Meio Biotico Apa Carste Lagoa Santa

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MEIO BITICO

CPRMServio Geolgico do Brasil

VOLUME II

MEIO BITICOGisela Herrmann Heinz Charles Kohler Jlio Csar Duarte Patrcia Garcia da Silva Carvalho

Ministrio do Meio Ambiente, dos Recursos Hdricos e da Amaznia Legal Gustavo Krause Gonalves Sobrinho Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis Eduardo Martins Diretor de Ecossistemas Ricardo Jos Soavinski Chefe do Departamento de Vida Silvestre Maria Iolita Bampi

Ministro de Minas e Energia Raimundo Mendes de BritoSecretrio de Minas e Metalurgia Otto Bittencourt Netto Diretor-Presidente da CPRM Servio Geolgico do Brasil Carlos Oit Berbert Diretor de Hidrologia e Gesto Territorial Gil Pereira de Azevedo Chefe do Departamento de Gesto Terrotorial Cssio Roberto da Silva

EdioIBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis Diretoria de Incentivo Pesquisa e Divulgao Departamento de Divulgao Tcnico-Cientfica e Educao Ambiental Diviso de Divulgao Tcnico-Cientfica SAIN Av. L4 Norte, s.n., Edifcio Sede. CEP 70800-200, Braslia, DF. Telefones: (061) 316-1191 e 316-1222 FAX: (061) 226-5588

CPRM Servio Geolgico do Brasil DRI Diretoria de Relaes Institucionais e Desenvolvimento Av. Pasteur, 404. CEP 22290-24-, Urca Rio de Janeiro, RJ. PABX: (021) 295-0032 FAX: (021) 295-6647GERIDE Gerncia de Relaes Institucionais e Desenvolvimento Av. Brasil, 1731. CEP 30140-002, Funcionrios Belo Horizonte, MG. Telefone: (031) 261-0352 FAX: (031) 261-5585

Belo Horizonte 1998-04-02

Impresso no Brasil Printed in Brazil

IBAMA Moacir Bueno Arruda Coordenador de Conservao de Ecossistemas Eliana Maria Corbucci Chefe da Diviso de reas Protegidas Ricardo Jos Calembo Marra Chefe do Centro Nacional de Estudo, Proteo e Manejo de Cavernas CECAV Jader Pinto de Campos Figueiredo Superintendente do IBAMA em Minas Gerais Ivson Rodrigues Chefe da APA Carste de Lagoa Santa CPRM Osvaldo Castanheira Superintendente Regional de Belo Horizonte Fernando Antnio de Oliveira Gerente de Hidrologia e Meio Ambiente Jayme lvaro de Lima Cabral Supervisor da rea de GATE Helio Antonio de Sousa Coordenador

Edio e Reviso Valdiva de Oliveira Ruth La Nagem Capa Wagner Matias de Andrade Diagramao Washington Polignano Foto da Capa: Lapa Vermelha I, Pedro Leopoldo MG. zio Rubbioli

Ficha Catalogrfica INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVVEIS - IBAMA Estudo do meio bitico; organizado por Gisela Herrmann, Heinz Charles Kohler, Jlio Csar Duarte [et al.]. Belo Horizonte: IBAMA/CPRM, 1998. 92p.: mapas e anexos, (Srie APA Carste de Lagoa Santa - MG). Contedo: V.1. Meio fsico V.2. Meio bitico - V.3. Patrimnio espeleolgico, histrico e cultural V.4. Scio-economia. 1. APA de Lagoa Santa - MG - 2. Meio ambiente - 3. Meio bitico - I - Ttulo. II Herrmann, G. III - Kohler, H.C. IV - Duarte, J.C. [et al.] CDU 577-4

Direitos desta edio: CPRM/IBAMA permitida a reproduo desta publicao desde que mencionada a fonte.

CRDITOS DE AUTORIARELATRIO TEMTICO Estudo do Meio Bitico FUNDAO BIODIVERSITAS Coordenao do Tema

Patrcia Garcia da Silva Carvalho

Equipe de Consultores Avifauna:

Lvia Vanucci Lins Ricardo Bomfim Machado Marcelo Ferreira de Vasconcelos - estagirio Ana Elisa Brina Leonardo Vianna da Costa e Silva

Fauna:

Ofidiofauna: Giselle Agostini Cotta Leonardo Brecia - estagirio Mastofauna: Carlos Eduardo de Viveiros Grelle Mnica Tavares da Fonseca Raquel Teixeira de Moura

Equipe de Apoio

Elizabeth de Almeida Cadte Costa Desenho Cartogrfico Maria Alice Rolla Pecho Editorao Maria Madalena Costa Ferreira Normalizao bibliogrfica Rosngela Gonalves Bastos Souza Gegrafa Rosemary Corra Desenho Cartogrfico Terezinha Incia de Carvalho Pereira Digitalizao Valdiva de Oliveira Editorao

Digitalizao GERIDE - Gerncia de Relaes Institucionais e Desenvolvimento

APRESENTAO

O Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Renovveis IBAMA, no cumprimento de sua misso institucional de executar a Poltica Nacional do Meio Ambiente tem, entre seus principais objetivos, o de criar, implantar e realizar a gesto de reas protegidas, identificadas como amostras representativas dos ecossistemas brasileiros. Sob a responsabilidade da Diretoria de Ecossistemas desse Instituto, encarregada da gesto do Sistema Nacional de Unidades de Conservao foi criada a APA Carste de Lagoa Santa, com o objetivo de garantir a conservao do conjunto paisagstico e da cultura regional, proteger e preservar as cavernas e demais formaes crsticas, stios arqueo-paleontolgicos, a cobertura vegetal e a fauna silvestre, cuja preservao de fundamental importncia para o ecossistema da regio. Dentro da estratgia do IBAMA de estabelecer parcerias, em todos os nveis, foi celebrado um convnio entre o IBAMA e o Servio Geolgico do Brasil CPRM, objetivando a execuo do Zoneamento Ambiental da APA Carste de Lagoa Santa. Esse trabalho foi conduzido por equipe multidisciplinar composta por tcnicos da CPRM, da Fundao BIODIVERSITAS, do Museu de Histria Natural da UFMG e por consultores nas reas jurdica, socioeconmica e ambiental. A definio do quadro ambiental da APA, e a formulao e delimitao de suas unidades ambientais, exigiram a realizao de levantamentos detalhados, anlises complexas e a integrao de diversos temas. Nesse contexto, o meio fsico, considerado como elemento estruturador do zoneamento, foi caracterizado pelos temas constantes do volume I: geologia/geomorfologia, pedologia, hidrologia, hidrogeologia e geotecnia. Como elementos reguladores do Zoneamento Ambiental, os levantamentos espeleolgico, arqueolgico e paleontolgico da APA, compem o volume II, enquanto os estudos da flora e fauna (biota) so apresentados no volume III. O estudo das tendncias scio-econmicas e os aspectos jurdicos e institucionais que atuaram como elemento balizador do zoneamento, compem o volume IV. O conjunto de informaes contidas nos quatro volumes referentes aos relatrios temticos do Zoneamento da APA Carste de Lagoa Santa, representa um valioso e detalhado acervo de conhecimento sobre a regio, constituindo o insumo fundamental para o delineamento do Zoneamento Ambiental, apresentado em volume especial.

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1 - INTRODUOA rea de Proteo Ambiental - APA - foi introduzida no Brasil pela Lei 6.902, de 17 de abril de 1981. Trata-se de uma unidade de conservao de uso direto, dispensando qualquer desapropriao, por no intervir diretamente no direito de propriedade garantido constitucionalmente. Trata-se de uma categoria surgida no elenco de reas protegidas legalmente, baseada em algumas experincias europias, principalmente na Frana, a partir dos seus Parques Naturais (pores territoriais para a preservao, que interessam tanto ao governo quanto aos moradores e proprietrios). No Brasil, existem APAs federais, estaduais e municipais. A principal funo de uma APA agir como instrumento de ordenamento e controle do uso da terra em locais de especial interesse para a conservao dos recursos naturais. Para que isso ocorra, so executados controles no mbito do seu territrio, visando minimizar impactos que possam descaraterizar a importncia dos seus ecossistemas, limitando ou proibindo atividades incompatveis com o bem-estar, principalmente, da populao local. Em resumo, quanto a sua ao, a APA apresenta duas caractersticas bsicas: proteo dos recursos naturais em grau parcial; uso direto sustentvel de, pelo menos, parte dos recursos disponveis. A APA Carste de Lagoa Santa foi criada pelo Governo Federal em 1990, abrangendo parte dos municpios mineiros de Lagoa Santa, Matozinhos, Pedro Leopoldo e Funilndia com rea total de cerca de 35.900 hectares. Situada em regio crstica mineira, essa unidade de conservao foi criada com o objetivo de proteger um dos mais importantes stios espeleolgicos do pas, possuidor de grande riqueza cientfica e cultural, alm de belezas cnicas. A colonizao da regio de Lagoa Santa iniciouse no final do sculo XVII, com a vinda dos bandeirantes com a extrao de ouro nos depsitos aluvionrios (Walter, 1948). Desde essa poca, a regio passou a sofrer alteraes em funo das atividades mineradoras e agropecurias. Ainda, no sculo passado, era relatada a destruio das grutas para a explorao predatria do salitre (Lund, 1935). O mesmo procedimento se observa em relao atividade agropecuria, relatada por Warming (1892) como responsvel pela devastao das matas para o desenvolvimento das lavouras, e dos campos para a transformao em pastos, nos grandes latifndios, ali, resultando inclusive na extino de representantes da flora. J estavam traados, desde ento, a vocao para agropecuria da regio e os processos de alterao e fragmentao dos sistemas naturais. Atualmente, a maior fonte dos recursos econmicos da regio a minerao do calcrio, justamente o elemento responsvel pela formao deste importante patrimnio histrico, cultural e paisagstico: o conjunto crstico da regio de Lagoa Santa. Alm da minerao e das indstrias, a expanso urbana, a agricultura e a pecuria so atividades presentes na APA. A regio do planalto de Lagoa Santa encontrase sob a influncia de dois domnios fitogeogrficos principais: Mata Atlntica e Cerrado (IBGE, 1995). Apresenta ainda algumas peculiaridades relacionadas presena de enclaves de vegetao semelhante Caatinga, nas reas dos afloramentos calcrios, que seriam originados dos processos de expanso e retrao dos climas secos na evoluo do continente sul americano (AbSaber, 1977). Zoogeograficamente, a regio da APA Carste de Lagoa Santa pertence provncia faunstica do Cariri-Boror de Mello-Leito (1946), considerada por esse autor, como uma larga faixa de campos e savanas entre as bacias dos rios Amazonas, Prata e So Francisco. A regio insere-se em zona geogrfica de Contatos/ Enclaves com Floresta Atlntica, conforme Braga & Stehmann (1990), caracterizando-se tambm, sob o ponto de vista zoogeogrfico, como uma rea de transio entre os biomas Cerrado e Mata Atlntica. Warming (1892) descreveu as diferentes formaes vegetacionais da regio de Lagoa Santa dividindo-as em primitivas ou naturais (matas, campos, brejos e lagoas) e secundrias41 1

Zoneamento Ambiental da Apa Carste de Lagoa Santa

ou introduzidas (lavouras e pastagens, geralmente implantadas sobre antigos solos de matas). As matas eram encontradas ao longo dos cursos dgua e sobre os afloramentos calcrios. Os campos e cerrados revestiam as superfcies aplainadas e os solos menos frteis. Nas vrzeas, ocorriam os brejos e as lagoas com sua vegetao aqutica. Atualmente, a distribuio original das formaes vegetais pode ser percebida a partir da anlise da estrutura e da composio dos fragmentos remanescentes. H formaes aquticas nas inmeras lagoas perenes ou temporrias; cerrados em suas diferentes formas e matas que diferem no porte, intensidade de caducifolia, estgio seral e composio de espcies. Alm dessas formaes naturais, as formaes antrpicas se distribuem por toda a regio em pastagens e lavouras, onde predominam culturas forrageiras, como milho e sorgo na parte norte e culturas de subsistncia ao sul. As variadas formas de manejo da vegetao, as diferentes pocas em que os fragmentos foram explorados e abandonados regenerao e a mistura de espcies de diferentes formaes durante o processo de sucesso natural fazem com que hoje a delimitao dos tipos vegetacionais se torne imprecisa. As formaes naturais esto empobrecidas em funo de muitos anos de retirada seletiva de madeiras nobres, carvoejamento e desmates extensivos. Segundo o Sr. Jernimo Alves, residente na regio h 45 anos, a retirada de madeira das matas da regio era intensa h cerca de 30. Hoje, a Florestal no deixa cortar nem um pau mais e vive passando por a, diz ele referindo-se s aes de fiscalizao realizadas pelos rgos ambientais. Nas ltimas dcadas, antigas fazendas desmembradas por processos de esplio foram reagrupadas e/ou transformadas em plos agropecurios, chcaras de recreao ou loteadas no processo de expanso urbana. A explorao de areia e garimpos modificaram profundamente a paisagem ao longo do rio das Velhas e vrzeas do ribeiro da Mata. Muitos fragmentos de matas associados aos afloramentos calcrios, preservados das atividades agrcolas em funo da dificuldade de acesso imposta pelo relevo, vm sendo suprimidos com o desmonte do calcrio pelas mineradoras. A construo do Aeroporto

Internacional Tancredo Neves levou abertura e duplicao de rodovias e eixos de circulao, ao longo dos quais surgiram loteamentos sem infra-estrutura ambiental e de saneamento (Kohler & Malta, 1991). Muitas reas sujeitas legislao especial (consideradas de preservao permanente e reservas legais) no so tratadas como tal. Algumas iniciativas tomadas nos ltimos anos, no sentido da preservao de remanescentes de vegetao nativa no tiveram sucesso. Uma delas foi a criao do Parque Estadual do Sumidouro, pelo decreto estadual no 20375, de 3-1-1980. Esse processo caducou pela inoperncia dos rgos responsveis por sua implantao, mas sua importncia ecolgica ainda grande, dada a presena da Lagoa do Sumidouro e devido rea de cerrado. Essa rea se apresenta em estdio intermedirio de sucesso, podendo tornar-se uma importante e uma das nicas formaes de cerrado da regio. Algumas reas decretadas como de preservao, por empresas ou particulares, so apenas cercadas e esto abandonadas, no existindo qualquer tipo de manejo ou vigilncia, permanecendo sujeitas atividades de extrativismo e outras aes predatrias, a exemplo das reas da Cau e da Aeronutica. A fragmentao dos ecossistemas naturais e seus efeitos sobre a distribuio de espcies tm sido alvo de intensos trabalhos. Estudos faunsticos alertam para o comprometimento da manuteno da diversidade, especialmente em grupos com exigncias ecolgicas restritivas, e que so mais sensveis a distrbios e isolamento dos remanescentes. Sob essas premissas, o entendimento de padres ecolgicos em manchas de hbitats torna-se essencial implementao de prticas de conservao (Saunders et al., 1991). Fatores como a forma do fragmento, tamanho da rea, estrutura do hbitat e distncia de manchas maiores, possveis fontes colonizadoras, so determinantes para a manuteno de populaes viveis das espcies. A anlise da complexidade dos processos envolvendo a APA Carste de Lagoa Santa, refora a sua importncia e a necessidade de sua implantao. Um dos pressupostos para a implantao de uma APA a promoo de seu zoneamento, conforme previsto no artigo 2 da Resoluo n 010 do CONAMA, de 14 de dezembro de 1988. O zoneamento, segundo2

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essa resoluo, estabelece normas de uso, de acordo com as condies locais biticas, geolgicas, urbansticas, agropastoris, extrativistas, culturais e outras. Fica tambm estabelecido que todas as APAs devem possuir zonas de vida silvestre, nas quais o uso dos sistemas naturais deve ser proibido ou regulado. As outras zonas, definidas para regularizar o uso da terra, variam de acordo com as caractersticas especficas de cada APA, visando sempre alcanar o objetivo primordial de sua criao. O zoneamento bitico de uma rea depende dos conhecimentos bsicos da sua biota, como

a ocorrncia e a distribuio das espcies. Da a necessidade de se inventariar os variados tipos vegetacionais encontrados na rea, sendo que as informaes geradas iro direcionar as aes mitigadoras voltadas para a crescente interferncia antrpica na APA. Dessa forma, esse estudo reveste-se de grande importncia devido a reunio de informaes e ao aprofundamento da interpretao da composio e da estrutura das diferentes formaes vegetacionais, alm da identificao e descrio da fauna e de sua importncia dentro da APA.

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Zoneamento Ambiental da Apa Carste de Lagoa Santa

2 - OBJETIVOSO diagnstico da flora e da fauna um dos elementos importantes para que se atinja o objetivo maior do estudo, o zoneamento ambiental da APA Carste de Lagoa Santa. Alm disso, pretende-se sugerir programas a serem desenvolvidos na APA e reas a serem alvo de estudos mais detalhados. So objetivos especficos deste estudo: caracterizar as diferentes formaes vegetacionais existentes na APA em relao s suas caractersticas florsticas e fitossociolgicas; destacar a importncia dessas formaes para o cenrio cientfico; abordar aspectos da utilizao de espcies da flora pela populao local; comparar os remanescentes de vegetao atual com a realidade apresentada nas ortofotos de 1989, buscando indcios das tendncias de ocupao do solo e suas conseqncias para a cobertura vegetal nativa; realizar o inventrio da fauna que ocorre na rea da APA, com base nos grupos de ofdios, aves e mamferos; caracterizar faunisticamente os principais ambientes de vegetao nativa e ambientes antropognicos; avaliar o potencial de acidentes ofdicos na regio, especialmente em possveis locais de visitao pblica; selecionar reas prioritrias para conservao, indicando os remanescentes vegetacionais importantes para a manuteno da diversidade regional; indicar reas para recuperao ou regenerao; apresentar propostas especficas para a implementao de prticas que consolidem a conservao dos recursos naturais; propor e delimitar as diferentes zonas que compem a APA e indicar as diretrizes de uso de cada uma dessas zonas.

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3 - METODOLOGIADevido falta de informaes biolgicas bsicas para embasar o zoneamento, procedeu-se a uma pesquisa de campo sistemtica, sendo trabalhadas a flora e a fauna. Devido s limitaes dos recursos financeiros, os estudos faunsticos concentraram-se nos grupos de mamferos e aves, que so os mais comumente utilizados em estudos de avaliao ambiental. Tambm os ofdios foram pesquisados de acordo com as caractersticas especiais da regio e seu potencial turstico. Algumas caractersticas, como diversificao trfica, locomotora, necessidade de grandes reas de vida e sistemtica razoavelmente resolvida, fazem dos mamferos um grupo especialmente til para inventrios faunsticos. Dentro desse grupo, os pequenos mamferos voadores (morcegos) e no-voadores (marsupiais e roedores) perfazem cerca de 80% de toda a riqueza dos mamferos com ocorrncia no Brasil (Fonseca et al., 1996). Esse grupo, devido diversidade de espcies, grande diversificao de formas, coexistncia de muitas espcies similares e facilidade de ser amostrado, especialmente til para o estudo da importncia das variveis ambientais sobre a riqueza e abundncia de espcies (Herrmann, 1991) e para estudos de ecologia de comunidade (Morris et al., 1989). O grupo das aves amplamente utilizado como indicador de qualidade ambiental, existindo tanto espcies restritivas quanto as de grande plasticidade ambiental. Alia-se a isso o fato de as aves apresentarem alta conspicuidade e a maioria ser diurna e muito ativa, de alta diversidade especfica, relativamente fcil de identificar, alm de apresentar sistemtica bem resolvida e habitar quase todos os ambientes, fornecendo um grande volume de dados em campo e possibilitando inferncias sobre as condies de conservao dos hbitats. O levantamento de rpteis foi restrito s serpentes, devido importncia que elas representam no controle de vertebrados e de sua relao com a populao, uma vez que a existncia de espcies perigosas para o homem, causando acidentes por envenenamento, tem tornado o grupo alvo de um estigma negativo e sob forte presso de predao. A existncia de reas com potencial de visitao pblica justifica a avaliao do ndice de ocorrncia de acidentes ofdicos na regio. 3.1 - Zoneamento Apesar de previsto na legislao, o zoneamento ecolgico de APAs (Resoluo/CONAMA/ n 010, de 14 de dezembro de 1988) no possui metodologia especfica. Pela legislao, ficou estabelecido apenas que o zoneamento deveria ser elaborado segundo as condies especficas de cada local. Vrias so as funes e denominaes utilizadas em zoneamentos de APAs e torna-se necessrio definir os conceitos das zonas utilizadas neste estudo. Foram definidos quatro tipos distintos de zonas, de acordo com as caractersticas da regio e atividades existentes. Essas zonas possuem as seguintes peculiaridades: ZONA NCLEO OU DE VIDA SILVESTRE - Sua funo proteger a biodiversidade regional, mantendo as populaes de espcies nativas, bem como sua variabilidade gentica, e servir como fonte mantenedora do patrimnio biolgico. Dado seu carter de conservao, recomenda-se que qualquer atividade, turstica ou de pesquisa, seja feita com o devido controle. Essa zona apresenta as maiores restries de uso dentro da APA. ZONA TAMPO - s vezes tambm denominada zona de amortecimento, uma faixa de tamanho variado, localizada no entorno imediato da zona ncleo. Sua funo assegurar a integridade dos sistemas que compreendem a zona ncleo, com o controle das atividades antrpicas. Nesse compartimento, devem ser fomentadas as atividades que visem recuperao da cobertura vegetal nativa, ao controle das atividades modificadoras do meio e quelas que potencializem a funo de conservao da zona ncleo. Z ONA DE U S O E X T E N S I V O - So reas que apresentam tanto componentes ambientais quanto atividades econmicas relevantes para o contexto regional, especialmente agricultura e pecuria. Sua funo disciplinar o uso atual da terra, compatibilizando-o com a conservao dos remanescentes representantes do41 5

Zoneamento Ambiental da Apa Carste de Lagoa Santa

patrimnio natural. Essa zona deve funcionar como uma transio entre as reas de intensa explorao e ocupao e as de conservao. ZONA DE USO INTENSIVO - Essa zona se caracteriza por apresentar um intenso uso e ocupao do solo. Sua funo dar oportunidade consolidao da urbanizao e industrializao regional. Entretanto, essas atividades devem ser disciplinadas e harmonizadas com a conservao dos recursos naturais. Para a dinmica do zoneamento, foi determinado, inicialmente, que seria delineada a zona ncleo, em seguida a zona tampo e as zonas de uso extensivo e intensivo. A zona ncleo foi definida com base na metodologia de avaliao por critrios mltiplos (Voogd, 1983 in Eastman, 1993). Esse mtodo utilizado quando vrios critrios precisam ser avaliados para a tomada de deciso. O procedimento usado a combinao linear compensada, na qual cada fator multiplicado por um peso especfico, sendo posteriormente efetuado um somatrio para se alcanar o ndice final. Os maiores ndices representam as reas com maior potencial para serem a zona ncleo. Ao se atribuir pesos diferentes a cada um dos critrios utilizados, determina-se a importncia maior ou menor de um critrio sobre o outro. Os critrios avaliados foram relacionados a valores de uma escala discreta que variou de 1 a 5, considerando-se o menor valor (1) para as caractersticas menos desejveis, num crescente at o maior valor (5), para as condies consideradas mais satisfatrias. A partir dessa valorao, foram gerados mapas para cada um dos critrios (mapas temticos). Esses mapas foram combinados entre si, utilizando-se um sistema de informao geogrfica (IDRISI 4.1 verso para DOS), levando-se em considerao o peso dado a cada um dos critrios. Cada rea do meio bitico trabalhou isoladamente com seus critrios, gerando mapas parciais contendo as reas de maior interesse, e esses foram combinados em um mapa final, sintetizando todas as propostas. A figura 1 mostra o esquema geral para a criao dos mapas. Para cada um dos grupos do meio bitico, foram definidos os critrios importantes para a determinao das reas de interesse para conservao e, conseqentemente, para a

delimitao da zona ncleo, de acordo com as especificidades do grupo. Os critrios utilizados podem ser agrupados da seguinte forma: A - Caractersticas biolgicas das reas: riqueza de espcies abundncia de indivduos estado de conservao nvel de estratificao porte (altura do estrato superior) B - Caractersticas fsicas das reas: tamanho (rea em hectares) forma (relao entre a superfcie e o permetro da rea) C - Caractersticas do contexto no qual a rea se insere: nvel de isolamento proximidade de estradas proximidade de centros urbanos proximidade de rios ou lagoas As anlises foram baseadas na classificao do mapa de uso da terra, criado pelo Projeto Vida (CPRM/CETEC 1991) acrescido de correes e atualizaes com base nas viagens a campo (Figura 2). Os critrios para o zoneamento so os seguintes: 1- Riqueza de espcies Com base nos resultados de campo de cada grupo temtico, foi elaborado um mapa mostrando a riqueza de espcies em cada ambiente. Cada tipo de ambiente foi relacionado a um valor numrico de uma escala discreta, que variou de 1 (menor riqueza) at 5 (maior riqueza), em funo de sua importncia para a fauna ou flora regional. Para a anlise florstica, foram considerados os cerrados e as matas de forma independente, uma vez que as caractersticas estruturais so naturalmente diferentes.6

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Mapa de Uso da Terra

Dados de campo riqueza abundncia conservao estruturao porte

Seleo de atributos tamanho forma isolamento estradas cidades rios

MAPAS TEMTICOS

Matrizes de importncia relativa dos critrios dos grupos temticos

Avaliao por critrios mltiplos

Mapas com reas candidatas zona ncleo

Mapa sntese final contendo as zonas: ncleo tampo uso extensivo uso intensivo

Figura 1 - Esquema geral da metodologia de avaliao por critrios mltiplos utilizada para o zoneamento.

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2- Abundncia de indivduos (sucesso de captura)A abundncia de indivduos est relacionada ao sucesso de captura. Esse critrio foi utilizado para o grupo de mamferos para representar os ambientes, onde se estima haver uma maior abundncia de indivduos. Os valores variam entre 1 (menor abundncia) e 5 (maior abundncia).

3- Tamanho dos remanescentesOs preceitos da teoria bsica de biogeografia (MacArthur & Wilson, 1967; Fonseca, 1981) mostram que grandes reas tendem a possuir maior riqueza e maiores populaes de indivduos de cada espcie, com maiores probabilidades de conservao, diminuindo as chances de sua extino local. Assim, cada rea considerada na anlise teve sua superfcie calculada (rea em hectares) e classificada em funo de uma escala discreta de 1 (menor rea) a 5 (maior rea), sendo consideradas mais importantes aquelas que possuam maior superfcie. Esse critrio foi utilizado pelas equipes de flora, avifauna e mastofauna. Cabe salientar que no se trata de uma avaliao absoluta, uma vez que a prpria realidade do entorno de cada fragmento pode alterar a sua importncia.

fragmento, denominadas efeito de borda. Uma das consequncias do efeito de borda o aparecimento de caractersticas secundrias (espcies vegetais e animais mais relacionadas aos estdios iniciais de sucesso) no interior do fragmento. Em termos de dinmica de fragmentos e conservao, consideram-se mais importantes os fragmentos que sofrem menor influncia do meio externo, visto que espcies adaptadas s condies microclimticas do interior da mata so menos prejudicadas (Lovejoy et al., 1986; Laurence, 1990; Laurence & Yensen, 1990).

5- Estado de conservaoEsse critrio foi utilizado para caracterizar os fragmentos de acordo com seu estado de conservao (uma escala discreta de 1 a 5), englobando desde reas degradadas ou muito secundrias at reas bem conservadas. Essas categorias foram definidas baseando-se na visualizao de indcios de interferncias antrpicas como desmate seletivo, queimada, carvoejamento e penetrao de gado, dentre outros.

6- Nvel de estruturao do ambienteO nvel de estruturao do ambiente indica o grau de complexidade em relao ao nmero de estratos da vegetao. Esse critrio foi utilizado pelo grupo de botnica para classificar as reas de amostragem e demais ambientes. A estimativa da estratificao, densidade e conectividade entre os estratos da vegetao baseou-se no somatrio dos seguintes valores: mdias de altura e dimetro, densidade total dos indivduos arbreos, densidade total dos indivduos das subparcelas e densidade de cips das parcelas. Foi criada uma escala discreta variando de 1 a 5 (da menor estruturao para a maior) para a classificao dos remanescentes de vegetao nativa.

4 - Forma dos remanescentesOutro parmetro utilizado nas anlises foi a forma (arquitetura) de cada rea, calculada com base na relao entre a sua superfcie e seu permetro, segundo a seguinte frmula (Easterman 1992):

I=

S , onde S representa a superfcie da rea P

considerada e P o seu permetro. Esse critrio foi considerado devido relao que o meio circundante exerce sobre as espcies. O valor de I foi posteriormente reclassificado em 5 categorias sendo que o valor 1 corresponde rea onde h uma pequena superfcie para um grande permetro e o valor 5 corresponde rea onde h uma maior superfcie e um menor permetro. A maior interao com o meio externo resulta em alteraes microclimticas no interior do

7- Porte da vegetaoO porte da vegetao (altura mxima do dossel) foi utilizado como critrio de classificao dos remanescentes pelo grupo de botnica e estimado levando-se em conta a altura mdia dos indivduos e a rea basal total do segmento amostrado.8

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Figura 2 - Mapa de uso do solo.

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8 - Nvel de isolamento da rea em relao rea mais prximaEsse critrio foi utilizado pelos grupos de flora, avifauna e mastofauna para classificar os remanescentes de vegetao nativa, em funo do grau de isolamento de cada fragmento. As matas foram classificadas em trs nveis de isolamento: 1 - para os remanescentes distantes entre si mais de 600 metros; 2 - para os remanescentes distantes entre si de 600 a 300 metros; 3 - para os remanescentes distantes entre si at 300 metros. Essas classes de distncia foram definidas com o auxlio do sistema de informao geogrfica, de acordo com as caractersticas. Os fragmentos considerados como os nicos existentes em uma rea adquirem uma importncia maior como fonte de sementes para colonizao de reas adjacentes, local potencial para atividades cientficas e de educao ambiental.

aos riscos de impactos, alm da maior possibilidade de degradao/ transformao do ambiente pelo avano da expanso urbana. 11- Proximidade de cursos dgua e/ou lagoas Foram considerados prioritrios os fragmentos localizados prximos aos cursos dgua e/ou lagoas, em funo de vrios aspectos. A atual legislao florestal (Lei estadual n. 10560/91) prev a proteo integral das reas de preservao permanente, nas quais incluem-se as reas localizadas nas proximidades de cursos dgua e colees dgua. Por esse aspecto, a recuperao das reas localizadas entre os fragmentos com vistas criao de corredores unindo-os, torna-se mais fcil pela existncia de amparo legal proteo de tais reas. Soma-se a isso a influncia da presena de um curso dgua na diversidade da fauna e da flora. Como nos outros critrios, foram criadas cinco classes de proximidade de cursos dgua, sendo consideradas prioritrias as reas (de 1 para a mais distante a 5 para a mais prxima). Parte dos critrios utilizados (riqueza de espcies, abundncia de indivduos, estado de conservao, etc) resultou dos trabalhos de campo desenvolvidos para cada grupo. O direcionamento dos trabalhos, realizando amostragens nas principais formaes vegetais ou ambientes existentes na APA, permitiu a extrapolao das informaes para outras reas com caractersticas semelhantes. Os dados da ofidiofauna no foram utilizados nessa etapa da estruturao do zoneamento, pois a metodologia de inventrio adotada baseou-se na coleta de espcimes por postos de captura, montados nas fazendas da regio. Assim, esses dados no apresentavam relao direta com o remanescente vegetacional amostrado, e sim com a fazenda onde estavam alocados os postos de captura

9- Proximidade de estradas principaisEsse critrio foi criado para classificar os remanescentes de vegetao nativa em relao distncia em que esto das estradas, dentro de cinco classes de distncia (de 1 para as mais prximas a 5 para as mais distantes). Foi considerado importante por indicar, indiretamente, os impactos que os fragmentos podem sofrer pela ao humana. Tais impactos referem-se principalmente deposio de lixo e entulhos, maior facilidade de acesso das pessoas s reas (cata de lenha, caa), maiores riscos de incndio, entre outros. Por isso, foi dada maior importncia para os remanescentes localizados mais afastados das estradas.

10- Proximidade de centros urbanosCada fragmento foi classificado em funo de sua distncia dos centros urbanos. Para tal, foram consideradas todas as reas urbanas existentes na APA e, a partir delas, foram criadas cinco classes de distncias, priorizando-se aqueles fragmentos localizados mais afastados dos centros urbanos (de 1 para os mais prximos a 5 para os mais distantes), devido

3.2 - Levantamento de dados do meio bitico3.2.1 - reas de amostragem Para a compatibilizao dos dados obtidos, foi definido que os trabalhos de campo deveriam ser realizados, sempre que possvel, na mesma10

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rea e para todos os grupos amostrados. Para o reconhecimento e a escolha das reas de amostragem, foi realizada uma viagem a campo, com dois dias de durao, da qual participaram membros das diversas equipes envolvidas nos estudos biolgicos da APA. Em conjunto, foram escolhidas reas representativas das diferentes formaes vegetacionais existentes, distribudas ao longo de toda a rea (Tabela 1 e Figura 3). Nesse estudo foi adotada a terminologia utilizada pelo IBGE (1992), padronizada com a nomenclatura internacional da vegetao. 3.2.2 - Coleta dos dados em campo A coleta de dados em campo foi realizada mensalmente, no perodo de setembro de 1995 a fevereiro de 1996. 3.2.2.1 - Flora

Em cada parcela de 250m2, foram amostradas duas subparcelas de 5m2 (5m x 1m), onde foram registrados todos os indivduos com circunferncia inferior a 15cm que apresentassem altura superior a 50cm. Dos indivduos no identificados em campo, foram coletadas e processadas amostras, sempre que possvel com material frtil, para identificao em laboratrio, com auxlio de literatura especializada e com a comparao com exsicatas do herbrio BHCB - UFMG. As espcies que apresentavam material frtil, independentemente de estarem dentro das parcelas, tambm tiveram amostras coletadas e processadas para posterior incorporao coleo do herbrio.

Atualizao do mapa de cobertura vegetalDurante os trabalhos de campo, foi levantada toda a rea da APA para a correo e a atualizao do mapa de cobertura vegetal. Ao longo das estradas e vias de acesso, procurouse comparar a cobertura vegetacional com o padro existente nas ortofotos em escala 1:10.000 (CEMIG, 1989) e mapas em escala 1:50.000 (CETEC, 1991). reas de padro pouco ntido foram visitadas para se conferir sua tipologia, com base no porte, estrutura e composio florstica. As alteraes foram incorporadas ao mapa de uso do solo.E QUIPES flora, avifauna, mastofauna flora, avifauna flora, mastofauna flora flora, mastofauna flora, avifauna mastofauna flora, avifauna, mastofauna avifauna, mastofauna avifauna flora flora flora flora flora

Levantamento florstico e FitossociolgicoPara a coleta de dados fitossociolgicos, foram amostradas dez parcelas de 250m2 (50m x 5m) em cada rea. Dentro de cada parcela, foram medidos todos os indivduos com circunferncia a partir de 15 cm. No caso das formaes florestais, mediu-se a circunferncia altura do peito (CAP), e nos cerrados, mediu-se na base do tronco. Alm da circunferncia, anotou-se a altura estimada e a identificao do indivduo.A MBIENTES / REAS TRABALHADAS

F LORESTA E STACIONAL S EMIDECIDUAL Mata Lagoa da Cauaia - Fazenda Cauaia Mata Vargem Comprida - Fazenda Castelo da Jaguara Mata Castelo da Jaguara - Fazenda Castelo da Jaguara Mata Lapinha - Fazenda da MBR F LORESTA E STACIONAL D ECIDUAL Mata da Horta - Fazenda Cauaia Mata de Poes - Divisa de propriedade Mau / Soeicom Fazenda Cerca Grande T RANSIO MATA /CERRADO Mata Infraero - rea da Infraero Mata Imprio - Fazenda Imprio Mata Quinta do Sumidouro C ERRADO Cerrado Aeronutica - trevo de Lagoa Santa / Confins Cerrado Imprio - Fazenda Imprio Cerrado Promisso - Stio da Pedreira, Lagoa Santa Cerrado Sumidouro - Estrada Quinta do Sumidouro/Lapinha V EGETAO DE AFLORAMENTOS CALCRIOS Pedreira da Cauaia - Fazenda CauaiaNota:

As reas trabalhadas pela equipe de ofidiofauna no se encontram listadas nessa tabela por no terem sido distribudos por ambiente.

Tabela 1 - reas amostradas pelas equipes de flora, avifauna e mastofauna distribudas de acordo com o ambiente.

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Entrevistas com moradores locaisNas entrevistas com pessoas indicadas pela populao da regio, foi feita uma breve abordagem sobre os usos da vegetao. A cada entrevistado, foram questionados os seguintes aspectos: nome; tempo de residncia na regio; conhecimento das espcies da flora local; tipos de vegetao mais utilizados; uso atribudo s espcies (alimentao, remdio, madeira, frutos, etc); parte do vegetal utilizada; formas de preparo; procura pela populao e/ou comercializao; e facilidade de encontro ou raridade das espcies. Quando possvel, realizaram-se visitas a campo, juntamente com o entrevistado, para identificar as espcies e os nomes populares utilizados. 3.2.2.2 - Ofidiofauna A metodologia de coleta e de observaes utilizada foi aquela padronizada segundo Lema & Arajo (1985). Como o encontro com serpentes em campo fortuito (Vanzolini et al., 1980), foram selecionados dez postos de captura (pontos de amostragem) distribudos por toda a regio, de acordo com as caractersticas da rea e a disponibilidade dos moradores para auxiliarem na realizao do estudo. Cada local selecionado foi devidamente equipado com um lao de Lutz e um gancho para coleta de serpentes vivas, uma caixa para armazenamento de serpentes vivas, uma bombona contendo soluo de formol a 20% para acondicionamento de serpentes eventualmente mortas, e material educativo (cartilhas e cartazes de ofidismo produzidos pelo Ministrio da Sade). Os responsveis pelos postos de captura foram treinados e orientados para realizar as coletas com a devida segurana. Procurou-se ainda evitar o estmulo matana indiscriminada e captura excessiva de espcimes. Os pontos de amostragem foram visitados em todas as campanhas de campo para vistoria, triagem e recolhimento do material coletado. Os pontos de amostragem foram: Fazenda Cerca Grande, Fazenda da Lapinha, Fazenda Castelo da Jaguara, Fazenda Imprio, Fazenda Cauaia, Lagoa dos Mares, Aeroporto Internacional Tancredo Neves, Fazenda PeriPeri, Fazenda Poes e Fazenda Girassol (Figura 3). Devido ao mtodo de amostragem, no foi possvel discriminar as reas segundo

os ambientes, como nos demais grupos temticos estudados, pois, na maioria dos casos, a coleta de serpentes ocasional e ocorre nos locais mais freqentados pelos trabalhadores (coletores), independente do tipo de ambiente ou de uma padronizao de esforo amostral. Foram ainda realizadas buscas diretas aos exemplares, com a observao dos microambientes favorveis ocorrncia de serpentes, como: troncos cados, ocos de rvores, proximidade de cursos dgua, sob folhas cadas no solo e transectos pelas estradas e vias de acesso s diversas reas. Todas as serpentes coletadas nos pontos de amostragem, atropeladas nas estradas ou observadas, foram registradas e identificadas atravs da utilizao de literatura especfica. As serpentes em bom estado de conservao foram depositadas na coleo de serpentes da Fundao Ezequiel Dias. Durante as viagens a campos, os hospitais e centros de sade da regio foram visitados para a verificao da disponibilidade de soros antiofdicos para o tratamento de possveis acidentes por envenenamento. 3.2.2.3 - Avifauna Para a amostragem das aves, foram utilizados mtodos distintos com o objetivo de se fazer uma caracterizao completa da avifauna. Foram realizados transectos de pontos, captura com redes de neblina, amostragens espordicas e levantamento de dados secundrios.

Transecto de pontosA amostragem por transecto de pontos foi utilizada para a comparao da comunidade de aves entre diferentes formaes florestais. Esse mtodo permite determinar a composio em espcies, riqueza, diversidade e freqncia de aves das reas amostradas, bem como comparar as diversas reas e avaliar o grau de similaridade. Foram selecionadas seis reas (Figura 3) para amostragem por transecto de pontos em quatro campanhas consecutivas, de outubro a dezembro (ressalta-se que, em outubro, foi realizada uma campanha no incio do ms e outra no final). Esse perodo coincide com o perodo reprodutivo da maior parte das espcies12

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"C a sc alh eira"

L ag oa G ran d e C .F un il nd ia P ed re ira C au aia C . Ja gu ara

#L . C a ua ia H o rta

#V. C om prida

#Im p rio

Mau Q . S um id ou ro

#P o es

C e rca G ran de

# #M u a m be iro

C . S um id ou ro

P eri-P eri

L . S u m ido uro

M ATO Z IN H O S

#L ap in h a

#P E D R O LE O P O LD O C o nfins Infra ero C . P ro m iss o L AG O A S AN TA

#

L . M are s

C . A ero n utica

V E S PA S IA N O

re a s d e a m o stra g e m F lo ra # O fid io fa u n a Av ifa u n a -tra n s e cto Av ifa u n a -v is ita s M a sto fa u n a -p e q u e no s m a m fe ros M a sto fa u n a -q u ir p te ro s L im ite d a A PA C a rste d e L a g o a S a n ta C id ad e s /M un icp io s D istrito s, Vilas , P ov o a d o s A e ro p o rto Lagoas

Figura 3 - Localizao das reas de amostragem da flora e fauna.

41 13

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de aves na regio, poca pois de maior atividade das aves, resultando, conseqentemente, na obteno de um maior volume de dados e na deteco de vrias espcies migratrias que a nidificam. Foi adotado o transecto de pontos fixos segundo Bukland et al. (1993). Foram demarcados dez pontos, distantes 100 metros entre si, em cada uma das reas trabalhadas. Cada um dos pontos, em cada rea, foi amostrado durante um perodo de dez minutos, em cada campanha. Nesse intervalo de tempo, todos os indivduos observados visual e/ou auditivamente foram registrados. Alm disso, foi anotado o estrato da vegetao em que se deu o registro (inferior, mdio e superior) e a estimativa da distncia da ave em relao ao observador. Foi considerado um raio de 20 metros a partir do observador, no qual todas as espcies presentes no momento da amostragem foram registradas e constam das anlises comparativas. As espcies registradas alm dessa faixa-limite foram somente para complementar o inventrio da rea de amostragem. Alm desses indivduos, tambm os que utilizaram apenas o espao areo, como certos gavies, maritacas e papagaios, andorinhes e andorinhas, foram registrados para o inventrio. As amostragens foram realizadas sempre na parte da manh, perodo de maior atividade das aves, iniciando-se logo aps o nascer do sol e estendendo-se at por volta das dez horas. O perodo da tarde foi dedicado procura de novas reas para visitao e reconhecimento geral da APA, alm da realizao de visitas nosistemticas s reas previamente selecionadas. Alm da caracterizao da avifauna nas reas de amostragem, foi avaliada a estrutura da vegetao, visando detectar a existncia de relao entre a riqueza e composio da avifauna e a estruturao do ambiente. Foram escolhidas 13 variveis (contnuas, discretas ou subjetivas) que se encontram no anexo19. A medio dessas variveis ocorreu nos mesmos dez pontos de amostragem de aves em cada rea. As medidas de cada varivel foram coletadas num raio de trs metros.

ambientes presentes na rea de estudo e complementar o inventrio. As reas amostradas foram selecionadas a partir da anlise dos mapas e ortofotos da regio da indicao por outras equipes ou da identificao a partir dos caminhos percorridos. Procurou-se amostrar os mais diversos ambientes, dando preferncia aos remanescentes vegetacionais mais representativos em termos de porte e conservao. Nesses foram realizadas caminhadas (transectos no-sistemticos), anotando-se todas as espcies de aves observadas e determinadas caractersticas do ambiente (tipo de ambiente, estado de conservao). Procurou-se percorrer o mximo possvel da rea, para uma avaliao geral dos remanescentes e dos ambientes existentes. Alm das atividades diurnas, foram realizadas amostragens durante o perodo crepuscular/ noturno para o registro de aves que so ativas nessas horas (corujas, curiangos e bacuraus). As reas amostradas foram a Lagoa do Sumidouro; pasto sujo da Fazenda Imprio; mata decidual da Gruta da Lapinha; Lagoa Grande (Fazenda Planalto da Jaguara); cascalheira prxima Fazenda Jaguara (rea prxima ao Rio das Velhas com vegetao de mata ciliar, muito degradada em virtude da retirada desordenada de cascalho); mata decidual da Cimentos Mau; Lagoa dos Mares; Cerrado Funilndia (localizado no limite norte da APA e Cerrado Promisso.

Captura com redesCom o objetivo de detectar espcies difceis de serem observadas e/ou identificadas apenas visual ou auditivamente, foram realizadas capturas com redes. Utilizaram-se redes de neblina (ATX-12 metros) que eram dispostas em trilhas, a partir de 0,5 metro do solo. Em cada rea, foram armadas nove redes, que permaneciam abertas durante toda a manh, a partir do nascer do sol e por um perodo de cerca de cinco horas. O nmero total de dias trabalhados em cada rea foi: Mata Lagoa da Cauaia - cinco; Mata Imprio - dois; Mata da Infraero - dois e Mata da Cimentos Mau - dois. Os indivduos capturados foram identificados, medidos, pesados e fotografados e marcados com anilhas metlicas e/ou coloridas conforme recomendaes do CEMAVE (Centro de14

Amostragens no-sistemticasForam realizadas amostragens de aves em outras reas visando amostrar os diferentes

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Estudos para Conservao das Aves Silvestres - IBAMA) (IBAMA, 1994). Para as identificaes das espcies, utilizouse a literatura bsica disponvel (Meyer de Schauensee, 1982; Sick, 1985; Hilty & Brown, 1986; Dunning, 1987; Grantsau, 1988; Ridgely & Tudor, 1989; 1994). 3.2.2.4 - Mastofauna O estudo da mastofauna foi realizado para a abordagem de trs segmentos distintos: pequenos mamferos no-voadores (roedores e marsupiais), pequenos mamferos voadores (quirpteros) e mamferos de mdio e grande porte. Cada um desses grupos foi amostrado com metodologias distintas, que sero apresentadas a seguir.

presas em troncos ou cips a uma altura mdia de 1,5 metro. Como isca, utilizou-se creme de amendoim e aveia em flocos nas armadilhas do tipo Sherman, e abacaxi e algodo embebido com leo de fgado de bacalhau (Emulso Scott) nas do tipo Tomahawk. A cada manh as trilhas foram percorridas, os indivduos capturados identificados, marcados com uma anilha metlica numerada, tomadas as medidas morfomtricas padro e soltos no mesmo posto de captura. Em caso de identificao duvidosa, o espcime foi levado para o laboratrio e taxidermizado para posterior classificao. Todos os indivduos coletados esto depositados na coleo do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (DZ - UFMG).

Pequenos mamferos no-voadoresPara a coleta sistemtica de pequenos mamferos no-voadores (roedores e marsupiais), foram selecionados os principais remanescentes de vegetao nativa representativos das principais formaes vegetacionais, sendo esses, mata estacional decidual, mata estacional semidecidual e transio mata-cerrado (Figura 3). A amostragem foi realizada a partir de um programa de captura, marcao e recaptura nas cinco reas selecionadas (Tabela 1 e Figura 3). As coletas foram realizadas em cinco noites consecutivas por ms, em um total de seis perodos mensais de coleta (Tabela 2), totalizando um esforo de captura de 7.020 armadilhas. Em cada uma das reas de amostragem foram estabelecidos dois transectos lineares, paralelos, de 300 metros de comprimento, distanciados 50 metros. Em cada um dos transectos, foram estabelecidos 15 pontos de coleta a intervalos regulares de 20 metros. A nica exceo na disposio dos transectos foi a Mata da Horta que, devido sua forma alongada, foi amostrada por um nico transecto com 600 metros de comprimento. Em cada ponto de coleta foram instaladas duas armadilhas: uma do tipo Tomahawk e outra do tipo Sherman, alternadas em sua posio, para abrangerem dois estratos, o terrestre (cho) e o arbreo (alto). Para a amostragem do estrato acima do solo, as armadilhas foram

QuirpterosPara a captura de morcegos foram selecionadas sete reas, sendo cinco delas as mesmas utilizadas para a amostragem de pequenos mamferos no-voadores e duas outras associadas afloramentos calcrios: Poes e Fazenda Cerca Grande (Tabela 1 e Figura 3). Foram utilizadas redes de neblina, cujo nmero em cada uma das reas variou de um a trs, sendo abertas ao anoitecer (entre as 18 e 19 horas), assim permanecendo at as 23 horas. Os indivduos capturados foram identificados, pesados e quando necessrio, levados para o laboratrio para posterior identificao. Todos os indivduos coletados esto depositados na coleo do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (DZ UFMG). A tabela 3 mostra o esforo de captura por horas/rede, por rea estudada.

Mamferos de mdio e grande porteOs mamferos de mdio e grande porte foram registrados por observao direta e indireta (visualizao, vocalizao, pegadas e fezes) e atravs de entrevistas com moradores da regio e com as outras equipes deste projeto. A taxonomia de mamferos segue a proposta por Wilson & Reeder (1993). 3.2.3 - Anlise dos dados O ndice de Shannon-Wiener (Magurran, 1988) foi utilizado para comparar a diversidade entre41 15

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rea Mata Lagoa da Cauaia Mata da Horta Cauaia Mata Castelo da Jaguara Mata da Infraero Mata da Imprio Total Set 360 360 Out 300 300 180 300 1080 Nov 300 300 180 300 300 1380

720

Ms Dez 300 300 300 300 300 1500

Jan 300 300 300 300 1200

Fev 240 300 300 300 1140

Total 1260 1800 1080 1380 1500 7020

Tabela 2 - Esforo de captura (armadilhas por noite) de pequenos mamferos (marsupiais e roedores).

rea Mata de Poes Fazenda Cerca Grande Mata da Horta Mata Castelo da Jaguara Mata Lagoa da Cauaia Mata Imprio Mata Infraero Total

Nmero de redes 2 2 3 3 3 3 3 18

Esforo de captura (horas/rede) 6 6 9 9 9 9 9 57

Tabela 3 - Esforo de coleta de morcegos por rea.

as reas. Esse ndice diz respeito ao grau de incerteza de que um indivduo amostrado ao acaso pertena a uma determinada espcie. A similaridade da riqueza entre as reas foi calculada pelos ndices de Sorensen e Jaccard. Segundo Magurran (1988), esses ndices so iguais a 1 em caso de completa similaridade. Para se averiguar quais as reas mais similares, foi realizada uma anlise de agrupamento (cluster) com os ndices de similaridade. A anlise dos dados de vegetao coletados utilizou os parmetros e ndices usuais em estudos fitossociolgicos como densidade, freqncia e dominncia absolutas e relativas e ndice de valor de importncia (Martins, 1991). Foi utilizado o pacote estatstico Statistica para Windows verso 4.2, para a realizao de uma anlise discriminante cannica com os dados de estrutura de vegetao, coletados nos pontos de transecto de aves. As espcies de aves foram agrupadas de acordo com seu hbitat. Tal classificao foi feita com base nos dados coletados em campo, acrescidos de informaes da literatura (Fry, 1970; Sick, 1985). Foram determinados quatro grupos de aves segundo seu hbitat: aves florestais, aves campestres, aves de borda e

aves aquticas. Foram aqui consideradas aves de floresta ou florestais, aquelas associadas preferencialmente s matas semidecduas e decduas e como espcies campestres ou de reas abertas, aquelas associadas preferencialmente s pastagens, campos, pastos sujos e reas abertas em geral. O hbitat de borda definido no seu sentido vertical e horizontal. Como hbitat de borda no sentido horizontal, entende-se a borda propriamente dita entre a mata (nos diversos estdios de regenerao) e a vegetao mais aberta adjacente. O hbitat de borda no sentido vertical, refere-se copa ou no topo da vegetao, utilizados para forrageamento ou para pouso de observao. Aves aquticas so associadas aos ambientes limncolas e a suas margens, sejam eles lagoas, brejos, alagados, rios ou crregos. As anlises do grupo de mamferos foram divididas em qualitativas e quantitativas. As primeiras versam exclusivamente sobre a ocorrncia por localidade amostrada. As anlises quantitativas permitem inferncias sobre a abundncia relativa das espcies, os padres de dominncia e de diversidade. Devido ao tipo de informao obtida, os mamferos foram separados em dois grupos: i)16

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pequenos mamferos, voadores e no-voadores; ii) mamferos de mdio e grande porte. Para os primeiros, foram feitas anlises qualitativas e quantitativas, enquanto que os mamferos em geral s foram analisados qualitativamente. Nas anlises quantitativas do grupo dos pequenos mamferos no-voadores, as primeiras capturas correspondem ao nmero de indivduos. O nmero total de capturas foi calculado somando-se as primeiras capturas com as subseqentes recapturas. O sucesso de captura total foi calculado dividindo-se o total pelo esforo de captura (armadilhas/noite) e, em seguida, multiplicando-se o resultado por 100. O mesmo procedimento foi seguido para estimar o sucesso de capturas por rea. As abundncias das espcies por rea foram estimadas dividindo-se a captura total de uma espcie pelo somatrio das capturas totais. Essas

estimativas foram usadas para verificar qual a espcie mais abundante por rea. As relaes entre a riqueza de espcies e o tamanho das reas foram verificadas por regresses lineares, seguindo-se o modelo exponencial: log S = log C + z log A, onde S o nmero de espcies, A o tamanho da rea, e C e z so constantes. Essa anlise foi feita sobre os pequenos mamferos e os morcegos. 3.2.4 - Levantamento de dados histricos Com o objetivo de comparar a fauna registrada atualmente na APA Carste com registros histricos, foi elaborada uma lista compilada com base nos trabalhos de Lund (1935), Walter (1948) e Pinto (1950, 1952), contendo as espcies j registradas para a regio.

41 17

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4 - PROPOSTA DE ZONEAMENTO DO MEIO BITICOEm funo das caractersticas de uso atual da terra, foram consideradas como candidatas zona-ncleo reas que fossem compostas pelos remanescentes dos ambientes originais de mata estacional semidecidual, decidual, cerrado, transio cerrado/mata e reas em regenerao (capoeiras e pasto sujo). As tabelas 4 a 8 apresentam os resultados para os diversos critrios utilizados na elaborao dos mapas temticos de cada equipe. Esses resultados foram obtidos com os dados dos levantamentos de campo. A partir destes resultados, acrescidos dos pesos dados a cada um dos critrios, foram gerados mapas com as zonas prioritrias para conservao dos grupos de flora, avifauna e mastofauna.

Categoria/Grupo Floresta Estacional Semidecidual Transio mata/cerrado Cerrado Floresta Estacional Decidual Pasto sujo Pastagens Lagoas reas especficas Imprio (transio mata/cerrado) Castelo da Jaguara (mata semidecidual) Sumidouro (cerrado) Promisso (cerrado) Poes (mata decidual) Lagoa da Cauaia (mata semidecidual) Horta (mata decidual) Infraero (transio mata/cerrado) Lapinha (mata semidecidual) Aeronutica (cerrado) M 5 4 3 2 1 -

Valor A 5 4 3 3 2 1 4

B 4 4 4 4 -

-

5 5 5 4 4 3 3 3 3 3

Tabela 4 - Estimativa da riqueza de espcies com base nos resultados de amostragem de campo da equipe de mamferos (M), aves (A) e botnica (B).

Categoria Floresta Estacional Semidecidual Transio mata/cerrado Cerrado Floresta Estacional Decidual Pasto sujo Pastagem Lagoa

Valor 5 4 3 2 1 -

Tabela 5 - Estimativa da abundncia de mamferos.

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Categoria/Grupo Floresta Estacional Semidecidual Floresta Estacional Decidual Cerrado Transio mata/cerrado reas especficas Lagoa da Cauaia (mata estacional semidecidual) Promisso (cerrado) Imprio (transio mata/cerrado) Castelo da Jaguara (mata estacional semidecidual) Horta (mata estacional decidual) Infraero (transio mata/cerrado) Poes (mata estadual decidual) Lapinha (mata estacional semidecidual) Sumidouro (cerrado) Aeronutica (cerrado)

Valor 4 4 4 3

5 5 4 4 4 4 4 4 3 3

Tabela 6 - Estimativa do estado de conservao.

Categoria/Grupo Floresta Estacional Semidecidual Floresta Estacional Decidual Cerrado Transio mata/cerrado reas especficas Imprio (transio mata/cerrado) Lapinha (mata estacional semidecidual) Lagoa da Cauaia (mata estacional semidecidual) Castelo da Jaguara (mata estacional semidecidual) Horta (mata estacional decidual) Infraero (transio mata/cerrado) Sumidouro (cerrado) Promisso (cerrado) Poes (mata estadual decidual) Aeronutica (cerrado)

Valor 5 4 4 3

5 5 5 4 4 4 4 4 4 4

Tabela 7 - Classificao dos remanescentes de vegetao nativa em funo do nvel de estruturao da vegetao.

Categoria/Grupo Floresta Estacional Semidecidual Floresta Estacional Decidual Cerrado Transio mata/cerrado reas especficas Imprio (transio mata/cerrado) Castelo da Jaguara (mata estacional semidecidual) Lagoa da Cauaia (mata estacional semidecidual) Horta (mata estacional decidual) Infraero (transio mata/cerrado) Poes (mata estadual decidual) Lapinha (mata estacional semidecidual) Sumidouro (cerrado) Promisso (cerrado) Aeronutica (cerrado)

Valor 5 4 4 2

5 5 5 4 4 4 4 3 3 3

Tabela 8 - Classificao dos remanescentes de vegetao nativa em funo do porte da vegetao.

19

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Aps a definio dos critrios considerados por cada um dos grupos temticos (flora, avifauna e mastofauna), foram definidas trs matrizes que indicaram a importncia de um parmetro sobre o outro, conforme estipulado pelas equipes (Matrizes 1 a 3). A interpretao das matrizes foi feita considerando-se a importncia do parmetro da linha em relao coluna. Assim, no caso da Matriz 1 (grupo de mamferos), foi determinado que o parmetro forma menos importante que os parmetros

riqueza, abundncia e tamanho, mais importante do que os demais. A partir da combinao dos critrios e de seus pesos para cada grupo, foram gerados os mapas temticos, indicando as reas de especial interesse, candidatas formao das zonas-ncleo (Figuras 4, 5 e 6). Essas figuras contm apenas as reas que obtiveram os dois maiores valores (prioridades 1 e 2).

Riqueza Abundncia Tamanho Forma Isolamento Cidade Rios

Riqueza 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4

Abundncia Tamanho 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5

Forma

Isolamento

Cidade

Rios

1 0.9 0.8 0.7 0.6

1 0.9 0.8 0.7

1 0.9 0.8

1 0.9

1

Matriz 1. Importncia relativa dos critrios utilizados pelo grupo de mamferos para a definio das reasncleo.

Riqueza Tamanho Forma Rios Isolamento Estrada Cidades

Riqueza 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4

Tamanho 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5

Forma

Rios

Isolamento

Estrada

Cidades

1 0.9 0.8 0.7 0.6

1 0.9 0.8 0.7

1 0.9 0.8

1 0.9

1

Matriz 2. Importncia relativa dos critrios utilizados pelo grupo de aves para a definio das reas-ncleo.

Riqueza Preservao Estrutura Porte Tamanho Isolamento Forma

Riqueza 1 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3

Preservao 1 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4

Estrutura

Porte

Tamanho

Isolamento

Forma

1 0.8 0.7 0.6 0.5

1 0.8 0.7 0.6

1 0.8 0.7

1 0.8

1

Matriz 3. Importncia relativa dos critrios utilizados pelo grupo de botnica para a definio das reasncleo.

41 20

Estudo do Meio Bitico

CPRM Servio Geolgico do Brasil

P rio rid ad e 1

P rio rid ad e 2

C ritrio s co n sid erad os (em o rd e m d ecrescen te d e im p o rtn cia): R iq u e za d e esp cies; Tam an h o d a rea; P ro x im id ad e d e cu rsos d ' g u a/lag o as; D ist n cia d e cid a d es; N v el d e iso lam en to ; D ist n cia d a s estrad as p rin cip ais.

Figura 4 - Resultado da avaliao por critrios mltiplos para a mastofauna. As reas verdes e azuis so consideradas as mais aptas para compor a Zona-Ncleo. As linhas indicam as divisas municipais.

21

Zoneamento Ambiental da Apa Carste de Lagoa Santa

P rio rid ad e 1

P rio rid ad e 2

C ritrio s co n sid erad os (em o rd e m d ecrescen te d e im p o rtn cia): R iq u e za d e esp cies; A b u n d n c ia d e in d iv d u o s; Tam an h o d a rea; F o rm a to d a rea; N v el d e iso lam en to ; D ist n cia d e cid a d es; P ro x im id ad e d e cu rsos d ' g u a/lag o as.

Figura 5 - Resultado da avaliao por critrios mltiplos para a avifauna. As reas verdes e azuis so consideradas as mais aptas para compor a Zona-Ncleo. As linhas indicam as divisas municipais.

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Estudo do Meio Bitico

CPRM Servio Geolgico do Brasil

P rio rid ad e 1

P rio rid ad e 2

C ritrio s co n sid erad o s (em o rd em d ecrescen te d e im p o rtn cia): R iq u ez a d e esp cies; E stad o d e c o n serv a o d a rea; E stru tu ra d a v eg eta o n a rea; Tam an h o d a re a; N v el d e iso lam en to ; F o rm a to d a rea.

Figura 6 - Resultado da avaliao por critrios mltiplos para a flora. As reas verdes e azuis so consideradas as mais aptas para compor a Zona-Ncleo. As linhas indicam as divisas municipais.

23

Zoneamento Ambiental da Apa Carste de Lagoa Santa

Com base nos mapas elaborados, cada equipe traou os limites das zonas-ncleo, tampo, uso extensivo e uso intensivo. Posteriormente, com o auxlio do SIG, as vrias zonas foram cruzadas e reavaliadas, resultando na proposta de zoneamento do meio bitico (Figura 7). Segundo a proposta apresentada, existem trs reas que compem a Zona-Ncleo, num total de 6.545 hectares, a saber:

rea 1: localizada na poro norte, formada pelas reas mais expressivas em termos de biodiversidade, tamanho, estado de conservao e representatividade dos ambientes naturais, abrangendo as Matas Lagoa da Cauaia, Castelo da Jaguara, Poes, Imprio e uma srie de pequenas reas entre elas.A importncia da conservao dessa faixa est em manter um corredor de ligao entre as formaes de cerrado e florestas estacionais, e a mata ciliar do Rio das Velhas. Dessa forma, ser mantido um corredor para a fauna, com uma variedade de ambientes contnuos entre si, aumentando a possibilidade de conexes ecolgicas e garantindo a continuidade dos processos vitais do bioma.

Dgua at os ambientes de cerrado e transio cerrado/mata pertencentes Infraero2. Essas ltimas j so reas protegidas, mas ambas necessitam de maior fiscalizao, pois a retirada de lenha e a presena de fogo so ameaas constantes. Em virtude da proximidade de centros urbanos e do aeroporto internacional, essa rea apresenta uma menor faixa de zona tampo no seu entorno. O cerrado Promisso uma das reas mais representativas do cerrado sensu strictu da regio e merece ateno por sua extenso e representatividade, podendo vir a ser importante para educao ambiental, por suas caractersticas estruturais, fisionmicas, por sua composio florstica e pela proximidade de centros urbanos. As Zonas-Tampo propostas para a APA Carste distribuem-se no entorno das Zonas-ncleo, num total de 8.314 hectares. Nessas reas sero permitidas atividades regeneradoras de ambientes, como sistemas agroflorestais e/ou reabilitao das fitofisionomias naturais, de modo a permitir o fluxo gnico e a conectividade entre as zonas de uso intensivo. As Zonas de Uso Extensivo esto divididas em trs pores (uma ao norte, uma no extremo noroeste e uma no centro da APA), totalizando 14.608 hectares. As Zonas de Uso Intensivo envolvem cinco reas, sendo que a maior delas localiza-se na parte sudoeste da APA Carste, formando um corredor entre as localidades de Confins, Lagoa de Santo Antnio, Mocambeiro e Matozinhos. As demais zonas esto nas proximidades das localidades de Quinta da Fazendinha (poro oeste), Fidalgo e Quinta do Sumidouro (poro leste), Campinho de Baixo e Lagoa Santa (poro leste) e Vespasiano (poro sul). Apesar de a APA Carste de Lagoa Santa possuir um tamanho expressivo (cerca de 36.000 ha), os ambientes de vegetao nativa perfazem apenas cerca de 25% do total. Alm disso, a maioria dos remanescentes nativos de pequeno porte, encontrando-se isolados uns dos outros. Assim, h a necessidade de se

rea 2: localizada no entorno da Lagoa do Sumidouro, prximo a Fidalgo e Quinta do Sumidouro. Trata-se de um complexo de remanescentes que engloba reas de cerrado, cerrado, mata decidual, alguns trechos de formaes secundrias e a rea que seria destinada ao Parque do Sumidouro 1 . A retomada do processo de criao desse Parque ou sua conformao em outra categoria de unidade de conservao fundamental para se atingir os objetivos pertinentes a uma APA e, em especial, dessa Zona-Ncleo. rea 3: localiza-se na parte sul, entre Santa Helena, Lagoa Santa e Confins, nas imediaes do Aeroporto Internacional Tancredo Neves. Essa rea estende-se desde o Cerrado Promisso, nas proximidades da Lagoa Olhos

1

O Parque do Sumidouro foi criado em 03-01-80, Decreto n 20375, como medida compensatria construo do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, na regio de Confins. Em 17-06-80, o Governo do Estado instituiu uma Comisso de Coordenao com o objetivo de orientar as atividades de uso e ocupao do solo na rea do Parque, alm de identificar e gerenciar aes que visassem efetiva implantao da unidade. Essa comisso foi dissolvida e o decreto de criao do Parque caducou em 1985. Protegido a partir da Resoluo n 4 de 9-10-1995, que assegura um raio de proteo de 20 km a partir do centro geomtrico do aerdromo.

2

41 24

Estudo do Meio Bitico

CPRM Servio Geolgico do Brasil

promover a interligao entre esses remanescentes, visando incrementar o tamanho efetivo da rea disponvel para as espcies que dependem de determinados ambientes. A criao de corredores, conectando remanescentes florestais, tem sido um dos principais aspectos abordados para o manejo de regies fragmentadas, sempre com vistas diminuio das chances de extino local de espcies nativas (Forman & Gordon, 1986; Bierregaard Jr., 1990; Laurence, 1990; Newmark, 1991; Stacey & Taper, 1992; van Apeldoorn et al., 1992 e Merriam, 1994). Entretanto, para que tais corredores funcionem efetivamente, necessrio que conectem reas fragmentadas com reas que funcionem como fonte colonizadora. As reas propostas como Zona-Ncleo tm, como uma de suas funes, promover esse suprimento gnico. No contexto regional, as interaes da fauna e da flora extrapolam os limites da APA e, assim, a manuteno de sua biodiversidade depender,

tambm, das condies existentes no seu entorno. A proposta de zoneamento para uma rea pressupe a regulamentao do uso da terra em cada zona definida. A tabela 9 apresenta as recomendaes e restries de uso das zonas propostas para a APA Carste. As sugestes das atividades esto em consonncia com o atual uso da terra na rea, com a proposta de gesto da APA1 e com o desenho final do zoneamento ora proposto. Entretanto, a efetivao dessa poltica de usos e restries somente ser alcanada caso seja observada e cumprida a atual legislao florestal (Lei n. 10561/91). Ateno especial dever ser dada s reas de preservao permanente (encostas e margens de cursos dgua) e s reservas legais (porcentagem de no mnimo 20% de cada propriedade). Por se tratar de uma rea de Proteo Ambiental, o mnimo que se espera das autoridades competentes a fiscalizao e a exigncia no cumprimento da Lei.

1

Elaborado pela Fundao Biodiversitas, atravs de um convnio com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

25

Zoneamento Ambiental da Apa Carste de Lagoa Santa

P rojeo U T M (coordenadas em m etros)0 2 ,5 3 ,7 5 5 km

L egen d aZ o n a N c le o Z ona Tam po Z o n a d e U so E x te n siv o Z o n a d e U so In te n siv o rea s u rb a n as M in e ra e s L agoas

N

14

2 12 13

11 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

3 4

Q uin ta do Sum idouro Fidalgo C am pinho de B aixo L apin ha Santa H elena L ago a Santa Vesp asiano Tavares L ago a dos M ares C onfins L ago a de Santo A ntnio M oca m beiro M ato zinhos Q uin tas da Faz endinha9 8 10

5

6

7

Figura 7 - Proposta de Zoneamento do Meio Bitico.

41 26

Estudo do Meio Bitico

DIRETRIZES DE USO

ZONA NCLEO Minerao Pecuria Silvicultura Cultura de Subsistncia Explorao de madeira Indstria Turismo ecolgico Pesquisa cientfica

ZONA TAMPO Minerao Pecuria extensiva Silvicultura com espcies exticas Indstria

ZONA DE USO EXTENSIVO Indstria (desde que aprovada pelo Conselho da APA1 )

ZONA DE USO INTENSIVO Observar lei de uso e ocupao do solo dos municpios, plano diretor municipal e legislao ambiental

RESTRIES

PERMISSES

Indstria caseira Turismo ecolgico Pesquisa cientfica Pecuria intensiva em pastagens j existentes Cultura de subsistncia Explorao sustentada de madeira Indstria caseira Turismo ecolgico Recuperao de reas degradadas Pesquisa cientfica

Turismo ecolgico Pesquisa cientfica Pecuria intensiva e extensiva em pastagens j existentes Cultura de subsistncia Explorao sustentada de madeira Indstrias caseiras

Indstria Minerao Centros Urbanos

RECOMENDAES

Recuperao de reas degradadas Pesquisa cientfica

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1

Proposto pelo Plano de Gesto da APA Carste de Lagoa Santa - Fundao Biodiversitas / IBAMA.

Tabela 9 - Diretrizes propostas para o uso da terra.

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Zoneamento Ambiental da Apa Carste de Lagoa Santa

5 - CARACTERIZAO DO MEIO BITICO5.1 - Histrico dos Estudos na RegioO rico patrimnio paleontolgico das grutas atraiu, para a regio de Lagoa Santa, o naturalista dinamarqus Peter W. Lund, que a fixou residncia em 1835. Apesar de ter como interesse principal as formaes calcrias e seus fsseis, esse naturalista ocupou-se tambm das cincias naturais em geral. Sua permanncia em Lagoa Santa atraiu para a regio diversos naturalistas que contriburam de forma decisiva para o conhecimento zoolgico e botnico. Em alguns aspectos, a contribuio desses naturalistas no foi ultrapassada at os dias de hoje. Nos primeiros anos de sua estada em Lagoa Santa, Lund ocupou-se, dentre outras coisas, da coleta de exemplares zoolgicos que eram ento enviados ao Museu de Zoologia de Copenhague. Tais coletas foram realizadas no s em Lagoa Santa, mas tambm em seus arredores, muitos dos quais, situados dentro do limite da APA (Pinto, 1952). A regio de inigualvel importncia para a paleontologia brasileira, tendo Lund registrado mais de uma centena de espcies de mamferos, entre extintas e atuais. Inmeras espcies de mamferos tm nessa regio sua localidade-tipo. Talvez a grande contribuio de Lund ornitologia lagosantense tenha sido a de ter recrutado o zologo dinamarqus Reinhardt para se ocupar das coletas zoolgicas, enquanto ele se dedicava inteiramente s grutas e aos fsseis. De 1847 a 1855, Reinhardt coletou inmeros espcimes em Lagoa Santa e arredores. A contribuio de Reinhardt ornitologia supera em muito a de Lund, cabendo a Reinhardt, de volta Dinamarca, estudar o material colecionado por ambos, no qual se baseou para escrever sua importantssima contribuio ao conhecimento da avifauna dos campos do Brasil, em 1870 (Pinto, 1952). Destacam-se tambm o botnico E. Warming, que coletou exemplares de aves descritos no trabalho de Reinhardt e o naturalista H. Burmeister, que deixou preciosa narrativa de sua passagem pela regio, com referncias minuciosas fauna (Pinto, op.cit.). Estudos ornitolgicos recentes desenvolvidos na regio foram os de Carnevalli (1973), Freitas & Andrade (1982), Andrade (1983) e Andrade et al . (1983), constando principalmente de listagens de espcies. Christiansen & Pitter (1994) estudaram as conseqncias da fragmentao das matas sobre a comunidade de aves florestais, comparando a avifauna presente com a do sculo passado. Alm desses, foram feitos levantamentos de aves para integrarem relatrios de impacto ambiental de algumas das grandes mineradoras presentes na rea (Brandt, 1990; 1993). A vegetao de Lagoa Santa foi estudada pela primeira vez por Eugenius Warming, entre os anos de 1863 e 1866, perodo no qual coletou mais de 2600 espcies de plantas, muitas das quais foram distribudas entre diversos botnicos europeus para estudos sistemticos. Com os dados coletados, Warming publicou, em 1892, o primeiro tratado sobre ecologia vegetal, no qual salienta a enorme diversidade florstica da regio. A bibliografia referente vegetao escassa e constituda de trabalhos esparsos, como os de Reis & Barbosa (1993) e de Pelli (1994) sobre a flora e a ecologia de macrfitas aquticas. O estudo de Pedralli et al. (1995), incluindo a caracterizao e o mapeamento da cobertura vegetacional da APA, serviu de base para a presente etapa de zoneamento. Carvalho (1995) elaborou um estudo sobre as transformaes do Cerrado de Lagoa Santa e a percepo humana desse processo. Apesar de localizada prxima a um grande centro urbano, pouco se sabe sobre a flora e a fauna da regio, sendo que basicamente o nico inventrio abrangente foi o realizado por Lund e demais naturalistas, ainda no sculo passado. Muito do reconhecido trabalho desses naturalistas est registrado nos seus relatos de viagem e nas colees dos museus. Contudo, a regio vem sofrendo fortes presses antrpicas (desmatamentos, mineraes, expanso urbana) nos ltimos anos, sendo impossvel avaliar o que existe hoje, a partir dos estudos feitos no sculo passado. Assim, o presente estudo foi orientado a avaliar a flora e a fauna da regio como um todo,41 28

Estudo do Meio Bitico

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sempre procurando a aspecto da explorao antrpica dos recursos naturais sua conservao.

5.2 - FloraForam registradas 600 espcies vegetais, distribudas em 95 famlias botnicas. As espcies encontradas e a tipologia vegetal em que foram registradas so apresentadas na tabela 10. As espcies com populaes densas foram bem amostradas, enquanto as com baixa densidade certamente foram subestimadas, em funo das caractersticas deste estudo, pois o tempo limitado das campanhas de campo permitiu apenas uma visita maioria dos locais, sempre realizada com seriedade, sem privilegiar nenhuma rea. Os principais parmetros analisados so apresentados na tabela 10. O Cerrado Imprio apresentou a maior densidade de indivduos, maior nmero de espcies e maior ndice de diversidade de Shannon (3420 ind/ha, 89 espcies e 3,74). Esse fato pode ser atribudo principalmente ausncia de distrbios antrpicos recentes. A Mata Lagoa da Cauaia apresentou a segunda maior densidade e rea basal, denotando seu bom estado de conservao, porm com um ndice de diversidade inferior a outras matas, em funo da grande presena de algumas espcies dominantes. A Mata Castelo da Jaguara apresenta o segundo maior nmero de espcies (77) e ndice de diversidade (3,72). A menor densidade (1472 indivduos em 1 hectare), foi apresentada pelo Cerrado Sumidouro, que sofreu impactos de origem antrpica em um passado recente. O menor nmero de espcies foi dado pelo Cerrado Aeronutica (43), e o menor ndice de diversidade ocorreu na Mata Infraero (2,85). Em graus variveis, todos os pontos de amostragem apresentam uma proporo significativa de espcies, com potencial de oferta de recursos alimentares para a fauna. Em relao estrutura, as reas tambm apresentam variaes em seu estgio de conservao. A presena de cips praticamente foi registrada apenas nos ambientes florestais, o que aumenta o grau de conectividade entre os estratos. A densidade de indivduos mortos variou de 28% na Mata da Lapinha, em

fase intermediria de regenerao, at apenas 9% no Cerrado Sumidouro, onde a retirada de lenha provavelmente contribuiu para diminuir essa porcentagem. A riqueza especfica e a densidade do sub-bosque nas formaes amostradas tambm retratam a conservao das reas. Matas em regenerao como a Mata da Lapinha apresentam estrato herbceoarbustivo denso, enquanto a roada do subbosque, para facilitar a penetrao de gado, responsvel pela baixa densidade da Mata Vargem Comprida. No Cerrado Sumidouro, que sofreu cortes recentes, o estrato inferior rico em espcies representantes dos diferentes estratos, em regenerao.

5.3 - OfidiofaunaForam registradas 16 espcies de serpentes, agrupadas em 15 gneros e quatro famlias, num total de 52 indivduos. Vrios autores (Cunha & Nascimento, 1978; Sazima, 1989) relataram que o encontro com serpentes fortuito, pois elas se movimentam continuamente pelos ambientes, dificilmente apresentam uma rea de uso definida, no possuem populaes elevadas ou concentradas, muitas apresentam comportamento crptico, escondem-se bem de perseguidores e intrusos e so rpidas na fuga. Assim, para complementar os dados deste estudo, todas as informaes adicionais foram levadas em considerao. A cascavel (Crotalus durissus) foi a espcie mais freqente, sendo registrada em nove dos dez pontos de amostragem, alm de ter sido relatada com freqncia pelos moradores locais. A coral-verdadeira (Micrurus frontalis), apesar de ser uma espcie mais difcil de ser encontrada devido aos seus hbitos fossoriais e semifossoriais, foi tambm de freqncia relativamente alta. As espcies diagnosticadas so tpicas de reas abertas de cerrado e algumas ocorrem tambm em outras formaes, como a Mata Atlntica e Floresta Amaznica (Peters & Orejas-Miranda, 1970; Cunha & Nascimento, 1978; Vanzolini, 1986; Campbell & Lamar, 1989). O nmero de espcies de serpentes registrado (16) pode ser considerado representativo29

Tipologias vegetacionais

reas Mata Lagoa da Cauaia

Indivduos amostrados 576 443 449 389 421 491 501 368 855 389 461

Densidade (ind/ha) 2304.00 1772.00 1796.00 1556.00 1684.00 1964.00 2004.00 1472.00 3420.00 1556.00 1844.00

Espcies 59 47 78 69 62 55 66 68 89 43 57 63 61 29 10 18 25 9 0 4 0 0

cips % 10.94 13.77 6.46 2.57 4.28 5.09 1.80 0.00 0.47 0.00 0.00

rvores mortas Nm. 22 28 25 16 17 16 25 9 25 20 18 % 3.82 6.32 5.57 4.11 4.04 3.26 4.99 2.45 2.92 5.14 3.90

Ar. Basal (m /ha)2

Diversidade 3.05 3.11 3.72 3.66 3.06 3.17 2.85 3.38 3.74 3.4 3.36

Sub-bosque Espcies (ind/m )2

Frutferas (%) 62.00 50.00 59.00 36.00 62.00 65.00 59.00

amostradas Nm.

40.32 21.36 30.96 37.44 23.48 36.48 21.28 13.34 29.24 14.44 15.6

32 36 57 41 39 23 61 70 44 54 53

1.58 2.69 2.45 1.26 1.47 1.52 2.34 2.09 2.05 1.75 1.47

Floresta Mata Lapinha Estacional Semidecidual Mata Castelo da Jaguara Mata Vargem Comprida Floresta Estacional Decidual Transio mata-cerrado Cerrado Sumidouro Cerrado Cerrado Imprio Cerrado Infraero Cerrado Promisso Mata Poes Mata da Horta Mata Infraero

Zoneamento Ambiental da Apa Carste de Lagoa Santa

27.00 42.00 34.00 37.00

Legenda: ind/ha - indivduos por hectare nm - nmero ar.ba - rea basal m2/ha - metro quadrado por hectare ind/m2 - indivduos por metro quadrado

Tabela 10 - Principais caractersticas da composio e estrutura das formaes vegetais amostradas entre setembro de 1995 e maro de 1996.

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Estudo do Meio Bitico

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quando comparado a outros levantamentos: Lima-Verde (1976) observou 20 espcies na Chapada do Apodi, entre o Cear e o Rio Grande do Norte, Strussmann (1992) registrou 26 espcies no Pantanal de Pocon e Feio & Cotta (1992) registraram 38 espcies no mdio Rio Jequitinhonha, MG. Dentre as reas amostradas, a maior riqueza de espcies de serpentes foi registrada na Fazenda Peri-Peri, abrigando 56,2% de todas as espcies detectadas (Tabela 11). As duas espcies de viperdeos registradas foram Crotalus durissus e Bothrops neuwiedi. Ambas tm hbitos noturnos, mas podem ser encontradas em atividade durante o dia. So peonhentas, ou seja, matam suas presas por envenenamento. A dieta composta basicamente de pequenos mamferos, aves e lagartos, e os jovens podem alimentar-se de anfbios anuros. A cascavel (Crotalus durissus) foi registrada em toda a rea de estudo, preferindo ambientes abertos, secos, pedregosos e pastos. bastante conhecida pela populao local, provavelmente pela presena de chocalho na ponta da cauda, o que caracteriza a espcie. A cascavel responsvel por aproximadamente 8% dos acidentes ofdicos ocorridos no pas. A jararaca-de-rabo-branco (Bothrops neuwiedi), apesar de ter sido coletada em apenas dois pontos de amostragem, provavelmente existe em toda a rea de estudo. A espcie encontrada em ambientes mais fechados e nas proximidades de gua. conhecida na regio por jararacuu e no identificada como

venenosa, o que a torna ainda mais perigosa. As serpentes do gnero Bothrops so responsveis por 80% dos acidentes ofdicos no pas. As espcies de corais-verdadeiras (elapdeos) registradas foram Micrurus frontalis e Micrurus lemniscatus. So semifossoriais, vivem em galerias no solo, mas freqentam a superfcie, muitas vezes procura de alimento. Tm hbitos diurnos e/ou crepusculares e alimentamse de outras serpentes e anfisbendeos, utilizando seu veneno para matar as presas. Quando em perigo, algumas achatam a parte posterior do corpo, levantam e enrolam a cauda, como um rabo de porco, dando a impresso de que se trata da cabea, enganando seus predadores e suas vtimas. As corais so responsveis por aproximadamente 1% dos acidentes ofdicos no pas os quais, apesar de raros, so sempre considerados graves, devido alta toxicidade do veneno. Apenas uma espcie de bodeo foi registrada na rea de estudo. A jibia (Boa constrictor) uma serpente de grande porte, arborcola, raramente descendo ao cho. ativa no perodo da noite, alimenta-se de mamferos de pequeno e mdio porte, aves e lagartos, matando-os por constrico, sendo, portanto, no peonhenta. Os colubrdeos, espcies no-peonhentas, contriburam com o maior nmero de espcies, num total de onze, o que j era esperado, pois nessa famlia est o maior nmero de espcies de serpentes conhecidas at o momento. Drymoluber brazili e Phimophis iglesiasi so espcies raras. D. brazili possui hbitos arborcolas, onicarnvora e ovpara (Cunha & Nascimento, 1978). Pouco se sabe a respeito

rea de amostragem Fazenda Cauaia Fazenda Castelo da Jaguara Fazenda Poes Fazenda Peri - Peri Fazenda da Lapinha Lagoa dos Mares Fazenda Cerca Grande Aeroporto Internacional Tancredo Neves Fazenda Imprio Fazenda Girassol

Nmero de espcies 5 2 3 9 5 3 7 4 4 2

% 31,2 12,5 18,7 56,2 31,2 18,7 43,7 25,0 25,0 12,5

Tabela 11 - Nmero de espcies de serpentes registrado por rea de amostragem e representatividade da ofidiofauna.

31

Zoneamento Ambiental da Apa Carste de Lagoa Santa

da biologia de P. iglesiasi, espcie tpica do cerrado brasileiro. As espcies Waglerophis merremi (xatadeira) e Liophis poecilogyrus (jararaquinha) tm comportamento deimtico (exposio de formas, cores ou aumento do tamanho do corpo como defesa) achatando-se dorso-ventralmente na regio do pescoo, quando na presena de agressores (Amaral, 1977; Sazima & Haddad, 1992). Waglerophis merremi terrestre, alimenta-se de sapos e imune ao seu veneno cutneo (Amaral, 1977). Liophis poecilogyrus terrestre, ativa durante o incio do dia e da noite e alimenta-se preferencialmente de anfbios anuros. A dormideira (Leptodeira annulata) tem ampla distribuio na zona tropical, possui hbitos noturnos e arborcolas. Alimenta-se de girinos, rs e lagartos, dcil, tmida e raramente morde, apesar de possuir dentes posteriores inoculadores de secreo txica letal para pequenos vertebrados (Cunha & Nascimento, 1978).

Professor Alfredo Balena, 400, Belo Horizonte, que conta com uma equipe de mdicos capacitados para realizar esse tipo de atendimento e com disponibilidade de soros antiofdicos.

5.4 - AvifaunaFoi registrado um total de 216 espcies de aves (Anexo 3), sendo 99 no-Passeriformes (18 ordens e 33 famlias) e 117 Passeriformes, agrupadas em 13 famlias. O nmero de espcies amostrado expressivo pois corresponde a aproximadamente 27,7% da avifauna do Estado de Minas Gerais (Mattos et al., 1994) e 28,3% da avifauna do bioma cerrado (Silva, 1995a), no qual a rea se insere. A famlia Tyrannidae (bem-te-vi, papa-moscas, suiriris e afins) foi a mais bem representada, com 43 espcies (20% do total) seguida por Emberizidae (sanhaos, saras, papa-capim) e Furnariidae (joo-de-barro, joo-graveto, arapaus) com 31 e 15 espcies, respectivamente. Juntas, essas famlias contribuem com 41% das espcies amostradas. As famlias Thamnophilidae (chocas) com 8 espcies, Ardeidae (garas), Columbidae (pombas), Psittacidae (papagaios) e Picidae (pica-paus) com 7 espcies cada uma perfazem 16% do total. Os 43% restantes esto distribudos entre outras 38 famlias. A composio da avifauna das savanas neotropicais, em termos de abundncia de espcies, dominada pelos tirandeos (Fry, 1983), maior famlia de aves das Amricas (Sick, 1985). Alm dos tirandeos, as famlias mais representadas (Emberizidae e Furnariidae) apresentaram um padro semelhante ao citado por Fry ( op. cit. ) e encontrado em outros trabalhos na regio do cerrado (Fry, 1970). Dentre as espcies registradas na rea de estudo, ressalta-se a ocorrncia do colhereiro (Ajaia ajaja), espcie recentemente includa na lista das ameaadas de extino da fauna do Estado de Minas Gerais, na categoria ameaada-vulnervel (COPAM, 1996). Essa espcie foi observada na Lagoa do Sumidouro, no final de outubro e em novembro. Foi registrado um mximo de 14 indivduos forrageando e descansando no local. Warming (1892) menciona a ocorrncia de bandos de barulhentas garas cor-de-rosa ou colhereiros na Lagoa do Sumidouro, bem como Reinhardt41 32

Oxyrhopus guibei uma falsa coral que apresenta um padro de colorao semelhante ao padro de corais verdadeiras. Possivelmente o colorido em bandas seja uma estratgia de defesa dessa espcie, j que evitada por predadores (Marques & Puorto, 1991). Sibynomorphus mikani uma espcie bastante comum em ambientes antrpicos. confundida com jararacas e recebe o nome comum de jararaquinha-de-jardim ou dormideira. uma espcie dcil, de pequeno porte e no representa perigo para o homem. Chironius carinatus, Philodryas olfersi e Philodryas patagoniensis so conhecidas popularmente como cobras-cip, devido forma alongada do corpo e hbitos arborcolas. As trs espcies so agressivas e P. olfersi pode causar envenenamento em humanos, com efeitos locais que podem ser intensos (Campbell & Lamar, 1989).Nas visitas realizadas aos hospitais, postos de atendimento de urgncia e centros de sade da regio, foi verificado que, no caso de acidentes envolvendo serpentes peonhentas, o correto encaminhar o paciente para o Hospital Pronto Socorro Joo XXIII Atendimento de Urgncia, localizado na Av.

Estudo do Meio Bitico

CPRM Servio Geolgico do Brasil

(1870) in (Pinto, 1952). Entretanto, Freitas e Andrade (1982) consideraram essa espcie extinta na regio o que, felizmente, constatamos no ser verdadeiro. Cerca de 30% das espcies registradas na rea (64 espcies) so consideradas migratrias, de acordo com dados de bibliografia (Sick, 1985; Ridgely & Tudor, 1989; 1994). Como o presente estudo no se desenvolveu ao longo de um ano inteiro, no se pode confirmar a ocorrncia de comportamento migratrio na regio para todas essas espcies. A anlise do padro migratrio s vezes complexo, visto que muitas espcies so parcialmente migratrias, ou seja, parte da populao migrante e parte residente, podendo haver sobreposio de populaes distintas (Sick, 1985). A migrao ocorre por motivos diversos, entre eles trficos, reprodutivos, mudas de penas e alteraes no nvel dgua. No domnio do cerrado se verifica um fluxo migratrio que chega regio, coincidente com o perodo chuvoso da primavera (Negret, 1988). Esse fluxo coincide com a poca de maior abundncia anual de insetos, quando as primeiras chuvas incentivam essa emergncia, especialmente dos adultos alados das espcies sociais (formigas e cupins). As migraes de vrias espcies de aves so possivelmente estratgias oportunistas, aproveitando a abundncia de insetos que, so alimento suficiente para permitir a reproduo dos adultos e alimentao dos jovens (Cavalcanti, 1988; Negret, 1988). Dentre as espcies consideradas migratrias, 55% (34 espcies) so no-Passeriformes, sendo que do total, 35% (23 espcies) so aves aquticas, muitas delas observadas na Lagoa do Sumidouro, como as diversas espcies sde ardedeos (garas), tresquiornitdeos (colhereiro), anatdeos (patos e marrecos), raldeos (saracuras), caradr