3SALVADOR SEXTA-FEIRA 6/8/2010 2
400 contra 1 põe heroísmo bandido na origem do Comando Vermelho
Crime e glamour: Daniel de Oliveira, Daniela Escobar e Fabrício Boliveira em 400 Contra 1
Daniel Chiacos / Divulgação
VITOR PAMPLONA
O herói bandido é uma cons-tante no cinema brasileiro. Masdo criminoso com consciênciarevolucionária do cinema novoao traficante benfeitor da safrapós-Cidade de Deus, o heroísmobandido mudou de propósito.
400 contra 1 – Uma Históriado Crime Organizado, que es-treia hoje em todo o País, in-tegra o capítulo hedonista destahistória. Baseado no livro deWilliam da Silva Lima, fundadordo Comando Vermelho, o filmevasculha a origem da facção cri-minosa no presídio da Ilha Gran-de, litoral fluminense, durante aDitadura Militar.
Preso após uma tentativa deassalto a banco, William (Danielde Oliveira) vai cumprir pena napenitenciária,ondeconvivecompresos políticos. Familiarizadocom o discurso e as técnicas deguerrilha dos militantes de es-querda (o Manual do Guerrilhei-roUrbano,deCarlosMariguella,é uma de suas leituras de ca-beceira), William é o “Profes-sor“ dos colegas de profissão.Professor de crime organizado.
400 Contra 1 tentacompensar textoe interpretaçõesfracas com artifíciosde montagempublicitários
Como sua influência, ideias econvivência com os presos po-líticos detonaram o ComandoVermelho de dentro das celaspara os morros cariocas, o filmepouco esclarece.
Estreante no longa de ficção,o diretor Caco Souza, autor dedocumentários sobre a questãoda violência, situa o centro degravidade de 400 Contra 1 noprazer que a bandidagem extraida vida do crime.
Nos assaltos, os criminososreproduzemglamourososclipesde black music. Na cadeia, dis-putam quem é capaz de falarmais gírias na mesma frase.
Toda essa artificial reconsti-
tuição de época, que prejudica odigno trabalho de recriação dopresídio da Ilha Grande, é o me-nor dos equívocos.
Embaralhado a fim de dar adesnecessária impressão denão linearidade, 400 Contra 1tenta compensar texto e inter-pretações fracas com artifíciosde montagem publicitários.
Em meio ao ritmo truncadodos tiros e punhaladas, dos diá-logostelegrafadosdepanfletos,da liberdade sinônimo de lan-chas, churrasco e cerveja, e dodiscurso didático do líder crimi-noso que tenta imitar o bandidoromântico para justificar o cri-me, escapam entre os dedosduas boas personagens.
A primeira é Tereza, vivida,como convém a uma mulher debandido, por uma puída e es-tragada Daniela Escobar. A ou-traéaadvogadaCarmem(Bran-ca Messina). Na contramão dofilme, é a única interessada nadimensão humana por trás docrime organizado.
400 CONTRA 1 / DE CACO SOUZA /
MULTIPLEX IGUATEMI, UCI ORIENT
PARALELA, UCI AEROCLUBE
“ESPERO QUE ASPESSOAS SE SINTAMANDANDO NAS NUVENS”
Fernando Amorim / Ag. A TARDE
THIAGO FERNANDES
O clima é sombrio, quase fan-tasmagórico. Num dos cômo-dos, as pombas que adornam asancacomdetalhesbarrocospa-recem ganhar vida num balé in-quieto e desordenado. No salãoprincipal, os projetores mos-tram nuvens que parecem pre-sas em caixas de acrílico e re-presentam as almas do que jápassaram pelo casarão. Numcanto mais reservado, contem-pla-se de joelhos uma fotografiade uma mãe com sua filha pro-jetada num espelho de modo a
provocar o efeito de movimen-to. Seria o retrato de duas pes-soas que não se tem certeza seestão vivas ou mortas.
As descrições são das insta-lações multimídia Geografia dasSombras, Galeria das Almas eHumilhação,quefazempartedaexposição Mentiras e Humilha-ções, que o artista mineiro EderSantos abre hoje às 19 horas,para convidados, e está dispo-nível para visitação pública apartir de amanhã no Palácio daAclamação.
Eder é um dos maiores ex-poentes da videoarte em ati-
A videoarte foidefinitivamenteencampada pelasartes visuais eagora nós temosrealmente muitagente trabalhandocom essalinguagem. Hojeficou mais fácil
ENTREVISTA Eder Santos, artista visual
vidade atualmente no País e vol-ta a expor em Salvador a convitedo Programa Ocupas, da Dire-toria de Museus da Secretariade Cultura do Estado, que pro-põe criar com os artistas mon-tagens pensadas especifica-mente para dialogar com o es-paço da antiga residência dosgovernadores da Bahia. Nestaentrevista, Eder Santos fala so-breoprocessodeadaptaçãodasobras para o palácio e tambémsobre como o efeito um tantoassustador desses trabalhos foipensado para tocar a espiritua-lidade do público.
Como foi o pocesso de adapta-ção das obras para o espaço doPalácio?
Duas das obras já foram ex-postas em outros locais, co-mo o Museu de Arte da Pam-pulha e o Centro Cultural Ban-codoBrasildeBrasília.Aqui,oprocesso de adaptação foimais fácil porque elas voltampara a origem, já que esse pa-lácio é um lugar que resgata acoisa das almas mesmo. AideiadeGaleriadasAlmassur-giu quando eu fui para Cuba,na Bienal de Havana de 2007.Na ocasião, fui visitar a Gale-ria das Armas. O lugar era pa-recido com este salão, um ca-sarão antigo. Imaginei comoseria fazer algo como aquelasvitrinesdevidrocomasarmasque estavam expostas lá.Imaginei como seriam as al-mas que essas armas tinhamproduzido e pensei que o me-lhor jeito de representar issoseriamasnuvens,ascaixasdenuvens, como se fossem vitri-nes. E um palácio como estedeveterbastantealmasporaíparaseremaprisionadas.
Easoutrasduasobras?Humilhação é um trabalhoque também se relacionamuitocomaaristocracia,comesse tipo de família e com re-trato de família. Quem olha,vê o retrato de uma mãe coma filha, essa foto meio genéri-ca, mas que tem essa brinca-deira de você ter que ajoelharparavera fotoepara issousa-mos o genuflexório da capelado palácio. É quase uma coisareligiosa,queeuachoquenu-macasaigualaestavocê tam-bémtemessesentimento.
Então a escolha dessas obrasaconteceudeformanatural?
Sim. Foi uma mistura dessahistóriaaristocráticacomare-ligiosidadequedefiniu.
E com relação à obra Geografiadas Sombras, que foi criada es-pecialmenteparaaexposição?
O efeito final foi uma surpre-sa, mas a intenção foi mesmode criar um efeito mais de al-mas, de sombras, de fantas-mas, usando os detalhes bar-rocos do salão. E como foipensadaparaesteespaço,se-rá difícil reproduzi-la em ou-tro lugar. Inicialmente, pen-samos em fazer uma coisacom mais elementos, usandouma outra obra minha que éuma cristaleira e mais umquadro grande que retrataum jantar, mas acabamos fe-chando somente na ideia dospássaros, que já deu esse cli-ma fantasmagórico de umamaneiramaisclean.
Como funciona essa relaçãocom o medo, com o fantasma-góriconessasobras?
Na verdade, a coisa dos fan-tasmas tem essa relação comparte do nome da exposição,Mentiras e Humilhações. Asmentiras são essas coisas defantasmas e essa coisa do pa-
lácio, dessa aristocracia quenão existe mais e que produ-ziuessescasarõesqueemsuamaioria em outros lugares vi-raram prédios. Sobrarampoucos. É uma coisa que nãose sustentou porque hoje vi-vemos outro tempo, as pes-soaspensamdeoutraforma.
O que você espera que essa ex-posiçãoprovoquenopúblico?
Espero que as pessoas se sin-tam andando nas nuvens. Éuma coisa que no filme queestoufazendo[aficçãoDeser-to Azul, em parceria com o di-retor baiano Sérgio Macha-do] eu até trato um pouco,queéessacoisadaespirituali-dadedecadaum,queexisteecada vez vai existir mais. Éuma coisa que a gente não vêe não conhece, mas cada vezmaisissovaiestarpresentenavida da gente. O que eu faço ésó lembrar às pessoas que is-so, essa espiritualidade, estápresente.
Além desta exposição e do fil-me, você tem outra montagensprogramadas para os próximosmeses.Comoconciliatudo?
Assim,deumaviãoparaoou-tro, sobe ali, desce aqui, umaloucura. Além desta exposi-ção,temofilme,maisumaex-posição no Museu Vale [emVila Velha] para outubro emaisumanoMaspemsetem-bro,alémdemaisumavezex-por no MAM daqui, em no-vembro.Estousemtempopa-ranada.
Como está o cronograma degravaçãodofilme?
Começamos a filmar em trêssemanas.Serãotrêssemanasde filmagem aqui e mais umanoChile.Antes,agentevai fa-zer uma exposição de váriostrabalhos, de vários artistas,que fazem parte do cenário. Éuma ficção científica e asobras vão entrar na composi-ção das cenas. Teremos porexemplo as árvores cortadasdoCarlito[Carvalhosa]
Como você vê este momento davideoartenoBrasil?
Avideoartefoidefinitivamen-te encampada pelas artes vi-suais e agora nós temos real-mente muita gente traba-lhando com essa linguagem.Hoje ficou mais fácil. O equi-pamentoémaisacessível.Vo-cê pode fazer vídeo até comum celular. Hoje é mais fácilvocêconseguirrealizaraideiaque vem na cabeça. Tem 25anos que trabalho com vídeoe as coisas hoje são muito di-ferentes. Antigamente, eupensava numa coisa e não ti-nha como realizar. Hoje, vocêtem equipamentos mínimospararealizaroquesequer.
MENTIRAS E HUMILHAÇÕES / DE EDER
SANTOS / VISITAÇÃO: DE TER A SEX,
DAS 10H ÀS 18H; SÁB, DOM E FERIADOS,
DAS 13H ÀS 17H. DE AMANHÃ AO DIA 12
DE SETEMBRO / PALÁCIO DA ACLAMAÇÃO
/ GRÁTIS
Eder Santosabreexposição,hoje, noPalácio daAclamação
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