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22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina III-156 – ESTUDO DA CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÃO DA LAMA DE TRATAMENTO DO EFLUENTE DE DECAPAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL Maria Cândida de Oliveira Bello Corrêa(1) Engenheira Química pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. Pós Graduada em Química pela PUC-MG. Mestre em Meio Ambiente pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG/DESA. Professora de Química nos cursos de engenharia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG. Liséte Celina Lange Química, Professora Adjunta do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Doutora em Tecnologia Ambiental pela Universidade de Londres. Endereço(1): Rua Marte, 219 - Castelo Ipatinga - MG- CEP: 35160-072 – Brasil Tel: +55 (31) 28253241/99882006 - Fax: +55 (31) 38251354 - e-mail: [email protected] RESUMO As empresas siderúrgicas geram um grande número de resíduos sólidos em função principalmente de seus insumos muito diversificados. A empresa siderúrgica Acesita, que possui sua unidade industrial na cidade de Timóteo, MG, produz aço inoxidável plano e um dos seus resíduos, a lama gerada no tratamento de efluentes de decapagens, Lama da ETE, está sendo encaminhada para o aterro industrial a 2.200 t/mês e enquadra-se comoresíduo Classe II (resíduo não inerte). Para o melhor gerenciamento dessa Lama, esse trabalho caracteriza uma das lamas que a constitui, lama gerada a partir do tratamento do efluente contínuo (LEC), em seus aspectos físico-químicos e microestruturais. Propõe-se sua

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22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina III-156 – ESTUDO DA CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÃO DA LAMA DE TRATAMENTO DO EFLUENTE DE DECAPAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL Maria Cândida de Oliveira Bello Corrêa(1) Engenheira Química pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. Pós Graduada em Química pela PUC-MG. Mestre em Meio Ambiente pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG/DESA. Professora de Química nos cursos de engenharia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG. Liséte Celina Lange Química, Professora Adjunta do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Doutora em Tecnologia Ambiental pela Universidade de Londres. Endereço(1): Rua Marte, 219 - Castelo Ipatinga - MG- CEP: 35160-072 – Brasil Tel: +55 (31) 28253241/99882006 - Fax: +55 (31) 38251354 - e-mail: [email protected] RESUMO As empresas siderúrgicas geram um grande número de resíduos sólidos em função principalmente de seus insumos muito diversificados. A empresa siderúrgica Acesita, que possui sua unidade industrial na cidade de Timóteo, MG, produz aço inoxidável plano e um dos seus resíduos, a lama gerada no tratamento de efluentes de decapagens, Lama da ETE, está sendo encaminhada para o aterro industrial a 2.200 t/mês e enquadra-se comoresíduo Classe II (resíduo não inerte). Para o melhor gerenciamento dessa Lama, esse trabalho caracteriza uma das lamas que a constitui, lama gerada a partir do tratamento do efluente contínuo (LEC), em seus aspectos físico-químicos e microestruturais. Propõe-se sua

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aplicação na produção de blocos cerâmicos de vedação, para construção civil, na concentração 10% e temperatura de queima de 850oC. Pretende-se interferir no processo, ao segregar o efluente. O resultado leva a uma diminuição do volume de lama depositada no aterro industrial e do volume de argila a ser extraído do solo. A composição da lama (LEC) é predominante dos elementos ferro, cálcio, magnésio, enxofre e chumbo. Na microestrutura as fases cristalinas são constituídas por fluorita (CaF2), gypsum (CaSO4.2H2O), hematita (Fe2O3) e akaganeita [FeO (Cl,O)] e tamanho de partículas é muito pequeno (50% das partículas apresentam diâmetros menores que 33,75m m). Este resíduo atendeu às exigências normalizadas pela ABNT para a fabricação de blocos cerâmicos de vedação, podendo ser comercializado para esse fim. PALAVRAS-CHAVE: Resíduo Sólido Industrial, Resíduo Fabricação Inox, Lama Decapagem Aço Inox., Caracterização Lama Inox, Aplicação Lama Decapagem Aço. INTRODUÇÃO A siderurgia possui um alto potencial de agressão ao meio ambiente, gerando resíduos, efluentes e emissões atmosféricas, em conseqüência das grandes quantidades de insumos que são processados. Porém, é um dos segmentos industriais que tem despendido esforços para atender essas novas demandas dos programas de gestão ambiental. No Brasil, a geração média de resíduos industriais siderúrgicos gira em torno dos 650 kg para cada tonelada de aço produzida. Considerando uma produção nacional de 26 milhões de t/ano de aço, a geração total de resíduos será de 16 milhões e 900 mil t/ano (Silva, 1999). Na empresa siderúrgica, ACESITA, os quatros efluentes procedentes de processos de decapagem dos aços inoxidáveis que procedem da banho de HNO3/HF, banho de H2SO4, banho de HCl e as águas de lavagem após os referidos processos (efluente contínuo) são encaminhados à estação de tratamento de efluentes – ETE, gerando a Lama da ETE. Esta lama é um resíduo problema por apresentar impacto ambiental e econômico para o setor. Quando caracterizada pela NBR-10004/87, é enquadrada como Resíduo Classe II (não inerte), agregando custos ao produto final da empresa em função de seu gerenciamento. A viabilidade do aproveitamento dessa lama para fabricação como elemento de alvenaria na construção civil foi estudada por ALVES, 2002, em que obteve resultados positivos quanto à propriedade cerâmica (resistência mecânica), mas não analisou as conseqüências quanto a impactos ambientais. Optou-se por estudá-la de forma segregada, sendo o objeto do estudo, a lama gerada oriunda do tratamento do efluente contínuo, constituída por todas as águas de lavagens de chapas de aços inoxidáveis após os respectivos banhos de decapagem (HNO3/HF, H2SO4 e HCl). Propõem-se com esse trabalho agregar benefícios ao meio ambiente com mitigação do impacto ambiental por ela gerados e econômicos para a empresa, com a sugestão para um novo gerenciamento e redução de custos relativos ao acondicionamento, manutenção do volume de lama que continuará a ser encaminhada ao aterro. OBJETIVOS

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Caracterizar a lama gerada pelo tratamento do efluente contínuo na fabricação de aço inoxidável e identificar sua aplicação como elemento em blocos cerâmicos de vedação, para construção civil. O RESÍDUO SÓLIDO INDUSTRIAL – LAMA DE DECAPAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL Os resíduos industriais, a partir da década de 80, vêm requerendo dos agentes administrativos de empresas, grande atenção e esforços para implantação de um plano de gestão ambiental, com novas soluções, de custos reduzidos, com respostas rápidas para minimização dos impactos ambientais. Essas ações foram intensificadas a partir da lei sobre Política de Gestão de Resíduos Sólidos, de quatro setembro de 1999, que em seu Artigo de no. 42 atribui aos geradores de resíduos sólidos a responsabilidade pela recuperação das áreas por eles degradadas, bem como, pelo passivo oriundo da desativação de sua fonte geradora e no Art. De no. 47 que estabelece que o controle ambiental é de responsabilidade do órgão ambiental competente, compreendendo o licenciamento e a fiscalização sobre transporte, armazenamento, disposição final, isto é, aspectos responsáveis por impactos ambientais ações concretas foram realizadas. Os resíduos industriais, de procedência siderúrgica, podem ser classificados, em função de seu tipo, em escória, pós, lamas, carepas e outros. Sobre a ótica de seu risco potencial ao meio ambiente e à saúde pública, sua classificação segundo a ABNT, NBR 10004/87, compreende três Classes: Classe I – Resíduo Perigoso, Classe II – Resíduo Não-inerte e Classe III- Resíduo Inerte. Atualmente o volume de Resíduo Sólido gerado num processo siderúrgico é diretamente proporcional ao volume da produção do aço e esta situação é preocupante aos gestores de resíduos sólidos, pois aumentam cada vez mais as metas de produção nas empresas. Soluções para minimizar o volume para a disposição final têm sido estudadas como: modificações do processo, reciclagem, reutilização, comercialização e outros procedimentos. A ACESITA S. A, tem uma geração de resíduos sólidos (base-1998/1999) de 47.639,52 toneladas / mês e com a partição representada na TABELA 1. Figura 1:Gerenciamento dos resíduos sólidos na empresa Acesita S. A, ano base-98/99. Fonte: Gonçalves, 1999 No processo siderúrgico, a chapa de aço inoxidável após a laminação recebe um tratamento superficial, decapagem eletrolítica com o banho eletroquímico contendo sulfato de sódio (Na2SO4), para em seguida, passar pelo processo de decapagem química, usando como agente decapante no banho uma solução ácida de HNO3/HF e H2SO4. No processo de decapagem de aço silícioso, utiliza-se no banho químico uma solução ácida com HCl. Após a remoção da camada oxidada, deve-se ter o cuidado de garantir que toda a substância ácida contida no banho seja eliminada da superfície metálica, evitando danos pela continuidade

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de sua reação. Para isso, a etapa imediata é a lavagem das chapas de aço com água em abundância, gerando um grande volume de efluente de caráter ácido. Os efluentes são encaminhados à estação de tratamento de efluentes - ETE antes de seu descarte. As águas de lavagens das chapas de aço juntamente com as águas de lavagens dos gases gerados, nos três processos de decapagens, formam um efluente denominado efluente contínuo, que após o tratamento constitui a lama que é o objeto desse trabalho. A estação de tratamento de efluentes - ETE, da empresa Acesita, recebe de efluentes um volume bruto de 6.320m³ /dia e gera 67m³ /dia de Lama, sendo o volume do efluente contínuo tratados de 5.885 m³/mês. Ao chegar na ETE, os efluentes passam por um tanque de equalização, em seguida, é neutralizado com leite de cal [Ca(OH)2] até um pH final na faixa de 9,5 a 10,5. Na etapa seguinte, ocorre a floculação das partículas sólidas, com adição de um floculante orgânico, sendo encaminhado a seguir ao tanque de decantação para a separação da lama de sua fase líquida. Finalizando o processo, filtra-se (filtro prensa), reduzindo sua umidade em torno de 40%. Esta lama é um resíduo sólido, pastoso de cor marrom sendo encaminhada para o aterro industrial. A lama da ETE é considerada um resíduo passivo ambiental, até a presente data, e requer custos para mantê-lo neste estágio. Optou-se por estudar o efluente contínuo, segregando-o, e simulando-se em laboratório o processo de formação de sua lama semelhante ao tratamento da ETE e caracterizando-a. Para a caracterização da lama, executou-se análises físico-químicas e microestrurais, identificando-se a concentração de elementos, tamanho de grão, forma e distribuição dos grãos, quantidade de fase, orientação dos grãos e porosidade, entre outros, que norteiam também quanto às possíveis propriedades do material. Optou-se por estudar o efluente contínuo, segregando-o, e simulando-se em laboratório o processo de formação de sua lama semelhante ao tratamento da ETE e caracterizando-a. Para a caracterização da lama, executou-se análises físico-químicas e microestrurais, identificando-se a concentração de elementos, tamanho de grão, forma e distribuição dos grãos, quantidade de fase, orientação dos grãos e porosidade, entre outros, que norteiam também quanto às possíveis propriedades do material. METODOLOGIA Através de análises laboratoriais estudou-se a aplicação das lamas como componentes para bloco cerâmico de vedação na construção civil. Dividiu-se o estudo em três etapas: estudo do processo, caracterização da lama e sua aplicação. No estudo do processo industrial levantou-se dados e informações sobre o processo de geração da lama través de visitas à empresa no local de formação do efluente e seu tratamento (ETE) e ao acervo de informações. Consultou-se o acervo na biblioteca da empresa, coletaram-se informações/dados em de documentos técnico-científicos desenvolvidos por funcionários ou consultores contratados, e consultou-se a outros meios científicos de informações internacionais como: empresas geradoras de lama do mesmo tipo, universidades e órgãos ambientais. O processo de caracterização da lama iniciou-se por definir o ponto de amostragem do efluente contínuo, e no laboratório, simulou-se as operações de tratamento, como as

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realizadas na ETE, neutralização, com adição de hidróxido de cálcio, atingindo ao valor de pH = 10.5, com posterior decantação e filtração, com a geração da lama de forma sólida e segregada, que passaram a ter a denominação Ref.c. Definiram-se as características fisico-químicas a serem estudadas na lama (composição química, lixiviação, solubilidade e pH), microestruturais (determinação de fases e determinação do tamanho das partículas) e o método analítico específicos para cada ensaio. Optou-se por determinar a concentração percentual de dezesseis elementos: Al, C, Ca, Cr, Femetálico e Fetotal, K, Pb, P, Mg, Mn, Na, Ni, S, Si, Ti e Zn. A escolha dos respectivos elementos é fundamentada na alta probabilidade de estarem presentes na amostra, teve como premícia a composição dos aços inoxidáveis e a camada superficial oxidada, elementos adicionados em etapas dos processos de decapagem e do tratamento de efluente (agente decapante e neutralizador de pH). Metodologia usada na determinação quantitativa dos respectivos elementos encontra-se no Quadro 1. Para identificar a periculosidade da lama ao meio ambiente, utilizou-se norma da ABNT, série 10.000, que descrevem procedimentos para identificar concentrações dos poluentes que os classifica pela propriedade de lixiviar e/ou solubilizar. Os procedimentos para lixiviação são fixados pela NBR 10005/87 e de solubilização pela NBR 10006/87. Quadro 1: Metodologia na determinação da concentração dos elementos na lama Elemento Metodologia Equipamento C e S Análise por combustão e detecção por infravermelho LECO CS-244 Si Fe Método gravimétrico, abertura ácida, desidratação com HClO4, volatilização com HF. Método volumétrico com titulação por oxi-redução com K2Cr2O7

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Forno Mufla Balança Analítica Mg, Mn, Cr,Ti, Pb, Ni, Zn, Al, K, Na Abertura ácida e análise direta por espectometria de absorção atômica Analyist 300 PERKIN ELMER P Método colorimétrico, complexação com azul de molibdênio. Ca Método Volumétrico, titulação por complexometria com EDTA H+1(pH) Método Potenciométrico pH /ionmetro-692 METROHM

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A metodologia para identificação dos componentes lixiviados, que permite a classificação do resíduo quanto à periculosidade, é descrita na AWWA-APHA-WPCI ou USEPA TEST METHODS FOR EVALUATING SOLID WASTE e a metodologia para a identificação dos componentes solubilizados está contida na WPCI ou USEPA TEST METHODS FOR EVALUATING SOLID WASTE; PHISICAL/CHEMICAL METHODS SW 846. Os valores encontrados para concentração dos elementos são comparados com os valores de concentração constante da listagem constantes do Anexo da NBR 100004/87. Na determinação da concentração dos elementos utilizou-se os instrumentos: absorção atômica da PERKIN ELMER- 300, LECO-CS-2444, pH/ionmetro-692 da METROHM e análise química via úmida. Na análise microestrutural objetivou-se definir as fases, a morfologia dos grãos, a composição e tamanho/distribuição das partículas. As análises foram realizadas em microscópio eletrônico de varredura (MEV) e Microssonda Eletrônica, usando equipamentos de marca JEOL. O difratômetro de Raios X usando é de marca Phillips, modelo PW 3710, com tubo de cobre, software PDF (Powder Diffraction File) com padrões de dados da ICDD (Internation Center for Diffraction Date), com ângulo de varredura de 4o a 120o e analisador de partícula a laser, equipamento de marca MALVERN com ultrassom a 50% (para dispersar as partículas), em tempos diferenciados de 30, 60,120 e 180 segundos. Na aplicação da lama na produção de blocos cerâmicos para vedação, utilizou-se a metodologia desenvolvida por ALVES, 2002, para a lama da ETE, na melhor condição encontrada para a concentração da matéria-prima, em que se substitui 10% da argila pelo resíduo e temperatura de queima, correspondendo a 850ºC. Prepararam-se corpos-de-prova – CPs, em triplicata, de forma cilíndrica, com diâmetro de 50 mm e altura de 50mm e com a seguinte composição: 85% argila, 10% lama (Ref.C) e 5% de pó de coletor do alto forno (rico em C e Fe2O3). Como referência, preparou-se CP com composição convencional para preparação de blocos de vedação, 95% argila e 5% de pó de coletor. A moldagem dos CP(s) foi realizada em prensa hidráulica, com carga de 3,780 t. A secagem dos CP(s) foi realizada ao ambiente por 48 horas e em estufa a 110ºC por 24 horas. Logo após, os CP(s) foram queimados em forno mufla a 850ºC por 3 horas, com taxa de aquecimento da temperatura apresentada na Tabela 1. Tabela 1: Taxa de aquecimento na queima dos CPs Temperatura (ºC) Velocidade de aquecimento (ºC/min.) Tempo

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(min.) 300 1 0 500 3 0 850 4 180 A resistência à compressão dos corpos-de-prova foi determinada, segundo a norma NBR 6461/98, com elevação de carga na razão de 500N/s. Após o ensaio destrutivo de compressão dos CPs, seus destroços, foram encaminhados para o teste de lixiviação, analisou-se no extrato lixiviado as concentrações de elementos conforme as normas NBR-10004/87 e NBR-10005/87. RESULTADOS Na etapa do estudo do processo de geração da lama da ETE identificou-se que o volume dos efluentes que são encaminhados para tratamento ocorrem em forma de batelada, exceto o efluente constituído por águas de lavagem dos gases e chapas, efluente contínuo, sendo esse fator determinante na composição variável da lama da ETE e conseqüentemente sua classificação variável quanto a periculosidade. Identificou-se no layout do processo industrial a possibilidade de amostragem dos efluentes de forma segregada, analizando-se a contribuição real de cada resíduo sólido na geração da lama da ETE. Os resultados físico-químicos para composição da lama (Ref.C) em função da concentração percentual dos elementos encontram-se na Tabela 2 e a representação gráfica na Figura 2. Tabela 2: Composição química da lama REf.C

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Figura 2: Elementos metálicos e não-metálicos identificados na lama REf.C Elemento Teor (%P/P) Conversão no composto Teor (% P/P) Al 0,210 Al2O3 0,794 C 1,265 CaSO4 26,000 Ca 12,100

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CaO 9,910 Fe m 1,520 Fe total 22,950 Fe2O3 32,170 Mg 1,590 MgO 1,920 Ni 1,136 NiO2 0,822 S

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3,790 SO4 18,340 A elevada concentração do ferro (Fe) é conseqüência da dissolução da camada de óxidos e possível ataque dos aços. A concentração do enxofre tem como principal fonte o H2SO4 usado como agente decapante. A concentração do cálcio é predominantemente oriunda do hidróxido de cálcio Ca(OH)2, adicionado ao processo como agente de neutralização do pH dos efluentes . Na caracterização da lama quanto a sua periculosidade, os procedimentos das normas da ABNT, foram rigorosamente obedecidos, pesquisou-se a concentração de todos elementos identificados nas listagens no7, no8 e no9 do anexo da NBR 10004/87, especificadamente. Os elementos encontrados com grau de periculosidade no extrato lixiviado, solubilizado e amostra bruta encontram-se na Tabela 3. Tabela: 3 Concentrações dos elementos identificados no extrato lixiviado e solubilizado e amostra bruta com grau de periculosidade base: ABNT Amostra Concentração do elemento ( *VMP) Extrato Solubilizado Cloretos 360 mg/L - (VMP 250 mg/L), Dureza 2052 mg/L - (VMP 500 mg/L), Fluoretos 3 mg/L - (VMP 1,5 mg/L), Nitratos 795 mg/L - (VMP 10 mg/L), Sulfatos 1490 mg/L - (VMP 400 mg/L) Sulfactantes 1mg/L - (VMP 0,2 mg/L).

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Extrato Lixiviado Massa Bruta Ausência de elemento com concentração acima do VMP Ausência de elemento com concentração acima do VMP * VMP – Valor Máximo Permitido Com os resultado de concentrações dos elementos, consultando as listagens do anexo da NBR 10004/87, deduz-se que: lama não possui propriedade tóxica, pois nenhum dos elementos apresentou concentração superior ao valor da Listagem no7, no teste de lixiviação, e na Listagem no. 4, sendo classificada como resíduo não-perigoso. Na amostra bruta, nenhum elemento apresentou valor de concentração superior ao constante da Listagem no9 e no extrato solubilizado, elementos apresentaram valores superiores ao da Listagem no8. São eles:cloreto (Cl-1), dureza (Ca), fluoretos (F-1), nitratos (NO3-1), sulfatos (SO4-2) e fluoretos (F-1). A alta solubilidade em água desses poluentes define a classificação da lama REf.C em resíduo classe II – não-inerte. No estudo termoanalítico da lama REf.C, obteve-se o gráfico de TG e DTG, Figura 3. Identifica-se 6 (seis) estágios de transformação, com perda de massa até a temperatura de aquecimento de 1200ºC. A análise das curvas acima permite a identificação de uma perda inicial de massa correspondente a 10% da amostra, ocorrendo até 100ºC, são perdas da água livre (lavagem) e solvente orgânico presente. O ultimo estágio, completando o processo de decomposição, temos uma perda de 6% de massa da lama REf.C na faixa de temperatura de 900 ºC até 1200ºC. Após 1200ºC permanece um resíduo metálico estável correspondendo a 68% de massa da amostra da lama REf.C. Figura 3- Análise Termogravimétrica por TG e DTG A partir de 700 ºC inicia-se a formação de fases cristalinas contendo óxidos de Fe, Cr e Ni, o que justifica acréscimo de massa acima dessa temperatura, Lindblom,1999. O resultado da análise da microestrutura usando a difração de Raios X é representado pelo difratograma da Figura 4, identifica-se as fases cristalinas CaSO4.2H2O (gypsum), CaF2 (fluorita), FeO(OH,Cl) (akaganeita) e Fe2O3 (hematita). Usando-se a microscopia eletrônica por varredura, tem-se imagens de microrregiões da lama REf.C , Figura 5.

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identificando-se fase cristalinas em formação, cristais alongados, com superposições de fases amorfas. Figura 4: Difratograma de Raios X da lama REf.C Figura 5: Imagem da microestrutura na lama REf.C usando Microssonda Eletrônica, sendo identificado nos pontos "a", "b" e "c" estruturas de CaSO4.2H2O, Fe2O3 e CaF2, respectivamente Na lama REf.C, 50% das partículas apresentam o diâmetro médio de 37,47 µm, com inserção do ultrasson até 180 segundos nota-se uma tendência a estabilizar o diâmetro em 13,13µm. Ao inserir ultrassom ocorre a desaglomeração das partículas, com 180 segundos de ultrassom tem-se 10% das menores partículas com diâmetro médio menor que 3,32 m m, 10% das maiores partículas com diâmetro médio maiores que 29,69µm e a mediana das partículas com diâmetro médio de 69,4µm, sendo ilustrado na Figura 6. . Figura 6: Distribuição de diâmetros médios de partículas em função do tempo de inserção de ultrasson Os resultados do estudo da aplicação da lama REf.C em 10% da matéria-prima em blocos cerâmicos de vedação, para a umidade, contração de volume, resistência a compressão e teste de lixiviação encontram-se de forma resumida no Tabela 4. Na moldagem do material, o valor da umidade média de 19,49%, está dentro da tolerância exigida. No teste de lixiviação, a concentração de todos elementos exigidos pela norma da ABNT encontram-se dentro do valor máximo permitido e o valor médio da resistência mecânica, 8,135 MPa, atende a norma da ABNT para blocos classe 10 que exige valores iguais ou superiores a 1,0 MPa. Tabela 4:Valores encontrados para as características analisadas na lama REf.C Corpos-de-prova

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Umidade (%) Contração de volume (cm3) Resistência à compressa (MPa) Concentração dos elementos no teste Lixiviação - base NBR 1005/87 (mg/L) CP Referência 20,23 0,0127 14,63 *** CP 10 % lama 19,49 0,0095 8,135 As- <0,5 (VMP - 5), Hg- <0,01 (VMP – 0,1), Ba- 0,2 (VMP – 100), Ag- <0,01 (VMP – 5), Cd- <0,02 (VMP – 0,05), Se- <0,05 (VMP – 1), Crtotal- -1,2 (VMP – 5), Fluoreto- 31,9 (VMP – 150) VMP –Valor Máximo Permitido pela Norma da ABNT CONCLUSÕES Buscou-se com esse trabalho uma solução para diminuir o problema ambiental e econômico causado pela lama da ETE, gerada no tratamento dos efluentes de decapagem de aço inoxidável. Os resultados da caracterização físico-química e microestrutural poderão ser base para estudos de novas aplicações. A lamas REf.C enquadra-se como Classe II –

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resíduo não-inerte, portanto passível de reciclagem. Em sua composição tem-se a predominância dos elementos ferro, cálcio, chumbo, magnésio e enxofre, com resíduo fixo de 62% em peso quando aquecido até 1200°C, tamanho médio de diâmetro das partículas é 51,31m m (média na mediana). Desenvolveu-se o estudo para sua aplicação na fabricação de blocos cerâmicos de vedação com participação em 10% na composição desse material e temperatura de queima de 850°C, que apresentou um bom resultado à resistência mecânica e. o teste de lixiviação mostrou resultados favoráveis para o uso da lama. Nessa proposta do novo gerenciamento, sua comercialização, busca-se reduzir custos com acondicionamento, transporte e outras obrigações de segurança no aterro industrial. Sugere-se a atenção principalmente no tamanho das partículas, extremamente pequenas, propriedade importante em sua reatividade e a continuidade dos estudos principalmente as fases metálicas para sua possível recuperação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALVES, B. V. A . Estudo da viabilidade de aproveitamento de um resíduo da estação de tratamento de efluentes da indústria siderúrgica para o preparo de elementos de alvenaria destinados a obras de construção civil. 2002.120 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte. 2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS- ABNT. Normas ABNT sobre resíduos sólidos - procedimento. Rio de Janeiro, 1997. Coletânea de normas. 3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS- ABNT. NBR-6461: bloco cerâmico para alvenaria: verificação da resistência à compressão - método de ensaio. Rio de janeiro, 1983. 3 p. 4. GONÇALVES, I. N.; ARAÚJO, S.; MACHADO, O. Resíduos sólidos não reciclados e não-comercializados: potencial de aplicação. Relatório Técnico da Acesita. Timóteo, MG, referência - RT 10-59, 1999. 24 p. 5. LINDBLOM, B. and MA, P. Characterisation and reduction studies of the waste pickling sludge of stainless steel. In: GLOBAL SYMPOSIUM ON RECYCLING, WASTE TRATMENT AND CLEAN TECHNOLOGY, 10 p.,1999. 16. MANTEL, M. J. Oxidação de metais: aplicação para aços inoxidáveis. In: SEMINÁRIO DE INOX, 1, . 2000, Belo Horizonte, MG. Anais do evento, Módulo Corrosão, p. 142-156.