6
www.literaturaeshow.com.br QUESTÃO 1 Leia com atenção: “KAWÁSU ‘Kawásu é ‘sapo’, em japonês. Imagino ter relação original com ‘kawa’, ‘rio’. O batráquio é o animal totêmico do haikai, desde aquele memorável momento em que Mestre Bashô flagrou que, quando um sapo ‘tobikômu’ (‘salta-entra’) no velho tanque, o som da água” (Paul A partir do poema acima, escreva um parágrafo disse talismo japonês na obra de P. Leminski. QUESTÃO 2 Leia com atenção: a pena chama a chama vela a pena chama a vela pena a chama traça a vela a traça vela a pena a traça vara a parte lança a chama parte a dura dita chama a pena dura a vela sua a chama vela a sua chama a dita dura vela a dura vara a pena pára para para para (Paulo O texto anterior, retirado da obra La vie em close, de ser classificado como concretista. Diante disso, respo A) O que vem a ser Concretismo em Literatura? B) Como esse movimento se relaciona com a obra de QUESTÃO 3 O livro de poesias de José Paulo Paes odes mínimas − é dividido em duas seções: “prosas” e o poema abaixo que está inserido na seção “prosas”. Mundo novo Como estás vendo, não valeu a pena tanto esforço: a urgência na construção da Arca o rigor na escolha dos sobreviventes a monotonia da vida a bordo desde os primeiros dias a carestia aceita com resmungos nos últimos dias os olhos cansados de buscar um sol continuamente adiado. E no entanto sabias de antemão que seria assim. Sabias que a pomba iria trazer não um ramo de oliva mas de espinheiro Sabias e não disseste nada a nós, teus tripulantes, que ora vês lavrando com as mesmas enxadas de Caim e Abel les! PROCESSO SELE REVISÃO lo Leminski. La vie en close) ertativo sobre o orien- a lança vara a chama traça a vara vela a chama pena lo Leminski. La vie en close) e Paulo Leminski, pode onda: e Paulo Leminski? Prosas seguidas de e “odes mínimas”. Leia ue ro. a terra mal enxuta do Dilúvio. Aliás, se nos dissesses, nós não te acred Faça o que se pede. A) Explique os limites entre prosa e p B) Explique, exemplificando com ver nesse poema. QUESTÃO 4 À televisão Teu boletim meteorológico Me diz aqui e agora Se chove ou se faz sol. Para que ir lá fora? A comida suculenta Que pões à minha frente Como-a toda com os olhos. Aposentei os dentes. Nos dramalhões que encenas Há tamanho poder De vida que eu próprio Nem me canso em viver. Guerra, sexo, esporte — me dás tudo, tudo. Vou pregar minha porta: Já não preciso do mundo. Jos De acordo com o texto acima, escre que você ressalte a crítica que é fe são. QUESTÃO 5 Leia com atenção: UMA VISITA (TRECHO) É hora de dormir, a cama está feita, já interruptor na parede quando ouço um Suspiro, contrariado; nada é pior do qu ter de voltar bruscamente à consciência tável do sono. Por um instante, tento m pronunciado não foi o meu; mas novam perturbar a vizinhança, mas ao mesmo então em fingir que não ouvi, que já est não há como negar esse fato. Vou até a vulto em pé, bem em frente ao prédio, co imerso na penumbra, e visto daquele ân reconhecê-lo; mas a pessoa que me o claramente me reconhece, me cumprim pede que eu jogue a chave com a natur vezes antes. e espera ser atendido sem de dizer à pessoa, seja lá quem for, com nhecê-la. Talvez por estar escuro, talve pedir-lhe que se identifique; porém hesit LITERATURA 1 ETIVO UFU 2011-2 O 2ª FASE editaríamos. poesia nesse poema. rsos, como ocorre a intertextualidade é Paulo Paes. Prosas seguidas de odes mínimas. eva um pequeno trecho dissertativo em eita pelo autor no poema “Ode à televi- á estendo a mão em direção à saliência do ma voz chamando meu nome, vinda da rua. ue ser arrancado deste momento precioso, ia quando já se tem um pé no mundo confor- me convencer de que foi engano, o nome mente ouço a voz, hesitante, com receio de o tempo decidida a se fazer escutar. Penso stou dormindo, mas a luz ainda está acesa, a janela e olho para baixo. Na rua vejo um com o rosto voltado para cima. O rosto está ângulo um tanto forçado não me é possível olha do meio da rua, três andares abaixo, menta e diz que o portão já está trancado, uralidade de quem já fez esse pedido muitas m sombra de dúvida. Meu primeiro impulso é om toda a franqueza, que não consigo reco- vez por eu não estar totalmente desperto e ito. Paulo Henriques Brito

2ª fase

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 2ª fase

www.literaturaeshow.com.br

QUESTÃO 1 Leia com atenção:

“KAWÁSU ‘Kawásu é ‘sapo’, em japonês. Imagino ter relação original com ‘kawa’, ‘rio’. O batráquio é o animal totêmico do haikai, desde aquele memorável momento em que Mestre Bashô flagrou que, quando um sapo ‘tobikômu’ (‘salta-entra’) no velho tanque, o som da água”

(Paulo Leminski.

A partir do poema acima, escreva um parágrafo dissertativo sobre o orietalismo japonês na obra de P. Leminski.

QUESTÃO 2 Leia com atenção:

a pena chama

a chama vela a pena chama a vela pena

a chama traça a vela a traça vela a pena

a traça vara a parte lança a chama parte

a dura dita chama a pena dura

a vela sua a chama vela a sua chama

a dita dura vela a dura vara

a pena pára para para para

(Paulo Leminski.

O texto anterior, retirado da obra La vie em close, de Paulo Leminski, pode ser classificado como concretista. Diante disso, responda:

A) O que vem a ser Concretismo em Literatura? B) Como esse movimento se relaciona com a obra de Pa

QUESTÃO 3 O livro de poesias de José Paulo Paes −odes mínimas − é dividido em duas seções: “prosas” e “odes mínimas”. Leia o poema abaixo que está inserido na seção “prosas”.

Mundo novo Como estás vendo, não valeu a pena tanto esforço: a urgência na construção da Arca o rigor na escolha dos sobreviventes a monotonia da vida a bordo desde os primeiros dias a carestia aceita com resmungos nos últimos dias os olhos cansados de buscar um sol continuamente adiado. E no entanto sabias de antemão que seria assim. Sabias quea pomba iria trazer não um ramo de oliva mas de espinheiro.Sabias e não disseste nada a nós, teus tripulantes, que ora vês lavrando com as mesmas enxadas de Caim e Abel

les!

PROCESSO SELETIVO UFU 2011REVISÃO 2ª FASE

(Paulo Leminski. La vie en close)

A partir do poema acima, escreva um parágrafo dissertativo sobre o orien-

a lança vara a chama traça a vara vela

a chama pena

(Paulo Leminski. La vie en close)

O texto anterior, retirado da obra La vie em close, de Paulo Leminski, pode ser classificado como concretista. Diante disso, responda:

movimento se relaciona com a obra de Paulo Leminski?

O livro de poesias de José Paulo Paes −Prosas seguidas de − é dividido em duas seções: “prosas” e “odes mínimas”. Leia

E no entanto sabias de antemão que seria assim. Sabias que a pomba iria trazer não um ramo de oliva mas de espinheiro.

a terra mal enxuta do Dilúvio. Aliás, se nos dissesses, nós não te acreditaríamos.

Faça o que se pede. A) Explique os limites entre prosa e poesia nesse poema.B) Explique, exemplificando com versos, como ocorre a intertextualidade nesse poema.

QUESTÃO 4 À televisão Teu boletim meteorológico Me diz aqui e agora Se chove ou se faz sol. Para que ir lá fora?

A comida suculenta Que pões à minha frente Como-a toda com os olhos. Aposentei os dentes.

Nos dramalhões que encenas Há tamanho poder De vida que eu próprio Nem me canso em viver.

Guerra, sexo, esporte — me dás tudo, tudo. Vou pregar minha porta: Já não preciso do mundo.

José Paulo Paes.

De acordo com o texto acima, escreva um pequeno trecho dissertativo em que você ressalte a crítica que é feita pelo autor no poema “Ode à televsão.

QUESTÃO 5 Leia com atenção:

UMA VISITA (TRECHO) É hora de dormir, a cama está feita, já estendo a mão em direção à saliência do interruptor na parede quando ouço uma voz chSuspiro, contrariado; nada é pior do que ser arrancado deste momento precioso, ter de voltar bruscamente à consciência quando já se tem um pé no mundo confotável do sono. Por um instante, tento me convencer de que foi engano, o nome pronunciado não foi o meu; mas novamente ouço a voz, hesitante, com receio de perturbar a vizinhança, mas ao mesmo tempo decidida a se fazer escutar. Penso então em fingir que não ouvi, que já estou dormindo, mas a luz ainda está acesa, não há como negar esse fato. Vou até a janela e olho para baixo. Na rua vejo um vulto em pé, bem em frente ao prédio, com o rosto voltado para cima. O rosto está imerso na penumbra, e visto daquele ângulo um tanto forçado não me é possível reconhecê-lo; mas a pessoa que me olclaramente me reconhece, me cumprimenta e diz que o portão já está trancado, pede que eu jogue a chave com a naturalvezes antes. e espera ser atendido sem sombra de dúvida. Meude dizer à pessoa, seja lá quem for, com toda a franqueza, que não consigo recnhecê-la. Talvez por estar escuro, talvez por eu não estar totalmente desperto e pedir-lhe que se identifique; porém hesito.

L I T E R A T U R A 1

PROCESSO SELETIVO UFU 2011-2 ÃO 2ª FASE

Aliás, se nos dissesses, nós não te acreditaríamos.

A) Explique os limites entre prosa e poesia nesse poema. B) Explique, exemplificando com versos, como ocorre a intertextualidade

José Paulo Paes. Prosas seguidas de odes mínimas.

De acordo com o texto acima, escreva um pequeno trecho dissertativo em ressalte a crítica que é feita pelo autor no poema “Ode à televi-

É hora de dormir, a cama está feita, já estendo a mão em direção à saliência do interruptor na parede quando ouço uma voz chamando meu nome, vinda da rua. Suspiro, contrariado; nada é pior do que ser arrancado deste momento precioso, ter de voltar bruscamente à consciência quando já se tem um pé no mundo confor-tável do sono. Por um instante, tento me convencer de que foi engano, o nome ronunciado não foi o meu; mas novamente ouço a voz, hesitante, com receio de

perturbar a vizinhança, mas ao mesmo tempo decidida a se fazer escutar. Penso então em fingir que não ouvi, que já estou dormindo, mas a luz ainda está acesa,

se fato. Vou até a janela e olho para baixo. Na rua vejo um vulto em pé, bem em frente ao prédio, com o rosto voltado para cima. O rosto está imerso na penumbra, e visto daquele ângulo um tanto forçado não me é possível

lo; mas a pessoa que me olha do meio da rua, três andares abaixo, claramente me reconhece, me cumprimenta e diz que o portão já está trancado, pede que eu jogue a chave com a naturalidade de quem já fez esse pedido muitas vezes antes. e espera ser atendido sem sombra de dúvida. Meu primeiro impulso é de dizer à pessoa, seja lá quem for, com toda a franqueza, que não consigo reco-

la. Talvez por estar escuro, talvez por eu não estar totalmente desperto e lhe que se identifique; porém hesito.

Paulo Henriques Brito

Page 2: 2ª fase

www.literaturaeshow.com.br les! L I T E R A T U R A 2

A) Qual o tipo de narrador temos no trecho anterior? Qual o seu ponto de vista ao narrar os fatos? B) Inicialmente, o narrador estava vivendo uma situação especial na sua vida ou passando por um fato rotineiro, cotidiano? Justifique. C) O que parece ser mais embaraçoso para o narrador na situação obser-vada? D) Pelo que o narrador nos conta, é possível inferir qual é o sexo de seu interlocutor? Qual a palavra do texto que justifica sua resposta?

QUESTÃO 6 UMA DOENÇA (TRECHO)

Estou doente, e minha doença é das que obrigam a pessoa a ficar deitada o tempo todo. Assim, meu raio de ação é bastante reduzido; tenho que me contentar com o número pequeno de objetos, permanecer na mesma cama dia e noite enca-rando o mesmo teto, as mesmas quatro paredes, a mesma janela a mostrar sem-pre a mesma nesga do céu.

Nos primeiros tempos de confinamento, o tédio era absoluto; de nada adianta-va olhar pela janela, já que o céu estava coberto por uma camada densa e uniforme de nuvens, pardacenta durante o dia e negra à noite. Como a janela não tinha nada para me oferecer, fui obrigado a voltar minha atenção para o interior do quarto.

Paulo Henriques Britto

A) A morte sempre foi encarada de maneira trágica pelo ser humano. Mesmo assim, em inúmeros momentos, quando comparada a outras situações, ela parece ter seu impacto amenizado, ou seja, consegui-mos eleger em nossas vidas algo que seria pior que a morte. De que forma, no texto acima, acima isso aparece? Disserte.

B) O que vem a ser solipsismo? Como ele se relaciona ao livro Paraísos artificiais?

TEXTOS PARA AS QUESTÕES 7 E 8 TEXTO 01 (www.drauziovarella.com.br) O ciclo da malária humana é homem-anofelino-homem. Geralmente é a fêmea que ataca porque precisa de sangue para garantir o amadurecimento e a postura dos ovos. Depois de picar um indivíduo infectado, o parasita desenvolve parte de seu ciclo no mosquito e, quando alcança as glândulas salivares do inseto, está pronto para ser transmitido para outra pessoa. TEXTO 02 — Espera, Primo, elas estão passando... Vão umas atrás das outras... Cada qual mais bonita... Mas eu não quero, nenhuma! ... Quero só ela... Luísa... (...) — Conta o resto da estória!... —... "Então, a moça, que não sabia que o moço-bonito era o capeta, ajuntou suas roupinhas melhores numa trouxa, e foi com ele na canoa, descendo o rio..." — A moça que eu estou vendo agora é uma só, Primo... Olha!... É bonita, muito bonita. É a sezão. Mas não quero... Bem que o doutor, quando pegou a febre e estava variando, disse... você lembra? ... disse que a maleita era uma mulher de muita lindeza, que morava de-noite nesses brejos, e na hora da gente tremer era quem vinha... e ninguém não via que era ela quem estava mesmo beijando a gente... Mas, acaba de contar a estória, Primo... TEXTO 03: O BURRINHO PEDRÊS: Peça não-profana, mas sugerida por um acontecimento real, passado em minha terra, há muitos anos: o afogamento de um grupo de vaqueiros, num córrego cheio.

Carta de Guimarães Rosa a João Condé

QUESTÃO 7 Utilizando elementos dos textos 01 e 02, aproxime a malária da personagem Prima Luísa, ambas presentes no conto Sarapalha.

QUESTÃO 8 Compare os contos O burrinho pedrês e Sarapalha, princi-palmente no que diz respeito à forma como os temas velhice e morte são

trabalhados em ambos. Estabeleça ainda outras semelhanças e diferenças, não deixando de comentar as epígrafes utilizadas por Guimarães Rosa para ilustrar as suas narrativas: de “O burrinho pedrês”: "E, ao meu macho rosado,/ carregado de algodão,/ preguntei: p'ra donde ia?/ P'ra rodar no mutirão.“ (VELHA CANTIGA, SOLENE, DA ROÇA.) de “Sarapalha”: "Canta, canta, canarinho, ai, ai, ai .../ Não cantes fora de hora, ai, ai, ai .../ A barra do dia aí vem, ai, ai, ai .../ Coitado de quem namo-ra!...“ (O TRECHO MAIS ALEGRE, DA CANTIGA MAIS ALEGRE, DE UM CAPIAU BEIRA-RIO.) TEXTO PARA AS QUESTÕES 9 E 10 A obra Ensaio sobre a cegueira, de J. Saramago, assim pode ser resumida.

Em pleno tráfego, um homem é surpreendido por uma cegueira inexplicável, que “contamina”, em cadeia, toda a população, a qual passa a sofrer do mal-branco (como a cegueira é denominada). A princípio, os cegos são isolados, mas com o tempo, o governo perde o controle da situação. Enclausuradas ou nas ruas, as pessoas lutam pela sobrevivência, criando, para isso, os mais variados mecanis-mos de defesa, que vão da violência à compaixão. Nesse sentido, essa obra é concebida como uma alegoria: um discurso que faz entender outro discurso.

QUESTÃO 9 Considere a epígrafe do livro: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”, e explique o sentido alegórico da narrativa.

QUESTÃO 10 Relacione o sentido referido na questão E-01 à categoria do espaço ali representado. QUESTÃO 11 Tanto os contos de Sagarana quanto a maioria dos contos de Menina a caminho são ambientados em regiões específicas do Brasil, o que poderia fazer com que alguns críticos literários classificassem-nos como regionalistas. Porém, se olharmos de maneira mais profunda para as duas obras, veremos que, se há um tipo de regionalismo nos textos, ele seria um regionalismo universal. Por que as DUAS obras podem ser classificadas de tal maneira? QUESTÃO 12 Abaixo, você encontra o trecho final de um dos contos que compõe o livro Menina a caminho. Leia-o, prazerosamente:

Aí pelas três da tarde, Raduan Nassar Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado) e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e vá ao fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé (já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.

Relacione o trecho acima com uma temática muito explorada pela Literatu-ra, principalmente aquela que sofreu influência dos autores clássicos.

QUESTÃO 13 A respeito do conto “Menina a caminho”, responda:

A) Como é construída a alegoria presente no texto, no que diz respeito à passagem sofrida pela protagonista da infância para a adolescência? B) Qual a particularidade formal no que diz respeito ao narrador do conto em questão?

Page 3: 2ª fase

www.literaturaeshow.com.br

QUESTÃO 14 Responda: A) Quais as principais temáticas retratadas nos contos de “Menina a camnho”? B)No que diz respeito ao narrador dos contos do livro, qual a tipologia predominante? E em relação ao conto que dá título à obra? QUESTÃO 15 Responda: A) Por que se pode classificar Anjo negro como uma peça mítica de Nelson Rodrigues? B) Qual a ironia contida nos nomes das personagens Ismael, Virgínia e Elias, protagonistas da peça Anjo negro? QUESTÃO 16 Redija um parágrafo dissertativo em que você analise a linguagem empregada na obra Memórias sentimentais de João Miramar. QUESTÃO 17 Responda: A) Disserte sobre a simbologia das personagens na obra sobre a cegueira. B) Observe o quadro Liberdade guiando o povo, de Eugene Delacroix:

Como você pode relacioná-lo com a obra Ensaio sobre a cegueira

GABARITO 01- O texto em questão atesta o orientalismo nipônico de Leminski, ou seja, a influência que a cultura japonesa teve sobre sua poesia. O texto é uma intertextulidade com o célebre haicai de Matsuo Bashô, poeta japonês do século XVII. Além de dialogar de maneira direta com a obra deste autor, Leminski valoriza e divulga a poesia oriental através da elaboração de diversos haicais, que estão espalhados por La vie en close. Há que se lembrar que estes pequenos textos risca as regras estabelecidas por Guilherme dos Anjos: três versos de 5, 7 e 5 sílabas poéticas, presença de kigo (palavra que remete a uma estação do ano) e conteúdo reflexivo. 02- A) A poesia concreta aparece no cenário da literatura nacional no final dos anos 50 do século passado, quando Décio Pignatari e os irmãos Harode Campos, que haviam editado o primeiro número da revista caram completamente sua orientação estética, definindo as bases do que ch

les!

A) Quais as principais temáticas retratadas nos contos de “Menina a cami-

B)No que diz respeito ao narrador dos contos do livro, qual a tipologia te? E em relação ao conto que dá título à obra?

como uma peça mítica de

B) Qual a ironia contida nos nomes das personagens Ismael, Virgínia

Redija um parágrafo dissertativo em que você analise a Memórias sentimentais de João

A) Disserte sobre a simbologia das personagens na obra Ensaio

, de Eugene Delacroix:

Ensaio sobre a cegueira?

O texto em questão atesta o orientalismo nipônico de Leminski, ou seja, a influência que a cultura japonesa teve sobre sua poesia. O texto é uma intertextua-

, poeta japonês do século XVII. Além de dialogar de maneira direta com a obra deste autor, Leminski valoriza e divulga a poesia oriental através da elaboração de diversos haicais, que estão espalhados

os textos não seguem à das por Guilherme dos Anjos: três versos de 5, 7 e 5

(palavra que remete a uma estação do ano) e

ura nacional no final dos anos 50 do século passado, quando Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, que haviam editado o primeiro número da revista Noigrandes, modifi-caram completamente sua orientação estética, definindo as bases do que chama-

ram de Concretismo. A principal contribuição desses poetas foi, com certeza, a elevação da palavra à Palavra, com p maiúsculo, sou seja, a valorização extrema da célula máter da arte literária. Antes do Concretismo, a poética tradicional, tão bombardeada pelo Modernismo, ainda insiRima, ritmo e métrica, já tinham desaparecido no olho ciclone tropical que foram a Semana de 22 e os seus desdobramentos, mas o verso se mantinha. A poesia concreta demoliu essa última coluna do tradicionalismo e colocou definitLiteratura na sua condição pós-moderna. Assim, a Palavra adquire um valor mais expressivo, os espaços em branco são levados em conta e a poesia se torna verbal, vocal e visual, ou nos dizeres dos concretisforma, temos na literatura o primado do signifelementos formais em detrimento dos aspectos conteudísticos. B) Em La vie en close, aparecem alguns poemas concretistas de Leminski. Neles, o poeta ainda reinventa a linguagem, criando neole formatos diferentes, tornando a leitura mais rica e dinâmica. O poema nos traz uma série de palavras que ora pterceira pessoa (singular) do Presente do Indicativo (ele pena, ele chele vela, ele vara, ele pára), ora podem ter outra classsubstantivos pena, chama, vela, vara, o pronome caráter de duplo sentido, com palavras que podem metaforicamente viver tanto na água quanto na terra, ou seja, anfíbiosfazem parte do jogo lúdico proposto pelos concretistas. Interessante notarmos também que algumas estruturas frasais podem seramos as palavras, como acontece no primeiro quadril(ditadura) chama a dura pena (numa referência ao contexto político da época, que dispensa maiores comentários). Podemos encontrar também uma lembrançpoesia marginal no terceiro retângulo inferior: vara evoca, obviamente, o órgão sexual masculino. Se continuarmos a brincadeira, descobriremos outras frases tantas. 3- A) Geralmente, a distinção entre prosa e poesite tabela:

PROSA Rima não freqüente Parágrafo O ritmo acompanha a fala Tendência à ordem direta

No livro PSOM, José Paulo Paes “brinca”aceitando as divisões. Na dedicatória da primeira parte do livro, acenapossibilidade da mistura dos gêneros, em que se vislumbram desde poemas rimdos e metrificados, em redondilha maior (“Canção do Exílio”,prosa. B) O texto tem uma clara intertextualidade com a Escritura Sagrada, principalmete no episódio da construção da Arca de Noé ((...)pomba iria trazer não um ramo de olivaDeus, mostrando que o plano salvífico do Antigo Testamento não deu certo, pois somos semelhantes a Caim e Abel (os filhos de Adão): irmãos que não se amam e podem até mesmo se matar. 4- A ode pode ser definida como um poema destinado cado, tendo como tema a celebração que podia ser do amor, do vinho, dos heróis. Atualmente, a ode não apresenta mais o tom grandiRomantismo, embora ainda se relacione com a uma “atmosfera grave, solene, próxima do drama e da poesia épica”. No livro, Paes utiliza algumas odes para criticar (e não enaltecer) a televisão, que é apresentada no poema como resposável pela “alienação” do homem moderno, crítica essa que poderia ser entendida, nos dias de hoje, ao computador e à internet. 5- A) Narrador em 1ª pessoa (narrador personagem ou autodiegétfatos dos quais é o protagonista.

L I T E R A T U R A 3

tismo. A principal contribuição desses poetas foi, com certeza, a maiúsculo, sou seja, a valorização extrema da

ria. Antes do Concretismo, a poética tradicional, tão da pelo Modernismo, ainda insistia em viver com a presença o verso.

Rima, ritmo e métrica, já tinham desaparecido no olho ciclone tropical que foram a mana de 22 e os seus desdobramentos, mas o verso se mantinha. A poesia

una do tradicionalismo e colocou definitivamente a moderna. Assim, a Palavra adquire um valor mais

pressivo, os espaços em branco são levados em conta e a poesia se torna verbal, vocal e visual, ou nos dizeres dos concretistas, “verbivocovisual”. Dessa forma, temos na literatura o primado do significante, ou seja, a valorização dos elementos formais em detrimento dos aspectos conteudísticos.

, aparecem alguns poemas concretistas de Leminski. Neles, o eta ainda reinventa a linguagem, criando neologismos, utiliza tipos de tamanhos

e formatos diferentes, tornando a leitura mais rica e dinâmica. O poema ANFÍBIOS nos traz uma série de palavras que ora podem ser uma forma verbal conjugada na

(singular) do Presente do Indicativo (ele pena, ele chama, ele sua, ele vela, ele vara, ele pára), ora podem ter outra classificação morfológica — (os

, o pronome sua e a preposição para). Esse com palavras que podem metaforicamente viver tanto

anfíbios, contribui para a riqueza do poema e fazem parte do jogo lúdico proposto pelos concretistas. Interessante notarmos também que algumas estruturas frasais podem ser compreendidas quando associ-amos as palavras, como acontece no primeiro quadrilátero inferior: a dura dita

(numa referência ao contexto político da época, que res comentários). Podemos encontrar também uma lembrança da

lo inferior: a dita dura vela a dura vara. Dura vara evoca, obviamente, o órgão sexual masculino. Se continuarmos a brincadeira,

Geralmente, a distinção entre prosa e poesia pode ser explicada pela seguin-

POESIA Rima freqüente Verso O ritmo acompanha a métrica Tendência à ordem indireta

No livro PSOM, José Paulo Paes “brinca” com essas definições acadêmicas, não aceitando as divisões. Na dedicatória da primeira parte do livro, acena-se para a

, em que se vislumbram desde poemas rima-dilha maior (“Canção do Exílio”, p.19) até poemas em

O texto tem uma clara intertextualidade com a Escritura Sagrada, principalmen-te no episódio da construção da Arca de Noé (a urgência na construção da Arca ) / (...)pomba iria trazer não um ramo de oliva). Nele, o eu lírico parece “dialogar” com Deus, mostrando que o plano salvífico do Antigo Testamento não deu certo, pois

melhantes a Caim e Abel (os filhos de Adão): irmãos que não se amam e

A ode pode ser definida como um poema destinado ao canto, de metro diversifi-que podia ser do amor, do vinho, dos heróis.

ode não apresenta mais o tom grandioso que manteve até o , embora ainda se relacione com a uma “atmosfera grave, solene,

xima do drama e da poesia épica”. No livro, Paes utiliza algumas odes para criticar (e não enaltecer) a televisão, que é apresentada no poema como respon-sável pela “alienação” do homem moderno, crítica essa que poderia ser entendida,

putador e à internet.

Narrador em 1ª pessoa (narrador personagem ou autodiegético). Ele narra

Page 4: 2ª fase

www.literaturaeshow.com.br les! L I T E R A T U R A 4

B) O narrador passa por um fato rotineiro, ou seja, está se preparando para dormir. A contística moderna explora muito esse tema: fatos insólitos que aconte-cem a partir de situações cotidianas. C) O que parece ser mais embaraçoso é o fato de alguém pedir que o narrador “jogue a chave” e ele não reconhecer esta pessoa. Espera-se que para que isso aconteça, os dois teriam que ser íntimos, mas não é o que parece, já que o narra-dor não sabe de quem se trata aquele misterioso visitante. D) Não. O narrador utiliza a palavra genérica “pessoa” para se referir ao interlo-cutor. 6- A) Em muitos momentos da vida, a morte sempre nos é colocada como a única certeza e talvez por isso, aquilo que mais devemos temer em nossa existência. Mas em muitas das vezes isso pode ser relativizado. Pior que morrer seria ficar doente, numa cama de hospital, como o personagem-narrador do Texto. B) O solipsismo é uma doutrina filosófica segundo a qual, além de nós, só existem as nossas experiências. De acordo com tal pensamento, só o ser existe e o mundo ao redor é apenas um esboço virtual do que o ser imagina. Isso explica a imobilida-de [beckitiana, de Samuel Beckett] dos primeiros textos de Paraísos artificiais. Nada acontece nas primeiras histórias. Desse modo, o texto se presta a apresen-tar as impressões do narrador acerca de determinada realidade, o que acaba gerando uma “rarefação do referente”. O referente [mundo exterior, história, narrativa] não importa. Importa apenas a percepção que o locutor tem sobre ele. Mais ainda: no texto só comparecem essas impressões. Tal recurso gera uma narrativa altamente subjetiva e impressionista. Em La vie en close essa temática também aparece, de uma maneira diferente, dando ênfase nos hábitos solitários do homem moderno. 7- Tanto a maleita quanto Luísa trouxeram dor, tristeza e por que não dizer, alegria à vida dos primos Ribeiro e Argemiro. A malária, segundo o próprio texto, “era uma mulher de muita lindeza”, podendo trazer falsas alegrias nos delírios causados pela febre e tristeza pela doença em si. Luísa também tem essa particularidade, pois trouxe alegrias às vidas de Ribeiro e Argemiro, cada um a seu jeito, e no momento da narrativa mergulhara os dois primos na mais absoluta tristeza. Ademais, ambas são grandes males que vieram de longe e há que se notar também, o detalhe de que, como diz o texto do médico Dráuzio Varella, a doença é transmitida apenas pela picada do mosquito fêmea, o que aproxima ainda mais a personagem da sezão. 8- Assim como toda a obra de Guimarães Rosa, ambas as narrativas possuem um cenário regionalista e um trabalho especial com a linguagem misturando regiona-lismos com neologismos criados por Rosa. Ambas têm personagens parecidas, como a “preta velha” (Ceição em “Sarapalha” e Maria Camélia em “O burrinho pedrês”) e animais (Jiló em “Sarapalha” e “Sua-Cara” em “O burrinho pedrês”, ambos cachorros). Existe uma diferença sutil no trato da temática da velhice e a morte entre os contos analisados. Em “Sarapalha”, elas são realmente algo negati-vo. A velhice, na “estória” dos primos, representa o fim da vida, a decadência, a decrepitude. A morte realmente é o fim da vida, ao passo que no conto do burrinho, ela representa a sabedoria, a facilidade de adaptação à correnteza da vida. A morte poderia, nessa narrativa, simbolizar a ascensão, a viagem, a travessia, algo maior, dando a ideia de que a vida não termina ali. Sobre as epígrafes, muito já se escreveu sobre elas. Uma das interpretações possíveis para a de “O burrinho pedrês” é: “o macho-rosado dessa velha cantiga é o próprio burrinho que dá nome ao conto; a carga de algodão seria o fardo da vida, a carga existencial; o terceiro verso, ao utilizar a forma arcaica do verbo “perguntar” remeteria à constante interrogação dos homens sobre a existência: para quê?, por quê?, de onde?, para onde?. E a resposta à pergunta, que vem no quarto verso, significaria, num nível mais elevado, a submissão ao império do destino, e ainda alude ao esforço coletivo, ao dever de solidariedade que o burrinho cumprirá na sua hora e na sua vez. Quanto a “Sarapalha”, o andamento e o clima da narrativa são resumidos na epígrafe do conto. Nela são expressas as dores do amor e suas companheiras: saudade e tristeza. A interjeição “ai” mencionada por nove vezes nessa epígrafe, será repetida quatro vezes por Ribeiro e três vezes por Argemiro ao longo da história. A epígrafe de “Sarapalha”, uma lamuriante cantiga de amor, mas que

ainda assim, é o trecho mais alegre, da cantiga mais alegre, de um capiau beira-rio, traz embutida em si a noção de prazer e sofrimento, já explorada por nós no item a) dessa questão. 9- Ensaio sobre a cegueira é uma alegoria da condição humana nos sombrios tempos modernos, quando todos se cegam frente ao poder, que se converte em opressão, à injustiça, às verdades estabelecidas, deixando aflorar seus mais primitivos instintos de sobrevivência, como a brutalidade, o egoísmo e a violência, dentro de um universo que se desumaniza. Nesse mundo brutalizado e injusto, nós somos cegos. Daí a responsabilidade de ter olhos, de enxergar pelos outros, mas com um olhar que atravesse a superficialidade da aparência: o olhar que vê e que aprofunda o interior do homem, na tentativa de conhecê-lo e até redimi-lo. Mais do que olhar o outro, é preciso reparar nele. 10- O espaço é alegórico porque a história não tem uma localização precisa, pode ser em qualquer país, o que facilita a universalização da cegueira alegóri-ca/simbólica: ela está em qualquer parte, onde houver ser humano. Por outro lado, é importante nos lembrarmos dos espaços em que os cegos são confinados: um manicômio desativado, de corredores labirínticos, o que implica alienação e deso-rientação. Igual sentido têm as ruas inindentificáveis por onde vagam, as casas que já não mais lhes pertencem, agora habitadas por outros. 11- A tradição regionalista no romance brasileiro se formou no decorrer de uma longa trajetória, que teve início com as preocupações nacionalistas dos autores românticos do século 19. Já os escritores da geração de 1930 passaram a inter-pretar a realidade regional como "estímulo e substância" da arte literária e, assim, essa literatura atingiu plena maturação, particularmente no Nordeste, sobretudo graças à excepcional fecundidade e qualidade de José Lins do Rego, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Quanto aos contos de Sagarana, Guimarães Rosa situa suas narrativas basicamente num mesmo espaço geográfico: o sertão mineiro, o “inte-rior” de Minas Gerais. Isso não significa, no entanto, que sua obra se resuma ao regionalismo do tipo “pitoresco”. Os temas tratados por Rosa são universais, ou seja, versam sobre os grandes sentimentos, as angústias, os medos. Exemplo disso acontece em Sarapalha, onde temos o tema do amor não platônico de Argemiro pela esposa de seu primo. Esse amor independe do local em que acontece. Pode estar presente tanto no sertão de Minas como em qualquer outro lugar do mundo. O mesmo acontece com Menina a caminho: o importante não é a região, a descri-ção geográfica (que inclusive aparece pouco na obra) e sim as relações humanas. 12- A temática é o Carpe Diem, uma frase em latim de um poema de Horácio, e é popularmente traduzida para “colha o dia” ou “aproveite o momento”. É também utilizado como uma expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro. Este é um tema recorrente na Literatura, principalmente nos movimentos de inspiração greco-romana. O conto apresenta um personagem que, “pelas três da tarde”, com muitas coisas para fazer, é convidado a aproveitar a vida, deitado numa rede. 13- A) Resumidamente, a alegoria se dá pelo fato de o conto apresentar uma protagonista a caminho de um armazém e, ao mesmo tempo, da perda da inocên-cia. O sexo vai surgindo na narrativa através de um jogo ambíguo de esconder revelando e de revelar escondendo e culmina com a cena em que a menina desco-bre o próprio corpo através da masturbação. B) O narrador do conto distingue-se pela neutralidade e objetividade e, formalmen-te, por ser um narrador de terceira pessoa. Ele não participa dos eventos e consti-tui-se basicamente numa espécie de consciência soberana que se cola à persona-gem principal acompanhando seus passos pela cidade e narrando apenas o que ela enxerga em suas andanças. A narração é feita através da perspectiva de um dos personagens, sem que, entretanto, a atenção seja voltada sobre a sua interiorida-de.

Page 5: 2ª fase

www.literaturaeshow.com.br les! L I T E R A T U R A 5

14- A) O tema que une os cinco contos do livro Menina a caminho são as relações sociais. Em Aí pelas três da tarde é retratada a “relação do indivíduo consigo mesmo”. Em Ventre seco e Hoje de madrugada aparecem as “relações de gêne-ro” (homem-mulher). Em Mãozinhas de seda a “relação indivíduo-sociedade” e no conto que intitula o livro todos os tipos das outras quatro narrativas. B) O narrador mais comum no livro aparece em 1ª pessoa. A exceção fica para o conto que dá título à obra, em que o narrador aparece em 3ª pessoa, mas adere ao pensamento da protagonista. 15- A) O crítico de teatro Sábato Magaldi dividiu as peças de Nelson Rodrigues em três grupos: Peças psicológicas, tragédias cariocas e peças míticas. Essas últimas (incluindo Anjo Negro) lidam com a análise psicológica e não deixam de revelar a realidade urbana do Rio de Janeiro. Normalmente essas peças apresentam, entre os personagens, um equilíbrio muito precário, bastante frágil, que é quase sempre suspendido com a chegada de um visitante (Elias) que deflagra a explosão de conflitos que estavam iminentes, espécie de gota d’água. Curiosamente o conflito de um personagem deságua em outro e assim sucessivamente, gerando, então, uma rede conflituosa, uma trágica teia conflituosa. Há ainda a invocação, ou refe-rência, constante a Deus, marca religiosa vista em quase todo o texto, normalmen-te mencionado como fonte de castigo, como o que mata os desejos, o que marca a vida. B) O texto teatral apresenta, através de uma rubrica, Ismael como “o grande negro”. Médico, tem verdadeiro horror pelo fato de ser negro. Ismael tem uma personalidade absurdamente doentia, pois se mostra capaz de qualquer coisa para se tornar branco. Dominador, manipulador, um verdadeiro canalha. O nome nos lembra a personagem bíblica, filho de Abraão com a escrava Agar. É o filho expulso de casa, que vai passar fome no deserto em companhia da mãe. Virgínia também apresenta uma psique bastante conturbada. É submissa ao marido. Dissimulada, mostra-se uma pessoa escorregadia, mudando várias vezes de opinião sobre o marido. Pode ser considerada louca, principalmente pelo fato de ter matado os filhos negros que teve com Ismael. Tem verdadeiro pavor do marido no início da história, mas termina com ele, trancando a filha Ana Maria no mausoléu de vidro. Virgínia, em latim, quer dizer virgem, casta, pura. E esse significado contrasta com a sua personalidade. Também é irônico o nome de Elias, o irmão branco de Ismael. O texto o descreve algumas vezes como portador de traços “quase femininos”. É cego, provavelmente em consequência do ódio que Ismael nutria por ele, pelo fato de Elias ser branco. Procura o irmão para levar a maldição da mãe a quem Ismael havia abandonado. Foi o primeiro e único homem que Virgínia viu depois de se casar com Ismael e por isso, ela deseja ter um filho com ele, um filho branco. Tem o nome de um profeta bíblico e sua figura nos lembra um outro profeta, o também cego Tirésias, personagem de A odisseia. 16- Todos os críticos são unânimes em classificar a linguagem de Memórias sentimentais de João Miramar em telegráfica, (o próprio Machado Penumbra, no prefácio, afirma isso) no sentido de que, como nos telegramas, são suprimidas algumas informações aparentemente desnecessárias para o entendimento do todo. A própria divisão em episódios não-coesos pode atestar isso. Mas podemos tam-bém falar em linguagem cinematográfica, pois cada capítulo poderia ser lido independente dos demais, o que seria comparado às muitas cenas de um filme. Telégrafo e cinema ainda eram coisas modernas no decorrer dos 10 anos em que o texto foi escrito (1914-1924). Isso dá ao romance uma certa filiação ao Futurismo, movimento artístico lançado na Itália, em 1909, por Filippo Tommaso Marinetti e que tinha como características, na Literatura, justamente essa apologia ao novo, ao moderno, numa pretensão de dizer que o futuro já estava entre os homens daquele início de século. Seu estilo opõe-se de um lado aos exageros científico-detalhistas da escola Realista e à passionalidade-emotiva da narrativa da escola Romântica. Em cada um dos capítulos o trabalho essencial do autor foi com a linguagem. Não se deixou envolver nem pela ciência nem pela emoção, filtrou a ambas procurando dar uma nova conformação a literatura. Ao longo da obra, Oswald abusa de figuras de linguagem, muitas vezes misturando-as com um poder de síntese invejável. A exemplo de outros escritores, Oswald também realiza diálogos intertextuais, fazendo referência a vários autores, personagens e obras.

Também é marcante o emprego de vocábulos e expressões em línguas estrangei-ras (como acontece em La vie en close): - Inglês Francês Espanhol Italiano: dan-cing habitué encuentro de ustedes si sinhore / It is very beautiful! Mademoiselle / board-house tour du monde / Albany Street goudron-citron / Latim / Res non verba! 17- As personagens no romance não apresentam nome próprio, ora são reconheci-das pela profissão, ora por um aspecto físico, ora por algum traço peculiar. Isto leva a atentar para a simbologia impressa em cada uma. Assim cada personagem traz consigo um número considerável de sugestões para interpretá-las. Portanto: � A Mulher do Médico por ser a única que vê pode simbolizar a consciência, já

que o olho “são” leva ao cérebro as imagens do mundo real, o cérebro então as interpreta e conforme for, o indivíduo se representa no mundo em que se insere.

� O Médico, apesar da profissão de oftalmologista, só é capaz de tratar do olhar e corrigir algum defeito, mas não é capaz de ver a alma do paciente e ajudá-lo a corrigir os defeitos.

� O Velho de Venda Preta por ter apenas um olho quase “são, pois estava com catarata, pode representar os indivíduos capazes de ver, parcialmente, e in-terpretar com senso as imagens captadas, já que o olho ruim lhes falta; pode ainda o velho representar a experiência, dada a idade. Lembrar que o velho por não ter o olho perfeito, representa que os homens jamais terão acesso à verdade absoluta das coisas.

� A Rapariga de óculos escuros por estar com conjuntivite pode representar os indivíduos que têm visão das coisas, mas por algum motivo conviniente, não fazem o uso preciso do que interpretam. É como se a consciência estivesse obstruída de se manifestar por alguma conveniência.

� O Primeiro cego e a esposa apesar da idade podem representar a convivência acomodada do indivíduo em meio à sociedade; a apatia e por vezes tomada de egoísmo.

� O Rapazito estrábico pode representar os alienados de tudo e de todos, apesar do estrabismo simbolizar o mistério, nesta obra parece ser o comportamen-to da alienação o verdadeiro mistério que envolve os homens dessa natureza. Lembrar ainda que o estrábico é aquele que tem desvio de um dos olhos, de modo que os dois não fixam o mesmo ponto no espaço.

� O Ladrão apesar de ter como profissão o furto pode representar o que vê com esperteza e maldade o que os outros não veêm, a visão tem sempre a com-panhia das segundas intenções.

� O Ajudante de farmácia pode representar aqueles indivíduos que usam dos conhecimentos dos outros para ‘ajudar’ a correção, por meio da manipula-ção, de algum mal detectado.

� O CÃO pode representar os amigos que não são cegos e vêem o que não podemos ver, mas com os olhos da fidelidade, e estão sempre prontos para nos ajudar nas horas difíceis; não nos abandona em nenhuma situação, seja ela boa ou não.

� Os Soldados podem representar os indivíduos realmente cegos de consciência, pois estão sempre sob o comando de alguém; não veêm por si mesmos.

� O Escritor pode representar os indivíduos que vêem e interpretam, além disso, são mediados pela sensibilidade e imaginação para representar o realmente vê.

B) A liberdade guiando o povo é uma pintura de Eugène Delacroix em comemora-ção à Revolução de Julho de 1830, com a queda de Carlos X. Uma mulher represen-tando a Liberdade guia o povo por cima dos corpos dos derrotados, levando a bandeira tricolor da Revolução francesa em uma mão e brandindo um mosquete com baioneta na outra. O quadro lembra uma cena importante do livro, relacionada à mulher do médico: “Estava a chover torrencialmente quando alcançou a rua, Melhor assim, pensou, ofegando, com as pernas a tremer, vai sentir - se menos o cheiro. Alguém tinha deitado a mão ao último farrapo que mal a tapava da cintura para cima, agora ia de peitos descobertos, por eles, lustralmente, palavra fina, lhe escorria a água do céu, não era a liberdade guiando o povo, os sacos, felizmente

Page 6: 2ª fase

www.literaturaeshow.com.br les! L I T E R A T U R A 6

cheios, pesam demasiado para os levar levantados como uma bandeira”. Podemos constatar uma intertextualidade clara entre o livro e o quadro do pintor romântico. ATENÇÃO: Uma personagem crucial para a narrativa é a mulher do médico, que por ser a única que não cega, testemunha visualmente a degradação, trazida pela cegueira, tomando papel de líder e de defensora dos demais, em meio à crise a que são postos. Ao analisar a trajetória percorrida pela mulher do médico na narrativa, constata-se a grande parcela de solidariedade desprendida por ela em relação aos demais cegos, tanto nos momentos passados dentro do manicômio como no retor-no à cidade. A mulher do medico possui valor particular, pois alem de ser a única que manteve o sentido da visão, conserva sensibilidade e compaixão, mesmo quando tem de matar o líder de um grupo de adversário no manicômio, descendo aos limites da agressividade, para interromper a escravidão que este líder impu-nha. PENSANDO AS OBRAS EM CONJUNTO • CEGUEIRA: A cegueira aparece em dois livros (Ensaio sobre a cegueira e Anjo

negro). Não podemos esquecer na peça de Nelson Rodrigues, Ismael e Virgí-nia podem também ser considerados metaforicamente cegos, ele em virtude do enorme preconceito que tinha contra os negros. Ela, por se submeter ao marido e mudar constantemente de opinião (para se favorecer sempre).

• LINGUAGEM: Sagarana, La vie en close e Mem. Sent. João Miramar apresen-tam uma linguagem especial. Nas duas últimas aparecem inclusive, várias lín-guas num mesmo trecho.

• MORTE, SOLIDÃO: a morte e a solidão são retratadas por várias obras: nos dois contos de Sagarana, em Anjo Negro, Prosas...,

• OPRESSÃO, CRÍTICA AO HOMEM MODERNO E AO CAPITALISMO: Anjo negro, Ensaio sobre a cegueira, Paraísos artificiais, La vie en close, Prosas seguidas de odes mínimas, Memórias Sentimentais...

• O REPÚDIO AOS GÊNEROS LITERÁRIOS E ÀS REGRAS FORMAIS: La vie en close, Prosas..., Memórias sentimentais.

E POR AÍ VAI...

Aos meus queridos alunos e leitores do

literatura éshow!, fica aqui os meus sinceros desejos de uma boa prova.

José Ricardo