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4. ESTRATÉGIAS DE OTIMIZAÇÃO PRODUTO X MERCADO
A estratégia competitiva é desdobrada em estratégias funcionais como
as estratégias de marketing, produção, tecnológica, entre outras. As
estratégias funcionais devem suportar e viabilizar a vantagem competitiva
desejada pela unidade de negócios e especificar como a unidade funcional em
questão irá complementar as estratégias das outras áreas funcionais para que
haja total integração entre elas (VANALLE, 1995).
A estratégia competitiva, segundo PORTER (1980), tem por finalidade
alcançar uma posição na indústria na qual a companhia possa melhor se
defender das forças competitivas (relações com fornecedores, relações com
compradores, novos entrantes, produtos substitutos e rivalidades entre firmas
estabelecidas) ou influenciá-las em seu favor. Assim, para Porter, a estratégia
consiste em posicionar a empresa dentro do seu ambiente e da sua indústria.
O principal modo da organização chegar a esta posição protegida é,
segundo VASCONCELOS e CYRINO (2000), construir barreiras à entrada
de outras organizações na indústria em questão de modo a impedir a erosão
das margens de lucratividade. A estratégia é, nesta perspectiva de Porter, uma
escolha de otimização entre dois tipos gerais de combinações entre produtos e
mercados (liderança em custos, diferenciação e focalização).
Assim, a tradicional abordagem para a estratégia vinha sendo relatada
de acordo com a estrutura genérica de PORTER (1985). De acordo com esta
abordagem para estratégia, o caráter das forças externas é determinante em
relação à dinâmica interna da organização.
135
No final da década de 80 o conjunto de idéias que se convencionou
chamar de teoria dos recursos aparece como alternativa à abordagem
tradicional de Porter. Assim, os estudos de Gestão Estratégica voltaram-se
para os tipos de recursos internos que a organização deve possuir para ser
bem sucedida, ou seja, para visão baseada em recursos.
Para SPANOS e LIOUKAS (2001) a Visão Baseada em Recursos e a
análise de Porter são complementares uma a outra no que se refere ao
desempenho da organização; enquanto a primeira enfatiza o desenvolvimento
e combinação de recursos para realizar vantagens competitivas, deve-se
considerar a importância dos efeitos da indústria enfatizados por Porter.
Esta abordagem, segundo DURAND (1998), muito justificadamente
aponta que o desempenho da organização não é apenas o resultado do
ambiente externo no jogo competitivo (“forças competitivas”), sendo que ele
também varia de acordo com recursos explorados e alavancados pela
organização para satisfazer necessidades de clientes e mercados.
4.1. ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS DA PRODUÇÃO
Vasta pode ser considerada a coleção de trabalhos sobre Estratégias de
Produção. No entanto, é atribuída a William Skinner a elaboração do conceito
inicial sobre este assunto, através de seu artigo “Manufacturing – Missing
Link in Corporate Strategy” (SKINNER, 1969).
Para o autor, a relação entre a estratégia da empresa e produção não era
facilmente compreendida, embora a política de produção necessitasse ser
especificamente projetada para atender as necessidades definidas no nível
estratégico.
136
A argumentação inicial de Skinner, a respeito da importância da
produção para a estratégia da empresa, tem sido o centro de várias definições
sobre o conceito de estratégia de produção.
“A estratégia de produção é “o conjunto de políticas, planos e ações
relacionados à função produção, que visam dar sustentação à estratégia
competitiva da empresa”. (NOGUEIRA)
Não obstante a diversidade de definições apresentadas para este
conceito, a Estratégia de Produção é uma estratégia funcional e, portanto,
deve promover sustentação à estratégia competitiva. Dado o fato de que os
elementos que compõem o sistema produtivo devem ser concebidos para
atingir determinadas tarefas, estratégias competitivas diferentes exigirão
configurações distintas do projeto do sistema de produção.
Neste sentido, cada tipo de estratégia demanda certas tarefas da
manufatura, as quais são conhecidas por “prioridades competitivas” e foram
inicialmente identificadas por SKINNER (1969) como sendo produtividade,
serviço, qualidade e retorno sobre investimento.
Em trabalhos subseqüentes, outros autores apresentaram diferentes
combinações de prioridades como, por exemplo, HAYES e
WHEELWRIGHT (1984) que definiram as prioridades como sendo custo,
qualidade, confiabilidade e flexibilidade.
Embora existam várias classificações das prioridades competitivas, um
modelo de ampla aceitação é o de GARVIN (1993), que apresenta as
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prioridades como sendo custo, qualidade, entrega, flexibilidade e serviço,
além de desdobrá-las em várias sub-prioridades, conforme mostra a Tabela:
Sub-prioridades competitivas da produção
(Adaptada de GARVIN, 1993).
Prioridades Subprioridades
Custo
• Custo inicial - o preço ou o custo de se adquirir um produto;
• Custo operacional - o custo de operar ou usar um produto ao longo de
sua vida útil;
• Custo de manutenção - o custo de manutenção de um produto ao
longo de sua vida útil. Inclui pequenos reparos e reposição de peças.
Qualidade
• Desempenho - as características primárias de operação de um produto
ou serviço;
• Características - as características secundárias de um produto ou
serviço;
• Confiabilidade - a probabilidade de um produto ou serviço falhar
durante um específico período de tempo;
• Conformidade - o grau em que um produto ou serviço reúne os
padrões preestabelecidos;
• Durabilidade - o número de vezes que um produto pode ser usado
antes de deteriorar-se fisicamente ou não ser viável economicamente
repará-lo;
• Nível de serviço - depende da velocidade, da cortesia e da
competência dos reparos;
• Estética - a aparência, o sentimento, o gosto, o cheiro e o som de um
produto ou serviço;
• Qualidade percebida - o impacto da marca, a imagem da empresa e a
propaganda.
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Prioridades Subprioridades
Entrega
• Precisão - se os itens corretos foram entregues nas quantidades certas;
• Completude - se os carregamentos (entregas) foram completos na
primeira vez, ou se houve necessidade de emitir novos pedidos para
determinados itens;
• Confiabilidade - se os produtos foram entregues na data estipulada;
• Disponibilidade - a probabilidade de ter em estoque certo item no
momento da emissão do pedido;
• Velocidade - o tempo decorrido entre a emissão do pedido e a entrega
do produto ao consumidor;
• Disponibilidade de informação - o grau em que as informações a
respeito do transporte estão disponíveis em tempo real;
• Facilidade de emissão de pedidos - a maneira como a empresa recebe
os pedidos (eletronicamente ou não) e informa os itens que estão em
estoque;
• Qualidade - a condição do produto após o transporte;
• Flexibilidade de emissão de pedidos - se há limites estabelecendo o
número mínimo de itens por pedido e selecionando os itens de um
pedido isolado;
• Flexibilidade de transporte - a habilidade de modificar o roteiro de
entrega para atender a circunstâncias especiais;
• Facilidade de retorno - a disposição de absorver os custos de retorno
de um produto e a velocidade com que os retornos são processados.
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Prioridades Subprioridades
Flexibilidade
• Flexibilidade de produto
o Novos produtos - a velocidade com que os produtos são criados,
projetados, manufaturados e introduzidos;
o Customização - habilidade de projetar um produto para atender as
especificações de um cliente particular;
o Modificação - a habilidade de modificar os produtos existentes
para atender a necessidades especiais;
• Flexibilidade de volume
o Previsões incertas - a habilidade de responder a súbitas mudanças
no volume de um produto requerido pelo mercado;
o Aumento de escala de novos processos - a velocidade com que
novos processos de manufatura podem variar a produção de
pequenos volumes a grandes escalas;
• Flexibilidade de processo
o o Flexibilidade de mix - a habilidade de produzir uma variedade
de produtos, em um curto espaço de tempo, sem modificar as
instalações existentes;
o Flexibilidade de substituição - a habilidade de ajustar as
mudanças no mix de produtos a longo prazo;
o Flexibilidade de roteiro - o grau em que a seqüência de fabricação
ou de montagem pode ser modificada se uma máquina ou um
equipamento estiver com problemas;
o Flexibilidade de materiais - a habilidade de acomodar variações e
substituições das matérias-primas;
o Flexibilidade nos seqüenciamentos - a habilidade de modificar a
ordem de alimentação dos pedidos no processo produtivo, em
razão de incertezas no fornecimento de componentes e materiais.
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Prioridades Subprioridades
Serviço
• Apoio ao cliente - a habilidade de atender o cliente rapidamente pela
substituição de peças defeituosas ou de reabastecimento de estoques
para evitar paradas para manutenção ou perdas de vendas;
• Apoio às vendas - a habilidade de melhorar as vendas por meio de
informações em tempo real sobre a tecnologia, o equipamento, o
produto ou o sistema que a empresa está vendendo;
• Resolução de problemas - a habilidade em assistir grupos internos e
clientes na solução de problemas, especialmente em áreas como
desenvolvimento de novos produtos, projetos considerando a
manufaturabilidade e a melhoria da qualidade;
• Informação - a habilidade de fornecimento de dados críticos a
respeito de desempenho de produto, parâmetros de processo e custos
para grupos internos, tais como P&D, e para clientes que então
utilizam os dados para melhorar suas próprias operações ou produtos.
As prioridades competitivas variam conforme as diferentes
circunstâncias competitivas e a estratégia da empresa. Além disso, não há um
consenso sobre quais devam ser os conjuntos delas que orientam a
implementação da estratégia de produção.
Segundo NOGUEIRA (2002), um aspecto importante a ser considerado
quando se projeta ou opera um sistema de produção é a necessidade da
realização de tradeoffs. Variáveis como custo, qualidade, flexibilidade,
entrega e serviço ao cliente, colocam a administração constantemente em
situações de decisão onde as escolhas são inevitáveis. A realização de
tradeoffs está associada às áreas de decisão estrutural e infraestrutural.
De acordo com SKINNER (1969), o fundamental na tomada de decisão
é garantir que a alternativa selecionada seja apropriada às tarefas da
manufatura determinada pela estratégia competitiva da empresa.
141
A proposição de Skinner apontando para certas incompatibilidades
entre as prioridades competitivas e, por isso, a necessidade de realização de
tradeoffs, tem sido responsável por umas das principais controvérsias
existentes na literatura relativas ao conceito de estratégia de produção.
FERDOWS e De MEYER (1990) criticam a visão tradicional a respeito
de incompatibilidades entre as prioridades competitivas. Esses autores, a
partir de uma pesquisa que desenvolveram na década de oitenta em empresas
européias, japonesas e norte-americanas, verificaram que várias empresas
estavam obtendo bons desempenhos em algumas das prioridades competitivas
ao mesmo tempo.
ALVES FILHO et al. (1995) entendem que as prioridades não são, em
geral, mutuamente excludentes e podem ser compatíveis dentro de
determinadas faixas de desempenho. A partir de determinados níveis,
entretanto, algumas dessas prioridades podem se tornar incompatíveis fazendo
que a empresa tenha que priorizar determinadas dimensões em função de suas
competências e das exigências do mercado.
Assim, pode-se considerar que os tradeoffs continuam sendo elementos
importantes na teoria referente à estratégia de produção, embora tenham
ocorrido nos últimos trinta anos significativas mudanças tecnológicas, surgido
novas demandas da sociedade, mudado o perfil dos consumidores e outras
mudanças no ambiente, que afetaram o projeto e a operação dos sistemas
produtivos e, assim, a natureza e o tipo dos indicadores de desempenho da
produção.
142
Segundo NOGUEIRA (2002), as prioridades competitivas refletem
necessidades da estratégia competitiva e apontam para determinados objetivos
a serem atingidos pelo sistema produtivo.
Para se alcançar esses objetivos, é necessário o desenvolvimento de um
padrão de ações relacionadas a um conjunto de áreas de decisões. Em seu
trabalho inicial, SKINNER (1969), sugere cinco áreas de decisão:
• Planta e equipamento;
• Planejamento e controle da produção;
• Mão-de-obra e estrutura administrativa;
• Projeto do produto / engenharia; e,
• Organização e administração.
A partir da proposição de Skinner, HAYES et al. (1988) propuseram
uma nova classificação, com dez áreas de decisão, agrupadas sob duas
categorias: estruturais e infra-estruturais.
As decisões estruturais possuem impactos no longo prazo, sendo
difíceis de serem revertidas ou modificadas e exigem vultosos investimentos
de capital.
As decisões de natureza infra-estruturais estão relacionadas a aspectos
mais operacionais do negócio, possuindo resultados tanto no curto, no médio
e no longo prazo.
143
Áreas de Decisão em Estratégia de Produção
(Adaptada de HAYES et al, 1988 apud NOGUEIRA, 2002).
Áreas de
Decisão Decisões a serem tomadas
Capacidade A capacidade de produção total a ser provida. Instalações O número de plantas, a localização e a especialização de
cada planta necessárias para se atingir o volume de produção desejado.
Tecnologia Os tipos de equipamentos e sistemas a serem utilizadas em cada unidade, o grau de automação do processo e a forma de ligação entre as plantas.
Decisões Estruturais
Integração Vertical
Os materiais, sistemas e os serviços a serem providos internamente e aqueles que devem ser fornecidos por terceiros (e também o tipo de relacionamento a ser desenvolvido com os fornecedores).
Recursos Humanos
As políticas e as práticas de recursos humanos, incluindo administração, seleção e treinamento.
Qualidade Os sistemas de controle e garantia da qualidade (prevenção de defeitos, monitoramento, intervenção).
Planejamento e controle da produção / materiais
Sistemas de planejamento da produção e controle de estoque, políticas de fornecimento, regras de decisão.
Novos produtos
O processo de desenvolvimento de novos produtos.
Medidas de desempenho
Indicadores de desempenho e sistemas de recompensa incluindo sistema de alocação de capital.
Decisões Infraestruturais
Organização A estrutura organizacional, sistemas de controle e remuneração, papel dos grupos de staff.
Uma gama de novos fatores, como mudanças ocorridas no ambiente,
novas tecnologias de produção que surgiram, vertiginoso avanço da
tecnologia de informação e os questionamentos apontados por diversos
autores trazem sempre novas necessidades de estudo e pesquisa a este tema.
144
4.2. ESTRATÉGIA DA CADEIA DE SUPRIMENTOS
Uma cadeia de suprimentos engloba todos os estágios (clientes,
varejistas, distribuidores, fabricantes e fornecedores) envolvidos, direta ou
indiretamente, no atendimento de um pedido ao cliente (CHOPRA e
MEINDL, 2003).
“É uma rede de entidades que abrange todo o fluxo de materiais e
informações.”
(LUMUS, VOKURKA e ALBER)
A Gestão da Cadeia de Suprimentos é um conceito desenvolvido com
um enfoque holístico, que gerencia além das fronteiras da empresa;
reconhece-se que há benefícios significativos a serem ganhos ao tentar dirigir
estrategicamente toda uma cadeia em direção à satisfação dos clientes finais
(SLACK et al, 1997; LUMUS, VOKURKA e ALBER, 1998).
Para RUDBERG e OLHAGER (2003), a Estratégia de Gestão da
Cadeia de Suprimentos inclui a integração de todas as funções e processos de
negócios de toda a cadeia de suprimentos, incluindo marketing, produção,
distribuição, etc.
Seu objetivo principal da tornar os processos de negócios mais
eficientes e eficazes, reduzindo custos, níveis de estoque, melhorando a
qualidade e criando vantagem competitiva e valor para a cadeia de
suprimentos (ALVES FILHO et al, 2001).
Os autores apontam como motivos a serem apontados: o caráter
multidisciplinar (por relatar trabalhos de diversos campos, como por exemplo
145
suprimentos, logística e transportes, redes, economia de custos de transação,
etc) e sua evolução ao longo do tempo.
“A Estratégia de Gestão da Cadeia de Suprimentos é a integração dos
principais processos que gerenciam os fluxos bidirecionais de materiais e
informações no âmbito intra-empresa e entre empresas participantes da
cadeia de suprimentos até atingir os consumidores finais, cujo objetivo
principal é agregar valor aos acionistas e aos clientes ao longo destes
processos” (PEDROSO, 2002:21).
Os principais pressupostos da Estratégia de Gestão da Cadeia de
Suprimentos podem ser agrupados em quatro subconjuntos relacionados,
respectivamente:
• Ao ambiente competitivo;
• Ao alinhamento estratégico das organizações e à repartição dos
ganhos;
• À estrutura da cadeia; e,
• Às relações entre as empresas da cadeia.
O primeiro subconjunto de pressupostos se refere à maneira que as
companhias e pesquisadores percebem o ambiente competitivo. Segundo
(CHRISTOPHER, 1998), tal ambiente passou por um processo de
reestruturação, de forma que a competição agora ocorre entre cadeias inteiras,
e não mais entre empresas isoladas.
O segundo grupo de pressupostos deriva do primeiro. Se agora a
competição ocorre entre cadeias inteiras, as companhias devem ter suas
estratégias alinhadas, de forma que ações individuais gerem ganhos para toda
146
a cadeia. A contrapartida do alinhamento estratégico seria uma distribuição de
ganhos equânime entre as empresas, de acordo com os esforços e
investimentos feitos por cada uma.
O terceiro subconjunto contempla aspectos relativos à estrutura, isto é,
o papel que cada companhia e unidade produtiva deve desempenhar dentro
das cadeias. Ele inclui a existência de um pequeno número de fornecedores
hierarquizados, a integração de processos e atividades através da cadeia, a
ocorrência de um fluxo bidirecional eficiente de materiais e informação, e os
esforços que cada companhia realiza de forma a reduzir sua própria
complexidade de gestão (reduzindo a complexidade da cadeia como um todo).
O quarto grupo se refere às relações entre as companhias dentro da
cadeia de suprimentos. Ele lida com o estabelecimento de relações
cooperativas e de longo prazo, assim como parcerias entre as empresas.
4.3. ESTRATÉGIAS DE DECISÕES ESTRUTURAIS
O Processo de Desenvolvimento de Produtos é um dos processos mais
importantes e vitais para o negócio de uma empresa, pois é por meio dele que
a empresa é capaz de criar novos produtos mais competitivos e em menor
tempo com a finalidade de atender à constante evolução do mercado.
De fato, muitas empresas usam a abordagem de desenvolvimento de
produto e processo em que os elementos críticos da estratégia – um plano para
tecnologia e um plano para produto/mercado - são somente relacionados em
projetos individuais.
147
Esta abordagem é denominada de Abordagem Convencional para
Desenvolvimento de Projetos e suas maiores fraquezas são discutidas por
CLARK e WHEELWRIGHT (1993).
A abordagem Convencional para DP (Desenvolvimento de Produtos)
apresenta alguns problemas mencionados pelos autores, porém merece
destaque a falha da alta administração em planejar uma vantagem para
fornecer os requisitos de habilidades e recursos para definir um projeto ou
uma proposta apropriada e em integrar um projeto de desenvolvimento com
as outras estratégias básicas.
Áreas de decisão em estratégia de produção
(Adaptada de HAYES et al, 1988 apud NOGUEIRA, 2002)
Áreas de Decisões a serem Tomadas
• Capacidade: A capacidade de produção total a ser provida.
• Instalações: O número de plantas, a localização e a especialização
de cada planta necessária para se atingir o volume de produção
desejado.
• Tecnologia: Os tipos de equipamentos e sistemas a serem utilizados
em cada unidade, o grau de automação do processo e a forma de
ligação entre as plantas.
Decisões Estruturais
• Integração Vertical: Os materiais, sistemas e os serviços a serem
providos internamente e aqueles que devem ser fornecidos por
terceiros (e também o tipo de relacionamento a ser desenvolvido
com os fornecedores).
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• Recursos Humanos: As políticas e as práticas de recursos humanos,
incluindo administração, seleção e treinamento.
• Qualidade: Os sistemas de controle e garantia da qualidade
(prevenção de defeitos, monitoramento, intervenção).
• Planejamento e controle da produção / materiais
• Sistemas de planejamento da produção e controle de estoque,
políticas de fornecimento, regras de decisão.
• Novos produtos: O processo de desenvolvimento de novos produtos.
• Medidas de desempenho
• Indicadores de desempenho e sistemas de recompensa incluindo
sistema de alocação de capital.
Decisões Infraestruturais
• Organização A estrutura organizacional, sistemas de controle e
remuneração, papel dos grupos de staff.
Desta forma, através de pesquisas e experiências do PDP em empresas,
esses mesmos autores sugerem uma estrutura de estratégia de
desenvolvimento mais abrangente, que forneça fundamentos mais seguros
para projetos individuais. Esta estrutura possui as quatro propostas principais
da estratégia de desenvolvimento:
• Criar, definir e selecionar um conjunto de desenvolvimento de
projetos que abasteçam produtos e processos superiores;
• Integração e coordenação de tarefas funcionais, técnicas e
organizacionais envolvendo atividades de desenvolvimento;
149
• Gerenciar esforços de desenvolvimento que possam convergir para a
conclusão de propostas de negócio tanto eficazmente quanto
eficientemente;
• Criar e aumentar a necessidade de capacidade para realizar o
desenvolvimento com vantagem competitiva para longo prazo.
Vale ressaltar que a estratégia para tecnologia e para produto/mercado
fornece orientação e direção dos esforços de desenvolvimento. Porém, para
assegurar a consistência e coerência entre as estratégias, a empresa deve
definir suas metas e objetivos básicos de desenvolvimento.
Estrutura de Estratégia de Desenvolvimento
(Adaptada de CLARK e WHEELWRIGHT, 1993).
150
O processo de execução destas metas e desses objetivos de
desenvolvimento integra planos tecnológicos e comerciais a partir de
propósitos e intenções do PDP.
Assim sendo, CLARK e WHEELWRIGHT (1993) propõem a criação
de um plano, denominado pelos autores de Plano Agregado de Projetos, com
a finalidade de assegurar que um conjunto de projetos efetuará as metas e os
objetivos de desenvolvimento e estabelecerá as capacidades organizacionais
necessárias para um desenvolvimento de sucesso.
O desenvolvimento do Plano Agregado de Projetos é realizado pelos
seguintes passos:
• O primeiro passo é garantir que os recursos de desenvolvimento
sejam aplicados para os tipos apropriados e mix de projetos;
• O segundo busca desenvolver um plano de capacidade, ou seja, as
demandas ou oportunidades para os projetos e as respectivas
capacidades de recursos disponíveis para o seu desenvolvimento.
Os projetos de desenvolvimento, tanto de produto quanto de processo,
são classificados em diferentes tipos (CLARK e WHEELWRIGHT,1993).
Distinguir tipos de projeto é importante não somente para tornar mais
claro o pensamento gerencial sobre planejamento e direcionamento dos
projetos individuais, mas também para contribuir no desenvolvimento de um
plano agregado de projetos para cada tipo de projeto que requer um nível
diferente de comprometimento de recursos.
151
O grau de mudança de produto e o grau de mudança em processos de
manufatura podem ser combinados para definir os vários tipos de
desenvolvimento de projetos.
Projetos de Desenvolvimento de Produto/Processo
(Adaptado de CLARK e WHEELWRIGHT, 1993).
• R & D / Desenvolvimento de Projetos Avançados: O foco da
pesquisa e desenvolvimento de projetos avançados é a criação de
conhecimento – know–how e know-why – como um precursor para o
desenvolvimento comercial. Tipicamente as empresas conduzem o
152
desenvolvimento avançado em um grupo separado, liderado por um
conjunto diferente de pessoas e equipamento.
• Aliança ou Projetos de Parceria: Uma organização pode formar
uma aliança ou criar uma parceria com outra organização para
conduzir pesquisa ou desenvolvimento avançado, para desenvolver
um novo conceito de produto ou para desenvolver uma extensão
simples. Em anos recentes, empresas têm usado projetos de parceria
para se adequar quando seus próprios recursos não foram liberados
para um resultado de desenvolvimento requerido ou quando
oportunidades estratégicas são identificadas por outras empresas e a
realização de um novo produto ou processo é menos caro ou mais
rápido que a duplicação de trabalho dentro da empresa.
• Projetos Derivativos ou Incrementais: São projetos que criam
produtos e processos que são derivativos, híbridos ou intensificados,
podendo incluir mudanças de produto incremental com pouca ou
nenhuma mudança de projeto, mudanças no processo de manufatura
incremental com pouca ou nenhuma mudança de produto, e
mudanças incrementais tanto em processo quanto em produto. Estes
projetos requerem substancialmente menos recursos que projetos de
ruptura porque eles reproduzem novos produtos e processos pela
extensão de sua aplicabilidade.
• Projetos de Ruptura ou Projetos Radicais: São projetos que
envolvem mudança significativa no produto ou processo, podendo
criar uma nova categoria de produto para o negócio ou uma nova
visão de negócio. O foco deste tipo de projeto é o produto porque
este representa uma nova aplicação ou função e depende do sucesso
153
na atratividade e satisfação com os novos clientes. Porém, projetos
de ruptura envolvem um significante desenvolvimento de processo,
pois este é considerado crítico para o sucesso do produto.
• Projetos Plataforma ou Next-Generation: Este tipo de projeto se
localiza entre projetos derivativos e projetos ruptura e envolve
mudanças significativas na dimensão do processo de manufatura, na
dimensão do produto ou em ambos. Eles fornecem uma base para
um produto ou para uma família de processos que podem ser muito
utilizados e que requer maior dispêndio de recursos que os projetos
derivativos ou incrementais.
De acordo com ROZENFELD et al. (2000), uma plataforma é um
conjunto de elementos de um produto (subconjuntos, componentes, etc.) que
forma o núcleo de uma família de produtos com suas diversas combinações.
Para esses mesmos autores, o emprego de conceitos de produto
plataforma possibilita o lançamento contínuo de produtos com pequenos
diferenciais entre eles, gerando no cliente a percepção de soluções diferentes e
permitindo um atendimento diferenciado aos nichos de mercado.
Além disso, é de grande valia acrescentar algumas considerações sobre
o projeto plataforma. Este tipo de projeto fornece uma base significante de
volume e uma melhoria fundamental em custo, qualidade e desempenho para
o próximo desenvolvimento. Além disso, estes projetos enfatizam a
integração e desenvolvimento do plano agregado de projetos com o intuito de
aumentar a vantagem competitiva e obter um melhor entendimento potencial
dos mercados estabelecidos.
154
Diante do fato de que os mercados amadurecem e os clientes se tornam
mais exigentes e sofisticados, a gestão e a priorização de projetos de
desenvolvimento de novos produtos é uma tarefa gerencial crítica para o
sucesso competitivo.
COOPER et al. (1998) definem a gestão de projetos como “Gestão de
Portfolio”, sendo um processo de decisão dinâmico, pelo qual a lista de novos
projetos de produtos ativos é constantemente revisada. O processo de decisão
de portfólio é caracterizado pela incerteza e mudança de informação,
oportunidades dinâmicas, múltiplas metas e considerações estratégicas,
interdependência entre projeto e tomadas de decisão múltiplas.
Para estes mesmo autores, a gestão de portfólio possui três metas,
consideradas muito amplas e de caráter macro: Maximização de Valor dos
recursos em termos de alguns objetivos da empresa; Equilíbrio de Projetos em
desenvolvimento com parâmetros adotados pela empresa; e Orientação
Estratégica.
Uma gestão eficiente de portfólio deve organizar e ordenar o
planejamento integrado dos produtos a serem desenvolvidos, em fase de
desenvolvimento e aqueles que estão no mercado. O objetivo é garantir a
adequação entre as limitações de recursos da empresa e os requisitos dos
clientes por meio de um planejamento eficiente das plataformas, combinações
de soluções e compartilhamento de módulos entre os produtos (ROZENFELD
et al., 2000).
De acordo com CLARK e WHEELWRIGHT (1993), o processo de
gestão de desenvolvimento de projetos é um complexo conjunto de atividades
realizadas em certo período de tempo, representadas pela interação de seis
155
elementos com a finalidade de criar um padrão de desenvolvimento. Os seis
elementos são os seguintes:
• Definição de projeto;
• Organização e projeto de pessoal;
• Gestão e liderança de projeto;
• Resolução de problemas, testes e protótipos;
• Revisão e controle da alta gerência;
• Correções em tempo real ou em curso.
Em síntese, a organização deve ter uma maneira efetiva de definir
produtos, deve entender e desenvolver mecanismos e ferramentas para
solucionar problemas, deve entender e detalhar efetivamente as questões
envolvidas na gestão e controle do desenvolvimento.
No âmbito organizacional, o processo de desenvolvimento de produto
requer tanto o envolvimento de todos os grupos e uma capacidade apropriada
quanto a integração de todos os esforços. Desta forma, CLARK e
WHEELWRIGHT (1993) identificaram quatro estruturas dominantes
existentes dentro atividades de gerenciamento de PDP e estas estão associadas
à função liderança de projeto, podendo ser designadas por:
• Estrutura time funcional: As pessoas são agrupadas por
disciplina/departamento, cada uma trabalhando para gerentes de
uma função e a um gerente sênior funcional. O trabalho é
coordenado através de um conjunto de especificações detalhadas
para todas as partes no início do projeto e por reuniões
ocasionais.
156
• Estrutura Time Lighweight: Como a estrutura funcional, esta
reside em um time fisicamente com suas áreas funcionais, mas
cada organização funcional designa uma pessoa de contato para
“representar” a coordenação do projeto (os gerentes de projeto
peso leve, que tem responsabilidade de coordenar as atividades
entre diferentes funções).
• Estrutura Time Heavyweight: Os gerentes deste tipo de projeto
têm acesso direto e responsabilidade pelo trabalho de todos os
envolvidos no projeto. Os lideres são gerentes seniores dentro da
organização e tem grande influência sobre as pessoas que
trabalham no DP.
• Estrutura de Time Autônomo: Dentro desta estrutura,
indivíduos de diferentes áreas funcionais são formalmente
designados, dedicados e realocados para um time de projeto. O
líder de projeto é um “peso pesado” na organização e tem
controle total sobre os recursos e grupos funcionais diferentes.
4.4. ESTRATÉGIAS DE QUALIDADE NA PRODUÇÃO
O desenvolvimento dos principais conceitos envolvidos e das etapas do
processo de formulação da Estratégia de Produção, as relações com a
Estratégia Competitiva da empresa e com as demais estratégias funcionais (de
Marketing, Finanças, Tecnologia etc.), os programas e mudanças necessários
à implementação de diferentes estratégias, propiciou a identificação de
algumas lacunas na teoria em construção e de alguns pontos menos
consensuais entre os pesquisadores que se dedicaram ao assunto.
157
Uma dessas questões refere-se à existência (ou não) de
compatibilidades ou incompatibilidades entre as dimensões competitivas: os
trade-offs. FERDOWS & DE MEYER (1990) sugerem um modelo
alternativo à visão tradicional de trade-offs.
De acordo com esses autores, a qualidade deveria ser vista com pré-
condição para todas as melhorias de desempenho das outras prioridades, e
assim, os programas de melhoria da qualidade serviriam de base para
programas de outras áreas.
Também, segundo eles, as dimensões qualidade, flexibilidade, serviço e
custo são priorizados numa determinada seqüência ao longo o tempo, e as
diferentes capacidades são acumulativas e não resultado de trade-offs.
A estratégia de qualidade foca-se na satisfação do cliente, e essa
satisfação delineia a componente das características intrínsecas que podem ser
associadas ao produto, ao processo aos serviços, etc.
Algumas vertentes direcionam as estratégias de qualidade à priorização
dos esforços em busca da capacitação (sistêmica) através da tecnologia e
cultura de qualidade adotada, envolvendo melhorias no processo produtivo
e/ou na priorização das melhorias através das relações diretas com clientes.
A partir de 1990, há ênfase nas estratégias de qualidade on-line,
priorizando as informações vindas dos clientes; implantação das ferramentas
de qualidade: gerenciais, estatísticas e sociais (políticas, planos, programas,
práticas gerenciais); ênfase no planejamento (estratégico) da qualidade em
longo prazo; evolução do gerenciamento e tecnologia da qualidade com:
158
1) focalização no cliente;
2) compreensão do processo;
3) comprometimento de todos com a qualidade; ação multifuncional em
busca de objetivos gerais organizacionais (e não departamentais) via
grupos de trabalhos, times de qualidade e células de produção;
implantação de atividades de qualidade em nível de fornecedores,
desdobramento de política, processos, pessoas (atividades de
participação, atividades de reconhecimento, atividades de educação e
treinamento), clientes (internos e externos); ferramentas da qualidade
implantadas como um meio para se atingir a qualidade total e inter-
relacionadas às estratégias e gestão da qualidade; integração entre as
tecnologias de qualidade hard (sistemas, ferramentas e grupos) e as
tecnologias soft da qualidade (cultura, comprometimento, comunicação,
processo cliente-fornecedor); evolução das tecnologias de qualidade
integrando-se às estratégias e gestão da qualidade tem tido níveis
desfavoráveis e favoráveis: níveis desfavoráveis: não eliminação de
barreiras setoriais entre marketing, produção e P&D; níveis favoráveis:
fortalecimento de uma cultura preventiva de qualidade; treinamento e
educação quando necessários direcionados a problemas reais do
processo produtivo.
159
4.5. OPERACIONALIZAÇÃO DOS GRUPOS ESTRATÉGICOS
Muitas vezes, é observado em uma indústria que firmas realizam
diferentes escolhas ao longo do tempo com base em suas estratégias
competitivas, caracterizando uma heterogeneidade competitiva dentro dessa
indústria fragmentada em diversos grupos, que internamente apresentam
estratégias semelhantes. Esses grupos são chamados de grupos estratégicos e
ocupam um nível intermediário de análise entre a firma e a indústria
Os grupamentos de competidores dentro de uma indústria são com
freqüência desenvolvidos como parte do processo de formulação da
estratégia. Os grupamentos competitivos fornecem uma informação rica sobre
o ambiente competitivo da firma sem ter que lidar com a complexidade da
indústria.
A adoção de uma definição de indústria pelo critério tecnológico
juntamente com o conceito de grupos estratégicos permite estudar as firmas
agrupadas em uma mesma indústria, que processam o mesmo tipo de
material, sem perder de vista os diversos produtos dessa indústria no mercado,
e o movimento das firmas ao mudar o tipo de produto de acordo com as
condições do mercado.
Em uma indústria definida com base nas técnicas de produção, os
grupos estratégicos surgiriam devido às diferenças nos mercados atendidos.
Nesse caso, as diferenças dos produtos levariam a diferentes abordagens do
mercado pelas firmas dessa indústria, ou diferenças nos investimentos
realizados na construção da base de ativos necessária para atuar nesse
mercado.
160
Com essa consideração, os grupos estratégicos permitem a classificação
da indústria em segmentos de acordo com os mercados em que cada segmento
atua, além de possibilitar a análise do estoque de recursos de cada grupo para
se manter ou mudar de mercado.
Grupos estratégicos
Um grupo estratégico é definido como um grupo de firmas em uma
indústria que seguem estratégias similares ao longo de dimensões tais como
especialização, identificação de marca, qualidade do produto, liderança
tecnológica, entre outras. (Porter, 1980)
Operacionalização da Estratégia
A teoria de competição espacial oferece uma abordagem de grupos
estratégicos pelo lado do mercado, de acordo com a qual, quando as
características do produto oferecido por firmas competidoras tendem a ser
similares, as firmas tendem a seguir a mesma estratégia e formar grupos
estratégicos. (Thomas e Tang, 1992)
Grupos estratégicos diferentes caracterizam-se por níveis diferentes de
barreiras de mobilidade. Barreiras de mobilidade entre grupos podem ser
definidas como os custos de movimento de um grupo para outro ou como os
custos de entrada em determinado grupo estratégico. Os investimentos em
ativos tangíveis e intangíveis e competências contribuem para a formação e
altura das barreiras de mobilidade.
161
Os membros de um grupo competem entre si, pois compartilham ativos,
competências e pontos fortes semelhantes. Eles possuem como alvo os
mesmos consumidores e podem copiar rapidamente os movimentos
competitivos de um rival. A competição entre firmas de grupos diferentes
tende a ser menos vigorosa.
Ocupando um nível de análise intermediário entre firmas e indústrias,
os grupos estratégicos são úteis na identificação de temas sobre a posição
competitiva da firma, tais como os competidores diretos, as forças
competitivas e os ativos que conduzem à vantagem competitiva sustentada.
(McGee et al., 1995)
Diversidade de estudos e critérios
McGee e Thomas (1986) fizeram um levantamento de vários estudos
realizados sobre grupos estratégicos desde a criação do conceito de grupos
estratégicos em 1972. A principal diferença entre esses estudos estava ligada à
escolha das dimensões estratégicas para a definição dos grupos estratégicos.
A definição de grupos estratégicos adotada por vários autores abrangia
dimensões, tais como: linhas de produtos, integração vertical, tamanho
relativo, estratégia de produto, estratégia financeira, comportamento com
relação aos investimentos, estratégia de negócio/marketing.
A questão de quais dimensões devem ser empregadas era resolvida
mediante a análise de estudos de caso das firmas envolvidas e, para indústrias
complexas, um cuidadoso estudo da indústria era recomendado.
162
Em 1995 McGee, et al. fizeram uma nova revisão sobre grupos
estratégicos. A partir da análise de vários estudos, eles voltam a comentar que
não há padrão consistente nas características dos grupos estratégicos, devido
principalmente a não uniformidade na escolha das variáveis usadas para a
definição dos grupos. Como conseqüência, não é possível comparar e agregar
os resultados de vários estudos diferentes de uma maneira coerente.
McGee, et al. (1995) sugerem a utilização de uma definição mais
precisa de grupos na qual as dimensões estratégicas derivem da base de ativos
das firmas. A definição de estratégia em termos dos investimentos das firmas
na estrutura de ativos e competências permite lidar com as complexidades do
ambiente competitivo.
Em 1987 Hatten e Louise Hatten apresentaram um estudo sobre a
literatura de grupos estratégicos, examinando as abordagens bivariável e
multivariável utilizadas para formação de grupos.
Segundo esses autores, a pesquisa bivariável simplifica a estrutura da
indústria, reduzindo o número de variáveis competitivas para duas,
fornecendo assim fundamentos para um mapeamento simplificado dos
participantes da indústria. A pesquisa multivariável permite comprovar o
conceito de grupo com mais profundidade com relação às decisões
estratégicas da indústria, pois a administração estratégica apresenta um caráter
multifacetado.
Operacionalização da Estratégia
Em 1988, Thomas e Venkatraman apresentaram um estudo
argumentando não existir uniformidade no tratamento de grupos estratégicos
163
nas pesquisas empíricas. Uma variedade de métodos tem sido utilizada para
formação de grupos na pesquisa empírica, tornando o acúmulo de resultados
de pesquisa uma tarefa quase impossível.
Analisando um grupo de pesquisas empíricas, Thomas e Venkatraman
observaram que a maioria dos estudos procurou mostrar que nenhuma
indústria é homogênea, e que estratégias múltiplas existem em uma indústria.
Mas, qualquer demonstração empírica da mera existência de algum
agrupamento em uma indústria não é um resultado de pesquisa significativo
para a administração estratégica, a menos que as estruturas de grupos
observadas possam ser relacionadas com a estrutura de grupos de acordo com
a teoria existente.
Segundo Thomas e Venkatraman, parece não haver qualquer padrão
consistente nas características de grupos nos diversos estudos revisados. Em
outras palavras, as características conceituais de grupos estratégicos variam
significativamente ao longo dos estudos. Isso é atribuído principalmente à
escolha das variáveis utilizadas para o desenvolvimento dos grupos,
apresentando critérios diferentes nos diversos estudos analisados.
A revisão apresentada para os grupos estratégicos mostra como a
literatura existente sobre esse assunto tem sido revisada de uma maneira
crítica (McGee e Thomas, 1986, McGee et al. 1995; Thomas e Venkatraman,
1988).
Mas, apesar de algumas limitações, os grupos estratégicos são uma
ferramenta importante, tanto para melhor compreensão da indústria quanto
para identificar a maneira na qual grupos diferentes agem em competição uns
com os outros.
164
A competição em recursos vê as firmas como coleções diferentes de
ativos tangíveis, intangíveis e competências. Esses ativos determinam o grau
de eficiência com que uma firma desempenha suas atividades. Assim, uma
firma estará em condições de obter sucesso se tiver o melhor e mais
apropriado conjunto de recursos para seu negócio e estratégia. (Collis e
Montgomery, 1995)
Na década de 90 alguns estrategistas tentaram estender a visão com
base nos recursos explicando como as capacitações específicas da firma, para
desempenhar atividades melhor do que competidores, podem ser construídas e
redirecionadas através de longos períodos de tempo.
A visão das capacitações dinâmicas da firma difere da visão dos
recursos porque as capacitações serão desenvolvidas ao invés de consideradas
como existentes. (Teece et al., 1997)
Estratégia para uma firma envolve um balanço entre a exploração de
recursos existentes e o desenvolvimento dos novos recursos. (Wernfelt, 1984)
Grupos Estratégicos como Ferramenta
Um grupo estratégico é um grupo de empresas em uma indústria as
quais estão seguindo uma estratégia idêntica ou semelhante ao longo das
dimensões estratégicas. (Porter, 1980)
A escolha das dimensões a serem utilizadas para a formação dos grupos
depende do esquema adotado para operacionalizar a estratégia. Conforme já
comentado anteriormente (McGee e Thomas, 1986, e Thomas e Venkatraman,
165
1988), é observado que na literatura não existe um critério comum para a
determinação de quais as dimensões a serem utilizadas. É possível que isso se
deva à ausência de uma base para a formulação da estratégia.
A adoção de um conjunto de dimensões estratégicas baseadas em ativos
para a definição de grupos, proposta por McGee e Thomas, indiretamente
referencia a adoção da definição de estratégia com base em recursos.
O conjunto de recursos está associado a idéia de barreiras de
mobilidade. Seguindo a explicação tradicional da teoria de barreiras de
entrada, as barreiras de mobilidade representam para os membros do grupo
um investimento em um ativo comum, algumas vezes intangível, cujos
benefícios são compartilhados entre os membros do grupo (McGee e Thomas,
1986).
Os grupos podem ser definidos empiricamente comparando empresas
por meio de um esquema multivariável, composto de dimensões estratégicas.
A utilização da competição em recursos, como meio de operacionalizar a
estratégia, permite considerar como dimensões estratégicas o conjunto de
recursos da companhia, por se tratar de um conjunto múltiplo de variáveis que
atuam como barreiras de mobilidade. (Kalaf, 1999)
Os grupos estratégicos são formados com base na identificação do
conjunto de recursos considerados essenciais para atuar em um setor ou
setores do mercado, ou seja, todos os setores da indústria que possuírem o
mesmo conjunto de recursos essenciais formam um grupo. Nesse grupo, a
estratégia comum consta da aquisição, exploração e desenvolvimento do mais
adequado conjunto de recursos para atuar no mercado.
166
Recursos como Dimensões Estratégicas
A competição em recursos vê as companhias como coleções de ativos
tangíveis (físicos), intangíveis e competências (Collis e Montgomery, 1995).
Essa coleção de recursos será identificada como o conjunto de dimensões
estratégicas a serem utilizadas.
Estão agrupados dentro de ativos intangíveis: a reputação e as marcas e
patentes, conforme especificado por Collis e Montgomery (1995), e também a
lealdade de funcionários, bem com, a inclusão do relacionamento com
clientes e fornecedores. Dentro dos ativos tangíveis, estão incluídos a
propriedade, planta e os equipamentos, conforme especificado por Collis e
Montgomery (1995).
Como competências, Collis e Montgomery (1995) especificam as
rotinas, processos e cultura da companhia, exemplificando com produção de
alta qualidade, pesquisa e desenvolvimento de produtos, cadeia de
fornecimento, etc.
As competências em tecnologia são entendidas como a capacidade das
equipes da companhia em realizar pesquisa e desenvolvimento em produto e
processo, desenvolvimento de moldes e ferramentas, aplicação de técnicas
para decoração e acabamento. As competências da organização referem-se a
capacidade em divulgar os produtos entre os clientes, controlar a qualidade
dos produtos, vender os produtos no mercado interno ou externo e prestar
serviços.(Kalaf, 1999)
Os recursos utilizados pelas firmas, estruturados dessa maneira, podem
ser estudados em cada um dos tópicos indicados abaixo:
167
Conjunto de Recursos
Ativos intangíveis Ativos tangíveis Competências
Equipamentos Tecnologia Organização
- Relacionamento
- Marcas e
Patentes
- Reputação
- Escala
- Atualização
Tecnológica
- Flexibilidade
- Engenharia de peças
ou produtos
- Inovação em
processo
- Inovação em produto
- Decoração e
acabamento
- Inovação de materiais
- Controle de Qualidade
- Serviços
- Divulgação e Publicidade
- Canais de Distribuição
- Cobertura Geográfica
Cabe esclarecer qual o significado utilizado para alguns dos recursos
indicados:
• Como Relacionamento, entende-se o envolvimento entre fornecedor
e cliente no desenvolvimento de produtos;
• Como Flexibilidade, entende-se a capacidade de produzir uma
ampla linha de produtos, ou por meio de equipamentos que
apresentem essa flexibilidade ou por várias linhas de produção ou
várias plantas;
• Como Engenharia de Peças ou Produtos, entende-se o projeto
dimensional de peças e de moldes, e o desenvolvimento de produtos
que não tenham características dimensionais, mas tenham requisitos
de desempenho;
• Como Inovação em Produto, entende-se tanto a inovação de caráter
visual, envolvendo cor e formato (por exemplo, um novo frasco para
168
embalagem), ou de caráter estrutural (por exemplo, um novo pára-
choque de automóvel) quanto às relativas a uma nova aplicação (por
exemplo, uma prótese para aplicação biomédica);
• Como Serviços, entende-se qualquer atividade adicional além do
fornecimento do produto: projeto de peças, fabricação de moldes,
desenvolvimento de produtos e estocagem de produtos;
• Como Divulgação e Publicidade, entende-se toda propaganda feita
sobre o produto, seja por meio de feiras e mostras, catálogos,
televisão, telefone, Internet, etc.;
• Como Canais de Distribuição, entende-se quem vende o produto ao
usuário final. Uma firma pode não possuir canais de distribuição,
mas pode ter acesso a eles por meio de vendedores ou firmas
distribuidoras;
• Como Cobertura Geográfica, entende-se a amplitude do mercado,
ou seja, vendas no exterior ou abrangendo todo o país.
Para outras indústrias, além das indústrias de manufatura, a estrutura do
conjunto de recursos pode variar no que se refere às competências
tecnológicas, sendo praticamente inalterado com relação aos demais itens.
Dessa forma, para avaliar um recurso em relação a um ativo intangível,
será identificado, por exemplo, se a companhia necessita de um
relacionamento com clientes, ou, em relação a um ativo tangível, se seus
equipamentos necessitam de flexibilidade na produção, ou em relação a
competências, se é necessária uma equipe para pesquisar inovações de
169
produto, ou se, o acesso e utilização dos canais de distribuição é feito pela
própria equipe da firma, ou se é terceirizado.
Recursos são considerados essenciais quando são valorizados no
mercado pelo cliente. Por exemplo, a reputação é essencial quando, ao
procurar um produto e/ou serviço no mercado, os clientes o fazem entre as
empresas que tenham reputação. Outro exemplo é a busca por produtos com
preços baixos, que só serão encontrados em empresas que tenham recursos
para oferecê-los, recursos tais como escala e automação.(Kalaf,1999)
Mapa das Barreiras de Mobilidade
O mapa das barreiras de mobilidade facilita a análise e identificação
dos grupos e é construído a partir de duas dimensões gerais: o mercado e os
recursos.
O mapa irá auxiliar na identificação das barreiras construídas pelos
grupos em torno de um mercado, dificultando o acesso a novos entrantes
oriundos tanto de fora da indústria como também de outro grupo estratégico
da mesma indústria.
Como uma ferramenta de sistematização, o mapa das barreiras de
mobilidade facilitará tanto o levantamento dos dados quanto a sua análise
posterior, pela indicação dos recursos necessários para determinada empresa
atuar no mercado (produzir e comercializar certo tipo de produto).
A formação de grupos na indústria é identificada quando empresas que
atuam em um mercado ou mercados possuírem recursos comuns.
170
A identificação do mercado está ligada à indústria escolhida, e é
dividido em setores de atuação, de acordo com os produtos vendidos em cada
setor. Cada setor poderá ser subdividido de acordo com o tipo de uso do
produto nesse mercado.
As informações sobre os recursos das firmas da indústria escolhida
podem ser obtidas tanto através de documentos de acesso público, como
relatórios de atividades e outros, bem como, através de pesquisa direta, por
meio de questionários e/ou entrevistas nas empresas.
O mapa das barreiras de mobilidade é o resultado da combinação do
conjunto de recursos de um grupo de firmas com os vários mercados da
indústria. O conjunto de recursos é a interseção entre as barreiras de
mobilidade e a estratégia das firmas (Kalaf,1999).
O mapa das barreiras de mobilidade nada mais é do que uma estrutura
que irá permitir a sistematização dos dados. O processo de mapeamento é
exaustivo, e as firmas são analisadas uma a uma.
Os passos a serem seguidos para o levantamento dos dados a partir do
mapa estão indicados abaixo:
(i) selecionar um grupo de firmas que atuem na indústria;
(ii) identificar quais os produtos fabricados pelas firmas selecionadas;
(iii) posicionar as firmas nos setores definidos para o mercado de acordo
com os produtos fabricados por elas;
(iv) selecionar um grupo de produtos de determinado uso pertencentes a
um dos setores do mercado, conforme a divisão do mercado estabelecida
para a indústria estudada;
171
(v) identificar quais as firmas que atuam nesse setor conforme o
posicionamento efetuado no item (iii);
(vi) selecionar um recurso e verificar como cada uma das firmas se
comporta com relação ao recurso escolhido. Por exemplo, se ele é
utilizado ou não, se a firma o considera importante para seu negócio e
por que;
(vii) repetir o item (vi) até serem analisados todos os recursos para as
firmas identificadas em (v);
(viii) repetir os itens (iv) a (vii) para os grupos de firmas de outros
setores até terem sido analisados todos os setores.
Cada célula do mapa corresponde à interseção de um ativo com um
setor do mercado. A célula preenchida indica um ativo ou competência
necessário para a atuação em um determinado mercado, a célula vazia indica
que o recurso não é necessário.
Formação dos Grupos
Após o mapeamento das firmas da indústria mediante barreiras de
mobilidade, devem ser seguidos alguns passos para a formação dos grupos:
(i) identificar os recursos das empresas de cada setor;
(ii) identificação dos recursos considerados essenciais para atuação em
cada um dos setores do mercado.
A identificação desses recursos é feita direta ou indiretamente a partir
das qualidades ou requisitos da empresa ou do produto considerados
"essenciais" para a atuação no mercado. Na maioria das vezes, a própria
empresa identifica esses requisitos informando:
172
• Como é a competição no mercado em que atua. Por exemplo: "a
competição está baseada em preço, ou desempenho do produto, ou
serviços";
• Quais são as suas forças ou vantagens competitivas. Por exemplo:
"suas vantagens competitivas são seus processos de produção e seu
controle de qualidade";
• Qual a reputação que seria necessária no mercado. Por exemplo:
"reputação pelos serviços e pelos produtos de qualidade";
• O que o cliente espera do fabricante de determinado produto. Por
exemplo: "o suporte técnico é altamente valorizado pelos grandes
clientes";
(iii) verificar se os recursos essenciais são comuns à maioria das
empresas do setor. Em caso positivo, significa que a segmentação do
mercado adotada é adequada para a utilização do instrumento analítico
proposto. Caso contrário, outra segmentação deve ser avaliada.
Empresas de grupos distintos podem apresentar vários recursos
semelhantes, mas os conjuntos dos recursos essenciais serão diferentes. A
existência de firmas de um setor que não usam determinado recurso pode ser
atribuída à assimetria nas barreiras de mobilidade.
(iv) verificar se existe mais de um setor do mercado em que as
empresas que nele atuam apresentam um mesmo conjunto de recursos
essenciais. Em caso negativo, significa que existem tantos grupos quantos
173
forem os setores do mercado. Caso contrário, o número de grupos será igual a
quantidade dos conjuntos de recursos distintos encontrados.
(v) identificar para cada grupo encontrado qual o foco de atuação. Esse
foco é escolhido entre o recurso ou recursos e os fatores de competitividade, e
deve ser o que melhor representa a estratégia de competição das empresas
envolvidas. A escolha do foco envolve conhecimento tácito sobre estratégias
competitivas.
O foco de atuação combina o que o mercado necessita com o que a
empresa deve saber fazer o melhor possível e é onde a empresa concentra
seus esforços de aperfeiçoamento. (Kalaf,1999).
Tomando como exemplo as estratégias genéricas (Porter, 1980), de
liderança de custo total e diferenciação, pode ser identificado o foco dessas
estratégias.
Para a estratégia de liderança de custo total em um mercado que deseja
produtos de baixo custo, a empresa deve investir pesado em seus
equipamentos, buscar a redução de custos pela experiência, reduzir custos
com pesquisa e desenvolvimento, assistência técnica e vendas. Em resumo, o
que a empresa tem que fazer melhor é produzir, então o foco de atuação é:
Produção.
Para a estratégia de diferenciação em um mercado que deseja produtos
com melhor desempenho, a empresa deve criar algo que seja único no âmbito
da indústria.
174
A diferenciação pode ser conseguida pelo desenvolvimento de um
produto tecnologicamente novo, como um novo material, por exemplo. A
empresa deve ter equipes e instalações preparadas para pesquisa. Assim, o
foco ou o que a empresa tem que fazer melhor é: Pesquisa e
Desenvolvimento.
O mesmo pode ser aplicado para as estratégias com base na competição
em recursos.
Os recursos essenciais identificados em conjunto com as informações
sobre os requisitos do mercado permitirão indicar qual será o foco de atuação.
A concorrência dar-se-á de acordo com a eficiência com que cada
empresa atua no foco escolhido.
O sucesso da firma decorre da melhor utilização do conjunto de
recursos essenciais para atuar no foco escolhido.
Após a identificação dos grupos, pode ser feito um mapa dos grupos
estratégicos relacionando, para cada grupo, os setores do mercado com o foco
de atuação e os recursos essenciais.
O mapa permite uma melhor visualização da distribuição dos grupos.
175
Mapa dos Grupos Estratégicos
Grupo Mercado Foco Recurso
Setor Uso
Ativos intangíveis - Relacionamento e/ou
- Marcas e patentes e/ou
- Reputação
Ativos
tangíveis
- Equipamentos com escala e/ou
- Equipamentos com atualização tecnológica e/ou
- Equipamentos com flexibilidade
Competências
Tecnológicas
- Concepção e engenharia de peças ou produtos e/ou
- Inovação em processo e/ou
- Inovação em produtos e/ou
- Decoração e acabamento e/ou
- Inovação em materiais
Competências
Organizacionais
- Controle de qualidade
- Serviços
- Divulgação e propaganda
- Canais de distribuição
- Cobertura geográfica