Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 171
ESTUDO COMPARATIVO DE COMPORTAMENTOS DE INDISCIPLINANAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM DOIS CONTEXTOS ESCOLA-RES DIFERENCIADOS.
Sena Lino, Luís; Ramos Oliveira, Paulo
Universidade da Madeira, Escola Básica 2º e 3º Ciclos de Arazede,
Portugal
Introdução e objectivos: A indisciplina, por parte dos alunos, cons-
titui um problema que se tem vindo a constatar nas nossas
escolas, em todos os domínios, inclusive, no da Educação
Física. Tratando-se de um tema recorrente no ensino, o mesmo
tem sido objecto de diversos trabalhos de investigação, não só
a nível do ensino geral (Doyle, 1986; Estrela, 1986; Kounin,
1970), como também no da Educação Física (Beckers-Ledent et
al., 1995; Brito, 1986; Mendes, 1995; Piéron & Emonts, 1988;
Rosado, 1990). O objectivo do estudo centrou-se na caracteri-
zação e análise comparativa dos comportamentos de indiscipli-
na verificados nas aulas de Educação Física, em turmas de
Currículo Normal e em turmas de Currículo Alternativo, quer
em Meio Urbano, quer em Meio Rural.
Material e métodos: A amostra utilizada foi constituída por qua-
tro turmas, duas de currículo normal e duas de currículo alter-
nativo, pertencentes a escolas de meio urbano e de meio rural,
num total de dois professores e de sessenta e seis alunos. As
aulas, num total de dezasseis, foram registadas em vídeo,
tendo-se posteriormente codificado os diferentes comporta-
mentos de indisciplina, através de um registo de ocorrências,
com base num sistema de observação adaptado para o efeito
(Sarmento et al.; 1998). O índice de fidelidade, intra-observa-
dor, foi de 97,4%. Os dados recolhidos foram tratados estatisti-
camente através da prova Teste Z para a diferença de propor-
ções entre duas amostras independentes.
Principais resultados e conclusões: Globalmente e segundo a variá-
vel Currículo, as turmas de currículo normal registaram um
maior número de comportamentos de indisciplina (384-58,8%)
do que as de currículo alternativo (269-41,2%). Por outro lado,
e de acordo com a variável Meio, as turmas de meio urbano
revelaram-se mais indisciplinadas (339-51,9%) do que as de
meio rural (314-48,1%). No que respeita à distribuição dos
comportamentos de indisciplina dos alunos pelas diferentes
dimensões de análise, a dimensão Comportamentos Dirigidos à
Actividade foi a que registou um maior número de ocorrências
(413-63,3%), tendo-lhe seguido as dimensões: Alunos
Dispensados (142-21,7%), Comportamentos Dirigidos ao
Professor (30-4,6%) e Comportamentos Dirigidos aos Colegas
(68-10,4%). Numa visão de conjunto e tendo por base os 653
incidentes de indisciplina registados, foi possível constatar que
os rapazes foram mais indisciplinados do que as raparigas. Esta
circunstância verificou-se, quer quando comparada a nível dos
currículos (normal e alternativo), quer quando comparada a
nível dos meios (urbano e rural). Estatisticamente revelaram
diferenças significativas as turmas de meio urbano e de meio
rural com currículos diferentes. Assim, a turma de currículo
normal, em meio urbano, é mais indisciplinada do que a de
currículo alternativo. De igual modo, em meio rural, a turma
de currículo normal é mais indisciplinada do que a de currículo
alternativo.
Palavras-chave: indisciplina, escola urbana/rural, currículo nor-
mal/alternativo.
ESTUDO DAS CRENÇAS E DOS PROCEDIMENTOS DE CONTROLODOS PROFESSORES FACE AOS COMPORTAMENTOS DE INDISCIPLI-NA DOS ALUNOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA.
Oliveira, M. Teresa
Escola Superior de Educação, Instituto Superior Politécnico de Viseu,
Portugal.
Introdução e objectivos: A disciplina e indisciplina na escola e na
sala de aula constituem sérias preocupações para todos os que
se interessam pela problemática do ensino. A indisciplina
reflecte, em primeiro lugar, a importância social que se atribui
à disciplina na escola, na pluralidade de perspectivas e de posi-
ções mais ou menos acantonadas em torno de escalas de valo-
res conflituantes. Em segundo lugar é um tema que resiste tei-
mosamente a soluções milagrosas ou definitivas, ainda que as
segregue continuada e abundantemente. No caso dos professo-
res, confrontados que são diariamente com situações que exi-
gem uma intervenção de carácter disciplinar, é-lhes pedida uma
participação activa no debate sobre a reordenação da vida na
escola, que equacione as regras do seu funcionamento. São
objectivos deste estudo: (i)Ponderar o efeito da experiência de
ensino na incidência da indisciplina e nas formas de a conceber
e de como com ela lidar; (ii) conhecer a relação entre as cren-
ças sobre a indisciplina e as práticas dos professores de
Educação Física.
Hipóteses: (1) A experiência docente distinta induz alterações
significativas nos níveis de mudança do primeiro para o segun-
do momento de observação, no que concerne aos comporta-
mentos de indisciplina dos alunos e aos procedimentos de con-
trolo do professor; (2) as crenças que os professores possuem
em relação à indisciplina e ao ensino produzem um elevado
nível de desenvolvimento no trabalho prático das aulas de
Educação Física. Variáveis de estudo: independentes - as que
dizem respeito à experiência docente dos professores; depen-
dentes - os procedimentos de controlo do professor relativos
aos comportamentos de indisciplina do aluno (dimensões:
antecipação, tutorial, punição e ignora).
Material e métodos: A amostra foi constituída por 12 professores
com experiências docentes diferenciadas, perfazendo um total
de 96 aulas observadas. Foram observados 1050 alunos.
Instrumentos e procedimentos: entrevista (Muchielli, 1975;
Grawitz, 1984); PEPCI (Henkel, 1991); T-Teste de simultâneos,
Regressão Múltipla (Stepwise Regressions); DM Manova (Schutz
e Gessroli, 1987). O nível de significância foi de 0,05.
Principais resultados e conclusões: Em termos globais, a experiência
docente provocou um efeito positivo nos comportamentos
indisciplina durante o ano lectivo. O grupo de professores sem
experiência docente, não apresentou melhorias nos procedi-
mentos de controlo dos alunos. Confirma-se que as crenças
que os professores possuem, sobre a indisciplina e o ensino da
Educação Física, produzem um elevado nível de desenvolvi-
mento no trabalho prático do professor nas aulas. Em conclu-
são: (i)a grande diferença nos professores, com experiência
docente, é que as crenças relativas à indisciplina se prendem
com a prática da aula, onde privilegiaram os procedimentos
antecipatórios; (ii) ao contrário, os professores inexperientes
crêem que as causas da indisciplina são o planeamento e a rela-
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 171
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]172
ção professor/alunos, embora na prática estes professores utili-
zem com frequência procedimentos tutoriais e punitivos.
Palavras-chave: indisciplina, professores experientes, professores
inexperientes.
PERCEPÇÃO DA GRAVIDADE DOS COMPORTAMENTOS DE INDISCIPLINA ENTRE ALUNOS E PROFESSORES.
Corda, Manuela; Rosado, António
Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa,
Portugal.
Introdução e objectivos: Uma dimensão importante das represen-
tações de alunos e professores acerca da indisciplina tem a ver
com a percepção da importância relativa, ou da gravidade per-
cebida, desses comportamentos por parte dos diversos interve-
nientes, nomeadamente, professores e alunos. Essa diferencia-
ção das percepções de gravidade pode, evidentemente, afectar
aspectos decisivos da comunicação interpessoal e da regulação
dos comportamentos inapropriados. Nesse sentido formulamos
as seguintes questões de pesquisa: Qual a percepção da gravi-
dade que os professores e os alunos têm relativamente aos
diversos comportamentos de indisciplina que ocorrem na sala
de aula? Será que existem diferenças significativas entre a per-
cepção dos alunos e dos professores, relativamente ao grau de
gravidade dos incidentes disciplinares?
Material e métodos: A amostra foi retirada de várias escolas do 2º
e 3º ciclos do ensino básico e do secundário, situadas na Zona
da Grande Lisboa e é constituída por 160 indivíduos, sendo 78
do género feminino e 82 do género masculino. Dos 160 indiví-
duos, 40 são professores de Educação Física e 120 são alunos.
Relativamente à variável independente, considerámos dois gru-
pos: professores e alunos. As variáveis dependentes analisadas
foram a percepção de gravidade dos comportamentos de indis-
ciplina dos alunos, integrados em três dimensões e subdividi-
dos em 18 categorias. Utilizámos como instrumento de medida
um questionário tipo Likert, tendo-se garantido a sua validade
de construção e de conteúdo. Os grupos foram comparados
recorrendo a estatísticas paramétricas (Anova One-Way), após
controlo dos requisitos estatísticos correspondentes.
Principais resultados e conclusões: Verificámos que a totalidade da
amostra percepcionou, relativamente ao grau de gravidade dos
comportamentos de indisciplina dirigidos à actividade, todos os
comportamentos como graves, à excepção do comportamento
“chegar atrasado”, considerado como pouco grave. A percepção
relativamente ao grau de gravidade dos comportamentos de
indisciplina dirigidos ao professor é considerada “grave” para
os comportamentos “desobedecer ao professor” e “interromper
constantemente o professor na sua exposição”, e “muito grave”
para os restantes. Todos os sujeitos consideram como muito
graves os comportamentos de indisciplina dos alunos que cons-
tituam insultos, ameaças ou agressões aos professores. A maio-
ria dos professores respondeu que considera muito grave as
agressões, quer verbais, quer físicas aos professores, aos cole-
gas ou a qualquer interveniente no processo educativo. Como
pouco graves, as respostas encontradas são muito variadas, mas
apontam, fundamentalmente, para o não-cumprimento das
regras estabelecidas na aula. Na análise comparativa, tanto nos
comportamentos dirigidos à actividade, como nos comporta-
mentos dirigidos ao professor e nos comportamentos dirigidos
aos colegas, são sempre os professores a apresentarem maior
percepção do grau de gravidade dos comportamentos. Nos
comportamentos dirigidos à actividade, os mais frequentes no
quotidiano das aulas, verificaram-se, por exemplo, diferenças
significativas em 5 dos 9 comportamentos considerados nesta
dimensão. Concluímos que, de uma maneira geral, existem
divergências significativas nas valorizações de professores e
alunos, potenciando dificuldades de comunicação e de controlo
disciplinar.
Palavras-chave: indisciplina, percepção de gravidade.
REFLEXOS DA DISCIPLINA NO CORPO DO ALUNO: QUAL DISCIPLINA?
Soares, Artemis; Silva, Francileny
Universidade Federal do Amazonas; Secretaria de Educação do Estado
do Amazonas, Brasil.
Introdução e objectivos: O presente trabalho teve por objetivo ana-
lisar a influência que tem a disciplina escolar no corpo do aluno,
bem como observar as resistências dos mesmos às normas dis-
ciplinares adotadas nas escolas. A justificativa do estudo deveu-
se à necessidade de fazermos uma reflexão sobre o corpo do
aluno e sobre o que a disciplina escolar produz nesse corpo.
Material e métodos: Para a coleta dos dados utilizou-se a técnica do
questionário com perguntas abertas e fechadas, buscando dados
importantes sobre aspectos da disciplina, da liberdade de ir e vir
na escola, tanto por parte dos alunos como de professores.
Principais resultados e conclusões: Ao final do trabalho pudemos
concluir que a escola continua a ser a principal repressora da
livre manifestação da corporeidade do aluno, como também
que a norma escolar tem forte influência sobre o corpo das pes-
soas. Neste sentido, verificou-se que a disciplina é vista como
forma de poder e controle da conduta. Também foi possível
perceber que dentro do espaço escolar existem diversos desa-
fios que podem ser superados, sendo possível equilibrar liber-
dade e compromisso para que haja uma educação satisfatória,
através da participação e divisão do poder decisório. Assim o
educando poderá sentir-se responsável para a promoção do
bem-comum.
Palavras-chave: disciplina, corpo, normas disciplinares.
A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS SOBRE O AMBIENTE DE APRENDIZA-GEM NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA. UM ESTUDO NOSAÇORES.
Condessa, Isabel
Universidade dos Açores, Portugal.
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 172
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 173
Introdução e objectivos: O facto do ambiente das aulas práticas
em educação física ser vulgarmente complexo e dinâmico e
existir uma grande heterogeneidade de características pessoais
dos alunos, tem feito sentir a necessidade de se dar relevo às
condições de organização da aprendizagem, pontos de análise
determinantes para a sua qualidade. O presente estudo preten-
de contribuir para a compreensão da percepção pelos alunos
sobre o ambiente de aprendizagem nas aulas de Educação
Física e os seus objectivos do estudo foram: (1) identificar gru-
pos perfil, de alunos, em função da sua percepção do ambiente
de aprendizagem; (2)relacionar esta percepção dos alunos com
as suas expectativas pessoais sobre esta disciplina e as suas
actividades praticadas (as mais praticadas nas aulas; as preferi-
das; aquelas em que apresentam um maior domínio).
Material e métodos: Neste estudo participaram alunos dos 2º e 3º
Ciclos do Ensino Básico e do Ensino Secundário, distribuídos
pelas diversas escolas do ensino regular do Arquipélago dos
Açores. Recorreu-se a uma tradução/adaptação do PELES
(Physical Education Learning Environment Scale), instrumento
apresentado por Mitchell (1996) para avaliar a percepção dos
alunos sobre o ambiente de aprendizagem nas aulas de
Educação Física. Para o tratamento estatístico utilizou-se uma
análise multivariada - Análise Factorial e de Clusters - para
investigar grupos de alunos/perfis. Posteriormente, recorreu-se
a técnicas descritivas, comparativas e relacionais.
Principais resultados e conclusões: Face aos resultados obtidos
podemos dizer que, de um modo geral, as respostas dos alunos
sobre a sua percepção sobre o ambiente de aprendizagem per-
mitiram identificar cinco grupos distintos quanto a essas per-
cepções e que se relacionam com a sua idade, nível de escolari-
dade e género. Estes grupos também diferem quanto às expec-
tativas que têm relativamente à disciplina de Educação Física.
Os grupos constituídos maioritariamente por alunos do 3º
Ciclo, com uma percepção de competência mais positiva, são os
que desenvolvem melhores expectativas relativamente aos
resultados escolares nessa disciplina. Contrariamente, o grupo
constituído por alunos mais velhos, e sobretudo do género
feminino, com baixos índices de auto-estima e de competência
percebida, é o que apresenta expectativas menos favoráveis. No
respeitante ao envolvimento dos alunos nas actividades curri-
culares de Educação Física, observa-se que as práticas de activi-
dades que correspondem ao “jogo” independentemente do seu
grupo de pertença, são em geral as “mais praticadas”, as “prefe-
ridas” e aquelas em que os alunos se sentem “melhor prepara-
dos”. Concluindo: Em geral, os alunos apresentaram uma
representação positiva sobre o ambiente de aprendizagem das
suas aulas de E.F.. As respostas desses alunos sobre a sua per-
cepção sobre o ambiente de aprendizagem nessas aulas, permi-
tiram identificar grupos/perfis que se relacionam com algumas
das características extrínsecas dos alunos e com as expectativas
que eles têm relativamente à disciplina. No respeitante ao
envolvimento dos alunos nas actividades curriculares de
Educação Física, observa-se que as suas preferências diferem
pouco nos vários grupos, e que se relacionam sobretudo com as
actividades mais praticadas nessas aulas.
Palavras-chave: ambiente de aprendizagem E.F., percepção dos
alunos sobre E.F., expectativas dos alunos E.F..
OS PROFESSORES DO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO E A EDUCAÇÃOFÍSICA. O QUE FAVORECE? O QUE CONSTRANGE?
Neves, Rui1; Moreira, António1; Carreiro da Costa,
Francisco2
(1) Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa, Universidade
de Aveiro; (2) Faculdade de Motricidade Humana, Universidade
Técnica de Lisboa, Portugal.
Introdução e objectivos: A problemática da abordagem curricular
da Educação Física (EF) no contexto da escola do 1º Ciclo do
Ensino Básico (1º CEB) tem sido associada à atitude dos pro-
fessores deste nível de ensino (Moreira, 1992, Neves, 2001), o
que não pode ser descontextualizado das suas condições de
exercício profissional. A necessidade de garantir sustentabilida-
de à área de EF neste ciclo, justifica questionar os seus profes-
sores que, intervindo num modelo de monodocência, sentem
de forma singular as mais fortes e menos fortes influências na
construção curricular da EF no 1º CEB. Assim, pretendemos
identificar e analisar os factores que mais favorecem ou cons-
trangem neste ciclo o desenvolvimento da área de EF, aos olhos
dos seus professores.
Material e métodos: Foram inquiridos 150 professores do 1º CEB
em exercício de funções docentes através de questionário, com-
pondo uma amostra estratificada de 5 grupos de 30, em função
do seu tempo de serviço docente (menos de 5 anos; 6 a 10
anos; 11 a 15 anos; 16 a 20 anos e mais de 21 anos). A partir
de duas questões - “Quais são para si os dois factores que mais
favorecem a prática regular e sistemática da EF no 1º CEB?” e
“Quais são para si os dois factores que maiores constrangimen-
tos colocam à prática regular e sistemática da EF no 1º CEB?” -
recolheu-se e tratou-se informação através de análise de con-
teúdo (Bardin,1977) e por recurso ao “Sistema de
Categorização dos Factores de Sucesso e Insucesso
Profissional” (Carreiro da Costa et al 1992), utilizado pelos
autores em estudos similares e já submetido a procedimentos
de validação.
Principais resultados e conclusões: Os resultados globais distin-
guem os factores que favorecem ou constrangem a abordagem
curricular da EF no contexto da escola do 1º CEB. Como favo-
recedores salientam-se as categorias “Condições da Própria
Relação Educativa” (44%), “Condições Locais da Situação
Educativa” (23%) e “Não Responde” (12.7%), enquanto que
nos constrangedores se salientam as categorias “Condições
Locais da Situação Educativa” (64%), “Condições Gerais da
Instituição Educativa” (16.4%) e “Não Responde” (11%).
Podemos dizer que os professores associam mais os constrangi-
mentos às condições de cada escola, (ex: “boas condições de
espaços e materiais”, “boas instalações para a prática”, “quali-
dade dos materiais”) enquanto que sentem que o que favorece
a realização da EF está mais próximo daquilo que releva da
própria relação educativa (ex: “um maior convívio e integração
entre os alunos”, “carácter lúdico”, “o favorecimento do espíri-
to de equipa, do aceitar das regras, da disciplina”). Para os pro-
fessores do 1º CEB há factores que, de forma diferente, favore-
cem e constrangem a dinâmica de construção curricular da EF
na escola do 1º CEB, enquanto que outros factores se encon-
tram mais associados ao seu incremento. A apresentação destes
dados, que integram um estudo mais vasto sobre o conheci-
mento profissional dos professores do 1º CEB no contexto da
área de EF, permite-nos salientar como estes identificam facto-
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 173
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]174
res que, indo do micro ao macro-contexto na influência que
exercem na construção curricular da área de EF na escola do 1º
CEB, assumem valorizações contextualizadas e subjectivas ao
longo do seu percurso profissional.
Palavras-chave: educação física, professores 1º CEB, construção
curricular.
EDUCAÇÃO FÍSICA E CONHECIMENTO ESCOLAR NOS QUATROANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.
Freire, Elisabete
Universidade Presbiteriana Mackenzie; Universidade São Judas Tadeu;
Brasil.
Introdução e objectivos: O ensino da educação física na educação
básica, da mesma forma que os demais componentes curricula-
res, deve apresentar conteúdos próprios e únicos no sentido de
tornar possível aos alunos a aprendizagem de conhecimentos
específicos que, considerados no contexto geral e integrado da
educação escolar, possam contribuir para o seu pleno desenvol-
vimento e a sua formação para a cidadania. Nessa perspectiva,
este estudo foi realizado com o objetivo de verificar as caracte-
rísticas do conhecimento a ser aprendido nas aulas da educação
física nos quatro anos iniciais do ensino fundamental, identifi-
cando-o em termos de sua natureza conceitual, procedimental
e atitudinal e discutindo sua pertinência no ambiente escolar.
Material e métodos: Para o seu delineamento, a literatura pedagó-
gica da área foi definida como o critério de referência a ser
investigado. A indicação da aludida literatura foi obtida a partir
de entrevistas realizadas com docentes de instituições de ensi-
no superior, envolvidas com a preparação de professores de
educação física, situadas na cidade de São Paulo. A literatura
selecionada, representada por 13 obras escritas, foi tratada pela
técnica de análise de conteúdo.
Principais resultados e conclusões: Os resultados da análise efetua-
da possibilitaram inferir que o conhecimento escolar relaciona-
do com o ensino da educação física, no nível considerado, é
composto por fatos, princípios, conceitos, procedimentos, ati-
tudes, normas e valores. Contudo, esses elementos do conheci-
mento foram apresentados de forma fragmentada e nem sem-
pre significativa, não havendo consenso entre os autores sobre
os objetivos da aprendizagem correspondente. Verificou-se uma
tendência em priorizar a aprendizagem relacionada com o
conhecimento de natureza procedimental, haja vista a ênfase
considerável dada a esse tipo de conhecimento na literatura
analisada. Com relação ao conhecimento de natureza conceitual
e ao conhecimento de natureza atitudinal os mesmos foram
abordados superficialmente e nem sempre caracterizaram-se
como específicos e únicos da educação física. Assim, embora
tenha sido possível identificar as estruturas do conhecimento
escolar relacionado com a educação física para os anos iniciais
do ensino fundamental, entende-se que ainda é necessário uma
apresentação organizada e sistematizada dessas estruturas, o
que exige, inicialmente, uma formulação clara, precisa e con-
sensual de seus objetivos.
Palavras-chave: educação física, conhecimento escolar, ensino
fundamental.
O AUTO-ESTUDO DE UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA EM TIMORLOROSAE: UMA ABORDAGEM NARRATIVA.
Gomes, Ana Rita1; Graça, Amândio2
(1)EEB23 da Corga;
(2) Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física,
Universidade do Porto, Portugal.
Introdução e objectivos: Tendo como pano de fundo a abordagem
narrativa da experiência pedagógica dos(as) professores(as),
abordagem essa que pressupõe que o mundo não é o que exis-
te, mas é o que acontece, esta comunicação procura contribuir
para a compreensão dos propósitos, potencialidade e viabilida-
de da narrativa enquanto instrumento de investigação e de
transformação pessoal e social. São inúmeros os autores que
defendem insistentemente a indissociação entre experiência e
conhecimento, salientando a importância da construção lin-
guística da experiência. O objectivo da comunicação será apre-
sentar uma reflexão sobre um estudo que teve como ponto de
partida uma narrativa de uma experiência pessoal.
Material e métodos: Catalogado como viagem, este trabalho de
investigação evidenciou-se pelo desafio, desde a assunção do
problema - como é reconstruída linguisticamente uma expe-
riência pessoal vivenciada por uma formadora em Timor
Lorosae e quais os dados pertinentes que podem ser obtidos a
partir dessa reconstrução - às possíveis respostas para ele
encontradas, elas próprias desafiadoras de uma nova viagem. O
estudo estrutura-se numa série de passos encadeados que
incluem a redacção da narrativa (Gartner et al, 2000), a análise,
interpretação e discussão dos dados do material da narrativa,
com base no modelo de Labov (1997), e a reflexão pedagógica
sobre a experiência.
Principais resultados e conclusões: A reconstrução narrativa da
experiência pedagógica de uma professora de educação física no
projecto “Férias em Português em Timor Lorosae” põe em evi-
dência a utilidade das narrativas pessoais num contexto peda-
gógico. O narrador, ao organizar a sua experiência e ao reportá-
la detecta nexos e causalidades não detectáveis pela simples
vivência da experiência e, neste sentido, o narrador que termi-
na a narração é diverso daquele que a iniciou, tendo percorrido
um caminho quase iniciático de descoberta de si próprio, dos
outros e do real. A construção de instrumentos de análise das
narrativas permite filtrar e detectar os nexos lógicos das infor-
mações que nela surgem, bem como cruzá-los com outros
dados, de modo a que muito daquilo que era da dimensão do
conhecimento tácito exposto na narrativa, se torne visível pela
análise sistemática e estruturada deste enunciado.
Palavras-chave: narrativa, autoconhecimento, metodologia.
VIDEOGAME: UM EXEMPLO DE VIRTUALIZAÇÃO DO ESPORTE.POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR.
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 174
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 175
Feres Neto, Alfredo
Universidade Católica de Brasília, Brasil.
Introdução e objectivos: Os jogos eletrônicos, ou videogames, cons-
truídos a partir de imagens de síntese, compõem uma das face-
tas mais interessantes no que vem sendo denominado de vir-
tualização do esporte. A interação com esta tecnologia nos inci-
ta a repensar por completo o significado de experiência vital, na
medida em que a relação sujeito/mundo se torna cada vez mais
híbrida, por se constituir no próprio objeto da experiência, não
apenas uma condição a priori dentro da qual esta viria se inscre-
ver. Os objetivos deste trabalho são: 1. Discutir os significados
desta nova vivência, a partir das categorias virtual/virtualiza-
ção, do filósofo francês Pierre Levy; 2. levantar algumas impli-
cações para a educação física escolar, principalmente com rela-
ção a mudanças em sua prática pedagógica.
Material e métodos: Trata-se de pesquisa bibliográfica combinada
com a análise valorativa de depoimentos de praticantes e traba-
lhos acadêmicos que versaram sobre o assunto, bem como a
vivência, por parte do autor, em jogos eletrônicos.
Principais resultados e conclusões: Os resultados apontaram para
uma identificação do videogame com um movimento generaliza-
do de virtualização do esporte, por este se caracterizar como
uma mutação de identidade deste fenômeno cultural, que apre-
senta como traço mais marcante um embaralhamento entre prá-
tica e assistência, uma das características do que Félix Guattari
denominou de produção de novas subjetividades. A partir des-
tes elementos, vislumbramos também novas possibilidades para
a educação física escolar, com base em uma ação pedagógica que
amplie a motricidade do aluno ao combinar a vivência prática do
esporte com as novas tecnologias de comunicação, o que possi-
bilitaria a criação de novas formas de sensibilidade e inteligibili-
dade, a partir de um processo de subjetivação (incorporação de
diferentes modalidades vivências que se somam a prática) e
objetivação (produção de videos, de novos videogames, exposição
de fotos, construção de novas realidades virtuais). Concluímos
que a incorporação dos videogames não deve ser pensada em ter-
mos de impacto, mas como mais um elemento do processo de
humanização, e que portanto deve ser apropriado crítica e criati-
vamente pela escola, o que inclui, entre outros, abordá-lo inter-
disciplinarmente, contribuindo assim para o aumento da inteli-
gência coletiva no universo escolar.
Palavras-chave: videogame, educação física, virtualização.
A EDUCACÃO FÍSICA E A FORMAÇÃO CORPORAL EM UMA ESCOLAPROGRESSISTA: UM OLHAR ETNOGRÁFICO.
Lucas, Bianca B.; Soares, Antônio J.G.
Universidade Gama Filho, Brasil.
Introdução e objectivos: O Centro Educacional Anísio Teixeira
(CEAT) é uma escola particular localizada na cidade do Rio de
Janeiro que se auto-identifica como progressista. A instituição
na década de 1980 se transformou em uma sociedade sem fins
lucrativos, construindo uma nova maneira de trabalhar a educa-
ção, cuja aplicabilidade é garantida pelo corpo de funcionários e
docentes. Nessa instituição a formação corporal não se limita à
Educação Física (EF), todos os alunos, a partir do segundo seg-
mento (CA à 3ª série do ensino fundamental), possuem em seu
currículo aulas na oficina de artes (música, teatro, corpo e artes
plásticas). Neste contexto, a pesquisa busca compreender como
a EF participa do projeto de formação corporal nesta escola. O
objetivo é levantar uma base de dados que possa iluminar a
construção de propostas pedagógicas de educação corporal,
bem como observar os obstáculos e avanços que a EF vive, na
medida em que a formação corporal no currículo não está res-
trita a esta disciplina.
Material e métodos: A metodologia utilizada foi a pesquisa etno-
gráfica, envolvendo professores, funcionários, alunos do CEAT.
Principais resultados e conclusões: Os resultados apontam que a
escola perfila numa perspectiva progressista, entretanto, a
construção de um projeto que pense a formação corporal ainda
enfrenta desafios, como a falta de um trabalho sistematizado e
a abertura de diálogo com os profissionais de outras áreas,
principalmente da EF. A EF e outras disciplinas, também volta-
das para a formação corporal, vivem conflitos de ordem peda-
gógica e de emulação de status. Todavia, esse deve se encarado
como positivo no espaço da construção de projetos democráti-
cos na educação.
Palavras-chave: educação física, formação corporal, escola pro-
gressista.
A INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO PROJETO PEDAGÓGICO DEUMA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL: ESTUDO DEUMA PROPOSTA TRADICIONAL.
Merida, Marcos
Universidade Presbiteriana Mackenzie, Brasil.
Introdução e objectivos: Este trabalho é o segundo de uma série
de estudos que visam analisar a inserção das diversas propostas
de educação física nos projetos pedagógicos das escolas.
Segundo a Lei Nº 9394/96 (LDBEN), a educação física deve ser
entendida como componente curricular da educação básica
integrada à proposta pedagógica da escola. De acordo com os
Parâmetros Curriculares Nacionais, a proposta pedagógica de
cada escola deve ser construída coletivamente, de forma a arti-
culá-la com a realidade local da comunidade escolar. Portanto,
torna-se importante estudar a inserção da educação física no
projeto pedagógico das escolas. Nesse sentido, o objetivo deste
estudo foi analisar a inserção da educação física escolar no pro-
jeto pedagógico de uma escola pública municipal de São Paulo
de ensino fundamental, onde este componente tem uma pro-
posta tradicional, para verificar e levantar seu significado e os
caminhos adotados.
Material e métodos: Analisou-se o documento final da proposta
pedagógica da escola, denominado Projeto Político Pedagógico
e realizaram-se entrevistas semi-estruturadas com as duas pro-
fessoras efetivas de educação física, com a coordenação pedagó-
gica, com a direção escolar e com os alunos (por amostragem).
Principais resultados e conclusões: Chegou-se aos seguintes resulta-
dos: (1) A educação física teve o mesmo tratamento teórico dos
outros componentes curriculares no Projeto Político
Pedagógico, sendo apresentado em seu plano de ensino, contu-
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 175
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]176
do destoa da proposta sócio-cultural da escola. Nele ainda apa-
rece registrado um único projeto/atividade da área: campeona-
to Iíntercalasses e não há menção de atividades com a comuni-
dade; (2) na opinião da direção escolar e das coordenadoras
pedagógicas, as professoras têm uma postura rígida, cobram o
uso do uniforme e trabalham basicamente com o ensino dos
esportes. Porém enfatizam que elas são responsáveis, dedica-
das, realmente dão aulas e, não apenas, deixam os alunos joga-
rem como outros professores de educação física. Acreditam que
a disciplina de educação física é importante para o desenvolvi-
mento integral dos alunos; (3) na opinião das professoras de
educação física, o componente é bem aceito pelos alunos e os
educam por meio do desenvolvimento das modalidades esporti-
vas e condicionamento físico. Acham difícil realizar atividades
com a comunidade; (4) na opinião dos alunos, o componente é
prazeroso e importante para aprendizagem dos esportes e para
a saúde. Concluiu-se que essa proposta tradicional de educação
física escolar é baseada numa visão tecnicista, esportivista e
biologicista; tem pouca integração com a comunidade e com os
outros componentes; e, mesmo destoando da proposta sócio-
cultural da escola, é respeitada pela dedicação e “responsabili-
dade” das professoras.
Palavras-chave: educação física escolar, educação físca, ensino
fundamental.
COMPREENDENDO A DIALÉTICA DA INCLUSÃO/EXCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR.
Silva, Ana P.1; Sousa, Fabiana R.2; Maia, Julio3
(1) UFRJ e Uniabeu; (2) Faculdade Mercúrio, Uniabeu e UGF; (3)
Uniabeu e EEFD/UFRJ, Brasil.
Introdução e objectivos: Na perspectiva histórica da dialética entre
inclusão/exclusão e da construção dos parâmetros filosóficos,
baseado nos princípios da tão sonhada “Escola para todos”,
seus conceitos norteiam a discussão de inclusão no sentido da
reformulação dos parâmetros curriculares, capacitação profis-
sional e o levantamento histórico da segregação escolar impos-
ta ao aluno. A escola que chamamos “para todos” é algo que se
desenvolve desde o fim do século XIX e ao longo do século XX
em países como Inglaterra, França, Estados Unidos, Alemanha,
a antiga Prússia e a Áustria. Os países da Europa central come-
çaram antes. É uma escola sob um contrato social estabelecido
entre essa escola para todos: muitas vezes nascida na igreja ou
na fábrica é, nessa altura, estatizada. Torna-se uma escola ofi-
cial, do Estado-nação, e acompanha o desenvolvimento do capi-
talismo industrial. Encontramos uma escola meritocrática, que
se desenvolve com a preocupação de proporcionar o acesso a
todos na base da igualdade de oportunidades (Stoer, 2003).
Nos aspectos conceituais e estruturais da educação física esco-
lar, percebemos que no acesso ao saber, em espaços que trans-
mitiam e em que se criavam conhecimentos, evidenciavam-se
teorias e práticas sociais de cunho segregadoras, desde os mais
remotos tempos. Tais aspectos de exclusão/inclusão estariam
ligados a um processo de diálogos entre diversas identidades
(étnicas, episódicas, setoriais, de consumo, etc), onde cada
grupo não estaria preparado para lidar com a diversidade (o
outro). Na era atual, uma nova proposta de educação fortalece-
se para romper com essa prática de exclusão, norteada por um
novo olhar acerca das necessidades educacionais de alunos, a
chamada política de inclusão. Sob esse enfoque, o presente
estudo pretende abordar apenas a relação existente entre o
princípio de inclusão e a Educação Física escolar tendo em
vista a exclusão como componente histórico da disciplina.
Material e métodos: Será realizado um estudo empírico, de caráter
descritivo, do ponto de vista da forma de abordagem do proble-
ma, ele se classifica como pesquisa qualitativa, uma vez que foi
definida a análise interpretativa dos dados. Quanto aos objeti-
vos, classifica-se como pesquisa do tipo exploratório, pois os estu-
dos exploratórios permitem ao investigador aumentar sua experiência
em torno de determinado problema (Trivinos, 1993, p.109). Os res-
pondentes que constituíram a amostra pertencem a um grupo
de discussão, via internet, sobre Educação Física e totalizam 247
(duzentos e quarenta e sete) componentes, entre professores e
alunos, que, desde que aceitem sem resistências e dificuldades,
responderam o instrumento de coleta de dados, no caso um
questionário. Com o resultado da pesquisa será feita a análise
de conteúdo que se trata de um conjunto de técnicas de análise das
comunicações. Não se trata de um instrumento, mas de um leque de ape-
trechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado
por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de apli-
cação muito vasto: as comunicações (Bardin, 1977).
Principais resultados e conclusões: A partir da análise de conteúdo
do questionário acima citado chegamos às seguintes conclu-
sões: em relação ao significado da Educação Física escolar hoje,
os respondentes mostraram estar bastante atrelados ao conteú-
do específico da disciplina com suas concepções e ações peda-
gógicas. No entanto, o que mais nos chamou a atenção foi a
mudança por nós observada na forma de conceituar a discipli-
na, não mais como atividade física. A conceituação foi feita
com bastante seriedade referindo-se a valores (sociais e intelec-
tuais), passando pelo lado afetivo de uma disciplina até então
marginalizada. Além disso surgiram aspectos que mostraram
que a disciplina evoluiu buscando a cidadania dos alunos e não
mais a performance física, não esquecendo das condições de
trabalho. Quanto ao princípio de inclusão os respondentes o
caracterizaram de forma satisfatória, demonstrando uma boa
relação verbal com o termo. Relataram características específi-
cas do princípio de inclusão, se manifestando da sua origem à
conscientização, também, foram citados fatores que limitam o
processo e constam nessa relação os alunos “ditos normais - os
rotulados especiais”. A relação feita pelos respondentes entre o
princípio de inclusão e a educação física escolar, na nossa opi-
nião, foi bastante satisfatória, mostrando estarem atrelados aos
dois conceitos. Observa-se que a educação física escolar possui
traços da educação inclusiva e há uma preocupação com o direi-
to de todos, mas a Educação Física Escolar continua carregando
traços da sua história de exclusões. No entanto, hoje a discipli-
na apresenta aspectos de respeito, responsabilidade e seriedade
adquiridos com o passar do tempo. Os principais dados levan-
tados pela nossa pesquisa foram: (i) o grande número de não
respondentes (241), apesar de terem informações a respeito do
assunto; e (ii) o fato de os professores preferirem ignorar o
assunto - não sabemos se por medo de assumirem as suas pró-
prias dificuldades, ou por acharem mais fácil ignorá-lo – não
obstante as questões referentes a inclusão estarem presentes
no nosso dia a dia em sala de aula. Para caminharmos rumo a
uma Educação Física que dê oportunidade a todos, no mínimo,
temos que refletir sobre o assunto.
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 176
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 177
Palavras-chave: inclusão, exclusão, educação física escolar.
A EDUCAÇÃO FÍSICA E O PROCESSO INCLUSIVO: AS INTER-RELAÇÕES DISCENTES.
Filus, Josiane F.; Pereira, Vanildo R.; Lima, Sonia M. T.
Departamento de Educação Física, Universidade Estadual de Maringá,
Brasil.
Introdução e objectivos: Muitas questões sobre o ensino inclusivo
têm ocorrido nas escolas desde a sua implantação. Com a exis-
tência de diferentes variáveis, nossa pesquisa objetivou analisar
as inter-relações dos alunos incluídos em uma turma do ensino
regular.
Material e métodos: O grupo amostral foi composto por uma
turma de vinte e nove alunos, da 3ª série do ensino regular,
que possuía dois alunos com deficiência mental leve, sendo um
menino e uma menina com quatorze e quinze anos respectiva-
mente. Como instrumento de pesquisa foi utilizado a sociome-
tria, tendo como análise a Teoria dos Sistemas Ecológicos de
Bronfenbrenner (apud KREBS, 1995; 1997).
Principais resultados e conclusões: Os resultados demonstraram
que os dois alunos com deficiência esbarraram em alguns obs-
táculos, destacando-se o preconceito dos pais dos alunos e a
falta de preparo dos professores que acabaram sendo superados
na prática pelo desenvolvimento de atividades e estratégias de
ensino para atender a todos. Paralelamente, as professoras pro-
moveram reuniões com os pais informando-os sobre os alunos
e a nova realidade escolar. Outro resultado apresentado foi que,
mesmo com a discrepância na idade e na estatura, os alunos
com deficiência demonstraram relações afetivas, lúdicas e de
liderança com alguns colegas da sala. Apesar disso, a professora
de sala considera que um dos alunos poderia ter melhor apro-
veitamento estando em sala especial. Conclui-se que as aulas
de Educação Física oportunizam um ótimo ambiente para o
desenvolvimento dos aspectos afetivo, lúdico e liderança, pois
os alunos tiveram a oportunidade de participar das aulas, crian-
do novas atividades e estabelecendo possibilidades para a inclu-
são. As aulas de Educação Física demonstraram também que a
inclusão acontece de forma natural entre as crianças, pois elas
aceitam buscar e fazer as atividades sem qualquer discrimina-
ção aos alunos incluídos, mesmo estes se apresentando tão
diferentes em relação à idade e estatura.
Palavras-chave: inclusão, educação física, sociometria.
INCLUSÃO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO BÁSICA SOB A ÓTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA.
Marques, André E.; Denari, Fátima E.
Universidade Federal de São Carlos, Brasil.
Introdução e objectivos: Este estudo teve por objetivo verificar
como vem ocorrendo o processo de inclusão de alunos com
necessidades especiais nas escolas municipais de educação bási-
ca (EMEBs), a partir do olhar do professor de educação física.
Material e métodos: Para tanto, foram realizadas entrevistas semi-
estruturadas, gravadas em fita magnética e devidamente trans-
critas, com 08 professores e diretores das EMEBs que man-
têm alunos com necessidades especiais (deficiência visual,
auditiva e física), em seus quadros.
Principais resultados e conclusões: A análise dos dados, tanto sob a
ótica dos professores, quanto dos diretores apontou para algu-
mas categorias que salientam, entre outras providências ime-
diatas: a adaptabilidade funcional dos prédios; a difusão, entre
todo o pessoal escolar - corpos técnico-administrativo, docente,
discente - bem como a comunidade envolvida, de informações a
respeito das necessidades especiais e o aluno recebido; a prepa-
ração, desde a graduação e em serviço, do professor de
Educação Física para o trabalho com alunos com necessidades;
a importância de uma equipe multidisciplinar, visando um
atendimento mais eficaz, envolvendo a família do aluno.
Especificamente em relação aos professores, os dados salien-
tam um certo desconforto e insegurança na realização do traba-
lho, fatores tais atribuídos ao contato e informações insuficien-
tes, durante o curso de formação e no decorrer das atividades.
Os professores reclamam uma ação mais direta por parte da
equipe de gestores, no sentido de uma orientação mais pontual
e próxima à realidade com a qual lidam cotidianamente.
Apontam ainda, como imprescindível, a inserção de disciplinas
obrigatórias nos cursos de licenciatura em Educação Física,
cujas ementas abordem temas da área de Educação Especial.
Palavras-chave: inclusão, necessidades especiais, educação física.
EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO NO IMAGINÁRIO SOCIAL DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA.
Montenegro, Eduardo; Garcia, Rui; Teves, Nilda.
Universidade Federal de Alagoas, Brasil; Faculdade de Ciências do
Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto, Portugal;
Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, Brasil.
Introdução e objectivos: A questão central desse estudo tomou
como ponto de referência o modo de produção de sentidos que
emanaram dos discursos dos professores de Educação Física
em relação as mediações estabelecidas em suas aulas que carac-
terizassem práticas inclusivas ou não. O estudo partiu do
seguinte questionamento: qual o imaginário social dos profes-
sores de Educação Física e como se dão as mediações, utiliza-
das por estes em suas práticas pedagógicas, que viabilizam ou
inviabilizam práticas de inclusão em escolas estaduais de ensi-
no fundamental no município de Maceió, Alagoas? Esse estudo
teve como objetivos: identificar e analisar o imaginário social
de professores de Educação Física; identificar e analisar como
se dão às mediações utilizadas pelos professores de Educação
Física que viabilizam ou inviabilizam práticas de inclusão nas
aulas de Educação Física. Considerando a linguagem como
principal exterioridade do pensamento do homem em suas
diferentes formas de expressão, ela se impõe neste estudo
como o principal material de análise. Assim, o estudo guiou-se
pelos pressupostos epistemológicos do imaginário social
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 177
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]178
(Castoriadis, 1982).
Material e métodos: A amostra do estudo foi composta, de forma
aleatória, por um total de 28 (vinte oito) professores de
Educação Física e por 6 (seis) escolas (unidades-caso) que
atenderam ao critério da representatividade qualitativa. Para
análise e interpretação dos dados utilizou-se o método de análi-
se do discurso (Orlandi,1988).
Principais resultados e conclusões: Respondendo a questão central
do estudo, os imaginários sociais dos professores de Educação
Física se desvelaram nas representações de atleta-professor, de
técnico-professor e de professor-esportista em relação aos sen-
tidos de professor de Educação Física, educação física e prática
pedagógica. Este estudo revelou a presença, por vezes dentro
de uma mesma instituição, de imaginários sociais distintos
entre os professores de Educação Física, apontando formas bas-
tante peculiares de organizar o seu dia-a-dia no contexto ins-
trucional da escola, conformando padrões normativos de com-
portamento que se diferenciam com conseqüências distintas
frente à questão da inclusão. Pode-se concluir que os professo-
res que compuseram o grupo professor-esportista compreen-
dem que sua prática pedagógica não se constitui num fim em si
mesma, ela permite a construção de um ser humano inspirada
nos valores de respeito à diferença, da cooperação e do entendi-
mento de que a formação do indivíduo faz parte de uma pers-
pectiva maior, ou seja, da inclusão de todos no contexto educa-
cional e social, numa perspectiva de que se educa o homem
para o mundo. Quanto à disciplina curricular Educação Física,
conclui-se que quando empreendida por educadores tem um
importante papel na escola e o esporte, enquanto bem cultural
da humanidade, é um contributo inquestionável para a forma-
ção da pessoa humana.
Palavras-chave: imaginário social, representações sociais, inclu-
são.
CARACTERIZAÇÃO DAS CONCEPÇÕES DOS ORIENTADORES DEESTÁGIO PEDAGÓGICO E A SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO INI-CIAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA.
Albuquerque, Alberto1; Graça, Amândio2; Januário, Carlos3
(1)Instituto Superior da Maia;
(2)Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física,
Universidade do Porto;
(3)Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa,
Portugal.
Introdução e objectivos: As concepções sobre o ser professor
variam em função de diferentes paradigmas e orientações. As
imagens têm sido numerosas e, por vezes, contraditórias.
Glorifica-se o professor eficaz, competente, técnico, profissio-
nal, decisor, investigador, reflexivo, etc. Cada uma destas ima-
gens repercute-se nos conteúdos, métodos e estratégias da for-
mação de professores, e interage com as concepções de forma-
dores e formandos. O orientador de estágio, elemento decisivo
do estágio pedagógico, dá corpo ao objecto de estudo que pre-
tende investigar as suas orientações conceptuais relativas à for-
mação, o seu saber, a sua experiência, os seus propósitos e
modos de acção, as suas percepções sobre as preocupações e as
carências dos estagiários, e o tipo de relações que estabelece
com eles.
Material e métodos: O estudo inspirou-se no modelo Grossman
(1990) sobre o conhecimento profissional para o ensino e
recorre ao quadro teórico de Feiman-Nemser (1990) relativo às
orientações conceptuais da formação de professores.
Participaram 15 orientadores de estágio de Educação Física de
escolas do distrito do Porto. O estudo é constituído por quatro
estudos parcelares: 1) as concepções dos orientadores de está-
gio sobre a sua influência na formação inicial em educação físi-
ca; 2) percepção pessoal das experiências formativas dos orien-
tadores de estágio e suas concepções sobre a organização do
estágio em educação física; 3) como é que os orientadores
comunicam as perspectivas de ensino e de aprender a ensinar;
4) como é que os professores estagiários caracterizam os seus
orientadores de estágio. No primeiro e segundo estudos, a
recolha da informação foi feita por intermédio da aplicação de
entrevistas estruturadas de resposta aberta. No terceiro estudo
procedeu-se à gravação áudio de uma das reuniões semanais
interactivas entre orientadores e estagiários, complementada
com entrevistas antes e após a reunião. O quarto estudo con-
templa a análise dos relatórios finais de estágio de todos os
estagiários (41) orientados pelos 15 orientadores. A gravação
das entrevistas e das conversas mantidas durante as reuniões
de grupo, assim como as referências aos orientadores constan-
tes dos relatórios de estágio foram gravadas, transcritas e intro-
duzidas no programa QSR NUDIST 4. Foram procurados siste-
maticamente indicadores comuns e perspectivas opostas nas
concepções explicitadas pelos orientadores e nas opiniões emi-
tidas pelos estagiários. As medidas de controle de qualidade
dos dados fizeram-se por pesquisa activa e sistemática de casos
negativos.
Principais resultados e conclusões: Os orientadores transportam
consigo toda a carga da sua própria formação e experiência.
Estas são as fontes que suportam os conhecimentos que trans-
mitem aos estagiários, o que sugere a necessidade de uma for-
mação específica e especializada. Há também acentuações e
graus de preocupação diferentes na explicitação da relação
entre a função de ajudar a aprender e a função de avaliar.
Formadores, modelos de formação, experiências formativas são
relacionados com actuais concepções de formação dos orienta-
dores a partir de uma avaliação da sua utilidade prática, da coe-
rência e consistência da base conceptual do seu discurso e da
direcção e intensidade da carga afectiva estabelecida.
Palavras-chave: orientações conceptuais, orientadores de estágio,
formação de professores EF.
EXPERIÊNCIAS DE PRÉ-SOCIALIZAÇÃO NA PROFISSÃO DE PRO-FESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA. IMPLICAÇÕES PARA AS EXPERIÊN-CIAS DA FORMAÇÃO INICIAL.
Matos, Zélia1; Batista, Paula1; Pinheiro, Cláudia2
(1) Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física,
Universidade do Porto, Portugal.
(2)Instituto Superior da Maia, Portugal.
Introdução e objectivos: A socialização do professor é antecedida
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 178
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 179
por vivências que marcam a forma como o futuro profissional
valoriza as experiências da formação inicial (FI). As experiências
como aluno são apontadas como as mais relevantes no período
de pré-socialização. Quanto ao futuro professor de Educação
Física (EF) as vivências, como aluno ou como praticante des-
portivo, são fonte de conhecimento acerca do que é o trabalho
do professor (C. da Costa et. al., 1996). Também Koppe (1994)
acentua que a carreira desportiva parece influenciar a forma
como este percepciona o ensino da EF. Acresce que, tradicional-
mente, muitos “formandos” de EF são desportistas cujas con-
cepções assentam no modelo de desporto orientado para a
competição e o rendimento desportivos. Importa averiguar o
perfil de quem inicia a FI em EF e Desporto, através das con-
cepções percebidas acerca do “bom professor” “bom aluno” e
bom ensino”, por forma a conceber e organizar uma FI em que
as concepções resultantes da socialização antecipatória sejam
modificadas e enriquecidas. Ou seja, verificar as percepções
acerca do “bom professor” e do “bom aluno” em EF e
Desporto e relacionar as experiências desportivas da pré-sociali-
zação com as percepções acerca do ensino em EF e Desporto.
Material e métodos: A amostra foi constituída por 246 alunos do
1º ano do curso de EF e Desporto (123 da universidade pública
e 123 do instituto privado). Foi utilizado um inquérito por
questionário, com questões abertas e fechadas, adaptado de
Carreiro da Costa et al. (1996). Para tratamento das questões
fechadas utilizamos as medidas descritivas média, desvio-
padrão, frequências absolutas e relativas e para as questões
abertas o programa NUDIST. As categorias de análise foram
pré-estabelecidas com base em C. da Costa et al. (1996),
podendo incluir-se outras categorias.
Principais resultados e conclusões: Não foram encontradas diferen-
ças significativas entre os “formandos” da escola pública e da
privada: o “bom professor” relaciona-se, em 1º lugar, com
aspectos relacionais/personalidade: respeitador, amigo, diverti-
do e responsável, só depois aparece associada a competência
(pedagógica e científica). Ao “bom aluno” também surgem
associados, em 1ºlugar, aspectos relativos à atitude (interesse,
dedicação, aplicação e empenho) e, logo depois, a “ligação do
aluno ao mundo do desporto”. Os “formandos” praticantes de
desporto fora da escola (federado e não federado) valorizam, no
“bom professor”, o rendimento desportivo–motor e a “compe-
tência pedagógica e científica”. Os “formandos” só com expe-
riência desportiva nas aulas de EF valorizam os aspectos de ati-
tude e relação. Comparando com outros estudos, nomeada-
mente com C. da Costa et al. (1996), não existem alterações
significativas: o conteúdo da socialização antecipatória interfere
nas concepções prévias do futuro professor de EF. Aos progra-
mas de formação chegam “formandos” que na sua valorização
ou destacam os aspectos relacionais, ou valorizam aspectos
específicos da EF, mas referenciados a modelos de desporto
exteriores à escola. Sendo a socialização do professor, responsá-
vel pela formação de teorias subjectivas (Bento, 1995), ou concep-
ções de ensino de EF e Desporto (Carreiro da Costa et. al.,1996),
a FI (1ª etapa da socialização) deve reforçar o seu papel na
(des)construção do que contribui para um ensino de qualidade.
Parafraseando Meinberg (1991) que a FI permita ao futuro pro-
fessor rever o seu entendimento prévio, corrigir e completar o
pré-entendimento de que parte, clarificar os conceitos centrais
e os conselhos e recomendações sobre como se pode e deve
agir na práxis.
Palavras-chave: pré-socialização, socialização, formação inicial
em educação física.
O IMAGINÁRIO SOCIAL NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS PRO-FESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA: REVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA.
Montenegro, Patricia; Teves, Nilda; Resende, Helder.
Universidade Federal de Alagoas; Universidade Gama Filho,
Rio de Janeiro; Brasil.
Introdução e objectivos: O objetivo deste estudo é refletir sobre o
processo de formação profissional da educação física, utilizan-
do-se da teoria de Castoriadis (1982), sobre o imaginário social
a partir das categorias de autonomia e alienação. Por entender
que fenômenos complexos como a educação são impregnados e
dirigidos pela subjetividade dos atores que dele participam,
torna-se importante aprofundarmos nosso olhar para o proces-
so de formação profissional nos cursos de educação física, a fim
de que possamos trazer alguma contribuição para estes cursos
neste momento por que passam, em vista de um novo processo
de reforma curricular desencadeado pela legislação brasileira
atual. Recorreu-se à teoria do poder simbólico de Bourdieu
(2000) para a identificação das representações sociais dos ato-
res sociais envolvidos e, para a construção do referencial teóri-
co, nos apoiamos na teoria da instituição imaginária da socie-
dade, desenvolvida por Castoriadis (1982). Este referencial
possibilitou a compreensão das categorias do simbólico e das
significações imaginárias sociais sobre formação profissional,
docência e conhecimento específico da área, que circulam entre
os professores que formam o curso de educação física da
Universidade Federal de Alagoas.
Material e métodos: O estudo se caracterizou como um estudo de
caso de natureza qualitativa e, a partir de uma amostragem
aleatória estratificada de docentes do curso, por departamentos
ou áreas de conhecimento que compõem o currículo do referi-
do curso. Foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas com
diretores, coordenadores e professores destes cursos, recorren-
do a critérios de inclusão para a seleção da amostra. Buscamos
coletar os discursos dos professores, atores deste estudo, a par-
tir de entrevistas semi-estruturadas, gravadas em fitas k7.
Principais resultados e conclusões: Estes discursos estão sendo anali-
sados a partir da técnica de análise de discurso desenvolvida por
Orlandi (1988), que nos possibilitará identificar os processos de
constituição do fenômeno lingüístico que se caracteriza nos dis-
cursos dos atores sociais, que, por sua vez, materializam suas
representações sociais. Este estudo encontra-se em andamento.
Palavras-chave: representações sociais, imaginário social, forma-
ção profissional.
TIPOS DE PLANEAMENTO E METODOLOGIAS DE ABORDAGEM DOJOGO DESPORTIVO COLECTIVO FUTEBOL UTILIZADOS NA DISCI-PLINA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, NA REGIÃO AUTÓNOMA DAMADEIRA, PELOS ESTAGIÁRIOS DA UNIVERSIDADE DA MADEIRA.
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 179
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]180
Silva, Ricardo; Mateus, João
Departamento de Educação Física e Desporto, Universidade da
Madeira, Portugal.
Introdução e objectivos: “...A perícia desportiva emerge da interac-
ção de inúmeros factores, os quais se apresentam de uma forma
singular para cada atleta, por isso, essa variabilidade deverá ser
encarada como norma, na construção de qualquer caminho para
o sucesso” (Davids, 2001). Não oferece hoje grande discussão
que uma actividade/sistema complexo como o futebol exige um
planeamento pró-activo e uma abordagem dinâmica, ecológica e
de gestão emergente da percepção-acção em tempo real
(Mateus, 2003). Quisemos saber se é isto que se passa na nossa
realidade de ensino da Educação Física e Desporto. Neste senti-
do, fomos caracterizar o desempenho dos estagiários da UMa na
construção (tipos de planeamento) e implementação (metodolo-
gias de abordagem) do futebol nas aulas de educação física no
3º Ciclo do Ensino Básico, da R.A.M.
Material e métodos: Para o efeito, analisámos as unidades didácti-
cas de futebol, expressas numa amostra aleatória que totaliza
27 dossiers de estagiários, entre 1993 e 2002. No que concerne
ao planeamento da unidade didáctica, propusemo-nos verificar: (i)
Se assenta, sobretudo, numa lógica eminentemente linear
(P.E.L.) de sequência rígida dos acontecimentos, na qual todo o
processo está pré-definido, sujeito a escassas ou nenhumas
alterações ao longo da unidade didáctica ou se, em alternativa,
(ii) apresenta um carácter eminentemente não linear (P.E.N.L.),
dinâmico, o qual, sem perder de vista o objectivo, prevê uma
adaptação flexível e constante aos acontecimentos, aula a aula,
momento a momento. Quanto à metodologia de abordagem ao
futebol, analisámos se esta é feita com base: (i) numa aborda-
gem eminentemente técnica (A.E.T.), seguindo uma lógica de
«reprodução de modelos» e «progressões pedagógicas», sendo o jogo
decomposto em elementos técnicos no pressuposto, mais ou
menos assumido, de que “o todo é igual à soma das partes”, ou
(ii) numa abordagem eminentemente táctica (A.E.TT.), a qual
assenta na aprendizagem por «resolução de problemas», conside-
rando a variabilidade das acções que caracteriza a essência
deste jogo desportivo.
Principais resultados e conclusões: Verificámos que a A.E.T. prevale-
ce, numa relação de 74% para 26% de uma A.E.TT. Uma dife-
rença de similar magnitude foi novamente observada na análise
dos tipos de planeamento, ou seja, sobressai o P.E.L., com uma
proporção em relação ao P.E.N.L. de 70% para 30%, respectiva-
mente. Constatámos também que o P.E.L. está significativa-
mente associado à A.E.T., com um nível de confiança de 90%
(z2= 4). Posto isto, e ao contrário do esperado, os resultados
obtidos levam-nos a concluir que os professores estagiários
apresentam uma tendência clara para a adopção de planeamen-
tos eminentemente lineares, associados a abordagens eminen-
temente técnicas.
Palavras-chave: futebol, ensino, educação física.
ESTUDO DO IMPACTO DO MÉTODO DE AÇÃO INTERDISCIPLINARUTILIZADO EM UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PELO ESPORTE:CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL.
Santos, Suzana; Kissmann, Daniel.
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, Brasil.
Introdução e objectivos: As constantes mudanças na sociedade
contemporânea sugerem uma revisão de modelos e concepções
teóricas que norteiam os caminhos da universidade, levando a
rever sistematicamente o seu papel e a sua função social. O
objetivo desse estudo descritivo-exploratório foi analisar o
impacto gerado na construção de conceitos relativos a saúde e
educação por parte de estudantes universitários que atuam
num programa de extensão universitária de ação interdiscipli-
nar, referenciado na tecnologia social de educação pelo esporte;
esta tem o esporte como meio de intervenção sócio-educativa,
articulando três grandes áreas: apoio a escola, saúde e arte.
Material e métodos: Os sujeitos foram os estudantes da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/Brasil),
oriundos de dez diferentes áreas do conhecimento, participan-
tes do Programa Escolinhas Integradas (PEI), integrante do
Programa de Educação pelo Esporte (PEE) do Instituto Ayrton
Senna (IAS) e Audi. Quanto aos procedimentos, foi aplicado
um questionário, com questões abertas e fechadas, em: 30
monitores, que atuam no PEI, dos quais responderam volunta-
riamente 16; 7 ex-monitores/acadêmicos; e 3 gestores. A amos-
tra de acadêmicos que atuam no programa foi composta por 9
diferentes cursos: educação física (3), pedagogia (2), psicologia
(3), nutrição (1), secretariado executivo bilíngüe (1), biologia
(2), jornalismo (1), serviço social (2) e análise de sistemas (1).
Destes 81% eram do sexo feminino e 86% estavam entre o
segundo e o terceiro semestre de atuação no PEI, com média
de idade de 23 anos. Quanto aos ex-monitores/acadêmicos,
houve predominância do sexo feminino, com média de idade de
26 anos, das áreas da educação física (3), psicologia (3) e secre-
tariado executivo bilíngüe (1), participantes do PEI entre
1999 e 2003. Os gestores, de 4 diferentes áreas do conheci-
mento (educação física, psicologia, serviço social e desenho e
plástica), eram 50% do sexo masculino, com idade entre os
28 e 55 anos, que ingressaram entre 2001 e 2003.
Principais resultados e conclusões: Os dados levantados quanto aos
impactos e contribuições que foram gerados a partir do ingres-
so dos acadêmicos no programa, nos três diferentes grupos,
destacam as aprendizagens relativas ao trabalho interdiscipli-
nar, ao planejamento de ações e projetos sócio-educativos, ao
exercício de liderança e tomada de decisão, e à articulação entre
teoria e prática como aspectos mais significativos na formação
dos acadêmicos. A triangulação de dados a respeito da percep-
ção de diferentes grupos sobre o mesmo fenômeno, o impacto
gerado por esta extensão, ratificam a atual importância da par-
ticipação dos acadêmicos na extensão universitária, pois possi-
bilita uma formação diferenciada: a construção de saberes não
compartimentados, uma formação acadêmica engajada com as
demandas sociais e éticas, vivências que vão além da aplicação
de conhecimentos técnicos, e comprometimento com o desen-
volvimento da capacidade de gerir ações que envolvam o racio-
cinar reflexiva, lógica e criticamente. Este estudo apontou para
a necessidade permanente de investigar as metodologias utili-
zadas na formação e no aperfeiçoamento profissional, em sinto-
nia com as demandas do contexto regional brasileiro, e fez
emergir importantes questionamentos sobre os atuais métodos
utilizados na graduação, indicando novas problemáticas para
investigações na área educacional.
Palavras-chave: educação pelo esporte, formação profissional,
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 180
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 181
interdisciplinaridade.
A DISCIPLINA BASQUETEBOL NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO DOPROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FISICA: QUE ESPAÇO É ESSE...?
Nepomuceno, Zila
Faculdade de Educação Física Pontifícia; Universidade Católica de
Campinas, São Paulo, Brasil.
Introdução e objectivos: Este trabalho é fruto do entendimento
dos professores da Faculdade de Educação Física, especialmen-
te dos que ministram Basquetebol, quanto à importância de
um enfoque multidisciplinar voltado à formação de profissio-
nais mais críticos e com competência, pensando-se o esporte
referido de maneira plural, vendo-o não só pelo ângulo do seu
conhecimento técnico ou pedagógico. O trabalho multidiscipli-
nar revela o compromisso com a formação do profissional pela
visão do ser humano por inteiro. Com base nesses pressupos-
tos, preocupa-se em dar uma formação contínua aos participan-
tes do processo. Certamente, a disciplina de Basquetebol não
pode resumir-se a uma transmissão de técnicas, táticas ou ao
preparo físico de excelência, o que constitui uma forma de tra-
balho que levará a um aproveitamento mecânico, quando as
reais capacidades e possibilidades inerentes ao aluno deixam
muitas vezes de ser exploradas significativamente. Ensinar não
significa recapitular a técnica e/ ou a tática, mas, sim, possibili-
tar, por meio de atividades significativas, maior criatividade de
acordo com as aptidões exigidas, razão por que defende-se aqui
a metodologia da reflexão para o ensino desta disciplina. A
característica da imprevisibilidade dos movimentos no jogo
pede ações coordenadas, nas quais a criatividade e a parceria
devem sobrepujar o emprego do gesto técnico e tático, e possi-
bilitar sua liberdade para criar. Trata-se, portanto, de um traba-
lho de base motora com as habilidades fundamentais, antes da
especialização, exploradas em todas as suas nuanças, como,
também, a exploração das inteligências múltiplas, por meio de
atividades, jogos adaptados, sincronizados, sociais e de coope-
ração, objetivando a organização espacial e temporal, bem
como a precisão das habilidades especificas inerentes aos
aspectos técnicos, táticos, físicos. As habilidades motoras espe-
cificas do jogo são uma conseqüência das competências percep-
tivas e intelectuais, que se projetam pela ótica metodológica
reflexiva, e que fundamentam a percepção e a interpretação,
bem como toda a infra-estrutura onde está apoiada a técnica do
jogo. As variedades de ações provocadas pela dinâmica usada
para o ensino/aprendizagem não devem nunca ser deixadas de
lado pelos professores quando de sua aplicação, nas quais a
construção do conhecimento seja elemento preponderante.
Valendo-se desse suporte teórico, propõe-se como objetivo da
pesquisa verificar os fatores endógenos e exógenos intervenien-
tes no ensino/aprendizagem do basquetebol nesta instituição,
tendo em vista oportunizar aos alunos a construção de seu pró-
prio conhecimento.
Material e métodos: Esta pesquisa teve caráter qualitativo, e foi,
alicerçada pelas pesquisas bibliográfica e documental e de estudo
exploratório de campo. Os sujeitos foram os alunos da Faculdade
de Educação Física da Puc-Campinas, e os trabalhos desenvolve-
ram-se por meio de questionários e observação direta das ações
profissionais durante o processo ensino e aprendizagem.
Principais resultados e conclusões: Os dados obtidos desvelaram
que os modelos vivenciados segundo um suporte multidiscipli-
nar, um planejamento embasado na tendência da pedagogia cri-
tica superadora durante o ensino/aprendizagem, possibilitou a
construção do conhecimento em relação às dimensões históri-
co/sócio/cultura/técnico/pedagógicas do esporte, de maneira
consciente e consistente.
Palavras-chave: basquetebol, multidisciplinar, construção do
conhecimento.
FORMAÇÃO CONTÍNUA: ESTUDO EXPLORATÓRIO DAS “ACÇÕES DEFORMAÇÃO” DESENVOLVIDAS NO ÂMBITO DOS ESTÁGIOS PEDA-GÓGICOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO DA UNIVERSIDADEDA MADEIRA (1993–2003).
Gouveia, Rúbio; Lopes, Helder
Departamento de Educação Física e Desporto, Universidade da
Madeira; Portugal.
Introdução e objectivos: O presente trabalho representa uma das
vertentes analisadas na monografia realizada no 5º ano da
licenciatura em Educação Física e Desporto da Universidade da
Madeira no ano lectivo 2002/2003. O objectivo do presente
estudo assenta na caracterização das acções de formação desen-
volvidas no âmbito dos estágios pedagógicos da licenciatura em
Educação Física e Desporto da Universidade da Madeira, de
forma a estabelecer o seu enquadramento temático e temporal.
Material e métodos: A metodologia utilizada centra-se na consul-
ta de fontes documentais, quer através de contactos pessoais
com os promotores das actividades, quer com os respectivos
orientadores. A classificação das acções de formação foi efec-
tuada a partir da taxonomia desenvolvida por Almada (1992),
no que respeita às actividades desportivas e criando outras 4
categorias para as acções de formação que não estavam directa-
mente relacionadas com elas. Assim, e para o caso das activida-
des desportivas a taxonomia desenvolvida por Almada (1992),
identifica seis categorias: desportos individuais, desportos
colectivos, desportos de confrontação directa, desportos de
adaptação ao meio, desportos dos grandes espaços e desportos
de combate. Para as acções de formação que não estavam direc-
tamente relacionadas com as actividades desportivas, foram
também consideradas como sub-categorias: educação
física/genéricos, educação física/necessidades educativas espe-
ciais, educação física/saúde e educação/escola/sociedade.
Principais resultados e conclusões: Num total de 222 acções de for-
mação, a sua maioria (90%) enquadravam-se no âmbito da
educação física e desporto e, dentro destas, 56% diziam respei-
to às actividades desportivas e 44% a áreas relacionadas com a
saúde, necessidades educativas especiais e outras mais genéri-
cas. No âmbito das actividades desportivas, os desportos indivi-
duais, desportos colectivos e desportos de confrontação directa
concentraram a ampla maioria das acções de formação (26%,
25% e 22%, respectivamente). Ao nível dos desportos indivi-
duais, o maior número de acções abordaram a patinagem, a
natação e a ginástica. Nos desportos colectivos temos o futebol,
o basquetebol, o voleibol e o andebol. Finalmente, nos despor-
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 181
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]182
tos de confrontação directa a maior preferência recaiu sobre o
ténis de mesa, o badminton e o madeirabol. Pensamos que os
resultados obtidos são reflexo da grande flexibilidade e margem
de manobra que é dada aos estagiários, bem como à estimula-
ção da sua capacidade produtiva em áreas que considerem
essenciais. A continuação do trabalho deverá passar pelo apro-
fundamento da dimensão qualitativa das referidas acções de
formação e da análise da sua importância no processo de for-
mação de quadros e consequentemente do desenvolvimento
desportivo regional.
Palavras-chave: estágio, formação, taxonomia.
EDUCAÇÃO FÍSICA E A FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSORGENERALISTA: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA MUNICIPAL DEEDUCAÇÃO INFANTIL DE SÃO PAULO.
Ferraz, Osvaldo; Piragibe, Valentina
Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, Brasil.
Introdução e objectivos: Os programas de formação continuada de
professores no Brasil podem ser considerados, fundamental-
mente, em três perspectivas: artesanal, técnica e hermenêutica-
reflexiva. Na primeira perspectiva o ensino é considerado uma
tarefa artesanal, concretizada pelo acúmulo de conhecimentos e
por tentativa e erro, sendo transmitido de geração em geração.
Este enfoque valoriza a experiência, entretanto não trata da
reflexão sistemática sobre essa experiência. Na perspectiva téc-
nica valoriza-se a teoria originada por especialistas. Durante a
formação a ênfase é dada à transmissão de conteúdos, desvalo-
rizando o saber do professor. Geralmente, quando esse tipo de
trabalho não alcança os resultados esperados, a culpa recai
sobre o professor, que não se enquadrou no modelo ideal. No
enfoque chamado hermenêutica-reflexiva o ensino é considera-
do em sua forma complexa e singular. Segundo Ferraz (2000) é
complexa porque o professor atua com e nas relações humanas,
em situações de desenvolvimento pessoal com seus alunos e
colegas, além da gestão da aula propriamente dita, mediante
conteúdos, espaços e materiais diversificados. Singular porque
administra relações intrapessoais carregadas de conteúdos afe-
tivos específicos, como desejos, inseguranças, medos, entre
outros, precisando estabelecer em cada aluno a disponibilidade
para aprender. Neste processo, a autonomia do professor é fun-
damental e pode ser estimulada quando ele constrói sua prática
pedagógica reflexivamente. De acordo com Shon (1992) a refle-
xão ocorre a partir de situações reais da prática e implica em
três níveis de conhecimento: o conhecimento prático (conheci-
mento na ação, saber-fazer); a reflexão na ação (a transforma-
ção do conhecimento prático em ação); e uma reflexão sobre a
ação e sobre a reflexão na ação (nível reflexivo). Nóvoa (1992)
enfatiza a necessidade de considerar-se a escola como o locus da
formação e desenvolvimento deste conhecimento. Para formar
o professor com tais capacidades é preciso diversificar os mode-
los e as práticas de formação em que as relações dos processos
com o saber pedagógico e científico sejam renovadas. Sendo
assim, o objetivo desta pesquisa foi analisar a influência de um
programa de formação continuada em educação física numa
Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI), visando verifi-
car sua contribuição ao processo de reflexão dos professores
sobre a prática pedagógica em aulas de educação física.
Material e métodos: A pesquisa consistiu de reuniões quinzenais
com os professores em que se abordavam temas teórico-meto-
dológicos do ensino da educação física e da análise dos diários
de aula ministradas, elaborados pelos professores durante um
ano letivo. Os diários de aula foram analisados seguindo-se as
orientações metodológicas de Zabalza (1994).
Principais resultados e conclusões: Em termos gerais, os resultados
indicam que o diário de aula foi um instrumento eficiente de
investigação do pensamento dos professores, possibilitando a
reprodução da vivência das aulas e da experiência didática acu-
mulada. Pode-se verificar não somente o decorrer da ação, mas
também, o que é mais importante, a evolução do pensamento
dos professores ao longo do decurso de tempo percorrido pelos
diários. Este aspecto é considerado fundamental quando se
estuda o pensamento do professor. Em termos específicos, os
resultados serão apresentados e analisados mediante os temas
de planejamento e implementação do programa, a saber, objeti-
vos, conteúdos, estratégias de ensino e avaliação.
Palavras-chave: educação física escolar, formação de professores,
educação infantil.
O CONHECIMENTO LÚDICO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA CIDADE DE SÃO PAULO, BRASIL.
Oliveira, Nara; Oliveira, Diná; Souza, Adalberto; Polato,
Thelma
Universidade Cruzeiro do Sul, Brasil.
Introdução e objectivos: Uma discussão que tem merecido desta-
que na área de educação física, esporte e lazer, refere-se à pos-
sibilidade de atuação do profissional de educação física na esfe-
ra do lazer com o público infantil. As manifestações lúdicas,
observadas nas brincadeiras e nos jogos, são expressões cultu-
rais e práticas sociais a serem tratadas crítica e pedagogicamen-
te por educadores físicos, agentes comunitários, animadores
sócio-culturais que atuam no campo do lazer com crianças.
Dessa forma, a orientação de atividades lúdicas na esfera do
lazer tem um importante papel a desempenhar na sociedade,
qual seja, o de favorecer a apreensão do conhecimento produzi-
do significativamente e acumulado pela humanidade ao longo
do tempo e desenvolver com todos os seres humanos os recur-
sos culturais essenciais para o protagonismo social. Neste con-
texto, nosso estudo busca investigar a formação profissional
em educação física (compreendendo-a como uma das áreas que
intervém no campo do lazer), relacionada ao trato com o
conhecimento lúdico na infância, expresso nos jogos e brinca-
deiras. Especificamente, como esta questão se apresenta na for-
mação em Educação Física dos cursos de graduação da cidade
de São Paulo/SP, Brasil. Assim, este estudo tem como objetivo
geral identificar como se apresenta nos projetos pedagógicos
dos cursos de Educação Física o conhecimento lúdico da infân-
cia. E como objetivos específicos: a) discutir a relação entre o
conhecimento lúdico infantil na esfera do lazer e a atuação do
profissional de Educação Física; b) aprofundar a discussão
sobre o conhecimento lúdico na formação do graduado em edu-
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 182
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 183
cação física; c) ampliar o conhecimento à luz da educação lúdi-
ca e da teoria do jogo para a Educação Física; d) identificar o
espaço, tempo e características que assume, na formação supe-
rior em educação física, o conhecimento lúdico; e) conhecer a
realidade, referente ao conhecimento lúdico, dos cursos de gra-
duação em educação física da cidade de São Paulo/SP, Brasil.
Material e métodos: Quanto à metodologia, tomamos como refe-
rência para nossa trajetória investigativa a pesquisa qualitativa.
Como amostra, delimitamos oito cursos de graduação. A pes-
quisa está sendo realizada com base nas seguintes ações: revi-
são bibliográfica sobre a temática, análise de conteúdo dos pro-
jetos pedagógicos dos cursos delimitados na amostra e entre-
vista com os coordenadores dos mesmos.
Principais resultados e conclusões: A pesquisa encontra-se em
andamento, em fase de sistematização e análise dos dados cole-
tados, com previsão para término no mês de junho. É impor-
tante enfatizar que esta investigação, além de discutir sobre a
relevância do conhecimento lúdico na sociedade e na educação
física, também poderá apontar um rol de elementos da cultura
lúdica a serem considerados na formação do profissional de
educação física.
Palavras-chave: lúdico, educação física, formação profissional.
ARGUMENTOS UTILIZADOS PARA JUSTIFICAR A PRESENÇA DOJOGO NA ESCOLA: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO TEÓRICA DAEDUCAÇÃO FÍSICA.
Santos, Fernanda N.L.; Resende, H. G.
Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, Brasil.
Introdução e objectivos: O jogo, entendido como um fenômeno
sociocultural de inegável presença no interior da instituição
escolar, vem sendo amplamente refletido no que diz respeito as
suas formas de sistematização, especialmente nas aulas de
Educação Física. Uma das formas de utilização identificadas é
aquela que caracteriza o ‘jogo-meio’, que é concebida como
estratégia pedagógica de ensino com o objetivo de atingir finali-
dades educativas externas ao jogo em si. A outra forma identi-
ficada é aquela que caracteriza o ‘jogo-fim’, que se constitui
numa atividade livre e autônoma, fonte de conhecimento, de
possibilidades e de vivências corporais, que se justifica como
um fim em si mesma. O objetivo deste estudo foi analisar, em
trabalhos acadêmicos, quais os argumentos explicitados para
justificar a sua presença nas aulas de Educação Física escolar.
Material e métodos: O corpus de investigação foi constituído por
vinte e oito trabalhos completos publicados em Anais do
Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE) e
dos Encontros Fluminenses de Educação Física Escolar (ENFE-
FE). Para a análise dos textos foi utilizada a técnica de análise
de conteúdo (Bardin, 1977).
Principais resultados e conclusões: Concluiu-se que os argumentos
apresentados para justificar a presença e a utilização do jogo
nas aulas de Educação Física escolar são: (a) preservação e res-
gate da cultura lúdica infantil; (b) a sua utilização como um
recurso motivador e facilitador da aprendizagem de outros con-
teúdos da Educação Física, bem como de outras disciplinas; (c)
possibilidade que ele suscita em prol da formação moral dos
alunos; (d) vivência do fenômeno lúdico e a criação de um
ambiente lúdico na escola; e (e) a defesa do jogo como um dos
conhecimentos de ensino da Educação Física. A forma como o
jogo vem sendo caracterizado e defendido na escola sugere um
paradoxo entre a dimensão do ‘jogo essencial’ e a tradição ins-
trumentalizadora da escola. Existe, desta forma, uma tensão
entre as duas formas de se tratar o jogo, na qual os autores
analisados parecem desvalorizar a perspectiva do ‘jogo-meio’
como forma de legitimar a perspectiva do ‘jogo-fim’.
Palavras-chave: jogo, educação física escolar, produção do conhe-
cimento.
ANÁLISE DOS PROGRAMAS DOS CURSOS DE FORMAÇÃO DE PRO-FESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA: REFLEXÕES SOBRE A EDUCA-ÇÃO GERONTOLÓGICA.
Craveiro, Anna CR; Faria Junior, Alfredo G.
IEG, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
Introdução e objectivos: O objetivo do estudo é investigar como,
no momento da pesquisa, os cursos de formação de professores
de educação física abordavam em suas disciplinas a temática de
uma educação para, sobre e no envelhecimento. Decidiu-se
delimitar o estudo nas Instituições de Ensino Superior (IES)
com localização no Município do Rio de Janeiro e com existên-
cia na estrutura acadêmica em que estão inseridas, de universi-
dade aberta à terceira idade (UNATI) ou organização similar.
São elas: a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a
Universidade Gama Filho (UGF) e a Universidade Estácio de
Sá (UNESA).
Material e métodos: A investigação efetuada é, no entender de
Francis J. Rummel (1972), uma ‘pesquisa bibliográfica’ e impli-
cou na realização de um ‘estudo documentário’ (p.156). Para
desenvolvê-lo usou-se uma das técnicas de ‘análise de conteú-
do’ (Bardin, 1972; Rummel, op.cit. p.158) com as categorias
extraídas do ‘Systematisation of Research Approaches in
Physical Education’ - SRAPE (Faria Junior, 1987). Para inter-
pretação dos dados coletados utilizou-se, como referencial, o
quadro teórico da ‘educação gerontológica’ (Faria Junior, 2000;
Ferreira, 2000; Glendenning, 1985; Radecliffe, 1985).
Principais resultados e conclusões: Das dezesseis disciplinas seme-
lhantes oferecidas pelas três Instituições de Ensino Superior
(IES), apenas uma disciplina aborda a temática de uma educa-
ção para, sobre e no envelhecimento. Das cento e nove discipli-
nas divergentes nas três IES, apenas oito disciplinas abordam a
temática em questão. Embora comece a aparecer nos currícu-
los de formação de professores de educação física das três IES
estudadas, não há um corpo teórico que fundamente a inclusão
da educação gerontológica nos cursos de formação de professo-
res de educação física da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), da Universidade Gama Filho (UGF) e da
Universidade Estácio de Sá (UNESA).
Palavras-chave: educação gerontológica, programas educação físi-
ca, formação professores.
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 183
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]184
USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NAFORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO.
Nascimento, Ronaldo1; Barreto, Herminio2, Marchessou,
François3, Diniz, José2
(1) Universidade Estadual de Londrina, Brasil; (2) Faculdade de
Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Portugal; (3)
Université de Poitiers, França.
Introdução e objectivos: O tema deste estudo está, essencialmen-
te, centrado na utilização de uma plataforma tecnológica e
pedagógica de Gestão de Ensino a Distância, através da Internet
(Sistema EDU), bem como em dois sistemas multimídia
(Módulo Winscope e Basketutor) e do manual impresso em duas
versões (papel e eletrônica) capazes de trabalhar conteúdos de
ensino e formação de forma interativa, em suportes como o
CD-ROM ou o DVD, todos aplicados na aprendizagem do
Basquetebol. Pretendeu-se verificar quais as condições de pro-
cesso, de contexto, e de programa que conferem maior eficácia
no ensino a distância e no ensino convencional, utilizando-se
os respectivos meios tecnológicos, no contexto de formação ini-
cial de professores de Educação Física.
Material e métodos: O sistema que estamos estudando integra o
ensino a distância com multiplicidade de meios (Livros, CD-
ROM’s, DVD’s, etc.), a telemática, com a sua rapidez, versatili-
dade e capacidade de busca (Internet, hipermídia, etc.) e o mul-
timídia, com a qualidade de imagem e o armazenamento de
grandes quantidades de informação (Módulo Winscope e
Basketutor) e da versão eletrônica do manual impresso. Partindo
das preocupações antecedentes colocamos as hipóteses que
buscamos desenvolver ao longo deste estudo: H1. Existem con-
dições no processo ensino-aprendizagem em que a utilização
dos meios de ensino a distância traz vantagens na qualidade da
formação inicial; H2. Os alunos apresentam resultados distin-
tos com a utilização dos meios tecnológicos de ensino a distân-
cia, em função das suas características individuais e das condi-
ções de contexto, de processo e de programas que lhes são pro-
porcionados.
Principais resultados e conclusões: Sendo que em relação à primeira
hipótese, temos a confirmação da existência de uma relação signi-
ficativa entre a avaliação inicial e a final, comparando-se os resul-
tados obtidos pela avaliação teórica do grupo que teve acesso aos
meios tecnológicos de ensino a distância e o grupo que não teve
acesso a eles. E em relação à segunda hipótese, o fato de não se
notarem diferenças estatisticamente significativas, não pode ser
confundido com a inexistência de uma melhoria evidente no con-
junto de comportamentos observados. Muito provavelmente, a
existirem diferenças significativas, estariam elas associadas a uma
modificação comportamental que se caracterizaria por uma transi-
ção do nível introdutório para o nível avançado, na grande maio-
ria das categorias consideradas. No entanto, o quadro de resulta-
dos aponta para uma predominância do nível intermédio ao nível
da avaliação final, pelo que, considerando-se que no início do pro-
cesso se verificava uma relevância do nível introdutório, pode-se
entender que a melhoria de competências deste grupo de alunos,
na situação de jogo, evoluiu de fato. Apesar da inexistência de
diferenças significativas, registrou-se uma melhoria evidente, mas
não a aquisição do comportamento desejado. Isso significa afir-
mar que muito provavelmente estão criadas condições para que,
muito rapidamente, as modificações operadas nos sujeitos envol-
vidos se manifestem em competência de prática.
Palavras-chave: tecnologias, ensino aberto e a distancia, educa-
ção física.
INTERNET NA EDUCAÇÃO FÍSICA: VINCULANDO A TECNOLOGIANAS AULAS.
Armacolo, Edina M.1; Silva, Marcelo LA1; Sobrinho, Gabriel
M.1; Nascimento, Ronaldo J.v; Marchessou, François2
(1) Universidade Estadual de Londrina, Brasil; (2) Université de
Poitiers, France.
Introdução e objectivos: A utilização da internet se configura cada
vez mais como um fato com tendências a uma popularização
cada vez maior em uma sociedade globalizada. Na educação,
vem como uma ferramenta inovadora possibilitando ao aluno
uma melhor assimilação do conteúdo que é ministrado em sala
de aula. Temos como objetivo no presente trabalho comparar
níveis de desempenho motor e cognitivo nas aulas de educação
física em alunos de terceira série do ensino fundamental inse-
rindo a internet como meio didático.
Material e métodos: Utilizamos um delineamento experimental
com dois grupos, cujo grupo controle se configurou com alu-
nos em regime convencional presencial, com um total de 26
alunos. O grupo experimental de alunos em regime convencio-
nal presencial, e com a utilização dos meios tecnológicos vincu-
lados à internet, tendo um total de 32 alunos.
Principais resultados e conclusões: A partir da análise dos resulta-
dos podemos considerar que a internet proporciona um avanço
significativo no rendimento acadêmico, em relação aos alunos
que não dispuseram dos recursos tecnológicos da internet em
suas aulas de educação física, tendo o grupo experimental com
média de 6,72, enquanto o grupo de controle foi de 3,11; já
sendo submetidos ao teste t, o grupo experimental e o de con-
trole, na avaliação pós diferenciam-se significativamente (p =
0,001).
Palavras-chave: internet, educação física, voleibol.
INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃOFÍSICA EM INÍCIO DE CARREIRA: PERCEPÇÃO SOBRE O MERCADODE TRABALHO.
Verenguer, Rita C.G.
Faculdade de Educação Física, Universidade Presbiteriana Mackenzie,
Brasil.
Introdução e objectivos: No Brasil, a educação física escolar tem
sido alvo de inúmeras pesquisas: estuda-se seu papel, seus
objetivos, seus conteúdos, as políticas públicas e a preparação
profissional. Pouco se sabe, no entanto, sobre como os profes-
sores vêem suas carreiras e o mercado de trabalho. O objetivo
deste estudo foi analisar como os professores em início de car-
reira percebem o mercado de trabalho e quais são suas perspec-
tivas para a carreira.
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 184
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 185
Material e métodos: Para alcançar o objetivo proposto optou-se
pela metodologia qualitativa, tendo como técnica de coleta de
dados a entrevista semi-estruturada e a análise do discurso
como estratégia de análise dos dados coletados. Os sujeitos, em
número de 16, foram escolhidos respeitando o tempo de carrei-
ra de até 3 anos que, segundo Huberman (1995), caracteriza-se
pela fase de exploração e o local da intervenção (âmbito esco-
lar). Todos os entrevistados, embora trabalhem preferencial-
mente na escola e desejem construir carreira nela, possuem
algum vínculo com a área não-escolar, podendo, assim, comple-
tar seus ganhos. É importante lembrar que essa fase da carreira
caracteriza-se por uma opção provisória, na qual o professor
está se confrontando com o cotidiano profissional, procurando
sobrevivier e, ao mesmo tempo, entusiasmado por participar de
um grupo profissional.
Principais resultados e conclusões: Os entrevistados acreditam que
a construção da carreira está vinculada ao investimento e aper-
feiçoamento do conhecimento, mas fazem uma crítica ao cur-
sos de graduação: estes deveriam dar ênfase ao conhecimento
sobre a intervenção. Tal crítica vem ao encontro da tese segun-
do a qual a educação física, enquanto área de intervenção pro-
fissional, deve produzir conhecimentos aplicados e os cursos de
graduação devem possibilitar a intervenção profissional super-
visionada, enfatizando os projetos de extensão. Por trabalharem
no âmbito escolar, os entrevistados consideram que estão pro-
tegidos das perdas dos direitos trabalhistas observadas no
âmbito não-escolar, mas reconhecem que seu trabalho não é
devidamente reconhecido. Acreditam que a educação física na
escola está em um novo momento, recuperando seu papel
enquanto componente fundamental da educação, devido ao fato
de que os professores estarem mais bem formados e os pais
mais exigentes.
Palavras-chave: intervenção profissional, mercado de trabalho,
construção da carreira.
MERCADO DE TRABALHO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: SIG-NIFICADO DA INTERVENÇÃO PROFISSIONAL À LUZ DA CONSTRU-ÇÃO DA CARREIRA.
Verenguer, Rita C.G.
Faculdade de Educação Física, Universidade Presbiteriana Mackenzie,
Brasil.
Introdução e objectivos: O mercado de trabalho em educação física
no Brasil vem sofrendo constantes mudanças: o aumento de
interesse por essa carreira, o crescimento do número de cursos
de graduação, a regulamentação da profissão, a legislação traba-
lhista, entre outras. Este estudo foi desenvolvido com o objeti-
vo de analisar como se dá a construção da carreira do profissio-
nal de educação física, considerando a reestruturação das rela-
ções de trabalho e o conceito de profissão (expertise, credencia-
lismo e autonomia).
Material e métodos: Para alcançar o objetivo proposto neste tra-
balho, optou-se pela metodologia qualitativa, tendo como téc-
nica de coleta de dados a entrevista semi-estruturada e a análi-
se do discurso como estratégia de análise dos dados coletados.
Os sujeitos, em número de 15, foram escolhidos respeitando o
tempo de carreira (acima de 20 anos) e o local de intervenção
(fora do âmbito escolar). Nenhum deles está comprometido
com funções administrativas ou gerenciais.
Principais resultados e conclusões: Todos os entrevistados conside-
ram que o mercado de trabalho em educação física está em
expansão, sobretudo quando relacionado à idéia de saúde,
bem-estar e qualidade de vida. Tal associação, segundo os
entrevistados, confere status social ao profissional de educação
física, embora admitam que exista, também, subserviência em
relação à área médica. Os entrevistados consideram também
que o conhecimento e o aperfeiçoamento constante são funda-
mentais na construção da carreira, inclusive porquê suas inter-
venções profissionais são marcadas pelo diagnóstico das neces-
sidades dos clientes, pela definição dos objetivos, pela orienta-
ção das atividades e pela sua avaliação, e não pela execução
das mesmas. Neste sentido, embora haja na área um grande
apelo pelo profissional jovem, os entrevistados consideram a
idade um fator positivo, porque se traduz em experiência,
amadurecimento e competência. Sobre as relações de trabalho,
os entrevistados têm consciência da relação de exploração na
qual estão inseridos, no entanto, reconhecem que usufruem
do valor simbólico de terem seus nomes vinculados às institui-
ções de prestígio. Na relação trabalhista não há unanimidade
sobre as vantagens dos contratos baseados na prestação de
serviços terceirizados.
Palavras-chave: mercado de trabalho, intervenção profissional,
construção da carreira.
A PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO BREJO PARAIBANO SOBRE O CÓDIGO DE ÉTICA.
Souza, Thiago; Vale, Lindalva
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil.
Introdução e objectivos: Dentre os principais argumentos do
MNCRPEF (Movimento Nacional Contra a Regulamentação do
Profissional de Educação Física), dois deles nortearam esta pes-
quisa: falta de esclarecimento por parte do CONFEF (Conselho
Federal de Educação Física)/CREFs (Conselho Regional de
Educação Física); a regulamentação não resolverá a presença de
leigos no mercado, pois não existe fiscalização nos locais de
práticas corporais. Diante desta problemática, os objetivos
deste estudo foram: verificar, no brejo paraibano, através de
questionários, a percepção dos profissionais de educação física
sobre o código de ética; verificar se há, realmente, a ocorrência
de pessoas sem graduação em educação física atuando como
profissionais nesta área.
Material e métodos: Para isso foram utilizados questionários apli-
cados de forma individual aos profissionais de educação física
desta região.
Principais resultados e conclusões: Depois da coleta e análise dos
dados descobriu-se que: 57.17% dessa população não tinha
conhecimento da existência de um Código de Ética do
Profissional de Educação Física; 82.61% não sabem dizer qual
o dever fundamental do profissional de educação física, segun-
do o código de ética; 78.26% nunca leram este código de ética;
vale ressaltar que 56,52% das pessoas pesquisadas não tem
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 185
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]186
registro no CREF e nem graduação em educação física embora
atuem na área. Então se conclui que os dois argumentos do
MNCRPEF, citados acima, condizem com a realidade do brejo
paraibano, demonstrando assim a necessidade de medidas por
parte do sistema CONFEF/CREFs para melhorar esse quadro.
Palavras-chave: código de ética, educação física, regulamentação.
A EDUCAÇÃO EM VALORES. VALORAÇÕES APRESENTADAS PELOSALUNOS COMO PONTO DE REFLEXÃO DA ACTIVIDADE PEDAGÓGI-CA. ESTUDO REALIZADO EM ALUNOS DO 3º CICLO DO ENSINOBÁSICO E DO ENSINO SECUNDÁRIO.
Matos, Zélia; Batista, Paula; Israel, Natividade
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade
do Porto, Portugal.
Introdução e objectivos: Tal como a realidade social, os alunos não
são uma massa uniforme e indistinta, pelo contrário, são mar-
cados por experiências, interesses e vontades heterogéneas. De
acordo com Cruz (2001) a escola deve constituir-se como uma
entidade integradora, capaz de lidar com as contradições que
nela existem, ou seja, ser capaz de lidar com as diferenças,
levar os alunos a respeitá-las e, comprometer-se, deste modo,
na construção de valores. A educação em valores realiza-se em
todos os momentos, permeia o currículo, acontece em todas as
interacções interpessoais na escola e nas relações desta com a
família e com a sociedade (Valente, 1989). Também na aula de
Educação Física (EF). Ao rejeitar a tradicional doutrinação, a
educação actual propõe que os professores ajudem os alunos a
clarificar os seus próprios valores, a assumi-los e a pô-los em
prática. Tentar perceber os gostos dos alunos, através das suas
escolhas livres, inscreve-se num primeiro patamar da preocupa-
ção da educação em valores. Ou seja: verificar as “coisas” que
os alunos gostam mais de fazer, as que não gostam de fazer, escla-
recer a quais é que atribuem risco e as que gostam de fazer sozi-
nhos ou acompanhados.
Material e métodos: Foi constituída uma amostra de 384 alunos:
204 do 3º Ciclo do Ensino Básico (CEB) e 180 do Ensino
Secundário (ES). Seguindo as estratégias de clarificação de
valores, apresentadas por Valente, (1989), foi pedido aos alu-
nos que escrevessem, tão rapidamente quanto possível, as 10
“coisas” que mais gostam de fazer, seguida da identificação de
quais dessas “coisas” envolvem risco e de quais gostam de fazer
sozinhos ou acompanhados (utilizando um código previamente
definido) e, por último, 10 “coisas” que não gostam de fazer. Foi
garantido o anonimato e foi realçado que não há respostas cer-
tas, ou erradas, acerca dos gostos das pessoas. Na leitura dos
dados foi nossa preocupação detectar, de forma discriminada,
todas as “coisas”, pelo que estas não foram categorizadas de
acordo com as classificações tradicionais. Contudo, os dados
foram lidos utilizando dois pólos de referência: a classificação
das necessidades de Maslow, citado em Marina (1996:23) e a
categorização de valores de Patrício (1991).
Principais resultados e conclusões: A estrutura da hierarquização das
“coisas” que mais gostam de fazer altera-se em função do sexo,
da localização da escola e do ano de escolaridade ainda que exis-
ta regularidade nas actividades referidas. Quanto às “coisas”
que menos gostam: no geral são mais diversas e acentua-se a
diferente hierarquização: surgem “regionalismos” como ir à
missa, pessoas falsas, imposições, trabalhar. Há, contudo, referências
que aparecem sempre: num primeiro lugar destacado a activida-
de estudar/ir à escola. Também são comuns embora em menor
percentagem limpar a casa/trabalhos domésticos, comer/beber e acor-
dar/deitar cedo. Os dados relativamente ao risco atribuído e sozi-
nho/acompanhado carecem de uma inquirição mais adequada,
dado que as respostas revelam uma interpretação restrita das
noções pedidas. A principal conclusão encontra-se na constata-
ção da valorização de “coisas” novas relativamente ao conteúdo
das categorias das classificações tradicionais acerca de valores. A
verificação de um dado redundante, mas sempre esclarecedor: o
que menos gostam de fazer é ir à escola e estudar. As activida-
des referidas reportam-se muito à rotina do dia a dia, em que as
necessidades básicas e as imposições modulam, em grande
parte, as escolhas realizadas. De acentuar a maior regularidade
das “coisas” que mais gostam, e a acentuação da diversidade das
que “coisas” que menos gostam.
Palavras-chave: educação para os valores, gostos dos alunos.
EDUCAÇÃO FÍSICA E A DIMENSÃO ATITUDINAL: UM ESTUDO DE CASO.
Nicoletti, Lucas P.1; Rangel, Irene CA.2
(1) UNIFEV e UNIRP; (2) Universidade Estadual de São Paulo;
Brasil.
Introdução e objectivos: Com o início da construção dos
Parâmetros Curriculares Nacionais em 1994 torna-se explícita a
preocupação quanto ao ensino e aprendizagem dos conteúdos
relacionados às normas, aos valores, às regras e às atitudes,
convencionalmente chamados de dimensão atitudinal dos con-
teúdos. Assim, esperava-se minimizar a manifestação do currí-
culo “oculto” nos processos educacionais em todos os compo-
nentes curriculares. Esta pesquisa observou como esta dimen-
são é tratada na Educação Básica, mais especificamente em
aulas de Educação Física, nos dois primeiros ciclos do Ensino
Fundamental (1ª a 4ª séries). O valor que é dado a esta dimen-
são passa a adquirir peso e importância em relação às outras
duas dimensões (conceitual e procedimental), além do fato da
aula de Educação Física ser um terreno fértil e propício para se
lidar com as questões atitudinais, contribuindo para mudanças
e justificando sua presença na escola e não apenas como um
componente curricular com ênfase na dimensão procedimental.
Material e métodos: Utilizamos, enquanto metodologia, a aborda-
gem qualitativa de estudo de caso. Empregamos a técnica da
observação de aulas e a elaboração de um questionário para
entrevista aplicado ao professor observado.
Principais resultados e conclusões: Pudemos constatar que a dimen-
são atitudinal dos conteúdos é encarada como objeto de ensino
e aprendizagem pelo professor e que a maioria das interven-
ções do docente acontece a partir de situações oriundas da aula
cotidiana.
Palavras-chave: educação física, dimensão atitudinal, conteúdos
da educação.
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 186
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 187
A RELAÇÃO ENTRE ESPORTE E EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA DOSALUNOS.
Berwanger, Carlos E.
Centro Universitário La Salle, Brasil.
Introdução e objectivos: O esporte é hoje um dos maiores fenôme-
nos sociais da humanidade e faz parte direta ou indiretamente
da vida de milhões de pessoas no mundo todo. Desta forma
exerce influências em diferentes instituições sociais, dentre elas
a escola. Na escola é o conteúdo predominante nas aulas de
Educação Física e objeto dos projetos extra-curriculares, como
as equipes esportivas. Portanto, neste contexto, o esporte deve
estar comprometido com os processos de aprendizagem e estes
devem caminhar no sentido do projeto político pedagógico da
escola. Assim, buscamos neste estudo analisar esta relação
entre o esporte e a formação educativa na perspectiva dos alu-
nos do terceiro ano do ensino médio de três escolas particula-
res de Porto Alegre. Como objetivo geral desta investigação
tínhamos a resolução do seguinte problema de investigação:
Como os alunos do terceiro ano do ensino médio das escolas
particulares de Porto Alegre percebem o esporte na escola e
qual a relação que eles estabelecem entre o esporte e seus pro-
cessos de formação educativa? Como objetivos secundários
tinhamos: identificar quais aprendizagens são promovidas pelo
esporte escolar, quais os objetivos do esporte na escola e quais
as contribuições do esporte no processo de formação eram
identificadas pelos alunos.
Material e métodos: Esta investigação teve como opção metodológi-
ca um estudo de corte qualitativo do tipo etnográfico, pois no
entendimento do autor esta representava a melhor maneira de
descrever, interpretar, explicar e compreender o fenômeno que
ora estava sendo estudado. Como instrumentos de coleta de
informações foram utilizados a entrevista semi-estruturada, a
observação participante, a análise documental e o diário de
campo. Ao todo foram realizadas 27 observações e 38 entrevistas.
Principais resultados e conclusões: Após analisadas e interpretadas
as informações coletatas, foram identificadas quatro categorias
de análise com duas subcategorias cada: 1)A prática esportiva
nas escolas - a) O conceito de esporte e as experiências esporti-
vas, b) A Educação Física escolar; 2)O esporte na perspectiva
dos alunos - a) O esporte na escola e fora da escola, b) Os
objetivos do esporte na escola; 3)Esporte e aprendizagem - a)
O aprendizado através do esporte, b) As contribuições na for-
mação pessoal e educativa; 4)A escola na perspectiva dos alu-
nos - a) As disciplinas escolares, b) As funções da escola. As
conclusões finais indicam que o esporte deve ser repensado em
todos os aspectos dos seus procedimentos de ensino. O
ambiente educativo necessita de uma resignificação pois é um
fenômeno social que poderia contribuir significativamente com
a formação dos nossos alunos se melhor orientado.
Palavras-chave: esporte escolar, educação física, educação.
REFLEXÕES SOBRE OS VALORES DO DESPORTO COLETIVO.
Lettnin, Carla C.; Shigunov, Viktor
Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.
Introdução e objectivos: Esta pesquisa, de tipo bibliográfica, teve
como propósito apontar os aspectos presentes no ambiente de
treinamento de qualquer modalidade esportiva coletiva e cons-
cientizar todos os envolvidos de forma direta ou indireta sobre
o valor educativo, logo formativo, que são desenvolvidos por
essas práticas.
Material e métodos: Para tanto, foi consultada a bibliografia
recente sobre o assunto e estudos divulgados através de anais
de eventos científicos que referenciavam de alguma forma essa
temática, proporcionando assim as informações necessárias ao
estudo. Sabe-se que o desporto coletivo é um dos utilizados
para educar e desenvolver seus praticantes na integra, levando
em consideração os aspectos: físico, emocional, intelectual e
social. Autores da educação comprovam que um ambiente onde
norteiam os quatro pilares do conhecimento, e esses: aprender
a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a
ser, obrigatoriamente levam a educação global do indivíduo
enquanto pessoa e membro da sociedade. Considerando que no
ambiente de treinamento esses aspectos estarão presentes,
tanto no planejamento dos conteúdos quanto nos processos do
agir pedagógico, alguns valores foram relacionados com esses
quatro aspectos que compõem a base para a formação global do
indivíduo.
Principais resultados e conclusões: O estudo apontou que no aspec-
to físico os valores encontrados estão voltados para a saúde,
qualidade de vida, bem estar, rendimento, entre outros. No
aspecto emocional os valores presentes estão ligados a auto-
confiança, personalidade, auto-estima, compreensão, tolerância,
liderança, persistência. No que diz respeito ao aspecto intelec-
tual, os valores como autonomia, raciocínio imediato, capacida-
de de solucionar problemas, criatividade, ser crítico, inteligên-
cia tática, vão estar presentes. E por fim, no aspecto social,
estarão as questões voltadas para a cidadania, respeito, respon-
sabilidade, franqueza, solidariedade, cooperação, espírito de
grupo, convivência social. Logo, reconhece-se que os valores
apresentados até então, são muitas vezes esquecidos, por esta-
rem em sua maioria de forma intrínseca no ambiente de treina-
mento. No entanto, acredita-se na possibilidade de uma forma-
ção global pelo desporto, onde o foco deve centrar-se no senti-
do de descobrir o caminho que permite chegar até esta forma-
ção, ou seja, há necessidade de se reencontrar no ambiente des-
portivo, os elementos físicos, emocionais, intelectuais, e sociais
que permitem o acesso a essa formação de forma autêntica. No
mundo atribulado de hoje, neste sistema competitivo, poucos
estão atentos para o desenvolvimento da criança como criança.
O desporto quando orientado de forma coerente permite que a
criança viva cada fase de sua vida, experimentando múltiplas
situações que o tornarão um adulto sadio, além de possuírem
melhores relações interpessoais, tão valorizadas nos dias de
hoje.
Palavras-chave: desporto, valores, formação educacional.
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 187
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]188
EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA: POSSIBILIDADES DE VEICULARVALORES PARA O TEMPO LIVRE.
Santiago, Leonéa; Braga, Raquel; Cunha, Elsa; Maia,
Sandra; Silva, Rute
Instituto Superior da Maia, Portugal.
Introdução e objectivos: Discutir a escola e consequentemente a
educação não é uma tarefa fácil, pois para compreendermos o
carácter da educação temos que compreender a complexidade
da natureza humana, que está inicialmente orientada pelas
coordenadas tempo e espaço. A organização temporal das
sociedades, o tempo do trabalho e do não trabalho, os tempos
ocupados e livres também estão inclusos no âmbito das ques-
tões complexas do nosso tempo. Saviani (1997) afirma que o
trabalho não é qualquer actividade, mas uma acção adequada a
finalidades. E com a intervenção humana na natureza, esta
humaniza-se, ao criar elementos. Ao fabricar utensílios o ser
humano produz cultura. Tem-se então a acção humana inter-
vindo na natureza criando o mundo do trabalho, um mundo
que abunda a produção de cultura. E assim o mundo do traba-
lho, como o mundo da vida de um modo lato, é repleto de
sentidos e significados partilhados socialmente. Este estudo de
natureza qualitativa, procurou indagar em que medida a escola
enquanto instituição que busca garantir o saber, o conheci-
mento sistematizado a todos os seus educandos, tem abordado
questões afectas ao trabalho e consequentemente ao tempo
livre? Mais especificamente no âmbito da disciplina Educação
Física. Quais as possibilidades da Educação Física veicular
valores dos seus conteúdos, que possam ser aproveitados no
tempo livre?
Material e métodos: E para tal utilizou-se como fonte para colecta
de dados a pesquisa bibliográfica, o que propiciou a elaboração
de um quadro teórico composto por livros, relatórios de simpó-
sios, anais de congressos, periódicos nacionais e internacionais.
Devido à proximidade das pesquisadoras em relação ao fenô-
meno estudado, foi possível elaborar categorias à priori para a
análise de dados.
Principais resultados e conclusões: A análise confirmatória eviden-
ciou as seguintes categorias: (i) para a escola: local de respon-
sabilidades sociais, formadora de opinião, transmissão de edu-
cação, cultura e ética para a vida; (ii) para a especificidade da
disciplina Educação Física: trabalha o corpo, admissão de con-
teúdos, movimentos iguais para todos os alunos, discrimina os
pouco habilidosos, veicula valores de hábitos higiénicos/corpo-
rais. As categorias confirmadas levam-nos a concluir que a
escola é representada como local de formação e transmissão de
valores culturais e éticos, no entanto não identificam questões
relativas à discussão do tempo livre. Conquanto a disciplina
Educação Física apresenta tais possibilidades de discussão, na
medida em que é a única a trabalhar especificamente com os
movimentos corporais, nela está centrada conteúdos da cultura
corporal por excelência. Inculcar o valor da actividade física,
para a manutenção de uma vida saudável, quer seja em idade
escolar ou adulta, é uma das possibilidades desta disciplina
fomentar a discussão sobre os tempos livres. E assim concorda-
mos com a abordagem de Saviani (1997) onde a educação é
representada como um trabalho não-material. Urge a escola e a
Educação Física a preocupação com o tempo livre pois, tanto o
aluno como o professor são consumidores do produto aula no
acto da sua realização.
Palavras-chave: escola, educação física, tempo livre.
EVOLUÇÃO, AO LONGO DE TRÊS ANOS, DAS CRENÇAS DE ESTU-DANTES DE DESPORTO E DE EDUCAÇÃO FÍSICA ACERCA DOSOBJECTIVOS E VALORES DA EDUCAÇÃO FÍSICA.
Graça, Amândio; Botelho Gomes, Paula; Queirós, Paula;
Silva, Paula
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade
do Porto, Portugal.
Introdução e objectivos: Após 8 anos de vivências na disciplina
escolar de Educação Física (EF) é suposto que os estudantes
que optaram pela licenciatura em desporto e educação física
tragam consigo ideias, crenças e atitudes acerca do que a EF
deve ser, ou qual o seu contributo para a educação e desenvol-
vimento de crianças e jovens (Hutchinson, 1993). Conhecendo-
se o poder da aprendizagem por observação, a literatura refere
que é muito difícil alterar, durante a sua formação universitária,
as crenças acerca do ensino e da aprendizagem em EF, e como
essas crenças influenciam o modo como os estudantes interpre-
tam e integram a nova informação (Crum, 1993; Graham,
1991; Rovegno & Bandhauer, 1997). O objectivo deste estudo é
conhecer quais as crenças que os estudantes expressam no 1º
ano do curso e verificar se sofrem alterações no 2º e 3º anos.
Material e métodos: Aplicou-se uma versão traduzida e adaptada
de Teachers’Attitudes Toward Curriculum in Physical Education Scale
de Kulinna e Silverman (1999). A amostra é constituída por
quase a totalidade de estudantes que frequentaram o primeiro
ano, n = 110, (2001-02), que transitaram para o segundo, n=
104, (2002-03), e para o terceiro, n=86, (2003-04). O instru-
mento foi sempre aplicado no início de cada ano lectivo. Para a
análise dos dados, por ano curricular e sexo foram utilizados
procedimentos estatísticos descritivos e univariados.
Principais resultados e conclusões: Os resultados disponíveis de
momento, os referentes à primeira aplicação do instrumento -
estudantes do 1º ano, revelam que os estudantes, de ambos os
sexos, assinalam a aptidão física associada à saúde como 1º
objectivo da EF.
Palavras-chave: crenças, educação física, formação de professo-
res.
MODELOS DE PRÁTICA DO DESPORTO ESCOLAR REFLECTIDOSNOS DOCUMENTOS ORIENTADORES OFICIAIS E NAS CONCEPÇÕESDOS PROFESSORES.
Pinto, Miguel1; Graça, Amândio2
(1)Escola Secundária de Caldas de Vizela
(2)Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física,
Universidade do Porto, Portugal.
Introdução e objectivos: Um desporto plural de motivos para a sua
prática não despreza nenhuma das suas expressões. O que se
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 188
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 189
pode esperar do Desporto Escolar dependerá, numa primeira
análise, dos paradigmas que orientam a prática desportiva. Os
trabalhos de Kirk e Goreli (2000) foram decisivos para a defini-
ção de dois modelos caracterizadores da prática desportiva - o
modelo piramidal e o modelo inclusivo. Não se tratou de pro-
curar alguma evidência que nos permitisse afirmar que um dos
modelos é prescindível, até porque os produtos que geram e os
processos que utilizam podem ser legitimados em determina-
dos contextos da prática. O que se procurou perceber é se
algum deles serve melhor os desígnios da Escola actual, marca-
damente unidimensional que, não sendo “Cultural”, nunca
abandonou, pelo menos nos termos da Lei (LBSE - Lei nº
46/86), a ideia de uma escola inclusiva. Através do quadro de
referência definido foi o nosso propósito: identificar os mode-
los de prática que são reflectidos nos documentos orientadores
do desporto escolar; descrever as interpretações do programa
do desporto escolar evidenciadas pelos responsáveis da
Direcção Regional de Educação do Norte e do Centro de Área
Educativa de Braga; descrever as concepções de desporto esco-
lar dos professores e identificar os factores que influenciam
essas interpretações.
Material e métodos: Decidimos realizar três estudos (designados
por Estudo 1, Estudo 2 e Estudo 3), apresentando e discutindo
os resultados separadamente. Quanto ao Estudo 1, recorremos
à técnica qualitativa - análise de documentos, socorrendo-nos
do procedimento de investigação - análise de conteúdo. Para os
Estudos 2 e 3 escolhemos a entrevista como instrumento meto-
dológico de recolha de dados. O tipo de entrevista indicada
para a resolução dos nossos problemas de estudo foi a entrevis-
ta semidirectiva e na análise dos dados adoptámos os procedi-
mentos do Estudo 1.
Principais resultados e conclusões: Deste trabalho destacamos as
principais conclusões: O programa do desporto escolar promo-
ve, preferencialmente, o modelo de prática piramidal, é o resul-
tado de uma tendência evolutiva caracterizada pelo retoque
deste modelo, que vai resistindo à emergência de um modelo
alternativo - inclusivo, que responderá melhor às exigências de
um desporto plural. As Direcções Regionais da Educação e os
Centros de Área Educativa fazem parte de um modelo organi-
zativo de tipo piramidal, têm como incumbência principal aferir
e controlar a prática das equipas e dos alunos, procurando que
essa prática se aproxime da excelência. O programa do despor-
to escolar não induz alterações nas concepções de desporto
escolar dos professores que mantêm inalteradas as suas cren-
ças, nomeadamente, a importância do rendimento, do treino,
da competição, e da evolução das equipas no desporto escolar;
a pretensa analogia com o trabalho desenvolvido nos clubes.
Palavras-chave: desporto escolar, modelo inclusivo, escola cultural.
O MUNDO FANTASIA E O MEIO LIQUIDO: O PROCESSO ENSINOAPRENDIZAGEM DA NATAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM O FAZ-DE-CONTA.
Duran, Mauricio; Andries Júnior, Orival; Dalpoz, Mônica
Faculdade de Educação Física, UniFMU; UNICAMP, Brasil.
Introdução e objectivos: A criança ingressa na escola da vida no dia
em que também inicia sua educação desportiva. Cada vez que a
iniciação desportiva se volta para a busca incessante do talento e
do rendimento, maiores serão os abandonos e os desprazeres
vivenciados pela criança. Esta dissertação vem expor um olhar
diferente acerca do ensino e da iniciação desportiva, especifica-
mente voltado para a natação. Para isso propõe-se a ressaltar
que, através da relação existente entre o professor e o aluno,
entre o educador e o educando, entre o que é ensinado e o que
é aprendido, podemos ir ao encontro das necessidades da crian-
ça sem ferir seus preceitos de alegria e prazer. Sendo assim, o
trabalho propõe a criação de um ambiente lúdico-educativo para
que nele ocorra todo processo ensino/aprendizagem.
Material e métodos: Para a criação desse ambiente, foi escolhido
como ferramenta de trabalho um dos elementos do componen-
te lúdico da cultura, o faz-de-conta. Através dele pode-se criar
um mundo fantasia, abrindo possibilidades que somente são
possíveis através da imaginação. Assim, para o desenvolvimen-
to dessa dissertação recorremos, sem perder as exigências
necessárias de um trabalho científico, ao mundo da criança
naquilo que mais lhe é atrativo, a história contada. Portanto, na
história o referencial teórico é contado, através da descrição de
duas cidades, Ludicidade e Rigorocidade, apontando suas carac-
terísticas e duas formas diferentes de se viver e ensinar. A pri-
meira é o local do lúdico, da alegria, por onde qualquer um
passa durante sua infância; a outra cidade caracteriza a rigidez
e o rigor de um ensino tradicional. A fundamentação científica
deste trabalho, que se dá durante os acontecimentos da histó-
ria, também ocorre durante a formação universitária de um
professor chamado Merlyn, que tendo aulas com vários profes-
sores aprende uma nova forma de enxergar a educação. A pes-
quisa de campo é narrada através das aulas de natação que
Merlyn ministra no Lago da Águas Claras, mostrando como foi
possível fazer a relação entre o faz-de-conta e a aprendizagem
da natação e que, mesmo quando se trabalha com a aprendiza-
gem técnica dos nados, é possível criar um ambiente lúdico-
educativo.
Principais resultados e conclusões: Por ser um trabalho onde se
busca despertar a imaginação e criatividade tanto do educador,
como do educando, não pretendemos dar a ele aspectos conclu-
sivos, pois a história contada deve ter elementos em seu final,
que estimule mais ainda a imaginação do leitor. Portanto, parti-
mos para o que denominamos como moral da história. Nesse
momento procuramos dar apenas a visão de um leitor que ao
final do texto, além de conceber suas próprias conclusões, de
subsídios para quem quiser que conte outra.
Palavras-chave: natação, aprendizagem, ludicidade.
RETENÇÃO DE INFORMAÇÃO EM EPISÓDIOS INSTRUCIONAIS TÍPICOS EM TREINO DESPORTIVO.
Breia, Ezequiel; Rosado, António
Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa,
Portugal.
Introdução e objectivos: A evidência do treino tem demonstrado
que uma parte significativa das mensagens se perde entre o
momento da emissão e o da recepção, que existem perdas sig-
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 189
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]190
nificativas ao nível da retenção e da compreensão da informa-
ção transmitida pelo treinador. Não é, ainda, no entanto, sufi-
cientemente clara a dinâmica deste processo. Parece pertinente,
que relativamente a episódios típicos de instrução nas sessões
de desporto, se possa saber qual é o grau de retenção de infor-
mação dos atletas e que tipos de unidades de informação são
melhor retidas. Assim, definimos como objectivo principal
deste estudo, avaliar o grau de retenção de informação que os
atletas manifestam em diferentes episódios instrucionais do
treino em função do género, idade, nível de escolaridade e nível
de habilidade motora.
Material e métodos: Para este efeito foram observadas sessões de
ginástica acrobática realizadas em ambiente normal de treino,
nas quais foi solicitado aos atletas que repetissem aquilo que o
treinador lhes comunicou, referente aos episódios instrucionais.
Principais resultados e conclusões: Do presente estudo, destacamos
as seguintes conclusões: (1) os atletas não conseguem recordar
toda a informação que lhes é dirigida em episódios instrucio-
nais no treino; (2) os episódios instrucionais não constituem
factor significativo de diferenciação na retenção de informação.
Palavras-chave: retenção de informação, episódios instrucionais,
treino.
ANÁLISE DA INSTRUÇÃO DO TREINADOR DE FUTEBOL.COMPARAÇÃO ENTRE A PRELECÇÃO E A COMPETIÇÃO.
Crispim-Santos, Alexandre; Rodrigues, José
Escola Superior de Desporto de Rio Maior, Portugal.
Introdução e objectivos: O treinador, através da sua instrução ver-
bal e não verbal, aconselha, motiva, opina, avalia, dirige, corri-
ge, prescreve e informa os seus jogadores, para que estes consi-
gam em todos os momentos adequar o seu comportamento
com vista ao rendimento mais eficaz quer em treino quer em
competição. De acordo com Lima (2000), todos os procedimen-
tos anteriores à competição deverão ser organizados com por-
menor e rigor, como tal, parece-nos fundamental que o treina-
dor apresente uma elevada congruência da instrução entre a
prelecção de preparação e a competição, pois a primeira tem
como objectivo central preparar cognitivamente a segunda.
Assim, o objectivo do nosso estudo reside na análise compara-
tiva entre a prelecção de preparação e a competição, ao nível da
instrução transmitida pelo treinador de futebol.
Material e métodos: A amostra foi constituída por 12 prelecções e
12 competições. A competição engloba 3 momentos: antes do
jogo, durante o jogo e intervalo do jogo. Foram observados 6
treinadores de futebol (2 sessões cada) do escalão de seniores
masculinos da 2ª Divisão B. Como instrumento de recolha dos
dados, foi utilizado o Sistema de Análise da Informação em
Competição (SAIC) (Pina e Rodrigues, 1993) para avaliar a ins-
trução. Utilizou-se um registo de ocorrências, para posterior-
mente se codificar todas as unidades de informação em 3
dimensões de análise: objectivo, direcção e conteúdo da infor-
mação. Afim de se pesquisar as diferenças existentes entre a
instrução do treinador na prelecção de preparação e na compe-
tição, utilizou-se o teste estatístico não paramétrico Wilcoxon
Test, com um grau de probabilidade de erro p≤ 0,05.
Principais resultados e conclusões: Entre a prelecção e a competição
(antes do jogo) temos os seguintes resultados: no objectivo da
informação, existem diferenças nas categorias prescritiva e des-
critiva, contudo, estas categorias em ambos os momentos
abrangem 90% da instrução; na direcção da informação mais de
90% da instrução não apresenta diferenças; no conteúdo, verifi-
ca-se em ambos os momentos mais de 90% de instrução táctica
e psicológica. Entre a prelecção e a competição (durante o
jogo) temos: quanto ao objectivo, aproximadamente 80% da
instrução não apresentam diferenças; na direcção da informa-
ção, os valores encontrados revelam diferenças significativas
nas categorias mais importantes (atleta e equipa); relativamen-
te ao conteúdo, verificamos que mais de 85% da instrução não
apresenta diferenças significativas. Entre a prelecção e a com-
petição (intervalo do jogo)temos os seguintes resultados: no
objectivo e na direccionalidade da informação não existem
quaisquer diferenças significativas; relativamente ao conteúdo,
mais de 90% da informação não apresenta diferenças significa-
tivas. A informação transmitida, quer na prelecção, quer nos
vários momentos da competição, tem um objectivo marcada-
mente prescritivo e descritivo e um conteúdo maioritariamente
táctico e psicológico. Em suma, podemos concluir que, embora
existam algumas diferenças significativas, os treinadores de
futebol apresentam uma elevada congruência da instrução,
entre a prelecção de preparação e a competição, demonstrando
assim, um perfil de instrução coerente.
Palavras-chave: instrução, futebol, pedagogia do desporto.
AVALIAÇÃO DO PERFIL DAS INTERVENÇÕES DE CONTEÚDO PEDA-GÓGICO. ESTUDO COMPARATIVO ENTRE UM TREINADOR/PROFES-SOR E UM TREINADOR/MONITOR NO MINIBÁSQUETE.
Pinto, Dimas; Freixo, Ana; Graça, Amândio
Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física,
Universidade do Porto, Portugal.
Introdução e objectivos: O presente estudo centra-se na avaliação
do perfil das intervenções de conteúdo pedagógico do treinador
de Minibasquetebol, durante o treino. Como objectivos foram
seleccionados os seguintes: (1) Comparar diferenças no perfil
das intervenções de conteúdo pedagógico entre um
treinador/professor e um treinador/monitor; (2) analisar em
que conteúdos centram a sua intervenção; (3) a quem dirigem
preferencialmente as suas intervenções; (4) quando é que
transmitem as suas intervenções; (5) verificar se os objectivos
e conteúdos do plano de treino são congruentes com o perfil
das intervenções de conteúdo pedagógico dos dois treinadores
registadas em vídeo.
Material e métodos: A amostra foi constituída por dois treinado-
res de Minibasquetebol de dois clubes da Associação de
Basquetebol de Viana do Castelo e que participaram nos encon-
tros e torneios organizados por essa associação na época de
20001/02. A metodologia de investigação consistiu numa aná-
lise qualitativa, através de entrevistas semi-estruturadas e uma
análise quantitativa, resultante da aplicação de um instrumento
de observação sistemática adaptado de Gilbert et al. (1999) às
filmagens em vídeo das sessões de treino.
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 190
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 191
Principais resultados e conclusões: As principais conclusões suge-
rem que: O treinador/professor incide mais as suas interven-
ções de conteúdo pedagógico sobre a técnica individual ofensi-
va e sobre as regras que o treinador/monitor; o
treinador/monitor oferece mais intervenções sobre a forma de
instrução geral do que o treinador/professor; o treinador/pro-
fessor transmite maior número de intervenções de conteúdo
pedagógico, por minuto, do que o treinador/monitor; o ataque
é, relativamente à defesa, a fase do jogo mais privilegiada por
ambos os treinadores; em geral, os treinadores preferem trans-
mitir intervenções de conteúdo pedagógico durante a acção; o
treinador/professor transmite mais instrução sobre a forma de
instrução específica do que o treinador/monitor; por outro
lado, o treinador/monitor intervém mais sobre a forma de
combinação instrução/feedback do que o treinador professor; os
treinadores preferem dirigir as suas intervenções de conteúdo
pedagógico aos atletas individualmente; os objectivos e conteú-
dos das sessões de treino são congruentes com o perfil das
intervenções de conteúdo pedagógico dos treinadores durante o
treino.
Palavras-chave: minibasquetebol, intervenção de conteúdo peda-
gógico, treinador.
AS CONDUTAS DO TREINADOR DE BASQUETEBOL INFANTIL NA COMPETIÇÃO.
Montero, Antonio; Buceta, José María; Ezquerro, Milagro
Universidad Nacional de Educación a Distancia (España);
Instituto Nacional de Educación Física de Galicia; Espanha.
Introdução e objectivos: A análise da conducta do treinador en
diversas categorías teñen sido un dos campos de interese nas
últimas décadas. Moitos traballos desenvolvense neste senso
(Gilbert, 2002), de cara a articular unha mellor formación e un
desempeño máis axeitado dos treinadores aos obxectivos do
deporte infantil. O obxectivo deste traballo é caracterizar as
conductas dos treinadores de basquetebol na categoría de idade
(13-15 anos) nas situacións de competiçao e nos periodos de
participación activa (cando o xogo se está a desenvolver).
Material e métodos: O desenrolo desta investigaçao tivo lugar na
cidade da Coruña (Espanha) dentro da competición masculina
e a franja etaria sinalada anteriormente. O número de treinado-
res participantes foi de 7 e os xogos analizados de 43. Para a
avaliación das conductas dos mesmos desenrolouse un sistema
denominado Sistema de Evaluación de las Conductas del Entrenador
(S.O.C.E.). Este sistema toma como base o Coaching Behavior
Assessment System (C.B.A.S.) de Smith, Smoll e Hunt (1977), ao
que se lle engadiron tres novas categorías (outras categorías
tras acerto, outras categorías tras erro e outras categorías
espontáneas) e dúas novas dimensións: as do momento en que
se emite a conducta do treinador e a do referente a quen está
dirixida a mesma. O proceso de rexistro conlevou un treina-
mento dos observadores cara a lograr un nivel de concordancia
mínimo do 0.80 nas diferentes escalas e dimensión contempla-
das no estudio. Unha vez acadado este nivel, analizouse cada
un dos xogos, cun total de 21.187 rexistros cos resultados que
presentamos a continuación. Para efectuar a comparación entre
os diversos treinadores aplicaronse algúns estadísticos que per-
mitirían establecer se existen ou non diferencias estadística-
mente significativas entre as diversas categorías e treinadores.
Neste senso efectuaronse análises de Kruskall-Wallis, a proba
da mediana, a proba de chi-cadrado e a V de Cramer, como
estadístico que indica o nivel de asociaçao entre as variables
contempladas no estudo.
Principais resultados e conclusões: Os resultados indican, por unha
banda a diferencia estadística significativa entre as diferentes
categorías e análises propostos. Doutra banda, os treinadores
sinalan unhas pautas comportamentais de inhibición tras acer-
to ou erro dos xogadores, asdemade como un maior numero de
conductas de instrucción xeral. Os análises de significación
estadística empregados indican a diferencia entre os treinado-
res nas categorías engadidas (Outras accións tras acertos ou
erros e Outras conductas Espontáneas) e tras accións de xogo
cun resultado de acerto (Reforzo Positivo e Non Reforzo). As
conductas dos treinadores nos periodos de participación activa
no xogos de basquetebol infantil, ordenan as categorías regis-
tradas do seguinte xeito: Instrucción Técnica Xeral; Non refor-
zo; Ignora Erro; Comunicación Xeral; Ánimo Xeral; Reforzo
Positivo; Ánimo tras Erro; Instrucción Técnica tras Erro;
Outras Conductas tras Erro; Organización Xeral; Outras
Conductas tras Acerto; Castigo; Instrucción Técnica Punitiva;
Outras conductas Espontáneas e Manter Control. Desta orde-
nación poderánse establecer novas hipótesis de traballo acerca
das conductas que deben ser potenciadas en función dos obxec-
tivos prantexados.
Palavras-chave: avaliación, conductual, treinador.
A COMUNICAÇÃO DO TREINADOR DE BASQUETEBOL EM COMPETI-ÇÃO: DO DESPORTO ESCOLAR À ALTA COMPETIÇÃO.
Maia, Pedro; Fonseca, António M.
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física,
Universidade do Porto, Portugal.
Introdução e objectivos: O modo como os atletas e as equipas se
preparam e se comportam em situação de competição desportiva
tem, ao longo dos tempos, provocado a atenção e o interesse não
só dos espectadores e entusiastas do fenómeno desportivo em
geral, mas também dos investigadores em particular. Todavia,
quando comparamos a atenção que neste domínio tem sido dedi-
cada aos responsáveis pela direcção daqueles atletas e equipas –
isto é, aos seus treinadores – verificamos que ela, comparativa-
mente à verificada em relação a atletas e equipas, é substancial-
mente mais reduzida, designadamente no que se refere à situa-
ção de competição. Nessa medida, foi definido como principal
propósito deste estudo analisar a comunicação que os treinado-
res de basquetebol estabelecem com os seus atletas e equipas em
situação de competição, procurando comparar dois grupos de
treinadores com características claramente distintas: um grupo
de treinadores de equipas que participavam em competições no
âmbito do desporto escolar e um outro grupo de treinadores
cujas equipas competiam ao mais elevado nível nacional.
Material e métodos: Recorrendo para o efeito ao Coaching Behavior
Assessment System (CBAS), ligeiramente modificado, foram
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 191
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193]192
observados e analisados os comportamentos de 10 treinadores
(5 de alta competição e 5 de desporto escolar) em 26 jogos (19
relativos aos treinadores profissionais e 7 aos treinadores de
equipas de desporto escolar).
Principais resultados e conclusões: Da análise dos dados recolhidos
resultaram como principais conclusões que, tanto no caso dos
treinadores profissionais, como no dos treinadores de desporto
escolar, os atletas individualmente e a equipa em geral foram o
alvo de quase 80% dos seus comportamentos durante o jogo, e
que sensivelmente metade das instruções fornecidas, quer por
uns quer por outros, correspondia a instruções técnicas de
carácter geral. Mais ainda, apesar de, por exemplo, os treinado-
res do desporto escolar terem interagido muito mais com os
elementos que estavam nos seus bancos, enquanto os treinado-
res profissionais dedicaram mais tempo à comunicação com os
árbitros, com os adjuntos e até com eles próprios (isto é, à
auto-conversa), em termos gerais, importa sublinhar que não
foram detectadas diferenças significativas entre o modo como
os dois grupos de treinadores comunicavam com os seus atle-
tas e equipas durante os jogos observados.
Palavras-chave: comunicação, treinador de basquetebol, âmbitos
de prática.
A APTIDÃO FÍSICA, A EDUCAÇÃO FÍSICA E O TREINO. ESTUDO DES-CRITIVO E COMPARATIVO, EM CRIANÇAS E JOVENS DE AMBOS OSSEXOS, PARTICIPANTES APENAS EM AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICAE PARTICIPANTES EM AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E EM MODALI-DADES DESPORTIVAS FEDERADAS.
Eira, Avelino; Pacheco, Hugo
Pólo de Lamego da Escola Superior de Educação de Viseu do ISPV,
Portugal.
Introdução e objectivos: Ao longo dos tempos vários investigado-
res têm procurado identificar factores que quando relacionados
com tarefas motoras, usualmente utilizadas na avaliação da
prestação motora, permitem a apresentação de um constructo
avaliativo da Aptidão Física (AF). A pertinência do presente
estudo, dentro do que se tem feito no panorama nacional, é
comparar a AF de indivíduos que apenas realizam actividade
física no âmbito da disciplina Educação Física (EF) com indiví-
duos que, para além de estarem matriculados em escolas e
terem também a referida disciplina, estão em equipas de
Desporto Federado (DF). Neste estudo é ainda avaliada a evo-
lução dos níveis de AF ao longo do ano lectivo assim como dos
níveis de adiposidade. Os objectivos do estudo são: (i)
Comparar a AF em indivíduos cuja actividade física passa ape-
nas pela participação em aulas de EF com indivíduos que aliam
a participação nas aulas de EF à prática federada; (ii) Estudar a
influência da prática federada no desenvolvimento da AF; (iii)
Conhecer a evolução dos níveis da AF ao longo do ano lectivo;
(iv) Conhecer os níveis de adiposidade da amostra. Estes objec-
tivos permitem-nos formular o seguinte quadro de hipóteses:
(i) Existe diferença significativa entre os níveis de AF dos dois
grupos constituintes da amostra; (ii) Os indivíduos que aliam o
treino e competição federada às aulas de EF têm maior desen-
volvimento da AF; (iii) Existe uma evolução do princípio do
ano para o final, ao nível da AF.
Material e métodos: A amostra é constituída por 237 indivíduos
(128 do sexo masculino e 109 do sexo feminino) com idades
compreendidas entre os 12 e os 16 anos, pertencentes a escolas
e clubes dos concelhos de Lamego e do Peso da Régua. Desta
amostra, 85 indivíduos são praticantes no DF, os restantes 152
apenas participam nas aulas de EF. Ambos os grupos de indiví-
duos foram submetidos, em dois momentos distintos, aos testes
da bateria FACDEX e ao teste da adiposidade, através do adipó-
metro, no início do 1º Período e no início do 3º Período. Para a
obtenção dos resultados, procedemos aos métodos da estatística
descritiva, média e desvio padrão. Para testar as médias entre si
recorremos ao t-teste de medidas independentes.
Principais resultados: Os indivíduos pertencentes ao DF apresen-
tam resultados com valores médios superiores, em todos os
testes, no 1º momento de avaliação, relativamente aos indiví-
duos cuja actividade física se circunscreve exclusivamente às
aulas de EF. Esta diferença tem significado estatístico para as
provas de corrida 10x5m (seg.) (X±sd. 20,24±1,40 vs.
20,81±1,41; p=0,003) e de corrida de 12 minutos (metros)
(X±sd. 2542,94±464,52 vs. 2362,92±444,31; p=0,004). No
segundo momento de avaliação houve uma evolução, nos indi-
víduos dos dois grupos, no que concerne à melhoria de resulta-
dos. Contudo mantiveram-se superiores os valores médios dos
indivíduos que praticam DF. Assim, este grupo apresentou dife-
renças com significado estatístico nas provas de corrida 10x5m
(seg.) (X±sd. 19,24±1,18 vs. 20,66±1,40; p=0,000), de corri-
da de 12 minutos (metros) (X±sd. 2599,41±459,52 vs.
2440,92±458,31; p=0,011) e adiposidade (X±sd. 12,68±3,08
vs. 15,02±6,54; p=0,021).
Principais conclusões: Em função dos resultados obtidos, pode-
mos confirmar as nossas hipóteses, onde se afirma, globalmen-
te, que a EF aliada ao DF desenvolve significativamente a AF
de crianças e jovens.
Palavras-chave: aptidão física, educação física, desporto federado.
O EFEITO DE UM PROGRAMA DE TREINO DE FORÇA EM RAPARIGAS E RAPAZES PRÉ-PÚBERES.
Monteiro, António Miguel; Faro, Ana; Lopes, Vítor Pires;
Barbosa, Tiago
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade
de Coimbra; Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de
Bragança, Portugal.
Introdução e objectivos: Parece que os ganhos de força obtidos
antes da puberdade serão resultantes de adaptações neuromus-
culares e não tanto devidos à hipertrofia. O objectivo deste
estudo foi o de investigar os efeitos de um programa de treino
de força-resistência durante 10 semanas, no desenvolvimento
da Força Máxima Isométrica Voluntária (FMIV), nas alterações
da espessura muscular e na actividade neuromuscular.
Material e métodos: A amostra foi constituída pelo grupo experi-
mental (GE, n =17) e o grupo de controlo (GC, n = 17), que
compreendia 20 raparigas (9,44 ± 0,28 anos) e 15 rapazes
(9,34 ± 0,30 anos), no estádio I de maturação sexual. O GE foi
submetido a um programa de treino de exercícios calisténicos 3
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 192
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [171–193] 193
vezes por semana (90 minutos cada sessão), durante 10 sema-
nas, consistindo em treinos de push-ups e pull-ups modificados e
2 exercícios com elásticos (flexão e extensão dos cotovelos e
extensões dos braços acima da cabeça) até à exaustão. O volu-
me foi gradualmente adaptado de 3 séries, entre a 1ª semana e
a 3ª semana, para 4 séries entre a 4ª semana e a 6ª semana,
para 5 séries entre a 7ª semana e a 10ª semana. A FMIV (dina-
mómetro TSD121C da Biopac Systems Inc) e o sinal electro-
miográfico (EMG) foram registados quando os sujeitos realiza-
ram um único exercício de arm curl. Durante o arm curl foi colo-
cado um eléctrodo de superfície (TSD 150A da Biopac System
Inc.) em cada bícep (FMIVARM). O eléctrodo de terra estava
preso ao olecrâneo direito. Os sinais EMG foram ampliados por
um amplificador diferencial (impedância de entrada de 2 MΩ),
um ganho de 1000 e com uma banda passante (entre os 15 e
os 450Hz). Os sinais EMG foram rectificados e suavizados, per-
mitindo determinar o integral do sinal de EMG (iEMG) em
ambos os bíceps (ARMD e ARME). O iEMG foi relativizado de
acordo com a duração da contracção. A espessura muscular de
ambos os bíceps (ESPMBD e ESPMBE) e de ambos os triceps
(ESPMTD e ESPMTE), e as pregas de ambos os tríceps
(SKINTD e SKINTE), foram medidos pela ultrasonografia B-
mode, (scanning head de 7.5MHz; Ecocamera Aloca SSD-500).
Os perímetros braquiais relaxados (PBRD e PBRE) e braquiais
contraídos (PBCD e PBCE) de ambos os bíceps foram também
medidos (procedimentos antropométricos); avaliámos ainda o
número máximo de push ups (PUSHUP) e pull-ups modificados
(PULLUP) e a distância percorrida pela bola de hóquei
(LANÇ). A alteração entre o pré-teste e o pós-teste, em ambos
os sexos, foi analisada, em ambos os grupos, através do teste
de Wilcoxon (p≤ 0,05). As alterações significantes foram: no
GE masculino [(PBRD, p≤ 0,04; PBRE; p≤ 0,04; PBCD, p≤ 0,03;
PBCE, p≤ 0,04; PUSHUP, p≤ 0,03; PULLUP, p≤ 0,03; LANÇ,
p≤ 0,03)] e no GC [(PBRD, p≤ 0,71; PBRE, p≤ 0,74; PBCD,
p≤ 0,89; PBCE, p≤ 0,58; PUSHUP, p≤ 0,83; PULLUP, p≤ 0,28;
LANÇ, p≤ 0,50)]; e no GE feminino: [(PBRD, p≤ 0,01; PBRE;
p≤ 0,04; PBCD, p≤ 0,00; PBCE, p≤ 0,01; PUSHUP, p≤ 0,00;
PULLUP, p≤ 0,00; LANÇ, p≤ 0,02)] e no GC [(PBRD, p≤ 0,11;
PBRE; p≤ 0,07; PBCD, p≤ 0,03; PBCE, p≤ 0,07; PUSHUP,
p≤ 0,06; PULLUP, p≤ 0,78; LANÇ, p≤ 0,09)]. Os pré-púberes
podem aumentar a força, seguindo um programa de treino que
inclua exercícios calisténicos. Este não aparenta ter efeitos sig-
nificantes no desenvolvimento da FMIV. Os ganhos de força
não foram acompanhados por um aumento da espessura mus-
cular e nem da actividade neuromuscular. Parece que os ele-
mentos que sustentam os aumentos e ganhos de força podem
ser relacionados ao aumento da coordenação do movimento.
Palavras-chave: força, pré-púberes, força resistência.
EFEITOS DE UM PROGRAMA DE TREINO DE FORÇA EM CONTEXTOESCOLAR. UM ESTUDO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES DOS 12AOS 14 ANOS DA CIDADE DE MAPUTO, MOÇAMBIQUE.
Guila, Jacinto1, Marques, António2, Prista, António1
(1) Faculdade de Ciências da Educação Física e do Desporto, Universidade
Pedagógica, Maputo, Moçambique; (2) Faculdade de Ciências do Desporto
e de Educação Física, Universidade do Porto, Portugal.
Introdução e objectivos: O objectivo desta investigação foi estudar
o efeito de um programa de treino de força em crianças e
jovens, no contexto das aulas de educação física.
Material e métodos: 125 alunos do sexo masculino foram subme-
tidos a um programa de intervenção. Os alunos foram divididos
em quatro grupos, nomeadamente dois grupos pré-puberes,
sendo um experimental (Epre) e outro de controlo (Cpre) e
dois pós-puberes, sendo um experimental (Epos) e outro de
controlo (Cpos). A avaliação do estado maturacional foi efec-
tuada através dos caracteres sexuais secundários utilizando a
escala de Tanner. A força foi avaliada antes e depois da aplica-
ção do programa tendo sido utilizados 5 tipos de testes: dina-
mometria manual (DM), salto horizontal sem corrida prepara-
tória (SH), sêxtuplo (SX), sit-up’s (SUP) e suspensão estática na
barra (SEB). Os grupos experimentais foram submetidos a um
programa de intervenção realizado nas aulas de educação física
e consistindo em exercícios de força geral, durante 9 semanas,
duas vezes por semana.
Principais resultados e conclusões: Em ambos os grupos experimen-
tais (Epre, Epos) os ganhos de força foram estatisticamente
significativos (P<0.001) em todas os testes e numa amplitude
que variou entre os 11 a 37%. No grupos de controlo (Cpre,
Cpos) não foi observada nenhuma diferença significativa em
qualquer dos testes. Foi concluído que através de um programa
de nove semanas com duas unidades semanais de treino em
crianças e jovens, é possível melhorar a força no contexto das
aulas de educação física.
Palavras-chave: treino de força, crianças e jovens, aula de educa-
ção física.
PEDAGOGIA DO DESPORTO E DA EDUCAÇÃO FÍSICA
35754-Revista FCDEF 10.9.04 21:52 Página 193