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400 contra 1 põe heroísmo bandido na origem do Comando Vermelho Crime e glamour: Daniel de Oliveira, Daniela Escobar e Fabrício Boliveira em 400 Contra 1 Daniel Chiacos / Divulgação VITOR PAMPLONA O herói bandido é uma cons- tante no cinema brasileiro. Mas do criminoso com consciência revolucionária do cinema novo ao traficante benfeitor da safra pós-Cidade de Deus, o heroísmo bandido mudou de propósito. 400 contra 1 – Uma História do Crime Organizado, que es- treia hoje em todo o País, in- tegra o capítulo hedonista desta história. Baseado no livro de William da Silva Lima, fundador do Comando Vermelho, o filme vasculha a origem da facção cri- minosa no presídio da Ilha Gran- de, litoral fluminense, durante a Ditadura Militar. Preso após uma tentativa de assalto a banco, William (Daniel de Oliveira) vai cumprir pena na penitenciária, onde convive com presos políticos. Familiarizado com o discurso e as técnicas de guerrilha dos militantes de es- querda (o Manual do Guerrilhei- ro Urbano, de Carlos Mariguella, é uma de suas leituras de ca- beceira), William é o “Profes- sor“ dos colegas de profissão. Professor de crime organizado. 400 Contra 1 tenta compensar texto e interpretações fracas com artifícios de montagem publicitários Como sua influência, ideias e convivência com os presos po- líticos detonaram o Comando Vermelho de dentro das celas para os morros cariocas, o filme pouco esclarece. Estreante no longa de ficção, o diretor Caco Souza, autor de documentários sobre a questão da violência, situa o centro de gravidade de 400 Contra 1 no prazer que a bandidagem extrai da vida do crime. Nos assaltos, os criminosos reproduzem glamourosos clipes de black music. Na cadeia, dis- putam quem é capaz de falar mais gírias na mesma frase. Toda essa artificial reconsti- tuição de época, que prejudica o digno trabalho de recriação do presídio da Ilha Grande, é o me- nor dos equívocos. Embaralhado a fim de dar a desnecessária impressão de não linearidade, 400 Contra 1 tenta compensar texto e inter- pretações fracas com artifícios de montagem publicitários. Em meio ao ritmo truncado dos tiros e punhaladas, dos diá- logos telegrafados de panfletos, da liberdade sinônimo de lan- chas, churrasco e cerveja, e do discurso didático do líder crimi- noso que tenta imitar o bandido romântico para justificar o cri- me, escapam entre os dedos duas boas personagens. A primeira é Tereza, vivida, como convém a uma mulher de bandido, por uma puída e es- tragada Daniela Escobar. A ou- tra é a advogada Carmem (Bran- ca Messina). Na contramão do filme, é a única interessada na dimensão humana por trás do crime organizado. 400 CONTRA 1 / DE CACO SOUZA / MULTIPLEX IGUATEMI, UCI ORIENT PARALELA, UCI AEROCLUBE Cropped by pdfscissors.com Cropped by pdfscissors.com

400 contra 1 põe heroísmo bandido na origem do Comando Vermelho

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Crítica do filme "400 contra 1"

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Page 1: 400 contra 1 põe heroísmo bandido na origem do Comando Vermelho

3SALVADOR SEXTA-FEIRA 6/8/2010 2

400 contra 1 põe heroísmo bandido na origem do Comando Vermelho

Crime e glamour: Daniel de Oliveira, Daniela Escobar e Fabrício Boliveira em 400 Contra 1

Daniel Chiacos / Divulgação

VITOR PAMPLONA

O herói bandido é uma cons-tante no cinema brasileiro. Masdo criminoso com consciênciarevolucionária do cinema novoao traficante benfeitor da safrapós-Cidade de Deus, o heroísmobandido mudou de propósito.

400 contra 1 – Uma Históriado Crime Organizado, que es-treia hoje em todo o País, in-tegra o capítulo hedonista destahistória. Baseado no livro deWilliam da Silva Lima, fundadordo Comando Vermelho, o filmevasculha a origem da facção cri-minosa no presídio da Ilha Gran-de, litoral fluminense, durante aDitadura Militar.

Preso após uma tentativa deassalto a banco, William (Danielde Oliveira) vai cumprir pena napenitenciária,ondeconvivecompresos políticos. Familiarizadocom o discurso e as técnicas deguerrilha dos militantes de es-querda (o Manual do Guerrilhei-roUrbano,deCarlosMariguella,é uma de suas leituras de ca-beceira), William é o “Profes-sor“ dos colegas de profissão.Professor de crime organizado.

400 Contra 1 tentacompensar textoe interpretaçõesfracas com artifíciosde montagempublicitários

Como sua influência, ideias econvivência com os presos po-líticos detonaram o ComandoVermelho de dentro das celaspara os morros cariocas, o filmepouco esclarece.

Estreante no longa de ficção,o diretor Caco Souza, autor dedocumentários sobre a questãoda violência, situa o centro degravidade de 400 Contra 1 noprazer que a bandidagem extraida vida do crime.

Nos assaltos, os criminososreproduzemglamourososclipesde black music. Na cadeia, dis-putam quem é capaz de falarmais gírias na mesma frase.

Toda essa artificial reconsti-

tuição de época, que prejudica odigno trabalho de recriação dopresídio da Ilha Grande, é o me-nor dos equívocos.

Embaralhado a fim de dar adesnecessária impressão denão linearidade, 400 Contra 1tenta compensar texto e inter-pretações fracas com artifíciosde montagem publicitários.

Em meio ao ritmo truncadodos tiros e punhaladas, dos diá-logostelegrafadosdepanfletos,da liberdade sinônimo de lan-chas, churrasco e cerveja, e dodiscurso didático do líder crimi-noso que tenta imitar o bandidoromântico para justificar o cri-me, escapam entre os dedosduas boas personagens.

A primeira é Tereza, vivida,como convém a uma mulher debandido, por uma puída e es-tragada Daniela Escobar. A ou-traéaadvogadaCarmem(Bran-ca Messina). Na contramão dofilme, é a única interessada nadimensão humana por trás docrime organizado.

400 CONTRA 1 / DE CACO SOUZA /

MULTIPLEX IGUATEMI, UCI ORIENT

PARALELA, UCI AEROCLUBE

“ESPERO QUE ASPESSOAS SE SINTAMANDANDO NAS NUVENS”

Fernando Amorim / Ag. A TARDE

THIAGO FERNANDES

O clima é sombrio, quase fan-tasmagórico. Num dos cômo-dos, as pombas que adornam asancacomdetalhesbarrocospa-recem ganhar vida num balé in-quieto e desordenado. No salãoprincipal, os projetores mos-tram nuvens que parecem pre-sas em caixas de acrílico e re-presentam as almas do que jápassaram pelo casarão. Numcanto mais reservado, contem-pla-se de joelhos uma fotografiade uma mãe com sua filha pro-jetada num espelho de modo a

provocar o efeito de movimen-to. Seria o retrato de duas pes-soas que não se tem certeza seestão vivas ou mortas.

As descrições são das insta-lações multimídia Geografia dasSombras, Galeria das Almas eHumilhação,quefazempartedaexposição Mentiras e Humilha-ções, que o artista mineiro EderSantos abre hoje às 19 horas,para convidados, e está dispo-nível para visitação pública apartir de amanhã no Palácio daAclamação.

Eder é um dos maiores ex-poentes da videoarte em ati-

A videoarte foidefinitivamenteencampada pelasartes visuais eagora nós temosrealmente muitagente trabalhandocom essalinguagem. Hojeficou mais fácil

ENTREVISTA Eder Santos, artista visual

vidade atualmente no País e vol-ta a expor em Salvador a convitedo Programa Ocupas, da Dire-toria de Museus da Secretariade Cultura do Estado, que pro-põe criar com os artistas mon-tagens pensadas especifica-mente para dialogar com o es-paço da antiga residência dosgovernadores da Bahia. Nestaentrevista, Eder Santos fala so-breoprocessodeadaptaçãodasobras para o palácio e tambémsobre como o efeito um tantoassustador desses trabalhos foipensado para tocar a espiritua-lidade do público.

Como foi o pocesso de adapta-ção das obras para o espaço doPalácio?

Duas das obras já foram ex-postas em outros locais, co-mo o Museu de Arte da Pam-pulha e o Centro Cultural Ban-codoBrasildeBrasília.Aqui,oprocesso de adaptação foimais fácil porque elas voltampara a origem, já que esse pa-lácio é um lugar que resgata acoisa das almas mesmo. AideiadeGaleriadasAlmassur-giu quando eu fui para Cuba,na Bienal de Havana de 2007.Na ocasião, fui visitar a Gale-ria das Armas. O lugar era pa-recido com este salão, um ca-sarão antigo. Imaginei comoseria fazer algo como aquelasvitrinesdevidrocomasarmasque estavam expostas lá.Imaginei como seriam as al-mas que essas armas tinhamproduzido e pensei que o me-lhor jeito de representar issoseriamasnuvens,ascaixasdenuvens, como se fossem vitri-nes. E um palácio como estedeveterbastantealmasporaíparaseremaprisionadas.

Easoutrasduasobras?Humilhação é um trabalhoque também se relacionamuitocomaaristocracia,comesse tipo de família e com re-trato de família. Quem olha,vê o retrato de uma mãe coma filha, essa foto meio genéri-ca, mas que tem essa brinca-deira de você ter que ajoelharparavera fotoepara issousa-mos o genuflexório da capelado palácio. É quase uma coisareligiosa,queeuachoquenu-macasaigualaestavocê tam-bémtemessesentimento.

Então a escolha dessas obrasaconteceudeformanatural?

Sim. Foi uma mistura dessahistóriaaristocráticacomare-ligiosidadequedefiniu.

E com relação à obra Geografiadas Sombras, que foi criada es-pecialmenteparaaexposição?

O efeito final foi uma surpre-sa, mas a intenção foi mesmode criar um efeito mais de al-mas, de sombras, de fantas-mas, usando os detalhes bar-rocos do salão. E como foipensadaparaesteespaço,se-rá difícil reproduzi-la em ou-tro lugar. Inicialmente, pen-samos em fazer uma coisacom mais elementos, usandouma outra obra minha que éuma cristaleira e mais umquadro grande que retrataum jantar, mas acabamos fe-chando somente na ideia dospássaros, que já deu esse cli-ma fantasmagórico de umamaneiramaisclean.

Como funciona essa relaçãocom o medo, com o fantasma-góriconessasobras?

Na verdade, a coisa dos fan-tasmas tem essa relação comparte do nome da exposição,Mentiras e Humilhações. Asmentiras são essas coisas defantasmas e essa coisa do pa-

lácio, dessa aristocracia quenão existe mais e que produ-ziuessescasarõesqueemsuamaioria em outros lugares vi-raram prédios. Sobrarampoucos. É uma coisa que nãose sustentou porque hoje vi-vemos outro tempo, as pes-soaspensamdeoutraforma.

O que você espera que essa ex-posiçãoprovoquenopúblico?

Espero que as pessoas se sin-tam andando nas nuvens. Éuma coisa que no filme queestoufazendo[aficçãoDeser-to Azul, em parceria com o di-retor baiano Sérgio Macha-do] eu até trato um pouco,queéessacoisadaespirituali-dadedecadaum,queexisteecada vez vai existir mais. Éuma coisa que a gente não vêe não conhece, mas cada vezmaisissovaiestarpresentenavida da gente. O que eu faço ésó lembrar às pessoas que is-so, essa espiritualidade, estápresente.

Além desta exposição e do fil-me, você tem outra montagensprogramadas para os próximosmeses.Comoconciliatudo?

Assim,deumaviãoparaoou-tro, sobe ali, desce aqui, umaloucura. Além desta exposi-ção,temofilme,maisumaex-posição no Museu Vale [emVila Velha] para outubro emaisumanoMaspemsetem-bro,alémdemaisumavezex-por no MAM daqui, em no-vembro.Estousemtempopa-ranada.

Como está o cronograma degravaçãodofilme?

Começamos a filmar em trêssemanas.Serãotrêssemanasde filmagem aqui e mais umanoChile.Antes,agentevai fa-zer uma exposição de váriostrabalhos, de vários artistas,que fazem parte do cenário. Éuma ficção científica e asobras vão entrar na composi-ção das cenas. Teremos porexemplo as árvores cortadasdoCarlito[Carvalhosa]

Como você vê este momento davideoartenoBrasil?

Avideoartefoidefinitivamen-te encampada pelas artes vi-suais e agora nós temos real-mente muita gente traba-lhando com essa linguagem.Hoje ficou mais fácil. O equi-pamentoémaisacessível.Vo-cê pode fazer vídeo até comum celular. Hoje é mais fácilvocêconseguirrealizaraideiaque vem na cabeça. Tem 25anos que trabalho com vídeoe as coisas hoje são muito di-ferentes. Antigamente, eupensava numa coisa e não ti-nha como realizar. Hoje, vocêtem equipamentos mínimospararealizaroquesequer.

MENTIRAS E HUMILHAÇÕES / DE EDER

SANTOS / VISITAÇÃO: DE TER A SEX,

DAS 10H ÀS 18H; SÁB, DOM E FERIADOS,

DAS 13H ÀS 17H. DE AMANHÃ AO DIA 12

DE SETEMBRO / PALÁCIO DA ACLAMAÇÃO

/ GRÁTIS

Eder Santosabreexposição,hoje, noPalácio daAclamação

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