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#35anos ESCOLA DA VILA 35 ANOS ESCREVENDO HISTÓRIAS E DESPERTANDO MEMÓRIAS.

35 anos da Escola da Vila · 5 Por Sônia Barreira Não é só a Escola da Vila que faz 35 anos em 2015. Também faço eu, 35 anos de Vila! É um tempo tão grande, que escrever sobre

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#35anos ESCOLA DA VILA35 ANOS ESCREVENDO HISTÓRIAS E DESPERTANDO MEMÓRIAS.

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ESCOLA DA VILA

35 anos escrevendo históriase despertando memórias

A gente nasce todos os dias. Novos contatos, novas histórias. E, de repente, temos 35 anos e nossa curiosidade se renova a ponto de querer perguntar:

Quando você chegou aqui? Por que veio? Encontrou o que buscava? Passou muito tempo ou foi um encontro breve? Foi importante para você? O que o marcou? Fez amigos? Onde estão? Aprendeu, e para que serviu? Lembra-se dos detalhes ou só dos acontecimentos marcantes? Uma frase ou uma pessoa inesquecível, você guardou na memória? E... como veio parar aqui? Alguém o trouxe? Alguém lhe falou sobre? E o que mais? Sofreu, chorou, sorriu, gargalhou? O que você viveu na Vila? Quer compartilhar conosco?

Em 2015 celebramos nossos 35 anos e decidimos comemorar nos vendo através dos olhos, das percepções e lembranças dos pais, mães, alunos, ex-alunos, professores, funcionários, participantes dos cursos, assessores, amigos.

Recebemos muitas histórias que emocionaram, alegraram, provocaram risadas e lembranças importantes e significativas. Enchemo-nos de orgulho ao constatar a importância desta escola na vida de tantas pessoas.

Esta revista traz as 35 histórias mais curtidas e comentadas em nossas redes sociais.

Agradecemos a todos que compartilharam conosco momentos tão especiais.

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Índice

#naprimeiradecada ......................... 4

Sônia Barreira ............................... 5

Zélia Cavalcanti ............................ 8

Roseles N. Turatto, Rô. ................. 11

Rosa Iavelberg ............................ 12

Áurea Trigo .................................. 14

Maria Cristina Pereira (Cris Preta) .................................. 18

Ana Paula Yazbek ........................ 20

Maria da Penha Brant ................. 22

Fernanda Flores .......................... 25

Marta Durante - Diretora pedagógica da Escola Santi......... 27

#nasegundadecada ....................... 29

Susane Lancman Sarfatti ............ 30

Wanilda Tieppo ........................... 33

Tiê Parma Yamato ....................... 36

Andréa Polo ................................. 37

Edison Leite de Magalhães .......... 39

Sandra Durazzo ........................... 40

Angela Kim .................................. 43

Daniela Munerato ........................ 44

Júlia Abrão .................................. 46

Marcos Mourão (Marcola) ............ 47

Aline Gasparini Montanheiro ....... 51

Monica G. Fortunato Friaça ......... 53

#naterceiradecada ........................ 55

Gabriella Leão Ferraz Montiel e Mariana Segueira Rocha .......... 56

Emerson Marinheiro .................... 57

Fermín Damirdjian ...................... 60

Andrea Aly .................................. 65

Andrea Monteiro .......................... 67

João Colombero .......................... 71

Carina Contarini Dietrich ............. 73

Débora Delmaschio Crotti ........... 78

Rogê Carnaval ............................. 80

Miruna Genoino ........................... 84

Rui Piranda, marido de Adriana, pai de André, Olívia e Pedro ......... 88

Fernanda de Lima Passamai Perez ........................... 90

Renata Marzola .......................... 92

Cida, Luzinete, Sílvia Irene e Vera .......................................... 95

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#naprimeiradecada

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Por Sônia Barreira

Não é só a Escola da Vila que faz 35 anos em 2015. Também faço eu, 35 anos de Vila!

É um tempo tão grande, que escrever sobre ele fica parecendo impossível. Adio, evito, busco algo que já escrevi no passado, perco no computador, desvio da tarefa o mais que posso. Como abordar? O que contar? De qual ponto de vista?

Decido evitar o pessoal, afinal, o texto será publicado e talvez seja inadequa-do misturar os dois universos. Mas, me lembro que uma vez ouvi alguém dizendo que, no caso do educador, quando ele separa demais o pessoal do profissional ambos saem perden-do. Faz sentido! Viver dos 22 anos de idade aos 57 anos trabalhando diaria-mente em uma escola te mostra que essa mistura é inevitável!

Vida com os filhos que crescem ami-gos de alunos que se tornam quase filhos. Vida com os colegas que com-partilham conhecimento, emoções, angústias, conflitos, e se tornam que-ridos amigos. Vida com famílias diver-sas que acompanhamos de perto e que se misturam com a nossa. Alunos que crescem e se vão, mas voltam e se tornam profissionais e colegas. Peque-nos que se tornam adultos tão incrivel-mente rápido, e trazem seus filhos para oferecer a eles os desafios de uma for-mação que receberam de pessoas em quem confiam. Colegas que saíram e voltam com seus netos, retomando la-ços e reavivando memórias. Vida com

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perdas dolorosas, trajetórias interrompidas que jamais serão esquecidas. Viver na escola é viver a vida de muitas pessoas ao mesmo tempo, suas dores, seus medos, suas conquistas. Mas, certamente, não é o melhor viés para falar dos 35 anos da Es-cola da Vila… seria impossível.

Então, talvez, a cronologia me salve. Começo abordando a espontaneidade e a criatividade da escola que definiu seu DNA em seus dez primeiros anos, depois abordo a capacidade de produzir e inovar que nos fez crescer tanto nos dez anos se-guintes, depois relato a formação de uma equipe que influenciou tantos educadores e escolas de

todo o país em outros dez anos, e, depois, finalizo com as convicções solidificadas dos últimos cinco anos acompanhada de novas e intensas inquietações!

Mostro a utopia presente todo o tempo, alimentando nossa equipe e não nos dei-xando acomodar, impulsionando nossas buscas e afastando sempre de nós a sa-tisfação completa com o nosso trabalho, pois cada vez que nos aproximamos dela verificamos que podemos mais e podemos melhor, deixando a marca da inquietu-de no nosso cotidiano. Bom, mas a memória não me ajudará, e essa trajetória será contestada. Já imagino alguém me corrigindo: “Não foi nesse ano, isso foi antes daquilo”, e assim por diante. Não, a sequência cronológica não me ajudará nesse texto difícil!

Não posso, também, citar nomes, pois omitirei outros tantos; contar os casos pi-torescos, nem pensar, esbarraria certamente na ética. Que tal as anedotas, as si-tuações inusitadas, surpreendentes, engraçadas, melhor não, podem ofender os gregos e alegrar apenas os troianos. Não posso lembrar os momentos difíceis, pois já me esqueci deles e não posso destacar os momentos de construção do Projeto Pedagógico, pois seria muito chato para os leitores não educadores! Não… não posso, não posso, não posso. O texto começa a ficar impossível.

E se eu falasse apenas dos sentimentos, para variar um pouco?

Falar do meu profundo orgulho e emoção a cada formatura das turmas dos tercei-ros anos, pela convicção de que entregamos ao mundo, ao país, à nossa cidade, pessoas verdadeiramente críticas e comprometidas com um mundo melhor?

Quero apenas agradecer a todos que fizeram e fazem desta escola um lugar especial, e um lugar em que vale a pena viver!

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Falar da minha alegria de conviver com uma equipe séria, competente, cooperativa e igualmente comprometida com a construção de um país mais justo, através da educação de crianças e jovens, e da participação na vida cidadã?

Falar como me sinto privilegiada pelo fato de a Escola da Vila ter-me feito acre-ditar na escola como uma instituição fundamental para a preparação dos alunos para a vida em sociedade? Para uma vida mais cooperativa e menos competitiva, mais aberta a novas ideias e menos cheia de certezas, mais sensível ao diferente e menos individualista!

Não haveria espaço para expressar tudo o que realmente sinto e vivo na Escola da Vila, e não quero cansar ainda mais os leitores que chegaram até aqui. Quero ape-nas agradecer a todos que fizeram e fazem desta escola um lugar especial, e um lugar em que vale a pena viver!

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Por Zélia Cavalcanti

Entre o passado e o futuro

Quando, em 1978, resolvi abandonar o doutorado em história contemporânea do Brasil, na FFLCH, para trabalhar em uma escola de educação infantil, que minha filha começara a frequentar no ano anterior, ainda não conhecia o livro de Han-nah Arendt cujo título tomei emprestado para nomear esse post e, com o qual tanto aprenderia anos depois.

O desencanto com a carreira universitária, que se mostrava, para mim, muito so-litária, e o encantamento com a animada e ruidosa curiosidade das crianças por tudo que as cerca provocaram essa mudança de rumo profissional. Deixei a mo-nitoria de seminários para grupos de veteranos do departamento de História e aceitei o convite para ser professora de uma classe de nove crianças de cinco anos de idade do período vespertino na Escola Criarte.

Gostei. Tanto que, em 1980, aceitei o convite para participar do grupo fundador da Escola da Vila, Pré-escola e Centro de Estudos. Professora, responsável pelo

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atendimento de pais, de novo professora e depois coor-denadora de educação infantil, professora em cursos do assim se passaram três décadas e meia.

Durante esses anos, aprendi muito. Aprendi com as crianças, que me ensinaram a querer saber mais sobre elas, tanto pelo convívio cotidiano como pelo que estudei para melhor conhecê-las. Aprendi com os outros profissionais: os colegas desde o início, os que chegaram e ainda estão, e os que passaram.

Hoje tenho absoluta certeza de que, por mais que me dedicasse a ler e a estudar, sem as múltiplas interações que tive oportunidade de viver nesse período não teria aprendido o que hoje sei sobre educar e ser educador.

O tempo passou e, com ele, o meu tempo na escola. No próximo ano deixarei as

atividades relacionadas ao Centro de Formação, que vinha realizando nos últi-mos quinze anos.

Saber que continuarei vinculada a essa maneira particular de pensar e fazer edu-cação escolar, podendo, como já aconteceu anteriormente, compartilhar o co-nhecimento construído na Vila em outros projetos, é o que me dá plena certeza de que fiz a coisa certa quando, em 1978, deixei de olhar para o passado (pesqui-sando e ensinando história) e passei a me dedicar ao futuro, colocando todo meu interesse na educação das novas gerações.

As crianças me ensinaram a querer saber mais sobre elas.

atendimento de pais, de novo professora e depois co-ordenadora de educação infantil, professora em cur-sos do Centro de Estudos, coordenadora do Centro de Formação. E assim se passaram três décadas e meia.

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A primeira casa, na Vila Madalena

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Por Roseles N. Turatto, Rô.

Quando cheguei aqui, a Vila já tinha 9 anos de exis-tência. Entrei como datilógrafa e, lembro bem, ficá-vamos todas juntas numa única sala, ali no casarão, eu e todos os setores administrativos… Éramos poli-valentes, fazíamos de tudo um pouco, embora cada

um na sua função. Acompanhei o crescimento deste lugar sempre com muita admi-ração e orgulho, percebendo que aqui, de fato, havia profissionais capazes de levar adiante um trabalho sério, com a mesma intensidade e amor de quem cria um filho.

Nos esbarrávamos o tempo todo nessa dinâmica do saber e do construir, construir um lugar onde se pensava essencialmente no aluno como um ser em cons-trução, de autonomia e capaci-dade para exercer a cidadania na essência da palavra.

Todos me conhecem como Rô… Mas Rô de quê? E para quem não sabe, é Rô de Roseles, esse é meu nome, embora conhecida por muitos como Rodriga, nome esse inventado pela Sônia, quando, numa abordagem de um aluno chamado Rodrigo, lhe perguntou: “Se você é Rô de Rodrigo, a Rô é Rô de quê?” E ele, na maior propriedade dos seus 3 anos de idade, virou-se e disse: “É Rô de Rodriga!!!”… rs… E assim fiquei conhecida pelos antigos daqui!

Ah… Quantas histórias!!! Construídas por todos que me acompanharam nessa tra-jetória e pelos quais eu tenho gratidão, respeito e agradecimento profundos!

A todos que me ajudaram a chegar até aqui, solidificando o meu trabalho e a minha vida, agradeço pelo muito que recebi!

Parabéns, minha querida Escola da Vila… Escola da minha vida!!!

Ah… Quantas histórias!Construídas por todos que me acompanharam nessa trajetória.

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Por Rosa Iavelberg

Participei da Escola da Vila como sócia fundadora. Antes pertenci à sociedade da Escola Criarte, que antecedeu a Vila.

Passar da Escola Renovada à Contemporânea, junto a diferentes equipes, foi uma bela caminhada. Sempre se estudava, tendo como referência a prática em sala de aula. A atualização também chegava às equipes pela interlocução com muitos pro-fissionais brasileiros e estrangeiros, que trabalharam no Centro de Estudos ou na própria Vila.

Cursei bacharelado em arquitetura da USP. Lá fiz mestrado e doutorado e também duas especializações em arte-educação na Escola de Comunicações e Artes. Entre-tanto, minha formação substantiva em Educação e Arte-educação deu-se na Criar-te e depois na Vila.

A referência dessa formação e do modo como se concebia a prática educativa nas referidas escolas orientam minhas ações profissionais até hoje. Parei de trabalhar

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na Vila em 1995, mas prossegui como uma das participantes da diáspora vilaiana, às vezes em equipes junto a outros ex-membros da Vila, que agora ocupam novos territórios.

Penso que é bom valorizar e não esquecer nossa origem profissional, afinal ela nos constituiu. Hoje, sou profes-sora de Metodologia do Ensino da Arte na Faculdade de Educação da USP e tenho dois netos que frequentam a escola: Júlia, de 9 meses, está no Berçário da Vila e Sofia, de 7 anos, no 2º ano do Ensino Fundamental. Esse pro-longamento da existência da Escola em minha vida nem poderia ser diferente, em razão do feitiço da Vila.

A referência dessa formação orienta minhas ações profissionais até hoje.

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Por Áurea Trigo

Memória é invasora, memória me acorda no meio da noite, me sacode no fim do dia, soprando no ouvido: “Conta aquela: vão gostar, não duvido…”

Augusto Boal

Cheguei! Na Escola da Vila.

“Senti o frescor das árvores e o acolhimento do canto dos pássaros assim que cheguei ao seu portão”. Entrei e adentrei.

Depois disso, fui ficando, ficando, e já conto com vinte anos de trabalhos prestados no setor de telefonia da escola.

Entre tantas histórias vividas na Escola da Vila, vou escrever sobre um assunto que mexe com todos os seres humanos. Algo que gosto de fazer, pois sei que, com esse gesto, posso proporcionar momentos de alegria e prazer. Um belo prato com comi-

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da fresquinha, saborosa e feita com muito carinho. Fiz um combinado com minhas colegas do administrativo: nas férias de julho, em uma sexta-feira de muitas vividas neste vinte anos, eu faria um almoço para todas elas. Compartilharia meus dotes culinários e também seria uma forma de provar o meu bem querer por todas elas. Nosso almoço teria um cardápio para agradar a todos os paladares. Eu seria a co-zinheira. Tudo combinado e, já que o assunto é comida, fizemos uma “vaquinha” para a compra de todos os ingredientes.

Caprichei no cardápio escolhido. Cação ao molho de camarão com arroz branco soltinho, purê de mandioca com leite de coco. Salada completa. As sobremesas, escolhidas por todos: doce de abóbora, cocada mole de colher e queijo branco fresco, torta de limão. Essa parte preparada toda em minha casa, para ganharmos tempo no preparo do almoço.

A cozinha ficava em ebulição total. Das panelas e das pessoas. Quando os aromas dos temperos do alho e da cebola subiam ao ar, espalhavam-se pela escola, estican-do-se até as salas onde elas estavam trabalhando. Logo a cozinha estava cheia de “degustadores oficiais”. Entravam e diziam: “Se você não me deixar provar, vou ter um treco! Vou passar mal! Tô com fome!” Voltavam para suas salas com uma “provi-nha da comida”.

Próximas à cozinha, ficavam as salas dos grupos com suas mesinhas e cadeirinhas, e lá foi organizada a grande mesa para o nosso banquete. Chegou a hora de servir o tão esperado almoço. Todos sentados rindo, dizendo que, finalmente, estavam pas-sando até mal de tanta fome! Servimo-nos dos alimentos todos ali juntos. Naquele dia, contamos muitas piadas, rimos tanto, tanto. Acredito até que só por estarmos usando o espaço e as mesinhas dos alunos, viramos naquele momento, também crianças, podíamos rir sem sermos tão severos adultos!

Passamos horas assim juntos. Ou foi só uma hora? Foi tão bom! Que deixamos agen-dado o próximo almoço. Passei o cardápio, Frango no Ninho. Todos concordaram, já imaginando sentir o aroma delicioso que iria exalar da cozinha.

Cada um cuidou de lavar seu prato, seu talher, limpamos tudo, e a cozinha de re-pente voltou ao normal do dia a dia. Agora na cozinha invadia o aroma do café co-ado. Impossível evocar as lembranças queridas sem me emocionar. Trazer à minha

Hoje já não fazemos mais esses almoços de férias, mas ficaram gravados em meu caderno de receitas todos os pratos que fiz.

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memória o rosto de cada colega e seu riso feliz, dizendo: “Muito obrigado! Estava uma delícia!”.

Hoje já não fazemos mais esses almoços de férias, mas ficaram gravados em meu caderno de receitas todos os pratos que fiz. Os que agradaram mais o paladar de cada colega. A Rô, com o creme de mandioquinha com salsão e bacon. A Vera, com o macarrão à pizzaiolo e a macarronada à bolonhesa. A Cida, com a costelinha as-sada no vinho e as batatas sotê. A Luzinete, com o Yakisoba. A Dona Nenê, com o ar-roz e a couve. A Sílvia, com a feijoada, o peixe, o frango xadrez, a berinjela no forno e um quiabo com polenta recheada. Acho que era a mais fiel fã da minha gastronomia.

Quem quiser ainda tenho as receitas.

Obrigada à minha querida diretora Ana Maria Cerqueira, que sempre participou desses nossos almoços e durante eles rimos muito.

A propósito, ela adora um delicioso pastel e uma gostosa sopa de agrião.

Aproveito para aqui agradecer e parabenizar as diretoras da Escola da Vila por seus trinta e cinco Anos de Vida com vidas.

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Conhecido nas décadas de 80 e 90 como Centro de Estudos, o Centro de Formação da Escola da Vila também completou 35 anos.

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Por Maria Cristina Pereira (Cris Preta)

A Escola da Vila se mistura à historia da minha vida, dos meus ideais, dos meus so-nhos e também dos meus desapegos.

Minha história com a Vila começou quando nós, um grupo de educadores idealis-tas, ou talvez sonhadores, criou uma escola que se chamava Criarte, em 1972. So-nhávamos mudar o mundo educando crianças com liberdade, já que vivíamos em plena ditadura e éramos apaixonadas por pensadores que nos faziam aspirar a um Brasil melhor.

Durante alguns anos, mantivemos essa escola para crianças pequenas, até que co-meçamos a pensar nas crianças maiores. Juntamo-nos, então, a um grupo edu-cacional mais experiente, que trabalhava com classes de 1a. série em diante. Mas ficou claro, muito rapidamente, que não era esse o nosso caminho.

Fomos corajosas, optamos pela separação, por co-meçar de novo, deixando até nosso precioso piano para elas.

Foi assim que nasceu a Escola da Vila.

O local não podia ser outro: Vila Madalena, bairro já habitado por artistas, intelectu-ais, além dos moradores originais, que ali viviam há muitos anos.

O nome inspirador foi dado pela Rosa, perfeito.

Éramos uma comunidade, revezávamos os cargos, ora éramos professoras, ora orientadoras.

Foi esse revezamento que me fez sair por um tempo da Escola. Eu não queria vol-tar à sala de aula, pois tinha duas filhas quase bebês. Resolvi, então, comunicar ao grupo minha decisão e foi esse o momento do desligamento. Quem não aceitasse a regra tinha de deixar a sociedade. Optei por ficar com os filhos e sair da Escola. Foi cruel, mas era assim que funcionávamos.

Nesse período de afastamento, formei-me em Psicodrama Pedagógico e tentei nova vida profissional. Mas, no meio do caminho, apareceu o livro Psicogênese da língua escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberosky. E lá estava eu, de novo, envolvida com o mesmo grupo, estudando o que, para nós, foi uma revolução.

Sonhávamos mudar o mundo educando crianças com liberdade

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Decidi voltar à Escola como professora de alfabetização, para experimentar tudo que aprendíamos nos livros. Foi assim que a intenção de ficar um ano em uma clas-se se estendeu por quatro anos, depois por mais outros tantos como coordenadora e professora do Centro de Estudos.

Até que o mundo me chamou de novo e acabei indo para o MEC fazer os PCNs.

Hoje, acompanho o crescimento da Escola e ainda sinto um grande orgulho de tudo.

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Por Ana Paula Yazbek

Minha história com a Escola da Vila

Minha história com a Escola da Vila começou em 1990, quando eu estava na Faculdade de Educação da USP, começando minha história como educadora e comecei a ouvir falar de uma escola diferente, que trabalhava com crianças de um modo muito especial. Naquele ano, fiz meu primeiro curso pelo Centro de Formação: “A Psicogênese da Língua Escrita, segundo Emí-lia Ferreiro”, e foi aí que me encantei completa-mente e comecei a sonhar em um dia trabalhar nessa escola.

Passaram-se dois anos e, após mais alguns cursos, soube por uma professora que estava saindo da Escola que haveria um processo seletivo e então encaminhei meu currículo. Pouco tempo depois, fui chamada para uma entrevista. Lembro-me até hoje de quando, na conversa com Vania Marincek, ela me perguntou sobre o que eu achava da relação entre teoria e prática na educação. Não me lembro da minha resposta, mas sim da sensação de que se fosse trabalhar ali teria sempre que refletir muito sobre o trabalho, e isso me encantou.

Alguns dias depois participei de mais uma dinâmica e fui comunicada de que seria contratada. Era junho de 1992 e, em agosto, começaria como auxiliar de uma tur-ma de crianças de três anos, do G1. A professora, Maria da Penha Brant, era muito competente, gerenciava o grupo de uma forma que eu nem imaginava ser possível. Aprendi muito com ela!

Meus primeiros anos na Escola foram de imersão num ambiente de muita eferves-cência de ideias e produção de conhecimentos. As reuniões pedagógicas aconte-ciam numa única sala de aula, com toda a equipe (nesse primeiro ano, a Escola ia até a quarta série e estava começando a formar a equipe que iria compor o funda-mental II, que iniciaria no ano seguinte), líamos textos dos “espanhóis”; as professo-ras apresentavam situações de aprendizagem de suas salas de aula; participava de grupos de estudo compostos por todas as auxiliares, coordenados por Vania, que

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sempre de modo muito acolhedor nos colocava bons questionamentos. Tam-bém participava das orientações com Zé-lia Cavalcanti, que, além de nos colocar para ler e estudar textos que eu não tinha lido na faculdade, falava sobre arte, cul-

tura, música, mostrando que trabalhar com educação é algo muito mais amplo e interessante do que o universo da pedagogia.

Fui auxiliar durante um ano e meio, tive a oportunidade de auxiliar pessoas muito diferentes e competentes e, em 1994, assumi minha primeira sala como professora de G4 (correspondente ao atual primeiro ano). Não foi nada fácil assumir essa tur-ma, estava substituindo a licença maternidade de uma ótima professora, Cláudia Aratangy. Era um grupo de 27 alunos de cinco e seis anos, crianças muito compe-tentes, a maior parte lia desde o início do ano, e todas acabaram o ano lendo e es-crevendo. Foi difícil conseguir o controle do grupo, mas, em parceria com Susane Lancman Sarfatti e com a leitura do livro As bruxas, de Roald Dahl, terminamos o ano bem.

Nos anos seguintes, voltei a trabalhar com os pequenos e fiquei transitando entre as classes da educação infantil.

Comecei a dar cursos pelo Centro de Formação e fui construindo em paralelo minha carreira como formadora de educadores e, até hoje, mantenho meu vínculo com o CFEV, ministrando cursos nas programações de férias, em seminários itinerantes e também em parceria com algumas prefeituras.

Em 2001, propus à Escola uma parceria para abrir um berçário e, em 2002, em socie-dade com Lena Yazbek (minha mãe) e Maria Amélia Nogueira (minha tia), inaugu-ramos o Espaço da Vila, berçário que atende crianças entre zero e três anos. Desde então, deixei de acompanhar o dia a dia da Escola como educadora, mas mantendo sempre o contato pela parceria estabelecida, e principalmente como mãe de dois alunos: Marina, que neste ano termina o Ensino Médio, e Pedro, que está no último ano do fundamental II.

São 23 anos em que partilho minha vida profissional com a história da Escola da Vila. Participei da comemoração dos quinze, vinte, trinta e, agora, dos trinta e cinco anos, e posso dizer que sinto muito orgulho disso!

Na conversa com Vania Marincek tive a sensação de que se fosse trabalhar ali teria sempre que refletir muito sobre o trabalho.

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Por Maria da Penha Brant

Estou de volta à Escola da Vila pelas mãos de Andrea Aly, a querida professora de artes das crianças e da equipe, que cum-pre sua licença maternidade. Tive então a oportunidade de estar de volta à sala de aula, espaço fecundo, decididamen-te dinâmico e criativo. Disso eu nunca consegui me desprender, sempre senti saudades.

Minha história com a Escola da Vila me leva ao final dos anos 1980, quando ainda morava em Belo Horizonte e tinha o desejo, como muitas pessoas têm, de ampliar a experiência de vida e morar em outro lu-gar. Nessa época, eu já sabia que, para mim, era fundamental trabalhar em con-sonância à criação, algo que eu já tinha identificado nos relatos de trabalho dos profissionais da Vila. Vim morar em São Paulo com o desejo de trabalhar com essa equipe. Deu certo! Comecei pela educação infantil e logo fui encorajada a ampliar minha atuação profissional. Tornei-me professora de artes. Fui fazer a FAAP. Mineiro nunca esquece Minas, mas eu fiz laços em São Paulo atravessando a ponte da Cidade Universitária. Tive duas filhas, uma delas se formou aqui há dois anos, está na USP. A segunda está cursando o fundamental.

Poderia continuar a narrar aqui toda a minha formação na Escola da Vila, e eu men-cionaria pessoas que fazem parte da história da educação nesse país, que direcio-naram sua prática profissional por uma escola mais reflexiva e transformadora (para usar um termo que remete aos estudos e aos escritos sobre educação, quando eu iniciava minha trajetória na área).

A prática educacional se dá em um ambiente que vai além da sala de aula.

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Mas vou pular essa parte para destacar o que, para mim, é um amplo aprendizado dentro do cotidiano da Escola da Vila, que é a construção de uma prática educativa em equipe – entendida por aquelas pessoas que saem de suas casas diariamente para trabalhar nessa escola. Tenho aprendido aqui que a prática educacional se dá em um ambiente que vai além da sala de aula, que é singular, mas composto de camadas.

Vejo essa arqueologia em muitos momentos. Quando solicitamos que se diminua a altura da mesa que fica na área externa ao ateliê, para que se possa usar com as crianças pequenas e a pessoa encarregada me diz: “Vamos esperar o primeiro fe-riado, para não precisar isolar a área, e faremos isso!” Ou quando leio um bilhete deixado pelo pessoal da limpeza ao encontrar uns papéis pintados e amassados no canto do ateliê: “Esse papel é para jogar fora ou é trabalho [de arte]?” E, ainda, Pe-nha, tenho aqui guardado uns papéis que eram da sua época, quando as crianças faziam aquelas pinturas de girassóis, lembra?

Minhas memórias vêm do trabalho diário de toda equipe…

Parabéns pelos seus 35 anos, Escola da Vila!!!

Trecho do diário de classe, 1994. Mais um exemplo da presença da equipe no cotidiano da escola, com a contribuição de Cintia Fondora sendo mencionada na organização dos encaminhamentos para a classe e Zélia Cavalcanti, na época coordenadora na Educação Infantil, comentando a prática pedagógica (no post it).

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Foto relíquia: Turma da Educação Infantil na Rua Mourato Coelho.

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Por Fernanda Flores

Receava começar este texto e me perder em mim.

Mas alguns acontecimentos são especialmente únicos e disparam uma vontade de escrever que, então, abracei… Sem medo de ser piegas, sem medo de… nada.

Seus 35 anos me permitem isso, pois deles compartilho 25, menos uns 4 nos quais estive em outros caminhos da vida… Como filho que sai de casa e depois volta…

Mas hoje, o que de especial vivi, so-mente a vida na escola me pôde pro-porcionar… É disso que desejo falar: uma escola proporciona tantas emo-ções simultaneamente que somente aqueles que dela fazem (ou fizeram) seu cotidiano têm a possibilidade de imaginar do que estamos falando…

Uma manhã com agenda lotada de desafios os mais diversos, que abraçamos, pensamos juntas, recla-mamos, ponderamos, revisamos, e, sempre na parceria especial das guerreiras da gestão, procuramos melhores caminhos para seguir, fa-zendo ESSA escola pulsante, com as caras de TODOS os nossos alunos e alunas, e com a MARCA única de nos-sos professores e professoras.

À tarde, um bate-papo espontâneo com um menino de 3 anos que chamava sua irmã de 5 para sair de sua sala e vir se sentar com ele, numa beiradinha de banco no qual cabia somente mais um… E eu, ao me sentar e puxar papo, entendo que ali não era o meu lugar e que precisava sair muito, mas muito rápido, para dar lugar a uma irmã que teimava em vir, entretida com as coisas de seu grupo, demorando a sair de sua sala aos olhos do ansioso ir-mão. Coisas de escola…

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Pouco depois, encontro com parte de minha equipe maravilhosa para fazer um ba-lanço do ano e as projeções que têm para 2016, entre pontos que precisamos man-ter como conquistas lindas de equipe e outros que devemos seguir aprofundando nessa insana e maravilhosa missão de educar em uma escola nos dias de hoje. Conversas francas e cheias de planos partilhados.

E, à noite, (o que dizer das tantas noites que traba-lhamos na escola, pela escola…) a emoção de apre-sentar aos pais de nossa própria comunidade o que será da vida escolar de seus filhos ao alçar novo voo, deixando aos poucos a segurança conhecida da Edu-cação Infantil rumo ao Fundamental.

E, nesse contexto, contar com parceiras especiais e poder, ainda, de cancha, apresentar uma professora querida com quem trabalho e admiro há tantos anos, introduzindo-a ao desafiador mundo da orientação. Vê-la experiente e segura, tocando lado a lado uma singela reunião que tanto significa para nós.

Assim, da soma dos casos de todos os dias, você me fez, em seus 35 anos, nas par-cerias incontáveis, nos desafios de ensinar e aprender, em cada um dos meus alu-nos e alunas, nas conversas nas salas dos professores, nas entrevistas com mães e pais, nos inúmeros bons dias… Enfim, obrigada por esse sem fim de experiências e por ser sempre tão intensa, nossa Escola da Vila.

Obrigada por esse sem fim de experiências e por ser sempre tão intensa, nossa Escola da Vila.

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Por Marta Durante - Diretora pedagógica da Escola Santi

Quando você chegou aqui?

Cheguei ao final de 1990. Tinha acabado a faculdade (PUC/SP) em 89 e resolvido viver uma grande aventura, morar em Trancoso/Bahia. Voltei para São Paulo e precisava en-contrar um trabalho.

Encontrei uma super amiga da faculdade que tinha feito um curso de alfabetiza-ção com a Cris Preta e tinha amado. Falou encantanda do curso e da escola. Contou que estavam realizando um processo de seleção, mas que parecia estar encerrado.

Eu estava mudando para o Jardim Bonfiglioli e resolvi passar para deixar um currículo.

Na época, sabia muito pouco sobre o construtivismo e sobre a Escola da Vila. Tinha algumas informações sobre essa escola, quando eu estava na faculdade, que era tão diferente. Eu tinha mais amigas que trabalhavam em outras escolas e o que queria mesmo era trabalhar nos movimentos sociais e na educação pública.

Quando fui levar o currículo, no prédio do Butantã, entrei e olhei para aquele espa-ço com a quadra com a asa delta branca cobrindo-a, árvores, bananeiras, salinhas branquinhas no meio desse cenário. Senti algo muito profundo e tive a clareza, na-quele momento, de que era ali que eu queria trabalhar. Lembro até hoje o meu en-cantamento e a minha sensação. Depois disso, tudo foi se constituindo. O processo de seleção realmente já estava quase que ao final, mas eu fui escolhida para ser professora da 1ª. série, como era chamado o 2º ano na época.

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Eu tinha 25 anos e foi na Vila que me tornei professora, que me profissionalizei e descobri o que realmente pensava sobre educação e sobre tudo o que poderia fa-zer a partir dessa profissão. Não foram muitos anos na escola, mas foram vários momentos de encontros profundos e de profunda formação.

Tive a oportunidade de realizar um projeto de alfabetiza-ção de adultos em parceria com o Centro de Estudos da Es-cola da Vila, a Método Engenharia, o Sesc Vila Mariana e a Rede de Alfabetização Brasil. Esse trabalho gerou a minha tese de mestrado e a produção de um livro sobre o mesmo tema. Um trabalho importante para mim e para a educa-ção de jovens e adultos do Brasil.

Foi na Vila que me tornei professora e descobri o que realmente pensava sobre educação

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#nasegundadecada

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Por Susane Lancman Sarfatti

Minha história com a Vila…

Cara Escola da Vila,

Imagino que você já deve estar pensando o quão retrógrada sou em escrever uma carta a você, quando temos formas mais modernas de comunicação: Facebook,

Skype, Vídeo conferência, Hangout… Mas, sou das antigas. E é justamente por isso que retomo a nossa trajetória nesses quase 20 anos de convivência.

Conheci você quando tinha 15 anos, uma menina em pleno processo de passagem para juventude, e eu, com um pouco mais de uma década do que

você, aportando na Terra da Garoa, que mudou tanto que nem chove mais.

Sempre que penso na mudança da infância para a adolescência, me aparecem a imagem e as palavras da Alice no País das Maravilhas: “Ai meu Deus! Como está tudo esquisito hoje! E ontem estava tudo tão normal. Será que mudei durante a noite? Deixe ver: eu era a mesma quando me levantei hoje de manhã? Estou quase

Independentemente da idade dos alunos, o desafio é fazer um trabalho de qualidade: é ser uma boa professora.

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jurando que me sentia um pouquinho diferente. Mas, se não sou a mesma, então que é que sou? Ah, aí que está o problema!”

Você, Vila, tal como Alice, sempre se mostrou questionadora, tentando entender seus princípios e valores, tentando agir de forma coerente e respondendo de forma consistente a grande questão: “Quem sou eu?”

Confesso que me deslumbrei com tantas questões que você trazia, tudo exigia uma explicação. As boas ações pedagógicas e educacionais não bastavam se não tivessem respaldo teórico. Assim, as minhas certezas se converteram em dúvidas ou em busca pelo conhecimento, desde o primeiro momento em que iniciei o estágio.

Primeiro fui estagiária do 4º ano e me entusiasmava ver a forma que a professora instigava os alunos a discutir, parecia um grande maestro de uma orquestra ma-ravilhosa. Impactou-me ler com alunos tão pequenos Graciliano Ramos, trabalhar algoritmos alternativos da divisão, relacionar a pontuação com tipologia textual… Nossa, que sabidos (palavra do seu repertório que absorvi) eram esses alunos. Nessa época, conheci a Delia Lerner, pesquisadora tão difundida no seu meio que passei a me achar também íntima dela.

Depois fiz estágio no grupo 4, conheci a Grécia, os Polos Norte e Sul, as versões de contos de fadas, os jogos matemáticos… Um mundo novo se abria. E, sem dúvida, a pesquisadora Emilia Ferreiro foi o ícone das novas descobertas com a teoria psi-cogenética da alfabetização que lemos ainda em espanhol. Deslumbrei-me com a forma que os alunos aprendiam sobre a língua com palavras e assuntos tão difíceis: Hércules, Atenas, mitos, Hera, pinguins, Amyr Klink, morsa… Era a curiosidade pelo mundo que abria as portas das letras.

No ano seguinte e por vários anos, fui professora da 3ª série. Costumo brincar dizen-do que, como pulei quando pequena a 3ª série, passei muitos anos repetindo essa série, como professora. Foram momentos maravilhosos com alunos muito bacanas (mais uma palavra do seu repertório. E repertório também é palavra sua) e projetos e sequências didáticas instigantes. Você me apresentou autores que ajudavam a embasar o nosso trabalho: Beatriz Aizenberg, Bernard Schneuwly, Mario Carretero, Ana Spinoza, Ana Maria Kaufmann, Patricia Sadovsky… Essa sua busca em relacio-nar a prática com a teoria e vice versa me encantou e ainda me encanta.

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Paralelamente ao trabalho em sala de aula, iniciei, no Centro de Estudos, dando cursos de formação de professores. E a criação do PIF, Programa Interno de Forma-ção, foi um momento muito especial. Ficou claro para mim que fazer um bom tra-balho com os alunos é um grande desafio, mas falar sobre o trabalho para colegas era um desafio ainda maior, pois exige um outro nível de reflexão sobre a prática.

No seu Centro de Estudos, pude refletir sobre a natureza do ser professor e os as-pectos que permeiam a identidade docente, tornando o meu trabalho mais con-sistente e significativo para uma prática transformadora. Viajei dando cursos para Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Brasília… Enfim, entrar no avião com o curso em um pendrive, levar caixas com todo o material a ser distribuído e aportar nas escolas para representar o seu saber foi um grande aprendizado. Para tanto estudei muito Perrenoud, Cesar Coll, Monica Gardner, Zabala, Zabalza, Isabel Alarcão…

Passados alguns anos, veio um novo desafio: atuar no fundamental 2 como orien-tadora educacional. Um novo mundo de estudos se abria, o foco não eram mais as didáticas das disciplinas e áreas, nem tampouco a formação de professores: era pre-ciso entender melhor sobre a construção moral do sujeito, as características da ado-lescência e seus conflitos emocionais e sociais, as novas configurações familiares, a atuação com as famílias… Novos autores: Puig, Savater, Yves … e o retorno ao meus velhos amigos, Piaget e Freud, base na minha formação, antes de conhecer você.

A lista interminável de autores e pesquisadores da educação que listo nesta carta me parecem tão íntimos que escrevo como se fossem velhos conhecidos, por isso a falta do nome completo. Obrigada por tê-los me apresentado. Agradeço também aos muitos colegas e amigos de trabalho que conheci através de você.

Agora, cá estou no Ensino Médio. Poderia dizer que é um novo desafio pela nova faixa etária, contudo, hoje percebo que, independentemente da idade dos alunos, o desa-fio é fazer um trabalho de qualidade: é ser uma boa professora. E é isso que continuo buscando, sabendo que conto com o seu apoio e incentivo nessa longa jornada.

Parabéns pelos seus 35 anos! Você continua com uma aparência jovial e ativa, mais segura e estável, como qualquer mulher bem vivida com a sua idade.

Beijos,

Susane

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Por Wanilda Tieppo

Um pedaço de mim

Eu tentei chegar à Vila em 1984! Recém-formada, em busca de es-pecialização na Educação Infantil, coloquei meu currículo bem po-bre debaixo do braço e toquei a companhia da Escola da Vila. Nes-se mesmo portão azul, na rua Bar-roso Neto, 91, entreguei a minha experiência! Não fui selecionada.

Anos depois, em 1996, eu já estava numa escola, e quem chegou foi a Escola da Vila.

Ela chegou com um baita currícu-lo institucional debaixo do braço, e achei que, mais uma vez, eu não seria “selecionada”.

Era o mês de junho e, na ocasião, eu coordenava a Educação Infan-til do Colégio Fernando Pessoa.

Quem coordenava esse segmento na Escola da Vila era a Zélia Cavalcanti. Gente, eu não tinha chance nenhuma! Disputar, mesmo que na unidade Morumbi, o cargo com uma grande educadora, com expertise invejável, historiadora, escritora de livros, meu pai! Nem no meu mais ambicioso e maluco sonho eu teria alguma chance.

Toquei o meu trabalho com a certeza de que, no final do ano, eu teria de procurar outra escola.

Em dezembro, Sonia Barreira me chamou para uma conversa e eu saí da minha sala com destino à sala dela imaginando que seria dispensada. E o que é surpreen-dente: “Eu teria compreendido, com toda a honestidade, a decisão dela”.

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Pois é! Em vez de demissão, veio o convite para ser assistente de direção. Gente! Confesso que o meu susto e a minha alegria foram enormes.

Em todos esses anos, minhas atribuições foram as mais variadas: cuidar da segu-rança e da rotina da escola; coordenar a equipe de atendimento, a de monitoria; ser responsável pela comunicação interna e com os pais; atender os pais novos; organizar os eventos, as formaturas, a chegada de trabalho de campo; e mais umas coisinhas.

Esse turbilhão de tarefas e de mudanças constantes de responsabilidade “bate” com meu jeito agitado. Gosto de mudanças, gosto de desafios, e gosto de aprender.

Se me pedissem para resumir a minha experiên-cia profissional na Escola da Vila em uma única palavra, eu usaria a seguinte: APRENDIZAGEM.

Nossa! Como aprendi e como aprendo no meu dia a dia! E é isso que me fascina e me tira da cama bem cedinho para trabalhar.

Sou uma funcionária orgulhosa da Escola em que trabalho, e estou feliz por estar aqui neste ano de comemorações!

Parabéns, Vila, pelos 35 anos de contribuição para a educação!

Minha experiência profissional na Vila se resume em uma única palavra: aprendizagem.

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Comemoração dos 10 anos da Vila.

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Por Tiê Parma Yamato

É sempre bom ver que a gente ainda faz parte da história dessa escola… Isso faz relembrar momentos inesquecíveis!!!

Esta foto, (eu e a Ana Marincek) me faz lembrar da escola, dos amigos que fiz por lá e que serão para a vida toda!

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Por Andréa Polo

Das experiências e significados de aprender na ESCOLA DA VILA

Pensei muito no que escrever em homenagem à ESCOLA DA VILA. Retomei fatos marcantes, pessoas incríveis, preciosos livros indicados e senti meu coração dispa-rar novamente quando me lembrei da primeira reunião de pais, do meu primeiro curso no Centro de Formação e dos alunos que vi crescendo até voltarem com seus filhos para a Escola, já como pais e mães!

Quase vinte anos depois, lembrei de-talhadamente um fato que marcou meu percurso como educadora nes-sa instituição.

A Escola da Vila era uma mocinha de quinze anos quando ingressei como professora auxiliar numa das salas de 3º ano. Lena, a professora titular, me acolheu cheia de responsabilida-des, garantindo que me aproximasse rapidamente dos projetos da série e especialmente do “Vilês” (assuntos e termos específicos de quem trabalha na Escola da Vila). Lembro-me clara-mente de suas explicações rebusca-das, cheias de detalhes sobre as tão apaixonantes leituras realizadas em voz alta com a classe toda.

Diariamente, no mesmo horário, logo depois do parque, as crianças voltavam para a sala e abriam seus livros para acompanhar as narrativas encantadoras, com os tons, sabores e vozes que Lena era mestra em produzir. Tatiana Belinky e seu Transplante de menina iluminavam minhas tardes como se eu fosse uma das alunas da profes-sora! E era! Sem dar maiores explicações, eu parava tudo o que ela me pedia para

Lena (professora da minha filha), Andréa e Lorena Polo. Lançamento do Livro da Família

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fazer pelo prazer e pela paixão que eram reveladas a mim por uma profunda conhecedora do “poder” dos livros. Eu tinha certeza de que começava a ser formada por alguém que ensinava cotidiana-mente um dos princípios mais valorosos da Escola: a formação de uma comunidade leitora. Das tantas vivências com os livros, em casa, nas escolas por onde passei – e que fique bem claro: sempre amei ler! –, nunca tinha vivido uma experiência tão in-tensa e marcante, que tivesse me transpassado completamente a ponto de desejar reler tudo o que já tinha feito de forma “solitária”, agora em comunidade!

Percebi logo a profundidade que Lena alcançava com suas intervenções e “gelei”, depois de uma semana, quando ela precisou fazer um exame e me disse para en-caminhar a retomada da lição de casa porque talvez se atrasasse. Parecia tão sim-ples… A proposta era pesquisar sobre a vida do Pelé e do Villa Lobos. O 3º ano estava estudando algumas biografias para fazer o Livro da Família e eu, naquele dia, deveria retomar a lição de casa levantando semelhanças entre os textos dos biografados. Comecei conversando com as crianças, expondo “tudo” o que pensa-va saber sobre “favorecer boas situações de aprendizagem”, até que Lena chegou: “Andréa, você quer continuar, ou quer que eu assuma?”. Claro que respondi que preferia que ela assumisse, pois ainda não conseguia “me ver” dando uma aula para a professora Lena assistir! Ela, então, assumiu as orientações.

Absolutamente envergonhada, comparando seus encaminhamentos com o que eu tinha feito em quinze minutos de sua ausência, percebi claramente o tanto que “aquela” novata precisava aprender, o quanto “ela” achava que sabia sobre “provo-car” os alunos! Que privilégio conviver com alguém que generosamente me ensina-va a construir os mais fortes significados da docência com seus exemplos diários.

Eu tinha lido sobre Emilia Ferreiro, Piaget, Vygotsky, mas, ali, diante de uma educa-dora sem par, as coisas começaram a fazer todo o sentido. E o melhor disso tudo é ver que esse movimento de aprender com os mais velhos continua fazendo parte do que a Vila tem de melhor! Muito tempo já se passou e posso garantir que, em cada canto da escola, há ciclos de admiração e consciência dos professores mais jovens para com seus tutores, parceiros, duplas que desfrutam desse momento pri-vilegiado de formação contínua. Penso que isso só acontece porque todos sabem da responsabilidade que possuem quando esticam a mão para um colega e dizem: “Vamos lá, porque você terá muito para aprender e ensinar, e eu, por mais tempo de casa que possua, também!”.

Aprender com os mais velhos continua fazendo parte do que a Vila tem de melhor!

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Por Edison Leite de Magalhães

Gostaria de homenagear a Escola e agradecer a todos com um poema sobre pensamento positivo

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Por Sandra Durazzo

Escola da Vila e eu, uma história antiga e duradoura

Meu nome é Sandra Durazzo ou, como costumam se referir a mim aqui na Escola da Vila, a Sandra de inglês. Mas a minha história não começou com inglês, ou melhor, começou sim. Eu sou professora mais ou menos desde que nasci. Meus melhores amigos sempre me disseram que, faça o que fizer, você “É” professora e sempre será. Estavam certos. Foi por meio de aulas de inglês para executivos, num momento em que a minha carreira de engenheira tinha ficado de lado devido à maternidade, que eu conheci o Thomás, a Sônia e a Escola da Vila. Na época, procurava uma escola para a minha filha mais nova e, ao conhecer o projeto da Vila, senti que aqui ela se-ria feliz. E foi. Ela, e logo depois meu filho mais novo, viveram momentos marcantes desde o grupo 1 até a formatura no Ensino Médio. Hoje são jovens adultos daqueles que, depois de conversar um tanto, pensamos: “Que gente bacana!”.

E como é que virei a Sandra de inglês? Bem, após alguns anos de festa junina, reunião de pais, festa para as professoras dos filhos, enfim, de curtir o papel de mãe da escola, a Sônia me deu um voto de confiança gigante ao me convidar para dar aulas de inglês substituindo a professora Zínia, que tinha decidido seguir outros caminhos. Cheguei sem nem entender algumas das perguntas e respostas nas reuniões pedagógicas e, graças à generosidade e à paciência da Ivone, aprendi muito, construí muito e fiz inúmeras relações maravilhosas com alunos, pro-

As portas que a Escola da Vila me abriu foram incontáveis.

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fessores, funcionários e pais (meu facebook é recheado de ex-alunos com seus filhos, mestrados, carreiras e conquistas).

As portas que a Escola da Vila me abriu foram incontáveis. Pude participar da cons-trução do projeto de inglês na escola. Contribuo até hoje com a consolidação des-se projeto e a formação dos professores. A empresa que montei com a Vera, outra professora da escola, multiplica o saber adquirido. Os cursos do Centro de Forma-ção que ministro me proporcionam a chance de pensar a educação em uma pers-pectiva mais abrangente do ponto de vista geográfico. Os amigos que fiz aqui me

acompanham em comemorações e saudades. Enfim, minha vida se transformou, consolidando o que meus amigos já sabiam: sou professora! Continuo estudan-do muito, afinal, essa é uma característica da Escola da Vila: uma instituição que aprende, que se reinventa o tempo todo, que enfrenta seus obstáculos com estudo, transformando-os em novas vitórias.

35 anos. Que sejam mais 35 e mais 35, formando “gente bacana” e abrindo portas para outros sortudos como eu! Parabéns!!!

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Arte e Ciências. Um evento que deixou saudades!

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Por Angela Kim

“Por que você não leva seu currículo na Escola da Vila? Dizem que é muito boa”, sugeriu minha irmã, que na época cursava Psicologia na USP.

Foi assim, no final do meu 2° ano de Pedagogia, que ouvi falar pela primeira vez do lugar onde eu trabalharia por mui-tos anos e que viria a ser uma escola para mim. Comecei a trabalhar na Vila em 1998 e aqui estou, até hoje.

17 anos de escola – 8 como professora de 5° ano, 4 como pro-fessora de Língua Portuguesa e Literatura no Fundamental II, 4 como professora de produção textual no Ensino Médio, 8 como capacitadora no Centro de Formação – fizeram-me educadora. Nesses 17 anos, dezenas de turmas, centenas de alunos, muitos cursos, umas tantas supervisões e palestras, vários acampamentos, festas juninas e simpósios, milhares de registros (primeiro em papel, depois no Public e em pen-drives, em seguida no Ambiente Virtual de Aprendizagem e atualmente na nuvem), inúmeras reuniões. Hoje tenho mui-to orgulho do meu trabalho e da equipe da qual faço parte.

Não, nem tudo são flores. Há as crises, angústias, insatisfa-ções, questionamentos, frustrações, medos. Mas datas fes-tivas são propícias aos balanços, e o resultado deste é posi-tivo, sem dúvida: um texto produzido por aluno que arrepia e põe um sorriso na boca; uma amizade para toda a vida nascida no ambiente de trabalho; uma palavra gentil envia-da por e-mail; as delicadas flores na paisagem da escola; as conversas divertidas na sala dos professores; a confiança no seu trabalho expressa em convites para novos desafios; a atenção de um funcionário; a empolgação com a realiza-ção de um novo projeto; adolescentes sussurrando poemas para crianças pequenas; a gratidão em um abraço.

Escola da Vila: parabéns pelos seus 35 anos. E que venham muitos mais!

Tenho muito orgulho do meu trabalho e da equipe da qual faço parte.

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Por Daniela Munerato

Cheguei por aqui em fevereiro de 2002, na correria de um início de semestre na Unidade Morumbi. Desde então, passei por diversas experiências das quais te-nho memórias que gostaria de compartilhar, como um percurso repleto de vida e movimento.

A Vila proporciona experiências importantes. Aqui vivenciei diversas funções, como estagiária, professora da Educação Infantil, formadora de professores nos cursos do Centro de Formação, professora da Pós-Graduação, orientadora da Educação Infantil e dos primeiros anos, e aguardo o que ainda estiver por vir, sempre ávida pelos desafios. Encontrei nesse tempo o que procurava: o diálogo entre a teoria e a prática sob o olhar de autores que eu sempre estudei, e ainda de muitos outros que tive a oportunidade de conhecer através de tantas ações formativas. Além disso, a atenção para o aluno em cada fase de seu desenvolvimento, repleto de respeito, escuta e propostas que o façam sempre avançar me encantam. Um lugar que certa-mente os prepara para a vida!

O movimento no nosso dia a dia é intenso. Em nossas prateleiras, sempre cabe mais um livro, e os mesmos precisam ser lidos mais de uma vez. Literatura, música, arte e cultura são temas presentes, bem como o respeito ao outro, a formação dos gru-pos e a importância da interação e da cooperação. As equipes estão sempre juntas.

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Os dias parecem ter muito mais que 24 horas e, ao final deles, apesar dos momentos desafiadores que os compõem, os de parceria sempre se sobressaem.

Se eu imaginar uma caixinha com tesouros guardados, como as crianças pequenas costumam fazer, terei lembranças como os amigos secretos envolvendo todos os funcionários da escola, as discussões nos primeiros Simpósios com dilemas do co-tidiano, os acantonamentos do Grupo 3 e as Festas Juninas temáticas. A caixinha seria repleta de nomes, com amizades para sempre, pessoas de referência e enor-me admiração. Não poderia faltar a imagem da primeira criança que vi chorar de emoção, junto a todos os bilhetes e desenhos que recebo até hoje e revelam laços importantes. Entre todas essas memórias, uma carta muito especial de pais de um aluno querido, endereçada a mim e à minha estagiária da época, da qual segue um breve trecho:

“Dizem que no Japão, a ninguém é dado o direito de elevar sua cabeça à altura maior do que a cabeça do Imperador. Uma única exceção confirma a regra: o imperador ja-ponês desce de seu trono e declina de sua vaidade e poder, baixa sua cabeça só e ex-clusivamente diante do professor de ensino primário (hoje fundamental). A ninguém mais. Sinal do respeito de uma cultura, sinal do valor de um professor. (…) enfim, também sou dado a observações, e, naturalmente observei vocês o tempo todo. Eu e Rosana o fizemos, às vezes comentando; às vezes no silêncio de cada um… O que percebi foi uma enorme dedicação; uma sabedoria para o ofício; uma sensibilidade para o gênero humano; quem faz relatórios daquele tipo, com tamanha riqueza de detalhes, com tal carinho? Quem vai ao ponto daquele modo, sem dar bandeira, sem fazer estardalhaço, sem chamar a atenção para si mesmo?

Vocês fizeram deste modo cada momento de nossa relação neste ano, e eu passei a admirá-las, na calma, na doçura de vocês com cada criança. Cada relatório que nos chegou e emocionou: alguém zelava e orientava meu filho; compreendia-o; desperta-va nele o sentido do ser humano que progride; do aprendizado, da transformação do bebê que vai fazendo a si mesmo criança – e, infelizmente, daí para frente também. (…) vocês carregam uma missão. O imperador do Japão saberia reconhecer isso.”

Neste contexto de parceria, termino meu breve relato agradecendo todas as equi-pes das quais faço e já fiz parte, cada aluno e cada família que tive e tenho o privilé-gio de acompanhar como professora ou orientadora. Parabéns, Escola da Vila! Que venham as comemorações de 40, 45, 50… E a continuação da nossa história!

Tenho muitas lembranças envolvendo todos os funcionários da escola.

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Por Júlia Abrão

Me lembro até hoje do “teste” que fiz para entrar na 1ª série da Vila. Me lembro de quando meu irmão mais velho chegou correndo na escola em que eu fazia o Pré gritando: “Você passou na Vila!” Me lembro dos professores. Me lembro da primeira vez em que colei numa prova. Me lembro de que fui pega (desculpa, Marília). Meu primeiro “E”. Me lembro de quando a mesma Marília leu Drácula à luz de velas para a turma. Me lembro dos lanches coletivos. E da Guerra das Bolas. Me lembro da primeira vez que caí na dupla com o menino de quem eu gostava. Me lembro de quando falaram de anticoncepcionais e de drogas. Me lembro dos pentaminós e do Escher. Me lembro das peças de teatro. Das visitas à Bienal. Me lembro do ba-nanal. Me lembro da rádio na hora do intervalo. Me lembro de que pediram nossa opinião quando decidiram mudar o logo do coqueiro. Me lembro de que “nuvens brancas passam por brancas nuvens”. Me lembro de que fomos a primeira 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries da história da Vila. Me lembro de diálogos. Me lembro de aulas que cami-nhavam para fora do currículo regular das outras escolas simplesmente porque os alunos pediam mais. Iam longe. Se interessavam, perguntavam, questionavam. Me lembro de quando tive que deixar a Vila. Me lembro das Festas Juninas e de encon-tros que fizemos depois. Me lembro da primeira vez que achei algumas carinhas no Facebook e de que sorri de saudades e carinho. Me lembro da Vila como me lembro do cheiro do café da minha falecida vó Celeste. É tanto carinho e lembrança boa que não me lembro das broncas, não me lembro das brigas… Obrigada, Vila. Obri-gada por me fazer questionar tudo desde cedo. E por ter sido parte importantíssima dos rumos que tomei até me tornar educadora.

Obrigada, Vila, por me fazer questionar tudo desde cedo.

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Por Marcos Mourão (Marcola)

A minha história de vida na Vila

Dedicada ao professor de Educação Física Marcelo Barros da Silva, o Jabú

A primeira vez que ouvi falar da Escola da Vila foi na minha graduação na USP. Fazia o curso de licenciatura em Educação Física, e o professor Oswaldo Ferraz, da disciplina “Ed. Física na infância”, convidou dois cole-gas para uma conversa com a turma, um de-les era o professor Marcelo Barros, conhe-cido como Jabú. Quando Jabú começou a falar sobre a proposta de trabalho na Esco-la da Vila, imediatamente senti uma grande empatia por suas ideias. Para conhecê-las mais a fundo, resolvi que iria tentar fazer um estágio de observação na unidade Butantã. Lembro-me do dia em que vi, pela primei-ra vez, o portão azul de entrada na Barroso Neto. Estava fechado, sem tranca, cadeado. Esperei algum tempo, e, como não apare-ceu ninguém, resolvi entrar. Subi os degraus de pedra e logo avistei uma moça, a Ales-sandra, na época, a secretária. Perguntei pelo Jabú, e a Alê me pediu para esperá-lo na quadra. Quadra? Qual quadra? Na épo-ca, só havia um pátio coberto por uma lona laranja, conhecida como “Asa Delta”! Fiquei aguardando um pouco e logo chegou a tur-ma de crianças. Assim que a aula começou, as ideias expostas na faculdade começaram a se materializar. Uma aula que não se nor-

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teava pela atividade repetitiva de exercícios? Estranho… Uma aula que respeitava a atividade corporal da criança? Muito estranho… Uma aula que não precisava de linhas esportivas na quadra e que não propunha o uso de material complicado, caro e específico, mas utilizava sucatas e outros materiais simples, de fácil acesso? Bem estranho… Uma aula na qual as crianças interagiam, se divertiam e não se agrediam? Esquisitíssimo!

Decidi que era isso que queria fazer na minha vida profissional! Passei então a estu-dar alguns teóricos da pedagogia e da psicologia e voltar minha atenção ao desen-volvimento infantil e ao jogo, aguardando a oportunidade de um dia ser convidado pela Escola da Vila. E essa oportunidade veio com a introdução da atividade de extensão curricular de capoeira, no segundo semestre de 1993. Nessa época, a es-cola atendia aos alunos do fundamental 1, mas, no ano seguinte, abriria a primeira turma de 6º ano E, com a perspectiva de trabalhar com uma faixa etária inédita, me convidaram para assumir as aulas de educação física e introduzir o treinamento esportivo! Obviamente fiquei muito feliz e preocupado… Será que daria conta?

Minha primeira entrevista foi com o Vinicius Signorelli, coordenador do ensino fun-damental 2. Para aqueles que não conheceram o Vinicius na época, pensem na fi-gura de um viking. Acrescentem a ela um pouco de Einstein e Beethoven. Era fácil se intimidar à primeira vista…

Fui muito bem recebido por toda a equipe da es-cola. Para se ter uma ideia, as reuniões pedagógicas de terça-feira aconteciam numa sala do bloco B com todo o corpo pedagógico! Muitas reuniões podiam ser chamadas de “terças insanas”! Era uma concen-tração absurda de ideias e conceitos pedagógicos por m²! Imaginem um garoto de 23 anos, recém-formado, com pouca experiência docente, nesse ambiente! De qualquer modo, ficava escutando e admirando aquelas mentes brilhantes. Men-

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tes? Mas eu não era do corpo? Pois é, uma das coisas que aprendia aos poucos era que o professor de educação física que gostaria de me tornar precisaria de tantos estudos, tanto embasamento teórico, tanto conhecimento, como todos os outros mestres.

Bigode (matemática), Vinicius (ciência), Graça (Geografia), Conceição (História), Sérgio (Teatro), Claudio Cretti (Artes), Noemi (Português), Zinia (Inglês), Clice (O.E) são os primeiros professores do ensino fundamental 2 de 1994 que me marcaram profundamente. Com eles aprendi que não sabia nada, mas tinha sempre um co-lega que sabia, pois não dava para construir uma equipe sozinho. Pelo menos isso eu aprendi na elaboração do trabalho de implementação do ensino fundamental 2.

Falando em saberes, quero destacar um deles para dar a dimensão do tempo que já passei nesta escola. Era 1994, e uma reunião quase inteira foi ocupada para a apresentação de algo revolucionário na busca e na troca de saberes: a INTERNET.

Ficamos todos ao redor de uma mesa, aguardando a conexão por linha discada, enquanto o ruído característico (os mais velhos lembram) acusava a tentativa. Após uns vinte minutos discando, nada apareceu na tela. Tivemos que nos contentar com os relatos do Vicente sobre o site da NASA, de como era fantástico, etc. Hoje conto essa história aos meus filhos Pedro (14) e Marina (16), como se fôssemos homens da caverna em busca do fogo!

Pois é, foi na Escola da Vila que, desde pequenos, eles sempre estudaram. Pedro ainda teve o privilégio de frequentar o Espaço da Vila, Berçário de 0 a 3 anos. Con-fesso que tenho uma certa “inveja” deles… Como gostaria de ter uma escola assim na minha formação. Uma escola que cumpre o seu papel de formar estudantes, que olha com respeito a diversidade e a inclusão, que não restringe a sua atuação à sala de aula, que se compromete com as questões sociais, que orienta e educa seus alunos, suas famílias. E que, com uma significativa parcela de minha contribuição, trata o corpo e o movimento numa perspectiva integrada, libertadora e autônoma. Obrigado, Escola da Vila, e parabéns pelos seus 35 anos!!!!

Gostaria de ter tido uma escola como a Vila na minha formação.

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Olim Vila. Orgulho de pertencer à Vila, usar a camisa e defender as cores!

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Por Aline Gasparini Montanheiro

Vilaline

Começamos pequenasGrupo 1, 2, 3, 4. “Pré”, não!Sala grande, porta azul abobadadaCantos, cabaninha, roda…Banquinhos azuis com furo no meioTanque de areia e brinquedãoGrupos, histórias, recontosLeitura, biblioteca, apresentação

Era uma vezA alfabetização construtivistaQue reescrevendo históriasE informando de um polo a outroTomou forma e criou sentidoTornando-se clássicaQuase como a Grécia Antiga

Aguça-se o gosto pela leituraMas de ir ao parque não vemos a horaInscrevemo-nos nessa tessituraTal como imigrantesTateando nossa própria memória

Dos mamíferos aos microorganismosDa primeira prova à tabuada pensadaDo jornal à poesiaDos anos 60 aos quilombosE na arte encontramos moradia

Como a gente cresce…Fica crítica, analítica, moderna e contemporânea

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Tipo um Outsider Tenta se controlarMas não consegueBora pra Ubatuba, Paraty ou Petar Que tudo segue

Aquela do inícioNão é mais a mesmaMuitos por ela passaramAlguns ficaramOutros ainda virão

Mas Ensino Médio é precisoSem alívio, mais pressãoNão pode olhar pra trásSenão perde o arAinda tem que pensarNo vestibular!

A tal da bolinhaSaiu da caixinhaEstá diferenteAbriu mais a menteÉ professoraAluna de outroraPra escola voltouAqui estou!

- Você é filha da Vila?Perguntou alguém.A questão talvez seja:- Essa história é de quem?

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Por Monica G. Fortunato Friaça

Desde 1999 fazemos parte da Escola da Vila. Nosso filho Bernardo (Beba) entrou na Vila aos três anos de idade. Estávamos chegando de uma esta-dia em Cambridge, UK, de três anos, e sabíamos que nosso filho iria estu-dar na Vila. Muitos de nossos sobri-nhos tinham estudado na Vila, e ou-tros, que estudam atualmente, e era a Vila que tínhamos escolhido.

Depois de vários anos na Vila e ado-rando a escola, Bernardo resolveu praticar um esporte… Resolveu, e pe-diu: “Quero jogar handebol com o pro-

fessor Sidiney”. Pensei muitas vezes, pois nada dava certo para ele. Natação… odiava. Futebol, dormia no gol nas manhãs que ia treinar no clube. Basquete, gostava, mas se entediava. O que fazer, então, com um moleque que era devagar nos esportes?

Pensamos… ops… pensei: “Ele pediu handebol, vou tentar… Fiz a inscrição pri-meiro na Escola da Vila, e eu ia a todos os jogos. Nos treinos ele se animava, e que-ria mais e mais. Acampamento nas férias no Sul, Itajaí sozinho (aos nove anos de idade) com alguns amigos, pela primeira vez tanto tempo fora, dez dias, foi. Voltou louco por handebol.

Começou a treinar no Clube Pinheiros e na Escola da Vila.

Muitos campeonatos ganhos, inclusive brasileiros. Bolsa-atleta ganhou algumas, foi chamado pro acampamento da Seleção Brasileira.

Muitos sucessos e insucessos, e fraturou a coluna em 2014. Voltou do acampamento da Seleção com muita dor. Depois de alguns meses, operou no final do ano, e agora está voltando a jogar, e eu quase morta! Para quem me conhece, sabe bem….

Hoje, aos 19 anos, ele cursa economia no Insper, faz parte da Atlética, e leva o esporte no coração!

Quero jogar handebol com o professor Sidiney.

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Queria fazer um agradeci-mento especial ao professor Sidiney, que mudou a vida desse moleque. Sei da impor-tância das “chatices” desse grande formador de atletas e de cidadãos. Hoje, até o Beba elogia o Sidão…

As broncas tornaram esses meninos cumpridores de ho-rários, responsáveis pelos ou-tros, e veem o mundo de ou-tra forma.

Bernardo é elogiado na faculdade, não pelo seu primor nas exatas, mas, sim, pelo questionador que a Vila o ensinou a ser. Um cidadão de voz ativa, e batalhador.

Obrigada à Vila e ao professor Sidiney!!

Atualmente tenho dois sobrinhos na Vila e gostaria de dar aos meus netos o que dei ao meu filho.

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#naterceiradecada

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Por Gabriella Leão Ferraz Montiel e Mariana Segueira Rocha

As alunas do 4º ano emocionaram as secretárias da unidade Butantã quando entregaram este lindo presente, acompanhado de um sincero “Parabéns para vocês!!!”

A obra de arte ganhou lugar especial na história da Vila. E na sala da Wanilda também!

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Por Emerson Marinheiro

Três gerações

A Vila faz 35 anos, mas, em minha família, a Vila já está presente há três gerações.

A matemática parece dizer que essa conta não bate, mas vou provar que isso é possível.

Como morador de um Butantã de 30 anos atrás, tive uma infância muito simples, gosto-sa, quase como no in-terior. Na minha casa, não faltava comida, mas também não hou-ve mais nada de mate-rial que sobrasse. Meu pai era alfaiate e minha mãe, doméstica.

Como eu morava em frente à Escola da Vila, cresci vendo e vivendo a movimentação da escola, carros que paravam, pais que esperavam seus filhos no degrau em frente à minha porta. A Vila fazia parte da nossa rotina.

Um pouco mais tarde, as coisas apertaram financeiramente na minha casa e minha mãe resolveu conseguir um segundo emprego, e este foi justamente como auxiliar de limpeza na Escola da Vila, à noite.

Durante anos, minha mãe chegava do seu emprego diurno, vestia o uniforme e en-frentava outro turno na Vila, quando as crianças já tinham ido embora e a escola precisava ser limpa e arrumada para o dia seguinte. Eu era novo, mesmo assim en-tendia que era uma rotina pesada para a minha mãe e tinha ideia do esforço que ela fazia em nome do bem-estar da minha família.

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Os anos passaram eu fui trabalhar em uma Fundação da USP. Com isso, pude cur-sar uma faculdade. Fui a segunda pessoa da minha família a ter um diploma de 3º grau. Meu primeiro diploma foi o de Publicitário, mas circunstâncias diversas fize-ram com que eu nunca trabalhasse na área.

Desde a adolescência, a capoeira já ocupava uma parte enorme da minha vida e posso dizer, com tranquilidade, que Mestre Alcides, meu mestre de capoeira, foi mais do que uma inspiração: através do seu exemplo, não só como mestre, mas como educador, eu e outros jovens capoeiristas do grupo construímos um futuro de superação através da capoeira e, posteriormente, da Educação.

Conheci minha esposa com 27 anos e, pouco antes de me casar, decidi que era hora de mudar a minha vida e finalmente ouvir a minha vocação. Voltei para a faculdade e, dessa vez, para fazer o curso de Educação Física. Enquanto eu fazia minha 2ª facul-dade e, em seguida, uma pós-graduação, me casei e tive meus dois filhos, e isso me aproximou ainda mais do mundo das escolas e da educação. Ao escolher a escola para o meu primeiro filho, descobri que a maioria das escolas era muito diferente do que buscávamos. Queríamos que o nosso filho estivesse em um ambiente segu-

ro e acolhedor para poder brincar e se desenvolver. O problema é que, aparentemente, brincar não esta-va nos planos de boa parte das escolas de educação infantil que visitamos.

Após muita pesquisa, escolhemos uma escola con-fiável e amorosa, cujo foco era de fato o aspecto hu-

mano da educação e onde nosso filho passou sua primeira infância cercado de bons amigos e educadores queridos. Pouco tempo após meu filho ter entrado nes-sa escola, fui convidado a lá iniciar um trabalho com a capoeira e acabei me tornan-do professor de capoeira dessa escola e depois de tantas outras.

Alguns anos depois, era chegado o dia do nosso João fazer a transição para o ensino fundamental, e novas dúvidas e inseguranças surgiram. Visitamos todas as escolas da região, mas estávamos convictos de que o João deveria ir para uma determina-da escola para onde todos seus amigos da educação infantil também seguiriam. Foi quando minha esposa me perguntou porque não havíamos visitado a Vila. Eu não soube responder. Às vezes, o que é mais óbvio parece nos passar desaperce-bido. Agendamos a vivência e ficamos surpresos ao nos darmos conta de que a Vila tinha todas as características da escola que desejávamos para o nosso filho. E, para

Quis o destino que a Vila estivesse presente na história de trêsgerações da minhafamília.

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o João, isso também ficou claro desde o primeiro momento. Durante a vivência, ele demonstrou traços de uma autonomia, de um desejo de viver coisas novas, com novos amigos, que nem mesmo nós conhecíamos.

E, com algum nível de insegurança nessa possibilidade que não havia sido consi-derada até então, decidimos apostar, e foi na Vila que João deu início à sua incrí-vel jornada de descoberta do mundo das letras e dos números, acompanhado por uma professora experiente, firme e amorosa e em um espaço físico que para ele era mágico, porque, além de ser muito maior que o da sua escola anterior, era exata-mente em frente à casa da sua avó!

Já nesse início, eu, como pai, educador e capoeirista, me animei com a perspectiva de acompanhar através das vivências do meu filho um novo método de aplicação da Capoeira apresentado pelo Mestre Marcos Mourão, mais conhecido na Vila como Marcola. Ele mesmo foi quem, com tanta generosidade, se dispôs a abrir as portas da sua sala de Capoeira para me apresentar seu método e sua experiência junto aos alunos do Fundamental I. E o resto vocês já sabem. Não apenas fui apresen-tado às salas de Capoeira da Vila como hoje trabalho nelas quase todas as tardes, como professor de Capoeira dessa criançada incrível, que inclui também o meu filho João, hoje no 3º ano do E.F.I

Quis o destino que a Vila estivesse presente na história de 3 gerações da minha fa-mília. E de diferentes formas e em diferentes papéis, nós 3 também fazemos parte da história da Vila.

Feliz 35 anos, Vila!

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Por Fermín Damirdjian

O elevador

Era uma terça-feira qualquer de 2007. Eu esperava o elevador, na garagem, com as mãos carregadas de compras do supermercado. Tudo disposto da-quela forma que não sabemos exatamente como abriremos a porta quando ele chegar, mas na qual está tudo tão bem encaixado que deixamos para resolver esse pequeno problema somente quando a caixa metálica, de fato, plantar-se diante de nós.

Assim estava eu, como um monumento à minha vida ordinária, quando alguém faz o favor de me ligar no celular. Aqueles de telinha verde. Tinha um jogo da cobrinha que eu costumava usar no ônibus quando me cansava de ler.

Pensei um pouco se valia a pena sair do meu pedes-tal de herói da garagem, pai de família que voltava pra casa com as mãos fartas para alimentar minha esposa e uma pirralha de pouco menos de um ano de idade. Marina faria um ano na quinta-feira. Mas o celular persistia, e, para encher o elevador com sacos de supermercado, eu precisava trabalhar. Na época, era tutor de alunos, uma iniciativa absolu-tamente individual. Recebia alunos do Lourenço Castanho, da Viva, do Pentágono, do St. Pauls, da Play Pen e de qualquer um que quisesse me en-viar um jovem desajustado com o sistema escolar. Também tinha uma orientadora e um orientador de uma escola do Butantã que vinham me enca-minhando alguns desses espécimes. De modo que era melhor atender.

Largo as sacolas de uma das mãos, deposito a va-liosa carga no chão e enfio a mão no bolso para

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arrancar aquele aparelho piolhento que não parava de escandalizar a garagem, na esperança de que o telefonema realmente valesse a pena.

- Boa tarde, é o Fermín que fala?

- Sim, sou eu.

- Meu nome é Neninha (Quem?? Cada nome…). Você deixou um curriculum aqui com a Verinha e o Chicão (Todo mundo ali parecia ter um nomão ou um nominho.), e quero saber se você ainda tem interesse em vir até aqui conversar conosco.

Interesse? Eu tenho uma filha pra criar, minha senhora.

- Ah, acho que sim. Por que não? Se for em um horário viável… (Eu tinha montes de horários viáveis!).

- Pode ser na quinta feira, às 14h?

Justo no aniversário da Marina. A gente iria almoçar junto, os três…

- Claro que sim. Está ótimo. Está perfeito. Agendado.

Desliguei, o elevador chegou, como chegou também a quinta-feira. Ao contrário da escola do Butantã, que eu tinha visitado para estreitar meus contatos profissionais com uma orientadora baixinha e um orientador barbudo, agora eu tinha que ir à outra Escola da Vila, que ficava no final da Eliseu de Almeida. Cheguei pontualíssi-mo, afinal, eu tinha aquele horário viável. Na verdade, a quinta-feira inteira estava insuportavelmente viável naquela época. Tão viável que realoquei a singela come-moração do primeiro aniversário da Marina em qualquer outro momento do dia.

Fui, por fim, a uma sala conversar com uma mulher que falava muito sobre educa-ção e pedagogia. Não era uma fala muito extensa ou prolixa. Parecia ater-se às in-formações necessárias de uma conversa. Nem muito mais, nem muito menos, sem deixar de ser dinâmica.

- Trabalhar em escola é, sim, um tanto cansativo, por ter um grande volume de ações ao mesmo tempo. Chegamos ao fim do ano bem esgotados. No entanto, espera-mos sempre recomeçar no ano seguinte, e tudo o que fazemos nos motiva e instiga novas ideias e coisas por experimentar.

Uma das minhas primeiras incumbências foi colecionar uns papéis amarelos que significavam algo muito importante.

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E seguia. Enquanto a ouvia, eu olhava em volta tentando absorver referências. Meus olhos sempre trabalham bastante. Com frequência, costumam ser bem mais ativos do que minha audição e mais ainda que a minha parca concentração. Havia um quadro na parede, em cima da cabeça da diretora. Outros, a meu lado esquerdo. À minha direita, uma estante imensa, repleta de livros que, somado ao assoalho de madeira, davam uma acústica aconchegante ao lugar. Era uma casa meio sur-rada pelo uso, como uma roupa antiga, já com algum cheiro próprio. Bem à altura do meu antebraço direito, meus olhos pousaram sobre uma referência importante: Tempos interessantes, a autobriografia do Hobsbawm. Em meio à pedagogia, que eu vinha perseguindo com certa distância desde que eu me afastara da clínica com adolescentes em instituições públicas e ONGs, a história era sempre uma parceira que me acompanhava em minha leitura de cabeceira. Um porto seguro, um vínculo leal que sobrevivia ao meu trânsito profissional da clínica com jovens em direção à educação. E este senhor elegante, sábio, inglês, que sabia falar tanto de Marx como de Maradona, Eric Hobsbawm era uma referência intelectual e afetiva sobre quem eu me apoiava desde minha tenra juventude. Se na adolescência eu trocava as lei-turas escolares por Ernesto Sábato e García Márquez, na faculdade eu traía o bom e velho Freud com extensas leituras deste historiador contemporâneo.

- Seria importante se você pudesse vir amanhã conversar com a Susane para ver sua disponibilidade de horários.

Que gente prática. Amanhã? Horários? Não sei se já mencionei, mas eu tinha alguns horários viáveis, naquela época.

Sendo assim, no dia seguinte, às 7h20, fui conversar com uma orientadora grando-na que parecia levar o trabalho mais à sério que um sacerdote em retiro, embora nem tão serena nem muito menos lenta como um monge. Montamos ali uma grade horária um tanto assassina. Por mais que eu tivesse, sim, abundância de horários viáveis, parecia que estavam me empurrando para compor uma seleção em meio às quartas de final de uma Copa do Mundo, sem eu saber exatamente a quem eu deveria passar a bola. Tinha horários viáveis, mas também não vamos exagerar. Eu tinha vida lá fora.

Não importa. Entrei em campo. Uma das minhas primeiras incumbências foi cole-cionar uns papéis amarelos que significavam algo muito, mas muito importante. Eu também tinha que xerocar TODAS as provas que tivessem uma nota abaixo de “C”. Era agosto. Havia provinhas, provonas. Lições. Palavras estranhas, como,

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por exemplo, “SMA”. Parecia conversa de uma seita secreta que habitava galerias subterrâneas. Um encontro muito importante, da escola toda, em algum sábado, parecia se aproximar e deixar todos os professores muito, muito, muito tensos. Tudo bem, eu já tinha trabalhado na ala pública de hospitais psiquiátricos. Podia suportar muitas coisas.

Tinha que lidar com pirralhos de onze anos e também de quatorze. Irreverentes, mas também afetivos e simpáticos. Aulas interessantes, situações engraçadas. Cer-ta confiança foi-se tecendo, tanto com aquela massa de púberes como com as figu-ras que me rodeavam como parceiros de trabalho.

Quando eu já tinha me aclimatado e me sentia confortável, com uma boa ideia do que eu deveria fazer, resolveram me catapultar para outro território escolar. Algo como um além-mar dentro da própria escola. Mas que gente inquieta! Devem en-louquecer seus maridos mudando os móveis da sala todos os meses. Logo eu, que gosto de rotina. Que me desorganizo sozinho, sem precisar da ajuda de ninguém.

Mas vamos lá. Outra equipe a conhecer, outro espaço, e outra massa de pirralhos, já com outra cara, no Ensino Médio. Algo naquilo tudo me instigava. Muitas coisas me intrigavam e motivavam. Foi-se construindo um sentimento que era um misto de exaustão e vício. O mesmo fenômeno que suga é também o que alimenta. Es-sencialmente, trabalhar com jovens. Deparar-se diariamente com o próprio passa-do. Vibrar quando conseguimos oferecer algo que fez sentido aos alunos, repensar a escola quando eles só fazem pela tarefa. Sentir que as necessidades dos alunos são tão absurdas quanto legítimas. Que nós, adultos, precisamos a cada semana repensar nossos vícios diante de situações que parecem burlar a experiência que se acumula e se mostra útil. Mas que nunca é suficiente.

Passado algum tempo ali, e para a minha alegria, aquele orientador que me re-cebera com a orientadora no Butantã, anos atrás, agora caíra na cadeira ao meu lado. Mais algum tempo e aquela com quem eu montara minha grade horária semanal no Fundamental II foi alegremente catapultada para o nosso pedaço. E como essa gente gosta tanto de mudanças, nunca mais frequentei aquela salinha com a estante gigante. Agora os orientadores, coordenadores e diretora frequen-tamos outra, algo mais moderna, talvez mais fria. Há menos livros, bem menos. Mas em sua essência, é a mesma. Inclusive porque ali ainda repousa, silencioso e resoluto, o volume de Eric Hobsbawm, indicando que ainda não se esgotaram esses tempos interessantes.

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Festival de Poesia. A importância da literatura e da cultura na identidade da Vila.

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Por Andrea Aly

Lembro-me lembro do primeiro dia em que entrei na escola. Eu estava procurando uma vaga para estagiar na educação infantil e fui recebida pela Vania e pela Dayse. Lembro desse dia, do clima agradável que senti ao observar as crianças brincando e passando pela sala com piso colorido onde eu esperava.

Na reunião, uma pergunta: mas o que a Escola poderia te oferecer? Afinal, eu já ha-via me formado, acabado de casar, estava voltando de um ano na França e pleitea-va uma vaga de estágio na educação infantil. Respondi : preciso conhecer este uni-verso, viver isso e entrar de cabeça nas questões que envolvem a infância e a arte.

Assim, comecei minha jornada que, neste ano, chega a 8 anos de Escola.

Passei de estagiária de sala para professora de arte, comecei a dar cursos no Centro de Formação, tive minhas duas filhas e estou nesta delícia a todo este tempo!

Uma das coisas que mais me chama atenção na Es-cola ainda hoje é a qualidade crítica que os alunos

Uma equipe incrível, uma comunidade extremamente competente e envolvida, uma escola de primeira!

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da Vila possuem. Quando fazemos visitas a museus ou nas aulas de apreciação que pude presenciar, fico sempre muito emocionada com os comentários deles e a ca-pacidade de observar, analisar, refletir e discutir sobre arte.

Outro ponto muito importante é a quantidade de gente especial que a Escola en-volve. Uma equipe incrível, uma comunidade extremamente competente e envolvi-da, uma escola de primeira!

Continuo muito feliz em poder fazer parte de tudo isso e de estar perto das crianças fazendo-os felizes durante esses momentos tão especiais que são as aulas de arte!

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Por Andrea Monteiro

A Vila tem uma história interessante com a minha vida. Tenho uma irmã pedagoga que hoje está com 45 anos. Quando éramos estudantes, ela chegava tarde da noite algumas vezes em casa e, como dividíamos o mesmo quarto, muitas vezes ela co-mentava que tinha ido fazer um curso na Vila. E assim aconteceu por diversas vezes.

Na minha cabeça, a Vila era uma central de cursos para professores e estudantes de magistério, nada além disso.

Passados 8 anos, eu me casei, e minha enteada estudava na Vila, Marina Monteiro, e sua mãe era professora de História da Vila, a Conceição. Foi aí que entendi que a Vila era uma escola, Escola da Vila.

Dois anos depois, nasceu minha primeira filha, Beatriz Monteiro, morávamos na época em Moema, e ela acabou estudando a pré-escola num colégio do bairro.

Quando ela tinha 7 anos, mudamos para o Alto de Pinheiros e, de repente, eu es-tava matriculando minha filha naquela Escola da Vila que eu achava que era uma Central de Cursos para pedagogos… Acabei colocando ela na Vila sem nenhuma referência, o objetivo único era que as duas irmãs estudassem na mesma escola, já que, na época, não moravam juntas e era uma forma de mantê-las mais próximas.

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A Bia foi aluna da querida Andrea Polo, logo no primeiro ano do ensino fundamen-tal. Que sorte foi a nossa de ter essa professora de cara. A Bia saía da sala toda hora porque queria ir ver a irmã mais velha. Lembro-me da Andrea me dizendo que “tudo bem, isso ia passar e etc…”, o que, de fato, passou.

Na 1ª reunião que fui à escola, eu não conhecia ninguém. Uma moça que depois eu descobri que era a mãe da Julia Ferraz, colega da Bia, num determinado momento, comentou numa rodinha de mães: “Nossa, a Vila é tudo pra mim, essa escola é ma-ravilhosa”. Nem me lembro em que contexto aquilo foi falado, mas fiquei impressio-nada naquele dia com tantas manifestações positivas em relação à escola.

Passaram-se meses e eu fui me enturmando com as mães, crianças e a própria es-cola. E aí descobri o porquê do encanto com a escola. Entre tantas qualidades, a Vila tem a maior e mais importante para uma criança no início de sua vida escolar – ela é uma escola verdadeiramente acolhedora. Ela acolhe a criança como nenhu-ma outra faz. Ela aceita as diferenças e é uma escola de inclusão de verdade.

As pessoas que escolhem colocar seus filhos na Vila não podem ser arrogantes, afe-tadas, fúteis, simplesmente porque isso não combina com a escola. Essas pessoas não permanecem na escola, não tem como. Os pais da Vila são pessoas inteligen-tes, simples, a maioria bem sucedida, inclusive, mas isso não é relevante pra ninguém. Aqui o que importa é a convivência desinteressada e harmônica entre as pessoas, sejam pais, sejam filhos.

Em 2014, a Bia viajou com a escola em razão do inter-câmbio com a Argentina. Fui buscá-la na escola e um pai que eu nem conhecia me falou, enquanto esperá-vamos a van chegar: “Como eu sou feliz de ter podido proporcionar ao meu filho que estudasse nesta escola.” Sinceramente, fiquei tão comovida na hora com tamanha demonstração de carinho pela escola que nem perguntei quem era o filho dele.

Marina fez grandes amigos na Vila, está hoje com 19 anos e entrou na POLI em 2014. Apesar de sempre ter gostado mais da área de exatas, adora literatura, lê muito, e eu tenho certeza de que ela aprendeu isso na Vila da forma mais prazerosa possível. Tem um carinho especial pela escola e, com certeza, vivenciou momentos inesque-cíveis na Vila.

A Bia foi aluna da querida Andrea Polo, logo no primeiro ano do ensino fundamental. Que sorte foi a nossa de ter essa professora!

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Enquanto escrevo esse texto, obviamente me vêm tantas lembranças à cabeça, como festas juninas, reuniões, peças de teatro, a palestra sobre “Luto” num ano di-fícil da sala da Bia (o que foi uma demonstração enorme de carinho e preocupação naquele momento com os alunos), entre tantos outros.

Não posso deixar de escrever que a Bia pediu pra sair da escola no 1º ano do ensi-no médio – queria uma experiência diferente e nós, pais, respeitamos a decisão e aceitamos sua saída. Passados 5 meses, a Bia começou a ficar triste. Um dia con-fessou que estava morrendo de saudades da escola e dos amigos. Lá fui eu pedir clemência ao Fermín, outra pessoa doce e maravilhosa que um dia a Vila contratou. Ele nem hesitou – “pode voltar”. E foi a melhor coisa que fizemos. Em uma semana, ela era outra pessoa.

Este ano é o último ano dela na Vila. Não quero nem pensar na formatura. Já fico emocionada só de escrever essa palavra.

Como ela foi feliz nessa escola, que saudades vou sentir da turma dela se reunindo em casa: o Tatá, a Clarinha Orfão, Marina Perez, Bruno, Karen, Lara, Gui, entre tan-tos outros. Aliás, inesquecível o discurso do Gui no aniversário de 15 anos dela. Só quem ouviu pode descrever. Tenho certeza que eles serão amigos pra vida toda, ainda que cada um vá seguir seu caminho. Espero que esse seja um dos grandes legados que a Vila vai deixar pra eles.

Por fim, diante de tantos bons momentos de que acabei me lembrando, escreven-do esse texto modesto, mas feito com muito carinho, só posso agradecer ao destino por ele ter colocado a Vila no meu caminho, e dela ter sido minha parceira na edu-cação formal e emocional de duas garotas que se tornaram meninas maravilhosas.

Um beijo enorme a todos vocês e parabéns pelos merecidos 35 anos de história.

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Festa Junina. A valorização da cultura popular na escola.

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Por João Colombero

Talvez quem devesse estar escrevendo este depoimento fosse um dos meus irmãos mais velhos: André Colombero, formado na turma de 2004, ou Leonardo Colombe-ro, formado na turma de 2011 (ambos estudaram na escola desde criancinhas até o último ano do Ensino Médio, assim como eu). Porém, como irmão mais novo, em um ano de encerramento da escola e de formatura, acredito que tenho muito o que falar da Escola da Vila.

Me sinto uma pessoa muito privilegiada em poder percorrer a minha vida escolar nesta instituição de ensino, que hoje é mais uma segunda casa, passando boa par-te do dia nela, seja por revisões, estudos ou até mesmo treino esportivo, voltando para casa para comer e dormir.

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Algumas das minhas amizades dentro da Escola da Vila são de longa data, desde o Grupo 1, quando tinha 3 anos de idade. Digo isso porque, sem dúvida, o que eu irei levar para sempre dessa escola serão as amiza-

des. Levarei também a simpatia que criei pelos professores, pelas meninas da co-zinha, do almoxarifado, da secretaria, pela Madalena, a telefonista, os funcionários da limpeza, da portaria, pelos estagiários e, até mesmo, pelos alunos novos.

Me recordo de várias mudanças que ocorreram dentro da escola. Uma delas, quan-do o pátio dos brinquedões deu lugar para a nova cantina, ou quando o extenso prédio da biblioteca, com suas enormes portas de madeira (aquele em que Celinha nos contava histórias no mar azul ao final de cada dia) deu lugar à construção de um novo prédio. Confesso que uma mudança marcante (não sei porquê) foi a troca do aparelho retroprojetor (aquele em que a professora de Língua Portuguesa usava para nos ensinar gramática com uma folha transparente e uma caneta permanen-te) por um computador e um datashow em cada sala.

Não foi fácil para os meus pais pagarem a mensalidade dos meus dois irmãos, a mi-nha e da minha irmã mais nova (ufa! acho que lembrei de todos!). Naquela época, cogitávamos a ideia de mudar de escola. Mas não. Nenhuma escola seria capaz de substituir a forma de ensinar, de educar, de respeitar, da maneira como o conheci-mento é transmitido aos alunos, a paciência e a paixão dos professores em explicar o conteúdo (mesmo que fosse necessário mais de uma vez). E, por falar em profes-sores, acho que são eles as figuras que mais devo citar e agradecer pelo fato de te-rem me formado, não podendo esquecer também os coordenadores (viu, Susane? Espera: Susane com S ou com Z? Até hoje me confundo!).

Agora a lista daqueles que me marcaram profundamente dentro da Escola da Vila: Conceição, a cozinheira. Bel, a monitora. Celinha, a bibliotecária. Edson e Hernane, os porteiros. Como não me esquecer da Madalena, a telefonista, com quem tenho contato até hoje. Meus pais adotivos, Chacur e Chicão. E as três professoras da Edu-cação Infantil: Teca, Tucha e Miruna, essas duas últimas ainda encontro pelos cor-redores da escola.

E aqui vão meus parabéns pelos 35 anos e um muitíssimo obrigado!

O que eu irei levar para sempre dessa escola serão as amizades.

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Por Carina Contarini Dietrich

Era o ano de 1999. Eu, com 19 anos, casamento marcado e um novo emprego para ser iniciado em Macaé, Rio Janeiro. Foi nes-se contexto que tive o meu pri-meiro contato com a Escola da Vila. Era janeiro e fiz um curso sobre “O que ensinar na Educa-ção Infantil”. Inesquecível.

Depois desse, vieram mais de 20 cursos (acreditem, parei de contar depois do vigésimo). Morei em diferentes cidades, mas, independentemente de onde eu estivesse, não con-seguia trabalhar sem refletir e estudar com a equipe da Vila. Era inevitável. Minha trajetória profissional ia se modificando e era na Vila onde sempre en-contrava espaço para pensar, repensar, errar e aprender. Nos cursos que fiz, aprendi não so-mente sobre sequências di-dáticas ou projetos. Aprendi a falar, aprendi a argumentar, aprendi a elaborar minhas pró-prias propostas. Aprendi a ser mais que professora, aprendi a ser uma educadora.

Foram horas intermináveis em ônibus, noites longas em estradas, dias sozinha em hotéis e muitos momentos perdida em São Paulo, cidade onde fui morar em 2011 com minha família. Coincidência? Não, acho que não… Minha história com

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essa escola não havia nem começado ainda… O curioso é que eu não sabia disso, até então.

Confesso que, quando me mudei para São Paulo, meu foco eram minhas filhas, uma com 4 e a outra com 7 anos, na época. A mudança era grande para nós naque-le momento e, honestamente, nem pensava em voltar a trabalhar tão cedo. Mas, a vida tomou seu rumo rapidamente, a rotina se estabeleceu e superamos os desa-fios dos primeiros meses na nova cidade. Assim, poucos meses após a mudança e ainda sem emprego, lá estava eu na Escola da Vila, estudando novamente.

Em meados de outubro de 2012, resolvi visitar várias escolas em São Paulo deixan-do meu currículo. Neste período, criei coragem e preenchi o formulário online da Escola da Vila e enviei o meu currículo. Jamais cogitei a possibilidade de fazer uma visita pessoalmente, como estava fazendo com as outras escolas. Nunca! A verda-de? Não acreditava que estivesse à altura.

Era uma segunda-feira, eu estava em casa lendo um dos livros indicados no último curso que fiz na Vila, quando o telefone tocou. Me disseram: “Carina, aqui é da Esco-la da Vila e você foi selecionada para uma entrevista amanhã, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá”. Sim, eu só consegui entender o início da frase, porque fiquei paralisada do outro lado do telefone. Precisei de muita força para me concentrar novamente e voltar minha atenção para aquela voz feminina que continuava falando sem parar. Enfim, perguntei: “Você poderia repetir o horário e o local, por favor?”. E, mesmo com a repetição, depois que desliguei o telefone, não tinha certeza para qual uni-dade eu deveria ir. Foi tenso.

O processo seletivo foi longo, árduo e cansativo. Tenho certeza de que esse é o olhar de quem esteve dentro dele e, apesar de cada etapa ter durado em média 1 hora, a sensação é que havia durado 10 horas. Voltava para casa exausta… Mas, não me deixava abater. Es-tudava, ou melhor “devorava” livros, textos e artigos

em dias, esperando ser convocada para a próxima etapa. Eu tinha que estar prepa-rada. Era muita ansiedade, muita vontade de acertar, muita vontade de conseguir, muita vontade de fazer parte da equipe Vila. O que aconteceu depois dos 10 dias de processo seletivo? Minha primeira reunião com a equipe do 5º ano em dezembro de 2012.

CN, CS, PL, SAD, SMA… Pensava comigo: “Que língua é essa que elas estão falando?!?

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Essa reunião foi bem engraçada… CN, CS, PL, SAD, SMA… Pensava comigo: “Que língua é essa que elas estão falando?!? Não vou dar conta…”. Fico imaginando hoje quais eram as expressões no meu rosto… Muita novidade… Assustava, certa-mente. No ano seguinte, estudo, dedicação, noites sem dormir e satisfação. Sim, uma indescritível sensação de satisfação após cada etapa vencida. Fazia tudo va-ler a pena. Ao longo de 2013, minha exigência foi aumentando e mais desafios surgiram. Mais noites de intenso estudo e de trabalho árduo. Depois de dois anos na Vila, eu já começava a me sentir diferente. Aquela ansiedade do primeiro ano havia passado, me sentia familiarizada com a equipe e com os inúmeros desafios diários que enfrentamos enquanto professoras nesta escola. Mas a vida tinha ou-tros planos para mim…

Dezembro de 2014. Eu me preparava para um novo desafio na unidade Granja Via-na. Estava dando um passo grande na escola e aquele frio na barriga do 1º ano voltava a fazer parte da minha vida novamente. Foi, então, que veio a notícia: está-vamos de mudança para outro país. Era oficial.

O que veio depois da minha conversa com a escola não foi fácil. Me lembro com clareza do meu último dia de trabalho na unidade Butantã. Estava sem chão, de-sorientada, não sabia se deveria me despedir das pessoas ou agir como se nada estivesse acontecendo. Definitivamente, não estava nos meus planos deixar a Vila. Foi assustador.

Ao longo daquela manhã, pensei que sim, que eu precisava dizer para todas aquelas parceiras incríveis de trabalho o quanto elas foram importantes na minha trajetória profissional, o quanto me ensinaram e o quanto elas significavam para mim. Mas não deu muito certo… Bastava eu dizer as primeiras palavras para a minha gargan-ta fechar e as lágrimas tomarem conta dos meus olhos. Desisti. Portanto, aproveito esta oportunidade para dizer o que não consegui dizer na minha despedida.

Queridos amigos, amigas, parceiros e parceiras de trabalho,

Obrigada pelos anos inesquecíveis que vivi com vocês. Foram poucos, é verdade, mas foram intensos. Passei a vida inteira tentando fazer parte de outros grupos, mas foi na Escola da Vila que me senti realmente parte de um.

Nesta escola, conheci pessoas extremamente generosas, que me “estenderam a mão” nas pequenas necessidades do cotidiano: desde uma ajuda com o liquidi-

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ficador para o famoso “Milkshake da Carina”, até as exceções para impressões e materiais de última hora. Faz toda diferença poder contar com gente solidária. As dificuldades ficam menores, os problemas se tor-nam motivos de boas risadas. Quanta saudade…

Conheci, também, uma equipe de professores e coordenadores “pensantes”, pes-quisadores, leitores e escritores que transformaram a minha prática e a forma como olhava para a educação como um todo. Se pude me aprimorar como educadora, agradeço à equipe Vila, que desde 1999 faz parte da minha trajetória profissional. Tenho muito orgulho de ter feito parte dessa equipe. Esperem… Não vou mentir, ainda me sinto parte dela.

O que aprendi com a intensa programação de estudo para a produção de artigos, textos para sites e blogs, novos projetos e sequências didáticas todos os anos, re-presentam apenas parte do que levo comigo. As amizades que fiz são, sem dúvida, a parte mais preciosa. Saudade de vocês, meninas… Do dia a dia, das reuniões, das piadas, das brincadeiras, dos lanchinhos corridos no final do dia, dos presentes es-quisitos de aniversário… Guardo cada um desses momentos no meu coração com um carinho imenso.

Equipe linda essa… Me deram até um apelido, coisa que nunca tive em toda a minha vida. Cá. Que especial foi para mim ser chamada de Cá. (Prometi a mim mesma que não ia chorar ao escrever isso… Ainda bem que vocês não podem me ver agora… rs)

Bem, preciso encerrar… Escrevo demais… (Aposto que tem gente da equipe rindo ao ler isso… É, continuo a mesma…rs) Sinto muito, ficaria aqui escrevendo sobre minha experiência na Vila por dias se fosse preciso.

Hoje, há milhares de milhas que nos separam fisicamente, mas elas jamais serão suficientes para enfraquecerem nossa amizade. Obrigada mais uma vez pelas aju-das, pelos incontáveis momentos de apoio e generosidade de todos. Qualquer dia desses apareço por aí!

Se pude me aprimorar como educadora, agradeço à equipe Vila.

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Um pouquinho de Brasil. O evento mais colorido da Vila!

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Por Débora Delmaschio Crotti

Todos os filhos são especiais… Têm sua marca registrada no jeito de olhar, na singularidade dos gestos, nas manias, nos dengos, no sorriso…

Mano é especial por todos os quesitos mencionados acima e por mais um… Tem Síndrome de Down…

Assim começa nossa história com a Vila.

Chegamos aqui pelo forte histórico da escola no trabalho de inclusão. Nós, pais despreparados de primeira viagem, não sabíamos por onde iniciar…

Sabíamos apenas a nossa missão: apresentar o mundo à Manoela. Para isso, qual a premissa básica? Encontrar uma escola que tivesse como princípio respeitar sua

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individualidade e não exaltar a sua diferença. Diferentes somos todos. Gostaríamos de vê-la, além de incluída, respeitada.

E foi… Devemos confessar que no começo não foi nada fácil.

O nosso medo ora nos paralisava, ora nos indignava, ora nos fazia criar uma redo-ma em torno dela. Gunga, determinada, nos ajudou a reconhecer o potencial de Mano. Nessa trajetória, tivemos muita sorte! Mano teve professoras incríveis, que guardaremos para sempre em nossos corações… Dani, Anelise, Miruna, Clara. Que-ridas. Fortes. Capacitadas. Competentes demais.

Em 2012, foi o momento da filha caçula entrar na Vila… Marina… Agora eram duas irmãs frequentando, democraticamente, o mesmo espaço!

De igual para igual! Isso consolidou a satisfação que até então relutávamos em reconhecer…

Passados 6 anos (entrando no sétimo), já conse-guimos deixar Mano ir para o acampamento sem sofrer com um mês de antecedência. Ganhamos confiança nela e na escola.

Prestes a completar 10 anos, concluímos: Mano é uma menina que brilha! Quem a conhece pode, com certeza, confirmar: É linda! Cheia de vida, de atitude, de perso-nalidade, de carisma, de luz… Vocês nos ajudaram muito na construção de sua au-toestima. O mesmo acontece com Marina. O medo que sentíamos nos “primeiros passos” cedeu espaço para uma motivação sem fronteiras.

Vê-las crescerem assim, repletas de oportunidades e possibilidades, nos dá a certe-za de ter feito a escolha certa.

Manoela e Marina. Uma dupla tão diversa, mas que se respeita acima de tudo!

Vê-las crescerem assim, repletas de oportunidades e possibilidades, nos dá a certeza de ter feito a escolha certa.

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Por Rogê Carnaval

Lembro a primeira vez que ouvi o nome Escola da Vila na minha vida. O ano era 1997, eu refazia o 1º colegial numa escola tradicional do bairro do Pacaembu, muito perto de onde morava nessa época, Perdizes. Pelo meio do ano, meus pais se viram obrigados a devolver o apartamento alugado em Perdizes, e questões financeiras nos trouxeram de volta ao Butantã, onde temos um apartamento desde o início dos anos 80, no qual nunca havíamos morado. Acostumar-mo-nos com o novo bairro foi difícil, e talvez por isso meus pais nem sequer cogitaram nos trocar de escola. Foram anos difíceis, cruzando a ponte cotidianamente, enfrentando a intransponí-vel Rebouças, morando muito longe da escola pela primeira vez na vida. Por outro lado, foi um tempo de novos aprendizados: usar o transporte público da cidade, o primeiro assalto (perdi um par de tênis que amava), desvendar outras partes da cidade distantes do bem comportado bairro de Perdizes.

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O problema continuava sendo o desempenho nas exatas: matemática e física eram pedras no meu sapato! Um dia, uma amiga propôs que fizéssemos juntos aulas particulares com uma moça que ela jurava explicar matemática como ninguém. Conheci assim a Ligia. Ela estudava arquitetura e se sustentava com aulas particula-res. Além de linda, eu a admirava pela inteligência e pelo posicionamento político. Lígia talvez nem saiba, mas me despertou de forma irreversível o interesse pelas questões sociais, algo que, lá na frente, seria decisivo na minha escolha profissio-nal. Um dia, Ligia me perguntou: “Por que você continua estudando nessa escola tradicional, longe da sua casa, sendo que você parece infeliz lá? Aqui bem perto da sua casa tem a Escola da Vila, construtivista como a escola em que estudei, é a sua cara! Ou então o Equipe, que é bem pertinho também! Vai, se arrisca, Rogê!”. Eu pensei que não fazia sentido mudar de escola, já que, a essa altura, eu estava na metade do 2º colegial. Mesmo instigado pelo que ouvia sobre a Vila e o construtivis-mo, meus parcos 16 anos não me permitiram tão ousada mudança.

Em 2006, já na FFLCH, vivi uma experiência de moradia coletiva numa linda casa do Morro do Querosene. Naquele ano, um dos meus melhores amigos e que morava comigo, o Fábio, havia sido contratado para trabalhar como professor de História na Vila. Eu era professor de cursinho nessa época. O que se faz em termos pedagógicos em um cursinho é essencialmente diferente do que se faz em uma escola, especial-mente na Vila. Conversando sobre as práticas pedagógicas da Vila com o Fábio, eu enfim começava a entender o que havia perdido por não seguir o conselho da Ligia. Me encantava ouvir os projetos, as propostas, as produções dos alunos do Fábio. No ano seguinte, comecei a trabalhar em uma escola da comunidade coreana no Bom

Retiro, mas mantive-me também no cursinho. Aos poucos, me en-cantava mais o trabalho na escola, ainda que não desgostasse de forma alguma em trabalhar com os pré-vestibulandos. Em 2009, o Fábio já havia saído da Vila para se dedicar integralmente à car-reira acadêmica. Mas mantinha-se dando o curso de Revisão para

o vestibular, opcional aos alunos do 3º ano do Médio. Ocorreu que, por razões de agenda, ele não poderia dar as aulas de revisão naquele ano, e me indicou ao en-tão coordenador do EM, Armando Tambelli. Durante 6 semanas, revisei com aquele 3º ano temas como Revolução Francesa, Revolução Inglesa, neocolonialismo. Foi então que entendi de vez a besteira que fiz ao não seguir o conselho da Ligia: que alunos! Que escola! Que astral! Aquilo existia mesmo! Fiquei realmente feliz com o trabalho que executei naquelas semanas.

Que alunos! Que escola! Que astral!

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Em 2010, o professor Pedro Ravelli assumiu a coordenação da área de Humanas no EM. Armando precisava de um professor de História que pegasse apenas uma turma, algo como 6 aulas. Aceitei imediatamente! E assim cheguei oficial e regular-mente à Escola da Vila.

Em 2011, a Sônia me convidou pra permanecer no EM e assumir também o 9º ano. Hoje, à frente dos 8os e 9os anos, sinto que cheguei aonde queria, cheguei ao lugar certo. Gosto do trabalho que realizo, do projeto da Escola, onde, além de ensinar, aprendo muito, com alunos e colegas. Nesse lugar, fiz amigos pra vida, além de pro-porcionar às minhas filhas um ensino em que acredito e que eu mesmo acabei não vivenciando como aluno. Hoje, é impossível não pensar: a Ligia tinha mesmo razão.

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Vila Literária. Evento de celebração da literatura, da poesia, da metáfora e da arte.

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Por Miruna Genoino

Nos pequenos detalhes

Texto dedicado à Andréa Polo, atual orientadora da Educação Infantil

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Como ex-aluna da Vila, irmã de aluno, e agora mãe de alunos da Vila, pude parti-cipar da maior parte (se não de todos) os aniversários da Vila, marcados de forma especial a cada 5 anos. Já escrevi a partir de diferentes pontos de vista e sempre apresentando um pedacinho do sentimento enorme que tenho por essa escola que já me deu tanto, que já me mostrou tanto, que já me fez viver tantas coisas.

Neste aniversário de 35 anos, porém, não queria falar mais como professora que é ex-aluna da escola, mas sim como professora em começo de carreira, de como foi o começo de tudo, o que marcou a minha entrada neste mundo complexo da profissão docente. Pois sim, foi na Vila. Eu tinha acabado de prestar vestibular para a faculdade de Pedagogia e, ao encontrar antigas professoras na formatura de 8ª série do meu irmão, recebi o convite para que, caso eu fosse aprovada, viesse fazer estágio na Vila. Quis, fui, e de lá nunca mais me afastei… Na verdade, eu nunca ti-nha me afastado, mas, desde aquele momento, eu começava uma nova forma de viver a Escola da Vila, agora pelo lado de dentro.

Depois de um estágio maravilhoso com a Angela Crescenzo, no ano seguinte fui contratada como professora auxiliar e me disseram que eu ia ficar com a professora Andréa Polo. “Ela é uma professora muito especial, com um olhar bem cuidadoso para as relações e para o brincar, acho que vai ser ótimo para você”, foi o que me disseram. O que eu não podia imaginar é que eu seria colocada ao lado de alguém que iria mudar a minha vida para sempre.

Andréa me recebeu em sua sala de 1º ano com um sorriso do tamanho do mundo e uma paciência sem fim para trilhar uma parceria com uma meni-na que 19 anos ainda tão inexperiente no mundo da educação, mas com tantos sonhos, com tanta utopia. Pois bem, enquanto eu só queria pensar no grande, a cada dia em que íamos construindo nossa parceria, Andréa foi me mostrando o valor do pequeno, do simples, dos pe-quenos detalhes. O que eu não sabia era o quanto esses pequenos detalhes marca-riam para sempre a minha carreira e a minha visão do que é uma educação não só construtivista, como libertadora.

Com Andréa, aprendi o cuidado de perguntar ao aluno qual o nome e o sobrenome que gostaria de que fosse colocado na lista de nomes, mesmo que isso significasse explicar aos pais a diferença entre o que vinha de casa e o desejo que a criança ma-

Andréa foi me mostrando o valor do pequeno, do simples, dos pequenos detalhes.

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nifestava. Com ela, presenciei o cuidado e o carinho que podem existir na simples confecção de um cartaz com uma parlenda preferida, e nas palavras da rotina es-critas demoradamente na lousa da classe. Ela me dava sinais delicados mostrando que talvez fosse hora mais de ouvir do que de falar (que grande ensinamento, meu Deus, para uma tagarela como eu!), e me ajudava a construir uma conversa cari-nhosa com os alunos ao abrir uma lancheira e compartilhar um pedacinho de casa com a classe.

Tudo o que Andréa me mostrou naqueles dias em que estivemos juntas eu carre-go comigo como um pequeno tesouro. E, nesse pequeno tesouro, existe um mui-to especial, que veio por meio de um conselho, uma “chamada de atenção”, uma conversa franca que eu nunca, jamais esqueci, nem esquecerei. Eu, ativa e agitada como sempre fui, estava sempre querendo ajudá-la, e ia me adiantando sempre que possível aos tantos afazeres que faziam parte desse emaranhado da sala de aula… Além disso, ela estava grávida, e isso aumentava o sentido de responsabilidade de que eu tinha que ajudar no que fosse preciso. Um dia, Andréa me chamou e disse:

“Mi, você tem sido uma parceira maravilhosa e mos-tra sempre uma eficiência incrível em tudo o que faz. Mas eu queria te dizer uma coisa… Você precisa ter o cuidado de não se adiantar sempre e acabar fazendo antes algo que as crianças mesmas podem fazer. Dei-xe que elas assumam a responsabilidade pela classe também, você vai ver que dá certo.”

Foi incrível. Naquelas poucas palavras, Andréa me presenteou com um dos maiores valores presentes naquele que seria um princípio fundamental na minha relação com a educação, com a aprendizagem, com a sala de aula: buscar a autonomia, sempre, e acreditar nessa autonomia do aluno, lem-brando-me dela sempre que necessário também. E ela tinha razão, tudo sempre dá certo quando a gente aposta por esse caminho…

Eu e ela vivemos muitas coisas juntas desde então. A mais forte delas foi o nascimen-to da Lorena, o bebê lindo que foi crescendo à medida que crescia nossa amizade também. Mas outras tantas vivências, também muito emocionantes, se sucederam… Lembro-me das lágrimas em seus olhos quando eu soube que ia assumir uma licen-ça médica, sua emoção de me ver firme e segura em uma sala de aula, o carinho do nosso reencontro, quando voltei para a Vila depois de alguns anos fora do Brasil.

Tudo o que Andréa me mostrou naqueles dias em que estivemos juntas eu carrego comigo como um pequeno tesouro.

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A Vila sempre vai representar muita coisa para mim, pois ela fez parte de pratica-mente todas as etapas da minha vida e da minha família. Mas, nestes 35 anos, que-ro homenagear a Vila por conseguir reunir tantas pessoas maravilhosas e compe-tentes, que possibilitam que a gente descubra belezas profundas em momentos grandiosos, como no final da produção de uma escrita coletiva, mas também nos menores detalhes, como na confecção de uma lista de nomes. Os gestos de Andréa que eu presenciei sempre ficarão marcados aqui dentro de mim, como uma recor-dação maravilhosa daquele tempo juntas, quando eu aprendia a cada gesto, a cada fala, a cada olhar, o que era ser uma professora tão comprometida e tão símbolo do que é a Escola da Vila.

Parabéns Vila, parabéns a todos os que fazem a Vila ser o que é!

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Por Rui Piranda, marido de Adriana, pai de André, Olívia e Pedro

Minha história diante dos 35 anos dessa escola é até recen-te. Tem apenas 13 anos. Havia acabado de me mudar com a família para São Paulo. As es-colas da minha cidade (meus filhos gêmeos estavam em di-ferentes escolas) tinham fei-to algumas indicações… Mas ambas apontaram a Vila como sua preferida. Fui ver todas as opções. Por último, deixei a ‘preferida’ (queria formar mi-nha própria opinião). Na (óti-ma) entrevista, encontrei como interlocutora a Vania Marincek, extremamente competente, simpática e firme. Me disse que havia vaga para apenas um dos meus filhos. Emocionado (mesmo) eu disse: ‘Vania, você tem dois trabalhos.’. Ela riu e disse: ‘Quais?’ Eu ainda, emo-cionado: ‘Encontrar vaga para meu segundo filho e me aju-dar a escolher um lugar para morar.’. Ela riu e… Me ajudou nas duas tarefas! Eu nunca vou esquecer que o primeiro lugar que me acolheu foi a Escola da Vila. Vida longa para vocês.

Eu nunca vou esquecer que o primeiro lugar que me acolheu foi a Escola da Vila.

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Cooperação, conhecimento e autonomia continuam sendo os valores da Vila.

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Por Fernanda de Lima Passamai Perez

E lá se foram 3.830 dias. 10 anos e lá vai!… Parece que foi ontem que adentrei os portões da rua Barroso Neto para realizar um grande desejo: fazer parte da Escola da Vila. Desejo esse que me perseguia desde menina quando avistava, através da murada, aquela escola que mais parecia um sítio, cercada de altas árvores e gente muito feliz. Certa vez, tive a oportunidade de acompanhar uma amiga que viera buscar sua irmã e então pude conhecer o espaço além dos portões. O sentimento se tornou mais e mais intenso…tal qual aconteceu com a Raquel e sua Bolsa Ama-rela…ops, essa é outra história, deixa pra outra vez.

Bom, não pude ser aluna, capricho do Destino talvez. Muitos anos depois, com um per-curso profissional constituído, ingressei como funcionária. A felicidade não coube em mim quando ouvi a Vânia falar: “Por mim, você está aprovada!”.

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Desde então, percorri alguns setores, onde pude conhecer mais intimamente as pessoas e o funcionamento da instituição, até me fixar aqui na unidade Butantã, na Biblioteca Tatiana Belinky, há 8 anos. Agora percebo que Fortuna, diferente do Destino, foi muito generosa: faço parte da Vila, sou mãe de aluna e sou colaborado-ra, desfruto do prazer de trabalhar com literatura e estou sempre rodeada de gente muito sabida.

“O tempo passa e eles crescem!” me disse Wanilda, a quem sou muito grata por não me deixar desistir quando um problema de saúde quase me fez desistir.

É, o tempo passa. Construí muitas amizades. Mui-ta gente chegou. Muita gente partiu. Alguns saíram como alunos e voltaram como colegas de trabalho. Outros, partiram para sempre.

E nada como um pouco de saudosismo encerrar. Deixo um pequeno registro de al-guns momentos dentre tantos.

Meu agradecimento à comunidade da Escola da Vila pelo acolhimento e parceria.

A felicidade não coube em mim quando ouvi a Vânia falar: “Por mim, você está aprovada!”.

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Por Renata Marzola

Meus 35 especialmente comemorados com os 35 anos da Escola da Vila!

Minha história com a Vila começou em 2002, quando, ainda no início de minha car-reira, optei por buscar estabelecer uma parceria de trabalho com a escola, pois en-tendia que seria um importante lugar para a minha formação.

Conhecia muito pouco sobre o trabalho educativo, havia acabado de entrar na área, mas tinha a certeza, por conta dos depoimentos de alguns importantes profissio-nais com os quais tive a sorte de “crescer”, de que seria um lugar interessante para estar e, quem sabe, se tudo desse certo de acordo com as minhas expectativas, também ser o lugar escolhido para ver minha pequena Luana crescer.

E assim começou a busca por profissionais que pudessem fazer a ponte entre o meu de-sejo e a porta de entra-da para torná-lo uma realidade…

01 de fevereiro de 2003! Entrei por essa porta que se abriu, fui recebi-da com muito carinho e com uma grande ex-pectativa vinda da per-cepção acerca desse meu desejo em fazer parte do corpo pedagó-gico da Vila.

Comecei cheia de curiosidade, acompanhei grandes profissionais, educadores que, com todo o cuidado, analisavam as características de seus grupos e as especificidades da faixa etária, planejavam, executavam suas atividades de forma a despertar em seus pequenos o desejo pela investigação. Avaliavam, replanejavam, estudavam o ensino e a aprendizagem de forma científica, investigativa, afetiva e principalmente, reflexiva.

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Observava atentamente todo esse movimento. Estava sendo colocada para pen-sar, para construir uma compreensão acerca das diferentes possibilidades do fazer

educativo, das estratégias didáticas que eram ampla-mente exploradas em cada uma das áreas do conheci-mento, dos inúmeros conteúdos atitudinais, conceitu-ais e procedimentais que estavam sendo construídos. Começava a entender com maior profundidade sobre aprender, ensinar, planejar, executar, avaliar, ressignifi-car, partilhar, mediar, crescer, amadurecer, respeitar e conquistar pouco a pouco a tão esperada autonomia!

Fui aprendendo sobre a importância em zelar pelos aprendizes, como se fossem cristais.

Fui compreendendo, então, que “…a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”, como li uma vez em um poema de Manoel de Barros. Estava cheia de encantamento!

Segui e sigo minha trajetória pessoal e profissional partindo desse encantamento, sempre em busca de um conhecimento que se apresente em constante expansão e, dessa expansão, possibilite a construção de uma sabedoria não estática, enten-dendo que esta deve ser colocada em prática a partir desses determinados conhe-cimentos, sendo sua luz.

Essa trajetória inicial em comunhão com a bagagem pessoal vinda de experiências anteriores e posteriores, cujos valores e filosofia tanto em relação ao desenvolvi-mento humano do ponto de vista profissional, quanto do pessoal e principalmen-te materno decorrente do crescimento das minhas filhas, Luana e Nina, segue em meu dia a dia até hoje.

Acredito que toda essa experiência, aplicada na vida adulta e para além das áreas do conhecimento que compõe diretamente o currículo escolar, faz com que seja possível buscar pelas transformações vindas através da sabedoria, da competên-cia, da parceria, da autonomia, da resolução madura de conflitos e, principalmen-te, do desejo sobre essa transformação que nos faz avançar.

Acabo notando, nesse meu “balanço”, que o tempo do conhecimento e da sabedoria vai da disponibilidade que cada um possui para ressignificar o processo pessoal do

Esta é uma escola que possibilita importantes transformações para todos que se disponibilizam a ressignificar seus conhecimentos e avançar!

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dia a dia, através da revisão constantemente e da busca pela expressão e pela ele-vação vibratória nas decisões e relações estabelecidas individual e socialmente, no meio ao qual estamos inseridos.

Deixo os parabéns pelos nossos 35 anos e por esta importante parte de uma traje-tória que segue lado a lado com tantas outras!

Parabéns também por esta ser uma escola que possibilita importantes transforma-ções, não apenas para mim e minhas filhas, mas para todos que se disponibilizam a ressignificar seus conhecimentos e avançar!

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Menção Honrosa

Por Cida, Luzinete, Sílvia Irene e Vera

Depoimentos emocionantes e emocionados!

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Não existe “uma” história da Escola da Vila, mas, sim, tantas quantas foram as experiências vividas por aqui.

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