccedilatildeo como forma de privatizaccedilatildeo do puacuteblico

em Portugal Eacute o que chamamos de execuccedilatildeo o privado assumindo a oferta com financiamento

puacuteblico

[] o Estado criou ativamente o espaccedilo privado de provisatildeo apelando agrave

contratualizaccedilatildeo da resposta educativa privada com financiamento totalmente puacuteblico

segundo uma modalidade de parceria puacuteblico-privado constituindo uma foacutermula de

quase-mercado (com os provedores privados a concorrer por contratos de

financiamento puacuteblico) (cf Le Grand amp Bartlett 1993) (ANTUNES 2015 p 131)

Emiacutelia Vilarinho (2015 p 146) aponta que esse processo ocorre via terceiro setor

Em Portugal tem vindo a ganhar visibilidade crescente a provisatildeo social e educativa

privada (nas aacutereas da infacircncia terceira idade sauacutede) com particular relevo para lsquoas

formas instituicionalizadas no acircmbito do sector designado por lsquosolidariedade socialrsquo

ou mais genericamente por terceiro sector Apesar da heterogeneidade organizativa

o conjunto das iniciativas designadas de solidariedade eacute reconhecido como setor de

62

utilidade puacuteblica natildeo estatal e natildeo lucrativo e supostamente avesso aos modos de

organizaccedilatildeo burocraacutetica e do mercadorsquo (Hespanha et al 2000 119) Estas iniciativas

satildeo apresentadas como alternativa mais econoacutemica e flexiacutevel da provisatildeo estatal

A autora apresenta dados sobre como este processo vem ocorrendo envolvendo accedilatildeo

direta ou apoio do Estado

Trecircs desses desenvolvimentos merecem particular destaque por um lado haacute entidades

filantroacutepicas que adquiriram certo protagonismo mediaacutetico em torno quer da sua accedilatildeo

no terreno quer da sua estrateacutegia de influecircncia na poliacutetica educativa (de que eacute

ilustrativo o caso da associaccedilatildeo EPIS-Empresaacuterios pela Inclusatildeo Social) por outro

lado a celebraccedilatildeo de um contrato pelo Estado portuguecircs envolvendo o coraccedilatildeo do

sistema puacuteblico e as funccedilotildees centrais de avaliaccedilatildeo e certificaccedilatildeo no acircmbito da

educaccedilatildeo baacutesica universal com a aquisiccedilatildeo a uma agecircncia global da Universidade de

Cambridge de exames obrigatoacuterios de inglecircs e certificaccedilatildeo dirigidos a todos os

estudantes do 9ordm ano por uacuteltimo a introduccedilatildeo legal do cheque-ensino A importacircncia

de qualquer destes processos reside na sua novidade no paiacutes no facto de se

encontrarem em franco desenvolvimento e de revelarem amplas implicaccedilotildees em

particular o uacuteltimo pelo seu potencial de mudanccedila da configuraccedilatildeo e do sentido do

direito agrave educaccedilatildeo e do sistema puacuteblico que constitucionalmente o realiza

(VILARINHO 2015 p 146)

A autora destaca como esse processo tem se dado na educaccedilatildeo infantil

A Lei-Quadro da Educaccedilatildeo Preacute-Escolar iniciou um novo ciclo de reestruturaccedilatildeo deste

niacutevel de educaccedilatildeo num quadro de uma conjuntura nacional e transnacional em que

satildeo visiacuteveis as crescentes influecircncias dos processos de globalizaccedilatildeo e

transnacionalizaccedilatildeo com repercussotildees nas poliacuteticas educativas e onde as reformas e

orientaccedilotildees de iacutendole neoliberal e de caris proacuteximo da Terceira Via revalorizaram (em

sentidos vaacuterios) os apelos e as medidas direcionadas para uma maior participaccedilatildeo do

mercado da sociedade civil e do terceiro sector nas poliacuteticas puacuteblicas (VILARINHO

2015 p 146)

E analisa as consequecircncias da oferta da educaccedilatildeo infantil via parcerias

A forma como a CAF foi implementada no concelho estudado mobilizando parcerias

com a sociedade civil ampliou o hibridismo desta medida uma vez que agrave

reconciliaccedilatildeo dos interesses e direitos das crianccedilas e das famiacutelias (que legitimaram

esta inovaccedilatildeo poliacutetica) a ela juntaram os interesses e loacutegicas das diferentes entidades

parceiras Verificamos problemas de relacionamento institucional que permitiram

interpretaccedilotildees diferentes da medida com especial impacto nas questotildees da qualidade

quer de natureza contextual quer processual e na promoccedilatildeo da igualdade de

oportunidades de acesso das crianccedilas A ausecircncia de mecanismos de

acompanhamento no que concerne agrave atribuiccedilatildeo das comparticipaccedilotildees familiares

introduz um efeito altamente perverso no sistema Estas perversidades do sistema

exigem uma atenccedilatildeo especial dos liacutederes poliacuteticos No jardim de infacircncia puacuteblico

atraveacutes das parcerias estabelecidas verificam-se loacutegicas de quase-mercado onde

63

entre outros aspetos a disputa dos lsquoclientesrsquo comeccedila a ser uma realidade


Em entrevista Glenn Rikowski (2015) ao tratar do tema da privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

puacuteblica apresenta uma importante anaacutelise de questotildees estruturais do papel da educaccedilatildeo no

sistema capitalista Para o autor haacute dois tipos de mercadorias de acordo com Marx Classe

Geral de commodities e a mercadoria forccedila de trabalho

E o autor ainda questiona o que faz com que uma escola seja uma escola capitalista O

que eacute a educaccedilatildeo capitalista Aprendizagem capitalista

Ele mesmo responde no sentido de que precisa relacionar essas perguntas agrave forccedila de

trabalho por um lado e por outro lado agrave classe geral de commodities As escolas capitalistas

se caracterizam por apresentar os diferentes tipos de mercadorias (classe geral e forccedila de

trabalho) Para o autor as escolas satildeo uma forma institucional de produccedilatildeo social da forccedila de

trabalho Existem muitas formas institucionais haacute creche ensino primaacuterio preacute-escola etc

Para Rikowski (2015) a forccedila de trabalho eacute uma mercadoria que nunca eacute completamente

produzida e as escolas satildeo um elemento da produccedilatildeo social da forccedila de trabalho

Quanto agrave classe geral de mercadorias o autor ressalta que elas podem ser materiais e

imateriais e eacute importante determinar com estudos empiacutericos o que estaacute sendo mercadorizado

[] por exemplo em muitas escolas no paiacutes o Fornecimento do Almoccedilo e lanches e

limpeza escola por setores privados satildeo mercantilizados mercantilizada Nos uacuteltimos

dez 15 anos estaacute apenas comeccedilando o mesmo ensino estaacute se tornando parte da

mercantilizaccedilatildeo

Portanto haacute algumas escolas neste paiacutes que satildeo administradas por empresas para gerar

lucro que a educaccedilatildeo eacute mercantilizada Eacute a educaccedilatildeo transformada em mercadoria

A Noccedilatildeo de educaccedilatildeo capitalista eacute um pouco mais difiacutecil (RIKOWSKI 2015

entrevista)

Para o autor a aprendizagem capitalista em termos de forccedila de trabalho natildeo ocorre

apenas na educaccedilatildeo mas na famiacutelia miacutedia religiatildeo um vasto leque de instituiccedilotildees

organizaccedilotildees que impactam na produccedilatildeo da forccedila de trabalho Para ele

Nas sociedades capitalistas cada vez mais existe algo chamando para a produccedilatildeo

social da forccedila de trabalho o que eacute parte da luta de classes [] O que a produccedilatildeo

social da forccedila de trabalho estaacute envolvida eacute com a transformaccedilatildeo da forccedila de trabalho

64

em capital humano esta eacute a luta natildeo soacute fora mas dentro de noacutes mesmos []

(RIKOWSKI 2015 entrevista)

Rikowski aponta inclusive que existem processos de comodificaccedilatildeo da educaccedilatildeo e que

eacute preciso especificar o que estaacute sendo mercadorizado

Ao abordar a entrevista de Rikowski sobre a relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado na

educaccedilatildeo foi possiacutevel retomar questotildees que enfatizamos no primeiro capiacutetulo como a

importacircncia do debate acerca de classe social e luta de classes para entender a relaccedilatildeo entre o

puacuteblico e o privado e tambeacutem a questatildeo do particular e a sua relaccedilatildeo com o universal na anaacutelise

do objeto jaacute que o autor trata de questotildees estruturais do papel da escola na sociedade capitalista

e trata tambeacutem da necessidade de estudos empiacutericos para a anaacutelise do processo atual de

mercantilizaccedilatildeo Ratificamos tais afirmaccedilotildees e tratamos do debate teoacuterico acerca do tema tanto

em niacutevel estrutural da sociedade capitalista quanto em relaccedilatildeo a este periacuteodo particular do

capitalismo tendo aliaacutes uma trajetoacuteria de pesquisas empiacutericas sobre o tema

Apresentamos um pouco mais da interessante visatildeo do autor em um texto no qual ele

aborda a crise da educaccedilatildeo e a crise na educaccedilatildeo

[] eacute preciso pensar em crise em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e a economia de uma maneira

nova essas crises natildeo satildeo essencialmente de natureza lsquoeducacionalrsquo ou

lsquoeconocircmicarsquo Um anti - (em vez de poacutes) perspectiva estruturalista enraizada na luta de

classes eacute um caminho mais avanccedilado a seguir e nem fundamentalismo

(crises na educaccedilatildeo) nem idealismo de crise educacional (as crises da educaccedilatildeo)

(RIKOWSKI 2014 p 3)

E o autor adverte para os reducionismos de uma visatildeo economicista da crise

Um foco sobre o fundamentalismo da crise (crises na educaccedilatildeo) traz consigo todas as

questotildees familiares de determinismo e reducionismo funcionalismo lsquoimperialismo

econocircmicorsquo uma poliacutetica que tem uma tendecircncia a colocar o trabalho de professores

e suas lutas bem como o ativismo estudantil nos bancos de traacutes da luta de classes

(RIKOWSKI 2014 p 4)

Sua criacutetica pontua que a visatildeo de crise na educaccedilatildeo eacute uma consequecircncia da crise

econocircmica ldquoNo cerne desta ideia eacute que a crise educacional se coloca fora do sistema de ensino

crise da educaccedilatildeo flui e eacute uma consequecircncia da economia e da crise econocircmicardquo (RIKOWSKI

2014 p 4)

Para o autor a luta de classes deve estar no centro das anaacutelises ldquoMinha alternativa seria

colocar a luta de classes no cerne da anaacutelise da crise da educaccedilatildeo A crise na educaccedilatildeo

crise da educaccedilatildeo distinccedilatildeo ainda seria mantida mas mudaria a cor da sua pelerdquo (RIKOWSKI

65

2014 p 43) Retomamos assim a abordagem teoacuterico-metodoloacutegica empreendida no primeiro

capiacutetulo de relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado como classes em relaccedilatildeo e o entendimento do

puacuteblico sempre em relaccedilatildeo ao privado e natildeo isoladamente ou como uma abstraccedilatildeo

Nos proacuteximos itens apresentaremos os sujeitos e o conteuacutedo da proposta dialogando

com autores que pesquisam mais diretamente a relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado ou que

tratam de temas que nos ajudam a entender sobre quem satildeo os sujeitos que decidem sobre o

conhecimento e afinal que conhecimento eacute proposto pelo setor privado mercantil para a

educaccedilatildeo o que chamamos de conteuacutedo da proposta

31 OS SUJEITOS

Entendemos que as redes se configuram como um importante sujeito28 na definiccedilatildeo das

poliacuteticas educacionais internacionalmente principalmente as redes globais E que o setor

privado mercantil organizado ou natildeo em redes natildeo eacute uma abstraccedilatildeo eacute formado e operado por

sujeitos individuais e coletivos em um projeto de classe sendo inclusive parte de uma ofensiva

histoacuterica do capital e com especificidades neste periacuteodo particular do capitalismo

Para Ball (2012) a anaacutelise de rede (network analysis) ou rede de governanccedila (network

governance) pode ser entendida como um meacutetodo uma teacutecnica analiacutetica para investigar

estruturas de comunidades de poliacuteticas e suas relaccedilotildees sociais e tambeacutem para representar um

conjunto de mudanccedilas reais na forma de governanccedila tanto nacionalmente quanto

internacionalmente

O autor destaca que a rede de governanccedila envolve perda de poder em algumas partes do

Estado e ganho em outras Ball ressalta que para alguns autores essa rede constitui uma forma

mais democraacutetica de governanccedila (SORENSEN TORFING 2007) enquanto para outros

(MARCH OLSEN 1989 e SKELCHER 1998) cria um deacuteficit democraacutetico pois torna os

28 Sujeito individual ou coletivo na concepccedilatildeo de Thompson (1981) de que a histoacuteria eacute construiacuteda por relaccedilotildees

entre sujeitos e natildeo por estruturas conforme apresentado no primeiro capiacutetulo

66

processos mais opacos e dispersos natildeo apenas dilui os limites entre o puacuteblico e o privado mas

expotildee o processo de formulaccedilatildeo poliacutetica como jogo de poder particularista

Ball (2012) adverte para os problemas da anaacutelise de redes como forma de descrever as

relaccedilotildees de governanccedila Para ele haacute dificuldade em mapear empiricamente as estruturas das

relaccedilotildees de poder e questiona

Como medir ao ter acesso ou calcular recursos diferenciais e capacidades

incorporadas nas assimetrias das relaccedilotildees de poder Como relatar o uso do poder e

diferentes interesses e objetos dos participantes [] Como captar mudanccedilas na

participaccedilatildeo capacidade de assimetrias ao longo dos tempos O que as setas

significam (BALL 2012 p 8 traduccedilatildeo livre)

Sublinha ainda que os diagramas satildeo adequados para representar as redes de relaccedilotildees

questionando ldquo[] qual eacute a forccedila dessas relaccedilotildees Qual eacute a direccedilatildeo do fluxo Como as relaccedilotildees

e as forccedilas mudam ao longo do tempordquo (BALL 2012 p 8 traduccedilatildeo livre)

Em outro trabalho Ball (2013) ressalta que novas vozes satildeo representadas no processo

poliacutetico ldquo[] e novos noacutes de poder e influecircncia satildeo construiacutedos e fortalecidosrdquo (BALL 2013

p 177) obscurecendo a separaccedilatildeo entre o puacuteblico o privado e o terceiro setor que ldquo[] substitui

ou combina burocracia e estruturas e reaccedilotildees administrativas com um sistema de organizaccedilatildeo

repleto de superposiccedilotildees multiplicidade ascendecircncia mista eou padrotildees de relaccedilatildeo

divergentes mas coexistentesrdquo (BALL 2013 p 178) Destaca aleacutem disso que alguns atores

histoacutericos satildeo potencialmente excluiacutedos como os sindicatos

Ball ressalta ainda que natildeo se trata de um esvaziamento do Estado mas uma nova

forma de Estado E menciona e que ldquo[] haacute um aumento concomitante na falta de transparecircncia

da elaboraccedilatildeo de poliacuteticasrdquo (BALL 2013 p 181) Eacute uma nova forma de ldquo[] governanccedila

estrateacutegica que eacute baseada em relaccedilotildees de rede dentro e por meio de novas comunidades

poliacuteticas destinadas a gerar nova capacidade de governar e aumentar a legitimidaderdquo (BALL

2013 p 180) Tal condiccedilatildeo faz com que as fronteiras entre Estado economia e sociedade civil

sejam desfocadas O autor destaca que haacute um hibridismo entre burocracia mercado e rede

Robertson e Verger (2012) ressaltam a multiplicidade de atores que atuam em todos os

niacuteveis da educaccedilatildeo e que satildeo desiguais no poder de atuaccedilatildeo







67


empresas nacional lsquoparcerias e redes de regulamentaccedilatildeo tendem a reduzir a

democracia agrave negociaccedilatildeo no seio da sociedade civil entre atores extremamente

desiguais []rsquo (ROBERTSON VERGER 2012 p 1138)

Ball e Olmedo (2013) destacam o papel da filantropia historicamente presente na

relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado nas poliacuteticas sociais ldquoO que haacute de lsquonovorsquo na lsquonova

filantropiarsquo eacute a relaccedilatildeo direta entre o lsquodoarrsquo e os lsquoresultadosrsquo e o envolvimento direto dos

doadores nas accedilotildees filantroacutepicas e nas comunidades de poliacuteticas []rdquo (BALL OLMEDO

2013 p 33)

Os autores apontam que as mudanccedilas na filantropia tradicional ocorreram em trecircs etapas

ldquo[] da doaccedilatildeo paliativa (ou seja a filantropia tradicional ou a lsquofilantropia 10rsquo) agrave filantropia

para o desenvolvimento (lsquofilantropia 20rsquo) e finalmente agrave doaccedilatildeo lsquorentaacutevelrsquo constituindo

aquilo que eacute chamado de lsquofilantropia 30rsquordquo (BALL OLMEDO 2013 p 34)

Ball e Olmedo (2013) acrescentam que essa terceira etapa da filantropia ocorre atraveacutes

das redes

[] para entender o trabalho das lsquonovasrsquo organizaccedilotildees filantroacutepicas e seus lsquoparceirosrsquo

precisamos consideraacute-los natildeo sob uma perspectiva individual como atores isolados

mas sim como noacutes interconectados que operam de acordo com loacutegicas de rede e

configuram suas agendas e ligaccedilotildees de formas mutantes e fluiacutedas (BALL OLMEDO

2013 p 40)

Ball e Junemann (2012) pesquisam como a governanccedila tem sido realizada e por quem

Os autores apresentam a rede como um meacutetodo para traccedilar e representar as relaccedilotildees sociais no

campo da poliacutetica e como ferramenta analiacutetica O conceito redes de poliacuteticas eacute um termo

analiacutetico e descritivo que se refere a uma forma de governanccedila que entrelaccedila mercados inter-

relacionados e hierarquias

Os autores ressaltam que as fronteiras entre filantropia negoacutecios e setor puacuteblico foram

movidas e que as mudanccedilas satildeo endoacutegenas e exoacutegenas (dentro e fora do setor puacuteblico) Tais

mudanccedilas ocorrem atraveacutes da disseminaccedilatildeo de valores e praacuteticas de empreendimento

empreendedorismo e transposiccedilatildeo do discurso internacional do gerencialismo (nova gestatildeo

puacuteblica) Nesse contexto novos valores modos de accedilatildeo e formas de autoridade moral crescem

enquanto outras satildeo diminuiacutedas ou derivadas Observa-se que as diminuiacutedas e derivadas natildeo

por acaso satildeo os sindicatos movimentos sociais e instituiccedilotildees vinculadas agraves classes populares

Os autores afirmam que eacute importante verificar o que eacute novo na nova filantropia e

salientam a relaccedilatildeo com os resultados (giving to outcomes) Um empresaacuterio entrevistado pelos

68

autores deixa claro que se vai dar dinheiro quer dar para algo que apresente resultados mais

efetivos Outro aspecto da nova filantropia vinculado aos resultados eacute que os financiadores

querem ver e mensurar os impactos Os autores discorrem ainda sobre o venture capitalism

capitalismo de risco isto eacute eles querem ver o retorno mas aceitam riscos E assim os

filantropistas tomam as decisotildees de onde investir o seu dinheiro influenciando ou definindo as

poliacuteticas sociais em geral e em particular as educacionais Os autores chamam a atenccedilatildeo ainda

para o fato de a educaccedilatildeo ser apenas uma das dimensotildees do interesse filantroacutepico Foi o que se

constatou nas redes dos Institutos Unibanco e Ayrton Senna que seratildeo apresentados no capiacutetulo

5

Conforme Ball e Junemann (2012) o conceito de policy network (redes de poliacuteticas) eacute

um termo analiacutetico e descritivo que se refere a uma forma de governanccedila que entrelaccedila

mercados inter-relacionados e hierarquias Algumas partes do Estado tecircm menos controle e

outras tecircm mais do que antes (BALL JUNEMANN 2012) O Estado pode mudar de parceiros

facilmente uma vez que programas e iniciativas podem ser encerrados contratos rescindidos e

agecircncias fechadas

A filantropia estrateacutegica busca projetos inovadores Os autores ressaltam que se o

projeto prova a sua eficaacutecia eacute apresentado aos governos para ampliaacute-lo e financiaacute-lo Os

empresaacuterios tecircm investido em projetos-piloto (BALL JUNEMANN 2012) Foi o que

verificamos com o Instituto Unibanco o Programa Jovem de Futuro passou por uma fase piloto

de validaccedilatildeo da tecnologia ateacute se transformar em poliacutetica puacuteblica

Os autores destacam ainda os interesses indiretos com a filantropia como o status e

marketing que chamam de capital simboacutelico atraveacutes de festas jantares colunas sociais

precircmios associando a filantropia agrave celebridade e ao interesse de acesso a outros campos e redes

Apresentam o exemplo da revista Time que revelou que a ldquogenerosidade eacute moda de novordquo e

apresentou uma lista dos filantropos com faixa de arrecadaccedilatildeo

Ball e Junemann (2012) acentuam tambeacutem que a localizaccedilatildeo na rede eacute chave para o

capital social As redes satildeo feitas de capital social que pode ser desenvolvido investido e

acumulado e se notabilizam por apresentar um intenso fluxo de ideias e pessoas entre o puacuteblico

e o privado Os participantes satildeo multifacetados atores individuais podem ser envolvidos nas

69

redes em uma variedade de modos (significados e tipos de influecircncia) Foi o que se constatou

na pesquisa nas redes do Instituto Unibanco e do Movimento Todos pela Educaccedilatildeo

Questionamos as consequecircncias para a democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em particular e

dos direitos sociais em geral jaacute que as redes natildeo possuem representatividade social e nem

compromissos com a justiccedila social ou com a materializaccedilatildeo de direitos

Rhodes (1996) ao analisar o conceito de governanccedila traz interessante discussatildeo sobre

decisatildeo e execuccedilatildeo na participaccedilatildeo do privado no puacuteblico Para o autor a Nova Gestatildeo Puacuteblica

(New Public Management ndash NPM) eacute relevante para discussatildeo da governanccedila Steering (direccedilatildeo

decisatildeo) eacute central para a gestatildeo puacuteblica e para o autor eacute sinocircnimo de governanccedila Rhodes

assinala que Osborn e Gaebler no livro Reinventando o Governo que foi um tipo de ldquobiacutebliardquo

da NGP distinguem decisotildees poliacuteticas (steering) e execuccedilatildeo dos serviccedilos (rowing) A proposta

NPM eacute o governo empreendedor com princiacutepios baseados na loacutegica de mercado competiccedilatildeo

cliente e resultado Menos governo (less rowing) na execuccedilatildeo de poliacuteticas e mais governanccedila

(steering) nas decisotildees poliacuteticas

Rhodes (1996) salienta que governanccedila significa uma mudanccedila no significado de

governo ou mudanccedila na condiccedilatildeo de determinar as regras ou novos meacutetodos pelos quais a

sociedade eacute governada No caso da Inglaterra ressalta que as redes se desenvolveram em um

contexto de esvaziamento do Estado da nova gestatildeo puacuteblica e da gestatildeo intergovernamental O

autor define governanccedila como redes interorganizacionais auto-organizadas As redes satildeo

apresentadas como complemento de mercado e de governo na alocaccedilatildeo de recursos e no

exerciacutecio de controle e coordenaccedilatildeo Para o autor satildeo uma mudanccedila na governabilidade porque

tornam-se autocircnomas e resistem agrave orientaccedilatildeo central

O autor destaca que o termo governanccedila eacute popular mas impreciso e apresenta seis usos

para o conceito 1 Estado miacutenimo 2 governanccedila corporativa 3 Nova Gestatildeo Puacuteblica 4 boa

governanccedila 5 sistema sociociberneacutetico 6 redes auto-organizadas

E descreve cada um

1 Governanccedila como Estado miacutenimo ndash uso do mercado ou quase mercado na distribuiccedilatildeo

de serviccedilos puacuteblicos Eacute ldquoaceitaacutevelrdquo em face dos cortes de gastos e da tendecircncia de menos

governo

2 Governanccedila corporativa ndash aplicada igualmente para organizaccedilotildees do setor puacuteblico ou

privado Clara alocaccedilatildeo de regras e responsabilidades no partilhamento de papeacuteis (ecoou na

70

discussatildeo da accountability na nova gestatildeo puacuteblica) Influecircncia do setor privado de mercado no

setor puacuteblico

3 Governanccedila como nova Gestatildeo Puacuteblica ndash New Public Management (NPM) significa

31 Gerencialismo ndash introduccedilatildeo de meacutetodos do setor privado no setor puacuteblico gerenciamento

da praacutetica profissional standards (padrotildees) e mediccedilotildees da performance gestatildeo por resultados

preccedilo e proximidade com o cliente

32 Nova economia institucional ndash introduccedilatildeo da estrutura de incentivos (como competiccedilatildeo de

mercado) na provisatildeo do serviccedilo puacuteblico ndash quase mercado e escolha do cliente

4 Boa Governanccedila ndash o Banco Mundial (BM) realiza empreacutestimos vinculados agrave boa

governanccedila o que envolve um eficiente serviccedilo puacuteblico sistema judicial independente quadro

juriacutedico para cumprir os contratos administraccedilatildeo responsaacutevel dos fundos puacuteblicos auditor

puacuteblico independente respeito agraves leis e aos direitos humanos em todos os niacuteveis de governo

imprensa livre No entanto a eficiecircncia nos serviccedilos puacuteblicos ou a boa governanccedila tambeacutem

encorajam a competiccedilatildeo a privatizaccedilatildeo de empresas puacuteblicas e a descentralizaccedilatildeo

administrativa aumentando o uso de organizaccedilotildees natildeo-governamentais Para o autor a boa

governanccedila estaacute relacionada agrave nova gestatildeo puacuteblica e agrave democracia liberal

5 Governanccedila como sistema sociociberneacutetico ndash resultado de padratildeo ou estrutura que

emerge do sistema social Eacute a interaccedilatildeo a intervenccedilatildeo e o esforccedilo de vaacuterios atores O Paltern

(padratildeo modelo) natildeo pode ser reduzido a um ator ou grupo em particular ldquoborrandordquo as

fronteiras entre o puacuteblico e o privado

6 Governanccedila como redes auto-organizadas ndash descreve vaacuterios atores independentes

envolvidos na execuccedilatildeo de serviccedilos (delivering services) Redes se constituem de organizaccedilotildees

que necessitam de recursos externos (dinheiro informaccedilatildeo expertise) para atingir seus

objetivos maximizar sua influecircncia sobre resultados e evitar tornar-se dependente de outros

intervenientes do jogo Para o autor a governanccedila eacute sobre gestatildeo de redes que natildeo eacute especiacutefica

do setor puacuteblico Redes satildeo formas generalizadas de coordenaccedilatildeo social e gestatildeo

interorganizacional satildeo auto-organizadas autocircnomas e autogovernaacuteveis (RHODES 1996)

Para Rhodes as principais caracteriacutesticas da governanccedila satildeo interdependecircncia entre

organizaccedilotildees mudanccedila nas fronteiras entre puacuteblico privado e setores voluntaacuterios contiacutenua

interaccedilatildeo entre os membros das redes causada pela necessidade de troca de recursos e de

negociar propoacutesitos partilhados interaccedilotildees como jogo baseadas na confianccedila e reguladas por

regras do jogo negociadas e de acordo com os participantes significativo grau de autonomia

perante o Estado jaacute que as redes natildeo prestam contas ao Estado satildeo auto-organizadas Nesse

71

caso questiona-se como ocorre o controle social O autor aponta as redes como uma estrutura

de governo entre mercado e Estado o que remonta ao debate desta tese sobre o puacuteblico natildeo

estatal ou terceiro setor

Para Rhodes (1996) as redes natildeo satildeo mecanismos de governo ou reduzidas a um novo

estilo de gestatildeo do setor puacuteblico mas uma mudanccedila para o accountability democraacutetico A

governanccedila como auto-organizaccedilatildeo em redes eacute uma mudanccedila para a governabilidade pois estas

satildeo autocircnomas e resistem agrave orientaccedilatildeo central Discute-se a concepccedilatildeo de democracia do autor

jaacute que as redes natildeo tecircm representatividade social Eacute importante destacar as redes satildeo entendidas

como sujeitos (individuais e coletivos) em relaccedilatildeo29 com projeto de classe

Ball (2013 p 181) afirma que os membros das redes incorporam e disseminam ldquo[]

narrativas e soluccedilotildees empresariais e empreendedoras para problemas sociais e educacionaisrdquo e

eacute o que vamos analisar adiante neste capiacutetulo como o privado influenciando o conteuacutedo da

educaccedilatildeo

32 O MERCADO NA DEFINICcedilAtildeO DO CONTEUacuteDO DA EDUCACcedilAtildeO

O processo de mercantilizaccedilatildeo ocorre tambeacutem com o privado definindo o conteuacutedo da

educaccedilatildeo Observamos em parte o poder puacuteblico assumindo a loacutegica do privado na

administraccedilatildeo puacuteblica atraveacutes da gestatildeo gerencial e tambeacutem quando abre matildeo de decidir o

conteuacutedo da educaccedilatildeo repassando a direccedilatildeo para instituiccedilotildees privadas Nesse caso a

propriedade permanece puacuteblica mas a direccedilatildeo do conteuacutedo das poliacuteticas educativas eacute repassada

para o setor privado As instituiccedilotildees puacuteblicas se democraacuteticas satildeo permeaacuteveis agrave correlaccedilatildeo de

forccedilas com processos decisoacuterios em que natildeo se tem previamente o controle do produto Satildeo

instituiccedilotildees de propriedade puacuteblica mas se o processo decisoacuterio estaacute ausente jaacute que tudo eacute

previamente definido e monitorado por uma instituiccedilatildeo privada e os professores apenas

executam tarefas entendemos que este tambeacutem eacute um processo de privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

Semelhante processo de privatizaccedilatildeo do puacuteblico tem consequecircncias para a

democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo pois concordamos com Vieira (1998 p 12) quando diz que ldquo[]

natildeo haacute estaacutegio democraacutetico mas haacute processo democraacutetico pelo qual a vontade da maioria ou a

vontade geral vai assegurando o controle sobre os interesses da administraccedilatildeo puacuteblicardquo Afirma

tambeacutem ldquoQuanto mais coletiva a decisatildeo mais democraacutetica ela eacute Qualquer conceito de

29 Sujeitos e relaccedilatildeo na concepccedilatildeo de Thompson (1981)

72

democracia e haacute vaacuterios deles importa em grau crescente de coletivizaccedilatildeo de decisotildeesrdquo

(VIEIRA 1998 p 12)

No entanto a coletivizaccedilatildeo das decisotildees como parte da construccedilatildeo do processo

democraacutetico foi cada vez mais subsumida pelo processo de privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

33 PRIVATIZACcedilAtildeO ENDOacuteGENA ndash O GERENCIALISMO COMO O CONTEUacuteDO DA

PROPOSTA DO PRIVADO NO PUacuteBLICO

Destacamos no segundo capiacutetulo que para a teoria neoliberal todas as relaccedilotildees tecircm a

troca como modelo (BUCHANAN et al 1984) Essas mudanccedilas ocorrem atraveacutes da

disseminaccedilatildeo de valores e praacuteticas de empreendimento empreendedorismo e transposiccedilatildeo do

discurso internacional do gerencialismo Para Clarke e Newman (2012 p 358)

[] mesmo onde os serviccedilos puacuteblicos natildeo foram totalmente privatizados (e muitos

permaneceram no setor puacuteblico) era exigido que tivessem um desempenho como se

estivessem em um mercado competitivo Era exigido que se tornassem semelhantes a

negoacutecios e este ethos era visto como personificado na figura do gerente (em oposiccedilatildeo

ao poliacutetico ao profissional ou ao administrador) Isto introduziu novas loacutegicas de

tomada de decisatildeo que privilegiavam economia e eficiecircncia acima de outros valores

puacuteblicos

Constatamos a correccedilatildeo da anaacutelise de Clarke e Newman atraveacutes do resultado de nossas

pesquisas no sentido de que o material proposto pelas parcerias eacute padronizado e replicaacutevel



Os autores apresentam as caracteriacutesticas do gerencialismo

Ele eacute linear e orientado para um lsquouacutenico objetivorsquo atraveacutes de padronizaccedilatildeo Ele eacute

concebido com objetivos e planos ao inveacutes de intenccedilotildees e julgamentos Eacute sobre accedilatildeo

ao inveacutes de reflexatildeo Ele baseia-se em anaacutelises (dividindo problemas) ao inveacutes de

siacutenteses Ele estabelece fronteiras entre lsquopoliacuteticarsquo e lsquoexecuccedilatildeorsquo lsquoestrateacutegiarsquo e

lsquoimplantaccedilatildeorsquo pensar e agir Ele oferece um discurso teacutecnico que separa o debate de

seus fundamentos poliacuteticos entatildeo o debate sobre meios suplanta o debate sobre fins

(CLARKE NEWMAN 2006 p 148)

Os autores ressaltam que essas caracteriacutesticas fazem com que o gerencialismo seja

instrumental aos objetivos poliacuteticos deste periacuteodo particular do capitalismo

Eacute esta qualidade lsquoteacutecnicarsquo do gerencialismo que o torna atrativo para interesses sociais

e poliacuteticos diversos Em particular sua aplicaccedilatildeo para resolver os problemas de um

lsquoobstrutivorsquo e antiquado modelo de sistema administrativo burocraacutetico engaja apoios

73

tanto de representantes poliacuteticos (prometendo uma implantaccedilatildeo mais efetiva de suas

poliacuteticas) e uma gama de outros pretensos modernizadores (que buscam sistemas de

governo mais racionais) (CLARKE NEWMAN 2006 p 148)

Eacute importante destacarmos que em nossas pesquisas sobre a relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o

privado na educaccedilatildeo fica evidente a justificativa da gestatildeo gerencial com princiacutepios teacutecnicos

E assim surge a questatildeo da produccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do conhecimento mas qual conhecimento

Quem decide o que ensinar e como ensinar

Ball e seu grupo de pesquisa apontam no texto A constituiccedilatildeo da subjetividade docente

no Brasil um contexto global as consequecircncias desses processos para o trabalho e formaccedilatildeo

docente os ldquoDocentes satildeo mobilizados a atender objetivos poliacuteticos a fim de alcanccedilar um

desempenho educativo e a longo prazo favorecer o crescimento econocircmico e reforccedilar a

competitividade globalrdquo (BALL et al 2013 p 10)

Os autores discutem acerca da privatizaccedilatildeo endoacutegena e exoacutegena A privatizaccedilatildeo

endoacutegena ldquo[] envolve a importaccedilatildeo de ideias teacutecnicas e praacuteticas do setor privado a fim de

tornar o setor puacuteblico mais mercadoloacutegico e mais parecido com as empresasrdquo (BALL

YOUDELL 2008 p 14)

[] a privatizaccedilatildeo endoacutegena funciona para produzir novos sentimentos incentivos e

loacutegicas para os professores Esses processos demonstram que haacute efeitos negativos para

o profissionalismo docente em termos de perda de autonomia e autoridade

intensificaccedilatildeo do trabalho desqualificaccedilatildeo e o rompimento das negociaccedilotildees coletivas

pela individuaccedilatildeo (BALL et al 2013 p 14)

A privatizaccedilatildeo exoacutegena estaacute vinculada ao lucro ldquo[] envolve a abertura dos serviccedilos

da educaccedilatildeo puacuteblica para a participaccedilatildeo do setor privado em bases lucrativas e utilizando o

setor privado para planejar gerenciar ou fornecer partes da educaccedilatildeo puacuteblicardquo (BALL

YOUDELL 2008 p 22)

Os autores destacam ainda ldquo[] uma lsquoloacutegicarsquo que relaciona privatizaccedilatildeo endoacutegena e

exoacutegena por meio da qual os movimentos e mudanccedilas incorporados na primeira facilitam a

uacuteltimardquo (BALL YOUDELL 2008 p 22) E mais especificamente quanto agrave formaccedilatildeo

docentes os autores afirmam que

Uma outra caracteriacutestica da desprofissionalizaccedilatildeo e da desqualificaccedilatildeo em termos

mundiais pode ser vista no reducionismo e na lsquoracionalizaccedilatildeorsquo dos cursos de

formaccedilatildeo docente e na abertura para novos tipos de cursos de capacitaccedilatildeo menos

acadecircmicos e mais flexiacuteveis por exemplo lsquoTeach for Americarsquo nos EUA

lsquoTeachFirstrsquo na Inglaterra e mais recentemente lsquoTeach for Allrsquo que estaacute apoiando

iniciativas no Brasil Chile Argentina Israel Liacutebano China Alemanha Estocircnia

Letocircnia Lituacircnia Bulgaacuteria e Austraacutelia (BALL JUNEMANN 2011 KINCHELOE

74

2009) Essas iniciativas removem muito do conteuacutedo teoacuterico e criacutetico da formaccedilatildeo

docente e visam colocar estudantes receacutem graduados os mais bem qualificados em

salas de aula de escolas lsquodesafiadorasrsquo apoacutes poucas semanas de treinamento para um

compromisso de dois anos (BALL et al 2013 p 16-17)

Os autores destacam ainda para os processos de flexibilizaccedilatildeo do trabalho docente que

abrangem a desregulaccedilatildeo do trabalho docente e o pagamento por desempenho

[] a desregulaccedilatildeo do trabalho docente com o concomitante crescimento de vaacuterios

trabalhadores natildeo docentes com baixos salaacuterios assumindo responsabilidades em salas

de aula Na Inglaterra por exemplo desde a deacutecada passada tem havido um grande

aumento no nuacutemero de assistentes de ensino nas escolas com leis relativas ao trabalho

muito flexiacuteveis para a contrataccedilatildeo de pessoal Isso estaacute articulado com as poliacuteticas

governamentais como forma de liberar o tempo dos professores por meio da

transferecircncia de atividades natildeo essenciais para esse pessoal de apoio (BALL et al

2013 p 17)

Eacute o que nossas pesquisas apontam quando a oferta educativa eacute assumida pelo setor

privado com ou sem fins lucrativos como eacute o caso das creches comunitaacuterias programas de

Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos que natildeo contratam professores mas apenas voluntaacuterios ou

os professores satildeo contratados com bolsas e natildeo salaacuterios como eacute o caso do Programa Brasil

Alfabetizado

A flexibilizaccedilatildeo pode igualmente ser vista como a subordinaccedilatildeo docente ao

pagamento por desempenho o que eacute parte de um processo de individualizaccedilatildeo da

privatizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo em que os professores satildeo postos em relaccedilotildees

competitivas uns com os outros ndash como jaacute observado acima ndash e contribui para a

desagregaccedilatildeo do poder poliacutetico e coletivo da profissatildeo docente e de seus sindicatos

(KESSLER PURCELL 1991) Esse processo tem um efeito de desprofissionalizaccedilatildeo

[] (BALL et al 2013 p 18)

Nessa perspectiva concordamos com Liciacutenio Lima quando defende a hipoacutetese de que

vivemos um processo de hiperburocratizaccedilatildeo e que ldquo[] menos Estado e mais competitividade

natildeo significa menor grau de racionalizaccedilatildeo ou seja natildeo afasta necessariamente algumas das

mais centrais dimensotildees da burocracia racionalrdquo (LIMA 2012 p 141) O autor continua ldquo[]

ganham protagonismo teacutecnico-racional os objetivos definidos com rigor a flexibilidade e

75

certeza das tecnologias educacionais a mediccedilatildeo da performance e a rigorosa avaliaccedilatildeo de

pessoas conhecimento teacutecnico atualizado e a accedilatildeo dos peritos []rdquo (LIMA 2012 p 141-142)

Entendemos que a luta do setor privado pela direccedilatildeo da educaccedilatildeo eacute parte de um processo

de correlaccedilatildeo de forccedilas que envolve a definiccedilatildeo do conteuacutedo da educaccedilatildeo de um paiacutes

[] o curriacuteculo nunca eacute uma simples coleccedilatildeo neutra de saberes que se manifesta de

alguma maneira nos textos e aulas de uma naccedilatildeo Forma parte sempre de uma tradiccedilatildeo

seletiva da seleccedilatildeo de parte de algueacutem da visatildeo que um grupo tem do saber legiacutetimo

Se produz a partir de conflitos e tensotildees e compromissos culturais poliacuteticos e

econocircmicos que organizam e desorganizam um povo (APPLE 1995 p 153)

Eacute o que verificamos em nossas pesquisas o privado assumindo a direccedilatildeo das poliacuteticas

educativas e definindo a produccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do conhecimento conforme aponta Young

(2014 p 198)

Para desenvolver um argumento sobre o que significaria o conceito de curriacuteculo

empresto uma ideia de um artigo recente de meu colega David Scott (SCOTT

HARGREAVES 2014) Seu ponto de partida natildeo eacute propriamente o curriacuteculo mas o

aprendizado como a mais baacutesica atividade humana O que torna humano o

aprendizado humano diz ele eacute o fato de que se trata de uma atividade epistecircmica ndash

em outras palavras tem a ver com a produccedilatildeo de conhecimento

Outra questatildeo importante eacute o debate acerca da relaccedilatildeo entre o conteuacutedo da educaccedilatildeo e

o mundo do trabalho jaacute que

Nas uacuteltimas deacutecadas com a revoluccedilatildeo informacional o mundo do trabalho sofreu

profundas mudanccedilas Instaurou-se ndash algo que ainda estaacute em andamento ndash um novo

modelo produtivo caracterizado pela incorporaccedilatildeo cada vez maior da ciecircncia e da

tecnologia agrave produccedilatildeo pela flexibilidade pela descentralizaccedilatildeo pela necessidade de

um giro muito raacutepido dos produtos e por uma produccedilatildeo voltada para o atendimento

de uma demanda mais individualizada (TONET 2012 p 14)

O autor ressalta a relaccedilatildeo dessas mudanccedilas com o curriacuteculo

[] o trabalhador precisa aprender a pensar a resolver problemas novos e imprevistos

precisa ter uma formaccedilatildeo polivalente ou seja uma formaccedilatildeo que lhe permita realizar

76

tarefas diversas e aleacutem disso a transitar com mais facilidade de um emprego a outro pois

a estabilidade jaacute natildeo faz parte desta nova forma de produccedilatildeo (TONET 2012 p 14)

O autor critica ainda os pressupostos que satildeo naturalizados de que o caraacuteter mercantil

da sociedade eacute algo que faz parte da sua proacutepria natureza e de que a funccedilatildeo essencial da

educaccedilatildeo eacute a de preparar os indiviacuteduos para o trabalho

Concordamos com a visatildeo de Goodson (2007) quando diz que o curriacuteculo prescritivo

natildeo estaacute adequado agraves mudanccedilas no mundo do trabalho

Na nova era da organizaccedilatildeo flexiacutevel do trabalho os trabalhadores deparam-se com

atribuiccedilotildees inesperadas aleacutem de tarefas em constantes mudanccedilas [] os cursos com

estudos bem estabelecidos e prescritos por conseguinte tornaram-se inadequados para a

nova ordem de trabalho flexiacutevel O curriacuteculo prescritivo poderia fornecer padrotildees residuais

de reproduccedilatildeo social mas sua crescente disfuncionalidade econocircmica potildee em questatildeo a

sua permanecircncia em virtude dos interesses econocircmicos poderosos e agraves pressotildees globais

[] [] Sendo um lsquoplanejamento possiacutevelrsquo da aprendizagem o curriacuteculo prescritivo eacute

entatildeo totalmente inadequado para a ordem flexiacutevel do trabalho ndash nessa anaacutelise ele estaacute

condenado e requereraacute uma substituiccedilatildeo raacutepida por novas formas de organizaccedilatildeo da

aprendizagem (GOODSON 2007 p 248)

Enfim muitas questotildees surgem deste debate como o conhecimento deve ser

instrumental ao projeto econocircmico da sociedade no sentido da preparaccedilatildeo para o trabalho O

curriacuteculo proposto pelas instituiccedilotildees privadas vinculado agrave loacutegica do mercado estaacute de acordo

com o conhecimento adequado agraves mudanccedilas no mundo do trabalho Ou prepara apenas alguns

para atuar em equipe serem criativos resolverem problemas enquanto a maioria permanece

com um curriacuteculo prescritivo e pouco adequado agraves mudanccedilas natildeo apenas no mundo do trabalho

mas na vida societaacuteria

Verificamos em nossas pesquisas que nas escolas puacuteblicas que satildeo alvo das parcerias

privadas o curriacuteculo proposto eacute padronizado replicaacutevel baacutesico e mais apropriado ao periacuteodo

fordista anterior do que ao periacuteodo atual do capitalismo de acumulaccedilatildeo flexiacutevel Apesar de o

discurso ser de que o privado deve definir o conteuacutedo da educaccedilatildeo por estar associado a uma

concepccedilatildeo de qualidade com paracircmetros de mercado e projeto de desenvolvimento econocircmico

necessitando da educaccedilatildeo como instrumental agrave formaccedilatildeo da matildeo de obra adequada tal proposta

natildeo condiz com a realidade que temos constatado em nossas pesquisas

Hypoacutelito (2010 p 1345) chama a atenccedilatildeo para as implicaccedilotildees desse processo de

privatizaccedilatildeo para a autonomia docente

[] natildeo haacute muito espaccedilo para um aumento de autonomia O que tem ocorrido eacute que o

controle sobre os fins sociais e poliacuteticos da educaccedilatildeo ndash as definiccedilotildees sobre curriacuteculo

e programas sobre o que e como ensinar ndash tem sido cada vez mais transferido das

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professoras para o controle dos gestores dos poliacuteticos e dos interesses econocircmicos

mais amplos

O autor critica a mercantilizaccedilatildeo do pedagoacutegico e os seus efeitos para a formaccedilatildeo

[] o Estado regulador tem sido eficiente em definir suas poliacuteticas educativas e

curriculares submetendo a educaccedilatildeo e as escolas ao mercado tanto em termos de

mercantilizaccedilatildeo dos materiais pedagoacutegicos quanto em termos de meacutetodos de ensinar

com efeitos significativos para a formaccedilatildeo docente e para a formaccedilatildeo de consumidores

ndash docentes e estudantes ndash obtendo sucesso na constituiccedilatildeo de identidades docentes

coadjuvantes com a agenda neoliberal e conservadora (HYPOacuteLITO 2010 p 1353)

Nora Krawczyk (2014) no texto Ensino meacutedio empresaacuterios datildeo as cartas na escola

puacuteblica tambeacutem apresenta uma criacutetica sobre as propostas educativas das escolas de ensino

meacutedio

Essa pseudobusca da eficiecircncia educativa representa o abandono da preocupaccedilatildeo com

a igualdade em pelo menos duas direccedilotildees a primeira eacute a que estabelece uma cisatildeo

entre a inclusatildeo na escola e o direito do cidadatildeo ao conhecimento socialmente

construiacutedo O que se quer de uma escola assim pensada na qual a maioria dos alunos

estaraacute o dia todo na instituiccedilatildeo mas pouco vai aprender Talvez ela seja apenas capaz

de conter lsquocrianccedilas e adolescentes inquietosrsquo afastando-os da rua e das drogas A outra

direccedilatildeo de abandono da preocupaccedilatildeo com a igualdade se daacute ao sepultar o conceito de

escola puacuteblica como espaccedilo de integraccedilatildeo e universalidade que deveria ser valorizado

e requerido por toda a sociedade Ou seja assume-se que ela eacute para os pobres que

estaacute reservada para quem natildeo pode pagar a escola particular Ir por esse caminho

significa derrubar a uacuteltima possibilidade de confrontar o apartheid social brasileiro

significa renunciar a qualquer tentativa de construir uma sociedade menos injusta e

desigual Ensino meacutedio empresaacuterios datildeo as cartas na escola puacuteblica (KRAWCZYK

2014 p 37)

O trabalho eacute uma dimensatildeo importante da formaccedilatildeo humana apesar de natildeo ser a uacutenica

Por isso a concepccedilatildeo de trabalho e de mundo do trabalho tambeacutem estaacute em disputa quando

discutimos o conteuacutedo da educaccedilatildeo Ressaltamos aqui que nem a concepccedilatildeo que o proacuteprio

capital propotildee estaacute sendo trabalhada como o prometido nas parcerias

Todos esses processos apresentam profundas consequecircncias para o trabalho docente

tanto maior quando o setor privado assume a execuccedilatildeo quanto a direccedilatildeo Na execuccedilatildeo da oferta

principalmente atraveacutes da precarizaccedilatildeo dos contratos docentes e as peacutessimas condiccedilotildees de

trabalho em que os professores recebem baixos salaacuterios ou bolsas como verificamos em nossas

pesquisas com o Programa Brasil Alfabetizado as creches comunitaacuterias e programas de

educaccedilatildeo profissional Quando o privado assume a direccedilatildeo a principal consequecircncia eacute a

mercantilizaccedilatildeo do conteuacutedo da educaccedilatildeo e um enorme desrespeito ao trabalho docente quando

seu material de aula jaacute vem determinado por outrem como apontamos neste texto com as

parcerias dos Institutos com escolas puacuteblicas No caso das parcerias os Institutos tambeacutem

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assumem a formaccedilatildeo de professores com conteuacutedo prescritivo e vinculado ao mercado como

a gestatildeo para resultados proposta pelo Instituto Unibanco como veremos no capiacutetulo 5 No

proacuteximo capiacutetulo apresentaremos como esse processo de privatizaccedilatildeo do puacuteblico estaacute se

materializando na educaccedilatildeo baacutesica no Brasil


NA EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA NO BRASIL

As redefiniccedilotildees no papel do Estado implicam o processo de democratizaccedilatildeo e a

minimizaccedilatildeo de direitos universais e de qualidade para todos o que traz consequecircncias para as

populaccedilotildees de todo o mundo no entanto em paiacuteses que viveram ditaduras e um processo

recente de luta por direitos materializados em poliacuteticas o processo de privatizaccedilatildeo eacute ainda mais

danoso

No Brasil o Estado foi historicamente vinculado aos interesses privados

(FERNANDES 1987 VIEIRA 1998 PIRES 2015 CURY 2003) Apoacutes o uacuteltimo periacuteodo de

ditadura a partir de meados dos anos 1980 entrou na pauta da sociedade mesmo que de forma

tiacutemida o processo de democratizaccedilatildeo participaccedilatildeo coletivizaccedilatildeo das decisotildees assim como

direitos sociais materializados em poliacuteticas Ao mesmo tempo os processos de neoliberalismo

reestruturaccedilatildeo produtiva e financeirizaccedilatildeo redefiniam o papel do Estado para com as poliacuteticas

sociais com um diagnoacutestico de crise fiscal e reduccedilatildeo de custos conforme analisamos no

segundo capiacutetulo Assim ocorreram avanccedilos inegaacuteveis no acesso agrave educaccedilatildeo no entanto com

os ldquorecursos possiacuteveisrdquo e muitas vezes em detrimento de salaacuterios e condiccedilotildees de trabalho dos

profissionais da educaccedilatildeo A ampliaccedilatildeo de direitos pela universalizaccedilatildeo do acesso inclusatildeo de

alunos com necessidades especiais maior participaccedilatildeo na vida escolar natildeo foi seguida de

condiccedilotildees materiais com a mesma intensidade das mudanccedilas

Vivemos a contradiccedilatildeo de que ao mesmo tempo em que a privatizaccedilatildeo do puacuteblico eacute

cada vez maior tambeacutem em um processo de correlaccedilatildeo de forccedilas estamos avanccedilando

lentamente em alguns direitos materializados em poliacuteticas educacionais Trata-se de direitos

que foram reivindicados no processo de democratizaccedilatildeo nos anos 1980 e materializados em

parte na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 como a

gestatildeo democraacutetica da educaccedilatildeo a educaccedilatildeo baacutesica entendida como educaccedilatildeo infantil

fundamental e meacutedia a gratuidade da educaccedilatildeo puacuteblica entre outros

Ao mesmo tempo nos anos 1990 o Brasil viveu um processo difiacutecil para a

democratizaccedilatildeo entendida como materializaccedilatildeo de direitos em poliacuteticas sociais e tambeacutem

como a coletivizaccedilatildeo das decisotildees pois na primeira eleiccedilatildeo direta apoacutes o periacuteodo ditatorial

que iniciou em 1964 foi eleito pelo voto direto o presidente Fernando Collor de Mello que

representava assumidamente o projeto neoliberal para o Brasil com o discurso da modernizaccedilatildeo

e de que o Paiacutes seria competitivo em niacutevel internacional Apesar do processo de impeachment

que afastou o presidente ter levado novamente agraves ruas os movimentos sociais os governos que

80

o seguiram tinham o ajuste fiscal como meta principal com seacuterias consequecircncias para as

poliacuteticas sociais Vivemos entatildeo o que chamamos em nossas pesquisas de um processo de

ldquonaturalizaccedilatildeo do possiacutevelrdquo (PERONI 2013a) isto eacute a populaccedilatildeo que mal tinha iniciado a luta

por direitos sociais para todos e com qualidade acaba aceitando poliacuteticas focalizadas ldquopara

evitar o caos socialrdquo priorizando populaccedilotildees em vulnerabilidade social e nem sempre

oferecidas pelo poder puacuteblico

Entre os principais interlocutores do governo federal nos anos 1990 estava o Instituto

Herbert Levy que apresentou a sua proposta de educaccedilatildeo para o governo brasileiro em 1992 Eacute

interessante destacar que a elaboraccedilatildeo da proposta contou jaacute na eacutepoca com o apoio do MEC

atraveacutes da organizaccedilatildeo do Seminaacuterio Ensino Fundamental amp Competitividade Empresarial

promovido nos dias 3 e 4 de agosto de 1992 As propostas desse Seminaacuterio enviadas agrave

Secretaria de Ensino Fundamental do MEC foram implementadas na iacutentegra

O Seminaacuterio realizado em parceria entre o Instituto Herbert Levy e o MEC tinha como

objetivo a elaboraccedilatildeo de uma proposta para accedilatildeo do governo Nesse sentido o evento gerou um

documento que continha um diagnoacutestico da situaccedilatildeo agrave eacutepoca da escola puacuteblica fundamental

concluindo que o problema natildeo seria a evasatildeo mas a repetecircncia portanto ele seria de qualidade

natildeo de quantidade Apresentou ainda estudos sobre as reformas educativas do Chile e da

Inglaterra paiacuteses que na eacutepoca eram paradigmaacuteticos do ideaacuterio neoliberal

No caso da Inglaterra o documento menciona a ldquo[] mistura de centralizaccedilatildeo de

algumas decisotildees (financiamento e controle de qualidade) concomitantemente agrave autonomia da

escola e ao enfraquecimento das instacircncias intermediaacuteriasrdquo (OLIVEIRA CASTRO 1993 p

69) Outra caracteriacutestica da Reforma Inglesa destacada pelo documento eacute a de que as decisotildees

sobre o curriacuteculo foram centralizadas pelo governo sendo que o ldquo[] Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

e Ciecircncia passou a ter papel ativo no estabelecimento de diretrizes e orientaccedilotildees curricularesrdquo

(OLIVEIRA CASTRO 1993 p 69) estando o curriacuteculo diretamente vinculado agrave Avaliaccedilatildeo

ldquoOs procedimentos de avaliaccedilatildeo se destinam a medir os objetivos definidos nos programas de

estudo do curriacuteculo nacionalrdquo (OLIVEIRA CASTRO 1993 p 71) A avaliaccedilatildeo por sua vez

estaacute vinculada diretamente agrave competiccedilatildeo ldquo[] a competiccedilatildeo das escolas por uma reputaccedilatildeo

possibilitada pela publicaccedilatildeo dos resultados da avaliaccedilatildeo se torna um dos pilares dessa nova

estrateacutegiardquo (OLIVEIRA CASTRO 1993 p 75) Foi o que verificamos na deacutecada de 1990 no

Brasil (PERONI 2003) em que os eixos da educaccedilatildeo foram os paracircmetros curriculares

nacionais a avaliaccedilatildeo institucional30 e o financiamento da educaccedilatildeo

30 Sobre Avaliaccedilatildeo ver Werle 2012 Peroni 2009 Sousa 2003 Sousa Oliveira 2003

81

O documento ressalta o financiamento e a avaliaccedilatildeo como os pilares dessas reformas

ldquo[] duas caracteriacutesticas satildeo marcantes nos dois casos primeiro a definiccedilatildeo de recursos dentro

de criteacuterios universalistas e expliacutecitos segundo a implementaccedilatildeo de mecanismos de controle

de qualidaderdquo (OLIVEIRA CASTRO 1993 p 67)

O estabelecimento de um sistema de controle de qualidade (Avaliaccedilatildeo Institucional)

e o estabelecimento de um mecanismo objetivo e universalista de arrecadaccedilatildeo e

repasse de recursos miacutenimos para assegurar os insumos baacutesicos necessaacuterios para a

operaccedilatildeo eficaz e eficiente das escolas dentro das atuais condiccedilotildees da economia

brasileira cujos recursos permitem segundo estimativas alocar 300 doacutelares por ano

nas escolas puacuteblicas de primeiro grau (OLIVEIRA CASTRO 1993 p 6)

Essas propostas31 conforme pesquisamos foram acatadas na iacutentegra pelo governo

Fernando Henrique Cardoso (PERONI 2003) Fazia parte tambeacutem a recomendaccedilatildeo de que

natildeo se esperasse pela LDB que na eacutepoca estava em debate para a implementaccedilatildeo das accedilotildees

Tal mateacuteria deve ser prioritaacuteria na futura Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional mas natildeo precisa esperar por ela Conforme a realidade de cada regiatildeo por

via de negociaccedilatildeo portarias ou outros instrumentos o MEC pode tomar decisotildees

firmes e claramente instituiacutedas para a partilha de responsabilidades e para o

financiamento da educaccedilatildeo (OLIVEIRA CASTRO 1993 p 61)

Essa sugestatildeo foi acatada pelo Executivo que elaborou ainda em 1995 a proposta de

Emenda Constitucional 233 que estabeleceu o Fundef aprovada como Emenda Constitucional

1496

Outro item que merece destaque no documento do Instituto Herbert Levy para a

educaccedilatildeo diz respeito agrave importacircncia da educaccedilatildeo para a competitividade empresarial

[] numa eacutepoca em que o saber se transformou na mola mestra de todo o processo

produtivo qualquer esforccedilo para melhorar a competitividade nacional tende ao

fracasso se a maacutequina geradora deste saber que eacute o sistema educacional natildeo

apresentar uma eficaacutecia compatiacutevel com as exigecircncias da nova era (OLIVEIRA

CASTRO 1993 p 6)

Dessa forma os empresaacuterios propunham participar ativamente da elaboraccedilatildeo das

poliacuteticas educacionais influenciando mais as poliacuteticas do que gerindo diretamente as escolas

[] os empresaacuterios sabem muito bem que natildeo podem cuidar melhor das escolas do

que o governo ou ao inveacutes do governo Esta natildeo eacute sua responsabilidade sua missatildeo e

muito menos sua intenccedilatildeo A participaccedilatildeo do empresaacuterio eacute contudo extremamente

31 OLIVEIRA CASTRO (1993) Ensino fundamental e competitividade empresarial ver p 29 a 40

82

importante Aleacutem de familiarizaacute-lo com o trato das questotildees da educaccedilatildeo e da escola

complementa a accedilatildeo do governo queimando em defesa de seus proacuteprios

interesses econocircmicos etapas do processo de otimizaccedilatildeo do ensino brasileiro

(grifo nosso) (OLIVEIRA CASTRO 1993 p 6)

Verificamos que a decisatildeo de participar de forma mais contundente na direccedilatildeo e

execuccedilatildeo das poliacuteticas educacionais jaacute havia iniciado naquela eacutepoca de forma organizada pelos

empresaacuterios que jaacute propunham participar ativamente da elaboraccedilatildeo das poliacuteticas educacionais

influenciando mais as poliacuteticas do que gerindo diretamente as escolas Tal processo se

intensificou na deacutecada seguinte com a organizaccedilatildeo do Movimento Todos pela Educaccedilatildeo (MTE)

Retornaremos ao Movimento Todos pela Educaccedilatildeo quando tratarmos ao longo do capiacutetulo dos

processos de direccedilatildeo e execuccedilatildeo de privatizaccedilatildeo do puacuteblico nas etapas da educaccedilatildeo baacutesica que

eacute tema de nossas pesquisas recentes

Destacamos ainda que nos anos 1990 ocorreu um processo de focalizaccedilatildeo no ensino

fundamental em detrimento da educaccedilatildeo infantil e ensino meacutedio quebrando assim a ideia de

educaccedilatildeo baacutesica que permaneceu apenas na Constituiccedilatildeo Federal Soacute em 2007 com a criaccedilatildeo

do Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de Valorizaccedilatildeo dos

Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) a educaccedilatildeo baacutesica retorna em parte agrave pauta mas a sua

efetivaccedilatildeo ocorreraacute ateacute 2016 quando o poder puacuteblico seraacute obrigado a oferecer a educaccedilatildeo de 4

a 17 anos para todos (BRASIL 2009) No entanto entendemos que a educaccedilatildeo baacutesica natildeo seraacute

totalmente obrigatoacuteria jaacute que as creches ainda natildeo foram contempladas

No iniacutecio do capiacutetulo ressaltamos que estamos vivenciando no Brasil um processo de

avanccedilo no direito agrave educaccedilatildeo ao mesmo tempo em que avanccedilamos nos processos de

privatizaccedilatildeo Escolhemos trecircs casos nesse sentido por julgarmos significativos do avanccedilo da

democratizaccedilatildeo entendido como a materializaccedilatildeo dos direitos em poliacuteticas ocorridos no

periacuteodo poacutes abertura poliacutetica e incrementado nas duas uacuteltimas deacutecadas satildeo eles o incremento

na oferta da educaccedilatildeo baacutesica o Plano de Desenvolvimento da EducaccedilatildeoPlano de Accedilotildees

Articuladas e o processo de construccedilatildeo de um Sistema Nacional de Educaccedilatildeo Nos proacuteximos

itens trataremos desses trecircs temas e posteriormente apresentaremos dados da nossa pesquisa

sobre os aspectos de privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo que contraditoriamente em um processo de

correlaccedilotildees de forccedilas conforme tratamos teoricamente em capiacutetulos anteriores no Brasil pelas

caracteriacutesticas de sua recente democratizaccedilatildeo ocorreram simultaneamente

83

41 A OFERTA

A oferta foi ampliada para quem historicamente natildeo teve acesso e essa ampliaccedilatildeo

ocorreu na escola puacuteblica A seguir apresentaremos tabelas da seacuterie histoacuterica do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE)32 com dados de analfabetismo analfabetismo

funcional taxa de escolarizaccedilatildeo taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental e meacutedio

que demonstram que neste periacuteodo histoacuterico de democratizaccedilatildeo o acesso agrave educaccedilatildeo ampliou

no periacuteodo em alguns casos de forma mais expressiva como no ensino fundamental que foi

priorizado durante a deacutecada de 1990

Tabela 1 ndash Taxa de analfabetismo ndash 1995-2009

Periacuteodo 15 anos ou mais

1995 156

1996 147

2004 114

2007 102

2008 10

2009 97

Fonte IBGE Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios 19922007 seacuteries estatiacutesticas Disponiacutevel em

lthttpseriesestatisticasibgegovbracessogt Acesso em 03 out 2015

A taxa de analfabetismo diminuiu no periacuteodo no entanto a taxa de analfabetismo

funcional apesar tambeacutem ter sido reduzida eacute expressivamente superior

Tabela 2 ndash Taxa de analfabetismo funcional ndash 1995-2009

Periacuteodo Taxa de analfabetismo funcional

2001 273

2002 26

2003 248

2004 244

2005 235

2006 222

2007 217

2008 21

32 Apresentamos os dados disponiacuteveis ateacute o momento no IBGE que variam no periacuteodo de abrangecircncia em cada

seacuterie histoacuterica a ser apresentada

84


2009 203



Tabela 3 ndash Pessoas de 10 anos ou mais de idade por anos de estudo 2001-2011

Periacuteodo

Sem

instruccedilatildeo

e menos

de 1 ano

1 a 3

anos

4 a 7

anos

8 a 10

anos

11 a 14

anos

15 anos

ou mais

Natildeo

determinados

e sem

declaraccedilatildeo

2001 1265 1651 3312 1564 1695 474 039

2002 1187 1576 3295 1572 1837 499 035

2003 1153 1484 3216 1635 1958 524 03

2004 114 1453 3147 1645 2046 543 028

2005 1091 1414 3119 1636 2154 558 027

2006 1024 1357 308 1644 2271 605 019

2007 1017 1339 2935 1696 2349 644 -

2008 1021 1266 2823 1721 2464 688 -

2009 968 1262 2806 1652 2557 74 -

2011 1148 1049 2551 1735 2696 809 -



Conforme dados do IBGE em 2007 a taxa de escolarizaccedilatildeo era de 8641 para a

populaccedilatildeo de 5 ou 6 anos 9767 de 7 a 14 anos 9813 de 7 a 9 anos 9741 de 10 a 14

anos e 8235 entre 15 e 17 anos Para melhor visualizarmos como ocorreu em uma seacuterie

histoacuterica segue o quadro do IBGE de 1992 a 2007

Tabela 4 ndash Taxa de escolarizaccedilatildeo 5 a 17 anos ndash 1992-2007

Periacuteodo 5 ou 6 anos 7 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 17 anos

1992 5391 8753 8603 5967

1993 577 8904 8835 6192

1995 6379 9099 8978 6659

1996 6377 9176 9097 6947

1997 6659 9314 9291 7327

1998 6909 9505 9451 7646

1999 7096 9622 954 7851

2001 7623 9694 9619 8109

2002 7717 9717 968 8147

85


2003 7869 9729 9712 8236

2004 8183 9761 9692 8218

2005 822 9788 9717 8198

2006 8529 9837 9736 825

2007 8641 9813 9741 8235



Apresentaremos tambeacutem a taxa de 7 a 14 anos pois foram os anos focalizados pelas

poliacuteticas educacionais no periacuteodo atraveacutes do FUNDEF e demais poliacuteticas dessa eacutepoca


Periacuteodo 7 a 14 anos

1992 8659

1993 886

1995 9022

1996 9126

1997 9299

1998 947

1999 9569

2001 9646

2002 9694

2003 9719

2004 9719

2005 9743

2006 9773

2007 9767



Atraveacutes da taxa liacutequida de escolarizaccedilatildeo verificamos um aumento na taxa do

fundamental e meacutedio ao longo dos 20 anos de 1980 a 2000 entretanto ressaltamos a brutal

diferenccedila entre as taxas do ensino fundamental e meacutedio E que ainda tem 233 de alunos

fora da escola no ensino fundamental

86

Tabela 6 ndash Taxa Liacutequida de Escolarizaccedilatildeo fundamental e meacutedio ndash 1980-2000

Periacuteodo Fundamental Meacutedio

1980 801 143

1991 838 176

1994 875 208

1998 953 308

1999 954 326

2000 943 333



Observamos que segundo os dados no ensino fundamental e meacutedio a oferta permanece

puacuteblica com 8426 das matriacuteculas no ensino fundamental (EF) e 8675 no ensino meacutedio

(EM) e em instituiccedilotildees privadas haacute apenas 1573 no EF e 1325 no EM A oferta

permanece sendo majoritariamente puacuteblica sendo que a privatizaccedilatildeo ocorreu no que chamamos

de ldquoconteuacutedo da propostardquo com a loacutegica mercantil no pedagoacutegico e na organizaccedilatildeo da escola

puacuteblica como apresentaremos a seguir

A luta pela universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo foi acompanhada de um importante debate com

algumas poliacuteticas jaacute implantadas sobre as especificidades como educaccedilatildeo indiacutegena educaccedilatildeo

do campo aleacutem disso as questotildees de gecircnero e sexualidade foram incorporadas assim como a

luta contra o racismo e a homofobia Foi criada uma secretaria no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo a

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo (SECADI) que

apresenta poliacuteticas mais especiacuteficas para contemplar essas reivindicaccedilotildees

A gestatildeo democraacutetica duramente conquistada na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 eacute parte

do processo de aprendizagem da participaccedilatildeo e estaacute em disputa com a gestatildeo gerencial33 ou

outras formas de gestatildeo historicamente vinculadas ao mercado Ela eacute parte do projeto de

construccedilatildeo da democratizaccedilatildeo da sociedade brasileira Portanto a construccedilatildeo do projeto

poliacutetico-pedagoacutegico a participaccedilatildeo em conselhos a eleiccedilatildeo para diretores a autonomia

financeira satildeo processos pedagoacutegicos de aprendizagem da democracia tanto para a comunidade

escolar quanto para a comunidade em geral porque a participaccedilatildeo eacute um longo processo de

construccedilatildeo

33 Sobre gestatildeo democraacutetica e gestatildeo gerencial ver Peroni (2012) Paro (2012)

87

A seguir apresentaremos outro item que assim como o aumento da oferta da educaccedilatildeo

baacutesica tambeacutem materializa em parte o processo de ampliaccedilatildeo da esfera puacuteblica na educaccedilatildeo

mesmo com todas as contradiccedilotildees e limites do PDEPAR

42 PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO ndash PDE

O Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (PDE) foi lanccedilado em 2007 pelo Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo com o objetivo de promover a melhoria da qualidade da educaccedilatildeo puacuteblica

brasileira Esse Plano conteacutem um Plano de Metas34 em que os estados e municiacutepios elaboram

os seus planos de accedilatildeo PAR (Plano de Accedilotildees Articuladas) com base no diagnoacutestico de suas

necessidades35

O Ministeacuterio prevecirc accedilotildees de assistecircncia teacutecnica eou financeira que podem ser

solicitadas pelos municiacutepios em seus respectivos Planos aleacutem de subaccedilotildees com execuccedilatildeo pelo

proacuteprio municiacutepio Satildeo quatro dimensotildees que se dividem em indicadores e aacutereas A dimensatildeo

1 trata da gestatildeo educacional a dimensatildeo 2 da Formaccedilatildeo de professores e de profissionais de

serviccedilo e apoio escolar a dimensatildeo 3 das Praacuteticas Pedagoacutegicas e Avaliaccedilatildeo e a dimensatildeo 4

da infraestrutura fiacutesica e recursos pedagoacutegicos Eacute importante destacar que essas dimensotildees das

questotildees mais relevantes da educaccedilatildeo como a formaccedilatildeo de professores a praacutetica pedagoacutegica e

avaliaccedilatildeo a gestatildeo enfim pontos definidores da poliacutetica educacional do Paiacutes

O Decreto nordm 6094 de 24 de abril de 2007 apresenta o Plano de Metas Compromisso

Todos Pela Educaccedilatildeo o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica (IDEB) e o Plano de

Accedilotildees Articuladas (PAR)

Conforme o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo o Plano de Metas Compromisso Todos pela

Educaccedilatildeo ldquo[] inaugurou um novo regime de colaboraccedilatildeo conciliando a atuaccedilatildeo dos entes

federados sem lhes ferir a autonomia envolvendo primordialmente a decisatildeo poliacutetica a accedilatildeo

teacutecnica e atendimento da demanda educacional visando agrave melhoria dos Indicadores

educacionaisrdquo (BRASIL 2007 online)

O Decreto no seu segundo artigo apresenta 28 diretrizes que apontam para a

participaccedilatildeo da Uniatildeo por participaccedilatildeo direta ou incentivo e apoio para a execuccedilatildeo por parte

34 Ver Farenzena (2012)

35 Sobre o processo de implantaccedilatildeo do PARPDE ver Camini (2010 2014) sobre a responsabilizaccedilatildeo vinculada

ao PDE ver Adriatildeo Garcia (2008)

88

dos entes federados citaremos apenas as que tratam diretamente da relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o

privado que eacute tema desta tese

I - estabelecer como foco a aprendizagem apontando resultados concretos a atingir

XXVII - firmar parcerias externas agrave comunidade escolar visando a melhoria da

infraestrutura da escola ou a promoccedilatildeo de projetos socioculturais e accedilotildees

educativas

XXVIII - organizar um comitecirc local do Compromisso com representantes das

associaccedilotildees de empresaacuterios trabalhadores sociedade civil Ministeacuterio Puacuteblico

Conselho Tutelar e dirigentes do sistema educacional puacuteblico encarregado da

mobilizaccedilatildeo da sociedade e do acompanhamento das metas de evoluccedilatildeo do IDEB

(BRASIL 2007 p 1 grifos da autora)

Destacamos alguns pontos como a aprendizagem como resultado na primeira diretriz

assim como o fomento agraves parcerias privadas e a presenccedila de representantes das associaccedilotildees de

empresaacuterios no comitecirc local

A partir da adesatildeo ao Plano de Metas os estados os municiacutepios e o Distrito Federal

passaram agrave elaboraccedilatildeo de seus respectivos Planos de Accedilotildees Articuladas (PAR) ldquoArt 9ordm O PAR

eacute o conjunto articulado de accedilotildees apoiado teacutecnica ou financeiramente pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo que visa o cumprimento das metas do Compromisso e a observacircncia das suas

diretrizesrdquo (BRASIL 2007 p 4)

O Decreto aponta ainda no paraacutegrafo segundo do artigo nono que o ente federado

deveraacute elaborar o plano de Accedilotildees Articuladas com base em um diagnoacutestico com auxiacutelio de

equipe teacutecnica ldquo[] que identificaraacute as medidas mais apropriadas para a gestatildeo do sistema com

vista agrave melhoria da qualidade da educaccedilatildeo baacutesicardquo (BRASIL 2007 p4)

O Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica (IDEB) eacute calculado a partir dos dados

sobre rendimento escolar combinado com o desempenho dos alunos constantes do censo

escolar com os resultados da Prova Brasil O Ministeacuterio da Educaccedilatildeo passou a priorizar os

municiacutepios e escolas com os mais baixos iacutendices o que consideramos um avanccedilo no contexto

atual em que a avaliaccedilatildeo era utilizada como instrumento de premiaccedilatildeo e competitividade como

ressaltei em trabalho anterior sobre Avaliaccedilatildeo

Ao contraacuterio dos outros testes o IDEB tem se traduzido em um paracircmetro para o

investimento em escolas e sistemas puacuteblicos de educaccedilatildeo de acordo com suas

necessidades Resta discutir o conteuacutedo da intervenccedilatildeo estatal que ainda tem muito a

avanccedilar principalmente na gestatildeo democraacutetica da educaccedilatildeo tanto no que se refere agrave

proposta de gestatildeo do PDE escola que lsquotomou emprestadarsquo do FUNDESCOLA uma

concepccedilatildeo gerencial de gestatildeo escolar quanto no fomento agraves parcerias com instituiccedilotildees

privadas definindo a educaccedilatildeo puacuteblica que satildeo grandes problemas a serem enfrentados

Assim temos um avanccedilo na concepccedilatildeo de avaliaccedilatildeo diagnoacutestica e o poder puacuteblico como

o responsaacutevel pela qualidade da educaccedilatildeo propondo poliacuteticas para solucionar os problemas

89

detectados mas ainda com limites importantes de serem pontuados jaacute que esta poliacutetica

estaacute em processo de construccedilatildeo (PERONI 2009 p 296)

As accedilotildees do Plano foram inicialmente encaminhadas aos municiacutepios que apresentavam

baixo IDEB Estes devem elaborar um Plano de Accedilotildees Articuladas (PAR) que preveja

assistecircncia teacutecnica e financeira da Uniatildeo Conforme o Decreto no art 8ordm ldquoAs adesotildees ao

Compromisso nortearatildeo o apoio suplementar e voluntaacuterio da Uniatildeo agraves redes puacuteblicas de

educaccedilatildeo baacutesica dos Municiacutepios Distrito Federal e Estados []rdquo (BRASIL 2007 p 3)

43 O GUIA DE TECNOLOGIAS E AS PARCERIAS COM O SETOR PRIVADO

O Decreto apresenta o Guia de Tecnologias36 que certifica instituiccedilotildees inclusive

privadas para realizarem parcerias com sistemas puacuteblicos o que eacute objeto de nossa investigaccedilatildeo

sect4ordm O Ministeacuterio da Educaccedilatildeo promoveraacute adicionalmente a preacute-qualificaccedilatildeo de

materiais e tecnologias educacionais que promovam a qualidade da educaccedilatildeo baacutesica

os quais seratildeo posteriormente certificados caso apoacutes avaliaccedilatildeo verifique-se o

impacto positivo na evoluccedilatildeo do IDEB onde adotados (BRASIL Decreto nordm

60942007)

O Guia eacute um exemplo de influecircncia do setor vinculado ao mercado vendendo

tecnologias educacionais que chegam agraves escolas puacuteblicas atraveacutes do Plano solicitado pelos

municiacutepios em quatro dimensotildees gestatildeo educacional formaccedilatildeo de professores e de

profissionais de serviccedilo e apoio escolar Praacuteticas Pedagoacutegicas e Avaliaccedilatildeo infraestrutura fiacutesica

e recursos pedagoacutegicos

Questionamos se a ldquocesta de produtosrdquo ofertados realmente estaacute de acordo com as

necessidades da escola ou se a escola deve se adaptar ao que eacute oferecido se quiser alguma

forma de ajuda governamental para seus problemas Eacute importante destacar que tratam das


avaliaccedilatildeo a gestatildeo enfim pontos definidores do curriacuteculo em um paiacutes no qual o poder puacuteblico

fomenta a parceria com instituiccedilotildees privadas como podemos observar no quadro abaixo

36 Entende-se por tecnologia educacional as praacuteticas meacutetodos ou teacutecnicas de ensino acompanhadas de aparatos

aparelhos ou ferramentas instrumentais inclusive jaacute em uso por redes ou estabelecimentos de ensino que

apresentem potencial impacto positivo na melhoria da qualidade da educaccedilatildeo baacutesica puacuteblica a serem

empregadas como mecanismo de apoio aos sistemas de ensino e aos processos de ensino-aprendizagem

desenvolvidos em sala de aula

90

Quadro 3 ndash Guia de Tecnologias Educacionais 2009 e 20112012

Item Categoria Tecnologia

desenvolvida

pelo MEC

Tecnologia

externa ao MEC

Total

2009 2011 2009 2011 2009 2011

1 Gestatildeo da Educaccedilatildeo 09 11 06 07 15 18

2 Ensino Aprendizagem 04 09 51 51 55 60

3 Formaccedilatildeo dos profissionais da

educaccedilatildeo

10 12 14 15 24 22

4 Educaccedilatildeo Inclusiva 06 11 01 01 07 12

5 Portais Educacionais 04 05 02 11 16 16

6 Diversidade e Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos

10 17 07 11 17 28

7 Educaccedilatildeo Infantil - - - 08 - 08

8 TOTAL 43 65 91 104 134 169

Fonte Rossi Bernardi Uczak (2013)

Dentre as categorias do Guia destacamos o Ensino Aprendizagem no qual a incidecircncia

das tecnologias externas ao MEC eacute predominante Sacristan (1998) adverte sobre a importacircncia

de quem decide o conteuacutedo da educaccedilatildeo puacuteblica ldquo[] penso que discutir sobre a existecircncia ou

ausecircncia de controle sobre o curriacuteculo natildeo leva a parte alguma por que me parece impensaacutevel

que este controle natildeo exista dados os estreitos laccedilos que os sistemas escolares mantecircm com o

sistema socialrdquo Para o autor ldquo[] o problema reside em estabelecer quem realiza o controle e

atraveacutes de que mecanismosrdquo (SACRISTAN 1998 p 97)

Eacute interessante destacar que programas muito importantes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

como o Curso de Especializaccedilatildeo Escola de Gestores que forma diretores e coordenadores

pedagoacutegicos ou o Programa de Capacitaccedilatildeo dos Conselheiros Escolares dividem o Guia com

jornais kits lousas laboratoacuterios e o que eacute pior assessorias privadas de caraacuteter gerencialista

contrariando o princiacutepio constitucional da gestatildeo democraacutetica Ao ler o Guia transparece a ideia

de uma grande cesta de produtos em que os municiacutepios escolhem de acordo com suas

necessidades natildeo destacando se satildeo programas parte de poliacuteticas estrateacutegicas para a formaccedilatildeo

dos profissionais da educaccedilatildeo ou natildeo

Ressaltamos ainda o fortalecimento da relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado atraveacutes do

Plano via Guia de tecnologias com a presenccedila de empresaacuterios do Movimento Todos pela

Educaccedilatildeo na venda de tecnologias Conforme Bernardi Uczak e Rossi (2015) os mesmos

sujeitos do movimento empresarial Todos pela Educaccedilatildeo satildeo agentes e interlocutores no setor

puacuteblico junto ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo tornando-se clientes do Estado ao ofertarem produtos

91

no Guia de Tecnologia ou recomendaccedilotildees Os autores apresentam37 o conselho de governanccedila

e as instituiccedilotildees conforme a figura 1

Figura 1 ndash Sujeitos Individuais e Coletivos e Relaccedilotildees com o Guia de Tecnologias

Fonte Bernardi Uczak Rossi (2015 p 65)

Entendemos que o Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo avanccedila na presenccedila do

Estado na execuccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo pois historicamente a Uniatildeo natildeo esteve presente na

educaccedilatildeo baacutesica o que constitui um ganho representativo para a democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

mas por outro lado o Plano tem fomentado as parcerias de instituiccedilotildees privadas com os

sistemas puacuteblicos de educaccedilatildeo o que eacute um grande problema para a democratizaccedilatildeo jaacute que eles

trazem a loacutegica de mercado para o sistema puacuteblico atraveacutes da gestatildeo gerencial da diminuiccedilatildeo

37 Os autores advertem que o quadro apresenta somente a oferta direta de tecnologias Haacute ainda uma seacuterie de

apoios e parcerias entre os sujeitos

Beatriz Johannpeter

Joseacute Roberto Marinho

Daniel Feffer

Antonio Jacinto Matias

Danilo Santos de Miranda

Ana Maria dos S Diniz

Luiacutes Norberto Pascoal

Denise Aguiar Alvarez

Fernatildeo Bracher

Joseacute Francisco Soares

Joseacute Paulo Soares Martins

Luiz Paulo Saade Montenegro

Viviane Senna

Milu Vilella

Wanda Engel Aduan

Conselho de Governanccedila

Instituto Paulo Montenegro

Acelera

Dir Fund Roberto Marinho

Inst Brasil Voluntaacuterio

Pres Faccedila Parte

Instituto Ayrton Senna

Instituto Unibanco

Grupo Patildeo de Accediluacutecar

Fund Itauacute Social

Instituto Gerdau

Suzano Holding SA

SESCSP Div Regional

Dir Fund Bradesco

Itauacute - BBA

Cons Consultivo INEP e Cons Tec

INEE Dir Inst

Gerdau

Pres Grupo DrsquoPaschoal e Fun Educar DrsquoPaschoal

Circuito Campeatildeo Se liga Jovem de

Futuro

GTE Gestatildeo da Educaccedilatildeo

PEJ Prjt Entre Jovens

Prova Brasil Provinha Brasil

Prg FC Multicurso

Matemaacutetica

Viacutenculos Institucionais

Guia de Tecnologias

Tecnologias

LEGENDA

Conselho de

Governanccedila

92

da autonomia dos professores do aumento da competiccedilatildeo premiaccedilatildeo enfim de um projeto de

educaccedilatildeo antagocircnico ao construiacutedo no periacuteodo de democratizaccedilatildeo brasileira

44 A CONSTRUCcedilAtildeO DO SISTEMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO

Outro processo que estudamos neste periacuteodo foi a relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado

no processo de construccedilatildeo do Sistema Nacional de Educaccedilatildeo38 Entendemos que esse assunto

eacute relevante pois em uma sociedade historicamente muito privatizada e com pouca cultura

puacuteblica a construccedilatildeo de um Sistema Nacional pode contribuir para a construccedilatildeo do espaccedilo

ldquopuacuteblicordquo em um processo democraacutetico e participativo ou pode tornar as poliacuteticas mais

centralizadas e com direccedilatildeo ainda maior do setor privado Eacute um processo de disputa e de

correlaccedilatildeo de forccedilas entre o puacuteblico e o privado conforme anunciamos desde o iniacutecio da tese

O Foacuterum Nacional pela Constituinte (1986) que depois se transformou no Foacuterum

Nacional em Defesa da Escola Puacuteblica (FNDEP) jaacute trazia o debate acerca de que Estado e que

sociedade precisariacuteamos construir para uma sociedade democraacutetica39 Natildeo era mais o Estado da

ditadura e a pauta em meados da deacutecada de 1980 era a construccedilatildeo de uma sociedade com

cultura democraacutetica Assim a construccedilatildeo de um Sistema Nacional de Educaccedilatildeo dentro dessa

proposta tinha como questatildeo central o papel do Estado no direito agrave educaccedilatildeo para superar as

desigualdades regionais a histoacuterica desobrigaccedilatildeo da Uniatildeo para com a educaccedilatildeo baacutesica enfim

a ideia de uma educaccedilatildeo de qualidade para todos Uma concepccedilatildeo de Estado e natildeo apenas de

governo com instituiccedilotildees puacuteblicas democraacuteticas e a sociedade civil participando ativamente

das decisotildees acerca da proposta educacional (FERNANDES BRITO PERONI 2012)

Essa proposta de construccedilatildeo de sistema natildeo foi acolhida na CF88 e retorna agrave pauta em

1996 quando o FNDEP se mobiliza novamente para a elaboraccedilatildeo de uma proposta de PNE

que foi construiacuteda a partir de dois Congressos Nacionais de Educaccedilatildeo (CONEDs) em 1996 e

1997 Em 1998 o chamado PNE - Proposta da Sociedade Brasileira foi apresentado ao

Congresso Nacional atraveacutes do Deputado Ivan Valente como Projeto de Lei nordm 415598

No entanto em 1998 o Poder Executivo apresentou o PL nordm 417398 que mais uma

vez ignorou a criaccedilatildeo do SNE Os dois projetos estiveram em discussatildeo no Congresso nacional

38 Ver nossas publicaccedilotildees sobre o assunto Fernandes Brito e Peroni (2012) Peroni (2013) e Peroni e Flores

(2014)

39 Sobre este assunto ver Bollmann (2010)

93

e em 2001 foi aprovado o PNE Lei 1017201 (2001-2010) que natildeo incorporou a criaccedilatildeo de

um Sistema Nacional de Educaccedilatildeo

Eacute importante ressaltar que o Plano da Sociedade Brasileira foi elaborado por entidades

que desde o processo Constituinte estavam envolvidas na democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

Destacamos tambeacutem o esforccedilo de construir coletivamente um PNE e um SNE o que ocorreu

em um momento desfavoraacutevel na correlaccedilatildeo de forccedilas com a proposta de educaccedilatildeo do entatildeo

governo Fernando Henrique Cardoso que jaacute implementava o receituaacuterio neoliberal na

educaccedilatildeo

Assim natildeo eram um Estado ou uma sociedade abstratos mas projetos distintos Quando

ressaltamos que a sociedade apresentou uma proposta e o governo apresentou outra proposta

de PNE eacute preciso retomar o que jaacute trabalhamos no primeiro capiacutetulo que haacute interesses

privatistas no Estado e na sociedade civil Havia uma mobilizaccedilatildeo de parte da sociedade pela

escola puacuteblica e parte da sociedade era interlocutora do governo com propostas de minimizaccedilatildeo

dos direitos

Retomando a proposta de sistema apresentamos trecho da proposta de SNE debatida no

FNDEP e apresentada no Plano elaborado nos CONEDs

Neste PNE defende-se a instituiccedilatildeo de um Sistema Nacional de Educaccedilatildeo para o

Brasil concebido como expressatildeo institucional do esforccedilo organizado autocircnomo e

permanente do Estado e da sociedade brasileira pela educaccedilatildeo tendo como finalidade

preciacutepua a garantia de um padratildeo unitaacuterio de qualidade nas instituiccedilotildees educacionais

puacuteblicas e privadas em todo o paiacutes Compreende os Sistemas de Educaccedilatildeo Federal

Estaduais Municipais e do Distrito Federal bem como outras instituiccedilotildees puacuteblicas

ou privadas prestadoras de serviccedilos de natureza educacional aqui incluiacutedas as

instituiccedilotildees de pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica as culturais as de ensino militar as

que realizam experiecircncias populares de educaccedilatildeo as que desenvolvem accedilotildees de

formaccedilatildeo teacutecnico-profissional e as que oferecem cursos livres As accedilotildees do Sistema

Nacional de Educaccedilatildeo eixo central da organizaccedilatildeo da educaccedilatildeo nacional devem

simplificar as estruturas burocraacuteticas descentralizar os processos de decisatildeo e

execuccedilatildeo fortalecer as escolas e as unidades prestadoras de serviccedilos articular os

diferentes niacuteveis e sistemas de ensino integrar a educaccedilatildeo formal e a informal

articular a educaccedilatildeo escolar com as accedilotildees educativas produzidas no interior dos

movimentos populares valorizar os processos de avaliaccedilatildeo institucional (PNE

Proposta da Sociedade Brasileira 1997 p 31)

Essa proposta de SNE apresentava um sistema que pensava em uma garantia de padratildeo

de qualidade para as escolas puacuteblicas e privadas em todo o Paiacutes assim como a articulaccedilatildeo de

diferentes niacuteveis de ensino e a relaccedilatildeo entre a educaccedilatildeo escolar com as propostas dos

movimentos populares que eram efervescentes no processo de abertura O debate era acerca do

papel do SNE para articular a educaccedilatildeo formal informal e um processo de descentralizaccedilatildeo e

94

controle social com maior autonomia e participaccedilatildeo dos sujeitos da educaccedilatildeo questotildees

estrateacutegicas para a construccedilatildeo de uma sociedade mais democraacutetica

Em 2008 a criaccedilatildeo de um Sistema Nacional de Educaccedilatildeo retorna agrave pauta O poder

executivo mobilizou a sociedade atraveacutes de conferecircncias municipais regionais estaduais que

indicaram delegados para a Conferecircncia Nacional de Educaccedilatildeo (CONAE) em 2010 A

Conferecircncia contou com delegados e ampla participaccedilatildeo inclusive retomando a participaccedilatildeo

de entidades vinculadas ao Foacuterum e outras que surgiram depois como a Campanha pelo Direito

a Educaccedilatildeo com ampla mobilizaccedilatildeo e envolvimento da sociedade em torno de uma proposta

democraacutetica de educaccedilatildeo

Sobre o SNE o documento final da CONAE aponta

[] a construccedilatildeo de um sistema nacional de educaccedilatildeo requer o redimensionamento

da accedilatildeo dos entes federados garantindo diretrizes educacionais comuns a serem

implementadas em todo o territoacuterio nacional tendo como perspectiva a superaccedilatildeo das

desigualdades regionais Dessa forma objetiva-se o desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas educacionais nacionais universalizaacuteveis por meio da regulamentaccedilatildeo das

atribuiccedilotildees especiacuteficas de cada ente federado no regime de colaboraccedilatildeo e da educaccedilatildeo

privada pelos oacutergatildeos de Estado []

O Sistema Nacional de Educaccedilatildeo assume assim o papel de articulador normatizador

coordenador e regulamentador do ensino puacuteblico e privado e financiador dos sistemas

de ensino puacuteblicos (federal estadualDF e municipal) garantindo finalidades

diretrizes e estrateacutegias educacionais comuns mas mantendo as especificidades

proacuteprias de cada um Em tal sistema os conselhos nacional estaduais do Distrito

Federal e municipais com gestatildeo democraacutetica satildeo fundamentais para a supervisatildeo e

manutenccedilatildeo das finalidades diretrizes e estrateacutegias comuns (BRASIL 2010b p 23)

Eacute interessante observar que o periacuteodo da CONAE foi de 2008 a 2010 mas em 2009

antes da Conferecircncia final o Sistema Nacional de Educaccedilatildeo foi incorporado agrave Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 pela Emenda Constitucional n 592009 que deu nova redaccedilatildeo ao artigo nordm

214

Art 4ordm O caput do art 214 da Constituiccedilatildeo Federal passa a vigorar com a seguinte

redaccedilatildeo acrescido do inciso VI

lsquoArt 214 A lei estabeleceraacute o plano nacional de educaccedilatildeo de duraccedilatildeo decenal com

o objetivo de articular o sistema nacional de educaccedilatildeo em regime de colaboraccedilatildeo e

definir diretrizes objetivos metas e estrateacutegias de implementaccedilatildeo para assegurar a

manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino em seus diversos niacuteveis etapas e

modalidades por meio de accedilotildees integradas dos poderes puacuteblicos das diferentes esferas

federativas que conduzam a [] VI - estabelecimento de meta de aplicaccedilatildeo de

recursos puacuteblicos em educaccedilatildeo como proporccedilatildeo do produto interno brutorsquo (NR)

(BRASIL Congresso Nacional EC 592009)

Em dezembro de 2010 o Poder Executivo atraveacutes do PL nordm 803510 apresentou uma

Proposta de PNE ignorando pontos importantes do documento final da CONAE

95

Eacute importante destacar que se tratava de outro momento histoacuterico diferente da

mobilizaccedilatildeo do FNDEP e dos CONEDs A proposta de SNE defendida pelo FNDEP tinha

como instacircncia de deliberaccedilatildeo maior o Foacuterum Nacional de educaccedilatildeo proposta que foi retomada

na CONAE A questatildeo eacute que a ideia do FNDEP era uma ampla participaccedilatildeo na definiccedilatildeo de

poliacuteticas educacionais e que o puacuteblico deveria definir o privado

Nesse sentido a proposta do FNDEP vinculava o Sistema Nacional de Educaccedilatildeo a um

Foacuterum representativo da sociedade civil que fosse capaz de construir poliacuteticas de Estado e natildeo

apenas de governo como podemos ver no trecho abaixo

Sistema Nacional de Educaccedilatildeo assim configurado tem como instacircncia maacutexima de

deliberaccedilatildeo o Foacuterum Nacional de Educaccedilatildeo com ampla representaccedilatildeo dos setores

sociais envolvidos com a educaccedilatildeo responsaacutevel pela poliacutetica nacional de educaccedilatildeo e

principalmente pela definiccedilatildeo de diretrizes e prioridades dos planos nacionais de

educaccedilatildeo e sobre a execuccedilatildeo orccedilamentaacuteria para a aacuterea (PNE sociedade Civil 1997

p 29)

Portanto eacute muito importante estarmos atentos agrave composiccedilatildeo atual do Foacuterum Nacional

de Educaccedilatildeo instituiacutedo pela Portaria ndeg 1407 de 14 de dezembro de 2010 jaacute que a correlaccedilatildeo

de forccedilas no momento atual eacute diferente daquele em que ele foi pensado ainda durante o periacuteodo

de democratizaccedilatildeo do Paiacutes

A sociedade civil hoje estaacute organizada pelos empresaacuterios com o Movimento Todos

pela Educaccedilatildeo Instituto Ayrton Senna a Fundaccedilatildeo Itauacute Social o Instituto Unibanco entre

outros pautando a sua proposta de educaccedilatildeo para o Paiacutes E por outro lado a Campanha

Nacional pelo Direito agrave Educaccedilatildeo e instituiccedilotildees que compunham o FNDEP tambeacutem foram

mobilizados com a sua proposta de educaccedilatildeo puacuteblica

Assim entre os principais desafios para a construccedilatildeo do SNE estaacute a relaccedilatildeo entre o setor

puacuteblico e o privado e entre e os entes federados principalmente o papel da Uniatildeo na educaccedilatildeo

baacutesica que historicamente esteve praticamente ausente As questotildees estatildeo muito conectadas jaacute

que durante muito tempo estados e municiacutepios assumiram a execuccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica de

forma descentralizada o que reproduziu as desigualdades regionais pois estados e municiacutepios

com mais recursos financeiros e com quadros capacitados para a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas tinham

formas muito diversas de oferta e qualidade do que aqueles sem as mesmas condiccedilotildees Assim

um dos principais desafios para a criaccedilatildeo do SNE eacute pensar o Paiacutes como um todo com poliacuteticas

puacuteblicas de educaccedilatildeo que garantam a democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo tanto na oferta e na

qualidade quanto na gestatildeo do processo Trata-se de um desafio expressivo pois constitui algo

ineacutedito na nossa histoacuteria e por correr o risco de centralizar e desrespeitar o pacto federativo

96

esse processo necessita ser construiacutedo coletivamente e com participaccedilatildeo efetiva nos processos

decisoacuterios (FERNANDES BRITO PERONI 2012)

Enfim entre tantos pontos importantes da poliacutetica educacional do periacuteodo destacamos

apenas trecircs por julgarmos relevantes para o processo de construccedilatildeo do puacuteblico em um paiacutes de

cultura historicamente privada e pouco democraacutetica40 Portanto ao mesmo tempo em que

ocorrem algumas conquistas sociais para a democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em um processo de

correlaccedilatildeo de forccedilas verifica-se a organizaccedilatildeo de setores vinculados ao mercado influenciando

as poliacuteticas educativas das mais diversas formas No ensino fundamental e meacutedio a oferta

permanece puacuteblica e definindo as fronteiras entre o puacuteblico e o privado com implicaccedilotildees para

o processo de democratizaccedilatildeo

As pesquisas em que analisamos as etapas e modalidades da educaccedilatildeo baacutesica natildeo tecircm a

pretensatildeo de mostrar todas aquelas formas pois satildeo muitas e cada vez mais variadas desse

modo escolhemos em cada etapa e modalidade a que mais expressa o processo de privatizaccedilatildeo

do puacuteblico ou que de alguma forma julgamos que eacute mais significativa Tivemos a intenccedilatildeo

tambeacutem de demonstrar diferentes processos em que o setor puacuteblico repassa a execuccedilatildeo ou em

que a oferta eacute puacuteblica mas o privado assume a direccedilatildeo como nas parcerias

No ensino fundamental e meacutedio a oferta permanece puacuteblica O que foi privatizado nessas

etapas do ensino obrigatoacuterio foi o que chamamos de ldquoconteuacutedo da educaccedilatildeordquo A privatizaccedilatildeo

ocorre atraveacutes da parceria ou venda de sistemas privados Nas nossas pesquisas destacamos as

parcerias que tecircm atuaccedilatildeo nacional e influenciam em escala maior a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil

como foi o caso do Instituto Ayrton Senna (IAS) no ensino fundamental e do Instituto

Unibanco no ensino meacutedio Os Institutos atuam no conteuacutedo da educaccedilatildeo atraveacutes da formaccedilatildeo

de professores do material didaacutetico da rotina das aulas e tambeacutem atraveacutes do monitoramento

das escolas e da atuaccedilatildeo do professor numa relaccedilatildeo de controle e cobranccedila dos resultados A

atuaccedilatildeo do setor privado corre cada vez mais na direccedilatildeo das poliacuteticas com o pressuposto de

que a qualidade da educaccedilatildeo deve ser definida pela loacutegica de mercado

O financiamento ocorre em parte atraveacutes do governo federal ou da renuacutencia de receitas

em que empresas deixam de pagar impostos e doam para esses Institutos Eacute importante ainda

salientar que natildeo haacute controle puacuteblico de onde satildeo gastos os recursos das renuacutencias de receitas41

Os Institutos jaacute sabem que natildeo adianta ter apenas as grandes normas da poliacutetica e da educaccedilatildeo

40 Sobre o histoacuterico da relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado no Brasil ver Pires (2015)

41 Sobre o financiamento e controle social das instituiccedilotildees do terceiro setor no Brasil ver Peroni (2006)

97

e que eacute preciso influenciar na sala de aula para efetivar a mudanccedila No proacuteximo capiacutetulo

abordaremos de forma mais detalhada a atuaccedilatildeo dos dois Institutos

45 A EXECUCcedilAtildeO DA OFERTA VIA TERCEIRO SETOR

Na educaccedilatildeo infantil desde que as creches foram consideradas parte da educaccedilatildeo baacutesica

saindo da assistecircncia social e passando para a educaccedilatildeo como parte da reivindicaccedilatildeo de pais

educadores e pesquisadores da aacuterea a expansatildeo ocorreu via creches comunitaacuterias O poder

puacuteblico municipal que ficou responsaacutevel pela oferta desta etapa da educaccedilatildeo baacutesica buscou

como alternativa em muitos casos as parcerias com instituiccedilotildees sem fins lucrativos Estudos

evidenciam42a fragilidade e precariedade deste atendimento no que se refere agraves condiccedilotildees

fiacutesicas do local projeto pedagoacutegico remuneraccedilatildeo e formaccedilatildeo dos professores e a natildeo

gratuidade com mensalidades43 sendo cobradas inclusive de famiacutelias muito carentes mesmo

recebendo dinheiro puacuteblico Outro fator importante eacute a ausecircncia de gestatildeo democraacutetica nas

instituiccedilotildees com criteacuterios pouco transparentes na admissatildeo e pagamento dos funcionaacuterios

assim como nas relaccedilotildees dentro das creches e da instituiccedilatildeo mantenedora dos os pais e da

comunidade E ainda a admissatildeo dos estudantes natildeo tem criteacuterios transparentes e nem sempre

o ensino eacute gratuito Normalmente satildeo instituiccedilotildees para alunos muito pobres e mesmo uma

mensalidade baixa jaacute onera o orccedilamento das famiacutelias O que consideramos questionaacutevel do

ponto de vista do direito agrave educaccedilatildeo pois no Brasil muito lutamos pela gratuidade da educaccedilatildeo

puacuteblica (FLORES SUSIN 2013 SUSIN MONTANO 2015)



(PRONATEC) que apresenta entre seus objetivos a articulaccedilatildeo entre o ensino meacutedio e o

profissional Ressaltamos a participaccedilatildeo de instituiccedilotildees privadas na execuccedilatildeo do Programa

Questionamos a concepccedilatildeo de trabalho proposta pelo governo federal que ao repassar recursos

tambeacutem para instituiccedilotildees privadas para execuccedilatildeo do Programa abre matildeo de uma proposta de

formaccedilatildeo profissional Verificamos tambeacutem que ao mesmo tempo expandiu-se a rede puacuteblica

de educaccedilatildeo profissional mas natildeo no ritmo necessaacuterio e em paralelo foi feita a ampliaccedilatildeo via

parcerias atraveacutes do PRONATEC (BRASIL 2011 RODRIGUES SANTOS 2013 2015)

42 Ver pesquisas de Susin (2005 2009) 43 As instituiccedilotildees dizem que satildeo contribuiccedilotildees espontacircneas mas na maioria dos casos estudados eram mesmo

que veladamente criteacuterio para a admissatildeo e permanecircncia de crianccedilas conforme relato de pais

98

Na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos pesquisamos o Programa Alfabetizaccedilatildeo Solidaacuteria

(ALFASOL) e o Programa Brasil Alfabetizado O ALFASOL teve importacircncia enorme na

simbiose entre o puacuteblico e o privado durante o governo Fernando Henrique Cardoso foi o

ldquoembriatildeordquo do puacuteblico natildeo-estatal no Brasil por ser um programa de governo realizado por uma

instituiccedilatildeo do terceiro setor presidido pela proacutepria primeira-dama e recebendo dinheiro puacuteblico

para a sua execuccedilatildeo Esta instituiccedilatildeo permanece atuante e executando muitos projetos com o

governo federal Haacute ainda o Programa Brasil Alfabetizado que atua com este puacuteblico com

bolsas para os alfabetizadores e viacutenculos com instituiccedilotildees do terceiro setor para sua execuccedilatildeo

Observamos ainda que os professores muitas vezes satildeo contratados em outro turno com bolsa

recebendo menos do que seu salaacuterio o que tambeacutem entendemos como uma forma de

precarizaccedilatildeo (BRASIL 2012 COMERLATO MORAES 2013)

No que se refere a educaccedilatildeo especial historicamente o poder puacuteblico

desresponsabilizou-se dessa modalidade de ensino No momento em que estava comeccedilando a

ser entendida como um direito a nova conjuntura de racionalizaccedilatildeo de recursos dificultou a

implementaccedilatildeo com qualidade das poliacuteticas de inclusatildeo e restringiu a ampliaccedilatildeo de escolas


destinados agraves instituiccedilotildees de direito privado como APAE Pestalozzi etc para a execuccedilatildeo de

tarefas que seriam do poder puacuteblico atualmente fortalecidas pelo movimento em que o Estado

retira-se ou diminui a sua atuaccedilatildeo na execuccedilatildeo de poliacuteticas passando-as para a sociedade civil

(BOROWSKY 2013 PERONI 2011)

Quando a execuccedilatildeo ocorre por parte do setor privado com financiamento puacuteblico

observamos que apesar do poder puacuteblico ter alguma regulaccedilatildeo na praacutetica muitas vezes natildeo haacute

fiscalizaccedilatildeo ou haacute o entendimento de que eacute melhor garantir o funcionamento precaacuterio do que

fechar e deixar a populaccedilatildeo desassistida

Verificamos que apesar de uma das justificativas de repassar ao setor privado ser a

racionalizaccedilatildeo de recursos o poder puacuteblico em alguns processos diminui custos para as

populaccedilotildees mais vulneraacuteveis com as creches a educaccedilatildeo de jovens e adultos a educaccedilatildeo

profissional mas por outro lado contrata assessorias e parcerias e compra produtos privados

que oneram em muito o orccedilamento (BITTENCOURT OLIVEIRA 2013)

Apesar de serem muacuteltiplos editais formas de terceirizaccedilatildeo e compra dos mais diversos

ldquoprodutosrdquo desde a formaccedilatildeo gestatildeo aprendizagem apresentamos aqui a influecircncia dos

empresaacuterios na direccedilatildeo das poliacuteticas educativas e venda de produtos educacionais atraveacutes do

Movimento Todos pela Educaccedilatildeo (TPE) O TPE atua influenciando a agenda da poliacutetica

99

educacional no Paiacutes monitorando e avaliando resultados e pressionando diretamente o poder

executivo e legislativo para cumprir a sua pauta educacional


MOVIMENTO TODOS PELA EDUCACcedilAtildeO

O Movimento Todos pela Educaccedilatildeo (TPE) foi criado em setembro de 2006 e atua

influenciando a pauta educacional atraveacutes de uma relaccedilatildeo direta com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

e tambeacutem monitorando e avaliando resultados da agenda da poliacutetica educacional no paiacutes

Pesquisamos o TPE pela sua importacircncia na interlocuccedilatildeo com o governo federal para a

elaboraccedilatildeo de poliacuteticas educacionais Dada a sua importacircncia esse movimento eacute inclusive

citado em um livro de Stephen Ball (2012 p 29) publicado na Inglaterra que trata das redes e

da relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado Tal movimento possui um protagonismo cada vez maior

natildeo apenas no Brasil mas em toda a Ameacuterica Latina

Em setembro de 2011 o TPE organizou um seminaacuterio em conjunto com o BID (Banco

Interamericano de Desenvolvimento) para a criaccedilatildeo da rede latino-americana de organizaccedilotildees

da sociedade civil pela educaccedilatildeo44

A rede foi lanccedilada na sessatildeo especial do Congresso Internacional lsquoEducaccedilatildeo uma

Agenda Urgentersquo realizado em Brasiacutelia de 13 a 16 de setembro O dia de trabalho do

Congresso foi organizado pelo Todos Pela Educaccedilatildeo em parceria com o Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID) O evento contou com a participaccedilatildeo de

autoridades de diferentes paiacuteses entre elas do ministro da Educaccedilatildeo Fernando

Haddad

(Disponiacutevel em lthttpwwwtodospelaeducacaoorgbrcomunicacao-e-

midianoticias18886movimentos-criam-rede-latino-americana-de-organizacoes-da-

sociedade-civil-pela-educacaogt Acesso em 03 nov 2013)

Ressaltamos o protagonismo da organizaccedilatildeo de empresaacuterios brasileiros no processo de

aprofundamento da privatizaccedilatildeo do puacuteblico na Ameacuterica Latina e o financiamento do Banco

Mundial que tem como estrateacutegia o aprofundamento das parcerias puacuteblico-privadas

A seguir apresentamos os sujeitos que participam do conselho de governanccedila do TPE e

as empresas em que atuam O quadro foi organizado pelos integrantes do subgrupo que trata

deste tema no nosso grupo de pesquisa atual

44 Ver a ldquoDeclaraccedilatildeo constitutiva da rede latino-americana de organizaccedilotildees da sociedade civil pela educaccedilatildeordquo

100

Quadro 4 ndash Conselheiros de Governanccedila do Todos Pela Educaccedilatildeo e suas empresas

NOME DO CONSELHEIRO EMPRESA QUE REPRESENTA

Jorge Gerdau Johannpeter Instituto Gerdau

Ana Maria dos Santos Diniz Instituto Grupo Patildeo de Accediluacutecar

Antonio Jacinto Matias Fundaccedilatildeo Itauacute Social

Beatriz Johannpeter Instituto Gerdau

Daniel Feffer Susano Holding SA e Membro do Conselho de Desenvolvimento

Econocircmico e Social - Brasil

Danilo Santos de Miranda Diretor Regional SESC SP

Denise Aguiar Alvarez Diretora Fundaccedilatildeo Bradesco

Fernatildeo Carlos Botelho Bracher Itauacute e Banco BBA Creditanstalt Ex-presidente do Banco Central

Joseacute Francisco Soares Conselho Consultivo do INEP e membro do Conselho Teacutecnico do INEE

(Instituto Nacional para la Evaluacioacuten de la Educacioacuten ndash Meacutexico

Joseacute Roberto Marinho Fundaccedilatildeo Roberto Marinho- Rede Globo

Luiz Norberto Pascoal Grupo DrsquoPascoal e Fundaccedilatildeo Educar DrsquoPascoal

Luiz Paulo Saade Montenegro Instituto Paulo Montenegro

Milluacute Villela Presidente do Instituto Faccedila Parte e Brasil Voluntaacuterio

Viviane Senna Instituto Ayrton Senna

Wanda Engel Aduan Presidente Instituto Unibanco


Os autores ressaltam ainda a atuaccedilatildeo a atuaccedilatildeo dos empresaacuterios vinculados ao TPE

atraveacutes da venda de tecnologias educacionais no Guia de Tecnologias do governo federal

(BERNARDI UCZAK ROSSI 2015)

Como jaacute apresentamos em item anterior deste capiacutetulo o Guia de Tecnologias eacute

oferecido agrave escola para que decida de acordo com os problemas diagnosticados no seu Plano

No entanto questionamos se a ldquocesta de produtosrdquo ofertados estaacute de fato de acordo com as

necessidades da escola ou se ela deve se adaptar ao que eacute oferecido se precisar de alguma forma

de ajuda governamental para seus problemas

Destacamos que por um lado o governo federal atraveacutes desse Plano estaacute presente

como nunca esteve nas escolas puacuteblicas de educaccedilatildeo baacutesica de todo o Paiacutes sendo relevante

para o processo de democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e tambeacutem do setor puacuteblico atuar para a

qualidade da educaccedilatildeo baacutesica atraveacutes de um diagnoacutestico realizado pela escola e de sua atuaccedilatildeo

em inuacutemeros programas das mais diversas aacutereas No entanto por outro lado haacute o fomento de

parcerias com o setor privado atraveacutes da venda de produtos para as escolas via Guia de

Tecnologias45

Observamos que se trata do conteuacutedo da educaccedilatildeo puacuteblica jaacute que abarca a formaccedilatildeo de

professores praacutetica pedagoacutegica e avaliaccedilatildeo gestatildeo escolar pontos cruciais da educaccedilatildeo que o

45 Sobre a relaccedilatildeo entre a venda de tecnologias e o TPE ver Bernardi Uczak Rossi (2014)

101

poder puacuteblico repassa para a direccedilatildeo e execuccedilatildeo por instituiccedilotildees privadas atraveacutes da venda de

produtos

Essa vinculaccedilatildeo entre o Movimento Todos pela Educaccedilatildeo e os produtos ofertados pelo

Guia de Tecnologias nos remete a algumas anaacutelises a vinculaccedilatildeo entre o que Ball e Junemann

(2012) e Rhodes (1996) tecircm chamado de steering (direccedilatildeo) e roowing (execuccedilatildeo) na anaacutelise de

redes Nesse caso os empresaacuterios atuam tanto na direccedilatildeo quanto na execuccedilatildeo pois influenciam

fortemente nas poliacuteticas nacionais e chegam ateacute a sala de aula com a venda de produtos

pedagoacutegicos Eacute o que Robertson (2012) destaca como a influecircncia do setor privado em todas as

instacircncias da educaccedilatildeo ldquo[] as PPPEs permitiram seu raacutepido avanccedilo dado que o setor privado

estaacute agora profundamente enraizado no coraccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos educacionais em todos

os niacuteveis desde a poliacutetica e a pesquisa ateacute a aprendizagem nas salas de aulardquo (ROBERTSON

2012 p 1149) Ocorre tambeacutem o que Ball chama de filantropia 30 jaacute que a filantropia estaacute

vinculada ao lucro atraveacutes da venda de produtos para as escolas e sistemas puacuteblicos mesmo

aquelas que se dizem sem fins lucrativos


As parcerias tambeacutem satildeo uma das formas encontradas para chegar diretamente agrave escola

agrave sala de aula e definir e controlar o que e como seraacute ensinado Verificamos nos exemplos

trabalhados que o conteuacutedo eacute altamente prescritivo

No proacuteximo capiacutetulo apresentaremos as parcerias entre Instituto Ayrton Senna (IAS) e

escolas de ensino fundamental e o Instituto Unibanco e escolas de ensino meacutedio


PARCERIAS INSTITUTO AYRTON SENNA E INSTITUTO UNIBANCO

Neste capiacutetulo apresentamos dois Institutos que satildeo parte das nossas pesquisas o

Instituto Ayrton Senna e o Instituto Unibanco que possuem atuaccedilatildeo nacional e interferem cada

vez mais em todas as instacircncias seja em acircmbito nacional ateacute nas escolas passando pelas

secretarias de educaccedilatildeo Apresentaremos uma descriccedilatildeo geral de cada Instituto e depois

focaremos mais em como materializam os debates do capiacutetulo 3 de quem satildeo os sujeitos e qual

eacute o conteuacutedo da proposta

51 INSTITUTO AYRTON SENNA (IAS)

A parte que segue teve como base a pesquisa nacional Anaacutelise das consequecircncias de

parcerias firmadas entre municiacutepios brasileiros e a Fundaccedilatildeo Ayrton Senna para a oferta

educacional (ADRIAtildeO PERONI 2010) que objetivou captar as especificidades relativas agraves

consequecircncias das parcerias firmadas entre o IAS e redes puacuteblicas de educaccedilatildeo baacutesica Dado o

grau de desigualdade e diversidade existente entre os municiacutepios e regiotildees do Brasil a pesquisa

selecionou um municiacutepio de cada regiatildeo para a realizaccedilatildeo de dez estudos de caso O grupo da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) iniciou a pesquisa que depois se tornou

nacional e continuou o trabalho de pesquisa mesmo apoacutes o seu teacutermino Teses e dissertaccedilotildees

foram defendidas sobre o tema (PIRES 2009 LUMERTZ 2008 COSTA 2011 CAETANO

2013 COMERLATTO 2013) os pesquisadores participaram ativamente na pesquisa estadual

e nacional e alguns integrantes participam do grupo ainda hoje Pela importacircncia da atuaccedilatildeo do

Instituto permanecemos analisando o IAS na pesquisa atual descrita no primeiro capiacutetulo

O IAS eacute uma organizaccedilatildeo natildeo-governamental sem fins lucrativos fundada em

novembro de 1994 que atua em parceria com sistemas puacuteblicos de educaccedilatildeo em niacutevel estadual

municipal e nacional Salientamos que o IAS vem ampliando a sua atuaccedilatildeo e

consequentemente sua importacircncia na definiccedilatildeo de poliacuteticas educacionais com participaccedilatildeo

no Guia de Tecnologias jaacute abordado no capiacutetulo anterior Conforme noticiado pelo proacuteprio

Instituto ldquo[] atualmente os programas Se Liga Acelera Brasil e Circuito Campeatildeo foram preacute-

qualificados pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo como ferramentas de apoio aos sistemas puacuteblicos de

ensino para a promoccedilatildeo da qualidade da educaccedilatildeordquo (Disponiacutevel em

lthttpsennaglobocominstitutoayrtonsennagt Acesso em 13 set 2010)

103

Salientamos ainda que o IAS assinou acordo de cooperaccedilatildeo teacutecnica com a Secretaria

de Assuntos Estrateacutegicos da Presidecircncia da Repuacuteblica (SAE) em 2011

O ministro da Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos (SAE) Moreira Franco assina

nesta quarta-feira (2892011) em Satildeo Paulo acordo de cooperaccedilatildeo teacutecnica com o

Instituto Ayrton Senna para realizar de forma conjunta projetos e programas de

interesse comum voltados para a educaccedilatildeo [] O objetivo dos trabalhos conjuntos

seraacute subsidiar a Secretaria na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas com foco na educaccedilatildeo

(Disponiacutevel em lthttpwwwsaegovbrsitep=8130gt Acesso em 2 ago 2012)

Conforme apresentamos no capiacutetulo anterior a SAE publicou o documento Paacutetria

Educadora (2015) como parte do diagnoacutestico e proposta vinculado agrave proposta atual do Instituto

sobre as Competecircncias socioemocionais que abordaremos no decorrer deste item

Ao pesquisarmos sobre os programas do IAS nos deparamos com uma recomendaccedilatildeo

do Programa Acelera Brasil na paacutegina do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado do Rio Grande do Sul

Programa Acelera Brasil - Instituto Ayrton Senna

Como implementar programas para Regularizar o Fluxo Escolar

em Redes Estaduais e Municipais de Ensino

A experiecircncia do Programa Acelera Brasil com a Pedagogia do Sucesso

I - Tudo o que o Governador o Prefeito e o Secretaacuterio de Educaccedilatildeo precisam saber

sobre o fluxo escolar (Disponiacutevel em

lthttpwwwmprsmpbrinfanciapgnid84htmgt)

A rede estadual do RS adotou os programas Se Liga e Acelera Brasil em 2013 conforme

notiacutecia na paacutegina da secretaria

Programas de correccedilatildeo de fluxo tecircm formaccedilatildeo na Capital

Representantes das 27 Coordenadorias Regionais de Educaccedilatildeo (CREs) que mantecircm

turmas de correccedilatildeo de fluxo por meio dos programas Acelera Brasil e Se Liga estaratildeo

em Porto Alegre na sexta-feira (22) para formaccedilatildeo com a Equipe responsaacutevel pelos

programas na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo (Seduc) []

De acordo com a assessora Luciana Schneider da Seduc a expectativa eacute de que os

dois programas estejam em desenvolvimento ao longo do ano No Acelera Brasil

devem participar 181 escolas com 213 turmas reunindo 3498 alunos O Se Liga

estaraacute de acordo com Luciana em 47 escolas (49 turmas com um total de 736

alunos)

Ambos os programas atendem agrave defasagem idadeseacuterie nos anos iniciais do Ensino

Fundamental e satildeo executados na rede em parceria da Seduc com o Instituto Ayrton

Senna A participaccedilatildeo das escolas ocorre por adesatildeo com utilizaccedilatildeo de material

didaacutetico-pedagoacutegico especiacutefico (Publicaccedilatildeo 21022013 Disponiacutevel em

lthttpwwweducacaorsgovbrpsehtmlnoticias_detjspPAG=1ampID=10884gt)

Em 2014 o Instituto tambeacutem realizou formaccedilatildeo de professores na rede estadual

Se liga e Acelera fazem formaccedilatildeo para professores da rede

104

Os projetos Se Liga e Acelera fazem formaccedilatildeo para professores de 20 Coordenadorias

Regionais de Educaccedilatildeo (CREs) [] Os dois projetos buscam corrigir as distorccedilotildees

entre a idade e a seacuterie (ano) que o aluno deveria estar cursando O Se Liga eacute voltado

para alunos natildeo alfabetizados e o Acelera para estudantes jaacute alfabetizados A Iniciativa

eacute da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo (Seduc) em parceria com o Instituto Ayrton

Senna (Publicaccedilatildeo 14042014 Disponiacutevel em


Verificamos que o governo do estado do Rio Grande do Sul na atual gestatildeo retornou a

parceria com o IAS que jaacute havia iniciado no governo Yeda Crusius em 2007 atraveacutes do Projeto

Piloto para Alfabetizaccedilatildeo proposta a Secretaria Estadual da Educaccedilatildeo (Seduc) em parceria com

a UNDIMERS que contratou trecircs instituiccedilotildees Instituto Ayrton Senna (SP) Instituto Alfa e

Beto (MG) Grupo de Estudos sobre Educaccedilatildeo Metodologia de Pesquisa e Accedilatildeo GEEMPA

(RS) ldquo[] visando agrave construccedilatildeo da matriz de competecircncias e habilidades cognitivas em

LeituraEscrita e Matemaacutetica para assegurar sua alfabetizaccedilatildeo em um ou no maacuteximo dois anos

letivos ou seja aos 6 ou 7 anos de idaderdquo (Publicaccedilatildeo 14042014 Disponiacutevel em

lthttpwwweducacaorsgovbrpsehtmlnoticiasgt) O Instituto Ayrton Senna atuou atraveacutes

do Programa Circuito Campeatildeo46

Retornando ao Instituto destacamos o seu diagnoacutestico de que a educaccedilatildeo puacuteblica vai

mal assim sua missatildeo seria contribuir para superar os problemas do sistema puacuteblico partindo

do pressuposto de que tem a foacutermula para a qualidade e de que se ela for adotada pelos sistemas

a educaccedilatildeo superaraacute os seus problemas

Impulsionados pelo desejo do tricampeatildeo de Foacutermula 1 Ayrton Senna nossa missatildeo

eacute levar educaccedilatildeo de qualidade para as redes puacuteblicas de ensino no Brasil Atuamos

em parceria com gestores puacuteblicos educadores pesquisadores e outras organizaccedilotildees

para construir soluccedilotildees concretas para os problemas da educaccedilatildeo baacutesica Nossas

propostas se traduzem em poliacuteticas e praacuteticas flexiacuteveis que se adaptam a diversos

contextos e efetivamente impactam a aprendizagem dos estudantes em grande escala

(Disponiacutevel em lthttpwwwinstitutoayrtonsennaorgbrquem-somosgt Acesso em

16 nov 2015) (grifos da autora)

Verificamos que a sua missatildeo eacute ldquolevar a educaccedilatildeo de qualidaderdquo ao ensino puacuteblico

Partindo do pressuposto de que os profissionais da educaccedilatildeo natildeo tecircm competecircncia suficiente e

de que basta uma atuaccedilatildeo eficiente para resolver os problemas histoacutericos da educaccedilatildeo brasileira

E desse modo como se fosse o poder puacuteblico o Instituto faz diagnoacutestico e encaminha soluccedilotildees

46 Ver tese de Raquel Caetano Relaccedilotildees entre o Puacuteblico e o Privado a gestatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo no

Programa Circuito Campeatildeo no Instituto Ayrton Senna (2007-2010) que participa do grupo de pesquisa sobre

o assunto (CAETANO 2013)

105

para a educaccedilatildeo puacuteblica Destacamos ainda que o material eacute padronizado e replicaacutevel como

grifamos acima se adapta aos diversos contextos

O IAS iniciou com programas complementares no periacuteodo inverso ao das aulas e

depois apenas em classes de aceleraccedilatildeo mas passou a influenciar na poliacutetica educacional como

um todo desde o curriacuteculo e a aula ateacute a gestatildeo do sistema e da escola O Instituto percebeu

que para ter mudanccedilas substantivas natildeo adiantaria atuar apenas em questotildees focalizadas mas

na educaccedilatildeo como um todo Portanto atualmente planeja monitora e avalia os sistemas

puacuteblicos

Eacute importante destacar como o puacuteblico e o privado estavam imbricados desde o iniacutecio da

atuaccedilatildeo do Instituto em redes puacuteblicas comeccedilando com o Programa Aceleraccedilatildeo da

Aprendizagem O Programa foi concebido por Joatildeo Batista Arauacutejo e Oliveira secretaacuterio

executivo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura no primeiro ano do governo Fernando Henrique

Cardoso Uma instituiccedilatildeo do terceiro setor denominada Centro de Ensino Tecnoloacutegico de

Brasiacutelia (CETEB) executou o Programa com financiamento puacuteblico O material didaacutetico foi

inicialmente desenvolvido em funccedilatildeo do convecircnio com a Fundaccedilatildeo Desenvolvimento de Satildeo

Paulo e contou com o financiamento do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (PERONI 2013)

Em 1997 o Instituto Ayrton Senna passa a executar o programa em conjunto com o

CETEB iniciando assim a atuaccedilatildeo do IAS em redes puacuteblicas de ensino A parceria com o

CETEB estendeu-se ateacute 2000 Em 2001 o IAS passou a executar o Programa de forma

autocircnoma e expandiu sua atuaccedilatildeo com uma sistemaacutetica de acompanhamento dos alunos e da

gestatildeo escolar atraveacutes do Programa Escola Campeatilde da Rede Acelera

Um dos objetivos apresentados pelo IAS era melhorar a qualidade do ensino

fundamental e regularizar seu fluxo garantindo sucesso na aprendizagem dos alunos O

Programa Escola Campeatilde concentrou-se em iniciativas que ajudassem a desenvolver

implementar sistematizar e disseminar metodologias eficientes visando ao fortalecimento da

gestatildeo municipal (ligada agraves Secretarias Municipais de Educaccedilatildeo) e da gestatildeo escolar (voltada

agraves unidades escolares do ensino fundamental municipal)

Em 2005 o IAS organiza a Rede Vencer objetivando gerenciar os sistemas municipais

de ensino A Rede era composta pelos programas Gestatildeo Nota 10 ndash presente em toda a rede do

ensino fundamental visava ao gerenciamento das escolas e secretarias para melhoria da

qualidade de ensino Se Liga ndash alfabetizaccedilatildeo Acelera Brasil ndash regularizaccedilatildeo do fluxo escolar

dos alunos das seacuteries iniciais do ensino fundamental com defasagem idade-seacuterie miacutenima de

106

dois anos e Circuito Campeatildeo ndash gerenciamento da aprendizagem de 1ordf a 4ordf seacuterie do ensino

fundamental

52 OS SUJEITOS

Conforme apresentamos no capiacutetulo anterior um foco importante da nossa atual

pesquisa satildeo os sujeitos individuais e coletivos que materializam a loacutegica do privado na

educaccedilatildeo Na perspectiva do que analisamos desde o primeiro capiacutetulo natildeo entendemos as

relaccedilotildees entre o puacuteblico e o privado como abstraccedilotildees assim este item vai apresentar alguns

sujeitos que se relacionam nas propostas educativas do IAS

Nas proacuteximas figuras Raquel Caetano (2013) que participa do grupo de pesquisa

apresenta visualmente as relaccedilotildees estabelecidas pelo Instituto com empresas e tambeacutem com o

sistema puacuteblico

A diretoria do Instituto eacute formada pela famiacutelia Senna sendo presidente desde a

fundaccedilatildeo a irmatilde do piloto Viviane Senna Eacute interessante constatar que Viviane participa de

comitecircs e Conselhos puacuteblicos e privados que influenciam a educaccedilatildeo puacuteblica como por

exemplo o Conselho do Desenvolvimento Econocircmico e Social instituiacutedo pelo Presidente Luiacutes

Inaacutecio Lula da Silva em 13 de fevereiro de 2003 eacute cofundadora e membro do Comitecirc Executivo

do Compromisso Todos pela Educaccedilatildeo do governo federal no qual coordena a Comissatildeo

Teacutecnica responsaacutevel pela definiccedilatildeo das metas e orientaccedilotildees teacutecnicas eacute cofundadora e membro

do Comitecirc Executivo do Movimento de empresaacuterios ldquoTodos pela Educaccedilatildeordquo e participa do

Comitecirc de Investimento Social do Unibanco entre outros A figura abaixo demonstra essas

relaccedilotildees

107

Figura 2 ndash Instituto Ayrton Senna e suas relaccedilotildees

Fonte Caetano (2013 p 99)

Conforme legenda criada pela autora os conselhos consultivos de grandes empresas satildeo

representados na cor rosa as relaccedilotildees com o Governo Federal e com a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) indicados pela cor azul as relaccedilotildees

do IAS com empresaacuterios e articulistas no seu Conselho Consultivo expressos na cor amarela

as empresas que cada conselheiro representa apontadas na cor verde Na cor laranja estatildeo

indicados a empresaacuteria a empresa e o movimento ldquoTodos pela Educaccedilatildeordquo no qual Viviane

Senna participa do Conselho de Governanccedila

Observamos aqui que aleacutem da atuaccedilatildeo direta nas escolas o Instituto atraveacutes de sua

presidente influencia a direccedilatildeo das poliacuteticas educacionais se valendo da sua atuaccedilatildeo em vaacuterias

outras importantes instituiccedilotildees Eacute o que podemos observar tambeacutem na proacutexima figura que

apresenta as relaccedilotildees do IAS tanto com instituiccedilotildees empresarias quanto puacuteblicas

108

Figura 3 ndash Relaccedilotildees do IAS com instituiccedilotildees empresariais e puacuteblicas


A proacutexima figura apresenta os programas da rede vencer Se Liga Acelera Brasil

Escola Campeatilde Foacutermula da Vitoacuteria e Circuito Campeatildeo Todos operando nas redes puacuteblicas

de educaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com instituiccedilotildees empresariais e puacuteblicas

IAS

MICROSOFT

BRASIL TELECON

INTEL

BRADESCO

GRENDENE

VALE DO RIO DOCE

SANTA BAacuteRBARA ENGENHARIA

INST UNIBANCO

SUZANO

SIEMENS

ORACLE

LIDE-EDH

NIacuteVEA

CREDICARD INST

VOTORANTIM

Secretarias Municipais

Secretarias Estaduais MEC

INST VIVO

HP

COSERN

CELPE

COELBA

UNESCO

109

Figura 4 ndash Relaccedilotildees do IAS para a educaccedilatildeo formal


Conforme Caetano (2010) o IAS tem relaccedilotildees com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

secretarias estaduais de educaccedilatildeo e com o CONSED como instituiccedilatildeo assim como diretamente

com sistemas municipais mas tambeacutem com a UNDIME Para a execuccedilatildeo das suas tecnologias

educacionais o Instituto conta com o apoio de vaacuterias empresas como eacute possiacutevel visualizar na

figura acima

Aleacutem de atuar mais diretamente no conteuacutedo pedagoacutegico e na gestatildeo com os Programas

apontados acima o IAS tambeacutem atua com programas complementares E para a execuccedilatildeo

desses programas opera em uma rede de relaccedilotildees com empresas universidades outros

Institutos como o Unibanco e governos conforme podemos observar na figura abaixo

110

Figura 5 ndash Relaccedilotildees do IAS para a promoccedilatildeo dos programas de educaccedilatildeo complementar


Verificamos na figura acima os programas apresentados pelo Instituto Escola

Conectada Educaccedilatildeo pela Arte Segundo Tempo Educaccedilatildeo pelo Esporte e Super Accedilatildeo Jovem

e suas redes de relaccedilatildeo para implementaccedilatildeo Observamos inclusive que os programas satildeo

beneficiados pela Lei Rouanet via Ministeacuterio da Cultura

A seguir o foco seraacute o conteuacutedo da proposta apresentado pelo Instituto atraveacutes de seus

programas mais relevantes

53 O CONTEUacuteDO DA PROPOSTA

O IAS vincula a aprendizagem agrave gestatildeo das escolas Entende que a escola deve possuir

uma gestatildeo gerencial rigidamente monitorada e com atividades padronizadas atraveacutes de aulas

prontas e uma rotina O foco deve ser na matemaacutetica e liacutengua materna que satildeo as atividades

avaliadas nas provas nacionais e que a aprendizagem eacute um produto que pode ser mensurado

atraveacutes dos resultados das avaliaccedilotildees e metas preacute-estabelecidas Os programas do IAS seguindo

essa loacutegica apresentam um material com forte conteuacutedo prescritivo

111

Atraveacutes dos objetivos da Rede Vencer verificamos algumas concepccedilotildees de pedagogia

curriacuteculo e avaliaccedilatildeo do Instituto

(I) Institucionalizar praacuteticas gerenciais no cotidiano escolar que proporcionem a

substituiccedilatildeo da lsquocultura do fracassorsquo pela lsquocultura do sucessorsquo

(II) Instituir o planejamento da praacutetica pedagoacutegica a partir da avaliaccedilatildeo do

processo ensino aprendizagem

(III) Capacitar equipes da Secretaria e das unidades escolares para que todos

desempenhem suas funccedilotildees e atribuiccedilotildees com foco em resultados e metas

assumindo as respectivas responsabilidades pelo resultado da aprendizagem de cada

um dos alunos e

(IV) Gerar oportunidade de desenvolvimento profissional para as equipes escolares

de forma a viabilizar a ampliaccedilatildeo de conhecimentos especialmente no campo da

leitura da escrita e da matemaacutetica bases para a aprendizagem de todas as aacutereas do

conhecimento humano (ADRIAtildeO PERONI 2010 p 319)

No Programa Circuito Campeatildeo que trata da alfabetizaccedilatildeo os fluxos das aulas satildeo

enviados ao IAS pela coordenadora municipal desde o primeiro dia de aula ateacute o final do ano

letivo em dezembro sendo que as escolas devem informar os temas as habilidades e as

competecircncias que seratildeo desenvolvidos em cada dia do ano O planejamento preacutevio denominado

no programa de fluxo de aula eacute planejado para os 200 dias letivos antecipadamente Ao fazer

seu planejamento o professor deve observar os passos do programa Circuito Campeatildeo

denominado de rotina Na acolhida o aluno deve sempre estar motivado O segundo passo eacute a

formaccedilatildeo do haacutebito de leitura que dura no miacutenimo 20 minutos e no maacuteximo 40 minutos

Todos os dias eacute preciso trabalhar uma leitura de vaacuterias maneiras lecirc-se uma histoacuteria aos alunos

ou eles proacuteprios leem os livros indicados pelo programa uma vez que os educandos satildeo

acompanhados na leitura e na escrita com frequecircncia Aleacutem disso haacute um cartaz de livros lidos

afixado na sala de aula sendo tambeacutem um indicador de resultado (CAETANO 2013)

No programa Gestatildeo Nota Dez os dados (notas avaliaccedilotildees presenccedilas metas

alcanccediladas) satildeo coletados pelo professor que faz o acompanhamento individual dos alunos e

repassa as informaccedilotildees para a direccedilatildeo O diretor por sua vez faz um relatoacuterio consolidado dos

dados analisando-os para verificar se as metas propostas foram alcanccediladas pelos alunos Esse

material eacute enviado para a SMEC que entatildeo faz outro material consolidado das escolas

municipais O material eacute enviado ao IAS atraveacutes do Sistema Instituto Ayrton Senna de

Informaccedilatildeo (SIASI) o qual de acordo com os resultados manda o material especiacutefico Os

dados sobre desempenho frequecircncia e cumprimento das metas de alunos e professores satildeo

repassados mensalmente Dessa maneira indicadores de sucesso diagnoacutesticos da realidade

educacional relatoacuterios de acompanhamento intervenccedilatildeo e avaliaccedilotildees de processo e de

resultado pautam o trabalho teacutecnico realizado O IAS decide sobre o conteuacutedo e monitora os

112

resultados e ainda conforme verificamos no quadro 5 o Instituto determina as tarefas de cada

um no sistema educativo

Quadro 5 ndash Responsabilidades dos gestores no programa Gestatildeo Nota 10

Governador

Prefeito

Adotar o programa como poliacutetica puacuteblica isto eacute como proposta de estruturaccedilatildeo da

Secretaria de Educaccedilatildeo para a praacutetica da equidade e da qualidade da aprendizagem

no estado ou no municiacutepio

Garantir a adoccedilatildeo dos instrumentos legais necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da poliacutetica

educacional definida

Assegurar os recursos humanos materiais e financeiros compatiacuteveis com o

programa e com a poliacutetica educacional estabelecida

Priorizar os aspectos teacutecnicos em detrimento dos poliacutetico-partidaacuterios

Acompanhar os resultados e o cumprimento das metas definidas pela Secretaria de

Educaccedilatildeo

Delegar ao Secretaacuterio de Educaccedilatildeo a execuccedilatildeo do programa dando-lhe a autonomia

e o apoio que a funccedilatildeo exige

Secretaacuterio de

educaccedilatildeo

Alinhar-se com as determinaccedilotildees do governoprefeito e assegurar o programa

Gestatildeo Nota 10 como accedilatildeo estrutural da Secretaria de Educaccedilatildeo

Diagnosticarconhecer o perfil de atendimento da rede de ensino e dos alunos

Integrar as redes de ensino

Garantir diretores de escola com competecircncia teacutecnica selecionados por provas

comprometidos com a poliacutetica da Secretaria de Educaccedilatildeo e responsabilizados pelos

resultados e alcance das metas

Integrar accedilotildees resultados e praacuteticas dos projetos agraves demais accedilotildees da secretaria

Garantir o cumprimento do miacutenimo legal de 200 dias letivos800 horas

Adotar EJA para os maiores de 15 anos

Adotar poliacutetica de alfabetizaccedilatildeo para a 1ordf seacuterie do Ensino Fundamental

Acompanhar o desenvolvimento e os resultados do programa

Coordenador

do programa

Gestatildeo Nota

10

Analisar a implementaccedilatildeo da poliacutetica educacional

Subsidiar as decisotildees da Secretaria de Educaccedilatildeo com os dados relevantes agrave poliacutetica

educacional

Atuar ativamente no processo de definiccedilatildeo das metas relativas a cada indicador do

sucesso educacional

Receber e analisar o consolidado dos dados referentes ao funcionamento e agrave

autonomia de todas as escolas

Gerenciar mensalmente o alcance das metas pelas escolas

Acompanhar o desenvolvimento das accedilotildees e analisar os dados consolidados do

programa de forma integrada e articulada com os demais setorescoordenaccedilotildees da

Secretaria de Educaccedilatildeo

Apoiar fortalecer e orientar em serviccedilo os superintendentes escolares para o

alcance das metas do seu grupo de escolas com base nas informaccedilotildees por eles

levantadas e tambeacutem na observaccedilatildeo direta sobre as escolas

Rever sistematicamente a aplicabilidade das normas e leis educacionais com vistas

agrave melhoria contiacutenua dos resultados e ao alcance das metas

Diretor Garantir a implementaccedilatildeo da poliacutetica educacional definida pela Secretaria de

Educaccedilatildeo

Implementar as autonomias administrativa e pedagoacutegica e a gestatildeo financeira na

escola de acordo com o estabelecimento pela Secretaria de Educaccedilatildeo

Responsabilizar-se pelos resultados da escola

Coletar analisar e consolidar os dados referentes ao funcionamento da escola e

repassaacute-los ao superintendente escolar

113

Acompanhar e avaliar a atuaccedilatildeo e o resultado do trabalho do coordenador

pedagoacutegico da escola e dos professores

Liderar os membros da comunidade escolar no alcance das metas da escola

Trabalhar em conjunto com o superintendente escolar na constante busca da

melhoria da qualidade da aprendizagem

Superintende

nte Escolar

Acompanhar a implementaccedilatildeo da poliacutetica educacional municipalestadual

Ser o elo entre a escola e a Secretaria de Educaccedilatildeo no processo de implementaccedilatildeo

das accedilotildees do programa

Acompanhar nas escolas sob sua responsabilidade a implementaccedilatildeo das

autonomias administrativa e pedagoacutegica e da gestatildeo financeira

Pactuar com o diretor no iniacutecio do ano as metas da escola de acordo com as metas

definidas pela Secretaria de Educaccedilatildeo para a rede de ensino

Responsabilizar-se conjuntamente com o diretor pelo cumprimento do calendaacuterio

escolar pelos resultados e pelo alcance das metas da escola

Apoiar o diretor na integraccedilatildeo e articulaccedilatildeo dos projetos desenvolvidos na unidade

escolar tais como Se Liga Acelera Brasil Circuito Campeatildeo e Gestatildeo Nota 10

Gerenciar mensalmente o alcance das metas do grupo de escolas sob sua

responsabilidade por meio das rotinas da Sistemaacutetica de Acompanhamento

Avaliar o desempenho e fortalecer a lideranccedila do diretor assim como capacitaacute-lo

em serviccedilo para atuar de forma integrada com a comunidade escolar Fonte Material distribuiacutedo pelo IAS para encontro de formaccedilatildeo com os parceiros do Programa Gestatildeo Nota 10 ndash

(COMERLATTO 2013 p 134)

No quadro apresentado por Comerlatto (2013) tambeacutem integrante de nosso grupo de

pesquisa podemos visualizar as tarefas que o IAS determina a todas as instacircncias de decisatildeo

desde o secretaacuterio de educaccedilatildeo professor diretor pais ateacute o professor Eacute o que comentamos no

capiacutetulo anterior sobre os processos de direccedilatildeo e execuccedilatildeo vivenciados nas parcerias jaacute que o

Instituto prescreve e os profissionais da educaccedilatildeo executam inclusive os formuladores de

poliacuteticas puacuteblicas

Comerlatto ressalta atraveacutes dos grifos no quadro o caraacuteter prescritivo adotado pelo

IAS

Justifica-se assim o porquecirc de a maioria das accedilotildees assumirem caraacuteter passivo de

instrumentalizaccedilatildeo de uma proposta heterocircnoma como se observa pelos verbos que

indicam as accedilotildees dos responsaacuteveis tais como o governadorprefeito deve adotar

garantir assegurar priorizar e delegar o secretaacuterio da educaccedilatildeo deve alinhar-se

garantir e adotar o coordenador do Gestatildeo Nota 10 deve subsidiar gerenciar e apoiar

o diretor deve garantir implementar responsabilizar-se liderar e trabalhar o

superintendente escolar deve pactuar responsabilizar-se apoiar gerenciar e avaliar


Como jaacute mencionamos a pesquisa nacional contou com 10 grupos cada um de um

estado brasileiro Aqui apresentaremos como exemplo o municiacutepio de Sapiranga no Rio

114

Grande do Sul por ter sido onde realizamos a pesquisa empiacuterica47 A parceria nessa rede

municipal iniciou em 1997 e terminou em 2007 Nesse ano mudou a administraccedilatildeo municipal

e foi realizada uma consulta na comunidade escolar para decidir sobre a sua continuidade Eacute

importante destacar que apenas apoacutes 10 anos a comunidade foi consultada e entatildeo decidiu que

natildeo desejava essa parceria (PERONI 2011)

A parceria iniciou com o Programa Acelera Brasil atraveacutes de uma Lei Municipal que

autorizou o Executivo Municipal a firmar convecircnio com o IAS Desde o iniacutecio da parceria

constatamos o total controle estabelecido pelo IAS como eacute possiacutevel constatar no paraacutegrafo

primeiro da Lei que estabelece o convecircnio ldquoO IAS se reserva o direito de fiscalizar o

andamento do Projeto realizando auditorias exames e verificaccedilotildees de cumprimento dos prazos

e certificaccedilatildeo do alcance das etapas atraveacutes de seus representantes devidamente credenciadosrdquo

(SAPIRANGA 1997 p 2)

Eacute possiacutevel verificar o conteuacutedo gerencial da proposta quando ainda declara que ldquoOs

professores e coordenadores integrantes do Programa seratildeo capacitados na pedagogia do

sucessordquo (SAPIRANGA 1997 p 7) Ou ainda ldquoO municiacutepio indicaraacute um profissional de

educaccedilatildeo que assumiraacute a gerecircncia do Programa na localidaderdquo (SAPIRANGA 1997 p 7)

(grifos da autora)

Em outra Lei Municipal satildeo estabelecidos os princiacutepios da Gestatildeo Democraacutetica no

municiacutepio e a Pedagogia do Sucesso estaacute presente assim como conceitos caros agrave administraccedilatildeo

gerencial

I - Igualdade de condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

II - compromisso com a promoccedilatildeo de uma educaccedilatildeo voltada para a pedagogia do

sucesso

III - compromisso com a eficiecircncia de todos os alunos das unidades de ensino

IV - participaccedilatildeo dos segmentos da comunidade escolar em entidades e conselhos

escolares

V - autonomia das unidades de ensino nas dimensotildees administrativa pedagoacutegica e

financeira

VI - garantia do padratildeo de qualidade

VII - transparecircncia e eficiecircncia em todas as etapas do processo da gestatildeo democraacutetica

(SAPIRANGA 2003 p 1) (grifos da autora)

Outra Lei Municipal cria a premiaccedilatildeo Aluno Nota Dez para estudantes do ensino

fundamental e meacutedio nas redes municipais de ensino

47 Pesquisa Novos contornos da parceria puacuteblicoprivada na Gestatildeo da Escola Puacuteblica Relatoacuterio disponiacutevel em

lthttpwwwufrgsbrfacedperonigt (PERONI 2011)

115

Art 1ordm Fica criada a premiaccedilatildeo lsquoAluno Nota Dezrsquo ao final de cada ano letivo para

os cursos fundamental e meacutedio das trecircs redes de ensino do Municiacutepio de Sapiranga

Art 2ordm Seraacute selecionado um aluno de cada escola que obtiver no boletim o maior

nuacutemero de nota dez

Art 4ordm O Diretor(a) de cada Escola informaraacute ao Poder Legislativo Municipal no

final de cada ano o aluno nota dez da respectiva escola (SAPIRANGA 2003a p 1)

Observamos que o IAS assume a direccedilatildeo e o controle da poliacutetica educativa municipal

atraveacutes da legislaccedilatildeo desde o documento que estabelece o convecircnio Assim os termos e

instrumentos de gestatildeo ficam incorporados ao municiacutepio para aleacutem do periacuteodo da parceria

Apesar de a lei ser denominada de gestatildeo democraacutetica os princiacutepios de gestatildeo incorporam a

loacutegica do gerencialismo trabalhado no capiacutetulo anterior com o individualismo atraveacutes do

sucesso pessoal a premiaccedilatildeo estimulando a competitividade e a incorporaccedilatildeo de uma loacutegica

de eficiecircncia mais vinculada ao produto do que aos processos

O monitoramento e controle ocorre via registro dos dados educacionais que eacute feito no

Sistema Instituto Ayrton Senna de Informaccedilatildeo (SIASI) Conforme o IAS

O SIASI registra as informaccedilotildees educacionais dos municiacutepios parceiros por meio da

coleta de dados das escolas e da sua consolidaccedilatildeo no acircmbito das secretarias de

educaccedilatildeo O sistema visa a permitir a raacutepida tomada de decisatildeo a partir de relatoacuterios

de anaacutelise e de intervenccedilatildeo visando agrave melhoria da aprendizagem e o sucesso do aluno

(Disponiacutevel em lthttpwwwredevencerorgbrgt Acesso em 28 out 2007)

Ainda na paacutegina do Instituto estaacute descrita a abrangecircncia do Sistema de Informaccedilatildeo

O SIASI - Gestatildeo de Rede permite o gerenciamento online da estrutura fiacutesica e

acadecircmica das redes de ensino como cadastro e manutenccedilatildeo dos dados das unidades

educacionais dos alunos e dos servidores da rede

O sistema eacute dividido em trecircs moacutedulos Rede de Ensino Servidor e Aluno que

permitem o controle e a automatizaccedilatildeo das rotinas administrativas como nuacutemero de

unidades e ambientes matriacutecula de alunos acompanhamento da vida profissional dos

servidoresfuncionaacuterios aleacutem de fornecer dados para os processos de tomada de

decisatildeo

Conheccedila alguns recursos do sistema

Controle da Rede Fiacutesica permite o controle de todas as unidades funcionais internas

e externas da rede de ensino bem como o registro de suas caracteriacutesticas fiacutesicas e

hierarquias funcionais e ainda o cadastramento de informaccedilotildees necessaacuterias ao pleno

funcionamento das unidades escolares tais como calendaacuterios cursos turmas grades

curriculares dentre outras

Controle Acadecircmico permite o controle da vida acadecircmica dos alunos desde a

matriacutecula ateacute o encerramento de cada periacuteodo letivo Disponibiliza ainda recursos que

facilitam a operaccedilatildeo e o gerenciamento do dia a dia das escolas

Controle de Servidores permite o controle do quadro de servidores da rede de

ensino possibilitando o registro do histoacuterico da vida funcional do servidor

individualmente Fornece recursos agrave Secretaria da Educaccedilatildeo no sentido de agilizar

processos tais como caacutelculo de vagas movimentaccedilotildees atribuiccedilatildeo de aulas concurso

de remoccedilatildeo automatizado dentre outros

Serviccedilo Wap permite consultar frequecircncia e boletim de notas e conceitos dos alunos

da rede atraveacutes de dispositivos moacuteveis

116

De forma aacutegil e funcional a soluccedilatildeo amplia o espaccedilo escolar conectando todos os

envolvidos no processo educacional (Disponiacutevel em

lthttpwwwredevencerorgbrgt Acesso em 2 dez 2015)

Verificamos ainda que o municiacutepio paga uma taxa para inserir os dados nesse sistema

e quando o contrato eacute encerrado o municiacutepio natildeo tem mais acesso aos seus proacuteprios dados

Sobre o SIASI a coordenadora ressalta como eacute feito o controle sistemaacutetico para que as

metas sejam atingidas

Assim se tem hoje a sala a seacuterie quantos livros lidosmecircs e quantas faltas e esse acompanhamento

temos mensalmente hoje dentro da Rede Vencer e isso eacute inserido mensalmente no sistema do SIASI

(Sistema de Informaccedilatildeo do Instituto Ayrton Senna)

Tu tens um raio-x completo das escolas de tudo que laacute acontece e os indicadores que natildeo estatildeo bem

(turma com iacutendice de faltas turma com baixo niacutevel de leitura tantos alunos que ainda natildeo escrevem laacute

nas seacuteries iniciais) de fazer um trabalho mais pontal mecircs a mecircs de ir conversando de ir trabalhando em

cima desses indicadores buscando o quecirc Atingir a meta no final do ano Cada escola traccedilou o seu plano

de metas a secretaria tem o seu em cima dos resultados do ano anterior busca-se alcanccedilar esses

resultados agora (Coordenadora do municiacutepio A 2006 Entrevista)

No caso estudado o IAS relaciona o controle de qualidade aos produtos das avaliaccedilotildees

e controle riacutegido do trabalho do professor mensuraacutevel na plataforma virtual do SIASI Young

alerta para o perigo do curriacuteculo definido por avaliaccedilotildees

Na minha visatildeo se o curriacuteculo for definido por resultados competecircncias ou de forma

mais abrangente avaliaccedilotildees ele seraacute incapaz de prover acesso ao conhecimento

Entende-se conhecimento como a capacidade de vislumbrar alternativas seja em

literatura seja em quiacutemica natildeo pode nunca ser definido por resultados habilidades

ou avaliaccedilotildees (YOUNG 2014 p 195)

O acompanhamento do trabalho dos professores daacute-se por meio de visitas semanais do

supervisor e de sua participaccedilatildeo em reuniotildees quinzenais para avaliaccedilatildeo troca de experiecircncias e

planejamento junto com outros professores Os cursos de capacitaccedilatildeo satildeo a distacircncia

Haacute uma coleta diaacuteria de informaccedilotildees sobre a frequecircncia de alunos e professores de

abandono dos alunos de registro de visitas dos supervisores de participaccedilatildeo dos professores

nas reuniotildees quinzenais e ateacute do nuacutemero de livros lidos pelos alunos Esse acompanhamento

constante restringe em muito a autonomia do professor

A diretora da escola estudada ressalta a competitividade estimulada entre as escolas e as

turmas dentro de uma mesma escola

[] tinha que mandar as planilhas e esta competiccedilatildeo que gerou natildeo foi legal Tanto eacute que depois a SMED

parou era nomeado era colocado escola tal e a colocaccedilatildeo 1ordm 2ordm 3ordm uacuteltimo lugar e a gente comeccedilou a

117

ficar mal voltava da reuniatildeo nossa fiquei em uacuteltimo lugar e depois tinha as provas o instituto aplicava

as provas as avaliaccedilotildees externas para ver em que niacutevel os alunos estavam a gente aplicava e depois

vinha os resultados das provas e tambeacutem tal lugar (Diretora do municiacutepio B 2007 Entrevista)

Algumas conquistas histoacutericas nacionais dos educadores na gestatildeo democraacutetica foram

vinculadas pelos professores ao IAS conforme a secretaacuteria de educaccedilatildeo do municiacutepio B

Uma coisa que eu notei foi que se criam muitos mitos em cima de um convecircnio e que os professores e

eacute uma culpa nossa a gente natildeo vai atraacutes para ver o que eacute real e o que natildeo eacute Quando a gente falou em

romper a parceria as escolas diziam que elas natildeo poderiam romper porque aiacute elas perderiam a questatildeo

da autonomia financeira das escolas E eu dizia natildeo vocecircs natildeo vatildeo perder e as escolas diziam natildeo noacutes

vamos O que aconteceu quando veio o IAS foi criado a autonomia financeira e elas achavam que ao

terminar o convecircnio elas perderiam a questatildeo da autonomia financeira perderiam o convecircnio do auxiacutelio

faculdade elas atrelaram todos estes pontos ao IAS (Secretaacuteria de Educaccedilatildeo municiacutepio B Entrevista

2007)

A professora do municiacutepio B tambeacutem adverte que havia uma pressatildeo para os

professores seguirem normas pois eram vinculadas ao financiamento como se o municiacutepio

recebesse pela parceria e ao contraacuterio o municiacutepio paga para colocar os dados no SIASI e

comprar o material

[] a gente natildeo sabia o que vinha exatamente do IAS e o que jaacute era uma decisatildeo da proacutepria secretaria

de educaccedilatildeo tudo era tratado como uma decisatildeo do IAS a gente estaacute fazendo isso porque o instituto

pediu a gente tem que fazer porque o instituto investe na escola a gente tem que fazer porque eacute uma

exigecircncia do instituto para passar verba para a educaccedilatildeo chegando aqui a gente descobriu que nem

existia esse investimento do Instituto na rede de ensino municipal (Professora 1 do municiacutepio B

Entrevista 2007)

Quanto agrave compra do material didaacutetico a coordenadora do municiacutepio B diz que

Estes livros no caso nos primeiros quatro anos noacutes recebemos este material do Instituto Ayrton Senna

e depois disso noacutes comeccedilamos a comprar este material da editora que eacute Editora Global como eacute um

grande nuacutemero de livros que eles tecircm que imprimir enfim

A gente compra por unidade eu natildeo sei o valor preciso mas acho que estaacute em torno de R$3500 ou

R$5500 o KIT (Coordenadora do municiacutepio B Entrevista 2007)

Outro ponto abordado pela professora foi a avaliaccedilatildeo que era feita pelo proacuteprio IAS

Entendemos que a avaliaccedilatildeo era realizada em parte para ter o controle sobre o Programa mas

tambeacutem pela concepccedilatildeo de que a avaliaccedilatildeo eacute indutora da qualidade e que as pessoas vatildeo se

esforccedilar mais se forem monitoradas o tempo todo E ainda o fato de a avaliaccedilatildeo vir pronta do

IAS eacute outro ponto polecircmico jaacute que muito se avanccedilou nos debates acerca da avaliaccedilatildeo do

processo de aprendizagem e natildeo apenas atraveacutes de uma prova

118

[] a gente tinha nos meses de abril e setembro uma avaliaccedilatildeo que vinha pronta do instituto os meus

alunos de 1ordf seacuterie preenchiam 05 paacuteginas de portuguecircs e 05 paacuteginas de matemaacutetica [] e em nenhum

momento aquele material pedagoacutegico era discutido ou era debatida alguma alternativa para buscar a

melhora que natildeo foi atingida naquela avaliaccedilatildeo (Professora 1 do municiacutepio B Entrevista 2007)

Ateacute mesmo o conteuacutedo a ser trabalhado em sala de aula eacute totalmente controlado

[] a gente tinha uma lista de conteuacutedos que a gente tinha que seguir agrave risca Entatildeo quando o supervisor

entrava na sala ele olhava qual era o nuacutemero do dia letivo qual era o subprojeto e qual era a aula Entatildeo

por exemplo eu tinha dois dias para trabalhar o Siacutembolo da Paacutescoa mas natildeo interessava se os meus

alunos estavam interessados em estudar mais [] Os temas jaacute vinham definidos era obrigado tu natildeo

debatias com o aluno o que ele queria estudar Tu tinhas que a partir daquele dia trabalhar aquela

temaacutetica e durante aquele periacuteodo que tinha sido predefinido ndash e ai de ti se natildeo fizesse certo (Professora

2007 Entrevista)

Assim como as avaliaccedilotildees mantecircm um controle sobre o trabalho do professor tambeacutem

as aulas prontas partem de uma concepccedilatildeo de que os professores natildeo satildeo capazes de planejar

suas tarefas e por isso devem receber tudo pronto como eacute explicitado pela proacutepria Viviane

Senna presidente do Instituto

Os materiais satildeo fortemente estruturados de maneira a assegurar que mesmo um

professor inexperiente ou com preparaccedilatildeo insuficiente ndash como eacute o caso de muitos

professores no Brasil ndash seja capaz de proporcionar ao aluno um programa de

qualidade com elevado grau de participaccedilatildeo dos alunos na sala de aula na escola e

na comunidade (SENNA 2000 p 146)

Como diz Viviane Senna os conteuacutedos satildeo ldquofortemente estruturadosrdquo o que se

configura como um retrocesso na autonomia da escola e do professor e assim no processo de

democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo Concordamos com a criacutetica de Young (2014) sobre os professores

serem instruiacutedos sobre o que ensinar

Nenhum professor quer soluccedilotildees da teoria do curriacuteculo ndash no sentido de lsquoser instruiacutedo

sobre o que ensinarrsquo Isso eacute tecnicismo e enfraquece os professores Contudo como

em qualquer profissatildeo sem a orientaccedilatildeo e os princiacutepios derivados da teoria do

curriacuteculo os professores ficariam isolados e perderiam toda autoridade Em outras

palavras os professores precisam da teoria do curriacuteculo para afirmar sua autoridade

profissional (YOUNG 2014 p 195)

Verificamos na pesquisa nacional apoacutes o teacutermino da parceria nos dez estudos em

diferentes estados que as praacuteticas estabelecidas pelo instituto foram incorporadas tanto nas

secretarias de educaccedilatildeo como nas escolas Em alguns casos inclusive na legislaccedilatildeo do proacuteprio

119

municiacutepio conforme demonstramos neste capiacutetulo com o exemplo do estudo no Rio Grande

do Sul48

Eacute possiacutevel perceber atraveacutes dos estudos de caso que o IAS influenciou na gestatildeo do

Sistema e da escola modificando o desenho institucional a legislaccedilatildeo a concepccedilatildeo

de gestatildeo estabelecendo hierarquias e principalmente retirando a possibilidade de

liberdade de ensino jaacute que havia controle tanto das metas quanto das rotinas de todos

Secretaacuterio de educaccedilatildeo pessoal da secretaria da escola coordenador pedagoacutegico

diretor aluno Em alguns casos a parceria acabou mas a legislaccedilatildeo permanece em

outros as rotinas permanecem nas escolas ou a loacutegica encontra-se subjacente ao

previsto no Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico ou similar (ADRIAtildeO PERONI 2011 p 51)

Verificamos no estudo a ausecircncia de preocupaccedilatildeo do IAS em estabelecer diaacutelogo com a

comunidade escolar Destacamos que natildeo satildeo mudanccedilas apenas de natureza teacutecnica mas na

gestatildeo no curriacuteculo nas concepccedilotildees e objetivos o que temos chamado em nossas uacuteltimas

pesquisas de ldquoconteuacutedo da educaccedilatildeordquo

O tiacutetulo do relatoacuterio anual do Instituto em 2012 eacute Educaccedilatildeo de qualidade da metroacutepole

ateacute a floresta Com o Instituto Ayrton Senna redes puacuteblicas de ensino ampliam horizontes para

crianccedilas e jovens de todos os cantos do Brasil O material eacute padronizado desse modo o mesmo

material eacute usado para escolas indiacutegenas da regiatildeo amazocircnica ou para um municiacutepio urbano em

Satildeo Paulo ou Rio Grande do Sul a mesma concepccedilatildeo padronizada e replicaacutevel que constatamos

em nossa pesquisa nacional que abrangeu dez estados brasileiros com caracteriacutesticas muito

diferentes (ADRIAtildeO PERONI 2010) conforme apresentamos na primeira parte do estudo

sobre o IAS Questionamos o conteuacutedo dessa proposta padronizada e replicaacutevel neste periacuteodo

atual do capitalismo de reestruturaccedilatildeo produtiva que necessita de um trabalhador flexiacutevel que

saiba pensar trabalhar em equipe exatamente o contraacuterio do material proposto na parceria

54 PROPOSTAS ATUAIS DO IAS

Aleacutem de continuar com os programas da Rede Vencer descritos no item anterior o IAS

estaacute atuando em uma nova proposta denominada Educaccedilatildeo Integral que tem o foco no que

chamamos de conteuacutedo da proposta

Adotamos um conceito de lsquoeducaccedilatildeo integralrsquo que ultrapassa a ideia de lsquoeducaccedilatildeo

em tempo integralrsquo na medida em que natildeo se limita agrave ampliaccedilatildeo da jornada escolar

mas pressupotildee uma mudanccedila de visatildeo do que seja o papel da escola

48 Ver tambeacutem os estudos de Pires (2009)

120

Nessa nova visatildeo a escola deixa de ser vista como lsquotransmissora de conteuacutedosrsquo e

passa a ser concebida como mediadora no desenvolvimento de competecircncias para a

vida Isso significa que aleacutem de ensinar a ler escrever e conhecer o conteuacutedo das

disciplinas a escola deve preparar os alunos para se inserirem plenamente no mundo

do trabalho da cidadania e das relaccedilotildees sociais (Disponiacutevel em

lthttpwwwinstitutoayrtonsennaorgbrgt Acesso em 16 nov 2015)

O Instituto pretende atuar em todas as etapas do processo educacional o que discutimos

no capiacutetulo anterior sobre a direccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas educativas determinando o

conteuacutedo da proposta como constatamos abaixo nas palavras do proacuteprio Instituto

Para que essa educaccedilatildeo integral seja possiacutevel conferimos um olhar sistecircmico sobre o

processo educativo trabalhando para qualificar a oferta educacional em todas as suas

etapas desde a produccedilatildeo de novos conhecimentos sobre lsquoo quersquo e lsquocomorsquo ensinar e

aprender passando pelo desenho de modelos pedagoacutegicos de gestatildeo tecnologia e

avaliaccedilatildeo ateacute a sua operacionalizaccedilatildeo nas redes de ensino (Disponiacutevel em


Para operacionalizar sua proposta o IAS apresenta trecircs iniciativas vinculadas agrave

educaccedilatildeo integral A Inovaccedilatildeo que eacute composta pelo eduLab2149 Ideias e Tendecircncias Estudos

e Pesquisas Soluccedilotildees Educacionais composta pelas poliacuteticas e praacuteticas na escola como Ensino

Meacutedio Ensino Fundamental ndash anos finais Poliacuteticas de Aprendizagem Escolar Soluccedilotildees de

Avaliaccedilatildeo E por uacuteltimo a Articulaccedilatildeo composta por Poliacuteticas Puacuteblicas Foacuteruns Seminaacuterios e

Parcerias Educacionais

Para Caetano (2015) o IAS redimensionou seu foco de atuaccedilatildeo passando tambeacutem a

atuar no Programa Educaccedilatildeo para o seacuteculo 21 cujo objetivo principal eacute trabalhar as

competecircncias socioemocionais a partir do Paradigma do Desenvolvimento Humano proposto

pelo PNUD e pelo Relatoacuterio Delors organizado pela Unesco Foi com apoio dos organismos

multilaterais como a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e o Desenvolvimento Econocircmico

(OCDE) que se passou a produzir conhecimento para apoiar governos e instituiccedilotildees a criarem

poliacuteticas e praacuteticas voltadas intencionalmente para a promoccedilatildeo dessas competecircncias Partindo

de meacutetodos especiacuteficos para esse fim o IAS estabeleceu relaccedilotildees com diversas instituiccedilotildees para

desenvolver o programa Educaccedilatildeo para o Seacuteculo 21

49 Ver anexo 4

121

Figura 6 ndash Programa Educar para o Seacuteculo 21

Fonte Elaborado por Caetano (2015 p 5)

Ainda conforme a autora o programa Educar para o Seacuteculo 21 possui trecircs grandes aacutereas

de atuaccedilatildeo a inovaccedilatildeo as soluccedilotildees educacionais e a articulaccedilatildeo como ficou demonstrado na

figura 6

No item ldquoideias e tendecircnciasrdquo o Instituto propotildee Ciecircncia para Educaccedilatildeo e as polecircmicas

Competecircncias socioemocionais50

Formar crianccedilas e jovens para o seacuteculo 21 requer o desenvolvimento de um conjunto

de competecircncias necessaacuterias para aprender viver conviver e trabalhar em um mundo

cada vez mais complexo Aleacutem das competecircncias relacionadas ao letramento

numeramento e aos diversos conteuacutedos curriculares fazem parte desse conjunto as

chamadas competecircncias socioemocionais como responsabilidade colaboraccedilatildeo e

curiosidade (Disponiacutevel em lthttpwwwinstitutoayrtonsennaorgbrcomo-

atuamosinovacaoedulab21gt Acesso em 19 nov 2015)

Dada a importacircncia que as competecircncias socioemocionais assumem na proposta do IAS

e as possibilidades que influenciam a poliacutetica educacional abordaremos em item separado

abaixo

50 Sobre o tema competecircncias socioemocionais ver Smolka Laplane e Magiolino (2015) e carta Aberta da

ANPED sobre o assunto Disponiacutevel em lthttpwwwanpedorgbrnewscarta-aberta-sobre-avaliacao-em-

larga-escala-de-habilidades-nao-cognitivas-de-criancas-e-jovensgt E a moccedilatildeo do VSEB CEDES contra a

mensuraccedilatildeo de competecircncias socioemocionais como poliacutetica puacuteblica Disponiacutevel em

lthttpwwwscielobrpdfesv36n1311678-4626-es-36-131-00287pdfgt

122

55 COMPETEcircNCIAS SOCIOEMOCIONAIS

O IAS encomendou o estudo Desenvolvimento socioemocional e aprendizado escolar

uma proposta de mensuraccedilatildeo para apoiar poliacuteticas puacuteblicas em parceria com a OCDE e a

Secretaria Estadual do Rio de Janeiro que apresenta o programa de mediccedilatildeo socioemocional e

foi batizado de SENNA (Social and Emotional or Non-cognitive Nationwide Assessment) Eacute

baseado em caracteriacutesticas socioemocionais sobre a vida das pessoas agrupando as evidecircncias

disponiacuteveis segundo os cinco grandes domiacutenios de personalidade conhecidos como Big Five

1 Abertura a novas experiecircncias

2 Conscienciosidade (ser organizado esforccedilado e responsaacutevel)

3 Extroversatildeo (definida como a orientaccedilatildeo de interesses e energia em direccedilatildeo ao mundo externo

e pessoas e coisas)

4 Amabilidade

5 Estabilidade Emocional ou Neuroticismo (definida como a previsibilidade e consistecircncia de

reaccedilotildees emocionais sem mudanccedilas bruscas de humor)

Em entrevista Viviane Senna diz que estatildeo treinando os professores que participam da fase-

piloto da pesquisa para que estimulem seus alunos nas caracteriacutesticas adequadas ao sucesso escolar

Questionamos como uma psicoacuteloga que natildeo exerce nenhum cargo puacuteblico natildeo eacute formada em educaccedilatildeo

tem tamanho poder para definir o que ldquoachardquo de acordo com a sua formaccedilatildeo ser o melhor para a

educaccedilatildeo brasileira e com apoio da OCDE Eacute a presenccedila do que destacamos como os sujeitos individuais

e coletivos na direccedilatildeo das poliacuteticas educativas E da mesma forma o conteuacutedo da proposta afinal

aleacutem de definir o que deve ser ensinado ainda deve ldquoformatarrdquo as caracteriacutesticas socioemocionais

moldando-as de acordo com o que se julga ser adequado para natildeo questionar as contradiccedilotildees da

sociedade que se vive E aleacutem disso tudo fazem uma avaliaccedilatildeo para ter o controle natildeo soacute do

conhecimento mas tambeacutem da subjetividade dos estudantes

Para garantir que todas as crianccedilas e jovens tenham acesso a uma educaccedilatildeo de

qualidade que realmente prepare para os desafios que encontraratildeo ao longo da vida

trabalhamos para promover a lsquoeducaccedilatildeo integralrsquo nas redes puacuteblicas do Brasil com

foco no ensino fundamental e meacutedio (Disponiacutevel em


Como parte da proposta Educaccedilatildeo para o Seacuteculo 21 o IAS reuacutene uma rede

multidisciplinar de parceiros como universidades pesquisadores fundaccedilotildees e organizaccedilotildees

internacionais Eacute importante destacar que conforme notiacutecia veiculada na sua paacutegina estaacute

123

encaminhando junto ao CNE o PROJETO CNEUNESCO o desenvolvimento das habilidades

socioemocionais como caminho para a aprendizagem e o sucesso escolar de alunos da educaccedilatildeo

baacutesica

Neste estudo a pesquisadora Anita Abed fornece subsiacutedios ao CNE (Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo) para a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao

desenvolvimento das competecircncias socioemocionais nas instituiccedilotildees escolares A

autora ancora a transformaccedilatildeo da escola na construccedilatildeo do desenvolvimento integral

dos estudantes e explicita caminhos concretos para o professor incluir com

intencionalidade o desenvolvimento socioemocional na sua praacutetica pedagoacutegica

(Disponiacutevel em lthttpeducacaosec21orgbrbiblioteca-3artigos-e-tesesgt Acesso

em 19 dez 2015)

E o mais grave eacute que o estudo subsidiou um parecer que estaacute em tramitaccedilatildeo no Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo sobre o papel das competecircncias na educaccedilatildeo baacutesica conforme notiacutecia

veiculada pelo Instituto em sua paacutegina

[] o estudo lsquoO desenvolvimento das habilidades socioemocionais como caminho

para a aprendizagem e o sucesso escolar dos alunos da educaccedilatildeo baacutesicarsquo

encomendado pelo Conselho Nacional de Educaccedilatildeo para subsidiar um parecer sobre

o papel das competecircncias na educaccedilatildeo baacutesica (Disponiacutevel em

lthttpwwwinstitutoayrtonsennaorgbrcomo-atuamosarticulacaopoliticas-

publicasgt Acesso em 20 nov 2015)

Aleacutem de estar articulado com o Conselho Nacional de Educaccedilatildeo o IAS tambeacutem

imprimiu a ideia de competecircncias socioemocionais no documento da Secretaria de assuntos

Estrateacutegicos Paacutetria Educadora (2015) que no item em que discute as mudanccedilas no paradigma

curricular e pedagoacutegico do ensino baacutesico traz o tema

A essecircncia da mudanccedila necessaacuteria eacute a substituiccedilatildeo progressiva de decoreba

enciclopeacutedica por capacitaccedilatildeo analiacutetica A primazia deve caber sempre agraves

capacitaccedilotildees analiacuteticas interpretaccedilatildeo e composiccedilatildeo de texto e raciociacutenio loacutegico






3 Capacitaccedilotildees preacute-cognitivas

Grande parte da massa de alunos pobres no paiacutes enfrenta obstaacuteculos que podem

parecer intransponiacuteveis em subir a escada das capacitaccedilotildees analiacuteticas Satildeo as

inibiccedilotildees agraves vezes chamadas socioemocionais que barram o caminho []

Dois conjuntos destas capacitaccedilotildees merecem atenccedilatildeo maior as de disciplina e as de

cooperaccedilatildeo Ambas satildeo indispensaacuteveis para aproveitar o tipo de ensino que aqui se

propotildee

Disciplina inclui poder de concentraccedilatildeo nas tarefas da aprendizagem e portanto

determinaccedilatildeo de manter rotina de trabalho habilidade para hierarquizar as tarefas em

ordem de importacircncia e de premecircncia disposiccedilatildeo para organizar o tempo e para tratar

o futuro como presente dedicaccedilatildeo ao cumprimento dos compromissos e energia para

124

reprimir distraccedilotildees e tentaccedilotildees No fundo existencial da disciplina estaacute a alianccedila

entre a ambiccedilatildeo e a autoestima (BRASIL 2015 p 14 grifo da autora)

Verificamos que o conteuacutedo da proposta51 competecircncias soacutecio emocionais

desenvolvido pelo Instituto Airton Senna eacute incorporado pelo setor puacuteblico atraveacutes de uma

secretaria estrateacutegica de governo Justificamos a incorporaccedilatildeo de um item sobre este assunto

na tese pela possibilidade de incorporaccedilatildeo deste tema agrave poliacutetica educacional e finalizamos o

item ressaltando que o IAS jaacute estaacute influenciando no Conselho Nacional de Educaccedilatildeo assim

como no documento Paacutetria Educadora apresentados acima

Destacamos ainda que entendemos a ampliaccedilatildeo do acesso como direito agrave educaccedilatildeo e

nesse sentido acesso natildeo apenas agrave matriacutecula mas ao conhecimento As competecircncias

socioemocionais deslocam o foco para caracteriacutesticas adestradoras instrumentais agrave sociedade

do capital desenvolvendo o que Apple (1989) denomina de curriacuteculo oculto da escola e

Enguita (1989) de face oculta da escola

56 FINANCIAMENTO DO IAS

Apesar de natildeo ser o foco central da pesquisa a questatildeo do financiamento do IAS eacute

relevante pois revela sua rede de relaccedilotildees puacuteblicas e privadas assim como exemplifica o que

Ball e Olmedo (2013) denominam filantropia 30 a relaccedilatildeo entre a doaccedilatildeo e o lucro por isso

apesar das dificuldades enfrentadas para a coleta de dados consistentes apresentaremos neste

item o que ao longo das pesquisas conseguimos coletar

Uma das questotildees importantes natildeo apenas para o IAS mas para a relaccedilatildeo entre o

puacuteblico e o privado envolvendo o terceiro setor eacute a renuacutencia de receitas pois eacute um recurso

que deixa de entrar para os cofres puacuteblicos e que seria destinado agrave educaccedilatildeo puacuteblica via

vinculaccedilatildeo de verbas

O IAS recebe volumosas doaccedilotildees como a que verificamos durante a pesquisa anterior

no Seminaacuterio Educaccedilatildeo Puacuteblica de Qualidade para um Brasil Melhor no 7ordm Foacuterum

Empresarial de Comandatuba

Em um momento onde a emoccedilatildeo tomou conta de todos empresaacuterios doaram a quantia

de R$ 577000000 ao Instituto Ayrton Senna e LIDE EDH em apenas 10 minutos

de seminaacuterio Este valor eacute recorde absoluto entre todas as ediccedilotildees do evento e seraacute

utilizado em projetos para a recuperaccedilatildeo do ensino puacuteblico nos quatro cantos do Paiacutes

51 Conteuacutedo da proposta eacute o termo utilizado nesta etapa da pesquisa para analisar qual eacute o conteuacutedo das

instituiccedilotildees privadas que influenciam a educaccedilatildeo puacuteblica

125

Somente um empresaacuterio que preferiu o anonimato doou R$ 600 mil (Disponiacutevel em

lthttpwwwforumdoriassociadoscombr noticiasaspgt Acesso em 15 jul 2008)

O Instituto realiza inuacutemeras companhas de doaccedilatildeo de recursos Na sua paacutegina haacute um

item que trata apenas de doaccedilotildees O IAS convence os doadores com o argumento de que todos

tecircm a responsabilidade sobre a qualidade do ensino puacuteblico mas tambeacutem com a teoria do capital

humano de que assim investiremos no futuro das pessoas e no desenvolvimento do Paiacutes

Ser um doador do Instituto Ayrton Senna eacute participar de forma ativa para uma melhor

educaccedilatildeo e formaccedilatildeo de nossas crianccedilas e jovens que estatildeo no ensino puacuteblico O

resultado eacute pessoas mais capacitadas com mais oportunidades para ter uma profissatildeo

melhor uma vida melhor e assim construirmos um paiacutes mais forte para todos

(Disponiacutevel em lthttpwwwinstitutoayrtonsennaorgbrcomo-pessoagt Acesso

em 23 nov 2015)

E segue apresentando formas de contribuiccedilatildeo fiacutesica e juriacutedica ao Instituto para que

cumpra tatildeo importante tarefa A pessoa fiacutesica pode contribuir

1 Doando dinheiro

2 Adquirindo produtos ou serviccedilos relacionados agrave causa atraveacutes de Grandes marcas

que satildeo parceiras do Instituto e revertem parte da renda obtida com a

comercializaccedilatildeo de seus produtos e serviccedilos agraves nossas soluccedilotildees educacionais

3 Doando pontos do cartatildeo de creacutedito Multiplus Dotz ou Citi Auto Rewards

4 Nota Fiscal Paulista - os tributos fiscais se transformam em soluccedilotildees educacionais

5 Arredondamento de troco - nas suas compras online

6 Adquirindo produtos na Ayrton Senna Shop - canal oficial de vendas online

7 Adquirindo produtos da marca Ayrton Senna

8 Adquirindo produtos Senninha

9 Participando de Campanhas e Eventos como a Maratona de Revezamento Ayrton

Senna Racing Day Ao adquirir o kit do atleta para participar da maratona

contribui com os programas do Instituto Ayrton Senna (Disponiacutevel em

lthttpwwwinstitutoayrtonsennaorgbrcomo-pessoagt Acesso em 23 nov

2015)

A pessoa juriacutedica pode contribuir com o IAS

1 Investindo nas soluccedilotildees educacionais

2 Sendo parceiro de marketing relacionado agrave causa - O Marketing Relacionado agrave

Causa (MRC) eacute uma parceria ganha-ganha na qual os consumidores podem se

engajar e apoiar a causa da educaccedilatildeo comprando produtos ou serviccedilos de marcas

parcerias e as empresas por meio de um diferencial competitivo podem

aumentar suas vendas e ganhar posiccedilatildeo de destaque entre seus concorrentes

3 Licenciar produtos da marca Ayrton Senna - Muitas empresas nacionais e

internacionais licenciam a imagem do tricampeatildeo de F1 natildeo soacute para agregar

valor sofisticaccedilatildeo qualidade e design ao produto ou serviccedilo mas tambeacutem

porque compartilham dos valores defendidos por Ayrton Senna e os princiacutepios de

responsabilidade social ao reverterem parte da receita obtida com a venda de

produtos ao Instituto Ayrton Senna

4 Licenciar produtos da marca SENNA - Associar produtos com o icocircnico e

inconfundiacutevel lsquoSrsquo de Senna que trazem consigo os valores do tricampeatildeo

126

determinaccedilatildeo motivaccedilatildeo superaccedilatildeo e busca da perfeiccedilatildeo Confira nossos

produtos httpwwwayrtonsennashopcombrstaticsenna_collection

5 Licenciar produtos da marca Senninha Ligar a marca ao personagem Senninha

representa uma oportunidade diferenciada para empresas que acreditam em

um futuro melhor para as novas geraccedilotildees e ao sucesso e maior credibilidade de

seus produtos ou serviccedilos contribuindo ainda com o Instituto Ayrton Senna

6 Patrocinar eventos - Ayrton Senna Racing Day

7 Realizar exposiccedilotildees

8 Prestar serviccedilo agrave causa do Instituto - Empresas parceiras doam parte do tempo de

seus profissionais e a sua expertise para ajudar o Instituto a realizar a sua missatildeo

em favor da educaccedilatildeo puacuteblica do Paiacutes (Disponiacutevel em

lthttpwwwinstitutoayrtonsennaorgbrcomo-empresagt Acesso em 23 nov

2015)

Observamos nos itens destacados claramente a relaccedilatildeo entre o doar e o lucro

apresentado no terceiro capiacutetulo atraveacutes da filantropia 30 ldquo[] o que haacute de lsquonovorsquo na lsquonova



2013 p 33)

A justificativa apresentada pelo IAS para as empresas doarem ao Instituto ou

estabelecerem parcerias eacute o marketing ou a renuacutencia de receitas

Na pesquisa nacional alguns estudos de caso apontam para os altos custos do Programa

para o municiacutepio

Quanto ao financiamento do programa Caacuteceres apontou custos levados pela

lsquoterceirizaccedilatildeorsquo da manutenccedilatildeo do SIASI a uma empresa de consultoria credenciada

pelo IAS (COSTA 2010) Nos demais municiacutepios o custo da parceria era

relativamente pequeno em torno de R$ 5000 00 ao ano em 2009 Haacute informaccedilotildees

relativas agrave assunccedilatildeo pelo municiacutepio das despesas com reuniotildees e deslocamentos da

equipe do municiacutepio para Satildeo Paulo sede do IAS ou das despesas do assessor do IAS

quando este se deslocava para a realizaccedilatildeo de visitas in loco (ADRIAtildeO PERONI

2011 p 50)

Outra questatildeo importante eacute a transparecircncia de onde satildeo investidos os recursos jaacute que

ao estabelecerem as parcerias os sistemas puacuteblicos pagam para colocar no SIASI os dados

pagam pelo material isto eacute natildeo estaacute claro onde exatamente o instituto investe os recursos

recebidos

Em consulta ao Tribunal constatei que se as dificuldades de controle do repasse

puacuteblico para as Organizaccedilotildees da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico (Oscip) satildeo

grandes dado o volume de dados a fiscalizaccedilatildeo da renuacutencia de receitas eacute ainda maior

Existe apenas um setor do TCU em Brasiacutelia a Secretaria de Macroavaliaccedilatildeo

Governamental (Semag) que analisa essas contas mas apenas alguns casos satildeo

escolhidos para uma avaliaccedilatildeo mais ampla com equipes multidisciplinares []

(PERONI 2006a p 128)

Em outro artigo com Pires que estudou esse tema na parceria com municiacutepio do RS

(PIRES 2008) apontamos que com relaccedilatildeo ao financiamento se trata de ldquo[] um caso de

127

lsquofinanciamento-puacuteblico de prestaccedilatildeo privada de serviccedilosrsquo ou seja o poder puacuteblico financia a

aplicaccedilatildeo de uma metodologia privada para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblicardquo (PIRES

PERONI 2010 p 66 grifo do autor)

Caetano em pesquisa atual sobre o IAS apresenta recente parceria no estado do Rio de

Janeiro onde tem preferencialmente atuado no uacuteltimo periacuteodo

No caso do estado do Rio de Janeiro a parceria com empresas do mercado foram

firmadas para financiar a aplicaccedilatildeo do programa lsquoSoluccedilatildeo Educacional para o Ensino

Meacutediorsquo que aleacutem da Seeduc-RJ e do IAS tem a parceria da PampG52 e Citi Foundation53

(INSTITUTO AYRTON SENNA 2015) O foco desse programa estaacute na formaccedilatildeo

continuada dos professores pelo IAS (CAETANO 2013 p 12)

Montantildeo (2002) adverte que ocorre a transferecircncia de fundos puacuteblicos jaacute que o terceiro

setor em geral natildeo possui condiccedilotildees de autofinanciamento Conforme o autor ldquo[] esta

transferecircncia eacute chamada ideologicamente de lsquoparceriarsquo entre o Estado e a sociedade civil com

o Estado supostamente contribuindo financeira e legalmente para propiciar a participaccedilatildeo da

sociedade civilrdquo (MONTANtildeO 2002 p 199)

O IAS atua com escolas de ensino fundamental a seguir apresentaremos o exemplo de

outra parceria que ocorre com escolas de ensino meacutedio atraveacutes do caso do Instituto Unibanco

Ao apontarmos algumas implicaccedilotildees da parceria do IAS com sistemas puacuteblicos para a

democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo destacamos que atraveacutes do SIASI o IAS monitora a rede puacuteblica

determina em que deve melhorar influencia na gestatildeo da escola e as redes puacuteblicas pagam por

esse monitoramento Ocorre dessa forma a diminuiccedilatildeo da autonomia do professor que entre

outros fatores fica minimizada desde quando recebe o material pronto para utilizar em cada dia

na sala de aula e tem um supervisor que verifica se estaacute tudo correto ateacute a loacutegica da premiaccedilatildeo

por desempenho que estabelece valores como o da competitividade entre alunos professores e

escolas como se a premiaccedilatildeo dos mais capazes induzisse a qualidade via competiccedilatildeo A outra

questatildeo satildeo as metas estabelecidas que passam a dar mais ecircnfase ao produto final e natildeo ao

processo e agrave coletivizaccedilatildeo das decisotildees que seriam pedagoacutegicas para a construccedilatildeo

democraacutetica

52 A Procter amp Gamble eacute uma empresa global que reuacutene um conglomerado de subempresas produzindo

alimentos produtos de higiene e limpeza dentre outros Deteacutem mais de 380 marcas por todo mundo

53 A CitiFoundation estaacute ligada ao CitiBank e opera com atendimento bancaacuterio a Credicard oferece cartotildees de

creacutedito a Corretora de Seguros e a Credicard Soluccedilotildees de Creacutedito provecircm creacutedito pessoal agraves classes C e D Por

meio da Fundaccedilatildeo Citi investe em projetos sociais nas seguintes aacutereas educaccedilatildeo financeira reforccedilo ao ensino

baacutesico e profissionalizante empreendedorismo desenvolvimento sustentaacutevel de comunidades meio ambiente

e cultura Disponiacutevel em lthttpswwwcitibankcombrcartoescorporativosocitibankindexhtmgt Acesso

em 3 jul 2015

128

57 INSTITUTO UNIBANCO54

Em 2007 o Instituto concebeu e implantou o Projeto Jovem de Futuro (PJF) de forma

experimental

O Instituto Unibanco foi criado em 1982 inicialmente para promover as accedilotildees e os

investimentos sociais do banco55 e expandiu sua atuaccedilatildeo na educaccedilatildeo formal em 2003 O

Instituto tinha como objetivo que suas tecnologias se transformassem em poliacuteticas puacuteblicas por

isso em 2007 concebeu e implantou o Projeto Jovem de Futuro (PJF) que atuou em escolas

de ensino meacutedio de forma experimental em trecircs escolas paulistanas No ano seguinte aplicou

o projeto-piloto em 20 instituiccedilotildees de ensino de Minas Gerais e 25 do Rio Grande do Sul Jaacute

em 2009 o projeto se expandiu para mais 41 escolas do estado de Satildeo Paulo (CAETANO

PERONI 2015)

Em 2011 as unidades participantes da fase experimental tornaram-se as primeiras a

cumprir todo o ciclo do Ensino Meacutedio sob a accedilatildeo do Jovem de Futuro e deram subsiacutedio para a

validaccedilatildeo do projeto e para sua aplicaccedilatildeo em larga escala em parceria com o Programa Ensino

Meacutedio Inovador do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos da

Presidecircncia (SAE) e cinco Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica estadual

de ensino no Cearaacute em Goiaacutes no Mato Grosso do Sul no Paraacute e no Piauiacute cujo objetivo

segundo o Instituto eacute a melhoria do Ensino Meacutedio puacuteblico

Em 2011 o PJF teve sua tecnologia validada e ampliada para a aplicaccedilatildeo em larga

escala em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo no Programa Ensino Meacutedio Inovador

(PROEMI) A parceria passou a se chamar ProEMIJF

Eacute interessante observar que assim como o IAS tambeacutem a SAE celebrou acordo de

cooperaccedilatildeo teacutecnica com o Unibanco isto eacute a Secretaria de Assuntos estrateacutegicos da Presidecircncia

da Repuacuteblica assina acordo diretamente com essas instituiccedilotildees privadas para influenciarem nas


O Instituto Unibanco e a Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos da Presidecircncia da

Repuacuteblica (SAE) firmam no dia 29 de agosto agraves 11h o acordo de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

para o desenvolvimento de estudos projetos pesquisas e avaliaccedilotildees em conjunto O

54 Esta parte do texto que analisa a parceria do Instituto Unibanco com escolas de ensino meacutedio eacute parte da

pesquisa atual descrita no primeiro capiacutetulo Aleacutem de coordenar a pesquisa sou responsaacutevel com Raquel

Caetano pela parte que estuda o caso Instituto Unibanco

55 Em 2008 formou o conglomerado Itauacute Unibanco

129

foco das accedilotildees que seratildeo desenvolvidas por meio do acordo seraacute a aacuterea de educaccedilatildeo

com ecircnfase nos jovens do Ensino Meacutedio puacuteblico (Disponiacutevel em

lthttpwwwsaegovbrsitep=7567gt publicado em 24082011 Acesso em 2 ago

2012)

Por outro lado o PROEMI foi um programa governamental construiacutedo em um processo

de correlaccedilatildeo de forccedilas por uma concepccedilatildeo de curriacuteculo diferente da que vinha se

desenvolvendo no Paiacutes vinculada agraves habilidades e competecircncias O Programa Ensino Meacutedio

Inovador foi criado ldquo[] com vistas a apoiar e fortalecer o desenvolvimento de propostas

curriculares inovadoras nas escolas do ensino meacutedio natildeo profissionalrdquo (BRASIL 2009

Portaria 97109 art 1)

O documento apresenta uma definiccedilatildeo de curriacuteculo que embasa sua proposta

O curriacuteculo em todas suas dimensotildees e accedilotildees deveraacute ser elaborado de forma a

garantir o direito agrave aprendizagem e ao desenvolvimento dos estudantes por meio de

accedilotildees e atividades que contemplem nessa perspectiva de integraccedilatildeo curricular a

abordagem de conhecimentos o desenvolvimento de experiecircncias e a promoccedilatildeo de

atitudes que se materializam na formaccedilatildeo humana integral gerando a reflexatildeo criacutetica

e a autonomia dos estudantes (BRASIL 2009 p 8-9)

Verificamos ainda que o PROEMI tem o objetivo de fomentar metodologias

emancipadoras e dar condiccedilotildees para que sistemas puacuteblicos e escolas construam propostas

curriculares democraticamente debatidas Conforme o documento orientador do PROEMI ldquoA

construccedilatildeo do Projeto de Redesenho Curricular (PRC) deveraacute ocorrer de forma coletiva e

participativa contemplando accedilotildees que correspondam agrave realidade da escola e dos estudantesrdquo

(BRASIL 2014 p 14)

No entanto o proacuteprio governo federal que possibilitou a construccedilatildeo de uma poliacutetica

participativa e democraacutetica de curriacuteculo para o ensino meacutedio fez convecircnio com o Instituto

Unibanco abrindo a possibilidade para que os sistemas estaduais que satildeo responsaacuteveis pelo

ensino meacutedio no paiacutes fizessem parcerias para a implantaccedilatildeo do PROEMI Assim no lugar de

uma construccedilatildeo democraacutetica e coletiva na escola a proposta curricular deveria ser feita atraveacutes

de um padronizado sistema de gestatildeo e avaliaccedilatildeo que na concepccedilatildeo do Instituto Unibanco

seria o caminho para qualificar a aprendizagem dos alunos (PERONI 2015)

Para o Jovem de Futuro uma gestatildeo eficiente participativa e com foco nos resultados

positivos de aprendizagem pode influenciar de maneira decisiva a qualidade da

educaccedilatildeo oferecida pela escola Nessa perspectiva aleacutem de incentivar o redesenho

curricular das escolas com orientaccedilatildeo e recursos financeiros direcionados pelo MEC

o ProEMIJF tambeacutem busca fortalecer a gestatildeo escolar com foco na melhoria dos

resultados de ensino (INSTITUTO UNIBANCO 2013 p 11 Ensino Meacutedio

Inovador e Jovem de Futuro set2013)

130

Como vimos a proposta do PROEMI tem o foco no curriacuteculo enquanto o Instituto

Unibanco atraveacutes do Programa Jovem de Futuro apresenta uma proposta mais vinculada agrave

gestatildeo da escola como indutora da aprendizagem dos alunos

571 Sujeitos

Conforme analisamos no terceiro capiacutetulo o foco da nossa pesquisa atual satildeo os sujeitos

e conteuacutedo da proposta assim ao pesquisarmos o Instituto Unibanco (IU) nos detemos tambeacutem

em conhecer quem satildeo os sujeitos que participam do conselho de governanccedila de que instituiccedilatildeo

participam e que relaccedilotildees estabelecem com outras redes de influecircncia no setor empresarial e

puacuteblico Eacute o que apresentaremos neste item do capiacutetulo Abaixo estatildeo organizados em uma

figura para melhor visualizar alguns membros do Conselho de Governanccedila e de onde falam

isto eacute as empresas e instituiccedilotildees em que atuam ou atuaram

Figura 7 ndash Conselho de Governanccedila do Instituto Unibanco e suas relaccedilotildees

BOVESPA

CONSELHO DE GOVERNANCcedilA

ITAUacute-UNIBANCO

Fundaccedilatildeo

OSESP

TOTVS

VICE-PRESIDENTE

PEDRO MALAN

Falconi Consultores

Associados

SecNacional de

EducCont-SECAD

MEC

Itau Unibanco

HoldingFOI

PRESIDENTE

PEDRO MOREIRA

SALLES

SUPERINTEXECUT

RICARDO HENRIQUES

CONSELHO

FISCAL

IFRS Foudation

Mills Energia

Consultor Intern

Itauacute Unibanco

ALCOA

CoordDesenv

Humano do RJ

SecExec

MinAssistSocial

ANTONIO

MATIAS

RICARDO PAES

DE BARROS

MARCOS LISBOA

CLAUDIO

HADDAD

CLAUDIO MOURA

CASTRO

SecAssist Soc e

DH do RJ

EDP Energia

Ministro da

Fazenda

PresBanco

Central Diretor

Banco

Mundial

Diretor do BIRD

E ONU

Educaccedilatildeo

Compromisso SP

Cambuhy

Investimentos

INSPER

BUNGESouza Cruz

Thompson Reuter

Temasek Internacional

Cons e negociador

divida

externa

Assessor

BNDES

Membro da

UNESCO e

BIRD

Pesquisador

IPEA

Ethos

Itau Social

Todos pela

Educaccedilatildeo FundRoberto

Marinho

FEBRABAN

Pitaacutegoras

Positivo

INSPER

IBMECFaculdade

Veris

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Instituto

Natura

INSPER

SAE

TOMAS SOUTO

C NETO

GRUPO ABRIL

ANNER

FIPP

TOMAS ZINNER

CEBRI

Junior Achievement

The Natura Conservancy

Akatu

VEJA

Fonte Relatoacuterio UnibancoJovem de Futuro 2013 (CAETANO PERONI 2015 p 100)

131

Destacamos dentre os principais locais de atuaccedilatildeo dos membros do conselho de

governanccedila (CG) a proacutepria instituiccedilatildeo financeira ItauacuteUnibanco governo instituiccedilotildees privadas

educacionais do Terceiro Setor organizaccedilotildees internacionais e outras instituiccedilotildees Alguns

ocupam cargos importantes na Instituiccedilatildeo Financeira Unibanco sendo pessoas que tecircm

princiacutepios e praacuteticas empresariais e natildeo tecircm expertise na aacuterea educacional No entanto

influenciam a poliacutetica educacional brasileira A pergunta que se coloca eacute ldquoO que estaacute subjacente

a este interesse pela educaccedilatildeordquo

Observamos tambeacutem a relaccedilatildeo entre o governo federal e o Instituto atraveacutes da presenccedila

de Ricardo Henriques que foi secretaacuterio da SECADMEC (2004-2007) e eacute atualmente o

superintendente do Conselho de Governanccedila assim como Ricardo Paes de Barros que foi ateacute

2015 subsecretaacuterio de Assuntos Estrateacutegicos da Presidecircncia da Repuacuteblica e ocupou cargo de

conselheiro no Conselho de Governanccedila do Instituto e atualmente atua no Insper56 (Instituto

de Ensino e Pesquisa) onde atualmente coordena o Nuacutecleo de Pesquisa em Ciecircncias para

Educaccedilatildeo que integra a Caacutetedra Instituto Ayrton Senna (CAETANO PERONI 2015)

Salientamos tambeacutem a presenccedila de representantes de instituiccedilotildees Privadas de caraacuteter

empresarial como o conselheiro Claudio de Moura Castro presidente do Conselho Consultivo

da Faculdade Pitaacutegoras e assessor especial da presidecircncia do grupo Positivo bem como Claudio

Luiz da Silva Haddad ex-presidente do Insper e presidente do Conselho do Grupo Ibmec SA

entidade mantenedora das Faculdades Ibmec Rio de Janeiro Minas Gerais Brasiacutelia e das

Faculdades Veris aleacutem de Marcos de Barros Lisboa atual presidente do Insper e ex-secretaacuterio

de Poliacutetica Econocircmica do governo Lula

Eacute forte o viacutenculo do Instituto Unibanco com o Movimento Todos pela Educaccedilatildeo (TPE)

sendo que de sete conselheiros cinco participam do TPE

A seguir apresentamos um quadro dos parceiros do Instituto formas de atuaccedilatildeo e

instituiccedilotildees e sujeitos que a representam

56 O Insper eacute uma instituiccedilatildeo sem fins lucrativos de ensino superior e pesquisa reconhecida como referecircncia em

Administraccedilatildeo Economia Direito e Engenharia Recentemente criou o Centro de Poliacuteticas Puacuteblicas cuja aacuterea

de pesquisa eacute a educaccedilatildeo e se organiza atraveacutes de um Nuacutecleo de Pesquisa em Ciecircncias para a Educaccedilatildeo

coordenado por Ricardo Paes de Barros ligado agrave Caacutetedra do Instituto Ayrton Senna e ao Nuacutecleo Ciecircncia para

a Infacircncia segundo o site lthttpwwwinsperedubrcppgt

132

Quadro 6 ndash Parcerias do PJF do Instituto Unibanco em 2013

PARCEIROS FORMA DE ATUACcedilAtildeO RELACcedilOtildeESSUJEITOS

INDIVIDUAIS EOU

COLETIVOS


Baacutesica do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo

Guia de Tecnologias

Educacionais

Ensino Meacutedio Inovador

Ricardo Paes de Barros Avaliaccedilatildeo em Larga Escala Secretaria de Assuntos

Estrateacutegicos da Presidecircncia da

Repuacuteblica

Todos pela Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo em Debate por um

salto de qualidade na

Educaccedilatildeo Baacutesica em que o

Instituto Unibanco

coordenou a produccedilatildeo dos

artigos sobre Ensino Meacutedio

que compotildeem o terceiro

capiacutetulo - Proposta para um

Ensino Meacutedio compatiacutevel

com o seacuteculo 21

Fundaccedilatildeo Maria Ceciacutelia Souto

Vidigal (FMCSV)

Centro de Estudos e Pesquisas em

Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo

Comunitaacuteria (Cenpec)

Todos pela Educaccedilatildeo Observatoacuterio do PNE em que

foi destinado o

acompanhamento da meta 3

uacutenica que aborda o Ensino

Meacutedio ldquoUniversalizar ateacute

2016 o atendimento escolar

para toda a populaccedilatildeo de 15 a

17 anos e elevar ateacute o final

do periacuteodo de vigecircncia deste

PNE a taxa liacutequida de

matriacuteculas no Ensino Meacutedio

para 85rdquo

Capes Cenpec Comunidade

Educativa CEDAC Fundaccedilatildeo Itauacute

Social Fundaccedilatildeo Lemann


Vidigal Fundaccedilatildeo Roberto

MarinhoCanal Futura Fundaccedilatildeo

Santillana Fundaccedilatildeo Victor

Civita Instituto Avisa Laacute Instituto

Ayrton Senna Instituto Natura


Instituto Rodrigo Mendes Ipea

Mais Diferenccedilas SBPC

UNESCO Unicef

Apoio do BID ndash Banco

Interamericano de

Desenvolvimento

14ordm Precircmio Gestatildeo Escolar O Precircmio Gestatildeo Escolar eacute

um reconhecimento a

projetos inovadores e gestotildees

competentes na educaccedilatildeo

baacutesica do ensino puacuteblico

brasileiro

CONSED e Centro de Estudos e

Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e

Accedilatildeo Comunitaacuteria (Cenpec)

Educaccedilatildeo Financeira Projeto de Educaccedilatildeo

Financeira para escolas de

Ensino Meacutedio Alguns dos

conteuacutedos utilizados foram

desenvolvidos pelo Instituto

Unibanco

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e da

Associaccedilatildeo de Educaccedilatildeo

Financeira do Brasil (AEFndash Brasil)

Rede de Pesquisadores

Jovem de Futuro

Por meio da Rede de

Pesquisadores o Instituto

reuniu e incentivou um grupo

de renomados economistas a

Duas dissertaccedilotildees sobre o

Programa Jovem de Futuro

produzidas na FGV

133

pesquisarem as bases de

dados do Jovem de Futuro

Educaccedilatildeo Compromisso de

Satildeo Paulo

A iniciativa da Secretaria

Estadual de Educaccedilatildeo de Satildeo

Paulo estabelece um pacto

com a sociedade em prol da

educaccedilatildeo Entre suas

principais metas o programa

pretende fazer com que a rede

estadual paulista figure entre

os 25 melhores sistemas de

educaccedilatildeo do mundo nas

mediccedilotildees internacionais

aleacutem de posicionar a carreira

de professor entre as dez mais

desejadas do Estado

McKinsey amp Company

Fundaccedilatildeo Lehmann

Parceiros da Educaccedilatildeo Instituto

Natura

Fundaccedilatildeo Itauacute Social Fundaccedilatildeo

Vitor Civita

Governo do Estado de Satildeo Paulo

Pacto pela Educaccedilatildeo no

Paraacute

Educaccedilatildeo Quilombola do

Paraacute

O Pacto pela Educaccedilatildeo do

Paraacute eacute um esforccedilo integrado

entre governo sociedade

civil iniciativa privada e

organismos internacionais

liderado pelo Governo do

Estado do Paraacute com o

objetivo de aumentar em pelo

menos 30 o Ideb do estado

em todos os niacuteveis ateacute 2017

Instituto Natura Fundaccedilatildeo Vale

BID

Fundaccedilatildeo Telefocircnica Fundaccedilatildeo

Itauacute Social Instituto Itauacute BBA

Instituto Synergos que manteacutem

duas redes globais a Senior

Fellows e a Global Philanthropists

Circle

Instituto Rodrigo Mendes O Instituto Rodrigo Mendes

(IRM) eacute uma organizaccedilatildeo de

referecircncia por seu trabalho

voltado para a inclusatildeo de

crianccedilas e jovens com

deficiecircncia ao desenvolver

programas de formaccedilatildeo

visando colaborar para que a

escola puacuteblica seja capaz de

acolher toda e qualquer

pessoa

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundaccedilatildeo

Itauacute Social Fundaccedilatildeo Futebol

Clube de Barcelona Bauducco

Kopenhagen Fundaccedilatildeo Roberto

Marinho IBM Fundaccedilatildeo

Telefocircnica Instituto CampA

Instituto Camargo Correa

Instituto Peniacutensula JBMorgan

Mattos Filho Microsoft SOAP

TAM Tilibra Faber Castells

GEEKIE Games Em parceria com o Instituto

Unibanco e outras

organizaccedilotildees o Geekie

lanccedilou o projeto Geekie

Games O desafio do Enem

O objetivo dessa plataforma eacute

apoiar o estudante na

preparaccedilatildeo para o Exame

Nacional do Ensino Meacutedio

(Enem) Em 2013 os

estudantes das escolas do

ProEMIJF foram

convidados para utilizar a

plataforma em seus estudos

Portal G1

Fundaccedilatildeo Telefocircnica Vivo

Instituto Natura

Secretarias de Educaccedilatildeo da Bahia

Cearaacute e Rio de Janeiro

Cenaacuterios Transformadores

da Sociedade Civil

Brasileira 2023

No segundo semestre de

2013 o Instituto Reos em

parceria com outras

O Instituto Reos ou Reos Partners

eacute uma organizaccedilatildeo internacional

dedicada a apoiar e construir

134

instituiccedilotildees reuniu diversos

representantes de

organizaccedilotildees da sociedade

civil movimentos sociais

governo empresas

universidades miacutedias e

coletivos de jovens para

construir cenaacuterios sobre o

futuro da sociedade civil

organizada no Brasil

capacidade para accedilotildees inovadoras

e colaborativas em sistemas sociais

complexos Eacute uma associaccedilatildeo sem

fins lucrativos fundada em julho

de 2013 Trabalha tanto local como

globalmente atuando em parceria

com a Reos empresa social com

escritoacuterios em Cambridge

(Massachusetts) Haia

Johannesburgo Melbourne

Oxford Satildeo Francisco Satildeo Paulo

e Sydney Fonte Relatoacuterio UnibancoJovem de Futuro 2013 Elaborado por Raquel Caetano (2015)

Para Henriques a iniciativa do ProEMIJF se configura em um exemplo de que eacute

possiacutevel instituir um arranjo institucional virtuoso de cooperaccedilatildeo entre o setor puacuteblico

responsaacutevel pela poliacutetica educacional e o investimento social privado para a construccedilatildeo de um

espaccedilo puacuteblico natildeo estritamente governamental ldquoTrata-se de uma experiecircncia concreta que

revela a possibilidade de geraccedilatildeo de bens puacuteblicos a partir de esforccedilos de complementaridade

referentes agraves responsabilidades compartilhadas entre governos sociedade civil e setor privadordquo

(INSTITUTO UNIBANCO 2012 p 7)

Conforme Ricardo Paes de Barros57 membro do Conselho do Instituto Unibanco e ex-

secretaacuterio de Accedilotildees Estrateacutegicas da Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos da Presidecircncia da

Repuacuteblica ldquoO Jovem de Futuro eacute uma tecnologia social de interesse puacuteblico desenvolvida

pelo setor privado (grifos nossos) com vistas a aprimorar o funcionamento de qualquer escola

puacuteblica que contemple o ensino meacutediordquo (INSTITUTO UNIBANCO 2012 p 22) Para ele a

ldquo[] parceria com o MEC representa o reconhecimento federal da efetividade da estrateacutegia JF

e daiacute vem a relevacircncia do setor privado para a melhoria da qualidade da educaccedilatildeo puacuteblica no

paiacutesrdquo (INSTITUTO UNIBANCO 2012 p 22) Ricardo Paes de Barros eacute tambeacutem responsaacutevel

pela avaliaccedilatildeo dos resultados obtidos pelo Projeto atraveacutes da avaliaccedilatildeo de impacto nas escolas

participantes (CAETANO PERONI 2015)

57 Entre 2011 e 2015 foi subsecretaacuterio de Accedilotildees Estrateacutegicas da Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos da

Presidecircncia da Repuacuteblica (governo Dilma Rousseff) Eacute professor titular da Caacutetedra Instituto Ayrton Senna no

Insper e coordenador do Nuacutecleo de Pesquisa em Ciecircncias para Educaccedilatildeo do Centro de Poliacuteticas Puacuteblicas ndash

CPP

572 O Conteuacutedo da Proposta

O Programa Jovem de Futuro parte do diagnoacutestico de que o problema estaacute na gestatildeo da

escola considerada ineficiente e ineficaz e propotildee a Gestatildeo Escolar para Resultados (GEpR)

que adota sistemas de informaccedilatildeo voltados para o monitoramento controle e avaliaccedilatildeo e a

utilizaccedilatildeo de programas de comunicaccedilatildeo para garantir ampla adesatildeo da comunidade agraves accedilotildees

da escola com objetivos orientados para os resultados na aprendizagem (Disponiacutevel em

lthttpwwwportalinstitutounibancoorgbrgt Acesso em 21 maio 2014)

O PJF parte do princiacutepio de que modificando a gestatildeo da escola de ensino meacutedio os

problemas de evasatildeo reprovaccedilatildeo o chamado fracasso escolar sejam resolvidos Para isso se

utiliza de programas padronizados para os diferentes estados do Paiacutes e um forte controle e

monitoramento dos resultados como jaacute vem sendo pesquisado em outros programas como o

caso do Instituto Ayrton Senna

A proposta de gestatildeo do Programa eacute a Gestatildeo Escolar para Resultados (GEpR) que

engloba a integraccedilatildeo de diferentes processos e ferramentas de gestatildeo escolar bem

como a mobilizaccedilatildeo de recursos humanos a articulaccedilatildeo de recursos teacutecnicos

materiais e financeiros a divisatildeo de responsabilidades a adoccedilatildeo de sistemas de

informaccedilatildeo voltados para o monitoramento controle e avaliaccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo de

programas de comunicaccedilatildeo para garantir ampla adesatildeo da comunidade agraves accedilotildees da

escola sempre tendo em vista a conquista de melhores resultados na aprendizagem

dos alunos (Disponiacutevel em

lthttpwwwportalinstitutounibancoorgbrindexphpoption=com_contentampview=

articleampid=10ampItemid=8gt Acesso em 21 maio 2014)

O conceito de GEpR parte do pressuposto de que qualquer organizaccedilatildeo

principalmente aquelas voltadas para o interesse puacuteblico deve ter uma qualificaccedilatildeo teacutecnica e

social da gestatildeo (INSTITUTO UNIBANCO O Plano em accedilatildeo 2014 p 4 grifo da autora) O

Instituto entende que a gestatildeo da escola natildeo tem especificidades e que pode adotar a perspectiva

de gestatildeo de ldquoqualquer organizaccedilatildeordquo

Conforme documento do IU

A praacutetica da Gestatildeo para resultados (GpR) natildeo eacute nova e tem origem no ideaacuterio do

economista Peter Drucker (1909-2005) que propocircs sistemas de Administraccedilatildeo por

Objetivos aplicados ao setor privado e em poliacuteticas puacuteblicas a partir dos anos 1960

Essas teorias foram adaptadas a muacuteltiplas necessidades poreacutem muitas vezes com

implicaccedilotildees equivocadas pois focavam excessivamente no processo como um meio

de integrar ferramentas utilizadas no processo de gestatildeo com vistas agrave melhoria dos

resultados ndash principal fator a servir de referecircncia a essa modalidade de accedilatildeo


136

O documento afirma ainda que esse ldquo[] movimento altera a forma de lidar com a gestatildeo

de recursos humanos materiais e financeiros fomentando uma nova cultura organizacionalrdquo

(INSTITUTO UNIBANCO 2012 p 15) O que o IU pretende eacute muito mais do que os objetivos

expliacutecitos de melhora na aprendizagem e evasatildeo pretende uma mudanccedila profunda na

organizaccedilatildeo social escolar com base em princiacutepios da administraccedilatildeo de empresas e sua

transposiccedilatildeo para a escola descaracterizando completamente o princiacutepio constitucional da

gestatildeo democraacutetica

Outra questatildeo interessante eacute que o subtiacutetulo que trata da gestatildeo escolar para resultados

nesse documento diz que ldquoO GpR quando adequadamente implementado conduz a escola agrave

conquista de suas metasrdquo (INSTITUTO UNIBANCO 2012 p 14) Assim sendo se o resultado

natildeo for o esperado eacute porque a escola natildeo implantou bem o ldquoreceituaacuteriordquo sendo assim

responsabilizada pelo fracasso nas metas

A gestatildeo focada em resultados eacute efetivada na escola atraveacutes da construccedilatildeo de um Plano

de Accedilatildeo ldquo[] a partir de atividades de planejamento execuccedilatildeo monitoramento e avaliaccedilatildeo

que compotildeem um processo ciacuteclico retroalimentado e contiacutenuo Por isso aqui denominado

lsquoCircuito de Gestatildeorsquordquo (INSTITUTO UNIBANCO O Plano em Accedilatildeo 2014 p 10)

Ainda conforme o documento que orienta o Plano de Accedilatildeo o Circuito de Gestatildeo eacute

baseado nas seguintes accedilotildees contiacutenuas

PLANEJAR - Diagnosticar necessidades escolares bull Definir objetivos e metas bull

Determinar estrateacutegias para alcanccedilar os objetivos compondo um Plano de Accedilatildeo com

cronograma orccedilamento e responsaacuteveis bull Adaptar eou replanejar accedilotildees do plano caso

necessaacuterio

EXECUTAR - Mobilizar a comunidade escolar para as accedilotildees bull Propiciar e facilitar as

condiccedilotildees para as atividades bull Executar as accedilotildees conforme cronograma bull Registrar as

execuccedilotildees fiacutesica e financeira das accedilotildees bull Implementar accedilotildees corretivas em funccedilatildeo dos

resultados obtidos

MONITORAR - Acompanhar e monitorar a execuccedilatildeo das accedilotildees bull Analisar como a

execuccedilatildeo do plano estaacute inserida na rotina escolar bull Analisar o desempenho de toda a

equipe escolar bull Verificar se os objetivos estatildeo sendo alcanccedilados bull Verificar se a

execuccedilatildeo ocorreu como planejado

AVALIAR - Analisar e avaliar a execuccedilatildeo do Plano bull Verificar se os objetivos foram

alcanccedilados bull Aprender com o processo e aprimorar os processos seguintes

(Comunidade de Aprendizagem) bull Sistematizar e ampliar os processos que tiveram

sucesso (INSTITUTO UNIBANCO 2014 p 14)

O documento ressalta ainda que ldquo[] o ponto inicial e primordial eacute a elaboraccedilatildeo de um

diagnoacutestico de qualidaderdquo (INSTITUTO UNIBANCO 2014 p 15) Entendemos que um

processo de gestatildeo democraacutetica natildeo pode prescindir de um oacutetimo diagnoacutestico da realidade

assim como planejar executar monitorar e avaliar satildeo princiacutepios baacutesicos da administraccedilatildeo As

questotildees centrais que queremos destacar satildeo os objetivos pretendidos o grau de coletivizaccedilatildeo

137

das decisotildees e o foco no processo ou apenas nos resultados A proposta de gestatildeo do IU eacute a

gestatildeo para resultados que tem o foco no produto e um produto especiacutefico previamente

determinado pelo Instituto Aleacutem dos instrumentos de avaliaccedilatildeo serem vinculados ao controle

de metas relacionados agrave premiaccedilatildeo e competitividade baseado em princiacutepios do gerencialismo

analisados em capiacutetulo anterior

As escolas recebem capacitaccedilatildeo e assessoria teacutecnica para planejar executar

acompanhar e avaliar uma proposta de melhoria de seus resultados e R$ 100alunoano para

financiar as accedilotildees estrateacutegicas previstas nesse plano

Conforme material da secretaria regional de desenvolvimento da educaccedilatildeo de Sobral ndash

CE

VANTAGENS PARA AS ESCOLAS QUE ADERIREM Recebem apoio teacutecnico e

financeiro no valor de R$ 10000 ano-aluno para um periacuteodo de trecircs anos Capacitaccedilatildeo

de um grupo de gestatildeo para a criaccedilatildeo de um Plano de Melhoria de Qualidade e

assessoria teacutecnica para planejar executar acompanhar e avaliar proposta de melhoria

de seus resultados (Disponiacutevel em

lthttpssitesgooglecomsitepjfcrede06material-da-formacao-na-6a-credegt

Acesso em 14 set 2015)

O relatoacuterio coordenado pelo professor Jorge Ribeiro58 tambeacutem destaca esse ponto

questionando qual foi o motivo pelo qual as escolas aderiram ao programa e pelas entrevistas

realizadas a questatildeo financeira apareceu em todas as respostas enquanto o conteuacutedo da gestatildeo

gerencial natildeo foi levantado o que representa que as escolas se submetem ao conteuacutedo para ter

recursos materiais para realizar suas tarefas com mais dignidade Segue o relatoacuterio que

reproduzimos na iacutentegra pela sua importacircncia

Possivelmente a perspectiva de obter os recursos disponiacuteveis pelo projeto tenha sido

o grande motivador para as escolas aceitarem o PJFIU Alguns representantes das

escolas entrevistadas indicam a importacircncia dos recursos para adesatildeo ao projeto

Quando referiam os motivos que levaram agrave adesatildeo ao PJFIU ouviu-se nas escolas

relatos como os que seguem

- lsquoUma oportunidade de reestruturar a escola puacuteblica em uma vila com grande risco

social propondo uma inovaccedilatildeo em todas as partes da escola financeiro pedagoacutegico e

a oportunidade de capacitaccedilatildeorsquo (Gestatildeo 16 p 3351)

- lsquoEquipe diretiva visualizou a possibilidade de melhorar a escolarsquo (Gestatildeo 05 p

3351)

- lsquoPela verba anunciadarsquo (Gestatildeo 13 p 3351)

- lsquoEquipe diretiva visualizou possibilidade de melhorar a escolarsquo (Gestatildeo 07 p

3351)

- lsquoQuestatildeo financeira necessidade baacutesica de reforma alternativa viaacutevelrsquo (Gestatildeo 28

p 3451)

58 Termo de Cooperaccedilatildeo 168832012 PROEMI MECSEBDCEICGEM ndash FNDE - UFRGS Coordenaccedilatildeo Prof

Dr Jorge Alberto Rosa Ribeiro Avaliaccedilatildeo da Implementaccedilatildeo de projetos no Ensino Meacutedio O Caso Unibanco

Etapa 1 ndash Projeto Jovem de Futuro ndash MG e RS

138

Os relatos acima indicam que diante da realidade de sucateamento das escolas

puacuteblicas que atinge inclusive o EM a promessa de investimento de R$ 100 por

alunoano foi o principal motivador para adesatildeo ao PJFIU Destaque-se que natildeo foi

registrado nenhum comentaacuterio por parte dos entrevistados sugerindo que a adesatildeo

tenha se dado pela perspectiva de construir um novo modelo de gestatildeo ndash gestatildeo de

resultados ndash que eacute o ponto de partida na proposta do Projeto Jovem de Futuro

(RIBEIRO 2014 p 104)

Jaacute enfatizaacutevamos esta questatildeo em trabalhos anteriores de que o Instituto Unibanco

apresenta uma peculiaridade sem duacutevida preocupante ele financia a escola e assim muitas

escolas puacuteblicas acabam aderindo para receber recursos Terminam por submeter-se agraves suas

metas o que interfere em toda instituiccedilatildeo desde o conselho escolar ateacute o conteuacutedo de ensino

jaacute que aplicam provas e as escolas que natildeo atingirem as metas propostas natildeo recebem as

parcelas do financiamento Questionamos se natildeo eacute uma ldquocompra da escola puacuteblicardquo precarizada

apoacutes a falta de investimentos em poliacuteticas educacionais que ocorreu no Brasil principalmente

na deacutecada de 1990

Conforme documento do Instituto satildeo resultados esperados a) dos alunos R1 ndash Alunos

com competecircncias e habilidades em Liacutengua Portuguesa e Matemaacutetica desenvolvidas R2 ndash

Alunos com alto iacutendice de frequecircncia b) dos professores R3 ndash Professores com alto iacutendice de

frequecircncia R4 ndash Praacuteticas pedagoacutegicas melhoradas c) da gestatildeo R5 ndash Gestatildeo escolar para

resultados R6 ndash Infraestrutura da escola melhorada

O Plano de Accedilatildeo eacute elaborado para garantir os resultados esperados No entanto se a

escola natildeo os atingir sofre sanccedilotildees financeiras conforme consta no material de formaccedilatildeo do

Instituto na primeira queda o aporte financeiro reduz a 50 na segunda reduz 25 e na

terceira eacute o final do ciclo

A premiaccedilatildeo por desempenho eacute entendida como incentivo bem dentro da loacutegica

mercantil Em escolas carentes de tudo professores com baixiacutessimos salaacuterios e alunos em

condiccedilatildeo social precaacuteria o Instituto acaba entrando com a sua proposta pedagoacutegica e de gestatildeo

sem grandes resistecircncias Questionamos se natildeo eacute uma forma de compra de poliacuteticas e princiacutepios

educacionais privatizando a escola puacuteblica

Para controlar as accedilotildees do projeto Jovem de Futuro o Instituto Unibanco desenvolveu

uma Plataforma online de gestatildeo de projetos das escolas e formaccedilatildeo a distacircncia Atualmente eacute

composta pelo Sistema de Gestatildeo de Projetos (SGP) e pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem

(AVA) Eacute um sistema de controle muito parecido com o SIASI do Instituto Ayrton Senna

(PERONI CAETANO 2014)

139

Destacamos ainda que o PJF se utiliza de programas padronizados para os diferentes

estados do Paiacutes e um forte controle e monitoramento dos resultados como jaacute vem sendo

pesquisado em outros programas como o caso do Instituto Ayrton Senna

No Manual de preacute-implantaccedilatildeo (INSTITUTO UNIBANCO 2012) destacamos a

constituiccedilatildeo da equipe na secretaria de educaccedilatildeo A equipe executora eacute constituiacuteda por

funcionaacuterios da secretaria ou devem ser contratados pelo poder puacuteblico para executar tarefas

dos PJF nas escolas Estatildeo previstos como funcionaacuterios o Coordenador ProemiPJF tem como

funccedilatildeo fazer a gestatildeo da equipe a gestatildeo de parceiros contratados a aprovaccedilatildeo do Plano das

escolas e eacute ainda responsaacutevel pela execuccedilatildeo do projeto nas escolas O supervisor eacute responsaacutevel

por grupos de 10 escolas Ele apoia a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo do Plano faz o acompanhamento

e controle das atividades realiza reuniatildeo com o grupo gestor e faz visitas agraves escolas O teacutecnico

de apoio agrave gestatildeo faz encontros de monitoramento com as escolas e a avaliaccedilatildeo das prestaccedilotildees

de contas Destacamos aleacutem disso que os funcionaacuterios satildeo pagos pela secretaria de educaccedilatildeo

mas eacute o Instituto Unibanco que determina suas funccedilotildees Assim a separaccedilatildeo entre elaboraccedilatildeo e

execuccedilatildeo natildeo ocorre apenas nas escolas mas tambeacutem nas secretarias de educaccedilatildeo com

profissionais que seriam os responsaacuteveis pela elaboraccedilatildeo das poliacuteticas educativas Eacute

interessante observar que o IU determina o que fazer a distacircncia (por controle remoto) uma vez

que natildeo acompanha a realidade em que estaacute atuando nem mesmo atraveacutes de funcionaacuterios

proacuteprios

Conforme o manual de preacute-implantaccedilatildeo (INSTITUTO UNIBANCO 2012) eacute ainda

tarefa da Secretaria de educaccedilatildeo a busca de parceiros para avaliaccedilotildees

O Parceiro de Avaliaccedilatildeo eacute uma empresa que faz e aplica as avaliaccedilotildees e as oficinas

devolutivas que satildeo a apresentaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de resultados para os professores

e a orientaccedilatildeo de accedilotildees pedagoacutegicas para a melhoria dos alunos nas escolas


E mesmo que o poder puacuteblico local jaacute tenha construiacutedo seu sistema de avaliaccedilatildeo deve

estar de acordo com as determinaccedilotildees no Instituto

Caso sua Secretaria jaacute possua um sistema de avaliaccedilatildeo proacuteprio verifique se estaacute de

acordo com as exigecircncias solicitadas pelo ProEMIPJFIU (INSTITUTO

UNIBANCO 2012 p 16)

O Instituto repassa a responsabilidade para que o setor puacuteblico contrate de forma

terceirizada a avaliaccedilatildeo institucional atraveacutes de edital (inclusive no manual encontram-se

pormenores do edital) e o instituto fica na direccedilatildeo estabelecendo seu conteuacutedo para o puacuteblico

140

e monitorando cada passo com pessoas que passam a responder ao Instituto apesar de serem

financiadas pelo governo

Outro documento importante do IU eacute o manual de implantaccedilatildeo que apresenta objetivos

a serem conquistados pelas escolas tais como

bull Fomentar a melhoria do clima escolar no que se refere ao respeito agrave solidariedade

agrave disciplina e agrave diminuiccedilatildeo da violecircncia bull Oferecer condiccedilotildees para a melhoria da

formaccedilatildeo e das condiccedilotildees de trabalho dos profissionais da escola bull Promover uma

cultura de avaliaccedilatildeo como instrumento de aperfeiccediloamento do processo de ensino-

aprendizagem bull Apoiar a gestatildeo participativa e guiada por resultados bull Contribuir

para a melhoria do ambiente fiacutesico escolar com relaccedilatildeo a instalaccedilotildees e equipamentos

(INSTITUTO UNIBANCO Manual de implementaccedilatildeo 2012 p 7)

E satildeo definidas metas a serem atingidas pelas escolas que desenvolvem o Projeto

Reduzir em 40 os iacutendices meacutedios de evasatildeoabandono escolar do Ensino Meacutedio em

trecircs anos Aumentar a meacutedia de rendimento da escola em um desvio padratildeo (25

pontos) na escala SAEB (Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica) e

diminuir o percentual de alunos com proficiecircncia abaixo do recomendaacutevel nas

disciplinas de Liacutengua Portuguesa e Matemaacutetica das escolas puacuteblicas de Ensino Meacutedio

participantes do Projeto no periacuteodo de trecircs anos (INSTITUTO UNIBANCO Manual

de implementaccedilatildeo 2012 p 7)

Outro ponto de destaque do Programa eacute a formaccedilatildeo de professores e gestores na gestatildeo

por resultados Eacute obrigatoacuteria a participaccedilatildeo em um curso de 120 horas durante os trecircs anos do

projeto Na escola participam o diretor o coordenador pedagoacutegico e um professor e na

secretaria de educaccedilatildeo participam supervisores e teacutecnicos responsaacuteveis por acompanhar as

escolas profissionais que satildeo o centro das decisotildees na definiccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas

educacionais

Destacamos ainda que o conselho escolar um dos importantes pilares da gestatildeo

democraacutetica perde importacircncia jaacute que eacute constituiacutedo outro conselho gestor na escola vinculada

ao projeto Conforme documento do Unibanco a ldquo[] funccedilatildeo do Grupo Gestor eacute em conjunto

com o diretor da escola planejar e coordenar a elaboraccedilatildeo do Plano de Accedilatildeo implementar e

executar o ProEMIJF tomando as decisotildees necessaacuterias para garantir o seu sucessordquo


Ainda conforme o material da Secretaria Regional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo de

Sobral ndash CE o grupo gestor eacute composto pelos seguintes membros diretor da escola-membro

nato coordenador do projeto representantes dos professores representantes dos alunos e

representantes dos pais

E aponta qual deve ser o perfil dos integrantes do conselho gestor

141

1 diretor ndash membro nato 2 coordenador do projeto - coordenador escolar que

identifique-se com o protagonismo juvenil 3 representante dos professores -

professor que exerce certa lideranccedila 4 representante de alunos - preferencialmente

deve ser um dos membros do grecircmio estudantil e esteja cursando o 1ordm ano com perfil

de articulador 5 representantes dos pais - poderaacute ser o representante de pais do

conselho escolar ou um pai presente na escola (Disponiacutevel em



Sublinhamos mais uma vez que o conselho escolar um dos importantes pilares da

gestatildeo democraacutetica perde importacircncia jaacute que eacute formado outro conselho na escola vinculado ao

projeto Questionamos dessa forma os princiacutepios constitucionais de gestatildeo democraacutetica e

liberdade de aprender ensinar pesquisar e divulgar o pensamento a arte e o saber dentro dessa

proposta de parceria principalmente em um paiacutes que natildeo possui um histoacuterico de cultura

democraacutetica e deu passos importantes no periacuteodo recente poacutes-ditadura Ao dar os primeiros

passos nesse sentido os sujeitos individuais e coletivos vinculados ao mercado se articularam

para uma grande ofensiva para barrar esse projeto e imprimir novamente a loacutegica de mercado

na educaccedilatildeo como historicamente ocorreu neste paiacutes

58 FINANCIAMENTO PROEMIPJF

Diferente do IAS que apresenta muitas formas de doaccedilatildeo de pessoas fiacutesica ou juriacutedica

o IU natildeo apresenta muitos dados de financiamento apenas que

Para viabilizar suas accedilotildees o Instituto eacute mantido por um fundo endowment (doaccedilatildeo)

criado exclusivamente para financiar suas atividades que garante independecircncia e

permite a definiccedilatildeo de objetivos estrateacutegicos e metas de longo prazo (Disponiacutevel em

lthttpwwwinstitutounibancoorgbro-institutoquem-somosgt Acesso em 2 nov

2015)

Natildeo aponta como funciona o fundo No entanto encontramos uma forma de repasse

puacuteblico para o Instituto pela parceria PROEMIPJF no site do estado de Mato Grosso do Sul

A Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo (SED) formou uma parceria com o Instituto

Unibanco para implantar nas escolas estaduais o Projeto Jovem de Futuro tecnologia

de Gestatildeo Escolar para Resultados que mobiliza estudantes professores e famiacutelias

para garantir que os alunos do ensino meacutedio puacuteblico entrem tenham um bom

desempenho e concluam essa fase escolar garantindo melhores oportunidades de vida

e profissatildeo Entre 2012 e 2014 85 mil estudantes de 299 escolas estaduais de ensino

meacutedio de Mato Grosso do Sul seratildeo beneficiados pela transferecircncia do Jovem de

Futuro para a gestatildeo do governo local O Estado assumiraacute o Projeto na forma de

poliacutetica puacuteblica para o ensino meacutedio O Estado e o Instituto Unibanco seratildeo

142

responsaacuteveis pelas formaccedilotildees e pelo apoio teacutecnico e o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC)

eacute parceiro nesse processo por meio do repasse de recursos diretamente agraves escolas

(Publicado em 6 nov 2011 Disponiacutevel em lthttpwwwunisitemsgovbrgt Acesso

em 5 maio 2015)

Atraveacutes de material disponiacutevel na internet da CREDE de Sobral vinculada agrave Secretaria

de Educaccedilatildeo do Cearaacute eacute possiacutevel ter mais algumas informaccedilotildees sobre o repasse de recursos

puacuteblicos via FNDE para a implementaccedilatildeo do PJF59

O recurso financeiro da complementaccedilatildeo do Estado para as escolas estaduais que

aderiram ao Projeto Jovem de Futuro deve ser usado prioritariamente para o

financiamento das metodologias do Instituto Unibanco cujas accedilotildees natildeo satildeo

financiadas com recursos do Programa Ensino Meacutedio Inovador (Disponiacutevel em

lthttpssitesgooglecomsitepjfcrede06orientacoes-para-o-plano-de-acaogt)

Enfim o poder puacuteblico estaacute efetivamente vinculado e submetido agrave direccedilatildeo de

Instituiccedilotildees privadas atraveacutes do financiamento direto da compra de tecnologias ou materiais

de renuacutencias de receitas de trocas de poder e favores entre as proacuteprias empresas e o que eacute pior

definindo o conteuacutedo da educaccedilatildeo puacuteblica como verificamos com os institutos Ayrton Senna e

Unibanco

Eacute interessante destacar ainda que os Institutos estudados trabalham definindo poliacuteticas

com a concepccedilatildeo acompanhamento e avaliaccedilatildeo da educaccedilatildeo nas redes puacuteblicas parceiras Na

justificativa de sua atuaccedilatildeo apresentam problemas na qualidade de ensino e assumem o que

seriam tarefas do Estado para com as poliacuteticas puacuteblicas de educaccedilatildeo

As metodologias empregadas satildeo padronizadas e replicaacuteveis ao contraacuterio das propostas

de reestruturaccedilatildeo produtiva do proacuteprio capital que propotildeem a formaccedilatildeo de um trabalhador

criativo que responda rapidamente agraves demandas com capacidade de raciociacutenio e trabalho em

equipe

No quadro a seguir fizemos um exerciacutecio para ver as semelhanccedilas e especificidades dos

Institutos estudados Enaltecemos o fato de que eacute possiacutevel constatar um mesmo padratildeo entre

eles

59 Documento na iacutentegra no anexo 2 e disponiacutevel em lthttpssitesgooglecomsitepjfcrede06orientacoes-para-

o-plano-de-acaogt Acesso em 20 nov 2015

Quadro 7 ndash Quadro comparativo entre Instituto Ayrton Senna e Instituto Unibanco

IAS IU

Proposta de gestatildeo Gestatildeo para o Sucesso Gestatildeo para resultados

Sistema de Monitoramento SIASI SGP

Material Padronizado e replicaacutevel Padronizado e replicaacutevel

Equipe Um coordenador

responsaacutevel na secretaria e

outro na escola do quadro

funcional mas formado

pelo Instituto e responsaacutevel

por monitorar o alcance das

metas propostas

Um coordenador






metas propostas

Estrateacutegias premiaccedilatildeo premiaccedilatildeo

Estrateacutegias competitividade competitividade

Convecircnios com sistemas

puacuteblicos

Secretaria de Assuntos

estrateacutegicos da Presidecircncia

da Repuacuteblica (SAE)

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretarias Estaduais e

Municipais






Municipais

Ano que iniciou 1994 1982

Ano que iniciou atuar em

redes puacuteblicas

1997 2007

Participa do Movimento

Todos pela educaccedilatildeo

sim sim

Abrangecircncia nacional nacional

Etapa da educaccedilatildeo baacutesica

em que atua

Historicamente ensino

fundamental e atualmente

estaacute realizando um projeto-

piloto no RJ para atuaccedilatildeo

no Ensino Meacutedio

Ensino Meacutedio

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

O quadro pretende fazer uma siacutentese do que trabalhamos no capiacutetulo e visualizar pontos

que vimos em separado em cada Instituto mas que satildeo comuns ao trabalho dos dois

Destacamos ainda que o governo federal investe em um programa de diagnoacutestico e

monitoramento o SIMEC vinculado ao Plano de desenvolvimento da educaccedilatildeo e ao mesmo

tempo financia programas com sistemas de monitoramento como o SIASI do IAS e o SGP do

IU o que provoca uma sobrecarga de trabalho para a equipe gestora da escola com excesso de

preenchimento de planilhas com um aumento do processo de burocratizaccedilatildeo que em discurso

as entidades privadas criticam Eacute uma das incoerecircncias encontradas nos processos de parceria

tanto do IU quanto do IAS

Enfim o estudo das duas parcerias fomentou questotildees como quais satildeo as consequecircncias

da presenccedila do privado dando a direccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas em niacutevel de sistema e escola para

144

a democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo sendo que os Institutos determinam como e o que seraacute ensinado

e monitoram todos os passos do municiacutepio retirando parte de sua autonomia Como fica a

gestatildeo democraacutetica a participaccedilatildeo dos segmentos escolares nas definiccedilotildees pedagoacutegicas das

poliacuteticas educacionais O que leva o sistema puacuteblico a procurar esse tipo de parceria

O controle social e a coletivizaccedilatildeo das decisotildees tatildeo importantes para a construccedilatildeo da

democracia no paiacutes acabam cedendo lugar ao controle externo de instituiccedilotildees privadas que

determinam o conteuacutedo das poliacuteticas puacuteblicas de educaccedilatildeo desde o acircmbito da legislaccedilatildeo e da

organizaccedilatildeo do sistema educacional ateacute as praacuteticas escolares cotidianas O IAS define o que

deve ser feito desde o Secretaacuterio de Educaccedilatildeo ateacute os professores e alunos Questionamos o que

significa o sistema puacuteblico abrir matildeo de suas prerrogativas de ofertar educaccedilatildeo puacuteblica de

qualidade e comprar um produto pronto partindo do curriacuteculo escolar ndash jaacute que as aulas vecircm

programadas e os professores natildeo podem modificaacute-las ndash e indo ateacute a gestatildeo escolar (monitorada

por um agente externo) o que transformaria os sujeitos responsaacuteveis pela educaccedilatildeo em

burocratas que apenas preenchem muitos papeacuteis

Isso inclusive contraria o princiacutepio constitucional da gestatildeo democraacutetica e a Lei de

Diretrizes e Bases que no art 14 determina a participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na

elaboraccedilatildeo do projeto pedagoacutegico da escola e a participaccedilatildeo das comunidades escolar e local

em conselhos escolares ou equivalentes No art 15 determina-se que ldquo[] os sistemas de ensino

asseguraratildeo agraves unidades escolares puacuteblicas de educaccedilatildeo baacutesica que os integram progressivos

graus de autonomia pedagoacutegica e administrativa e de gestatildeo financeira observadas as normas

gerais de direito financeiro puacuteblicordquo (BRASIL 1996)

Concordamos com Laval (2004) quando ele argumenta que a loacutegica privada no puacuteblico

eacute mais do que uma questatildeo teacutecnica natildeo modifica apenas a organizaccedilatildeo da escola mas os seus

meios e fins ldquo[] o que estaacute em jogo natildeo eacute tanto o desaparecimento da burocracia mas uma

nova etapa no controle do poder de gestatildeo o qual deve penetrar mais na definiccedilatildeo dos conteuacutedos

e das relaccedilotildees pedagoacutegicasrdquo (LAVAL 2004 p 191)

Laval (2004) analisando a avaliaccedilatildeo como indutora da qualidade e da competitividade

adverte que a ldquo[] instauraccedilatildeo do quase-mercado reforccedila a segregaccedilatildeordquo pois ldquo[] o

estabelecimento melhora se jaacute possui capital social entre a populaccedilatildeo que escolarizardquo (LAVAL

2004 p 172)

Dale (1994 p 128) reforccedila este argumento ldquo[] as escolas em uma situaccedilatildeo de mercado

competitivo satildeo susceptiacuteveis de competir natildeo apenas para poder aceitar algumas categorias de

alunos mas tambeacutem para rejeitar outrasrdquo

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Nesta tese procurou-se analisar a presenccedila crescente de sujeitos com a loacutegica de

mercado na direccedilatildeo eou execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais imprimindo tal loacutegica nas poliacuteticas

puacuteblicas determinando o conteuacutedo da educaccedilatildeo Esses sujeitos estatildeo cada vez mais organizados

em redes do local ao global integradas por sujeitos individuais eou coletivos com diferentes

graus de influecircncia e que falam de diferentes lugares setor financeiro organismos

internacionais setor governamental Algumas instituiccedilotildees possuem fins lucrativos e outras natildeo

ou natildeo claramente

Nossas pesquisas demonstram que no Brasil o processo de privatizaccedilatildeo do puacuteblico

ocorre tanto atraveacutes da direccedilatildeo como da execuccedilatildeo ou de ambas conforme analisamos no quarto

capiacutetulo No processo de direccedilatildeo pesquisamos o Movimento Todos pela Educaccedilatildeo em que os

empresaacuterios acabam influenciando o governo federal tanto na agenda educacional quanto na

venda de produtos educativos60 e a assessoria do grupo internacional McKinsey amp Company

ao governo federal61 No processo de privatizaccedilatildeo via execuccedilatildeo pesquisamos a expansatildeo da

oferta via Terceiro Setor nas creches comunitaacuterias62 nos Programas de Educaccedilatildeo de Jovens e

Adultos como o Brasil Alfabetizado63 e de Educaccedilatildeo profissional como o PRONATEC

(Programa Nacional de Acesso ao Ensino Teacutecnico e Emprego)64 E quando ocorre via execuccedilatildeo

e direccedilatildeo verificamos nos estudos sobre as parcerias em que instituiccedilotildees privadas definem o

conteuacutedo da educaccedilatildeo e tambeacutem executam sua proposta atraveacutes da formaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo do


executado As parcerias analisadas na pesquisa ocorreram com escolas do ensino fundamental

e meacutedio onde a expansatildeo ocorreu pelo setor puacuteblico mas sem as condiccedilotildees materiais

adequadas pois ocorreu em periacuteodos de ajuste fiscal e tambeacutem com a naturalizaccedilatildeo do

possiacutevel As avaliaccedilotildees constataram o oacutebvio isto eacute problemas de qualidade e ao inveacutes de

proporcionar poliacuteticas puacuteblicas para elevaacute-la buscaram o setor privado para trazer ldquopacotes de

qualidaderdquo para a educaccedilatildeo baacutesica O setor privado com base no diagnoacutestico neoliberal de que

60 Sobre a relaccedilatildeo entre o Movimento Todos pela Educaccedilatildeo e a venda de produtos educacionais no Guia de

Tecnologias ver o texto do grupo de pesquisa que trata deste assunto Bernardi Uczak Rossi (2014 2015) e

sobre a presenccedila do setor privado em geral no Guia de Tecnologias ver Rossi Bernardi Uczak (2013)

61 Sobre assessoria da McKinsey amp Company ao governo federal ver Bittencourt Oliveira (2013)

62 Sobre creches comunitaacuterias ver Susin (2009) e Flores Susin (2013)

63 Sobre o Programa Brasil Alfabetizado ver o texto do grupo de pesquisa que trata deste assunto Comerlatto

Moraes (2013)

64 Sobre o PRONATEC ver o texto do grupo de pesquisa que trata deste assunto Rodrigues Santos (2013)

146

a crise eacute do Estado e natildeo do capital e que o privado deve ser o paracircmetro de qualidade pressiona

o poder puacuteblico para assumir politicamente a direccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas o que temos

chamado de ldquoconteuacutedo da propostardquo

Este eacute outro ponto polecircmico da relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o democraacutetico natildeo basta ser

puacuteblico para ser democraacutetico Quando o governo compra um produto educacional atraveacutes de

editais com recursos vultuosos ocorre o contraacuterio do que tratamos no iniacutecio da tese da

democratizaccedilatildeo como coletivizaccedilatildeo das decisotildees e se fortalece a ideia neoliberal de retirar o

poder das instituiccedilotildees puacuteblicas por serem permeaacuteveis agrave correlaccedilatildeo de forccedilas As instituiccedilotildees

puacuteblicas se satildeo democraacuteticas satildeo o espaccedilo da correlaccedilatildeo de forccedilas e o produto final em um

processo verdadeiramente democraacutetico natildeo pode ser definido a priori Essa eacute uma questatildeo

importante pois o puacuteblico natildeo deve ser apenas o governamental mas o puacuteblico estatal como

espaccedilo democraacutetico com paracircmetros de justiccedila social

No iniacutecio da tese destacamos que natildeo tratamos em nossas pesquisas de Estado e

sociedade civil em abstrato mas em um periacuteodo particular do capitalismo com correccedilotildees de

forccedilas entre sujeitos histoacutericos com projetos societaacuterios distintos Eacute importante retomar essa

questatildeo para frisar que quando falamos de privado estamos tratando do setor vinculado agrave

loacutegica de mercado com ou sem fins lucrativos que atua na educaccedilatildeo

A outra questatildeo eacute a importacircncia do Estado como o principal responsaacutevel pelo direito agrave

educaccedilatildeo Muitos autores tecircm trazido uma multiplicidade de atores atuando na educaccedilatildeo

Nossas pesquisas analisam criticamente o fato de o poder puacuteblico se retirar da responsabilidade

da execuccedilatildeo e direccedilatildeo da poliacutetica educativa Neste caso quando falamos em poder puacuteblico

destacamos que natildeo se restringe ao governo pois entendemos que em uma sociedade

democraacutetica as instituiccedilotildees puacuteblicas atuam em um processo de coletivizaccedilatildeo das decisotildees com

espaccedilos que devem ser cada vez mais alargados de participaccedilatildeo

Sublinhamos tambeacutem a especificidade vivida no Brasil e em outros paiacuteses latino-

americanos de estar saindo de ditaduras e iniciando a sua luta por direitos materializados em

poliacuteticas sociais quando outros paiacuteses jaacute viviam as estrateacutegias de superaccedilatildeo da crise e sua

restriccedilatildeo de direitos Assim vive-se um periacuteodo de avanccedilo das poliacuteticas educacionais com

perspectivas de universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica ateacute 2016 gestatildeo democraacutetica inclusatildeo e

outras questotildees vinculadas ao direito agrave educaccedilatildeo com qualidade em parte como resultado da

correlaccedilatildeo de forccedilas e dos reclames populares (VIEIRA 2007) mas tambeacutem pela necessidade

de legitimidade por parte do Estado

147

Como se enfatizou no iniacutecio da tese entende-se que as mudanccedilas nas fronteiras entre o

puacuteblico e o privado ocorrem como parte de um contexto de crise em que as estrateacutegias de

superaccedilatildeo globalizaccedilatildeo neoliberalismo e reestruturaccedilatildeo produtiva Terceira Via redefinem o

papel do Estado As teorias que afirmam que a crise estaacute no Estado como neoliberalismo e

Terceira Via trazem implicaccedilotildees para as poliacuteticas sociais pois transferem do poder puacuteblico

para o mercado parte da coordenaccedilatildeo societaacuteria e natildeo apenas a execuccedilatildeo mas tambeacutem a direccedilatildeo

das poliacuteticas O que permanece no acircmbito do Estado acaba sofrendo a loacutegica gerencial com

caracteriacutesticas da nova gestatildeo puacuteblica que trazem princiacutepios do mercado para a gestatildeo puacuteblica

Em paiacuteses que como o Brasil estatildeo iniciando o processo de construccedilatildeo da democracia

a privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica traz consequecircncias importantes natildeo apenas para a

efetivaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo que ainda natildeo eacute uma realidade para todos mas tambeacutem acerca

do conteuacutedo da educaccedilatildeo que tem o mercado como paracircmetro de qualidade

O Brasil natildeo tem um histoacuterico democraacutetico e a privatizaccedilatildeo do puacuteblico eacute uma realidade

ldquonaturalizadardquo em nossa cultura No entanto no periacuteodo poacutes-ditadura em um processo de

correlaccedilatildeo de forccedilas com essa loacutegica historicamente instaurada no periacuteodo de democratizaccedilatildeo

iniciou-se um movimento de repensar o puacuteblico o Estado com a participaccedilatildeo efetiva da

sociedade E entende-se que a participaccedilatildeo envolve um longo aprendizado que ocorre na

experiecircncia65 A participaccedilatildeo eacute fundamental para o avanccedilo da democracia portanto quando se

criticam as entidades privadas definindo ou executando as poliacuteticas puacuteblicas estamos em parte

apontando

ndash para as instituiccedilotildees com interesses mercantis no processo de direccedilatildeo que trazem a

loacutegica de mercado com perdas para a concepccedilatildeo de democracia como coletivizaccedilatildeo

das decisotildees na definiccedilatildeo de poliacuteticas (VIEIRA 1998)

ndash para a perda da responsabilidade do Estado no processo de execuccedilatildeo como a

responsaacutevel pelas poliacuteticas universais e pela perda para a concepccedilatildeo de democracia

como direitos sociais materializados em poliacuteticas universais (para todos e com

qualidade) a democracia como igualdade social materializada em poliacuteticas puacuteblicas

Com base nos conceitos do iniacutecio da tese de que o Estado assim como o capital eacute

entendido como relaccedilatildeo ou processo em um movimento de sujeitos em correlaccedilatildeo de forccedilas de

classes sociais e projetos societaacuterios distintos percebem-se as redes como sujeitos em relaccedilatildeo

com objetivos de classe No caso desta tese analisamos como a loacutegica mercantil tem participado

ativamente da direccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais E como a presenccedila desses sujeitos que

65 Experiecircncia conforme Thompson (1981)

148

passam a influenciar fortemente as poliacuteticas sociais deixa as responsabilidades ficarem cada

vez mais diluiacutedas quanto aos direitos materializados em poliacuteticas sociais

O processo de mercantilizaccedilatildeo ocorre tambeacutem com o setor privado definindo o conteuacutedo

da educaccedilatildeo Nesse caso observamos o poder puacuteblico assumindo a loacutegica do privado na

administraccedilatildeo puacuteblica em parte atraveacutes da gestatildeo gerencial e tambeacutem quando abdica de decidir

o conteuacutedo da educaccedilatildeo repassando a direccedilatildeo para instituiccedilotildees privadas Esse diagnoacutestico parte

do argumento neoliberal (BUCHANAN et al 1984) que aponta as instituiccedilotildees democraacuteticas

contemporacircneas como irresponsaacuteveis sendo a soluccedilatildeo adotar medidas restritivas

constitucionais para conter os governos colocando-se os instrumentos de controle social fora

das instituiccedilotildees representativas e partindo-se do princiacutepio de que os controles poliacuteticos satildeo

inferiores aos de mercado e que o privado eacute o uacutenico detentor do padratildeo de qualidade a ser

implementado nas instituiccedilotildees puacuteblicas para que sejam mais eficientes e produtivas

A propriedade permanece puacuteblica no entanto a direccedilatildeo do conteuacutedo das poliacuteticas

educativas eacute repassada para instituiccedilotildees privadas Essas instituiccedilotildees acabam assumindo a

gestatildeo o curriacuteculo a organizaccedilatildeo e a rotina escolar e tambeacutem fazem o monitoramento o

controle e avaliam se estatildeo atingindo os resultados que elas mesmas propuseram com o

conteuacutedo das poliacuteticas

As escolas satildeo instituiccedilotildees puacuteblicas permeaacuteveis agrave correlaccedilatildeo de forccedilas ndash se democraacuteticas

ndash onde natildeo se tecircm previamente o controle do produto Satildeo instituiccedilotildees de propriedade puacuteblica

mas se o processo decisoacuterio estaacute ausente jaacute que tudo eacute previamente definido e monitorado por

uma instituiccedilatildeo privada e os professores apenas executam tarefas entendemos que tambeacutem ali

ocorre um processo de privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

Com a retirada das decisotildees do puacuteblico a instituiccedilatildeo puacuteblica natildeo eacute ldquovendidardquo no sentido

da perda da propriedade mas esvaziada como o espaccedilo puacuteblico decisoacuterio minimizando esse

seu papel mesmo em uma democracia Questionamos quem define a educaccedilatildeo quem dirige

e com base em que paracircmetros Entendemos que existem projetos societaacuterios em disputa

Assim mesmo quando a oferta permanece puacuteblica haacute implicaccedilotildees para um projeto societaacuterio

democraacutetico se a direccedilatildeo das poliacuteticas eacute realizada por instituiccedilotildees que tenham como paracircmetro

os pressupostos de mercado principalmente em paiacuteses com processos tatildeo recentes de

construccedilatildeo democraacutetica

Ressaltamos que a loacutegica mercantil tem participado ativamente da direccedilatildeo e execuccedilatildeo

das poliacuteticas educacionais deixando as responsabilidades cada vez mais diluiacutedas quanto aos

149

direitos materializados em poliacuteticas sociais e tambeacutem esvaziando das instituiccedilotildees puacuteblicas o

poder decisoacuterio com graves consequecircncias para o processo de democratizaccedilatildeo

Vivenciamos um misto de ampliaccedilatildeo de direitos principalmente na oferta educacional

no entanto em um processo de correlaccedilatildeo de forccedilas poliacuteticas e econocircmicas o setor privado

pressiona para assumir a direccedilatildeo das poliacuteticas educacionais que considera mais adequadas

instrumentais a este periacuteodo particular do capitalismo mas tambeacutem querem avanccedilar no que

Ball e Olmedo (2014) chamam de filantropia 30 isto eacute visando o lucro

No Brasil vivenciamos um processo de ajuste fiscal no periacuteodo em que houve a

ampliaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica sem o financiamento necessaacuterio Neste periacuteodo ainda com a

expansatildeo do ensino fundamental em detrimento de outras etapas ou modalidades da educaccedilatildeo

baacutesica O proacuteprio ensino fundamental expandiu com os recursos disponiacuteveis sem o

financiamento necessaacuterio tanto para condiccedilotildees materiais das escolas quanto salaacuterio de

professores Houve assim a naturalizaccedilatildeo da precarizaccedilatildeo em todas as etapas e modalidades e

cada vez mais o repasse da execuccedilatildeo ou direccedilatildeo para instituiccedilotildees privadas com ou sem fins

lucrativos mas que imprimem a loacutegica mercantil na educaccedilatildeo

Quanto ao papel do Estado muitas questotildees nos acompanham afinal como atua

financia controla se retira estaacute mais presente Imprime a loacutegica de mercado atraveacutes do

Estado gerencial Verificamos em nossas pesquisas que o papel do Estado na relaccedilatildeo entre o

puacuteblico e o privado que inicialmente seria o de retirar-se da provisatildeo das poliacuteticas atraveacutes da

execuccedilatildeo direta ou do financiamento se manteacutem no sentido de financiador dos programas

apesar da execuccedilatildeo ser privada No que se refere agrave direccedilatildeo observamos em alguns casos que o

poder puacuteblico continua o executor mas a direccedilatildeo e controle passam a ser de instituiccedilotildees

privadas como nos casos brasileiros do Instituto Ayrton Senna e Instituto Unibanco

Historicamente o privado foi paracircmetro de organizaccedilatildeo da escola puacuteblica No Fordismo

atraveacutes da hierarquia divisatildeo social do trabalho especializaccedilatildeo e formas de controle como a

supervisatildeo escolar Nosso paiacutes viveu um processo recente de democratizaccedilatildeo e lutamos por

outra forma de organizaccedilatildeo da escola com princiacutepios democraacuteticos e criticamos a teoria do

capital humano e concepccedilotildees gerenciais de organizaccedilatildeo da escola Hoje esses valores satildeo

retomados nas parcerias dos Institutos Unibanco e Ayrton Senna que concentram seu foco nos

resultados e uma poliacutetica de controle e intimidaccedilatildeo atraveacutes da premiaccedilatildeo e sanccedilotildees

Outra questatildeo importante eacute que o mercado justifica a sua atuaccedilatildeo no puacuteblico para formar

um sujeito instrumental agrave reestruturaccedilatildeo produtiva e um projeto de desenvolvimento

competitivo em niacutevel internacional no entanto as parcerias atuam com produtos padronizados

150

e replicaacuteveis no sentido de igual para todos o que eacute considerado em nossas pesquisas como

um retrocesso Enfim a educaccedilatildeo sempre esteve vinculada ao capital mas lutamos neste

periacuteodo de democratizaccedilatildeo para avanccedilar no sentido de uma proposta democraacutetica e realmente

puacuteblica de educaccedilatildeo Educaccedilatildeo entendida como processo societaacuterio de formaccedilatildeo humana

Nesse aspecto consideramos a loacutegica de mercado na educaccedilatildeo um retrocesso

Eacute um processo de correlaccedilatildeo de forccedilas que natildeo ocorre por acaso e que estaacute cada vez

mais dando direccedilatildeo para a poliacutetica puacuteblica Lutamos por processos democraacuteticos e de justiccedila

social na educaccedilatildeo e quanto mais avanccedilamos neste caminho mais o capital se organiza para

retomar o seu papel na educaccedilatildeo Retomamos a ideia de que satildeo distintos projetos societaacuterios

de classe em relaccedilatildeo

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Entrevistas

THOMAS Claacuteudio Augusto Secretaacuterio SubstitutoDiretor Teacutecnico do Tribunal de Contas da

Uniatildeo em Porto Alegre [Entrevista] Porto Alegre 2006 Entrevista concedida a Vera Maria

Vidal Peroni e Juliana Selau Lumertz em 23 de jun 2006 no Tribunal de Contas da Uniatildeo

Arquivos de Pesquisa Porto Alegre

LOUZADA Joseacute Ricardo Tavares Assessor Teacutecnico do Tribunal de Contas da Uniatildeo em Porto

Alegre [Entrevista] Porto Alegre 2006 Entrevista concedida a Vera Maria Vidal Peroni e

Juliana Selau Lumertz em 23 de jun 2006 no Tribunal de Contas da Uniatildeo Arquivos de

Pesquisa Porto Alegre

Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do municiacutepio B [Entrevista] 2007 Entrevista concedida a Juliana

Lumertz e Daniela Dinis em 11 de setembro de 2007 na Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo


Professora do municiacutepio B [Entrevista] 2007 Entrevista concedida a Juliana Lumertz e

Daniela Dinis em 11 de setembro de 2007 na Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo Arquivos de


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Coordenadora Pedagoacutegica do municiacutepio B [Entrevista] 2007 Entrevista concedida a Vera

Maria Vidal Peroni Daniela Diniz Dahm Daniela de Oliveira Pires em 1 de agosto de 2007

na Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo Arquivos de Pesquisa Porto Alegre

Coordenadora Pedagoacutegica do municiacutepio A [Entrevista] 2006 Entrevista concedida a Vera

Maria Vidal Peroni Juliana Selau Lumertz em 30 de maio de 2006 na Secretaria Municipal

de Educaccedilatildeo Arquivos de Pesquisa Porto Alegre

RIKOWSKY Gleen [Entrevista] 29 de maio 2015 no Instituto de educaccedilatildeo da University

College London Arquivos de Pesquisa

ANEXO 1 ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Estamos realizando uma pesquisa intitulada ldquoImplicaccedilotildees da relaccedilatildeo puacuteblico privada

para a democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesicardquo para analisar as implicaccedilotildees da relaccedilatildeo puacuteblico-

privada para a democratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo A pesquisa tem como objetivos 1 analisar as mais

variadas formas de relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado nas etapas e modalidades da educaccedilatildeo

baacutesica brasileira 2 analisar as vinculaccedilotildees em redes e o conteuacutedo da proposta das formas de

materializaccedilatildeo do puacuteblico e o privado em continuidade e aprofundando ao que os grupos jaacute

estavam mapeando na educaccedilatildeo baacutesica brasileira 3) dialogar com a produccedilatildeo internacional

acerca do tema puacuteblico e privado 4) aprofundar a discussatildeo teoacuterica acerca do conceito e anaacutelise

de redes globais em educaccedilatildeo 5) mapear as redes globais que influenciam as poliacuteticas de

educaccedilatildeo baacutesica no Brasil e atraveacutes de que instituiccedilotildees atuam

A pesquisadora responsaacutevel por esta pesquisa eacute a Professora Vera Maria Vidal Peroni

(Faculdade de Educaccedilatildeo) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que se compromete

a esclarecer qualquer duacutevida ou necessidade de esclarecimento que eventualmente o

participante venha a ter no momento da pesquisa ou posteriormente atraveacutes dos telefones (051)

33083103 do e mail veraperonigmailcom E pessoalmente no Nuacutecleo de Estudos de

Poliacuteticas e Gestatildeo da Educaccedilatildeo Faculdade de Educaccedilatildeo situado na Faculdade de Educaccedilatildeo

rua Paulo Gama sn - Preacutedio 12201- Porto AlegreRS - CEP 9004060

Apoacutes ter sido devidamente informado de todos os aspectos desta pesquisa e ter

esclarecido todas as minhas duacutevidas eu autorizo a realizaccedilatildeo

do estudo na instituiccedilatildeo acima referida ( ) sim ( ) natildeo

Em caso positivo concordo com a identificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo nos relatoacuterios da pesquisa

e publicaccedilotildees associadas ( ) sim ( ) natildeo

Concordo com a identificaccedilatildeo de meu nome nos relatoacuterios da pesquisa e

publicaccedilotildees associadas - ( ) sim ( ) natildeo

________________ __________de ______ ______________________________

Assinatura dao Entrevistado

_______________________________Assinatura do Pesquisador

ANEXO 2 ndash Orientaccedilotildees para o Planejamento e Execuccedilatildeo das accedilotildees do Projeto Jovem

de Futuro referentes ao recurso financeiro da complementaccedilatildeo do Estado

O recurso financeiro da complementaccedilatildeo do Estado para as escolas estaduais que aderiram ao Projeto Jovem de Futuro deve usado prioritariamente para o financiamento das metodologias do Instituto Unibanco cujas accedilotildees natildeo satildeo financiadas com recursos do Programa Ensino Meacutedio Inovador a saber

Monitoria

Entre Jovens Uma vez garantidas as metodologias supracitadas a escola poderaacute planejar accedilotildees relacionadas agraves praacuteticas pedagoacutegicas indicadas no plano de accedilatildeo ProEMIPJF na perspectiva do alcance dos resultados do Projeto tais como

OficinasPalestras

Aulas de campo

Capacitaccedilotildees

Contrataccedilatildeo de serviccedilo de fornecimento de alimentaccedilatildeo transporte e hospedagem

Realizaccedilatildeo de eventos de natureza cientiacutefica artiacutestica cultural e esportiva

Aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterios para dar suporte agraves accedilotildees planejadas Ressaltamos que na execuccedilatildeo das accedilotildees a escola poderaacute contratar serviccedilo de pessoa fiacutesica eou juriacutedica observando o que estabelecem os seguintes documentos Lei Estadual Nordm ------- da Monitoria e Tutoria de ----- de ------ de 2012 (aguardando publicaccedilatildeo em DO) Lei do FUNDEB Nordm 11494 de 20 de junho de 2007 Portaria do Ministeacuterio da FazendaSTN Nordm 448 de 13 de setembro de 2002 Portaria InterministerialMPMFMCT Nordm 127 de 29 de maio de 2008 e Instruccedilatildeo Normativa Conjunta SECONSEFAZSEPLAN Nordm 012005 Segue anexa planilha com os valores de cada escola Equipe Executora do ProEMIPJF SEDUC ndashCe Disponiacutevel em lthttpssitesgooglecomsitepjfcrede06orientacoes-para-o-plano-de-acaogt

ANEXO 3 ndash Programa de Aceleraccedilatildeo de Aprendizagem

Convecircnio Sapiranga com Instituto Ayrton Senna

LEI MUNICIPAL Nordm 2328 DE 20061997

Autoriza o Executivo Municipal firmar Convecircnio com o Instituto Ayrton Senna para

implantaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo de Aprendizagem

RENATO DELMAR MOLLING Prefeito Municipal de Sapiranga Estado do Rio

Grande do Sul no uso de suas atribuiccedilotildees legais

Faccedilo saber que a Cacircmara Municipal de Vereadores aprovou e eu sanciono a seguinte

Lei

Art 1ordm Fica o Executivo Municipal autorizado a celebrar Convecircnio denominado Programa de

Aceleraccedilatildeo de Aprendizagem com o Instituto Ayrton Senna nos termos do Instrumento anexo

que faz parte integrante da presente Lei como se nela inserido estivesse

Art 2ordm As despesas decorrentes da execuccedilatildeo da presente Lei correratildeo por conta de dotaccedilatildeo

orccedilamentaacuteria proacutepria da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo e Cultura

Art 3ordm Revogam-se as disposiccedilotildees em contraacuterio

Art 4ordm Esta Lei entraraacute em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

GABINETE DO PREFEITO MUNICIPAL DE SAPIRANGA aos 20 dias do mecircs de

junho de 1997

CONVEcircNIO

INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONVEcircNIO QUE ENTRE SI FAZEM

DE UM LADO PREFEITURA MUNICIPAL DE SAPIRANGA E DE OUTRO

LADO INSTITUTO AYRTON SENNA

PREFEITURA MUNICIPAL DE SAPIRANGA (RS) neste ato representada

pelo Sr Prefeito Sr Renato Delmar Molling brasileiro casado funcionaacuterio

puacuteblico portador da Carteira de Identidade RG nordm 1013824436 - SSPRS e

inscrito no CPFMF sob o nordm 320912060-91 doravante denominada

PREFEITURA e INSTITUTO AYRTON SENNA associaccedilatildeo civil de caraacuteter

filantroacutepico sem finalidades lucrativas com sede na Cidade de Satildeo Paulo Estado

de Satildeo Paulo na Rua Dr Olavo Egiacutedio nordm 287 10ordm andar inscrita no CGCMF

sob o nordm 003280720001-62 doravante denominado IAS neste ato devidamente

representado por sua Diretora-Presidente Sra Viviane Senna Lalli brasileira

viuacuteva psicoacuteloga portadora da Carteira de Identidade RG nordm 7538713-X e

inscrita no CPFMF sob o nordm 077538178-09 e por seu Diretor sem designaccedilatildeo

169

especiacutefica Sr Fabio da Silva Machado brasileiro casado engenheiro portador

da Carteira de Identidade RG nordm 4662254 e inscrito no CPFMF sob o nordm

724325518-34 resolvem celebrar o presente Convecircnio mediante as claacuteusulas e

condiccedilotildees seguintes

CLAacuteUSULA PRIMEIRA ndash OBJETO

O presente Convecircnio tem por objeto o comprometimento das Partes para a execuccedilatildeo integral

de Projeto intitulado Programa de Aceleraccedilatildeo de Aprendizagem conforme descrito e

caracterizado no Anexo I que rubricado pelas partes passa a integrar o presente visando

minimizar o problema da defasagem idadeseacuterie nas escolas da Rede Municipal com previsatildeo

para seu completo desenvolvimento no periacuteodo maacuteximo de 04 (quatro) anos a contar de janeiro

de 1997 doravante designado simplesmente PROJETO

CLAacuteUSULA SEGUNDA ndash PROJETO

A execuccedilatildeo do PROJETO pela PREFEITURA obedeceraacute os paracircmetros constantes do Anexo I

e as orientaccedilotildees que vierem a ser fornecidas pelo CENTRO DE ENSINO TECNOLOacuteGICO DE

BRASIacuteLIA - CETEB unidade de ensino da Fundaccedilatildeo de Ensino Secundaacuterio criada pela

Portaria nordm 764 de 04 de novembro de 1965 editada pelo Presidente da Fundaccedilatildeo do Ensino

Secundaacuterio com sede em SGAS Quadra 910 - Conjunto D - Asa Sul na Cidade de Brasiacutelia

Distrito Federal inscrito no CGCMF sob o nordm 341704720004-57 contratado pelo IAS para

assessorar a PREFEITURA e o IAS na execuccedilatildeo do PROJETO

Paraacutegrafo Primeiro - O IAS se reserva o direito de fiscalizar o andamento do PROJETO

realizando auditorias exames e verificaccedilotildees de cumprimento dos prazos e certificaccedilatildeo do

alcance das etapas atraveacutes de seus representantes devidamente credenciados

CLAacuteUSULA TERCEIRA - RESPONSABILIDADE DA PREFEITURA A PREFEITURA se obriga a executar o PROJETO objeto deste Convecircnio com estrita

observacircncia das especificaccedilotildees nele constantes dando ao mesmo a finalidade declarada

utilizando-se dos recursos que lhe forem disponibilizados pelo CETEB na consecuccedilatildeo dos

objetivos descritos e caracterizados no Anexo II atendendo agraves orientaccedilotildees e solicitaccedilotildees do

CETEB e do IAS sob pena de ser caracterizada infraccedilatildeo grave ao presente Convecircnio

CLAacuteUSULA QUARTA - OBRIGACcedilOtildeES DA PREFEITURA Satildeo obrigaccedilotildees da PREFEITURA

a) assumir inteira e total responsabilidade pela execuccedilatildeo do PROJETO

cumprindo os prazos e obedecendo as etapas do mesmo observadas as

disposiccedilotildees contidas no Anexo I

b) b) assumir como assumido tem inteira responsabilidade por todos os

encargos ocircnus alvaraacutes licenccedilas e autorizaccedilotildees de toda natureza que se

tornarem exigiacuteveis para a execuccedilatildeo integral do PROJETO

c) assumir por si seus empregados ou terceiros contratados inteira

responsabilidade por quaisquer reclamaccedilotildees pleitos autuaccedilotildees accedilotildees de

qualquer natureza e exigecircncias puacuteblicas ou privadas judiciais ou

extrajudiciais que tenham base ou fundamento a realizaccedilatildeo do PROJETO

em seu municiacutepio

d) indenizar o IAS por eventuais prejuiacutezos que este vier a sofrer na hipoacutetese

de Controveacutersias de natureza trabalhista causadas por seus empregados

servidores concursados coordenadores prepostos ou prestadores de serviccedilo

ou de pessoas envolvidas com o PROJETO

170

c) e) responsabilizar-se pelo pagamento de todos os impostos taxas e

contribuiccedilotildees fiscais previdenciaacuterias trabalhistas acidentes de trabalho ou

parafiscais que incidam ou venham a incidir sobre o presente Convecircnio

devendo exibir toda documentaccedilatildeo comprobatoacuteria do cumprimento dessas

obrigaccedilotildees quando exigido pelo IAS eou quaisquer terceiros

d) f) efetuar o pagamento de todos os salaacuterios dos coordenadores municipais

envolvidos na execuccedilatildeo do PROJETO bem como garantir o envolvimento

dos professores no PROJETO

e) g) assumir inteira e total responsabilidade pela captaccedilatildeo de recursos

financeiros proacuteprios ou de terceiros necessaacuterios para complementaccedilatildeo do

PROJETO se e quando os recursos financeiros fornecidos pelo CETEB

forem insuficientes

f) h) indicar um coordenador municipal devidamente qualificado e

preparado para o desenvolvimento do PROJETO que eacute estritamente

educacional na pessoa de quem deveraacute ser centralizado o fornecimento de

todas as informaccedilotildees de caraacuteter teacutecnico relativo ao desenvolvimento do

PROJETO em niacutevel local

g) i) fornecer todos os dados o informaccedilotildees solicitadas referentes nos

desenvolvimentos do PROJETO no Municiacutepio com veracidade no prazo

improrrogaacutevel de 15 (quinze) dias a contar da solicitaccedilatildeo por escrito pelo

IAS eou pelo CETEB

h) j) oferecer ao coordenador indicado as condiccedilotildees necessaacuterias ao

desempenho de suas funccedilotildees garantindo-lhe dedicaccedilatildeo exclusiva ao

PROJETO conferindo-lhe autoridade para tratar com diretores teacutecnicos

professores e comunidade todos os assuntos relacionados agrave execuccedilatildeo integral

do PROJETO garantindo-lhe a presenccedila em todos os eventos promovidos

pelo IAS e pelo CETEB relacionados ao PROJETO previstos no Anexo I

deste Instrumento

i) k) fornecer os recursos materiais e humanos para a completa execuccedilatildeo do

PROJETO na forma que os mesmos vierem a ser solicitados pelo

coordenador em concordacircncia com a Proposta Pedagoacutegica formulada cuja

iacutentegra rubricada pelas partes passa a integrar este Instrumento como

Anexo II

j) l) discutir e apoiar as iniciativas voltadas para o sucesso do PROJETO no

Municiacutepio

k) m) divulgar a filosofia do PROJETO junto aos demais professores da rede

municipal de ensino criando canais de participaccedilatildeo e de compromissos com

as direccedilotildees das escolas envolvidas na execuccedilatildeo integral do PROJETO e

l) n) atender a todas as determinaccedilotildees e orientaccedilotildees emitidas pelo IAS e pelo

CETEB na conduccedilatildeo da execuccedilatildeo do PROJETO

CLAacuteUSULA QUINTA ndash DIVULGACcedilAtildeO m) As partes se obrigam a fazer a divulgaccedilatildeo do PROJETO objeto deste

Convecircnio descrito na claacuteusula Primeira quer atraveacutes de entrevistas quer

atraveacutes de programas televisivos inclusive outdoors placa indicativa do

apoio financeiro sempre com a citaccedilatildeo de todos os envolvidos quais sejam

entre outros PREFEITURA e IAS e de acordo com a estrateacutegia de

marketing adotada de comum acordo entre os mesmos

n) Paraacutegrafo uacutenico Eacute terminantemente proibida a utilizaccedilatildeo do nome eou

da imagem do piloto Ayrton Senna da Silva em qualquer material

171

publicitaacuterio para a divulgaccedilatildeo dos projetos da PREFEITURA a qualquer

tiacutetulo exceto se aprovado pelo IAS por escrito

CLAacuteUSULA SEXTA ndash PRAZO o) O prazo do presente Convecircnio eacute de 1 (hum) ano a contar de 010297

podendo ser renovado por iguais periacuteodos desde que as partes acordem os

novos termos e condiccedilotildees que regeratildeo o mesmo

CLAacuteUSULA SEacuteTIMA ndash INADIMPLEMENTO p) A inobservacircncia ou atraso injustificado no cumprimento das obrigaccedilotildees aqui

assumidas caracterizaraacute de pleno direito o inadimplemento contratual e

acarretaraacute a rescisatildeo do presente Convecircnio independentemente de qualquer

aviso ou interpelaccedilatildeo Se o inadimplemento for da PREFEITURA esta

incorreraacute em (i) perdas e danos a serem apurados e (ji) interrupccedilatildeo imediata

da execuccedilatildeo do PROJETO com a suspensatildeo dos serviccedilos de consultoria

supervisatildeo e assessoria prestados pelo CETEB e IAS

CLAacuteUSULA OITAVA - LIMITES DO CONTRATO q) Fica expressamente estipulado que natildeo se estabelece qualquer relaccedilatildeo de

emprego entre o IAS os funcionaacuterios da PREFEITURA e o PROJETO

beneficiado por este Convecircnio A PREFEITURA se compromete a

apresentar quando solicitada pelo IAS toda e qualquer documentaccedilatildeo

referente aos encargos trabalhistas incidentes na execuccedilatildeo do PROJETO

r) Paraacutegrafo uacutenico Fica assumido que por forccedila deste Convecircnio natildeo se

estabelece entre o IAS e a PREFEITURA nenhum viacutenculo juriacutedico que natildeo

seja o definido na claacuteusula Primeira

CLAacuteUSULA NONA - DISPOSICcedilOtildeES GERAIS s) Todas as comunicaccedilotildees entre as partes deveratildeo ser feitas por escrito e

enviadas aos endereccedilos indicados no preacircmbulo deste Instrumento

reputando-se efetuadas na data de seu recebimento

t)

A aceitaccedilatildeo por qualquer das partes do natildeo cumprimento pela outra das

claacuteusulas ou condiccedilotildees deste Contrato a qualquer tempo seraacute interpretada

como mera liberalidade natildeo implicando portanto na renuacutencia do direito de

exigir o cumprimento das obrigaccedilotildees aqui contidas

u)

O presente Contrato constitui o acordo integral entre as partes prevalecendo

sobre qualquer outro documento anteriormente firmado por estas e natildeo

poderaacute ser alterado ou modificado em nenhuma de suas claacuteusulas ou

condiccedilotildees salvo mediante acordo por escrito assinado por ambas as partes

v)

Este Contrato obriga as partes seus herdeiros e sucessores natildeo podendo ser

cedido total ou parcialmente por nenhuma das partes sem o consentimento

expresso da outra

w)

Fica assumido que por forccedila deste Convecircnio natildeo se estabelece entre o IAS

e a PREFEITURA nenhum viacutenculo juriacutedico que natildeo seja o definido nas

claacuteusulas Primeira e Segunda deste Instrumento

172

173

CLAacuteUSULA DEacuteCIMA ndash FORO x) Fica eleito o foro da Comarca de Satildeo Paulo Estado de Satildeo Paulo para

dirimir ou decidir as duacutevidas decorrentes do presente Convecircnio com

exclusatildeo de qualquer outro por mais privilegiado que seja

y)

E por estarem de acordo firmam as partes este Convecircnio depois de lido e

achado conforme em 02 (duas) vias de igual teor e forma na presenccedila das

testemunhas abaixo

z)

Satildeo Paulo 01 de fevereiro de 1997

aa) _____________________________________

p PREFEITURA DE SAPIRANGA

bb) Renato Delmar Molling cc)

_____________________________________

p INSTITUTO AYRTON SENNA

dd) Viviane Senna Lalli Fabio da Silva Machado ee)

Testemunhas

1 ___________________________________

ff) Nome Andreia Fatima Bartolo de Carvalho

gg) RG 16407172

hh) 2____________________________________

Nome

RG

PROGRAMA DE ACELERACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM

Por quecirc O problema

- Mais de 41 dos alunos da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino Fundamental estatildeo com uma defasagem

idade-seacuterie de no miacutenimo dois anos (MEC Sinopse Estatiacutestica Educaccedilatildeo Fundamental - Censo

Educacional de 1994)

- A ineficiecircncia do sistema escolar gerada sobretudo pela repetecircncia custa ao paiacutes mais de

dois bilhotildees de reais por ano

- O maior custo da repetecircncia no entanto satildeo os danos irreparaacuteveis agrave auto-estima do aluno e

os estigmas de atrasado repetente incapaz

O quecirc O Programa

O Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem constitui-se em uma decisatildeo poliacutetica que visa agrave

correccedilatildeo do fluxo escolar pela reduccedilatildeo da distorccedilatildeo idade-seacuterie em quatro anos

Ano 1 - desenvolvimento do Programa em 10 escolas

Ano 2 - disseminaccedilatildeo do Programa em escala a ser determinada em cada municiacutepio

Ano 3 - universalizaccedilatildeo do Programa no municiacutepio

Ano 4 - atendimento a eventuais alunos e retorno dos professores agraves classes regulares

Para quem Clientela-alvo

174

- Alunos da primeira a terceira seacuterie do Ensino Fundamental com mais de dois anos de

defasagem idade-seacuterie

Para quecirc resultados esperados

- Erradicaccedilatildeo gradativa da cultura da repetecircncia com a implementaccedilatildeo da pedagogia do

sucesso

- Correccedilatildeo do fluxo escolar mediante a reduccedilatildeo significativa da defasagem idade-seacuterie

- Reduccedilatildeo do iacutendice de alunos retidos nas quatro primeiras seacuteries do Ensino Fundamental

- Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de vagas para novos alunos

Como O funcionamento

- O Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem seraacute desenvolvido em quatro anos para a rede

escolar do municiacutepio e em um ano para cada aluno em particular

- O aluno ao final do programa poderaacute ser promovido para 4ordf ou 5ordf seacuterie do Ensino

Fundamental dependendo do rendimento

- As escolas integraratildeo voluntariamente o Programa podendo propor outra alternativa para

soluccedilatildeo do problema

- O municiacutepio indicaraacute um profissional de educaccedilatildeo que assumiraacute a gerecircncia do Programa na

localidade

- Os professores ao final dos quatros anos retornaratildeo agraves classes regulares do Ensino

Fundamental preparados na metodologia

- Os municiacutepios integrantes do Programa formaratildeo uma rede de articulaccedilatildeo para troca de

experiecircncias e de informaccedilotildees

- Os municiacutepios integrantes do Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem receberatildeo apoio

do Instituto Ayrton Senna

De que forma O assessoramento

- Os professores e coordenadores integrantes do Programa seratildeo capacitados na pedagogia do

sucesso

- O desenvolvimento do Programa no municiacutepio seraacute acompanhado e avaliado

periodicamente por professores especializados

- O aluno seraacute avaliado pelo professor no processo pelas suas realizaccedilotildees e ao final do

Programa por instituiccedilatildeo externa em funccedilatildeo de paracircmetros nacionais

- Os resultados do Programa seratildeo amplamente divulgados junto agrave comunidade e a

autoridades da aacuterea educacional

PROGRAMA DE ACELERACcedilAtildeO DE APRENDIZAGEM

PLANEJAMENTO CRONOGRAMA DAS ACcedilOtildeES

ANO 1

Ord Atividades Periacuteodo

Previsto

01

Inclusatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem no

Plano Municipal da Gestatildeo 1997 - 2000 como prioridade do

prefeito

novembrodeze

mbro - 96

02 Escolha do gerente do Programa de Aceleraccedilatildeo da

Aprendizagem no municiacutepio janeiro - 97

03

Encaminhamento ao CETEB Instituto Ayrton Senna - nome

e dados pessoais do gerente do Programa no municiacutepio - dados

da distorccedilatildeo idade-seacuterie no municiacutepio (quadro II) apoacutes

130197

175

levantamento por escola (quadro I) - calendaacuterio escolar de 1997 no municiacutepio - plano de accedilatildeo do municiacutepio na aacuterea

educacional

04 Encaminhamento do gerente do Programa no municiacutepio para

participar de curso de capacitaccedilatildeo 20 a 240197

05 Anaacutelise da situaccedilatildeo educacional do municiacutepio referente agrave

distorccedilatildeo idade-seacuterie com os diretores das escolas 27 a 310197

06 Seleccedilatildeo das dez escolas para operacionalizaccedilatildeo do Programa

de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem em 1997 03 a 140297

07

Divulgaccedilatildeo para a comunidade escolar (diretores professores

alunos pais servidores etc) do Programa de Aceleraccedilatildeo da

Aprendizagem

03 a 140297

08 Organizaccedilatildeo das classes de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem nas

escolas selecionadas 17 a 21297

09 Seleccedilatildeo dos professores para assumirem as classes de

Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem 17 a 21297

10 Treinamento de professores 24 a 28297

11 Iniacutecio das atividades com os alunos 1997

12 Realizaccedilatildeo de reuniotildees mensais com o gerente e professor 1997

13 Participaccedilatildeo do gerente em reuniotildees bimestrais 1997

14 Fornecimento regular de informaccedilotildees sobre o

desenvolvimento do Programa no municiacutepio 1997

15 Participaccedilatildeo do Prefeito e Secretaacuterio Municipal de Educaccedilatildeo

em reuniotildees de avaliaccedilatildeo do Programa 1997

16 Planejamento das accedilotildees de 1998 1997

ANEXO II

Proposta Pedagoacutegica de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem no Ensino Fundamental

SUMAacuteRIO I ndash APRESENTACcedilAtildeO

II ndash JUSTIFICATIVA

III ndash OBJETIVOS

IV - FUNDAMENTACcedilAtildeO LEGAL

V ndash ABRANGEcircNCIA

VI - FUNDAMENTACcedilAtildeO PEDAGOacuteGICA

VII - ABORDAGEM METODOLOacuteGICA

VIII - MATRIZ DOS CONTEUacuteDOS HABILIDADES

IX - MATERIAL DIDAacuteTICOX - RECURSOS HUMANOS

XI - CAPACITACcedilAtildeO DE RECURSOS HUMANOS

XII ndash AVALIACcedilAtildeO

I - APRESENTACcedilAtildeO Alerta quanto agrave gravidade dos problemas que afetam o atendimento educacional na Rede Puacuteblica Municipal de Ensino e preocupada com a sua soluccedilatildeo tanto em

termos quantitativos quanto qualitativos a Prefeitura Municipal de Rio Branco adota uma

proposta de intervenccedilatildeo na realidade visando corrigir a distorccedilatildeo idade-seacuterie que se apresenta

como um dos elementos dificultadores do cumprimento do preceito constitucional do direito de

176

todos agrave educaccedilatildeo A Proposta Pedagoacutegica que ora se apresenta configura-se como uma accedilatildeo

especiacutefica destinada a corrigir a situaccedilatildeo de defasagem idade-seacuterie e comprometida com a

qualidade final do produto expressa em termos de prosseguimento de estudos e de

aprendizagens significativas Caracteriza-se ainda por responder aos imperativos dos novos

tempos em termos do desenvolvimento de competecircncias cognitivas baacutesicas e da construccedilatildeo da

auto-estima do aluno bem como por regularizar em quatro anos o fluxo dos alunos das seacuteries

iniciais do Ensino Fundamental

II - JUSTIFICATIVA A defasagem idade-seacuterie que se acumula ao longo dos anos constitui

dentre outros um desafio para a educaccedilatildeo brasileira uma vez que interfere de forma acentuada

na eficiecircncia do ensino puacuteblico Segundo dados da Sinopse Estatiacutestica - Educaccedilatildeo Fundamental

- Censo Educacional94 - MEC - 40 (quarenta por cento) ou seja mais de 10 (dez) milhotildees

de crianccedilas matriculadas em escolas de 1ordm grau em todo o Brasil apresentam uma distorccedilatildeo

idade-seacuterie superior a dois anos Os custos deste problema em termos econocircmicos representam

imensos gastos que poderiam ser melhor aplicados e direcionados para o aprimoramento do

Ensino Fundamental no Paiacutes Ponderada a gravidade desse problema observa-se que o

Municiacutepio a sociedade e o cidadatildeo arcam com as consequumlecircncias poliacuteticas econocircmicas e sociais

dessa defasagem idade-seacuterie tatildeo expressiva uma vez que a mesma impede o acesso de novos

alunos ao sistema puacuteblico de ensino acarreta o desperdiacutecio de recursos puacuteblicos considerando-

se a relaccedilatildeo custo-benefiacutecio e provoca o desprestiacutegio da escola puacuteblica Constata-se ainda que

os efeitos mais diretos e acentuados recaem sobre as famiacutelias e sobre os alunos que vecircem

frustradas suas expectativas em relaccedilatildeo ao sucesso escolar e bloqueadas as perspectivas de

integraccedilatildeo social plena e de inserccedilatildeo no mercado formal de trabalho aleacutem de sofrerem a

violecircncia imposta agrave auto-estima Tendo em vista o quadro educacional assim configurado a

Prefeitura Municipal de Rio Branco formulou a presente proposta pedagoacutegica em caraacuteter

experimental com perspectivas de consolidaccedilatildeo e de expansatildeo considerados os resultados

alcanccedilados

III ndash OBJETIVOS Geral Melhorar a eficiecircncia e a eficaacutecia do ensino puacuteblico municipal

mediante a regularizaccedilatildeo do fluxo escolar dos alunos das seacuteries iniciais do Ensino Fundamental

Especiacuteficos - Desenvolver alternativa pedagoacutegica de aceleraccedilatildeo da aprendizagem

fundamentada em aprendizagens significativas a partir do Curriacuteculo Baacutesico e no

fortalecimento da auto-estima do aluno - Promover o aluno ao final do ano letivo para a seacuterie

em que apresente condiccedilotildees de prosseguimento regular de estudos

IV - FUNDAMENTACcedilAtildeO LEGALA Prefeitura Municipal de Rio Branco - AC em sua

proposiccedilatildeo respalda-se na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional Lei nordm

939496 no capiacutetulo referente agrave Educaccedilatildeo Baacutesica essencialmente em seu artigo 24 inciso V

aliacutenea b que possibilita a aceleraccedilatildeo de estudos para alunos com atraso escolarA ratificar

o respaldo legal que viabiliza a presente Proposta Pedagoacutegica de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem

preceitua o artigo 23 da referida Lei que A educaccedilatildeo baacutesica poderaacute organizar-se em seacuteries

anuais periacuteodos semestrais ciclos alternacircncia regular de periacuteodo de estudos grupos natildeo-

seriados com base na idade na competecircncia e em outros criteacuterios ou por forma de organizaccedilatildeo

sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendarRessalta-se ainda

o artigo 24 que trata da organizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica nos niacuteveis fundamentais e meacutedio na

aliacutenea c de seu inciso II que possibilita a classificaccedilatildeo para qualquer seacuterie ou etapa do ensino

fundamental independente de escolarizaccedilatildeo anterior mediante avaliaccedilatildeo feita pela escola que

define o grau de desenvolvimento e experiecircncia do candidatoConsiderando a legislaccedilatildeo

educacional cabe ao oacutergatildeo executor da Educaccedilatildeo no Municiacutepio apresentar a proposta de

atendimento especiacutefico aos alunos que se encontram na situaccedilatildeo de defasagem escolar a qual

177

se configura na presente experiecircncia pedagoacutegica e submetecirc-la ao egreacutegio Conselho Estadual

de Educaccedilatildeo para a competente apreciaccedilatildeo A Proposta Pedagoacutegica de Aceleraccedilatildeo da

Aprendizagem no Ensino Fundamental deveraacute ter no periacuteodo de 1997 o caraacuteter de experiecircncia

pedagoacutegica e mediante os resultados obtidos ser referendada pelo egreacutegio Conselho Estadual

de Educaccedilatildeo para expansatildeo a partir de 1998 em toda a rede puacuteblica municipal de ensino

constituindo-se assim em mais uma alternativa pedagoacutegica do sistema puacuteblico de ensino

V ndash ABRANGEcircNCIA A Proposta Pedagoacutegica de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem no Ensino

Fundamental em sua fase experimental abrangeraacute alunos das trecircs primeiras seacuteries de dez

classes das escolas puacuteblicas municipais

VI - FUNDAMENTACcedilAtildeO PEDAGOacuteGICAA Escola como instacircncia de formaccedilatildeo da

cidadania assume sua funccedilatildeo social ao garantir a todos o direito constitucional agrave educaccedilatildeo

fundamental Ao propiciar o desenvolvimento das competecircncias cognitivas baacutesicas e favorecer

aprendizagens significativas atua tanto na dimensatildeo pessoal quanto social Na Escola

concentram-se muitas das expectativas de vivecircncia da cidadania plena e da construccedilatildeo de uma

sociedade mais justa Essa Escola eficiente configura-se pela conjugaccedilatildeo do compromisso

poliacutetico de todos os seus agentes desde servidores professores diretores ateacute a mais alta

autoridade educacional constituiacuteda com a competecircncia teacutecnica comprovada pelo sucesso do

aluno no percurso temporal legalmente estabelecido A entrada tardia a repetecircncia sucessiva e

a evasatildeo continuada consubstanciadas nos iacutendices elevados da defasagem idade-seacuterie

evidenciam a urgecircncia em se repensar a Escola hoje institucionalizada em decorrecircncia das

graves consequumlecircncias sociais dessas praacuteticas frequumlentes no sistema puacuteblico do ensino brasileiro

Repensar a Escola pressupotildee o redimensionamento de sua filosofia educacional que deve fazer

da crenccedila na capacidade humana para aprender e do desenvolvimento da auto-estima do aluno

os seus alicerces baacutesicos Dessa forma o clima organizacional da Escola possibilitaraacute a

substituiccedilatildeo da pedagogia da repetecircncia pela pedagogia do sucesso

VII - ABORDAGEM METODOLOacuteGICAA presente proposta pedagoacutegica baseia-se na

pedagogia do sucesso cuja hipoacutetese central consiste no pressuposto de que os alunos com

acentuada defasagem idade-seacuterie satildeo capazes de dominar com mais rapidez os conteuacutedos

baacutesicos do curriacuteculo desde que ensinados adequadamente e os alunos colocados num ambiente

motivador que lhes permita acumular sucessos de forma progressiva e assim desenvolver

adequadamente a auto-estima Essa abordagem metodoloacutegica pautar-se-aacute nas seguintes

diretrizes de accedilatildeo - as experiecircncias interesses e necessidades dos alunos constituir-se-atildeo

pontos referenciais de partida da accedilatildeo docente uma vez que a maturidade cronoloacutegica deve ser

considerada no contexto do desenvolvimento intelectual e social do ser humano - o

planejamento sistemaacutetico das atividades o acompanhamento constante do desempenho do

aluno o feedback imediato e retomadas necessaacuterias oportunas e adequadas conduziratildeo agrave

otimizaccedilatildeo do tempo pedagoacutegico - o aprender fazendo caracterizado pelo trabalho por

atividades a partir de projetos temas instigadores eventos estimuladores etc consistiraacute na

dinacircmica de sala de aula e Nortearaacute o planejamento didaacutetico - as atividades de ensino-

aprendizagem englobaratildeo de forma graduada e progressiva os conteuacutedos programaacuteticos

estabelecidos nas diferentes aacutereas do conhecimento constantes do curriacuteculo oficial - o

tratamento interdisciplinar e contextualizado dos conteuacutedos programaacuteticos inerente a cada

atividade tornar-se-aacute suporte para o desenvolvimento de habilidades cognitivas baacutesicas - as

habilidades de reconhecer associar classificar analisar deduzir generalizar sintetizar aplicar

e transferir conhecimentos dentre outras desenvolver-se-atildeo mediante o estudo criacutetico dos

conteuacutedos programaacuteticos e a realizaccedilatildeo das atividades programadas - as aprendizagens

significativas e as condiccedilotildees evidenciadas de prosseguimento seguro de estudos constituir-se-

178

atildeo em criteacuterios de avaliaccedilatildeo de progresso do aluno O professor nessa abordagem

metodoloacutegica exerceraacute o papel de animador de grupos articulador das accedilotildees educativas e

promotor de aprendizagens significativas conduzindo assim todos os alunos ao sucesso A

ele portanto caberaacute

- identificar interesses e necessidades dos alunos visando ao planejamento conjunto das

atividades - estimular e garantir a participaccedilatildeo de todos os alunos em todas as atividades

distribuindo tarefas segundo potencialidades se for o caso - selecionar previamente material

necessaacuterio agraves atividades planejadas para o dia - preparar a exposiccedilatildeo teoacuterica dos conteuacutedos

quando necessaacuterio - sistematizar com os alunos as informaccedilotildees trabalhadas em cada

atividade em consonacircncia com o curriacuteculo estabelecido

- elaborar exerciacutecios de fixaccedilatildeo dos conteuacutedos desenvolvidos a partir de atividades sempre

que necessaacuterio - orientar os alunos na execuccedilatildeo das tarefas em sala de aula - orientar as

tarefas a serem cumpridas pelos alunos fora da sala de aula com vistas ao desenvolvimento das

atividades

- observar o desempenho de cada aluno em termos de sociabilidade comunicaccedilatildeo oral e

escrita domiacutenio dos conceitos trabalhados

- possibilitar a exposiccedilatildeo oral eou escrita dos trabalhos produzidos

- programar atividades de recuperaccedilatildeo para os alunos que necessitarem

- registrar sistematicamente o desempenho dos alunos nas atividades

- elaborar e aplicar instrumentos de avaliaccedilatildeo em consonacircncia com as atividades

desenvolvidas

Nessa perspectiva o desempenho e progresso escolar do aluno deveratildeo ser acompanhados e

avaliados em termos de

- iniciativa

- habilidade de trabalho em grupo

- comunicaccedilatildeo oral e escrita

- participaccedilatildeo responsabilidade comprometimento

- capacidade de anaacutelise e siacutentese

- consistecircncia de argumentaccedilatildeo

- criatividade

- aplicaccedilatildeo de conceitos trabalhados

- domiacutenio de conteuacutedo

VIII - CONTEUacuteDOS PROGRAMAacuteTICOS Desenvolver-se-atildeo na presente proposta pedagoacutegica os conteuacutedos programaacuteticos adotados na

Rede Municipal de Ensino cotejados com os conteuacutedos selecionados nacionalmente para o

Sistema de Avaliaccedilatildeo do Ensino Baacutesico (SAEB - MEC)

Os conteuacutedos programaacuteticos estatildeo organizados por aacutereas de ensino e por habilidades conforme

matriz anexa

IX - RECURSOS DIDAacuteTICOS A Proposta Pedagoacutegica de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem no Ensino Fundamental seraacute

desenvolvida a partir de material didaacutetico especiacutefico destinado a alunos e professores O

material didaacutetico do professor compotildee-se de um Manual com orientaccedilotildees referentes agrave Proposta

e agraves atividades didaacuteticas e uma Caixa de Material Complementar contendo os recursos

adicionais indicados no material do aluno aleacutem de livros de literatura infanto-juvenil

O material do aluno compotildee-se de sete instrumentos denominados Moacutedulo Introdutoacuterio e

179

Projetos I II III IV V e VI que abordam os conteuacutedos programaacuteticos das seacuteries iniciais do

Ensino Fundamental no enfoque metodoloacutegico da Proposta

Este material foi testado em 1996 nos Estados de Minas Gerais Paranaacute Maranhatildeo e Mato

Grosso em 150 classes das redes puacuteblicas estaduais tendo sido considerado adequado agrave

filosofia da Proposta frente agrave receptividade de alunos e professores

X - RECURSOS HUMANOS A Proposta Pedagoacutegica de Aceleraccedilatildeo de estudos no Ensino Fundamental estaraacute sob a

responsabilidade do seguinte quadro de profissionais

- Professores regentes habilitados em niacutevel de 2ordm Grau Magisteacuterio ou 3ordm Grau integrantes do

quadro de pessoal da Secretaria Municipal da Educaccedilatildeo para atuaccedilatildeo direta em sala de aula

- Equipe teacutecnica das escolas constituiacuteda por diretores supervisores e orientadores habilitados

em niacutevel de 2ordm Grau Magisteacuterio ou 3ordm Grau integrantes do quadro de pessoal da Secretaria

Municipal da Educaccedilatildeo para orientaccedilatildeo aos professores e acompanhamento local

- Equipe teacutecnica da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo constituiacuteda por professores e

pedagogos habilitados em niacutevel de 3ordm Grau para implantaccedilatildeo acompanhamento e avaliaccedilatildeo da

Proposta

- Consultores teacutecnico-pedagoacutegicos para assessoramento agrave Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

Disponiacutevel em ltxayimgcomkqgroups22032022331595811Convecircnio+1997rtfgt

Acesso em 20 out 2015


pesquisadores fundaccedilotildees e organizaccedilotildees internacionais proposta pelo Instituto Ayrton

Senna




Tese apresentada agrave Faculdade de

Educaccedilatildeo da Universidade Federal do

Rio Grande do Sul como requisito parcial

para a promoccedilatildeo a Professor Titular da

Carreira do Magisteacuterio Superior

Porto Alegre 2015

AGRADECIMENTOS



trajetoacuteria



os voos























Maacutercio Borges

Clube da esquina 2)

RESUMO























___________________________________________________________________________




ABSTRACT






















education


of Education

___________________________________________________________________________




LISTA DE FIGURAS






complementar 110





diferenccedilas 39













LISTA DE SIGLAS















































9






















Educaccedilatildeo







SUMAacuteRIO



SOBRE O TEMA 16



DE QUALIDADE 29




31 OS SUJEITOS 65






41 A OFERTA 83








101




52 OS SUJEITOS 106






571 Sujeitos 130



11


REFEREcircNCIAS 151








Ayrton Senna 180
























educaccedilatildeo









13










poliacuteticas























14

































15





















SOBRE O TEMA






























17


Ainda para o autor












processo


















direitos



18


































19



(VIEIRA 2007 p 136)





















periacuteodo








anteriormente



20


(WOOD 2003 p 217-218)
































21







































22


2007 p 104)





























23


tema





























90




24





























Asociados CAPG-BA





25











do tema






















educaccedilatildeo

26



























12 Ver Susin (2005 2009)

27





















civil (PERONI 2009)













28













e Estados Unidos



DE QUALIDADE






























30


(ANTUNES 1999 p 31)






























31






2013)







(PERONI 2013)



















32










(Disponiacutevel em













produtivo











33


esvaziar seu poder



















p 177)












34











sociedade21



























35



















2013)















36

















(GIDDENS 2007)














financiador



37













Terceira Via




















38


(HARVEY 2008 p 76)





p 178)













2007 p 266)







39




diferenccedilas


Estado miacutenimo

Reforma do Estado


parcerias


Democracia



eleitores






terceiro setor



Individualismo

















40


social
































41































42





de oportunidades


BRANCO 2009 p 78)





























43





nesse projeto









discussatildeo





Moraes (2001 p 49)














44


































45


































46



























curso









47


1998 p 12)















12)


















48



































49




















(BRASIL 2015 p 5)














50




















democraacutetica













51


(BALL 2013 p 178)













apenas modificado






Segundo os autores
















52

































53


si (WOOD 2014)

































54



































Serviccedilos

55





































































57


































58














Latina


81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

PPE ndash 1981-2001






ODM ndash 2000-2015














59


83)






puacuteblico

















ensino superior)









60




educaccedilatildeo




















29)










61














2013 p 280)











puacuteblico












62




























2015 p 146)














63

























entrevista)







64





















(RIKOWSKI 2014 p 3)






(RIKOWSKI 2014 p 4)




2014 p 4)




65









31 OS SUJEITOS










internacionalmente







66




































67









2013 p 33)






das redes





2013 p 40)















68









5





















69


























E descreve cada um



governo



70


setor puacuteblico
































71













educaccedilatildeo


















72


(VIEIRA 1998 p 12)















puacuteblicos


















73
















YOUDELL 2008 p 14)









YOUDELL 2008 p 22)












74














2013 p 17)





Alfabetizado







[] (BALL et al 2013 p 18)






75












(2014 p 198)


















76





































77


mais amplos










meacutedio














2014 p 37)














78











danoso



























80


































81





















1496







CASTRO 1993 p 6)







82
































83

41 A OFERTA










1995 156

1996 147

2004 114

2007 102

2008 10

2009 97







2001 273

2002 26

2003 248

2004 244

2005 235

2006 222

2007 217

2008 21



84


2009 203




Periacuteodo

Sem

instruccedilatildeo

e menos

de 1 ano

1 a 3

anos

4 a 7

anos

8 a 10

anos

11 a 14

anos

15 anos

ou mais

Natildeo

determinados

e sem


2001 1265 1651 3312 1564 1695 474 039

2002 1187 1576 3295 1572 1837 499 035

2003 1153 1484 3216 1635 1958 524 03

2004 114 1453 3147 1645 2046 543 028

2005 1091 1414 3119 1636 2154 558 027

2006 1024 1357 308 1644 2271 605 019

2007 1017 1339 2935 1696 2349 644 -

2008 1021 1266 2823 1721 2464 688 -

2009 968 1262 2806 1652 2557 74 -

2011 1148 1049 2551 1735 2696 809 -









1992 5391 8753 8603 5967

1993 577 8904 8835 6192

1995 6379 9099 8978 6659

1996 6377 9176 9097 6947

1997 6659 9314 9291 7327

1998 6909 9505 9451 7646

1999 7096 9622 954 7851

2001 7623 9694 9619 8109

2002 7717 9717 968 8147

85


2003 7869 9729 9712 8236

2004 8183 9761 9692 8218

2005 822 9788 9717 8198

2006 8529 9837 9736 825

2007 8641 9813 9741 8235







1992 8659

1993 886

1995 9022

1996 9126

1997 9299

1998 947

1999 9569

2001 9646

2002 9694

2003 9719

2004 9719

2005 9743

2006 9773

2007 9767







86



1980 801 143

1991 838 176

1994 875 208

1998 953 308

1999 954 326

2000 943 333
























87









necessidades35






















88






educativas

































89















60942007)

















90



desenvolvida

pelo MEC

Tecnologia

externa ao MEC

Total

2009 2011 2009 2011 2009 2011




educaccedilatildeo

10 12 14 15 24 22




Jovens e Adultos

10 17 07 11 17 28


8 TOTAL 43 65 91 104 134 169






















91













Beatriz Johannpeter


Daniel Feffer






Fernatildeo Bracher




Viviane Senna

Milu Vilella

Wanda Engel Aduan



Acelera





Instituto Unibanco



Instituto Gerdau

Suzano Holding SA

SESCSP Div Regional

Dir Fund Bradesco

Itauacute - BBA


INEE Dir Inst

Gerdau



Futuro




Prg FC Multicurso

Matemaacutetica


Guia de Tecnologias

Tecnologias

LEGENDA

Conselho de

Governanccedila

92





























(2014)


93








educaccedilatildeo






dos direitos

























94




























214













95














p 29)





















96

































97































98


































99





















Haddad











100



































Tecnologias45




101


produtos

















































103
































alunos)








104





































105








puacuteblicos

























106


fundamental

52 OS SUJEITOS


















relaccedilotildees

107














108






IAS

MICROSOFT

BRASIL TELECON

INTEL

BRADESCO

GRENDENE

VALE DO RIO DOCE


INST UNIBANCO

SUZANO

SIEMENS

ORACLE

LIDE-EDH

NIacuteVEA

CREDICARD INST

VOTORANTIM



INST VIVO

HP

COSERN

CELPE

COELBA

UNESCO

109







figura acima





110
















111










um dos alunos e




























112




Governador

Prefeito










Educaccedilatildeo



Secretaacuterio de

educaccedilatildeo













Coordenador

do programa

Gestatildeo Nota

10



educacional


sucesso educacional













Educaccedilatildeo






113






Superintende

nte Escolar
























IAS











114

















(grifos da autora)



gerencial



sucesso



escolares


financeira








115





























decisatildeo

















116




































117













2007)




comprar o material






Entrevista 2007)













118












2007 Entrevista)























119


do Sul48































120































49 Ver anexo 4

121





figura 6












abaixo






122











e pessoas e coisas)

4 Amabilidade





















123



baacutesica








em 19 dez 2015)




























propotildee





124

































125












em 23 nov 2015)



1 Doando dinheiro














2015)
















126













2015)





2013 p 33)












2011 p 50)




recebidos










127




























democraacutetica








em 3 jul 2015

128



experimental








PERONI 2015)






















129




2012)



















(BRASIL 2014 p 14)















130




571 Sujeitos









BOVESPA


ITAUacute-UNIBANCO

Fundaccedilatildeo

OSESP

TOTVS

VICE-PRESIDENTE

PEDRO MALAN

Falconi Consultores

Associados

SecNacional de

EducCont-SECAD

MEC

Itau Unibanco

HoldingFOI

PRESIDENTE

PEDRO MOREIRA

SALLES

SUPERINTEXECUT

RICARDO HENRIQUES

CONSELHO

FISCAL

IFRS Foudation

Mills Energia

Consultor Intern

Itauacute Unibanco

ALCOA

CoordDesenv

Humano do RJ

SecExec

MinAssistSocial

ANTONIO

MATIAS

RICARDO PAES

DE BARROS

MARCOS LISBOA

CLAUDIO

HADDAD

CLAUDIO MOURA

CASTRO

SecAssist Soc e

DH do RJ

EDP Energia

Ministro da

Fazenda

PresBanco

Central Diretor

Banco

Mundial

Diretor do BIRD

E ONU

Educaccedilatildeo

Compromisso SP

Cambuhy

Investimentos

INSPER

BUNGESouza Cruz

Thompson Reuter


Cons e negociador

divida

externa

Assessor

BNDES

Membro da

UNESCO e

BIRD

Pesquisador

IPEA

Ethos

Itau Social

Todos pela


Marinho

FEBRABAN

Pitaacutegoras

Positivo

INSPER

IBMECFaculdade

Veris

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Instituto

Natura

INSPER

SAE

TOMAS SOUTO

C NETO

GRUPO ABRIL

ANNER

FIPP

TOMAS ZINNER

CEBRI

Junior Achievement


Akatu

VEJA


131































132



INDIVIDUAIS EOU

COLETIVOS



Educaccedilatildeo

Guia de Tecnologias

Educacionais




Repuacuteblica




Instituto Unibanco








Vidigal (FMCSV)





foi destinado o










para 85rdquo













UNESCO Unicef


Interamericano de

Desenvolvimento


um reconhecimento a




brasileiro









Unibanco





Jovem de Futuro

Por meio da Rede de






produzidas na FGV

133




Satildeo Paulo














desejadas do Estado




Natura


Vitor Civita



Paraacute


Paraacute












BID






Circle











pessoa












Unibanco e outras








(Enem) Em 2013 os


ProEMIJF foram



Portal G1


Instituto Natura




da Sociedade Civil

Brasileira 2023



parceria com outras




134


representantes de



governo empresas






































CPP





































136






















necessaacuterio




resultados obtidos














137










CE























3351)



3351)


p 3451)




138



































139



















proacuteprios











UNIBANCO 2012 p 16)




140

























educacionais












141

























2015)












142




em 5 maio 2015)













Unibanco








equipe



eles




IAS IU










metas propostas

Um coordenador






metas propostas




puacuteblicos






Municipais






Municipais



redes puacuteblicas

1997 2007



sim sim



em que atua






Ensino Meacutedio













144






























2004 p 172)




































Moraes (2013)


146

































147




















apontando














148

































149


































150











REFEREcircNCIAS





v 28 p 263-282 2014










pesquisa 2010






53 p 267-284 abrjun 2013







152
















2013












71





153













2002





DF 23 dez 1996 p 27833













154














dez 2012
















155











550 setdez 2010


2014




1999




37 n 2 p 353-381 maioago 2012


2006







156










123-128







Guanabara 1987




2012











2007

157
















Unibanco 2013





158


2013
















1978




Alegre 2008







159





















Herbert Levy 1993




Xamatilde 2003





160

















1034
















161







2010























outdez 2012



162

















de Aprendizagem
















163





895 set 2003












Oikos 2015 p 72-88


1981


UNICAMP 2012





2014




55 pp 9-29 2002

164





2015







Entrevistas















165


































________________ __________de ______ ______________________________






Monitoria


OficinasPalestras

Aulas de campo













Lei









junho de 1997

CONVEcircNIO















169












































170












forem insuficientes









IAS eou pelo CETEB







deste Instrumento





Anexo II


Municiacutepio














171
























t)





u)





v)



expresso da outra

w)




172

173




y)



testemunhas abaixo

z)


aa) _____________________________________



_____________________________________



Testemunhas

1 ___________________________________


gg) RG 16407172

hh) 2____________________________________

Nome

RG


















174





sucesso












localidade









sucesso









ANO 1


Previsto

01



prefeito

novembrodeze

mbro - 96



03




130197

175


educacional







07



Aprendizagem

03 a 140297














ANEXO II




III ndash OBJETIVOS













176


























alcanccedilados






















177
















































178














atividades







desenvolvidas



- iniciativa






- criatividade







matriz anexa







179















Proposta






Senna

AGRADECIMENTOS



trajetoacuteria



os voos























Maacutercio Borges

Clube da esquina 2)

RESUMO























___________________________________________________________________________




ABSTRACT






















education


of Education

___________________________________________________________________________




LISTA DE FIGURAS






complementar 110





diferenccedilas 39













LISTA DE SIGLAS















































9






















Educaccedilatildeo







SUMAacuteRIO



SOBRE O TEMA 16



DE QUALIDADE 29




31 OS SUJEITOS 65






41 A OFERTA 83








101




52 OS SUJEITOS 106






571 Sujeitos 130



11


REFEREcircNCIAS 151








Ayrton Senna 180
























educaccedilatildeo









13










poliacuteticas























14

































15





















SOBRE O TEMA






























17


Ainda para o autor












processo


















direitos



18


































19



(VIEIRA 2007 p 136)





















periacuteodo








anteriormente



20


(WOOD 2003 p 217-218)
































21







































22


2007 p 104)





























23


tema





























90




24





























Asociados CAPG-BA





25











do tema






















educaccedilatildeo

26



























12 Ver Susin (2005 2009)

27





















civil (PERONI 2009)













28













e Estados Unidos



DE QUALIDADE






























30


(ANTUNES 1999 p 31)






























31






2013)







(PERONI 2013)



















32










(Disponiacutevel em













produtivo











33


esvaziar seu poder



















p 177)












34











sociedade21



























35



















2013)















36

















(GIDDENS 2007)














financiador



37













Terceira Via




















38


(HARVEY 2008 p 76)





p 178)













2007 p 266)







39




diferenccedilas


Estado miacutenimo

Reforma do Estado


parcerias


Democracia



eleitores






terceiro setor



Individualismo

















40


social
































41































42





de oportunidades


BRANCO 2009 p 78)





























43





nesse projeto









discussatildeo





Moraes (2001 p 49)














44


































45


































46



























curso









47


1998 p 12)















12)


















48



































49




















(BRASIL 2015 p 5)














50




















democraacutetica













51


(BALL 2013 p 178)













apenas modificado






Segundo os autores
















52

































53


si (WOOD 2014)

































54



































Serviccedilos

55





































































57


































58














Latina


81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

PPE ndash 1981-2001






ODM ndash 2000-2015














59


83)






puacuteblico

















ensino superior)









60




educaccedilatildeo




















29)










61














2013 p 280)











puacuteblico












62




























2015 p 146)














63

























entrevista)







64





















(RIKOWSKI 2014 p 3)






(RIKOWSKI 2014 p 4)




2014 p 4)




65









31 OS SUJEITOS










internacionalmente







66




































67









2013 p 33)






das redes





2013 p 40)















68









5





















69


























E descreve cada um



governo



70


setor puacuteblico
































71













educaccedilatildeo


















72


(VIEIRA 1998 p 12)















puacuteblicos


















73
















YOUDELL 2008 p 14)









YOUDELL 2008 p 22)












74














2013 p 17)





Alfabetizado







[] (BALL et al 2013 p 18)






75












(2014 p 198)


















76





































77


mais amplos










meacutedio














2014 p 37)














78











danoso



























80


































81





















1496







CASTRO 1993 p 6)







82
































83

41 A OFERTA










1995 156

1996 147

2004 114

2007 102

2008 10

2009 97







2001 273

2002 26

2003 248

2004 244

2005 235

2006 222

2007 217

2008 21



84


2009 203




Periacuteodo

Sem

instruccedilatildeo

e menos

de 1 ano

1 a 3

anos

4 a 7

anos

8 a 10

anos

11 a 14

anos

15 anos

ou mais

Natildeo

determinados

e sem


2001 1265 1651 3312 1564 1695 474 039

2002 1187 1576 3295 1572 1837 499 035

2003 1153 1484 3216 1635 1958 524 03

2004 114 1453 3147 1645 2046 543 028

2005 1091 1414 3119 1636 2154 558 027

2006 1024 1357 308 1644 2271 605 019

2007 1017 1339 2935 1696 2349 644 -

2008 1021 1266 2823 1721 2464 688 -

2009 968 1262 2806 1652 2557 74 -

2011 1148 1049 2551 1735 2696 809 -









1992 5391 8753 8603 5967

1993 577 8904 8835 6192

1995 6379 9099 8978 6659

1996 6377 9176 9097 6947

1997 6659 9314 9291 7327

1998 6909 9505 9451 7646

1999 7096 9622 954 7851

2001 7623 9694 9619 8109

2002 7717 9717 968 8147

85


2003 7869 9729 9712 8236

2004 8183 9761 9692 8218

2005 822 9788 9717 8198

2006 8529 9837 9736 825

2007 8641 9813 9741 8235







1992 8659

1993 886

1995 9022

1996 9126

1997 9299

1998 947

1999 9569

2001 9646

2002 9694

2003 9719

2004 9719

2005 9743

2006 9773

2007 9767







86



1980 801 143

1991 838 176

1994 875 208

1998 953 308

1999 954 326

2000 943 333
























87









necessidades35






















88






educativas

































89















60942007)

















90



desenvolvida

pelo MEC

Tecnologia

externa ao MEC

Total

2009 2011 2009 2011 2009 2011




educaccedilatildeo

10 12 14 15 24 22




Jovens e Adultos

10 17 07 11 17 28


8 TOTAL 43 65 91 104 134 169






















91













Beatriz Johannpeter


Daniel Feffer






Fernatildeo Bracher




Viviane Senna

Milu Vilella

Wanda Engel Aduan



Acelera





Instituto Unibanco



Instituto Gerdau

Suzano Holding SA

SESCSP Div Regional

Dir Fund Bradesco

Itauacute - BBA


INEE Dir Inst

Gerdau



Futuro




Prg FC Multicurso

Matemaacutetica


Guia de Tecnologias

Tecnologias

LEGENDA

Conselho de

Governanccedila

92





























(2014)


93








educaccedilatildeo






dos direitos

























94




























214













95














p 29)





















96

































97































98


































99





















Haddad











100



































Tecnologias45




101


produtos

















































103
































alunos)








104





































105








puacuteblicos

























106


fundamental

52 OS SUJEITOS


















relaccedilotildees

107














108






IAS

MICROSOFT

BRASIL TELECON

INTEL

BRADESCO

GRENDENE

VALE DO RIO DOCE


INST UNIBANCO

SUZANO

SIEMENS

ORACLE

LIDE-EDH

NIacuteVEA

CREDICARD INST

VOTORANTIM



INST VIVO

HP

COSERN

CELPE

COELBA

UNESCO

109







figura acima





110
















111










um dos alunos e




























112




Governador

Prefeito










Educaccedilatildeo



Secretaacuterio de

educaccedilatildeo













Coordenador

do programa

Gestatildeo Nota

10



educacional


sucesso educacional













Educaccedilatildeo






113






Superintende

nte Escolar
























IAS











114

















(grifos da autora)



gerencial



sucesso



escolares


financeira








115





























decisatildeo

















116




































117













2007)




comprar o material






Entrevista 2007)













118












2007 Entrevista)























119


do Sul48































120































49 Ver anexo 4

121





figura 6












abaixo






122











e pessoas e coisas)

4 Amabilidade





















123



baacutesica








em 19 dez 2015)




























propotildee





124

































125












em 23 nov 2015)



1 Doando dinheiro














2015)
















126













2015)





2013 p 33)












2011 p 50)




recebidos










127




























democraacutetica








em 3 jul 2015

128



experimental








PERONI 2015)






















129




2012)



















(BRASIL 2014 p 14)















130




571 Sujeitos









BOVESPA


ITAUacute-UNIBANCO

Fundaccedilatildeo

OSESP

TOTVS

VICE-PRESIDENTE

PEDRO MALAN

Falconi Consultores

Associados

SecNacional de

EducCont-SECAD

MEC

Itau Unibanco

HoldingFOI

PRESIDENTE

PEDRO MOREIRA

SALLES

SUPERINTEXECUT

RICARDO HENRIQUES

CONSELHO

FISCAL

IFRS Foudation

Mills Energia

Consultor Intern

Itauacute Unibanco

ALCOA

CoordDesenv

Humano do RJ

SecExec

MinAssistSocial

ANTONIO

MATIAS

RICARDO PAES

DE BARROS

MARCOS LISBOA

CLAUDIO

HADDAD

CLAUDIO MOURA

CASTRO

SecAssist Soc e

DH do RJ

EDP Energia

Ministro da

Fazenda

PresBanco

Central Diretor

Banco

Mundial

Diretor do BIRD

E ONU

Educaccedilatildeo

Compromisso SP

Cambuhy

Investimentos

INSPER

BUNGESouza Cruz

Thompson Reuter


Cons e negociador

divida

externa

Assessor

BNDES

Membro da

UNESCO e

BIRD

Pesquisador

IPEA

Ethos

Itau Social

Todos pela


Marinho

FEBRABAN

Pitaacutegoras

Positivo

INSPER

IBMECFaculdade

Veris

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Instituto

Natura

INSPER

SAE

TOMAS SOUTO

C NETO

GRUPO ABRIL

ANNER

FIPP

TOMAS ZINNER

CEBRI

Junior Achievement


Akatu

VEJA


131































132



INDIVIDUAIS EOU

COLETIVOS



Educaccedilatildeo

Guia de Tecnologias

Educacionais




Repuacuteblica




Instituto Unibanco








Vidigal (FMCSV)





foi destinado o










para 85rdquo













UNESCO Unicef


Interamericano de

Desenvolvimento


um reconhecimento a




brasileiro









Unibanco





Jovem de Futuro

Por meio da Rede de






produzidas na FGV

133




Satildeo Paulo














desejadas do Estado




Natura


Vitor Civita



Paraacute


Paraacute












BID






Circle











pessoa












Unibanco e outras








(Enem) Em 2013 os


ProEMIJF foram



Portal G1


Instituto Natura




da Sociedade Civil

Brasileira 2023



parceria com outras




134


representantes de



governo empresas






































CPP





































136






















necessaacuterio




resultados obtidos














137










CE























3351)



3351)


p 3451)




138



































139



















proacuteprios











UNIBANCO 2012 p 16)




140

























educacionais












141

























2015)












142




em 5 maio 2015)













Unibanco








equipe



eles




IAS IU










metas propostas

Um coordenador






metas propostas




puacuteblicos






Municipais






Municipais



redes puacuteblicas

1997 2007



sim sim



em que atua






Ensino Meacutedio













144






























2004 p 172)




































Moraes (2013)


146

































147




















apontando














148

































149


































150











REFEREcircNCIAS





v 28 p 263-282 2014










pesquisa 2010






53 p 267-284 abrjun 2013







152
















2013












71





153













2002





DF 23 dez 1996 p 27833













154














dez 2012
















155











550 setdez 2010


2014




1999




37 n 2 p 353-381 maioago 2012


2006







156










123-128







Guanabara 1987




2012











2007

157
















Unibanco 2013





158


2013
















1978




Alegre 2008







159





















Herbert Levy 1993




Xamatilde 2003





160

















1034
















161







2010























outdez 2012



162

















de Aprendizagem
















163





895 set 2003












Oikos 2015 p 72-88


1981


UNICAMP 2012





2014




55 pp 9-29 2002

164





2015







Entrevistas















165


































________________ __________de ______ ______________________________






Monitoria


OficinasPalestras

Aulas de campo













Lei









junho de 1997

CONVEcircNIO















169












































170












forem insuficientes









IAS eou pelo CETEB







deste Instrumento





Anexo II


Municiacutepio














171
























t)





u)





v)



expresso da outra

w)




172

173




y)



testemunhas abaixo

z)


aa) _____________________________________



_____________________________________



Testemunhas

1 ___________________________________


gg) RG 16407172

hh) 2____________________________________

Nome

RG


















174





sucesso












localidade









sucesso









ANO 1


Previsto

01



prefeito

novembrodeze

mbro - 96



03




130197

175


educacional







07



Aprendizagem

03 a 140297














ANEXO II




III ndash OBJETIVOS













176


























alcanccedilados






















177
















































178














atividades







desenvolvidas



- iniciativa






- criatividade







matriz anexa







179















Proposta






Senna





Maacutercio Borges

Clube da esquina 2)

RESUMO























___________________________________________________________________________




ABSTRACT






















education


of Education

___________________________________________________________________________




LISTA DE FIGURAS






complementar 110





diferenccedilas 39













LISTA DE SIGLAS















































9






















Educaccedilatildeo







SUMAacuteRIO



SOBRE O TEMA 16



DE QUALIDADE 29




31 OS SUJEITOS 65






41 A OFERTA 83








101




52 OS SUJEITOS 106






571 Sujeitos 130



11


REFEREcircNCIAS 151








Ayrton Senna 180
























educaccedilatildeo









13










poliacuteticas























14

































15





















SOBRE O TEMA






























17


Ainda para o autor












processo


















direitos



18


































19



(VIEIRA 2007 p 136)





















periacuteodo








anteriormente



20


(WOOD 2003 p 217-218)
































21







































22


2007 p 104)





























23


tema





























90




24





























Asociados CAPG-BA





25











do tema






















educaccedilatildeo

26



























12 Ver Susin (2005 2009)

27





















civil (PERONI 2009)













28













e Estados Unidos



DE QUALIDADE






























30


(ANTUNES 1999 p 31)






























31






2013)







(PERONI 2013)



















32










(Disponiacutevel em













produtivo











33


esvaziar seu poder



















p 177)












34











sociedade21



























35



















2013)















36

















(GIDDENS 2007)














financiador



37













Terceira Via




















38


(HARVEY 2008 p 76)





p 178)













2007 p 266)







39




diferenccedilas


Estado miacutenimo

Reforma do Estado


parcerias


Democracia



eleitores






terceiro setor



Individualismo

















40


social
































41































42





de oportunidades


BRANCO 2009 p 78)





























43





nesse projeto









discussatildeo





Moraes (2001 p 49)














44


































45


































46



























curso









47


1998 p 12)















12)


















48



































49




















(BRASIL 2015 p 5)














50




















democraacutetica













51


(BALL 2013 p 178)













apenas modificado






Segundo os autores
















52

































53


si (WOOD 2014)

































54



































Serviccedilos

55





































































57


































58














Latina


81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

PPE ndash 1981-2001






ODM ndash 2000-2015














59


83)






puacuteblico

















ensino superior)









60




educaccedilatildeo




















29)










61














2013 p 280)











puacuteblico












62




























2015 p 146)














63

























entrevista)







64





















(RIKOWSKI 2014 p 3)






(RIKOWSKI 2014 p 4)




2014 p 4)




65









31 OS SUJEITOS










internacionalmente







66




































67









2013 p 33)






das redes





2013 p 40)















68









5





















69


























E descreve cada um



governo



70


setor puacuteblico
































71













educaccedilatildeo


















72


(VIEIRA 1998 p 12)















puacuteblicos


















73
















YOUDELL 2008 p 14)









YOUDELL 2008 p 22)












74














2013 p 17)





Alfabetizado







[] (BALL et al 2013 p 18)






75












(2014 p 198)


















76





































77


mais amplos










meacutedio














2014 p 37)














78











danoso



























80


































81





















1496







CASTRO 1993 p 6)







82
































83

41 A OFERTA










1995 156

1996 147

2004 114

2007 102

2008 10

2009 97







2001 273

2002 26

2003 248

2004 244

2005 235

2006 222

2007 217

2008 21



84


2009 203




Periacuteodo

Sem

instruccedilatildeo

e menos

de 1 ano

1 a 3

anos

4 a 7

anos

8 a 10

anos

11 a 14

anos

15 anos

ou mais

Natildeo

determinados

e sem


2001 1265 1651 3312 1564 1695 474 039

2002 1187 1576 3295 1572 1837 499 035

2003 1153 1484 3216 1635 1958 524 03

2004 114 1453 3147 1645 2046 543 028

2005 1091 1414 3119 1636 2154 558 027

2006 1024 1357 308 1644 2271 605 019

2007 1017 1339 2935 1696 2349 644 -

2008 1021 1266 2823 1721 2464 688 -

2009 968 1262 2806 1652 2557 74 -

2011 1148 1049 2551 1735 2696 809 -









1992 5391 8753 8603 5967

1993 577 8904 8835 6192

1995 6379 9099 8978 6659

1996 6377 9176 9097 6947

1997 6659 9314 9291 7327

1998 6909 9505 9451 7646

1999 7096 9622 954 7851

2001 7623 9694 9619 8109

2002 7717 9717 968 8147

85


2003 7869 9729 9712 8236

2004 8183 9761 9692 8218

2005 822 9788 9717 8198

2006 8529 9837 9736 825

2007 8641 9813 9741 8235







1992 8659

1993 886

1995 9022

1996 9126

1997 9299

1998 947

1999 9569

2001 9646

2002 9694

2003 9719

2004 9719

2005 9743

2006 9773

2007 9767







86



1980 801 143

1991 838 176

1994 875 208

1998 953 308

1999 954 326

2000 943 333
























87









necessidades35






















88






educativas

































89















60942007)

















90



desenvolvida

pelo MEC

Tecnologia

externa ao MEC

Total

2009 2011 2009 2011 2009 2011




educaccedilatildeo

10 12 14 15 24 22




Jovens e Adultos

10 17 07 11 17 28


8 TOTAL 43 65 91 104 134 169






















91













Beatriz Johannpeter


Daniel Feffer






Fernatildeo Bracher




Viviane Senna

Milu Vilella

Wanda Engel Aduan



Acelera





Instituto Unibanco



Instituto Gerdau

Suzano Holding SA

SESCSP Div Regional

Dir Fund Bradesco

Itauacute - BBA


INEE Dir Inst

Gerdau



Futuro




Prg FC Multicurso

Matemaacutetica


Guia de Tecnologias

Tecnologias

LEGENDA

Conselho de

Governanccedila

92





























(2014)


93








educaccedilatildeo






dos direitos

























94




























214













95














p 29)





















96

































97































98


































99





















Haddad











100



































Tecnologias45




101


produtos

















































103
































alunos)








104





































105








puacuteblicos

























106


fundamental

52 OS SUJEITOS


















relaccedilotildees

107














108






IAS

MICROSOFT

BRASIL TELECON

INTEL

BRADESCO

GRENDENE

VALE DO RIO DOCE


INST UNIBANCO

SUZANO

SIEMENS

ORACLE

LIDE-EDH

NIacuteVEA

CREDICARD INST

VOTORANTIM



INST VIVO

HP

COSERN

CELPE

COELBA

UNESCO

109







figura acima





110
















111










um dos alunos e




























112




Governador

Prefeito










Educaccedilatildeo



Secretaacuterio de

educaccedilatildeo













Coordenador

do programa

Gestatildeo Nota

10



educacional


sucesso educacional













Educaccedilatildeo






113






Superintende

nte Escolar
























IAS











114

















(grifos da autora)



gerencial



sucesso



escolares


financeira








115





























decisatildeo

















116




































117













2007)




comprar o material






Entrevista 2007)













118












2007 Entrevista)























119


do Sul48































120































49 Ver anexo 4

121





figura 6












abaixo






122











e pessoas e coisas)

4 Amabilidade





















123



baacutesica








em 19 dez 2015)




























propotildee





124

































125












em 23 nov 2015)



1 Doando dinheiro














2015)
















126













2015)





2013 p 33)












2011 p 50)




recebidos










127




























democraacutetica








em 3 jul 2015

128



experimental








PERONI 2015)






















129




2012)



















(BRASIL 2014 p 14)















130




571 Sujeitos









BOVESPA


ITAUacute-UNIBANCO

Fundaccedilatildeo

OSESP

TOTVS

VICE-PRESIDENTE

PEDRO MALAN

Falconi Consultores

Associados

SecNacional de

EducCont-SECAD

MEC

Itau Unibanco

HoldingFOI

PRESIDENTE

PEDRO MOREIRA

SALLES

SUPERINTEXECUT

RICARDO HENRIQUES

CONSELHO

FISCAL

IFRS Foudation

Mills Energia

Consultor Intern

Itauacute Unibanco

ALCOA

CoordDesenv

Humano do RJ

SecExec

MinAssistSocial

ANTONIO

MATIAS

RICARDO PAES

DE BARROS

MARCOS LISBOA

CLAUDIO

HADDAD

CLAUDIO MOURA

CASTRO

SecAssist Soc e

DH do RJ

EDP Energia

Ministro da

Fazenda

PresBanco

Central Diretor

Banco

Mundial

Diretor do BIRD

E ONU

Educaccedilatildeo

Compromisso SP

Cambuhy

Investimentos

INSPER

BUNGESouza Cruz

Thompson Reuter


Cons e negociador

divida

externa

Assessor

BNDES

Membro da

UNESCO e

BIRD

Pesquisador

IPEA

Ethos

Itau Social

Todos pela


Marinho

FEBRABAN

Pitaacutegoras

Positivo

INSPER

IBMECFaculdade

Veris

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Todos pela

Educaccedilatildeo

Instituto

Natura

INSPER

SAE

TOMAS SOUTO

C NETO

GRUPO ABRIL

ANNER

FIPP

TOMAS ZINNER

CEBRI

Junior Achievement


Akatu

VEJA


131































132



INDIVIDUAIS EOU

COLETIVOS



Educaccedilatildeo

Guia de Tecnologias

Educacionais




Repuacuteblica




Instituto Unibanco








Vidigal (FMCSV)





foi destinado o










para 85rdquo













UNESCO Unicef


Interamericano de

Desenvolvimento


um reconhecimento a




brasileiro









Unibanco





Jovem de Futuro

Por meio da Rede de






produzidas na FGV

133




Satildeo Paulo














desejadas do Estado




Natura


Vitor Civita



Paraacute


Paraacute












BID






Circle











pessoa












Unibanco e outras








(Enem) Em 2013 os


ProEMIJF foram



Portal G1


Instituto Natura




da Sociedade Civil

Brasileira 2023



parceria com outras




134


representantes de



governo empresas






































CPP





































136






















necessaacuterio




resultados obtidos














137










CE























3351)



3351)


p 3451)




138



































139



















proacuteprios











UNIBANCO 2012 p 16)




140

























educacionais












141

























2015)












142




em 5 maio 2015)













Unibanco








equipe



eles




IAS IU










metas propostas

Um coordenador






metas propostas




puacuteblicos






Municipais






Municipais



redes puacuteblicas

1997 2007



sim sim



em que atua






Ensino Meacutedio













144






























2004 p 172)




































Moraes (2013)


146

































147




















apontando














148

































149


































150











REFEREcircNCIAS





v 28 p 263-282 2014










pesquisa 2010






53 p 267-284 abrjun 2013







152
















2013












71





153













2002





DF 23 dez 1996 p 27833













154














dez 2012
















155











550 setdez 2010


2014




1999




37 n 2 p 353-381 maioago 2012


2006







156










123-128







Guanabara 1987




2012











2007

157
















Unibanco 2013





158


2013
















1978




Alegre 2008







159





















Herbert Levy 1993




Xamatilde 2003





160

















1034
















161







2010























outdez 2012



162

















de Aprendizagem
















163





895 set 2003












Oikos 2015 p 72-88


1981


UNICAMP 2012





2014




55 pp 9-29 2002

164





2015







Entrevistas















165


































________________ __________de ______ ______________________________






Monitoria


OficinasPalestras

Aulas de campo













Lei









junho de 1997

CONVEcircNIO















169












































170












forem insuficientes









IAS eou pelo CETEB







deste Instrumento





Anexo II


Municiacutepio














171
























t)





u)





v)



expresso da outra

w)




172

173




y)



testemunhas abaixo

z)


aa) _____________________________________



_____________________________________



Testemunhas

1 ___________________________________


gg) RG 16407172

hh) 2____________________________________

Nome

RG


















174





sucesso












localidade









sucesso









ANO 1


Previsto

01



prefeito

novembrodeze

mbro - 96



03




130197

175


educacional







07



Aprendizagem

03 a 140297














ANEXO II




III ndash OBJETIVOS













176


























alcanccedilados






















177
















































178














atividades







desenvolvidas



- iniciativa






- criatividade







matriz anexa







179















Proposta






Senna

Documents

· 2019. 4. 14. · AGRADECIMENTOS Agradeço a tod@s que tornaram possível esta longa caminhada: Ao meu companheiro querido, Cícero Justo, ativamente presente em todos os momentos