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    fERmENTAOfERmENTAO

    fERmENTAO E PRODUTOS LCTEOS FERMENTADOS

    Os produtos lcteos so conhecidos h milnios, e bastante provvel que sejam usados para consumo humano desde os tempos das antigas tribos nmades, devido grande disponibilidade de leite dos rebanhos que eram deslocados junto com as populaes humanas. Com o passar dos anos descobriu-se a fermentao, que o processo em que os microorganismos retiram do meio em que vivem o material nutritivo de que necessitam, ao mesmo tempo em que, sob a ao cataltica de enzimas, produzem substncias das quais se utilizam a indstria. So inmeros os alimentos obtidos por fermentao lctica. Entre os produtos mais conhecidos esto o creme de leite, os queijos e os iogurtes.

    A fERmENTAO A palavra fermentao j teve muitos

    significados no passado. De acordo com a definio encontrada no dicionrio, fermentao um processo de varia-o qumica com efervescncia..., um estado de agitao ou sem descanso..., qualquer uma das v-rias transformaes de substncias orgnicas.... A palavra se tornou popular antes dos estudos de Pas-teur com vinhos. A discusso sobre

    a histria do conceito de fermentao concluiu que o sentido geral no qual esse

    termo normalmente utilizado definido como um processo no qual transformaes

    qumicas so realizadas em um substrato orgnico pela ao de enzimas produzidas por microorganismos.

    Bioquimicamente, a fermentao o proces-so metablico no qual carboidratos e compostos relacionados so parcialmente oxidados, resul-tando em liberao de energia, sem qualquer aceptor de eltrons externo. Os aceptores finais de eltrons so compostos orgnicos produzidos diretamente da quebra de carboidratos. Con- sequentemente, ocorre a oxidao incompleta do composto original, resultando em liberao de apenas uma pequena quantidade de energia durante o processo. Os produtos da fermentao consistem em alguns compostos orgnicos, os quais so mais reduzidos do que outros.

    Muitos alimentos devem sua produo e suas caractersticas s atividades fermentativas dos microorganismos. Vrios produtos, como queijos maturados, conservas e linguias fermentadas, so alimentos que possuem uma vida til consi-deravelmente maior do que a matria-prima da qual foram feitos. Alm de serem mais estveis, todos os alimentos fermentados possuem aroma e sabor caractersticos que resultam, direta ou indiretamente, dos organismos fermentadores. Em alguns casos, o contedo de vitaminas dos alimentos cresce juntamente com o aumento da

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    fERmENTAOfERmENTAO

    digestabilidade da sua matria-prima. O processo de fermentao reduz a toxi-cidade de alguns alimentos, enquanto outros podem se tornar extremamente txicos durante a fermentao. Nenhum outro grupo ou categoria de alimen-tos to importante ou tem sido to relacionado ao bem estar nutricional em todo o mundo quanto os produtos fermentados.

    A ecologia microbiana dos alimen-tos e das fermentaes relacionadas tem sido estudada h muitos anos em produtos como queijos maturados, chu-crute, vinhos e outros. As atividades dos organismos fermentados dependem dos parmetros intrnsecos de crescimento. Por exemplo, quando o alimento in natu-ra contm acares livres e acidificado, leveduras crescem rapidamente e pro- duzem lcool, restringindo as atividades de outros organismos naturalmente pre-sentes. Se, ao invs disso, a acidez de um produto permite um bom crescimento bacteriano e, ao mesmo tempo, tem al-tas concentraes de acares simples, de se esperar o crescimento de bact- rias acidolcticas. A adio de baixas quantidades de NaCI tambm permitir o crescimento preferencial das bactrias em relao s leveduras, como ocorre na fermentao do chucrute.

    Produtos que contm polissacarde-os mas no apresentam nveis significati-vos de acares simples so normalmen-te estveis s atividades de leveduras e bactrias acidolcticas devido a falta de amilase na maioria desses micro-organismos. Para a fermentao ser realizada, uma fonte exgena de enzi- mas sacarificantes deve ser fornecida. O uso de malte de cevada em cervejarias e indstrias de destilao um exemplo disso. A fermentao de acares at a formao de etanol resultante da maltagem e ocorre devido as leveduras. O uso de koji na fermentao de produ-tos com soja outro exemplo de como fermentaes alcolicas e acidolcticas podem ocorrer em produtos contendo baixos nveis de acares e altos nveis de amidos e protenas. Embora as enzi-mas sacarificantes do malte de cevada sejam provenientes da germinao de sementes de cevada, as enzimas do koji so produzidas pelo Aspergillus oryzae, que cresce em gros de arroz molhados ou cozidos a vapor, ou em outros ce- reais. Os hidrolisados do koji podem ser fermentados por bactrias acidolcticas e leveduras, como ocorre no caso do molho de soja, ou suas enzimas podem agir diretamente no gro de soja na pro-duo de produtos como o miso japons.

    BAcTRIAS AcIDOlcTIcAS

    Este grupo composto por 12 gneros de bactrias gram positivas: Carnobacterium, Enterococcus, Lacto-coccus, Lactobacillus, Lactosphaera, Leuconostoc, Oenococcus, Pediococcus, Streptococcus, Tetragenococcus, Vago-coccus e Weissella.

    Uma vez que os Enterococcus e os Lactobacillus no pertencem mais ao g-nero Streptococcus, o microorganismo deste ltimo gnero mais importante em alimentos o S. termophilus. O S. diacetilactis foi reclassificado como uma linhagem de Lactococcus subespcie lactis que utiliza citrato.

    Relacionados s bactrias acidolcti-cas, mas no pertencentes a esse grupo, esto gneros como Aerococcus, Micro-bacterium e Propionibacterium, entre outros. O gnero Propionibacterium foi reduzido, j que algumas de suas espcies foram transferidas para o novo gnero Propioniferax, o qual produz cido propinico como principal cido carboxlico a partir da glicose.

    A matria vegetal o habitat natural do grupo dos Streptococcus lcticos, embora no existam evidncias de que o Lactococcus cremoris tenha sua origem nesses materiais. Acredita-se que os Streptococcus provenientes de plantas possam ser a fonte ancestral da qual outras espcies e linhagens tenham se desenvolvido.

    Embora o grupo das bactrias aci-dolcticas no tenha seus limites bem definidos, todos os membros desse grupo apresentam a mesma caracters-tica de produzir cido lctico a partir de hexoses. Por serem organismos fermentadores, faltam neles sistemas hemeligados funcionais de transporte de eltrons ou de citocromos, alm do que eles obtm sua energia a partir da fosforilao de substratos durante a oxidao de carboidratos. Tais micro-organismos no apresentam o ciclo de Krebs.

    As bactrias acidolcticas so dividas em dois grupos, com base nos produ-tos finais do metabolismo da glicose. Aquelas que produzem cido lctico como nico ou principal produto da fer-mentao da glicose foram designadas

    homofermentativas (veja Figura 1A).As homolcticas podem extrair duas

    vezes mais energia de uma quantidade definida de glicose do que as heterolcti- cas. O comportamento homofermen-tativo observado quando a glicose metabolizada, mas na necessariamente quando as pentoses so metaboliza-das, j que algumas bactrias homo-lcticas produzem cidos actico e lctico quando utilizam pentoses. O carter homofermentativo de algumas linhagens de bactrias homolcticas pode ser mudado pela alterao das condies de crescimento, tais como concentrao de glicose, pH e limita-o de nutrientes.

    As bactrias lcticas que produzem a mesma quantidade molar de lactato, dixido de carbono e etanol a partir de hexoses so chamadas de heterofermen-tativas (veja Figura 1B).

    Todos os membros dos gneros Pe-diococcus, Streptococcus, Lactococcus e Vagococcus so homofermentadores, assim como alguns Lactobacillus. Os heteroformadores so Leuconostoc, Oenococcus, Weissella, Carnobacterium, Lactosphaera e alguns Lactobacillus. A

    Tabela 7.1 apresenta as bactrias aci-dolcticas homo e heterofermentativas.

    As bactrias heterolcticas so mais importantes do que as homolcticas na produo de componentes de aroma e sabor, tais como o acetilaldedo e o diacetil (veja Figura 2).

    O gnero Lactobacillus foi subdividi-do classicamente em trs subgneros: Be-tabacterium, Streptobacterium e Thermo- bacteriumi. Todos os Lactobacillus hete-rolcticos apresentado na Tabela 1 per-tencem ao subgnero Streptobacterium (por exemplo, L. casei e L. plantarum) produzem mais de 1,5% de cido lctico em uma temperatura tima de cresci-mento de 300C, enquanto as bactrias do subgnero thermobacterium (como a L. acidophilus e a L. bulgaricus) podem produzir mais de 3% de cido lctico e tm uma temperatura tima a 400C.

    Mais recentemente, o gnero Lacto-bacillus foi organizado em trs grupos baseados basicamente nas caractersti-cas fermentativas. O grupo 1 inclui as es-pcies homofermentativas obrigatrias (L. acidophilus, L. bulgaricus, L. delbrue-ckii, etc.). Estas so as termobactrias e no fermentam pentoses. O grupo 2 formado pelas espcies heterofermentati-vas facultativas (L. casei, L. plantarum, L. sake, etc.), e os membros deste grupo fermentam pentoses. O grupo 3 o das espcies heterofermentativas obrigat-rias e inclui L. fermentum, L. brevis, L. reuteri, L. sanfrancisco e outros. Eles produzem CO2 a partir da glicose. Os Lactobacillus podem produzir um pH de 4,0 em alimentos que contm carboidratos fermentveis e tambm podem alcanar um pH de aproxima-damente 7,1.

    Quanto s necessidades para o crescimento, as bactrias acidolcti-cas precisam de aminocidos, vitamina B e bases pricas e pirimdicas, o que explica a sua utilizao em anlises microbiolgicas. Embora essas bact- rias sejam mesoflicas, algumas de-las podem crescer sob temperaturas abaixo de 50C ou acima de 450C. Com relao ao pH, algumas podem crescer abaixo de 3,2, outras acima de 9,6, mas a maioria cresce em uma faixa de pH entre 4,5 e 4,5. As bactrias acidolcticas so pouco proteolticas e lipolticas.

    fIGURA 1 - ROTAS GERAIS DE PRODUO DE AlGUNS PRODUTOS fERmENTADOS A PARTIR DA GlIcOSE POR VRIOS ORGANISmOS. (A) lcTIcAS HOmOfERmENTATIVAS; (B) lcTIcAS HETEROfERmENTATIVAS; (c) E (D) PROPIONIBACTERIUM; (E) SACCHAROMCYES SPP; (f) ACETOBACTER SPP; (G) ACETOBACTER

    Glicose

    2 ATP

    2 ATPFosfoquetolase

    Metilmalonil-CoA

    Sucinil-CoA (Anaerobicamente)

    Propionil-CoA

    Sucinato

    Lactato

    2H2H

    CO2Oxalacetato

    cido Actico

    2 Lactato Lactato Etanol

    Etanol

    Propionato Propionato,Acetato, CO2

    CO2 + H2O

    Piruvirato

    Hexose Isomerase

    2 ATPCO24 ATP 4 ATP

    1 ATP

    (A)

    (B)

    fIGURA 2 - ROTA GERAl DA PRODUO DE AcETONA E DIAcETIl A PARTIR DO cITRATO PElO GRUPO N DE LACTOBACILLUS E LEUCONOSTOC SPP. O PIRUVATO PODE SER PRODUZIDO A PARTIR DO lAcTATO, E A AcETIl cOENZImA A (cOA), A PARTIR DO AcETATO.

    Citrato

    Acetato

    Oxaloacetato

    Piruvato

    X2 TTP

    TTP

    CoA

    CO2

    Acetil-CoA

    Acetona Diacetil

    - COOH

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    PRODUTOS lcTEOS

    Entre os produtos lcteos fermen-tados, destacamos neste artigo o leite, os produtos que utilizam culturas starter, como a manteiga e o iogurte, e os queijos.

    LeiteOs microorganismos presentes

    no leite cru de vaca so os mesmos

    encontrados no bere e na pele desse animal, nos utenslios da ordenha ou nas tubulaes da coleta. Sob boas condies de manuseio e conservao, a biota predominante gram positiva. O leite cru mantido sob temperatu-ras de refrigerao por muitos dias apresenta, inevitavelmente, vrias ou todas as bactrias dos gneros Ente-rococcus, Lactococcus, Streptococcus, Leuconostoc, Lactobacillus, Microbacte-

    rium, Oerskovia, Propioni- bacterium, Micrococcus, Proteus, Pseudomonas, Bacillus e Listeria, assim como alguns representantes de pelo menos um dos gneros dos coliformes. A biota incapaz de cres-cer nas baixas temperaturas habi- tuais de armazenamento ten-de a apresentar nmeros muito reduzidos. Alguns estudos tm demonstrado a presena de bact- rias psicrotrficas formadoras de esporos e de microbactrias no leite cru. Por exemplo, em um es-tudo, o Bacillus spp. psicrotrficos foram encontrados em 25% a 36% de 97 amostras de leite cru, tendo mostrado capacidade de crescer a 70C ou menos. Em outro estudo, o Clostridium psicrotrficos foram isolados em quatro de 48 amos-tras de leite cru. Mycobacterium e Nocardia spp. foram isolados em aproximadamente 69% das 51 amostras de leite cru em outro estudo. O processo de pasteuriza-o elimina todas essas bactrias, menos linhagens termodricas, Streptococcus, Lactobacillus e bactrias formadoras de esporos do gnero Bacillus (e Clostridium, se presente no leite).

    O leite o veculo de algumas doenas. O consumo de leite cru geralmente est relacionado com os surtos registrados, incluindo leites crus inspecionados. Sorvetes preparados em casa contendo ovos, leite em p ou leite pasteurizado contaminado aps os processos de aquecimento tm sido associados aos surtos alimentares. A campilo-bacteriose e as salmoneloses so reconhecidas como doenas que podem ser transmitidas pelo leite ou por produtos lcteos. Casos de

    listeriose e colite hemorrgica tm sido relacionados ao leite.

    Alguns questionamentos foram levantados a respeito da eficcia da pasteurizao na destruio do Myco-bacterium paratuberculosis. O interesse vem do fato de que essa bactria causa a doena de Johne no gado e parece exercer alguma funo na doena de Crohn em humanos. Em um estudo, nenhum dos mtodos de pasteurizao

    (alta temperatura por curtos perodos - HTST - e baixa temperatura por longos perodos - LTLT) destruiu 103-104 UFC/mL em todas as amostras de leite, mas, em outro estudo, mais de 106 UFC/mL foram destrudas pelo HTST (720C por 15 segundos). A doena de Crohn uma doena inflamatria do intestino (inflamao na regio do leo), na qual o leo terminal e, as vezes, o ceco e o clon ascendente se tornam espessos e ulcerados. O lmen da regio afetada torna-se muito estreito, resultando em uma obstruo intestinal.

    A deteriorao de produtos conten-do leite pasteurizado tem duas origens comuns. A primeira o crescimento e a atividade metablica de organismos psicrotrficos, como Pseudomonas, Alcaligenes e flavobacterium spp. Esses bastonetes gram negativos, que normal-mente so lipolticos e proteolticos, so contaminantes aps a pasteurizao. Os organismos proteolticos podem causar a desestabilizao das micelas de case-na e uma coagulao doce no leite. No entanto, a deteriorao predominante se manifesta por meio de odores acres e frutosos. A segunda o crescimento de organismos resistentes ao calor que po-dem fermentar a lactose at cido lcti- co. Quando o pH reduzido para 4,6, o leite coagula. Se esporos de bolores esto presentes, podem germinar e cres-cer na superfcie do leite azedo e elevar o pH at torn-lo neutro, propiciando o

    so frequentemente citadas nos pro-dutos. Sempre incluem bactrias que convertem lactose em cido lctico, normalmente o L. lactis subespcie lactis, o L. lactis subespcie cremoris ou o L. lactis subespcie lactis bitipo diacetylactis. Quando compostos com aroma e sabor de diacetil so neces-srios, a cultura starter lctica inclui bactrias heterolcticas, tais como o Leuconostoc mesenteroides subespcie cremoris, o l. lactis subespcie lactis bitipo diacetylactis ou o Leuconostoc mesenteroides subespcie dextranicum. As culturas starter podem ser formadas por uma ou vrias linhagens. Podem ser produzidas em grandes quantidades e congeladas em nitrognio lquido para sua preservao ou congeladas a seco. Os Lactococcus normalmente consti-tuem cerca de 90% da populao de uma cultura starter lctea, e uma boa cultura lctica pode converter quase toda a lactose em cido lctico. A acidez titulvel pode aumentar para 0,8% a 1,0%, calculada como cido lctico, e o pH normalmente diminui para 4,3 a 4,5.

    A manteiga, o buttermilk e o sour cream so produzidos normalmente pela inoculao de nata ou leite pasteurizado com uma cultura starter lctea. Aps a inoculao, tais produtos so mantidos em temperaturas apropriadas at que atinjam a acidez desejada. No caso da manteiga, o creme inoculado e deixado acidificar, sendo ento agitado at a formao da manteiga, a qual lavada, salgada e, ento, embalada. O buttermilk, como o nome sugere, o leite que sobra depois que a nata batida para a produo da manteiga. A sua produo comercial geralmente realizada inoculando-se o leite des-natado como culturas starter lcteas ou culturas prprias para buttermilk, as quais so mantidas em temperatura apropriada para a acidificao. Os co- gulos resultantes so quebrados em finas partculas por meio de agitao; este produto chamado de buttermilk cultivado. O sour cream feito com cul-turas starter geralmente preparado pela fermentao da nata pasteurizada e homogeneizada com pouca gordura. Esses produtos devem o seu sabor azedo ao cido lctico e o seu aroma e gosto de manteiga ao diacetil.

    TABELA 1 - BACTRIAS ACIDOLCTICAS HOMO E HETEROFERMENTATIVASHomofermentativas Heterofermentativas

    Organismos Configurao do lactato

    % G + G Organismo Configurao do lactato

    % G + G

    Lactobacillus LactobacillusL. acidophilus DL 36,7 L. brevis DL 42,7 - 46,4 L. alimentarius L(D) 36 - 37 L. bucheneri DL 44,8L. bulgaricus D(-) 50,3 L. cellobiosus DL 53L. casei L(+) 46,4 L. coprophilus DL 41,0L. coryniformis DL 45 L. fermentum DL 53,4L. curvatus DL 43,9 L. hilgardii DL 40,3L. delbrueckii D(-) 50 L. sanfrancisco DL 38,1 - 30,7 L. helveticus DL 39,3 L. trichoides DL 42,7L. jugurti DL 36,5 - 39,0 L. fructivorans DL 38 - 41L. jensenii D(-) 36,1 L. pontis DL 53 - 56L. lactis D(-) 50,3 LeuconostocL. leichmaninii D(-) 50,8 L. cremoris D(-) 39 - 42L. plantarum DL 45 L. dextranicum D(-) 38 - 39L. salivarius L(+) 34.7 L .lactis D(-) 43 - 44Pediococcus L. mesenteroides D(-) 39 - 42P.acidilactici DL 44,0 L. gelidum D(-) 37P. cerevisiae DL L. carnosum D(-) 39P. pentosaceus DL 38 L. mesenteroidesP. damnosus subsp. mesenteroidesP. dextrinicus subsp. cremorisP. inopinatus subsp. dextranicumP. parcutus L. argentinumTetragenococcus L. citrecumT. halophilus L 36,5 L. fallaxT. muriaticus L. pseudomesenteroidesStreptococcus CarnobacteriumS. bovis D(-) 38 - 42 C. divergens 33,0 - 36,4S. thermophilus D(-) 40 C. mobile 35,5 - 37,2Lactococcus C. gallinarum 34,3 - 36,4L. lactis subsp. lactis C. psicicola 33,7 - 36,4Biovar diacetylactis L(+) 38,4 - 38,6 WeissellaL. lactis subsp. cremoris L(+) 38,0 - 40,0 W. confusa DL 44,5 - 45,0L. lactis subsp. hordniae 35,2 W. hellenica D(-) 37 - 47L. garvieae 38,3 - 38,7 W. halotolerans DL 45L. plantarum 36,9 - 38,1 W. kandleri DL 39L. raffinolactis 40,0 - 43 W. minor DL 44Vagococcus W.paramesenteroides D(-) 38 - 39V. fluvialis 33,6 W. viridescens DL 43V. salmoninarum 36,0 - 36,5 Oenococcus

    O. oeni DL 38 - 42

    crescimento de bactrias proteolticas, como a Pseudomonas spp. e a liquefao dos cogulos do leite.

    Em produtos lcteos com uma vida de prateleira mais longa, a deteriorao por bactrias psicrotrficas formadoras de esporos um problema srio. Orga-nismos como o Bacillus cereus podem sobreviver ao processo UHT e, devido a longa vida de prateleira, crescer e produzir toxinas, alm de tambm po-derem causar uma coagulao doce nos produtos.

    A deteriorao microbiana do leite cru similar deteriorao anterior-mente descrita, no caso do produto ser mantido sob refrigerao. A viscosidade presente, as vezes, no leite cru causada pelo Alcaligenes viscolactis. Seu cresci-mento favorecido pela manuteno do leite cru em baixas temperaturas por muitos dias. A viscosidade ocorre devido a produo bacteriana de uma camada viscosa, a qual d ao produto uma consistncia pegajosa.

    Culturas starterUma cultura starter lctea essen-

    cial na indstria de laticnios. Para a produo de qualquer tipo de queijo, fundamental que haja uma produo de cido lctico, e a cultura starter lctea adicionada com essa finalida-de. As culturas starter lcteas tambm so utilizadas em manteigas, queijos cottage, buttermilk e sour cream e

    Streptococcus

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    O iogurte produzi-do com culturas starter especficas, as quais as culturas mistas de S. ter-mophilus e Lactobacillus delbrueckii subespcie bulgaricus em uma pro-poro de 1:1. Na pre-sena dos Lactobacillus, os cocos crescem mais rpido do que os basto-netes e produzem uma quantidade maior de ci-do do que se estivessem sozinhos. H uma maior produo de acetaldedo (o componente voltil mais importante no sabor do iogurte) quando o Lacto-bacillus delbrueckii subespcie bugla-ricus cresce em associao com o S. termophilus. Os cocos podem produzir aproximadamente 0,5% de cido lctico, e os bastonetes, de 0,6% a 0,8% (pH de 4,2 a 4,5). Contudo, se o tempo de incubao for maior, o pH pode baixar para aproximadamente 3,5, e o cido lctico, aumentar para 2%.

    O iogurte preparado reduzindo-se o contedo de gua do leite integral ou desnatado em pelo menos um quarto. Isso pode ser feito em um recipiente a vcuo, depois da esterilizao do leite, ou adicionando-se cerca de 5% de sli-dos lcteos, sendo a gua ento reduzida (condensao). O leite concentrado aquecido a 820C a 930C, por 30 a 60 minutos, e refrigerado a 450C. A cultura starter adicionada em concentrao de aproximadamente 2% do volume, sendo em seguida incubada a 450C por trs a cinco horas e, ento, resfriada a 50C. A acidez de um produto final de boa qualidade de 0,85% a 0,90%. Para atingir tal nvel de acidez, o produto fermentado deve ser removido da incuba-o a 450C quando a acidez est ao redor de 0,65% a 0,70%. Um bom iogurte se mantm em boas condies de consu-mo a 50C por uma a duas semanas. Os

    cocos crescem antes dos bastonetes durante a fermentao, mas depois de trs horas o nmero desses dois micro-organismos deve ser quase igual. ndices maiores de acidez, como 4%, podem ser obtidos deixando-se o produto fermen-tar por mais tempo, fazendo com que o nmero de bastonetes exceda o nmero de cocos. O Streptococcus tende a ser inibido quando o pH fica entre 4,2 e 4,4; j o Lactobacillus pode tolerar valores de pH entre 3,5 e 3,8. O cido lctico do io-gurte produzido em maior quantidade pela glicose proveniente da lactose do que da galactose.

    Iogurtes recm produzidos contm aproximadamente 109 organismos/g, mas, durante o seu armazenamento, esse nmero pode baixar para 106/g, especialmente quando mantidos a 50C por mais de 60 dias. O nmero de bastonetes geralmente diminui mais rapidamente do que o nmero de cocos. A adio de frutas ao iogurte parece no afetar o nmero de microorganismos

    TABELA 2 - ALGUNS PRODUTOS FERMENTADOSAlimentos e produtos Matria-prima Organismos fermentadores Local de produo

    Buttermilk blgara L. delbrueckii subsp. bulgaricus Blcs

    Iogurte Leite, slidos do leite L. delbrueckii subsp. bulgaricus, S. thermophilus Todo o mundo

    Kefir LeiteLactobacillus lactis, L. delbrueckii subsp. Bulgaricus, Torulaspp.

    Sudoeste asitico

    Kumiss Leite cru de guaLactobacillus leichmannii, L. delbrueckii subsp. Bulgaricua, Torulaspp.

    Rssia

    Leite acidificado Leite Lactobacillus acidophilus Vrios pasesQueijos (maturados) Leite coalhado Culturas starter lcticas Todo o mundoTaette Leite S. lactis var. taette Pennsula escandinavaTarhana* Farinha de trigo e iogurte Lcticos Turquia

    * Similar ao lishk na Sria e ao kushuk no Ira

    fermentadores. A norma da Federao Internacio-nal de Produtos Lcteos para iogurtes de 107/g ou mais.

    O kefir produzido a partir de grnulos que contm os microorga-nismos L. lactis, L. bul-garicus e leveduras fer-mentadoras de lactose, os quais so mantidos juntos por camadas de protenas coaguladas. A produo e cido realizada pelas bactrias,

    enquanto as leveduras produzem lcool. A concentrao final de cido lctico e lcool pode ser maior do que 1%. O ku-miss semelhante ao kefir, exceto pelo fato de que o leite utilizado o de gua, os microorganismos no formam gros e a quantidade de a;cool pode atingir 2%.

    O leite acidificado produzido me-diante a inoculao da linhagem de L. acidophilus em leite desnatado estril. Depois no inculo de 15 a 2% ser pre-parado, o produto submetido a uma temperatura de 370C at que o leite coa-gule. Uma variao muito popular desse produto comercializada nos Estados Unidos e consiste na adio de uma linhagem concentrada de L. acidophilus a um tanque de leite integral pasteuri-zado e frio (ou leite desnatado ou com 2% de gordura). O produto imediata-mente engarrafado. Apresenta pH de leite normal e mais saboroso do que os produtos mais cidos. O nmero de L. acidophilus varia entre 107 e 108/mL. O buttermilk blgaro produzido de

    forma similar, mas utilizando a linhagem de L. bulgaricus como cultura starter. Ao contrrio do L. acidophilus, o L. bulgaricus no coloniza o intestino huma-no. Uma relao de leites fermen-tados apresen-tada na Tabela 2.

    A manteiga contm cerca de

    15% de gua, 81% de gordura e geral-mente menos de 0,5% de carboidratos e protenas. Embora no seja um produto altamente perecvel, deteriorada por bactrias e fungos. A maior fonte para os microorganismos na manteiga a nata, seja doce ou azeda, pasteurizada ou no pasteurizada. A flora do leite integral observada na nata, pois os microorganismos se encontram nas gotculas de gordura que sobem para a superfcie do leite. O processo de obteno de manteiga por meio da nata, seja natural ou pasteurizada, reduz o nmero total de microorganismos. Os valores para o produto acabado va-riam de algumas centenas at mais de 100.000/g em amostras de manteiga salgada. A manteiga salgada pode conter mais de 2% de sal, o que significa que as gotculas de gua podem conter um nvel efetivo de cerca de 10%, fazendo com que o produto seja menos suscept- vel deteriorao microbiana.

    As bactrias causam dois tipos de deteriorao na manteiga. O primeiro conhecido como mancha de superf-cie ou putrefao. Essa deteriorao causada pela Pseudomonas putrefaciens e ocorre devido ai seu crescimento na superfcie da manteiga pronta. Ela se desenvolve em temperaturas que va-riam entre 40C e 70C e se torna visvel entre 7 e 10 dias. O odor se deve, apa-rentemente, a certos cidos orgnicos, especialmente ao cido isovalrico. A segunda deteriorao bacteriana mais comum da manteiga a rancidez. Esta causada pela hidrlise da gordura com a liberao de cidos graxos livres. As lpases provenientes de fontes no mi-crobiolgicas podem causar essa dete-riorao. O microorganismo responsvel o Pseudomonas fragi, embora as vezes a P. fluorescens tambm esteja envolvida. As bactrias podem causar outros trs tipos de deteriorao menos comuns na manteiga. Um sabor maltado causado pelo crescimento do Lactococcus lactis, var. maltigenes. Um odor semelhante a gamb causado pela Pseudonomas mephitica, e a P. nigrifacients tem sido apontada como a causadora de manchas negras na manteiga.

    A deteriorao por fungos menos comum, mas acontece devido a espcies como Clostridium, Alternaria, Asper-

    gillus, Mucor, Rhizopus, Penicillium e Geo- trichum, especialmente o G. candidum (Oospora lactis). Esses microorganismos podem ser encontrados na superfcie da manteiga, onde produzem coloraes referentes s cores dos seus esporos. Le-veduras negras do gnero Torula tambm causam manchas na manteiga. Exames microscpicos revelaram a presena de miclios de bolores um pouco distantes dos pontos de crescimento visveis. O alto teor lipdico e a baixa concentrao de gua fazem com que a manteiga seja mais susceptvel deteriorao por bo-lores do que por bactrias.

    O queijo cottage sofre deteriorao por bactrias, leveduras e bolores. O exemplo mais comum de deteriorao bacteriana conhecido como cogulos viscosos. O Alcaligenes spp. tem sido apontado como um dos microorganis-mos mais frequentemente encontrados, embora Pseudomonas, Proteus, Ente-robacter e Acinetobacter spp, tambm tenham sido implicados. Penicillium, Mucor, Alternaria e Geotrichum apre-sentam um bom crescimento no queijo cottage, dando a ele um sabor mofado ou que lembra leveduras.

    QueijosA maioria dos queijos resulta de

    uma fermentao lctica. Em geral, o processo de manufatura consiste em dois passos importantes. Em um dos passos, o leite preparado e inoculado com uma cultura starter lctica apro-priada. A cultura starter produz cido lctico que, juntamente com a renina, forma a coalhada. A cultura starter para a produo do queijo pode ser diferente, dependendo da quantidade de calor aplicada coalhada. O S. termophilus empregado na produo de cido lctico em coalhadas cozidas, pois mais tole-rante ao calor do que a maioria das ou-tras culturas starter; uma combinao de S. termophilus e L. lactis subsp. lactis empregada em coalhadas que passam por um cozimento intermedirio. No outro passo, a coalhada comprimida, pressionada e depois salgada. Em casos nos quais h a maturao, esse processo realizado em condies apropriadas ao queijo em questo.

    Embora muitos queijos maturados sejam produtos da atividade metablica das bactrias acidolcticas, diversos queijos bem conhecidos devem as suas

    Lactobacillus bulgaricus

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    caractersticas a outros organismos. No caso do queijo suo, uma mistura de culturas de L. delbrueckii subsp. bulgaricus e S. termo-philus normalmente em-pregada juntamente com uma cultura de Propioni- bacterium shermanii, a qual adicionada ao quei-jo durante o processo de maturao para o desen-volvimento do sabor e a formao das olhaduras.

    Para produzir queijos azuis, como o Roquefort, a coalhada inoculada com esporos de Penicillium roqueforti, os quais ajudam na maturao e conferem o aspecto de veias azuis caracterstico desse tipo de queijo. De uma maneira se- melhante, o leite ou a su-perfcie do queijo Camem-bert so inoculados com esporos de Penicillium ca-memberti.

    Existem mais de 400 variedades de queijos, representando menos de 20 tipos, os quais so agrupados ou clas-sificados de acordo com a sua textura, seu teor de umidade e sua maturao ou no. No caso dos maturados, estes tambm so classificados conforme a realizao do processo, ou seja, por bactrias ou bolores. Os trs tipos de textura dos queijos so duro, semiduro e mole. Exemplos de queijos duros so o cheddar, provolone, romano e Edam. Todos os queijos duros so maturados por bactrias por um perodo que varia entre dois e 16 meses. Os queijos semi-duros incluem o Muenster e o Gouda e so maturados por bactrias durante perodos de um a oito meses. O Blue e o Roquefort so dois exemplos de queijos semiduros maturados por bolores por dois a 12 meses. O Limburger um exemplo de queijo mole maturado por bactrias; o Brie e o Camembert so exemplos de queijos moles maturados por bolores. Entre os queijos no matu-rados esto o cottage, o cream cheese e o Neufchatel.

    O baixo teor de umidade dos quei-jos duros e semiduros faz com que

    no sejam deteriorados pela maioria dos microorganismos, embora os bo-lores possam crescer nesses produtos. Alguns queijos maturados tm um potencial de oxirreduo (O/R) sufi-cientemente baixo para o crescimento de microorganismos anaerbios. Assim, quando a atividade de gua permite o crescimento, as bactrias anaerbias so as responsveis pela deteriorao desses produtos. Os Clostridium spp., especialmente o C. pasteurianum, o C. butyricum, o C. sporogenes e o C. tyrobutyricum, causam estufamento nos queijos. O C .tyrobutyricum conhecido por causar a fermentao do cido bu-trico, provocando o defeito conhecido como estufamento tardio em queijos como o Gouda. O Bacillus polymyxa, uma bactria aerbia formadora de esporos, foi apontado como causa de estufamentos. O estufamento resulta da utilizao de cido lctico com a produo de CO2. A atividade dessa bactria pode ser retardada por vrias semanas com a utilizao de 0,5% de polifosfato alimentar de cadeia longa e completamente inibida por 1,0% do mesmo produto.

    lEITES fERmENTADOS

    Os benefcios sade dos consu-midores proporcionados por certos alimentos fermentados e/ou orga-nismos fermentadores so avaliados segundo descobertas contra e a favor dos mesmos. Alguns estudos apiam os benefcios sade, entretanto, outros dizem o contrrio. Os trs tpicos de interesse so os possveis benefcios a indivduos com intolerncia lactose, a diminuio do colesterol e as atividades contra o cncer.

    A intolerncia lactose (m absor-o da lactose, hipolactemia intestinal) uma condio normal dos mamferos adultos, incluindo a maioria dos adultos humanos. Pesquisas constataram que as pessoas que tm intolerncia lactose podem consumir alguns tipos de pro-dutos lcteos fermentados sem efeitos nocivos; outros estudos, no entanto, no encontraram efeitos benficos. Quando se observam efeitos benficos, estes so atribudos ao baixo nvel de lactose do produto fermentado e a produo de -galactosidase pelos organismos fer-mentadores depois da ingesto desses

    produtos. Em um estudo, a quantidade de lactose de um iogurte armazenado por 11 dias diminuiu pela metade (de 4,8g/100g em leite no fermentado para 2,3g/100g). Durante o mesmo perodo, a galactose que apresentava apenas resqucios no leite aumentou para 1,3g/100g no iogurte; resultados similares foram obtidos em leites acidi-ficados e leites com bifidus.

    Alguns estudos mostram que o leite acidificado adocicadoprevine os sintomas da intolerncia lactose, enquanto outros estudos no encontra-ram nenhum beneficio efetivo.

    Embora hajam estudos contradi-trios, a melhoria dos sintomas da intolerncia lactose devido a bactrias acidolcticas est bem documentado.

    J os estudos dos efeitos do leite fer-mentado sobre o colesterol teve incio em uma tribo africana de Masai, onde, embora o consumo de carne fosse alto, havia um baixo nvel de colesterol e de doenas coronrias. Esse fato foi asso-ciado ao consumo dirio de 4 a 5 litros de leite integral fermentado. Estudos posteriores no explicaram o verdadeiro efeito dos organismos fermentadores nos nveis de colesterol em humanos, embora as evidencias levassem a crer que h um efeito positivo. Em um estudo realizado com 26 pessoas, por

    exemplo, uma dieta rica em iogurte mostrou uma diminuio nos nveis de colesterol. Tais resultados sugerem que o iogurte contm um fator que inibe a sntese de colesterol do fgado a partir do acetato. Esse fator pode ser tanto o cido 3-hidroxi-3-metilglutrico como o cido ortico acrescido do leite termfi-lo com compostos solveis em metanol. Descobriu-se que esses dois cidos redu-ziram o nvel de colesterol do fgado em comparao com as amostras-controle. Em outro estudo, ratos alimentados com uma rao acrescida de 10% de leite fermentado com L. acidophilus por quatro semanas apresentaram uma reduo significativa no colesterol quando comparados a ratos que foram submetidos a dietas sem leite fermenta-do. Embora em alguns estudos a baixa nos nveis de colesterol seja atribuda reduo na sntese, outros pesquisado-res acreditam que as bactrias eliminam o colesterol ou os seus precursores do trato gastrintestinal. Em outro estudo, duas linhagens de L. acidophilus (pro-venientes de sunos) cresceram na pre-sena de bile. Uma linhagem assimilou o colesterol de um meio de cultura na pre-sena de bile, em condies anaerbias, e inibiu significativamente o aumento dos nveis de colesterol em sunos, os quais foram submetidos a uma dieta

    rica em colesterol. A outra linhagem no removeu o colesterol do meio de cultura e no reduziu os nveis de colesterol em sunos. Os pesquisadores apresentaram evidncias de que algumas linhagens de L. acidophilus reduzem o colesterol, agindo diretamente sobre ele no trato gastrintestinal. Mais recentemente, a taxa de colesterol foi reduzida em 50% em um meio de cultura mantido por 10 a 14 dias a 320C, contendo Propioni- bacterium freudenreichii. Esse microor-ganismo no degradou o composto, uma vez que mais de 70% pde ser recupera-do das clulas lavadas.

    Em um estudo com humanos, um total de 68 voluntrios em idades en-tre 18 e 26 anos, dividido em grupos de 10 ou 13 pessoas, fez uma dieta com suplementos de leite cru, leite integral, leite desnatado, iogurte, but-termilk e leite acidificado adocicado. A dieta foi mantida por trs semanas. As concluses foram de que o butter-milk, o iogurte e o leite acidificado no apresentaram efeitos significativos no colesterol. Um estudo realizado por seis semanas com 58 homens saudveis de origem dinamarquesa mostrou que houve uma reduo significativa no colesterol daqueles que se alimentaram com produtos lcteos fermentados por Enterococcus faecium e duas linhagens de Streptococcus thermophilus. O pro-duto fermentado continha 2 x 108/mL de E. faecium e cerca de 7 x 108/mL de S. termophilus.

    Com relao aos efeitos anticarci-nognicos, aparentemente, a primeira observao da atividade anticancergena das bactrias acidolcticas foi realizada na Unio Sovitica em 1962, onde foi de-monstrado um efeito contra o sarcoma e o carcinoma. As atividades anticancerge-nas tm sido demonstradas em animais por um grande nmero de pesquisadores que empregam iogurte e extratos de iogurte de L. acidophilus, L. delbrueckii subsp. bulgaricus e L. casei, alm de extratos desses microorganismos.

    Para estudar o efeito de suplemen-tos orais de L. acidophilus na atividade enzimtica das bactrias fecais, pes-quisadores utilizaram 21 voluntrios humanos.As enzimas analisadas foram -glucuronidase, nitrorredutase e azor-redutase, pois elas podem converter in-

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    diretamente carcinomas ati-vos em carcinomas proxi- mais. A dieta consistiu em um perodo de quatro se-manas de controle, segui- das por quatro semanas de leite comum, quatro semanas de controle, quatro semanas de leite contendo 2 x 106/mL de L. acidophilus e quatro semanas de controle. Redu-es de duas a quatro vezes nas ativida-des das trs enzimas foram observadas em todos os voluntrios durante o perodo da dieta com Lactobacillus; os nveis das enzimas voltaram ao normal durante as quatro semanas finais no perodo de controle. Estudos semelhan-tes, porm, mais limitados tm sido realizados por outros pesquisadores. Descobertas como essas podem ser significativas no caso de cncer do clon, em que as evidncias suportam a importncia da dieta.

    OS PROBITIcOS

    O termo probitico, de acordo com a Legislao Brasileira, definido como um suplemento alimentar microbiano vivo que afeta de maneira benfica o organismo pela melhora no seu balano microbiano.

    Os primeiros estudos cientficos so-bre microorganismos e suas interaes com o hospedeiro humano, embora sob uma perspectiva negativa, ocorreram na segunda metade do sculo 19. J em 1885, o pediatra e bacteriologista

    alemo Theodor Escherich (1857-1911) descreveu a microbiota e, em 1886, a co-lonizao do trato gastrintestinal (GIT) infantil, sugerindo o efeito benfico de certas bactrias na digesto. Porm, foi o obstetra alemo Albert Dderlein (1860-1941) o primeiro cientista a su-gerir a associao benfica das bactrias vaginais pela produo de cido lctico de acares, prevenindo ou inibindo o crescimento de bactrias patgenas. As bactrias do gnero Lactobacillus, que formam a flora vaginal normal, so designadas com o nome de bacilo de Dderlein ou de flora de Dderlein. Re-centes pesquisas destacam a importn-cia vital de uma populao microbiana saudvel no GIT. Particularmente, a associao benfica da bactria cido lctica com o hospedeiro humano.

    O zoologista e microbiologista russo Ilya Ilich Mechnikov (1845-1916), apelidado em ingls de Elie Metschnikoff, foi o primeiro a postular o benefcio sade da bactria cido lctica associada com produtos de leite fermentado.

    A influncia be-nfica dos probiti-cos na microbiota intestinal humana inclui fatores como efeitos antagnicos e efeitos imuno-

    lgicos, resultando em um aumento da resistncia contra patgenos. Assim, a utilizao de culturas bacterianas probiticas estimula a multiplicao

    de bactrias benficas, em detrimento proliferao de

    bactrias potencialmente preju-diciais, reforando os mecanismos

    naturais de defesa do hospedeiro.Vrios microorganismos so usados

    como probiticos, entre eles bactrias cido lcticas, bactrias no cido lcti-cas e leveduras. Bactrias pertencentes aos gneros Lactobacillus e Bifidobacte-rium e, em menor escala, Enterococcus faecium, so mais frequentemente empregadas como suplementos probi- ticos para alimentos.

    A utilizao de probiticos recomen-dada a qualquer pessoa que queira favore-cer o equilbrio da microbiota intestinal.

    Os diferentes probiticos so estu-dados e comercializados na forma de preparaes contendo um nico ou uma combinao de microorganismos. So comercializados na forma de pre-paraes farmacuticas, em cpsulas ou saches, ou naturais, como leite fermentado ou iogurtes.

    O grande uso das bactrias do gne-ro Lactobacillus em alimentos, decorre dos resultados de seu comportamento nos mesmos, como capacidade de fermentar acares, formando cido lctico abundantemente; capacidade termodrica, tornando-a resistente a tratamentos trmicos mais baios; alta elaborao de cido lctico, eliminando de seus substratos microorganismos competitivos; capacidade de formar substncia volteis, alterando valores sensoriais de determinados alimentos; e incapacidade de sintetizar a maioria das vitaminas exigidas, impedindo seu crescimento em meios carentes desses nutrientes reguladores.

    Atualmente, os alimentos probi-ticos disponveis no mercado incluem sobremesas base de leite, leite fermen-tado, leite em p, sorvete, iogurte e di-versos tipos de queijo, alm de produtos na forma de cpsulas ou produtos em p para serem dissolvidos em bebidas frias, sucos fortificados, alimentos de origem vegetal fermentados e maioneses.