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22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina VI-164 - A SUB-HABITAÇÃO NA CIDADE DE CURITIBA E SEU IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA Fábio Márcio Bisi Zorzal (1) Engenheiro Civil pela UFES (1997), Adesguiano pelo XVII CEPE - ADESG/ES (1996), Mestre em Ciências em Engenharia Ambiental pela UFES (1999). Um dos Ganhadores do Prêmio "Tião Sá" de Pesquisa Ecológica da Prefeitura Municipal de Vitória (1998). Professor no Curso de Engenharia Civil da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP (desde 1999). Finalista do Prêmio Paraná Ambiental 2001. Doutor em Engenharia de Produção com Ênfase em Gestão Ambiental pela UFSC (2003). Alexandre Cancian Baiotto Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Santa Maria (1995). Mestre em Engenharia Civil pela UFSC (1999). Pós-graduado em Administração Hospitalar pela PUCRS (2000). Professor Adjunto no Curso de Engenharia Civil da Universidade Tuiuti do Paraná. Rejane Helena Ribeiro da Costa Engenheira Civil pela UFPB. Mestre em Hidráulica e Saneamento, EESC-USP, São Carlos, SP. Doutora em Tratamento e Qualidade das Águas pelo INSA-Toulouse, França (1989). Pós-Doutorado na Université Montpellier 1, França. Professora Titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental do Centro Tecnológico da UFSC. Robson Sarmento Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da UFES (1969), Mestre em Ciências pela COPPE/RJ (1971), Doctor of Philosophy pela Manchester University, Inglaterra (1979). Professor Adjunto do Departamento de Hidráulica e Saneamento e no Programa de Mestrado em Engenharia Ambiental, ambos no Centro Tecnológico da UFES.

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e ... · a utilização de recursos de urgência, favorecendo o planejamento estratégico da cidade. A implantação de novos recursos

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22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina VI-164 - A SUB-HABITAÇÃO NA CIDADE DE CURITIBA E SEU IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA Fábio Márcio Bisi Zorzal (1) Engenheiro Civil pela UFES (1997), Adesguiano pelo XVII CEPE - ADESG/ES (1996), Mestre em Ciências em Engenharia Ambiental pela UFES (1999). Um dos Ganhadores do Prêmio "Tião Sá" de Pesquisa Ecológica da Prefeitura Municipal de Vitória (1998). Professor no Curso de Engenharia Civil da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP (desde 1999). Finalista do Prêmio Paraná Ambiental 2001. Doutor em Engenharia de Produção com Ênfase em Gestão Ambiental pela UFSC (2003). Alexandre Cancian Baiotto Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Santa Maria (1995). Mestre em Engenharia Civil pela UFSC (1999). Pós-graduado em Administração Hospitalar pela PUCRS (2000). Professor Adjunto no Curso de Engenharia Civil da Universidade Tuiuti do Paraná. Rejane Helena Ribeiro da Costa Engenheira Civil pela UFPB. Mestre em Hidráulica e Saneamento, EESC-USP, São Carlos, SP. Doutora em Tratamento e Qualidade das Águas pelo INSA-Toulouse, França (1989). Pós-Doutorado na Université Montpellier 1, França. Professora Titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental do Centro Tecnológico da UFSC. Robson Sarmento Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da UFES (1969), Mestre em Ciências pela COPPE/RJ (1971), Doctor of Philosophy pela Manchester University, Inglaterra (1979). Professor Adjunto do Departamento de Hidráulica e Saneamento e no Programa de Mestrado em Engenharia Ambiental, ambos no Centro Tecnológico da UFES.

Marcelino Sidenei Bartz Engenheiro Civil pela Universidade Tuiuti do Paraná (2003). Ex--consultor em gestão urbana junto à CIC–Curitiba. Endereço(1): R. Monsenhor Ivo Zanlorenzi, 1668/603 – Mossunguê – CEP: 81.210-000 – Curitiba – PR – Brasil – Cel: +55 041 9985 7050 – Tel./Fax.: +55 041 263 3424 – E-mail: [email protected] – Web : www.utp.br/fzorzal/index.htm RESUMO Sabendo-se que a moradia é considerada como um dos quesitos mais importantes à qualidade de vida urbana, e garantida pela Constituição Brasileira a todo cidadão aqui residente, há que se quantificar e qualificar o padrão de moradia de uma cidade. Isso deve ser reflexo da estabilidade ocupação das massas humanas sobre o solo, e implicam necessariamente nas características de qualidade de vida de uma cidade. Esse artigo, portanto, tem o propósito de trazer à comunidade científica dados reais do padrão de moradia levantado em Curitiba, colocando em foco a sub-habitação nessa urbe. Observando o crescimento populacional, e realizando uma avaliação desse crescimento quanto aos aspectos de moradia, compôs-se um modelo de quantificação e qualificação em cada um dos bairros da cidade, que passou a ser objetivo dessa pesquisa para esse município, que é administrado sob o lema "A Capital Social". Em reversão ao quadro, a pesquisa deve também contabilizar a evolução das mudanças frente ao investimento realizado pelos órgãos públicos responsáveis por adotar políticas e estratégias em apoio a esse contingente. Em projeção para 2005, adotou tendências passadas para construir cenários pessimistas, realistas e otimistas para a cidade em cada um dos seus bairros. PALAVRAS-CHAVE: Sub-habitação, Padrão Habitacional, Qualidade de Vida, Administração Pública, Gerência de cidades. 1. INTRODUÇÃO A moradia é certamente um dos mais importantes parâmetros que afetam a qualidade de vida da população. A própria constituição prevê o direito a tal benefício de infra-estrutura a ser contemplada na política de desenvolvimento nacional. No entanto, o modelo de

desenvolvimento nacional vem gerando, ao longo dos anos, um movimento de massas populacionais que tem trazido as pessoas para aglomerados urbanos com infra-estruturas incompatíveis com os requisitos desejados de qualidade de vida esperada para esta população. Frente a este cenário, o Estado se vê pressionado a atender esta demanda com estratégias públicas habitacionais, que exigem outros investimentos associados tais como a criação de ruas pavimentadas e drenadas, servidas de água, energia elétrica e outros parâmetros implícitos ao bem-estar dessas pessoas, dentre elas a própria habitação. Mas, em países detentores de baixo poder de investimento esse fato se agrava, devendo-se otimizar todos os recursos disponíveis. O objetivo desse trabalho é avaliar a situação das sub-habitações da cidade de Curitiba em termos quantitativos e qualitativos, bem como prever custos para a melhoria da situação encontrada baseado em modelos de programas governamentais para este fim. Com valores monetários de hoje, fazer uma projeção de cenários que evidenciam as tendências de crescimento desse parâmetro, mostrando seu impacto sobre a qualidade de vida. Isso nada mais é do que a proposta de um modelo que atribua condições de avaliação da qualidade de vida em confronto com o padrão habitacional. A relevância, portanto, está associada à investigação dos contingentes humanos distribuídos nos espaços urbanos submetidos ao estresse dos aglomerados de sub-habitações, com possibilidade de implementar políticas públicas em contrário ao quadro existente. Escolheu-se a Cidade de Curitiba para análise dessa importante variável da qualidade de vida porque ela tem sofrido uma grande mudança cultural, de rural para a urbana nos últimos 10 anos, devido à inserção de indústrias. Essa mudança no perfil de desenvolvimento da cidade gerou um movimento migratório baseado na expectativa de melhoria da qualidade de vida, em que grandes contingentes populacionais passaram demandar por novas habitações, sem que o governo estivesse preparado, razão mais do que suficiente para avaliar tais condições, bem como os custos associados à demanda requerida por este excedente populacional. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Essa parte do trabalho procura conceituar o termo qualidade de vida e associar com formas tradicionais de ocupação urbana. Depois, considera que o reflexo da prática pública no rumo da cidade pode interferir positivamente no processo, mas que existem outras considerações envolvidas no processo que têm sido esquecidas. 2.1. Qualidade de vida no ambiente urbano e sua relação com a moradia O termo "Qualidade de Vida" pode ser definido como o resultado da maior ou menor satisfação e felicidade dos indivíduos como reflexo do entorno urbano, aí inserida a variável psico-social, que é a representatividade da saúde, da educação, do meio ambiente,

entre diversos outros. Como o foco em análise é habitação, há desprezo dos demais parâmetros sem detrimento da percepção holística, uma vez que se pode fazer algumas considerações. A primeira delas é a de que o poder público tem dado prioridade aos ambientes habitacionais com maior poder aquisitivo (econômico-financeiro). Nota-se que, não é mais qualquer projeto público que torna saciável os interesses e necessidades de tal população. Outra, a ausência global de recursos em regiões de miséria favorece a ignorância, e, por conseqüência, a acomodação dessa sociedade por qualquer p equeno acréscimo de melhoria, que passa a viver das sobras das primeiras regiões. Ainda nessa linha, a concentração de renda e salário, e isso vale na escala de mundo globalizado, favorece a implementação de tecnologia no ambiente construído, diminuindo inconsistência e a incoerência na utilização de recursos disponíveis. No entanto, isso reduz a utilização de recursos de urgência, favorecendo o planejamento estratégico da cidade. A implantação de novos recursos passa a ser sinergética uma vez que há atrat ivos por novas incorporações. Por fim, a saúde estética da cidade passa necessariamente pela disposição dos elementos arquitetônicos e urbanísticos que passam a dispor em favor ou contra os aglomerados humanos. Nota-se uma queda desse importante elemento da qualidade de vida como função da existência de sub-habitações. Nesse sentido, uma cidade bem planejada vem dirimir uma série de condicionantes que podem reverter o quadro de ostracismo de algumas regiões, promovendo e atraindo novos investimentos públicos e privados. A construção de um Plano Diretor Urbano, e respeito a ele, é exemplo de um bom começo desse caminho. 2.2. Políticas públicas de moradia Considerando que para atender à demanda inesgotável de enormes contingentes populacionais abrigados em sub-habitações, os programas existentes passam por um conflito entre adequar soluções técnicas que sejam compatíveis ao número famílias sem abrigo, no Brasil, conhecidos por "sem teto", e os custos envolvidos em sua implantação. Os projetos existentes têm tornado o processo muito simplificado, pois há muita opção de escolhas, com diversas tecnologias disponíveis, que passam desde o tipo de material empregado ao método construtivo. Mas, os projetistas esquecem de outras variáveis tais como a manutenção de renda familiar, expectativa de melhoria, que torna a habitação um problema menor na qualidade de vida dessas pessoas. Elas não hesitam em abandonar uma moradia construída por um espaço que lhe permita ter nova esperança, mesmo que seu padrão vem a despencar. Daí surgem novas manchas de sub-habitações em terrenos muitas vezes inapropriados à ocupação. 2.3. O domicílio do cidadão na Cidade de Curitiba

A qualidade do sistema habitacional curitibano foi medida com relação aos padrões existentes no cadastro do IPPUC, já classificados em função das unidades estruturais pertencentes às obras executadas nos padrões simples, médio, luxo e alto luxo. Com o número de habitações em cada uma dessas categorias é possível constatar a demanda por reformas, construções de novas habitações com um padrão que exceda um nível mínimo registrado no próprio cadastro, preferencialmente compatível com obras já elaboradas por órgãos afins com o problema, por exemplo, INOCOOP, COHAB, universidades, e empreiteiras executoras desse tipo de serviço. Diagnóstico da infra-estrutura atual: Tendo em vista a importância da célula familiar no contexto social, há que se apontar o domicílio como um das mais importantes obras de infra-estrutura urbana no contexto dessa tese. O município de Curitiba tem uma população já significante, que chega a 1,8 milhões de habitantes, num universo que ultrapassa 430 mil unidades construtivas, aqui entendidas como o espaço físico constituído para abrigar as atividades da indústria, comércio, serviços e lar. Aos olhos da municipalidade, deve ter menos um proprietário cadastrado e contribuindo com seu imposto territorial e predial. Do total de unidades construtivas, aproximadamente 316 mil são domicílios (cerca de 73%), tomado como o universo de observação e atuação dessa tese. Problemas relacionados: Dois problemas podem ser apontados em relação ao domicílio, um de caráter mais abrangente, que diz respeito ao déficit habitacional brasileiro, e que certamente alcança essa cidade. O outro que trata do padrão reside ncial existente, que enquadra o domicílio num padrão mínimo de habitação. Soluções apontadas: A criação de um extenso programa de financiamento, a fundo perdido, para substituição de 57 mil domicílios por outros de padrão superior, bem como criação de planos tecnológicos construtivos compatíveis com a realidade local que abriga uma população de pode ultrapassar 200 mil habitantes. A adoção de um ou mais padrões construtivos que venham solucionar essa demanda pode ser facilmente concebida pela COHAB. Fonte de consulta: cadastro do IPPUC, COHAB-PR. Estabelecido o padrão habitacional mínimo de referência e a demanda, perfaz-se o orçamento para composição de um quadro de melhoria municipal nesse parâmetro. Por exemplo, tomando-se por base o custo de uma nova unidade construtiva domiciliar como sendo de 20 mil reais, consegue-se facilmente determinar um volume aproximado para o fundo de reserva habitacional, que nesse caso chega a 3,7 bilhões de reais. 3. METODOLOGIA DA PESQUISA Essa parte do trabalho define a forma pela qual se conseguiu os resultados prometidos, e que banco de dados foi utilizado no processo. A metodologia da pesquisa contempla uma avaliação da situação atual dos domicílios encontrados na cidade, com base em dados fornecidos pelos agentes governamentais, com base no cadastro urbano da cidade, que é o mesmo que emite os talões bancários do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

3.1. Coleta de dados O cadastro aponta a categoria de cada imóvel registrado no Município pelo valor venal do imóvel para fins de emissão de tarifas da prefeitura, normalmente abaixo do mercado. A tabela a seguir mostra alguns valores para o Município fechado nos bairros da cidade. Tabela 1 – Categoria dos imóveis residenciais registrados na Cidade de Curitiba Código Bairro Categoria do Imóvel Residencial a Prefeitura Municipal de Cutitiba* Simples Médio Luxo Alto Luxo (dom) (%) (dom) (%) (dom) (%) (dom) (%) 1 Centro

1439 0,78 6087 4,95 113 1,48 6 0,59 2 São Francisco 503 0,27 2018 1,64 27 0,36 0 0,00 ... ... ... ... ... ...

... ... ... ... 75 CIC 4955 2,68 1468 1,19 3 0,04 0 0,00 Totais 184617 100,00 122890 100,00 7623 100,00 1025 100,00

Notas: * A fonte de informação foi o IPPUC. Além dessa base de dados, o Instituto de Planejamento e Pesquisa de Curitiba (IPPUC), através de suas atividades regulares de campo, levantou todas as sub-habitações da cidade. O último dado refere-se aos últimos censos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que permite dirimir eventuais dúvidas nos cruzamentos de informações desses bancos de dados mencionados. Tabela 2 – Categoria dos imóveis residenciais registrados na Cidade de Curitiba Código Bairro Classificação da Sub-habitação segundo a COHAB-CT* Em assentamentos Clandestinos Total Sub-habitações Áreas (dom) (dom) (dom) (dom) (dom) (%) (un) (%)

1 Centro 0 0 0 0 0 0,00 0 0,00 2 São Francisco 0 0 0 0 0 0,00 0 0,00 ... ... ...

... ... ... ... ... ... ... 75 CIC 8831 2164 0 703 11698 20,40 50 0,00 Totais 19199 34334 802 2998 57333 100,00

301 100,00 Notas: * A fonte de informação foi o IPPUC. 3.2. Manipulação dos dados Com essas informações, propõe-se uma metodologia de quantificação da situação encontrada, pressuposto da avaliação da qualidade. As duas principais equações que dão solução a esse problema são simples. Indicador da quantidade de sub-habitação (Iquant), que trata da relação entre o número de sub-habitações em cada bairro pelo total de habitações existentes. Essa relação deve indicar a cobertura residencial em cada bairro, pois em havendo sub-habitação no bairro, deduz-se que o poder público não chegou definitivamente nesse bairro. Iquant = Número de sub-habitações (domicílios) / Número total de habitações (domicílios) (Equação 1) Outra relação é dada pela média ponderada do número de habitações em categorias tomadas por pesos entre zero e um, conforme tabela abaixo, que passa a ser denominado de Indicador da qualidade. A equação a seguir dita a forma de cálculo. Tabela 3 – Relação de pesos para as categorias de habitações Categoria da residência** Definição de pesos para as categorias habitacionais da Cidade de Curitiba* Peso atribuído*** Valor venal considerado**** Observações Sub-habitação 0,2 Até R$20.000,00***** Regiões de favelas Simples

0,4 R$20.000,01 a R$40.000,00 Médio 0,6 R$40.000,01 a R$80.000,00 Luxo 0,8 R$80.000,01 a R$100.000,00 Alto luxo 1,0 Superior a R$100.000,00 Notas: * A definição de pesos foi obtida em conjunto com especialistas nessa temática. ** A categoria da residência foi definida pela Lei Municipal 6.202/80 e pela Portaria 029/84. *** O critério para atribuição do peso foi definido como função do valor venal considerado. **** A consideração do valor venal pode distorcer a sensibilidade do leitor, mas esses valores constam no cadastro da prefeitura servindo ao propósito da emissão de seus impostos. Esses valores estão abaixo do valor real de mercado. ***** O valor venal de até R$20.000,00 para sub-habitações quer refletir uma tendência de melhoria das ofertas dos padrões atuais entregues à sociedade, ou seja, com esse valor, é

possível dispor de novos projetos em locais mais próximos da expectativa de interesse dessa sociedade. Iqual = S Número de habitações na categoria (domicílios) x Peso da categoria / S Número total de habitações (domicílios) (Equação 2) Dos projetos habitacionais desenvolvidos pelos agentes governamentais, têm-se os valores médios praticados pelo mercado para sua execução. Com eles, é possível contabilizar os montantes a serem investidos frente à demanda requerida de cada região de ocupação. Tomando como base o valor de R$20.000,00/habitação para implantação de projetos sociais, é possível calcular o déficit financeiro total, ou por bairros, na cidade para uma data presente. Veja a nota (*****) referente a esse valor na tabela anterior. Custo do sistema de habitação = Número de sub-habitações (domicílios) x Custo unitário da habitação (R$/domicílio) (Equação 3) Considerando que se mantenham os níveis atuais de crescimento e de intervenção do poder público na implantação de conjuntos residenciais a fundo perdido, pode-se estimar o valor futuro para o ano de 2005, em cima de prognósticos elaborar mapas de tendências futuras otimistas, pessimistas e realistas. Elas devem traduzir respectivamente a melhor situação possível a ser encontrada, a pior situação possível e a situação mais provável. Cenário futuro do sistema de habitação = Déficit presente habitacional (domicílios) + Estimativa de crescimento (domicílios) – Estimativa de regularização (domicílios) (Equação 4) 3.3. Ferramentas de trabalho A principal ferramenta de trabalho é um software de Sistema de Informação Geográfico, que passa a ser alimentado por mapas advindos de um software CAD e por planilhas eletrônicas em formato de banco de dados. A manipulação dos dados buscada deve refletir o título do trabalho convergindo os pontos de vista dos autores para avaliação da situação desejada. 4. RESULTADOS E SUAS ANÁLISES O primeiro resultado a ser definido é visto na tabela a seguir e mostra bairro a bairro a aplicação da fórmula do Iquant e do Iqual para a situação da habitação. O segundo evidencia os custos a serem investidos em cada bairro da cidade. Nota-se o valor global para a extinção das sub-habitações na cidade chega à casa dos bilhões de reais. O valor médio da qualidade das habitações na cidade de Curitiba encontra o valor de 46,87%, que poderia dar um valor venal aproximado de R$55.000,00.

Tabela 4 – Resultados dos indicadores da Habitação Código Bairro Avaliação da qualidade da habitação atual Melhoria futura Total de habitações Déficit habitacional* Iquant** Iqual*** Custo total (dom) (%) (dom) (%) (%) (%) (R$,00) 1 Centro 21.368 3,94

0 0,00 100,00 56,56 0,00 2 São Francisco 2.871 0,52 0 0,00 100,00 56,26 0,00 ... ... ... ... ... ... ... ... ...

75 CIC 47.790 8,81 11.698 20,40 35,46 28,72 233.960.000,00 Totais 542.310 100,00 57.333 100,00 15,35 46,87 1.146.660.000,00**** Notas: * O déficit habitacional deve contabilizar o total de sub-habitações no bairro. ** O Iquant deve indicar a cobertura de residências no bairro, já somado o total de sub-habitações. *** O Iqual deve indicar a qualidade dessas residências instaladas no bairro. **** O valor global a ser investido em sub-habitações na cidade é expressivo, posto que é reflexo da consideração de uma mudança na política adotada por essa pesquisa, e realizada em torno de um valor unitário de R$20.000,00.

No traçado de cenários para o ano de 2005, houve a necessidade de estimar o crescimento de sub-habitações no período entre 2000 e 2005, em confronto com a estimativa da regularização de novas moradias no mesmo período. Para isso, seguem as Tabelas 5 e 6. Tabela 5 – Estimativa de crescimento de sub-habitações Código Bairro Passado-presente Presente-futuro 1996 2000 Taxa Cresc.* Área *** Ajuste**** Cresc. total (dom) (dom) (%aa) (dom) (m²) (dom) (dom) 1

Centro 16.619 21.368 6,49 0 0 0 0 2 São Francisco 2.915 2.871 -0,38 0 0 0 0 ... ... ... ... ... ...

... ... ... 75 CIC 40.556 47.790 4,19 490 43.378.000 1.024 1.514 Totais 429.963 542.310 5,98 3812** 183.716.000 4.335 8.147 Notas: * O crescimento de cada bairro é igual ao produto da taxa atual pelo número de sub-habitações encontrados na tabela anterior. ** A soma do crescimento projetado em cada bairro foi de 3.812 sub-habitações, considerada muito aquém do que crescimento global de 8.141 unidades na cidade. Por esse

motivo, serão contabilizados, somente nos bairros em que houve registro de invasões, um acréscimo relativo à correção da diferença entre os valores mencionados(8.141-3.812=4329 unidades), pela área de cada bairro. *** Nos bairros em que não houve registro de sub-habitações, considerou-se o valor zero para a área. **** O ajuste é igual ao produto das 4.329 unidades pela relação entre a área do bairro e a área total a ser distribuída (183.716.000m²). Tabela 6 – Estimativa de regularização com base em dados da COHAB-CT Código Bairro Passado-presente Presente-futuro 1996 2000 Taxa Reg.* Def. hab. *** Ajuste**** Reg. total (dom) (dom) (%aa) (dom) (%)

(dom) (dom) 1 Centro - 0 0,00 0 0,00 0 0 2 São Francisco - 0 0,00 0 0,00 0 0 ... ... ...

... ... ... ... ... ... 75 CIC - 8.831 122,08 11.698 20,40 -7.617 4.081 Totais - 20.001 11,22 57.333** 100,00 -37.332 20.001 Notas:

* A regularização necessária em cada bairro deve ser igual ao número de sub-habitações encontrados na tabela anterior. ** A soma do crescimento projetado em cada bairro foi de 57.333 unidades, considerada muito além da regularização global de 20.0001 unidades na cidade. Por esse motivo, serão descontados, somente nos bairros em que houve registro de invasões, um decréscimo relativo à correção da diferença entre os valores mencionados(57.333-20.001=37.332 unidades), pelo percentual de sub-habitações em cada bairro. *** Considerou-se o ajuste ponderado pela distribuição das sub-habitações ainda existentes em cada bairro (da tabela 4). **** O ajuste é igual ao produto das 37.332 unidades pela percentagem de sub-habitações no bairro. Feitas as projeções de crescimento e regularização para o ano de 2005, tem-se o balanço encontrado para aquela data. O número de sub -habitações é o resultado das parcelas positivas e negativas, bairro a bairro, do déficit atual, com o crescimento e a regularização, conforme mostra a próxima equação. Déficit futuro = Déficit habitacional atual + Estimativa de crescimento –Estimativa de regularização (Equação 5) Os resultados dessa contabilidade são registrados na próxima tabela que também traz as tendências de cada bairro em relação aos cenários previstos. Nota-se que o cenário pessimista traduz a idéia de que o déficit atual será incrementado com novo crescimento, sem nenhuma nova regularização. O cenário otimista mostra o inverso, que haverá regularização de todo o saldo atual, aí incluído o crescimento. O meio termo, chamado de cenário realista, acompanha as tendências de crescimento e regularização nas mesmas taxas, e evidencia a piora, a melhoria e a estagnação de cada bairro quanto ao indicador. Tabela 7 – Projeção de cenários Código Bairro Projeção de cenários Observações

Déficit futuro* Taxa** Cenários*** (dom) (%) (%aa) Pessimista Realista Otimista 1 Centro 0 0,00 0,00 0 0 0 2 São Francisco 0 0,00 0,00

0 0 0 Melhoria ... ... ... ... ... ... ... ... possível em 75 CIC 9.131 20,08 188,58 -1 1 1 41 bairros Totais 45.479

100,00 58,25 -1 1 1 54,56% Notas: * O déficit habitacional futuro é o resultado do emprego da Equação 3 em cada bairro. ** A Taxa é resultado do balanço entre o crescimento e a regularização diante dos valores atuais de déficit. *** O número zero (0) significa a manutenção dos valores atuais; o número um negativo (-1) significa que haverá aumento nos valores atuais; e o número um positivo (1) significa que haverá melhoria nos valores atuais. A Figura 1 mostra a localização das áreas de sub-habitação mapeadas na cidade em sua porção central. A cor laranja indica as zonas de ocupação com faixa de renda per capita de até três salários mínimos. A cor azul mostra as áreas de ocupação por sub-habitações. O canto superior esquerdo mostra a quantidade de sub-habitações por bairro. Nota-se o significado das cores escuras que demonstram um maior percentual de áreas com sub-habitações dentre o total de habitações existentes. No caso particular de Curitiba, a porção central da cidade fica praticamente isento desse tipo de ocupação, já as regiões de periferia concentram a maior parte das irregularidades. Esse mapa indica, portanto a cobertura da habitação na cidade. Do outro lado, a qualidade encontrada. Embora haja uma cobertura nos bairros centrais, em se colocando os pesos já anunciados, verifica-se a qualidade de cada bairro em relação às suas habitações. Quanto mais forte for a cor amarela, melhor é a qualidade das residências no bairro. Embaixo, os custos atuais envolvidos para regularização de todas as sub-habitações encontradas na cidade. Nota-se que há uma intensidade maior das cores na periferia da cidade, indicando os maiores montantes de investimentos nesse parâmetro de qualidade de vida. Em havendo a manutenção das tendências de crescimento e regularização das sub-habitações, fixou-se o cenário (realista) para o ano de 2005 conforme as cores do canto

inferior direito da figura. Nota-se que os bairros em verde tem uma tendência em melhorar, o amarelo em se manter, e o vermelho intenso em piorar. Figura 1 –Padrão habitacional da Cidade de Curitiba e suas tendências 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Considerado o prognóstico de avaliação do quadro habitacional na cidade, é razoável mostrar ao governo que devem ser constituídas as reservas de capital que deverão atender a demanda atual e futura deste importante parâmetro da qualidade de vida. Esse montante ultrapassa a casa do meio bilhão de reais, em se mantendo o padrão popular de R$10.000,00 por unidade habitacional. Se houver qualquer reversão na política que define os projetos, esse valor pode ser ainda maior. Esse trabalho não buscou elucidar estratégias para formação desse montante, mas sabendo-se que as quantidades e a qualidade dos padrões habitacionais da cidade já existem, ele recomenda fortemente a realização de um estudo específico que fomente recursos compatíveis com tal situação. Em não havendo isso, o quadro tende a piorar, pois a cidade certamente aumentar seu déficit atual, ainda que não na mesma taxa. Deve-se, no mínimo, aproveitar a existência de uma política pública frente ao problema regra o atual processo de crescimento da cidade, que é o Plano Diretor Urbano. No entanto, caso não haja um rigoroso controle de suas especificações, o uso e a ocupação do solo tendem a formar novos bolsões, em situação de completo caos, diferentemente de bolsões organizados em que se possa deixar o estado agir. Isso certamente deve atuar em paralelo com a proposta anterior, muito embora não seja solução técnica eficaz no processo. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACAD.EXE. [CD-ROM]. Versão 2000. Autodesk for Windows application file. [SI] : Autodesk Corporation, c 2000. Equipamento mínimo: PC Pentium III ou mais avançado com 132 Mb ou mais de memória RAM. ARCVIEW [CD-ROM]. Versão 3.1. Neuron Data for Windows application file. [SI] : Environmental System Research Institute Inc., c 1998. Equipamento mínimo: PC Pentium III ou mais avançado com 132 Mb ou mais de memória RAM BRASIL, Constituição (1988). Constituição [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF : Senado Federal, 1988.

CÂMARA MUNICIPAL. Lei Municipal Número 6202. Que trata da divisão de edificações em categorias para cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano e outras providências. Curitiba, PR. Diário Oficial. 1980. EXCEL.EXE. [CD-ROM]. Versão 2000. Microsoft for Windows application file. [SI] : Microoft Corporation, c 2000. Equipamento mínimo: PC Pentium III ou mais avançado com 132 Mb ou mais de memória RAM. IPPUC. Base Digital da Cidade de Curitiba. Curitiba. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, 2000. NORIEGA, N. F., SORIA, C. de la M. Auditoria Ambiental Municipal : Gestão Local em Cidades Sustentáveis e Saudáveis. PANGEA [on line] Barcelona, 199?. Disponível: http://www.pangea.org/ev...sustenible/ doc/franco.html [capturado em 20 jul. 1998]. SACHS, I.. La Lógica del Desarrollo. UNESCO [on line] Internacional. 2000. Disponível em http://www.unesco.int/issj/rics157/sachsspa.html. [capturado em 29/07/2000] ZORZAL, F. M. B.; AMARAL, J. C.; CELLI, G. C. D.; ANDREGHETONI, P. P.; BELLING, R. W.. Engenharia Ambiental na Cidade do Terceiro Mundo. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 2001, João Pessoa : Anais... Rio de Janeiro : Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2001. ZORZAL, F. M. B.; AMARAL, J. C.; CELLI, G. C. D.; ANDREGHETONI, P. P.; BELLING, R. W.. Planejamento Ambiental da Cidade de Curitiba. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 2001, João Pessoa : Anais... Rio de Janeiro : Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2001. BRASIL, Constituição (1988). Constituição [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF : Senado Federal, 1988. NORIEGA, N. F., SORIA, C. de la M. Auditoria Ambiental Municipal : Gestão Local em Cidades Sustentáveis e Saudáveis. PANGEA [on line] Barcelona, 199?. Disponível: http://www.pangea.org/ev...sustenible/ doc/franco.html [capturado em 20 jul. 1998]. ZORZAL, F. M. B.; AMARAL, J. C.; CELLI, G. C. D.; ANDREGHETONI, P. P.; BELLING, R. W.. Engenharia Ambiental na Cidade do Terceiro Mundo. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 2001, João Pessoa : Anais... Rio de Janeiro : Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2001. SACHS, I.. La Lógica del Desarrollo. UNESCO [on line] Internacional. 2000. Disponível em http://www.unesco.int/issj/rics157/sachsspa.html. [capturado em 29/07/2000] ZORZAL, F. M. B.; AMARAL, J. C.; CELLI, G. C. D.; ANDREGHETONI, P. P.; BELLING, R. W.. Planejamento Ambiental da Cidade de Curitiba. In: Congresso

Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 2001, João Pessoa : Anais... Rio de Janeiro : Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2001. IPPUC. Base Digital da Cidade de Curitiba. Curitiba. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, 2000. CÂMARA MUNICIPAL. Lei Municipal Número 6202. Que trata da divisão de edificações em categorias para cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano e outras providências. Curitiba, PR. Diário Oficial. 1980. Dado estimado pela relação entre a população e o número total de domicílios, relativo ao ano de 1996, dada por 3,43 habitantes por domicílio. A situação mais provável é aqui firmada como geradora de tendências de crescimento e regularização, argumentos que acompanharão os cenários compostos em todos os demais temas estudados. Compreendem os crescimento s e regularizações imobiliárias, habitacionais, populacionais e viárias. ARCVIEW [CD-ROM]. Versão 3.1. Neuron Data for Windows application file. [SI] : Environmental System Research Institute Inc., c 1998. Equipamento mínimo: PC Pentium III ou mais avançado com 132 Mb ou mais de memória RAM ACAD.EXE. [CD-ROM]. Versão 2000. Autodesk for Windows application file. [SI] : Autodesk Corporation, c 2000. Equipamento mínimo: PC Pentium III ou mais avançado com 132 Mb ou mais de memória RAM. EXCEL.EXE. [CD-ROM]. Versão 2000. Microsoft for Windows application file. [SI] : Microoft Corporation, c 2000. Equipamento mínimo: PC Pentium III ou mais avançado com 132 Mb ou mais de memória RAM.