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Leis Penais Extravagantes

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula

ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros

doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

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Sumário

1 Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – Lei 7492/86. ..................................... 2 

1.1 Gestão temerária de instituição financeira. ......................................................... 2 

1.2 Apropriação indébita no SFN. ............................................................................... 4 

1.3 Contabilidade paralela/caixa dois. ........................................................................ 6 

1.4 Empréstimos ilícitos. ............................................................................................. 8 

1.5 Financiamento fraudulento. ................................................................................. 9 

1.6 Evasão de divisas. ................................................................................................ 10 

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1 Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – Lei 7492/86.

1.1 Gestão temerária de instituição financeira.

Está prevista no parágrafo único do art. 4º da Lei 7492/86:

 Art. 4º Gerir fraudulentamente instituição financeira:

Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.

Parágrafo único. Se a gestão é temerária:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.

A gestão fraudulenta (art. 4º, caput) traz a mesma noção de fraude oriunda do

estelionato. Já a gestão temerária tem contornos menos precisos.

As atividades financeiras sempre envolvem certo risco (empréstimos,financiamentos). O risco ordinário, inerente àquela atividade não pode ser criminalizado.

Não obstante, é possível estabelecer algumas balizas, criminalizando as condutas que

extrapolem o risco habitual do mercado. Neste sentido, o HC 98.03.081133-9/SP – TRF3:

PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. GESTÃO

FRAUDULENTA E GESTÃO TEMERÁRIA. HABEAS-CORPUS. CABIMENTO II - OPERAÇÕES

BANCÁRIAS REALIZADAS POR ADMINISTRAÇÕES ANTERIORES E QUE O ACUSADO SE

LIMITOU A VOTAR, EM COMITÊ DE CRÉDITO, POR SUA PRORROGAÇÃO COMO MEIOS DE

RECEBER O VALOR PACTUADO. PARECER DE JURISTA ENTENDENDO INEXISTIR

RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR EM TAIS CASOS. III - OPERAÇÕES BANCÁRIASOUTRAS, EM QUE O PACIENTE VOTOU, NO MESMO COMITÊ, FAVORAVELMENTE À SUA

CONCESSÃO E ESTRIBADAS EM PARECERES FAVORÁVEIS DOS SETORES TÉCNICOS DA

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA E MEDIANTE A PRESTAÇÃO DE GARANTIAS BASTANTES. CASOS

QUE NÃO PODEM SER TIDOS COMO FRAUDULENTOS OU TEMERÁRIOS. IV - O ARTIGO 4 E

SEU PARÁGRAFO ÚNICO DA LEI N. 7.492, DE 16/6/86, NÃO DEFINIU O QUE SEJAM

GESTÃO FRAUDULENTA E GESTÃO TEMERÁRIA, O QUE LEVOU PARTE DA DOUTRINA E DA

 JURISPRUDÊNCIA A CONSIDERÁ-LOS INCONSTITUCIONAIS POR OFENSA AO PRINCÍPIO DA

RESERVA LEGAL. V - A PALAVRA "GESTÃO" INDICA O ESPAÇO DE TEMPO EM QUE A

PESSOA É ADMINISTRADORA DE UMA PESSOA JURÍDICA, E NÃO CADA UMA DAS

OPERAÇÕES QUE REALIZA. GERIR É UMA ATIVIDADE CONTINUADA, PRESSUPONDO

HABITUALIDADE, SENDO QUE UM OU ALGUNS ATOS ISOLADOS NÃO CONSTITUEM UMA

GESTÃO. OPINIÃO DE HELENO FRAGOSO. VI - GESTÃO FRAUDULENTA É A EM QUE O

 ADMINISTRADOR UTILIZA, CONTINUADA E HABITUALMENTE, NA CONDUÇÃO DOS

NEGÓCIOS SOCIAIS, ARTIFÍCIOS, ARDIS OU ESTRATAGEMA PARA POR EM ERRO OUTROS

 ADMINISTRADORES DA INSTITUIÇÃO OU SEUS CLIENTES. GESTAO TEMERÁRIA É A EM

QUE O ADMINISTRADOR AGE IMPRUDENTEMENTE, EM TRANSAÇÕES PERIGOSAS, SEM A

PRUDÊNCIA QUE DEVE PRESIDIR SUA ATUAÇÃO. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS

DESTA CORTE. VII - ALGUNS CASOS, PINÇADOS EM UM UNIVERSO DE MILHARES DE

OPERAÇÕES, NÃO PODEM SER TIDOS COMO GESTÃO FRAUDULENTA OU TEMERÁRIA.VIII - INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE, À ÉPOCA EM QUE O PACIENTE INTEGROU SEU

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COMITÊ DE CRÉDITO, OBTEVE LUCRO LÍQUIDO SUPERIOR EM 42,5% AO DO EXERCÍCIO

 ANTERIOR. IX - INEXISTÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA O PROSSEGUIMENTO DA

PERSECUÇÃO CRIMINAL. (TRF-3 - HC: 81133 SP 98.03.081133-9, Relator: JUIZ OLIVEIRA

LIMA, Data de Julgamento: 04/05/1999, Data de Publicação: DJ DATA:15/06/1999

PÁGINA: 689)

Observação1: Não confundir “temerária” com “imprudência”, que é característica do

crime culposo. Embora o termo “temerária” pareça estar associado à culpa, o delito será

necessariamente doloso.

Natureza jurídica do crime de gestão temerária: é crime de perigo concreto. O tipo

penal exige a produção de risco acima do normal, portanto, o perigo deve ser concreto. Este

é o entendimento de Tigre Maia e Abel Fernandes Gomes.

  Em se tratando de crime de perigo concreto, é possível a aplicar o princípio da

insignificância quando o eventual perigo se revela ínfimo? (a questão também é

válida para o crime do art. 4º, caput).

R: Em se tratando de crime de perigo concreto, é irrelevante o quanto de afetação

sofreu o patrimônio da instituição financeira. O simples fato de a instituição financeira não

sofrer ou sofrer prejuízo pequeno não descaracteriza a conduta típica. Ainda que o resultado

tenha sido proveitoso à instituição financeira, haverá crime.

Desta forma, as condutas do art. 4º da Lei 7492/86 não devem ser analisadas pelosresultados produzidos em concreto (que podem ser até positivos), e sim pelo risco que

causaram naquele momento anterior. Neste sentido, a ACR 1999. 03.99.110790-6/SP TRF3:

11. Dada a gravidade e autonomia das ações e omissões de per si, exige-se a simples

 prática de uma conduta potencialmente lesiva de administração para o enquadramento

nos delitos de gestão. Entendimento contrário levaria a absurda admissão da

 possibilidade de o administrador cometer um único ato fraudulento ou temerário

durante sua gestão e levar a instituição financeira à inadimplência, sem que nenhuma

responsabilidade penal pudesse advir por tal conduta. 12. O fato imputado e

comprovado jamais poderia levar à condenação pelo tipo previsto no caput do artigo 4ºda Lei nº 7.492/86, por faltar um de seus requisitos, nem de longe demonstrado durante

a persecução penal. Nenhuma outra prova, ainda que testemunhal, dá conta do conluio

afirmado na r. sentença monocrática, que, como se viu, tem por lastro prova

eminentemente de cunho subjetivo, não existindo qualquer demonstração do suposto

vínculo entre as instituições mencionadas, visto que toda a prova se resume no seguinte:

realização de operação day trade com prejuízo elevado à INTRA, que correspondia a

mais de trinta e cinco vezes do seu patrimônio líquido . 13. Tal hipótese, por si só,

 poderia caracterizar o tipo previsto no parágrafo único do artigo 4º da Lei nº 7.492/86,

isto é, na gestão temerária, diante do conceito acima adotado, mas jamais a gestão

 fraudulenta, cuja caracterização torna-se imperiosa a comprovação do esquema. (TRF-3

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- ACR: 110790 SP 1999.03.99.110790-6, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL SUZANA

CAMARGO, Data de Julgamento: 03/09/2002, QUINTA TURMA)

Observação2: Ver também o Resp 897.864-PR – STJ.

Observação3: O parecer opinativo favorável à determinada operação financeira, em

tese, não pode levar à incriminação do sujeito que o exarou. É preciso que haja um dolo de

aderir à conduta criminosa de gestão temerária. Neste sentido, o RHC 18.667- DF STJ:

RECURSO EM HABEAS CORPUS. GESTÃO TEMERÁRIA. ELABORAÇÃO DE PARECER

OPINATIVO. PARTICIPAÇÃO NO CRIME. NECESSIDADE DE DESCRIÇÃO, NA DENÚNCIA, DO

VÍNCULO SUBJETIVO. OCORRÊNCIA. 1. O crime de gestão temerária, previsto no

 parágrafo único do artigo 4º na Lei nº 7.492/86, é crime próprio e que exige, para sua

configuração, especial condição do agente. 2. Nessa linha, para que se possa ser osujeito ativo do crime em questão é fundamental que o agente tenha poderes de gestão

na empresa, ou seja, deve possuir poderes especiais ligados à administração, controle ou

direção da empresa, ex vi do art. 25 da referida lei. 3. É possível, todavia, a participação

de terceiras pessoas não integrantes do rol taxativo previsto em lei na prática do delito,

desde que se demonstre o nexo de causalidade entre a conduta da terceira pessoa e a

realização do fato típico. Esse nexo exige a presença do elemento subjetivo,

consubstanciado na consciência de que sua conduta, mediante ajuste de vontades,

voltada para a ocorrência do resultado que a lei visa reprimir. 4. No caso, a exordial

aponta vínculo subjetivo do recorrente que o liga ao evento delituoso, na medida em que

descreve a aceitação pelo recorrente do notório risco lesivo. Destaca-se da denúncia,

nesse particular, que a confecção de parecer favorável às operações de aquisição de

ações se deu em contexto totalmente desfavorável a esse tipo de operação e voltado ao

interesse exclusivo do banco estruturador da operação. Assim, verifica-se que houve a

descrição do necessário e indispensável elemento subjetivo que faz o elo de ligação entre

a conduta do paciente e o fato delituoso em si. 5. Recurso a que se nega provimento.

Observação4: O crime de gestão temerária (art. 4º, parágrafo único) é menos grave

que o de gestão fraudulenta (art. 4º, caput), portanto, o crime menor será absorvido pelo

maior quando praticados no mesmo contexto. Em outras palavras, se o agente praticar

ambas as condutas, responderá unicamente pelo tipo penal do art. 4º, caput.

1.2 Apropriação indébita no SFN.

Está prevista no art. 5º da Lei 7492/86:

 Art. 5º Apropriar-se, quaisquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei, de

dinheiro, título, valor ou qualquer outro bem móvel de que tem a posse, ou desviá-lo em

 proveito próprio ou alheio:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena qualquer das pessoas mencionadas no art. 25

desta lei, que negociar direito, título ou qualquer outro bem móvel ou imóvel de que tem

a posse, sem autorização de quem de direito.

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Trata-se de delito especial em relação ao CP.

Objeto material da conduta: dinheiro, título, valor ou qualquer outro bem móvel deque tenha posse.

  É necessário que os valores sejam da própria instituição financeira ou pode haver

apropriação sobre valores de terceiros confiados à instituição?

R: O professor entende que a titularidade dos valores é indiferente para a

configuração do crime. Por outro lado, Guilherme Nucci defende que se o objeto material

não for da própria instituição financeira, a capitulação do fato irá para o CP. Para o referido

autor, o crime do art. 5º só incide quando o objeto material da conduta pertencer à própria

instituição. Se pertencente a terceiros, o crime seria de peculato ou apropriação indébita.O crime do art. 5º da Lei 7492/86 configura uma modalidade especial de apropriação

indébita que afasta a incidência do art. 168 e 312 CP. No que diz respeito ao art. 168 CP, que

é crime comum, o art. 5º tem de especial o fato de que o sujeito ativo é uma pessoa

específica, ao passo que o crime do CP pode ser praticado por qualquer pessoa (crime

comum). Além disso, no crime do art. 168 CP, há a necessidade de uma posse direta, o que

não está presente no art. 5º, o qual tem como base a ideia de disponibilidade jurídica sem

detenção material, tal como ocorre no peculato. Neste sentido, o HC 89227 – STF:

HABEAS CORPUS. PENAL. CONFLITO DE NORMAS. CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE. CRIME

TIPIFICADO NO ARTIGO 5º DA LEI N. 7.492/86, PRATICADO POR CONTROLADORES E

 ADMINISTRADORES DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. PRETENSÃO DE ENQUADRAMENTO

NO TIPO DESCRITO NO ARTIGO 168-A, DO CÓDIGO PENAL, E NO ARTIGO 2º, II, DA LEI N.

8.137/90. SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, COM FUNDAMENTO NO ARTIGO

9º E SEU § 2º DA LEI N. 10.684/2003. PREJUDICIALIDADE. 1. O crime de apropriação

indébita do artigo 5º da Lei n. 7.492/86 é crime próprio; somente pode ser praticado pelo

controlador e pelos administradores de instituição financeira, assim considerados os

diretores e gerentes. Daí não se cogitar, no caso, de conflito de normas. Se existisse, a

circunstância de tratar-se de crime próprio importaria em que fosse tomada como

específica a norma incriminadora da Lei n. 7.492/86. E não guardaria relevância o fatode a pena ser mais elevada do que a cominada para os crimes dos artigos 168-A, do

Código Penal, e 2º, II, da Lei n. 8.137/90, o que resulta de opção do legislador no sentido

de reprimir com mais rigor o crime de apropriação indébita quando praticado pelas

 pessoas referidas no artigo 25 da Lei n. 7.492/86. 2. O não-acolhimento da tese do

enquadramento da conduta do paciente nos artigos 168-A, do Código Penal, e 2º, II, da

Lei n. 8.137/90, implica prejudicialidade da pretensão de suspensão ou extinção da

 punibilidade pelo parcelamento ou quitação do débito, visto que o crime tipificado no

artigo 5º da Lei n. 7.492/86 não consta do rol taxativo do artigo 9º da Lei n.

10.684/2003. Ordem denegada.

Questão nº 102 do 23º concurso MPF (2007):

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  X, valendo-se das facilidades que lhe são proporcionadas pelo cargo de diretor da

carteira de habitação da Caixa Econômica Federal, que exerce há dois anos e dois

meses, apropriou-se, indevidamente, em proveito próprio, de parte de dinheiro sob

sua posse, que deveria à construção de casas populares. X cometeu o delito:

a)  De peculato;

b)  De apropriação indébita;

c)  Previsto no art. 5º da Lei 7492/86;

d)  De apropriação indébita, sem prejuízo da causa especial de aumento de pena

prevista no Código Penal, art. 168, §1º, III, pois tinha a guarda do valor em razão do

ofício.

Gabarito: Letra C. Art. 5º da lei 7492/86, pois o crime foi cometido no âmbito de

instituição financeira.

1.3 Contabilidade paralela/caixa dois.

Está prevista no art. 11 da Lei 7492/86:

 Art. 11. Manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à contabilidade exigida

 pela legislação:

Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

  O delito do art. 11 da Lei 7492/86 pode ser praticado no âmbito de qualquer pessoa

 jurídica ou apenas em instituições financeiras?

R: O crime diz respeito somente às instituições financeiras. Não se aplica às demais

pessoas jurídicas. Atualmente, a Lei de Recuperação de Empresas e Falências (Lei

11.101/2005), no que tange aos crimes falimentares, traz causa de aumento de pena para a

conduta de não escrituração adequada de contabilidade. Desta forma, as disposições do art.

11 da lei 7492/86 só se aplicam às instituições financeiras, restando às demais pessoas

 jurídicas o regramento da Lei 11.101/2005.

Neste sentido, a ACR 2000.71.07. 003977-3 TRF4:

CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, ART. 1º DA LEI 8.137/90. CULPABILIDADE E

CIRCUNSTÂNCIAS NORMAIS AO TIPO PENAL. SONEGAÇÃO FISCAL. ARTS. 11 E 17 DA LEI

7.492/86 APLICAM-SE EM RELAÇÃO À INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. PRELIMINAR DE

 AUSÊNCIA DE CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO ADMINISTRATIVO. NULIDADE DA AÇÃO

PENAL. INÉPCIA DA INICIAL. DESCABIMENTO. SIMULAÇÃO DE SUBCONTRATAÇÃO DE

TERCEIRA EMPRESA COM O FITO DE REDUZIR TRIBUTOS E PARA QUE OS LUCROS DA

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA FOSSEM DISTRIBUÍDOS AOS SÓCIOS. CRIME DE SONEGA.

PRESCRIÇÃO DE OFÍCIO. Constitui crime contra a ordem tributária, nos termos do art. 1º,

II, III e IV, da Lei 8.137/90, a simulação de subcontratação de uma terceira empresa, com

o fito de redução de tributos sobre o lucro dessa empresa, mediante a redução do valor

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do resultado do exercício, bem como sobre a distribuição de rendas oriundas da pessoa

 jurídica, sendo autores do ilícito não só aqueles com poderes de gerenciamento como

também todos que participaram da simulada operação fiscal. O meio utilizado pelos

agentes na consecução de seus atos criminosos compreendia a utilização da

 pulverização de cheques, simulação de operações financeiras, depósitos em contas de

"laranjas" e contabilidade paralela, à sombra da oficial, tudo para frustrar a

arrecadação tributária e para que fossem distribuídos, disfarçadamente, os lucros da

instituição financeira aos seus sócios. Devem ser considerados neutros os vetores

culpabilidade e circunstâncias, quando do exame do art. 59, do CP, quando a justificativa

 para o aumento da pena-base era o fato de que o crime contra a ordem tributária

ocorreu "no âmbito de instituição financeira" e porque "ocorreram contra o sistema

 financeiro" pois, em ambas as situações, referidas condutas são compatíveis à espéciedelitiva objeto da denúncia. A distribuição disfarçada de lucros e movimentação paralela

de numerários encontra sanção na forma dos arts. 11 e 17 da Lei 7.492/86. A Lei

7.492/86 é aplicável às empresas que atuam na condição de instituição financeira. Em

casos de crimes contra a ordem tributária, ou econômica, cometido pelas empresas que

não estão revestidas naquela condição, a legislação de regência é a Lei 8.137/90. (TRF-4

 , Relator: LUIZ FERNANDO WOWK PENTEADO, Data de Julgamento: 10/02/2010, OITAVA

TURMA)

Observação1: Não confundir com o trânsito de valores à margem do controle estatal

em campanhas políticas. Neste caso, o que ocorre é a falsidade na prestação de contas do

candidato/partido perante o TRE/TSE.

Observação2: A doutrina entende que quem faz caixa dois, em tese, está praticando

sonegação fiscal. Esta é a posição de Roberto Delmanto.

Conflito: Art. 11 x Art. 6º da Lei 7492/86.

 Art. 6º Induzir ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública competente,

relativamente a operação ou situação financeira, sonegando-lhe informação ou

 prestando-a falsamente:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

ACR 2002.71.03.002756-2 do TRF4:

PENAL E PROCESSO PENAL. PRELIMINAR DE INÉPCIA DA DENÚNCIA REJEITADA. CASA DE

CÂMBIO. OPERAÇÕES NÃO-CONTABILIZADAS. ARTIGOS 6º E 11 DA LEI Nº 7.492/86.

PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. PRESCRIÇÃO.

 A movimentação de recursos paralela à contabilidade da empresa, relativa à operações

de câmbio não registradas e não informadas à autoridade competente, com a

sonegação de informações e manutenção em erro do Banco Central e da Secretaria da

Receita Federal, caracteriza o crime-fim do artigo 11 Lei nº 7.492/86. 3. O fato de não

terem sido informadas nem registradas as operações de câmbio junto às autoridadescompetentes foi simples etapa da movimentação de recursos paralelamente à

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contabilidade da empresa, na medida em que foram movimentados recursos em níveis

muito superiores aos boletos de compra e venda de câmbio, incidindo daí o princípio da

consunção, com apenamento somente do crime-fim. (TRF-4 Relator: LUIZ CARLOS

CANALLI, Data de Julgamento: 09/02/2010, SÉTIMA TURMA)

O professor entende que ao invés da prevalência do delito fim, deveria permanecer o

delito mais grave, absorvendo o menos grave por consunção.

1.4 Empréstimos ilícitos.

Previsão no art. 17 da Lei 7492/86:

 Art. 17. Tomar ou receber, qualquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei, direta

ou indiretamente, empréstimo ou adiantamento, ou deferi-lo a controlador, a

administrador, a membro de conselho estatutário, aos respectivos cônjuges, aos

ascendentes ou descendentes, a parentes na linha colateral até o 2º grau,

consangüíneos ou afins, ou a sociedade cujo controle seja por ela exercido, direta ou

indiretamente, ou por qualquer dessas pessoas:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

I - em nome próprio, como controlador ou na condição de administrador da sociedade,

conceder ou receber adiantamento de honorários, remuneração, salário ou qualquer

outro pagamento, nas condições referidas neste artigo;

II - de forma disfarçada, promover a distribuição ou receber lucros de instituição financeira.

O legislador não pretende incriminar a mera conduta de um gerente que, por

exemplo, autoriza a concessão de empréstimo ao seu próprio parente. Para que o delito

ocorra, o empréstimo deve estar revestido de algumas características que fogem à

regularidade de uma operação comum.

Nilo Batista denomina o art. 17 de delito de infidelidade, ou seja, o agente se

aproveita de sua condição para burlar o que é correto no gerenciamento de uma instituição

financeira.Neste sentido, o Resp 328913/SP:

RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. ARTIGO 17 DA LEI Nº 7.492/86.

CRIME DE MERA CONDUTA. CONCESSÃO DE EMPRÉSTIMO À EMPRESA COLIGADA.

RECURSOS FINANCEIROS DA ADMINISTRADORA. CONFIGURAÇÃO DO DELITO. 1. Para a

configuração do crime previsto no art. 17 da Lei nº 7.492/86, de mera conduta, é

indiferente que os recursos financeiros transferidos à empresa coligada sejam dos

consorciados, de terceiros ou da própria administradora, uma vez que a norma visa

 proteger a ordem econômica e financeira, de modo a resguardar o equilíbrio e a higidez

do Sistema Financeiro Nacional para servir aos interesses da coletividade. 2. Recursoconhecido e provido.

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1.5 Financiamento fraudulento.

Previsto no art. 19 da Lei 7492/86: Art. 19. Obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é cometido em

detrimento de instituição financeira oficial ou por ela credenciada para o repasse de

 financiamento.

Observação: Fazer remissão ao art. 171 CP.

O crime do art. 19 é modalidade especial de estelionato.

Financiamento é a obtenção de empréstimo com destinação vinculada.

Exemplo1: Empréstimo para compra da casa própria, de automóveis, compra de

máquinas industriais.

Se a fraude não tiver o elemento normativo específico do financiamento, restará

configurado o crime do art. 171 CP.

Exemplo2: Fraude para obter cheque especial.

Não confundir com o crime do art. 20 da lei 7492/86, que é o desvio de finalidade de

um empréstimo que foi tomado de maneira correta.

 Art. 20. Aplicar, em finalidade diversa da prevista em lei ou contrato, recursos

 provenientes de financiamento concedido por instituição financeira oficial ou por

instituição credenciada para repassá-lo:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa

Neste sentido, o CC 65074/MG STJ:

PENAL E PROCESSO PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. FRAUDE PARA A

OBTENÇÃO DE ABERTURA DE CONTA BANCÁRIA E EMPRÉSTIMO PESSOAL. CRIME

CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. NÃO CONFIGURAÇÃO DO DELITO PREVISTO

NO ART. 19, LEI 7.492/86. JUSTIÇA ESTADUAL. A obtenção de empréstimo, medianteabertura fraudulenta de conta corrente configura-se operação financeira que não exige

destinação específica, não se confundindo com a operação de financiamento, para a

qual se exige fim certo, para os efeitos do que dispõe a norma penal do art. 19, da Lei nº

7.492/86. Não havendo a subsunção dos fatos à norma prevista na Lei 7.492/86, não há

 falar-se em crime contra o Sistema Financeiro Nacional. Afastada a competência da

 Justiça Federal se não versa a hipótese sobre interesse federal ratione materiae, ou se

não há delito praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União Federal

ou de suas autarquias ou empresas públicas. Conflito conhecido para declarar

competente o Juízo de Direito da Vara Criminal de Inquéritos Policiais de Belo Horizonte-

MG.

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ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros

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Com o mesmo posicionamento, o CC 112 244/SP STJ:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL. CRIME CONTRA O SISTEMAFINANCEIRO NACIONAL. OBTENÇÃO DE FINANCIAMENTO JUNTO A INSTITUIÇÕES

FINANCEIRAS MEDIANTE FRAUDE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. Na esteira de

 julgados da Terceira Seção desta Corte, o tipo penal do art. 19 da Lei 7.492/86 exige

 para o financiamento vinculação certa, distinguindo-se do empréstimo que possui

destinação livre. 2. No caso, conforme apurado, os contratos celebrados mediante

 fraude envolviam valores com finalidade certa, qual seja a aquisição de veículos

automotores. A conduta em apreço, ao menos em tese, se subsume ao tipo previsto no

art. 19 da Lei nº 7.492/86, que, a teor do art. 26 do mencionado diploma, deverá ser

 processado perante a Justiça Federal. 3. Conflito de competência conhecido para

determinar competente o suscitado, Juízo Federal da 2ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Estado de São Paulo.

1.6 Evasão de divisas.

Prevista no art. 22 da Lei 7492/86:

 Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão de

divisas do País:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem

autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitosnão declarados à repartição federal competente.

A evasão de divisas é um crime que tutela a política econômica do Estado no aspecto

do controle das divisas do país. Trata-se de crime próprio de países subdesenvolvidos ou em

desenvolvimento, como afirmam na doutrina portuguesa Costa Andrade e Faria Costa. O

crime de evasão de divisas é caracterizado pela saída de divisas sem controle do BACEN, o

que impede a construção de uma política de desenvolvimento nacional, da qual são

correlatas as políticas de juros e as políticas fiscais.

Na Argentina, existe disposição similar que incrimina a infringência ao regulamento

de câmbio. Assim, toda interpretação em torno do crime de evasão de divisas deve ser feita

tomando por base a ideia de proteção da política cambial pelo BACEN. O crime em questão é

um crime comum, isto é, pode ser praticado por qualquer pessoa, sem restrições.

  O que são divisas?

R: Divisas são as disponibilidades que determinado país possui em moeda

estrangeira, e que são obtidas a partir das exportações, da venda de tecnologia, dos

empréstimos contraídos no exterior, entre outros. O termo “divisas” no tipo indica não

apenas a própria moeda estrangeira, mas também outros títulos, como letras de câmbio,

cheques, cartas de crédito e ordens de pagamento. Em síntese, divisa é tudo que pode ser,

de maneira imediata, convertido no exterior em moeda estrangeira.

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Desta forma, a saída de quaisquer divisas deverá ser notificada ao BACEN, caso

contrário, restará caracterizado o crime do art. 22 da Lei 7492/86.

Operação de câmbio não autorizada é aquela que infringe os regramentos do BACEN.

Não significa que deva haver autorização prévia do BACEN para a operação de câmbio, o que

se preconiza é a observância obrigatória do RMCCI - Regulamento do Mercado de Câmbio e

Capitais Internacionais do Banco Central.

Também será indiferente para o tipo penal do art. 22 que a instituição financeira

tenha ou não autorização do BACEN para atuar no mercado de câmbio. Basta provar que

aquela operação de câmbio é irregular.

Exemplo1: Sujeito forja um contrato de exportação de alguma coisa, com o fito deenviar dinheiro para fora do país.

  É necessária a saída de divisas de fato para que se caracterize o delito do art. 22,

caput?

R: Não. Trata-se de crime formal. O mesmo não ocorre no art. 22, parágrafo único,

onde as divisas precisam sair efetivamente do país. Trata-se de crime material.

No Parágrafo único do art. 22 “sem autorização legal”, deve ser feita a remissão ao

art. 65 da lei 9069/95.

 Art. 65. O ingresso no País e a saída do País de moeda nacional e estrangeira devem ser

realizados exclusivamente por meio de instituição autorizada a operar no mercado de

câmbio, à qual cabe a perfeita identificação do cliente ou do beneficiário.

§ 1º Excetua-se do disposto no caput deste artigo o porte, em espécie, dos valores:

I - quando em moeda nacional, até R$ 10.000,00 (dez mil reais);

II - quando em moeda estrangeira, o equivalente a R$ 10.000,00 (dez mil reais);

III - quando comprovada a sua entrada no País ou sua saída do País, na forma prevista

na regulamentação pertinente.

§ 2o O Banco Central do Brasil, segundo diretrizes do Conselho Monetário Nacional,

regulamentará o disposto neste artigo, dispondo, inclusive, sobre a forma, os limites e ascondições de ingresso no País e saída do País de moeda nacional e estrangeira.

§ 3º A não observância do contido neste artigo, além das sanções penais previstas na

legislação específica, e após o devido processo legal, acarretará a perda do valor

excedente dos limites referidos no § 1º deste artigo, em favor do Tesouro Nacional.

Em virtude do uso da declaração do Imposto Renda para fins comprobatórios do art.

22, parágrafo único, muitos entendem que a “repartição federal competente” mencionada

no final do dispositivo era a Receita Federal. A partir de então, surgiu a tese de que a ordem

tributária seria o bem jurídico tutelado nestes crimes. Ocorre que, segundo o professor,

trata-se de um equívoco, tendo em vista que a declaração do imposto de renda só era

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utilizada para este fim porque o BACEN não exigia uma declaração específica, portanto, não

há que se falar em crime contra a ordem tributária.

Esta interpretação equivocada acerca da do bem jurídico tutelado traz um problema

de ordem prática: se o sujeito está mantendo depósitos em paraísos fiscais no exterior, que

oferecem tributação baixíssima para atrair clientes, não é razoável imaginar que estes países

colaborarão para coibir a prática destas condutas. Desta forma, o argumento de defesa da

“arrecadação tributária nacional” só vai dificultar qualquer tentativa de cooperação

internacional no combate a este crime.

Quando o BACEN finalmente regulamentou de forma específica as questões relativas

à declaração, fixou como corte também o dia 31/12 (mesmo corte da declaração do imposto

de renda). Para o professor, a estipulação da data de corte é prejudicial, pois esvazia o tipo

penal.

Exemplo2: Se um cidadão comum embarca em 15/06 para o exterior com mais de R$

10.000,00 não declarados, será punido.

Exemplo3: Empresário mantém uma conta no exterior não declarada no Brasil, com

saldo de R$ 250.000,00. Se em 31/12 não houver nenhum valor nesta conta (transferência

para outra conta oculta, uso de “laranjas”), o fato será atípico.

Observação1: No âmbito da Ação Penal 470 (Mensalão), o publicitário Duda

Mendonça foi absolvido do crime de evasão de divisas por não terem sido encontrados

valores em suas contas no exterior em 31/12 do suposto ano em que o crime foi praticado.

Diante de tais premissas, é possível aferir que o tipo penal se consuma quando o

valor não é declarado, portanto, o prazo para declaração será relevante para definir a

conduta típica. Desta forma, se nada tiver sido declarado até a expiração do prazo, o sujeito

poderá responder pelo delito. Em contrapartida, se o sujeito efetuou a declaração, não há

falar em crime.

  Qual a natureza do crime do art. 22, permanente ou instantâneo?

R: A conduta só se torna relevante quando o sujeito deixa de efetuar a declaração

dos valores ou omite valores existentes em 31/12. Por este raciocínio, haveria um crime para

cada ano que sujeito deixasse de declarar ou omitisse valores. Ocorre que, como o verbo do

tipo é “manter”, isto leva  jurisprudência a entender que o crime é permanente, ou seja,

haverá um só crime enquanto os valores forem mantidos no exterior. Neste sentido, o HC

87208 STF:

 AÇÃO PENAL. Pretensão punitiva. Prescrição. Não ocorrência. Crime permanente.

Depósito, no exterior, de valores não declarados à repartição competente. Art. 22, §

único, 2ª parte, da Lei federal nº 7.492/86. Cessação da permanência à data da omissãona declaração à Receita. Incidência do art. 109, IV, cc. art. 111, III, do CP. HC denegado.

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Embargos rejeitados. Nos crimes permanentes, como o de depósito, no exterior, de

valores não declarados à Receita Federal, a prescrição conta-se do dia em que cessou a

 permanência, o que, no exemplo, ocorre à data da omissão na declaração de renda.

Observação2: No âmbito da Ação Penal 470, alguns réus alegaram de que a evasão de

divisas teria natureza tributária, hipótese na qual o pagamento dos tributos correlatos

acarretaria na extinção da punibilidade. O STF rechaçou tais alegações, posicionando-se no

sentido de que o crime de evasão de divisas não tem natureza tributária, e sim de tutela da

política cambial.

  O sujeito pode responder por sonegação fiscal dos tributos que são cobrados em

cima da operação de câmbio derivada de uma remessa ilegal?

R: O STF, em acórdão do Ministro Cezar Peluso, já se posicionou no sentido da

existência de concurso entre os crimes nesta hipótese.

  Sujeito adquire grande quantidade de pedras preciosas retiradas de uma mina

irregular (sem a devida autorização do órgão competente para que seja explorada).

Ao ser preso tentando sair do país com elas, qual delito estará configurado?

R: O crime será de contrabando, tendo em vista que as pedras preciosas foram

extraídas de forma irregular e não são ativos financeiros. As obras de arte também não são

ativos financeiros, portanto, sua saída irregular configura lavagem de dinheiro.

Observação3: O ouro se caracteriza como ativo financeiro, desta forma, sua saída

irregular configura evasão de divisas.

  Sujeito recebe dinheiro no Brasil, remete irregularmente ao exterior e mantém o

depósito no exterior por anos. Se for descoberto, poderá responder por sonegação

fiscal e lavagem de dinheiro oriunda de sonegação?

Na redação original da lei de lavagem de capitais, havia uma restrição quanto à

lavagem no âmbito de crimes tributários. A argumentação utilizada era no sentido de que

para haver lavagem, o sujeito deveria ter auferido dinheiro. Se não auferiu dinheiro, tendo

apenas deixado de pagar os tributos, não haveria que se falar em lavagem de capitais.

Atualmente, com o fim do rol taxativo de crimes antecedentes da Lei de Lavagem de

Capitais, é possível que haja lavagem de capitais no âmbito de uma sonegação fiscal (crime

tributário).

A discussão se torna relevante para os casos onde há evasão de divisas, sonegação

fiscal e lavagem de capitais no mesmo contexto.

Exemplo4: Sujeito recebeu propina e não declarou no Imposto de Renda, ficando

configurada a sonegação (supondo que a decadência em relação ao lançamento do tributo já

tenha se materializado). Se o sujeito remete irregularmente os valores ao exterior,

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colocando-os na conta de um “laranja”, resta configurada também a evasão de divisas e a

lavagem de capitais.

Observação4: Este posicionamento só poderia prevalecer se os termos da Súmula

Vinculante 24 fossem relativizados.