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4- O papel das cidades médias

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Page 1: 4- O papel das cidades médias

A reorganização da rede urbana O papel das cidades médias

O desenvolvimento do nosso país passa pela

reorganização do sistema urbano e este pela

revitalização das cidades de média dimensão.

As cidades de média dimensão, pelas funções que

exercem e pelas oportunidades que oferecem à

população, podem contribuir para a dinamização do

território onde se inserem, reduzindo as assimetrias

regionais e melhorando a qualidade e nível de vida dos

cidadãos.

Investir nas cidades médias poderá constituir uma

estratégia para promover a implantação de actividades

económicas, valorizando os recursos regionais e

preservando o equilíbrio do ambiente, ajuda à fixação

da população e, assim, ao crescimento do país,

travando o despovoamento, o envelhecimento e a

estagnação das áreas mais deprimidas (fig 1).

Simultaneamente, poderá contribuir para atenuar o

crescimento das grandes aglomerações que se debatem

actualmente com excesso de população, face às infra-

estruturas e equipamentos de que dispõem, de que

resultam graves problemas sociais, económicos e

ambientais, entre vários que poderiam enunciar-se.

Indústria e turismo - as grandes apostas para travar o despovoamento

A Câmara de Portalegre vai apostar, nos próximos anos, no desenvolvimento económico do

município com investimentos maioritariamente centrados nos sectores industrial e turístico.

Segundo o presidente da Câmara Municipal de Portalegre, é prioritário travar a fuga de pessoas e

bens em direcção às cidades do litoral. Nesse sentido, é necessário convencer novos empresários a

investir em Portalegre, onde foram já criadas condições para o efeito. Assim, a cidade e a região

dispõem de uma zona industrial bem dimensionada e devidamente infra-estruturada. Além disso,

os preços do terreno são simbólicos, aguarda-se a chegada, a curto prazo, da rede de gás natural,

existem boas vias de comunicação e um centro de formação profissional" com capacidade de

resposta para os desafios que possam surgir".

A par do investimento no sector industrial, a Câmara Municipal pretende incentivar o investimento

no sector turístico, que apresenta um enorme potencial, que nunca foi explorado. Segundo o

autarca, o concelho de Portalegre dispõe de inúmeras riquezas ao nível paisagístico,

arquitectónico, gastronómico e histórico, ainda bem preservadas devido ao afastamento das

grandes cidades e rotas turísticas, e que podem constituir-se como um factor de desenvolvimento

para a região. Fonte: Jornal de Notícias, 13 de Fevereiro de 1998 (adaptado)

Page 2: 4- O papel das cidades médias

Em 1994 foi lançado o PROSIURB - Programa de Consolidação do Sistema Urbano

Nacional e Apoio à Execução dos Planos Directores Municipais - criado com o objectivo de

definir uma política de reordenamento do sistema urbano nacional, a fim de atenuar as

assimetrias internas. Através dos financiamentos permitidos pelo PROSIURB, pretendia-se

promover acções de qualificação urbana e ambiental, tendo em vista a valorização de cidades

médias e de centros urbanos da rede complementar.

Neste âmbito foram construídas, a fundo perdido, infra-estruturas essenciais, ligadas, por

exemplo, ao saneamento básico ou à recolha e tratamento de resíduos, equipamentos de apoio à

actividade produtiva e equipamentos colectivos, ligados ao desporto, lazer e cultura, assim

como foram levadas a cabo inúmeras acções de reabilitação e renovação urbana.

Cidades de média dimensão afirmam-se

A afirmação de um conjunto de cidades de média dimensão tem vindo a criar uma nova dinâmica

regional, que se tem vindo a reflectir no esbater dos contrastes entre o litoral e o interior

português.

Esta conclusão é retirada do trabalho recentemente publicado pela investigadora Joana Chorincas,

onde se pode ler: "não é possível extrair, com clareza e rigidez, a dicotomia litoral-interior, na

medida em que surgem situações de litoral em regiões do interior e, embora com menos

frequência, situações típicas de interioridade na faixa litoral do país".

Para esta mistura entre litoral e interior, adianta o documento, contribui o "crescente

protagonismo" de uma rede de pequenas e médias cidades entre as quais algumas capitais de

distrito, "enquanto motor de uma nova filosofia de desenvolvimento territorial". A autora destaca

as cidades de Chaves, Bragança, Mirandela, Vila Real, Viseu, Guarda, Covilhã, Fundão,

Portalegre e Évora, que considera apresentarem uma dinâmica regional alta, e ainda Beja e

Castelo Branco, estas com uma dinâmica que qualifica de média.

Para identificação das regiões mais activas, a investigadora cruzou as dinâmicas da população

(evolução de 1991 para 2001), do ensino superior e dos investimentos empresariais enquadrados

no segundo e terceiro quadro comunitário de apoio.

O papel do ensino superior

Os Censos de 2001 apontam para um crescimento populacional descontínuo e limitado ao litoral

e a algumas capitais de distrito do interior, refere ainda o estudo. Destaca-se o papel polarizador

dos estabelecimentos de ensino superior, cuja atracção sobre a população jovem contribuiu para a

dinamização de cidades como Bragança, Chaves, Viseu, Guarda, Covilhã, Fundão, Castelo

Branco, Portalegre, Évora e Beja.

Salienta-se o papel do ensino superior enquanto fixador de população jovem e pelo efeito

multiplicador que acarreta num amplo leque de actividades económicas. Dado este seu efeito de

atracção, a sua massa crítica e o seu potencial criativo, estes estabelecimentos têm papel de relevo

em qualquer estratégia de desenvolvimento das regiões a níveis como urbano, regional, social,

cultural, económico e empresarial. Fonte: Público, 9 de Abril de 2003 (adaptado)

Page 3: 4- O papel das cidades médias

O PAPEL DAS REDES DE TRANSPORTE

Para se conseguir um maior equilíbrio

territorial é necessário desenvolver uma

rede urbana policêntrica e articulada,

que permita valorizar e potencializar a

complementaridade funcional entre

centros urbanos de diferentes

dimensões.

As redes de transporte desempenham,

aqui, um papel fundamental. Só uma

boa acessibilidade interurbana poderá

permitir a concretização dos objectivos

da Política de Cidades POLIS XXI. Por

isso, o Programa Nacional de Política

de Ordenamento do Território, de 2006

(PNPOT), prevê o reforço das

acessibilidades interurbanas, bem como

dos eixos de ligação terrestre à Europa,

contribuindo para o desenvolvimento

de áreas urbanas com dinamismo

económico e social e capacidade

competitiva, no Interior do País (Fig.2).

O reforço da acessibilidade e da

articulação da rede urbana pressupõe

também a especialização funcional, valorizando a complementaridade, de modo a permitir uma

gestão mais eficaz dos recursos disponíveis, sobretudo no que se refere às funções mais raras e

especializadas (Doc. 1).

Doc. 1 – POLIS XXI: Dimensões de intervenção

A prossecução dos objectivos da Política de cidades POLIS XXI concretiza-se em três eixos de intervenção, traduzindo uma visão de

cidade a diferentes escalas territoriais:

• Eixo Regeneração urbana

Dirige-se a espaços intra-urbanos específicos e visa a coesão e coerência do conjunto da cidade, isto é, das várias comunidades que a

constituem, e a qualificação dos factores determinantes da qualidade de vida da população.

• Eixo Competitividade I Diferenciação

Coloca a ênfase na cidade enquanto nó de redes de inovação e competitividade de âmbito nacional ou internacional, e visa o reforço do seu

papel e da sua capacidade competitiva e a valorização dos factores de diferenciação. Envolve o apoio a estratégias de afirmação

internacional, a criação de equipamentos urbanos e infra-estruturas diferenciadores em termos de inserção em redes nacionais e

internacionais e a cooperação entre cidades portuguesas para a valorização partilhada de recursos, potencialidades e conhecimento.

• Eixo Integração regional

Esta dimensão de intervenção incide sobre a cidade-região, definida como o espaço funcionalmente estruturado por uma ou várias cidades

e envolvendo uma rede sub-regional de centros e de áreas de influência rurais, e coloca o enfoque nas interacções cidade-região e no

reforço do efeito cidade como factor de desenvolvimento das áreas sob sua influência directa. Envolve iniciativas que visam estruturar

aglomerações, ganhar dimensão urbana através da cooperação de proximidade, fomentar complementaridades e economias de

aglomeração e racionalizar e qualificar os equipamentos e serviços que a cidade disponibiliza à sua região.

Adaptado de: Portugal: Política de cidades POLIS XXI 2007-2013, MAOTDR, 2008

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A inserção na rede urbana europeia

Integrado na União Europeia e num mundo cada vez mais global, importa equacionar a

capacidade de afirmação, de projecção e de competição que Portugal detém ao nível

internacional e principalmente ao nível europeu.

Uma vez que são os centros urbanos que dinamizam as regiões onde se integram e que

essa dinamização é tanto maior quanto maior a sua capacidade polarizadora, isto é, de

atracção de população e actividades económicas, facilmente se depreende que o

desenvolvimento do país e a projecção da sua imagem no exterior depende de uma rede

urbana policêntrica, com um número equilibrado de centros urbanos de diferentes

dimensões, distribuídos harmoniosamente pelo território.

A afirmação internacional exige,

igualmente, a existência de cidades

que exerçam funções de nível

superior, que lhes permita

desempenhar um papel com

relevância ao nível económico,

tecnológico, cultural e científico,

no cenário internacional.

Portugal não possui nenhuma

cidade com capacidade de

afirmação a esse nível. Quer

Lisboa quer o Porto ocupam

posições secundárias nesse

contexto e essa situação tende a

agravar-se com o alargamento da

UE a leste.

Algumas cidades dos novos países

aderentes apresentam, nesta

matéria, mais possibilidades para

se afirmarem na primeira linha da

rede urbana europeia do que as

cidades portuguesas, face a uma

maior proximidade geográfica ao eixo central de desenvolvimento europeu [FIG. 5].

Lisboa: demasiado grande para o país mas excessivamente pequena a nível internacional?

A ideia de que a área de Lisboa concentra um volume exagerado de recursos nacionais - sejam eles humanos ou

institucionais, físicos ou imateriais - contrasta, paradoxalmente, com os resultados de diversos estudos que lhe

atribuem uma posição de alguma modéstia em termos internacionais: a capital do país ocupará uma posição de 5."

ou 6.8 ordem na hierarquia urbana europeia e um lugar de segundo nível, próximo de Barcelona e atrás de Madrid,

no seio da rede ibérica. Ou seja, uma visão internacional de Lisboa sublinha a sua pequenez, não a sua excessiva

dimensão. Por outro lado, é sabido que as novas oportunidades e exigências associadas à adesão de Portugal à

Comunidade Europeia beneficiaram sobretudo a capital do país, através das dinâmicas públicas e privadas que por

essa via foram reforçadas ou mesmo criadas de novo. No final do século XX, Lisboa é a única cidade portuguesa

onde é possível reconhecer, com significado, as tendências mais marcantes dos processos contemporâneos da

globalização, das migrações internacionais ao sistema financeiro, das práticas culturais à sociedade da informação.

Pode pois afirmar-se que, de um ponto de vista funcional, Lisboa é grande ao nível nacional, periférica em termos

europeus e quase inexistente no mundo global.

Fonte: João Ferrão - "Rede urbana portuguesa: uma visão internacional (I)", Janus 2001

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A hierarquização das cidades na rede internacional avalia-se através de vários critérios, entre os

quais se salienta o total de população, o número de feiras e exposições de cariz internacional

realizadas, o tráfego aéreo, o desenvolvimento de actividades de carácter cultural, a presença de

sedes de multinacionais, entre várias a enunciar.

A análise dos vários critérios permite concluir que as cidades portuguesas não apresentam

capacidade de afirmação na rede internacional. Como principal causa desta situação,

aponta-se, tradicionalmente, a perificidade do nosso território, situação que pode,

entretanto, alterar-se, com o desenvolvimento dos transportes e das telecomunicações. A

localização geográfica de Portugal no extremo sudoeste da Europa poderá transformar-se

numa vantagem comparativa, se o território nacional passar a funcionar como uma porta

de comunicação entre a Europa e o resto do Mundo. Portugal poderá transformar-se

numa plataforma intercontinental de prestação de serviços, nomeadamente ao nível dos

transportes, capaz de atrair investimentos, actividades, população.

Para projectar as principais cidades portuguesas na rede internacional, quer ao nível ibérico

quer europeu ou até mundial, é necessário continuar a investir, de forma a tomá-las mais

atractivas e dinâmicas. Da mesma forma, as cidades de média dimensão devem continuar a ser

objecto de programas e projectos, de preferência inovadores, que contribuam para aumentar a

sua dinâmica e o seu papel polarizador na região, reforçando, dessa forma, a coesão nacional. A

rede de transportes deve também continuar a ser melhorada, permitindo uma maior ligação

entre os centros da rede nacional e os da rede internacional.

Para melhorar a conectividade internacional do país e valorizar de forma equilibrada o

território é necessário:

- Reduzir o impacto da condição periférica de Portugal no contexto europeu, melhorando ou

criando infra-estruturas de acesso às redes de comunicação e transportes mundiais e

reforçando, assim, as condições de competitividade nacional e regional;

- Consolidar e valorizar o papel das cidades como motores fundamentais de desenvolvimento e

internacionalização, tornando-as mais atractivas e sustentáveis, e reforçando o papel do sistema

urbano nacional como dinamizador do progresso do conjunto do território, incluindo o das

áreas rurais e de mais baixa densidade.

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As parcerias entre cidades e o mundo rural

O espaço urbano e o espaço rural são indissociáveis, já que se organizam e estruturam o

território através do estabelecimento de um conjunto de relações de complementaridade

funcional.

Na verdade, as relações de complementaridade sempre existiram, observando-se, contudo, ao

longo da história, a par da evolução social, tecnológica e económica que foi marcando a

sociedade, alterações ao nível da forma como as ligações se estabelecem, assim como dos seus

efeitos.

A cidade sempre foi procurada pela população rural como local de comércio por excelência e

de concentração de serviços altamente especializados no âmbito da saúde, da educação ou da

justiça, ou ainda como pólo de difusão cultural e de oferta de trabalho.

No sentido contrário, as áreas rurais sempre foram fundamentais para a dinâmica urbana como

áreas produtoras de bens alimentares e como reserva de mão-de-obra.

Com a evolução verifica da ao nível dos meios de transporte e com os melhoramentos das

respectivas redes, as relações entre estes dois espaços têm-se intensificado, principalmente as

que se estabelecem entre as áreas urbanas e as áreas rurais mais próximas. A intensidade das

ligações vai-se esbatendo com a distância, com o afastamento das áreas rurais ditas

"marginais", por dificuldades que, apesar de todos os progressos, ainda se manifestam ao nível

das acessibilidades.

Actualmente, as áreas rurais são procuradas também pela paisagem, como espaço de

lazer, de habitação e, pelas oportunidades de emprego que geram, ao nível de variados

serviços e até de alguma indústria.

O crescimento harmonioso do país passa pela redução das disparidades internas e estas pelo

desenvolvimento das áreas rurais, que se desejam mais equipadas e infra-estruturadas, de forma

a oferecer à população residente condições de vida mais atractivas e com mais qualidade. É

também fundamental promover a implantação de serviços e potencializar os recursos

endógenos, de modo a aumentar a dinâmica económica destes espaços.

A valorização das áreas rurais, a diminuição das assimetrias e o desenvolvimento do país

assentam numa articulação eficiente entre políticas de ordenamento do território e de

conservação da natureza, de desenvolvimento rural, de desenvolvimento regional e de

desenvolvimento urbano.

A ideia de um mundo rural não agrícola que importa preservar - ou que se vende - em

virtude do seu valor patrimonial vem alterar, uma vez mais, as relações urbano-rurais. Pelo

menos ao nível simbólico e do discurso político, a "cidade", ou melhor, a franja mais

escolarizada da população urbana, recupera o velho mundo rural, crescente mente reduzido,

no entanto, a um dos elementos da velha tetralogia que tradicionalmente o caracterizou: a

paisagem. Esta perspectiva vai deixando, ainda que de forma implícita, um indício claro: é

na procura urbana que parece residir o essencial da evolução futura das áreas rurais onde a

actividade agrícola orientada para o mercado não alcança uma expressão significativa. Fonte: João Ferrão - "Rede urbana portuguesa: uma visão internacional (I)", Janus 2001

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Nas grandes cidades tem-se assistido, nos últimos anos, à realização de feiras de produtos

biológicos e à abertura de lojas da especialidade.

Rodrigues Arinda et tal, Geografia A 11ºAno, Texto Editores (adaptado)

Rodrigues Arinda, Preparar o Exame Nacional – Geografia A, Texto Editores (adaptado)

Queirós Adelaide, Preparação para o Exame Nacional 2011 – Geografia A, Porto Editora (adaptado)

Por comparação com o passado recente, torna-se evidente que a reformulação das relações

que se estabelecem entre os mundo rural e urbano depende, crescentemente, da capacidade de

identificar e concretizar soluções organizacionais adequadas.

(. .. ) Esta abordagem implica uma visão de conjunto das áreas geográficas de intervenção,

uma forte capacidade de diálogo institucional e ainda a existência de condições humanas,

técnicas e financeiras de monitorização das soluções concretizadas.

A ênfase atribuída à componente organizacional e institucional impõe, ainda, que se

abandonem as abordagens tradicionais baseadas exclusivamente numa óptica de procura ou

de oferta.

(. .. ) A alternativa a estas duas abordagens reside na gestão da procura. Importa alterar

atitudes e comportamentos por parte das pessoas e das organizações e melhorar as condições

reais de acesso, não apenas físico (distância geográfica e distância-tempo) mas também

económico (distância-custo) e social (distância cultural), a infra-estruturas, equipamentos e

serviços não locais mas de proximidade sub-regional ou até regional. Fonte: João Ferrão - "Rede urbana portuguesa: uma visão internacional (I)", Janus 2001