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Histria (So Paulo)ISSN: [email protected] Estadual Paulista Jlio deMesquita FilhoBrasil
SOCHACZEWSKI, MoniqueO conflito Israelo-Palestino visto pelo cinema local
Histria (So Paulo), vol. 33, nm. 2, julio-diciembre, 2014, pp. 122-149Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
So Paulo, Brasil
Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=221032780008
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Histria (So Paulo)
Histria (So Paulo) v.33, n.2, p. 122-149, jul./dez. 2014 ISSN 1980-4369 122
DOI: 10.1590/1980-43692014000200008
O conflito Israelo-Palestino visto pelo cinema local
The Israeli-Palestinian conflict seen by the local cinema
________________________________________________________________________________
Monique SOCHACZEWSKI
Escola de Cincias Sociais CPDOC/FGV, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Contato: [email protected]
Resumo: H uma efervescente literatura tratando da temtica dos conflitos entre Israel e os
palestinos, assim como com os pases rabes. Durante muito tempo, a filmografia a este respeito se
resumia a poucos diretores, como o israelense Amos Gitai. Na ltima dcada, porm, uma srie de
obras audiovisuais feitas por cineastas locais sobre essas questes tem ganhado as telas do mundo e
abocanhado inmeros prmios. O intuito neste artigo justamente apresentar e analisar algumas
destas obras, comeando por breve reflexo sobre a importncia de filmes de fico e
documentrios para tratar da Histria do tempo presente do Oriente Mdio. A Noiva Sria, Lemon
Tree, Laila's Birthday, Paradise Now, 5 Broken Cameras e The Gatekeepers, trs obras israelenses
e trs palestinas, so ento as selecionadas para, a partir delas, tratar de representaes e
interpretaes feitas sobre o estgio do conflito entre israelenses e palestinos na ltima dcada, bem
como suas relaes com o Oriente Mdio, de maneira geral.
Palavras-chave: cinema; Israel; Palestina.
Abstract: There is an effervescent literature dealing with the themes of conflicts between Israel and
the Palestinians as well as the Arab countries. For a long time the filmography about this came
down to a few directors, like the Israeli Amos Gitai. In the last decade, however, a series of fiction
films and documentaries made by local filmmakers on these issues has gained the screens of the
world and won numerous awards. The purpose of this article is precisely to present and analyze
some of these works, beginning with brief reflection on the importance of audiovisual works to
reflect on the history of this time in the Middle East. "The Syrian Bride", "Lemon Tree", "Laila 's
Birthday", "Paradise Now", "5 Broken Cameras" and "The Gatekeepers", three Israeli works and
three Palestinian works, are then selected to deal with representations and interpretations made
about the stage of the conflict between Israelis and Palestinians over the last decade, as well as its
relations with the Middle East in general .
Keywords: cinema; Israel; Palestine.
Introduo
H uma efervescente historiografia e literatura lidando com a temtica dos conflitos entre
Israel e os palestinos, assim como entre Israel e os pases rabes.1 Durante muito tempo, a
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filmografia a este respeito que chegava alm das telas do Oriente Mdio se resumia a poucos
diretores, como o israelense Ams Gitai, responsvel por filmes como Kippur (2000), e Kedma
(2001). Na ltima dcada, porm, uma srie de filmes de fico e documentrios sobre essas
questes, feitos por cineastas locais, judeus e rabes, tem ganhado as telas do mundo e abocanhado
inmeros prmios de primeira grandeza.
A quase totalidade destas produes cinematogrficas chega ao pblico brasileiro mediante
mostras e festivais internacionais de cinema e da TV a cabo, alm da internet. E j existem anlises
acadmicas no Brasil sobre algumas produes mdio-orientais, sobretudo no mbito dos estudos
da Comunicao Social.2
Pretendo aqui, porm, propor uma abordagem histrica buscando
apresentar a trajetria da filmografia sobre e da prpria regio a respeito do conflito israelo-
palestino, para ento centrar-me em trs obras israelenses A Noiva Sria, Lemon Tree e The
Gatekeepers e trs palestinas Paradise Now, Laila's Birthday e 5 Broken Cameras .3 O objetivo
mais fazer um mapeamento de contedos destas produes recentes do que anlises exaustivas e
aprofundadas, e sero ressaltados alguns temas recentes comuns e tambm omisses importantes.
certo que h amplo, longevo e aprofundado debate metodolgico sobre a lida entre
Histria e cinema. Por um lado, no resta dvida de que o cinema hoje tido como um objeto
legtimo de pesquisa do historiador, configurando-se como um documento histrico, e que as
anlises do filme devem levar em conta, alm de seu contedo, suas circunstncias de produo,
exibio e recepo. Por outro lado, existem propostas de abordagens diferentes sobre a lida com
este. O historiador francs Marc Ferro (2010) insiste na particularidade do trabalho com esse tipo de
fonte, sob a viso de que o filme tanto um produto como um agente da Histria, e na possibilidade
de se buscar o que h de no-visvel no filme. Segundo seu mtodo, h de se levar em conta na
anlise o que filme planos, temas com o que no filme autor, produo, pblico, crtica,
regime poltico. Ferro nos auxilia aqui, portanto, na apresentao das obras cinematogrficas e na
busca de melhor compreenso de uma contranarrativa local que busca dar conta do conflito
israelo-palestino.
O cineasta, terico e crtico de cinema tambm francs Jean-Louis Comolli, por sua vez,
convocado aqui por sua exortao de ser o cinema a mais poltica de todas as artes, j que ele fora
e, s vezes, constrange, o espectador a se incumbir imaginariamente de uma parte da mise-en-
scne, a se virar nela, e ento elaborar sentido. (COMOLLI, 2008, p. 106). Comolli nos ajuda aqui
a ter o cinema como arte poltica em foco, mesmo quando as declaraes dos envolvidos com esta
no caso, os cineastas sejam o contrrio. Isso se d, especialmente, quando contrastamos suas obras
com a forma como tradicionalmente as mdias, sobretudo ocidentais, tratam do conflito israelo-
palestino.
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J o historiador espanhol Joan Del Alczar (2012) nos serve de grande auxlio por sua defesa
do papel dos chamados Documentos em Suporte de Vdeo (DSV) como material didtico para os
profissionais de Histria. A seu ver, o uso do filme como recurso didtico rompe, por um lado, com
o que chama de dinmica de monlogo dos meios de comunicao de massas em que a
informao se oferece sempre interpretada e busca despertar a capacidade crtica do estudante e o
levar a refletir sobre os acontecimentos observados. Por outro lado, tanto o filme de fico como o
documentrio tm uma fora extraordinria na compreenso das complexidades dos fenmenos ou
processos histricos. (ALCZAR, 2012, p. 653). Essa defesa, por parte de Alczar, do cinema
para ensinar Histria, em especial do tempo presente, advm justamente de sua experincia docente
na Universidade de Valncia, com cursos sobre a Amrica Latina. Nossa ideia de artigo aqui
apresentada, por sua vez, nasceu justamente da experincia com cursos sobre a histria e atualidade
do Oriente Mdio, para o pblico universitrio e para o pblico leigo, em que se faz largo uso de
projeo e debate sobre filmes.4
E neste caso aqui, acredita-se que uma possvel contribuio a ser oferecida a de,
justamente, propor a pensar nestes filmes como instrumentos didticos para professores de Histria
e reas correlatas que lidem com a histria e temas correntes do Oriente Mdio. As produes
cinematogrficas aqui tratadas no contam originalmente com claro objetivo pedaggico de se
prestarem tambm a campanhas pblicas educacionais, mas acabam servindo a este propsito.
Podem ser usadas e at mesmo j o vm sendo para dar conhecimento mtuo entre israelenses e
palestinos; podem mostrar para o Ocidente, ainda refm de uma cobertura jornalstica superficial, as
complexidades de ambos os lados; e podem ainda servir de importante instrumento pedaggico para
professores de Histria e afins aqui no Brasil, interessados em apresentar o conflito israelo-palestino
para alm de engajamentos identitrios ou poltico-partidrios e tambm da cobertura apressada, ou
simplesmente traduzida, da mdia local.
Pretende-se ento apresentar brevemente a imagem que o Ocidente, sobretudo os Estados
Unidos, criou do conflito israelo-palestino em seu cinema e igualmente relatar o desenvolvimento
do cinema no Oriente Mdio, inserindo-se as produes palestinas e israelenses nesta narrativa.
Parte-se ento para uma apresentao dos seis filmes escolhidos, com foco no que h de filme e
de "no filme em cada um deles, conforme as indicaes de Marc Ferro, para ento apresentar
algumas consideraes sobre questes polticas que deles advm, bem como sua eventual
importncia como instrumento didtico.5
1. rabes, muulmanos e palestinos no cinema ocidental
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Edward Said, em seu clssico Orientalismo, publicado originalmente em 1978, dedicou-se a
demonstrar como o Oriente retratado na literatura europeia dos sculos XVIII ao XX era, em grande
medida, idealizado e mitificado, no necessariamente condizente com a realidade. Havia uma
agenda poltica de poder que visava a dominar, reestruturar e ter autoridade sobre o Oriente.
(SAID, 2007, p. 29).
Jack Shaheen aprofundou a questo de Said no mbito da representao de rabes na mdia
norte-americana. Sua pesquisa de flego sobre a projeo de imagens dos rabes nos filmes
ocidentais durou mais de trinta anos e acabou convertida no livro Reel bad Arabs: how Hollywood
vilifies a people, publicado em 2001, e no documentrio de mesmo nome, lanado em 2007.6
Shaheen, atualmente vinculado ao Hagop Kevorkian Center for Near Eastern Studies, da New York
University, assistiu e analisou cerca de mil filmes, com o que constatou a construo de uma
imagem negativa dos rabes e muulmanos, ao longo do tempo, e entendeu ser este o grupo tnico
mais vilificado no cinema Made in USA.
Grosso modo, poderamos dividir a pesquisa de Jack Shaheen em trs partes: 1) resqucios
de um orientalismo europeu, no entre guerras, mas ainda presente posteriormente; 2) preconceito
prprio norte-americano, aps a Segunda Guerra Mundial; 3) viso mais realista e empatia
crescente, na virada do milnio.
O cinema norte-americano desde seus anos iniciais perpetuava um orientalismo europeu
com uma espcie de Arabland, uma terra rabe indefinida, em que figuravam o deserto como
lugar assustador, odaliscas sensuais, tapetes voadores e encantadores de serpentes. Esse foi o caso
de Samson against the sheik (1962), Harum Scarum (1965) e mesmo do desenho animado Aladdin
(1992). E os rabes eram retratados em sua maioria como bufes, atrasados, incompetentes,
perigosos e pervertidos sexuais em filmes como Os caadores da arca perdida (1981) e Joia do
Nilo (1985).
J aps a Segunda Guerra Mundial, a figura dos rabes passou crescentemente a estar mais
atrelada com a poltica nos Estados Unidos, configurando-se como uma ameaa. Isto se deu,
sobretudo, em razo de trs temas de crescente interesse norte-americano: o conflito israelo-
palestino, o embargo ao petrleo no contexto da guerra de 1973 e a revoluo iraniana de 1979. A
partir da dcada de 1970 cada vez mais o Oriente Mdio passava a estar presente na vida cotidiana
dos Estados Unidos na medida em que a suspenso de suprimento de petrleo impactava na
locomoo diria e os esteretipos dos rabes retratados nas telas eram os sheiks que queriam
comprar os Estados Unidos ou dominar o mundo. Este foi o caso de Network (1976), Rollover
(1981) e Indiana Jones e a ltima Cruzada (1989).
De acordo com Shaheen, os muulmanos, em geral, e os palestinos, em particular, eram
demonizados, normalmente retratados como terroristas. Se por um lado h larga produo que
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mostre israelenses como vtimas inocentes, entre os anos 1980 e 1990 h cerca de 30 filmes feitos
sobre essa temtica, e neles os palestinos basicamente sequestram, torturam, executam e cometem
ataques terroristas. o que se v em The Delta Force (1986) e True Lies (1994). Jack Shaheen diz
no haver um nico filme em que se demonstre empatia ou compaixo pelos palestinos, que os
humanize ou retrate como vtimas de uma ocupao, sofrendo diariamente casos de abusos e
humilhao.
J por volta da virada do milnio surgiram os primeiros filmes de fato empticos, em que
rabes e muulmanos em geral aparecem como pessoas comuns, como mulheres que estudam,
adolescentes vidrados por tecnologia e pais carinhosos, por exemplo, ou com um largo passado de
tolerncia em relao aos cristos e judeus. Para Shaheen, surge finalmente uma humanizao
crescente e diminuio do preconceito no cinema norte-americano sobre o Oriente Mdio. Filmes
como Hideous Kinky (1998), A Perfect Murder (1998), Farenheit 911 (2004) e Kingdom of heaven
(2005) atestam tal viso. O prprio Shaheen teve um papel nessa mudana, j que atuou como
consultor dos filmes Trs reis (1991) e Syriana (2005).7
2. Breve histria do cinema mdio-oriental
O cinema rabe nasceu quase que em paralelo com o cinema ocidental, tendo o Egito como
polo inicial. Este foi o primeiro pas rabe a criar uma indstria cinematogrfica nacional, e serviu
ento de modelo para o Lbano, Sria e Iraque. (SHAFIK, 1998, p. 1). As primeiras apresentaes
cinematogrficas ali se deram pela primeira vez em 1896. J o primeiro cinema regular se
estabeleceu em 1906, e 11 anos depois era criada a primeira companhia egpcia, com recursos
italianos. Nos anos 1930 o Egito j contava com sete estdios, e mais de trs dezenas de filmes j
tinham sido feitos no pas.
Durante muito tempo, o cinema egpcio se manteve inconteste no papel proeminente de
maior produtor de cinema distribudo largamente pelo mundo rabe e tambm assistido por
expatriados rabes pelo mundo. O cinema palestino recentemente, porm, emergiu como um forte
rival no mundo rabe, produziu um nmero significante de filmes que tambm vm sendo
distribudos globalmente, dando-se aos palestinos uma nova voz. (KHATIB, 2006, p. 2; 11).
O conflito israelo-palestino serviu como tema muito presente dos filmes produzidos no
mundo rabe aps-1948, em especial no Egito e na Sria. No geral, a representao do conflito era
um tanto focada no pan-arabismo (com exceo dos filmes palestinos), ao mesmo tempo que
mostrava simpatia pelo sofrimento dos palestinos, e assim celebrava-se a resistncia rabe a Israel.
Estes filmes retrataram o nacionalismo israelense como imperialista, e os israelenses eram
apresentados como um grupo homogneo que se colocava contra o bem-estar do mundo rabe.
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Filmes como Road to Eilat, Trap of Spies, Love in Taba e Girl from Israel retratavam os israelenses
de maneira no muito diferente da lista de esteretipos usados para os terroristas rabes por
Hollywood, associados ao mal, ao decadente e ao colonizador. (KHATIB, 2006, p. 121-2). A
mensagem predominante era a de antinormalizao, questo complicada com a assinatura do tratado
de paz entre Egito e Israel, em 1979.
J os filmes palestinos apresentavam tanto a vilania israelense como atos de resistncia dos
palestinos. V-se neles fortes declaraes contra a opresso, com uma voz finalmente concedida aos
palestinos contra o discurso dominante que foi construdo de serem anmalos ou vitimizados. Em
seu cinema, os palestinos no se mostram fracos, so testemunhas de uma histria cruel, mas
tambm donos de esperana e resilincia. (KHATIB, 2006, p. 126). Os filmes ali feitos nos anos
1980, tendo como marco inicial Return to Haifa (1980), de Kassem Hawak, retratavam
realisticamente a resistncia palestina, mas, na virada dos anos 1990 para o novo milnio, novos
filmes foram feitos focados em representaes metafricas, com largo uso do simbolismo e
surrealismo para retratar a realidade palestina. Este foi o caso de Tale of Three Jewels (1995),
Crnica de um desaparecimento (1996) e Interveno Divina (2002).
Elia Suleiman o diretor de Crnica de um desaparecimento e Interveno Divina. O
ltimo filme uma comdia surreal e uma tragdia moderna sobre a ocupao israelense de
territrios palestinos, e fez grande carreira internacional, chegando a ganhar o prmio do jri do
Festival de Cannes. Chegou a ser indicado para competir ao Oscar, mas no pde seguir nesta
competio porque a Academia no reconheceu a Palestina como um pas. De certa forma, abriu o
caminho internacional mais amplo para produes palestinas.
3. Trs vises israelenses
Ainda na virada do sculo XIX para o XX, filmagens foram feitas na Palestina otomana
pelos irmos Lumire, no intuito de mostrar sequncias exticas da Terra Santa, ou pelos
primeiros pioneiros judeus a fazerem documentrios. Nas dcadas de 1920 e 1930, durante o
mandato britnico, esboavam-se experincias cinematogrficas que se consolidaram em um
cinema nacional aps 1948. A produo, porm, nunca foi muito vasta, com cerca de dez filmes
anuais at os anos 1990. Em uma fase inicial, o cinema local tratava de uma construo nacional
idealizada e mtica, em que heroicos israelenses se relacionavam com rabes e palestinos
desumanizados, em filmes como Amud haEsh (1959) e Giva 24 Eina Ona (1955). Por boa parte
deste perodo, atores judeus de origem oriental (mizrahim) representavam os palestinos e os rabes,
em geral, nas produes israelenses.
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J por volta dos anos 1980 surgiram os primeiros filmes no-maniquestas, como Hamsin
(1982) e Magash haKessef (1983), que apresentavam uma luta complexa entre adversrios
reconhecidamente humanos, e pela primeira vez se escalavam atores palestinos para representarem
palestinos. (SHOHAT, 2010, p. 3; 257).
Com os crescentes debates sobre identidade multicultural, ps-colonialismo e ps-sionismo
durante os anos 1990 surgiram tambm experincias mais plurais nas prticas culturais israelenses,
inclusive no cinema. O israelense retratado j no necessariamente o sabra euro-israelense ou o
imigrante sefaradi-mizrahi; as questes no so mais de guerra nacional ou tenses tnicas, e o
hebraico no mais a nica lngua empregada. O filme Cup Final (1991) de Eran Riklis mostra
soldados israelenses e palestinos comungando do desejo de ver um jogo da Copa do Mundo, e em
Caf Noah (1996) Duki Dror usa a lngua rabe em sua produo. Filmes mais matizados como
estes tiveram relativo impacto dentro de Israel, mas passaram a circular mais amplamente nas telas
mundiais na ltima dcada.
3.1. A Noiva Sria
A Noiva Sria no trata do conflito israelo-palestinos nos territrios ocupados da Cisjordnia
ou de Gaza, mas nas colinas do Golan, territrio srio ocupado por Israel em 1967 e anexado ao pas
em 1981, portanto, na fronteira setentrional com a Sria. No so palestinos os retratados, mas
drusos. O filme retrata o dia do casamento de Muna (Clara Khoury) e seu primo, que um ator
famoso de novelas na Sria e mora em Damasco. A aldeia de Majdal Shams retratada com sua
"peculiaridade" de ser uma aldeia drusa hostil a Israel e leal Sria, j que no geral os drusos de
Israel so cidados do pas e, inclusive, seus homens servem ao exrcito. O patriarca da famlia,
Hamed (Makram Khoury), j fora preso pela polcia israelense por sua atuao justamente pr-
Sria. Quatro de seus cinco filhos so retratados com ateno no filme, e com suas histrias se
vislumbra um microcosmo de questes pontuais de uma aldeia drusa como conselheiros idosos
que demandam continuidade de tradies, dilemas de uma mulher drusa, bem como a poltica
maior.
Muna uma noiva atpica por estar profundamente triste no dia de seu casamento. E tal fato
se d por causa do envolvimento de seu casamento com questes polticas. Uma vez que, para se
casar com seu primo e ir morar com ele em Damasco, ela deve abrir mo da cidadania israelense
(na realidade, sua carteira de identidade mostra uma cidadania indefinida), e uma vez que passe
para o territrio da Sria no poder nunca mais voltar a ver sua famlia.
Muna tem 25 anos e demonstra bastante apreenso sobre como vai ser sua vida no outro pas
e com o marido, que no conhece pessoalmente. Sua irm mais velha, Amal (Hiam Abbas), por sua
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vez, j tem um longo casamento com o tambm druso Amin e me de duas filhas j adolescentes.
Dedicou sua vida a seguir as tradies do cl e, uma vez que as filhas esto crescidas, quer estudar
assistncia social na Universidade de Haifa, para a qual foi aceita. Seu marido resiste em deix-la
realizar seu sonho por temer ser visto como fraco pela aldeia.
Outro irmo de Muna Hattem (Eyad Sheety), que foi estudar na Rssia e l se casou e teve
um filho com uma moa do local (Evelyne Kaplum). Seu pai havia ento cortado relaes por ele
ter se casado com uma no-drusa (ele foi banido pelos ancios do vilarejo por tal feito, e o pai
ameaado de ter o mesmo fim se aceitar o filho de volta), e no filme v-se a tensa relao entre os
dois, com Hattem querendo se aproximar e o pai se esquivando ao mximo. Marwan (Ashraf
Barhom), o filho mais novo, comea no filme voltando de viagem Itlia, onde vive. Parece na
realidade ser uma espcie de malandro, que negocia de tudo um pouco e paquera todas as moas ao
redor, incluindo-se as funcionrias estrangeiras da Cruz Vermelha que atuam na fronteira. Um outro
filho vive no lado srio e s se comunica com a famlia por megafone, prximo divisa.
A poltica menor e a maior esto presentes desde o incio. O pano de fundo do
casamento de Muna justamente a sucesso presidencial na Sria, no vero de 2000, quando Hafez
al-Assad morre e seu filho Bashar assume seu lugar. A aldeia de Majdal Shams faz manifestaes
de apoio Sria, e a polcia israelense acompanha de perto. E o casamento em si mostra a realidade
da fronteira entre calma, mas no oficialmente em paz, entre Israel e Sria. A ONU e a Cruz
Vermelha so as instituies que fazem a mediao entre ambos os lados. Jeanne (Julie-Anne Roth),
uma funcionria francesa da Cruz Vermelha, tem a incumbncia de levar o passe de Muna para o
lado srio, fornecido por um burocrata israelense enviado especialmente de Jerusalm para o posto
na fronteira. Novas regras indicavam, porm, que um carimbo de Israel deveria ser afixado no
passaporte de Muna, e os soldados srios no o aceitam porque daria a ideia de que reconheceriam
que o Golan era israelense, quando na realidade o consideravam srio. A funcionria fica entre
vrias idas e vindas, alm de ansiosa com a possibilidade de poder perder seu voo de volta para a
Europa, at que Muna se cansa de tudo e atravessa a fronteira sem documentao para se juntar
famlia do noivo.
***
Uma vez apresentado o filme A Noiva Sria, vale dar ateno para o que h nele de "no
filme". Trata-se de uma produo de 2004 dirigida pelo israelense Eran Riklis, que tambm assina
seu roteiro, junto com a rabe-israelense Suha Arraf. uma das primeiras coprodues do pas, que
incluiu parcerias de Israel, Frana e Alemanha; o filme foi lanado e distribudo pela empresa norte-
americana Koch Lorber Films.
Monique Sochaczewski
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Eran Riklis conta que a ideia do filme nasceu da histria real das noivas srias, com que se
deparou quando fez o documentrio Borders (1999), sobre personagens no bvios nas fronteiras
israelenses. Escreveu o roteiro em hebraico, e nessa lngua foram feitos os ensaios com o elenco, na
sua quase totalidade composto de atores rabes-israelenses. Na filmagem final, porm, o rabe foi a
lngua usada em quase todo o filme. (INTERVIEW, 2002).
Algumas projees foram feitas para rabes-israelenses, como em Nazar, mas se por um
lado saudou-se a viso que mostra a sociedade israelense de maneira mais complexa e diversa, por
outro no houve reao entusiasmada. Isso se deveu em parte por se achar que o filme foi brando
em situaes que, na realidade, so necessariamente duras, como uma cena em que o policial
israelense quer prender o pai de Muna e demovido justamente pelo filho russo com alegaes
jurdicas, ou por mostrar o lado srio da famlia ou os soldados srios da fronteira de maneira quase
caricatural. (COOK, 2005). As poucas projees para o pblico de pases rabes se deram em um
festival de Marrakesh, no Marrocos, e em projees para intelectuais e mulheres de negcio em
Am, na Jordnia, sem grandes debates, porm. O filme no foi aceito no festival internacional de
cinema de Dubai.
Em entrevista conjunta, os roteiristas declararam acreditar que o cinema poltico havia
acabado e que surgiam em seu lugar filmes humanos que lidam com a poltica, situando-se desta
maneira seu trabalho. (ARRAF; RIKLIS, 2008). Riklis tambm declarou diversas vezes que
entende a linguagem do cinema como universal e faz seus filmes, portanto, para o mundo. E, de
fato, a recepo internacional foi muito boa, o filme abocanhou cerca de 15 prmios no mundo
todo, entre os anos de 2004 e 2005, como o Grand Prix no Montral World Filme Festival, o prmio
de melhor roteiro no Flanders International Film Festival, o prmio da audincia no Locarno
International Film Festiva, e teve Hiam Abbas como indicada ao prmio de melhor atriz no
European Film Award.
O interesse do pblico israelense, porm, no correspondeu ao internacional, com poucos
expectadores nos cinemas e nenhum prmio no pas, apesar de vrias indicaes. Segundo reflexo
por parte dos roteiristas, tal fato talvez tenha se dado por haver ainda uma tendncia do
establishment cinematogrfico israelense em privilegiar filmes centrados em temtica judaica ou
porque os juzes das premiaes no reconheceram os protagonistas do filme como parte da
sociedade israelense. (MY WET, 2005).
3.2. Lemon Tree
A histria principal de Lemon Tree de uma viva palestina, Salma Zidane (Hiam Abbas), e
sua plantao de limes. Logo aps assumir o ministrio da Defesa, o israelense Ysrael Navon
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(Doron Tavory) e sua esposa, Mira (Rona Lipaz-Michal), se mudam para a casa ao lado da
propriedade de Salma, na Linha Verde (entre a Cisjordnia e Israel). Por recomendao do servio
de segurana que teme que terroristas ali se escondam, a plantao cercada e declarada rea
militar, sendo oferecida uma recompensa em dinheiro para Salma.
Salma perdera a me aos cinco anos e fora criada pelo pai e pelo empregado da plantao,
tendo-se ligado bastante terra e ao trabalho com os limoeiros. Quando ficou viva, retirou da
plantao de limes o sustento dos trs filhos. Quando recebe a primeira intimao do soldado
israelense indicando que no poderia mais ter acesso a seu pomar, vai buscar ajuda de Abu Camal
(Makram Khoury), um conhecido que domina o hebraico, para traduzir o documento. Ele lhe avisa
que ela no deve cogitar aceitar a recompensa em dinheiro oferecida pelo exrcito. Ela procura a
administrao civil israelense e avisada por um soldado que fala rabe que seu caso pequeno em
relao aos dos demais palestinos e que uma recompensa j era oferecida, j havia, portanto, uma
soluo.
Salma no desiste e decide ento agir por meio da justia israelense; para isso, busca a ajuda
de um advogado. Trata-se de Zyad Davut (Ali Suliman), um advogado palestino que vivera na
Rssia por muitos anos (e l tinha uma filha) e que acaba de fato aceitando seu caso. Eles perdem
sumariamente na primeira instncia, e a corte rejeita apelo. Salma chora, mas decide continuar a
luta na Suprema Corte.
A mulher de meia-idade palestina se angustia com a cerca colocada em torno de seu pomar,
sem que possa cuidar das rvores. Os frutos comeam a apodrecer, e as rvores ficam doentes sem
que se possa fazer nada. De vez em quando, ela pula a cerca e tenta molhar as plantas ou colher
alguns limes. O soldado encarregado da torre de vigia prxima tenta alert-la para no faz-lo, mas
de fato o agente de segurana que lhe fala rispidamente para que se afaste dos limoeiros.
Salma e Zyad tentam ajuda junto Autoridade Nacional Palestina (ANP), mas sem sucesso.
Ganham um pouco de flego quando uma jornalista israelense publica uma matria de grande
circulao com mais informaes sobre Salma e com falas favorveis a ela por parte da esposa do
ministro da Defesa, Mira. Diversos grupos de apoio internacionais surgem e visitam Salma. Da
mesma forma, quando em visita aos Estados Unidos, o ministro questionado sobre o caso, assim
como em programa de TV israelense. O caso ganha grande repercusso local e internacional.
A Suprema Corte decide, por fim, pela retirada parcial dos limoeiros, e esse foi o fim oficial da
luta de Salma. Uma derrota com alguns ganhos. Todo o caso, porm, impactou fortemente no
casamento de Ysrael e Mira. Essa passa a se sensibilizar com a situao de Salma e a questionar sua
relao com o marido. No final do filme, ela se muda da casa dando a entender que se separou, um
muro erguido entre o pomar de Salma e a casa do ministro (com parte das rvores cortadas).
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Salma queima as roupas do falecido marido, dando a entender viver nova fase, e recebe do
funcionrio um recorte de jornal que mostra o noivado de Zyad.
***
Lemon Tree uma produo de 2008, tambm dirigida por Eran Riklis, que igualmente
assina seu roteiro, junto com Suha Arraf. A mesma equipe de produo de A Noiva Sria foi
mantida e acrescida basicamente de israelenses. Foi lanado pela IFC Films.
O filme tambm foi baseado em uma histria real, divulgada em jornais israelenses, mas
ficcional. Segundo os roteiristas, porm, a ideia era tratar do que acontece o tempo todo:
se no so casas, so oliveiras. assim que o sistema funciona seja se as pessoas vo Corte ou no. Este um filme sobre o conflito entre segurana e pessoas.
uma histria universal que se aplica a qualquer lugar. (ARRAF; RIKLIS, 2008).
O prpiro diretor citou vrias vezes sua viso de Salma como uma espcie de Erin Brokovitch do
Oriente Mdio.
O sucesso internacional foi imenso, Lemon Tree ganhou os seguintes prmios internacionais
nos anos de 2008 e 2009: melhor atriz para Hiam Abbas no Awards of the Israeli Film Academy,
melhor atriz para Hiam Abbas e melhor roteiro para Eran Riklis e Suha Arraf no Asia Pacific
Screen Awards, prmio Panorama audience para Eran Riklis no Berlin International Film Festival,
melhores atrizes para Hiam Abbas e Rona Lipaz-Michael no Cinefan Festival of Asian and Arab
Cinema, e prmio Silver Apricot de melhor filme no Yerevan International Film Festival.
O pblico israelense, porm, simplesmente no compareceu aos cinemas. Segundo o prprio
Riklis, foi um desastre e pessoalmente uma pena. O diretor acredita que mesmo com uma
campanha publicitria que buscava apresentar a obra mais como a histria de duas mulheres atravs
da fronteira, havia a desconfiana de que se apresentasse uma herona palestina. E explica sua
relao talvez mais fcil com o tema, diferentemente do que acontece com a maioria dos
israelenses, pelo fato de ter morado muitos anos fora de Israel, em pases como Estados Unidos,
Canad e Brasil, alm de ter estudado cinema na Inglaterra. Seu intuito maior de ir alm das
manchetes de jornais e de mais uma vez fazer um filme no-poltico, mas sobre pessoas presas
em situaes polticas, no funcionou para seus concidados. (JOHNSTONE, 2008).
3.3. The Gatekeepers
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O documentrio The Gatekeepers conta com o depoimento de seis ex-dirigentes da agncia
de inteligncia interna de Israel, o Shin Bet (iniciais em hebraico para Sherut Bitchoni, que significa
Servio de Segurana). Estes relatam a histria da atuao do servio nos territrios ocupados desde
1967, quando foram conquistados por Israel. O Shin Bet um servio secreto em que o pblico s
conhece as identidades de seus chefes e estes, historicamente, se expuseram muito pouco na mdia.
Avraham Shalom (1980-1986), Yaacov Peri (1988-1994), Carmi Gillon (1994-1996), Ami
Ayalon (1996-2000), Avi Dichter (2000-2005) e Yuval Diskin (2005-2011) falam ao longo de 1
hora e 40 minutos de forma aparentemente sincera sobre sua viso do servio em si, das conjunturas
polticas, da relao com os polticos e com a imprensa, e sobre como veem a situao poltica atual
do Estado de Israel.
O documentrio dividido em captulos, anunciados por frases tiradas dos depoimentos
que os seguem. Assim, o primeiro sem estratgia, somente ttica, que trata de um retrospecto da
ocupao dos territrios palestinos por parte de Israel aps a guerra dos Seis Dias. Surgem ali as
memrias do comeo da ocupao, em que alguns j serviam ao exrcito e outros ainda eram
crianas, mas que retratam a relao um tanto quanto instintiva por parte dos soldados com os
palestinos, sem indicaes de cima como agir. Inicialmente eram palestinos em campos de
refugiados, porm, aos poucos surgem os primeiros casos de terror. Os casos eram poucos, e
conseguia-se ento engajar habitantes de vilarejos para que apontassem os terroristas. J se
esboavam as necessidades de faz-los falar a partir de prises, investigaes e interrogatrios, e
j se comeava a usar a figura dos colaboradores, pessoas convencidas a trair seu ambiente, famlia
e amigos. O Estado conseguiu resolver em grande parte a questo do terror, mas no a da
conquista, da ocupao.
Esquea a moralidade o ttulo da segunda parte, e o corte cronolgico inicial usado o
do comeo dos anos 1980, com a guerra do Lbano, quando o chefe era Avraham Shalom (1980-
1986). Um caso lembrado ento para mostrar o poder que o Shin Bet tinha alcanado dentro do
aparato israelense. Nesta poca, um nibus da linha 300, da regio de Jerusalm, tinha sido
sequestrado por quatro terroristas palestinos. Dois resistiram e foram mortos em combate, mas dois
se entregaram desarmados e foram assim fotografados pela imprensa. Acabaram sendo mortos por
agentes do Shin Bet, e a questo levantada o sentimento ento de quase onipotncia do servio de
inteligncia. Avraham Shalom reconhece que autorizou mortes e diz: com terroristas no h moral.
Ache moral em um terrorista primeiro.
O terceiro captulo chama-se O terrorista de um homem o guerreiro de liberdade de
outro e j se trata ento da primeira Intifada, iniciada em 1987, totalmente inesperada pelo Shin
Bet. Reconhecem falha em no ter previsto a revolta, mas se desculpam dizendo que quase todas as
inteligncias do mundo falharam em previr revolues. Alguns reconhecem que logo aps 1967
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deveria ter sido feito algum acordo com os palestinos. A coisa foi se complicando, e Israel tinha
ento a maior lista de procurados de todas as inteligncias do mundo. Os ex-chefes comeam a
tratar com mais detalhes de suas relaes com os polticos, ressaltando as diferenas entre Itzhak
Shamir e Itzhak Rabin em relao aos rabes: o primeiro no acreditava de jeito nenhum em um
acordo com eles, o segundo, sim. Relatam que quando dos acordos de Oslo tiveram que se sentar
com pessoas que por vezes tinham sido presas por eles prprios e que estes estavam dispostos a
negociar. Justamente quando a OLP assumia o governo, o Hamas comeava a onda de atentados
terroristas suicidas em nibus por Israel. O Shin Bet sentiu fracasso por casos que no evitou e ao
mesmo tempo se via cerceado em relao aos mtodos de interrogatrio e afins para obter
informaes que evitassem novos casos. Eles relatam, sobretudo, a dificuldade de ento lidar com
islamistas, que no tinham nada a perder.
O quarto tpico ganhou o ttulo de Nossa prpria carne e sangue e volta a meados dos
anos 1970 para tratar da construo das primeiras colnias em territrios ocupados por judeus
religiosos. A inao por parte dos governos israelenses fez com que os colonos se impusessem,
certos da impunidade. Em 1980, um atentado palestino contra colonos foi retaliado com diversos
atentados contra prefeitos palestinos, e o Shin Bet descobriu tratar-se de uma milcia judaica
perigosa. Planejaram grande ataque contra nibus palestinos, evitado pelo servio de inteligncia, e
tinham ainda o objetivo de explodir o Domo da Rocha em Jerusalm, lugar sagrado para os
muulmanos. Se este tivesse de fato acontecido, teria levado a uma guerra total com todos os pases
muulmanos, no s rabes. Itzhak Shamir elogiou a investigao, responsveis foram presos e
julgados, mas logo depois soltos. Esse caso acordou o Shin Bet para que passasse a acompanhar
tambm os radicais internos. Nunca, porm, tiveram Ygal Amir em sua lista de investigados, e foi
justamente ele que emperrou todo o processo de paz ao assassinar o primeiro-ministro Itzhak Rabin.
No incio de 1995 sentiam que crescia incitamento contra Rabin e pediam para que ele se
protegesse, mas ele no o fez. O assassinato mudou definitivamente a poltica israelense, deixando
clara a polarizao, o dio, que atualmente s piora e pelo que outro assassinato poltico no est
descartado.
Vitria te ver sofrer a fala selecionada para o quinto mdulo. Comea justamente
tratando do colapso, do sentimento total de fracasso por parte do Shin Bet com o assassinato de
Rabin. O servio de inteligncia mudou totalmente, no mais era baseado em pessoas no campo,
mas em gente atrs de monitores de computadores. Se houve um ganho, este foi na atividade
comum com os palestinos na coordenao da inteligncia, pois havia interesse comum contra o
Hamas. J no havia, porm, mais clima, confiana mtua ou mesmo desejo de ambas as partes em
ter paz aps a morte de Rabin. Uma nova Intifada parecia questo de tempo, e de fato ela logo veio
com extrema violncia de ambos os lados. Em uma conversa com um psiquiatra palestino em
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Londres, Ami Ayalon (1996-2000) ouviu deste que finalmente eles estavam ganhando a guerra, j
que sua viso de vitria era ver os israelenses sofrendo, e aps 50 anos acontecia uma espcie de
equilbrio de sofrimentos.
J o sexto captulo foi chamado de efeito colateral; comea tratando da engenhosidade por
servio para assassinar um lder do Hamas responsvel por diversos atentados: Yahya Aywaash. Ele
acabou morto ao usar o celular, e para alguns o assassinato em tempo relativamente calmo foi erro,
por acender o fogo. Logo depois, o assassinato de um lder do Hamas em local que achavam que se
encontrava s com a esposa, mas que na realidade estava cheio de civis que morreram tambm,
gerou mais furor. E em 2003, em ocasio em que toda a cpula do Hamas poderia ter sido morta,
acabou no sendo, justamente por cuidado em face da fora desproporcional anterior. Ex-chefes
discutem a efetividade de matar chefes de organizaes, bem como os preos de overkilling, e um
deles usou mesmo o termo banalidade do mal ao tratar destas aes.
O velho homem ao fim do corredor foi o ttulo usado para o stimo e ltimo bloco do
documentrio. V-se a uma reflexo mais clara sobre o papel dos polticos e seus fracassos, e se
chega concluso de que a conversa com os palestinos e com os demais inimigos o caminho. No
veem alternativa a isto. Dror Moreh cita a fala do intelectual Yeshayahu Leibowitz em 1968, um
ano aps a conquista dos territrios, em que dizia que a ocupao levaria a uma inexorvel
corrupo moral, corroendo-se a democracia israelense. Yuval Diskin (2005-2011) concorda e
Carmi Gillon (1994-1996) diz: Ns fazemos a vida de milhes de pessoas miserveis,
prolongamos o sofrimento humano. Avraham Shalom, que viveu na ustria nazista quando
criana, usa mesmo a analogia do exrcito nazista como ocupante, como se os israelenses se
parecessem com este. Israelenses passaram a ser cruis, usando discurso de guerra ao terror. Israel
ganha diferentes batalhas, mas perde a guerra.
***
O documentrio The Gatekeepers, de 2012, foi dirigido e produzido pelo israelense Dror
Moreh. A produo tambm coube a Estelle Fialon, da Films du Poisson, e Cinpehil, e seu
oramento total foi de US$1.500.000. A coproduo reuniu uma ampla gama de produtores
estrangeiros, em especial franceses.
A ideia original teria surgido quando Moreh fazia outro documentrio, sobre Ariel Sharon, e
soube que foram chefes do Shin Bet que o convenceram a sair de Gaza, em 2005. E Sob a nvoa da
guerra, documentrio de Errol Morris com as lies aprendidas com a guerra do Vietn pelo ex-
secretrio de defesa dos Estados Unidos, Robert McNamara, inegavelmente lhe serviu de
inspirao.
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Em entrevista concedida revista The Economist, Moreh declarou que seu objetivo com o
documentrio era o de mudar o ponto de vista dos jovens israelenses. Contar a eles uma histria do
conflito israelo-palestino que ainda no lhes foi contada anteriormente. (POWER, 2013). J para
Al-Monitor, disse que quis colocar um espelho em frente sociedade israelense, forando-a a
confrontar a situao em que vivemos. (ZONSZEIN, 2012). A recepo por parte da imprensa
israelense foi tima, mas j pelo pblico israelense foi aptica. (RUDOREN, 2013). Diplomatas
israelenses ao redor do mundo ficaram em especial ansiosos por entender se o filme era bom ou
ruim para o pas, mas acabaram optando por usar o filme justamente como prova de como Israel
de fato uma democracia, que permite que obras controversas como estas sejam feitas.
O documentrio, porm, tambm fez boa campanha internacional e prmios de melhor
documentrio de 2013 da Asian Pacific Screen Awards, da Israeli Fim Academy e da Los Angeles
Film Critics Association Awards. Recebeu ainda meno especial por Reports and Social Issues no
Biarritz International Festival of Audiovisual Programming, o prmio de most valuable
documentary of the year do Cinema for Peace, e foi indicado ao Oscar de melhor documentrio.
4. Trs obras palestinas
Na virada dos anos 1960 para os 1970 pouco depois do incio da ocupao de Gaza e da
Cisjordnia pelos israelenses aps a Guerra dos Seis Dias foram realizados os primeiros
documentrios em campos de refugiados, patrocinados por organizaes palestinas. Trata-se da
primeira representao da histria traumtica palestina. Passar-se-ia ento a uma fase de produes
cinematogrficas locais afinadas com o desejo de cristalizar uma unidade nacional e homognea e
criar smbolos coletivos que se sobrepusessem realidade, heterogeneidade e diversidade da
sociedade palestina. (GERTZ; KHLEIFI, 2008, p. 4). Os filmes de Michel Kleifi nos anos 1980
tiveram um importante papel em desconstruir esta imagem de unidade e homogeneidade, bem como
a evocao de um passado idlico que ainda grassava, trazendo diferentes camadas da realidade
palestina.
Surgia ento uma gerao de cineastas palestinos, ainda na ativa, que levaria adiante estas
questes: alguns nascidos e criados nos territrios ocupados, e outros donos de cidadania israelense
e cosmopolitas. Durante a segunda intifada, frente dureza da vida cotidiana, tiveram dificuldades
de manter esse cinema mais crtico, com certo retorno narrativa unificadora. Elia Suleiman, como
j dito, destacou-se ao criar um novo tipo de cinema "com novos meios de se relacionar com o
passado bem como com a dureza do presente". Seu Crnica de um desaparecimento (1996) no tem
passado para retornar nem terra sonhada em que algum possa chegar e foi parcialmente financiado
pelo Israeli Fund for Quality Films. (SHOHAT, 2010, p. 275). um bom exemplo de uma fase
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mais complexa do cinema palestino, em que as fronteiras internas e externas ficam mais
ambivalentes; ao mesmo tempo que se preocupava com sua autorrepresentao, contava com
auxlios de instituies israelenses para levar adiante seus projetos.
4.1. Paradise Now
Paradise Now, filme de 2005, conta a histria de dois amigos de infncia, Khaled (Ali
Suliman) e Said (Kais Nashef), que vivem no campo de refugiados de Nablus, na Cisjordnia, e so
recrutados para um atentado suicida em Tel-Aviv. O motivo do atentado vingar a morte de
palestinos assassinados em bombardeio israelense.
Ambos trabalhavam em um ferro-velho e eram de origem bastante humilde. Said, porm,
carregava o estigma de ser filho de um colaborador (palestino acusado de passar informaes para
Israel), executado pelos prprios palestinos quando Said tinha 10 anos de idade. So abordados por
um certo Jamal (Amer Hlehel), militante de um grupo palestino de resistncia que no
identificado, que os d uma noite para se despedir das famlias. No dia seguinte seguem os rituais
dos mrtires: tiram fotos que sero usadas em psteres, gravam vdeos de despedida, tm os cabelos
cortados e corpos lavados, fazem refeio farta, colocam os cintures com as bombas junto aos
corpos e vestem-se de maneira mais parecida com que os colonos israelenses fazem. So instrudos
a manter intervalo de 15 minutos entre um e outro para dar maior impacto aos ataques e so
informados de que dois anjos os buscaro aps os atentados para ento ascenderem ao Paraso.
O plano original era atravessar a Linha Verde, a fronteira entre os territrios ocupados e
Israel, em rea pouco guardada, para serem recebidos do outro lado por um rabe israelense que os
ajudaria a perpetrar os atentados em troca de pagamento. Uma patrulha israelense aparece, porm, e
os amigos se perdem um do outro. Khaled consegue voltar para o grupo, mas como Said no
retorna; o esconderijo desmontado por temor do grupo de retaliao israelense. Said chega a entrar
mais para o territrio israelense e se aproxima de um ponto de nibus repleto de colonos judeus
religiosos. Um nibus para e h a chance de perpetrar o ataque suicida, mas uma criana o faz
aparentemente desistir.
Volta ento para Nablus, e Khaled, depois de alguma dificuldade, o acaba encontrando e
devolvendo ao grupo palestino. Na conversa com o lder do grupo, porm, e refletindo sobre sua
vida e dos palestinos de uma maneira geral, Said decide que quer ter nova chance de perpetrar o
ataque. Reflete sobre o sentimento de humilhao, inferioridade e fraqueza dos palestinos, que
vivem sob a ocupao israelense, e entende que a figura do colaborador como seu pai ainda
uma forma israelense de explorar essa decadncia.
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Se inicialmente Khaled era o amigo resoluto a ir adiante, que grava filme de despedida com
convico e fala dessa certeza quando esto prestes a atravessar a fronteira, e Said tem dvidas e
titubeia, ao final Said que ganha convico de que esse o nico caminho que resta para si e para
a resistncia ocupao. Na busca por Said em Nablus, Khaled se encontra com Suha (Lubna
Azabal), moa palestina filha de um mrtir chamado Abu Azzam. Suha milita em grupo de
ativistas por direitos humanos e entende que a melhor forma de lutar contra a ocupao israelense
que inegavelmente superior militarmente e ganha simpatia internacional com imagem dos
palestinos como terroristas por meio de uma guerra moral. Aparentemente, instala-se a dvida
em Khaled, e este de fato no vai mais adiante com a ideia do ataque suicida.
Na cena final, Said est em um nibus israelense, no corao de Tel-Aviv, rodeado de
soldados. Seus olhos so focados. Tudo fica branco ao final, dando a entender que ele, sim, praticou
o ataque terrorista suicida.
***
Paradise Now foi dirigido pelo palestino Hany Abu-Assad (um rabe-israelense de Nazar
que se apresenta como palestino e vive h dcadas na Holanda) e contou com recursos da Holanda,
Frana e Alemanha. A distribuio nos Estados Unidos foi feita pela Warner Brothers.
O roteiro comeou a ser escrito em 1999, mas o filme s foi feito em 2004. Trata-se do
primeiro filme a ter terroristas suicidas como tema, e familiares e amigos de perpetradores de
atentados suicidas foram entrevistados, assim como foram acessados documentos israelenses como
relatrios e transcries de interrogatrios de suicidas presos. (RIDING, 2005).
O filme foi feito em Nablus, no calor da segunda Intifada, literalmente, j que era vero de
2004, mas algumas cenas tiveram que ser gravadas em Nazar por razes de segurana. No houve
impedimento formal para filmar, mas as dificuldades da ocupao, da intifada e das lutas internas
dos palestinos se manifestaram na forma de ataques areos muito prximos ao set e mesmo do
sequestro de um membro da equipe. Houve uma negociao diria com grupos diferentes de
militantes palestinos, bem como com o exrcito israelense, para poder se realizar o filme.
O elenco basicamente composto por atores palestinos que vivem em Israel ou na Europa,
mas Lubna Azabal belga. Os territrios palestinos contam com poucos locais de projeo, mas
mesmo assim Abu-Assad diz que foi importante para os palestinos assistirem ao filme e se
reconhecerem nele. (INTERVIEW, 2005).
Segundo o diretor, seu filme no uma declarao poltica, mas um ponto de vista artstico
de questes polticas. Paradise Now recebeu resenhas elogiosas nos Estados Unidos, mas recebeu
tambm vrios boicotes no pas por ser considerado elogioso ao terrorismo. Por vezes, foi tambm
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criticado de ser sutil quanto ocupao israelense e no mostrar cena alguma de violncia contra
palestinos.8
Com todas as polmicas, Paradise Now recebeu o Globo de Ouro por melhor filme
estrangeiro e foi indicado ao Oscar na mesma categoria. Parte da imprensa e grande parte do
pblico israelense, porm, ficaram ultrajados com o filme, que consideraram que humaniza
assassinos ou mostra simpatia por perpetradores de atrocidades. Apesar de realizado em territrios
palestinos, Paradise Now quase no chegou ao pblico local.
4.2. Lailas Birthday
Lailas birthday versa sobre um dia da vida de Jalal Yacoub (Mohammad Bakri), o dia do
aniversrio de sete anos de sua filha Laila (Nour Zoubi). Yacoub advogado de formao, j tinha
sido juiz em um pas rabe amigo e teria sido instado a voltar para a Palestina a convite do
prprio Yasser Arafat. Uma vez de volta, porm, no conseguiu de fato ser empossado como juiz e
acaba atuando como motorista de txi (de um carro que pertence ao cunhado) para pagar suas
contas.
Como motorista, Yacoub ou Abu Laila, como comumente tratado conta com uma srie
de restries: no leva passageiros a checkpoints, no leva passageiros armados, no permite que
fumem no seu txi e exige que aqueles que se sentam frente usem cinto de segurana. Tenta fazer
o que considera certo e ideal em uma cidade cheia de ineficincia e corrupo.
Seu carro quebra, e ele o leva para a oficina de um conhecido. Este considera meia hora para
o conserto e diz a Abu Laila que v a um caf prximo enquanto espera, mas pede que lhe compre
um pacote de velas. Nesse meio tempo, um mssil israelense atinge um carro, e o dono da oficina
usa o txi de Abu Laila para levar um ferido ao hospital. Abu Laila se inteira de qual hospital se
trata e pede carona a outro taxista para chegar l. Ao chegar, fica sabendo que o homem havia
falecido, e lhe pedido que leve sua viva a casa. Esta carregava um pacote que deixa no carro.
Ele decide comprar o bolo de aniversrio da filha na confeitaria e, enquanto esperava seu
txi, sem que lhe fosse pedido o carro foi enfeitado para um comboio de casamento. Fitas e flores se
espalharam pelo cap. Estressado, segue para o posto de gasolina de um conhecido. Ao ver ali um
carro da polcia palestina, pega o microfone e comea a dar ordens aos transeuntes e discursar sobre
a situao poltica e social dos palestinos.
Ao final do dia, com todas as situaes inslitas, Abu Laila volta para casa para festejar o
aniversrio da filha. V que o pacote esquecido pela viva era um bolo. Acabou ficando com a vela
pedida pelo dono da oficina. Das flores e fitas que enfeitavam seu carro, fez um buqu para a
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esposa. Chega em casa, ento, com bolo e presente. Ao ser perguntado pela esposa como foi o dia,
responde simplesmente: como sempre.
***
Lailas birthday um filme de 2008 dirigido e roteirizado por Rashid Masharawi. Trata-se
do quinto filme do cineasta palestino de Gaza oriundo de uma famlia de refugiados de Jaffa, mas
que vive e trabalha em Ramallah, na Cisjordnia, onde fundou a Cinema Production and
Distribution Center, em 1996, com o objetivo de promover produes locais. O filme apresentado
como originalmente da Palestina, Tunsia e Holanda e ganhou os prmios Best Asian Feature Film,
na Singapura, e International Filme Festival, em 2009.
Abu Laila interpretado por Mohammed Bakri, ator rabe-israelense com slida carreira,
tanto no teatro e cinema israelenses quanto nos rabes-palestinos. E seu cinema considerado de
certa semelhana com o de Elia Suleiman por ser uma espcie de crnica da ocupao. Trata de um
dia ficcional na vida de um palestino comum em uma cidade no caso, Ramallah, a capital de fato
da Autoridade Nacional Palestina cercada por checkpoints no solo e helicpteros no cu.
Rashid Masharawi sempre foi empenhado em apoiar o cinema palestino, faz mostras
itinerantes em campos de refugiados e organiza um festival anual de cinema infantil. Sabe-se pouco,
porm, sobre a repercusso interna deste filme.
4.3. 5 Broken cmeras
O intuito de Emad Burnat ao comprar sua primeira filmadora era registrar os primeiros
momentos da vida de seu quarto filho, Gibril. Ao longo dos cinco anos seguintes, ele filmaria no
somente o crescimento de Gibril como a resistncia da aldeia de Bilin, na Cisjordnia, construo
de uma cerca em suas terras por parte do governo israelense. Registraria tambm a completa perda
de inocncia de seu filho mais novo.
A primeira cmera registrou o nascimento de Gibril e a construo de assentamentos por
colonos israelenses bem prximo aldeia de Bilin. Aos poucos, so apresentados os membros da
famlia de Burnat (sua esposa, Soraya, palestina, mas foi criada no Brasil) e alguns moradores do
vilarejo, como Fil, adulto muito querido pelas crianas, e Adib. Emad Burnat vem de uma famlia
de camponeses que vive da plantao de oliveiras. Organizam-se nesta fase protestos toda sexta-
feira ao lado da cerca erguida por Israel, com participao de ativistas estrangeiros e tambm de
israelenses. A primeira cmera atingida, justamente em uma manifestao por um invlucro de
gs lacrimogneo lanado por soldados, e fica inoperante.
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A segunda cmera foi presenteada pelo amigo israelense de Burnat, Ysrael, e logo registra a
soltura de um de seus irmos aps um ms preso. Mostra tambm os progressos de Gibril e suas
primeiras palavras, que so: muro, invlucro de gs lacrimogneo e exrcito. As manifestaes
continuam, com ampla e ativa participao de Fil e Adib, e h ento registros da guerra de atrito
entre os colonos, como o uso de trailers de ambos os lados para j ocupar a terra e queima das
rvores caras aos palestinos, por colonos israelenses. As manifestaes pacficas so recebidas a
bala pelos soldados israelenses (etopes e mulheres, entre eles), um ativista israelense ferido e um
outro irmo de Emad preso. A segunda cmera destruda por um colono israelense.
A terceira cmera registra o terceiro aniversrio de Gibril e a continuao das manifestaes
semanais. Um outro irmo de Burnat preso, e cada vez mais o exrcito israelense se faz presente
no vilarejo. Crianas tambm fazem manifestao, e h mesmo assim reao violenta de Bilin por
parte do exrcito israelense. Burnat interrogado, preso em priso comum e depois em priso
domiciliar. O caso acaba sendo encerrado, pois os israelenses perderam a evidncia. Durante uma
manifestao, Emad foi alvo de uma bala que acaba se alojando na cmera, com ele salvando-se,
assim.
A quarta cmera continua registrando as manifestaes de sexta-feira, a partir do inverno de
2008. Burnat explica que o governo israelense temia uma terceira Intifada, e por isso os soldados
sofriam presso para reprimir protestos e no deixar que ganhassem fora. A violncia cresce com
dois meninos, um de 11 e outro de 17 anos, sendo mortos. Emad Burnat fala da dificuldade da no
violncia quanto h tanta morte ao redor. A Suprema Corte israelense decide pela destruio de
parte da cerca e h festejos por isso na aldeia, mas um ano depois a cerca ainda est l. As rvores
da aldeia foram queimadas ou arrancadas por bulldozers. Burnat cai em um buraco ao dirigir o
trator em suas terras e salvo por soldados israelenses que o levam para tratamento em Tel-Aviv.
nesta ocasio que a quarta cmera foi quebrada. Ele diz ter conscincia de que se tivesse sido levado
para hospital palestino no teria sobrevivido, porque no haveria estrutura para trat-lo.
A quinta cmera mostra a recuperao de Burnat, que no festejada porque se d
justamente quando Gaza atacada pelo exrcito israelense, em 2009. Ele no pode mais fazer
trabalho fsico algum e est cheio de dvidas pelo tratamento em Israel. Reflete sobre a Autoridade
Nacional Palestina que no o ajuda por no ser verdadeiramente da resistncia e diz que os
rebeldes de verdade so seus amigos do vilarejo, que no esmorecem com as manifestaes de
sexta-feira. Filma a Copa de 2010 com os filhos vestidos com o uniforme brasileiro e sempre
brincando com Fil. Reflete que a nica proteo que pode dar a seu filho menor, Gibril,
permitindo que ele veja tudo: da violncia dos soldados nas manifestaes ao abate de um carneiro.
Numa das manifestaes, Fil morto, e neste contexto que seu filho lhe pergunta: Pai, por que
que voc no mata os soldados com faca? o fim da infncia de Gibril e de Daba, irmo de Fil.
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Adib tambm detido na frente do filho e passa ao menos um ano preso. A presso leva ao
desmonte da cerca, de fato, mas um muro de concreto construdo no muito longe. Ele diz que,
porm, a terra sempre ter as cicatrizes.
A sexta cmera no foi destruda. Comea mostrando a ida de Emad a Tel-Aviv para retirar
os pontos, levando os dois filhos menores para irem praia pela primeira vez.
***
5 Broken Cameras codirigido pelo palestino Emad Burnat e o israelense Guy Davidi.
Trata-se de uma coproduo israelense, palestina e francesa, cujo oramento total foi de
US$250.000. Ganhou mais de 30 prmios em Israel e pelo mundo afora, incluindo-se o de melhor
documentrio do Jerusalem Film Festival, o prmio de direo do Sundance Film Festival (2012),
prmio da audincia do International Documentary Film Festival of Amsterdam (IDFA) e meno
do jri e prmio de melhor documentrio do Michael Moores Documentary Festival in Traverse
City. E, diferentemente do que aconteceu com Interveno Divina, foi aceito como indicado ao
Oscar de melhor documentrio de 2013, justamente com The Gatekeepers como concorrente. Mas
nenhum dos dois foi vencedor.
vlido ressaltar que o caminho seguido pelo filme em prmios internacionais, bem como
sua apresentao na mdia em geral, gerou acalorados debates. Por um lado, Emad Burnat foi
largamente criticado em Ramallah por ter trabalhado com os israelenses, uma vez que h uma
posio consolidada na sociedade palestina de antinormalizao. Guy Davidi, por sua vez, teve
muita dificuldade em achar um cinema comercial israelense que projetasse o filme para o pblico
local e chegou a ser chamado de traidor. (GOLDMAN, 2013).
5. Consideraes finais
No mbito da histria do cinema, de certo modo concretiza-se a maneira esperanosa e
otimista com que Jack Shaheen concluiu sua fala no documentrio sobre a forma como os rabes,
muulmanos e palestinos eram retratados na filmografia ocidental. Por um lado, produes
hollywoodianas j buscam apresentar os posicionamentos norte-americanos na regio de maneira
mais crtica, e tambm os habitantes locais, de maneira menos estereotipada. Por outro lado, essas
prprias produes locais vm ganhando espao em premiaes de primeira grandeza da meca do
cinema mundial e nas suas principais praas. Se Jack Shaheen se ressentia que filmes
hollywoodianos no humanizavam os palestinos, apresentando-os como seres que tm ligaes
familiares e dilemas humanos, essa nova filmografia ameniza esta questo, apresenta tambm
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famlias amorosas como a unio entre irmos, em A Noiva Sria, e o amor paternal, em Laila's
Birthday, o afeto entre amigos, como a amizade de Said e Khaled em Paradise Now, e de Adib e
Fil, em 5 Broken Cameras. A questo mais importante de se destacar, porm, a do protagonismo
local embora ainda em grande parte necessitado do suporte internacional, sobretudo ocidental,
para as produes na concepo, direo, atuao e afins.
Esta filmografia recente sobre o conflito israelo-palestino permite vislumbrar, portanto, uma
crescente descolonizao do conflito, no sentido de busca por uma narrativa prpria e no
necessariamente condizente com os interesses de potncias ou de elites governantes. Ela permite
tambm verificar uma pertinente interconexo nos filmes em questo, seja com coparticipao de
rabes e judeus na direo de produes como Emad Burnat e Guy Davidi em 5 Broken Cameras
ou na elaborao de roteiros, como se viu nas parcerias de Eran Riklis e Suha Arraf em A Noiva
Sria e Lemon Tree. Alguns atores participam de produes de ambos os lados tambm, como o
caso, sobretudo, da atriz Hiam Abbas, presente em trs das seis produes (duas israelenses e uma
palestina) e amplamente premiada. J Ali Suliman atua em Lemon Tree e Paradise Now, e Ashraf
Barhom em A Noiva Sria e Paradise Now.
E o cinema local de certa forma matiza a cobertura padro da imprensa internacional e
brasileira, focada na violncia do conflito e passando a ideia, conforme comentaram alguns alunos
em debates em classe, de que este milenar ou de que os papis dos israelenses como opressores e
dos palestinos como resistentes violentos fossem estanques. Se por um lado h militares israelenses
que reagem violentamente contra manifestantes palestinos no violentos, assim como colonos
judeus provocadores, em 5 Broken Cameras, o mesmo documentrio apresenta o ativista israelense
Ysrael que se coloca junto dos palestinos nas manifestaes e, inclusive, presenteia Emad com uma
cmera; advogados israelenses que se articulam com palestinos para ajud-los em sua luta na Justia
israelense; ou mesmo o fato de este ter sua vida salva, quando de um acidente de trator; e a
medicina oferecida em Tel-Aviv. Por outro lado, a noo de radicalismo islmico tambm se mostra
matizada. Emad Burnat uma pessoa claramente religiosa, sua esposa usa hijab para cobrir os
cabelos, e sua escolha por resistncia na aldeia de Bilin pela no violncia. J em Paradise Now, a
narrativa dos aspirantes a homens-bomba passa longe de fanatismo religioso e mais perto da falta de
perspectivas e da humilhao diria por parte da ocupao, em especial na figura do filho de um
colaborador executado, como Said.
A presena militar impacta na vida diria dos palestinos, e situaes kafkianas decorrem
delas. A Noiva Sria todo sobre o absurdo da ocupao e de como, ao se casar com um primo srio,
nunca mais a protagonista poder voltar para o resto da famlia em territrio ocupado por Israel,
para alm de todas as idas e vindas literalmente da burocracia em ambos os lados da fronteira.
Lemon Tree trata do absurdo da restrio feita a uma proprietria palestina para acessar sua
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plantao de limes, ao se tornar vizinha do ministro da Defesa israelense. E The Gatekeepers
todo sobre o aparato militar israelense envolvido com a ocupao, mas que fica claro a todos os
depoentes o quo ineficiente se mostra, pois se vencem batalhas, mas no a guerra. Em Paradise
Now, ao gravar seu pretenso vdeo de despedida, Khaled comea de repente a falar de um filtro de
gua que sua me deveria comprar, deixando ver a questo do envenenamento de guas por parte de
colonos. Em Lailas Birthday, a ocupao se faz presente quando por terra na forma dos
checkpoints de que o protagonista prefere ficar longe e nos helicpteros que surgem a toda hora, a
ponto de levar Abu Laila ao descontrole em determinado momento, quando pega o microfone de
uma viatura da polcia e passa a orientar os transeuntes tentando levar ordem ao caos. E, por fim,
em 5 Broken Cameras o absurdo est na reao israelense violenta a manifestaes no violentas
palestinas, sobretudo quando da morte da figura simptica e alegre de Fil.
O que se v desta filmografia, ainda, que o conflito em grande parte masculino, e que as
mulheres vivem suas prprias lutas dentro deste. Se em Lemon Tree elas so as personagens
principais, em The Gatekeepers elas simplesmente no aparecem, configurando omisso
significativa justamente do lado mais moderno do conflito, em que as mulheres servem ao
exrcito. Em A Noiva Sria, h por um lado Amal que deseja estudar depois de ter cumprido seus
deveres para com a famlia e o cl, e por outro h Muna que, justamente para cumprir sua tarefa de
se casar entre os seus, se afastar para sempre da famlia. Em Paradise Now, Suha a mulher
palestina forte, opinativa, moderna, que busca por caminho alternativo violncia na resistncia
ocupao e que fala alto e apaixonadamente sobre suas convices. Neste sentido, a filmografia
deixa claro existirem vrias mulheres palestinas, no sendo possvel essencializ-las.
A entrada da rede Al Jazeera, do Catar, na briga mundial pela cobertura jornalstica
representou uma polarizao dos discursos sobre o Oriente Mdio, tendo redes ocidentais como a
CNN na outra ponta a contar a sua verdade. Isto ficou claro, sobretudo quando da cobertura da
invaso norte-americana ao Iraque, em 2003. (RESENDE; PAES, 2011, p. 217). Esta filmografia
aqui brevemente tratada, recortada nos ltimos dez anos, porm, mostra no somente uma
polarizao de discursos, mas uma importante matizao destes. E aqui vale tambm refletir em que
medida o cinema vem por muitas vezes cumprindo o lugar do grande jornalismo, talvez por ter
mais tempo para se dedicar a seu trabalho, sobretudo no caso dos documentaristas que muitas vezes
tm feito, na realidade, reportagens elaboradas.9
Cada filme descortina temas de impacto poucos conhecidos mesmo para aqueles j
familiarizados com o conflito israelo-palestino. A Noiva Sria mostra o quanto os drusos do Golan
tambm se consideram vtimas da ocupao e se revoltam com esta. Lemon Tree lana olhar sobre a
possibilidade de atuao de um palestino junto Justia israelense. The Gatekeepers trata de
maneira clara da existncia de milcias fanticas judaicas. Paradise Now joga luz sobre a questo de
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justiamentos contra palestinos que colaboram com Israel. Laila's birthday ressalta a ineficincia
da gesto palestina na Cisjordnia. E 5 Broken Cameras mostra o impacto da ocupao e da reao
violenta de Israel a manifestaes no violentas sobre uma criana. E em quase todos eles h
alguma presena russa o local de origem da esposa no drusa de um dos irmos de Muna de A
Noiva Sria, da me da filha do advogado Zyad e tambm de trabalhadores israelenses a servio do
ministro da Defesa, em Lemon Tree o que denota um passado de envolvimento sovitico com o
conflito e origem de milhares de imigrantes para Israel, que escapa a muitos.
Os cineastas das produes aqui tratadas so em geral da mesma gerao na faixa de 50
anos, com exceo de Emad Burnat e Guy Davidi, na faixa dos 30 ainda e eles prprios tm
ligaes com a poltica, j que os israelenses necessariamente serviram ao exrcito e os palestinos
tiveram uma ligao com a ocupao, impactando sua vida diria, ou impactando diretamente nas
filmagens. Em geral no consideram sua obra filmes polticos, mas abordagens artsticas ou
humanas, mediante a linguagem do cinema, de temas polticos.
Os filmes em questo se mostram, porm, importantes instrumentos polticos, seja para
matizar a narrativa da grande mdia, como j tratado; para auxiliar na educao de vrios pblicos
a respeito da complexidade do conflito e da apresentao de sua dimenso humana; ou ainda por
reivindicar, de certa forma, uma descolonizao do conflito, visando a uma narrativa prpria e
crtica. A noo de contrapoder tratada por Manuel Castells (2013, p. 10), de ser esta a
capacidade de os atores sociais desafiarem o poder embutido nas instituies da sociedade com o
objetivo de reivindicar a representao de seus prprios valores e interesses, parece fazer sentido
aqui para entender estas obras. Os filmes em questo so tanto atores como instrumentos de
contrapoder, sobretudo por se oporem narrativa mestra de seus grupos e quela consolidada no
Ocidente por seu cinema ou pela grande mdia. Se por um lado, contudo, parecem fazer bonito na
arena internacional, ganhando prmios e crticas positivas, internamente sofrem para se fazer
conhecidos. So associados s alas esquerdas polticas de ambos os lados, aquelas que buscam a
autocrtica ou a coexistncia, tachados por muitos como traidores.
Os prprios possveis usos didticos destas obras j previsto ao menos por uma delas, no
caso 5 Broken Cameras, que inclusive levou adiante uma campanha de crowdfunding para arrecadar
recursos e chegar s escolas israelenses (BRINGING, [s/d]) podem ter um impacto poltico local,
gerando questionamento sobre a ocupao e uma atuao poltica neste sentido. Longe do teatro do
conflito, aqui no Brasil servem justamente, conforme indicou Del Alczar (2012) sobre as
possibilidades didticas dos filmes, para despertar a capacidade crtica do estudante ou mesmo do
espectador comum como para apresentar a complexidade especfica deste conflito. A
apresentao destes filmes no mbito do curso de inverno Cinema e Conflito no Oriente Mdio
oferecido na Fundao Getlio Vargas do Rio de Janeiro, em julho de 2014, gerou uma primeira
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reao quase que unssona nos 20 alunos matriculados: confesso que eu no sabia nada. Ao final
do curso foi interessante verificar uma reao dos alunos no sentido de ressaltar semelhanas com
questes presentes no Brasil como a violncia policial em comunidades carentes e por sentirem
que eles configuram uma alternativa s narrativas eurocntricas ainda prevalecentes por aqui.
A viso mais matizada e humana no esconde, porm, o grande drama da ocupao. E os
filmes em questo geram debate pblico no somente sobre seu contedo, mas tambm sua
circulao e impactos polticos. Suha Arraf, corroteirista de Eran Riklis nos filmes aqui
apresentados, justamente se encontra desde meados de 2014 no centro de um acalorado debate
poltico a respeito de seu primeiro filme de fico solo como diretora. Arraf inscreveu seu filme
Villa Touma sobre trs irms palestinas crists que vivem em Ramallah no comeo da ocupao
israelense no Festival de Veneza de 2014 como palestino, mesmo tendo recebido recursos de
organizaes israelenses. O Conselho do Filme Israelense recomendou o pedido de devoluo
imediata do dinheiro concedido, e a cineasta reagiu de maneira veemente dizendo que o filme
pertence a quem o realiza e no a quem o financia, caso contrrio, muitos dos filmes apresentados
como israelenses seriam alemes ou de outra nacionalidade europeia em razo do financiamento
captado. No debate a seu respeito, Arraf apresentou sua identidade como uma rabe, uma palestina
e uma cidad do Estado de Israel. (ARRAF, 2014).
Stuart Hall (1990, p. 222-4), ao comentar a emergncia de um cinema caribenho dcadas
atrs, ressaltou o papel da identidade cultural que se colocava em questo. A posio de enunciao
a posio de quem fala ou escreve ou, aqui no nosso caso, de quem filma de fato muito
importante, embora cambiante e problemtica. H por um lado um reposicionamento importante de
quem enuncia a representao do conflito sendo aqui os prprios envolvidos neste, com uma viso
mais matizada da questo. Hall ressalta existirem duas definies de identidade cultural, uma
fortemente calcada numa cultura compartilhada de um povo, e outra que, embora reconhea
pontos de similaridade, entende haver pontos cruciais de profunda e significativa diferena que
constituem quem realmente ou quem se tornou. O que se vislumbra das representaes feitas
por israelenses e por palestinos em suas produes flmicas da ltima dcada vincula-se em grande
medida a esta segunda viso. Saem os mitos e encaram-se as rupturas e descontinuidades, numa
visada mais cuidadosa do Outro.
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Notas
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1 Uma parte desta historiografia j vem sendo, inclusive, traduzida para o portugus. o caso, pelo lado israelense, de
Benny Morris (2014), de Michael Oren (2004) e de Avi Shlaim (2004). J quanto ao lado palestino, h a biografia
Arafat - O irredutvel, de Amnon Kapeliouk, e o livro Hamas: um guia para iniciantes, de Khaled Hroub, entre outros. 2 Ver RESENDE; PAES, 2011, p. 215-219; LIMA, 2012.
3 Dois filmes de fico e um documentrio de cada lado e filmes que cobrem trs recortes: A Noiva Sria e Paradise
Now so de 2004-2005, Lemon Tree e Laila's birthday so de 2008 e The Gatekeepers e 5 Broken Cameras so de
2012. So, assim, representativos da filmografia israelo-palestina na ltima dcada. 4 Os guias de discusso criados pela ONG Just Vision para seus documentrios Encounter Point, Budrus e My
Neighbourhood serviram no s para os debates aps a projeo destes documentrios, como tambm para inspirar
discusses a respeito de muitos dos filmes aqui listados. 5 Para facilitar a leitura, as citaes em lnguas estrangeiras foram traduzidas livremente para o portugus.
6 As citaes aqui feitas foram retiradas do documentrio que est disponvel online. (REEL, 2006).
7 J Lina Khatib (2006, p. 108), mais do que periodizar a representao dos palestinos no cinema norte-americano,
ressalta trs temas como recorrentes: 1) a construo do conflito como um conflito tnico, em que judeus so,
sobretudo, representados como donos de um sentimento, histria e origem comuns; 2) o estabelecimento de fronteiras
fsicas e ideolgicas entre israelenses e palestinos, que faz com que cada lado parea ser um grupo homogneo, sendo
os palestinos em grande parte orientalizados; 3) a representao dos Estados Unidos como um padrinho, certamente com ligaes mais fortes com Israel, mas que se situa numa posio superior a ambos e busca mediar a paz no s no
Oriente Mdio como no mundo todo. Khatib vai um pouco alm de Shaheen nesse ponto, ao ressaltar o papel do cinema
na criao de uma imagem dos norte-americanos como policiais, salvadores e mantenedores da ordem internacional. A
autora, porm, usa basicamente os mesmos filmes para fazer seu ponto, que so Delta Force, The Ambassador e The
little drummer girl. 8 http://www.merip.org/mero/interventions/paradise-nows-understated-power. Acesso: 04/03/2014.
9 Grande jornalismo para se contrapor a uma crescente presena de mdia alternativa na regio, financiada em parte
por crowdfunding e similares, como o caso de portais como +972, Your Middle East, International Middle East
Media Center e mesmo o blog do professor Juan Cole, da Universidade de Michigan. Interessante ainda ressaltar a
percepo de grandes redes de notcias em TV, como Al Jazeera e Globonews, da relevncia dos documentrios no
contexto de uma busca por nova linguagem de jornalismo na TV. A Globonews justamente em 2014 abriu um novo espao em sua grade de programao para a exibio de documentrios feitos dentro e fora do canal. Os temas iniciais
destes so bastante internacionalizados, como Venezuela e Nambia, mas o Oriente Mdio parece no constar ainda
entre os temas dos primeiros trabalhos.
Monique Sochaczewski doutora em Histria, Poltica e Bens Culturais pelo CPDOC/Fundao
Getlio Vargas e pesquisadora-bolsista da Escola de Cincias Sociais CPDOC/FGV/RJ.
Recebido em 04/07/2014
Aprovado em 06/10/2014