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1 omo se escreve um ensaio de filosofia 1 Artur Polônio, 2006 O que é um ensaio filosófico? Um ensaio–ou „monografia‟, ou „ dissertação argumentativa‟, ou „artigo‟ etc.filosófico é um texto argumentativo em que se defende uma posição sobre um determinado problema filosófico. Uma vez que a melhor maneira de formular um problema é fazer uma pergunta, o objetivo de um ensaio filosófico é responder a uma pergunta e defender essa resposta, oferecendo argumentos e refutando as objeções. O que se espera que um estudante mostre ao escrever um ensaio? Um ensaio deve mostrar que o seu autor sabe identificar um problema filosófico e sabe relacionar o problema com as teorias e argumentos em causa. É por isso que um ensaio deve ter a forma de resposta a uma pergunta. Um ensaio artigo, texto etc.filosófico deve ter a forma de resposta a uma pergunta. E a essa pergunta há de ser possível responder com um simou com um não, procurando o estudante, em seguida, avaliar criticamente os principais argumentos em confronto, de modo a tomar uma posição pessoal na disputa. Num ensaio, o estudante não pode limitar-se a dar a sua opinião isso é filosoficamente irrelevante. Tem também de avançar com evidências e argumentos, e de responder aos argumentos contrários. Caso não lhe pareça possível defender uma das partes, deverá dizer, ainda assim, o porquê. Como escolher o título do ensaio? A melhor maneira de intitular o ensaio é apresentar o mais claramente possível o problema que se vai tratar, e a melhor maneira de fazê-lo é colocar uma pergunta. Exemplos de títulos de ensaios podem ser: Será que os animais têm direitos?É a existência do mal compatível com a existência de Deus? Terá a 1 Versão parcialmente modificada do texto de Polônio, Arthur, 2006, “Como escrever um ensaio filosófico”, <http://www.cef-spf.org/docs/ensaio.pdf>, acessado em 02/03/2007. (Dado que alguns dos textos utilizados no curso são originalmente do português de Portugal, explica-se porque algumas palavras são diferentes das do português do Brasil). A maioria dos exemplos deste texto estão voltados para a área de filosofia. Mas todas as especificações do mesmo são válidas para aprender a escrever um texto científico em geral. Lembre-se que a filosofia é em parte uma ciência (especificamente, uma ciência humana); lembre-se que o aspecto essencial da ciência em geral e da filosofia em particular é o seu caráter argumentativo.

3 TM3. POLÔNIO 2006 Como escrever um ensaio filosófico

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omo se escreve um ensaio de filosofia 1

Artur Polônio, 2006

O que é um ensaio filosófico?

Um „ensaio‟ –ou „monografia‟, ou „dissertação argumentativa‟, ou „artigo‟ etc.–

filosófico é um texto argumentativo em que se defende uma posição sobre um determinado problema filosófico. Uma vez que a melhor maneira de formular um problema é fazer uma pergunta, o objetivo de um ensaio filosófico é responder a uma pergunta e defender essa resposta, oferecendo argumentos e refutando as objeções.

O que se espera que um estudante mostre ao escrever um ensaio?

Um ensaio deve mostrar que o seu autor sabe identificar um problema filosófico e sabe relacionar o problema com as teorias e argumentos em causa. É por isso que um ensaio deve ter a forma de resposta a uma pergunta. Um ensaio –artigo, texto etc.– filosófico deve ter a forma de resposta a uma pergunta. E a essa pergunta há de ser possível responder com um „sim‟ ou com um „não‟, procurando o estudante, em seguida, avaliar criticamente os principais argumentos em confronto, de modo a tomar uma posição pessoal na disputa. Num ensaio, o estudante não pode limitar-se a dar a sua opinião –isso é filosoficamente irrelevante. Tem também de avançar com evidências e argumentos, e de responder aos argumentos contrários. Caso não lhe pareça possível defender uma das partes, deverá dizer, ainda assim, o porquê.

Como escolher o título do ensaio?

A melhor maneira de intitular o ensaio é apresentar o mais claramente possível o problema que se vai tratar, e a melhor maneira de fazê-lo é colocar uma pergunta. Exemplos de títulos de ensaios podem ser: “Será que os animais têm direitos?” “É a existência do mal compatível com a existência de Deus?” “Terá a 1 Versão parcialmente modificada do texto de Polônio, Arthur, 2006, “Como escrever um ensaio filosófico”, <http://www.cef-spf.org/docs/ensaio.pdf>, acessado em 02/03/2007. (Dado que alguns dos textos utilizados no curso são originalmente do português de Portugal, explica-se porque algumas palavras são diferentes das do português do Brasil). A maioria dos exemplos deste texto estão voltados para a área de filosofia. Mas todas as especificações do mesmo são válidas para aprender a escrever um texto científico em geral. Lembre-se que a filosofia é em parte uma ciência (especificamente, uma ciência humana); lembre-se que o aspecto essencial da ciência em geral e da filosofia em particular é o seu caráter argumentativo.

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lógica lugar na filosofia?” “Deveremos avaliar uma ação unicamente em função das suas conseqüências?” “Será que todas as obras de arte expressam sentimentos?” “Será que as obras de arte expressam conhecimento?” “Existe um método para construir –inventar, descobrir, criar, gerar– uma hipótese científica ou uma obra artística?” “Qual é a concepção de método de Feyerabend?” “Qual a solução de Popper ao problema da indução?” etc. Títulos como “Os direitos dos animais”, “Deus e o mal”, “A lógica filosófica”, “O conseqüencialismo”, “A arte e a expressão de sentimentos”, “O método de invenção”, embora possam ser adequados em textos introdutórios ou em textos mais longos e abrangentes, devem aqui ser evitados, pois não parecem obrigar os seus autores a tomar posição nem a ser críticos e argumentativos.

Como se prepara um ensaio?

Leitura crítica. Leia criticamente os textos escolhidos na biblioteca ou indicados pelo professor, e que tratam do tema proposto. Nessa leitura, deve procurar identificar as teses em confronto e os argumentos que as sustentam. Deve ainda procurar assegurar-se de que compreende corretamente o que está em causa. Uma boa idéia é discutir os problemas e os argumentos com os outros. Frequentemente, isso lhe dará uma idéia mais clara da complexidade dos problemas e da força dos argumentos. Primeiro rascunho. Uma vez feita a leitura crítica dos textos e os problemas discutidos, deve fazer um rascunho. Qual a tese a defender? Que argumentos apresentar, e por que ordem? Quais as objeções a discutir, e quando? O que se pretende introduzir pressupõe uma discussão anterior? Tenha em mente que a clareza do seu ensaio depende em grande parte da sua estrutura; por isso, é importante começar por determinar o que se propõe fazer e como fazê-lo.

Como se deve apresentar um ensaio?

Para cumprir sua função –comunicar, expressar uma idéia, transmitir uma mensagem, defender um ponto de vista– um texto argumentativo ou ensaio não pode ser um acúmulo caótico de idéias. Um texto argumentativo precisa ter uma seqüência expositiva, isto é, uma estrutura narrativa que dê coerência, organização, ordem, hierarquia e consistência à narração. Uma argumentação se estrutura narrativamente na seguinte seqüência expositiva: introdução, desenvolvimento e conclusão.

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A introdução. Apresenta a idéia principal que será defendida. É a enunciação da hipótese ou idéia principal que se quer mostrar.

O desenvolvimento. Corresponde à exposição dos argumentos com os quais se tenta provar ou defender a idéia principal. A dica básica de exposição é: desenvolver um parágrafo por argumento –isto é: jamais desenvolver um argumento em vários parágrafos, e –menos ainda!– desenvolver argumentos diferentes num parágrafo só.

O „desenvolvimento‟ –categoria expositiva que em textos de maior extensão é denominada „corpo do texto‟– é o único lugar de um texto em que se devem colocar as citações e referências bibliográficas.

A conclusão. É o desfecho de um ensaio; resume os aspectos principais do texto argumentativo, sintetiza e vincula os argumentos enunciados no „desenvolvimento‟, e confirma a hipótese afirmada na introdução.

(Esclarecimento: as categorias „introdução‟, „desenvolvimento‟ e „conclusão‟ só fazem referência às partes expositivas de um texto, especificam a natureza do conteúdo dos parágrafos: não são nem títulos nem sub-títulos!).

A seqüência expositiva „introdução, desenvolvimento e conclusão‟ pode parecer repetitiva, mas é a melhor maneira de expressar uma idéia ou defender una posição. Jean Guitton mostra isto de uma forma clara e engraçada:

“O segredo de toda a arte de se expressar consiste em dizer a mesma coisa três vezes. Enuncia-se; desenvolve-se; finalmente, resume-se em poucas palavras. [...] Meus alunos [...] transformaram estas regras numa canção: „Diz-se o que se tem a dizer/ Já se disse/ Diz-se o que já foi dito‟” (Guitton apud Boaventura 1999:7-8).

Insistamos sobre a importância da seqüência iterativa „introdução, desenvolvimento e conclusão‟. Observemos que a mesma não é uma mera repetição: no desenvolvimento se explicitam evidências não mencionadas na introdução, e na conclusão se destaca o vínculo que se estabeleceu entre essas evidências e a afirmação que se quer defender. Isto é: na conclusão não se repete „meramente‟ a idéia afirmada na introdução com a esperança de que o leitor –por cansaço, pela autoridade do autor– acredite dogmaticamente nela: se oferecem dados para que o leitor (ou o interlocutor) contra-argumente –ofereça novas evidências ou novas razões que revelem a debilidade do argumento–, ou decida criticamente acreditar na conclusão do texto.

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Como se deve estruturar um ensaio?

Um ensaio deve ter uma estrutura. Das regras a seguir indicadas, 1, 2 e 3 aplicam-se à Introdução; 4 a 8 ao Desenvolvimento ou corpo do ensaio; e 9 à Conclusão. Se tudo correr bem, as conclusões que vai tirar em 9 irão ao encontro do que começou por dizer em 1 e 2. O ensaio deve ser estruturado de acordo com as seguintes regras:

0. Formule um título

0.1. Faça um resumo

1. Formule o problema

1.1. Defina os conceitos utilizados

2. Diga qual o objetivo do ensaio

3. Mostre a importância do problema

4. Identifique as principais teses (hipóteses, interpretações etc.) concorrentes

5. Apresente a resposta (tese, hipótese, ideia, interpretação etc.) que quer defender

6. Apresente os argumentos a favor dessa resposta

6.1. Exemplifique

6.2. Coloque citações

6.3. Conheça e utilize outros recursos expositivos

7. Apresente as principais objeções ao que acabou de ser defendido

8. Responda às objeções

9. Tire as suas conclusões/ Apresente suas respostas

10. Coloque referências bibliográficas nas citações e paráfrases

Vamos especificar cada uma delas:

1. Formule um título

Um bom título (um título expressivo) orienta o leitor (e até o autor) na compreensão do texto. É útil, neste estágio da pesquisa, apresentar o título em forma de pergunta, destacando o problema de pesquisa. Esta estratégia facilitará a delimitação da pesquisa, e ajudará a perceber que a tarefa da pesquisa é a de resolver problemas. Lembre que no processo de redação tudo o que se faz é provisório, e pode ser modificado. Se, quando tiver a versão final, você achar que o título fica melhor sem ser na forma de pergunta pode, é claro, mudá-lo.

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0.1. Faça um resumo

É muito útil para o leitor (e também para o autor) começar o texto com um breve resumo (entre 150 e 400 palavras) onde se sintetizem os principais tópicos abordados no texto. O resumo deve ater-se ao título escolhido, e o título escolhido deve ater-se ao resumo. Lembre que no processo de redação tudo o que se faz é provisório, e pode ser modificado. Então, reescreva o resumo (e reformule o título) à medida que reelabora o corpo do texto...

1. Formule o problema

Deve começar pelo problema, formula-lo claramente, delimita-lo com precisão.

1.1. Defina os conceitos utilizados

Geralmente, também é necessário –ou, pelo menos, útil– definir os termos utilizados (cf. Downes 2003). Muitas vezes, não basta formular o mais claramente possível o problema para as coisas ficarem completamente claras e não haver margem para dúvidas ou ambigüidades. Se, por exemplo, se pergunta se os animais têm direitos, é preciso dizer exatamente que direitos tem em mente e dar exemplos concretos; deve igualmente deixar bem claro se está a referir-se a todos os animais –incluindo os piolhos e as baratas– ou só a alguns. Ou, se quiser defender que existe uma lógica da descoberta, deve especificar se você entende o termo „descoberta‟ como processo de criação ou como produto desse processo.

2. Diga qual o objetivo do ensaio

Um ensaio pode ter diferentes objetivos. Se o seu objetivo é oferecer razões para acreditar numa determinada tese, então deve dizer que é isso o que vai procurar fazer. Sempre esclareça o que procura fazer! Um erro freqüente, ao escrever um ensaio, é não saber exatamente qual o objetivo que se tem em mente ao fazê-lo, e se não sabemos onde queremos chegar, dificilmente saberemos que caminho escolher. O resultado disto é, frequentemente, um ensaio repleto de afirmações vagas e inadequadamente defendidas. Um objetivo claramente definido é mais do que meio caminho andado para um ensaio bem estruturado.

3. Mostre a importância do problema

Deve procurar mostrar por que razão é importante que nos ocupemos do problema de que se ocupa. Uma maneira de fazer isso é mostrar o que perderíamos se não o fizéssemos. Suponhamos, por exemplo, que se pergunta se

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a lógica formal tem lugar na filosofia. Por que razão devemos ocupar-nos disso? Se você escolheu ocupar-se desse problema, é porque o considera importante; nesse caso, sua resposta deve mostrar, por exemplo, que, se não nos preocupássemos com a forma do raciocínio, não só nos arriscaríamos a cometer erros de raciocínio, mas também a não compreender os raciocínios dos outros.

4. Identifique as principais teses (hipóteses etc.) concorrentes

Aqui deve, muito brevemente, apresentar as teses mais conhecidas que respondem a esse problema. Se, por exemplo, se pergunta se as nossas ações são boas ou más apenas em função das suas conseqüências, deve dizer que há duas teorias principais concorrentes –o consequencialismo e o deontologismo– e o que defende cada uma delas. (Deve, também, colocar referências de fontes confiáveis, indicando os autores que defendem essas teses, e em qual obra).

5. Apresente a tese (hipótese, interpretação etc.) que pretende defender

Neste momento, deve apresentar a sua posição. Isso deve ser feito mostrando qual é a proposição que irá ser defendida. Por exemplo, em relação ao problema de saber se a existência do mal é compatível com a existência de Deus, e caso a sua resposta seja afirmativa, pode tornar clara a sua posição começando por dizer que defende a proposição expressa pela frase “Deus existe, apesar de existir o mal no mundo”, e explicar sucintamente o que isso significa. Em certos casos, é possível e desejável apresentar exemplos do tipo de idéias que quer defender.

6. Apresente os argumentos a favor dessa proposição

Deve apresentar cuidadosamente os argumentos a favor da proposição que quer defender. Pode haver vários argumentos. Alguns podem até ser argumentos tradicionais, discutidos por alguns dos mais conhecidos autores. Nesse caso, deve concentrar-se apenas nos dois ou três que lhe parecem ser os mais fortes2 e expô-los por palavras suas, tentando mostrar que são válidos e que as suas premissas são verdadeiras ou, pelo menos, plausíveis. Um erro a evitar aqui é pensar que não há necessidade de muita argumentação para defender uma proposição que é, para nós, evidente: afinal, já a aceitamos. Mas, muitas vezes, temos tendência a sobreestimar as nossas convicções. Assim, devemos partir do princípio de que o leitor –ainda– não aceita a nossa posição, e pensar o ensaio como uma tentativa de persuadi-lo.

2 Deve ter em mente que nenhum argumento é mais forte do que a sua premissa mais fraca.

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6.1. Sempre que possível, exemplifique

Um exemplo vale mais do que mil preceitos.

6.2. Sempre que necessário, coloque citações

As citações devem, sempre, ser colocadas entre aspas duplas. As citações devem, sempre, ter referências bibliográficas. (Em outras palavras: não esqueça de registrar o(s) número(s) da(s) página(s) do texto do qual tirou uma citação!). As citações não devem superar 25% do texto. Lembre: O „desenvolvimento‟ é o único lugar de um texto em que se devem colocar as citações e referências bibliográficas.

6.3. Conheça e utilize outros recursos expositivos

Lembre que existem outros recursos expositivos; por exemplo, as paráfrases (ver, sobre esse assunto, o arquivo TM3. ECO, Umberto, 1998, “Paráfrases e plágio”, in: Como se faz uma tese, São Paulo: Perspectiva, 128-9).

7. Apresente as principais objeções ao que acabou de ser defendido

Deve enfrentar as principais objeções aos seus argumentos, quer indicando possíveis contra-exemplos ao que é afirmado em alguma das premissas, quer disputando a sua plausibilidade, quer questionando a validade dos próprios argumentos (esta tarefa reflete compreensão do assunto por parte do aluno). Ao realizar a tarefa de apresentar objeções aos próprios argumentos, deve procurar as objeções que lhe parecem mais fortes e não escolher apenas as mais fracas e fáceis de responder. Nesta parte, deve apresentar as objeções em suas próprias palavras, e não limitar-se a citar os autores consultados, pois só assim mostrara compreender o que escreve. (Isto –mostrar que se compreende o que se escreve– é o principal objetivo de um ensaio de graduação).

8. Responda às objeções

Uma vez apresentadas as objeções à sua tese, deve dizer o que há de errado com elas, ou como lhes responder.

9. Tire as suas conclusões

Finalmente, deve resumir muito brevemente o seu argumento principal e expor as suas dúvidas, caso existam. Mesmo que se incline mais para uma das respostas concorrentes, não deve hesitar em apresentar os seus pontos fracos.

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Se lhe parecer haver razões para não tomar posição na disputa, deve, ainda assim, apresentar essas razões. Neste ponto, nunca esqueça o seguinte: (1) na conclusão não devem ser apresentadas idéias que não tenham sido ditas anteriormente no corpo do texto; (2) a conclusão é o encerramento de nosso próprio texto, então as palavras também devem ser nossas (isto é: a „conclusão‟ não é lugar para citações).

10. Coloque referências bibliográficas nas citações e paráfrases

A seção „Bibliografia‟ –ou „Referências bibliográficas‟– deve ser redigida conforme as regras adotadas por sua Universidade, ou pela Revista na qual você deseja publicar seu artigo. Caso você inicie sua pesquisa antes de ler um manual de regras gráficas, ou de decidir em que revista você tentará publicar seu artigo, não esqueça de registrar (idealmente em „fichas bibliográficas‟) os seguintes dados das fontes consultadas3:

SOBRENOME, Nome, Título do livro: subtítulo, Cidade: Editora, Ano.

Todos os elementos consignados: sobrenome de autor, cidade em que o livro foi editado, etc., são os elementos que a maioria dos Sistemas internacionais de regras gráficas considera como essenciais. Conformam o „endereço‟ do livro; informam ao leitor onde pode procurar a informação referenciada no texto. Entretanto, conforme a sua temática, algumas publicações solicitam outros –ou mais– elementos. As revistas de literatura, por exemplo, exigem que se coloque, também, o nome do tradutor do livro referenciado; as revistas de história, o ano de publicação original dos textos utilizados, etc. (em todos esses casos, concordaremos, a exigência é razoável). Por isso, pode ser de utilidade para trabalhos futuros anotar a lápis, no reverso da ficha, os elementos complementares: ano de publicação original, número de edição, nome do tradutor, etc. (Considere que, depois de tudo, você só fará esta tarefa uma só vez em sua vida). Não esqueça, tampouco, de registrar o(s) número(s) da(s) página(s) do texto do qual tirou uma citação! (Nas Universidades brasileiras são exigidas, geralmente, as regras da ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. Para uma apresentação das mesmas, ver, p.ex., Mattos et al. 2005:110-124).

Importante: Sempre registrar as referências completas das fontes consultadas.

3 Denomina-se „fonte‟ o meio no qual se obtém as informações. As fontes podem ser „escritas‟ –livros, artigos, periódicos, monografias, revistas e todo tipo de material produzido gráfica ou eletronicamente– ou „orais‟ –conferências, entrevistas, palestras, seminários, aulas, etc.

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O que se avalia num ensaio?

A avaliação que o seu professor fará do seu ensaio em nada depende do fato de concordar ou não com a conclusão a que você chega. Se você pretende defender, por exemplo, que Deus existe, apesar de existir o mal, a avaliação do seu ensaio em nada depende do fato de o seu professor ser ou não ser ateu. É possível que não estejamos de acordo quanto ao que seria a melhor solução para o problema que foi apresentado, mas não é difícil que concordemos sobre se a maneira como chega à solução a que chega é correta ou não.

Mais especificamente, ao avaliar o seu ensaio o professor levará em consideração os seguintes critérios:

1. O problema está corretamente formulado? Os termos-chave estão definidos? 2. A importância do problema é mostrada? 3. As principais teses concorrentes são apresentadas? 4. A tese que se pretende defender está clara para o leitor? 5. Os argumentos apresentados são bons e não há falácias evidentes? 6. As principais objeções são apresentadas? 7. As objeções apresentadas são refutadas? 8. As conclusões seguem-se efetivamente das premissas? 9. A prosa é fácil de ler e de compreender? Tem erros de ortografia?O texto apresenta exemplos? 10. As idéias são apresentadas de forma pessoal?

Como se avalia um ensaio?

É possível que, no final, o seu ensaio satisfaça alguns critérios totalmente, satisfaça alguns parcialmente e, eventualmente, não satisfaça outros. É claro que é possível argumentar que todos os critérios são importantes, mas nem todos são igualmente importantes. Poderemos observar, por exemplo, que tornar óbvia para o leitor a tese que se pretende defender é mais importante do que estabelecer claramente a importância do problema; ou que é mais importante apresentar bons argumentos do que refutar as objeções. Mas dificilmente estaríamos de acordo quanto a qual destes critérios importantes é o mais importante. Além disso, ainda que chegássemos a um sistema rigoroso de atribuição de „pesos‟ a cada um dos critérios, aplicá-lo poderia tornar a avaliação de um ensaio de algumas páginas uma tarefa quase impossível. Em síntese: em matéria de avaliação, tudo se reduz ao delicado equilíbrio de uma série de valores, não à aplicação mecânica de regras infalíveis. Em fim: não é impossível que o que de verdadeiramente importante se pode dizer de um ensaio é que ele é ou muito bom, ou bom, ou satisfatório, ou mau –ou muito mau.

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Para simplificar e finalizar podemos estabelecer o seguinte:

a. Por cada um dos critérios apresentados que seja totalmente satisfeito o ensaio obterá 1 ponto;

b. Por cada um dos critérios apresentados que seja parcialmente satisfeito o ensaio obterá 0,5 pontos;

c. Por cada um dos critérios apresentados que não seja satisfeito o ensaio obterá 0 pontos.

d. As citações, referências e referências bibliográficas devem ser redigidas conforme as regras da ABNT.

e. Plágio (total ou parcial) equivale à reprovação automática na disciplina. (ver, sobre esse assunto, o arquivo TM2. CÁTEDRA, 2012d, “A ética na pesquisa e na Universidade –O PLÁGIO”).

7. O trabalho deve ser entregue até a data especificada.

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Como se apresenta um ensaio?

As indicações estruturais e argumentativas apresentadas neste texto são válidas para qualquer produto acadêmico: „trabalho de pesquisa‟, „dissertação monográfica‟, „trabalho monográfico‟, „trabalho de iniciação científica‟, „trabalho didático‟, „ensaio‟, „monografias de disciplina‟, „artigo‟ etc. A apresentação formal e a extensão do ensaio serão decididas pelo professor levando em consideração o nível do curso ao qual está direcionado. Aqui colocamos, em caráter de orientação, um modelo para os últimos níveis do ensino médio e os primeiros cursos de graduação.

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2. [1° título do desenvolvimento]

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2.1. Subtítulo (quando necessário)

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Título

Dados do aluno: _______

Resumo. ______________________

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1. Introdução ______________________________

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3. [2° título do desenvolvimento]

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4. Conclusão

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5. Referências bibliográficas

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Referencias bibliográficas

ACOCELLA, Joan, 2004, “Blocked: Why do writers stop writing?”, The New Yorker, 14/06/2004.

BACHELARD, Gastón, A formação do espírito científico, Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.

BACON, Francis, Novum Organum, 2º ed., São Paulo: Abril cultural, 1979. BARZUM, Jacques; GRAFF, Henry, The Modern Researcher, N.Y.: Harcourt Brace

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BASTOS, Cleverson; KELLER, Vicente, Aprendendo a aprender: introdução à metodologia científica, 2º ed., Petrópolis: Vozes, 1991.

BELL, Judith, Como realizar um projecto de investigação, Lisboa: Gradiva, 2002. BEVERIDGE, William, Sementes da descoberta científica, São Paulo: UNESP, 1981. BOAVENTURA, Edivaldo, Como ordenar as idéias, 6º ed., São Paulo: Ática, 1999. CARVALHO, M. Cecília (org.), Construindo o saber: metodologia científica, 4º ed.,

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1995.

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científico, 10º ed., São Paulo: Martins Fontes, 2001.

SEVERINO Antonio, Metodologia do trabalho científico, 19º ed., São Paulo: Cortez, 1995.

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Observação importante I:

Uma das mais importantes regras acadêmicas –aplicadas pelos organizadores de

Congressos, os professores universitários e os editores de revistas científicas– é a de não

aceitar os trabalhos entregues fora da data pautada. E isto pela simples razão de que sem

prazos firmes não haveria organização possível, e sem organização dificilmente haveria

produção intelectual. Por isso, e por outras razões, um dos conselhos básicos da

metodologia é ‘sempre redigir os trabalhos com antecedência’.

Observação importante II:

«Quem escreve uma série de frases gramaticalmente corretas sobre [qualquer]

tema provavelmente tem uma idéia coerente do que está escrevendo. [...] Ao

contrário do que acreditam muitos estudantes, uma linguagem vaga e difícil

denota confusão, e não sutileza ou habilidade. [...] Como a linguagem é

expressão do pensamento, uma linguagem clara é expressão de um pensamento

claro. Uma boa escrita facilita a compreensão [...]. O estilo favorece a clareza»

(Martinich 1989:xiii-xiv).

Para obter boas dicas metodológicas, o aluno também pode ler os seguintes textos:

PRYOR, James, 2004, “Como se lê um ensaio de filosofia”. HEPBURN, Ronald, 2005, “Bons e maus ensaios filosóficos”. CORNMAN et al., 2000, “As ferramentas do ofício”.

As dissertações argumentativas deverão ser entregues impressas (digitadas), em folha A4, justificados, com espaço simples, em letra Times New Roman, tamanho 14.

“O que distingue a reflexão filosófica é a fundamentação racional: os argumentos que sustentam as nossas posições. O que importa são os argumentos que se apresentam para defender uma afirmação. O trabalho da filosofia consiste em (1) estudar esses argumentos e (2) avaliá-los criticamente. A filosofia é algo que cada um faz com a sua própria cabeça, em diálogo crítico com os outros. A filosofia não consiste em ler textos e "comentar" o que esses textos dizem. A filosofia consiste em pensar nos mesmos problemas que são tratados nesses textos, o que é muito, muito diferente. (...) Os problemas da filosofia têm esta característica: implicam um uso forte da argumentação. Os problemas da filosofia interpelam-nos e exigem-nos argumentos. É claro que eu acho que o mundo exterior existe independentemente de mim; mas como posso eu justificar esta opinião? A filosofia é um pedido sistemático de justificações e essas justificações são argumentos” (Murcho 2000).

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“A análise de razões e argumentos é uma área própria da filosofia. De fato, se a filosofia tem um método distintivo, é este: a construção, crítica e análise de argumentos. As competências filosóficas são aplicáveis em qualquer área em que os argumentos sejam importantes, e não apenas nos domínios da especulação abstrata. São particularmente úteis quando se escreve ensaios, dado que se espera habitualmente que se defendam conclusões, e não apenas que as afirmemos. Por esta razão, uma formação básica em filosofia é extremamente importante, seja qual for a disciplina acadêmica que se tenha em mente seguir” (Warburton 1998a). “(...) Outro critério pelo qual medimos um verdadeiro filósofo: ocupa-se não apenas de apresentar as suas idéias, mas também de argumentar a seu favor. Esta atitude tem conduzido aos filósofos a um interesse apaixonado pelas idéias uns dos outros; e tem levado os filósofos a discordar, e se possível a refutar, os argumentos dos outros filósofos; e também a expor teorias por meio de diálogos, falados ou escritos. Por vezes, como no caso de Platão, Berkeley ou Hume, estes diálogos são ficcionais; por vezes são reais, e tomaram a forma de respostas a objeções, como no caso de Descartes, ou de troca de correspondência. Os filósofos são por natureza faladores e epistolares; só raramente preferem sentar-se e pensar, isolados dos seus pares” (Warnock, 1996) “A filosofia é uma atividade: é uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A atividade dos filósofos é, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas, ou fazem as duas coisas. Os filósofos também analisam e clarificam conceitos” (Warburton 1998b). “A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando idéias e pensando em argumentos possíveis contra elas, e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos” (Nagel 1997). "Se você quer os acertos, esteja preparado para os erros".

Carl Yastrzemski "O único modo de evitar os erros é adquirindo experiência; mas a única maneira de adquirir experiência é cometendo erros...”.

George Bernard Shaw