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Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Disciplina: AUP 5840 – O Mercado e o Estado na Organização Espacial da Produção Prof. Dr. Csaba Deák Prof. Dr. Nuno de Azevedo Fonseca Profa. Dra. Sueli Ramos Schiffer 2012 Monografia da Disciplina As Cidades Médias do Interior Paulista no Processo de Desconcentração Industrial e Interiorização do Desenvolvimento após 1970 Estevam Vanale Otero Doutorado Área de Concentração: Planejamento Urbano e Regional

As Cidades Médias do Interior Paulista no Processo de ... · localizadas nesse território e seu papel na rede de cidades que conforma esse sistema urbano, procurando identificar

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Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

Disciplina: AUP 5840 – O Mercado e o Estado na Organização Espacial da Produção

Prof. Dr. Csaba Deák

Prof. Dr. Nuno de Azevedo Fonseca Profa. Dra. Sueli Ramos Schiffer

2012

Monografia da Disciplina

As Cidades Médias do Interior Paulista no Processo de Desconcentração Industrial e Interiorização do

Desenvolvimento após 1970

Estevam Vanale Otero

Doutorado Área de Concentração: Planejamento Urbano e Regional

1. Introdução

O presente texto procura compreender a dinâmica urbana e socioeconômica

contemporânea do interior paulista à luz de seu processo histórico de estruturação e

desenvolvimento. Esse percurso focará com especial interesse o caso das cidades

médias1

Para tanto a análise estrutura-se em três partes distintas e complementares.

Na primeira procede-se a uma síntese do processo de desenvolvimento econômico

nacional entre fins do século XIX e a década de 1970, período em que se observou um

processo de industrialização altamente concentrado na Grande São Paulo. Serão

exploradas as razões dessa concentração, identificando qual o quadro econômico e

urbano do interior paulista à época em relação a esse processo.

localizadas nesse território e seu papel na rede de cidades que conforma

esse sistema urbano, procurando identificar em que medida a importância crescente

desses espaços é resultado do atual estágio de desenvolvimento econômico brasileiro.

Em seguida é realizada uma análise do período que se inicia na década de

1970 e se estende até os dias de hoje, em que se observou um processo de

“desconcentração produtiva” e “interiorização do desenvolvimento” que converteu o

interior paulista no mais importante parque industrial do Brasil no início do século XXI.

Para tanto serão estudadas as transformações econômicas e sociais decorridas nos

últimos 40 anos e que resultaram num novo sistema urbano-regional no Brasil,

analisadas as causas, os agentes, as ações e as políticas públicas que conformaram

essa realidade. As duas primeiras seções dão maior relevo às determinantes

macroeconômicas do processo, analisando o papel das ações e políticas públicas na

conformação dessas determinantes.

1 Atualmente, no Brasil, são definidos como “cidades médias”, grosso modo, aqueles municípios com população entre 100.000 e 500.000 habitantes. Esta definição demográfica é utilizada por parte da bibliografia aqui utilizada, caso dos trabalhos de Andrade e Serra (2001) e Braga (2005). Entretanto, outras questões também se fazem importantes, como suas características funcionais ou o fato de se constituírem como elos de ligação entre os centros locais e os centros globais (CASTELLO BRANCO, 2006, p.245-6). Assim, a definição de cidade média estaria condicionada a outros fatores qualitativos tão ou até mais importantes que aqueles de ordem quantitativa. No início do século XXI o debate acerca dessa definição conceitual ganhou novo fôlego, dada a importância crescente dos municípios de médio porte não-metropolitanos. Amorim Fº e Serra (2001) identificavam três condições que responderiam à definição: aqueles que cumprissem a função de articuladoras de “eixos ou corredores de transportes e desenvolvimento”; constituíssem “pivôs de articulação” na estruturação de redes urbanas regionais ou nacionais; e que tivessem papel relevante na atração e constituição de “polos tecnológicos”, inserindo-se na nova economia baseada no chamado “terciário avançado” (AMORIM Fº & SERRA, 2001, p.28-9). Castello Branco (2006) procurou estabelecer uma base de critérios quantitativos que, em conjunto, definissem o conceito: tamanho populacional e econômico, grau de urbanização, centralidade e qualidade de vida (CASTELLO BRANCO, 2006, p.249). Na falta de uma definição consensual e conceitualmente precisa, parece-nos que o recorte pela referida faixa demográfica, associado à sua localização geográfica e ao papel desempenhado por determinadas cidades na articulação de redes urbanas mais amplas permite estabelecer o entendimento a respeito da referida tipologia urbana.

Por fim é apresentado um quadro das transformações e impactos produzidos

pelas dinâmicas observadas no período que se inicia na década de 1970 sobre as

cidades médias do interior paulista. Nessa seção o foco recai sobre as dinâmicas

urbanas e regionais e o papel desempenhado por essas cidades na articulação de

redes mais amplas, território do desenvolvimento industrial contemporâneo no Brasil.

2. O Desenvolvimento Econômico do Interior Paulista no Período da Concentração Industrial na Grande São Paulo 1880-1970

Segundo Cano (2007) o entendimento do desenvolvimento econômico e da

concentração industrial na região da Grande São Paulo é indissociável da

compreensão do processo de formação e integração do mercado nacional, que teve

São Paulo muito precocemente como polo, e que engendrou as condições para essa

concentração e o bloqueio ao desenvolvimento autônomo de outras regiões do país. O

autor divide em dois períodos esse processo de formação do mercado nacional: de

1850 a 1929, em que a economia cafeeira se afirma como a mais importante dinâmica

econômica do país; e de 1929 em diante, quando os resultados da crise da quebra da

Bolsa de Valores de Nova York acarretam no “deslocamento do centro dinâmico” da

economia nacional, com a recuperação econômica via industrialização.

Até o fim do século XIX observava-se baixa integração inter-regional,

verificando-se a existência de complexos econômicos regionais pouco integrados,

cada um com sua “economia” e indústrias descentralizadas. A falta de integração do

mercado gerava certo grau de proteção “natural” às indústrias sediadas regionalmente

(CANO, 2007, p.61-2).

Em fins do século XIX se procede em São Paulo à substituição da mão de obra

escrava – proibido o tráfico negreiro desde 1850 – pela força de trabalho imigrante

assalariada, principalmente europeia. Além de proporcionar mão de obra ao cultivo do

café, a imigração permitiu a liberação de capitais antes imobilizados na compra de

escravos, ampliou a oferta de trabalho em atividades urbanas, assim como o mercado

de bens de consumo leve. Esse conjunto de fatores propiciou o surgimento em São

Paulo de um incipiente embrião de economia capitalista, face às condições pré-

capitalistas observadas nos demais estados brasileiros, mesmo aqueles integrados à

economia cafeeira (NEGRI, 1996, p.31-2).

A essa época, devido à contínua expansão da área plantada, deu-se crise de

superprodução do café, resultando em queda de seus preços internacionais. Devido a

suas terras mais férteis, em decorrência da recente abertura de frentes agrícolas

pioneiras no oeste do estado, da juventude de seus cafeeiros, e da existência de

relações capitalistas mais avançadas, associada a uma abundância de mão de obra

que permitiu um rebaixamento de 30% dos salários no auge da crise, São Paulo

conseguiu superar melhor esse difícil momento que outros estados cafeicultores

tradicionais, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Em virtude das

crises por que passavam outras economias regionais brasileiras, agudizadas pela 1ª

Guerra Mundial, que restringiu suas possiblidades de exportação e importação de

mercadorias, São Paulo acumulava as condições para sua futura expansão em

direção ao domínio do mercado nacional (CANO, 2007, p.66-7).

Com a política oficial de valorização do café deu-se início à recuperação da

economia nacional, do que decorreu a transferência de recursos do café para outras

atividades agrícolas, ferrovias, geração de energia elétrica e, sobretudo, para a

indústria nascente. Como bem sintetizou Negri

a indústria brasileira, em particular aquela que vai indicar mais tarde a liderança paulista, nasce atrelada à dinâmica da acumulação da economia cafeeira. Não há ainda industrialização, entendida stricto sensu como uma dinâmica assentada no capital industrial. Mas o nascimento industrial já indica a natureza contraditória de uma dinâmica que tende a negar-se pelo próprio crescimento da atividade fabril (NEGRI, 1996, p.28, grifos no original).

Ainda que não se possa identificar uma verdadeira “industrialização” nesse

período que se encerra com a crise de 1929, observa-se uma importante expansão

industrial basicamente no ramo de bens de consumo não-duráveis (especialmente

têxteis e alimentos) nas diversas regiões do país. O diferencial do estado de São

Paulo é que este apresentava no momento “terras disponíveis e incorporadas,

abundante oferta de força de trabalho e disponibilidade tecnológica” (CANO, 2007,

p.160), fundamentais à sua futura expansão. A abundante mão de obra representava,

além de oferta de trabalho, demanda crescente à nascente indústria paulista. Tão

importante quanto o desenvolvimento industrial, Cano observa que a agricultura

paulista se expandia e se diversificava, apresentando-se como a mais dinâmica do

país tanto na produção de alimentos quanto de matérias primas (notadamente algodão

e cana-de-açúcar), servindo de base à expansão de uma importante agroindústria no

interior.

Um ponto fundamental à compreensão do desenvolvimento econômico de São

Paulo diz respeito ao “complexo cafeeiro” na constituição da economia regional,

condicionando sua futura expansão. Este não se restringe à expansão física da área

plantada com café, mas a um conjunto de fatores interdependentes no processo de

criação de

“espaços” para a acumulação, que se fez acompanhar de efeitos multiplicadores ao nível da urbanização, migração, atividades industriais, de serviços, comerciais, de administração pública, e, em especial, na estrutura e dinâmica da circulação dentro do território estadual (NEGRI, 1996, p.34, grifo meu).

Este último ponto, expresso na expansão da rede ferroviária estadual que, em

1920, já interligava todas as regiões do estado, conectando-o aos estados vizinhos, é

de grande importância, pois contribuiu à estruturação regional, condicionando seu

futuro desenvolvimento industrial e urbanização. As ferrovias foram elemento de

dinamização do “complexo cafeeiro”, uma vez que diminuíam os custos de transporte

do café, constituíam-se em atividade lucrativa em si, representando ótimo investimento

aos capitais “sobrantes”, permitiam e viabilizavam o desbravamento das fronteiras

agrícolas para a expansão do próprio café, contribuindo para a criação de novos

núcleos urbanos nessas frentes pioneiras, e contribuíam para o desenvolvimento de

uma indústria de material de transporte, destinada à manutenção da própria estrutura

ferroviária (NEGRI, 1996, p.34).

Entre 1870 e 1929, período de expansão econômica atrelada à dinâmica do

“complexo cafeeiro”, conformou-se e consolidou-se a estrutura da rede urbana

paulista. Esta esteve articulada à expansão da economia cafeeira e segue o traçado

das ferrovias implantadas para o transporte do café (NEGRI, 1996, p.41).

Em virtude de todos esses fatores a economia paulista diferenciava-se do

restante do país e mesmo dos demais estados cafeeiros. Com a Crise de 1929 a

dificuldade encontrada para exportar e, por conseguinte, importar, levou a um

redirecionamento ao mercado interno. Elevou-se a competição inter-regional, para a

qual São Paulo estava mais capacitada para vencer pois, em 1929, já concentrava

37,5% da produção industrial e pouco mais de 25% da produção agrícola brasileira

(CANO, 2007, p.185).

Para a efetivação de um real “mercado nacional” seria necessário eliminar os

entraves a essa integração, representado à época pela inexistência de uma

infraestrutura de transportes e pelas barreiras tarifárias interestaduais. A eliminação

gradual destas e os investimentos, sobretudo em novas conexões rodoviárias

nacionais a partir da década de 1930, “possibilitaram ao capital a remoção das

principais barreiras que dificultavam a integração do mercado nacional” (CANO, 2007,

p.188).

A integração possibilitou uma maior complementaridade inter-regional,

acarretando no crescimento das economias de todas as regiões do país. Entretanto

esse crescimento não se deu de forma homogênea, acelerando-se sobremaneira em

São Paulo: sua economia de escala, o avanço das relações capitalistas em sua

economia, a abundância de mão de obra assalariada e grande demanda de consumo

impulsionavam sua indústria; por outro lado, sua dinâmica e diversificada agricultura

barravam o caminho a que outras regiões do país suprissem sua demanda. Observa-

se um diferencial de crescimento entre as regiões, tendo São Paulo à frente, levando à

articulação entre a concentração industrial e a integração do mercado nacional. Desse

modo se observa que a concentração tem raízes profundas e históricas no próprio

processo de formação industrial brasileiro (CANO, 2007, p.198, 204).

É importante ressaltar que a indústria em São Paulo não se restringia à região

que conformará a Grande São Paulo apresentando, historicamente, “forte penetração

no interior”:

a de bens de consumo leve estava se diversificando e não apresentava razões locacionais rígidas; a de beneficiamento tinha que acompanhar a penetração espacial das culturas pelo interior; a de madeira, a de papel e papelão e a de minerais não-metálicos, assim como a maior parte da produção de bens intermediários tinham que se instalar junto às fontes fornecedoras de suas matérias-primas. Os demais segmentos industriais, evidentemente, se concentrariam na capital paulista e nos municípios do seu Entorno, acompanhando o acelerado processo de urbanização do espaço territorial, já se beneficiando de economias de escala e de aglomeração (NEGRI, 1996, p.45).

A partir de 1929 o Brasil adentra um verdadeiro processo de industrialização,

em que as condições históricas do espaço econômico paulista reafirmam a

concentração industrial nessa região. Até o ano de 1955 o país vai atravessar o

período denominado de “industrialização restringida”, caracterizado pela expansão

apoiada na necessidade de exportações, de modo a gerar divisas para financiar a

importação de bens de capital e de bens intermediários, dado que até esse momento a

indústria nacional apresentava pequeno desenvolvimento desses segmentos (NEGRI,

1996, p.59).

Entre 1947 e 1955 o Brasil vai apresentar um acelerado crescimento industrial

de 9% ao ano, fruto, sobretudo, das medidas econômicas adotadas pelo governo

federal, e para o que

foi decisivo um conjunto de condições, dentre as quais se destacam: a significativa ampliação do mercado doméstico na década de 1930; as políticas protecionistas da indústria interna e de apoio à substituição de

importações e os investimentos estatais tanto em infraestrutura de energia e de transportes como na produção de bens intermediários (SERRA apud NEGRI, 1996, p.62).

A participação do Estado nacional se fez sentir, ainda, por meio da criação de

empresas estatais e investimentos produtivos diretos, bem como de órgãos de

fomento, como a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Fábrica Nacional de Motores

(1943), a Acesita (1944), a Companhia Siderúrgica Nacional (1946), o BNDE – Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico (1952), além da instituição do monopólio do

petróleo com a criação da Petrobrás (1954). Com isso o Estado nacional tornou-se, a

partir da década de 1940, o maior investidor do Brasil, especialmente no segmento

das indústrias de base (SCHIFFER, 2004, p.86). Além disso, realizaram-se

empreendimentos de vulto na infraestrutura rodoviária quadruplicando, entre 1928 e

1955, a extensão da rede, estimulando a integração do mercado nacional por meio da

redução dos custos do transporte rodoviário (NEGRI, 1996, p.62-3). Até 1956 vai se

verificar uma concentração da produção industrial, sobretudo nos segmentos

complexos, no espaço que irá conformar a Grande São Paulo, que amplia sua

participação de 64,5 para 66,6% do valor de produção total brasileira entre 1939 e

1956, respectivamente. O interior paulista, ainda que perca importância em relação ao

valor de produção estadual no período (35,5/33,7%) amplia sua participação em

termos nacionais, passando de 16,1 para 17,4% (NEGRI, 1996, p.87).

Grande parte do desenvolvimento industrial no interior paulista nesse período

se deu na atual Região Administrativa de Campinas, secundada pela de Ribeirão

Preto. Como observou Negri na metade do século XX o interior já vai assumindo “os

traços que mais tarde serão ressaltados pela ‘interiorização’” (NEGRI, 1996, p.91),

representados por uma indústria que era basicamente produtora de bens não-

duráveis, complementada pela “mais dinâmica e diversificada agropecuária e

agroindústria do país” (NEGRI, 1996, p.92).

É a partir desse momento que se observa um aumento da importância das

migrações inter-regionais no Brasil; até 1940 apenas 6,7% dos brasileiros residia fora

de suas regiões de nascimento, passando para 8,2% em 1950, atingindo 12,7% em

1970 (CANO, 2007, p.238-9, 288). E o mais importante destino dessas migrações foi o

estado de São Paulo, em função da expansão, crescimento e diversificação agrícola,

não apenas cafeeira, mas também para a produção de alimentos e matérias primas

para suas agroindústrias, assim como de sua industrialização crescente e da

urbanização acelerada que tem curso nesse momento (CANO, 2007, p.240-1).

Este processo de concentração industrial só será reforçado no período

seguinte, denominado de “industrialização pesada” (1955-1970). Este período foi

caracterizado pela

articulação de um bloco expressivo de investimentos apoiados no setor produtivo estatal e na entrada de capitais estrangeiros, propiciando a instalação de amplo conjunto de plantas produtoras de bens de capital, intermediárias e de consumo duráveis (NEGRI, 1996, p.101).

O Plano de Metas condicionou e direcionou os novos rumos econômicos e

políticos do Brasil em sua opção por “expandir o setor privado industrial por meio de

associações com o capital estrangeiro” (SCHIFFER, 2004, p.89). Desde então setores

industriais importantes foram “desnacionalizados”, como a indústria automobilística,

que já nasceu sob controle de capitais estrangeiros, ou a eletrônica, em que uma

“indústria nacional nascente” foi depreciada e levada à falência sendo, em seguida,

incorporada por grupos multinacionais (DEÁK, 2004, p.33-4).

Os investimentos realizados no bojo do Plano de Metas de Juscelino

Kubitschek em indústria pesada e de bens duráveis, tendo a indústria automobilística

como eixo estruturador, reforçaram a concentração em São Paulo reforçando, por

conseguinte, o bloqueio à industrialização da periferia nacional (CANO, 2007, p.252).

A participação paulista no Valor de Transformação Industrial passa de pouco menos

da metade do total nacional em 1949 para 58,2% em 1970, aprofundando-se em

praticamente todos os segmentos industriais (NEGRI, 1996, p.105-6).

Desse modo, o Plano de Metas foi decisivo no processo de concentração

industrial, mediante incentivos e grandes investimentos em infraestrutura de

transporte, comunicações e energia. Contudo, é nesse momento que se construiu uma

nova política regional, baseada em incentivos aos investimentos para o Nordeste, com

a criação da Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, em 1959

(COUTINHO, 2003, p.39).

A essa época teve início o sucateamento da rede ferroviária que havia

estruturado a rede urbana paulista, em benefício do sistema rodoviário, sendo que em

1961 todas as estradas mestras do estado já haviam sido asfaltadas. A partir de então

o interior do estado de São Paulo passou a ter, além de extensa rede ferroviária, uma completa rede rodoviária ligando suas Regiões Administrativas aos estados vizinhos e à capital. Esses aspectos, aliados à agricultura de dimensão nacional, ao acelerado progresso de urbanização no período 1959/1970 e à resolução da oferta energética, constituem bases para a consolidação de uma indústria interiorizada, que, em 1970, respondia

por quase 30% do valor de produção industrial de São Paulo e por 16% do nacional (NEGRI, 1996, p.116).

Em vista disso é possível observar que o interior paulista, às vésperas da

implementação do II PND – Plano Nacional de Desenvolvimento, que tinha como mote

central a interiorização do desenvolvimento, apresentava condições específicas em

termos de infraestrutura e dinâmica econômica. Estas diziam respeito às próprias

características históricas do desenvolvimento de seu espaço econômico. A

compreensão desse processo e dessas condições permitem uma avaliação muito

mais acurada acerca dos efetivos impactos e implicações das políticas nacionais de

desenvolvimento econômico implementadas a partir de meados da década de 1970.

3. Desconcentração Industrial e Interiorização do Desenvolvimento em São Paulo

Em 1970, portanto antes das grandes políticas e ações estatais voltadas à

desconcentração produtiva da Grande São Paulo, o interior paulista já se apresentava

como um dos mais importantes espaços industriais do país.

Naquele ano o interior de São Paulo – compreendido pelo estado de São Paulo

exceto os municípios hoje integrantes da RMSP - Região Metropolitana de São Paulo

– apresentava-se como a terceira força em termos de participação nacional no VTI -

Valor de Transformação industrial, com 14,7% do total (quase igual ao seu percentual

de 1939, que era de 14,4%, quando já ocupava essa posição relativa); à época a

indústria de transformação da RMSP representava 43,5% do VTI nacional, secundado

pelo do estado do Rio de Janeiro, com 15,5%, praticamente igual ao do conjunto do

interior paulista. Ressalte-se que o ano de 1970 representa o ápice da concentração

industrial no estado de São Paulo, com este apresentando 58,2% do total do VTI

nacional.

Como se pode perceber a partir dos dados expostos na Tabela 3.1, o interior

paulista já apresentava significativa produção industrial a essa época, resultado do

processo histórico de constituição de seu espaço econômico, fornecendo as bases

para sua futura expansão econômica a partir dessa data, ultrapassando o estado do

Rio de Janeiro já em 1975 e chegando aos anos 2000 como o mais importante espaço

industrial brasileiro, representando cerca de um quarto da indústria de transformação

nacional.

Tabela 3.1 – Indústria de Transformação: participação regional no VTI – 1939/2004

1939 1949 1959 1970 1975 1980 1985 1989 1995 1996 2004 Norte * 1,1 0,7 0,9 0,8 1,3 2,4 2,5 *** *** 4,2 5,0 Nordeste 10,9 9,1 6,9 5,7 6,6 8,1 8,6 8,1 8,1 7,3 8,5 Minas Gerais 7,6 6,6 5,8 6,5 6,3 7,7 8,2 8,2 8,8 8,4 9,9 Espírito Santo 0,3 0,4 0,3 0,5 0,6 0,9 1,2 *** *** 1,1 1,6 Rio de Janeiro 25,5 20,6 17,6 15,5 13,5 10,6 9,5 10,3 8,6 8,1 8,1 São Paulo 40,7 48,9 55,6 58,2 55,9 53,4 51,9 50,2 49,8 50,9 43,1

RMSP ** 26,3 32,4 41,0 43,5 38,8 33,6 29,4 28,8 25,4 27,3 16,9 Interior ** 14,4 16,5 14,6 14,7 17,1 19,8 22,5 21,4 24,4 23,6 26,2

Paraná 2,3 2,9 3,1 3,1 4,0 4,4 4,9 5,3 5,5 5,4 7,0 Santa Catarina 2,1 2,4 2,2 2,6 3,3 4,1 3,9 4,0 4,4 4,6 5,0 Rio Grande do Sul 9,1 7,9 7,0 6,3 7,5 7,3 7,9 7,8 8,2 7,9 8,2

Centro-Oeste * 0,4 0,5 0,6 0,8 1,0 1,1 1,4 *** *** 2,2 3,6

Notas: * A partir de 1989 Norte inclui Tocantins e Centro-Oeste exclui Tocantins

** RMSP e Interior: estimados em 1939 pelo Valor de Produção; 1949/85: Censos Industriais; a partir de 1989: participações calculadas sobre o total do estado de São Paulo, com base no Valor Adicionado Fiscal informado pela SESP e FSeade.

*** Por resíduo (100% - regiões calculadas): Norte + Espírito Santo + Centro-Oeste teria 6,1 em 1989 e 6,6 em 1995

Fonte: Cano (2008, notas no original)

A partir da década de 1970 o Brasil vai atravessar um período de

desconcentração produtiva regional que vai alterar significativamente sua estrutura

econômica, em virtude de fatores diversos e que serão analisados a seguir.

Cano (2008) vai definir o período entre 1970 e 1980 como de desconcentração

virtuosa, com o PIB das demais regiões brasileiras crescendo mais que o de São

Paulo (8,1% a.a. contra 10,2% a.a. do resto do país). Ainda segundo ele, essa

desconcentração apresentava dois movimentos: de São Paulo em direção às outras

regiões do país, e da Grande São Paulo em direção ao interior paulista. Além disso,

essa expansão econômica teve por base o crescimento do setor secundário,

especialmente os segmentos de bens intermediários (10,6% a.a.) e o de bens de

consumo durável e de capital (11% a.a. no período), fortemente impulsionados pelos

projetos dirigidos ou impulsionados pelo II PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

(CANO, 1985, p.65).

Essa forte expansão industrial perde fôlego ao fim da década, entrando num

processo francamente recessivo no começo dos anos 1980, quando a indústria de

transformação paulista declinou 7,1% entre 1980 e 1985. Na chamada “década

perdida” a desconcentração industrial teve continuidade menos por uma expressiva

expansão da periferia nacional que pela estagnação, quando não retração, do polo

econômico paulista, uma vez que a indústria de transformação de São Paulo cresceu

a taxas medíocres de 0,2% a.a. entre 1980 e 1989, ao passo que no restante do país

as taxas foram de 1,5% a.a. A retração industrial na metrópole veio acompanhada, por

outro lado, de uma diversificação do setor terciário. O interior paulista também foi

afetado pela crise; contudo, passou por reestruturação agrícola e agroindustrial ao

longo do período, sendo objeto, ainda, da implantação de segmentos industriais

modernos na região de Campinas e no Vale do Paraíba, sendo o grande beneficiado

pela desconcentração industrial da Grande São Paulo (CANO, 1985, p.119-20), como

pode ser observado no Mapa 3.1.

Mapa 3.1 – Expansão da indústria no estado de São Paulo e sua localização no Sudeste

Fonte: Théry e Mello, 2008, p. 157.

Como observado na Tabela 3.1, a participação do interior na indústria nacional

manteve-se constante ao longo de grande parte do século XX, acelerando-se a partir

do ano de 1970. Negri (1996) aponta que no período 1970/1975 o VTI do interior

cresceu 19,5% a.a., enquanto na metrópole as taxas apontavam crescimento de

13,4% a.a. Entre 1975 e 1980, período de desaceleração industrial em todo o país, o

VTI do interior paulista se expandiu a 8,2% a.a., o dobro da metrópole. Mesmo no

começo da década de 80, marcado pelo período recessivo 1981/1983, a indústria do

interior seguiu crescendo: 26,5% entre 1980 e 1985, enquanto o VTI da indústria

metropolitana encolheu 2,6%. Nesse último ano o Valor de Transformação Industrial

do conjunto do interior já representava 43,4% do estado de São Paulo (era 25,3% em

1970), frente a 29,8% da capital e 26,8% do conjunto dos demais municípios

metropolitanos, respetivamente (NEGRI, 1996, p.181).

Inúmeros fatores conjugados contribuíram a que o interior paulista se

constituísse, em seu conjunto, como o mais significativo parque industrial do Brasil no

início do século XXI. Esses fatores serão elencados a seguir, tomando por referência a

análise realizada por Cano (2008), sem que sua ordem signifique hierarquia em

termos de importância ou sequência cronológica dos acontecimentos.

Um primeiro fator a ser apontado envolve as deseconomias de aglomeração,

um conjunto de variáveis diversas relacionadas às condições de concentração da

metrópole, impactando negativamente os custos de produção. Dentre elas podem-se

indicar os altos tempos de deslocamento de mercadorias e trabalhadores no espaço

intraurbano; os altos custos dos terrenos, afetando as decisões locacionais de

instalação ou ampliação das empresas, assim como na definição do espaço de

moradia dos trabalhadores, ampliando o custo de reprodução de sua força de trabalho;

o aumento da insegurança pessoal e da criminalidade; o agravamento das condições

ambientais e da poluição do ar e dos recursos hídricos.

Quanto a este último ponto, cabe ressaltar que a piora considerável das

condições ambientais, decorrentes da poluição gerada pela concentração industrial na

metrópole, acabaram por fomentar a criação da Cetesb – Centro Tecnológico de

Saneamento Básico (atualmente, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) em

1968, tornando-se “importante instrumento de controle de ampliação ou instalação de

unidades industriais” por meio do controle de seus impactos ambientais (NEGRI, 1996,

p.182).

Dentre as deseconomias de aglomeração deve ser incluída a intensa

mobilização sindical que teve lugar na metrópole ao fim dos anos 1970, pressionando

por aumentos salariais. Storper vai atribuir às grandes greves operárias do período o

papel de um dos fundamentais impulsionadores da “descentralização” da indústria

(apud Schiffer, 2004). Entretanto, como pode ser observado na Tabela 3.1, a

desconcentração industrial em direção ao interior havia tomado impulso logo no

começo da década de 1970. Além disso, este espaço já apresentava, como visto, uma

importante base secundária desde o início do século, resultado do processo histórico

de formação de seu espaço econômico.

Um segundo fator que contribuiu à desconcentração foram as políticas

estaduais de descentralização, representadas especialmente pelos investimentos em

melhorias da infraestrutura rodoviária, consubstanciados no Plano Rodoviário de

Interiorização do Desenvolvimento de 1972/75, procurando atender às necessidade do

que se denominava “’tendências naturais’ do processo de expansão industrial fora da

Região Metropolitana” (NEGRI, 1996, p.183). Além disso, o governo estadual atuou

fortemente em políticas de caráter “persuasivo”, constituindo um sistema de

informações destinado a auxiliar empresários em suas decisões locacionais,

orientando-os a investir no interior. É importante mencionar, ainda, os investimentos

estaduais em pesquisa e tecnologia, especialmente na Região de Campinas, com a

criação da UNICAMP, em 1965, e do CENA – Centro de Energia Nuclear na

Agricultura, no fim daquela década, dentro da ESALQ – Escola Superior de Agronomia

da USP, em Piracicaba (NEGRI, 1996, p.184-90).

Um terceiro fator foram as políticas de atração municipal, com a concessão de

grandes benefícios pelas municipalidades, como isenção de tributos, concessão de

terrenos, constituição de distritos industriais, execução gratuita de infraestrutura etc.

Um quarto fator foram as políticas federais de incentivo às exportações e o

Proálcool, quando houve expressiva expansão da produção para exportação tanto de

produtos agroindustriais quanto manufaturados, amplamente incentivados por meio de

subsídios federais. Em vista da estrutura econômica pré-existente no interior paulista,

associada à mais moderna e diversificada agricultura, este espaço foi um dos mais

beneficiados por essa política. Com relação ao Proálcool – Programa Nacional do

Álcool (1974), inicialmente voltado à produção de álcool anidro para adição à gasolina

(1975/79) e, posteriormente, para a produção de álcool hidratado em substituição

àquela, o interior paulista foi duplamente beneficiado. Em primeiro lugar, porque o

interior constituía-se, como até hoje, numa das mais modernas e produtivas zonas

sucroalcooleiras do país; em segundo lugar, porque abriga praticamente todo o parque

industrial produtor de equipamentos para usinas de açúcar e álcool, especificamente

nas regiões de Piracicaba e Ribeirão Preto (NEGRI, 1996, p.185-7).

O quinto fator a contribuir a esse processo foram os investimentos federais

realizados entre fins dos anos 1960 e início dos 80, e que tiveram efeitos

multiplicadores com resultados duradouros ao longo do tempo. Dentre estes cabe

destacar a Replan – Refinaria do Planalto Paulista, em Paulínia, iniciada em 1969; a

ampliação da Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão, no início da década de

1970; a construção da Refinaria Henrique Lage, em São José dos Campos, concluída

em 1980; a expansão da Cosipa, em Cubatão, no início dos anos 1970; a criação da

Embraer, em São José dos Campos, em 1969; a criação do Centro de Pesquisa e

Desenvolvimento da Telebrás em Campinas, em 1976; e a criação do CTI – Centro

Tecnológico de Informática, também em Campinas, em 1983 (NEGRI, 1996, p.188-

90).

Não apenas o interior paulista, mas, de modo geral, toda a periferia nacional,

cresceu a taxas mais elevadas que a metrópole a partir de meados dos anos 1970

fruto das políticas de investimento federais, consubstanciadas no II PND, última

grande reflexão em termos de desenvolvimento regional para o Brasil (COUTINHO,

2003, p.41).

A questão da desconcentração produtiva e do desenvolvimento regional

aparece “implícita” no I PND, onde se propunham programas de desenvolvimento

regional para as regiões consideradas prioritárias – sobretudo Norte e Nordeste – por

meio de incentivos fiscais. No II PND a questão da necessidade da desconcentração é

explicitada, propondo-se atenuar os “desníveis regionais de desenvolvimento

industrial, evitando-se a continuação da tendência à concentração da atividade

industrial em uma única área metropolitana” (II PND, 1974 apud NEGRI, 1996, p.141).

Esse Plano previa uma série de ações integradas e descentralizadas em

relação ao polo econômico de São Paulo. Grande parte do crescimento econômico e

industrial do período decorre das ações e investimentos previstos no referido Plano,

que buscava complementar a estrutura industrial nacional em petroquímica e metais

não-ferrosos, contribuindo decisivamente para as transformações espaciais da

indústria nacional (NEGRI, 1996, p.142, 149).

O II PND dedicou toda uma seção à política urbana, consubstanciada na PNDU

– Política Nacional de Desenvolvimento Urbano. A PNDU comportava diretrizes para

cidades de porte médio enquanto estratégia de desenvolvimento territorial,

sintetizadas no “Programa de Cidades Médias”, desenhado para a realização de

vultosos investimentos em cidades médias, a fim de dotá-las de infraestrutura

adequada, de modo a torná-las aptas a receberem investimentos industriais privados.

Entretanto, o próprio Plano continha uma série de contradições entre suas diretrizes

de caráter centralizador em termos econômicos e a política de desenvolvimento

urbano, com suas diretrizes eminentemente descentralizadoras (SOUZA, 2004, p.141).

Muitos autores definem a política do II PND como de desconcentração

concentrada, uma vez que a estratégia escolhida foi da “concentração regional com

contenção das metrópoles nacionais e reforço das cidades de porte médio”

(STEIBERGER & BRUNA, 2001, p.45), representado pelo investimento nas regiões

dinâmicas do Sudeste, com vistas ao desenvolvimento econômico, e contenção das

grandes metrópoles nacionais. Desse modo,

“a política urbana postulava desconcentração geográfica, mas a política econômica buscava um novo patamar de substituição de importações, com ênfase nos setores de bens de capital e insumos básicos, que possuíam caráter nitidamente reconcentrador em termos espaciais. Isso equivale a reconhecer uma contradição entre os discursos das políticas enfeixadas no mesmo plano de governo.” (STEIBERGER & BRUNA, 2001, p.46)

As autoras apontam ainda, em consonância com o indicado por Souza (2004),

que a política urbana constante do II PND acabava sendo contraditória à economia de

mercado e suas tendências à concentração de investimentos. De modo a conciliar

esse conflito o Plano propunha o reforço das cidades de porte médio como polos

secundários, que conciliariam as vantagens da economia de aglomeração com um

desenvolvimento urbano e regional mais equilibrado. Entretanto, como aponta Negri

(1996), a migração industrial em direção ao interior paulista se fez acompanhar

também da migração dos problemas urbanos metropolitanos, que passaram a se fazer

presentes em todos esses centros urbanos (p.180). Assim, as políticas de

desconcentração concentrada tinham por objetivo “desconcentrar dentro de um certo

limite espacial, para não colocar em xeque os níveis de produtividade alcançados nos

grandes centros urbanos do país” (AMORIM Fº & SERRA, 2001, p.14, grifo no

original).

O primeiro pacote do Programa Cidades Médias, conhecido como

CPM/Normal, foi executado entre 1976 e 1979 com recursos exclusivamente federais.

Das 76 cidades objeto desse financiamento 40 localizavam-se no interior paulista2

2 Americana, Andradina, Araçatuba, Araraquara, Araras, Assis, Avaré, Barretos, Bauru, Bebedouro, Bragança Paulista, Botucatu, Catanduva, Cubatão, Fernandópolis, Franca, Itapetininga, Itapeva, Jaboticabal, Jaú, Limeira, Lins, Marília, Mogi-Mirim, Mogi-Guaçu, Ourinhos, Pinhal, Piracicaba, Presidente Prudente, Registro, Ribeirão Preto, Rio Claro, São Carlos, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto, São Vicente, Sorocaba, Tatuí, Tupã e Votuporanga.

. O

.

peso elevado das cidades paulistas é fortemente reduzido nas etapas seguintes do

programa (STEIBERGER & BRUNA, 2001, p.53-4).

Como já observado, o interior paulista reunia uma série de condições

específicas que o tornavam uma alternativa locacional privilegiada à expansão da

indústria que se desconcentrava da Região Metropolitana de São Paulo, fruto de uma

série de fatores históricos. Entretanto, a atuação estatal, em suas distintas esferas e

instâncias, foi decisiva e bastante presente na condução desse processo.

Lencioni (2004) questiona o próprio conceito de desconcentração econômica

em direção ao interior paulista, uma vez que essa expansão não se deu de forma

autônoma, mas ainda fortemente subordinada à capital. Para ela, o processo adquire

características muito mais de uma “expansão da concentração, de um processo de

desconcentração territorial da indústria da Região Metropolitana, no qual a cidade de

São Paulo afirma e desenvolve sua centralidade” (LENCIONI, 2004, p.70, grifo no

original). O papel de centro decisório, concentrando sedes empresariais, de

instituições financeiras e o terciário avançado parecem corroborar o argumento da

autora. Contudo nos interessa aqui analisar os impactos dessa transformação

econômica baseada na expansão do setor secundário, verificando de que modo

alteraram (e ainda alteram) as dinâmicas urbana e regional do interior paulista.

Com escopo muito mais tímido que as PNDs dos anos 1970 foi desenvolvida,

no começo dos anos 2000, a PNDR – Política Nacional de Desenvolvimento Regional,

tendo por objetivos, por um lado, o enfrentamento às desigualdades regionais e, por

outro, o aproveitamento dos potenciais regionais endógenos (ARAÚJO & GALVÃO,

2004). Ainda que não tenha dado origem a ações integradas ou orientado políticas de

investimento de grande porte, a PNDR mostra-se interessante pelo diagnóstico

elaborado para o Brasil em nível microrregional, permitindo observar os resultados das

transformações produtivas em termos espaciais a partir do quadro registrado no início

do século XXI.

A partir das variáveis “rendimento domiciliar médio por habitante” segundo

dados do Censo 2000 do IBGE, e “variação do PIB” das Microrregiões Geográficas

entre 1990 e 1998, foi construído um quadro da dinâmica regional brasileira a partir de

cartogramas, classificando-se as microrregiões em quatro grupos: 1) Alta Renda: alto

rendimento domiciliar médio, independentemente do grau de dinamismo; 2)

Dinâmicas: áreas de médio e baixo rendimento e alto crescimento do PIB; 3)

Estagnadas: áreas de médio rendimento e taxas de crescimento do PIB médias e

baixas; e 4) Baixa Renda: áreas com baixos rendimentos e médios e baixos

crescimentos do PIB. Estas informações podem ser vistas no Mapa 3.2.

O que pode ser depreendido da PNDR é que o interior paulista, espaço da

desconcentração econômica dos últimos 40 anos e maior conjunto industrial do Brasil

atualmente enquadra-se, majoritariamente, no grupo de Alta Renda, composto por

microrregiões “que já concentram meios suficientes para lidar com seus projetos de

desenvolvimento, não sendo necessário aportes adicionais de recursos da União”

(ARAÚJO & GALVÃO, 2004, p.45).

Mapa 3.2 - Política Nacional de Desenvolvimento Urbano – Mapa da Tipologia

Fonte: MI, s/d.

A área ocupada pelo grupo de microrregiões de Alta Renda guarda

semelhança com o “polígono industrial” definido por Diniz e Crocco como os limites à

desconcentração industrial, restrita a uma área que vai da região central de Minas

Gerais até o nordeste do Rio Grande do Sul, passando pelo interior paulista (apud

ANDRADE & SERRA, 2001, p.139).

Observadas as limitações do processo de desconcentração produtiva na

resolução das desigualdades regionais históricas do Brasil, é forçoso constatar que o

processo que se desenvolveu ao longo das últimas quatro décadas produziu

alterações significativas na estrutura econômico-territorial do país. E dentro desse

processo é importante ressaltar o papel das cidades médias que vêm sendo, desde a

década de 1970, o palco do “espraiamento espacial da riqueza nacional” (AMORIM Fº

& SERRA, 2001, p.27).

4. As Cidades Médias do Interior Paulista no Contexto da Desconcentração Produtiva

No início dos anos 1970 a estrutura urbana brasileira impunha limitações ao

processo de interiorização do desenvolvimento. À época essa estrutura

era formada por alguns centros primazes, representados por duas metrópoles de alcance nacional (São Paulo e Rio de Janeiro), poucas metrópoles de alcance regional, um limitado número de centros intermediários e uma vasta rede de pequenas cidades, que, em vez de assumirem funções complementares aos demais centros, serviam unicamente como elo entre o meio rural e o urbano (ANDRADE & LODDER, 1979, apud AMORIM Fº & SERRA, 2001, p.10).

A insuficiência de centros urbanos intermediários dinâmicos, articulados em

uma bem estruturada rede urbana, era um empecilho à interiorização do

desenvolvimento (AMORIM Fº & SERRA, 2001, p.10). O interior do estado de São

Paulo era um dos únicos espaços geográficos em que se apresentava um conjunto de

cidades médias articuladas em rede, possibilitando as chamadas economias de

aglomeração3

Não por acaso o II PND, ao propor uma política de desenvolvimento com foco

na interiorização do desenvolvimento, incluiu o fortalecimento das cidades médias

como uma das ações necessárias ao desenvolvimento econômico. Decorrência disso

é o fato de mais da metade das cidades contempladas com recursos na primeira etapa

do Programa Cidades Médias ser representada por centros de porte médio do interior

paulista.

, condicionando o futuro desenvolvimento econômico baseado no

espraiamento territorial da indústria (ANDRADE & SERRA, 2001, p.166-7). Essa rede

era resultado, como vimos, de seu processo histórico de estruturação e

desenvolvimento econômico, em que o “complexo cafeeiro” teve papel fundamental.

3 Entendida como economias de escala, economias de localização e economias de urbanização (ANDRADE & SERRA, 2001, p.132).

Como observaram Amorim Fº e Serra (2001), a partir da década de 1970 o

sistema urbano nacional evoluiu rapidamente em direção a uma situação

“hierarquicamente mais equilibrada” (p.11). O estudo “Caracterização e Tendências da

Rede Urbana do Brasil”, realizado em 1999 pelo IPEA – Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada, pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e pela

UNICAMP, aponta essas mudanças. Nesse estudo foi constatada uma maior

“interiorização da rede urbana”, com a difusão do “fenômeno das aglomerações

urbanas” (MOTTA & AJARA, 2000, p.20). A análise acerca da nova configuração da

rede urbana brasileira indicava que ela tinha

se tornado mais complexa com a configuração de diversas espacialidades, reflexo de distintas articulações socioespaciais que se formaram entre as cidades. Essa complexidade, que expressa a desconcentração das atividades produtivas e o surgimento de novos espaços economicamente dinâmicos, configura-se em função das peculiaridades da estrutura produtiva e de especificidades físico-espaciais que modelam distintamente o território construído (MOTTA & AJARA, 2000, p.20).

Com relação às mudanças na rede urbana brasileira, uma das mais

significativas refere-se a que nas diversas regiões do Brasil vinham ocorrendo

mudanças no formato das redes urbanas regionais, sendo verificado o “peso crescente

das aglomerações urbanas metropolitanas e dos centros urbanos médios, e com espraiamento do fenômeno de consolidação de aglomerações urbanas não-metropolitanas” (MOTTA & AJARA, 2000, p.17, grifo nosso), fenômeno esse

intimamente ligado ao dinamismo econômico regional. Foi observado ainda que a rede

urbana nacional apresentava-se num momento de transição, para um

desenvolvimento sob a forma de eixos; em relação ao território paulista identificou-se

que o dinamismo da Região Metropolitana de São Paulo

ensejou o aparecimento de um grande número de aglomerações na área do seu entorno, ao longo de dois eixos rodoviários principais, constituídos pelas rodovias Carvalho Pinto/Presidente Dutra, no Vale do Paraíba, em direção ao Rio de Janeiro, e Anhanguera/Bandeirantes, em direção a Campinas e Ribeirão Preto (MOTTA & AJARA, 2000, p.15).

O papel privilegiado das cidades médias como articuladoras de “eixos ou

corredores de transportes e desenvolvimento”, constituindo “pivôs de articulação” na

estruturação de redes urbanas regionais ou nacionais, também foi constatado por

Amorim Fº e Serra (2001, p.28).

Para Braga, “o processo de crescimento das cidades médias e a formação de

aglomerados urbanos4

Em termos nacionais, Andrade e Serra (2001) observaram que os municípios

da faixa demográfica entre 50 mil e 500 mil habitantes foram os que mais aumentaram

sua participação no conjunto do país: de 26,5% para 35,7% da população brasileira,

entre 1970 e 2000, respectivamente. Internamente a esse grupo, o conjunto dos

municípios com população na faixa entre 100 mil e 250 mil habitantes, passou de

10,4% para 12,7%, no mesmo período, enquanto aqueles com população entre 250

mil e 500 mil habitantes passaram de 5,1% para 10,6% da população (p.134-5).

em torno de alguns desses centros é um dos processos

fundamentais na dinâmica urbano-regional brasileira nas últimas décadas” (BRAGA,

2005, p.2241).

Apesar de incorporarem nessa faixa populacional as cidades localizadas em

regiões metropolitanas, Andrade e Serra reiteram o grande aumento verificado

naquelas cidades médias não-metropolitanas, ainda que a um ritmo menor que

naquelas: o conjunto das cidades médias metropolitanas passou de 2,578 milhões

para 5,627 milhões de habitantes entre 1970 e 1991; já o conjunto representado pelas

cidade médias não-metropolitanas passou, no mesmo período, de 10,295 milhões

para 20,157 milhões de habitantes (ANDRADE & SERRA, 2001, p.143). Esse

fenômeno eles associam aos efeitos do processo de desconcentração concentrada da

indústria a partir dos anos 1970. As regiões Sul e Sudeste somadas respondiam, em

2000, por 70% dos municípios com população na faixa entre 100 mil e 500 mil

habitantes, “muito provavelmente no interior do polígono desenhado por Diniz e

Crocco”5

No estado de São Paulo as cidades médias vêm aumentando seu peso relativo

demográfica e economicamente. Tomando como referência apenas o número de

cidades enquadradas no intervalo populacional entre 100 mil e 500 mil habitantes,

excluindo-se aquelas localizadas na Região Metropolitana de São Paulo, observa-se

que elas passaram de 21, em 1980, para 25 e 33, em 1991 e 2000, respectivamente

(BRAGA, 2005, p.2245), chegando a 46 em 2010, onde viviam 8.873.886 paulistas

(Censo 2010/IBGE).

(ANDRADE & SERRA, 2001, p.139).

4 O estudo “Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil” apontou, em 1999, a existência de 11 aglomerações urbanas no interior paulista, polarizadas pelos seguintes municípios: São José dos Campos, Ribeirão Preto, Santos, Sorocaba, São José do Rio Preto, Jundiaí, Limeira/Rio Claro, Araraquara/São Carlos, Araçatuba, Mogi-Guaçu/Mogi-Mirim, Guaratinguetá/Aparecida. 5 Refere-se ao já mencionado “polígono industrial” definido por Diniz e Crocco como os limites à desconcentração industrial.

Negri (1996) também observa que o processo de desconcentração industrial no

interior paulista tinha relação direta com a intensificação da urbanização e, sobretudo,

com a importância crescente das cidades médias, que passavam a apresentar

significativo crescimento demográfico, especialmente aquelas localizadas nos

eixos de penetração da Via Dutra ( até São José dos Campos e Taubaté), da Via Anhanguera (até Ribeirão Preto), da via Washington Luiz (até São José do Rio Preto) e da Rodovia Castelo Branco (até Sorocaba) (NEGRI, 1996, p.169).

A partir da década de 1980 os dados dos Censos do IBGE já indicavam uma

desconcentração populacional no sentido metrópole-interior, inclusive com saldos

migratórios intra-estaduais negativos. A população do interior cresceu a uma taxa de

1,9% a.a. entre 1991 e 2000, enquanto as taxas da metrópole ficaram em 1,6%.

Dentre as Regiões Administrativas paulistas, as que tiveram crescimento mais

expressivo foram as de Campinas e Sorocaba (2,3% a.a.) e São José dos Campos e

Santos (2,1% a.a.) (BRANDÃO & MACEDO, 2007, p.27). No período 1970/2000 o

incremento populacional no interior se deu, sobretudo, nas cidades médias: o conjunto

dos municípios com população entre 100 mil e 500 mil habitantes viu sua participação

na população estadual saltar no período de 22% para 29,7%. Já os municípios com

população menor que 50 mil habitantes reduziram sua participação de 35,6% para

22% no mesmo período. Este processo esteve intimamente vinculado, conforme

destacam Brandão e Macedo (2007), ao processo de interiorização do

desenvolvimento que configurou novos espaços urbanos-regionais no estado de São

Paulo, alterando e “fortalecendo as funções de algumas aglomerações do interior, que

ampliaram sua centralidade na rede urbana estadual” (p.25).

Nesse sentido, o processo de desconcentração econômica da Grande São

Paulo também se fez acompanhar por uma “desconcentração urbana e demográfica”

em direção ao interior, ainda que isto não represente uma perda da centralidade

exercida pela metrópole de São Paulo no processo de acumulação, como observado

por Brandão e Macedo (2007), fato também ressaltado por Lencioni (2004).

5. Conclusão

O processo de interiorização do desenvolvimento, que impactou

significativamente o interior paulista a partir da década de 1970, contou com atuação

ativa e decisiva do Estado, em suas diversas instâncias, na promoção e incentivo à

desconcentração industrial da metrópole paulista.

As prefeituras municipais promoveram políticas de atração econômica, por

meio de incentivos financeiros, isenções fiscais, doações e concessões, além de obras

de infraestrutura. O governo do estado de São Paulo realizou extenso conjunto de

obras viárias, destinado a prover da mais completa infraestrutura de transportes a rede

urbana paulista, incluindo asfaltamentos, ampliações e duplicações, bem como

forneceu apoio técnico às empresas interessadas em instalar-se no interior. Em âmbito

federal, foram realizados grandes investimentos diretos, além de financiamentos e

incentivos de grande monta. Dentre as razões que incentivaram essa desconcentração

e que são alheias às ações estatais encontram-se os problemas internos à própria

dinâmica metropolitana, sintetizadas sob a denominação deseconomias de

aglomeração.

Contudo, o conjunto dessas ações, políticas e processos não dá conta de

esclarecer o porquê do interior paulista ter sido o espaço dessa desconcentração, em

detrimento das demais regiões brasileiras. Para tanto, é preciso buscar essa

explicação em seu próprio processo histórico de constituição e desenvolvimento.

Antes da década de 1970 o interior paulista já apresentava uma base industrial

importante, contava com a mais diversificada e dinâmica agricultura e, fundamental,

contava com uma rede urbana estruturada, apoiada em cidades médias distribuídas

pelo território, integradas por uma significativa infraestrutura viária e ferroviária. Este

quadro era resultado de um complexo conjunto de fatores, que tiveram origem no

“complexo cafeeiro” que estruturou o espaço urbano e econômico do estado entre

meados do século XIX e o início do século XX. Como visto, estes fatores foram

decisivos para que o interior paulista se convertesse no espaço privilegiado da

relocalização industrial a partir daquela década.

Portanto, se as políticas governamentais e os problemas internos à

aglomeração metropolitana foram importantes na evolução do processo, sua

viabilidade nesse espaço específico advinham das condições estruturais específicas

do interior paulista frente às demais regiões brasileiras.

Dentre as determinantes que favoreceram a interiorização do desenvolvimento

ressalte-se a existência de um conjunto de cidades de porte médio, polarizando

regiões amplas e vastos conjuntos de municípios menores, e que serviram de suporte

a essa desconcentração da indústria. Essa tipologia de municípios vem adquirindo

relevância e peso cada vez maior no Brasil contemporâneo, tanto em termos

demográficos quanto econômicos. Em função disso a compreensão de suas

dinâmicas, potenciais e problemas faz-se cada vez mais necessária e fundamental

para pensar o desenvolvimento brasileiro contemporâneo.

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