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S U M Á R I O Capítulo I. 1. Introdução ao Estudo da medicina Legal; 2. Palavra do autor. Capítulo II. 1. Conceito de Medicina Legal. Sinonímia; 2. Importância da Medicina legal; 3. Divisão da Medicina Legal; 4. Relações da Medicina Legal como Direito; 5. Classificação da Medicina Forense; Capítulo III. 1. Perícias e Peritos: 2. Perito Criminal; 3. Perícia Criminal, Perinecroscopia, 4. Vestígio, Indício e Prova; 5. Perito Legista ou Médico Legista – Especializações: 6. Peritos oficiais e Peritos Louvados; 7. Aspectos processuais relevantes do ato pericial; 8. Valor das provas periciais; Capítulo IV 1. Documentos Médico-Legais – Conceito; 1

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S U M Á R I O

Capítulo I.

1. Introdução ao Estudo da medicina Legal;2. Palavra do autor.

Capítulo II.

1. Conceito de Medicina Legal. Sinonímia;2. Importância da Medicina legal;3. Divisão da Medicina Legal;4. Relações da Medicina Legal como Direito;5. Classificação da Medicina Forense;

Capítulo III.

1. Perícias e Peritos:2. Perito Criminal;3. Perícia Criminal, Perinecroscopia, 4. Vestígio, Indício e Prova;5. Perito Legista ou Médico Legista – Especializações:6. Peritos oficiais e Peritos Louvados;7. Aspectos processuais relevantes do ato pericial;8. Valor das provas periciais;

Capítulo IV

1. Documentos Médico-Legais – Conceito;2. Atestado ou Certificado Médico-Legal, finalidade;3. Relatório Médico-Legal: partes formais;4. Distinção entre Laudo e Auto;5. Consulta, Parecer e Depoimento Oral;

Capítulo V.

1. Perícia Médico-Legal;2. Corpo de Delito;

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3. Exame do Corpo de Delito;4. Perícia Contraditória: Solução Processual, Art. 180 e 182, do

CPP.;

Capítulo VI.

1. Antropologia Forense;2. Identidade;3. Identidade Médico-Legal;4. Identificação, Métodos para identificação;5. Método Vucetich de Identificação pelo estudo das papilas; 6. Reconhecimento;7. Anomalias mais comuns;

Capítulo VII.

1. Traumatologia Forense;2. Trauma e Lesão;3. Ação, energias, Instrumentos e Lesões;4. A Lesão quanto ao tempo de duração;5. A lesão quanto ao modo de atuação;6. Estados Físicos;7. Características específicas das lesões quanto ao instrumento

vulnerante;

Capítulo VIII.

1. Lesão Corporal: leves, graves e gravíssimas;2. Concausas da lesão;3. As Lesões quanto aos vestígios materiais deixados;4. Rubefação;5. Escoriação;6. Hematoma;7. Espectro Equimótico e Legran du Saulle;8. Aspectos importantes da variação cronológica das equimoses;9. Outros tipos de Equimoses, características;10. Bossa;11. Luxação;12. Rotura Visceral;13. Esmagamento;

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Capítulo IX.

1. Lesões produzidas por Ação Cortante: instrumentos, Tipologia e Características;

2. Lesões provocadas por Ação Perfurante: instrumentos e características;

3. Lesões causadas por Ação Perfuro-Cortantes: Instrumentos, Características;

4. Lesões causadas por Ação Perfuro-Contudente: Instrumentos e Características.

5. Lesões causadas por Ação Contundente:Instrumentos e Características;

6. Lesões causadas por Ação Corto-contundente: Instrumentos e características.

Capítulo X.

1. Lesões provocadas por projétil de arma de fogo;2. Espécies de projeteis;3. Orifícios de Entrada e de Saída: características;4. Orlas de contusão, de Enxugo, Zona de Tatuagem, de

Esfumaçamento e Aréola Equimótica; 5. Tiro com cano encostado, a curta e longa distância;6. Cone de dispersão, Rosa de Tiro, Sinal de Bonet;7. Cavitação, observação importante para os médicos;

Capítulo XI.

1. Lesões provocadas por Ação Energia Elétrica Industrial (Eletroplessão), Características;

2. Importância da temperatura para o estudo das lesões;3. Classificação das Queimaduras quanto a gravidade da lesão.4. Lesões provocadas por energia Cósmica ou natural

(Fulguração): Características;5. Lesões provocadas por Radioatividade.

Capítulo XII.

1. Asfixiologia Forense;2. Asfixia – conceito;

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3. Sinais comuns apresentados nas mortes por Asfixia;4. Asfixia por Constrição do pescoço: Enforcamento,

Estrangulamento, Esganadura;5. Asfixias sem a constrião do Pescoço: Sufocação Direta,

Sufocação Indireta;6. Asfixia por Modificação do ambiente: Afogamento,

Soterramento e Confinamento;7. Características do Afogamento, Fases do Afogamento e

Afogamento Interno.

Capítulo XIII.

1. Tanatologia Forense – Conceito;2. Diagnóstico da Morte;3. Causa Jurídica da Morte;4. Morte natural e Morte Violenta, Dispensa de Exame de

Necropsia;5. Sinais da Morte6. Tipos de Morte;7. Morte Encefálica;8. Tipos de Morte;9. Tanatognose;10. Cronotanatognose;11. Comoriência e Premorência;12. Sinais Aparentes ou duvidosos da Morte;13. Sinais Prováveis da Morte;14. Sinais de Certeza da Morte;15. Documento comprobatório da Morte;16. Fenômenos Cadavéricos Mediatos e Imediatos da Morte;17. Fenômenos Consecutivos Mediatos da Morte;18. Fenômenos Transformativos Destrutivos do Cadáver;19. Fenômenos Transformativos conservadores do Cadáver;20. Fases da Putrefação;21. Inumação, Exumação e Cremação.

Capítulo XIX.

1. Sexologia Forense – Conceito;2. Mulher Virgem – conceito;3. Conjução Carnal – Conceito;4. Comprovação da Conjução Carnal;5. Himeneologia, Espécies de Himem;

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6. Características da Conjunção Carnal; Ruptura do Himem e Entalhe, diferenças;

7. Conjunção carnal, Atentado Violento ao Pudor e outros Atos Libidinosos;

8. Diagnóstico da Conjunção Carnal, Sinais de Recenticidade;9. Práticas Sexuais Anômalas: Onanismo, Pedofilia, Frigidez,

Erotismo, Auto-erotismo, Impotência, Narcisismo, Fetichismo, Mixoscopia, Exibicionismo, Pluralismo, Gerontofilia Riparofilia, Coprofilia, Coprolalia, Edipismo, Bestialismo, Necrofilia, Sadismo, Masoquismo, Homossexualismo, Intersexualismo, Transexualismo, Travestismo.

Capítulo XX.

1. Toxicologia Forense – conceito;2. Envenenamento: Características, Sintomas;3. Tipos de Veneno;4. Formas de Envenenamento;5. Manobras para eliminação da Substância;6. Intoxicação por Drogas; substâncias Entorpecentes, Álcool;7. Tolerância orgânica.

Capítulo XXI.

1. Psicologia forense – conceito;2. Limites e Modificadores da Imputabilidade Penal; 3. Exame de Insanidade Mental, Requisição pela Autoridade

Policial4. Psiquiatria Forense – Conceito, Contribuição ao Direito;5. Psicopatias;6. Imputabilidade Penal e Capacidade Civil.7. Classificação das Doenças Mentais e suas Causas;8. Oligofrenias, Características.

Capítulo XXII.

1. Sexualidade de Interesse Penal;2. Atos Libidinosos;3. Condutas Criminosas: Estupro, Atentado Violento ao Pudor,

Sedução; Posse Sexual mediante Fraude, Ultraje Público ao Pudor;

4. Gravidez: Diagnóstico, Duração; Interrupção Legal;5

5. Aborto: Hipóteses de Interesse Penal;6. Infanticídio – conceito;7. Puerpério e Estado Puerperal;8. Perícia de Aborto: Aspectos a serem observados pelos peritos;9. Prova da vida Extra-Uterina:Diagnóstico.

Capítulo XXIII.

1. A Medicina Legal no Inquérito Policial;2. Especificidades da Lei nº 9.099/95;3. Exames Preliminares, Art. 6º, do CPP;4. Exames Complementares; 5. Exame Grafotécnico: cuidados especiais na colheita do

material;

Capítulo XXIV.

1. Criminalística – Conceito;2. Atividade técnica da Polícia;3. Local de Crime – definição;4. Reprodução simulada de Crime;5. Liberação do Local do Crime:competência, preservação para

exames posteriores.6. Fotografias e Croqui;

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

GOMES, Hélio. Medicina Legal, Biblioteca Universitária Freitas Bastos;BLANCO, Roberto dos Santos. Medicina Legal, Apostila;SANTOS, William Douglas Resinente dos. Medicina Legal para Delegado de Polícia, Editora Espaço Jurídico;GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito Policial, Editora ABDR;OLIVEIRA, José Ribeiro, O Fantasma das Drogas, Editora Ética;CAPEZ, Fernando, Direito Penal, vol. I, Editora Saraiva;OLIVEIRA, Eugênio Pacelli, Curso de Processo penal, Editora Del Rey;JUNIOR, João Farias, Manual de Criminologia, Editora ABDR;COSTA, Álvaro Mayrink, Exame Criminológico, Editora Forense;TOURINHO, Fernando Costa Filho, Processo Penal, editora Saraiva;FARIAS, Cristiano chaves, Direito civil, Teoria Geral, Editora Lumen Júris;ALMEIDA, Jr. A e Costa JR O, Lições de medicina Legal, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1985;Código Penal – Editora Saraiva;Código de Processo penal – Editora Saraiva;Constituição da República Federativa do Brasil, Editora Saraiva;JESUS, Damásio e, Direito Penal, 4 volumes, editora Saraiva, Rio de Janeiro; FAVERO, flamínio, Medicina Legal, Editora Livraria Martins, São Paulo, 1980;

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MEDICINA LEGAL E CRIMINALÍSTICA

JOSÉ RIBEIRO DE OLIVEIRA.

Capítulo I

1. Introdução

A Medicina legal é um ramo da Medicina que deveria integrar como disciplina obrigatoriamente em todos os cursos de graduação em Direito. Infelizmente, algumas faculdades e até universidades ainda não se deram conta da importância do tema.

Para o jurista, os conhecimentos específicos da Medicina Legal lhe proporcionam uma ampliação e enriquecimento, sob o ponto de vista científico, permitindo o entendimento de questões complexas do próprio mundo jurídico, por meio do auxilio das ciências incorporadas à Medicina Legal.

Como preleciona Hélio Gomes: “Só os conhecimentos médicos não dariam finalidade jurídica à medicina. Só com o Direito não se constituiria a medicina Legal”. E afirma: “É justamente a junção dos conhecimentos de ambas as ciências, no propósito comum de auxiliar a Justiça a resolver as lides, que se encontra, nessa convergência, um conhecimento mesclado do Direito e das ciências biológicas, chamado Medicina Legal”.

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O papel da Medicina não se restringe a auxiliar a Justiça na solução de fatos concretos, mas também contribuir, com seus conhecimentos específicos e adaptados ao Direito, para a produção de normas jurídicas mais claras e eficazes dando-lhes maior perfeição no alcance social.

A noção primeira que povoa a mente do leigo quando se fala em Medicina Legal, é que o seu estudo está restrito exclusivamente aos trabalhos de necropsia, ou seja, que somente tem utilidade a ciência em estudo, para a produção de laudos cadavéricos. Na verdade, a maior parte dos exames médico-legais é realizada em pessoa viva, em situações como: 1) no Direito Penal: lesões corporais, estupros, atentado violento ao pudor, envenenamento, intoxicação, etc;; 2) no Direito Civil: exame de paternidade, invalidez, contaminação; 3) no Direito Trabalhista: acidentes de trabalho (infortunística), doenças profissionais, atestados médicos etc. De tal forma que, quanto mais o Direito se aperfeiçoa e avançam os conhecimentos da medicina cientifica, mais se entrelaçam os seus estudos, demonstrando cada vez mais a necessidade do auxílio dos conhecimentos biológicos para o mundo forense.

No mundo das perícias em geral, podemos encontrar especificidades de atribuições que não se confundem, pela natureza desses exames e pela peculiaridade de conhecimento do profissional encarregado de sua elaboração.

Na ambiência específica da Medicina Legal é o Perito Legista ou Médico Legista o profissionais que desenvolve a sua atividade, utilizando-se dos seus conhecimentos biológicos para auxiliar a Justiça na sua tarefa de prestar a jurisdição.

Inúmeras são as incidências de interesse da Justiça que a nossa legislação recorre aos exames periciais para a sua comprovação, tais como:

a) Perícias em pessoas:a) para determinar a idade;b) para diagnosticar doença ou deficiência mental;c) para diagnosticar doenças sexualmente

transmissíveis;d) para diagnosticar a gravidez;e) para exame de simulação e dissimulação de

parto;

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f) para diagnosticar e classificar as leões corporais;g) para diagnosticar as psicopatias da

personalidade;h) para constatação da conjunção carnal e em todas

as situações dos crimes sexuais;

b) Perícias em cadáver: a) para diagnosticar a realidade da morte;b) para determinar a causa jurídica da morte;c) para examinar as lesões corporais quanto ao

tempo e verificar se praticadas intra-vitam ou post-mortem;

d) para todas as situações toxiclógicas (exames das vísceras doa cadáver);

e) para exames como exumação de cadáver, exame de alcoolemia, etc.

c) Perícias em objetos:a) em vestes;b) em instrumentos do crime;c) em qualquer vestígio como sangue, saliva,

alimentos, etc;d) em qualquer coisa que tenha relação com atos

criminosos;e) em impressões digitais e outros sinais deixados

pelo crime.

O estudo da Medicina Legal se desenvolve num leque de conhecimentos que abrange todas as especialidades científicas que possam prestar sua colaboração ao mundo jurídico para auxilia-lo na solução das lides, seja no Direito Penal, no Direito Civil ou no Direito Administrativo.

Estes profissionais, além da sua formação na área em que atuam, também adquirem conhecimentos específicos do Direito, para atuarem como Peritos Legistas ou, como em alguns lugares, como Médicos Legistas, significando a mesma coisa, por terem o documento que produzem, a denominação de Laudo Médico Legal.

Importante é ressaltar que os conhecimentos específicos do Médico Legista podem direcionar os rumos de uma investigação policial, e mais que isso, serem decisivos na decisão de um processo, não só para classificar uma conduta

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típica, como também para condenar ou absolver uma pessoa, para resolver questões no âmbito dos demais ramos do Direito, como: Direito das Sucessões, Direito de Família, Responsabilidade Penal, Capacidade e Responsabilidade, Invalidez, e outras tantas incidências.

Os registros consignados num Laudo Médico Legal, mesmo sendo apenas uma prova relativa, podem decidir uma lide e também sobre a liberdade de um acusado, desde que, coerentes com os demais elementos de provas, tanto materiais quanto subjetivos.

No Brasil, a Medicina Legal teve grande impulso através dos estudos realizados por Nina Rodrigues, Sousa Lima, Afrânio Peixoto, Hélio Gomes, dentre outros.

2. Palavra do Autor.

As investigações policiais e os processos criminais são constituídos de atos administrativos e jurídicos que tem por finalidade elucidar, concluir, formar convicção sobre uma determinada incidência que, constituindo uma lide, precisa ser dirimida. A solução desses conflitos muitas vezes reclama uma série de conhecimentos específicos, para que auxiliem nas decisões dos magistrados, tornando suas razões e fundamentos mais próximas de uma justiça desejada.

A Criminalística e a Medicina Legal são as maiores auxiliares do Direito. A primeira, tem uma vasta aplicabilidade no mundo jurídico e seu estudo diversificado em importantes áreas científicas, dela não podendo prescindir aquele que investiga e aquele que tem a função de julgar.

A segunda, pela base científica que apresenta e na qual se fundamenta, tem a sua atuação cada vez mais ampla e essencial para a segurança das decisões da justiça.

A evolução do Direito tem estreita ligação com o avanço das ciências biológicas, assim como também a celeridade da Justiça tem a enorme contribuição desses conhecimentos da Medicina Legal. Um exemplo bem simples é o exame de DNA, que em poucos dias propicia, com margem quase absoluta de precisão, determinar a responsabilidade paterna, quando por muitos séculos, decidimos por métodos arcaicos, imprecisos e demorados.

A Justiça não se faz apenas com o uso da lei. Os fatos jurídicos são constituídos de elementos objetivos e subjetivos que lhes dão formas e peculiaridades. São estes elementos o objeto de estudo dos investigadores e dos operadores do direito, que tem por finalidade esclarecer a sua dinâmica, sua complexidade e responsabilidade resultante. Esta tarefa não é fácil, mas

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uma coisa certa: é fascinante. Especialmente para o bom profissional que desenvolve o seu trabalho com zelo, dedicação e conhecimento técnico.

Esse é o nosso estímulo a você que adquiriu este livro, esperando que o conteúdo que aqui formamos com nosso estudo, possa contribuir na prática forense cotidiana e na formação de novos conceitos sobre o tema.

3. Público Alvo:

Destinamos este livro a todos estudiosos e operadores do direito, delegados, promotores, juízes, advogados, médicos legistas, peritos e especialmente os Acadêmicos de Direito, como contribuição e estímulo ao estudo de outras ciências que sempre enriquecem o conhecimento jurídico.

Procuramos nesta obra levar ao alcance do leitor, nosso público alvo, um conteúdo que seja essencial integrar ao seu conhecimento. É certo que não nos preocupamos em minudenciar situações complexas da Medicina e nem esgotar discussões geradas no âmbito da junção da ciência jurídica e biológica, pois entendemos que o jurista não precisa possuir um largo conhecimento de Medicina, mas lhe é muito útil um conhecimento elementar dessa ciência, para permitir, nas inúmeras situações forenses, um plus nas suas intervenções, uma noção mínima para argüir sobre a materialidade de alguns delitos, como por exemplo: a classificação das lesões corporais, os laudos de insanidade mental, a materialidade nos crimes sexuais, as situações incapacitantes para o trabalho, as hipóteses de dependência de substâncias químicas, a inimputabilidade relativa, na formulação de quesitos, análise de laudos periciais, dentre outras questões tormentosas do mundo forense.

Com esta base, o profissional do direito terá a sua atuação com maior amplitude e fundamentação, inclusive na produção e apreciação das provas processuais, dando-lhe mais segurança e propiciando decisões mais justas, com a enorme contribuição do conhecimento dessas vertentes técnicas e científicas na elucidação das causas jurídicas.

Capítulo II.

Conceito, Importância e Divisão da Medicina Legal

1. Conceito:

Medicina Legal é o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados a servir o Direito. (Hélio Gomes).

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É aplicação de conhecimentos médico-biológicos na elaboração e execução das leis que deles carecem (Flamínio Fávero).

É a aplicação de conhecimentos médicos e científicos aos problemas judiciais que podem ser por eles esclarecidos.

Como se vê, destacam-se, assim, na definição de Medicina Legal, as expressões “ciência”, “conhecimentos médico-biológico” e “aplicação ao Direito”. (solução dos problemas judiciais).

Sinonímia: Medicina Judiciária ou dos Tribunais, Medicina da Lei (ou criminal), Medicina Política (pública/social), Biologia Criminal (Legal/Forense), Medicina pericial, Antropologia Judiciária (Antropologia é a ciência que estuda o homem, seu comportamento e suas relações com o meio) etc.

Importância: A M.L. se ocupa de todas as questões relacionadas com as leis penais, civis, trabalhistas, que necessitem de conhecimentos da ciência médica para solução dos problemas judiciais.

Não é exagero dizer que a honra, a liberdade e até a vida dos cidadãos podem depender de importantes decisões de Medicina Legal.

A Medicina Legal é o somatório dos conhecimentos médicos e jurídicos, que se entrelaçam no afã de encontrar métodos científicos que contribuam para solucionar as demandas que atormentam especialmente a Polícia e a Justiça.

A intervenção dos peritos nas incidências de interesse penal abrange todas as fases da causa, desde os exames no local do fato, quando ainda nem existe inquérito instaurado, pois conforme o Art. 6º do Código de Processo Penal, ao tomar conhecimento de uma infração penal, a Autoridade Policial deverá comparecer ao local e, de pronto, tomar algumas providencias investigativas, dentre as quais: a) o exame pericial do local do crime; b) exames periciais de objetos encontrados no local do crime; c) exame pericial de instrumentos do crime; e) exame de corpo de delito; f) identificação de pessoas etc. É claro que no momento em que se realizam estas perícias preliminares, ainda não há inquérito policial instaurado, pois se tratam de providências imediatas que podem ser tomadas pela Autoridade Policial ainda no local do fato.

Já durante o inquérito policial, vários outros exames podem ser determinados pela autoridade que preside o feito, inclusive a realização de exames complementares.

Findo o inquérito policial, os peritos podem continuar trabalhando durante a ação penal, seja produzindo exames solicitados pelo Ministério Público ou pelo Juiz, ou mesmo emitindo pareceres elucidativos sobre questões controversas que surjam no curso da instrução criminal.

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Por ocasião do julgamento, os peritos podem ser ouvidos pessoalmente (depoimento oral) para dirimir dúvidas sobre provas por eles produzidas nos autos.

Após a sentença, pode ocorrer a suspensão da execução da pena em face de doença mental, novamente sendo necessária a intervenção do perito especializado para o exame de sanidade mental do sentenciado.

No período de execução da medida de segurança, o perito deve ser requisitado para examinar a cessação da periculosidade do internado, para efeito de liberação.

Após a execução da pena, novamente o perito deve ser chamado para examinar as condições daquele que será liberado pela Justiça, para constatação do estado de saúde.

É importante não ouvidar que durante todo o comprimento da pena podem surgir situações que venha necessitar da intervenção de um perito para servir no interesse da Justiça.

Como se vê, o Direito se completa com a imprescindível colaboração dos conhecimentos técnicos e científicos dos peritos.

“Só os conhecimentos médicos não dariam finalidade jurídica à Medicina. Só com o Direito, não se constituiria a Medicina Legal”. (H. Gomes).

Ex.: Um Psiquiatra clínico e um Psiquiatra forense, examinando um cliente alienado, têm objetivos diversos: enquanto o clínico preocupa-se com um diagnóstico da doença mental para buscar o tratamento, o Psiquiatra forense, como perito, terá que elucidar sobre o estado mental do paciente, para permitir que a lei resolva questão de natureza jurídica.

Quando um médico clínico examina um paciente ferido por projétil de arma de fogo, num pronto socorro, certamente tem por meta estancar um possível sangramento, suturar a ferida e praticar outras manobras médicas para amenizar o sofrimento da vítima e curar-lhe a enfermidade, enquanto que o médico legista, diante do mesmo caso, terá olhos para um diagnóstico da gravidade da lesão, da sua localização, dimensão e outras informações que permitirão classificar a lesão dentro do ordenamento jurídico.

“A medicina Legal auxilia nas questões judiciais sobre a honra, a liberdade a vida dos cidadãos, desde a concepção até depois de sua morte.” (H. Gomes).

3. Classificação da Medicina: - Medicina Curativa: é o ramo da ciência médica que tem por

objetivo promover o tratamento das doenças, ministrando

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substâncias destinadas à cura dos doentes ou amenizando os sofrimentos causados por patologias;

- Medicina Preventiva: é a parte da medicina que tem por finalidade cuidar de aspectos preventivos contra as doenças, desenvolver ações contra as epidemias, por meio de vacinas e outras formas;

- Medicina Legal: que é um somatório das especialidades biomédicas, para resolver questões atinentes ao mundo jurídico. É a junção dos conhecimentos da medicina e da ciência do Direito, propondo a solução de questões comuns da sociedade, conforme as regras jurídicas vigentes. É o objeto que interessa ao nosso estudo.

Relações: Na busca da solução dos problemas judiciais a Medicina Legal se auxilia de várias fontes como: da Física (fotografia, radiologia, balísticas), da Química (toxicologia, parasitologia, psicologia, psiquiatria etc).

No campo do Direito, a Medicina Legal mantém relações com inúmeras matérias como:

-Direito Penal - (lesões corporais, imputabilidade, aborto, emoção, periculosidade, crimes sexuais, infanticídio, homicídio, embriagues, paixão etc.);

-Direito Civil - questões sobre a capacidade das pessoas, casamento, consangüinidade, investigação de paternidade, erro essencial, gravidez, nascimento, morte, comoriência etc.)

-Direito Processual Penal e Civil - (produção e valoração da prova, testemunhais e materiais, interrogatório, confissão etc.)

-Direito Constitucional - (matrimônio, família, proteção à velhice, à infância etc);

-Direito Administrativo - (pensões, aposentadorias e licenças que exigem perícias médicas etc.);

-Direito do Trabalho - (acidentes de trabalho – infortunística, invalidez, etc).

4. Classificação da Medicina Forense:

- Antropologia Forense: estuda o ser humano e suas características individualizantes, a identidade e a identificação (que pode ser: legal ou judiciária). A identidade médico-legal é dada pela idade, sexo, raça, altura, peso, sinais individuais e profissionais, dentes, tatuagens, estudo da dimensão do crânio, etc, e a identidade jurídica é dada pela antropometria e a

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datiloscopia, também através de novos métodos científicos como o DNA.

- Tanatologia : estuda a cronologia da morte (o tempo da morte), os sinais desta, diagnóstico da morte real e aparente, súbita e agônica, a determinação da natureza jurídica da morte, os fenômenos cadavéricos etc.

- Sexologia Forense: estuda a problemática médico-legal relacionada com o sexo. Subdivide-se em: Himeneologia, Obstetrícia e Erotologia. Também estuda as questões decorrentes de atentado violento ao pudor, infanticídio, estupro, gravidez aborto, parto, além de situações relacionadas ao casamento.

- Obstetrícia Forense : Estuda a fecundação, gestação e parto.A gravidez (simulada, dissimulada e ignorada) o estado mental (puerpério), aborto, etc;

- Erotologia : estuda as perversões sexuais, os estados intersexuais, os crimes sexuais e a prostituição;

- Deontologia forense; refere-se ao estudo dos deveres dos médicos;

- Diceologia : refere-se ao estudo dos direitos dos médicos;- Psicologia Forense: estuda os problemas da psicologia (normal

e patológica – psicopatologia), doenças mentais, capacidade e responsabilidade etc. Também estuda as questões referentes ao valor probatório da confissão, do testemunho, da negativa de autoria e outras situações que influenciam o psiquismo das pessoas, especialmente quando envolvidas em crimes;

- Asfixiologia : estuda as mortes produzidas por gases, estrangulamentos, afogamentos, sufocação etc.;

- Traumatologia : estuda os traumas, as lesões e mortes causadas por energias mecânicas (acidentes automobilísticos, tiros); físicas (o calor, a eletricidade); químicas (substâncias tóxicas, venenos, drogas); biológicas (bactérias); e mistas, assim como os instrumentos vulnerantes dessas ações e as seqüelas decorrentes, em fim, todo trauma que possa afetar a integridade física ou psíquica da pessoa humana;

- Vitimologia: Tem por finalidade o estudo do crime, da dinâmica entre autor e vítima e as seqüelas decorrentes da ação criminosa.

- Psiquiatria Forense: estuda as questões referentes á inimputabilidade e a responsabilidade relativa;

- Toxicologia: estuda as intoxicações, envenenamentos e outros estudos laboratoriais;

- Infortunística: estuda os acidentes do trabalho e as doenças profissionais. Um ramo específico da traumatologia forense;

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- Criminalística : é o conjunto das ciências: físicas, químicas, matemáticas e mecânicas, aplicadas a fim de auxiliar a Justiça;

- Criminologia : estuda o crime e o criminoso, em seus aspectos doutrinários, físicos, psíquicos, sociais; a delinqüência e sua prevenção. Seus precursores foram: César Lombroso e Ferry;

- Jurisprudência Médico-Legal : é o estudo das decisões dos juízes e tribunais a respeito de assuntos da Medicina Legal;

- Policiologia : estuda o desenvolvimento científico utilizado nas investigações policiais, auxiliando com outros conhecimentos, a Medicina Legal Técnica.

Capítulo III. Das Perícias e Peritos:

1. Perícia:

Oriunda do latim peritia, que significa experiência, saber específico, conhecimento e habilidade sobre determinada atividade. Perícia é um ato de observação, registro, análise, discussão e conclusão de um fato ou coisa que se quer examinar de forma minudente. A perícia em estudo é uma atividade desenvolvida pelo ex perto, profissional habilitado em determinada área, para exercer a atividade de perito, e assim, auxiliar com seus conhecimentos específicos, na solução de questões de interesse da Justiça.

No mundo globalizante em que vivemos, a tecnologia é empregada em todos os sentidos da vida. Assim, as ciências evoluem, as relações sociais se desenvolvem cada vez mais com as facilidades da tecnologia; os comportamentos humanos ficam mais diversificados e inteligentes, e paralelamente, desenvolvem-se os métodos utilizados pelos criminosos; ficam mais sofisticadas as relações interpessoais e também se tornam mais complexas estas relações, especificamente na solução dos conflitos sociais, ou seja, na aplicação do Direito, na prestação da Justiça.

A Medicina Legal vem colaborar com o Direito e estreitar os seus conhecimentos para facilitar na elucidação de todos esses interesses, através dos exames periciais que realiza, nas suas mais diversas áreas e especialidades.

2. Atribuição do Perito Legista:

A tarefa do Médico Legista é tão somente proceder ao exame requisitado e, dentro da sua especificidade observar os eventuais vestígios deixados pela conduta, para, com base na observação desses vestígios,

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responder aos quesitos formulados e, por exemplo, num exame de necropsia, dizer a causa médica da morte.

Não tem o Médico Legista e não é a sua atribuição, - até porque não tem conhecimento jurídico para tanto e nem outras informações sobre o ocorrido, para dar definição jurídica ao fato, o nomem juris. Esta tarefa é da Autoridade Policial.

Assim, não deve o Médico Legista, após examinar uma vítima de violência sexual, dizer que houve estupro. Sua atribuição é observa, por exemplo, se houve conjunção carnal; se a examinada era virgem; se há recenticidade dessa conjunção; se existem outros vestígios de violência alheia à conjunção carnal, além de outros quesitos que a autoridade requisitante entender necessário perguntar.

O Médico legista não deve nem mesmo entrar em detalhes e indicar, por exemplo, numa lesão corporal, qual o instrumento que foi utilizado para a produção da lesão, pois como sabemos, um instrumento pode provocar lesões típicas da sua natureza e outras atípicas, ou seja, não é possível, na maioria dos casos, ver a lesão e definir o instrumento vulnerantes, exceto nas lesões provocadas por projétil de arma de fogo, mesmo assim, sem segurança quanto ao calibre e também o ripo de arma, informações que devem ser registradas pelo Perito Criminal, se houver condições de faze-lo.

3. Perito Criminal:

São ex-pertos que, utilizando conhecimentos específicos da criminalística, realizam exames periciais nos locais de crimes, em objetos que tenham relação com atos ilícitos ou por interesse da Justiça.

Para isso são convocados pela Autoridade Policial a comparecerem aos locais de incidências penais, com a finalidade de estudar os vestígios deixados pelo crime, ou seja, realizar o exame de corpo de delito ou o exame perinescroscópico (estudo do local do crime), devendo observar, memorizar, registrar e descrever por laudo tudo que for observado e que tenha interesse na investigação do fato. É a perpetuação de todos esses registros através de um Laudo pericial de Local de Crime, que constituirá uma prova material sobre tal ocorrência, iluminando o rumo das investigações que serão desenvolvidas pela Autoridade Policial e servindo também, conforme a realidade e congruência dos seus elementos informativos, para a instrução criminal.

Este ato constitui uma exigência formal prevista no Art. 6º, do Código de Processo Penal. 4. Local de crime:

Local de crime é o espaço físico onde se deu a ocorrência criminosa e onde se possa encontrar vestígios sobre a sua dinâmica. Pode ser classificado como imediato, mediato e relacionado. O primeiro significa o local próprio

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da ocorrência, onde se concentram vestígios importantes sobre a mecânica do evento criminoso; o segundo pode ser considerado como todo um espaço físico contínuo onde haja possibilidade de se encontrar vestígios sobre o fato. O terceiro, pode ser qualquer outro lugar onde se possa encontrar vestígios, documentos, instrumentos ou objetos que tenham ligação com o crime.

É uma modalidade relativamente comum nos grandes centros urbanos, como p. ex. no Rio de janeiro, especialmente quando envolve grupos de extermínio, pessoas serem executadas em um local e deixadas em outro local distante.

Nestes casos, o exame pericial no local de encontro do cadáver será decisivo para determinar se a morte ocorreu naquele local ou se trata de um local denominado como “desova”, tendo o homicídio ocorrido noutro local.

O local de crime é o ponto de partida para a sua elucidação. No local do crime ficam sempre informações que permitem iniciar uma investigação sobre sua ocorrência, com grandes possibilidades de esclarece-lo. É pelo local de crime que se inicia a sua investigação.

O aproveitamento dos elementos informativos sobre um crime, deixados no local de sua ocorrência, são preciosos e devem ser, primeiro que tudo, preservados por isolamento, a fim de que não se desfaçam ou não se alterem os vestígios.

No Brasil, especialmente nas cidades do interior, é comum a polícia chegar ao local de crime e encontrar curiosos, familiares e até a imprensa, vasculhando o local, documentos e mexendo onde não deve. Com isso, muitos vestígios desaparecem e tornam mais difícil esclarecer a dinâmica dos crimes, autoria e circunstâncias. É uma questão de cultural que envolve a própria polícia, muitas vezes sem o preparo ideal para a realização desse trabalho.

O Perito Criminal, por previsão do próprio Direito Processual Penal, deve ser, de preferência, um profissional com formação superior e habilitação específica para a área em que for solicitado a atuar.

O trabalho do Perito Criminal é materializar os vestígios deixados pelo crime, - investigar é seguir vestígios, elementos esses que podem representar indícios (Art. 239, do CPP), e se transformar em provas sobre o fato, suas circunstâncias e autoria.

5. Peculiaridades das Perícias em Locais de Morte violenta:

A morte violenta, seja por acidente, suicídio ou homicídio deve passar por um exame pericial rigoroso no seu local de ocorrência, para que se possa registrar a sua dinâmica, através dos vestígios encontrados, e esclarecer realmente que se dera desta ou daquela maneira. Muitas vezes foram registrados nos assentamentos policiais casos de homicídios que ficaram registrados como auto eliminação, exatamente por não se cuidar de observar com cuidado os vestígios do local dão fato.

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Um tiro no ouvido, um revolver na mão e um bilhete de despedida sobre a mesa, não significam que houve um suicídio. Para o especialista, não é difícil constatar uma montagem ou uma dissimulação de crime, bastando que se examine detalhes específicos de possibilidade para cada caso.

O perito não só deve examinar minudentemente o local de crime, como também recolher material para exames laboratoriais que complementarão o seu trabalho. Muitas vezes a conclusão da perícia de local depende de outros exames a serem produzidos por técnicos de outras áreas específicas.

6. Procedimentos comuns recomendados nos locais de morte violenta.

a) A hora exata de chegada ao local do fato, a fim de registrar a situação de certos vestígios que se alteram com o tempo, permitindo também concluir sobre o momento da ocorrência;

b) As condições atmosféricas do local e outras informações que podem ser observadas para ajudar no estudo da Tanatognose ( o tempo da morte);

c) Quando se tratar de locais fechados, verificar as vias de acesso, observando a regularidade das vias e possíveis arrombamentos ou rompimento de obstáculo;

d) Registrar as condições de visibilidade do local e de suas proximidades, vizinhança, devendo fotografar em vários ângulos o local interno e externo. Caso não seja possível a fotografia, que sejam elaborados desenhos ou croqui;

e) Vestígio de luta corporal no local, desalinho de móveis e objetos no local;

f) Manchas de sangue, que podem inclusive ser submetidas a exame para verificar se pertencem á vítima ou se é proveniente de ferimento no agressor; de fezes, esperma e outras substâncias eventualmente encontradas no local

g) Arrecadação de armas, cartuchos, instrumentos ou objetos encontrados no local e aparentemente relacionados ao fato;

h) Verificar retalhos de vestes, pelos e impressões digitais no local da incidência;

i) Arrecadar documentos, cartas encontradas no local, assim como verificar cuidadosamente papeis deixados em lixeiras;

j) Registrar marcas de calçados (pegadas), de dedos e outras marcas deixadas junto ao loca, etc.

7. Do Exame Médico Legal:

Os exames médicos a cargo do Médico Legista são solicitados pelas Autoridades Policiais e Judiciais, dependendo, no primeiro caso, da fase em que se encontre o procedimento apuratório.

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Nos lugares onde existe o Instituto Médico Legal, as requisições são dirigidas ao Diretor do órgão, que obedecendo escalas internas de trabalho, distribui ao profissional indicado para a sua realização.

8. Como se realiza o exame requisitado:

O exame requisitado, quando tiver que ser feito em pessoa viva, esta será encaminhada ao Instituto para ser submetida a exame, acompanhada do próprio de ofício ou guia de encaminhamento, que constará o rol de quesitos formulados pela autoridade requisitante, conforme for a natureza do exame, para serem respondidos pelo Médico legista, como se vê no exemplo abaixo, de um exame de corpo de delito em vítima de estupro:

9. Quesitos oficiais:

Em quase todos os Estado, brasileiro, onde existem os Institutos de Criminalística e Médico Legal, também possuem, preestabelecidos, de forma oficial, os formulários de exames médico-legais, com requisitos padronizados para a maioria dos exames a serem realizados nesses institutos. Entretanto, as autoridades requisitantes não estão presas a esses quesitos, podendo formular quantos acharem necessário para o esclarecimento do fato, e que serão respondidos, conforme for a especialização do perito.

Independente das informações consignadas nas respostas aos quesitos, as autoridades poderão solicitar consultar ou pedir pareceres a outros especialistas da medicina Legal, caso persistam dúvidas a serem dirimidas.

10. Como se realiza o exame requisitado:

O exame requisitado, quando tiver que ser feito em pessoa viva, esta será encaminhada ao Instituto para ser submetida a exame, acompanhada do próprio de ofício ou guia de encaminhamento, que constará o rol de quesitos formulados pela autoridade requisitante, conforme for a natureza do exame, para serem respondidos pelo Médico legista, como se vê no exemplo abaixo, de um exame de corpo de delito em vítima de estupro:

INSERIR MODELO de laudo

11. Peritos Oficiais e Peritos Louvados:

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Como sabemos, o ideal e o previsto pela Lei Processual Penal é que os exames sejam realizados por peritos oficiais, aqueles que, por meio de concursos públicos, foram investidos na função de peritos, assumindo, desde a sua nomeação, o compromisso de servir com lisura e lealdade à administração da Justiça. Entretanto, a mesma Lei Processual Penal, Art. 159, 1º, prevê que, não havendo peritos oficiais, o exame poderá ser feito por duas pessoas idôneas, portadoras de curso superior, especialmente escolhidas entre aquelas que tenham habilidade técnica relacionada cm a natureza do exame a ser realizado. São estes, denominados Peritos Louvados, que serão nomeadas pela autoridade para exames específicos e devem prestar compromisso legal de bem servir àquele ato.

12. Perícia Médico-Legal:

É toda diligência determinada pela autoridade policial ou judiciária, que depende de exame de natureza médica, por isso realizada por um profissional da medicina (médico, odontólogo, etc.).

13. Corpo de Delito:

É o conjunto de vestígios materiais deixados pela infração penal, no local de sua ocorrência ou noutro lugar. Conforme a Lei Processual Penal (Art. 158), quando o delito deixar vestígio, será indispensável o exame de corpo de delito, ou seja, a lei considera imprescindível o seu registro através de exame pericial. Apesar de tal exigência legal, situações existem em que, por circunstâncias diversas, a prova material se perde e não se registra a sua existência. Em casos tais, a Lei Processual determina a realização do exame de forma indireta (Art. 167), ou seja, o registro dos vestígios materiais poderá ser reproduzido por informações testemunhais.

*Delicta factis não transeuntis (fatos que deixam vestígios), representam os crimes materiais, aqueles deixam resultados a serem examinados para a produção de prova materal.

*Delicta factis permanentis (os vestígios se protraem no tempo, enquanto durar o curso do delito. Ex: o seqüestro), Nessas hipóteses, o estado flagrancial se estende enquanto a vítima estiver em poder do seqüestrador. Também, é importante lembrar que, nesses crimes, lugar do delito são todos os lugares por onde a vítima andou ou onde puder ser encontrado elemento material do crime.

*Delicta factis transeuntis (que não deixam vestígios), não deixam vestígios a serem examinados, devendo as investigações a respeito da conduta, se desenvolverem na busca de provas subjetivas, representadas por meio de testemunhas.

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* O exame de Corpo de Deleito pode ser Direto e Indireto, Arts. 158, 167 e 184 do CPP

14. Exame de Corpo de Delito:

É o exame feito pelo perito, Legista ou Criminal, dos vestígios materiais do crime, ou seja, é o registro dos vestígios deixados pelo crime, a fim de que sejam perpetuados para servir de prova e formação da convicção do julgador

15. Perinecroscopia:

É o estudo do local do crime, sua periferia e todos os vestígios que possam ser registrados para posterior análise. Também é local do crime qualquer outro onde se possa verificar vestígios de interesse para a investigação e esclarecimento do fato, suas circunstâncias e autoria.

Nota: Cotejar os Arts. 158 e 167 do CPP com os Arts. 60, 61 e 77 da Lei 9.099/95, que modificou o tratamento quanto aos exames, com relação aos crimes do Juizado Especial Criminal.

16. Vestígio Indício e Prova:

Vestígios são sinais indicativos de alguma coisa que ocorreu e deixou rastro, marcas, sinais da sua ocorrência. Estes vestígios deixados podem indicar, apontar elementos informativos sobre o fato e, inclusive, como ele ocorreu. Por indicarem essas circunstâncias, tais sinais podem ser considerados indícios, que por sua vez pode, servir como meio de prova. Quem investiga segue vestígios sobre o fato investigado. A reunião de vestígios colhidos no ato investigatório é que vai servir como prova da sua ocorrência, das suas circunstâncias e autoria. Conforme prescreve o Art. 239, do código de processo Penal, indícios são considerados como provas circunstanciais ou elementos informativos através dos quais poderemos criar suposições sobre o fato. É importante ressaltar que a presença de indícios sobre um determinado fato poderá permitir como fundamento para a tomada de várias medidas legais, dentre elas a prisão preventiva (Art. 312, do CPP, a pronúncia (Art. 408) e até mesmo, em casos específicos, permitir o seqüestro de bens (Art. 126). A importância de indícios investigatórios é de tal relevância no âmbito processual que serve, inclusive, como elemento suficiente e fundamentador para a instauração do Inquérito Policial.

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A colheita de vários indícios pode consubstancia o convencimento do julgador e propiciar a condenação, desde que estejam em coerência com outros elementos de prova. A prova tem por finalidade formar a convicção do magistrado sobre os elementos necessários para a decisão da causa.

17. Perícia Contraditória:

A formação da convicção do julgador deve ter por fundamento a opinião abalizada do perito, quando dele depender a produção de provas materiais obre um determinado fato. Entretanto, essa opinião pode ser divergente entre os peritos, de maneira a permitir, por interpretações diversas, conclusões contrapostas. Em incidências dessa natureza, prescreve a Lei Processual Penal (Arts. 180), que os peritos consignarão suas conclusões separadamente ou as registarão no próprio documento pericial, e a autoridade requisitante cuidará de indicar um terceiro perito para apreciar tal materialidade, podendo esta aderir a qualquer das posições já registradas ou ter uma nova conclusão.

Persistindo dúvidas ainda sobre a questão, poderá a autoridade requisitar o parecer de um outro profissional e, por fim, decidir, se for o caso, com base no seu próprio convencimento ante todas as posições apresentadas. É esse o norteamento processual previsto no Art. 182 do mesmo diploma legal, para a solução da causa.

18. Valor das Provas Periciais:

Prova é um dado, um elemento, representado com a finalidade de constatar alguma coisa. No Direito, as provas constituem um conjunto de atos, informações ou documentos que podem ser apresentados pelas partes num processo, para mostrar que determinado fato ocorreu dessa ou daquela maneira. As provas podem ser produzidas pelas partes, pelo juiz, por terceiro interessado e legitimado, com a finalidade de formar a convicção do magistrado sobre a existência, circunstância ou autoria de um fato que se quer provar ou negar.

No Direito vigora o princípio da relatividade das provas, ou seja, as provas possuem valor relativo, tanto quanto tiverem coerência com os fatos e servirem para a convicção do julgador.

Não havendo hierarquia entre as provas, tanto a prova material (pericial) quanto a prova subjetiva (testemunhal), podem servir para a decisão da lide com a mesma avaliação, para o magistrado formar a sua convicção dos fatos, concedendo ou negando o direito, absolvendo ou condenando o acusado. Nesse âmbito, tem-se o princípio da persuasão racional, em que o juiz faz a valoração da prova conforme o seu livre convencimento.

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Nota: Nas incidências penais, o Código de Processual Penal, no seu Título VII, Capítulo II, Arts. 158 usque 184, estabelece todo o disciplinamento relacionado às Perícias e aos Peritos.

Capítulo IV: Exame Médico-Legal Feito em Pessoa Viva:

Lesão Corporal, Art. 129 CP (ofensa á integridade corporal ou saúde), mal físico, fisiológico ou psíquico, inclusive por omissão.

Nota: “A dor, sem qualquer outra lesão, não constitui crime de lesão corporal, podendo ser a contravenção de vias de fato, art. 21 da LCP. O corte de cabelo, barba, sem o consentimento, poderá apenas caracterizar constrangimento, injúria real ou vias de fato, mas não lesão corpora”. Admite-se a tentativa de lesão leve, grave ou gravíssima.

1. Art. 129, § 1º, I - (incapacidade para o trabalho por mais de 30 dias):

Conforme o Art. 168, e P. Único do CPP., o exame complementar deverá ser realizado no dia seguinte ao 30º dia do fato (a prova testemunhal pode suprir a ausência do Laudo complementar ou a ausência deste) .

Nota: A meretriz pode ser vítima dessa conduta, pois sua atividade não é ilícita, embora seja vista como imoral.

2. Art. 129, § 1º, II - (Perigo de Vida):

É aquela lesão que necessita de uma intervenção médica sem a qual o êxito é letal. Ex: traumatismo craniano e comoção cerebral, seccionamento da veia jugular, perfuração do estômago, fratura do crânio, hemorragia com estado de coma etc. É preciso que o médico ou o perito registre o sintoma da gravidade da lesão, ressaltando que tal quadro poderia levar à morte. Não se confunde com risco de vida.

3. Art. 129, § 1º, III - (Debilidade permanente de membro, sentido ou função):

-Membros: pernas, braços. -Sentidos: visão, audição, olfato, gosto, tato.

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-Função: é a atividades desenvolvida pelos órgãos (circulação, digestão, respiração, função reprodutora etc). Ex.: inutilização de um dedo da mão: é debilidade.

4. Art. 129, § 1º, IV, Aceleração do Parto:

Aceleração do parto é uma modalidade de lesão corporal que para caracterizar-se necessita que o agressor conheça da situação gravídica da vítima. Na hipótese, ocorrerá apenas a antecipação do nascimento do produto da concepção. É necessário que nasça com vida, do contrário, será o crime do 2º, V, lesão corporal gravíssima, qualificada pelo aborto. Não pode o agressor pretender o aborto, mas tão somente causar lesão na vítima, conhecendo da sua situação de gestante. Caso não tenha conhecimento da gravidez, responderá apenas pela lesão corporal leve.

Nota: Na hipótese de Lesão Corpora na modalidade de Aceleração do Parto, entende a doutrina que, mesmo o nascituro morrendo logo após, em decorrência da imaturidade fetal, o agente responderá apenas pelo mesmo delito do Art. 129, 1º, IV.

5. Art. 129, § 2º, I - (Incapacidade Permanente para o trabalho):

A lei, na hipótese, usa a expressão “trabalho”, para informar que, para caracterização desta lesão, é necessário que a vítima fique impossibilitada de exercer qualquer atividade lucrativa. O caráter de permanente não significa que a lesão deva ser perpétua, mas que gere situações que incapacite por muito tempo, seja por decorrência de incapacidade física ou psíquica.

6. Art. 129, § 2º, II (Enfermidade Incurável):

É um tipo de lesão que afeta com caráter de permanência, a integridade física ou psíquica da vítima. Não é preciso que seja demonstrada a incurabilidade da doença, mas que ela tenha aspecto de irreversibilidade pela ciência médica, pelo menos ao seu tempo.

Nota: A doutrina entende que no caso de transmissão dolosa de doença incurável como a AIDS, a conduta típica será a de homicídio tentado, vez que presente o animus necandi (intenção de matar). já que a doença é considerada incurável.

7. Art. 129, § 2º, III (Perda ou Inutilização de membro, sentido ou função):

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A lesão corporal caracterizadora do tipo em comento exige uma situação de maior gravidade, ora por Perda do membro, sentido ou função, que significa eliminação, extirpação ou mutilação de uma parte do corpo pela ação agressiva. Ex.: perda da mão por golpe de facão; ou Inutilização do membro sentido ou função, situação em que não há a separação da parte do corpo, entretanto, mesmo permanecendo junto ao corpo, resulta inutilizado pela ação, ou seja, perde a sua aptidão funcional.

Nota: Na hipótese de a lesão sobrecair em órgão duplo, estando o outro em funcionamento, haverá debilidade. Quando ocorrer a supressão de ambos, ou quando a lesão sobrecair naquele único que restava, ocorrerá a perda total do membro, sentido ou função.

8. Art. 129, § 2º, IV (Deformidade Permanente):

A debilidade permanente é a lesão que atinge aspectos de natureza estética, em caráter permanente, alterando significativamente a expressão pessoal objetiva da vítima, ou seja, a lesão que pode provocar repulsa aos olhos dos outros e gerar constrangimento, vexame á vítima. Deve ser um dano que represente certa monta anatômica e estética, como p. ex. retirar uma orelha, um grande golpe de navalha no rosto, tornando irreparável tal lesão. É importante ressaltar que a vítima não é obrigada submeter-se a processo cirúrgico para reparação da lesão e nem mesmo substituir o defeito por peças artificiais. Tal recorrência poderá amenizar as conseqüências, sem entretanto desfigurar o tipo de lesão.

Nota: A perda de um órgão duplo, é considerada debilidade (de membro, sentido ou função, conforme for o caso).

9. At. 129, § 2º, V - (Aborto):

O aborto de que trata o dispositivo em comento, é aquele que corre como qualificadora da lesão corporal, ou seja, é uma conduta preterdolosa, em que o agressor precisa ter conhecimento do estado gravídico da vítima, atuar com dolo para lesioná-la mas sem querer que ocorra o aborto. Na hipótese, o aborto se dá como resultado qualificador da lesão corporal. Caso o agente pretenda provocar o aborto com a ação agressiva, responderá pelo crime de aborto do Art. 125, que poderá ser qualificado se houver lesão corporal grave ou morte.

10. Art. 129, § 3º Lesão Corporal Seguida de Morte:27

É um crime preterdoloso, exemplificado na doutrina como sendo aquele em que apresenta dolo no antecedente e culpa no conseqüente, ou seja, o agente deseja um resultado menos grave mais acaba dando causa a um resultado mais grave não desejado, o que responde a título de culpa. Ex. o sujeito aplica um soco no seu desafeto, querendo lesioná-lo. Por infelicidade, a vítima cai e bate com a cabeça sobre uma pedra, resultando-lhe a morte.

11. Art. 130. Perigo de Contágio Venéreo:

É a conduta de expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer outro ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado. A conduta é de exposição a perigo concreto e o acusado deve ser submetido exame de corpo de delito para constatar a contaminação.

A doutrina entende que a Aids não é uma doença venérea, e embora possa ser transmitida por relação sexual, pode também ser transmitida por qualquer outro ato libidinoso, inclusive o beijo. O transmissor poderá responder por tentativa de homicídio, lesão corporal grave ou perigo de contágio de moléstia grave.

12. Art. 131. Transmissão de Contágio Venéreo:

A conduta pode se efetivar de qualquer forma, desde que seja eficaz para a transmissão de moléstia grave. Pode ser por uso de objetos contato pessoal ou qualquer ouro meio de contágio, não só de doença venérea como qualquer outra moléstia. Para a configuração da conduta, o ato é dirigido ao contágio, ou seja, o transmissor age com dolo na deflagração da doença. Há que ser produzido o exame de Corpo de Delito par a comprovação da doença.

13. Art. 213. Estupro – (conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça):

Um dos exames de corpo de delito mais importantes no âmbito dos crimes contra os costumes é o exame de conjunção carnal em história de estupro. Nessa hipótese de crime, é recomendado que a vítima não se submeta a qualquer processo de higienização após o ato de violência. É importante que a ofendida compareça a exame de corpo de delito imediatamente, inclusive com as próprias vestes, mesmo quando rasgadas, sem tomar banho, pois os elementos a serem colhidos pelos peritos serão mais abundantes e poderão ser decisivos no esclarecimento do fato, suas circunstâncias e autoria.

Outro cuidado importante é sempre que houver suspeito do crime, submete-lo também a exame de corpo de delito. Nele o perito legista poderá

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constatar lesões típicas de defesa (lesões provocadas pela vítima ao resistir a violência), fragmentos de tecidos nas unhas, além de permitir colher outros elementos como: sangue, esperma, fios de cabelos, etc. que poderão permitir uma investigação segura sobre a autoria do fato. 14. Posições Doutrinárias:

Obs.: Promessa de concubinato com homem casado: pode ser bastante para caracterizar o crime. Gravidez com cópula parcial: Pode constituir o crime de estupro. Para a Medicina Legal, a conjunção carnal se caracteriza pela introdução do penes na vagina, completo ou incompletamente, com ou sem ejaculação.

Virgindade: deve ser material. Se a vítima já foi deflorada antes, não haverá o crime.

Dúvida quanto a idade: Se não for comprovada não haverá o crime.

Exame de Corpo de Delito: É imprescindível, a sua falta poderá impossibilitar a condenação ou anulá-la, caso tenha havido sem a prova material.

15. Art. 214, Atentado violento ao pudor:

Caracteriza-se pela prática, com violência ou grave ameaça, de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, dela podendo ser vítima qualquer pessoa.

A caracterização deste crime também pode também ser verificada pelo exame de corpo de delito, diligência imprescindível na hipótese.

16. Art. 215, Contato Sexual Mediante Fraude:

Caracteriza-se pela prática de ato libidinoso mediante artificiosidade enganosa cometida contra a vítima. Embora pareça difícil, a prática forense já tem encontrado casos impressionantes de contato sexual por engano. Ex. a mulher que mantém relações sexuais com um outro homem pensando ser o marido, em razão de semelhanças físicas.

Há fraude também quando o agente simula casamento e logo após a pratica do congresso sexual desaparece. Também caracteriza fraude na posse sexual a simulação de processo curativo para a vítima, que é submetida a conjunção carnal.

17. Exames previstos na Lei nº 6.516, investigação de paternidade:

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O exame de paternidade também é uma grande contribuição que a perícia médica, por seus exames específicos, presta à Justiça. Na atualidade, o exame de paternidade em se dado através do estudo do DNA, exame que apresenta maior segurança e garantia dos resultados.

O exame de DNA é feito através do ácido desoxirribonucléico, uma macromolécula encontrada no núcleo da célula, onde contém todas as informações do organismo, formadas pela seqüência dos nucleotídeos, constituindo um verdadeiro “código” capaz de determinar todas as características de uma pessoa.

A pesquisa do DNA pode ser realizada em parte da pele, na saliva, no semem, no sangue, nos cabelos, nos ossos, nas secreções (bucal ou vaginal), etc. Para tanto, é necessário que se obtenha o material que servirá de comparação, ou seja, o exame identificará o perfil genético do indivíduo, que deverá ser comparado com outro material colhido da pessoa sob investigação. A comparação, na realidade, não tem o condão de identificar pessoas, mas constatar, pelo processo de probabilidades, a ligação genética de um material com o outro, ou seja.

18. Art. 26, do CP. Responsabilidade Penal – Imputabilidade:

A imputabilidade penal na legislação brasileira esta disciplinada nos Arts. 26 e 27, do Código Penal. Neste, a lei determina que o menor de 18 anos é inimputável. O mandamento não leva em conta a capacidade de discernimento do menor, o seu desenvolvimento mental ou qualquer outro critério. Para o preceito do Art. 27, levou-se em contra tão somente o critério biológico.

Já no Art. 26 do mesmo estatuto, o legislador aplicou o critério psicológico, taxando de absolutamente inimputáveis aqueles que por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

O fator modificante da capacidade de responder pelos seus atos, tanto pode ser biológica quanto psicológica, congênita ou adquirida.

No parágrafo único do Art. 26, os fatores incapacitantes são os mesmo, entretanto, para a redução da pena, tais fatores se mostram de forma relativa, ou seja, não retiram o completo entendimento do agente, apenas reduz a sua capacidade compreensão.

19. Art. 217 - Sedução:

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Mesmo saindo do nosso ordenamento jurídico penal, a sedução significa o envolvimento persuasivo da vítima, viciando a sua vontade por meio de promessas e expectativas que fazem aderir à conduta do agente, a mulher virgem, menor de 18 anos e menor de quatorze.

Capítulo V.

Exame Médico-Legal feito em Cadáver:

Como dissemos anteriormente, a maior pare dos exames médico-legais são realizados em pessoa viva. Após a morte, temos o cadáver também como objeto de exame médico legal, podendo ser submetido a inúmeros exames médicos e laboratoriais, conforme for o interesse a ser esclarecido.

Alguns exames são imprescindíveis para que se perpetuem as provas sobre as incidências de interesse penal que resultam em morte.

1. Exame de Necropsia:

É um dos exames mais complexos realizado pelo Médico Legista.Não somente por ser difícil diagnosticar a verdadeira causa da morte de uma pessoa, mas também pelo ato de realizar uma minuciosa inspeção externa e interna de uma pessoa.

No caso de morte violenta, comum, pelo menos nas cidades com melhor estrutura policial, é a realização de uma perícia local, feita pelo perito criminal, oportunidade em que fará minuciosa observação de todos os vestígios deixados pela conduta criminosa (estudo da perinecroscopia), sendo que na hipótese de crime de homicídio, o Perito Criminal também examinará o cadáver, sua posição, identificação, suas vestes, os ferimentos; examinará também os locais das lesões e tantos outros elementos que naquele momento tiver condições de observar.

De tais observações, produzirá o seu Laudo Pericial de Local de Crime, onde registrará suas observações e conclusões, respondendo, ao final, quesitação padronizada para cada espécie de crime, podendo anotar no seu laudo tudo que pode visualizar e que tenha interesse com o esclarecimento do fato.

Desse modo, poderá incluir no seu laudo: fotografias, desenhos, croquis, documentos, além de informar à autoridade, qualquer detalhe que por ventura tenha notado no local do crime e que tenha importância na sua elucidação.

Como vemos, o Perito Criminal, nas hipóteses de morte violenta, também examina o cadáver. E mais, descreve as lesões, quantitativa e qualitativamente, como p. ex. numa morte provocada por disparo de arma de

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fog (PAF), o Perito Criminal que comparecer ao local consignará no seu laudo cm quantos tiros a vítima foi assassinada, quais os locais dos tiros, dentre outros detalhes.

O Perito Legista, ao receber o corpo da vítima no I.M.L., já periciado pelo Perito Criminal, passará a examina-lo novamente, iniciando o seu trabalho por uma inspeção externa, fase em que poderá repetir ou não o que fora observado pelo Perito Criminal. Como assim?

É que nos locais de crimes, as condições para o exame são bem mais precárias. Nesses locais, os Peritos Criminais não só observam o corpo mais também todos os vestígios existentes ao redor do palco do crime. Muitas vezes passa sem registro algum detalhe que pode gerar confusão entre o seu laudo e o laudo do Médico Legista.

É certo que o Perito Legista é quem realiza a inspeção interna do cadáver, mas não deixa de descrever cm o mesmo critério, a inspeção externa.

Em razão disso, algumas vezes ocorrem divergências entre a descrição do Lauto do Perito Criminal e do laudo Cadavérico. Por isso é recomendável um maior cuidado, tanto por um quanto por outro, para que não ponham em dúvida seus preciosos trabalhos, e, inclusive suas próprias imagens como profissionais.

O Laudo Cadavérico também deve ser ilustrado por fotografias das lesões, para melhor entendimento do seu conteúdo.

Continuando o nosso estudo do exame de necropsia, o Perito Legista, que por determinação legal, produzirá seu laudo acompanhado de um outro colega de igual nível, para ao final todos assinarem, poderá (e é recomendado pelos Institutos Médico-Legais), recolher partes das vísceras do cadáver para posterior exame caso seja necessário, devendo este material ser encaminhado ao laboratório, onde permanecerá armazenado.

Após a necropsia, nada mais havendo a examinar, o cadáver será liberado, cumprindo regras de natureza administrativas do próprio Instituto, dentre as quais, sua identificação, que deverá ocorrer por processo dactiloscópico e fotográfico ou por reconhecimento através de objetos e documentos (reconhecimento empírico).

Não havendo reclamação do corpo e passados alguns das, conforme disciplinamento do órgão da Administração, poderá o cadáver ser enterrado como indigente, ou seja, o sepultamento se dará em local especificado para estas situações, existentes em todos os cemitérios públicos, o que geralmente se dará em cova rasa, após devidamente registrado em livro próprio do cemitério.

2. Diagnóstico da Realidade da Morte:

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O diagnóstico da realidade da morte é estudado pela Tanatologia, a parte da Medicina Legal que se encarrega de examinar os fenômenos da morte.

3. Causa da Morte (causa morte):

A causa ensejadora da morte deve ser determinada pelo Perito legista, através do exame de necropsia, quando diagnosticará, p.ex., dentre as lesões sofridas pela vítima aquela que lhe causou a morte.Noutras hipóteses, examinará o cadáver, os sinais mediatos e mediatos da morte, para determinar a sua causa.

4. Tempo da Morte:

São os sinais imediatos e mediatos da morte, que dirão ao Perito quando esta ocorreu. Tal diagnóstico é feito pela Cronotanatognose (estudo do tempo da morte). Para tanto, é importante ter conhecimento desses sinais, pois alguns deles podem confundir o perito, por uma visualização superficial. Algumas lesões, p. ex. podem ter sido causadas após a morte e não serem a sua causa.

O Perito possui conhecimento suficiente para diagnosticar uma lesão intra-vitam ou post mortem.

5. Exumação:

A exumação é uma diligência levada a efeito em ultimo caso. Significa o desenterramento do cadáver, por determinação da Autoridade Policial ou Judiciária, para a realização de novos exames, que pode ser sobre a sua identificação ou mesmo sobre a causa da morte. O cadáver, uma vez inumado, demora algum tempo para sua total destruição biológica. Durante esse processo, alguns exames viscerais podem ser realizados para, p. ex., verificar hipótese de morte por envenenamento, intoxicação etc. Após a total destruição da massa corporal, outros exames podem ser também realizados para o mesmo fm, através do estudo comparativo dos ossos, das lesões, para verificar, p. ex. morte por disparo de arma de fogo, por tortura, etc.

Nota: Em algumas cidades brasileiras já existem crematórios, processo através do qual o cadáver é totalmente queimado e resultam apenas cinzas. Neste caso, há impossibilidade de qualquer outro exame.

Capítulo VI.

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Exames Médico-Legais em Animais:

Além dos exames realizados em pessoas, vivas ou mortas, também podem estes exames ser realizados em animais, para verificação de maus tratos, doenças epidemiológicas, etc.

A Lei nº 9.605/98 – Lei do Meio Ambiente, estabelece várias infrações especiais, que podem ser praticadas contra a Fauna ou contra a Flora, num caso ou noutro, podemos também fazer uso das especialidades da Medicina Legal e da Criminalística para solucionar questões específicas estas incidências.

Nota: O Código de Processo Penal possui mandamentos importantes sobe os Peritos: Vide Arts. 159 e parágrafos do CPP e 421 do CPC. Compromisso, art. 159, § 2º do CPP e 422 do CPC.

- Exames Complementares: Art. 168 e parágrafos do CPP.- Exame de Corpo de Delito: Arts. 158 e 167 do CPP.

Nota: Lei 9.099/95. Arts. 60, 61 e 77, § 1º da Lei A Legislação dos crimes de menor potencial ofensivo estabelece que a denúncia poderá ser proposta sem que esteja presente o laudo de exame de corpo de delito (Art. 77). Isto não quer dizer que a produção da prova não seja necessária, pois, também para esses crime, são imprescindíveis os referidos exames, nos casos em que deixarem vestígios. O que a Lei Especial determina é que tais provas possam ser substituídas por Boletim de Atendimento Médico ou outro documento que demonstre a existência induvidosa de tal resultado, também oportunizando que a materialidade seja juntada ao processo em momento posterior.

1. Momento de Realização das Perícias:

As perícias podem ser realizadas em qualquer dia e qualquer hora, é o que descreve o Código de Processo Penal.

Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.

Com relação aos exames de necropsia, a Lei Processual Penal brasileira dispõe:

Art. 162. A necropsia será feita pelo menos 6 (seis) horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto.

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A questão é de grande importância na prática, tanto para evitar demoras desnecessárias quanto para dar melhor segurança ao ato médico. A Lei não proíbe que seja realizado o exame de necropsia a qualquer ora ou logo após a mortes, apenas recomenda cuidado especial do perito legista, para que examine com segurança os sinais da morte, pra evitar que a pessoa ainda viva seja submetida a tal exame, quando tenha aparência de morte, mas esteja viva.

Também aponta o mesmo dispositivo, (P. Único), que nas mortes violentas, quando as lesões externas permitirem precisar a causa morte, não havendo outro dado importante a ser registrado, também quando não houver infração penal a apurar, os peritos podem deixar de realizar o exame interno.

Nota: A Lei nº 8.862/94, pacificou a divergência sobre o número de peritos, estabelecendo que o laudo pericial deve ser subscrito por dois peritos,

sejam eles oficiais ou louvados.

Capítulo VII.

Documentos Médico-Legais.

1. Conceito:

São instrumentos escritos ou simples exposições verbais, mediante as quais o médico fornece esclarecimento à Justiça. Também são chamados de atos médico-legais. Possuem caráter de documento técnico pertinente ao processo.

Para Hélio Gomes, há cinco modalidades de documentos: Atestado, Relatório, Consulta, Parecer e Depoimento Oral.

Para Flamínio Fávero, são apenas três espécies: Atestado, Relatório e Parecer.

2. Atestado Médico ou Certificado Médico:

É a afirmação simples ou por escrito de um fato médico e suas conseqüências. Pode ser oficioso (particular para seu interesse); administrativos (exigido por autoridades administrativas) ou judiciários (requisitados por Juizes). Lembre-se que é crime fornecer atestado falso.

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3. Relatório Médico-Legal:

É a descrição (narração) minuciosa de um fato médico e suas conseqüências, requisitada por autoridade competente. Deve ser claro, preciso, conciso, metódico e simples, contendo todas as etapas (operações) do exame pericial.

4. Distinção Doutrinária entre AUTO e LAUDO:

Quando por ocasião de um exame pericial o perito observa o objeto em exame e faz suas anotações, ainda não está produzindo o documento definitivo. Neste momento, apenas está examinando o objeto ou a pessoa. Se neste momento em que observa, ele dita para o escrivão para que este redija o documento, trata-se de um AUTO DE EXAME PERICIAL, pois feito instantaneamente.

Se o perito, por ocasião do exame, faz as suas anotações e posteriormente se posta a elaborar o documento sobre tal exame, trata-se então de um LAUDO DE EXAME PERICIAL.

5. Laudo Médico

O Lado Médico é um documento produzido pelo Perito Leggista, geralmente com a colaboração de um perito auxiliar ou técnico de necropsia. No primeiro momento o perito legista examina o objeto e faz as anotações que considerar importante do que for observado, conforme a finalidade do exame. Em seguida, passará a elaborar o Laudo propriamente dito, descrevendo em definitivo tudo que foi constatado, numa seqüência de registros formais que constituem o documento chamado Laudo Médico.

O exame médico legal tem várias fases distintas e seqüencialmente formalizadas:

1ª) Inicia-se pela identificação do seu objeto. Na hipótese de um exame de necropsia, o corpo da vítima.

2ª) Na seqüência, fará um histórico do fato, o que sabe sobre sua ocorrência e quando se deu. No caso de exame de necropsia, estas informações são trazidas pelo documento que acompanha o cadáver Guia de Recolhimento de Cadáver).

3ª) A próxima etapa é descrever o objeto sob a ótica de um exame visual, externo, ou seja, um exame macroscópico, onde registrará como recebeu o objeto de exame.

4ª) Feito isso, no exemplo acima, passará a descrever as observações internas do corpo, o trauma, a ação, a lesão e todos os elementos de observação que encontrar sobre a incidência. Nesta fase, poderá determinar a

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realização de outros exames complementares como: radiografias, exames tóxicos, para tanto podendo coletar material e enviar para outros especialistas.

5ª) Após, o perito passará à fase de discussão e conclusão de tudo que observou, examinando situações como: tipo de lesão, intensidade, gravidade, características e outras constatações, concluindo o exame pericial.

6ª) Feito isto, o perito passará a responder aos quesitos elaborados pela autoridade requisitante (policial ou judiciária). Alguns quesitos podem constar de forma padronizada em formulários próprios, podendo outros serem formulados pela autoridade requisitante.

Nos casos de morte, alguns quesitos são comuns como:

1. Houve morte?2. Qual a causa da morte?3. Qual o instrumento ou meio que a causou a morte?4. Foi empregada asfixia, fogo ou ouro meio insidioso ou cruel etc.?

Nos crimes sexuais:

1. Se a paciente é virgem?2. Se há vestígio de desvirginamento recente?3. Se há outros vestígios de conjunção carnal recente?4. Se há vestígio de outro tipo de violência e qual o meio empregado,

etc.

Nota: Não são raras as vezes em que as autoridades formulam quesitos sobre determinados exames e as respostas dos peritos propiciam novos questionamentos. Por isso, recomendável é que o profissional procure preservar material para exames complementares, especialmente quando se tratar de situações mais complexas.

O Laudo de necropsia, também denominado de Relatório, em sua parte objetiva é também chamado de PROTOCOLO.

O Relatório deve possuir as seguintes partes: Preâmbulo, Quesitos, Histórico ou Comemorativo, Descrição (visum et repertum), Discussão, Conclusão, Resposta aos Quesitos.

a) – Preâmbulo: Conterá o nome, título e a identificação dos peritos, nome da autoridade requisitante, local, dia e hora exatos, qualificação da coisa ou pessoa examinada, fim do exame e transcrição dos quesitos;b) – Histórico: Conterá todos os informes colhidos sobre o fato, que possam auxiliar os peritos nos exames periciais;

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c) – Descrição ou Exposição: (a parte mais importante). É a parte básica do relatório, contendo o (visum et repertum – ver e repetir). É a descrição minuciosa de tudo que for examinado.d) – Discussão – Nesta parte os peritos fazem os diagnósticos que julgarem necessários, exteriorizando suas impressões pessoais e comentando os dados observados;e) – Conclusão: conterá uma síntese do que os peritos conseguiram deduzir do exame e da discussão. O perito só deve afirmar aquilo que puder demonstrar cientificamente;f) – Resposta aos Quesitos: Deve ser sumária e o mais preciso possível. Sem dubiedade (confusão). No caso de várias alternativas, pode indicar as probabilidades. Findo o relatório, será datado e assinado pelos peritos, que serão responsáveis pelo documento que assinarem.

Nota: Para melhor entendimento da autoridade a quem se destina o relatório, a este podem ser juntados: diagramas, pareceres, fotografias, radiogramas croquis etc. A parte mais importante do relatório é a descrição.

6. Consulta e Parecer:

Para Hélio Gomes, Parecer Médico tem caráter particular, sendo o documento elaborado com a exposição, discussão e conclusão, enquanto que Consulta Médico-Legal, tem caráter público, servindo para esclarecer uma dúvida sobre um fato médico-legal, em geral, solicitado por autoridades.

7. Depoimento Oral

O depoimento oral feito, pelo perito quando chamado em juízo para esclarecimento de situações registradas no laudo ou mesmo divergências com ouros documentos, tem um caráter de testemunho. Neste ato, o Perito poderá ratificar sus conclusões e também esclarecer melhor alguns termos técnicos de domínio específico pelos peritos.

Capítulo VIII. Antropologia Forense.

1. Conceito:

Sendo a Antropologia a ciência que estuda o homem, sua origem e evolução, seu comportamento, desenvolvimento, suas relações com o meio,

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etc., seus estudos representam uma grande contribuição para a Medicina Legal, especificamente no que tange à identificação dos indivíduos. Assim, esta ciência empresta aos serviços Médico-Legais importantes informações para o estabelecimento da identidade e da identificação da pessoa, por intermédio de métodos seguros de individualização.

No âmbito da Antropologia, aplicaremos os nossos estudos na parte pertinente à identidade médico-legal.

Todas as pessoas e coisas possuem seus atributos e características que permitem individualiza-las, ou seja, destinguí-las das outras.

As pessoas, de maneira geral, podem diferencia-las pela cor, altura, idade, raça, sexo, forma, etc. As coisas, pela sua constituição, tamanho, forma, peso, cor, qualidade, origem, etc. Entretanto, muitas vezes, com as características comuns com que se apresentam, uma pessoa ou uma coisa pode ter semelhanças enormes com outras, permitindo tomar uma por outra, confundi-las ou até mesmo, em alguns casos, praticar injustiça em razão de tais semelhanças.

A identificação de pessoas no âmbito do ordenamento jurídico pode ser classificada inicialmente em duas situações: a identificação civil e a identificação criminal.

A identificação civil está relacionada à vida cotidiana da pessoa na sociedade, é a sua identificação como cidadão, que se inicia a partir do nascimento com o registro desse acontecimento, oportunidade em que se registra em livro próprio, o nome da pessoa, dos seus pais e avós, data de nascimento, local e data, sendo este documento o primeiro de tantos outros que possuem dados que o individualizam. A seguir, a pessoa deve procurar um instituto de identificação e retirar a sua identidade civil, documento exigido em todas as relações da vida em sociedade, e onde são acrescidos outros dados pessoais como: número da identidade, órgão expedidor, data, e mais, a sua impressão digital.

A partir de então, tantos outros documentos podem ser elaborados em razão de uma pessoa, todos eles procurando torna-la única, p. ex. Título de Eleitor, C.P.F. Carteira de Trabalho, Carteira Funcional, Identidades Específicas de clubes e outras entidades, etc. Em todos esses documentos devem constar dados gerais e específicos que permitam identificar uma tal pessoa. Mesmo assim, com todos esses critérios de segurança, quantas pessoas já não foram condenadas injustamente em lugar de criminosos; quantas não já morreram por engano e quantas não constam cm seus nomes elencados no rol de pessoas com restrições sociais e legais, por obra de semelhanças ou de fraudes?!

A identificação criminal é o processo utilizado para identificar as pessoas envolvidas em crimes, Neste caso, quando não for identificada civilmente, será submetida a identificação criminal.

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Além do método de identificação comum a que se submete o criminoso, também lhe é exigido um outro processo de individualização, através de uma investigação de sua vida pregressa, quando será elaborado um Boletim de Vida Pregressa, com a indagação quase tudo sobre a sua vida.

A identificação criminal pode ser classificada também como: identificação conclusiva, que permite identificar com segurança a pessoa; identificação não conclusiva, que, não concluindo sobre a identificação, colhe todos os elementos possíveis sobre a pessoa, para permitir individualizá-la por outros métodos.

A identificação conclusiva pode ser determinada pelos seguintes exames:

a) da impressão digital – extraída de pessoas vivas ou mortas, por planilhas específicas e confrontadas com prontuários e outros documentos preexistentes sobre tal pessoa;

b) da impressão palmar – linhas da palma das mãos, semelhantes às impressões digitais e possíveis de individualizar uma pessoa;

c) da impressão plantar – são as desenhos existentes na base solar dos pés, também de forma individual para cada pessoa;

d) da arcada dentária – por intermédio de molde a ser retirado da pessoa para confrontar com prontuários eventualmente existentes sobre ela, critério muito utilizado para identificar criminosos e vítimas;

e) do desenho existente no céu da boca, “desenho do palato”, capaz de permitir a identificação de uma pessoa pelos traços individualizantes que possuem;

f) das impressões labiais – também apresentando características diferenciadoras entre as pessoas;

g) do DNA – um dos métodos mais eficientes da atualidade e que permite segurança quase absoluta do resultado (99,99%).

A identificação não conclusiva pode ser realizada pelos seguintes métodos:

a) pela identificação visual – critério muito utilizado para identificação de cadáveres nos Institutos Médico-legais, feito pelos próprios familiares ou amigos da vítima;

b) por sinais particulares como: tatuagens, cicatrizes, defeitos estéticos e físicos;

c) por tipo sangüíneo e fator Rh.

2. Identidade:

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São caracteres originários ou adquiridos, que formam o conjunto de elementos positivos e relativamente estáveis, capazes de distinguir um indivíduo do outro.

3. Identificação:

É a determinação da identidade através da observação dos caracteres individuais que permitem assegurar, pela descrição de tais elementos, tratar-se de determinada pessoa. É o conjunto de técnicas, métodos e sistemas usados para se determinar a identidade de alguém.

Nota: A Identidade é a qualidade ou atributo de alguém. A Identificação é a sua determinação.

Em vários momentos da nossa história tivemos diversos métodos utilizados para se estabelecer a identidade de alguém, assim como também alguns critérios foram efetivados como sinais indicativos de pessoas criminosas, como p. ex. o corte da orelha, da mão, o nariz, o braço, sinais de fogo na testa e outras tantas arrepiantes medidas não só punitivas como também individualizadoras, através das quais se conhecia a pessoa.

Algumas pessoas podem possuir características fisionômicas muito parecidas com outras, dificultando, por u método apenas visual, distinguir de quem se trata. Outras possuem dados qualificativos iguais, como nome, filiação, data de nascimento, nacionalidade e naturalidade, dentre outros dados, que permitem se passar por uma outra, e até mesmo ser confundida com pessoas criminosas e ter que suportar constrangimentos e conseqüências imprevisíveis.

Hélio Gomes nos conta sobre um sósia de Santos Dumont, conhecido por João Brasil, que chegou muitas vezes a receber grandes aclamações populares como se fora o descobridor da aviação.

O processo de identificação pessoal evoluiu significativamente a partir do método de Bertillon, chamado também de bertilhonagem, que tinha como fundamento a antropometria, baseando-se na técnica de mensuração do corpo humano e suas partes.

Muitos outros métodos foram utilizados e as técnicas de um se completam quando associadas a outras, dando maior segurança no resultado final.

4. A identificação pode ser:

-Identificação médico-legal (física, psíquica e funcional); -Identificação pericial; -Identificação policial;

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-Identificação judiciária: pode utilizar de diversos métodos como: fotografia, datiloscopia, sinais: congênitos ou adquiridos, antropologia, antropometria, etc.

5. A Identificação Médico-Legal pode ser:

a) física: raça, cor, sexo, idade, altura, peso, sinais particulares etc.b) funcional: voz, mímica, andar, escrita, acuidade sensorial, força, etc.

c) psíquica: é estabelecida através de características psíquica que identificam o indivíduo (consciência individual, coeficiente de inteligência etc).

Identidade: É o somatório de características físicas, funcionais, psíquicas, normais ou patológicas, natas ou adquiridas, capazes de identificar uma pessoa e torná-la única com tais características.

Reconhecimento: Consiste em fazer a identificação por meio de comparação empírica, sem nenhuma técnica científica. É o reconhecimento feito por intermédio de objetos, roupas, calçados, e outros elementos que podem indicar relação com determinada pessoa. P.ex. um cadáver encontrado pela polícia sem qualquer documento de identificação, mas identificado por familiares através das roupas que vestia, por objetos pessoais que portava, etc.

Nota: Diz-se que a Identificação é o reconhecimento técnico. O Reconhecimento é uma identificação empírica.

A Identificação Policial no Brasil, de forma mais comum é feita através da antropometria (forma de identificação através da mensuração do corpo humano e suas partes), criada por Bertillon, e pela datiloscopia (estudo das impressões digitais) criada por Vucetich.

Método Vucetich: Toma-se por base as linhas que formam as impressões digitais, a presença ou ausência do Delta e sua localização, sinais que são distintos de pessoa para pessoa. As impressões digitais não mudam, elas são o “selo de Deus posto nas mãos de todos os homens”.

O método Vucetich estuda o desenho das linhas que forma as impressões digitais, dividindo-as em quatro tipos: arco, presilha interna, presilha externa e verticilo.

Exemplos:

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- Arco – sem DELTA, representado pela letra A ou o nº 1: diz-se que é um datilograma adeltico, formado de linhas paralelas;- Presilha Interna: DELTA à direita do observador – letra I ou nº 2: é um

datilograma formado por um delta à direita do observador e um núcleo formado de uma ou mais linhas, partindo da esquerda em direção ao centro do desenho;

- Presilha Externa: DELTA à direita do observador – letra E ou o nº 3: é um datilograma formado por um delta à esquerda do obsevador e um núcleo formado de linhas que partem da direita em direção do centro do desenho.

- Verticilo: dois DELTAS, um de cada lado, letra V ou nº 3: é um datilograma que se apresenta com a presença de um delta à direita e outro á esquerda do observador, e um núcleo de forma variada.

Nota: Existem também vários outros sinais registrados nas impressões digitais, tais como: ilhotas, cortados, forquilha, bifurcações, além das anomalias etc.

Anomalias mais comuns:

- Sindactilia – dedos soldados (preso um no outro);- Polidactilia – dedos a mais que o normal;- Ectodactilia – menos dedos que o normal;- Megalodactilia – dedos muito grandes.

Nota: Quando os sinais digitais (impressões) não permitirem estudar as papilas, por causa de alterações como: cicatriz e deformações, o papiloscopista assinalará com a lera “X”. Em caso de perda de um dos dedos, por amputação ou outro motivo, será assinalada tal alteração com a letra “O”. Algumas doenças, como a hanseníase ou lepra pode promover a destruição progressiva dos chamados cristais capilares que formam as linhas das impressões digitais.

É importante lembrar que as impressões digitais não desaparecem no cadáver em fase de decomposição, permitindo, com habilidades periciais do datiloscopista, retirar as impressões digitais se os dedos estiverem intactos.

Retrato Falado: é um tipo de identificação projetada para um reconhecimento futuro, ou seja, é um documento (retrato) elaborado por intermédio de informações fornecidas por alguém que viu alguma pessoa que precisa ser reconhecida ou encontrada. É um processo muito utilizado pela polícia para identificar autores de crime, quando dele houve alguma testemunha ou até mesmo pela vítima. Em qualquer das hipóteses, a elaboração do retrato falado é um ato delicado, pois a reprodução das informações ao especialista, é sempre feita com grande dose de emoção e, não raras vezes, prejudica a confecção do retrato falado e, por conseguinte, da investigação.

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Capítulo IX. Traumatologia Forense.

Conceito - a Traumatologia é uma parte da Medicina Legal de grande importância, pois estuda os traumas, as lesões, os instrumentos e as ações vulnerantes, visando elucidar a dinâmica dos fatos de interesse da Justiça.

Trauma: é a ação vulnerante que possui energia capaz de produzir a lesão. Esta lesão pode ser física ou psíquica, resultante da ação vulnerante, que é o próprio trauma (Roberto Blanco).

Lesão: a lesão, dentro do conceito jurídico, pode ter reflexo em vários ramos do Direito, conforme seja a natureza da lesão, que pode ser patrimonial, física, psíquica, etc. significa, lato senso, qualquer lesão de direito.

A Lesão que interessa ao nosso estudo é o resultado de um Trauma (físico, psíquico ou químico), promovido por uma ação vulnerante, que pode ser provocada por dolo ou culpa, ou mesmo acidentalmente.

No âmbito do nosso estudo, direcionamos uma exposição sobre as lesões penais, especificamente tendo como objeto jurídico a integridade pessoal, física ou psíquicas.

A lesão corporal, conforme a doutrina penal brasileira e aos olhos da Medicina Legal, é o resultado de qualquer trauma violento que possa produzir, direta ou indiretamente um dano à saúde ou á integridade de alguém. Também tem interesse para a nossa ciência Médica Forense, as patologias decorrentes de lesões violentas (aquelas de interesse penal), que podem ser conseqüência imediata ou mediata da violência.

A Medicina Legal classifica a energia vulnerante em várias modalidades como: física, mecânica, química, biológica e ainda aquela energia cuja vulnerabilidade é promovida por duas espécies diferentes de energias, atuando ao mesmo tempo na produção de um resultado lesivo, é o que podemos denominar de energia mista.

1. Energias Mecânicas:

A energia mecânica é conceituada como sendo uma força cinética de incidência sobre um determinado corpo (E = M x V), ou seja, (Energia = Massa x Velocidade). A energia mecânica tem por variante a velocidade de atuação sobre o corpo.

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a) Agentes Vulnerantes: são os instrumentos ou meios através dos quais são causadas as lesões.

b) Instrumento: pode ser qualquer coisa ou objeto que, usado de modo a causar lesão, seja capaz de produzir este resultado.

c) Meios: significa a via pela qual se desenvolve a energia que irá provocar a lesão.

Imaginemos que alguém coloque um projétil de arma de fogo sobre a

cabeça de uma pessoa. Desta ação, certamente, nada resultará, tendo em vista que o projétil, por siso, nessa situação não causará nenhuma ofensa física àquela pessoa. Entretanto, se este mesmo projétil for disparado por uma arma de fogo e atingir a pessoa, obviamente irá provocar uma lesão. Vê-se no exemplo, que o projétil é o mesmo, porém, as situações é que são diferentes. A velocidade imprimida pelo disparo da arma, através da combustão dos elementos do tiro, produzirão uma energia capaz de ocasionar um resultado diferente, ou seja, uma lesão imprevisível.

De tal exposição podemos afirmar que o que produz o resultado sobre o corpo é M x V, a massa X a velocidade, formando a energia.

Esta energia, que se desenvolve de diversas maneiras, podem atuar sobre o corpo em forma explosiva, por impacto ou por tração, causando, conforme for a sua maneira de atuação, uma determinada lesão, com características peculiares ao instrumento vulnerante e a própria ação.

Esta ação pode ser Simples ou Mista, conforme a atuação da energia e do instrumento. Os instrumentos podem ser classificados em três tipos: Perfurante, cortante e contundente.

2. Ação Simples:

É a ação de efeito único, sem variação do resultado. Exemplo:

1) perfurante: age por pressão (agulha alfinete, punhal);2) cortante: age por deslizamentos (navalha, gilete); 3) contundente: age por colisão, deslizamento, ex :escoriações

Quando esses instrumentos atuam de maneira típica e simples, provocam lesões simples, que podem ser: Perfurante, cortante ou contundente.

Quando esses instrumentos são utilizados para atuar de forma atípica ou quando possuem características especiais (função dupla), podem produzir lesões com características mistas, significando o resultado de duas ações simples movidas pela mesma energia.

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3. Ação Mista:

É resultante da combinação de duas ações simples, Exemplo:

1) corto-contundente: ações que realizam cortes de maneira contundente, os seja, cortam mediante pressão. Ex.: (enxada, machado.

2) perfuro-cortante: ações que perfuram e cortam ao mesmo tempo, porque possuem gume e ponta. Ex.: punhal, faca.

3) perfuro-contudente: ações que perfuram mediante pressão, ou seja, pela força da energia: M x V, massa X velocidade. Ex.: projétil de arma de fogo (PAF.).

Ação contundente: é toda ação produzida por instrumento sem forma definida (tipo rombo), que colide com a superfície e provoca lesões do tipo: abertas ou fechadas.

- Lesão aberta: ferida contusa, fratura exposta;- Lesão fechada; rubefação, equimose, hematoma, luxação.

4. Classificação das lesões corporais, conforme o Direito Penal e a Medicina Legal:

1) quanto ao elemento subjetivo do sujeito ativo: dolosas ou culposas;2) quanto ao grau de ofensividade danosa (quantidade): leves, graves,

gravíssimas e mortais;3) quanto a qualidade da lesão: verifica-se a sua natureza e

intensidade do resultado;4) Quanto a sede da lesão: compreende-se o âmbito da estrutura

somática (o corpo humano), das atividades fisiológicas e neurológicas do indivíduo;

5) Quanto a causa da lesão: podem ter origem em energias de ordem mecânica, química, física, biológica, biodinâmica ou de mais de uma ao mesmo tempo (mista).

5. Quanto ao Tempo, a lesão pode ser:

1) Fugaz: lesão leve e que tende a desaparecer em curto espaço de tempo, como por exemplo uma rubefação provocada por um tapa no rosto;

2) Temporárias: são lesões que apresentam traumas na derme e epiderme, cujo tratamento pode demorar alguns dias, porém, em

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geral, não não apresentam maior gravidade, como é o caso da equimoses, da escoriações e do hematoma;

3) Permanentes: são lesões cujo tratamento pode demorar mais tempo, de acordo com sua gravidade, podendo deixar marcas e seqüelas, como as cicatrizes, e as fraturas;

4) Superficiais; rubefação e escoriações;5) Profunda: luxação (lesões que atingem articulações estruturais do

corpo) e fratura.

6. Quanto ao Modo de Agir a Ação pode ser:

a) Ativa: significa a ação do agente vulnerante direcionada ao corpo, que suportará o trauma. É também denominada de trauma direto. Como exemplo podemos citar a ação de quem atira uma pedra em alguém; um automóvel que atropela uma pessoa parada, etc.;

b) Passiva: ocorre quando é o corpo que se projeta na direção do agente vulnerante, suportando o efeito do trauma. Ex.: Alguém que cai de um no precipício. É também denominado de trauma indireto;

c) Mista: a ação vulnerante também pode resultar do choque de movimentos entre o agente vulnerante e o corpo que suporta o trauma. Nesse caso, ambos possuem movimento, um contra o outro, colisão (ação de dois móveis, um contra o outro).

7. Estados Físicos:

As lesões podem resultar de traumas provocados por substâncias em qualquer estado físico.

Exemplo:

a) Sólido - ação contundente ex. uma pedrada;b) Líquido – pode também causar ação contundente, ex: rompimento

do fígado em contato com a água - impacto.c) Gasoso – morte com gás, produz ação contundente.

Nota: Na Epiderme há 4 tipos de células, sendo que as mais profundas são vivas e as duas superfícies são mortas. Nas escoriações, somente a epiderme é atingida, derramando o soro-albumínico.

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Nota: As células da camada mais profunda da epiderme são aumentadas pelo plasma (substância liquida - sangue) que fornece oxigênio às células. As escoriações se regeneram e não deixam cicatrizes. Somente na derme há sangue.

Estigma: escoriações na face (sufocação direta-tapa) Equimose: são manchas que se formam sob a pele, por rompimento de

pequenos vasos sangüíneos. Hematomas: São coleções sangüíneas produzidas pelo sangue derramado, que descola a pele. Distinção entre hematoma e equimose: No hematoma, o sangue se coleciona formando uma bolsa sob a pele. Pode desaparecer mais rapidamente ou até nem ser visível.

Na Equimose, o sangue se infiltra nas malhas do tecido subcutâneo, impregnando-os fixamente, pois há o rompimento dos vasos.

Nota: A equimose é uma lesão que pode ser observada intra-vitam ou post mortem, ou seja, pode ser produzida em vivo ou em cadáver. Os doutrinadores questionam a hipótese de a equimose aparecer na pessoa morta, considerando que, nesses casos, seria uma equimose falsa e podem se confundir com livores. Também podem se apresentar em local diverso do local que suportou o trauma, e aparecer tardiamente.

Nota: O Legista Roberto Blanco chama a atenção para a importância de se estudar a autoria da equimose e o instrumento utilizado, através da forma como ela se apresenta, pois, conforme o local do trauma, a equimose pode se formar segundo o instrumento da ação, ou seja, pode deixar a assinatura do autor ou indicar o instrumento vulnerante. E exemplifica o caso de uma agressão com a mão de um indivíduo que apenas possuía quatro dedos, ficando o desenho das digitais no local da lesão.

8. Espectro Equimótico de Legrand Du Saulle:

Variação cronológica das equimoses: O sangue que se derramou sob a pele sofre modificações de cor, devido às transformações por que vai passando o pigmento sangüíneo ou hemoglobina, nos dias que se sucedem ao traumatismo. As cores geralmente apresentam-se nesta seqüência:

1º dia – cor vermelho-escuro;2º dia ao 5º dia – cor roxo-violáceo;6º ao 8º dia – cor azul;

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9º ao 12º dia – cor verde;13º ao 20º dia – cor amarelada. Após, volta ao aspecto normal.

Nota: Essa cronologia de cores permite saber melhor sobre a data do traumatismo. Algumas Equimoses mais profundas, podem aparecer até cinco dias após o traumatismo, inclusive em local diferente do da lesão.

Nota: As Equimoses também podem ser provocadas por EMOÇÃO (equimoses emotivas)

Nota: A Equimose também pode aparecer sem que haja lesão, como por ex: falta de vitamina “C” no organismo (escorbuto), tendência ao aparecimento de hemorragias, também conhecida como mal-de-luanda.

9. Existem vários tipos de Equimoses, como:

a) Petequias: são equimoses puntiformes, como cabeça de alfinete, freqüentes nas mortes rápidas: asfixias, de coqueluche;

b) Manchas Equimóticas Lenticulares de Tardieu: podem estar presentes nas mortes por asfixia mecânica do tipo sufocação direta. São manchas do tamanho de uma lentilha;

c) Manchas Sub-pleurais de Paltauf: Aparecem nos casos de afogamento e insuficiência respiratória aguda. São extensas e de contornos irregulares;

d) Cianose Cérvico-Facial ou Máscara Equimótica de Morestin: Ocorrem nos casos de compressão do tórax (sufocação indireta), A pressão do tórax mantém os vasos cervicais e faciais cheios de sangue (manchas roxas no rosto);

e) Equimoses Peri-Anais ou Vulvo Vaginais: podem aparecer por força de parasitoses locais, alterações dermatológicas, que não devem ser confundidas com lesões causadas por atos libidinosos;

Mobilidade Equimótica: As Equimoses podem mover-se do local da lesão, pela força da gravidade, assim como também podem aparecer apenas alguns dias da lesão (equimoses profundas);

f) Equimose Retrofaringeana de Brouardel: ocorre quando há constrição do pescoço (compressão da faringe contra a coluna vertebral).

g) Bossa: Ocorre quando o hematoma faz projeção na pele, como por exemplo quando se localiza em região óssea: canela, testa.

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h) Luxação: É a perda de contato entre as superfícies articulares, com possíveis rotura de desligamentos. Há uma perda de contato anatômico entre as superfícies ósseas ou articulares (joelho, cotovelo, quadriz, mandíbula).

i) Rotura Visceral: São os traumas que atingem as vísceras, tecidos frágeis que podem se romper com impactos. Ex: o baço, o fígado. A rotura visceral pode ser causada por ação de onda de expansão gasosa e onda de vácuo (sucção), causadas seqüencialmente, por explosão.

j) Esmagamento: É uma lesão de natureza grave, causada por

ação contundente, produzindo compressão e destruição do corpo, que o transforma numa massa amorfa.

10. Tipologia:

1- ferida incisa simples – apresenta maior comprimento que profundidade, tem bordas regulares e o fundo da ferida é liso e brilhante, com característica tegumentar (superficial);

2- Ferida em bisel (ou bico de flauta) – é também chamada de ferida com retalho, e ocorre de forma oblíqua, destacando sempre uma parte do tecido lesado;

3- Ferida mutilante – é aquela que apresenta-se com perda de parte do tecido, pela ação do instrumento, causando aleijão.

11. Características das Lesões por Instrumentos Cortantes:

Instrumentos cortantes são aqueles que possuem lâmina, fio ou lume, assim como a navalha, faca, gilete, canivete, louça, vidro, folha de flande, etc. é um instrumento que age por pressão ou deslizamento, gerando a secção dos tecidos, provocando feridas incisas. Possuem bordas nítidas, lisas e regulares, ausência de outros vestígios traumáticos em torno da lesão, secção perfeita dos tecidos moles subcutâneos, hemorragia geralmente abundante (Hilário Veiga de Carvalho).

12. Principais características da ferida incisa:

a) regularidade das bordas e do fundo da lesão, sem fragmentação dos tecidos;

b) extensão geralmente maior que a profundidade;c) verificação do local do início e final da lesão, através da

causa de escoriação;

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d) aparente diminuição da lesão em razão da contração dos tecidos;

e) maior profundidade no centro da lesão e menor nas suas margens, etc.

Nota: A multiplicidade de lesões incisas em um mesmo local, de maneira cruzada, é possível a identificação da ordem em que foram provocadas, tendo em vista a modificação das linhas dos tecidos, fenômeno este que se denomina de Sinal de Chavigny.

Também são feridas incisas:

a) esgorjamento: corte provocado na região anterior do pescoço;b) degolamento: corte provocado na região posterior do pescoço

(nuca);c) decapitação: corte provocado com o seccionamento total do pescoço,

separando a cabeça do corpo.

13. Lesões provocadas por Ação Perfurante:

Instrumento perfurante é todo aquele que possui uma haste cilíndrico-cônica dotada de ponta. A ação provoca o afastamento das fibras dos tecidos. Os instrumentos podem ser: pequenos, médios ou de grande calibre. As lesões provocadas por estes instrumentos são chamadas de Feridas Punctórias .

As feridas punctórias são causadas por instrumentos perfurantes, entretanto, as lesões produzidas por estes instrumentos podem formar lesões com características semelhantes àquelas provocadas por um instrumento cortante, com peculiaridades específicas, conforme o local da lesão, a dimensão do instrumento e a intensidade da energia. Esse tipo de lesão se assemelha a uma casa de botão, por isso denominada de “botoeira”.

O estudo das feridas punctórias levaram os estudiosos a criarem tr~es especificações distintas para defini-las:

h) a lesão punctória apresenta semelhança cm uma casa de botão, por isso chamada de botoeira;

i) se várias forem as feridas, produzidas em uma mesma região, especialmente atingindo regiões musculares e de encontro de fibras, ficam todas apresentando um mesmo sentido. Tal hipótese denomina-se de Lei de Langer;

j) quando ocorrerem várias lesões, provocados por esse instrumento, na mesma região, podem apresentar uma forma

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ligeiramente triangular. Em todos os casos, verifica-se que a lesão punctória, embora apresente uma aparência de lesão pequena, costuma ser de natureza profunda, às vezes maior que o instrumento que a produziu.

Nota: Estes instrumentos, quando pequenos, (alfinetes, pregos, espinhos, agulha), causam feridas do tipo Puntiformes, sem maiores gravidades. Quando de médio calibre (espeto de churrasco, furador de gelo), podem causar a morte, pois as lesões seguem, geralmente, a direção das linhas do corpo.

Quando estes instrumentos são de grande calibre (estacas, estoques, espetos grandes), pode ocorrer o Impalamento.

As lesões provocadas por instrumentos perfurantes de médio calibre, em uma mesa região do corpo, têm todas a mesma direção, por causa das fibras que são perfuradas (Lei de Filhos). E dependendo da área, a perfuração pode ser em bico, quadrada ou estrelar (Lei de Langer).

Nota: Estas lesões são bastante perguntadas em concursos públicos. Atente-se para o seu estudo.

14. Lesões Causadas por Instrumentos Perfuro-Cortante: Instrumento perfuro-cortante é aquele que possui uma ponta (ação

perfurante) na extremidade de uma lâmina portadora de um ou dois gumes (ação cortante). A ação perfuro-cortante é causada por instrumento perfurante de ponta e gume. Ex: punhal, facão de cozinha, canivete etc. Tais lesões podem ser classificadas em três espécies:

a) – instrumentos perfurantes propriamente ditos;b) – instrumentos perfuro-cortante;c) - instrumentos de pontas e arestas (limas, estoques, baionetas etc).

Nota: Estes instrumentos podem provocar uma lesão que se apresenta um pouco maior do que a própria lamina, em razão da contração dos músculos, da força do agressor, podendo causar dúvidas quanto ao instrumento utilizado.

15. Lesões provocadas por Instrumentos Corto-Contundentes:

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Instrumentos corto-contundentes são aqueles que apresentam peso, superfície de corte a força atuante é a mão do agressor. Ex.: machado, foice, enxada. As lesões podem parecer com aquelas produzidas por instrumentos cortantes e contundentes.

Características: Diz-se que a ferida causada por este instrumento é um pouco bizarra, sendo acompanhada de escoriações e equimoses. Quando há superfície óssea, geralmente ocorrerá fratura. Provocam lesões do tipo CONTUSA.

16. Lesões Por Instrumento Perfuro-Contundente:

Instrumentos perfuro-contundentes são aqueles que, quando atuam na superfície, perfuram e contundem. São as lesões produzidas por PAF. (projétil de arma de fogo), causando lesões PÉRFURO-CONTUSA).

Os canos das armas de fogo, quase sempre possuem RAIAS, que são pequenos sulcos que imprimem ao projétil movimento de rotação sobre o seu eixo. A função das RAIAS é aumentar a precisão e o alcance do projétil. Este raiamento deixa marcas no projétil (são as impressões digitais da arma), permitindo a identificação da arma usada para o disparo (exame balístico – de comparação), caso seja apreendida para exame.

Já existem algumas munições que não permitem a identificação da arma por exame balístico (balas especiais que explodem ou fragmentam).

Algumas armas de fogo, como espingardas, possuem canos lisos (sem raias) e não permitem também o exame de identificação por estes sinais.

17. Esquema das lesões conforme os instrumentos:

Ação simples:

Instrumento Característica tipo de ferida.Cortante................ corta ............................... incisaPerfurante..............perfura.............................punctóriaContundente..........contunde..........................contusa

Ação mista:53

Instrumento Caracterísstica tipo de feridaPerfuro-cortante.........................perfura e corta................perfuro-incisaPerfuro-contundente..................ferida contundente......... pérfuro-concisaCorto-contundente corta e contunde.................... corto-contusa

18. As Lesões por projétil de Arma de Fogo.

Podem ser esquematizadas em:

a) orifício de entrada (O E.);b) trajeto: e;c) orifício de saída (O S.)

O orifício de entrada é o ingresso do projétil. O trajeto é formado pela linha seguida pelo projétil no interior do corpo. O orifício de saída é o ponto de saída do projétil do corpo (ocorrendo apenas nos tiros transfixantes, quando o projétil perfura o corpo e sai em seguida).

Nota: É importante notar a diferença entre orifício de entrada O E. e ferida de entrada. O Orifício de Entrada é o buraco de entrada da bala. A ferida de entrada é o conjunto das lesões provocadas pela entrada da abala (O E. + escoriações + zona de enxugo + zona de tatuagem etc.).

19. Os tiros podem ser classificados em:

a) tiro encostado (ou em boca de mina): quando todos os elementos resultantes do disparo alcançam a superfície corpórea.

Nota: No tiro com o cano encostado no corpo, estando a arma aquecida, pode a vítima ficar com a marca do cano no corpo.

b) tiro a queima-roupa (a pequena ou curta distância): em que ainda se verifica na superfície corpórea a atuação dos gases superaquecidos e da chama resultante da combustão da pólvora;

c) tiro à distância: onde o alvo só é atingido pelo projétil.

Nos tiros muito próximos ou encostados, o ferimento pode ser irregular. O mesmo acontece com os projeteis que ricocheteiam antes de ferir

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a vítima, pois ao atingirem objetos anteriormente à vítima, perdem os eu formato e produzem ferimentos de bordas irregulares.

Nota: Os tiros que atingem a pessoa apenas de raspão, apresentam feridas atípicas, dando idéia preliminar de terem sido produzidas por outro instrumento.

O estudo das Lesões produzidas por PAF. é fonte de inúmeras informações a respeito do fato, sendo imprescindível para apuração da verdade, não só com relação à autoria, como também sobre as circunstâncias do fato, além de ser necessário por ser corpo de delito.

20. Ferida de Entrada – Formas – Dimensões e Zonas de Contorno:

a) Forma: O PAF apresenta lesão, em geral, de forma circular ou oval, conforme seja a incidência do tiro (respectivamente perpendicular ou inclinado (oblíquo). A forma do orifício pode variar conforme a direção do tiro, a distância e as condições do projétil.

b) Dimensão: As dimensões do orifício devem ser consideradas em relação ao projétil e em relação ao orifício de saída. Em relação ao projétil, o orifício é geralmente menor, pois, em virtude da elasticidade da pele, esta só é perfurada após distendida. Nos tiros muito próximos, o diâmetro da ferida é maior que o do projétil.

d) Orlas e Zonas de Contorno: O orifício de entrada, seja qual for a distância do tiro, apresenta uma Orla De Contusão e uma Orla De Enxugo.

e) Cone de Dispersão: é o conjunto de elementos formados por pólvora combusta e incombusta e gazes superaquecidos que saem com o projetil, podendo alcançar o alvo, nos crimes a curta distância ou com o cano encostado.

f) Tiro a distância: - é aquele disparado além do cone de dispersão.

g) Rosa de Tiro: é a lesão provocada por múltiplos projeteis, podendo determinar a distância do disparo, observando-se a distância entre os ferimentos provocados na vítima, tendo em vista o cone de dispersão.

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g) Nitrito e Nitrato: são resíduos que costumam ficar nas mãos de quem efetua disparo de arma de fogo, pois tal substância contem na pólvora (também nos inseticidas).i) Ninal de Bonet, é a lesão provocada pelo projetil, indicando o ângulo do tiro, formando um cone na saída, inverso do cone de entrada. j) Orla de Contusão ou de Escoriação: é uma pequena escoriação de

coloração escura, causada pelo atrito do projétil para romper a pele;l) Orla de Enxugo: é provocada pelos resíduas trazidos pelo projetil,

e que ficam na pele, formando uma orla de impurezas, quando a pele limpa o projétil pela contração do impacto;

m)Zona de Tatuagem: é provocada por incrustação de grânulos e poeiras na região atingida, formando uma tatuagem;

n) Zona de Esfumaçamento: É provocada pela fumaça ou por grãos de pólvora incombusta e impurezas, que são facilmente removíveis;

o) Zona de Chamuscamento ou queimadura: é produzida pelos gases superaquecidos que queimam a epiderme, pelos, vestes etc. Só se forma nos tiros muito próximos;

p) Aréola Equimótica: Ocorre pela sufusão hemorrágica proveniente da ruptura de pequenos vasos ao redor da lesão.

q) Cavitação ou Trajeto é o caminho do projétil no corpo, provocando lesões ao longo do seu curso. Nos casos de disparo por arma de alta velocidade, podem provocar lesões específicas. Estas lesões merecem cuidados pelos médicos que atuam no atendimento às vítimas, pois, ao suturarem tais tecidos, precisam retirar toda a margem ao longo da zona de cavitação, que em razão do trajeto do projetil, resultou danificado e, caso seja suturado sem essa observância, os pontos certamente romperão e com muita freqüência ocasionará infeções significativas.

r) Orifício de Saída: É o buraco por onde sai o projétil do corpo (nos tiros transfixantes), sendo este, geralmente, maior que o orifício de entrada, e onde podem ser encontrados fragmentos de ossos ou tecidos. No orifício de saída, a lesão é de dentro para fora (evertida).

Nota: Os tiros que atingem o crânio, apresentam-se com algumas

peculiaridades.

Nota: No tiro a curta distância o orifício de saída tem os bordos virados para o interior do crânio (isto ocorre porque o projétil, quando passa

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pelo osso, causa o efeito de ação e reação, fazendo com que os bordos virem-se para dentro.

Nota: Nos tiros a longa distancia, ocorre o contrário, ficando o orifício com “imagem de igreja” (como se fosse mão espalmada para cima). Este fenômeno é resultante da força e velocidade do projétil.

Características do Orifício de Entrada:

a) Regular (de contornos normais)b) Invaginado (invertido)c) proporcional ao projétild) com orlas e zonas

Características do Orifício de Saída:

a) dilaceradob) evertidoc) desproporcional ao projétil (maior);d) sem orlas e sem zonas.

Capítulo X.

Classificação das Lesões Corporais.

A Lei Penal distingue lesões corporais levando em conta o seu resultado, estudo este que realiza com o auxilio da Medicina Legal, para classifica-las em três tipos: leves, graves e gravíssimas.

O Art. 129 do Código Penal descreve que lesão corporal é a ofensa à integridade corporal ou à saúde de outrem. Sem maiores conseqüências, a simples ofensa aos bens jurídicos tutelados podem caracterizar a lesão corporal leve.

Para a lesão corporal de natureza grave, estabeleceu no § 1º do mesmo dispositivo legal, quatro hipóteses, todas vinculadas a determinados resultados. A seguir, classificou no § 2º, mais cinco outros tipos de lesão, com resultados mais graves, que a doutrina acabou conotando como gravíssima. Assim, não estando o

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resultado lesivo inserida em nenhum dos parágrafos do Art. 129, compreende-se como lesão de natureza leve. Em qualquer hipótese, é o resultado do exame de corpo de deleito quem oferecerá elementos materiais para a autoridade classificar a conduta e o tipo de lesão corporal.

1. Lesões Corporais Leves.

São as lesões de que trata o Art. 129, caput, do Código Penal, ou seja, a simples ofensa á integridade física ou psíquica da pessoa.

Art. 129. Ofender á integridade corporal ou a saúde de outrem.

Compreende-se nesta hipótese, para a classificação da lesão leve ou simples, aquela cujo resultado não esteja previsto nos parágrafos 1º ou 2º do mesmo artigo, ou seja, a classificação se dará por eliminação das ademais hipóteses. Tal diagnóstico se fará através do exame de corpo de delito.

2. Lesões Corporais Graves.

Se da lesão corporal resultar incapacidade para as habitualidades ocupacionais por mais de trinta dias (Art. 129, § 1º, I)

Significa a impossibilidade de realizar qualquer ocupação e não somente a atividade específica que antes desenvolvia. O exame que comprova a incapacidade deve ser realizado no 30.º dia após a lesão e deverá ser realizada com base no exame anteriormente feito. A incapacidade não precisa necessariamente ser absoluta.

Exame Complementar: É oportuno lembrar que, nos casos de lesões corporais o exame de corpo de delito inicialmente produzido pode não ser suficiente para a adequada classificação do delito ou necessitar de um outro exame que melhor explique a natureza da lesão. A hipótese mais comum de um segundo exame da lesão, é a incidência prevista no Art. 129. § 1º, I, quando tratar-se de lesão que incapacite o ofendido para o trabalho, por mais de 30 dias, o que caracterizará a lesão corporal grave. Para que haja a incidência em questão, o segundo exame deverá ser realizado no 30º dia do fato, devendo o perito ter por base o laudo do exame realizado anteriormente (Art. 168, § 2º.). Frise-se, entretanto, que na ausência do exame complementar, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta ( § 3º.).

O conceito de lesão grave incapacitante para as atividades habituais por mais de 30 dias é funcional e não econômico, ou seja, a incapacidade deve impedir qualquer atividade e não apenas uma atividade específica que, anteriormente, a vítima exercia.

3. Se da lesão corporal resultar perigo de vida (Art. 129, 1º, II).58

Importante é se verificar que o que a lei classifica como perigo de vida é o estado de periclitação da vida, reclamando uma intervenção médica imediata, sob pena de ocorrer a morte. O perigo significa um diagnóstico real que consiste num estado de pré-morte, como, por exemplo, parada cardíaca, estado de coma, parada cerebral etc.

A lei não considera perigo de vida o risco potencial provocado pela lesão, em face da sua natureza ou localização, mas exige que o perito afirme o perigo de vida, identificando no laudo o quadro clínico indicativo de que a vida do paciente realmente sofreu perigo, descrevendo o tipo de lesão que promoveu tal perigo, ou o processo patológico que esta ocasionou. Não se admite presunção e nem prognóstico de tal perigo.

4. Se da lesão corporal resultar debilidade permanente de membro, sentido ou função (Art. 129, 1º, III).

Para a lei penal, debilidade é o resultado de uma lesão que reduz a capacidade funcional, do membro, do sentido ou da função. Mas exige também como classificação, que tenha caráter permanente, não significando entretanto, que seja perpétua, mas que não permita que se possa prevê a cessação de suas conseqüências.

a) Membros: são os braços, antebraços, cotovelos, mãos, dedos, coxas, pernas e pés.

b) Sentidos: são a visão, audição, olfato, paladar e tato.

c) Função: é o conjunto de atividades de um ou mais órgãos, sistema ou aparelho que conduz a uma atividade padrão (ex.: função digestiva, função respiratória).

d) Debilidade: significa uma redução expressiva da atividade, não necessariamente a sua anulação.

e) Permanente: quando cessam os meios tradicionais de tratamento ou recuperação. Meios habituais de tratamento são os meios rotineiros. Também não precisa ter o caráter de perpetuidade.

f) Debilidade permanente de membro: traumatismo no nervo do braço, devido ao qual o indivíduo fica com uma expressiva diminuição da força.

g) Debilidade permanente de sentido: redução da audição por poluição sonora violenta; diminuição da visão em conseqüência de traumatismo na região ocular, resultando no descolamento da retina.

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h) Debilidade permanente de função: atrofia do rim, ocasionando diminuição da função renal.

5. Se da lesão corporal resultar aceleração do parto (Art. 129, 1º, IV).

Também é classificada como lesão de natureza grave a agressão que tenha como resultado a antecipação do parto. A proteção da lei é dupla, alcançando tanto a gestante como o produto da concepção, que tem a tutela da lei para que se desenvolva de maneira regular e pelo período necessário, sem interferência exterior. Observe-se que na antecipação do parto, o concepto precisa nascer vivo, do contrário será aborto.

6. Lesões Corporais Gravíssimas:

Se da lesão corporal resultar incapacidade permanente para o trabalho (Art. 129, 2º, I).

A lesão corporal geradora de incapacidade permanente para o trabalho deve se caracterizar pela impossibilidade, por meios tradicionais, de tratamento. A incapacidade deve se referir a qualquer forma de trabalho e não somente a uma determinada atividade que antes a vítima desenvolvia. Nesta hipótese, o conceito é econômico e, por trabalho, entende-se, de forma genérica, qualquer atividade.

7. Se da Lesão Corporal resultar enfermidade incurável (Art. 129, 2º, II).

Para que a lesão seja classificada como enfermidade incurável deve ter um caráter de definitividade, no momento do seu resultado final. A doutrina não exige que a vítima se submeta a processos não convencionais de tratamento, mas que seja uma patologia resultante do trauma, que dentro da Medicina Legal seja considerada incurável, tal como: “ferida penetrante no tórax que ocasiona lesão grave da pleura, produzindo uma aderência do pulmão à caixa torácica e diminuindo, assim, a capacidade respiratória do indivíduo. Quando resulta de fator interno, é chamada de doença”.

8. Se da lesão corporal resultar perda ou inutilização de membro, sentido ou função (Art. 129, 2º, III).

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Nesse caso a graduação é maior do que na debilidade permanente (lesão grave). Perda é a neutralização total das funções de um órgão, sua retirada, amputação, extração.

Exemplos:

a) perda de membro: amputação de quaisquer dos quatro membros;

b) perda de sentido: enucleação (extração) do globo ocular;

c) perda de função: pancada no rosto que arranca todos os dentes, perdendo a função mastigadora;

d) inutilização de membro: traumatismo sob o plexo braquial (embaixo do braço), com secção de nervo, inutilizando o braço;

e) inutilização de sentido: cegueira total dos dois olhos;

f) inutilização de função: traumatismo em bolsa escrotal que inutilize a função reprodutora.

“A questão da visão tem uma outra conotação. Quando o indivíduo enxerga com os dois olhos, não apenas enxerga o que tem que enxergar, como também possui uma especialização na função da visão, chamada de função estereostática (visão em profundidade). Alguns peritos admitem que a cegueira total de um só olho não é somente uma debilidade do sentido da visão, mas constituiria uma inutilização da função estereostática.

“A surdez total unilateral retira do indivíduo a audição estereofônica: ele não consegue direcionar exatamente de onde vem o som. Alguns peritos admitem que a surdez total unilateral constitui uma inutilização da audição espacial, do sentido direcional da audição”.

“No caso de órgãos duplos – mas independentes dos sentidos (como os rins), se somente um deles é atingido, mesmo que resulte em extração, entende-se como lesão grave que causa debilidade, e não como lesão gravíssima”.

9. Se da Lesão Corporal resultar deformidade permanente (Art. 129, 2º, IV).

A deformidade permanente que a lei penal descreve é a alteração estética, plástica, de forma a trazer repugnância aos olhos dos outros, não significando apenas aspectos de aparência. Pode ser uma cicatriz deformadora do rosto. A vítima não está obrigada a se submeter a processo cirúrgico para reparação do dano.

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Joao Campos, 03/01/-1,
Página: 1 pto e virg

10. Se da lesão corporal resultar aborto (Art. 129, 2º, V).

Aborto, para a medicina legal é a morte do concepto, em qualquer fase da gravidez, com ou sem expulsão do útero. Para o Direito Penal somente interessa o aborto doloso. Na hipótese de agressão, a lei exige ainda que o agressor tenha conhecimento da gravidez.

11. Relação de Causalidade.

O resultado a que a Lei Penal se refere para classificar como lesão corporal deve ter relação direta com a conduta do agente, ou seja, deve decorrer da ação ou da omissão do agente provocador.

É importante não deslembrar que condutas podem existir que dão causa a resultados, mas estes são agravados por outras causas, modificando significativamente o resultado desejado ou promovido pelo agente. Nessas hipóteses, há que se verificar a relação causal entre a conduta e o resultado, para que este somente seja imputável ao causador se realmente lhe for justo.

As Concausas são fatores que podem preexistir à conduta do agente, como também aparecer supervenientemente à atuação do autor, mas que contribua expressivamente para um resultado diverso do que naturalmente ocorreria naquele trauma.

12. As Concausas podem ser:

a) Concausas preexistentes

São fatores preexistentes à lesão e que podem contribuir para sua agravação ou para um resultado não naturalístico. Podem ser: anatômicas, fisiológicas ou patológicas.

1) Concausas preexistentes anatômicas

São anomalias congênitas (má formação), como a patologia cistus inversus (órgãos do lado contrário).

2) Concausas preexistentes fisiológicas

Referem-se ao estado de funcionamento, no momento da lesão, de determinado órgão (ex.: o sujeito está com a bexiga cheia; se houver trauma pode estourar a bexiga, ao passo que se ela estivesse vazia, esse mesmo trauma não a afetaria; mudança de resultado em razão de uma concausa preexistente de origem fisiológica, como a gravidez, em razão da qual um trauma pode ser agravado. Ressalte-se que o início da gravidez não é de fácil constatação).

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3) Concausas preexistentes patológicas:

São causas preexistentes que decorrem de doenças como: hemofilia, diabetes, aneurisma etc.

b) Concausas supervenientes

São as causas que ocorrem após a ação do agente, ocasionando um agravamento do resultado. Podem envolver imperícia, negligência, imprudência, infecções etc. São incidências que podem significar agravamento de uma lesão e que podem ou não ser imputadas ao autor. Podem também ser independente da lesão e por si só dar ensejo em um resultado não imputável ao autor da lesão inicial.

c) Concausas Concomitantes:

São causas que eventualmente se manifestam ao mesmo tempo que ocorre a ação do agente. Pode inclusive ter origem patológica, como no caso de m agente ferir alguém no momento em que esta sofre um ataque cardíaco.

Capítulo XI.

Lesões Provocadas por Ação Térmicaou por Energia Elétrica:

Energia de ordem física são aquelas que modificam o estado físico do corpo ou parte dele e, em conseqüência disso, sobrevém lesões orgânicas ou a morte da vítima.

Nota: Todas as energias físicas podem intervir e causar lesões. Ex:

temperatura, a pressão atmosférica, a eletricidade, a luz e o som.

Nota: A temperatura também pode produzir lesões: o frio, o calor e as temperaturas oscilantes podem causar algumas lesões ao indivíduo.

1. Queimaduras:

As Queimaduras comportam várias classificações, sendo a mais importante a que se divide em 4 (quatro) graus:

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1º. Grau – Rubefação, lesão muito leve, causando pequena rubefação na pele, mantendo-a intacta;

2º .Grau – Vesicação, são flictemas com serosidades de colorido amarelo, chamadas popularmente de “bolhas”. Ocorrerá a regeneração.

3º. Grau – Escarificação, a pele e os tecidos subjacentes se necrosam e a região toma forma acinzentada. Ocorrerá cicatrização e podem produzir danos deformantes e perturbações funcionais;

4º.Grau – Carbonificação, pode ser superficial ou profunda, chegando a atingir os próprios ossos e acarretar a morte da vítima

2. Lesões Por Energia Elétrica:

A queimadura ocorre pelo efeito JOULE, ou seja, a transformação da energia elétrica em calor.

São duas as formas de lesões por Energia Elétrica:

a) Energia Natural – (atmosférica), chama-se fulguração ou fulminação o efeito da eletricidade natural (cósmica), são provocadas por descargas elétricas entre as nuvens (raios). Neste caso, a morte sobrevém por paralisia dos centros nervosos, surgindo o fenômeno da asfixia e parada do coração. As vísceras ficam escuras, formando as petéquias puntiformes – de Tardieu (hemorragias pequenas), que aparecem nas zonas subpleural e subcardíaca. Ocorre sem perda sanguinia e de forma rápida.

b) Energia Industrial – chama-se eletroplessão. Decorre geralmente de acidentes. Depende da voltagem do choque, baixa ou alta voltagem, podendo provocar a morte. Ocorre sem perda sanguinia. E de forma rápida.

Vitriolagem: é a lesão provocada por substâncias cáusticas como ácido sulfúrico, potassa, a soda, água de cobre etc. a palavra vitriolagem deriva de vitríolo, que é próprio ácido sulfúrico. A lesão corporal provocada por vitriolagem pode ser acidental ou provocada. Nesta última hipótese, quase sempre ocorre por ciúme ou vingança.

Colágeno: possibilita a cicatrização das feridas. Nas pessoas negras o excesso de colágeno transborda a área da ferida e forma o queloide.

Capítulo XII.

Asfixiologia Forense64

Conceito – Conforme Roberto Blanco, “Asfixia é um termo criado por Geleno, etimologicamente significando a falta de pulso. Em Medicina Legal, no entanto, significa entidade mórbida em que há, concomitantemente redução no fornecimento do oxigênio aos tecidos e aumento dos níveis de gás carbônico circulante. Podemos simplificar: hipóxia e hipercapnia

Modernamente, entende-se que a morte provocada por inalação de monóxido de carbono, não constitui em caso de asfixia e, sim de intoxicação. O Monóxido de Carbono age combinando-se com a molécula de hemoglobina com uma afinidade 250 vezes mais forte do que a ligação da hemoglobina com o oxigênio.

O Monóxido de Carbono é inodoro, insípido e incolor. Resulta da combustão incompleta de matéria orgânica. É mais leve que o ar.

Nota: “Os operários das minas de carvão, para detectar a presença de monóxido de carbono nas minas, costumam levar cães e pássaros, pois estes sentem imediatamente os primeiros sinais da presença dessa substância (geralmente caem e passam mal), permitindo os operários a tomarem providências ou se retirarem do local”.

O Gás de Botijão. Nas mortes por inalação de gás liqüefeito, gás de botijão, não havendo combustão, a morte ocorre por confinamento, uma vez que o butano e o propano, gazes existentes em maior concentração no botijão, não são tóxicos. A morte, nesses casos, ocorre por rarefação do ar ambiental e modificação quantitativa dos gazes respiráveis, ou seja, ocorre o confinamento.

Nota: Em todos esses casos (morte por asfixia intoxicação ou confinamento, o exame sangüíneo é quem vai determinar a causa da morte

Cianeto – produz morte por asfixia (os livores se apresentam com uma coloração avermelhada da cor de cereja).

Eletroplessão – É a morte causada por energia elétrica industrial. São mortes que geralmente ocorrem sem perda sangüínea e de forma rápida.

Fulguração – É a morte provocada por energia natural (cósmica).Em ambos os casos as vísceras ficam escuras formando as petéquias (hemorragias puntiformes (pequenas), que aparecem na zona subpleural e subcárdias).

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Nas mortes por asfixia é comum os peritos encontrarem pequenos pontos de hemorragias denominadas manchas lenticulares de Tardieu, geralmente presentes nas regiões subconjuntival, subpleural, subpericárdica ou sob o couro cabeludo. Tais manchas, caracteristicamente das mortes por sufocação direta ou indireta, quando não há perda sangüíneas, também podem aparecer em quase todas as modalidade de mortes nas quais não haja perda de sangue, até mesmo nas mortes naturais, morte repentina, sem ocorrência hemorrágica.

1. Características da morte por asfixia:

Os estudos periciais demonstram que nas mortes rápidas por asfixia o sangue aparece fluido com coloração escura, anegrada (em razão da fibrilação intensa e rápida); os livores cadavéricos aparecem mais escuros (pela fluidez sangüíneas; rigidez cadavérica intensa e mais rapidamente).

Asfixia é m fenômeno que podemos encontrar em quase todas as modalidades de morte, vez que, ao final de cada vida, há, de qualquer forma, um quadro de asfixia, exceto quando a morte ocorre com grave hemorragia, com perda sangüíneas, especificamente nos casos de traumatismo crânio-encefálico.

2. Classificação das Modalidades de Asfixia Mecânicas:

a) Asfixia Mecânica por constrição do pescoço: enforcamento, estrangulamento por laço ou por mão (esganadura);

b) Asfixia Mecânica por oclusão dos orifícios respiratórios externos (sufocação direta);

c) Asfixia Mecânica por obstáculo aos movimentos do tórax (sufocação indireta);

d) Asfixia Mecânica por respiração num meio líquido ou meio sólido pulverulento;

e) Asfixia Mecânica decorrente da oclusão das vias respiratórias por corpos estranhos (sufocação direta).

3. Características Comuns nas mortes por Asfixia:

1. Sangue fluido escuro, exceto no afogamento (quando o sangue é claro);

2. Congestão poli-visceral;3. Equimose de Tardieu, ou Mancha de Tardieu, ocorrendo na região

sub-pleural, sub-epicardia e sub-conjuntival.66

4. Características típicas do Afogamento:

1. presença de elementos com areia, algas, lama e outros substâncias, nos orifícios e outras partes do corpo;

2. presença de cogumelo de espuma (Brouardel), que se desprende pelas narinas e pela boca, oriundas do pulmão;

3. pele esbranquiçada, flácida e arrepiada;4. forma agigantada do cadáver pelo estado de decomposição (após

cerca de 24 horas).

No Afogamento: Manchas de Paltauf (pequenas manchas hemorrágicas subpleurais, menores que as manchas lenticulares de Tardieu), ocasionando o aparecimento de equimoses, provocadas pelo rompimento dos alvéolos pulmonares em razão da aspiração profunda da substância líquida provocadora do afogamento.

5. Fases do Afogamento:

a) apnéia voluntária – a vítima prende a respiração;b) grandes incursões respiratórias – a vítima vai afundando e ao subir

à tona, puxa todo o ar que puder;c) pequenas incursões respiratórias – a vítima, estando cansada, não

chega á tona completamente, perdendo cada vez mais as suas forças.

d) A morte aparente ocorre em cerca de 3 a 4 minutos e a real em cerca de 5 minutos.

Podem também ser observadas lesões de arraste, que são lesões decorrentes do arrastamento do corpo pela correnteza, quando este se atrita com outros objetos no seu curso, podendo resultar lesões que não devem ser confundidas com as causas da morte. Também pode ser encontrado cadáver com lesões por mordidas de peixe ou outros insetos, igualmente importantes de serem observados para exclusão como causa da morte.

Após o afogamento, o corpo toma posição característica, com maior declive na cabeça, braços e pernas, posição que segue também a formação dos livores cadavéricos, que se forma na cabeça e no pescoço, com coloração escura, “cabeça de negro”, o que pode dificultar o reconhecimento da vítima.

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Nas mortes por afogamento é importante o estudo das algas (plâncton), substâncias encontradas nas vias respiratórias do cadáver, e que podem indicar exatamente o local onde se deu fato. Em alguns casos dessa natureza, fato ocorre em local diverso do que o corpo é encontrado e pode dificultar a sua identificação e até mesmo o local de sua origem, trabalho este que pode ser facilitado pelo estudo dessas algas.

Outro aspecto importante a ser observado e o estudo da causa morte, nas hipóteses de aparente afogamento, pois, em alguns casos, a morte pode ter origem anterior à imersão, sendo a vítima atirada ao mar para simular outra causa. Na hipótese, temos que verificar se a morte ocorreu por ação da água, quando certamente estarão presentes algumas substâncias como: água, areia, algas, etc. no estômago e nos pulmões da vítima. Caso o cadáver tenha sido jogado na água após a morte, nada disso será encontrado no cadáver, além da glote.

Afogamento branco de Parrot: São mortes que ocorrem em ambiente líquido, mas não é a ingestão desse liquido o causador da morte. Nesse caso, não sendo diagnosticada a causa da morte, afastadas todas as hipóteses, diz-se que houve afogamento branco ou afogamento de Parrot, aquele cuja causa real não se pode identificar.

O Médico Legista e Delegado de Polícia Roberto Blanco explica que: “quando o afogamento ocorre em água doce, a hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos) é acentuada e, conseqüentemente, há liberação de grande quantidade de potássio para a circulação, o que pode determinar alterações de rítimo cardíaco e morte por fibrilação ventricular. E acrescenta o mesmo autor, que quando o afogamento ocorre em água salgada, verifica-se acentuado edema pulmonar, e abaixamento do ponto de congelamento do sangue (crioscopia), inversamente do que ocorre no afogamento em água doce”.

Afogamento Interno: é o afogamento que ocorre em situação de traumatismo em que o sangue hemorrágico verte-se para a glote e traquéia, provocando a insuficiência respiratória.

6. Algumas modalidades de Asfixia por Constrição do Pescoço:

a) Estrangulamento: apresentam como sinais característicos lesões em forma de canal ou circulares em torno do pescoço, indicando constrição por laço. Características: sulco horizontal, infra-hioideo, contínuo e de profundidade homogênea.

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b) Enforcamento: é uma asfixia mecânica que se caracteriza pela constrição do pescoço, por intermédio de um laço, cuja extremidade se acha fixa em um determinado ponto, e que é tracionado pelo próprio peso da vítima, causando-lhe a morte por asfixia..

Quando o corpo da vítima estiver alcançando algum anteparo, dissemos que o enforcamento é incompleto; se a vítima tem o corpo completamente pendurado e sustentado pelo laço, trata-se de enforcamento completo; estando o nó do laço, na parte posterior do pescoço, ou seja, na nuca, dizemos que o enforcamento é típico; estando o nó em outro local diferente da nuca, chamamos de enforcamento atípico.

As características descritas sobre o enforcamento devem ser bem observadas e estudadas as suas circunstancias, pois, como sabemos, a maior incidência de tais mortes ocorre por suicídio, entretanto, podem ser resultantes de acidente ou de homicídio simulado.

As lesões do enforcamento podem ser encontradas no osso hióide, carótida, cartilagens do laringe, coluna vertebral e, ainda, pode haver roturas musculares. Se a córnea do indivíduo estiver com equimose (sub-conjuntival), é sinal da ocorrência de asfixia. (H.V.Carvalho). O sulco do enforcamento é de forma obliqua, ascendente, supra-hioideo (sobre a laringe) e descontínuo.

Nota: Para se determinar se o indivíduo estava morto quando do enforcamento devem ser estudadas as lesões, buscando-se sinais vitais. Se o indivíduo não apresentar equimoses, lesões viscerais, hemorragias nos tecidos profundos do pescoço etc., será sinal de que faleceu antes do enforcamento.

c) Estrangulamento – Constrição do pescoço com laço, provocando a morte pela força muscular (com as mãos ou outro instrumento);

d) Esganadura – Constrição do pescoço diretamente com as mãos, provocando a morte por asfixia. São sinais característicos o aparecimento de estigmas ungueais ((lesões semi-lunares causadas pelas unhas).

Estigmas Ungueais: (pequenas escoriações de aspectos semilunares, formadas pelas unhas nos locais da agressão). Quando aparecem no pescoço, podem indicar Esganadura; Se aparecerem na região da boca ou do nariz da vítima, podem significar sufocação direta por obstrução dos orifícios respiratórios; se presentes nas pares genitais, poder indicar incidências de crimes sexuais. É importante observar que os estigmas ungueais apenas

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demonstram a modalidade da ação vulnerante. Estas lesões podem ser notadas cm mais precisão através de exame interno.

As esganaduras são bastante comuns também nos crimes de infanticídios, bem como nas brigas entre pessoas de igual robustez física (velhos, mulheres e crianças)

7. Algumas Modalidades de Asfixia sem Constrição do Pescoço:

a) Asfixia por compressão do tórax (sufocação indireta): equimose cervico-facial ou máscara equimótica de Morestin. São manchas violáceas e anegradas que aparecem na face, no pescoço e em toda a parte superior do tórax da vítima, pela formação de milhares de petequias.

b) Soterramento: é a modalidade de morte por modificação qualitativa do meio ambiente, ou seja, a penetração, nas vias respiratórias, de substâncias sólidas ou semi-sólidas, pulverulenta, provocando insuficiência respiratória aguda e, por conseguinte, a morte. Nesta modalidade de morte por asfixia, é comum o aparecimento de cogumelos de espuma, petequias e até resíduos nas vias respiratórias.

c) Confinamento: é a morte ocorrida em ambiente atmosférico qualitativamente modificado pela diminuição do oxigênio. Podem ocorrer em lugares fechados em que não se altere a qualidade do ar ambiente. Também pode ocorrer por aspiração de gás de botijão, gás liquefeito, em que há a presença do gás butano ou propano, que não são tóxicos, mas que provocam a morte por confinamento.

A Asfixiologia é a supressão da respiração, proveniente de energia físico-química. Segundo Hoffman:” é morte produzida por impedimento mecânico à penetração do ar atmosférico na árvore respiratória”.

e) Sufocação Direta: oclusão das vias respiratórias (boca, nariz), com travesseiro ou outro instrumento que provoque asfixia direta;

f) Sufocação Indireta: compressão toráxica impeditiva da respiração ( pode ocorrer por exemplo em soterramento)

Livores Cadavéricos: Os Livores cadavéricos do enforcamento começam a surgir após a 3ª hora da morte, intensificando-se com cerca de 6 horas e por volta das 8 horas, se fixam. O sangue se deposita nas regiões de maior declive, em conseqüência da força da gravidade.

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Nota: Livores em locais diferentes podem demonstrar que o cadáver foi removido de lugar, quando da generalização dos livores. Nos enforcamentos incompletos, o local do corpo sobre o qual este estiver apoiado apresentará pele esbranquiçada.

Capítulo XIII.

Tanatologia Forense.

Conceito - Tanatologia é a parte da Medicina Forense que estuda o fenômenos da morte, através dos sinais que dela decorrem. Estes sinais, chamados thanatos-morte, podem aparecer imediatamente após a morte, assim como de forma mediata, a partir de fenômenos que se manifestam com o desaparecimento dos sinais vitais, como; resfriamento, rigidez cadavérica, livores, manchas verdes abdominais etc.

A morte, em resumo, é a cessação dos fenômenos vitais pela parada das funções; cerebral, respiratória e circulatória, dando lugar a uma série de conseqüências jurídicas.

1. Diagnóstico de Morte.

Não é tarefa das mais fáceis, levando-se em conta os conhecimentos disponíveis atualmente, definir ou conceituar a morte. A ciência estabelece parâmetros que para uns significa diagnóstico de segurança, para outros podem gerar discussões, entretanto, o entendimento comum define morte como a cessação de todos os sinais de vida.

Os diagnósticos primitivos da morte tinham por base a parada respiratória, entre os gregos, a “morte pulmonar”. Evoluindo o conhecimento médico sobre tal fenômeno, chegamos atualmente ao conceito de “morte encefálica, um diagnóstico de maior precisão, uma vez que estágio leva em consideração a precedência da morte cardíaca e respiratória, após o que, naturalmente, acontece a morte dos demais órgãos vitais e, para a medicina, indica um estágio de irreversibilidade. Este diagnóstico de morte encefálica é aceito pela Medicina Legal como o momento em que se poderá operacionalizar o transplante de órgãos, conforme a legislação em vigor.

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Nota: A Lei nº 9434/97, assim como as Resoluções 1346 e11480/97, do Conselho Federal de Medicina-CFM, determina que, para efeito de retirada de órgãos para transplante, deverá haver a declaração da morte encefálica, não satisfazendo apenas o diagnóstico da morte cerebral.

O diagnóstico de morte encefálica, ou parada definitiva da atividade encefálica, é um procedimento complexo que exige profissionais habilitados, instrumental e centros médicos de excelência, não existentes em todos os locais do País. A morte é caracterizada em nosso meio pela presença dos sinais abióticos (sinais que indicam ausência de vida).

Logo após a parada cardíaca. a morte dos órgãos e estruturas vitais como: o pulmão e o encéfalo, surgem os sinais abióticos imediatos ou precoces, representados pela perda da consciência, midríase paralítica bilateral (dilatação das pupilas), parada cardiocirculatória, parada respiratória, imobilidade e insensibilidade, dentre outros sinais. Estes fenômenos são considerados como sinais de probabilidade, ou seja, indicam a possibilidade de morte e são denominados por alguns autores como período de morte aparente, por outros são chamados de morte intermediária. Algum tempo depois, começam a aparecer os sinais abióticos mediatos, tardios ou consecutivos, fenômenos estes indicativos de certeza da morte, tais como: livores, rigidez, hipotermia (ou equilíbrio térmico) e opacificação da córnea. Estes sinais constituem uma tríade denominada pela M.D. – livor, rigor e algor –, ou seja, alterações de coloração, rigidez e de temperatura, indicativos de certeza da morte (morte real).

2. A Morte pode ser Natural ou Violenta:

a) Morte Violenta: aos olhos do interesse jurídico penal, restringe-se ao Homicídio, suicídio (quando houver participação) e Acidente. Fora desses casos, a morte é considerada natural.

b) Morte Natural: é a morte decorrente de problemas patológicos. São fatos que não geram interesse de natureza penal, podendo, entretanto, decidir questões do Direito Civil.

Nota: na hipótese de morte natural, o profissional que prestar assistência médica à vítima deverá atestar a causa da morte. Quando se tratar morte violenta, a responsabilidade de determinar a causa clínica da morte se transfere para o médico-legista, seguindo tramitação administrativa e requisição da Autoridade Policial.

Nota: Não compete ao médico-legista determinar a classificação jurídica da morte, pois esta conclusão será feita pela Autoridade Policial, com base no Laudo Cadavérico, Laudo Pericial de Local e também nas provas

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testemunhais. Ao legista cabe tão somente determinar a causa clínica da morte.

A MORTE, tanto natural como provocada (violenta), tem relevante interesse jurídico. Quando Natural, abre questões de Direito sucessório. Quando Violenta, além desses aspectos, desencadeia o interesse criminal para apurar sua causa, motivação, circunstancia e a responsabilidade penal pelo resultado.

3. Tipos de Morte.

Quanto ao modo, as mortes são classificadas em naturais, violentas ou suspeitas. Alguns autores incluem outros tipos, como a morte reflexa (“congestão”), determinada por mecanismo inibitório, como nos casos de afogados brancos, estudados em Asfixiologia. As mortes violentas são divididas em acidentais, homicidas e suicidas.

4. Quanto ao tempo, as mortes são classificadas em:

a) Súbita: aquela que não é precedida de nenhum quadro, que é inesperada.

b) Agônica: aquela precedida de período de sobrevida. Neste item cabe lembrar das situações de sobrevivência, em que o indivíduo realiza atos conscientes e elaborados no período de sobrevida; por exemplo, após ter sido atingido mortalmente com um tiro no coração, o indivíduo tem tempo para reagir e ferir ou matar o desafeto; ou então o suicida que, após ter dado um tiro na cabeça, escreve bilhete de despedida (situações não usuais, mas possíveis).

Nota: A Cronotanatognose – Estudo do Tempo da Morte: é a parte da Tanatologia que estuda o tempo da morte, através da observação dos sinais e dos fenômenos que dela decorrem, tais como: o resfriamento generalizado do cadáver, os livores cadavéricos, a rigidez cadavérica, o aparecimento dos gases, a mancha verde abdominal, os Cristais Westenhofer – Rocha-Valverde, perda do volume do corpo, o aparecimento da fauna cadavérica, flora cadavérica (o Professor Roberto Blanco nos fala da possibilidade de encontrarmos fungos e vegetais no cadáver, resultante do processo de decomposição biológica), os fenômenos gastrointestinais, Crioscopia (estudo do ponto de congelamento do sangue), dentre outros.

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O estudo do tempo da morte é importante para efeito de determinar o momento da morte e, por conseguinte, ter reflexos no direito sucessório, através pelo estudo do momento da morte, e o estabelecimento da Comoriência ou Premoriência.

É importante lembrar que a legislação brasileira determina parâmetros legais para resolver a questão de duvidas em relação a mais de uma morte que presumidamente tenha ocorrido num só momento.

Para a Lei Civil, não se admite a presunção da Premoriência. Em tais situações, quando houver dúvida sobre quem morreu primeiro, esgotados os meios investigatórios, a questão se resolve considerando-se que todos morreram simultaneamente, ou seja, decide-se pela Comoriência.

Crescimento dos pelos post mortem: Na literatura da medicina Legal podemos encontrar vários autores fazendo comentários sobre o crescimento dos pêlos após a morte. A ordem de crescimento, segundo Balltazar, em citação por Roberto Blanco, é de 0, 21 mm por hora. Outros autores questionam e afirmam que os pelos não crescem após a morte, e que tem fenômeno tem seu equivoco pelo resultado da retração da pele, promovida pela desidratação, dando a impressão de que os pelos cresceram, o que não é verdade. Esta posição é a que filiamos e demonstra melhor fundamento

5. A Morte pode ser classificada também como:

d) Morte Anatômica – é a morte simples, que ocorre com a parada das funções vitais, o falecimento dos órgãos, dos aparelhos, geralmente de forma rápida.

e) Morte Histológica – ocorre de forma mais lenta ou paulatinamente, numa seqüência de falecimentos dos órgãos vitais (como ocorre nas doenças).

f) Morte Aparente – ocorre quando o indivíduo apresenta a aparência de morto mas ainda vive, alguns órgãos ainda estão em funcionamento, ainda que precariamente. Nesse caso, pode haver reversibilidade e retornar à vida, através de um atendimento médico ou até espontaneamente.

g) Morte Relativa – Ocorre com a parada completa e prolongada do coração. O indivíduo é considerado morto, entretanto, manobras médicas podem restituir-lhe a vida.

h) Morte Intermediária – É a fase inicial da morte, com o aparecimento dos sinais de falecimento, indicadores de que a vida não mais será restituída ( sinais de resfriamento generalizado, atonia muscular etc.)

i) Morte Real – É a morte verdadeira, absoluta, com sinais irreversíveis e de certeza da morte. Este diagnóstico de morte

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encefálica é aceito pela Medicina Legal como o momento em que se poderá operacionalizar o transplante de órgãos, conforme a legislação em vigor. É a morte verdadeira, absoluta, com sinais irreversíveis e de certeza da morte. Este diagnóstico de morte encefálica é aceito pela Medicina Legal como o momento em que se poderá operacionalizar o transplante de órgãos, conforme a legislação em vigor.

Nota: É importante registrar que após a morte, o intestino continua digerindo por algumas horas; as unhas e os cabelos continuam crescendo por algumas horas e os espermatozóides ainda vivem por algumas horas.

Nota: O diagnóstico diferencial entre as formas “súbita” e “agônica” é possível com provas especiais, denominadas docimásticas, que estudam as células, tecidos e substâncias presentes no organismo, como glicogênio e adrenalina.

Nota: Nas mortes naturais, regra geral, o médico deverá fornecer “Declaração de Óbito”, documento que contém o Atestado de Óbito e que originará a Certidão de Óbito.

Nota: Nas mortes naturais, sem diagnóstico da causa básica (doença ou evento que deu início à cadeia de eventos que culminou com a morte), há necessidade de autópsia pelos Serviços de Verificação de Óbitos e, nas mortes violentas, as autópsias devem ser realizadas pelos Institutos Médico-Legais.

Comoriência: é a ocorrência de mais de uma morte simultaneamente. A Doutrina Jurídica, para solucionar casos complexos de morte de mais de uma pessoa, seja por interesse penal ou por reflexo no Direito Civil (para fins sucessórios), entende por comoriência as circunstâncias em que mais de uma pessoa morreu e que, em tais situações, não seja possível identificar quem ou qual morreu primeiramente. Dá-se na hipótese, todos como mortos simultaneamente.

Premoriência: ao contrário da comoriência, ocorre quando, na mesma hipótese, é possível identificar aquele que morreu em primeiro lugar.

6. Especificidades do Exame em Cadáver:

Momento de realização do exame de necropsia: O Art. 162, do CPP, estabelece que a necropsia deve ser feita pelo menos seis horas após a morte, exceto quando, pela evidência dos sinais da morte, entenderem que possa feito antes deste prazo, circunstância esta que deverá constar do próprio laudo.

No Caso de Morte Violenta: Quando se tratar de morte violenta, cujos sinais externos demonstrem por si só a causa da morte, não havendo também necessidade de verificação de qualquer outra circunstancia que seja relevante na sua apuração, os

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peritos poderão deixar de realizar o exame interno do corpo, sendo assim o laudo elaborado com base nas lesões externas, Art. 162, P. Único do CPP.

Exumação de Cadáver: É o ato de desenterramento do cadáver ou dos restos mortais, para que seja realizada alguma diligência determinada pela autoridade. Nesse caso, a Autoridade providenciará para que seja determinada dia e hora para o exame, em cujo laudo deverá consignar todas as circunstâncias do exame e da diligência de exumação, na forma do Art. 163, do CPP.

Nas hipóteses de exumação, o administrador do cemitério, público ou particular, será informado e deverá indicar para a Autoridade, o local exato da sepultura ou onde o cadáver estiver, facilitando assim a diligência de exumação, sob pena de responder por crime de desobediência, como se vê do Art. 163, P. Único, do CPP.

Fotografias do Cadáver: É exigência da Lei Processual Penal, que se fotografe o cadáver na posição em que for encontrado, assim como, quando for possível, se perpetue por fotografia todas as lesões externas e outros vestígios deixados no local do crime. Tais registros podem ser imprescindíveis na elucidação do delito e das suas circunstâncias, assim como para esclarecer questionamentos futuros que poderão aparecer. É o que determina o Art. 164, do CPP.

Outras Formas de Registro: Além da fotografia prevista para documentar os fatos observados pelo perito, este profissional também pode juntar ao laudo os seus esquemas ou desenhos que realizar para melhor retratar os fatos, devendo estes serem devidamente rubricados pelos peritos, a fim de constituírem elementos de informações integrantes do respectivo laudo. É o que prescreve o Art. 165, do CPP.

Identificação/Reconhecimento: Quando a exumação tiver por finalidade dirimir dúvidas quanto a identidade do cadáver, o perito deverá registrar todos os sinais que encontrar no objeto de exame, de forma pormenorizada, assim como arrecadar e autenticar todo e qualquer objeto que for encontrado no local, para que seja, ao final, minudentemente descritos, e possa permitir a sua identificação ou reconhecimento empírico. Nesses casos, também podemos recorrer a provas testemunhais.

7. Sinais da Morte:

São vários os critérios adotados pelos médicos para concluir sobre a morte, dentre eles: a imobilidade do corpo, a ausência de pulso, a cessação da respiração e dos batimentos cardíacos, o resfriamento progressivo do corpo, a rigidez cadavérica, os livores cadavéricos (hipóstases), a parada completa e prolongada da circulação, a flora cadavérica etc.

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Os sinais da morte são classificados por diversos autores, sendo mais comum os que classificam em: a) sinais duvidosos; b) sinais prováveis: e c) sinais de certeza da morte.

Nota: Cada um desses sinais aparecem em momentos diferentes, permitindo o médico legista e o próprio investigador, observá-los para estabelecer o momento possível da morte – a cronotanatognose.

a) Sinais duvidosos da Morte :

1) imobilidade do corpo;2) perda da consciência;3) perda da sensibilidade geral e dos sentidos;4) suor frio e horripilação da pele;5) suspensão dos movimentos aparentes de respiração;6) cessação dos batimentos cardíacos;7) ausência de pulso;8) face cadavérica etc.

b) Sinais Prováveis da Morte :

1) resfriamento progressivo do corpo;2) paralisia dos esfíncteres;3) manchas da esclerótica;4) hipóstases etc.

c) Sinais de Certeza da Morte:

1) Pergaminhamento da Pele: ocorre quando a pele começa a desidratar e, perdendo líquido pela evaporação e ficando com aspectos de dessecação, endurecida como um couro, daí o nome de pergaminho;

2) Mancha Verde Abdominal: ocorre na fase de gaseificação, quando o corpo aumenta de volume e indica o início do processo de putrefação.

3) Evaporação Tegumentar: é a perda do líquido corporal pelo fenômeno da evaporação, ocorrendo a diminuição doa volume do cadáver, sinal que terá influência da situação climática do local;

4) Parada Completa e Prolongada da Circulação: Fenômenos oculares: achatamento do globo ocular e perda da transparência da córnea, causados pela desidratação. A periferia do globo ocular pode apresentar manchas escuras e relaxamento das pálpebras,

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que são chamadas de manchas negras ou sinal de Sommer e Larcher;

5) Rigidez Cadavérica: é o fenômeno que ocorre com o endurecimento do corpo e a imobilidade das articulações, transformação que se dá principalmente pela acidificação dos tecidos;

6) Livores Cadavéricos – são concentrações sangüíneas no interior dos vasos, acumulados nas regiões de maior declive, face a lei da gravidade, formando manchas arroxeadas , que se generalizam em toda a parte onde houver concentração do sangue. Este fenômeno começa a aparecer logo após a morte, pela cessação dos batimentos cardíacos, cessando também a circulação sangüínea, que se acumulam nas regiões mais baixas do corpo, conforme a sua posição, formando os livores.

Nota: Existem outros sinais de certeza da morte, mas que são tardios, como: a putrefação e outros fenômenos cadavéricos.

Inumação: é o sepultamento, o momento final do cadáver, ato também que deve seguir regras de natureza legal, sob pena de incidência de Contravenção Penal, Art. 67, da Lei nº 3.688/41 - L.C.P.

Cremação: É a incineração, a queima do cadáver. Este ato, quando tratar-se de morte decorrente de crime ou morte suspeita, deve ser precedido de autorização da autoridade encarregada da investigação, uma vez que, após a cremação, nada mais restará para ser eventualmente periciado, caso haja necessidade.

Nota: A morte, em resumo, é a cessação dos fenômenos vitais pela parada das funções; cerebral, respiratória e circulatória, dando lugar a uma série de conseqüências jurídicas.

Atestado de Óbito, ou mais acertadamente Declaração e Óbito, tem a finalidade de assegurar a realidade do óbito, esclarecer questões de ordem sanitária e satisfazer as exigências da determinação da causa jurídica da morte.Certidão de Òbito: É o documento que comprova o fim da vida civil, o termino da existência, o final da vida biológica, que teve início com a Certidão de Nascimento.

8 Fenômenos Cadavéricos:

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Microscopicamente, horas após a parada cardíaca, ocorre um processo de auto-destruição celular denominado autólise, caracterizada por auto-digestão determinada por enzimas presentes nos lisossomos, uma das organelas citoplasmáticas.

Macroscopicamente, o primeiro sinal de putrefação é o aparecimento da mancha verde abdominal na região inguinal direita (porção direita, inferior do abdome). Tal mancha é originada pela produção bacteriana de hidrato de enxofre que, por sua vez, determina a formação de sulfohemoglobina, ou seja, na morte o enxofre “ocupa” o lugar do oxigênio ou do dióxido de carbono na hemoglobina.

A mancha aparece de 16 a 24 horas após a parada cardíaca, progride para as outras regiões abdominais e depois para o corpo todo, caracterizando a fase cromática da putrefação. Nos afogados a mancha verde pode aparecer no tórax.

9. Os Fenômenos Cadavéricos podem ser classificados como Imediatos e Mediatos ou Consecutivos (tardios)

A) São Fenômenos considerados Imediatos da Morte:

1.) perda da consciência;2.) perda da sensibilidade;3.) imobilidade e abolição do tono muscular;4.) cessação da circulação.

B) São Fenômenos Consecutivos ou Mediatos (tardios):

1) evaporação tegumentar;2) desidratação e pergaminhamento da pele;3) esfriamento do corpo: (vai depender da constituição do

cadáver e do local onde se encontra);4) hipóstase: são como os livores cadavéricos, mas significam

aglomerações sangüíneas nos órgãos (pulmões, coração, intestinos etc), diferente dos Livores que ocorrem em todo o corpo;

5) Lanchea Somor; é uma mancha preta que se forma no olho da vítima, por causa da desidratação;

6) rigidez cadavérica: é o endurecimento muscular pela perda da articulação e dos movimentos. Inicia-se cerca de 2 horas após a morte, ocorre de cima para baixo, se generalizando cerca de 6 horas após, começa a desfazer-se cerca de 24 a 36 horas

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após, também de cima para baixo, quando se inicia a putrefação.

7) espasmo cadavérico (rigidez cataléptica ou estatuária): é quando a rigidez ocorre instantaneamente à morte, o que pode acontecer quando a morte se dá por ferimentos graves na cabeça;

8) Livores Cadavéricos: são manchas de sangue que se acumulam no cadáver, (acúmulo de sangue dentro dos vasos), formando-se nos locais de maior declive, ocasionado pela parada circulatória e aparecem pela ação da gravidade. Possuem a cor roxa violácea, por causa da presença da hemoglobina (presente no sangue).

Os livores podem ser constatados a partir de cerca de 10 minutos da morte, como minúsculos pontos de coagulação sangüínea que ocorrem dentro dos vasos e começam aparecer visivelmente por volta de ½ hora após a parada cardíaca. Com aproximadamente duas horas da morte os livores se apresentam semelhantes a manchas, aumentando de tamanho e se generalizando por parte do corpo que fica na região de maior declive, obedecendo assim a força da gravidade, já por volta das 6 a 8 horas após a morte. Aproximadamente 10 a 12 horas da morte, os livores estarão fixos nos locais de sua formação, não mudando mais de posição ainda que o corpo seja removido ou alterada a sua posição.

A rigidez, contratura muscular, tem início na cabeça, uma hora após a parada cardíaca, progredindo para o pescoço, tronco e extremidades, ou seja, de cima para baixo céfalo-caudal (da cabeça para os pés). O relaxamento se faz no mesmo sentido. Tal observação é denominada Lei de Nysten. O tempo de evolução é variável.

10. Fenômenos Transformativos do Cadáver:

Após a morte, o cadáver passa por diversos estágios no curso da sua destruição biológica, considerados fenômenos cadavéricos, cada um deles apresentando características diferentes que permitem investigar algumas questões como: o tempo da morte, o local de sua ocorrência, dentre outros. Estes fenômenos transformativos do cadáver podem ser: destrutivos, quando promovem a sua destruição, e conservadores, quando possibilitam que o corpo se mantenha intacto por muito tempo.

A) Fenômenos Transformativos Destrutivos:

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1) Putrefação (decomposição do cadáver, significando a destruição de toda a massa corpórea, resultando na esqueletização);

2) Maceração (desfazimento quando o corpo fica na água), decorrente do excesso de umidade ou presença de muito líquido. A maceração pode ser Asséptica (quando o meio-o útero, é estéril), podendo aparecer no concepto morto a partir do quinto ou do sexto mês de morto; ou Séptica (quando o ambiente é contaminado). Na maceração ocorre o destacamento dos tegumentos cutâneos e deslocamento da epiderme das mãos e dos pés, formando o que a Medicina Legal denomina de “luvas” e “meias”, respectivamente, formadas por estas partes que se desprendem do corpo, e que embora se torne mais difícil, ainda permite estudar, por elas, as impressões digitais do cadáver. São sinais da Maceração fetal, dentre outros, o cavalgamento dos ossos do crânio, mobilidade anômala das articulações, achatamento do abdômen e da cabeça

Nota: É importante ressaltar que a Maceração não significa que a morte

se deu em meio líquido, pois não é causa da morte, mas uma transformação post mortem, significando que o cadáver permaneceu imerso por tempo suficiente para se desfazer por este fenômeno.

Conforme o Professor Roberto Blanco, “Nos fetos que permanecem mortos no interior do útero, (abortos retidos), por mais de 24 horas, a maceração precede a putrefação. Fora do útero, de um modo geral, uma vez que a contaminação bacteriana tem origem no exterior (de fora para dentro), os orifícios naturais evidenciam os primeiros sinais de putrefação. A mancha verde, assim, nos fetos, não aparece inicialmente no abdômen”.

3) Autólise: é a destruição das células pelas suas próprias enzimas, provocada pela falta de oxigênio e a desidratação.

B) Fenômenos Transformativos Conservadores: 1) Mumificação: é um fenômeno cadavérico conservador, em que o

corpo, por se encontrar em uma área seca, quente e arejada, pode permanecer por muito tempo com suas características intactas, fato este que ocorre espontaneamente em face dessas condições climáticas. O fator mais importante para a ocorrência da mumificação espontânea é a falta de umidade, impedindo a

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proliferação das bactérias responsáveis pela decomposição. É possível que este fenômeno ocorra apenas em parte do corpo, caso haja uma situação em que somente uma parte esteja exposta a estas condições.

2) Saponificação ou Dipocera: (ocorre em área úmida e pouco arejada), em que o cadáver se transforma em substância de consistência untosa, mole, amarelada, quebradiça, na forma de sabão ou queijo. Pode ser mais comum em pessoas obesas, em mulheres grávidas, bem como nas hipóteses em que o cadáver permanece em locais de solo úmido ou mal arejado.

A Saponificação é um fenômeno conservativo e é caracterizado pela transformação da gordura corporal em uma massa semelhante a sabão, dando aos restos mortais um aspecto acinzentado e um odor semelhante ao de queijo rançoso.

11. A Putrefação:

A putrefação é o processo de destruição do cadáver, por fenômenos biológicos, químicos e físicos, provocados por bactérias.

O curso do processo de putrefação pode sofrer influências ditas: 1) intrínsecas: com relação à causa mortes, a constituição física do indivíduo, a idade; 2) extrínsecas: as condições climáticas, umidade do local, o arejamento, composição química do solo, etc. Todos esses fatores podem influenciar na ação das bactérias, da flora e da fauna cadavérica, determinando assim o processo de decomposição. Este fenômeno é desencadeado pelos microorganismos presentes no corpo, mas poderá ser auxiliado por outros que penetram durante o processo putrefativo.

A Putrefação é um dos fenômenos cadavéricos de grande importância para o estudo do tempo da morte. Ocorre seqüencialmente em períodos que apresentam características específicas do processo destrutivo.

A Medicina Legal por intermédio do exame denominado de Rocha Valverde (exame de identificação do início do processo putrefativo), identificou este processo em: 4 períodos distintos:

Períodos da Putrefação:

a) Coloração, Cromática ou de Manchas – é a exteriorização do início da putrefação. Ocorre cerca de 18 a 22 horas da morte. É o

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aparecimento das manchas verdes abdominais, resultado da combinação de hidrogênio sulfurado (H2S), desencadeado pelas bactérias do próprio organismo, com a hemoglobina, o pigmento vermelho que compõe o sangue, formando uma composição denominada de hemoglobina modificada, que se apresenta com uma coloração verde-escuro. A Mancha Verde Abdominal tende a espalhar-se por todo o corpo, desencadeada pela infiltração dos gases e aparecendo mais evidente nos locais de maior declive, onde se formam os chamados livores cadavéricos;

Nota: Nas mortes por afogamento, quando o cadáver permanece por algum tempo imerso, os livores se desenvolvem com maior rapidez na parte da cabeça, por esta ficar em posição de maior declive, causando o fenômeno que se chama “cabeça-de-negro”, justamente por causa do acúmulo de sangue na região do pescoço e da cabeça. Este sinal também pode apresentar dificuldade para efeito de reconhecimento do cadáver, tendo em vista o aspecto cromático e o aumento de volume que costuma apresentar.

b) Gaseificação – aumento do volume do corpo pela infiltração dos gases e a formação de enfisema putrefativo. Os membros se avoluma e apresentam desproporcionalidade com o corpo. A região escrotal se destaca e a língua fica avolumada (procidente), extrapolando a orbita bucal. Os olhos ficam esbugalhados. Nas mulheres, a fase de gaseificação pode causar a expulsão do útero, e em caso de gravidez, também pode promover a expulsão do concepto (Parto Póstumo de Brouardel), fenômeno que tende a gerar confusão com crimes sexuais. Algumas dessas manifestações podem parecer lesões e confundir pessoas desavisadas, como se fossem lesões intra-vitam, mas que resultam de fenômenos post mortem. Esta fase geralmente apresenta-se no período entre uma a 3 semanas da morte;

c) Coliquação - ocorre a destruição dos órgãos, intensificados pelos germes e microorganismos, larvas e insetos, havendo também uma natural redução do volume. Pode durar um ou mais meses, dependendo do ambiente climático local e do aparecimento de outras formas de destruição. Também pode aparecer apenas em parte do cadáver, locais mais afetados pelos fatores externos.

Nota: É nessa fase que pode ocorrer a Mumificação espontânea ou a Saponificação.

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4) Período da Esqueletização – é a fase final do processo putrefativo, quando desaparecem os tecidos, as vísceras, a pele, permanecendo apenas a parte óssea. Este fenômeno é bastante complexo para ser determinado e servir como estudo do tempo da morte, uma vez que sofre influência de vários fatores e podem demorar semanas ou anos para que ocorram.

Nota: Para efeito de diagnóstico e investigação é muito importante uma observação atenciosa em locais de encontro de cadáver esqueletizado, pois podem ser encontrados totalmente espalhados e até danificados sem que esta situação tenha relação com a causa morte, mas oriunda de ação do tempo ou de animais. Outro aspecto igualmente relevante é o cuidado que se deve ter na colheita dos restos do cadáver, para efeito de identificação, pois uma pequena peça poderá fornecer elementos de informação capaz de facilitar a descoberta da identidade da vítima. Nos locais denominados de “desova”, pontos de encontro comum de cadáver, especialmente em regiões de alto índice de criminalidade, como nas favelas e nos morros do Rio de Janeiro, da Grande São Paulo, Belo Horizonte, e outros centros, é comum os peritos encontrarem várias ossadas ao mesmo tempo e em um só local, circunstância que deve merecer muita atenção dos peritos e investigadores, tanto para os serviços de diagnóstico da causa morte como para a identificação dos cadáveres.

Nestas situações, o trabalho minucioso do perito criminal, especialmente no recolhimento e registro de todo o material, vai facilitar enormemente o serviço do Médico Legal e da Autoridade Policial, tanto para a identificação quanto para a investigação do fato.

12. Odonto-Legal

Aspectos Odontológicos de Interesse Médico-Legal.

Após a morte, os dentes sofrem uma alteração cromática e apresentam uma pigmentação de cor rosada, especialmente nas mortes violentas e súbitas, fenômeno este causado pela fluidez sanguínea e a congestão venosa, resultando no extravasamento do sangue dentro do túbulo dentário.

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Estes sinais podem sofrer influencia da temperatura, da umidade, da posição do corpo e de outros elementos como a própria constituição dentária da vítima.

13. Exames Odontológicos através de Mordidas.

Não são raros os casos em que as investigações policiais se apegam nos conhecimentos da odontologia para desvendar crimes por intermédio de sinais deixados na vítima ou em objetos, no local do crime, pelo criminoso.

As marcas deixadas pelo criminoso em um alimento ou até mesmo na vítima, permitem, por análise de confronto com a arcada dentária de uma pessoa suspeita, verificar as impressões dentárias, mediante fotografias, superposição e exame dos elementos dentários dos vestígios e de pessoas investigadas, para afirmar a autoria do delito, como também diagnosticar tais vestígios para identificar se se trata de mordida humana ou de animais.

14. Identificação pela arcada dentária:

Não raros são os casos em que o auxilio da Odontologia Legal se faz imprescindível na elucidação de incidências criminosas e também na identificação dos seus autores. Além disso, muitos são os casos em que esta especialidade do conhecimento científico se faz presente para investigar a identidade de pessoas através dos sinais dentários.

A identificação através dos dentes permite determinar, dentre outras hipóteses, se se trata de dentes humanos ou de animais, a idade, etc.

Capítulo XIII.

SEXOLOGIA CRIMINAL

Conceito: A Sexologia Forense tem por objeto de estudo as incidências médico-legais relativos ao sexo.

No âmbito da sexologia e toda a sua complexidade, o tema subdivide-se em três vertentes de estudo: 1) Himeneologia, que tem por objeto de estudo o casamento e demais aspectos decorrente da união de pessoas de sexo diferentes, assim como questões de compatibilidades, doenças hereditárias, saúde da prole etc.; 2) Obstetrícia, cujo estudo se desenvolve no âmbito dos fenômenos da fecundação, da anticoncepção, da gestação, do aborto, do parto, do infanticídio, do puerpério e do estado puerperal, além de aspectos ligados à investigação de paternidade; 3) Erotologia, a parte da ciência Médico-legal

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que estuda os estados intersexuais, as perversões, os crimes sexuais,a prostituição e demais comportamentos de anormalidades ligados ao sexo.

Assim dentro das suas vertentes de estudos específicos, a Sexologia também engloba as questões decorrentes de crimes sexuais como: estupro, sedução, atentado violento ao pudor, posse sexual, conceito de virgindade, himenologia e seus desdobramentos, aspectos do casamento e da separação, da fecundação, gestação, parto, aborto, infanticídio, eugenia, investigação de paternidade, anomalias sexuais, conjunção carnal etc.

As implicações relativas ao sexo estão presentes tanto no Direito Penal quanto no Direito Civil, com reflexos também no Direito Processual. Tais incidências, de regra, necessitam da produção de prova material a ser elaborada no âmbito da Medicina Legal.

No Direito Civil a Sexologia pode auxiliar na investigação de paternidade, nas questões de impotência, nas implicações do casamento etc.

No âmbito do Direito Penal, as incidências parecem mais comuns nos crimes sexuais, no estudo da Himenologia, da virgindade, da conjunção carnal etc.

Conceito de Mulher Virgem – Aos olhos da Medicina Legal, mulher virgem é aquela que não teve ainda experiência sexual.

A expressão “Mulher Virgem”, contida no Art. 217, do Código Penal é um elemento normativo que significa inexperiência quanto ao ato da conjunção carnal.

Conjunção Carnal – para a medicina Legal, significa a penetração do pênis na vagina, completa ou incompleta, com ou sem ejaculação. A conjunção carnal é um ato libidinoso que se traduz no contacto pênis/vagina intromissio pênis, ato este que precisa ser devidamente comprovado para a caracterização, por exemplo, do estupro consumado.

Atos Libidinosos: é o ato praticado com o propósito de satisfazer o apetite sexual.

Libido: é o estimulo, o apetite sexual, ou seja, o impulso à satisfação sexual.

Comprovação da Conjunção Carnal – para efeito de comprovação da conjunção carnal, estuda-se, dentre outros elementos, a ruptura da membrana himenal, a presença dos componentes do esperma, além de outros vestígios deste ato libidinoso.

A estrutura anatômica da região perineal feminina é formada por um complexo de membranas de espessuras diferentes, além de partes que possuem funções específicas e que constituem o órgão sexual feminino. Conforme o professor Roberto Blanco, a estrutura vagínica é constituída ds seguintes partes:

1) Monte de Vênus;86

2) Grandes lábios;3) Comisura anterior;4) Prepúcio;5) Clitóris;6) Pequenos lábios;7) Vestíbulo;8) Mastro urinário;9) Óstio;10) Fossa navicular;11) Fúrcula vaginal;12) Períneo;13) Anus;14) Himem;15) Gládula de Bartholin.

A conjunção carnal tem maior relevância quando estudamos os crimes sexuais, especificamente o estupro. A conjunção carnal não é um ato ilícito, a menos que ocorra com violência, quando então caracterizará o crime de estupro.

Estupro é crime previsto no Artigo 213, do Código Penal, significando a posse sexual da mulher, mediante violência ou grave ameaça. Para tanto, não se perquire se a mulher é virgem ou não, se é honesta, solteira, prostituta ou casada, o que interessa para a ordem repressiva é a prática do ato libidinoso mediante essa sujeição.

A mulher casada pode ser vítima de estupro pelo próprio marido, desde que com esta tenha relações sexuais mediante violência ou grave ameaça.

A Lei Penal fala em violência real ou presumida, significando esta, as hipóteses descritas no Art. 224, da mesma ordem jurídica, quando se tratar de pessoas menores de 14 anos de idade, deficientes mentais ou até mesmo mulheres que, em virtude de condições específicas ou circunstâncias, tiveram suas vontades viciadas, seja por agressão corporal ou por qualquer meio que reduza ou anule a capacidade da oura parte, como por exemplo: manter relações com pessoas totalmente embriagadas (embriagues aguda); com pessoas drogadas e envolvida pelo domínio da droga; com pessoas anestesiadas (inconscientes); com pessoas hipnotizadas, etc, de forma tal que, naquela condição, não tinham o domínio da vontade para discernir sobre a prática do ato.

O exame de Corpo de Delito é uma providência essencial nas hipóteses de estupro, tanto para comprovar a violência e colher elementos de materialidade do crime, como para efeito de aborto legal, nas causas permissivas do Art. 128, II, do Código Penal, que autoriza o aborto quando a gravidez é decorrente de estupro, o chamado aborto sentimental.

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No Estupro, são quesitos essenciais a serem respondidos pelo Perito Legista:

1) Se a paciente é virgem; 2) Se há vestígio de desvirginamento recente (nesse caso considera-se recente o desvirginamento com menos de 15 dias, após o que, fica difícil determinar a data do ato); 3) Se há outros vestígios de conjunção carnal recente; 4) Se há vestígio de violência e, se possível, qual o meio empregado (podendo o perito registrar os vestígios inerentes ao próprio ato libidinoso e outros vestígios que possam constituir a forma violenta do ato); 5) Se da violência resultou alguma seqüela para a vítima (este quesito deve ser respondido de forma específica, registrando a conseqüência resultante); 6) Se a vítima é alienada ou débil mental (este quesito terá por finalidade tipificar a hipótese da qualificação delitiva prevista no Art. 224 – violência presumida); 7) Se presente alguma outra causa modificadora da capacidade da vítima de oferecer resistência ao ato (debilidades, doenças ou qualquer outra impossibilidade).

No exame de corpo de delito em caso de estupro, o perito poderá comprovar o ato pela presença dos componentes do esperma:

b) espermatozóide;c) líquido seminal (oriundo da veicula seminal);d) líquido prostático (oriundo da próstata), ee) fosfatase ácida (presente no líquido prostático e no líquido

seminal ou semem), além de verificar a violência pela presença de estigmas ungueais (unhadas), escoriações, equimoses, lesões de defesa, etc.

De forma mediata, a comprovação da conjunção carnal poderá ser feita pela presença da gravidez, pelo aparecimento de doenças venéreas etc.

Himenologia – é a parte da Medicina Legal que estuda os hímens, suas espécies e classificação anatômica. Importante é não confundir Himenologia com Himeneologia, esta é a parte da Medicina Legal que estuda as questões referentes ao casamento.

O estudo do himem é de relevante importância para se verificar com mais segurança quando da incidência de violências sexuais, pois o formato anatômico de alguns tipos de hímens pode gerar confusões para o perito, que poderá confundir suas características naturais com vestígios de violência.

A Medicina Legal classifica os hímens em: Acomissurados e Comisssurados. Os primeiros, são denominados: semilunal, helicoidal, septado, imperfurado (sem óstio) e cribriforme; os Comissurados são: bilabiado, trilabiado, multilabiado (poliforme). Também pode ser encontrada ausência de himem, o que se denomina de Agenesia himenal.

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Himem e suas espécies: Hélio Gomes define hímem como sendo uma formação anatômica situada na parte anterior da vagina. Na verdade, trata-se de uma membrana situada no intróito vaginal, apresentando duas faces: anterior (posicionada do lado de fora) e posterior (do lado de dentro). Possui duas bordas com funções anatômicas diferentes: uma ligando o himem ao corpo e a segunda, formando o óstio, circulando o orifício do próprio himem.

“Na maioria das vezes a borda tem certas ondulações, de tal modo que o diâmetro do óstio, em repouso, sem ser tracionado, é um; uma vez tracionado, ele se apresenta maior. O diâmetro do orifício, devido a sua ondulação, apresenta-se de uma maneira; se forem esticadas todas as ondulações, esse diâmetro se apresentará de maneira diferente”(H. Gomes).

O diâmetro, pela ruptura, torna-se suficientemente largo, permitindo o acesso do pênis no interior da vagina. Face às características da irrigação sanguínea do hímen, ele se rompe e permanece roto, cicatrizando-se a borda da ruptura, mas não se refazendo. Até o 15.º dia da conjunção, as bordas sangram; após esse tempo, as bordas se cicatrizam. O tecido vai se atrofiando até que, após algum tempo, os fragmentos são reduzidos a meros nódulos na parede vaginal, que recebem o nome de carúnculas mirtiformes. As rupturas estendem-se da borda ostial até a borda vaginal. Em alguns livros podemos encontrar a terminologia “ruptura incompleta”, que significa que o hímen rompeu, mas a ruptura não foi até a borda vaginal.

Em algumas mulheres pode haver uma configuração do hímen que se apresenta com o óstio bastante irregular, cujas ondulações se aproximam bastante da borda vaginal. Quando essas ondulações são mais acentuadas, recebem o nome de “entalhes”.

Na medida em que os entalhes se estendem até muito próximo da borda vaginal, quando nos deparamos com rupturas himenais já totalmente cicatrizadas, poderá surgir a necessidade de se fazer um diagnóstico diferencial entre o que é ruptura e o que é entalhe.

Existem vários tipos de hímens, cada um com características e tamanho diferentes, merecendo minucioso estudo de cada espécie, para melhor conhecimento e diagnóstico das situações a serem verificadas.

A Medicina Legal possui estatísticas comprovando que em 80% das incidências investigadas, a penetração do pênis provoca o rompimento da membrana himenal.

Himem complacente: é uma espécie de hímem cuja estrutura muscular pode resistir à conjunção carnal. Significa dizer que mesmo havendo a conjunção carnal, o hímem complacente não se rompe, pois sua elasticidade permite expandir sua orla sem romper a membrana, impossibilitando, apenas pelo estudo da ruptura, a constatação da conjunção carnal. É um tipo de

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himem que, resistindo à cópula sem se romper, pode esconder, aparentemente, a ocorrência de conjunção carnal.

O himem com ruptura leva cerca de até 21 dias para a cicatrização completa, entretanto, os peritos legistas não possuem segurança para afirma a conjunção recente, se esta for anterior a sete dias. Assim recomendamos especialista que o exame de conjunção carnal seja realizado o mais rápido possível, ou no prazo máximo de 7 dias, pra que sejam verificados os vestígios com maior precisão, inclusive para responder sobre os dois primeiros quesito comuns: sobre a virgindade da paciente e sobre a recenticidade do ato sexual

Tempo da ruptura: quanto ao tempo da conjunção carnal, o diagnóstico do perito poderá constatar as seguintes situações: 1) Recentíssima tendo ocorrido no período de poucas horas, quando o legista anda poderá encontrar vestígios de sangramento nas bordas do hímem; 2) Recente: quando existem lesões em processo de cicatrização, indicando lapso temporal em torno de 10 a 15 dias; .3) Não recente ou antiga: quando não aparecem os sinais que encontramos nas duas hipóteses anteriores, demonstrando assim que o fato já ocorreu há mais de 15 dias, não sendo possível determinar o seu tempo.

Himem roto - é o himem deflorado, seja por conjunção carnal ou por outro ato libidinoso ou de violência. O himem roto não se confunde com himem com entalhe, este decorrente de causas naturais.

Características do himem roto: A ruptura himenal é uma lesão provocada. Diante de uma história de violência sexual, a constatação da ruptura himenal gera presunção de conjunção carnal. É importante verificar que a lesão em comento pode ser provocada por intermédio de outras manipulações, e somente a sua presença, enfraquece a presunção. Entretanto, é considerado doutrinariamente como um elemento significativamente importante, que associado a outras evidências, reforçam a hipótese de conjunção carnal.

Exceções à ruptura do hímem: algumas situações existem que podem admitir uma conjunção carnal sem o rompimento do hímem. É o que ocorre em cerca de 20%, das relações sexuais com mulheres virgens, segundo estatísticas dos Institutos e Medicina Legal. Os especialistas apontam várias causas para esses resultados, como por Exemplo:

j) Nas hipóteses de ausência do hímem (anomalias relativamente raras);

k) Nas hipóteses pênis muito pequenos;

l) Em alguns casos em que o hímem possui o óstio himenal com diâmetros bastante grandes;

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m) Hímem complacente;

n) Nas situações em que o excesso de lubrificação durante o ato sexual permita a penetração sem rompimento do hímem, dentre outras hipóteses.

Os especialistas recomendam que se observe com muito cuidado todas essas hipóteses, para impedir uma incidência de simulação ou dissimulação de um crime sexual.

Outros elementos de Investigação: Outros vestígios deixados por um ato de conjunção carnal podem ser verificados pelo perito, dentre eles:

i) a presença de espermatozóide na parte mais profunda da vagina (saco vaginal), o que pode ser examinado pelo perito, com uso de uma espátula ou outro objeto similar, colhendo-se substâncias para exames laboratoriais. A presença de espermatozóide na vagina é presunção de conjunção carnal, vez que é um tipo de substância que independe do tipo de hímem;

j) Outro fator importante de afirmação é a presença de doenças venéreas, especialmente aquelas cujo contágio se dá geralmente pelo contato sexual (sífilis, cancro, condilomas e ouras).

k) A fosfatase ácida: presente cm mais de 5 unidades na vagina;

Nota: O Líquido da Ejaculação é formado por: Espermatozóide, Líquido Seminal (oriundo da vesícula seminal), Líquido Prostático (oriundo da próstata, mais a Fosfatase Ácida (presente no líquido seminal e no líquido prostático. Nos homem, há cerca de 300 a 3000 unidades. Na mulher, até 5 unidades.), formando o ESPERMA.

Nota: A gravidez é um sinal de certeza de uma relação sexual. É claro que a gravidez também pode, em situações especiais, decorrer de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, entretanto, não havendo outro histórico do fato, servirá tal elemento para a afirmação da conjunção carnal.

Gonodatrofina Corionica: É um hormônio que é produzido com o início da gravidez, permitindo por meio deste, constatar-se o estado gravídico.

O himem roto apresenta as seguintes características:

f) suas formas são assimétricas; g) a ruptura é completa;h) é adquirida e cicatriza com o tempo.

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Características do Entalhe: O entalhe é uma espécie de anomalia anatômica do himem. Ele apresenta um formato parecido com fragmentos da membrana himenal e, à primeira vista, pode confundir o perito menos avisado, a pensar que se trata de uma lesão decorrente de conjunção carnal. Entretanto, melhor observados, vão indicar que se trata de um sinal congênito. Suas características principais são:

k) tem forma congênita, ou seja, é de nascença;l) suas alterações são de forma incompleta;m) são simétricas e não cicatrizam com o tempo.

1. Conjunção Carnal, Atentado Violento ao Pudor e outros Atos Libidinosos:

A conjunção carnal já foi dito anteriormente, que se caracteriza por uma cópula pênis/vagina.

O Atentado ao pudor também é uma modalidade de ato libidinoso, caracterizado por um ato diferente da conjunção carnal, como por exemplo o coito anal. Esta prática, quando perpetrada com violência ou grave ameaça, caracteriza o crime previsto no Art. 214, do Código Penal. Pode ser vítima deste crime tanto o homem quanto a mulher, enquanto que o estupro é um delito que tem por sujeito passivo somente a mulher.

É comum ouvirmos pessoas leigas comentarem que uma pessoa do sexo masculino foi vítima de estupro. Na hipótese, o que pode ter ocorrido é um crime de atentado violento ao pudor, ou seja, um ato libidinoso diverso da conjunção carnal, que pode ser praticado contra qualquer pessoa. É a modalidade do coito anal.

A medicina legal presta um serviço de maior importância nos crimes sexuais. Nestes acasos, a materialidade delitiva principal é o Laudo Médico-Legal. O próprio Código de Processo Penal estabelece a sua importância e exige a sua realização nas incidências penais, o que podemos ver também em várias passagens do Código Civil.

2. Conceito Médico-Legal de Mulher Virgem:

Para a doutrina, mulher virgem é aquela em relação à qual não se prova experiência sexual anterior. É a mulher que ainda desconhece as experiências da conjunção carnal.

No nosso Código Penal vigente, encontramos algumas disposições em que trazem agravamento da pena, quando não constitui elemento da conduta, a condição de mulher virgem. Assim temos o crime de sedução, Art. 217, que trás a virgindade como uma elementar do crime: “seduzir mulher virgem,

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menor de 18 anos e maior de 14...”; o Art. 215. P. único, prevê majoração da pena nos crimes de posse sexual mediante fraude “...se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de 18 anos e maior de 14...” Essas questões entretanto, começaram recentemente a desaparecer do Código Repressivo

É importante destacar que esse conceito não é muito próprio para tratarmos das questões previstas nos Arts. 217 e 215, p. único, pois em tais dispositivos, a exigência do legislador é que ocorra a conjunção carnal. Como sabemos, a conjunção carnal é uma modalidade de ato libidinoso (mesmo alguns doutrinadores não querendo que o seja. É ato libidinoso principal, conssumativo, final, etc., mas ato libidinoso). Quando a lei fala em: “ato libidinoso diverso do da conjunção carnal (Arts. 214, 216), não quer excluir a conjunção canal do rol dos atos libidinosos, mas apenas está considerando os outros atos libidinosos, para determinadas hipóteses de crimes. Assim considerando, a inexperiência a que se refere o conceito de mulher virgem, para as hipóteses dos dois artigos, não é a inexperiência sexual, mas a inexperiência do ato de conjunção carnal.

O ordenamento jurídico brasileiro se apegou a este entendimento baseando-se na cultura e nos costumes, fatores que sempre são levados em conta na elaboração das regras jurídicas.

3. Anomalias Sexuais:

São comportamentos não convencionais ou pelo menos não comuns, buscados por algumas pesas, em virtudes de problemas mentais, psíquicos, emocionais ou sociais, para a satisfação dos seus desejos sexuais.

No aspecto jurídico, principalmente no tocante à anulação do casamento, a prática sexual anômala impede a sexualidade normal, tornando-se forma exclusiva da manifestação sexual.

Anomalias sexuais mais comuns:

1) Pedofilia: é preferência sexual por crianças.

2) Sadismo: satisfação sexual pelo sofrimento causado ao parceiro ou á parceira.

3) Fetichismo: é um desvio sexual através do qual o a pesa sente prazer por meio de objetos pessoais de outra pessoa (roupas, calçados etc.).

4) Auto-erotismo: é o erotismo estimulado sem parceiro, substituído por objetos como fotografia, esculturas etc.

5) Anafrodisia: é a diminuição do instinto sexual do homem.

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6) Frigidez: é a diminuição do apetite sexual da mulher, ou também a falta de capacidade para o orgasmo.

7) Narcisismo: é o prazer pela auto admiração, ou seja, o prazer em admirar o seu próprio corpo.

8) Mixoscopia: é a fantasia sexual de sentir prazer em visualizar a relação de do seu parceiro com terceiro.

9) Gerontofilia: é a atração sexual de pessoas jovens por pessoas com idade avançada.

10) Masoquismo: é a satisfação do prazer sexual por meio de humilhação, agressão do próprio parceiro.

11) Sodomia: Prática de coito anal entre parceiros do mesmo sexo ou de sexo diferentes.

12) Tribadismo: é a satisfação sexual entre mais de um parceiro.

13) Necrofilia ou Vampirismo: práticas sexuais com pessoas mortas.

14) Lubricidade senil: é a manifestação sexual exacerbada e incompatível com a idade.

14) Riparofilia: é sentir a atração sexual por pessoas sujas ou mal tratadas.

15) Urolagnia: é o prazer sexual pela excitação de ver alguém no ato de urinar ou apenas de ouvir o ruído da urina.

15) Coprolalia: é a satisfação sexual por meio de falar ou de escutar palavrões e obscenidades.

16) Edipismo: é propensão ao incesto, o impulso do ato sexual por parentes próximos.

17) Bestialismo ou Zoofilia: é a satisfação sexual por atos com animais domésticos

18) Homossexualismo: pode ser homossexualismo masculino, uranismo ou pederastia, também homossexualismo feminino (lesbianismo), do ponto de vista fisiológico, são anomalias.

Nota: A Organização Mundial de Saúde, entretanto, considera o homossexualismo como doença e não como anomalia.

4. Impotências:

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A impotência, conforme define o professor Hélio Gomes, “é a incapacidade para a cópula ou para a procriação”.

A problemática da impotência é classificada em diversas variantes e com peculiaridades concernente à deficiência, se no homem ou na mulher, as causas ensejadoras e as respectivas conseqüências.

A impotência é um fenômeno que pode afetar o homem ou a mulher, e qualquer idade, no curso da vida sexual ativa, podendo ter origem em distúrbios psíquicos, fisiopáticos ou orgânicos.

No nosso estudo, vamos nos limitar à citação de algumas modalidades e seus efeitos.

a) Impotência coeund, erigend, generandi,ou instrumental - é a incapacidade para o ato sexual, por falta de ereção do membro masculino;

b) Impotência generandi - , é a incapacidade para fecundar, ou seja, é verdadeira esterilidade masculina;

c) Impotência concipiendi - é a incapacidade para conceber, ou seja, é a impossibilidade de gerar, esterilidade feminina.

d) Frigidez – falta de apetite sexual por parte da mulher, causa proveniente de patologias.

e) Vaginismo – dificuldade para a relação sexual da mulher, por excesso de contração da vulva, impossibilitando o coito ou dificultando a sua realização.

f) Dispareunia – é a relação sexual dolorosa para a mulher, fazendo cm esta se negue para o ato sexual.

g) Coitofobia – é o medo do ato sexual,por parte da mulher, podendo ser desenvolvido por traumas causados por violência sexual ou distúrbio neurológico.

Capítulo XIV.Fenômenos da Gravidez:

Gravidez É um estado psicológico durante o desenvolvimento do concepto, que passa pelas fases do: ôvo, embrião, feto e nascente.

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O processo da gravidez se desenvolve, por vias normais, com o fenômeno da fecundação, que significa o encontro do espermatozóide com o óvulo, formando a fecundação.

O óvulo já fecundado, denominado de ovo, passa pelo processo de nidação, que é a fixação na parede uterina, onde inicia o seu ciclo de desenvolvimento até o final da gestação e nascimento.

O professor Hélio Gomes nos ensina que o sexo do ser em gestação somente é definido no desenvolvimento do processo gestativo. É o fenômeno da intersexualidade ou estado intersexual.

“Após a fecundação, inicia-se o processo evolutivo do ovo fecundado. Até o segundo mês da vida embrionária o ser em gestação não tem sexo, encontra-se num estado indiferente ou bissexual. A diferenciação, que vem depois dos 60 dias, pode dar-se no sentido masculino ou no sentido feminino”. (H.Gomes).

E o que acontece após a definição do sexo do produto da concepção?

“Quando ocorre a diferenciação para determinado sexo, atrofia-se a parte correspondente ao outro”. Entretanto, o sexo nunca será absoluto, puro. Não há homens 100% homens, como não existem mulheres 100% mulheres. Há criaturas mais ou menos homens e criaturas amais ou menos mulheres”.(H. Gomes).

1. Sinais de Probabilidade da Gravidez:

a) Suspensão das regras (amenorréia): não é de certeza porque pode ocorrer sem gravidez e pode ocorrer gravidez sem a suspensão da regra. A suspensão da regra pode ocorrer também por anemia, tuberculose, doenças genitais. Há casos de mulheres que não menstruam e ficam gravidas;

b) Enjôos e vômitos: Estes sintomas também podem existir fora da gravidez e faltar nela;

c) Secreção láctea: presença de colosto. Pode também haver fora da gravidez, em mulher virgem e até em homem;

d) Modificação dos seios: podem também ocorrer por doenças ginecológicas ou hormonais;

e) Máscara Gravídica: cloasma gravidarum, são manchas no rosto. Podem também aparecer por doenças do ovário, anemias etc;

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f) Aumento do volume do ventre: podem também ocorrer provenientes de tumores abdominais.

2. Sinais de Certeza da Gravidez:

a) Movimento do feto:b) Batimento cardíaco: 130 a 150 vezes por minuto. Não

confundir com os batimentos cardíacos da própria gestante em taquicardia;

c) Sopro uterino: verificado pelo estetoscópio;d) Prova ultrassonográfica;e) Prova radiológica: Após o quarto mês de vida intra-uterina

poderá indicar o esqueleto fetal.

Pseudo-Ciese ou Falsa Gravidez – É a gravidez provocada por razões psíquicas, que apresentam sinais equivocados de gravidez.

Superfecundação: ocorre quando no mesmo ciclo menstrual dois ou mais óvulos diferentes são fecundados por espermatozóides de um ou mais congresso sexual, podendo resultar em gêmeos, até mesmo com paternidades diferentes.

Gravidez ectópica: É quando o embrião nida em outro local diferente da habitual, como: nas trompas, ovário, no abdômen etc. Em tais casos, pode permitir o aborto terapêutico.

Gravidez Molar ou Hidaliforme: É uma degeneração vesicular das vilosidades coriônicas (pregas existentes na placenta), formando inúmeras vesículas de conteúdo líquido, com aspecto semelhante a cachos de uva. Pode apresentar sintomas de gravidez mas gravidez não é. Não há concepto (feto). Há apenas os restos placentários degenerados. Pode haver o esvaziamento placentário sem que seja considerado aborto.

Monstros: A medicina Legal classifica de monstros as anomalias fetais gravíssimas, que não podem permitir o desenvolvimento de um ser humano com as mínimas condições de sobrevivência. São casos geralmente provenientes de talidomida, radiação, viroses, zoonozes etc. Mesmo assim, a legislação brasileira não permite o aborto somente por esse motivo.

Duração da Gravidez: O C.C., art. 338, fala em 300 dias de tempo máximo e de 180 dias de tempo mínimo.

Parto Seródio: É o que ocorre além do tempo previsto.Início da Gravidez: É uma controvérsia na Medicina Legal. Ocorre

com a concepção? com a nidação? Não havendo nidação, ocorrendo a morte

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haverá aborto? Como ficam os embriões de fertilização in vitro, quando não são implantados no útero receptor? são seres vivos? Se fossem jogados fora?

Hemafroditismo: Não existe hemafroditismo verdadeiro na espécie humana, pois necessitaria da presença em um só indivíduo, dos dois órgãos (masculino e feminino), assim como a capacidade de ser ao mesmo tempo produtor e gerador. Existe entretanto, entre animais invertebrados e nas plantas.2. Aborto:

Aborto – Conceito: é a morte do produto da concepção, em qualquer fase da gravidez, com ou sem expulsão do útero. Este conceito abrange o aborto natural e o aborto provocado, ou seja, o aborto criminoso.

O aborto é um tema dos mais complexos no âmbito do Direito Penal brasileiro, cuja discussão tem ingredientes das mais variadas vertentes, dentre as quais, aspectos políticos, culturais, religiosos, etc.

A nossa legislação penal trata da questão nos Arts. 124 a 128, dispondo sobre as condutas típicas e as hipóteses permissivas.

Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da

gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

A doutrina denomina a primeira hipótese como aborto terapêutico ou necessário, e a segunda, como aborto sentimental. Em ambas as situações, exige a regra que a manobra abortiva seja praticada por médico.

Durante o período de gestação, várias situações podem ocorrer com o feto em desenvolvimento, dentre elas, o aborto natural ou espontâneo, decorrente de acidentes, intoxicações medicamentosas, incapacidades fisiológicas da gestante etc.

Noutros casos, ocorre a morte do fato de forma provocada, por agressões, envenenamentos, manobras abortivas por produtos químicos (substâncias abortivas – chá de chumbo, arruda), físicos (sondas, tubos, hastes de metal, agulhas) ou biológicos, etc., sendo estes casos de interesse da Justiça, por constituírem conduta penal.

3. São modalidades de aborto criminosos:

i) auto-aborto (art. 124, primeira parte);j) aborto com o consentimento da gestante (Art. 124, 2ª parte e 126);k) aborto provocado sem o consentimento (art. 125) ;

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l) aborto qualificado (art. 127 – lesão corporal grave ou morte da

gestante).

4. Aborto Permitido:

Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da

gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Nota: O aborto define-se como morte fetal, não importando em que momento. A vida humana inicia-se no momento da fecundação, com direitos legais (ex.: mulher viúva só pode casar-se 10 meses após a morte do marido, para preservar os direitos sucessórios do ser embrionário).

Nidação: É a implantação do embrião dentro do útero, já fecundado.

Litopédio: é a morte do concepto dentro do útero (petrificado após secar o líquido amniótico) ou por gravidez extra-uterina (inviabilidade de desenvolvimento fetal).

Eugenia: é a parte da ciência médica que estuda o processo de procriação e a melhoria genética da espécie humana, buscando uma melhor e mais saudável formação da prole.

A nossa legislação adota algumas medidas de caráter preventivo, com base nos estudos da eugenia, como por exemplo: quando recomenda exame pré-nupcial, orientando para a prevenção de problemas de saúde; quando estabelece o exame pré-natal, permitindo um melhor controle da gestação e o desenvolvimento regular do nascituro.

Em alguns países a eugenia tem maior força de decisão no âmbito de aperfeiçoamento da espécie humana, permitindo o aborto em casos de gestações afetadas por problemas físicos ou mentais que inviabilizem uma prole saudável. É o chamado aborto eugênico, não autorizado pela legislação brasileira.

Aborto Necessário ou Terapêutico: Art. 128, I, só é permitido se não houver outro meio de salvar a gestante. O médico é obrigado a fazer o aborto, sob pena de responde por homicídio na forma omissiva. Ele é agente garantidor.

Aborto Sentimental (decorrente de gravidez por estupro): Art. 128, II, nos casos de violência sexual. O médico não está obrigado a fazer nem por ordem judicial, mas poderá fazê-lo apenas por uma declaração da ofendida ou de seu representante legal, se incapaz.

Cálculo da idade: É feito por meio de radiografia do punho, da bacia etc.

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Nota: Importante é lembrar que é comum na rotina médica legal a perícia de casos de aborto em que o feto é expulso do útero já macerado, indicando que a morte pode ter outra causa diferente daquela que lhe é atribuída.

Maceração é o fenômeno que ocorre quando o feto morre e continua dentro do líquido amniótico.

Conforme o professor Roberto Blanco, Neste caso, o feto começa, dentro de cerca de 24 horas, a apresentar destacamento da epiderme em retalhos, ficando a derme embebida por hemoglobina. Os ossos do crânio destacam-se das suturas e cavalgam entre si. A maceração não apresenta sinais de respiração pulmonar.

O fenômeno cadavérico da maceração, por morte dentro do útero, começa a aparecer cerca de 24 horas da morte do feto. Já o cavalgamento dos ossos do crânio tem aparecimento cerca de 7 dias da morte.

Estes sinais são de relevante importância serem observados, pois podem determinar uma outra causa da morte, diferente de uma versão de aborto por agressão recente.(*).

* É também um tema corriqueiro nos concursos públicos para Delegado de Polícia.

Nota: Se o nascituro respirou, presume-se ter nascido vivo. Não será aborto. O aborto só ocorre se nascer morto.

5. Infanticídio:

É o ato de eliminar o próprio filho, durante o parto ou logo após este, sob influência do estado puerperal. É uma hipótese de homicídio privilegiado, de que trata o Art. 123 do Código Penal.

Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:

Pena: detenção de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Puerpério: é um estado comum em todas as mulheres que sofrem parto ou abortamento. Tem início logo após a eliminação das membranas materno-fetais e da placenta, terminando com o retorno do ciclo menstrual. É o que popularmente chama-se de RESGUARDO.

Estado Puerperal: É uma alteração psíquica que afeta mentalmente a mulher, durante ou após o parto, podendo levá-la ao infanticídio. Para Roberto Blanco, “Estado Puerperal seria um transtorno mental, com turbação dos níveis de consciência, sem outra causa determinante, que a proximidade do parto”.

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PONTO XV.

Psicopatologia Forense

Conceito: é a aplicação dos conhecimentos científicos da saúde mental em todos os casos de ordem civil, penal ou laboral, nos quais se torne importante a comprovação do estudo mental do indivíduo (H. de Carvalho).

Podemos dizer que a Psicopatologia tem olhos para o estudo das desordens psíquicas e às personalidades em desequilíbrio com a normalidade, podendo ensejar em situações de interesse legal. O campo de estudo de tais incidências é próprio da Psiquiatria Forense.

As patologias psíquicas são estudadas através da Psicologia e da Psiquiatria, para determinar a imputabilidade ou inimputabilidade nas questões de interesse penal, nas questões da capacidade para efeito de atuação processual e para aquisição e disposição de direitos.

O desenvolvimento mental de certos indivíduos pode sofrer atrasos expressivos de forma a torna-los inimputáveis. É o que ocorre com os Oligofrênicos, cujo desenvolvimento mental possui um cociente de inteligência bem reduzido e, em quase todos os casos, não evoluem além disso.

Esta psicopatologia se divide em três diferentes graus de deficiência:

g) Idiotas: a escala mais baixa de todos, com Q.I. até 30, para alguns autores, e até 20 para outros.

h) Imbecis: o de nível médio entre as espécies, com Q.I. entre 30 e 60 de acordo com um critério e entre 20 e 40 em outro.

i) Débeis: com um pouco mais de entendimento, Q.I. entre 60 e 90 de acordo com um critério e entre 40 e 65 em outro.

1. Modificadores da imputabilidade e da capacidade civil: (escala de H. Gomes)

1) Fatores biológicos:

f) idade,

g) sexo,

h) emoção e paixão.101

2) Fatores psicopatológicos:

a) sonambulismo,

b) hipnotismo,

i) surdo-mudes,

j) afasia,

k) prodigalidade,

l) embriaguez,

m) toxicomania.

3) Fatores Psíquicos:

a) doenças mentais,

b) oligofrenias,

c) personalidades psicopáticas,

d) neuroses,

4) Fatores Mesológicos:

a) civilização (silvícolas),

b) psicologia coletiva (multidões),

5) Fatores Legais:

a) reincidência.

Catatimia: É um fenômeno de grande importância para a psicologia forense. Significa a influência das nossas concepções, das nossas tendências, afetando as nossas percepções das coisas. Como diz Hélio Gomes: “vemos as coisas não como são, mas como quiséramos que fossem”. A catatimia leva o indivíduo a ver um fato e transportá-lo para uma situação imaginária, quase sempre negativa, motivada por um sentimento, desequilíbrio emocional ou psíquico. P.ex.: uma ligeira falta de atenção do marido, a mulher se sente traída; a mãe ver o filho ferido e imediatamente grita com alvoroço afirmando que está morto. Na realidade, tais comportamentos exagerados consistem numa forma de chamar a atenção com maior veemência para uma situação que

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se apresenta menos importante do que se alardeia. É como o ditado popular que diz: quer transformar um pingo d’água em oceano.

2. Algumas Anotações sobre Criminalística:

A Criminalística é uma ciência rigorosamente técnica e tem por objetivo o esclarecimento das incidências criminais, cuidando da produção da prova material, através de exames periciais como: do local do fato, de objetos recolhidos, de instrumentos, produtos contrafeitos, substâncias tóxicas ou entorpecentes, exames traumatológicos (lesões de toda natureza), exames de vestígios e demais perícias que necessitem de conhecimentos específicos das ciências auxiliares do Direito.

Neste âmbito, sua atuação é bastante abrangente e tem aplicabilidade em quase todas as condutas penais, seja nos crimes contra o patrimônio: locais de crime, perícias dos objetos, instrumentos utilizados na incidência, do modus operandi, avaliação da res furtiva e outros vestígios deixados pelo crime; nos crimes contra a vida: exames de corpo de delito.

"O dever de um perito é dizer a verdade; no entanto, para isso é necessário: primeiro saber encontrá-la e, depois querer dizê-la. O primeiro é um problema científico, o segundo é um problema moral".

(Nerio Rojas).

A criminalística é a ciência que se ocupa do estudo dos vestígios deixados pelo crime, objetivando o esclarecimento dos casos criminais, utilizando para isso, dos conhecimentos técnicos e variados métodos científicos em constante mutação.

As incidências mais comuns solicitadas não o estudo do local do crime, dos objetos apreendidos a ele relacionados e dos instrumentos do delito, em fim, tudo que pode ser examinado para servir de prova no esclarecimento do fato de interesse policial.

A perícia criminal tem atuação em vários momentos da investigação. Neste curso, o momento de maior importância desses serviços é a realização da perícia no local de crime. Como já dissemos, ninguém consegue cometer um crime sem deixar vestígios sobre ele. E o local onde ficamos melhores vestígios é o palco do acontecimento.

1. Atuação do perito no local de crime.

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Já falamos anteriormente sobre as dificuldades que encontram os peritos criminais nos locais de crimes, tendo em vista que quase sempre encontram o local já alterado ou desfeito. Entretanto, não pode o profissional de perícia alegar que não fará o exame por encontrar o local alterado ou desfeito. Ainda assim, o perito deverá produzir a prova material sobre o exame solicitado, descrevendo o próprio local e o que nele ainda conseguiu encontrar sobre o fato, registrando, inclusive, se mais nada tiver encontrado sobre ele. Tais informações também servirão de parâmetro para outras conclusões a serem feitas pelos investigadores.

Mas a perícia criminal não se resumirá no exame e registro dos vestígios deixados no local do crime, ele deverá atentar para a coleta de objetos, instrumentos, armas, documentos e substâncias que eventualmente encontrar no local, cuidando de examiná-las preliminarmente no local, quanto a dinâmica do evento, devendo ainda coleta-las para posteriores exames.

2. Cuidados especiais na coleta de material: Muitos exames podem ficar comprometidos por inobservância de

cuidados elementares na coleta do material a ser periciado. Portanto, a segurança e eficácia do exame irão depender não só de uma boa análise do material, mais também, e especialmente, pela maneira como se preserva este material e se assegura a inalterabilidade dos vestígios.

3. Acondicionamento do Material:

O material arrecadado, conforme a sua natureza, precisa de cuidados especiais e acondicionamento ideal, desde o local de sua coleta até o laboratório onde será examinado. Algumas substâncias podem sofrer alterações até mesmo com o tempo, devendo o perito tentar diminuir estas possibilidades, através de um acondicionamento adequado que permita chegar ao laboratório em condições ideais para serem examinadas.

4. Transporte e Material para Exame:

Em alguns casos, o perito criminal chega a coletar materiais diversos e em locais diferentes, que precisam ser examinados de per si para melhor conclusão. É recomendável, nestas hipóteses, que cada material seja rotulado após o acondicionamento, para que não permita equívocos e conclusões erradas na elaboração do laudo.

Muitas vezes, o perito pode encontrar no local de crime marcas, impressões, manchas e outros materiais que não permitem ser retirados do local onde se encontram. Nestes casos, duas alternativas existem para a solução a questão: a primeira será examinar o material no próprio local, se

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possível for; a segunda, recai sobre a possibilidade de remover o suporte onde se encontra o objeto de exame, até o laboratório, p. ex. um pedaço de madeira, uma peça de móvel etc.

5. Cuidados Especiais pra Coleta de Amostra de Sangue em local de crime:

Um dos exames mais importantes em locais de crimes é o realizado em amostra de sangue deixados no local. Assim como é importante é também muito complexa a sua análise, pois elas podem pertencer à vítima, ao autor, ou até nem ser de origem humana e levar a conclusões precipitadas sobre a investigação.

Mas o perito criminal deve possuir conhecimento razoável para poder constatar alguns sinais com relação a esta substância, p. ex.:

I) Tempo da mancha, determinado pela sua coloração:

a) se a mancha estiver hemolisada e apresentar coloração de vermelho vivo, deve ser considerada como mancha recente;

b) se a mancha apresentar coloração castanho escuro, deve ser considerada como mancha mais antiga.

2) Tempo da mancha, determinado pela solubilidade:

a) mancha recente: maior solubilidade;b) manchas mais antigas: menor solubilidade.

Nota: É importante lembrar que alguns fatores podem influenciar na evolução cromática e na solubilidade das manchas de sangue, dentre eles: a temperatura, a luz, agentes químicos, a putrefação, a umidade. etc. As machas mais antigas ou secas, podem apresentar coloração esverdeada, escamatosa e cm certo brilho.

Nota: A coleta de mancha de sangue já seco pode ser feita com um pedaço de algodão umedecido com soro fisiológico, que passado sobre a mancha promoverá a sua diluição e absorção pelo algodão.

6. Cuidados Especiais pra Coleta de Amostra de Semem ou Esperma:

Nos crimes sexuais, uma das providências mais importantes a ser tomada é a preservação da vítima, que deverá ser encaminhada à exame antes de tomar banho ou mudar de roupa (se for o caso). Pois tanto nas vestes como

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no corpo da ofendida pode ser encontrado o semem do agressor, e que deverá ser coletado com o máximo de cuidado para que não se perca ou inutilize.

A mancha de esperma pode mudar de cor influenciada pelo suporte onde se encontre, pela umidade ou pelo calor.

As manchas recentes possuem uma coloração branco-acinzentada ou branco-amarelada, enquanto que as mais antigas possuem coloração amarelada.

Caso o esperma esteja depositado em tecido, este se apresentará com aspecto endurecido, como se estivesse engomado ou parafinado.

Quando depositado na pele, o esperma se apresenta cm coloração esbranquiçada e endurecida como uma cola.

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