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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP Mauro Tadeu Baptista Sobhie Análise comparativa de avaliação em press releases e notícias DOUTORADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM SÃO PAULO 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Mauro Tadeu Baptista Sobhie

Análise comparativa de avaliação em

press releases e notícias

DOUTORADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E

ESTUDOS DA LINGUAGEM

SÃO PAULO

2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Mauro Tadeu Baptista Sobhie

Análise comparativa de avaliação em

press releases e notícias

Tese apresentada à Banca Examinadora

como exigência parcial para obtenção do

título de Doutor em Lingüística Aplicada

e Estudos da Linguagem pela Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, sob

orientação da Profa. Dra. Leila Barbara.

DOUTORADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E

ESTUDOS DA LINGUAGEM

SÃO PAULO

2008

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Banca examinadora

___________________________________

___________________________________

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___________________________________

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos ou científicos, a

reprodução total ou parcial desta tese, por processos eletrônicos

ou de fotocopiagem

Assinatura: Data:

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AGRADECIMENTOS

Agradeço às seguintes pessoas e instituições; peço desculpas antecipadamente por

quaisquer omissões, totalmente indesculpáveis, mas totalmente involuntárias.

Ao CPNq, pelo apoio financeiro indispensável para a realização desta pesquisa.

À orientadora Leila Barbara, por seu enorme carinho e paciência infinita, que me

apresentou o mundo acadêmico e ensinou a fazer pesquisa científica, além de muito

me ensinar sobre a vida e sobre mim mesmo.

À minha esposa Vilma, que sempre me apoiou e me compreendeu em todos os

momentos difíceis e que soube suportar os momentos de distância. Os cuidados e seu

carinho foram essenciais para que eu pudesse enfrentar todas as dificuldades e

privações da vida e passado a ser uma pessoa melhor. Também ao Flávio, pela

amizade e o incentivo constante.

Aos meus pais, que sempre me deram apoio para que eu chegasse até aqui e que

compreenderam os anos de distância. Às minhas irmãs e meus sobrinhos, pelo

carinho.

A toda a minha família, que também soube compreender a ausência e sempre me

incentivou em minha jornada.

Aos professores do LAEL, que muitas vezes me mostraram apoio e incentivo para ir

em frente, especialmente os professores Rosinda Ramos, Tony Berber Sardinha,

Orlando Vian Jr. e Taïs Bittencourt, que participaram de minhas bancas de

qualificação e ofereceram sua contribuição valiosa ao desenvolvimento desta

pesquisa, além de sua inestimável amizade. Agradeço também à professora Nina

Célia Almeida de Barros pela contribuição à versão final desta tese e aos diversos

professores de outras instituições estrangeiras, que deram orientações valiosas e

desinteressadas, especialmente os professores Geoff Thompson, Kazuhiro Teruya,

Jim Martin e Carlos Gouveia.

Às funcionárias do LAEL, Maria Lúcia e Márcia, que apesar de todas as

dificuldades, sempre me incentivaram e deram apoio indispensável nas atividades

acadêmicas, sem falar na enorme amizade e carinho.

Aos funcionários da PUC/SP, especialmente da Secretaria de Alunos, Secretaria de

Teses e Biblioteca, pelo atendimento sempre simpático e solícito.

Por último, e não menos importante, aos colegas de nosso grupo de orientação e

demais colegas do LAEL, que, cada um de seu jeito, me auxiliaram a avançar nos

estudos e me permitiram participar de suas vidas, dando provas de grande apreço e

amizade, e ajudando a enfrentar a aridez da vida acadêmica.

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Resumo

Este trabalho tem como objetivo analisar a avaliação na linguagem

empresarial. A avaliação é um aspecto da linguagem relacionado à interação, sendo

um campo de estudos que pode trazer contribuições significativas para a área

empresarial, pois as empresas são entidades que dependem de sistemas de

comunicação para criar alianças entre seus elementos internos, com outros grupos e

instituições.

As análises lingüísticas foram baseadas no arcabouço teórico da Lingüística

Sistêmico-Funcional (LSF), apresenta uma detalhada descrição de como os recursos

ideacionais e interpessoais da linguagem descritos por Halliday (1978, 1994) podem

ser usados com propósitos avaliativos em diferentes gêneros, conforme os estudos de

Avaliação e Avaliatividade. Diferentemente de outras análises de avaliação baseadas

na LSF, esta pesquisa faz uma análise comparativa baseada em corpus entre os press

releases de duas empresas brasileiras de telecomunicações e notícias publicadas por

um jornal sobre os mesmos assuntos, discutindo as avaliações explícitas e implícitas

contidas nessas descrições e os valores envolvidos nelas à luz do contexto.

Os resultados da análise mostraram quatro grupos principais de diferenças

entre press releases e notícias: os press releases tendem a atribuir avaliações

positivas aos serviços oferecidos aos clientes, à capacidade da própria empresa, a

ações que aumentem essa capacidade e aos seus resultados positivos. As notícias, por

sua vez, tendem a excluir essas avaliações positivas e incluir informações sobre

limitações dos produtos e problemas internos das empresas. Os resultados permitiram

também observar que as empresas e o jornal utilizam conjuntos de valores

semelhantes ao fazerem suas avaliações, mesmo quando os pontos de vista são

diferentes. Dessa forma, esta pesquisa pretende que seus resultados tragam subsídios

para que as empresas possam se comunicar melhor com os seus diferentes públicos e

para a educação de leitores críticos, que identifiquem os valores que estão por trás

das escolhas lingüísticas dos textos.

Palavras chave: avaliação, avaliatividade, press releases, notícias, análise comparativa

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Abstract

This dissertation aims at analyzing evaluation in the business language.

Evaluation is an aspect of language related to interaction, being a field of studies that

may bring a significant contribution to business since companies are entities that

depend on communication systems to construct alliances both between their internal

elements and with external individuals and institutions.

The linguistic analysis herein is based on the theoretical framework of the

Systemic-Functional Linguistics (SFL) that provides us with a detailed description

on how the ideational and interpersonal resources of language described by Halliday

(1978, 1994) may be used with evaluative purposes in different genres based on

Evaluation and Appraisal studies. Differently from other SFL-based analysis of

evaluation, this research makes a corpus-based comparative analysis between press

releases from two Brazilian telecommunication companies and news stories

published by an online newspaper about the same topics, discussing the explicit and

implicit evaluations embodied in these texts and the values involved on them at the

light of the context.

The analysis has shown four major groups of differences between Press

Releases and News: Press Releases tend to assign positive evaluations to the benefits

to the customer, the capacity of the company itself, their capacity improvements and

positive results. On the other hand, the News tends to exclude such positive

evaluations and include information on product‟s constraints and company‟s internal

problems. The results also revealed that the companies and the newspaper use similar

sets of values in their evaluations, even when expressing different points-of-view.

Therefore, it is expected that the analysis herein provide resources to enable

companies to communicate better with their different audiences and to the education

of critical readers enabled to identify the values underlying the linguistic choices of

the texts.

Key-words: evaluation, appraisal, press releases, news, comparative analysis

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Sumário

INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------ 13

I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ---------------------------------------------------------- 21

1.1. A visão funcional da linguagem da LSF ------------------------------------------------- 21

1.2. A relação entre texto e contexto ----------------------------------------------------------- 23

1.3. Estratificação e metáforas gramaticais --------------------------------------------------- 27

1.4. A metafunção ideacional -------------------------------------------------------------------- 28

1.4.1. A função lógica ------------------------------------------------------------------- 29

1.4.2. A função experiencial ---------------------------------------------------------- 31

1.4.3. Metáforas ideacionais ----------------------------------------------------------- 42

1.5. A metafunção interpessoal ------------------------------------------------------------------ 46

1.5.1. O sistema de Modo -------------------------------------------------------------- 47

1.5.2. Metáforas interpessoais --------------------------------------------------------- 50

1.6. Atribuição de papéis ------------------------------------------------------------------------- 52

1.7. Avaliação e avaliatividade ------------------------------------------------------------------ 53

1.7.1. O sistema de avaliação de Hunston ------------------------------------------- 55

1.7.2. O sistema da Avaliatividade --------------------------------------------------- 57

1.7.2.1. O subsistema de Atitude ------------------------------------------- 58

1.7.2.2. O subsistema de Engajamento ------------------------------------ 63

1.7.2.3. O subsistema de Gradação ----------------------------------------- 65

1.7.3. Considerações sobre os estudos de avaliação e avaliatividade ---------- 66

1.8. As empresas e o mercado ------------------------------------------------------------------- 68

1.9. O mercado de telecomunicações no Brasil ---------------------------------------------- 69

1.10. A comunicação empresarial, os press releases e as notícias ----------------------- 71

II. METODOLOGIA DE PESQUISA -------------------------------------------- 75

2.1. Descrição das empresas --------------------------------------------------------------------- 76

2.2. Procedimentos de coleta e organização dos dados ------------------------------------ 77

2.3. Descrição do corpus -------------------------------------------------------------------------- 78

2.4. Metodologia de análise --------------------------------------------------------------------- 81

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Sumário (cont.)

2.4.1. Estudos sobre análises computadorizadas ---------------------------------- 81

2.4.2. A abordagem usada nesta pesquisa ------------------------------------------ 84

2.5. Palavras exclusivas e palavras significativamente exclusivas ----------------------- 86

2.6. Instrumentos de análise --------------------------------------------------------------------- 88

2.6.1. Comparação lado a lado dos textos ------------------------------------------- 89

2.6.2. Listas de palavras significativamente exclusivas -------------------------- 91

2.7. Análise dos recursos ideacionais ---------------------------------------------------------- 94

2.7.1 Análise gramatical das linhas de concordância ---------------------------- 94

2.7.2. Análise dos participantes ------------------------------------------------------- 95

2.7.3. Análise das relações ideacionais nas quais os participantes estão

envolvidos ------------------------------------------------------------------------- 95

2.8. Análise dos recursos avaliativos ---------------------------------------------------------- 96

III. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ------------------------ 99

3.1. Apresentação dos resultados --------------------------------------------------------------- 99

3.2. Relatos de linguagem ------------------------------------------------------------------------ 100

3.3. Representação das atividades da empresa ----------------------------------------------- 106

3.4. Análise da avaliação ------------------------------------------------------------------------- 112

3.4.1. Oferta de benefícios ------------------------------------------------------------- 113

3.4.1.1. Oferta de serviços pelos produtos -------------------------------- 114

3.4.1.2. Limitações e restrições dos produtos ---------------------------- 132

3.4.1.3. Divergências em press releases e notícias ---------------------- 140

3.4.2. Demonstração de capacidade -------------------------------------------------- 146

3.4.3. Aumento de capacidade da empresa ----------------------------------------- 158

3.4.3.1. Aumento de capacidade por ações da empresa ---------------- 158

3.4.3.2. Aumento de capacidade por ações de parceiros --------------- 160

3.4.3.3. Problemas internos -------------------------------------------------- 165

3.4.4. Resultados das ações das empresas ------------------------------------------- 169

3.4.4.1. Expressos por ações dos clientes --------------------------------- 169

3.4.4.2. Expressos por indicadores financeiros -------------------------- 173

3.5. Considerações sobre a discussão dos resultados---------------------------------------- 176

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Sumário (cont.)

CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------------- 181

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------------------------------------------- 189

ANEXO I – Títulos dos press releases e notícias ------------------------------------------- 197

ANEXO II – Quantidades de palavras --------------------------------------------------------- 201

ANEXO III – Palavras significativamente exclusivas -------------------------------------- 203

Índice de figuras

Figura 1. Contexto, metafunções e léxico-gramática --------------------------------------- 25

Figura 2. Taxonomia de participantes --------------------------------------------------------- 32

Figura 3. Representação dos tipos de processos --------------------------------------------- 34

Figura 4. Relação entre modalidade, polaridade e modo ---------------------------------- 49

Figura 5. Sistemas interpessoais de Thompson e Thetela --------------------------------- 52

Figura 6. O sistema da Avaliatividade -------------------------------------------------------- 58

Figura 7. O subsistema de Engajamento ------------------------------------------------------ 64

Figura 8. O subsistema de Gradação ---------------------------------------------------------- 65

Figura 9. Elementos do sistema de marketing ----------------------------------------------- 69

Figura 10. Lista de comparação lado a lado -------------------------------------------------- 90

Figura 11. Sistema de bases de avaliação para os produtos ------------------------------- 178

Figura 12. Sistema de bases de avaliação para as empresas ------------------------------ 179

Índice de quadros

Quadro 1. Análise sob as três metafunções -------------------------------------------------- 27

Quadro 2. Sistemas dêiticos ideacionais ------------------------------------------------------ 29

Quadro 3. Tipos de processos relacionais ---------------------------------------------------- 36

Quadro 4. Circunstâncias de extensão e localização --------------------------------------- 38

Quadro 5. Padrões de congruência entre significados e classes gramaticais ---------- 42

Quadro 6. Exemplo de deslocamento metafórico ------------------------------------------- 43

Quadro 7. Convenção de notação da constituência lexicogramatical ------------------- 44

Quadro 8. Funções de fala ----------------------------------------------------------------------- 46

Quadro 9. Modalização e modulação --------------------------------------------------------- 51

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Índice de quadros (cont.)

Quadro 10. Exemplos de realizações metafóricas de propostas e proposições ------- 51

Quadro 11. Comparação entre Hunston e Martin ------------------------------------------- 67

Quadro 12. Tamanho do corpus ---------------------------------------------------------------- 78

Quadro 13. Atividades descritas nos press releases e notícias --------------------------- 79

Quadro 14. Funções ideacionais das palavras significativamente exclusivas --------- 99

Quadro 15. Quantidade de palavras e linhas de concordância --------------------------- 100

Quadro 16. Palavras exclusivas usadas em relatos de linguagem ----------------------- 101

Quadro 17. Números de press releases e notícias com relatos de linguagem --------- 104

Quadro 18. Ocorrência de participantes por número de textos --------------------------- 106

Quadro 19. Ocorrência das relações ideacionais por número de textos ---------------- 108

Quadro 20. Funções ideacionais do exemplo 33 -------------------------------------------- 114

Quadro 21. Funções ideacionais do exemplo 34 -------------------------------------------- 116

Quadro 22. Funções ideacionais do exemplo 35 -------------------------------------------- 117

Quadro 23. Funções ideacionais do exemplo 36 -------------------------------------------- 119

Quadro 24. Funções ideacionais do exemplo 38 -------------------------------------------- 121

Quadro 25. Funções ideacionais do exemplo 39 -------------------------------------------- 122

Quadro 26. Descrição dos clientes por processos mentais -------------------------------- 124

Quadro 27. Funções ideacionais do exemplo 44 -------------------------------------------- 125

Quadro 28. Funções ideacionais do exemplo 45 -------------------------------------------- 126

Quadro 29. Funções ideacionais do exemplo 62 -------------------------------------------- 134

Quadro 30. Funções ideacionais do exemplo 64 -------------------------------------------- 135

Quadro 31. Funções ideacionais do exemplo 65 -------------------------------------------- 136

Quadro 32. Funções ideacionais dos exemplos 67 e 68 ----------------------------------- 137

Quadro 33. Funções ideacionais do exemplo 70 -------------------------------------------- 138

Quadro 34. Funções ideacionais do exemplo 71 -------------------------------------------- 139

Quadro 35. Funções ideacionais do exemplo 72 -------------------------------------------- 140

Quadro 36. Estrutura ideacional do exemplo 73 -------------------------------------------- 141

Quadro 37. Funções ideacionais do exemplo 74 -------------------------------------------- 142

Quadro 38. Funções ideacionais do exemplo 76 -------------------------------------------- 143

Quadro 39. Funções ideacionais do exemplo 82 -------------------------------------------- 147

Quadro 40. Funções ideacionais do exemplo 83 -------------------------------------------- 147

Quadro 41. Estrutura de comparação dos exemplos 82 e 83 ----------------------------- 147

Quadro 42. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 99 --------------------- 156

Quadro 43. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 100 ------------------- 156

Quadro 44. Funções ideacionais do exemplo 107 ------------------------------------------ 159

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Índice de quadros (cont.)

Quadro 45. Ações dos parceiros da empresa no evento ----------------------------------- 162

Quadro 46. Ações dos paulistas no evento --------------------------------------------------- 163

Quadro 47. Títulos dos press releases e notícias da Tele_A ------------------------------ 197

Quadro 48. Títulos dos press releases e notícias da Tele_B ------------------------------ 198

Quadro 49. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_A -------- 201

Quadro 50. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_B -------- 202

Quadro 51. Palavras significativamente exclusivas nos press releases da Tele_A -- 203

Quadro 52. Palavras significativamente exclusivas nos press releases da Tele_B --- 204

Quadro 53. Palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_A ---- 206

Quadro 54. Palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_B ----- 207

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Introdução

13

Introdução

O presente trabalho faz parte do Projeto DIRECT – Em Direção à Linguagem

dos Negócios, na linha de pesquisas de Linguagem e Trabalho do Programa de Pós-

Graduação em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL) da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Como parte desse projeto, esta pesquisa

se inclui entre outras que têm como objetivo geral analisar o uso da linguagem em

atividades profissionais com base no arcabouço teórico da Lingüística Sistêmico-

Funcional.

A opção pelo estudo da linguagem empresarial veio de minha experiência

profissional em empresas de diversos setores e cumprindo diversas funções, entre as

quais o atendimento de clientes, treinamento de usuários, desenvolvimento de propostas

técnico-comerciais e concorrências. Essa experiência prática mostrou a importância do

uso apropriado da linguagem nas empresas para obter informações e colaboração,

resolver conflitos, analisar problemas e persuadir; dessa maneira, considero o setor

empresarial um campo de estudos relevante para os estudos lingüísticos, não apenas

pela importância das empresas na economia, mas também no desenvolvimento das

carreiras profissionais dos indivíduos.

Dentro da linguagem empresarial, escolhi analisar materiais de comunicação

relacionados a empresas brasileiras do mercado de telecomunicações para dar

continuidade aos meus estudos na Lingüística Aplicada, devido à minha formação

acadêmica e experiência profissional. Esta pesquisa está relacionada ao mercado de

telecomunicações, no qual atuei como engenheiro eletrônico, à área de marketing, na

qual tenho pós-graduação lato sensu e que fez parte de minhas atividades profissionais

no atendimento de clientes e negociação de vendas, e à linguagem empresarial e técnica,

na qual estou envolvido desde 1992, como tradutor. Dessa forma, procurei trazer para a

interpretação dos dados esse conhecimento de mundo adquirido, assumindo, dentro de

meus limites, o papel de especialista.

O arcabouço teórico da lingüística sistêmico-funcional (doravante LSF),

desenvolvida por Michael Halliday e outros estudiosos desde a década de 1950, foi

escolhido para esta pesquisa por seu foco sociossemiótico e funcional, que mostra como

os significados são criados pelos falantes para realizar determinadas funções em uma

sociedade, em uma complexa relação entre o texto e o seu contexto de uso. A LSF

oferece ao analista todo um arsenal de ferramentas de análise poderosas e flexíveis, com

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Introdução

14

as quais podemos analisar isoladamente cada aspecto do texto e as maneiras pelas quais

os diferentes aspectos do texto operam em conjunto entre si, oferecendo classificações

gramaticais bem definidas e aceitando interpretações alternativas, o que nos permite

lidar com aspectos como a ambigüidade da linguagem.

A LSF é uma teoria adotada por um grupo crescente de pesquisadores em todo o

mundo. No Brasil, além do Grupo DIRECT, outros grupos de pesquisa que utilizam a

LSF, como os grupos formados por pesquisadores da PUC/SP como o Edulang, voltado

à pesquisa sobre o ensino e aprendizagem de línguas em contextos digitais, e o Grupo

de Abordagem Instrumental e o Ensino-Aprendizagem de Línguas em Contextos

Diversos. Em outras universidades, podemos citar o Grupo CORDIALL, da Faculdade

de Letras da UFMG, que estuda a utilização de corpora em Estudos Cognitivos da

Linguagem, dos Estudos da Tradução e da Análise Crítica do Discurso. O grupo de

Texto, Discurso e Práticas Sociais (NUPDISCURSO) reúne pesquisadores da UFSC e

da Universidade Federal de Santa Maria no estudo de gêneros textuais; temos também o

grupo de Linguagem e Ideologia da UNB, que estuda o discurso em uma teoria social

crítica e os grupos de Lingüística sistêmico-funcional, lingüística de corpus e análise do

discurso e de Práticas discursivas em contextos pedagógicos da PUC/RJ.

Aqui, abro um parêntese para justificar a escolha da principal fonte de referência

sobre a LSF utilizada nas descrições gramaticais, a terceira edição do Introduction to

Functional Grammar de Halliday e Matthiessen, edição de 2004. Pessoalmente

considero que a descrição da teoria sistêmica introduzida nessa edição permite ao leitor

compreender melhor do que as edições anteriores a lógica subjacente aos sistemas

gramaticais propostos pela LSF. Dessa forma, as referências a essa obra vêm com a

indicação de Halliday e Matthiessen (este último indicado como revisor da terceira

edição), embora seja possível encontrar a maior parte das descrições gramaticais nas

edições de 1985 e 1994 desse livro de Halliday.

O problema a ser enfrentado neste estudo surgiu de uma preocupação que

sempre me acompanhou durante toda a minha experiência profissional: identificar pela

linguagem o que influencia as pessoas e o que podemos fazer com a linguagem de

forma que elas colaborem com os nossos objetivos. Para lidar com questões como essas,

a LSF oferece conceitos e modelos que nos permitem analisar as formas como as

pessoas representam a sua experiência de mundo e interagem com os outros,

respectivamente descritas pelas metafunções ideacional e interpessoal de Halliday

(1978, 1994) e os desenvolvimentos desses sistemas propostos por outros estudiosos.

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Introdução

15

Entre esses desenvolvimentos, podemos citar a detalhada descrição dos sistemas

ideacionais desenvolvida por Halliday e Matthiessen (1999, 2004), o sistema

interpessoal proposto por Thompson e Thetela (1995) e questões de Avaliação e

Avaliatividade1 discutidas por autores como Hunston (2000), Martin (2000) e Martin e

White (2005). Esta pesquisa também se baseou em estudos não lingüísticos, como as

descrições de materiais de comunicações de Bell (1991) e Fowler (1991), além de

estudos de marketing e administração de estudiosos como Philip Kotler (1990) e

Torquato (1986).

Dessa maneira, esta pesquisa tem como objetivo teórico contribuir para os

estudos de interação feitos dentro do arcabouço teórico da LSF, vindo, assim, a se reunir

aos pioneiros que analisam a Avaliação e o sistema de Avaliatividade no idioma

português brasileiro. Além disso, este trabalho é um dos primeiros voltado

especificamente à linguagem empresarial. Em um levantamento das pesquisas de

Avaliatividade feitas no Brasil, observei que a maior parte dos trabalhos encontrados

nessa área em nosso idioma estuda o uso da linguagem no ensino, como Sartin (2007),

textos de opinião, como Cabral e Barros (2007), ou políticos, como Souza (2007), para

mencionar apenas alguns dos participantes do 33rd International Systemic Functional

Congress, realizado na PUC/SP em 2006.

A análise das atitudes dos falantes sobre o que falam está prevista nos estudos de

Avaliação, como o de Hunston (2000) e o sistema de Avaliatividade (Martin, 2000;

Martin e White, 2005). Para Martin e White, a Avaliatividade (Appraisal):

“... refere-se ao lado interpessoal na linguagem, à presença subjetiva dos

escritores/falantes nos textos, na medida em que eles adotam posições com

relação ao material que eles apresentam e àqueles com quem eles se

comunicam. Refere-se aos modos como escritores/falantes aprovam e

desaprovam, ficam entusiasmados e repudiam, aplaudem e criticam e como

posicionam seus leitores/ouvintes a fazerem o mesmo. Está relacionada à

construção pelos textos de comunidades de sentimentos e valores

compartilhados e com os mecanismos lingüísticos usados para compartilhar

emoções, gostos e avaliações normativas. Refere-se aos modos como

escritores/falantes constroem semanticamente identidades ou personas autorais,

como entram em alinhamento/desalinhamento com respondentes existentes ou

potenciais e como constroem para seus textos um público desejado ou ideal.”

(Martin e White, 2005:1) 2

1 A tradução de Appraisal como Avaliatividade é discutida nos meios acadêmicos; em trabalhos de outras

universidades, é usado o termo “Valoração”. 2 A menos que haja indicação em contrário, todas as traduções incluídas neste documento são de minha

responsabilidade.

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Introdução

16

Esse mapeamento entre os significados ideacionais e interpessoais está alinhado

à visão de Lemke (1992:87), que relaciona os significados ideacionais à ideologia,

dizendo que "o ideacional pode ser visto como uma ferramenta ou pretexto para a

sustentação, modificação, apoio ou contestação de uma estrutura de interesses sociais,

valores e pontos de vista". Na mesma linha, Thompson (1996a:76) aponta uma relação

íntima entre os significados ideacionais e interpessoais, dizendo haver “muitas formas

alternativas que os falantes podem escolher para representar o mundo, e a escolha feita

será em grande parte dependente de seus propósitos”.

Essa posição também é assumida por Hunston (2000:195), para quem “as

palavras escolhidas para descrever o mundo em um texto inevitavelmente refletem a

ideologia do escritor, ou mais apropriadamente, a ideologia da parte da sociedade de

onde vem o escritor”. Dessa maneira, ao criar as suas representações de mundo, os

falantes transmitem também seus sistemas de valores, introduzindo diversos tipos de

avaliações (Martin e White, 2005:28), de forma explícita ou implícita.

Um exemplo de como os recursos de representação do mundo, que a priori

estariam mais relacionados à metafunção ideacional de Halliday, podem ser utilizados

com propósitos interpessoais é apresentado de forma sistêmica na proposta de função

interacional de Thompson e Thetela (1995:107). Essa função mostra como papéis

sociais podem ser projetados aos participantes do discurso por recursos de nomeação e

atribuição, em seu conceito de papéis projetados, que são os “papéis atribuídos pelo

falante/escritor aos participantes do evento da linguagem” (1995:108).

Esse conceito foi posteriormente desenvolvido por Ramos em sua pesquisa sobre

a construção da identidade dos participantes em prospectos institucionais pela

“organização taxonômica dos itens lexicais (palavras chave-chave), que se configuram

para representar os participantes no universo textual” (1997:41). Nesse trabalho, Ramos

(1997:76) mostrou como a representação do mundo feita pelo falante afeta a interação

entre os participantes, pois segundo ela “os itens lingüísticos usados num texto não são

escolhas arbitrárias: elas nos dão importantes insights sobre a visão de um mundo que o

escritor deseja transmitir”.

Entretanto, a atitude do falante não é expressa apenas pelo modo como fala dos

participantes de seu discurso. Van Leeuwen (1996:38) aponta a exclusão ou inclusão de

atores sociais e das atividades destes na representação como um recurso que o escritor

tem para adequar seus interesses ou propósitos com relação aos seus leitores, visão

compartilhada por Fowler (1991:71), para o qual ao fazer escolhas de transitividade

Page 17: 22 09 08_mauro

Introdução

17

sempre estamos suprimimos outras possibilidades. Para analisar a exclusão, segundo

Van Leeuwen (1996:39) seria necessário comparar diferentes representações de uma

mesma prática social, pois não haveria vestígios dessa exclusão na análise de um único

texto.

Para analisar algumas das informações que não foram incluídas nas

representações de mundo feitas pelas empresas, utilizei a comparação entre as

representações fornecidas em press releases emitidos por duas empresas brasileiras de

telecomunicações (referenciadas neste trabalho como Tele_A e Tele_B) sobre suas

atividades empresariais e as incluídas em notícias publicadas por um jornal online

(Jornal_A) sobre os mesmos assuntos em datas próximas. Dessa maneira, foi possível

analisar as descrições e avaliações incluídas nas notícias e não nos press releases e vice-

versa.

Os comunicados à imprensa, ou press releases, foram considerados apropriados

para esta pesquisa por sua função de transmitir as informações que a empresa deseja que

sejam publicadas nos veículos de comunicação e que necessariamente tenham algum

interesse jornalístico para serem publicadas pelos jornais, não sendo, dessa forma, uma

promoção explícita da empresa, como ocorre nos materiais institucionais ou nas

propagandas. Outra característica é que, embora forneça as informações, a empresa não

tem o poder de determinar como será texto que chegará aos leitores do jornal, dentre os

quais estão os públicos que a empresa deseja atingir; dependendo de seus próprios

interesses, o jornal pode incluir na notícia informações de outras fontes ou interpretar as

informações fornecidas de uma forma desfavorável à empresa.

Isso pode ocorrer porque, segundo Fowler (1991:10), a notícia é articulada a

partir de uma posição ideológica, impondo uma estrutura de valores na representação de

mundo construída no texto (:4). Fowler lembra que:

“... a publicação de um jornal é um negócio e uma indústria, sendo esperado que

os produtos do jornal sejam determinados por fatores decorrentes de sua atuação

no mundo, como a necessidade de lucros e o relacionamento com outros agentes

sociais, que determinarão a seleção dos eventos e tópicos que terão interesse

jornalístico para serem publicados e também as maneiras como os eventos serão

representados”. Fowler (1991:20)

Considerando a distinção feita por Biber (1995:70) entre os conceitos de gênero

e tipo de texto, pela qual os gêneros são identificados por critérios externos ao texto

(como as relações entre os interactantes, por exemplo) e os tipos de texto são agrupados

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Introdução

18

por similaridades em suas formas lingüísticas, os press releases e as notícias

pertenceriam a gêneros diferentes, independentemente de suas semelhanças. Enquanto o

press release é dirigido aos veículos de comunicação, com o propósito de promover a

imagem da empresa e de seus produtos junto a clientes em potencial e outros grupos que

possam ter interesse nas atividades da empresa; a notícia é dirigida ao público geral,

com o propósito de fornecer informações sobre as atividades da empresa.

Dessa maneira, esta análise pode também ser vista como uma comparação entre

dois gêneros diferentes de uma mesma cadeia de eventos comunicativos (Fairclough,

1995:37), que divulgam as atividades a partir da empresa, passando pelo jornal e

chegando aos públicos finais, em um estudo da intertextualidade (Halliday e Hasan,

1989:47) entre esses eventos comunicativos. Em suas notícias, o jornal discute as

informações fornecidas no press release, “desconsiderando” e excluindo informações

que não julga relevantes para os seus propósitos, e incluindo aquelas que considera

relevantes sobre o assunto discutido no press release, em uma indicação da sua posição

de leitura (Martin e White, 2005:25) do press release. Cabe aqui observar que o

conceito de gênero foi utilizado neste trabalho apenas para a identificação dos materiais

utilizados na pesquisa; dado o foco na análise das diferenças lingüísticas entre os textos,

uma discussão mais aprofundada sobre as diversas teorias que estudam o gênero poderá

ser feita em uma pesquisa posterior.

Com base nos conceitos apresentados acima, foram definidas as perguntas de

pesquisa abaixo para orientar essa pesquisa:

1. Quais são as diferenças nas formas como os press releases e as notícias

descrevem as atividades da empresa?

2. Como as diferenças encontradas expressam diferentes formas de avaliação

dessas atividades?

3. Quais são os valores que baseiam essas avaliações?

A pergunta 1 está relacionada à representação de mundo (Halliday, 1994:106)

construída nos textos; para responder essa pergunta, temos de identificar as diferenças

entre press releases e notícias relacionadas aos participantes envolvidos nas descrições

das atividades, as ações que esses participantes executam e as circunstâncias nas quais

essas ações ocorrem, identificando também as formas como essas relações ideacionais

estão expressas nos textos.

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Introdução

19

A pergunta 2 está relacionada à avaliação (Hunston e Thompson, 2000) e à

avaliatividade (Martin e White, 2005), às maneiras pelas quais as relações ideacionais

identificadas nos press releases ou nas notícias podem mostrar as posições do jornal e

das empresas perante as atividades descritas em seus textos e criar laços de afinidade

com os públicos aos quais esses materiais se destinam.

A resposta à pergunta 3 está relacionada às bases que fundamentam as

avaliações incluídas no texto (Hunston, 2000:200), ou seja, os critérios pelos quais

podemos dizer que uma determinada relação ideacional pode expressar uma avaliação

positiva ou negativa. Identificando os conceitos3 que servem como base para as

avaliações, podemos analisar como os conjuntos de valores subjacentes às descrições

das atividades e as estratégias usadas nos press releases e notícias para construir suas

avaliações no texto. Seguindo a visão de Lemke (1992:83), isso envolve traçar relações

intertextuais que nos permitam interpretar uma determinada ação ou característica e

dizer se ela é apropriada ou significativa para uma determinada prática social.

Para responder a estas perguntas, foi coletado um corpus formado por pares

compostos por um press release e uma notícia que tratassem de uma mesma atividade

da empresa. O motivo para o uso de pares de press releases e notícias em vez da

comparação de dois corpora, um com todos os press releases da empresa e o outro com

todas as notícias sobre a empresa no período, foi a possibilidade de comparar

individualmente os recursos léxico-gramaticais usados para descrever cada tópico. Essa

comparação individual foi considerada necessária devido a dois fatores: a variação de

significado das palavras de acordo com o contexto e a diversidade dos recursos léxico-

gramaticais que podem ser usados para realizar os significados ideacionais e

interpessoais, conforme descrito nos capítulos de fundamentação teórica e metodologia

deste trabalho.

A análise comparativa dos recursos léxico-gramaticais presentes nos press

releases e notícias foi baseada em ferramentas oferecidas pela Lingüística de Corpus,

com o uso do aplicativo Wordsmith Tools (Scott, 2004). A Lingüística de Corpus foi

desenvolvida a partir dos trabalhos pioneiros de Sinclair e Leech, ambos publicados no

ano de 1966 (citados em Berber-Sardinha, 2000:332), e estuda a linguagem como

3 O termo “conceito” é usado neste trabalho em seu sentido genérico, de “noção” e “idéia”, não utilizando

o arcabouço teórico da Teoria do Conceito, descrita, entre outros, por Dahlberg (1978).

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Introdução

20

sistema probabilístico em uma abordagem empirista (Berber-Sardinha, 2000:349), em

uma visão da linguagem alinhada à da LSF.

A análise comparativa entre corpora de diferentes autores não é comum em

análises de Avaliatividade, não sendo de meu conhecimento a existência de estudos com

tal abordagem metodológica. Para lidar com as especificidades da análise comparativa

de um aspecto lingüístico como a avaliação, que pode ser expressa nos textos por uma

diversidade tão grande de recursos, utilizei procedimentos desenvolvidos com base no

conceito de palavras significativamente exclusivas, apresentado no capítulo de

fundamentação teórica deste trabalho. Dessa maneira, o presente estudo procura trazer

uma contribuição tanto ao estudo da avaliação na linguagem empresarial quanto à

metodologia de análise de Avaliatividade baseada em corpus em um balanço entre a

análise quantitativa e a qualitativa que, segundo Martin e White (2005:260) “é um

importante desafio à medida que procuramos aprofundar o nosso conhecimento da

avaliação no discurso”.

Além desta introdução, este trabalho compreende os seguintes capítulos:

O Capítulo 1, de Fundamentação Teórica, apresenta um breve histórico e os

conceitos básicos da Lingüística Sistêmico-Funcional, incluindo os modelos usados

para descrever suas dimensões fundamentais, além das descrições das metafunções

ideacional e interpessoal e os recursos léxico-gramaticais usados para realizar esses

significados, incluindo os estudos relacionados à Avaliação e Avaliatividade.

O Capítulo 2, de Metodologia de pesquisa, descreve os procedimentos usados na

pesquisa, incluindo as perguntas de pesquisa, os procedimentos de coleta de corpus e a

descrição do corpus coletado, os procedimentos e instrumentos de análise usados na

análise comparativa do corpus e as listas de palavras resultantes dessas comparações.

O Capítulo 3, de Apresentação e discussão dos resultados, inclui a apresentação

dos resultados obtidos e a discussão desses resultados para responder as perguntas de

pesquisa, compreendendo a identificação de padrões ideacionais, os recursos avaliativos

utilizados e os valores envolvidos nessas avaliações.

As Considerações Finais deste trabalho apresentam de forma resumida os

principais resultados obtidos, as limitações da pesquisa e os sugerem possíveis

desenvolvimentos nos procedimentos e análises realizadas no âmbito desta pesquisa.

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I. Fundamentação teórica

21

I. Fundamentação teórica

Este capítulo apresenta a fundamentação teórica que baseia a metodologia e as

análises descritas nos próximos capítulos. Como dissemos anteriormente, a teoria

lingüística que baseia esta pesquisa é a Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF),

principalmente por seu foco na funcionalidade da linguagem e na interpretação dos textos

em seus contextos de uso, além do poderoso ferramental analítico oferecido para a

descrição da linguagem.

A seguir, são apresentadas as teorias de comunicação e marketing utilizadas neste

trabalho, que descrevem o sistema de marketing proposto por Kotler (1990:49), destacam a

importância da comunicação nessas relações e apresentam os materiais de comunicação

incluídos nesse trabalho, os press releases e as notícias. Este capítulo inclui também um

breve histórico do mercado de telecomunicações no Brasil, que oferece informações de

contexto para a interpretação dos dados no mercado brasileiro.

As próximas seções descrevem a visão funcional da linguagem oferecida pela

lingüística sistêmico-funcional, incluindo a descrição das metafunções ideacional e

interpessoal, e de suas realizações léxico-gramaticais, os estudos de avaliação, como os

publicados por Hunston e Thompson (2000), entre outros, e o sistema de Avaliatividade

proposto por Martin (2000).

1.1. A visão funcional da linguagem da LSF

A LSF estuda a linguagem a partir de um ponto de vista sócio-semiótico,

considerando-a como um dos diversos sistemas de criação de significados que fazem parte

da cultura de uma sociedade (Halliday e Hasan, 1989:03). Por essa visão, os membros de

uma sociedade trocam significados uns com os outros para executar tarefas nas atividades

reconhecidas como próprias dessa sociedade.

A análise sistêmica mostra que a funcionalidade é uma característica intrínseca à

linguagem. Segundo Halliday (1994:xiii), a linguagem seria o produto de um processo

evolucionário, orientado “pelas maneiras como a linguagem foi usada por dezenas de

milhares de gerações para satisfazer as necessidades do homem”. Dessa forma, para

Halliday e Matthiessen (2004:31), “toda a arquitetura da linguagem segue linhas funcionais

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I. Fundamentação teórica

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e a linguagem é como é devido às funções nas quais ela se desenvolveu na espécie

humana”, onde por funções da linguagem podemos entender “as maneiras pelas quais as

pessoas usam a linguagem” (Halliday e Hasan, 1989:15).

Os aspectos funcional e semântico da linguagem são destacados por Eggins

(1994:2) em quatro premissas básicas da LSF:

(i) o uso da linguagem é funcional;

(ii) a função da linguagem é criar significados;

(iii) os significados são influenciados pelo contexto social e cultural no qual eles são

trocados; e

(iv) o processo de uso da linguagem é um processo semiótico, que envolve a criação de

significados por escolhas. (Eggins (1994:2)

Essas premissas destacam a importância do significado na LSF. Halliday

(1992:353) explica o conceito de significado como sendo um produto do impacto da

experiência do mundo externo ao falante em sua consciência interna. Isso quer dizer que o

falante organiza em sua consciência na forma de significados todas as percepções captadas

por seus sentidos das coisas do mundo ao seu redor e das relações sociais com os outros

membros de seu grupo. Essa organização da experiência em significados depende,

portanto, da forma como o falante vê o mundo, da cultura da sociedade da qual cada

falante faz parte, incluindo as práticas sociais comuns e as formas como a linguagem é

utilizada.

A definição de texto na LSF também segue critérios funcionais, sendo “um

instrumento para a troca de significados que constituem o sistema social” (Halliday

1978:182) e “uma instância de linguagem que está realizando alguma função em um

contexto” (Halliday e Hasan, 1989:10). Assim, um texto pode ser visto como um evento

interativo, uma troca social de significados (Halliday e Hasan, 1989:11), que

“simultaneamente reflete a relação entre o falante e o mundo, interpretando a experiência,

e a relação entre o falante e os outros, com o estabelecimento de relações sociais”. Eggins

(1994:5) destaca a importância da funcionalidade, definindo texto como “uma interação

lingüística completa (falada ou escrita), preferencialmente do início ao fim”. Dessa

maneira, a questão do que é considerado texto parece estar relacionada ao cumprimento de

uma função desejada pelo falante, mesmo que não possamos definir com certeza todo o

alcance e complexidade do propósito comunicativo de um falante ao criar um texto.

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I. Fundamentação teórica

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Halliday (1972:350) diz que, apesar do imenso número de maneiras diferentes pelas

quais usamos a linguagem, podemos identificar um conjunto finito de funções com

características que são comuns a todos esses usos. As funções básicas da linguagem são

expressar a experiência humana e desempenhar relacionamentos pessoais e sociais. Para

Halliday (1994:xiii), os recursos semânticos que executam essas funções podem ser

reunidos em três metafunções. O conceito de metafunção é definido por Halliday e Hasan

(1989:44) como sendo “a parte do sistema de uma linguagem desenvolvida para executar

uma função específica.”

As três metafunções são: ideacional (a representação de experiências), interpessoal

(associada às relações sociais entre os participantes do discurso) e textual (o modo como

organizamos as mensagens). Neste modelo, a metafunção textual, pode ser considerada

uma função que habilita as outras duas, pois organiza o fluxo discursivo e cria coesão e

continuidade ao desenrolar do texto, segundo Matthiessen, (1995:20), é a metafunção que

“expressa os significados ideacionais e interpessoais como informações que podem ser

compartilhadas entre o falante e o ouvinte.”

1.2. A relação entre texto e contexto

Para Halliday (Halliday e Hasan, 1989:47), “o relacionamento entre texto e

contexto é dialógico; o texto cria o contexto na mesma medida em que o contexto cria o

texto”. Esse é um conceito básico da LSF, que está alinhado à visão de Firth, para o qual

“todo significado é função de um contexto”, ou seja, um mesmo texto em contextos

diferentes daria origem à criação de significados diferentes (Halliday e Hasan, 1989:10).

A LSF utiliza os conceitos de contexto de situação e contexto de cultura para

descrever o ambiente em que os textos são utilizados. O contexto de cultura é um ambiente

que vai além do contexto de situação, que compreende todo o retrospecto cultural dos

participantes e das práticas em que estes estão envolvidos. Lemke destaca o papel do

contexto de cultura na criação de significados:

O “contexto de cultura” deve ser representado não apenas pelos sistemas de

recursos semióticos que nos dizem o que pode ser significado, mas também a

caracterização do que é significado recorrentemente: dito e feito em um texto após

o outro e em uma ocasião de discurso após a outra. Somente dessa maneira

podemos interconectar textos, contextos situacionais e os sistemas mais amplos de

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I. Fundamentação teórica

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atitudes, crenças, valores e opiniões de uma comunidade social real. (Lemke,

1988:30)

O contexto de situação é definido por Halliday e Hasan (1989:11) como o contexto

no qual o texto se desenrola e o ambiente imediato no qual um texto está tendo uma função

(1989:46). Para a LSF, o contexto de situação é um construto semiótico de natureza não

lingüística que descreve a situação com base em princípios funcionais, seguindo a

definição de Firth, sendo apropriado para a análise de eventos de linguagem (Hasan,

1995:186-190).. Para Hasan, esta é uma visão que difere do conceito original de

Malinowski, para o qual o contexto faria referência a tudo significativo que acontece

concorrentemente com a atividade de fala.

O contexto de situação é formado por um conjunto de categorias que descreve uma

realidade construída intersubjetivamente entre os interactantes. Segundo Halliday e Hasan

(1989:12), os princípios que podemos usar para interpretar o contexto social de um texto,

ou seja, o ambiente no qual os significados são trocados, são descritos pelas variáveis de

contexto denominadas campo (field), relações (tenor) e modo (mode):

O campo do discurso refere-se ao que está acontecendo, à natureza da ação

social que está sendo executada: no que é que os participantes estão envolvidos

As relações do discurso referem-se a quem está participando da interação,

à natureza dos participantes, seus status e papéis: que tipos de relações entre papéis

são obtidos entre os participantes, os tipos de papéis de fala que estão sendo aceitos

no diálogo e todo o conjunto de relações socialmente significativas nas quais os

falantes estão envolvidos.

O modo do discurso refere-se a que papel a linguagem está

desempenhando, o que é que os participantes estão esperando que a linguagem faça

por eles na situação: a organização simbólica do texto, o status que ele tem e a sua

função no contexto, incluindo o canal (falado, escrito, etc.) e também o modo

retórico, o que está sendo feito pelo texto, em termos de categorias como

persuasivo, expositório, didático, etc. (Halliday e Hasan, 1989:12)

Conforme Halliday e Hasan (1989:38), todo texto carrega informações sobre o seu

contexto de uso; dessa forma, podemos recuperar as características de campo, relações e

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I. Fundamentação teórica

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modo da situação a partir do texto. A LSF descreve essa relação entre texto e o contexto

por um modelo que representa a linguagem (Halliday e Matthiessen, 2004:24), como um

sistema semiótico complexo, com vários níveis, ou estratos. A representação do sistema da

linguagem em estratos mostra como a gramática faz a interface entre o que acontece fora

da linguagem (os acontecimentos e situações do mundo e os processos sociais que

acontecem nele) e os fraseados (wordings)4 pelos quais os significados dessa experiência

humana são organizados na linguagem.

Como explica Hasan (1995:212) esse processo é constituído por duas partes: na

primeira, a experiência e as relações interpessoais são transformadas em significado, no

estrato da semântica. Em seguida, o significado é transformado em palavreado, no estrato

da léxico-gramática, em uma relação entre estratos denominado realização. A figura 1

apresenta uma representação da relação entre as variáveis de registro, as metafunções e os

principais sistemas gramaticais.

contexto (variáveis de contexto) modo relações campo

metafunções (significados) textual interpessoal ideacional

sistemas gramaticais (fraseados) tema modo transitividade

Figura 1. Contexto, metafunções e léxico-gramática

Essa figura mostra que o aspecto funcional da linguagem perpassa toda a relação

entre o texto e contexto. Dessa maneira:

a variável de campo tende a ser realizada por significados da metafunção

ideacional, que tende a ser realizada pelo sistema gramatical de Transitividade;

a variável de relações tende a ser realizada por significados da metafunção

interpessoal, que tendem a ser realizados pelo sistema gramatical de Modo; e

a variável de modo tende a ser realizada por significados da metafunção textual,

que tendem a ser realizados pelo sistema gramatical de Tema.

4 Os termos da LSF utilizados neste trabalho foram traduzidos conforme a lista de termos de sistêmica

disponível em http://www2.lael.pucsp.br/~tony/sistemica/

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I. Fundamentação teórica

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A relação entre os diferentes tipos de linguagem usados nas diversas situações é

representada pelo conceito de registro. Segundo Halliday e Hasan:

“o registro é um conceito semântico, definido como uma configuração de

significados que estão tipicamente associados, por um lado, a uma determinada

configuração situacional formada pelas variáveis de campo, relações e modo

descritas acima; e por outro, às características léxico-gramaticais que realizam

esses significados”. (Halliday e Hasan, 1989:38)

Dessa maneira, o conceito de registro parece expressar um mapeamento entre um

contexto de uso e as características dos textos usados nesse contexto, realizadas por

recursos léxico-gramaticais. O termo léxico-gramática expressa a união do léxico e da

gramática em um único estrato, em um continuum do qual o léxico e a gramática são

pontos extremos. Esse continuum expressa a realização de significados pelas operações

simultâneas da escolha de léxico e a escolha de estruturas gramaticais. Em termos simples,

ao expressarmos um significado, construímos orações escolhendo determinadas palavras e

determinadas estruturas gramaticais, como em o homem andou rapidamente / O homem

correu. Aqui, temos significados próximos expressos por uma estrutura gramatical, na qual

a expressão do significado de “movimento” (no processo andou) é modificada pela

expressão de significado de “alta velocidade” (na circunstância de modo rapidamente) no

primeiro exemplo. No segundo exemplo, esses dois significados estão expressos por um

único item lexical (o processo correu) no estrato do fraseado.

Segundo Halliday (1972:351), o conceito de sistemas gramaticais nos permite

mostrar como as funções da linguagem estão incorporadas à gramática como

“componentes funcionais”. Por essa perspectiva, (Halliday, 1978:148), o texto é um

produto dos componentes funcionais do sistema semântico, que operam em conjunto no

texto de forma integrada, sendo “realizados simultaneamente na oração em inglês, mas não

de forma discreta de forma que possamos apontar um segmento da oração e dizer que

pertence a um significado e outro segmento como que pertencendo a outro” (Halliday,

1973:317). Assim, não é possível “dizer que uma determinada palavra ou sintagma tenha

apenas um significado experiencial e que outra tenha apenas significado interpessoal”

(Halliday e Hasan, 1989:23). O quadro 1 apresenta classificações gramaticais (descritas

mais à frente) de uma mesma oração sob o ponto de vista das três metafunções.

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I. Fundamentação teórica

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Desde 1815 o país não tem sido perturbado por nenhuma guerra

Experiencial Circunstância Meta Processo Ator

Interpessoal Adjunto Sujeito Finito Predicador Adjunto

Textual Tema Rema

Quadro 1. Análise sob as três metafunções (adaptado de Thompson, 1996a:34)

Dessa maneira, podemos atribuir uma função a um elemento da oração quando

fazemos a análise sob o ponto de vista de uma metafunção, mas isso não impede que

atribuamos outra função à mesma palavra ou sintagma quando analisada sob o ponto de

vista de outra metafunção. Em termos práticos, essa flexibilidade nos permite analisar a

função de cada oração inicialmente por uma única metafunção para depois analisar as

maneiras pelas quais esses recursos atuam em conjunto na criação de significados.

1.3. Estratificação e metáforas gramaticais

Para Halliday (1998:189), o significado é criado em um espaço semiótico definido

pelo estrato semântico (que faz interface com o mundo dos fenômenos experienciais) e o

estrato léxico-gramatical (que faz interface com os sistemas de fonologia e grafologia).

Nesse sistema estratificado, a experiência é transformada em significado por um

mapeamento entre significados e formas, que pode ser feito por diversas maneiras

diferentes. Essas diferentes maneiras de realização guardam entre si uma relação de

agnação (agnation, cf. Halliday e Matthiessen, 2004:31), pela qual expressões agnatas

entre si têm significados próximos, realizados de maneiras diferentes.

Segundo Halliday (1998:188), os significados podem ser expressos, ou realizados

por diferentes formas por um processo de metáfora gramatical. As metáforas gramaticais

diferem das metáforas lexicais, cujo conceito é mais próximo da metáfora tradicional

(Halliday, 1998:191), e que normalmente fazem a oposição entre dois termos. No exemplo

os frutos de seu esforço, temos uma oposição entre frutos/resultados, onde uma construção

mais literal seria os resultados de seu esforço. Esse exemplo mostra que houve apenas a

substituição do léxico, sem alterações na estrutura gramatical (Halliday, 1998:213).

Na metáfora gramatical, segundo Halliday (1998:213), há uma mudança de uma

categoria gramatical para outra, que envolve operações complexas, com a mudança vertical

de nível de constituência e uma mudança horizontal, de classe e função. Essas operações

são apresentadas em maiores detalhes nas descrições das metáforas gramaticais ideacionais

e interpessoais, incluídas nas próximas seções, que descrevem as realizações léxico-

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I. Fundamentação teórica

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gramaticais das metafunções ideacional e interpessoal. Como este trabalho não analisou em

detalhes a metafunção textual, os sistemas gramaticais relacionados a essa metafunção não

serão descritos aqui. Entre as fontes de referência que descrevem tais sistemas gramaticais

estão, além do próprio Halliday (1994) e Halliday e Matthiessen (2004), os trabalhos de

outros sistemicistas como Fries (1993) e Matthiessen (1995). No idioma português, as

primeiras descrições dos sistemas textuais podem ser encontradas em Barbara e Gouveia

(2001), Gouveia e Barbara (2001, 2003) e Ventura e Lima-Lopes (2002).

1.4. A metafunção ideacional

A metafunção ideacional reúne os significados usados para criar representações de

mundo. Essas representações são modelos ou padrões de experiência que, segundo

Halliday (1994:106), constroem “um quadro mental da realidade, para fazer sentido do que

acontece ao redor e no interior do falante”. Criando essa representação de mundo, o falante

impõe uma ordem no fluxo infinito e contínuo de eventos, segmentando esse fluxo em

acontecimentos distintos (Halliday e Matthiessen, 2004:170). Nessa representação, cada

acontecimento identificado pelo falante é modelado na oração por um construto

denominado figura, cujos elementos são “um processo que se desenrola no tempo,

participantes diretamente envolvidos neste processo de alguma maneira e opcionalmente,

circunstâncias de tempo, espaço, causa, maneira e alguns outros tipos” (Halliday e

Matthiessen, 2004:170).

As seqüências de figuras são realizadas por seqüências de complexos oracionais

(Halliday e Matthiessen, 2004:364) para expressar diversos tipos de relações lógico-

temporais entre os fragmentos de realidade percebidos pelo falante, como relações de

causa e efeito ou seqüências de acontecimentos no tempo. As figuras podem ser

combinadas pelo falante em seqüências, que são séries de figuras que podem ser

expandidas indefinidamente por relações de expansão e projeção. Nas relações de

expansão, uma figura expande outra, explicando-a em outras palavras, somando-se a ela ou

enriquecendo-a com detalhes; enquanto que nas relações de projeção, uma figura pode

projetar outra como fala ou pensamento (Halliday e Matthiessen, 1999:50-51). A

representação da experiência humana em termos semânticos, segundo Halliday (1979:211),

pode ser descrita por dois modos distintos, o lógico e o experiencial.

No modo experiencial, segundo Halliday (1979:211), a realidade é realizada mais

concretamente, na forma de construtos cujos elementos fazem referência a coisas. As

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I. Fundamentação teórica

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estruturas lingüísticas atuariam como metáforas para as relações entre coisas e os

elementos que participam dessas relações e são definidos por elas, sendo esses elementos

identificados como Processo, Ator, Meta, Extensão, Maneira e outros. Estes, por sua vez,

são interpretados como “papéis” “ocupados por” diversas classes de fenômenos, e essas

classes de fenômenos têm nomes, nomes como lua e brilho e sombrio.

No modo lógico, a realidade é representada em termos mais abstratos, na forma de

relações que são independentes da natureza das coisas. Para Halliday (1979:215), as

estruturas lógicas são de tipo diferente das estruturas experienciais, interpessoais e textuais.

Em termos da teoria sistêmica, onde esses três tipos de estrutura – particulada (elementar),

prosódica e periódica – geram simplexos (orações, grupos, palavras, unidades de

informação, ou seja, funções atribuídas a elementos individuais), as estruturas lógicas

geram complexos (complexos oracionais, complexos de grupos, etc., ou seja, funções

atribuídas à relação entre dois ou mais elementos). Segundo Halliday e Matthiessen

(2004:61), a função experiencial tende a ser realizada por estruturas segmentais, baseada

na constituência, e a função lógica tende a ser realizada por estruturas iterativas. A função

lógica e a experiencial da metafunção ideacional são descritas em mais detalhes nas

próximas subseções.

1.4.1. A função lógica

Para expressar a interpretação de sua experiência, o falante organiza os fenômenos,

em seus vários níveis de complexidade, em relações de expansão e projeção (Halliday e

Matthiessen, 1999: 106). Essas relações lógicas são descritas abaixo:

Expansão:

Elaboração (i.e, por exemplo, viz) – uma oração expande a outra elaborando outra (ou parte

desta), dizendo a mesma coisa em outras palavras, especificando em maiores detalhes,

comentando ou exemplificando.

Extensão (“e”, “ou”) – uma oração estende a outra quando inclui algum elemento novo,

dando uma exceção ou oferecendo uma alternativa.

Intensificação (então, ainda, dessa forma) – uma oração intensifica a outra enriquecendo

está última, qualificando-a com algum elemento circunstancial de tempo, lugar, causa ou

condição.

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I. Fundamentação teórica

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Projeção:

Locução: “diz” – uma oração é projetada por outra, que a apresenta como uma locução,

uma construção de fraseado

Idéia: “pensa” – uma oração é projetada por outra, que a apresenta como uma idéia, uma

construção de significado. (Halliday e Matthiessen, 2004:378)

Deve-se destacar que, embora as definições acima estejam aplicadas à oração, as

relações lógicas podem ser expressas entre elementos de todos os níveis, da palavra ao

complexo oracional (Halliday e Matthiessen, 2004:367).

Um sistema importante na construção de complexos lógicos é o de Conjunção

(Halliday e Matthiessen, 2004:541), que estabelecem relações de elaboração, extensão e

intensificação entre elementos e que em trabalhos anteriores (Halliday e Matthiessen,

1999:58) era realizado por um elemento denominado relator. Alguns exemplos de

conjunções são:

Elaboração: em outras palavras (expositório), por exemplo (explicativo), etc.

Extensão: ainda assim, mas (adversativo), por outro lado (variativo), etc.

Intensificação: portanto (causal), da mesma forma (maneira), etc

Um sistema detalhado de Conjunção pode ser encontrado em Halliday e

Matthiessen (2004:541).

Além da relação lógico-semântica entre as orações, a função lógica também é

descrita pela interdependência, também chamada de taxe, entre as orações (Halliday e

Matthiessen, 2004:373). Segundo Halliday e Matthiessen (2004:374-75), quando as duas

orações são de mesmo status, temos uma relação paratática com uma oração iniciadora e

outra continuadora, o que na gramática tradicional é conhecido como coordenação.

Quando as duas orações forem de status diferentes, temos uma relação hipotática com uma

oração dominante e outra dependente, o que na gramática tradicional é descrito como

subordinação.

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I. Fundamentação teórica

31

1.4.2. A função experiencial

Para Halliday e Matthiessen (2004:177), as figuras que representam a representação

de mundo do falante são realizadas em orações compostas por elementos denominados

processo, participante e circunstância. Os elementos que formam o “centro” da oração – o

processo e os participantes envolvidos – expressam facetas complementares da mudança, a

transiência e a permanência. A transiência é a experiência de mudança no tempo, expressa

no grupo verbal que tem a função de processo. A permanência é a experiência de

estabilidade no tempo, tendo uma localização no espaço (concreto ou abstrato), expressa

no grupo nominal que tem a função de participante.

O quadro 2 mostra os sistemas ideacionais de TEMPO VERBAL e

DETERMINAÇÃO. O sistema de tempo verbal permite relacionar os fenômenos

observados pelo falante no tempo (um processo aconteceu antes ou depois de outro

processo), enquanto que o sistema de determinação permite posicionar uma entidade com

relação a outra ou com relação a um grupo de entidades (onde, por exemplo, aquele

homem diferencia um indivíduo em particular dos outros).

tipo de elemento localização sistema termos

processo (realizado

pelo grupo verbal)

tempo referencial TEMPO VERBAL passado (era)

presente (é)

futuro (será)

participante (realizado

pelo grupo nominal)

espaço referencial DETERMINAÇÃO específica (o, esse, este,

aquilo, etc.)

não específica (um, algum,

qualquer, etc.)

Quadro 2. Sistemas dêiticos ideacionais (adaptado de Halliday e Matthiessen, 2004:178)

As próximas subseções descrevem em maiores detalhes os elementos da

transitividade:

A) Participantes

Segundo Halliday e Matthiessen (1999:54), o participante é um elemento inerente

ao processo, que causa a sua ocorrência ou que medeia este processo, havendo muitas

maneiras pelas quais o participante pode tomar parte de um processo: “executando o

processo, sentindo-o, recebendo-o, sendo afetado por ele, dizendo-o e assim por diante”.

Em Halliday e Matthiessen (1999:60), os participantes são classificados como coisas

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I. Fundamentação teórica

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(things) com qualidades (qualities). Um sistema de taxonomia de Coisas é apresentado na

figura 2:

Figura 2. Taxonomia de participantes

Alguns exemplos destes elementos são (traduzido de Halliday e Matthiessen,

1999:61):

Consciente: pessoa, homem, mulher, criança, etc.

Animal: cavalo, cachorro, formiga, etc.

Objeto: casa, pedra, martelo, etc.

Substância: água, ar, areia, etc.

Abstração material: história, matemática, calor, sabor, cor, etc.

Instituição: governo, escola, empresa, etc.

Objeto semiótico: livro, documento, pintura, receita, etc.

Abstração semiótica: noção, idéia, fato, princípio, etc.

A identificação da natureza dos participantes é importante para a análise, pois

determinados tipos de participante estarão associados a determinados processos e, como

discutido na seção de Avaliação, também a interpretação dos tipos de Atitude que podem

ser associados a determinados tipos de participantes. As descrições das funções dos

participantes no sistema de Transitividade são apresentadas na seção B, como parte das

descrições dos processos aos quais esses participantes estão associados.

A.1) Qualidades

Como visto acima, os participantes são realizados por grupos nominais, compostos

por uma Coisa (Thing), que é o núcleo semântico do grupo nominal. Esses participantes

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I. Fundamentação teórica

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podem ser modificados por vários tipos de elementos, como mostrado em Halliday e

Matthiessen (2004:312-324):

Dêitico – usado para especificar a coisa expressa no grupo nominal, como esse,

esta, aquele, meu, seu. Em inglês, essa função também é cumprida pelo

genitivo „s, que não existe em português.

Pós-Dêitico – usado em conjunto com o Dêitico, para especificar ainda mais a

coisa, fazendo referência “à sua fama ou familiaridade, status no texto ou

similaridade/dissimilaridade com outro subconjunto de coisas” (Halliday e

Matthiessen, 2004:316).

Numerativo – que indica uma característica numérica, como por exemplo: o

governador nomeou | sete ministros |.

Epíteto – destaca uma característica da Coisa, como bonita, velho, rápido.

Classificador – indica uma categoria na qual podemos classificar a Coisa,

como por exemplo, (trens) elétricos

Qualificador – sintagmas e orações deslocadas em nível (rankshift), encaixadas

no grupo nominal, referidas por Halliday como pós-modificadores (post-

modifiers)5, como em: a criança com o chapéu azul e a criança que usava um

chapéu azul.

Segundo Halliday e Matthiessen (2004:486), podem ser formados grupos nominais

complexos, formados por mais de um participante, segundo as relações lógicas de

expansão e projeção (como em meu irmão e eu, onde “meu irmão” e “eu” guardam entre si

uma relação lógica de expansão: extensão). Além disso, podem ser formadas expressões de

Faceta (Facet) no grupo nominal (2004:334), nas quais um participante representa uma

parte ou característica de outro (como em o topo da montanha).

B) Processo

O processo é o núcleo da transitividade, que realiza a metafunção ideacional

(Halliday, 1994:106). Usando os recursos do sistema ideacional, o falante interpreta o

mundo da experiência por meio de um conjunto de tipos de processos, representados na

5 No idioma português, os elementos Epítetos e Classificadores, diferentemente do inglês, tipicamente são

colocados após o núcleo do grupo nominal, o que parece tornar o conceito de pré e pós-modificador do grupo

nominal impróprio em nosso idioma. Desconheço a existência de estudos sobre essa questão.

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I. Fundamentação teórica

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figura 3. A representação dos tipos de processos por um círculo mostra, segundo Halliday

(1994:107) e Halliday e Matthiessen (2004:172), que (i) não há prioridade de um processo

sobre o outro e que (ii) embora haja áreas centrais, relacionadas a significados prototípicos

dos processos, essas regiões são contínuas, com fronteiras indistintas entre si.

Os principais tipos de processos estudados pela LSF são os processos Material (que

acontecem no mundo material), Mental (que descrevem experiências internas do ser

humano) e Relacional (processos de classificação e identificação). Halliday (1994:107)

descreve também outros processos, que estariam nas fronteiras dos processos principais, o

Comportamental (manifestações exteriores dos processos mentais), Verbal (relações

simbólicas construídas na consciência humana e desempenhadas na forma de linguagem) e

o Existencial (pelo qual os fenômenos existem ou acontecem).

Figura 3. Representação dos tipos de processos

Alguns exemplos desses processos são mostrados a seguir:

Processo Material: Eles construíram uma casa.

Nesse exemplo, temos um participante (eles) responsável por uma ação material

(construíram) e um participante que foi criado fisicamente a partir dessa ação (casa).

Processo Mental: Ela gostou do presente.

Esse exemplo mostra uma manifestação da consciência (gostou) de um participante (ela)

provocada por outro participante (presente).

Processo Relacional: A Tele_A é a provedora de telecomunicações premium do Brasil.

Esse processo estabelece uma relação entre dois participantes, no qual um deles (Tele_A)

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I. Fundamentação teórica

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é representado (é) como um participante que ocupa uma determinada posição (a

provedora de telecomunicações premium do Brasil)

Processo Verbal: Ele disse: “olá”.

Nesse exemplo, temos um participante (ele) que cria uma locução (“olá”)

Processo Comportamental: A moça sorriu.

Esse processo apresenta uma reação física (sorriu) resultante de uma manifestação da

consciência de um participante (a moça)

Processo Existencial: Há uma árvore na montanha.

Esse processo representa a existência de um participante (a árvore).

Os Processos Materiais expressam variações provocadas por ações físicas, como a

criação ou transformação de algo (Halliday e Matthiessen, 2004:179). Os principais

participantes de processos materiais são:

Ator (Actor): O participante responsável pela entrada de energia no processo, por

exemplo, João, em João chutou a bola.

Meta (Goal): O participante que é modificado pelo processo. No exemplo acima, a

Meta seria a bola.

Escopo (Scope): Uma entidade que existe independentemente do processo e que

não é afetada por este (HALLIDAY E MATTHIESSEN, 2004:192). Esse

participante representa um domínio dentro do qual ocorre o processo (por exemplo,

tênis, em João joga tênis) ou expressa o processo propriamente dito (por exemplo,

banho, em João toma banho)

Recebedor (Recipient): Participante que recebe um produto, por exemplo, João,

em João levou um soco.

Cliente6 (Client): Participante que recebe um serviço. Ele recebeu elogios

Atributo (Attribute): Especifica o estado resultante da meta (por exemplo, branca,

em deixou a roupa branca) (Halliday e Matthiessen, 2004:194)

Processos Mentais: Processos relacionados à experiência da consciência do

falante, causados por algo que altere a consciência ou que nela seja originado (Halliday e

Matthiessen, 2004:197). Os principais participantes desses processos são:

6 Nas análises, optei por manter a categoria de Beneficiário (Halliday 1994:144), para identificar o Recebedor

e o Cliente, como aquele “a quem ou para quem o processo ocorre”.

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I. Fundamentação teórica

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Experienciador (Senser): Um participante consciente ou representado como

dotado de consciência, que sinta, pense, queira ou perceba (Halliday e Matthiessen,

2004:201), como Maria, no exemplo: Maria gostou do presente.

Fenômeno (Phenomenon): O participante externo ao falante que provoca a

reflexão, sentimento, desejo ou percepção (Halliday e Matthiessen, 2004:203),

como presente, no exemplo, Maria gostou do presente

Processos Relacionais: Processos que caracterizam e identificam (Halliday e

Matthiessen, 2004:210). Os processos relacionais são mostrados no quadro 3:

atributivo

“y é um atributo de x” identificador

“y é a identidade de x”

(1) intensivo

“x é y”

Maria é inteligente Maria é a líder; A líder é Maria

(2) possessivo

“x tem y”

Maria tem um piano O piano é de Maria

(3) circunstancial

“x está em y”

A festa é em uma terça-feira Amanhã é dia 10; Dia 10 é amanhã

Quadro 3. Tipos de processos relacionais

Os participantes dos processos relacionais são:

Portador (Carrier): Entidade à qual foi atribuída uma classe (Halliday e

Matthiessen, 2004:219), como em Maria é bonita, que coloca Maria entre a classe de

pessoas bonitas. Em processos relacionais possessivos, o Portador é o participante

Possuidor (Possessor), como em Maria tem um piano, onde Maria é caracterizada como

alguém (Possuidor) que tem um piano.

Atributo (Attribute): Classe atribuída ao Portador. Nos exemplos acima, o Atributo

de Maria é bonita. Em processos relacionais possessivos, o Atributo é o participante

Possuído (Possessed), que no exemplo acima, seria o piano.

Identificado (Identified): O elemento ao qual é atribuída uma identificação

(Halliday e Matthiessen, 2004:227), como as baleias em as baleias são os maiores

mamíferos da Terra.

Identificador (Identifier): O elemento que identifica um participante. No exemplo

acima, o Identificador seria os maiores mamíferos da Terra.

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I. Fundamentação teórica

37

Adicionalmente aos participantes acima, temos os participantes Atribuidor

(Attributor) e Designador (Assigner) que, respectivamente, são os participantes

identificados no texto como os responsáveis pela atribuição e identificação (Halliday e

Matthiessen, 2004:237), como eles, em Eles tornaram Maria feliz (atribuição) e Maria é

vista por eles como bonita (identificação).

Em Halliday e Matthiessen (2004:230), é discutida a interoperação entre as

categorias Identificador/Identificado e Característica/Valor (Token/Value), relacionada à

codificação e decodificação da identificação do participante na oração, que não será tratada

aqui por não ter sido considerada relevante para as análises.

Processos Comportamentais: Processos de comportamento fisiológico ou

psicológico (Halliday e Matthiessen, 2004:248). Tem como participantes:

Comportante (Behaver): O participante que expressa o comportamento, como

Maria, em Maria riu.

Comportamento (Behaviour): O comportamento observado, por exemplo, o

sonho, em Maria teve um sonho, sendo um participante abstrato.

Processos Verbais: Processos que expressam um dizer (Halliday e Matthiessen,

2004:252), transformando, assim uma locução ou idéia em participante. Tem como

participantes:

Dizente (Sayer): O participante identificado como o responsável pelo que foi dito,

como João, em João disse: “Estou com fome”.

Verbiagem (Verbiage): O participante que identifica o que foi dito; no exemplo

acima, “Estou com fome”, sendo um participante semiótico.

Receptor (Receiver): Um participante afetado pelo que foi dito, por exemplo,

Maria em João acusou Maria de fraude.

Processos Existenciais: Processos de existir (Halliday e Matthiessen, 2004:256),

que representam algo que existe ou acontece. Nesses processos, o participante envolvido é

o Existente (Existent) (Halliday e Matthiessen, 2004:258), como roubo em Houve um

roubo.

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I. Fundamentação teórica

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C) Circunstâncias

Os processos podem ser expandidos por circunstâncias, consideradas por Halliday e

Matthiessen (2004:263) como um processo “menor” (por não conter um verbo) subsidiário

ao processo da oração principal. Segundo Halliday e Matthiessen (2004:261), o sintagma

preposicional é uma construção híbrida, estando entre um grupo e uma oração, por ser

formado por uma preposição, que atua quase como um verbo, e um grupo nominal, que

não é diferente do participante da oração principal. Dessa forma, é feita a distinção entre

participantes “diretos” e “indiretos”, sendo estes últimos participantes que participam

“circunstancialmente” do processo. Os principais tipos de circunstância são descritos a

seguir:

As circunstâncias de Extensão e Localização expressam o desenrolar do processo

no espaço e tempo. (Halliday e Matthiessen, 2004:264). Extensão (Extent): expressa a

extensão do processo no tempo e espaço: a distância na qual o processo ocorreu ou a

duração no tempo do processo. Inclui também a categoria de freqüência, que diz quantas

vezes ocorre o processo. Localização (Location): expressa a localização do processo no

tempo e espaço: o local onde o processo ocorreu ou o tempo (data/hora) em que ele

ocorreu, como mostrado no quadro 4:

Circunstâncias espacial temporal

Extensão (inclui intervalo)

Distância (Distance)

andou (por) sete milhas

parou a cada dez jardas

Duração (Duration)

parou (por) duas horas

parou a cada dez minutos

Freqüência (Frequency)

bateu três vezes

Localização Lugar (Place)

trabalhou na cozinha

Tempo (Time)

levantou às seis da manhã

Quadro 4. Circunstâncias de extensão e localização (traduzido de Halliday e Matthiessen,

2004:264)

As circunstâncias de Maneira (Manner) expressam a maneira pela qual o processo

ocorre, compreendendo as subcategorias de Meio, Qualidade, Comparação e Grau. As

circunstâncias de Meio (Means) expressam os meios pelos quais o processo ocorre:

as ligações para a Embratel em São Paulo podem ser feitas pelo número novo da

operadora

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39

As circunstâncias de Qualidade (Quality) destacam uma característica do processo:

O cartão telefônico tem se mostrado uma opção de mídia atraente para empresas que

desejam colocar, de uma forma diferenciada, suas marcas em evidência.

As circunstâncias de Comparação (Comparison) expressam uma semelhança ou

diferença:

O plano, lançado há sete meses, tem 100 mil usuários e funciona da mesma forma que a

internet a cabo. (semelhança)

Diferentemente das linhas fixas tradicionais, o Livre não cobra a assinatura mensal do

usuário. (diferença)

As circunstâncias de Grau (Degree) caracterizam a intensidade de uma

característica associada ao processo.

Agora, com a oferta das linhas para o público em geral, a tendência da demanda é aumentar

ainda mais.

As circunstâncias de Causa (Cause) expressam um motivo ou objetivo pelo qual

ocorre o processo. Contém três subcategorias:

As circunstâncias de Razão (Reason), que expressam condições existentes que

levaram o processo a ocorrer.

A Telefônica São Paulo economizará, só neste ano, cerca de R$ 1,5 milhão com postagem

nos Correios, devido à redução do peso dos envelopes.

As circunstâncias de Propósito (Purpose), que são as condições desejadas pelas

quais o processo ocorre

Para mais informações, é só acessar o site www.telefonica.com.br/midiaemcartao.

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I. Fundamentação teórica

40

As circunstâncias de Benefício (Behalf), que expressam tipicamente uma pessoa em

favor da qual o processo ocorre.

Além desta, para os clientes residenciais também estão disponíveis as versões 300, 450 e

600 Kbps.

As circunstâncias de Contingência (Contingency) especificam um elemento do qual

depende a ocorrência do processo. Essa categoria abrange os sub-tipos de Condição,

Concessão e Falta. As circunstâncias de Condição (Condition) expressam circunstâncias

que precisam ser obtidas para que o processo ocorra.

Foi o que declarou à agência Reuters um tenente-coronel da Aeronáutica, ligado à

administração da base aérea, sob a condição de anonimato.

As circunstâncias de Concessão (Concession) expressam uma causa frustrada, com

o sentido de “apesar”

Mesmo com as tarifas promocionais, as ligações entre São Paulo e Rio de Janeiro, por

exemplo, podem sair mais baratas por outras operadoras.

As circunstâncias de Falta (Default) têm o sentido de uma condição negativa, como

em “se não houver” “a menos que”.

Na ausência de tais agências, não ocorrerá o investimento privado necessário.

As circunstâncias de Acompanhamento (Accompaniment) expressam uma forma de

participação conjunta no processo, podendo ser comitativa (como em Fred veio com/sem

Tom) ou aditiva (como em Fred veio, assim como/em vez de Tom)

Isto inclui um ambiente de serviços de contingência para aplicações críticas, bem como um

ambiente de testes e homologação de novos sistemas.

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I. Fundamentação teórica

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As circunstâncias de Papel (Role) têm os subtipos de Guisa (Guise) e Produto

(Product). As circunstâncias de Guisa expressam o significado de ser (atributo ou

identidade) na forma de circunstância.

Uma nova versão do serviço de banda larga da Telefônica, o Speedy, tem como alvo o

usuário que faz "uso básico" da internet.

As circunstâncias de Produto têm o significado de “tornou-se”, de forma similar a

um atributo ou identidade.

Em 1998, a instituição transformou-se em fundo de pensão fechado multipatrocinado.

As circunstâncias de Assunto (Matter) são relacionadas a processos verbais, sendo

equivalentes à Verbiagem, ao que está sendo descrito, referido ou narrado.

Em relação ao ranking do Procon, é preciso entender que ele mostra números absolutos,

sem levar em conta as dimensões da base de clientes das empresas que constam da lista.

As circunstâncias de Ângulo (Angle) são relacionadas ao Dizente de uma oração

“verbal” ou ao Experienciador de uma oração “mental”. As circunstâncias de Fonte

(Source) são usadas para representar a fonte da informação.

Segundo a empresa, a extensão dos prazos da dívida irá assegurar que a Embratel

continue a investir para atender o mercado corporativo, governo e clientes residenciais.

De acordo com o presidente da Anhembi Turismo, Caio Luiz de Carvalho, o evento não

terá custo para a prefeitura ou para o Estado.

As circunstâncias de Ponto de Vista (Viewpoint) são usadas para representar a

informação dada pela oração como o ponto de vista de alguém.

Para a Telemar, o comercial da Embratel é "propaganda enganosa".

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Halliday e Matthiessen (2004:262) estabelecem as seguintes relações entre os tipos de

conjunções e as relações lógicas:

Intensificação: Circunstâncias de Extensão, Localização, Maneira, Causa e

Contingência

Extensão: Circunstância de Companhia

Elaboração: Circunstância de Papel

Projeção: Circunstâncias de Assunto e Ângulo

Deve-se destacar que essa é apenas uma breve descrição de toda a complexidade

envolvida na identificação de participantes, processos e circunstâncias, que é uma das áreas

que mais provocam discussões entre os sistemicistas. A próxima seção apresenta o

conceito de metáforas gramaticais ideacionais, que descreve outras formas de realização

dos significados ideacionais.

1.4.3. Metáforas ideacionais

Como comentado acima, os significados podem ser expressos pelo uso de

diferentes recursos léxico-gramaticais por um processo metafórico. Ao falar de metáforas,

podemos distinguir formas congruentes e formas não congruentes, onde o conceito de

congruência está relacionado, segundo Halliday (1998:208) à maneira pela qual a relação

entre o significado e a classe gramatical começou a ser desenvolvida ao longo da evolução

da linguagem. Segundo Halliday (1998:208), temos os seguintes padrões de congruência

entre os significados associados à metafunção ideacional e as classes gramaticais:

função semântica [expressa por] classe gramatical

relator (em seqüências) conjunção

processo menor (na circunstância) preposição

processo verbo

qualidade adjetivo

entidade (“coisa”) substantivo

Quadro 5. Padrões de congruência entre significados e classes gramaticais (Halliday, 1998:208)

Dessa maneira, por exemplo, a forma congruente de se representar uma relação

entre duas orações seria pelo uso de um relator, expresso por uma conjunção, a forma

congruente de uma circunstância seria uma preposição; um processo teria como realização

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I. Fundamentação teórica

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típica um verbo e um participante, um substantivo. Em Halliday e Matthiessen (2004:177),

a descrição das realizações típicas dos elementos da transitividade na oração utiliza o

conceito de grupos de palavras, onde os processos são realizados tipicamente por grupos

verbais, os participantes, por grupos nominais, e as circunstâncias, por sintagmas

preposicionais ou grupos adverbiais.

Entretanto, esses mesmos significados podem ser expressos por formas não

congruentes, que seriam variações nas formas de realização dos significados. Um exemplo

dessas variações pode ser visto no quadro 6, que mostra uma relação de causa e efeito

(você estudou, assim foi aprovado) realizada de maneiras diferentes:

mudança de status mudança de nível exemplo De: relator: conjunção De: complexo oracional Você estudou, assim foi aprovado

Para: circunstância Para: oração Você foi aprovado pelo estudo

Para: processo Para: oração Sua aprovação resultou do estudo

Para: qualidade Para: grupo nominal A aprovação decorrente de seu estudo ...

Para: substantivo Para: grupo nominal O resultado de seu estudo foi a aprovação

Quadro 6. Exemplo de deslocamento metafórico (adaptado de Halliday 1998:212)

Como podemos ver acima, a relação de causa/efeito da primeira oração, expressa

pela conjunção (assim) está expressa por uma circunstância (pelo) na segunda oração, pelo

processo (resultou) na terceira, por uma qualidade (decorrente) na quarta oração e por um

participante (resultado) na última.

Segundo Halliday (1998:211), qualquer elemento ideacional pode ser transformado

em uma entidade, em um dos recursos mais poderosos de criação de significados,

denominado nominalização (Halliday e Matthiessen, 2004:656). A transformação de ações

e estados em participantes do discurso permite a atribuição de qualidades a ações (como

em excelente defesa) e a composição de ações (como em o início da instalação), para que

possamos atribuir papéis a ações e estados ou que omitamos o sujeito da ação (como em a

implementação teve início em abril). A nominalização também tem um papel importante

na avaliação, como mostrado em Martin (2006:180), permitindo que, por exemplo,

“empacotemos” conjuntos de valores em uma palavra, como em promoção.

Como já mencionado, na metáfora gramatical, há uma mudança de uma categoria

gramatical para outra, que envolve a mudança vertical de nível de constituência e uma

mudança horizontal, de classe e função (Halliday, 1998:213). Como as classes e funções

gramaticais já estão descritas acima, a seguir são descritas as formas como os significados

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I. Fundamentação teórica

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podem ser expressos em diferentes níveis da estrutura, que é a dimensão da LSF que se

refere ao aspecto composicional da linguagem denominado constituência (Halliday e

Matthiessen, 2004:9).

Segundo Halliday e Matthiessen:

(...) ao analisar a gramática, vemos que a estrutura de cada unidade é uma

configuração orgânica, formada por unidades que têm funções distintas com

relação ao todo. Essas unidades podem ser organizadas para formar complexos e

seqüências iterativas, que trabalham juntas como uma única parte. Dessa forma,

unidades menores podem formar unidades maiores, que podem ser reunidas para

formar unidades maiores ainda. (Halliday e Matthiessen, 2004:9)

Na teoria sistêmica, essa constituência é organizada em níveis (ranks) que

organizam o modo como o significado é expresso na gramática. Em Halliday e Matthiessen

(2004:9), são resumidos os cinco princípios da constituência, que mostram os modos pelos

quais as unidades podem ser combinadas:

1. Há uma escala de nível na gramática de cada língua, que pode ser descrita por:

complexo oracional, oração, grupo/sintagma, palavra e morfema (do maior para o menor

nível). Como a análise gramatical analisa estruturas formadas por mais de uma palavra, os

níveis usados na análise gramatical são o complexo oracional, oração e grupo de palavras.

Esses níveis podem ser identificados pelo sistema de notação mostrado no quadro 7:

||| complexo oracional [[[ ]]] complexo oracional deslocado <<< >>> complexo oracional

encaixado

|| oração [[ ]] oração deslocada << >> oração encaixada

| sintagma ou grupo [ ] sintagma ou grupo deslocado < > sintagma ou grupo

encaixado

Quadro 7. Convenção de notação para representar a constituência léxico-gramatical (adaptado de

Halliday e Matthiessen, 2004: 10)

2. Cada escala é formada por uma ou mais unidades do nível imediatamente

inferior, como no exemplo abaixo:

| A avenida | | será interditada | | para a festa |

No exemplo acima, temos uma oração formada por três grupos de palavras: um

grupo nominal (A avenida), um grupo verbal (será interditada) e um sintagma

preposicional (para a festa).

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I. Fundamentação teórica

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3. Unidades de mesmo nível podem formar complexos, como mostrado nos

exemplos abaixo:

Embratel indica | Weffort e Mendonça de Barros | para conselho

Nesse exemplo, temos um grupo nominal complexo, formado por dois nomes

próprios, Weffort e Mendonça de Barros. No exemplo abaixo, temos um complexo

oracional formado por duas orações, uma iniciada por A Tele_B tem procurado (...) e a

outra iniciada por sem esquecer a preocupação (...).

||| A Tele_B tem procurado patamares cada vez mais elevados de eficiência e

produtividade, || sem esquecer a preocupação em atender os segmentos da sociedade de

menor renda. |||

4. Pode existir o deslocamento de nível (rank shift), pelo qual a unidade de um rank

pode ser colocada em um nível inferior (downranked) para funcionar na estrutura de uma

unidade de seu próprio nível ou de um nível inferior, como abaixo:

As linhas da economia são voltadas para | um público [[[ que precisa de um telefone fixo, ||

mas quer controlar os gastos com chamadas para celulares ou interurbanos ]]] |.

No exemplo acima, temos um grupo nominal que faz referência ao público-alvo da

empresa. Esse grupo nominal contém um elemento de nível superior, um complexo

oracional formado por duas orações (que precisa (...) e mas quer controlar (...)).

5. É possível que uma unidade seja encaixada dentro de outra, não como uma

constituinte desta, mas de forma a dividi-la em duas partes separadas, como no exemplo

abaixo:

Amaral destacou |, no entanto, | que as empresas já praticam tarifas promocionais para

DDD e DDI, menores que as autorizadas.

Nesse exemplo, temos um sintagma preposicional (no entanto) encaixado, que

divide em duas a oração principal (Amaral (...) destacou que).

Após a apresentação dos principais recursos relacionados à metafunção ideacional

utilizados na análise, a próxima seção analisa os recursos léxico-gramaticais que realizam a

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I. Fundamentação teórica

46

metafunção interpessoal, além dos desenvolvimentos baseados nessa teoria e os estudos de

avaliação.

1.5. A metafunção interpessoal

Além de interpretar a experiência, a linguagem também estabelece os papéis

pessoais e sociais com os outros, pelos recursos da metafunção interpessoal. Como

apontado por Halliday e Matthiessen:

"a oração da gramática não é somente uma figura que representa um processo, mas

também uma proposição ou proposta, pela qual informamos ou perguntamos,

damos ordens ou fazemos ofertas e expressamos nossa avaliação ou atitude com

relação ao que estamos tratando ou sobre o que estamos falando". (Halliday e

Matthiessen, 2004:29)

Uma das principais funções da linguagem é possibilitar a interação entre as pessoas,

permitindo ao falante “entrar” em uma interação (Halliday, 1978:112) com outros falantes

e agir sobre eles (Halliday 1994:xiii). Pelos recursos de criação de significados

relacionados à metafunção interpessoal, o falante pode expressar status, atitudes sociais e

individuais, avaliações e julgamentos (Halliday, 1970:189).

Conforme Halliday (1994:68), “a oração é organizada como um evento interativo

que envolve o falante, ou escritor, e o público”, no qual o falante assume uma função de

fala e atribui uma função de fala ao ouvinte. Halliday (1994:68-69) utiliza dois critérios

básicos para distinguir as funções de fala: se a linguagem é usada para dar ou pedir e a

natureza do que está envolvido na troca, se bens e serviços ou informações. Com base

nesses critérios, as funções de fala básicas são classificadas como oferta, comando,

declaração ou pergunta, como mostrado no quadro 8.

Papel na troca O que está sendo trocado

bens e serviços informações

dar oferta

“você quer esta chaleira?” declaração

“ele está dando a chaleira a ela”

pedir comando

“dê para mim esta chaleira!” pergunta

o que ele está dando a ela?

Quadro 8. Funções de fala (traduzido de Halliday, 1994:69)

Segundo Halliday e Matthiessen (2004:110), as funções básicas de fala são “pontos

de entrada para uma grande variedade de funções retóricas”, o que quer dizer que,

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I. Fundamentação teórica

47

combinando essas funções com outros recursos léxico-gramaticais que realizam a

metafunção interpessoal, podemos fazer ofertas na forma de sugestões ou pedidos na forma

de perguntas, por exemplo. No estrato da semântica, as trocas de bens e serviços são

denominadas propostas e as trocas de informações são denominadas proposições (Halliday

1994:70-71, Halliday e Matthiessen, 2004:110). Os principais recursos lingüísticos

relacionados à metafunção interpessoal são descritos a seguir.

1.5.1 O sistema de Modo

Os significados relacionados à metafunção interpessoal são realizados na oração

principalmente pelo sistema de Modo (Mood), que é a gramaticalização do sistema

semântico das funções de fala (Halliday e Matthiessen, 2004:113). A estrutura do sistema

de Modo é formada pelo Sujeito (Subject), Finito (Finite) e Resíduo (Residue).

O Sujeito faz parte da proposição, sendo “sobre o que” a proposição pode ser

afirmada ou negada (Halliday e Matthiessen, 2004:117). Esse elemento, realizado por um

grupo nominal, pode ser identificado por uma pergunta de confirmação, por exemplo, na

proposição João fez o bolo, João pode ser identificado como Sujeito pela pergunta de

confirmação: Não fez (João)?

O Finito, que faz parte de um grupo verbal, tem a função de tornar a proposição

finita, torná-la algo sobre o que se pode argumentar, estabelecendo uma relação entre essa

proposição e o contexto no evento de fala, pela referência ao momento em que essa fala

ocorre e ao julgamento do falante. Essas duas características, segundo Halliday e

Matthiessen (2004:116) têm em comum a dêixis interpessoal, por criarem entre o falante e

o ouvinte uma região semântica de tempo e incerteza. O tempo interpessoal está

relacionado à diferença do que é presente para o falante e o que é presente para o ouvinte;

pela incerteza, o falante pode expressar ou pedir para o ouvinte expressar a certeza ou

dúvida sobre a proposição.

A referência entre a proposição e o contexto do evento da fala é expressa pelo

tempo verbal primário – o passado, presente ou futuro. Em uma comparação com a

metafunção ideacional, a expressão de tempo na metafunção ideacional refere-se ao tempo

entre os fenômenos (processos) descritos, enquanto que na metafunção interpessoal, a

expressão de tempo refere-se ao tempo entre a proposição e o momento da fala. Neste

ponto, parece útil introduzir a distinção feita por Halliday e Matthiessen (2004:280) entre o

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I. Fundamentação teórica

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tempo ideacional (seqüência de acontecimentos), interpessoal (relação entre o momento do

enunciado e o tempo no qual ocorrem os acontecimentos) e o tempo textual (seqüência

ditada pela organização do texto), que pode ser vista no exemplo abaixo:

Hoje choveu, ontem fez sol e amanhã o tempo estará nublado.

Em termos interpessoais, as três orações acima posicionam o falante no tempo com

relação aos eventos relatados. Tomando como base o momento em que o falante criou esse

texto, choveu neste dia, em algum momento anterior à escrita, fez sol no dia anterior a este

dia e o tempo estará nublado no dia seguinte. Em termos ideacionais, essas três orações

posicionam um evento perante o outro no tempo. Assim, há uma seqüência de fenômenos

meteorológicos, que podemos representar como Dia 1 (Ontem): Sol; Dia 2 (Hoje): Chuva;

e Dia 3 (Amanhã): Nublado. Em termos textuais, há uma seqüência de eventos no texto:

Evento (1): chuva, Evento (2): sol e Evento (3): tempo nublado. Outros exemplos de

diferenças no tempo interpessoal são mostrados no capítulo de apresentação e discussão

dos resultados.

A referência ao julgamento do falante é descrita pelo sistema de Modalidade, que

expressa uma região de incerteza, na qual, segundo Halliday (1994:356) e Halliday e

Matthiessen (2004:147), as propostas variam entre a inclinação e a obrigação e, as

proposições, entre a probabilidade (possibilidade) e normalidade (freqüência). O outro

elemento do Finito, segundo Halliday (1994:356), é a polaridade, que expressa a área de

significado que varia entre o sim e o não.

Dessa forma, uma oração de fornecimento de informação será positiva ou negativa

sobre alguma proposição, com variados graus de certeza, ou a proposição poderá ser às

vezes positiva e às vezes negativa, com variados graus de probabilidade. Da mesma forma,

uma oração de fornecimento de “bens e serviços” poderá ser um comando ou proibição,

com variados graus de obrigatoriedade, ou expressar a vontade ou a repulsa, com variados

graus de inclinação, como mostrado na figura 4:

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I. Fundamentação teórica

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Figura 4. Relação entre modalidade, polaridade e modo (traduzido de Halliday e Matthiessen,

2004:619)

Continuando com a descrição da estrutura do Mood, temos o componente

denominado Resíduo, que é o que sobra na oração após termos identificado o Sujeito e o

Finito. Esse elemento pode compreender os elementos funcionais denominados Predicador

(Predicator), Complemento (Complement) e Adjunto (Adjunct).

Segundo Halliday e Matthiessen (2004:121), o Predicador está incluído no grupo

verbal, não compreendendo o operador temporal ou modal e não tendo, por si próprio, a

função de Finito. Ele tem quatro funções: (i) especificar uma referência de tempo diferente

da referência ao tempo do evento de fala, isso é, o tempo verbal auxiliar; (ii) especifica

diversos outros aspectos e fases, como começar a (fazer algo) ou havia (feito algo); (iii)

especifica a voz (ativa ou passiva) e (iv) especifica o processo que está sendo predicado

pelo Sujeito. Muitas vezes, o Predicador está “fundido” com o tempo verbal principal em

um verbo, como em fazia, onde faz é o Predicador e a flexão do verbo no passado faz parte

do Finito.

O Complemento é um grupo nominal da oração que teria potencial para ser o

Sujeito, mas que não está ocupando essa função na oração analisada. No exemplo acima,

João fez o bolo, o bolo é o Complemento da estrutura gramatical, por não ter o status da

responsabilidade modal sobre a veracidade da proposição. Já os Adjuntos, são elementos

do Resíduo que não têm potencial para ser Sujeito da oração, sendo tipicamente realizados

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I. Fundamentação teórica

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por grupos adverbiais ou sintagmas preposicionais. Conforme Halliday e Matthiessen

(2004:125), os Adjuntos podem ser diferenciados por critérios metafuncionais, em:

adjuntos modais – com função interpessoal, estão associados aos significados de

modalidade, temporalidade e intensidade do sistema de Modo, como possivelmente,

freqüentemente e totalmente; além desses temos os adjuntos de comentário, como

infelizmente e muitos outros mais.

adjuntos circunstanciais – com função ideacional, que funcionam como circunstâncias na

estrutura de transitividade da oração.

adjuntos conjuntivos – com função textual, fazem a coesão entre orações, como entretanto

e portanto

Halliday e Matthiessen (2004:133) também incluem na descrição da oração como

troca os elementos denominados Vocativo (Vocative) e Expletiva (Expletive). O Vocativo

pode ser usado pelo falante para habilitar o ouvinte a participar da interação ou com outros

propósitos, como marcar um relacionamento interpessoal, como em agradeço a você,

João, pelo presente. O elemento expletivo pode ser usado pelo falante para expressar sua

atitude, por exemplo, em Jesus! Como está quente!. Esses elementos têm uma função

expressamente interpessoal e não têm uma função gramatical na oração, conforme Halliday

e Matthiessen (2004:134).

1.5.2 Metáforas interpessoais

Segundo Halliday (1994:356), a modalidade é uma área que apresenta uma alta

elaboração metafórica, apontando que “os falantes têm incontáveis maneiras de expressar

as suas opiniões – ou melhor, talvez, de dissimular o fato de que eles estão expressando as

suas opiniões” (1994:355), não sendo sempre possível dizer o que é uma representação

metafórica da uma modalidade.

Com relação à questão de congruência, já comentada na seção que descreve a

metafunção ideacional, Thompson (1996a:40) observa que três das funções de fala estão

fortemente associadas a estruturas gramaticais particulares: as declarações são expressas

por orações declarativas, as perguntas por orações interrogativas e os comandos por

orações imperativas; as ofertas, segundo Thompson, não estariam relacionadas a uma

escolha de modo específico, mas estreitamente relacionadas à modalidade. Alguns tipos de

realizações típicas da modalização e modulação pelo uso de operadores modais, adjuntos

modais e predicadores são mostrados no quadro 9:

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I. Fundamentação teórica

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Função de fala Intermediação Realização típica Exemplo

proposição declaração,

pergunta

modalização:

probabilidade

operador modal finito

adjunto modal

(ambos)

Eles devem saber

Certamente que sabem

Certamente que devem saber

modalização:

normalidade

operador modal finito

adjunto modal

(ambos)

Isso deve acontecer

Isso sempre acontece

Isso sempre deve acontecer

proposta comando modulação:

obrigação

operador modal finito

predicador de verbo na

voz passiva

Você deve ser paciente!

Espera-se que você seja

paciente!

oferta modulação:

inclinação

operador modal finito

predicador adjetivo

Eu devo vencer!

Estou determinado a vencer!

Quadro 9. Modalização e modulação (Halliday, 1994:91)

Esse quadro mostra alguns exemplos de como os modos oracionais (como a

declaração e o imperativo) podem ser combinados com recursos da estrutura de modo

(finito e predicador) para a expressão das diversas funções de fala. Em outro tipo de

metáfora ideacional, o quadro 9 mostra exemplos de modulação e modalização realizados

metaforicamente, por meio de recursos de projeção. Nos exemplos abaixo, a função de fala

é determinada pelo processo responsável pela projeção:

Função de fala Declarativa Interrogativa

Proposta:

comando

Eu imploro que você (...)

Eu quero que você (...)

Eu gostaria de sugerir que (...)

Eu gostaria que (...)

Posso sugerir que você (...) ?

Proposição:

declaração

Eu garanto a você que (...)

Você precisa acreditar que (...)

Eu poderia garantir a você que (...)

Você acreditaria que (...) ?

Proposição:

pergunta

Eu gostaria de saber se (...)

Imagino se (...)

Eu preciso perguntar a você se (...)

Eu devo imaginar se (...)

Você precisa me dizer se (...)

Eu posso perguntar se (...) ?

Você diria que (...) ?

Você pode me dizer se (...) ?

Você quer dizer que (...) ?

Quadro 10. Exemplos de realizações metafóricas de propostas e proposições que envolvem grupos

complexos de projeção (baseado em Halliday e Matthiessen, 2004:630)

Segundo Halliday e Matthiessen (2004:61), a função interpessoal tende a ser

realizada por padrões prosódicos, o que significa que podem ser observados padrões no

texto como os descritos por Martin e White (2005:24), de saturação, intensificação e

dominação.

Os exemplos abaixo mostram três padrões prosódicos que combinam expressões

atitudinais:

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I. Fundamentação teórica

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Saturação: Que inferno, cara, quem diabos disse que eu gosto dessa droga?

Intensificação: Essa é uma mentira suja, nojenta, descarada e mesquinha.

Dominação: Você tem absoluta certeza que Maria não retirou as chaves da caixa?

No exemplo acima de saturação, temos itens lexicais atitudinais (inferno, diabos,

droga) distribuídos em toda a sentença. No exemplo de intensificação, temos itens lexicais

atitudinais (suja, nojenta, descarada e mesquinha) aplicados a um participante do discurso

(mentira), que se somam para aumentar a atitude negativa quanto a esse participante. No

exemplo de dominação, temos dois itens lexicais atitudinais (absoluta e certeza) que

determinam a atitude expressa na oração, pela ausência de outros itens atitudinais. Um

exemplo de como a prosódia é utilizada para expressar a atitude do falante é apresentado

na análise que Martin (1992a:557-558) faz da música Born in USA, na qual “o tom

nacionalista passa a ser irônico e culmina em um grito de angústia”.

1.6. Atribuição de papéis

Thompson e Thetela (1995:106-107) apresentaram uma proposta que desenvolve o

sistema de Halliday, mostrando como o escritor pode manejar parcialmente a interação

atribuindo papéis a si mesmo e ao leitor no texto. Essa proposta separa a função

interpessoal em duas funções relacionadas, mas relativamente independentes: a função

pessoal e a função interacional, como mostrado no modelo delineado na figura 5.

Figura 5. Sistemas interpessoais de Thompson e Thetela (1995:107)

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I. Fundamentação teórica

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A função pessoal enfoca questões relacionadas à modalidade – a responsabilidade

do falante com relação ao que fala – e à avaliação – a atitude, posição, ponto de vista, ou

sentimento do falante ou escritor com relação às entidades ou proposições sobre as quais

está falando (Hunston e Thompson, 2000:5). A função interacional seria, por esse modelo,

subdividida em papéis desempenhados (enacted roles) e papéis projetados (projected

roles).

Os papéis projetados são os atribuídos pelo falante/escritor pela intitulação aberta

dos dois participantes envolvidos no evento de linguagem. Isto é feito pela escolha dos

termos usados para nomear ou indicar os dois participantes e pelos papéis imputados a eles

nos processos relacionados na oração. Quando o falante/escritor projeta papéis, o

personagem ao qual o papel é projetado é simultaneamente um participante no evento da

linguagem e um participante na oração, como em:

As linhas da economia são voltadas para um público que precisa de um telefone

fixo (...)

Neste exemplo, o escritor projeta um papel por nomeação ao produto (linhas da

economia, um produto que traz um benefício - a economia - ao consumidor) e, ao mesmo

tempo, projeta por atribuição a esse mesmo produto o papel de algo dirigido a um público

definido como aqueles que precisam de um telefone fixo.

Para Thompson e Thetela (1995:109), a importância de se distinguir esses dois

tipos de participantes (participante na interação e o participante na transitividade da

oração) é que não somente a escolha do rótulo (primeira, segunda ou terceira pessoas) é

importante: o falante/escritor pode também lidar parcialmente com a interação projetando

diferentes papéis de transitividade para si e o público-alvo. Dessa forma, vemos neste

exemplo que a proposta de Thompson e Thetela representa um desenvolvimento do

modelo padrão de sistema interpessoal proposto por Halliday, mostrando como as escolhas

ideacionais feitas pelo escritor podem realizar significados interpessoais.

1.7. Avaliação e avaliatividade

Esta seção descreve alguns dos estudos mais recentes do fenômeno lingüístico da

avaliação (evaluation) e o sistema teórico de avaliatividade (appraisal) desenvolvido por

Martin (2000) e Martin e White (2005) para descrever sistemicamente esse fenômeno.

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I. Fundamentação teórica

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Hunston e Thompson (2000:5) definem a avaliação como “um termo abrangente

para a expressão da atitude ou posição, ponto de vista ou sentimento do falante ou escritor

sobre as entidades ou proposições das quais está falando”, e apontam três principais

funções da avaliação:

Expressar a opinião do falante ou escritor, e fazendo isso, refletir o sistema de valores

dessa pessoa e de sua comunidade, pois “cada ato de avaliação expressa um sistema de

valores da comunidade e cada ato de avaliação também ajuda a construir esse sistema de

valores. Assim, identificar o que o escritor pensa revela a ideologia da sociedade que

produziu o texto” (2000:6).

Construir e manter relações entre o escritor ou falante e o ouvinte e o leitor , com fins

de manipulação (pela qual o escritor pode usar a avaliação para persuadir o leitor a ver as

coisas de um determinado ponto de vista), hedging e polidez. (2000:8).

Organizar o discurso – A avaliação organiza o discurso e indica a sua significância,

dizendo ao leitor qual “o ponto” do discurso, tendendo a ocorrer em pontos de fronteira de

um discurso, de forma a monitorar a organização deste discurso (Sinclair, 1987, citado em

Hunston e Thompson, 2000:11).

Para Martin (2000:145) e Martin e Rose (2003:22), a Avaliatividade (Appraisal)

refere-se aos recursos semânticos usados pelos falantes/escritores “para negociar atitudes

em seus textos, expressando avaliações de emoções de pessoas, julgamentos de caráter e

apreciação de coisas, atribuindo uma intensidade a essas avaliações e identificando as

fontes responsáveis por essas avaliações”. Dessa maneira os falantes/escritores “constroem

identidades ou personas de autor para si mesmos e um público desejado ou ideal para os

seus textos, expressam alinhamento ou não-alinhamento a respondentes reais ou potenciais

e constroem comunidades que compartilham os mesmos sentimentos, valores e avaliações

normativas” (Martin e White, 2005:1).

As próximas seções apresentam em maiores detalhes o sistema de avaliação

proposto por Hunston e o sistema de avaliatividade de Martin (2000) e Martin e White

(2005).

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I. Fundamentação teórica

55

1.7.1 Os parâmetros de avaliação de Hunston

Para explorar os tipos de avaliação expressos pelo falante, Hunston desenvolveu um

conjunto de parâmetros de avaliação com base no conceito de planos de discurso de

Sinclair (citado em Hunston, 2000:183), segundo o qual o texto reflete (e interpreta) a

interação entre o leitor e o escritor no plano interativo e apresenta um conteúdo (diz

coisas sobre o mundo) no plano autônomo. Esse conjunto de funções propõe analisar cada

oração do texto nos planos interativo e autônomo pelos parâmetros de Status e Valor.

No plano interativo, o Status reifica as declarações, o que as transforma em algo ao

qual se pode atribuir um valor (Hunston, 2000:193). As declarações podem ser analisadas

em termos do tipo de declaração (fato, opinião, hipótese, premissa, etc.) e da fonte de cada

declaração (afirmação do escritor, declaração atribuída a outro, etc.) (Hunston, 2000:186).

O Valor das declarações no plano interativo depende de a declaração estar apoiada em

evidências ou ser senso comum (avaliação positiva), ou poder ser criticada facilmente

(avaliação negativa). As evidências que apóiam a declaração também podem ser fornecidas

no próprio texto; assim, segundo Hunston (2000:194), “o processo de atribuir valor no

plano interativo contribui para a organização do texto”. Essa visão da construção da

avaliação ao longo do texto também é seguida por Jordan (2001:163), que utiliza o termo

„avaliação‟ para indicar agrupamentos simples ou complexos de assessment-basis.

No plano autônomo, o Status restringe o espectro de critérios ou fundamentos pelos

quais algo pode receber Valor; dessa forma, a avaliação nesse plano depende de uma

experiência intertextual comum entre o escritor e o leitor (Hunston, 2000:200). A função

de Valor é nesse caso, um parâmetro do tipo “bom/ruim”, que pode ser analisado com base

no participante que está sendo avaliado, na base para a avaliação, o valor

(positivo/negativo) e a fundamentação para essa atribuição de valor.

O conceito de Status no plano autônomo de Hunston parece, dessa forma, trazer o

conceito de identidade ao estudo da avaliação, como o descrito por Lemke (in press), para

o qual as identidades são múltiplas e cumulativas. Esta é uma visão similar à visão sócio-

construtivista de Coupland e Nussbaum, (1993:x), segundo os quais quem somos nos

diversos pontos de nossa passagem pela vida, carrega alguma relação sistemática com as

nossas experiências [anteriores] em interações lingüísticas e sociais”. Dessa forma, a

identidade de cada participante no texto e a imagem que o leitor tem desse participante

restringem os valores que podem ser atribuídos a ele.

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I. Fundamentação teórica

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Para definir o Valor no plano autônomo, Hunston utiliza em suas análises

(2000:196) um parâmetro que chama de “base que fundamenta a avaliação”, que nos diz o

motivo pelo qual uma determinada instância de avaliação pode ser considerada positiva ou

negativa. A relação entre as bases que fundamentam a avaliação e os valores

compartilhados pela comunidade é traçada por Lemke (1988:30), que relaciona o conceito

bakhtiniano de vozes a formações temáticas intertextuais, que relacionam textos que

“falam das mesmas coisas das mesmas maneiras”. Essa visão parece ser compartilhada por

Thibault (2004:42), que associa o conceito bakhtiniano de vozes aos valores sociais dos

falantes, dizendo que “o sistema da heteroglossia social pode ser visto como um campo de

vozes nos quais os agentes sociais se deslocam e se posicionam em suas atividades de

criação de sistemas”. Nesse sistema, aponta Thibault (:42), os indivíduos constituem suas

identidades pelas formas como se alinham, se opõem ou se posicionam de outra maneira

qualquer perante as vozes do sistema de heteroglossia.

Thompson (1996b:509) diz que é possível identificar vozes da comunidade em

provérbios e falas que não especifiquem a fonte da informação, mas que possam ser

associados pelo leitor a determinados grupos pelo conhecimento compartilhado, tendo

assim uma função de solidariedade. Essa é uma visão alinhada à de Lemke (1988:30), para

o qual “mesmo um texto que pareça falar uma única voz „pura‟ fala e é ouvido em uma

comunidade de muitas vozes e o significado desse texto é criado em relação a essas vozes”.

Para fins de ilustração, temos a seguir um exemplo de análise segundo os

parâmetros de Status e Valor nos planos interativo e autônomo do trecho abaixo:

"Estamos apoiando o reveillon de duas das maiores capitais brasileiras para

presentear nossos clientes com uma passagem de ano especial", afirma Executivo_A,

presidente da Tele_A. (press release)

No plano interativo, analisando o exemplo em termos de Status temos uma

afirmação atribuída a um executivo da empresa. O Valor dessa sentença dependerá, como

citado acima, das evidências que apóiam a proposição e da facilidade com a qual podemos

aceitar ou rejeitar essa afirmação como verdadeira. O Valor no plano interativo do exemplo

pode ser evidenciado pela descrição do evento, apresentada na sentença seguinte do press

release:

Em São Paulo, o Reveillon Tele_A na Paulista terá como tema "Vamos Celebrar o Futuro"

e deverá contar com a presença de cerca de 2 milhões de pessoas. Cerca de três mil

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I. Fundamentação teórica

57

profissionais, de operadores de som e de luz a seguranças e médicos, estarão envolvidos no

megaevento. (press release)

Nessa sentença, que cita a expectativa de público e os recursos de pessoal

envolvidos no evento, podemos ter uma evidência de que esse evento tem realmente

condições de ser “especial”.

Analisando, por exemplo, a oração Estamos apoiando o reveillon de duas das

maiores capitais brasileiras no plano autônomo, podemos identificar o participante

avaliado como a Tele_A (nós, elíptico na oração). O Status desse elemento no plano

autônomo vem da imagem que o leitor tem da Tele_A (uma empresa que tem condições

financeiras, entre outras coisas) e o Valor decorre da ação da empresa de patrocinar o

evento, que pode ser considerado positivo com base no valor positivo de se “oferecer um

evento”, por exemplo.

1.7.2. O sistema da Avaliatividade

Os estudos de Avaliatividade (Appraisal) (Martin, 2000; Martin e Rose, 2003 e

Martin e White, 2005) oferecem uma descrição sistêmica detalhada do que podemos

chamar de potencial de significado do falante como avaliador, pelo qual o escritor

relaciona atitudes aos participantes do discurso, indica sua atitude com relação às atitudes

expressas no texto e intensifica/atenua todas essas atitudes. Esta seção descreve o sistema

de Avaliatividade, incluindo uma introdução do sistema e de sua relação com a LSF, os

sistemas de avaliatividade e as suas realizações léxico-gramaticais nos textos.

O modelo de Avaliatividade foi desenvolvido dentro do arcabouço teórico da

lingüística sistêmico-funcional, estando relacionado à criação de significados interpessoais,

que são os recursos semânticos usados para negociar relações sociais. Segundo (Martin e

White, 2005:7-8), os estudos sobre Avaliatividade foram desenvolvidos a partir do início

dos anos 90 no sentido de desenvolver uma perspectiva mais voltada ao léxico e os

sentimentos. Essas pesquisas tiveram como objetivo complementar a orientação então

utilizada na LSF, mais relacionada à interação, resultante do trabalho de Michael Halliday

na gramática do modo e modalidade e em trabalhos de outros autores na análise da

estrutura de trocas nos diálogos.

Para Martin e White (2005:34-35), a Avaliatividade é um dos três grupos principais

de recursos semânticos do discurso, juntamente com a negociação (negotiation –

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I. Fundamentação teórica

58

relacionado às funções de fala e estrutura de trocas) e o envolvimento (involvement –

relacionado aos recursos usados para negociar relações, especialmente solidariedade –

como o uso de jargão especializado e gírias). A Avaliatividade compreende três domínios

distintos que interagem entre si, a Atitude (Attitude), relacionada aos sentimentos, o

Engajamento (Engagement), relacionado às fontes das atitudes, e a Gradação

(Graduation), que amplifica/atenua os sentimentos e faz as categorias ficarem mais ou

menos distintas. Esses sistemas são mostrados na figura 6.

Figura 6. O sistema da Avaliatividade

1.7.2.1. O subsistema de Atitude

Segundo Martin e White (2005:42), a Atitude compreende três regiões semânticas,

representadas pelos sistemas de Afeto, Julgamento e Apreciação, que estão relacionados

aos conceitos tradicionais de emoção, ética e estética, respectivamente. Neste quadro

teórico, o Afeto pode ser considerado o sistema básico de Atitude (Martin 2000:147),

estando relacionado às respostas emocionais, expressas em sentimentos positivos e

negativos. O Julgamento se refere às avaliações de caráter feitas com base em normas

morais de comportamento, enquanto que a Apreciação se refere às avaliações de

fenômenos semióticos ou naturais baseadas na adequação dos produtos das ações ao fim

que se destinam, ou conforme o valor que recebem em um determinado campo de

atividade (Martin e White, 2005:42-43).

Da mesma forma que no sistema gramatical de Transitividade, parece haver uma

forte correlação entre a natureza dos participantes e os tipos de avaliações aos quais os

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I. Fundamentação teórica

59

participantes estão sujeitos: no sistema de Afeto, o participante identificado como a fonte

da emoção (Emoter) é um participante consciente ou representado como sendo consciente;

enquanto que o fenômeno que provoca a emoção (Trigger) pode ser um participante de

qualquer natureza; o sistema de Apreciação é usado para avaliar coisas não conscientes,

físicas ou semióticas; e o sistema de Julgamento é usado para avaliar participantes

conscientes, ou representados como conscientes e inseridos em uma comunidade de valor.

No sistema de Afeto, as avaliações são agrupadas em três conjuntos principais:

in/felicidade, in/segurança e in/satisfação (Martin e White, 2005:49):

Os significados relacionados à in/felicidade compreendem as reações

emocionais internas de alegria ou tristeza.

Os significados relacionados à in/segurança compreendem nossos

sentimentos de paz e ansiedade com relação ao ambiente que nos rodeia.

Os sentimentos relacionados à in/satisfação compreendem os sentimentos de

realização de metas e frustração.

No sistema de Julgamento, as avaliações estão agrupadas em dois conjuntos

principais, estima social e sanção social.

Os significados relacionados à estima social são classificados em:

normalidade (a oposição entre normal/diferente), capacidade (capaz/incapaz) e

tenacidade (resoluto/titubeante)

Os significados relacionados à sanção social são classificados em:

veracidade (confiável/não confiável) e propriedade (ético/não ético)

No sistema de Apreciação, as avaliações estão agrupadas em:

Reação (interessante/desinteressante)

Composição (harmônico/desarmônico, consistente/inconsistente, etc.)

Valor (valioso/não valioso).

Martin (1992b:363) sugere haver uma relação entre a atitude e o sistema gramatical

de modo de Halliday, pela qual o desejo de atuar no mundo por uma proposta (oferta ou

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I. Fundamentação teórica

60

comando) indica uma insatisfação com a situação atual e um desejo de melhorá-la (do

ponto de vista do falante). Assim, fazer uma proposta implicaria em uma avaliação

negativa da situação atual e uma avaliação positiva da situação desejada.

A) Realizações na léxico-gramática

A Atitude pode ser realizada diretamente (inscribed) pelo uso de léxico atitudinal,

que apresenta explicitamente a opinião ou avaliação do escritor sobre o que está sendo

descrito, ou indiretamente (cf. Martin e White, 2005:56) (invoked) pelo uso de léxico

descritivo, que apenas apresenta uma descrição da realidade. Nessa descrição, segundo

Martin e White (2005:62) “a seleção de significados ideacionais é suficiente para invocar a

avaliação, mesmo na ausência de léxico avaliativo explícito” (Martin e White, 2005:62). A

diferença entre as atitudes inscrita e evocada pode ser vista no exemplo abaixo, que

descreve duas características de uma boneca:

Esta boneca é linda, com articulações nos joelhos e cotovelos. (descrição de um produto

em um site de vendas)

Na oração principal, o Epíteto linda mostra explicitamente a atitude do falante

perante a boneca, o que não ocorre na circunstância da oração, que fala das articulações do

brinquedo. Embora sem avaliativos explícitos, a boneca pode ser avaliada positivamente

por essa característica, pois a criança poderá desenvolver sua criatividade e se divertir mais

com uma boneca que pode ficar em várias posições. Dessa maneira, a diferença entre a

avaliatividade inscrita e a evocada parece ser que na avaliatividade inscrita o falante deixa

claro o seu posicionamento por um item lexical atitudinal, enquanto que na avaliatividade

evocada, o falante prefere expressar a sua atitude perante o que está sendo avaliado

destacando uma característica deste ou ação executada por este.

Por outro lado, é possível considerar que a “objetividade” criada pela ausência de

expressões de sentimento por si só se constitui em uma atitude, como mostrado na análise

de um documento oficial feita em Martin e Rose (2003:55), que relaciona a ausência de

atitude explícita observada à oficialidade do documento.

“Podemos argumentar que os recursos usados para definir os termos (...) são na verdade

recursos monoglóssicos usados para garantir que o Ato fale com uma voz clara no que se

refere aos seus objetivos administrativos. A ausência de graduação ajuda a manter as

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I. Fundamentação teórica

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definições rígidas; a quase ausência de projeção, modalização e concessão opera para

reforçar a posição monovocálica. Esse não é, em outras palavras, um texto com o qual se

possa argumentar – é a Lei.” (Martin e Rose, 2003:55)

A ausência de atitude explícita também é analisada por Hunston (2000:199), para

quem a solidariedade pode ser construída entre o escritor e o leitor exatamente por não

tornar explícita a significância avaliativa de determinadas partes do texto. Dessa forma, a

principal diferença entre a atitude inscrita e a atitude invocada não é uma “ausência” da

atitude, mas sim o fato dessa atitude estar estabelecida no texto de maneira mais ou menos

explícita. Usando a atitude invocada, o escritor pode não deixar claro os sentimentos que

tem perante o que está sendo avaliado e se esses sentimentos são positivos ou negativos.

Outra conseqüência possível pode ser que, expressando a avaliatividade de maneira menos

explícita, o falante possa reduzir a possibilidade de uma resposta negativa por parte do

leitor sobre a sua avaliação.

Na análise da atitude inscrita, é necessário considerar que o tipo de atitude expresso

no texto, embora orientado pelo léxico, não é determinado pelo item lexical escolhido.

Como a Avaliatividade é uma função da semântica do discurso, que pode ser realizada por

diversos recursos léxico-gramaticais (Martin e White, 2005:45), a sua interpretação deve

ser feita com base no significado, e não em léxico atitudinal e estruturas gramaticais

específicas. Dessa maneira, não há uma correspondência biunívoca entre um item lexical e

um determinado tipo de atitude (Martin e White, 2005:52). As descrições de atitude

fornecidas em Martin (2000), Martin e Rose (2003) e Martin e White (2005) apresentam

listas de exemplos de itens lexicais relacionados às diversas categorias de atitude;

entretanto, essas listas têm como objetivo “oferecer uma orientação geral quanto aos

significados que estão em jogo, não devendo ser vistas como um dicionário de valor que

possa ser aplicado mecanicamente na análise dos textos” (Martin e White, 2005:52).

B) Interoperação entre atitudes inscritas e invocadas

Para Martin e White (2005:10), a Avaliatividade está no estrato da semântica do

discurso, e uma das razões para isso é que a realização de uma atitude tende a se espalhar

pelo discurso, independentemente de fronteiras gramaticais, tendendo a “colorir mais de

um texto do que o circunscrito pelo seu ambiente gramatical local” (Martin e White,

2005:63). As escolhas feitas pelos recursos de Avaliatividade, segundo Martin e Rose

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I. Fundamentação teórica

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(2003:54), ressoam umas com as outras, formando um padrão prosódico de atitude que

percorre todo o texto.

Entretanto, quando formos analisar a atitude do falante no texto, podemos

considerar também as escolhas ideacionais que não tragam uma avaliação inscrita,

conforme mostrado na análise feita por Martin e White (2005:75), que inclui na análise as

marcas (tokens) ideacionais encontradas no texto que possam sugerir uma Atitude. Essa

interoperação entre avaliações explícitas e implícitas pode ser encontrada também nas

funções referencial (que fornece informação pela recapitulação da experiência do narrador)

e avaliativa (que comunica o significado da narrativa estabelecendo algum ponto de

envolvimento pessoal) do modelo criado por Labov (citado em Cortazzi e Jin, 2000:105)

para analisar narrativas. Por esse modelo, a eficácia da narrativa dependeria do uso da

avaliação pelos narradores para mostrar como querem que a narrativa (a seqüência de

eventos ideacionais no texto) seja entendida.

Dessa maneira, as avaliações presentes no texto afetam umas às outras, sejam feitas

por léxico atitudinal ou não, não operando de maneira apenas pontual na oração do texto

em que se encontram. A atitude inscrita pode afetar a natureza da atitude invocada,

“lançando e reforçando uma prosódia que direciona os leitores em suas avaliações do

material ideacional não atitudinal” (Martin e White 2005:64; 2005:139). Um exemplo

dessa prosódia é apresentado em Martin e White (2005:67), quando indica que “quando um

participante é explicitamente julgado em um papel, é possível reconhecer uma apreciação

invocada de suas realizações; de maneira similar, quando uma atividade é explicitamente

apreciada como uma coisa, um julgamento de quem a realizou pode ser invocado”.

Essa relação entre o Julgamento de quem executou a ação e a Apreciação da ação

também pode ser vista, em outros termos, no conceito de Status e Valor no plano

autônomo de Hunston (2000:202), para quem o Status de um participante restringe a

resposta do leitor, restringindo também, em termos mais gerais, como o próprio texto fará a

avaliação. Essa visão está alinhada ao sistema interpessoal de Thompson e Thetela

(1995:109) descrito anteriormente, pelo qual o escritor pode atribuir papéis aos

participantes por relações de transitividade.

A prosódia criada pelos avaliativos explícitos, que transcende as fronteiras

gramaticais das estruturas em que são usados, pode ser utilizada em propósitos que Hoey

(1983:28), em sua análise de textos de Chomsky, descreve como “manipulativos”. Essa

análise mostrou que a avaliação é particularmente difícil de ser desafiada quando está

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I. Fundamentação teórica

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incorporada na estrutura da oração e do discurso, ou seja, quanto menos perceptível for a

avaliação, maior probabilidade terá de conseguir manipular o leitor, como no exemplo

abaixo (Hoey, 1983:33):

For anyone concerned with intellectual processes, or any question that goes beyond mere

data arranging, it is the question of competence that is fundamental.

(Para qualquer pessoa preocupada com processos intelectuais ou qualquer outra questão

que vá além de uma mera organização de dados, a questão da competência é que é

fundamental)

Em sua análise, Hoey (1983:33) afirma que é difícil para o leitor discutir a

avaliação feita quanto à organização dos dados como mera, pois não é essa a questão

discutida na oração principal da sentença. A avaliação está, nesse caso, incorporada ao

grupo nominal, que faz parte de um sintagma preposicional que funciona como adjunto –

Hoey afirma que quando a avaliação é usada como modificação de um substantivo, é mais

facilmente tomada como informação dada, ou conhecimento comum, e menos propensa ao

escrutínio do leitor, com o que parece concordar Matthiessen (2004:612), que distingue

aqui o status interpessoal das orações em:

orações livres (free) – que fazem uma contribuição direta ao desenvolvimento do

diálogo, selecionando “livremente” o mood para indicar o seu valor na negociação

orações encapsuladas (bound) – orações que são hipotaticamente dependentes ou

embutidas.

Esses conceitos parecem sugerir que a resposta do leitor pode depender do nível da

estrutura em que as avaliações são feitas, em uma visão complementar à visão de

realização prosódica da avaliatividade proposta por Martin e White (2005:33).

1.7.2.2. O subsistema de Engajamento

Segundo Martin e White (2005:92), o subsistema de Engajamento (Engagement)

está relacionado aos recursos lingüísticos pelos quais os escritores/falantes adotam uma

postura com relação às posições de valor que estão sendo referenciadas no texto e com

relação aos quais elas se dirigem. Isso ocorre pela inclusão de significados que de alguma

maneira expressam no texto um cenário heteroglóssico de enunciados anteriores, pontos de

vista alternativos e respostas antecipadas (Martin e White, 2005:97).

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I. Fundamentação teórica

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O subsistema de Engagement prioriza, segundo Martin e White (2005:135) a

perspectiva dialógica, analisando como a voz do autor está se posicionando com relação às

reações e respostas da audiência antecipadas por ele. Martin e White (2005:135) destacam

sua orientação prospectiva, ou antecipatória, preocupada com as maneiras pelas quais o

texto constrói para si uma audiência e apresenta seu engajamento com essa audiência.

Segundo Martin e White (2005:93), essa perspectiva dialógica os leva, em primeiro lugar,

a observar a natureza da relação que o falante apresenta com “outros enunciados da mesma

esfera”, se ele reconhece esses falantes anteriores e como atua com eles e, em segundo

lugar, a observar os sinais fornecidos pelos falantes de quais as respostas que eles esperam

de seus públicos.

Esse subsistema engloba os meios para que a voz do autor se posicione com relação

(se engaje) com outras vozes e posições alternativas do contexto de comunicação, criando

solidariedade não apenas em termos de concordância/discordância, mas também de

reconhecer como válida a diversidade de pontos de vista (2005:96). O sistema de

Engajamento é baseado nos conceitos de expansão e contração dialógicas, pelos quais “as

locuções permitem posições e vozes alternativas (expansão dialógica) ou desafiam evitam

ou restringem o escopo delas” (Martin e White, 2004:102). O sistema de Engajamento é

mostrado na figura 7.

Figura 7. O subsistema de Engajamento7

As principais subcategorias desse sistema são:

7 Traduções dos termos conforme proposto em Lopes e Vian Jr. (2007)

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I. Fundamentação teórica

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Discordância: a voz textual se posiciona em desacordo ou rejeição a uma posição

contrária, reconhecendo a existência dessa posição, por exemplo: você não precisa deixar

de comer para perder peso – que reconhece e nega a preposição de que você precisa deixar

de comer para perder peso.

Proclamação: representando a proposição como altamente válida e fundamentada,

a voz textual se coloca contra, suprime ou descarta posições alternativas, como por

exemplo, em: obviamente que isso é verdade.

Entretenimento: apresentando explicitamente a proposição como fundamentada

em sua subjetividade individual, a voz do autor representa a proposição como uma de uma

gama de posições possíveis – assim leva em consideração ou invoca essas alternativas

dialógicas, como, por exemplo, em: as evidências sugerem que isso seja verdade.

Atribuição: representando a proposição como fundamentada na subjetividade de

uma voz externa, a voz textual representa a proposição como uma dentre uma gama de

proposições possíveis, como em: conforme Halliday (...).

1.7.2.3. O subsistema de Gradação

Uma característica dos significados de atitude e engajamento é a possibilidade de

serem objeto de gradação, uma função que pode reduzir ou intensificar os seus graus de

positividade ou negatividade (Martin e White, 2005, 135). O subsistema de graduação é

delineado na figura 8.

Figura 8. Subsistema de gradação: força e foco (Martin e White, 2005:154)

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I. Fundamentação teórica

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No sistema de avaliatividade, segundo Martin e White (2005:137), a gradação

opera em dois eixos. O primeiro refere-se à intensidade ou quantidade, descrito pelo

subsistema de Força, e o segundo refere-se à prototipicalidade ou precisão pela qual as

fronteiras das categorias são definidas, descrito pelo subsistema de Foco.

Segundo Martin e White (2005:137), o aspecto da prototipicalidade (foco) é

aplicado a categorias que, de um ponto de vista experiencial, não variam em escala, como

nos exemplos abaixo:

Eles não tocam jazz de verdade

Eles tocam algo parecido com jazz

Os aspectos de intensificação e quantificação (Martin e White, 2005:140) descritos

no subsistema de força, operam sobre: quantidades, por exemplo: extremamente idiota;

processos, por exemplo: atrapalhou muito; e modais, por exemplo: altamente provável.

O sistema de Avaliatividade proposto por Martin e White, dessa forma, oferece um

amplo instrumental sistêmico para a análise da avaliação e um ponto de referência para

futuras pesquisas em avaliação, como indicado em Martin e White (2005:46).

1.7.3. Considerações sobre os estudos de avaliação e avaliatividade

Nas seções anteriores, foram mostradas várias formas pelas quais o falante pode

expressar a sua atitude nos textos. Este trabalho considera que todas as escolhas léxico-

gramaticais no texto refletem de alguma forma a atitude do falante, porque, pelo

relacionamento entre texto e contexto, qualquer combinação específica das escolhas

lingüísticas ideacionais, interpessoais e textuais no texto pode afetar o contexto de

situação, incluindo as variáveis de relações (tenor). Essa posição está em consonância com

a visão de Stubbs, citada em Martin e White (2005:92) de que todos os enunciados trazem,

de alguma maneira, a postura ou atitudes do falante.

Comparando os conceitos propostos por Hunston com os de Martin e White e as

análises feitas com base nesses conceitos, parece haver uma grande complementaridade

entre esses dois sistemas. Enquanto Martin e White analisam a interoperação dos sistemas

de Avaliatividade no texto e sua relação com o contexto (Martin e White, 2005:210), o

conceito de Status de Hunston permite interpretar instâncias específicas de avaliação no

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I. Fundamentação teórica

67

texto conforme a identidade da entidade que está sendo avaliada, em uma intertextualidade

compartilhada com o leitor.

Enquanto Hunston dá prioridade à base que fundamenta a avaliação em suas

análises (2000:196), Martin e White dão prioridade à categorização das atitudes nos

subsistemas de Afeto, Apreciação e Julgamento. Por essa complementaridade, podemos

usar as bases utilizadas na avaliação para estabelecer categorias de Avaliatividade

(constituindo-se em um rationale para essas categorias), relacionando, assim, as bases para

a avaliação às vozes do sistema de heteroglossia.

Outra complementaridade entre os sistemas de Martin e Hunston parece ser o modo

como a avaliação é construída ao longo do texto. Enquanto Martin privilegia a construção

prosódica, Hunston parece propor a construção do valor ao longo do texto, por relações

lógicas, na qual o valor de uma proposição depende do que é avaliado em outras

proposições. As principais características consideradas complementares na análise estão

resumidas no quadro 11.

Hunston Martin Avaliação de Status e Valor nos planos interativo

e autônomo

Análise pelas bases que fundamentam a avaliação

Atribuição de Valor (interativo) por outras

proposições no texto

Avaliatividade, pelos sistemas de Atitude,

Engajamento e Gradação.

Significados que expressam Atitudes de Afeto,

Apreciação e Julgamento.

Atitudes inscritas e evocadas

Realização prosódica da avaliação

Quadro 11. Comparação entre Hunston e Martin

Como o objetivo desse trabalho é identificar os conjuntos de valores que afetam as

escolhas dos falantes, escolhi fazer a análise em dois passos: em primeiro lugar,

identificando as avaliações conforme as categorias do sistema de Avaliatividade; em

seguida, analisando as bases para as avaliações e os modos como as avaliações são

construídas no texto, uma abordagem que se provou útil nas análises feitas nessa pesquisa.

A segunda parte deste capítulo trata das teorias não lingüísticas que baseiam este

trabalho, das áreas de marketing e comunicação.

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I. Fundamentação teórica

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1.7. As empresas e o mercado

Com relação às interações das empresas com o mercado, podemos ver, segundo

Torquato (1986:14), a empresa como um sistema aberto organizado, formado pelas

relações entre seus componentes internos e relações com os diversos elementos do meio

ambiente:

Como sistema, a empresa possui limites definidos, de um lado, pelos componentes

administrativos necessários à geração de bens e serviços, de outro, recebe influências do

meio ambiente, podendo-se aduzir, por inferência, que uma empresa não é apenas

resultante de componentes concretos do micro-sistema organizacional, mas é conseqüência

de forças, pressões, recursos e situações, nem sempre fáceis de se detectar, presentes no

corpo social. Quando se organiza, pois, uma empresa, na verdade, o que está-se

organizando são seus circuitos internos e externos, ajustando-os e promovendo seu

intercâmbio com outros sistemas. (Torquato, 1986:14)

Kotler (1990:49) criou um sistema de marketing onde podem ser encontrados

diversos elementos além da organização e seu mercado consumidor que interagem entre si

em um sistema de marketing, definido como “um conjunto de instituições e fluxos

significativos que liga as organizações aos seus mercados.” (:48). Nesse sistema, podemos

ver vários elementos além das empresas, seus clientes e concorrentes, como os

fornecedores de produtos e serviços, os intermediários de marketing (responsáveis pelas

funções de procura de mercados, distribuição física, comunicação, e outras), que fazem

parte do sistema central de marketing. O sistema de marketing, assim, descreve toda “a

rede de instituições-chave que interagem a fim de suprir os mercados finais com os bens e

serviços de que necessitam” (Kotler, 1990:50).

Além desse sistema central, existem outros elementos a serem considerados pela

empresa, como os diversos públicos, que podem ser definidos como grupos distintos que

possuam um interesse ou cause um impacto real ou potencial em uma organização (Kotler,

1990:50), como a comunidade financeira, a mídia de massa e, até mesmo, grupos de

consumidores que possam ter se reunido para boicotar a empresa. Dessa forma, em seus

planos de marketing, as empresas também têm de considerar as variáveis não-controláveis

do macroambiente, como as características demográficas da população, economia, leis,

tecnologia e cultura. Os elementos desse mercado podem também, segundo Lewis

(1990:01), formar alianças entre si para atingir objetivos comuns; dessa forma, as empresas

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I. Fundamentação teórica

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podem firmar parcerias com seus fornecedores, clientes, agências governamentais, mídia e

quaisquer outros participantes do sistema de marketing.

Um modelo simplificado de sistema de marketing é representado na figura 9:

Figura 9. Elementos do sistema de marketing da empresa e do meio ambiente (Kotler, 1990:50)

1.9. O mercado de telecomunicações no Brasil

O setor de telecomunicações está relacionado aos sistemas de transmissão e

recepção de informações por voz (como a conversação na telefonia fixa e celular ou a

transmissão de programas de rádio, por exemplo), dados (como, por exemplo nos sistemas

de troca eletrônica de dados usados no comércio, indústria e finanças, ou ainda a Internet)

ou imagens e voz (programas transmitidos na TV via satélite e TV a cabo). Esses sistemas

permitem a comunicação ponto a ponto entre uma pessoa ou rede de computação a outra

(como na telefonia e alguns sistemas de transmissão de dados) ou de um ponto a vários

outros pontos (como, por exemplo, na difusão de TV e rádio).

A indústria das telecomunicações passou por profundas mudanças a partir da

década de 80, principalmente quanto às inovações tecnológicas (Coutinho, Cassiolato e

Silva, 1995:13; Siqueira, 2000:122), que trouxeram a maior diversidade dos produtos para

diversos tipos de clientes. Existem, por exemplo, sistemas públicos de telefonia fixa que

atendem o público geral e a comunicação entre grupos específicos, como é o caso da

comunicação organizacional, que ocorre dentro de organizações formalmente estruturadas

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70

(Straubhaar e LaRose, 2004:8-10), que têm condições de ter suas próprias redes privadas

de voz e dados.

No Brasil, até a década de 60 os serviços de telecomunicações eram prestados por

centenas de pequenas concessionárias municipais, estaduais e privadas. Esse cenário foi

alterado inicialmente pelo Código Brasileiro de Telecomunicações criado pela Lei Federal

4.117/65 (Coutinho, Cassiolato e Silva, 1995:103), que implementou diretrizes para o setor

de comunicações, a coordenação da expansão das redes e serviços e a implementação da

Tele_A como responsável pelas comunicações de voz e dados nacionais e internacionais.

Em 72, foi criado o Grupo Telebrás, uma holding que incorporou as concessionárias

existentes em subsidiárias estaduais (Siqueira, 2000: 107), como por exemplo a Telesp em

São Paulo, a Telerj no Rio de Janeiro e a Telemig em Minas Gerais.

O mercado brasileiro sofreu alterações fundamentais a partir da privatização. A

Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) foi instalada em 1997, sob a Lei Geral de

Telecomunicações (LGT) - a Lei nº 9.472/1997, para viabilizar o atual modelo das

telecomunicações brasileiras e exercer as atribuições de outorgar, regulamentar e fiscalizar

esse setor, “com o objetivo de combinar o investimento privado com a garantia de

universalização e continuidade dos serviços, cidadania e desenvolvimento econômico e

social, com a ação regulatória do poder público no tocante ao regime de tarifas e à

concorrência efetiva” (Ramires, 2004:9).

A Anatel foi responsável por preparar todos os regulamentos que balizaram a

privatização das empresas estatais e desenvolver o esforço de regulação8. Com a

desregulamentação do mercado brasileiro de telecomunicações e o final do monopólio

estatal nessa área, o território brasileiro ficou dividido em quatro regiões geográficas:

Região I: Nordeste, Sudeste (exceto São Paulo) e Norte (exceto AC, RO e TO); Região II:

Centro-Oeste, Sul e Estados do AC, RO e TO; Região III: São Paulo; e Região IV: Todo

o Brasil.

O setor foi dividido em 12 holdings no leilão do sistema Telebrás realizado em

julho de 1998: três de telefonia fixa local e de longa distância com atuação regional, uma

de telefonia fixa de longa distância nacional e internacional e oito de telefonia móvel,

prevendo a existência de operadoras "espelho", que concorreriam com as operadoras

8 Informações coletadas no site da agência, em http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do#

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locais. Atualmente, há grupos que detêm o controle de operadoras de telefonia fixa e de

telefonia móvel.

Outro fator que afetou o mercado de telecomunicações foi o maior controle das

atividades das empresas e a maior proteção aos direitos do consumidor, com a criação do

Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990), que

estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse

social. Em São Paulo, área de atuação das empresas analisadas, existe o Procon - Fundação

de Proteção e Defesa do Consumidor – que tem por objetivo elaborar e executar a política

de proteção e defesa dos consumidores do Estado de São Paulo 9.

A proteção do mercado pelo poder público também é exercida pelo CADE -

Conselho Administrativo de Defesa Econômica - criado em 1962 e transformado, em 1994,

em Autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, tem suas atribuições previstas na Lei nº

8.884, de 11 de junho de 1994. Conforme informações fornecidas no site do CADE 10

, ele

tem “a finalidade de orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econômico,

exercendo papel tutelador da prevenção e repressão do mesmo”. O CADE atua de maneira

preventiva, analisando “fusões, incorporações e associações de qualquer espécie entre

agentes econômicos”, e repressiva, impedindo “práticas infrativas à ordem econômica, tais

como: cartéis, vendas casadas, preços predatórios, acordos de exclusividade, dentre

outras”.

1.10. A comunicação empresarial, os press releases e as notícias

Segundo Torquato (1986:16), o equilíbrio entre todos os elementos que interagem

com a empresa é obtido por um processo de comunicação entre três grandes sistemas, o

sistema sócio-político (valores globais e políticas de meio ambiente), o sistema econômico

industrial (as leis do mercado) e o sistema inerente ao microclima interno das organizações

(normas e políticas necessárias às operações industriais). Dessa maneira, a comunicação

(:17) “intermedeia o discurso organizacional, ajusta interesses, controla os participantes

internos e externos, promove, enfim, maior aceitabilidade da ideologia empresarial”, sendo

fundamental na organização da empresa.

Torquato (1986:129) ressalta a importância do uso dos canais jornalísticos para

veicular notícias relacionadas à empresa, colocando os canais jornalísticos como os mais

9 Informações coletadas no site do Procon, em http://www.procon.sp.gov.br/

10 Informações coletadas no site do CADE, em http://www.cade.gov.br/

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apropriados para a comunicação da empresa com a comunidade. Diferentemente da

publicidade institucional, que exalta os méritos da empresa, e da propaganda, que muitas

vezes cria uma imagem artificial e parcial da empresa, a notícia empresarial pretende

atingir esses objetivos pela informação, mesmo que essa informação seja apresentada

explicitamente de uma forma persuasiva.

Em Kopplin e Ferrareto (1996:75), é destacado o papel dos press releases nesse

esforço de comunicação. Produzidos por uma assessoria de imprensa e destinados aos

veículos de comunicação, esses materiais têm como função básica "levar às redações

notícias que possam servir de apoio, atração ou pauta, propiciando solicitações de

entrevistas ou de informações complementares". Assim, "o gênero fundamental do release

é o informativo, por enfatizar o fato em seu estado puro, limitando-se à descrição de seus

aspectos principais" (1996:98), estando a interpretação dos fatos a cargo do jornalista do

veículo de comunicação. Isso implica que no press release, a empresa não tem o poder de

determinar como as informações serão utilizadas pelo veículo de comunicação, que pode

incluir na notícia informações de outras fontes ou interpretar as informações fornecidas de

uma forma desfavorável à empresa.

Essa dependência do julgamento do jornalista (ou da pessoa que tenha o poder de

decisão no veículo de comunicação) sobre o interesse jornalístico e a conseqüente

divulgação das informações fornecidas coloca o press release como um material

especialmente adequado a esta pesquisa, pois, entre outras características: (i) as

informações divulgadas devem criar uma imagem positiva da empresa e, ao mesmo tempo,

ter interesse para a comunidade e (ii) em condições normais, a empresa não tem poder de

determinar quais serão as informações e as opiniões presentes no texto final.

Bell (1991:58) cita o press release como um dos tipos de fonte de informação

utilizados pelos jornalistas; dessa forma, notícias e press releases podem ser vistos como

dois elementos distintos de uma cadeia de eventos comunicativos (Fairclough, 1995:37),

na qual um evento comunicativo recontextualiza os outros (1995:41), por exemplo, pela

representação de falas de indivíduos ou instituições na notícia.

Fowler (1991:20) destaca que “a publicação de um jornal é um negócio e uma

indústria, com local definido na economia da nação e do mundo”. Dessa maneira, as

atividades da imprensa e o jornal publicado são afetados por fatores decorrentes da atuação

das empresas jornalísticas no mundo, como a necessidade de lucros e o relacionamento

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com outros agentes sociais; por exemplo, empresas de outras indústrias, agentes

financeiros, órgãos públicos e os leitores.

Essas relações com outros agentes da sociedade determinarão a seleção dos eventos

e tópicos que terão interesse jornalístico para serem publicados e também as maneiras

como os eventos serão representados. Para Fowler (1991:13), as notícias não são

simplesmente algo que acontece, mas o que pode ser considerado ou apresentado como

tendo “valor de notícia” (newsworthiness), segundo um conjunto de critérios que

compreende fatores como a referência a pessoas e países de elite, proximidade cultural e

impacto, entre outros.

Fowler (1991:21) afirma que, como os jornais precisam ser escritos e produzidos

com muita rapidez, os jornalistas precisam ter estratégias de coleta de notícias,

selecionando determinados tipos de fontes que são monitoradas consistentemente, entre as

quais órgãos públicos e organizações ou indivíduos que emitem declarações ou que fazem

entrevistas coletivas, principalmente as fontes com autoridade oficial e/ou poder financeiro

(1991:22).

Para Bell (1991:38), os jornalistas preferem trabalhar com fontes escritas que já

estejam em um estilo apropriado, que exijam um mínimo de retrabalho: as cópias de

agências noticiosas, os press releases e histórias anteriores sobre o mesmo tópico. Os press

releases, que segundo Bell são “abertamente desdenhados, mas muito usados pelos que

trabalham em jornais”, se bem escritos podem ter uma boa chance de serem publicados em

grande parte intactos. Para Bell (:39), a pouca necessidade de edição por parte do jornalista

constitui-se em um dos principais fatores para a escolha da notícia para a publicação.

Dentre as principais formas de edição, Bell (1991:70) destaca a eliminação de informações,

seja de modificadores de grupos nominais, sentenças inteiras ou, com menor freqüência, de

palavras individuais, as substituições lexicais e as alterações em estruturas sintáticas,

tipicamente exigidas após a retirada de informações do texto.

A relação entre press releases e notícias tem sido objeto de pesquisas em estudos de

gênero, como os realizados por Bell (1991), que afirma a importância dos press releases na

construção das notícias, sendo identificada por Strobbe e Jacobs (2005:289) uma

formulação prévia dos press releases, que imitariam as características típicas das notícias

para facilitar a cópia das informações. Em Strobbe e Jacobs (2005:291) é feita uma

comparação entre os press releases publicados pela Internet, como os analisados nesta

pesquisa, com press releases tradicionais, chegando à conclusão que o fato desses

Page 74: 22 09 08_mauro

I. Fundamentação teórica

74

materiais poderem ser vistos diretamente pelos consumidores provocou uma mudança

radical nas características dos press releases. Dessa maneira, esses e-releases passaram a

combinar a formulação de press releases tradicionais com recursos promocionais

encontrados em outros materiais publicitários, como a auto-referência e citação da própria

empresa em terceira pessoa e o uso de imperativos.

Como resultado dessa mudança, os press releases publicados pela Internet

ultrapassaram o seu objetivo original de levar notícias às redações, tendo contato direto

com os clientes e constituindo-se em materiais promocionais por seu próprio mérito. O uso

da Internet como canal de comunicação dos press releases colocaria esses materiais

potencialmente à disposição de todos os elementos do sistema de marketing, que assim

passam a ser leitores diretamente dos press releases da empresa.

As teorias de marketing e comunicação, além do histórico do mercado de

telecomunicações no Brasil nos dão uma visão do contexto de uso dos materiais, utilizada

na interpretação dos resultados. A seguir, passamos para o próximo capítulo, que apresenta

a metodologia de análise seguida neste trabalho.

Page 75: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

75

II. Metodologia de pesquisa

Este capítulo de metodologia descreve o corpus de pesquisa e apresenta os

procedimentos de coleta e organização dos dados, os instrumentos utilizados e os

procedimentos seguidos na análise dos dados. A metodologia foi definida com base no

objetivo da pesquisa de analisar as formas pelas quais as empresas expressam avaliações

de suas atividades, por meio de uma comparação entre as representações das atividades

expressas nos press releases das empresas com as representações das mesmas

atividades expressas nas notícias de um jornal on-line.

Os procedimentos descritos neste capítulo são baseados no conceito de natureza

probabilística da linguagem, (Halliday, 1991:45), que pressupõe variações nas

freqüências de ocorrência dos padrões lingüísticos conforme o contexto de uso da

linguagem, e os estudos de padrões lingüísticos em gêneros específicos, relacionados

aos estudos de corpora pequenos (Ghadessy, Henry e Roseberry, 2001) que, segundo

Sinclair (2001:xi), são mais adequados à investigação das características de gêneros

específicos, “diferentemente dos estudos que analisam corpora de maiores dimensões,

nos quais os pesquisadores procuram encontrar informações sobre a linguagem de

forma geral”.

As análises dos resultados, apresentada no próximo capítulo, consideram as

empresa e o jornal como os escritores dos press releases e notícias respectivamente,

independentemente de quem tenha fisicamente escrito os textos, conforme o conceito de

escritor-no-texto, que é o sujeito do discurso identificado como o responsável pelo texto

(Thompson e Thetela, 1995:110; Ramos, 1997:48). Além disso, o termo interactantes

será utilizado como referência aos escritores-no-texto (as empresas Tele_A e Tele_B e o

jornal Jornal_A) e aos leitores potenciais dos textos. O termo participante será

utilizado como referência aos participantes do sistema ideacional, o que pode incluir

pessoas e entidades conscientes ou não conscientes, abstrações materiais e semióticas, e

outros tipos de participantes, como descrito em Halliday e Matthiessen (1999:60). As

atividades descritas nos textos serão alternativamente referidas pelo termo “tópico”,

definido por Ramos (1997:77), como “aquilo que o texto trata”.

Page 76: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

76

2.1. Descrição das empresas

Esta seção traz um breve histórico das empresas e do jornal que publicaram os

press releases e as notícias analisados, seguindo a visão de Biber (1995:33), pela qual a

descrição da situação é fundamental para a análise da linguagem em uso. O motivo para

a decisão de analisar duas empresas foi ter uma base de dados maior e mais

diversificada para a análise, pois, apesar de as duas empresas atuarem no mesmo

mercado, elas têm históricos diferentes e formas de atuação diferentes, o que nos

permite comparar as avaliações feitas entre uma empresa e o jornal em um maior

espectro de atividades.

A escolha das empresas e do jornal foi baseada em eles estarem entre os maiores

do mercado em suas respectivas áreas, por seus respectivos históricos e pela mesma área

de atuação principal, que é o Estado mais desenvolvido e populoso do Brasil, segundo

dados do IBGE/2005.

A Tele_A está há 40 anos no mercado brasileiro de telecomunicações. Antes da

privatização, era a empresa responsável pelas ligações de longa distância nacionais,

transmissão de dados via fibras ópticas e via satélite em todo o território nacional;

atualmente, tem autorização para atuar no mercado de telefonia local, sendo uma nova

participante no mercado de São Paulo e outros Estados. Tem empresas subsidiárias na

área de call center, uma provedora de acesso gratuito à Internet e uma empresa que

opera o maior sistema de satélites da América do Sul.

A Tele_B assumiu as operações de telefonia na Região III após a privatização e,

conseqüentemente, o controle da planta de cabos de telefonia fixa instalada no Estado

de São Paulo. A Tele_B também obteve autorização para concorrer no mercado de

telefonia local em outros Estados. Além da telefonia fixa, telefonia celular e telefonia de

longa distância nacional e internacional, a empresa oferece outros serviços, como um

serviço de conexão rápida à Internet que lidera o mercado de internet rápida no país,

duas das maiores operações do país em internet, serviços de call center e contact center.

O Jornal_A, que publicou as notícias analisadas nesta pesquisa, pertence ao

grupo que publica o jornal impresso de maior circulação do Brasil. Esse jornal foi o

primeiro veículo de comunicação do Brasil a oferecer conteúdo on-line a seus leitores,

proporcionando acesso pela Internet aos conteúdos das edições impressas e online. O

conteúdo do Jornal_A é de livre acesso aos assinantes do maior provedor Internet do

Page 77: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

77

Brasil em número de assinantes, o que coloca as notícias analisadas nesse trabalho ao

alcance de um grande público.11

2.2. Procedimentos de coleta e organização dos dados

O corpus analisado nesta pesquisa é composto por dois subcorpora, um para a

análise da Tele_A e o outro, da Tele_B. Esses subcorpora são formados por pares de

textos, onde cada par é formado por um press release da empresa e uma notícia do

jornal on-line sobre uma mesma atividade da empresa. Dessa maneira, foram criadas

inicialmente quatro pastas separadas de arquivos: uma para os press releases da Tele_A,

outra para os press releases da Tele_B, uma terceira pasta para notícias sobre a Tele_A

e a última, para notícias sobre a Tele_B.

O uso de pares de press releases e notícias em vez da comparação de dois

corpora, um com todos os press releases da empresa e o outro com todas as notícias

sobre a empresa no período, permitiu comparar individualmente os recursos léxico-

gramaticais usados para descrever cada tópico. Essa comparação individual foi

considerada necessária devido a dois fatores: o fato de uma palavra poder ter

significados diferentes em contextos diferentes e a diversidade dos recursos léxico-

gramaticais que podem ser usados para realizar tanto os significados ideacionais,

relacionados à descrição da experiência humana, quanto os recursos avaliativos,

conforme os conceitos teóricos apresentados na fundamentação teórica deste trabalho.

O primeiro passo para a formação do corpus foi a criação de uma base de dados

de apoio, formada pelos títulos dos press releases emitidos pelas duas empresas nos

anos de 2003 a 2005. Os títulos dos press releases foram encontrados nas páginas web

das empresas, em seções acessadas a partir da página principal pelos links “Sala de

Imprensa” (Tele_A) e “Imprensa” (Tele_B). No período entre o início de 2003 e o final

de 2005, foram encontrados nos sites das empresas, coincidentemente, 339 press

releases emitidos pela Tele_B e 339 press releases emitidos pela Tele_A.

Essa base de dados foi utilizada como referência na busca das notícias

correspondentes aos press releases pelo mecanismo de busca oferecido no site do jornal

online. Em seguida, foram formados dois arquivos com os títulos encontrados e, com o

auxílio da ferramenta Wordlist do aplicativo Wordsmith Tools (Scott, 2004), descrito

11

Informações coletadas nas páginas das empresas na Internet.

Page 78: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

78

em mais detalhes a seguir neste capítulo, foram criadas duas listas de palavras, uma para

cada empresa, com base nesses títulos. Essas palavras foram usadas como uma

indicação dos termos a serem usados nos mecanismos de busca do jornal on-line para se

encontrar as notícias que poderiam corresponder aos press releases.

Como resultado desse procedimento de busca, no site do Jornal_A, foram

encontradas, coincidentemente, 27 notícias sobre a Tele_A e 27 notícias sobre a Tele_B

que atendiam os critérios estabelecidos para a formação do corpus, que foram a

atividade social na qual a empresa esteve envolvida e a proximidade de datas de

publicação do press release e da notícia. Deve-se destacar que uma das notícias

analisadas nas fases iniciais desta pesquisa descrevia tópicos publicados em dois press

releases publicados na mesma data. Para evitar que a comparação de uma notícia com

dois press releases pudesse afetar a consistência dos resultados, esse vigésimo oitavo

“par” formado por dois press releases e uma notícia foi excluído do corpus. Isso

porque, por questões de tempo, não consegui argumentos nem para defender o uso dos

dois press releases como um único texto na análise e nem a análise separada dos textos,

criando dois pares com uma mesma notícia.

2.3. Descrição do corpus

Os dados relativos ao tamanho do corpus coletado estão apresentados

resumidamente no quadro 12, expressos em quantidades de press releases ou notícias

encontradas em cada faixa de quantidade de palavras, para facilitar a visualização.

Número de

palavras

Press releases

da Tele_A

Press releases

da Tele_B

Notícias da

Tele_A no

Jornal_A

Notícias da

Tele_B no

Jornal_A

Abaixo de 100 1 - - -

100 – 200 4 1 11 11

201 – 300 7 7 10 10

301 – 400 6 8 1 4

401 – 500 3 5 5 1

501 – 600 - 4 - 1

Acima de 601 6 2 - -

Menor texto

(palavras)

78 183 111 109

Maior texto

(palavras)

2.401 700 474 509

Tamanho total

(palavras)

12.437 10.430 6.508 6.312

Quadro 12. Tamanho do corpus (em número de textos vs. quantidade de palavras)

Page 79: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

79

Conforme mostrado no quadro 12, o jornal usou quantidades de palavras

aproximadamente iguais nas notícias publicadas sobre as duas empresas, em sua

maioria entre 100 e 300 palavras. Foi observado também que a maioria dos press

releases tem um número de palavras maior do que o de sua notícia correspondente. Em

apenas 8 dos 27 pares da Tele_A e em 3 dos 27 pares da Tele_B a notícia tem mais

palavras do que o press release, o que a análise mostrou indicar a inclusão de

informações de outras fontes.

No quadro, podemos ver, por exemplo, que 11 das notícias sobre a Tele_A no

Jornal_A têm entre 100 e 200 palavras e que 5 dessas notícias têm entre 401 e 500

palavras. Esse quadro mostra também os números máximos e mínimos de palavras

encontrados nos textos; por exemplo, podemos ver que a notícia menos extensa sobre a

Tele_A tem 111 palavras, e a mais extensa, 474 palavras. Os números absolutos de

palavras de cada par podem ser encontrados no Anexo II – Quantidades de palavras.

No corpus analisado, foram encontrados textos sobre diversas atividades em que

as empresas estão envolvidas. Nessas atividades, as empresas atuam na sociedade de

várias formas: a oferta de produtos aos clientes, patrocínios das Empresas a eventos

culturais dirigidos a públicos gerais ou específicos, ações internas à Empresa dirigidas

aos seus funcionários, fornecedores e empresas subsidiárias, ações que envolvem

agências reguladoras e a publicação de balanços financeiros. Os números de pares de

textos que descrevem cada uma das atividades das empresas, juntamente com a

identificação desses pares, são mostrados no quadro 13.

Atividade Tele_A Tele_B

Produtos 8 pares (pares 1, 2, 9, 10, 15, 17, 24 e 27)

18 pares (pares 2, 3, 4, 6, 7, 9, 10, 12, 14,

15, 17, 18, 21, 23, 23, 25, 26 e 27)

Agências reguladoras 7 pares (pares 4, 13, 18, 19, 20, 21 e 22)

1 par (par 1)

Patrocínio 4 pares (pares 3, 14, 25 e 26)

4 pares (pares 8, 11, 13 e 19)

Ações internas 6 pares (pares 5, 6, 8, 12, 16 e 23)

-

Divulgação de balanços 2 pares (pares 7 e 11)

4 pares (pares 5, 16, 20, 24)

Total 27 27

Quadro 13. Atividades descritas nos press releases e notícias por Empresa

Nas atividades relacionadas aos produtos, a Empresa fornece produtos e serviços

a clientes e recebe pagamento por eles. Nas atividades relacionadas ao patrocínio, como

Page 80: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

80

afirmado por um executivo do setor, a Empresa apóia atividades culturais sem receber

pagamento, em troca da divulgação de sua marca:

“Os megashows têm sempre um patrocinador, principalmente fabricantes de aparelhos

ou operadoras. Isso já é uma direção de estratégia para a faixa etária de consumo. Da

mesma forma, há segmentos patrocinando eventos teatrais. Ali, no fundo, ela não está

fazendo aquilo por vontade de fazer promoção cultural. Está ligando sua marca ao

evento, porque aquele público lhe interessa.” Juarez Quadros, ex-ministro das

Comunicações e sócio da Orion Consultores Associados. (Revista BITES, Ano 1 – Ed. 3,

pg. 14)

As ações internas são aqui definidas como as ações executadas pela empresa que

afetam a sua própria estrutura interna, como a compra de empresas, trocas de executivos

e investimentos realizados. As relações com as agências reguladoras visam

principalmente regular as relações entre a empresa, seus concorrentes e os seus clientes.

A divulgação periódica dos balanços financeiros é uma obrigação legal imposta às

sociedades anônimas no Brasil pela Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976, que dispõe

sobre as sociedades por ações, conforme o Art. 275, Seção IV e o Art. 289, em redação

dada pela Lei no 9.457 de 1997, que obriga as empresas a publicarem os resultados “no

órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito Federal, conforme o lugar em que

esteja situada a sede da companhia, e em outro jornal de grande circulação editado na

localidade em que está situada a sede da companhia.”

A principal diferença indicada no quadro acima é o maior número de pares de

textos da Tele_B sobre produtos e um maior número de pares de textos da Tele_A sobre

ações legais contra os concorrentes e ações dirigidas à própria Empresa. Essa diferença

pode ser atribuída ao fato de a Tele_A ser uma empresa que começou a concorrer com

as operadoras de telefonia fixa já estabelecidas em vários estados a partir de 2002; além

disso, a Tele_A também passou por várias reestruturações internas, que incluíram a

venda da empresa pela controladora que a adquiriu no leilão da Telebrás.

As próximas seções apresentam os procedimentos seguidos na análise do corpus.

Essa apresentação compreende a descrição dos instrumentos de análise e dos

procedimentos seguidos na análise dos resultados.

Page 81: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

81

2.4. Metodologia de análise

Os procedimentos de análise descritos a seguir tiveram como objetivo identificar

as diferenças de posicionamento entre as empresas e o jornal ao descrever uma mesma

atividade. Como discutido na fundamentação teórica, essas diferenças podem ocorrer

pela inclusão/exclusão de participantes, das características e ações desses participantes,

e também pela inclusão/exclusão de itens avaliativos explícitos. Para identificar os

valores que baseiam os posicionamentos do jornal e das empresas, esta pesquisa utilizou

uma abordagem baseada em corpus, com o intuito de identificar conjuntos de valores

utilizados consistentemente na descrição de diferentes atividades.

2.4.1. Estudos sobre análises computadorizadas

Esta seção tem como objetivo apresentar os estudos que serviram como base

para os procedimentos de análise utilizados nesta pesquisa e justificar o

desenvolvimento de ferramentas específicas para a comparação de pares de textos.

Esses estudos envolvem os recursos disponíveis para a análise auxiliada por

computador, incluindo estudos sobre análises comparativas e estudos sobre a análise da

avaliação realizados com o auxílio desse instrumento.

A análise do corpus foi baseada no aplicativo Wordsmith Tools (Scott, 2004). A

escolha por esse aplicativo foi decidida pelo grande número de funções oferecidas por

ele, reunidas em suas três ferramentas principais, denominadas Wordlist, Concord e

Keywords, além do fato de esse aplicativo ser amplamente utilizado nas pesquisas do

grupo DIRECT, como Ramos (1997), Freitas (1997), Bressane (2000) e Sobhie (2003),

para citar apenas alguns. Os principais instrumentos de análise oferecidos pelo

Wordsmith Tools, conforme relacionado por Berber-Sardinha (2004:87), são:

Wordlist: Listas de palavras individuais, listas de clusters (multipalavras -

conjuntos formados por mais de uma palavra), listas de consistência e

consistência detalhada, além de informações estatísticas.

Concord: Listas de concordância, colocados, agrupamentos lexicais, padrões de

colocados, gráficos de distribuição de palavras.

KeyWords: Listas de palavras-chave, bancos de dados de listas de palavras

chave, palavras chave-chave, palavras-chave associadas, agrupamentos textuais,

gráficos de distribuição de palavras-chave e listas de elos entre palavras-chave.

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II. Metodologia de pesquisa

82

Os instrumentos de análise oferecidos pelas listas da ferramenta Wordlist

identificam a freqüência de ocorrência de todas as palavras do corpus, em valores

absolutos e relativos ao tamanho do corpus, oferecendo também a possibilidade de

comparação entre duas listas de palavras diferentes (listas de consistência). As listas de

palavras criadas também fornecem informações importantes para a caracterização do

corpus, como o número total de palavras (tokens) e o número de palavras diferentes

(types).

Já os instrumentos de análise oferecidos pelas listas da ferramenta KeyWords

trabalham com o conceito de palavras-chave. Palavras chave são palavras identificadas

por uma relação entre as freqüências de ocorrência dessa palavra no corpus de estudo e

no corpus de referência, que é um corpus de dimensões muito maiores do que o corpus

analisado, formado por textos de muitos gêneros diferentes (Berber-Sardinha, 2004:100-

101).

Finalmente, os instrumentos oferecidos pela ferramenta Concord permitem a

análise do uso da palavra em seu contexto em uma análise das colocações (palavras

próximas à palavra analisada, dentro de um horizonte definido pelo analista, cf. Collins

e Scott, 1997:186), na qual o analista pode observar as estruturas gramaticais nas quais

as palavras são utilizadas e identificar padrões gramaticais, como no estudo de Hunston

(2006). Conforme apontado por Collins e Scott (1997:187), a análise combinada do

aboutness em ampla escala no texto, identificado pelo conjunto de palavras-chave, e,

em escala mais localizada, pelos links de colocação, apresenta ao analista um panorama

topical do texto analisado.

Em um levantamento das ferramentas disponíveis para a comparação entre

corpora, foi observado que essa comparação pode ser baseada nos conceitos de

freqüência e consistência dos itens lexicais. O estudo utilizado como base para a criação

dos instrumentos de análise desta pesquisa foi uma análise de um corpus de textos

pequenos, composto por 18 relatórios de empresas de Scott (2001:57), que propõe

utilizar os conceitos de consistência, chavicidade e consistência significativa, descritos a

seguir:

A consistência é uma característica de freqüência de um corpus que mostra a

relação entre o número de textos do corpus que contêm uma determinada palavra

e o número total de textos do corpus, expresso em porcentagem. (2001:58)

Page 83: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

83

A chavicidade é um índice numérico que compara as freqüências de ocorrência

de uma palavra em um corpus de estudo e em um corpus de referência. Esse

valor é encontrado pela fórmula de log-likelihood, que, na comparação entre o

corpus de estudo e um corpus de referência, “funciona bem com amostras de

textos grandes e pequenas e permite a comparação direta da significância de

fenômenos raros e comuns” (Dunning, 1993:2).

A consistência significativa é uma característica da freqüência de ocorrência de

uma palavra em um corpus. Segundo as listas de consistência apresentadas por

Scott (2001: 60-61), essa característica é baseada no índice de chavicidade da

palavra em todo o corpus, não considerando o número de textos em que a

palavra ocorre.

Berber-Sardinha (1999:2) criou os conceitos de palavras chave exclusivas e

palavras chave compartilhadas, com o intuito de auxiliar os analistas a fazer recortes

em suas listas de palavras chave. As palavras chave exclusivas são as palavras chave de

um corpus que não são encontradas em outros corpora de estudo, enquanto que as

palavras chave compartilhadas seriam as palavras chave encontradas em mais de uma

lista de palavras chave. Dessa maneira, pela comparação entre uma lista de palavras

chave e as listas de palavras chave oferecidas por seu banco de palavras chave, o

analista poderia identificar as palavras chave exclusivas de seu corpus de estudo.

Com relação à análise da avaliatividade baseada em corpus com o auxílio do

computador, Kaltenbacher (2006:274-275) aponta a variedade de palavras que podem

ser usadas para expressar a avaliação inscrita e o significado implícito em trechos de

texto da avaliação invocada como problemas para definir os termos de busca a serem

usados na análise da avaliatividade por listas de concordância em um corpus.

Kaltenbacker sugeriu algumas estratégias para a análise da avaliatividade,

embora reconheça que mesmo o uso conjunto de todas essas estratégias pode não

capturar todas as avaliações presentes no corpus. Essas estratégias envolvem prever as

palavras de busca que expressariam itens avaliativos e participantes avaliados no

registro analisado, procurar avaliações nas proximidades de itens avaliativos já

identificados, analisar as avaliações presentes em uma amostra de texto e depois usar os

resultados para analisar todo o corpus e, finalmente, usar listas de freqüência para

encontrar itens potencialmente avaliativos.

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II. Metodologia de pesquisa

84

Os motivos para o desenvolvimento de procedimentos específicos para esta

pesquisa, que levaram à não utilização do conceito de consistência significativa

proposto por Scott e nem das análises sugeridas por Kaltenbacker, são decorrentes dos

objetivos desta pesquisa, de analisar se os valores envolvidos nos posicionamentos da

empresa e do jornal poderiam ser identificados por diferenças recorrentes nos recursos

léxico-gramaticais usados nas descrições dos tópicos. Outras abordagens de análise de

avaliatividade baseada em corpus estudam fraseologias de palavras e expressões

específicas, como Hunston (2006) e Miller (2006), que não são adequadas para análises

de textos inteiros, como a feita nesta pesquisa.

2.4.2. A abordagem usada nesta pesquisa

A abordagem desenvolvida especificamente para os fins desta pesquisa resultou

de duas particularidades. A primeira é a abordagem da análise da avaliação pela

comparação entre gêneros diferentes, que visa identificar a exclusão ou inclusão de

participantes e as relações entre participantes na descrição de uma determinada

atividade. Dessa maneira, foi privilegiada inicialmente na análise a presença ou

ausência do item lexical no texto em vez da freqüência de ocorrência deste item no

texto. Essa particularidade está relacionada à necessidade de comparar o significado na

palavra nas descrições de cada tópico, em consonância com a visão de Hunston

(2001:13), pela qual os padrões colocacionais das palavras e frases são dependentes do

contexto de uso, considerando o texto como unidade de análise.

Essa preocupação é baseada na afirmação de Flowerdew (2001:78) que “o léxico

menos especializado pode assumir acepções especializadas em um determinado

contexto, ou seja, palavras de uso geral que assumem significados especiais em uma

determinada área técnica”. Assim, uma palavra como local, que tem um significado

técnico específico quando o tópico se refere à telefonia (serviço prestado na modalidade

local, com o acesso direto dos assinantes ao equipamento de comutação), pode ter um

significado menos específico quando o tópico se referir a um evento patrocinado pela

empresa. É óbvio que o procedimento aqui proposto não elimina totalmente os erros de

comparação decorrentes dos diferentes sentidos que uma palavra possa assumir –

infelizmente, todo procedimento está sujeito a algum tipo de erro – mas a comparação

entre tópicos pode eliminar uma grande parte desses erros, especialmente com o auxílio

das listas de concordância.

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II. Metodologia de pesquisa

85

A abordagem proposta neste trabalho também pode dar conta dos problemas

relacionados à dependência do contexto na interpretação de palavras que se repetem no

corpus por mecanismos de repetição de superordenadas e hiponímia como apontado por

Hoey (1991:70):

Há bases razoáveis para esperar que a repetição possa ser rastreada por computador. Se

houver acesso possível a um lexicon sofisticado, pode ser possível rastrear pelo menos

algumas das paráfrases no texto; este lexicon, poderia também permitir o

reconhecimento de repetição por superordenadas e hiponímias, embora garantir que os

referentes seriam idênticos para os últimos seria presumivelmente impossível. Mas,

como isso depende das propriedades inerentes da palavra (entretanto, essas podem ser,

em princípio, modificadas pelo contexto, a repetição por co-referência seria, a princípio,

impossível de ser automatizada sem o acesso a informações enciclopédicas mantidas

por local e data de composição; em um texto escrito durante os anos 80 na Grã-

Bretanha, Mrs Tatcher e Prime Minister seriam co-referenciais; em um texto similar,

escrito durante os anos 70, Prime Minister poderia co-referencial com qualquer um dos

quatro possíveis, dependendo do ano e mês da composição. (Hoey, 1991:70)

Utilizando na comparação pares de textos sobre o mesmo tópico e datas, que

compartilham o mesmo contexto, teremos uma maior probabilidade de que as mesmas

palavras de conteúdo se refiram aos mesmos participantes e ações. Levando em

consideração na comparação todas as palavras do texto, poderemos analisar palavras

que ocorrem em menor freqüência, que podem ser formas de referência diferentes a um

mesmo participante ou que tenham com esse participante alguma relação de

superordenação ou hiponímia. Assim, as palavras de busca para a análise de

concordância foram identificadas com base nas diferenças mais freqüentes no uso de

padrões léxico-gramaticais entre press releases e notícias, em uma análise individual

das diferenças entre as descrições de cada tópico pela empresa e pelo jornal.

A segunda particularidade desta análise é a diversidade de formas e a natureza

prosódica das realizações da avaliação, com a identificação de diferenças em padrões

léxico-gramaticais que ocorrem com pouca freqüência em um par de textos, mas que

podem ser encontradas na comparação de um grande número de pares. Assim, temos de

levar em consideração as características de realização da avaliação, que pode ser

expressa nos textos por uma variedade de recursos léxico-gramaticais, como, por

exemplo, as diferentes formas de realização do subsistema de Atitude apresentadas por

Martin e White (2005:45).

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II. Metodologia de pesquisa

86

Dessa forma, a abordagem seguida neste trabalho considera que as palavras que

ocorrem uma ou poucas vezes no texto são importantes, pois a avaliação pode ser

realizada por recursos lingüísticos variados, em diferentes níveis da estrutura do texto

ou mesmo em pontos específicos da estrutura do texto, como mostrado na análise de

disjuntos de Thompson e Zhou (2000:121) e de advérbios de Conrad e Biber (2000:56).

Como todos esses aspectos podem implicar em uma possível baixa freqüência do

léxico usado na realização desses aspectos em cada texto, preferi não utilizar o conceito

de palavras chave para identificar as diferenças entre os press releases e as notícias, pois

as palavras chave, cuja utilidade no estudo de aboutness (Philips, 1991:7) foi

demonstrada em vários trabalhos, como os de Collins e Scott (1997) e Ramos (1997),

identificam principalmente as palavras de conteúdo do texto.

Para a análise comparativa dos textos em termos de padrões léxico-gramaticais,

foi necessário criar procedimentos e instrumentos de análise específicos para a

comparação entre um press release e uma notícia de cada par e a consolidação das

diferenças encontradas ao longo de todo um corpus de pares de textos. Para os fins desta

análise, a metodologia utilizada nesta pesquisa propõe analisar a consistência e a

freqüência separadamente, com base nos conceitos de palavras exclusivas e palavras

significativamente exclusivas, descrito na próxima seção.

2.5. Palavras exclusivas e palavras significativamente exclusivas

Considerando as particularidades desta pesquisa relacionadas na seção anterior e

os instrumentos de análise de corpus, cheguei à conclusão que precisaria desenvolver

procedimentos específicos para a análise, que dessem mais importância ao número de

textos em que as palavras ocorrem do que à freqüência total de ocorrência das palavras

em todos os textos do corpus. Para dar conta dessas particularidades, utilizei os

conceitos de palavras exclusivas e palavras significativamente exclusivas que, no

contexto dessa pesquisa, são definidos como mostrado abaixo:

Para um par formado por um press release e uma sua notícia que descrevem

uma mesma atividade:

Page 87: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

87

uma palavra compartilhada será uma palavra que ocorre no press release e na

notícia de um mesmo par;

uma palavra exclusiva do press release será uma palavra que ocorre no press

release e não na notícia correspondente; uma palavra exclusiva da notícia será

uma palavra que ocorre na notícia e não no press release correspondente;

uma palavra significativamente exclusiva será uma palavra que ocorre como

palavra exclusiva, no press release ou na notícia, em um número considerado

significativo de pares.

Dessa forma, para cada comparação de um press release com sua notícia

correspondente haverá uma lista de palavras exclusivas do press release, uma lista de

palavras exclusivas da notícia e uma lista de palavras compartilhadas. As listas de

palavras compartilhadas somente foram usadas nesta pesquisa como parte do

procedimento de montagem dos instrumentos de análise, não sendo usadas na análise

lingüística propriamente dita, que enfocou as diferenças entre os materiais.

O principal critério na identificação das palavras significativamente exclusivas é

o número de textos em que uma palavra ocorreu de forma exclusiva, diferentemente da

comparação entre corpora, que identifica palavras que ocorreram com freqüência

inusitada em todo o corpus, sem identificar os textos isoladamente. Dessa maneira, o

conceito de exclusividade tem como objetivo mostrar o que se destaca na comparação

entre dois tipos de materiais diferentes pelo uso exclusivo de determinadas palavras em

um dos materiais.

Esse procedimento permite que o analista observe duas variáveis separadamente:

o número de textos em que uma determinada palavra ocorreu e a freqüência de

ocorrência dessa palavra, obtidas em um segundo passo pelo número de linhas de

concordância. Isso evita que palavras de alta freqüência em poucos textos sejam

consideradas representativas de todo o corpus, o que Ramos (1997:117) fez com o uso

de palavras chave-chave, que são “palavras que são palavras chave em mais de um

texto” (:125).

Outra vantagem do uso do conceito de palavras exclusivas é dispensar o uso do

corpus de referência na análise, o que evita dois problemas: o primeiro é que o corpus

de referência não deve conter os textos sob análise (Berber-Sardinha, 2004:100). Esse

foi um problema para a análise desta pesquisa, pois o corpus do Banco de Português,

Page 88: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

88

compilado e mantido pela Pontifícia Universidade Católica como parte do Projeto

DIRECT comporta vários anos de notícias publicadas pelo Jornal_A (Berber-Sardinha,

2004:164), provavelmente contendo muitas, se não todas, das notícias utilizadas nesta

presente pesquisa. O segundo problema, relacionado a este primeiro, é o efeito de

filtragem observado por Berber-Sardinha (2004:100), pelo qual “um corpus de

características genéricas semelhantes ao do corpus sob estudo tende a filtrar, ou seja,

eliminar os elementos genéricos em comum, resultando em uma lista de palavras-chave

que não inclui esses elementos”. Esse efeito de filtragem foi considerado nessa análise

como potencialmente danoso à observação da avaliação, pelas características já citadas

desse aspecto da linguagem. Por esse motivo, também descartei utilizar um corpus de

referência composto especialmente para a análise feita nessa pesquisa, visto que seria

inviável evitar os efeitos da filtragem causados por esse corpus de referência sobre os

recursos avaliativos do press release e da notícia.

Os instrumentos de análise utilizados nesta pesquisa estão descritos em maiores

detalhes nas próximas seções.

2.6. Instrumentos de análise

Para as análises comparativas, foram criados dois instrumentos de análise

comparativa, utilizados complementarmente um ao outro para permitir ao analista

comparar textos de dois pontos de vista diferente: um estatístico, que totaliza as

diferenças encontradas em cada par de textos, e outro visual, que permite comparar

trechos entre os textos de cada par individualmente.

A criação dos instrumentos de análise foi baseada nas ferramentas

computacionais Wordlist e o Concord, oferecidas pelo aplicativo Wordsmith Tools

(Scott, 2004). Com esse aplicativo, podemos observar diversos aspectos de como as

palavras são usadas em um texto ou em um conjunto de textos.

O Wordlist foi utilizado nesta pesquisa na criação de listas de freqüência de

ocorrência das palavras dos textos, além da coleta de dados estatísticos como os

números totais de palavras (tokens) e palavras diferentes (types) presentes nos textos.

Um dos recursos do Wordlist que foi essencial para a criação dos instrumentos usados

na pesquisa é a sua função de Consistência (Consistency), usada na comparação entre

Page 89: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

89

cada press release e a sua notícia correspondente. As listas de consistência foram usadas

para identificar as palavras que ocorreram nos dois textos de cada par ou em apenas um

deles.

O Concord mostra como as palavras estão sendo usadas no contexto. Além de

fornecer as linhas de concordância de uma ou mais palavras, esse aplicativo também

fornece listas de colocadas (as palavras próximas à palavra de interesse) e padrões de

colocação, entre outros recursos. As listas de concordância foram usadas nesta pesquisa

para identificar as funções ideacionais das palavras exclusivas e os estágios do texto nos

quais essas palavras foram usadas.

Outra característica importante das ferramentas do Wordsmith Tools para os

procedimentos aqui descritos é a sua capacidade de operar com aplicativos como o

Microsoft Word e o Microsoft Excel, que foram usados intensivamente na criação dos

instrumentos de pesquisa, conforme descrito nos procedimentos a seguir.

2.6.1. Comparação lado a lado dos textos

Para vermos em que contexto as palavras exclusivas são usadas, os textos foram

colocados em uma comparação lado-a-lado. Os quadros de comparação lado-a-lado

permitem que o analista visualize a ocorrência das palavras comuns e exclusivas no

contexto, identificando trechos idênticos ou quase idênticos e trechos diferentes entre os

press releases e notícias. Esses quadros foram criados pelo procedimento abaixo:

a. O press release e a notícia foram colocados lado a lado em uma tabela de duas

colunas de um arquivo de documento do Microsoft Word.

b. O destaque das palavras comuns foi feito pela função Editar/Substituir do

Microsoft Word, que foi usada para localizar cada ocorrência da palavra no texto e

substituir essa palavra pela mesma palavra, só que em realce.

A visualização do uso do léxico comum pela comparação lado-a-lado dos textos

foi criada como ferramenta de suporte para permitir que o analista veja se os itens

lexicais compartilhados ou exclusivos de um dos textos estão acompanhados de outros

itens lexicais de mesmo status; por exemplo, para que se possa observar se os itens

lexicais exclusivos em um dos textos co-ocorriam com outros itens lexicais também

exclusivos no mesmo texto. Nas comparações dos textos, os itens lexicais utilizados nos

Page 90: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

90

dois textos foram destacados em cinza-claro; os termos utilizados apenas por um dos

textos foram deixados sem destaque.

Esse procedimento nos permite saber se uma palavra utilizada apenas no press

release, por exemplo, está próxima de outras palavras utilizadas apenas neste press

release ou por palavras comuns aos dois textos. Na lista criada por esse procedimento,

temos as palavras comuns entre os dois textos apresentadas em destaque. As palavras

sem realce na coluna do press release são as palavras usadas exclusivamente no press

release, e as palavras sem realce na coluna da notícia são as palavras utilizadas

exclusivamente na notícia, como mostrado na figura 10.

PRESS RELEASE NOTÍCIA 06/06/2003

Conselho da Tele_A Participações tem dois novos

integrantes: Francisco Weffort e José Roberto Mendonça

de Barros

O Conselho Consultivo da Tele_A Participações, empresa

holding da Tele_A, conta com dois novos integrantes: o

ex-ministro da Cultura Francisco Weffort e o economista

José Roberto Mendonça de Barros. Eles se juntarão às

demais personalidades que já integram o grupo, cuja

função é ser um importante instrumento de relacionamento

com toda a sociedade brasileira, servindo como uma via de

mão dupla que recolhe e encaminha informações sobre a

Empresa e a conjuntura econômico-social do País.

Além dos dois novos integrantes, o Conselho Consultivo

da Tele_A Participações, criado em dezembro de 1999, é

integrado pelas seguintes personalidades: Affonso Celso

Pastore, Luiz Felipe Lampreia, Marcílio Marques Moreira

e Murillo Aragão.

06/06/2003 - 13h54

Tele_A indica Weffort e Mendonça de Barros para

conselho

A Tele_A Participações anunciou hoje que seu conselho

consultivo terá dois novos integrantes: o ex-ministro da

Cultura Francisco Weffort e o economista José Roberto

Mendonça de Barros, ex-secretário da Camex (Câmara

de Comércio Exterior).

Segundo a holding, função do conselho "é ser um

importante instrumento de relacionamento com toda a

sociedade brasileira, servindo como uma via de mão

dupla que recolhe e encaminha informações sobre a

empresa e a conjuntura econômico-social do país".

Além dos dois novos integrantes, o conselho consultivo,

criado em dezembro de 1999, é integrado pelo ex-

presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, ex-

ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia,

ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira e o

cientista político Murillo Aragão.

Figura. 10. Lista de comparação lado-a-lado

A figura 10 mostra como a lista permite a visualização das semelhanças e

diferenças entre os textos. Como semelhança, por exemplo, podemos identificar um

trecho do press release que tem um correspondente exatamente igual na notícia, entre é

ser um importante (...) e a conjuntura econômico-social do país. Nos textos, podemos

ver que este trecho está identificado como sendo a função do conselho, em duas

construções gramaticais diferentes: o grupo, cuja função é ser (...) (press release) e

função do conselho é ser (...) (notícia). Outra diferença é o uso na notícia do verbo

anunciou e da preposição segundo para indicar a empresa como a origem da informação

fornecida. No último parágrafo, podemos também ver que os integrantes do conselho

Page 91: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

91

são referenciados como personalidades no press release e não na notícia, que por sua

vez qualifica cada integrante do conselho individualmente, como ex-presidente do

Banco Central e cientista político, por exemplo.

Cabe observar que para identificar os trechos dos textos que fossem iguais ou

quase iguais, foi necessário identificar todas as palavras compartilhadas entre os dois

textos. Se apenas as palavras mais freqüentes ou de maior chavicidade fossem

consideradas na análise, não seria possível diferenciar uma palavra usada

exclusivamente em um dos textos de uma palavra com baixa freqüência de ocorrência

em um ou nos dois textos do par.

2.6.2. Listas de palavras significativamente exclusivas

A lista de comparação lado a lado pode oferecer ao analista uma indicação visual

das semelhanças e diferenças entre o press release e a notícia de cada par. Entretanto,

para observar essas diferenças e a freqüência de ocorrência das palavras comuns e

palavras exclusivas ao longo de todo um corpus de pares de textos, foi necessário

consolidar as listas de palavras comuns e exclusivas de cada par individual em uma

única lista. Essa lista foi construída de forma a mostrar em quantos pares uma

determinada palavra fosse uma palavra comum ou exclusiva de um dos textos. A

criação dessa lista seguiu os passos abaixo:

a. A criação de três arquivos de texto, um no qual foram colocadas as palavras

comuns de todos os pares do corpus, outro com as palavras exclusivas dos press

releases e um terceiro com as palavras exclusivas das notícias de todos os pares

do corpus.

b. Com o uso da ferramenta Wordlist do Wordsmith Tools, foram criadas três

listas de palavras com base nos arquivos de texto acima. Dessa maneira, por

exemplo, foi possível identificar a quantidade de pares nos quais uma

determinada palavra foi comum ou exclusiva de um dos textos.

c. A ferramenta Wordlist foi usada para criar uma lista de consistência para a

comparação entre essas três listas de palavras. Com essa lista, foi possível

identificar em quantos pares uma determinada palavra foi comum aos dois textos

e em quantos essa mesma palavra foi exclusiva de um dos textos.

Page 92: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

92

A classificação das palavras nessa lista foi baseada em um valor numérico, neste

trabalho denominado índice de exclusividade, calculado com base nos critérios abaixo:

a. A relação entre o número total de pares nos quais a palavra ocorreu e o

número total de pares no corpus. Esse critério foi incluído para que as palavras

que aparecessem em um maior número de pares ficassem em posição mais alta

na lista.

b. A relação entre o número de pares nos quais uma palavra como palavra

exclusiva e o número total de pares nos quais essa palavra ocorreu. Essa relação

mostra a predominância da ocorrência da palavra como exclusiva em um dos

textos.

A lista consolidada de palavras comuns e exclusivas mostra todas as palavras

que ocorreram em todos os press releases e em todas as notícias, acompanhadas do

número de vezes que essas palavras ocorreram exclusivamente nos press releases mas

não em suas notícias correspondentes, que ocorreram exclusivamente nas notícias mas

não em seus press releases correspondentes e as palavras comuns aos dois textos de

cada par. A classificação desses dados foi feita por um índice que considerasse o

número total de pares em que uma palavra foi usada em um dos textos do par com

relação ao número de vezes que apareceu somente no outro texto ou nos dois textos,

segundo a fórmula geral:

T

E

OC

EE

N

N

N

NI *

Onde:

IE = índice de exclusividade, que pode ser usado para expressar o índice de

exclusividade nos press releases (IPR) ou nas notícias (INW).

NOC = quantidade de pares nos quais ocorreu a palavra, seja no press release, na

notícia ou nos dois.

NE = quantidade de pares nos quais ocorreu uma palavra de maneira exclusiva

(no press release ou na notícia).

NT = quantidade total de pares do corpus.

Page 93: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

93

Essa fórmula permite a classificação de cada item lexical (i) pela diferença entre

as ocorrências exclusivas no press release e na notícia; (ii) pela relação entre esse maior

uso em um dos textos e o número total de textos em que a palavra ocorre; e (iii) pelo

número de textos em que a palavra ocorreu apenas no material sob análise. As listas de

palavras significativamente exclusivas são apresentadas no Anexo III.

Com base nessas listas de palavras exclusivas, foram montadas quatro listas de

concordância:

linhas de concordância com as ocorrências das palavras exclusivas dos press

releases da Tele_B

linhas de concordância com as ocorrências das palavras exclusivas dos press

releases da Tele_A

linhas de concordância com as ocorrências das palavras exclusivas das notícias

sobre a Tele_B

linhas de concordância com as ocorrências das palavras exclusivas das notícias

sobre a Tele_A

Os índices de exclusividade de cada tipo de material foram usados para

selecionar as palavras incluídas nas análises de concordância. A análise apresentada no

capítulo de análise de resultados foi baseada nas palavras exclusivas com índice de

exclusividade nos press releases maior ou igual que 0,15 e de palavras exclusivas das

notícias com índice de exclusividade maior ou igual a 0,11. Esses valores foram

escolhidos porque, em corpora formados por 27 pares, correspondem a uma palavra ser

exclusiva em 4 press releases e 3 notícias, respectivamente (0,15 x 27 = 4 e 0,11 x 27 =

3). Esses valores foram definidos pelas quantidades de palavras significativamente

exclusivas e de linhas de concordância obtidas com essas palavras, onde procurei não

utilizar palavras significativas em poucos textos e ao mesmo tempo ter uma quantidade

de palavras que oferecesse um conjunto suficiente de resultados para a análise.

As linhas de concordância foram inicialmente utilizadas para analisar as

diferenças referentes ao uso dos recursos ideacionais entre os press releases e as

notícias, para responder à primeira pergunta de pesquisa. Com base nesses resultados,

foram identificadas categorias de avaliação, para responder à segunda e terceira

perguntas de pesquisa, como mostrado a seguir.

Page 94: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

94

2.7. Análise dos recursos ideacionais

A análise das linhas de concordância teve como objetivo identificar as diferenças

entre press releases e notícias relativas às relações ideacionais utilizadas nas respectivas

descrições das atividades.

Para facilitar a categorização dos resultados, utilizei na planilha Excel, criada

para a análise das concordâncias, os recursos de automatizados proporcionados por esse

aplicativo, que facilitaram as contagens dos números de ocorrência de cada categoria

gramatical nas linhas e evitam a necessidade de refazer tais contagens a cada alteração

na classificação. Os recursos de filtragem desse aplicativo também permitiram a

contagem dos números de textos nos quais as relações ideacionais analisadas ocorreram,

embora de maneira menos automatizada.

A análise foi feita em três passos: (i) a função das palavras significativamente

exclusivas na estrutura ideacional da oração ou complexo oracional; (ii) a identificação

e categorização dos participantes ou ações aos quais se referem as funções de (i); e (iii)

a identificação e categorização das relações ideacionais nas quais os participantes

identificados em (ii) estão envolvidos, definidas pelos demais participantes envolvidos

nessa mesma relação, como descrito nas três subseções abaixo.

2.7.1. Análise gramatical das linhas de concordância

Nessa etapa da análise, foram identificadas as funções ideacionais das palavras

significativamente exclusivas, conforme o nível de constituência dos quais essas

palavras fazem parte:

Oração: Quando as palavras exclusivas são usadas em núcleos de grupos de

palavras (nominais, verbais e preposicionais) (Halliday e Matthiessen,

2004:170), elas foram classificadas pela função do grupo de palavras, em

participantes, processos e circunstâncias.

Grupos de palavras: Quando as palavras exclusivas são usadas como

modificadores de grupos de palavras, elas foram classificadas pela função dentro

do grupo, como, por exemplo, epítetos, classificadores e qualificadores nos

grupos nominais (Halliday e Matthiessen, 2004:312) e tempos verbais modais

nos grupos verbais (Halliday e Matthiessen, 2004:335).

Page 95: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

95

Complexos oracionais: Quando as palavras exclusivas são usadas para

estabelecer relações entre orações, como as conjunções, elas foram classificadas

pela relação lógica estabelecida (Halliday e Matthiessen, 2004:405).

Na apresentação dos resultados, a análise inicial das funções gramaticais das

palavras significativamente exclusivas mostra resultados em valores percentuais com

relação ao número total de linhas de concordância.

2.7.2. Análise dos participantes

O segundo passo da análise identifica os participantes e ações envolvidos nas

atividades descritas indicados pelas categorias gramaticais encontradas no primeiro

passo da análise. Essa identificação foi baseada no sistema de marketing descrito no

capítulo de fundamentação teórica (Kotler, 1990:49) e em informações de contexto.

Alguns dos participantes identificados nessa etapa foram as próprias empresas, os

clientes (referidos no sistema de marketing como “mercado”), parceiros da empresa,

concorrentes e agências reguladoras. Além dos participantes, foram identificadas ações

executadas por esses participantes e circunstâncias nas quais ocorreram essas ações,

como a identificação de datas e locais. Os resultados obtidos nessa etapa foram

discutidos em conjunto com os resultados da análise das relações ideacionais, descrita a

seguir.

2.7.3. Análise das relações ideacionais nas quais os participantes estão envolvidos

Esse terceiro passo da análise envolveu identificar as relações nas quais os

participantes acima estão envolvidos, ou seja, criar categorias de análise com base nos

demais participantes envolvidos na relação ideacional, em uma segunda interpretação

baseada no contexto. As categorias identificadas são apresentadas na seção 3.1.2. do

capítulo de apresentação e discussão dos resultados. Os exemplos abaixo mostram como

a análise das linhas de concordância das palavras significativamente exclusivas é feita

nesses três níveis, na qual a palavra analisada é pelo, considerada significativamente

exclusiva nos press releases da Tele_A.

O primeiro exemplo é parte de uma descrição de uma atividade relacionada às

agências reguladoras:

Page 96: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

96

Além das medidas preventivas impostas pelo CADE sobre a Tele_B, a Anatel

requereu da B. T. que a cobrança feita à Tele_A tenha o mesmo preço que o

melhor preço oferecido a qualquer um dos seus clientes de linhas alugadas.

Nesse exemplo, a palavra pelo foi classificada como sendo: (i) uma conjunção

que faz parte de um sintagma nominal, (ii) que expressa uma ação de um participante

identificado como agência reguladora e que (iii) apresenta um resultado de uma ação da

Tele_A. No exemplo abaixo, também obtido em uma linha de concordância da palavra

pelo, temos uma atividade relacionada a um produto da Tele_A:

Depois de setecentos lances, somando mais de sete horas de leilão, a Tele_A

venceu o pregão eletrônico realizado pelo Tribunal Regional Federal (TRF) (...)

Nesse exemplo, a palavra pelo foi classificada como sendo: (i) uma conjunção

que faz parte de um sintagma nominal, (ii) que expressa uma ação de um participante

identificado como cliente e que (iii) apresenta um resultado de uma ação da Tele_A.

Como podemos ver acima, enquanto que a primeira classificação é gramatical, a

segunda depende do contexto quanto à identificação dos participantes responsáveis pela

ação; já a terceira classificação é mais dependente da interpretação do analista,

envolvendo a análise de todos os participantes envolvidos na ação. A apresentação

desses resultados foi feita em termos de número de textos nos quais essas relações

ideacionais ocorreram com relação ao número total de textos, conforme o princípio de

análise por número de textos seguido na metodologia.

2.8. Análise dos recursos avaliativos

As relações ideacionais encontradas na etapa anterior foram agrupadas sob o

ponto de vista da avaliação, cuja análise identificou:

O tipo de Atitude, conforme o sistema de Avaliatividade (Martin e White,

2005:42)

A forma de realização da Atitude (invocada ou evocada e o nível da estrutura do

texto no qual as Atitudes são expressas).

Page 97: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

97

A base que fundamenta a avaliação, isso é, os conjuntos de valores que, segundo

a interpretação do analista, poderiam ser utilizados pelos membros da

comunidade como base para considerar uma avaliação positiva ou negativa.

As análises dos resultados obtidos pelos procedimentos aqui descritos são

apresentadas no próximo capítulo.

Page 98: 22 09 08_mauro

II. Metodologia de pesquisa

98

Page 99: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

99

III. Apresentação e discussão dos resultados

Este capítulo apresenta e discute os resultados obtidos nas análises descritas no

capítulo de Metodologia. Os resultados estão organizados em: apresentação dos

resultados das diferenças nas representações de mundo, apresentação das interpretações

desses significados ideacionais conforme as teorias de avaliação e avaliatividade e uma

parte final, de considerações sobre a discussão dos resultados.

3.1. Apresentação dos resultados

Esta seção apresenta as categorias de análise identificadas pelas linhas de

concordância obtidas com as palavras significativamente exclusivas, compreendendo a

identificação das categorias gramaticais das palavras significativamente exclusivas, os

participantes identificados por essas palavras e as relações ideacionais das quais eles

participam nas atividades descritas.

Inicialmente, são apresentadas as funções ideacionais das palavras

significativamente exclusivas nas linhas de concordância no quadro 14, em valores

percentuais calculados com base nos números de linhas de concordância apresentados

no quadro 15:

Funções ideacionais Press releases

Tele_A (%)

Press releases

Tele_B (%)

Notícias

Tele_A (%)

Notícias

Tele_B (%)

Participantes 21,22 26,58 15,98 4,55

Modificadores de grupo

nominal

49,42 32,14 29,51 11,36

Processos 6,99 9,91 15,98 32,95

Modificadores de grupo

verbal

2,46 3,38 2,87 9,09

Circunstâncias 17,72 27,23 28,69 34,09

Conjunções (Relatores) 2,20 0,76 6,97 7,95

Total 100,00 100,00 100,00 100,00

Quadro 14. Funções ideacionais das palavras significativamente exclusivas

Os valores percentuais apresentados no quadro 14 são baseados nos seguintes

números de linhas de concordância, obtidos a partir das listas de palavras

significativamente exclusivas apresentadas no Anexo III.

Page 100: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

100

Press releases

Tele_A

Press releases

Tele_B

Notícias

Tele_A

Notícias

Tele_B

Palavras significativamente

exclusivas 61 81 26 19

Linhas de concordância 773 918 244 88

Quadro 15. Quantidades de palavras significativamente exclusivas e linhas de concordância

As análises apresentadas a seguir mostraram que os números apresentados no

quadro 15 indicam que os press releases trazem informações não fornecidas nas

notícias; além disso, o número relativamente maior de palavras significativamente

exclusivas nas notícias sobre a Tele_A indica a inclusão de informações não contidas

nos press releases correspondentes nessas notícias, o que foi confirmado pela análise.

Esses dados se refletem nos números apresentados no quadro 14, onde temos maiores

porcentagens de palavras significativamente exclusivas relacionadas a participantes nos

dois corpora de press releases e nas notícias sobre a Tele_A. As análises também

mostraram que as maiores porcentagens de palavras significativamente exclusivas com

a função de processos e circunstâncias nas notícias resultaram principalmente de

construções relacionadas à projeção de informações e diferenças relativas ao tempo

interpessoal.

A análise preliminar das linhas de concordância pelas funções gramaticais

mostrou ser útil separar a análise em dois grupos de resultados: o primeiro, que reúne as

palavras envolvidas em projeções de falas atribuídas a fontes de informação, expressas

por relatos de linguagem (language reports, cf. Thompson, 1996b:509); o segundo

grupo, que reúne palavras envolvidas nas descrições das atividades das empresas. Esses

grupos de resultados são detalhados a seguir.

3.2. Relatos de linguagem

A análise das linhas de concordância mostrou palavras relacionadas a relatos de

linguagem, que na LSF estão relacionados aos recursos de projeção (Halliday e

Matthiessen, 2004). Esses relatos são usados para indicar as informações obtidas e as

fontes dessas informações, pois, segundo Bell (1991:53), nem sempre os jornalistas

estão presentes nos acontecimentos. Nos press releases, os relatos de linguagem,

principalmente de executivos da empresa, são usados para fornecer informações em um

formato que possa ser usado pelos jornalistas sem exigir o trabalho de edição, que

Page 101: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

101

segundo Strobbe e Jacobs (2005:289), é um recurso de pré-formulação (preformulation)

amplamente usado em press releases para facilitar o aproveitamento das informações.

O press release, segundo Bell (1991:58) é um dos tipos de fonte de informação

utilizados pelos jornalistas; dessa forma, notícias e press releases podem ser vistos

como dois elementos distintos de uma cadeia de eventos comunicativos (Fairclough,

1995:37), na qual um evento comunicativo recontextualiza os outros (1995:41), por

exemplo, pela representação de falas de indivíduos ou instituições na notícia, como no

exemplo 1:

1. A Tele_A economizará mais de 30% dos seus custos com informática e também terá a

certeza de manter seu parque de informática sempre atualizado com a mais avançada

tecnologia. (press release da Tele_A)

A Tele_A informou que economizará mais de 30% dos seus custos com informática e

também terá a certeza de manter seu parque de informática sempre atualizado com a

mais avançada tecnologia. (notícia sobre a Tele_A)

Em 1, a notícia traz as mesmas informações que o press release, mas

recontextualiza essas informações, identificando-as como informações fornecidas pela

empresa; em termos de Engajamento, o jornal atribui essas informações a uma fonte

externa, sem negá-las, pelo recurso de Atribuição: Conhecimento.

As funções gramaticais das palavras significativamente exclusivas que

identificam relatos de linguagem no corpus são:

a) palavras de grupos nominais que realizam participantes relacionados a

processos verbais, como Dizente, Receptor e Alvo;

b) palavras de grupos verbais que realizam processos verbais;

c) palavras de sintagmas nominais que realizam projeções ou que identificam

participantes relacionados a processos verbais.

Podemos ver essas diferentes funções no quadro 16 mostra palavras

significativamente exclusivas nos press releases da Tele_B relacionados a relatos de

linguagem. No quadro 16, temos palavras em grupos nominais que indicam

participantes na função de Dizentes, como balanço, em balanço consolidado de janeiro

a setembro entregue hoje à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) (palavras

Page 102: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

102

significativamente exclusivas em negrito); preposições em sintagmas nominais

(conforme) e processos verbais (afirma, complementa). Neste ponto, cabe observar

quanto à metodologia de análise adotada que trechos do texto como esse, que reúnem

diversas palavras significativamente exclusivas, aparecem em maior número nas linhas

de concordância; entretanto, essa concentração de palavras significativamente

exclusivas não afeta os resultados quando contamos o número de textos nos quais as

relações indicadas por essas palavras são observadas, pois todas essas linhas de

concordância estão associadas a um único texto.

PALAVRA LINHA DE CONCORDÂNCIA

VALORES conforme balanço consolidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de Valores

Mobiliários (CVM). O número de usuários supera em 69% os 423,5 mil clien

À ta velocidade, conforme balanço consolidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão

de Valores Mobiliários (CVM). O número de usuários supera em 69% os 4

AINDA nidades de fixação de marcas e produtos pelos consumidores. O trabalho apontou ainda que o

cartão telefônico é utilizado por 70% da população do Estado e por

AO ço menor A operadora também vai aproveitar a oportunidade para esclarecer ao público sobre

as reais vantagens da linha fixa em comparação a opções disponí

HOJE o final dos seis primeiros meses de 2002, conforme balanço consolidado entregue hoje à CVM

(Comissão de Valores Mobiliários). A receita operacional líquida acu

CONFORME es do Speedy, serviço de banda larga para acesso à internet em alta velocidade, conforme

balanço consolidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de

INFORMA antes do prefixo atual A Tele_B informa que três prefixos da região do Ipiranga serão

alterados a partir da zero

SP tisfação do cliente", afirma F.X.F, presidente da Tele_B /SP

GRUPO solidez dos resultados alcançados", diz F. X. F., presidente do Grupo Tele_B no Brasil. "Deve-

se destacar que nosso volume de investimentos

AFIRMA serviços como o Speedy e à gestão totalmente focada na satisfação do cliente", afirma F. X.

F., presidente da Tele_B.

FERNANDO na definição de despesas, justificam a solidez dos resultados alcançados", diz F.X.F.,

presidente do Grupo Tele_B no Brasil. "Deve-se

FERREIRA despesas, justificam a solidez dos resultados alcançados", diz F.X.F., presidente do Grupo

Tele_B. "Deve-se destacar que nosso

BALANÇO es, volume que deverá chegar a R$ 1,4 bilhão até o fim do ano. Vale destacar no balanço,

ainda, o crescimento de 11% do EBIDTA, que passou de R$ 4,000 bilhões,

COMISSÃO velocidade, conforme balanço consolidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de

Valores Mobiliários (CVM). O número de usuários supera em 69% os 423

COMPLEMENTA possibilitam o acesso das camadas mais desfavorecidas a uma linha telefônica",

complementa.

CONSOLIDADO viço de banda larga para acesso à internet em alta velocidade, conforme balanço consolidado

de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de Valores Mobiliários

CVM solidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O

número de usuários supera em 69% os 423,5 mil clientes existentes ao

ENTREGUE re da Tele_B, conforme balanço consolidado entregue hoje à Comissão de Valores Mobiliários

(CVM). Ao final do semestre, o

MOBILIÁRIOS e balanço consolidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de Valores Mobiliários

(CVM). O número de usuários supera em 69% os 423,5 mil clientes

Quadro 16. Palavras significativamente exclusivas usadas em relatos de linguagem

Nas notícias, as principais funções das palavras significativamente exclusivas

relacionadas a relatos de linguagem são:

Page 103: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

103

a) Circunstâncias de ângulo: realizadas nas notícias principalmente pelo uso da

preposição segundo, como em 2:

2. Segundo a Tele_A, o serviço tem um diferencial: adota o sistema de tarifação por

minuto, em vez de pulso. (notícia sobre a Tele_A)

b) Processos verbais: principalmente pelos verbos diz, disse, como em 3 e 4:

3. A. X., diretor de desenvolvimento de soluções da Tele_A, diz que a internet móvel dá

comodidade aos usuários. (notícia sobre a Tele_A)

4. "A empresa continuará se empenhando para que o cliente da Tele_B seja o mais

satisfeito entre os clientes das operadoras de telefonia no Brasil", disse o diretor-geral

da Tele_B, M. A. (notícia sobre a Tele_B)

A seguir, temos exemplos encontrados dentre as linhas de concordância que

agregam aspectos ideacionais, interpessoais e textuais aos processos verbais. A

influência de aspectos ideacionais pode ser observada nas notícias sobre a Tele_A, nas

quais foi também observada a ocorrência do processo verbal anunciou:

5. A Tele_A anunciou hoje que seu conselho consultivo terá dois novos integrantes: (...)

(notícia sobre a Tele_A)

Todas as ocorrências de processos verbais realizadas por anunciou referem-se a

ações que introduzem alguma alteração no modo de operação da empresa; dessa

maneira, além de projetar a informação na notícia, a escolha desse processo indica que a

empresa está falando sobre algo novo. Com relação aos aspectos interpessoais, temos o

processo verbal afirma, presente nas listas de exclusividade dos press releases da

Tele_A e da Tele_B:

6. “O cliente poderá facilmente optar pelo que é mais conveniente, dependendo do local

onde estiver”, afirma A. X., Diretor de Desenvolvimento de Soluções da Tele_A.

(press release da Tele_A)

A escolha desse processo nos press releases traz uma maior certeza quanto à

veracidade da informação fornecida, em uma realização metafórica de modalidade

(Halliday e Matthiessen, 2004:626). Com relação aos aspectos textuais, temos o uso de

conjunções (ainda) e processos verbais (complementa), como em 7 e 8.

Page 104: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

104

7. "Vale ressaltar, ainda, que os processos de registro, coleta, tarifação e faturamento das

contas foram certificados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em

novembro do ano passado, reafirmando a qualidade operacional dos sistemas da

empresa", destaca M.A., diretor-geral da Tele_B. (press release da Tele_B)

8. Se a dimensão da base de clientes da Tele_B fosse considerada a empresa nem faria

parte do ranking" diz F.X.F., presidente do Grupo Tele_B do Brasil. "Qualidade é um

dos principais valores e uma das maiores prioridades do Grupo Tele_B no Brasil e no

mundo", complementa.

Em 7, a conjunção ainda mostra que essa fala do executivo da Tele_B é uma

continuação de uma fala anterior no texto. Em 8, essa continuidade é expressa pela

escolha do processo verbal complementa, na seqüência de um relato de fala anterior, o

qual utiliza o processo verbal diz.

Com relação aos participantes identificados com as fontes das informações nas

análises ideacionais dos participantes, a análise mostrou números significativos de press

releases e notícias com relatos de linguagem de participantes próximos às empresas,

como a própria empresa, seus funcionários e parceiros. Além disso, foram observados

números significativos de relatos de linguagem de participantes externos, como

concorrentes, agências reguladoras e outros, como mostrado no quadro 17:

Press releases

Tele_A

Press releases

Tele_B

Notícias

Tele_A

Notícias

Tele_B

Fala das empresas e participantes

próximos

10 11 18 12

Fala de participantes externos 0 1 7 3

Quadro 17. Números de press releases e notícias com relatos de linguagem nas linhas de

concordância (em um total de 27 pares da Tele_A e 27 pares da Tele_B)

A presença desses participantes indica a tendência do jornal de incluir

informações de contexto diferentes daquelas apresentadas pela empresa. Por exemplo,

em 9 é representada a fala de um executivo de uma agência reguladora.

9. Segundo o presidente da Anatel, E. A., o aumento das tarifas representará um impacto

de 0,15 ponto percentual no índice oficial de inflação (IPCA). (notícia sobre a Tele_B)

Nos exemplos de 10 a 12, temos a identificação na notícia de informações sobre

a Tele_A emitidas por participantes externos à empresa que têm a autoridade de

especialistas no setor:

Page 105: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

105

10. Segundo fontes do setor, o motivo mais provável da demissão seria exatamente o

vazamento da operação de compra da Tele_A por parte da Telos. (notícia sobre a

Tele_A)

11. De acordo com analistas, a venda da Tele_A poderia render até US$ 400 milhões aos

cofres da Tele_D. (notícia sobre a Tele_A) 12. Segundo especialistas, os grupos de telecomunicações estão investindo em provedores

gratuitos para gerar receita às suas empresas de telefonia fixa. (notícia sobre a

Tele_A)

Em 13, temos um exemplo de uma fala da concorrente da Tele_A introduzida na

notícia, com informações negativas sobre a empresa.

13. Para a Telemar, o comercial da Tele_A é "propaganda enganosa".

"A Telemar acredita que as informações inverídicas levam o consumidor ao erro, por

fazê-lo acreditar em inúmeras afirmações enganosas acerca de tarifas, planos e serviços

ofertados", diz a Telemar, em nota. (notícia sobre a Tele_A)

Em 13, a projeção da fala da concorrente da Tele_A é feita inicialmente por uma

circunstância de ponto de vista (Para a Telemar) e, na sentença seguinte, por um

processo verbal (diz). Esse exemplo mostra também a presença de um participante

classificado como objeto semiótico (Halliday e Matthiessen, 1999:190), identificado

como nota, em uma circunstância de local. A introdução desses participantes foi

observada principalmente nas notícias, como referência ao documento emitido pelas

empresas dos quais as informações foram obtidas, como nos exemplos de 14 a 16.

14. A decisão foi divulgada na noite desta sexta por comunicado da Tele_A. (notícia

sobre a Tele_A)

15. “(...) pequenas empresas, pequenos escritórios e para o mercado residencial", diz o

comunicado divulgado pela Tele_A.

16. Segundo o documento, a Vésper deve ser adquirida sem dívida bancária e sem

desembolso de caixa por parte da Tele_A.

Os exemplos acima mostram algumas das diversas formas pelas quais os

participantes do tipo objeto semiótico podem ser usados para projetar locuções (o uso

desse tipo de participante para projetar locuções é discutido em Halliday e Matthiessen

(2004:469)). Em 14, temos comunicado como participante indireto em uma

circunstância de meio, em 15, como o Dizente das informações, e em 16, temos

documento como participante indireto em uma circunstância de ângulo.

Page 106: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

106

Para os fins desta apresentação de resultados, que analisa a interoperação dos

diversos recursos avaliativos no texto, as questões relativas às formas de projeção e os

tipos de participantes identificados como as fontes das informações, além da influência

desses recursos na avaliação, serão discutidas em conjunto com os recursos que

expressam a representação das atividades, na seção 3.4.

3.3. Representação das atividades das empresas

Essa seção descreve as categorias de análise criadas com base nas relações

ideacionais que ocorreram em um número considerado significativo nesta pesquisa de

press releases ou notícias, interpretadas com base no conhecimento prévio do analista.

Como descrito na seção de metodologia, a análise das descrições das atividades

compreendeu a identificação dos participantes e das relações entre esses participantes

indicados pelas linhas de concordância das palavras significativamente exclusivas, pelo

número de textos nos quais esses participantes e atividades foram identificados. O

quadro 18 apresenta as principais diferenças entre os materiais quanto aos participantes

identificados.

Participantes

(em número de textos)

Press releases

Tele_A

Press releases

Tele_B

Notícias

Tele_A

Notícias

Tele_B

Empresa 24 27 21 20

Clientes 18 25 7 5

Produto 17 26 7 13

Parceiros 14 14 8 2

Concorrentes 10 1 14 1

Agências reguladoras 7 8 7 2

Funcionários 6 10 1 1

Controladora 1 0 5 0

Quadro 18. Ocorrência de participantes por número de textos (em um total de 27 pares da

Tele_A e 27 pares da Tele_B)

Analisando os números do quadro acima, podemos observar as seguintes

diferenças entre os materiais:

Page 107: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

107

As empresas (Tele_A) e (Tele_B) e suas ações são identificadas em todos os

materiais, o que pode indicar que as empresas e suas ações são representadas de

maneiras diferentes nos press releases e notícias.

Com relação aos clientes e produtos, a comparação entre os press releases e

notícias da Tele_A indica que pode haver relações entre produtos e clientes

representadas nos press releases que não são representadas nas notícias. Na

comparação entre os textos da Tele_B, as palavras significativamente exclusivas

também descrevem produtos e clientes, possivelmente de uma maneira diferente

daquela apresentada nos press releases.

Um maior número de press releases das duas empresas representa atividades de

parceiros e funcionários, parecendo destacar as ações desses participantes nas

atividades da empresa.

Um maior número de press releases e notícias da Tele_A inclui a presença de

concorrentes, o que a análise mostrou estar relacionado às disputas judiciais nas

quais a Tele_A esteve envolvida.

Um número relativamente significativo de notícias da Tele_A descreve a

atuação da empresa controladora, o que a análise mostrou estar relacionado às

atividades envolvidas na venda da Tele_A.

A análise das diferenças em termos de participantes, em uma primeira

associação entre as palavras significativamente exclusivas e o contexto, apresenta

algumas informações sobre as diferenças entre press releases e notícias. Os resultados

da próxima análise mostram outras informações que podem nos dar uma visão mais

ampla sobre essas diferenças.

A análise das linhas de concordância das palavras significativamente exclusivas

mostrou ser possível classificar as relações ideacionais nas atividades da empresa em

categorias que, para os efeitos deste trabalho, foram denominadas lançamento,

descrição, objetivos, resultados das ações e histórico. Os números de textos nos quais

ocorreram essas categorias são mostrados no quadro 19 (os números em negrito indicam

valores considerados significativos), seguido pelas definições das categorias.

Page 108: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

108

Categorias Press releases

Tele_A

Press releases

Tele_B

Notícias

Tele_A

Notícias

Tele_B

Lançamento 14 11 4 6

Descrição

Serviços 17 23 6 8

Limitações e requisitos 3 11 0 6

Preço 4 15 2 8

Parceiros 14 14 9 0

Concorrentes 13 8 13 2

Contato 2 21 0 0

Instruções 0 11 0 0

Objetivos 16 14 9 2

Resultados das ações 13 21 11 4

Histórico 3 5 4 0

Quadro 19. Ocorrência das relações ideacionais por número de textos (em um total de 27 pares

da Tele_A e 27 pares da Tele_B)

Essas categorias são definidas e exemplificadas nos itens abaixo. Nos exemplos

apresentados nesses itens, as palavras em negrito mostram as palavras

significativamente exclusivas presentes nas sentenças.

A) Lançamento da ação da empresa – Essa categoria reúne as relações

ideacionais que indicam o início da atividade descrita, como por exemplo, o lançamento

de um produto (como no exemplo 17), a assinatura de um contrato, a data de um evento

ou a publicação dos resultados financeiros (como no exemplo 18).

17. A Tele_B coloca à disposição dos paulistas, até 31 de maio, mais 73 mil terminais da

Linha da Economia Família (...) (press release da Tele_B)

18. De acordo com as normas de ampla divulgação da Bolsa de Valores Americana (SEC),

os resultados serão divulgados via business wire e, logo após, estarão disponíveis no site

da Empresa Brasileira de Telecomunicações. (press release da Tele_A)

Nas linhas de concordância, foram observados casos nos quais essa concentração

de palavras significativamente exclusivas nas notícias da Tele_B se devem a diferenças

de tempo interpessoal descritas na seção 1.5.1 da fundamentação teórica desse trabalho,

como nos exemplos 19 e 20 (diferenças em fontes sublinhadas):

19. A partir da zero hora deste sábado, 04 de setembro, as ligações entre 39 municípios da

Grande São Paulo deixam de ser cobradas como longa distância e passam a ser cobradas

como chamadas locais. (press release da Tele_B)

Page 109: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

109

A partir da zero hora de amanhã, as ligações entre os 39 municípios da Grande São

Paulo deixam de ser cobradas como longa distância e passam a ser cobradas como

chamadas locais. (notícia da Tele_B)

20. A Tele_B acaba de lançar campanha de final de ano que oferece condições especiais de

pagamento a clientes com débitos com a empresa. (press release da Tele_B)

A empresa de telefonia lançou ontem campanha com condições especiais de pagamento.

(notícia da Tele_B)

Dessa maneira, essa concentração de palavras significativamente exclusivas não

representa diferenças na representação ideacional, podendo ser atribuídas às diferenças

entre o momento da ação e o momento da publicação do texto nos press releases e nas

notícias sobre a Tele_B.

B) Características da ação da empresa – Essa categoria reúne as relações

ideacionais que apresentam características da atividade da empresa, compreendendo as

seguintes subcategorias:

B.1) Serviço – Relações ideacionais que descrevem em o que a ação da empresa

afeta ou pode afetar participantes externos, incluindo componentes da atividade e

clientes aos quais esses componentes são dirigidos. O que é considerado aqui serviço

depende da atividade da empresa: nas atividades relacionadas aos produtos, descreve a

relação dos produtos e seus componentes com os clientes (como em 21); nas atividades

relacionadas aos patrocínios, descreve a relação entre os eventos patrocinados pela

empresa e os públicos aos quais se destinam; e nas ações internas (como em 22) e ações

junto a agências reguladoras, descreve como essas ações afetam as próprias empresas.

21. O serviço de telefonia local da Tele_A é destinado a clientes do mercado corporativo e

se caracteriza pela conexão do PABX do cliente à Central Local da Tele_A por meio de

acessos de 2 Mbps, com opções de planos de serviço diferenciados. (press release da

Tele_A)

22. Nos nove primeiros meses de 2004, a constante atualização tecnológica e a expansão

das opções de serviço foram sustentadas por investimentos de R$ 883,1 milhões,

volume que deverá chegar a R$ 1,4 bilhão até o fim do ano. (press release da Tele_B)

B.2) Limitações e restrições dos serviços – Relações ideacionais que

descrevem características das atividades das empresas que possam trazer algum tipo de

Page 110: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

110

custo adicional aos clientes – seja um aumento de preços, um requisito imposto para o

uso dos produtos e participação nos eventos ou qualquer tipo de inconveniente que

possa representar uma perda para os clientes, como em 23.

23. Diferentemente das linhas convencionais, a linha econômica precisa de um cartão pré-

pago para fazer chamadas mais caras, como DDD, DDI e ligações para celular. (notícia

sobre a Tele_B)

B.3) Preço – Relações ideacionais que descrevem o custo financeiro imposto

aos participantes externos decorrente das ações da empresa, como em 24.

24. A assinatura do Speedy Solução Condomínio, na versão de 300 Kbps, custa R$ 63,90 e

os provedores podem ser encontrados a partir de R$ 14,90. (press release da Tele_B)

B.4) Ações de parceiros – Reúne relações ideacionais que descrevem ações

compreendidas nas atividades da empresa que possam ser explícita ou implicitamente

imputadas a uma outra empresa ou indivíduo que de alguma forma atuam em favor dos

interesses da empresa nessa atividade. Em 25, é mostrada a presença de parceiros que

auxiliam a Tele_B na venda dos cartões telefônicos; em 26, o parceiro é um artista que

participa de um evento patrocinado pela Tele_A.

25. Os cartões podem ser encontrados em milhares de estabelecimentos, incluídos

Correios e lotéricas, nos valores de R$ 5, R$ 15 e R$ 25. (press release da Tele_B)

26. No encerramento, o cantor Denílson Benevides fará uma apresentação de um "mix" de

canções que se referem à cidade, como Ronda, Sampa, Sinfonia de São Paulo e Perfil

de São Paulo. (press release da Tele_A)

B.5) Ações de concorrentes – Reúne relações ideacionais que descrevem ações

compreendidas nas atividades da empresa que possam ser explícita ou implicitamente

imputadas a uma outra empresa ou indivíduo de alguma forma atuem contra os

interesses da empresa nessa atividade, como em 27.

27. Com a compra da Vésper, a Tele_A passou a atender as mesmas áreas da Tele_B e

Telemar. (notícia sobre a Tele_A)

Page 111: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

111

C) Objetivos apresentados para a ação da empresa – Relações ideacionais que

descrevem alterações positivas desejadas para a empresa que possam ser alcançadas em

decorrência das atividades, como em 28.

28. Até o final de 2006, o plano deverá alcançar o patamar de 500 mil assinantes. (press

release da Tele_B)

D) Resultados obtidos com ações da empresa– Relações ideacionais que

descrevem resultados decorrentes das ações das empresas. O exemplo 29 mostra

resultados em termos da resposta dos clientes ao lançamento dos produtos, enquanto

que 30 mostra a resposta da agência reguladora às medidas legais tomadas pela Tele_A.

29. Esse sucesso demonstra o interesse do público pela telefonia fixa (...) (press release da

Tele_B)

30. Assim, conforme a decisão do Cade, a Telesp não mais poderá cobrar de seus

concorrentes preços superiores aos cobrados da sua subsidiária Tele_B Empresas (...)

(press release da Tele_A)

E) Histórico – Relações ideacionais que expressam ações que precedem no

tempo as ações referidas na categoria de lançamento. Essas ações podem ser indicadas

expressamente como causas para as ações da empresa ou interpretadas como tal pelo

conhecimento do contexto, como em 31.

31. A operadora brasileira foi posta a venda pela sua controladora --a MCI-- no final do

ano passado e tem sido alvo de uma forte disputa travada entre o consórcio Calais e a

mexicana Telmex, que vê na Tele_A a grande chance de se estabelecer no mercado

brasileiro. (notícia sobre a Tele_A)

A análise das linhas de concordância das palavras significativamente exclusivas

nos permite identificar diferenças nas representações ideacionais dos press releases e

notícias, de forma a responder à primeira pergunta de pesquisa. Algumas diferenças já

citadas anteriormente referem-se à exclusão das informações e o uso de relatos de

linguagem pelas notícias.

A principal diferença identificada pelos quadros acima parece ser que enquanto

as empresas utilizam mais recursos para descrever os seus produtos, os parceiros e

funcionários envolvidos, e os clientes alvo dos produtos, as notícias mantêm o foco na

ação da empresa de lançar o produto. Isso parece ser mais visível nos press releases da

Page 112: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

112

Tele_B, que tem um maior número de textos com palavras significativamente

exclusivas relacionadas à descrição dos produtos, incluindo informações sobre as

formas pelas quais os clientes podem fazer contato com a empresa e o fornecimento de

instruções de uso dos produtos aos clientes. Além disso, foi observado um maior

número de textos da Tele_B que descreve os resultados de suas ações, sejam esses

expressos em termos financeiros ou em volumes de vendas. As noticias sobre a Tele_B

parecem apresentar uma visão divergente sobre os produtos, com informações relativas

às limitações dos produtos e aos preços destes.

Outra diferença encontrada nos quadros vem a confirmar as análises iniciais que

mostraram um maior número de press releases e notícias da Tele_A que descrevem

relações com agências reguladoras e concorrentes, atribuídas à entrada da Tele_A em

diversos mercados locais.

A discussão dos resultados apresentada a seguir mostrou que as relações

ideacionais encontradas podem ser agrupadas em categorias de instâncias de avaliação.

Esse movimento na análise se constitui em uma delimitação do corpus, que mostra

como as empresas expressam diferentes tipos de comparação entre suas ações e as de

suas concorrentes e comparações temporais, entre uma situação existente antes da ação

da empresa e outra, após essa ação. Esses grupos de relações ideacionais serão

analisados na próxima seção, que mostra como as avaliações são expressas nos textos.

3.4. Análise de avaliação

As formas de realização das relações ideacionais identificadas e as avaliações

envolvidas são discutidas nas próximas seções. A análise dos exemplos é composta por

três partes: análise das funções ideacionais, identificação das funções dos participantes e

a análise da avaliação e das formas como ela é construída nos textos.

Conforme discutido na fundamentação teórica, as discussões sobre a avaliação

são baseadas no sistema e a forma de realização. Em termos de sistema, as avaliações

são classificadas por tipo e polaridade, conforme o sistema de Atitude (Martin e White,

2005:42) e os conjuntos de valores subjacentes à avaliação. Em termos de forma de

realização, as avaliações são descritas pelos recursos ideacionais dos diversos níveis da

estrutura do texto, da palavra ao complexo oracional. Como o foco dessa análise são as

Page 113: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

113

formas de realização das avaliações e os valores nelas envolvidos, a identificação das

Atitudes pelo sistema de Martin e White (2005) ficou restrita às categorias principais de

Apreciação, Julgamento e Afeto, exceto quando considerado necessário para a discussão

do exemplo em questão.

A análise dessas categorias sob o ponto de vista da avaliação mostrou ser

possível agrupar essas categorias em quatro grupos de relações ideacionais, cujos

exemplos serão apresentados e discutidos nas próximas seções deste capítulo:

Oferta de benefícios: Relações ideacionais que identificam os clientes-alvo dos

produtos e os benefícios que esses clientes poderão usufruir com eles. Essa categoria

também inclui características negativas dos produtos.

Demonstrações de capacidade das empresas: Relações ideacionais que

evidenciam a capacidade da empresa de fornecer os serviços oferecidos.

Aumento de capacidade das empresas: Relações ideacionais que descrevem

ações que podem aumentar a capacidade de agir da empresa.

Resultados das ações das empresas: Relações ideacionais que expressam ações

e situações que podem ser vistas como efeitos das ações das empresas.

A análise dos resultados é baseada em exemplos e excertos retirados do corpus,

sendo que os excertos são utilizados quando a descrição do fenômeno de avaliação

envolver dois ou mais complexos oracionais diferentes que estejam em um mesmo

trecho contíguo do texto. Para facilitar a leitura, os exemplos e excertos estão

identificados por uma mesma seqüência numérica.

3.4.1. Oferta de benefícios

A análise comparativa mostrou que as notícias sobre a Tele_A e sobre a Tele_B

tendem a excluir a descrição dos benefícios oferecidos aos clientes pelos produtos ou

eventos patrocinados pelas empresas. Esta seção descreve estruturas que podem ser

consideradas realizações de ofertas aos clientes, conforme Thompson e Thetela

(1995:122), nas quais “os textos publicitários representam o leitor como um futuro

usuário dos produtos anunciados, o que muitas vezes implica em uma condição” – ou

seja, para usufruir dos benefícios, o cliente terá de comprar o produto. Em termos de

Page 114: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

114

Atitude, tais ofertas se constituem em expressões de Apreciação dos produtos e

expressões de Julgamento das empresas, cuja polaridade depende de os benefícios

serem reconhecidos como positivos ou negativos.

3.2.1.1. Ofertas de serviços

A análise do corpus mostrou realizações de ofertas que utilizam o tempo verbal

futuro, elementos modais e outras metáforas de modalidade. O excerto 32 foi retirado de

um press release que descreve um produto da Tele_A, a infra-estrutura utilizada pelo

produto e os serviços colocados à disposição dos clientes. A análise mostra que esse

excerto contém diversas avaliações positivas quanto ao produto, que se reforçam entre

si, em expressões de atitude inscritas e evocadas.

32. Com a Click 21, os internautas brasileiros terão Internet gratuita com a qualidade e

segurança já conhecidas da Tele_A. A qualidade da conexão será garantida pelo maior

backbone Internet da América Latina, através de um discador simples e de fácil uso.

Além disso, os usuários terão acesso a duas contas gratuitas de e-mail (com até 30 Mb

de armazenamento cada uma), webmail para acessar e-mails de qualquer lugar do

mundo, antivírus, anti-spam e links para os melhores sites disponíveis na World Wide

Web. Em breve, o portal terá conteúdo próprio e o usuário poderá dispor de uma série

de outras ferramentas. (press release da Tele_A)

Desse excerto, temos o exemplo 33, que descreve o produto:

33. Com a Click 21, os internautas brasileiros terão Internet gratuita com a qualidade e

segurança já conhecidas da Tele_A.

Em 33, temos as funções ideacionais abaixo. Nessa oração, temos duas

interpretações possíveis: em (a), o sintagma preposicional com a qualidade (...) faz parte

do grupo nominal, modificando o participante Internet gratuita. Em (b), o sintagma

preposicional acima modifica o processo, em uma circunstância de maneira:

(a) Circunstância de

meio

Possuidor Pr. Rel. Possuído

(b) Circunstância de

meio

Possuidor Pr. Rel. Possuído Circunstância de maneira

Com a Click 21 os internautas

brasileiros

terão Internet

gratuita

com a qualidade e segurança

já conhecidas da Tele_A

Quadro 20. Funções ideacionais do exemplo 33

Page 115: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

115

Nessas duas interpretações, temos:

Identificação do Produto – pelo seu nome (Click 21), na Circunstância de Meio.

Essa circunstância pode ser interpretada também como a condição necessária

para que o cliente usufrua dos serviços.

Identificação do Cliente – pelo termo usado para designar os Possuidores

potenciais dos produtos (internautas brasileiros).

Identificação do Serviço – nos grupos nominais que indicam os participantes nas

funções de Possuído (internet gratuita...)

Identificação da Empresa – no sintagma nominal (Tele_A)

Nessa oração, a realização da oferta é realizada pelo tempo verbal futuro, em

terão. Nessa oração, são avaliados os seguintes participantes:

O Serviço (Internet): O benefício identificado é expresso por um grupo nominal

que destaca as características do serviço de acesso à Internet, pelo Classificador

gratuita, e o Qualificador com a qualidade e segurança já conhecidas da Tele_A. A

identificação dessas características pode ser considerada uma expressão de Atitude

positiva de Apreciação. Essa avaliação tem como base os conceitos de “custo” e

“benefício”, onde o custo é zero (gratuita) e o benefício é identificado por participantes

abstratos (qualidade e segurança), que indicam características do produto.

O Produto (Click 21): Essa oração expressa uma Atitude positiva de Apreciação

do produto baseada no conceito de “proporcionar benefícios”, pois isso aumenta a

chance dos produtos serem adquiridos pelos clientes e da empresa ter bons resultados.

Outro conceito que pode ser usado como base para a avaliação é a “trazer algo novo”,

pois o produto pode proporcionar um aumento de capacidade aos clientes em potencial.

A Empresa (Tele_A): Esse grupo nominal também identifica qualidade e

segurança como sendo características intrínsecas da Tele_A, expressando assim uma

Atitude de Julgamento positivo quanto à empresa, com base em que ter tais qualidades é

positivo.

Os Clientes: Nessa interpretação, o valor positivo dessa Apreciação estaria

diretamente relacionado a uma Atitude de Julgamento quanto à capacidade futura dos

usuários que utilizarem o produto.

Page 116: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

116

No exemplo 34, também retirado do excerto acima, temos uma oração que

evidencia a capacidade da empresa de oferecer um produto de qualidade, reforçando o

valor da afirmação expressa no exemplo 33. Em 34, um elemento da infra-estrutura da

empresa (backbone) tem um papel ativo em garantir (aqui interpretado como fornecer

garantia a, ou proporcionar com segurança condições para) uma característica do

serviço, a qualidade da conexão.

34. A qualidade da conexão será garantida pelo maior backbone Internet da América Latina,

através de um discador simples e de fácil uso.

Em 34, temos as funções ideacionais abaixo:

Meta Pr. Mat. Ator Circ. Maneira A qualidade da

conexão

será garantida pelo maior backbone

Internet da América Latina

, através de um discador

simples e de fácil uso.

Quadro 21. Funções ideacionais do exemplo 34

Nessa oração, temos:

Identificação do serviço: conexão.

Identificação da característica do serviço: qualidade

Identificação de um componente do produto: backbone

Identificação de um componente do produto: em (discador...)

Aqui temos a oferta da empresa realizada no grupo verbal, pelo uso do processo

garante, que traz uma carga de modalidade alta de certeza, além do tempo verbal futuro,

em será. Nessa oração, são avaliados os seguintes participantes:

O Serviço: Em a qualidade da conexão temos um grupo nominal no qual

conexão é a Coisa descrita e qualidade é Faceta (Halliday e Matthiessen, 2004:335).

Esse grupo nominal destaca uma Qualidade (Halliday e Matthiessen, 1999:184) do

serviço que expressa uma Atitude positiva de Apreciação, pelo conceito de que

“proporcionar benefícios” é positivo e a característica de “qualidade” traz a segurança

de que esses benefícios serão consistentemente obtidos.

O Componente do Produto (backbone): No grupo nominal, o backbone é

avaliado positivamente (o maior) em comparação aos demais concorrentes de uma

região geográfica definida (a América Latina), com base nos conceitos de “ter

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III. Apresentação e discussão dos resultados

117

capacidade” e “ser melhor que a concorrência”. Nessa oração, o backbone também é

avaliado por sua ação, no tempo verbal futuro, de garantir a qualidade da conexão.

Essa ação expressa uma Atitude positiva de Apreciação quanto ao backbone, com base

no conceito de “trazer melhoria”. Deve ser observado aqui que, a rigor, o fato de ser o

maior não implica necessariamente na qualidade da conexão. Dessa maneira, embora

essas duas expressões de Atitude possam ser compreendidas pelo leitor como tendo uma

relação de causa, na verdade, seriam duas avaliações independentes.

O Componente do Produto (discador): Nesse exemplo, há ainda uma

circunstância de meio (Halliday e Matthiessen, 2004:262), expressa em através de um

discador simples e de fácil uso, que avalia o discador (programa usado para estabelecer

a conexão entre o computador do usuário e o servidor da empresa) do provedor gratuito

positivamente de maneira explícita pelo uso dos classificadores simples e fácil uso. Essa

avaliação positiva tem como base outro tipo de avaliação por “custo x benefício”, onde

o custo seria o esforço do usuário para obter a conexão e o benefício seriam os serviços

proporcionados pelo provedor.

O exemplo 35, também retirado do excerto acima, descreve outros componentes

do produto As sentenças desse exemplo têm uma relação lógica de extensão com a

oração do exemplo 33, expressa pela conjunção além disso, relaciona o produto

identificado em 33 aos componentes do produto identificados em 35.

35. Além disso, os usuários terão acesso a duas contas gratuitas de e-mail (com até 30 Mb

de armazenamento cada uma), webmail para acessar e-mails de qualquer lugar do

mundo, antivírus, anti-spam e links para os melhores sites disponíveis na World Wide

Web. Em breve, o portal terá conteúdo próprio e o usuário poderá dispor de uma série

de outras ferramentas.

Nesse exemplo, temos as funções ideacionais abaixo:

Relator Possuidor Pr. Rel. Possuído

Além

disso,

os usuários terão acesso a duas contas gratuitas de e-mail (com até 30 Mb de

armazenamento cada uma), webmail para acessar e-mails

de qualquer lugar do mundo, antivírus, anti-spam e links

para os melhores sites disponíveis na World Wide Web

usuário poderá

dispor de

uma série de outras ferramentas

Quadro 19. Funções ideacionais do exemplo 35

Page 118: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

118

Nessa oração, temos processos relacionais que expressam uma relação de posse entre os

participantes identificados como:

Cliente – pelo termo usado para designar os Possuidores potenciais dos produtos

(usuários).

Componentes do Produto – no grupo nominal que indica os participantes nas

funções de Possuído (acesso a duas contas ...) e, na oração seguinte, uma série

de outras ferramentas.

A oferta é novamente realizada pelo tempo verbal futuro, além de Atitudes

positivas de Apreciação, baseadas no conceito de “custo x benefício”, expressas:

No grupo nominal, em características atribuídas às contas de e-mail, em gratuita

(Epíteto) e até 30 MB de armazenamento (Qualificador), com base no benefício

da “capacidade”.

Na oração, na ação atribuída ao webmail, em acessar e-mails de qualquer lugar

do mundo (Processo), com base no benefício da “conveniência”.

Na palavra, nos termos antivírus e anti-spam, pela oposição (expresso pelo

prefixo anti) a entidades avaliadas negativamente pela comunidade (vírus e

spam), com base no benefício da “segurança”.

No grupo nominal, pela avaliação positiva explícita atribuída aos sites, em

melhores (Epíteto), com base no benefício do “entretenimento”.

No grupo nominal, pelo Numerativo série, em uma série de outras ferramentas.

Diferentemente do grupo nominal do parágrafo acima, este grupo nominal não é

avaliado por um item avaliativo explícito. A polaridade da avaliação parece ser

decorrente de uma combinação de recursos de Gradação (expressa pela

quantidade numérica, em uma série) e a avaliação de que as outras ferramentas

são algo positivo (pela associação destas, pelo Pós-Dêitico (Halliday e

Matthiessen, 2004:317) outras, e as ferramentas avaliadas positivamente no

texto).

A análise acima mostra como pode ser complexa a construção da avaliação até

mesmo em um pequeno trecho de texto, construída por relações ideacionais entre a

Page 119: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

119

empresa, produto, componentes do produto e serviços, expressa em vários níveis de

constituência. A avaliação do produto é construída por uma lista de serviços

proporcionados pelo produto, em avaliações explícitas e implícitas. Por essas relações,

uma avaliação positiva conferida a um desses participantes influencia a avaliação de

outro produto relacionado a este, em uma visão de construção de valor no texto próxima

à de Hunston (2000:194). A análise também mostrou como as Atitudes expressas no

texto são baseadas em uma composição de valores reconhecidos na sociedade, como

custo x benefício, trazer melhorias e ter destaque perante os concorrentes.

O conjunto de serviços pode ser avaliado explicitamente, como no exemplo 36,

no qual o provedor também é avaliado positivamente pelos serviços que proporciona.

Neste caso, essas características são avaliadas explicitamente como vantagens.

36. O provedor entra no mercado oferecendo uma série de vantagens: a garantia de uma

conexão rápida, sem sinal de ocupado, suporte 24 horas e serviço de e-mail com maior

capacidade de armazenamento que a maioria dos concorrentes. (press release da

Tele_A)

Em 36, temos as seguintes funções ideacionais:

Oração dominante Oração dependente

Ator Pr. Mat. Escopo Pr. Mat. Meta

O provedor entra no mercado oferecendo uma série de vantagens:

(vantagens)

Quadro 23. Funções ideacionais do exemplo 36

Em 36, temos:

Identificação do produto: por sua área de atuação, em provedor

Identificação dos clientes: em mercado

Identificação dos serviços: no grupo complexo iniciado por uma série de vantagens,

que relaciona os serviços proporcionados pelo produto

Nesse complexo nominal, são avaliados os seguintes participantes:

O produto: No complexo oracional O provedor entra no mercado oferecendo

uma série de vantagens, o produto participa de dois processos, na oração dominante e

na dependente. Na oração dominante, o produto pode ser visto como algo novo no

mercado, em sua função de Ator de processo material expresso por entra. A avaliação

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III. Apresentação e discussão dos resultados

120

dessa mudança está expressa na oração dependente, pela qual o produto pode ser

avaliado positivamente com base no conceito de “proporcionar benefícios”.

Os serviços: No grupo nominal | uma série de vantagens: [ (vantagens) ] |, a

avaliação positiva das características do produto é feita explicitamente, pelo uso do item

avaliativo vantagens. As características do produto colocadas em destaque são

referenciadas um grupo nominal complexo, que expressa uma relação de elaboração

entre uma série de vantagens e as características, pelo uso do sinal ortográfico de dois

pontos (:). Essas características são:

Conexão: A característica de ser uma conexão rápida, sem sinal de ocupado

expressa uma Atitude positiva de Apreciação com base na velocidade

(benefício) e facilidade de conseguir conexão (custo). Essa característica faz

uma referência implícita à concorrente representada pelos produtos de

tecnologia anterior, que utilizavam a conexão discada, de menor velocidade e

dependente da capacidade de linhas telefônicas do servidor.

Suporte: A característica 24 horas do suporte oferecido expressa uma Atitude

positiva de Apreciação, porque o usuário poderá ter o benefício de receber

assistência a qualquer momento, pelo conceito de “segurança”.

Serviço de e-mail: Avaliado pela Atitude positiva quanto à sua característica de

ter maior capacidade de armazenamento que a maioria dos concorrentes. Essa

característica traz uma comparação explícita com os concorrentes e uma

avaliação positiva do serviço, com base no conceito de “ser melhor”.

O grupo nominal acima expressa valores que fazem referência a um

conhecimento supostamente compartilhado com o leitor sobre as necessidades dos

clientes e os produtos anteriores. A lista de características mencionadas mantém uma

relação lógica de elaboração com relação à avaliação explícita presente no núcleo do

grupo nominal em vantagens e, em termos de avaliação, evidenciam essa avaliação

explícita. Como visto acima, cada uma das características mencionadas do produto

também é objeto de Atitudes invocadas e evocadas, que, nesse caso, afetam

positivamente a avaliação do produto.

O excerto 37 mostra outras formas encontradas no corpus para expressar

avaliação e identificar os clientes do produto:

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III. Apresentação e discussão dos resultados

121

37. A Tele_B1, empresa do Grupo Tele_B, acaba de ativar no Aeroporto Internacional de

São Paulo/Guarulhos o serviço Speedy Wi-Fi, que permite acesso de banda larga sem

fio à internet.

(...)

A conexão à internet em banda larga garante a navegação em alta velocidade para

facilitar a vida de profissionais em viagem, estudantes, usuários de equipamentos

portáteis e internautas em geral.

Os internautas poderão acessar a web para pesquisas, consulta de notícias, cotações,

emails, emitir pedidos, entre outras aplicações. O Speedy Wi-Fi é também muito útil

para executivos, equipes de vendas e prestadores de serviços em geral, principalmente

para os que atuam também fora de seus escritórios. (press release da Tele_B)

Nesse excerto, inicialmente os clientes são identificados implicitamente, em uma

circunstância de lugar, como sendo os freqüentadores do Aeroporto Internacional de

São Paulo. Em seguida, os clientes são identificados explicitamente por suas áreas de

atuação, em profissionais, estudantes, executivos, equipes de vendas e prestadores de

serviço. Os clientes também são identificados pelos produtos que eles utilizam, em

internautas e usuários de equipamentos portáteis. Além disso, eles são identificados

pelas situações nas quais utilizam os produtos, em profissionais em viagem e que atuam

fora também fora de seus escritórios.

Em 37, temos uma associação entre um componente do produto (conexão) e os

serviços proporcionados pelo uso do produto, em pesquisas, consultas de notícias,

emitir pedidos, entre outras aplicações, como mostrado nos exemplos 38, 39 e 40:

38. A conexão à internet em banda larga garante a navegação em alta velocidade para

facilitar a vida de profissionais em viagem, estudantes, usuários de equipamentos

portáteis e internautas em geral.

Nesse exemplo, temos um complexo oracional com duas orações, em uma relação

hipotática:

Oração dominante Oração dependente (finalidade) A conexão à internet em banda larga garante a

navegação em alta velocidade

para facilitar a vida de profissionais em

viagem, estudantes, usuários de equipamentos

portáteis e internautas em geral.

Quadro 24. Funções ideacionais do exemplo 38

No complexo oracional acima, a relação entre o componente do produto

(conexão à internet em banda larga) e o serviço oferecido por este (navegação em alta

velocidade) é expressa pelo processo material garante. Aqui também podemos destacar

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III. Apresentação e discussão dos resultados

122

que, pelo sistema interpessoal de modo, o uso de garante também expressa um alto grau

de certeza de que a proposição é verdadeira, aumentando o valor da oferta da empresa.

Na oração dependente, temos outro processo material expresso por facilitar, que

mostra uma relação ideacional que tem o componente do produto (conexão) como Ator

e a transformação que ele introduzirá no dia-a-dia dos clientes (expresso por a vida

de...), que nessa oração tem o papel de Meta.

Comparando os exemplos 36 e 38, temos duas formas similares de construção de

avaliação, realizadas por diferentes recursos léxico-gramaticais. No exemplo 36, temos

um grupo nominal complexo que tem como núcleo uma categoria superordenada de

participantes (vantagens) que traz uma avaliação explícita a uma lista de serviços

(conexão, suporte, serviço de e-mail). Já no exemplo 38, temos um processo (facilitar a

vida) que é elaborado na circunstância da oração seguinte em atividades do dia-a-dia

dos clientes (pesquisas, consultas de notícias, etc.).

O exemplo 39, retirado do mesmo excerto, descreve em maiores detalhes, em

uma relação lógica de elaboração entre esses dois exemplos, as maneiras pelas quais o

uso do produto pode alterar a vida dos clientes.

39. Os internautas poderão acessar a web para pesquisas, consulta de notícias, cotações,

emails, emitir pedidos, entre outras aplicações.

Ator Pr. Mat. Escopo Circunstância de finalidade Os internautas poderão acessar a web para pesquisas, consulta de notícias, cotações,

emails, emitir pedidos, entre outras aplicações.

Quadro 25. Funções ideacionais do exemplo 39

Em uma análise de avaliação, essas relações ideacionais expressam uma Atitude

positiva de Apreciação ao produto com base nos conceitos de “proporcionar benefícios”

e “segurança” (de que o produto tem capacidade de proporcionar os benefícios

oferecidos).

Podemos observar aqui que os serviços identificados na circunstância de

finalidade acima não são avaliados explicitamente nessa oração. Apenas o

conhecimento prévio compartilhado entre a empresa e os clientes permite que haja a

atribuição de valor a esses serviços e a associação à avaliação positiva de facilitar a

vida da sentença anterior. Assim, parece haver uma concordância implícita entre a

empresa e os clientes sobre o valor dessas vantagens, seguindo a visão de Hunston

Page 123: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

123

(2000:199), identificando, dessa maneira, os clientes alvo da ação da empresa, como

sendo grupos de pessoas que compartilhem ou aceitem a visão da empresa e

reconheçam essas características como vantajosas.

No exemplo 40, também retirado do excerto acima, temos outra Atitude positiva

explícita de Apreciação quanto ao produto:

40. O Speedy Wi-Fi é também muito útil para executivos, equipes de vendas e prestadores

de serviços em geral, principalmente para os que atuam também fora de seus escritórios.

Esse exemplo mostra uma relação entre o produto (Speedy Wi-Fi) e uma de suas

características (ser muito útil para...), expressa por um processo relacional. Essa

característica expressa uma Atitude explícita de Apreciação positiva ao produto, com

base no conceito de “proporcionar benefícios”. Os benefícios oferecidos

especificamente a esses profissionais pelo produto não estão identificados diretamente;

dessa forma, a avaliação positiva aqui também depende do conhecimento compartilhado

quanto às necessidades desses profissionais.

Em 40, há uma relação lógica de extensão criada pelo uso do Adjunto conjuntivo

(Halliday e Matthiessen, 2004:540) também, que inclui as categorias de clientes

executivos, equipes de vendas e prestadores de serviços aos clientes identificados nas

sentenças anteriores, o que intensifica a Atitude de Apreciação positiva atribuída ao

produto. Essa categoria de clientes é adicionalmente identificada por uma ação, atuam

fora de seus escritórios. Como esse exemplo apresenta a última oração que fala do

produto do press release, essa relação entre o produto e esses profissionais não é

elaborada posteriormente, como nos exemplos anteriores, mas pelas avaliações

expressas anteriormente no texto.

As atitudes dos exemplos acima são baseadas em um conhecimento

compartilhado do contexto, pelo qual os benefícios seriam imediatamente aceitos como

positivos pelos clientes. Entretanto, o benefício oferecido por uma característica do

produto nem sempre pode ser percebido facilmente, como mostrado em 41:

41. Esse tipo de acesso pode ser oferecido, tanto em conjunto com a linha telefônica, ou

separadamente, e é competitivo com as tecnologias ADSL existentes, ainda com

vantagem de ser uma solução sem fio (wireless). A Tele_A terá uma solução que a

permitirá atender o mercado residencial e oferecer acesso banda larga à internet. (press

release da Tele_A)

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III. Apresentação e discussão dos resultados

124

Esse exemplo indica que uma vantagem do produto é ser uma solução sem fio,

sem indicar explicitamente o benefício que essa característica traria ao cliente, para o

que temos de recorrer a informações do contexto. Como mencionado na descrição das

empresas feita no capítulo de metodologia, a Tele_A é uma nova entrante nos mercados

de telefonia local, não tendo a posse da fiação que chega aos assinantes, que pertence às

antigas concessionárias. Dessa maneira, o principal benefício dessa característica do

produto de ser sem fio para os clientes parece ser apenas a possibilidade de eles serem

atendidos pela Tele_A. Em termos de atribuição de Valor à proposição, essa falta de um

benefício claro para o cliente pode reduzir, na visão do leitor, a avaliação positiva

atribuída ao produto.

O exemplo 42 mostra outra forma de descrição de produtos e identificação dos

clientes, expressa por processos mentais desiderativos (Halliday e Matthiessen,

2004:210).

42. O Business Link Direct oferece às empresas a possibilidade de estarem conectadas

permanentemente à internet. Este serviço é indicado para organizações de todos os

portes que têm intenção de prover acesso interno aos seus empregados/clientes através

da rede corporativa; que desejem montar serviços de informação (information

provider), criando uma presença institucional na internet; ou, ainda, que queiram se

transformar em provedores de serviços de conexão (access provider), fornecendo

conexão à internet para terceiros, através de sua própria rede. (press release da Tele_A)

Nesse exemplo, temos a seguinte identificação entre desejos dos clientes e os

benefícios oferecidos pelo produto, no grupo nominal, que tem orações deslocadas em

nível na estrutura de transitividade mostrada no quadro 26:

Experienciador Pr. Ment. Fenômeno Organizações de

todos os portes que

têm intenção de prover acesso interno aos seus empregados/clientes

através da rede corporativa

desejem

montar serviços de informação (information provider),

criando uma presença institucional na internet

queiram se transformar em provedores de serviços de conexão

Quadro 26. Descrição dos clientes por processos mentais

Nesse caso, a indicação de que os clientes não têm os serviços no momento

presente é feita pelo uso do processo mental desiderativo. Essa forma de identificação

dos clientes por seus desejos faz uma correspondência entre os benefícios oferecidos

pelos produtos e os desejos e necessidades atuais dos clientes. A empresa mostra que

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III. Apresentação e discussão dos resultados

125

conhece os desejos dos clientes, demonstrando conhecimento do mercado

(“capacidade”) e uma proximidade dos clientes pela preocupação de atender os seus

desejos, o que envolve valores como “empatia” e “proporcionar benefícios”.

Essa relação entre os clientes e os produtos também é estabelecida por um

processo relacional (Este serviço é indicado para organizações de todos os portes), no

qual a empresa assume um papel similar ao de uma “consultora”, indicando (como

Designador, cf. Halliday e Matthiessen, 2004:237) essa relação entre o serviço e os

clientes (em um processo relacional atributivo do tipo qualidade, com o sentido de “ser

aplicável a”, cf. Halliday e Matthiessen, 2004:238).

O excerto 43 mostra como as Atitudes podem ser construídas ao longo de dois

complexos oracionais. Esse excerto descreve uma mudança na forma de tarifação de um

produto já existente e o efeito que essa mudança trará aos usuários. Nesse excerto, a

oferta é realizada pelo uso do modal no futuro (poderão), e a mudança efetuada pela

ação da empresa é expressa no grupo verbal, em passam a ter.

43. Ligações entre 39 municípios vizinhos da Grande SP passam a ter tarifa local

Usuários poderão falar até oito vezes mais pagando mesmo valor (press release da

Tele_B)

Nesse excerto, temos o exemplo 44:

44. Ligações entre 39 municípios vizinhos da Grande SP passam a ter tarifa local

Nesse exemplo, analisamos as funções de transitividade no quadro 27:

Portador Pr. Rel. Atributo Ligações entre 39 municípios vizinhos da Grande SP passam a ter tarifa local

Quadro 27. Funções ideacionais do exemplo 44

Em 44, temos os seguintes elementos:

Identificação do serviço: no Portador: Possuidor, em Ligações.

A identificação dos clientes que serão afetados pela mudança: no Classificador

do grupo nominal (39 municípios vizinhos da Grande SP)

Identificação da mudança provocada pela ação da empresa: na elaboração por

fase (Halliday e Matthiessen, 2004:511) do grupo verbal (passam)

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III. Apresentação e discussão dos resultados

126

Identificação da nova característica do serviço: pelo Atributo: Possuído (tarifa

local).

O exemplo 44 descreve uma modificação no produto (passar a ter tarifa local).

Esse exemplo não contém itens avaliativos explícitos e a atribuição de valor (no plano

autônomo) à mudança depende fortemente do contexto – do conhecimento de que

cidades próximas pertencentes à Grande São Paulo pagavam tarifas mais caras. Esse

valor apenas é identificado em termos dos benefícios resultantes para os clientes no

complexo oracional seguinte (exemplo 45):

45. Usuários poderão falar até oito vezes mais pagando o mesmo valor.

Esse complexo oracional descreve a alteração em termos do custo dos serviços

com a nova tarifa, explicando a vantagem de passar a ter tarifa local. Em 45, temos as

seguintes funções ideacionais:

Ator Processo Circunstância de

grau

Oração dependente

Usuários poderão falar até oito vezes mais pagando o mesmo valor

Quadro 28. Funções ideacionais do exemplo 45

Nessa estrutura, a oferta feita ao cliente contém os seguintes elementos:

Identificação do cliente: identificados em usuários

Identificação do benefício: o benefício é indicado pela combinação entre o serviço

oferecido ao cliente na nova situação e o pagamento pelo serviço:

Identificação do resultado da comparação com o serviço antigo: na circunstância de

grau até oito vezes mais

Identificação do custo: Na oração dependente, em pagando o mesmo valor.

O exemplo 45 mostra como a avaliação é construída pelo conjunto da oração

dominante e a dependente. Nesse exemplo, a avaliação positiva do produto é resultado

de uma comparação entre dois dos elementos acima: o benefício (falar oito vezes mais)

e o custo (pagando o mesmo valor) do produto antes e depois da ação da empresa, com

base nos conceitos de “aumento de capacidade” e “custo financeiro”. Essa construção

da avaliação fica mais clara com uma comparação por absurdo, pela qual não haveria

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III. Apresentação e discussão dos resultados

127

nenhum benefício com a alteração, por exemplo, em se poder falar oito vezes mais

pagando oito vezes mais. Dessa forma, a atribuição de valor autônomo construída no

exemplo 45 (falar mais pelo mesmo preço) afeta a atribuição de valor autônomo no

exemplo 44 (a alteração de tarifa).

A atribuição de Atitudes também pode ocorrer por comparações com

concorrentes. As análises abaixo examinam exemplos nos quais as empresas usam

Numerativos que modificam Epítetos para comparar suas ações com as de seus

concorrentes com base em um critério específico, como no exemplo 46.

46. A mudança de performance em relação a banda estreita é bastante evidente, mesmo na

utilização de serviços básicos, como pesquisas, e-mail e outros. Isto se dá devido a uma

velocidade em média três vezes melhor que a do acesso discado. (press release da

Tele_B)

Em 46, temos uma comparação entre um produto da empresa e o concorrente (acesso

discado), composto pelas seguintes funções:

Identificação do concorrente – em acesso discado

Identificação do critério de comparação – em velocidade

Identificação do resultado da comparação – três vezes melhor

Deve-se observar que essa oração contém um item explícito positivo, mas para que a

avaliação do produto seja positiva, o critério pelo qual o produto é comparado terá de

ser reconhecido como positivo (alta velocidade).

Essa comparação entre a ação da empresa e a de outros participantes pode ser

vista no exemplo 47, relacionado à festa de aniversário da cidade de São Paulo, um

evento patrocinado pela Tele_A:

47. A sonorização, com mais de 300 mil watts de potência, vai garantir uma festa à altura

de grandes produções internacionais. (press release da Tele_A)

Em 47, o evento patrocinado pela empresa é avaliado por uma comparação com outros

eventos, com base em uma de suas características, um participante abstrato definido

como a sonorização da festa. A avaliação do evento em questão compreende:

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III. Apresentação e discussão dos resultados

128

A avaliação positiva atribuída aos outros eventos (produções), pelo Epíteto

grandes e o Classificador internacionais.

A caracterização da sonorização por um critério quantitativo (mais de 300 mil

watts de potência), que evidencia a alegação feita pela empresa.

Esse exemplo mostra como a avaliação de um participante pode depender da

comparação com outros participantes aos quais tenha sido atribuída uma avaliação

positiva (no caso, indicando ter o mesmo potencial de “entretenimento”).

Os exemplos abaixo mostram outros benefícios proporcionados pelos produtos

além da capacidade de comunicação. O exemplo 48 descreve as ilustrações de uma nova

série de cartões telefônicos, cujos benefícios não estão claramente identificados no

texto:

48. Os novos Cartões Pré-Pagos de telefonia fixa, que permitem ligações nacionais e

internacionais, trazem imagens de passistas, integrantes de baterias das escolas de

samba, destaques, baianas, fantasias e palhaços. (press release da Tele_A)

Em 48, além das características do produto relacionadas à comunicação

(permitem ligações), temos destacada uma característica visual, expressa em trazem

imagens de passistas, integrantes de baterias de escolas de samba, destaques, baianas,

fantasias e palhaços. A descrição dessa característica não traz nenhum item avaliativo

explícito e essa característica não volta a ser mencionada no texto, o que nos leva à

conclusão de que a avaliação dessa característica apenas pode ser feita com base em um

conhecimento intertextual compartilhado com o leitor, diferentemente do exemplo 49,

que descreve um produto do mesmo tipo:

49. Tele_B lança série inédita de cartões telefônicos com times de futebol

(...)

Uma das faces dos cartões é ilustrada com fotos e imagens dos estádios, salas de

troféus, escudos e mascotes dos times. No verso, há textos explicativos sobre os fatos

históricos, principais títulos e curiosidades. Foram produzidas 1,2 milhão de unidades,

que estão sendo distribuídas em todo o Estado. Com este cartão de 50 créditos, além de

colecionar estampas diferenciadas, o usuário pode falar mais com um único cartão.

(press release da Tele_B)

Em termos de avaliação, o produto é avaliado por ser inédito e por conter

motivos relacionados ao futebol, como mencionado nos complexos oracionais

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III. Apresentação e discussão dos resultados

129

subseqüentes à oração acima. Essas podem ser consideradas avaliações positivas, com

base no conceito de que os colecionadores de cartões telefônicos podem aumentar as

suas coleções com estampas diferenciadas, que pode atribuir aos cartões Atitudes de

Apreciação, por permitirem a esse público aumentar as suas coleções (Martin e White,

2005:56).

Não menos importante para a avaliação é o conceito de que o futebol tem um

papel importante na cultura brasileira, o que pode atrair tanto amantes do futebol em

geral quanto torcedores dos times retratados nos cartões, o que pode atribuir Atitudes de

Apreciação: Reação ou até mesmo Afeto aos produtos – papel que no exemplo 48 é

desempenhado pelo carnaval, igualmente valorizado em nossa cultura. Essas avaliações

podem atribuir uma Atitude de Julgamento: Estima Social positiva à empresa,

representada como sendo a responsável pelo lançamento do produto, que pode aumentar

as vendas da empresa e melhorar os seus resultados financeiros.

Além dos benefícios relativos aos serviços e custo, foram encontrados outros

tipos de benefícios no corpus, oferecidos aos clientes e outros públicos. Os exemplos

abaixo, retirados de um press release da Tele_B que descreve uma alteração no número

de folhas utilizadas na conta telefônica enviada aos clientes, mostram vários tipos de

benefícios oferecidos a diferentes públicos que, em seu conjunto, reforçam a avaliação

positiva da ação da empresa:

50. Novo modelo de conta da Tele_B traz mais comodidade e ajuda na preservação

ambiental (título do press release da Tele_B)

O título do press release acima relaciona dois benefícios do produto, a

comodidade e a preservação ambiental. Essa suposta “comodidade” é explicada no

exemplo 51:

51. Impressa na frente e no verso, a nova fatura obteve 94% de aprovação em pesquisa

realizada com usuários. As principais vantagens apontadas são maior facilidade de

consulta e simplificação do arquivamento. (press release da Tele_B)

Em 51, temos dois grupos nominais (maior facilidade de consulta e

simplificação do arquivamento) que expressam alterações nas ações de clientes

proporcionadas pela alteração nas contas. Essas alterações estão avaliadas

explicitamente pelo termo vantagens. O exemplo 52 explica como o novo modelo de

Page 130: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

130

conta estaria relacionado à vantagem de “preservação ambiental”, realizando uma oferta

pelo uso do modal (podem):

52. Além disso, com a redução do volume de papel, mais de 10 mil árvores podem deixar

de ser derrubadas. (press release da Tele_B)

Esse exemplo expressa uma relação de causa entre o menor uso do papel e a

redução na derrubada de árvores pela circunstância de maneira (com a redução...) o que

pode ser visto como um benefício para os grupos que se preocupam com o meio

ambiente e trazer uma imagem positiva da empresa, com base no conceito de

“preservação ambiental”.

Em 53, temos benefícios que a empresa terá com a mudança, relativos ao seu

custo de operação, que podem expressar uma Atitude positiva de Julgamento à empresa

com base no conceito de “capacidade”, “proporcionar melhorias” e “eficiência” para os

clientes (por sinalizar uma possível redução de preços) e outros grupos interessados na

empresa, por exemplo, investidores.

53. A Tele_B economizará, só neste ano, cerca de R$ 1,5 milhão com postagem nos

Correios, devido à redução do peso dos envelopes. Além disso, os custos com aquisição

de papel sofrerão redução mensal de R$ 160 mil. (press release da Tele_B)

Os benefícios da alteração podem trazer assim uma imagem positiva à empresa

junto a diferentes públicos. É de se observar que na comparação com a notícia, o

benefício da comodidade não é mencionado. Um motivo pode ser que este é um

benefício dependente da percepção individual de cada cliente de sua relação com o

produto, sendo, assim, menos verificável pelo jornal, que não aceitou a atribuição dessa

atitude aos clientes pela empresa.

Nas atividades relacionadas a patrocínios, temos outro tipo de benefício, que

podemos denominar “entretenimento”. O exemplo 54 descreve as atrações musicais da

festa de Reveillon na cidade de São Paulo.

54. As atrações musicais contemplarão diferentes estilos: samba, sertanejo, rock, techno e,

até mesmo, jazz. O espetáculo foi preparado para atender todos os gostos e para atrair

pessoas das mais diferentes faixas etárias, inclusive famílias, para a Avenida Paulista.

(press release da Tele_A)

Page 131: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

131

Nesse exemplo, os clientes são identificados por serem de todas as faixas etárias

e coletivamente como família, em um convite explícito para que as pessoas levem toda

a família. Além da Atitude de Afeto, que em nossa cultura é um valor atribuído à

família, o evento pode ajudar a resolver um problema prático, de onde levar a família no

final de semana, expressando uma Atitude positiva de Apreciação. Os clientes são

identificados também pelos tipos de músicas de que gostam, onde a validade da

expressão todos os gostos é evidenciada na sentença anterior, que enumera os estilos

musicais dos artistas contratados. Essas características expressam uma Atitude positiva

de Apreciação à festa, com base no conceito de “entretenimento”, podendo trazer uma

Atitude positiva de Julgamento: Estima Social à Tele_A, que patrocinou o evento. Esse

exemplo inclui também ações de outros participantes como parceiros da empresa, que

são analisadas em mais detalhes mais à frente neste capítulo.

No patrocínio de eventos, os press releases da Tele_B enfocam atividades

educacionais, como no excerto 55, relacionado a um acervo de aparelhos telefônicos

antigos.

55. Fundação Tele_B cria "Kit Feira de Ciências", com relíquias da história das

telecomunicações, para escolas de SP (título)

Quem imaginaria manusear, no ano de 2004, aparelhos telefônicos de antes de 1900?

Relíquias como um modelo reversível de mão, original de 1877, ou um aparelho de

1892, com pé de ferro e monofone, conservado com as características e a pintura

original, estão guardadas no acervo do Núcleo Memória Tele_B, mantido pela

Fundação Tele_B. O objetivo do núcleo é resgatar, preservar e divulgar a história da

telefonia e seu desenvolvimento tecnológico. (press release da Tele_B)

Em 55, temos a identificação dos clientes do produto cultural Kit Feira de

Ciências no título, em uma circunstância de causa (para escolas de SP). A sentença

seguinte coloca o leitor no papel de alguém que desejaria ter acesso a aparelhos

telefônicos antigos por meio de uma pergunta, que é um recurso argumentativo

discutido em Thompson e Thetela (1995:120). Outro grupo ao qual a Tele_B oferece os

benefícios pode ser identificado pela análise do exemplo 56:

56. O objetivo do núcleo é resgatar, preservar e divulgar a história da telefonia e seu

desenvolvimento tecnológico.

Em 56, temos um processo relacional que identifica uma intenção da Tele_B,

nominalizada em objetivo com uma série de processos materiais dos quais o Núcleo

Page 132: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

132

Memória Tele_B é Ator e a Meta é a história da telefonia. Dessa maneira, a Tele_B

pode ser avaliada positivamente pelos grupos de pessoas que se alinham ao conceito de

“preservação da cultura”.

A próxima seção apresenta limitações e restrições que atenuam a avaliação

atribuída aos produtos, seja reduzindo o valor dos benefícios ou aumentando o custo dos

produtos.

3.4.1.2. Limitações e restrições dos produtos

As análises mostraram que itens avaliativos positivos explícitos atribuídos aos

produtos tendem a ser excluídos das notícias, como mostrado em 57, no qual a menção

a serviços de qualidade e rede foi excluída na notícia.

57. A extensão dos prazos da dívida permitirá que a Tele_A continue a investir em serviços

de qualidade e em rede para atender o mercado corporativo, governo e clientes

residenciais. (press release da Tele_A)

Segundo a empresa, a extensão dos prazos da dívida irá assegurar que a Tele_A

continue a investir para atender o mercado corporativo, governo e clientes residenciais.

(notícia sobre a Tele_A)

Em 58, a ação nominalizada em aquisição é modalizada pelo uso de potencial na

notícia, expressando uma menor certeza de que esta ação será efetivamente executada.

Essa comparação também mostra a exclusão da característica de competitividade dos

produtos da empresa (em oferta competitiva), excluindo também o valor da avaliação

positiva.

58. Esta aquisição permitirá que a Tele_A aumente o escopo dos seus negócios de serviços

de voz local, incluindo a oferta competitiva de acesso de banda larga via tecnologia

EV-DO para pequenas empresas, pequenos escritórios e clientes residenciais. (press

release da Tele_A)

"Esta potencial aquisição permitirá que a Tele_A aumente o escopo do seu serviço de

voz local, incluindo o oferecimento de acesso banda larga pela tecnologia sem fio EV-

DO, para pequenas empresas, pequenos escritórios e para o mercado residencial", diz o

comunicado divulgado pela Tele_A. (notícia sobre a Tele_A)

Os exemplos acima mostram várias modificações nas informações feitas nas

notícias que reduzem o valor positivo das avaliações das atividades das empresas

quando comparados com as avaliações feitas nos press releases, o que pode refletir o

cuidado do jornal de não fazer uma promoção explícita da empresa.

Page 133: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

133

Entretanto, as notícias apresentam outras características que podem ser vistas

como limitações dos produtos oferecidos, expressando atitudes negativas quanto aos

produtos e reduzindo o valor da oferta da empresa. No exemplo 59, a restrição é

lexicalizada em limitação, no grupo nominal limitação de tráfego, expressando uma

Atitude negativa de Apreciação quanto ao produto.

59. Além dos novos pacotes de serviços do Speedy, que agora terão limitação do tráfego,

a Tele_B anunciou hoje uma versão do serviço de internet por banda larga para

condomínios. (notícia sobre a Tele_B)

A limitação do produto está identificada em uma oração encaixada (embedded)

que expressa uma diferença do produto com relação aos anteriores, em que agora terão

limitação de tráfego. A avaliação negativa do produto está lexicalizada na palavra

limitação, aplicada ao tráfego de dados oferecido ao usuário. Essa característica

expressa uma Atitude inscrita de Apreciação negativa ao produto, com base no conceito

de “capacidade”.

O exemplo 60, retirado de notícia sobre um produto da Tele_B, descreve uma

limitação do produto com base na comparação com um serviço anterior.

60. O usuário acessa a internet a uma velocidade de 128 kbps e tem um limite de consumo

mensal de 500 MB. Antes do novo serviço, os clientes residenciais tinham como opção

apenas as versões 300, 450 e 600 kbps do Speedy. O mais barato deles custa,

atualmente, R$ 59,90 e dá direito a 3 GB por mês. (notícia sobre a Tele_B)

Em 60, o produto é avaliado negativamente pela sua característica de limite de

consumo mensal. Além disso, o produto é avaliado negativamente de maneira implícita

pela comparação feita com os produtos anteriores pela característica de quantidade de

dados a serem transmitidas (500 MB contra 3 GB), com base no conceito de

“capacidade”. Nesse exemplo, a notícia atribui uma avaliação negativa ao produto com

base em sua “capacidade” de velocidade e consumo de dados, apesar do preço ser

menor do que os anteriores.

Os exemplos 61 e 62 mostram avaliações feitas por oposições lógicas entre

diferentes bases de avaliação.

Page 134: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

134

61. Apesar de o preço ser mais atrativo que os planos mais baratos de internet por cabo --

que custam cerca de R$ 45 por mês-- e de não exigir nenhum equipamento além do

modem, do computador e da linha telefônica, o usuário deve estar ciente que a linha

discada oferece uma velocidade de navegação inferior. (notícia sobre a Tele_B)

O exemplo 61 inicia descrevendo características do produto que podem ser

interpretadas como expressões de Atitude positiva, com base no conceito de custo

(preço e requisitos de equipamento). Entretanto, o valor dessas características é

atenuado logo no início da oração, pelo uso do disjuntivo apesar, que indica que haverá

uma oposição entre a característica positiva apresentada inicialmente e uma

característica negativa posterior. Na oração seguinte, o produto é avaliado

negativamente por sua característica de velocidade de navegação, que recebe o Epíteto

inferior. Novamente, essa característica expressa uma Atitude inscrita de Apreciação

negativa, com base no conceito de “capacidade”.

No exemplo 62, retirado da notícia que comenta a decisão da Tele_A de não

reajustar os valores de suas tarifas.

62. Tele_A abre mão de reajuste para DDD, mas preço pode ser maior. (notícia sobre a

Tele_A)

Em 62, temos um complexo oracional com duas orações, no qual a oração

dependente expressa uma relação adversativa com a oração dominante (Halliday e

Matthiessen, 2004:409)

Oração dominante Oração dependente

Ator Pr. Mat. Escopo Conj. Portador Pr. Rel. Atributo

Tele_A abre mão

de

reajuste para

DDD,

mas preço pode ser maior

Quadro 29. Funções ideacionais do exemplo 62

Em 62, a empresa é avaliada positivamente na oração dominante por abdicar de

uma ação que prejudica os usuários, informação que também é fornecida no press

release; entretanto, a notícia atenua essa avaliação positiva ao avaliar negativamente a

característica de preço do produto pelo Atributo maior, com base no conceito de

“custo”. No exemplo 63, na seqüência da notícia, o jornal faz uma comparação negativa

à Tele_A, com base no custo das ligações feitas pelas concorrentes:

Page 135: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

135

63. Mesmo com as tarifas promocionais, as ligações entre São Paulo e Rio de Janeiro, por

exemplo, podem sair mais baratas por outras operadoras. A Tele_B cobra menos

que a Tele_A para o minuto de chamadas das categorias normal (7h às 9h, 12h às 14h e

18h às 21h em dias úteis), reduzida (6h às 7h e 21h às 24h em dias úteis) e super-

reduzida (0h às 6h). Por isso, o consumidor deve sempre pesquisar os melhores preços

antes de fazer as chamadas. Os valores cobrados estão disponíveis nos sites das

operadoras. (notícia sobre a Tele_A)

Podemos ver como o uso da avaliação na notícia altera o ato de fala; no press

release, essa decisão é apresentada como uma oferta aos clientes; na notícia, as

avaliações negativas de Apreciação quanto ao preço são seguidas por um comando

explícito aos clientes para que pesquisem preços nas concorrentes, incluindo a

informação de como encontrar essas informações.

Os press releases também apresentam características que podem ser

consideradas limitações dos produtos, mas não tão explicitamente quanto nas notícias,

como no excerto 64, que expressa uma condição necessária – um requisito – para que o

cliente utilize o serviço.

64. Para obter acesso ao serviço, basta ao usuário dispor de um computador portátil

(palmtop, notebook ou handheld) que contenha um dispositivo compatível com a

tecnologia Wi-Fi, conhecida tecnicamente como IEEE 802.11b. (press release da

Tele_B)

Oração

dependente

Possuidor Pr. Rel. Possuído

Para obter acesso

ao serviço usuário dispor um computador portátil (palmtop, notebook ou

handheld) que contenha um dispositivo

compatível com a tecnologia Wi-Fi, conhecida

tecnicamente como IEEE 802.11b

Quadro 30. Funções ideacionais do exemplo 64

A oração dependente do complexo oracional acima expressa uma condição

necessária para que o usuário utilize o serviço. Apesar de ser, na verdade, uma

exigência que restringe o número de usuários potenciais do produto e impõe um custo

financeiro àqueles que não possuem os equipamentos exigidos, essa condição é

expressa como uma vantagem do produto, pelo uso do adjunto modal basta, que

indicaria uma Atitude inscrita positiva de Apreciação. Essa pode ser vista também como

uma forma de se identificar os clientes-alvo do produto como as pessoas que já têm esse

equipamento, para os quais o custo da utilização do serviço seria zero.

Page 136: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

136

O exemplo 65 mostra uma outra descrição do produto encontrada em um press

release, expressa de maneira a não deixar clara a limitação do produto.

65. Para solicitar a Linha da Economia Família e confirmar a disponibilidade no endereço

do cliente, basta ligar 0800 10 15 15 ou acessar www.tele_b.com.br. (press release da

Tele_B)

Nesse exemplo, temos:

Oração dependente (finalidade) Oração dominante

Para solicitar a Linha da Economia

Família e confirmar a disponibilidade no

endereço do cliente,

basta ligar 0800 10 15 15 ou acessar

www.tele_b.com.br.

Quadro 31. Funções ideacionais do exemplo 65

Essa oração pode ser vista como uma limitação do produto por dois motivos. Em

primeiro lugar, essa sentença mostra na oração dominante ações que o cliente potencial

precisa executar (ligar e acessar) para estar em condições de executar as ações

identificadas na oração dependente, o que nos dois casos pode ser entendido como um

custo (esforço) para o cliente. Assim como no exemplo anterior, esse esforço é atenuado

pelo adjunto modal basta, que pode implicar em uma atitude positiva de Apreciação

expressa sobre a facilidade que o cliente encontrará para fazer o contato.

A segunda limitação do produto é expressa pela ação de confirmar a

disponibilidade, o que significa que há a possibilidade de que o cliente não possa

contratar o serviço. Essa possibilidade, que traz uma avaliação negativa do produto, é

indicada na oração por um item lexical que normalmente é utilizado para expressar uma

Atitude positiva (disponibilidade), podendo não ser assim facilmente identificada pelo

leitor.

Já no exemplo 66, a Tele_B coloca uma exigência, da obrigatoriedade da

contratação de um provedor de acesso, após apresentar as vantagens do produto,

expressas em deixarem para trás as limitações e aproveitar ainda mais o potencial da

web:

66. O Speedy 128 Light é o primeiro passo para os usuários deixarem para trás as

limitações da Internet discada e aproveitar ainda mais o potencial da web. Vale lembrar

que para acessar a Internet os clientes deverão escolher um provedor de acesso, dentre

Page 137: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

137

os mais de 200 disponíveis para o Speedy, que podem ser assinados a partir de R$19,90

por mês. (notícia sobre a Tele_B)

Os benefícios proporcionados aos usuários do produto representam uma

comparação entre um concorrente (a Internet discada), avaliado negativamente de

forma explícita como limitado, e o produto da empresa, avaliado positivamente pela

vantagem que confere aos usuários (aproveitar o potencial da web). A sentença

seguinte mostra um requisito a ser cumprido para que os clientes usufruam dessa

mudança (os clientes deverão escolher um provedor de acesso). Essa obrigação imposta

aos clientes parece ser justificada pelo aumento de capacidade de acesso, expressa na

sentença anterior; além disso, essa obrigação é atenuada pela avaliação positiva

atribuída à disponibilidade de provedores e pelo preço (embora este não esteja avaliado

explicitamente).

Nos press releases da Tele_B, quase todas as ocorrências do modal podem são

usadas em proposições que mostram ações que os usuários devem executar para

poderem utilizar os serviços, em realizações metafóricas de comandos, como abaixo:

67. Os cartões pré-pagos podem ser encontrados em 22 mil estabelecimentos comerciais,

incluídos Correios e lotéricas, nos valores de R$ 5, R$ 15 e R$ 25. (press release da

Tele_B)

68. As adesões ao Plano Internet Ilimitada podem ser feitas por meio dos provedores

habilitados ou pelo 0800 77 15 270, que funciona das 9h00 às 21h00 de segunda-feira a

sábado. (press release da Tele_B)

Produto Cliente Modalidade Ação cartões pré-pagos podem encontrados em 22 mil estabelecimentos

comerciais

Plano Internet

Ilimitada

podem adesões – ser feitas por meio dos

provedores habilitados ou pelo 0800 77 15

270

Quadro 32. Funções ideacionais dos exemplos 67 e 68

Nesses exemplos, o comando é realizado pela combinação entre a modalidade e

um processo no qual o cliente é colocado como Ator, com o sentido de “o cliente tem de

empreender algum esforço, ou seja, ter um custo, para usar o produto”. Nos press

releases, essa obrigação é atenuada em um estágio anterior, no qual as empresas

destacam os benefícios que podem ser obtidos pelo uso do produto.

Page 138: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

138

O exemplo 69, similar ao anterior, usa a expressão têm à sua disposição para

realizar metaforicamente um comando similar.

69. Os interessados em mais informações têm à sua disposição um call center com

atendimento para o LIVRE pelo telefone 0800 721 2165 (ligação gratuita). (press

release da Tele_B)

Em 69, temos uma realização metafórica de uma oferta, realizada em têm à sua

disposição que, na verdade, expressa um comando, atenuado pelo valor de se “ter mais

informações” e o custo da ligação (gratuita).

O exemplo 70 descreve um produto da Tele_B por suas características de preço

e tempo de conexão. Nesse exemplo, a empresa expressa uma avaliação positiva quanto

ao preço do produto ao mostrar o quanto o preço mensal custa ao cliente por dia.

70. Com o Plano Internet Ilimitada, por apenas R$ 29,90/mês -- menos de R$ 1 por dia --, o

internauta usa a internet discada pelo tempo que quiser, sem pagar pela chamada e sem

precisar esperar a madrugada, fim de semana ou feriado. (press release da Tele_B)

Esse exemplo apresenta duas características do produto, o preço e o tempo de

acesso, na estrutura ideacional abaixo:

Oração dominante Or. depend. Or. depend. Circ. Meio Circ. Cond. Circ.

Duração

Com o Plano

Internet

Ilimitada,

por apenas

R$ 29,90/mês

-- menos de

R$ 1 por dia -

-,

o internauta

usa a internet

discada

pelo tempo

que quiser,

sem pagar

pela

chamada

e sem precisar

esperar a

madrugada, fim

de semana ou

feriado.

Quadro 33. Funções ideacionais do exemplo 70

Nesse exemplo, temos:

Identificação do produto: na circunstância de companhia (Com o Plano Internet

Ilimitada), na qual o produto é identificado por seu nome comercial.

Identificação do preço do produto: no sintagma preposicional complexo (por

apenas R$ 29,90/mês -- menos de R$ 1 por dia --) que expressa uma

circunstância de maneira.

Identificação do cliente: como usuário da Internet (internauta)

Page 139: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

139

Identificação do serviço: a utilização da infra-estrutura (internet discada) da

empresa sem limite de tempo.

A avaliação do produto pelo preço tem duas partes, a descrição do preço (por

apenas R$ 29,90/mês), no qual o preço é avaliado explicitamente como baixo em

apenas, e um segundo elemento do sintagma preposicional que elabora o preço mensal

em seu equivalente (menos de R$ 1) por dia, que aparentemente é considerado ínfimo

pela empresa.

Tanto na característica de preço quanto de tempo de conexão, essa descrição faz

uma referência implícita ao modelo anterior de cobrança do acesso à Internet discada,

que cobrava pela conexão valores de uma ligação telefônica normal, cobrada por minuto

de uso e com tarifas reduzidas em períodos de menor utilização. A comparação dessas

características pode atribuir uma avaliação positiva ao produto com base no conceito de

“custo/benefício”, com relação ao produto anterior.

Como visto nos exemplos acima, as empresas podem atenuar as obrigações

impostas aos clientes pelo uso de avaliativos positivos atribuídos aos produtos; dessa

maneira, mesmo que percebendo a obrigação que lhe imposta, o cliente pode decidir se

as vantagens compensam os ônus decorrentes do uso dos produtos. Na comparação com

o exemplo 71, de um press release da Tele_B, vemos que a empresa apresenta uma

limitação do produto, referente ao prazo da promoção da empresa, que aumenta o valor

da oferta da empresa:

71. A promoção que garante habilitação gratuita será mantida até 31 de dezembro e não há

previsão de prorrogação da campanha. (press release da Tele_B)

Em 71, temos a estrutura ideacional abaixo:

Or. dominante Or. dependente

Meta Pr.

Mat.

Ator Circ.

Tempo

Pr.

Exist. Existente

A promoção que

garante habilitação

gratuita

será

mantida

{0} até 31 de

dezembro

e não há previsão de prorrogação

da campanha.

Quadro 34. Funções ideacionais do exemplo 71

Nessa estrutura ideacional, temos:

Identificação da ação da empresa: Em promoção.

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III. Apresentação e discussão dos resultados

140

Identificação do componente de custo do produto: Em habilitação

Identificação do custo: gratuita

Identificação do prazo: Em até 31 de dezembro.

A alteração de custo para o cliente (avaliada como promoção) é delimitada no

tempo, do início da promoção até 31 de dezembro. A oração dependente traz uma

avaliação positiva à contratação do produto dentro do prazo, com base no critério de

“segurança”, pela incerteza de que o cliente voltará a ter essa oportunidade.

3.4.1.3. Divergência em press releases e notícias

Um exemplo de diferença de ponto de vista entre press releases e notícias

quanto aos possíveis benefícios de um produto foi identificado em cinco pares da

Tele_B (pares 10, 15, 17, 21 e 22) sobre produtos denominados linhas da economia, nos

quais foram encontradas diferenças de Avaliatividade entre os press releases e as

notícias relacionadas a uma combinação entre a identificação do público-alvo dos

produtos e as diferentes vantagens que seriam proporcionadas aos clientes pelo uso dos

produtos. A análise desse pares mostrou que a notícia pode divergir da posição da

empresa mesmo quando avalia positivamente o produto.

Uma das principais diferenças encontradas entre os press releases e as notícias

na descrição dessa linha de produtos, analisada separadamente aqui por este ser o tópico

em cinco dos pares da Tele_B, é a identificação das pessoas de baixa renda como o

público-alvo dos produtos nos press releases, como mostrado nos exemplos a seguir.

72. Tele_B inicia nova expansão para facilitar acesso do público de menor renda à linha

fixa (press release da Tele_B)

Nesse complexo oracional, temos a seguinte estrutura de transitividade:

Oração dominante Oração dependente Ator Pr.

Mat.

Meta Pr. Mat. Meta

Tele_B inicia nova expansão para facilitar acesso do público de menor

renda à linha fixa

Quadro 35. Funções ideacionais do exemplo 72

Page 141: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

141

Nesse complexo oracional, há uma relação de finalidade entre a oração dominante e

a dependente, com:

Identificação da empresa: Pelo seu nome (Tele_B), na função de Ator das

orações dominante e dependente.

Identificação da ação da empresa: Como Meta da oração dominante (nova

expansão)

Identificação da ação do cliente: Como Meta da oração dependente (acesso)

Identificação do cliente: No grupo nominal, identificado pela classe social, em

uma função agnata à de Ator (público de menor renda)

Identificação do serviço: No grupo nominal, em uma função agnata à de Meta

(linha fixa)

No exemplo acima, a oferta é expressa pela relação de finalidade entre a ação da

empresa e a ação dos clientes possibilitada pelo produto. Em termos de avaliação, a

ação da empresa (expansão) recebe um Epíteto (nova) que pode indicar uma Atitude de

Apreciação, com base no conceito de “mudança”. A polaridade dessa Atitude

dependerá, nesse caso, da mudança ser avaliada positivamente. Nesse exemplo, a ação

da empresa é avaliada explicitamente pela ação que descreve o objetivo da ação, que é

facilitar o acesso do público de menor renda.

No exemplo abaixo, a oferta da empresa de parcelar o pagamento é expressa

pelo modal no futuro (poderá) no grupo verbal da primeira sentença e pelo tempo verbal

futuro na segunda (vai tornar). Essa oferta também é apresentada como dirigida ao

público de menor renda em 73:

73. A partir de amanhã, 03/06, quem solicitar a Linha da Economia Família da Tele_B

poderá parcelar o valor da habilitação (R$ 82,06) em dez vezes de R$ 8,20. A promoção

vai tornar ainda mais fácil a aquisição do serviço por pessoas de menor poder aquisitivo.

(press release da Tele_B)

Ator Pr. Rel. Atributo Portador Beneficiário

A promoção vai tornar ainda mais fácil a aquisição do

serviço

por pessoas de

menor poder

aquisitivo

Quadro 36. Funções ideacionais do exemplo 73

Page 142: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

142

Em 73, a ação da empresa nominalizada em promoção é representada como Ator

de um processo material que tem como Beneficiário uma ação dos clientes, expressa em

aquisição do serviço. Essa ação recebe uma Apreciação positiva inscrita, expressa no

grupo verbal tornar mais fácil, de significado similar ao processo expresso em facilitar

no exemplo anterior.

O exemplo 74 apresenta dois benefícios do produto, a economia e o controle de

gastos, através do uso dos cartões, que também identificam o cliente-alvo como alguém

a quem esses benefícios seriam interessantes.

74. “O grande atrativo das novas linhas é a economia e a possibilidade de usar o cartão pré-

pago para as ligações destinadas a celulares e de longa distância, uma alternativa eficaz

para controlar os gastos”, afirma Odmar Almeida Filho, vice-presidente de clientes

residenciais da empresa. (press release da Tele_B)

Nesse exemplo, temos o seguinte processo relacional:

Identificado Pr. Rel. Identificador

O grande atrativo

das novas linhas

é a economia e a possibilidade de usar o cartão pré-pago para

as ligações destinadas a celulares e de longa distância, uma

alternativa eficaz para controlar os gastos

Quadro 37. Estrutura ideacional do exemplo 74

O produto é avaliado explicitamente pela nomeação coletiva dos benefícios

(economia e possibilidade do uso dos cartões) por um termo superordenado, em grande

atrativo. No identificador acima, o uso dos cartões recebe também uma avaliação

positiva pela sua identificação com uma alternativa eficaz.

No exemplo 75, a realização da oferta usa modalização mais alta de certeza

(Halliday e Matthiessen, 2004: 621) quanto ao controle de gastos, com o uso do modal

garante.

75. A Tele_B coloca à disposição dos paulistas, até 31 de maio, mais 73 mil terminais da

Linha da Economia Família, serviço que garante controle de gastos por meio do uso

de cartões pré-pagos para as ligações mais caras - DDD, DDI e para celular. (press

release da Tele_B)

Em 75, a empresa também introduz um participante ideacional que representa

um aspecto da relação entre os produtos e os clientes, nominalizado em controle de

Page 143: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

143

gastos. O controle de gastos representa uma vantagem que a empresa alega ser oferecida

pelos produtos, que não é reconhecida nas notícias do jornal.

Foram observadas diferenças de modalização e modulação (Halliday e

Matthiessen, 2004: 147) entre as formas pelas quais essa vantagem é representada, que

podem expressar diferentes tipos de Apreciação aos produtos, conforme a relação feita

por Martin e White (2005:54) entre os sistemas interpessoais de Modalidade e

Engajamento. Diferentemente dos press releases, as notícias utilizam recursos de

modulação que mostram o uso do cartão pré-pago como uma obrigação imposta aos

clientes que querem fazer chamadas para celulares ou outras cidades, como mostrado

nos exemplos a seguir.

76. Na assinatura do plano "economia" já está embutido uma franquia de 100 pulsos para

chamadas locais. Para fazer ligações mais caras --para celulares e chamadas

interurbanas ou internacionais--, será preciso comprar um cartão pré-pago e carregar o

telefone.

Já o assinante da linha "super economia" só poderá receber ligações. Para fazer ligações

para celulares ou chamadas locais, o assinante também terá de comprar cartões com

créditos. (notícia sobre a Tele_B)

Em 76, temos as seguintes obrigações impostas aos clientes, em realizações

metafóricas de comandos:

Or. dependente Oração dominante

Ator Pr. Mat. Meta

Para fazer ligações mais caras (...) será preciso

comprar

um cartão pré-pago e

carregar o telefone.

Para fazer ligações para celulares

ou chamadas locais,

o assinante também terá

de comprar

cartões com créditos.

Quadro 38. Funções ideacionais do exemplo 76

Nos press releases, a modalização é usada para indicar a capacidade que os

clientes de fazer o controle de gastos usando os cartões, enquanto que nas notícias, a

modulação é usada para indicar a obrigação de compra dos cartões para fazer chamadas.

Em termos de Avaliatividade, essas diferenças no uso da modalidade podem ser

relacionadas a julgamentos de capacidade dos clientes, o que por sua vez pode afetar a

Apreciação atribuída aos produtos (Martin e White, 2005:60).

Nos exemplos até aqui apresentados, os press releases utilizaram mais léxico

avaliativo do que as notícias. Foi possível observar que as notícias utilizam itens

Page 144: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

144

avaliativos explícitos com relação a um dos componentes de preço dos produtos, o valor

da assinatura. Os itens avaliativos vantagem e diferencial são usados nas notícias para

nominalizar uma característica dos produtos: o preço das linhas econômicas com

relação às linhas telefônicas tradicionais.

77. Tele_B lança telefone fixo pré-pago com assinatura mensal mais barata (título)

(...)

A grande vantagem das novas linhas em relação ao telefone tradicional é o custo da

assinatura mensal. O custo de assinatura das linhas pré-pagas varia de R$ 11,15 (no

plano chamado "super economia") a R$ 22,30 (no plano "economia") por mês. Na linha

telefônica tradicional, o assinante residencial paga uma assinatura mensal de R$ 31,14.

(notícia sobre a Tele_B)

Comparando o título da notícia em 77 e o título do press release no exemplo 72,

do mesmo par, podemos observar que enquanto o press release ressalta o atendimento

ao público de baixa renda, a notícia destaca uma característica do produto, que tem uma

assinatura mensal mais barata. No exemplo 77, podemos observar também que a

notícia parece evitar a avaliação implícita inserida no nome dos produtos, utilizando

aspas para se referir às “linhas da economia”.

Os press releases e notícias que tratam das linhas da economia utilizam a

comparação com a concorrência para avaliar os produtos. Os exemplos 78 e 79 mostram

que enquanto o press release faz a comparação entre o preço das ligações dos produtos

da empresa com o preço cobrado pela telefonia fixa, a notícia faz a mesma comparação

introduzindo outro concorrente, o telefone fixo tradicional.

78. Preço menor

A operadora também vai aproveitar a oportunidade para esclarecer ao público sobre as

reais vantagens da linha fixa em comparação a opções disponíveis no mercado. Para se

ter uma idéia, um minuto de ligação local pela Linha da Economia custa até quatro

vezes menos que o preço cobrado pela concorrência.

(...)

“As novas opções ampliam sobremaneira as oportunidades para o público de menor

renda poder utilizar uma linha fixa, que, apesar de todos os planos e promoções

apresentados pela telefonia móvel, continua sendo a forma mais barata de comunicação

por telefone disponível no mercado”, diz Manoel Amorim, diretor-geral da Tele_B SP.

(press release do Par 1)

Em 79, a notícia atribui ao preço das ligações feitas com os produtos uma

Apreciação negativa inscrita, expressa em desvantagem. Para isso, introduz um

participante (telefone fixo tradicional) que não está presente nos press releases, criando

Page 145: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

145

assim uma representação de mundo diferente daquela apresentada pela empresa,

utilizando os mesmos conjuntos de valores (custo, comparação com o concorrente) para

atribuir uma avaliação negativa ao produto.

79. A desvantagem é que a ligação do telefone fixo pré-pago para um celular, por exemplo,

será mais cara que uma chamada feita de um telefone fixo tradicional.

Exemplo disso é uma chamada local do fixo para um celular, que hoje custa cerca de R$

0,45 o minuto. Nas linhas econômicas, a mesma ligação custará R$ 0,70. (notícia sobre

a Tele_B)

A ausência de Apreciação positiva inscrita nos press releases a uma

característica do produto que é mostrada como vantajosa na notícia parece ter como

objetivo manter o destaque à característica considerada mais importante pela empresa,

de controle de gastos. Por outro lado, podemos também considerar que o uso da

Apreciação positiva inscrita de vantagem atribuída na notícia ao preço de assinatura

pode ter como objetivo fazer um contraponto à Apreciação negativa também inscrita de

desvantagem atribuída ao preço das ligações. Dessa forma, o jornal pode não deixar

clara a sua opinião sobre o produto por apresentar com o mesmo destaque as suas

avaliações positivas e negativas, deixando a cargo do leitor a escolha do que lhe é mais

importante.

Em 80, temos um relato de linguagem atribuído a um executivo da Tele_B que

concorda com o ponto de vista expresso no jornal. Essa fala do executivo não consta no

press release, provavelmente tendo sido obtida em um contato posterior.

80. A desvantagem é que a ligação do telefone fixo pré-pago para um celular, por exemplo,

será mais cara que uma chamada feita de um telefone fixo tradicional. Exemplo disso é

uma chamada local do fixo para um celular, que hoje custa cerca de R$ 0,45 o minuto.

Nas linhas econômicas, a mesma ligação custará R$ 0,70. "Essa diferença de preço é

normal. Todo pré-pago custa mais. Existem diferenças de custos, como o da

distribuição de cartões, que precisam ser compensados no custo da chamada",

disse Executivo_B. (notícia sobre a Tele_B)

A avaliação da afirmação atribuída ao executivo no jornal parece ser aqui

bastante dependente da proximidade entre a fonte de informação (o executivo) e a

empresa, pois temos um porta-voz da empresa fornecendo informações que trazem uma

avaliação potencialmente negativa do produto. Dessa maneira, a atribuição a uma fonte

de informações externa, nesse caso parece reforçar o valor das afirmações da notícia (de

que as ligações feitas com o produto da Tele_B são mais caras), em vez de reduzir a

Page 146: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

146

responsabilidade da notícia pela afirmação, com base no conceito de que um

funcionário não faria informações que contrariassem os valores da empresa.

Analisando as diferenças entre as descrições dos produtos “linhas da economia”,

vemos que os press releases identificam o público-alvo de seus produtos nominalmente

como a população de baixa renda e pelas suas ações, como clientes que querem ter o

controle de seus gastos, usando cartões pré-pagos para fazer as ligações mais caras.

Como analistas do discurso, neste ponto, poderíamos perguntar: Será que a população

de baixa renda realmente faz um menor número de ligações de maior preço, de forma

que o menor preço da assinatura mensal compense o uso de cartões, com os quais as

ligações são mais caras quando comparados à telefonia tradicional? O controle de gastos

é indicado como uma vantagem à população, mas também não seria parte de uma

estratégia da empresa para evitar prejuízos decorrentes da inadimplência? Essa pode ser

uma interpretação possível da posição do jornal, que nas notícias constrói uma

representação na qual a empresa faz a população pagar mais caro pelas ligações.

3.4.2. Demonstrações de capacidade

Nas seções anteriores, foram discutidas as formas de avaliações dos produtos da

empresa pela relação entre estes e os clientes. Essa seção discute as formas pelas quais

as empresas evidenciam a sua capacidade de fornecer os benefícios oferecidos e tentam

se destacar perante as concorrentes.

Um dos recursos utilizado pela Tele_A para evidenciar a sua capacidade foi o

uso do texto padrão abaixo, incluído em todos os seus press releases:

81. Sobre a Tele_A

A Tele_A é a provedora de telecomunicações premium do Brasil, oferecendo uma

grande variedade de serviços de telecomunicações - telefonia local e de longa distância,

voz avançada, transmissão de dados em alta velocidade, internet, comunicação de dados

por satélites e redes corporativas. A Empresa é líder em serviços de dados e de internet

no País, estando em posição privilegiada para ser a operadora com uma rede fim a fim

(all-distance) da América Latina. A rede da Tele_A possui cobertura nacional com

quase 29 mil quilômetros de cabos ópticos, representando cerca de um milhão e sessenta

e nove mil quilômetros de fibras ópticas. (texto padrão dos press releases da Tele_A)

Neste excerto, temos dois exemplos de qualidades atribuídas à empresa que a

diferenciam das demais pelo uso de Classificadores que modificam um grupo nominal

que têm a função de Identificador em um Processo Relacional Identificador:

Page 147: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

147

82. A Tele_A é a provedora de telecomunicações premium do Brasil

Identificado Pr. Relacional Identificador

A Tele_A é a provedora de telecomunicações premium do Brasil

Quadro 39. Funções ideacionais do exemplo 82

83. A Empresa é líder em serviços de dados e de internet no País

Portador Pr. Relacional Atributo

A Empresa é líder em serviços de dados e de internet no País

Quadro 40. Funções ideacionais do exemplo 83

Nessa estrutura, temos dois itens avaliativos com significados próximos

realizados por elementos de categorias diferentes nas orações. A palavra premium é um

Epíteto do grupo nominal, enquanto que a palavra líder é o núcleo do grupo nominal

que indica um Atributo da empresa. Entretanto, na estrutura de comparação, ambas

desempenham funções semelhantes, como mostrado no quadro 41.

Empresa Qualidade Grupo do qual se destaca Local

Tele_A premium provedora de telecomunicações Brasil

Empresa líder outras provedoras de serviços de dados

e de internet

País

Quadro 41. Estrutura de comparação dos exemplos 82 e 83

Nestes dois exemplos, temos:

Identificação da empresa – pelo nome Tele_A e sua natureza jurídica, de

empresa, além de seu setor de atuação, como provedora

Identificação das qualidades atribuídas à empresa, como premium (como

Classificador do grupo nominal ) e líder (como Atributo do Processo Relacional

Atributivo)

Identificação do grupo do qual a empresa se destaca (superordenado), nestes

exemplos: das demais provedoras de telecomunicações e empresas que atuam

em serviços de dados e internet

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III. Apresentação e discussão dos resultados

148

Identificação do local em que ocorre a comparação. Nos exemplos, temos a

identificação feita:

No grupo nominal | provedora de telecomunicações premium do Brasil | , no

qual temos um sintagma preposicional do Brasil em função de Qualificador

das empresas. Alternativamente, o sintagma preposicional do Brasil pode ser

considerado como tendo a função de Dêitico.

Na circunstância de local no País.

Essas duas qualidades distinguem a empresa como melhor perante as outras. Na

oração dependente do exemplo abaixo, a empresa é diferenciada das outras pelo uso do

Dêitico demonstrativo específico (Halliday e Matthiessen, 2004:314), em “a

operadora”.

84. (...) estando em posição privilegiada para ser a operadora com uma rede fim a fim (all-

distance) da América Latina.

Nessa oração, a avaliação é feita pela combinação entre a característica que

distingue a Tele_A das demais (ter uma rede fim a fim, no grupo nominal) e a posição

da empresa perante as demais operadoras (expressa no identificador circunstancial de

um processo relacional, em posição privilegiada).

O exemplo 85 mostra que se um dos elementos dessa combinação (posição x

característica) for negativo, a avaliação será negativa.

85. O serviço de banda larga Speedy foi um dos alvos de reclamações dos consumidores

paulistas da Tele_B. Segundo dados do Procon, a empresa ficou no ano de 2002 em

quarto lugar no ranking de reclamações dos consumidores, deixando a "liderança" para

a Tele_A. (notícia)

O uso irônico da palavra liderança, sinalizado pelo uso de aspas, atribui à

Tele_A (que tem a função de Beneficiário na oração) uma qualidade que a destaca

perante as outras como a melhor em algo, só que por um critério que pode ser

considerado negativo, de ser a que mais recebe reclamações. Dessa forma, nesse

exemplo temos como resultado uma avaliação negativa atribuída à Tele_A.

As estruturas abaixo também são usadas para descrever a empresa e suas ações

com base em comparações entre as ações da empresa e as de suas concorrentes. Os tipos

de comparação e os recursos léxico-gramaticais utilizados são descritos a seguir.

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III. Apresentação e discussão dos resultados

149

A) Ser a primeira

Os exemplos abaixo mostram descrições das empresas e de seus produtos com

avaliações atribuídas às empresas e aos seus produtos com base no valor de “ser o

primeiro”. O Numerativo primeira/o é usado freqüentemente em grupos nominais que

fazem referência às empresas e suas ações. Veja o texto abaixo:

86. Os novos Cartões Pré-Pagos de telefonia fixa, que permitem ligações nacionais e

internacionais, trazem imagens de passistas, integrantes de baterias das escolas de

samba, destaques, baianas, fantasias e palhaços. Os cartões têm valores de R$ 10, R$ 21

e R$ 100. São ideais para viagens internacionais, pois permitem ligações para todo o

País e o exterior e, também, do exterior para o Brasil. A Tele_A é a primeira empresa

de telecomunicações a lançar um cartão do gênero no Brasil, sendo uma de suas

principais vantagens o controle de gastos, além de permitir que, durante viagens, se

evitem chamadas a cobrar ou então as taxas cobradas nos hotéis para quem deseja

telefonar. (press release da Tele_A)

Destacamos desse texto a oração abaixo:

87. A Tele_A é a primeira empresa de telecomunicações a lançar um cartão do gênero no

Brasil, (...) (press release da Tele_A)

Em 87, temos a seguinte estrutura experiencial com um processo relacional

identificador (Halliday e Matthiessen, 2004:227), que identifica a empresa como sendo

a primeira a executar uma determinada ação. O exemplo mostra uma comparação

ideacional entre a empresa e as concorrentes, formada pelas seguintes funções:

A identificação da empresa que está sendo comparada com as outras

(Tele_A)

A identificação da posição da empresa perante as outras, pelo Numerativo

(primeira).

A identificação do grupo no qual a empresa se destaca, que é uma categoria

superordenada (Halliday e Matthiessen, 2004: 573) formada pelo conjunto

de Coisa + Classificador, acima (empresas de telecomunicações).

A identificação do critério pelo qual a empresa ocupa uma posição perante

as demais, pela ação expressa no Qualificador (lançar um cartão do gênero

no Brasil).

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III. Apresentação e discussão dos resultados

150

Aa identificação da localização geográfica, que se refere à localização

comum a todos os participantes e ações envolvidos (Brasil).

Conforme mostrado acima, podemos distinguir em uma oração diversas funções

ideacionais, que em seu conjunto expressam uma função retórica de comparação. Na

análise da avaliação, teremos:

Sistema (tipo de avaliação): Pelo subsistema de Atitude, essa parece poder ser

classificada como uma atitude de Julgamento: Capacidade (Martin & White, 2005:53),

pois parece possível interpretar o papel da Tele_A no texto como o de um participante

consciente. Essa avaliação pode ser considerada positiva, com base em uma combinação

dos fatores relacionados abaixo:

(a) Ineditismo da ação da empresa, pelo Numerativo (primeira), como

comentado acima. Essa característica pode trazer uma avaliação positiva à empresa, por

indicar que ela teria uma maior capacidade em termos de recursos ou um maior senso de

oportunidade do que as demais. Entretanto, o valor positivo dessa avaliação depende de

a ação da empresa também ser positiva. Essa característica também é dependente da

identificação da localização geográfica da ação, que reduz o risco da alegação da

empresa ser considerada falsa, se outro produto semelhante tiver sido lançado em algum

outro país.

(b) Valor da ação da empresa, que identifica do critério pelo qual a empresa é

considerada diferente das demais, expresso em a lançar um cartão do gênero no Brasil.

Em termos de forma de expressão, podemos considerar essa oração como uma

expressão de avaliação implícita, pois não há na oração nenhum item avaliativo

explícito. O valor dessa proposição pode ser obtido a partir do cotexto no qual essa

proposição está inserida, apresentado acima, no qual essa oração está rodeada de outras

avaliações explícitas e implícitas do tipo Apreciação: Valor (Martin e White, 2005:56)

que avaliam o produto positivamente, como em São ideais para viagens internacionais

e sendo uma de suas principais vantagens o controle de gastos. Em um exercício de

substituição por um valor negativo, veremos que se a ação fosse considerada negativa

pelo leitor, toda a oração expressaria uma avaliação negativa.

c) Capacidade de executar a ação – A empresa se destaca de outras empresas de

telecomunicações do Brasil que também teriam condições de lançar o produto. Além

disso, a avaliação da ação e da empresa depende do reconhecimento do leitor da

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III. Apresentação e discussão dos resultados

151

capacidade da própria Tele_A em lançar o produto, o que remete a questões de

intertextualidade e conhecimento de mundo do leitor.

Esse padrão ideacional de comparação é encontrado em outras estruturas de

transitividade, como mostrado no excerto 88, que mostra o título de um press release no

qual a característica de “ser o primeiro” é aplicada ao produto.

88. Tele_A lança em Amapá e Roraima primeira linha fixa livre de assinatura

Os usuários de telefonia fixa residencial dos estados de Amapá e Roraima têm uma

alternativa competitiva à concessionária de telefonia local. A Tele_A coloca ao alcance

da população dessas localidades o LIVRE, uma linha telefônica fixa que custa ao

consumidor somente o que ele usa. A proposta da Tele_A é livrar os clientes

residenciais do custo da assinatura mensal. O consumidor só paga o valor das ligações.

(press release)

Desse excerto, temos o exemplo 89:

89. Tele_A lança em Amapá e Roraima primeira linha fixa livre de assinatura

Em 89, temos a qualidade de “ser a primeira” atribuída a um produto da empresa

(linha fixa), em uma construção de significado similar à usada no exemplo anterior

(sendo lança a primeira linha livre de assinatura similar a a primeira a lançar uma

linha livre de assinatura). No grupo nominal usado como referência ao produto, temos:

A identificação da empresa (Tele_A) como Ator.

A identificação da ação da empresa, pelo processo material expresso por lança.

A identificação do local da ação (em Amapá e Roraima)

A identificação da posição do produto perante os concorrentes (primeira)

A identificação do grupo do qual o produto se destaca (linha fixa)

A identificação da característica que destaca o produto (livre de assinatura)

Diferentemente do exemplo anterior, a avaliação positiva do produto está

expressa na própria oração – dependendo da adequação da proposta da empresa – ter

uma linha que dispensa o pagamento da assinatura – aos desejos dos clientes. Da mesma

forma que o exemplo anterior, a avaliação positiva decorrente do ineditismo da ação e

da vantagem oferecida pelo produto permite atribuir uma avaliação positiva à empresa,

com uma Atitude de Julgamento.

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III. Apresentação e discussão dos resultados

152

Nesse excerto, a empresa e seus produtos também são descritos como sendo uma

alternativa às empresas já estabelecidas no mercado, pois como citado na descrição das

empresas apresentada no capítulo de Metodologia, a Tele_A começou a concorrer com

as empresas já estabelecidas a partir de 2002. O exemplo 90 mostra a oração do excerto

acima na qual o produto é apresentado como alternativa a um concorrente:

90. Os usuários de telefonia fixa residencial dos estados de Amapá e Roraima têm uma

alternativa competitiva à concessionária de telefonia local.

Em 90, a comparação com a concorrência é expressa na forma de referência ao

produto (alternativa). Esse produto é avaliado pelo Qualificador (competitiva), que

apresenta uma comparação em uma estrutura de significado próximo a “que é

competitiva com relação/quando comparada à concessionária de telefonia local”.

Analisando a avaliação atribuída ao produto, a proposição apresenta uma Atitude

de Apreciação: Valor (Martin e White, 2005:56) que podemos considerar positiva para

o usuário dos serviços (obviamente, negativa para a concorrente), com base no conceito

de que a concorrência é vantajosa para o usuário. Outro ponto que pode ser destacado é

a forma de nomeação da concorrente (concessionária), que é um termo relacionado ao

período no qual havia um monopólio nas telecomunicações e que pode, por

intertextualidade, trazer uma avaliação negativa à concorrente, com base no critério pelo

qual a concorrência é positiva.

Nesse excerto, a empresa evidencia a característica de competitividade do

produto, aumentando assim o valor de sua afirmação, mostrando como ele é melhor do

que o existente. O produto é identificado por seu nome (LIVRE) em 92. A avaliação do

produto é feita nas orações e complexos oracionais abaixo:

91. Tele_A lança em Amapá e Roraima primeira linha fixa livre de assinatura

92. A Tele_A coloca ao alcance da população dessas localidades o LIVRE, uma linha

telefônica fixa que custa ao consumidor somente o que ele usa. (press release)

93. A proposta da Tele_A é livrar os clientes residenciais do custo da assinatura mensal. O

consumidor só paga o valor das ligações.

Em 92, a avaliação do produto (LIVRE) é feita em um grupo nominal complexo,

que traz uma identificação entre o produto e sua descrição, em | o LIVRE |, uma linha

telefônica fixa [[ que custa ao consumidor somente o que ele usa. ]] |. A oração

encaixada nesse grupo nominal parece trazer uma comparação implícita com a

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III. Apresentação e discussão dos resultados

153

concorrência, sugerindo que os concorrentes cobram pelo o que o consumidor não usa.

A diferença de custo é identificada em 93, como o custo da assinatura mensal. Com

base em um conceito próximo ao do custo x benefício, de que “não é justo pagar pelo

que não se usa”, essa característica do produto parece atribuir uma Atitude de

Julgamento (Martin e White, 2005:52) positiva à empresa e negativa aos concorrentes.

Podemos também observar nos exemplos acima a coesão lexical criada entre o

nome do produto (LIVRE) e o valor que lhe é atribuído, no Qualificador livre de

assinatura, no título do press release, em 91 e no processo incluído no Identificador

livrar os clientes residenciais do custo da assinatura mensal, em 93. Essa repetição

pode reforçar a identificação entre o produto avaliado e o valor que lhe é atribuído.

Em uma comparação com as notícias, foram identificadas situações em que a

notícia mostra uma ação anterior da concorrente, em uma estrutura gramatical similar à

anterior. Veja o exemplo 94, no qual temos uma oração na qual a empresa é identificada

por ser a segunda a fazer algo, o que exclui da empresa o diferencial de ser a primeira.

94. O grupo Tele_A lança hoje oficialmente o provedor de acesso gratuito à internet Click

21.

A Tele_A é o segundo grupo de telecomunicações a oferecer esse serviço em menos de

uma semana. Na segunda, a Tele_B anunciou a expansão de seu provedor gratuito

iTele_B de dez para 164 cidades no Estado de São Paulo. (notícia sobre a Tele_A)

Analisando o contexto em que essa oração é usada, podemos interpretar que o

foco principal da notícia é a sua conclusão, de informar uma tendência das empresas de

telecomunicações de lançar provedores gratuitos, e não a ação da empresa. O mesmo

parece ocorrer no exemplo 95, que compara um press release e a sua notícia

correspondente:

95. Em 30 de setembro de 2001, a Tele_B tornou-se a primeira operadora do País a

antecipar, em mais de dois anos, as metas de universalização, adquirindo então o direito

de estender suas atividades para todo o Brasil. (press release da Tele_B)

A operadora (Tele_B) será a segunda entre as grandes teles a sair da sua área de atuação

para disputar as ligações de longa distância. Desde ontem, a Telemar está oferecendo o

mesmo tipo de serviço. (notícia sobre a Tele_B)

No press release, temos o destaque dado à empresa em ser a primeira a

antecipar as metas de universalização. Na notícia, temos o destaque dado à informação

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III. Apresentação e discussão dos resultados

154

da empresa ser a segunda a disputar o mercado de longa distância, direito adquirido pela

antecipação das metas.

Observe na comparação com o press release correspondente que a empresa se

identifica como a primeira a executar uma ação relacionada à concessão para expandir

sua área de atuação, selecionando assim uma das ações relacionadas à atividade na qual

ela pode ter uma avaliação positiva.

B) Ser a única

Em um significado similar à “ser o primeiro”, a empresa é descrita nos exemplos

abaixo como sendo a única a realizar algum tipo de ação. A diferença entre ser a

primeira e a única reside em que ser a primeira é uma qualidade persistente no tempo;

assim que a empresa é a primeira a fazer algo, nenhuma mais pode ser a primeira. Se

outra empresa passar a fazer o mesmo, essa qualidade de única não será mais aplicável.

Uma conseqüência dessa diferença pode ser vista nos exemplos 96 e 97:

96. Nos últimos 13 meses, a Tele_B é a única entre as grandes operadoras, incluídas as de

longa distância, a atingir e superar todos as 35 metas de qualidade estipuladas pelo

órgão regulador. (press release da Tele_B)

97. A Tele_A é a única empresa de telecomunicações do Brasil a não aumentar os preços

de suas ligações locais ou de longa distância. (notícia da Tele_B)

Similarmente aos casos descritos na seção anterior, essas estruturas de

comparação atribuem às empresas uma Atitude de Julgamento: Capacidade positiva, por

fazer algo que as outras não fazem – assim como nos casos anteriores, dependendo de o

critério pelo qual ela é identificada como única ser considerado positivo pelo leitor. Nos

exemplos acima, temos em comum:

A identificação das duas empresas (Tele_B e Tele_A)

o qualificador que as distingue das demais empresas (única)

a identificação dos grupos dos quais as empresas se destacam (grandes

operadoras e as demais empresa de telecomunicações do Brasil)

A comparação entre esses dois exemplos mostra que a polaridade da ação impõe

ou não a necessidade da circunstância de tempo para evidenciar a proposição, ou seja,

aumentar o valor desta. Em 96, temos uma circunstância de tempo (nos últimos 13

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III. Apresentação e discussão dos resultados

155

meses) para delimitar uma ação com polaridade positiva (atingir e superar todos as 35

metas de qualidade estipuladas pelo órgão regulador); em 97, temos uma ação com

polaridade negativa (não aumentar os preços de suas ligações locais ou de longa

distância) sem circunstância de tempo, o que implica que as outras empresas não podem

compartilhar essa característica com a Tele_A, por já terem aumentado os seus preços.

C) Os valores das empresas

A análise do corpus mostrou a associação entre as empresas e participantes

abstratos que nominalizam valores como qualidade e ética. O exemplo 98 associa a

qualidade à empresa, por meio de um processo relacional identificador:

98. "Qualidade é um dos principais valores e uma das maiores prioridades do Grupo Tele_B

no Brasil e no mundo", complementa. (press release da Tele_B)

Nessa oração, temos um processo relacional identificador, com:

Identificação da empresa, como Coisa (do Grupo Tele_B) em um grupo

nominal

Característica da empresa, como Faceta (Halliday e Matthiessen, 2004:335) de

um grupo nominal (um dos principais valores e uma das maiores prioridades)

Identificação da qualidade, em qualidade

Essa oração avalia positivamente a Tele_A no grupo nominal e na oração

dominante. O grupo nominal expressa uma característica da Tele_A como valores, que

atribui uma avaliação positiva à empresa com base no conceito de “ter valores” e

prioridades, que atribui uma avaliação positiva à empresa por sua ação de estabelecer

objetivos. Na oração dominante, é feita mais uma avaliação positiva à empresa, pela

identificação desses valores e prioridades com o conceito de qualidade, com base no

conceito positivo atribuído a essa característica. Dessa maneira, nessa oração a empresa

convida o leitor a se alinhar à empresa, atribuindo a ele o papel de alguém que considera

essas características como positivas.

Os press releases da Tele_A utilizam o conceito de “livre mercado” para atribuir

características positivas à empresa e características negativas aos concorrentes, como no

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III. Apresentação e discussão dos resultados

156

exemplo 99, que mostra um outro uso de primeiro como Numerativo para dar destaque

à ação de um participante.

99. Essas foram as primeiras ações dos agentes reguladores brasileiros, explicitamente, em

nome da concorrência em telecomunicações.

Numerativo Coisa Dêitico Qualificador primeiras ações dos agentes

reguladores

brasileiros

em nome da concorrência em

telecomunicações

Quadro 42. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 99

Nesses casos, o primeiro destaca o ineditismo da ação da empresa e das agências

reguladoras não com relação a outros participantes, mas sim quanto às suas próprias

ações, como no exemplo 100:

100. Trata-se do primeiro passo do Cade na efetivação de uma concorrência justa no

mercado de telecomunicações.

Numerativo Coisa Dêitico Qualificador

primeiro passo do Cade na efetivação de uma concorrência justa

no mercado de telecomunicações

Quadro 43. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 100

Essa estrutura parece ser usada para sugerir que a ação seria a primeira

manifestação de uma linha de ação da empresa, sendo, na visão do press release, a

primeira dentre muitas ações em favor de um propósito que a empresa avalia como

positivo. Essas proposições expressam Atitude de Julgamento: Estima Social quanto à

Tele_A aos agentes reguladores e ao Cade como os responsáveis pelas ações acima.

Podemos observar uma diferença entre os exemplos acima na atribuição

explícita do avaliativo justa ao participante concorrência em 100, ao passo que em 99, a

avaliação é mais dependente do Status que o leitor atribui à concorrência.

Entre as atividades que envolvem agências reguladoras, especialmente nos pares

de textos da Tele_A, foram encontrados vários exemplos de ações destinadas a limitar a

ação das concorrentes por meio de ações judiciais. A atribuição de valores considerados

negativos às concorrentes parece aqui ser uma realização metafórica de uma sugestão

para que os clientes que se alinhem aos valores da Tele_A, avaliados positivamente, e se

afastem dos concorrentes, o que também pode ser observado em 101.

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III. Apresentação e discussão dos resultados

157

101. Tele_A obtém Medida Preventiva contra Telemar (título)

Telemar é obrigada a cessar prática anti-competitiva (press release da Tele_A)

Em 101, a Tele_A atribui um avaliativo explícito negativo de Julgamento à ação

da concorrente, pelo Epíteto anti-competitiva. A atribuição de uma avaliação negativa à

ação da empresa traz à ação da Tele_A e à decisão da Anatel uma avaliação positiva,

pois interrompe uma ação (prática da Telemar) negativa. Em 102, as concorrentes

também são identificadas como sendo contra a livre concorrência.

102. A atuação em conjunto da Tele_A e das duas empresas espelhos locais é uma forma de

preservar o modelo de competição no Brasil. A aquisição da Vésper pela Tele_A

evidencia o seu comprometimento em ser líder no mercado brasileiro de

telecomunicações com uma gama completa de serviços. Clientes residenciais,

corporativos e usuários de internet banda larga terão uma alternativa forte às operadoras

de serviços locais monopolistas. (press release da Tele_A)

Em 102, temos a contraposição das ações da empresa com as das concorrentes.

A ação da Tele_A é retratada como positiva, ao preservar o modelo de competição no

Brasil. As concorrentes, são retratadas negativamente, como monopolistas. Esses

conceitos estão relacionados à privatização dos serviços de telecomunicações, baseada

na livre concorrência. Essas relações também podem atribuir à Tele_A a imagem de

nova, em oposição às antigas concorrentes.

O exemplo 102 também utiliza o conceito de “comprometimento” para expressar

uma Atitude positiva de Julgamento com relação à empresa, implicando que a empresa

continuará os seus esforços no longo prazo para atender os seus clientes. Esse conceito

também é usado no exemplo 103:

103. "Deve-se destacar que nosso volume de investimentos é um dos indicativos que

reiteram de forma inequívoca o compromisso de longo prazo da Tele_B com o País"

(press release da Tele_B)

O exemplo 104 mostra a participação do Jornal na ação judicial; nesse caso, o

Jornal atua como um parceiro da Tele_A ao fazer denúncias contra as concorrentes:

104. Segundo a executiva da Tele_A, "existem informações mais do que suficientes que

demonstram a intenção de formação de cartel por parte das três concessionárias de

telefonia fixa local, o que fere as diretrizes do Direito Econômico e da Lei Geral de

Telecomunicações e traz prejuízo direto a toda a sociedade brasileira, em especial aos

consumidores". (press release da Tele_A)

Page 158: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

158

A Tele_A levará hoje ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), SDE

(Secretaria de Direito Econômico) e Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)

nova representação contra as teles fixas sobre a denúncia de formação de cartel com

base na reportagem da Jornal_A no domingo. (notícia sobre a Tele_A)

O exemplo 104 mostra que a Tele_A e o Jornal_A compartilham os mesmos

valores, reconhecendo a importância da livre concorrência, também defendida pelas

agências reguladores citadas. Dessa maneira, a Tele_A pode ser avaliada positivamente

com base no conceito de “respeito à autoridade”. Em oposição à posição da Tele_A, as

concorrentes são identificadas com a situação anterior, de monopólio, em uma Atitude

negativa de Julgamento: Sanção Social, expressa pela ação de formação de cartel.

O exemplo 105 apresenta uma diferença com relação ao exemplo anterior pela

discordância quanto à posição de uma autoridade, o Procon, que publica periodicamente

uma lista das empresas que mais receberam reclamações fundamentadas.

105. "Em relação ao ranking do Procon, é preciso entender que ele mostra números

absolutos, sem levar em conta as dimensões da base de clientes das empresas que

constam da lista. Se a dimensão da base de clientes da Tele_B fosse considerada a

empresa nem faria parte do ranking" diz F. X. F., presidente do Grupo Tele_B Brasil.

(press release da Tele_B)

Em 105, a Tele_B mostra a sua posição contrária quanto aos critérios utilizados

na composição do ranking do Procon, que lista as empresas que mais receberam

reclamações dos consumidores, deixando implícito que o Procon deveria levar em conta

as dimensões da base de clientes. Dessa maneira, contrapõe dois valores diferentes: o

“respeito à autoridade” perde lugar aqui para um conceito de “racionalidade”, pelo qual,

segundo a empresa, o Procon deveria seguir a lógica indicada em seu press release.

3.4.3. Aumento de capacidade da empresa

A capacidade de ação da Tele_A e Tele_B pode ser ampliada por ações internas

ou por ações de parceiros, que executam ações que não fazem parte das atividades

principais dessas empresas.

3.4.3.1. Aumento de capacidade por ações da empresa

As ações da empresa podem ser avaliadas pelo impacto que causam na

organização, por exemplo, um aumento de capacidade da empresa que a permita atender

Page 159: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

159

melhor os clientes, como no exemplo 106, que trata da aquisição de outra empresa pela

Tele_A:

106. A Tele_A anunciou hoje que firmou carta de intenção para a aquisição da Vésper São

Paulo S.A. e a Vésper S.A., empresas de serviços locais concorrentes nas regiões de São

Paulo (Região III) e Norte & Nordeste (Região I) do Brasil. As operações de serviços

locais da Vésper são prestadas em 17 estados englobando 76% da população. Esta

aquisição permitirá que a Tele_A aumente o escopo dos seus negócios de serviços de

voz local, incluindo a oferta competitiva de acesso de banda larga via tecnologia EV-

DO para pequenas empresas, pequenos escritórios e clientes residenciais. (press release

da Tele_A)

Desse excerto, temos o exemplo 107:

107. Esta aquisição permitirá que a Tele_A aumente o escopo dos seus negócios de serviços

de voz local, incluindo a oferta competitiva de acesso de banda larga via tecnologia EV-

DO para pequenas empresas, pequenos escritórios e clientes residenciais

Em 107, temos uma ação da empresa (aquisição) que objetiva trazer um

aumento de capacidade à própria Tele_A no tempo verbal futuro. O exemplo descreve

uma relação de causa entre esse aumento de capacidade e a nova capacidade de

atendimento aos clientes (identificados como pequenas empresas, pequenos escritórios

e clientes residenciais), expressa por uma construção causativa, que segundo Halliday e

Matthiessen (2004:513), é equivalente a uma modulação:

Iniciador Pr. Mat. Ator Pr. Mat. Meta

Esta aquisição permitirá que a Tele_A aumente o escopo dos seus negócios

de serviços de voz local

Quadro 44. Funções ideacionais do exemplo 107

Diferentemente do exemplo anterior, abaixo é mostrada uma relação entre a ação

da empresa (investimentos) e os clientes por meio de um processo relacional. Em 108,

essa ação da empresa é avaliada positivamente por trazer um aumento de capacidade

aos clientes, expresso pelas ações de melhoria da qualidade e desenvolvimento de

produtos.

108. Entre os principais focos de investimentos este ano estão a melhoria da qualidade de

atendimento ao cliente e o desenvolvimento de produtos que vão além do plano básico

de telefonia - caso da banda larga, dos serviços digitais e de planos alternativos. (press

release da Tele_B)

Page 160: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

160

No exemplo 109, a ação da empresa está relacionada ao treinamento de seus

funcionários.

109. A Tele_B realizou um treinamento intensivo com seus operadores da Central de

Atendimento (tel. 103). Eles estão preparados para prestar todos os esclarecimentos aos

clientes de forma ágil e personalizada. (press release da Tele_B)

Nesse exemplo, há uma relação de causa implícita entre as duas sentenças –

entre o treinamento dos operadores e o estado atual, de prontidão para atender bem os

clientes. Nesse caso, a oferta é realizada metaforicamente na oração dependente (para

prestar todos os esclarecimentos...), que expressa o serviço disponível ao cliente. Esse

serviço é avaliado positivamente pelo Numerativo (todos), com base no conceito de

“capacidade” e na circunstância de maneira (de forma ágil e personalizada), com base

no conceito de “proporcionar benefícios” e “eficiência”.

No corpus, foi possível observar atitudes positivas expressas não quanto a uma

mudança, mas a uma manutenção de capacidade da empresa, como em 110 e 111.

110. O presidente da Tele_A, Jorge Luís Rodriguez, e sua vice, Cláudia de Azerêdo Santos,

renunciaram.

(...)

A vice-presidente de Marketing e Assuntos Externos, Purificación Carpinteyro,

continuará na empresa. (notícia sobre a Tele_A)

111. Vários dos fornecedores da Tele_A na área de TI continuarão a prestar serviço à

operadora através da IBM. É o caso da Proceda, fornecedora atual da Tele_A na área de

assistência técnica e funções de help desk. (press release da Tele_A)

Esses exemplos mostram Atitudes positivas de Apreciação quanto à

continuidade da situação atual, com base no conceito de “segurança” (de que as coisas

não irão piorar).

3.4.2.2. Aumento de capacidade pela atuação de parceiros

Com relação ao aumento de capacidade pela atuação de parceiros, as descrições

dos tópicos nos press releases da Tele_A mencionam com maior freqüência a

participação de outras empresas e indivíduos que colaboram em suas atividades. No

excerto 112, a ação de uma empresa fornecedora de infra-estrutura de tecnologia de

informação traz melhorias à Tele_A:

Page 161: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

161

112. A Tele_A e a IBM assinaram, no dia 7 de abril, um contrato para prestação de serviços

de outsourcing. Depois de passar por um processo de concorrência e vencer, a IBM

passa a operar toda a infra-estrutura de tecnologia da informação da Tele_A.

Com a estratégia de outsourcing, a Tele_A reduzirá custos, oferecerá mais qualidade de

serviços e irá concentrar suas atenções no mercado de telecomunicações. (press release

da Tele_A)

Desse excerto, temos o exemplo 113:

113. Com a estratégia de outsourcing, a Tele_A reduzirá custos, oferecerá mais qualidade de

serviços e irá concentrar suas atenções no mercado de telecomunicações.

Em 113, temos a expressão de uma Atitude positiva inscrita de Apreciação

quanto à estratégia da empresa (outsourcing, em uma circunstância de maneira)

expressa pelas ações que a empresa executará em um tempo futuro, em reduzirá,

oferecerá (no qual, a oferta também é lexicalizada) e irá. Aqui, temos uma relação de

causa-efeito entre a ação da empresa (estratégia de outsourcing) e os resultados

pretendidos. Esses resultados são avaliados positivamente com base nos conceitos de

custo e eficiência (reduzindo os custos e concentrando esforços na atividade principal da

empresa) e benefício (aumentando a qualidade dos serviços oferecidos aos clientes).

Essas avaliações positivas trazem também uma avaliação positiva à empresa, que é

apresentada como uma entidade que terá um aumento de capacidade no futuro.

No exemplo 114, o aumento de capacidade da Tele_B é expresso na

circunstância de finalidade:

114. Para ampliar as vendas, a empresa vem fechando parcerias com administradoras de

condomínios e construtoras. A primeira parceria foi acertada com a administradora

Lello, a maior do Estado de São Paulo. (press release da Tele_B)

Acima, a parceira da Tele_B é avaliada explicitamente como tendo grande capacidade

(em a maior). Essa característica da parceira evidencia o potencial de aumento das

vendas mencionado na circunstância de finalidade, expressando também uma Atitude

positiva de Julgamento à Tele_B.

Em 115, os parceiros estão identificados na circunstância de local (em 1,4 mil

pontos de venda, incluídas casas lotéricas e agências dos Correios), não tendo um

papel de agente na estrutura ideacional:

Page 162: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

162

115. Nos valores de R$ 5,00, R$ 15,00 e R$ 25,00, os cartões podem ser encontrados em 1,4

mil pontos de venda, incluídas casas lotéricas e agências dos Correios. (press release da

Tele_B)

A avaliação positiva atribuída ao produto, nesse caso, tem como base o conceito

do “custo” do esforço dos clientes em adquirirem o produto – quanto mais pontos de

venda, mais fácil será adquirir os cartões – o que também aumenta a capacidade de

venda da empresa. Outro tipo de avaliação positiva que pode ser atribuída à empresa

pelas ações dos parceiros tem como base a capacidade de fechar acordos com outras

empresas e estabelecer parcerias, uma capacidade vital no mercado atual.

Os próximos excertos se referem à festa de aniversário da cidade de São Paulo,

patrocinada pela Tele_A. O excerto 116 mostra várias ações executadas por

participantes externos à empresa.

116. Estão sendo instaladas bandeiras do estado e do município nos canteiros centrais da

Paulista. Moradores e responsáveis pelos prédios da avenida também foram convidados

pela Paulista Viva e Anhembi a participar das comemorações hasteando bandeiras da

cidade e/ou do estado, uma forma de contribuir para despertar nos paulistanos um

sentimento de orgulho e cidadania.

O palco das comemorações, instalado na altura do número 1842, a sete metros do solo,

atravessa a Paulista de uma calçada à outra. Sobre ele será montado um bolo

cenográfico de 20 metros, com quatro andares. Uma vela artificial (fogos de artifício)

será apagada por duas crianças paulistanas. A Banda Sinfônica Jovem do Estado, que

estará apresentando a Suíte Paulistana, também conduzirá o Parabéns.

(...)

Durante a programação serão feitas homenagens a várias personalidades paulistanas,

que estão sendo convidadas a participar da festa pela organização.

Nos quadros abaixo, temos processos que expressam relações entre a

organização e os paulistanos e a relação entre estes paulistanos e o Evento. Esses

processos mostram uma atuação conjunta entre os responsáveis pela festa, entre os quais

se inclui a Tele_A, e os paulistanos que, dessa forma, são representados como parceiros

potenciais da empresa, com papel ativo no evento e executando ações que não poderiam

ser executadas pela Tele_A.

Paulistanos Processo Parceiro

bandeiras do estado e do município Estão sendo instaladas {0}

Moradores e responsáveis pelos prédios da avenida foram convidados pela Paulista Viva e Anhembi

Quadro 45. Ações dos parceiros da empresa no evento

Page 163: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

163

Paulistanos Processo Evento

Moradores e responsáveis

pelos prédios da avenida

participar das comemorações

{Moradores e responsáveis

pelos prédios da avenida}

hasteando bandeiras da cidade e/ou do estado

{Moradores e responsáveis

pelos prédios da avenida}

contribuir para despertar nos paulistanos um sentimento de orgulho

e cidadania

duas crianças paulistanas será apagada Uma vela artificial (fogos de artifício)

personalidades paulistanas participar festa

Quadro 46. Ações dos paulistas no evento

Em 116, podemos também observar a ocorrência de palavras que guardam uma

relação de hiponímia com a categoria de festa, como comemorações, bolo, vela, festa e

a canção “Parabéns”. O conjunto desses elementos pode trazer uma avaliação positiva à

festa com base em recordações afetivas dos leitores quanto a esses elementos.

No press release, as relações entre a cidade e a Avenida Paulista e a cidade e as

comemorações são expressas no grupo nominal, pelo uso de uma forma de referência à

cidade (cidade, São Paulo, da capital) como Qualificador dos grupos nominais que se

referem à Avenida e às comemorações. No grupo nominal, a Avenida também recebe

Qualificadores que ressaltam o seu prestígio junto à cidade (mais famosa, mais

conhecida, o grande cartão postal).

117. A Avenida Paulista, cartão postal de São Paulo, vai ser o principal palco das

comemorações dos 451 anos da cidade.

(...)

A idéia dos organizadores, apoiadores e autoridades é transformar a avenida mais

conhecida da cidade em cenário para as grandes comemorações da capital, a exemplo

do que acontece no Reveillon. A Paulista é um espaço democrático, cenário de grandes

manifestações culturais. O objetivo é estender essa tendência, a exemplo do que já

acontece com o Reveillon oficial da cidade, à comemoração do aniversário de São

Paulo, tornando também a festa uma tradição na Avenida, que é o grande cartão postal

da cidade. (press release da Tele_A)

No excerto 117, a empresa ressalta o valor da Avenida Paulista para a cidade,

expressando sua atitude positiva de Apreciação quanto à relação entre a Avenida e a

cidade de São Paulo, em a avenida mais conhecida da cidade, espaço democrático,

cenário de grandes manifestações culturais e o grande cartão postal da cidade.

A inclusão desse participante (Avenida Paulista) na descrição da festa, não

incluída na notícia, parece reforçar a associação entre a cidade e seus símbolos com a

Tele_A – que participa do evento como patrocinadora. O patrocínio às comemorações

de aniversário de São Paulo e do Reveillon de São Paulo e Rio de Janeiro pode ser visto

Page 164: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

164

como uma tentativa da Tele_A de se aproximar desses públicos, pois é uma empresa

que está entrando no mercado de telefonia local nessas cidades, com base no conceito

de “aumento de área de atuação”.

O excerto 118 descreve os artistas que participaram da festa de aniversário de

São Paulo, patrocinada pela Tele_A.

118. Entre as atrações previstas estão bandas e artistas consagrados, como Cidade Negra, Art

Popular, Falamansa, entre outros talentos. (press release da Tele_A)

O início dos shows está marcado para as 12h, com Salgadinho. Na seqüência, se

apresentam Resgate, Sinfônica Jovem do Estado, Art Popular, Cidade Negra,

Falamansa, Batom na Cueca e Denílson Benevides. (notícia sobre a Tele_A)

Nestes exemplos, podemos observar o uso de léxico atitudinal no press release,

na formas de referência usadas para os artistas, em atrações e talentos, além do Epíteto

consagrados. Na notícia, os artistas são simplesmente citados, sem nenhum léxico

atitudinal. Entretanto, mesmo sem a presença do léxico atitudinal, a relação entre os

shows e os artistas permanece na notícia; dessa forma, pode haver uma aproximação

entre os leitores da notícia e as comemorações pela simples representação ideacional

dos artistas, pela atitude de Apreciação: Reação que a qualidade musical dos artistas

possa provocar nos leitores.

A análise mostrou que se a empresa tiver um papel secundário em uma

atividade, a importância de sua participação pode não ser reconhecida pelo jornal. Isso

ocorre nas notícias do corpus referentes ao patrocínio de eventos; de cujos títulos os

nomes das empresas foram excluídos, como mostrado nos exemplos de 119 a 122:

119. Tele_A patrocina Welcome Rio 2003 (press release)

Campanha quer fazer o carioca receber bem o turista no Carnaval (notícia)

120. Tele_A presenteia São Paulo e Rio de Janeiro com Reveillon (press release)

Comissão define Réveillon na Paulista após 3 dias de planejamento (notícia)

121. Fundação Tele_B e Estação Ciência promovem debate sobre o uso pedagógico de jogos

(press release)

Especialistas debatem uso pedagógico de jogos (notícia)

122. Fundação Tele_B e Secretaria da Educação de SP se unem em capacitação de alunos e

professores no uso da Internet (press release)

SP faz parceria para capacitar aluno e professor no uso da internet (notícia)

Page 165: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

165

Como os eventos culturais não fazem parte da atividade principal das empresas

(o que em inglês é conhecido como core business), não é possível recuperar a referência

às empresas nos títulos das notícias. Como os nomes das empresas estão ausentes de

todos os títulos das notícias, aparentemente os jornais preferiram dar destaque aos

eventos, não se referindo ao envolvimento das empresas como patrocinadoras. Dessa

maneira, as empresas Tele_A e Tele_B não são avaliadas nos títulos das notícias cujos

tópicos são relacionados aos patrocínios de eventos, embora suas participações como

patrocinadores tenham sido reconhecidas no corpo do texto.

Nas notícias, foram encontrados também vários exemplos nos quais o jornal

indica o não fornecimento de uma informação específica, dessa maneira destacando a

falta de cooperação das fontes de informação desejadas, que dessa maneira, deixam de

atuar como parceiras do jornal em sua atividade de fornecimento de informações:

123. A direção da Tele_B não forneceu detalhes sobre investimentos da expansão. (notícia

sobre a Tele_B)

124. O mercado do Paraná e Santa Catarina é controlado pela Tele_F, que não se

manifestou sobre a nova concorrente ontem. (notícia sobre a Tele_A)

125. Por enquanto, a Tele_E prefere não dar detalhes sobre a operação. (notícia sobre a

Tele_B)

126. O valor da oferta inicial não foi divulgado pelo Cliente_A nem pela Tele_A. (notícia

sobre a Tele_A)

Esses exemplos indicam informações que o jornal teria interesse em transmitir

aos seus leitores e que não foram fornecidas. Nesses exemplos, o jornal assume a

responsabilidade por dizer que as empresas não forneceram as informações. O valor

dessa declaração, nesse caso, é resultante apenas da credibilidade do jornal que, se

aceita como válida pelo leitor, pode levar a uma avaliação negativa das empresas por

não terem fornecido essas informações. Esse recurso pode ser usado, assim, para

preservar a imagem do jornal como fonte de informação junto a seus leitores e atribuir

uma avaliação negativa aos participantes que se recusaram a assumir o papel de

parceiros do jornal nessa situação específica.

3.4.3.3. Problemas internos

Os exemplos abaixo tratam de problemas internos da empresa, noticiados nas

notícias sobre a Tele_A e, como seria de se esperar, não descritos nos press releases.

Esses exemplos mostram que a prosódia de Atitudes negativas em um texto sobre a

Page 166: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

166

empresa podem não trazer uma avaliação negativa à empresa, mesmo que a notícia seja

sobre ela.

O excerto 127, que descreve os motivos da demissão de uma executiva, mostra

informações fornecidas na notícia sobre a empresa que não constam nos press releases

correspondentes.

127. Tele_A manda demitir S.P. da direção da Telos (título)

(...)

S. P., que foi Secretária Nacional de Previdência Complementar no governo Fernando

Henrique Cardoso, estava envolvida no processo de venda da Tele_A, empresa

patrocinadora do fundo de pensão. Como patrocinadora, a empresa tem assento no

fundo de pensão dos funcionários. Ela surpreendeu o mercado de telecomunicações na

última segunda ao afirmar, publicamente, que o fundo de pensão estava disposto -- e

tinha dinheiro em carteira-- para comprar o controle da Tele_A. Segundo fontes do

setor, o motivo mais provável da demissão seria exatamente o vazamento da operação

de compra da Tele_A por parte da Telos. Apesar da existência do interesse, o assunto

vazou antes da hora.

Também pesa contra S. P. sua péssima relação com os atuais dirigentes da Previ, o

fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que eram representantes dos

bancários na época em que estava na Secretaria de Previdência Complementar. Como

superintendente da Telos, S. P. nomeou o ex-ministro da Previdência W. O. para a

direção da Tupi, o que provocou atritos com a Previ, que também é acionista da

empresa. (notícia sobre a Tele_A)

O excerto acima fornece dois motivos que justificariam a ação da empresa de

demitir a executiva, a declaração da intenção de compra do controle da Tele_A e o

relacionamento com os dirigentes da Previ. Esses motivos são apresentados em uma

relação lógica de extensão, pelo uso da expressão também pesa contra.

A capacidade da empresa de executar a ação de mandar demitir, expressa no

título da notícia, é evidenciada no texto (Como patrocinadora, a empresa tem assento

no fundo de pensão dos funcionários.). Essa ação da empresa pode ser avaliada, dessa

forma, com base em dois conceitos diferentes: o primeiro, a sua capacidade legal de

executar a ação, o que está relacionado a uma Atitude positiva de Julgamento: Sanção

social; o segundo, está relacionado à imagem possivelmente negativa de quem demite, o

que pode expressar uma Atitude negativa de Julgamento: Estima social junto aos

leitores, que pode ser reforçada pelo uso do processo mandar, que pode trazer uma

imagem de prepotência à empresa. No título do press release, essa atitude negativa é

evitada pelo enfoque dado à contratação do novo executivo e a omissão da ação de

demissão (Telos tem novo diretor superintendente e, no texto, Ele assume o cargo em

substituição a S. P. V.).

Page 167: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

167

A primeira justificativa apresentada para a demissão é indicada em 128:

128. Ela surpreendeu o mercado de telecomunicações na última segunda ao afirmar,

publicamente, que o fundo de pensão estava disposto -- e tinha dinheiro em carteira--

para comprar o controle da Tele_A.

Em 128, temos uma relação lógica de causa-efeito entre a declaração da

executiva e a reação do mercado de telecomunicações. O participante mercado tem, na

oração, a função de Experienciador de um processo mental, expresso por surpreendeu.

A executiva, que nessa oração tem a função de Fenômeno, é avaliada negativamente por

uma Atitude de Julgamento: Sanção social, com base no conceito de que uma

profissional não pode fazer algo que surpreenda o mercado – em outras palavras, deve

obedecer a autoridade.

Podemos observar aqui que a autoridade do Experienciador é uma função

importante na avaliação; em uma comparação, uma ação de um executivo que

surpreendesse a concorrência poderia ser avaliada positivamente. Outra função

importante para a avaliação negativa é expressa na Circunstância de Maneira

(publicamente), que mostra como a declaração foi feita – destacada na notícia pela

colocação dessa circunstância em um sintagma preposicional encaixado, expressando

uma avaliação negativa pela inadequação da maneira como a declaração foi feita. No

exemplo 129, a declaração é avaliada negativamente pela forma de referência utilizada

em vazou.

129. Apesar da existência do interesse, o assunto vazou antes da hora.

Na oração acima, temos duas bases de avaliação diferentes, contrapostas pelo

uso do disjuntivo apesar. A executiva poderia ser avaliada positivamente por ter dado

uma informação verdadeira, mas a inadequação de seu ato traz uma avaliação negativa

nessa oração pela forma de referência de sua declaração (vazou) e pela circunstância de

tempo (antes da hora). Essa primeira justificativa parece, assim, ser baseada no

conceito de que a empresa deve apresentar uma voz única; caso um indivíduo da

corporação aja em dissonância com a empresa, ele se sujeita a ser excluído desta.

A segunda justificativa apresentada para a demissão da executiva a avalia

negativamente de forma explícita, como mostrado nos exemplos 130 e 131:

Page 168: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

168

130. Também pesa contra S. P. sua péssima relação com os atuais dirigentes da Previ, o

fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que eram representantes dos

bancários na época em que estava na Secretaria de Previdência Complementar.

131. Como superintendente da Telos, S. P. nomeou o ex-ministro da Previdência W. O. para

a direção da Tupi, o que provocou atritos com a Previ, que também é acionista da

empresa.

Nos exemplos acima, a executiva é avaliada por sua relação com os dirigentes de

uma acionista da empresa. Essa relação recebe o Epíteto de péssima em 130 e é

referenciada como atritos em 131, sendo avaliada negativamente com base no conceito

de que o relacionamento com um acionista deve ser bom – outra forma de “respeito à

autoridade”.

O excerto 132 apresenta o histórico dos problemas financeiros da controladora

da Tele_A, também uma informação não fornecida no press release.

132. No começo da semana, surgiram rumores de que Telmex preparava uma nova oferta

para comprar a Tele_A. O magnata mexicano C. S., controlador da Telmex, tinha em

julho do ano passado US$ 1,7 bilhão em dívida da MCI. A proposta seria trocar as

ações da empresa americana na Tele_A pela amortização da dívida.

A W.C. decretou moratória em 2002 por conta de um escândalo contábil de US$ 11

bilhões que levou ao indiciamento criminal do ex-presidente da empresa B. E., na

Justiça dos EUA. O caso foi considerado uma das maiores moratórias da história dos

EUA. (notícia sobre a Tele_A)

Desse excerto, temos o exemplo 133.

133. A W.C. decretou moratória em 2002 por conta de um escândalo contábil de US$ 11

bilhões que levou ao indiciamento criminal do ex-presidente da empresa B. E., na

Justiça dos EUA.

A moratória implica em uma demonstração da redução de capacidade da

empresa, pois esse é um instrumento legal, utilizado por empresas em dificuldades. O

julgamento negativo de sanção social aqui está na circunstância de causa, expresso

pelos termos escândalo e indiciamento criminal.

É de se observar que, nos dois exemplos acima, que tratam da demissão da

executiva e dos problemas legais da controladora, há uma prosódia negativa, criada por

diversas palavras e relações que se espalham por todo o excerto. Entretanto, como essas

avaliações negativas não estão atribuídas à Tele_A, elas podem não trazer uma

avaliação negativa à empresa. Dependendo da interpretação do leitor, é possível

argumentar que todas essas avaliações negativas da executiva e de suas ações poderiam

Page 169: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

169

até mesmo trazer uma avaliação positiva à ação da empresa na notícia, pelas

justificativas oferecidas pela notícia, com base no conceito da “capacidade” da empresa

de resolver os seus problemas.

3.4.4. Resultados das ações das empresas

A empresa freqüentemente avalia suas ações pelos resultados alcançados com

elas. Para mostrar os resultados, expressa comparações implícitas ou explícitas entre

uma situação anterior à ação e a situação resultante. A base para a avaliação da empresa

por seus resultados positivos vem da idéia implícita de que os esforços da empresa

foram reconhecidos e aceitos pelos clientes; além disso, os resultados positivos também

implicam em um aumento de capacidade da empresa, que poderá atuar com maior poder

no mercado.

3.4.4.1. Expressos pelas ações dos clientes

As comparações entre números de clientes incluem os números de clientes, a

relação entre esses números em forma de porcentagem e as datas em que a empresa

possuía esses números de clientes.

134. A base de clientes do Speedy, ao final do primeiro semestre de 2003, chegou a 383,1

mil e representa um avanço de 35,7% em relação aos 282,2 mil usuários existentes

no final do primeiro semestre do ano passado. (press release da Tele_B)

Em 134, temos um processo relacional que expressa uma comparação entre os

números de clientes, com:

Identificação da variável a ser comparada: O número de clientes do produto

Identificação do resultado atual: O número de 383,1 mil usuários

Identificação da variação: Em avanço de 35,7%

Identificação da base de comparação: O número de 282,2 mil usuários

Identificação da data do resultado atual: Em ao final do primeiro semestre de

2003

Identificação da data da base de comparação: Em final do primeiro semestre

do ano passado

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III. Apresentação e discussão dos resultados

170

Podemos observar que a avaliação positiva da empresa decorre da combinação

de todos os elementos da estrutura de comparação. Para a avaliação ser positiva, temos

que ter uma similaridade entre os períodos anterior e o atual, o resultado atual precisa

ser maior do que o número anterior, para validar a variação e, finalmente, a variável a

ser comparada deve ser considerada positiva para a empresa. Qualquer um desses

elementos que destoe do conjunto tornará a comparação ineficaz para os propósitos da

empresa, com base no conceito de “racionalidade”.

No excerto 135, temos um complexo oracional que expressa uma Apreciação

positiva inscrita pela identificação dos resultados da empresa como sucesso absoluto e

outra invocada, pela comparação entre as vendas esperadas e as efetivamente

alcançadas.

135. O serviço, que oferece a possibilidade de controle de gastos, com uso de cartões pré-

pagos, é sucesso absoluto desde o lançamento, em 12 de julho.

Quando lançou seu novo plano de expansão, voltado especialmente para as classes de

menor renda, a Tele_B esperava vender 200 mil linhas em até três meses - alcançou 600

mil linhas vendidas no período. (press release da Tele_B)

Desse excerto, retiramos o exemplo 136:

136. Quando lançou seu novo plano de expansão, voltado especialmente para as classes de

menor renda, a Tele_B esperava vender 200 mil linhas em até três meses - alcançou 600

mil linhas vendidas no período.

Em 136, temos:

Identificação da expectativa da empresa: vender 200 mil linhas

Identificação do resultado obtido: 600 mil linhas

Identificação do período das vendas: até três meses

Nessa oração, o resultado da ação da empresa não é avaliado explicitamente; a

avaliação positiva dessa ação é obtida pela comparação entre as vendas esperadas e as

efetivamente alcançadas. Entretanto, esse resultado é avaliado explicitamente como

positivo na oração anterior, mostrada no excerto acima, como sucesso absoluto, com

base no conceito de que os clientes reconheceram os benefícios oferecidos pela empresa

e adquiriram o produto.

Page 171: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

171

Os resultados das ações das empresas podem ser expressos também pelas

reações dos clientes a essas ações. No excerto 137, referente a um programa de

capacitação patrocinado pela Tele_B, os resultados são expressos pela participação do

público no programa de capacitação.

137. Em Educação, o principal programa da Fundação Tele_B é o EducaRede, primeiro

portal inteiramente gratuito e desenvolvido para os 45 milhões de alunos, professores e

educadores da rede pública brasileira. Além do portal, que registra 1 milhão de

pageviews mensais, o EducaRede mantém programa de treinamento de educadores no

uso da Web em sala de aula, que já capacitou 5.000 profissionais da rede pública, e o

subprograma Aulas Unidas, que promove atividades conjuntas pela internet entre alunos

de escolas de vários estados brasileiros e de outros países. (press release da Tele_B)

Nesse excerto, temos

A identificação dos clientes: em um grupo nominal complexo, em uma relação

de causa, em os 45 milhões de alunos, professores e educadores da rede pública

brasileira.

A identificação do custo: Em totalmente gratuito.

A identificação dos resultados: Em 1 milhão de pageview mensais (portal), a

capacitação de 5.000 profissionais (programa de treinamento) e atividades

conjuntas pela internet entre alunos de vários estados brasileiros e de outros

países (o subprograma Aulas Unidas)

O programa da empresa, e conseqüentemente, a própria empresa são avaliados

positivamente com base na eficácia dessas ações. Da mesma forma que o público de

baixa renda, indicado como público-alvo do produto “linhas da economia”, analisado

anteriormente, o programa parece ter uma avaliação positiva por dar capacidade a um

público desfavorecido.

O excerto 138 mostra como a ação da Tele_B alterou o comportamento dos

clientes com relação ao produto:

138. Com o Plano Internet Ilimitada, por apenas R$ 29,90/mês -- menos de R$ 1 por dia --, o

internauta usa a internet discada pelo tempo que quiser, sem pagar pela chamada e sem

precisar esperar a madrugada, fim de semana ou feriado.

Essas vantagens fizeram com que o assinante do plano, em média, passasse a navegar

2,5 mais tempo, já que pode acessar a web em horários mais convenientes às suas

necessidades, além de não ter de se preocupar com o valor da ligação. (press release da

Tele_B)

Page 172: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

172

Desse excerto, analisaremos o exemplo 139 (a primeira sentença já foi analisada

anteriormente):

139. Essas vantagens fizeram com que o assinante do plano, em média, passasse a navegar

2,5 mais tempo, já que pode acessar a web em horários mais convenientes às suas

necessidades, além de não ter de se preocupar com o valor da ligação.

Esse complexo oracional expressa uma relação de causa-efeito (no grupo verbal

fizeram com que, em uma construção causativa, cf. Halliday e Matthiessen, 2004:513)

entre as características do produto (mencionadas na primeira sentença e referidas na

segunda por um avaliativo positivo explícito, em vantagens) e a mudança observada no

comportamento do assinante (expressa no grupo verbal passasse a navegar),

confirmando, assim, as alegações da empresa quanto às vantagens de seu produto.

Podemos aqui traçar uma comparação entre a oferta de benefícios e os efeitos

das ações em termos de mudança de comportamento do cliente. Tanto na oferta quanto

nos efeitos, os produtos são avaliados pelos benefícios aos clientes, residindo a

diferença na localização temporal (irrelis x realis) em que esses benefícios trazem o

aumento de capacidade dos clientes.

No corpus de notícias, foram encontrados exemplos de resultados negativos das

empresas, não informados nos press releases. Em 140, vemos um exemplo no qual a

Tele_B pretende reverter um resultado negativo no passado.

140. A Tele_B --que possui 14 milhões de linhas, sendo 12 milhões em serviço-- perdeu 160

mil assinantes em 2003. Só neste ano, outras 70 mil linhas saíram de serviço.

"Queremos voltar a crescer e expandir nossa base de clientes. Acreditamos que esse

crescimento se dará por meio das classes de menor poder aquisitivo, que ainda não têm

um telefone fixo", disse o diretor-geral da Tele_B SP, Manoel Amorim. (notícia sobre a

Tele_B)

Nas duas primeiras sentenças de 140, temos três expressões de Atitude negativa

quanto à empresa: (i) em um complexo oracional encaixado, que mostra uma

comparação entre o número de linhas total (14 milhões de linhas, na oração dominante)

e o número de linhas em serviço (12 milhões, na oração dependente); (ii) na oração

dominante, por um processo relacional (perdeu 160 mil assinantes) e (iii) na sentença

seguinte, por outro processo relacional, que expressa uma mudança de status das linhas

(saíram de serviço). Embora essas sejam expressões de Atitude negativa quanto à

Page 173: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

173

empresa, os leitores podem atribuir uma Apreciação positiva à ação da empresa por esta

estar tentando sair de uma situação que lhe é desvantajosa.

3.4.4.2. Resultados expressos por indicadores financeiros

Um dos modos da empresa indicar o seu desempenho em um período de tempo é

a comparação por indicadores financeiros entre os resultados financeiros obtidos em um

período com os de um período anterior.

141. A Tele_B encerrou o primeiro semestre de 2003 com um EBIDTA acumulado (lucro

operacional mais depreciação) de R$ 2,481 bilhões, desempenho 3,3% superior aos R$

2,402 bilhões registrados ao final dos seis primeiros meses de 2002, conforme balanço

consolidado entregue hoje à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). (press release da

Tele_B)

Em 141, a comparação é feita quase que totalmente em um sintagma nominal

complexo que realiza uma circunstância de Companhia: com um EBIDTA acumulado

(lucro operacional mais depreciação) de R$ 2,481 bilhões desempenho 3,3% superior

aos R$ 2,402 bilhões registrados ao final dos seis primeiros meses de 2002.

Identificação do resultado: EBIDTA de R$ 2,481, referido também como

desempenho

Identificação do período em que o resultado foi obtido: na oração dominante (o

primeiro semestre de 2003)

Identificação da comparação: variação positiva, expressa por 3,3% superior

Identificação do resultado anterior: expresso pelo valor numérico, em R$ 2,402

bilhões

Identificação do período em que o resultado anterior foi obtido: ao final dos seis

primeiros meses de 2002.

Nas notícias, os números de venda são informados, mas sem o uso de avaliativos

explícitos, como mostrado em 142.

142. Desde julho, quando o produto foi lançado, já foram vendidas 1 milhão de linhas

econômicas em todo o Estado de São Paulo. (notícia sobre a Tele_B)

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III. Apresentação e discussão dos resultados

174

As comparações que resultam em avaliações negativas para a empresa nos press

releases são acompanhadas de justificativas, que comparam as condições presentes nos

períodos aos quais os resultados estão associados.

No exemplo 143, temos uma comparação entre os resultados financeiros do

primeiro trimestre de 2003 com os anteriores.

143. A receita líquida de longa distância nacional, no primeiro trimestre de 2003, foi de

R$955 milhões, representando uma queda de 5,6% em relação ao trimestre anterior e

14,7% em relação ao mesmo período de 2002. Quando se compara ao trimestre anterior,

a queda pode ser explicada por fatores sazonais (menos dias úteis e férias) bem como o

efeito do bloqueio de linhas fraudulentas e inadimplentes. (press release da Tele_A)

A segunda sentença mostra uma relação de causa expressa por um processo

verbal (explicada) entre o resultado menor e o número de dias do período (o que implica

em uma comparação desigual) e a menor atividade econômica desse período

(informações de contexto). Dessa maneira, a Tele_A procura atenuar a Atitude de

Julgamento negativo decorrente do mau resultado recorrendo a valores que entende

serem compartilhados com o leitor. O mesmo ocorre no exemplo 144, no qual a receita

maior do trimestre anterior é explicada pelas eleições:

144. Comparado ao trimestre anterior, quando a receita de dados se beneficiou dos serviços

providos às eleições presidenciais, a receita de dados caiu 3,3%. (press release da

Tele_A)

Em 144, há uma relação de causa expressa por um processo material, no qual o

valor da receita tem o papel de Beneficiário (em beneficiou, aqui com o sentido de “foi

maior devido a”). O motivo de as eleições terem beneficiado a receita não é explicado

no texto; nesse caso, essa relação é assumida no texto como sendo conhecimento

compartilhado entre a Tele_A e o leitor. Novamente, aqui o press release atenua a

Atitude negativa quanto ao resultado da empresa com base no conceito de

“racionalidade”, pela comparação ter ocorrido em condições desiguais.

Um exemplo de como a cultura pode afetar as escolhas lexicais é apresentado a

seguir. No corpus analisado, em todos os títulos relativos à divulgação dos resultados da

empresa, os press releases enfocam a divulgação dos resultados, enquanto que as

notícias enfatizam o lucro que as empresas tiveram no período:

Page 175: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

175

145. Tele_A - Resultados do segundo trimestre de 2003 (press release)

Tele_A tem lucro de R$ 128,3 mi no segundo trimestre (notícia)

146. Tele_B divulga resultados do primeiro trimestre de 2005 (press release)

Tele_B lucra R$ 489,9 mi no trimestre (notícia)

147. Tele_B divulga resultados do primeiro semestre de 2005 (press release)

Lucro da Tele_B cresce 23,6% e supera R$ 1 bilhão no semestre (notícia)

Os exemplos 148 e 149 mostram também como o lucro da empresa foi

informado no press release e na notícia abaixo de duas maneiras diferentes:

148. O EBITDA (resultado antes da depreciação/amortização e receitas/despesas financeiras)

do período foi de R$ 3,141 bilhões, 10,6% superior ao obtido no primeiro semestre de

2004, e a margem EBITDA (EBITDA dividido pela receita operacional líquida) chegou

a 45,4%, um aumento de 1,3 ponto percentual. Ao final do primeiro semestre do ano, o

resultado líquido da empresa atingiu R$ 1,158 bilhão, volume 23,6% maior do que o

atingido no mesmo período do ano passado. (press release da Tele_B)

149. A Tele_B, operadora de telefonia fixa do Estado de São Paulo, obteve lucro líquido de

R$ 1,158 bilhão no primeiro semestre deste ano, 23,6% superior aos R$ 937 milhões de

igual período do ano passado. (notícia sobre a Tele_B)

Podemos ver que a empresa informou o resultado por meio de um indicador

financeiro de uso restrito ao setor financeiro, enquanto que a notícia usou a palavra

“lucro” para designar esse resultado. É interessante observar a ausência quase total do

termo lucro nos press releases que divulgam os resultados financeiros das empresas, o

que talvez seja um reflexo da noção arraigada na cultura católica de que “lucro é

pecado”. Dessa forma, um tanto quanto paradoxalmente, parece que as empresas se

abstêm de usar uma palavra que, embora esteja relacionada a bons resultados, pode lhes

trazer uma imagem negativa, tanto pela cultura quanto pela comparação com a situação

financeira da maior parte dos brasileiros.

A próxima seção apresenta algumas considerações sobre os resultados

discutidos.

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III. Apresentação e discussão dos resultados

176

3.5. Considerações sobre a discussão dos resultados

Esta seção apresenta algumas considerações sobre as análises feitas neste

capítulo dos grupos de relações ideacionais que descrevem as atividades da empresa,

aqui denominados ofertas de benefícios, descrição da capacidade das empresas,

aumento de capacidade e descrição de resultados.

Na oferta de benefícios, temos relações ideacionais que podem ser compostas

por elementos que têm as funções de identificar a empresa, o produto, o cliente e os

benefícios oferecidos. Além desses elementos, essas estruturas tipicamente incluem

algum elemento que expressa uma realização metafórica de oferta, em uma comparação

temporal entre a capacidade do cliente no presente e a que ele pode ter se usar o produto

da empresa, como verbos modais ou advérbios de tempo. Essas realizações metafóricas

de ofertas, como apontado por Thompson e Thetela (1995:122), projetam o leitor como

um futuro usuário dos produtos.

As análises mostraram que os clientes e público alvo das empresas podem ser

identificados por uma grande variedade de recursos, como por exemplo:

localização geográfica ou por locais freqüentados pelos clientes (como em,

São Paulo e Aeroporto Internacional de São Paulo)

área de atuação (como em estudantes e profissionais)

natureza civil: Identificados como pessoa jurídica, pelo nome da empresa

(como em Banco do Brasil) ou pessoa física (como em pessoas)

uso de serviços ou equipamentos específicos (como em internautas)

desejos, intenções e ações: como em (organizações de todos os portes que

queiram se transformar em provedores de serviços de conexão)

As formas de realização metafórica de ofertas e sugestões também apresentaram

uma maior variação nos press releases, por modais (podem), tempo verbal futuro (será)

e uma combinação desses dois (poderão). Outra forma de oferta é realizada por

processos relacionais (ter à disposição, ter a opção, ter a oportunidade), além dos casos

em que a oferta é lexicalizada no próprio processo, como em oferece e garante.

Em termos avaliativos, podemos ter cadeias de avaliações construídas ao longo

do texto, como:

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III. Apresentação e discussão dos resultados

177

Os benefícios oferecidos pelos produtos e eventos podem ser avaliados por

Atitudes de Apreciação e Afeto, de maneira inscrita ou evocada.

Os produtos, eventos e suas características são avaliados principalmente por

Atitudes de Apreciação, com base nos benefícios oferecidos.

As empresas podem ser avaliadas por Atitudes de Julgamento, por oferecerem

benefícios aos clientes e público. Dessa maneira, proporcionar benefícios pode

ser base para avaliações expressas por Atitudes de Apreciação dos produtos e

Atitudes de Capacidade da empresa.

Os clientes retratados como usuários dos produtos ou eventos podem ser

avaliados por Atitudes de Julgamento, pela capacidade conferida a eles pelo uso

dos produtos ou participação nos eventos.

A análise também mostrou que as avaliações são expressas por várias formas,

em diversos níveis de constituência: dentro do grupo nominal (por exemplo, por

Epítetos), dentro da oração (por exemplo, por processos relacionais), no complexo

oracional (com o uso de um item avaliativo, como vantagens, que faz referência aos

serviços relacionados em outro complexo oracional e, finalmente, fora do texto, quando

a avaliação não é feita explicitamente no texto, indicando uma instância de

intertextualidade compartilhada com o leitor.

Com relação às bases para a avaliação, temos valores associados principalmente

ao custo x benefício, onde o custo pode ser financeiro, como o preço pago pelos

produtos, por exemplo, ou alguma obrigação imposta aos clientes exigida para o uso dos

produtos. Em termos de benefícios, temos avaliações baseadas em valores como a

capacidade dos clientes decorrente do uso dos produtos, rapidez, segurança e

confiabilidade, facilidade de uso e conveniência, entretenimento e educação, entre

outros. Podemos também identificar benefícios relacionados ao Afeto, expressos quanto

à família, pátria (cidade/país) ou determinadas associações, como nas atividades

relacionadas ao futebol e ao carnaval.

As empresas que oferecem os produtos e eventos, por sua vez, podem ser

avaliadas por expressões de Atitude de Julgamento, com base em valores como trazer

melhorias e ser melhor que as concorrentes, ser ética, racional, parceira, ser confiável,

conhecer as necessidades dos clientes e ter empatia com estes. Por esses valores, as

Page 178: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

178

empresas podem se identificar com determinadas formações ideológicas, como o livre

mercado, democracia e preservação ambiental, por exemplo.

Com relação às limitações e obrigações impostas pelos produtos, identificadas

principalmente nas notícias, foi observado que são utilizados os mesmos valores acima

de custo x benefício, mas com a introdução de outros participantes, como concorrentes e

características negativas dos produtos (como em limitação); outros participantes

abstratos, como o controle de gastos e a qualidade, foram ignorados pelas notícias. Foi

observado também que as empresas podem utilizar composições de avaliações positivas

e negativas para atenuar o valor negativo das obrigações impostas aos clientes, ou

podem simplesmente representar essas obrigações como benefícios. Essa constatação

parece mostrar que os conceitos de valor podem ser compostos entre si, com a formação

de redes sistêmicas de bases para a avaliação para produtos e empresas como a mostrada

na figura 11.

Figura 11: Sistema de bases de avaliação para os produtos

Nas demonstrações de capacidade, as empresas utilizam principalmente

comparações com os concorrentes, em relações ideacionais que envolvem:

A identificação da empresa

A identificação de uma qualidade que destaque a empresa perante as demais,

como a primeira ou a única.

A identificação do critério que a destaque as demais, que pode ser uma ação

(como em a única a não aumentar os preços) ou uma posição (a líder)

Page 179: 22 09 08_mauro

III. Apresentação e discussão dos resultados

179

A identificação do grupo do qual a empresa se destaca (as demais empresas de

telecomunicações, por exemplo)

Nessas relações, foi observado que os critérios que as destacam das concorrentes

são principalmente baseados nos benefícios oferecidos aos clientes, com base nos

mesmos valores da oferta de benefícios. Aqui, as empresas podem atribuir valores

negativos às concorrentes e positivos a si próprias (como no caso da livre concorrência

x monopólio), no que pode ser interpretado como uma realização metafórica de um

comando (para que se alinhem à empresa e se distanciem dos concorrentes). Uma

proposta de rede sistêmica de bases para a avaliação das empresas, montada a partir dos

dados do corpus, é mostrada na figura 12.

Figura 12: Sistema de bases de avaliação para a empresa

As relações ideacionais identificadas como aumento de capacidade, que reúnem

ações que a empresa executa internamente e a identificação de parceiros nas diversas

atividades, que executam ações que estão além do escopo de atividades da empresa. Foi

observado que essas expressões de aumento de capacidade também estão associadas nos

press releases aos benefícios oferecidos aos clientes, novamente sendo baseadas nos

mesmos valores identificados na oferta de benefícios. Nas notícias, por sua vez, foram

identificadas informações sobre problemas internos das empresas (como o afastamento

de executivos), que podem expressar reduções de capacidade da empresa.

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III. Apresentação e discussão dos resultados

180

Finalmente, ao apresentarem seus resultados positivos, as empresas mostram que

os benefícios oferecidos foram aceitos pelos clientes, o que evidencia a validade das

alegações das empresas feitas na oferta de benefícios e o alinhamento dos clientes aos

valores propostos pelas empresas. Essas relações envolvem principalmente

comparações entre os números de clientes existentes antes e depois das ações das

empresas, as ações executadas pelos clientes em resposta a essas ações e a apresentação

de resultados financeiros decorrentes dos pagamentos recebidos pelas empresas.

Dessa maneira, as análises mostraram que os press releases destacam o papel da

empresa principalmente por meio de comparações. Na oferta de benefícios, há uma

comparação implícita entre a capacidade atual do cliente (sem o produto) e a capacidade

futura, que ele poderá ter com o produto. Nas demonstrações de capacidade, os press

releases fazem comparações entre as empresas e os concorrentes, enquanto que nos

resultados, os press releases fazem comparações entre uma situação anterior e a

situação atual, apresentada como efeito das ações da empresa.

Além disso, a análise mostrou que as avaliações são construídas ao longo do

texto por relações intratextuais e intertextuais entre os participantes, o que está de

acordo com os conceitos de Hunston (2000:183) de Status e Valor nos planos interativo

e autônomo. Seguindo esses conceitos, vimos que as avaliações atribuídas a qualquer

um dos elementos ideacionais pode afetar as avaliações atribuídas às empresas.

As considerações finais desse trabalho são apresentadas a seguir.

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Considerações finais

181

Considerações finais

Esta parte final deste trabalho apresenta um resumo da pesquisa (objetivos,

fundamentação teórica e metodologia) e discute os resultados obtidos e as contribuições

que esses resultados podem trazer para a teoria. Aqui também são discutidas as

limitações da pesquisa e os futuros caminhos que podem ser trilhados em pesquisas

posteriores.

Esse trabalho é voltado à linguagem empresarial, estudando mais

especificamente os recursos utilizados por duas empresas brasileiras de

telecomunicações ao descrever em seus press releases as atividades nas quais estão

envolvidas. As análises feitas neste trabalho enfocaram os diversos recursos léxico-

gramaticais utilizados nas descrições das atividades que mostram a atitude das empresas

perante o que descrevem, como por exemplo, as ações das empresas e de outros

participantes e a atribuição de qualidades a essas ações e participantes.

Essas questões estão relacionadas aos modos como os falantes expressam suas

posições perante o que falam, o que está relacionado às teorias lingüísticas relacionadas

ao fenômeno da avaliação. Após uma análise teórica, observei que seria possível utilizar

um modelo que utilizasse conceitos oferecidos pelo sistema de Avaliatividade (Martin,

2000; Martin e White, 2005) e pelo sistema de avaliação proposto por Hunston

(2000:183-184).

O sistema de Avaliatividade nos oferece a categorização dos tipos de Atitude e a

diferenciação entre as atitudes inscritas e evocadas, enquanto que os parâmetros de

Status e Valor nos planos interativo e autônomo propostos por Hunston, nos permitem

observar como as avaliações são construídas ao longo dos textos. Outro aspecto

importante nas análises de Hunston para este trabalho é a identificação das bases que

fundamentam as avaliações (2000:196), que neste trabalho são associadas ao conceito

de valores, que por sua vez está relacionado ao sistema de heteroglossia. Cabe aqui

observar que o subsistema de Engajamento de Martin e White (2005:92), baseado ao

conceito de heteroglossia, descreve a relação entre a voz do autor dos textos e outras

vozes (negando essas vozes ou reconhecendo-as, por exemplo), mas salvo alguma má-

interpretação de minha parte, as análises de Atitude de Martin não identificam

especificamente quais seriam essas vozes.

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Considerações finais

182

Como mencionado anteriormente, a análise do posicionamento das empresas e

do jornal perante as atividades descritas segue a visão de que todos os elementos do

texto podem trazer alguma avaliação, explícita e implícita, que potencialmente

aproxime ou afaste determinadas classes de leitores das posições assumidas pelo

escritor do texto. Dessa maneira, todas as diferenças encontradas na análise comparativa

potencialmente trazem alguma diferença de avaliatividade, cabendo ao analista decidir

se essa diferença seria relevante ou não para as suas conclusões.

Isso inicialmente me levou a pensar que todos os participantes de uma

determinada atividade estariam avaliados, desde que presentes no texto. Entretanto, a

possibilidade levantada por van Leeuwen (1996:39) e Fowler (1991:71) de que o falante

possa escolher não representar determinados participantes e ações – o que pode mostrar

algum tipo de posicionamento perante esses participantes – me levou a considerar

também importante analisar o que não foi incluído nas descrições das atividades.

Neste trabalho, essa análise de participantes e ações que não foram incluídos nas

representações de mundo das empresas foi feita por uma comparação com as descrições

das mesmas atividades por um jornal on-line, que identificou as diferenças entre as

posições assumidas pela empresa e pelo jornal com relação às atividades descritas.

Dessa maneira, as análises foram orientadas pelas seguintes perguntas de pesquisa:

1. Quais são as diferenças nas formas como os press releases e as notícias

descrevem as atividades da empresa?

2. Como as diferenças encontradas expressam diferentes formas de avaliação

dessas atividades?

3. Quais são os valores que baseiam essas avaliações?

A análise comparativa não é comum em análises de avaliatividade; para dar

conta da necessidade de análise de um aspecto lingüístico que pode ser realizado por

diferentes recursos léxico-gramaticais e nos diferentes níveis de estrutura do texto, optei

por comparar as diferenças entre press releases e notícias em termos da ocorrência das

palavras e observar se essas diferenças eram observadas em um número considerado

significativo de textos. Para expressar tais diferenças numericamente, defini o conceito

de palavras exclusivas e palavras significativamente exclusivas, com base nos estudos

comparativos de Scott (2001:57) e Berber-Sardinha (1999). Com o uso do conceito de

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Considerações finais

183

palavras exclusivas, foi possível trabalhar as variáveis de ocorrência no texto e

freqüência de ocorrência isoladamente, diferentemente do que acontece com o uso de

palavras-chave. É esperado que os procedimentos desenvolvidos neste trabalho possam

auxiliar outros pesquisadores que precisem comparar corpora pequenos de uma maneira

sistemática e que tenham a intenção de desenvolver esses procedimentos dentro da

lingüística de corpus, especialmente em trabalhos relacionados a questões de avaliação.

Com relação aos resultados obtidos, a análise comparativa permitiu identificar

diferenças nas formas como as atividades foram descritas e, principalmente, identificar

informações fornecidas nos press releases que não foram aproveitadas nas notícias

correspondentes e informações incluídas nas notícias que não estavam presentes em

seus press releases correspondentes.

Na comparação entre os press releases e as notícias, a análise identificou uma

concentração expressiva de palavras significativamente exclusivas dos press releases na

descrição de produtos, relacionada neste trabalho à oferta de benefícios aos clientes e

público em geral. Esses resultados parecem indicar que as notícias tendem a apresentar

a ação da empresa, enquanto que os press releases tendem a descrever os produtos e a

relação destes com os clientes. A análise também apontou uma concentração expressiva

de palavras significativamente exclusivas das notícias em atribuições de falas a

participantes internos e externos da empresa, o que seria de se esperar, devido ao

processo de produção das notícias, que dependem de fontes de informação externas.

As estruturas ideacionais que expressam diversos tipos de comparação podem

ser interpretadas como um meio das empresas em destacar a sua atuação no mercado

pelos resultados de suas ações. Ao destacar os benefícios aos clientes, a empresa mostra

o que é possível no futuro, ao descrever sua capacidade e sua posição perante os

concorrentes, a empresa mostra o que conseguiu com seus esforços anteriores, mesmo

que não expressos no texto, o que é mostrado mais explicitamente quando a empresa

descreve os resultados alcançados e faz comparações com uma situação anterior.

Nas notícias, foi também identificado um grupo de relações ideacionais, aqui

denominado Histórico, nos quais as notícias fornecem informações adicionais sobre os

tópicos descritos. Na análise comparativa, isso parece mostrar que os press releases

tendem a não apresentar informações de contexto, preferindo se concentrar nos

benefícios oferecidos pelos produtos. Essas informações de histórico, nem sempre

negativas para as empresas, mostram o interesse do jornal em contextualizar as

Page 184: 22 09 08_mauro

Considerações finais

184

atividades das empresas. A interpretação desses resultados mostrou que mesmo um

padrão prosódico de avaliações negativas nesses estágios pode trazer uma avaliação

positiva para a empresa, dependendo dos participantes avaliados negativamente e das

ações tomadas pelas empresas para resolver tais questões.

As análises mostraram os modos como as avaliações implícitas e explícitas

presentes nos textos podem ser usadas em realizações metafóricas de ofertas e

comandos nas atividades descritas nos press releases e notícias, por exemplo:

Nas descrições dos produtos e eventos patrocinados pelas empresas, a oferta de

benefícios. Nas descrições das limitações e restrições dos produtos, a sugestão

que os clientes se afastem deles.

Nas descrições de capacidade das empresas e nas atividades destinadas a

aumentar a capacidade da empresa, o convite para que os clientes se aproximem

da empresa. Nas atribuições de valores negativos aos concorrentes, a sugestão

para que os clientes se afastem desses concorrentes.

Assim, temos uma construção metafórica de ofertas e comandos pelas avaliações

feitas no texto, o que parece confirmar o papel da avaliação como uma forma metafórica

de realização dos significados interpessoais, como descrito no sistema proposto por

Thompson e Thetela (1995:107).

A interpretação dos dados também parece mostrar a natureza “orgânica” da

construção da avaliação ao longo do texto, onde a avaliação de um elemento afeta a

avaliação de todo o conjunto, em diversas relações entre o que está sendo avaliado e sua

avaliação, o que parece estar alinhado à proposta de Status e Valor no plano autônomo

de Hunston (2000:183-184). Dessa forma, as ações não apenas permitem a atribuição de

uma avaliação àquele que as executou, mas também têm sua avaliação dependente da

identidade de seu executor, seja por capacidade ou idoneidade. Dessa maneira, a

avaliação é feita não apenas no texto, mas também pelas possíveis referências

intertextuais que podem ser traçadas com base no conhecimento do contexto.

Além disso, os resultados de uma ação podem afetar a avaliação dessa ação, mas

esses resultados também podem ser avaliados, por exemplo, pela ética ou propriedade

da ação que os originou. Aplicando essa construção de avaliações pelos diversos

elementos da oração, parece ser possível vislumbrar um desenvolvimento adicional

possível da teoria com a atribuição de Status (por relações intertextuais) e Valor (pelas

Page 185: 22 09 08_mauro

Considerações finais

185

avaliações construídas no texto) a todos os elementos ideacionais, participantes,

processos e circunstâncias no texto por relações intertextuais. Isso permitiria incluir

formalmente nesse modelo o conceito de prosódia semântica proposto pela Lingüística

de Corpus (Berber-Sardinha, 2000:360), o que pode ser objeto de pesquisas futuras.

Outra contribuição possível deste trabalho está relacionada à teoria de gêneros.

Nas descrições das diferentes estruturas ideacionais que expressam comparações, foi

observada a presença de vários elementos em comum nas funções retóricas discutidas,

como por exemplo, a identificação de clientes e produtos e a realização metafórica de

ofertas. Parece ser possível sugerir que a associação de um grupo nominal a diferentes

classes de clientes ou a identificação de uma realização metafórica de oferta pelo

aspecto temporal de um grupo verbal ou até mesmo pela lexicalização dessa oferta no

processo possam ser considerados estágios obrigatórios ou opcionais (Halliday e Hasan,

1989:62) realizados na oração. Isso que parece sugerir que esses elementos realizem na

oração estágios que cumprem funções similares às encontradas no desenvolvimento do

texto, o que também pode ser objeto de pesquisas futuras.

A análise das avaliações pelos conceitos que as baseiam também parece permitir

a construção de sistemas de valores, como os esboçados ao final do capítulo anterior,

nos quais alguns valores possam ser combinados com outros, enquanto que outros

poderiam ser colocados em oposição. Como mostrado nesses sistemas, nas análises dos

corpora, foi possível identificar avaliações que podem ser associadas a valores como

“proporcionar benefícios”, atribuídos aos produtos. Esses valores podem ser

combinados com outros relacionados à capacidade das empresas, como “ser a primeira”,

“ser a maior”, e podem ser contrapostos a valores de “custo”. Outra combinação

positiva de valores, encontrados nas atividades relacionadas aos eventos patrocinados

pela empresa, seriam os valores de “entretenimento” e “segurança”, por exemplo.

A comparação entre os valores utilizados pelas notícias, principalmente quando

descrevem as limitações dos produtos, mostrou que os conjuntos dos valores utilizados

nas avaliações são basicamente os mesmos utilizados nos press releases; por exemplo,

os press releases promovem os seus produtos com avaliações positivas relacionadas a

valores de capacidade, benefícios oferecidos e custo, mas esses mesmos valores podem

ser utilizados pelas notícias para avaliar negativamente os mesmos produtos em

comparações com concorrentes ou características dos produtos que apresentem pontos

de vista diferentes dos utilizados pelas empresas.

Page 186: 22 09 08_mauro

Considerações finais

186

Essas combinações de valores podem parecer óbvias para os membros de nossa

comunidade, mas esse procedimento de análise pela identificação de valores pode ser

proveitosa quando analisamos textos produzidos por membros de outras comunidades,

podendo ser usado para a discussão de categorias adicionais de Atitudes em diferentes

culturas, aprimorando assim o sistema de Avaliatividade. Essa relação entre a avaliação

e os valores que orientam as escolhas lingüísticas pode mostrar outros

desenvolvimentos possíveis deste trabalho, com análises da relação entre os recursos

avaliativos e teorias sociológicas relacionadas a questões de poder, principalmente

baseados no conceito de classes de Bourdieu (1991:231) e os estudos de Foucault

(1984:312) sobre o poder. Esses estudos poderiam trazer uma visão mais abrangente

sobre a relação entre o texto e o contexto, por exemplo, na análise dos tipos de capitais

envolvidos nas avaliações e as relações entre diversos grupos de agentes do mundo

social.

Entre as contribuições desse trabalho para o dia a dia das empresas, podemos

citar as análises mercadológicas de comportamento dos consumidores e a tomada de

decisões bem fundamentadas para a área de marketing, além, é claro, das contribuições

para as próprias assessorias de imprensa que produzem os press releases. Obviamente,

os subsídios aqui fornecidos também podem ser utilizados na área educacional,

ensinando aos alunos a produzir textos mais adequados aos seus propósitos.

Com relação às limitações do presente trabalho, cito inicialmente o grande

número de classificações gramaticais feitas manualmente; embora eu tenha

empreendido todos os esforços para garantir a exatidão das análises, certamente foram

cometidos erros pontuais em análises específicas, mas que provavelmente não afetaram

a análise consolidada dos resultados. Outra limitação está relacionada ao tempo

disponível para a pesquisa, que não permitiu estender a análise e reduziu o número de

categorias alternativas testadas. Ao lado dessas limitações, há também a minha decisão

de não realizar entrevistas com jornalistas que utilizam press releases. Esse recurso

metodológico não foi usado principalmente pela existência de estudos anteriores,

especificamente de Bell (1991) e Jacobs (1999) que fizeram uma análise ampla do

processo de produção de notícias com base em press releases; dessa maneira, preferi

concentrar os esforços no desenvolvimento da metodologia e na análise gramatical dos

textos, que poderão, assim, ser úteis a pesquisas que investiguem o processo de

Page 187: 22 09 08_mauro

Considerações finais

187

produção de notícias em nosso país e enfoquem a análise de entrevistas com jornalistas

brasileiros.

Vejo ainda como uma das principais limitações deste trabalho o fato de que a

teoria de Avaliatividade estar ainda em seus primeiros estágios de desenvolvimento em

todo o mundo e principalmente no Brasil, onde ainda temos poucos trabalhos que

utilizam esse quadro teórico. Dessa maneira, muitos dos trabalhos sobre a

Avaliatividade utilizados aqui foram publicados dentro do período em que esta pesquisa

foi desenvolvida, como The Language of Evaluation (Martin e White, 2005) e System

and Corpus (Thompson e Hunston, 2007), além de várias teses e dissertações em todo o

mundo; dessa forma, não foi possível aproveitar aqui muitas das contribuições recentes

no estudo da avaliação e avaliatividade.

Esse ineditismo da teoria também é algo que impõe desafios ao pesquisador,

pelas lacunas observadas quanto ao rationale subjacente às categorias de Avaliatividade

propostas e à adequação destas em diferentes culturas, além da falta de definições claras

das categorias. A passagem da análise de textos individuais para as análises baseadas

em corpus também é um desafio a ser enfrentado, como afirmado em Martin e White

(2005:260). Penso, entretanto, que todos esses desafios são mais um incentivo do que

uma barreira ao pesquisador, o que pode ser observado pelo número crescente de

pesquisadores interessados nas análises de avaliação nos textos. Dessa maneira, espero

que este trabalho se constitua em incentivo para que outros pesquisadores se decidam

também a trilhar esse caminho.

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Considerações finais

188

Page 189: 22 09 08_mauro

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Page 197: 22 09 08_mauro

Anexo I. Títulos dos press releases e notícias

197

Anexo I – Títulos dos press releases e notícias

Os quadros abaixo mostram os títulos dos press releases e notícias sobre a TELE_A e

TELE_B. A numeração dos pares foi estabelecida por ordem cronológica, pela data de

publicação.

Quadro 47. Títulos dos press releases e notícias da Tele_A

PAR TÍTULO DATA

Par 1 PR Tele_A começa a prestar serviço de telefonia local em São Paulo 30/01/03

NW Tele_A começa a atuar em telefonia local em 6 cidades de SP 29/12/03

Par 2 PR Tele_A começa a prestar serviço de telefonia local em Cuiabá, Campo

Grande e Florianópolis

17/02/03

NW Tele_A começa a prestar serviço local em Florianópolis 18/02/03

Par 3 PR Tele_A patrocina Welcome Rio 03 18/02/03

NW Campanha quer fazer o carioca receber bem o turista no Carnaval 18/02/03

Par 4 PR Decisão do Cade a favor de concorrência justa no setor de

telecomunicações beneficia Tele_A

28/02/03

NW Decisão do Cade favorece Tele_A contra Tele_B 28/02/03

Par 5 PR Tele_A assina programa de financiamento 28/02/03

NW Tele_A rola dívidas de curto prazo e ganha fôlego até 2004 28/02/03

Par 6 PR Tele_A terceiriza infra-estrutura de tecnologia da informação 09/04/03

NW Tele_A terceiriza infra-estrutura de tecnologia da informação 08/04/03

Par 7 PR Tele_A Participações - Divulgação de Resultado - Resultado do 1o

Trimestre de 03(1)

07/05/03

NW Tele_A fecha o trimestre com lucro de R$ 11 milhões 06/05/03

Par 8 PR Conselho da Tele_A Participações tem dois novos integrantes: Francisco

Weffort e José Roberto Mendonça de Barros

06/06/03

NW Tele_A indica Weffort e Mendonça de Barros para conselho 06/06/03

Par 9 PR Click 21 será o provedor de acesso gratuito com qualidade Tele_A 17/07/03

NW Tele_A lança provedor de acesso gratuito 18/07/03

Par 10 PR Tele_A assume todo o tráfego do serviço 0800 do Banco do Brasil 22/07/03

NW Tele_A leva contrato de R$ 1,5 mi mensais para oferecer 0800 ao BB 22/07/03

Par 11 PR Tele_A - Resultados do segundo trimestre de 03 29/07/03

NW Tele_A tem lucro de R$ 128,3 mi no segundo trimestre 30/07/03

Par 12 PR Tele_A acelerará Negócio de serviços locais através de aquisição 12/08/03

NW Tele_A deve comprar a Vésper sem levar dívida 12/08/03

Par 13 PR Tele_A obtém Medida Preventiva contra Telemar 25/08/03

NW Anatel obriga Telemar a dar acesso à rede local pelo menor preço à

Tele_A

22/08/03

Par 14 PR Série "Máfia dos fiscais" conquista o Prêmio Barbosa Lima Sobrinho do

Prêmio Imprensa Tele_A 03

25/09/03

NW Jornal_A é premiada por reportagens sobre transporte 26/09/03

Par 15 PR Tele_A vence pregão eletrônico do TRF - 1ª Região 08/10/03

NW Tele_A ganha contrato do TRF para fornecer rede de dados 08/10/03

Par 16 PR Telos tem novo diretor superintendente 12/12/03

NW Tele_A manda demitir Solange Paiva da direção da Telos 12/12/03

Par 17 PR Tele_A lança solução de acesso remoto Wi-Fi 29/12/03

NW Tele_A tem serviço corporativo de acesso sem fio à internet 29/12/03

Par 18 PR Tele_A: campanha faz sucesso e mostra como uma "gênia" pode

incomodar a concorrência

26/02/04

NW Tele_A rebate Telemar em polêmica sobre comercial do "Gênio 21" 20/02/04

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Anexo I. Títulos dos press releases e notícias

198

Quadro 47. Títulos dos press releases e notícias da Tele_A (cont.)

PAR TÍTULO DATA

Par 19 PR Consórcio formado pela Geodex e concessionárias locais não terá acesso

ao data-room da Tele_A

11/03/04

NW MCI proíbe consórcio de teles fixas a acessar data-room da Tele_A 11/03/04

Par 20 PR Pareceres sobre a venda da Tele_A para as fixas são entregues às

autoridades

12/04/04

NW Tele_A encomenda estudo para inviabilizar venda para teles fixas 12/04/04

Par 21 PR Tele_A reitera, no Cade e na SDE, pedido de medida preventiva por

indício de cartel contra as três concessionárias de telefonia fixa.

26/04/04

NW Tele_A reforça no Cade, SDE e Anatel denúncia contra teles 26/04/04

Par 22 PR Decisão sobre unbundling favorece competição nos serviços locais e

banda larga

13/05/04

NW Anatel define regras para ampliar competição de internet rápida 13/05/04

Par 23 PR Conselho da Tele_A aceita pedidos de renúncia de Jorge Rodriguez e

Cláudia de Azerêdo Santos

09/06/04

NW Presidente e vice da Tele_A renunciam ao cargo 09/06/04

Par 24 PR Tele_A lança em Amapá e Roraima primeira linha fixa livre de

assinatura

19/07/04

NW Tele_A expande serviço de telefonia fixa sem assinatura 21/07/04

Par 25 PR Tele_A presenteia São Paulo e Rio de Janeiro com Reveillon 14/12/04

NW Comissão define Réveillon na Paulista após 3 dias de planejamento 15/12/04

Par 26 PR Avenida Paulista será palco do aniversário de São Paulo 18/01/05

NW Shows na avenida Paulista marcam aniversário de São Paulo 24/01/05

Par 27 PR Tele_A anuncia que não reajustará tarifas telefônicas 11/07/05

NW Tele_A abre mão de reajuste para DDD, mas preço pode ser maior 11/07/05

Quadro 48. Títulos dos press releases e notícias da Tele_B

PAR TÍTULO DATA Par 1 PR Melhoria da qualidade tira Tele_B do topo da lista do Procon SP 13/03/03

NW Tele_B melhora no ranking do Procon; Speedy tem reclamações 13/03/03

Par 2 PR Novo modelo de conta da Tele_B traz mais comodidade e ajuda na

preservação ambiental

21/03/03

NW Conta de telefone com menos papel vai salvar árvores 21/03/03

Par 3 PR Tele_B apresenta Internet Pública 24/03/03

NW Orelhão vai ter internet e usará cartão telefônico comum 26/03/03

Par 4 PR Tele_B coloca à disposição serviço de ligações locais em seis Estados 05/05/03

NW Tele_B dá início à expansão buscando mercado corporativo de seis

Estados

06/05/03

Par 5 PR Tele_B SP/Telesp apresenta resultados do primeiro semestre de 2003 25/07/03

NW Tele_B tem lucro semestral de R$ 480 mi 26/07/03

Par 6 PR Tele_B lança série inédita de cartões telefônicos com times de futebol 08/09/03

NW Clubes paulistas estampam série especial de cartões telefônicos 08/09/03

Par 7 PR Tele_B cria solução de Speedy especial para condomínios verticais 16/10/03

NW Speedy ganha versão especial para condomínios verticais 15/09/03

Par 8 PR Fundação Tele_B participa das comemorações do "Dia da Inclusão

Digital"

22/03/04

NW CDI lança manual de inclusão digital para empresas 22/03/04

Par 9 PR Speedy 128 Light é nova opção da Tele_B para quem ainda está na

Internet discada

08/04/04

NW Tele_B baixa preço do Speedy em versão "light" 08/04/04

Par 10 PR Tele_B inicia nova expansão para facilitar acesso do público de menor

renda à linha fixa

13/07/04

NW Tele_B lança telefone fixo pré-pago com assinatura mensal mais barata 13/07/04

Page 199: 22 09 08_mauro

Anexo I. Títulos dos press releases e notícias

199

Quadro 48. Títulos dos press releases e notícias da Tele_B (cont.)

PAR TÍTULO DATA Par 11 PR Fundação Tele_B e Estação Ciência promovem debate sobre o uso

pedagógico de jogos

16/08/04

NW Especialistas debatem uso pedagógico de jogos 13/08/04

Par 12 PR Ligações entre 39 municípios vizinhos da Grande SP passam a ter tarifa

local

02/09/04

NW Ligações telefônicas entre cidades da Grande São Paulo ficam mais

baratas

03/09/04

Par 13 PR Fundação Tele_B cria "Kit Feira de Ciências", com relíquias da história

das telecomunicações, para escolas de SP

20/09/04

NW Escolas podem pedir kit para ensinar história do telefone 12/10/04

Par 14 PR Prefixos mudam na região da avenida Paulista neste sábado 23/09/04

NW Prefixos de telefones mudam na região da avenida Paulista amanhã 24/09/04

Par 15 PR Tele_B coloca à venda mais 300 mil linhas econômicas 24/09/04

NW Tele_B coloca mais 300 mil linhas econômicas em SP 24/09/04

Par 16 PR Tele_B apresenta resultados acumulados até o 3o. trimestre de 2004 10/11/04

NW Lucro da Tele_B cresce 20% e soma R$ 538,2 milhões no trimestre 11/11/04

Par 17 PR Tele_B coloca à venda mais 120 mil linhas econômicas 03/12/04

NW Tele_B vai vender mais 120 mil linhas econômicas 03/12/04

Par 18 PR Tele_B instala Speedy Wi-Fi em Cumbica e principais aeroportos do

País

25/02/05

NW Aeroporto de Cumbica ganha alternativa para acesso sem fio à web 25/02/05

Par 19 PR Fundação Tele_B e Secretaria da Educação de SP se unem em

capacitação de alunos e professores no uso da Internet

17/03/05

NW SP faz parceria para capacitar aluno e professor no uso da internet 24/03/05

Par 20 PR Tele_B divulga resultados do primeiro trimestre de 2005 10/05/05

NW Tele_B lucra R$ 489,9 mi no trimestre 11/05/05

Par 21 PR Tele_B oferece mais 73 mil terminais da Linha da Economia Família

para o Estado de SP

24/05/05

NW Tele_B oferece mais um lote de 73 mil linhas da economia 24/05/05

Par 22 PR Tele_B parcela habilitação de Linha da Economia Família em 10 vezes 02/06/05

NW Tele_B parcela habilitação da linha da economia em dez vezes 02/06/05

Par 23 PR Reajuste das tarifas de telefonia fixa em São Paulo é inferior à variação

da inflação

30/06/05

NW Telefone aumenta 7,27% a partir de domingo 30/06/05

Par 24 PR Tele_B divulga resultados do primeiro semestre de 2005 26/07/05

NW Lucro da Tele_B cresce 23,6% e supera R$ 1 bilhão no semestre 26/07/05

Par 25 PR Três prefixos telefônicos da região do Ipiranga mudam neste sábado 21/11/05

NW Tele_B altera prefixos da região do Ipiranga no próximo sábado 21/11/05

Par 26 PR Tele_B lança campanha de fim de ano para facilitar pagamento de

débitos de clientes

29/11/05

NW Tele_B negocia dívida com inadimplente e abre mão de juro e multa 30/11/05

Par 27 PR Tele_B atinge marca de 100 mil clientes do Plano Internet Ilimitada 27/12/05

NW Tele_B tem opção mais barata que cabo para quem usa muito a internet 17/01/06

Page 200: 22 09 08_mauro

Anexo I. Títulos dos press releases e notícias

200

Page 201: 22 09 08_mauro

Anexo II. Quantidades de palavras

201

Anexo II – Quantidades de palavras

Os quadros abaixo apresentam as quantidades de palavras de cada um dos textos

utilizados no corpus em números absolutos, expressas em número total de palavras e

pelo número de palavras diferentes.

Quadro 49. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_A

Tele_A Press releases Notícias

Par palavras palavras diferentes palavras palavras diferentes

1 400 194 260 149

2 421 217 111 73

3 901 378 247 138

4 380 164 194 105

5 268 148 294 155

6 837 364 135 78

7 2.421 607 131 59

8 129 83 134 91

9 280 148 118 70

10 326 163 222 112

11 78 52 208 93

12 662 272 117 72

13 235 134 181 99

14 902 409 149 95

15 425 233 167 95

16 126 77 415 195

17 345 190 227 133

18 291 157 229 126

19 101 60 460 230

20 453 218 431 222

21 269 135 227 127

22 204 125 474 210

23 114 65 167 98

24 375 204 213 118

25 398 196 434 253

26 811 345 315 152

27 285 151 248 120

Total 12437 6508

O quadro abaixo apresenta as quantidades de palavras dos press releases e notícias da

Tele_B:

Page 202: 22 09 08_mauro

Anexo II. Quantidades de palavras

202

Quadro 50. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_B

Tele_B Press releases Notícias

Par palavras palavras diferentes palavras palavras diferentes

1 700 300 389 175

2 345 177 161 90

3 237 138 109 69

4 344 179 398 198

5 362 159 110 56

6 333 190 109 77

7 587 255 143 84

8 486 226 190 109

9 515 235 162 84

10 671 274 509 217

11 243 144 208 120

12 441 191 285 149

13 503 247 231 129

14 183 98 113 67

15 359 169 220 102

16 506 205 127 57

17 291 155 293 125

18 289 158 212 136

19 440 234 397 209

20 434 179 169 81

21 336 157 209 110

22 243 124 240 121

23 253 101 402 176

24 449 199 260 121

25 211 110 143 76

26 340 150 215 111

27 329 166 308 157

Total 10430 6312

Page 203: 22 09 08_mauro

Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas

203

Anexo III – Listas de palavras significativamente exclusivas

A seguir, são mostradas as listas das palavras significativamente exclusivas utilizadas

na análise, conforme a definição fornecida no capítulo de metodologia. Nos títulos das

colunas dos quadros abaixo, temos:

Palavra – Indica a palavra exclusiva

Comum – Quantidade de pares nos quais essa palavra é comum aos dois textos

Press release – Quantidade de pares nos quais essa palavra é exclusiva do press

release

Notícia– Quantidade de pares nos quais essa palavra é exclusiva da notícia

Total – Quantidade total de pares nos quais a palavra exclusiva ocorre

Excl. Empr. – Índice de exclusividade no press release

Excl. Not. – Índice de exclusividade na notícia

Quadro 51. Lista de palavras significativamente exclusivas nos press releases da

Tele_A (classificadas por índice de exclusividade)

Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. Em

DIA 0 11 3 14 0,32

S 0 8 0 8 0,30

PELO 5 13 5 23 0,27

MAIS 5 12 3 20 0,27

QUALIDADE 0 7 0 7 0,26

SEUS 4 11 3 18 0,25

JÁ 2 10 3 15 0,25

SE 7 12 3 22 0,24

LOCAL 6 10 0 16 0,23

QUALQUER 0 7 1 8 0,23

ATENDIMENTO 1 7 0 8 0,23

INTERNACIONAIS 0 6 0 6 0,22

PRIMEIRA 0 6 0 6 0,22

TELECOMUNICAÇÕES 7 11 3 21 0,21

DEPOIS 0 7 2 9 0,20

AFIRMA 1 7 1 9 0,20

TODOS 2 7 0 9 0,20

AINDA 2 9 4 15 0,20

REDE 2 8 2 12 0,20

GRANDES 0 6 1 7 0,19

INICIATIVA 0 6 1 7 0,19

ONDE 0 6 1 7 0,19

QUAL 0 6 1 7 0,19

AUMENTAR 1 6 0 7 0,19

Page 204: 22 09 08_mauro

Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas

204

Quadro 51. Lista de palavras significativamente exclusivas nos press releases da

Tele_A (classificadas por índice de exclusividade) (cont.)

Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. Em

TODO 1 6 0 7 0,19

COMO 6 9 1 16 0,19

ATRAVÉS 0 5 0 5 0,19

CADA 0 5 0 5 0,19

COMPETITIVA 0 5 0 5 0,19

DISSO 0 5 0 5 0,19

LOCALIDADES 0 5 0 5 0,19

SOLUÇÃO 0 5 0 5 0,19

AGORA 1 7 2 10 0,18

COMUNICAÇÃO 2 7 1 10 0,18

CLIENTES 6 8 0 14 0,17

TERÃO 1 7 3 11 0,16

SERÁ 4 8 3 15 0,16

ESTE 0 5 1 6 0,15

NÚMERO 0 5 1 6 0,15

TÊM 0 5 1 6 0,15

ÚNICA 0 5 1 6 0,15

RESIDENCIAIS 1 5 0 6 0,15

SOLUÇÕES 1 5 0 6 0,15

UM 11 10 3 24 0,15

ABRIL 0 4 0 4 0,15

CALL 0 4 0 4 0,15

CAPITAIS 0 4 0 4 0,15

CENTRAIS 0 4 0 4 0,15

DESPESAS 0 4 0 4 0,15

DIGITAIS 0 4 0 4 0,15

FARÁ 0 4 0 4 0,15

FEITAS 0 4 0 4 0,15

NUMA 0 4 0 4 0,15

OFERECENDO 0 4 0 4 0,15

OPORTUNIDADE 0 4 0 4 0,15

PRESENÇA 0 4 0 4 0,15

SEGUINTES 0 4 0 4 0,15

TERMOS 0 4 0 4 0,15

VÁRIAS 0 4 0 4 0,15

ELE 1 6 2 9 0,15

TODAS 2 6 1 9 0,15

Quadro 52. Lista de palavras significativamente exclusivas nos press releases da

Tele_B (classificadas por índice de exclusividade)

Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. PR

VALORES 1 10 0 11 0,34

MAIOR 2 11 1 14 0,32

À 9 14 0 23 0,32

AINDA 3 10 1 14 0,26

MEIO 3 10 1 14 0,26

GRATUITA 0 7 0 7 0,26

VOLUME 0 7 0 7 0,26

NOS 8 12 1 21 0,25

PELA 8 12 1 21 0,25

Page 205: 22 09 08_mauro

Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas

205

Quadro 52. Lista de palavras significativamente exclusivas nos press releases da

Tele_B (classificadas por índice de exclusividade) (cont.)

Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. PR

CLIENTE 1 9 2 12 0,25

ACESSO 2 9 1 12 0,25

AO 6 11 1 18 0,25

INFORMAÇÕES 2 8 0 10 0,24

ATENDIMENTO 0 6 0 6 0,22

CONTROLE 0 6 0 6 0,22

DISPONÍVEL 0 6 0 6 0,22

PRINCIPALMENTE 0 6 0 6 0,22

RESULTADOS 0 6 0 6 0,22

WWW 2 8 1 11 0,22

NÚMERO 6 10 2 18 0,21

PARTIR 5 9 1 15 0,20

HOJE 2 8 2 12 0,20

ESTE 0 6 1 7 0,19

INVESTIMENTOS 0 6 1 7 0,19

MÉDIA 0 6 1 7 0,19

ACESSAR 1 6 0 7 0,19

HORAS 1 6 0 7 0,19

APRESENTA 0 5 0 5 0,19

CENTRAL 0 5 0 5 0,19

CONFORME 0 5 0 5 0,19

DISPOSIÇÃO 0 5 0 5 0,19

ENCONTRADOS 0 5 0 5 0,19

GARANTE 0 5 0 5 0,19

INFORMA 0 5 0 5 0,19

PODERÃO 0 5 0 5 0,19

SP 4 8 1 13 0,18

FORMA 1 7 2 10 0,18

LANÇAMENTO 1 7 2 10 0,18

MENOS 2 7 1 10 0,18

GRUPO 3 7 0 10 0,18

REDE 3 7 0 10 0,18

USUÁRIOS 5 8 1 14 0,17

RELAÇÃO 1 6 1 8 0,17

ESTÃO 2 6 0 8 0,17

GASTOS 2 6 0 8 0,17

PERMITE 2 6 0 8 0,17

TELECOMUNICAÇÕES 1 7 3 11 0,16

ASSINANTES 3 7 1 11 0,16

DOS 12 10 1 23 0,16

MESES 6 8 1 15 0,16

AFIRMA 0 5 1 6 0,15

OFERTA 0 5 1 6 0,15

FERNANDO 1 5 0 6 0,15

FERREIRA 1 5 0 6 0,15

FUNCIONA 1 5 0 6 0,15

QUALIDADE 1 5 0 6 0,15

BR 4 7 1 12 0,15

COMO 8 9 3 20 0,15

PODEM 3 8 5 16 0,15

LIGAR 2 6 1 9 0,15

ACABA 0 4 0 4 0,15

Page 206: 22 09 08_mauro

Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas

206

Quadro 52. Lista de palavras significativamente exclusivas nos press releases da

Tele_B (classificadas por índice de exclusividade) (cont.)

Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. PR

BALANÇO 0 4 0 4 0,15

CHEGA 0 4 0 4 0,15

COMISSÃO 0 4 0 4 0,15

COMPLEMENTA 0 4 0 4 0,15

CONSOLIDADO 0 4 0 4 0,15

CVM 0 4 0 4 0,15

DEVERÁ 0 4 0 4 0,15

DISPONÍVEIS 0 4 0 4 0,15

ENTREGUE 0 4 0 4 0,15

ESPECIALMENTE 0 4 0 4 0,15

EXISTENTE 0 4 0 4 0,15

FIM 0 4 0 4 0,15

INCLUÍDOS 0 4 0 4 0,15

INICIAR 0 4 0 4 0,15

MOBILIÁRIOS 0 4 0 4 0,15

OBTIDO 0 4 0 4 0,15

OUVIR 0 4 0 4 0,15

S 0 4 0 4 0,15

SATISFAÇÃO 0 4 0 4 0,15

SUCESSO 0 4 0 4 0,15

Quadro 53. Lista de palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_A

(classificadas por índice de exclusividade)

Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. Not.

COMUNICADO 0 0 7 7 0,26

SEGUNDO 4 4 10 18 0,21

DIVULGADO 0 0 5 5 0,19

NOVA 0 0 5 5 0,19

NACIONAL 1 4 8 13 0,18

FINAL 1 2 7 10 0,18

FIXA 2 3 7 12 0,15

OPERADORA 3 2 7 12 0,15

CONTROLADORA 0 0 4 4 0,15

DISSE 0 0 4 4 0,15

NOTA 0 0 4 4 0,15

PASSADO 0 0 4 4 0,15

TELES 0 0 4 4 0,15

ESTÃO 1 2 6 9 0,15

TEM 1 2 6 9 0,15

TELEMAR 3 0 6 9 0,15

ANUNCIOU 0 2 5 7 0,13

ANO 2 5 7 14 0,13

ENTRE 4 4 7 15 0,12

DIZ 0 1 4 5 0,12

ANTES 0 0 3 3 0,11

COMPRAR 0 0 3 3 0,11

DIVULGADA 0 0 3 3 0,11

ELA 0 0 3 3 0,11

HAVIA 0 0 3 3 0,11

TAMBÉM 7 3 7 17 0,11

Page 207: 22 09 08_mauro

Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas

207

Quadro 54. Lista de palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_B

(classificadas por índice de exclusividade)

Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. Not.

DISSE 0 0 5 5 0,19

SEGUNDO 1 1 6 8 0,17

ENTANTO 0 0 4 4 0,15

EXISTEM 0 0 4 4 0,15

ONTEM 0 0 4 4 0,15

PRECISA 0 0 4 4 0,15

TIPOS 0 0 4 4 0,15

LANÇOU 0 2 5 7 0,13

COMPANHIA 0 1 4 5 0,12

NESTA 0 1 4 5 0,12

TERÁ 1 0 4 5 0,12

ALVO 0 0 3 3 0,11

CHAMADO 0 0 3 3 0,11

COBRADA 0 0 3 3 0,11

FASE 0 0 3 3 0,11

INFORMOU 0 0 3 3 0,11

INICIAL 0 0 3 3 0,11

MAS 0 0 3 3 0,11

REGISTROU 0 0 3 3 0,11

Page 208: 22 09 08_mauro

Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas

208