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SALÃO NOBRE MARÇO 2018 Serões Musicais no Palácio da Pena MUSICAL EVENINGS AT THE PALACE OF PENA 4.ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA | 4TH PARQUES DE SINTRA MUSIC SEASON 17/03 | 21:00 Da ‘Mélodie’ à ‘Comédie’ VENCEDOR PRÉMIOS JOVENS MÚSICOS 2017 Queremos saber a sua opinião https://tinyurl.com/SMUS2018

4.ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA | 4TH … · Reynaldo Hahn (1874-1947) é um caso ‘sui generis’: venezuelano de ascendência hispano-alemã, foi para Paris ainda

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SALÃO NOBRE

MARÇO 2018

SerõesMusicaisno Palácio da PenaMUSICAL EVENINGS AT THE PALACE OF PENA

4.ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA | 4TH PARQUES DE SINTRA MUSIC SEASON

17/03 | 21:00

Da ‘Mélodie’ à ‘Comédie’VENCEDOR PRÉMIOS JOVENS MÚSICOS 2017

Queremos saber a sua opiniãohttps://tinyurl.com/SMUS2018

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PROGRAMA

CAMILLE SAINT-SAËNS (1835-1921)

• Primavera• Aimons-nous• L’attente

HENRI DUPARC (1848-1933)

• L’invitation au voyage• Extase• Chanson triste

JULES MASSENET (1842-1912)

• Les alcyons• Sonnet• C’est l’amour

REYNALDO HAHN (1874-1947)

• À Chloris• Nocturne• L’incrédule• Néère

ANDRÉ MESSAGER (1853-1929)

De Quinze mélodies pour chant et piano:• Mimosa• Regret d’avril• “Ma foi! Pour venir de province”, de Véronique• “J’ai deux amants”, de L’amour Masqué

REYNALDO HAHN (1874-1947)

• “Miel, sel, thé, lait”, de O mon bel inconnu • “Moi, j’m’appelle Ciboulette”, de Ciboulette• “Nous n’embarquons pas pour Cythère”, de Le temps d’aimer

Cecília Rodrigues sopranoJoão Paulo Santos piano

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ADVERTÊNCIASPor favor, mantenha o seu telemóvel desligado durante o espetáculo.A captação não autorizada de imagens não é permitida no decorrer do espetáculo.

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A emergência da canção de câmara de teor culto em língua francesa está intimamente ligada à fértil (em quantidade e qualidade) geração de poetas que o Romantismo literário viu surgir em França. Mas também à vontade de emular uma tradição – a germânica – que alcandorara o formato da canção para voz solo acompanhada ao piano em língua alemã (vulgo ‘Lied’) a um dos mais sofisticados géneros musicais do tempo; ainda ao revigoramento da cultura dos salões aristocráticos e burgueses (nos quais a música era componente fundamental) que se dá com a implantação do Segundo Império (de Napoleão III); o crescimento do mercado musical: qualquer família que se prezasse tinha um piano em casa e entre as filhas da casa havia sempre uma (ou mais) que recebia(m) aulas de canto para depois o exercitarem em ocasiões sociais de cariz doméstico; por fim, um próprio movimento musical de fundo que visava fazer renascer os géneros não teatrais e dar à França uma cultura de música instrumental (conceito que na sua conotação romântica incluía a canção de câmara) comparável à alemã.O Romantismo musical francês teve em Berlioz (1803-1869) o seu grande primeiro (e quase solitário) cultor nativo francês. Coube-lhe criar o primeiro exemplo de canção de câmara com o ciclo ‘Les nuits d’été’, sobre poemas de Gautier, terminado em 1841. Surge em seguida a geração de Charles Gounod (1818-1893) e de Camille Saint-Saëns (1835-1921), que, seguindo a via aberta por Berlioz, farão a canção francesa dar o “salto” da canção sentimental, ‘salonesque’, com um acompanhamento anódino do piano (que ambos também cultivaram) para a canção na qual voz e piano concorrem em parcelas equivalentes para uma profunda expressão poética – isto é, a ‘mélodie’.Como acima afirmámos, a França conheceu um fluxo riquíssimo de produção poética ao longo de todo o século XIX e até à I Guerra Mundial, inscrevendo-se sucessivamente nas correntes romântica, parnasiana, decadentista, simbolista e depois propriamente moderna. Nomes como Hugo, Musset, Lamartine, Gautier, Leconte de Lisle, Banville, Prudhomme, Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Mallarmé ou Maeterlinck “deram” aos compositores matéria-prima virtualmente inesgotável. Sem falar dos poetas de menor dimensão – na ‘mélodie’, tal como no ‘Lied’, muitas obras-primas foram compostas sobre poemas de autores “menores”! Gerações sucessivas e concorrentes de compositores irão recorrer a esses poetas para compôr as suas ‘mélodies’, podendo quase afirmar-se que não houve compositor

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francês, entre Gounod e Francis Poulenc (1899-1963), que não se debruçasse sobre o género.Os quatro compositores que constam no programa de hoje ilustram de feições muito diferentes esse culto da ‘mélodie’. Saint-Saëns, com a sua longa vida, atravessou a quase totalidade da história do género: compôs canções ainda criança pequena e praticou o género até à morte, num imenso arco de 80 anos. As datas de Henri Duparc (1848-1933) sugerem percurso comparável, mas nada mais distante da verdade: ele deixou de compôr aos 37 anos devido a uma doença de origem nervosa, vivendo ainda quase meio século em silêncio criativo. Deixou um total de 17 ‘mélodies’ (escritas entre 1868 e 1884), que se contam entre as obras-primas do género. Fruto do labor de um perfeccionista quase compulsivo, elas evidenciam uma fusão de poesia e música comparável ao que, em língua alemã, sucede nas melhores criações de Schumann.Mais conhecido por via de óperas como ‘Manon’, ‘Werther’, ‘Don Quichotte’ ou ‘Thaïs’ é Jules Massenet (1842-1912), sem dúvida a maior figura do teatro lírico francês da época. Mas Massenet foi também um cultor muito assíduo da canção de câmara, deixando mais de 200 ‘mélodies’.Reynaldo Hahn (1874-1947) é um caso ‘sui generis’: venezuelano de ascendência hispano-alemã, foi para Paris ainda pequeno e logo em adolescente se afirmou enquanto pianista, improvisador e compositor, mormente de ‘mélodies’. Aliando aos dotes artísticos um ‘savoir faire’ social natural, depressa se tornaria um favorito dos mais selectos salões. Ele cultivou também, já no século XX, o género da comédia musical ou opereta francesa (subsumível no termo ‘teatro de ‘boulevard’’).E é por este “fio” da comédia musical/opereta que chegamos a André Messager (1853-1929), expoente máximo desse género ligeiro, popular (no sentido propriamente democrático do termo) e tão arquetipicamente francês quanto, num contexto em tudo diverso, o é a ‘mélodie’. Sem esquecer que, com Messager, estamos também diante de um dos maiores maestros do deu tempo.

Bernardo Mariano

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TEXTOS DAS PEÇAS CANTADAS

PRIMAVERACamille Saint-Saëns (1835-1921)Texto: Paul Stuart

Salve, alegre primavera! é a jovem estação,Estação de verde relva e risonhas flores.Os campos vão ornamentar-se de mil cores,E Ninon, cada dia me parecerá mais bela.

E ouvirei, encantado, como um canto o bater de uma asaQue me anuncia que o riso vai substituir o choro,Pois que com o sol e o seu doce calorVoltarei a ver as friorentas andorinhas.

Irei então, feliz, para o país do esquecimentoColher jasmins, lilases, junquilhos, rosas e líriosMurmurando uma canção ligeira,Cantarei o amor, o vinho, os bons velhos temposE à noite, comigo, sozinho nos bosques,Os pássaros e as flores cantarão a primavera!

Tradução: João Paulo Santos

AIMONS-NOUSCamille Saint-Saëns (1835-1921)Texto: Théodore de Banville

Amemo-nos e durmamosSem pensar no resto do mundo!Nem as ondas do mar, nem a tempestade dos montesEnquanto nos amarmosPoderão subjugar o teu rosto dourado.Pois o Amor é mais forteQue os Deuses e que a Morte!

O sol deixaria de brilharPara que a tua alvura fosse mais pura.O vento, que dobra até ao chão a floresta,Ao passar, não ousariaBrincar com os teus cabelos,Enquanto tu esconderesO rosto nos meus braços!

E quando os nossos coraçõesSe forem para as esferas de felicidade,Onde celestes lírios brotarão das nossas lágrimas,Então, como as flores,Unamos os nossos lábios amorosos,E tentemos aniquilarA Morte num só beijo!

Tradução: João Paulo Santos

L’ATTENTECamille Saint-Saëns (1835-1921)Texto: Victor Hugo

Sobe, esquilo, sobe ao alto carvalho,A um ramo próximo dos céus,Que se dobra e treme como um junco!Cegonha, fiel às velhas torres,Voa e sobe como uma flechaDa igreja à cidadela,Da torre sineira ao alto mirante!

Velha águia, sobe do teu ninhoAté à montanha secular, Que um eterno inverno embranquece!E tu, que nunca a madrugadaViu calada no teu leito,Sobe, viva cotovia, sobe ao céu!

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E agora, do alto da árvore,Do cimo da torre de mármore,Da montanha, do céu abrasador,No horizonte, entre as brumas,Não conseguem ver esvoaçar uma pluma,E um cavalo ofegante correr,E o meu bem-amado regressar?

Tradução: João Paulo Santos

L’INVITATION AU VOYAGEHenri Duparc (1848-1933)Texto: Charles Baudelaire

Criança, minha irmã,Pensa como seria doceIr para longe, vivermos juntos!Amar como quiséssemos,Amar e morrerNa terra que se te assemelha!Os sóis molhadosDesses céus enevoadosTêm para o meu pensamento o encantoTão misteriosoDos teus olhos traiçoeiros,Que brilham por entre lágrimas.

Lá, tudo é apenas ordem e beleza,Luxo, calma e volúpia.

Vê como nesses canaisDormem os naviosDe humor vagabundo;Foi para saciarO teu mais ínfimo desejoQue eles vieram do fim do mundo.- o sol ao pôr-seReveste os campos,Os canais, toda a cidade,

De jacinto e de ouro;O mundo adormece Numa quente luz.

Lá, tudo é apenas ordem e beleza,Luxo, calma e volúpia.

Tradução: João Paulo Santos

EXTASEHenri Duparc (1848-1933)Texto: Jean Lahor

Num lírio pálido meu coração dormeUm sono doce como a morte:Morte deliciosa, morte perfumadaPelo sopro da bem-amada:No teu seio pálido meu coração dorme

Tradução: Ana Oliveira Martins

CHANSON TRISTEHenri Duparc (1848-1933)Texto: Jean Lahor

No teu coração dorme um luar,Um doce luar de verão.E para fugir à vida que me perturbaVou banhar-me na tua claridade.

Esquecerei as dores por que passei,Meu amor, quando embalaresO meu coração triste e os meus pensamentos,No amor calmo dos teus braços.

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E nos teus olhos cheios de tristezas,Nos teus olhos então bebereiTantos beijos e caríciasQue talvez eu me cure...

Tradução: João Paulo Santos

LES ALCYONSJules Massenet (1842-1912)Texto: Joseph Autran

Os vossos destinos são para os homens um estranho mistério:Sempre suspensos sobre as águas,

Nunca podem pousar e deixam a terraServir de abrigo aos outros pássaros.

A águia possui os sublimes rochedos, o pardal a sua telha,A cotovia os verdes prados:Vós nada mais possuis sob os céus, que as móveis ondas,Alciões, tristes alciões!

Sois bem, ai de nós, a imagem da nossa alma.Atirados de destroço em destroço,Assim nós vivemos, lançando no ar, tal como vós,Um grito de desespero e dor.

Nós apenas possuímos, nós, a imensa amarguraDas nossas móveis paixões,E vivemos, como vocês, sempre sobre uma espuma,Alciões, tristes alciões!

Tradução: João Paulo Santos

SONNETJules Massenet (1842-1912)Texto: Georges Pradel

Os bosques imensos acordavam, quase não nascera o dia,Por entre as folhas os pássaros maravilhados,Celebravam os primeiros raios da madrugada:E eu estava sentado, pensativo, junto de um carvalho.Apesar da doce primavera a minha alma sofria;Estava à sua espera. De repente…passos precipitadosSobre a relva… loucos de volúpia,O nosso sopro envolvemos num terno beijo…

Sentindo nos meus braços esse corpo suave e tão belo,O meu coração contra o seu afogou as suas mágoas;E a sua mão devolveu-me todos os meus abraços!

O arvoredo cobriu-nos do seu espesso manto,O sol cobriu-se de um véu, as estrelas empalideceram,A terra desapareceu…e abriram-se os céus!

Tradução: João Paulo Santos

C’EST L’AMOURJules Massenet (1842-1912)Texto: Victor Hugo

Oh sim! a terra é bela e o céu soberbo,Mas quando o teu seio palpita e quando o teu olho brilha,Quando o teu passo gracioso corre ligeiro sobre a ervaMais doce e silencioso que o som de uma lira,

Quando por entre as tuas pestanas brilha, como um fogo por entre os ramos,O teu belo olhar ensombrado por longos sofrimentos,Quando subitamente te debruças sobre os tormentos passados,E tentas sorrir, e só te vêm lágrimas;

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O que emana de todas essas coisas doces,O que a tua beleza exala noite e dia,Como um perfume formado pelo sopro de cem rosas,

É bem mais que o céu e a terra, é amor!

Tradução: João Paulo Santos

À CHLORISReynaldo Hahn (1874-1947)Texto: Théophile de Viau

Se é verdade, Chloris, que me amas,Mas digo mesmo, que me amas verdadeiramente,Então acho que nenhum reiÉ tão feliz quanto eu.

Como seria inoportuna a morteVir mudar a minha sortePela felicidade celeste!

Tudo o que possam dizer da ambrósiaNão rivaliza na minha imaginaçãoCom o encanto dos teus olhos.

Tradução: João Paulo Santos

NOCTURNEReynaldo Hahn (1874-1947)Texto: Jean Lahor

Sobre o teu pálido seio dorme o meu coraçãoDe um sono, doce como a morte:Morte sublime, morte perfumadaPelo sopro da bem-amada:Sobre um lírio pálido dorme o meu coração…

Tradução: João Paulo Santos

L’INCRÉDULEReynaldo Hahn (1874-1947)Texto: Paul Verlaine

Acreditas nas borras do café,Nos presságios, nas cartas:Eu só acredito nos teus grandes olhos.

Acreditas em contos de fadas,Em dias negros, em sonhos,Eu só acredito nas tuas mentiras.

Tu acreditas num vago Deus,Num teu santo especial,Numa reza contra o mal.

Eu só acredito nas horas docesE suaves que tu me dásNa volúpia de noites sem dormir!

E a minha fé é tão grandeEm tudo o que acredito, Que só para ti vivo.

Tradução: João Paulo Santos

NÉÈREReynaldo Hahn (1874-1947)Texto: Laconte de Lisle

Preciso de voltar aos amores antigos:O Imortal que nasceu da Virgem de TebasE os jovens Desejos e a sua Mãe inumanaOrdenam-me de sempre amar.

Branca como um belo mármore, com as suas faces rosadas,Ardo por Néère de olhos langorosos,Vénus precipita-se e consome o meu coração:Ris, Néère, e troças de mim!

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Para apaziguar os Deuses e acabar com o meu sofrimento,Esvaziem as vossas taças cheias de um vinho que amadureceu dois anos;E sobre o altar vermelho do sangue puro dos cordeirosPousem o incenso e a verbena.

Tradução: João Paulo Santos

MIMOSADe Quinze mélodies pour chant et pianoAndré Messager (1853-1929)Texto: Armand Silvestre

Conheceis a flor ligeira Na orla do mar azul que dorme?Dir-se-ia que sobre os fetos,O sol cai numa neve de ouro.

Como um penacho de fumoQue o poente tinge de açafrão,Como uma poeira perfumadaQue a brisa errante empurra,

Ela eleva-se no ar húmidoOnde as ondas enrolam um sopro amargo,E mistura o seu aroma tímidoAos acres odores do mar.

Ela flutua por entre o espaçoOnde a laranjeira estende os braços pesados;A asa da borboleta que passa põe o seu frágil veludo.

Mimosa! quase um nome de fada!Alguma ninfa certamente,Tendo-se outrora penteado, Pareceu mais bela ao seu amante.

Mimosa! quase um nome de mulher,Doce nos lábios como o melE que para as suas canções reclamaO alaúde encantado de Ariel!

Gosto desta flor perfumadaDe um sopro furtivo e elegante,Pelo qual uma mão bem-amada,Um dia me ofereceu um ramo.

Tradução: João Paulo Santos

REGRET D’AVRILDe Quinze mélodies pour chant et pianoAndré Messager (1853-1929)Texto: Armand Silvestre

Não há canções como no tempo de AbrilQuando sobre os lilases em perigoO friorento vento palpita e chora;Não há canções como na manhã claraOnde, na carícia do arEcoa a juventude da hora!

Não há amor como no tempo de Maio,Quando a rosa de coração perfumadoSe abre à brisa morna do areal;Não há amor como no vermelho da tardeOnde a asa, rosada do sol,Se torna a fechar ao longe sobre os nossos sonhos.

Tradução: João Paulo Santos

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“MA FOI! POUR VENIR DE PROVINCE”De Véronique André Messager (1853-1929)Libreto: Albert Vanloo e Georges Duva

Acreditem! Para vir da provínciaO passeio não está nada mal, oh sim!E não é pouco o méritoDe me estrear desta maneira!

Você perdeu o jogo,Pague sem maldizer a sorteE convença-se que nesta vidaA água parada é a mais perigosa!

Ah! ah! ah! é verdade! Eu culpo-me por rir Quando deveria compadecer-meMas isto de ver um homem sofrerQuando se é mulher, por muito que se digaDá sempre, dá sempre algum prazer!

Você terá uma viscondessaDigna de si, sem qualquer dúvida,Ao prestígio da nobrezaAcrescentando o do espírito!

Tinha medo que fosse burra:Logo ela mostrou que estava erradoe dando rapidamente a volta à cabeçade um homem que se acha tão forte!

Ah! ah! ah! é verdade! Eu culpo-me por rir Quando deveria compadecer-meMas isto de ver um homem sofrerQuando se é mulher, por muito que se digaDá sempre, dá sempre algum prazer!

Tradução: João Paulo Santos

“J’AI DEUX AMANTS”De L’amour MasquéAndré Messager (1853-1929)Libreto: Sacha Guitry

Tenho dois amantes, é muito melhor!Pois assim posso fazer ambos acreditarQue o outro é que é um homem sério.Meu Deus, como os homens são parvos!Ambos me dão a mesma quantiaTodos os mesesE faço ambos acreditarQue o outro me dá o dobro de cada vezE não é que até acreditam, ambos!Não sei como é que nós, mulheres, somosMas, meu Deus, como um homem é parvo,Então penso…mais vale dois!

Um só amante é um tédio.É monótono e desconfiadoEnquanto que dois é muito melhor.Meu Deus, como os homens são parvosAté os faríamos andar de pernas para o arCom alguma facilidadeSe infelizmente eles não tivessemNa cabeça umas hastesQue lhes ficam muito bemE lhes dão uma bela figura sombria.

Não sei como é que nós, mulheres, somosMas, meu Deus, como um homem é parvo,Então penso…mais vale dois!

Tradução: João Paulo Santos

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“MIEL, SEL, THÉ, LAIT”De O mon bel inconnu Reynaldo Hahn (1874-1947)Libreto: Sacha Guitry

Mel, sal, chá, leite, natas, pão, manteiga,E ainda açúcarE café negroE laranjas para a menina…É incrível o que ao acordar uma famíliaConsegue comer.

Café com leite para o patrão…Chá fraquinho para a patroa…Mas a criada que tome cuidado!O pão torrado deve ser torradoDe modo diferente para cada um.Nunca está como eles querem.E quanto ao leite, decerto que é da véspera! É incrível o que ao acordar uma famíliaConsegue berrar.

Mas se por acaso tudo está bemE que tudo é bem fresco,Quando o pão está torrado tal como desejavam,Não pensem que isso os impede de me chatear!E quando tudo está como desejavam,Lembrando-se que na véspera tudo estava menos bem,Dizem-me “vê como é possível que tudo esteja bem, basta você querer”É incrível o que ao acordar uma famíliaConsegue berrar.

E vamos a ver: porquê mel, sal,Porquê chá, leite, manteiga,E porquê pão torrado?Acho sempre que me vou esquecer de alguma coisa.Se não é para me chatearDeve ser para armar aos cucos que comem tudo isto!Porquê açúcar e laranjas,

Porque não comem todos o mesmo?No fim de contas porque é que toda esta gente não tomaApenas o seu chocolate, como eu?

Tradução: João Paulo Santos

“MOI, J’M’APPELL’ CIBOULETTE”De Ciboullete Reynaldo Hahn (1874-1947)Libreto: Robert de Flers e Francis de Coisset

Há mulheres que fazem a loucurade se chamarem JulieHá mulheres que são púdicas o bastantepara se chamarem Gertrude!Certas mulheres são boas filhas que cheguepara se chamarem CamilleE há outras que se creem suficientemente grandespara se chamarem Yolande

Eu, chamo-me Ciboulette!Soa claro como uma canção.É alegre, é vivo, faz uma pirueta,E depois rima com paixoneta.Eu, chamo-me Ciboulette;É um nome que agrada aos rapazes.

Certas mulheres (que raio de mania)Querem chamar-se Marie.Há outras que são tão fiéis Que se chamam AdèleAlgumas são gorduchas que bastePara se chamarem CharlotteE há as que se têm em tão boa contaQue se chamam Victoire!

Eu, chamo-me Ciboulette!Soa claro como uma canção.

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É alegre, é vivo, faz uma pirueta,E depois rima com paixoneta.Eu, chamo-me Ciboulette;É um nome que agrada aos rapazes.

Tradução : João Paulo Santos

“NOUS N’EMBARQUONS PAS POUR CYTHÈRE”De Le temps d’aimer Reynaldo Hahn (1874-1947)Libreto: Pierre Wolf, Henri Duvernois e Hugues Delorme

Não embarcamos para CiteraEu, amá-lo?Faço de contaE este suposto adultérioDeve ser um a-dul-tério branco!

Você dizia a si mesmo:Meu bom rapaz,Vendo o coração em embaraçosBastará que eu me nomeiePara que ela caia nos meus braços.

Ainda que tendo o ar de anuirAos seus desejos apaixonadosMeu bom amigo deixe-me rirHa! Ha! Ha!Deixe-me rir na sua cara!

Não hajam dúvidas, as viagensCom as suas mil cambiantesDeformam por vezes as bagagensMas formam as novas gentes.~

Tenho medo quando estou sozinha à noiteNum quartoVocê vela como uma avóSobre o meu sono, gentilmente.

Mesmo tendo o ar de anuirAos seus desejos apaixonadosMeu bom amigo deixe-me rirHa! Ha! Ha!Deixe-me rir na sua cara!

Tradução de: João Paulo Santos

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CECÍLIA RODRIGUES (soprano)

Iniciou os estudos no Instituto Gregoriano de Lisboa, onde estudou Piano e Técnica Vocal com Elsa Cortez e fez par te do Coro de Câmara com Armando Possante. Aos 18 anos ingressou na Escola de Música do Conservatório Nacional, onde concluiu o curso de Canto com Manuela de Sá, e par ticipou em masterclasses com João Paulo Santos, Lucia Mazzaria e David Santos, assim como em projetos do Atelier de Ópera com José Manuel Brandão, Bruno Cochat e Ruben Santos.No Porto, completou o 2º ano da licenciatura em Canto na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo com Rui Taveira. Em Lisboa, conclui o 3º e último ano da licenciatura com Luís Madureira na Escola Superior de Música de Lisboa, onde frequenta atualmente o Mestrado em Ensino da Música.Obteve os seguintes prémios: em 2013, o 2º Prémio no Concurso Internacional de Santa Cecília e o Prémio de Interpretação de Música Portuguesa no Concurso Internacional Cidade do Fundão; em 2015, o 1º Prémio e o Prémio Interpretação de Música Portuguesa no Concurso Internacional Cidade de Almada; em 2017, o 1º Prémio de Canto no Prémio Jovens Músicos-Antena 2- RTP.Profissionalmente, apresentou-se como solista nos concer tos “Sons da Água” 2016 e 2017, juntamente com o seu pai, Luís Rodrigues, e Mário Alves, acompanhados pela orquestra Amorevole dirigida por António Costa. Em setembro de 2017 foi convidada pelo Grupo Vocal Olisipo para par ticipar num concerto dedicado a Monteverdi no CCB.Cecília Rodrigues integrou o Coro da Casa da Música e per tence agora ao Coro Gulbenkian, com o qual se apresentou também já como solista num concerto dedicado a Gershwin.

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JOÃO PAULO SANTOS (piano)

Nascido em Lisboa em 1959, concluiu o curso superior de Piano no Conservatório Nacional desta cidade na classe de Adriano Jordão. Trabalhou ainda com Helena Costa, Joana Silva, Constança Capdeville, Lola Aragón e Elizabeth Grümmer. Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, aperfeiçoou-se em Paris com Aldo Ciccolini (1979-84). A sua carreira atravessa os últimos 40 anos da história do Teatro Nacional de São Carlos, onde principiou como correpetidor (1976). Seguiu-se o cargo de Maestro Titular do Coro (1990-2004); desempenha atualmente as funções de Diretor de Estudos Musicais e Diretor Musical de Cena. Estreou-se na direção musical em 1990 com “The Bear” (W. Walton), encenada por Luís Miguel Cintra para a RTP. Tem dirigido óperas para crianças (“Menotti”, “Britten”, ”Henze” e “Respighi”), musicais (“Sondheim”), concer tos e óperas nas principais salas nacionais. Estreou em Portugal, entre outras, as óperas “Renard” (Stravinski), “Hanjo” (Hosokawa), “Pollicino” (Henze), “Alber t Herring” (Britten), “Neues vom Tage” (Hindemith), “Le Vin Herbé” (Martin) e “The English Cat” (Henze) cuja direção musical ganhou o Prémio Acar te 2000. Destacam-se ainda as estreias absolutas que fez de obras de Chagas Rosa, Pinho Vargas, Eurico Carrapatoso e Clotilde Rosa. A recuperação e reposição do património musical nacional ocupam um lugar significativo na sua carreira, sendo responsável pelas áreas de investigação, edição e interpretação de obras dos séculos XIX e XX. São exemplos as óperas “Serrana”, “Dona Branca”, “Lauriane” e “O espadachim do outeiro”, que já foram encenadas no Teatro Nacional de São Carlos e no Centro Cultural Olga Cadaval. Fez inúmeras gravações para a RTP e gravou discos com um repertório diverso. Colabora como consultor ou na direção musical em espetáculos de prosa encenados por João Lourenço e Luís Miguel Cintra.

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Produção | Production Media partner

www.parquesdesintra.pt

BrevementeJulho