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32 mais interno de maior altitude, que limita lagoas de maiores dimensões, e um externo, de altitude inferior. Os ecossistemas lênticos litorâneos possuem, de um modo geral, elevada produtividade orgânica, servindo como criadouros para peixes e crustáceos jovens (André et al., 1981; Moraes et al., 1994). Diversos estudos desenvolvidos tanto em regiões tropicais como temperadas têm demonstrado que a ictiofauna marinha é composta essencialmente por espécies que penetram no estuário como juvenis, permanecendo nas águas abrigadas até um período determinado de desenvolvimento (Chao et al., 1982; Yanez-Arancibia et al., 1980). Segundo Esteves (1988), tais ecossistemas necessitam ser conservados para que seus múltiplos usos (recreação, pesca, abastecimento) sejam garantidos. 3.2.5.1 Características Gerais das Lagunas Na região em estudo, verifica-se a existência de um sistema lagunar que compreende dois subsistemas, representados pelos conjuntos Jacarepaguá-Camorim-Tijuca e Lagoinha-Marapendi (do tupi mbará-pindi = mar limpo). Segadas-Vianna (1967) descreveu a origem destas lagunas como resultado do aprisionamento de água salgada por uma língua de areia, destacando ainda o processo de entulhamento como parte dos ciclos evolutivos destes sistemas, como resultado de sedimentos arenosos e do acúmulo de sedimentos arenosos ou argilosos que procedem dos cursos d’água que nelas deságuam. Estes sistemas encontram-se sobre uma planície formada pelo entulhamento de antiga enseada por sedimentos marinhos, como demonstrado por evidências geológicas e biológicas (cavidades roídas por equinoides na Pedra de Itanhangá, fosseis conchilíferos marinhos coletados a seis quilômetros do mar, sob camada de aluviões, etc..) (Lamego, 1974). De acordo com Correa (1936) e Araújo (1980), a laguna do Camorim (atual Jacarepaguá) era um sistema de água salobra, enquanto a Lagoa da Tijuca com suas margens cobertas com manguezal arbóreo, exibia predominantemente água salgada. A lagoa de Marapendi era um sistema dulcícola com características de lago costeiro. A cobertura nativa do entorno das lagoas eram as formações de mangue, campos inundados e matas paludiais. As principais espécies historicamente presentes nos manguezais são: o mangue- vermelho (Rhizophora mangle), mangue-branco (Laguncularia racemosa) e o mangue siriúba ou mangue-preto (Avicennia schaueriana) (Correa, 1936; Dansereau, 1947). A fauna associada ao manguezal consiste de dois grandes grupos: os que o habitam permanentemente, em todo o seu ciclo vital (como os moluscos e os crustáceos) e aqueles que freqüentam-no periodicamente, para abrigo, desova e alimentação na fase de crescimento (diversos peixes e mamíferos). Existem cerca de 67 espécies de peixes associadas a diversos manguezais da costa brasileira (Aveline, 1980). Atualmente, as lagunas do complexo lagunar da baixada de Jacarepaguá vêm sofrendo um acelerado processo de descaracterização, decorrente, em especial, da ocupação acelerada e, em muitos casos, irregular da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá. Esta crescente ocupação do local vem agravando a intensidade de entrada de nutrientes nos sistemas lagunares provenientes de efluentes domésticos e industriais lançados, em sua maioria, sem tratamento em um complexo que possui baixa capacidade de metabolização e/ou remoção dos rejeitos.

3.2.5.1 Características Gerais das Lagunas 3 - Meio Biotico (Parte 2... · de peixes Nehab e Barbosa, 1984;( Coutinho, 1986; Andreata et al., 1992), proliferação de

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mais interno de maior altitude, que limita lagoas de maiores dimensões, e um externo, de altitudeinferior.

Os ecossistemas lênticos litorâneos possuem, de um modo geral, elevada produtividade orgânica,servindo como criadouros para peixes e crustáceos jovens (André et al., 1981; Moraes et al.,1994). Diversos estudos desenvolvidos tanto em regiões tropicais como temperadas têmdemonstrado que a ictiofauna marinha é composta essencialmente por espécies que penetram noestuário como juvenis, permanecendo nas águas abrigadas até um período determinado dedesenvolvimento (Chao et al., 1982; Yanez-Arancibia et al., 1980).

Segundo Esteves (1988), tais ecossistemas necessitam ser conservados para que seus múltiplosusos (recreação, pesca, abastecimento) sejam garantidos.

3.2.5.1 Características Gerais das Lagunas

Na região em estudo, verifica-se a existência de um sistema lagunar que compreende doissubsistemas, representados pelos conjuntos Jacarepaguá-Camorim-Tijuca e Lagoinha-Marapendi(do tupi mbará-pindi = mar limpo). Segadas-Vianna (1967) descreveu a origem destas lagunascomo resultado do aprisionamento de água salgada por uma língua de areia, destacando ainda oprocesso de entulhamento como parte dos ciclos evolutivos destes sistemas, como resultado desedimentos arenosos e do acúmulo de sedimentos arenosos ou argilosos que procedem doscursos d’água que nelas deságuam.

Estes sistemas encontram-se sobre uma planície formada pelo entulhamento de antiga enseadapor sedimentos marinhos, como demonstrado por evidências geológicas e biológicas (cavidadesroídas por equinoides na Pedra de Itanhangá, fosseis conchilíferos marinhos coletados a seisquilômetros do mar, sob camada de aluviões, etc..) (Lamego, 1974).

De acordo com Correa (1936) e Araújo (1980), a laguna do Camorim (atual Jacarepaguá) era umsistema de água salobra, enquanto a Lagoa da Tijuca com suas margens cobertas commanguezal arbóreo, exibia predominantemente água salgada. A lagoa de Marapendi era umsistema dulcícola com características de lago costeiro.

A cobertura nativa do entorno das lagoas eram as formações de mangue, campos inundados ematas paludiais. As principais espécies historicamente presentes nos manguezais são: o mangue-vermelho (Rhizophora mangle), mangue-branco (Laguncularia racemosa) e o mangue siriúba oumangue-preto (Avicennia schaueriana) (Correa, 1936; Dansereau, 1947).

A fauna associada ao manguezal consiste de dois grandes grupos: os que o habitampermanentemente, em todo o seu ciclo vital (como os moluscos e os crustáceos) e aqueles quefreqüentam-no periodicamente, para abrigo, desova e alimentação na fase de crescimento(diversos peixes e mamíferos). Existem cerca de 67 espécies de peixes associadas a diversosmanguezais da costa brasileira (Aveline, 1980).

Atualmente, as lagunas do complexo lagunar da baixada de Jacarepaguá vêm sofrendo umacelerado processo de descaracterização, decorrente, em especial, da ocupação acelerada e, emmuitos casos, irregular da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá. Esta crescente ocupação do localvem agravando a intensidade de entrada de nutrientes nos sistemas lagunares provenientes deefluentes domésticos e industriais lançados, em sua maioria, sem tratamento em um complexoque possui baixa capacidade de metabolização e/ou remoção dos rejeitos.

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Outros processos vêm contribuindo para a degradação destes ecossistemas, destacando-seaterros irregulares das margens e desmatamentos, que reduzem progressivamente a coberturavegetal nativa; construções de canais de comunicação, que alteraram o regime salino da lagoa deMarapendi (atualmente mesohalina), extinguindo a ictiofauna nativa (“os peixes que encontrei nasminhas excursões na lagoa de Marapendi são os que habitam águas fluviais”, Correa, 1936) edragagens mal dimensionadas. Quanto ao último aspecto, Moraes et al. (1994), reportaram queas dragagens realizadas na laguna de Jacarepaguá por empresas particulares acarretaram umaumento excessivo da profundidade, chegando a 10 metros em algumas áreas.

Os sinais da degradação lagunar encontram-se bem documentados, tendo-se registradoeutrofização (Coelho e Fonseca, 1981), contaminação bacteriana (Zee et al., 1992), mortandadede peixes (Nehab e Barbosa, 1984; Coutinho, 1986; Andreata et al., 1992), proliferação devetores e doenças (Nehab e Barbosa, op. cit.) e aumento da DBO (Coutinho, op. cit.). Em síntese,um quadro geral de péssima qualidade da água (Stranch et al., 1982).

Moraes et al. (1994) ressalta a redução na mortandade de peixes nos últimos anos, relacionandoo fato não a diminuição da poluição, mas sim a queda expressiva dos estoques populacionais damaior parte das espécies originalmente presentes. Durante as mortandades, a savelha(Brevoortia pectinata), por possuir hábito alimentar planctófago, é a espécie mais afetada,totalizando a maior quantidade coletada pela COMLURB (Moraes et al., op cit.).

FEEMA (1990) relata que em 1989 foram realizadas visitas de caráter técnico às lagunas queintegram o complexo lagunar da baixada de Jacarepaguá, para uma reavaliação das condiçõesdestes ecossistemas. Os principais problemas diagnosticados foram:

− Degradação das áreas de proteção das lagunas, especialmente pelo lançamento de dejetos; − Assoreamento das lagoas, indicado pela formação de espigões e ilhas, impedindo o livre

trânsito de pequenas embarcações e propiciando o acréscimo de áreas de propriedadesparticulares;

− Construções com total desrespeito à faixa marginal de proteção, invadindo o espelho d’água; − Represamento dos rios poluídos, devido a grande quantidade de vegetação aquática; − Desenvolvimento de condições anoxibióticas, em virtude da alta concentração de esgoto e a

presença de vegetação aquática em decomposição; − Liberação de gases tóxicos de odor desagradável; − Acréscimo de carga orgânica e nutrientes − Mortandade de peixes

Apesar dos impactos sofridos por estes sistemas, permanece nos mesmos uma ictiofaunadiversificada, quando comparada a outros sistemas lagunares e lacustres costeiros do Estado doRio de Janeiro (Bizerril et al., 1995). Assim, reunindo os dados disponíveis, são contabilizadas 67espécies como ocorrentes nas lagunas da baixada de Jacarepaguá, as quais encontram-selistadas no Quadro 3.4.

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Quadro 3.4 – Ictiofauna das lagunas da baixada de Jacarepaguá

ELOPIFORMESLAGOA DA

TIJUCALAGOA DE

MARAPENDILAGOA DE

JACAREPAGUÁELOPIDAEElops saurus Linnaeus, 1766 X X -CLUPEIDAEBrevoortia aurea (Spix, 1829) X X XSardinella brasiliensis (Steindachner, 1879) X X XAnchoa januaria (Steindachner, 1879) X X -A. tricolor (Agassiz, 1829) X X -ERYTHRINIDAEHoplias malabaricus (Bloch, 1794) - - XARIIDAEGenidens genidens (Valenciennes, 1839)PIMELODIDAERhamdia sp.Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) - - XHypostomus punctatus Valenciennes, 1840

GYMNOTIFORMES

GYMNOTIDAEGymnotus carapo Linnaeus, 1758 - - XBELONIDAEStrongylura timucu (Wallbaum, 1792)POECILIIDAEPoecilia vivipara Schneider, 1801 X X XP. reticulata Peters, 1854Phallopthychus januarius (Hensel, 1868) X X XPhalloceros caudimaculatus (Hensel, 1868) - - XANABLEPIDAEJenynsia multidentata (Jenyns, 1842) X X XATHERINIDAEXenomelaniris brasiliensis (Quoy e Gaimard, 1824) X X X

SYNGNATHIFORMES

SYNGNATHIDAEOostethus lineatus (Kaup, 1856) X X -SYNBRANCHIDAESynbranchus marmoratus Bloch, 1795

BATRACHOIDIFORMES

BATRACHOIDIDADEPorichthys porosissimus (Valenciennes, 1837)DACTYLOPTERIDAEDactyopterus volitans (Linnaeus, 1758) X - -

PERCIFORMES

URANOSCOPIDAEAstroscopus ygraecum (Cuvier, 1829) X - -Centropomus parallelus Poey, 1860C. undecimalis (Bloch, 1792) X - -CARANGIDAECaranx bartholomei Cuvier, 1833 X - -

(continua)

35

(continuação, quadro 3.4)

ELOPIFORMESLAGOA DA

TIJUCALAGOA DE

MARAPENDILAGOA DE

JACAREPAGUÁCaranx latus Agassiz, 1831 X - -Oligoplites saurus (Bloch e Schneider, 1801) X - -Trachinotus carolinus (Linnaeus, 1758) X X -T. falcatus (Linnaeus, 1758) X - -Uraspis secunda (Poey, 1860) X - -Diapterus olisosthomus (Goode e Bean, 1882) X X -D. rhombeus (Cuvier, 1829) X X XGerres aprion (Baird e Girard, 1824) X X XD. brasilianus (Cuvier, 1830) X X -G. gula Quoy e Gaimard, 1824 X X -G. lefroyi (Gunther, 1850) X X -G. melanopterus Bleeker, 1863 X X -Pomadasys croco Cuvier, 1830 X - -Archosargus rhomboidalis (Linnaeus, 1758) X - -A. probatocephualus (Walbaum, 1792) X - -Diplodus argenteus (Valenciennes, 1830) X - -Micropogonias furnieri (Desmarest, 1823) X X XParalonchurus brasiliensis (Steindachner, 1875) X - -Bairdiella ronchus (Cuvier, 1830) X - -

SYNGNATHIFORMES

Chaetopterus faber (Broussonet, 1782) X - -Mugil curema Valenciennes, 1836 X X XM. liza Valenciennes, 1836 X X XTilapia rendalli Boulenger, 1896 X X XGeophagus brasiliensis (Quoy e Gaimard, 1824) X X XDormitator maculatus (Bloch, 1790) X X XEleotris pisonis (Gmelin, 1789) X X XAwaous tajasica (Lichtenstein, 1822) X X XBathygobius soporator (Valenciennes, 1837) X X -Chriolepis vespa Hasting e Bortone, 1881 - X -Gobionellus boleosoma (Jordan e Gilbert, 1882) X X XG. oceanicus (Pallas, 1770) X X XG. schufeldti (Jordan e Evermann, 1886) X X -G. stomatus Starks, 1913 X X -Micogobius meeki Evermann e Marsh, 1900 - X -Hypleurochilus fissicornis (Quoy e Gaimard, 1824) X - -

PLEURONECTIFORMES

Achirus lineatus (Linnaeus, 1758) X X XCitharichthys cf. spilopterus Gunther, 1862 X X -

TETRAODONTIFORMES

Catherine pullus (Ranzani, 1842) X - -Monacanthus ciliatus (Mitchill, 1818) X - - Sphoeroides greeleyi Gilbert, 1900 X - -Fonte: Bizerril, 1996

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Algumas espécies, presentes em todas as lagunas, caracterizam-se por utilizar os estuários comorotas de migração, como parte de suas estratégias reprodutivas e/ou alimentares. São exemplosos robalos (Centropomus parallelus, C. undecimalis), as taínhas (Mugil liza), os paratis (M.curema) e o bagre-urutu (Genidens genidens). Outras, por fecharem o ciclo de vida nas lagunasda região, foram classificados por Andreata et al. (1990b) como sendo estuarino residentes.Destes, os principais representantes são os peixe-reis (Xenomelaniris brasiliensis) e algunsGobiidae (Gobionellus boleosoma, G. oceanicus).

3.2.5.2 Biota da Laguna da Tijuca

A laguna da Tijuca é marcada por apresentar um regime mixomesohalino, de acordo com aclassificação de Müler, 1977 (apud Schaeffer, 1985). Consiste no sistema lagunar que, dentro dabaixada de Jacarepaguá, exibe a maior riqueza de espécies, sendo marcado pelo predomínio deformas marinhas sobre as demais categorias ecológicas consideradas (Figura 3.18).

Marinho

Dulcícola

Estuarino residente

Figura 3.18 – Representatividade de espécies marinhas, dulcícolas eestuarino - na laguna da Tijuca, RJ

Dos táxons ocorrentes no local, o peixe rei (Xenomelaniris brasiliensis) e os barigudinhos (Poeciliavivipara, Jenynsia multidentata) destacam-se como sendo os mais abundantes, verificando-senítida segregação de uso espacial influenciada pela salinidade. Assim, o peixe-rei é a espéciemais abundante nas áreas com maior influência salina, enquanto P. vivipara e J. multidentatapredominam nas áreas com menor salinidade (Bizerril et al., 1991).

Além de espécies de peixes marinhos e estuarinas, a laguna ainda mantém grupos como o siri-azul (Callinects danae) e diversas formas de camarões.

Na laguna da Tijuca, os estudos desenvolvidos por Andreata et al. (1990), reconheceram aexistência de três grandes regiões ictiogeográficas dentro de seus limites, as quais encontram-sedelimitadas na Figura 3.20. Tais unidades são definidas como:

− Área 1 (T1) – Restrita ao canal da Joatinga, esta unidade é caracterizada por apresentarictiofauna composta por elementos marinhos acessórios e acidentais, os quais encontram-seassociados por espécies estuarino residentes (Xenomelaniris brasiliensis, Mugil liza,Gobionellus boleosoma), de ampla distribuição na laguna;

J3 J2

J1

T3

T2T1

J1J2J3T1T2T3

ZONASBIOGEOGRÁFICAS

CONVENÇÕES

USODOSOLOECOBERTURA

LEGENDA

FIGURA3.19 - ZONASBIOGEOGRÁFICASDAS LAGUNAS

L.TIJUCA-ZONA1ÁREADETRANSIÇÃO

L.TIJUCA-ZONA2ZONADECONTATO-ECÓTONEL.TIJUCA-ZONA3DOMÍNIODULCÍCOLA

L.JACAREPAGUÁ-ZONA1DOMÍNIOSOCEÂNICOS

L.JACAREPAGUÁ-ZONA2DOMÍNIOESTUARINO

L.JACAREPAGUÁ-ZONA3ÁREADETRANSIÇÃO

ÁREASDEMAIORIMPORTÂNCIAPARAAMANUTENÇÃO DABIODIVERSIDADE

LIMITEINTERMUNICIPAL

RIOSSUBTERRÂNEOS

CURVADENÍVEL(100m)

RODOVIA

AEROPORTO/AUTÓDROMO

RIO / CANAL

LINHADEALTATENSÃO

FERROVIA

PA-PRAIAEAREAL

R-VEGETAÇÃODERESTINGA

M-VEGETAÇÃODEMANGUE

A-APICUM

B-ÁREAÚMIDACOMVEGETAÇÃO

Fa-FLORESTAALTERADA

F-FLORESTA

Ar-AFLORAMENTOROCHOSO

CP-CULTURAEPASTAGEM

Ca-CAMPOANTRÓPICO

SM-SOLOEXPOSTOEMINERAÇÕES

Vp-VEGETAÇÃOEMPARQUEPÚBLICO

Ac-ÁREAURBANANÃOCONSOLIDADA

Au-ÁREAURBANA

650000 660000 670000

Sondotécnica

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− Área 2 (T2) – Representa um trecho de transição entre um sistema eminentemente marinho(área 1) e um complexo com ictiofauna essencialmente lagunar (área 3);

− Área 3 (T3) – Dentre as três áreas reconhecidas, a área 3 é caracterizada por exibir a menor

diversidade biológica, possuindo suas ictiocenoses compostas essencialmente pelos gruposestuarinos residentes, associados as espécies dulcícolas eurihalinas (Poecilia vivipara,Phallopthychus januarius, Jenynsia multidentata, Geophagus brasiliensis).

Destas áreas, a unidade 1 e 2 destacam-se por possuírem maiores níveis de integridadeambiental, refletindo a proximidade com o mar, que garante a renovação da água. Nestes locais,a presença de pessoas praticando a pesca esportiva com tarrafas é comum.

O predomínio de espécies marinhas determina a dominância no local de táxons com baixatolerância às intervenções antrópicas, como apresentado na Figura 3.20. Tais gruposconcentram-se preferencialmente na área 1, com uma redução gradual que acompanha asdiluições salinas no sentido A1-A3

Alta Média Baixa

0

5

10

15

20

25

Figura 3.20 – Número de espécies nas diferentes categorias de tolerância as alteraçõesambientais da ictiofauna da laguna da Tijuca, RJ

3.2.5.3 Biota da Laguna de Jacarepaguá

No estudo de Andreata et al. (1992), a laguna de Jacarepaguá foi caracterizada como um sistemacom baixa concentração salina, com valores oscilando entre 1 e 8 ppm no período dedezembro/90 a fevereiro/91. Este aspecto explica a baixa riqueza de espécies, em um arranjomarcado pela presença predominante de espécies estuarino-residentes, como o peixe-rei(Xenomelaniris brasiliensis) e Dormitator maculatus, associados a táxons dulcícolas eurihalinos(Figura 3.21).

Grupos de peixes marinhos são raros e pouco freqüentes, limitando-se ao carapicu (Gerresaprion), o bagre urutu (Genidens genidens), a savelha (Brevoortia pectinata) e a sardinha(Sardinella brasiliensis). Em termos quantitativos, as espécies Poecilia vivipara, Phallopthtychusjanuarius, Jenynsia multidentata (Barrigudinhos), X. brasiliensis, Tilapia rendalli e Geophagusbrasiliensis são as mais abundantes.

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Marinho

DulcícolaEstuarino residente

Figura 3.21 – Representatividade das espécies marinhas, dulcícolas e estuarino-residentesna laguna de Jacarepaguá, RJ

As alterações sofridas por essa laguna, tanto no que se refere a mudança em seu regime salinocomo às alterações na qualidade da água derivadas do lançamento de efluentes domésticos eindustriais exerceu forte pressões seletivas sobre a ictiofauna local. Observa-se atualmente opredomínio de espécies dotadas de altos limites de valência ecológica, cujos hábitos oportunistasviabilizaram a manutenção de estoques populacionais na área (Figura 3.22). São exemplos osPoeciliidae, Atherinidae, Cichlidae e grupos dulcícolas como os tamboatás (Callichthys calichthys)e mussuns (Synbranchus marmoratus), mais comuns nas porções interiores da laguna.

Alta Média Baixa

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Figura 3.22 – Número de espécies nas diferentes categorias de tolerância as alteraçõesambientais da ictiofauna da laguna de Jacarepaguá, RJ

Associando-se os dados apresentados por Andreata et al (1992) e por Bizerril (1996) com asinformações reunidas nas campanhas do presente estudo, é possível compartimentar a laguna deJacarepaguá em três grandes unidades ictiofanísticas. Estas representam sistemas nos quais ascondições ambientais encontram-se refletidas em uma baixa diversidade faunística, compredomínio de grupos estuarinos (área 1 - J1) ou dulcícolas (área 3- J3) e um setor que aindaconcentra maior riqueza de espécies (área 2 - J2) (cf. Figura 3.19).

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3.2.5.4 Biotas das Lagunas de Marapendi e Lagoinha

A lagoa de Marapendi é uma laguna comprida (10 km de extensão), estreita (largura de 20 a 800metros) e rasa, com peculiar morfologia em bolsões e estrangulamentos. A batimetria foilevantada através de sondagens pela SERLA em 1977, revelando profundidades médias de 1,5metros (Cavalheira, 1993). Sobre este sistema, Lamego (1974) descreve que:

“ (..) é evidentemente uma laguna de origem idêntica (...) a do Camorim. Igualmente formada porlínguas de areia deixadas pelo mar em seu recuo, foram estas posteriormente cobertas porargilas trazidas pelos rios e córregos da serra extravasando em cheias periódicas (...).”

De um sistema naturalmente dulcícola, a laguna de Marapendi exibe atualmente condiçõesmesohalinas derivada da comunicação deste sistema com a laguna da Tijuca, pelo canal deMarapendi. O canal artificial foi aberto como medida preventiva para evitar a propagação domosquito anofelino transmissor da febre amarela. Contudo, foi apenas na década de 50 que, coma retificação do Canal de Marapendi, a laguna tornou-se efetivamente salobra (FEEMA, 1978,1984, apud. Cavalheira, 1993). Atualmente, o subsistema Lagoinha-Marapendi é influenciado pelamaré somente no Canal de Marapendi e no primeiro terço da lagoa de Marapendi (Zee et al.,1991).

Segundo Saleg-Filho (1986, apud Cavalheira, 1993), o fitoplancton do subsistema lagunarLagoinha-Marapendi é dominado pela cianofícea Oscillatoria sp. Na porção central dominam asespécies Oscillatoria sp., Kephyrion sp. e Peridinium sp.; na porção leste as espécies Oscillatoriasp., Kephysion sp., Oxytoxum sp. e Peridinium sp.; e no Canal de Marapendi Oscillatoria sp.,Kephysion sp., Nitzchia cloestrium e Peridinium. O zooplâncton tem maior abundância de gruposmeroplanctônicos do que holoplanctônicos. Os primeiros possuem como grupos maisrepresentativos os nauplios e cipris de Cirripedia e larvas de Decapoda. No holoplanctôn os maisabundantes são os copépodas e os rotíferos.

O estudo disponível sobre a estrutura da ictiofauna deste sistema limita-se ao trabalho deAndreata et al (1990), conduzido em sua maior parte durante período no qual a comunicaçãoentre os dois sistemas ainda era precária, realizada através de tubulões com diâmetroaproximado de cinco metros, o que condicionava penetrações muito lentas de água de salinidademais elevada.

Como resultado, foi verificada pequena participação de espécies caracteristicamente marinhasentre os táxons amostrados na laguna de Marapendi. Os autores destacam, contudo, que asamostragens complementares, realizadas após a retirada dos tubulões e da abertura dos canais,indicaram modificações expressivas na composição específica e nos padrões de abundância dasprincipais espécies. Neste momento, foi constatada a penetração de juvenis de espéciesmarinhas antes pouco abundantes, como pampos (Carangidae) e manjubas (Engraulididae), asquais passaram a constituir componentes importantes, enquanto grupos dulcícolas, como o acaráou caraúna (Geophagus brasiliensis) sofreram reduções evidentes na abundância e tiveram adistribuição restrita às áreas menos salinas. Uma atualização preliminar deste aspecto, efetuadaconjugando as informações de Bizerril (1996) com os dados reunidos em campo é apresentadana Figura 3.23.

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Marinho

Dulcícola

Estuarino residente

Figura 3.23 – Representatividade de espécies marinhas, dulcícolas e estuarinoresidentes na laguna de Marapendi, RJ

Devido a precariedade de informações mais recentes sobre a laguna de Marapendi, é difícilprecisar a atual estrutura e o funcionamento da fauna aquática local. Entrevistas com pescadorese amostragens pontuais revelaram que os paratis (Mugil curema), as savelhas (Brevoortiapectinata), os siris (Callinectes danae), o peixe-rei (Xenomelaniris brasiliensis), pitus (Palaemonpandaliformis) e os carapicus (Gerres aprion), figuram entre os peixes mais capturados.

No que se refere a tolerância da ictiofauna local as alterações ambientais, verifica-se umadistribuição praticamente eqüitativa das diferentes categorias consideradas (Figura 3.24).Invariavelmente, espécies com baixa tolerância representam grupos marinhos (Brevoortia aurea,Trachinotus falcatus), para os quais a manutenção de eficientes sistemas de renovação da águamostra-se um aspecto essencial para a sua sobrevivência no sistema em questão.

Alta Média Baixa

0

2

4

6

8

10

12

14

Figura 3.24 – Número de espécies nas diferentes categorias de tolerância às alteraçõesambientais da ictiofauna da laguna de Marapendi, RJ

Zee et al. (1991, 1992, apud Cavalheira, 1993) identificaram três compartimentos bemcaracterísticos na laguna de Marapendi. O primeiro deles, representado pelo Canal de Marapendi,

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é influenciado pelo regime de marés. O segundo inicia-se do final do canal de Marapendi eprolonga-se até o segundo estrangulamento de leste para oeste, entre dois bolsões, numa regiãobastante estreita e de pouca profundidade (cerca de 40 cm, com maré baixa), ainda sob influênciade maré. O terceiro compartimento vai deste ponto até a extremidade oeste da laguna, ondelocaliza-se o Parque Municipal Ecológico, caracterizando-se pela inexistência de influência salina.

Esta laguna destaca-se ainda, dentre as demais que integram o complexo lagunar da baixada deJacarepaguá, como a que exibe melhores condições ambientais, favorecida pelas condições desalinidade e pela ausência de rios que poderiam carrear poluentes ao local. Assim, a sua porçãooeste, onde bancos de Ruppia maritima são comuns, mostra-se bem preservada.

Contudo, FEEMA (1990) ressalta ser razoável prever-se que o fenômeno de eutroficação poderáocorrer, principalmente na face oeste, devido à baixa profundidade, no momento em que ovolume de esgoto lançado na laguna atingir maiores proporções. Cavalheira (1993), analisando amacroinfauna bentônica da laguna verificou, neste segmento da biota local, sinais que indicamum grau acentuado de comprometimento por poluição orgânica.

A Lagoinha apresenta uma reduzida dimensão, sendo precária a renovação de suas águas pormeio do canal das Taxas, única via de contato com a laguna de Marapendi. Na atualidade,encontra-se parcialmente coberta por macrófitas, devido a elevada concentração de nutrientestrazidos pela rede de drenagem de águas pluviais. Como resultado há uma proliferação demacrófitas aquáticas como Eichhornia crassipes (aguapé), Thypha domingensis (taboa-do-brejo)e da pteridófita Acrostichum aureum (samambaia-do-brejo).

Salienta-se que em determinadas condições de elevada temperatura e aporte de nutrientes, areprodução da primeira espécie pode promover o inteiro recobrimento do espelho d’água destapequena laguna.

3.2.5.5 A Pesca Lagunar

A pesca artesanal existe em toda a zona costeira brasileira, do Amapá ao Rio Grande do Sul, e ospescadores envolvidos nesta atividade operam em áreas próximas da costa e em águasprotegidas, baias e lagoas costeiras, que são comumente o criadouro para o camarão e outrasespécies de pescado marinho (Barroso, 1989).

Pescadores profissionais encontram-se comumente associados em colônias, cujoestabelecimento foi resultado da missão de nacionalização da pesca e da organização de seusserviços no litoral do Brasil, desenvolvido entre 1919 e 1926 pelo cruzador José Bonifácio, quepercorreu a costa brasileira do cabo Orange ao canal do Chuí.

Nesta época, os pescadores da baixada de Jacarepaguá foram reunidos na Colônia Z 14,distribuindo-se em pequenos portos que margeavam as lagoas da Tijuca e do Camorim.Possuíam ainda um núcleo na restinga de Jacarepaguá, onde podia-se verificar a presença de“várias casas de pescadores feitas de sopapo, entre as pitangueiras; à sombra destas, mesas ebancos para turistas e forasteiros que ali vão saborear sua matalotagem” (Correa, 1936).

Originalmente, a pesca local era abundante, figurando entre as principais espécies capturadas atainha (M. lisa), a corvina (Micropogonias furnieri), o robalo (Centropomus parallelus), a caraúna(Geophagus brasiliensis) e a traíra (Hoplias malabaricus). Entre os crustáceos, a coletaconcentrava-se no caranguejo do mangue (Ucides cordatus), no camarão verdadeiro, siris(Callinects danae) e em pitus de água doce. Capturava-se, mais por esporte do que para aalimentação, o jacaré-de-papo-amarelo (Caimam latirostris), utilizando-se anzol.

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Um panorama do cotidiano dos pescadores da região durante a década de 30 foi descrito porCorrea (1936), estando o mesmo transcrito a seguir:

“Os pescadores são brasileiros, predominando entre eles cariocas e fluminensesbronzeados pelo sol, rígidos de caracter, patriotas, audaciosos em sua técnica,conhecedores de todos os detalhes de sua profissão e da fauna marítima-fluvial,aliando-se qualidades extraordinárias, físicas e morais, conquistadas á custa de suaárdua profissão.

Pela manhã, secam as redes nos varais e concertam as mesmas e as canoas.Durante o dia, fazem e tecem redes feitas de cordéis em tecido filet, variando otamanho da malha e a grossura do fio de acordo com o tamanho da rede e aqualidade de peixe que se destina.

A rede, de quarenta braças de comprimento, pode ser lançada por um só homem(....). As redes, depois de prontas, são tintas de preto pela ação da casca de aroeira(...). A casca fervida fornece uma tinta com que tingem as redes, fortificando os fios eescurecendo-os, tonando-os assim, imperceptíveis aos peixes (..).

Cada canoa leva dois tripulantes, um remador, que é denominado mestre ou popeiro,e o lançador da rede, denominado marinheiro ou chumbeiro; trabalham com cincoredes, tendo cada uma quarenta braças. Procuram o pesqueiro, lugar onde afluem ospeixes, lançando a primeira rede e, logo a seguir, as outras ligadas entre si, ondetrabalha uma boia.

Mas a pescaria nesse recanto carioca oferece aspectos curiosíssimos, é feita á modagenuinamente nacional, isto é, como fazem os nossos indígenas no Amazonas e dointerior do nosso pais, diferente de todos os pescadores do Distrito Federal”

A sobrepesca e o manejo inadequado dos estoques pesqueiros já era observado na época, comopode ser evidenciado no trabalho de Correa (1936), que descreve a pesca como particularmenteprodutiva na “piracema, que eles (os pescadores) dizem corrida, estação que se manifesta aarribação do peixe em grandes cardumes, para desova, ou descida. Assim colhem pelamadrugada os pescadores, o peixe preso nas tralhas da rede”. Destaca ainda que

“O bom êxito da pescaria também depende da época em que ela é feita; na corrida éfacílima, durante os meses de agosto e setembro em que aparecem cardumes detainhas, pois é a época da desova; elas medem de cinqüenta a sessenta centímetrosde comprimento. Na época regular é calculada a pesca quotidiana de cem peixes porcanoa, tendo a média de vinte tainhas, mas na corrida chegam a pescar cem tainhaspor canoa.”

Assim, devido ao incremento da atividade pesqueira, os estoques têm demonstrado variadosgraus de excesso de exploração. Como impactos posteriores, o assoreamento e a poluição vêmreduzindo a capacidade de sustentação da pesca nos criadouros (Barroso, 1989). No casoespecífico da laguna de Jacarepaguá, são particularmente freqüentes os blooms de Microcysts,uma alga cianofície, os quais usualmente se associam a mortandades expressivas de peixes

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Como conseqüência dos impactos antrópicos, atualmente a pesca nas lagoas da região é umaatividade decadente, atraindo poucos pescadores profissionais (Barroso e Bernardes, 1995). Deum modo geral, os pescadores encontram-se organizados na colônia Z-13, que reúne 42 famílias.Registram-se ainda cerca de 8 associações de pescadores, algumas das quais, como aAssociação de Pescadores e Moradores da Vila Sonhada (Foto 3.5), não mais dedicadas àatividade pesqueira.

Os profissionais que ainda se dedicam à pesca têm nesta atividade a principal fonte de renda,pescando em embarcações de madeira e armando redes de emalhar (Foto 3.6), tanto no rio comonas lagoas. Contudo, a produtividade atual é muito baixa, tendo sofrido grande redução com oassoreamento da laguna da Tijuca e do canal do Camorim, que acabou por isolar a lagoa deJacarepaguá, dificultando o acesso dos peixes.

A diversidade de pescado capturado é baixa quando comparada a coligida em outras lagoasfluminenses (Barroso e Bernardes, 1995), estando as espécies capturadas no local e a freqüênciadas mesmas apresentadas no Quadro 3.5.

Quadro 3.5 - Ocorrência de pescado nas lagoas da baixada de Jacarepaguá

ESPÉCIE LAGOA DATIJUCA

LAGOA DEMARAPENDI

LAGOA DEJACAREPAGUÁ

Tainha 2 2 0Tainhota 3 3 0Parati 3 3 0Carapeba 2 2 0Linguado 1 0 0Corvina 1 0 0Robalo 2 1 0Cocoroca 2 0 0Carapicu 2 1 0Savelha 1 3 1Galo 1 0 0Ubarana 1 2 0Manjuba 1 0 0Peixe-Rei 1 3 0Tilapia 0 2 3Bagre 1 1 0Acará 0 3 1Camarão rosa 1 1 0Camarão verdadeiro 1 1 0Caranguejo do mangue 1 1 1Siri 2 2 0Samanguá 1 0 0Ostra 1 0 01- Raro; 2- Comum; 3- AbundanteFonte: Barroso e Bernardes, 1995; Dados de 1994/1995.

Desta forma, observa-se uma redução expressiva na riqueza de pescado no sentido Lagoa daTijuca – Marapendi – Jacarepaguá, como mostrado na Figura 3.25. Considerando a qualidadeambiental destes sistemas, constata-se a nítida influência da degradação sobre a produtividadepesqueira.

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Foto 3.5 – Detalhe da Associação de pescadores e moradores de vila Sonhada,atualmente afastados da atividade pesqueira

Foto 3.6 – Embarcações utilizadas na pesca nas lagoas da baixada de Jacarepaguá

46

21

16

4

L.T. L.M. L.J.

0

5

10

15

20

25

Figura 3.25 – Número de espécies pescadas em cada uma das lagoas do Complexo Lagunar da Baixada de Jacarepaguá, Rio de Janeiro, RJ

Em termos qualitativos, as lagunas da Tijuca e Marapendi compõem um único complexopesqueiro, fortemente distanciado (nível de discordância de 70%) da laguna de Jacarepaguá, oque reflete tanto as similaridades gerais na composição de suas faunas aquáticas como tambémo melhor estado de conservação destes sistemas lênticos. (ver Figura 3.26)

0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75

Lagoa de Jacarepaguá

Lagoa de Marapendi

Lagoa da Tijuca

0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75

Figura 3.26 – Similaridade na composição do pescado das lagoas em estudo

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Considerando a freqüência de cada espécie capturada, obtém-se um arranjo similar (Figura 3.27),ilustrando a influência das características atuais das lagunas tanto no que se refere à composiçãoqualitativa do pescado, quanto aos estoques (e subsequente disponibilidade) das diferentespopulações ícticas.

5.5 6 6.5 7 7.5 8

Lagoa de Jacarepaguá

Lagoa de Marapendi

Lagoa da Tijuca

5.5 6 6.5 7 7.5 8

Figura 3.27 – Similaridade entre as lagoas com base na contribuiçãode cada item de pescado

3.2.6 Ecossistemas Paludiais e Biota Associada

Ecossistemas paludiais ocupavam no passado grandes extensões na baixada de Jacarepaguá.De acordo com Correa (1936), na baixada se localizavam os maiores alagados do Rio de Janeiro(então Distrito Federal), conhecidos como “Campos de Sernambetiba”, “verdadeira lagoa cobertapor juncal”; com superfície aproximada de 79.427.000 m2. Situava-se em uma bacia formadapelas vertentes do Maciço da Pedra Branca e pelo seu contraforte meridional (Serras das Tocas,pico do Morgado, Morro da Ilha, Grota Funda, morro de Santo Antônio da Bica, das Piabas, BoaVista e Rangel), estendendo-se até a lagoa de Marapendi e a antiga lagoa do Camorim.

Este vasto brejal era originalmente cortado por diversos rios (Morto, do Marinho, das Piabas, daVargem Pequena e da Vargem Grande). Correa (1936), ao descrever o rio Vargem Grande comoum sistema que “nasce no Morro do Cabungy (vaso d’água) (...) e perde-se nas matas alagadasque circundam os campos de Sernambetiba”, revela mais uma variação do biótopo paludial nativoda região em estudo, ou seja, a presença de expressivas formações de matas paludiais ou

paludosas1. As matas paludiais, usualmente se estabelecem na faixa de 5 metros acima do níveldo mar, vindo a substituir as formações submontanas. Consiste em mata perenifólia, com troncoseretos, em geral sem raízes tabulares, e com densa vegetação arbustiva no estrato inferior.Ocorrem, freqüentemente, grandes grupos de samambaias arborescentes e numerosaspalmeiras de tamanho médio, que em geral não saem do estrato inferior, e só muito raramentechegam ao dossel. A riqueza em lianas e epífitas (aráceas, bromeliáceas, orquidáceas,piperáceas, gesneriáceas e polipodáceas) é muito grande. A grande umidade do solo éevidenciada pela existência de grande número de marantáceas e musáceas.

1 De acordo com IBGE (1991), estas matas são designadas como “Floresta Aluvial”. Há autores que aclassificam como “Floresta Permanentemente Inundada”, considerando-as como um tipo de comunidadevegetal de restinga (Araújo e Henriques, 1984).

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O calor e a umidade favorecem o crescimento da vegetação e a coexistência de umamultiplicidade de espécies. O solo, freqüentemente turfoso contém musgos, gramíneas,ciperáceas e grande variedade de aráceas dos gêneros Anthurium e Phyllodendron ao lado demuitas bromélias dendrícolas (gravatás).

Nesses terrenos encharcados encontram-se, historicamente, além de várias palmeiras, a caixetaou tabebuia (Tabebuia cassinoides) cuja madeira, branca e muito leve, é utilizada na fabricaçãode tamancos, colheres de pau e objetos leves. As grandes árvores da mata paludosa sãofreqüentemente cobertas por densas cortinas de barba-de-velho (Tillandisia usneoides) quechegam quase ao chão de galhos atulhados de gravatás e epífitas.

Em áreas bem drenadas, plantas como o sangue de drago (Croton sp.), figueira do Brejo (Ficcusorganensis), bicuíba (Virola spp.) e angico-branco (Parapiptadenia sp.), são evocadas comocaracterísticas.

Na bacia em estudo, as formações de mata paludial eram bem representadas. Morros como o doUrubu e de Itaúna eram assinalados como ilhas circundadas por matas alagadiças densas, cheiasde samambaias e fetos, com árvores repletas de barba de velho (Tillandsia usneoides) (Correa,1936; Araújo, 1980).

Os alagadiços encontram-se bastante alterados pelos canais de drenagem e por aterros, emboraainda se evidencie extensos brejais nas proximidades da Grota Funda (Foto 3.7). Neste localverifica-se sobre o solo úmido e turfoso espécies como Cyperus polystachyos, C. surinamensis,Eleocharis mutata, E. caribaca, Scirpus robustus, Bacopa monnieri, Alternanthera philoxeroides,dentre outras. Em depressões mais profundas, Typha domingensis passa a representar aprincipal espécie, juntamente com as carófitas e Ultricullaria spp.

As matas paludiais, por sua vez, encontram-se praticamente extintas na baixada, com algunsremanescentes mais expressivos no encontro da avenida das Américas com a Salvador Allende(Foto 3.8; Foto 3.9).

FEEMA (1989) destaca que a situação das áreas úmidas é a mais vulnerável, dentre os demaisecossistemas que integram a baixada. Tais unidades, embora pertencentes ao sistema lagunarnão foram incorporadas à faixa marginal de proteção.

Impactos sobre as formações brejosas certamente vem contribuindo para a delapidação dadiversidade biológica associada à estes biótopos, tratando-se, possivelmente, de um dosprincipais processos que contribuiu para a extinção local de Spintherobolus broccae, um peixecaracterístico de brejos e de pequenos rios de baixada (Sarraf, 1997).

Os alagadiços da Barra da Tijuca reúnem uma fauna diversificada, na qual diversos anuros (e.g.,Leptodactyllus ocellatus, Hyla marginata, Ololygon similis e Trachycephalus nigromaculatusAparasphenodon brunoi, Hyla decipens, H. bipunctata) e invertebrados (e.g. Nepidae,Belostomatidae, Corixidae, Aeshinidae, Simulidae, Cullicinae, Chaoborinae, Plecoptera,Ephemeroptera, Hydrophilidae, Gyrinidae) podem ser encontrados, coexistindo com umaictiofauna característica.

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Foto 3.7 – Detalhe dos campos paludiais(Visão a partir da Grota Funda).

Matas paludiais

Foto 3.8 – Foto aérea ilustrando a presença de matas paludiais (em destaque) no encontroda avenida das Américas e a Salvador Allende

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Foto 3.9 – Detalhe de uma mata paludial da Barra da Tijuca

No geral, as regiões brejosas ainda mantém um total de 15 espécies de peixes (Quadro 3.6), dosquais a traíra (Hoplias malabaricus), lambaris (Hyphessobrycon bifasciatus, H. reticulatus),tamboatás (Callichthys callicththys), mussuns (Synbranchus marmoratus), barrigudinhos (Poeciliavivipara, Phalloceros caudimaculatus) e acarás (Geophagus brasiliensis) são as mais comuns.

Quadro 3.6 – Ictiofauna de água doce dos brejos da baixada de Jacarepaguá

CHARACIFORMES R. janeiroensis Costa, 1992R. ocellatus Hensel, 1868

ERYTHRINIDAE Leptolebias minimusHoplias malabaricus (Bloch, 1794)CRENUCHIDAE POECILIIDAEC. interruptum Pellegrin, 1903 Poecilia vivipara Schneider, 1801CHARACIDAEHyphessobrycon bifasciatus Ellis, 1911

.Phallopthychus januarius (Hensel, 1868)

H. reticulatus Ellis, 1911Mimagoniates microlepis (Steindachner, 1876) SYNBRANCHIFORMES

SILURIFORMES SYNBRANCHIDAESynbranchus marmoratus Bloch, 1795

CALLICHTHYIDAE CICHLIDAECallichthys callichthys (Linnaeus, 1758) Tilapia rendalli Boulenger, 1896

CYPRINODONTIFORMESGeophagus brasiliensis (Quoy e Gaimard,1824)

RIVULIDAERivulus brasiliensis (Humboldt e Valenciennes,1812)

Fonte: Bizerril, 1996; Bizerril e Araújo, 1993.

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A composição da ictiofauna encontra-se bastante associada a perenidade da formação paludial.Assim sendo, o maior número de táxons é observado nos sistemas permanentes, enquanto quebrejos sazonais (secam durante determinados períodos do ano) exibem uma fauna mais pobre.Contudo, é importante destacar a presença de uma espécie ameaçada de extinção (Leptolebiasminimus, Foto 3.10) neste último tipo de ecossistemas, ocorrendo apenas em pequenosacúmulos de água associados a matas paludiais presentes no Parque Arruda Câmara e em áreasadjacentes.

Foto 3.10– Leptolebias minimus, uma espécie de peixe ameaçada de extinção presente apenas em ambientes de mata paludial (Modificado de Lacerda, 1988)

Assim como o verificado para as ictiocenoses de rios, a ictiofauna presente nos brejos carece deespécies com distribuição geográfica limitada à baixada de Jacarepaguá. Contudo, o peixe anual(Leptolebias minimus), por ocorrer apenas na região e em um ambiente alvo de fortes pressõesantrópicas em Itaguaí, próximo à UFRRJ (Lacerda, 1988; Costa, 1988), pode ser tratado comopraticamente endêmico da baixada de Jacarepaguá.

Variações na ictiofauna podem ser igualmente evidenciadas quando se compara os dois grandesbiótopos que integram os sistemas paludiais da região (i.e., matas paludiais e campos higrófilos)A ictiofauna de matas paludiais da Barra da Tijuca encontra-se relacionada na Quadro 3.7.

Quadro 3.7 - Ictiofauna de água doce dos brejos associados às matas paludiais

CHARACIFORMES R. janeiroensis Costa, 1992

ERYTHRINIDAE R. ocellatus Hensel, 1868Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Leptolebias minimusCHARACIDAE SYNBRANCHIFORMESHyphessobrycon bifasciatus Ellis, 1911 SYNBRANCHIDAEH. reticulatus Ellis, 1911 Synbranchus marmoratus Bloch, 1795

SILURIFORMES

CALLICHTHYIDAECallichthys callichthys (Linnaeus, 1758)

CYPRINODONTIFORMES

RIVULIDAERivulus brasiliensis (Humboldt e Valenciennes,1812)

Fonte: Dados primários; Bizerril, 1996; Bizerril e Araújo, 1993.

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As matas encontram-se entremeadas por alagados e acúmulos de água nos canais de drenagem.Tais sistemas, com sua coloração amarronzada característica, derivada da decomposição dematéria vegetal, apresentam florística típica, com Eleocharis, Ultricularia e ninfeáceas sedestacando como as mais conspícuas (Foto 3.11).

Foto 3.11 – Detalhe de alagado presente na borda de matas paludiais da Barra da Tijuca(encontro das avenídas das Américas e Salvador Allende)

Estes habitats mostram uma fauna menos diversificada do que a apresentada pelos camposhigrófilos, reunindo essencialmente grupos de pequeno porte (Figura 3.28). Espécies de médioporte restringem-se à traíra (Hoplias malabaricus). O único peixe de grande porte destes sistemasé o mussum (Synbranchus marmoratus), embora raramente atinja grande tamanho na região.

Pequeno Médio G rande

0

1

2

3

4

5

6

Figura 3.28– Número de espécies em cada categoria de tamanho da ictiofauna de mataspaludiais da Barra da Tijuca, RJ

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Muitos dos peixes das matas paludiais possuem sua perpetuação associada a estratégiascomportamentais e fisiológicas que os permite sobreviver nas condições flutuantes dedisponibilidade de água, que tanto caracterizam estes biótopos. É o caso do tamboatá(Callichthys callichthys) capaz de utilizar o oxigênio atmosférico, absorvido no trato digestivo, e ospequenos rivulídeos não anuais (Rivulus spp.) que saltam ativamente a procura de acúmulos deágua que garantam sua sobrevivência.

A disponibilidade de recursos provenientes das matas circundantes e do próprio sistema aquáticoque, embora fortemente distrófico, reúne diversos invertebrados, faz com que a guilda dosinsetívoros seja a dominante nestes sistemas (Figura 3.29).

Iliófago

Omnívoro

Predador de Invertebrados

Ictiófago

0

3

6

1

0

1

2

3

4

5

6

Figura 3.29 – Número de espécies por guilda trófica

Na borda da mata, em associação com bromeliáceas podem ser observados algumas pererecas,notadamente Aparasphenodon brunoi, Hyla decipens e H. bipunctata.

Nos campos higrófilos que dominam a porção mais interna da baixada, ocorrem 9 espécies depeixes, relacionadas na Quadro 3.8. Comparativamente as matas paludiais, tais sistemas mantémum número menor de espécies dependentes, como se observa pela ausência de peixes da famíliaRivulidae.

Quadro 3.8 – Ictiofauna dos campos higrófilos

CHARACIFORMES CYPRINODONTIFORMESERYTHRINIDAE POECILIIDAEHoplias malabaricus (Bloch, 1794) Poecilia vivipara Schneider, 1801Hoplerithrynus unitaeniatus .Phallopthychus januarius (Hensel, 1868)

CHARACIDAE SYNBRANCHIFORMES

Hyphessobrycon bifasciatus Ellis, 1911 SYNBRANCHIDAEH. reticulatus Ellis, 1911 Synbranchus marmoratus Bloch, 1795

SILURIFORMES CICHLIDAE

CALLICHTHYIDAEGeophagus brasiliensis (Quoy e Gaimard,1824)

Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) Fonte: Dados primários; Bizerril, 1996; Bizerril e Araújo, 1993

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Mantém-se o predomínio de grupos de pequeno porte, os quais, em sua totalidade, ocorrem emrios como o Camorim e Paineiras. Assim, tem-se que este elemento da paisagem local representauma continuação das baixadas fluviais, exibindo um conjunto íctico que caracteriza-se pelafiltragem de espécies mais dependentes de sistemas lóticos.

Nas valas de drenagem que cortam os campos alagados, a presença de densa cobertura deAzolla sp. é comum. Nestes locais observa-se, juntamente com a ictiofauna, a ocorrência da rãcomum (Leptodactyllus ocellatus), Hyla marginata, Ololygon similis e Trachycephalusnigromaculatus, todos anfíbios que, na região da Barra da Tijuca, são comuns em áreasurbanizadas (Napoli, 1989).

Na margem dos taboais vive a rã comum (Leptodactyllus ocellatus). No interior dos aglomeradosde T. dominguensis coexiste uma diversificada comunidade de anfíbios, com uma divisão de usoespacial que se iguala a apresenta por Napoli (1989) em seu estudo sobre os anuros da restingada Barra da Tijuca.

Assim, nas porções mais baixas das taboas encontram-se Hyla decipens e H. meridiana,enquanto as partes mais altas, acima de 1 metros, servem de abrigo para H. albomarginata.

A manutenção dos níveis de água nestes sistemas é condição para a sobrevivência da faunalocal. Este aspecto encontra-se refletido no estudo de Bizerril et al (1994) que verificaram, a partirda análise de interações entre diferentes taxocenoses dos campos higrófilos da Barra da Tijuca,que as variações ambientais possuem maior importância na estruturação das comunidades doque interações como competição e predação.

3.3 VEGETAÇÃO E FLORA

A análise da vegetação e da flora apresentada neste item compreende um esboço da vegetaçãooriginal da macrobacia da baixada de Jacarepaguá, assim como a descrição da vegetação atual edo uso do solo, complementada por aspectos florísticos, ecológicos e fenológicos, e por umaanálise fitoconservacionista.

Importa destacar que flora é o conjunto de espécies vegetais de um ou mais tipos de vegetação,região ou local. Já a vegetação é uma forma de cobertura vegetal, cuja aparência é dada peloconjunto de plantas predominantes que revestem uma região ou local (Rizzini, 1979). Por suavez, as plantas são seres vivos do reino vegetal, e compreendem as árvores, arbustos, cipós,ervas, cactos, gramas, trepadeiras e samambaias, dentre outras.

3.3.1 Esboço da Vegetação Original no Ano de 1500

A bacia contribuinte da baixada de Jacarepaguá se insere no bioma da Mata Atlântica, queoriginalmente estendia-se por uma faixa de 3.500 km ao longo do litoral brasileiro, desde a costaleste do Estado do Rio Grande do Norte, até o norte do Estado do Rio Grande do Sul.

Na metade setentrional dessa extensão, a Mata Atlântica apresentava-se numa faixa costeirarelativamente estreita, mas do sul da Bahia para o sul e para oeste, ela alargava-seprogressivamente, atingindo o sul de Mato Grosso do Sul e Goiás, o leste do Paraguai e oextremo nordeste da Argentina .

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Primitivamente, a Mata Atlântica cobria pouco mais de 1 milhão de km² (12% do territórionacional), sendo então o terceiro maior bioma do Brasil, suplantado apenas pela FlorestaAmazônica e pelo Cerrado. A antiga continuidade da mata foi perdida e, hoje, ela se resume afragmentos isolados de diversos tamanhos que, somados, perfazem cerca de 8,8% (35.000 km²)de sua cobertura original (Fundação SOS Mata Atlântica/INPE/IBAMA, 1990) ou 5% (ConsórcioMata Atlântica, 1992).

Como um todo, a Mata Atlântica é bastante antiga, acreditando-se que já estava configurada noinício do Terciário (Joly et al., 1991). Contudo, as flutuações climáticas mais recentes, ao longo doQuaternário, ocasionaram processos de expansão e de retração espacial da Mata Atlântica, apartir de regiões mais restritas que funcionaram como refúgios da fauna e flora.

Esta hipótese admite que existem algumas regiões da Mata Atlântica que são claramente pontosde alta diversidade, a partir das quais ocorreu a irradiação de muitas espécies, conforme a matade expandia. Estas regiões, que constituem os antigos refúgios, são as seguintes: sul da Bahia;região dos tabuleiros do Estado do Espírito Santo e região do litoral do Rio de Janeiro e norte deSão Paulo (IBAMA, 1991)

Nestas regiões é encontrado um considerável número de espécies endêmicas, associadas a umaelevada diversidade especifica. A bacia de Jacarepaguá ocupa uma posição bastante peculiar emrelação ao domínio Atlântico. Sua localização coincide com uma das áreas de maior diversidadeda formação atlântica.

Estimativas dão conta que o Estado do Rio de Janeiro, possuía na época do descobrimento, umacobertura florestal em 97% de seu território. Dados publicados pela Fundação S.O.S MATAATLÂNTICA, obtidos a partir da análise de imagens de satélite entre 1985 e 1990, mostram querestavam em 1990 cerca de 896.324 ha de florestas, correspondendo a 20,24% da superfície doEstado.

Em suma, dos 1.000.000 de km2 da cobertura original da Mata Atlântica no país, o Estado do Riodetinha 42.006 km² (97% da área do Estado), o que correspondia a 4,2% da superfície total dobioma. Dos 5% que hoje restam, o que totaliza 50.000 km2, o Estado abriga 8.963,240 km2, o queequivale a 18% ou quase 1/5.

O quadro abaixo apresenta o processo de redução histórica da Mata Atlântica no Estado do Riode Janeiro.

Quadro 3.9 – Redução da cobertura florestal no estado do Rio de Janeiro

ANOÁREA(ha)

% COBERTURA FLORESTALREMANESCENTE

1500 4.294.000 97,00

1912 3.585.000 81.00

1960 1.106.700 25,00

1978 973.900 22,00

1985 937.100 21,17

1990 896.200 20,24Fonte: Evolução dos Remanescentes Florestais e Ecossistemas Associados do Domínio da Mata

Atlântica Ecossistemas - Fundação S.O.S. Mata Atlântica / Instituto Nacional de PesquisasEspaciais, 1993.

Entre 1985 e 1990, o Estado perdeu 30.579 ha de florestas, 1.072 de restinga e 101 ha demangues.

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O Município do Rio de Janeiro, com superfície de 125.528 ha, possui três áreas de baixada(Guanabara, Sepetiba e Jacarepaguá) e diversas áreas de encostas, que fazem parte de trêsmaciços (Tijuca, Pedra Branca e Gericinó) e de algumas serras e morros isolados. A marcantepresença destas encostas imprimiu um caráter fisionômico especial a cidade, que cresceu entre omar e as montanhas. A cota varia de 0 a 1.024m, atingindo altitude máxima no Pico da PedraBranca.

Segundo dados do IPLANRIO, a área total de serras, morros isolados e maciços é de 36.200 ha.É licito supor que o município possuía no mínimo, na época do descobrimento, cerca de 36.500ha de florestas em seu território, sem contar neste cálculo as florestas das baixadas deGuanabara, Sepetiba e Jacarepaguá, situadas em terrenos secos e sujeitos a inundação. Osresultados de um levantamento recente da cobertura vegetal e do uso da terra no município sãomostrados no quadro abaixo.

Quadro 3.10 – Superfície e proporção dos diferentes tipos de vegetação e uso da terra no município do Rio de Janeiro

TIPO DE ÁREASUPERFÍCIE

(ha)

PERCENTAGEM (%)EM RELAÇÃO A

ÁREA DO MUNICÍPIO

Áreas Naturais 32.977 26,3

Floresta 19.594 15,57

Floresta Alterada 5.863 4,67

Mangue 2.477 1,97

Área Úmida com Vegetação 1.711 1,36

Apicum 1.190 0,95

Restinga 1.042 0,83

Afloramento Rochoso 591 0,47

Praias e Areais 554 0,44

Áreas Antropizadas 92.551 73,7

Área Urbana 46.373 37,94

Campo Antrópico 25.599 20,38

Área Urbana Não Consolidada 12.284 9,79

Uso Agropastoril 5.260 4,19

Solo Exposto 2.873 2,26

Vegetação em Parques Públicos (*) 198 0,16

T o t a l 125.528 100,00

Fonte: SMAC, 1997 (*) - Vegetação plantada em grandes praças e parques públicos O quadro revela que o Rio de Janeiro tem cerca de 73,7 % de seu território ocupado por áreasurbanas, campos de ervas ruderais e atividades agropastoris, restando aproximadamente 32.977ha de área naturais, o que corresponde a 26,3% da superfície total do município. No caso das florestas, restam 196 km². Para efeito comparativo, Pernambuco (1979), estimoucom base em imagens de satélite de 1978, que restavam no Rio de Janeiro cerca de 175,26 km²de florestas remanescentes acima da cota 100. Tendo em vista o Decreto 322/76, que fixou comozona especial de preservação da cobertura florestal as áreas acima da curva de nível da cota de

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100 metros, a quantidade total de florestas que deveriam ser preservados atingiria cerca de 282km² (Pernambuco et al., 1979). Buscando-se obter um esboço da vegetação original da bacia de Jacarepaguá, foramimplementados os procedimentos descritos a seguir. Com a finalidade de reconstituir a vegetação original do Brasil, o Projeto RADAMBRASIL (IBGE,1983), criou um modelo teórico baseado no levantamento e integração dos parâmetros de pelomenos três componentes do macroambiente: − clima, representado pelos dias secos, conforme a relação P T≤ 2 (P=precipitação, em

milímetros; T = temperatura, em graus Celsius);

− litologia, baseada nos mapas geológicos, que fornecem os componentes das rochas que dãoorigem aos solos de natureza argilosa ou arenosa;

− relevo, cujas formas foram separadas diretamente sobre os mosaicos de imagens de radar. A análise integrada desses três elementos, aliada à observação da vegetação primitivaremanescente e o exame de dados bibliográficas que possibilitam obter informações sobre avegetação nos séculos iniciais da ocupação humana no País, permitiu traçar os contornos e adistribuição espacial dos tipos de vegetação originais no território brasileiro, o qual foramdesignadas como “regiões fitoecológicas”. O mapa de vegetação na escala de 1:1.000.000 do Projeto RADAMBRASIL (Ururahy, Collares,Santos e Barreto, 1983), indica que a macrobacia da baixada de Jacarepaguá abrange parcelasdas regiões fitoecológicas originais do bioma da Mata Atlântica constantes no quadro abaixo.

Quadro 3.11 – Regiões fitoecológicas originais e formações correspondentes

REGIÃO FITOECOLÓGICA FORMAÇÃO SUBFORMAÇÃO

Floresta Ombrófila

Densa

Terras Baixas

Submontana

Montana

Áreas de Formação Pioneira Influência Marinha

Influência Fluviomarinha

Restinga

Mangue Fonte: Ururahy, Collares, Santos e Barreto, 1983 Estes dados do Projeto RADAMBRASIL, conjugados as informações pedológicas, geológicas etopográficas e as observações registradas nas inspeções de campo, permitiram traçar um esboçoda vegetação original da bacia de Jacarepaguá, apresentado na figura 3.30. Tal esboço refere-sea cobertura vegetal supostamente existente no ano de 1.500.