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Sindicato dos Trabalhadores no Poder JudiciÆrio Federal no Estado de Santa Catarina - SINTRAJUSC - 24 de setembro de 2014 - N” 2 Quando o trabalho vira rotina de dor Informe da Saœde Nesta ediªo leia artigos sobre as condiıes de saœde dos servidores e os caminhos para avanar na luta

24desetembrode2014- N”2 Quando o trabalho vira rotina de dor · 2 EXPEDIENTE: Publicaçªo do Sindicato dos Trabalhadores no Poder JudiciÆrio Federal no Estado de Santa Catarina

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Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal noEstado de Santa Catarina - SINTRAJUSC - 24 de setembro de 2014 - Nº 2

Quando o trabalhovira rotina de dor

Informe da Saúde

Nesta edição leia artigos sobre as condições de saúde dosservidores e os caminhos para avançar na luta

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EXPEDIENTE: Publicação do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina� Filiado à FENAJUFE - Rua dos Ilhéus, 118 � sobreloja, sala 3 � Edifício Jorge Daux � CEP 88010-640 � Centro �Florianópolis/SC � Fone/FAX: (048)3222.4668 [email protected] - www.sintrajusc.org.br - Produçãoe fotos: Míriam Santini de Abreu (MTb 8077/RS) - Tiragem: 2.500 exemplares

Nos dias atuais, em que decisões capitaneadas pelas res-oluções do CNJ e dos conselhos superiores em geral re-stringem ainda mais as lotações de servidores do Judiciárioem cada setor, vemos um quadro cada vez mais dramáticoem torno das questões de saúde dos nossos colegas.Na Justiça Eleitoral estamos no aguardo da aprovação do

PL 7027, que cria cargos efetivos e funções comissionadase que pode melhorar as condições de lotação nos cartórioseleitorais, mas temos que garantir, além da votação, tam-bém a sua dotação orçamentária. Na Justiça Federal o aper-to das lotações para se dar conta das demandas também ésentido. No caso da Justiça do Trabalho a situação chegou aum limite muito perigoso. A Resolução nº63 do CSJT temlimitado a um número mínimo o total de servidores noslocais de trabalho, além de cortar o número de FCs.Se adicionamos a esses fatores as exigências de cumpri-

mento de metas sobre metas e um PJe-JT feito de cimapara baixo, que atrapalha mais do que ajuda na execução dosserviços, temos um quadro desolador de ceticismo, can-saço crônico, pressão para dar conta das metas e das es-tatísticas, em que se deve ao máximo vir trabalhar, mesmoque a base de medicamentos, já que o quadro de pessoal éapertado e quem adoece é visto com maus olhos.Enfim, estamos em uma situação em que as doenças os-

teomusculares e mentais estão se tornando cada vez mais

EDITORIAL

Lotaçãoadequadaecondiçõesde trabalhosãoessenciaisparaasaúde!

corriqueiras. Precisamos de metas, sim, mas de metas paranão deixar nenhum servidor adoecer e de termos ascondições de trabalho/lotação que nos permitam prestar umserviço de qualidade a população.A pressão é sentida por todos, inclusive pelos magistra-

dos, que tem de dar conta das suas estatísticas mesmo queisso signifique comprometer a qualidade/teor das sentençasespremidas cada vez mais pelas metas, sem as devidascondições de trabalho. Mas no caso dos servidores, a situ-ação é ainda mais séria, já que somos o elo mais frágil esubalterno dessa cadeia e portanto os primeiros a adoecer.Porém, nós, trabalhadores do Judiciário, também somosagentes sociais de mudanças e para reverter essa situação oprimeiro passo é nos conscientizarmos da possibilidade enecessidade de revertemos esse quadro.Para tanto temos que nos unir na luta por melhores

condições de trabalho e saúde! O SINTRAJUSC está pas-sando um abaixo-assinado que será seguido de atividadesde mobilização para sensibilizar a administração do TRT/SC de que se chegou no limite e que, junto aos servidorese magistrados, temos que cobrar do CNJ e do CSJT novasresoluções que garantam um bom parâmetro de lotação econdições de trabalho para que, preservando a nossasaúde, possamos realmente prestar um serviço de ex-celência para a população.

Servidores podem agendar acolhimentopsicológico no Sindicato. Saiba mais em

www.sintrajusc.org.br, no banner na partesuperior do site, com essa imagem

Mais um serviço para os filiados!

TTTTToda qoda qoda qoda qoda quintuintuintuintuinta-fa-fa-fa-fa-feireireireireira, das 9 às 1a, das 9 às 1a, das 9 às 1a, das 9 às 1a, das 9 às 11 hor1 hor1 hor1 hor1 horas, a Assessoras, a Assessoras, a Assessoras, a Assessoras, a Assessoria Jurídica doia Jurídica doia Jurídica doia Jurídica doia Jurídica doSINTRAJUSC prSINTRAJUSC prSINTRAJUSC prSINTRAJUSC prSINTRAJUSC presesesesesttttta ata ata ata ata atendimentendimentendimentendimentendimento diro diro diro diro direeeeetttttamentamentamentamentamente na sede do Sindicate na sede do Sindicate na sede do Sindicate na sede do Sindicate na sede do Sindicatooooo

(R(R(R(R(Rua dos Ilhéus, 1ua dos Ilhéus, 1ua dos Ilhéus, 1ua dos Ilhéus, 1ua dos Ilhéus, 1111118 - Centr8 - Centr8 - Centr8 - Centr8 - Centro, Floro, Floro, Floro, Floro, Florianópolis, tianópolis, tianópolis, tianópolis, tianópolis, tel. 48-3222-4668).el. 48-3222-4668).el. 48-3222-4668).el. 48-3222-4668).el. 48-3222-4668).

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Saúde do trabalhador, uma pautaque já passou da hora

Paulo Roberto Koinski - Coordenador do SINTRAJUSC

A saúde do trabalhador do Judiciário Federal precisa dei-xar de ser apenas uma bandeira, é preciso ser pautada comoação, pois esta pauta abarca a jornada de trabalho, o assédiomoral, a lotação ideal em cada local de trabalho, as questõesergométricas, psíquicas, doenças osteomusculares, enfim,servidores menos doentes e até mais livres para serem feli-zes no e fora do ambiente de trabalho.Pautar a saúde do trabalhador não pode ser uma tática eva-

siva de fuga à crítica política na atual conjuntura, pois saúdedo trabalhador é uma pauta política de combate à exploraçãodo trabalhador, seja ele público ou privado.Precisamos ser agentes ativos no sistema de gestão de

pessoas ditado por metas, é imperativo impormos limites querespeitem nossa saúde e capacidade laboral.

1-Temos dificuldades para aceitar o adoecimento laboral,pois, para a sociedade da qual fazemos parte, trabalhamos emambientes climatizados, asseados, nosso trabalho é eletrôni-co, convivemos com pessoas bem vestidas, nas garagens be-los carros, jornada menor que oito horas e vencimentos aci-ma da maioria da população.Este estereótipo presente no nosso sub-

consciente contribui para o trabalhador do Ju-diciário aceitar a sobrecarga de trabalho, a so-brejornada, o assédio moral, o adoecimento la-boral e até a punição dos nossos movimentoscomo algo a ser suportado.2-Até o começo da década passada vivíamos

uma realidade bem diferente da atual, a cargade trabalho e a cobrança de prazos não gera-vam tanta doença laboral.Com a criação do CNJ em 2004, através da Emenda Cons-

titucional 45 (Reforma do Judiciário), o modelo de gestãode pessoas e cobrança de trabalho passou a ser feito por me-tas gestadas sem nossa participação ou nossa oposição críti-ca.Neste novo processo de cobranças os conselhos não men-

suram adequadamente o limite da força de trabalho no Judi-ciário Federal, sempre tensionando a relação laboral a nossodesfavor, aplicando velhas teorias de produção consideradasultrapassadas até pela iniciativa privada.3-O resultado deste descompasso entre estabelecimento

de metas por produtividade com carga de trabalho acima doslimites dos trabalhadores, em um ambiente em que 77,5%dos servidores exercem Funções Comissionadas com valo-res significativos, é o aumento do adoecimento por causasrelacionadas ao trabalho.A política de pessoal desenvolvida pelo CNJ, CSJT e CJF

e aplicada pelos tribunais objetiva claramente aumentar a dis-puta por funções e a produtividade estabelecida por metas.Nos últimos cinco anos foram criadas varas com menos

servidores, extintas funções, editadas resoluções que esta-belecem lotação máxima e não lotação mínima, o decrésci-mo no provimento de cargos vagos e outras medidas contex-tualizadas nesta linha de produzir mais com menos pessoal.4-As administrações locais passaram a defender o cum-

primento de metas com uma fidelidade canina, e, fascinadaspelo processo eletrônico, se afastam da realidade ao pontode aceitar e disseminar determinados conceitos que não le-vam em conta a necessidade de avaliar a carga de trabalho quenós, servidores, podemos suportar com saúde.5-As cobranças por metas são impessoais, os trabalhado-

res e os aplicadores ficam distantes dos idealizadores dasmetas. De um lado CNJ, CSJT, CJF e tribunais superioreseditam as normas e as modificam sem ouvir os representan-tes dos trabalhadores. Do outro lado tribunaisregionais, magistrados, chefias são cobrados para aplicaremmetas e cronogramas. E no fim da linha nós, servidores, quenão fomos chamados sequer para a discussão, apenas para o�cumpra-se�.Alguns magistrados, e diretores, encantados com o pro-

cesso eletrônico, aceleram cada vez mais este �barco desgo-vernado�, sem notar o número reduzido de remadores e suavisível exaustão.

6-Segundo pesquisa realizada pelo SIN-TRAJUSCna primeira etapa do projeto �Comovai você?�, hoje temos 15% dos servidoresem situação crítica de saúde, e, na ânsia desuprir a �queda� destes servidores, os demaisassumem esta carga de trabalho extra. Porém,ao assumirem este plus laboral, eles passam aser a �bola da vez� em termos de doença labo-ral e uso de medicamentos.

A pesquisa também revela que isto atinge servidores no-vos e antigos, considerando novos os servidores com menosde cinco anos de serviço.7-A luta por melhores salários e a luta política no sentido

amplo tem merecido maior atenção e não poderia ser dife-rente, pois estamos com oito anos de defasagem salarial, quese somam a outros ataques aos nossos direitos. Porém, gran-de parcela de nossos colegas está no limite do adoecimento,e hoje é comum ouvirmos: �...ganhar melhor para quê? Paracomprar mais remédios?...� ou �...desta vez não vou partici-par da greve porque tenho muito serviço a ser feito...�.Estes oito anos coincidem com a instalação do CNJ e a

disputa fratricida entre segmentos corporativos do Judiciá-rio.8-A sobrecarga de trabalho é sorrateiramente imposta via

processo eletrônico, pois já estamos trabalhando em casa,extrapolando a jornada legal.

Precisamos evoluir nesta pauta, pois estamos sendo atro-pelados por este sistema cruel de exploração.

OPINIÃO

Imagem: iStockPhoto

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Implicações psicossociais do assédio moralno serviço público

Gabriela Maria BurinPsicóloga (CRP 12/10703)

�Instruções que não pa-ram de mudar. Os anglicis-mos e os termos consensu-ais que supostamente de-vem estimular a equipe masque disfarçam realidadestão surdas e cegas que umsimples bom-dia provocaum sentimento de paranóiaaguda.[�] O salário, am-putado pelas licenças mé-dicas. As metas inalcança-véis. As lágrimas que vêmaos olhos a qualquer mo-mento e obrigam virar acabeça para se esconder,como uma criança envergo-nhada por ter medo�. (LE-DUM, 2013 p. 21).

A epígrafe acima abordaum tema central em discus-são na atualidade: o assédiomoral. Trata-se de um fenô-meno cada vez mais eviden-ciado nos ambientes labo-rais, nos quais trabalhado-res convivem em dissonân-cia e refletem o desejo desuas instituições.Segundo dados do Minis-

tério Público do Trabalho(2011), os facilitadores des-sa prática são a necessidadede aumentar a produtividade,a competição exagerada, as

metas difíceis de alcançar ea tentativa de forçar um pe-dido de remoção ou exone-ração, no caso do setor pú-blico. Para este grupo emespecífico, o assédio mo-ral apresenta característicaspeculiares, visto a vincula-ção empregatícia estabele-cida entre instituição e ser-vidor, em que há garantia desegurança no trabalho, ouseja, a estabilidade.Antes de mais nada, é im-

portante lembrar que o As-sédio é uma ação de violên-cia psicológica e moral,porém com uma conotaçãosutil, muitasvezes vela-da, implíci-ta, gradativae, em mui-tos casos,devastadora.Nesta con-juntura, po-demos falarque tanto o assédio moralquanto o sexual não ocor-rem em situações isoladas,mas dentro de um contextoorganizacional, envolvendocolegas de trabalho, chefi-as e subordinados.A ocorrência desse tipo

de situação e sua repetiçãoao longo do tempo interfe-rem na vida do trabalhadorde modo direto, compro-metendo sua identidade,dignidade, relações afetivase sociais, ocasionando gra-ves danos à saúde física eemocional, podendo evo-luir para a incapacidade la-borativa, desemprego oumesmo a morte. Constitui-se um risco invisível, po-rém concreto, nas relações

e condições de trabalho.O assédio moral causa a

perda de interesse pelo tra-balho, desestabil izandoemocionalmente o indiví-duo e provocando não ape-nas o agravamento de mo-léstias já existentes, comotambém o surgimento denovas doenças.Em nossa prática clínica

na assessoria ao SINTRA-JUSC, na campanha decombate ao assédio moralno ambiente de trabalho,percebemos que trabalha-dores, com frequência, sãoresponsabil izados pela

queda da pro-dut ividade,perda da qua-lidade dosserviços emesmo pelao co r r ê n c i ade doençasp r o f i s s i o -nais e aci-

dentes de trabalho. É a víti-ma sendo culpabilizada,sem se verificar as condi-ções reais de execução deseu trabalho. É preciso lem-brar que as atitudes do as-sediador reforçam o medoindividual e aumentam asubmissão coletiva, cau-sando ainda a rotatividadede trabalhadores e o au-mento de ações judiciaisreivindicando direitos tra-balhistas e indenizações emrazão do assédio sofrido.As consequências são

reconhecidas em diversosâmbitos e comprometem asaúde da vítima, por gera-rem perturbações psíqui-cas, sociais, profissionais,familiares e afetivas na vida

do trabalhador (BARRETO,2008).Os danos experienciados

pelas vítimas de assédio vãodesde os desgastes físicosaos psicológicos, e podemser verificados por meio desintomas tais como manis-festações psicossomáticas,psicopatológicas e com-portamentais. Além disso,há os danos à própria orga-nização, como a queda deprodutividade, alteração naqualidade do serviço, cus-tos com aposentadoriasprematuras, aumento degastos com licenças médi-cas e internações hospita-lares e perda de trabalhado-res produtivos. Como pre-juízos para a sociedade po-demos elencar os altos ín-dices de suicídio, as sepa-rações conjugais, os pro-blemas familiares, bemcomo o afastamento e per-da das relações interpesso-ais externas à organização.

Referências:BARRETO, M. M. S.As-

sédio moral: risco não vi-sível no ambiente de traba-lho. Escola Nacional deSaúde Pública Sergio Arou-ca. Coordenação de Comu-nicação Insti tucional(CCI). 2008, Rio de Janei-ro.LEDUM, Marin. No li-

mite. São Paulo: Tordesi-lhas, 2013.MPT . Ministério Públi-

co do Trabalho. 2011.h t t p : / /

www.portaldoservidor.ba.gov.br/sites/default/files/assedio-moralMPT-BA_0.pdf

ARTIGO

O assédio moral causa a per-da de interesse pelo traba-lho, desestabilizando emoci-onalmenteo indivíduoepro-vocando não apenas o agra-vamentodemoléstias já exis-tentes, como também o sur-gimento de novas doenças.

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Quando omodelo de gestão se sobrepõeàs necessidades humanas

Vera Regina RoeslerPsicóloga (CRP 12/02150)

Em nossa prática profissi-onal, trabalhamos com histó-rias de vidas. Vidas de pesso-as como você, que tem seucotidiano permeado pelo tra-balho e pelas relações deledecorrentes. Um de nossosobjetivos é mediar a compre-ensão entre a história indivi-dual � singular �, as escolhasaparentemente livres realiza-das por cada indivíduo e as in-fluências do campo social,cultural, econômico e políti-co no qual se inscreve.

É sobre esse contexto quetecemos a seguir alguns co-mentários.

Muitas vezes você senteque suas atividades laborais, damaneira como vêm sendoexecutadas, não estão lhe tra-zendo satisfação e a tranquili-dade esperadas. Por que istoocorre, se este emprego foitão desejado? O concurso foidifícil, com muitos candida-tos concorrendo às poucasvagas. Você deveria, em tese,estar realizado, mas em mui-tos momentos não é o queacontece. Uma sensação demal-estar, angústia, vazio.Nãoera bem isso que você imagi-nava ao ingressar no PoderJudiciário. Às vezes você sen-te desejo de deixar este traba-

lho e procurar outro, que orealize efetivamente ou, pelomenos, no qual você possa sesentir melhor...Aí pensa na re-muneração, nos benefícios, nocargo que ocupa, nas relaçõese vínculos que constituiu edecide perma-necer. Porquanto tempo?Resposta com-plicada.Talvezvocê já tenhaelaborado um�Plano B� eestá aguardan-do o momentode colocá-loem prática.Talvez vocêsinta medo de deixar a segu-rança de um emprego públicoe fique até adquirir o direito àaposentadoria.Talvez você de-cida, em função de suas con-dições materiais, se resignare �ir levando�. Talvez vocêadoeça e precise tirar uma li-cença para tratar de sua saúde.Talvez você resolva não co-mentar sobre seu estado desaúde e trabalhar como senada estivesse acontecendo,pois se você se afastar por umperíodo considerável sua re-muneração sofrerá redução. Evocê precisa desse dinheiro,afinal já está habituado a vivercom ele ou já o comprome-teu...Mas, analisando suas roti-

nas no trabalho, o que efetiva-mente causa esse mal-estar?Os resultados da pesquisa

doSINTRAJUSCapresentadaem 2011/2012 relativa aoprojeto �Como vai você?�apontaram que, na percepçãodos servidores do Poder Ju-diciário Federal em SC, ascondições de trabalho deteri-oram-se ao longo dos últimosanos. Os motivos descritos

pelos participantes da pesqui-sa foram: implantação do pro-cesso eletrônico, incrementono volume de atividades e re-dução do número de servido-res, tempo insuficiente paraexecução de todas as tarefas

com a quali-dade neces-sária, estabe-lecimento demetas irreaise pressãopara seu cum-p r im e n t o ,políticas in-justas de pro-moção e fal-ta de qualifi-cação de ges-

tores no gerenciamento depessoas. Dentre todos essesitens, o último foi o mais re-corrente: chefias desprepara-das.Mas seria esse o principal

problema, como apontaram ostrabalhadores? A resposta nãoé simples. Trata-se de umaquestão complexa, que mere-ce um olhar aprofundado.O primeiro aspecto a ser

levado em consideração é,efetivamente, as condiçõesdos ocupantes de cargos degestão. Sabe-se que algumaspessoas sem qualificação téc-nica e despreparadas para odesempenho da função são al-çadas à condição de chefes,principalmente pela ausência(ou desconsideração) de cri-térios objetivos e técnicospara a indicação dos ocupan-tes dessas funções; em algunscasos, as indicações são de-correntes de interferênciaspolíticas ou de outras ordens.Alguns detentores de funçõesde chefia, em consequênciadas necessidades geradas pelotrabalho, buscamqualificação;outros, aos poucos, aliando

conhecimento e experiência,tornam-se excelentes gesto-res. Há, no entanto, os que nãose adaptam à essa atividade eusam o poder proveniente desua posição de maneira inade-quada, provocando dificulda-des em sua equipe que, via deregra, adoece. A psiquiatrafrancesa Marie-France Hiri-goyen confirma que um �tipode comportamento despóticode certos administradoresdespreparados que submetemos empregados a uma pressãoterrível ou os tratam com vio-lência, injuriando-os e insul-tando com total falta de res-peito� (2005, p. 28), causasérios danos psicofísicos aostrabalhadores, com repercus-são direta na qualidade do ser-viço prestado à população.Mas a resposta ainda não é

satisfatória para explicar omal-estar vivido pelos servido-res. Afinal, nem todos estãosob a gestão de chefias desqua-lificadas para tal atividade. Fal-tam elementos para compreen-der este quadro, embora pudés-semos pensar que a situaçãovivida atualmente não é novi-dade. Voltando aos resultadosda pesquisa mencionada ante-riormente, vemos que as difi-culdades no campo laboralagravaram-se nos últimosanos. Qual seriam os fatoresque interferiram?Precisamos ampliar nosso

contexto de análise e lançar-mos o olhar para o modelo daNova Administração Públicaou New Public Management,que, apoiado nos pilares daflexibilidade, �importou ferra-mentas de gestão provenien-tes do setor privado, bemcomo a aplicação da lógica demercado dentro do setor pú-blico, focalizando o aumentoda eficiência econômica do

ARTIGO

Embora a dimensão psicoló-gica do fenômenoesteja pre-sente, somente podemoscompreenderomal-estar ex-presso pelos servidores seconsiderarmos a articulaçãoentre as características dainstituição, omodelo de ges-tão adotado e os novos con-tornos laborais.

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Rotina de umsistemamal-acabado

Estado� (Matias-Pereira,2008, p. 75). Esse movimen-to, iniciado nos anos 1980 e,no caso do Estado Brasileiro,em 1995, caracterizou-se so-bretudo pela introdução dacultura gerencial nas institui-ções públicas.No Poder Judiciário Fede-

ral podemos ver iniciativas desua implementação em 2006pelo Conselho Nacional deJustiça � CNJ - (criado em2004 e instalado em 2005) e,mais precisamente, a partir de2009, com o estabelecimentodas primeiras dez metas de ni-velamento do Judiciário brasi-leiro, objetivando maior agili-dade e eficiência à tramitaçãodos processos, melhorar a qua-lidade do serviço jurisdicionalprestado e ampliar o acesso docidadão brasileiro à justiça.Nãoquestionamosos objetivosdoCNJ e sim omodelo de ges-tão adotado, que traz comoconsequência a alteração pro-funda na relação do indivíduocom seu trabalho.Sob esse paradigma instau-

ra-seuma�culturadaurgência�(Aubert, 2004) que impõe aosprofissionais um ritmo acele-rado e demanda respostas ime-diatas. A lógica sócio-organi-zacional é dominada pelo ex-cesso de exigências de produ-tividade e de elevado desem-penho: o trabalhador deve bus-car constantemente o ideal, aexcelência (Aubert e Gaulejac,1991), ou, em outros termos,corresponder a um ideal intan-gível, pois sãodesconsideradasas condições reais para reali-zação de seu trabalho, geral-mente aquémdas necessidadese resultados exigidos.Forma-se uma situação pa-

radoxal, na qual o trabalhador,colocado sob pressão e tendointeriorizado o ideal exigidopela instituição, sente-se in-competente, frustrado e cul-pado por não atingir os resul-tados propostos pela chefia. Éuma nova forma de violênciavivida pelos trabalhadores,bem mais sutil, exigindo es-

Confira entrevista com umservidor da Justiça doTrabalho em Florianópolis queexpressa muitos elementos daatual realidade de trabalhocom o PJe nas Varas onde osistema foi implantado.

Quais são os principaisQuais são os principaisQuais são os principaisQuais são os principaisQuais são os principaisproblemas dos servidoresproblemas dos servidoresproblemas dos servidoresproblemas dos servidoresproblemas dos servidoresque atuam nas Vque atuam nas Vque atuam nas Vque atuam nas Vque atuam nas Varas doaras doaras doaras doaras doTTTTTrabalho, em sua arabalho, em sua arabalho, em sua arabalho, em sua arabalho, em sua avvvvval-al-al-al-al-iação?iação?iação?iação?iação?Na minha opinião, os prin-

cipais problemas que estamosenfrentando são o excesso detrabalho, o número reduzidode servidores e o sistema pro-cessual ineficiente (PJE).Sobre a lotação, naSobre a lotação, naSobre a lotação, naSobre a lotação, naSobre a lotação, na

prática, de que modo oprática, de que modo oprática, de que modo oprática, de que modo oprática, de que modo oenxugamento do quadroenxugamento do quadroenxugamento do quadroenxugamento do quadroenxugamento do quadroestá comprometendo o tra-está comprometendo o tra-está comprometendo o tra-está comprometendo o tra-está comprometendo o tra-ba lho?ba lho?ba lho?ba lho?ba lho?A falta de servidores acar-

reta sobrecarga de trabalho,sendo muito comum a realiza-ção de horas extras. Conheçoservidores que chegam a tra-balhar de 10 a 12 horas pordia para tentar manter as coi-sas mais ou menos em ordem.Estamos encontrando dificul-dades até para tirar férias,pois quando estão todos tra-balhando já não é fácil darconta do volume de trabalho,e quando um sai de férias ascoisas pioram. Isso sem falarnos afastamentos para trata-mento de saúde. Além disso,o ritmo de trabalho tem sidomuito acelerado, estressante.É impossível dar conta do vol-ume de trabalho na atual con-juntura das Varas. É lamentáv-el que a �Justiça do Trabalho�esteja caminhando nestadireção.E as metas, exigênciasE as metas, exigênciasE as metas, exigênciasE as metas, exigênciasE as metas, exigências

absurdas, é possível cum-absurdas, é possível cum-absurdas, é possível cum-absurdas, é possível cum-absurdas, é possível cum-pri-las com as atuaispri-las com as atuaispri-las com as atuaispri-las com as atuaispri-las com as atuaiscondições de trabalho?condições de trabalho?condições de trabalho?condições de trabalho?condições de trabalho?Muito difícil, praticamente

impossível. O escasso núme-ro de servidores, um sistemaprocessual (PJE) de informáti-ca que não funciona direito eo excesso de trabalho tornampraticamente impossível ocumprimento das metas (quesó aumentam, diga-se de pas-sagem).O PO PO PO PO PJe-JT em sua maisJe-JT em sua maisJe-JT em sua maisJe-JT em sua maisJe-JT em sua mais

recente versão de fatorecente versão de fatorecente versão de fatorecente versão de fatorecente versão de fatomelhorou em relação àsmelhorou em relação àsmelhorou em relação àsmelhorou em relação àsmelhorou em relação àsversões anteriores?versões anteriores?versões anteriores?versões anteriores?versões anteriores?Muito pouco. Houve uma

ou outra melhoria (aqui eacolá). De modo geral, a novaversão deixou muito a dese-jar. Nós, usuários, tínhamosesperança de que com a novaversão o sistema ficasse mel-hor, mas não foi o que acon-teceu. O pior de tudo é quealém de não terem realizadasmuitas das melhorias prometi-das, em alguns casos houveas chamadas �piorias�. Ouseja, algumas (poucas) coisasque funcionavam razoavel-mente chegaram a piorar. Osproblemas são os mais varia-dos possíveis: petições quenão aparecem no agrupador,contagem de prazos equivoca-das por parte do sistema, len-tidão, excessivo número decliques no mouse, etc. Ade-mais, o PJE não é nada intu-itivo. Pelo contrário, é umsistema que induz o usuárioao erro. É um sistema poucoconfiável.Há comprometimentoHá comprometimentoHá comprometimentoHá comprometimentoHá comprometimento

da saúde em função dosda saúde em função dosda saúde em função dosda saúde em função dosda saúde em função dosproblemas apontados?problemas apontados?problemas apontados?problemas apontados?problemas apontados?Qua is?Qua is?Qua is?Qua is?Qua is?Sem dúvida. A sobrecarga

de trabalho e o PJE tem aumen-tado cada vez mais o estressedos servidores, isso sem falarna questão visual. No meucaso, por exemplo, saio todosos dias do trabalho exausto,com dor de cabeça e ardêncianos olhos. Isso é corriqueiro,ocorre praticamente todos osdias. E este não é um �privilé-gio� meu, pois ouço várioscolegas fazendo as mesmasreclamações.

tratégias diferenciadas paraseu enfrentamento: algunsbuscam alívio para seu mal-estar consumindo substânciasdestinadas a sustentar um rit-mo de desempenho no traba-lho ou a aliviar os níveis detensão e ansiedade fora doambiente laboral; outros apre-sentam distúrbios alimentares(obesidade, anorexia, buli-mia), cansaço físico e esgo-tamento psíquico (como bur-nout) resultantes do hiperfun-cionamento e da hiperativida-de (Dujarier, 2006).Tais efeitos são vistos

como patologias sociais daatualidade. Outro sintoma re-velador desse tipo de conflitoé o aumento do número desuicídios no ambiente de tra-balho.Assim, embora a dimensão

psicológica do fenômeno es-teja presente, somente pode-mos compreender o mal-es-tar expresso pelos servidoresse considerarmos a articula-ção entre as características dainstituição, o modelo de ges-tão adotado e os novos con-tornos laborais. A respostajamais será encontrada na sin-gularidade dos trabalhadoresque fazem parte do quadro depessoal do Poder JudiciárioFederal brasileiro.

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